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DICaONARIO PORTUGUEZ
GRANDE DICCIONARIO PORTUGUEZ
ÍHESOO
I
PORÍOGUEZA
PELO
DR. FR. DOMINGOS VIEIRA
DOS eremita; calcados de santo agostinho
PUBLICAÇÃO FEITA SOBRE O MANUSCRIPTORIGINAL, INTEIRAMENTE REVISTO E CONSIDERAVELMENTE AUGMENTADO
QUNTO VOLUME
r»03FlT0
EDITORES, E. CHARUON E BARTHOLOMEU H. DE MORAES
1874
^^--' Cr
PORTO
TYPOGRAPHL\ DE AlíTONIO JOSÉ Di^^ILVA TEIXEIRA
02, RCA DA CANCELLA VEL^ 62
1874
DICCIONARIO
língua portugueza
e^G.
das consoantes. Um Q
mde. Um q pequeno^ Um
q romano. Um q itálico. Um
Q de caixa alta. Um q de caixa baixa.
— O q nunca se escreve sem a vogal it
(^qíie, quão, quando).
— Q nas moedas íVaucezas indica que
ellas foram cunhadas em Perpignau.
— Q valia 500 na numeraçào romana e
com um traço horisontal superior 500:000.
— O Q latino é o antigo ko^pa do al-
phabeto dorico de Cumas, alteração do
l:oph phenicio ; os latinos empregavam-o
para exprimir o grupo consonantal qr,
escripto ordinariamente qc.
— Em portuguez o u na ligação qit ora
se pronuncia, ora é simplesmente um si-
gnal etymologico : d'esta ultima circums-
tancia, isto é, d'elle não ter muitas vezes
valor phonetico na esci-ipta, resultou ser
empregada antigamente a ligação qit pa-
ra exprimir simplesmente o c latino con-
servando o seu valor guttural; assim es-
crevia-se quaòeca (cabeça;, quOr (côri,
etc. Também o q n'essa ligação era mui-
tas vezes escripto c; assim cual, etc, so-
bretudo quando o u deixava de ser pro-
nunciado, como em camanlw fquam ma-
gnas), calidade, etc.
— Nas palavras que como em quan-
do, qual, quào, quarenta, quaresma, qua-
tro o u é pronunciado, qual é o seu va-
lor? Temos aqui um u vocálico como em
uma, fulano, etc. V A opinião vulgar in-
sciente responderia assim ; mas esse ti que
segue q e precede uma vogal é uma con-
soante da natureza do v inglez.
— Vejamos o que dizem alguns dos
primeiros grammaticos portugueses sobre o
q, seguindo a ordem clironologica. — • « Diz
Diomedes que a pronunciação do .q. se
faz de .c. e .u. e elle quer que ou seja
sobeja: ou sempre tenha .u. liquido de-
poys de si. Verdade he que ja Quintilia-
no quasi deu a entender que esta letra
era sobeja porque não faz mais do que
pode fazer .c. e os mais antigos todos os
lugares que agora se escrevem com .q.
elles os escreviam com .c. cujo testemu-
nho he este nome anticum que Cornelio
Fronto escreve com .c. mas como quer
que seja nol-a havemos mester na nossa
lingua assi para em alghiias dições que de
necessidade tem .u. liquido, como quasi.
quando, qual. quanto, e outras semelhan-
tes como também para quando se seguem
.i. ou .e. por tirar a duvida que pode ha-
ver entre .c. e .ç. c Fernão d'(_>liveira,
Grammatica de íingoagem portuguesa,
cap. 13. — -«Esta letera, Q. pelo nome
que tem, e assy pela pouca necessidade
que á delia (como vimos atrás na letera
.c.) a nós convinha mais que a outra na-
çam desterral-a da nossa orthographia, e
em seu logar empossar esta letera, c. ilas
já disse quam receoso sou de novidades :
dado que as proveitosas tenham muita
força para serem recebidas. Como creio
que se faria a esta letera, c, se fezesse
profissam dano e dia : pois esta .Q. tem
tam preversa natureza alem do mao no-
me, que se nam ajunta ás leteras, senam
mediante esta u, que lhe é semelhável.
Ou sam ellas tam limpas que senam que-
rem ajuntar a elle, ca nam dissemos, qa,
qe, qi, e dizemos qua, que, qui. » João de
Barros, Grammatica portugueza, p. lí)9-
200, 2.* ediç. — (I E assy tiea aquella
letera, u, sempre liquida sem força, prin-
cipalmente acerca de nós, nestas dições
que, qui: ca assy as sentimos como os
latinos : e dizemos, qual, quam, quanto,
e nam, cál, cam, canto, por terem ou-
tros significados. Estoutras syllabas, quo,
quu, nam as ha em nossa linguagem : ca
dizemos, como, cume, e na, quomo, quu-
mc. Estas duas syllabas, que, qui, sam
acerca de nós mui celebradas. Porque
n'esta parte desfaleçeo o uso do, c. Assy
que podemos daqui tirar esta regra : Qua,
usaremos ás vezes: que, qui, sempre:
quo, quu, nunca. i> Ibidem, pag. 200.
— Vejamos agora os grammaticos do
secido XVII (e fins do xvii. — « Q he le-
tra muda, que nenhua lingua tem, senão
a Latina, e as que delia descendem, e
pronunciase como c, segundo os antigos.
As quaes duas lettras entre si, não se
diíFerenciavam na pronunciação, mais que
na figura. Pelo que dixeram muitos an-
o
QKAlJ
tigos, quo <> .q. era letra ociosa, e di-s-
ncceHHaria. Donde veu, que muitos ho-
monrt doctos nunqua a corttuniarani em
Bua escriptura, como foi Nií,'idio Figulo
contcmiioiaueo do Marco Tuilio, i|ue nun-
ca U!*ou .k. iioni .q. Poniue o mesmo eí-
feito tinha o .c. em turio. K assi veorilo,
que muitos dos mosmos antifíOf, Bcrcviilo
por .q. palavras que depois se cscroviào
per .c. » Duarte Nunes iIh Loàn, Ortho-
graphia da língua porlugueza. — «A le-
tra, Que íproimnciauiDÍa assi polo mao
soido, (pie ta/, cõ o .u. (jue lie seu compa-
nlieyro indispensável) lie liuma das mu-
das. Tom necessidade iconio a;,'ora dice-
mos) do .u. liquido, para lhe dar valor
porque sem elle noidnima for(;a tem. »
Joilo Franco Uarreto, Ortographia da lín-
gua porlugueza, y.v^. 1;").'). -- " Somen-
te resta di/.or que despois de Q. sempre
80 escrevo u, liquido, para moditicar sua
pronunciação : como quando, quasi, que-
do, quito, vacqueiro, (piero, aeifuiro,
quotodiano, cinquo, quonio ipi^r interro-
gação) á difforença do como. E alj;umas
vezes se segue outro, u; mas he em dic-
çilo Latina; c nilo Portuguesa. E pondo-
se o til (que ho hum risco, que ordinaria-
mente 30 poom sobre vogal, supprindo a
letra m, o n) somente esta letra Q, su-
pre estas, ue : como q. » Álvaro Ferreira
do Vera, Orthographia portuguesa.
QUA, coiij. (dit. Vid. Ca, couj. C^juo, por-
que.
QUACACUJA, s. »i. Termo do Brazil.
Peixe, vulgarmente chamado enxarroco
bicudo (Lophhis vespertilio), cujo corpo c
todo guarnecido de tubérculos cartilagi-
nosos e cónicos.
QUACRE. Vid. Quaker.
QUADA. Modo errado descrever Cada.
— « Partidos piír esta maneira, huns pêra
o Keyno, o outros porá (!uiné, do que era3
estas duas cabeças, Soeiro da Costa, e
Làçarote : tomou quada hum sua de rota.»
Ban'os, Década l, liv. 1, cap. 11. — «Fi-
nalmente o capitào lhe concedeo a paz
com tributo em quada hum anno de cem
miticaes douro o trinta carneiros pêra o
Ciipituo que os viesse receber. » Ibidem,
liv. 7, cap. 4.
QUADERN... As palavras que n.HO se
encontrarem com Quadern..., busquem-so
com Cadern...
QUADERNA, s. /. Vid. Caderna.
— Plural: Cadernas. Termo de jogo.
Parelhas do quatro pontos, pintados em
cada um dos dados de jog.ar.
QUADERNADO, A, adj. Termo de botâ-
nica. Diz-sc das folhas que tem quatro fo-
liolos sobre o topo do peeiolo. Dú-sc-lhos
também algumas vezes o nome de quatro
em rama.
QUADRA, s. f. Sala, quarto quadrado;
peça da casa, de forma quadrangular. —
« Fr. Vasco lançou os olhos para lá ; mas
a Inz que entrava livremente pela porta
e enchia a quadra em quo estavam mal
QUAD
liie deixou divisar ah! ilcntro uma enxer-
ga e um vulto deitado om cima delia,
com o rosto virarlo para a parede.» Ale-
xandre Herculano, Monge de Cister, ca-
pitulo .").
- 1'atco quadrado, rodeado de edificio
quadrado. — uTiidia os jjós sobre uma
coluna de três covados, e ao entrar dei
Hey cessou do golpear no chào, dando-
llio lugar, a quo visse os segredos da
quadra, em hmna parede, d:i <(ual posta
à m."io esquerda léo estas palavias.» Mo-
uarchía Lusitana, liv. 7, cap. 1.
— Quadra <la lua ; uma das quatro
divisões do tempo de «eu curso, ou a
quarta parte do mcz lunar; quarto da
lua.
— Quadra do anno; uma das quatro
estações do anno.
— Bandeira de quadra, ou a quadra,
termo náutico; a que levam nos mastros
grandes a almiranta, ou nau capitania,
e a tiscal.
— Termo náutico. <) largo da nau pe-
la quarta parte posterior.
— Termo de poesia. Quatro versos me-
nores ; um quarteto, — Glosar uma qua-
dra.
— O lado de um quadrado. — ..4 qua-
dra d'um edificio, d\uma fortaleza.
— Loc. ADv. : Aquella quadra ; n'a-
quolla sazilo, ensejo, occasião.
— Repartição de um jardim cm qua-
dro, ordinariamente cercado de miu-tas.
As quadras dividem-se em arcolas, onde
se forniam maciços de flores.
QUADRADO, s. m. (Dolaúm quadratus).
Termo de geometria. Quadrilátero cujos
quatro lados são iguaes, o cujos quatro
ângulos são rectos. A superfície d'iun
quadrado acha-sc multijilicando por si
mesmo o numero quo exprimo o com-
primento de seu lado.
— Termo d'algebra e d'arithmetica.
Diz-se da segunda potencia d'uni nume-
ro ; 4, por exemplo, é o quadrado de 2,
isto é, o producto de 2 multiplicado por
si mesmo; por consequência, 2 c a raiz
quadrada de 4.
Eis aqui os quadrados dos números,
com seus valores, desde 1 até 10:
Riizes quadradas: 1, 2, 3, 4, 5, 6,
7, S. 9, 10.
Quadrados: 1, 4, O, 1(3, 2j, oG, 40,
64, 81, 100.
— Quadrado magico ; dá-se este nome,
cm arithmetica, a um quadrado dividido
em collulas ou compartimentos, cm que
se dispõe uma serie do números em pro-
porç.no arithmetica, de modo que as som-
mas de todos os quo sj acham na mesma
fileira horisontal, vertical ou diagonal,
sejam todas iguaes. Sc, por exemplo, se
distribuo nas casas d'ura quadrado mui-
tos termos d'uma progressão por diffc-
rença, taes como 1, 2, o, 4, f), G, 7, 8,
O, 10, do seguinte modo:
QUAD
0
10 3
i
6 8
H2I7
ter-8c-ha ó4-10 + 3 = 4-f0-f8 =
5 + 4 4^ í» = 10 4- 6 -1- 2, ctc.
— Adjecti vãmente: De figura quadra-
da. — Uma caijií quadrada. — Uma me-
sa quadrada. — «l)o mais alto do com-
cheo sahia uma si.•<\.l^ de piata grande,
onde se engasl;iv:i uma grimjia a manei-
ra de bandeira quadrada feit.-i do matéria
incorruptivcl.» I''raiici.-co de Morae*. Pal-
meirim dlnglaterra, cap. 120.
— llaiz quadrada de um numero; ou-
tro numero, que «e contém n'elle exacta-
mente tantas vezes, (juantas são as uni-
dades de que consta o numero contido:
assim, 2 é raiz quadrada de 4, ponjuc
SC conta duas vezes cm 4; este é raiz
quadrada de 1(5, que contém aquclle qua-
tro vezes ; e assim .") de 2ii ; 7 de 40 ; H
de 64, etc.
— Aspecto quadrado, termo de astro-
nomia. A posição do astro, «jue dista de
outro, a quarta parte do circulo, ou 90
graus.
— Iloruciu quadrado ; perfeito, com-
pleto.
— Figuradamente : Constante, valoro-
so nas adversidades.
QUADRADURA. Viil. Quadratura.
QUADRAGENARIO, A, adj. iDo latim
quadraijenarius, de quadrageni, tjuadra-
ginta, quíirenta). Que contém quarenta
unidades. — O numero quadragenario.
— Qiie tem a idade de quarenta ân-
uos. — Um homem quadragenario.
— Substantivamente: Uhi quadrage-
nario. — -4 qloria dns quadragenaríos.
QUADRAGÉSIMA, .'. /. Do latim qua-
dra;it'gi»i<i tliis, o quadragésimo dia, de
quadragesimus\. Palavra que significa a
quaresma, e que se usa só na seguinte
locução : o domingo da Quadragésima, o
primeiro domingo da quaresma.
— Absolutamente : .4 quadragésima,
este primeiro domingo. — E " <lia da
Quadragésima usa-se sempre com um Q
maiúsculo .
QUADRAGESIMAL, adj. 2 gen. (Do la-
tim quadragesimalis, do quadragésima).
Que pertence á quaresma. Usado frequen-
temente nas seguintes locuções: j> jum
quadragesimal ; ferias quadragesimaes ;
aòstintncia quadragesimal.
— T'í(/'r quadragesimal ; aquella cm
que se faz ct>nstanteuieiite quaresma. Al-
guns devotos faziam voto particular para
adoptar uma vida quadragesimal.
QUADRAGÉSIMO, A, adj. ordinal. :Do
latim fjiiinh-ihj>fiinuí^<. Qu;u'ente^imo, qua-
rentesiina.
I QUADRANGULADO, A, adj. Termo
de bot,r.iio:i. Que tem quatro ângulos.
QUADRANGULAR, adj. 2 gen. De qua-
QUAD
QUAD
QUAD
drangulo). Termo de geometria. Figura
que tem quatro ângulos.
— Prisma, pyrdiniflé quadrangular;
que tem por base um quadrilátero.
QUADRANGULARMENTE, adv. De íV.r-
ma qiiailrangular. — Dispor quadrangu-
larmente ali/uma cousa.
QUADRANGULO, s. m. (Do latim qua-
(Iramjuloti. de (^tiafuur, quatro, o angu-
las, angulo). Figura que tem quatro ân-
gulos, e quatro lados.
— Edifício, cuja base é um parallelo-
grammo rectângulo.
1.) QUADRANTAL, s. m. Termo anti-
go. Medida romana, de liquides, que le-
vava 2 urnas ; o médios ; 6 semódios ; 8
congios; 48 sextarios; 9G heminas; 192
quartarios; 57G cvathos.
2.) QUADRANTAL, aiJj. 2 geií. (Do la-
tim quadrantalis) . Termo de fortificação.
CasteUo quadrantal; praça quadrantal;
cuja defensa é segundo a quarta parte
de seu^ alcance, ou tiro veiíemente de
mosquete.
— Termo de trigonometria espherica.
Triangulo quadrantal ; o que tem, pelo
menos, um lado que seja quadrante de
um circulo.
QUADRANTE, s. m. (Do hãúm quadrans,
porque primitivamente a sua forma era
quadrada). Superfície ordinariamente re-
donda sobre a qual se gravou oii pintou
as divisões do tempo, como horas, minu-
tos, segundos, etc., e onde são indicados
quer por meio d'agullias ou ponteiros mo-
veis, como nos relógios, quer pela som-
bra d'um estvlete, como nos quadrantes
solares. — Um quadrante de metal. —
Um quadrante de porcellana, etc.
— Termo de astronomia. Vid. Quarta.
— A quarta parte do circulo ; o instru-
mento mathematico, em que esta quarta
parte está fígurada e graduada.
— Termo de astronomia. Quadrante, ou
quarto de circulo; instrumento que serve
para medir a altura d'um astro acima do
horisonte e tomar alturas correspondentes.
— Quadrante de circulo mural; instru-
mento com o qual se observa com gran-
de precisão a altura meridiana dos as-
tros, fixando-o solidamente contra a face
d'um muro no plano do meridiano.
— Quadrante de redacção; instrumento
náutico, pouco usado, que serve para re-
solver muitos problemas de pilotagem pe-
los triangidos semelhantes.
— Quadrante de reflexão. Vid. Oitante.
— Termo guomonico. A delineação em
um plano, de um relógio solar, formado
de linhas correspondentes aos circidos ho-
rários, ou a cada 15 gi'aus do equador.
Diz-se quadrante horisontal, vertical, ou
inclinado, segundo elle está parallelo,
perpendieidar, ou inclinado relativamen-
te ao horisonte; e meridional, septentrio-
nal, oriental ou occidental, segundo o
ponto d'estes quatro, para o qual se acha
voltado.
— Em conchyliologia é o nome de um
género de moUuscos gasteropodos pecti-
nibranchios de concha orbicular, unival-
ve, em cone deprimido, que habitam os
mares austraes.
QUADRAR, L'. a. (Do latim quadrarc).
Dar a figura quadrada; por exemplo:
Quadrar um terreno, uma superficie. —
Quadrar uma tahoa, uma pedra, wina
trave.
— Termo de mathematica. Quadrar um
numero; multiplical-o por si mesmo.
— Termo de geometria. Reduzir qual-
quer figura a um quadro, ou ao seu va-
lor.
— V. n. Figuradamente : Ser coheren-
te, conforme, accommodar-se, conformar-
se; dizer bem, agradar. — Tudo lhe qua-
dra bem. — Isso não me quadra.
— Termo de astrologia. Quadrarem os
astros; estarem em quadratura, e terem
esse aspecto, e as influencias, que os as-
trólogos lhes attribuem.
— Convir. — Postura que melhor lhe
quadra; a que lhe fica melhor. — «Quan-
to à postara do corpo, diz fiuillerme Pa-
risiense, que não ajuda pouco pêra a for-
ma da contemplação estar ordenadamen-
te, pello que cada qual escolha aquella
postui'a que melhor lhe quadrar, ou de
joelhos, ou assentado, ou estando em pé, ou
deitado : aconselha, porem o estar em pé
se poder iuclinandose a parte esquerda,
ou assentandose com o rosto leuantado
ao Ceo.» Fr. Bai"tholomeu dos Martyres,
Compendio de espiritual doutrina.
QUADRASTE. Vid. Cadaste.
QUADRASYLLABO, A, adj. De quatro
syllabas. — Palavra quadrasyllaba.
QUADRATIM, s. m. Termo de impren-
sa. Quadrado que serve para deixar o
branco ou claro do costume, nos princí-
pios dos capitules, ou de outras divi-
sões.
f QUADRÁTICO, A, adj. (Do latim qua-
dratus, quadrado). Termo de mathemati-
ca. Que é relativo ao quadrado. — Equa-
ção quadrática; equação do segundo grau.
— Termo de mineralogia. Que é de fir-
ma quadrada, ou que se aproxima do qua-
drado.
QUADRATO, s. m. Termo antigo. Tira
quadrada de seda, ou de outro qualquer
tecido, que se sobrecosia diante, e detraz
das alvas, a que também se chamava re-
gaço. = Em Moraes.
t QUADRATORISTA, s. m. (Do italia-
no quadratorista). Pintor de quadraturas,
isto é, d'ornamentos d'architectura.
1.) QUADRATURA, s.f. (Do latim qua-
dratura, de quadrare). Termo de geome-
tria. Reducção geométrica d'uma figura
curvilínea a um quadrado equivalente em
superficie.
— Figuradamente: È a quadratura do
circulo; diz-se de uma cousa impossível
de achar.
— Termo de astronomia. Aspecto de
dous astros afastados um do outro 90
graus.
2.) QUADRATURA, s. f. (Do latim qua-
dratus, quadrado). Termo de bellas-artes.
Pintura a fresco.
— Pintura d'ornamentos d'architectura.
QUADRELLA, s. f. Termo antiquado.
Quadrilha, divisão dalguns para fazerem
algum feito, ou serviço.
— Courella, casal.
— Quadrella do muro; um lanço do
muro repartido a uma quadrella de gen-
te para o vigiar e guardar. = Em Viter-
bo, Elucidário.
QUADRELLO, s. m. Setta com ferro de
quatro faces, que se disparava da besta.
f QUADRI... Palavra que significa qua-
tro era composição, e é o latim quadri, que
não mais se usa senão em composição.
— Palavra usada em chimica, prece-
dendo certas denominações, para indicar
a proporção quadrupla d'um dos elemen-
tos dos seus componentes. — QuadriswZ/w-
reto; quadro.ryfZo, etc.
I QUADRI-ALADO, A, adj. Termo de
botânica. Que é numido de quatro azas.
f QUADRIBASICO, adj. m. (De qua-
dri..., e base). Termo de chimica. Diz-se
d'um sal que contém quatro proporções de
base pai"a uma proporção d'acido, isto é,
quatro vezes a quantidade de base conti-
da no sal neutro, sendo a proporção de
acido a mesma que n'este ultimo.
QUADRICAPSULAR, adj. 2 gen. Termo
de botânica. Que consta de quatro capsu-
las. — Fruc.to quadricapsular.
t QUADRICARBURETO, .s. »i. Termo de
chimica. Carbureto que contém quatro ve-
zes tanto carbonio, como uma outra com-
binação do mesmo género.
QR'aDRICOCCA, adj.f. Termo de botâ-
nica. Diz-se capsula quadricocca, a que
tem quatro cellulas bojudas, e quatro se-
mentes.
f QUADRICOLOR, adj. 2 gen. (De qua-
dri..., e do latim color). Que apresenta
quatro cores difterentes.
f QUADRICOTYLEDONEO, a, adj. (De
quadri..., e cotyledon). Termo de botâni-
ca. Que contém quatro cotvledones.
QUADRICUBICO, a, adj. Vid. Quadrado,
e Cubico.
QUADRICULA, s.f. Instrumento mathe-
matico destinado a tomar a perspectiva
de qualquer objecto.
QUADRICUSPIDE, adj. 2 gen. (De qua-
dri..., e do latim cuspis, ponta). Que se
termina por quatro pontas agudas.
f QUADRIDENTADO, A, adj. (De qua-
dri..., e dentei. Que tem quatro dentes,
pontas ou divisões.
QUADRIDENTE, s. m. Peixe, do qual ha
duas espécies : o quadridente hispido; e o
quadridente cabeça de cáqado.
j- QUADRIDIGITADO, Á, adj. (De qua-
dri..., e do latim digitus, dedo). Que ter-
mina \K)r qTiatro dedos, ou por quatro fo-
liolos.
8 QUAD
QUADRIENNAL, adj. 2 ijm. De (jua-
«liii^miio. lie (|ii,itro annos.
QUADRIENNIO, «. m. íDo latim i/iui-
drifiiiiiiiiin. K<]>!n;o (lo (|uatn) íinno.s.
QUADRIFENDIDO, A, 'i<lj. 1 1 ).• quadri...,
<.• fendido I. 'rirmo di! liotanica. l*"i'iiiliilo
MU (|iialri) |>art<'s. — í']siii/iiiii quadrifen-
dido.
f QUADRIFOLIADO, A, "<lj. i\h: qua-
dri..., 1^ folioloi. Termo de botaiiiea. \>iu'
6 ci)iii])ci^tii lie (|uatro foliolojj.
QUADRIFORME, ai/j. 2 gen. (De qua-
dri..., e, forma . Quo aproíienta quatro
tVinn.is.
-j- QUADRIFURCADO, A, 'i'lj. (De qua-
dri..., t! lio latim fiin-íi). Dividido em
quatro ramos.
QUADRIGA, .V. /. iDo latim quaãrujw,
quadr-igo;, de quadr..., o do latim (ujere,
comluzir). (^irro montado sobre dua.s ro-
das c jiuxa<lo por quatro cavallos,
— O tiro (lo (|uatro cavallos.
QUADRIGEMEOS, adj. m. i>lur. (De
quadri..., e gémeos i. Termo de anato-
mia. Nome de (juatro músculos da coxa
da perna.
— Tuhcrcuhi!< quadrigemeos ; dá-t^e es-
to nome a quatro eminências da protu-
berância eorebral.
QUADRIGUMEO, A, adj. ^De quadri...,
e gumei. Termo do botânica. (,!uadran-
pular. riiam.i-sc pedúnculo quadrigumeo
o (]ne tem ([uatro inumes aiiado.s.
QUADRIJUGADOi A.,wlj. iDe quadri...,
e do latim jiíí/íí^i.'-', de juíjum, jn^o). Ter-
mo de botânica. Diz-se das folhas com-
postas, que oíferecem quatro pares de
foliolos oppostos.
QUADRIJUGO, A, adj. (Do latim qua-
drijitiius). Termo de })oesia. Tirado por
quatro cavallo.s emparelhados, ou por dous
tiros de bestiís.
QUADRIL, s. m. A parte do corpo des-
de as ultimas costellas, ou cintara, até
ás coxas; anca. — « No momento em que
os quinze ou vinte aprendizes do sovéla
6 tira-pé, encapellados até os quadris
dentro do bojo do di-ago, espécie classiti-
cavel entre os sonhos zoológicos de Al-
drovando e cujas trinta ou quarenta per-
nas eram a.s da rapaziada embebida na-
qnelle cavallo de Tróia dos sapateiros...»
Ãlexandi-e Herculano, Monge de Cister,
cap. 17.
— Figunidaniente : Alcatra.
QUADRILATERAL, adj. 2,jen. (De qua-
dri..., e lateral). Que otferece (juatro la-
dos.
QUADRILÁTERO, A, adj. i Do latim ,/xia-
dri/iifcruí'. de quadri..., e Iiituf, ladoi.
Dc quatro lados. — Fi<iitr(i quadrilatera.
— Substantivamrnte : TtM-mo de geo-
metria. Um quadrilátero; tigura que con-
tém qu.-itro lados.
QUADRILHA, .'./. (Do italiano (juadrl-
glia, diminutivo de squadra, com a si-
gnitíca(^'.ào de — pequena companhia do sol-
dados formando (piadrado). Pequena tur-
QUAD
ma (lo gente a cavallo, originariamente
i!m numero dc quatro, soberljamente mon-
tados e vestiiloH para executar justas nas
festas galantes o disputar os jtremios.
--Turma ou numero d(r gente a ca-
vallo jtara a guerra. - Quadrilha dt; Iiks-
j/a)dwes. — « Estes homens (|ue aquy adia-
mos, nunca, em três dias ([ue aquy esti-
vemos, quiserar) te/ com nosco neidnim
modo i\i' ednnnnnicaeaò, ante» acudindo
muytas quadrilhas dellos á prava junto
díMide iKPs estávamos surtos, com graú-
dos algazaras, e cataduras medonhas nos
davào grandes apupadas, e atirandonos
com fundas o bestas, corriam de imma
parte pai'a a outra, como que se temiiio
de ni'is. » Fernào Mendes Tinto, Peregri-
nações, cap. 71.
— (,'ompanhia. — Quadrilha de iudivi-
diios da mesma categuria. — • « Ajuntava-
se a estas cousas, os saccTdotos dos Ído-
los e todos 08 dc sua quadrilha, que an-
dam pêra sacerdotes e se tem por gente
religiosa, e no trato e vivenda sam se-
jiarados dc tola outra gente, que a meu
jiiirccor sei'a ha terça jiarte da gente do
reyno, com el Rey desta terra poer cem
mil homens no campo.» Fr. (iaspar da
Cruz, Tratado das cousas da China, ca-
pitulo 1.
— Bairro da inspecção do quadrilhei-
ro; gente que aeomiiauha o quadrilheiro.
— Esquadra. — Quadrilha ilt paráos.
— Quadrilha du l<idrucs, de salteado-
res; companhia (Telles.
— Matilha. — Quadrilha de cães.
— Tormo de dança. Diz-se de cinco
tiguras seguidas dc uma contradança. —
Dançar uma quadrilha de lanceiros.
— -Termo de musica. Reuniiio do tre-
chos de musica correspondentes ás tigu-
ras que se executam u'uma quadrilha.
— Collecção de quadrilhas ; collecção
do contradanças..
— Quadrilhas (/(; Verdi, de Bellini,
ctc. ; reuni.ào d'arias tiradas das operas
d'ostes authoros, e coordenadas de modo
a formar contradanças.
QUADRILHEIRO, s. m. (De quadrilha,
com o suffixo «eiro»). Official inferior de
justiça nomeado pela camará par.i servir
por esjiaço de três annos.
— Termo de antiga milicia. <.)flicial
que repartia os despojos da guerra.
— Designa tamberti o chefe de uma
quadrilha de cavalleiros que jogam can-
nas e correm argolinhas, ctc.
— Quadrilheiros ; antigamente em Lis-
boa eram pessoas graves, de confiança e
mui privil(';;iadas.
f QUADRILOBADO, A, adj. De qua-
dri..., e do latim lobus]. Que é dividido
cm (piadro lobos. — Fulha quadrilobada.
QUADRILOBAL, adj. 2 gcn. Termo de
botânica. <^>ue tom quatro lobos ou bai-
nhas ili' semente.
QUADRILÔCULAR, adj. 2 gen. (Dc qua-
dri..., e do latim Inciilus. lojai. Termo
QUAD
de botânica. Quo é dividido cm quatro
cellulas ou compartimentos. — Fructo
quadrilocular. — ( hjj.-iii/a quadrilocular.
Aiiilrfa quadrilocular.
QUADRILONGO, ». m. .D.- quadri..., e
do latim [■niiju.':,. Figura de (piatro la<l(Jrt
parallelos dou.s a dous, tiendu dous d'el-
les mais compridos, o o» quatro ângulos
rectos.
t QUADRIMANO. Vid. Quadrumano.
I QUADRINGENTESIMO, «dj. j),, la-
tim quadriagenlesimo loro, cm vez dc
qiiadrireutesimo, de quadringenti, quatro-
centos). Emprega-se para designar o 4<X),
o obj(!cto de uma série, quando se come-
çou a contai- por primo, secundo, tertio,
ete. ( 'ontiiiu;in(lo a cmlagcm, diz-se:
quadringentesimo primo, quadringente-
Simo i^irundi,. itc.
QUADRINOMO, s. m. (De quadri..., e
do grego u<imê, parte, divisii(j;. Termo
de álgebra. Expressão algébrica compos-
ta de quatro termos.
j QUADRIPARTIÇÃO, s. f. (De qua-
dri..., e lio latim partitus). Partilha de
uma eoiis.a em ((u;itro.
QUADRIPARTITO, A, adj. iDe qua-
dri..., e do latim partitus). Termo de
botânica. Que é dividido em quatro jiar-
tes. — CmUa quadripartita. — Calyx
quadripartito.
f QUADRIPLUMBICO, adj. ,De qua-
dri..., e do latim plumljusi. Termo de
chimica. Diz-se d'iim sal de chumbo que
contém quatro vezes mais da base do
que do acido.
I QUADRIPONCTUADO, A, adj. (De
quadri..., e do latim punctum, ponto).
Termo de zoologia. Quo é marcado com
quatro ])ontos coloridos.
f QUADRIREMO, s. m. (De quadri...,
o do i.-itim rri/tas, remoi. Nome de um
navio da antiguidade, que se dizia ter
quatro ordens sobrepostas do romeiros,
quatro grupos de remos ou quatro remos
por baiico.
f QUADRISAL, ». vi. iDe quadri..., o
sal). Termo de chimica. Sal cm cuja
composição entram quatro proporções de
acido para uma de base.
QUADRISPERMO, A, adj. (De quadri...,
e do grego sptruia. semente"!. Termo de
botânica. Que tem quatro sementes. —
Fruto quadrispermo ; capsula quadrí-
sperma.
QUADRISULCO, A, adj. Do quadri, e
do latim sulcus, rego). Termo de botâ-
nica. Que tem quatro regos.
— Termo de zoologia. O animal qua-
drúpede, cujo pc o dividido em quatro
dedos.
-J- QUADRISULFURETO, s. iu. i De qua-
dri..., e do latim fu/fur). Termo de chi-
mica. Sulfureto que contém quatro vezes
mais enxofre do que um outro da mesma
base.
f QUADRISYLLABO, .•.-. m. (De qua-
dri..., e d<> grego si/lhib,'!. Termo de
QUAD,
QUAD
()UAD
j^-rammatiua. Palavra compo.sta de qua-
ti'ii svllabas.
f QUADRISYLLABICO, adj. (De qua-
dri..., e «o gTep'o sj/IlaòP). Que é com-
posti) ilc (|i!atro svllabas.
QUADRIVALVE," adj. 2 (jen. (De qua-
dri..., e (Io Xslíkiw valva, batente de por-
U\). Teruii) de botânica, (^ue tem quatro
válvulas. — Capsula quadrivalve ; a que
consta de quatro válvulas e se abre por
quatro suturas.
f QUADRIVAL¥ULABO, A, adj. (De qua-
dri..., e do latim valva). Que tom quatro
jiequciia.s válvulas.
QUADRIVIO, s. m. (Do latim quadrí-
víuni, encruzilhada, de quadri..., e d.o la-
tim via, caminho). Eiicruzilliada, logar
onde desembocam quatro caminhos, ou
quatro ruas.
• — Designa também a uiviwão superior
das sete artes na universidade da idade
media, divisão que vinha depois do trivio
e que comprehendia a arithmetica, álge-
bra, a geometria, a musica e a astrono-
mia.
QUADRO, s. m. (Do latim quadrum,
quadrado, íorma ordinária dos quadros).
Reunião, ordinariamente em angulo.s re-
ctos, de peças de madeira, lisas ou com
molduras, que servem d'ornamento ou
meio preservativo contra os accidentes,
aos objectos que cerca, taes como vidros,
painéis, ete. — Um quadro dourado ; um
quadro òevi entalhado.
— Paiael com pintura, ordinariamente
quadj-ailo ou quadrilongo. — Bello quadro.
— Um quadro de Raphael. — Quadro de
(/enero. — Quadro d/historia. — Galeria de
quadros. — Restaurar win quadro. — íS'eí-
amador da quadros. — « O Priucipe con-
sulte, e cuide bem o que decreta ; por-
que naò parece bem retratado, salvo for
em quadro com bom pincel ; mas com
penna nem de palavra, naõ fica gentil-
homcm. Se o erro for pequeno, melhor lie
sustentalloy se naõ se seguir delle grande
damno, ou alguma oífensa de Deos ; por-
que prepondéi-a mais o credito do Prínci-
pe. » Arte de furtar, cap. 30.
— Figuradamente : Um todo d'objectos
qu'í ferem a vista, que fazem impressão.
Xi^íta immensa extnnsão uiillnjos de globos
Km profamJo silencio, em gyro etoruo,
Sem encontrar obstaonlo caminhão,
¥, a lei primeira, que escutarão, guardão :
Como surgirão na primeira noite,
Inda surgem agora, e aos olhos iirilhão,
D'oxta3Íado Astrónomo, que vi' Ia,
No silencio da noite, absorto, immerso
Xo quadro encantador. Descubro, e vejo
Astro origem da luz, que forma o dia.
J. A. DE MACEDO, MEDITAçSo, Cant. 2.
Até depois que o pavoroso Crime
A seu mando forcou do Inferno as portas,
Embargadas as lágrimas lho ficão
Nos tristes olhos, se o pomposo, o vasto
Qiiadrn da Naturcvia hum pouco encara,.
imnKM. cant. -í.
Diverso clima embora eu mo affigure,
Vapor mais denso, ou raro, e outro diverso
Palpitar de pulmrics, e estranha forma,
Ao ciwumfu.so fluido ajustada,
Em c;li-ceie mortal, substancia eterna.
Alma d 'ordem sublime em corpo humano,
(^uo o quadro possa meditar da immensa
Pasniosa croaçào, qual eu medito.
iDiDEM, cant. 2.
Tal foi o assombro, o êxtase sublime,
(jue o primeiro mortal sentio primeiro,
tjaando ao Divino assopro o inerte barro
Kecebo a ^dda, as pálpebras se rompem,
E a seus olhos brilliou do Mundo o quadro.
IllIDE.M.
Tu, que dos Al.)os as novosas frentes
Soubeste decantar : se tu correras
O Cáucaso gelado, o Tauro, o Gate,
Que niagostosos, que sublimes quadros
Atfain;írào teu canto, onde a Pintura
Tcin liçues que escutar, o Urbino idéas.
IBIDEM.
E o gérmen nos deixou no aurco volume,
De (pumto soube nas idades todas
A humana experiência, humano estudo,
Da Natureza o Quadro contemplando.
iriE.M, VIAGE.M EXTArici, caut. 2.
Em seus Escriptos, que a ignorância altera,
(Ignorância dos Árabes soberba)
Saber cncyclopedioo descubro.
Dos brutos animaes, que a Terra, os Ares,
E o Jlar no fundo abysmo cucerrào, nutrem,
(A immensa turba, as variantes classes)
Plinio, e Líuftbn nos representa o Quadro.
Míiravilhoso quadro, quanto excedes,
(Is do Vate EsinirnOo ! Mas quanto p/idc
.•V crciídrira fantasia, o Génio!
Quanto vai progredindo o Ser humano,
Co' o grã pczo dos séculos, nas Artes !
Do Gama no Cantor, que assombros vejo!
llilDEM.
Os immortacs Alcácei-os se abrirão.
Do centro esciu'o das espessas nuvens.
Que aos frágeis olhos dos mortaes escondem
Os Quadros do Futuro, a voz escuta
De hum Divinal Oráculo, que a estrada
I.,ho marca da Virtude, e que lhe mostra
Os Fados que hão de ter Carthago, c Eoma.
iiuDE.M, cant. 1.
Depois f|ue em Quadros taes a vista absorta
Acabei de deter, novos objectos
O transportado espirito me cnlevão.
Nos áureos muros esculpidas vejo.
Nunca a meus olhos descobertas Formas.
Da sua mesma gloria opprcsso fica !
Da Creação no Quadro imjnenso, e vario
Eu si'i prodígios, e milagres vejo.
IlUDEM.
— Representação natural d'uma cousa
em acção, de viva voz ou por escripto.
— Quadro das paixões e dos vicios. —
Quadro fel. — Quadro exagerado.
Teu fogo, (5 Milton, teu transporte he fi-ouxfi,
Teus quadros ideaes cedem na força
Aos que Verdade, c Natureza òstcntào !
Remonto os voos, que animoso eu solto
Inda além de Saturíio, além dos tardos,
Quàsi opacos satellites, que o cingem,
j. A. DE M.vcEDO, MEDiT.u,'lo, cant. 2.
Quanto soja o mortal inda hoje mostras.
Teus quadros, teus pincéis respeita o Tempo.
Entre o medonho estrépito das armas
Ao Jlacedonio Heróc prendeste os olhos.
— E uma sombra n'um quadro ; diz-so
d'um -pequeno defeito que faz subresahir
as qualidades d'uma pessoa, a belloza do
uma obra.
— Arca, peça, espaço, divisão qua-
drada.
— Folha ou taboa sobre a qaal se or-
denam metliodica e synopticamente ma-
térias históricas, didácticas, etc. — Qua-
dro estatístico. — Quadro comparativo en-
tre os antigos pesos e medidas e os ■mo-
dernos.
— Quadro votivo; diz-se do quadro con-
sagrado n'um tem.plo por aquelle que es-
capou a algum perigo.
— Divisão d'uma peça di-amatica intro-
duzida nos usos do theatro. — Drama em
cinco actos e oito quadros.
— Termo d'architectura. Quadro bai-
xo; membro quadrado que serve como
de plintho á base do pedestal. — Quadro
nlto; egual membro sobre a columna.
— Termo (Parte militar. Quadro de
(jente; batalhão quadrado.
— Termo de imprensa. Taboa quadri-
longa com quatro ganchos em cima pre-
sos na trempe do furo com que se carre-
ga no tvmpano, que aperta a forma.
— Termo de phvsica. Quadro magico;
quadrado de vidro montado sobre uma
moldura, com as duas superílcies cober-
tas em parte de folha de estanho, que
pôde produzir os mesmos eíFeitos que a
garrafa de Leyde quando está electri-
sado.
QUADRO, A, adj. (Do latim quadro,
are, fazer quadrado). Termo de mathe-
matica. — A raiz quadra ; o numero ou
unidade -que multiplicado j^nr si mesmo
produziu o quadrado. — 8 é raiz quadra
de 64.
QUADROMANO. Vid. Quadrumaiio.
QUADROXALA'TO, s. m. (De quadri...,
e oxalato). Termo de chimica. Sal que
contém quatro vezes mais acido oxalico
do que uni oxalato simples.
t QUADROXYDO, s. m. (De quadri...,
e oxydoi. Termo de cliimica. Oxydo que
contém quatro vezes mais oxygeueodo que
um (lutro.
QUADROMANO, A, adj. (De quadru...,
ou quadri..., e do latim manus, mão).
Termo de historia natural. Que tem qua-
tro mãos.
— Quadrumanos, s. m. pliir. Segunda
ordem dos mammiferos, caracterisada pe-
la disposição em firma de mãos das qua-
10
QUAD
tro cxtremidaloí. Esta ordem, qiio coni-
prehondo os animaos cujo pollogar don
pés do traz «stá «('[jarado como mu de
dianto, o quo pidas fVjrmas fíoracs o or-
panÍ8a(;i!o iutorior híío o.s mais proxlmo.s
(lo hoiiuiiii na oscala zoológica, ostá divi-
diila oin duas tauiilia.s: os macaco» c os
maki-t.
QUADllUMVIRATO, «. »i. < IK' quadru...,
ou quadri..., c do l.itiui rir, lioiurim. Jun-
ta (ic) (|uatrii ina;^istradns (jiui tinliaiu o
conliocitinuito o jurisdicgilo d'alguiua iiai-
to do g(iv(-nio nimauo.
QUADRUPEADO, A, nlj. (^uadiuplifa-
do, i(u;Ui'(i vr.y.r:^ outivi tanto.
QUADRUPEAR, v. a. (Quadruplicar.
QUADRUPEDANTE, alj. -' wlj. (Do la-
tim quailriijicjliois, fin, que anda oní qua-
tro pés). Que diz ros))cito á cavalgadura,
(^uc anda vm (|uatn( pós. — O quadru-
pedaule /"''irn.
QUADRUPEDAR, v. n. (Ue quadru...,
ou quadri..., c do latim pes, dis, pé),
líator com 03 pés, fallando do cavallos e
outros (piailrupodcs. — Quadrupedando os
rnpidii.t qtiiffrs.
QUADRÚPEDE, 'dj. 2 geií. (Do latim
qiKiilniiiciliis, (ic quadru... ou quadri...,
o pes, d tu, \ir). (^tuo tem ([uatro pés. Que
marcha com (juatro ])é.s.
— Animaes quadrúpedes ; ilá-so em ge-
ral este nome a todos os animaes provi-
dos de quatro pés, mas mais especialmen-
te aos manunifcros terrestres. — « Os ani-
maes quadrúpedes domésticos, segundo
Rhasis, ;>. se vem hum sò olho do Lobo ar-
rancado, temem de sorte, quo fogem a
toda a parto furiosos; e posta a cauda
deste animal sobre o OurWd dos IJois,
logo estes tleixaõ de comer.» Braz Luiz
d'Abreu, Portugal medico, pag. 583.
Nos livros avos as volúveis avps
Soltão ao canto n voz, c ao vento as pc:ias :
Os luunililiM n^jitis sou covpo aiT.astào :
Os iliviTso.-i (i'iifilriipe(le:í distinfcnom
A in-o;n-iiv li.il)it;n;rio. Na inculta brenha
Se acouta, e se defende, o bravo, i> fero :
E vem buscar o império, e a nuio ilos Iichuimis
Os rebaniios paciticos, c dóceis.
j. A, ni: M\cF.»o, MKi)ir\í"o, cant. .'5.
Dos Entes brutos progressão pasmosa
Nestes viventes átomos começa :
Chega onde a Niitureza estanca, o pAra
Nos colossaos q>iadr>ipcdc.s, qne a Terra
Parecem opprimir com pozo enorme :
Qual vai nas margens do assombrado G mges,
E vergéis de Ceilão, forte Elefante.
ininKM.
— Termo d"astr(Uion\ia. N/<//Ií).s- quadrú-
pedes ; do animaes de q\iatro jiés : arie.s,
tauro, loo, ctc.
— Termo do mvthologia. Quadrúpede
alado; Pegado.
QUADRUPLE, alj. 2 ./-íi. Do latim
quadrujdc.v, ou i/wi Ini/dits, quatro ve-
zos t.anto). Quadrupoado. duplicado duas
vozes.
QUAK
QUADRUPLICAÇÃO, x. f. > Do latim
'/niflruji/iiarr, diibran. Ac(;Jl(> de qua-
drujilicar. Multi|)lica<;ito por quatro ou
tomar quatro vezes um numero,
— Termo de aimtomia. Dobrar em qua-
tro dobras, fallando das membranas do
cerol)ro. — «De cuja quadruplicação n-
sultam c se firniam (puiti-ii cavíd.adcs.»
1'raz Luiz d'.\brcu, Portugal medico,
pag. li:;.
QUADRUPLICADAMENTE, 'ilv. (De qua-
druplicado, co:ii o suffixo umentei'). Em
numero ipiadruplo, (juatro vezes outro
la-ilo.
QUADRUPLICADO, ji'irf. pfins. de Qua-
druplicar.— IJiii imiiuiri) quadruplicado;
ipi;itn) vezes outro tanto.
QUADRUPLICAR, v. >i. (Do latim <pi>i-
ih-njdíi-fin-, dobrar). Jlultiidicar por (pia-
trn, tornar, rcjn-tir (piatro vezes a mesma
quantlilailc.
QUÁDRUPLO, A, adj. iDo latim qua-
dniplna, de quadru..,, ou quadri..., e
um radical plu», mais). Que vale quatro
vezos tanto. — Um numero quádruplo. —
Uma somma quadrupla. — Pruporauj qua-
drupla.
— Quadrupla alliança ; tratado entro
quatro potencias: v. g. o tratado con-
eluido em 1815-1 entre a França, Ingla-
terra, llcspanha e Portugal, para susten-
tar o governo constitucional nos dous úl-
timos estados.
— Termo de musica. Propon^ão qua-
drupla ; aquella em quo o numero maior
contém o menor quatro vezes.
— Termo de chimica. Sal quádruplo;
sal formado de dous outros saes.
— Quádruplo, s. m. A somma do qua-
tro unidades.
QUAER, \n>r CAER, aut. Vid. Cahir.
QUAIRA. \"\A. Cairá, ou Cayra.
QUAIRELLA, <n,t. Vi.l. Courella.
QUAIRELLARIA, nnt . Vid. Courella, etc.
QUAIRELLEIRO, 'mt. Vid. Courelleiro.
QUAKER, ou QUAKRE, .•*. /-(. Do in-
glez qudLcr, tremedor, de to ijuakif, trc-
merl. Nonui de uma seita chri-^tà, a prin-
cipio fanática e hoje eminentemente phi-
lanthropica, que tevo a sua origem em
Inglaterra em IGjO. P^ste nome vem de
que a principio manifestavam o seu en-
thusiasmo durante os seus cxercicios de
piedade por contorsões e tremores, que
justitieavam as palavras do seu funda-
ih>r: o Tremei em presença da palavra
de Deus. »
Esta seita ensina quo Dous dá a todos
os homens uma luz interior que dispensa
a intervenç.uo dos sacordote^s. Os qua-
kers n.ão fazem Juramento algum, n<ào li-
tigam e protestam incessantemente contra
a guerra, debaixo de todas as suas fir-
mas.
Concedem o direito de jMégar a qual-
quer individuo, liounMn ou mulher, inspi-
rado pelo Espirito Santo, evitando com
certa tinura os inconvenientes d'csta con-
QUAL
cessjto pelo estabelecimento <\f: juizes da
realidade da inspiraç.lo, formados jKir um
conselho d'anci3oH, cujo procedimento é
subordinado ás repras ordiíiarias da pru-
dcmcia humana. O kcu culto é puramente
espiritual o despido do toda a coremo-
iiia, assim c<jmo a sua capella de todo o
ornamento.
Dilo-se o nomo d'aniigoB e a sua seita
conta numerosos proselvtos na Inglatur-
ra. Ilollaiid.i <• I''»lado»-Uniilo8.
1 QUAKERISMO, «. m. (De quaker.
Doutiina dos quakers.
< » quakerismo apresenta o nin^lar es-
pectáculo de uma sociedade sem chefe,
constantemente submettida a uma lei dc»»-
provida de toda a sancç.ío penal, renun-
ciando ao ei.ijjrego da força e á protec-
ç.^io dos tribunaes, e debaixo do sSo
principio d'obcdiencia litteral á palavra
evangélica, chegou a realisar vutos for-
mados por utopistas, fazendo reinar a
fraternidade no seio da desigualdade das
fortunas c das posiçSes sociaes, emanci-
pando a mulher, sem enfraquecer os la-
ços da familia, e abolindo o sacerdócio,
sem (|uc o dogmia variasse.
QUAL, adj. 2 i/en. i Do latim qualisi.
.Vdjectivo articular, de que nos servimos
indagando o tim de designar a pessoa ou
cousa, a respeito do que duvidamos. —
Qual dos dons foi o que com»»etteu esKe
crime ? — « P. Qual he o tempo mais con-
veniente para orar? — R. í) melhor lie
de noite, quando tudo oj>tá em silencio :
Meditatus sum lujcte cuni corde meo, et
e.rcrcitabar, et scopebam spiritum meum:
Também he bom o da manhàa : Mane
oratio mea prffveniet te: Levantando-se
cedo, como fazia o Povo de Deos no de-
serto para colher o Jlanná.» Padre Ma-
noel Bernardes, Ezercicios espirituaes,
pag. 1, part. 16.
— Relativo conjunctivo, quando prece-
dido dos artigos o e fl, c vale tanto ci>mo
que. — oAo Escripvào das Malfeitorias
jierteence screpver todalas malfeitorias da
Corte, e o Corregedor ha de ordenar co-
mo sejam pagadas d'Arca das malfeito-
rias, e despois que forem pagadas entom
o Escripvam as ha de tirar em rool
o qual ha de dar ao Porteiro dante o
Corregedor, que vaa fazer as eixecu-
ÇÕes per mandado do dito Corregedor
nos bens daquelles, que as malfeitorias
fezerem.» Ordenações Affonsinas, liv. 1,
tit. If). — «Disse mais o dito Vicente Es-
teves, que o Monteiro Moor tinha junli-
çom, como tem, sobre os Monteiros da
Camará, e Monteiros de Cavallo, e <«
Moços do monte, qne erra.»?era em seus
i.fticios, ou fezcssem o que nom deviam
de os privar dos ofHcios, e poer outrt>3
em seos 1(\íuos. e mandallos aa cjídea, c
dar-lhes pena, qual entendessem qne me-
reciam C(un (Iin'ito, segundo esto nniis
eompridamentc se contem cm hunia car-
ta, que o dito Jjopo Vazques dello tem.»
QUAL
QUAL
QUAL
11
Ibidem, liv. 1, tit. (37. § 1(3. — «Diz a
historia que do duque Artilao vassallo de
elrei Recindos de Hespanha, licou uma
fillia lierdcira de seu senhorio, que era
grande : a qual criada iia conversação da
infante Belisanda, filha de elrei Recin-
dos, se namorou d'Onistaldo seu irmão;
e como também ella a elle «ào parecia
mal, teve tauta força o amor antr'elles,
que vieram a effeito de suas vontades.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 74. — «Bem pareceu a todos
que isto seria alguma aventura nova, e
esperaram ver a embaixada que o escu-
deiro daria: o qual chegando ante a rai-
nha, com os giolhos em terra, disse.»
Idem, Ibidem, cap. 129.
Tal na imaginação se me apresenta
O nobre Sousa, o qncd inda que forte
Som temor não entrou nesta tormenta
Porque o esforço não tira o medo á morte.
F. d'ajídrade, primeiro cerco de DIU, caut.
6, 'est. 52.
Francisco de Gouveia hum se chamava
O qual uaquclla parto do Occeano
Que da famosa Diu as terras lava
Era o Capitào-mór mais soberano :
O sobrenome ao outro Veiga dava
Sobre o nomo do Santo Lusitano,
O qual da fortaleza feitor era,
A ambos o Ceo hum forte esprito dera.
IDEM, IBIDEM, CSnt. 10, CSt. 81.
?i landa huma grande fusta áqacUa parte
Na qmd era o Carvalho obedecido.
Para que quanto tem no baluarte
Também fosse cntào iiella recolhido.
Traz a barcaça a fusta logo parte,
E sendo destes dous bem cnteudido
O que manda o que tem o gorai mando
Sem detença o vão logo effeituando.
IDEM, ii)iDE.M, est. lOG.
— «Matou com virtude de suas ora-
çoens hum Baselisco, que com sua vista,
e alento mortífero, tinha tirado a vida a
muytas pessoas, e fez outros milagres em
vida e morte, que foraò indicio de sua
Santidade, e o saõ hoje de sua gloria,
para a qual se partio, tendo governado a
Igreja oito annos. três meses, e seis dias.»
Monarchia Lusitana, liv. 7, cap. 15. —
«Queimadas as nãos em que se passou
boa parte da noite, logo ao outro dia pe-
la menhãa mandou Pedralurez esbom-
bardear a Cidade, o que se fez tão bi-a-
uamente, que muitos se sairão delia, e
assi o mesmo Rei, aos pès do qual hum
pelouro de bombarda matou um Xaire
muito seu prluado.» Damião de Góes,
Chronica de D. Iiíanoel, part. 1, cap. õ9.
— ^ «Entre os quaes auia Castelhanos, e
genoeses, e outras nações "de Christãos,
donde vinha muito cobre, será, prata, e
outras mercadorias ao castello de sauta
Cruz do cabo de guer, a qual villa dom
Francisco de Castro depois destroio, e
arasou como se ao diante dirá.» Ibidem,
part, 4, cap. 21. — «O qual pela grande
perda que nisto recebia quis dar a enten-
der a el Rei que isto era mais quereren-
Ihe tomar o regno, que nam desejo, nem
vontade de olharem por sua fazenda, e
porque el Rei era mui inclinado a naçam
Portuguesa, e seruiço dei Rei dom Ema-
nuel parecendo a Raix xarajDho, que com
difficuldade o poderia atraer a sua ope-
niam, determinou de fallar sobreste ne-
gocio ao sogro do me.smo Rei pêra lhe
ganhar a vontade.» Idem, Ibidem, part.
4, cap. 63. — «Os Mouros tanto que o
viram afastado, a grão pressa começaram
apagar o fogo, que ardia em hum certo
óleo de terra, de que em Pedir ha gran-
de quantidade, em huma fonte que mana,
ao qual óleo os Mouros chamam Napta,
cousa acerca dos Médicos mui notável,
por ser excellente pêra algumas enfermi-
dades, de que nós houvemos algum, e te-
mos experiência ser mui appropriado pê-
ra cousas de frialdade, e compressão de
nervos.» João de Barros, Década 2, liv.
6, cap. 2. — «O primeiro foi a Pulate
Can, dizendo-lhe, que não se podia ne-
gar elle Pulate Can ter commettido aquel-
le feito como cavalleiro que era, por o
qual merecia mercê ao Hidalcão, e que
elle lhe escreveria como as cousas esta-
vam em melhor estado do que lho fora
dito.» Idem, Ibidem, cap. 9. — « Tor-
nando, pois, agora ao que hia dizen-
do, tanto que o Príncipe proveu nes-
te negocio por esta via com mostras de
grandissimo animo, e de bom Capitão,
se recolheu para huma casa de reli-
giosos que estava no meyo do bosque,
na qual se encerrou três dias, e tornou
de novo a lamentar a morte de seu pay,
mny, e irmãs com miiytas lagi-vnias, o
tri.steza.» Fernão Mendes Pinto, Pere-
grinações, pag. 201. — «E tirando-se de-
vassa do que passava o escreverão por
petição de clamor do povo, a que ellcs
chamão macaxilau, ao Chaen do governo,
que he o VisoRey naquelle Reyno, o qual
mandou logo hum Aytao, que he como
Almirante entre nòs, com huma armada
de trezentos juncos, e oytenta vancões
de remo, em que hiaõ sessenta mil ho-
mens, que se fes prestes em dezassette
dias.» Idem, Ibidem, pag. 221. — «Jesus,
nome de Jesus ! Phrase exclamativa. —
.Tesus ! nome de Jesus! — exclamou D.
Luiz — meu primo conta uma historia do
marechal de Villars, o qual servindo a
Luiz XVI, venceu os alemães, entrou por
Alsacia e fez prodígios.» Bispo do Grão
Pará, Memorias, publicadas por Camillo
Castello Branco, pag. 118.
— Correlativo a tal. ■ — Qual o animo
de D. João II, tal a sua forca. — Qual
pae, tal filho.
— Toma-se também por ah/um, ou por
M?H. — Todos esperavam, qual wíhíVo, qual
pOMCO.
— Pelo qual, locução elliptica a que
falta a palavra motivo, ou causa; substi-
tue a locução pelo que. — - «Polo qual ere-
ceo ho ódio dos Bramenes conti-a mi, e
dalli por diante tive disfavores delRey,
que se moveo por zelo de seu deos e do
deos de seus Bramenes.» Frei Gaspar da
Cruz, Tratado das cousas da China, ca-
pitulo 1. — «Pois assim como o somno
natural, no commum dos Philosophos, se
excita pellos vapores do alimento que oc-
cupào as vias, pellas quais se communi-
caõ 03 espíritos aos orgaons, com muyto
mayor efficacía se dará somno no Lethar-
go, pois nelle se obstruem os mesmos or-
gaons, naõ sò com os vapores, mas tam-
bém com a mesma corporatura dos hu-
mores, de quem elles se cllevaõ. Braz
Luiz d'Abreu, Portugal medico, pag. 4õ6,
§ 14.
— Em que estado, de que sorte, ou
condição.
— Usa-se também como adverbio nas
comparações, e invariável.
— Qual a qual; quem a alguém. —
Qual cão, a qual dono.
— Adágios e provérbios :
— Qual o rei, tal a grei.
— Qual o rei, tal a lei ; qual a lei,
tal a grei.
— Qual é elle, tal ca.sa mantém.
— Qual é o cão, tal é o dono.
— Quaes palavras te dizem, tal cora-
ção te fazem.
— Qual cabeça, tal siso.
— Qual é Maria, tal filha cria.
— Qual fiamos, tal andamos.
— Qual pergunta farás, tal resposta
terás.
— Qual o tempo, tal o tento.
— Qual mais, qual menos, toda a lã é
pêllos.
QUALHADO, j>art. pcm. de Qualhar.
— Viilro qualhado ; vidro não trans-
parente.
QUALHAR, V. a. Vid. Coalhar, ortho-
graphía mais conforme com a etymologia
latina coagulare.
QUALIDADE, s. /. (Do latim qualifas).
Termo didáctico. Modo de ser dos coi-pos
em virtude da qual fazem nos nossos sen-
tidos uma impressão particular que nos
dá as idéas de figura, de côr, de grande-
za, etc.
— Termo de philosophia. Qualidades
primarias dos corpos ; aquellas sem as
quaes não poderiam existir nem ser con-
cebidas.
— Qualidades secundarias; aquellas
que de uenhiam modo são essenciaes á
concepção dos corpos.
— Qualidade occulta; propriedade dos
corpos cuja causa é incógnita.
— ■ Termo de alchimia. As quatro pri-
meiras qualidades ; o calor, o frio, a sec-
cura e a humidade.
— Disposição moral boa ou má. —
«Targiana fez o mesmo, vendo Floriano
victorioso, cousa que ella não desejava ;
que o amor que antes lhe tivera, agora
12
QUAL
QUAL
QUAL
ura convertido oin ódio, qiio ostii quali-
dade é a filia nestas iiiia'( eousaa nào tn-
rom moio, Honilo <lc! ódio oii amor, anda-
rem scuipro afODijiaiiliada I.» Fi'aiicisco
do Moraes, Palmeirim d'Iiiglaterra, ca]).
DL — «A oHtt! tom]") Ha^iin um cav.illei-
ro do meio don outroH, liotiicm antr'olle.i
de íçram credito o aiit!i(»'idade, as.sim por
Buas eàns, como ])ola qualidade do nua
jiossoa o oxperioucia i!e cousaai, que mui-
tos annoí lho mostraram, o disse contra
Palmeirim.» Idom, Ibidem, eap. '.IS. —
«Nova maneira d'avcntiu"a pareceu esta
ai rei, o caso que as qualidades delia
Í)arecosse cousa de rir, aif^ans {galantes
lOuve na cOrtc que iiouveram moio por
não conliar-so tanto da constância de
quem serviam, que se tivessem por se-
guros, em espacial vendo os cavalleiros
sjr de tant-i eUado.» Idem, Ibidem, cap.
129. — «E tvmbem porque as damas fa-
çam isto com menos pejo, além do preço
que mostrar.ào nas armas, Hio querem di-
zer o do Puas qualidades. Tolos três s."io
primos herdeiros de estalos nobres, um
se chama ÍAistramar, filho maior do mai"-
quez Astramor.» Liem, Ibidem, cap. 12ÍL
Ficou tal iiccossidado
(lo liomcna desta qualiãadf,
([uc p:iva a Indiix mandar
80 iion pode Imo achar
soai nmvta diâiculdado.
O.VKCIA DE EEZEXDE, MISCELI.VXEA.
— Absolutamente: Diz-se também das
cousas. — «E como a tençaõ delRiv dom
Fcrnãdo era dilatar este caso te lhe vi-
rem oatros nauios que tinha inuiado a
estas ilhas que descobrira Coiom, pêra
que segundo a qualidade da cousa assi
fazer a estima delia.» Joào de Barros,
Década 1, liv. 3, cap. 11. — «Passados
poucos dias que estes capitiíos crão idos,
succcderíio cousas cõ os dons capitães que
iieavão, com que per alguns dias os voyo
a suspender das capitanias : porque couio
andava escandalizado da desobediência
dos outro=!, nào qniz soffrer a estes con^a
alguma d'e3t:i qualidade.» Idem, Década
2, liv. 2, cap. õ. — «Senhor Floram-
bel, disse l'anilore3, naõ he sem causa
folgardes de aventurar a vida em cou-
sas desta qualidade, pois naò ha ninguém
que as engeite, e ainda que eu sou gran-
de servidor do 8enhi.>v Clarinmndo, e de-
seje do imitar suas cousas ; em fugir
dos que elle fugia, não o tarei desta
vez.» Idem, Clarimundo, liv. 2, cap. 2l).
Ouvido nisto o Sonsa nttcntamcnto
E n'outra9 cousas desta qiia'idade
Foi do Governador, que doUas sento
A tenção de IJaudur, c a m.4. vontade.
F. ©'ANDRADE, PRIMEIRO CERCO DE DIC, Caut. O,
est. 5S.
■ — « Tínhamos j;i i)erdido oitenta ho-
mens, o mais do cento feridos, e pula es-
treiteza, c ruim qualidade do« mantimen-
tos, muito.s andavào r.ifinuos. As muni-
yões em grande partj gastadas, tinhão
reduzidos os nossos .-» perigoso estado ; o
que onteiidido por (Jogo (,Jofar do alguoH
escravos, rpie fugirão da Fortaleza, man-
dou reforçar as baterias, crendo, que não
[)oderiào durar os aiiimos em tão quebra-
das forea^. » .lacintho Freire d'Aiidradc,
Vida de D. Joào de Castro, liv. :!. — «Ao
seguinte dia eaeg;irrio ]>. .Jm-ge, e li.
Duarte de «Menezes, h.ivendo ]>assado os
mesmos riscos, com a mesma constância,
que Luiz de Jlello, com estes soccor-
ros, maiores na qualidade, que no nu-
mero, i>arecia que tinha já outro sem-
blante a guerra. » Ibidem, livro 2. —
o Devxemos horrores de>ta qualidade,
os quaes ainda que verdadeyros não gos-
to tio introduzir nos meus escritos. »
Cavalloiro d'Uliveira, Carias, livro 1,
n," Iti. — « Eaterravão os Antigos hum
menino até :'i barba, e aproseatavão-
Ihe muitas vezes no dia differentes qua-
lidades de alimentos sem que lhe dev-
xassem tocar.» Ibidem, liv. 1. n.° 30.
— « Tal he ao contrario a qualidade do
merecimento, que ainda sendo o mais
verdadoyro, necessitado soccorro do tem-
po para conseguir o applauso que lhe he
devido. » Ibidem, n." 40. — « Dj toda a
t inna que me figuro que sois me pare-
ceis muito bem, e sem saber qual he a
qualidade <'a vossa fermosura estou para
jurar que he a mais encantadora, o fei-
ticeyra. » Ibidem, n." 47. — He femini-
no, nocturno, o movei ; iiorfjUii entrando
nelle o Sol, se muda a qualidade do tam-
po, iniluindo humidade, e frialdaile tem-
perada mny apta, e conveniente para a
nutrição, líntra o Sol nesta Signo a '22
de Jnnho : e até que sahe diminúe o dia
meya hora : o qual Signo he c;iza diur-
na^ e nocturna da Lua ; exaltaça") de Jú-
piter, detrimento de Saturno, e caida de
JLirte com a sua entrada se ias o Solsti-
cio Estival. » líraz Luiz d'Abre.u, Portu-
gal medico, pag. r)21. — «Por esto rio
até ;i nova coloni i tivemos o praser de
observar lindíssimas flores c também fru-
ctas silvestres, peixes deliciosos, barrei-
ras de que se tira excellente tinta ama-
rella, e uma qualidade de gesso a quo
chamavam tavatinga alvíssimo e melhor
do que a cal. » Bispo do (irão Pará, Me-
morias, publicadas por Camillo Castello
Branco, pag. 203.
— Casta, raça. — « Yio-se um Cirur-
gião que comia contopeyas, o bichas la-
gartas, com azeyte e com vinagre : hiiina
moça donzella quo comia lagartos vivos
todas as vezes quo os podia alcançar ;
outra que comi.\ Arraas, Lagartos, Ra-
tos, Cobras, Lagartijas, e toda a quali-
dade de insectos. » Cavalloiro de Olivei-
ra, Cartas, liv. 1. n." 14.
— Nobreza distinctn. — E um homem.
(' iim/i mulher tle qualidade. - • Naqucl-
le dia toda pestioa' do tola qualidade jxdo
comprazer so vestiram e aliviaram o
melhor que jxvleram, segundo a sub-taii-
cia de cada um. Targlana «aiii tão fer-
mosa e ciisto-<a de atavios, quo Ih'? o ini-
porad'ir mandou dar á sua custa, que
não teve di> quem se teinossc pêra lhe
fazer inveja, ne n.âo .so fui Poliiuirda,
que nas obras de natureza lhe fazia mui-
ta vantagem. » Francisco de Morae*, Pal-
meirim d'Inglaterra, cap. 'Jõ. — « Ainda
que isto fossem couâas de encantauiento
jiouco pêra sentirem, nem doerem, hão
actmteeeii assim ao cavaileiro do Tigre,
que revolvendo na memoria todaa suas
boas venturas pas.sadas, pareceu-liic que
já a fortuna o cliegára ao derradeiro grão
delias, e que dalli por diante descairia ;
pois acabando sempre cousa* tamanhas,
em uma de menos qualidade p'i lera tão
pouco.» Ibidem, cap. 12*). — «Na qual
por certo não ousara nem deuera de to-
car, se me nam fora inanda'lo por V. A.
por ser de qualidade, que depois de al-
gumas pessoas a terem começada, el lú-i
dom João vosso irmão, que «anta gloria
haja, lhes mandou tomar o que já tinhaõ
scripto, pêra se acabar per outros, de
cujas habolidades tinham mór opinião,
em mãos dos quaes ficou até seu faleci-
mento. B Damião de «iões, Chronica de
D. Manoel. — « Em todas as cidailes e
lugares grandes tem el Rey mXiito boas
e nobres casas para se agasalharem to-
dos os Loutliias, assi grandes como pe-
quenos, e todos 03 que sam por qualquer
via dei Rey, que tem rendas bastantes
pêra provimento de toda ha pessoa que
na casa pousar se^gundo sna qualidade. »
Frei (I aspar da Cruz, Tratado das cou-
sas da China, cap. 18. — « E se for de
qualidade, que peça emenda, haja algum
^Ministro fiel, que o tome sobre si. c tam-
bém a pena que o Principc ramlei-ará,
ou perdoará a titulo de descuido ; e .as-
sim se dará satisfação a todas as partes,
ficando illesa a authoridade mayor. » Ar-
te de furtar, cap. 30.
— Espécie. — « Estas duas qualidades
de Deshonra ordinariamente nào andào
juntas, porque muitos homens indignos,
e por consequência infames diante de
Deos são louvados, c honrados no mun-
do pelas suas m.ás obras. » Cavaileiro de
(oliveira. Cartas, liv. 1, n.° ól,
— L^iz-se dos títulos, que toma, que
recebe uma pessoa, por causa do seu
nascimento, do seu emprego, da sna pro-
fissão, dignidade, ctc. — Tomar a quali-
dade </«' Dolire. lie príncipe, de duque, etc.
— .íl qualidade de prefeito, de mestre,
de matiis^trado, etc. — A qualidade ''<.
advoffado.
— Raça, casta. — A' »iíí qualidade de
ijente. — « Se o dissessem, inentiri.lo com
quantos dentes tem na boca, assim como
mentem em quantas letras t.nu as suas
QL'AL
QUAM
QUAN
li
gazetas: porem o melhor de tudo lie que
r.ao appareça a carta, como vo.s digo,
nem em Carta uem eui Aldeja, em que
liaja esta qualidade de gente. » Cavallei-
ro d'01ireira, Cartas, liv. 1, n." 23. —
« Exaqui hvima matéria sobre a qual se
polem fazer grandes discursos, por as-
sentarem em liuma qualidade de gente
que pôde com tulo. Perguntais-me se
kouve no mundo l-í^igantes ? Digo-vos que
uào someate os liouve porem que aiiída
os ha.» Ibidem, liv. 1, n.° 49. — «He
ella de qualidade que ordinariamente a
vemos só ou mal acompanhada, porem
era V. E. encontra-se com huma fermo-
sura encantadora, com hum entendimen-
to brilhante, e com huma generosidade
1 10 grande que iguala ao seu ilhistre nas-
cimento. D Ibidem, li%'. 1, n." 20.
— Termo de jurisprudência. Titulo que
torua hábil a exercer algum direito. —
A qualidade de legatário.
— Syx. : Qualidade, estado. Vid, este
ultimo vocabul'1.
QUALIFICAÇÃO, s. f. Acçào de quali-
ficar. — A qualiíicação de crimes.
— Xa linguagem ecclesiastica, modo
de apreciar as proposiçòes.
— A qualidade moral dada como gra-
duação pela lei, etc,
— Attribiiiçào de uma qualidade, de
um titulo.
QUALIFICADO, part. pass. de Qualifi-
car. Que recebeu uma attribnipào. uma
qualidade. — Uma proposição qualificada
de errónea.
— Que tem íitulos de nobreza.
— Uma pessoa qualificada ; uma pes-
.soa de qualidade. — « Sendo Capitão do
Cunhale, e na jornada de Jafanapataõ
com o feliz General Andi-é Furtado de
Mendonça, aonde mostrou sempre ser
soldado qualificado. « Conquista do Pegú,
cap. 3.
— Termo de jurisprudência. Que é
acompanhado de circumstancias aggra-
vantes.
— Iiuliviãuo qualificado pai-a alguma
dignidade ; individuo que tem as quali-
dades que se requerem.
— Caracterisado.
— Termo de antiga jurisprudência.
Crime qualificado ; crime capital.
QUALIFICADOR, A, aJJ. Que quali-
fica.
— ■ Substantivamente : Theologo per-
tencente ao tribunal da inquisição que é
considtado a respeito das proposições de-
feridas. — Qualificador, do Santo Offi-
cio.
QUALIFICAR, v. a. Indicar de que qua-
lidade é uma cousa.
— Termo de grammatica. Exprimir a
qualidade. — O adjectivo qualificai nome.
— Attribuir um tltiUo, uma qualidade
a uma pessoa.
— Censurar livros como qualificador.
— Caracterlsar,
— Qualificar umu pessoa ; dar-lhe um
ser, pre'iicamento ou qualidade civil, e
authorisal-a, eonceder-lhe attribuições mo-
raes.
— Qualificar-se, i-. rejl. Attribuir a si
uma qualidade, um titulo. — Qualificar-
se doutor.
— Toraar-se capaz de alguma cousa.
— Quaiificar-se na sua posição.
QUALIFICATIVO, A, aJj. Termo de
grammatica. Que serve de qualificar,
que exprime a qualidade, o modo de ser.
— Bj7nj grande, sào adjectivos qualifica-
tivos.
— Termo de chbuica. Analyse qualifi-
cativa. Vid. Qualitativo.
— S. m. Palavra que qualifica. — E
mister distinguir o qualificativo especifi-
co adjectivo, do qualificativo individual.
t QUALIFICÁVEL, adj. Que se pôde
qualificar.
QUALITATIVO, A, adj. Que respeita
á qualidade, que tem por objecto a qua-
lidade.
— S. f. — Analyse qualitativa ; aquella
que determina a natureza ou a qualida-
de dos termos compostos.
QUALQUER, adj. 2 gen. (composto de
qual, e quer;. Adjectivo articular desi-
gnando um individuo indetermiuado da
espécie significaf^la pelo substantivo a que
se ajunta. — dessas cousas estão ao alcan-
ce dAi todo e qualquer homem. — «Já que
estava em disposição pêra foliar em qual-
quer cousa, Floriano lhe pediu quizesse
dizer-] he quem era, e a maneira como
houvera o escudo do vulto de Miruguar-
da, porque tinha em tanta conta o guar-
dador delle, que não sabia que cuidas-
se.» Francisco de Moraes, Palmeirim de
Inglaterra, cap. 76.
QUAM, adv. Vid. Quão, orthographia
preferível. — «Porque o fim da contem-
plação nào he saber só, ou esquadrinhar
nouas verdades, mas amar a Deos afer-
uoradamente, e gostar quam suaue he, a
qual siunidade, e doce sentimento, com
razão se chama conhecimento alto, e se-
creto, porque só quem ò alcança o co-
nhece, e nào se pode cora palam-as de-
clarar.» Fr. Bartholomeu dos Martvres,
Compendio de espiritual doutrina.
Jlas q>iam loagc
Me tomoa a volver do Tejo ao Thamesis,
Cortado de meraorias que o confundem,
O pensamento vago ! — Escura a nouto
Suas roupas de dó tinha estendido
Pelas torres da Ínclita Ulyssea.
G.\_EKKTT, CAMÕES, Caut. 1, Cap. 16.
Cinza, esfriada cinza é todo o alcaçar
Da glória lusitana... uma faisca,
Esquecida a tvranuos, lá scintiUa :
Mas quam débil que vens. sopro de vida !
Um so momento com vigor no peito
O coração te pulsa. Exangue, infêrma
So te ergues d 'esse leito de miséria
Para cahir. dcsfaUceor de novo.
IDEM, IBIDEM, caut. 10, cap. 20,
— Quam toma-se também por cào (or-
thographia erroneai .
QUAMANHO, ou QUAMIvíANHC, A, adj.
(composto de quam, e magno, ou manhoi.
Quão grande.
QUAMQUAM, s. m. Termo didáctico.'
Discurso latino pronunciado na abertura
de itma taese.
— Loc. POP. : Fazer o seu quamquam ;
fazer o seu elogio, ou palavias de cum-
primento: parolorio.
QUANDO, adv. (Do latim quando). No
tempo em (jue. — Quando penso na fra-
gilidale das cousas humanas. — Quando
Deus creou o mtindo. — Irei vêr-te quan-
do podÃr. — Não sei quando poderei ir
ahi. — Não se engana quando se nttri-
hue tudo á oração. — «E que seja puni-
do por Ley Santa, prova-se pollo que se
lê no Auto dos Apóstolos, quando Ana-
nias, e Safira sua molher com teuçaõ em-
guanosa oferecerão ao Apostolo Sam Pe-
dro o preço dos bens, que venderão, por
entrar em sua companhia : e porque lhe
mentirão soneguando a parte delle, mor-
rerão loguo, e esto por pena de sua men-
tira.» Ord. Affons., liv. 3, tit. 128, § 1.
— oE quando se taees Excepçoens ale-
guam depois da Sentença definitiva, em-
barguam a execuçam delia, até ser exa-
minado e provado, se foram justamente
oppostas e aleguadas.» Ibidem, liv. 3,
tit. õ6, § 1 .
Torna a casa muito ^iresí es
E leva este breviairo.
Fran. Em dia de algum fadairo
Foi quando vós, pac, naecsícs ;
Porém se ea lá volver
Bcnzei-vos se cá vier.
OIL VICENTE, F.\KÇAS.
Pintado cstana quando da verdade
Atroa desenganado, auorrecendo
Esse adidtero irmão, e os três iilhinlios
Que Thiastes na molher falsa gera. '
Estaua o Eeino todo posto em armas
Partido em divisões, em varias partes,
E pêra se escusarem mortais danos
Atreu ao falso irmão a morte busca.
COHTE REAL, XACFBAGIO DE SEPÚLVEDA, Cant. 3.
— «AlgTins dias esteve Palmeirim na
corte, tão occupado de visitações, que
lhe não davam lugar a poder-se apro-
veitar do tempo em nenhuma cousa de
seu gosto ; porem quando se iam aca-
bando teve algum espaço de entender
no que mais trazia á vontade, e tanto o
atormentava o cuidado que sempre tive-
ra, que nunca lhe dava nenhum descan-
ço, que isto tem os bons namorados.»
Francisco de Moraes, Palmeirim dlngla-
terra, cap. 135. — «E desde então ago-
ra, nunca esta mercadoria cá aportou, se
nào alguma quê vem ás fiu'tadas por or-
dem do aviso ; que como a trazem por
outra navegação, é a viagem mais com-
prida, e quando cá chega, vem tão ma-
reada que escassamente se parece com-
14
qiJAN
QUAN
i^UAN
8Í;í0.n l'''<!rii!lii) llDrlri-íiios Lobo Soropitn,
Poesias e prosas inéditas, jm^'. 2.
liei. Si, iiuirt poriMii nunca veiiioii
A iiiitiirpza ríuKM-ar
Adiiiitlit liajii i|ii« tiixar ;
Qiicí (fiifido dia faz lixtromos.
Km tudo (|ufir-HO cxtnnnar.
<;am., HKLKlIrO.
— «Com tudo íiconsclli;i<lo jiclo.s mou-
ros (lotoriiiinou coiiiotcr ii torneira vez o
passo trazendo toda a sua frota ordena-
da em e-squadròe», Duarte l'aelicco man-
dou aos das carauellas, e bateis que ni\ii
tirassem, nem se mostrassem senam quan-
do o elle dixessn.ii Damiào de (Joes,
Chronica de D. Manoel, part. 1, cap.
87. — «E posto i|ue estes o animaram
muito pêra aquelle feito a ([uc vinha,
quando soube delies como Patê Quetir
era partido porá a Jaulia, e o modo como
foi desbaratado, ficou mui triste, c con-
fuso, i)c>rque no cousolho delle tinha pos-
to grande parte de sua esperança, o co-
mo homem novo na terra achou-se man-
co de todo.» Jo.ào de BaiTos, Década 2,
liv. O, cap. :'). — «E ainda nSo ora bem
em sima, quando arrebentou pelo campo
Ascari Jlir/.a irm;"io do Roy dos Maiores
com oito mil de cavallo escolhiilos, qne
se vinha recolhendo de Barochc, por El-
llev seu innào lhe ter mandado recado
que se recolhesse, e ficasse com aquella
pente na sua retaguarda, com» o hia fa-
zendo.» Diogo do Couto, Década 4, liv.
9, cap. 10. — «E acabado isto com elle
fez seu justo e verdadeiro testamento,
estando ambos sos assentados, e fov es-
cripto com as minhas penas e meus apa-
ros, e eu estaua a porta de fora, e acu-
dia quando chamaua.» (rareia de Rezen-
de, Chronica de D. João IT, cap. 208.
iluanilo, Soiihor nu' lunilnou
tamanho numero dollas,
e tam graúdo csquoeimento,
que poucas vemos escritas,
mn parcceo que erraria
noa as por em louihrani;a,
c também outras pinucuas
que são dijjiuis de notar.
innM, MISCF.I.I.AXKV.
— «O bom-lesn, ó amor de minh'al-
nia, ó criador meu, ó meu Senhor, e ou-
tras palauras semelliantes sahidas do co-
raçam da Esposa, que quando dormia,
vigiaua.» Lucena, Vida de S. Francisco
Xavier, liv. (,!, cap. õ.
Qiiainio da enxo^^a, qne asi^ueirosa
Otíeude por inmiuiida oltato, c N-ista.
MANOEL TUOMAZ, IKSVLAN.V, 1ÍV. 9, 0Ít. 22.
Aqui, Senlior, aonde mais me offcndc
Vosso temor em passo tào estreito,
Aqui da Fé o fo£;o mais se ae-nde
Quando melhor conhei^o meu defeito.
ROLIM DE UOUR^, NOVÍSSIMOS DÚ HOMEM, CAWt. 2,
est. 3.
— «Que em aquelh' tiiii])o ja n.^o ha-
via memoria pela mayor parte morrerem
nas batalhas (|uc tivcraò quando lhe o
gr.^lo Turco tomou esta ('idade, e assim
vi mais luiiiia rua de comprido du hum
tiro do besta de huma banda, e da outra
habitada de Mouros todos boticayros de
preparar, o conce)'tar o âmbar : que Lo
huma cousa que muvto se usa entre os
Jlouros.» António Tenreiro, Itinerário,
caj). 40.
Se desejaes saber os que ajudarão
Kstií Mouro a tratar o que, atra/, digo,
Korão alfíuns Motores, que deixárau
() seu Kei mitural, Senhor antigo,
K para o de Cambaia se passarão
t^ue lhes fora até entáo o mi'ir íuiíro.
Quando seus companheiros ja deixavão
A terra imiga, c ti sua se tornavào,
K, DE ANDBADE, PRIUEIBU CERCO DE DIl.°,Cant. 8,
st. 75.
— (I Amigo do coração. Dizeis no vos-
so discurso que tendo as niolheres o en-
tendimento nuiito mais débil que o no.s-
so, sào as (jue pela mayor parte come-
tem o erro de descarregar os etteitos da
sua cólera sobre as cousas inanimadas, e
que sào as únicas pessoas que quando
jKidem executar a sua vingauea, uào re-
parjio em (jue o objecto delia seja capaz
ou incapaz de sensibilidade.» Cavalleiro
d'C)liveira, Cartas, liv. 1, n." 18. —
«Porque então verdadeiramente amamos,
quando seus màdamentos guardamos :
porque como está dito, o próprio officio
do amor he fugir de dar descontentamen-
to ao mundo.» Frei Bartholonieu dos
Jlartyres, Catecismo da doutrina christã.
Já ua soberba mcza cem Terrinas,
O vapor mais suave derramando,
A insaciável Gula provocavaõ.
Quando cliegaõ ao cheiro os Convidados,
Que feitos os devidos cumprimentos.
Sem distiuc(;aõ, em torno se assentarão.
A. DINIZ DA CBCZ, HYSSOrE, Caut. 3.
— Emprega-se também ]iara interro-
gar, significando — em que tempo? —
Quando líw.' — Quando casaremos/ —
Quando terenins jillius?
— Loc. : J)e quando em quando; uma
vez e outra vez; ás vezos. — «Suppiliem-
se dadas ou tomadas, se parecer ao mes-
tre do sacro palácio de Apollo; entendo
será iIercui'io ou Esculápio, por mais es-
pertos e escolhidos do numen, que de
quando oní quando os inspira.» Bispo do
Crào l';ir:'i. Memorias, publicailas por Ca-
millo Oastello ]5ranco, pag. 47.
K seus olhos do puro nzid da espliera
Volve, de quando, cm quando, aos olhos negros
Do ((ue a leva nos bradas. Nào atliioto,
Nào é couvidso o olhar, mas trist* o Isuiguido.
OARRETT, D. BR.VNCA, Caut. 3, e«p, 20.
— Quando </uer ([ue ; em todo o tempo.
— Loc. ADV.: Aiii'l'i quando; ainda
no ca^o.
— Quando não; ptlo contrario. — «Quan-
do não, falk-m por signacs de exercitato-
rio, inciiiiand» a orelha a inodo de. quem
approva, cabeceaudo a uma o outra par-
te como cónego que entra em c<!*ro, ou
acolito que incensa o povo.» Bís|m> do
(jrão l'ará. Memorias, jmblicaila« p<jr Ca-
millo ('asteilo liranco, pag. ã7.
— Quando muiio ; quando i>ohco ; quan-
do meiwb. — «Dutro gabando-se de enge-
nheiro consuma>lo, prometteo hunia^ \ta.r-
cacas, que sahindo do Rio de Lisboa abra-
zariaõ todou esses mares, e quantas arma-
das inimigas nelles houvessem : encheo-aa
de ])alhas, e chamiços, que estavaO pro-
mcttendo quando muito huma boa foguei-
ra de S. Joaò; e uay cá por cada inven-
to destes tantos mil cruzados.» Arte de
furtar, cap. 31.
— Sendo que.
— Quando siAdado ; no tempo em que
era soldado.
— Quando assim não fosse; se assim
não fosse. — «Bem creio, disse Albayzar,
que esta lança me acabará de fazer con-
tente, c quando assim não fosse, já eu me
agi-avarei de vossa A . me nào deixar che-
gar ao cabo com meu desejo.» Francisco
de Moraes, Palmeirim dlnglaterra, cap.
124.
— Sabe Deus quando; sabe Deus em
que tempo. — «Despedem-se pois estes
dous antigos companheiros : sabe Deo.s
quando, e como tornarão a ajuntarse.
Despedem-se; e o braço que se daõ, be
despegar-se «lo .ibraço.» Padre Manoel
Bernardes, Çxercicios Espirituaes, part.
1, pag. 481.
— Emprega-se também substantiva-
mente : Muitos quandos, poucos quan-
dos.
— An.\oios E rBovEUBios:
— Quando minguar a lua, não comeces
cousa aigum:i.
— Quando chover em agosto, não met-
tiVS teu dinheiro em mosto.
— Quando não chove em fevereiro, não
ha bom prado, nem bom centeio.
— Quando troveja em março, apparelha
os cubos, e o li.iraço.
— Quando Horece o maracotão, os dias
iguaes sào.
— Quando chove, c faz sol, ale^rre está
o pastor.
— Quando o rio não faz ruido, on não
leva airua. ou vai crescido.
— Quando Deus quer, com todos os ven-
tos chove.
— Quando o trigo é louro, é o barbo
como touro.
— Quando estiveres morto, toma-te á
abelha, c ao porco.
— Quando ao gavião lhe cahe a pcnna,
também lhe cahem as azas.
— Quando em casii nào cstjí o gato, cs-
tcnde-sc o rato.
QUAN
QUAN
QUAN
15
— Quando vem ao soberbo o castigo,
vem-lhe mais rijo.
— Quando o lobo vai furtar, longe de
casa vai cear.
— Quando o lobo come outro, fome lia
no souto.
— Quando durmo, canço; que fará quan-
do ando "?
— Quando fores de caminho, niio digas
mal de teu inimigo.
— Quando fores ao mercado, pào leve,
e queijo pesado.
— Quando o trigo anda pela eira, anda
o pào pela amassadeira.
— Quando cuidas metter o dente em se-
guro, toparás o duro.
— Quando o gosto é sobejo, mais custa
a encher que o sebo.
— Quando o corsário promette missas,
e cera, por mal anda o galeão.
— Quando o velho se nàio ouve, ou é
entre néscios, ou em açougvié.
— Quando a creatura denta, morte at-
tenta.
— Quando Deus queria, ao longe cus-
pia; agc)ra que não posso, cuspo aqui logo.
— Quando o medico é piedoso, é o doen-
te perigoso.
— Quando o nó se faz piolho, com mal
anda o olho.
— Quando os doentes bradam, os phy-
sicos ganham.
— Quando o diabo reza, enganar-te
quer.
— Quando a velha tem dinheiro, não
tem carne o carniceiro.
— Quando entrares na villa, pergunta
pi'imeiro pela mãe, que pela iilha.
— Quando não tenho vontade de fiar,
deito o fuso a nadar.
— Quando fores ao conselho, fiilla do
teu, deixa o alheio.
— Quando fores á casa alheia, chama
de fora.
— Quando fores bigorna, soffre ; e quan-
do malho, malha.
— Quando o sandeu se perdeu, o sisudo
aviso coliíeu.
— Quando o villão está rico, não tem
parente, nem amigo.
— Quando a má ventura dorme, nin-
guém a desperte.
— Quando te derem o porquinho, aco-
de logo com o baracinho.
— Quando pegas, gallinhas ; quando
gallinhas, pegas.
— Quando vires arder as barbas do teu
vislnho, deita as tuas em.remolho.
— Quando o enfermo diz ai, o medico
diz dai.
— Quando um não quer, dous não ba-
i'alhani.
— Quando Deus não quer, santos não
rogam.
— Quando o ferro está accendido, en-
teio ha-de ser batido.
— Quando cahe a vacca, aguçar os cu-
tellos.
f QUANDROS, s. ,n. Pedra preciosa que
se dizia existir no cérebro do abutre, e á
qual se attribuia a propriedade de au-
gmentar a secreção do leite. Esta pedra
não existe.
QUANT'A POR ISSO, por Quanto a isso.
QUANT'É ; termo antiquado, por Quan-
to é.
QUANT'É DISSO, por Quanto a isso.
QUANTEIRA, s. f. Yid. Canteira.
QUANT'É POR ISSO. Yid. Quanfa por
isso.
QUANTIA, s. f. Importância, somnia,
numero, porção. — «Era, portanto, axio-
mática a justiça cora que o valido dera
um tamborete na Torre da Escrivaninha
ao honrado Asinipes, com boa quantia e
assentamento na casa d'el-rei.)> Alexan-
dre Herculano, Monge de Cister, cap. 24.
— Yid. Contia, termo antiquado.
f QUANTIASINHA, s.f. Diminutivo de
Quantia. Pequena quantia, quantia dimi-
nuta.— «Nada menos, uma quantiazinha
me vinha a pedir de bôcca, e me daria
azos de augmentar um commercio, em
que ha seus lucros, quando vai o dinhei-
ro na dianteira, — -Pois bem, M. Chenu,
dizei-me francamente, que dote imaginaes
vós que eu desse a Suzanna? — Madama,
não são cousas essas que me caiba a mim
dizer.» Francisco Manoel do Nascimento,
Successos de madame de Seneterre.
QUANTIDADE, s.f. iDo latim quanfitas,
de quautus). Tudo o que é susceptível de
augmento ou diminuição. — Híedír uma
quantidade. — Duas quantidades igums.
— Comparar quantidades.
— Termo de mathematica. Quantidade
continua; aquella cujas partes são liga-
das, como o tempo, o movimento.- — Quan-
tidade discreta; aquella cujas partes não
estão ligadas, como os números. — Quan-
tidades negativas ; aquellas que são affe-
ctadas do signal — . Quantidades positi-
vas; aquellas que são affectadas do si-
gnal -)-. — Quantidades algébricas; núme-
ros iudetermiuados, ou que se referem á
unidade em geral. — Quantidades imagi-
narias; quantidades que si) tem luna exis-
tência symbolica, e que divergem essen-
cialmente das quantidades reaes : a raiz
quadrada de — 2, V — 2, é uma quanti-
dade imaginaria. A denominação de quan-
tidades imaginarias foi mal cabida," seria
melhor dizer expressões imaginarias, ex-
pressões por que ellas se assemelham ás
expressões que significam alguma cousa,
e imaginarias, porque na verdade ellas
nada significam. — Quantidades homogé-
neas ; quantidades que tem um mesmo nu-
mero de factores. — Quantidades racio-
naes ; aquellas que tem uma relação ex-
primivel em números inteiros ou fraccio-
narios com a unidade. — Quantidades í'/í-
commensu7-aveis ; aquellas em que esta re-
lação não existe.
— Multidão, abundância, niunero maior
ou menor. — Recolher uma grande quan-
tidade de trigo. — Havia grande quantida-
de de gente no passeio. — A qualidade das
cousas é preferivel á queintiàa.àe d'eUas. —
«Não tardou muito que dous escudeiros
de Albayzar lhe trouxeram as armas, que .
eram de negro e ouro ; o ouro em menos
quantidade que o negro, de sorte que
quasi se via por uma saudade, com que
eram mais loneãas e galantes.» Francisco
de Moraes. Palmeirim d'Inglaterra, cap.
124.
Achào d'cmbarcaçòcs gràa quantidade
Humas .sào d'alto bordo outras rasteiras.
Tudo foi lofio posto a bom recado
Como do uobrc Cunba foi maudado.
F. DE ANDRADE, PKIMEIKO CEBCO DE DIU, CSnt.
8, est. 50.
Ajnnta-se também a rjuanf idade
Dos pequenos escravos que agasalha
A fortaleza, cuja tom-a idade
Também soffrêra mal o aruez c a malha :
Conformes u'hum querer, uhuma vontade
Ordenào de se dar huma batalha,
Sondo menos assaz os Lusitanos
Que o que hc natural se acha em quacsquer anos.
IBIDEM, cant. 10, est. 11.
Soltando com esta ordem toda a armada
Dos canhões a fulminca tempestade,
Faz que na fortaleza tenha entrada
De pelouros mortaes grãa quantidade:
E ciddando quiçá ver destroçada
Só com isto a Cliristàa ferocidade,
Só n'luim tào forte, quanto triste, moço
De infinitos canhões pára o destroço.
IBIDEM, cant. 14, est. 29.
As mulheres também em si tomárSo
Gràa parte do trabalho aUi ordinário,
Porciue nos varões fortes enxergarão
Menos forças do que era necessário.
EUes coin grãa vergonha Ih 'o acccitárào.
Porém a contumácia do adversário
E a grande quantidade pódc tanto
Que póz fraqueza, em quem não põe espanto.
IBIDEM, cant. 16, est. 79.
— « Mandou logo trazer montes de
terra, e rama para entulhar a cava, for-
talecendo a esplanada com troncos de ar-
vores grossas para lhe assegurar o terra-
pleno. A quantidade dos gastadores, que
servião o campo, era outro novo exerci-
to, com que a obra medrava sem tempo,
e sem medida.» .Jacintho Freire de An-
di-ade. Vida de D. João de Castro, liv. 2.
— Porção, numero, fallando das cou-
sas.— «Á troco dos quaes derào dez ne-
gros de terras differentes, e huma boa
quantidade douro em pi), que foi o pri-
meiro que se nestas partes resgatou : don-
de ficou a este lugar por nome Eio do
ouro : sendo somente hum estreito d'agoa
salgada que entra pela terra obia de seis
legoas.» João de Barros, Década 1, liv.
1, cap. 7. — -«Tem este maldito idolo de
renda cada anuo segundo alli nos affir-
máraõ, trezentos mil cruzados, a fora as
oíiertas, e peças ricas dos seus abominá-
veis saerificios, que se orçaõ em muyto
Hi
QIJAN
qi:an'
(^UAN
iiiíiviir quãtidade. « l-Vrnào Mendes l'in-
ti), Peregrinações, cjip. H»:.'.
(';iiiil):n() IJci, com tcMi oxiMiiplo ctijinro
I >o (|iii) dii;o mo-itriir lo^o a vordiulii.
!•) por iM») tni/.er otítnm imo r|U(!ro
I)(! (|iic Iioiiví; (com Htiu iiiiil) f^niii nwinliiUuh ;
I*iiÍH tanto to co^ou teu oilio fi-ro
(.•uc. I) ciiiiiiilio (|uc tua cninldailo
'!'(( ciirtinoii, para mal doutrem, niaiu perto
\)is tua mort'3 cnicl foi o maia certo.
rjl VNIJiaeO DK ANI)H.M>K, rUIMKiao CKIll-O DK Dll',
cant. 7, est. 'i.
--((() (iovcniailiii-, (Icixamlo a Cida-
de abraza In, .so tornou a embarcar, e foi
demandar Ajjfayaim, onde o esperava D.
1)1(11^0 do Almeyda com cento e cincocn-
ta cavalloff, o a milícia da torra, com
quantidade «lo bareaí para passar a p;cu-
te. » Jaeintlio Freire de Andrade, Vida
de D. .João de Castro, liv. 4.
— Terau) de mecânica. Quantidade de
movimento; o producto da uias.sa pela ve-
locidade.
— Termo de gramiuatica. Duração do
tempo mais oii menos considerável que
SC emprega a pronunciar uma letra, uma
syllaba. — A versificação latina e p'e</a
é fiiuddiln sobre a quantidade. — As re-
gras da quantidade. —Não saber a quan-
dade. — Heijuir a quantidade. — A quan-
tidade iVuiiia palavra, iTiuiia sj/llaba.
— Quantidade mdural ; ajusta nidlida
da duraeào do som em cada syllada de
cada palavra (pie pronunciamos conformo
ás leis do mecanismo da palavra e do
uso da naçiio.
— Quantidade artificial; applicaçào
convencional da diu-ação do som em ca-
da syllaba de cada i)al.ivra, relativamen-
te ao mecanismo artificial da versiticaçào
métrica e do rytlinio oratório.
— Termo de mu.sica. IViração relati-
va que as notas ou syllabas devem ter.
— ■ A quantidade produz o r^thnio.
— Termo de plúlosophia. Quantidade
dus juizos ; diz-se em alguns antigos sys-
temas de lógica, e no kantismo, da pro-
]>rie lado f[ue teni os juizos de ser geraes,
partieulires ou singulares.
QUANTIOSO, A, adj. Abundante, co-
pioso, numeroso.
— Tributo quantioso ; tribiito avultado.
— Homem quantioso; homem de teres,
de cabedaes.
QUANTITATIVAMENTE, a,lv. De quan-
titativo, com o suflixo «mente»'. Confor-
me a quantidadi>.
QUANTITATIVO, A, adj. Termo de
granunatiea. C^Uie diz respeito á quanti-
dade; ou ás quantidades, — Termos quan-
titativos, eon\o: ninito, pouco.
— Termo de chimica. Anali/ses quan-
titativas ; aqnellas que determinam exa-
ctamente a quantidade de cada elemen-
to, como a analyse qualitativa determina
a natureza.
QUANTO, A, ((.//. Do latim ,jiinnfus).
Qu(^ grandeza numcriea, ou contínua;
que intensidade, que grau. — Quanto «'<«-
i/ite vejo dex/iarzido ! ■ — « E a suí»stancia
de .sua embaixada ura representar quan-
to damno todolos Jlouros daquellas par-
tes ilidiam recebido de nossa entrada na
Índia, c como os mares eram cheio» ile
nossas Armadas ; c não nos contentando
com navegar os da Índia, novamente en-
trara hiinia mui grossa no estreito do
mar Koxo, e commettôra querer ir .ao
porto d<i Judá.» Joào de iiarros, Década
2, liv. H, cap. 0. — « E quanto desejava
ter amizaile com EIKey D. Manuel, e
haver entro elle comuninicaejlo de <d)i-as,
entro algumas cousas que apontou, foram
diiaa importantes ás cousas de (Jrmuz :
liuma, que os direitos das mercadorias,
que da i*ersia entravam em Orinnz, fo.s-
sem dello Xeque Ismael.» Ibidem, liv.
10, cap. 4. — «('fintemos quantos estru-
monto? nos deu Deos pea"a alcaiiearmos
a sua graça que tudo o cpie elle criou
serve a nós ; sirvamos nós a elle, e ajun-
temos provisam pêra o necessitado dia
em que havemos de dar conta tam es-
treita.» D. Joanna da (íama, Ditos da
Freira, pag. õ(j.
Gil. Dpos vos salve : chegar-inc-hci ?
Ou tendes de mim receio?
Mont. Certo, Gil, cu te direi
Homem por guardar-so veio,
Quanto cu guardar-ine naò sei.
FKAXCISCO B0DBIQCK3 I.OH0, KfLOOAS.
— « Seu sangue, dizia elle, será agra-
dável ás cinzas d'este hcroe : o mesmo
Eneas, tendo noticia de tal sacriticio, li-
cará mui satisfeito vendo quanto prezas
o porque elle mais estremeceu no mun-
do.» Telemaco, tradncyào de Manoel de
Souza, e Francisco Manoel do Nascimen-
to, liv. 2.
Dependência d'um Throno a (jirn/i^o- obrigas!
Fazca do grande Sábio homem pequeno !
Nào vejo grande a Séneca nas obras,
Pois a vida autepoz ao justo, ao pejo ;
Por olla perde de \-iver as causas.
J. \. DE MACKDO, VIAGEM E.XTATRA, Caut . '2.
Depois de quanto attau, de quanto estudo
Tu, Saladini, a theoria expunlias,
Que escolho da Mecânica se chama,
Nào supcravcl cpiasi a cugcuho humano !
iniDEM, cant. 4.
Quanto, quaitio cm Parthénopo te exaltas!
AUi mais se cultiva, e mais se apura
Do Maquinista Siculo o talento,
Que atalha os voos das Koinauas Águias.
iniDEM.
O crime, iS crime atroz, cegueira d"alma
A quanto prccipicio 03 homens levas !
O fogo activo, dádiva do Eterno,
Com que seu domicilio alVormoséa.
IPE.M, MEDITAÇÃO, Ctlot. 2.
ls'huin v.-ícuo immciiso os vrtrtioos primeiro
Este Henio espalhou. Quanlo se admira
Xo« que. do no^■a luz a Euro;)» fnchcrâo,
No profundo (j<u>metra \)fhvArti-ti,
Que do Alca(;;ir da iiniucuiui Nuturezu.
iniiiKU, cant. 4.
- Todos os que. — J.ain;nr-se com quan-
tos (jiieretn. — «E pêra i.sso mandava scu.s
cavalleiros saltear quantos acluiva, e tan-
to que lhos traziam c via quu nenhum
era o que esperava, faziaos matar, .lá
agora, disse Albayzar, cessara essa crue-
za. N'isto acabaram dv. desarmar Floren-
dos c fazercm-ihe um leito. A duiizella o
curou de su.-is feridas, <|ue eram puucoii
e pequenas ; que como cc disse já atraz,
e.sta donzclla era grào saljcdora n'aquclla
arte.» Francisco de Moraes, Palmeirim
de Inglaterra, cap. 'Mi. — • Veio ter a
osta fortaleza a tcmjjo que eu me nam
temia de ningnein, onde dando de suj/i-
to, mamlou meter a espada a quaatos
aciiou dentro e só a mim deixou viva,
dizendo que me queria ter em prisam té
haver vos a mào e queimar-nos anibus
juntos.» Ibidem, cap. 'JG.
Lan(;à6C com quanto» querem,
som llie os maridoí tolherem
quantos querem escolher,
dei.\-am-lhc tudo fazer,
sem lho n.ada reprcndcrcm.
OAUCIA DE REZENDE, MISCELLASm
— «E como a elles acompanham einn
03 estudos da Filosofia, e sagrada Thco-
logia aprendendo primeiro a lingoa lati-
ra, e procedendo em tudo pela mesma
ordem, que se giuirda nas vniuersidades
de Europa : menos he agora tempo de
foliarmos de quantos entre clles tem fei-
to, e fazem o oiticio de pregadores cuan-
gelicoã com immenso frnyto das ahn.'«s
dos seus naturais.» Lucena, Vida de S.
Francisco Xavier, liv. G, cap. IS.
— Que porç.^o, que quantidade? —
Quantos christàos retugaram iwssa Féi
qtiantos Christàos renegaram
uossa Fé, p, se lançaram
no Cairo com vaidade
de alcam;ar tal disuidade,
e as almas condemuaram.
CIARCIA DE BKZKXPK, UISCKLLAXEA.
Hum dos solemnes dias e sagrados
Que a memoria daquclla gloriosa
Resiu-roivào de Deos, fez venerados
Entre a gente liei, religiosa.
Se juutào qnantoK mo.,-os b-iptisados
Da Xaijào Portugueza. alta e ramo.sa.
A fort-íleza entào dentro em si tinha
Cuia idade inda ás armas não convinha.
FKANCI^CO DE ANDRADE, PKI31E1B0 CBROO DE DIC,
cant. 10. est. 10.
dia
— Tudo o que. — Assentar quanto aprtn-
E levarão qKivilo tinha.
Porque Deos e a Kainha
Diz que 05 favorecerão :
QUAN
QUAN
QUAN
17
Tão gi-aiulo golpe mo de.rão
Com favor,
Que 110 contaré. mis qucjas
Si á vos no.
GIL VICKNTE, OBR.VS VARIAS.
De tudo quanto passei,
Por vos dar coutoiítamonto.
Em summa vos contarei.
Trago, Senhora, a viotoria
Daquelle Rei tão temido.
Com fama clara e notória.
CAM., AMPHYTRIÕES, aCt. 2, SC. 2.
Qual no longo estandarte vai mostrando
Quanto tom d'esperança, ou arreceio,
Qual d!!3cobre so amor lho lio duro ou brando,
Ne=ilium sua tenção deixa no seio.
A Melique Toeão, que então o mando
Em Diu tinlia, a nova disto veio,
Tudo com diligencia olha c concerta
Onde o temor o avisa, onde o desperta.
F. DE ANDBADE, PRI.MEIR0 CERCO DE DIU,
cant. 1, est. 43.
Deste intento d'ElRei falso o damuado
Indigno da real alta Coroa,
A fama com veloz curso apressado
E co'o som do metal que a orelha atroa,
I^ogo ao Governador levou recado
E lhe manifestou lá denti-o cm Goa
Xào somente as palavras que dizia
Mas quanto contra os nossos pcrtsndia.
IBIDEM, cant. 6, eat. 32.
Apoz isto ante os olhos lhe aprcicnta
Q'ia-ifo ja p.)dc em Diu o novo imigo,
Tal que a grandeza delia, alta e opulenta
Muito cedo terá toda comsigo;
Que 30 este o seu poder novo accresconta
EUe perderá o sou poder antigo.
Depois que outras mil cousas diz dcsfarto
Com que assaz o aceudeo, d'alli se parte.
iniDE.M, cant. 9, est. 112.
Ainda que em pequena breve parto,
(Jlha o que a minha industria to ofíorece
Nesta breve pintura èm cada parte.
Quanto o Celeste Globo orna e guarnece.
ROLIM DE MOURA, XOV. DO HOMEM, Cailt. 1,
est. 39.
— «Mostrou -me depois Narbal os ar-
mazéns, arsenaes, e mais officiíias onde
se fabricam as naus. Inquiria-llie eu com
miudeza as menores circumstancias ; e as-
sentava quanto aprendia, para me não
esquecer ponto algiun importante.» Tele-
maco, tva^lucçào de Manoel de Sousa, e
Francifico 3Ianoel do Nascimento, liv. 3.
— Quanto custou? que somma?
— A' proporção, conforme que.
— Quanto melhor. — «E praza a Deos
que quanto for melhor lavrada ante elle
per gloria, e acerca dos homens per fama,
seja tão lembrada, como he a destes des-
terrados corpos entre aquelles bárbaros,
.'jcgundo jà per nós atrás fica dito em ou-
tra tal lamentação.)' João de Barros, Dé-
cada 2, liv. 6, cap. 10. — «Além do cm-
jirestimo da Cidade, lhe enviarão as do-
nas, e donzellas em hum cofre a pedraria,
e jóias, com que a fraqueza feminil serve
ao po^^ler, e á vaidade: oíFerta de que não
voT.. V. — 3.
podião esperar retribuição, ou usura : don-
de se vê, quanto melhor ser^'idas são dos
Povos as virtudes, que as tyrannias dos
Rep-entes.» Jacintho Freire de Andrade,
Vida de D. João de Castro, liv. 3.
— Quanto nunca. — (J banquete foi tão
nobre e giande, quanto nunca nenhum
d'elles vira outro maior, passando-o todo
em louvores da corte do imperador Pal-
meirim e das muitas nobrezas de sua pes-
soa.» Francisco de Moraes, Palmeirim de
Inglaterra, cap. 96.
— Quanto ínrtíor. — «Quanto mayor se-
ja esta província que ha de Cantaõ e que
ha de Cansi, mostra-se porque ella soo
tem um governador e Cantão e Cansi tem
ambas hum governador.» Frei Gaspar
da Cruz, Tratado das cousas da China,
cap. 5.
— Quanto mais, quanto menos. — «Quan-
to mais, que eu não sei que mais penhor
se possa dar neste caso, que o partido
ser commettido pelo turco, que por ne-
nhum j^reço quererá quebrar sua pala-
vra.» Francisco do Moraes, Palmeirim
d'Inglaterra, cap. 112. — «Perder a mim
por vós, e perder-se o mundo todo, tam-
bém me pareceria justo : mas perder a
vós por nada, não se deve de querer :
quanto mais que não tenho por boa tro-
ca a que vós fazeis comvosco.» Idem,
Ibidem, cap. 116. — «Certo que, quanto
mais vou vendo, mais me parece o saber
de Urganda dino de ser estimado por ci-
ma de todolos do mundo. N'isto não er-
rava Platir, que como quer que aquelles
paços e ca.sas fossem feitos pêra o repouso
de sua pessoa, onde o mais do tempo habi-
tava.» Idem, Ibidem, cap. 119. — «Quanto
mais, que além desta ajuda e íavor, que
tem de sua parfe, os que se aqui sempre
acham, são tão extremados de seu pró-
prio natural, que ninguém pôde ganhar
com ellos alguma honra, que lhe primei-
ro não ponha a vida no derradeiro extre-
mo de a perder.» Idem, Ibidem, cap. 126.
— - « Quanto mais que, segundo o nume-
ro das velas dos imigos, o mais que nel-
las poderia haver, seriam té mil homens,
os quaes ante de dous mezes não tinham
vida, porque haviam de comer, e beber,
e finalmente a doencia da terra, segundo
ella tratava os estrangeiros, ante de pou-
cos dias, oit os lançaria de si, ou os con-
sumiria de todo.» João de Barros, Déca-
da 2, liv. 6, cap. 3. — «Assi que a cou-
sa andava tão baralhada e dividida entre
elles, que ainda que sua mercê assolara
a cidade de Cantão, se não fizera caso
disso, quãto mais a cidade de Nouday que
na China em cõparaçaõ de outras muytas
era nuiyto menos do que em Portugal pô-
de ser Oeyras cõ Lisboa.» Fernão Men-
des Pinto, Peregrinações, cap. 67.
Q'iaiito mais a Oceana onda salgada
Ko tcm'io quo a sazão fria apparocc.
Com a fúria do Xoto nogra c inchada
Se engrossa, se alevanta e se embravece.
Não pôde sor com a fúria igualada
Que no gesto, o palavi-as se conhece
Do illnstro Xuno como lhe apresenta
A fama o que o Sultão pérfido intenta.
F. d'aNDR.\DE, PRIMEIRO CEKCO DE DIU,
cant. 6, est. 24.
Dos singelos discursos dozatndo,
Em mais altas idêas se enobrece ;
E quanto mais a idade nello cresce.
Mais se vê nas Scicncias sublimado.
ADBADE DE JAZENTE, POESIAS, tOUl. 1, p. 43.
— «O grande nunca sofre igual, quan-
to mais superior, e pox-isso naõ se huma-
na senaõ com o inferior; e este porque
tem iguaes, com quem faça sociedade, naõ
necessita do bafo dos grandes, mais quo
para engodar; e he quanto lhe permitte
o careyo, que lhe daõ, e usaõ delle os va-
lidos com insolência.» Arte de furtar,
cap. 38. — «Quanto mais pasto damos ao
fogo, tanto mais se accende, e mais fome
mostra de mais pasto, accrescentando-a
com nquillo, que a pudera fartar, e ex-
tinguir.» Ibidem, cap. 70.
— Quanto imporía para a morte o viver
bem; o que serve, importa para a morte
o viver bem.
— Fiz quanto inaJe ; fiz tudo o que
pude.
— Loc. ELLIPTICA : Quanto ('; quanto
a isso. O vulgo diz cante.
— Quanto a; pelo que diz respeito, ou
toca a alguma cousa. — «Quanto ajustar,
fal-o-hei, porque a senhora Miraguarda
satisfaça o seu desejo, que só jDelo que a
vós vos vai, folgarei de lhe fazer a vonta-
de, ainda que seja á rainha custa. » Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim de Inglaterra,
cap. 126. — «Os ministi-os desta obra tan-
to que per ella ficarão seguros, consenti-
rão que Vasco da Gamma se embarcasse,
mas quanto a dar modo pêra que Diogo
Diaz comprasse alguma cousa, tudo eraõ
artifícios pêra o naõ poderem fazer.» João
de Barros, Década 1, liv. 4, cap. 10, —
«Que quanto ao negocio que entre elle e
o capitão de Onor era passado per reca-
dos elles o soubcraõ, e por verem que o
capitão d'elRey se remettia à vontade
delle cujo recado tardaua muito, elles
determinarão de se sair daquelle porto de
Onor.» Idem, Ibidem, liv. 8, cap. 9. — •
«E os que vieram a este negocio, como
já escrevemos, foram Diogo Corrêa, e
Francisco Pereira de Berredo, os quaes
chegaram a tempo que Affonso d'Albo-
querque estava de caminho pêra Malaca,
e deo a Diogo Corrêa a capitania de Ca-
nanor, em que ficou em lugar de Manuel
da Cunha ; e quanto ao despacho dos ou-
tros, espaçou té sua vinda por não poder
ser então.» Idem, Década 2, liv. 7, cap.
3. — «E quãto á carta que pedis vos da-
remos de muyto boa vontade, visto quão
necessária vos ha de ser, para que o fa-
vor dos bons vos não falte no tempo que
o ouverdes mister.» Fernão Mendes Pin-
18
QUAN
to, Peregrinações, cap. H7. — «K quanto
;t dizor (jiio ha oriental su arremata em
liiim ponto, assi clio como ou de «jiieiu
elio tomou, parocc-mo quo so encanaram,
o qiio iliefi iiacoD esto oiifçauo do ha vc-
rom as.si ai)outaila jinr al^^uus cosmo;íra-
i\)i na iMappa miimli, ho (|ue foy por fal-
ta da nnticMa da verdade.» Fr. daspar da
(!ru/., Tratado das cousas da China, liv.
-. — «Quanto á terce.ira tolice: furtar pa-
ra outrem, di^'o ipio hu mayor, (juo a pri-
meira, e segunda; porque naõ ha duvida,
que he insânia muito grande ompcnhar-se
hum homem, pelo que naò ha de lograr.»
Arte de furtar, cap. (iõ.
— Klliiitieamente: lV)r que grandeza
ou quantidade.
— Quanto vai de um termo a outro ; isto
c, a distancia, ou graduav<ào intermédia.
— Palavra correlativa a tanto. — «Por-
que sua tcn^'ão era não tanto ir impedir a
obra, que os Jlouros faziam na ponto,
quanto per elle mesmo sondar o lugar se
poderia com outro maior subir tanto assi-
ina, que puzesso a barba sobre a ponte ;
porque quando houvesse de commetter ou-
tra vez a Cidade, per elle esperava en-
trar na ponto, e lhe ficaria em lugar de
fortaleza, por ser de bom gazalhado, e a
gente ficava amparada da artilheria, e
frcclias.» Joiío de Barros, Década 2, liv.
(), cap. 4. — «A qual obra acreditou tan-
to nossas cousas, que nào tardou muito
vermos quanto aproveitou com clles, ha-
vendo sermos homens que tínhamos duas
|)artcs, liuma pêra muito temor, e outra
j)era grandemente amar; por mal, sermos
mui esquivos vingadores de oífensas ; e
por bem, em extremo fieis na amizade, o
cumpridores do nossa palavra.» Idem,
Ibidem, liv. 7, cap. 3. — «Que corto foy
ora tanta abastança, e tanta porfeiçam.
tanta honra, tanto estado, quanto no mun-
do podia sor. E neste tempo ato o Natal,
cm quo 03 justailores se onsayauam, e apa-
rclhauam as cousas pêra a justa, ouue na
praça da Cidade, e no terreiro dos paços
nuiytas vezes muytos touros com muvtos
galantes a elles, e ricos jogos de canas, e
nuiytos momos, e scraõs, musicas, e festas
sem nunca cessarem.» Garcia de Rszcndc,
Chronica de D. João II, cap. 125.
A falta destes dous, quo alli morrcudo
CUegiivão do louvor A invlr alteza,
Xoí trcs quo se ficavão defendendo
Por excessiva dòr, mas nslo fraiueza,
Antes quanto o perigo liia crescendo
Tanto crescia nelles a braveza,
E ajudiido d:i dòr o esfon,'o antitro
So faz sentir em dobro ao bravo imigo.
F. I>E A.SDR\r>E, rHlUKIKO CERCO DE Dlf,
cant. 7, est. 33.
— Loc: Ver os homens para quanto
são ; quanto préstimo tem, ou para quo fei-
tos, e obras, negócios sào, o cm que grau.
— Em quanto ; entretanto. — «E posto
que Florcndos c Miraguarda muito folgas-
QUAN
siMU do os ouvir, bó Floraniito desejava quo
nílo tivesse fim; o cm quanto se o vilanee-
tc cantava, por lhe iiilo esquecer, o escre-
veu no tronco d'uma arvoro, como já ou-
tra vez fizora, cortando as letras nclle,
que depois cnwceram a compasso com o
mesmo tronco, c estiveram ni;lla tanto tem-
po até que o mesmo tempo consumio a ar-
voro o as letras. O vil.anccte dizia, n Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim de Inglaterra,
cap. lOí). — «Que cm quanto n.ào tiver ck-
ta certoza delia, nào espere vôr-me, antes
farei o quo o cavallciro do .Salvagc orde-
nar do mim.» Idem, Ibidem, cap. IKi.
Dou» invernos fazendo, c doua vorõcs,
Em quanto corro d'um a outro {Mo,
Por calmas, jior tormentas c o,)|>riíi.sõcs
Quo sempro faz no mar o irado Kólo,
Vimos as Ursas, apozar de Juno,
Uanharom-30 nas aguas de Neptuno.
cAM., Lus., cant. 5, est. lõ.
— • « As quaes cousas asei ficarSo do
juizo do Camorij, que lhe parecia não ter
mães dilação per auer victoria dos no 'SOS
que cm quanto estas se oi-dcnauão: e por
isso com muita diligencia mandou logo
pôr mão nellas.» João de Barros, Década
1, liv. 7, cap. G. — « E foi tanta a ma-
tança nelles nesta fugida, que alguns que
escapAram foi por serem tantos, e os nos-
sos tão poucos, que em quanto se deti-
nha com huus, se puzeram os outros em
salvo.» Idem, Ibidem, cap. 8. — «E tam-
bém alguns dos juncos do mantimento
que esperava da Jauha eram já vindos;
os quaes tantos que c-hcgáram, e foram
despojados, em quanto llie nào fazia tem-
po pêra se tornar, ordeuáram-se logo pê-
ra se defender, temendo nossa armada.»
Idem, Década 2, liv. 9, cap. 2. — « E
porque ja com esta dôr de nos lançar de
Malaca, podia encubrir seu principal in-
tento, começou de ter algumas intclligen-
cias com os principacs Jáos que viviam
em Malaca, j>rincipalmente com Utimu-
tirája em quanto viveo, e depois com Pa-
tê Quetir, e Çuria Deva, que eram os
mais poderosos, os quaes liberalmente lhe
fizeram offerta do suas pessoas, e o feito
mui leve de acabar, apressando-se muito
que viesse a elle.» Ibidem, liv. 9, cap.
•4. — « Estas novas se espalliáraõ logo por
Goa, a que acodiraõ todos os Fidalgos, e
Capitaens a se ofFerecerem pêra aquelle
negocio, sendo o primeiro D. Francisco
de ]SIenezes, a que o Governador aceitou
03 offerecimcntos uiandando-Ihc que so
preparasse pêra o outro dia se partir com
alguns navios diante, cm quanto D. Ál-
varo de Castro se fiizia prestes.» Diogo
de Couto, Década fl, liv. 7, cap. 7. —
« Em quanto assi estam ninguém ousa
de lhes fallar, nem chegar a clles, e o
que alli concluem he o que os outros ham-
do fazer sem lhe poderem contrai-iar. Saõ
tam obedientes ao que estes velhos «is-
scntaõ e ordenam no conselho, que ain-
QUAN
da que saibam quo a execuçani disso lhes
lia de custar as vida^, uam deixarão ilo
poerem obra o que os velhos ordenaram.*
Damião de (iues, Chronica de D. Ma-
noel, part. 1, cap. Dli. — «D. Duarto
Pacheco com a «ua nao e ciirauclla do
Poro líaphael, porque a outra de Diogo
Pirez ficou cm Cochim pêra a concerta-
rem, acompanhou Afour-o Dalbuquerque,
o Francisco Dalbii<|uerque em quanto
estiuoram em (Jauanor, e no p<jrto de
Calecut. > Idem, Ibidem, part. 1, cap.
8.^. — « Ao que loam coellio, o Airca
coelho armados de couraças, capacetes, e
adargas acodiram com lanças nas mão»,
e assim o Grinaldo, que o fez em quanto
este m-gocio durou mui e-sforçadamente,
os quaes do primeiro encontro niataraõ
quatro dos mouros, e os outros se lança-
ram na fusta.» Jdem, Ibidem, part. 4,
cap. 50. — « E porque na capitulação das
terçarias foy concertado, que em quanto
durassem o senhor dom Manoel irniâo da
Riiynha, que ainda era moço, andasse cm
Castella el Rcy para comprimento disso,
o anuo passado lhe ordenou, e deu casa
honrada com todos seus officiaes dos seus
próprios moradores.» Garcia de Rezende,
Chronica de D. João II, cap. 47.
O tempo que durou o seu inípcrio,
(Fcior í|ue o do cruel Ciracusano)
O seu Ivcino scntio tal vitupério,
Taes infortúnios, males, tanto dano.
Que em quanto alumiar este homisphcrio
O sol, c descansar la no Oceano,
Durará nelle viva esta memoria,
Nem sei se verá mais a antiga gloria.
F. PF. AXDR.VnE, FRIMEIBÒ CERCO PC DIV. Cant.
l.est. 31.
Em quanto dá Me8'^uita esta resposta
Sou curso a nobre armada não detinha.
Mas com a vclla inchada, o em alto posti
Sempre polo salgado mar caminha.
IBIDEM, c:int. O, est. 34.
O Piloto também no alto navio
Para ]ioder salvar-sc todo ordena.
Levanta a rouca voz. do temor frio.
Lança ao mar nova amarra, desce a entcna :
E o que se sente d'ngua mal vazio.
Cora revezada força, o não pequena,
Meneia a fedorenta, longa bomba.
Em quanto a ale^•:lntada onda retomba.
IBIDEM, cant. 13, cât. 57.
— « E vendo D. JoSo de Mascarenha.s,
que em quanto aquelles sustentavSo o
lugar, crescijio outros, mandou que lhe
trouxessem escadas, ordenando o caso. o
a necessidade, que na sna mesma Forta-
leza desse elle o ass,ilto.» Jacintlio Frci-
r,- de Andrade, Vida de D. João de Cas-
tro, liv. 2. — « Disto SC jKiz acima hum
exemplo, em quanto o ofterecimento era
affecto particular, que também occorre
no discurso da Meditação. As obras de
Christo posso ajuntar as de sua Mài f:^an-
tissima, o de todos os Santos.» Pailre 5Ia-
noel Bernardes, Exercícios espirituaes,
QUAX
qua:s^
QUÃO
19
part. 1, pag. 63. — «E toda huma noite
e aas vezes duas e três noites estam con-
tinuamente ocupados em representações
liuma após outra : em quanto ha estas
representações lia de aver mesa posta
com muito comer e beber.» Frei Gaspar
da Cruz, Tratado das cousas da China,
cap. 14. — « Por isso desta nobre parte
se verefica aquelle enigmático dicterio dos
Gregos; em quanto dizem, que quanto
mais cheyo, mais leve; quanto mais va-
zio, mais pezado.» Braz Luiz d'Abreu,
Portugal medico, pag, 33. — « Tal é a
gratitícação, que de ti consigo, pelo mui
íémo amor que empreguei em ti. Embo-
ra : tenho de te adorar em quanto eu vi-
va, e ninguenxmais vêr; e túma este meu
segui'o: nào ames ninguém. Quem acha-
rias tu que te amasse com tão ardente
aíFecto, como o meu? Mais formosa que
eu, bem podes vê-la (lembro-me todavia
que me disseste que eu nào era feia) mas
nào com igual amor ; e sem amor tudo o
mais é nada.» Francisco ilanoel do Nas-
cimento, Successos de madame de Sene-
terre.
— Por quanto ; visto que. — « Xo mes-
mo dia que se pos o fogo a cidade assen-
tou dom Francisco de acometer ao outro,
polo que duas horas ante manhã sahio de-
fronte donde estava siu-to, e com elle dom
Francisco de Sà, e Lourenço de Brito,
Rui Freire, Gonçalo de Paiva, Phelipe
Rodriguez, Fernão Bermudez, Antam
Gonçaluez, e a gente da nao de loam
Serram, por quanto ellc estaua ferido.»
Damiào de Góes, Chroaica de D. Manoel,
part. 2, cap. o. — « E por quanto o ca-
pitão daquella frota nào leuaua piloto que
soubesse da nauegaçào daquelle estreito ;
o mandaua em ten-a a saber do senhor
ou gouemadop delia se lhe dariào ali al-
gum piloto por seus dinheiros, que os
quisesse meter em Ormuz, onde estaua o
capitão que buscauào.» Joào de Barros,
Década 2, liv. 3, cap. 2. — «Por tanto
que mandasse lançar pregào, que nin-
guém fosse, nem viesse senào nestas tor-
radas: e mais lhe pedia que na Cidade
houvesse todo assocego sem alvoroço al-
gum, por quanto elle era vindo pêra bem
de todo seu Reyno.» Idem, Década 2,
liv. 10, cap. 3. — « Viramno todos, e de-
pois de bem visto lhe disseram, que lhe
nam era obrigado em cousa alguma, por
quanto tiuera razào de alegar, e el Rey
lhe foz todauia por isso mercê de trinta
mil reaes de tença.» Garcia de Rezende,
Chronica de D. João II, cap. 96. — «Des-
pois que el Rey fez este juramento nas
niàos do seu Caciz mayor, por nome E,a-
ja Moulana, em hum dia da festa do seu
Ramadaõ se passou á ilha. Campar, onde
despois de se celebrarem as festas das
suas vodas, teve conselho sobre o que se
devia de fazer neste negocio em que se
metera, porque bem entendia que era as-
saz difficultoso, por quanto lhe era for-
çado aventiu'ar nelle muyto do seu.» Fer-
não ]\Iendes Pinto, Peregrinações, cap.
31. — « E assim continua desde principio
até o cabo. Em Lisboa nào cuidem que
sou eu o namorado; por quanto, ha dias
que rapei as ordens a cuidados amorosos.»
Fernào Rodi-igues Lobo Soropita, Poesias
8 prosas inéditas, pag. llõ. — « Por quan-
to quando nos baptizam e metem deba-
xo dagoa, alli por virtude do sangue de
Christo, que obra naquella agoa, ficam
mortos e apagados todos os nossos pecca-
dos.» Frei Bartholomeu dos Martyres,
Catecismo de doutrina christã. ■ — « Á.
razaõ disto 'por quanto intentamos bre-
vidade, e naõ he bem tocalla de passa-
gem) se pôde ver nos Reverendos Padres
xVlvarado, Molina, Granada, Puente; es-
pecialmente na vida, que compoz do Pa-
dre Balthazar Alvarez.» Padre Manoel
Bernardes, Exercícios espirituaes, part.
1, pag. 14. — « Repetiãome a miúdo os
homens, que a nossa sociedade compu-
nhào, que eu era bella, e mui bem sa-
biào, que eu era orphan, mas rica; por
quanto uma roça de 2000 moedas de ren-
da era um dote que carearia namorados
á mais feia e desprendada noiva. » Fran-
cisco Manoel do Xascimento, Successos
de madame de Seneterre. — « Projecto
bem digno da paternal amizade d'esse
bom anciào; mas que foi o derradeiro si-
nal do seu amor! por quanto o colheo a
morte no momento de esecutálo.» Idem,
Ibidem.
— Com quanto ; nào obstante, ainda
assim, posto que. — « Mas com quanto
vsaua este modo de acatamento com os
officiaes mores, postos a parte titules de-
masiados, nos despachos que daua, e car-
tas que se delle faziaõ usoii titulo de se-
nhoria, e nam dalteza alguns ânuos de-
pois que reinoxi como o eu tenho visto
por muitos aluaras, assignados da sua
maõ.» Damiào de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 4, cap. 84. — « Contey es-
te caso pollo meudo, porque se veja com
quanto concerto e recado fazem suas cou-
sas e com quanta diligencia obedecem os
seus mandados : porque todo ho que te-
nho dito se fez quasi em continente, antes
que nos dalli boliissemos.» Frei t^aspar
da Cruz, Tratado das cousas da China,
cap. 19.
E com quanto hia cm tauto crescimento
Aquplla fraca gente, miserável,
Que quasi lhe faltou recolhimento
Por ser cUa ja quasi innimieravel :
Kào lhe faltou com tudo o mantimento,
A terra não o dá (cousa admirável),
Jlas de fora lhe vem cópia tamanha
Que farta a natural, e a gente estranha.
F. DE ANI>RADF., PBIMEIEO CEBCO DE DIU, CaUt. 5,
est. 47.
E vendo porque via a adversa sorte
Causou a perdição a seus amigos.
Vê que lhe cumpre, por fugir á morte,
Ter mais tento nos seua que nos imigos,
Com quanto os achou sempre acompanhados
De valerosos peitos, c esforçados.
IBIDEM, cant. 11, est. 27.
Jlas com quanto fm'or c diligencia
Põem agora os Cambaios quasi insanos,
Com dar vidas e sangue a competência
Por vingar este novo e os velhos danos,
Achào porém tão dura resistência
No pequeno esquadrão dos Lusitanos,
Que quanto este furor os mais inflama
Tanto mais do seu sangue se derrama.
IBIDEM, cant. 11, est. 38.
— Adágios e provérbios:
— Quanto mais gêa, mais aperta.
— Quanto mais acha nado, tudo deixa
espigado.
• — Quanto mais te dão, quanto mais
amigos são.
— Quanto mais a vacca se ordenha,
maior tem a teta.
— Quantas vezes te ardeu a casa ?
Quantas casei filhas.
— Quanto mais razão ao riiim, peor.
— Quanto se fez no villâo, tudo é
maldição.
— Quanto mais vivemos, tanto mais
sabemos.
— Quanto mais temos, mais desejamos.
— Quanto fez com a cabeça, desman-
cha com o rabo.
— Quanto um mais alto sobe, maior
queda dá.
— Quanto chupa a abelha, mel torna,
e quanto a aranha, peçonha.
— ^Em quanto o amo bebe, o criado
espera.
— Em quanto vai e vem, alma tem.
— Em quanto a grande se abaixa, a
pequena varre a casa.
— Por carne, vinho e pão, deixa quan-
tos manjares sào.
— Minha filha Tareja quanto vê, quan-
to deseja.
— Morra Sansào, e quantos com elle
estão.
— Não tem homem siso, mais que quan-
to querem os meninos.
QUÃO. Termo correlativo de tõo. Em
quanta porçào, em que grau. — A quão
grande empreza te arriscaste !
Ó Morte, quào cruas são tuas esporas !
Quão lastimeiras !
Morte. Isào vos detenhais ;
Andae, que são horas.
GIL VICENTE, ACTO DA HISTORIA DE DEUS.
— «A imperatriz se foi a seu apousen-
to e o imperador com ella, e cada um se
foi a sua pousada. Palmeirim algum tan-
to cor.tente, pelo que passou com Dra-
maciana, sabendo quão privada era de
Polinarda, dormiu a noite com mais re-
pouso, que as outras passadas.» Francis-
co de Moraes, Palmeirim de Inglaterra,
cap. 95.
20
QUAf )
(í\:a\i
QUAK
AUi vi o míiior bciíii
Quilo po\K!o (W[)a(;o (|iin dura ; •
O mal qiiàn i\o\>rí:*Mi vtiiii ;
IC riuào trirttn (Síitiulo t(!iii
Quem H(t liu dii vuiitura.
(;AM., IIUUUSDIÍ.IIAH.
— «O.s Cíiiiiiíils o priíicipiíos do (JucliiJ
vondo otitii Llili;,'eiiciii do Diiarto ]*acbo-
fo, c, quão on.siidaiiKMití! liia cõmcttcr o
< 'aiiiiiii j, [inro (ju(í c.rttijiic.-í.som abalado.)
jirra «u ruljolar a cllloy, dotcucraii.se to
víu- 0111 quo píiraua csaa sua ida.» Joíío
do Barro.í, Década 1, llv. 7, cai). •''• —
<i()s Capitães ambos vendo quão cogo o
dotatinado estava esto iiialavoíiturado no
couhociíiionto da santa o Catliolica ver-
dade do (jiio llio tratavào, avondo ainda
t.HO })OUco tempo que fora ( "liri.st.ào, como
linha confessado, croccndoUio a colora,
oní luim zelo santo da honra (h; Dcos o
mandarão atar do pó.s o de maõs.» Fcr-
u.Ho Mondes Pinto, Peregrinações, cap.
.'). — « Esto co.ttumava a dizer, sabeis
quão niil gente he a da índia, que me
puzeram quo era puto, e prov;lram-nio ;
sendo cllc tão Iionosto, que nào dirá cria-
do seu, que alguma liora lhe visse a ])on-
t:i do pé.» Diogo de Couto, Década 2,
liv. G, cap. 7. — «E como se auhou per
conta, niorreraiu na nao de dom Louron-
(,'0, o nas outras, conto, e quarenta ho-
mens, o foram feridos, couto o vlnta qua-
tro : dos eaptluos o quo mais honra ga-
nhou, foi hum grometo per nome André
(iouçalvez do Porto, que da gauia da
nao pelejou tanto sem so querer dar, nem
o poderem ferir, que vendo Jliliquiaz
quaõ valente homem ora, mandou que
II 10 naõ tirassem mais, e com promessas,
i' lho assegurar a vida, se entregou.»
J)amiào de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 2, cap. 2(3. — «Jlouido el Rei de
Fez destas afrontas, e doutras que lhe
cada dia os Darzilla faziiio determinou
de a vir cercar outra vez pêra o quo
ajuntou muita gente, e muuii;oens de
guerra com quo voo assentar sou arraial
no Xcrquào, o por neste coroo se não
acontecer cousa notauol não direi mais,
so não que sabendo ello quão bem aper-
cebida a villa estaua de gente, manti-
mentos, o muniçoens do guerra, com con-
selho, o parecer de seus capitaena ale-
vantou o cerco.» Ibidem, part. 3, cap. 8.
— «Assim que oin toda esta terra naõ
fes nonliuin fi-utto tanto pelas guerras, c
dissençiios que naquello tempo tinha huns
povos cos outros, (que ho cousa que en-
tre elles ha ordinariamente) como por
outros muytos inconvenientes largos de
coutar, dondo se conhece claramente
quão grande pesar o inimigo da Cruz
recebia disto, que este servo de Peos
pretendia fazer nesta terra.» Braz Luiz
d' Abreu, Portugal Medico, pag. 208.
Ilomcm, qiuio gi-anile ós tu! Chog;i teu mando
Niio só H03 iuiimaoa, quo a torra pizào,
!•; iiH avcH, <|uo no ár ^yrio triin(|uilluH ;
At/; do inur ao;4 turliidurf al)yMiiiOi<
L)oi lioinoiM chega a voz, o iiiípcrio chega,
j. AouBri.\iio DK MACEDO, MiiiiirAvÃu, cant. 3,
QUAQUER. Vid. Quacre, o Quaker.
QUARANGO, ». /. Donominavão dada
pelos aiinrieaiio» á quina ou ca.scii peru-
vian.a.
QUARDALINHO, .s. »/. Diininiitivo de
Quardelho.
QUARDELHO, «. m. Termo antiquado.
Courrlhi ili: terra.
QUAREIRA, 8. /. Termo antiquado.
O iiKMiiin (pio, carreira ou caminho que
nào adiiiilto mais do quo uin carro.
QUARENTA, a<lj. uitm. card. inv. Qua-
tro vezes <lez. — Ku farei chover sobre
a tc.rni quarenta di/ts c i^iareata noites.
— «iVro jior mui rendavel, que o oflicio,
ou mester seja, nom lho poeram em me-
nor valia que oito marcos de prata na
Streiuadura, e nas outras comarcas, em
que lanyam cavallos, c armas de quaren-
ta marcos.» Ord. Affons., liv. 1, tit. 71,
cap. 4, íj 2. — «Sueedeo esta queda do
lloyno dos Suevos (segundo a melhor c!j-
tai pelos annos de Chi-isto, quinheiítes e
oitenta o cinco; quatro mil e quinhentos
e quarenta o três, da Creaçaij do Mun-
do.» Monarchia Lusitana, liv. U, cap. 17.
- - «Xo.sto próprio anuo de novecentos e
quarenta c três, aos dezoito de Outubro,
fez doaçaõ da Jgreja de Lusim a Dom
Ansur, o Dona Eyleva, hum Sacerdote
chamado Adulfo, porque caindo cm hum
crime de hoinieidio, que comoteo na mor-
te de certo homem chamado Liaõ.» Ibi-
dem, liv. 7, cap. 21. — «Sentio el liei
sua morte em todo extremo, porque foi
esta a nuUher que mais amou, mas ven-
do-se em idade de quarenta e nove an-
nos, e em disposição de haver filhos, ca-
sou terceira voz com D. Lianor filha de
Filippe o primeiro Rei de Castolla, irmã
do imperador Carlos quinto, de quo hou-
ve o infante D. Carlos, que morreo do
pouca idade.» Frei Bernardo do Brito,
Elogios dos reis de Portugal, continua-
dos por D. José Barbosa. — «O Brinci-
po D. Aftbnso, que morreo sondo mini-
no, D. Maria, que nascei em Coimbra,
o casou com D. Filippe Brincipe do Hes-
panha filho do Imperador Carlos quinto,
e faleceo em Valhadolid, no anuo do Se-
nhor mil e quatrocentos e quarenta c
cinco, em idade de dezasetc annos de
parto do Brincipe D. Carlos.» Ibidem. —
«A obra foy crescendo de feição, que em
brevos dias se poz o cubcllo em pé, de
que encarregou António Baçanha, varaõ
de conselho, c de muito esforço, dando-
Iho quarenta espingardoiros.» Diogo de
Couto, Década O, liv. 2, cap. 2. — «O
qual dom tieorge foi casado com dona
Beatriz do Vilhena, filha de dom Aluaro,
irmão de dom Fernardo Duque de Bra-
gança, c do dona Bholipa, filha de dom
Iloilrigo de mello, Conde de 01iuen»;a,
como fica apontado no capitulo quarenta,
c cinco <la primeira parte di-í-t.a (.'hroni-
ca.» Damiào de Tioes, Chronica de D.
Ma.ioel, part. 3, cap. 4'). — cO galeam
dl' Eiiianiiel de Bouxa nam foi a liidiu,
liorqiio a elle o ni.ataraõ inouron, com
mais de quarenta Bortuguescs uo pirto
de .Mançna, inilo para Melinde buscar
mantimentos, o outras cousas de que ti-
nlui necesHidade.^ Ibidem, part. 4, capi-
tulo 3<i. — «O quo a.isi asHcntudo se fo-
ram pcra Bua» cuRas, c dentro no prazo
limitado para fura da cidade e rcgno,
que H(-riaiii quarenta casa.", em que aaia
mais do mil pi-ssoas, a fora ori RcratioR,
que toda esta gente metia Ilaix liamcd na
cidade, pouco a pouco, a for.-i muitos
soldad.os que tinli.a do 8ua m.lo, e per
derradeiro fez o mesmo Abraiiembeque,
que era huma das priíicipaes pcB.-íoaa des-
ta conjuraçam, tendo todos assentado de
lançar os portuguezes do Ormuz, e poer
a cidade com o regno a obediência do
Xeque Ismael. • Ibidem, part. 3. cap. G)^.
— «Esto anuo de quatro centos quarenta
e cinco; mãdou o Infante armar hum na-
uio, a cajiitania do qual deu a hum Gon-
çalo de Sintra escudeiro do sua casa, que
segundo diziãq ja o seniira de moço des-
pôras, mas por ser homem pêra muito, e
caualíeiro de sua pessoa sempre o trouxe
em cargos honrados.» .loilo do Barros,
Década 1, liv. 1, cap. 9. — «E ello Ro-
drigo Kabello per muitas vezes cavalga-
va com té quarenta de cavallo, c g<nte
de pé da tona, e anilava favorecendo as
aldeãs, e dava também algtnna mostra a
Pulatc Can, que a]ipareeia da outra ban-
da do rio.» Idem, Década 2, liv. G, cap.
8. — «Do Gezam té a Villa Imbo, que
serão de costa cento o trinta léguas, Lc
tudo do estado do Xerife Barac Senhor
de Meca : ás quarenta e duas está Zidem
lugar mui notável, e nesta distancia fi-
cam os portos de Jlalábo, Giil)aalcarne,
Boçá, Gudnfi, Magaxá.» Ibidem, liv. 8,
c.;ip. 1. — «Sem po;ler quasi pronunciar
palavra quo se me entendesse, lhes pidi
assi como pude, que me deixassem tor-
nar ao Jurupàgo em busca de humas
chaves que me lá ficarão por esquecimen-
to, e que lhes daria por isso quarenta
cruzados logo em ouro, a que elles todos
sete respõderai"!, nem que nos dês quan-
to ilinheyro ha em Malac».» Femilo Men-
des Binto, Peregrinações, cap. 10. — «E
feitos a amoueos arremeterão aos nossos,
quo passavào de trinta, a fora outros
quarenta moços, e de novo se tornou a
travar a briga de til maneyra que em
pouco mais tio três credos que os nossos
os acabarão do matar, elles nos matarSo
dous Bortugueses, e sete moços, e ferirão
mais de vinte, e o Capitão António de
Faria ficou com du.as cutila las na cabe-
ça, e huma num braço de que Oj»teve
muyto maltratado.» Ibidem, cap. 43. —
qUAR
QUAk
QUAR
•21
«E o mal.s depressa que pudemos entra-
mos em kum esteyro menos seguido de
gente que a^ enseada por onde tiiihamos
vindo, que se cuamava Xalingau, pelo
qual corremos mais nove dias, nos quais
caminhamos cento e quarenta legoas, e
tornando a entrar na mesma enseada do
Nanquim, que ja aquy era de mais de
doz-ou doze legoas de largo, velejamos
por nossa derrota cõ ventos Oestes de
hum bordo no outro mais treze dias.»
Ibidem, cap. 7D. — «Chegado eu comos
quarenta Portuguezes que hiào comigo
ao bayleu, aonde ElRey estava, lhe íi-
zcmos todos as coreraoiíias, e cortesias
que em tal teto se lhe costumào fazer.»
Ibidem, cap. 22-í.
E porque ellc ainda assi se iiào contenta,
Destas novas, que em summa tiulia dadas,
Cinco galés rcacs sobre quarenta
Diz que deixa na armada bem contadas ;
Cem outras, de que atraz vio com mais Icuta
Força as marinhas ondas ser cortada»,
Que de muitos navios que lá via
De toda sorte, vem em companhia.
FRANCISCO DE ANDRADE, PRIMEIRO CERCO DE DIU,
cant. 12, est. 47.
• — «Ao longo da cidade de Cantam
mais de mea legoa polo rio ho tam gran-
de multidam de navios quu he cousa ma-
ravilhosa vellos e ho que he mais de ma-
ravilhar he que esta multidam nunca
desfalece nem mingoa quasi todo o anuo :
porque se saem trinta ou quarenta, ou
cento hum dia, entram outros tantos.»
Frei Gaspar da Cruz, Tratado das cou-
sas da China, cap. 9. — «Conforme o ho-
róscopo que tinha tirado a si mesmo, de-
via morrer de idade de quarenta annos.»
Cavalleiro de Oliveira, Cartas, liv. 1,
n.° 44. — «Poucas palavras explicam a li-
beralidade do ministro : fr. João era ini-
migo de Jesuítas, e visita do conde de
Oeiras. Bispo aos quarenta e oito annos
de edade ; bispo sem ter exercitado na
sua ordem alguma cathegoria. » Bispo do
Gri5o Pará, Memorias, publicadas por
Camillo Castello Branco, pag. 5.
— Termo de liturgia catholica. As
orações das quarenta horas, ou as qua-
renta horas ; orayões feitas nas grandes
calamidades, e durante o jubileu, no tem-
po das quaes se expõe o Santíssimo Sa-
cramento.
— O trinta e quarenta ; jogo de azar
usado nas cartas.
— S. m. O algarismo, o numero qua-
renta. — O quociente de quarenta dividi-
do por dez í quatro.
— Termo de antiguidade grega. Os
quarenta; titulo de quarenta magistra-
dos athenienses, que percorriam a Atti-
ca para julgar os delictos pouco graves.
QUARENTENA, s. f. O espaço de qua-
renta dias.
— A santa quarentena ; a quaresma.
• — A quadragésima parte, que o forei-
ro paga ao senhor predial de laudemio,
ou terradego, quando não tem estipula-
do outra quantia.
— Fazer quarentena ; estacionar mais
ou menos dias em sitio dado, sem ter
communicação com a terra, quando se
teme que no paiz d'onde provém, ou em
algum navio com quem communicou híi-
veria peste, ou outra qualquer epide-
mia.
1 QUARENTENARIO, adj. Termo de
jurisprudência. De quarenta annos. —
Prescripção quarentenaria.
— Medida quarentenaria ; medida re-
lativa ás quarentenas.
QUARENTESIMO, A, adj. Vid. Quadra-
gésimo.
QUARENTONA, aJj. f. Tarmo popular.
Mulher quarentona; mulher que tem qua-
re.ita annos, pouco nuxis ou menos.
QUAREOGRAPHO, s. m. Instruiaento
novo, em virtude tio qual se pode debu-
xar uma perspectiva com a máxima exa-
ctidão.
QUARESMA, s. /. O espaço de qua-
renta e seis dias, em que os catholicos
devem abster-se de carne, e jejuar, ten-
do já idade para isso. Tem principio na
quarta-feira de cinza, e termina no sab-
bado de alleluia. — »E certo que segundo
o Camorij trazia a gente e navios de que
os nossos quada hora erao assombrados,
se naij entreviera a consolação e esforço
spiritual da memoria daquelles dias da
Quaresma em que espera vaõ por sei"viço
de Deos e de seu Rej derramar seu san-
gue, segundo erão poucos e a carne he
subjecta a temores de morte.» João de
Barros, Década 1, liv. 7, cap. õ. — «De-
pois que foi ordenado de missa a diz to-
das as vezes que pode com muita devo-
ção, principalmente ahos Domingos, dias
Santos, e na quaresma e outros muitos
dias, quando os negócios lhe dam lugar.»
Damião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 3, cap. 27. — -«E a principal causa
a que o Embaixador foy era sobre a mu-
dança das terçarias de Moara para a
Corte, ou oixtra parte do Reyno, em lu-
gar sadio, forte, e seguro, onde tudo se
comprisse, ou desfizessem as ditas terça-
rias pollo perigo em que o Príncipe e a
Infanta dona Isabel estavão, polia villa de
Moura ser muito doentia nos verãos. Che-
gou o Baram a Medina dei Campo, onde
el Eey e a Raynha estavão na quares-
ma.» Garcia de Rezende, Chronica de D.
João II, cap. 3õ.
QUARESMAL, adj. 2 gen. Quadragesi-
mal. ..
— Concernente á quaresma, qiie lhe
diz respeito. — Desobriga quaresmal.
QUARESMAR, v. n. Abster-se de car-
nes, e jejuar nos dias que a igreja man-
da no tempo da quaresma, sendo de ida-
de para isso.
QUARIZIL. Vid. Corazil, onde se ob-
servou, que esta pensão variava quanto
á sua grandeza, e peso, e não era uni-
forme em todos os legares da monarchia.
QUARTA, s. f. Porção de um todo que
se divide em quatro partes.
-r Quarta de pão ; nos antigos foraes,
era com relação ao moio, e ao quarteiro '
do moio; por exemplo, sendo o moio de
sessenta e quatro alqueires, a sua quar-
ta era o que diziam quarteiro, ou a sua
quarta parte, que constava de dezesseis
alqueires, e a quarta do quarteiro qua-
tro alqueires. E com esta proporção se
deve julgar dos differentes moios, segun-
do as terras; por exemplo, sendo elle de
trinta e dous alqueires, a sua quarta se-
rão oito alqueires, e a quarta do seu
quarteiro serão dous alqueires, etc. Mais
tarde chamaramdhe a quarta parte de
um alqueire.
— Quarta de vinho ; esta medida, com
que depois se mediu a quarta parte de
um almude, que constava de doze cana-
das, seguiu outr'oi'a a mesma ordem que
a quarta do pão a respeito do moio. Cin-
co quartas de vinho deviam pagar cada
um dos casaes encabeçados de Valença
do Douro, por carta do aforamento de
126i).
— Vela de quarta ; vela que tem uma
quarta de arrátel de cera.
— Termo de musica. Intervallo de qua-
tro tons subindo, ou descendo.
— Quarta de cevada, farinha, etc. ;
a quarta parte do alqueire.
— Vaso de barro, levando talvez a
quarta de um pote de agua.
— Nas escolas menores do latim, cha-
mava-se a aula, em que se começava a tra-
duzir, ou a construir.
— Termo de náutica. Cada uma das
trinta e duas partes em que está dividi-
da a rosa da agulha de marear, e que
vale 11° e lõ'.
— Quarta, ou quadrante do zodiaco ;
uma das quatro partes em qxic se divide
o zodiaco, e contém, ou abr-ange três si-
gnos ; em quanto o sol anda nos três si-
gnos de cada quadra faz uma estação di-
versa.
— No jogo das cartas, são quatro car-
tas do mesmo naipe ; a quarta maior co-
meça pelo az ; ha quarta de rei, de da-
ma, etc.
— Quarta /í(nc)-rtZ ; a quarta parte que,
segundo os costumes, tocava aos bispos,
e se deduzia dos bens deixados a mostei-
ros, igrejas, ou lugares pios da sua dio-
cese ; outr'ora quarta episcopal.
— Quarta /a/ci(Z/a; a quarta parte da
herança, que no direito romano tocava
ao herdeiro, entrando pelos legados para
se inteirar d'ella, ou pelos fideicommis-
sos, c n'este caso se diz quarta trebellia-
nica.
— Quarta funeral ; parte que se paga
ao parocho quando O freguez não se en-
terra na parochia.
— Adj. f.- — Pela quarta vez ; pela vez
22
(ilTAll
QUAR
qUAll
(juo 80 Hc^'iic (li-poÍH (la terccini. — « l';i-
poii lo^o o tril)iit() ilai|iii-llo anuo, deu o
c;i|)itili(j livrr.iiK'.iit(! as liuan nãos «o ho-
lii-iiiiio (rollíoy (lo Muliiidc, e á cidailo
dou outra por «er sua : Hunieutu a quar-
ta quo cru (lo liuni lu^^ar da corita clia-
niailo l'atii so ro-<fcatou por cento o ho-
Bouta niiticaes maus cm sifínal do obe-
dioncia f|iii3 em estima do sua valia.»
liurni-i. Década I, liv. 7, eap. 4. — (dias
outras forào lia liitanto di">na loanna,
íjuo casou com dom Piíilippo ArclieJu-
que Daustria, que arriba nctmcoi, que
per fallecimento da Kainlia d(1na Isabel,
Buceodoraõ nos Reguos do (JastcUa, e
Loilo, o ha terceira lia Infante (l(-ina Ma-
ria, que dopois foi Rainha de Portufíal,
quomo se ao dianto dirá, e ha quarta lia
Infante dona ("atlierina, (jue easoii com
dom lltínriípie Rei do Injilaterra, oitauo
di> nonu'.» Damiào de (iocs, Chroiiica de
D. Manoel, part. 1, eap. 22. — «Pela quar-
ta voz, mo vejo destituído de livros, o
obrigado a citar de memoria. Perdi, pelo
terremoto, quantos livros, ontani, pos-
suía.» Francisco Manoel do Nascimento,
Os Martyres, liv. U.
— Quarta oi-Jint tio inarcha ; é de seis
ângulos, ou de seis cohinmas, cada unia
das (|uao-s é de li»;')"; (■ pouco usada.
QUARTAÇÃO, í. /. (Jporavào chimioa
que se pratica n'uina massa de oiu-o o de
prata ligados conjunctamente, quando se
quer fazer a separação do ouro por meio
do acido azotlco. >So esta massa não con-
tóm três quartos de prata, accrescenta-se
até esta quantidade, o esta addiçào, quo
reduz, \wr consequência, o ouro ao quarto
da massa, favorece a aceão do acido.
QUARTADO, A, mJj. — Pào quartado;
de quatro espécies: trigo, milho, cevada
c centeio.
— Um ah^ueire de pão qUartado ; a
quarta parte de trigo, outra de milho,
etc.
QUARTA-FEIRA, s. /. ( ) quarto dia da
semana, entro ter(;a e quinta-feira. —
(( Isto foi aos XIX dias do mes Doutubro,
de M. I). viij, huina quarta-tViía. c ao
outro dia chegou todo o poder dei Rei de
Fez, que se. afirma quo trazia vinto mil
homens do cauallo, e conto, e vinte mil
de pè, om quo entrauaõ doz mil bestei-
ros, e espingardeiro?, com muit:is bom-
bardas o outras muni(,'ões do guerra pêra
combater, e escalar a villa, o que logo no
mesmo dia começaram de fazer no qual os
do doutro se dcfonderam ate noite mui es-
for(;adanioiito." Damiilo de Ooes, Chroni-
ca de D. Manoel, pavt. 2, eap. 28. — «A
quarta feyra seguinte noa sahimos' logo
deste ri.> de Varella por nomo Tinacorou,
o ao Piloto pareceu bom ir demandar
Pullo Champoyh'), que he hunia Ilha des-
povoada, que ostil na boeca da enseada da
Caueheuehiua em quatorze gr."ios, e hum
terço da banda do Norte.» Fernào Men-
des Pinto, Peregrinações, eap. 42. — «Por
quilto na quarta feyra Higuinto aucmos
(lo coinoi;ar o sagra'lo tempo de (^uaros-
niu, o penitencia, qiiernos a Saiicta Ma-
dre igreja ne.<te Domingo aparelhar pêra
isso. E isto faz oiminaiidoiios de quo ma-
neira auoniOH do fazer nossa penitencia
porá Her valiosa, e acoita diAte de Doos.»
Vr. liarthídomeii dos Martyres, Catecis-
mo da doutrina christã.
QUARTALUDO, A, <i,lj. Termo do al-
veitaria. (^uo tem aberturas ou defeitos
nos quartos; diz-sc dos cavallos.
— QiU! tem a f(irrna e o habito do quar-
tilo.
QUARTAMENTE, adv. (De quarto, eo
suliixo 'í mente " . Km (piaito luir.ir.
QUARTA, .,u QUARTÃA, ou QUARTAN,
adj. f. — ■ Fii/jre quarta ; fiibre ([ue se re-
pete de quatro em quatro dias. iJo mesmo
modo se diz: sezòtís quartas.
QUARTANAI, s. /. Termo antiquado.
Kspccie de estofo OU tecido de l.à.
QUARTANAIRO. \'i I. Quartanario.
1. QUARTANARIO, A, 'olj. Doente de
quart.ãs.
2.) QUARTANARIO, s. m. Nos cabidos,
é o bcnetieiado inferior a meio cónego, e
tem a quarta parte da congi-ua de um có-
nego.
QUARTANO, s. m. Termo antiquado. A
quarta parte do quarteiro, que é a quar-
ta parte do moio. E assim imia vez con-
cluido de quantos alqueires é o moio, sa-
bemos de quantos consta o quarteiro. E
sabcndo-se de quantos consta o quarteiro,
egualmeute se sabe do quantos d o quar-
tano, pois c a quarta parte do quarteiro;
por exemplo, sendo o moio de sessenta e
quatro alqueires, i o quarteiro de deze-
sei-;, e o quartano de quatro.
QUARTÁO, s. w. Cavallo corpanzil, c
quadralo. j>orc'm cui"to.
— No IJrazil dizem vulgarmente, h?»
quartào, ilo cavallo tal que nào é de es-
trebaria, mas cargueiro: nào de marca,
do estatura meií, corpulento.
— ( )utros dizem cavullos aquartanados,
rjuartCto, como estaturas, e corporaturas
quadradas, meàs, e niio de marca, nem
rocins pequenos.
— Peça do artilheria, quo é a qtiarta
parte do um eaniiào.
1.) QUARTÃO, .«. m. Augmentativo de
Quarta. ^le lida de liquides, que leva três
canada^, ou a quarta parte ile um almudo.
— Vid. Quartào.
2.) QUARTÃO, .--. m. (Do francez car-
tou). Cartão ou papelão com claro, c lavor
á roda para iuscripçilío, ou letreiro, ou pa-
ra lavoro'. •
QUARTAPIZA, s. /. Barra de outra côr,
quo aeom)>anl\a, por exemplo, a borda in-
ferior da saia, ou o meio, o borda de uma
colcha, etc. Vid. Ribetes.
— Outros dizem cortapiza, á caste-
lhana.
— Alguns escrevem quartapisa, porém
este termo ó pouco usado.
QUARTAPIZADO, jmrl. past. de Quar-
tapizar. líxrdado, (ju atriivi!«sado de qiiar-
tapiza-. - Sitliif quartapizadas. — Cul-
cltn» quartapizadas.
QUARTAPIZAR, i-. a. Borlitr, ornar
com 'piarta|.i/a, atravessar de quartapiza.
QUARTARIO, «. m. Vid. Quarteiro.
QUARTEADO, itatt. pcum. de Quartear.
— hm- II lio quarteado ; escudo dividido
em quatro part^-^, <ni jjcça».
— Quarteado di- cores; feito cm qua-
dra'los do varias lôrc'*.
— Carnlln quarteado ; cavallo de boas
esj)adoa.s, e outnja membros bom propor-
ciona(los.
QUARTEAR, r. n. Dividff em quadra-
dos.
— Quartear um eícudo; vid, Quar-
teado.
— Quartear uma camina; guameccl-a
com ri'iirl;i>. i-ntremeios e barafundas.
QUARTEIRÃO, s. m. iDo francez qunr-
terom. A quarta parte de um cento, «u
vinte e cinco. — Um quarteirão </« /«-
ranjag, de peras, etc.
— A quarta parte do osctido quartea-
do. — «No meio encostado sobre uns co-
xins de velludo avcllutado pardo, um ca-
vai leiro armado d'arma8 verdes e ouro a
quarteirões, e no escudo cm cjunpo verde
Cupido preso com seu arco e frechas em
pedaços, c clle lançado de bruços á ma-
neira de desbaratado ou vencido. E ama
donzella formosa sentada com os pés sobre
elle.» Francisco de Moraes, Palmeirim de
Inglaterra, eap. 110.
— Carta geographica parcial.
— Termo antiquado. Imposiçã^i aiui-
ga ; eram dezoito soldos por c.ida ca.sa!.
— Quarteirão da lua; vid. Quadra.
— Um dos quatro paus, que atraves-
sam os cantos do tecto da casa.
— Uma divis.ào de rua por uma ou
mais travessas; ou a massa de casas,
que formam duas faces cada nina de
sua rua, e duas faces do travessas, for-
mando um quadrado, ou quadrado lon-
go.
QUARTEIRO, .«. m. (De quarto, com o
sufíixit «eiró» '. Termo antiquado. Quart-i
parto do moio, quinze alqueires. — Quar-
teiro de cevada. — Quarteiro de trigo.
— Pensão que se pagava aos quar-
téis.
QUARTEIRO, A, adj. Quo é sujeito si
obrigaç.ào de piagar quarto. — Esta pr<.-
priedivk é quarteira. — Terreno quar-
teiro.
QUARTEJAR. Vid. Quartear.
QUARTEL, s. in. Do provençal guar-
tier, do latim quartarius, que significa
projiriamente uma certa medida, deriva-
do de quartiif). A quarta parte de cer-
tos objectos. — Uma porçào de fructa di-
vidida em quartéis.
— Renda, ordenado ou pensão que se
paga de três em tre^ mczes. — Deco dous
quartéis da mitiha petuão. — Já $9 vtn-
QUAR
QUAR
QUAE
ceu um quartel. — -Pagar em dous quar-
téis.
— A quarta jmrte do anno, espaço, de
três mezes. — O anno é dividido em qua-
tro quartéis. — Quartel do anno; estaçào.
— O ultimo quartel áa it c/n/ próximo
á morte, a idaàe caduca.
— ■ Quartel ; o tempo empregado em fa-
zer algiun serviço, repartido entre varias
pessoas por turno ou giro.
— Diz-se por extensão das porções de
um todo que nào é dividido exactamente
em quatro partes. — Um quartel de la-
ranja.— Quartel c?e terra; um campo de
certa extensão.
— Termo de guerra. Quartel; o edifí-
cio em que os soldados estào aposentados.
— Quartel d'infanferia. — Quartel c/e ca-
vallari». — Quartel d'artilkeria.
— Acantonamento, acampamento d'um
corpo de tropas. — As tropas entraram no
quartel.
— Quartéis de acampamento; reunião
dos corpos d'exercito e de todo o mate-
rial que vem tomar alojamento em um
corpo.
— Quartel dos viveres; logar onde es-
tào alojadas as munições de bocca e on-
de se coze o pão que se distribue ás tro-
pas.
— Quartel d' inverno; o logar onde o
exercito passa o inverno. — O exercito
vai tomar os seus quartéis d/ inverno; o
intervallo de tempo entre duas campa-
nhas.
— Quartel de refresco; logar onde as
tropas fatigadas se vão restabelecer, em
quanto dura a campanha.
— Quartel general; logar escolhido no
centro do acampamento, da posição dos
qiiarteis d'um exercito ou d'um corpo de
exercito, onde está estabelecido o aloja-
mento do general em chefe e o seu esta-
do maior. — O quartel general está situa-
do n'uma posição que domina toda a cida-
de sitiada. — Ir ao quartel general.
— Quartel da saúde; o quartel gene-
ral.
— Loc. : Acolhei--se ao quartel da saú-
de; pOr-se a salvo de algum perigo.
— Quartel-?nesí)-€ ; sargento, tenente ou
capitão encarregado do alojamento do re-
gimento. Aposentador do regimento.
— Quasiel-mestre general; aposentador-
mór do regimento.
— Quarlel ; residência. — São horas de
me recoUier ao quartel. — Entrar no quar-
tel; entrar em sua casa.
— Figuradamente : Dar quartel ; con-
ceder a vida aos vencidos ou as prisio-
neiros, tratal-os coui humanidade.
— Não dar quartel. — Bater-se sem
quartel; matar o inimigo: tratar com ri-
gor.
— Pedir quartel ; pedir misericórdia,
pedir qu-- nào seja tratado rigorosamente.
— Tomar quartel ; aquartelar-se.
— r Termo de náutica. Quartel das esco-
tilhas; a tampa ou porta d'ellas que é
quadrada.
— Termo de brazão. A quarta parte
d'um escudo quarteado. Xo primeiro quar-
tel coUocam-se as armas da casa princi-
pal, e nos outros quartéis as allianças.
QUARTELEIRO, s. m. (De quartel, com
o suíExo «eiró»). Termo militar. Soldado
encarregado da guarda e limpeza do quar-
tel.
QUARTELHA. Vid. Quartella.
QUARTELLA, s. f. /De quarto, com o
suffixo « eila >' ' . Termo de alveitar. O te-
cido que nas bestas pega da coroa do cas-
co até á primeira junta.
— Termo de architectura. Peça que
sustenta um vão. — Quartellas guarneci-
das.
QDARTELLADO, A, adj. (De quartella).
Diz-se dos cavallos que tem grande quar-
tella.
QUARTETE. Vid. Quarteto.
QUARTETO, í. m. .Do latim quafuor,
quatro . Termo de musica. Trecho escri-
pto para quatro vozes ou Cjuatro instru-
mentos.
— Darça executada por quatro pes-
soas.
— Quatro versos rimados, o primeiro
com o quarto e o segundo com o tercei-
ro, ou o primeú'o com o terceiro e o se-
gundo com o quarto.
QUARTIL, ai/j. 2 gen. (Do latim qvar-
tus, quarto). Termo d'astronomia. Nome
que 03 astrónomos ou antes os astrólogos
dào ao aspecto de dous planetas afastados
um do outro a cpiarta parte do zodiaco,
90°. (u três signos. — Aspecto quartil.
QUARTILHO, s. m. (Do latim quartus,
quartoi. A quarta parte de uma canada.
Medida portugueza para líquidos que con-
tém quatro quarteirões ou a 48." parte
do almude. — «A outro Phienetico dis-
pus huma bebida cordeal attemperante
em quantidade de três quartilhos, em
cuja compoziçaõ entravaõ outo graons de
Laudano opiado.» Braz Luiz d'Abreu,
Portugal medico, pag. 398.
— Xo BrazU corresponde esta medida
á canada de Portugal.
QUARTINA, s. /. (Do latim quartus,
quarto). Termo de botânica. O quarto
invólucro do ovulo vegetal C|ue existe al-
gumas vezes entre a tercina e sacco em-
brvonario ou quintina.
— Termo antiquado. Cortina, tj-ibuna
d'onde o rei ouve missa.
QUARTINHA, s.f. Diminutivo de Quar-
ta. Pequena bilha, pequeno vaso de bar-
ro, cantarinha, pequena enfusa.
QUARTINHO, s. m. Diminutivo de Quar-
to. Pequeno quarto; pequena camará.
— A quarta parte da moeda d'ouro de
4-5800 reis ou doze tostões.
QUARTO, A, alj. (Do latim quartus,
quart') . Xumero ordinal de quatro; que
se segue logo depois do terceií-o. — O
quarto logar. — O quarto dia. — Paren- \
te em quarto grau. — Affonso quarto. —
aXo mes de lulho deste anno de oitenta
e três, el Rey com a Raynha, e o Prín-
cipe, e sua Corte se foy a Yilla Dabran-
tes, onde veo a elle hum Xnncio com
hum breue do Papa Sixío quarto, porque
por cousas, e causas, nelle apontadas, em
que parecia el Rey meter mão indiuida-
mente nas cousas da Igreja, o emprazou
que por si, ou seu procurador parecesse
em Corte de Roma para dar delias re-
zam.» Garcia de Rezende, Chronica de
D. João II, cap. 48.
O diluvio ardentíssimo de cliaminas,
Que do nascente Mundo em quarto instante
Quiz o Immortal fjue derramasse, entorna
Da Crcaçào no portentoso quadro.
3. A. DE MACEDO, MEDIIAçIo, 03 Ut. 2.
— Quarta-fetrcí ; o terceiro dia depois
do domingo. •
QUARTO, s. ra. (Do precedente). Quar-
ta parte d\im todo. — Um quarto d'hora.
— Um quarto d/hectolitro. — Um quarto
de pipa.
— Um quarto d,e boi, de vitella, de car-
neiro, etc. ; é a perna ou mão até ameta-
de do lombo na altura, e até meia bam-
ga na largura.
— Ter bons quartos ; diz-se do cavallo
que é robusto e apresenta boas propor-
ções.
— Fazer em quartos ; esquartejar.
— Um quarto d' ouro; quartinho, 1^200
reis.
— Um quarto de cruzado; tostão, pe-
quena moeda de prata do valor de 100
reis.
— Quartos da lua; phases da revolu-
ção lunar. — Quarto crescente. — Quarto
7ningua7ite .
— Termo náutico e militar. Tempo em
que xima parte da equipagem d'um na-
vio, ou as praças e oíEciaes, no exercito,
empregara em fazer certo serviço, que to-
dos os marinheu-os, praças ou officiaes
devem fazer por seu ,tumo.
— Entrar de qiiarto. — Sahir de quar-
to.— Acudir ao sen quarto. — Estar de
quarto, ou vigia. — A noite é dividida
em quatro vigias ou quartos, que duram
três horas.
— Quarto de prima; das seis até ás
nove da tarde. — Quarto da alva. — Quar-
to da modori'a; entre o de prima e da
alva.
Lá, no segundo quarto da nocturna
Vigia, em ciue não ouço outro ruido,
Qiie a torrente, dos Alpes despenhada,
Ergo a fronte... Oh prodigio ! Ob raro assombro !
Rompem luzeiros, grato aroma exhala !
F. M. DO XASCtíCESTO, OS StABTYEES, 1ÍV. 7.
— 9 Parece que neste negocio não en-
trou este só, mas havia de hir concerta-
do com algum dos Capitaens de alguma
estancia, porque esta mesmo noite no
quarto da modorra foraõ metidos na Çi-
24
(ilIAR
QCAS
QUAS
(lilde, o CDllKi ;í(|Uill.l-< IlDfHS (^^t;lV!lõ to-
(loH (l(iHeiii'líi'i<n, ;iiTi-tM!!it;iiiil<) jnslo.-* l»;i-
liiartOH, foriín iriutíiiiilo, o (íS|)c,(|;i<;íinil(i !i
qimntos íicliiivilo.» l)i(i;^o ilc iÀnit», Déca-
da (i, liv. t), Cl]». .").
— • Quarto <l<> fiUjir.io ; \wyríín ili! iiiiiii
casa com «ervuiitia «cpai-aila.
— ■ Quarto de- ciimi. — Quarto <h dur-
miv ; (.■amara onde unta a cama.
— Termo g(!Oiiiotrico. Quarto <lt circu-
lo; a ((iiarta ))arto da circiiiiitorencia nu
lUTO do i)U". IO a iiiodida do anfíulo ro-
cto.
— Quarto tio viavidl<m(i ; arco do me-
ridiano terrestre comprohoudiílo entro o
polo do norto o o oiiuador, cujo conipri-
inonto Horvia de ba-<o ao ayntoma mé-
trico.
— Pev.d de quartos; jiera ijiio serVe
para tazor dar os (piartos d'iim r.doyio ou
d'um pêndulo de rep)ti(;ào.
— Termo do pintura. Retraio de três
quartos; retrato que representa os três
quartos da ti^iira humana.
— Quarto ; Jo^-o carteado do ipiatro par-
ceiros.
— Livro cm quarto ; livro cujas folhas
estão divididas em quatro qiuirtos,
— Termo militar. Quarto de cunrersão ;
movimento p(do ((ual uma das alas d'uin
corpo do tropa percorro um ([uarto de
circulo, em quanto quo a outra ala ma-
nobra, encurtando o passo.
— Termo do veterinária. Quarto; par-
te lateral tanto interna como externa do
casco do i'avallo.
QUAUTODECIMANOS, s. m. 2>l- (J^o bai-
xo latim quarlodccimiimis, do latim tj^iutr-
tits, (|uarto, e deciínaaus, decimo, de de-
ceiíi, dez). Christãos que queriam, á iuu-
tação dos judous, celebi-ar a paschoa no
decimo quarto dia da lua de março, (puil-
quer ([uc fosse o dia da semana em que
cllo podesso cahir.
QUARTOLA, x. /. id)o quarto, com o
sultixo .(ola»)- Meia pipa.
QUAtlTZO, s. ííi. (^I)o allcmào qiinrz
por apjjniximaeào de Warzc, mamillo;
u'este caso seria pedra mamillosa. Sepíun-
do Bauvlry, do latim (jnadratiis germani-
sado, o quo seria pedra quadrada, por
causa dos anaulos de crystal). Termo de
mineralogia. Com este nome designam-se
todas as substancias niineraos que não são
compostas senão de acido silico ou silica.
Existem, todavia, duas espécies de silica
dittbrentes e muito distinctas : a primeira
é anhyib-a, tom um aspecto vitroo e c
muito rara ; a segunda é hvdratada e en-
conti"a-so muito espalhada no globo. (>
quartzo puro é composto exclusivamente
(le silica com alguns vestígios do alumi-
nia, apenas apreciáveis ; n'este caso ó per-
feitamente branco, misturado porém com
siibstaiicias estranhas, principabnento oxy-
dos de ferro e de nianganez; apresenta to-
das as variedades de cores, e constituo
quasi tolas as pedras preciosas.
Quartzo hi/nlino Hinjiidij; o crvMtal
de roi'ha.
-Quartzo /ii/nlino riolcta; a amethyn-
tu dos iapidarioH.
- Quartzo /n/idiíin niintrillij-esvcrdcndo;
a faina ehrysolilha.
Quartzo nnjj/tlrino, ou quartzo nzitl ;
siderlte, ciiaiiia la quartzo Knjdtiru, ou
jinendo Kti/diirii.
— Quartzo (Kjata ; variedade do ágata
atravessada de filet(;« d'amianto que re-
Hoct(ím as cores do espectro solar.
— Quartzo /ni/rcridinitn ; a ari-ia ordin.a-
ria.
■\ QUARTZOSO, A, 'idj. (De quartzo-.
Q,U(i tem a natureza do quai-tzo; cpie con-
tém quartzo. — Git4'.iss quartzosos.
— • Terrcwis quartzosos; grupo de ter-
renos encerrando aquiíiles que são abun-
tos em rocluis silicosas.
— liufrticrão quartzosa ; dupla refrac-
ção que possuo o ([uartzo, a qual se dá
quando o raio extraordinário está approxi-
mado do eixo e situado entre ellc o o raio
ordinai-i<i.
f QUARTZIFERO, A, 'nlj. ,1),., quartzo,
o do latim furo, levar, trazer), (^ue con-
tém quartzo no estado de mistura, que é
composto de quartzo. — Cdl carbonatada
quartzifera.
f QUARTZIFORME, udj. 2 gen. (De
quartzo, e forma). Que tem a fu-ma do
([uartzo ou d'unia de siiiu; variedades. —
tíetcn-ilc quartziforme.
f QUARTZITE, s. f. (De quartzo.
(^>unrtzii h\ aiini) granidovso ou em rocha.
QUASA/QUASAL. Vid. Casa, ctc.
QUASI, iidr. (Do latim ijtuisi, do (junm,
(pie e se). Próximo a, perto de, pouco fal-
ta; com pouca ditfereuíja. — «E por so
temer que fossem da armada do Jlanda-
rim, de que ja tinhamos algumas atoar-
das, surgio hum pouco á terra delles, e
como a maré começou a encher, que se-
ria ja quasi meya noite, levou a amarra
nuiyto caladamente, e passou adiante pa-
ra onde tinha vistos os fogos, de que a
mayor p.arte ja neste tempo erào apaga-
dos, e não avia mais que dous ou três
quo do quando em quando apareciào os
(juais lhe servião de guia.» Fernão Men-
des Pinto, Peregrinações, cap. 42. —
((Nesta prisaõ estivemos quasi dous me-
ses, com assaz de trabalho, sem em todo
este tempo nos fallarem a" feito; e dese-
jando el Rey ter mais alguma informa(;aõ
de ni'>3 que a (pie o Broquem lhe tinha
escripto, manilou hum homem por nome
Raudivaa que seLTctamcnto vie-se á pri-
saõ onde estávamos. V Idem, Ibidem, cap.
140. — ((E se a povoação era quasi toda
de madeira, e as casas cubertas de olla,
(ciMuo geralmente so usa naquellas par-
tes.) tand)cm viam outras torres, muros,
e ai-quitecturas de melhor parecer, e de-
fensão, que era grosso povo, que enchia
todolos lugares altos, e baixos, que esta-
vam em vista da ribeira.» Barros, Déca-
da 1, liv. O, cap. 2. — ^ «E ansi neste re-
(•(jlhfT, coMio na pidcja do dia, dos uomor
foram fíiridoH setenta, o» louig delle« com
herva de ipie oa Jlouros Ufan» ii;uito'nn-
(|U(rlla ]iart(;; e por lhe ninda nAo sab(;-
reiíi a cura, dcpoin cni as i:áo« faleceram
dez, du doze; e outroH que houveram naUT
de delia, senijire ticáram com aquolln par-
te da f(!riila i-nferina. e quasi hum tremor
na'|uelle wuMubro da nialda'le ('a jki^-u-
nha.» l(lem. Década 2, liv. •>. cap. 4. —
"K a eau'a deste rlamiio foi, que Faben-
do os Mouros (juc navegavam o mar Ro-
xo, jMTa onde ellas hiam cirregadoB, c<i-
mo elle Affonso (TAIboquerque era den-
tro, temendo de o encontrar, partiram dou
|ioi-tos da índia, onde tomúrnui carga quasi
no fim da monção do tempo, parecendo-
lhi!s que a este seria elle Kahi>lo do es-
treito.» Mcm, Ibidem, liv. H, cjip. (J. —
((Qual he o peccador carnal que senào
confunde e affronta de trat-ir mimosamen-
te sua carne, e fugir de penitencia, ven-
do que o innocentissimo virgem tão asj»c-
ramente trataua a sua'? Pois da alteza de
sua oração, c continua còtemplação no
mesmo deserto, quem poderá dignamente
fallar? Não nos metamos neste peego que
hemuyto fundo. Basta saber que perseue-
rou em o hermo, atec idade quasi de trin-
ta annos, fazendo em tudo vida mais An-
gelaca que humana.» Fr. ]íartholom'-u
dos Martyros, Catecismo de doutrina
christã. — «O Rei d'esta província he
grande scihor ponjue segundo dizem, tem
em cirv'uito seus senhorios mais de oito-
centas legoas, afora alguns Reis, e senho-
res que lhe obedecem, e pagam tributo
douro, do qual ja os da ten-a tomarãn o
gosto que lhe os mouros que antrelles vi-
uem, deram de muito tempo a esta parte,
e lhe nos acrecentamos, em quasi seten-
ta annos que a que descobrimos estas pro-
víncias.» Damião de Go'\s, Chronica de
D. Manoel, part. 2, cap. 10. — «Foi mui
limpo de sua pessoa galante, e bem ves-
tido do que se prezana tanto que quasi
todos os dias vestia alguma cousa n na,
pelo que tinha tantos vestidos que tofbv
los annos mandava repartir dua-s vezes
muitos de seda, e pano com os fidalgos,
cauileiros, e escudeiros, e moços da ca-
mará quo andauaõ ra corte.» Liem, Ibi-
dem, part. 4. cap. 84.
As ondas iiíivog.-wam do Orií^ntf»
.Ti nos mar(>3 da Índia, c cn.xcrpavRiii
Os thalumos do sol, quo nasc<" nrdontc ;
,}:\ fyidwi seus desejos se aojibavam.
Mas o inaii de Tliyoneo. que na alma sonto
As venturas que então se atijiarelhavam
\ pente Lusitana dVUas dina.
Arde. morre, blas;)hema, e desatina.
t<M.. bis., cant. tj. est. (5.
-— «EUa era tão gi-ande de corpo, que
quasi parecia gigant;i. não tão somente
na estatura, mas inda na grandeza dos
membros; porque tudo era á proporção
QUAS
UUAT
QUAT
25
(lo corpo. Seria de iJaJe de dezaseis an-
nus, feia e porém airosa. No concerto e
atavios de sua pessoa parecia de muita
maneira e gravidade.» Francisco de Mo-
raes, Palmeirim de Inglaterra, cap. 113.
Seguindo a piza ao Fundador, ao Mctre
Da Scicucia Aâtronomica, empunhando
Teu Tclc3COiio o singular Cainpani,
De Saturno os Satellitcs descobre
Quasi todos cntào : busca as EstrcUas,
Que immortal Galileo primeiro aoliára,
(Luas do Jove são :) fanal aos Nautas. •
J. A. DE MACEDO, VIAGEM ESTÁTICA, Cant. 4.
A força cm tudo cede ás Artes sabias !
QiMsi vejo surgir Numes na Terra,
A cujo aceno os corpos obedecem ;
Mas sào disposições, são leis profundas.
Que as sombras arrancou da Natureza
O estudo da Mecânica profundo.
Em pró dos mesmos Príncipes, que hão quasi
Nas veias, esgotado-lhe a nascente.
Desses Heróes Christàos no manso vulto.
Nem prazer, nem temor llics resnmbrava :
' Sim' cordato valor, bem parecido
("o Lvrio sem senão. Mal trilha o Campo
A [.■egiào, foge aos Francos a victoria.
FRANCISCO MANOEL DO XA3CI.MEXT0, OS MARTVB5IS.
liv. G.
— «A cau.sa natui-al da falsa idea que
toem os Francezes do seu idioma, é a
universalidade que elle por toda a Euro-
pa tibteve : por aqui também se explica
o mui pouco ou quasi nenhum estudo que
fazem dos altieios. Mais inexplicável é,
em verdade, o tom magistral e tranchant
com que dos auctores e litteraturas es-
trangeiras ajuizam e decidem, ignoran-
do, as mais das vezes, a menor syllaba
dos originaes.» Garrett, Camões, nota A
ao canto 1.
— Às vezes repete-se:
Mas ali ! que em vôo extático me elevo
Inda acima do Sol! Daqui descubro.
Ou gfí«-';", rpixwi se me antolha a Terra,
Como n"hum prado estivo o insecto accezo,
Gyrar no espaço azul pequena, e muda !
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Cant. 2.
— Palavra que se junta a muitas ou-
tras para indicar que a qualidade ex-
pressa por estas é só approximativa. —
Quasi monarchico. — Quasi liherdade. —
Quasi reijuhlicano. — Quasi legitimo.
— Pecúlio quasi castrense; o adquiri-
do pelo fil!io-familias nos cargos e em-
prego.^ públicos.
— Quasi força ; dú-se quando .?e occu-
pa a posse da cousa vaga, que nào fosse
por outrem corporalmente possuída, a
qual o possuidor cuidava ser alheia, e
depois achou, que era sua.
QUASI-CONTRATO, s. m. (De quasi, e
contrato . T -rmo de jurisprudência. Con-
veuçào em que o consentimento das par-
tes nào foi previamente expresso, mas
presume-se.
■i- QUASI-DELIGTO, s. m. iDe quasi, e
delicto). Termo de jurisprudência. Da-
mno causado a outrem involuntariamen-
te ou por negligencia.
QUASÍMODO, s. m. (De quasi, e modo,
que suo as duas primeiras palavras do
intróito da missa do domingo depois de
paschoa). Termo de liturgia. O primei-
ro domingo depois da paschoa, chamado
da pa-íchoela.
QUASSAÇÃO, s. /. Termo de pharma-
cia. Coutuíào ; operação que tem por íim
destruir a cohesào dos corpos duros por
meio de instrumentos contundentes.
QUASSIA, s. f. Género de plantas da
familia das simarubas, do qual a espé-
cie quassia amaii, de Linneu, produz uma
casca muito amarga, empregada na me-
dicina e conhecida com o mesmo nome
de quassia.
f QUASSITE, s. f. Termo de chimica.
Principio n.ào azotado, extrahido da quas-
sia.
t QUATERNADO, A, adj. (Do latim
quatenius; vid. Quatemoí. Termo de bo-
tânica. Diz-se das partes dispostas qua-
tro a quatro. — Folhas quaternadas. —
Antheras quaternadas.
— Termo de mineralogia. Diz-se dos
mineraes que apresentam faces dispostas
quatro a quatro, ou que residtam d'iuaa
reunião de quatro prismas em cruz. —
Bavyta sulfatada quaternada.
QUATERNÁRIO, adj. (Do latim qua-
ternariuSy de quaternus, de quatuor, qua-
tro) . Que vale quatro ; que é divisível
por quatro.
— Termo de chimica. Diz-se dos cor-
pos compostos que resultam de quatro
corpos simples.
— Termo de geologia. Terreno qua-
ternário; conjuncto de rochas que com-
firehende todas as formações superiores
ao calcareo dagua doce, ou quasi a me-
tade superior do terreno supercretaceo.
— Period.o quaternário ; época da ap-
parição do homem á superticie do globo.
— Homem quaternário ; o homem con-
temporâneo do terreno quaternário.
— Termo de mineralogia. Diz-se d'uma
variedade de mineraes que resulta d'um
decrescimento por quatro angidos, como
a (jlauberite quaternária.
— Termo de botânica. Diz-se d'um ór-
gão repetido quatro vezes.
QUATERNIÃO, s. m. Bálsamo assim
chamado, composto de quatro simples.
QUATERNIDADE, s.f. (Do latim qua-
ternitatciii, de quaternus, de quatuor, qua-
tro i. Estado d'uma cousa que é compos-
ta de quatro partes.
— Numero de quatro pessoas, á imi-
tação de trindade. — Quaternidade de
Parabranm, na religião dos Índios do
Oriente.
f QUATERNIFOLIADO, A, adj. (De
quaterno, e folha. Termo de botânica.
Que tem as folhas (juaternadas, dispostas
(|uati'o a quatro.
QUATERNO, s. m. (Do latim quaternus,
de quatuor, quatro). Numero de quatro
unidades, pessoas ou coxisas ; quatro nii-
meros.
1 QUATERNOBISUNITARIO, A, adj.
Termo de mineralogia. Diz-se d'iun mi- •
neral, cujos crystaes residiam d'iun de-
crescimento por quatro augidos e de dous
decrescimentos por cada angido. — Cal
sulfatada quaternobisunitaria.
QUATORZADA, *■. /. (De quatorze ;
pr. catorzada). Quatorze pontos que con-
ta quem tem os quatro azes, os quatro
reis, etc, no jogo dos centos.
QUATORZE," adj. mm. (Do latim qua-
tuordecim, de quatuor, quatro, e decem,
dez; pr. catorze). Dez mais quatro; ou
quatro mais dez; duas vezos sete. —
«E el Rey dahy a três dias foy ver as
obras, e vio la o homem com huuia muy-
to grande barba, que auia quatorze an-
nos que não fizera, e disselhe : Não sois
vos o a que eu dey a vida.» Garcia de
Rezende, Chronica de D. João II, cap. 08.
— «E tendo-a reduzido quasi á ultima
miséria pela falta de defensores, passou
a Alem-Tejo o Conde de Cantanhede D.
António Luiz de Menezes por ordem da
Rainha Regente, e buscando ao inimigo
dentro das suas mesmas linhas o rompeo
com grande estrago de Castella, e com
grande gloria de Portugal a quatorze de
Janeiro de mil seiscentos e cincoenta e
nove.» Fr. Bernardo de Brito, Elogios
dos reis de Portugal, continuados por
D. José Barbosa. — «O qual chegou a
Malaca na entrada de Jxdho do anuo de
quinhentos e quatorze, a torapo que era
vindo da índia Jorge d'Alboquerque fi-
lho de João d'Alboquerque pêra Capitão
da Cidade, e estava já em posse del-
ia, e Ruy de Brito esperando tempo
pêra se vir pêra a índia.» João de Bar-
ros, Década 2", liv. 9, cap. 6.
— Em algarismo, 14 ; em caracteres
romanos, xiv.
QUATORZENO, A, adj. (De quatorze).
Numero ordinal de quatorze. Decimo
quarto.
— Panno quatorzeno ; o que tem mil
e quatrocentos fios no ordume.
— S. m. pi. — Os quatorzenos ; os dias
décimos quartos, críticos em muitas doen-
ças.
QUATRALVO, A, adj. (Do latim qua-
tuor, quatro, e alvus, branco). Diz-se do
cavallo e dos outros animaes que teem os
pés e mãos brancas.
QUATRAPISSO, ou QUATROPISIO, s. m.
Jogo de tabolas, em que as parelhas se
jocam quatro vezes.
QUATRIDUÁNO, A, adj. (Do latim qua-
triduum, de quatuor, quatro, e dies, dia).
Que comprehende o espaço de quatro
dias.
QUATRIDUO, s. m. (Do latim quatri-
duus, de quatuor, quatro, e dies, dia).
Espaço de quatro dias.
20
QUAT
QUATRIM, ». m. (Do itiliaiu) qimflri-'
1111, iln i/iiallr», (|iiatroi. liraiica, fi^itil,
(liiiliciro ili- iiiriior valia.
QUATRINCA, <.ii QUATRINQUA, ». f.
f^hiatn» v<r/.c,.-i. — «10 cMiii isto amaino,
l)i-.ijaiiilo osda.s podoronas mitos liiima qiia-
trinqua do vcidi, cuja vida e rovenm-
di.srtima pessoa nosso Sonlior, ctc.» Ca-
mões, cart. 'J.
— No Joiío da í,"'""'*'i^'h quatrozada,
isto ('■, (|uati'o dczes, riuvcs, otc.
QUATRO, aiJj. num. 2 (jen. (Do latim
ijuiitiiDi-, uni sanskrlto calnr). Duas vo-
zes dous. — 4, cm al^'arismo; IV, ini cara-
ctoi-cs romanos. — «Destas quatro lillias
iia com quo cl Rei dom Emanuel mais
dcscjaua casar, foi ha Intauto dona Isa-
bel, viuua do Frincipe dom Afonso, c
por ter esta vontade so cxcusou do da
Infanto dona Mai-ia, per dom Afonso da
Svlua, quando ho veo visitar do parte
diis Reis, quomo atras fica dito no ( íapi-
tnlo xj.» iJamiào do Góes, Chronica de
D. Manoel, part. 1, cap. 22.— «Depois
de l)iof];o lope.z de sequeira ter despaclia-
do António Corrêa iiera Babarem como
iica dito, mandou Diogo fernaudes de
Beja, com quatro velas, que fosse correr
a costa de Cambaia a!é quo clle chegasse
a Diu, onde determinaua fazer luima for-
taleza como fica dito, das quaes a fora
clle oram Capitães Nuno fornandos de
macedo Emanuel de niaeedo sou irmam
e Gaspar d'outel.i) Idem, Ibidem, part. 4,
eap. G9. — «A toda osta arniaiia deu dcs-
paclio com Martinho do Castelbrauco con-
do de villa noua de Portimam, e voador
da fazenda, em espa(,'0 de quatro meses
o meo.» Idem, Ibidem, part. 3, cap. 46.
— «Estas quatro galos com as duas que
tomara o comendador Rui soares mandou
o Viccrei logo queimar, e a loam da no-
xia, deu cargo do ir buscar os captiuos,
a quem Miliquiaz entregou os que ainda
viuiam, quo orão dezasete, todos vestidos
de cabaias do seda. a Idem, Ibidem, part.
2, cap. 40. — «Esta cidade de Cranga-
nor he grande, situaila na torra do jMala-
bar, quatro logoas do ('oohim, contra Ca-
lecut, do longo da (|ual passa hum rio
que a coroa por algumas partos. Abltani
nella gentios, mouros, judeus, e Chris-
tãos, he do grande trato, e de que todo
o rogno toma nome.» Idem, Ibidem, part.
1, cap. 98. — «A qual Armada partio
ElRev em duas capitanias, hnma do oito
náos doo a Jorge do Mello IVroira filha
de Vasco ^Martins do ilollo, o qual hia
porá ficar na Índia por Capitão da forta-
leza de CananíH-, e das outras quatro hia
por ('apitão (iareia de Soiísa.» .loào ilo
Barros, Década 2, liv. 7, cap. 2. — «E
determinados todos neste parecer dooor.ão
do cume da sciTa aonde estavrxo por qua-
tro partes huraa noyte clnivosa, o de
grande escuro, o dando no campo del-
Roy, que ja a este tempo estava todo
posto cm ordenan(;a por aviso que disto
QUAT
tí^vc, a briga se travou entre elles de tal
manoyra, o com tant') olio, impoto de
ambas as partos, quo durando até duas
horas de dia, em fim ho voyo a averiguar
com ficansm no campo trinta e s('te mil
mortos. D Fern.lo Mendes l'into, Peregri-
nações, caji. 201 .
Mais fi-rmoso cstú no villAo
Miio burel que niuo frisado,
E roííippr Miatos inauiiilios,
K ao lidulgo tlc iiai;rio
Ter iiiiairo lioiuous du meado,
E loixar lavrar ratinlios.
OIL VICENTE, FAIIVAS.
— «Xào tardou nada que contr.a a par-
to debaixo viu vir quatro cavalieiros a
fio, um ant'outi'o, todos armados de ver-
de e branco, os elmos dourados, o pobre
olles capellas de flores alegres ; nos escu-
dos quo os escudeiros lhe traziam, cisnes
brancos em campo vordo.» Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 11(3.
— «Ao outro dia pola mauLà os quatro
companheiros se sahiram ao jarilim, que
antro as cousas notáveis daquelia casa
era menos pcra ver e as ter em muito ;
que como quer que Urganda nolle costu-
masse lograr as sestas dos veròcs com
si'u amigo, o ordenou a seu gosto.» Ibi-
dem, cap. 120. — «Acabado de verem
tudo miudamente, se foram contra o c;is-
toUo, que também ao parecer de todos
era cousa pêra vir buscar de longe. Ao
pé dellc, áquem da cava, estavam qua-
tro padrões de jaspe com os escudos do
tamanho e cores que os outros passados
oraui.» Ibidem, cap. 119. — E fazendo
apai'olhar um navio mandou niettcr noilc
Arlanoa sua filha acompanhada do qua-
tro donzollas e outros tantos cavalieiros,
quo com poucos dias tendo o vento pros-
pero arribaram cm nm porto perto do
castello do cavalleiro, onde sahiram em
terra e caminharam o mais secretamente,
que poderam, té chegar a clle.» Ibidem,
ciip. 114.
Vi (lue cm Lisboa se alijaram
poiío baixo e villàos
contra oâ uouos ChriâtSos,
mais do quatro mil mataram
dos que ouucram ás mãos.
o. DE REZENDE, MISCELLAKEA.
— «OfFereceo a ElRoy hum vestido
dollo muito bom guarnecido, o obrado ao
costumo, pedindo-lhe por mercê fosse ser-
vido trazolo so ((uer oito dias: c nào eraõ
bom quatro andados, quando já o merca-
dor naõ tinlia na logoa de todo o panno,
nem um 8(i retalho, o se mil possas tive-
ra, tantas gastara.» Arte de furtar, ca-
pitulo G4.
O Inferno assim bradou dentro em sou peito !
CorromJ^falanjres búrbaras, o cobrem
QUAT
Da consternada Kuro|>a \iim\fn»tté eaiuiUMt.
l'od<! a morte caiujar, ii3o canija o ^tolIl^tro,
Quatro hmtroA de nanguc inda não ba«tãii.
J. A. IlK MACKUO, IIKUirAçÃo, ciint. .3.
— - I^oc. : Fit-.cr o diabo a quatro ; fa-
zer muito barulho, causar niuitu desor-
dem.
— Desrttr, subir a» encadiiH qaatro a
quatro ; anilar com grande velocida'le.
— Figurada e familiarmente : Cnmo
quatro ; muito excessivamente. — Ikbtr
cijiiio quatro. — (Iritnr cnmo quatro. —
Ter cí/nrito como quatro.
— Termo de musica. Trecho a quatro
mãos; peça composta para ser executa<)a
por duas pessoas ao mesmo tempo no
mesmo piano.
— .S'. »i. O numero quatro. — Quatro
imiltijjlicaflo jfor quatro </'i drzestis. —
O quatro do mez; o quarto dia de cada
mez.
— Termo de jogo. A carta que é mar-
cada com quatro copas, quatro paus, ctc.
— O quatro de paus. — O quatro dt co-
pas.
QUATROCENTOS, AS, adj. num. (De
quatro, o cem . <^hlatro centena», cem
repetido quatro vezes. — «E achSdo nel-
la obra de quatrocentos Achens occupados
no despojo dalgum pouco, fato que ainda
nella avia, incitanilo os seus a se faze-
rem amoucos, c trazcndolhcs á memoria
com muytas lagiúnias, a obrigação que
para isso tinhaõ, cometeu os inimigos tào
esforçadamente, quo-dos quatrocentos se
affirmou despois cm Malaca que nào es-
capara nenhum. » Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 28. — «Partido o Ca-
mareiro mòr chegou ao lugar de Madabc,
aonde so vio com aqucllc Prii:cipe, c con-
certou com elle que o «ijudasse contra o
Maduno por aquella banda, e lhe deixou
quatrocentos homens pêra ajuntar com a
sua gente.» Diogo de Couto, Década 6,
liv. 10, cap. 12. — € Desembarcaram to-
dos cm terra em dous batalhões de qua-
trocentos homens cada himi : c SimSo do
Mello sem ser sentido entrou a povoação,
e doo nas casas do Arei, que eram de
madeira, pondo-lhe logo o fogo por mui-
tas partes, que começaram a arder com
grande braveza.» Liem, Década 4, liv.
ò, cap. 4. — «Que pelos terços, e cho-
ques que pertenciaõ a ElRey de todo o
cravo quo trouxe.sse no seu g:»lej»õ, desse
quatrocentos e cincoenta bares, s, du-
zentos e cincoenta bares li(]UÍdoB jx-ra
ElRev, e os duzentos pêra as pessoas f]ue
tivessem liberdades por provisocns do Vi-
sorev, e que na dita conta nSo cntrariaS
05 birres que viessem nos gnsalhados dol-
lo Capitão, o dos Gffieiaes do galeno,
nem do Patraõ nnSr, c outros qiie elles
tirariaò forros.» Idem. Década 6, liv. 9,
eap. 19. — «Partido Afonso dalbuqm^r-
que pcra Cochim. e os capitacns das nao8
de carga para Portugal, o Viccrei se fez
QUE
QUE
QUE
■27
a vela de Cauauor pêra Dio, aos xi j dias
do mesmo mes de Dezembro, em busca
de Jlirhoccm capitão do Soldam de Ba-
bilouia, com dezauoiie velas, e mil, e
trezentos soldados Portuguezes, e quatro-
centos ilalabares de Cochim, a fora gen-
te de seruieo.» Damião de Góes, Chro-
nica de D. Manoel, part. g, cap. 38. —
«Em que mataram muitos moui'OS, e ca-
ptiuaram quatrocentas, e oitenta, e duas
almas, que trouxeram Azamor, que era
a parte dos Christãos, e trezentos, e se-
senta caua-llos, e oitentos, e cincoenta
bois e vacas, e mais de seis mil ouelhas,
e muitos cauallos, egoas e asnos, que
couberam a parte dos moiu'Os de pases,
segundo forma de seus contratos, o que
til lo trouxeram com pouca resistência.»
Ibidem, part. 4, cap. 59. — «Nasceo el
Kei D. Duarte na Cidade de Viseu no
anno de mil e quatrocentos e lium, e
com clle huma esperança de gozar Por-
tugal o melhor Rei que até entaõ tivera,
porque os dons naturaes, e adquiridos
deste Príncipe foraò taS raros como mal
logrados.» Fr. Bernardo de Brito, Elogios
dos reis de Portugal, continuados por
1). José Barbosa. — «A Ciata he huma
Villa situada do dito mar para a ban-
da do Norte, eliticada de bons edifi-
cios. 8erâ de quatrocentos vezinhos Chris-
tàos nastoris que tem diferença em a le v ;
e fé dos Arménios. Saò gentes brancas,
vivem por criações de gados, e lavoyras
de algoloes.» xVutonio Tenreiro, Itinerá-
rio, cap. ■2'^.
QUATROÓLHOS, s. m. (De quatro, e
olhos . Peixe das costas do mar do Bra-
zil.
QUATROPEADO, wlj. Vil. Quadrupea-
do.
QUATROPEAR, r. a. ilultipliear qua-
tro Vezc-.
QUATROVINTENS, s. m. iDe quatro, e
, vintém i. JloeJa antiga de prata, cunhada
no tempo de D. Joào iii, do valor de 80
reis. No Brazil corre com o cunho da pa-
taca, que tem o mesmo valor.
QUATRUMVIRATO, ou QUATUORVIRA-
TO, .^. lu. Viil. jQuadrumvirato.
QUE. Diante de e e i, o u de qu nào
se pronuncia.
1.1 QUE, proJi. relativo ou conjuncfívo,
dos dous géneros e dos dous números.
(Xa forma portugueza que podiam coin-
cidir a» fiírmas latinas qui, qum, quem
(sing.), qui, qiuc (plur.) ; em todo O caso
é difficil determinar se representa uma
só firma, se mais. Se observarmos que o
pronome relativo regimen francez que é
considerado com bous fundamentos como
proveniente do latim quod (neutro singu-
lar i; que que 2 (^conjuncçào) portuguez
provém como o hespanhol que, o fi-ancez
que, o italiano che, do latim quod, po-
dia-se também suspeitar que em que re-
lativo portuguez coincide a forma latina
quod), O qual, a qual, os quaes, as quaes.
— Vamos considerar o relativo nos seus
diiferentes empregos grammaticaes.
— 1." Que, ligando um substantivo a
uma oraçào subordinada de que elle é su-
jeito :
— a) sujeito d'uma oração do singular,
referindo-se a pessoas. — «E que assi no
estado em que aquelle Eevno estaua, que
era em poder d'elRey de Portugal a elle
por seruiço do dito senhor se lhe deuia
dar pola terra estar em paz e concórdia :
e naô se despouoar polo descontentamen-
to que tinhaò em estar debaixo da obe-
diência e gouerno de homem que naò era
da linhagem dos Reys de Quiloa.» Bar-
ros, Década 1, liv. 10, cap. 6. — «Aos
quaes Affonso d'Alboquerque, que estava
de fora ao pé do cubello, mandou que se
descessem per umas cordas, que Dom
Garcia de Noi"Ouha lhes lançou com astes
de lanças atadas.» Idem, Década 2, liv.
7, cap. 9. — «Com esta determinação fo-
ram á pousada de Palmeirim, que com
Selviào estava concertando a ida pêra
outro dia.» Francisco de Moraes, Palmei-
rim d'Inglaterra, cap. 101. — «Porque
polia enformaçào que ja a este tempo ti-
nha do lugar, e terra ser naturalmente
doentia, e o rio não se poder em todos
os tempos nauegar até a dita fortaleza,
ja tinha assentado, que em caso que o
dito lugar fora feyto, e não cercado, de
o mandar despouoar, e derribar.» Garcia
de Rezende, Chronica de D. João II, cap.
81. — Deste casamento dei Rey dom Af-
fonso com a Rainha dona Isabel nasce^
rão o Príncipe dom loào, que foi casado
com a Rainha dona Leanor filha do In-
fante dom Fernando, irmã do dito Rei
dom Affonso, e a Infante dona loanna
que acabou em habito de freií-a no mos-
teiro de lesu Daueiro, da ordem de Saõ
Domingos.» Damião de Góes, Chronica
de D. Manoel, part. 3, cap. dõ.
Xem o cugauou de todo esta csperauça
Antes lhe suceedco como cuidava,
Chega o catiu:, e com gràa confiança
Vai Sousa vèr ElRei, que já o esperava ;
E vcudo-llic ora liuma, ora outra mudança,
Que o malvado conceito ncUc obrava,
Vè que o sou peito cheio de maldades
Tem concebido grandes novidades.
FBAXCISCO OE AXDRADE, TEIMEIRO CERCO DE
mu, caut. 6, est. íS.
Kas náos atribuladas, isto espalha
Grande espanto, temor, desconfiança,
Mas a gente que ncllas se agazalha
Faz, quanto do viver lhe dá esperança :
Com revezada força so trabalha
Ka longa bomba, e o mar ao mar se lança.
Ora se encolhe a escota, ora se solta,
Cresce a voltur do medo, a gràa revolta.
IBIDEM, cant. 4, est. 20.
— « E assentandose nesta cadeyra ou-
vio Missa cantada officiada com grande
concerto, assi de falias, como de instru-
mentos músicos, na qual pregou hum Es-
tevão Xogueyra que ahy era VigaLro, ho-
mem ja de dias e muyto honrado.» Fer-
não Mendes Pinto, Peregrinações, capi-
tulo G9. — « O pouo que andaua em tre-
uas vio huma grande luz : e aos que mo-
rauão na regiam da sombra da morte,
lhes nasceo hiuna grande claridade. Poi'-
que esta noyte hum menino he nfiscido,
e hum filho nos he dado, cujo principa-
do e império será eterno, e chamarseha
por estes nomes. Marauilhoso.» Fr. Bar-
tholomeu dos Martyres, Catecismo da
doutrina christã. — « Porque na tal ora-
çam chamamos padre nosso a Deos trino
e vno, porque todas as três pessoas da
Sanctissima Trindade .^am hum padre, e
criador nosso, mas neste primeiro artigo
chamamos padre somente à primeira pes-
soa da Sanctissima Trindade, que he o
padre natural de nosso Senhor lesv Chris-
to.» Ibidem.
Curiosidade, e ócio á Deosa derão
(Ao Nume, que preside ao Templo) a essência.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 1.
Gcuio, que objectos da terrena estima
Aos pés soube calcar, e além subindo,
Onde o fr.igil mortal mui raro chega,
Teve ao lado virtude, e teve o gosto,
Que esse bcllo ideal nas Ai-tes busca.
IBIDEM, cant. .3.
— b) sujeito d'uma oração do singular,
referiudo-se a cousas. — « E o macs po-
deroso príncipe d 'aquelle ilalabar era
ElRey de Calecut, o qual por excellen-
cia se chamaua Camorij que acerca del-
les he como euh-e ncjs o titulo de Empe-
rador.» João de Barros, Década 1, liv. 4,
cap. 7. — «Porque alguns homens que
foram ter ao seu porto da náo Flor de la
mar, que naquella viagem que Aftbnso
d'Alboquerque fez pêra a índia, se per-
deo, ('como veremos), elle os agazalhou,
e mandou com davidas em as náos de
Choromandel, que hiam carregar ao seu
porto, pêra dahi se irem a Cochij.» Idem,
Década 2, liv. 6, cap. 7. — « E com pa-
lam-as de Príncipe tão prudente, e vir-
tuoso, e filho tão obediente como era, re-
nunciou logo de si nas mãos dei Rey seu
pay ho titulo de Rey, que por seu man-
dado tinha tomado. » Garcia de Rezende,
Chronica de D. João II, cap. 18,
A mor carrega que hc.
Essas moças que vendia ;
D'aqucsta mercadoria
Trago eu muita á bofe.
Diabo. Ora ponde aqui o pé.
Brk. Hui ! eu vou par'ó Pai-aizo.
GIL ■^^CE^•TE, acto da barca do ixferso.
— « Embarcados todos derao à vela, e
por acharem os tempos contrários, man-
dou Bernaldim de Sousa dar toas aos ga-
leoen.s pelas Corocoras, e puzeraij dez ou
doze dias no caminho, e a véspera do
Xatal passado sm-giraõ na barra de Gei-
lolo, e salvarão a fortaleza que se não
28
QIIK
(^IK
QIJK
cnxrrfjavii (1<! fiini pm- caiiHji do f;ranili',
c 0.-4JJLMHO arvoredo quis liavia antrc <dla,
o o mar.» Diof^o de (Nnito, Década <>,
liv. !), cap. 10. — « Ho Hcidiornada pela
Bcnlioria de. Vonoza: daqui mo ))arti por
iiain acliar embarcaram pcra Kuropa, c
iiic fiiv cin outro navio a outro porto
inairt a dianto oyto Ic-íoas : que st^ cliaiua
AssalinaB.» António Tcnriiro, Itinerário,
cap. 50.
liuticais V03!<0 i>atin':i1,
que t tor o fim iiiiii.-i virtiulio,
ou eonti'!!. o vosrto c.iUiiinlio,
busco principio a inou mal.
1'. B. I.. 80B0PITA, rOICSIAS K PnOSAS IXK-
DiTAs, pag. 25.
— « Sendo lofío incapaz de participar
do3 objectos que con.stitucm aa delicias
do.s outros, entra naturalmente em liuma
mortal melancolia. A tristesa que o de-
vora o faz invejo.so, cajiriclioso, e criti-
co.» Cavallciro (('Oliveira, Cartas, liv. ;>,
n." 0. — « O bispo do Porto, 1). Fernan-
do Correia de Lacerda, descontcntou-se
notavelmente com uma satyra que se can-
tou na noite do natal no meu convento,
composta por JLinuel Ferreira Pinlieiro,
do Arrifana de Sousa, author de celebres
entremezes.» Bispo do (irão Par;i, Me-
morias, publicadas por ( 'auiillo Castello
P.ranco, pag. lUõ.
Oli mal aeouaolliado.í ! So, o dcsi^jo
111! cstemlcr mais o patornal limite,
Soui seguraui;ii do ver mai.s o Tejo,
Assim V0.4 leva aos campos d'Aufiti'itc ;
1'- SC ouvidos doâfavto cu dar \oa vejo
Da Fama ao sempre equivoco convite.
Não tendes aqui perto a Africa adusta,
(.ine 8Ó de o nome vos ouvir se assusta ?
J. Ar.OSTISIIO DK M.VCEDO, O OBIKKTK, Cant. 11,
est. 17.
No meditar profundo embevecido,
O guerreiro, (pie aguarda ha muito a hora
Lenta da noite, não deu fe da névoa
Que húmida todo em derredor o fecha.
OABEETT, CAMÕES, cant. !1 , cap. 1"2.
— e) sujeito d'uma orayiío do plural, re-
fcrindo-se a pessoas. — «p] vinha encima
de Imma nuivto grande azeniola, que para
isso se buscou, vestida em pelles de Vssos,
e tão natural, que euydauão que era Vsso,
com huma sella, e goarnição de estranha
maneira, e derredor do (iigante mnytos ho-
mens darmas a pe com alabardas douradas
nas mãos, que pareciuo muvto bem.» f!ar-
cia do Ivezcnde, Chronica de D. João II, ca-
pitulo 128.' — <i Houve em seu tenqio hu-
ma grande mortamlade de .iudeos na Ci-
dade de Lisboa, que se levantou por hu-
ma leve causa, e custou muitas vidas,
porque Icvantando-so o ]>ovo matiui ii es-
pada grande número delles, e de volta
alguns, que o naõ i'raõ.» Frei Bernardo
do Brito, Elogios dos reis de Portugal,
continuados por D. José Barbosa.
— d) sujeito d'unui oraeào do plural
com referencia a cou.wh. — • Entes n5o
costuiiiaõ mostrar exteriores HÍngulares, e
extraordinários, nem costume.^, que ««^jaò
notados, mas bãose peia com todos beni-
gna, e suauemente : com tanto, que com
toibi a <lilig<-neia se di-suicni do to lo pee-
eailo." I'ii-i liartholomcu dos Martyres,
Compendio de espiritual doutrina.
Nàip ileteiii Cunha cintanto a nobre armada
íliii- do presente o engano bem presiunc :
E tiMido perto o fim da sua jornada
O Sol, cm (pie mostrava o usado lume.
Lá no porto do Diu a vê ancorada
Co'as cerimonias quo crão do costumo.
ElRoi, quo vai seguindo a inchada vcUa,
A Cidade chegou junto com cila.
KiiANCisco «'a.ndbade, fbimeibo cebco m: we,
est. 41.
Ventagem tendes do mi,
(Inces aguas (/mc correis;
pois fugis donde nasceis,
o eu vou para onde nasci.
K. B. LOIIO 80B0PITA, POESIAS E PBOS.IS
INÉDITAS, pag. 25.
— f Depois de começada a guerra até
se alcançar a vitoria, he licito, e justo
fazer ao inimigo todos os damnos, que se
julgarem necessários para a satisfação, ou
para a vitoria, sem offensa de innocen-
tis.ii Arte de Furtar, eap. 21.
Hoje que d'um amigo alguns instantes
Os ouvidos queria achar attcntos,
l'"elicitando armciuico os bons aunos,
Qiic formão hoje o circulo primeiro.
AimAUE DK ,i\ct;nte, poeslvs, tom. 2, pag. 11
(ed. 1787).
— 2." Que, rtígimen, eomplcuieuto de
uma orayào que ello liga a um substantivo.
— a) regimen directo. — «E per lim das
desculpas que deo, e cousas que disse da
parte d'ElKev, a conclusão da resposta
de Affonso d'Alboqnerque foi, que EIKey
pêra entre elles haver paz, lhe havia de
dar na(piella Cidade lugar pêra fazer hu-
ma casa forte ao modo das que Ellíey
seu Senhor tinha na índia, pêra nella lei-
xar gente com Feitor, e Dfficiaes pêra
negocearcm a fazenda do dito Senhor,
que os Capitães m()res da Índia alli man-
dassem em suas náos.» Barros, Década 2.
liv. (5, cap. v). — ((Esta povoação Suez
ao pirescnte não hc habitada de mais gen-
te, que de oflíciaes de fazer navios pcra
as Armadiíã que o Soldào fazia, e ora o
Turco faz pcra a Índia, e de gente que
está em guarda destas velas.» Ibidem,
liv. 8, cap. 1. — o Por tanto lhe pedia
como leaes a Deos, o ao servi(^^o iPEl-
Kev, estarem por a noniea(;ão (|ue elle
tízesse, e eontíassem delle que saberia fa-
zer esta eleição, pola experiência que ti-
nha, e tempo era que estava, em que os
homens não devem mentir a Deos, e a
seu Rey.» Ibidem, liv. 10, cap. 8. — «E
em nossa Senhora da Pena elle e a Il;»y-
nlia forão cst^ir onze dias por huma no-
uena que promcterUo, e cstiuerão inuytos
«os, jiorque então a eaí<a era huma bem
pequena hemiida, e os que cim elle e-»-
tauão |>ousauão em tendas que ei Kcy
ahy Hiandou Icuar, onde se agasaliiauSlo
muyto bi-in, e a todos se rlaua de eouicr
em inuyta jterfcição, e noB onze dias aca-
l)ada a dita nouena e| Hoy e a Uavnlm-
se tornarão a Sititra.» < íareia de Hezen-
do, Chronica de D. Joào II, eap. 171. —
« (J cavalleiro Negro, depois de paARar
com o vulto de Miraguarda as ])alavras
que o amor lhe ofTerecia, virando-«e a
Albayzar conheceu nelle os extreni' s em
que estava, e levantando a voz, disse.»
Francisco de iloraes. Palmeirim d'fngla-
terra, cap, H!t. — c Donde ibjioix do ter
acabados os negócios a que hia tomei a
cidade de Daiífique cm Prússia ídonde
partira) a tomar conclusam nas cousas
que naquellas partes ainda tinha que fa-
zer, e dalli me fui a Cracouia ci<!ade
])rincipal , e metroimli ('a Polónia niinor.»
Damião de Ooes, Chronica de D. Manoel,
I)art. 1, cap. 10]. — «Entre a.s nouas
que tinhaõ trazido ao Sjltão do aleuanta-
niento de Jjara, foy huma, que foy cau»a
de me não receber com tanto agazalha-
do, em qíie lhe affimiarào, que os mora-
dores de Lara se leuantarão por conselho,
e ajuda dos Portuguezes de ()rmuz, acre.s-
centando a isto, que auião mandailo bom-
bardeiros, e munií.M^es pêra se defender a
fortaleza.» Ant(mi> Couvêa, Jornada do
arcebispo de Gôa, liv. il, cap. ult.
Meu e.stro nunca cxtincto inda voara
Pelo eiune do Líbano frondoso ;
V. gyrando entro os Cedros corpulentos.
Talvez rpie os ('ecos das caní.-ijcs ouvira.
Que alli Vate inspirado ao Ceo mandara,
j. A. DE MACEDO, MEDirA(.Ão, cant. 3.
— li"| Que, prece lido de preposição. —
« E porque em as taboas da no;sa <,íeo-
grafia a olho se p('>de ver a situação des-
ta Cidade Malaca, aqui si'>mente pcra
entendimento da historia trataremos da
fundação, commercio, e cousas dVlla. té
o estalo em que Affonso d'.\lboquerque
chegou a seu porti). o mais breve que em
mis for.» Barros, Década 2, liv. G, cap. 1.
Desejo be natural a todo peito,
A que com griio trabalho se põe freio.
Entender o secreto alheio feito,
E (SC também ser p.xlo) o peito alheio.
E quanto d'buma parto a isto lie sujeito,
Tanto doutra procura de acliar meio
Com qii'' encubcrt<i nelle a tcxlos soja
O (pio em todos saber ollc deseja.
KRANeiSCO d'aXDRAPE, PBlMKrRO CF-ROO PK DIl",
cant. 4, est. 1.
Noa dias que o fiel que a Cliristo adora
Põe em se reparar priia diligencia.
Também a infiel gente. luKpirlIa lior»
yuo a noite mostra a escura sua potencia.
As estancias com griía arto melhora
(Sem poder do? Christàos tor resistonci»)
QUE
QUE
QUE
^0
Em qne a sua vanguarda so alojava,
E vai-as pôr lá junto á nossa cava.
IBIDEM, est. 87.
ile^iois voo, e morrco
na easa em gve nasceo,
cm Sintra, onde acabou
seus trabalhos, e deixou
giam filho que sobeadeo.
<;. DK REZENDE, MISCELI..ÍNEA.
D'e3ta Canina fome, que o devora.
De alarve lhe ficou o gentil nome.
Com que cm toda a Cidade é conhecido.
DINIZ DA CROZ, HYSsoPE, caut. 7.
— 3.° Precedido de mu pronome a que
se refere. — Eu que isto vi, acudi-lhe lo-
go.— Disse-Ih'o a elh que o não quiz
acreditar.
— Aíjuelle que, aquella que, aquelles
que, aqueUas que, aquillo que. — « He
bem que se diga, que foi huma das mo-
res que Emperador, nem Rei, nem outro
senlior nunca fez de terras patrimoniaes
possuidas pacificamente, porque nas ac-
queridas de nouo, ou que sesperam dac-
querir tem obrigações de partirem li-
beralmente com aquelles que llias ajuda-
rão lia ganhar.» Damião de Ooes, Chro-
nica de D. Manoel, part. 1, cap. 13. —
« Aquelle que eu cria viesse em meu soc-
corro — tornou com voz firme a captiva
— não se esconderá de ti no dia em que
estiverem em volta delle todos os seus
irmãos em esforço e amor da terra natal :
porque nesse dia das grandes vinganças
ve-lo-kas face a face.» A. Herculano,
Eurico, cap. 14.
— 4." O que, a que, os que, as que;
aquelle que, aquella que, etc. — « E por-
que algumas nãos da carga auião de to-
mar geugiure em Cananor, cá do mães
que auia em Cochij e.?tauào de todo pres-
tes, partiose com ellas pêra Cananor a
vinte de Novembro, onde chegou : e ten-
do ainda por despachar a nao de Fei"não
Searez, e a de Rui d'Acunha, veyo ter
cõ elle Aífonso d'Alboquerque.» João de
Barros, Década 2, liv. 3, cap. 1. — «Os
quaes descubriram a terra, e notaram o
que nella havia, que eram as cousas que
atrás na descripção desta -Cidade escre-
vemos, e acharam no porto cinco navios,
a que elles chamam marruazes, com man-
timentos que trazim das Cidades Barbo-
ra, e Zeila.» Idem, Década 2, liv. 8, cap.
4. — « E também pelo mesmo modo os
que entrassem com ElRey na casa onde
elle Affonso d'Alboquerque estives.^e, não
levassem armas.» Idem, Década 2, liv.
10, cap. 5. — • « U que el Rei fez mouido
de sua Real, e boa condiçam por nam
aggrauar os Prelados, e outro Eeclesias-
tico do regno, contentandosse de lhas
alargar por cento, e cinceenta, e três mil
cruzados. » Damião de Góes, Chronica de
D. Manoel, part. 3, cap. Õ6. — «O que
tudo achou ao contrario, finalmente La-
queximena almirante dei Rei de tin-
tam, lhe defendeo também hum baluarte,
per onde c(uiimeteram a villa, que as
bombardas, e frechadas, matando, e fe-
rindo muitos delles, hos fez tornar pêra
trás.» Ibidem, part. 4, cap. 15. — «Não
contamos mais que cinco peccados mor-
taes, o que tomamos do derradeiro capi-
tulo de Apocalip.si, onde diz, os cães fi-
caram de fora e os feiticeiros, e os disso-
lutos sem vergonha, e os homecidas, e os
que adoram idolos.» Ibidem, part. 3, ca-
pitulo 61.
O q>ie procura então prover primeiro
He saber a certeza do que ouvia,
Não perdoa a trabalho ou a dinheiro
Que nisto largamente os despendia :
Jtas como nova certa, e o verdadeiro
Signal tcr-se dos Mouros aó podia,
A nova que elles dào lie sempre errada
Porque he com má tcuçào, máo zelo dada.
F. d'andrade, primeiro cerco DE Dic, caut. 10,
est. 51.
0 tcrrivel aspecto inette medo.
Nos olhos vivo fogo eutão chammeja,
Da lingua o natural uso está quedo,
Xcui pôde declarar o que deseja :
Emfim a solta, e diz ((ue muito cedo
Elle mesmo irá vèr se em tudo seja
Correspondente o esforço em obra o efteito
A taes palavras, tào soberbo peito.
IBIDEM, cant. 3, est. lõ.
Porém a maior força prevalece.
Fica a que era menor delia vencida,
O grão fogo á bombarda ja obedece,
Que esta de tudo hc sempre obedecida.
Vendo o fogo apagado lhe parece
Ao Turco que tem ja fácil subida ;
Sobem com pressa ja muitos ao alto,
Preparados a hum bravo, horrendo assalto.
IBIDEM, cant, 17, est. lOtj.
— « E isto he o que o senhor dezia
por Isayas a Hierusalem. Aleuantate Hie-
rusalem pêra seres allumiada : Aleuanta-
te de tua negligencia, de tua frieza, de
tua contumácia, nam resistas ao lume
qite te quero dar: cõsinte ser allumiada.»
Frei Bartholomeu dos Martyres, Cate-
cismo de doutrina christã. — « Havidas
as terras do Algarve emprehendeo el Rei
a conquista das que ainda eraõ de inimi-
gos, e ganhou Faro, Loulé, Algezur, Al-
bufeira, com outros muitos Lugares de
menos conta, ficando o Reino todo livre
do trabalhoso jugo dos Mouros.» Frei
Bernardo de Brito, Elogios dos reis de
Portugal, continuados por D. José Bar-
bosa. — « Veja V. M. o que diz hum
Grammatico, ou o que Ausonio lhe faz
diser em hum Epigramma, protestando
a elle certos noivos que estimaria que
fossem fecundos. « Eu vos desejo, diz o
Grammatico, que tenhaes filhos do géne-
ro Masculino, Femenino, e Keutro. » Ca-
valleiro de Oliveira, Cartas, liv, 1, n."
39. — «Assento finalmente em que nun-
ca tive, nem heyde ter juiso, e fico-vos
muito obrigado por me tirares da cabe-
ça o que os amigos de Gumpendorf me
1 tinhào metido nella.» Ibidem, n.° 50. —
« Porem como eu nunca bi'inquey cora
as ordens de V. E. executo a que me
deo mandando-me declarar o que eu es-
creveria consolando a hum Desterrado.»
Ibidem, n.° 34.
Vai formando o Meandro crystallino.
Do que elles dào no orgânico compo.sto.
Da frágil vida a téa estalaria.
Se do marcado circulo aberrassem.
Que mão, que sábio Author dirige o g}i'0?
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, CautO i.
— 5." Quando se refere a pessoas, é
geralmente mais elegante e correcto em
logar d'empregar que, precedido d'unia
preposição, empregar quem: O homem a
quem deste o livro; as mulheres em quem
concorrem estas virtudes; os amigrjs por
quem nos sacrificamos .
— 6." Com referencia a coitsas empre-
ga-se sempre que e nunca quem; os an-
tigos authores permittiam-se n'este ponto
liberdades que são pouco para imitar ;
exceptua-se o caso em que as cousas se
acham personificadas : Coroou a Gloria a
quem elJe tudo sacrificara ; mas isto mes-
mo só em poesia fica bem.
— 7." Que, correspondendo a nenhum,
algum, ninguém, alguém, nada, cousa ne-
nhuma, etc, pede o verbo da proposição
subordinada no conjunctivo : Não ha ne-
nhum homem que queira hoje sacrificar-se
generosamente pelo bem d' outrem. — Não
vi nenhum d' elles que estivesse disjwsto a
ir. — Não ha nada que jwssa dvmovel-o
do seu intento. — Não conheço ninguém
que deseje habitar aqui.
— 8." Quando que, sujeito, é precedido
d'um substantivo ou d 'um adjectivo que
está 'em logar d'um substantivo, pôde
pôr-se o verbo da proposição subordina-
da oti na pessoa do sujeito ou na tercei-
ra pessoa: Eu fui o primeiro que lá foi.
— Eu sou o advogado que deftndeu o
réo. — Nós somos pessoas que não se
mettem nos negocias alheios. — Tu és um
hovwm que merece toda a estima. A ulti-
ma construcção, de que damos esses exem-
plos, é gerabneute preferível.
— 9." Deve-se sempre buscar construir
os períodos de maneira qite ou o antece-
dente de que o preceda ou immediata-
mente ou de modo que não o precedendo
não haja ambiguidade.
— 10." Mvtitas vezes succedem-se umas
ás outras e subordinadas entre si muitas
orações relativas : Vi o visinho que ma-
tou o cão que mordeu no gato que elle es-
timava muito ; deve-se evitar este género
de construcção. Duas orações de que su-
bordinadas a uma única são admissíveis ;
por exemplo : E aquella mulher que leva
a cesta á cabeça, que vossê procura. Mas
pode construir-se a phrase d'um modo
mais simples ; por exemplo : Aquella mu-
lher que leva a cesta á cabeça é (a) que
vossS procura; ou melhor: Aquella mu-
llier que leva a cesta á cabeça é quem vos-
;50
(.»i:k
«í! iifDCuru. -— () hniiii:in que viíi n com >■
é (llioiil ciinsnu toilii i:»li' iiinlim.
— 11." Que, j)i'nli) (:<|iiiviilcr ii: o que,
ai/inl/ii que ; num lioju 6 iiioikih unailo
n'c.stf; Hentlilo quo antitíuinoiíto. — tíaOtH
que quero í — Não uai que devo fazer,
— Ni) soiitidt) (lo cotiiia que 6 muito
usado, Hobrotmlo dopoia du ter, saber. —
Não sei que Um diija. — Não ten/vi que
fazer. — Não sei que admire. — o l'clo
qiio Fcrnilo juti^z, pnr iilli naiii tor iiiiii»
que fazer «c voo a Malaca, onde acliou
Antunii» dai)rou, que por iiiamlado de
Afonso I)all)Ui|iior(|uo fora descobrir as
ilhas de Banda, e Jlaluco, o qual j)or lUc
o tempo sor contrai ro uaò pa>;.sou da ilha
Damboiíio, ((uc he jiiuto das do Jlalueo.»
Damiito do (íoe-i, Chronica de D. Manoel,
part. ;>, eap. 2S.
— • 12," Que, construído com um adje-
ctivo o o verbo ser, fornia uma espécie
de locução signiíicando sendo. — Iniiocen-
te que elh era. — Bom que elle estava. —
Feliz que tu eras.
— 13." Que, interrogativamente: Que
cousa? qual cousa? — Que « isto'? — Que
quer elle '}
— Construo-sc com o infinitivo : Que
fazer ? — Que dizer ) — Que responder a
unia proposta tão insolente?
— 14." l'orquc, para que. — « Que ain-
da que lhe pesasse do suas obras irem
tào avante pola quebra de sua corte, de-
sejava vel-o são, que natural é dos cora-
ções piedosos ainda do inal do seus iiui-
gos haver dri.n Francisco do Moraes, Pal-
meirim d'Inglaterra, cap. 84.- — « Mal ha-
ja, disse o do Tigre, o primeiro que or-
denou eacantamcntos, que com olles se
escurece a bondade dus esforçados caval-
leiros e vai avante a malícia dos máos.»
Ibidem, cap. 1 14. — « Estas correspon-
denciaj naõ se alcançaõ sem gastos; es-
tes de nós liaõ do sahir, como do couro
as correa-i : que mal he logo, que se to-
mem estai décimas com unhas taò pro-
veitosas, quando vemos, ([iie os outros
cabedaos naõ bast.iõ para seus ineiioos
pi'oprioi.» Arte de furtar, cap. G;í.
Nin^iiLMu mo iIk por plcilíulo
Noticias do líem, ([ne os,)cro?
Que nnciosa, quo sentida,
Qiio perdida estou por vèllo?
AIUIADE DE JAZENTE, P0KS1A8, tOlll. 2,
pag. 233 (cdiv- de 18G7).
— 15." Que, com um nomo do tempo,
significa durante, em que. — A noite em
que eit lá estive, — O anno que eu fui a
Paris.
— IG." Segundo o qual, pelo qual. —
Da maneira que elle vive é-se feliz. — Do
que elle falia adquire-se fama d'orador.
2.) QUE, adj. (_Vid. Que D. Exprime
a qualidale ; qual, qnaes. — Que homem
e esse ? — Que homens são aquelh s ? — Que
gente é essa? K yente jinn. — Não sei
que livro queres.
QDE
— Excliimativauioiito : Que Oelta al-
ma?— Que admirável espectáculo ? — Que
excelleide fructo! — Que horrível sceiíal
Com 0/1 olhos, (|iic OH liibios iiilo ouitavam —
Ali ! Kl- eu ii]\o fora uui d(MKrii(;iido escravo,
Qiif r.iini<;ilo <\w. eu tinha p:iru diir-lhe !
OAUIIKir, CAMUKK, CllUt. ID, Clp. 10.
• — Exprime também a natureza da
pessoa e da cousa. — Que escriptor yretjo
disse isso ? — Que livro 2>erdt:ste ? — Que
és tu, senão barro t
— Quanto, {pie quantidade de; quão
grande. — Que satisfação tive ao ouvil-o?
— Que aleijria ao vêr-le ? — Que din/iei-
ro tens ? Tenho pouco.
— Emproga-80 para indicar a ordem,
a succossão, o numero. — Em que século
estamos nós? No século xix. — Que dia
do mez é hoje ? São dezoito,
— Que lioras são ? — Que hora é f São
três horas. E uma hora.
— Do mesmo mo. lo diz-sc : Que idade
tem V. ? — Que idade tem elle ?
— Loc. FA.M. : Que diabo? — Que cou-
sa ? — Que diabo fez elle f — Que diabo
queres tu ?
'ò.) QUE, conj. (Do latim quod). Sei-vo
a unir dous membros d'uma plirase, uma
das quacs completa o sentido da outra.
O que distingue então que, conjuncyão, de
que, relativo, é que este pôde ser sempre
reduzido a o qual, ou a qual, os quaes
ou «*• quaes j c aquelle nunca.
— Na plu-ase : eu digo que sim, ella
diz que não, sim e não representam pro-
posições. Que, conjuncção, começa sem-
pre uma proposição.
— Depois de certos verbos e certas
constnicçòe* que implicam dc.-iejo, vonta-
de, possiiiilidadc, duvida, negação, inter-
rogação, ordem, eniprega-se o subjun-
ctlvo. — «Tornando Tristão da Cunha as
nãos, assentou com todolos capitaens que
dessem na fortaleza cm rompendo a alua,
pcra o que se aperceberão toda aqueila
noite, e antemanhã se embarcarão nos
bateis, levando Tristam da C"unh;i a dian-
teira.» Dami.ão de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 2, cap. 23. — « Depois de
el Rei ter tomado esta ordem escreueo a
Iam brandam, natural do Porto Commen-
dador da ordem do Christo, que o entam
seruia em Flandres de feitor, que man-
dasse fazer )ierà ("apella desta ordem do
Tosaõ hum iVmtilic-al de panno rico dou-
ro com seus sabasti-os borlados, cm (jiio
se posossem as arm;is, e insígnias d'oste
regno.» Ibidem, i>art. 4, cap. iM.
Mauda logo o Silveira que os navios
Qiif de lá de Goa eutiio alli vicrào,
l'oia estavno de todo já vazios
Pos famo.sos varões que uUi trouxerSo,
Antes que a Aurora espalho o* raios frios
E descubra os segredos quo escoudcrào
QL»E
Am itoiubraii qur; a luicturua Pliulto ».'>ltji,
Fui,'<l<> >K'in muiri di;teii^'a a Goa volta.
riitiKiiH.-u UE AsiiKAbi:, raiMKiao cFai» nK i>ir.
caut. IH, c«t. U.
— «Nogrinlio, negriulia a que pc di-
gam re<juebros ; eiigeitadinho* gruciíMiM,
villòos Himplcs Mjui! áH Vfzert nilu M.ào ríiu-
jilei^i vestidos de cores, que h<! chamam
iJons fulan<w, entram, c vão j>or donde
querem, nãu quizera eu que cntra.sjiem,
nem fossem por casa de v. in. Tudo i<to
na minha má opini.^o é reprenAÍvel ; e
folgara de o ver longe das porta» de
meus amigos.» Franciuco Manoel de Mel-
lo, Carta de guia de casados.
Diz Ainor, ijiif adore, e esixre,
t^uc o dciujo ejitá cuniprídii ;
Que i!Hta noite o Bem, que copero ;
Ilá de vir amante fino.
ABBADK DE JAZESTE, POESIAI.
— Quando a constnicção implica um
facto positivo, real, indubitável, emprega-
se o indicativo depois de que. — «E cha-
mou entam o homem, c disse que lhe
pei'doaua livremente, c que elle manda-
ria á sua custa por pcrdam das partes, c
assi o fez, e o mandou logo soltar, e dis-
selhe que em quanto nào viesse o {jerdâo,
que se fo-sse as obras dos jiaços, que aliy
lhe dariam caila dia dous vinténs, c o
homem liie beijou a mam, e o fez assi.»
(i areia de Rezende, Chronica de D. João
II, cap. í'8. — i() qu.il ven<!o que per
alg^umas vezes que doo combate a Abe-
delíí nào o polia entrar, ordcnou-.«e em
modo de o ter cercado, e tomar á fome :
110 meio do qual tempo elle foi soccorri-
do de nós sem o elle esperar, por estn
maneira.» João de Barros, Década 2, liv.
!>, c^p. 7.
Kste por novas deu que poueo liavia
l,!ue ja lui oricutd praia a|K)rtára
A Tortuguesa amiada, e <;<(? trazia
lluiu novo Viso-Iíci também decl.ira,
Cujo nome diz que era I>om Garcia
l)a Noronha, família antiga e clara,
E diz que traz comsigo juntamcntt'
Mui copioso poder, mui nobre gente.
FRANCISCO nE AXnKADE, rRIMEIRO CXRCO t» ttlV .
- Cíint. 13, est. lóõ.
— «Deos que esta sacratissima noyte
fizeste esclarecida com o nascimento da
verdadeira luz. danos |x^is na terra o
mvsterio da luz, que tunbem no ceo go-
zeiiio-» de seus jirazeres.» Fr. Bartlioli>-
nuu <los Martyres. Catecismo de doutri-
na christã, part. 2. cap. H). — «O ouvi-
do lie o Juiz natural dos tons, e ho o que
conhece as cacaphonias que a penna dev-
xa passar miiy facilmente : porem j«ra
ter bom ouvido dizemos que he necessá-
rio ter boa orelha, e e.sse privilegio con-
cedido a V. V. nem ti*tlo o niun<lo o lo-
gra.» Cavalleiro d\>liveira, Cartas, liv.
1, u." 14.
QUE
QUE
QUE
31
Entaõ o Cozinheiro, debulhado
Em lagrimas, llic coata, qxe a noticia
Uc ter vencido o Bisio o grande pleito,
Que trazia com sua Seuhoria,
Tinha, ha pouco chegado, por um Próprio.
DISIZ DA CBUZ, HTSSOPE, CaUt. 8.
— «O que mandou perà cidade, e pas-
sando adiante pelo ralle Dalgamuz, ja
huma ora de noite, foi ter a humas ladei-
ras, as quaes passa-las dixe a Simão pi-
rez que era hum dos que espiara estes
Aduares, que se per alli auia terra de
pedras que os guiasse pêra la, por lhe
nam sentirem o rasto, e pola auer muito
perto doude estauam, os leuou lá, onde
depois de repousarem duas oras, se po-
serao a eauallo em três batalhas porque
dom Aluaro hia receoso de lhe sairem
mouros pelo auiso que lhes poderia ter
dado o que fogii'a da cafilha que tomou.»
Damiào de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. -i, cap. 39. — «Já que chegava per-
to donde Arlança estava, vendo que o
tempo se lhe encurtava pêra mais aren-
ga, bavendo que aquelle desprezo era
conforme ao que lhe as damas de Fran-
ca fizeram, lhe ílisse.» Francisco de Mo-
raes. Palmeirim d'Inglaterra, cap. 148.
— o Exaqui justamente o estilo em que
Y. A. diz que eu sou corrente, e que
dirá Dom Francisco se eu acabando a
Carta neste mesmo estilo, me vejo obri-
gado a lhe chamar corrupto, não me che-
gando a lingoa a diser correpto?» Caval-
leiro d'01iveira, Cartas, liv. 3, n.° 9.
— Algumas vezes também, depois de
que, vai o indicativo onde mais rigorosa-
mente devia usar-se o subjunctivo. — «E
assim como fallando Job do ser, nasci-
mento, e vida do homem : Homo natus
de muliere, brevi, vivens tempore, naò
apontou causa alguma, suppoado que era
a vontade de Deus : assim fallando das
misérias: Repletur iniãti$ núseriis : SlUaò
apontou, suppondo, que era a disposição
do mesmo Senhor.» Padre Manoel Ber-
nardes, Exercícios espirituaes, part. 1,
pag. 242.
— Muitas vezes uuia oração de que,
com a copulativa e, contimia uma phi-ase
em que ha um infinito. — Julgando ter
chegado ao termo d<i viagem e que era
realmeate alli o logar que procurava.
— Que, é correlativo de tal, qual, tão,
tanto, mesmo. — É o mesmo que eu dis-
se. — «E detrás dos cadafalsos vinhão
muvtas charamelas, e sacabuxas ricame~n-
te .vestidos. Após elles vinha hum Gigan-
te muvto grande, e espantoso, armado de
todas armas douradas, com hum escudo
em huma mão, e em a outra himia gran-
de facha, tão natural, que parecia vivo,
e passava de trinta palmos de alto.» Gar-
cia de Rezende, Chronica de D. João II,
cap. 128. — «Com huma esperança vãa,
e desordenado desejo o cegarão de ma-
ne}Ta, que lhe fizerão esquecer que el
Rev era seu natural Rev, e senhor, e
que o criara como filho, e honrara como
irmão, e que era seu primo com irmão,
o irmão da Rayuha sua molher, fiUio do
liilante dom Fernando seu tio.» Ibidem,
cap. 52.
Com heresias, e manha
vimos ho falso Luterio
conuei-tcr em Alemanha
tanta gente, qne he façanha
na moor força do Império.
IDEM, M1SCELI.A5EA.
— «A nella tanta gente, que não ca-
be pelas ruas : a muitos mercadores Chris-
tãos, gentios, mouros, e judeus de diuer-
sa« nações, porque de todalas partes do
mundo podem alli vir seguramente com-
prar e vender.» Damião de Góes, Chro-
nica de D. Manoel, part. 2, cap. 6. — «Xo
que em tudo ha homens mui doctos, em
cousas de arte mecânica passam todalas
Naçoens do mundo, porque o perfeito
delias obraõ com muita destreza, e ao
imperfeito dam taes talhos, e cores que
parecem terem a mesma perfeiçam, es-
timansse em tanto que dizem que o ho-
mem que nam he Chim nam he ho-
mem.» Ibidem, pai-t. 4, cap. -23. — «So-
bre os hombros um coUar, que os occupa-
va, também de pedraria de tanta valia,
que a muita sua o fazia não ter preço.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 89. — «E descendo com um
golpe, o do Salvage se desviou por lh'o
fazer perder; e tornando com outro o to-
mou por cima do escudo, onde fez pouco
damno por ser cercado de uns arcos de
ferro tão fortes, que se não podiam, des-
baratar.» Ibidem, cap. 107.
Cumpre-lhe menear o braço forte.
Usar mais de furor que de prudência,
Porque este novo imigo he de tal sorte
Que ha mister novo esforço e resistência :
Por salvarem seu Rei da cruel morte
A vão todos buscar á competência,
E este intento tratarão de tal gcito
Que esteve em condição de ter effeito.
FKA>"CISCO DAXDRADE, PRIMEIBO CEBCO DE DIC,
eant. 7, est. 56.
— «E como nas Cortes dos Príncipes,
as cousas grandes são melhor ouvidas
que as possíveis, e em Barba-Roxa a ex-
periência, e o valor tinhão tantos abo-
nos, Solimão altivo, e bellicoso, começou
a dar ouvidos a empreza de tantas con-
sequências, que parecia opportuna pela
paz, e prosperidade, que gozava seu Im-
pério.» Jacintho Freire de Andrade, Vi-
da de D. João de Castro, liv. 1. — «D.
Manoel lhe mandou mais dous navias, e
alguma gente escolliída, para que fosse
assegurar a Cidade, em quanto lhe apres-
tava maiores forças; e ao Embaixador
dei Rei de Campar, depois de lhe fazer
honrado tratamento, aconselhou, que pe-
disse ao Governador da índia armada,
que elle era tal, que nào negaria amparo
aos amigos do Estado, mormente contra
TiuTos, cuja guerra tomávamos como he-
rança de nossas armas.» Ibidem, liv. 4.
— • Que, correlativo de mais.
E pois tudo ^T passar,
começar, e acabar,
e desta mimdana gloria
non ficar mais que memoria,
desta me quis adjudar.
G-'.BCIA DE BEZEXDE, MISCELLAXEA.
Cezil. Mui boa vontade he a sua.
Mas o cuidado o desvia.
Reza mais que cinco donas,
E Deos se está sem paixão.
Duar. Que lhe pede na ora^^âo?
Cezil. Que lhe dê sete atafonas
A' porta de SanfAntào.
GIL VICESTE, FABÇAS.
— «As praças eram ornadas de fontes
e obeliscos: os templos de mármore, com
imia architectura simples, mas magcsto-
sa. O palácio do príncipe, so per si, é
uma grande cidade: não se viam n'elle
mais que columnas de mármore, p^Tami-
des, obeliscos, estatuas colossaes, e mo-
veis de ouro, e prata massiça.» Telema-
co, traducção de Manoel de Sousa, e
Francisco Manoel do Nascimento, liv. 2,
Em meio d'agua e fogo, sempre vivos.
Pois então cada hum e outio accrescenta.
Os amantes cada hora mais captivos
Passào esta amorosa, alta tormenta :
Porém entre accidcntes tão nocivos
(Tanto o vêrcm-se juntos os contenta)
Desejando inda estão que se detenha
O Sol mais do que soe, ou que não venha.
F. d'axdrade, prijíeibo cerco de DIU, cant. 3,
C5t. ICH).
— <i Elle com tudo aprendeo em pou-
cos meses a formar as nossas letras, e a
escreuer ao nosso modo, e o que he mais
que tudo de duas vezes, que ouuio de-
clarar o Euangelho de S. Mattheus lhe
ficou todo capittilo por capitulo na me-
moria.» Lucena, Vida de S. Francisco
Xavier, liv. õ, cap. 19.
— Correlativo de antes, primeiro, etc.
— Disse-lhe isto antfs que elle viesse. — -
«Surta a armada, mandou dom António
a Diogo berrio que com a sua carauella,
posesse de huma banda da barra a fu^ta
de Pêro bentes, e da outra a do Charino,
com os quaes foi António de saldanha, e
a Berrio mandou como isto fezesse en-
trasse primeiro que todos pela barra den-
tro.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 3. cap. 36.
— Correlativo de sujrposto, visto, deter-
minado, e outras pala^Tas com que forma
espécies de locuções. — «E pondo-.*e a pé,
começaram a batalha tal, qual se alli não
vira havia muito tempo; que posto que o
de Salvage nas armas fasse estremado,
Dragonalte era muito bom cavalleiro, e
merecia ser mettido no conto dos notá-
veis daquelle tempo.» Francisco de !Mo-
3á
QHK
rfUM, Palmeirim dlnglatcrra, enp. l^)*).
— «h]^Ui, |)c,r uoiiii; J línligi.-i, po.-itu que
mui contente fosne dcUo novo iiuiriílo,
dc])oi.s tine per iil^iiiiiín vi^/.ch o viu to-
uiíido ilii ilor lU: epileiíeia, ((lie llie c;iii-<ii-
Vii toilo.-i miuelhiH tni.Hij;iM.sjiiiiontos, e actos
que fiiz no piieiente, era mui ilciconHola-
da, e trirftc.)) Uarro.*, Década 2, liv. 10,
c;i|i. <).
Denta iirto. o o,oi-ai;ru), (|up. livro iniciava,
{\'nntoqin' ja ilo loiígd destinado)
Onde, iiiiMios toniia, foi ferido.
I'r)n|iii' (( fi-ccliciro cego mo esporava.
Para (|iie me tomaSMO descuidado,
Em vosaoB claros olhos escondido.
CAM., SONKTOS, H." 30.
— Kxpiiine o desejo, a inipreeai,'ào,
ordem. — Que morra ! — Que Dam te aju-
da. — «E, so não fôr contra o ócio, fa-
^.■am aljíuma coisa (pie sirva á po.storida-
de de certidrio ili^ que viveram. Abram a
boeca e difíam batendo as palmas, como
cmlim de iL;'loíisa do outeiro, c de ária can-
tada : «Que viva! 15ravo! ote.» Bispo do
(irão Pará, Memorias, publicadas por ('a-
millo Castello Branco, pag. 57.
— • Correlativo dos comparativos. — Me-
lhor que eu. — Paor que os outros. —
Híaittr que (UjueUe.
— F('>rma um furando numero de locu-
sõe.H com advorbio.s e conjuncções e ou-
tras palavras. — Com tanto que. — For
isso que. — • Logo que. — A menos que.
— Além de que. — Antes que. — Jd que.
— Para que. — «Além do que nun-
ca vosií js ouviram dizer que Calderon,
Lope, Muroto Salazar, Solis e outrss,
cri-aram o caracter d'eÃte' ou d'aquolle
pertíonagcm? i'ois assentem que errei o
heróico caracter d'osta magnitica Dedi-
catória.» Bispo do (Irào Paní, Memorias,
publicadas por Camillo Castello Branco,
pag. hl , — «Roztomocan vendo esta obra,
o sentindo o prazer dos nossos pela grita
quo deram com olla determinou-se em
mais que defender, porque logo aquella
noite, ante que os nossos procedessem
mais nella, teve consolko com os priuci-
paes capitães que tinlia. » João do Bar-
ros, Década "i, liv. 7, cap. 5. — «Dom
loaõ lhe respondco, \)ois sabei do certo
quo estamos em terra que se fôramos sen-
tidos, que cem vilãos do pe nos desbarata-
rão, mas já que Deos nos trouxe aqui não
a quo temer.» Damião de Góes, Chronica
de D. Manoel, part. 4, cap. 4t). — «A este
tempo, aconteceu outro caso novo, pêra
que o prazer de toilo fosse perfeito, que
ouviram mui grani grita no terreiro do
paço; e ora, ([uo como aquelle dia Alba-
ner, escudeiro do prineipo Boroldo, quo
trazia a Colambar i^or mandado do ea-
valleiro do Tigre, chegasse, e entrasse
com ella polo terreiro, tolo o povo a.u-
diá pola vêr, como a uma da3 cousas
jnais monstruosas, que nuuea naquoUa
(iL'KB
terra se vira.» Frunci.íco de Moraes,
Palmeirim d'lnglaterra.
l'aJ'a ijiir urruMlas tanta iniincjisidadu
Dii casos rtiiccedidos,
l)(! ()iu! teiilio atroados os ouvidos,
So isto naõ faz ao caso do teu conto ?
AIIIIADK DK JAZK.NTK, Í-OK8U8.
ilEB
QUEBRA, s. f. ( l)f, quebrarj. Desunião
das parlei de um todo.
— - l''iguradameMte : 1 )imiuuiyão. — Te-
ce quebra nos rendimentos. — « E punha
0 ll(!V do (irauada mais homens de ca-
vallo em campo, quo os outro.j iíeynos
de Espaidia ; com serem os mais dellcs
muito jnaiores, que o de (iranada; o qual
agora pela falta, que tem de gente, está
taõ dessemelhante daqnelle tempo, como
se naõ fora o mesmo torráõ da terra, e
por esta caitsa vieraõ as rendas dElUey
na(|uelle Keyno a tanta quebra, que naõ
chegaõ hoje a ametadc do ipie tlantes va-
liaò.» Manoel tíevcrim ile Faria, Noticias
de Portugal, disc. 1.
— Falta na sonima.
— Diminui(,'ão, detrimento, abatimen-
to, tara, faliia.
— Figuradameate : Quebrar/e amizade.
— Soldar quebras ; .sanar desavenças,
refazer a amizade, a boa harmonia.
— Andar de quebras com alyuem ; não
querer nada com ollo.
— Mudança de estado para pcor.
— Dar quebras; dar falhas, descon-
tos.
— Quebra de honra, de credito, de re-
liutação, etc. ; diminuição.
— Perda, damno, prejuízo que alguém
soffro nos seus negócios, nas suas forças;
que não tem com que pagar aos credo-
res.
— Violação, transgressão, não obser-
vação.— «Por mil razões theologicas, o
bom do abbade lhe demonstrara quo não
haveria quebra do sifitllam coajissionis,
se por tal meio se po lessem obter do cri-
minoso alguns esclarecimeatos, nteis á
paz e socego da republica, sobre as ma-
chiuaçòes politicas dos tidalgos.» ^Vlexan-
dro Herculano, Monge de Cister, capi-
tulo 28.
— Figuradamente: DilViculdade, em-
baraço, má posição. — «Floriano do De-
serto, que té li não entendera em outra
cousa senão em olhar pelo cavalleiro do
Dragão, tomendo que a falta do cavallo
o posesse em alguma quebra, tanto que
o viu a pé apercebido pêra batallia so
lançou fora do seu e juutando-so ambos
com Dramusiando, que fazia milagres,
1 todos juntamente começaram aquella te-
niorosa contenda.» Francisco de Moraes,
Palmeirim dlnglaterra, c^p. 04.
— Termo de brazão. Cotica quo atra-
vessa o escudo om banda ; distmctivo do
(pie não é chefe da fandlia.
QUEBRADA, •<. /. ^Do thema quebra,
de quebrar, com o suflílxo «ada»). ll<itiira
feita no< montes pelas correntes 'las agiuis
das chuvas.
— TcriU desigual c aberta entre mon-
tes, formando alguns vuUcf* eslrcito<.
— Precipicio, salto. — A quebrada da
serra.
Quebrada no rio ; angulo, boío, ou
r(;maMso, «pie sií l'-<; faz para diminuir a
rapidez da ciirrcute, etc.
QUEBRADAMENTE, adv. (Do quebrado,
com o sulTixo «mente»). De repente, «cm
prc.para(;.'io. de improvifo.
QUEBRADEIRA, «./., ou QUEBRADEIRO,
«. Vi. Falt:( dl- bens, rji! p()-^c•^.
— Figuiadamente : Quebradeira d^ ra-
beca; amotinação, apoquenUição, inipiie-
tiição, tédio, aborrecimento, tudo que im-
portuna o incommo la.
— Quebradeira de caUra; ancielad'-,
cuidado, desa~'Ocego.
— Quebradeira de rabeca; diz-r>c d<>
objecto que so ama cim paixâu, e pelo
qual í<c soflVe inquietação.
QUEBRADIÇO, </ Ij. Frágil, sujeito a
quebrar-.-c.
— Que (|uibra. mas não dobra.
— Porta quebradiça ; a de duas peças,
que se dobra sobre gonzos, pega"los na
outra peça.
— Vida, saúde quebradiça; que facil-
mente se perde, com leve-s accidentes ;
frágil.
QUEBRADO, [/art. 2'«*». de Quebrar.
Partido, fcit" em dous ou maia pedaços,
despedaçado.
E o batel dos daninados.
Porque na.sc(>0 hoje (Tiristo,
Está, c'os rpmos r/tiebraiio»,
Em sécco. O dcscuidadoe,
Cuidacnisto.
OIL VICKNTE,
TOHI".
Viro DA BABIA PO rCBOA-
— «Porem nem o esfitrço de iV-irrocan-
te poderá salvar a cabeça de Albarroco,
se o cavalleiro do Dragão não tivera uma
das rédeas quebradas, que o me.*mo .\1-
barroco ao tempo do encontro lha que-
brou ao passar (la la-iça.» Francisco de
Moraes, Palmeirim dlnglaterra, cap. 04.
1", o compungido Eudóro, que, ssíriín, Ata
A ^cuâ succeâsos, o qiiehrtuio fio.
Pitto deixei, riup nv>s confins das rialliae,
De mim se despedira Zacharias.
Moraua cntj\m o Ccsnr em Lutócia.
K. u. IH) sAscijrexro, os MAsrYREs, cap. 4t>.
Qiii'hi-a<la 9<">brc o o^cAlho da desgraça
Tnda languidos sons desfere a medo.
Que a teu fiel ouvido vão memorias _
Lembrar da pátria c rotxirdar do amigo.»
OAHRKrr, lAUÒKs, cant. 1, cap. 3.
— Enfraquecido, (juebrantado. — «Na
qual carta lhe serlviào que el Rei de Ca-
lecut ficara tão quebrado da guerra que
tiuera com Duarte Paclieco, que os go-
uernadorcs da cidade, siibeuJo que el Rei
QUEB
QUEB
QUf:B
33
aceptiiria a paz se Ília des«em posto que
aquellc tempo não estiuesse na cidaile.»
Damião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 1, cap. 96.
— Quebrantado, débil.
Oft"rciKlas recebeu de hymnos celestes :
Pela última vez as chordas fere,
E este adeus derradeiro á pátria disse,
Cortaudo-llie o alento infraqueeido
Agora os sons, agora a voz quebrada.
GARRETT, CAMÕES, oaut. 10, cap. 15.
— Diz-se da pessoa, encontrada em
bancarrota, ou que so declarou em que-
bra.
— Diz-sa da pessoa que padece hérnia
ou quebradura.
— Figuradamente : Diz-se de um ve-
lho, porque tem perdido todo o seu vi-
gor.
— Estar de perna quebrada ; estar in-
capaz de trabalhar, negociar, ou fiizer
outra quplquer cousa, por falta de meios,
ou instrumentos indispensáveis.
— Espirito quebrado; desfallecido.
— Desavindo de to lo com alguém, ro-
to.— Amizade quebrada.
— Aguas quebradas ; marés fracas, bai-
xas ou contrarias das aguas vivas.
— Còreg quebradas ; diz-se, na pintura,
das que se usam misturadas com outras
para iicarem menos vivas; e participam
de ambas.
— Garaçãú quebrada ; era que entrou
bastardia, ou faltou a legitima succes-
sào.
— Nau quebrada; naufragada.
— Olhos quebrados ; molles, abatidos
com dissimulação.
— Olhar quebrado ; é dos namorados
pelo grito affectuoso, e furtado.
— Muralha quebrada; rota pela arti-
Iheria.
— Pactos quebrados; não observados.
— Prata quebrada ; cousa que ainda
perdfdo o primeiro feitio tem valor.
— Sem vigor, validade, observância,
dissoluto. — Privilegio, lei, cortes que-
bradas.
— Termo de poesia. Diz-se do verso
de quatro syllabas, quando rima com ou-
tros mais extensos, ou de metro maior; e
também da poesia em que ha esta espécie
de versos.
— Pé quebrado; hemistichio, em que o
sentido fica suspenso.
— Figuradamente : Andar de pé que-
brado ; metter-se em maus negócios.
— 'Termo de arithmetica. Numero que-
brado, ou, substantivamente, um quebra-
do ; fracção em que se considera dividi-
do um numero inteiro, ou a unidade ; ex-
pi'essa-se por dons raimeros separados por
um traço ; o de cima chama-se numera-
dor, e o de baixo denominador; este de-
nota as partes em que se divide o intei-
ro, e aquelle os que se tomam para for-
mar o quebrado, como: -j-, ^.
— Quebrado de quebrado ; diz-se do nu-
mera quebrado tomado como inteiro e di-
vidido em algumas partes; como: ^
de 4-.
— Escrever em forma de quebrados ;
traçar o papel, deixando alguns espaços
em branco, ou sem riscos.
— Figuradamente : Quebrado de pare-
de ; rotura, abertura.
QUEBRADOR, adj. (Do thema quebra,
de quebrar, com o suffixo «dor»j. Que
quebra ou despedaça alguma cousa ; des-
truidor.
— Quebrantador, transgressor de algu-
ma lei ou preceito.
— Quebrador de imagens ; iconoclasta,
partidário da seita anti-christã, que con-
demnava o culto das imagens.
QUEBRADURA, s. f. (Do thema quebra,
de quebrar, com o suffixo «dura»). Acção
de quebrar, ou quebrar-se.
— Rotura, ou abertura de alguma
cousa.
— Hérnia ; descida das tripas ou dos
intestinos no escroto.
QUEBRA-ESQUINAS, s. //(. Armador,
QUEBRAMENTO, s. m. Quebradeira de
caberá.
— Infracção. — Quebramento da paz.
— Quebramento de olhos ; o fural-os.
QUEBRANÇA, s. f. Embate das ondas
quando rebentam na praia, e rolam para
ella a embarcação.
QUEBRANOZ, s. m. Ave, espécie de
grallia, de côr parda, com pintas bran-
cas, e o seu sustento principal é as no-
zes.
— Pequeno instrumento, do feitio de
uma tenaz, que serve para partir as no-
zes, otc.
QUEBRANTADISSIMO, adj. superl. de
Quebrantado.
QUEBRANTADO, part. p«ss. de Que-
brantar. — «liuraa ante manhã ao tempo
que a gente estava mais quebrantada da
vigia de toda a noite, per mar de que os
nossos se não temiam por té então não
terem commettido per alli, mandou dous
calaluzes, a gente dos quaes assi veio ca-
lada, e súbita, que mataram Affonso Chai-
nho.» Barros, Década 9, liv. 2, cap. 1. — ■
«Mas como fosse velho, e quebrantado de
trabalhos, agravarãoselhe os males anti-
gos de maneira, que acabou a vida em
idade de setenta annos, avcndo dezasete,
e oito meses, e três dias, que governava
o Império, segundo Panuino, inda que
outros lhe dão dezuito annos, e dez me-
ses.» Monarchia Lusitana, liv. 5, cap. 15.
— «Os imigos forão continuando o cerco
de ambas as partes, dando muitos, e- apres-
sados combates, e assaltos, com que os
nossos andavão muv quebrantados : mas
de todos foraõ rebatidos, e escalavrados
pelo esforço do Capitão, e de todos os
mais, que neste cerco fizerão maravi-
lhas.» Diogo de Couto, Década 6, liv. 9.
cap. 7.
— O navio quebrantado ; destroçado.
— Ferido do impidso, e rúto.
— Feras mansas e quebrantadas ; que
não teem a braveza natural; é menos que
domesticados de todo.
QUEBRANTADOR, adj. (Do thema que-
branta, de quebrantar, com o suffixo
«dôr»). Que quebranta, abate, enfraque-
ce, diminue.
— Que quebra, infringe. — Quebranta-
dor das leis.
— 6'. m. O que transgride uma lei, ou
um preceito, violador, transgressor. —
«Isto não vos devo parecer mal, que a fé
não se ha de guardar aos quebrantadores
delia. Filho, disse o imperador, se alem
de ver Polendos e Belcar e todos esses
outros cavalleiros prezos, te vira também
a ti, não creias que com cautellas, fora
de meu costume, trabalhara de vos sol-
tar, ainda qire todalas outras esperanças
de remédio tivesse perdidas.» Francis-
co de Moraes, Palmeirim de Inglaterra,
cap. 96.
— O que deleita, prostra ou quebran-
ta as forças.
— Guerreiro astuto e .sagaz, que sabe
diminuir as forças do inimigo e bater-se
quando convém.
QUEBRANTAMENTO, s. m. (Do thema
quebranta, de quebrantar, com o suffixo
«mento»). Abathnento, prostração, fra-
queza, debilidade, cansaço ; estado do
corpo quebrado pela fadiga.
— Figuradamente : Infracção, trans-
gressão, violação de alguma lei ou pre-
ceito.
— Evasão, rompimento ou força feita
para se libertar de alguma oppressão.
— Quebrantamento de olhos; cegan-
do-os.
— Quebrantamento da igreja, da ca-
dm; arrombamento.
QUEBRANTAR, v. a. Separar, dividir
com maior ou menor violência as partes
de um todo.
En o mar cabe quanfy quer caber
E manten muitos, e outros y a •,
Que x'ar quebranta e que faz morrer
Enxcrdados, e outros a que dá
Grandes herdades e muit'outro bcn ;
E tod'esto que vos cuncto aven
Al Rey, se o soberdes conoeer.
TROVAS E CAXTABES, B." 280.
— Forçar; sixperar qualquer difficulda-
de ou estorvo que se oppunha ao gozo da
liberdade.
Sombrios P3'rcnéos, barreira imbeUe,
Que a perfídia do bárbaros quebranta.
Não esforço, e valor.
J. A. DE JLVCEDO, MEDITARÃO, CaUt. 2.
— Pôr alguma cousa em estado de se
quebrar mais facilmente.
— Amolgar, machucar.
— Diminuir as forças, o vigor; abater,
31
QUEB
prostrar o animo. — «Mas antes íjuo aja
misoriconlia tios outro.-i, conueui iiuo i>ri-
nioiro aja inisf^ricorilia do si mesmo (trnoií-
ílíldo 8iia vida, <! curjtdo às eliajías do sua
alma, <•, quebrantado, o mortilicíldo às
màs incliiiaruiM, c dcsrjos de- sua canu!.»
Fr. IJartlioldmcii dos >tartyrns, Cathecis-
mo da doutrina christã, liv. 2. — «Oc-
cupadu polo Baxá a Cidade, vondo-so,
ainda que intruso, obedecido, come(,'ou n
quebrantar o Povo com diversos f^rava-
iiics, tiraiido-llie as forças para undlior os
dominar, tímidos, c sujeitos.» Jacintlio
{•"n-ire de Andrade, Vida de D. João de
Castro, liv. 4.
— JÍolestar, fatigar, aflligir o animo,
angustiar o coração.
— Acalmar a ira, o rigor.
— Infringir, transgredir, violar, nào
guardar alguma lei, palavra ou obriga-
ção.— oE 80 algum homem, quem quer
que ello for, quebrantar isto quo fazemos,
ou intentar de o violar; primeyro de tu-
do seja apartado do corpo, c sangue de
nosso Senlior Jesv Christo, e com as màos
experimento as penas do inferno, confun-
dido nos abismos, e essa doaçaõ surtira
cffeyto em todas suas clausulas.» Monar-
chia Lusitana, liv. 7, cap. 21.
— Tocar, commover; causar pena, ins-
pirar dó ou compaixão. — « (.'om o (piai
presente depois (pie o receberrio, assi ii-
carào contentes e brandos da fúria, tpie
entrí^garaí"") os filhos quanto mães os pe-
nedos, tàt > poder tem o dar (pie como
dÍ7AMn quebrantou Diogo d'Azambuja as
pedras que era(") os coraçtles d'aquelles
negros em sua indignação, e mãos que-
brou 03 penedos que elles defendiaõ.»
Barros, Década 1, liv. 3, cap. '2.
— Figuradamente: Abrandar quem es-
tá irritado, fazer ceder a rogos.
— Arrombar. — Quebrantar cadeias,
igrejas.
— Quebrantar-se, v. reji. Perder o
anirao.
(pio vulgarmente cha-
»i. Acção, ou acto de
— Coiitrahir
mam quebranto
QUEBRANTO,
quebrar.
— Prostrai.ào, desfalleeimento ; que-
brantamcufii de etu-po.
QUEBRANTOSSO, *•. w. Termo de zoo-
logia. Espocie do género petrelo, chama-
da também i)ctrdo <ji<janfe ; encontra-se
desde o Cabo de llorn até ao de Boa
Esperança, e sustcuta-so de insectos,
molluscos, o da carne dos peixes, o cetá-
ceos mortos, que Huctuam na supcrticio
do mar.
QUEBRAOSSO, .••■. m. Termo do zoolo-
gia. Espécie de açor ou águia maríti-
ma de dous pés de comprimento, lombo
branco, e os cotos das azas malhados de
negro; o bico muito forte, grande e cur-
vo, bem como os pós, que sào cobertos
de pennas, e cujas unhas são grandes e
fortes.
(iCEH
QUEBRAR, f. n. Separar, d(Munir as
partes de um todo, partir, dc.speda(;ar.—
d A (jual Ki;ntoii(;u foy muy justa, jjorquo
alem d(d Uoy vir ate o mais galanto que
to<los, por ser atpudla a ])rimeyra vez que
justara, quebrou com muy ta d<;senuoltu-
ra as primeyras quatro lanças, <|uo pêra
ganhar ho grão ( rão ordenadas.» < rareia
de Uczcndo, Chronica de D. João II, cap.
128. — « E porque! Niiiio \'az J'i-reira
com o tempo rijo, (pie os íez aleuantar,
quebrou a verga grande do seu iiauio :
íiÁ n(;ee,ssari(j tornar outra vez ao porto
onde aeh(ju que o n(>sso padra(~ estaua ja
chamuscado do fogo como que lho po-
zeraõ ao pé.» Banos, Década 1, liv. 10,
cap. õ. — « E antes de esperar outra res-
posta se foi. Florendos, vendo que os ca-
valloiros so concertavam nas sellas, to
mando uma laiu^a, cuberto do escudo sa-
iiiu a rocel)elos. Todos juntos quebraram
nelle as lanças sem o poder mover: o ao
(pie encontrou, j>assaiido-llie as armas,
deu com elle morto no ehào; e, arran-
cando da espada, antes que Astribor sa-
liisso, que se estava armando a grau
j)ressa crendo que aquelle fora o que ma-
tara Dramorante, cortou o braço da es-
pada a outro.» Francisco de Mcu'aes, Pal-
meirim d'Inglaterra, cap. ÍKi. — » E por-
que nestes encontros quebrara três lan-
ças que trazia, o quinto se deteve, es-
perando lhe viesse outra. Albayzar lh'a
mandou dar d'algiimas, que tinha pêra
sua pessoa, porque ils vezes justava; e
era negra e o ferro dourado.» Ibidem,
cap. 123. — <( Por isso hade ser uma de
dous : ou me haveis de dizer vosso nome
pêra depois de sabido vêr o quo me está
bem ; ou tornar a nossa justa, e quebrar
tantas lanças, té que a victoria ou o des-
gosto ti(pie com algum de n('(s.» Ibidem,
(5ap. 127.
Que qitehrandolhe hum loro, a estribeira
Caida cm terra, o faz parar sem tempo.
Os terceiros ja vinhão com airosa
Apraziuol, veloz dcscmuoltura
Kstes erào Tristão de Sá, e António
De Sá, (pic ao bello Adónis cxcediào.
Ambos em verdes olhos iguais, c ambos
Iguais cm juuenis annos floridos.
CORTE UK.H., N.VlFll.VGlO HE SEPIXVEPA, Cailt. 4.
— « lie muito para ver a diligencia
com quo os boticários se acodem huns
aos outros nestas occasioens, emprestan-
do-se vidros, e medicamentos, para que
os Visitadores os achem providos de tu-
do : e poderá succeder, jmr mais que te-
nham tudo bem apm-ado, e a ponto, se
não andarem mais diligentes em peitar,
que em se prover, que lhe quebrem to-
dos os vidros por dá c;i aquella palha. »
Arte de furtar, cap. 4. — « E não o po-
dendo mover quebrou diante dcUo huma
folha de huma arvore em sinal de rotura
da paz icouio antre elles se costuma) e
so despedirão dellc, movidos de compai-
QUEH
xaiT do miserável cstíido em que o viai», »
Diogo de Couto, Década fJ, liv, Ii, wip.
13. — «A reputação é <a<pelho cristalli-
no; quahpier toipie o quebra, (|ualqucr
bafo o empana. Ellus, (planto i>.^o utaia
seguras em seus procedim<!ntos, se aven-
turam, \)i'Ae Her, uiai« a tratar a8 (jue u
não 8.^0. <J vulgo sempre cego, nSo sabe
distinguir, ou n.lo quer, o bom dn mau.»
Francisco )íanoel i^ Mello, Carta de guia
de casados.
Qiifhra os fi^rrollioi de diain.nit". c dentro
S' entranha nos abvsinus, ir rrt<>ma
A ver os claros Cimx. l)u Kydiísjx:, o Oangc*
A's margen» coiTc, pelos lirinoj vôa
Da iiuille/.a, c do orjjidho. o vai mil vczc«
1'a.ssear s<ibrc o íris, e contempla,
Dc-sde o curvo listão, da diuva, c gúlo
Os immonsos dejtositos.
j. A. i>E MAr-i:iMi, jir.niTACÂo, cant. 2.
— Dobrar, torcer.
— Transgredir, violar, iiifringir.
— Annullar, devassar, cassar.
— Descontar do (|ue alguém deve.
— Temperar, suavisar, moderar, abran-
dar a força e rigor de alguma cousa.
— Vencer, superar alguuia difficuldade.
— Interromper, estorvar o andanicntu
de alguma cousa iinuiateriul.
— Aiit. Cobrar.
— Quebrar '( ra/jera, ou o# ouviílos n
ahjucin ; caiiçar, importunar, incomnio-
dar.
— Quebrar a amtzatle ; romper as rela-
ç(!)es de amizade com alguém, ou afrou-
xal-as.
— Quebrar a fé, a verdade; nHo a ob-
servar.
— Quebrar a carta de seguro; nilo gtiar-
dar as condições iFella.
— Quebrar <> jejum ; comer ou beber
cousas prohibidas em dias de jejum.
— Quebrar o coração, d^animar ; es-
morecer, fazcl-o dcsfallecer.
— Quebrar a condição áspera d'ahjuem ;
tornal-o mais tratjivcl, mais brando.
— Quebrar a ira em alguém; desafo-
gal-a, vinga'ado-.H> de qualquer modo.
— Quebrar o fio ; interromper alguma
cousii .
— Quebrar o fi.o da vida ; matar.
— Perturbar, desviar, interromper, im-
pedir. — Quebrar " somno.
— Quebrar os ol/ios ; uiovcl-os com cer-
ta languidez.
— Quebrar os olhos n alguém ; fiinir,
vasar.
— Quebrar II "Kl la»f a com alguém ; ter
um diieilo.
— Quebrar a cubcra a alguém ; dAr-llio
que entender em cousa trabal osa, e dif-
iicil.
— Quebrar <i moeda; fundil-a para a
recunhar.
— Quebrar vivo; dizi.i-se do condem-
nado á morte, que lhe quebravam os (w-
S(xs com uma uiassa de ferro.
QUEB
— Quebrar a indoJe, ou o giuio; mu-
dar de inclinações.
— Quebrar-se, r. reji. Eomper-se, espe-
daçar-.se. de-.tazer-sc, partir-se. — «Mas o
ilo deste prazer e alvoroço se ilie quebrou
com uma aventura, que no mesmo valle
aconteceu : que da banda debaixo de sob
uma arvore saliiu um eavalleiro á maneira
de gigante, grande e bem proporcionado,
em um cavallo rosinlio conforme á grande-
za de seu senhor.» Francisco de Jloraes,
Palmeirim dTnglaterra, cap. 12õ. — «Pi-
ques, que se quebrarão, e gastarão em
assar borregos; capacetes, de que iizeraõ
panellas, para cozer ovelhas com nabos,
e outras mil couzas, que naõ se contaõ;
com que lançadas as contas, sempre as
perdas excedem os ganhos.» Arte de fur-
tar, cap. 56. — « E tudo, o que chamaes
honra, vem a ser hum vidro, que cora a
liviandade de huma muliíer se quebra, e
com o desconcerto de qualquer de vossa
familia se tolda, como o espelho com hiuu
bafo.» Ibidem, cap. 70. — « Vai mais per-
der por carta de menos. Muitas vezes se
quebrão os narizes dando sempre cora o
C. para a porta. Como cahirá isto bera
na Lingua Italiana ! Oh quem podéra já
ver a Tradução ! » Cavalleiro d'Oliveira,
Cartas, liv. 1, n." 10.
Esquecida de si, seus ovos dióra
A desvelada mài ; o Sol, que nasce
No uiesmo ardor a cncoutra, c ncUa a deixa,
Se os braços busca da ccridca Thctis.
Calor activo os ovos desenvolve :
Eis se quebra a prizão, o a luz respirão.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Cant. 3.
— Figiu-adamente : — «A agua o deu,
a agua o leva. As Republicas conservaò-
se cora fazenda, vassallos, e leys: e se a
fazenda se desbarata, e os A\issallos se
oftendem, e as leys so quebraõ, lá vay,
quanto Martha fiou. » Arte de furtar,
cap. 15.
— Paliando de cordilheiras ou serras
quer dizer que a sua continuidade é in-
terrompida.
— Quebrar-se uma geração; receber
alguma quebra por bastardia, por fiiltar
herdeiro leffitimo em linha recta.
— Quebrar-se o legitimo herdeiro; fal-
tar successào legitima a alguma fami-
lia.
— V. n. Romper-se, rebentar com vio-
lência, espedaçar.
— Quebrar a nau nos rochedos ; nau-
fragar.
— Dar com ímpeto, e desfazer-se, co-
mo o mar no recife, ou penedos.
— Desfazer-se, vir parar, e diminuir o
impulso.
As grossas altas ondas cscumosas,
Dos furiosos ventos constrangidas,
Vào quebrar seu furor nas alterosas
Iiochas, ou lá nas pi-aias estendidas :
Rotumbão as montanhas cavernosas,
Yeem-sc do mar as nuvens combatidas,
QUEB
Qu'a força com quo cncoutra a rocha diu"a
Lho faz com que então suba a tanta altura.
F. D'AXDr.VDE, PBIMEIRO CEBCO DE DIC, Cant. 4.
est. 21.
— Abater, diminuir, dcsfallecer, can-
çar a actividade. — «Entendendo Rume-
cào, que viuhào chegando á Fortaleza al-
guns soccorros, e que era abrindo o tem-
po nào seriào os Portuguezes tardos em
dar-se huns aos outros a mào nos maio-
res perigos, começou a desconfiar da em-
preza, vendo que os trabalhos nào que-
bravão os ânimos dos nossos, e que os
seus soldados nas conversações nào tinhào
por justificada a causa desta guerra, ac-
cusando aos quebrantadores da paz por
ni')s fielmente guardada.» Jacintho Freire
d'Andrade, Vida de D. João de Castro,
liv. 2.
— Quebrar o cwação ; perder o animo.
— Quebrar com alguém ; romper as re-
laçijes de amizade com alguém, ou afrou-
xai-as.
— Quebrar por tudo ; romper.
— Quebrar por si ; ceder do seu direi-
to, ou pretençào, ou razão por bem de
paz.
— Dobrar, torcer. — Quebrar o corpo.
— Quebrar com somno ; mover a cabe-
ça, dormindo em pé, ou sentado.
: — Perder o viço, lustre da mocidade.
— Perder o vigor, energia, actividade,
rigor, acriraonia de animo.
— Quebrar o Jlo da vida; morrer.
— Contrahir uma hérnia.
■ — Fazer bancarrota, interromper o
commercio ou negócios por falta de fun-
dos ou cabedaes com que satisfazer aos
credores, perdendo completamente o cre-
dito por motivos conhecidos ou por fraude.
— Perder o animo.
— Quebrarem as aguas ; serem as ma-
rés mortas, o contrario das vivas.
— Faltar no peso.
— Diminuir o impeto, força, quantida-
de de movimento.
— Caíi". — Ouviam-se quebrar as aguas
ao longe.
— Quebrar a dianteira, oix quebrar as
aguas ; soltar-se agua do útero das mu-
lheres, quando estào para parir.
— Quebrar a tardança ; acabar, ces-
sar de tardar.
— Ponto de quebrar ; ponto alto que
se dá ao assucar.
— Adágios :
— Quebrarei a mim iim olho, para
quebrar a ti outro.
— Ao mau costume quebrar-lhe a per-
na.
— Jarras quebradas, mar bonança.
— Melhor é dobrar, que quebrar.
— Antes quebrar, que dobrar.
— Xào quebra por delgado, senão por
gordo, e mal fiado.
— Obreiro pago, braço quebrado.
— A cana fosse quebrada, e nào soada.
QUE D _ 3õ
— Fui para me benzer, e quebrei hum
olho.
• — Perda de mai'ido, perda de algui-
dar, hum quebrado, outro no poial.
f QUEBRA-VAGAS, s. m. Termo de
naiitica. Navio velho e incapaz de ser- •
vir, que carregado de pedra se colloca
cm ura porto para quebrar a impetuosi-
dade das ondas, ante uma obra hydi-au-
lica, para a defender, e proporcionar mais
seguro abrigo ao ancoradouro.
QUEBRO, s. m. Inflexão, trinado. —
Os quebres da voz.
• — Quebro do corpo ; geito, posição af-
fectuosa.
QUÉCA, s. /. Peça pertencente a um
antigo vestuário de mulher.
QÍJECER. Vid. Aquecer.
■J- QUECHUE, íí. VI. Fructa sempre ver-
de da nova Andaluzia, de gosto suave,
e semelhante A amora da Europa, porém
de muito pouca duração.
QUEDA, s. f. O acto de cair, caída,
caimento, tombo. — «E avisando aos seus
o que determinava fazer, arremeterão
aos muros com tal traveza, que a pesar
dos defensores, foy a Cidade entrada,
fazendo o Conde taes estremos por sua
pessoa, que do muito trabalho, e de al-
gumas quedas, que deu das escadas ao
tempo de escalar os muros, perdeo a vis-
ta dos olhos, cousa que el Rey sentiu de
maneira, que o obrigoii a chorar publica-
mente a perda de taõ leal vassallo.» Mo-
narchia Lusitana, liv. 7, cap. 26. — «Fez
estrondo a queda; porém, o aggressor
com grande desembaraço limpou ao len-
ço o tíorete e deu parte ao imperador que
chegava pela porta da campanha.» Bispo
do Oirào Pará, Memorias, publicadas por
Camillo Castello Branco, p. 76. — «Traz
este veio Beroldo, mas como o dos frei-
xos guardasse aquelle dia pêra mostrar
todo seu preço, polo modo dos passados,
veio ao chão, de que o imperador teve
muito que cuidar. X'isto veio á justa
Dramiante, e porque ao tempo do encon-
tro, seu cavallo embicou na raiz d'um
dos fieixos, que estava mais alta que a
terra, e caiu com elle, não se quiz dar
por derribado, dizendo que a victoria de
sua queda não se podia dar a seu imigo,
e posto que alguns haviam esta razão
por má, o outro disse que tornasse caval-
gar tantas quantas vezes quizesse ; por-
que mais asinha cançaria de o fazer que
elle de o derribar.» Francisco de Moraes,
Palmeirim d'Inglaterra, cap. 111.
Cahio esse Penedo sem segundo
Da humilde Paciência intitulado :
Que o ferro, o bronze, em fim quanto he creado,
Xada reziste ás quedas deste Mundo.
ABBADE DE JAZENTE, POESIAS, tOm. 2, pag. 107.
— Declinação, pendor.
— Decadência, ruina. — «E o de que
primeiramente muito bemauenturado Pa-
;3(i
QUED
QIJKD
Qi:i:i
drc, mais nojo recebemos, lie os diimnos,
o «{pravos (lo que o Solilaiii se a'|iitíixa
n vossa Saneti<la(U^ contra iiòs, iiiVo b(í-
roín maiores jiora sua queda, e as cau-
sas disso iiFlo serem de mais cffifacia. »
iJaiiiiilo do (looH, Chronica de D. Manoel,
part. J, cap. ÍKl. —« Iremos rocaintiilaii-
do Ijrovemerite as cousas tocantes ao Im-
porio Oriental, pai'a com mais claridade,
c distinci;aõ |M-osr;íiiirnios dci«)is a que-
da o ruiiia total ila Monarcliia de Oci-
dente causada pelas nações barbaras, que
cada dia cntravaõ ocupandolhe diversas
Províncias, e dcstruiudollie ^^randos exér-
citos.» Mouarchia Lusitana, liv. t>, cap. li.
Nii marclui, que vai tendo a Natureza,
Ti\o rouioto mio sor da Torra o berilo •,
A 1)1130, as progrossõiis, a gloria, a quidn
Uc liiípci-ioâ, (juc anibi(;rio levauta, c postra.
J. A. 1>K MACKIIO, ^aAGUM EXTÁTICA, Cant. 3.
— Quebrada.
— tieito, propensão. — Ti r queda y^a-
ra poeta, iJÍntur.
— Dar queda ; passar da prosperida-
de á dcsp;ra<;a.
— - Salto do rio, que cáe de alto.
— Queda do ptllo ; a direcção que to-
ma o pcllo para algum lado, de modo
que, passando-lho a mào, tica macio c as-
sente, e iiào arripiado.
QUEDADO, pad. pass. de Quedar.
QUEDAR, t'. 11. Ficar, conservar-sc,
re.-^tar.
— A([uietar, descontinuar, estar que-
do, parar.
QUEDO, adj. Immovel, suspenso, pa-
rado. — «Os imigos como sentirão «a nos-
sa gente cm terra começai';"io a desparar
a artilharia da tranqueira, mas posto que
de todalas partes cliouuessem pilouros,
clles a cometeram, cada hum pela parte
que lhe fora ordenado, ao que acudio o
capitam da cidade, que em chegando a
porta, que se agora chama de sancta Va\-
thorina, esteue quedo pêra ver a qual
parte lhe era necessário acudir em }ies-
soa.» Damião de (iões, Chronica de D.
Manoel, part. 3, cap. 11. — «Estando
Nuno fernandez quedo sem mouer sua
gente, na cpial batalha, que se começou
quasi Sol posto, o Serifo foi desbaratado
dos mesmos mouros da capitania de Cido
Iheabcntafuf, ao alcance dos quais Nuno
fernandez saio, seguindo ambos a victo-
ria, tanto quanto o dia deu lugar, em
que forào mortos, e presos muitos dos
imigos, e alguns dos da companhia de
Cide Iheabcntafuf mortos.» Ibidem, cap.
49. — «E como a noite cscureceo se fo-
i'am todos, e o Principe ficou só no cam-
po, triumphando de tamanho vencimen-
to, c fazcado recolher os feridos, e mor-
tos como piadoso capitão, esteue assi que-
do. E eoui tanta razam tinha de estar
rauy alegro por tamanha honra como ti-
nha ganhada, estaua em estremo triste
sem lio diir a entender, |)or mio saber
nonas dei llcy seu pay, que sobro tudo
desejaiui de saber.» (iarcia de Uezcnde,
Chronica de D. Joáo II, cap. 1.?. — «Com
este contentamento dissimulado so foi,
<leixando encommendado as armas de
Floreiídos a .\lmourol, e andando alguns
dias ao longo da ribeira do Tejo, atra-
vessan<lo valles c outeiros a uma e outra
parte, um dia Já tardo se achou cm um
escampado onde havia uma fonte de umi-
ta agua, cercada d'arvores bastas c al-
tas, (pie a cobriam, debaixo das qaaes
ouviu tocar uma frauta de tào maravi-
lhoso som, que o fez estar quedo por al-
gum espaço, u Francisco de iloraes, Pal-
meirim d'Inglaterra, cap. 12. — «E ca-
minhando ao longo, viu que d.a outra
banda caminhavam trcs cfivalleiros d'ar-
mas lustrosas e louçàas, que cmpareliuin-
do com elle, estiveram quedos polo olhar
mais de vagar. Um d'elles so adiantou
um pouco, bradando que se detivesse. b
Ibidem, cap. 12.'). — «(J cavallciro se
quiz j)ôr em ordem de so defender ; mas
Ãrlança que tinha o coração varonil, e a
paixão lh'o esforçava nmito mais, lhe
travou o braço direito, levautando-se em
pé, e teve-o tào quedo, que se não pode
valer; de sorte que o cavalleiro das don-
zellas sem nenhum pejo o pode levar
nos braços, não ousando de o ferir da
espada por não tocar em Aidança.» Ibi-
dem, cap. 128.
O Capitão o abraça cm cabo ledo.
Ouvindo clara a liagua do CastoUa ;
Junto de ai o assenta, c prouipto e quedo,
l\'la torra pergunta e cousas dolhi.
Qual 90 ajuntava em Kiiodo;)e o arvoredo,
Sií por ouvir o amante da donzclla
Eurydice tocando a lyra de ouro.
Tal a gente se ajunta a ouvir o Mouro.
CAM., i.is., cant. 7, est. "20.
— «E como estiveram quedos, olhava
ho guia pêra mim, e eu pêra elle r e ca-
tivemos hum pedaço sem nos podermos
falar hum acoutro.» Tenreiro, Itinerário,
cap. ú'2.
Em vão foi o soccorro do Macedo
E o da geutc que llie era companheira,
l^orque alli mais podia o antigo medo
Que a força luitnral, nem a estrangeira.
Xenluim pára alli mais, ou está quedo
Vendo na terra erguer huma poeira,
Poniuc o Mogor só cuidào que a levanbi
Cujo nome siuuente os tanto espanta.
FRASCISCO DE ASnBADE, PRIMEIRO CEBOO PE DIt",
cant. 5, est. 52.
Com duro, agreste acccuto a voz erguia
A negra cliusma. e saudava os Lusos,
E gente humana apenas parecia,
Tào rudes erào. bárbaros, obtusos !
Eis ((ue da bruta uinltidào rompia
Ilum, í|ue 03 nautas deixou dhorror confuso.<
O aceento Portuguez Ibe esoutão lêdoj,
Elle a voz levantando, os Lusos q)led•^s.
J. A. DE MACEDO, O OKIESTE, Cant. 4, CSt. 3.
Figuradam<nt<í
Nunca nestes entrou algum desmaio,
Nem a morte diante cau^in nK^do.
VutKvjacllfH Fr:iiiciiW!(i •
Noutra gal<- t"i ii niuml - i.
NMium bat.rl Vuwi. l'ir.-
Noutro iiiiiiiduvsi Heiíri ,
Nnutro MHrtim df Kn-i: i,
.Miguel Carvullio liuma :i. ; i.i.
r. i>'aki>bade, nuMEiBU ckbcu de dic, cant. -.
est. 31.
— A p'- quedo; a pé tinue.
— Ir quedo <■ quedo ; {míuco n poao»,
lentamenti-, iliívagarinho.
— AuAíWOs :
— A cíirga bem se lev.a, a soljrecarga
citu.«a a queda.
— Andando ganha a azenlut, que n.lo
estando queda.
— Em quanto tem saúde, quedos <■—
tão 03 santos.
— Casar, ca.sar, e quedo governo.
— Na almoeda tem a bobeia queda.
— Pés costumados a andar, nào po<]eni
quedos estar.
— Qualquer ramo cm janeiro, torcido
está quedo.
QUEENDAS, «. /. a<ú. f) primeiro dia
de cada mez. — «E en cada huum anno
por foro dons alqueires de trigo linpho.
e senhos capoens. e dez ovos cada huum
de viis pelas queendas de janeiro.» Doo.
de 12(;ii.
QUEIJADA, «. /. Paatel de ovos. man-
teiga, queijo c a*sncar.
QUEIJAR, V. a. Fazer qn^^ijos.
QUEIJARIA, .-. /. O trabalho de quei-
jar.
QUEIJEIRA, .«. /. Casa onde se fozem
queijii-.
QÚEIJEIRO, A, .-. O que faz ou vendo
queijos.
QUEIJINHO, s.m. Diminutivode Queijo.
QUEIJO, s. í/l. Mas.sa de leite de vac-
cas, ovelhas, cabra*, coalhado e espremi-
do no cincho. — Queijo lowlriíw. — Quei-
jo jhuitcuijn. — Queijo da serra da E*-
t relia. — Queijo frenco. — « N3o tem o
gosto cousa excellente que se nJo ache
no; queijos com que V. A. me re.pilou.
Isto não he nata. hc hum maravilhoso iuà<>
sev que, que picando agradavelmente a
ling')a, tem huma bondade (|ue se sente
com luima graça que se nào pxle exjiri-
mir.» Cavalleiro d'01iveira, Cartas, iiv.
ií, n.° 21. — «Nào Senhora, nXo he pos-
sivtd que com mãos tào grosseyras se tra-
balhem cousas tào delicadas. As Nvuiphjis
de \'ienna tiverào parte lu» obra. ou pa-
ra melhor diser os queijos que V. A. me
mandou são obr.as das suas mãos.» Idem,
Ibidem. — ««^ Padre Diogo Jloniz Vian-
na. que foi hum Beneficiado da Igreja de
Santa (^ruz de Lisboa, ou se desmayava,
ou mudava de côr f:isendo-se mais ver-
melho que huma Lagosta, á vista do quei-
jo Flamengo, e do Melào. Até a corOa
QUEI
QUEI
QUEI
se lhe fksia desta côr.» Idem, Ibidem,
n.° 38.
— Queijo de figos passados ; figos reu-
nidos e apertados no cinclio, em forma de
queijo.
— Queijo de herva; o que se coalha
tom a ílôr do cardo, ou com outra herva.
— Adágios :
— O queijo do Alemtejo, o vinho de
Lamego .
— - Queijo de ovelhas, manteiga de vac-
cas, e leite de cabras.
— Queijo, pêro, e pào comer de villào.
— Queijo, pào, e pêro, comer de ca-
valleiro.
— Quando fores ao mercado, pào leve,
e queijo pesado.
— Rábàos, e queijo mantém a corte
em peso.
— O melão, e o queijo, tomal-o a peso.
— Pào, e queijo, mesa posta he.
— Pào com olhos, e queijo sem olhos,
e vinho que salte nos olhos.
— Para rábào, e queijo não ha mister
trombeta.
— O cabrito de hum mez, o queijo de
três.
— Em abril queijos mil, e em maio
três, ou quatro.
— Xào comas muito queijo, nem do
moço esperes conselho.
— Ao couro, e ao queijo comprado por
peso.
— Xo queijo, e pernil de toucinho co-
nhecerás teu amigo.
QUEIMA, s. f. Acto de queimar, e o
sitio queimado.
— Incêndio, abrazamento.
— Figuradamente : Fugir da queima ;
evitar toda a occasiào em que se possa
comprometter, em geral fugir de qual-
quer perigo.
QUEIMAÇÃO, s. /. — Queimação de san-
gue ; co.isa que enfada muito, ou o enfado
que delia resulta.
QUEIMADA. Vid. Queima.
QUEIMADELLA. Vid. Queimadura.
QUEIMADO, part. pass. de Queimar.
— u Xeste combate perderão os imigos
dezanoue paraos, entre queimados, e ala-
gados, e moiTerào duzentos, e nouenta, e
dos nossos per milagre de Deos nenhum,
porque em muitos deram os pilouros nas
cabeças, braços, peitos, pernas, e per to-
do o corpo sem lhes fazerem nojo. passan-
do delles adiante tam furiosos que des-
manchauào, e quebrauào as padesadas em
pedaços, no que se claramente vio que
Deos era o que pelejana por elles.» Da-
mião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. I, cap. SI,- — «O primeiro que abal-
roou foi ilartim guedez com hum jungo,
depois de ter metidos no fundo, e queima-
do alguns nauios de remo, o qual jungo
entrou por força, e o mesmo fez loam Lo-
pez dalvim em outro, íTDs quaes ambos,
se po8 logo fogo, e elle com os outros ca-
pitães, segidram a frota de maneira que a
desbarataram de todo, saluo Pateonuz, e
os quatro jungos que estauam ao redor do
seu.» Idem, Ibidem, part. o, cap. 42.
Molhercã, freiras forçadas
as nobres casas queimadas.
e mortos os moradores,
principaes, e mercadores,
sem porque, ás cutilladas.
GiiCIA DE BEZENDE, MISCELL AIÍE A .
— « E sem se saber quem nem por cujo
mandado foi posto fogo às nãos, e assi to-
mou elle posse delias que as não leixou
ate o limie da agoa : onde ardeo muita fa-
zenda, por que estauào pêra partir quasi
de todo carregadas. E foi a cousa que
mães espantou aos da terra, vendo que
sem ter cobiça de tanta riqueza como nel-
las estaua tào leuemente forào queima-
das: e diziaò que isto se fizera em vin-
gança do que fora feito a Aires Corrêa.»
Barros, Década 1, liv, 7, cap. 11. — ^d Man-
dou ao Bispo de Sylues, e ao Bispo de
Tangere, e a dom Francisco Déça, e a
loam Fogaça, que o tirassem da sepul-
tura, os quaes quando o tiraram acharam
as taboas do ataúde, em que o corpo es-
taua, quasi queimadas da cal, e assi hu-
ma alcatifa e lençol, e o corpo do glo-
rioso Key sam, e inteiro, com hum chei-
ro singular, com suas barbas e cabelios
na cabeça, e nos peitos, e pernas, e bra-
dos, e o estômago testo como se fora vi-
uo, e dally com grande acatamento, co-
mo corpo santo que era, per esperiencia
de milagres que ja tinha feyto, o pose-
ram em outro ataúde, cuberto de broca-
do cramesim, e emburilhado em hum len-
çol de olanda, e o ataúde em que jazia
foy todo desfeyto em radias, e leuado
por relíquias.'. Garcia de Rezende, Chro-
nica de D. João II, cap. 291.
Xào eram ancorados, quando a geute
Extranha pelas cordas já subia ;
No gesto ledos vem, e humanamente
O Capitão sublime os recebia.
As mesas manda pôr cm continente :
Do licor, que Lyeu prantado havia,
Enchem vasos de \idro, e do que deitam,
Os de Phaeton queimados nada engcitam.
cAM., Lcs., eaut. 1, est. 49.
— «Temo que este homem he hum da-
quelles, que hade morrer queymado em
algum dos incêndios naturaes. e interio-
res, que se tem observado em muitas
pessoas, que cometerão no uso do ■\-inho
os seus excessos.» Cavalleiro de Olivei-
ra, Cartas, liv. 1, n.° 22.
— Assucar queimado; que tem o pon-
to mais alto, que o de quebrar, que está
tostado.
— Côr do cavallo, tirante a negro.
— Alguns dedos queimados ; alguns
aggravados, ou offendidos por allusão a
defeito delles.
— Clima do sol queimado ; a zona tór-
rida.
— Huras queimadas ; furtadas, subs-
cessivas.
— Queimado da geada ; destruído, sec-
co por etieito da geada.
— Curda queimada ; jogo de rapazes.
— Figurada e popularmente : Joelhos
queimados ; diz-se dos homens que são
casados.
QUEIMADOR, s. m. (Do thema quei-
ma, de queimar, com o suffixo «dôr»'.
O que queima, ou lança fogo a alguma
cousa.
QUEIMADURA, 5. /. Effeito produzido
pelo fogo em algum corpo, e seguido da
decomposição de suas partes.
• — • Signal, chaga, empola ou impres-
são, que produz o fogo, ou qualquer cou-
sa muito quente, applicada a outra.
— A parte do corpo queimada.
QUEIMA-LINGUA, s. m. Planta medi-
cinal.
QUEIMAMENTO, s. m. Acção e effeito
de queimar. — «E estes afora dos que na
cidade havia, de que se já deu conta. De
sorte que todos juntos uns e outros eram
perto de vinte mil de cavallo e setenta
mil de pé. Na verdade, inda que o quei-
mamento da frota de seus imigos foi gran-
de azo e aparelho pêra estas ajudas po-
derem vir, porque como as mais delias
viessem por mar, e o achassem desemba-
raçado da sua frota, sem nenhum pejo
poderão desembarcar no porto.» Francis-
co de Moraes, Palmeirim dlnglaterra,
cap. 160.
QUEIMÃO. Vid. Quimão.
QUEIMAR, V. a. Abrazar, ou consumir
por meio do fogo. — «Nesta auguada de
S. Brás fez Yasquo da Gama queimar
ha nao dos mantimentos, de que era ca-
pitão Gonçalo Xunez, por delia naõ ha-
uer necessidade, donde feita auguada, e
caruagem se fez à vela, hauendo jà tre-
ze dias que alli chegara, e estiuera mais
se não succederaõ desconcertos, e brigas
entre hos nossos, e hos negros, polo que
antes da ai-mada partir daquella parajem
a vista da frota, hos negros derribarão
hum padrão, com huma Craz, que Yas-
quo da (lama mandara poer sobre hum
combro. junto da praia.» Damião de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 1,
cap. 35. — «Que el Rei de Calecut per
conselho dos seus feiticeiros, em toda es-
ta somana nam cometeo o passo, Duarte
Pacheco nam deixou entre tanto de fazer
seu officio, entrando pella terra de Cam-
balam, fazendo muitos saltos, em que
queimou alguns lugares da Ilha, de bom
despojo, tornando sempre vitorioso. »
Idem, Ibidem, cap. 87. — «Resoluto o
Marichal em ir queimar os paços, man-
dou desembarcar dous tiros de metal que
entregou a Pedrafonso daguiar seu sota
capitam, pêra os leuar diante, e sem que-
rer tomar o parecer dalgumas pessoas
que lho desaconselharam mandou tocar
as trombetas, ao som das quaes abalou
38
C^UKl
com obra do oitocentos honions, o toilu-
lo» ciipitricB (Ic wiiíi frota, niamlaniJo <li-
sicr fi Afoiwo I)iill)iiqucr(|iio huji dctermi-
níi(,'!iõ, quo o pojiu «uííuir, ou liizc.r o (\m',
lhe jmroco^HO. » 1'ioui, Ibidem, part. 2,
cap. 4;5. — «Aiii outro f,arucro do (icntios
a (|uo cliaiuJío líaiijaciin (|uo viuom niÍH-
ticanuMite assi i-ntrostus ll.s.Hbutos, como
entro os Jlouros, os ([uaos nain conuni
cousa quo tcnlia saiifíuc e per sua ioi
naõ podoni matar, nem uor matar cousa
nonluiina, c isto oiu tinto quo a:< iMudeas
com quo 80 alumiam motom rm alouter-
nas por as moscas, mosquitos c borbole-
tas senam riroui queimar no lume doi-
las.» Idem, Ibidem, part. ií, cap. 0-1. —
«Encommoudou muito a Lopo soarez quo
huma das primeiras cousas que fozosso
depois de ter despachada a armada cui
que hauia do tornar pêra o rcgno, Afon-
so dalbu(pierque fozessc luima viajem ao
mar Darabia, e trabalhasse muito por
queimar, e desbaratar aquella do 8ol-
dào.» Idem, Ibidem, part. o, cap. 77. —
«Isso mesmo saberá vossa Alteza que
elle he muito justiçoso, e pune grande-
mente os que adoram idolíos, e com os
Ídolos 03 manda queimar, c tem per to-
dos seus recuos ofticiaes de justiça pêra
prenderon» todolos que souberem que tem
idollos, ou fazem feitiçarias, c outras
quaesquer maldades que toquem a nossa
santa fe catholica.» Idem, Ibidem, part.
4, cap. 3. — «Sepuiose a este outro era
que elle imaginou, que a Sàta menina
mudasse pi-cposito, o foy mandala quei-
mar com tochas acesas, que lhe abrasa-
rão todo o corpo, e vendose daquello
modo, disse ao Tresidente: Assado tens
meu corpo, c feyto nelle o que pode tua
cruoldade, mandão salgar, porque lhe nào
falte sabor na mesa onde ha de ser apre-
sentado.» Monarchia Lusitana, liv. õ,
cap. 22. — «Fez em publico ajuntamento
da nobreza do Keyno trazer estes papeis,
c queimalos á vista de todos, para que
soubessem que juntamente cõ elles se
punha etorno silencio aos agravos e cul-
pas antigas, o ficavaõ todos no estado em
que costumavào estar antes das discór-
dias e conjurações passadas.» Ibidem,
liv. 6, cap. 30. — «E o de que os JIou-
ros mães se marauilharão, foi auendo ali
tanta fazenda, niío fazer cobiça âquelles
capitiles: e mãdarera queimar tudo som
tomarem mães despojo, que a artelharia.»
Barros, Década 2, liv. 1, cap. 6. — «E
como quem queria mostrar aos Capit.ues
que n.uo foram no sen parecer, quanto
• menos era queimar as náos do que cUes
cuidavam, ordenou cem homens do mar.
o governo dos quaes dependia de Fer-
nando Affonso Mestre da sua náo, o Do-
mingos Fernandes Piloto delia. b Idem,
Ibidem, liv. 8, cap. 4. — «A substancia
das quaes era, que em nenhuma outra
cousa entendessem, sen.^o em segurar a
fortaleza daquella Cidade; e que em
QUKI
quanto podia correr perigo de per algu-
ma niatieira poder ser tomada, ou a po-
voaçilo da (Jidade fie a queimarem, ou
destruirom de man<3Íra, que <n morad<j-
rcs íi despovoassem, o ho fossem viver
a outra parte, per nenhuma necessidado
o (Japiti\o mi')r do mar Fern.^o IVres se
apartasse dVUa.D Idem, Ibidem, liv. í»,
cap. 15. — oiVuíiue agora sua teuçào nilo
tào somente c por armas matar e tle-struir
os que trazem armas, mas inda nas mu-
lheres c pessoas de pouca idade fazer tan-
tos géneros do crueza, assolando c quei-
mando os lugares famosos e nilo famosos
de teu senhorio, té que se hajam yjor sa-
tisfeitos das perdas, que já nesta cidade
tem recebidas.» Francisco de Moraes,
Palmeirim d'Inglaterra, cap. IKl.
Já nâo defenderá somente os passos,
Mas (/Hci»mr-llic-lia legares, templos, casas:
Acccâo de ira o cio, nao vendo lassos
AqucUes, que as cidade* {azem rasa-s,
Fará (luc os seus, de vida pouco esciíssos,
Commcttam o Pacheco, que tem azas,
Por dons pasiws n'um tempo : mas voando
D'ura noutro, tudo irá desbaratando.
cAii., Lus., caut. 10, est. IG.
— «Os imigos de cima delle sentirão
03 nossos, c mio ousáraõ a lhe sahir, cui-
dando fosse alguma cillada pêra os faze-
rem acodir alli, e cometcrem-nos por ou-
tra parte, c de cima atirarão muitos ti-
ros, com que fizeraò afastar os nossos,
ticrtndo huma só casa por queimar, de
quinze ou vinte que er.no.» Diogo de Cou-
to, Década G, liv. 1», cap. 12. — «Pelos
l*arao3 que queimei cm Bacanor, que
eram a principal força de Calecut; por
este serviço me mandou V. A. embarcar
em huma n:ío no aposento dos grumetes. »
Idem, Década 4, liv. U, cap. 7. — «O
qual peias ventas lançava muyto grande
quantidade de fumo, e pela boca iutini-
dade de faiscas de fogo, nào artiticial,
seniio verdadeyro, porque dizem que lá
encima dentro na cabeça lhe faziào con-
tinuamente fogo. para mostrarem á gente
que era a Kaynha da esfera do fogo, por-
que esta dizem cUes que ha de queimar
a terra quando se acabar o mundo.» Fer-
n.HO Jleudes Pinto, Peregrinações, cap.
t)>Jl. — E tirado a limpo tudo ho que aviam
de levar na corte, queimaram todo ho
demais. E porque estes trcs homens que
tomaram por ajudadorcs nam divulgas-
sem cousa alguma do que tinham visto c
escripto, deixaramnos encerrados com
muitii vigia que ninguém pudesse falar
com elles.» Tenreiro, Itinerário, cap. 2õ.
Já vão chegando ao Riibre de trinta annos,
Onde tem descoberto o sacro Visgo.
Altar de rólva, ao pê do tronco erigem,
Nelle, um eórte do pão, Senanis queímUo,
K o borrifào com lágrimas de viiilio.
r. MVXOEL DO X.VSCIUESTO, OS 1ÍABTTHE3, 1ÍV. 9.
— Abrazftr, aquecer com multa inten-
QUEI
sidado, como o sol no estio. — «Xem o sol
te queimará de dia, nem a Lua tu affii^-
rà de noyte, que quer dizer : Se ten« pos-
to teu prazer em iJco.s, nem a prosperi-
dade tempitrul nem a aduersidadu te fa-
ram nojo. O sancto lob nem no dia de
suas trÍHt«-zas pcrtleo esto j)razer : pois qne
em o diluuio de tauto.í trabalho-) dczia,
Pois de Deos recebemos Ix-nn Knibanios
também Boffrer males : seja o seu nomo
bento.» Fr. Bartholomeu dos Martyreí,
Compendio da doutrina christã.
— Figuradamente : — « Mandaua Deo«
que do sacrifício que 6c offerecia polUjs
jieccados dos Sacerdotes qu.*ido «; conwi-
graua, Aaron quoima.-ísc toda a grossura
do fígado, c dos intestinos, e quo cobre
oa rins, c os próprios rins amljos, para
mostrar que jiara offerecer sacrifício de
oraçatT acoito a Deos. cumj>re queimar de
todo os apetites dm r^cntidoã com f<jgO da
caridade.» Sermões de S. Braz, pag. 8ã.
— «Quem foy nunca atribulado que eu
com elle juntamente nam padecesse?
Quem foy alguma ora c.scandilizado que
eu por isso me nam doesse e queimasse?
Deos e pav de no.sso Senhor Je.su christo,
sabe que nam minto. Ex aqui os traba-
lhos deste diuino semeador. Mas o fruyto
que se seguio, quanto fiv?» Fr. Bartho-
lomeu dos ^lartyrea, Compendio de dou-
trina christã, liv. 2.
— Crestar, desseccar, fazer perder a
verdura, c louçania. como acontece com
varias plantas, no tempo de grandes ne-
ves ou de calore.' excessivos.
— Cau.sar uma sensação muito activa
na bocca c no paladar.
— Tostar, tisnar, torrar ao ardor do sol,
ou do fogo.
— Figuradamente: Desbaratar, dissi-
par a fazenda, vendel-a por vil preço.
— Picar, ofFender excessivamente a al-
guém, affrontal-o.
— Queimar ns pestanas ; estudar de
noute, trabalhar, d&svclar-se para fazer
alguma cousa,
— Tomar as cousas por ondt (j[neimam ;
tomal-as á má parte, no peor sentido.
— T'. n. Estar uma cousa demasiada-
mente quente.
— Queimar-se, r. rtfi. Ser queimado,
abrazar-se. — «E porque nenhuma cousa
ha hi debaixo do sol sem tomar a ser o
que foi, e o que virào desta qualidade
(ie tremor havia de tomar a ser por for-
ça, ou cedo ou tarde, nSo o escrevêriío.
Concmo que u.mío foi este nosso espanto-
so tremor, ira Pei ; mas ainda quero
que me queimem, se n5o fizer certo qne
tào evidente e manifesta foi a piedade
do Senhor Deos neste caso, como a fúria
dos elementos e damno dos edifícios.»
Gil Vicente, Obras varias. — «Assi a al-
ma preza cm huma cndea asquerosa, es-
cura, penosa de que ha de sahir presto,
e presentarse no tribunal do Diuino Juí-
zo, se deixa leuarao de vaSos cuidados,
QUEI
e distrahirse, a causa he, porque se es-
quece totalmente de sua miséria, e sor-
te trabalhosa. Se succede?se queimarse
liuma casa, poderia quem mora nella de-
uirtirse com sentido em outra parte.»
Fr. Bartliolomeu dos Martn-es, Compen-
dio de espiritual doutrina, cap. 15. —
u() Arei escapou por desastre, e quei-
mou-se-lhe a mulher, e mais familia, e a
povoação foi mettida a ferro, e a fogo, e
lhe tomaram trezentos paraos mui bem
feitos, e muitas pessas de artilheria de
bronzo, falcões, berços, e dous camelos,
hum de metal, e o outro do feiTO, e lhe
cortaram todos os palmares que puderam,
de sorte que ficou destruído de todo.»
Diogo de Couto, Década -i, liv. 5, cap.
4. — «Lembra-me o que dizia Mr. rHuil-
lier de Mr. de la Millietere; que era ho-
mem muito sábio nas suas controvérsias,
porem tão teymoso nos seus pareceres,
que seria capaz de se queymar vivo em
hum Concilio.» Cavalleiro de Oliveira,
Cartas, liv. 1, cap. 15.
— Agastar-se, impacientar-se; deses-
perar-se ou porque se faz alguma cousa
contra vontade própria, ou por se ouvi-
rem expressões que offendem.
— Termo familiar. Avisinhar-se de al-
guma cousa, estar prestes a tocal-a.
— ■ Queimar-se o sangue; ferver o san-
gue, sentir uma viva impaciência.
— Adágios:
— Quem se queimar que sopre.
— Queime-se a casa, mas que não saia
o fumo.
— -Não faz pouco, quem sua casa quei-
ma, que espanta os ratos, e aquenta-se á
lenha.
— A muita cera queima a igreja.
— Fazenda de sobrinho, queime-a o
fogo, ou leve-a o rio.
— Quando o carpinteiro tem madeira,
que lavrar, e a mulher pão, que amas-
sar, não lhe falta pão que comer, e le-
nha que queimar.
— Em março queima a velha o maço.
— Da matta salie quem" a queima.
— De uma faísca se queima uma villa.
QUEIMA-ROUPA, s.f.—Á queiraa-rou-
pa, loc. ah-.; de repente, immediatamen-
te ; de muito perto.
QUEIMO. Vid. Queimor.
QUEIMOR, s. m. A sensação muito acti-
va que fazem certas substancias na boc-
ca, e no palador.
QUEIRO. Vid. Queixeiro.
QUEIROGA, s. m. Uma espécie de plan-
ta ; hoje é appellido.
QUEIXA, s. f. Expressão de dôr, pena
ou sentimento, damno, mal, injuria que
soffremos por injuria, ou feito por al-
guém; querela, lamento.- — «De modo
que teria pêra auer este homem dentro
na fortaleza, com hum seu filho, e genr-
ro, que eram culpados nesta conjuração,
o que nunca poderá vir em efleito, por
ja andarem de sobre auiso, pellas mui-
QUEI
tas queixas que cada dia os da cidade
danam a Afonso Dalbuquerque delles,
dos agrauos que lhes faziam.» Damião
de Góes, Chronica de D. Manoel, part.
3, cap. 25.
Hum delles ipostra ser ledo, c afíiabel,
Beueuolo, amoroso, c atractiuo,
Triste aflicçào e angustia mostra o outro :
Mostra pesar, desgosto, c queixa sempre.
CORTE BEAL, KAUFKAGIO DE SEPDLVEDA, Caut. 11.
Veiga a tautas rasões não obedece,
Autes maia importuna, c maia atiu-a,
E tanto em seu intento prevalece
Que câcusar-ae o Silveira cm vào procura ;
O qual por quanto agora bem conhece
Quào pouco cm lho outorgar isto aventura,
Por nao ter cSte só delle esta queixa
Cumprir sua vontade agora o deixa.
FHA>-CISCO DE ANDRADE, PRIMEIRO CERCO DE DU',
cant. 2U, est. 64.
Dalli por hiuna Gruta que cortada
Estava na aspereza dos penedos.
De condensadas névoas occupada
Onde tom sou lugar os torpes Medos,
A huma porta chegào, que talhada
Sc mostra entre ruinas e rochedos.
Onde anciãs, queixas, prantos, só s'ouviào
Que 03 éccos de seus antros repetiào.
ROLIM DE MOURA, XOV. DO HOMEM, Cant. 3,
est. 25.
Chorai, pois que a queixa
Somente vos deixa
As vozes dos ays.
ADBADE DE J.IZEXIE, POE.SIAS, tOm . 2,
pag. 238 (ediç. 1787).
— « Das outras vinhão por Capitães
D. Joào Lobo, João Rodrigues Peçanha,
Fernão Alvares da Cunha, Álvaro Bar-
radas. Estimou o Governador a vinda de
D. Manoel de Lima, pela pessoa, e pela
occasião. Vinha provido na Fortaleza de
Ormuz, que el Rei lhe deo por desviar
alguns encontros entre elle, e o Gover-
nador Martim Affonso de Sousa, com
quem andava atravessado, esperando que
viesse^ da índia, para lhe pedir satisfa-
ção de* algumas queixas.» Jacintho Frei-
re d'Andrade, Vida de D. João de Cas-
tro, liv. 2. — «Faça o marido de quan-
do em quando uma estação a sua mu-
lher; amoeste-a, que nem no seu estra-
do, nem em o alheio apode ninguém;
cousa muito certa, e de que as apoda-
das, sendo mulheres, se cansam assaz, e
também apodam : e de que, se homens,
logo lançam mão para queixas, ou agra-
decimentos.» Francisco Manoel de Mel-
lo, Carta de guia de casados.
— Doença, achaque. — Queixa de pei-
to.— «Xem faça duvida, que pôde haver
estas doenças com a pureza de ar; que
se promette; porque o influxo de Júpiter
por fiivorecer a natureza com nimia nu-
trição; faz que o sangue se augmente
em demazia; e em este sendo mu3-to fa-
cilmente se corrompe; e resultaõ "aquel-
las queixas.» Braz Luiz" d'Abreu, Portu-
gal Medico, pag. 437.
QUEI
39
— Sentimento de dôr, oftensa, injuria,
aggravo.
— Adagio : Autes queixa bem cabi-
da, do que premio insuffieiente.
QUEIXADA, .«. /. (De queixo, com o
suffixo «ada»). Queixo.
QUEIXAL, atlj. 2 gen. Dente mollar.
QUEIXAR-SE, V. refl. Proromper em
queixas, manifestar vocalmente a dôr ou
pena que se experimenta; lamentar-se;
dar a entender o resentimento ou moti-
vo de queixa que se tem de outrem. —
«Fera que, Florendos, te queixas de teu
mal sendo tão contente delle : minha se-
nhora Mii-aguarda, que quereis que faça
quem vos viu pêra se perder, e vos nào
vê pêra dizer o que sente?» Francisco
de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap.
76. — «Meus inales não sào taes, que al-
guém possa com elles se não eu, que de
os ter vivo, pêra que com maior dô a vi-
da passe : bem sei que toda pena sofrida
por vós se satisfaz com o gosto de vos
servir; mas que fará quem vossas cousas
assim trataram, que nem lhe dão vida
pêra lograr este contentamento, nem o
acabam de matar pêra não ter de quem
se queixar? Acabadas estas palavras, de-
teve-se um pouco sem dizer outras, e
com o esvaecimento delias adormeceu.»
Idem, Ibidem, cap. 76. — -«Senhor ir-
mão; disse Palmeirim, pêra que é quei-
xardes-vos dos desastres, que a fortu-
na tem, pois são tão geraes, que a quem
se mais guarda delles vem cada dia,
quanto mais a quem por si os busca.»
Idem, Ibidem, cap. 87. — «Se eu algu-
ma cousa errei, disse o cavalleiro do
Valle, emendal-o-hei no que me mandar,
e se vos queixaes de vos não fallar, nào
tendes razão, que eu ando tal que nem
ouço o que dizem, nem vejo quem pas-
sa : assim me trata um cuidado que de
tudo me faz esquecer.» Idem, Ibidem, -
cap. 88.- — «Senhora, se me poderá quei-
xar a alguém, fizera-o; mas a quem o
íarei, se isto são cousas, que nem se po-
dem dizer a outrem, nem o remédio del-
ias pôde vir senão de vós.» Idem, Ibi-
dem, cap. 95. — «E vendo as palavras
com que se queixava, ainda que sentiu
que lhe sabiam d'alma, tão pedra era seu
coração, que não cabia nella ter delle
nenhum dó. Sobr'isso tão confiada e alti-
va, que cria que tudo se devia a seu me-
recimento, sem ella dever nada a nin-
guém.» Idem, Ibidem, cap. 109. — «E
daqui mando a Satlafor, que como a mim
vos obedeça, e a V()s peço por mercê, que
o honreis como cu o espero; de sorte,
que de vós tire o galardão do muito, que
lhe devo. Senhor, respondeu Daliarte,
esta ilha é a que se deve queixar com
causa, pois lhe negais o seu premio em
tiral-a de vós, pola dar a quem custou
tão pouco.» Idem, Ibidem, cap. 120. —
«A rainha se levantou e o abraçou, fa-
zendo-lhe toda a honra e eortezia que
40
QUEI
QUKI
QIEI
pôde, queixando-se il<', .tr ilu' nAo ilar n
cim\irni-v (|U!iiiil() |i!is;ii-ii ii (iutr;i vrz por
«iiii cíiMH ; I! iiAi) liic i|ui/, rccfijcr (Ir-ciil-
]iii nciiluima.» Idciii, Ibidem, <-'n\>. l-i'.
— «.lá íifTora toroi incnus de <|iie iiic
queixar, pois vejo que nAo Bíto cu m o
esquecido, iiiH.-i isti) nie iiilo consola, (|ue
nos fiivore.s queria Hcr hò, nos distiivores
quanto V('(8 (|uii<erde3. o Idem, Ibidem,
cnp. 14;$. — «Xaõ sejíis do numero da-
quellfs de quem o Senlior se queixa, que
o louvaò, e eonfessaõ eoin a hoea, mas os
Hcus eora(,'i)ens e-^taõ loiíffe delle. » l'a-
dre Manoel Hernardes, Exercícios espi-
rituaes, part. 1, paj?. yr>. — «Todos so
queyxauam da perpetuidade, c continua-
riam de^ta guerra. Jlas porem nai\i can-
sauam de guerrear. Atò o Sanetissimo
apostolo Paulo bradaua, c dezia? O des-
uenturado de mim lioniem.» Fr. Bartlio-
lomeu dos Martyres, Catecismo da dou-
trina christã, llv. '2.
l'or('ni o mal (|iu^ piii mi tem maior parte,
O qiu! esta alma mais souto, c oiiuo mais cliora,
Ho vêr <iuc coin rasào pódos qucixar-te
De quom morre por ti , ds quem to adora ;
Pois aeudo minha gloria coutontar-to,
Ku te obrigo a lancear dos olhos fora
Essa agua (pie a mi, mais que a ti maltrata,
Pois a ti só faz triste, a mi uie mata.
F. DK ANDB.VDK, 1'KIMKIRO CKRCO I)K Dll', Cailt.
3, est. 64.
Iluns com vozes ja fracos lamentáveis
Da morte ja visiuha se qneixavão.
Outros coui altas vozes incansáveis
Que dessem cruel morte eucommendaviio ;
Arteticios de fogo iunumeraveis
AUi so vòoui, que huns a outros se apag;ivão,
E assi o fogo ((ue sen\pre os damna o offende
Esse agora de si mesmo os defende.
iDiDEM, cant. 18, est. 40.
Até ((ue em tantos dias venha uiu dia.
Que, qiieixamlo-me ao som d'uma almofa(,'a,
Mo acabe de espirar na estribaria.
FEIÍnXo SOROPIT.V, poesias E TBOSAS INEmXAS,
pag. 11.
— Queixar-se d justiça ; querelar.
— Lanu'iitar-se por vicio ou costume.
QUEIXEIRO, (/■//. Dente do siso.
QUEIXIA, *■. /." Vid. Queixa.
QUEIXO, íí. "'. Parte óssea do corpo
animal, onde estào ei-avadoa o.s dentes.
lia queixo superior e inferior; o queixo
superior consta do onze ossos, cinco do
cada parte e um no meio, desamparado;
o queixo inferior consta só de dous ossos,
que no meio da barba se unem pela iu-
terposiv.ào de luna cartilagem a qual no
sétimo auno de idade cst:i dura. e con-
vertida em um osso que já nrio se piule
separar. No bonunn tica immovel o quei-
xo superior, como também nos mais ani-
maos, excepto o jtapagaio, e o crocodilo;
entro todos os ossos só OvS queixos teem
veias ; estas teom uns pequenos buracos
ou alvéolos, em que estào niettidas as
raizes dos dentes. — « Com bum queixo
do jumento matou Sansaõ em hum recon-
tro ]ior sua niaiS mil contrários.» Honar-
chia Lusitana, tom. 1, foi. (í:5, col. 2.^
1 l''oi a K.iinlia iiiuIIkt de boa e'<tatura
alua, iiéui asHombjada, o queixo do rosto
hum pouco Honiirlo, os olhos graeionos,
])ouco risonha, mui honesta em toda.s as
suas j)raticas, ile (jue a.s niai.s eram de
eou.sas diuinas, muito caridosa, e dada a
eniparar (irjiliTuis.» ] >ami.^o do (iões, Chro-
nica de 0. Manoel, part. 4, eap. l'.l.
— Tremer o queixO ; diz-sc das pes-
soas (|ue tem grande mudo oa que faliam
tremendo.
— Fazer tremer os queixos a nlijuein ;
causar-lhc terror. — «Aonde Júpiter ves-
tido do estrellas, e coroado de magestadc
fazia tremer o queixo aos defuntos. » }5ar-
tholomeu 1'aixào, Fabula dos planetas,
pag. 4:}.
— ■ Cair o queixo " ahjuem; fiear de
queixo caido; iiear attonito, o pasmado,
embasbacado, admirado.
Da toalha soqucixada
Era tào ayroso o geyto,
Que o qiiei.rn cahia a quantos
tUhavão para o soquci.xo.
E.M BLUTEAl', 8. V.
Que e'o qneixn cahido os escutava
Arqueando, dcí pasmo, as sobrancelhas.
No que dizem os dous in'ompta concorda.
Em vão o Tlu>soureiro, cm vào o Chantre,
Homens austeros, que adular não sabem,
S'oi)põcm três vezes ao sinistro Acórdão :
Que a Lisonja astuciosa, que voando
ííobrc suas cabeças, invisivcl,
Os seus votos inspira, faz quo todos
A callar-8C os obriguem, murmurando:
E levados da força da torrente
Assignárào também o vào Decreto.
mMz DA CRUZ, iiYSsorE, caut. 3.
— Fazer bater o queixo ; tremer de
frio.
QUEIXOSAMENTE, a'lv. De queixoso,
com o suffixo "mente>". De uma maneira
queixosa.
f QUEIXOSISSIMO, a<lj. superl. de
Queixoso. 1 >eseoutentissimo.
QUEIXOSO, A, adj. (De queixa, com o
surtixo iiOSO»i. l^ue se queixa tle qual-
quer cousa, que nào faz outra cousa que
queixar-se; quo tem motivos de queixa,
que tem razões para se queixar.
Antro estas soo saudosa
vi antro duas ribeiraa
huma serrana queixosa
cercando umas cordeiras
sendo cordeira formosa :
Como alli tccm (Mjr uso,
em huma roca liando
mas como que hia cuidando
cahia-se-lhe o fu.'»o
da mão do ipiando om quando.
inRisrovÃo fauão, obras, pag. 6 (Cdiç.
IS71I.
Por que senhora vas assi queixosa
Do mim que por amarto mouro ardendo?
Do quem foges esquiva, c mais ferniosíi
Das (pie honra ao mundo dão, nelle nac.ondo.
(\>RTE RKAI.. NAIFRAOIO I>K SErfl.VKHA , CaUt. 7.
Inda do frio invonio a Jura frontí»
Qui-iiim o* (.'anipos ; e o pulu <.-iíp«vori'li>.
Como o priidu da relva vi' Uutjn<k>,
Km qiieij-imi» balidon bunca o munt>-.
ADItADK IlK JAZKXrK, lYiKKIAK, tlJUl. 2. pag. i>i
(cdiç. d.i 17871.
— « Era este, que cantava, o queixozo
< *riano, que a rogos de I>eontiuo. dejx»!»
de dar fim ai) que escrevera, o eoii%'id<ni
a quo eantiísse eul|ian'l« a trÍ8t<:za, que
em seus contentamento» nio«trava : cllc
dando signaes da sua, e razaõ da» obri- ■
ga(;oens em que ella o puidi.-i, cantou o
(|U<- ouvisfcs. > Francisco Uodriguca I»-
bo, O DesengaBado, i>ag. 'à',).
— Mo!esta'lo de alguma dôr, ou quei-
xa. — • f 'om o que lhe deitey trwi veze^
pfdjre o liiirar queixoso. » ÍVirro, Obser-
vações medicinaes, pag. 107, «ni lílu-
teau.
— Som queixoso, voz queixosa ; que
exprime la-itima-s, queixas, maguaa.
QUEIXUME, *. VI. Vid. Queixa. — « Fi-
nalmente t.into practicaraò ambos nesta
matéria de paz, que veo o IJramnjanc a
dizer que se clle Almirante quisesse al-
gum tanto abrandar de seu." queixumes,
elle seria medianeiro ev.tre elle e o f'a-
morij cõ que o^ negócios viessem a me-
lhor est.ido do que estauSo.» Barros, Dé-
cada 1, liv. 6, cap. 7.
Vós ojin, que vay do monte a monte
Carregado de roubos, c queixume».
Que bora amcat;», bora nào aofrc a ponte?
AXTOXIO FEBBEIK.K, E(!UX3A 1.
— « Mas porque nnivta gento vos !ia-
de vir com queixumes, e importun.or que
lhe falíeis, tende nisso muvto tento, e o
melhor be escusardes vos, dizendo que
estais oecupado em cou as espirituais: e
que se nam tem conta com Deos, e com
sua consciência (conio elles dizem) menos
a terá eom visco.» Lucena, Vida de S.
Francisco Xavier, liv. 6, cap. 11.
TMsercta. c de boa catrcia,
E alóui do tudo hc alheia ;
Que isto a faz sor mais formosa :
Entre outras partos que tem.
Deste queixume ejítá rica :
Ah <(ue noiva, que lá fica !
E (pu^ inveja, que cá vem!
r. R. LOBO, o DFJ9KN0.15AIIO.
Tu guardarás no seio os meus qiieixHmet,
Tu eontnrás ás porvindouras eras
Os segredos d"amor que nu^ esc«tasto,
E tu dirás a ingratos IVrtugiioxes
Se ix)rtugncz cu fui, so amei a (Utria,
Se, além d"olla e d'amor. jwr outro objecto
Meu coração bateu, luctou meu bnif,-o.
Ou modulou meu verso eternos cArmca.
C.AHHETT, CAMÕES, CJUlt. 2, OAp. li.
— Fazer queixume a ahjuein ; queixar-
(le. — í iSomente lhe f-z queixume delles
da pouca lealdade que lhe mantinl ai"» dan-
do auiso de .«eus segredos a seu imigo,
pedindollie que prouesse nisso mandando
QUEM
QUEM
QUEM
41
dar tal castigo a hum par delles que te-
messem os outros encorrer ua sua culpa.»
Barros, Década 1, liv. 7, cap. 6. — «Pas-
sando o triste padecente por esta rua do
Sabambainhâ, chegou a hum cerco passo
'aonde estava o nosso Capitão Gonçalo
Pacheco com mais de cem Portuguezes
em sua companhia, entre os quaes estava
hum que era homem de bavxo sangue, e
de entendimento mnyto mais bayxo, o
qual parece, segundo elle dizia, que fora
roubado havia dous annos no tempo que
este padecente reynava, e fazendolhe elle
que3rxume dos culpados ao furto, naõ fo-
ra ouvido como elle quisera.» Fernào
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 198.
— Querela judicial, quando o queixu-
me é dado por voz, ou querela formal;
pleito ventilado em consequência de uma
injuria, offensa, ou iusulto.
— Moléstia, mal que obriga a quei-
xar-se.
QDEJADILHO, *. »i. A primavera das
boticas, planta medicinal.
QUEJADO. Vid. Quejando.
QUEJANDO, ('.'íj. yual. que tal, de que
qualidade.
— Quejandas são; que taes, em que
estado estào.
QUELHA, s. f. Calha, peca de madei-
ra que tem uma taboa por baixo, e duas
pelas iliiargas, por onde corre a agua
para a roda do moinho.
— Nos moinhos, uma armação de ta-
boas muitas largas em cima, e em baixo
muito estreitas quasi a modo de funil ;
está no ar sobre a mó, que chamam cor-
redora, e fica atada a umas vigas em ci-
ma nos quatro cantos, n'ella se deita o
grão para con-er para a mó.
— ■ Na província do Minho, beco, ou
rua estreita.
QUELIDONIA. Vid. Celidonia.
QUEM, pron. rei. Que pessoa, ou pes-
soas. — Não me perguntes quem é. — Não
posso dizer quem sào. — «A qual seita,
o alcaide se recolheo a fortaleza, sem sa-
ber quem era dom Lourenço, mandando
logo hum presente a dom Francisco de
refresco, da terra, e dalli a nove dias
mandou hum embaixador, pêra confirmar
esta paz, com dous zambuquos carrega-
dos darroz, e trigo, e outros mantimen-
tos, a qual lhe dom Francisco confirmou,
e deu seguro para poder tratar, e nave-
gar pêra onde quisesse.» Damião de Coes,
Chronica de D. Manoel, part. 2, cap. 4.
- — «Atfonso dAlboquerque sabendo quem
elle era, o tratou honradamente, e man-
doulhe pagar os cauallos por o estado da
terra, que foi a razão de duzentos cruza-
dos cada hum : com o qual embaixador
quando se partio, elle mandou Rui Go-
mez de Carualhosa e hum Frei loào fra-
de da ordem de Saò Domingos cõ buma
carta a elEey de Ormuz, e outra a Coge
Atar seu gouemador: pedindolhe que a
estas duas pessoas que elle mandava ao
VOL. V. — 6.
Xeque Ismael, dessem cauallos, e todo
bom atilamento pêra irem em companhia
daquelle embaixador.» Barros, Década 6,
cap. 2, liv. 6. — a E para que de todo
fiqueis contente vos afSrmo, que é mais
fermosa que Targlana: de tamanho me-
recimento como ella e nào muito desigual
em estado. Nào me pergunteis quem é,
que este segredo guardo pêra mim só.
Já agoi'a, disse Albayzar, não quero mais
detença, que não me soffre o animo lou-
vores alheios em quem não pode ter ne-
nhum despreso.» Francisco de Moraes,
Palmeirim dlnglaterra, cap. 124.
Comendo alogremcute pergimtavào,
Pela Arábica língua, donde viiibào ;
Qtiein erào ; de que terra •, que buscavào ;
Ou que partes do mar conido tinhào.
Os fortes Lusitanos lhe tornavào
As discretas respostas que conrinhào :
Os Portuguezes somos do Occidente ;
Imos buscando as terras do Oriente.
CAM., LIS., ciint. 1, est. 50.
— « Pede o pobre Christam a Deus
justiça pelas praças, que nam ha quem
lha faça na terra : arde em zelo o bom
padre Cypriano, assi o sente como o pas-
tor quando lhe o lobo leua arrastando da
boca huma oueliiinha, e deixa no curral
outras degoladas, e todas assombradas.»
Lucena, Vida de S. Francisco Xavier,
liv. 6, cap. 10. — « Vossês estão mor-
tos por saberem quem eu sou. Aqui em
segredo ao ouvido... Sou eu. Achava-
me em vinte e quatro de eJade, quando
juntei a maior parte das espécies, tào dis-
paratadas como as cinco do Universal.»
Bispo do Grão Pará, Memorias, publi-
cadas por Camilio Branco, pag. 51 . —
« Sim, diz Frei Lourenço, e você me ha
de dizer quem é João Satur. — Mudou
de cores e conversação. Retirou-se, e frei
Lourenço o seguiu, e com amisade o aper-
tava, mas o Magalhães lhe pediu que nào
instasse, porque nào podia fallar, e n'a-
quella matéria lhe pedia inviolável segre-
do. » Ibidem, pag, 113.
— í Podcram
Chegar ao throno as vozes da verdade,
Sabe quem sois cbei ; louvou com emphase
O amor da pátria glória que a alta imprèsa
De perpetuar seu nome ha commettido,
Dando aos heroes de Lvsia et«ma fama.
Vinde, que á hora nona vos aguarda
Impaciente. »
GAKBEfT, CAMÕES, cant. 5, cap. 14.
— <) que, a que, aquelle que, aquella
que.
— Quem diz o que quer ouve o que
nào quer. — «Dos quaes lugares recita-
dos te ve na verdade ter Fernam lopez
scriptas, e acabadas todalas chronicas do
regno, começando do Conde dom Henri-
que ate a dei Rei dom Duarte, que fa-
zem em numero doze, mas como se lhe
roubou o loutior de tamanho trabalho jul-
gue quem o bem entender.» Damião de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 4,
cap. 38. — «Quem leva por guia a afei-
ção, não pode acertar bom caminho,
ha o de levar errado, ha de yr dar em
barrancos ; se forem pecos ahi ficarão ato-
lados. Quem dá entrada á afeição, está
deliberada no consentimento delia ; apo-
dera-se-lhe do juyzo, e priva da razão,
que nenhum bom conselho lhe pode en-
trar na vontade.» D. .Joanna da Gama,
Ditos da freira, pag. 4 (ult. ediç.)
Eis ca vem sempre Amador,
E veremos o que diz.
Quem enfermo for d'amor.
Como cu contino sara.
Faça autos de christào.
Confesse-se, tome o Senhor,
Pois tem a morte na mão.
GIL VICF.STE, F.VBÇ.IS.
E quem verdadeiramente
estas todas bem sentir,
verá que em muytos tempos
nunca taes aconteceram.
GAECIA DE BEZZXDE. MISCELLAXEA.
— (cE porque quem dá costas, dá ani-
mo a seu amigo, foi tanto alvoroço em os
nossos, que juntamente assi na fortaleza,
como na Ai-mada, começaram bradar :
Vitoria, vitoria, fogem ; e desferindo Fer-
não Peres a sua véla, dizendo : Sant -la-
go, a elles, foi cousa maravilhosa o que
nisso cada hum fez ; e seria a nós mui
difficultosa escrever a ousadia, animo, di-
ligencia, e astúcia, que cada hum teve
naquelle feito.» Barros, Década 2. liv. 9,
cap. õ. — «E saltando do batel em um
porto, que antre dous outeiros estava, co-
meçou a subir por um pequeno e estreito
caminho, que na aspereza da rocha se fa-
zia, tão Íngreme pêra cada parte, que
quem pêra alguma delias escorregasse,
além de ser muito perigo, não podia pa-
rar senão d'alli mui longe.» Francisco de
Moraes. Palmeirim d'Inglaterra, cap. Õ6.
— «E porque quem naquelle valle entra-
va não podia passar sem prometter uma
de três cousas, escolhi defender que era
a mais fermosa e dina de ser servida de
todalas nascidas, que era uma das condi-
ções.» Idem, Ibidem, cap. 103. — «Cui-
dei, disse Arjentao, que ficava inda al-
guma raiz de Bravorante : mas pois as-
sim é, quem desejar servir a vós, tam-
bém haverá por bem servir a vosso ir-
mão : a mercê que me fazeis, acceito, e
que eu não seja pêra tamanha cousa, nem
vós sois pêra as pequenas.» Idem, Ibi-
dem, cap. 119. — «Deixemos os affeiçoa-
dos ; que estes cada um dará/ o louvor a
quem estiver entregue; que esta cegui-
dade tem o amor, e daqui veio pintarem-
no assim;- mas quem tivesse desoccupado
o espirito, mal poderia negar esta verda-
de.» Idem, Ibidem, cap. 120.
42
QUEM
QUE3I
qi:km
f>li i|iii". iiào i(iii (Iij iKijíi ('(imo o iioiiti! !
Qmi criiiiilo tiir iio.i l)rii(;o.( iiuKin iiiiiavii,
Al)r;ii;iuli) im'. ucJiiii c/lmiii iliiro inoiítn
Dl! iH|ii)ri( mato, (i dis cHiinHiiirii l)ravii :
Kitando f.'liuin piíiiivlii frontii a froiiti?,
QiK! i!il pulo f,'c\4ti) aii^íc.licci apurtava,
Nài) li'|iiri lioiiii;:ii ii:i<), ina.s iimilii r i|ii<'
V, Jiuitci irmii pniimlti, nutro pnund".
1,'Ajt., i.f.s., c.tiit. r>, nst. .')!!,
--«H (li/. ((Ill- quem .so dc^ll.-i hho con-
tontíir, quorondo ontroa novos jicoutcci-
lucnto-i, (|uo HO Vil iuw soalhoivo.í il<w Ivs-
i'iiiloiro.4 (l;i ( 'astiinhcivii, ou do Alliot \'i'-
tlro3 o Biirroiro, ou converso na Rua No-
va oui ca.ia (lo Boticário ; o nài) lliu fal-
tará quo couto.» Lloui, El-rci Seleuco,
Prol. — ((E ncsto damos tini ao.-i Jlaui-
fostos de liuma, o outra parte; em (jue
Hcail avcrií^uadas, e bem inanifosta^ as
unhas do Portugal, c Castella ; o bom
curto de vista sci-á, c bem cego do pai-
xão, quem com n luz destas verdades
naõ vir, que l'ortui:^al na(~ tem unhas, c
quo Oastoíla sempre as tevo, e para e<te
Iveyno muito «rrandes.» Arte de furtar,
cap. K).
Km mi'io dixta (Ivaia 90 cstl vendo
llua larga bahia, ao modo feita
Da Ijiia, t\w de novo appareeendo
De travcz o fraterno raio acceita.
D'hua n outra parte ao Ceo se vai erguendo
Hua intratável roelia, tão direita,
(iu'om vão subir acima tenta c estuda
Senão 9i5 quem das azas tem a ajuda.
FKAscisiM ni; .VNmiini;, riiiMEiito cerco de nic,
cant. 1, est. o'.).
— «A obra é um xadrez do coros, mas
sem murtas quo aí ordenem cm um pla-
no ; c um macarrom italiano. Leia quem
gostar por sua ordem as desordens do
autlior, quo me parece lia do ser enfer-
mo porque vac gastando o bom humor.»
líispo do (h-iio rar;i. Memorias, publica-
das por Camillo Oast 'lio Br.iuco, p. 45.
— «A hom-a da mulher comparo eu á
conta do algarismo ; tanto erra quem er-
rou cm um, como quom errou em mil.
Fa(,'ain as honrailas boas contas, acharão
esta conta certa.» Francisco J[auoel de
ilello, Carta de guia de casados.
— .1 quem; ao (|ii:il, ;í pessoa (pie. —
Á quem vutnujuci tudo quanUt ixissuia.
; — «Do ((ue (íeorge da cunha anisou Afou-
so Dalbn([Uorquc, que poi'a disto ter mais
corta informa(,'am mandou Diogo Fernan-
.dez de faria, a quem por ser muito es-
forçado caualleiro dera o ofticio de .Vdail
do (ioa, que fosse com dozo de cauallo,
e mil pioons Cauarins a terra firme, pa-
ra tomar lingoa, no <|ue corroo grande
risco, porque fui dar de noite com gente
do (,'abaim daleão, do que escapou com
n\ulto trabalho, atte se acolher a ilha.»
Damião de (ioos, Chronica de D. Manoel,
part. 3, cap. 4. — «Seguindo .Vfonso dal-
buquerque sua viajen\ pêra (\uianor, foi
ter u Onor, onde o Tlnioja vco ver com
muito rofresco da teiTa, a quem Diogo
memloz deu huma curta dei Uei dom
Kiuanuel, (|ue Timoja estimou em muito,
e fez Hobelo (|ue lli<! cl Itei uclia screuia
grandes (.ifiertart, jiura todalas uou!<aH que
(•um]irissrni a «eu Herui<;o.B Idion, Ibi-
dem, part. 1$, (íap. 10. — «F,.ites a pri-
meiía cousa <pi3 lho.) dixeram fi>i, (|ue
el Ivei, .-i quem a meno.'i parto d;i culpa
do qiU! era feito cabia por 8u;i pouca
idade, lho mandaua pedir (jiio desse se-
guro aos da cidade pêra Fiiirom ao vara-
douro apagar o fogo que andaiui nas
nãos, e (jue elle se sobnuitia a obcflien-
eia dei Uei dci Tortugal, com to lalas cou-
ili(;oens que lhe a elle jiarecessem hones-
tas, no contratar das (piaos vsaria do seu
conselho como do pai, em cujo lugar o
queria ter dalli por diante.» Ibidem, jiar-
te 2, cap. ;3I). — ((Nào fallo do grande
amor, e amizade quo ol Uei de Congo
tem a vossa Alteza, porque lho ouui d\-
zor que rogaua a no.sso .Senhor que o
nam matasse ato primeiro sena(T ver com
vossa Alteza, isso mesmo lhe ouvi dizer
que vossa Alteza era Uei de (!ongo, c
elle de Portugal, c estas cousas diz mui-
tas vezes a quem ai quer ouuir.» Ibi-
dem, part. 4, cap. 3. — nO qual saben-
do o trabalho em que eu andaua me cs-
creueu huma carta da cidade do Porto
onde reside, em Nouembro de mil qui-
nhentos eincoenta, e oito, de quo porei
s(,>mente o (pie toca a este negocio, a
quem se pode dar inteira fe pola muita,
e varia li(;am, e doctrina quo nelle e nas
artes liberaes, e Philosophia. e experiên-
cia das cousas que de seu tempo aconte-
ceram nestes regnos, e outros.» Ibidem,
part. 4, cap. 3. — «Ao tempo da morte
do Duque de Viseu a senhora Infanta
dona Beatriz sua mãy estaua em Palmela,
a quem d Uey pelo Doctor Nuno (ion-
(^alues do desembargo, pessoa de nnivtas
letras, e autoridade, c per Gil Fornandez
seu escriuão da camará, pessoas de que
eontiaua, lhe mandou logo notificar a
morte do tilho, e mostrar as causas, c cul-
pas do caso, pêra ver as razões que te-
ucra de o matar, e assi lhe mandou Ic-
uar, e mostrar a grande, e liberal doa(;."io
(|ue a seu tilho o senhor dom Manoel ti-
nha feita.» (iarcia de Rezende, Chroni-
ca de D. João II, cap. Tm.
Peva vor me fostes dados,
vos soo a chorar vos destes,
e se cu toiíbo cuidados
meus cibos vos mos fizestes:
l^esnue n'elles me puzestes
do descan(;o me fugis
iilbos a ijucm eu tanto quiz.
cmsTov.vo F.M.c.vo, oius.vs, nas.
de ISTli. ' ■"
,ediv.
— oE o que mais animava a esta nos-
sa gente desesperada, além de saberem o
uso dos .Mouros ]).Ta os fazer fugir pêra
(•lies, era habereni qu<- andava lá, Imvia
muito teui|Mi, hum Portuguez |H;r noiíie
.loãi) .Machado, ([ue l^lztomucan trouxo
coinsigo por Mít iioiiiem e>tiiiiKdo cntru
elles, e a quem o llidaleào |;elort fcitus
de Hiiu posiioa dera a capitania de certa
gente, e ciirgo di- to<!oIiH ianeailoH noé-
so.f.» I>arr«>s, Década 2, liv. tJ, cap. íl. —
Com tudo uaõ me iian-coo conveniente
fazello a.''sim : ]»>r (pi;iiit<> o inteuUi <Ikí-
te Tratado naò he per^uadi^, ou conven-
cer, a quem otivi-r op|><>st<>, ecnaS ensi-
nar, a quem está persuadido : c c.«tc tal
dezcja adiar doutrina breve, c lhana, que
o uào cance, e confunda.* Padre MaiuM-l
Bernardo.'', Exercicios espirítuaes, //«/n»-
ilnrjião. — «Alguns ■•innos depr/m íc de-<-
cidirio huma co:ijiira«,aõ cruel contra a
pessoa, e vida dei Uei,' <Ie que era cabe-
(;a D. Diogo Duque d<! Vizeu, cunhado
do Duque morto, c innaõ da Unynlia. a
quem el Uei ulepois de justificar «iiflR-
cieutissimamente a verd.vio) matou jx.r
sua ]inq)ria uiai"» ás punhalada.s na Villa
de Setuval, com mais razaõ, o mai« no-
tória causa do que houve na morte do
Dufpie de Bragan<;a.'. Frei líernardo de
Brito, Elogios dos reis de Portugal, con-
tinuados por D. .lo-é Barbosa. — «Intro-
duzio-se em Portugal em fcu tempo o (.>f-
tício da Santíi In([uisi^-aõ, a qoem dei
grande favor, e augmentou por to^las as
vias possíveis. Trouxe a Portugal os Pa-
dres da Companhia, quo entaò couic\;rt-
vaõ cm Uonia debaixo da instituirão do
Padre Ignacio de Loiída, movido da fa-
ma, que corria de sua doutrina, e bom
exemplo de vida. e desprezo do mundo,
6 cousas delle.» Ibidem. — «.-V quem olla
em reconheeimento deste beneficio con-
sentia tyrannizareni o Povo em publico,
e secreto, sendo taes os excessos, que al-
guns Senhores compadecidos da opprcs-
saõ dos pobres se vierai"! queix.ar a ol Rei,
represent-indo-lhe a perdi«;aõ de seus vas-
sallos, e os gritos com que os jiobres \<c-
diaõ a Deos vingança de taes tyraunia.s.»
Ibidem. — « Mas bem cbiro fica do que
temos discursado, a quem pertencem es-
tas nome^idas, que mais se contínnari con\
as ameaças da.-* novas violências, quo nos
promette : e entre tinto nos coíisolemos
com o que lá dizem oin Castclla.» Arte
de Furtar, cap. 1(>. — «Ahi naõ jx^hIc ha-
ver mavor confiança, que a do hum Ca-
bo, a quem daõ cem mil reis para hum
pagamento de seus soldadivs: e eui ve» de
o fazer logo, para lhes matar a fome, que
os traz m/irtos, vai-se á casa da tafularía,
põem o dinheiro na taboa do jogo. com» se
fora seu. ou lho viera da ca«a de seu avô
torto.» Ibidem, cap. ti2.
I»go o Roi inferunl. » quem isto cru
Hem conforme ao seu gtjsto o naturcx*,
GaI>ando-lbe a temcào damnad» e feni.
Im-itando-o a mór ódio. a m.'ir cmcza.
Faz vir alli a p<?stifor8 MepTU
K Ibe manda que vá com griU prt>ste£a
QUEM
QUEM
QUEM
43
Oiid! a sua niorada tom a Inveja
E mando quo o Sultão nirfto proveja.
r. DE ANDRADE, PBIMEIBO CERCO DE MU,CaUt. O,
C3t. 98.
— (( (j objecto desta famosa Sciencla,
Le o Corpo Humano, cm quanto medica-
vel; porque por elle se especitíca, e se
fàs distincta dos outros habitas scientifi-
C05 diversos. A.ssi o tem, com os seos Ex-
pcsitore?, Avicena ; 2. a quem segue Car-
reiro, 3. Mercado, 4. Yarandeo, 5. Ap-
pouense, 6. Sancto Thoma.s, 7. Aristóteles,
8. e Mereurial. 9.» Braz Luiz de Abreu,
Portugal medico, pag. 242, § 55. — « Sc
o pregador é excellente em dizer, pare-
ce breve a quem e.scuta. Os sermões de
missão, se o missionário é douto, e tem
sal junto com grande conceito, não são
grandes ainda occupando duas horas. Taes
eram os de frei Paulo do Yaratojo, os de
frei Manuel de Deus e os de frei Affonso
doi Prazeres.» Bispo do Grào Pará, Me-
morias, publicadas por Camillo Castello
Branco, j;ag. 135.
— De quem ; do qual, dos que, daquel-
le que, daquellas que. — «Tendo as por
trio acima das de os outros homens, que
as passadas estimadas dantes em muito,
agora pareciam de menos valor, que pêra
Floramão era assas contentamento vêr
tanto em extremo louvar a pessoa de que
fora vencido, c de quem o eram tantos,
eouio atraz se disse, antes que o comer se
acabasse, entrou pola porta um cavallei-
ro mancebo armado de todas as- armas,
somente o rosto.» Francisco de Moraes,
Palmeirim d'Inglaterra, cap. 30. — «Ves-
tidas de cores c roupas tão novas, como
se foram daquelle dia; e cada uma do
trajo, que em seu tempo se costumava;
tão vivas no parecer, que enganavam a
vista a não saber determinar outra cou-
sa, nem se podia acabar com o juizo de
quem as via crer, que fossem corpos mor-
tos; que em nada o pareciam senão no
esquecimento dos mcoibros pêra os biilir,
e da lingua pêra soltar paIa-\Tas, que em
tudo o aí não havfa que duvidar.» Ibi-
dem, cap. 120.
Aqucllo do quem já no tempo antigo
Prophctizou Daniel, quo nacoria
Do huma fora espantosa hum corno eseuro ;
Que com força trc.-? cornos lho quebrasse.
CORTE BEAL, NAUFRÁGIO DE SEPÚLVEDA, Caut. 2.
Cum delgado cendal as partes cobre
De quem vcrgonlia é natural reparo ;
Porém nem tudo esconde, nem descobre,
(fxéo, dos roxos lírios pouco avaro :
Mas para que o desejo acconda e dobre.
Lho põe diante aquolle objecto raro,
Já se sentem no céo, por toda a parte,.
Ciúmes em Vulcano, amor em Marto.
CAM., i.us., eant. 2, est. 37.
• — «Soubc-se que estava em Bavon;- de
França Pedro José Suppico e alguém lhe
armou o la<;o pelo modo seguinte : Che-
garam de Moçambique o padre António
Serra, religioso dominico, sujeito de quem
a sua illustre ordem não fará menção nos
seus Agiologios nem metterá entre os va-
rões illustres.» Bispo do Grão Pará, Me-
morias, publicadas por Camillo Castello
Branco, pag. 110. — «Dormimos uma
noite em casa de José Alvares Roxo de
Potfliz honrado homem do Pará, filho de
um francez, e irmão do erudito chantre,
de quem faz honrosa memoria mr. de
Condamine.» Ibidem, pag. 203. — «Pas-
ma a Natureza, extremece a mão, e naõ
atina a correr pello papel a peuna à vis-
ta dos bárbaros costumes, que entramos
a ponderar em muvtos homens a respeito
dos mesmos homens ; de quem naò será
violento o verificar-se à vista de tantas
crueldades inhumanas o antigo Provér-
bio: Homo homini lupus est.» Braz Luiz
d'Abreu, Portugal medico, pag. 25, § 91.
E' tarde-, e se outro hospicip á mào não tendes,
Sereis bem vindo a um gasalhado humilde
De quem melhor, a tê-lo offerecêra.
Má noute passareis ; mas um soldado
Xào teme estrados maus nem leitos diu-os.
GARRETT, CAMÕES, CaUt. 1, Cap. 21.
Das leis univorsacs diverge, e aberra,
Que a Xatiireza invariável dieta
A's espceies sem número dos brutos.
S<) modelo encontrou entre os humanos,
Mais cruéis entre si que as feras todas.
De quem o Tigre é monstro , e opprobio os homens.
J. A. DE M.ICEDO, o ORIENTE, Caut. 3.
— Per quem, ou j^or quem; pelo qual,
pelos quaes. — «Dada, etc. O treslado
desta notificação mandou el Rei dom Afon-
so de Manicougo aos principaes Senhores
de seus regnos e senhorios, e alguns seus
vizinhos, e logo no mesmo anno de M. D.
xii, mandou dom Pedro seu primo com a
obediência pêra o Papa, e com elle doze
pessoas principaes de sua corte per quem
mandou a el Rei dom Emanuel hum pre-
sente de cousas que se em seus regnos
criam.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 3, cap. 38. — « Em Cana-
nor veo ter com Afonso dalbuquerque
hum embaixador dei Rei de Cambaia,
per quem lhe mandaua dizer que tinha
entendido que se fazia prestes pêra ir ao
mar de Arábia, que lhe pedia que de ca-
minho quisesse entrar em hum dos dous
seus portos pêra lhe vir fallar, e com elle
assentar pazes, e amizade, que era a cou-
sa do inundo que por entani mais deseja-
ua.» Ibidem, cap. 10.
Tanta força lho dá esta esperança
Que novamente cm si tem concebida,
Quo o forçou a deixar sem mais tardança
A vista por q}iem morre, c lhe dá a vida.
Daqui com grande pressa faz mudança
Lá OEContra Strongile, Ilha conhecida
Entro as Vulcanias sete, e celebrada.
Porque Eo!o alli faz sua morada.
F. d'andrade, primeiro cerco de DIU, cant. 4.
eat. y.
— Covi quem ; com o qual, com os
quaes. — Com quem repartia txido que,
tinha — «A terceira armada era de três
nãos, capitão loam serram, com quem
hião por capitaens Paio de sousa, e ou-
tro de que não pude saber o nome, os
quaes el Rei mandaua a ilha de Sam Lou-
renço, pêra assentarem pazes, e amisade
com os Reis de Matatana, e Turubaia,
pêra por esta via auer gingiure, e quaes-
quer outras speciarias que ouue.sse pa
ilha, as quaes partirão aos oito dias do
mes Dagosto.» Damião de Góes, Chro-
nica de D. Manoel, part. 3, cap. 10. —
«Pois acompanhando ao bispo, de- cuja
familia era, e ajoelhando a fazer oração
em terça-feira maior, ajiTStou-se com uma
dama, com quem depois casou.» Bispo
do Grão Pará. Memorias, publicadas por
Camillo Castello Branco, pag. 03.
■ — Quem? servindo para interrogar. —
Quem falia f — Quem és tu ?
Mora. Não vedes que sois ja morto,
E andais contra natura '?
Velho. O flor da mor formosura,
Quem vos trouxe a este meu horto V
Ai de mi !
GIL vicexte, FABÇAS.
Quem averá quo orca taes estremos
D 'amor, de formosura, c crueldade?
ANTÓNIO FERREIRA, SONETOS, U.» 10.
— « Como templará el destemplado ?
Quem poderá dar o que não tem, Senhor
Duriano? Eu quero-vos deixar comer tu-
do : não pôde ser que a natureza não fa-
ça em vós o que a razão não pôde : o ca-
so he este ; dir-vo-lo-hei ; porém é neces-
sário que primeire vos alimpeis como mar-
melo, e que ajunteis para hum canto da
casa todos esses máos pensamentos ; por-
que segundo andais mal avinhado dam-
nareis tudo aquillo que agora lançarem
em vós.» Camões, Filodemo, act. 2, se.
2. — « Pois quem vos parece que sayeys
a ver: homem vestido de olanda, e se-
da? taes nam se acha no ermo, senam
nos paços dos Reis. Pois quem saleys a
ver, Propheta? affirmouos que mais he
que Propheta. Este he aquelle Anjo do
qual está escrito, Ex aqui cu enuio a uicu
Anjo diante de ti, pêra que te aparelhe
o caminho. Deste Euãgelho irmãos meus
somente duas doutrinas vos quero enco-
mendar. » Frei Bartholomeu dos Martyres,
Catecismo da doutrina christã, liv. 2.- —
o Quem fallara da geraçam eterna? quem
poderá declarar como o Padre eterno eter-
nalmente produzio huma imagem viva de
sua substancia, de sua natureza, igual a
elle em Magestade, bondade, poderio, c
■sabeduria?» Ibidem. ■ — « Quem ha de cul-
tivar os campos? Quem ha de guardar
os gados? Quem ha de trabalhar nas ofli-
cinas de toda a Republica? E faltan-
do isto, que has de comer, que baa de
vestir, e calçar? Que IvaçHò viste nunca j
44
ííUKM
QIJKN
QUKK
í|iio tizomii miorra hii cdiii <m h(!Uj< luitii-
riuwV « Arte de furtar, c.iit. '2'.K
(lufni tiio-i iiill:i(;rin iriicroiíímo n iriioiirii,
Qnoiíi tiiutii k''''1'''i " tiliii pnijiicMio li(!r(;<»
J''i>i tam loií^i! K'">l»^>' f QiK'1» <t >>>■> pinilinili)
l>'lii>iii<Mi.'4, á iiiiiiri |ii!i[iii'ii.'i ii!t(;ilo (li) orbii
I)(!U iiiiinM n tiiiiH|)i)r, vm-odii!) iiovhh
A tlnrtciibnr mi fiico do iiniviTrtO.
OAHiiKTr, i:amui;h, ciuit. 3, cap. 17.
Do Nyrtii o vciiciidoí- cio*) iiiipiii;iiii
A BiMitcm;ii do imiiKiii. (1'tcin AtinU:\\bi
A lioroica LyHia? K' Viíiuih, Vcmiti hclla,
A(F(!Í(;oiidii a iini povo, diH roíiianu!»
Qualidades honltúro, o cuja linpiia
Com pouca c.orrupi;ào ci-c'' ipin ('• latiua.
iiiiDi.M, caiit. 7, cap. lá.
— Quem tal dii-ia? o parvo do inancoho
Itnbado a olhar |)ara oUa uma liora intoira.
K porliui... (1 porliui — ^ toina-a nos bra<,'0S,
K dosanda a cornM' eoino uui <lauiuad().
Para a levar a terra de baptismo,
K fugir — dizia ollo lá comsigo —
Da t«utai;ão.
IDKM, D. IIIUNCA, Cap. 20.
— « Com um movimento convulso Fr.
Vasco aportou a mào do abbado, e com
voz rouca e lenta respondeu : « Alma o
corpo, padre abbado, dou-vos tudo nesta
vida: que na outra... a minha alma per-
tence ao.s demónios!» « (Jutra vida! ou-
tra vida! — respondeu o monge alcaido-
mór com um sorriso. — Quem sabe lá na-
da da outra vida y Viste jil tu o deiiionioy
Nào. Nom cu.» Alexandre Herculano,
Monge de Cister, cap. 9.
— Quem repetido duas vezes, n'uraa ou
mais plirases, quer dizer: lun, outro. —
Quem roi)q)e a cabeça, quem o braço. —
Quem rii-e de um mudo, quem de outro.
— ■ Quem quer que ; qualquer que. —
Quem quer que fòr. — « Ajuntando-se com
elles,,se assentou sobre oste meu castello,
com voto do se nito levantar dalli té lha
dar por niulhor, oix a tomar a quem quer
quo a levar quizessc.» Francisco de Aío-
raes, Palmeirim dlnglaterra, cap. 37. —
«Menina! pohresinha! Aqui está o bom
padre do teu Jesus.» Isto dizia o mouro
cm voz baixa, curvando-sc e estendendo o
pescoço, como reccioso do despertar quem
quer ([ue era. » Alexandre Herculano,
Monge de Cister, cap. ò.
— Phtr. Quem. — « E mandar chamar
03 Fidali,^os, e (.\ipitaen3 do conselho a
queu deu conta do que passava, e lhes
declarou que sua tenção era cmbarcarse
logo, pedindollies que se fizessem prestes
pêra o acompanharem. Todos lho louv;Y-
raõ muito, o se lhes oftereceraõ com mui-
to gosto.» Rarro.M, Década (1, liv. 10,
cap. f). — « Já naõ ha uma vara, que ron-
de de noito, nom queu» casse hum milha-
tre; o por isso as unhas andaõ taõ soltas.
E porque os Reys saõ, os a quem mais
nesto uíuudo se furta, porque ten» mais
do seu ; ou porque naõ se resguardaõ por-
isso tanto como os quo tom menos; seja-
tiie liciti) liar aqui hunia |>alavi'a a Ki-Hey
lumin) Senhor.» Arte de furtar, eap. til.
— A'l.r. \'\<l. Áquem.
QUEMBRA. Vi.l. Cãibra.
QUEMQUER. Vi.j. Quem.
■j- QUENA, .■*. /. Iv^pi-cie de flauta que
tiir.uii 11 í ijidios do l'i:rú <; Bolívia.
QUENGA, í. f. Vasillia fuita da ineta-
do da casca de um coco, limpa do miolo,
na qual comem os crioulinlios do ISrazil
nas fazendas e jjlantaeòcs o serve de me-
dir a tamiiia de cada comida, ou diária.
— /'//('( quenga d,- fcijàn.
QUENTAR. Viil. Aquentar.
QUENTE, adj. J ,j,„. Que tem ciilor
em si, cálido, caloroso.
I.ouomento llio passa o forte ppjto,
I'as.salhe o coraçfto rohuftto, c duro
Huma parte alli mostra as penas: c outra
Nas costas mostra o forro em saiiguo tinto.
Cac o forte varilo regando a terra
Com escunioso, ruiuo, e quente sangue
Do.somparados ja da luz radio.sa,
Os frios oliios cerra em noite escura.
COUTK HKAI,, NAlKnAOIO DK SKITLVKnA, caiit. 9.
— (I E tomando os corpos das mulheres,
filhos, e mais familia, que estavam ain-
da palpitando, o revolvendo-so no quen-
te sangue, os foram lançar no meio da-
quellas ardentes eiiannnas, consunnudo-
sc tudo em cinza cm luun nuiito breve
espaço, imitando nesta brutal façanha os
antigos Numantlnos.» Diogo do Couto,
Década 4, liv. 7, cap. 'iS. — «ilas vindo
ho mes do mayo do mesmo anuo cliovco
muita chuva muy quente, com ha qual
parecia que ardia ha terra, o com gran-
de calor pcrecco muita gente : mas nào
pereceo de todo ha província : pollo que
fov ha molher levada a cl Uey, ha qual
esteve pres.a no tronco onde estavam pre-
sos os portuguezes que isto coutaram.»
Tenreiro, Itinerário, cap. 2'.t. — -«No mes-
mo tempo se lho applicou íi cabeça o ro-
denho, c bofes de «irneiro com o calor
ainda do animal ; e se lhe repetirão três
vezes, sendo quentes em cozimento de
coentros verdes, e cabeças de dornddei-
ras ; c com cffeito da applicaçaõ destes
dous remédios começou sensivelmente a
restituir-se em forma ipie convalesceo per-
feitamente.» Braz Luiz d' Abreu, Portu-
gal medico, pag. 397, § 1G4.
Muda-sc O vento : vemos pelas torres.
Que naõ tem perziatencia as suas grimpas :
l'or lu\ma parte o Norte frio bufa ;
I'or outra o quente Sul nos as.sobia.
ABIIADE DK JAZENTE, POESIAS, tOUl . 2, pag. 19
lediç. do 1787).
«Uma lagryma
Delira o mais das letras ; — quente ainda
A senti no papel...- >fudo e sem vida
Horas longas fiquei parado, extatiw),
No coração a earfc», os olhos fitos
Na avara gelosia. Alta ia a uoute.
OABBETT, CAMÕES, cant. 4, cap. 4.
Va\ vejo. ujkím hum Ciccro, d« Nero
(» gfuiTóso MiMtre, u 8abiu, o fort« :
De Zi-uo, do Xiuii'crut<'s austírro
Aluiiino, e vencedor no engr-nho, o vid»
Mais sublime ipic SocratJM na iiiiirtc- :
Ur<M-be o vaso da Cicuta, c cal»
1'rofiindo Kw-iíio ; SíMieca entorna
O qiiriile Kangiie das rusgadas Vi'as ;
Tem já nu nisU) a n)orti-, iiida dis|>utn,
K, nutrundo nos umbruvs da Kttrnidadc,
Demoiuttra i|ui) hu veutura o gol|H! (-xtretoo.
J. A. DK HAi.KUO, MKDITAVÂO, C«nt. 1.
Content»; observa os p<)li)es, e os despojo*
Dos dessanf^rados animaiM ; paxMeia
Sí)bre inda qneitlf n>iMiibri).| palpitantiM
Com fria crueldade, e s.'i lhe pe/ji
De que tão cedo se lhe acabo a fome :
T{- contra a própria c»i)ocic itc enibnívpoc.
iniDKU.
— (^uc cansa, ou produz calor. — O
sol eutá quente.
— Figuradamente : Activo, vivo, for-
te, portioso.
— lerrtts quentes ; em quo o sol ttsm
muita força.
— Cotnidag quentes ; espirituosas.
— Aiidar o tieijncio quente ; traballiar-
se com fervor no negocio. — «Este nego-
cio andava tSo quente, que... etc.» Chro-
nica de el-rei D. Affonso V, foi. 70, em
lilutoau.
— AtuJUim quentes asanna»; poleja-»e
com vigor, com ardor. — -«Nrio andavào
menos quentes as armas no Baluarte Sjin-
tiago.» Jacinthi) Freire d'Andr.ade, Vida
de D. João de Castro, liv. 2, n.° 148.
— Ter «.s coítiis quentes ; diz-sc do
que pratica quabjuer acçito arrojada, on
atrevida, fiado na protecção de alguém.
— II E destes ha alguns taõ destros, que
provém todos os officios em seus criados,
para lhes pagarem serviços próprios com
salários alheyos : e saõ os peores ; porque
com as costas quentes em seus amos,
procedem affoutos nas rapiuad. * Arte de
furtar, cap. 31).
— Ferro quente ; cm braza.
— Miil/iar )io ferro, em quatUo está
quente ; valer-se da occasiào que se ofVe-
reco da boa disjwsiçiio em que est.lu as
cousas, e proseguir com fervor o que se
tem começado.
— liaiz quente (to tjosfo ; que queima
quando a mastigam.
— Quente ilo miolo ; colérico, bilioso,
assomado, fogoso.
— Homem, mulher quente ; para anuv
res, o prazeres venéreos, por opposição
a frio.
— Cnvallo quente ; fogoso, ardente, ar-
dego. .
— Diz-se do negocio ou feito darma^.
de grande trabalho, on perigo.
— AnAOiO.<! :
— ('orne caldo, vive em alto, anda
qntate, viverás largamente.
— O caldo em quente, a injuria em
frio.
QUER
QUER
QUER
45
— Malhar no forro, em quanto está
quente.
— Nào se fará, se não se malliar no
ferro, quaado está quente.
— Dia de S. Vicente, toJa a agua é
quente.
— Ande eu quente, ria-se a frente.
— Pào quente, muito na mão, pouco
no ventre.
— Pão quente fome mete.
— Perdiz é perdida, se quente não é
comida.
— Um dia frio, e outro quente, logo o
homem é doente.
QUENTURA, s. /. Calor, calma.
Com um redondo ainpai-o alto de. seda,
N'uma alta o dourada hástca en.xcrido,
Um ministro a solar quentura veda,
Que não oftcnda e queime o Rei subido.
Musica traz na proa, estranha c leda,
De asporo som, horrisono ao ourado,
De trombetas arcadas cm redondo,
Que som concerto fazem rudo estrondo.
cAM., Lus., cant. 2, est. 96.
QUEQUER, adj. ant. Tudo o que,
QUER, conj. — Ou. — Quer venha, quer
não. — Quer chegue, quer Jique. «Quer
chores, quer te ria.s.» Barreto, Pratica
entre Heraclito e Demócrito, pag. o8, em
Uluteau.
— ■ tíe quer; ao menos. — «Tomemos se
quer um breve espaço, era que a nossa
alma se recolha com Deos.» Amieira, Ser-
mões, tom. 1, pag. 837.
— Como quer <ffe; de qualquer modo
que. — «Como quer que naquelle caso o
cavalieiro do Tigre estivesse tão novo
como seus companheiros, suspeitaudo que
poderiam ser obras de Daliarte, lhe pe-
diu que o tirasse daquella duvida. Se-
nhor, respondeu- Daliarte, quem a aven-
tura desta fonte ordenou ; assim como
quiz que os que n'ella acabassem ficas-
sem em esquecimento; quiz, que quem a
seu salvo a acabasse, deixasse memoria
perpetua de tamanho caso.» Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 119.
— «E eu toruanilolhe a falar outras ve-
zes, que assi ho queria como quer que
fosse. E passados quinze dias, me tornou
a mandar chamar : e me disse, que ja ti-
nha buscado hum mouro, que dizia que
hiria comigo.» Tenreiro, Itinerário, ca-
pitulo 61. — «Porque estes remédios co-
mo querque evacuem, e respeitem parti-
cularmente o cérebro, tem mayor uso,
propriedade, e commodo na Vertigem es-
sencial, que nas outras espécies ; como ja
nottamos na dor do Cabeça por essência. »
Braz Luiz de Abreu, Portugal medico,
pag. 293, § 46. — «Pella maior parte fe-
rem 03 mais altos cabeços dos montes, ou
cahem nas eminências das torres mais al-
tas ; porque como querque desçaõ com
obliquo movimento, e torcida carreira, sò
naa torres, e outeiros frequentemente to-
paõ ; pois como estas alturas saõ as pri-
meiras, que lhe sahem ao encontro, para
a hi eacaminhaõ o impulso que vibraõ, e
o fogo que exhalaõ.» Ibidem, pag. 427,
§ 86.
— Por onde quer (/we ; por qualquer
lado, ou lugar que.
Além de llic tirar o regimento
Da Cidade, c que nella não mandassem,
Quiz dos nossos também consentimento
Que as suas nãos os mares navegassem
Hem na viagem ter impedimento.
Nem nas mercadorias que levassem,
E que estas náos por onde cpier que irião
Seguro» SC os quizesscm, levariSo.
FR.^NCISCO d'aNDU.VDE, rBTMEIIlO CERCO DE DIU,
cant. 5, est. 39.
Por onde quer que volvo absorto os olhos
Vejo presente hum Deos, sua luz fulgura,
E meu spirito attónito o descobre.
Dentro cm si mesmo abrange, enche, e penetra
A immensa Crcação, no alto Empyreo
Envolto em luz se assenta em Throuo Eterno,
E sua gloria, e magestadc ostenta.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Caut. 4.
— Qual quer; vid. Qualquer. — ^«Cá
pois por as ocupaçoens de seus Officios
lhes he outorguado, que possam trazer
seus contendores á Corte de qual quer
parte do Regno, muito com maior rezaõ
lhes deve ser outorguado, que nana pos-
sam em outra parte ser demandados, se
naõ em ella.» Ord. Affons., liv. 3, tit. 5.
— «Que lhe mandaua Pcro Capeia com
seu conselho o o de Pêro Barreto, Duar-
te de ilello, e Diogo Pirez seu ayo se
determinar em qual quer cousa que ou-
uesse de fazer, por serem de mães ma-
dura idade pêra poder aconselhar, que os
outros capitães : posto que todos fossem
mui caualleiros pêra cometer hum hõra-
do feito.» Barros, Década 2, liv. 2, ca-
pitulo 7. — «O que não só descompassa
as náos, mas basta qual quer occasião pa-
ra abrirem, e se perderem tantos como
temos visto, abertos iudo-se todos ao fun-
do.» Historia tragico-maritima, tom. 2,
pag. 034.
QUERAIBA, s. /. E.specie do cipií, plan-
ta ramosa do Brazil.
QUERCULA, s. /. Planta de que ha
duas espécies. — Quercula maior, e me-
nor.
QUERELA, ou QUERELLA, s. /. Dispu-
ta, controvérsia, altercação, contenda.
Também vimos em Castella
guerras das comunidades,
e murtas batalhas nella,
em villas, e cm cidades,
muytos mortos na querella.
GABCIA DE REZENDE, lUSCELLANEA.
— Ant. Queixa.
Aquellas mãos que o mundo edificarão,
AqucUos pés que pízão as cstrcllas,
Com duríssimos pregos so encravarão.
Mas qual será o humano qu'as quereUas
Da angustiada Virgem contemplasse.
Sem se mover a dôr e mágoa delias?
E que dos olhos seus não destillasse
Tanta cópia de lagrimas ardentes,
Que carreiras no rosto sinalasse ?
CAMÕES, ELEGIA 11.
— Accusação ou queixa apresentada
cm juizo contra alguém que se faz réo
de algum delicto que o aggravado pede
SC castigue.
— Siinjdes querela ; queixa sem ser
affirmada com juramento, nem com as
testemunhas que a lei exige, nem pres-
tar fiança pelas perdas e damnos equiva-
lentes á denuncia.
— Causa, demanda.
— Querela de testamento inofficioso ; a
que os herdeiros forçados, injustamente
desherdados "ou omittidos, apresentam ao
juiz, pedindo a invalidade ou rescisão do
testamento como inofficioso, isto é, como
feito contra os deveres de piedade que
os pães e os filhos se devem mutua-
mente.
QUERELADO, ou QUERELLADO, í^arí.
imss. de Querelar. — «E porém alguuns,
por esto nom saberem, som emburilhados
dos Corregedores ; e se appellam, os Jui-
zes d'Appellaçom os condampnam nas cus-
tas, e corregimento nas partes ; e em ou-
tros feitos, posto que sejam em reixa no-
va, e a parto nom acusa, ou perdoa, se
nom apellam polia justiça, condampnam
aquelle, de que é querellado, ou lhe dam
pena corporal.» Ord. Aííons., liv. 5, tit.
õ8, § 9.
QUERELADOR, ou QTJERELLADOR, s. m.
(De querela, com o suffixo «dor»). O que
querela.
QUERELANTE, ou QUERELLANTE, adj.
2 (je-ã. ( Part. act. de Querelar). Que que-
rela.
— *S'. m. — O querelante.
QUERELAR, ou QUERELLAR, v. n. Ter-
mo forense. Fazer uma accusação peran-
te o juiz, queixando-se de alguém por
delicto, injuria, ou aggravo que tenha
commettido.
— Querelar-se, ou Querellar-se, v, ref.
Queixar-se, lamentar-sc, chorar-se, mani-
festar o sentimento próprio, ou o que se
nutre a respeito de alguma pessoa.
QUERELOSO, ou QUERELLOSO, adj. (De
querela, com o suffixo «oso»). Que dá a
querela.
— Que se queixa.
— Som quereloso ; de quem se quei-
xa, lamentoso, queixoso, maguado.
— Substantivamente : O quereloso.
QUERENA, s. f. Termo de náutica.
Concerto ou calafetação que se faz ás em-
barcações para que^ possam tornar a ser-
vir.
QUERENADO, 2^^^'^- F*''*»- ^^^ Quere-
nar.
QUERÈNAR, v. a. Termo de náutica.
41)
(iii:i;
(!()ico.rtiir oti ciilufV.Ur iiniíi (iiiliurciírão,
jioM-lo-ii i-.iii cUíido <li! |ii» l"r M-i-vir.
QUERENÇA, «. /. VoiiU Id boii «m má,
qiio rtd t.-.iii ;i !ilj,'iiiMii. — - Jiein querença.
— M<il querença. — '«E acliunao KllU-y,
qun diM^ii iiial «li^lli'- por f,'riini!o iiiiiMikIo
Buii, o iii.il querença (jiid tivo.isu iirroifiuila
no coraiMnu i^ontra i'llo, v.íu tal ca -to o de-
vo Ellliiv crucliiicnU! atornioiitur um tal
guisa, quti n furando ])Oiia, (juc llic dc.vsc,
fViMo oixomplo a()4 outro», qnc ouvorcm
dollo coulicfimciito, jioviíuc nom sejam
OUíadot Mi\ al.^uiM temi»! diz(!r mal de.
seu Sunlior.» Ord. Affons., liv. f), tit. il.
— «Avia aiitre (U IVirtu-ueiCi, que an-
dau^io enearui(,'adot notto tào feo, e inhu-
mano trato taot, quo por se vingarem do
ódio e mal querença que tlnliam eom al-
guns Christàoí liu loi, dauam a entender
aoi citrangcirot que eri\o chri^.^oi nouiM,
e na? ruas, ou cm siun casas ondl'. os
hlito saltear os matuião, sem cm tama-
nha de «aventura se ju) ler [loer orlem. »
Damiilo de(ioei, Chronica de D. Manoel,
part. 1, cap. 102.
— Termo do volateria. O logar onde
os falcõoi o outras ave.i de rapina cotu-
mam croar scu! filhos, quer sejam bos-
ques de arvort^ loi, quer sejam enormes
roelias.
QUERENÇOSO, wlj. iDe querença, com
o suITíkii ■'0S0"|. Benévolo; amoro;o, de-
sejoso (lo qm- excita appetite.
' — . DoiejoH), ou que (juer.
QUERENTE, alj. 2 (/<;/». (Part. act. de
Querer). Que quer, tem vontaile e dese-
jo, que faz diligencia para conseguir o
que d(>!eja.
QUERER, f. ('. (l'i> latim tjiKrrerei. Ter
vontade de al^íuma eou^a, desejar, appe-
tecer. — Quero como-.
l'ur(iui' vi muitos piístoros
iiuiliir jíii:irilauil() áoiis fjados
vcatidos d'alegroâ coroa
bo!ii fiíra do moiw ciiidiidos,
ma» nam dos At' sons amores :
Nam (lurremln mais liavoros,
nom niioromli) mais ricuioza,
por([uo amor tudo Jos,)roza,
mas todos os sons pra/.oro.s
foram pêra mim tvistoza.
ciiiiisTOvÀo KAi.iÃo, oiiius, pag.
edil".).
(ult.
— «Antes do so fazereuí estas niena-
jens, el llev com o Dmiue de Braganya,
e outros senhores, e pessoas do conselho,
praticou nas palauras, que nas nienajens
aui.ào de dizer nuiytas vezes, em que ou-
ue mnytas pertias. de^íosto^, desconten-
tamentos, por llic parecer áspera forma
ha em que cl Key queria que eo tizes-
sem, sendo aquella própria em que ora
BO fazem, porque até entào nào achauào
regimento algum por onde se tizessom
(cousa de muyto grande descuido dos
Revs passados^» (4arcia de Rezende,
Chronica de D. João II, cap. 27.
A Ilidiu ii&o (Mtú lii V
t^uo i/'ifru cu di: mi ai)ui V
Mellio.- Hr-ra i|uc! iiio va.
K u Jiii (|iie HO Min dií V
Kis Frniiuido \ ulli.
(III. Vl( E.NIK, Alio rjkllrOUlL IMjBrCOLKi!.
— «A esposa vendo que por causa sua
HO hia oHereeer á morte, tornou com el-
le : mostrando ondo cllc por ella morres-
.se, alii queria sua morte.» IJarnM, Dé-
cada 'J, liv. 1, caj!. 2. -— «Tantas eou~as
Targiaiia llie disse, tílobem lho soube pe-
dir o que queria, <pie, soltando a.s espa-
das, se deram a pris."io, c foram metidos
cm uma torre escura debaixo do chào,
tJ\o carregados do ferro, que quasi so ni\o
jiodiaiii bollir.i. Francisco de iloraes, Pal-
meirim dlnglaterra, cap. DO. — «Com-
tudo, queria que os povoadores desta ter-
ra fossem d^i-iso contentes, que cm quan-
to assim nào fôr, u.^o quererei governar
quem de minha goveruan^a se despreze.
Como este Arjentao fosse cavallelro de
nobre goraçào, homem christianissimo,
de bons coitunies, e a quem o gigante
muito tempo teve desamor, nilo por mais
senão poripie sempre os bons aos máos
sào odiosos, tolo o povo o acceitou, c
folgai-am lie lhe dar a obediência, tendo
por cousa ju>ta sei-eiu governados por
elle.i) Ibidem, cap. llS». — «Peço- vos que
esta desculpa hajais por verdadeira; e se
quereis que vos fallo mais claro, digo-
vos, que minha vontade foi, em quanto
vos não devi muito, fazer o que vos pe-
de agora a vós a vossa ; mas depois que
vos tive outra obrigayào, n.HO sou de tào
máo conhecimento, que vol-o queira pa-
gar em cousa, que tem o contentamento
lireve e o arrependimento pêra sempre.»
Ibidem, cap. 124.
Qual om cabcUo : —Oh doce c amado esposo,
Sem quem nào quiz amor que viver possa,
Porque ir a aventurar ao mar iroso
Essa vida, que é minha c nào (!■ vossa?
Como por um caminlio duvido,-<o
Vos esquece a att"ei(;ào tào doce uo.ssa ?
Nosso amor, nosso vão conteutaiiieiito
Quereis que com as velas leve o vento ?
cAM., i.rs., cant. 4, est. 91.
— «I\dlo que chegando no que alli se
pode agasalliar, ho oflícial da ca-^a chega
a elle e lhe pergunta se quer ho seu or-
denado que tem pêra comer em dinhei-
ro, ou em cousas necessárias pêra manti-
mento, e ho que lhe pedir a que abran-
ger ho dinheiro lho ha do dar, nmito
bem e muito limpanuíute concernido, ou
carne, ou pexe, ou patos, ou galinhas,
ou ho que cUe quiser.» António Tenrei-
ro, Itinerário, cap. 18.
Mas porque cm tal negocio nSo queria
C'o'o sou coiisellio si» detorininar-so.
Faz ajuntar a nobre companhia
Com quem era costume »con*olhar-iso ;
l'(Tguutu-lhu f|uc modo *<; tirria
l'uru (|Ui.- s<! e)tcixiHí*M'iii aviriiturar-w
(lu a (fiMite, ou o Souita a til |KTÍfio.
K pura iiAo |H!rder KlUci d'anii|:;u.
r. iiK A!íi>HAbi!, raiMEiao crBcu nK i<ii , cant
El, CHt. 7U.
— ■ «Sua mile pa*.sou a w-gundaí nú-
pcias com o inaÍH miserável homem que
se conhece. Tratava cl lo de'icari<loMimea-
te as duas (nitcndas ; rle sorte que mor-
rendo elle de pura mingua por iiSo gas-
tar, parecia querer que a fumilia expi-
ra^^se nu observância de tSo impractica-
vel dietamç.» líisjm do íirào l'ará, Me-
morias, ])ublicadaH por (..'amillo ('axtello
Hranco, jiag. 170. — «Tudo quer de es-
mola esta gente. Ilontem devi a estes
ilheos fazerem conloio, que, como vinha
o bispo, píxleriam vender melhor as nuas
ííallinllas.^ Ibidem, pag. 191. — «f>u i><>-
de também dizcrs»^ que (ialeno picava
logo no jirincipio a vea Cephalica; jxirque
o enchimento seria sí) particular da Ca-
beça, e nào de todo o corpo ; e quereria
o Mestre occorrer antes ao morbo com
pre8.=a, que com segurança. • I$raz Luiz
d'Abreu, Portugal medico, pag. 176. —
«()8 réis fjH' so tractam de fazer-.^^e temi-
dos, e de ojtpriínir os vassallos. para.mais
os subníettcrem, sào riagellos da humani-
dade. Sim sào temidos, como querem ;
mas também sào aborrecidos, e abomina-
dos : e com mais razào se devem temer
de seus vassallos, do que estes d'elle«.»
Telemaco, traducçào de Manoel de Sou-
.'ia, e Francisco Manoel do Nascimento,
liv. 2.
Ver-mc-lias ainda ; um anjo hontom m"o dine
X'um sonho tani feliz ! — Era eu vestida
De riquíssimas gallas... e alva c'roa
De ro.sas me toucava... tu a nin lado,
Triste — nilo S('i porqut', outros de lutto :
Não me admirou, que nosso amor não qiirrem.
GARRF.TT, cAuÒKs, cant. 4, cap. 4.
— ■ Seguido immediatamente de outro
verbo, com a mesma significaçào. — Que-
ria vêr a cíil'vh . — Querem oitfessar fu-
do. — «O primeiro que deu mo8tra.s em
publico de animo desleal, foy o Conde
Ciildo Governador de Africa, que ou com
pretexto de querer unir aquella Provín-
cia ao Império de Oriente (como alguns
diziaò) ou pela tirar a ambos os irmàos,
e se fazer senhor delia, quo era o mais
certo, negou abertamente a obeJiencia e
vassalagem a Honório, em cuja reparti-
ção cabia.» Honarchia Lusitana, liv. õ,
cap. 30. — «Andando dom l'asqun da
Ciama occupado nas cousas que compriani
a sua torna viagem, mandou el Rei do
Calecut dissimuladamente hum Bramana,
sob specia de dizer que queria ir a Por-
tugal, com hum seu tilho, e hum seu so-
brinho que trazia consigo, pêra apren-
derem letras, c verem o modo que os
Christàos tinham de vluer na Europa. •
Damiilo de Ooe«, Cbronica de D. Ma-
QUER
QUER
QUER
47
noel, part. 1, cap. (j'J. — «Poli^ (jiic niau-
(li)ii loj^ii dizer ao yabaiin dalcao que se
queria ^0l■ senhor de Goa, llic mandasse
mais ;^'ontc, ou viesse em pessoa, poi-quo
do tudo aula necessidade, mas nem por
isso dcixauH com a gente que tinha, e
outra que se cada dia ajuntava com ello,
do cometer a cidade, desejoso de a to-
mar, antes que o cabaim viesse pêra po-
der ganhar uma tamanha honrra.» Ibi-
dem, pai-t. o, cap. õ. — «Eu tegora esti-
uu neste erro esperando que a Igreja se
acabasse, e pois so pode fazer antes dis-
so, cu não quero estar mais nelle, e de
manhria em toda a maneira eu quero ser
(Jhristão, porque assi mo diz meu cora-
ção, o minha molher, o tilhos, e os de
meu Royno depois se taram. E os Fra-
des muy contendes, e alegres de sua ten-
ção, de que não duuidauão, lhe disse-
ram : .Senhor, isso ho ja graça de Deos,
c por tal lhe day mujtas graças e louuo-
res.» (tareia de Rezende, Chronica de
D. João II, cap. 159.
Não na foste tu spcvav,
Pêra a damnaros, villào,
E começou de bradar
Que a qnerias forçar ?
Gir, VICENTE, AUrO D\ BARCA DO PURGA-
TÓRIO.
— «E assi ordenada a outra gente que
fiizião huma comprida, e largaua, pêra
que quando Caramança como também
ora homem, que queria mostrar seu es-
tado, veo com muita gente posta em or-
denança de guerra.» Barros, Década 1,
liv. 3, cap. 1. — «Porém como isto era
ante manhã, e a luz d'Alva mostrou a
sna Armada que ainda hia á vista dos
nossos, enteudeo Fernão Peres que os
tangeres de toda a noite, e grita d'ante
manhã fora artificio, por não serem sen-
tidos que se queriam partir; e por sinal
que levavam temor, vio muitas ancoras
ficar no pouso, que não puderam levar.»
Idem, Década 2, liv. 9, cap. 5. — «O
qual era vindo ao Cairo ao chamado do
Soldão pêra lhe fazer saber outro tal as-
sombramento que queria destruir aquel-
la casa, como fez ao Padre Fr. Mauros,
que veio a Roma, como escrevemos.»
Idem, Ibidem, liv. 8, cap. 6. — «Queren-
do tornar a cavalgar, não achou em que,
que o seu cavallo estava dahi mui longe,
mas antes apoz elle lhe tornaram a to-
mar a espada e armas, ficando desacom-
panhado delias, de que começou cobrar
algum receio, lembrando-lhe que o esfor-
ço tem necessidade d 'armas pêra execu-
ção de seu offeito.» Francisco de Mo-
raes, Palmeirim d'Inglaterra, cfip. 98. —
n Por certo a alta bondade de Albayzar
ninguém a poderá negar, mas o outro
não me parece, que lhe quer ficar de-
vendo nada.» Idem, Ibidem, cap. 89. —
«Tu me pediste viuendo no mundo, que
no perdão das culpas que fazias contra
mi me ouuesse como tu te auins com
aqucUes cpie te oftendião, e injuriauam,
e que te perdoasse ^ eu como tu perioa-
uas. Digo que seja assi, (jue por essa
medida te quero medir, perdoandote se
perdoaste de coração.» Fr. Bartholomeu
dos Martyres, Catecismo da doutrina
christã. — «Ho modo dos correos hc co-
mo antro nos, levam corneta que tocam
quando querem chegar a algum lugar,
pêra que lhe tenham cavallo prestos em
cada lugar de certa em certa distancia,
sam obrigados ouvindo ha corneta a lhe
ter cavallo prestes, ho que se faz com
tanta diligencia como os demais serviços
dos oíRciaes.» António Tenreiro, Itinerá-
rio, cap. 22. — «E desejando saber que
gente era, e donde vinhào, mandou me-
ter huns quatxo delles a tormento, dos
quais 03 dous se deixarão morrer emper-
radamento, sem quererem confessar ne-
nhuma cousa.» Fernão Jlendes Pinto,
Peregrinações, cap. 42. — «E quando
saem fora nam sam vistas porque vão
nas cadeiras fechadas de que temos dito
acima quando talamos dos officiaes, nem
quando entra alguém nas casas nam as
ve, senam se acertam por curiosidade
por baixo do pano da porta, querer ver
os que entram quando he gente estran-
geira.» Fr. <!aspar da Cruz, Tratado das
cousas da China, cap. 15. — «E quando
se trata do que a elles lhe cumpre, e do
suas obrigações, se persuadem elles que
queremos comprazer ao povo, e assy des-
armado em vão não fica a terra saldada,
mas corruta, o mundo com luz, mas ás
escuras.» Diogo de Paiva Andrade, Ser-
mões, part. 1, pag. 71.
E porque tu não cuides que a mostrar-te
Mc moveo iutercssc esto perigo,
Nem o meu uome quero dcclarar-to
Nem dizcr-tc aqui mais que o te digo :
Fica-tc embora, e cumpre-tc guardar-te
Porque to mostra amor o mir imigo.
E cora isto de fallar o Mouro cessa,
Volta aa costas, o vai-se com gràa pressa.
F. ri'ANDRADE, PRIMEIRO CUBCO DE DIU, Caut. 2,
est. 52.
— B Declaro isto aos leigos ; não por
que elles não tenham heróicas e fortissi-
mas eutrapellias ; mas para não traduzi-
rem a palavra em outra pdle, como fez
um irmão que se queria ordenar, e no
exame traduzio aquillo.» Bispo do Cirão
Pará, Memorias, publicadas por Camillo
CastoUo Branco, pag. 51. — «Outro mau
costume dos Índios era não quererem
comprar a bulia, em cuja venda muito
se empenhava Paulo de Carvalho, irmão
do conde de Oeiras.» Idem, Ibidem,
pag. 23.
Aoude estão as scttas, lhe dizia,
Aoude o arco, a aljava?
Queria rcspondor-me, o não podia,
De novo soluçava.
.1. ,\. DE MATTOS, RIMAS.
— Tentar, procurar; dosojar. — «O
primeiro porto a (|ue chegou foi o do Pe-
dir, que lie na mesma Ilha, onde lhe el
Rei mandou noue Portugueses, dos que
ficaram em Malaca, que alli vieram ter
fogidos, dos quaes hum era loam viogas,
que lhe contou como alguns dias depois
da partida de Diogo lopez de sequeira,
el Rei do Malaca mandara fazer justiça
do Bendara, polo querer matar a elle, e
so lhe querer aleuantar com o regno.»
Damião de (íoes, Chronica de D. Manoel,
part. 4, cap. 47. — • «E querendo entrar
per cima do muro novo, quo Aflbnso
d'Alboquerque fizera, tomaram algumas
lanças, que os nossos tinham postas ao
longo delle, e começaram commetter a
porta da entrada com vai, e vem.» Bar-
ros, Década 2, liv. G, cap. 9. — «Albay-
zar, quando o viu, disse: Por ceito ao
pé de a(|uolle casteilo passei a maior
afronta em que nunca me vi, que por
soccorrer a uma donzella quo dous ca-
valleiros por força queriam deslionrar,
os matei ambos; e depois sahiram a mim
dez, a que também venci e desbaratei
com morte de muitos delles.» Francisco
de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap.
9G. — «Todavia, disse Albayzar, vos pe-
ço, que polo que cumpre ao preço e au-
thoridade de quem me isto faz pedir,
queirais uuxdar a tenção. Far-me-heis
fazer, disse o das Donzellas, o que não
cuiilei.»- Idem, Ibidem, cap. 124.
Querendo escrever hum dia
O mal, que tauto estimei;
Cuidando no quo poria,
Vi Amor qno me dizia :
Escreve, qu'eu notarei.
CAM., REDONDII.IIAS.
— «EstaA'am a este tempo os batéis
em terra fazendo aguada, e querendo
acudir à náo, não puderam sahir pêra
f(')ra, porque o vento fazia na boca do
rio mui grandes escarceos.» Diogo de
Couto, Década 4, liv. 5, cap. 2. — «Ma-
noel Machado chegando a terra viu huma
povoação ao longo da agua, e querendo
desembarcar, acudiram os negros com
frechas, e páos tostados, e carregando nos
nossos, os fizeram embarcar com morte
de hum grumete, e dous feridos.» Idem,
Ibidem, liv. 6, cap. 1. — «Com tanto que
V. M. as não exceda, disse eu, seguro-
Ihe que nenhuma so off"enderá de que as
imite. V. M. me quer tirar do bico huma
confissão que lhe não posso fazer. » Caval-
leiro de Oliveira, Cartas, liv, 1, n." 10.
(Meu padre san'Beruardo me perdoo!)
Mas para tam fidalga companhia,
Para vós, real senhora, sobretudo,
Dos monges brancos honra, flor e nata,
Tal poisada buscar ! . . . De nossa regra
t> mais sancto preceito venerável,
<liierereis infringi-lo ? Antes mil vozes
Os votos todos três.
(iARRETT, D. BRANCA, Caut. 1, Cap. 7.
48
QUKli
QUEK
QUER
— iViitiJiidor, r(if|ii(írer, iiitoiíbir. —
Que queres lii d'a(jaií — «O ukju uoim;
ho ArKiim ilulu ProMa: as vozopi mo elui-
niílo Caviílloiro da Mortii, o vkla, pola
qui) trafío ])iiitaila no oscudo ; aíiuolloii-
tro (Juv;dliíir<) lia nomo (Jrlaiidor de l'an-
nL4a, iiiidios rtoriio.s primos, o da ca.sa do
JOiii])(!r;ulor J'oliiiario, vedo o (|U(! mais
quereis do nós, imis toudo-i salfiilo o (iiii;
))c<lÍHtcs.» ISaiTos, Clarimundo, liv. :i,
cap. 20. — liCdvnl. Hdijo as uiàns a v. iii.
— Dout. As suas: quo niaiuUi acnliorV
— Cavai. Soiito-Hc v. m., (pio ou voiiUo
mais do vaj^ar. — Dout. \\í'y,\ o (pio quer,
soalior, (pio ou ostou um pouco ocoupa-
do. — Cavai. Ora souhor, soiito-so por ma
fazor, o ou(;a-nio, (\\u; na < quero mais
do duas ]ialavras.u Francisco do Moraos,
Dialogo '2. — «(^Mic quereis quo fM(,-a, so-
nhor J)aliartc, (piom vir as inaravillias
desta casa, souão occupar o juizo noUas
o perder o scutidoijera não saber cuidar
cm ai? Do mim vos digo, que, maravi-
lhado do qiio vojo, não sei onde estou,»
Idom, Ibidem, ea)i. 120. — «E tocada de
ciumos la/.ia dift'eren(;as no rosto, (juo lho
eilo mui hí-m sentiu, (pio neste caso ue-
idiunia dissinuila(;ào, moderai;ão nem sof-
friínento sabem mostrar; mas como o ca-
valleiro do que ella queria ter posse, fos-
se costumado a não lha dar do si a nin-
guém, ainda que a entendeu, dissimula-
va, o ({ijanto mais sentia nella aquelles
agastamoutos, tanto com maior despojo
usava do sua condição.» Idem, Ibidem,
cap. 12.'). — «E continuando nesta con-
fusão obra de hunia hora enxergámos ao
longe hiima cousa preta, e rasa, sem vul-
to nenhum, e nat") sabendo determinar o
que seria, tornámos ue novo a ter con-
selho sobre o que nisto fariamos, e por
quanto na lanchara na») ei'amos mais que
quatro Portuguezes, os pareceres foraõ
rauytos differcntes huus dos outros, em
que houve requorcremmo que nau qui-
zesse saber o que me naõ relevava, e me
fosse para onde me mandava Poro de Fa-
ria, porque })erder huma sò hora daipicl-
lo tempo era pôr a viagem na ventura, e
a fasenda em risco, o eu ficar dando mà
conta do mini, se me acontecesse algum
desastre.» Fernão Mendes Pinto, Pere-
grinações, cap. 33. — «Os Medieos Bra-
nunios o conhecem })or LaA'anga, posto
que ta\nbem o nomeam pelo nome dos
]\Iouros : mas cada hum lhe quer dar o
seu, como n('is também o fazemos.» Dio-
go de Couto, Década 4, liv. 7, cap. S).
Pouco ao caivuita a. finin, iiiic esto o autiiro
ITso lio, do quo n!iii\K'llo assouto moiM,
Insta 0111 bator do novo onde atraz digo
Aeosa ja do si pola doinoia ;
liO^o na porta abrir stMito hum postigo
E vio hum quo a cabota lain;a fiíra,
E porguuta do hí quo ii<n'r, quom ora,
Irada lho respondo assi Aíegora.
F. DK ANDKADK, TRIMKlRO CF.BCO DE DU', Cailt. 1"2,
est. 95.
— "E não querendo conservar-so com
as mesmas arte<, com que havia medra-
do, veio u descobrir a ambição, c sober-
ba; foz-wc Biiuhor dos lugares, buscando
com maior atten(;ão «w postos ((ue os auji-
gos; os quaes já não queria para arrimo,
uem para companliia; só do Soltão (jue-
ria parecer e-icravo, e d(W outros senhor.»
.laeinthe Freire (PAudraile, Vida de D.
João de Castro, liv. 2. — aTambem .Mi-
gutd de (Jervautes descreve a D. C^nixo-
te encontrando no campo do Montiel du»
òenitvs con sus anteojtia ds camião. Que-
rer jiarecor douto com óculos c nccedade
que se vê atravez dos vidros.» Bispo do
(irão Pai"ii, Memorias, publicadas p(n'
(.'aniillo Cast(dli) Branco, ])ag. 137. —
«(> Livreyro (pie a soeeorria com Livros
não querendo offende-la, fez pouco e<-
erupulo de lhe tíar os Tratados de Õhi-
romaueia. » Cavalleiro d'Olivcira, Cartas,
liv. 1, n." 40. — «O certo he que os Au-
tores em semelhantes matérias, fazem
muitas vezes com]iaraçoens tão indignas,
(pie toda a devo(;ào que querem mostrar,
não p<')de encobrir a ignorância cimi que
escrev(írão.» Idem, Ibidem, n," 24.
Infjratos, copos, inseiisiveis, (/iirrem
Trivar d'huni bem tamanho a humanidade,
Que huma vida lho dá percnne, eterna,
Que a hum Deos ah'm do támiilo me h^va,
Que huma ploria sem fim prometto ao Justo !
j. A. Dv; MAOKno, MKiiirArÃo, caut. 4.
— Querer fazer ; tencionar, resolver,
decidir, assentar. — «Trazido este alma-
zein Duarte pacheco comeyou do fingir
que queria fazer hum grande edificio, e
por os da terra, que natiii-almcnte sam
palrreiros, nam verem o que era, defen-
deo que nenhum chegasse ao passo do
vao, no qual mandou logo abrir grandes
couas, e fazer fossados, que de baixa mar
ficauam eheos dagoa em altura que se
nam podiam passar se num a nado.» Da-
mião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 1, cap. 00. — «E pois tenho feito
duas vezes mení^iaõ desta illia de Saõ Lou-
reníjjo, a primeira quando Fernaõ .Soarez
a de.scobrio pela banda de fora, e e-sta
em que Tristam da Cunha o fez jiela de
dentro, direi breueinente o que delia pu-
de alcançar, porque querendoo fazer per
extenso, scgunilo sua grandeza e vários
costumes de gente que nella ha, seria ne-
cessário fazer hum grande volume, o que
cumpre mais aos Scriptores, que separa-
damente serenem as cousas dest;is naue-
gaçoens que a mi.» Idem, Ibidem, part.
2, cap. 21. — «Mandou sobreisso luina
apontamentos a el Rei de Nai*siuga, per
frei Luís da Ordem de Saõ Francisco, o
qual despoli lo determinou de ir outra
vez sobro Ormuz, dando cor que queria
fazer huma fortaleza na boca do mar de
Arábia, e de caminho deixjir algumas
nãos a Duarte de Lemos, que era capi-
tão daquella costa, • Idem, Ibidem, part.
3, cap, 3, — «Pois, Senhora, conf<isso
minha vontade, naò me pagueis a vúsi-u;
porque acabe de ser de to'lo contente
eouí essa nierei'; (pii; me quereis fazer,»
Barros, Clarimundo, liv. 2, cap. O, —
«Ainda, senhor, que té hoje não recebi
de ninguém outro encontro como o vcd»-
so, quero-vos fazer este sendço, porque
liipieis |)iTa em algum teuiJKi os poderdes
d;»r a outrem. Por certo, disse 1). Duar-
dos, eu não sei como meu cncontru vos
pareceu grande, poríira sei que o vos«o d
o maior (pie nunca rceclji.» Francisco de
Moraes, Palmeirim d'lnglaterra, cap. 3ít.
— « E ainda que já não preste pêra mo
tornar á viua, jirestará pêra sentir me-
nos a morte : e porque meu cora(;ào nesta
jornada me annnncia mai(jres meios do
(pie nunca passei, e não sei o que a ven-
tura quererá fazer de mim, rogf>-tc que
se aqui está certa minha fim, que com
aquella f(i e amor que me sempre servi»-
tc, sirvas minha senhora, e delia esperes
o galardão, (pie te eu nâ"j posso dar, de
(pie levo mais pena.» Idem. Ibidem, cap.
11.Õ. — «Senhores, segundo vou vendo,
80 vos não forem á mão, aqui quereis fa-
zer assento perpetuo, e umas imagens
mortas serão verdadeiro esquecimento do
que vos deve lembrar.» Idem, Ibidem,
cap. 120, — íNem nisso vos quero fazer
a vontade, disse o outro: uma s<) cousa
vos descubro, e e^ta tomai por derradei-
ra reposta, que sou o maior imigo, que
nesta vida tendeis, e que de cl-rei não nos
deixar fazer batalha, fico bem aggrava-
do, que ha muito teinjjo que o desejo, e
agora cuidei de cumprir minha vontade ;
mas pois el-rei m'o c~storva,» Idem, Ibi-
dem, cap. 124. — «Entaò hunm fiUia del-
Rey moça ja de quatorze até \h. annos,
e miiyto formosa, pedio licença a sua
mãe para huma certa farsa, que aeis, ou
sette queriaõ fazer sobre a matéria, de
que se tratava, e a Rainha cõ consenti-
mento deiRcy lha concedeu. » Fernão
Mende-s Pinto, Peregrinações, cap. 223.
— «E que não comprasse nenhum cravo,
nem danassem o preço que nellc estav.i
posto pelos oflficiaes d'ElRev de Portu-
gal; e que não o querendo fazer, protes-
tava por todas as perlas, e damn «s quo
di>so resultassem.» Diogo de Couto, Dé-
cada 4, liv. 1), (jap, 3. — «Seja assim:
mas apurae vos lá a eomputiçào nos con-
tos com o thesoiirriro-iniir. que para isso
não tenho tempo. Quereis fazer a mercr-,
senhor escrivão da camará, <Ie encom-
mendar a liouronço ilartins que apure
osísa emontji com micer Percival e de
advertir-lhe que t-Jics negócios devem che-
gar averiguados À ])resença de meu se-
nhor elrei?» A, Heroulauo, Monge de
Cister, e.ap, 1.^.
— Tentar, provar, ou que ae lhe acei-
te por certo, — «Mas em algumas torres
que ainda estão em pê, e nas ruinaí», que
QUER
apparecem, se mostra que foi jà grande
cousa. Outros querem que Luziua, que
lie mui perto destíi, foi a senhora de to-
das, e que Paremunda, Lamo, lâca, Oja,
e outras cidades que estào nesta comar-
ca, todas lhe obedecerão.» João de Bar-
ros, Década 2, liv. 1, cap. 2. — «Xa for-
mação de hum mosquito mostra Deos mais
seu grande entendimento, que na fabrica
do Universo. Quero dizer, que naõ en-
grandece tanto as sciencias a matéria,
em que se exercitaõ, como o engenho da
arte, com que obraõ.» Arte de furtar,
cap. 2.
— ■ ^fandar, resolver, determinar, or-
denar. — Quero que se faça isto. — «Po-
rem querendo nós a esto poer remédio, e
tirar os aazos em tal guiza, que se nom
façam tantos males, mandamos-vos, que
vista esta Carta, façaes logo apregoar to-
dalas Villas, e Lugares desses estremos,
«jue nenhum nom seja tam ousado.» Ord.
Áffons., liv. õ, tit. 116.
Manda o Sousa pedir com brando rogo
Ao generoso pay da bella dama
Que queira consentir, o que não pode
Atalhar com rigor, e peito irado.
CORTE REAL, NAnFBAGIO DE SEPLL\'EDA, Caut. 3.
— «Eu d'esse bordo estou, disse Be-
roldo, pois assim quereis, disse Daliarte,
torne-se o messageiro do gigante, e diga-
Ihe esta determinação, e que d'aqui por
diante pôde vir, que está mal o campo
sem elle.» Francisco de Moraes, Palmei-
rim d'Inglaterra, cap. 118.
Via Acteon na caça tào austero,
De cego na alegria bruta, insana,
Que por seguir um feio animal fero,
Foge da gente e bella forma hiunana :
E por castigo qner, doce e severo,
Mostrar-lhe a formosura de Diana :
E guarde-se não seja inda comido
D'e38es càes, que agora ama, e consumido.
cAM., Lus., caut. 9, est. 2(3.
— «Entaõ se chegarão a nos, e nos
pergaiutaraõ por muytas cousas particu-
lares, a que naturalmente saõ muyto in-
clinados, às quaes respondemos confor-
me a toda a verdade, e lhe pedimos pelo
amor de Deoj que nos quizessem levar
comsigo para qualquer povoação que qui-
zessem, e la nos vendessem por seus ca-
tivos a gente que nos levasse a Malaca,
porque éramos mercadores, e lá lhes da-
riaõ muvto dinheyro por nos, ou fazenda
quanta quizessem.» Fernão Mendes Pin-
to, Peregrinações, cap. 180. — « Per este
modo quer Caristo nosso Senhor que nos
singularizemos, e estrememos de todas as
mais gentes, nisto quer que pareçamos dis-
cipulos seus, e que sejamos filhos de seu
Eterno padre, Vt sitis Jilij patris ves-
tri.» Diogo Paiva d'Andrade, Sermões,
part. 2, foi. 13, vers., col. 1. — «Eu me
meterey no sezudo, minha Senhora, quey-
> QUER
ra o Deos Amor, que dezejo tratar bem,
conservar-me no bom estiilo.» Cavalleiro
d'01iveira, Cartas, liv. 1, n.» 29.
Assim o Céo clemente a immortaliza :
E se ello escuta os rogos dos humanos.
Assim queira fazer hoje a Luiza :
Para que, sem sentir do tempo os danos.
Assim como os da Fenis eterniza.
Faça o Céo immortaes hoje os seus annos.
ABB.4DE DE JAZENTE, POESLIS, tOm. 2, pag. 142
(cdiç. de 1787).
— « Sim, quero ouvilo,
Quero, e desejo : nào ignoro o preço
Das boas letras, nem d'um raro ingonho
A estima dcsvalio : em prol da pátria
Uns obramos co'a espada, cumpro a outros
Co'a penna hom-á-la.
oABRETT, CAMÕES, cant. 7, cap. 9.
í Quereis dizer á corte ? Ouvi que a Cintra
Se fora clrci com o conselho e cabos
Principaes do exército. E' voz publica
Que hàodc ahi resolver graves projectos
D'alta valia : mas... »
IBIDEM, cant. 4, cap. 2.
— Approvar, conformar-se ou convií-
com alguém era um intento, designio, ou
caso análogo,
— Requerer, exigir.
Fid. Concrusão quereis? Bem, bem,
Concrusào ha em alguém.
Cap. Concrusão quer coucrusão,
E nào ha concrusào em nada.
Senhor, eu tenho gastada
Huma capa e hum mantào ;
Pagae-me a minha soldada.
GIL VICE.\TE, FARÇAS.
Porque, ainda que são peccadores,
Nem tem outro padre senão o Senhor,
Que nào quer a morte ao peccador.
Mas antes que viva e lhe dê louvores.
Gil. VlCENTB, AUTO DA HISTORIA DE DECS.
Não te agastes tu comigo.
Nem me dês pousada a mi.
Que o meu regno não he aqui.
Nem quero nada comtigo :
Mas quatro cousas quero de ti.
— « Por hum olliinho que perdeo, Deos
sabe aonde, pfjde ser que bebendo em al-
guma taverna, quer que lhe dénrmais do
que vai toda a sua cara : ainda lhe ficou
outro olho, isso lhe basta.» Arte de fur-
tar, cap. 36.
Aquelle deixo, a quem do somno esperta
O grão favor do Rei que serve e adora,
E se mantém desfaura falsa e incerta.
Que de corações tantos he senhora,
Deixo aquelles qu'e3tão co'a boca aberta
Por s'eucher de thosouros de hora em hora.
Doentes desta falsa hydropesia,
Que quanto mais alcança, mais queria.
CAMÕES, EPISTOLA 1.
— « Dizei-o vós, Madama, nào acháes
que ella seja venturosa? Xão é assim,
QUER
49
minha Suzanniiilia (aqui entre nós bem
t'o posso chamar) não te dás tu por ven-
turosa?— « Sim, meu amigo (lhe respon-
deo ella forçando-se a surrir). — Ei-la a
cousa concluida (disse ell^) : daqui a 4 ■
dias parte Madama de Senneterre, e tu
irás ámanhan ao baile ; que absolutamen-
te quero que te divirtas. Xegar-mo-hás
ainda?» Francisco Manoel do Nascimen-
to, Successos de madame de Seneterre.
— Querer bem a alguém; desejar-lhe
bem, ter-lhe amizade, amor. — « Muvtas
vezes andamos tristes e nam sabemos de
que : quereo Deos asf^i, poi'que buscámos
gostos contra sua vontade, que nos ve-
nha tristeza contra a nossa, e de nos
querer bem, nolo tira das ofensas que
lhe fazemos.» D. Joanna da Gama, Di-
tos da freira, pag. 29 (ultima edição).
— Ter vehemente aftecto por alguém,
amar.
tempo foy que nunca fora
quando com outra esperança
■ toda a minha confiança
puz em vos só por huma hora.
Muito mais vos quero agora
por que sois desesperados,
quero-vos para cuydados.
CHRISTOVÃO F.ALCÃO, OBRAS, pag. 30
(ediç. do 1871).
— « Se o que vos quero não aproveita
pêra vos lembrardes de mim, nem sentir
o mal que me fazeis, aproveite pêra hoje
levardes a victoria de quem a não deve
ter de vós ; e então matai-me se o dese-
jais: seremos ambos contentes.» Francis-
co de Moraes, Palmeirim d'lnglaterra,
cap. 89.
— Que quer ãlse?- ; que significa. —
« Esta Rainha era mui docta na sagrada
Scriptura, em que compôs dous liuros, a
hum chamam Enzerachebà, que quer di-
zer, louuai a Deos com orgaõs, em que
disputa da Trindade, e da virgindade de
nossa Senhora mài de lesu Clu-isto, o ou-
tro lixiro se chama Chedale, Chay, que
quer dizer raio do Sol em que trata da
lei de Deos. » Damião de Góes, Chroni-
ca de D. Manoel, part. 3, cap. 61.
Diabo Tu nas oy tene vergonlic?
Feif. Que fiz eu ?
Diabo De tois lesães en aute sois.
Feit. Vós me diredes depois
O que isso quer dizer.
Diaho Tu aspete de bem lajmer.
Feit. Hni ! pete que pôde ser?
Esta que linguagem he ?
6IL ■^^CE^•TE, farças.
— « Todo ho homem que na Clúna tem
qualquer oficio, mando ou dignidade por
el Rey, se chama Louthia, que quer di-
zer em nossa lingua senhor. Como este
titulo se lhe ponha dilo-emos em seu lu-
gar.» Tenreiro, Itinerário, cap. 16. —
«Os Nayres como superiores de todos, são
tào soberbos, e arrogantes, que pelas imas
50
QUER
QUER
QUER
por ondo paHflam, vatn hrailando alto, pó,
pó, fjuo quer clizor, aflFii^tu, aflafita. » Dio-
go do (Jouto, Década 4, liv. 7, cap. 14.
Naò tem ouvido Vo.i.sa Sonlioriíi
Ruid(mr>í) Vaca uiviir, 14 na iilta noite?
lV)irt 1111(1 qiierrin ilizcr iii|ii(ill(M uivo^,
Sniiiiõ, qtii! iiiiilii no Imirro Liibiií-lioiiiein,
(Ju hoiiiuiii, por fiulaiio, traiiMimid:ido
Em juiiunito orclliiido, ou oiii «enduiroV
A. DINIZ DA CRUZ, IIY8801'E, Caut. 5.
— Queira Deus ; pcrniitta. — « Draiua-
ciana, disse Polinarda, queira Dcos quo
alfçuma hora te possa paj^ar o muito quo
to devo. Isso lue parece beui, faze-o as-
sim, o nilo dòs a/.o, que se |)rcsunia que
o sei. Entílo liuipando as la^riuuis, so
tornou peni a imperai riz.u Francisco de
i\[oraes, Palmeirim dlnglaterra, eap. 1)5.
— « Nisto ilic po liu a mào pêra liia bei-
jar, mas elle o touiou nos bra(;os, e aper-
tando-o antr'clles, lhe disse: Queira Deus,
Bciihor irmào, que me deixe o tempo ter
com que vos sirva, que entiío vos mos-
trarei quanto sou em conhecimento do
que vos devo.» Ibidem, eap. 120.
— Querer mites; estimar uuiis, prefe-
rir, — «D outro SC veio contra Vcrnao,
dizendo: Pouco estimais a vida, eaval-
leiro, jiois tendes em menos perdel-a que
dizer-me que pensamento é o vosso, sen-
do sobro isso nossa batalha : e com di-
zcl-o piide haver fim. Antes ou quero,
disse Vcrnao, perder essa que dizeis, que
tola com deixar-vos a victoria de saber-
des o gosto de que nào tendes necessida-
de, e me a mim traz morto e contente.
Pois é forçado, disse o da serpe, que ou
mo digais, ou um de ni')S tique no campo
cora sua magoa.» Francisco de Moraes,
Palmeirim d'Inglaterra, eap. 9. — « Mas
como é natural dos corações esforç^ados
quererem antes morrer em liberdade que
viver em captiveiro, Polendos com seus
assim desarmados, sii com as espadas nas
mãos, postos um cauto da sala a deteiuui-
navam doixar-se antes matar que pren-
der, o, oceupado da ira dizia contra o
gram turco : Por certo duas cousas se
empregaram mal cm ti, pessoa c estado.»
Ibidem, eip. 0(i. — « Oi-ecem tanto mais
na dor, o sentimento do passado, quanto
mais ouuom e entendem da diuina mise-
ricórdia do Senhor, quiseram antes mor-
rer qu'í telo oftondido, nem ja querem a
vida senara pêra o scrulr. « Lucena, Vida
de S. Francisco Xavier, liv. 4, eap. 11.
— Como o senhor quizer, ou como qui-
zer; expresscào ilu que se usa, para ceder
em qualquer contenda, questrio, ou tlis-
puta.
— Como quizer ; como entender, como
julgar melhor, á sua vontade. — « Os Al-
vazis devem ir ao lugar, ou devem en-
viar hi seu Porteiro, c devem-lhc dar
aquelle, que quer partir, outra tamanha
partiçom daquello lugar, camanha lhe hl
devo ende acontecer per direito ; e este
lavro-o cjmo quiser, e nom rr^sponda dos
fruitos, c novos, que d'iii «aireiu.» Ord.
Affons., liv. 4, til. 107,
— Que initis queres ? denota quo se
obttive tuilo quanto tni podia desejar.
— Queira ou não queira; «cja qual fór
a sua vontade,
(iiifí quer is(o dlzerí denota a adnn-
raçito, uu estranheza que alguma cousa
causa.
— Que quer isso Jizcr? corrocçSo ou
admoestação dirigida a alguém para- que
corrija e modere o que tiver dito,
— Sem querer ; por acaso, sem inten-
çilo,
Fiigio, som cu iiurrer. do poito hum voto:
Mi!ditai;ão profunda unio di«t:intc.i
Objectos entro «i, c á» ^^u.■^lls torna,
j. A. DK MACKno, MKDirAvÃo, cant. 3.
aS', m. Vontade, desejo.
E vimos o Tamorlain
com ^raudisiiinio podor
tuin pram scnlior so fazer,
r|uc tinlia da sua mani
líeys grandes a sou (jiierer :
vimos sua crucldiide,
gram tirania, maldado
subir cm tão grande estado,
t|ue era de muvtos cliamado
açoute da Cliristaadadc.
GARCIA DE BEZKNDE, HISCELLANEA.
— a Que com umas praticava; com ou-
tras zombava, e a que entào menos par-
te tinha er.a cila, de maneira que sentin-
do, que seu querer arrufar se lhe fazia
damno, tornou-sc d'outro bordo; quanto
lhe mais doía algum desengano, mais o
dissimulava : assim por nito dar má vida
a si, como por não dar a entender o que
lhe era honesto encubrir. •) Francisco de
Moraes, Palmeirim dlnglaterra, eap. 125.
Vencidos vem do somno c mal despertos,
liocej;indo a miude so encostavam
l'ebis antouas, todos mal cobertos
Contra os agudos aros que assopravam :
(íâ olhos contra seu querer abertos,
Mas esfregando, os inoaibros estiravam :
Remédio contra o somno buscar querem,
Historias coutam, casos mil referem.
CAM., i.is., cant. G, est. 3it.
— Bi ni querer; vid. Bemquerer, .«. «i.
— « Jlas conui o bem querer destes dous
se não apartasse continuando em seus
amores tinha o mancebo modo de entrar
com esta escraua, o que sabendo dom Al-
uaro pos nisso tal vigia que o achou de
noite dentro cm sua casa fallando com
ella, pelo que movido de sanha o mandou
açoutar per mouros de sua estrebaria,
tào cruidmente que em todo o corpo ilie
nào tieou lugar, que não fosse chagado
dos açiHites.B Damião do (íoes, Chronica
de D. Manoel, part. 3, eap. 40.
— Adaoios :
— Querei-me pelr) que vt»- ijipio, nào
mo falíeis em dinheiro.
— (^uem tudo o quer, tudo o pcnle.
— Quem bem quer, do longe vô.
— Pintar como querer.
— Quem me quer bem, diz-me o quo
sabe, e dá-uie o que tem.
— Quem quer uiais que l)em, a mal
vem.
— Queres que te siga o cilo, dá-lhe
pão.
— Quem te dá um osso, nSo te qner
vêr morto.
— Quem dá mão á ]>êra, comer quer
d'ella.
— So bem mo quer .João, bum obraa o
dirão.
— Deita-te a enfermar, «abcrás quem
te quer bem, e quem te quer mal.
— Quem diz o que quer, ouve o que
não quer.
— Lá vão os pés, por onde quer o co-
ração.
— Conselho de quem bem te quer, ain-
da que te pareça mal, escreve-o.
— Não dá quem tem, senão quem quer
bem.
— Aonde te querem muito, nSo vás a
miude.
— Onde te querem, ahi te convi-
dam.
— Prudência é não querer o que se
não piide haver.
— Ainda que nos nào fallemos, bem
nos queremos.
— • Mais faz quem quer, que quem
pôde.
— Quem mais tem, e mais quer, com
seu mal morre.
— Quem quer enricar em um anno. a
seis mezes o enforcam.
— Isto quer Martinho, sopa^ de vinho.
— Mais quer a côa, que toallia eecca.
— Como criastes tantos tilhos V que-
rendo mais aos mais pequeninos.
— A quem Deus quer bem, o vento
lhe apanha a leuha.
— A quem Deus quis bem, no rosto
lho vêem,
— Quem bem quizer cear, a sua casa
o vá buscar,
— Quem dinheiro tiver, fará o que
quizer.
— Quem quando p<'>de não quer, quan-
do quer nào jxide.
— Se nào deres o que quizeres, fa/.e o
que puderes.
— Mulher se queixa, mulher so dóe,
mulher enferma, ipiando olla quer.
— Mulher sara, o adoec' (piaudo quer.
— Tal virá, que tiil queira.
— Rei vai aonde p<Vde, e não aonde
quer.
— A quem nuil queiras, um rocim lhe
vejas, e a quem mais nial. um par.
— A mulher que te quizer, nào dirá o
que em ti houver.
QUER
— Cobra boa fama, faze o que quize-
res.
— Em tal signo nasci, que mais quero
para mim, que para ti.
— Quando Deus não quer, santos não
rogam .
— O que deve, nào repousa como quer.
— Quem faz o que quer, não faz o que
quem nao quer
— Se queres, que faça por ti, faze por
mim.
— Não o quero, não o quero, deita-
mo n'este capcilo.
— Que queira, que não queira, o asno
ha-de ir á feira.
— Quem quer vai
manda.
— Quem não quer ser lobo, não lhe
veste a pelle.
— Quem quer bolota, trepa.
— Onde quer que fores, faze como
vires.
— Faz mais quem quer, do que quem
pôde.
— Quem bem quer, bem obedece.
— Quem bem quer, tarde esquece.
— Quem bem te quer, far-te-ha cho-
rar,
QUERIDO, parf. pass. de Querer.
Fid. Mas esperae-me aqui ;
Tornarei á outra vida
Ver minha dama querida
Que so quer matar por mi.
Dlidi. Que SC quer matar por ti?
Fid. Isto bem certo o sei cu.
Diah. O namorado sandeu,
O maior que nunca vi !
GIL VICENTE, ACTO DA BAKCA DO INFEKNO.
QUÊS
Queixa, querela, que do juiz inferior se
interp!5e para o superior, ou para o so-
berano.
QUERMES, «. »i. Termo de zoologia.
Género de insectos hemípteros, cujas es-
pécies tem as antennas compostas de cin-
co artelhos, e abdómen desprovido de ca-
naes secretorios. Vid. Kermes.
QUEROGRILLO, s. m. Nome d'um aui-
mal.
QUERQUERA, adj. f. Espécie de febre
intensíssima, que sacode, e estremece os
membros, faz a voz tremula, e o gesto
horritico.
I QUERRER. Vid. Querer.
Quizo beu, amigos, c quero o qnerrey
Hunha mídher que me quis, c quer mal,
E qucrrá
CANC. DK D. DINIZ, pag. 49.
QUERUBIM. Vid. Cherubim.
QUÊS
51
O querido de Deos, por quem peleja
O ar também e o vento conjurado
Ao atambor lhe acodem, porque veja
Que o que a Deos ama, hc de Deos amado :
Os contrários rcvéis á Madre Igreja
Atroarão coo tom do Ceo irado.
Que assi deo ja favor mais que humano
A Josué Hebreo, Theodosio Hispano.
CAM., EPISTOLA 3.
Em vão, Filhas dos Francos aptaes Bálsamos,
Com que os golpes saneeis. Védão-no os Fados,
Co 'a choupa do veuablo, um jaz ferido,
Ko coração. Já delle foge mesta
Da Pátria a tam querida imagem sacra.
Outro, a quem férrea Clava ambos os hombros
Rompeu, não mais tom de apertar ao peito
O Filho, que lhe a Esposa está criando.
F. M. DO NASCIMENTO, 03 MABTYEES, 1ÍV. G.
— Expressão carinhosa e terna com
que se denota o affecto intimo que se
tem por alguém, amante, namorado.
Naõ choreis, naõ, naõ, Querido,
Augraentando a vossa dor ;
Porque dá infausto annimcio
Vir com lagrimas o Sol.
ABnADE DE JAZENTE, POESIAS, tOID . 2,
pag. 245 (ediç. de 1787).
QUERIMA, ou QUERIMONIA, s. f. ant.
Com teus cseriptos, Réaumour, defendo
Contra o sectário vil de hum cego acaso
O Ai-quitector da maquina do Mundo •,
Grande no Querubim, no Insecto grande !
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Caut. 3.
He tanto o Deos do Átomo ignorado.
Quanto hc do accezo Sol ; tanto do insecto,
Que o lodo vil esconde, e a planta piza.
Quanto he do Aujo que o seu Ser adúra.
Igual do.s Querubins escuta os hymnos,
Escuta a voz do tenro Cordeirinho,
E ouve 03 rugidos do Leão sanhudo.
iiiiDEM, cant. 4.
QUÊS, por Queres. Vid. Querer.
QUESILA, QUESILIA. Vid. Quigila.
QUESITO, s. m. (Do latim quwsitum).
Questão, pergunta, interrogação ; ponto,
ou artigo a que se deve responder.
QUESTA, s. f. ant. Ganho, grangeio.
QUESTÃO, s. f. (Do latim quaistio).
Di.sputa, controvérsia; exame que se faz
da matéria duvidosa, para averiguar a
verdade.
Ergo claro so vê com fimdamento
Xa tcimoza questão da nossa idade.
Ser o homem mais- novo que o jumento.
ABBADE DE J.\.ZENTE, POESIAS, tOm. 2, pag 71
(ed. 1787).
Que o Dialéctico Pharo de cár sabe.
Que de santo Thomaz tem lido a Summa,
O Gonet, Bufembaum, Lacroix, Guimenio,
Que sabe decidir magistralmente
A famosa questào, — se um Burro pude
O baptismo beber, ardendo em sede.
DINIZ DA CRUZ, HTSSOPE, Caut. 3.
Vejo Espeuzipo, imitador da excelsa
Virtude de Platão, e em sua Escola
Teve cominum com oUc, estudo, e sangue,
Áureas Bases lançando á Academia,
A quem depois dèo Cicoro mais luzes
Nas Questões Académicas, que em Baias
Entre Oradores Cônsules ventila,
E nas alas das arvores sombrias
Do fresco, c ameno Tusculo resolvo.
J. A. PE MACBDO, VXAUEJI EXTÁTICA, Çaut. 2.
— Questão determinada; a que só tem
uma solução, ou um certo numero d'el-
las.
— Questão indeterminada ; a que pôde
ter intinitas soluções.
— Agitar-se uma questão ; tratar-se
com calor.
— Deslindar a questão ; resolver o
problema.
— Pôr em questão ; em duvida, em
controvérsia.
— Termo familiar. Questão de lã de
cabras, ou de cágado; sobre o que não
existe, nem ha.
— Postura em que se punham os cri-
minosos, ou suspeitos de crime, para con-
fessarem o crime, ou declararem os seus
cúmplices.
QUESTIONADO, part. pass. de Questio-
nar.
QUESTIONADOR, s. m. (Do thema ques-
tiona, de questionar, com o suíExo «dôr»).
Que gosta de questionar.
QUESTIONAR, r. a. Disputar, debater,
discutir ; argumentar, ventilar.
QUESTIONÁVEL, adj. 2 gen. (Do the-
ma questiona, de questionar, com o suf-
fixo «avel»i. Duvidoso, problemático.
^QUESTIÚNCULA, s. f. Questão fútil,
vã, inútil.
QUESTOR, s. m. (Do Lltira qua;stor).
Antigamente, em Roma, era aquelle que
tinha cuidado do erário ou dinheiro pu-
blico, como entre nós os thesoureiros do
reino ou viadores da fazenda. A mai.s
provável opinião é que este officio foi
instituído por Publio Valério Publicola,
cônsul, o qual depois de collocado no
templo de Saturno o thesouro publico,
constituiu n'elle dous questores para o
guardar, os quaes eram senadores, e or-
denou que d'ahi em diante fossem eleitos
pelos votos do povo; depois, querendo o
povo ter parte no dito officio, foram crca-
dos outros dous questores, e assim entre
todos eram quatro, dous para a cidade,
que vigiavam o thesouro publico, e ou-
tros dous que sempre acompanhavam os
cônsules na guerra. Foi crescendo o nu-
mero dos questores ao mesmo tempo que
se foi augmentando o império ; de quatro
subiram a oito, de oito a vinte, creados
por Sylla, e de vinte a quarenta que Ce-
.sar creou para encher os logares do se-
nado. Os questores da cidade cobravam
os tributos, arrecadavam os impostos,
iam ao encontro dos embaixadores es-
trangeiros, pagavam os gastos da jorna-
da, e mandavam preparar e armar o pa-
lácio em que eram agasalhados á custa
da republica ; os outros questores que
seguiam os cônsules, pretores, e generaes
dos exércitos, quando iam á guerra, re-
colhiam e registravam os despojos dos
inimigos, recebiam os tributos das pro-
víncias, e distribuíam a paga aos solda-
dos. Os a que chamavam Qncestores Par-
ricidii, por decreto do senado se repar-
52 QIIEX
tiaiii p''.l;n provincial (! tiiiliam autliori-
(lailo para jui^íaruin cjrtu.s criíiiu.'» ; o uo
(lifltricti) (lo Hiia jurÍHdict,'ito iiiidavain com
lictoro.4 <! outras iiinif^iiiaM do ina^^iatra-
d(j.s Huprtimort. Taiiiljciu livuram o man-
do do.H oxcrcito.s como o.s coiimilos o pr<í-
torcH, ma^^ era inais limitado o pudor dos
questores da cidade. <> magi.stcrio do
questor, ora, do ordinário, animal; algu-
ma-i vezos chegava a sor trionnal.
— Homem que oxorceii o oliicio do
qiioator. — «Quando soube como Terên-
cio Varro, questor do sou exercito, llcá-
ra morto no campo.» Monarchia Lusita-
na, tom. 1, foi. 18S, col. 1.
— l)oa-30 Cíito nomo a uu,^ pedintes
do crimolas, que com atrovimouto e sol-
tura enganando as almas dos iieis, pro-
punham ao povo indulgências falsas, dis-
])ensavani de seu niotu próprio nos vo-
tos, absolviam os penitentes de perjúrios,
homicidios e outros ))eecados, remittiam
o perdoavam o mal levado, fazendo-se
com cUes compoaii^ào, em certa cousa,
ou quantidade de dinheiro, relaxavam
uma certa parte das penitencias dadas
cm contissilo, Ungindo que pelas esmolas
quo alguns tieis lhos dessem, orara livres
das penas do purgatório, e iam gozar
da gloria, uma ou muitas almas do seus
amigos e parentes, o que os bemfeitorcs
dos lugares om quo elles pediam esmo-
las, alcançavam indulgência plemiria.
QUESTUARIO, uilj. (Do latim quccstua-
riusj. (^>ue cuida cm lucrar.
QUESTUOSO, adj. (Do latim qucvstuo-
íKS). Que dá proveito, lucro.
QUESTURA, s. /. (Do latim (jii(rstuva).
Ofticio, cargo do questor. — «Deyxando
a queslura com quo viera.» Monarchia
Lusitana, tom. 1, foi. 317, col. 1.
-[■ QUETUAL, s. m. Vid. Catual.— «Ins-
pirara no coração di^ hum JMouro persia-
no, por nome Cojeabrahem, do peilir a
Afonso dalbuquei-que o oflieio de quetual,
ao que lhe respondeo que tinha assenta-
do de nam dar ofticio da cidade.» l);i-
mião de Góes, Chrouica de D. Manoel,
part. 3, cap. 25. — «Andando Atlonso
(rAlboquorquc mui cheio das suas, acon-
teceo, que hum Coge llabraem alouro,
Pai'sco de nação, grande amigo deste
Utimutirája veio pedir a olle AUbnso de
Alboquerquo o officio de Quetual da Ci-
dade ; ao qual respondeo, quo os taes
officios não os havia de dar sem conse-
lho dos homens principaes da Cidade,
quo os ajuntasse cllo a hum certo dia, o
quo perante elles lho daria.» Barros, Dé-
cada ■_', liv. G, cap. 7.
QUEXIQUER, s. »). ant. Qualquer cou-
sa ; o quer quo seja.
Hum bacoreto orj?iilhoso
Dou viata ao gado ovelhum
De qiiexiqiier espantoso
Trombcjava cllo hum, e hum.
Andava todo bravoso.
BÁ DE OTHASDA, EOI.OO.V 1.
QIMC
QUEZILA, quezília, Vid. Quigila.
QUI, por Aqui. Vil. Aqui. — «K pon-
to ([wr tudo, ou a maior iiarte do quo to
qui i'.scrcuonio.i soja tirado da escritura
do (iouiezeauoii, e assi desto AttonHo
Coruoira : nJio foi pequeno o trabalho
que tivomos em ajuntar cousas derrama-
das.» Barros, Dec:a4a 1, liv. 2, cap. 1.
QUIABEIRO, *. lu. De quiabo, c<jm o
Hufllixo «eiro»). Planta que d;í (piiabos.
QUIABO, <.. M. Fructo do Brazil, de
forma coiiiai, c que cozido so Borvc com
carnes, peixo, otc. ; no ilio de Janeiro ó
conhecido polo nome de quigonbo ou quin-
(jonhii.
QUIAIRA. Vid. Cairá.
QUIÇÁ, «l/r. l'or ventura, quem sabeV
talvez. — «E sonào (pie lho fallasse muy-
to claro, e o desenganasse, quo se nilo
avia do yr daly até que lhos nSo man-
dasse, porque quiçá i[ae certiticado desta
determinação, o medo lhe faria fazer o
(pie pelas outras vias lhe negava, quanto
mais (jue pela via do interesse poderia
ser que se rendesse.» Fern.ào Mendes
Finto, Peregrinações, cap. IJ4. — «E co-
mo estes Mouros < )ricntacs s.ào crédulos
em .agouros, tomando el Rei o caso, co-
mo aviso do algum mão sucecsso, quiçá
cubrindo com a superstição o medo, sa-
hio logo do campo, deixando a Jnzarc.ào,
hum Abexim valente, que nas guerras do
Mogor tirara soldo contra Soltào Jlaha-
miid, e agora como soldado mercenário,
fora chamado com algumas vantagens a
servir nesta guerra.» .laeintho Freire de
Andrade, Vida de D. João de Castro, li-
vro 2.
Alp;iun tanto doscansa, e se assegura
O namoiado Roi, f/v/',''' cioso,
Que não sei 30 aiiiiclla alta formosura
O faz dl! Acofercào sor duvidoso.
A partida porém lo<;o procura
Tão largo em qualquer cousa e curioso,
Que não se satisfaz, ou determina.
Pois sempre novas cousas imagina.
^■UA^■CISC0 de andrabe, pbimkibo ckkco i>f. mr,
cant. 3, 03t. 97.
Raudur, qnic^á por vêr 80 agora o engana
Esta amizade feita novamente
Com gcuto cstranlia, c que ellc ba por profaua.
Pede ao Cunha que queira alguma gente
A Barouche mandar da Lusitana,
(^uc dlmm imigo a livre tao potente,
K (pie elle mandará dos seus soldados
Ue ([uc vão os cbristãos acompanlnidos.
iiiinKu, cant. 5, est. 48.
E que tomando-os inda desmembrados
Grão perigo, e difficuldado atalba,
Porque estando assi todos espalhados
PiWle só co'os que tem dar-llies batalha :
E além disto alguns povos alterados
Vendo-9C sem Rei inda que lhes valha,
Desejosos quiçá de novidade
Folgarão d'acceitar sua amiz.ade.
iniDKM, cant. 8, est. 80.
Torna cst.a gente atraz com tnnta pressa
Quanta para diante aulcs lovilra,
QUIC
(^ue qitii;á lanXt) o medo agora a z\ttin*A
Quanto foi o ódio (|U<! antiM a apreiMÚra.
O .Mogor d'- fugir |)ori'in nào essa
O muro it>'i o detcm, alli w'i pAra,
Port-m iiula não »e lia p<jr bem M^uro
Em iiuiiutij #>• nào vt* dentro do muro.
iHiDKM, cant. O, est. H-t.
K Hcndo devedor cm quantidade
\)i' dinheiro ellc ao Hei de '|ue Ik- \ii^.iallij,
TraUí lie o arrecadar Cíim bri'\ idad.-
A'|U<'I1« u i|uem compett; arrccadalio,
Em tão pia tendão, pia vontade
Dciicjando tumbeui iiuir/t ajudaUo ;
.Mas queixa-se ellc uisto, e mal o Hofrc
Que a abna descarregar vem, nio o cofre.
iBiDKM, cant. 1.3, c«t. 98.
Man o Turw) feroz nunca r)cin«o,
Que o damno dos (Miristãos mi pert4>ndÍH,
(luii;à cutão de viugar-sc Ucycjooo
Do damno (jue da CJiva recebia,
Prepara hum novo assalto e furioso
Para aquella hora (piando o novo dia
Mostra lá do Oriental dourado assento
O que tem do quarto orbe o regimento.
iBiDKM, cant. 17, est. 32. •
Os Turcos entretanto não tomarão
Atraz efl'o grão furor que antes tivcrSo,
K tiinto os defensíorcs apertarão
Que a victoria qniijá por sua liouvcrão,
l'orque o baluarte mais ganharão
Que os outros que primeiro o comcttcrio,
Porém fcies »ào os peitos que o defeiidínn
Que em quanto ha for(;a c vida, nào se rendem.
iiunKM, cant. 19, est. 92.
QUIÇAES. Vid. Quiçá. — «^7lo deiaqucl-
Ic moço seniío polias dar aqni-lles necios,
que vinham juntos a fazer c.'».*o no bem
que eu (pieria fazer, o quiçaes se ficarão
cm brigas n.ào se ajuntaram pêra isso co-
mo agora vinham juntos, c cu por aqiiy
lhas atalhei.» (íarcia de Rezeníie, Chro-
nica de D. João II, eap. 193.
■;- QUICHOTADA, s. /. Acçào riJicnla,
extravagante, como as de D. Quichote.
— Feitos tie D. Quichote. — «Mjw os
encontros desatinados d'aquella obra do
engenhoso Cervantes compostos era saty-
ra das Novellas (como o foi a obra das
quichotadas para desterro dos livros de
eavallariasi tem, seniío similhança, sup-
plemeiíto ; porqqe maior encontro de es-
pécies n.^u) o ha nem em Suppico. » Bispo
do (hào Parti, Memorias, publicadas por
Caniill" Castello Branco, pag. 45.
\ QUICHOTE, .«. ).i. — Dom Quichote; o
heroe da immortal novella de Cervantes
e o typo dos kcroes cómicos.
— Fanfarr.ío ridiciilo.
QUICIO, «. «I. Oonzo de portas c ja-
nellas. para .is fazor pirar- — «A. porta
da casinha estava fechada, e uma gros-
seira tela de estopa servia de vidraça á
janella quo dava luz para o interior. Rei-
nava sobre isto tudo um silencio profun-
do, que s.) foi interrompido pelo ranger
do portollo, quando o mouro o fez rodar
sobre o prumo que l8o servia de qnicio,
c pelo clach, clach das rans que estavam
assentadas gravemente «a margem do
pego, e que saltaram á agua assustadas
QUIE
QUIE
QUIE
pelo súbito ruído do chiador portello. que
respondia ao clach, clach das tímidas fu-
gitivas.)' Alexandre Herculano, Monge
de Cister, cap. 5.
QUICONGO, s. m. Pau medicinal, que
tem a mesma virtude do pau quiseco.
7 QUIDADE, í. /. (Do latim quiddi-
tas). Termo de jjhilosophia. Essência de
uma cousa.
•j- QUIDãM, s. m. iDo latim quidavi).
Termo familiar. Um certo, Tun tal ; pes-
soa indeterminada, cujo nome se ignora
ou se occulta ; usa-se commummente em
tom de desprezo.
QUIDITATIVAMENTE, adv. (De quidi-
tativo, com o sufScio «mente»). Por qui-
dade, d'um modo quiditativo.
-j- QUIDITATIVO, adj. (Do latim quiddi-
taticusi. Termo de pliilosopliia. Que per-
tence ou é i'elativo á essência, ou sub-
stancia de alguma cousa.
•j- QUID PRO QUO, loc. adv. Expressão
puramente latina introduzida em todos os
idiomas europeus, que se usa quando se
substitue uma palavra ou cousa por ou-
tra equivalente.
t QUIERMESIRA, s. f. Tela de seda
fabricada em Alepo.
QUIETAÇÃO, s. /. aiif. Repouso, tran-
quillidade. — «O restante de sua vida
passou elRey com grande quietação ; des-
cuidado nào só de guerras, mas do go-
verno do Reyno, que em quasi tudo pen-
dia da Raynba Adosinda, e do Infante
Dom Afonso seu sobrinho, filho delRev
Dom Fruela seu irmào.» Monarchia Lu-
sitana, liv. 7, cap, 9.
Ati5 que aqui no teu seguro porto,
Cuja brandura c doce tratamento
Dará saúde a um vivo, e vida a um morto,
Noí trouxe a piedade do alto Assento.
Aqui repouso, aqui doee conforto,
Nova quietação do pensamento
Nos déstc. E vès-aqui, se atteato ou\ã5te,
Te contei tudo quanto me pediste.
CAM., Lus., cant. 5, est.* 85.
— «D. Jorge de Castro lhe disse, que fi-
zesse elle naquella matéria, o que lhe bem
viesse, e o que fosse melhor pêra elle, e pa-
ra quietação do seu Reino. Com isto despe-
dio ElRtíV os Emljaixadores, por quem
mandou dizer a seu irmão que se vies-
se pêra Ceitavaca, e que alli se reconcilia-
riaõ, e assentariaõ as pazes, mandandolhe
hum seguro seu, e outro de Dom Jorge de
Castro.» Diogo de Couto, Década G, liv.
8, cap. 7. — «Quanto à postura do corpo,
parece que se deue escolher a mais ac-
comodada a quietação interior porque
naõ se pode o animo aquietar, e pacifi-
car muito, se nao estiuer também o cor-
po repousado, e de assento, isto as mais
vezes, e ordinariamente.» Frei Bartholo-
meu dos Mart\-res, Compendio de espiri-
tual doutrina, cap. 18. — «A vida da al-
ma, e sua fartura nào ho outra seuào por
participaç.ío do summo bem, que he Deos,
em quanto careceis de seu diuino amor
applicandouos as cousas do mundo nào
pode.s viuer em descanso, mas antes an-
dais em penosa calmaria, ou tempestade
de vários desejos ; sem amor nào pode al-
gum estar, e por tanto nào tendes quie-
tação, porque nào acabais de achar o
verdadeiro amor.» Ibidem, cap. 14. —
« Assi o testemunhou quem o esprimentou,
dizendo, desta maneira, senhor o que he
vosso seruo guarda vossos mandamentos
e em os guardar recebe grande galar-
dam, Quasi dizendo, Nam somente des-
pois que os guai-dar, e passar desta vida
seraa gualardoado, mas ainda viuendo e
guardandoos, recebe grande galardam de
consolaçam e quietaçam de consciência.»
Idem. Catecismo da doutrina christã,
pait. 1. cap. i]-í lediç. 16.53 1.
QUIETADO, part. pass. de Quietar.
QUIETADOR. Vid. Aquietador.
QUIETAMENTE, adv. i^De quieto, com
o suffiso «mente»). Tranquillamente, pa-
cificamente ; com socego, e descanço.
QUIETAR. Vid. Aquietar. — «E' como
passasse a Itália por quietar a cisma que
se lavàtou em tempo de Beuedicto IX re-
cebeo a Coroa Imperial da mão de Cle-
mente segundo, a quem por deposição
dos intrusos se dera o Pontificado, e tor-
nado em Alemanha teve novas guerras
com 03 Ungaros.B Monarchia Lusitana,
liv. 7, cap. 'òO. — «ElRey de Tidore co-
mo não quietava, tornou a voltar com a
sua Armada, com determinação de ver
se podia tomar iium dos nossos galeoens,
do que o Capitão foy avisado primeiro
que elle chegasse, e mandou a Dom Ro-
drigo de Menezes que se fosse pêra a Ar-
mada, e nào deixasse chegar a ella El-
Rey de Tidore.» Diogo de Couto, Déca-
da ti, liv. 9, cap. 11. — «Bernaldim de
Sousa depois de se achar bem de sua en-
fermidade, que lhe durou alguns dias, se
tornou a embarcar pêra Geilolo pêra aca-
bar de derribar a fortaleza, e quietar as
cousas daquelle Reino, e.foy ElRey de
Ternate com elle, e todos os Portugue-
zes, tirando D. Rodrigo de Menezes que
por estar quebrado com elle se deixou fi-
car.» Ibidem, cap. 13. — «Ah perros
aonde me levais"? os negros com o medo
se lançarão ao mar, e Dona Leonor se
lançou com elle, dizendolhe : Tà Senhor,
que he isto? este he o vosso siso, e pru-
dência? Manoel de Souza de Sepúlveda
tornou sobre si, e quietou-se.» Ibidem,
liv. 9, cap. 22. — «E quanto a te dize-
rem que te faço agora esta viagem mais
comprida do que em Liampoo te prome-
ty, tu sabes a rezão porque o fiz, a qual,
no tempo que ta dey, te não pareceo
mal," o pois então to não pareceo, quie-
tese agora teu coraçaS, e não tornes
atrás do que tens assentado, e tu verás
quão proveitoso fruito tiras deste traba-
lho.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 71.
QUIETE, s. /. (Do latim qiiies, quie-
fis . Descanço, tranquillitlade, socego.
QUIETISMÒ, s. m. iDe quieto, com o
suftixo «ismo»). Quietação, socego, des-
canço.
■ — • Erro de certas pessoas mysticas,
que em consequência de uma espirituali-
dade errónea fazem consistir toda a per-
feição christã na tranquillidade, e na in-
acção da alma, descuidando-se inteira-
mente dos seus deveres exteriores.
— Termo de politica. Opinião dos in-
di^-iduos, que durante a revolução fran-
ceza se afastavam dos acontecimelitos
políticos.
— Nome de uma doutrina, também
chamada molinismo, denominação deriva-
da do seu auctor Miguel de Jlolina, here-
siarcha aragonez do século xvii, que en-
sina bastar uma continua elevação ou
extasi para ganhar a bemaventurança,
ainda que a pessoa se entregue a torpe-
zas peceaminosas.
QUIETÍSSIMO, adj. superl. de Quieto.
QUIETISTA, adj. 2 gen. Sectário do
quietismo.
QUIETO, adj. (Do latim quktus). Fal-
to de movimento.
— Pacifico, socegado, tranquillo ; isen-
to de pertiu'bação ou alteração.
E para me atormentar
Moâtraa-me a sombra do bem
Para assi mais m'enganar ?'
Assi que, com quanto canso,
Ja nào po.sso achar atalho,
Pois que o somno qyieto e manso.
Que 03 outros tem por descanso.
Me vem a mi por trabalho.
CXM., EL-REI SELECCO.
Como isto disse, manda o consagrado
Filho de Maia á terra, porque tenha
Um pacifico porto e socegado,
Para onde som receio' a Frota venha :
E, para que em Mombaça aventurado
O forte Capitão se nào detenha.
Lhe manda maia, que era sonlios lhe mostrasse
A terra, onde quieto repousasse.
IDEM, LUS., cant. 2, est. ÕU.
— «Pois este Philo no liuro que fez
dos sonhos, onde moraliza este de lacob
diz, que Haran quer dizer coua, e Tha-
ré còtemplação de cheiro. Esta lapa e
coua separada he a vida solitária e quie-
ta, na qual repousa Tharé : porque so-
mente nella repousam aquelles, que na
contemplaçam acham cheyro e suaue de-
ley tacão. E cõ estes communíca Deos
seus mistérios, e os faz thesoiu-eiros de
seus segredos.» Heitor Pinto, Dialogo da
vida solitária, cap. 6. — «E boa prova
disso seja, que devendo a tantos, nenhmn
os cita, nem demanda, porque ham medo
da bastão da potencia, em que se fijmão,
com que lhes podem quebrar as cabeças;
mas para remirem sua' vexaçam, usam
do direito natural, que os ensina a refa-
zer-3e pela calada, e pelo mais quieto
ÍA
QUK!
QUIL
QUIM
iiioilo, i|iiii llic-i li(t jKjssivcl : o como h
H;iti.si;i(;;ini liça iiii sua i'c'tviM-a, lio onliii/i-
riiuiKiiiti! (Mil iloliro.i- Arte de furtar, <::í\'.
V). — ol'()r tanto, ou Huja Ikjiiicui couilia-
tido da jiru;,aii^-a, porá as cousas ouitin-
tuaos, i! da Mocura, ou de alffuina teiita-
çílo, ou gozo do intima do^iura do cora-
ção deuoto naõ mciioB merecera o (jue
BUjjporta no estado aihicr.so do (juc o go-
zoso no quieto, e .sossegado ; inas ordina-
riainonto, pêra os fracos costuma sor mais
vtii, á (leua^^aõ, e aos jiroucctos, e cale-
gados na virtuile a occasiaõ, ou vonto da
tribulação grangisara mais merecimentos. »
Frei IJartlioloineu dos Martyies, Com-
pendio de espiritual doutrina. — -«Nem
naípiella parte o eonsentio Salvador Ki-
beyro viver, quieto, autos inandàdoih''
fazer cruel guerra com Xiniins escolhi-
dos, aos quaus fazia niuvtos favores, o
honras, o oljrigou a quo deyxada sua pá-
tria, passasse ao Royno de l*roui, temen-
do a Fortuna do nosso (Japitaõ.» Fernão
Mondei Pinto, Discurso, cíip. 12.
Este, ou que ElRoi não fiii,a doUe a couta,
Qual cum])rc a Seu estado o digiiiilade,
Ou levado da mal quieta c proiiipta
A cousati nov.as, soiupro mocidade,
lia vendo todavia por aflVouta
Mosti-ar-lho ElKoi desgosto e má vontade,
Do sou mereciuicuto assaz indiua,
Buscar Senhor alheio determina.
r. DP. ANmtinB, ntiMEiíto ckkco de diu,
cnut. 3, est. íl.
Onde cliegando vêem huma espaçosa
Ilha, que de nenhum hc conhecida.
Mas de fresco arvoredo tão formosa
Que a lograrom-se então delia, os convida:
Por toda a parto mostra huma areosa
Praia, que iiaquella hora combatida
Da quieta onda, faz quo ainda mor seja
O desejo, de quem muito a deseja.
IH1DK..M, cant. 4, est. 38.
— «Ás Cabriollas cora que huma pes-
soa 86 apresenta, conheço a alta idea que
forma de si mesma. A sua postura mos-
tra claivunente so o spirito he quieto, ou
se o temperamento he vivo, e apayxona-
do, o 03 seus passos ou passeyos, me di-
sem quasi sempre se he ou nTio he Bes-
ta. Algumas veses vejo se lium homem
hc generoso, ou avarento, quando me dá
huma pitada de tabaco. » Cavalleiro d'01i-
veira. Cartas, liv. 2, n." 43.
— J/«)-, vento quieto ; sem alteração,
socegado.
— Nação quieta; povo quieto ; de gen-
te mansa, não revoltosa ; sem alteração
da paz.
— Livro, socegado.
•}■ QUIGE, ant. Voz do verbo querer.
Joaii. Canfeu não sei que te fige,
(^ne tal escandola mo tens.
Ciit. Mas não sei a quo cá vens •,
(Jue a niiiííuem tanto mal qiiijff.
Joaii. Por bem querer, mal haver.
Cai. Ora teus bom do comer.
JiKiit. ]aío lio foscuH mui aHÍnliu.
I'cir me iiietter rebuiitinlia ;
.Mas jicrol iiào fhoi de crer.
OII, VICK.STI!, AUTO l-ABrOKIL rOllTLOf BZ.
QUIGILA, .1. ,/'. Aiitiiiatliia que os pre-
tos de Africa tem a certas comidas o
acções, a ponto de adoecerem, o até mor-
rerem, sr os contrariarem u'i«80.
QUIGILAR, V. n. Tomar (juigila, anti-
]ialhia, aversão a, alguém, ou a alguma
eou.sa.
QUIGILENTO, 'idj. Que faz ou causa
quiulla, aiili]iatliieo.
QUIGILHA, QUIJILA, ou QDIJILHA. Vid.
Quigila.
QUIGONBO. Viil. Quingonbo.
QUIJANDG. Vid. Quejando.
QUIL, .V. tn. Animal (juedrupede do
feitio do furão, e que alguns Índios criam
em casa para matar e exterminar ratus;
tem este animal grande antipathia com
as serpentes, e quando se vô mordiílo
d'ollas recorro ao pau, a que cliamam pau
de cobra, de cuja raiz so faz notável es-
timação, por sor efficacisâimo antídoto de
venenosas mordo luras.
QUILATAÇÃO, s. /. Acção de quilatar,
avaliação dds (piilates do metal, etc.
QUILATADO, imit. j^nss. de Quilatar.
QUILATADOR, s. m. (J que examina e
estima os quilates doa metaes c pedras
preciosas.
QUILATAR, V. a. Examir.ar e fixar o
(juilato lio metal ou da pedraria.
QUILATE, s. m. (jrande perfeição e
puro/.a de (mro e das pedras preciosas.
— Vigésima quarta parte do valor do
ouro puro.
— Nas pedi-as preciosas, uma das con-
to e quarenta partes em que se divide a
onça.
— Espécie de moeda antiga do valor
de meio dinheiro.
— Peso de quatro grãos; ó a terça par-
te do tomim e a centésima quadragési-
ma quarta parte da onça. — « E porque
faltava moeda na Cidade, mandou bater
iiuma de om-o da ley dos pagodes redon-
das, que vinh.ão da terra firme, quo era de
quarenta e três pontas, que responde a
vinte quilates o hum quarto, c cada marco
do ouro fica respondendo a sessenta c sete
moedas, e duas tangas, oito grãos e de-
zascis avos de grão. Esta moeda mandou
chapar, o cunhar de huma parte com a fi-
gura do bemaveuturado Apostolo S. Tho-
mè, Padroeiro da Índia, e da outra com
as quinas das armas Koaes de Portugal,
o tíeàraõ-se chamando Saõ Thomès, moe-
da quo ainda dura na Índia, e corre por
toda ella.!! Diogo do Couto, Década li,
liv. 7, cap. 1.
— Figuradamente: Grau de perfeição
de alguma cousa. — « E porá peior estar
ortereeido a entrar em campo com o ca-
valleiro do selvagem e filho do D. Duar-
dos, tanto seu amigo, tão esforçado em
armas, quo com elle se não po>lia ga-
nliar-ae, nilo quebra na honra, rÍBco na
vida, e sobro tudo quem nestes termos o
punha não quereria coiu algum favor ou
esperança delle pagar nenhum quilate
deiles.» Francisco de Morueii, Palmeirim
dlnglaterra, cap. 1-lH.
— J'or quilates ; miudamente, em po-
quciiissiiiias porções.
QUILATEIRA, ». /. Instrumento com-
prido, cheiíj de furos por onde passam as
peiiras preciosas para se reconhecer os
quilates ou valor d'elleH.
QUILHA, «. /. (Do grego koilot). Ter-
mo de náutica. A parte inferior do na-
vio, da qual se elevam todas as obras do
costado, ou a base principal de qualquer
embarcação, d'oude parte todo o esquele-
to d'ella. E composta de varias peças en-
cravadas umas nas outras, ás quaes se dii
o nome de talòes da quillia; é o alicerce
sobre que se fijrma este admirável edifi-
cio.
— O mesmo navio, tomando a parte
polo todo.
— Passar por debaixo da quilha; fazer
passar um homem por debaixo da qui-
lha do navio, pona de morte, marcada
pelas leis penaes para certos delictos de
maior gravidade.
— Pi)r o navio em quilha ; começar a
construil-o.
— Quilha limpa ; a quilha sem outra
peça.
— Naus de quilha ; por opposiçfio ás
razas.
— Figuradamente : Lançar a quilha ;
08 alicerces, os fundamentos, a base.
— Ad.\cuos:
— Dá-mc quilha quo eu te darei mi-
lhas.
— A quilha ó de quem a pas-^a.
QUILHADO, pavt. pass. de Quilhar.
QUILHAR, V. a. Pôr quilha aos na-
vios.
— S. m. Prego ^ande com que se pre-
gam as cavernas na quilha da nau.
QUILLO, por Aquillo. Vid. esta pala-
vra.
QUILOMBO, s. m. Termo do Brazil.
Casa sita no mato, onde vivem os c*-
Ihambolas ou os escravos fugidos.
QUIMÀO, s. »i. Roup.ío talar com man-
gas, aberto pela frente, c largo.
QUIMERA. Vid. Chimera.
Eila lá vem ; naõ cuides, quo hc quinifra :
Tu naõ vês, que com passo acelerado
Vem dizendo... Paulino, espera, espera?
ABBAtlE I>E JAZV.XTE, POESIAS, tOm. 2, pftg. •jí'
icdii;. 1T87Í.
•f QUIMÉRICO. Vid. Chimerico.
.\ KazSo te acabou, foge a meus olboe,
O quimrrira \\y\>ót\w90 da Escj''la,
Rival de Atlienas, que a Cidade lioiiraate
Po .Toven Macedónio obra, que onoerra
Ho Romano Pompêo choradas cinz.ia :
Calção pós o sepulcro, a vista ignora ;
QUIN
QUIN
QUIN
Que a férrea mão dos séculos estraga
Os letreiros do orgulho, c até minas !
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, CaUt. 2.
química. Vid. Chimica.
QUIMINHA, s. /. rianta de Angola.
Vid. Minhaminha.
QUINA, s. f. O angido solido, esqui-
na.
— Quina víi-a; a que é muito aguda.
— Termo de chimica. A casca do ve-
getal do mesmo nome, de que se conhe-
cem varias espécies; é anti-febril.
— Termo de botânica. Género de plan-
tas da família das rubiáceas, cujas espé-
cies sào arvores mais ou menos elevadas
que crescem no Peru e no Brazil.
— PI. Quinas. No jogo de dados é
quando estes apresentam a face marcada
com cinco pontos voltada para cima.
— As armas portuguezas ; que são õ
escudos azues postos em cruz ; e em cada
escudo 5 dinheiros de prata em aspa. —
«O qual tributo lhe pos naõ somente por
razão de vassallo d'elRey dom Manuel,
mas porque em sua chegada naõ mos-
trou a bandeira das quinas reaes do Rey-
no.» Barros, Década 1, liv. 7, cap. 4.
Que naus são essas que ufanosas surcam
Pelo esteiro do Gama ? Pendões bárbaros
Varrem o Oceano, que pasmado busca,
Em vão ! nas poppas descobrir as Quinas.
Em vão ; da hástca da lança escalavrada
Roto o estandarte cai dos portuguezos.
GARKKxr, CAMÕES, cant. 10, cap. 19.
Os Heróes immortaes, que as Lusas Quinas
Nas margens hão erguer do Hydaspe e Ganges •,
Porém debalde exclama, as Nãos triunfantes,
Engolfadas no mar. já tiícão perto
Praias náo vistas das Romanas Águias.
J. A(K)STI!1H0 DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Caut. 1.
QUINADO, adj. Preparado com quina.
— Vinho quinado.
— Termo de botânica. Diz-se das fo-
lhas quando o peciolo sustenta cinco fo-
liolos.
QUINAL, s. m. ant. Medida de cinco
puçaes, que são vinte e cinco almudes.
QUINANTE, adj. 2 gen. Que tem qui-
nas gravadas.
QUINAO, ou QUINAU, s. m. Emenda de
erro, que faz o que argumenta a quem
responde errado.
— Dar um quinao; emendar um erro.
QUINAQUINA, s. f. Vid. Quina.
"i" QUINAR, V. a. No jogo do quino, ou
loto, ganhar a partida,
QUINARIO, ad,j. (Do latim <juinarius).
Diz-se do numero composto de 5 unida-
des, ou que é divisível por ò.
— 8. II). Moeda de prata dos romanos
que valia cinco asses ou meio denario.
QUINAS. Vid. Quina.
QUINATOS, s. m. pi. Termo de chimi-
ca. Saes formados pela combinação do
acido quinico com as bases.
QUINAU. Vid. Quinao.
QUINCALH... As pala\Tas escriptas com
Quincalh..., busquem-se com Quinquilh...
QUINCALOGO, s. m. Os cinco manda-
meuto-i da iffreja catholica.
QUINCHOSO."Vid. Quintal.
QUINCUNCE, s. m. Termo de agricul-
tura. Plantio de arvores, uma em cada
angulo, e outra no meio, ou disposição
de arvores em forma de xadrez.
— O lu£:ar assim plantado.
f QUINDECAGONO, s. m. Termo de ma-
thematica. Figura geométrica composta
de 15 lalos e outros tantos ângulos.
f QUINDECEMVIROS, s. m. pi. Conse-
lho de quinze -varões instituído em Roma,
para repartir as terras, para lêr, ou in-
terpretar os versos das Sybillas, e dispor
as festas seculares,
QUINDENNIO, s, m. (Do latim quin-
deni). Espaço de quinze annos ; usa-se
frequentemente pela pensão que cada
quinze ânuos se pagava ao papa, de igre-
jas annexas.
QUINGAMBO, s. /. Planta annual, da
ordem das malvacoas, cujo fructo se
come.
QUINGONBO. Vid. Quiabo.
QUINGOSTA, s. /. Caminho estreito.
Vid. Congosta, ou Cangosta.
QUINHÃO, s. 711. Ração, pitança,
— Parto que toca ou pertence a al-
guém.— «Bem será, pois no castello d'Al-
mourol fomos veacidos, e lá nos ficam nos-
sas emprezas, que nos vinguemos nesta
senhora, pois, além de ser fermosa, tem
algum quinhão n'essa casa.» Francisco
de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap.
128.
— Parto, porção, numero.
— Ração que toca ao lavrador, que
parte os fructos com o senhorio,
QUINHENTISTA, s. nu Escriptor por-
tuguez do século xv a XVi.
QUINHENTOS, adj. Diz-se da metade
de mil, produzida pela multiplicação de
cinco por cem ; 500. — « Neste anno de
mil, e quinhentos, aos xxv. do mes de
Maio deu el Rei titulo a dom Cleorge de
Duque de Coimbra, el senhor de Monte
mòr o velho, alem dos que jà tinha de
Mestre das Ordens de Sanctiago, e de
Avis, e ao derradeiro dia do mes o casou,
sendo em idade de vinte annos, com donna
Beatriz de Vilhena, filha de dom Aluaro,
irmão de dom Fernando segundo Duque
de Bragança do nome.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 1, cap. 4õ.
— «Nesta armada aueria mil, e quinhen-
tos soldados Portugueses, e trezentos Jla-
labai-es de que era capitam hum Naire
muito nosso amigo, que fora Guazil dei
Rei de Cananor.» Ibidem, part. 3, cap.
11. — « Destes Árabes a na Aduecala três
linhagens, a que chamam Xerquia, Abi-
da, e (rarabia das quaes ha da Xerquia
se parte em seis tribus, a que chamam
Cabildas, se. Vleidambram lithali, que
he a principal, em que entam aula mil e
quinhentos de cauallo, e trinta mil de
pe, e couto, e cincoenta aduares, e o
aduar se chama a pouoaçam de numero
de cincoenta, e sessenta ate cem tendas,
e todos estes aduares juntos se chamam
alheilà.» Ibidem, part. 3, cap, 47. — «E
pêra mais confirmar isto leuou consigo
hum Rui faleiro Português, homem que
fazia profisaõ de Astrólogo, e Mathema-
tico, estes ambos forão ter a Saragoça
no anno de mil, quinhentos, e dezoito,
os quaes el Rei dom Carlos, com seu con-
selho ouuio muitas vezes, e a Feniam de
magalhães, mais por fallar melhor nas
cousas do mar que ho faleiro.» Ibidem,
part. 4, cap. 37. — «Com esta armada
que iriam três mil soldados Portugueses,
e mil naires de Malabar, e canarim che-
gou Diogo lopez de Sequeira sobre ha
barra de Diu, na entrada de Feuereiro
do anno de Mil quinhentos vinte, e hum,
a quem logo Jtelique saqua, e Hagama-
hamed mandaram visitar com muita so-
ma de refrescos da teri-a ofterecendosse
em nome dei Rei de Cambaia, e de Me-
liquiaz a tudo o que lhe delles conipris-
se.» Ibidem, part. 4, cap. 60. — «Acaba-
do este feito tomouse Lopo Soares reco-
lher às nãos e naquelle dia não se enten-
deo em mães que na cxira dos feridos: e
ao seguinte que era dia de Janeiro do
anno de quinhentos e cinquo se fez à
vela caminho de Cananor.» João de Bair-
ros, Década 1, liv. 7. — «A relação das
quaes victorias começaremos neste segun-
do liuro ante que sayamos do anno de
quinhentos e oito, por não confundir o
tempo em que se as cousas fezerão : o
qual quanto em nos for, trabalharemos
por guardar no processo delias.» Idem,
Década 2, liv. 2, cap. 1. — «Mandou el
Roy o anno de quinhentos e oito dezase-
te vela.?, que partirão em duas capita-
nias : a primeira era de treze, oito que
ião pêra a carga da especearia por serem
nãos grandes, de que erão capitães Tris-
tão da Silua filho, de AfFonso Telez de
Meneses, João Rõiz Pereira filho de Rei-
mão Pereira, Vasco Carualho filho de Al-
uaro de Carualho.» Idem, Ibidem, liv. 3,
cap. 1. — «Sobre as quaes palauras que
ouue algumas perfias entre alguns capi-
tães Rumes desfazendo n'o que João Ma-
chado dizia. Finalmente o negocio chegou
a tanto, que hum daquelles capitães Ru-
mes disse ao Hidalcão que lhe mandasse
dar atè quinhentos homens, e que elle
com sua pessoa queria ir esperar a ousa-
dia dos Portugueses.» João de Barros,
Década 2, liv. .5, cap. 6. — «A nova da
vinda deste Patê Unuz, posto que se en-
cubrio muito tempo aos nossos, foi sabi-
da era ^Malaca na entrada de Janeiro do
anno de quinhentos e treze, a tempo que
Fernão Peres estava de todo prestes pê-
ra se partir pêra a índia com as três
nãos carregadas da Armada de Dio-
56
QUIN
QUIN
QUIN
po Míjnde» do Vartconcolliw, que por .so-
roíu lie arniiidoi-cs, por ordoiiiiiiríi de At-
foriso d'Allj<)<|U(jnpu!, (eoiiio Htr;ls Heii) lia-
viam do, vir a otUt llcyiio ••mii eiir^^i do
CMpoclíiria.» Idem, Ibidem, liv. '.', uap. 4.
— «Ao tempo do l(!Vautar ;m moHaH, se-
gundo outiva ordeiiailo, entraram pola
porta da sala quinhentos cavalleiroH <la
guarda do grain turco, armado» do todas
poças, Hl* e.spailaa na mão, dizendo: Nàn
80 bulia ninguém, so nito convém quo
quem o couti'ario Hzcr, sinta em suas
carno.s os duros iios destas espadas.»
Francisco de Moraes, Palmeirim dlngla-
terra, cap. 96. — «('om tórios estos tra-
balhos nào se descuidou Elliuy das cou-
sas da índia, mandando negociar sinco
iiáos do quo uàoH:'oz Capitão mi'ir, e nel-
las mandou embarcar mil o quinhentos
honiciís. Esta armada se fez á vela em
Março. D Diogo de (Jouto, Década 4, liv.
7, cap. 10. — «Das Tanadarias visinlias
Bo ajuntarão todos os piaens da terra,
quo com os que estavaõ em Kachol fariaõ
numero de mil c quinhentos. O (iover-
nador jnaudou recailo a Francisco de
Mello que estava em Raehol com tre-
zentos homens, e quinhentos piaens, que
estivesse prestes pêra como eile entrasse
nas terras pela banda de Agaçaim, quo
partisse elle do là, o so ajuntassem na
Villa de Margão.» Idem, Década G, liv.
5, cap. 7. — «E os navios que vieraõ de
Cochim, do que eraõ Capitães, Francis-
co de Siqueira, Vasco Nunes, Balthazar
Dias Nobre, Fancisco de íSiqucira o mo-
ço, Francisco Fernandes o Moricale, (pio
traziaõ quinhentos Nayres, que ElKey
do ('òchim mandava, o mais navios de
Còchim, e Cananor, que chegarão liindo
ji\, o Governador à vela, do que eraò Ca-
pitaens, Luis da Veiga, (Uiilhcrme Pe-
reira, Comes Carvalho, Joaõ Fernandes,
Podralvares, Lançarote Gonçalves, 1'aulo
do Pedrosa, Pedro Anes, Rodrigo Ribei-
ro, Simaõ Ferreira, Joaíâ de Magalhaens,
Cosme Brandão, o outros muitos Fidal-
gos, e Cavalleiros, quo nesta jornada tb-
raõ ora navios seus, a quo não achamos
os nomes.» Idem, Ibidem, cap. (>. — -«K
logo despodio o Capitão mòr do mar com
cincoenta soldados, o quinhentos Terna-
toKOS pêra que se tossem meter no estei-
ro, e dessem guarda a certas pessoas,
que haviaõ de hir com lanças de fogo
queimar a povoação, e as embarcaçoens
quo estavaõ varadas.» Idem, Ibidem,
liv. 9, cap. 12. — <i<) quo mo mandastes
nas n:ios que viorão, me foi dado, o cora
tudo folguei, por ser cousa quo veio da
vossa mão, agradeço-vo-lo muito. Escrita
ora Almoyrim, a vinto sois de Jlarço de
mil quinhentos quarenta o sete.» JacÍTi-
tho Freire d'Andrade, Vida de D. João
de Castro, liv. o.
— Isao não outros quinhentos ; quer
dizer que alguém pronunciou novo dispa-
rate afora os que havia já soltado.
QUINHOAR, 1-. a. Dividir em quinhões.
QUINHOEIRO, eolj. Que tom quinhío,
quo paitiel|ia.
— Quinhoeiro im ilfiiuiiulii ; (jue 6 com-
parti'.
QUINHOM. Viil. Quinhão.
QUINIA, ». /. Ten-lo do chindca. Prin-
cipio particular constitutivo da quina.
QUINICO, <iilj. Tormo do chinnea. Aci-
'/'^quinico; princiíiio immodialo descober-
to na casca peruviana, ou quina.
QUININA, s. /. Termo do chinnea. Al-
culoiíle descoberto em 1H2U, fpie aj)rcscn-
ta ordinariamente o aspecto do uma mas-
sa porosa o crystallina em firina do agu-
lhas, om uma dissolução de álcool,
f QUINO, s. ;;». Jogo familiar á manei-
ra do loteria, que se joga repartindo en-
tro varias pessoas uns cartões que con-
tém condjinaçõos numéricas, feitas com
noventa números, havendo outras tíintas
bolas ou rodinhas numeradas, que se vão
tirando do uma bolsa ou saquinho, e ga-
nha quem ]irimeir(i marcar b números se-
guidos. \'i(l. Loto.
QUINQUAGENARIO, n<lj. Que tem ijO
annus ilc iiladi-.
QUINQUAGESIMA, .». f.—Doviiiujo da
Quinquagesima ; o ipie começa a semana
de v\u7.a. vidirò ibnninqo yurdo,
QUINQUAGESIMO, adj. Que fica depois
do (|u.cli'aL;'csimo nono.
QUINQUALOGO. Vid. Quincalogo.
QUINQUATRIAS, s. f. piar. Festas quo
se celebravam todos os annos, primeiro
em Alba, c depois em Roma no dia 17
do m.arço, em honra de ilincrva. Eram
as festas dos artistas, o duravam o dias ;
o ultimo era consagrado á purificação das
trombetas que serviam nos ritos sagi-a-
dos.
QUINQUEFOLIO, s. m. Cinco em rama,
planta meilieinal.
QUINQUENNAL, adj. 2 gen. (Do latim
quiiitjueunalisi. Que dura cinco annos,
quo so faz ou occorre de cinco em cinco
auuos.
— Epithcto que so dava a certos jo-
gos, magistrados, etc, que entre os ro-
manos so faziam de cinco em cinco an-
nos.
— Diz-so do cada um dos dons ou qua-
tro magistrados das colónias ou municí-
pios, cuja authoridadc durava cinco an-
nos.
QUINQUENNIO, s. m. (Do latim (^itin-
qneiitiiiiiin. F.spjiço do cinco annos; usa-
so, ordiíuuianicntc, no computo das ren-
das.
QUINQUENOVE, .^■. m. Jogo de dados
em que ]H'iiK'ni os .') e 9.
QUINQUEPARTIDO, adj. Repartido, di-
vidido cm cinco.
QUINQUEVIR, .<!. »i. Cada um dos cin-
co magistrados romanos que faziam parte
do qinn(|nevirato.
QUINQUEVIRATO, *. m. Magistratura
do cincii homens, que os romanos nomea-
vam extraordin;iriaraente. para diverso»
eart/Ks i\n reiMíblica.
QUINQUILHARIA, ou QUINQUILHERIA,
K. /'. ' dir.i 'Ic ipiinquilheiri>.
QUINQUILHEIRO, ». m. O quo vendo
pelas ni:is (c,iii<a« de pouco valor; como
agnlii.i'^, botòi-s, fivelas, etc.
QUINTA, ». f. Fazenda no campo oi>m
sua casaria. — « Morreolhe «eu pay, her-
dou aquella quinta de Cintra aondo »e re-
cfdlioo a filosofar jà de[K>is de Bor de qua-
renta annos, cortando toda« aB arvore» do
frnito (pie tinha, om cujo lugar fez plantar
outras agrestes, o peregrinas, e fez alli
debaixo do buma lupa hunia Ermida nmi-
to devota. Aqui o hia o Ii fante I>. Luiz
ver, c communicar, o dali! mí lhe affei-
(;ooa de feição, que o inculcou a ElUey
pêra o mandar por Governador á índia.
onde o Her\-io com nmito zelo, amor, in-
teií-eza.» Diogo de (Joiíto, Década <j, liv.
t), cap. 9. — «A dita torcetagem vai com
o sangue na guelra. Fez-se a uma Henho-
ra do muitos merecimento» estando em
Sacavém, em uma quinta sua, e o pobre
do servidor na praia do Tejo, carregado
com 08 ferros de sua» saudades.» Fernão
Ro<lrigue8 Ix)bo Soropjta, Poesias e pro-
sas inéditas, pag. 114.
Bopois, dormindo docomonte a gosta,
Sc lhe tiíjura, uo melhor do somno.
Que andaudo de passeio pela Qitinta,
("om passos lentos a ellc so clicfrava
I)a nc'ira o velho líurro, o ali;.iiido o rabo,
Dons conco.s Ilio propava no vazio.
A fantástica dôr, pi-itando. acorda :
K acudindo a família promptamcnte,
Lhe narra o triste caso, inda assustado.
DUIZ DA CBIZ, IITSSOPE, CaOt. 6.
— Acto de quintar.
— No jogo dos centos, cinco (jartas se-
guidas do mesmo naipe.
— Termo de musicji. Intervallo con-
sonante que p<>de apresentar-se debaix"
de muitos aspectos.
— Classe em que se começava a tra-
duzir o latim.
— Medida antiga que levara outro tan-
to mais i|uc a medida pequena.
f QUINTADO, imrt. pm.^. de Quintar.
— « Enxergaraõ-se em Castella os dam-
nos da cobiça, na<T t*\ nos vassallos des-
truídos com as fazendas quintadas, e fin-
tas, que lhes poz até no fiimo. que se vay
por esses ares ; mas também na cabeça
do Rey tirando lhe delia Coroas; e que-
brando-lhe Seeptros á sua visti».» Arte
de furtar, cap. i>9.
QUINTA-ESSENCIA, .•>. f. O que ha d.-
mais fino e uo mais alto gran em uma
cousa. Commumnioiite diz-se do espirito
ou da parte activa, extremamente recti-
fic<vda, quo pola chimica se extrahc dos
corpos,
— Figuradamente : O mais puro, o mais
fino 6 apurado de alguma cousa, — • Maa
furtar esse thesouro, mas qtic seja de hum
QUIN
QUIX
QUIN
Õ7
milhão, e outro em cima, e ficar taõ en-
xuto como hum inhame; e taõ escoimado,
como hum noviço cartuxo, sem deixar
indicio, de que lhe peguem, aqui bate a
quinta essência da ladroice; e o que as-
sim se porta, bem se lhe pôde passar car-
t:i de examinação, com foro, e privilegio
de mestre graduado nesta ciência.» Arte
de furtar, cap. 34.
QUINTA-FEIRA, í. /. Quinto dia da se-
mana. — Quinta-feira de comadres. — Quin-
ta-feira gorda. — « E a quinta feyra de-
pois de comer fez el Rey sua mostra com
seus oitenta mantedores, e após elle a ti-
zerão todos os auentureiros, que passarão
de cincoenta.» (Warcia de Rezende, Chro-
nica de D. João II, cap. 128. — « Em
huma quinta feyra dendoenças, andando
el Rey correndo as Igrejas, se pos huma
mulher em joelhos diante delle, o cho-
rando muvto lhe disse : Senhor, pollo dia
que oje hc, e a honra das cinco chagas
de lesu Christo, peco a vossa Alteza que
aja misericórdia comigo.» Idem, Ibidem,
cap. 102.
c cm outra quinta feira
ante manhàa, da maneira
que foy o grande, espantoso,
fov outro muy temeroso,
outro ante a terça feira.
G. DK EKZENDE, MISCELL ANE A .
— «O que elle me fez beber Quinta
feira he vinho que ainda me dura, e co-
mo V. A. legislou naqueila ocazião, que
as vSaudes se havião de fazer em roda
com a mesma quantidade, e com a mes-
ma qualidade de vinho com que o Ba-
rão as principiasse, seguio-se dahi que
satisfiz por força, e por politica ás or-
dens, que nem por serem de V. A. dey-
xárão para mini de ser tyrannas.» Ca-
valleiro d'nlivcira, Cartas, liv. 1, n.° 22.
1.) QUINTAL, s. m. Peso de quatro
arrobas, que varia em algumas partes.
Hos do cabo dospcrança
ferro sobre tudo estimão,
por hum dardo, ou huma lança,
qidntaes douro desestimão.
GARCIA DE REZENDE, snSCELLANEA.
— « Xesta Armada mandou Coge Ce-
maçadim mil quintaes de gengivre, e du-
zentos de pimenta, -de serviço à Rainha
D. Catharina, pêra huns chapins, porque
tinha delia todos annos cartas muito lion-
rosas, e peças, e brincos curiosos da Eu-
ropa, e assim mandou hum Alifante pêra
servir na ribeira das nàos.» Diogo de
Couto, Década 6, liv. 7, cap. 3.
— Adágios:
— A como vai o quintal, que quero
onça, e meia?
— Arrobas nào sào quintaes, nem as
cousas são iguaes.
2.) QUINTAL, «. m. Pedaço de terra
murada, com pomar, legumes, etc. —
voi.. V. — 8.
« Ora vem cá : vai daqui a casa de Mar-
tim Chinchorro, e dize-lhe que temos cá
Auto com grande fogueira ; que se venha
sua mei"cê para cá, e que traga comsigo
o Senhor Romão d'Alvarenga, para que
sobre o Canto-chão botemos nosso contra-
ponto de zombaria. Ouves, Lançarote V
ir-lhe-has abrir a porta do quintal, por-
que mudemos o vinte aos que cuidão de
entrar por f irça.» Camões, El-rei Seleuco.
QUINTALADA, s. f. Muitos quintaes de
pimenta, que cada official de feitoria po-
dia comprar para seu negocio, ou que lhe
eram dados como salário, a certo preço,
segundo a graduação do officio.
— Termo de náutica. Importância que
do producto dos fretes depois de deduzi-
dos 03 prejuízos das avarias, resultava de
2 Vi por cento de liquido, para ser re-
partido pela gente de bordo que mais ti-
nha trabalhado e servido na viagem.
QUINTALÃO, s. m. Quintal grande.
QUINTALEJO, s.m. Diminvtivo de Quin-
tal.
— Um barril de duas arrobas.
QUINTA, ou QUINTÃA, s. f. ant. Quin-
ta, campo.
QUINTANÇA. Vid. Quitação.
QUINTANO, adj. Que vem de 5 em 5
dias.
QUINTANTE, s. «*. Termo de astrono-
mia. Instrumento de reflexão para obser-
var as alturas ou as distancias dos astros
cujo arco consta da quinta parte do cir-
culo, podendo, por conseguinte, medir ân-
gulos de 14-4 graus.
QUINTAR, V. a. Tirar de cada cinco
um. — Quintar um regimento.
— Pagar ao rei o direito que se cha-
ma quinto.
— V. n. Chegar ao numero de cinco.
Diz-se ordinariamente da lua quando che-
ga ao quinto dia.
QUINTEIRA, #. /. Mulher do quintei-
ro, ou a (|ue tem cuidado de uma quinta.
QUINTEIRO, s. m. (De quinto, com o
suffixo «eiró»). O que tem arrendada
uma quinta, fazendeiro.
QUINTETO, s. wi. Termo de musica.
Composição musical para cinco partes.
QUINTIL, adj. 2 gen. Quinto mez do
anno, ou julho no antigo calendário ro-
mano.
— Termo de astronomia. Aspecto, op-
posição quintil ; distancia dos planetas
egual a 72 graus ou a quinta parte do zo-
díaco.
QUINTILHA, s. f. Termo de poesia.
Composição métrica de cinco versos qua-
si sempre octosyllabos, dons dos quaes
tem a mesma consoante, e da mesma sor-
te os três restantes, cuja ordem se altera
de vários modos.
QUINTILIO, s. m. Preparação de anti-
monio em ])ó.
QUINTINHA, s. f. Diminutivo de Quin-
ta.
QUINTO, adj. 7nm. ord. (Do latim
qi(intus). Que perfaz ou completa o nu-
mero de cinco. — « Mandou per homens
doctos de seu conselho visitar, e rever os
cinco livros das ordenações, que cl Rei
dom Afonso quinto, seu tio fez reformar,
sendo regente o Infante dom Pedro seu
tio, por elle ser de menor idade, nas
quaes mandou diminuir, e acrecentar
aquillo que pareceo necessário pêra bom
regimento do regno, e ordem da justiça,
do que se trabalhou muito, e tanto tem-
po que foi a mor parte de tudo o que elle
regnou.» Damião de Gocs, Chronica de
D. Manoel, part. 4, cap. 86. — «A qual
quinta parte auia de ficar a el Rey, ain-
da que a graça fosse do marido, e mor-
resse a molher, ou pollo contrario, como
se apartasse o matrimonio logo ficassem
separadas. E porque no breue do Papa
S. ^nnha esta palaura de separadas to-
marão o nome de separadas, e dahy lhe
ficou ate agora. » Garcia de Rezende,
Chronica de D. João II, cap. 3o. — «A
terceira, Arnedos, rei de França, com
três mil, entrando também nelles dous
mil francezes. A quarta, Polendos, rei
de Tesalia, com três mil. A quinta, o
imperador Vernao d'Alemanha com ou-
tros tantos. A sexta, D. Duardos, com
qnati-o mil.» Francisco de Moraes, Pal-
meirim d'Inglaterra, cap. 16õ. — « 0.s
mais Capitaens de siia conserva, eraõ
Diogo de Mendonça, Jacome Tristão, e
Joaõ Figueira. Da outra que faltava, era
Capitão Diogo Botelho Pereira, o que foy
na fusta ao Reino (como na quinta Dé-
cada no Capitulo segundo do primeiro li-
vi-o fica dito) que em Outubro foy tomar
Còchim.» Diogo de Couto, Década 6, liv.
8. — «E assim se sérvio delle nas Arma-
das das Ilhas, e depois foy à índia com
D. Garcia de Noronha ao primeiro cerco
de Dio (como fica dito no Capitulo oita-
vo do terceiro livro da quinta Década) e
em tudo deu de si grande satisfação.»
Ibidem, liv. 6, cap. 9.
— S. VI. A quinta parte, uma parte
do todo dividido em cinco.
— Direito de 20 por cento.
— Espécie de direito ou imposto que
se paga á fazenda publica, por todas as
tomadias, thesom-os e cousas semelhantes,
que é sempre a quinta parte do que se
tomou apprehendeu, ou descobriu.
— Parte da deveza ou terra, ainda que
não seja exactamente a quinta parte.
— Termo de náutica. Uma das cinco
partes em que os marinheiros dividiam
antigamente a hora.
— Jogo da espadilha de cinco pessoas.
QUINTUMVIRO, «. m. Yid. Quinquevir.
QUINTUPLO, adj. Quantidade que in-
clue outra cinco vezes.
QUINZE, adj. (Do latim quindecim).
Niunero composto de dez e cinco, ou de
três vezes cinco. — Quinze homens. —
«Estes arreos com que este homem sahio
em terra fezerão enveja aos que ho vi-
M
QIJIN'
QUIN
QUIT
rito, poríjuo ao outro dia viiíraò à jiraia
quinze, ou vinte dclles. 1'clo que mandou
lofío Vmquo da Oaina poiar gonto n<m
batois, com (juo se voo a terra, trazendo
coin.sigo mostra dospociarias, ouro, o al-
, Jofar, 80 Ia, lio qno Iwm nobres estimarilo
pouuo por nilo nal)i!r.in Im «luo era.»
Damiito dl! (io(^^, Clironica de D. Manoel,
part. 1, cap. .').'). — «Si)|)ri.-ito tcue elie
conselho com o mesmo Koi, e capitites
da frota, i)eloá ipuics todos hc assentou,
que dessom do súbito i'm (íranf;anor, o
quo coneluido partio do (Jocliim liuma
noite com quinze batei» o vintacinco pa-
raos, o Uuma caraui-lla, todos bem esqui-
pados, em que aucria mil liomeus Portu-
gueses, e mil Nairea dol Hei do ("ochim.»
Idom, Ibidem, c;ip. UT. — «E lhe dou
lunis aiip<intamoutos, om que se continha
o reudiniouto das altamlogas de toda a
ilha, das quaes a da cidade, valia cadan-
no vinte, e cinco mil pardaos douro e as
das ilhas auuoxas a cila quinze mil, o os
almoxarifados, ou tauadarias da terra
firme, quo eram Barde, Oostc, e Antruz
sessenta, e cinco mil.» Idem, Ibidem,
part. 3, cap. 4. — «O que vendo dom
loam se partio caminho de Goa, a quem
na boca no rio de Chaul, sairão quinze
fustas do Jloloquiaz capitam de Dio, quo
auia dias que lho andauam a goito, mas
ello se desfez delias com abalrroar huma,
que leuou consigo de que todollos mouros
so lançaríío ao mar.» Idem, Ibidem, part.
4, cap. 16. — «No anuo de mil o (piatro-
centos o nouenta e dous, a quinze dias
do mes de ]\Iaio, mandou ol Key ])er an-
te si fundar o ccmioçar os primeiros ali-
cerces do Esprital grande de Lisboa da
inuocaçam de todolos Santos, na maneira
em que ora esta feito, o qual lugar era
orta do mosteiro de Sam Domingos.»
Garcia de Rezende, Chronica de D. João
II, cap. 140. — «Aos quinze annos do
Império do Tvberio Ocsar, sendo Toneio
Pilato gouernadur da ludca, o Herodes
Principe do Galilea, e Phelippe seu ir-
mão Príncipe da região de Iturea, e de
Traehonitidis, o Lisania Principe de Al-
bilina: sondo Anuas, o Cayphaa summos
Sacerdotes, disse Doos a loào filho de
Zacharias quo andaua no deserto, que
saisse às gentes a exercitar o officio de
precursor do Jlossias, pêra que ora esco-
lhido.» Frei Bartholomcu dos Jlartyres,
Catecismo da doutrina christã. — « E
que ainda que nisso passássemos algum
trabalho, podia muyto a António do Fa-
ria que o ouvesse por bem empregado,
porque ello o fizera por milhor e mais se-
guro á vida de todos: e perguntandolhe
António de Faria quantos dias poderia
pôr na viagem até passar aqnelle rio por
onde o levava, disso que quator/.e até
quinze smionto.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 12. — «E em quinze
de Novembro foram tomar Ooehini, onde
jà estavam as nãos de Tristão Vaz da
Veiga, c Francisco do Anliaya, quo tam-
bém furam por fora com tempos bem
roin». As nãos de Vicente (íil, o do An-
tónio de Abreu foram por dentro, o fica-
ram invernando em Moçambique.» Dio-
go de Couto, Década 4, liv. 1, cap. 'J. —
" Esta Armai la so fez á vela de quinze de
.Vbril por diante, indo enibarcailo cum D.
Estevão sou irm.lo D. (.'hristovão da 'ía-
ma, C(jm Provisão, jiera que se D. Paulo
seu irmãíj não (piizesse bi iicar jjor Capi-
tão miir, o ser elle.» Mem, Ibidem, liv.
8, cap. !•.
Ora siipporMn, (|U(> ou toiílio o» meus sessenta,
K tu S''> qiiinzf. tons : eiitiiò i|Uo intenta
Mostnir-ine a Um .Musa iinpintinente V
Ser v(!llio Bcin calor V Tu moi,'o ardiMite V
Asssini lic: povéin ouvc-uin liuma iiistoria,
Que me está latejando na memoria.
ADDAni-: DK JAZF.NTE, POESIAS, toffl. 2, pag. 29
(ediç. 1787|.
Sim (diz o burro) cu sipo o meu destino •,
Que supposto dos quinze a idade chi'iro,
Para l)rincar comvosco sou menino.
iiiiDKM, pag. 41.
Para ti guarda o medo; pois lie justo,
(Juc dos ijiiinze a lembrau(;a te C3tremc(,'a :
l'on|ue lie bem, que o sou dano reconheça,
(Juom sentio da atafona o giro adusto.
iiiiDEM, pag. 47.
Qualfpier homem, (|He conta setenta annos,
Kolxisto pôde ser, forte, c valente ;
Mas hum burro de quinze, apenas sente
Do chicote os vcrgocos, da espora os danos.
iiunEM, pag. 'il.
Mil tojos tem hum burro devorado
Kos seis annos da sua mocidade ;
Mas nos seus quinze o tem a anti;;uidade
Nas próprias mataduras sepultado.
iiiiDEM, pag. 05.
Mas naõ assim o burro, cuja idade
O Tempo sempre aos quinze desfigura ;
E se apenas trcs lustros vivo dura,
Ao quarto desfalece sem piedade.
IBIDEM, pag. 73.
Morre o burro dos quinze estropiado,
Sem ter memoria alguma do presente,
Nem conservar leuibran(;as do passado.
— Algarismo que representa esto nu-
mero.
— Decimo quinto.
— Jogo de cartas; partida de jogo.
— No jogo da pella, cada um dos dous
primeiros lances que se ganha.
— Dar quinze e Jnlta ; atalhar al-
guém com mais sabor c mostrando mais
discrição.
— Quinze de resto; jogo do envidar a
fa/.or \r> com cart:is.
QUINZENA, í. /. ^De quinze^. Nome
ool lectivo (pie comprehende quinze cou-
sas do mesmo gonero.
— Espaço do quinze dias, e soldo ou
salário respectivo a elles.
7 QUINZENAL, '/'/;. 2 fj>^n. Que per-
tence :i (piinzeiía.
QUrPELA, «. /. Animal da índia, c
particularmente de (,'eyl5o.
QUIPOS, #. JH. jjI. Po'laço« de corda»
nodosa» com «lifTerentcs números c varíaii
core», das (pia'.» os Índios do Peru se uor-
viam |iara sujiprir a falta du escrí])ta,
conservanilo assim as historias e ntjticias,
como as contas om que são mister os al-
garismos.
QUIPROQUÓ, í. «1. (^Do latim fjui pro
ijwn. Substituição, equivoco, engano de
uma eou-^,1 por outra.
QUIRAGRA. Vid. Chiragra.
QUIRÁTE. Vid. Quilate.
QUIRATO, .-. /-. .\rvore do Rrazil.
-j- QUIRINAL, '(■(/■. Pertencente a Qui-
riiio, a Uoinulo, ou a um dos sete montes
da antiga Roma.
— Dizia-80 do palácio edificado sobre
o monte Quirino.
— 6'. /. pi. Quirinaes ; festas antigas
dos romanos cin h(mra do Quirino, ou
lifjmulo, que 80 celebravam no mez de
fevereiro.
QUIRIOS. Vid. Kyrios.
QUIRITE, 8. m. Cavalleiro, cidadSo
romano.
QUIROM... As palavras que principiem
por Quirom..., busquem-se com Chirom...
QUISECO, í. «1. Arvore de Benguela,
cujas folhas são crespas, e teem ura pal-
mo de comprido.
— O polme d'e3te pau applicado «obre
a testa, abranda as dores de cabeça.
QUISILA, QUIZILA, etc. Vid. Quigila.
QUISSÀ, wlv. Vid. Quiçá.
QUISTO, nilj. — Bem, ou maí quisto ;
que goza ou não de sympathias, quo à
querido ou detestado. — «E de sua doen-
ça e perigo pesou muvto a todo o Reyno,
porque era muyto bem quista de todos,
e fizeram por ella em muytas parte* pro-
cissões, e muytas deuações, e prouue a
nosso Senhor de lhe dar vida, ]><«rem não
inteira saúde, porque viuendo depois mais
de trinta annos sempre foy doente, e o
mais do tempo em cama.» (íarcia de Re-
zendcj Chronica de D. João 11, cap. 180.
QUITA, í. /. Kcmissão de alguma di-
vida, ou obrigação. — « E assi per pala-
ura pedio perdão á clerezia, caualleiros,
e pouos do Portugal, com conhecimento
de algumas cou.sas que fizera como não
deuia, e a muytos homens fez com muyta
temperança muytas mercês de tenças, e
quitas, officios, e beneficios, satisfações
em dinheyro, segundo ca'la hum o mere-
cia.» (Sarcia de Rezende, Chronica de D.
João II, e.ip. 212.
QUITAÇÃO, .«. /. (Do thema quiU, de
quitar, com o suflRxo «açãol. U acto pe-
lo qual se desobriga alguém de satisfazer
o que deve.
— Quitação peremptorin ; a morte.
QUITADO, port. pass. de Quitar.
QUITADOR, .«. III. Cão que está ensi-
QUIZ
QUIZ
QUIZ
59
nado a tirar a caça aos outi-os, para que
nào a despedacem nem comam, e a tra-
zel-a á mào.
QUITAMENTO, s. m. Desquite de casa-
do ; divorcio.
— Quitaeào da divida por escripto,
etc.
QUITANÇA, s. f. ant. Quitação, de-
claração que se passa ao devedor quando
paga.
QUITANDA, s. /. Logar onde se com-
pra-ou vende; mercado.
QUITAR, r. a. Fazer quite, remittir a
divida ; desobrigar, libertar, desembai-a-
çar, desonerar.
— Impedir, tolher.
— Prolubir, vedar.
— Poupar.
— Por quitar questões; por poupar,
evitar ou fazer cessar.
— Desquitar-se, divorciar-se.
— Quitar-se, i". rejl. Caír-se da aven-
ça, nào a cumprir conforme tinha ajus-
tado.
— Divorciar-se. — Quitar-se do ma-
7- ido.
— Apartar-se, emendar-se.
— Separar-se, deixar-se alguma cousa.
QUITASOL, s. m. Pára-sol, guarda-sol,
chapéo de sol ; sombreiro de pé que se
abre e fecha para resguardar e abrigar
do sol a quem o leva,
QUITE, adj. 2 gen. Livre da divida ou
obrigação que se pagou, perdoou, etc.
— Aparta lo, desquitado.
QUITEMENTE, cidv. ant. Livremente,
sem duvida, embargo, nem embaraço.
QUITEVE, s. rn. Nome commum dos
reis das terras do sertão, e rio de So-
fála.
QUITO, ai^j. Quite, tirado.
QUITUMBATA, s. f. Arbusto que nas-
ce e se cria em Angola, Benguela, e al-
gumas partes da America ; a sua raiz
tem varias virtudes medicinaes, e é útil
para camarás de sangue.
QUITURA, s. /. Um moio de milho, no
Monometapá.
QUITUTE. Vid. Paparicho.
QUITY. Vid. Quite.
QUIXOTADA, s. /. Termo familiar.
Acçào própria de D. Quixote ; acçào ri-
dícula, extravagante.
-}• QUIZ. Pretérito perfeito do verbo
Querer. — «Vendo Affonso d'Alboquer-
que que ElRey lhe nào entregava este
Slouro, posto que nào soube logo destes
seus artifícios, como era costumado a dis-
simiúar palavras de" Mouros, nào quiz
esperar mais recados, nem menos os par-
tidos que lhe movia, promettendo de lhe
dar vinte e cinco mil cruzados polas cin-
co nàos que tomara dos Guzarates.» Bar-
ros, Década 2, liv. 6, cap. 2. — «E por-
que á força de armas tinha per muitas
vezes tentado comnosco sua ventura, quiz
experimentar que tal a teria per modo
de ardil, em que o metteo hum Tuam
Maxeliz Moiu-o Bengala de naçào, e ho-
mem mui sagaz, e astucioso, muito ac-
ceito a elle, como hum dos mais princi-
paes que lhe governava sua casa.» Ibi-
dem, liv. 9, cap. 6. — «D. Diogo de No-
ronLa nào se quiz embarcar atò vir re-
cado do Visorey, que em lhe dando as
cartas, no mesmo dia despedio Joaõ Pei-
xoto por Capitão mor de quatro navios,
e por terra mandou Gaspar Pires de Ma-
tos com quarenta piaens, e huma grande
soma de servidores, e boys, pêra traze-
rem o fato por terra.» Idem, Década 6,
liv. 9, cap. 4. — «Este teve uma filha,
que a natureza estremadamente fez for-
mosa. Quiz sua ventura que antre muitos
cavalleiros que a serviam como a mais
fermosa dama daquelle tempo, se namo-
raram delia dous grandes amigos, vas-
sallos de seu pai: um se chamava Bran-
dimar, e outro Artibel.» Francisco de
Moraes, Palmeirim dlnglaterra, cap. 90.
Qnh-noã nossa natiu-cza
Com tal condição fazer,
Que ja temos por certeza
Kào haver grande prazer.
Sem mistura de tristeza.
CAM., AMPUYrRIUES.
— «O qual partio das terras de Repe-
lim, ao derradeiro dia de Março, deste
anno de mil e quinhentos, e três, e aos
dous dias Dabril chegou ao passo do
A'ao, onde alguns dos seus Xaires quize-
ram logo cometer Karamuhim, sobrinho
dei Rei de Cochim, que já alli estava,
que lho defendeo como bom cavalleiro,
matando muitos delles, sem perder ne-
nhum dos seus.» Damião de Góes, Chro-
nica de D. Manoel, part. 1, cap. 73. —
«Que as que comerão delle melhorarão,
porem que todas as outras pessoas, que
forào dez, que não quizerão usar de re-
médio, morrerão damnadas poucos dias
depois.» Cavalleiro d'01iveira, Cartas,
liv. 1, n." 23.
•}• QUIZER. Futuro do modo subjuncti-
vo do verbo Querer. — «E já que se
acharam em disposição pêra tomar armas,
se foram á corte d'el-rei por ver a ordem
de sua vida, que era tal como atraz se
disse : e inda que trabalharam o que po-
deram por vêr Flerida, nunca acharam
maneira pêra poder ser : assim porque
elles se nào quizeram descobrir, como
porque ella nào saia nunca da camará
de sua contemplação.» Francisco de Mo-
raes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 15.
— «Em quanto estas palavras passavam,
o cavalleiro do Salvage se chegou mais
a elles ; Dragonalte lhe disse em voz al-
ta : Senhor cavalleiro, porque sintaes o
costume deste valle, ou haveis de expe-
rimentar minhas forças, e no fim delias
estar á ordenança do que a senhora prin-
ceza quizer, ou confessar que é a mais
fermosa dama do mundo, e mais pêra
ser servida.» Ibidem, cap. 130. — «Pelo
que vos torno de novo a requerer, que
façais com Lopo Vaz que se ponha co-
migo em direito ; e quando o não quizer
fazer, o hajais por alevantado, e me co-
nheçais por Governador da índia.» Dio-
go de Couto, Década 4, liv. 2, cap. 9.
— « Estando com este trabalho, tornou a
faltar o vento a Leste, e tornandolhe a
virar a popa, lançandolhe o leme à ban-
da, não lhe acodio a nào, antes foy agu-
çando de lò, e como o vento era rijo,
levoulhe o papafigo da verga grande, com
o que acodiraõ os officiaes tomar o da
proa, porque o nào perdessem, e antes
quizeraõ ficar de mar em travez, que
sem alguma vela.» Idem. Década 6, liv.
9, cap. 21.
Jlirizam com que pode desculpar-sc
De perder a Cambaica opulência?
Pois no Reino pudera segurar-sc
Se quizera pôr nisso diligencia.
De si súmentc devo lamentar-se
De sua ociosidade e negligencia,
Que a fortuna a ninguém leva forçado
A gràa prosperidade, ao grande estado.
FRANCISCO DE AXCB.VDE, PBlltEIBO CEBCO DE DIC,
cant. 9, est. 3.
Que pertendcs, PaiUiuo ? Intimidar-me ?
Ora inventa as historias, que qnizeres :
Que por mais que os estragos me ponderes,
Xunca o medo pueril há de occupar-me.
ABBADK DE JAZEXTE, POESIAS, tOm. 2, pag. 69
(ediç. 1787).
QUIZERA. Pretérito mais que perfeito
do verbo Querer. — «Ruy de Brito peró
que entendeo ser elle sabedor do caso,
agradeceo-lhe sua tão breve diligencia,
e assocegou todo o alvoroço da Cidade ;
porém depois quizera elle per justiça ao
modo de Utimutirája matar este Tuam
Colascar, e ante delle Çvu-ia Deva polo
que fez com Patê Unuz.» Barros, Déca-
da 2, liv. 9, cap. G. — «Quizéra o Go-
vernador dissuadillo, temendo, que nin-
guém lhe acceitasse a Fortaleza, porque
com a victoriá, e alteração do commer-
cio, faltavão os estímulos da honra, e
do proveito, que são os maiores incen-
tivos, de que os homens se vencem.»
Jaeintho Freire d'Andrade, Vida de D.
João de Castro, liv. 3. — «Ah ! que o
não era eu antes que te amasse. Não sei
se te fallo de sobejo na insupportavel
situação em que me vejo : e com tudo
do intimo do meu coração te agradeço a
desesperação que me enlouquece, nasci-
da de ti mesmo : e tanto assim que de-
testo a tranquillidade em que vivia an-
tes de conhecer-te. Adeos : que a minha
aíFeiçào a cada instante augmenta. Que
de cousas te quizéra dizer!» Francisco
Manoel do Xaseimento, Successos de ma-
dame de Seneterre.
7 QUIZESSE. Pretérito imperfeito do
modo subjunctivo do verbo Querer. — «O
do Salvaje não podendo soffrer vêr a sua
GO
Qiji m
QUOM
QUY
sonliora tanto espaço dontro na florpciítc,
poJiu fi I)aliart<5 quizesse acabar di; o
«loscansar o a illa tirar de iiiiai;ina(;õoí.»
Francisco do ^Io^ao^^, Palmeirim d'In-
glaterra, cap. I ,';:'). — «Fu1;í<», (|uu ton-
Uo (!sto coiiiuiciíiicnto,. nilío nu; vejo mu-
dado da tcnrào (|iic me aqui trouxe, maí)
antes m alf,'um destes cavalleiros que
03to passo ííuardam, quizessera comif^o
correr um par do laneas, .satistazer-Uie-
hia o desejo, com tanto que nJlo mo obri-
gassem a maia, que mo temo quo essas
mostra» desbaratem quem as offende, e
favoroeam quem por (dias so combato.»
Ibidem, cap. 10',). — «O (íovernador man-
dou levar o remo, o esporou hum pouco,
c logo chegou ;i sua embarcarão huma
almadia pequena, em que vinha hum ho-
mem, quo lhe pediu da parte de EUlcy
de Tanòr (o que (jai-cia do Sà fez Chris-
taõ) quo sobrccstivesso uaquiilo, que os
Príncipes ]\Ialavarc3 queriaõ cò elle paz,
com todos os partidos que quizesse, o
quo lho dèssc lic('n(;a pcra ello vir falar
com ollo Sobre aípiclle negocio.» Diogo
de Couto, Década (í, liv. 8, cap. 13.
QUO, "»f. (';i, para este lugar.
f QUOARENTA. Vid. Quarenta.— «Dalli
por diante vieram-lho muitas fazendas,
fazendo os Louthias que nara atentavam
nisso, c dossimuhmdo com os mercadores.
E assi desta maneira se iizeram as fazen-
das aquelle anuo, que foy do quoarenta
o oito.» António Tem-eiro, Itinerário, ca-
pitulo 1?;!.
QUOCIENTE, s. m. (Do latim quotiens,
ijuolieiíti'),/]. llesultado da divisão de um
numero por outro.
QUODLIBETAL, a<lj. 2 gen. Pertonconte
aos quodlibctos, ou que se forma dos mes-
mos.
QUODLIBETO, s. m. anf. Tratado de
quostõtM [iropostas ao arbítrio do auctor.
QUOGELO, s. m. Animal da Cafraria,
fS})i'fii^ d(í crocodilo.
QUOJAS-MORROU, s. m. Espécie de sa-
t>T0 no reino Quoja, e Angola, a que nós
chamamos selvagem.
QUOMA. Imto do Coma, por Como.
QUOMO. Vid. Como. — <( lios senhores,
c tidalgos que se acharão cm Aluor acom-
panharam ho corpo dei Rei atte a cidade
de vSyluos, onde ho enterrarão na Sé, pollo
elle assi ter mandado, c ali Jouue atte que
ho tresladarão pêra ho ^losteiro da Bata-
lha, quomo SC ao diante dirá.» Damião de
(tocs, Chronica de D. Manoel, jmrt. 1,
cap. 1. — uE naõ se tendo por satisfeito
disto, qnomo catholico Christaõ, e amigo
do culto diuino, pcra que se naquellas
partes podossc com mijr authoridado ce-
lebrar, àlcm das rondas que ja tinhari ho»
Sacerdotes, do quo se podiaõ manter ho-
nestamente, ordenou que todolos tributos,
o páreas (jue pagassem hos mouros, se
desse ho dizimo à Igreja, ho quo «iantos
naí) acustumaua fazer.» Ideui, Ibidem,
cap. 11.^ — «lloh quaos ca-samentos am-
bos houueraõ depois cffecto, porque el liei
casou com ha Princesa dona Isabel, o
depois de viuuar delia, casou com ha
mesma infante dnna Maria sua irm.í, quo-
mo se ao diante dirá.» Itlom, Ibidem.
— «A oste dom Sancho mudou el Kei
ho titulo do (Jonde do l''arão, cm Oou-
de do Demira, quomo lio fora ho Conde
Dom Sancho seu auo. Foram todos estes
senhores bem recebidos dcl Rei.» Idem,
Ibidem, cap. 13.— «E pois trato da ca-
restia do pão, quero também dizer quomo
hos Reis de Inglaterra acodirào à das car-
nes, pelo preço delias ir em grande cre-
cimeuto per todos seus Regnos, c foi com
mandarem por lei expressa que ninhum
homem per grão senhor, e poderoso que
fosse, podesse criar mais que huma certa
e taxada cautidade de gado, assi grosso,
quomo meudo.» Idem, Ibidem, cap. 21. —
«Mas a estes enleos lhe deu por ventura
azo ho concerto, que el Rei com elle fez,
promettondolhe, que so lhe desse todos
estes foraes feitos, c acabados dentro do
hum certo tempo, que lhe fazia por isso
mcrce de quatro m'ú cruzados, quomo fez,
alem do salário, o mantimento, que lhe
ordenou pêra elle, e pcra lias pessoas, que
com elle soruirão todo ho tempo que nisso
andou.» Idem, Ibidem, cap. 25. — «Vas-
quo da Gama partio de Lisboa, quomo
atras íica dito, lium sábado viij. dias de
lulho do anuo do Senhor de M.ccccxcviJ,
e com elle seu irmão Paulo da Gama, o
Nicolao Coelho com outra nao, que leuaua
mantimentos de que era capitão Gonçalo
Nunez.» Idcni, Ibidem, cap. 3õ. — «Vas-
quo da Gama, o os outros capitães co-
nhecendo que craõ mouros, estiueraõ sem-
pre sobre auiso, com tudo hos conuidàraõ
com fructas que traziaõ e entre ho ban-
quetear lhes perguntauaõ da terra, e ha
calidade delia, dos quaes souberaõ quomo
aquella ilha se chamaua Moçambique, e
que ho Xeipie era vassalo dcl Rei de Qui-
loa.B Idem, Ibidem, cap. 3(). — «Quomo
\'asquo da Gama soube que o Cabaio ar-
maua sobrelle, com ha mor diligencia, quo
pode, acabou daparelhar has nãos, c a
huma sesta feira cinco dias Doutubi'o se
fez à vela caminho de Melinde. louando
consigo este judeu, a que sempre fez muita
honrra, o bom giiaaihado, pelo acbir ho-
mem, que tinha experiência de muitas
cousas da índia, c doutras prouincias, e
o trouxe a Lisboa, onde so fez Chriístào,
e lhe chamarão Gaspar da (iama, do qual
se el liei dom Emanuel depois seruio em
muitos negócios na índia, e o fez caual-
leiro de sua casa, daudolhe tença>í, onle-
nadoB, c ofBcio» de que se manteue Uj<la
sua vida abastadamente.» Idem, Ibidem,
cap. 44.
QUOTA, «'//'. /. Parte ou porçSo fixa e
detorminad;i. — Quota parte.
QUOTE. Vid. Cote.
— Vis^ti-h, lie quote ; de c^-ida dia.
QUOTIDIANAMENTE, uAv. ,1V quoti-
diano, com o .-uflixo o mente»). Todos os
dias, cada dia. — oG fnicto corresjKinde
abundantemente ao trabalho, porque é
grando o numero de alm.ifl innocentes e
adultos, que d'entre as mãos dos missio-
nários, por meio do baptismo, estão quo-
tidianamente voando ao céo ; sendo muito
maior a quantidade dos que, recebidos os
outros sacramentos, nos deixam timbem
certas esperanças de que se salvam.» Pa-
dre António Vieira, Cartas, n." 17 (ediç.
1854).
QUOTIDIANO, nilj. (Do latim qxiotidia-
nus). I)c lada dia, de todos os dias. —
Afissn quotidiana. — tOs Povos Caspios
tinhaõ por costume p«>r cm pris.-jõ os Pavs,
e as Mays, aonde morriaõ à fome : e des-
pois de mortos os cxpunhaò no campo ;
aonde, se os comiafí as Aves, julgavaõ
que elles eraõ bemaventurados, e que es-
ta vaõ em perpetuo descanço; porem se os
devoravaõ os caens, ou se corrompiaõ de
sorte que nelles se geravaò bichos, en-
tendiaõ, que tinhaõ sido mal fadados, e
choravaõ por muytos dias a sua disgraça.
Os Cantabricos saõ taõ perguiçosos, e
inerptes, que as Mays saõ as que cuydaõ
na vida, e lhe grangeaõ o quotidiano ali-
mento; e as Jlolhcres na occa>iaò do par-
to saij as quo se occupaõ no serviço da
caza ; e ao mesmo tempo os Maridos se
agazalhaõ na cama, apertão a cabeça,
naõ comem se nafS ovos frescos ; e em
tudo se trataõ, como so elles foraõ, os
que tivessem experimcnt^ido o trabalho do
parto.» Braz Luiz d'Abreu, Portugal me-
dico, p:ií. 24. t} ■'^t>.
QUOTIZAR, ou QUOTISAR, r. o. Repar-
tir )>or ]>;irteí certas, quotas partes.
QUUTILIQUÉ, loc. popular. — Homem
de quutiliqué ; homem de respeito, de
credito.
— Cousa insigne. Vid. Cutiliqnè.
QUY, por Aqui. Xesta vida.
s. m. Decima oitava letra do
alpliabeto poi-tuguez e deci-
ma quarta das consoantes.
Um R grande. Um r peque-
no. Um R maiúsculo. Um r
minúsculo.
— O r tem duas pronuncias principaes
na lingua portugueza : o som pleno no
começo daís palavras e algumas vezes no
maio (eatrio escreve-se rr) como raro, rir,
rnsu, russo, òarro, carro, serra, forro,
(jorro, urro, e o som brando sempre no
meio das palavras, em regra deante de
consoante e era muitas palavras entre vo-
gaes : deante de consoante como em ar-
vore, larva, carne, cerne, cornOj j^eriia,
firme, forno, turno, merlo, biròante, etc. ;
entre vogaes como em ara, cara, para,
rara, vara, cera, dera, era, fera, leria,
mero, Nero, jjêro, serôdio, vero, ira, fira,
lyra, mira, tira, corar, morar, furar.
— Carregar no r; defeito de pronuncia
que consiste em dar-lhe sempre um som
mais ou menos forte.
— Prender no r ; defeito de pronuncia
que consiste em não pronunciar clara-
mente o r ou em deixar ouvir em logar
d'elle uma consoante affim.
— Ré abreviatura de receberá, respos-
ta, réo, reprovo, reverendo.
— Nas formulas medicas, R significa
recipe, receba, tome.
— Tenno escolar. Levar um R; ser vo-
tado com um R, signal de reprovação da
parte d'um dos lentes examinadores ; d'es-
tes diz-se deitar umB.. — «Ré letra semi-
vogal, simples, e não de duas maneiras,
como os vulgares cuidão, que põem no
seu alphaboto duas figuras : hua, que di-
zem ser de .r. singello, e outra de do-
brado, que se põem no principio das di-
ções, ou quando soa como dobrado.»
Duarte Nunes de Leão, Orthographia da
lingua portugueza.
RÃ, s. /. Vid. Rãa.
RÃA, s./. Vid. Ran.
— Adagio:
— Ou é lobo, ou rãa, ou feixe de lenha,
ou aruieo de lã.
RABAÇA, s. /. Planta aquática, que
produz umas flores brancas ordenadas co-
mo as de uma rosa.
— Bubão de má raça.
— Figuradamente : Pessoa desengraça-
da, insípida, com indisposição para ter
saber, e virtudes, e que só tem disposi-
ção para comer e dormir.
RABAÇAL, ."N. '111. Plantio de rabaças.
Vid. Labaça, e Labaçal, que differem.
RABAÇARIA, s. f. Hortaliça, salada,
fructos vulgares.
— Amigo de rabaçarias ; amigo de hei--
vas, e fructos grosseiros e vulgares.
RABACEIRO, A, adj. Amigo de raba-
çarias.
— Siiljstantivamente : Um rabaceiro.
Vid. Rabaça.
RABACOELHA. Vid. Rabicoelha.
RABADA, í. /'. O rabo do peixe.
— Termo de náutica. A parte da ré
do navio, onde se compreheude a maior
altiira.
— No trajo antigo, era uma trança para
traz, cheia de laços de fitas.
RABADAM, s. m. Servo soldadeiro rús-
tico, que tinha guarda de gado, e talvez
de porcos.
RABADANA, s. f. Um jogo de rapazes
usado na pivtviucia da Beira.
BABADELLA, s. /. Na ribeira de Lisboa,
é o resto do peixe que fica para o pesca-
dor, que o pescou á linha.
— Termo de anatomia. A extremidade
do espinhaço, ou osso sacro.
RABADILHA, s. /. Termo popular. Ra-
badella, sobrecu da gallinha, uropigio.
— Termo do anatomia. Osso sacro, e
ás vezes se toma pela carne que o cobre.
RABADO, A, adj. Que tem rabo, com
cauda, caudato, — Cometa rabado.
RABALDE, s. m. Vid. Arrabalde.
RABALHA, adj. f. — Quarta rabalha;
medida de líquidos usada no Porto ; era
chamada outr'ora rabalva, medida mais
diminuta que a quarta nova.
RABALVA, s. /, Ave de rapina noctur-
na. Vid. Rabalha.
RABANA, .s. /. (íeuero de atabales usa-
dos pelos malabares, e que trazem pen-
durados ao pescoço.
RABANADA, s. f. Pancada com o rabo.
— Este homem levou uma rabanada d' este
peixe.
— Rabanada de vento; repellão.
— Termo das províncias do Douro e
Beira. São fatias de pão com ovos e assu-
car, que se costumam fazer pelo natal e
entrudo.
RABANAL, s. m. Plantio de rábanos.
RABANETE, s. m. Diminutivo de Ra-
bão. Planta da familía do i-ábão.
RABANHO, s. m. Vid. Rebanho.
RÁBANO, s. m. Vid. Rabão.
RABÃO, .s. m. Termo de botânica. Hor-
taliça vulgar, que é uma espécie de raí-
zes brancas cheias de sueco.
E a outra ras.ão do ràhcio,
quo ha gcntca
que o comem c'o9 meus dentes.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pag. 25.
RABÃO, ONA, adj. Que tem o rabo cor-
tado até perto da raiz, e arrebitado, cor-
tando-se-lhe os músculos depressores, á
moda ingleza, fallando-se dos cavallos e
éguas.
— Substantivamente: Um rabão.
RAB'AVENTO, adv. Usado na seguinte
locução : Voar a ave rab'avento ; voar se-
gundo a direcção do vento ; em opposição
a j^eifavento; vento em popa.
RABAZ, adj. 2 gen. Roubaz, que arre-
bata, que leva por força. — Animal feroz
e rabaz. »
RABBI, s. m. Entre os judeus, é o mes-
tre da lei, que decide as questões de re-
ligião, e de direito ; faz os casamentos,
G2
KAliK
UAIU
IIAIU
(Icciani oí direitcs, ctc. — uO perro do
julcii — di«30 mostro Alborto, encliendo
na malffas — parece que «o coiifeuaou ao
rabbi. K uma re.ftitui<;ili" que nos (|uer
f.iZvjr pela lualdicta zurra|)a coniíino mais
d'uuia VL-/. luiH ti^in i-iivi'ii«'iiado. . Aluxau-
dre II Ml- il i 1.1, Monge de Cister, cap. 18.
f RABBINADO, .". "'. \'i 1. Rabinado.
t RABBINICO, A, alj. Vid. Rabinico.
-] RABBINISMO, s. f. Vid. Rabinismo.
■\ RABBINISTA, s.' 2 yen. \l\. Rabi-
nista.
RABBINO, s. m. Vid. Rabino, e Rabbi.
— «Este judmi (pii' mereceu a eoiili.iin,a
do 8ur. rei I). IVdro e a envestidura de
seu enviado, convidou o pa lie Vieira para
ouvir na svnagof^a o rabbino explicar o
texto.» Bispo do Ur.Ho Pará, Memorias,
publicadas por Camillo Castello JUmucu.
pa^'. liil.
RABBONI, >■. ii>. Titulo liouorifico entre
os jiidou:*, i|ue siíínitiea «icjiíct'. Vid. Rabbi.
RABBOTH, s. nt. Nome com que os Ju-
deus dào a entender os conuncutarioj al-
legorieos dos cinco livros de iloysés.
•{■ RABÊ, s. )it. Palavra derivada do
árabe, alludindo ao mez do fevereiro. —
(iMatoma a quem os Arábios, por todas es-
tas partes ehamào ^lahamet, nasceo ua
Arábia Felice, junto à Cidade ileclia, na
Alilea Itrarip, em o anno de quinliento*
e sessenta e noue, aos vinte três dias do
mes Rabè, que he o de Feuereyro.» Fr.
(iaspar de S. Bernardino, Itinerário da
índia, eap. 20,
RABEADOR, A, <ilj. Que bole muito
com o r^ho. —BesiA raòeaãora.
— Substantivamente: Um rabeador;
diz-se, no sentido figurado, de uma crjan-
ya travessa, que nunca est.i quieta.
RABEADURA, ••*. /. Jlovimento feito
com o rabo. — ^1 rabeadura do cão, do
yitto, ili iiti-allo, ete.
RABEAR, V. a. Mexer com a cauda.
— Jlover as nádegas em certas dan-
ças pouco decorosas, bambalear, rebolar,
saracotear.
— Figuradamente: Galantear, fazer
corte, e afagos submissamente, á manei-
ra do cào, que dá ao rabo, ou o abate
fagueiro, e seguin<lo a qu>.'ni o afaga.
RABECA, s. /'. Instrumento musico de
quatro cordas, que se ferem com um ar-
co de cerdas de eavallo ; viola de arco.
— «Os instrumentos que usam pêra tan-
ger, sam humas vi(das como as nossas,
inda que nam também feitas, com suas
caravellias pêra as temperarem, e ha hu-
mas de fei(,'am de guitarras quo s.ão mais
pequenas, e outras a feii;am do viola dar-
co que sam menores : usam também de
doçainas e de rabecas, e de huma ma-
neira de charamelas, que quasi arreme-
dam as de nosso uso.» Frei (íaspar da
Cruz, Tratado das cousas da China, c;i-
pitulo 14.
— Alguns escrevem rebeca. Vid, este
vocabvdo.
RABECÃO, n. III. Instrumento á manei-
ra de rabc-ea, j)orém em ponto grando.
— Ha rabecão ijrande, e ptijueiui, que
embora tinliam entre si certa similhan^-a,
sào coiiitudo iiistruinentoj diirereutes,
RABECO, «. //-. Vid. Refoucinhado.
l.í RABEIRA, í. /. Pingada, ra.-^to da
ca(;a.
•2.) RABEIRA, *./., ou RABEIRO, s. m. O
resto do grilo, quo tiea na eira, c)ii uo cel-
leiro misturado com pedras, torra, etc, de-
pois do separado o melhor. Alguns dAo a
isto a denoinina^-3o do aliiiqias, porém es-
tas propriamente silo o que cáe du joeira,
quando por ella passa o grito.
RABEL, s. IH. Rabeca agreste como alaú-
de de três cordas, que produz um som
mui aguilo quando se fere.
— Rabil, ou árrabil.
RABELLO, s. »/i. Cabo pregado no cou-
ce (la rabi»;,i, que serve para o lavrador
pegar, ([uaiulo lavra.
RABEQUINHA, s.f. Diminutivo de Ra-
beca. K.ibeea pequena.
RABEQUISTA, *. in. Tocador do ra-
beca.
RABERVIVA, s. f. Ave silvestre.
RABETA, .s. /. Vid. Alvéloa.
RABIA, s.f. Vid. Raiva, e Hydrophobia.
RABIADO.' Vid. Arabiado.
RABIAR, *•. a. Vil. Raivar.
RABIA VEL, s. iii. Termo antiquado.
Um livro de jurista, mencionado entre
as Duyrutaes (decretaes), e um Seisto, e
outros livros, em um inventario.
Em um instrumento de partilhas de
ISõlt lemos esta verba: Ilumas Dagrataes
em linguagem, e um rabiavel, e um seisto
todo em pei'gaminho, e um quinto, e um
seetimo cm papel. Documento de Pendura-
da. E seria este Rabiavel alguma Tratica
criminal, ou Alfarrábio, por onde os rábu-
las e advogados d'aiinelle tempo se go-
vernavam no seu officio, que era mais de
razoes vàs, que de solidas razões V.,.
RABIÇA, s. f. O rabo do arado, onde
o lavrador pega, para lavrar ; esteva,
— Espécie de rábào.
RABICÃO, adj. (Do latim riibens\. — Ca-
vallo rabicão; eavallo que tem cerdas
brancas uo cabo, O castelhano diz rubia-
no, como pêllo mesclado de ruço e Tcr-
melho,
RABICHÃO, ONA, adj. Rabão, Vid, es-
te vnealiulo,
RABICHO, s. m. Peça da sella, que vai
presa pur baixo da sua parte posterior ;
n'elle se euiia o cabo do cavaUo, para a
sella n.^o correr para diante.
— Chicote da cabelleira, e da antiga
penteadura dos homens.
— Termo de náutica. O chicote que
se deixa tiear na ali;a de qualquer moi-
trxo, patesci», Ciidernal, etc, e d'aqui pro-
vém talha de rabicho, moitrio, etc, a
obra embotijada, quo se pratica nos chi-
cotes dos cabos, que gu;u'necem os na-
vios apparelhadoâ com proluxidadc
RABICOELHA, *. /. Ave aquática pouco
mais ou menos de grandeza igual á de
uma perdiz, de cór parda, verdo e cin-
zenta.
RABICURTO, A, 'idj. De cauda curta,
— A te rabicurta.
RÁBIDO, A, 'idj. iDo latim raUJu$,.
Furioso, hanhudo, enraivecido, raivu»o.
Atiça niairi a rahida cama^cin :
O cuinpo uiutaii^uontiido &in olhos mostrm
Os trou-oa danibii^Ào, da gloria o fructo.
j. A. DK í<Ar»a>j. sr«T>j.v, caiit. 2.
RABIFORCADO, A, <idj. Que tem o ra-
bo farpado, ou dividido em firma de to-
souia aberta, — Ave rabiforcada,
RABIL, s. m. Termo mais usado que
Rabel. \'id. este vocábulo,
— Lyra agreste.
RABÍLEIRO, «, m. Tocador de rabil,
— Ibiiiniii que faz rabis.
RABILONGO, A, adj. Que tem a eau<ia
comjirida.
RABINADO, ». í/l. Dignidade de rabino.
RABINHO, ^. m. Diminutivo de Rabo.
Rabo iieqneno,
RABINICO, A, adj. Que é peculiar aos
rabinos. — Um acervo de ch{n.tr<u rabí-
nicas.
— Escola rabinica ; escola cujo obje-
cto é formar e tornar aptoa 03 rabinos
para o culto judaico.
— Caracteres rabínicos ; caracterea re-
dondos dos hebreus.
— Liiujud rabíQÍca; a lingna hebraica
moderna.
RABINISMO, s. m. A doutrina dos ra-
binos, a seita delles.
RABINISTA, s. 2 gen. Pessoa que se-
gue a doutrina ou que estuda os livros
dos rabinos.
RABINO, s. «1. Titulo dos sábios ju-
deus, equivalente ao de doutor, e que s-j
se dava ao homem verdadeiramente ins-
truído na Escriptura e leis di« judeus.
Este titulo deu-se mais tarde a toda a
pessoa litterata ; mas entende-se sobretu-
do por rabinos os escriptores judeus anti-
gos que commentaram e exjdicarani a
Biblia, ou que escreveram sobre assum-
ptos da religião judaica.
— Hoje chamam-se rabinos os douto-
res do culto judaico collocados á testa de
algumas corporações. Suas funeções sào
pregar, abençoar os casamentos, etc
— Grand* rabino ; o chefe d'uma sv-
nagoga ou d'um consistório israelita.
— Figurada e popularmente : Desin-
quieto com teima ; maldoso, malévolo,
que tem mau génio.
RABIQDE, 5. »i. Vid. Arrabiqne.
RABIRDIVA, s.f. Rouxinol dos mnros;
pass;iro de arribaçilo.
RABISACA, #, /, Termo popnlíir. Ida
ou digressão clandestina, e ás occultas.
— Loc: Dar uma rabisaca jxjr ca$a
de alguém.
RABO
RABO
RABU
Go
RABISCA, s. /. Pequeno esgalho, que
ticou ua vinha por incúria do que a vin-
dimou. Vid. Rabiscas.
RABISCADEIRA, s. f. Mulher que ra-
bisca a vinha.
— ilulher que faz rabiscas.
' RABISCADOR, s. m. Homem que anda
ao rabisco.
— Honiora que faz rabisc<as.
1. RABISCAR, r. a. Fazer rabiscas,
sujar com rabiscos, ou traços irregulares
de penr.a. ou lápis.
2.) RABISCAR, r. a. Corrupção de Re-
buscar . Buscar segunda vez.
— Rabiscar os cachos na vinha; tor-
nar a vêr se se acham cachos que esca-
param ao olho do vindimador.
— Toma-se também no sentido figura-
do.— Ir a alguma parte rabiscar o que
Jicou .
— Vid. Rebuscar.
RABISCAS, s. /. ijhtr. Traços ou ris-
cos iufnrnies feitos com penna ou lápis.
RABISCO, s. »!. As uvas que escapa-
ram á mào do vindimador, e que por in-
cúria d'este ficaram na vinha.
— Ir ao rabisco ; rabiscar as uvas que
ficaram na vinha por descuido.
RABISECCO, A, a^lj. Termo popular.
Secco. estéril, infructifero, minguado.
RABO, s. m. [Dõ latim rapum). A
cauda, cabo ou colla dos quadrúpedes :
n'estes consta de ossos vertebrosos na ex-
tremidade da anca, cobertos de pelle, e
pêllo, ou de cabello; nas aves consta de
pennas ; nos peixes é cartilaginoso.
Falla'ido com salvos rabos,
Ilida que me tens por vil,
Acharás homens cem mil
Hom-ados, que são diaboa.
Que cu não tenho nem ceitil.
E bem honrados te digo,
E homens de muita renda,
Que tem divedo comigo.
GU, VICENTE, ArrO DA FEIR.I.
Assi, pesar do Diabo,
pesa-mc a mi muito d"isso.
Emfim. são bens que tem cabo,
que tem coma c tem rabo :
era uma moça de serviço,
A5T0XI0 PRESTES, AUTOS, pag. 1.39.
— Pimenta de rabo ; pimenta longa.
— ■ Termo de marinha. Rabo do minho-
to; é o entalhe que se dá aos topos dos
madeiros que se querem unir, entalhan-
do uns nos outros pelo centro.
— Rabo de a^no; planta, cujo sueco,
sorvido pelo nariz, faz parar o fluxo de
sangue.
— Rabo de raposa ; a flor amaranto.
— Rabo de cavaUo ; vid. Cavallinho
(herva < .
— Rabo fie ovelha; espécie de uva
grossa.
— Termo de marinha. Rabo de rapo-
sa; obra de fio de vela ou de carreta,
que os marinheiros praticam nos chicotes
das escotas para maior luxo.
— Cauda. — Rabo do vestido de uma
dama.
— Rabos de juncos ; aves que se en-
contram na derrota da índia, do tama-
nho de pombas torcazes ; no rabo tem
uma penna delgada, e muito mais com-
prida que as outras no meio d'ellas.
— Loc. POPULAK : Mentira de rabo;
mentira de bom tamanho.
— 'Kaboforcad.o ; ave, Vid. Fragata.
— Loc. : Metter o rabo entre as per-
nas; aquietar-se com medo.
— Loc. POPULAR : Olhar com o rabo
do olho; olhar virando o preto, ou a pu-
pilla para o canto externo, ou para a par-
te das fontes, para olhar a furto.
— Termo antiquado. Coronha, ou re-
paro das boccas de fogo, ou artilheria
miúda.
— Loc. : Acudir, fazer alguma cou-
sa, festejar, receber com o rabo pe?o
chão; acudir, receber, festejar com as
humiliações e festas dos càes timidos, e
fagueiros, e como os càes de rastos.
— Pegue-lhe pelo rabo ; diz-se para si-
gnificar que alguém fugiu, e n.no se po-
derá alcançar, ou se nos escapará ao al-
cançal-o.
— Loc. popular: O rabo ê ruim de
esfolar; os extremos sào trabalhosos.
— Adágios e proat:kbios :
• — O rabo é o peor de esfolar.
— Manda o amo ao moço, o moço ao
gato, e o gato ao rabo.
— Asno morto, cevada ao rabo..
— Brincai com o asno, dar-vos-ha na
barba com o rabo.
— Ha um anno que morreu o asno. e
agora lhe cheira o rabo.
— Bom cào de caça, até á morte dá ao
rabo.
— Da casta vem ao galgo, ter o rabo
largo.
— A carneiro capado, nào apalpes o
rabo.
— A mulato sempre parece asno, quer
na cabeça, quer no rabo.
— Morreu vosso macho, ainda agora
lhe fede o rabo.
— De rabo de porco nunca bom vi-
rote.
— Aqui torce a porca o rabo.
— Quem rabo corta, por detraz se
descobre.
— Bole com o rabo o cào, nào por ti,
senào pelo pào.
— Ovelha farta do rabo se espanta.
— Nem cada dia rabo de sardinha.
— Em março nem rabo de gato mo-
lhado.
— Ai-renego do cavallo, que se enfreia
pelo rabo.
— Bem sabe este onde a bugia tem o
rabo.
RABOLÃO, s. m. Homem que diz ra-
bolarias, paroleiro. Vid. Rebolão.
Vid. Rebolo.
7. Alimpar com o ra-
P] lina grande de car-
adj. Que tem rabo ou
— Segundo a etymologia deve escre-
ver-se Rabulão.
RABOLARIA, s. f. Palanfrorio, pala-
vreado, trovoada de vozes, sem substan-
cia alguma de razào e fundamento,
— Razões de rábula.
— Palavras ameaçadoras, que ficam
em nada.
RABOLEVA, .«. m. Rabo de papel, ou de
panno que se põe nas costas de algucm,
pelo carnaval. — Pôr em algucm um ra-
boleva.
RABOLO, s.
RABOTAR, í-
bote.
RABOTE, .t.
pinteiro.
RABUDO, A,
cauda comprida.
— Termo pouco usado. Que tem ca-
bellos longos nos posteriores da cabeça,
e nào é chamorro.
— Vestido rabudo ; vestido de cauda.
— A respeito d'este termo já conta al-
guns séculos o prejuizo louco, com que o
vulgo portuguez chama aos castelhanos
rabudos, como se nascessem com um
grande e vergonhoso rabo. Porém nào ha
que admirar n'isto, pois todas as nações
confinantes, entre quem houve guerras,
ódios, invejas, etc, se costumam recipro-
camente injuriar com anexins e apodos,
bem ou mal fundados. E se os portugue-
zes chamam aos hespanhoes rabudos, estes
os tratam de judios. Os francezes tam-
bém chamam aos inglezes rabudos ; e
isto tomado de uma pala-\Ta equivoca,
que assim como significa bizarro, guapo
e bem alinhado, egualmente quer dizer
rabudo. E verdade que de algumas na-
ções e famílias se conta, que u'ellas nas-
cem alguns, ou todos com rabo. ou maior,
ou mais pequeno. Diz-se que na ilha For-
mosa ha uns homens silvestres com uma
excrescência no fundo do espinhaço, a
modo de rabete ; vivem no campo, e sào
mui damninhos aos moradores da cidade ;
porque em apanhando alguns d'elles os
despedaçam : Que nos montes da ilha
de Borneo ha uma casta de gente que
toda nasce rabuda ; e segundo a rela-
çào de Pedro Martyr, na terra chamada
Insignavim ha gente com rabo, nào flexí-
vel, como o dos animaes, mas tào duro e
teso, que nào se assentam senào em
bancos furados ; e para se assentarem
no chão, mandam fazer buracos na ter-
ra, em que mettem o rabo. Mas confes-
sando ingenuamente que ha monstros,
sempre diremos, que nào havendo em-
baraço, a sabia natureza procede inva-
riável em seguir as leis cosmologicas,
que recebe do seu auctor, e pelas quaes
o racional não deve nascer rabudo.
Dons fundamentos tiveram os portu-
guezes para chamarem aos castelhanos
rabudos : o primeiro foi a balela que
correu, de que a rainha D. Brites, mãe
64
KA<'A
ka(;a
KACII
de cl-rei D. Diniz, o dcscendontc por
8iia niílií da casa dn í!ui»inào (que di-
ziam que tivera ai/^uns iillio» com ra-
bo) nascera eoui cauda. K «ubiu tJiiito
do ponto tilo íjroHSoiro prejui/.o, que da»
choupanas (Mitrou pelos palácios; e el-
roi I ). Seliastino no I ." lio a/jo^to de
ir)(>í), fez abrir to'ias as sepulturas dou
rei» que estilo no mosteiro do Alcoba^M,
com o pretexto do vêr o estado dos bcu»
corpos ; nia.s na verdade só a tim de fa-
zer examinar no da rainba ]). Brites a
tal suspeita, (pii; se achou ser inteiramen-
te falsa. O sefíuudo fundamento foi : que
esta rainha introiluziu cm Portugal as
cotas de rabo ou caudatas, ile que se
serviam antigamente as maiores senho-
ras e priíicezas, E a frufíalidado por-
tu,i;ue/.a, estraniiiindo o trajo deu o ti-
tulo de rabuda á introductora d'ellc : e
d'aqui por despi-ezo se attribuiu aos cas-
telhanos o mesmo titulo.
RABUGEM, ou RABUGE, s. /. Sarna
que d;i na ra(;a canina.
— Fiirurahi e popidarinonte : Mau hu-
mor, imiH rtincncin, abi>rreein\ento.
RABUGENTO, A, "'//'. (^ue tem rabu-
gem. — Cão rabugento.
— Figurada e iiopularmoute : Imper-
tinente, aboi-rido, de mau humor.
— Substantivamente : Um rabugento.
RABULÃ, s. m. (Do latim nilnda) . Advo-
gado ignorante, estúpido, e mui loquaz e
paroleiro.
Cheio destas ideias entni oin Casa,
E para dar acu voto na AsseuibUHi
Com mais legalidade, pedir manda
Ao Raljii/a do Cèa alguns Autlioves,
Quo os Cânones sagrados commeutilraõ.
piNiz iiA CRUZ, iivssorK, cant. 3.
RABULAO .f. »i. Fanfarrrio, bravatea-
dor, pariiK'ini. Vid. Rabolão.
RABULARIA, í. /. Vid. Rabolaria.
RABULIGE, s. /.' Arrazoado de rábu-
la ; ou as fraudes que elles fazem na
praxe.
RABUSCA, ?. /. Rabisco, diz o vulgo,
de rabiscar as vinlias.
RAÇA, .-•. 2 ijcn. Pessoa tola, sem juizo.
RAÇA .V. /. (Do francez race). Linha-
gem, extracy.ào, tudo o que provem de
uma mesma familia. — Boa, antiga, no-
bre raça. — ..l raça judaica. — Não olhe-
vws ixirn a raça, mas sim para o mérito.
— Diz-se tandjcm dos auimaes. — «Pa-
ra haver maior numero de cavallos. man-
darão os Revs prohibir as mulas, quar-
tAos, o facas, como foi EIRey D. Joaõ
II. D. Joaij III. e D. Sebastião; e fize-
raõ piU"ticulare3 leys. para que sempre
se conservassem no Re\Tio as boas raças
dos cavallos, as qnaes exceutavaõ os Cou-
dcis Mores.» Severim do Faria, Noticias
de Poi-tugal.
EUa lie íisico bem, quo a piovidonto
RIfio do Immorbd derrama, assim se apouc-a
A feroz rtiça (ju' aH!tobcrl)a os maré»,
Pos nadadores tímidos dcst'arte
Si! augiiieiita a gora(;ão, conserva a cspccic.
J. A. m: MAL-KUO, A MATCUKZA, caijt. .3.
— Toma-«e em nní parte, e no mcADio
sentido. ~ Ilomim fie raça vil <• cuhur-
ile. — ((Desgrat,'a>lo do nazareno quo so
lembrasse de annir-te dejjois que Abilu-
laziz to chamou sua. Onde se iria escon-
der esse nialventurado filho de uma raça
vil e covarde, que podesse escapar a este
braço, o qual ao cstender-tíe arranca pe-
los fundamentos os vossos casUdlos e re^
duz a pi) 03 templos do vosso Deus e os
muros díis vos.^as cidades V a A. Hercula-
no, Eurico, cap. 14.
— Raça de sul ; em vez de raio.
— Termo de alveitaria. Abertura no
casco da besta, quasi conso o quarto.
— • Figuradamente : Ter raça ; vale o
mesmo que ter sangue de mouro, ou de
Judeu.
— Termo de zoologia. Reuni.^o de in-
dividues pertencente ;l mesma espécie,
tendo uma origem eommum e caracteres
semelhantes, transmi.ssiveis por \'ia de
gerayão, ou por outros termos, variedade
constjtnto na espécie. N'e^te sentido, diz-
se dos homens : As jiopidações da raça
germânica. — A raça caucasica. — A ra-
ça judaica.
— Diz-sc algumas vezes de uma clas-
se de homens exercendo a mesma pro-
fissão, ou tendo inclinações, hábitos com-
muns,
— Diz-se dos vegetaes também.
— A raça mortal, a raça humana; os
homens em geral.
— Termo de poesia. A taça futura ; os
homens a nascer.
— Figuradamente : Raça de víboras ;
expressrio tirada da Escriptura, e que se
applica aos phariseus, e que diz-se hoje
das más pessoas.
— E um cavallo de raça; é um ca-
vallo de boa raça.
RAÇÃO, í. /. ^Do latim ratio . Termo
de náutica. A porção do mantimentos que
se dá a cada uma das praças do navio
iliariamente, e a qual está estipulada por
tabeliã.
— A porç.ào de cevada que quotidia-
namente se dá ás bestas.
— Nos tempos posteriores aos princi-
pies da monarclúa toniava-se a palavra
ração pela porç-ào, que a cada um se dá
para o seu sustento, e usos da vida em
uma eommunidade, collegio, familia, na-
vio, exercito, etc. Outras rações havia
no principio do i"eino, e depois se conti-
nuaram a pagar d'aqucllas terras, que
ou são reguengas, ou por doações e ou-
tros titules, passaram da real coroa, as-
sim a particulares, como a communida-
dcs, cabidos e mosteiros. Todos os direi-
tos reaes, e mormente as jugadas, eram
chamadas rações, e cada uma d'ellas se
dizia no singular jiui, re», ditio, donti-
iiium, Iji/na, faculta». O mc:<nio nomo
de rações conservam ainda boje estea fi>-
ros ou jugadas, que em umas partea sSlo
de quarto, em outras de quinto, do i«ex-
to, de oitavo, de quarteiro, etc. = Em
Viterbo, Eluc.
-- Piirç.^o, ou côngrua que se dava aos
beneliciadiis e ministros da igre;a ou f')«-
se em distribuições quotidiana.'*, a quo
chamavam diário, ou fosse cada mcz, a
que chamavam vientura ; ou iiiialmente
por anno, como hoje mesmo se pratica,
eonsignando-lhes certa quantidade de firu-
ctos, dízimos ou dinheiros.
— Lof. ANTKíCADA: Patjnr ração; p«-
g.ar foro como plebeu.
— Dava-se tandjcm este nome nos sé-
culos X, .\i. xii á parte, sorte, ou qni-
idi.lo da herança, que a cada um dos ra-
turaes, ou herdeiros cabia nas igrejas,
mosteiros, ermidas, oratórios, ou ontros
lugares pios, como hosjtitaes, albergarias,
etc. Estas rações se augmentavam e bc-
neiiciavam algumas vezes com novas c
mais avultadas doações dos mesmos her-
deiros, que n'isto mesmo tinham seus
temporaes interesses, crescendo as como-
dorias, casamentos, etc., á proporçSo que
os primeiros fundos se augmentavam, Suc-
cedia porém algumas vezes que os doan-
tes se nSo propunham augmontar, senão
aquella porçAo, quo nos ditos mosteiros
ou legares pios lhes cabia. E n'cste caso
as nutras rações em nada ficavam mais
avult^adas e crescidas. = Em Viterbo,
Eluc.
— O mantimento dado pelos reis aos
morador&s de suas casas, que andavam
assentados nos livros da sua cozinha.
— Nos foraea e arrendamentos é a
quarta parte doa fructas, por exemplo,
metade, quarto, oitavo, que o lavrador,
encabeçado, ou rendeiro deve pagar ao
senhorio, segundo as escripturas do tra-
cto, ou i>arçaria, e ração.
RACEMO, s. m. Vid. Racimo.
RACHA, s. /. Fenda, fisga, grota.
— Roçado de pau rachado, lasca.
— Enxertar de racha ; rachar o tron-
co ou ramo, onde se mette o enxerto,
— Adaoio :
— Pequenas rachas acccndcm o fogo,
e a* madeiros grandes o sustentam.
RACHADEIRA, s. /. Instrumento de
ferro próprio para rachar os ramos ondo
se enxortM. etc.
RACHADO, part. pass. de Rachar. Fen-
dido, aberto.
— Bipartido, bifido.
RACHADOR, A, *. Pessoa que racha.
que parte lonlia.
RACHADURA, .*. /. De racha, e o snf-
tixo «dura» . A acç."io de rachar.
— A fenda, racha, fisga. — A$ racha-
duras da terra : por efleitos voleanicos.
RACHAR, r. a. Do grego rAfl*«ô'>. Fen-
der, abrir. — Rachar Int/ia ctn ntacha-
RACI
RACI
RACI
65
do. — «Ambos acertaram os encontros:
o de Dragonalte rompeu o escudo ao do
Salvage, e detendo-se na fortaleza das
armas, rachou a lança em pedaços, fa-
zendo-o algum tanto encostar sobre o ar-
ção trazeiro ; mas o íeu foi tanto mais
forte, que deu com elle no chào.» Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 130.
— Termo de estofador. Riscar e abrir
a pintura ou estofo com um ponteiro de
páo, prata, ou ferro para apparecer o
ouro, que esfci por baixo da ultima mào
de tinta, o que representa as roupas, de
ordinário pretas, e as figiiras do estofado.
— Loc. FIGURADA : Rachar com açou-
tes; ferir o corpo, escalar.
— Fazer em achas.
— Loc. POPULAR : Rachar aZ^e»n; mal-
tratal-o com palavras.
— Rachar-se, i-. ref. Fender-se, abrir-
se. Vid. Gretar.
■ — Emprega-se também no sentido figu-
rado.
RACHEBIDOS, *. m. plur. Soldados da
costa Kajes na índia, que sào como os
janizaros do turco.
RACHIALGIA. s. /. Vid. Raquialgia.
RAGHITIS. Vid. Raqnitis.
RACIMADO, A, adj. Que está em forma
de racimós, em que ha racimos, racimoso.
f RACIMICO, A, adj. Termo de chimi-
ca. Acido racimico ; acido extrahido das
aguas mães, de que se extrahiu o acido
tartrico.
— Camphora racimica; camphora for-
mada de pesos eguaes de camphora or-
dinária, cujo poder rotatório se exerce
para a direita, e de camphora de matri-
caria, cujo poder rotatório se exerce para
a esquerda.
RACIMIFERO, A, adj. (Do latim race-
m>fer<. Termo de poesia. Que produz, ou
traz racimos.
f RACIMIFLOR, adj. 2 gen. (Do latim
racemus. e jios). Termo de botânica. Que
tem as tiôres em forma de racimos.
t RACIMIFORME, adj. Termo de botâ-
nica. Que se assemelha a um racimo. —
Thi/rso racimiforme.
RACIMO, s. m. (Do latim racemus).
Termo de botânica. Grupo de flores ou
de fructos que tem relação com um ca-
cho.
— Inflorescencia em flores pedicella-
das.
— Cacho de uvas.
RACIMOSO, A, adj. iDe racimo, e o
suffixo «osof'. Termo de botânica. Diz-
se das plantas cujas flores estão dispostas
em forma .de racimos.
— Latadas racimosas ; latadas que es-
tão em cachos.
f RACIMULOSO, A, adj. Termo de bo-
t-anica. Que tem as flores em pequenos
racimos.
RACIOCINAÇÃO, í. /. (Do latim ratio-
cinatio. de rafiotiiiarfi. Termo de philo-
VOL. V. — 9.
sophia. Acçào de raciocinar, de usar da
razào.
RACIOCINADO, pai-t. pass. de Racioci-
nar. Distursaiio.
f RACIOCINADOR, *. m. Termo de his-
toria romana. Escravo ou liberto, que ti-
nha as cartas do patrão ou do amo nas
grandes casas.
RACIOCINAR, 1-. a. (Do latim ratioti-
nari . Termo usado somente no estylo
dogmático. Usar da razão.
RACIOCÍNIO, .«, m. O conhecimento da
relação que ha entre duas idêas, resul-
tante do conhecimento da relação que
cada uma d'ellas tem com uma terceira
chamada media.
— Alguns definem raciocinio o acto
intelle^tual, com que inferimos um juizo
d'outro. Divide-se em deductivo e indu-
ctivo; directo e indirecto: deductivo, quan-
do procede do geral para o particular^
isto é, quando passa de juizos mais ge-
raes, para outros que o são menos : iti-
ducfivo, quando sobe do particular ao ge-
ral, da espécie para o género, da conse-
quência para o principio : directo, quando
dos principies postos, tiramos immediata
e directamente em conclusão a mesma
verdade que pretendemos provar : e indi-
recto, quando dos princípios postos tira-
mos immediata e directamente não a ver-
dade, que pretendemos provar, mas sim
uma conclusão, que nos leve ao conheci-
mento d'essa mesma verdade. O racioci-
nio indirecto ainda pôde dividir-se em ra-
ciocinio por absurdo, por hypothese, por
enumeração e exclusão de partes.
■ — Raciocinação, discurso.
— Uso da razão.
RACIONABILIDADE, s. /. (Do latim ra-
tioiuibilitas). O caracter de ser raciona vel.
— < ) ser racional.
— A faculdade, o poder de raciocinar.
1.) RACIONAL, adj. 2 gen, iDo latim
rationalis, de ratio •. Termo didáctico.
Que só se concebe pelo entendimento. —
Âs abstracções t^m no nosso espirito uma
espécie de existejicia racional.
— Que é conforme á razào, á theoria.
Applica-se a todo o systema, a todo o
preceito fundado nos princípios tirados
da razão, e deduzido d'estes princípios
como consequência natural e rigorosa.
— Dotado da faculdade de raciocinar.
Oave a voz de hum Filosofo, que sempre
Poz em baknça igual Choupana c Throno ;
Que o ente racional n"homem contempla,
O mesmo berço, e túmido, e mais nada.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cailt. 3.
Nos entes racMnaeg, nos entes bmtoe,
Mais se conhece seu -poder, seu sceptro;
A força empresta á maquina vivente ;
Sc elle faUece, o movimento acaba ;
Quando na douta Maquina se fiuta,
Débil chama mortal se apaga, e foge.
IDEM, ítEDITAÇÃO, Caut. 2.
Ás mortaes precisões sujeita os brutos
O Soberano Arquitector do Mundo.
Do homem sócios sào, sào dellc esteios ;
Mas deUes o mortal lições nào toma.
Quasi me peja o triste parallelo
Dos Entes racionaes co'os entes brutos!
Orgulhoso o mortal sacode o jugo
Das leis, e da razào ; e as leis do instincto
Invariáveis animacs conhecem.
IBIDEM, cant. 3.
Quando o ser racional perto descobrem :
O respeito, ou temor dclles se apossa :
O Tigre nào conhece, o Tigre insulta
Inda 03 restos d'antiga Monarquia.
— Termo de mathematica. Quantidade
racional ; aquella cuja relação com a uni-
dade pode ser expressa por números, quer
inteiros, quer fraccionarios.
— Fundado no raciocinio. — A mecâ-
nica racional é uma sciencia mathematica
e abstracta.
— Termo de geographia astronómica.
Horisonte racional ; aquelle que corta o
o céo e a terra em dons hemispherios ;
diz-se em opposição ao hoi'isonte sensível
ou apparente.
— Termo de medicina. Que é fundado
nos princípios systematicos e leis scien-
tificas. O methodo empirico ó mais antigo
que o methodo racional, porque é mis-
ter immediatameute ajuntar um grande
numero de factos, e experiências, antes
de poder estabelecer princípios scientifi-
cos. — «Dos Césares, Imperadores, Reys,
Princepes, e Dymnastos do Mundo, houve
também huma copioza serie de Médicos
Dogmáticos, e racionais. O Imperador
Augusto César foi medico famozo, e dos
seos commentarios tirou Valeriano muy-
tos, e diversos remédios. Nos do Impera-
dor Tibério descobrio Galeno certas pas-
tilhas, que elle como bom Medico tinha
composto.» Braz Luiz d'Abreu, Portugal
medico, pag. 245, § 67.
— Arrazoado.
— Substantivamente : O racional ; diz-
se em opposição ao animal.
De venerável rosto, accesos olhos
Eu descubro Platão, que o Nume eterno
Neste immenso espectáculo conhece.
Na Planta, e Bruto, e Racional o adora.
A novo amor dá luz, e alegre espera,
Que a seu astro natal sua alma tome.
J. A. DE M.^CEDO, VIAGEM EXTÁTICA, CaUt. 2.
2.) RACIONAL, s. m. Termo de histo-
ria romana. Espécie de intendente do pa-
lácio, na corte dos imperadores.
- — Official do fisco.
— Termo de historia hebraica. Ornato
que o grande sacerdote trazia no peito, e
que consistia em um pedaço de estofo pre-
cioso ornado de doze pedras finas, em
cada uma das quaes se lia o nome de
cada uma das tribus de Israel.
66
Ti ADI
RADI
líADI
RACIONALIDADE, «. /. (Do racional,
com o Hufrixo <iidade»j. Termo da pliilo-
sophiii, Qiiiilidiuli! (lo í|ii« (j racional. —
A jtrimeini lei dn 'trlt; « ii racionalidade.
— TorDio (lo matlif^matica. (Qualidade
das quantidades cliauiadas raciomics.
— Conformidade com a razilo c equi-
dade.
^- < >-! dictaiiiiM da boa raziUo natural.
RACIONALISMO, *■. m. TtMino do plii-
lo.sopbia. Toda a doutrina quo adniitto o
jioflor, c indopondcncia da razào liuma-
na. l)iz-HO cm oppo»i<;ão ao senstuilisnw
c ao vii/ntirim»'».
— • Systcma que pretendo fundar as
crcn(;a9 rolijíiosa» nos princípios forneci-
dos pela razilo : é oppo.sto ao supernatti-
ralismo, ou systenia da revelaeào sobre-
natural. Os argunicíntos dos supernatura-
listas contra o racionalismo são tirados
da impossibilidailr do, lazer saliir do racio-
nalismo uma roli^iàc pratica, o da natu-
reza vaíja o hypotliotica das crenças fun-
dadas n'e-<ta doutrina.
-[ RACIONALISTA, nJj. 2 gen. Que per-
tence ;io racionalifimo. — A yhUosophia
racionalista.
— • (^ue professa o racionalismo.
— Substantivamente: Um racionalista.
RACIONAVEL, ndj. 2 tjen. Arrazoado,
conforme ;l razão. — òowifHrt racionavel.
RACIONAVELMENTE, adv. (De racio-
navel, com o surtixo «mente»). De um
modo racionavel, conforme á razão,
— Com equidade.
RACIONEIRO, ou RAÇOEIRO, A, adj.
Que tem direito a alj^uma raeào, que lhe
devo ser dada por alf^uma colle.íiada ou
casa. Vid. Natural de mosteiro.
RACK, ou ARRACK, (ui RAK, s. »i. Li-
cor das Índias, misturado com arroz fer-
mentado, assucir e noz <le côeo. Uiz-se
tambom aj^uardeute de cana do assucar,
chamada catchas no Brazil, e tajin nas
colónias francezas da America. Vid. Ara-
ca, e Orraca.
RAÇOM, s. m. Termo antiquado. Vid.
Ração.
RACONTO, s. m. Narração, relação,
recontamonto.
RADAR, V. a. O mesmo que Redrar, ou
Redar, que é dar segunda cava á vinha.
— Outr'ora radar era defender, Vid.
Redrar.
RADIAÇÃO, s, /. Vid. Irradiação.
RADIADAS, .«. f.phtr. Termo de botâ-
nica. Flautas que dão flores compostas
i'adiadas, como a bonina, o girasol, etc.
Constituem a decima quarta classe do me-
thodo de Touruefort.
RADIADO, part. pass. de Radiar. Raia-
do.
— Termo de botânica. Ornado do um
circulo radioso.
— CoroUa, fores radiadas; coroUa, flo-
res que tem riscos em forma de raios, que
partem do centro para a circiimferencia.
1.) RADIAL, adJ. 2 gen. Termo de
anatomia, Quo diz respeito ao radio. —
Aítmculo radial. — Artirin radial.
— íS'. Hl. Nomo de certos músculos que
occupam a n^gi.lo radial. — O radial an-
tiirior, i> radial curto externo, o radial
longo c.rfiTno.
2.) RADIAL, ndj, 2 gen. Termo do
j)liysica. Que radia, que tem relação com
o raio.
— T(!rmo de pcromotria. Curvas ra-
diaes ; curvas, cujas ordenadas jiartem
de \un só ponto, como a espiral, pela
transformação das coordenadas roctangu-
laros ou obli((iias em coordenadas polares.
— Termo do mecânica. M"<-hin'.ts ra-
diaes ; maeliinas que, n'um (rstabelccimen-
to de forjas, servem para fazer radiar, e
ir a carpa em todos os sentidos, a uma
distancia maior ou menor do eixo cen-
tral,
— Termo de zoologia. Celhila radial ;
na aza dos insectos, synonymo de areola
radiante.
— Curôn radial; coroa de raios que
se encontra nas medalhas, na cabeça dos
prineipes, quo f(U-am classificados como
deuses.
RADIANTE, pmi. act. de Radiar. (Do
latim radians, de radiare). Termo didá-
ctico. Que se estende radiando. — Calor
radiante.
(")lli;i ost'imtni debaixo, fiiie esmaltado
Dl' coriin-i lisos linda e riuliaiifef.
(ine também nello tem curso ordenado,
E nos seus axc3 correm scintillantcs.
CAM., I.CS., cant. 10, est. 87.
— Ponto radiante ; ponto d'onde cer-
tas cousas emanam em forma de raios, —
Os pontos radiantes das estrellas filantes ;
os pontos do céo donde emanam as es-
trcllas tíl.antcs.
— Termo de zoologia. Areola radiante ;
areola do forma arredondada que n'uma
aza de insecto está no centro, d'onde par-
tem, divergindo, muitas outras areolas
alongadas.
— Termo de botânica. Epitiíeto dado
á coroa das synanthereas, quando as flo-
res que a constituem excedem em com-
primento as do disco,
— SvN,: Radiante, ra<iioso.
A effusão abundante da luz produz >mi
corpo 7-adioso ; a eniissão de muitos raios
de luz um corpo radiante.
l)istinguem-se os raias de um corpo ra-
diante ; no corpo radioso estão todos con-
fundidos,
O sol é radioso ao meio dia ; ao pòr-se
não é mais que radiante.
E radioso n'um eco puro; através de
nuvens transparentes, só é radiante á nos-
sa vista.
Fallando com propriedade, os raios
emanam do corpo radioso, o rodeiam um
corpo radiante.
A palavra radioso signala a proprie-
dade, a natureza da couiia : e a palavra
radiante uma circumiitancia da cuujta.
l,'m corjto luminoso é fxjr si mesmo niaiu
ou nniios radioso; quando esp.nrgc sua
luz i'- mais ou menos radiante.
RADIAR, f. n. Do latim radiarei.
líaiar. l.-im.ar lui''".
I RADIATIFLOR, adj. 2 gen. Termo
de bi'taiiiia. <,'oi- ti-iii flores radiadan.
f RADIATIFORME, adj. Termo de Ui-
tanica. lUz-se da calathidc cujau tlorca
vão augnu-titau<lo de comprimento do cen-
tro para a circumfercncia, onde cUa.s es-
tão mais csti-ndidas.
RADICAÇÃO, *. /. Acto de radicar.
— Termo de botiinica. Dispoaiçio das
raizes d'iiiiia planta.
RADICADO, part. pasf. de Radicar.
Arreigado, enraizado.
— Emprega-se também no sentido fi-
gurado,
1.1 RADICAL, adj. 2 gen. (Do latim ra-
dicalis, de radiri. Termo de botânica.
Que pertence á raiz, que parte da raiz.
Pedúnculos radicaes.
— FoUuis radicaes ; aquellas qnc nai»-
cem tão porto <la raiz, quo parccein eahir
dVllas, ernão da baste.
— Flores radicaes ; aquellas que na«-
cem tão perto da raiz, que parecem sabir
delias.
— Pêlhis radicaes ; aqnellea que guar-
necem muitas vezes as radiculas,
— Figuradamente: Quo diz respeito á
raiz, á essência, ao principio de uma
cousa.
— Cura radical ; aqucUa que destroe
o mal na sua raiz,
— Vicio radical ; vicio que produz ou-
tros,
— Humor radical ; liquido imaginário
que se considerou como o principio da
vida no corpo humano,
— Em jurisprudência : Nullidade ra-
dical; nidlidade que vicia um acto de
modo que não possa jamais ser valido.
— Termo de grammatica. Que perten-
ce .'\ raiz d'uma palavra,
— Letras radicaes ; letras da palavra
primitiva, e que passam para os deriva-
dos.
— Termo de álgebra. Signal radical;
signal coUocado diante das quantidades
de que se quer extrahir as raizes.
— Quantidade radical ; quantidade pre-
cedida do signal radical.
— Radical intelligencia : pela raiz per-
feita.
— Termo de chimica. Vintufre radical ;
diz-se para designar o acido acético.
— -S. III. — O radical duma iKilftvra;
diz-se também a parte invariável duma
palavra, em opposição ás tenninaçõe« ou
desinências que esta palavra pôde rece-
ber.
— Termo de chimica, Xome dado aos
corpos simples, que nos ácidos ou ba*e8
são combinados com outro corpo que se
KADI
KADI
RAGE
07
considera como principio acidilicante ou
basilicaute. Os radicaes sào simjjhs ou
comijostus; os metalloides sào os radicaes
simples dos ácidos oxygenados ; os me-
tíies sào os radicaes dos oxydos metalli-
cos. — O sódio é o radical da soda.
— Em cliimica orgânica uào se admit-
tem senào radicaes compostos ; mas tem
uma existência real, como o cyanogeneo e
o oxydo de carbone ; outros sào pura-
mente hypotiíeticos, taes como o amido,
etc.
— RadiCcQ fundamental ; diz-se d'um
hvdrogeneo carbonado que forma o fun-
do das combinações orgânicas.
— Radical derivado ; aquelle que se
forma pela moditicaeào do radical funda-
mental, admittindo para substituir o liy-
drogeneo, o chloro, o bromo, o oxyge-
neo, metaes ou mesmo grupos fazendo a
funcçào de corpos simples.
— Em Inglaterra cliama-se assim ao
que pede a reforma radical do systema
do governo e do systema eleitoral, e a
extirpação até á raiz de todos os abusos.
— Os radicaes ; os sectários do radi-
calismo.
RADICALISMO, s. m. Systema dos ra-
dicaes, dos partidários da reforma com-
pleta da sociedade politica. — O radica-
lismo ganhni partidários. — O radicalis-
mo ffe suas opiniões.
RADICALMENTE, adv. iDe radical, com
o suíiixo «mente»). Na sua raiz, na sua
origem.
— Totalmente, até á raiz. — «Xo sen-
tido do tacto he prodigiosa aquella diffe-
rença de homens chamados Ophiogenos,
que vivem no ííellesponto, os quais, por
liçaõ de Plinio, só com o contacto cu-
raõ radicalmente todas as mordeduras
das serpentes, por mais venenosas que
sejaõ.» Braz Luiz d'Abreu, Portugal me-
dico, pag. 19, § <jS.
— Saber radicalmente ; saber a funda-
mento, e não superlicialmente.
RADICANTE, adj. 2 yen. Vid. Raigo-
toso.
RADICAR, V. a. (Do latim i-adicari).
Enraizar, arraigar.
— Figuradamente : Fundar, estabele-
cer.
— Radicar-se, r. reji. Arraigar-se, en-
raizar-se.
7 RADICELLA, s. f. Termo de botâni-
ca. Pequena raiz, ultima dÍA'lsào das rai-
zos.
f RADICELLAR, adj. 2 gtn. Termo de
botânica. Que diz respeito ;í radicella.
— Que tem a forma d'uma pequena
raiz.
f RADICIFLOR, adj. 2 (jen. (Do latim
radix, e jlosi. Termo do botânica. Diz-
se das flores que nascem de luna haste
subterrânea.
f RADICIFORME, adj. iDo latim ra-
dix, e forma'. Termo de botânica. Que
se assemelha a uma raiz.
7 RADICIVORO, A, adj. (Do latim ra-
di.r, e lorarc . Termo de zoologia. Que
se nutre de raízes.
RADICOSO, A, adj. Termo de botâni-
ca. Que participa da natureza da raiz.
que tem muitas raizes.
— Vid. Raigotoso.
RADICULA, s. /. iDo latim radicula).
Pequena raiz.
■ — Termo de botânica. Parte do em-
bryào, a primeira que atravessa o invólu-
cro da semente para se metter na terra.
— Planta que é conhecida também pe-
lo nome de lanaria.
RADIFICAR, 1-. n. Enraizar-se, arrai-
gar-se.
— Radiíicar-se, v. rejl. Euraizar-se. lan-
çar raizes.
RADIO, s. in. Termo de náutica. Ins-
trimiento geométrico a que chamam bales-
tilha ; raio da luz do sol, ou das estrellas,
raio, semidiametro do circulo ; raio de
qualquer roda.
— Termo de anatomia. Osso longo que
occupa o lado externo do antebraço.
— Termo de zoologia. Primeira ner-
vura do bordo externo da aza dos inse-
ctos, que partindo da base, se dirige qua-
si em Unha recta no sentido do compri-
mento.
f RADIOCARPO, adj. Termo de ana-
tomia. Que diz respeito ao radio e ao
carpo.
t RADIO-CUBITAL, adj. 2 gen. Ter-
mo de anatomia. Que diz respeito ao ra-
dio e ao cubito.
7 RADIOLITHO, ^. m. Silicato de alu-
mina e de cal, de estructura fibrosa, e
em massas divergentes.
RADIGMETRO, «. m. Instrumento que
servia para tomar as alturas no mar. Vid.
Balestilha.
7 RADIOPALMAR, aãj. 2 gen. Termo
de anatomia. C^iue diz respeito ao radio e
á palma da mào. — - Artéria radiopalmar.
RADIOSAMENTE, adv. «De radioso, e
o suffixo «mente»). De um modo radio-
so, brilhantemente, d 'um modo brilhante.
RADIOSO, A, adj. (Do latim radiosus .
Que tem raios de luz. — Corpo radioso.
— Sol radioso.
— Foido radioso; aquelle donde ema-
nam os raios luminosos.
— Figuradamente : Animado pelo con-
tentam ento e aleoria.
Seguindo Phebo a via arrabafada
Do primeiro moucdor, que constràgidos
Com curso velocíssimo reuoluc
(E com violenta fúria i os outros orbes.
Dando a forçada volta, ja toraaua
Moòtrarsc no Oriente com radioso
Eoáto, alegrando a terra, que a sombria
Noite confusa, tinha escura e triste.
COUTE REAL, SACFILIGIO DE SEPfLVEDA, Cant. 4.
— Syx, : Radioso radianie ; vid. este
ultimo termo,
RAER, ou RER, v. a. (Do latim rade-
re). Termo antiquado. Easpar, tirar.
— Xas marinhas, puxar com o rodo o
sal para o ajuntar, e alimpar o leito.
RÁEZ. vid. Arraes.
RAFA, s. /. Termo popular. Grande
fome, galga.
RAFADO, A, adj. Cheio de fome, fe-
minto.
— Pobre.
— Loc. POP. :. Casquilho rafado ; o po-
bre enfeitado de cousas de pouco mere-
cimento.
7 RAFECE, adj. Termo antiquado. Bai-
xo, vil, desprezivel.
RAFEIRO, s. m. Cão grande de guar-
dar gado e quinta.
— Adjectivamente : Uma febre rafei-
ra ; arrebatada.
Desemb. Vede este pulso, senhora,
tenho febre?
Filha. E mui rafeira.
Moço. Pois é febre pemleira,
morde em quem ceou, agora
cm quem não.
AiTOSIO PRESTES, AUTOS, pag. 233.
— Figuradamente : Pessoa que vigia
bem, á maneira de cào rafeiro.
Criado. Folgo ; a paz que nào peleja
é fé morta, uào melhora.
Pae. Vcgia, sé bom rafeiro.
AXTOXIO PRESTES, AlIOS, pSg. 271.
RAFIADO, part. pass. de Rafiar.
RAFIANAZ, s. m. Augmentativo de Ra-
iião.
RAFIÃO, s. m. Vid. Rufião. — GiateZa
com este rafião, que tem enganado todo o
mundo.
Olhade a gente honrada
Que me trazia o ladrào !
Hum ([ue foi amancebado,
Alcoviteiro provado,
E hum frade rafiào.
Sabeis quào mal me parecem
Pes.soas de mao viver?
Mais ca moscas m"aborreccm,
Xão nas posso ouvir nem ver.
GIL VICEXTE, FABÇAS.
RAFIAR, c. a. Termo pouco usado. Te-
cer, guarnecer, ornar com fio, fazer o
tissii.
— Afagar, amimar, acariciar, alcovi-
tar.
RAPINADO, part. pass. de Rafinar. Vid.
Refinado.
RAFINAR, V. a. Vid. Refinar.
RAGADIA, ou RHAGADIA, s. f. (Do
grego rhagas). Termo de medicina. Gre-
ta, rachadura, ou pequena ulcera longa,
e estreita entre os interstícios das do-
bras, ou pregas do anus.
— Racha nos lábios e outras partes.
RAGEIRA, s. f. Termo de marinha.
68
RAIA
RAIN
UAIK
Cabo, ou amarra, com qui; ho atraca o
navio em terra, e que Bcrvia tal voz jja-
ra f|ue alando-.ic por cllo, cln;f;a)<si'iii u
navio á borda, ou costa, ou para outro
navio, a qucuii hc dá um do.i c^bos, ou
extremoH da rabeira. Vid. Rajeira.
RAGURA, ». /. Tirino antiquado. Uan-
cura.
RAGUSANO, A, adj. Pertencente á ci-
dade (1<! ItufíUíia.
— Substautivamonto : Um ragusano.
1.) RAIA, ou RAYA, s,/. (Uo fraucoz
raie). Liiilia.
— Figuradamente : < ) limite, extremo,
ou termo, ou a ultima linha d'uma ro-
giSo. — Á raia dn Hespanha. — «E o ines-
mo fez a mousicur de Trcginy, cauallei'
ro da ordem de Tosam ((ue veo por mor-
domo mor da Rainha. Concluído o casa-
mento a Rainha j)artio do Saragoya, o
per suas jornadas, com os senhores que
a acompanhauao chegou a raia do Portu-
gal nu mes de Xouembro desto anno de
Mil, e quinhentos e dezoito.» Damião de
(ioos, Chronica de D. Manoel, part. 4,
cap. i53. ■ — «Os senhores de Portugal que
a foram receber a raia, forão o Dncjuc
do Bragan(,-a, dom laimes, o Arcebispo
de Lisboa, dom Jlartinho da costa, o His-
po do porto, dom Rodrigo de mello Con-
de de Tentúgal, (|ue depois foi Marques
de ferreira, dom Jlartiuho de Castclbrau-
co, Conde de viUa noua.» Ibidem, part. 4,
cap. 34.
Tens perguntas
quo passam muito da raia ;
uào sejas mou confessor.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pag. 437.
EUa as paixões indc^mitas enfrêa,
Entre o bem, c entre o mal limites ntarca,
Dú honesto, c justo as raias nssiguala.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Cant. 1.
— Pôr a raia por cima. Vid. Risco.
— No truque do taco é um dos qua-
tro pontos com que se ganha uma par-
tida.
— Em alguns jogos, traçam-se umas
raias com tinta ou giz.
— Figuradamente : As raias da Di-
vina Omnipotência ; os limites.
— Passemos juntos d' esta vida a taíSí;
morramos ao mesmo tempo.
— Figuradamente : Pôr a raia mais
alta; avantajar-se, sobropujar-se, exce-
der.
— Vid. Raya.
2.) RAIA, .V. /, (Do latim raia). Pei-
xe marinlio, cliato o cartilaginoso, com
rabo comprido. Vid. Arraia.
RAIADO, part. pass. de Raiar. Lis-
trado.
— Radiado, que tom raias.
1.) RAIAR, ou RAYAR, v. a. Listrar,
botar uma raia, ou listra de oivtra còr.
— Figuradamente : I^anij-jir raios do
luz. — Raiar uma scieiuia.
Quul o turvo OroniV|ue, ou qual o Nilo
A|{Uu, c nome confunde cm mar immeuiiO ;
Tal <li) rfcio du vasta Naturiv.a
l'riifunclo seio, pouco ii pouco trouxe
O hutnuno uiitcndimciit'» h lux brilhante,
(yom i|Uú logo ratou Filuitofiu.
J. A. DK MACEDO, VIAOEM KITATICA, Caot. 1.
NAo era longe dcDc ora sombra iuvolto
Da prisilo nieluncclica Boécio :
Vai banhando o-) (írilhões de amargo pranto,
'IVi que raUiiulo vi« Filosofia,
Quo AS sombras rompe, as lagriman enxuga.
(.'oiiauhK^ilo extrema lie Sapiência
Xo mal da Natureza, e da Ventura.
iniDEM, cant. 2.
2.) RAIAR, V. n. Lanhar raios de luz.
— Luzir, alumiar, iílustrar o espi-
rito.
— Lançar a raia.
— Figuradamente : Avantajar-se a al-
guém .
RAIGOTA, 8. f. Raiz mui delgada. Vid.
Espiga das unhas.
RAIGOTOSO, adj. Termo de botânica.
Que deita raizes.
— FollKts raigotosas ; diz-se quando na
pontiv ou em qualquer parte do seu disco
lanyam raigotas.
RAINETA, s. /. (Do francez rainette).
Espécie de mayã mui estimada, e deno-
minada assim das pequenas pintas ver-
melhas o pardas de que é siilpicada, e
que imitam as da rii.
RAINETE, s. m. A arvore que produz
as rainetas.
RAINHA, s. /. A mulher do rei. —«O
quo eu daqui julgo, respondeu Palmei-
rim, 6 que Vossa Alteza acerta no que
faz, que a donzella é pêra mui grandes
obras: e antes que se partisse, como fos-
se cousa, que a rainha já praticara com
os grandes, a mandaram chamar e alli
ambos juntamente lhe deram a forma e
maneira, que havia de ter em sua em-
baixada.» Francisco de Moraes, Palmei-
rim d'Inglaterra, cap. 101. — «Entiio c;i-
valgando no seu cavallo, que lhe deu o
escudeiro, o ella no palafrem, em que
alli chegara, se partiram, indo a donzel-
la contando como, vindo Dinamarca com
recivdo da rainha porá a imperatriz Va-
silia, que a tormenta do mar a lanyára
naquella parte, oude sabia com dons es-
cudeiros pêra ir vèr as tilhas do mar(iuez
Beltamor, que eram suas primas.» Ibi-
dem, cap. lOG. — «E deixando de fal-
lar nelles, por acudir ás cousas mais nc-
cess.arias a esta chronica ; diz a historia
que neste mesmo tempo, como já estives-
se determinada a partida da Prineoza de
Trácia pêra a corto do imperador Pal-
meirim, quiz a rainha Carmolia sua avó
mandal-a íiltaniente .acompaniiada, assim
de donas pêra sua authoridade, como de
donzellas pêra seu 8ervi(;o. o alguns se-
nhores do reino pêra a honrarem em sua
viagem." Ibidem, cap. 111. — «A rainha
estava contente de ver aquelle aconteci-
mento e aventura cm sua ca«a, c as da-
nuis também, por Hor couaa nova na<juel-
La corto ; em ettpocial atjuellaH, que po-
diam passar o tem|>o á cu^ta dalguuuM
cujo» servidores foram desbaratados ; e
havium que aa donzellas viidiani bem
acompaidjadati, e ser om^a dura podel-as
gauliar ninguém, em quanto as o seu
guartlador quizeji*e defender. A uuia 8<i
eoujia nilo sabiam dar razito.» Ibidem,
cap, l'S.'>. — tK virandu aj costad se aaiu
tào mal tratado, como i-utrára. El-rei ti-
eou dando couta á rainha de quem era,
levantando nas estrellaa a valentia do
cavalleiro da* Donztdlas polo vencer tSu
levemente ; que este Trofolaute, antre os
mui as.signados cavalleiros daqueliu tem-
JX) era contado. E nSo queria el-rei que
nenhum dos tilbos de D. iJuardos viesse
a sua corte pêra se encobrir nella.» Ibi-
dem, cap. \'J*). — «Ora senlior, disse a
rainha, c:ida vez que elle vier, ee lhe
deve levar tudo em conta, que eu nlo
creio, que quem tanto trabalha de des-
culpar-se, se encobriu de vossa A., senXo
por lhe ser forçado. Poço-vos, disse el-
rei contra o cavalleiro, me digais quem
sois. A mim chamam Trofolante o me-
droso, respondeu elle.» Ibidem, cap. 126.
— «Senhor, disse Trofolante, nem o vi,
nem o conheço, porém tenho pêra mim
que ó algum dos filhos de D. Duardoa,
porque tanta força e esforço nio cuido
que haja em outrem ; e pois já cumpri o
que me mandou, peço por mercê a vossa
A., o á rainha, me dêem licença ]>era
me ir, que tenho muito que fazer noutra
parte.» Ibidem. — «Pois convêm, disse
elle, que de minha parte vos presenteia
ante as damas da rainha, e lhe digaes o
que comigo passaste.s; e d'abi vos nào
vais sem sua licença ; nfio trazaes mais
armas se vol-a ellas pcra isso nSo derem.
Isto por seguirdes a ordenança des8'ou-
tros vossos amigos, a que também man-
dei o mesmo.» Ibidem, cap. 12>>. — «Pa-
rece-me, disse a rainha, que se o caval-
leiro das Donzellas andar muito por esta
terra, sempre veremos cousas grandes ;
e já as damas se nrio podem escusar de
lhe dever muito.» Ibidem, cap. 120. —
« Kl-rei teve alguns cumprimentos com
elle.<, no tim dos quaes se despediram ; e
o cavalleiro das Donzellas quizer» fazer
o mesmo, mas a rainha lhe fez força por
alguns dias, que em extremo folgava de
o ver em sua casa, assim por suas obras
e amizade que tinha com Beroldo e Onis-
taldo. seus tilhos como por ser tilbo de
Flerida, com quem se criílra.» Ibidem.
— A soberana, imperante por direito
de succes8.\o, como acontece nos reinos
de Portugal, Inglaterra, llespanha. Sué-
cia, Hungria, etc. — As rainhas dt Por-
tugal D. Maria I e D. Maria II. —
• Primeiramente declaramos, que as Rai-
nhas, que forem cm estes Rognos, devem
d a ver cm todalas Villas e Terras, que
RAIN
RAIN
RAIO
G9
Ikes forem dadas per bem, e virtude de
seus Matrimónios, a Jurdlçom em esta
maneira.» Ord. Affons., liv. 2, tit. 40.
— «Acabado de passar por esta magina-
çào, fez seu acatamento ai rei, e posto
de giolhoã ante a rainha, disse em alta
voz.» Francisco de Moraes, Palmeirim
de Inglaterra, cap. 123. — «Hiaõ a pè,
atte que per sua ordem lhe acabarão de
beijar a mlío, fazendo a todos grande ga-
salhado, principalmente a dom loào de
Sousa, que era delle mui conhecido do
tempo que andara nas guerras de (Gra-
nada, ho que feito abalou el Rei pêra
onde el Rei seu genrro, e ha Rainha sua
filha vinhão.i) Damião de Uoes, Chroni-
ca de D. Manoel, part. 1, cap. 28. —
«Dalli per suas jornadas chegarão a Ça-
ragoça ao primeiro dia de luuho do mes-
mo anno de M.ccccxcviij, onde el Rei
dom Fernando com ha Rainha dona Isa-
bel sua molher entrarão antes de comer,
sem nenhuma festa, por trazerem ainda
dô pelo Príncipe dom loao seu filho. «
Ibidem, cap. 39. — «Despois dei Rei ter
casado fez mercê a Rui de Sande pelos
seruiços que lhe fezera neste casamento,
de titulo de Dom, parelle, e pêra todos
seus descendentes, e o fez veador da ca-
sa da Rainha, alem de muitas outras
mercês, tenças, dinheiro, e ordenados,
no que os Reis de Ca.stella o quiseram
também imitar, dando ao dito Rui de
Sande o habito de Sanctiago, com huma
boa comenda.» Ibidem, cap. 46. — «O
qual Príncipe dom loào, que foi Rei des-
tes regnos, segundo do nome, neto do
Infante dom Pedro sendo Príncipe, e ca-
sado com a Princesa donna Leanor, ouue
hum filho de donna Anna de mendonça,
dama que andaua em casa da Rainha,
dona loanna de Castella, e de Leam, es-
posa dei Rei dom Afonso, pai do dito
Príncipe a qual desempossada de seus
regnos pelos Reis, dom Fernando, e Rai-
nha dona Isabel viuia em Portugal com
titulo de Excellente senhora.» Ibidem,
part. 3, cap. 45. — «E porque ('oulaò
staua aleuantado mandou logo embaixa-
dores a Rainha, que goueruaua por seu
filho ser moço, os quaes assentai-ào com
ella paz a condição que mandasse fazer
a sua custa a Egreja do Apostolo S. Tho-
me que os mouros derribarão quando
aconteceo o negocio, em que matarão
António de sa, e outros Portugueses,
como fica dito.» Ibidem, cap. 2. — «AI-
uaro da Costa como procurador dei Rei
dom Emanuel, e com titulo de embaixa-
dor recebeo a Rainha em seu nome, per
causa do qual casamento se fezeram per
espaço de quinze dias muitas festas, e jo-
gos em Saragoça, onde entam el Rei dom
Carlos estaua.» Ibidem, part. 4, cap.
33. — «Que quer dizer eu dom Afon-
so Rei de Portugal filho do conde dom
Anrrique, e da Rainha donna Tareja,
neto do grande Rei dom Afonso, junta-
mente com minha molher donna Maphal-
da, filha do Conde Amedeu de moriana,
consyderando nossa morte, etc.» Ibidem,
cap. 71.— «Poz duas escolhidas em hum
par de arrecadas, e fez delias presente á
Rainha Dona Margarida, que as estimou
muito ; porque tudo o dado de graça le-
va comsigo agrado, e graça natural.»
Arte de furtar, cap. 64. — «E como as
Rainhas saõ o espelho de todas as Se-
nhoras de seu Reyno, em estas vendo a
estima, que a Magestade fazia das esme-
raldas, cresceo nellas a estimação, e lo-
go o dezejo, que o mercador estava es-
perando para as levantar de preço ; e se
tivera hum milhaõ delias, todas as gas-
tara talhando-lhes o valor, que em ne-
nhmn tempo viraij.» Ibidem. — «Tanto
que a manhã foy clara, a Rainha se le-
vantou logo, e levando comsigo esta sua
camare\Ta mór, e a donzella Síjmente,
se foy por dentro de hum passadiço à
camera aonde seu filho estava, e dando-
Ihe couta do que delle queria, mandou à
donzella que lhe lesse a carta, e por pa-
lavra dicesse tudo o que sobre isto era
passado.» Fernão Mendes Pinto, Pere-
grinações, cap. 142.^ — -«Posso crer com
licença de toda a Antiguedade, que Hip-
pai-chia amava Crates da mesma forma
que outras amarão hum mouro, como a
molher de Jucundo, hum Pigmeo, como
a Rainha Lombarda, hum Negro, como
a Princesa Fantomina, hum Cochevro,
como a Princesa Lampiria, e hum Dona-
to, que sendo ainda peor que tudo isto,
muitas tem amado.» Cavalleiro d'01ivei-
ra. Cartas, liv. 3, n.° 10. — «Para a
boca, narizes, e ouvidos he excellente
por experiências de HoUerio, i. a agoa
distillada de nozes mosehadas lançando
humas gottas em cada huma daquellas
partes. O mesmo uzo cora conhecida uti-
liilade tem também a agoa de Rainha de
Ungria.» Braz Luiz d'Abreu, Portugal
medico, pag. 485, § 156. — «Que a rai-
nha, chamando o embaixador catholico,
lhe gi-itara : .<Diga ao bárbaro de meu ir-
mão que ainda são vivos os netos daquel-
les que venceram vinte e cinco batalhas
aos hespanhoes : diga-lhe que não sou
castelhana : que sou rainha de Portugal,
e que me hei de ir ver com elle no cam-
po.» Bispo do Grão Pará, Memorias, pu-
blicadas por Camillo Castello Branco,
pag. 16. — «O Diário do Governo, que
tanta cousa nos publica que melhor fora
não dizer, nunca se dignou communicar
á Nação este honroso acto, feito, não me-
nos em seu nome e para sua gl('iria, do
que para glória da Rainha. Julguei de
serviço público deixá-lo trasladado aqui. »
.Garrett, Camões, nota D ao canto 7.
— Figuradamente: A rainha do mar;
Lisboa, cidade do oceano.
Vendo de muitas gentes as cidades,
As varias artes, os costumes vários,
Até que levantou, na foz do Tejo,
A rainha do mar, Lisboa invicta.
DINIZ DA cBUz, HYssoPE, cant. 3.
— Rainha do prado ; herva, conhecida .
vulgarmente pelo nome de barba de bode.
— Figuradamente : A principal na gra-
duação.— A agida é a rainha das aves.
— A segimda peça do xadrez.
— Adagio:
— Não ha rainha sem sua visinha.
RAINUNCULACEAS, s. f. plur. Termo de
botânica. Família de plantas que consti-
tuo uma ordem da classe das dicotyledo-
neas, polvpetalas de estamos hvpogvneos.
RAINUNCULO, s. m. Vid. Ranúnculo.
RAIO, ou RAYO, s. m. (Do latim ra-
dius). Linha de luz que lançam de si os
astros, as candeias, etc.
— Raio visual; o que sabe do centro do
objecto e entra pelo da pupilla dos olhos,
por meio do qual vemos os objectos ; e
d'aqui raio de incidência, de refvacção e
de reflexão, e outros vocábulos de óptica,
dioptrica, e catoptrica.
— Figuradamente: Luz.
O filho do Latona esclarecido,
Que com seu raio alegra a humana gente,
Matar pôde a Pj-thonica serpeute
Que mortes mil havia produzido.
c.iM., SONETOS, n." 87.
— Raios do sol ; as difierentes linhas de
luz que d'elle dimanam. — «Em passar
esta serra, que seria de quarenta e cinco
até cincoenta legoas, pusemos seis dias de
caminho, e no fim d'elle3 entramos nou-
tra serra não menos agreste que esta por
nome Gangitanou, e daquy por diante
toda a mais terra he muyto montuosa,
agra, e qua>i intratável, e tão fechada de
arvoredo, que por nenhum caso lhe podia
o sol comunicar os seus rayos, nem a sua
quentura.» Fernão Mendes Pinto, Pere-
grinações, cap. 73.
Se qualquer cscriptor isto pcrtende
Ou seja fabuloso, ou verdadeiro,
No braço Portuguez, a quem se entende
Que nenhum outro foi nunca primeiro,
Conhecido ja onde o Sol estende
O seu primeiro raio, e o derradeiro.
Mil feitos adiará mais espantosos
Que os verdadeiros seus, ou fabulosos.
F. DE ANDRADE, PRIMEIRO CERCO DE DIt7,
cant. 14, est. 2.
Eis que o S>51 turvo rompe as nuvens áridas
Tiraimo o avéxa eiii dúbro com seus raios.
Quem há, que o horror descreva dessas furnas
Onde quanto é pesar, quanto é agonia
Se ajunta eterno, e sempre eterno occulta ?
F. M. DO NASCIMENTO, OS MARTVRES, 1ÍV. 8.
• — «Era imia lenta agonia! E sempre
tu ante mim : nas solidões das brenhas,
na immensidade das aguas, no silencio do
presbyterio, nos raios esplendidos do sol,
no reflexo pallido da lua e, até, na hóstia
70
RAIO
U.UO
RAIO
dcj .sacriticio... scinprc tu!... o seiupro
p.-ini iiiiiii iiiipoHtíivel !» Alexumlru I!er-
ciihiuo, Eurico, cnj). IH.
Kllo o dííícobrc aoa ralo» matiiliiioií
C^iio Sol iiaitcondo ci(;mllia ulioi-isoiite.
J. A. DE MACKOO, A NAUllEZA, callt. 3.
— Fíiiscii de ordinário cm zifíuezapue,
rcsiiltiuito dii dc-tcarf^H olectrica nutre
unia uuvoíu i- a terra. O raio, uietuom
tcrrivoi (|uc tom morto inatautancamciitu
liomcus o auimací, (|uo parte e tendo om
todos os uentidos a;* mais robustas arvo-
res, (juo por uma acçào caloritica incal-
culável fuude rochas e motaes, lança em
roda do si um cheiro análogo ao enxofre
inriannnado, devido ao ozone, isto é, ao
oxvireuoo do ar eloctrisado, etc.
Outros iirdonJo voui, e ii terra varrem
Com forçoso apressado mouiiiiciito
líuscaudo vão com voltas turtuosas
Lugares onde a fjcute est,'i mais junta.
Aqui, e alli a os,)alha, soa o grito
l)a(|uclle cujos pés o raj/o encontra.
Enipu.\ãosQ Inins aos outros por guardarão
Do eoruscaute fogo, o ardente chama.
CORTR HEAL, MAUFK.IQIO DE SErULVKBA, CaUt. 5.
Mas ipiem ha hi tjuc não esteja preso
Do ipie manda o que o Ceo alto governa?
Desce lunu raio do chumbo cm fogo acccso
LA da parte do muro mais superna ;
Xào detém o forte a(;o o subtil peso,
Ao valero.so Heitor passa Ima perna,
Caho o corpo mortal, que a morte o chama,
Mas triumpha da morte a eterna fama.
F. d'aNDUADE, PRIUEIUO UEUCO DE DIU, CaUt. 2,
est. 5.
— «Tal como este foy outro cm Campo
mavor, que se gabou sabia lazer luiuia
arca do foguetes em lorma de giraudola ;
tí que haviaõ de sahir delia de soslayo to-
dos juntos, como rayos, a ferir as barbas
do inimigo com ferroens de settas. Tor
mais louco tive outro, que trouxe a este
Reyno hum segredo de armas de papel,
que disse sabia fazer, untadas com certo
óleo, que. as fazia impenetráveis a prova
de mosquete, e taõ leves como a camiza.»
Arte de furtar, cap. 31.
Veyo primeiro huo ratjo,
apÀi ellc huo trovão,
e gríim terremoto então,
tam grande, que pos desmayo,
qual nào viram, nem verão.
HAllCIA DE IIEZESDE, MlseEL^ANEA.
Vio que do forro só, não liso arado.
Mas dura espada fabricar deviào,
E do bronze os Canhões, que o mio imitào
(A tauta assolação se ch.ima gloria!)
Mais o ouro cscondèo no abysnio, o sombra,
Do lá âc arranca, se conduz ao dia.
J. A. DK MACEDO, VLIGEJI EXTÁTICA, tAUt. 4.
Se coutempláras ásperas montanhas,
Onde o mortal (juc sébc, observa, o núta
Brilhar por cima o Ceo, sercuo, e claro,
K debaixo dos pés [)or cutro opáuao
Nuvens cruzando o raio estrepitoso!...
iiiEU, uKuiTÁvÂo, caut. 2.
Mas não só do ar fluido no grcuio
O raio origem tem, o imjierio, a força ;
Díi terra dura no cavado avio
Também poder, e estragos alardèa,
Quando em cavernas li.írridas se espandc.
Pelo toque do fogo, o ár comprcsrt<j.
Do sempiterno Artifice, de tudo
Ho ci«pia teu clarão; dardejas raioi
Do vasto espaço aos últimos limites:
IVlos ares diáfanos te espalhas,
Chegas do mar ao seio, aos astros chegas.
Dcsprcndem-»e do alpestres serranias
Penhascos, ((uo fendera o raio aecczo;
Com pavoroso baque aos vallcs descem,
He já mar sem limite o campo Cítenao.
Inda nos mostra o már mais triste aspeito,
Quando, onde raóra o recatado China,
O medonho Tufão revolve as ondas,
K tapa, repentino, os Ccos, c os Astros.
lUlDEM.
Que vista perspicaz ! Com força altiva
Chega a transpor as nuvens enroladas :
Deixa abaixo de si trovões, c raios:
Té onde os árcs li(iuidos a soffircm
Vai devassar subindo o Sol ardente.
luiDEM, caat. o.
Tranquillo entre paixões vive Epicuro,
Qual do Olympo o cabeço além das nuvens.
Onde o trovão não brame, ou criua o raio;
Quem lhe suftoca os gritos do remorso.
Quando um ai <iu'elic exhala, um Deus lhe mostra !
Oh soberba mortal I cegaste a mente
(Depois de quantos sécidos!) a Bruno,
Basto do hum fogo ati-oz, qual foi Vanini !
IBIDEM, cant. -í.
Eu vivo! Mas que mão potente, c sabia
Me anima, e faz brilhar fulgentes raiot
A meus olhos attouitos ! Nhum ponto
Tirado foi do tenebroso Nada.
Devo acaso a mim mesmo o ser, c a vida ?
Nao ; que a Terra escaldou nas fundas veias
Dos vários animaes germes fecundos.
lUIDEM.
Que do seio das trevas produzirão
Da Natureza enfático Systcma,
Não lho commovcm solidas raizos :
Mais quo o Cedro no Libauo frondoso
Da tom postado zomba ; o raio iusultào
Da altiva plautu os troncos magcstosos.
IDIDEM.
Desprondom-se d"alpéstroà serranias
Benhascos que fendera o raio acceso.
Com pavoroso baque aos valles descem.
Que triste quadro os campos roprescntào !
IDEM, A KATUUEZA, COUt. 2.
Tolda-sc o ar de túrbidos vapores,
Medonho tôa, em raios se desata.
Instrumento da >nda, a vida estanca
Se com miasmas pútridos sonirrossa.
Qu' enfrear do mar turvo as vagas pixieui,
Bodem deixar suspenso o rciio acceso,
E o (pio he mais árduo ainda, em á>rreos peitos
Fazer troar a voz do seutimouto.
— Raio calurijico, ou raio de calor; a
linha recta, que «ugue o calórico, propa-
gando-se.
— Raio linninoto, ou raio </« luz ; é a
direc^Ilo, que segue a luz propagando-iie.
O claro ar e screiuj 8'cscuroce,
Qu'a grosiia c negra uuvcin lb<: aUMAde,
(> resplendor do .S>1 desapparocc.
Qu'osta uuviMn também mesma lho iinpc<lc:
No mar ao meio dia hoje anoitece,
}Iorrísonos trovõ<.-s de si despede
(í Ceo, c apoz estrondos Ojipautoton
ívilta de si mil raio» luminuéod.
rm.icisco de aiubáde, pumeibo cebco de oic,
cant. 4, est. 22.
Sc a vista pelos Ceos dilato, o sigo
De tantos corjMS a diversa marcha.
Que pari!ccin na ab<jbada pendentes,
Quo tanto sobre mim se arr|uêa, c brilha -,
Se cu considero o ar, puro elemento,
('uja interna estructúra em si conserva,
E encerra em si da luz brilhantes raio»,
Que a terra enche de ^nço, c esmalta as flores.
J. Á. DE MACEDO, KEOITAçIo, Cant. 4.
Vê nos Britannos, bárbaros hum tempo,
Quem mede os altos Ccos, c os aatrua pcaa,
Quem manda dividir da luz hum raio,
E as cores iioste raio encontra, e mostra.
IDEM, A XATIUKZA, CaUt. 1.
— Figuradamente : Um raio <U leite ;
a porçào em úo, que sahe espremida, ou
esguichada do peito.
— Raio da guerra: aquelle que com
ella produz grandes destroços.
£ a quem os sagrarei ? Ddlcs nio digno
He soberbo mortal, inda que aos hoii)end
Mande da paz os dons, da guerra os raio<,
E dos caprichos seus os Fados forme
Dos Thronos. e dos Reis : debalde o cinge
Endcosada ambição de palma, e louro.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, COUt. 1.
— Na lança para correr ari;' ..-. ■
08 que cercam o toral d'ella.
— Raio do circulo ; a recta que vai do
centro da circumferencia e termina n'um
ponto qualquer da mesma circumferen-
cia; é metade do diâmetro.
Foi entre tantos Magalhaens primeiro ;
Todos de hum centro os raio» so dcrramio.
Que vem tocar d hum circulo os extremod.
J. A. DE MACEDO, VIAOEM EXTÁTICA, CAnt. 4.
— Figuradamente: Qualquer golpe
que faz immensos destroços.
As Censuras, o Bispo, e sua vara
Vaõs espantalhos saô que naõ me aasustaõ;
Eu naõ temo o Meirinho, nem da Igreja
O forte mio. sem razaõ \-ibrado ;
E para mo livrar do Bispo ás iras
Tenho braço, arte,* tenho, c tenho modo.
DINIZ PA OttlZ, UVSSOPE, CaUt. tí.
Vem outra voz da frigida Livonía,
Da Escandinávia b:vrbara os Guerreiros
Trazer uas mãos o ferro, o mio, a morte.
KAIO
RAIO
RAIO
71
Treme o berço de Tytiro, c se cresta
Do Cantor immortal o louro cm Mantua,
Quando 03 canhões horrísonos vingarão
O juz dado á maldade, e dado ao crime.
J. A. DE MACEDO, \aAGEM EXTÁTICA, Cant. 2.
— Xa roda das carruagens, se chama
aos paus que sabem das piuas para o
cubo.
— Raios da virtude. — «He'preciso que
cada hum se incline ao bem por ódio do
mesmo vicio, e níio por medo da deshon-
ra, a qual não he mais do que huma som-
bra que desaparece infalivelmente aos
rayos da virtude.» Cavalleiro de Olivei-
ra, Cartas, liv. 1, n.° 51.
— Figuradamente: Raios da pátria;
modelos de virtude.
Baios da pátria, exemplos de virtude
Imitados por ti, por ti citados.
Sempre os vi abrazados de ira sancta.
GARRETT, CAtÂO, act. 4, SC. 3.
— Por metaphora : As forja
ceso raio.
,s do
— Figuradamente :
rannia.
Os raios da ty-
N'c9tc humilde legar, entre estes muros
Qunsi cercados de armas inimigas ;
Sobre nossas cabeças cada instante
Vendo troar da tvraunia os raios ;
Sem accurvar ao peso do infortúnio,
Unidos inda pela voz da pátria...
GARRETT, CATÃO, aCt. 2, SC 1.
— Raios d'ouro.
Poucas vezes depois o que a formosa
Daphne fez converter em verde louro.
Lá sobre a opaca terra, c ponderosa
Estendera e encobrira o raio de ouro,
Quando na hora que a Aiu-ora rociosa
Quer soltar o cabello crespo e louro,
Põe junto á fortaleza a aguda proa
Hum cátur que de lá vinha de Goa.
F. DE AXDRADE, PRIMEIRO CERCO DE DIU, Cant.
13, est. 104.
Dura este bravo assalto e furioso
Até que de Latoua o filho louro
Nas ondas já meXtia o luminoso
Carro, d'onde espalhara os raios d'ouro.
Confuso entào assaz, e ja medroso
Aquelle antes soberbo, e ousado Mouro,
Não se atreve a esperar a força brava
Que antes como a vencida despresava.
IBIDEM, cant. 14, est. 69.
— Raios e luz do meu entendimento.
Tudo he matéria, exclama, e tudo Acaso;
E não pode a matéria o dom sublime
Dar-se a si de pensar ; máxima impressa
No fundo da minhalma. E donde nascem
De meu entendimento a luz, e os raios?
He inerte a matéria, e seu repouso,
Lethargico repouso he delia efFeito.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, CEnt. 4.
— Raio que deixa a pólvora ; a por-
ção, que iica por abrazar-se, e arder com
a outra incendiada, quando não é boa,
e não arde toda junta.
Tu podes, se te apraz, das grossas nuvens
Saber a formação, saber as causas :
Co' as forjas atinar do acccso raio.
J. A. DE MACEDO, A KAILREZA, Caut. 1.
— Figuradamente: Raio ardente.
D'est'artc em nossas mãos he raio ardente
Esse sulfúreo põ, qu' o Mundo assola.
Este Elemento, dadiva do Eterno.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, CaUt. 2.
— Raio abrazadm-.
Em tanto o raio abrazador desfecha
O provocado Jove, e nas entranhas
Do acceudido Volcào scpidta o monstro.
J. A. DE MACEDO, A NATCBEZA, CaUt. 2.
— Apollo defraudado de seus raios.
— «Defraudado Apollo de seus raios,
viu-se estreitado a ser pastor, e a guar-
dar os rebanhos do rei Admeto. Tangia
tlauta, e todos os zagaes corriam a escu-
tar-lhe canções á sombra dos ormeiros, e
juncto a uma crystallina fonte. Attié esse
tempo era selvática e bruta a vida, que
passavam : nada mais sabiam que pasto-
rar suas ovelhas, tosquial-as, mimgir-lhes
o leite, e queijai-o : toda a campma era
um horroroso ermo.» Telemaco, traducçào
de Manoel de Sousa, e Francisco Manoel
do Nascimento, liv. 2.
— O raio fatal forjado em Feia.
Este o raio fatal forjado cm Péla
Alexandre se diz, co a altiva planta
Naçocns esmaga. Povos atiopella,
E no Hydaspes veloz peudoeus levanta :
A Suza, a T_\to, á Babylonia, Arbella,
A Ásia co'a espada vencedora espanta,
Corta-lhe a morte os triunfantes passos.
Surgem Reinos do seu feito em pedaços.
J. A. DE MACEDO, O ORIENTE, CaUt. 10, CSt. 8.
— Os raios de Alcides.
«Que faz Jóvc, que do alto dessas nuvens
«Tal relê não destrúe, e me uào vinga '?»
Apenaria todas
Do Olimpo as Di\nndades, a que os raios,
A que a Clava de Alcides lhe commettào.
Para estourar a Pulga.
FRANCISCO MANOEL DO NASCIMENTO, FABULAS DE
LAFONTADíE, 1ÍV. 3, U." 22.
— Raio avivador.
E, onde não fulgura, onde nào brilha
Teu raio a^^vadorV Na juba hirsuta
Do generoso Déspota das Feras
Bom te descobre o tórrido Africano,
No mosqueado dorso Hircanos Tigres
Sinaes de tuas mãos impressos guardão.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, CaUt. 1.
— O raio dos vulcaneos canhões.
Deixais voando, illeso entre minas
O Portuguez magnânimo, que affironta
Dos vulcaneos canhões o estrondo, o raio;
Manda eternos troféos de gloria ao Tejo
Na desmedida, horrisona bombarda,
Onde esculpidos vem Valor, e Pátria,
Em quanto de continuo era indignada.
Entre alvos ossos, que as muralhas cercão,
Do vencido Sofar medoulia sombra.
J. A. DE MACEDO, MEDIT.içÃO, CaUt. 2.
— • Um frouxo raio de modesto brilho
das estrellas.
Que pedes ás estrellas mais propicias
Um frouxo raio de modesto brilho,
Com que os rubis da bõcca, com que os lyrios
Do peito entre- ver deixas.
F. M-VNOEL DO NASCIMENTO, OBRAS, pag. 21.
— Figuradamente : Um raio ; pessoa
mui diligente e activa; de grande pene-
tração; pessoa que foz imniensos e rápi-
dos destroços.
— Vento, ou ar de raio ; o ar agitado
pela chamma eléctrica, ou rarefeito, que
iaz grande impressão, como o vento da
bala em quem toca.
— A voz do raio ; grito atroador.
Encerra oceultos bens hum mal qu'he visto,
Tantos estragos de instrumentos servem
A vingança immortal : a voz do raio
He grito atroador qu'os máos assusta,
Inda que d'ouro, e purpura se vistão.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Cant. 2.
— Imagem coroada de raios ; imagem
tendo sobre a cabeça uma aureola brilhan-
te.— «7. Deste mesmo Astro ^no Pie-
rio 8. Huma Imagem em certa moeda
coroada de rayos, e com huma maõ, que
voando com duas azas, mostrava ao mes-
mo tempo o caminho do seo Oriente para
o Occazo. Tanto foi entre os Antigos,
deste beneficio, e commum dispenseiro
das luzes, a veneração, o obsequio, e a
idolatria.!. Braz Luiz d'Abreu, Portugal
medico, pag. 156, § 5.
— Termo de náutica. Raios da roda
do leme ; os balaustres torneados d'ella,
e cujos extremos salientes á circumferen-
eia da roda, formam as malaquetas onde
o homem que governa o leme applica a
força.
• — O raio; a frecha.
Silv. O meu me ferio d'agulha
e dedal, não de frecheiro.
Leon. Qual frecheiro, mana? mentem ;
amor tira a papagaio,
d'onde é, d'alli dá o raio.
ANTÓNIO PRESTES, ACTOS, pag. 175.
— Figuradamente: Fiosinhos de raios
que entram em casa, a que chamam dia-
binhos.
Cioso. Porque aquellcs fiosinlios
dos raios que entram, uns ousões
72
RAIV
RAIV
UAIZ
cliainam-Ihc vnlhos diabinhoii
f|ii(! entram cm cnía, o d'i!Hti'H inlioH
BC uriíium sompri! uim dintiOcs.
ANTOMl) 1'IIKSTKH, ALIOS, pilg. 2t'!.
— Figuraflamontc : <> raio '«•<:ttso de
um viiKjiidnr.
Ali ! que dentro oní gnu peito um Dcoí) 8'cHCOudc,
MoHtra-llic aos ollios luminoso ospc.llio,
C)ndu todo descobre o horror do crime,
Dcricobro bum vingador, (|ue o rain accezo
Tem, pcompto a desfechar, na dextra irada.
J. A. I)K M.VIKDO, MKDITAÇÃO, CaUt. 4.
— AUAÍÍIOS K rUOVKKHIOS :
— É raio.
— I )issc-llio raios.
RAIOSINHO, .-•. III. Diuiimitivo do Raio.
Pi'([uiMii) raio.
RAIVA, .«. /. (Do latim niòies). Docii-
^•a lios uiiiinacs tlamnailos, livclropliobia.
— «A qual tinha propriedade, que a liuui
certo tempo acudia á pessotv ferida delia
huma raiva, inordondo a si me.suio, como
SC tosse mordido do cão damnado : o que
SC vio em hum (^avalleiro da Villa Estre-
moz chamado Lopo de Villalobo.?, c era
outros que alli foram feridos.» Joào de
Barros, Década '2, liv. Ij, cap. 4.
Torrivcl Tubarão, dos vastos mares
IIc tlugcUo, c terror, c a raiva sua
Na própria capccic (horror!) se nutre, c ceva.
J. A. DB MACKDO, A NATIBEZA, Cant. 3.
— Bolos de farinha, manteiga, ovos c
assacar.
Eil-a vem, dissimulemos,
que uel campo dormirás.
Phil. Certo que a mofina faz
tpuuido tiucr raivas d'estremo8.
ANTÓNIO PBESTES, AUTOS, pag. 105.
Phil. Baiva te ama.tsaria cu,
falso maio engauador.
IBIDEM, pag. 137.
— Raiva de jixjar, de faier imd, de
dizer imd ; furor.
— Loc. axtiqu.ada: For raiva a al-
guém; dizer ou fazer cousa que a assa-
nhe, por injuriosa ou aflfrontosa.
— Orando appetite. — .fl raiva da fu-
me; da sede.
— Figiuadameutc : Ira grande o ar-
dente.
O diabo queu o dou,
Que tão inao bc de aturar.
Oh Jcâu ! que eufadamcuto,
E que raiva c que tormento,
Que cegueira e ((ue canceira!
Eu bei de buscar maneira
D"algum outro aviamouto.
GIL VICENTE, KABÇAS.
— « Vi amor; inas em ciíso igual, mo-
rar nelles amor! Queria vèr uelles des-
peito, raiva; que cm tudo me contradis-
«o.sciii ; rjuo mo acltasscm feia ; que na-
morassem outra Dama; e jrar último quo
fuisciMHom de ci<j»os, pois que ou tutm a|t-
parencia.s dcsleáes mostrava.» Fraiici.fco
Manoel do Nascimento, Successos de ma-
dame de Seueterre.
Com ellas fez parar, mas niio vencida»,
O forte 1'irrho as Legiões Romana».
A tanto chega a ntira doií humano» !
Do solitário bosqne IM feras tira,
I)á-llies furor, que a Natureza nega ;
Instrumonto.s as faz de sangue,, o morto.
J. AGOSTINHO DE MA<ED0, MEOITAfÃO, CStlt. 3.
— Termo auti(iuado. Iniamia, noUi,
alcive, labóo.
— AUAGIOS K 1'KOVEIJBIO.S :
— Quem o seu cào quer matar, raiva
lhe põe nome.
— Com raiva o asno, torna-se á al-
barda.
— O cão com raiva cm seu dono trava.
— »Syn. : Raiva, escandesceneia. Vid.
este ultimo termo.
RAIVAÇÃO, s. m. Termo popular. Prui-
do forte lio appetite, ou copula venérea.
RAIVADO, {jart. pass. de Raivar. En-
raivado, raivoso, encolerisado.
RAIVAR, V. a. Arder em raiva, cm
cólera.
Baivon tauto sidcraque
E tanta zarzagania,
Vou-mc a morror de seqaia
Em cima dbum almadra(|uo.
E aute de meu tinamciito,
Ordeno meu testamento
Desta maneira seguinte.
Na triste era de vinte
E dous desde o nascimento.
GlU VICENTE, OBBAS VABIAS.
Cubicar, desejar com fúria, c co-
— Raivar com alguém; enfureccr-se,
irar-se, encolerisar-se.
lera.
Dita. Oh ! como folgo pardclhas
de a Philippa ter furtado
osta carta namorada
parcstas de nas orelhas
a trazer por arrecada !
Hei-a de fazer rnittir.'
ANTÓNIO PEESTES, ACTOS, pag. lOÕ.
Viiiv. OUiao-me aquillo cm questão.
Grim. Toda rac fazeis raivar;
as.si é, hei de estalar.
IBIDEM, pag. 385.
— Raivar o vento ; en{\u*ecer-6c, esbra-
vejar, cnfuriar-se o vento.
— Raivar-ihe a lascívia no corpo; cn-
furccor-sc, fazendo os seus mais violen-
tos ofVoitos.
RAIVENTO, A, adj. Iliiivoso, que está
com raiva, cheio d'clla.
RAIVOSAMENTE, adv. (D^ raivoso,
com o fluffixo t mente»;. 1)8 um modo
raivo-o. com raiva.
RAIVOSINHO, A, adj. Diminutivo de
Raivoso.
RAIVOSO, A, adj. (Do latira rabiotus).
Que c.-tá com raiva, raivcnto, cheio de
raiva.
Ahdí como »c ve brano, e. rainoto
O Uniro que no («rro anda acoflwido
Com testa earrancnd.i, e vista ew|uiua :
.Mil bramido» no» ares leuantando.
Assi fiarcia de S.á quaodo do Sousa
Tal recado lhe dão, fica g<;m tento,
P'ogelhc a cor do rosto, ajunta, e cerra
A branca sobrancelha, assi dizendo.
COBTE BKAL, XACrBAOIO DK lErULVeoA, Cailt. I.
Furor, c Amor lhe abrasão juntamente
O duro cora<;âo. brauo, e raiiirtso:
Se castis" imagina, não »v atreue
E se a fúria o constrange, amor o impode.
Com tiles contrario» junto» num sogeito,
Da camará se sae, c a Lionor duiza
Arrependida não, ma» desgostosa
De o ver assi por cila descontente.
IBIDEU.
— Acompanhado de raiva, de desespe-
ração, de ira.
— Diz-se também das paixões fortes
que enfurecem. — A luxuria raivosa.
— Raivosos cíies ; animaes cheios de
raiva, rancor.
Das Leis. c Magistrado á cinta traicm,
E cheios de grande ira, quacs raivoto».
Arremessados Cães, que ardidos BCgucm
O fero .Javali, que veloz foge
A emboscir-se na densa, e vasta moita.
Correm, sem tino, apor o bom ÍJonaalTe»,
Que em seguro ji posto, ao pé da guarda,
Os olha com desprezo, o com insaito.
A. DINIZ DA TRcz, BvesorE, cant. 6.
Ataca a preza tímida, que foge \
Debalde f-Age victima, raíf"«o
No palpitante coração lhe empolga
As encurvadas garras, e d°hum golpe
A sangra, a rasga, a dcspodat^, a trag%.
J. A. DE M.VEDO, MXDITAÇÃO, CUt. 3.
— Figuradamente : O raivoso veiUv ;
o vento fiirioeo, embravecido.
São da bondade tutelar a prova.
Pois dos terríveis tóxicos so tirão
Armas, que i fria Morte a fouce embotio.
Assim montão de túrbidos vapores,
Que no jiojado seio o raio acolhe,
Co'a brava fúria do raivow vento
Mil vezes se transforma em ondas puras.
Que, humedecendo as áridas campinas.
De Flora, e de Pomona os dons aJcntio.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Cant. 3.
RAIXA, í. /. Vid. Raia.
RAIZ, s. /. 'D'^ latim radix^. A parte
da plant<n que liça debaixo da terra, e que
absorve, para a nntrir, os suecos que lhe
sSo apropriados. — tEu dei uma topada
com meu cavallo em uma raiz d'uma ar-
RAIZ
RAIZ
RALA
73
vore, que se não pôde ter em a mão di-
reita ; e vou triste por nào poder chegar
a tempo, que estou pêra morrer com pe-
sar. » Francisco de Moraes, Palmeirim de
Inglaterra, cap. 104. — «Vinhão todos
vestidos com huns panos como mandins,
feytos de rayzes de eruas, com tintas de
muy varias cores listrados. O cabello re-
torcido, algum tanto grande, e pardo, e
os vestidos sobraçados ao modo de Me-
linde.» Frei Gaspar de S. Bernardino,
Itinerário da índia. — -«Para untar com
liuma penna o palato lie insigne o se-
guinte apophlegmatismo. R. de triaga de
Andromeda drachm. ij. de extracto de
Castoreo scrup. semiss. ; de pos de raízes
de piretro scrup. j. de óleo distillado de
alambre got. vj. misce.» Braz Luiz de
Abreu, Portugal medico, pag. 485, § 15õ.
— o Cada copa de vinho que virara fora
seguida de uma ou outra allusão aos an-
tigos padres do ermo, que, alimentando-
se de hervas e raizes e saciando-se no
arroio do valle, tinham chegado, não só
ao ápice da sanctidade, mas também a
velhice robusta e dilatada.» Alexandre
Herculano, Monge de Cister, cap. 2'ò.
— Figuradamente : Origem, principio,
fonte, base, causa donde alguma cousa
provém. — «E se buscarmos a raiz des-
tas perdas grandes, havemola de achar
no descuido das pagas pequenas, que oc-
casionaraò licença nos acrédores, para se
pagarem de sua mão, sem repararem na
censura de ladroens, que incorrem pelo
que levão de mais : e se algum pezar os
acompanha, he de não acharem mais, pa-
ra se pagarem também de dous perigos,
a que se puzerão.» Arte de furtar, ca-
pitulo (3. — «Conselhos bons saõ muito
bons de dar, mas muito m;\os de tomar :
muitos os daõ, e poucos os tomaõ. Con-
selhos máos tem duas raizes: ou nascem
de ódio, ou de ignorância : por peores te-
nho os primeiros ; porque a ignorância
procede da fraqueza, e o ódio resulta da
malicia ; e a malicia he peor inimigo que
a fraqueza.» Ibidem, cap. 30. — «Fran-
cisco Patricio 2. a denominou Alicerse, e
Fundamento de tudo o que se pode sa-
ber. Sancto Isidoro 3. a detinio Univer-
sidade admiranda, e raiz da planta de
todas as Sciencias, e faculdades. O famo-
zo Grammatico Dionysio Licinio mereceo
ter huma estatua no Capitólio, que tanta
veneração grangeou esta Arte entre os
Romanos.» Braz Luiz de Abreu, Portu-
gal medico, pag. 127, § 98.
Hadc-tc ir definliando a pouco c pouco,
E da hoivada rah hàodc brotar-lhe
As parasitas plantas, que mui breve
Gigantes cresccrào, o hàode assombrar-te,
Vingani;a ! — Eu sempre vi esses Eomanos.
GARRETT, CATÃO, act. 4, SC. S.
— A parte occulta d'uma cousa que
apparece. — A raiz dos dentas.
VOL. V. — 10.
— Figuradamente : O pé, a parte in-
ferior.— A raiz do monte. — «De um la-
do as tendas dos árabes, derramadas pe-
las raizes dos montes e pelos cimos dos
outeiros, podiam comparar-se ao acampa-
mento das tribus do deserto, que, empra-
zadas á voz do propheta, se houvessem
ajunctado n'um ponto único das solidões
onde vagueiam.» Alexandre Herculano,
Eurico, cap. 9.
— Conhecer alguma cousa bem de raiz;
saber alguma cousa bem a fundamento,
radicalmente, profundamente. — «Para se
livrar o Príncipe de todas estas Scylas,
e Charybdes, deve conhecer bem de raiz
os talentos, e ânimos de seus Conselhei-
ros : e faça porisso, porque nisso está a
perda, ou ganho total de seu Império.»
Arte de furtar, cap. 30.
— Restos de causas, ou meios, que vão
produzindo os mesmos eíFeitos. — «Eu vi
muito bem a prova, que de bom namo-
rado fizestes na cidade de Constantino-
pla, e sei que a fé e amor, com que tão
grande cousa acabastes, tem algumas raí-
zes dentro em vós, que vos estorva o ga-
lardão dos trabalhos desta terra.» Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim de Inglater-
ra, cap. 101.
— A raiz; os bens chamados de raiz.
- — • Bens de raiz ; são herdades, casas,
etc. ; em opposição a bens moveis. — «E
vista per nós a dita Ley, adendo e de-
clarando em ella dizemos, que vendendo
alguma possissom de raiz o marido sem
outorgamento da molher, poderá essa mo-
Iher demandar em Juizo, e cobrar a dita
possissom, sem gaaçando pêra ello Carta
d'ElRey.» Ord. Affons., liv. 4, tit. 11,
§ 2. — «O qual costume visto per nós,
declarando em elle dizemos, que se algum
homem casado der á sua barregaã alguã
cousa movei, ou raiz, ou a qualquer ou-
tra molher, com que aja carnal afeiçom,
a molher sua poderá revogar, e aver pê-
ra si a dita cousa, que assy for dada.»
Ibidem, liv. 4, tit. 12, § 2.'— «E decla-
rando acerca da segunda parte da dita
Lei, que falia em como se deve haver a
dita divida primeiramente pelos bens do
devedor, etc. Dizemos, que nom deve
seer demandado o fiador em nenhum ca-
so, ataa que o principal devedor nom se-
ja primeiramente demandado, e conda-
pnado, e feita a eixecuçom em seus bens
assi moviis, como de raiz ; e feita assi a
dita eixecuçom, em aquello, que se nom
pôde aver poios bens do principal deve-
dor, poderá seer demandado o fiador.»
Ibidem, liv. 4, tit. 53, § 3. — «A qual
Ley vista per Nós, adendo e declarando
em ella Dizemos, que todo Corregedor,
Juiz, ou qualquer outro nosso Official,
que seja posto a tempo certo em alguã
Comarca, Cidade, ou Villa, ou em outro
algum lugar, durante o tempo de seu Of-
ficio, nom possa hi comprar, escaimbrar,
nem afforar, nem arrendar bens alguns
de raiz, nem possa receber doaçom à'al-
guns bens, assy moviis como de raiz, que
lhe seja feita per alguã pessoa, que seja
de sua jurdicom.» Ibidem, liv. 4, tit. 61,
§ 1-
— A parte dos montes que se encobre
profundamente na torra.
— Pala\Ta primitiva.
— Lançar raízes áe vivenda; arraigar-
se na terra.
■ — tSaber alguma cousa de raiz ; saber
alguma cousa solidamente, e não super-
ficial, nem pela rama.
— A raiz das carnes; sobre o cor-
po mi.
— A7-rancar de raiz ; extirpar com as
raizes.
— Ter raizes na terra ; ter bens, fa-
mília, assento, estabelecimento.
• — Figuradamente : Arrancar de raiz
os vícios, peccados, maus hábitos, etc. ;
arrancar de todo com as suas causas.
— Raiz do dente; a parte d'elle, que
está dentro do alvéolo, e o segura na
queixada.
— No jogo da pella, a raia que rema-
ta o jogo.
— Termo de arithmetica e de álgebra.
O numero que mídtiplicado por si mes-
mo produz a sua elevação a alguma po-
tencia.— 4 é a raiz quadrada de 16, ou
de si mesmo elevado á segunda potencia,
como 4*. — 5 é a raiz cubica de 125, ou
de si mesmo elevado á terceira potencia,
como 5^.
— Tei-mo antiquado. Género de estofo
usado para vestidos.
RAIZAME, s. m. Todas as raizes da
planta.
RAJA, s. f. Termo de origem hespa-
nhola. Abertura, faxa, listra.
RAJA, s. m. Príncipe indiano.
— Nome honorifico entre os mouros ma-
laios, que quer dizer d'elrei, que accres-
centam a seus próprios nomes.
RAJADA, s. m. Termo de náutica. Ra-
jada de vento; refega forte de vento, pro-
cellosa, arremeços impetuosos, pelo que
se diz : vento de rajadas, ou de fura-
cões.
RAJADO, A, adj. Que tem raios ou lis-
tras de côr. — Cavallo melado rajado de
branco.
RAJEIRA. Vid. Rageira.
RAK, s. m. Vid. Rack.
1.) RALA, s. f. Vid. Arrão, ou Ar-
ram.
2.) RALA, s. f. — Pão de rala ; pão
feito unicamente de rolão.
RALADOR, s. m. Termo de funileiro.
Instrmnento usado nas cozinhas e boti-
cas para ralar queijo, pão, etc.
RALADURA, s. /. Raspadura.
RALAMENTE, adv. (De ralo, e o suf-
fixo «mente»). Vid. Raramente.
RALÃO, s. m. Pão de rala.
— Vid. Rolão, termo mais usado.
RALAR, V. a. Passar pelo ralo.
74
KA LU
RAMA
IIA.MA
— FigiiraJaiucnto : KH^otar a jjiicirii-
cia, mool-a.
— Ralar-se, v. ntjl. Fifíurailaincnt*! :
Mocr-so, aftlifíir-HC, inortifii;ar-.so,
RALÉ, s. /. Termo do volatoria. A
avo ou o animal om quo a ave di! cai.ar
costuma fazisr prosa.
— As mor/is (líi camará t/uf, são (/un-
te da nosnd ralé ; isto ó, das (|uo iiamo-
ramoM, ila missa or<lcni.
— Vid. Relê.
— ylc(;(5e.9 (fusta ralé ; acçõos dosta
casta ou cspocio.
— Nào ê (VcKjuella ralé ; nào fçosta
d'aquilio, ou não ó liabil para aquillo.
— Figuradamente : A sua ralé são
louvaminhas ; isto ó, o que ca^'a o quo
mais llio aprada, o quo clle cara, busca,
o nn (|U(; so cova, sào lisonjas.
RALEA, «. /. Termo antiquado. Espc-
cio, casta, sorto.
RALEADO, part. pass. de Ralear.
— Termo do botânica. Quo o ralo, cm
pequeno numero.
— Umlirelhi raleada ; diz-so quando
tem pedúnculos era pouca quantidade.
— Verticillo raleado ; diz-sc quando
os seus flosculos estào um tanto distan-
tes entre si.
— Racimo raleado ; diz-so quando as
suas oscadoas são um tanto realçadas, c
tlcxivcis para os lados.
RALEADURA, *■. /. O ralear, fallando
particularmente da vinlia, quando por
cffeito do um tompoi'al cáe a flor, e não
vinga o fructo.
RALEAR, t". a. Fazer raleiros.
— V. n. Tornar-se ralo ou raro.
— Ficar ralo, com raleiros. — Ralea-
ram as uvas,
RALEIRO, s. m. A parto das vinhas
o outros plantios onde morreram ou nas-
ceram mal as plantas, o sementeiras, por
serem cabeços maus, ou morrerem, ou
não nascerem de afogados do monda,
etc. calvas, mor tórios.
— Vid. Mortorio.
— Toma-so também no sentido figu-
rado.
RALEO, ou RELEO, s. m. O bródio da-
do aos pobres na portaria do mosteiro do
Alcobaça.
RALEZA, s. /. Vid. Rareza.
RALHADO, parf. pass. do Ralhar. —
«Que um frade caetano, tio do duque de
Cadaval, estava preso no sou convento
por ter ralhado do oasanionto do sobri-
nho com uma lilha do conde do S. Vi-
cente.» Bispo do Grão Par;i, Memorias,
publicadas por Oamillo Castollo Branco,
eap. U).
RALHADOR, A, s. Pessoa que ralha
por habito.
RALHAR, r. n. Ameaçar, fazer gran-
des ameaças, sem poder para os execu-
tar.
— Dosgostai'-se, agastar-se, enfadar-se.
— Dizer mal.
RALHOS, s. III. pliif. í)rgulho»o« e su-
pcrlhios aiii'-aços.
RALINGA, *. /. Vid. Relinga.
RALLAN, ». 111. Termo antiquado. O
mesmo quo real, moeda. — Cento e vin-
l(i reis cm din/utiro, de seis ceitig o ral-
lan, ciiiiKj cl-ri i muadiir.
RALLEIRO DE AGUA, .s. m. Termo do
historia natural. Ave aquática, do côr
parda, malhada do proto jior cima, o
cinzenta azulada por baix;o, cnm as ilhar-
gas raiadas de branco c proto, tendo o
bico vermelho : vivo entre a» li(!n'as jun-
to ás aguas estagnadas.
1.) RALO, s. m. Vid. Raro. Folha de
metal furada com bui-aquinhos, que tapa
a janella, ou abertura da roda de frei-
ras, polo qual so lhes falia.
— Termo do fuuiloiro. Folha de lata
furada, de sorto que fiquem uns rebites,
ou as pontas da outra parte, a modo de
grosa, sobre as quacs se roça a cidra, o
tabaco, para o fazer em porções miúdas,
cortando-se nos robites ou pontas, e pas-
sando pelos buracos, etc.
2.) RALO, A, adj. Vid. Raro.
— Pão ralo. Vid. Ralo.
— IJic/io ralo ; insecto pardinho, com
visos de dourado, que roo a raiz da cou-
ve, melões, e mais hortaliças.
— Adágios e proverisio.s :
— Quem ralo scmea, rala leva a pa-
voa.
— () fidalgo, e o nabo ralo.
l.) RAMA, .«. /. Os ramos da ar\'ore. —
«No cabo d'algumas aventuras chegou a
vista do castello d'Almourol. Caminhan-
do polo Tejo abaixo, como fosso em ve-
rão o as arvores estivessem cobertas de
ramas, e as agoas corressem som nenhum
Ímpeto, acharam tão gracioso o sitio e o
lugar por onde caminhavam, que punham
em os(piecimento o trabalho que as lon-
gas jornadas fazem sentir a quem as pas-
sa.» Francisco de IMoraes, Palmeirim de
Inglaterra, cap. 12(). — «E atravessa to-
do o deserto o per cila nam ha nenhum
caminho, nem passagem, soomente em
este lugar, onde ostaa hunia casa feyta
do madeyra, o de ramas de palmeyra
cubcrta, que em os tempos passados man-
dou fazer ho grão Soldào.» António Ten-
reiro, Itinerário, eap. 38. — «Daqui nos
leuou o Ermitão por humas ruas do ar-
uoredo, cujas ramas parecião sobir às
nuuens, e no mais intimo d'olle achamos
o (iouornad(n" assentado com outros gran-
des, quo estimarão hirmos ali dar com
olles.» Fr. (! aspar de 8. Bernardino, Iti-
nerário da índia, cap. 1.''.
— Seda em rama ; seda não fiada, não
torcida.
— Loc. ncuiíADA : Andar pela rama ;
tratar superficialmente as cousas ; não jis
profundar, não ir á raiz d'ellas.
— - .fl rama da victorin ; a insignia do
vencedor, a palma da victona.
— Figuradamente :
Estoii liiiu;ain o mai» da ritma
pcra elloH maiH Ar- HUHpoito.
N<!ín tudo cuide iicin urnufl,
pAdt; «cr nAii «cr a cauiui
íhiio que diz ; inaÍH iiic vence
(|ui! HurA porijUK pcrtiíiice
lá iiiaiit que outro, c a>|ui dê pauHa.
AKTORio rBKRTES, AiTO*, pag. 30.').
Anui r.tciu parccíiro»
c:í iis dainii» pcdamiit nau fainait,
«'' nu» roniíM,
oinii )iii minas som havcren,
e como lia ))ra/;ts «em cliamii».
iniDKii, pag. 30.'i.
— Cortar os viriíja j/ela rama; nâo nn
arrancar, nem extirpar ; deixar os tron-
cos d'ond(' reliontoni e renovem.
2.1 RAMA, í. /. Termo de imprcs«ilo.
Quatro vergas delga<la.s do forro quaijra-
do, e em quadro pegadas ; no meio tem
um ferro atravessado com suai abertu-
ras, para entrarem n'ella8 as pontura^.
Na rama se aperta a fOrma, e posta na
prensa se imprime.
RAMADA, s. f. Ramos cortados e dis-
postos de maneira a assombrarem algum
logar.
— Casas cobertas do ramos á prensa
abortas pelos lados.
— Sombra com ramos nativos sobre as
janellas o portas.
— Riimos mui largos e dilatados da
arvore, quo faz grande sombra.
— Coberto á maneira de ramada, ain-
da que de taboas.
— Pescaria, que se fazia com ramos,
lançando grande copia d'elle8 nos mais
profundos poços, para que o peixe su-
bindo das lapas e raizes so acolhesse a
elles. Era mui frequente este serviço dos
colonos para com os senhorios das terras.
O tempo que apei-feiçoou a arte de pe.s-
car, igualmente consumiu o uso das ra-
madas.
RAMADAN, ou RAMAZAN, f. m. (Do
árabe ramadan). Nono mez do anno ará-
bico, que os musulmanos consagram ao
jejum.
— Vid. Remedão.
RAMADO, adj. Vid. Enramado. — ^r-
vore ramada.
RAMAGEM, ou RAMAGE, .«. /. Grupo
de ramos c folhas arbóreas, folhagem es-
pessa.
— Ramada.
RAMAL, *. »). Mídho de fios. — Um
ramal de misnaiiga.
— Trincheira comprida rectilínea para
defender alguma obra» corna ou coroada.
— Ramaes de jiinhZef, de camoezet s«c-
cos : ramaes enfiados.
— Figuradamente : Ramal (jelado ; á si-
milhança do qual as vertentes lagrimas
pendem dos olhos.
Ura, plúmbeo manto; outro, o -«udário ardonto.
Qual trás, iw seio as Scrpos, quo o dcvorão.
RAME
RAMI
RAMO
Outro, as vertentes lágrimas, que pendem.
Como um ramal gelado, de seus olhos.
F. M. DO NASCISTENTO, OS MARTYEES, 1ÍV. 8.
— Ramal da funda de atirar pedras ;
o cordão, uma cLas pontas.
— Termo de fortificação. Grandes la-
dos, que atam uma parto da praça prin-
cipal com as obras exteriores, ou sejam
tenalhas, cornas, etc.
— Ramal da coifa ; a borla ou os cor-
dões que saliem da coroa d'ella.
— Ramal na mina; o caminho subter-
râneo, que guia aos fornillios.
RAMALHADA, s. f. Grupo de rama-
lhos.
— Estrépito de ramos agitados.
RAMALHAR, v. a. Chegar a obter os
ramos mais baixos.
— Fazer som nos ramos, pondo-os em
movimento.
— Fazer susurro a rama.
RAMALHETE, s. nu Ramo de flores na-
turaes ou artificiaes, dispostas por certa
ordem.
-RAMALHATEIRA, s. f. A mulher que
faz ramalhetes.
— Mulher que os vende.
RAMALHO, s. m. Ramo cortado, velho
e secco.
Por aqui não passarão,
fica o palheiro ramaího
aos barcos que vem e vào.
ASTONio prestes; AUTOS, pag. 261.
— Pôr ramalho como em atoleiro ; pôr-
se ramos em pé nos barrancos, atoleiros
das estradas, para que o viandante se
desvie, e não vil cahir n'elles.
RAMALHUDO, A, adj. Que tem muita
rama .
— Galhudo.
RAMASSÃO, s. m. Vid. Remendão.
RAMEOTIM, s. m. Certo estofo asiá-
tico.
RAMEIRA, s. m. Mulher publica, puta,
prostituta. Vid. Cantoneira, que differe.
— Adagtos e provérbios :
— Não ha geração sem rameira, ou
ladrão.
— Quando a rameira fia, o letrado re-
za, e o escrivão pergunta quantos são do
mez, mal vai a todos três.
— Amor de rameira, e convite de es-
talajadeira, não pôde ser, que não custe
dinheiro.
1.) RAMEIRO, s. m. Homem que arre-
mata aos contractadores principaes da al-
gum contracto um ou mais ramos d'elle.
2.) RAMEIRO, A, adj. — (íatíao ramei-
ro; gavião, que saindo do ninho anda
de ramo em ramo.
RAMELA, s. /. Vid. Remela.
RAMENTOS, s. m. pi. Pequenas par-
tes.
RAME O, A, adj. Termo de botânica.
Que nasce sobre os ramos, fallaudo das
folhas, pedúnculos.
— Que é relativo aos ramos.
RA-ME-RAM, ou RAMMERÃO, adv. ono-
matopaico, vindo do som uniforme de
imi instrumento mal tocado, ou do som
de algum instrumento fabril.
— Figuradamente : Costumeira cousa,
e praticada vulgarmente.
— Costume, habito vulgar. — Não pas-
sa este homem do seu ra-me-ram.
RAMICH, «. m. Termo de pharmacia.
A labaça ou azedas, herva.
RAMIFICAÇÃO, s. m. Termo de bo-
tânica. Divisão de uma haste em muitos
ramos.
— Disposição de ramos. — • A ramifi-
cação do carvalho.
— Termo de anatomia. Jlodo pelo
qual se dividem as artérias, as veias, os
nervos, etc,
— Figuradamente : Subdivisões d'uma
sciencia, d'um assumpto, d'uma matéria.
— Seguir seu assumpjto em todas as suas
ramificações.
— Figuradamente : Diz-se de uma sei-
ta. — As ramificações d'esta seita esten-
diam-se mui longe.
f RAMIFICADO, part. pass. de Rami-
ficar. — Artérias ramificadas.
RAMIFICAR, i'. a. (Do latim ramus,
& f acere). Propagar, estender em ramos
a arvore.
— Figuradamente : Ramificar a gera-
ção, a prole.
— Figuradamente : Ramificar a scien-
cia, a doutrina, a seita.
— Figuradamente : Ramificar os de-
feitos, os vicios, os hábitos, etc.
— Ramificar-se, i-. ref. Dividir-se em
muitos ramos.
— Figuradamente : Diz-se das noções,
das sciencias. — Estas verdades dividem-
se, subdividem-se e ramificam-se até ao
infinito.
■ — ■ Diz-se também de uma seita, de
uma doutrina. — As seitas protestantes
tem uina grande tendência a ramifica-
rem-se.
f RAMIFLOR, adj. 2 gen. Termo de
botânica. Diz-se das flores que nascem
sobre os ramos.
1 RAMIFORME, adj. Termo de botâni-
ca. Que se assemelha a um ramo.
RAMILHA, í;. /. Vid. Ranilha.
RAMILHETE, s. m. Vid. Ramalhete.—
«Ho hum ramilhete composto de excel-
leutes flores, e não se pôde diser outra
cousa cm seu louvor se não que foi com-
posto das fragaucias dos Jardins mais co-
nhecidos.» Cavalleiro d'01iveira. Cartas,
liv. 2, n.° 67.
Alli vejo o teu Busto, alli cingida
A frcute tons de peregrinas Plantas,
E tu, qual novo Adão, dás nome a todas.
lima ramilhete de purpúreas Flores,
A Europa, a Lybia, a America te ofiTrcccm.
J. A. DE SUCEDO, VUGEM EXTÁTICA, CaUt. 2.
RAMINHO, s. m. Diminutivo de Ramo.
Ramo pequeno.
A dar-mc
. prazer, sem entresachar-mo
um raminho desliosto.
Só Deos tem o coutentar-me.
E' verdade.
AKTONIO PBESTES, AUTOS, pag. 20.
Que favor
ha de ir ncllcs ?
Uus raminhos
cm bicos de passarinhos,
cousa que tenha primor.
IBIDEM, pag. 451.
RAMINO. Vid. Ramo.
f RAMIPARO, A, adj. Termo de bo--
tanica. Qiie deita ramos.
• — Diz-se dos polvpeiros.
RAMNO. Vid. Rhamno.
BAMO, s, m. (Do latim ramus). Por-
ção menor que o braço da arvore, em
que se divide o tronco. — Um ramo de-
figueira.
Na trança do chapóo traz sempre um ramo,
E, se encontrar rascão seu matalote.
Lá o sabe avisar pelo reclamo.
FERNÃO SOROPITA, POESLIS E PROSAS INÉDITAS,
pag. 5.3.
Ireis vós pêra Sanhoanne
Polo eco sagrado,
Que meu dono está danado.
Vio elle o demo no ramo.
Se elle fosse namorado.
Logo eu vou buscar outr'amo.
GIL VICENTE, FARÇAS.
Imaginaua ouuir no rumor surdo
Da cristallina fonte a voz suauc
Daquella suauc boca, quanto ouue,
E quanto ve, Lianor se lhe. afigura.
Qualfjuer ou aue, ou ramo que se mouc
Lhe fere o coração com sobresalto :
Alterado se vira, alenta, e busca
O fantástico bem falso, e fingido.
CORTE REAi, NAUFRÁGIO DE SEPÚLVEDA, Caut. 9.
— «Logo Lereno tomando o çurrão,
que nos ramos tinha pendurado, se sa-
hio de entre elles ; e pondo-o sobre hum
penedo, que no valle estava, encostado a
elle, e a pastora ao seu cajado, lhe pc-
dio ella que lhe dissesse o seu nome, a
terra donde era, e o que naquella bus-
cava.» Francisco Rodrigues Lobo, Pri-
mavera.
O meigo Ijrilho espalha ; Heras, que abraçâo
A Choça antiga, o líouxiuol, que canta,
O Velho, que, no umbral, se assenta, a ouvi-lo.
E 03 que, Hjmnos, Aves, soltão, pelos ramos,
Que em-sombrâo suas câns : e a Deos adora.
F. M. DO NASCIMENTO, OS MÍRTYRES, 1ÍV. C.
Pizava o gelo, c as comas ouriçavão-se-me,
Co 'a apolvilhanto geada ; o cru Nordeste
Me dessecava as lágrimas, no rosto.
C"um, que tirei do fei.tc, tosco ramo,
Abordoava os passos mal-seguros.
IBIDEM, liv, 7.
76
11 A. Mo
UAN
KANC
Oado Sugcivla, dos Gorraanoa Pythia
Ji oritculoH rompeu, brcvo traiiBiimpto
Vi da Mão do Jcsiw. Ciiin nimo de Hi'ra
Dcrio il Màd, o ao «acro liifMiitn adorno
Oi* maduros Corymlio-i troinolaiitcH,
Que o iiiHuIto iada nia nentcin da» goadan.
Quanto ho apraz doH catnnoa LuHitauoii
A formosa pacifica Oliveira!
}fo Hymbolo da pai;, c a paz implora,
S'orf;uc seu ramo o misoro vencido.
A dura milo do desal)rido Inverno
Jilmairt a dí^spojou do ornato, c fçala ;
Vagarosos ao ár «cus troncos sobem •,
Pouco amanlio a vigora ; e mí-dra, c cresce
Em torra pedregosa, o sAfia, e dura.
1. A. Di: MACEDO, MEDITAÇÃO, Caut. 3.
Vio dos Coos o mortal, quo crranto, afflicto,
Nilo tinlm asylo mais que as ermas grutas,
Tristes furnas dos liorridos penhascos ;
As vicejantes arvores Uio prcstiio.
Do Rei da crcaijào pobre choupana
Foi palácio primeiro, e seccos ramos
Da» injurias do ár, sem arte, o luxo,
A muito frágil maquina lho cscudâo.
Ondcào som cultura as louras messes,
De plantas colossaes ac cobre o monte,
Alça entr' ellas a coma o Cedro altivo,
Cruzão-se, enlação-sc os virentes ramos,
Formilo tufado bosque, c a sombra cutóruSo,
Asylo ao pensador, asylo ao Vate.
IBIDEM, caut. 4.
— ILamilicação ou braço om que se di-
vide o tronco da veia ou artéria.
— Ramo de alguma casa, ou. familia ; o
descendente de algum tronco, que o di-
vide e subdivide cm familias.
— Ramos dos montes ; braços d'elle3.
— Ramo do lençol; um dos panuos do
que se compõe.
— Um ramo de gente; uma pequena
porção, um pequeno numero.
— Ramo de doença; ataque imperfeito
d'ella.
— Ramo do rio ; braço d'elle.
— Figuradamente : Ramo de commercio,
de industria, de contracto ; a parte cm que
elle se occupa, os efFeitos ; c terra onde
ello 80 faz, c dirige : parte d'elIo ari"enda-
do a rameiro; ou é tratada de certos que
n'ena se occupam particularmente.
— • O tenro e novo ramo florescente da
arvore de Christo.
V<59, tenro e novo ramo florcceute
Do uma arvore de Christo mais amada.
Que nenhuma nascida no Occidentc,
Cesárea, ou Cliristianissima chamada :
(Vòdc-o no vosso escudo, que presente
Vos amostra a victoria já passada.
Na qual vos deu por armas, e deixou
As quo olle para si ua Cruz tomou).
cAM., tus., caut. 1, est. 7.
— Ter ramo </*' doudice ; tocar de dou-
do ; ter parte de doudo; ter venetas.
— Divisiio, ou estrophe, ou estancia
em que se divide a ode, ou c;inçào, ou
silva, com certa regularidade.
— Termo du tccello. O ctjuipriuiento
do cada urdidura, que corroupoude ao da
ordideira.
— L<)C. : Entregar o ramo ; dal-o ao
qutj otlurecou luui.s pela cousa quo hc
vendo ou hc arrenda um praça.
— Ramo d^ louro á jx/rta; aigaal de
que nn casa se vendo vinlio.
— Vender ao ramo ; vender vialio ata-
vernado, por miúdo.
— Figuradamente: Taverna ou caea
onde se vendo vinho.
— Domingo de Ramos; domingo da so-
mana santa, em que se dào palmas e ra-
mo» de oliveiras.
— -Semana de Ramos ; a que começa om
domingo de Kamos, e acaba com as allc-
luias.
— Sexta- feira de Ramos; sexta-feira
da semana santa.
— Adágios e provérbios:
— Não lhe deixes pôr pé em ramo
verde.
— Pelejam os touros, mal pelos ramos.
— Qualquer ramo em janeiro, torcido
está quedo.
— O bom vinho nao ha mister ramo.
— Ramos molhados, sào louvados.
RAMOSIDADE, s. f. (De ramoso, e o
suflixo « idade nj. O caracter de ser ra-
moso.
— A totalidade dos ramos.
RAMOSO, A, adj. (Do latim ramosus).
Termo de botânica. Que tem ramos ; que
está dividida em ramos. — • Haste ramosa.
— Diz-se da cornadura do veado.
— Diz-sc emtim de toda a espécie de
ramiticaçào. — Em cada parte d'e8tes áto-
mos viventes, veias, sangue; n 'este san-
gue, espirites, partes ramosas e humores.
— A matéria ramosa ; hypothese ima-
ginada por Dcsciírtes sobre a configiu-a-
çào da matéria para explicar certos ar-
ranjos.
RAMPA, s. f. (Do francez rampe). O
declive de uma collina, de uma monta-
nha.
— Palco ; tablado.
— Termo de anatomia. Rampas do ca-
racol; nome dado ás duas cavidades do
caríicol, no ouvido ; a externa ou superior
ó chamada rampa testiòulur; a interna
ou inferior ó chamada rampa ti/mpanica.
RAMÚSCULO, s. m. Diminutivo de Ramo.
Kamo pequeno.
RAN, s. /. (Do latim ratvi). Pequeno
animal amphibio, creado nos charcos e
alagôas; faz grande grasnada mormente
nas noutes de verào.
E farei calar as raiis
De noite, e cantar os grilos,
E as patas pelas mauhans ;
E alimpar as ma(;an3,
E floreccr os pampillos.
OIL VICKSTB, KABÇAS.
— Rà do mar; peixe monstruoso, chato,
com bicos na cabeça.
RANZINHA, <.u RAAZINHA, *. /. Dimi-
nutivo do Râ. KS pijíjuona, ri no estado
de ttjard.
RANÇADA, *. /. Vid. Arrancada.
RANÇAR, i'. a. Toriiar-»e runcido, en-
raiii;;ir--«'.
RANCE. t. /». Movei antigo.
RANCEONAR, v, a. Vid. ResgaUr, e
Arrançoar.
RANCESCER-SE, v. rejl. Tornar-«e ran-
cido, ranç.ir-ne.
RANCHADA, «. /. Ilancho de pwsoas.
— Turba do gente, associaçSo, bando
de g<'nte.
RANCHEL, ». m. Diminuti%'0 de Ran-
cho. <';i-a '111 camará pequena.
RANCHEIRO, *. m. (J camarada que
faz o rancho, ou mesa commam do quar-
tel e camarada.
— Termo de marinha. O marinheiro
que faz rancho, ou me** commam nos
navios, V o guarda de sua mão, distri-
buindo-o convenientemente.
RANCHINHO, s. »i. Diminutivo de
Rancho. Pequeno rancho.
RANCHO, H, ii\. Termo de marinha.
Logar á proa, onde nos navios mercan-
tes se junta e dorme a marinhagem.
— U aggregauo de mantimantos com-
prados pela guamiç.Ho, a quem se dá para
esse eflfeito a ração a dinheiro.
— Cada um dos grupos que se reúne
a comer cm uma bandeja.
— Casa ou tenda movivel, que se faz
pelos caminhos.
— Rancho de Santa Barbara; nos na-
vios, o logar por baixo da camará onde
está a canna do leme, onde vão os arti-
lheiros.
— ^« pessoas do rancho ; no mar, ou
nos quartéis militares, as que comem em
commum; mesa communi.
— Figuradamente : Bando, facção, par-
cialidade de poucos, partido. — Este ho-
mem pertence av rancho do Carqueja.
— (jrupo de pessoas que 86 separam
a conversar.
RANGIDO, A, adj. (Do latim roncídu*"'.
Que tem rançt», rançoso.
— Emprega-se também no sentido fi-
gurado.
RANÇO, s. in. Significação incerta.
RANCOR, «. «I. (,Do latim rancor). Ódio
occulto e inveterado que se entranha uo
coraçrio. — a Este nome despede de nos-
so coraçam toda a dureza, todo torpor,
rãcor, e azedia spiritual. Pois irmãos se
te agora nam f(.>stes tam deuotos deste
saudauel nome, d.iqui por diante o sede
muvto nomeandoo mnytas vezes com con-
fiança c feruor de amor. Lembre-uos
o que diz sam Paulo : quo ningnem pode
dizer, lesus, senam mouido pello Spirito
sancto.» Fr. Hartholomeu dos Martyres,
Catecismo da doutrina christâ.
Que f.i<a que em Fars,nlia o Si-v^rro. c O GenrO,
«Tumultuoso pár !i disputa o Globo?
RANG
RAPA
RAPA
Da citenuiuauto guerra não são clles
Os precuraores hórridos : somente
Doa homcna a ambição, o amor da gloria,
A avareza, o rancor: este o Cometa,
Que muda a face áo Globo, o sangue entorna.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Cant. 2.
Ao rancor dos mortaos não basta a Terra :
Vão sobro as ondas disputar cruezas.
Que espantoso conflicto, horrendo estrago.
IBIDEM, cant. 3.
Era convenção pasmosa os Ursos vivem,
Em bando os corpulfutos Elefantes
Som ódio, som raiwor nos bosques passão.
Gctulico Leão jamais derrama
O sangue de hum Lcào ; vogão no Nilo
Os Crocodilos, o.-? Hypopotámos :
Creadas para o sangue, o para a morto
Cada espécie oomsigo em paz se liga.
— Aggravo, queixa.
— Stn.: Rancor, ódio. Vid. este ulti-
mo vocábulo.
RANCOROSO A, adj. (De rancor, com
o suffixo «oso»). Cheio de rancor.
— Homem rancoroso ; homem que con-
serva ódio a alguém.
— -Termo antiquado. Substantivamen-
te : Um rancoroso ; o homem, que quere-
la de alguém, e que na presença do juiz
manifesta, e quer provar o crime alheio,
e procura a satisfação e vingança da sua
própria injuria, ou que como tal se con-
sidera.
— Lesado, qaeixaso, offendido, aggra-
vado.
RANCOURA, ou RANCURA, s. f. Que-
rela ou queixa judicial e contra alguém
dada perante o juiz.
RANÇO, s. m. A mudança de cor, chei-
ro e sabor que «obrevem, por exemplo,
á manteiga, ao toucinho, ao azeite, etc.
RANÇOSAMENTE, adv. (De rançoso,
com o suffixo «mente»). De um modo
rançoso, com ranço.
— Figuradamente : Ao modo antigo.
RANÇOSO, A, adj. Que tem ranço, ran-
cido.
— Figuradamente: Estylo rançoso ; es-
tylo antiquado, de mau gosto. O mesmo
se deve entender de conceitos e jtensa-
mentos rançosos.
RANCURAR-SE, v. refl. Termo antiqua-
do. Queixar-se perante o juiz de alguma
violência, aggravo, injuria, affronta que
se lhe fez, ou a cousa e pessoa da sua
obrigação. Vid. Arrancurar-se.
RANCUROSO, A, adj. Vid. Rancoroso.
RANCURUSU, ant. Vid. Rancoroso.
RANGER, 1-. a. Fazer produzir um som
áspero, e que faz arripiar o corpo.
— Loc. : Ranger os dentes; apertal-os,
e correr apertadamente uns sobre os ou-
tros produzindo estrépito,
— V. n. Produzir ura som áspero, mais
ou menos temeroso. — « Para o povo,
ignorante e impiamente crédulo, a noite
é cheia de terrores; em cada folha que
range na selva elle ouve um gemido de
alma que vagueia na terra.» Alexandre
Herculano, Eurico, cap. 7.
— Ralhar, mostrando os dentes como
03 cães.
— Rangiam os ossos entre os dentes do
gigante que o devorava; estalavam com
o mastigar.
— Ranger-lhe aferida do peito ; fazer
um estrondo com a respiração.
— Ranger os dentes com o frio da fe-
bre.
RANGIDO, í. m. O ruido áspero pro-
duzido pela cousa que range. — O ran-
gido dos dentes. — O rangido dos car-
ros, etc. Vid. Ranger.
— Part. pa^s. de Ranger.
RANGIFER, s. m. Vid. Renno.
RANGOMELA, s. /. Termo da Beira.
Aversão.
RANGUE, adv. pop. Usado n'esta lo-
cução: Andar em rangue com alguém;
andar em razões, ralhos, resingas, e al-
tercações.
RANHADURA «. /. Termo de tanoeiro.
O chanfro da aduella.
— O acto de chanfrar.
RANHO, s. m. (Do grego rhin, rhinos).
O monco do nariz.
RANHOADA, s.f. Fressura. — « Do pe-
dida uma ranhoada de carneiro, com duas
soldadas de pão, ou seis soldados, se os
nós quizermos.» Doe. de Bostello de 131G,
em Viterbo, Elucid.
RANHOSO, A, adj. (De ranho, com o
sufHxo «oso»). Que tem o nariz sujo de
ranho.
— Adagio : Nem o moço por ranho-
so, nem o potro por sarnoso.
RANHURA, s. /. (Do fi-ancez rainu-
re). Termo de náutica. Cavidade no to-
po do pau do turco, onde ronda a bôça,
quando n'elle se suspende a ancora.
RANILHAS, í. /. Termo de alveitaria.
A parte trazeira dos cascos das bestas.
RANINA, adj. f. Vid. Ranular.
RANULA, s. /. (Do latim ranula). Ter-
mo de cirurgia. Tumor que nasce debai-
xo da lingua junto ao freio.
RANULAR, adj. 2 gen. Termo do ana-
tomia. Diz-so de duas artérias, e de duas
veias situadas debaixo da lingua.
RANÚNCULO, s. m. (Do latim rauuncu-
lus). Termo de botânica. Planta da fa-
milia das ranunculaceas, de calyx penta-
phylloso, raríssimas vezes triphyllo, e co-
rolla polypetala. As principaes espécies
indígenas são :
— Celidonia menor (ranunculus fica-
ria, Linneu).
— Montão do ouio^nno (ranunculus hul-
latus, Linneu).
— O ranúnculo gramíneo.
— O ranúnculo dos jardins (ranuncu-
lus asiaticus, Linneu).
RAPA, s. /. (De rapar). Dado, com
dous pequenos eixos em que se imprime
um movimento giratório e que tem nas
quatro faces as letras T, que significa
tira, R, que significa rapa. D, que signi-
ca deixa, P, que significa perde ou põe.
Se a um jogador fica para cima a face
com T, tira a entrada dos parceiros ;
se a face com R ganlia o bolo ou monte
todo; se a face com D continua a jogar
sem ganhar nem perder; se, finalmente,
a face com P é obrigado a pagar o equi-
valente ás entradas dos parceiros. É jo-
go muito usado entre as crianças e so-
bretudo entre os gaiatos da rua, que o
acompanham com muitos anexins.
RAPACE, adj. (Do latim rapax, eis,
do mesmo radical que rapere (vid. Ra-
pto), rapidus, etc). Ávido e ardente em
fazer presa. — A águia rapace. — O
abutre rapace.
— S. 111. plur. — Os rapaces ; primeira
ordem das aves em que se incluem to-
das as que se designam ATilgarmente sob
o nome de aves de pjvesa. Divide-se essa
ordem em duas famílias: as nocturnas, e
as diurnas.
—; Figuradamente : Disposto á rapina.
— -E xim honitm rapace.
— Termo de metallurgia. Diz-se das
substancias que não somente se dissipam
pela acção do fogo, mas ainda contribuem
a fazer desapparecer as outras substan-
cias. — Os minérios d'arsenico são rapa-
ces.
RAPACIDADE, s.f. (Do latim rapacita-
te, de rapa.i; rapace). Avidez com que
o animal se precipita sobre a sua presa.
Rapacidade do abutre.
— Avidez tle se assenhorear do bem
d'outrem. — A rapacidade dos agentos du
governo foi uma das causas da queda
do império romano.
RAPACISSIMO, A, superl. de Rapace.
Muito rapace.
RAPADA, s. /. (Vid. Rapado). A cabe-
ça rapada. = Cabido em desuso.
RAPADO, part. pass. de Rapar. (Ety-
mologicamente, o mesmo que Raspado).
Raspado na sua superfície. — • Uma raiz
rapada com uma navalha.
— Cortado desde a superfície até á
raiz. — Cabello rapado. — Barba rapada.
— A que se cortou o cabello, a barba,
até ao couro cabelludo. — «A pessoa do
Chaubainhaa vinha em hxima elifanta pe-
quena em sinal de pobreza e desprezo do
mundo cuforme á religião em que nova-
mente queria entrar, sem mais outro ne-
nhum fausto, vestido por d(5 em huma ca-
baya de ueludo preto muyto comprida, e
rapado, de novo de cabeça, barba, e so-
brancelhas, e ao pescoço huma corda de
cayro muito velha, para assi com ella se
entregar a el Rey.» Fernão Mendes Pin-
to, Peregrinações, cap. 150. — «Tem
idolatria no cabello e por isso ho criam
tam comprido, tendo que por elle ham
de ser levados ao ceo. Os sacerdotes co-
muns nam criam cabello, mas andam ra-
pados, porque dizem que nam ham mis-
78
RAPA
RAPA
RA1'A
ter ajiidii <|Uc ou levo ao coo.» Vr. (im-
par (ia (.'ru/'., Tratado das cousas da Chi-
na, cap. l.i.
RAPADELLA, «. /. (Do rapado, com o
Bufíixii «ella"*. AcçSo do rajiar.
— - il,a]>.-i,iliir,'i.
RAPADOIRA, <m RAPADOURA, s.f. (De
rapar), liistiiiiiifiuo cnm f(uc hc rapa.
RAPADURA, .S-. ./'. ' 1 )" tliiriiia rapa, de
rapar, i-diu o siiílixo a dura»). O qiu! se
tira rapando ou raspando ; ras]ia«.
— 'l'oriiio do caça. Rapaduras de coe-
lho; nome dado á terra que o coelho tira
das covas que faz.
— Termo do 15razil. Jlassa dura de
assuear ainda nTio purfrado ou de masca-
vado coalhado, na qual se lançam amen-
doins.
— Costra jírossa de assucar pef^ado aos
tijolos das tachas, que se raspam para se
guardar, ou misturar e desfazer cm mel
mascavado.
RAPAGÃO, s. w. Augmentativo de Ra-
paz. M inriho cliinjantc, bem conformado.
RAPALINGUAS, .s. /. (Ue rapa, e lín-
gua), llerva de superfície muito áspera
e negra que cresce naturalmente nos val-
lados e dá bagas semelhantes ás do len-
tisco.
1.) RAPÃO, .«. í/í. (Do thonia rapa, de ra-
par, com o suftixo «ão»). Jlomem que
anda rapando e ajuntando lixo para es-
tei'car.
2.) RAPÃO, s. ííi. Chita ingleza d'algo-
di\o, mais forte que a ordinária.
RAPANTE, imvt. ad. de Rapar. Que
rapa .
— Termo de brazão. Animal rapante;
animal que se representa com as unhas
estendidas para rapar o chno.
RAPAPÉ, s. «1. (De rapa, e pé\ Ter-
mo familiar. Cortezia que se faz arrastan-
do o pé para traz.
— Por extensão : Comprimento, acção
que se faz para lisonjear alguém.
RAPAR, 1'. a. ( Ktymologicamente, o
mesuu) que Raspar ?i. Cortar até á raiz o
que está á .superiicie. - — Rapar a barba.
— Rapar o cnhello.
— Rapar a cara, a cabeça, o pescoço,
ete. ; cortar ató á pelle o cabello que ci-
las teem. — «Chegadas estas quatorze
vellas ao Achem, lhe deraõ conta de tu-
do o que jjassava, de que dizem que fi-
cou tão triste, que vinte dias o não vio
pessoa nenhuma, no fim dos quais man-
dou cortar as cabeças aos Capitães das
quatorze vellas, e a todos os mais que
nellas vinliSo mandou rapar as barbas, e
que so pena de serem serrados vivos da-
ly por diante andassem sempre vestidos
como moiheres, tangendo com adufes por
onde quer que fossem, e que quando ju-
rassem sobre alguma cousa, fosse, assi
me Deos traga meu marido, ou assi eu
veja pi-azer dos que parv.» Fern.no Men-
des Pinto, Peregrinações, cap. 32. —
tCavlke atravessada sobre a coxa, an-
dam Bompro rapados, cabeça c barba,
soomente lio beiço derriba deixam sem-
pre por rapar, c isto em quanto sam man-
cebos e liie nam naeem cães, c depoys
que lhe naeem a criam e trazem coinpri-
ila.» António Teureiro, Itinerário, capi-
tulo 17.
Dinheiro, Dinhoiro, «fiiihor doutor.
Vfrmniiura. Aiiiur, duutur mou Houlior.
Moro, líupoií-me. o dngolaUouro !
amor, doutor, toinc mouro,
iifio liit d'orite ainor, doutor,
mu minuto a boca d'ouro.
ANioNio rBEsres, autos, pag. 209,
— Figui-adameute : Estender a mão e
tirar tudo o que se acha em monte, cm
uma superfície. — Rapar o bolo ao joyo.
— Roubar por força ou engano.
Eu dei ao ploculador,
quanto? um de mil c vinte;
bem, valente,
((ue rapou o meu senhor
melhor ((UC escarnar um dente.
AKTONIO PRESTES, AUTOS, pag. 350.
fieg, Villào. Que jogou ? conde ? matac ;
níio fallo ; rapae-lli'o, nora.
Fernão, Qiiei-vo9 calar, pae, ou não?
Grimaiieza, E' conde d'ouros ? dizei.
míDESf, pag. 381.
RAPARIGA, s. ,/'. (Feminino irregular
de Rapaz;, ^lulher nova; ereança ou ado-
lescente do sexo feminino. — E uma lin-
da rapariga.
1'rro. l'ao, pae, venha a rapariga,
E veremos que ella diz :
E como diz a cjintiga,
Traga as testcmunlias ca.
Sete ou oito abastarão.
Anna, Senhor, senão for per rezão,
Xunca s'i»so provará :
Que era o pão onde os achei
Mais alto do qu'he essa vara.
GIL VIOE-STE, KABÇAS.
— «Porque, se tem a dama rapariga,
é justo que lhe mandem cestinho de meio
tostão em que ás vezes se fazem grandes
viagens, se acerta de ir o preto em pel-
losinho, quando a simplicidade bota os
cominhos ao sol como caracol entre fun-
cho.» Fernão Rodrigues Lobo iSoropitíi,
Poesias e prosas inéditas, pag. 82.
— í^irvilheta.
RAPARIGO, í. m. Rapaz. Fórraa anti-
quada, ainda usada no ilialeto gallego.
RAPARIGUINHA, s. f. Diminutivo de
Rapariga.
RAPAZ, .«. f. (Segundo Diez, do latim
raiHi.r, nom. rapaj.-, pela tendência á ra-
pina que teem os rapazes \ Adolescente
do sexo masculino; homem novo. — Um
rapaz elegante. — Um bom rapaz. — Um
rapaz solteiro.
Diiar, Bapaz, éa tão namorado !
Cru falia eem sabor,
Rapaz, que mudas a c<'ir.
fíoiiç. Ora cMtai* bem aviado.
Alrn. Vende» u lebre, villào?
Goiíç. Si , fidalgo.
Alm , Mostra ca :
Quanto a dás ? que custará ?
Go/iç, Samicas meio tostão.
ML VICEME, FABÇAS.
L'in rajiat que o mandei
c lhe disse — vae n'um p^- —
mas a culpa que a/jui i
quem a tí!m, mui bem a sei.
ASrOXIO PBESTES, AUTOS, pag. 2Ó.
— «Que vos guardeis dos rapazes, naJÍ
vos apedrejem, se souberem que fostes
de parecer que larguemos aos inimigos,
o que nossos aviis nos ganharão com tan-
ta perda de seu sangue.» Arte de fur-
tar, cap. 29. — «As idades são agora
muito curtas, c se os homens se não
adiantarem no exercicio das suas obriga-
çoens, terào mui pouco tempo para as
usarem. Diz V. M. que creou muito bem
seu filho, e que ello ho o primeyro rapaz
que se agradou de moiheres em huma
idade tão tenra.» Cavalleiro d'Uliveira,
Cartas, liv. 3, n." 3(3. — « Diz que todos
estes iSecandija» andavão em huma La-
guina da sua terra, e que muitas vezea
se agregou vel-os, e conhecel-o sem diver-
sas figuras. O melhor que diz nesta ma-
téria, he que também conheceo em Por-
tugal huma molher que era Lupis-humem,
c dous rapazes que erão Rruxas.» Ibi-
dem, liv. 1, n." 25. — «Os rapazes do
meu tempo também dizião rro, rro, la-
ranjeira, e assim este uso de dous rr no
principio da dicçiio parece antigo, e ain-
da que seja bom não he da moda.» Ibi-
dem, n.° 7. — «O escrivão da camará e
secretario nosso, tirou na visita onze ar-
robas de peixe, n'e3te sitio, e deseseis
tartarugas e lun jacaré pequeno de qua-
tro palmos, com que os rapazes brinca-
ram, 03 índios encheram as barrigas.»
Bispo do Grão Pará, Memorias, publica-
das por Camillo Castello Branco, pag.
20,'>. — «Esta senhora, indo visitar a so-
gra de seu filho conde de S. Loorenço,
que casou com a herdeira desta casa,
sendo muito rapaz, disse á condessa de
S. Ix)urenço, sogra do conde; «Sabeis,
marqueza, que João me desattendeu?»
— Como assim?» Ibidem, pag. 98.
— Moço de soldada, lacaio.
2. RAPAZ, adj. 2 gen. Vid. Rapace.
RAPAZA, .-. /. Termo popular. Femi-
nino de Rapaz. Rapariga. = Empregado
por Jorge Ferreira de Vasconcelloa, etc.,
e usado no dialecto gallego.
RAPAZÃO, í. »i. Vid. Rapagão.
f RAPAZELHO, s. m. Termo familiar.
Rapaz atrevido, ou malcreado.
RAPAZETE, s. m. Diminutivo de Ra-
paz.
RAP AZIA, .«. íii. De rapaz, com o snf-
lixo «iar . Dito, acção própria de rapaz,-
travessura de rapaz.
RAPH
— Multidão, ajuntamento de rapazes.
— Credulidade, ingenuidade de i'apaz,
ou própria de rapaz.
RAPAZIADA, >«. /. /De rapazia, com o
suffixa «adaui. Vid. Rapazia.
RAPAZINHO, s. m. Pequeno rapaz ; ra-
pazeto.
Por sinal, quo de tela boas fitas
O Mestre me rapou, que era um alambre.
Jlas voaõ, voaõ os ligeiros amios,
E daninlios comsigo tudo Icv^aõ,
Os gostos, a saúde, c a memoria ;
E qualquer rapazinho agora pôde
I?acbar-mc com quimios afoutameute.
Dixiz Dx CKUz, uYssoPE, cant. 4.
7 RAPAZIO, s. m. De rapaz, com o
suffixo oio»). Ajuntamento, reunião de
rapazes,
— -O todo dos rapazes. — O rapazio
gosta muito de festas.
RAPAZOLA, í. m. iDe rapaz, com o
suffixo aola»). Termo chulo. Rapaz gran-
de, de 14 a 20 annos, pouco mais ou me-
nos.
RAPÉ, s. m., ou adj. 2 gen. (Do fran-
cez rapé, ou antes tabac rapé, tabaco re-
duzido a pó). Tabaco de cheirar. — To-
mar uma pitada de rapé.
Alli a mollc pluma se lhe toma
Em duro campo de cruel batalha.
Mil cuidados o investem, seu decoro
Atrozmente offcndido, a todo o instante,
A memoria lhe vem : ora d 'um lado
Os lassos membros volve, ora do outro :
Suspira, tosse, escarra, e abrindo a Caixa
Toma o insulso rapi'. c naõ socega.
A. D. DA CRUZ, HYSSOPE, Caut. 4.
RAPELHO, s. m. Termo antiquado, col-
ligido por Bento Pereira. Rapazinho.
•j- RAPHAEL, s. m. (Do hebreu rapha-el,
remédio de Deus). Um dos principaes
anjos, um dos archanjos.-^Raphael, Mi-
giíel, Gabriel e Uriel presidiam aos qua-
tro pontos cardeaes.
— Celebre pintor da esciila italiana do
século XIV. — E um Raphael.
t RAPHAELENO, adj. Termo de bellas-
artes. Que tem o caracter coiTecto, a
piu'eza do desenho e a harmonia da côr
de Raphael.
f RAPHANIA, s. f. (Do latim rapha-
nus). Nome dado por Linneu a uma doen-
ça convulsiva assas frequente na Allema-
nlia e que se attribue ao raphanus ra-
phanistrum (Linneu), planta crucifera cu-
jas sementes se encontram misturadas
com o triço.
t RAPHEU, ou RAPHÉ, «. m. (Do gre-
go rhaphé, soldadura, de rháptô, coser).
Termo de anatomia. Nome dado a certas
linhas salientes que se assemelham a uma
costura ; tal c o raphé que divide o escro-
to e o perineo em duas partes lateraes.
— Termo de botânica. Prolongamento
dos vasos do funiculo no interior das tú-
nica» d'um grão.
RAPI
t RAPHIDE, s. /. (Do grego rhaphis,
agulha de coser). Termo de botânica. Fas-
cículo de crjstaes em agulhas que se en-
contram nas cellulas de alguns vegetaes,
caryophvlleas, orlddeas, etc.
t RAPHILITHO, s. m. (Do grego rha-
phis, agulha, e lithos, pedra). Termo de
mineralogia. Silicato múltiplo originário
do Canadá, que se apresenta sob a for-
ma de massas aciculares d'um brilho de
seda.
RAPIDAMENTE, adv. (De rápido, com
o suffixo «mente»). Com rapidez; de mo-
do rápido.
RAPIAR, V. a. Vid. Arripiar.
RAPIDEZ, s. /. (De rápido, com o suf-
Hxo «ez»). Qualidade do que percorre
umito espaço em pouco tempo. — A ra-
pidez do raio. — É notável a rapidez du
Bouro em tempo d'enchente. — Vès a ra-
pidez com que o cavallo corre ?
-— Figiu-adamente : A rapidez da iii-
telligencia ; a facilidade com que eUa
passa por differentes objectos.
Excedo a nossa intelligencia, excede
A sua rapidíi ; correm velozes
Do fogo estas partículas, e passào
Dos Ceos a immeusidade, em toda a parto
Sc ditiundem no ar ; destas pequenas
Porções de clara luz tem lume os Corpos.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Caut. 3.
— Diz-se do tempo. — O tempo passa
com extrema rapidez.
— Diz-se dos declives, das rampas. —
A rapidez do declive assustava os vian-
dantes.
— Figuradamente : Promptidão com
que se obra, com se faz alguma cousa. —
O preso escapou com extrema rapidez. —
«O abbade, medindo o aposento a passos
largos, falando, meneianclo os braços, cer-
rando 03 punhos e agitando-os, como o
luctador que se amestra para o pugilato
da arena, parava de quando em quando
e desatava a rir, esfregando as màos com
grande rapidez, antigo habito, que indi-
cava n'elle feroz contentamento.» Ale-
xaudi-e Herculano, Monge de Cister, ca-
pitulo 24.
-— Termo de litteratura. Movimento
rápido das idcas, das expressões. — A
rapidez do estylo, d'uma narração.
RAPIDÍSSIMO, adj. superl. de Rápido.
Deixo as sombras da ten-a, aos ares volto...
Interminável fluido ! Só neUe
Entro os seres orgânicos eu vivo.
Pela extensão do espaço abrange os corpos ;
Sempre agitado, eLástico se move ;
Da força que o comprime as torças tira.
Elle sustenta das ligeiras aves
Os voos rapidissimos, com cllc
As animadas máquinas sagitão.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, CaUt. 2.
Tal rebenta do frigido Nifáte
O Tigris rapidíssimo, e cortando
RAPI - 79
Impérios n'outro tempo, hoje só nomes,
Entra no Seio Pérsico, c repousa.
IDEM, A NATUREZA, CaUt. 2.
RÁPIDO, adj. (Do latim rapidus, de
vdpere, arrebatar). Que percorre muito
espaço em pouco tempo.
Taõ rápida calar das altas nuvens
Naõ vê o Passageiro em largo Campo,
A grasnadora gralha, o negro Coi'VO,
Sobre o triste animal, que de cansado,
Em comprido caminho deo a ossada.
Como correr se vê o bom Fidalgo
A voz, e cheiro do mais vil banquete.
DINIZ DA CRUZ, HVSSOPE, CaUt. 7.
Pois quasi confundido, e quasi ignoto
Correndo vae no Ceo, qual vae d'area
Peiíueno grão rodando em ar vazio
Nas leves azas rápidas do vento.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Caut. 1.
— Diz-se fallando de correntes, tor-
rentes.
Que, atravessando rápidas torrentes,
A frente tem n'hum lado, e n"outro a cauda,
Se se enrosca em si mesma, e aguarda as prezas,
Dos orbes espiraes acima eleva
A medonha cabeça, e espalha em torno
A luz ferrenha dos terríveis olhos.
J. A. DE M.VCEDO, MEDITAÇÃO, CaUt. 3.
Dos rios muda a rápida corrente.
Ou lhos estanca a fonte, e as agoas sorve.
Com o choque horrendo o pedregoso monte
Se fende, e estala, se submerge, e foge,
O cego abysmo súbito apparece.
IDEM, A N.wuREZA, cant. 2.
— Diz-se d'um rio, d'uma catadupa,
d 'uma catarata.
Vê nos ares a espada coruscante,
Da miseranda escravidão presaga ;
r)bserva hum rio rápido espumante
De rubro sangue, que o Oriento alaga :
Já corta o mar em lenho fluctuante
Heróe, qu'a frente triunfal lhe esmaga ;
Descubro cinzas, solidoens, ruinas,
E sobre tudo tremolando as Quinas.
J. A. DE MACEDO, O ORIENTE, CaUt. 11, CSt. 70.
Em opposto hemisfério, em giro immenso,
O Mississipi, o rápido Amazonas
Já feito largo mar, no mar «'engolfa.
IDEM, A NATUREZA, Caut. 3.
Olha onde o mar azid s 'estende, e alarga
Aquém do Cabo frio ; pelas oudus
Olha correndo o rápido Espadarte,
Vae provocar a singular peleja
A doscouforme, túmida Balea.
— Diz-se do sol, dos outros astros,
meteoros, etc.
Inda mo alongo mais : rápido vôo
Mais que a fuga do rápido Cometa
Mo leva pelos Ceos, onde não chega
Nem fugindo por sccidos hum raio
Do fulgurante Sol. Do espaço eis toca
A extremidade incógnita aos humanos.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Cant. 1.
80
RAin
RAPI
IlAPU
o Bol d<!MÍn rápido, o ja perto
D(i Hou diurno tormo, coinni;ava
A flo»tin(çir no v(irdn-inar il»« nguan
A açafroada côr Ac. r|U(! hi; udonia
No oceano di'rriulcíiro. I-fVii» gyratn,
Do HDfÇiiido biiix"! cni/.ando niii tnriio,
Ciomo um baiidi) dn loiuvin iiiariposart
Km dorrrdor da cliainma, - ai* dcHtomiiliiH
l)t! forroa proa rápida» niulotaH.
(lAnaurr, casiòkb, cant. 1, cap. H.
lliiptili) ia o «ol 110 eiio dl^^c(1lldo :
O guorroiro cintor volvo a imbronliar-HO
Pola ofCiiiSflura o bo-l'nii;.H. Niio csp'rani;atf
Do mollior Horto, não Hnoiíjao doci'H
Do amor próprio, maiH docoí» quando ouvidas
Do labioa do moiiarchas : não pn)incs9aB
Do morncido promio, — nada agita
O sangue do o.sforçado navegante.
iiuDKM, cant. í), cap. 3.
- - I)iz-3C lio tempo, coiniiaríuto a um
movimcuto rápido.
— Quo fliu-a pouco. — -1 rápida cris-
feiícia. — Felicidade, rápida.
Guarda nossa mwnoria, o guarda o nomo
(!ontra o furor da rápida cxistoucia.
Fazcm-nos guerra os outros elementos ;
Dosatão sobro urts pozadas nuvens
Horrisonos chuveiros, e outras vozes
Correm furiosas rápidas torrentes.
J. A. DE MACKDO, MBDITAçÃO, Cailt. 2.
Nesta pausa da rápida existência,
Em que a dòr se não sente, o mal se ignora,
Ku sinto arrobatar-nic, e comOj o aonde,
Eu não sei declarar... Subi nas azas
Do sobre humanos extasis, quo soltão
Das corpóreas prisões a alma elevada,
Além da habitação terrena, e tri.ste.
IDKM, VIAOKM EXTÁTICA, Caut. 1.
Mas no lugar da rápida bellcza,
E raomentanca formosura vemos
Coberto o Campo do douradas Messes,
(!rcscem gradas, o vento as volve em ondas,
O Lavrador impaciente espera
Qu'a terra a seu suor paguo o tributo.
IDEM, A NATIUEZA, Cant. 1.
— Qiic produz o .sou efFcito cm pouco
tempo; quo opoiva cm pouco tempo.
Depois o faxo da razão accende
Com màoH puras o limpas de interesse...
Puras! -que em dextra sórdida essa toa
E' labareda sem clarão, — que abraza
Sem dar luz — queima e rápida devora
Autos que um sií vislumbre rompa as trevas,
Que, om vez de dissipar, deixou mais crassas.
QABRETT, CATÃO, act. 4, SC. 3.
— Que vem cm declive ; muito om de-
clive ; muito precipitado. — Uma rápida
collina. — Um ileclive rápido.
— Momentâneo, que se faz n'um mo-
mento. — "A espécie de torpor moral
em que uma rápida translijào de hábitos
c pensamentos o lanyara pareceu-lhe paz
o repouso. A ferida affizera-se ao ferro
que estava dentro delia, e Eui'ico sup-
punha-a sarada. Quando um novo affo-
cto veio espremò-la c que sentiu que uào
HO havia cerrado e que o sangue manava
ainija, porventura, com mais forya.» A.
Herculano, Eurico, cap. ;?.
— (^u<: é feito com promptidilo, e em
JMIllCO tlMIlpO.
Cjuaiido 0111 meio
Oiro a Noite, IiâokIo ouvir batcr-Uio á prtrta,
(Não sabem ípiomi que os chame, com vizbaixA ;
E, á prai.a irão, em rápida ojrrida.
K. M. no riAHOlMKNTO, OH MAKTYKKH, 1ÍV. 10.
Destes accesos extasis me arranca
A Fadiga outra vez. Conserva, 6 filho,
Dentro d'aliiia gravado isto que obscrviis,
E (pumdo om voo.s rápido* desceres
Á tão mesquinha habitação terrena,
Aos transportados homens o auuuncia.
.r. A. IiK MA<KDO, VIAGEM EXTÁTICA, Caut. 3.
K dos tempos fixar a iinmensidadc
Nhum ponto V E pode concentrar-se todo
Em profunda abstracção, pélago immenso
Oiulo mais de luuna voz entra, o naufraga V
Podem acaso os Átomos uuidos
Iiula rpio em m(')to, rápido, c constante,
Conhecer, dcvisar degráos profundos
Que abstracta Metafysica calcula?
IDEM, MEDITAÇÃO, Cailt. •!.
E na passagem rápida encorpara
Em si filtradas agoas d'outro3 montes.
Que vom como tributo c feudo humilde
Mais cagrossar-lhc a criatalliua veia.
IDEM, A NATUBEZA, Cant. 2.
A força presta á maquina vivente,
O concentrado fogo ao rubro sangue
D;i movimento rápido nas veias,
E tanta foiça ao ar 3i5 deve o fogo,
As.íim se volve rápido, espumante;
A continua impulsão, c os succe.?3Ívo8
Toques o chilo, e nutrição lhe acabão.
N'huma passagem rápida s'encontra
Repercutido o ar, eis se trausmitte
Por mil undiUaçues ao centro dalma,
Orn produz repouso, ora tumulto.
Mais oresco seu calor ; o as lois ao fogo
Dieta d'est'arto o ar c ao ar seguindo.
Se atiça, ou se amortece, e pronto sempre
A seu sabor lhe dá rápida fuga.
Partículas subti.-* de fogo inquieto
Do centro aos aros líquidos se lunç&o.
Se na passagem rápida não achão
Nova matéria, súbito se perdem.
Tal vae timida Lebre, que uào pôde
Sustentar mais a rápida carreira ;
Arqueja, pára, na miúda arêa
S'envolve, o escapa aos galgos esfaimados.
iiiiDRM, oaut. â.
— Termo de litteratura. Em que ha
movimento. ■ — Versux rápidos.
— Estylo rápido ; cstylo em que as
iilèas, os movimentos se succedem sem
interrup^-fio.
— N<tna(;ã(> rápida ; narração cm qtie
os factos se succedem apertados.
— Eloquência rápida ; cloqucncia ani-
mada e convincente.
— JJiz-Hc das faculdade.* intollectuaea
cuja aii^âo & pronipta. — Uma c(/nc^pç3o
rápida. I'ina c/mprehensão rápida.
Do cárcere corpóreo iiida nâí» ««Mta
.Miiih'alma lá te deixa, e o v<>o alonga;
Du pensamento rápido cji' aiaa
Traiinpunho os claros r<;os, transponho o«Aatro« ;
Atteiidi' ao qu<! infylito i)ii\olto dentro
Do turbilhão d'M lúcidos Planetas,
Donde atrevido indiígador alongo
Sobre quadros iiiO''>gnit<>s a vista.
J. A. DR MAUBDO, MBDITAçXo, Cailt. i.
Do cárcere corpóreo inda nit) solta.
Minha alma deixa a Terra, ousada TÓs,
Do pensamento rápido oo'aíi azas
Transponho os claros Ceos, transponho 06 Astros.
IDEM, A .HAiiuEZA, cant. 1.
RAPILHO, *. m, IVira esbranquiçada,
dividida om pequenos trn^mentos, que se
encontra nos sitioe volcanicos.
RAPINA, s. f. I Do latim rapiím, de
rapere, arrebatar, roubar). Acçito de rou-
bar al(^uma cousa com violência.
— O que é roubado, o objecto do rou-
bo violento. — Oenle qxu vive de ra-
pina.
— Roubo, concussão, rapacidade.
— Aves de rapina ; o mesmo que ave*
de presa ou rapaces. Vid. Rapaces. —
«As próprias aves do rapina, que não
tem outro officio senão caçar, e prear o
que encontram, costumam ir ao lonpe
(i'onde habitam, fazer seus empregos.
Porque .seríto os homens menos fieis, e
menos doutrinados?» Francisco Manoel
de Mello, Carta de guia de casados. —
«Quando colhe as aves se chama Ancu'
pia ; e neste exercício se avantajou mny-
to o famoío Vlvssos, que foi o primeiro
que de Trova despoi» de arruinada, trou-
xe à (irecia pássaros, e aves de rapina,
como Falcoins, Nebli*, e Açores; destra-
mente ensinados a casí»ar as outras ave.s,
para com esto exercicio temperar n"S
Gregos o vivo sentimento doa parentes
mortos na quella puerra.» Braz Luiz
d'Abreu, Portugal medico, pag. 120.
— Caqar de rapina ; caçar á maneira
das aves do rapina.
— Figuradamente : Ave de rapina ;
ladrSo, salteador, homom que por quaes-
quer meios mais ou menos violentos se
apodera do bem alheio.
f RAPINANTE, porf. act. de Rapi-
nar, e suliít. Que rouba ; o que rouba.
— Uma sucia de rapinantes.
RAPINAR, vn RAPINHAR, r. a. (De
rapina . Kcubar.
— Tomar injiLstiimento, abusando das
ftineçr>es de que se é encarregado.
RAPONCIO, ou RAPONTICO, ». m. Vid.
Rapuncio.
RAPONÇOS, .«. 111. pi. Vid. Rapnncio.
RAPONTIS, *'. /. Espécie de congorsa,
RAPO
RAQU
RARE
81
chamada também ruiponto bastardo (cen-
táurea rhnponfica, Broteru).
RAPORTE, s. m. (Do fraucez rapport).
Termo antiquado. Eelaçào, relatório, in-
formação ; intrigas contra alguém. =
Usado por Damião de Góes.
RAPOSA, s. /. (Do latim rapus, ra-
bo, por causa do gi-ande rabo do animal).
Mammiíero quadrúpede silvestre que
exerce grande rapina sobre os gallinliei-
ros; é o symbolo da astúcia.
— Figuradamente: Pessoa astuciosa,
que não se deixa cair em logros, antes
finamente logra os outros. — Âquelle ho-
mem é uma velha raposa.
— Cesto de verga de f('irma cubica,
usado na ilha Terceira principalmente
para a exportação da batata e outros pro-
ductos agricolas.
RAPOSAMENTE, aJ.v. (De raposa, com
o suttixo « mente »)■ A modo de raposa ;
astutamente ; astuciosamente.
— Ardilosamente; enganosamente,
— Com sagacidade, finura.
RAPOSEIRA, s. /. Vid. Raposeiro 2.
1..I RAPOSEIRO, s.m. (De raposa, com
o suffixo «eiró»). Cova de raposa.
2.1 RAPOSEIRO, s. m. (Corrupção de
Repouseiro, de repouso). Termo da Beira.
A cama.
— O soalheiro d'inveniO.
3.1 RAPOSEIRO, adj. (De raposa, com
O suffixo «eiró»). Termo familiar. Astu-
cioso, arteiro, manhoso, ardiloso como a
raposa.
RAPOSIA, s. f. (De raposa, com o suf-
fixo «ia»!. Acção própria de raposa.
— Astúcia, artimanha ; ardil.
RAPOSINEA, s. f. Diminutivo de Ra-
posa. Pequena raposa.
RAPOSINHAR, v. n. (De raposinha).
Fazer acções astuciosas, ardilosas ; usar
de más manhas.
RAPOSINHO, s. m. Diminutivo de Ra-
poso. Pequeno raposo.
— Cheirar, ou feder a raposinhos ;
diz-se do que cheira a catinga ou bodum
debaixo dos sobacos.
— A mesma phrase significa também
figuradamente ter casta de preto ou mu-
lato.
RAPOSINO, adj. (De raposa, com o
suffixo «ino»). Próprio de raposa.
— Astuto, ardiloso, sagaz.
RAPOSIO, s. m. Vid. Raposia.
RAPOSO, s. m. iXid. Raposa). O ma-
cho da raposa. — «Nem correrom a cer-
vo, nem a raposo, nem a lebre, a coelho,
nem a outra cousa geeralmente, porque
muitas vezes aconteceo ja per aazo desto
a hoste receber grande perigoo : e deve-
mos de levar aalein da gente hordenada
na avanguarda, e rcguarda, outra gente
de fora, pêra escaramuçar, e quaeesquer
outras cousas semelhantes, que acontecer
possam.» Ord. Affons., liv. 1, tit. õl,
§21.
— Figuradamente :
vor.. V. — 11.
Cler. Olha bem pelo virote,
Não te fies de rascào.
Go»r. E rascõcs que aves são ?
Samicas são alguns bichos.
Cler. Mas são lobos pêra michos,
E rcqmsos de uaçào.
Goȍ. Bem hei de saber vender.
GIL VICENTE, FARÇAS.
— Adj. Ajdiloso, manhoso, astucioso,
sagaz; velhaco.
RAPOSTEIRO. Vid. Reposteiro.
RAPOZIM, 6'. m. Vid. Raposinho.
RAPSO... As palavras começando por
Rapso..., busquem-se com Rhapso...
RAPTADOR, s. m. O que rapta. — O
raptador das sabinas.
RAPTAR, V. a. (De raptare, frequen-
tativo de rapeve, derivado do part. d'este
verbo que é raptiis). Fazer um rapto.
1./ RAPTO, s. m. (Do latim raptus, de
rapere, roubar, arrebatar). Roubo d'uma
pessoa por violência ou por seducçào.
— Arrebatamento d'uma cousa pelos
ares.
— EnJevo, arrebatamento do espirito.
Em mim tomava a Dita ^^vos rasgos
Da Desesperação. Oh! quem nos \nra,
Nesse rapto embebidos, nos tivera
Por dous Kéos, a quem toão, nos ouvidos
Da sentença de morte os Ecchos diu-os.
F. M. DO SASCIMESTO, OS MABTYRES, líV. 10.
— Termo de mystica christã. Eleva-
ção do corpo do asceta acima do nível
do chão, em resultado do seu arrebata-
mento intellectual.
— No systema de Ptolomeu, movimen-
to de rapto, movimento que o primeiro
movei communica aos astros que giram á
roda da terra.
— Termo de medicina. Transporte re-
pentino dos humores n'uma parte.
— Rapto hemorrhag ico ; aÁux.0 de san-
gue e hemorrhagia.
2.) RAPTO, adj. Arrebatado, rápido.
RAPTOR, s. m. (Do latim raptor). O
que taz um rapto; raptador.
RAPUNCIO, s. m. Planta biennal, de
cuja raiz se faz salada (campânula ra-
punculus, Linneu).
RAQUEL, «. /. Nome d'uma planta de
ornato, florifera, chamada também lyrio
do Japão.
RAQUETTA, s.f. (Do francez raquette).
Instrumento de pau da forma d'um bi-
rimbau sem palheta, cujo arco é tecido
com uma rede de bordões de viola bem
estirados, ou guarnecido de couro bem
estendido com que se dão as pancadas no
volante ou pellotas no jogo d'este nome.
= Também se lhe chama pa?'^.
RAQUIALGIA, s. f. (De raquis, e gre-
go algos, dôr). Termo de antiga medici-
na. Cólica metallica.
— Modernamente : Toda a dôr que oc-
cupa um ponto qualquer da columna ver-
tebral.
f RAQUIALGICO, adj. Que tem o ca-
racter da raquialgia.
f RAQUIDIANO, adj. (De raquis). Ter-
mo d'anatomia. Que pertence á columna
vertebral.
— Nervos raquidianos ; os que provém
da espinhal medulla.
f RAQUIS, s, m. (Do grego rhákhis).
Termo d'anatomia. A columna vertebral.
— Termo de botânica. Eixo central da
espinha das gramineas, dos cachos, das
palmeiras, etc.
RAQUÍTICO, adj. iDe raquis. Termo
de medicina. Afíectado de raquitismo.
— Substantivamente : A ourina dos ra-
quiticos.
— Diz-se das plantas que se desenvol-
vem mal. — Trigo raquítico.
RAQUITIS, ou RACHITIS, í. /. (De
raquisj. Vid. Raquitismo, que é mais
usado.
f RAQUITISMO, s. m. (De raquis, com
o suffixo «ismo»). Termo de medicina.
Doença consistindo n'uma perturbação
da nutrição de todos os tecidos, que, pro-
duzindo-se na infância, detém ou pertur-
ba o seu desenvolvimento e se manifesta
no exterior pela deformação do raquis ou
do resto do systema ossoso.
— Termo de botânica. Doença que tor-
na a haste do trigo curta e nodosa.
f RAQUITOMO, s. m. (De raquis, e
grego toriú, secção). Instrumento d'ana-
tomia, por meio do qual se abre o canal
vertebral sem lesar a medulla.
RARAMENTE, adv. (De raro, com o
suffixo «mente»). De modo raro; poucas
vezts ; raras vezes. — « Por términos tem
este Reyno, da parte do Oriente as ter-
ras do grão Mogor, ou Acabar (apartan-
dose quasi delle, com o rio Indo, de quem
toma a índia o nome, como diz a Monar-
chia Ecclesiastica) com o qual o Sophi
mui raramente se encõtra por lho estor-
narem umas grades serras, semelhantes
aos Pyrineos de França, ou aos Alpes de
Ytalia, por cuja causa viue delle mais
seguro, que dos outros imigos.» Fr. Gas-
par de S. Bernardino, Itinerário da ín-
dia, cap. 14.
RARAR, 1-. a. Vid. Ralar.
RAREFACÇÃO, s. f. (Vid. Rarefazer).
Termo de physicií. Acção de rarefazer;
estado do que está rarefeito.
RAREFACIENTE, adj. 2 gen. Termo
didáctico. Que rarefaz, que dilata.
— Antigo termo de medicina. Os ra-
refacientes ; medicamentos aos quaes se
attribuia a propriedade de dar mais ex-
pansão ao sangue e aos humores circula-
tórios.
RAREFACTIVEL, adj. 2 gen. Termo
didáctico. Que é susceptível de ser rare-
feito.
RAREFACTIVO, adj. Termo didáctico.
Vid. Rarefaciente.
RAREFACTO, jjart. pass. de Rarefa-
zer. = Pouco usado.
fi2
KAUK
RARO
KAUO
RAREFAZER, v. a. (Do latim rum.'',
raro, o fnccrc, fazer). Tornio ilitlaetlco.
Augmontiir conHidoravolinonte o volunio
criim corpo soiii llio au^íiiiciitar a inatt!-
rla própria nem o [)c'.so ; o])|)(isto a con-
deiiHar. — O cn/oriro rarefaz os corjins.-
() calor d'i <i(jHtt u ferver i/mi não rare-
faz « fK/iia senílo Wiimu vu/nsinui Vfwlit
parte, rarefaz o vapor da agua a ponto
da lhe fazer romper um volume 1.300 ou
1400 vezes maior que o da aijua (pu: n
formou,,
O fo),'o o rarefez, ontiio quebrandc-»
IiiBotlViílo o grillulo, já livro, o solto
O Hiiio ni»j;a i\ ma(|uiua eouviilsa,
Kiitilo SC. dortpeda<;a , oi\tàf) do iMiiitro
Nnvaa tnrrciitoa ospiimaiitc» lan(;,a.
J. A. l>i: MACEDO, A NATDHBZA, Cailt. -.
Dosfartc o ar ((uc rarefaz o fogo,
Da vida aos aniinao» se túrna o gcrineii,
De tantos dotes o coucuvso vario
Os nossos dias rápidos conserva.
— Rarefazer-se, i'. rrji. Tornar-sc mais
raro, menos denso ; oceupar um maior vo-
lume. — Todo o (jaz se rarefaz pdo calor
e se condensa pelo frio.
O liirainoso Sol ao vasto Oceano
Rouba, em vapor subtil, cerúleas ondas.
No Boio as feicha dos delgado.s ares ;
Rarefaz-se o vapor, tolda-sc o dia ;
Sobro as azas do Sul volantes nuvens
Corrom, lançando do medonho acio.
J. AGOSTINHO DK MACEDO, MEDITAÇÃO, Cant. 2.
RAREFEITO, part. pass. de Rarefazer.
Tornado monos denso, dilatado.
Que rarefeitos, nas quebradas nuvens
Deixa livre a prisão, e oin liberdade
Cotn pavoroso estrondo estala, e desce.
J. A. DE MACEDO, A NATUBEZA, Cant. -.
Mas vês agora rarefeiUis nuvens
Que sobro as azas do nuulavel vento
jil vão fugindo ao Sul, e a (^ilnia torna V
IBIDEM, cant. 3.
Nos rarefeitos aros eu descubro
Do vago vento a origem não sabida.
Arcano sempre aos séculos incógnito.
Celestes dons do paternal desvelo
Da bcmfazeja otorna Providencia.
IDEM, >nAOEM ExrATicA, caut. 1.
RUo dco por principio aos Sores todos
Esse liquido humor, quo corça o Globo,
Quo dos ingncos vapores rarefeitos
(Tal pensaste, 6 Buflbn!) cahio dos arca.
iDiPE», caut. 2.
RARENSARA, s. /. Arvoro da ilha do
S. Louro.nyo, similhante ao loureiro.
RAREZA, s. f. iVc raro, oom o suffixo
«eza»). Vid. Raridade.
— Qualidade do tecido cujos lios estào
pouco ou mal apcrtado.s, do modo que Be
vê atravrs iTídio.
RARIAR. \'id. Ralear.
RARIDADE, ». /. (Do latim rarltate,
de niniíi, rarot. l'oquorio niimoro, peipic-
iia <|iiaiitid;i'ii', jidr oppo8Í<;ilo a aòundun-
ciii. — .1 raridade ilo» diamantes. — A
raridade d^m Ifim-as flizcs.
— Qualidade d'um objecto (|ue nHo é
commum.
— Cousa rara. — Um museu de rari-
dades.
— Cousa (juo succodc poucas ou raras
vezes. — E uma raridade ir este homem
ao the.atro.
— Termo de pliysica. Estado do que
está rarefeito.
f RARIFLOR, adj. iDo l.itim ranis, ra-
ro, o //os i. Termo de botânica. Cujiw Ho-
res s.-ii) poiíeii iiumcrosas.
-f RARIFOLIADO, adj. (Do latim ra-
rits, raro <■ fo/ium, folhai. Termo de bo-
tânica. ( "njas folhas sào pouco numerosas.
raríssimo, 'í'lj. superl. de Raro. Mui-
to raro. — K raríssimo vêl-o.
RARO, (t<IJ. I Do latim }-arus). Que não
é commum, que nTio é frequente, que dif-
licilmenttí se encontra.
Gabando o Capitão a lealdade
Do valente, esforçado Lusitano
Torna de nono a ver aquella industria :
AqucUe ardil, c manlia ao mundo raro.
COUTE REAL, NAUFRÁGIO DE SEPÚLVEDA, CaOt. 13.
Ilào-do enlevâ-la as raras maravilhas,
Que, de tam longos tcn-as, lhes contares.
Dirás, que existe, nas Germanas brenhas.
Povo, que descender, se diz, dos Teucros.
K. M. DO NASCIMENTO, OS MARTYRES, 1ÍV. 7.
Tc agora vinte séculos não derão
Hum tão raro espectáculo aos humanos.
Teu génio, i> (í;Uileo, sS dcUc he .sombra
Co'a frente augusta de lauréis cingida ;
Marccllo o vencedor lhe chora a morte.
J. A. DK MACEDO, VIAOEM E.XTATICA, Cant. 2.
Com as raro* producções, que a Natureza
Dèo aos climas d 'Ocaso, c do Nascente,
Enriquecer a bellicosa Europa.
IBIDEM, cant. i.
— Raro na Europa, ainda, c então condigno
Ornato de rcacs copas. — AUi se cnclicm
Ao límpido jorrar de frescji fonte
Da fria agua de Cintra, o saborosa
>lais que o licor do Rheno.ouquo as sulphuivas
Lagrymas de Parthéuopc. Tomaram
Refeição leve a nobre companhia,
E o vate proseguiu.
oABRETT, CAMÕES, cant. 8, cap. 3.
— Caso raro em medicina; caso que
SC apresenta poucas vezes.
— Cousa desusada; insólita.
iioro o caso verás ; porím não chora
O Jáo pelos palmares do seu ninho :
IVendc-o a amizade, não grilhões de c«crnvo.
OABRETT, CAMÕES, Caut. 1, Cap. 19.
— Cousa rara.
'I'ão arreigado oatava contra o imip>
Em tixlo o peitii ci»t« ódio furioso,
Que ilá csforí,'! e furor maior i|uc antigo
No pi;it<i «pie hc de «i brando u infdro*i.
.Mas se espanta esf' exemplo rpio aqui «ligo
Inda outro liei de ã\vr niais •ttspanttHUi,
Com que est<! ódio geral claro «c prov&
Com couHii inda inaiit rara, inda maia nova.
rBAXCISCi) IiK ASIilHDK, PIIINEIBO rr.nco DE DIl,
cant. IH, e.*f '"
P^ntiô ao Coro, '|ii'- i.,;m r:nioo • -t.iva,
Deo sinal o Di';ir., o uma Símiiata
De Oavo, de Machete, e Castanhola»
Da Oreliestra estrepitosa foi preludio,
A que um Duo »>• segue, cfmua rara!
DINIZ iiA CRUZ, iivs80i-r., cant. 7.
— DÍ/-SO das pessoas para exprimir a
excellencia.
Em sombras metaphysicas 8'entranha.
(Quadro bom digno d'att<^nçio do Sábio.
Nunca em meu» Versos ficarás inglório 1 1
Os pcstilcntiis hálitos da Inveja
Quizerâo denegrir Varão tão raro.
J. A. DE MACEDO, ^TAOEM EXTÁTICA, Cant. 1.
— Diz-se das cousas excellentes e nâo
cominuns. — «O vulpo n.ào sabia pôr tai-
xa nos louvores do D. Joio de Castro,
como gente sem enveja das pessoas, e
fortunas maiore.s. Os Fidaipos, e prandcs
ajudav.^io, ou con-sentiào a voz universal
de todos, sendo virtude rara, poder sof-
frer de seiLs iguaes a fiuna; e nSo houve
algum tão ambicioso, que de^eja.«6c para
íi melhor nome, nem mais illiL^tres obra*.»
Jacintho Freire d'Andradc, Vida de D. João
de Castro, liv. 4. — «Aqui foy a primevra
vez, onde vi huns chamarem por Doos, e
Sàcta alaria, outros por Ale, e Mafoma.
Os naturaes tem estes banhos, por tã mi-
lagrosos, e raros, que me affirmarão, sahi-
rcm muvtas vezes os coyxus, e aleijados
de todo saõos.» Frei Gaspar do S. Der-
dino, Itinerário da índia, cap. 12.
Nem o raro valor, com que seguindo
De seus Av>^ as Ínclitas façanhas,
Ao som da Caixa, e Pifares, na frente
Da brava Eccle,sia.<tica falange.
Coronel General dignou chainar-sr.
Disiz DA CRUZ, HYssorE, cant. 3.
— Pouco, cm pouco numero.
Adeus. — AppertA o tempo. Nas muralhas
Vou confortar os raro» defcn!<ore8
Da agonizante liberdade. — Marco !
Marco-Hruto, meu filho, olha o qne deves
A Roma, a ti, a mim !
GARRETT, catão, act. 3, 9C. 3.
— « Dando nova Nobreza atis do povo,
que faziaõ feitos a.<sinalados neila, e os
nobres acrcícentando-os a maiores esta-
dos, de maneira, que raros sa3 os Senho-
RARO
RASA
RASA
res de Vassallos, que hoje hà em Portu-
gal, que naõ tivessem este heróico prin-
cipio.)* Manoel Scverim de Faria, Noti-
cias de Portugal. — «Os que tem nome
e baptismo de christSos, muitos o recebe-
ram, sem saberem o que recebiam e vi-
vem tào gentios como d'antes eram, sen-
do muito raros, ainda dos mais ladinos,
os que se desobrigam pela quaresma, e
ha chriãtàos de sessenta annos de idade
que nunca se confessaram.» Padre Antó-
nio Vieira, Cartas, n.° 9.
Do pcqucniuo poLte oliia o cardume
De argêntea escama tauxiada d"ouro
E do verniz azul, qu'os Ccos enfeita ;
Sc o nome o fez humilde, o gosto o exalta,
So fosse raro o Grande o desejara.
Entraria dos Reis no Paçfl, e mcza.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Cant. 3.
— Raras vezes; poucas vezes, com
pouca frequência. — « Outra differenca se
toma da parte affecta ; e segundo esta
hum occupa a substancia do Cérebro;
outro, ainda que raras vezes, offende as
membranas do mesmo Cérebro; como se
colhe Ex Galen. 4. de causis pulsuum
cap. 14. Outras differenças se tomaõ da
còr do corpo, e do rostro , porque dos Le-
thargicos huns tem as cores assim do ros-
tro, como do corpo chumbadas, e quasi
mortíferas ; outros naõ distaõ muvto da
cor natural.» Braz Luiz d'Abreu, Portu-
gal medico, pag. 4ò7, § 19. — «Donde,
porque raras vezes se dà esta conferen-
cia, e se descobrem, ou encontrão com
difficrJdade as coudiçoins para que o re.-
medio pui"gante administrado; e porque
também o principio universal do Phre-
nesi esta destinado para as sangrias; o
qual he brevíssimo, porque o morbo he
summamente agudo, e se termina com
celeridade, e quando vamos a exhibir o
medicamento purgante, ja o Phrenesi pas-
sa a estar no augmento, ou no estado, em
cujos tempos todos temem a exhibicão do
tal remédio, por isso naõ costuma ser de
muyto uso a pm'ga nos phreneticos.» Ibi-
dem, pag. 377. — «Mas, inda que nas
grandes affliçues raras vezes se acha em
uma só pessoa conselho singular e cora-
ção esforçado, Polendos se houve tào dis-
creta e valentemente, que assim por me-
ra sabedoria, como por esforço singular,
os desbaratou com morte de seus imigos,
tomando preso Moleyxeque capitão da fi-o-
ta e sobrinho del-rei, filho d'uma sua ir-
mãa e del-rei de Tunes", sem morte de
nenhum seu, posto que alguns ficassem
feridos.» Francisco de Moraes, Palmeirim
dlnglaterra, cap. 96.
Os annos cstaõ caros, c eu naò devo
Um gancho desprezar, que raras vezes
A Ventura depara, e nos ofl:"reco.
Disiz DA CBUz, HY3S0PE, oant. 6.
— Singular, extravagante.
— Pouco espesso, nào basto. — Cabello
raro. — Cabelleira rara.
— Transparente, que deixa ver atra-
vés, fallando d'um tecido.
Oh! sonho nào foi esse. — Affigm-ou-sc-me
Ver do moimento erguer-se um vapor leve,
Raro. como de nuvem transparente
Que mal imbai,'a o lume das estrcllas
No puro azul dos ccos : — foi pouco a pouco
Condensando-sc espesso, e lougcs dava.
GAKBETT, CAMÕES, caut. .3, cap. 20.
• — « Uma figura de mulher, cujas for-
mas mal se podiam adivinhar através de
um raro cendal que a cubria até os pés,
acompanhava-o. Com passo firme, ella se
encaminhou para Abdidaziz, e o eunu-
cho desappareceu de novo.» Alexandre
Herculano, Eurico, cap. 14.
— • Termo de phvsica. Diz-se dos cor-
pos cujas partes são pouco apertadas.
- — Diz-se do liquido delgado e claro,
não turvo. — Vinho raro.
— Poroso. — Terra rara.
— Bicho raro. Vid. Ralo.
— Adverbialmentc :
Mui raro este espectáculo gozarão
Os miseros mortacs, quando no throno
Triste Roma hum só vio : ao Jlundo escravo
Dictava o crime as leis, lançava os ferros.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO.
Génio, que objectos da terrena estima
Aos pés soube calcar, c além subindo,
Onde o frágil mortal mui raro chega.
Teve ao lado virtude, e teve o gosto,
Que esse bello ideal nas Artes busca.
IDEM, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 3.
O coração é cofre precioso
De que, raro, confia homem prudente
A chavo a seu mais intimo. Guardac-vos
De baratear assim o oiu-o cendrado
Da amizade fiel íconfiança intendo)
A qualquer que sun-indo vos estendo
Talvez curiosa mão, que não 4e amigo.
GAEKETr, CA.MÕES, cant. 3, cap. 8.
— S. m. Vid. Ralo.
RÁS, s. m. Vid. Arras. A forma Rás
é hoje a mais usada. — Ura panno de ràs.
1.) RASA, s. f. Vid. Arras. Estofo de
lã de varias sortes, taes como rasa en-
trapada, rasa de Montalvão, rasa de no-
me.
2.) RASA, s. /. Taxa dos estipêndios
ou custas dos autos determinada pelo con-
tador.
■ — Escrever â rasa; escrever papeis ju-
diciaes, que devem ter um determinado
numero de linhas.
— Pagar jjela rasa ; pagar sem exce-
der o que limita o regimento do official a
quem se pagam as custas.
3.) RASA, s. f. Cadeira sem costas.
— Antiga medida de capacidade para
seccos, usada na Beira, onde equivale ao
alqueire,
— Pau cylindrico de pouca grossura
que se passa por cima d'uma medida de
capacidade para seccos a fim do tirar o
que excede a medida. Vid. Rasoura.
RASADO, j)«?í. pass, de Rasar. = 0b-
soleto e mal authorisado.
RASADURA, s. f. (De rasa, com o suf-
fixo «dura»). O que se tira com a rasou-
ra ou rasa da medida cogidada ou que
contém mais do que o justo.
RASAMENTE, adv. (De raso, com o
suffixo «mente»). Inteiramente, comple-
tamente. — « Vinha deliberado a conquis-
tar rasamente toda a Hespanha.» Monar-
chia lusitana, tom. 2, foi. 152.
RASANTE, part. act. de Rasar, e adj.
Que rasa.
— Termo antigo de fortificação. Linha
de defensa rasante ; a recta que partindo
do flanco de um bastião leva a direcção
da face do bastião visinho, chamada tam-
bém jianco rasante.
— Fogo rasante ; fogo da linha de de-
fensa rasante.
— Bateria rasante ; a da linha de de-
fensa ra.sante.
1.) RASÃO, s. f. Vid. Razão. — «Po-
rem como sua condição fosse livre, estas
rasões, nem o merecimento de Florendos,
a poderam dobrar. Almourol se veio des-
contente e manencorio de ver tanta ingra-
tidão em obras merecedoras de outro ga-
lardão.» Francisco de Moraes, Palmeirim
d'Inglaterra, cap. 108. — «A senhora, que
se não pagava destas rasões, lhe disse:
Ora, senhor, isto é tarde, ceiai e repou-
sareis, que amanhã praticaremos no que
se deve fazer. E despedindo-se delle com
toda a cortesia, que o ódio e engano po-
dia fingir ou dissimidar, o deixou e se foi
a seu apousento.» Ibidem, cap. 113.
Este para quo a minha historia pede,
Senhores, attenção, seguio a insana
Lei primeiro do immundo Mafamcde,
E nasceo na infiel terra Africana ;
Lei que a brutalidade toda excede.
Que os seus por si somente desengana.
Mas tanto pôde a carne ícom seu dano)
Que vai mais que a rasão, que o desengano.
F. d'andkade, PBi>rEiE0 CEBCO DE DIU, cant. 2,
est. 64.
Chegão lá ao logar onde apparecem
Os na^-ios ao fogo condemnados,
Artificies do fogo não fallecem
Jlas fallecem então peitos ousados :
Estos a seu t«mor mais obedecem
Que ao que por mil rasões são obrigados,
Faz-lhos isto desejar com gràa presteza
Toruarem-so outra vez á fortaleza.
IBIDEM, cant. 11, est. 60.
Estas e outras rasões com que faziào
A defeza aos Christãos mais impossivel,
E a guerra que fazer lhos pretendião
"Maior, mais perigosa, mais ten-ivel,
Os Mouros Capitães aos seus diziào
Por lhos fazer a guerra mais sofírivel,
E porque dos imigos a fraqueza
Lhe déssc novo csprito, o fortaleza.
IBIDEM, cant. 9, est, 48.
84
RASA
KASC
UA.SC
Pouco o Fuleiro dÍHto no oontuiita
Qnn (Mn (Çrão porigo vc nua viirdiido,
K comoiíidii procurii, iiiiidii iiitorita
I)(t l'ii(!hi\C() provar a «iifiírniidado,
(Jrila (M^pia do raàiie» logo aproaimta,
Max todait Huin vi);or, o authoridiulct,
Paru dar a ciitcndor que »cr podia
O ((uo lho o SouHa nutilo contradizia.
luiDEU, cant. 1-1, Crit. 82.
Hofil, Honhora RanHn,
Pordoe Hua ina^iírttadii,
inda eu vos danii cliristAo
quit o ui\ja inuÍH lioin lui^lilo
Quo vúu pordoi-lhu a Haudadt!.
ANTÓNIO l'RK8TKS, AUTOS, pOg.
Outra ratão vojo cu
n'ontraí< pelles ((ue niio digo,
que todoD {|uorfini caatigo
o ucnlium no erro seu ;
Guta c cotia como figo.
Sabeis quo. rasào ha aqui V
a do Mafoma
que cativo, vaca toma ;
quanfcu uilo vejo nem vi,
outra mesa cm quo olla oomn.
iniDEM.
Que hei do falhir,
ó minha Kaaào? chorar
acres (lucm é.s, vêr-te as.^im
nilo u'o po9;jo comportar.
iBiDKM, pag. 51,
Outro irá menos juncado
de rasSes , a fidalguia
tem muito por fautcsia,
quo Deua UiXo fez outro estado,
que todo amio é seu dia.
luiDEU, pag. 151.
Foi amor sempre desterros
da rasào no seu favor ;
n'Í8to osti grande senhor,
que o amor que faz mais erros
seja o mais honrado amor.
iBroEM, pag. 173.
— «Querendo porem dar a V. A. hu-
nia rasão que nilo seja originaria de Por-
tugal, oudo as gentes voudo ao menos
tanto como nós vemos aqui estilo tidas
por gentes cegas, se me ortoroce ámanhit
ji occasiiío desejada.» Oavalleiro d'()li-
veira, Cartas, liv. 1, n." Irl. — «For es-
sa rasão o faço cm tal forma que nilo ti-
que lugar aos que me culpilo, de enten-
derem que também zombo com V. E. a
quem só venero.» Ibidem, u." 34. — a Não
teve, eutretíinto, rasão o Botelho para
tíio seccAmontc responder. O serem do
mesmo officio lhe causou displicência. De-
veria agradecido lembrar-sc que o sur.
conde, honrador dos vivos, quo niío sii-
mente dos mortos, com merecimento, lhe
fizera elogios n'uma oitava da sua Hcn-
riqiieida.'^ Bispo do Grrio Pará, Memo-
rias, publicadas por Camillo Castello
Branco, pag. 108.
2.) RASÃO, .«. /. (Do thema rasa, do
rasar, com o suffixo «ão»). Rasoura de
rasar as medidas. = Termo colligido por
B(!nto Pereira, o qual parece caido em
desuso.
RASAR, V. a. (Do Uittm rasus, part. de
raderi:). Arrasar.
— Kgualar a superficio do que está na
medida de grãos ; tirar-lhe o excedente
da nu;diila exacta.
— Rasar-se, r. reji. Arrasar-se. — Ra-
sarem-se os olhos d'aijua. :^-= Arrasar-se
é ])rcloriv(!l.
RASBUTOS, ou RESBUTOS, s. «i. plur.
Termo a.-úatico. Valentes baniancs que
profussam a arto militar.
RASCA, ». /. ííspeeie de rede de pes-
car.
— Embarcaçilo em quo se pesca com
essa rode.
— Embarcaçilo pequena, costeira, de
dous mastros em direcçílo obliqua, quo
serve para transporte do mercadorias.
— Loc. : Não fei- rasca em alfptma
cousa, ou d'alguma cousa; nilo ter parte,
quinhilo, lucro ou emolumento nella.
— Tei- rasca na assadura; ter ganho,
parte, quinhilo, emolumento n'algum ne-
gocio pouco ou nada legitimo. — Elk fal-
ia assim porque tem rasca na assadura.
RASCADOR, s. /. Termo d'ourivesa-
ria. Ferro de rascar ou raspar.
— Termo de balística. Peça de ferro
de fi')rma de meia lua assentada em mn
cabo, com que os bombeiros raspam as
bombas ferrugentas.
RASGADURA, s. /. (De rasca, thema
de rascar, com o suffixo «dura»). Impres-
sílo, signal que deixa o corpo áspero quo
arranha, raspa ou corta. — Saltou uma
sebe, mas ficou com o corpo cheio de ras-
caduras.
1.) RASGÃO, s. m. Guisado de car-
neiro picado com cebola, toucinho, alho,
etc.
2.) RASGÃO, s. w. ant. Pagem ou cria-
do a que se deu logar de pagem; e n'um
sentido pejorativo mandriilo, vadio.
Na igreja bradão com elle,
rorqu'assoviou a hum oiio ;
K logo excomTnuoliào na pelle.
O fidalgo maçar nelle,
Até o mais triste ra.«c'w.
(ilL VICENTK, AUTO DA D.iRCA DO PUHOA-
TORIO.
E também as condições
De que planeta lhes vem,
Declarado por item.
Cí:/V. Dizei embora, rascões.
Qu'eu sei isso muito bem.
IPEM, FARÇAS.
— «Quanto ao Entrudo, 6 festa de
rascoens, porque lhe celebram as véspe-
ras com muita tanhada c snmbarcos com
que perseguem os pobres dos saloios, t.^o
soberbos por lhes fazerem uma travessu-
ra, como se tomilram jNIas.og.^o de nma
ponnada. A festa do dia avulta mais n'el-
les que na outra pente.» Soropita. Poe-
sias e prosas inéditas.
Ha me de dar d 'alriiiH-ar
jMirqiie f- do HOU rwtrAn
que a namora ; c k-d&o
l>cm p<<dc gemer, chiar.
Aaroiio PKEiiTK*, Aurof, pa^. 1*X>.
RASGA-PIOLHO, «. m. íCompfjsto de
rasca, tlii-ma de rascar, c piolho >. O pio-
lhoso, o que de Continuo está (vtf-ando e
matando j)iolhos. = Termo insultuoso usa-
do e talvez creado por <íij Vicente.
RASCAR, f. a. liaspar, arranhar, co-
çar.
— Antigamente : Gritar, bradar.
RASCETA, «. /. Vid. Rasqueta.
RASCÔA, ». /. (Feminino de- Rascâo).
Criada que serve d'aia.
Outro, que veio aqui de Ilcuaveutc,
A roíicda que viu na mancebia.
Diz que i a mais bcUa dama do ooeidont«.
F. R. LOBO SOROPITA, POESUg B PB08AB IHEDrrAS.
pag. ÍA.
RASGOEraO, s. m. (De rascaoi. Namo-
rador de rascôas, criadas, aias.
RASGOICE, s. f. íDe rascão, com o
suffixo «ice»). Dito ou acçSo baixa, mal-
crcada, própria de rasciSo on de rasct*>a.
— JLaneiras de rascão ou rascôa.
RASGOTE, s. Hl. (De rascão, com o suf-
fixo "Oten . Diminutivo de Rascão.
RASCUNHADO, j.-aW. pass. de Rascu-
nhar. Esboçado, delineado.
— Escripto em borrilo.
RASCUNHAR, v. a. Fazer um rascu-
nho, fazer em rascunho ; desenhar os
primeiros e mais rudimentares traços de
uma pintura. — «Entiío rascunhando o
que querem na parede, que foi tinta de
preto, e se lhe deu mào de cal á colher,
como estuque ; e rascunhando-a, ou fe-
rindo n'ella com hum estilo, appareee a
figura no preto, que se descobre.» Nu-
nes, Arte da pintura, foi. 74.
— Escrever o borrilo de qualquer cou-
sa ; escrever minutas.
— Imprimir signaes fiindos.
RASCUNHO, í. "1. Traços rudimenta-
res, sem dcterminaçSo dos accidentes par-
ticulares do que se ha de pintar, ou tra-
ços sobre que se ha de sombrear para
fazer um desenho.
— Minuta.
— Borrão d'uma obra litteraria, duma
carta.
— DoscripçSo tosca, imperfeit.i.
— Syn'. : Rascunho, etbo^o, bosquejo.
Estas três palavras s.lo termos teíhnicos
das .artes de desenho, que se empregam
também por analogia ou extensSo na lin-
guagem geral. Rascimho é o primeiro
lançamento de traços, linh.as ou pontos,
delimitando as liguras, os horisontes, os
accidentcò principaee da obra que se ha
RASG
RASG
RASG
de pintar ; esboço é a pintura ou desenho
nào acabados, mas em que a idêa da
obra apparece clara e apreciável, haven-
do já sombras, um colorido imperfeito.
Os esboços de Sequeira sào admiráveis e
alguns valem por quadi"os acabados, em-
quanto nào se pode dizer o mesmo dos
seus rascunhos que nào podiam dar idêa
do que elle tencionava fazer. Esboço é
também o toro ou cepo depois que o es-
tatuário o desbastou até aos limites que
ha de occupar a estatua que vai acabar.
Bosquejo é propriamente o esboço em
que já ha colorido. E um erro, que se en-
contra nas edições augmentadas de Mo-
raes que não se dê o nome de esboço ao
bosquejo, isto é, com colorido; mas temos
ouvido empregar o termo n'esse sentido
por mmtos pintores de profissão, que me-
nos uso fazem já de bosquejo, Xa lingua-
gem geral : rascunho é um borrào d'es-
cripta, uma minuta, esboço é o delinea-
mento d'uma obra litteraria e bosquejo é
uma obra litteraria que se pôde já publi-
car, mas que o «luthor por consciência ou
modéstia tingida ou real assim chama,
para a indicar como mal acabada.
RASGADO, parí. pass. de Rasgar. Fei-
to em farrapos; lacerado, roto.
— Grande, extenso.
— Figiu'adamente : Subdividido, cor-
tado.
No mosqueado dorso indóceis Tigres
Sinaes daquella formoaura ostentão,
Cora que enfeitasse a Natureza inteira.
Onde nào brilhas Tu? Se as procellosaa,
Negras nuvens rasgadas, se os ardentea,
De huma sulfúrea luz, fultnincos trilhos,
Que com vapor eléctrico espcdação
O tenebroso véo, são teus vestigios,
Em tua dextra omnipotente as armas ?
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Caut. 1.
— Aberto.
Misero Vate eu sou, no peito acolho
Desejo de saber, sempre affanoso ;
Apoz a imagem da Verdade eu corro ;
Mas alma iuvolta em sombra, e deslumbrado
Enigmas obscurissimos diviso,
Nunca rasgada escuridão de arcanos.
J. A. DE UAC2D0, TIAGESI EXTÁTICA, Caut. 2.
A mystcríosa veya vai rasgada
Em esteiros variados, que se prendem.
Se dividem, se enlação, se desunem.
r. M. DO S.VSCIMESIO, OS MABIYKES, 1ÍV. 3.
— Fallando dos olhos, da bocea, de
grande abertura. — Olhos rasgados. —
Bocca rasgada. — «Os OUws, mediana-
mente rasgados, pardos, e profundos:
Oculi fere sunt cinerei, non valde ma-
gni; admodiim apti, et parum in capite
profunde jacentes, clari, Incidi, et humi-
di sursum deorsumque currentes.-» Braz
Luiz d'Abreu, Portugal medico, pagi-
na 333.
— Grande, extenso.
— Portinhola rasgada; portinhola mui-
to aberta.
— Comprimento rasgado ; muito gran-
de.
— Letra rasgada ; letra grande.
— Rasgado em comprimentos ; que faz
grandes comprimentos, palu%Tosos.
— Figuradamente : Rasgado ; generoso,
bizarro.
— Caracter rasgado ; franco, liberal.
— Dilacerado. — Coração rasgado.
— Adverbialmente : Muito, em gran-
de quantidade. — Comer rasgado. — Dan-
çar rasgado.
RASGADOR, A, adj. e subst. (Do the-
ma rasga, de rasgar, com o suffixo
«dôr» I. Que rasga: o, a que rasga.
RASGADURA, s. f. (Do thema rasga,
de rasgar, com o suffixo «dura»). Aber-
toi-a, ruptura, seissura de cousa rasgada.
— Grande abertura natui-al. — A ras-
gadura da caverna.
— Rasgadura do reparo, do muro ;
brecha.
— Aeçào de rasgar.
RASGAMENTO, s. m. (Do thema ras-
ga, de rasgar, com o suffixo «mento»).
Acçào e effeito de rasgar. — O rasga-
mento da muralha.
■ — Abertura. — O rasgamento da boc-
ca do crocodilo.
RASGÃO, s. m. (Do thema rasga, de
rasgar, com o suffixo «ão»). Rasgadura
grande. — Fez-lhe um rasgão no vestido.
■ — Ferida profunda e larga. — Dar
um rasgão na cara a alguém.
— Pedaço que pende da cousa rasga-
da. — Fendia o rasgão do vestido.
— Pedaço separado da cousa rasgada.
Não ha dcspir-mos^rmas, dispor fogos.
Niís fremendo, buscamos, nós chamamos.
Os nossos : um pede agua, outro comida ;
Feridas se atào, com rasgões das fardas •,
Sentinelas transmettem d 'uma a outra,
O grito, a cada vela, e se respondem.
r. M. DO KASCIMESTO, OS M.VBTYRES, 1ÍV. 8.
— Pedaço de carne arrancado.
RASGAR, V. a. Romper, fazer uma
abertura, um buraco; lacerar. — «Espe-
ro que ninguém rasgue os vestidos, nem
esta folha ao lêr semilhante bla.sphemia.
Xo 3.° tomo de Goldoni, a 1.^ comedia
II cavaliere y la dama, é nobilíssimo es-
timulo de honra e exemplo de castida-
de.» Bispo do Grão Pará, Memorias,
publicadas por Camillo Castello Branco,
pag. 120.
— • Em medicina, e cirurgia, rasgar
uma veia, uma artéria, um vaso; abril-os
para uma sangi-ia, etc. — • «E supposto
Galeno nestes aíFectos rasgou . algiuuas
vezes logo no principio a vea Cephalica;
era porque no seo tempo aflectavaõ os
Médicos largissimas profuzoens de san-
gue, que neste nosso estaõ esquecidas em
razaõ da mayor debilidade dos corpos;
e daquella larga evacuação da Cephalica
se seguia, não sò o deporse o enchimen-
to da Cabeça, mas de todo o corpo; de
maneira, que ficava cessando o perigo de
se attrahir mais para a parte. » Braz Luiz
d'Abreu, Portugal medico, pag. 176.
— Ferir profundamente, abrii' grandes
feridas.
O medonho rival tenta, e persegue,
Divide, e rasga o corpo do inimigo,
Ou morre, ou fica vencedor no Campo.
J. A. DE MACEDO, A SATIBEZA, Caut. 3.
— Rasgar a terra, o seio da terra ;
abril-a oom o arado para a cultivar.
Vejo a Misson... Que svmbolo o distingue?
O nobre, o nobre só profícuo Arado,
Que o seio rasga á teiTa agradecida ;
Delle se peja a estólida vaidade :
Do Filosofo á vista he mais que hum sceptro.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 2.
— Poeticamente :
Debaixo de seus pés se alegra a Terra,
Que o ferro triunfal lhe rasgue o seio •,
Dos abysmos medonhos, que a Foi-tuna
Ao sólio preparou, fugindo hum César,
Em pequeno jardim sesconde, e vive.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Caut. 3.
— • Rasgar o seio do globo ; penetral-o
profandamente.
Mas não julgues, qu' ás lobregas entranhas
Desço do Globo, que lhe rasgo o seio
Com Ímpia avara mão, para arrancar-lhe
Vastos thcsouros, que cioso occulta.
J. A. DE MACEDO, A SATrREZA, Caut. 2.
• — • Figuradamente :
Nunca ! — O punhal das civicas discórdias
Rasgou-lhe o seio, quebrantou-lhe os membros ;
Eoma nào vive já. — E' César, César
Quem hoje é Eoma, e que é senhor do mundo.
GAERETT, CATAO, act. 1, SC. 2.
— Rasgar o oceaiio, as ondas, o dorso
do oceano, etc. ; cortal-o com embarca- '
ção, navegar.
Vê longos rios fecundando a terra,
E no Tirreno mar, d"Adria nas ondas
Altas Náoã vê rasgando o dorso a Thctis.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Caut. 1.
Do Mar a agitação, do Vento a fúria
Com frágil lenho voador se cmbrida.
Sentado cm ligneo throno, e fluctuante
Apparece o mortal Bei do Universo ;
A seu arbítrio o Mar divide, e rasga.
IBIDEM, cant. 4.
— Rasgar o pego ; navegar.
— Abrir. — Rasgar passagem. — Ras-
gar uma janella. — Rasgar um muro. —
Rasgar uma porta.
■ — Rasgar o veu d'um segredo ; reve-
lal-o, descobril-o.
8Í5
RASO
KASG
UASO
O goinpitonio brai;o outílo rani/ava
Denso V('-o, (|ii(3 o futuro (iscoiidi! ao Mundo ;
Mortti-a-HU lio Gaiim llor/m, (|iu! diMtroi;ava
Km Haiif^uiiiorfa lidu o Mouro iniiniiiido :
Qu'ora ha lioiíto» iia torra afu^oiitava,
Ora nu Núo.i oiivnatiu em mar profundo ;
Eru Paclioco ij^ual a Itnlisario
No» bcnH, o inalcit do DoHtino vario.
J. A. I)K UACKOO, o OIllK.NTK, Cailt. 1-, Crtt. 01.
S'lio |)OHHÍv(!l rtuyar o inagcntofio
Escuro vío, iju' u Nuturc/.a envolvo,
Seria aeaHO o mar medonho, e turvo
(Cobrindo o vasto Globo, ipie dei.xasso
(guando de todo s'o.4treitou nas margens
Entro montes, cavados precipícios?
IDEH, A NATltKKXA, CaUt. 2.
o seu Sabia- adoro, c seu profundo
Kngonlio admiro, ([ue raxi/ar soubera
O véo, onde mais den,-io, e mais compacto
Involve, oecidta, e feelia a Natureza.
De lium louvor motivado a olferta acceita.
Escuta o ('auto liarmonico, que nunca
A vil adula(;ao soube acurvar-se.
Il)K.\l, VIA<1K.M K.tlATICA, Caut. 3.
De arcanos uaturaes e.\poz a Cifra,
liasf/oii da Natureza o véo sombrio.
Eis ^o infinito o calculo profundo.
iiuDKu, oant. 1.
Mais que a vazào, c (luc os sentidos púdí^
A luminosa Fé... Mortal, silencio!
Oa véos, em quo se involve o escuro arcano,
A morte ras(/ará. c em Deos veremos
O que a minha alma ignora, ignorào todos.
— Rasgar as cortinas- do futuro; pre-
vel-o, prophetisal-o, conhecêl-o.
Da Natureza expositor, quizcstc
As azas despregar n'hum Ceo mais alto,
As cortinas fatídicas ra^ií/audo.
Com i{uc a mão do Immortal cobre o futvno.
j. A. oi; M.icKDO, viAonM ExrATRA, caut. 3.
• — Rasgar as somhras do futuro ; o mes-
mo seiítiilo da phraâc antcceik-nte.
Alli, rasujamlo as sombras do futuro,
Com clara voz me diz Mente presaga.
Que saberão uo Mundo os tardos Netos,
Que eu no Mundo existi, que no nieu peito
Cahio em turbilhões Pierio fogo.
J. A. UE MACEDO, VIAOESI EXTÁTICA, Cant. 3.
— Rasgar S()»i6íVí,s- ; dar luz, esclare-
cer, penetrar, elucidar, destruir a igno-
rância, o erro.
Onde immorso em si mesmo, a origem busca
Desta do Mundo macliina pasraosa •,
Aos homens traz hum facho lumino.so,
Que de hum tal labyriutho as sombras nx^^t/a.
J. A. I>E MACEnO, VIAOKM EXTÁTICA, Cailt. -.
o Spinozista incrédulo nilo sente
Nelles o seu poder, nelles seu brai;o :
SA vê moditicada a inerte massa
Sem desiguio, sem lois. Oh Deus Supremo.
Com tua immobil luz raoju-lhe a sombra,
E na dosordctn parcial coubera
O Scllo augusto, que puzcstc cm tudo.
J. A. DE UACKDO, A KATl'llt:Zl, CaUt. 2.
Do século, cm que vivo, u sombra densa
Eu ranyari-i com vivo enthusiasmo :
Ai,'aiiMada deixando a negra Inveja,
Ao meno.s quando o corpo cm Civa humilde
A morte me cscondor. Das cinzas surge
Sem niáeida o renome, então conH<!gue
Da clara Kuma o póstliumo tributo.
IIIICM, VlAOKM EXTÁTICA, Cailt. 1.
Assim mesmo teu gcuio absort<j admiro,
O Lusitano Ilebréo, nem posso a forija
D'alma mígar-te, que penetra S(jmbras,
Que rasgar não foi dado á mento humana.
iBiDEu, cant. 2.
Tu nascido a dar luz, rasgan as sombras.
Talvez mais densas que no seio involvcm
Já marcados períodos dos tempos.
luiDEM, cant. 3.
— Rasgar a amizade; quebral-a, rom-
pel-a.
— Rasgar o vinculo do matrimonio ; di-
vorciar-se ; conimetter adultério.
— Rasgar cortezia; nào fazer cortezia;
quebrar as boas ou ceremoniosas rela-
yõe.s que se tem com alfçuem.
— Rasgar o peito, o coração; causar
íirande dôr. — Esta miscria rasga-me o
corarão.
— Rasgar os olhos; abril-os bem.
— Rasgar a bocca; abril-a bem.
— Rasgar baetas por alguém'; fazer-lhc
muitos comprimentos, muitos elogios, li-
songeal-o.
— Rasgar a letra; fazel-a grande.
— 'Rasgar sedas; usal-as, andar vesti-
do luxuo.-^amente.
— Rasgar-se, r. reji. Ser rasgado.
Escuma, geme, e brama, range os dentes.
Taõ cruel, taõ espantoso, taõ feroz
Naõ tremo, naõ avança, naõ se rasga.
DINIZ DA CRUZ, HYSSOPE, CaUt. G.
Hasga-se bum pouco o seio, o mar fluctua.
Da plana superfície os montes surgem,
A magestosa fronte ás nuvens siíbe,
E no cther s'esconde, e delles rompem
Soberbos rios, (pie engrossados correm.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, CaUt. 1.
Jlas soa a Voz Eterna, o Sol se avança ;
Traz n'huma nuvem d 'ouro a frente envolta,
Rasga-sc, c brilha, no iuflaramado seio
Do Firmamento súbito se espalha
Nova luz, nova pompa, ao longo os Globos
Mais fulgurantes, mais acccsos girão
Pelas marcadas orbitas diversas.
Os que de eterno gelo o campo assombrão
Que o Tartsiro fugaz cidtiva e deixa,
liasgiiem-se aos olhos meus, e as bases mostrem.
IBIDEM, cant. 2.
Eis mnnifi>sto o arcano, o véo se rasga.
Na Origom peronnal descubro os rios.
IBIDEM.
Do Sol o Imperío dciío, inda me avanço
Além de Urano aos t«rmiuos da c«féra.
J{tug'io-»e os véo» impenetráveis, uovaj<
Maravilhas descubro, e weiuui vejo.
iniDKM.
Porém a Terra opica, inerte, e fria,
Do S<jI, Astro central, ainda nâo in-nt'-
O fog» aiiimiulor, clario suave,
Que fúrma o dia, o Muudo aflurmonéa.
Eis chega o quartii instante ; o S<jl sciatilla :
Traz niiuma nuvem dVjuro a frente oii volta ;
A nuvem s<! rasgou, mústra-iK; o Mundo.
iiiiDKu, cant. 4.
Todo o veo da illusio se rasga cm breve ;
Cai-lhc o [x>stiço manto mal seguro,
E em todo o horror da mtirW. se dcKobre
Da escravidilo o livido s(|ueJcto.
UARBKTT, CATÃO, OCt. 2, SC. 2.
RASGO, «. 7/1. íDe rasgan. Traço feito
com a pcnna ou pincel para formar le-
tra ou desenho.
— Talho da letra.
— Facilidade e firmeza com que os
grandes mestres das artes de desenho
traballuim. — Na esculptura tem o rasgo
(/« Miijuel Angelo.
— Rasgos d'elo(juencia; expressSes, phra-
ses altamente eloquentes.
— Rasgo ; acyào bella, nobre. — Um
rasgo '/'■ caridade.
RASCUNHO, s. «I. Outra forma de Ras-
cunho. \ i'l. esta palavra.
RASO, adj. Rapado, tosquiado, cortado
até á pollc, até á raiz. — Cabellu ra80.=
Desusado n'este sentido, em que o em-
pregaram os nossos clássicos.
— Adverbialmente : Cortar raso. —
Thsquiar raso.
— Que tem o pello muito ctirto. — Oa
cavallos dus paizes quentes teem o pello
mais raso que os outros.
— Por cxtensiio : Campo raso; campo
muito unido, om que nào ha eminências,
de superticie plana, sem rios, nem rega-
tii3, bosques, valles. — • Ha cidade de
Melinde jaz de longo da praia em hum
Cíinipo raso cercada de palmares, c are-
quaes, tem muitos pumares, e ortas, com
noras, de boa ortali<;a, e fruita despinho,
e outras prumajes, tem ho surgidouni
longe da pouoai^-aõ, por estar em costa
braua.» DamiJio de Góes, Chronica de
D. Manuel, part. 1, cap. 38. — • He mui
abundante douro, o qual se acha em
grande cantidade, assi em minas, como
em rios, e alagoas : destas minas ahi
humas no regno de Batua, de que o Rei
he vassalo do de Benomotapa, a comarca
em que estam se chama Ti>ro a toda em
campo raso, e sam as mais antiguas que
se s;»bem em tmla aquella regiaò. » tti-
dem, part. 2, cap. 10. — «Assim andando
atravessando aquelle reino, fazendo cou-
sas, com que sua fama grandemente se es-
tendia, indo contra uma cidade porto de
mar, onde cuidavam embarcar-se pêra
Grécia, foram ter a um campo descober»
RASO
RASO
RAST
87
to, e raso, e grande, o indo lançando os
olhos a lima c outra banda, contentando
a vista nas boninas e flores graciosas de
que estava coalhado, viram vir contra si
umas andas cobertas de um tapete ne-
gro, acompanhadas com tíes escudeiros,
que faziam gram pranto por um corpo
morto, que nellas ia.» Francisco de Mo-
raes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 7G.
O Invci-no, os Pyrcnéos, o Gêllo, os Alpes
São razos campos, e estações mimosas :
Nada os passas dotem, e apaga os raios.
Perpétua oscilação sento a Victoria,
E o ferro assolador jamais dosoança.
A adusta praia do focando Nilo,
Do Báltico gelado a margem fria,
Mostra o mesmo espectáculo de sangue.
J. A,. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Caut. 3.
— Logar raso ; a mesma significação.
— «A Ilha de Ormuz a que Ptholomeu
chama Arniazõ, e os da terra Gerum, está
situada auasi na boca do mar da Pérsia,
da parte de dentro terá de roda quatro
legoas, a delia a terra firme, da banda
de Arábia dez, e três a da Pérsia, e assi
na outra como nesta tem muitas cidades,
villas, fortalezas, lugares rasos, e outras
ilhas. » Damião de Cloes, Chronica de
D. Manuel, part. 2, cap. 32.
— Termo de náutica. Navio raso; o
navio a que ainda se não pozeram ou
que perdeu todos os seus mastros.
— Taòoa rasa. Vid. Taboa.
— Ondas rasas ; que se elevam pouco.
— Mar raso; mar chão, quasi sem on-
das.
— Doiidice rasa; calva, manifesta.
— Tornar tudo raso ; arrancar, deitar
a perder tudo.
— Ir tudo raso; fazer grande desor-
dem; perder-se tudo. Vai lá tudo raso
com os doudos.
— Cadeira rasa ; a que não tem cos-
tas, nem braços ; escabello, mocho.
— Termo de balistita. Bala rasa; a
que é lisa, por opposição á que é encadea-
da ou de ramaes.
— Liso. — Um vestido preto raso.
— Estofo raso; estofo sem pello al-
gum.— Seda rasa.
— Escudo raso ; sem ornamentos exte-
riores como o paquife, manteler, timbre.
— Figuradamente : Dito com seccura,
simplicidade, sem lisonja. — Palavras ra-
sas.
— Simples.
Passa um Grego, que, em lJoma,como eu, vive,
(De Persêo descendia Macedónio)
Seus Avós, já, n'outrora, ao carro presos
Do PavUo Emilio, a sor, depois, baixarão
Rasos, em Roma, Scribas. Junto á rua
Sagrada, e.sse baldão da sorte esquiva
No pardeiro cm que mora, m"o mostrarão.
R é Persêo com quem muito hei practicado.
Inquiro, a que uso dão o Monumento,
Que ante olhos tenho !
FRANCISCO MANOEL DO NASCIMENTO, OS MARTYRES,
liv. 5.
— Fidalgo raso ; sem graduação, sem
titulo.
— Cavalleiro raso; escudeiro raso; o
escudeiro, o cavalleiro que passa a esse
estado do de moço da estribeira, sem
mais privilégios ou distincções de no-
breza.
— Homem raso ; homem sem gradua-
ção ou dignidade civil.
— Soldado raso ; simples soldado, sem
posto algum ; praça de prot.
Oh quantas vezes.
Nas longas noites autumnaos, olhando-mo
Soldado ra.so, em solitária vela.
Nos avançados postos, contemplava
Quam perfilados os Romanos fogos ;
Quam sparsos os das Francicas Cabildas !
FRANCISCO MANOEL DO NASCIMENTO, OS MABTVRES,
liv. 6.
— Entender raso ; entender superfi-
cialmente, julgando pelas apparencias.
Entendeis n'isso mui raza.
Não tenho ouvidos de mouco,
menos vos quero tão pouco
que me enfadeis n'esta casa,
que omfim não fique amor louco.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pag. 291.
— Medida rasa ; medida cheia de mo-
do que o conteúdo não exceda as bor-
das.
— Raso d'agua ; cheio d'agua até ás
bordas.
— Signal raso ; signal sem as guar-
das do signal publico dos tabelliães.
— Escriptura rasa ; a que faz o tabel-
lião ou escrivão e assigna com o simples
nome sem as guardas usadas nos signaes
públicos e escripturas solemnes.
— Traslado raso da escriptura ; tras-
lado sem dia, mez, nem anno.
— Raso ; que não medra em bens ou
condição.
■ — Lançar cavallo raso ; obrigar a ter
cavallo sem obrigação de ter armas ; im-
por o ónus de ter cavallo para com elle
servir na guei'ra.
— Raso ; raspado, respançado n'uma es-
criptura.
— Charneca rasa ; em que não ha ve-
getação alguma.
RASOADO, part. pass. Vid. Razoado.
RASOAMENTO, s. vi. Vid. Razoamento.
RASO AR, e seus derivados. Vid. Ra-
zoar, e seus derivados.
RASOAVEL, adj. Vid. Razoável.
RASOAVELMENTE, adr. Vid. Razoa-
velmente.
RASOURA, s. f. (De raso, com o suf-
tíxo «oura»). O acto de fazer a barba, e
o cabello, ou a coroa. = Nesta accepção
conserva-se o sentido etymologico da pa-
lavra, derivado do latim rasus, part. de
radere, fazer a barba, etc.
— Casa de rasoura ; casa onde se cor-
ta o cabello, se faz a barba, etc.
— Dia de rasoura ; dia de fazer a bar-
ba ou cortar o cabello.
— Pau roliço torneado, que os medi-
dores correm por cima das bordas da me-
dida da farinha e grãos, para tirarem o ,
cogulo, isto é, o excedente da medida
rasa ou cheia até ás bordas.
— Figuradamente : Deitar a rasoura
a alguma cousa; cortar o que ha d'ex-
cessivo n'ella. -^ Deitar a rasoura «os
louvores alheios.
RASOURADO, part. pass. de Rasourar.
Que tem a barba feita, ou a coroa, ou o
cabello cortado, ou tudo a um tempo. —
Um padre bem rasourado.
— Figuradamente : A quem tiraram
algum bem ou honra.
— A que se tirou o excesso da medi-
da ou cogulo com a rasoura.
RASOURAR, V. a. (De rasoura). Fazer
a barba, a coroa, cortar o cabello.
— Tornar rasa a medida ; tirar o ex-
cesso da medida.
RASPADEIRA, s. f. (Do thema raspa,
de raspar, cum o suffixo «deira»!. O mes-
mo que raspador.
RASPADOR, s. m. (Do thema raspa,
de raspar, cora o suffixo «dôr»). Instru-
mento que serve para raspar.
RASPADURA, s. f. iDo thema raspa,
de raspar, com o suffixo «dura»; ou de
raspado, com o suffixo «ura»). Acto de
raspar.
— O que se tira raspando ; raspas. —
Raspadura de ponta de veado.
RASPAR, V. a. (Do francez rãper, do
latim radere). Pulverisar o que está á
superficie. — Raspar a casca d'um pau.
— Raspar queijo.
Lógo dealbado Eubage, á Enzinha sóbc ;
Co'a fouce de ouro, que lhe dera a vii-gem,
Devoto rcfpa o venerando Visgo.
F. M. DO NASCIMENTO, OS MARTYRES, 1ÍV. 0.
RASPAS, .s. /. 2jIu^'- <• que se tira
raspando. (Vid. Raspadura). — Raspas áe
ponta de veado.
RASPILHA, s. f. (Do thema raspa, de
raspar, com o suffixo «ilha»). Instrumen-
to de tanoeiro.
RASQUETTA, s. /. (Do francez antigo
rasijuete, palavra que se liga ao baixo-
latim racha, a palma da mão, o que é
de origem árabe). Antigo termo d'anato-
mia. A junta da mão e do cotovelo, com-
posta dos ossos ; carpo.
— Termo de chiromancia. Nome de
uma parte da mão em que algumas linhas
se acham dispostas transversalmente.
RASSAMALHA, s. f. Estoraquo liqui-
do. == E preferível a f<)rma Rossamalha.
RASSO, adj. aid. Raspado, respança-
do na escriptura.
RASTEAR, V. a. Vid. Rastejar.
— Andar de rojo como certos reptis.
— Estender-se pela terra, fallando das
88
RAST
IlAST
RAST
jilantas trarantcg ou do couhiw que mt
imitam.
— DoBcrover ra.stiíir!iincntf!, hciii cli;-
vaçílo.
— V. n. Nilo Ko (elevar, andar ynr
junto da teri'a ou pnla terra. — <> balão
rasteia.
— Fifíuradaniunte : Niio tor olcvayilo,
Bubliini'iad(', alcanço, iallando do espiri-
to ou das Huas oliraít.
RASTEIRO, n'lj. ( De rasto, com o Buf-
lixo «eiro»). Que. anda rés-vóa com o
cliâo; t|uo 80 cstoudo ou caminha polo
cliilo, f|uo nílo HO elova acima do cliilo.
— CoitfKin rasteiras.
A veloz pílla viii ifclli-s for<;ada,
Ora tooii o«ti3 canto, ora outro toca,
Salta, voa n travos, ao longo voa :
Não ro|iousa uoin para hum só inoinciito.
Dallio aínuOlo ilali, ilallii^ outro, o outro
Ia levantada iio ar; ja vai ra-itcira.
Todos trás oUa correm com estrondo.
De soberbas, discordes c altas vozes.
COBTE RB.VU, KAUFRAOIO DE SEPULVBDA, Cant. 7.
— Anim'd rasteiro; reptil. — A co-
bra é um aniiiKil rasteiro.
— Planta rasteira ; a que estende pe-
lo chào ramos comprido.s, como as melan-
cias, melões, certas espécies do foijííes,
otc.
— ^li-e rasteira ; a que nào eleva o
voo acima da terra.
iMas pouco Avo raMeira as azas pc^dc
Erguer do turvo lago audaciosa,
De Tompson aa canijòes oiça o Tamisa,
Elias abrangem toda a Nahireza :
Seguindo o gyro ao Sol, fixào seus voos
Onde das cstai;òe3 o Império acaba.
J. A. DE MACKDO, MKDIT.VÇÃ0, Cant. .3.
— F^iguradanientc : Baixo, humilde,
tosco, rude, frrosseiro, ordinário, trivial.
— Ifmi-m rasteiro. — Espirito rasteiro.
— Condii;uo rasteira.
Tu rasga aos olhos meus negra» cortinas
Quo mou rasteiro eutoudimento ciuioitiio.
J. A. DE MACEDO, A NAri'BEZA, Caut. 1.
— Engenho d'assitcar rasteiro ; moi-
nho rasteiro, aquelle cuja roda toca a
agua por baixo.
— Navio rasteiro ; navio cujo bordo
se eleva pouco acima do nivel da agna.
RASTEJADOR, A, .«. O, a quo rasteja.
— ( *, :\ que indaga, investiga, seguo
os rasto-;, o-; trai.'os, a pista d'uma cousa.
RASTEJADURA, s. f. (Do thema ras-
teja, de rastejar, com o suffixo «dura»).
Acção do rastejar.
— líusca que se faz seguindo o rasto
d'alguem eu d'alguma cousa.
RASTEJAR, V. a. iDe rasto, com o suf-
lixo «ejanl. Seguir pelo rasto ou pista,
pelos vestígios, pógadas, traços, deixados
no cliào para chegar até alguom ou algu-
ma cousa.
— Rastejar unta mulJw.r; namoral-a,
roquestal-a, si;giiil-a ilc continuo.
IVincipcs riutitjwnm
(|nc mn penteani dVscarlata ;
■nas eu nada ; toda ingrata
h/i as ondas iiii' lirvavam
u ser Lcand>'a alfuiata.
Axro.Nio i'KKKrE8, AiTos, pag. 17.0.
— Figuradamente : Indagar, investi-
gar, seguindo traços, vestigios meio obli-
terados. — Rastejaram os sabioa a di-
reri^ão das entradas romanas na Penín-
sula.
— Rastejar o tempo, a época; conjcctu-
ral-a por meio dalguns indicioa ou ves-
tigio».
— Aproximar-se mal d'uina cousa, de
um modelo. — Quem rasteja a sublimi-
dade dos Lusíadas?
— Rastejar numa traducção, numa
copia, ou ímií«ç</o; copiar, reproduzir mal
o original, o modelo.
— Alcançar imperfeitamente. — Ras-
tejaremos a felicidade que desejamos?
— Fazer andar de rastos.
- — V. n. Andar de rastos. — As co-
bras rastejam, os quadrúpedes correm,
as aves roam.
■ — • Rojar-so, arrastar-se.
■ — Nào se elevar, occupar-se de cou-
sas vis ou baixas, fallando do espirito.
— Achar-se abaixo da esphcra da sua
existência.
Cogitação percnne essência hc sua:
Imperceptível laço ao corpo o prende ;
Na mestpiinha prizào rasteja o Eterno,
Té que, solto huma vez, retorne aos Astros.
J. A. DE MACEDO, MEDlTAçlo, Cant. 4.
— Ficar áquem. — Rastejar áquem do
ti/po d(i homem honrado.
RASTEJO, 8. m. (De rastejar/. Acção
de rastejar.
RASTELAR. Vid. Restellar.
RASTELO, í. m. Vid. Restello. e Res-
telho.
— Rasteio, ou rastello da chan; as
divisões por onde passa o palhetão d.as
chaves abertas; por onde passam algu-
mas peças de ferro cravadas nas fecha-
duras, as quacs tornam imi)Ossivel a in-
troducçào de chaves d'outra couforma-
çào.
RASTILHO, «. »i. iDe rasto, com o
suflixo ailho»!. Carrinho sem rodas, ou
trem que roja pelo gelo ou lameirões fun-
dos. Vid. Seléa.
— Rastilho de pólvora, ou simplesmen-
te rastilho ; tio mais ou menos delgado,
coberto de pólvora e envolvida de papel,
com que se lança o fogo a um barril oti
outra cousa que contenha porção mais oii
menos considejavel de pólvora, a uma
peça d'artíticio, ctc, ficando ao abrigo
quem lauça o fogo.
— Linha de {xjlvora solta lançada no
chão para o mesmo lim.
RASTINGA, *. /. Vid. Restinga.
RASTO, s. m. i\h) latim nutrumi. A
pista, signacH, ventigioB, |iégadaH quo dei-
xii no caminho que segue o animal oa
cousa que ffc arrasta por alli, pesBoaa,
tropa, ctc. — • J'(^rém porque ao tempo
que os nossos bAtéis jjoyauJlo a gento em
terra, achar.lo rasto dos Mouros que se
recolhido contra himia Horra : niand&a
Affi>nso d'Alboquerque a sen «obrinho dS
António cò atè cem homens no alcSçu
d'elle.s, ondo os nossos passarão aMas de
trabalho.» Barros, Década 2, liv. 2, cap.
1 . — • Então se metteram polo mato con-
tra onde a filha da dona fora; c com an-
darem todo o espaço que estava por pas-
.sar do dia e alg\ima parte díi noite, nem
a acharam, nem rasto algum delia, por
onde podessem seguir : e não era muito
que isto assim fosse, que o medo que
comsigo levava a desviou mui longe.»
Francisco de Morae«, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. lO.õ,
— Piso, a via marcada só pela par-a-
gem de animaes on gente, onde não ha
caminho aberto d'outra maneira.
Onde por ellc entrando ^-io no rasto
Frequentado, c seguido, quo não pode
Errar, ou dcsuiarse, tiU hc o mundo
Tal a gcute que agora viue nclle.
COSTE BEAL, NACFKAOIO DE SEPIXVEDA,
cant. 10.
— Perder o rasto ; deixar de rêr 03
vestígios, a pista, perder-lhe a direcção.
— «Indo assim segnindo a trilha dos pri-
meiros, lhe anoiteceu com tamanha escu-
rid.^io, que de todo perdeu o rasto ; e
como levasse desejo de se achar naqaella
aftronta, andou toda a noite, revolvendo
a rioresta sem nunca sentir signal del-
les.i» Francisco de Moraes, Palmeirim de
Inglaterra, cap. K>4.
— Rasto (/■«' sangn* ; pingas ou linha
ensanguentada deixada por pessoa ou ani-
mal ferido. — •£ seguindo por um cami-
nho estreito, que mostrava rasto de san-
gue fresco, caminhou por elle algum es-
paço ; e sendo já de todo no alto da mon-
tanha, viu um castello grande, bern ta-
Ihailo e forte, cercado de torres, e edifi-
cado sobre uma rocha, tão áspera, que
por parte nenhuma podiam sobir a ella,
senTio a pé.» Francisco de Moraes, Pal-
meirim d'Inglaterra, cap. 27.
— Figuradamente: Seguir o rasto n
alguém ; imiuil-o no procedimento e car-
reira de vida.
— Rasto ; indicio, signal que fica de
uma cousa.
— Vestígio. — Ha rastos da existência
d'um templo antigo i)'(fte logar.
— Adorar os rastos ; adorar os ^•esti-
gios.
— Figuradamente : Seguir instando.
— .í1h'/<i;- em rasto d'alguem ; em sua
RAST
RATA
RATI
89
companhia, com elle, atraz d'ellc, na sua
comitiva.
— Andar pelo rasto « alguma moca ;
seguil-a, namoral-a, requestal-a.
— Perder o rasto d'algum dos inten-
tos, das acções d'alguein ; não prever o
que pretenda, a que fim se dirija.
— Pôr alguém no rasto d'alguiiia cou-
sa; indicar-lhe o meio de chegar a ella,
de a alcançar.
— Rasto de polcora. Vid. Rastilho.
— Rede de rasto. Vid. Rastro.
— Termo d'artilheria. Rasto do repa-
ro ; a parte do reparo que se estende ou
roja pelo chão ; conteira.
— Carro de rasto. Vid. Trenó, Seléa.
— • De rastos, ou a rastos ; loc. adv.,
arrastando ou arrastando-se, rojando ou
rojando-se.
— Ir de rastos ; movendo-se com tra-
balho, como pessoa muito doente.
— Levar, trazer de rastos ; de rojo,
rojando nelo chão. — «Por isso elles em
hum dia entronizavão em Roma hum Em-
perador, e ao outro o trazião à rasto ;
como fiserão a Otho, Aureliano, e Vitel-
lio. e outros cento.» Francisco Manoel
de Mello, Apologos dialogaes.
— Estar de rastos ; foliando d'uma
pessoa, estar em muito má condição.
— Estar de rastos ; foliando d'um ne-
gocio, dar poucos lucros.
— Estar de rastos ; foliando de gé-
neros, estarem extremamente baratos e
darem poucos lucros.
— • (.)bseuv. : Rasto e Rastro são uma
e a mesma palavra ; mas rastro é quasi
só usado hoje nas aceepções que vão mar-
cadas no seu logar.
RASTOLHADÁ, s. /. (De rastolho, com
o suffixo «ada»). Multidão, grande quan-
tidade de rastolho.
— Figuradamente: (írande quantida-
de. — Uma rastolhada de pessoas.
■ — Ruido que foz o rastolho, agitado
pelo vento ou por alguém, ou por alguma
cousa que passa sobre elle.
— Ruido, barulho. — Vai lá uma gran-
de rastolhada.
RASTOLHAL, s. m. (De rastolho, com
o suffixo «ai»). Extensa porção de terre-
no coberta do rastolho.
1.) RASTOLHAR, v. n. Andar de ras-
tos.
2.^ RASTOLHAR, i-. n. Fazer rastolha-
da, fozci- ruido como o da rastolhada.
RASTOLHO, s. m. (De rasto, com o
suffixo «olho»; propina mente, os rastos
(]ue ficam do trigo no campo). A canna
do ti'igo segado que fica com a raiz na
terra para seccar.
O homem mo tiea fisga no olho ;
amarras me corta, amaina-mc as velas ;
agora passeia soguro cm chinelas,
de anjo me cega em demo rastolho,
o já mê rechaça do todo as pelas.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pag. 5.
YÕL. V. — 12.
RASTREAR, v. a. (De rastro). Raste-
jar. Vid. Rastejar.
Larga mésso deparão-me as Campinas,
Onde houvérào batalluxs. Alta noite,
Qual vái Lobo roaz, vou rastreando,
No morticínio, onde haja moribundos.
F. MANOEL DO NASCIMENTO, OS MABTVRES.
RASTREIRO, adj. Vid. Rasteiro.
RASTRILHO, s. m. (De rastro, com o
suífixo «ilho»). Termo antigo de fortifi-
cação. Porta de grades, cujas baiTas
eram aguçadas por baixo, a qual se sus-
pendia na porta da praça por uma corda
para inijKvlir a entrada ao iuimigo.
— Vid. Rastilho, Seléa, Trenó.
RASTRO, s. vt. (Do latim rastrum).
Rede grande de pescar, que se lança ao
largo e depois se puxa para a praia.
— ■ Alvião, ensinho, instrumento den-
tado com que se quebram os torrões e se
abrem regos na terra.
— Para as outras significações, vid.
Rasto, que é a forma mais usada para
ellas.
RASURA, s. f. (Do latim rasura, de
rasus, part. pass. de radcre). Raspa, ras-
padura. — ■ Rasuras de ponta de veado.
— • Raspadura, raspançadura d'e8cripto
errado.
RASURAÇÃO, s. /. (De rasura, com
o suffixo «ação»). Termo de pharmacia.
Acção de raspar, de fazer rasuras.
1.) RATA, s. /. (Vid. Rato). A fêmea
do rato.
— Parir como rata ; parir muito a
miúdo.
2.) RATA, s. /. (Do latim ratus, jul-
gado, estabelecido"). A quarta parte que
cabe a alguém n'um rateio. Vid. Pro-
rata.
f RATADA, s. f. (De rato, com o
suffixo «ada»). Ninhada de ratos.
^ ]\[ultidão de ratos.
RATADO, part. pass. de Ratar. Roído
dos ratos. Que levou dentadas como de
rato.
RATAFIA, á. m. (Etjonologia incerta.
Ménage, seguido por os continuadores
de Moraes, - julga-a d'origem indiana ;
Leibnier julgava-a uma coiTupção de re-
ctificado (franeez rectijié, álcool) ; outros
diziam que era um copo de licor que se
bebia ratificando um contracto : rata fiat
(scilicet conventio) ; nenhuma das etymo-
logias satisfaz). Licor feito dagua-arden-
te, assucar, sumo de certas fructas e es-
sência aromática d'alguma flor.
— Termo de pharmacia. Nome dado a
muitos licores alcoólicos, doces, contendo
em grande dose princípios aromáticos e
sapidos de muitos vegetaes.
RATANHIA, s. /. Nome peruviano da
krameria triandra (familia das pohjgala-
das), da sua raiz rhizoma empregada em
medicina e da krameria ixina.
1.) RATÃO, s. m. Augmentativo de
Rato. Rato grande, arganaz, ratazana.
— Peixe semelhante á raia.
2.) RATÃO, ONA, s. m. e /. Termo
popular. Pessoa que faz o seu negocio
com dissimulação.
— Pessoa que pelas suas acções extra--
vagantes, ou modo de trajar singular
faz rir os outros, já intencionalmente, já
sem intenção.
• — • Adjectivamente : Singular, extra-
vagante, exquisito, exótico. — í/?)t homem
ratão.
— Desusado. — Um chapéo ratão.
— Ridiculo. — É ratão o proceder d/es-
te hmnem.
3.) RATÃO, adj. — Assucar ratão; as-
sucar inferior ao assucar panella. Vid.
Retame, de que Ratão é uma corrupção.
f RATAPLAN, s. m. Palavra imitati-
va, exprimindo o ruido que faz o tam-
bor. — O rataplan dos tambores não me
deixa dormir.
RATAR, V. a. (De rato). Roer, fallan-
do dos ratos. — Os ratos rataram um len-
çol.
— Dar dentadas, tirar pequenos boca-
dos, como faz o rato. — Os rapazes rata-
ram o queijo.
RATAZANA, s. f. Augmentativo de
Rato. Rato grande, ai-ganaz.
— • Subsf. 2 gen. Pessoa que faz rir.
— Néscio ridiculo.
RATEAÇÃO, s. f. iDe ratêa, thema do
ratear, com o suffixo «ação»). Vid. Ra-
teio.
RATEADAMENTE, adv. (De rateado,
com o suffixo «mente»). Por meio de ra-
teio. — Dividir rateadamente enti-e os ac-
cionistas da sociedade.
— Segundo a proporção dos capitães,
das dividas, dos credores.
RATEADOR, A, s. (Do thema ratêa, de
ratear, com o suffixo «dôr»). O, a que
faz rateio.
RATEAMENTO, «. m. (Do thema ra-
têa, de ratear, com o suffixo «mento»).
Vid. Rateio.
RATEAR, V. a. (Do latim ratus). Dis-
tribuir proporcionalmente as entradas dos
sócios para uma sociedade, as acções dos
accionistas para uma companhia, os ga-
nhos ou lucros da sociedade ou compa-
nhia; dividir a massa d 'um fallido, os
bens penhorados, segundo o que deve aos
credores.
RATEIO, ou RATÊO, s. m. (De ratear).
Acção de ratear.
— Entrar em rateio ; receber ou en-
trar em divisão segundo as entradas ou
títulos de divida de cada um.
RATICE, «. /. (De rato, com o suffixo
«ice»). Acção engi-açada.
— Dito galante, que faz rir.
— Maneira engraçada.
— Acção estidta que faz rir.
— Cousa extravagante, singular; ac-
ção, modo de proseguir exótico, excên-
trico.
RATICUM, s. m. Fnicto do Brazil que
oo
KATÍ
RATO
UAVl
tom a fi')rniji (rum jicào ; ó coinestivel ;
tom i';ir(i(;í) <■ r Hih-c^tro.
RATIFICAÇÃO, *. /. (Oo tlioma ratifi-
ca, lie ratificar, eoin o nuffixo <iação»i.
('imliiinarào aiitliuuticii do (jiio loi |iro-
jiicttido ou feito. — ^1 ratificação d'um
tratado,
— Tormo d'i'conoiiiiii. Ratificar as ac-
ç3e« d'uma cumpan/iia; j)a;rar iinH tantos
por conto do cada uma, dopois do as ter
tomado.
— Escripto quo contém uma ratllica-
çilo.
RATIFICADO, porl. pass. do Ratificar.
Quo tovf ratitica(;ão.
RATIFICAR, V. a. (Do latim rutus,
confirmado, o facere, fazor). Confirmar
autlionticamonte o quo foi dito »u ]m<-
mettido.
— Absolutamente : Km todos os negó-
cios <■ hoiii ratificar.
— Pagar a primeira porcentagem das
acções que so tomaram d'uma compa-
nhia.
— Fipuradamonte : Dar uma confirma-
ção comparável ás confirmações autlien-
ticas. — Esta acção do meu amigo rati-
fica a boa opinião que eu formava d'eUe.
RATIHABIÇAO, «. /. (Do latim raias,
confirmado, e hahere, haver, ter ivid.
Haver. Termo forense. Ratitícaçào.
RATIHABIR, c <(. i Do latim rntus, eon-
lirnuulo, c haber<!, haver, ter vid. Haver).
Tormo forense. Ratificar.
RATIM, *. «I. Termo asiático. Quilate.
RATINA, s. f. (^Do fraucez ratine, pa-
lavra d'origom incerta em que Schcler
vô um derivado do baixo-ailem.MÍo rate).
Estofo de là enizada cujo pôllo é puxa-
do para fira e fixo de maneira que for-
ma como ))equeno8 flocos ou gr.nos.
RATINHAR, v. a. Tormo popular. Re-
gatear por piouoo, por reaes.
— Poupar cousas miseráveis, dar com
cainheza, sordidez; amealhar vergonho-
samente.
— Absolutamente: Este homem anda
sempre a ratinhar.
RATINHO, s. í)í. iDe rato, com o suf-
fixo «inho»). Diminutivo de Rato. Pe-
queno rato.
— - Epitlieto injurioso dado aos da Bei-
ra pela sua sordidez.
— Personagem cómico do antigo thca-
tro portugiu^z.
Alm. Lopo vos forSo di«cr
Qu'cra cu ratinho, senhor.
Ditar. Não sei, v«W to-.nastps cõr,
Eu não »pi que isso quer ser.
E vejo-vos, ni.ino, morto,
E tendes ar de mirrado.
GIL VICESTK, PARÇ.VS.
Tem paciência da tua deshonra ,
se do céo to lani;am que era teu ninho,
será aporá o homem como rolinho
quo nasço d'um freixo, vom c;i tomar honra
aos naturaes do Douro, e não Minho.
A.NtOSIO rSESTES, AITTOS, pag. Õ.
— FalUir ratinho, ou rum'» ratinho ; fal-
lar dialecto provinciano.
— Homem (|Ue leva carreto».
RATIS, K. m. Vid. Ratim.
- Villão lie ratis; <le marca, do alto
quilate.
1.) RATO, «. wi. I Do germânico. O an-
tigo alto-ailemilo tem rato, o angio-.sax.ío
raet, o antigo baixo-ailom.^o raltn, o di-
namar(|uez rotlei. l'equeiui quadrúpede da
ordem dos roodoro.<, de pe<juenas patas,
rabo comprido, focinho agudo, que habitai
nai paredes dus casas, outro ou por baixo
dos sobrados, nos celleiros, nos quintaes,
campos, etc, comendo gi\^io8, palha, etc.
< > rato parece h.-ibitar todos os paizos co-
nheciílos (ui freíjuentados polo homom.
— J/íi'((-ratos ; composiç.no om que en-
tra arsénico e quo serve para destruir os
ratos.
— Beber como rato ; locução popular,
beber muito.
— Peixe que tem uma firma similhan-
te ao do quadrúpede.
— Figurailamonte: Ilomem ridículo que
aspira ao que não merece.
— Ter ratos na garganta; diz-se de
quem canU mal, fazendo ouvir pios.
— Rato d' agua ; espécie de rato nada-
dor que habita á beira dos rios.
— Rato do Egt/pto, ou rato de Pha-
raó; o ichutuimon.
— Rato do mar; um do3 nomes vulga-
res da tartaruga que habita o Mediterrâ-
neo.
— Rato de Xornega ; o lemming.
--Rato de Surinam; nome dado por
erro a dlttorcntes espécies do getiero pha-
langer (marsupiaes , os quacs s.ào todos
quer da Austrália, quer da índia e não
da America onde se encontra Surinam.
— Rato da America; o porco da In-
<lla.
— Rato de Tartaria ; nome vulgar do
sciuroptero siòerico (ordem dos roedores i
de Lcsson i,Europa c Asla septentrional),
ou d'uma espécie multo próxima.
— Terino de náutica. Rato; pedra cs-
cabrca qus roe as amarras das ancoras.
— Rato pellatl.0 ; nome insultuoso que
se da a uma pes.soa c;\lva.
— Figuradamente : Rato ; ladr.ào.
2.^ RATO, adj. (Do latim ratuc, part.
pass. de r6or, reri, lixar, estabelecer,
confirmar). Confirmado, i-atific<ida.
— Inte'u'amentc conlirmado pela pra-
tica.
RATOEIRA, .«. /. í De raton, antiga for-
ma de ratão, com o suftixo «eira»; se de-
rivasse de rato seria rateira i. App;irolho
para apanhar ratos. — Armar uma ra-
toeira.
— Figuradiuucnte : Armar umn ratoei-
ra a alguém; armar-lho uma cilada, lun
engano, seja com fim mau, seja para con-
seguir d'ollc uma revelação.
— Cahir na ratoeira ; cahir no enga-
no, na cilada.
RATONEIRO, f. m. ,De raton, antiga
firma de ratão, com o miíTixo «eiró»;.
Ijirapio, ladrão que furta cousas de j«m-
co valor.
— Tormo antiquadu. Paisano <|ue reguÍA
u exercito para comprar su>i i«oldado« ou
objectos havidos por cllca p<ir meio do ía-
quo.
RATONICE, íf./. iDe raton, antiga f.r-
ma de ratão, eoni o «ufTixo «ice».). Ter-
mo jiopuiar. lk.uulxj de couita de {juuco va-
lor; .■lee-lu lie ratoneiro.
f RATOPOLIS, *. /. De ralo, fran-
cez ral, c Ki"<'go poliu, cidade;. Komc da-
do por Lifiiitniiie á capital fabulosa do
povo .!oí i;itn<. Fab. 7, pag. 3).
RAUCISONO, «<//. Do latim rauei$€^
nus; de rauctt*, rouco, c aonum, oomy.
Termo diilactico. Que tem um som rouco.
RAUDAL, t. Hl. Torrente. — Um rau-
dal ii'agun, ou simplesmente um raadal.
— lin raudal de. sam/ue.
RAUDÃO, ONA, adJ. lto.silho, fallando
do cavalio. — Caiallo raudão. — Egoa
raudona.
RAUDIVA, í. /. Termo aí^iatico. Peça
do vestuário dalguns povos da Ásia. —
«Vestidos de queimocns e randÍTas de
sotim.» FeiTwo Mendes Pinto, Peregri-
nações, cap. 103.
RAULIM, í. J/l. Sacerdote do Pcgú.
f EAUCIDADE, s. f. Do latim rauci-
tate, de raucus, roucoi. Estauo da voz
rouca.
RAUSADO, part. pass. de Ransar. Vid.
Rousar.
RAUSADOR, s. m. iDo thema rausa,
de rausar, com o suifixo «dor>'i. Viola-
dor, forçador, raptador. = Antiquado já
no fim do século xiv.
RAUSAR, f. a. Violar, raptar virgem
ou nmlhcr honesta. -—Antiquado já no
tempo de Fernão Ixipe-.
RAUSO, ou RAUSSO. s. m. (De rau-
sar i. Violação, rapto de mulher para a
forçar. = Antiquado já no tempo de Fer-
não Loi>e-!.
RA VIAGEM, s.f. Do francez rawtgeT).
Estrago, danmo, avaria, defeito. :=: Des-
usado.
7 RAVINA, í. /. i^Do franc«z ravine,
que ó uma alteração do latim rapina).
Logar cavado jior uma oorreníe.
— Obseuv. : Esta palavra tem sido usa-
da por alguns authores no sentido indica-
do 10 principal cm francez é o de espé-
cie de torrente quo se precipita ^'um lo-
gar clevadoí, nia-s é olha'a c<.>mo gallicis-
co escusado, tonilo-se pi-i>j>osto |>ara a
substituir a palavra _<;rô<íi us.ada nos Aço:-
ros diz-se que no sentido indlca<lo de lo-
gar cavado }>or uma torrente. Grota é
uma (Uitr.n tVirma do gruta 'atlm cryptn'.
RAVINHOSO, adj. "i Vid. Ravioso. Rai-
voso.
— Rj\bugetito.
RAVIOSO, <j y. Do latim i"- ."'... ...
rabies, raiva. Raivoso provém de ravio-
KAZA
líAZA
KAZA
£11
so por attracçào do i\ Raivoso. :^ For-
ma antiquada.
RAXA, s. /. Antigo paano grosseiro,
de pouco valor.
— Hoje, tecido grosso de lã com lar-
gas riscas, que serve para cobertores de
camas.
RAXADA, s. f. Yid. Rajada.
RAXADO, í. /. Vid. Rajado.
RAXETA, í. '/. Diminutivo de Raxa.
Espécie (11' raxa menos grossa.
1.1 RAYA, s. f. Vid. Raia. — «Alma
minha: tu és o novo David que has de
combater com o Gigante do inferno, que
ha muitos annos te espera na campanha
desta vida mortal, junto as rayas da eter-
nidade.» Padre Manoel Bernardes, Exer-
cícios espirituaes, part. 1, pag. 422.
2. RAYA, í;. /. Antiga forma de Rai-
nha, culligida por Viterbo no Elucidário.
No Dicciouario de 3Ioraes vem erronea-
mente accer.tuado ràya, mas o accento de-
via estar forçosamente sobre o y li', que
representa o i accentuado do latim regina.
Em quanto ás relações das formas, eil-as :
lat. regina
1
port. reina
rainha
■ — 1." o (/ de regina foi syncopado; 2."
o e de 7-eina mudou-se em a, por dissi-
mUaçào maior do i a que é immediata-
mente affim; 3.° a) raina deu d'um lado
raia por syncope do n; b) o n d'outro la-
do para escapar á svncope molhou-sc em
nh.
RAYAL, aiij. Outra forma antiga de
Real, usada especialmente para designar
o reaL unidade monetária.
— Rayal de ouro; valia três libras.
RAYAR, 1-. a. e n. Vid. Raiar.
RAYO, s. m. Vid. Raio. — «E tragia
em sas maãos huma muv ixemosa e gran-
de asta, encima dela huma cruz que es-
prandecia como o sol e lançaua de si rayos
de fogo. Esta foi mazelada de coita de
door e de presa descorodoe a todas no-
sas gentes.» Livros de linhagens, pag.
189.
RAYZ, s. /. Vid. Raiz. — «Homem
nem tam calvo; que os equívocos, ainda
que postissos, pareçam que na mesma
conversaçam tiveram rayzes.» D. Fran-
cisco Manoel de Mello, Feira d'aiiexins,
part. 1, dial. 1.
RAZ, s. m. Vid. Arraz. =Esta forma
foi usada antigamente e é hoje de novo
usada e até preferida por muitos escri-
ptores á f Jrma Arras, Arraz.
RAZ A, .«. /. = Usado na antiga locu-
ção; RaEa e serrão.
■ — Propriedades de raza e serrão ; pro-
priedades que pagam foro em annos al-
ternados, isto é, um anuo sim outro nào.
Vid. Elucidário, de Viterbo.
RAZAM, s. /. Antiga forma interme-
diaria entre Razom ido latim ratione) e
Razão. Escreveu-se muitas vezes e muito
tempo razam quando já se pronunciava
razão, como provam os dous modos de
escrever simultâneos. — «E querendo nós
a esto proveer com justa razam e remé-
dio, em tal guisa que nós possamos seer
servido sem outro escândalo, hordenamos
de se teer em ello esta maneira, que se
segue.» Ord. Affons., liv. -1, tit. 20, § 2.
• — «E este dia em que primairo ouuio
ilissa, por honra delia, mandou que em
sua terra pêra sempre se guardasse por
dia santo, e outras cousas fez, e dissesse,
como homem que nacera Christam, o que
certo parecia ser mais por milagre de
nosso Senhor Deos, que por outra ne-
nhuma razam.» Garcia de Rezende, Chro-
nica de D. João II, cap. 156.
Vimos o gi-am capitam,
que tanto honrou Castella,
que boadade, que ra-am,
cm tudo que perfeiçam !
outro tal ijoii vimos nclla.
IDESl, MISCELLASEA.
• — «Vencido Vicente Sodre da speran-
ça que tinha posta nas presas das nãos
dos ^louros que hia buscar, mais que da
razam que o obrigaua a iicar em Cochim,
em ajuda dei Rei, e fauor dos nossos, se
partio como no capitulo atras iica dito.»
Damião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 1, cap. 74. — «Mas como quer
que seja a razam demostra que nào auia
necessidade de tanta diligencia senão fo-
ra para se também delias colegir o que
compria a todalas outras Chronicas do
regno, que per ventura ate entam naõ
estariam bem ordenadas.» Ibidem, part.
4, eap. 38. — «E porque todos nascem
incertos de sua saluaçam, nam sabendo
se ham de escapar das tenções, e perigos
deste mundo, e onde ham de yr parar:
por tanto com muyta razam se prantea
o cõcebimento, e nascimento da Virgem
sagrada, nam o cõcebimento, e nasci-
mento de todos os peccadores.» Fr. Bar-
tholomeu dos Martyres. Catecismo da
doutrina christã. — « Esta gente era
aquella a quem os irmãos do nome, e
imigos no feito queriào vender o sangue
de loseph. Aqui foy onde começou por
nossos peccados a falsa secta de Mafoma,
que depois tanto pelo mundo se espalhou,
e estendeo : pelo que com mais razam,
lhe ouueramos chamar terra infelice. e
desditosa: que Felice.» Fr. Gaspar de S.
Bernardino, Itinerário da índia.
RAZÃO, s. /. (Do latim ratione (nom.
ratio), de ratus, fixo, determinado). Fa-
culdade pela qual o homem conhece, jul-
ga e determina o seu proceder.
A justiça, e a razào he la vencida
De hum querer contumaz, impio, e danoso,
Moãtrào nas apparencias sancto zelo :
lutriuscca a maldade, e a tvrannia.
CORTE BEAL, XArFBAGIO DE SEPÚLVEDA, Cant. 15.
■ — «Xella ha muytos montes de área
grandíssimos que se mudão com os ven-
tos, e mais falta de agoa, que em todas
as outras Arábias, e porque Ludulpho de
Saxonia, diz auer hiima, que liça Beth-
lem de ludea hum anno de caminho, di-
go que nam ha tal, e a razão o mostra,
porque nam ha mais que três Arábias, as
quaes estão todas juntas, e immediatas
umas a outras.» Fr. Gaspar de S. Ber-
nardino, Itinerário da índia, cap, 14,
— «A razão cura os Ciúmes ligeyros,
porem nào abate facilmente os fortes,
nem os dezesperados,» Cavalleiro d'01i-
veira, Cartas, liv, 1, n.° 13, — «Porem
que esses remédios sejão capazes de obri-
gar amar objectos determinados tenho-a
por cousa impossível, e absolutamente
contraria á razão.» Ibidem, n." 30. —
«Amigo do Coração. Destruir os enga-
nos, e as falsidades que offuscão a razão
seria sem duvida alguma hum dos mais
signalados serviços que se fizesse ao Gé-
nero Humano.» Ibidem, n," 43, — «A
aggressiva naõ he mão fazer-se, antes
pôde ser bom, e necessário: naõ he máo,
porque temos muitas na Sagi-ada Escri-
tura mandadas fazer por Deos ; e he ne-
cessário fazer-se, porque a razaõ a dieta
para evitar injurias. Para qualquer del-
ias ser justa, saõ necessárias três circuns-
tancias. Primeira, que se faça com poder
legitimo; segunda, com causa; terceira,
que se giiarde a moderação de-^-ida.» Ar-
te de furtar, cap. 21.
Do Euthusiasmo férvido nas azas
Vôa agora, oh minlia alma, e a vista acccsa
Por este Quadro extática apascenta.
Foi-tc dada a razão, discorre ; observa
Este insigne espectáculo do Mundo.
J. A. DE IIAGEDO, A KATUBEZA, Cant. 1,
Tem limito o vastíssimo Oceano,
Intransgrediveis a i?arào tem marcos,
Xcm pode, alem dos quaes, dar mais hum passo.
IDEM, VIAGEM EXTÁTICA, Caut. 2.
Foi da excelsa razão primeh-o ensaio
A afleiçào paternal, e a lei primeira ;
E na mesma caverna, o Esposo, a Esposa
(Didcissima união !) co"o3 tenros filhos.
IDESi, MEDITAÇÃO, CSUt. 1.
E quando em cega, sempiterna guerra
Ferve orgulhosa opinião de sábios,
Dcnti-c svstemas vãos foge a verdade ;
Só quem ouve a Sazão co' a estrada atina
Ko Império Filosófico ; com cila,
Qual ao clarão da Tocha, os passos guia.
Ao que medita, e vê se apraz mostrar-se
Sem véos, em claro aspecto, a Natui-eza.
IBIDEM, cant. 2.
Instincto animador, motora força
(Insondável mysterio á mente humana !)
92
UAZA
UAZA
UAZA
Movimento llins dá, rofçula o» pasitoM,
K iiim^oin dit raz'M iiok bruto.i brillui.
(Calciilf! o Mothafydico profundo
Quiil Hnja a loi do inucauiitino occulto,
Quo uniformo, (|un igual, dirija oa ÍjrutOH.
IIIIDKM, Ciint. 'I.
VisU) espraiado mar touit olhoH liuii;aH,
Snu» principiori inci^uito* no citcoiideni,
A'i4 Luzcit da rardo, tudo liií myrftcrio :
A cxiiitHncia dos Soron or divicobn-,
O otVuito lio «ompro visto, a causa igniUa.
IIIIDKM, cant. 4.
(!on8i)rva cm ferros
A nnu lado a» paixões, o o jugo arrastrilo,
Quo a rn:i7o llios impõe. Ku vejo a /eno.
Nomo do (imnn rtyni'iiiimo lie Virtude.
Caia, oítiilaiulo, a iiiiic(uina do Mundo,
Desçiio Hobr' elle rapiílas contolhas.
Imperturbável animo sustenta.
Aqui pilrn a razão, o este o limito,
Que a seus vòo.s prescreva a mão do Eterno •,
Conheço a babitai;ão, vejo a morada.
Que neste ponto do Universo tenho.
Contemplo os vastos Ccos, contemplo a Terra
Pavimento do Alcaçar magostoso
])() Uci da Creação. Conheço os Seres,
Que gúz&o, como ou gozo, os dona da vida.
lOIDR».
Venha a teu lado a sombra de Epicuro,
Que audaz negou do Mundo Author supremo,
Que doo força á matéria inerte, c morta ;
])o lume, que a raziio no canto esparge.
Verá fugir seus Átomos confusos.
Meditação profunda, eia, suspende
O vòo audacioso, hum Deos achaste;
Console-se a raziio, callc-sc o impio,
IJos Systemas no pélago se abyamc.
IBIDEM.
Teus venenos mortíferos derrama
Em soui^ros trovões d áurea eloquência
Profano Diderot... Ah! quão pequeno,
tiuiio mcaquinho o mortal, que ousa estribar-se
Nas luzes da Bazão, que o crime culucta !
IDIDR».
— A razru) porsoiúticada. N'cste caso
escrevc-so com letra maiscula: Razão. —
Senti a Razão j>Cir-)ne no hombro a sua
mão Jirme e fria e fazer-me parar no
curso da loucura.
Cav. Em qual porta ?
Mest. Na do meio.
Eaz. Tem razào, muito bem modo.
Mfst. A mesma liazilo, o pede
que do que jaz n'este seio
'o amor em Deos procede.
ANTÓNIO PBESIKS, AUTOS, pag. 24.
Se OU visse vencida
esta Ba:'io, a teus pés caída,
Ucava-me o jogo, baralha na mão ;
niio tinham razào então A Kazào
de lhe dar primeira da luz da outra vida.
Tão mestra é a Razão que sií estfl n'olla
o forte do homem, o firme, o inteiro.
ii)u>£M, pag. 7.
parcco-vox que o pão
i|ue tal mantém
qno HO emprega nVlIe bcin V
ror irtiuj vejo a liiizão
qual os mcUH olhos a vécni.
iBiiii:]!, pag. 20.
Que dizes, lUtzão, não fora
iiuiit^j m<dhor que deixaras
es.-ía rc/ia, e fijiáras
conm fazemos agora V
NAo respondes V (iin í|ue varas ';
IIIIDKM, pag. r>l.
Eu bem creio que será
isso que dizes !
mas obras são juizes :
vér a lia-.no qual está
nenhum soffrcr m'o matizes.
IBIDKM, pag. C'!.
Tu, Demócrito, me culpa,
que cu a mi nilo ; Razão miolia,
jóia das gentes
(pie estás gcímcnte o flcntes
no vale onde convinha
teres amigos, parentes.
IBIDEM.
— A razão considerada nos indivíduos.
— A minha razão. — A tua razão. — A
razão f/'i<»t sábio. — « Elle lie o que con-
fessa sinceramente que o Sábio nào piide
embaraçar os movimentos da sua alma,
ainda que a sua razão se po.ssa oppor vif^o-
rozamcnto aos seus excessos.» Cavalleiro
dOliveira, Cartas liv. 1, u." 13. — «ííiío
sois feliz, Adolpho? E que falta para a
vossa felicidade em tudo o que pôde per-
teuder um homem dessa idade, e d'esse
appellido y » — Ser amado ; ou ter forças
que venção um amor que a minha razão
condemna, e quo, máo furado meu, coni-
pòe hoje parte de minha existência. »
Francisco ^lanool do Nascimento, Suc-
cessos de madame de Seneterre.
E pódc o homem,
Com sua falha razão, acertar justo
N'csse termo?... E se errar? — Porque nào hado
O mesmo Sopro Eterno que d A vida.
Distribuir a morte?
OARBETT, CATÃO, act. 5, SC. 3.
Que aeductora ó a amizade, Manlio !
Tu, cuja razão clara c exp'rímentada
I?i das vans esperanças de mancebos,
Fez-to mais cego que cUes a cegueira
Do amor quo luc teus.
IDEM, oct. 5, SC. 7.
— Ter a sua razão, toda a sua ra-
zão ; gozar da plenitude das soas facul-
dades intellectuaes.
— Idade de razão ; idade em que as
crianças começam a gozar de razilo.
— Perder a razão ; enlouquecer.
— <S't')/) razão ; que perdeu a razào, que
enlouqueceu. — Estar sem razão.
E t.smbem todo o christào
que escurece
quem sois, que vos não couhccc.
fica cltriatio »nia razão,
fé ftciii obras mo parece.
Axioiíu i-KurKs, AL'ro«, pag.
211.
— Perder a raZãO ; dix-ue tauibein por
exjigero d'iuu hoiiieiu que faz alguma cou-
sa contraria á razilo, ao bom i-eiiso.
— Termo de inetaphysiea. RazAo pura,
ou intuitiva; di/.-8c p<jr upp<.isi(;fto á n-
zio empirica, ou conhecimentos experi-
nii-ntaes. Kant «Kicroveu uma obra «obre
a razão pura, intitulaiia: Critica da razão
pura.
— Culto da Razão; culto celebrado na
igreja metropolitana de i'arÍ0 a 20 do
brumário du anuo It 1 10 de novembro
de \HT^j da republica, e em breve imi-
tíido em toda a França.
— Razão; designa também a somma
das Verdades que os homcn» admittem
uniformemente; chama-se também razão
impessoal .
— Razão ; diz-se algumas vezes por lo-
gos. Verbo, a razilo suprema.
— O bom uso da faculdade da razSo.
— Razão escriptn ; diz-se do direito
romano nos paizes onde elle é consul-
tado.
— Direito e razão; o direito escripto
e o direito natural. — « E, que este dis-
curso, e opinião esteja confiirme a Direi-
to, e razaõ, confirma Castella com seme-
lhante casii, em que tirou a >S. Luiz Rey
de França a herança de sua Coroa, que
lho vinha por sua mày Doua Branca, ti-
Iha mais velha do Rev f 'atholico, e a deo
aos lilhos de Doua Berenguera mais mo-
ça, que assistiaõ em Castella.» Arte de
furtar, cap. Kl.
— Razão natural ; o qne o entendimen-
to alcança pelos seus próprios meios, sem
auxilio da revelação.
— Num sentido moderno, razão, to-
mada absolutamente, signilica a somma
sempre em incremento das idòas boas o
justas. A razão, diz Rousseau, é preser-
vativo da intolerância e do fanatismo.
— O que é de dever, de direito, de
justiça.
— Ser de razão; ser de justiça.
— O que é razoável.
— Ter razão.; ser fundado no que se
diz ou faz. — «No meio destas no mais
digno lugar Polinarda, que também nesta
quadra parecia que fazia inveja ás ou-
tras ; mas isto n.^o parecia assim a Flo-
rendos, se alli estivera ; e tivera razão,
que Miraguartla lá se lhe conhecia uma
mostra tào contiada, que parecia que lhe
usurpavam seu lugar. » Francisco de ilo-
raes, Palmeirim d'lnglalerra, cap. 1"_\>.
doutra parto tem razão
de me deixar p<>sto cm C4ilma ;
quer fazer-me enehuto c s.ào,
que o comer damna o carSo ;
é amigo da minh'alina,
fax-me jejuar ?
ANTÓNIO PRESTES, AITTOS. pAg. 403.
RAZA
RAZA
RAZA
r
— « E vendo ellc que boas palavras
naõ bastavaõ para quererem elles conde-
cender co que elles lhes pedia, lhes man-
dou dizer por hum mercador que andava
nestes recados, que bem via elle quanta
razaõ elles tinhaõ de quererem que des-
embarcasse ello a fazenda em terra como
era costume.» Fernão Mendes Pinto, Pe-
regrinações, cap. 49. — «<) Terceyro he
o Tigris, a quem loseph chama Diglath,
que quer dizer arrebatado, e teuc muyta
razão, pêra lhe dar tal nome; porque dos
que vi, e passey, da Índia tè Lisboa, nam
achev outro, que tam apressadamente se-
guisse seu caminho.» Fr. Gaspar de S.
Bernardino, Itinerário da índia. — «Os in-
fantes coitadinhos, querem alguns Críti-
cos especulativos, que sejaõ de unhas do-
bradas, porque sai5 multiplicados os seus
furtos : mas naõ tem razão, que assas sin-
gelos andaõ; e se agasalhaõ huma mar-
rãa, ou um cabrito, mas que seja hum
carneiro, ou huma vaca, quando vaõ de
marcha por esses campos de Jesu Chris-
to, he, porque os achaõ desgarrados, para
que os não coma o lobo. » Arte de furtar,
cap. 34. — «Qual tenha mais razaõ para
dominar, o que vay logrando, isso direy
eu, porque o sey de certo. E naõ usarey
de embuços, como alguns, que fallaõ por
escrito sem dizerem o mal, e o bem de
ambas as partes, havendo-se nisto como
Advogados, que só huma parte abonaõ.»
Ibidem, cap. 16.
— Dar razão a al;/uem-, achar justifi-
cado o que elle faz, declarar-se a seu fa-
vor.
— Ter razão ; ser justo, conveniente,
razoável.
Polo dinheiro o hei ou.
Mas por tudo ; mas mandão
dizer disso a vosso irmào
quo é razão
chamo o Pedro.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pag. 283.
— « E na lembrança, que entre tama-
nhos trabalhos, e tão importantes negó-
cios, tivestes daquellas cousas minhas que
levastes a cai'go, se vê bem quanto dese-
jo tendes do nisso, e em tudo me servir,
o qual eu estimo, como he razão.» .Ja-
cintho Freire d'Andrade, Vida de D. João
de Castro, cap. 4.
: — Contra toda a razão ; d'um modo
excessivo. — • Grifa contra toda a razão.
— Explicação, conta.
— Dar razão ; dar conta, explicação.
— «Homem sou eu, que do meu mester
outrem vos dará peor razão de si por
tanto proponde breuemente, porque vosso
pay mandou-me fazer um pouco, e não
queria que me visse.» Jorge Ferreira de
Vasconcellos, Ulysippo, act. 1, se. 5. —
« E chegando assi todas a casa da filha
do Broquem onde esta molher então es-
tava mais para morrer, que para dar ra-
zão do que humas e outras lhe pergunta-
vão, ellas movidas pela cansa primeyra e
principal que he Dôos nosso Senhor au-
tor de todos os bens.» Fernão Mendes
Finto, Peregrinações, cap. 141. — «Dir-
me-has a arquitectura, e disposição dos
Ceos, e darás a razão destas cousas cá
na terra? Non potest eas homo explicare
sermone: não p('>de o homem entender,
quanto mais explicar estas cousas salvo
com muito trabalho, e pouca certeza.»
Padre Manoel Bernardes, Exercícios es-
pirituaes, pag. 309.
— Reparação d'am ultrage, d'uma af-
fronta.
— Satisfação, indemnisação.
— Fazer razão; indemnisar, reparar,
compensar. = Locução desusada.
— Fazer razão de si- dar satisfação,
jnstificando-se ou reparando um mal que
se commetteu.^Já se não usa esta lo-
cução.
— Ter razão d'alguem; triumphar d'el-
le, vencel-o.
— Pi ova por discurso, por argumento.
— - Uma carta recheada de razões.
— Dar razões ; apresentar provas, cou-
sas, explicações, justificações. — « E entre
outras razões que dá pêra approvar este
seu parecer, he, que daqui té a povoação
de Suez, que serão quarenta léguas, não
ha entre os Mouros memoria de situação
de algum logar, que naquella distancia
em que Ptolomeu a põe, houvesse, nem
o maritimo da costa mostra poder ter po-
voação, por a maior parte delia ser de
serranias quasi té Suez, e mui estéril sem
agua alguma.» Barros, Década II, liv. 8,
cap. 1 — «Nas quaes capitulações Fran-
cisco Dalbuquerque insistio muito por
auer os dons Milaneses que se lançaram
em Calecut, mas el Rei lhos não quis en-
tregar, dando pêra isso razões suficien-
tes.» Damião de Coes, Chronica de D. Ma-
noel, part. 1, cap. 80.
o com isto vadim pace,
Eu lhe darei cssa.s razões.
E que d'uraa8 opilações
me vem phj'sico3 curar
que me tolhem arrazoar
sem óculos de tostões.
ANTÓNIO PliESTES, AUTOS, pag. 129.
— « Entendi serem estas escusas, de-
sejos de se ver na pátria, e por mais ra-
zões que lhe dei, não bastarão todas,
pêra me acompanhar. Tè que me deter-
miney em ficar sò, e ir sem elle a Hie-
rusalem como fiz : e se verá na segunda
parte o que nella passey, a qual fico com-
pondo, e confiança tenho em nosso Senhor
seja aceita.» Fr. Caspar de S. Bernar-
dino, Itinerário da índia, cap. 22. —
« Tem mais esta grande cidade dos mu-
ros para dentro, segundo os Chins nos
affirmaraõ, três mil e oitocentas casas dos
seus pagodes, em que continuamente se
sacrifica huma muyto grande quantidade
de aves, e de animais silvestres dando
por razão que aquelles saõ mais aceitos
a Deos que os outros domésticos que a
gente cria em casa, e para isso dão os
sacerdotes muitas razões ao povo, com
que o persuadem a terem esta abusaõ
por artigo de fé.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 107.
— Dar razões; dar pretextos.
— Causa, motivo. =E uma das acce-
pções mais importantes da palavra e em
que ella é mais usada. — « O cavalleiro
da Fortuna se metteu antre elles, pedin-
do-lhes que deixassem sua contenda, pois
era sobre cousa que se podia bem escu-
sar : e nem isto pode acabar com elles ;
porque a ira que os então senhoreava, lhe
não deixava conhecer a razão, ou o que
Ihe.s mais era necessário. » Francisco de
]\Ioraes, Palmeirim de Inglaterra, cap. 33.
— « Bem se parece que a natureza em
muitas de suas obras minte. Queria sa-
ber qual é a razão poi-que nos prendes,
ou porque não tens conhecimento do ser-
viço, que te fizemos em trazer tua filha
com mais seguridade e hom-a do que me-
reces? Certo dos máos se não deve fiar
ninguém, porque seus galardões sempre
são conformes a sua condição. » Ibidem,
cap. 96, — «Por esta razão como melhor
pôde se despediu delia e se foi a sua poTi-
sada, onde o desarmou a donzella de Trá-
cia e Selvião, que nunca o desacompa-
nhava.» Ibidem, cap. 77. — «E porque o
escudo que trazia era o de Bracolão, que
o seu elle lh'o desfizera no braço, acha-
va-o tão pesado que com uma mão o não
podia levantar bem, pêra se amparar com
elle ; por e.sta razão temia mais a bata-
lha, trabalhando de se defender por ma-
nha, e trazer a Baleato traz si, tanto quo
o cançasse de todo ; mas como o gigante
sentisse n'elle por aquella via o queria
desbaratar, usou d'outra manha.» Ibidem,
cap. 107. — «Quem me dissesse porque
este ai-rependimento não chega quando
se pôde curar, ou de que serve quando
já não tem remédio? A razão é como esta
ceguidade nasce de amarem mais o erro
que a pessoa, este amor tem tanto poder,
que estorva as cousas, com que se pode
atalhar.» Ibidem. — «Por isso meu pare-
cer é que com as nossas pelejemos, que
pêra vencer a razão que temos basta, e
as armas são sobejas.» Ibidem, cap. 118.
— « Já vos disse que não havia de fazer
batalha comvosco. Isto não é medo que
vos tenha, senão razão, que tenho, de o
fazer assim.» Ibidem, cap. 127. — «Esta
é forte cousa, disse o cavalleiro da Tor-
re, quererdes que me satisfaça de não ter
feito nada, e não me dizerdes a razão que
tenho pêra ficar contente.» Ibidem. — ■
«P. Porque razão pousastes com Diogo
de Mello? — R. Porque todos os Gover-
nadores pousaram na fortaleza, aonde ha-
via aposentos pêra ambos, sem nos ver-
mos hum ao outro.» Diogo do Couto Dé-
cada IV, liv. 6, cap. 8.
UAZA
RAZA
KAZA
fíllino cil, Hunlior irinJo,
Hl) o jiHto é pui! do ifçiinl,
não liavi!Íi4 do tiT por mui
1(110 o meitnio B(-jn u raz-1o
dn ficariiiort tal por tal.
AMroNio i-np.srKH, Auroa, png. 275.
— «Mus foiíio !i Uayiilia acordar, que
pAJo ser duquy ii laiina liora, cila me
achanl aos seus peii, porque e.sta novida-
de soja caiwa para me olla preguiUar jio-
la razão delia, porque mais lia do kovs
«mios (pio uito ivi outro tanto por iiiiiiba
má ilispo-iii;ào.i> Fernào Mendes Tinto,
Peregrinações, cap. 142. — «E a fora
esta razào, fo deiaõ neste caso outras
muvtas por onde se assentou que era cs-
cusiula a sua yila a Malaca, e eu pedy a
Joilo (Javeyro que de tudo o que era
passado neste caso me mandasse passar
um estronionto, para por elle se me dar
credito em Malaca, porque em o avendo
ú mito determinava de me tornar logo
pois aiy nàt) tinha mais que fazer.» Ibi-
dem, cap. 148. — «A razaõ lie, porque
a inulti laõ dos súbditos detende o senho-
rio próprio, e pôde conquistar o alheio.
A multiilaõ da gente cultiva o terreno,
de maneira, que naõ somente basta para
os naturaes, mas pôde prover os estra-
nhos.» Soverim de Faria, Noticias de
Portugal, Discurso 1, § 1.- — «A razaõ
he por estar todo Alentejo dividido em
herdades, das quaes os Lavradores naõ
saõ senhores; mas somente arrendado-
res ; e ainda, que muitos homens deze-
jaS fazer casas novas nas mesmas herda-
des, naõ lhe podem os Lavradores dar
para isso licença.» Ibidem, § ». — «Por-
que a razaõ de se pedirem grandes do-
tes, he haver muitas mulliercs para ca-
samentos, e poucos homens, por nclles
estarem juntos, c unidos ordinariamente
muitos Morgados.» Ibidem, 4} 7. — «Oh
acaba de entender i^homem de Oração,
se assim he bem chamar-te) a razaõ por
que naõ cresces, antes te achas atraza-
do no amor de Deos, e do próximo. Co-
mo has de crescer no amor de Deos, se
nada diminues no teu amor próprio?»
Padre Manoel Bernardes, Exercícios es-
pirituaes, part. 1, pag. 2HJ. — «Essa
iov a razão, porque a outra fcrmosa fa-
zia concerto com a morte, prometendo
de se lhe entregar cada vez que a cha-
masse, com tanto que a defenderia do
tempo, que a não envelhecesse.» Fran-
cisco Manoel de Mello, Apol. Dial., pag.
36. — «Costumam as nnilheres de alguns
ministros, pela própria razão que se hou-
veram de abster, e ajudar com grande
tonto a levar aquoUa carga a seus mari-
dos, oceasionar-llies seu preeipicio, carre-
gando-os de novo com suas desordens, e
vindo depois com clles a torra.» D. Fran-
cisco Jlanoel de Mello, Carta de guia de
casados. — «Temo que vos pareça pe-
quena a minlia Carta, porem ostimarey
que não tenhaes outra critica que fazer-
Ihe. Pura não ser mais dilatado tenho
muitas razoens.» Cavalleiro de Oliveira,
Carias, liv. 1, n." 42. — «Sc me quereis
crer nào hayaes hoje de casa. Pergunta
ella a razão, conta Talauo o seu sonho,
u respondo Margarida com granrle <les-
]>reso. .Meu marido, quom mal quer mal
sonha.» Ibidem, n.° í)2. — «Ainda que
no (ieiicsiu cap. 0. v. 4 se faz menção dos
(iigaiites que viverão antes do Diluvio,
e ainda que no cap. 115. o 14. dos Nume-
ras v. iVò c i54 se fala |>articularmente
dos que viverão depois do Diluvio, ha
eom tudo muitas rasoens para .supor que
os homens forão em todo o tempo da
mesma grandesa que são agora.» Ibidem,
n." .00. — «A isso poderá responder, que
o Manifesto he de Castella, e por isso o
j)uz na sua lingua : mas para explicar
melhor a razão mais principal, que me
moveo, coutarey hiima historia, que acon-
teceo em hum Tribunal do três, que tem
o Santo < )fíieio n'este lleyno. » Arte de
furtar, cap. lli.
— N'estc sentido emprega-se também
no plural. — «E esso meesmo se esses
dos mesteres forem da condiçom dos ou-
tros suso ditos, que os aver podem, man-
da, que se tiverem mancebos, que lhes
nom sejaõ tirados ; porque, pois as ra-
zoões, j)er que ham de seer dados aos
outros, liam lugar em esses mcsteiraaes,
110111 seria razom tirarem-lhos.» Ord. Af-
fons. — «Floriano, que já neste tempo
era livre de seus cuidados, quiz com ra-
zões tingidas mostrar que então mais
que nunca estava metido nelles : o por-
que neste caso, em que se nào aventura
mais que pala\Ta9, os homens não hão
de ser avarentos ou escassos d'ellas, elle
a satisfez tanto quanto cumpria, dizendo
antre algumas, que lhe então o tempo e
a iscmi>ção ensinava.)' Francisco de Mo-
raes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 80.
— «O cavalleiro do Tigre, além de lhe
doer vêl-a assim, estava tão occupado de
ira e manencoria do não poder entrar no
castello, que se chegou ao pê delle, des-
honrando os cavalleiros com razões fora
de sua condição ; que isto tem os cora-
ções agastados, desabafarem com pala-
vras ásperas, quando sào ditas aos qite
as merecem.» Ibidem, cap. 10.'). — Ain-
da que estas razões fossem de receber,
o cavalleiro as não quiz levar em conta,
dizendo (|ue por força haviam de fazer
batalha, se el-rei não o atalhara com
niandar-lhe que desse lugar aos outros,
pois as condições, com que o d.is donzel-
las alli viera, o desobrigavam.» Ibidem,
cap. 12i). — «Porque primeiro que fosse
a C'astella andou com elle mesmo Hey
líom loão que o armasse pêra este nego-
cio, o que elle naõ quis fazer jior as ra-
zões que abaixo diremos.» Barros, Dé-
cada 1, liv. 3, cap. 11. — «Passando
assi Afonso Dalbuquerque o inuerno, com
trabalhos do mar, c da terra algumas
peasoas, e dcllcs do.i principais da frota,
tendo pouco respeito a suas obrigaçocnji,
começarão a traUir amores com hí moçaa
que lhe tomara em (ioa, e guardaua para
casar eom alguns Portugueses jjolas ra-
zoens que iic.^o apuutadas.» Damião de
lioes, Cbronica de D. Manoel, part. 3,
cap. ti. — - «\'òs tendes feito pazes com
Dom Estevão da (iania. Capitão que foy
daquclla fortaleza, irmaò do qao hoje
está nella, a quem querein fazer guerra,
que por duas razoens naõ pt^dois que-
brar.» Diogo de (-'outo, Década (i, liv.
ít, cap. b. — «Dcspuis de lida esta car-
ta, nos disse o NauUjquini. este Uey do
Pungo, é meu senhor e meu tio, irmão
de minha m.ãy, o sobre tudo he meu bom
pay, e ponholhe este nome, porque o be
de minha molhcr, pelas quaes razões me
tem tanto amor como aos seus mesmos fi-
lhos.» Fernão Mende.* Pinto, Peregrina-
ções, cap. 13.'). — «Por estas razoens to-
marão muitos Cavalleiros as Flores de
Liz por armas, e as deixarão a seus des-
cendentes, como foraò os Albuquerques.
os fiouveas, etc.» Severim de Faria, No-
ticias de Portugal. — «Passado o Impé-
rio a (Ireeia ainda que os mais dcates
Capitaens ticarão com nomes de Condes,
pelas razoens, que logo diremos.» Ibi-
dem.
Estas razões. Senhores, nos obrigaú
A olhar, como própria, a honra sua.
Kll:t ultrajada gc acba iudignamcute
I'i'!o altivo Doaõ •, pois costumando
(Nós tcstcmunlios somos, n<53 o vimos!)
niNiz DA cRCz, HISSOPE, cant. 3.
— tE qnc me importa
A mim corte e conselho? Outros motivos
Tenho, outras razoes...»
— fTenhais embora.
GABRF.rT, CAMÕES, caut. 4, cjip. 3.
— Com razão ; com motivo, motiva-
mente, justamente. — «Ao qual Manda-
mos que se enforme Acerca de sua pri-
som quanto bem poder, se foi preso Jus-
tamente e com aguisada razom, e quer
fazer o dito contrauto. e assi lhe dê pêra
ello sua authoridade, ou naõ ; e dando-
Ihe sua authoridade pêra cllo. Mandamos
que valha esse contrauto feito per esse
preso, assi como se fosse solto.» Ord. Af-
fons. — «Porque ja ouvirieis dizer : Ni-
nho feito, pega morta. Que me dizeis ao
contentamento do mundo, que toda a
dura delle est-i em quanto se alcança?
Porque acabado de passar, acabado de
esquecer. E com razão, porque acabado
de alcançar, he passado; e maior sauda-
de deixa, do que he o contentamento
que deo. Esperae. por nic fazer mer-
cê, que lhe quero dar humas palavri-
nhas de propósito.» Camões. Carta 2. —
«O mesmo fazião também os Frades,
luins cortando com machados, outros acar-
retando fato : e nâo ha que duuidar 8««
RAZA
BAZA
RAZA
95
nào que se a este grande expectaculo
fora presente o Propheta Hieremias, com
muyta razão dissera.» Fr. Gaspar de S.
Bernardino, Itinerário da índia, cap. 1.
— - «E se os moradores da Guarda no nos-
so Portugal, por causa dos grandes frios
do Inuerno que nella ha, dizem, que os
três meses do Verão saõ os do frio, o os
noue de Inverno : cõ muyta mais razão,
os de Ormus podem affirmar, que os três
do Inuerno saò de Verào e os noue de
Inferno.» Ibidem, cap. 11. — «E por isso
se pôde dar com razaõ principio às de
Portugal des do tempo d'ElRey D. Afon-
so Henriques para cà.» Severim de Fa-
ria. Noticias de Portugal. — ■ «Pelo que
com razaõ usou o nosso Luiz de Ca-
moens desta palavra, quando na pro-
posta dos seus Cantos dos Lusiadas dis-
se : As armas, e Barmns assignalados, e
naõ varoens, como alguns inadvertida-
mente querem.» Ibidem. — «Das mais
grandezas desta iusigue cidade direy a
seu tempo, porque isto que agora contey
assi de corrida, foy somente para dar
huma breve relação da origem e funda-
ção deste império, e do primeyro que
fundou esta cidade do Pequim, metropoli
com razão, e com verdade de todas as
do mundo, na grandeza, na policia, na
abastança, na riqueza, e em tudo o mais
quanto se pôde dizer ou cuydar.» Fer-
não Mendes Pinto, Peregrinações, cap.
94r. — «E he também certo, que de nin-
guém podemos temer com mais razaõ,
qu3 seja brevemente miserável, como
d"aquelle, que lhe parece o naõ tem si-
do. » Padre Manoel Bernardes, Exercícios
espirituaes, part. 1, pag. 232.
Nem ts lembres dá minha longa idade,
Se a tua com razaõ nunca melhoras ;
Deixa correr os meus dias, e horas,
Sempre atteuto á mortal fragilidade.
ABB.iDi: DE JAZESTE, poEsi.is, tom. 2, pag. 75
(ediç. 1787).
— Por razão de ; em virtude de. — •
«E Xos, visto seu dizer, e pedir, acor-
damos que se as houverem de fazer per
razom de conhicimento dos Juizes, se os
presos venderem, ou enalhearam, e os
mandados, que os Juizes sobre elles de-
rem, que taaes escripturas façaõ os Ta-
balliaàes, que nas audiências escrepve-
rem perante eUes ; e que as cartas das
veuilas, e arrendamentos, e obriguaçoões,
e outros contrautos façam os ditos Ta-
balliaões do Paaço, que poios ditos pre-
sos a alguas pessoas forem feitas, mos-
trando-lhe as autoridades dos Juizes.»
Ord. Affons. — «Isto por razaõ de ser
gnarda-mòr do mesmo tombo, ofiicio mui
próprio dos chronista.s, por sor huma cus-
todia de toda a scriptnra do Reyno.»
Barros, Década 1, liv. 2, cap. 2. — oE
logo em dons dias que Vasco da Gamma
esteue esperando por recado de Camorij,
este Monçaide o anisou de algumas cou-
sas : por razaõ das quaes ello teve con-
selho com os capitães do modo que teria
em ir ao Camorij quando o mandas.çe
chamar.» Ibidem, liv. -4, cap. 8. — «E
por razão desta auçào que este Reino ti-
nha nestas ilhas Canareas pola despesa
que era feita na conquista e conuersão
de seus pouos, quando se iizerào as pa-
zes entre Portugal, e Castella por causa
das guerras, que ouue entre el Rey dò
Affons ) o quinto neste Reyno, e elRev
dom Fernàdo de Castella.» Ibidem, liv.
1, cap. 12. — «Os quaes neste tempo
que elle partio estauau em Quiloa fazen-
do mercadorias, e entre rogo e forca os
leuou consigo, por razaõ dos quaes mor-
tos auia muitas lagrimas e pragas entre
todolos Mouros, e o que elles mães abo-
minauaõ era ser elle causa de os Cafres
levarem tantos Mouros captivos.» Ibi-
dem, liv. 10, cap. 6. — «Peró não pas-
sam do mar do Ponente, a que Ptholo-
ineu chama a enseada Sabarica, á outra
Perimulica do Levante, mas moram as
de cá obra de quarenta léguas de Mala-
ca junto de huma Ilha, a que os nossos
chamam a Polvoreira, e os da ten-a Bara-
la, que quer dizer casa de Deos, por ra-
zão de hum antigo templo que alli esteve.»
Idem, Década 2, liv. 6, cap. 1. — «Man-
dado este junco, por razão de huma co-
roa que fazia o rio ante de chegar á pon-
te, não pode passar, nem outro navio
mais pequeno, que a este fim mandava
na sua esteira, e isto por as aguas se-
rem mui quebradas, de maneira, que foi
necessário esperar que viessem as vivas
com a Lua nova.» Ibidem, cap. 5. — a A
velha como era namorada delle por ra-
zão da idade juvenil que tinha, com esta
fabula já o nào amava como a marido,
mas reverenciava como a profeta, e co-
meçou entre as vizinhas.
e amigas em
grão segi-edo denunciar esta santidade do
marido.» Ibidem, liv. 10, cap. 6. «Fi-
nalmente assi estos por razão de seus es-
tados, como 03 outros Mouros de toda a
costa da índia por causa de seus com-
mercios, estavam mui assombrados em
ver que a gente Portuguez, que té li nào
fizera couta do habitar na índia, com
ter tomada aquella Cidade, começava de
lançar raizes de sua vivenda.» Ibidem,
liv. 7, cap. i. — «Mas a fortuna o fauo-
receo mães, do que elle desejaua : cá Xá
Nosaradim faleceo na guerra em que an-
daua, e seu filho que o snccedeo, por ra-
zão delias ficou tào desbaratado e sem
forças pêra contender com Mamud Xá, e
elle tào poderoso, que ousadamente se
intitxúou por Rey do Canará, chamando-
Ihe Decan. . Ibidem, liv. õ, cap.' 2. —
«Segunda: o homem he huma creatura,
que por razaõ de sua natural constitui-
ção, está entre os xinjos, e os brutos :
com aquelles convém no espirito, e ra-
zão : com estes no corpo, e appetite. »
Padre Manoel Bernardes, Exercícios es-
pirituaes, part. 1, pag. 389.
— Haver, ser razão; haver, ser mo-
tivo.
Intz. Praza a Dcos que algum quebranto
Mc tire do captiveiro.
Mãe. Toda tu estás aquella !
Chórào-te os filhos por pào ?
Intz. Prouvesse a Deos : que ja he razão
De eu nào estar tào singela.
GII, VICEXTE, FARÇAS.
— «Finalmente, seidior, quando não
houvera nenhuma outra razão, e quando
tuiio o que vossa magestade tem ordenado,
não fOra tão justo e tão justificado como
é, só pelo que agora direi o devia vossa
magestade mandar continuar sem mu-
dança nem alteiação alguma.» Padre An-
tónio Vieií-a, Cartas, n.° 15.
— Dar razão de; dar noticia. — «D.
Garcia de Menezes que era Fidalgo or-
gulhoso, e desejava de se assinalar, pe-
dio licença a D. Pedro da Silva pêra hir
tomar aquella peça, que lhe elle deu, e
fazendo-se prestes com cem homens, e
com elle Pêro Vaz Guedes (de quem no
primeiro cerco de Dio de António da
Silveira temos dado razaõ, no Capitulo
decimo do livro terceiro da quinta Déca-
da) e outros Fidalgos, e cavalleiros que
se lhe offerecèraõ pêra isso.» Diogo de
Couto, Década (5, liv. 9, cap. 7.
— Termo de philosophia. Razão suffi-
ciente; diz-se no leibnitzianismo da cousa
sem a qual nós julgamos que um facto
não pôde dar-se.
— Por extensão e na linguagem geral,
muitas vezes n'um sentido irónico, o que
basta para produzir um effeito, para ope-
rar.
— Qj-m mais forte razão ; com motivo
mais forte.
— Ter razões com alguém, travar-se
de razões com alguém; contestar, dispu-
tar, injuriar-.se.
— Trazer a razão, ou metter era ra-
zão ; apaziguar, socegar. os que altercam,
contendem, disputam entre si.
— Razão d' estado; motivo politico, mo-
do d'obrar conforme á politica.
— Razão d' estado; governo politico do
soberano e seus miiiistros.
— Razão d/ estado; relatório, exposição
do estado d'uma nação.
— Fazer razão d' alguma cousa; to-
mal-a como motivo, pretexto, justifica-
ção.
— Seia razão ; sem motivo, sem cau-
sa ; sem justificação.
Favor ao ocioso nào concede
Fortuna, nem o nega ao diligente.
Porque sem razão a outrem favor pede
O que para si mesmo he negligente.
Se acaso a diligencia mal succcdc
Ao menos o que a usou fica contente,
Utí
liÁZÁ
K.VZA
1{.\Z<»
K a 8ua advoi'HÍ(l!i(lc biiiii dti4(:ul|>a
Com vitr i|iio dii tortuiin ho toda n culpa.
r. UK AXDUAIIB, l'l(IMKIIIO CKHOO I>K IIIU, Oailt.
',1, ci*t. á.
— uQiifUi'l() cii (ligo ii Senhoril Coii-
(loyn l'';il)ri(:i;i (|iiií tuiiilxim o Lolw llio
liíilo upiiiirrccr no matu iiAo lio M-m ra-
zão.» (!iiviilloiri> 'l''»liv(iii;i. Cartas, liv.
1, 11." 02.
— Sulj.stantivnmcnto : íb'<;/«-razão ; coii-
•sa coiitrii razilu, iiílo motivaila, nild jus-
tilicjiilii.
l)i;rt,)r«rtoH o cS'iui?(!Íinciito,
r|iicitii contr'ollcs wi dofondo,
não oa oiiito, ou iiíio ciitcndo
onde cliogii líi^ii tormento :
iimn piTii fiuciii sinto a ponii
inda ó mrtr a st-m raz'w,
((uorordiis, quo o cA mortii ordena,
»i! tomo por galardão.
V. I>K MOIl\K8, r.VLMKlBlM I)'l.N<ll..MKlllU ,
cap. 10',).
— kEu a Nliay Nivolau i)obro mollicr,
ava, e serva iloi^te orfaõ minino to po(,'o
com la,>íi'imas prostrada diante de ty,
com aquelle acatiimeiito quo se te devo
como a senhor, que não arrri([uos tua es-
pada contra minha fraqueza, porque sou
inolher que mo não soy defender, nem
aey mais que chorar diante de Deos a
sem razão quo se mo tizor, a cuja divina
natureza he tào próprio socorrer com mi-
sericórdia, e castiiíar com iusti(,'a.» Fer-
não jMendos Pintn, Peregrinações, capi-
tulo lõ-i.
— Toi-mo de mathematica. Relayào de
uma quantidade a outra. Progressão que
segue por razào arithmotica, por razão
geométrica. A razão daítrac^ào é dire-
cta quando se consideram as massas, e
inversa quando se consideram aa distan-
cias.
— Miiilia e extrema razão; propor(,'ão
na qual um todo está para uma das suas
partes como esta está para a segunda.
— Primeiras e nltin>as razões ; nomo
d'uma tlieoria ct^lebre de Newton.
— Termo de banco c do commercio.
Nomos dos associados ordenados e enun-
ciados da maneira determinada pela so-
ciedade.
— Razão soci<iI; nome sob o qual uma
sociedade é conhecida iia pracja do com-
mercio.
— Livro lie razão ; livro cm que o ne-
gociante lani,'a as suas despezas por deve
e haver; clianiado também livro utestre.
— Relatório, memorial.
— Figuradamente :
Sois mui janolnira ; não,
não quoro iisâi, d'aqui
vos comedi
nnu9 ooni minha condi(;ào.
que ('• outra adii;i\o por si
do mou livro do ntz~io.
AiiTONio raesiEs, actos, pag. 241.
-- Na razão de, loc. i^rfposicionai ; na
(pianlidado de. — A cume fui disiribui-
da nu razão de meio arraiei jx/r caberia.
— Km razão '/*', l'>c. j)rcjM>HÍcional ;
cm virtude de, |)or motivo dn, por. —
Em razão dn preru eleruflo do triyo jjou-
CO comitrei. — Juit razão d'ellfí estar de
coin/jaiikin não f/ude fallar-Uu..
Km razão de ; cm propor(;ão de.
— Km razão directa ; augmentando ou
diniiuuimlo lui razão (\w uma outra quan-
tidade augiMonta ou diminuo. — Ou cor-
po» attrahem-He na razão directa das
mufuaii. — A velocidade dum corjio que
cahe extá na razão directa do tempo.
— Km razão inversa; augnniutaiido ou
diminuindo na razão quo uma outra quan-
tidade diminue ou augmenta. — Os cr/r-
pos attrahem-sc lui razão inversa do c/iia-
drado das dist^mcias. — As obras litte-
rurias são estimadas rui razão invejosa do
sen mérito real.
—Razão ; parentesco. = Diz-se também
razão de parentesco. — «Então pondo os
olhos nellc, vendo-o tão moço, dizia : Por
certo eu não sei como em tão tenra idade
haja tamanhos feitos ; nem posso crer
senão que o favor dos deuses ora do sua
parte : c não d muito pêra duvidar, por-
que a natureza deste, segundo sua fer-
mosura é conforme á dellos mesmos, por
oudo creio que «alguma razão ou paren-
tesco tem com algum dclles.u Francisco
de Moraes, Palmeirim d'lQglaterra, cap.
lio. — «Isto é natural de todolos apar-
tamentos, em especial, quando são pes-
soas com que se tom alguma razão e
amizade, que antre estes sempre amor
faz fazer extremos.» Ibidem, cap. 12ÍI.
— Razões ; conversações, palavras, dis-
cursos, argumentos. — Uesta maneira
cada um passava outras razões com quem
llie dizia o desejo; quem não achava com
quem as passar, occupada a fantesia em
todas partes, não sabendo onde a affir-
masse.» Francisco de Moraes, Palmeirim
d'Inglaterra, cap. 120. — «E oliiando a
.Vlbayzar miudamente, lhe pareceu bem
feito, c aparelhado pêra grandes obras,
e desejava havor batalha com elle, por-
que lhe lembrava as razões que ambos
passaram no eastelh» de 1 Vamorante-<>-
Cruel.» Ibidem, cap. lL'i3. — «Não que-
ria houvesse em viks tacha pêra perder
isto, ou cousa que me dê pejo commetter
a quem vos possa merecer : peço-vos me
tenhais polo mais certo amigo do mundo ;
apartai de vcis esse outro pensamento,
que isto é o que vos cumpre. Acabadas
estas razões, a tomou pola mão, o tornou
com elJa onde as outras dormiam.» Ibi-
dem, cap. 124.
t"on> morcõs sumptuosas mo agradeço,
K com rii:òrx me louva cst^i vontade ;
Quo a virtude louvada vive e croce,,
K o louvor iilto» casos persuade.
cA«., n'í., caut. 4, est. 81.
— «Ao Nantaquim parecerão tào boau
estíw razOes do co*Mayro que entrou logo
no junco, e mandou ao» ("CUJ» que por «e-
reiíi iiinytoH, uíto entrfitwein mais que o»
que elle dissense.» PVrnâo MeiídcK Pinto,
Peregrinações, cap. l'A'A. — «No que ou-
ue poui-o que fiizer, porque cMtremada-
niíinti- era iinigo de Oliristãos, c/>iii »»
qual xarapho tractou o negocio |H!r tao*
termos, qu« com os me(>mo« argumentos,
e razões mudaram cl K<»i de propo«it<i
em que estaua de maneira qne alenta-
ram todo.s três de se alevantarem com a
cidade depois de se Diogo lopez ir, e
matarem todollos Portugueses que nella
acliasceni.» l>ainião <!« íio«-.«, Cbronica
de D. Manoel, |>art. 4, cap. <i8.
— Dinheiro de razão ; dinheiro dado a
juros de tintos pf)r ceTito. =r LocuçAo
desusada.
— Fazf-r n razão ; corresponder ao
brinde, á saúde. = Ix>cuç3o cahida em
desuso.
— Knrher-se de razão ; esperar com
paciência, com resignação o momento de
justiça,
— PROVF.HBin:
— A razão mata raz3o; os raciocínios
destruem outi-os raciocinio» ; boas acções
são suffocadas pelo raciocínio.
A razão mata a razno
como IA dizem : ora emfiin
não lia %'ilão »rm ruim,
nem ruim som ser vilão.
A.1TOS10 PBi:srES, AlTUS, p«g. 253.
RAZENTE, adj. .\ntiga f.rma de Re-
cente. --=-- Empregada no Cancioneiro de
Rezende.
RAZIMO, ». m. Outra f/irma de Raci-
mo, usada por alguns clássicos como V<a-
briel Pereira «le Ca«tro, forte Real, etc.
RAZO, .«. "1. (De rasot. Antigo estofo
de setim. seda ou 13 liso, sem desenhos e
d 'uma si'i c''>r.
De rnzn verde a barra tem lavrada.
M^xiiKi. Tiiou.iz. is«fHNk, cjint. 3, est. *>
RAZOADAMEHTE, adv. (\^c^ razoado,
e o suffixo «mente»'. I>e modo razoado;
conforme á razão; juntamente; equitati-
vamente.— «A que eram obrigados, se
quiserem, on paguem per esta moeda cin-
(luo libras per humn. que vem assy ao
que pagava pela outra moeda de trea li-
bras e meia, e cruzados cincoenta libras,
duzentas e cincoenta libnís per esta moe-
da : e esto jtarece que rszoadamente se
deve de fazer. ]><'r quanto a maior jwrte
das cousas iguabnente fezen>m esta mul-
tiplicaçom.» Ord. Affons., liv. 4, tit. 1.
j} 36. — «Outro sy mandamos a vóe Vaa*-
qíio Fernandes, e Armom Botim, que co-
mo cada huma dessas Comarcas tcverdes
acabada, e feita apnraç<Mn em ella. qrte
lojjo nos enviees o caderno dos becsteiros
RAZO
RAZO
RAZO
97
que iicarom feitos em cada Comarca, de-
olarando-uos polo miúdo os nomes, e as
alcunhas delles, e as idades, segundo que
vos razoadamente parecer.» Idem, liv, 1,
tit. G9. í? 47.
— Proporcionadamente.
RAZOADO, ijarf. pass. de Razoar. Con-
forme ás regras do raciocinio. — Isso ê
mal razoado. — Bevi razoado.
— Que é o resultado do raciocinio. — ■
Um dito bem razoado.
— Razoável, conforme á razào, admis-
.«ivel, justo. — «Pêro vindo despois em
algum tempo perante Níj.s, e allegando
por sy alguma escusa tal, que pareça ra-
zoada, e offerecendo-se a lidar, devemos-
Ihe de conhecer sua razom, e fazer-lhe
direito com acordo da nossa Corte.» Ord.
Affons., liv. 1, tit. 64, §9. — «E dize-
mos que poderá jeralmente cada hum
comprar e vender livremente moeda de
ouro, ou prata, que seja verdadeiramen-
te lavrada na nossa moeda do crunlio
nosso, ca nom parece ser cousa razoada,
que compra ou venda de tal ouro ou pra-
ta batida na nossa moeda seja defeza a
pessoa alguma em nenhum caso.» Idem,
liv. 4, tit. 1, § 3. — «E pêra os ditos
Escripvaàes das Camarás averem algum
galardom de seu trabalho, qvie em ellas
tomarem, mandamos que por todalas Car-
tas, e escripturas do tempo passado atta
ora, que assy haõ d"eserepver, elles se-
jam satisfeitos das rendas de cada hum
Concelho, segundo razoado for.» Idem,
tit. 24. i? o.
f RAZOAL, adj. (De razão, ou antigo
razom I. F/irma popular. Razoável.
RAZOAMENTO, s. »t. (Do thema razoa,
de razoar, com o suffixo «mento»). En-
cadeamento de diversos argumentos.
— Discurso, palavras que tem um fio
lógico. — « Acabado este razoamento, o
Papa se leuantou, levandolhe Tristão da
cunha a faldra ate ha sua camará, donde
se despediram delle, e assi se acabou esta
segunda vista, e logo a terça feita seguin-
te forào na mesma ordem com o pre-
sente, pêra o que o Papa os foi esperar
em Belueder, porque o Elephante naõ
podia sobir aho paço.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, parte 3, capitu-
lo Ò2.
— Tratado, descripçào, narração. —
« E quanto a dei Rei dom Duarte nam
ai duuidu senam que o texto substancial
delia he de Feruam lopez, e os razoa-
mentos da ida de Tanger de Ciomezea-
nes de Zurara, que parece que por o vo-
lume ser pequeno que lhe quis acrecen-
tar aquelles razoamentos, com o enterra-
mento dei Rei dom loam, que conuinha
a terceira parte de sua Clironica.» Da-
niiiio de (!oes, Chronica de D. Manoel,
part. 4, ca)!. 38.
RAZOANTE, part. act. de Razoar. Que
razoa .
— Que tem uso de razão; racional. —
VOL. V. — 13
As creaturas razoantes ; os homens, por
opposição aos irvacionaes,
= Caliido em desuso.
RAZOAR, r. n. (De razão). Fazer uso
da razão. — Este homem razoa muito bem
em tudo.
— ProciU'ar e allegar razões a respeito
d'um facto, d'um negocio, d'uma ques-
tão.
— Discorrer.
RAZOÁVEL, adj. (Do latim rationabi-
lis, de ratio, razão). Que é dotado de
razão, racional. = Cabido em desuso n'es-
te sentido.
— Que obra segundo a razão, o direi-
to, a equidade. — Um homem razoável.
• — Fallando das cousas, conforme á ra-
zão, á equidade. — Leis razoáveis. —
Uma conjectura razoável.
— Que se accommoda com as circums-
tancias, que não é muito exigente. — Vos-
sê exige muito; seja tnais razoável.
— Que é sufficiente, conveniente. —
Acho esta casa razoável j^a^^ mim.
— Que está acima do medíocre. — -
Aquelle homem tem uma fortuna razoá-
vel.
— Moderado. — Preço razoável.
RAZOAVELMENTE, adv. (De razoável,
com o suflRxo «mente»). D 'um modo ra-
zoável. — Fazer uma cousa razoavel-
mente.
— -Sufficientemente, convenientemente,
assas. — EUe foi razoavelmente pago.
— ■ D 'um modo acima do medíocre, sof-
frivelmente, supportavelmente.
RAZOEIRO, s. m. Termo antigo. Vid.
Racioneiro.
RAZOM, .í. /. Antiga fúrma de Razão,
usada até ao século XV em que se deu lo-
gar á firma Razam, d'onde se veio á se-
guinte Razão. — « E o escripvaõ va re-
contar ao Juiz da Alçada a Sentença,
que o Juiz Hordenairo der era razom das
ditas armas cõ toda a razom da dita Sen-
tença, e prova delia. E Mandamos que
o feito seja trautado perante cada hum
dos sobreditos, presente o Nosso Procu-
rador, por dizer hi pola Nossa parte o
que pertence ao Nusso direito, correndo-
se a Alquaidaria por Nos.» Ord. Affons.,
liv. 1, tit. 31, § 9. — «E o que suso he
hordenado em razom das frontas, que os
devedores fezerom aaquelles, a que eram
theudos, que recebessem das moedas, que
per nós era mandado, e as obraçoões, c
consinaçoões, que delias fezerom, manda-
mos que haja lugar nas que forom feitas
ataa primeiro dia de Janeiro da Era de
mil e quatrocentos e quarenta e dons an-
nos.» Idem, liv. 4, tit. 1, § 23. — «Que
depois por alguma razom de direito seja
desfeito, ou achado por nenhum ; ca em
cada huum destes casos nom averá lugar
esta Ley, mais será tornada, e restituída
aquella meesma prata, ou ouro, que foi
entregue, ou outra tam boa assy em bon-
dade de forma, como de matéria.» Idem,
tit. 2, § 16. — «E per nós forom dados
aos ditos Prazentins, e muitas razoões,
que perante nós pelos sobreditos de hu-
ma, e d'outra parte forom ditas, c alle-
gadas sobre esta razom, nós com acordo
do nosso Conselho por bem da nossa ter-
ra, e este meesmo dos ditos Mercadores
Estrangeiros, acordamos, que daqui em
diante se faça, e guarde sobre esta ra-
zom pela guisa adiante escripta, e nom
em outra maneira.» Idem, tit. 4, § 1. —
« E declarando ainda mais acerca da dita
Ley dizemos, e mandamos que o marido
nom possa vender, nem enalhear beens
alguuns de raiz sem outorgamento expi-es-
so de sua molher ; e posto que se alegue
que essa molher outorgou a dita venda,
ou enalheamento caladamente, mandamos
que tal outorgamento tácito, ou calado
nom valha, nem seja alguum recebido a
allegar tal razom, e outorgamento, salvo
allegando outorgamento expresso, como
dito he.» Idem, tit. 11, § 7.— «E de-
pois da dita obrigaçom, passados doos an-
nos continuados, outra vez novamente se
obrigou pola dita obrigaçom, oii deu por
ella fiadores, ou penhores; ca em tal ca-
so, pois passado tam longo tempo ella ou-
tra vez novamente se obrigou pola pri-
meira obrigaçom, ou deu fiadores, ou pe-
nhores por ella, nom se pode com justa
razom chamar ao benaficio de Valleano,
nem gouvir delle em algum tempo.» Idem,
tit. 19, § 6. — «A este artipo responde-
mos, e mandamos que os Juizes, e Ve-
readores, e homeens boõs façaõ suas pos-
turas, e vereaçoões em esta razom, quaees
entenderem que compre, e ouverem por
sua prol.» Idem, tit. 29, § 2.— «Por-
que pois de seu gi-ado moraõ, esguardan-
do em ello, que nom he de crer que ne-
nhum tenha nem faça despesas sobre
mancebos, senom em aquelles que lhes
som compridoiros, mandou que lhe nom
fossem tirados; porque seria sem razom,
pois que os serviaõ, e queriaõ com elles
viver per suas vontades, e os mester
ham, averem-lhos de tirar.» Idem, § 9.
— « Quem quer que demandar per razom
de sua avoenga alguum herdamento de
tanto por tanto, deve logo de levar os
dinheiros ao Concelho, e deve logo fazer
mostra delles quando fezer a demanda
perante a Justiça; ca se logo nom mos-
trar 03 dinheiros, quer todos, quer del-
les, quando começar a demanda, nom o
pode demandar de tanto por tanto.» Idem,
tit. 38, § 9. — «E póde-se dizer, que nom
seria justa razom pêra se desfazer alguã
venda, despois que fosse de todo perfei-
ta, por se dizer pola parte do vendedor,
que vendera alguã cousa por dez libras,
a qual avia já comprada por vinte libras,
ou que o comprador, que lha comprou, a
vendeo depois por vinte libras.» Idem,
tit. 45, § 5. — «Ou em mercee, ou em
asseentamentos, que de Nós tenham por
razom de seus casamentos, ou per alguã
9í?
rkaí:
TlKAF
TíKAL
outrn f|Uiil(|itcr razom; porque ncnimit
das dita« couhhs nom (lueroiiios (jao J)Oh-
Ham flcor ciialhoada», ou aiionliadas hciu
iiostío cHpecial inaiidado, (i d'outra f,'ui«a
mandamos rjiie nom vallia quanto liy for
foito.B Mcm, tit. :>'■'>, S ^-■
RAZOURA, s. f. Vid. Rasoura.
1.) RE. Tarticula iJropositiva quo su
colloca no principio das palavras e indi-
ca ora rcpetiçiío, como redizer, rever,
etc, ora volta, ou acto retroactivo, como
reagir, repellir, ctc, ora, omfim, repro-
duz a idêa do verbo simples, augmcn-
tando-a, ou mesmo algumas vezes sem
valor muito sonsivel, como reluzir, etc.
— Dá-so familiarniento a um verbo
qualquer o sentido reiterado por meio
d'esta particula. — Ltr e reler. — Gos-
tar e regostar.
2.) RÉ, s. /. (De reul. Termo do fo-
ro. A mulher demandada, accusada.
3.) RÉ, s. /. Termo de marinha. O
espaço comprehendido entro o mastro
grande o a popa.
— Figuradamente: Deixar pôr de ré
toda a heróica virtude; <leixar atraz não
fazendo caso d'ella.
— Loc. KIGUIIADA : Estar á ré do cabo
dejaqucte; estar para traz d'olle, antes
de chegar a elle.
4.) RÉ, s. /. (Do fraucez raye). No
jogo do aro, risca no chào, raia : a ré
do jogo, é a primeira, o d'ella se princi-
pia. Ha outra ré do cabo, a qual a bola
deve passar para ganhar.
5.) RÉ, s. 7». Termo de musica. A se-
gunda nota musical depois de ut ou dó.
Senhora, olhao para mi
quo cu não quero mais espelho.
Direis como diz Joaquim,
senhor, só, IA, fA, r^, mi,
porque jA eiou perro velho.
Mas cuido que ferro-volho.
ASTONIO PBESTES, AUTOS, p:Vg. 3-41.
— Ré-ménores.
Solta o Critério a voz, e o douto exame
Cala pcloâ ri!-méuorc8 ouvidos,
Com agrado c proveito, até ás almas,
Oudc 80 imprime, e guarda longamente
Sabor das eloquentes iguarias.
F. U. DO NASCIMENTO, OBRAS, tOUI . 1, pag. .37.
RÉ A, .«. /. o mesmo que Ré.
REABILITAÇÃO, s. f. Vid. Rehabili-
tação.
REABILITAR, v. a. Vid. Rehabilitar.
t REABSORPÇAO, s. f. Nova absor-
pçSo.
f REABSORVER, r. a. Absorver de
novo.
REACÇÃO, í. /. Termo do phvsica.
AcçSio opposta a uma outra ; resistência
activa a um esfort,'o qualquer. E por
reacção que o corpo elástico comprimido
resalta á altura d'ondc cabo, e quo um
corpo abalroado fere um outro corpo com
a mesma intensidade como se se ferisse
a si próprio. 10 mister prestar attonçSo
a este principio certo, que a reacção é
egual á resistência que acha a acçjo, ou
que um corpo que encontra outro, soffre
nas suas partes a mesma compressilo que
proiluz nrj outro. — K uma lei geral da
natureza que a reacçãO é egual e contra-
ria á ac<;i!o,
— f^sforyo que se levantou cm volta,
por uma acçHo. — Nos movimentos phi/si-
cos, a ac<;ão é sempre seguida de uma
reacção.
— Figuradamente : Opposiçílo, acçSo
contra outra, vingança oppondo forças.
Melhor dirias rraii;ão dos habito.s
C^ue um instante vergou a natureza.
- - «Avante!" clama o torvo mestre «Avante !•
Como ((uc invergouliadi) do momento
Que involuntário ao corai;ão cedera.
oAiiBKTT, cAiiÕF.s, caut. 1, cap. 11.
— Termo de equitação. O abalo mais
ou menos forte, que o cavallo ou acção
faz experimentar no cavalleiro que o
monta. — Reacções agradáveis.
— Termo de chiinica. A manifestação
dos caracteres di.stinctivos de um corpo,
proA'ocada pela acção de um outro corpo.
— Phenomenos entre corpos actuando
uns sobre os outros. — As reacções ge-
raes que tem logar entre os metaes e os
ácidos.
— Termo de phvsiologia e pathologia.
A acção orgânica que tende a contraba-
lanccar a inlluencia do agente morbirico,
cm virtude do qual ella foi occa.sionada.
Algumas vezes toma-se também pelo acto
cm virtude do qual um orgào irritado de-
termina a actividade normal ou mórbida
de um outro órgão que se diz também
irritado sympathicaniente.
— Km .sciencia social, acção contraria
suscitada por uma acrào antecedente.
REACCENDER, ou REACENDER, v. a.
Tornar a accender.
— Emprega-se também no sentido fi-
gurado.
— Reaccender-se, c ivfi. Tornar a
accender-.so.
-]- REACCIONÁRIO, A, nc/y.= Neologis-
mo. — Poder reaccionário. — Espirito
reaccionário.
— Substantivamente : Os reaccioná-
rios.
REACCUSAÇÃO, s. /. Recriminação.
REACCUSADO, part.' pass. de Reaccu-
sar.
REACCUSAR, '■. a. Recriminar ao que
aecusa.
REACENDER, c a. Vid. Reaccender.
REACTIVO, A, adj. Vid. Reagente,
termo ni.iir> em uso.
READILHO, s. m. Espécie de droga do
lã e do .soda.
f READMISSÃO, .V. f. Nova admissão.
REAFIRMAR, ou REAFFIRMAR, v. a.
Aflirmar de novo. = Termo pouco em
uso.
— Firmar, dar mais tinneza.
REAGENTE, adj. 2 gen. Que reage,
que i'iii p acção. — Eorçn reagente.
— J'ajjKl reagente.
— S. VI. Termo de chlmica. Nome
dado aos corpos quo jjor sua energia c
diversos phenomenos manifestam em pou-
co tempo a existência do alguns outroa
corjjfjs desapercebidos. — A pvtaisa t um
reagente.
REAGGRAVAÇAO, s. f. Acto de reag-
graviir.
REAGGRAVADO, /'urt. pcwi. de Reag-
gravar.
REAGGRAVAR, v. a. Tomar a aggra-
var, fa/.i:r novo aggravo.
REAGIR, V. H. ("Do latim reagere..
íOxercer a reacção, oppôr a uma acçào
uma outra contraria sobre um outro cor-
po cuja acção recebeu. — Tudo está rm
movimento, tudo actua, e tudo reage n/t
natureza.
— Termo de chimiea. Diz-se da reac-
ção que os corpos combinando -se exercem
uns sobro os outros.
REAGRADECER, v. a. Tornar a agra-
decer.
— .\gradecer frcqnentemonter
1.) REAL, adj. 2 gen. (Do latim re/fn-
lis, de rex). De rei, ou soberano. — Au-
ctoridade real. — «E sendo isto assi bem
se deixa ver como não avia congregações
de Concilio.-», nem erecçoens de novos
Bispados, sem authoridade, o particular
assenso da Sè Apostólica, como jà to-
qucy acima, contra opinião de algtm»
que imaginào se fazia tudo por authori-
dade Real, e dissimulação dos Summr>3
Pontiticcs, contemporizando com a ne-
cessidade do tempo.» Honarchia Lusita-
na, liv. 6, cap. 19.
Vi ase alli nos ares a rtal auc
Que a luppitor leuou o -bcUo moço.
Das aguda,^, crucia, vnhas soltando
Xo miscro castello, huma fresca Truta.
Pergunta o Capitão aquella estranha
Millagrosa auentnra, e que lhe diga
O succ^âso que teve aquclle duro
Espantoso, apertado : estreito cerco.
COHTK BE.VL, SAITEAGIO DE SEPVLVEOA , C*nt. 13.
— iX-i denotação da Real dignidade
quo somente cõpete á pcsso.i do Rey,
donde ao que ora reina na Pérsia sendo
seu próprio nomo Tamáz, antcpíie c*ta
piírte Xá. dizendo Xatamáz, como se dis-
scs.sem o senhor Tamáz, ou como dizem
a el-Rev de França. Xira.» João de Bar-
ros, Década 4. liv. 2, cap. 4. — • Porque
onde entra esta palaura-Raja-, que he
deriuado do nouu» real, tica na peá.soa a
quem o Rcv dá, como acerca de nôs o
titulo de conde : o e-ta denotação-Tuam-
como cá dizemos : Dom, e este ee põem
ante do nome próprio da pessoa, e o ou-
tro no tim delle, segundo vemos nestes
dous laos Vtimnti Raja. e Tuam Colas-
car.» Idem, Década 6, lir. 2, cap. 3. —
liEAL
REAL
REAL
99
II No estrado de todo cima estava huma
imagem de mulher feita de prata assen-
tada em huma cadeira Real, e na cabeça
tinha coroa d'oiiro a moda de Empera-
triz.» Barros, Clarimundo, liv. 2, cap.
2õ. — «Andando assi trauada a pelleja,
deu a maré lugar as duas gales pêra
chegarem a força do combate, onde o
Vicerei deceo em terra, com a bandeira
Real, acompanhada da sua gente, e da
de Tristão da Cunha, que por andar mal
disposto ficou na gale.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 2, cap. 24.
— «Emparelhadas as gales com hum ba-
luarte, e tranqueiras que era o mais for-
te da cidade, se começou de huma, e de
outra parte, hum medonho jogo dartelha-
ria, e o mesmo se fez das carauellas, e
nãos depois que chegaram, no qual ins-
tante teue o Vicerei tempo pêra dos ba-
teis sair em terra, elle primeiro com a
bandeira real, que assi o tinha ordena-
do.» Ibidem, part. 2, cap. 38. — «Sai-
ram em terra com a bandeira Real, e por-
que estaua ordenado que se cometesse
huma tranqueira que estaua de longo da
praia per três lugares, e que Afonso dal-
buquerque fosse cometer a porta, que se
agora chama dos Bacharéis, que he da
banda do sertam.» Ibidem, part. 3, cap.
11. — • «Feita esta presa, Xuuo fernandcz
tomou seu caminho pêra çaíim leuando a
dianteira o Adail Lopo barriga, e ha
bandeira real Aluaro dataide, e em boa
ordenança, com toda sua companhia.»
Ibidem, part. 4, cap. 6.
Eutrou ha inais triumpliosa,
mais real, mais grandiosa,
que nunca se ^^o entrada,
sahio mnv desesperada,
muy tristOv, muvto chorosa.
G.iRCI.4. DE REZEXDE, MI5CELL.VSEA.
— «E 0 Conde de Penamacor se aco-
Iheo, e lançou logo na dita sua Yilla. E
quando el Rey hia ao Sabugal, como ao
diante se dirá, tornandose el Rey de Cas-
tello branco para Santarém, o dito Conde
com seguro real lhe revo falar no lugar
das Cortiçadas, que se ora chama Pi-oen-
ça a nona, e porque se não quis por a
direyto como el Rey queria se despe-
dio delle, e de seus Reynos, e com sua
molher, e filhos se foy pêra Castella.»
Liem, Chronica de D. João II, cap. 54.
— «O qual recado veo a el Rev es-
tando em Santarém, que foy disso con-
tente, e lhe deu sua bandeyra real, e
em tudo se fizerão firmes contratos, que
muyto inteyramente cumprirão sempre
em quanto el Rey viueo.» Idem, Ibidem,
cap. 60. — «Chegando assim ao Paço,
entraõ na Salla Real, onde ElRey está
em seu Troaio, e lhe fazem Imma pratica
em seu louvor ; dando as razoens poi-que
ElRey lhe concede aquella dignidade :
depois pondo-se o novo Duque de joelhos
diante d'ElRev, lhe mete a bandeix'a na
mão, e lhe põem o Coronel na cabeça.»
Severim de Faria, Noticias de Portugal,
Disc. 3. — «Posto na dignidade real, Diz
Beroso que o principio de seu Reyno foy
no anno cento e trinta e hum depois do
Diluuio em Babylonia primeira Cidade
Tretrapóly; que quer dizer quadrada.»
Fr. Gaspar de S. Bernaixlino, Itinerá-
rio da índia, cap. 18. — «E se o delicto
fosse contra a mesma pessoa Real, parece
que nem a pena de morte seria propor-
cionada a tal delicto.» Padre Manoel
Bernardes, Exercícios espirituaes, pa-
gina 91.
Um só do hom'ada fama, inda virtuoso
E portuguez ainda, conservava
No ânimo real leve influencia.
GARRETT, CAMÕES, caut. 6, cap. 5.
— Fazenda real. — «Olhaõ para o ap-
plauso da valentia, e as medi-as, dos que
se empenhaõ nellas, lancaõ hum véo pe-
los olhos de bizarria a todos, e outros
de lizonja sobre a ruina da fazenda Real,
que paga as custas ; e os lavradores cho-
rão, o de que se fieaõ rindo os pilhantes,
que nesta agoa envolta saõ os que mais
pescaõ.» Arte de furtar, cap. 56.
— Veado real ; veado grande. — «Achei
hum veado real com huma cornadura,
muy bem esgalhada.» Galvão, Tratado
da gineta, pag. 323, em Bluteau.
— Estandarte real. • — «Com os que
mandou, e com os que vieraõ das outras
Provindas sahio em campanha o Conde
de Yilla-Flor, e buscando os inimigos os
desbaratou, e venceo ganhando huma
completa victoria com grande mortanda-
de, e maior numero de prisioneiros, fi-
cando-nos também o Estandarte real de
Castella.» Frei Bernardo de Brito, Elo-
gios dos reis de Portugal, continuados
por D. José Barbosa.
Que tive agora
00 'o senhor Thomaz de Lemos
real passo, entrudo fora.
ASTOOTO PRESTES, AUTOS, pag. 119.
— - Figuradamente : O throno real do
entendimento.
Lembra-me aquclle ousado pensamento
Que, como Joroboão, se alevautou
Contra o throno real do intendimento.
FERNÃO SOROPITA, POESIAS E PROSAS ISEMTAS.
— Armada real. — «De Santo Antó-
nio de Pádua D. Fernando Mascarenhas
Marquez de Fonteira, e Conde da Tor-
re. De S. Francisco de Borja Yictorio
Zagallo Almirante que havia sido da
Armada Real; e de Santo António de
Flores D. Joaõ de Castro.» Frei Bernar-
do de Brito, Elogios dos reis de Portu-
gal, continuados por D. José Barbosa.
— Galé real ; a de maior porte da ar-
mada. Vid. Bastardo.
— Ovos reaes, manjar real, salsa real ;
guisados de confeitaria, e cozinha, co-
nhecidos por este nome.
— Próprio de rei, peculiar a elle, gran-
de, generoso.
— Termo antiquado. Doença real; icte-
rícia.
— Foi-te real, apparelho real, com-
boyo real ; conduzido por forças maio-
res.
— Da casta, da progénie dos reis.
O marqucz de Villa Eeal
Diria lagrimejando :
O neto dElEei í'crnando,
Todo de sangue I/eal,
Fera bem vos seja o mando.
GIL VICEXTE, OBRAS VARIAS.
— «Acabada venturosamente esta em-
presa, fez elRey outra contra os Vas-
cons onde alcançou riquos despojos, en-
tre elles huma donzella nobre, e de san-
gue real, chamada Dona Munia, com
quem depois se casou.» Monarchia Lusi-
tana, liv. 7, cap. 8. — «Por certo, don-
zella, disse o imperador, sempre eu da
senhora Targiana cri essa virtude ; e se
os serviços que em minha casa lhe fize-
ram, foram poucos, ao menos cuidarei
que foram bem empregados. Este aviso
que me dà, lhe tenho muito em mercê,
que de tão real condição e sangue não
se pode esperar outra cousa ; seu conse-
lho tomarei eu, porque dado de tal pes-
soa e com tal vontade não se deve d'en-
geitar, e mais sendo tanto em meu pro-
veito e honra.» Francisco de Moraes,
Palmeirim d'Inglaterra, cap. 112. — «A.
disse o das Donzellas, que bem sei que
esse é vosso costume, e de tão real con-
dição não se pôde esperar ai. Então, to-
mando nas mãos uma lança, das que so-
bejaram da justa, abaixou a cabeça em
signal de cortesia, e fazendo também seu
acatamento á rainha, se despediu em
companhia de suas donzellas, que, ven-
do sua valentia, cada uma se perdia por
elle e elle por todas, que assim era seu
costume.» Ibidem, cap. 124.
— Canas reaes. — «E dia de Sam
loam ouue singulares e muyto ricas ca-
nas reaes, em que jugou el Rey, e o
Príncipe, e todolos senhores que na cor-
to estauão, e niuytos fidalgos que passa-
ram de duzentos de cauallo com riquíssi-
mos arreos, c atauios, todos vestidos de
brocados, e de ricas sedas, muytos bor-
lados, antretalhos, e canotilhos, com muy-
ta galantaria, e muy gentis inuenções.»
Garcia de Rezende, Cíironica de D. João
II, cap. 131.
— Insigiiias reaes.
Vendo este bellicoso ousado Mouro
Morto o uatiu-al Rei datjuella terra,
100
RKAL
UKAL
UEAL
Com ajuda (rulRuns, tointt o thoMOuro
QiKi clli' tinliii iilli junto paru a giinrra ;
O ijUiil Hiiria um couto c moio (rouro,
S<; a fama no qui; diz dinto uiln kitu,
IJttH iiutigiiias rcíjcit itti Hcrilioruia
K Rei da grilu ('anihaiu Hu iiomniu.
r. D'AtiDaAui:, puimkibo cebcodk dio, cant. 8,
C8t. 74.
— Forqna reaes ; força do rei, força
do estado. — «E que «a forçua Reaes
acodem a mil soccorros de úlem-mar, de
doudo estaõ outros tantos Portuf^juezcs,
eomo ha no Ileyuo pouco monos, pedin-
do eontlnuamonte auxílios, e <|U0 naõ lie
bem lhos neguemos.» Arte de furtar, ca-
pitulo G.'5,
— Segredos reaes; segredos d'estado.
■ — • «Mas eomo os segi^edos Reaes saõ
grandes, o seus intentos governados por
vias pouco vulgares na3 se pôde clara-
mente eondemnar sua tcnçaõ, posto que
lhe naõ approvomos a obra.» Frei Ber-
nardo de ]}rito. Elogios dos reis de Por-
tugal, continuados p >r D. José Barbosa.
—r Direitos reaes ; as rendas da co-
roa. — «E trabalha cada hum de buscar
ha vida, porque ho que ganha livremen-
te ho goza o gasta na sua vontade, e ho
que lho fica per morte hc dos filhos e
netos, pagando soomente direitos reais,
assi dos frutos que colhem como das fa-
zendas cm que tratam, que nam sam pe-
sados.» Frei Gaspar da Cruz, Tratado
das cousas da China, cap. 10. — «Mas
estes como seja gente popular, ainda que
ocupada n<is tratos da terra, parece que
nam devem bem saber ha verdade disto,
c que niayor deve ser ha suma que se
colhe dos direitos reaes, porque he ha
terra muy grossa, c as mercadorias mui-
tas e muito grossas.» Ibidem, cap. 11.
— «Primeiramente, que EUlev lhe daria
huma Yilla, c de presente lhe deo logo
o lugar da Pereira com todos os direitos
Reaes, que nolle tinha.» Severim do Fa-
ria, Noticias de Portugal, Disc. 2.
2.) REAL, (idj. 'J gcn. (Do latim rea-
lis, de res). Que tem existência verda-
deira, que tom ser, que niío é imaginá-
rio.
Pcço-vo9, pois que o paristes
Ucos o houieni natural,
Que a esta alma Heal
Deis o bom que descobristes
Etornal.
GIL VICENTE, OBBAS VABU6.
— «E quanto a dizer, qnc está de pos-
se, a sua mental, o civil, e a minha real,
actual, pessoal, c corporal ; e cm quanto
de mim a niio teve, a sua posse era ne-
nhuma, porque de mim a houvera de ha-
ver.» Diogo de (,'outo. Década 4, liv. 2,
cap. 10. — «Nos quaos todos em caual-
los, arnosos, paramentos, cimeiras, le-
tras, e lanças, moços dcsporas, e todalas
outras coiusas de justa, ouue tant;v rique-
za, galantaria, iuuenções, tudo em tanta
pcrfeiçilo, quo muyto» justadorcB velhos,
e de muytas partoN que ahy erilo, que
j;i viríio outras muytas justas reaes, ne
maraiiiliiar.^o muyto destas, e doziiUj que
nuuea tal cuidar.ío de v(!r.» liarcia de
liezende, Cbronica de 0. João II, cap.
12^. — «Se 08 vaticioioa que »c imagi-
utto certos tom tantos incoavonientes,
quantos devemos supor nos que silo fal-
sos podendo elles causar hum, e muytoi
dannos reaes, o venladevrosVii (lavalloi-
ro d'<)liveira. Cartas, liv. 1, n." 44. —
oE inda que ouue alguns Portugueses
quo quiseram dizer sem certeza que ou
Chinas aprendiam philosophia natural,
ha verdade he que nam ha nella outros
estudos nem escolas gerais nem paiticu-
lares, senam soo o^ estudos reais das
leys do reyno.» Frei Caspar da ("ruz.
Tratado das cousas da China, cap. 17.
'^.1 REAL, *. »i. iloeda d'ouro, prata
e cobre. O real d'ouro é dos principios
da monarchia, assim como a mealha de
ouro ; c dizem 80 lhe deu este nomo por
nelle se achar o real escudo das armas
portuguezas. O real de prata lavrou-o
el-rei D. Joiio i, sempre com o mesmo
preço, porém cada vez menor no peso.
Seus succcssores os continuaram até D.
Manoel, cm cujo tempo havia reaes de
prata com o valor de vinte reis, e outros
valiam trinta reis. El-rei D. João iii con-
tinuou os reaes de prata, mas com o va-
lor de quai-enta reis. Tinham os mesmos
cunhos que as suas moedas de quatro
vinténs, mudado scimente o 80 em 40.
Lavrou também esta moeda el-rei D.
Joào IV, e é o meio tostão que no pre-
sente corre. Na camará do Porto se con-
serva uma carta de el-rei D. Joào ll, so-
bre o valor das moedas d'ouro, e do prata,
que mandara la\Tar no anuo de 1489, e
pela qual manda que o real de prata
fosse de vinte reis, e o meio real de dez
reis. E que em cada marco de prata haja
114 peças dos ditos reaes, o 228 dos di-
tos meios reaes. E que fosse o preço do
marco de prata 1:280 reis, que é o preço
de seis cruzados. Também havia reaes
antes d'el-rei D. Affonso v, um dos quaes
fazia o valor de 3 livras e meia das an-
tigas, que sendo de 3G reis, valia o dito
real 126 reis. E deste real se faz ex-
pressa menção em uma carta de compra
do cabido do Ijamego pelos annos de
1404.
Dos reaes de cobre uns se chamaram
brancos, e outros pretos. Os primeiros fez
lavrar el-rei D. Duarte c D. Affonso v,
o se disseram brancos pela muita liga de
estanho. Os quo se bateram antes de 1440,
valiam dez ceitis, e três quartos do cei-
til ; os que se se lavraram até o anno de
1403, valiam um real e dous ceitis, c dous
quintos do ceitil; os que depois se la^^•a-
ram até o anno de 14l>2, valiam um real,
um ceitil, e um quinto do ceitil; e tinal-
mcnte os que se lavraram desde então,
valem seis ccitÍR, e este é o valor do prc-
borite real. Porém nos contractos de com-
pras, vcuda», obitoM, etc, os contratantes
se faziam uma lei ['articular sobre o valor
•Io real, e ansim como algumas vezes de-
claram, que o real valia 3;"» livras, dizem
outros, que o real constava de cinco cei-
tis.
O real preto, cUama<lo a«HÍm |jor »er
de puro cobre, ffz lavrar el-rei D. Duar-
te: dez d'estc» pretos faziam um real
branco. E d'aqui vem nos pra»os de Al-
macave, e outros, e já nos principioi» do
«eculo XVI SC fez larga mençito do real
de det pmlot. \'alia cada um jkjuco mais
de um Ceitil; porém os que se lavraram
no anno de 1473 valiam Bi'imentc in^
quintos do ceitil. Para evitar tanta con-
fusão, desde el-rei D. Joào ll até D. Joào
III se lavraram os reaes preto» de seis
C'-itis. Tinliam do uma parte um Jíe de-
baixo de uma coroa, e de outra o escu-
do do reino, com o nome do rei na orla.
D'esta moeda lavrou também meios reaes
el-rei D. Sebastião com valia de três cei-
tis; tinham de uma parte um <S' coroado,
que queria dizer Sebastiunus ; da outra
um ]i't entre dous pontos no alto, e a le-
tra Stbastianus I.'" — • E assy mandamos
quo seja quite o devedor, que offereceo,
e consinou, e dejKise o que devia da moí-
da antigua, ou nova, como dito he, a
quinze libras por huma, per estaa nosi^as
moedas, que se fezcrom dês primeiro dia
de Janeiro da Era de mil e quatrocentos
e trinta e seis annos, de real de três li-
bras e meia, nos casos d 'atToramentos,
emprazamentos, arrendamentos, censos,
e tributos, e outros direitos.» Ord. Af-
fons., liv. 4, tit. 1, § 12. — «Mandamos
que as penas, em que encorrerem, se pa-
guem pela moeda antigua, ou nova, que
so fez ataa primeiro dia de Janeiro da
Era de mil e quatrocentos e vinte e qua-
tro annos, ou a ([uinze libras por huma
desta moeda de real de três libras e meia,
com tanto que estas penas nom possam
crecer mais que o principal.» Idem. —
«E se forem penas postas por Foraacs,
ou Estatutos, por maleficios, e dapnos,
que se comettem, mandamos que pagnem
per moeda antigua, ou nova, como dito
he, ou cincoenta libras por huma desta
moeda de real de três libras c meia.*
Idem, ^ 13. — tPero se alguum deve-
dor dos contrautos snso ditos se obrigou
expressamente a p.agar moeda antiga, ou
seu vcnladeiro valor, em e^ste ca^o man-
damos que pague da moeda antigua, ou
nova, que foi feita ataa postumeiro dia
de Dezembro da Era de mil e quatro
centos e vinte e três annos, ou desta
moeda de real de três libras e meia, oi-
tenta libras por huma, qual o devedor
mais quiser.» Idem. ij IS. — «Em todos
os contrautos. que forom feitos des pri-
meiro de Janeiro Era de quatrocentos e
trinta e seis annos, ataa a feitura desta
REAL
REAL
REAL
101
Ley, pagTiem liuma libra por outra des-
tes reaes de três libras e^meia, sem fa-
zendo differeuça da dita moeda, nem da
bondade delia.» Idem, § 21. — «Item.
Por qualquer cousa, que pag^avam cor-
rendo os reaes de três libras e meia, an-
te que se começasse de lavrar a moeda
de dez reaes huma libra, paguem da-
qui em diaijte cinquo "libras.» Idem, §
30. — «Em que se obriguarora por estas
mediçoões a pagar certos dinheiros, ou
ouro, ou prata pelas moedas, que cor-
riam nos tempos passados ataa primeiro
dia de Janeiro da Era de mil e quatro-
centos cincoenta e três annos, em que
se começou a lavrar a moeda de dez
reaes, mandamos, que aquello, por que
se pagava, correndo a moeda de reaes
de três libras.» Idem, § 34. — «E antes
desta Hordecaçom soiam de pagar, e pa-
gavam per reaes de três libras e meia
huma livra, paguem per esta moeda, que
ora corre de dez reaes o real, três libras
e meia por huma, e assy do mais, e do
menos.» Idem, § 48. — altem. Manda-
mos que as penas, que se per a Horde-
naçom pagavam cento e cincoenta por
huma, se paguem per esta guisa, a sa-
ber, 08 que eram per moeda antigua, pa-
guem quinhentas por huma, e os que
som per moeda de três libras e meia, pa-
guem real branco por real de três li-
bras e meia.» Idem, § Õ6. — «E segun-
do as pessoas hv moradores, e despesa
suso dita, a nós parece, que os vinte
reaes, que a cada huma pessoa manda-
vees pagar, era em tamanha miútiplica-
çom, que bem se mostra esses que pa-
gavaò serem aggravado?.» Idem, § 20.
— «Cóge Atar como soube que os nos-
sos andauào de dous em dous pela cida-
de comprando estas cousas, mandou cin-
co ou seis homens com 'algumas linguoas
com xarafijs de ouro, que he huma moe-
da que vai trezentos reaes dos nossos.»
Barros, Década 2, liv. 2, cap.4. — «Item.
Que por sua alma, logo quomo falecesse,
mandasse dizer três mil Missas, pêra que
deixou três reaes de prata de lei de onze
dinheiros, de que cento, e dezasete fa-
zem hum marco, hos quaes reaes sam
hos vinténs de prata, que agora correm
restes Regnos, que vai cada hum, vinte
reaes, de seis ceptís de cobre, sem liga,
cada real, a que chamam reaes brancos. »
Damião de Góes, Chronica de D. Ma-
noel, part. 1, cap. 1. — «Mandou forjar
de nouo os tostões, que saõ os quartos
dos Pertugueses de prata com a mesma
diuisa, escudo, letreiro dos Portugueses
douro, de que cada tostam vale cinco
vinténs e cada vintam vinte reaes bran-
cos.» Ibidem, part. 4, cap. 86. — «Tem-
se isto por prodígio grande, e por mavor
se deve ter, que aturem os soldados me-
zes, e mezes, sem receberem hum real
de soldo, para se vestirem, e manterem.»
^rte de furtar, cap. 22.
— Real e vieio; moeda d'el-rei D. Se-
bastião : valia nove ceitis.
— O mesmo que exercito, ou arraial,
em que está o rei, ou o general, ou a
bandeira, e estandarte real. ■
— O mesmo que reis.
— Real d' agua; tributo dum real que
se tira na carne, vinho, etc., para os ea-
aos, fontes, e seu reparo.
— Termo usado nos brados da accla-
maçjvo dos reis. — Real, real, por D. Ma-
ria II, rainha de Portugal.
— Adágios e provérbios:
— O avarento por um real, perdeu
cento.
— O escaco do real fez ceitil ; e o li-
beral de um ceitil faz real.
REALÇADO, part. pass. de Realçar.
Relevado, que sobresahe.
— Levantado, superior.
— Emprega-se também no sentido íi-
gurado.
— ^ Termo de botânica. ^ id. Remon-
tante.
REALÇAR, r. a. Avivar a cor da pin-
tura, tornaudo-a mais clara, como acon.-
tece nas partes onde dá a luz, em oppo-
siçào a af.^ombrar ou a escui-ecer,
— Figuradamente : Dar mais realce,
maior apreço ; elevar a mais alto grau.
Pomposas vestes ao3 Monarcas teces ;
Realças com tcug dous a formosura ;
De imperceptível fio o alcaçar fúrmas.
J. A. DE MACEDO, MEDITAçlo, Cant. 3.
— Bordar de 1'ealce.
— Realçar-se, r, refl. Sobresahir.
REALCE, ou REALÇO, s. m. Termo de
pintiua. A parte mais avivada, onde fere
mais a luz, e se tem feito o lavor de real-
çar.
— Bordar de realce ; ftcar o bordado
resaltado sobre o panno, ou campo em
que se borda.
— Figuradamente : Luzimeuto, lustre.
Do mais realce á luz, á Formosura,
Qu'cm suas Leis imiolaveis mostra.
Mas este fogo elementar, qu'hc sempre
Na sua essência incógnito aos humanos.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Cant. 2.
Appcllidaes... que dizes! — Toda a pompa
Triumphal de Koma, todo o brilho antigo
De sua gloria, ao senado nunca deram
Tam solemne realce e majestade
Quanto a presença de Catão.
GARRETT, CATÃO, aCt. 1, 8C. Õ.
— A cor com que o pintor faz sobre-
sahir os escuros do painel.
REALEGRAR, v. a. Tomar a alegrar.
— Realegrar-se, i-. re/. Tomar a ale-
gra r-se.
REALEJO, s. m. Orgao musico manual
e pequeno, que se faz soar dando a uma
manivella ; tem cylindro de pau, cujoa
cravinhos levantam a tapadoura dos ca-
nudos para sahir o som que o folie ins-
pira.
REALENGAMENTE, adv. iDe realengo,
com o suffixo (1 mente»}. Como rei, com
grandeza real.
REALENGO, A, adj. Real, com genero-
sidade de rei, e espiritos reaes.
— Do rei, do soberano.
— Vid. Reguengo.
• — Terra realenga; reguenga, que os
reis tem para mantença do seu estado
real, e são as adquiridas para a coroa até
o reinado de D. Pedro i.
— Devasso, em opposição a vedado, de-
feso, coutado, cercada.
— Adagio:
— Em lugar realengo faze teu assento,
e em terra de senhorio não faças teu ni-
nho.
REALETE, s. m. Tributo de um real
que se paga de cada canada de vinho.
REALEZA, s. /. Grandeza, ostentação
digna ou própria de rei.
— O estado, e ser real, de rei, sobe-
rano.
— Dito ou feito de grande bondade,
digna e privativa do rei.
REALIDADE, s. f. Do latim realitas).
Excellencia real, caracter real, cousa real.
— « Duvidar da realidade do systema se-
ria um scepticismo escandaloso ou uma
loucura rematada. D. Cypriana, era, po-
rém, pessoa sisuda e que sabia como ha-
■^-ia de pensar : por isso a mudança do al-
madraque e da poln-ona foi, em nosso
entender, de uma finura admirável.»
Alexandre Herculano, Monge de Cis-
ter, cap. 21.
— A realidade do corpo de Jesus Chris-
to lia Eucharistia ; a presença real.
— Realeza, opulência, grandeza e vir-
tudes convenientes ao rei.- — -«Pelo qual,
vistas e consideradas bem todas estas cou-
sas, naõ torcendo por nenhuns respeitos
humanos cousa alguma do que direyta-
mente se deve julgar, conforme á deter-
minação das leys aceitada pelos doze
Chàes do governo no quinto livro da von-
tade do filho do Sul, que neste caso pela
sua grandeza e realidade se inclina mais
ao clamor dos pobres que ao bramido dos
inchados da terra, mando que estes nove
estrangeyros sejaõ assoltos de tudo o que
contra elles requereo o Continào Prome-
tor da justiça.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 103. — «Mas á me-
nham Deos querendo, eu lhe farev lem-
brança de vós, de vossa pobreza, e da
orfindade de vossos filhinhos, como por
algumas vezes me tendes dito, porque
quiçá se moverá a pôr os olhos em vós,
como por sua realidade e grandeza cus-
tuma a fazer em casos semelhantes a este
vosso.» Ibidem, cap. 125. — « Peço- vos
por mercê, pois nesta batalha, que foi a
primeira, que ante vós fiz, quizestes usar
da realidade e grandeza de vosso sangue
102
REAL
em «er sc^tinulorii do cum]»), qiio (ríU|iii
por diaiit(3 me tenliíif-rf por vomho, ijcra v(h
Bcrvinles (1«; mim; porqui; já o.s 4110 hou-
biinMii í|uc. o H<»u, tr;itiir-ni(i-lií1i) coiin) V(n-
Ho.» Francisco lU- .MoriM--.-", Palmeirim de
Inglaterra, cap. HO. «O v.-lho ho iuii-
çoii 110 cliito, (pi<M-(iiulti-llic boijar 08 pÚH
por tamaiiliii morcò, dizunJo: l'or corto
a fama do vo.í»a bonevoloricia c realida-
de nito é errada; antes aj^ora acabo dn
crer que tudo, o cpio de vossa virtude se
diz, é menos do que 8e devo di/.or.» Ibi-
dem, cap. 11!?.
-Qualidade do que é real, e verda-
deiro, e nilo imaginário.
Loc. ADV, : Na realidade ; realmen-
te, na verdade. — Feliz na (ippnrencia,
não o é na realidade. — « Díro que saò
Buaves as razoons que díío, porqui naõ
ha couza mais suave, que recolher dinhei-
ro; o digo quo silo sofisticas, porque as
yestein (lo apparencias do zelo do bem
commum, o na realidade saõ cutelos, (pic
degolào as Republicas.» Arte de furtar,
ca|). íM.
REALISMO, s. m. Termo de philosophia
escolástica. Systema, seita dos realistas.
Doutrina que siippòe que nós conhecemos
o. mundo exterior como uma realidade
objectiva, era opposiçílo á doutrina de
Berkeley.
— Neologismo. LigaçSo á reproducção
da natureza sem ideal. — O realismo na
jiotsia, iKi pintura.
REALISSIMO, A, aiJj. Superlativo de
Real.
REALISTA, s. m. Termo de philosophia.
Philosopho que considera as idêas abstra-
ctas como entes reaes.
— Termo de litteratura e de bellas-
artes. Partidário do realismo. — Os rea-
listas.
— Adjectivamonte: A ihmtrina rea-
lista. — Kscóla realista. — Pintor realis-
ta.
REALIZAÇÃO, ou REALISAÇÃO, s. /. (De
realizar, com o suffixo «ação»). Acto de
realizar. — A realização '/«' jn-omessas.
REALIZADO, ouREALISADO, pnrt.pnss.
de Realisar. Tornado real.
REALIZAR, ou REALISAR, v. a. Tornar
j.,,al. — a Eram mostre Alberte e .loiío
Pires, que faziam estas imagináveis otVer-
tas de intervenção. O grupo judaico deu
meia volta, como se todos se houvessem
combinado n'um movimento si'>. O aspe-
cto athletieo dos dous alliados indicava
que a otTerta não lhe custaria a realisar.
As for<;as equilibravam-se.» Alexandre
Herculano, Monge de Cister, cap. 18.
— Termo de plíilosophia. Considerar
como reaes os seres abstractos.
— Realizar-se, f. reji. Cumprir-se, exe-
cutar-se, pôr-se em effectividade.
Syn.: Realizar, effectuar, executar.
Realizar é tornar real e effeetiva uma
cousa que, segundo as apparoneias, de-
vemos esperar que assim seja. Dizemos:
REAP
A vida nilo dura baatautc para realizar
a» grandes esperanças.
Ji[f'i:ctuar iiidicii mais solidez que appa-
rencia. C^uaudo se r.JJKctua o promettido,
acliamiM que era sincera e verdadeira a
palavra de (piem promcttia.
Kxecular suppòc um projecto, um pla-
no anteriormente formado ; assim (jue txt-
cutar representa a ac^ào determiuadumen-
to com relayào a outra ac(,'rio anterior, á
resolu<;ão, á ordem, á idéa que precedeu
a execu<;i\o.
Reaiizam-se as esperanças com as ap-
parencias. Ejjecluam-ne as obriga(;5es for-
maes, com cujo cumprimento devemos
contar. Executa-ae um projecto, a seu-
ten(;a, a determinação.
— Sv.v.: Realizar, verificar.
Realizar í tcjrnar etfectiva uma cousa,
ii dar realidade áquillo que d'antes nào
tinha existência real.
Verificar é mostrar que a cousa 6 ver-
dadeira, examinando-a em si e suas rela-
ções.
Tudo que pertence ao futuro, ou exis-
te em projecto quando chega a ter exis-
tência, realiza-se. Tudo o que se conta,
allega-se ou annuucia-se como existindo,
e se se aclia ser verdadeiro, verifica-se.
Diz-se que uma prophecia realiza-se
com relação a ser predicta tempo antes, e
que se verifica por se haver cumprido co-
mo o propheta o havia predicto.
REALIZÁVEL, aJj. 2 gen. Que ti susce-
ptivel de se realizar. — Fortuna facil-
nu:nti_- realizável.
REALMENTE, adv. [De real, com o suf-
fixo «mente»). Etfeetivamente, verdadei-
ramente, na realidade. — « Dizia mais por
lhes aliuiar a grande pena, com que real-
mente tlcauam, que elle hia a espiar a
terra de lapam, e que pêra isso os me-
nos bastauam : mas que abrindo hl Deos
as portas a sua sautissima fé, como se es-
peraua, todos se fizessem prestes, pêra o
ir ajudar quando os chamasse. 1 Lucena,
Vida de S. Francisco Xavier, liv. G, cap.
12. — «Este he o principal, e mais exce-
lente de todos 03 Sacramentos : porque nos
outros esta somente a virtude de nosso
Senhor Jesus Christo, mas neste ii3o sai-
mento a virtude mas elle mesmo realmen-
te, e substancialmente, Dous e homem
verdadeiro, fonte de todas as graças, e
bens.» Fr. liartholomeu dos lilartyres,
Catecismo da doutrina christã.
— Com grandeza e ostentação de rei,
com modo de rei.
REAME, s. in. Termo antiquado. Reino,
governo do reino.
REANIMADO, part. 2>c^^- ^^ Reani-
mar.
REANIMADOR, A, adj. e s. Quo reani-
ma. — Knjnrit') reanimador.
REANIMAR, v. a. Animar de novo.
— Reanimar-se, v. refi. Tornar a ani-
mar-se. receber animo.
f REAPPARIÇÃO, 5. /. Acto de appa-
RElíA
recer de novo. — A reapparíção de sipn-
pt<jnitu> aiêustadores .
— Em UHtronomia. Vista de um astro
(jue t<trria a appan-cer.
f REAPPARECER, v. u. Apparecer de
novo.
REAQUISTAR, v. a. (De re, «• aquis-
tar . 'r'>n..tr a ailquirir.
REASSUMIDO, part. pa»*. de Reasstunir.
Recobradii, r<ci-l>ido novamente á p<j»Be.
REASSUMIR, 1-. a. iDo latim re^istu-
vierfi. Tomar de novo, tornar a tumar
alguma cousa ; tornar a exercer funcçâu,
ou direito <|U>- se tinha largado.
REASSUMPÇÃO, n. f. Acto do reassu-
mir.
REASSUMPTO, part. yam. de Reassu-
mir. \'id. Reassumido.
REATA, .s. /. Vid. Arreata.
— 1'lur.: Voltíis do cabo forte, cora
que se ri.'atam peça» em torno.
REATADO, part. pass. de Reatar.
— Emprega-se também no sentido fi-
gurado.
REATADURAS, s. f. pi. VolUs de rea-
ta. Vid. Reata.
REATAR, r. a. Tomar a atar, atar
bem, atar de novo.
— Dar reatas ao mastro, aspaa rendi-
das.
REATE. Vid. Arreate.
REATO, s. m. (Do latim reatus). O es-
tado d'aquelle que foi accusado em juizo,
e anda era livramento, ou dizendo de sua
justiça ; o que jaz em culpa obrigado á
pena ou .«atisfação.
REAVISADO, part. pass. de Reavisar.
Resabido, mais que avisado.
REAVISAR, V. a. Tornar a avisar, fa-
zer scieute, s.ibido á força do ensino, avi-
sos repetidos e documentos.
REBADILHA. Vid. Rabadilha.
REBAIXAMENT*0, s. ni. O acto de re-
baixar.
— < ) Citado da cousa rebaixada.
REBAIXAR, r. a. Tomar mais baixo,
cavando, abatendo.
— Rebaixar-se, v. refi. Abater-6e.
— V. ti. Vilipcndiar-se, abater-sc,
REBAIXO. Vi 1. Rebaxo.
REBALDE. Vid. Arrebalde.
REBALDIO, wlj.—Figo rebaldio; es-
pécie de figo de figueira brava, ou figos
amansados que os marotos comem, e ven-
dem-se pisados era grandes cestos, e nSo
inteiros em cabazes limpos,
REBALSADO, particip. pass. de Rebal-
sar-se.
— ^<7iirt, charco rebalsado; agua, char-
co de agua parada sem movimento em lo-
gar balseiro, sujo de folhas cahidiçaí,
ou de hervagera podre de paiiea.
— Emprega-se também no sentido fi-
gtirado,
REBALSAR-SE, t-, refi. Parar a agua
que corria, ficar estagnada, fazendo bal-
sa ou balsein.»,
— Emprega-se também figuradamente,
REBA
REBANADA, s. /. Vid. Rabanada.
REBANHADO, part. pass. de Rebanhar.
REBANHAR, '•. a. Vil. Arrebanhar.
" REBANHIO, A, aãj. Que anda em re-
banho.
REBANHO, s. m. Multidão de gado.
Porem hoje que o dercjo
Xào acba quem lhe resista,
Pois que te perdeu de vista
Sente o mal em que me vejo :
Deixa, deixa o pasto estranho,
Torna ao teu natural ;
Se não te obriga meu mal,
Lembre-te o do teu rebanho..
F. BODEIGCES LOBO, PBIMA\'EKAS.
— «O mesmo se vè na Estremadura de
Castella, cujas terras naõ sei-vindo mais,
que de pastos aos rebanhos de Pastores,
que là chamaò de la Mesta, daõ grossís-
simas rendas aos senhores daquelles lu-
gares.» Manoel Severim de Faria, Noti-
cias de Portugal, liv. 1, cap. 5.
Mas por ora deixemos estas cousas.
Que O mundo corrigir a nós naõ toca.
Este icomo dizia í foi Troyano,
E nos Campos que o Phrygio Xantho corta.
Guardando em doce paz o seu rebanho,
Eleito foi Juiz do grande pleito.
A. D. DA CECZ, HTSSOPE, Cant. 5.
— - (iN'e33e paiz nào encontrei outros
homens senão alguns guardadores tam
agrestes como o mesmo terreno. Consu-
mia as noites carpindo minha desventu-
ra, e 03 dias guardando um rabanho, pa-
ra assim me salvar do brutal furor do
escravo maioral, que esperando obter a
liberdade, malquistava todos os mais com
seu senhor, para por este modo fazer
alarde de seu zelo e desvelo : chama-
vam-lhe Butis.» Telemaco, traducçào de
Manoel de Sousa, e Francisco Manoel do
Nascimento, liv. 2.
De lá, não deslumbrada, o campo espia,
Cabe no disperso, e timido rebanho.
Do Pastor assustado á vista, empolga
Aduncas prezas no cordeiro imbelle ;
Leva pendente o corpo atassalhado.
Mimoso pasto de cruentos filhos.
J. A. DE 5IACED0, MEDITAÇÃO, Caut. -3.
Co' a orelha fita, os olhos vigilantes
Põe no férreo arcabuz estrepitoso.
Sente no ar zunindo a plúmbea péla,
E já torna veloz co' a preza ovante.
He do pastor defensa, e do rebanho
Com latido feroz, com lizo dente
Ou atfugenta, ou despedaça o Lobo.
Imagem viva dos rebanhos nossos,
Que pelo prado heri"oso alegres pascem.
Só nào vejo Protheo, Glauco cerúleo.
Qual agradável Fabula nos pinta,
Qu' ao som do rouco búzio o gado ajunte.
IDEM, A SATCBEZA, Caut. .3.
Inda da cxtausa America opulenta
Não apartes a vista, attenta observa
Sahir do seio das profundas agoas
REBA
Pacifico rebanho, ao longe os mares
Co" 03 duros ecoos dos mugidos soão.
— Figuradamente : Vil rebanho dos
mais vis escravos.
Esse senado
E' ríl rebanho dos mais vis escravos :
Nem ás margens do Tibre existe Roma.
Eu e os que ves, nós somos o senado :
E em nossos corações é que está Roma.
GAKBETT, catão, act. 2, sc. 5.
REBANQUIO, arlj. m. — Figo reban-
quio. Vid. Ribranquio.
REBÃO, s. m. Piloto com experiência
bastante para metter e tirar os navios no
estreito do mar Roxo.
REBAPTIZADO, part. pass. de Reba-
ptizar. Vid. Rebatizado.
REBAPTIZAR, r. a. Vid. Rebatizar.
REBARBA, «. /. A peça do engaste,
que se dobra sobre a pedra para a pren-
der n'ella.
REBATADO, part. pass. de Rebatar.
REBATADOR. Vid. Arrebatador.
REBATAMENTO, «. m. Enlevação, ex-
tasis.
REBATAR, r. a. Vid. Arrebatar.
REBATE, s. m. Ataque, assalto, ac-
commettimento súbito, e inesperado, in-
cursão. — Os inimigos esperavam algum
rebate.
Ao rebate improuiso acode a turba
Traspassada de hum vil, e torpe medo
Alção clamor horribel nào com ^^uo
Espirito, mas mortal, e afadigado.
Despois que mais em si tomào e a fúria
Aos membros concedeo vigor e forças,
Voltào ao esquadrão, e os grossos arcos
Curuados as mortaes frechas despedem.
COBTE real, naufrágio DE SEPÚLVEDA,
cant. 12.
— «Mas elle nào contente com esta
vez, mandava daquella gente que tinha
per esses duções de Quelijs, com que fa-
zia grão damno," e assi naquella parte da
Cidade, dando de súbito alguns rebates,
de que os Malaios andavam assombrados,
por temerem muito a estes Jáos como a
gente desesperada que nào temem mor-
rer com tanto que satisfação sua vingan-
ça.» João de Barros, Década 2, liv. 6,
cap. 7. — «O qual, ainda que antes de
alojado não deyxára de inquietar aos nos-
sos com alguns rebates, depois de o es-
tar eram continues os assaltos que dava,
escolhendo de ordinário noytes escuras,
e de tempestades, para que menos dano
lhe tízessem as balas das escopetas, e al-
cansias de pólvora, único remédio dos
Portuguezes no Oriente.» Conquista do
Pegú, cap. 6.
— Noticia. — «Succedeo isto no anno
de vinte e cinco atrás passado. O Bador,
como eramáo, cruel, e fraco, (cousas que
andam sempre juntas fraqueza a crueza),
começou a matar todos os Capitães [que
REBA
103
favoreceram o irmão, e o quiz fazer a
outro só que lhe ficava, que era o menor
de todos, que por ser avisado, se acolheo
em trajos mudados, e se foi por essa ter-
ra dentro, e dahi a alguns annos por via
do Cinde foi ter a Ormuz, sendo Capitão
daquella fortaleza António da Silveira,
que teve rebate delle, e o tomou, e em-
barcou pêra Goa, e o mandou ao Gover-
nador Nuno da Cunha, como na quinta
Década diremos.» Diogo de Couto, Dé-
cada 4, liv. 1, cap. 7. — »0 Sangue de
Patê Capitão dos Jáos teve logo rebate
daquelle negocio pelos que escaparão fu-
gindo, e sahindo das estancias com dous
mil homens, deu nos nossos que tinhão
jà a peça da artelharia no lugar em que
hoje está a Alfandega, e com aquella fú-
ria começarão os soldados de D. Garcia
a se desmandar, e recolher pêra a pon-
te.» Idem, Década G, liv. 9, cap. 7. —
a Os Japoens vendo aquelle novo modo
de tiros que nunca até então tinhão vis-
to, derão rebate disso ao Nautaquim que
neste tempo estava vendo correr huna
cavallos que lhe tinhão trazido de fora,
o qual espantado desta novidade, man-
dou logo chamar o Zeimoto ao paul onde
andava caçando.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 134.
— Diminuição, desconto.
— Rebate falso; o que se toca antes
de vir o inimigo, para ver se todos aco-
dem com diligencia e boa ordem aos
pontos.
— Rixa, briga súbita e inesperada.
— Ataque, ou ameaça. — «E por ser
por este caso sentido, e os mouros que
íbgiram terem dado rebate aos Aduare^,
se tornou pêra Azamor, e logo aos xxviii
deste mes foi sobre huns Aduares que
estauam pela Enxouuia treze legoas, mas
antes de la chegar achou hiuna grossa
companhia de mouros de cauallo sobre
hum coual a três legoas dos aduares a
que hia.n Damião de Góes, Chronica de
D. Manoel, part. 4, cap. 39. — «Deu o
Padre rebate ao Rey da Cidade, pedin-
dolhe nos quisesse festejar, e vir rece-
ber tãto que chegássemos.» Frei Gaspar
de S. Bernardino, Itinerário da índia,
cap. 6.
— Tomar rebate ; ter sentimento, no-
ticia, susto com rebate de inimigos.
— No jogo da pella, c a que já deu
na parede.
Aquilo, Noto, e Euro com braucza
Contra a misera nao. todos se esforçào
Das espantosas ondas leuemcnte
Aqui, e alli a deitào, e afadigão.
Como acontece a vsados jugadores
Que na peLla se querem mostrar dcatros,
Huns rebate, ou boléo, com rcues, outros,
litros com duros punhos a combatem.
COETE BEAL, NAUFRÁGIO DE SEPÚLVEDA, CaUt. 7.
— O que se subtrahe do preço das
cousas, que 'por uso se vendem com es-
104
REBA
RKHK
REÍIE
pcra, riuandd o comprailnr ;i.s [lap/i á vis-
ta, a ílinhoiro corriílo.
— íSipnal com sino, caixa, (irrito a ap-
pollido fia viniia, ou irriip^-ilo, ou sultito
ataquo <lo iiiiiiii^o. — Tucar et rebate.
— Ropiírciisrt.^o, rcflfXJlo ilo corpo elás-
tico da'l<) (Mil outrii.
— Repiil.Hflo. — Rebate '/o vittr.
— FifíurailaiiKiiitd : Susto.
— Loc. ADV. : /)(? rebate ; do «ubito,
do sobrosalto.
— - Torino antiquado. Poya de cortina-
do do cama, (|uc parece kít sanefa, ou
aiparavMz.
REBATEDOR, *. m. 1 l(inic>in quo reba-
to letras, ordens a pa;.,''ar, billiotes oxi-
pivcis, tenças a cobrar, adiantando o di-
nheiro ou valor ao dono des.so.s titulos,
e lucrando d'elli's um preço, ou premio
convencional peia demora, e risco do niio
pagamento do dovinlor exifrivel ao termo
do vencimento, e dia da solução.
REBATENTE, pnrf. act. de Rebater.
— Substantivamente : Termo de me-
dicina. E.icel/ente rebatente em as stijfo-
REBATER, v. a. Abater, derribar,
— Tornar a bater, calcar, pizar.
— Rebater razões ; refutar.
— Rebater letras, escriptos de paga ;
dal-os por menos de seu valor a quem os
paga ao dono da letra, etc. Vid. Rebate.
— Rebater fwça coou força; rechayar,
repoUir, resistir.
— Rebater as frechas; repellil-as. —
II Porque nSo semente a vela impedia o Sol,
mas ainda como a viraçílo quando corria
viuha cnriada pelo rio, fazia duas obras,
refrescar a frente com o movimento, e
abanar da vela, e mais rebatia as fre-
chas, que n.ao viessem ferir a gente.»
Barros, Década 2, liv. 6, cap. 5.
— Rebater alguma accusação, crime
para outrerti; repellil-o de si e imputal-o
a outro.
— Rebater encantos, feitiços, as qua-
lidades malignas, a peste ; fazer que não
entrem.
— Rebater ot golpes ; aparal-os de ma-
neira que nSo alcance o corpo, desvian-
do a espada contraria.
Annão-so todos do duroza, r, bu8cào
Seus goli>oa rebater, mas crcâco, o brame
A voz do fero assalto, c triunfante
Doixa nogi'os carvões, ou cinza, ou rtada.
J. A. DE MACEDO, A MATUBEZA , Caut. 2.
— Rebater-se, r. ri'fl. Recuar, retro-
gradar conu) ropcllido.
REBATIDO, part. pass. de Rebater.
Repellido, rochaçndo.
— Corfczia rebatida ; eortczia mui bai-
xa e profunda.
— Rebatidas as despezas. ■ — «Que lhes
fazia mercê dos quintos de todo o que
trouxessem nesta primeira armada reba-
tidas as df-ipivan. d DamiSo d(3 Ooch, Chro-
nica de D. Manoel, part. 4, cai». 37.
— Repercutido.
— Calcado a j)il.lo.
— Com a borda dobrada sobre outra
pe(;a.
Eujprc;ía-sc tambom no sentido fi-
REBATIMENTO, ». j/i. Vid. Rebate.
REBATINHA, s. f.— Deitar dhifw.iro
li rebatinha ; deitar diidieiro a ;;cnte jun-
ta para iicar de quem o ap.anliar.
— Vender-se áx rebatinhas ; vcnder-se
em concurso de muitos compradores, que
disputavam sobro quem havia do com-
prar primeiro, mais ;i mim, mais a mini.
Pac rico vão ás inâos a ollo,
são rehat l iilia» a ollo
como tramoi,o« em võda.
Kstas tfi\o HRora as d'(^lle,
depois serei filho d'Kva ;
vou pela hospeda, irei IA.
ANTÓNIO PRESTES, AUTO», pftg. 27.^.
REBATIZAÇÃO, s. /. Ac^ào de rebati-
zar. — .1 disputa da rebatização />rinci-
l"'í'
ido de tíaiitij Kstevão.
REBATIZADO, part. pass. de Rebati-
zar.
REBATIZAR, v. a. (Do latim rehapti-
zare). Baptizar de novo, tornar a })apti-
zar.
— Lavar as culpas depois do baptismo.
REBATO, s. »>i. O mais baixo, a so-
leira.
Rebato ; assalto súbito e inesperado,
REBAXO, ou REBAIXO, s. m. Abertu-
ra, janella posta em baixo para a agua
da chuva sabir para fiíra, onde ha muro
(pie possa impedil-a.
REBEBER, v. a. Tornar a beber, be-
ber de novo.
REBECA, *•. /. Instrumento de musi-
ca. Vid. Rabeca.
— EnxerírSo de palha, calha de gente
vulgar e pobre.
— Termo de marinlia. Vela que enfia
no estai d'este nome, o qual vai por ci-
ma da mezena a coser por ante a ré do
calcez do mastro respectivo ; a amura
cose no sapatilho da alça, por onde en-
fia o esfcn da mezena, ou em um sapati-
lho aguentado em alça própria cosida ao
mastro fjraude, caça na amurada do so-
tavento.
REBEÇAR, 1-. a. Vid. Vomitar, ou Re-
vessar, (pie 6 o termo mais correcto.
REBEIJAR, 1-. a. Tornar a beijar, bei-
jar de novo.
REBEL. Vid. Revel, e Rebelde.
REBELÃO. Vid. Rebelião.
REBELAR. Vid. Rebellar. — «E que-
brantados cõ tantos males, fiearito al-
guns Judeus vivendo na terra sojjeitos
ao cativeiro Romano, ate o tempo de
Adriano, que tomarito a rebelar, o ven-
cidos novamente se execiitJirSo nelles
mortos o desterrei eruei".» Monarchia
Lusitana, liv. 5, cap. 14.
REBELDE, adj. 2 gen. Do latim re-
heUini. Que faz ou entrou em robelliSo.
Não fwii. Ku 110 tropel imbaralhado
De tropas fugitiva», d'- rrhelilrji.
Dl- eoiiibatentes, inortOM.di) fi-rídiM,
N.iiln vi, nada sei. So m-i i|u<! o forro
S(ihi'jott iiiiiiiiiloii H liberdadr :
So vi, pura Oii ferir, |>eit<js c<jVard<M.
uABuKri, CATÃO, act. 4, RC. 3.
— Que nSo obedece, nem codo.
Porque das rpieixas no maior estrago,
Sc alguma inaiii rrhrJilr mo amotina,
Vou-me. deitar, tomo huma ajuda i: cago.
ABRAIIK DE JAZENTK ■■..'•-".< tom . 2, pBg. l"!
(cdic;. 1787).
Nas mãos do Lavrador, reWdr a terra
Sem fogo o fructo ni'ga, e j-i não vente
C) verde manto que tapizio floro*.
J. A. DE MACEDO, A HATUBEZA, (»nt. 2.
— Substantivamente: Um rebelde.
— S\'>-. : Rebelde, insurgenie. Vid. es-
te termo.
REBELDIA, «. /. A culpa do rebelde,
— Termo de direito maritimo. Vid.
Barataria.
— Rebeldia de fazer camará ; dureza
do ventre, ([ue impede a sahida das ma-
térias excrementicias de maior volume.
— Fiícuradamente : Renitência.
■}■ REBELIÃO, s. f. Vid. RebelUâo. —
«Mas porem ci~>sola clle a si nie-smo, e a
todos o.! valentes caualeiros Chri tâos, di-
zenib), que nani temam ser c3<lenado3 por
estas rebeliões, e màs inclinações, que
em sua carne sintem, so nam ci5sintem
nellas : antes cofiem, que quanto a guer-
ra for mais braua. tanto a victoria será
difrna de mayor coroa.» Frei Bartholo-
in -u dos Martyres, Catecismo da doutri-
na christâ.
REBELIM. Vid. Revelim. — «Nelle ha
coreiíta, e oyto baluartes, todos muy for-
tes, com suas torres, ameas, rebelins,
couraças, estribi»*, e pontões : sobre os
muros vigi.ào toda a noyte corenta, e
quatro homens de guarda, que nos três
quarti.>s fazem cento e trinta e dous ho-
niens, estes est.ào toda a noite responden-
do, huus aos outros, com tam grande»
gritos, e alaridos, que parece estarem de
eontino peleyjando com os inimifros.» Fr.
Oaspar de S. Bernardino, Itinerário da
índia, eap. K>.
I REBELLADO, part. pass. de Rebel-
lar.
Ouvio a Kuria o rehtltndn grito :
Sentada estava do ("ocyto horrendo
Na margem nogrsí, (M^niiittindo As ci^braa
I Da espcíisa grenha funeral toucado ! I
Que hum pouco lambão as sulfun^as ondas :
Ou\-iu, e erguendo a frente a» serpes silvão.
1. A. DE MACEDO, MEDIT.VÇÂú, Caut. 2.
REBE
REBE
REBI
105
— «No temjDO que estine em Babylo-
nia, estaua o Baxà rebellado contra o
Turco, o que sabido do grào senhor,
mandou sobre elle três mil lanças de ca-
ualo ; mas porque sua vinda nào foy tào
secreta, que a noua delia nã chegasse
primeiro, que o nouo Baxà.» Fr. Gaspar
de S. Bernardino, Itinerário da índia,
cap. 19. — «Tem muytos teares de seda,
damasco, brocado, e telilhas. Quãdo aqui
chegamos, nos contarão os Frades, que
auia pouco tempo, que o Baxà dera em
Damasco, e se fizera chamar Rey dam-
bas as Cidades, a pezar do Grào Tiu'co,
contra quem estaua rebellado, como o de
Babvlonia.» Ibidem, cap. 22.
RÉBELLADOR, A, s. iDo latim rebella-
tor). Bes.íoa que excita á rebelliào.
REBELIÃO, ONA, ou ÔA, adj. Que
não obedece á rédea, e recua quando o
esporêam, fallando das cavalgaduras.
— Homem rebelião ; homem que não
obedece á razão; homem pertinaz que faz
o contrario do que deve por teimosia.
Vid. Revelão, e Revelôa.
REBELLAR, r. a. (Do latim rebellare).
Tornar rebelde, excitar á rebelliào . —
Rebellar os vassallos.
— V. n. Tornar-se rebelde, ser rebel-
de. — «Pelo que determinou de se vingar
delles, pêra o que se lhe oflereceo logo
boa occasiam de dons Garabis da mesma
companhia que lhe prometerão de matar
hum alcaide dei Rei de Fez que andaua
com estes de Garabia, e fora a causa
única de rebellarem.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 4, cap. 43.
— Rebellar-se, v. reji. Tornar-se rebel-
de. — «Fera verem a conclusam que Abi-
da queria tomar a qual foi tornarensse
pêra elle, ccim os de xiatina que se re-
bellaram, e deixarão o seruiço dei Rei
de Fez, em que ja andavam, per dadi-
uas, « vestidos, que lhe mandara per
seus messageiros.» Damião de Góes, Chro-
nica de D. Manoel, part. 4, cap. Õ6. —
«Depois com o soccorro de alguns Portu-
guezes conquistou parte dos Re\Tios Bra-
mas, e estando nesta gloria, a qual de
ordinário dura pouco, se lhe rebellou o
Governador do Reyno de Tangut Brama
de naçaõ, o qual com a mesma gente, a
mais bellicosa entre aquellas nações, o
despojou do Reyno, e da vida. » Conquis-
ta do Pegú, cap. 1.
— Figuradamente: Teimar.
— Figuradamente : Rebellar-se o cora-
ção.
Basta, Manlio, basta: esses discursos
Seiào prudentes, mas oftendem-me alma,
K o coração rebella-se de ouvi-los...
(Uha, vês tu a aurora? — despontando
Eila ahi vem no borisonte carregado.
GARRETT, CAtIo, aot. 1.
REBELLIA. .5-. /. Yid. Rebelliào.
REBELLIÀO, s. /. (Do latim rebelUo).
Acto de rebellia.
VOL. V. — 14.
— Levantamento de vassallos contra
seu soberano.
— Figuradamente: Quebrar a rebel-
liào da carne.
REBELLIONADO, part. imss. de Rebel-
liouar. i'u.sto em rebellião.
— Rebellado.
REBELLIONAR, v. a. Pôr em rebellião,
fazer entrar em rebellião.
— Rebellar.
I REBELLIONARIO, s. m. Termo de
jurispiHidenoia. Homem que faz rebelliào.
REBELLIOSO, A, adj. Termo de me-
dicina. Rebelde, pertinaz. — Humor re-
bellioso.
1.) REBEM, adv. comp. Duas vezes
bem.
2.1 REBEM, s. »i. Termo de marinha.
Vid. Arrebem.
EEBENTA-BOI, s. vi. O fructo da sil-
va macha.
REBENTÃO, s. m. Yid. Arrebentão.
f REBENTADO, part. jxiss. de Reben-
tar. — «Sem gastarem mais palavras com
as lanças baixas, cubertos dos escudos,
remetteram um a outro ; e os encontros
foram tão bem acertados que o cavalleiro
das Donzelias perdeu os estribos, e Al-
mourol com a cilha rebentada cahiu no
ckão, pouco contente de si, polo desejo,
que teve, de não parecer mal a seus amo-
res novos.» Francisco de Moraes, Palmei-
rim d'Inglaterra, cap. 127.
REBENTAR, v. act. Vid. Arrebentar,
muito embora seja orthographia mais an-
tiga.— «Poder pouco e sentir muito es-
traga a natureza, é apostema, que se ar-
rebentasse poios olhos rebentaria quem a
tem.» D. Joanna da Gama, Ditos da
freira, pag. 53 (ult. ediç.).- — «A's vezes
se travavam a braços por se deiTubar ;
provando todas suas forças ; porém tudo
era em vão, antes a força que nisso pu-
nham, fazia rebentar as feridas com mór
damno do que os golpes fizeram. O dia
se ia gastando, e nelles não se conhecia
qual levasse o melhor.» Francisco de Mo-
raes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 36. —
«A imperatriz e Gridonia por nào ver o
fim da batalha se tiraram das janellas.
Pois elles ás vezes se deixavam de ferir
e travava-se a braços espeiúmentando suas
forças por se derribar, tudo pêra mais
seu dano, que faziam rebentar o sangue
em tanta quantidade, que parecia que
dentro delles não ficava nenhum.» Ibi-
dem, cap. 89. — «Então deixando cahir
o escudo, o tomou polas enlazaduras do
elmo, e lh'o arrancou da cabeça^ e lhe
deu com elle outra pancada, de que, per-
dido todo o acordo, foi ao chão rebentan-
do-lhe o sangue pola boca, e narizes.»
Ibidem, cap. 127. — «Era o Hidalcão li-
beral, e valoroso, e sem duvida fora hum
grande Príncipe, se conservara o Reino
com as mesmas virtudes com que soube
adquirillo ; porém logo que se vio obede-
cido, cessarão aquellas artes fingidas, co-
mo nào tinhão movimento natural, e re-
bentarão a ambição, e soberba, como vi-
dos de casa.» Jacintho Freire d'Andra-
de, Vida de D. João de Castro, liv. 1. —
«Que considerasse, que era mais impor-.
tante a Portugal a paz do Emperador,
qiie o cravo de Maluco, porque estas dis-
sensões entre vassallos podiào vir a ter
os effeitos das minas, que rebentão mui-
to distantes donde se pega o fogo.» Ibi-
dem, liv. 2. — «Embarcou-se alguma ar-
telharia miúda, e rebentou-se a grossa,
sendo esta facção tào celebre entre os
nossos, que fizerào tomasse o appellido
de Baroche, quem tinha o de Menezes,
como já as ruinas de Carthago derào a
Scipiào o nome de Africano.» Ibidem,
liv. 4.
Tal relenta do frígido Nifate
O Tigris velocíssimo, que outr'ora
Vio na carreira immcnsa Impérios va.5tos,
Kuinas hoje encontra, c os campos corta,
Onde foi Babvlonia, onde Palmyra.
j. A. DE MACEDO, MEDiT.vçÀo, cant. 2.
nào vos faça o que diz nojo
que a tudo cbega quem ama ;
não rebenteis pelo estojo,
barbeae-me o meu Fernando,
que o quero casar, e logo.
AXTOXIO PRESTES, AUTOS, pag. 3i3.
Como cm vasto deposito se ajunta,
Pouco a pouco filtrando-se rebenta
Das raízes d'alpestre serrania.
Borbulha pouco a pouco entro rochedos.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Cant. 2.
Assim rebentão borbulhantes fontes,
Cascatas naturaes, que se despenhão
Das escarpadas rochas, e mais gratas
Qu'e3sa3, qu"entrc copados arvoredos
A mào do luxo em Tivoli formara.
REBENTINA, 5. /. Termo antiquado.
Ira, fm'or, raiva, cólera, desesperação.
— Cresceu-Jhe a rebentina.
REBENTINHA, s. f. Vid. Rebentina.
Inez. Nem cantar presente mi,
Pois Deos sabe a retjetitinha
Que me fizestes então.
Ora, Inez, que hajais benção
De vosso pae e a minha.
Que venha isto a concrusão.
Viste tão parvo villào ?
Eu imnca tal cousa vi
Nem tanto fora de mão.
oiL ^^CE^"TE, f.írças.
REBENTO, «. m. Vid. Arrebento.
REBESBELHAR, v. a. Termo da pro-
víncia da Beira, e pouco usado. Vid. Re-
verberar.
REBETE. Vid. Ribete.
REBICAR. Vid. Arrebicar, ou Arrabi-
car.
REBIMBA, s. /. Termo popidar. Ne-
gligencia, preguiça, phlegma, ignayia.
106
líKlK»
RKHO
YiF.nO
REBIQUE, s. m. YiA. Arrebique, ou
Arrabique.
REBISCAR, r. ti. Vi.l. Rebuscar.
REBITADO, j"i)i. />'ts.i. iU-, Rebitar.
REBITAR, i". 11. Termo do constriicyito
iiítviíl. Ndltiir íi iioiita il(t j)roffo, para mv-
Ihor rtcíTiirar.
— Fi;,'nra(Janioiitc : I )(;sap])ri)var.
— Rebitar " n/iri::; cucrospal-o: (liz-.'4e
(las bcstajt (|iiaii(lo cheiram a natura, ou
cousa (l(v-<a^'ra(lavcl. \'iii. Arrebitar.
— Rebitar o chupi'') ; fazer-llio um tiico.
REBITE, ■«. m. A juinta do cravo quo o
ferrador dobra .sobro o casco, c corta.
— Pequena arpola.
REBO, .«. )(í. Cascalho de pedras ou te-
Uias ((uiln-.^i^la.-í.
REBOANTE, jiftri. acf. de Reboar. Re-
tiiiiil>.iiitr, ijue reboa, (jue faz cclio.
REBOAR, c. a. (Uo Jatim reboare). Re-
tumbar, fazer som, estrondo, ccho.
— - Atroar.
REBOCADURA, s. /. AcçHo de rebo-
car.
REBOCAR, r. rt.— Rebocar a pnrcjk ;
cobril-a cum cal, para lhe aplanar a .iu-
pcrticie.
— Termo de marinha. Puxar, levar á
toa, ;'i sir2:a. — Os escaleres rebocam o
naviíi jiitra evitar algum perigo, ctc.
REBOCO, s. m. A cal amassada posta
nas paredes, com que so rebocií.
— O acto do rebocar.
REBOLADO, s. m. Bainbaleio, movimen-
to indecoroso que se faz com as nádegas,
quando se dança.
— Part. pass. ile Rebolar.
REBOLÃO, ailj. Que diz rabularias.
— Que faz rabularias.
— Substantivamentck: Um rebolão.
REBOLAR, V. n. Bambalcar, mover in-
dccorosamcnte as nádegas no acto de dan-
^■ar, saracotear.
— Rebolar a oliveira; adoecer de re-
bolo.
REBOLARIA, .-■. /. Dito ou acto do re-
bol.ào.
— Termo antiquado. Pompa viciosa,
ornato escandaloso.
REBOLCAR-SE, v. reji. Rovolver-se; acto
dos aniníaes qiiando se espojam sobre a
terra, ou na lama, revolvcndo-sc o vi-
rando-se d'uma parte para a outi'a.
REBOLEIRA, .•-•. /. A terra ou lama
cxistentr no fundo do coche, onde anda
o rebolo. Vid. Molada.
— Estacas, cjuo se tomam dos soutos
para se fazerem castanheiros; tanchões
de castanheiros.
— Nas searas c mattas, é a parte mais
basta, c em quo ha menos claros. Vid.
Roboleira.
REBOLEIRO, í. m. ( "luu-alho grande.
— -Vid. Reboleira de arvores, ou Robo-
leira.
REBOLIÇO, s. »i. Susurro de gente que
anda em ;novinii>nt.i, que est:í inquieta,
sem socego.
— Tumulto, alvoroço do gonto em des-
ordem.
REBOLINDO, j»nf. ,1,1. d,- Rebolir.
- l.íic. u«v. i:riii>.: A-^ ou 1 /c rebolin-
do ; ir, ou vir com muita pressa.
REBOLIR, '•. a. 'J'(!rmo p<q)ular. Jlovor
os quadris, bambalcar, rabear, Haraco-
tear.
Armudo di; ponto em branco
N'oiili;i o Cyrfuc rfhnUiulo,
Poiíi sempre cantou do rcquicm,
Vcnhii fiuor os oificioA.
JERO.NVMO OAIIIA, A IH PINTA8ILOO UOBTO
POIl LM OATO.
— Fazer alguma cousa depressa.
— Rebolir a conta; revêl-a, examinal-a.
— Rebolir alguma cousa; tratal-a de
novo.
REBOLO, s. m. Pedra redonda que gira
sobre um veio dentro de um coche com
agua, cm que se amolam instrumentos
cortantes, ferramentas, ete.
— Doença da azeitona, que niío vinga,
mas faz-so em um grão redondo como
ervilha, quasi sem caroço e sem óleo al-
gum.
REBOMBAR, r. a. Repetir o grande tom,
echo, fragor do trov.^io.
— Figuradamente : Rebombar horriso-
nos bramidos.
Então rehomhatn nos profundos vales
]Iorriâono3 bramidos: vacillante
SoI)re 03 ci-xos a terra abre as gargantas,
K no bojo outra vez sepulta 09 montes.
Que do si já lançou, (se a voz das Musas
luda devo seguir, tíuftbn, teus sonhos !)
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, CUUt. 2.
REBOMBO, s. m. O echo forte de som
também forte. — O rebombo do trovão.
Larga-sc a branca vóla. e a forte Armada
8e retratava na corrente fria,
Nunca em socego tal, tanto espelhada.
O Estio a vira uo despontar do dia !
Troa o cavado broiue ; e a conglobada
Nuvem, que exhala a negra artillieria.
Na superfície 8'e9tcndeo dos mares,
Fica o reliombo do trovão nos ares !
J. A. DE MACEDO, O ORIENTE, Caut. '2, CSt. liO.
>ías ah! que dentro em si respeita, escutn
Huma voz, que o sustem ! Junto ao dolicto,
Jieliombo dhum trovão, i|u'intcrno brame,
Com feio espanto o coração lhe aperta.
IDEM, MEDITAÇÃO, CllUt. 4.
o Dauubio d'hum lado, c doutro o Sena,
Correm tintos de sangue, o mar sespanta
I1"ouvir continuo os hórridos rfhomliof
l>os \-ulc;xneos trovões ; ficào cubertas
De tristes restos náufragos as praias.
IDEM, A NATCREZA, Caut. 1.
REBONISSIMO, A, a.lj. sup. comp. Duas
vezes muito bom.
REBOQUE, s. m. O acto de rebocar.
— Termo de marinlia. A toa ou eirga
com qtu' se fuixa o navio.
— fJar reboque ; rebwar o navio. Vid.
Rabote, ou Rebote.
REBOQUEAR. r. a. Vid. Rebocar.
REBORA, n. /. Termo antiquado. l*or
esta palavra se entendia o priísente,
luvas, donativo, ofireçSo ou mimo, que,
além do preço, se dava nas comprat e
vendas, trocas, escambos, o também naa
doaçòes a costumava uar o donatário ao
doaiite. Umas vezes eram esta^ reboras
a causa total das doaçrtes, outras «4') a
causa impulsiva. E nas cartas de liber-
dade, isenç.^o, venda ou escambo nSo
poucaa vezes fazia parte do preço, ain-
da que nem sempre se exprcs8a«ge. = Em
Viterbo, Elucidário.
— Termo antiq\iado. Idade capaz de
razão, tempo do um pupillo sahir de tuto-
rias, e de se governar por si mesmo, ad-
quiridas j.á aquellas forças e luzes que
são indispensáveis para dirigir com saga-
cidade e prudência as suas acções. Treze,
qiiatorze ou quinze annos alguma vez se
julgaram bastantes para adquirir e«ta re-
bora ou força do corpo e espirito : porem
as leis que se bascam no que vidgarmente
succede, c não em factos particulares, es-
tabeleceram mais largo espaço, para que
o homem e a mulher podessein viver sem
guardas c tutores, como capazes de ad-
ministrarem por si suas ca.sas. rendas e
morgados. = Em Viterbo, Elucidário.
— Contirmação, outorga.
— Rebora comprida ; é o tempo da pu-
berdade, que nas mídhore^ ò aos doze, e
nos liomens aos quatorzc annos.
REBORADO, part. pms. de Reborar.
— N. m. Termo da província da Beira.
Matéria de chaga, ou leicenço.
REBORAR, r. a. Firmar de novo, con-
firmar por um instrumento publico o que
já se tinha dito, feito ou pactuado por uma
escriptura. ]iartieular ou só de palavra.
REBORDÃO, Ã, ÃA, ou AN, fi^J._(Vw-
tanheiro rebordâo; castanheiro bravo, n.ão
enxertado.
— Cai<faiih'is rebordas ; castanhas de
castanheiro bravo mais grossas e redon-
das que as loiígais. — « Ha muitas nozes
e muito boas e muitas ca.stanlias assi cu-
Iharinhas como rebordas muito grandes
c muito boas, e as rebordas sam niilho-
res que as nossas, porque tieixam de to-
do ha casca, ho que as nossas nain fa-
zem.» Frei Gaspar da Cruz, Tratado das
cousas de China, cap. 12.
REBOTADO, j-art. pass. de Rebotar.
Embotado.
— Repellido, rechaçado bellicamente.
— Clio rebotado, cavallo rebotado :
cão, cavallo que não p«>de comer, nem
beber.
— Enfastiado, desiilentado.
REBOTALHO, .••. m. A fructa ou fazen-
da que Hca, depois de encolhida a de me-
lhor sorte.
I
REBU
REBU
REGA
107
— Refu.ço.
REBOTAR, V. a. Embotar o fio.
— Repellir, rechaçar bellicameute.
— Reboíar-se, v. rejí. Enfastiar-se,
enfadar-se, uSo proseguir com a mesma
acriraonia como a principio.
REBOTE, .s\ Ȓ. Vid. Rabote.
REBOTO, A, adj. Muito boto, rude,
ignorante, estúpido.
REBOUTALHO, s. m. Vid. Rebotalho.
REBRAÇO, s. m. A parte da armadura
que cobria o braço do meio para o hom-
bro, em opposiçao a avanòraço.
REBRAMADO, pari. ^^ass. de Rebra-
mar. Retumbado, rebombado.
REBRAMAR, i'. n. Retumbar, repetir
o bramido.
Se troa, se rehrama o escuro inferno
Dentro do bojo do Vesúvio, e cxhala
O fumo, que se espaude, e o Coo nos rouba ;
E o diurno clavão transforma em noite,
E aquella chamma, que conduz estragos,
(Foi destes o maior de Plinio a morte)
Aqui desviobre o iáabio Electricismo.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Caut. 1.
A Tei-ra rebramando abre a garganta,
Entre horrendos trovões vomita a morte ;
Ou na escura vorage engole os muros,
Ou pelos árcs aluídas pedras
Com destroncados corpos se deiTamão •,
Cuberto fica ao longe o campo extenso
De vestígios da raiva, ou da victoria.
IDEM, MEDITAÇÃO, CaUt. 2.
Engrossa o furacão, rebrama, e tòa,
O medo o precedco, o estrago o segue,
A luctuosa tempestade, a chuva ;
Tristes vestígios de seus passos deixa.
IDEM, A NATUREZA, CaUt. 2.
— Produzir som forte, continuo.
REBROTAR,. v. a. Tornar a brotar,
brotar de novo.
1.) REBUÇADO, s. m. Pellotas de as-
sacar em ponto de quebrar que se tra-
zem na bocca para derreter.
— Homem que traz carapuça de rebu-
ço, ou similliante encoberta do rosto.
2.) REBUÇADO, i^art. pass. de Rebu-
çar. Vid. Embuçado.
— Figuradamente : Encoberto, dissi-
mubxdo, disfarçado. — «Vinha rebuçada
com huma carta a modo de embaixada,
acompanhada de hum presente de boas
peças, mandadas em nome dei Rey nosso
SenJior, e á custa de sua fazenda, como
he custume fazerem os Capitães todos
naquellas partes. Este António de Faria
trazia huns dez ou doze mil cruzados em
roupas da índia que em Malaca lhe em-
prestaram.» Fernão Mendes Pinto, Pere-
grinações, cap. 36.
REBUÇAR, V. a. Cobrir com rebuço.
— Rebuçar o semblante.
— Figuradamente : Encobrir, dissi-
mular, disfarçar.
Com devota oblação (quem tal diria ?)
A Palas oliieceu traidorameuto
De madeira um Cavallo, e o bojo ardente
llebiíçava a traição na offcrta ímpia.
ABBADK DE JAZENTE, POESIAS, tOin. 2, pag. 51
(cdiç. 1787).
— Rebuçar-se, v. reji. Cobrir metade
do rosto com o capote, ou capa, manti-
llia, ou carapuça de rebuço para se en-
cobrir, e disfarçar, ou evitar o mormaço
do sol no rosto.
— Disfarçar-se, dissimular-se, euco-
brir-sc.
REBUCHUDO, A, adj. Vid. Rechonchudo.
REBUÇO, s, í/í. Traste de cobi-ir o ros-
to, ou parte d'elle.
— CahLr o rebuço; a mascara, o fin-
gimento do hypocrita, e apparecer a ver-
dade.
— • A parte da capa que cobre meio
rosto para se não conhecer quem sabe
rebuçado.
— Figuradamente : Dissimulação, dis-
farce.
Mas f aliemos, Paulino, seriamente ;
Deixemos dos rebuços a destreza :
Eu discorro, que a tua sutileza
Alguma idèa encobre delinquente.
ABBADK DE JAZENTE, POESIAS, tOm. 1 , pag. 59
(cdiç. do 1787).
O rebuço foi somente
pcra, senhor, de regalo
onde não sorve o cavallo
n'um negocio d 'acidente.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pag. 159.
• — Mulher de rebuço ; mulher embu-
çada, mídher publica, mundana, puta,
prostituta.
— Carapuça de rebuço ; carapuça que
tem abas que se atam diante do meio
do rosto, e o encobrem.
f REBULIÇO, s. m. Vid. Reboliço.
Cos braços nús aparta, os espinhosos
Ramos, fazendo hum áspero caminho,
O veloz animal ganchoso, salta.
Foge a lebre espantada do rugido.
Sobrcsaltado fica o varão nobre
Do estrondo, e ramoso rebuliço,
Cuida ser por ventura algum soberbo,
Brauo Leão, ou fero Hyrcano Tygre.
CORTE REAL, NAUFRÁGIO DE SEPÚLVEDA, CaUt. Ití.
Virara todos o rosto aonde havia
A causa principal do rebuliço ;
Eis entra um cavalleíro, que trazia
Armas, cavallo, ao boUico' serviço.
cAM., Lus., caut. 6, est. 62.
— «Este dom Aluaro foi homem paci-
fico, e de muita substancia, e mui fora
de rebuliços, pelo qual respeito o Duque
dom Fernando seu irmão, nem os que
entrarão na conjuraçam feita contra el
Rei dom loam, lhe não ousarão descobrir
o erro em que os o demónio trazia ce-
gos.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 3, cap. 45.
REBUSCA, s. f. A acção de tornar a
buscar. Vid. Rebusco.
— Alguns dizem Rabisco.
REBUSCAR, V. a. Buscar segunda vez
para achar o que escapou da primeira.
— Rebuscar « vinha; i-abiscar.
— Procurar, investigar miudezas, cou-
sas de pouca monta.
— Figui-adamente : Revolver na me-
moria.
— Inquirir miudamente, indagar, bus-
car com repetidos esforços.
REBUSCO, s. VI. Vid. Rebusca.
REBUSNAR, v. a. Termo pouco em
uso. Vid. Zurrar.
f REBUSTO, A, adj. Vid. Robusto.—
«Foi el Rei D. Joaij de meã estatuída,
mui gentil homem antes das bexigas, que
alguma cousa lhe diminuirão este dote ;
teve o cabello louro, olhos azues, alegres,
e agradáveis, a barba mais clara, que o
cabello, o corpo grosso, e taõ rebusto,
que só lhe veio a prejudicar a desordem
do alimento.» Fr. Bernardo de Brito,
Elogios dos reis de Portugal, continua-
dos por D. Jo.sé Barbo.^ia.
RECABDADO, par^ pass. de Recabdar.
— Termo antiquado. Mullier recabda-
da; mulher recebida na face da igreja,
e com todas as solemniJades, que os di-
reitos prescrevem e. determinam.
RECABDAR, v. a. Termo antiquado.
Recadar, ou arrecadar, receber.
RECABDO, s. rn. Termo antiquado. Re-
cebimento solemne em face da igreja, e
na fjnna dos sagrados cânones, santifi-
cado com a benção do sacerdote.
RECABEDAR, V. a. Vid. Recabdar.
RECABEOO, s. m. Termo antiquado.
Recai )do.
— Instrumento,- ou escriptura de reca-
bedo ; escriptura de arrhas, que se fazia
a uma esposa, que com toda a solemni-
dade se esperava receber. Tal é uma as-
sim intitulada, e escripta em portuguez
no anno de 1270, pela qual um marido
consigna a sua mulher futura certos ca-
saes em terra de Alaíoes.
— Recibo, escripto, bilhete ou quita-
ção, pela qual se declara ter-se recebido
alguma sonima, de que o devedor fica
desobrigado.
— Livro de recabedo ; era propria-
mente o livro de receita, pelo qual se
manifestava o quanto se havia recebido,
e o que ainda ficava em aberto.
RECABITA, s. m. Religioso da lei an-
tiga, assim chamado de Recahb seu fun-
dador.
RECABITO, s. VI. Termo antiquado. Vid.
Recebido.
RECACHADO, í'»»"'' 1'«^^' t'e Reca-
char-se.
RECACHAR, v. n. Fazer ou responder
com cacha, a quelu a fez primeiro.
— V. a. Levantar.
— Recachar-se, v. rcjl. Entonar-se,
dar ao collo e corpo uma postura soberba.
108
IIKCA
RECA
RECA
RECACHIO, «. 111. Vifl. Recacho.
RECACHO, s. VI. O ciitiiiio do collo, a
po.Uiira (lo corpo j)iirít cima nmi teso,
com a cabfça lev/iutaila, <; ospctaila, at-
Ibctanílo fjraviílíulií.
— Um iiiodi) d(! ret)ii^'o com a capa,
tm r()U|)!i (|uo f^mhriillia o corpo, dííixaii-
do j)iutc-f (K'scol)<Tt;n ; o recacho 6 o quo
cobro C!il)Of;a ou lioiiibros.
RECADAÇÃO, K. f. Vid. Arrecadação.
— Acto d«- recolher em caixa, cofre,
ctc.
— Rol, memorial de cousas requeridas
e diligencia» feitas para arrecadar.
— Custodia, prisão ou fcuarda de réo.
— Attestaçito de como pa^^ou »isa, ou
imposto, o éflcito ou cousa, que o deve
na entrada pelos portos, c se leva de
umas terras para outras.
— Receita cm livros de contas, os ar-
tigos ou addições do recebido.
— Pessoa que vif?ia ; ou melhor, a vi-
gia de ífuanlas, para í/bstar a desencami-
iilios, contral)andos.
RECADAÇOM, s. /. Vid. Recadação. —
u() E.-icrii)vào das malfeitorias ha do es-
crepvcr o poer em recadaçom citaçoões,
e recadaçoões, e pregoões, e proeuraçoões,
e requesiçoões, e dizimas d'Alvaraaes,
que so perante o Corregedor passam, pê-
ra Nós havermos boa recadaçom do Nos-
so.» Ord. Affons., liv. 1, tit. 15, § 1.—
«Se na Corto som presos barregueiros,
ou barreguelras. Nós levamos dellcs cer-
tas pensões, as qiiaes o Escripviío das
malfeitorias teerá carrego de as poer em
recadaçom; e para esto o quo sobre ello
ordenar o (l)orrogodor, ho Escripvam das
malfeitorias a cscrcpva.» Ibidem, liv. 1,
tit. l."i, § C.
RECADADO, pavt. prt.ss. de Recadar.
RECADADOR, A, ailj. e s. Vid. Arre-
cadador.
RECADAR, r. a. Vid. Arrecadar.
— rrouder.
RECADISTA,
rccatlos.
RECADO, s. Hl. Mandado, ordem, men-
sagem, sci'viço de que se encarrega al-
guém para o fazer, levar, ou executar.
2 gen. Pessoa que faz
Haf.
Beli.
Sat.
Como vonâ nssi turvado ?
C"hcgou-iioa 111 hum recado
De Jesu de Nazaró,
Mui tcrrivol c apertado.
Quo recado ?
OIL >aCE>!TE, ArXO DA C4NASÉA.
— «E posto que os cavalloiros do Fi-
listor, que eram quatro, tivessem por or-
denação u.ão saírem do castello por ne-
nhuma via, sem seu mandado, nem o
abrirem senão a sua pessoa, ou recado
certo ; houveram ])or tamanha injuria vòr
que um sii cavalleiro se atrevia tanto, o
assim os maltratava com suas palavras.»
Francisco do Jloraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. lOõ. — <iEnt.^io so despediu,
e levou recado a sua senhora ; e como o
natural das mulheres 6 n.lo querer ne-
nhuma desculpa nas cousas feitas a seu
desgosto, houve tamanha iiienencoria, que
nem quiz escutar a donzella, nem con-
sentir que outrem lhe failasso.» Ibidem,
cap. 110. — «Com isto lieou a corte hi)
c o imperador descontente do m:lo re-
cado, qu(! tivera na partida de seu ne-
to, tomendo-se dalli lhe nascer algum
daumo, quo O coraçjlo lhe revelava.»
Ibidem, cap. 113. — «E mandando reca-
do aos cavalleiros que as livrassem de
quem as trazia forçadas, pozeram-se ein
ordem de justa nSo com tençSo de ca-
sar com cilas, ainda que vencessem, que
outro era o modo de sua demanda.» Ibi-
dem, cap. 12'.l.
A ira, com que súbito alterado
O coração dos deose.? foi n'hum ponto.
Não sortreo mais conselho bem cuidildo.
Nem dilação, nem outro alpum desconto.
Ao grande Eolo mandão ja reaulo
Da parte de Neptuno, que sem conto
Solte as farias dos ventos repugnantes ;
Que não haja no mar mais navcgautcs.
cAM., Lus., cant. 6, e.st. 35.
Ilum navio he ja chegado
A barra, que vem de lil ;
Traz de Amphitrião recado,
Diz que o deixa embarcado
Para se vir para cA.
Tem vencido aquclle TJci ;
F, diz, 3i'guudo lhe ouvi,
Qu'esta noite será aqui.
IDEM, AHriIYTBlÔES.
— íE tribem por lhe nSo dar nellas con-
fiança pêra poderem pelejar, somente Ic-
uarão lanças e espadas: e recado que não
fizessem mães que descobrir a terra, e
isto sem se apartar hum do outro, nem
menos so apeassem, c porem vendo algu-
ma pessoa que elles sem seu perigo po-
dessem prender que o fizessem. n Barros,
Década 1, liv. 1, cap. õ. — «Cõ o qual
recado Vasco da ( íamma ficou mui satis-
feito, principalmente na mudança dos
nauios d'aquella costa a lugar mães se-
guro : porque nisto mostraua elRey per
obra o que lhe mandaua dizer per pala-
ura, acerca do contentamento que tinha
de sua vinda, e quo de tal acolhimento
do primeiro recado que lhe mandaua po-
dia esporar ser bem despachado.» Ibi-
dem, liv. 4, cap. 8. — «(O qual ja r.este
tempo escondidamente vinha communicar
com elle :) todavia porque estando mães
perto delRey per meio do mesmo Mon-
çaide lhe poderia mandar algum recado,
e mães saber o que so fazia com Diogo
Diaz, o Álvaro do Braga, foise com os
navios poer ante a cidade do Calecut.»
Ibidem, cap. 10. — «Partida a nao cõ
este recado, quando Aftonso d'Alboqucr-
que chegou a cila, tinha já reteudos dous
pilotos : per a pilotagem dos quaes toda
a armada tomou pouso em hum porto lo-
go á entrada da porta do estreito da par-
te de Arábia, porque este canal ho o
mães geral.» Idem, Década 2, liv. 7, cap.
10. — «E logo teve o Visorey o recado
d(! Martiin (^"orrea da Silva. K sabendo
estar cm Angediva, dcepedio apressada-
incnto alguns navios de remo com to^iaa
as cousas que Martim Corrêa lhe j>edia,
e muitas esquijiaçoeus novas.» I)iogo de
Couto, Década <>, liv. O, cap. H. — tHo
que sabendo os capitães dannadu niAnda-
ram lho de noite mny secretamente hani
recado, que se queriam que lhe vieiwe
fazenda, que lhe mandassem alguma cou-
sa. Folgando muito os Portugnese» com
este recado, fizeramlhe hum grosuo e hon-
rado presente, c mandaram lho de noite
por assi serem avisador. >. Fn-i Caspar da
Cruz, Tratado das cousas da China, ca]>.
23. — «Juro assim mesmo, que era todas
as mesagens, recados, embaixadas, de
que for encarregado, assim pelo dito Rey
Nosso Senhor, como, pelos que seu lagar,
e mandado para ellcs tiverem, como de
qualquer outro Rey, ou Príncipe; posto
que este em imizade com o dito Rey Nos-
so Senhor, farei verdadeiríus, e fieis rela-
çoens. » Severim de Faria, Noticias de Por-
tugal, liv. 3, cap. 19.
— Loc. POP. : Eíte comer manda reca-
dos á bocca; este comer é indigesto.
— Pôr as cousas a bom recado, ou a
recado ; pôr as cousas em logar seguro,
em cobro, com caução de indemnisação,
seguras de perigo e risco, e livres de dam-
no. — aE se depois se mudou a sorte das
prisoens, foi por culpa d'ElRey D. (J ar-
eia, que naõ poz a seu irmaõ a bom re-
cado, e se foi só seguindo o alcance. El-
Rey D. Afonso Henriques desbaratou a
ElKey D. Afonso seu primo nos Arcos
de Valdcvès.» Severim de Faria, Noti-
cias de Portugal, Disc. 2. — «A donzel-
la tanto que teve a carta dei Rey na
mão, não se deteve mais que em quanto
se despidio de sua tia, e caminhou com
tanta pressa que em pouco tempo chegou
á cidade, e deu a carta ao Broquem, o
qual logo em a vendo ajuntou tixlos os
Peretandas, c Chumbins da justiça, e se
foi á prisaõ, na qual ja naquelle tempo
estávamos a muyto bõ recado. » Femâo
Mendes Pinto. Peregrinações, cap. 142.
— « Em que lhe mandava oftVrecer mur-
ta gente contra o Rey do Bramaa, por
quem a terra então estava, para fazer
fortaleza em Marta vão, e lançar os Bra-
maas fora do reyno, e outras tantas cou-
sas a esto modo, que o Governador me
mandou logo prender, e despois de me ter
posto a bom recado, se foy ao junco em
que cu tinha vindo de Malaca.» Ibidem, 11
cap. Iõ3. — «Tanto que cstea Louthi.as I
acabaram de tirar ha devassa no Chin- •'
cheo, como por cila souberam ha verdade
do que os Portugueses deziam, e as men-
tiras do Luthissi e do Aitao, despacha-
ram logo hum correo om que mandaram
põer ho Luthissi e ho Aitao lun prisões a
REGA
REGA
REGA
109
111 uv bom recado.» Frei Gaspar da Gruz,
Tratado das cousas da China, cap. 25. —
«E sabendo cl Rey tudo isto tão meuda-
meiíte por taes duas pessoas o dissimulou
de maneira, que nunca fby sentido, por
esperar mais inteira proua, e porem an-
daua uiuy a recado armado muy secreta-
mente, e sempre com espada, e punhal,
e acauallo, e nunca em mula, porem tu-
do fevto com tanta prudência, e dissimu-
lação, que nunca sentirão o que elle sen-
tia.» Garcia de Rezende, Chronica de D.
João II, cap. 53. — «E depois do Gapitam
deixar os nauios a bom recado, partio por
terra com duzentos negros, que leuauam
todas as cousas, e outros muytos pêra se-
gurança de tudo, e leuauam muytos man-
timentos.» Ibidem, cap. 157.
— Mandar recado « aZ^wem; mandar
ordem, mensagem a elle.- — «E ainda te-
ue tal modo que fez com o Gamorij que
mandasse hum recado a elle Aires Gor-
rea sobre este elefante, dizendo quanto
contentamento teria de o auer.» João de
Barros, Década 1, liv. 5, cap. 6. — «Gõ-
sultarão de mandar com recado ao Viso-
Rey a Rui Soarez commendador de Ro-
des, que ali iicara da armada de Tristão
d'Acunha, esperando pelo nauio de Pêro
Quaresma pêra se ir nelle, andar com
Affbnso d'Alboquerque como el-Rey man-
daua : a qual viagem elle acceptou, peró
que fosse de muito risco, porque alem de
ser seruiço d'elRey, era elle da criação
do Prior do Grato dõ Diogo d'Almeida
irmão do VisoRey dom Francisco, e fol-
gou d© se ir para elle.» Idem, Década 2,
liv. 1, cap. 6. — «E como ao tempo que
Aífonso d'Alboquerque mandou este re-
cado, era jà no fim de Mayo, em que na-
quellas partes se começaua o inuerno, e
o Hidalcão tinha abalado com seu exer-
cito pêra vir cercar a cidade, do poder e
apparato do qual erão as estradas cheas
com nona, á qual por ser per boca de
Mouros Aftbnso d'Alboquerque daua pou-
co credito.» Idem, Ibidem, liv. 5, cap.
4. — «E deteueraose em subir acima per
tantos dias atoandose de vagar pouco e
pouco em espaço de huma leguoa sem
chegar á estacada, que cansado Aífonso
d'Alboquerque dos recados que lhe man-
daua, e desculpas de não poderem mães,
determinou per se ir ver este vagar.»
Idem, Ibidem, liv. 7, cap. 5. — «Quan-
do el Rei mandou este recado a Pedi-al-
urez, esta nao era Ja à vista da Gidade
de Galecut, pelo que Pêro Datai de se fez
logo à vela, e a foi cometer dando-lhe
caça, e sem a querer abalroar, por a sua
nao ser muito somenos que a dos Mou-
ros, que era de mais de seiscentos toneis,
lhes mandou que amainassem, do que se
elles rindo e zombando começarão a dar
gritas, e tirar frechas, e descarregar al-
gumas bombardas de ferro que traziao.»
Damião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 1, cap. 58. — « Dom Vasquo deter-
minou de o fazer, posto que fosse contra
uontade de todolos outros capitaens, com
tudo para sua segurança, mandou deter
o Bramana na nao Desteuam da Gama,
a quem deixou cargo de toda a frota, e
elle com a sua nao, e huma caravelia
se foi a Galecut, levango consigo o fi-
lho, e sobrinho do Bramana, onde depois
surto lhe mandou el Rei muitos recados
de paz, e amizade.» Ibidem, cap. 69. —
« A qual peleja durou desde pela manhãa
ate horas de véspera, no qual ponto o
Principe de Gochim chegou ao passo sem
saber nada do combate, porque o recado
que lhe mandara Duarte Pacheco pelo
Bramana, que auia de ser naqueile dia
cometido dei Rei de Galecut, lhe não foi
dado.» Ibidem, ca.p. 89. — «O que sabi-
do per Afonso Dalbuquerque, mandou
recado a George da Gunha, qvie pois a
gente do Çabaim dalcão ja entrara nas
terras de Gondal, que se tornasse pêra
Goa, porque tinha por noua certa serem
tantos, que per nenhum modo lhes pode-
ria resistir.» Idem, part. 3, cap. 4. —
« Depois desta visitação, mandou Çufala-
rim recado a Afonso Dalbuquerque de
parte de Çabaim pêra tratarem pazes, ao
que ordenou que fosse o Ouuidor Pêro
dalpoem, e nisso fallaram ambos assaz,
sem se poderem concertar.» Ibidem, cap.
8. — «Pellas quaes razões por se vingar,
e lhe ficar melhor azo pêra seus amores,
mandou per muitas vezes recados a Au-
costaõ apontandolhe os erros de Fernam
caldeira, pedindolhe que lho entregasse,
pêra delle mandar fazer justiça, do que
Ancostam se escusou sempre pelas me-
lhores palauras, e modos que pode.» Idem,
part. 4, cap. 17.— «Quisera fazer outra
em Tagroz, no porto de Sacam junto de
Meca, no que em tudo despendeo muito
de sua fazenda, assi com mouros, com
quem sobrestes . negócios tractaua secre-
tamente, como com criados seus por quem
mandaua estes recados.» Ibidem, cap. 85.
O valcroso Cunha a que o malvado
Enganoso Baudur soUicitava,
Lhe manda hum d'alli logo com recado
Que Diogo de Mesquita se chamava :
Este cm Cambaia já tinha provado
Quanto a braga nas pernas carregava,
E da linguagem tinha, c da malícia,
E das cousas da terra grãa noticia.
FRANCISCO DE ANDEADE , PRIMEIRO CERCO DE DIU,
cant. 6, est. 30.
Tendo o SuItSo comsigo já assentado
Que por este caminho que levava
Daria fim mais prospero e apressado
A isto que unicamente desejava,
Ao nobre jManocl Manda hum recado
Que a nova fortaleza governava,
Para que ao galeão vão juntamente
Vêr o Governador, que está doente.
IBIDEM, cant. 6, est. 65.
E vós ficai d'aqui bem avisado
(Sc não vos quereis vêr cm grão perigo)
Que não me mandeis outro tal recado,
Xcm m'o tragacs por vós com som d'amigo,
Porque sereis do mi tão maltratado
Quanto o fora o cruel, mortal iraigo,
E como a tal farei que a brava e horrenda
Bombarda a sua fúria em vós dispenda.
IBIDEM, cant. 15, est. 35.
Com isto o baluarte em tempo breve
Foi do soberbo imigo despejado,
E com grão damno seu também fim teve
O assalto tantas vezes revezado.
Sousa porém na cava se deteve
Em quanto ao general manda hum recado,
Avisaudo-o de cousa que cntào sente
Sor ao tempo era que estão conTcniente.
IBIDEM, cant. 16, est. 138.
— Recado de escrever; tinteiro, papel,
etc. ; apparelho, apparato, o necessário.
— Levar recados o alguém; levar lem-
branças demonstrativas de amizade, me-
morias.— «Negrinhos, niulatinhos filhos
d'estas, são os mesmos diabos, ladinos, e
chocarreiíos, por castanhas trazem, e le-
vam recados ás moças, e são d'ellas favo-
recidos. Ciganas, ermitosas, adelas, mu-
lheres que vendem garavins, e bolotas
para lenços ; outras que trazem doces, e
os dão mais baratos do que valem, tudo
é malissimo. Mudas é peçonha.» Fernão
Rodrigues Lobo Soropita, Poesias e pro-
sas inéditas, pag. 82.
— Tomar-lhe o recado.
FUh. E a que?
Phil. Tomar-lhe o recado :
cu não quiz, porque um mau tiro
sempre tem seu laço armado.
FUh. Mas foreis.la, vistes tal !
airoso ^^uha o pardal.
AKTOSIO PRESTES, ACTOS, pag. 135.
— Trazer recado. — «E com este re-
cado, que Ruy de Sande trouxe, ouue el
Rey muyto grande prazer, e contenta-
mento, e logo: foy certeficado que no an-
uo que vinha te auia de fazer o dito ca-
samento. Pêra o qual el Rey logo come-
çou de dar ordem, e auiamento pêra as
grandes festas que ordenou fazer, e pêra
todalas outras cousas necessárias. E de
Almada no Setembro logo seguinte com
toda sua Gorte se partio pêra Setuuel.»
Garcia de Rezende, Chronica de D. João
II, cap. 73. — «E se cada hum fazer
prestes, ou pêra defender a cidade se
lhe posessem cerco, ou pêra sair ao cam-
po buscar os imigos, segundo o recado
que trouxesem os escutas, dos quaes, qiie
tornarem no romper dalua, soube dom
Duarte (que os estaua esperando fora da
cidade) como os de cauallo jaziam junto
com os fachos, e que a companhia lhes
parecia gente grossa.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 3, cap. 31.
— Dar recado; responder, dar conta.
— «E, sem fazer mais detença, se foi ao
castello, onde, depois de darem seu re-
cado a Miraguarda, entrou dentro em
uma camará do seu apousentamento, que
caia sobre o rio, e ainda que nas obras
e concertos da casa houvesse cousas pêra
110
KECA
RECA
RECA
vôr, acabado do pôr o» olhos na senhora
delia, tudo o ai ()S<(iiecia. » Francisco de
Jloracs, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 110.
— «Ao (|uh1 l)iiurti! J'iiclioco dano judo
pêra tardaii(;a, e t'ii};ida dos hcus Nairus
da e-)ta(|iiada, nào (|iii.scra fallar, com tu-
do o 1'riiicipo apertou tanto com olle,
que lho ouvio sua* disculpas, e as rece-
btío, o que Duarte Paclieco vondo lhe di-
xe, que a fufjida dos seus Nairus, o nJlo
lhe ser dado o recado que lhe mandara,
tudo forSo artes, c treii;!io do Man{;ate,
que viíse daili por diante o (|ue fazia, e
se não liasse ilidlc» Damião de (locs,
Chronica de D. Manoel, part. 1, cap. H\K
— «Ao outro dia depois disto passar, che-
gou ii fortaleza o Padre Vif^airo, que co-
mo dissemos no Capitulo terceiro d'este
liuro segundo, foy a Ba^-aim, o Chàul a
pedir soccorro, que deu o recado àquelles
Capitaens, que logo despedirão as cartas
pêra o Governador, e comei,'àraõ a fazer
prestos gente, e )iavios pêra mandarem
de soccorro, acodindo todos a Baçaim
porá dalli atravessarem como lhes o tem-
po desse Jazigo. » Diogo de Couto, tiecada
Õ, liv. 2, cap. H. — «Despedida esta em-
barcação, logo o Governador se embar-
cou, e deu à vela pêra Goa. E chegando
defronte da Cidade de Dabid, que he a
principal escalla que o Idalxà tem na-
quella costa, determinou tomar nella vin-
gança do atrevimento que teve em man-
dar seus Capitaens sobre as terras (jue
eraõ de Ellley de Portugal, e deu reca-
do aos Capitaens da Armada, pêra que
80 íizossem prestos pêra o outro dia, fi-
cando fora aquella noite.» Ibidem, liv. 5,
cap. í>.
Irmã. Agastado
é cUe, estava já morta :
e que quor ?
Confi. Deu-inc um reciulo
de mou pao.
ANTOHIO PBF.STES, AUTOS, pag. 283.
— lieceber o recado e»i jodíios ; rece-
bel-o com submiss-ão. — « E no mesmo
continente veo hum caixõzinho e logo
metido dentro foy tapado, e sobre ho
tampão lançado hum papel grudado, c
encima ho sinal do Ponchassi : e logo
chegou hum Louthia pequeno capitam
darmada com seus soldados, e todos lon-
ge se puicram de joelhos, e alli recebeo
este capitam ho recado em joelhos, dizen-
do a cada palavra Quoo, que quer dizer
si, abaixando ha cabeça e mãos ate ho
chão.» Frei Gaspar da Cruz, Tratado das
cousas da China, cap. 19.
— Esperar por recado liaíguem; espe-
rar por alguma resposta. — «Dalli des-
pedio huns Arábios da companhia do Em-
baixador de ElRey de Baçoríi (que forào
a Goa) com cartas assim pêra ElRev, co-
mo pêra os Senhores Gizares, em que
lhes dava conta de sua chegada « e que
ficava esperando por recado «eu pcra sa-
ber o modo, e ord(íin que iiavia de ter
no cometer aquella fcrtaleza.» Diogo de
(Jouto, Década •<, liv. 'J, cap. Iíj. — «D
(Japitaõ mor manilou gente a terra que
entrou dentro, e o achou v:i/.in : u(|ui fi-
cou e-iperamlo por recado de KlKey de
Baçorà, o dos (iizares.» Ibidem.
— Tardar o recado ; ter demora a res-
posta. — «Ficou Bernaldim de Sousa nmi-
to enfailado de lhe tardar recado da ín-
dia, e despedio duas Coroeoras, em que
hia Rafael Carvalho, pêra (pie fosse a
Banda a saber se havia algum recado da
Índia, e elle ficou entendendo em derri-
bar a fortaleza de Tidore, o que acabou
com muito trabalho.» Diogo de Couto,
Década tí, liv. 9, cap. 20.
— Ordem superior. — «O Governador
despedio o homem com recado a ElRey
de Tauòr, dizendolhe «que por amor del-
le esperava que so visse com elle depres-
sa, e se determinassem que elle não se
podia alli deter muito.» Ibidem, liv. 8,
cap. i;}.
— Dar o vento a recados. — «Depois
da cidade sor de todo abrasada Lopo soa-
rez se fez a vela caminho de Adem, on-
de Miramirjam capitão delia, sabendo
que vinha destroçado do caminho, e mui-
to falto de agoa, e mantimentos, o nam
(|uis recolher, nem dar vento a seus re-
cados.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 4, cap. 14.
— Fazer mão recado ; fazer damno,
perda, prejuízo, desordem.
— Receber alguma cousa por contu e
recado ; fazendo-se descripção, e inventa-
tario do numero, peso, medida, qualidade,
e com clarezas, recibos, qnitaçijes, etc.
— Figuradamente: Caução, seguran-
ça, fiança.
— Ter a grande recado ; ter preso, em
custodia com segurança.
— Fazer as cousas a recado ; fazel-as
com tento, prudência, cautela, segurança.
— Provisão do necessário.
— Recibo, clareza. Vid. Ovençal.
— Homem de bom recado ; homem que
dá boa conta de si, homem de confiança.
— Anilar a recado ; vigiado, acautela-
do de inimigos.
— Pòr-se em recado ; fugir para logar
de asylo, seguro de quem quer prender,
ou fazer mal.
— Lavar mão recado; levar mão des-
pacho, má resposta do requerimento.
— Dar recados a alguém ; reprehen-
del-o, dar palavras reprehensivas.
— IVazer a recado ; trazer em salvo,
livre, resguardado.
— Tontar bem o recado ; consideral-o
bem, pesal-o bem para poder dar a res-
posta convenientemente. — «Fornaõ Mar-
tinz em chegando a el Rei lhe dixe per
outro lingoa, com quem ilonçaide falaua,
que o capitão daquellas nãos lhe maudaua
pedir licença pêra o ir visitar, e llie dar
carta» que lhe trazia dei Rei do Portu-
tugal seu senhor, cl Rei tomou bem o
recado, e antes que respondesse lhes man-
dem <iar a cada hum Heu pano dalgodatJ,
e seda muito fino.^.» JJainiào de Goea,
Chronica de D. Manuel, part. 1, cap. 39.
— Al)A(il(J> K l'UOVtUlUOS :
— Em maio vai, e torna ojm recado.
— A moça no telhado não anda a bom
recado.
— A mulher de bom recado euche a
casa até ao telhado.
RECAHIR, e derivados, r. a. Vid. Re-
cair, e cierivados.
RECAIOA, s. f. Acção de tornar a cair,
reincidência.
— Repetição da doença, de que o re-
caído tinha melhorado.
— Emprega-8u também no sentido figu-
rado.
RECAIDIÇO, A, a<lj. Que rccáe sem
difliculdaili-, sujeito a recair.
RECAÍDO, part. puas. de Recair. Que
recaiu.
RECAIMENTO, ». m. Acção de recair.
— Nova queda, reincidência ao crime,
no peecado.
RECAIR, f. n. Tornar a cair.
— Vir de novo, devolver-se.
— Carregar sobre.
— Recair na doença ; tomar ao estado
da doença de que o recaido tinha melho-
rado, e ia convalescendo,
— Recair na culpa; reincidir, tornar
a onnmitir outra tal.
RECALCADAMENTE, adv. (De recalca-
do, e suíSxo «mente»). Bem cheio e cal-
cado ; que não caiba mais.
RECALCADO, part. pass. de Recalcar.
Calcailii novamente.
— Toma-se também figuradamente.
RECALCADURA, s. /. Acção de calcar
segunda vez.
RECALCAR, i-. a. (Do latim recalcare).
Calcar ás camadas, ou porções para en-
cher, e atacar bem, ou para accomniodar
maior porção.
— Calcar de novo, pizar segunda vez.
— «O sibillar das rajadas também cessou
completamente. Parado sobre a face da
terra, o ar era semelhante ao lençol do
finado a quem recalcaram a gleba que o
cobre, frio, húmido, pesado, sem ranger,
sem movimento, cosido sobre o peito,
onde acíibou o bater do coração e o aríar
compassado dos pulmões.» Alexandre
Herculano, Eurico, cap. 7.
RECALCAR, r. a. Tornar a calçar. —
Recalcar a estrada. — Recalcar as bota».
RECALCITRADO, part. pass. de Recal-
citrar. Ropeliido com despeito.
RECALCITRANTE, part. act. de Recal-
citrar. Que recalcitra.
RECALCITRAR, r. n. (Do latim recal-
citrare: de n . e calcitrare). Ropellir com
despeitt>.
— Figuradamente : Resistir, desobede-
cer dando e obrando contra o superior.
RECA
— Atirar couces, respingar á espora,
ao chicote, etc, fallando das bestas.
RECAMADO, part. pass. de Recamar.
Bordado de realce. — Vestidos recamados
de ouro.
De estrclias recamada a noute umbrosa
Cedia o campo azul do immenso eapa(;o
A doce luz da matutina Aui'ora,
De sou rosto purpúreo, o màos de neve.
Como brilhantes pérolas, cahião
Do fresco orvalho transparentes gotas
Sobre os risonhos prados, que parece
Darem maior realce ao verde esmalte,
Com que opulenta Natiu'cza os veste.
J. A. I)K MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Caut. 1.
RECAMADURA, s. f. Vid. Recamo.
RECAMAR, V. a. (Do hebraico rekam).
Bordar de realce, ou de altos; relevar a
superticie da roupa com ornatos, com
bordados.
— Figuradamente : Recamar os véos da
fvanquilla noute.
Sou pequena partícula do Globo,
Que o orgulho chama Terra, e chama grande.
Ténue por(,'ào do Planetário Mundo
A Terra apenas he, o este pasmoso
Nào conhecido circulo que os Globos
Formão, do claro Sol gyrando em tomo,
Minima parte faz deste Universo,
Desta congerie de luzentes pontos.
Que da tranquilla noite os véos recamão.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Cant. 4.
— Figuradamente: Recamar os céos
azues de purpura.
Ou venha desvelada Aurora abrindo
Com roscas màos as portas dOriente
Auriroxos listões no Ceo lançando,
Ou desça ao mar a alampada do dia,
E 03 Ceos azues de purpura recame.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Caut. 2.
RECAMARA, s. /. Guarda-roupa, casa
por detraz, ou depois da camará para
guardar vestidos, jóias, etc.
— A roupa e apparelho de serviço, que
se leva em jornadas, ou se tem de as-
sento. Vid. Camará cerrada.
— Camará mais interior.
RECAMBAR, v. n. Termo do jogo do
voltarete. Mudar de logar os jogadores
depois de estar levantado o recambó.
RECAMBIAR, v. a. Fazer segundo cam-
bio ou troca.
— Tornar a mandar a cousa a quem a
remettera.
RECAMBIO, s. m. Segundo cambio ou
troca.
— A despeza do protesto da letra, e
da remessa, e o interesse de nào paga.
— Remessa da letra nào aceita, ou não
paga.
— Usura junta, accrescentada ao in-
teresse do cambio nas letras.
RECAMBÓ, s. m. Termo do jogo do
voltarete. Deposito, diíFerente do bolo,
RECA
no qual o feito, quando ganha, põe de
cada vez um tento, ou o seu valor, con-
forme as convenções dos que jogam ; ha-
vendo juntos dez tentos, mettem-se na
mesa, e logo que os ganha um dos par-
ceiros, recambam todos, e começam novo
recambó.
RECAMO, s. m. Bordado de realce ou
de alto.
RECANTAÇÃO, s. f. Acto de recantar.
— Termo eui uso. Retractaçào publica.
1 .) RECANTAR, r, «. — Recantar os seus
erros ; retractal-os, reproval-os publica-
mente.
2.) RECANTAR, v. a. (Do latim recan-
tare). Cantar segunda vez, tornar a can-
tar, cantar de novo.
RECANTO, s. m. Canto, sitio recôndito,
escondrijo.
— Recantos do coração; escondrijos oc-
cultos.
RECAPACITADO, part. pass. de Reca-
pacitar. Diz-se daquelle a quem se rcca-
pacitou, ou fez novamente entender a
razão, e cair n'ella, admittil-a.
RECAPACITAR, v.a. Tornar a reflectir
no que se sabia para que nào esqueça,
ou para se trazer na memoria e lembrar.
— Tornar a persuadir alguém, abrin-
do-lhe 08 olhos.
RECAPITO, s. m. Termo antiquado. Re-
cado que se manda por algum mensa-
geiro.
RECAPITULAÇÃO, s. /. (Do latim reca-
pitulatio). Repetição summaria do que
já se disse. — Fazer uma recapitulação.
— Termo de rhetorica. Parte da pe-
roração que consiste n'uma enumeração
curta e precisa dos pontos nos quaes tem
insistido mais no discurso, a íim de fazer
uma viva impressão no auditório.
— Operação pela qual o espirito se re-
corda de muitas idêas ou muitos actos
passados. — Fazer a recapitulação da mi-
nha vida.
RECAPITULADO, part. pass. de Reca-
pitular. Resumido, epitomado.
RECAPITULAR, v. a. (Do lat.m recapi-
tulare). Resumir, dizer summariameute,
compendiar.
t RECARBONISADO, piart. pass. de Re-
carbonisar.
t REGARBONISAR, v. a. Termo de Me-
tallurgia. Restituir o carbone ao aço, quan-
do o perde.
RECARGA, s. f. Termo de marinha. O
acto de tornar a carregar o que se havia
descarregado. — Recarga do navio.
RECARTILHA. Termo que assim se pro-
nuncia erradamente. Vid. Recortilha.
RECASADO, A, adj. Termo de comedia.
Bom casado, ou casado segunda vez.
RECATA, s. /. Segunda cata, e rebus-
ca no casiello.
— Usa-se também no sentido figurado.
RECATADAMENTE, adv. (De racato,
com o suffixo «mente»). De um modo re-
catado, acauteladamente, com cautela.
REÇA
111
RECATADO, part. pass. de Racatar.
Posto em recato, acautelado, precatado.
— As recatadas portas.
Tu puderas melhor o aspeito horrendo
Ir atfroutar de horrisonas tormentas
Xo Cabo Austral, que fecha a Africa ardente ;
Cortarias ao largo o intacto Oceano ;
Mas para abrir as recatadas portas,
Puniceo berço da orvalhada Aurora,
Foi Pólo o teu valor, teu peito os Astros.
J. AGOSTINHO DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Caut. 2.
Mas quanto a recatada Natureza
Em seu Sacrário esconde ! Os bens gozemos,
E deixa as Causas ao Motor Supremo.
IDEM, A NATUREZA, Caut. 2.
— Avisado, circumspecto, prudente.
— Homem recatado ; homem vigiado de
assalto e de perigo.
RECATAR, V. a. Pôr a recato, acaute-
lar, guardar.
Se, os tubos astronómicos depondo.
Deixas de ir ver nos Ccos rodando os Globos,
Nào satisfeito do rasgar o obscuro
Véo, que in volve, e recata a Natureza,
Pelos sombrios pcnctraes entrando
Com facho luminoso, e nunca extincto.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Caut. 3.
— Recatar-se, v. rejl. Acautelar-se pru-
dentemente contra o danim», perigo.
RECATO, s. m. Cautela prudente para
evitar perigos, damnos e prejuízos.
— Vive esta mulher com recato ; vive
com o fim de segurar sua honra, e boa
reputação.
— Syn. : Recato, decência. Vid. este
ultimo vocábulo.
RECAVEM, s. m. A parte trazeira do
leito do carro.
f RECAYDO, part. pass. de Recayr.
Vid. Recaído. — «Não vê nenhum peccador
a se disoluer em blasfémias, senam por
ser dissoluto nos outros viços e peccados,
e auer primeiro recaydo muitas vezes nel-
les : pello qual merece ser desemparado
da mão do Senhor, e deyxado em poder
do demónio que vsa de sua lingoa, como
espada pêra cortar por onde quiser. » Frei
Bartholomeu dos Martyres, Catecismo da
doutrina christã.
RECAYO, s. ;». = Significação incerta.
RECAYR, i'. a. Vid. Recair.
REÇAFA, s. f. Termo antiquado. Vid.
Resaca.
REÇAGA, #. /. Termo antiquado. A
parte posterior. Dizia-se outr'ora ao que
nós hoje chamamos retaguarda de um
exercito, batalhão ou armada. — « Logo
após esta desconsolada companhia vinha
outra guarda de gente de pé, e na reça-
ga de tudo vinhão obra de quinhentos
Bramas de cavallo.» Fernão Mendes Pin-
to, Peregrinações, cap. 150.
REÇANFONINAR, v. n. Termo popular.
Repetir muitas vezes com escarneo cousa
que importuna.
112
UECE
RECE
ttECE
— Fazer feitas, alcgrian, funcçõcs fiíra
fio totri])?).
REÇAO, .•». /. \'iil. Raçáo, <)rtlii)í,'iii|)!iia
j)r('t'i'rivi!l.
RECEADO, iinri. iihsk. de Recear, (^lo
rocoia, rccijaiito. ,
— Que tiim receio. — » O doo.so», e 6
vordado quo a íortaluza de líarrocante.,
Albiizarco o y\.lljari'oco tilo temida o re-
ceada polo iiimido lia d(! .ser denl)arataila
e denteita |mla torra d'iiiii Ho pfifíaiite e
doiiM eiivalIciroM y .1 {''raneisco do Moraes,
Palmeirim de Inglaterra, eap. !U.
RECEANÇA, s. f.Trvuw autii[tiado. Vid.
Receio.
RECEANTE, /"ni. art. de Recear. Re-
ceando.
RECEAR, V. n. Temer perigo premente, ou
remoto. — » IO pori(Lio vira Floriano iiuiito
moyo o pcntil homem, e Aiulerramete ro-
busto o do mais idade, receava a batalha,
parecoudo-lhe que Floriano a mio podia
softrer: o chegada a guarda do.s quinhen-
tos cavalleiros, c o gram turco posto com
Bua filha na mesma janella, que já sabia
o quo passava, Auderrameto lançando o
cavallo a uma e outra parte, brandindo
a lança, comceou a «lizer. " Francisco de
Morae.^í, Palmeirim de Inglaterra, eap. 80.
— « E passando primeiro alf^uus dias o
anno.i, porque sua mãi lhe imjiedia o ca-
minho, receando os desastres quo lho po-
diam acontecer, no tim dellcs, embarca-
dos era uma galle com alguns cavalleiros
da sua criaç.ão, se partiram a via da Ir-
landa.» Ibidem, eap. 106. — «Florondos,
quo receava .«ua valentia, trazia o tento
cm seus golpes, esperando que, gastada
alguma parte da fúria, bcariam mais
brandos, e olle tão cançado, quo fosse
mais levo do vencer, n Ibidem, eap. 110.
— « Este encontro foz ao imperailor ter
menos gosto da Justa que antes mostra-
va, porque receava a força do cavalleiro,
e temia que daquelle prazer redundasse
algum posar. N'isto saiu D. Rosnei, quo
antre os bons era extremado ; e posto quo
sua confiança o ensinasse a perder o me-
do, por derradeiro ficou enganado delia,
que á segunda carreira foi ter compaidiia
a sons companheii"os ; perdendo o dos tVei-
xes 03 estribos, de que ficou coi-rido por
ser em tal parte.» Ibidem, eap. 111. —
« E o das DonzcUas também mui des-
contente do ter começado aquella justa,
polo quo nella podia acontecer, nTio esti-
mando tanto seu desgosto como o de Flo-
rondos, receando a condição de ^lira-
guarda; e quiz vôr-se por alguma via a
podia estorvar, dizendo.» Ibidem, cai>.
127. — «Mas que ello receaua segundo
o que ja via em alguns, principalmente
em os Mouros quo viuiaõ om seu remo :
naõ achar tanta lealdade uollcs, quanta
fee, amizade e soruiço lhe auiaõ de guar-
dar c fazer os 1'ortuguezes.» João de Bar-
ros, Década 1, liv. 7, eap. ò. — « E ante
que dalli sahisaem com o temor do alvo-
roço dos nosso», mandou Roztomocan ar-
vorar hunuHjaiidoira branca uaquclla par-
to ondo \). (larcia estava, quo era a que
olles mais receavam, e o arrenegado (pio
a trazia começou a chamar por .Jo.lo M.-v-
chado.i. Idem, Década 2, liv. 7, eap. f).
— « < ) ( !apitão iniir da Armada fez a(|uel-
bi diligencia tanto por recear aconloccr-
Ihe outro desbarate, (piai o pasnado, (ju.'iu-
to por lhe encoiuniendaj- lOilíid nuiito (pio
Uie levasse toilos a(piellifs rorluguezes vi-
vos, do que ello hia deseontiadu, píjrque
bem sabia quo clles nào so entregavam
a ningui in senão despedaçad< 8. » Diogo de
( '(juto, Década 4, liv. 4, eap. 7. — o (Jom
o (jue o rrincipo, e o» irmãos jà não re-
ceavaõ os imigos, fazendo tudo o quo lhes
parecia necessário para defensai"! daquella
01(^lade, ropairando-a, e reediticando-a o
melhor quo podiaij, pelejando em todos
os assaltos muy esforçadamente, não os
largando nunca o Manoel 1'creira, quo
ora todo o seu conselho, por(juc nada fa-
ziaõ sem elle.» Idem, Década (3, liv. tí,
eap. 5. — (t O (iovernador receando que
os inimigos lhe fugissem porá o rio de
Bandora, quo estava diante meia légua,
mandou a hum Capitão, que tanto que a
batalha so travasse, fosse com oito na-
vios, (que ilie nomeou, e a quem mandou
recadoj e tomasse a boca daquelle rio.»
Idem, Década 4, liv. .õ, eap. õ. — («O
(jue nem receou fazer, porque sahio a el-
los Com obra de oitenta lancharas c mais
do seis mil homens, vindo o mesmo Rei
de Liugua diante em hunia lanchara ta-
manha como a grande gale apadesada, o
artilhada, em que trazia duzentos homens
nobres seus familiares.» Damião de Goos,
Chronica de D. Manoel, part. 3, eap. tíi).
— « Este jogo se via da nossa frota, pelo
que António corroa receando que tomas-
sem os imigos o baluarte, posto que te-
uesso assaz que fazer com as fustas do
Ilagamaliamed, com quem cstaua as bom-
bardadas.» Ibidem, part. 4, eap. 74. —
« E porque ja se sabiaõ por totla a terra
os males que nos tinha feitos, receando
poder encontrar com algiuna força nossa,
se viera a esta caseada da Cauchenchina,
onde como mercador fazia fazenda, e co-
mo cossayro também salteava os cò que
se ati"evia. » Fernão Mendes Pinto, Pere-
grinações, eap. 46. — « E ainda agora to
torno a dizer que se te arrependes ou re-
ceas passar avante pelo que os teus te
dizem do mim continuaniente á orelha,
como eu muvto bem tonho visto e ouvido,
manda o que quiseres, porque prestos es-
tou para cm tudo te fazer a vontade.»
Ibidem, eap. 71. — « S. Agostinho contJi
luuna grande briga, que ouuo dentro em
sua alma, antre o mao costume da dcs-
honestidaile, em que (piãdo mãcebo e ma-
uicheo andou enfrascado, o o desejo da
castidade, a (pie Deos o chamaua, e que
receaua nuiyto de cometer. >- 1'aiva de An-
drade, Sermões, pag. 1l'1.
O Tur(!0, quo oiito iiittl uSo rafava,
A (|il<: o diurno pci,o tralj:ilho<f>
!•; II frcHcurii denta hor» cijiividava
A liuin liiando HOiniio, dwM! c Haboroso,
Sàt> HOiitc hum mal f|U<: tauUt o maltratava
Si;imo dcjMjjrt (juii o bra<,'u valcnjrio
Do cHiiundríio l^urtitaiio oiutudo p forb-
Kiiclico tudo de fogo, Kati^^uo o uiurtc.
F. I>K A!ltlKADI!, rRIHKlm» CKaCO DB DIU, tUitlt.
17, cHt. 70.
1'eiidn da iiiit<!nnu dcafraldiulo o pauiio,
ilw, batido doii Ziifyron ondêu -,
Côas aiicorait a |ii<{U<.- o Luiiitauo
Ia roíii]»'!- do novo a (;i|Uorca véa:
Nem mal m-f^iirti* caiii|>oii dOccano,
N(;iii dura guorra dos tufociin rrrfa;
Indo mostrar da í!uropa á gciito ubmrta,.
Peio mar d'Orit'iit<! aberta a píjrta.
J. K. DR MACKDO, ORIKKTK, (Sailt. 11, Cllt. 43.
— Recear-se, i'. rejl. Tcmer-sc. — (£»ta
eleição fez porque era hum Figalgo de
muita arto e de muito aviso, e' letrado,
agraduado cm Canoaee, porque tinlia o
pay mandado aprender letra« pêra o fa-
zer Clérigo, e vindo dos estudos ii Corte
Se namorou de huma dama lil.ia de hum
Fidalgo muito honrado, com que foy acha-
do, e receando-se tanto do pay delle, co-
mo do delia, se embarcou escondidamente
pêra a índia r.a nào do Visorcy.» Diogo
de Couto. Década 6, liv. 2, eap. 14. —
<(Com tudo receando-se d(jm Frâcisco que
fosse cilada não quiz desembarcar senão
em amanhecendo, então sahio em terra
com a bandeira Real qm- leiíaua Pêro
Cão.» Damião de Goos, Chronica de D.
Manoel, part. 2, eap. 3.
— V. n. Ter receio, temer, temer-se.
— hto era muito para recear. — Nada
tenho que recear.
Mas isto nic atalhou a desucntura
Tudo SC me desfez quanto cuidaua
(Juc vos tinlia obrigada, o mais sof^ura.
Ali ([uanto, Ah quanto triste me cnganaua
Com muito que este .\nior voa merecia
Quam depressa cheguei ao que receaua.
COBTK BEAI,, NAUFBAOIO DE gEPlXVEDA, Cant. 2.
— «Porém isto hé natural das mulhe-
res, ser tão descontiadají. que qualquer
cousa as move; que Polinarda era tão
fermosa, que não tinha de que recear.
Miraguarda era tanto que cada unia p<v
dia estar contente de si sem a outra a fa-
zer triste.» Francisco de Moraes, Palmei-
rim d'Inglalerra, eap. S2. — íA donzelLi
se tornou com seu recado, e o cavalleiro
sem outra differença, depois de se despe-
dir de sua senhora, saltou cm terra lào
airoso e bem jiasto. que só aquella mos-
tra era muito pêra recear ; e acompanha-
do de dons escudeiro.'», .«e foi contra onde
estava Florendos com um passeio ousado
e vagaroso.» Idem. Ibidem, eap. 110. m
RECEBEDO, .<•. /(. Termo antiquado. M
Recibo, ipiitaçào. *
— Cédula do recabdo, ou recado quo
dil o receliedor.
RECEBEDOR, «. »i. Homem que recebe,
EECE
REGE
RECE
113
cobrador. — «E per este guisa manda-
mos que paguem quaeesquer nossos Ren-
deiros, e outras quaeesquer pessoas, que
em as ditas moedas sejaõ devedoras, e
obrigados a Curadores, e Ameuistrado-
res, e Almoxarifes, e Recebedores.» Or-
denações Affonsinas, liv. 4, tit. 1, § 45.
— «Sc al^um recebeo da moeda de reaes
de três libras e meia, e cruzados por al-
guns contrautos, ou moordomados, ou em-
prestidos, ou depósitos, ou Tetores, ou
Cuvadores, Ministradores, e Almoxarifes,
ou Recebedores, ou per outro qualquer
contrauto, ou casi contrauto, que depois
seja annullado, pague pelas ditas moedas
de reaes do três libras e meia, e cruza-
dos.» Ibidem. — «E tanto que tirados fo-
rem, entrega-los-ba a hum Recebedor,
que pêra esto hordenardes, abonado, e de
prazimento destes que assy paguã, pre-
sente o Escripvaõ da Gamara, a que man-
damos que esto escrepva e faça hum li-
vro apartado, em que escrepva a recepta,
e a desposa destes dinheiros, e seja a ello
bem diligente.» Ibidem, tit. 20, § 3. —
«E para bom governo da Milicia tinha o
Gapitaõ Miir seu Regimento, que man-
dava executar pelos Ministros das Gom-
panhias, em cada huma das quaes havia
seu ]\Ieirinho, Escrivão, e Recebedor.»
Severim de Faria, Noticias de Portugal,
Disc. 2, § 10.
— Arrecadador.
RECEBEDORIA, s. f. Officio de recebe-
dor.
— Gasa onde se recebe o pagamento
das rendas, sisas, etc,
RECEBENTE, ^^«rt. act. de Receber.
Que recebe.
— Aceitante.
RECEBER, V. a. (Do latim recipere).
Tomar o que se dá, o que se entrega em
pagamento, ou guarda. — «E se os deve-
dores de cada um dos casos dos ditos Ga-
pitulos pagarom o que deviaõ per estas
nossas moedas, e os creedores receberem
as pagas com protestaçom de lhes ser pa-
gada a maior valia da moeda, que lhes
era devuda, mandamos que taaes devedo-
res sejaõ quites, sem embargo de protes-
taçom: e esto por nom darmos lugar aas
demandas.» Ordenações Affonsinas, liv.
4, tit. 1, § 2. — «E as façam dispender
nas Fortalezas dessas Gomarcas, honde
esto acontecer, como nós mandamos, fa-
zendo escrepver aos Taballiaaes de cada
hum dos ditos lugares como as recebe-
rem, e despenderõ : e os nossos Gorrege-
dores, quando per hy chegarem, tomem-
Ihes doUo conta.» Ibidem, § 26. — «E
qualquer pessoa, de qualquer estado e
condiçom que seja, que o dito empraza-
mento, ou arrendamento, ou afforamento
em si tomar, ou receber, perca a dizima
de todo aquello, qixe assy a montar na-
quello que assy arrendar, afforar, ou em-
prazar ; e que esso meesmo aja a terça par-
te o que o accusar, e as duas partes sejam
VOL. V. — 15.
pêra Nós, e pêra a nossa Gamara.» Ibi-
dem, tit. 2, § 7. — «Outro sy se o con-
trauto, ou promittimento for sem dinhei-
ros, assy como nos emprazamentos, ou
nos escaimbos, ou em outro qualquer con-
trauto similhante a estes, o contrauto nom
valha, e aquelles, que o fezerem, percam
todas as cousas, que receberom, ou en-
tenderem de receber por esta guisa, e
razom.» Ibidem, tit. (3, §3. — «Aprouve
também, que as Missas se celebrem de
todos pela mesma ordem que Profuturo,
Bispo, hum tempo desta Igreja Metropo-
litana, recebeo em escrito por authorida-
de da mesma Sè Apostólica.» Menarchia
Lusitana, liv. 6, cap. 13.
Que as manhosas maldades estão certas,
NaqucUes onde o auimo fallccc :
A estes falta esfoi-ço claro consta,
Que lhe sobejarão ardis, e enganos.
Ditas estas palauras lhe responde
O Capitão, e diz : O gazalhado,
Que de ti recebemos c a vontade
Verdadeira serii do mim seruida.
COBTE REAL, NAUFBAOIO DE SEPÚLVEDA, CaUt. 12.
— « Gomtudo, os do esforçado caval-
leiro do Salvage eram também taes, que
pagaA'am a seu contrario os que delle re-
cebia. Assim se começaram a tratar de
maneira, que já não se esperava que ne-
nhum podesse sair com vida.» Francisco
de Moraes, Palmeirim de Inglaterra, cap.
39. — ■ «Porém não foi tanto a seu salvo,
que o principe Vernao, Tenebror, e Tre-
merão não fossem a força de braços tira-
dos delle quasi mortos polas muitas feri-
das, que de suas mãos receberam.» Ibi-
dem, cap. 46. — «O imperador lhos pre-
sentou, e ella os recebeu cora mais lagri-
mas do que elle fizera ; porque também
nas mulheres qualquer destes accidentes
faz muito maior abalo.» Idem, Ibidem,
cap. 94. — «Senlior cavalleiro, se neste
vosso soccorro cuidais que me fazeis mer-
cê, eu o recebe por injuria : deixai-me
acabar minha batalha, e se me virdes
vencido, matai vós quem me vencer, que
antes quero dever-vos esse amor e von-
tade na morte, que ficar-vos ness'outra
obrigação com deshonra de minha vida. »
Idem, Ibidem. — «Homem de bem, disse
o imperador, inda que nestes casos se não
deve confiar de qualquer pessoa, o dó
que recebo dessas lagrimas e idade can-
sada, me faz sahir um pouco fora do or-
dinário, porque não creio que em tantos
annos e tão alvas cãns possa haver enga-
no.» Idem, Ibidem, cap. 113. — «Gom
este contentamento mandaram tirar man-
timentos do navio, e curaram Beroldo de
uma ferida pequena, que recebera n'um
braço. O do Tigre quizera que por caso
delia não entrasse outro dia na batalha,
e não se pode acabar com elle.» Idem,
Ibidem, cap. 117. — «Elles a receberam,
porque cuidaram seria assim, ou porque
conheceram delle, que seu desejo era an-
dar desacompanhado. Embarcando-se na
outra gallé, em que vieram, se foram a
via de Gonstantinopla, e em pouco tempo
tomaram terra, onde desembarcaram e
seguiram sua viagem.» Idem, Ibidem,
cap. 120. — «Com tudo, alem dos mais
aggravos que me tendes feito em não me
dizer isto mais cedo, não me façais outro
maior, que será não repousar aqui algum
dia, que alem de querer saber mais de
vós, será saúde pêra as feridas d'Almou-
rol saber que as recebeu de vossa mão.»
Idem, Ibidem, cap. 127. — «Conhecendo
então a Nancaa que era aquillo hum muy-
to grande mysterio, recebeo esta mercê
da mão do Senhor com muytas lagrimas,
e lhe deu por ella muytas graças com
todos os seus.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 93. — «E que alem
deste beneficio que recebia de Mafamadc
Anconij sentia delle ser homem fiel a
nossas cousas : por muitas de que lhe
daua conta que faziaõ ao bem e fauor
delias, e que isto sentia delle Pedralua-
rez Cabral os dias que ali estiuera.» João
de Barros, Década 1, liv. 5, cap. 10. —
«Passado aquelle dia, e o seguinte de
sua chegada, que tudo forão visitações,
ao terceiro per ordenança de elRey posto
elle em modo de receber a embaixada,
que Diogo Lopez dizia que lhe leuaua:
mandou cm seu lugar Hieronymo Tei-
xeira com nome de seu irmão, tomando
por desculpa de não ir em pessoa por vir
mal tratado.» Idem, Década 2, liv. 4,
cap. 3. — «Que mandasse quem auia de
receber, e fossem homens ordenados pêra
quatro partes por estar em quatro mãos,
mostrando ser necessário per este modo
o seu despacho por se receber tudo em
hum dia : porque sendo per muitos, es-
candalizaria a alguns mercadores estan-
tes ali, vendo que se negara a elles car-
regar primeiro.» Idem, Ibidem, cap. 4.
Agora quer ir vêr este meu canto
O efleito do que o Turco em si concebe
Que se embarcou pouco antes, e entretanto
Deixarei o Christão, que se apercebe.
Logo como o cstrcllado, escuro manto
Pola ausência do Sol o Ceo recebe,
O Turco, que do engano não se esquece,
Das galés outra vez á terra dcce.
r. d'andbade, fbiueibo cebco de d!C, cant. 19,
est, 22.
— Receber alguém com festas e ale-
grias; recebel-o com fausto e pompa.
Começa a embandcirar-se toda a armada,
E de toldos alegres se adornou,
Por receber com festas e alegria,
O Regedor das Ilhas, que partia.
CAM., Lus., cant. 1, est. 59.
— Receber alguém com cortezia e amor'
tomal-o em seus braços cortez e amoro-
samente. — «Elle lhe fez serviço de to-
dolos presos, que trazia, de que o gram
114
RECE
RECE
RECE
turco se mo»trou contento, e lhe ren-
deu praça», que tainboni o recebeu coin
iniiitii cortcziíi o iiiiior, e, dopui.s ile [iiis-
s!ir alpuuia.s palavras de cumprimentos,
llic dirtse: Senhora, depois (|ue d'a(|ui
parti, corri prande parte do mundo em
busca d'Albay/,ar, meu senlior.» Fran-
cisco do Moraes, Palmeirim diaglaterra,
cap. 80.
— Receber a a/jsohicão; tonial-a. —
(I E a cousa que dava por sy era confor-
me ao peccailo que tinha cometido. l'or-
que os (jue se sentiào eulpa'ios no pceca-
do da Kii''>) c "iio tinliai"> leito naquelle
anno abstinência nenhuma, se pesav.ào a
mel, açúcar, ovos e nianteiíija, por serem
cousas agradáveis aos Sacerdotes de quem
avião de receber a absolvição.» Fernào
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 101.
— Receber mercS. — « Concedei no que
vos o gigante pede, que, alem de nisso
fazerdes as vontades a clle, e nós rece-
bermos grani mercê, por derradeiro todo
o louvor e honra é vossa. Pois assim que-
reis, disse eile, seja como ordenardes.»
Francisco de iloraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 117.
— Receber al<jnem com ambas as mãos.
— «E vendo que lialeato remettia a elle
com outro golpe de toda sua força, to-
mando o escudo, que fora de Bracolão,
com ambas as màos o recebeu, e entrou
tanto a espada, que chegou ás embraça-
duras, e soltando-as das màos, Balleato
o levou pegado n"ella.» Francisco de Mo-
raes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 107.
— Receber com ijrande apparato ; ad-
mittir, esperar ostentosamente. — «O tur-
co como lho foi nova que o Xeque Ismael
era tomado, ordenou-se pêra o receber
com grande apparato, mandando muitos
Capitães seus que lho trouxessem em
modo de triunfo.» Barros, Década 2, liv.
10, cap. 6.
— Receber posse; tomar posse. — «Da
qual recebeo posse pelo ceptro delia que
lhe foi eutreguc em Alcácer do sal, a vin-
te sete dias de Octubro do anno de nos-
sa redempção de mil quatro centos no-
uenta e cinquo.» Barros, Década 1, liv.
4, cap. 1.
— Softrer, supportar, tolerar. — «É
desastre de onze milhas de comprido ;
porque além das perdas c damnos que
recebe em sua pessoa, rapa-lhe a boa da
trovoada todo o segi-odo do negocio o
nào torna a levantar sobrado dalii a cin-
co annos.» Fernão Soropita, Poesias e
prosas inéditas, pag. liHn — «Recebem
grande agravamento em razom das ca-
zas, e roupas que lhe som tomadas gram
tempo ha pêra os nossos Escudeiros que
mandamos e^tar na dita Villa em as tee-
rem, e lograrem contra talantos daqucl-
les cujas som.» Cortes de Coimbra, jan.
de 149ã. — «A imperatriz com (iridonia,
depois de o apertarem comsigo. lançando
muitas lagrimas, estiveram presentes á
cura do suas feridas, n3o recebendo me-
nos dôr dos pontos, que ce nellas davam,
que se foram suas pro[)rias.n Francisco
<lo Jloraes, Palmeirim dlnglaterra, cap.
*^!'. — "E inil;ique Albarroco do encon-
tro licasse maltratado, a paixilo í|ue re-
cebeu, llie deu tamanhas forças, alem da
que elle tinha, que parecia impjssivel
outra nenhuma força a poder desbara-
tar.» Ibidem, cap. 94. — «Palmeirim tem
um irniSo tào gentil homem como elle,
tào bom cavalleiro como elle c tilo livre
na condição, (pie na experiência da co-
jja, alem de nrio fazer nenhuma mostra
de namorado, escureceu as que os outros
fizeram. Este poile cazar comvosco, e
alem de nisto satisfazer o que mereceis,
nào lhe podo lembrar cousa, com que
recebais paixão, pêra as virtuosas nenhu-
ma é tamanha, como a que destes casos
nasce.» Ibidem, cap. 101. — «E posto
que os cavalleiros no esforço e destreza
•las armas fossem os melhores de toda
Navarra, nào poderam tanto defender-se
da fúria de Florendos, que em pouco es-
paço deixassem de andar maltratados e
feridos, e um já estirado no campo de
uma ferida, que recebera na cabeça, que
lhe chegou aos mioUos.» Ibidem, cap.
102. — «E por não gastar tudo em en-
contros, baste que Pompidcs e Blandi-
dom fizeram companhia aos outros, rece-
bendo o do valle alguns revezes, e per-
dendo os estribos : e vendo que não ha-
via mais que fazer, tirado o elmo se foi
ao imperador por lhe beijar as mãos.
Elle o levou nos braços, vendo que era
seu neto Floriano, tão contente de sua
victoria, como antes estava triste e des-
contente de lha ver ganhar.» Ibidem,
cap. 111. — «Também receberam des-
contentamento do vencimento de Albav-
zar, que, pola conversação do tempo (|ue
alli estivera, lhe desejavam victoria, alem
d'o elle merecer por obras.» Ibidem, cap.
124. — «Digo-vos eu, disse o das ]>on-
zellas, que esse que inda bole, quizera
levar o escudo do vulto da senhora Mi-
raguarda, e ambos tinham o parecer nis-
so conforme, não lhe lembrando, que
quem aquellas mostras ha de lograr ha
de ser com algum trabalho, nem a of-
fensa que recebíeis : eu, polo que vos
nisso ia, acudi ; crede que ou o favor da
senhora Miraguarda, ou a mofina delles,
os chegou ao estado em que os achastes. »
Ibidem, cap. 127. — «Assi que com a
vinda destes dous Capitães começaram
os nossos tomar algum animo, com que
fizeram sabidas contra os Mouros, em
huma das quaes receberam muito dam-
no. porque mataram D. António de Li-
ma filho de D. Kodi'igo de T^ima, e An-
tónio de Sá Capitão do navio Rosairo,
natural d'Alhandra, e outros dou*, c fe-
riram Manuel de Sousa Tavares, Diogo
Fernandes de Beja, e outros.» Barros,
Década 2, liv. t>, eap. 10. — «E^por se- 1
rcm alimárias mui esquivas, e qne esfar-
rapam muito com as uidwiri, e denten a
proa, c os cavallos as nào recebem bem
nas ancas onde as trazem no monte, fa-
zem-lhe per aquftllc lugar hunia maneira
de coprào de cubert;w do ann:is, por iiâo
eseandalizar com as unlias o c.-ivalio. >
Ibidem, liv. 7, cap. i>. — «Porém ncí^te
acto dr) combater muito maior dauino re-
ceberam os níwsos, que o muro ; |)orque
como per <l(;ntro era maciço té quaiii m
ameas, toda nossa artilheria eiiibaçava
nelle, o nos baluartes onde elles tinham
assestaflo a sua, que varejava bem em
as nossas estancias, e navios.» Ibidem,
cap. :"). — «Mas fora impediíla com ven-
tos contrários, o que Deos pcrmittira
por méritos do seu profeta Mahamed,
por sua santa casa de Meca não receber
alguma offensa ; e que estas cousas <la
ousadia nossa tudo eram descuidos de
tanto Rey, e Principc, como liavia na-
quellas partes.» Ibidem, liv. 8, cap. (J.
Soccorrc Eterno Pao, Senhor Supremo,
l'or<|ue ou cm mar tão largo desatino,
Ondhuni naufrágio certo espero c tomo
Se me faltar o teu favor di\nno :
Nom m'atrcvo chopar a tanto estremo
Dalto verso, sem ti, que o faça dino
l)a<(uclles que por ti com peitos fortes
Derão, e recMrào crucia mortes.
FEAXCISCO DE ASniUnE, PBIXEIBO CKBCO DK DIC.
cant. 1, est. 2.
Rerehe agora a cura juntaracnt*'
A três mortiies cucimtros bem denda.
K delia coo favor Oinuiiwtcnte
Recebe desta vez saúde e vida.
Este quo d "entre o imigo fogo ardente,
D 'entre o ferro infiel, duro, homccida,
Mil vezes escapou, depois o vento
E o mar, o consumirão n'hum momento.
IBIDEM, cant. 18, est. 7T.
— «Rumecan acodio logo áquella par-
te, e mandou trazer outro* mastos, e ta-
boas, de que ordenou outras pontes que
se lançíiraõ no mesmo lugar, sobre o que
se ateou hum grande jogo de bombardas.
e espingardadas, de que os imigos rece-
beram muy grande dana, matandolhes. e
derribandolhes muitos dos que andava"^
em o trabalho, cujos lugares se toma-
vaõ a encher logo de outros de refresco.»
Diogo de Couto, Década ti, liv. 2. cap.
3. — «Achou-se cl Rei sendo Príncipe
na conquista de Arzila, onde fez por seu
braço obras maravilhosas, o foi armado
Cavalleiro por el Rei seu Pai. dentro na
Mesquita da própria Cidade, tendo junto
de si o corpo de D. Joaò Ctmtinho, Con-
de de Marialva, tresjiassiido de muitas
feridas, que recebera no combate da Ci-
dade, por honra das quaes disse el Rei
ao Príncipe cingindo-lhe a csptada, que
o fizesse Deos taõ b<>m cavai lein> como
o Conde.» F'rei Bernardo de Brito, Elo-
gios dos reis de Portugal, continuados
por D. José Barbosa.
— Receber saúde; recuperal-a. — « Pois
RECE
RECE
RECE
115
Flerida, os dias e noites acompaniitava o
leito de seu filho, como quem, em quan-
to suas feridas nào recebiam saúde, ne-
nhum descanso lhe ficava. Elrei fez mer-
cê e honra aos cavalleiros dos gigantes,
por satisfazer a vontade a seu neto. met-
teudo-os no conto dos de sua casa. » Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim de Inglater-
ra, cap. HtS.
— Receber mau trato de alguém; ser
maltratado por elle. — «Dalli tomou Vas-
quo da Gama sua derrota caminho de ile-
linde, mas antes de sair da costa do Ma-
labar screueo huma carta a el Rei de Ca-
lecut, em que lhe contaua todalas trei-
çoens, que lhe os Mouros da terra tinham
ordenadas, e mao trato que recebera do
Catual, e doutros officiaes, pelo que se
partira sem se despedir delle, com tudo
que hia muito desejoso de o servir.» Da-
mião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 1, cap. 43.
— Receber a agua do santo baptismo;
tomal-a, baptisar-se. — «E que não po-
dia ser que o criador criaria cousa tào
grande, tào boa, e tào perfeita como elle
era, pêra o condenar, e que portanto
cria o que lhe dizia, e desejaua de von-
tade de o fazer, pelo qual lhe pedia muv-
to por mercê, e pollo de Deos, que aquil-
lo pêra que o conuidara, que era receber
a agoa do santo bautismo, nào lhe tar-
dasse mais.» Garcia de Rezende, Chro-
nica de D. João II, cap. 56.
• — Receber i(//i« noticia com palavras
de muita paciência. — «Onde o Duque
conheceo a verdade, que logo claramente
lhe foi deseuberta por o padre Paulo seu
confessor, que o estaua ja esperando, e
lhe deu com muytos confortos, e esfor-
ços, a muy triste, e muy desconsolada
noua, a qual o Duque recebeo com pa-
lavras de muyta paciência, e muy em
si, como homem esforçado.» Garcia de
Rezende, Chronica de D. João II, cap. 4G.
— Receber prazer com alguma cousa;
tel-o, regosijar-se com ella, encher-se de
jubilo. — o E vieram logo ver a Raynha
o Duque de Viseu seu irmào, que já era
vindo de Castella, e o Duque de Bragan-
ça, e outros muytos senhores e senhoras
do Reyno, e com a vinda dos Duques el-
Rey recebeo muyto prazer, o lhe fez
muyta honra, e deu de si muyta parte.»
Garcia de Rezende, Chronica de D. João II,
cap. 3G.
• — Não receber com bons ouvidos qual-
quer cousa; soar-lhe mal, nào gostar
d'ella.
E SC este llic nào dá, que dar-lhc queira
Mil homens, entre aqucOes escolhidos
Que seguem a temida, alta bandeira
Do Lusitânia, e lá foram nascidos.
Nem esta petição, nem a primeira
O Cunha receheo com bons ouvidos,
Suspenso fica assaz, porque nem ousa
Mandar aqueUa gente, nem o Sousa.
'PBAScisco d'asdrade, peimeibo cebco de cic,
cant. 5. est. 69.
— Receber alguém com muita honra, e
gasalhado ; recebel-o magnificamente. — •
« E assi forão ante el Rey, que com muy-
ta honi"a os recebeo, e elles em suas pa-
la uras e obras mostrarào serem em tudo
gente nobre, e bem agradecida, e com pa-
lauras de homens prudentes derào couta
a el Rei de sua perda, e estrema neces-
sidade.» Garcia de Rezende, Chronica de
D. João II, cap. 58. — « E com este as-
sento concertado tomarão os ditos Em-
baixadores no mes de lulho do dito anno
a Setuuel, onde el Rey estaua, que com
sua vinda foy alegi'e, e os recebeo com
muyta honra, e gasalhado, per que todos
erào muy aceytos a elle.» Ibidem, cap.
167. — «O imperador teve por cousa no-
va ver nomear o sábio Daliarte; porque
té li nunca ouvira falar n'elle, e dando
o agradecimento daquella vontade a sua
donzella, com palavras de tanto amor e
verdade, como sempre costumava, a man-
dou á imperatriz e Gridouia, que a rece-
beram com o agasalhado que merecia a
esperança em que sua embaixada as pu-
nha.» Francisco de Moraes, Palmeirim
de Inglaterra, cap. 13. — «Grande alvo-
roço e contentamento fez a sua vinda. O
imperador a recebeu com amor e gasa-
lhado, desejoso de saber a que vinha e o
qCle acontecera a Palmeií-im na aventura
de Lionarda.» Ibidem, cap. 104. — «O im-
perador, ainda que já naquelle tempo fo.s-
se velho, ataviou-se como mancebo ; e de-
pois de receber Lionarda com o gasalha-
do, que sempre costuDiava, tomou o lugar
a Primaliào seu filho, que vinha fallaudo
CO 'ella. E assim a veio acompanhando tào
contente e namorado, que de muito rifa-
no e sôfrego nào deixava chegar ninguém,
nem olhava por todos aquelles priucijJes,
que tirados os elmos se chegavam pêra
lhe beijar a mão.» Ibidem, cap. 111. —
u E como ellas fossem gentis mulheres e
o recebessem com gasalhado, e elle fosse
inclinado a folgar com aquellas compa-
nhias, ia tào ledo, que nenhum perigo
lhe lembrava nem lhe parecia que o po-
dia haver. Assim punha os olhos em umas
como em outras, porque a todas lhos guia-
va a vontade, que isto é natural de ho-
mens de condições isentas.» Ibidem, cap.
113. — «O Governador tanto que lhe de-
raõ novas da nào do Reino na barra, man-
dou com muita pressa muitos navios pêra
a descarregarem, e meterem dentro, e
desembarcar a Christovam de Sà, qixe
recebeo com muitos gasalhados, e lhe deu
a via de ElRey, que o Governador abrio,
e achou as Provisoens, e Alvarás das hon-
ras, e mercês que lhe fazia a elle, e a seu
filho, o que estimou muito, por ver que
tinha ElRei conta com seus serviços.»
Diogo de Couto, Década 6, liv. 6, cap. 7.
— Admittir. — « Este embaixador que
se chamaua Peirim bonat, homem nobre,
e muito acepto ao Xeque Ismael, chegou
com Miguel ferreira a Ormuz pouco an-
tes da vinda de Afonso dalbuquerque,
onde despois de ser entregue da fortaleza,
o recebeo em huma praça publica em ca-
dafalso alto, em lugar donde el-Rei Dor-
muz podia ver tudo, de huma janella dos'
seus Paços.» Damião de Góes, Chronica
de D. Manoel, part. 3, cap. 39. — «Nas
Cortes tem lugar os Alcaides Mores dos
Castellos d'ElRey, a quem daõ omena-
gem, e os mais a fazem aos vSenhores,
de quem os recebem.» Severim de Fa-
ria, Noticias de Portugal, Disc. 2.
— Figuradamente : Receber a lua o
nocturno clarão do sol.
Acima delia brilha argêntea Lua,
Que o noctiu-uo clarão do Sol recebe.
J. A. DE MACEDO, \'IAGEM EXTÁTICA, Caut. 3.
— Receber grandes palmadas de nação
castrada.
Aqui I cousa piedosa ! j alçou a fronte
A insípida Burlcta, que tyranna
Do Thcatro desterra indignamente
Melpomeuc, c Thalia ; e que recebe
Grandes palmadas da Nação castrada.
A. DINIZ DA CRUZ, HYSSOPE, Caut. 1.
— Figuradamente : Receber o calor do
sol.
Do frigido Saturno o globo ingente,
O portentoso anuel, que o fecha, e cinge,
E as frouxas luas, que cm continuo moto,
Qual brilha a nossa aqui, também lá brillião ;
Aivo, immenso calor do Sol recebem,
E a viva força da attiacçâo lhe sentem,
Qual sentirão no instante, em que do Xada
O quiz chamar Architcctor Supremo.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇ.to, Caut. 2.
■ Receber as im2jressões do frio e do
calor.
Formào-se delle acastelladas nuvens;
Côas varias estações s'altera, e muda ;
Alternativas impressões recebe
Do frio, e do calor. Oh massa enorme,
Que immenso pezo tens ! E nào se esmaga
Com tamanha pressão meu frágil corpo !
Que dique se lhe oppõe, que laço o prende?
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÕES, Cant. 2.
— Receber os embargos, a appellaçSo;
admittil-a. tomar conhecimento d'ella, e
sua discussão.
— O fi/ra recebeu os noivos; casou-os.
— Recebeu-te o cura grulha; casou-te.
Isso é corpo para alma,
pareces alma de tulha.
Yillão, lanço-te uma pulha
que és marido da calma ;
recebeo-te a cura grulha.
ASTOXIO PRESTES, AITTOS, pag. 4ÕÍ».
— Receber prémios. — « Estas são as
obrigaçoens dos Reys de Armas, muitaa
llfi
UECE
IIECE
REGE
(las quací na5 sei se se cumjirc, <; ki; ln'
por descuido, ou pelon jjoucos prémios,
que recebem de sou tralwlho.» Siiveriín
de Faria, Noticias de Portugal, I>ise. H.
— Receber dmlivn, honra, bem (/« «/-
gxiem. — « Juro assim mesmo, que qual-
quer dadiva, bem, ou honra, que rece-
ber de qualquer líey, Principe, ou Se-
nhor, a que por Eilley "Nosso Senhor for
cnTiado, ou por quem sou lupir, e man-
dado para clic tiver, o direi a ElRey
Nosso Senhor.» Ibidem.
— Receber grandes impressues ; sen-
til-as, soffrol-as em {grande praduaçilo. —
<í Sendo ella na minha opini.lo mais cons-
tante do que o homem he cin amar, rece-
be com essa qualidade muito niayoros
impressoen» do que nós dos movimentos
do amor, e do Ciúme. » Cavalleiro de t)li-
veira, Cartas, liv. 1, n." \^.
— Fifíuradamente: eceber da terra o
Deu riquíssimo j>resente, — «Logo o Ceo
com o prazer, e aluoro(>o do requissimo
presente que da ten-a recebia, niio pode
mais ter suas riquezas cerradas ao género
liumano, mas abundantissimamente lhas
comunicou ojc, enchendo as almas da-
quelles priraeyros Christãos de todos os
does celestiaes, assi como nos conta o
glorioso Evangelista S. Lucas, na Epis-
tola deste dia, dizendo em summa.» Fr.
Bartholomeu dos Martyres, Compendio da
doutrina christã, liv. 2.
— Figuradamente : Os povos da Euro-
pa recebiam do seio da Lysia o perpetuo
clarão.
Tal do seio de Lisia a luz emerge,
De que os Povos da Europa receberão
O perpetuo clarão, com ([uc hoje médrão.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Caut. 4.
— Receber da terra galardão.
He teu calor manancial pcronnc
Dos thesouros, o bens, que a. Terra ostenta ;
Tu lho envias mil dons, tu não recebes
Da Terra palardào ; renasce, vive
A Natureza amortecida, quando
A'8 cavernas do Polo o Inverno foge,
E do throno dos ares desce é Terra
A Primavera envolta cm rosca nuvem.
J. A. DG MACEDO, HEDITAçÃO, Cant. 2.
— Recebeu-0 por seu marido; deu-lhe
a miJo de mulher. — « Octávio amante de
Poncio Posthumia lhe tirou a vida, por
que oUa duvidou de o receber por seu
marido. NSo pode chegar a mais cruel-
dade o civmie quando chega a converter
cm ódio o mesmo Amor.» Cavalleiro de
Oliveira, Cartas, liv. 1, n." 13.
— Receber as cousas da mão do Padre
celestial, — « E nesta pctiçam o confessa-
mos, o protestamos que da milo do Padre
celestial recebemos todas as cousas, c
que de nós nada tomos, assi como filhos
nam mancipados que nam sayram ainda
do casa do pay, mas de sua milo viuem,
de cuja prouidencia cstam todos depen-
durados.» Fr. Hartholomeu dos Marty-
res, Catecismo da doutrina christã.
— Receber a JV; de Cluisto ; entrar no
grémio da igreja catholiea, recebendo o
sacramento do baptismo, e outros. —
"Fora desta igreja estam todos pagilos e
infiéis, que nunca receberam a feo de
Christo, e assi todolos herejes que des-
j)ois de recebida a deixaram, ou corrò-
poram, e todolos scismaticos que rom-
peram a paz e vnidade da igreja, e fi-
nalmente também estam fora delia todo-
los excommungados que a igreja cortou
e lan(,'OU do si como membros podres, e
perniciosos, corrompedores dos membros
saõs.» Fr. Bartholomeu dos Martyres,
Catecismo da doutrina christã.
— Receber os peccadorcs o divino Lo-
cado; commuiigarem, receberem o prio
eucharistico. — « Mas porem assi como
exorto a receberem este diuino bocado
os poccadores aparelhados, e arrependi-
dos, assi mando que fujam delle os car-
naes e endurecidos. Porque assi como
nam ha cousa mais proueitosa pêra a al-
ma que huma comunhão recebida com a
alma verdadeyramente arrependida e con-
fessada: assi nam ha peçonha mais per-
niciosa e danosa pêra a mesma alma, que
huma communham tomada em peccado
mortal com consciência nam ennuendada,
nem arrependida.» Fr. Bartholomeu dos
JMartvres, Catecismo da doutrina christã.
— Receber furtos em casa ; ser rece-
ptador d'ellos.
Receber alguma lei, xiso, costume ;
adoptar, estar por elle.
— Receber alguém de paz, ou de guer-
ra; recebcl-o pacifica, ou bcllicosamente.
— Adquirir, obter, alcançar. — «Com
o sangue de Badur receberão as armas
Portuguezas a maior fama do mais atroz
delicto, deixamos-lhes na mrio a espada,
com que nos degoUárào o Rei, para que
com ella mesma nos usurpem o Reino;
tiremos pois dentre nós estas vibonis nas-
cidas no ultimo Occidente para inficionar
a Ásia toda, como se verá discorrendo
por seus estragos, que elles chamào vi-
ctorias.)' .Tacintho Freire de Andrade,
Vida de D. João de Castro, liv. 2. —
«Estas palavras receberão credito da se-
gurança com que se disserão, fioíindo o
Mouro crédulo, e descontente no esforço
do Capit.ào, na victoria da armada; le-
vando aos seus por reposta, que o Capi-
tito Mór, ou entendera o ardil, ou des-
prezara o medo.» Idem, Ibidem, liv. 4.
— Receber as desculpas que se, dão;
estar por ellas, admittil-as.
— Receber alguém nos braços ; rece-
bCd-o com abraços.
• — Esperar, guardar. — «Polendos o
recebeu com aquolle animo de que sem-
pre andava acompanhado, ferindo-o tiío
brauamcnte, que cm pouco espaço se fez
verdadeiro o conselho, que lho d'aute^
dava, tratando-o de sorte que deu com
elle no ch3o quasi sem acordo. » Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim dloglaterra,
eap. 1;"). - — «Então mo.->trando-liie o prin-
cijie Prinialijlo, a rainlia o recebeu como
a tilo gram pf^ssoa convinha ; e logo a
Vernao, ei-rei Polendos, e rei Hecindos,
e Arnedos com os outros princi]j08 e ca-
valleiros mancebos.» Idem, Ibidem, cap.
43. — «A esta hora já o imperador era
no terreiro com toda sua corte, e que-
rendo receber o cavalleiro negro, e saber
quem era, c mandar levar também Al-
bayzar a seu apousento, elle tirou o elmo
pêra lhe beijar as mitos, dizendo. • Idem,
Ibidem, cap. 89. — «Chegados a Alema-
nha, inda que a morte do imperador fos-
se mui sentida dos seus, por ser um dos
mais benignos príncipes do mundo, o po-
vo, que sempre folga cora novidades, re-
ceberam seu filho com tamanhas festas,
que parecia, que de todo eram esqueci-
dos da morte de seu pai. Foi coroado na
cidade de Colónia com maior triumpho,
que té entTio o fora nenhum imperador.»
Idem, Ibidem, cap. 95.. — «De que o ca-
valleiro do Salvagem não ficou nada con-
tente, temendo que, se muitos daquelles
recebesse sua vida corria risco.» Idem,
Ibidem, cap. lOG. — «O ermitAo, posto
que estivesse descontente do cavalleiro
do Salvage polo vêr tão entregue nas
cousas do mundo, recebeu-o com o amor
e caridade, que sua ordem requeria. Ven-
do-o trio maltratado de suas ferida-», o
curou como quem daquoUe mister .«abia
alguma cousa; dando-lhe um pobre leito,
que na ermida costumava ter pêra hos-
pedes, qne o seu era muito mais pobre.»
Idem, Ibidem, cap. 107. — íE porque
este desejo ha muito tempo que a segne,
partiu de sua casa com menos companhia
do que a seu estado convém, a vos vêr.
Fica ao pé deste vosso castello mettida
em um batel esperando por mim, «jue»
rendo que primeiro saibaes de sua vinda,
jiera que com menos pejo a recebaes.»
Idem, Ibidem, cap. 110. — «Depois de
fazerem cortesia ao imperador, c elle os
receber como quem eram, e pessoas, a
que sempre tratara com amor, lhe deu
conta do caso, pcdindo-lhcs quizessem
franquear a senhora Lionarda, pois que
niio havia outrem de quem o esperassem.»
Idem, Ibidem, cap. 111. — « Polinarda
desejando que aquella pratica n3o fosse
mais avante, pêra se niio lembrar de ta-
manha divida, a mudou, perguntando-lhe
miudamente por Targiana : porém como
a este tempo dissessem ao imperador,
que o embaixador do turco era já pegado
com a cidade, o mandou receber ; o todos
os prineipae^ da corte, e elle o es}K>r<ni
naquclle próprio lugar.» Idem, Ibidem,
cap. 112. — «E se o damno, que delle
tenho recebido, fora algum tanto menos,
eu o perdoara; mas quem ha de sentir
trio pouco a morte de taes irmitos; c o
REGE
REGE
REGE
117
contentaiucnto que minha mãe e sua del-
les pode receber de ver em seu po.ler o
matador de seus fillios?» Idem, Ibidem,
cap. 113. — «Ao qual cliegando Pedral-
uaiez elle se leuantou em pee de liuma
cadeira em que estaua chapada de ouro
cõ alguma pedraria, e o veo receber :
fazendolhe muito acatamento té o lugar
onde se assentarão.» João de Barros,
Década 1, liv. 5, cap. 5. — «Clicgado
ElRey á porta das suas casas, sahio ao
receber Abrahem Bec o Gapitão do Xe-
que Ismael, e o seu Embaixador, e de-
ram também muitas graças a Affonso
d'Alboquerque do modo que tivera de li-
bertar aquelle Príncipe, e da honra que
lhe fazia.» Idem, Década 2, liv. 10, cap.
5. — «Aos quae? líaez Nordim, que os
veio receber á porta, disse, pêra que era
tanta gente de armas como o Gapitão
mór tinha comsigo ? Ao que Pêro d'Al-
poem respondeo, que elle não tinha com-
sigo senão gente desarmada, e que a ou-
tra de fora, posto que armada estivesse,
elle o podia fazer, porque assi se assen-
tou, e que outro tanto podia ElRey fa-
zer, scunente os que entrassem com elle.»
Idem, Ibidem. — «De que era Gapitão
hum Brainaa tio dei Rcy por nome ]Mõ-
pocasser, Bainiaa da cidade de Meleitay
no reyno do Ghaleu. Detrás desta guar-
da dos elifantes dez ou doze passos vi-
nha3 muytos senhores por quem el Rey
o mandou receber, entre os quaes vinhaõ
os que se seguem.» Fernão Mendes Pin-
to, Peregrinações, cap. 15. — «Gonsalo
Pacheco, c Nuno Fernandes cos mais
Portuguezes chegarão ao arrayal jâ com
huma hora de Sol, e ElRey os mãdou
receber por Gibraydaõ Seda senhor do
Meydu, hum dos principaes Gapitães Bra-
mas, que alli tinha comsigo, e de que
muyto se fiava, o qual vinha acompanha-
do de mais de cem de cavallo com seis
porteyros de maças.» Idem, Ibidem, cap.
196, — «Luís de Sousa, D. Fernando de
Gastro com seus Gapitaens, e Dom Fran-
cisco de Almeida, que Dom Joaõ Masca-
renhas mandou aquelle dia passar pêra
alli, receberão os imigos como sempre,
quebrandolhe log.) aquelle furor, e orgu-
lho que levavaõ, lançando todos os que
alcançarão das paredes abaixo feitos em
pedaços.» Diogo de Gouto, Década 6, liv.
2, cap. 8. — «O que feito se partio pêra
Gochim, leuando consigo Afonso Dalbu-
querque, onde depois de chegada, o Vi-
cerei o veo receber a praia com sua
guarda ordinária, de cem alabardeiros.
Ghegado o Marichal a Gochim, trabalhou
quanto pode em concertar o Vicerei com
Afonso dalbuquerque, e assi o fez.» Da-
mião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 2, cap. 41. — «El-Rei de Gananor
o veo receber à praia, acompanhado de
muitos Gaimaens, e Naires, e com elle
Lourenço de brito capitam da fortaleza.»
Idem, Ibidem, part, 2, cap, 40.
— Receber bem a alguém ; recebel-o
com todo o acatamento. — «As gal cotas
dos Turcos os foraõ seguindo : (J aspar
Nunes tanto que sahio do Estreito tor-
nou a voltar pêra a outra banda do Abe-
xim, 6 foy demandar Maçuà, e tendo
vergonha de hir à Índia, por ver matar
o seu Gapitaõ mòr, deitou a artelharia
no mar, e com os seus soldados se foy
por terra pêra o Preste Joaõ, e no Mos-
teiro de Baroà achàraõ o Barnagais que
os recebeo bem, e os encaminhou pê-
ra o seu Rey: estes todos morrerão por
1;\.» Diogo de Gouto, Década 4, liv. 9,
cap. 3.
— ■ Receber contentamento de alguém^
ou de alguma cousa. ■ — «Ghegando mais
ao perto ouviu gram ruído darmas, e
correndo contra aquella parte chegou á
borda d'agoa onde vira um navio anco-
rado posto de largo, e na praia comba-
tiam dez cavalleiroá com três, que co-
nheceu serem Platir, Beroldo e Daliarte,
de que recebeu novo contentamento, lem-
brando-lhe que pêra soccorro da vida de
seu irmão eram alli vindos.» Francisco
de Moraes, Palmeirim d'Iuglaterra, ca-
pitulo 117.
— Receber alguém seccamente ; recebêl-o
com desabrimento. — «O Governador as-
sim o fez, e desembarcou em Gochim, e
foy visitar o Visorey que o recebeo se-
camente, e alli lhe fez entrega da Índia,
e se recolheo pêra sua casa, mandando
logo navios a Goa em busca de sua mvi-
Iher pêra se embarcar pêra o Reino.»
João de BaiTOS, Década 6, liv. 9, cap, 1.
— Receber alguém honradamente ; re-
cebêl-o com honra. — «Ghegado este em-
baixador ao Achem, elle o mandou rece-
ber honradamente, e lhe tomou a carta
que lhe trazia, porem despois que a man-
dou ler e vio o que vinha nella, o quise-
ra logo mandar matar, se alguns dos
seus lhe não foraõ á mão, dizendolhe que
se o fizesse seria infâmia sua muvto gra-
de,» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 31,
— Receber alguém affavelmente; rece-
bêl-o com aíFabilidade. — «A esta mollier
foraõ ver os embaixadores, e lhe beija-
rão o pé como a santa, e ella os recebeo
afabelmente, e com palavras discretas
lhes perguntou miuilamcnte por algumas
cousas de que lhe elles dera» razaõ.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações, ca-
pitulo 128,
— Receber-se, v. refl. Enlaçar-se, tra-
çar o elo conjugal, — «Os frades nam ca-
sam, e quanto aos clérigos, assi elles co-
mo leigos não podem ter mais que huma
so molher, os que casam nam se recebem
a porta da Egreja, senão em casa de seus
pais ou parentes,» Damião de Góes, Chro-
nica de D. Manoel, part. 3, cap, 61.
— Adágios e provérbios :
— Gale o que deu, e falle o que re-
cebeu.
— Quem paga o que recebeu, o que
lhe fica é seu..
— SrN. : Receber, tomar. Vid. este ul-
timo vocábulo.
RECEBIDO, 'p»rl. p«ss. de Receber. —
«E a o«te, que lhe decinge a espada, cha-
mam-lhe padrinho, ca bem assy como os
padrinhos ao bautizado ajudam a confir-
mar seu afilhado, como seja christam,
bem assy o que he padrinho do Gavallei-
ro descingindo-lhe a espada confirma, c
outorgua a Gavallaria, que ha recebida. »
Ord. Affons., liv. 1, tit. 63, § 24. — «E
seja primeiro recebido a demandar as di-
tas penas o Procurador do dito Goncelho,
e leve a pena dos ditos dinheiros pei-a o
Goncelho; e se as demandar nom quiser,
entom as demande o dito meu Almoxari-
fe, 6 Escripvam, e levem as ditas qui-
nhentas libras pêra mim.» Idem, liv. 4,
tit. 5, § 16. — «E nos outros casos, hu
dissemos que o creedor aja de provar a
confissom do devedor seer verdadeira,
Mandamos que a possa provar per teste-
munhas, ou per qualquer outro modo, sem
embargo da dita Hordenaçom ; porque
pois já elle por si tem Escriptura pruvi-
ca, e sem embargo delia ainda he cons-
trangido a provar, que a confissom do
devedor foi verdadeira, com justa razom
deve seer recebido a provalla per qual-
quer maneira de prova.» Ibidem, tit, Õ5,
8 8,
Anthcvos so adianta como aquelle
A quem a execução era otorgada ;
E auia de vingar com triste morto
Esta injuria que Amor tem recebida.
CORTE KEAL, NAUFKAQIO DE SEPÚLVEDA, Cant. 3.
Quanto devem do ser auorrecidos
De todos 03 que são mal inclinados.
Dos taes era nenlmm tempo recebidos
Scjào os Ímpios votos doprauados.
Que de humor diabólico mouidos :
Se mostrão ao pior atteiçoados,
Sc a bibera veneno dá mortal,
Os mãos que podem dar, se não for mal.
IBIDEM, cant. 13.
— «E posto que o turco meu senhor
tem recebido de vossos vassallos algumas
injurias, que se bem poderão vingar com
morte destes presos, usando de sua real
condição e dos rogos de sua filha, lhe deu
vida. Agora, querendo mais chegar ao
cabo com sua nobreza, ha por bem de os
dar a troco d'Albayzar seu genro, que
por mandado de Miraguarda anda preso
na corte d'ol-rei de Hespanha.» Francis-
co de Moraes, Palmeirim dlnglaterra,
cap. 112. — «O das Donzellas se escu-
sava com ser tarde; e porque Lustramar
todavia porfiava, Polifema, uma das don-
zellas, lhe disse: Peço- vos, senhor caval-
leiro, que do mal queiraes o menos, e voa
contenteis com o que tendes recebido, que
este nosso guardador é tào costumado a
o não vencer ninguém, que nirguem re-
cebe quebra de ficar vencido delle.» Ibi-
118
KKCK
RECE
RECE
dem, cap. 121). — oDtupididoa orf ciiibui-
xadorc.s delia, Hufíuiraò sua derrota jior
esto rli) abaixo, <; a cabo rle eirico dias
ciie<;amos a luiina fri'aude cidade por no-
me Kcndacaleiíi que estava no estremo
dci royno da Tartaria, e daly por diante
itimeça o senhorio do Xinalevffrau, pelo
()ual caniinhanioí inais quatro dian, até
cliofi^arnios a Ininia jiovDaeào (pie se dczia
V'ouleni, onde (k embaixadores andjos fo-
raõ hcin recebidos do senhor da terra, e
))rovidos do necessário para sua viagem,
e d(! pilotos para aquidíes rios.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 128.
— «De modo que por esta só que o Zei-
moto aquy <loa ao Nautoquim com boa
teneaò e por boa amizade, c por lhe sa-
tisfazer ))arte das honras e mercês que
tinha recebido dellc, como atrás fica di-
to, se (uichoo a terra, delias em tanta
(piantida le que não ha ja aldeã nem lu-
<;ar por pequeno que seja donde nào sayão
de cento pai-a cima, e nas cidades e vil-
las notáveis, não se fala senão por muy-
tos milhares delias.» Ibidem, cap. 134.
— «E velejando por nossa derrota, prou-
\-e a Deos quo chegámos a ellc a salva-
mento, aonde dos moradores da terra fo-
mos muyto bom recebidos, os qnaes ha-
vendo por causa nova virmos nòs daquel-
la mancyra eutregues :i pouca verdade
dos Chi-.is, nos perguntarão de que terra
vinhamos.» Ibidem, cap. 137. — «Os JIou-
ros das quaes e assi os da cidade temen-
do que podião receber algum duuo delle
pola artilheria quo lhe ouuirão quando os
saluou : foi de todos mui bem recebido
dandolhe muitos mantimentos e refrescos
da terra.» Barros, Década 1, liv. õ, cap.
'••. — i( Desombai'eou uo cães, e foy rece-
bido da Cidade com as ceremonias acos-
tumadas, e com grande aplauso, o con-
tentamento do povo, ficando correndo
cora suas obrigaçoens, aonde os deixare-
mos ])or continuarmos com as cousas de
Còchim.» Diogo de Couto, Década O, liv.
W cap. 2. '
pile a ol Eoy ha mão beijou,
c com elle si'> falou,
foy dclRey boui recebido,
cò gr.iude honra dcsiedido,
ricas joyas lhe mandou.
GARCIA I>K HF.ZEXDE, MISrF.LI.AXKA.
— « Isso acabado António corroa fez
gouernador de Babarem cm nome dol
Rei Dormuz Raix bueat multo bom ca-
uallciro do que todolos da ilha iicaram
mui contentes, e elle se partio pêra <->r-
muz aos doze dias Dagosto, onde f.)l bem
recebido.» Damião de (iões, Chrouica de
D. Manoel, part. 4, cap. G3. - — «Entra-
dos estes Religiosos lia Ilha, forão rece-
bidos dei Rei de Cotta com benigna hos-
jiedagem ; conjeçando a nascer segunda
vez uo Oriente o Sol Divino. Ouvio aquel-
la Gentilidade a voz do Ceo: c ao bene-
ficio da terra inculta resjiondia o ft-uto,
oncamiidianrlo ao curral da Igreja infini-
tas ovelhas.» .laeiíilho Friíire de Andra-
de, Vida de D. João de Castro, liv. 4.
— Recebidos ou noivos; casados.
— Coniumt:, li:i recebida ; costume, lei
adoptada.
— Grandes vtercês recebidas. — «Por-
que na verdade niuvto menos culpa, e
caso era estar dom Aluaro em Saiitarem,
posto que estiuesse ])or parte do Duque,
e cm ajuda sua, que a dos outros que
com suas jn-opias mãos querião matar seu
Rey, e senhor, de quem niuytas e gran-
des mercês tinhào recebidas, que dom
Aluaro ainda que consentisse em o faze-
rem, não no quis elle fazer, nem ver fa-
zer, e j)or isso estando el Rey em Setu-
uel estaua elle em Santart^m.» <!arcia de
Rezende, Chronica de D. João II, cap. õ4.
— Ilúineiu recebido iK/nindíiincnte; re-
cebido com honra. — "Da viagem do qual
nós não faremos relação, por ser grande,
e miúda, e dia pos dia, segundo a escre-
veo Gil Simões Escrivão desta embaixa-
da, stmiente o que convém á nossa his-
toria, como Fernão Gomes de Lemos foi
recebido honradamente, e despachado cora
favor, o qual tornou á índia, sendo Af-
fonso d'Alboquerque já fallecido, e go-
vernar Lopo Soares.» Barros, Década 2,
liv. 10, cap. 5.
— Recebido com amor; recebido arao-
rosamente. — «Chegou á Cidade de Tou-
ro, onde el Rey seu pay, e a Raynha, e
toda sua gente estaua, e foy recebido dei
Rey com grandissimo amor, e muytas la-
grimas de prazer de liuma parte e da ou-
tra, e assi da Raynha, e de todolos Por-
tugueses com tanto contentamento que
mais não podia ser, porque toda a espe-
rança dei Rey dom Affonso, e dos seus,
era só, na vida do Príncipe.» Oarcia de
Rezende, Chrouica tíe D. João II, capitu-
lo 12.
— Recebidos os sacramentos da eijreju ;
tomados os sacramentos. — «Como nào
adquirio riquezas, de que dispor de no-
vo, nào fez outro testamento, que o que
deixou uo Reino, quando passou a gover-
nar a índia, em mãos do Bispo de An-
gra D. Rodi'igo Pinheiro, com quem tinha
communicado. E recebidos os Sacramen-
tos da Igreja, rendeo a Deus o espirito
em seis de Junho de mil quinhentos qua-
renta e oito, aos (juarenta e oito de sua
iilado, e quasi três de Govei-no daqucUe
Estalo.» Jacintlio Freire d'Andrade, Vi-
da de D. João de Castro, liv. 4.
— Recebido coui amor e gasaUiado ; re-
cebido amorosa o gasalhadaraente. — «O
qual vindo fugido deste tyranno, que o
queria matar por elle defender a justiça
do seu Príncipe, o seudo recebido com
amor. c gazalhado dElRey Sangesinga
de Cingápura, qne elle foi buscar por
amparo, e refugio de seu desterro.» Bar-
ros, Década 2, liv. 6, cap. 1.
— Sofirido. — «Té que no tini destes
dia« era já tanto o damno que os Mouro»
tinham recebido, que dos mortos, fcriílos,
e fugidoH licou a (.'idadu meia despejada,
recolhcndo-se pelo» nmtox, e nos m-us du-
ções aquelles (jue us tinham.» Ibidem,
cap. H.
RECEBIMENTO, «. m. Acçào de rece-
ber.— •■/(» (juarlo (Japitulo lie: Que os
coutrautos da» compras e vendai), loca-
ções, emprestido», estipulaçuões, proraiií-
Hoòes, companhias, doaçoõei*, afloramen-
tos, arrendamentos, depósitos, guarda, e
condecilho, recebimentos de Tetores, e
Curadores, c Eixecutores de testamentos,
ou d'outra postumeira voontade. Negocia-
dores, Aministradores, e outros quaees-
quer, » Ord. Atfons., liv. 4, tit. 1, § 14.
— «() Princijie veo de Moura dormir ao
lugar da Vera Cruz, onde chegou a elle
muyta e muy nobre gente da (Jorte, e o
outro dia nào pa.ssou do Portel por o re-
cebimento, festas, e banquetes que Ibe o
Duque de Bragança ahy fez em muyta
perfeição, que o Duque era muy largo,
e abastado em suas cousas, e trazia muy
honrada casa.» darcia de Rezende, Chro-
nica de D. João II, cap. 43. — «Despíds
de cl Rey saber o dia em que a Prince-
sa auia de ser entregue em Portugal, or-
denou que cm seu recebimento e entre-
ga, que no estremo dos Reynos se auia
do fazer, fosse cm nome do Príncipe o
Duque dom Manoel primo com irmão dei
Rei, e irmão da Raynha, filho do Infante
dom Fernando, e primo com irmão iLi
Raynha dona Isabel de Castella, que le-
uaua poder especial do Príncipe.» Ibi-
dem, cap. 121. — «Onde steue alguas
dias ordenando cousas que compriào pê-
ra seu recebimento, o que acabado se foi
pcra alnieirini, e deixando neste lugar os
infantes seus filhos, e filhas, se foi com
o Príncipe ao Crato, pcra ahi sperar a
Rainlia sua molher.» Damião de Góes,
Chrouica de D. Ifejioel, part. 4, cap. 34.
— «Este Talapicor entre algumas honras
e mercês que fez aos moradores desta ci-
dade para lhes satisfazer o muyto que
gastarão no recebimento que lhe fizerão,
foy concedcr-lhes (jue pudessem todos ser
sacerdotes, e ministrar sacrificios onde
quer que se achassem para Ihè darem
por isso seu estipendio como aos outros
que forão feitos por exame, e que pudes-
sem tanibem passar escritos como letras
de cambio para no Ceo darem dinheyro
aos que lhe cá fizessem bem.» Fernão
Jlencles Pinto. Peregrinações, cap. 127.
— «E ao outro dia pela menhan cedo se
partio para Mecuy, donde aforrado cò sos
três mil do cavallo se.guio seu caminho
por espaço de nove dias, p.issando por
muvtos o nmyto nobres lupireí, segundo
mostrava a apparencia tle fira, sem que-
rer aceitar recebimento nem festas era
nenhum delles, daudo por razão que fes-
tas de povo eraS occasiSo para officiaea
REGE
RECE
RECE
119
tyranuos roubarem os pobres, do qual
Deos se avia por muyto disservido. » Ibi-
dem, cap. 131.
— A acção de se receberem os noivos.
— «E para os mais atraher a quererem
íicar na cidade, lhes fazia muitos favo-
res, visitandoos em suas casas, chaman-
dolhes íillios, e íillias, fazendollies a des-
peza das vodas, acompauhandoos no dia
do recebimento a egreja, com trombetas,
e ata bales, de maneira que conuertiam
outras moíberes da terra a sé fazerem
Christas, e aos Portugueses a lhas pedi-
rem em casamento.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 3, cap. 16.
— Recebimento apparatoso ; recebimen-
to que se faz indo espei'ar o hospede ao
caminho, etc.
— Recebimento avantajado; recebimen-
to superior. — «Ao embaixador deste prín-
cipe Carão se fez muyto mais avantaja-
do recebimento que a todos os outros :
este trazia comsigo cento e vinte homens
de guarda de frechas e panouras tauxia-
das douro e prata, vestidos todos de cou-
ro escodado roxo e verde, e doze portey-
ros a cavallo com maças de prata, e do-
ze quartaos a destro.» Fernão Mendes
Pinto, Peregrinações, cap. 124.
— O recebimento cortez da visita; con-
siste em sair fira da sala para dar a pri-
meira entrada ao hospede.
— Recebimento mui honrado; recebi-
mento feito com as devidas honras. — - uE
ao despedir do dito capitão, e capitães,
el Rey lhe fez a todos para ajuda do ca-
minho mercê em muvta abastança. E
neste tempo era vindo de Roma o mor-
domo mor de dar a obediência como atras
se disse, e veo por Veneza polia ver, e
a Senhoria sabendo que era embaixador
dei Rey lhe fez muy honrailo recebimen-
to, e murtas festas.» Garcia de Rezen-
de, Chronica de D. João II, cap. 58. • —
— Recebimento solemne ; recebimento
feito com toda a solemnidade. — «Xa
sabida do qual em terra a Cidade lhe ti-
nha feito hum solemne recebimento; e
quando foi á entrada da porta da Cida-
de, hum Mestre Aflbnso homem letrado
Fysico, que servia de Juiz ordinário, lhe
fez huma Oração.» Barros, Década 2, liv.
7, cap. 4. — «El Rei dom Emanuel, e
ha Rainha dona Isabel sua molher dece-
rào em huns paços, que hos Reis Dara-
gão tem fora da cidade, a que chamaõ
Aljoufaria, e alli jeutarão, "e no mesmo
dia a horas de véspera entrarão na cida-
de, onde lhes foi feito lium solemne re-
cebimento, com muitas cerimonias ao mo-
do do regno Daragão, que nestes actos
has tem demasiadas.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 1, cap. 30.
— Grande recebimento; recebimento
pomposo, fastoso, cheio de pompa. —
«Depois deste veo hum embaixador dei
Rei de Campar, que fora genrro dei Rei
de Jlalaca, e outro de hum dos Reis da
ilha de çamatra mais visinho aquella ci-
dade, com recado a Afonso dalbuquer-
que, como o queria vir visitar em pes-
soa, e fazerse vassallo dei Rei de Portu-
gal, pêra o que lhe deu seguro com que
se logo veo a Malaca, onde se lhe fez
grande recebimento.» Damião de Ctocs,
Chronica de D. Manoel, part. 3, cap. 19.
— « Sabendo o Governador da sua che-
gada, lhe mandou ordenar grande rece-
bimento, como se lhe fez, e o recebeo
em sala cõ grande aparato : e depois de
passadas as palavras da visitação lhe deu
as cartas de ElRey, e algumas joyas ri-
cas, e curiosas que lhe mandava de pre-
sente.» Diogo de Couto, Década 6, liv.
5, cap. 4. — «D. Álvaro chegou alguns
dias depois de D. Payo, e o (Jovernador
lhe fez hum grande recebimento. E por-
que sabiaõ todos quanto folgava o Go-
vernador de lhe engrandecerem o nego-
cio de Xaèl, não se falava em Goa em
outra cousa, sendo ella em si taõ peque-
na como temos dito.» Ibidem, liv. 6,
cap. 7. — «Surto o Visorey com toda
sua Armada no porto de Columbo, ao
outro dia desembarcou, e ElRey, e Gas-
par de Azevedo Alcaicle mor lhe fizeraõ
hum muito grande recebimento, porque
por alguns navios de remo que forào
diante, tiveraõ aviso de sua vinda, e lo-
go o forão esperar a Columbo, levando
ElRey comsigo seu pay, e os principaes
de sua Corte.» Ibidem, liv. 9, cap. 17.
— Termo antiquado. Alpendre coberto.
RECEBONDO, A, adj. Termo antiqua-
do. Capaz de ser recebido em paga, e
satisfação de dar. ou manter por obriga-
ção. — Eifua recebouda.
f RECÉBUDO. Vid. Recebido. — «Po-
rem Estabelecemos, que se algum con-
fessar que recebeo algum emprestido, e
ataa sessenta dias queira dizer que o
nom recebeo, posto que o confessasse.
Mandamos que o possa dizer, e que seja
a ello recebudo, segundo já per Nós, e
per Xosso Padre foi esto mandado.» Ord.
Affons., liv. 4, tit. 5õ, § 1.
RECECEAR, v. a. Vid. Recencear.
RECEIAR, f. a. Vid. Recear. — «Dra-
musiaudo, a que a empresa daquelle dia
custara mais sangue que a nenhum de
seus companheiros, vendo seu imigo tão
temeroso e forte, não achava o espirito
tão descançado, que deixasse de receiar
o lim de seus dias.» Francisco de j\lo-
raes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 94. —
«E' cousa que os homens tanto receiam,
disse a donzella, que primeiro, que se
lhe descubra, o hão-de jurar, que depois
nenhum o quer prometter, e se o pro-
mettem não o cumprem.» Ibidem, caj).
102. — «Porem como o cavalleiro do Sal-
vagem, alem de temer e receiar os gol-
pes de Bracolão, tivesse outros receios,
que lhe punham maior medo.» Ibidem,
cap. 106. — «O cavalleiro do Salvage se
recolheu á camará d'Arlança, e sentado
junto delia, vendo-a vencida do medo,
lhe disse : Senhora, não temais tão pe-
quenos desastres ; deixai esse temor pêra
quem se vir vencido de vossas mostras,
que este tcr;i que sentir e receiar.» Ibi-.
dem.
A bcUissima Moiu-a, que a vontndo.
Twii tambcm ao marido tão sujeita,
Que uem vida, nem gosto, ou liberdade
Sem elle lhe podia ser aoceita,
Jlonoã sente envtào fresca o tcni-a idade,
E tal que o mesmo amor solhe sujeita,
D'arrcceio9 de morto vêr-sc cheia
Que o mal que ao charo esposo então receia.
F. D'ANr)RADE, PBIMEIKO CEBCO DE DIU, Caut. 9,
est. 40.
Tendo o Silveira ja. determinado
Que este artelicio, que ellc nào recria.
Sinta o furor em si que foi tirado
Com força do fuzil, da dura veia,
O cargo disto logo cucommcndado
Foi por elle a fraucisco do Gouveia ,
Nobre varão, cujo esforçado peito
Mais se alegra que espanta co'o grão feito.
IBIDEM, cant. 13, est. 82.
Agora sim fallar pertendo ouzado,
Depois que só me resta a sepultura ;
Porque em fim pouco ou nada se aventura.
Quando ja se receia a lei do Fado.
ABB.4DE DE JAZENTE, POESIAS, toUl. l,pag. 0!t
(ediç. do 1787).
Esta vnda mortal de males cheia,
AfiucUe que hc feliz, que a estime embora ;
Que a dilate, (luem nunca as faces cora,
Quem de nada se doe, nada receia.
IBIDEM, pag. 127.
Jlais me temo a mim mesmo do que ao fado,
meio tanto o excesso de constante,
que degenera o firmo em obstinado.
IIISPO DO GRÃO PARÁ, MEMORIAS, pag. 152.
— íluito illustrc Senhor, taõ grande empresa
Minhas forças excede : o mesmo Achilles,
SIandrioardo, Cxradasso, Sacripante
t'pnmiette-la, por certo, receiaraõ,
E Orlando, inda que fora verdadeiro.
DINIZ DA CRUZ, HYSSOPE, Ca.Ut. 5.
O Céo (irado? — ou brando?) pôz limite
A minha perplexào. Para o Poente
Já 03 Astros propendiào : já reeeiào.
FRANCISCO MANOEL DO NASCIMENTO, OS MARTYBES,
liv. 9.
— «Cuido sempre que te vejo nessa
distracção, que tantas lágrimas me cus-
tou ; considéra-o bem : os tens assomos
são toda a minha infelicidade ; mas se-
rião todo o meu ódio, se os eu devesse a
outro motivo, que não fosse o movimento
natural do teu coração. Receio-me de
acções que vem estudadas, mais ainda
que da tibieza da minha compleição : pa-
ra almas grosseiras o exterior c laço ;
mas não o é para quem no animo fineza
tem.» Idem, Successos de madame de Se-
neterre.
Sc tu me affinas Cithara toante,
Para o Templo Celeste apresso os passos,
120
líEOE
K de línguas mordazcii não rr.cc.io
O fundo gi)l|in, o Jivido vcnono.
j. A. DK MACEDO, vuoEM uxrAiioA, cant. 1.
J;i — ii:i...da
'JViiho... quo... rn:ei(ir... do... Muarí... irim...
Noin... de... 8CU»... bcncficio.s... — Muh, ainigo.s,
Vi^H trahÍ!i-inu ! I^orquo... vodar-inc o sangue?
Doixao-mo — ou «ci morrer.
aARRKTV, CAT.vo, act. 5, BC. 11.
RECEIO, s. III. Vkl. Recêo. — «Como
co'i;.stin razòos adia.sso o coniy.ào íicoiu-
pnnliado d'i!siforyo c dcsacoinpanliado do
todolos tcmoro-s, quo d'imtcs rccciava,
som outra delibcrayào uoin receio se lan-
hou pela lafje abaixo.» Frauei.sco de Mo-
raes, Palmeirim d'Inglaterra, cap, 5)9. —
«E poi.s e-:te.s receios, tiue o mundo traz
a quem nolle vive, se podem apaj;ar com
bens do fortuna certos, antes que com
suas esperanças incertas, oliiai o que ten-
des na m<ão, o estado, que se vos apparo-
Iha, alem dos mais (jue por vossa natu-
reza real desde o principio do vo.sso nas-
cimento vos está apparelkado. » Ibidem,
cap. 101. — «Porém como Florendos es-
tivesse cheio de ira e manencoria, vendo
que já com menos receio os podia espe-
rar, remetteu a todos com tamanlio Ím-
peto como o fazia levar sua vileza delles,
ferindo a uma e outra banda com golpes
tào temerosos c grandes, que em peque-
no espaço os fez arrepender de se terem
descido.» Ibidem, cap. 102. — «A don-
zella vendo-o naíjuclla pressa, desconfia-
da de acabar tamanha cousa, e também
com receio de a matarem, desviou as
rédeas ao palafrem, e se mettou no mais
espesso da tioresta.» Ibidem, cap. 10.5.
— «Chegados a vista dos arvoredos do
Tejo, vendo por antr'elles a muralha do
gueiToiro castello d'Almourol, o coração
de Florendos foi atormentado de maiores
receios, que isto tem sempre a hora do
derradeiro temor nos corações entregues :
entSo lhe chegaram saudades dos dias
passados, receios dos perigos presentes,
lembranças do seus aggravos e tudo pêra
o mais atormentar.') Ibidem, cap. 108.—
«Desta maneira sereis servido com amor,
e ao contrario vivireis em ódio dos vos-
sos, cousa que faz damno á fama, e pas-
sa a vida em receio. E se alguns que ti-
verem as condições dadas a seus respei-
tos, vos desviarem d'isso, trabalhai que
antes por bom sejaos tachado dos máos,
que por m:lo vivaes em ódio com os
bons.» Ibidem, cap. 133.
Dcixtnno-lo agora ir, porque o receio
Faz, que uào so a8^egure, ou assocogue :
Vojamo.í o Mogor, que todo cheio
Do soberba o ousadia iuda o persegue :
Tauto que a Champanel inostrar-sc veio
Ix>go sem defensão lhe foi entregue,
O copioso tliesouro, e a nicsnia terra,
Coui tudo o mais que dentro em si encerra.
r. DE ANDRADE, PRIMF.ISO CERCO DE DIU, Caut.
3, est. 61.
RECE
— «o que entendido por Fernão do
Sousa, e o.i inai.s, que seguiSo sua voz, oh
asrio^'urou nesta parto de todos scu« re-
ceios, e como o brio dos Castelhanos ser-
via de cuberta ao inturosne, se vicrâo ao
outro dia nietter na fortaleza, esquecido
dos brios com que bizarreavào.» .lar-in-
tho Freire do Aiidrade, Vida de D. João
de Castro, liv. •>.— «,\qiii lizerão <« ini-
migos rosto, impedindo, ou retardando a
passagem doí nossos ; esteve a batalha
igual Inim largo espaço, fazendo-os ousa-
dos na peloija, o lugar, o a causa ; as vo-
zes das nnilheres, e filhos que ouviào llies
tazia roceljer as feridas sem dór, e sem
receio : os mortos que cabido, nào lhes
faziào cxenipid ao temor, senJlo á vin-
gança.» Idem, Ibidem, liv. 4.
Sc ho verdade isto, que leio?
So em sombra se me alligura,
Darci credito á ventura,
Ou darei fé ao receio.
IIODRKUJES LOBO, DESENGANADO.
De tanta confusão fica então cheio
Cada hum, quanta o Cunha antes ja tinha,
Que de tentar o Sousa tem receio.
E mandar os mil homens não convinha.
Quando o animoso Sousa posto cm meio
Vendo quo sú por cUe se detinha
Isto que tanto imi)orta, ousado c forte
S('>lta a voz para o Cunha desta sorte.
K. DE ANDRADE, PRIMEIRO CERCO DE DIl«, CaUt. ■),
est. 71.
Aftirma-se também (vou com receio
D'escrupulo.sa8 liiiguas maldizentes)
Que quatro ou cinco vezes neste meio
Lhe dera a natureza novos dentes.
Estraidia cousa assaz, mas nisto creio
O fiue atíirnião passados c presentes.
Que então dellc inda outra mais estranha
Cousa, cora ser tão nova esta c tamanha.
IBIDEM, cant. 8, est. G3.
De novo olha^ de amor e temor cheio
Aquellcs olhos antes Wvos raios,
E como de os salvar nào vê então meio
Lhe causào não hum si^, mas mil desmaios.
Agora teem da morte niór receio
Que entro os mais duros golpes dos Cambaios,
Porque menos mortal o imigo achava
CJue o perigo de quem vida lhe dava.
IBIDEM, cant. 9, est. 31).
Coutado tenho atraz que o miserável
liaudur, quando \ivia, com r&eio
Que lhe hia sendo o l"co mal favorável,
1'resago ja do mal que depois veio.
Mandou de ouro huma c>^pia iniiumcravcl,
AHirmão (|ue três contos são e meio,
A ,Tudá, porque alli determinava
Fugir ao mal que quasi ad\-iiihava.
IBIDEM, cant. 1"2, est. GG.
Faz-me isto quo deseje vèr-vos ida
Onde eu possa perder este receio.
Porque pondo eu cm salvo a vossa vida
Kn do maior perigo fico alheio ;
Mas se torno a cuidar na despedida,
E qu(í fica sem v/^s hum poito cheio
D'ainor vosso, e lembrança também vossa.
Também temo outro mal com que cu não possa.
IBIDEM, cant. IG, est. lõ.
RECE
O Silveira, que v6 quão iin|K>rtante
Lhe he que hc e«to rei-eio verifique,
Ordnm, :iut<-s que o mal vá mais ávanti-
Hum ni.'if) (luc, a certeza llie publique:
.Manda lium <|ue com grand'! animo e coniitantc
As estancias salteie c daiiitictíi|ue.
Porque ciitretiiiito veja so be ja fciUi
A mina, ou f|uii;á o e;ig,-ina c»ta «uí ifita.
MUDEM, cant. 17, ejit. 02.
Esta fúria c braveza com (|uc veio
' M Turcos commetter o Sou.sa forte,
Os pí'>z cm grão temor, i: em grão recrio
í^ue lhes vie.^se a «it imiga a sorte :
Também disto o Cbristão não fica alheio
Vendo que a larga pierra, e a cruel Diortc
I..he vão giMuprc os luelhorcs consumindo
Com que as for<;a8 lho vão diminuiiulu.
inioKM, cant. 4, est. 94.
«
(^ue Deos, oh filha, ao sevo meu te v<ílveV
Como é, que ir te deixei, »cm mim ao templo
Quantos frios rereion, quantos sustos.
r. MANOEL DO NASCIMESTO, OS MABrVBEB, 1ÍV. 1.
Pois c portanto achaca
dizcr-me o que llie quereis ;
olhae cA, <4 senhor, o receio
sabereis rpic está no ante
por porteiro do adiante.
ANTÓNIO PRESTES, ACTOS, pag. 437.
RECEITA, s. f. (Do latim recepta), (h
rcnielios com as doses, e modo de os
preparar c dar, que o medico prescreve
por escripto. — «Se por esta receita obra-
ram as outras mulheres, bem se lhe po-
deram confiar as tiihos que chamam de
ganância : visto porém que nào é a.«sim,
seria acordo crial-os sempre n3o si'> lV>ra
de casa, mas do lugar om que se vive. •
Francisco ilanoel de Mello, Carta de
guia de casados.
Fizicos vão,
fizicos vem, chove fizica
em casa inverno e verào ;
as despezas passarão,
a receita tem-na tísica.
ANTÓNIO PRESTES, AVTOS, pag. 499.
— O dinheiro ou renda que algumas
pessoas tem para sua despeza. — A re-
ceita nem setjuer eijuilibra a despezn.
— Cftrregar alguma itomma em receita;
assentar o que se recebeu. — «Estas ta-
l)oas fiirào carregadas em receita sobello
mesmo Poro de Sequeira, e depois sobello
thesoureiro que o succodeo. onde ao pre-
sente devem ainda destar, o treslado das
quaes mandou Pêro Sequeira em lingoa-
jeni Portuguesa, a el Rei dom loam ter-
ceiro, que sancta gloria .ija. e lhe f>i
dado.» Daniiiio de Góes. Chroaica de D.
Manoel, part. 1, cap. 'J.S.
— O niethodo e ingredientes para fa-
zer alguma tinta, doces, gelêas, chouri-
ços, c mesmo algu.is remédios caseirt>s.
— Aú IV) <la receita ; livro cm que se
lav.çam por escripto as souimas que se re-
cebem e entram.*
— O acto de receber dinheiro devido.
RECE
REGE
RECE
121
RECEITADO, inni. pass. de Receitar.
rrescripta pelo medico.
— Laiu/ado em receita a alguém.
RECEITAR, V. a. Prescrever um remé-
dio, ou medicina ao doente por escripto.
— Lauyar alguma somma, carregal-a
no livro da receita.
— Emprega-se também no sentido fi-
gurado .
— Receitar-se, v. refl. Consultar o me-
dico.
— Figuradamente: Receitar-se, fallau-
do a respeito do pcccados, no sentido
moral.
RECEITARIO, s. m. Fio de arame, ou
cordel, era que o boticário entia as recei-
tas para se Ibe nào perderem.
RECEITUÁRIO, s. m. Livro de receitas
medicas, ovi de formulas de remédios para
as doenças.
— As prescripções do medico no de-
curso do ti-atamento de uma doença.
REGEM, (tdv. (Do latim recens). De
pouco, recentemente.
— Recem-iiascirfo; nascido de ha pouco.
— B.ecem-coiicehião ; recentemente con-
cebido.
— Termo de poesia. Recente. — A re-
cem-cidade.
RECEM-CONVERTIDO, A, adj. Conver-
tido recentemente, de pouco tempo.
RECEM-DEFUNTO, ou RECEM-DEFUN-
CTO, A, adj. L)cfunto de pouco tempo.
RECEM-NASCIDO, A, adj. Vid. Recém.
■}■ RECEM-PARIDO, A, adj. Parido de
lia pouco, recentemente.
Dispòz a Providcueia, que cu, na Campa
Do Ovídio, a Libeidado recobvasso.
Qiiaudo, á volta costeámos o Moimouto,
Èecem-pSLvida. Loba atira o píilo,
Desatinada, ao Rei, acudo, c matto-a.
F. M. DO NASCIMENTO, OS MARTYKES, 1ÍV. 7.
RECENDENTE, ^j«í-í. acf. de Recender.
Que recende. — Os recendentes bálsamos
das plantas.
A humana habitação ! Correra ao clima
Da cheirosa C(àlào, de estranhas plantas
Oa recendentes bálsamos colhera ;
E nas margens do Indo, e fulvo Hydaspos
Yira 08 troncos da quente especiaria.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Caut. 3.
Eu vejo hum Ceo mais puro, c vejo eterna
Mais doce Primavera, c mais viçosa,
Mais recendentes, variadas flores,
Deliciosa sombra, amenos bosques,
Onde habita o prazer, onde o susurro
De equilibrado Zéfiro suave
Socogo, e paz ins(nra, e a mento eleva
Do Poeta, e Filosofo á s\iblime
Contemplação do maravilhas tantas.
IDEM, VIAGEM EXTÁTICA, CaUt. 1.
— Termo pouco em uso. Com mau
cheiro.
RECENDER, ou RESCENDER, v. n. Chei-
rar muito e bem. — «Mas logo Apollo
voL, V. — 16.
patonteiou áquelles OTelIíeiros a brandura
da vida rural, cantando-lhes as flores de
que se arreia a primavera, os perfumes
que recende, e a verdura que de suas pe-
gadas brota. Celebrou-lhes depois as mi-
mosas noites d'estio ; os zephyros refres-
cando os viventes; e o rocio consolando
a terra sequiosa.» Francisco Manoel do
Nascimento, Telemaco, liv. 2.
■ — Figuradamente : Recender nos chei-
ros de todas as virtudes. — «E assi vay
recendendo nos cheiros de todas as virtu-
des, e merecimentos, que se parece com
a vareta de fumo que sae de piuete com-
posto de todas as espécies aromáticas, e
cheirosas, e como mirrha, e bálsamo muy-
to escolhidos.» Frei Bartholomeu dos llar-
tyres, Catecismo da doutrina christã.
— «Outras ha, que são uma perpetua pas-
tilha, e uma caçoula perenne. Muito con-
forme cousa é com ellas o cheiro ; mu-
lheres, e pei"fumes, tudo são fumos. E se
elles fossem bem adubados da discripção,
eu iíco que recendessem mais ainda.»
Francisco Manoel de Mello, Carta de
guia de casados.
— ^Toma-se também por rescindir. Vid.
este vocábulo.
— Termo antiquado. Recender, por des-
cender.
RECENHAR. Vid. Resenhar.
RECENNAR, v. a. Termo de dourador.
Cobrir com bocadinhos de pão de ouro
ou prata aquellas partes onde ficou falta
da primeira vez, que a peça se cobriu.
— Toma-sc também no sentido figu-
rado.
RECEN-NASCIDO, A, adj. Vid. Recem-
nascido.
RECENSÃO, s. m, Vid. Recenseio, e Re-
censeamento.
RECENSEADO, part. pass. de Recen-
sear, llevisto, cotejado.
RECENSEADOR, A, s. Pessoa que re-
censeia.
RECENSEAIVIENTO, s. m. Acção de re-
censear.
— Recenseio.
RECENSEAR, v. a. (Do latim recensere).
Rever, examinar a exactidão, ou defeito.
— Fazer alistamento do numero, ida-
des, sexos do povo ou nação.
— - Contar, numerar.
— Emprega-se também figuradamente.
RECENSEIO, s. m. Acção de recensear
contas.
— Recenseamento.
— Exame de contíis.
— Recenseamento estatístico do povo,
por idades, sexos, posses, alistamento
para diversos fins governamentaes.
RECENTAL, s. m. (Do latim recens).
Cordeix-o de três ou quatro mezes, que
nasce tarde por abril ou maio; cordeiro
tenro.
Quanto me apraz, em plácidas campinas.
Matiz de Flores, trépido Ribeiro !
Dái-me, que cu volva a vida, cm selva opaca.
Que posto ! ir-me, entre prados, após Delia,
O Anho levar-lhe, recental, ao colo !
E SC, á noite a Cabana me estremecem.
Com refregas, qs Ventos iracundos :
Sc a chuva, cm lanças de ;i,gua fere o Colmo... .
P. M. DO NASCIMENTO, OS MARTYKES, 1ÍV. 5.
RECENTE, adj. de 2 gen. (Do latim
recens). De pouco tempo; novo, fresco.
— O recente comhafe.
■ — Si'X. : Recente, novo. Vid. este ul-
timo vocábulo.
RECENTEMENTE, adv. (De recente, e
o sufHxo «mente»). De um modo recente,
de pouco tempo, proximamente.
RECÊO, s. m.. Temor, medo. — «De-
pois do Infante dom Aftbnso assi estar
era terçarias na villa de Moura em poder
da Infanta dona Beatriz sua auó, como
dito he, ho Príncipe e a Princesa, pollo
grandíssimo bem que ao Infante queriào,
por ser tão excellente criatura, e nào te-
rem outro filho, nem filha, e pollo grande
receo que tiuhão á sua saúde, por a villa
de Moura ser muyto doentia nos verãos,
ficarão em Beja para daliy cada dia sa-
berem nouas do filho, que em estremo
muyto amauão. » Garcia de Rezende, Chro-
nica de D. João II, cap. 22. — «Mas os
mouros que se acolheram a serra voltaram
com tanto Ímpeto, que sem nenhum receo
cometeram dom loao de meneses, e lhe
fezeram forçadamente tornar a passar
este canal da ribeira seca, posto que em
sua companhia estiuessem Rui barroto,
loam soares, Aluaro de carualho, loam
gonçaluez da camará, loam da sylua, c
outros fidalgos com toda sua gente, em
que darabalas partes ouue mortos, e feri-
dos.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part, 3, cap. 50. — «Mas por-
que ja era forçado fazer da necessidade
virtude, cheo de receos por dentro, e
com mostras de alegria por fora; cheguey
aquelle, que de todos me pareceo, seria o
Capitam, e sem lhe dizer palaura algíia,
com toda a humildade que me foy possi-
uel, lançandome a seus pès o abracey.»
Fr. Gaspar de S. Bernardino, Itinerário
da índia, cap. 10.
— Syn.: Recêo, liíec/o. Vid. este ultimo
vocábulo.
— Recêo, desconfiança. Vid. este termo.
RECEOSO, A, adj. (De recêo, e o suf-
fixo «oso»). Que tem receio, que tem
medo, cheio de medo. — «E se na vossa
terra irmaijs meus se não usa isto, deveis
todos de andar muyto receosos do castigo
do Ceo, porque Deos lá não tem noite em
que lhe seja necessário cerrar os olhos
para dormir, como cá fazem os Reys da
terra.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 102. - — «E teue maneira que
estando o dito Lopo Vaz em Moura bem
receoso, e guardado delle, por certos ca-
ualleií-os, que manhosamente lá mandou,
dizendo que hiam fogidos, o mandou ma-
tar, e o matarão no campo indo com elles
122
RECE
á ciicií..' «larciu de Uezcnde, Chronica de
D. JÔào II, Cfiii. 20. — «(Join ;i clngiidíi
(1(1 iiinrichal foi Afonso .l!ill»U'iui'r«iiiu iimi
íil«';ín;, mas iiuin LoureiK.-o de In-ito, por
tur a parto do Viccroi, o (|ual como souho
íi.s nona.-* da vinda do Maricliai, ((uo era
muito paroiiti! de Afonso (ljill)iU|mrilU(j,
receoso <iuo liie fczusso alguma nem ra-
zain, cuti-e^'»)!! a fortaleza ao alcaide mor,
c elle .se foi pêra ( '.leliim. » Damião de (ioo.!,
Chronica de D. Manoel, part. 2, cap. 41.
„() eoiitador Xuuo fíato nam foi uesto
nc;;-oei<), porcino Nnno fornandcz o doixoti
na^^cidadc por capitam da Ki"itL- ([ne iiella
iicana, receoso «pie. a do UUedambrào (pie
Catana a diiaa Icfíoas dalli, viesso corror,
o (pio posto <pio nam fez, eui elle tornan-
do llio saliio ao caminlio luuna logoa, e
mca da cidade, sefíuindoo ainda o.s outros
Mouro.s, dos quaes todos se desfez com
assaz trabalho.» Idem, Ibidem, part. 3,
cap. 13. — «K porque estaua receoso,
assi pelas nonas que tone da viaí^em quo
Afonso dalbnqnorquc fez ao mar Darabia,
como por cartas que lho vieram do llo-
des, quo maudaaa o Soldam de Babilónia
lazer em Suez, e no Thor nãos, e t;ales
j)era mandar a índia.» Idem, Ibidem,
part. 4, cap. 77. — «Neste anno de de-
zasete no mes de lanciro venceo Soly-
mam Othomão Emperador de Turquia o
Soldam de Babilónia, o se apoderou do
Cairo, e de todalas terras do quo o Sol-
dam era senhor, pelo que el Rei dom
Emanuel receoso que as cousas do Turco
cada dia fossem em erecimento.» Idem,
Ibidem, part. 4, cap. 20. — » E^ porípie
estes três do outeiro se comeijaraõ de des-
pejar, receoso dom Nuno, que ao sair
deile lhe desse a peonagem trabalho,
ouue por mellior dar de caminho em hum
destes, o sem fixzer mais detem^a que es-
perar pela bandeira que ja vinha porto,
o cometeo em que matou muitos mouros,
o captiuou setenta, e ao gado, cauallos,
camoUos, e outras alimárias que eram
sem conto.» Idem, Ibidem, cap. 44. —
«I)c ahi a alguns dias chegou Kaix xara-
pho a cidade, pelo qual António Corrêa
nam quis esperar cm Babarem, receoso
quo nam achasse ja Diogo lopez de se-
queira em 'Ormuz, pelo que tinha assen-
tado como lica tlito, que era ir fazer em
Diu a fortaleza de Modrefaba, no qual
negocio, por saber quo se nam comeearia
se nam com armas vestidas lhe pesara
muito do so nam achar.» Idiin, Ibidem,
cap. lio. — «Porque os Camelevros cujos
eram os Caualos, o Camelos, receosos de
lhos matarem os liiiigos, lani,'auamse da
sua parte, e como era mavor a perda, de
iiearem as fazendas no Deserto, que sa-
tistazorem âquella canalha; foy for(;ado,
juntarem dez mil cruzados, os quaes pa-
gos, tornamos a caminhar.» Fr. tiaspar
do S. Beriuu"dino. Itinerário da índia,
oap. 2.
— Que causa receio.
RECE
RECEPÇÃO, a. /. (Do latim receptio).
Ac(;ao do receber. — Recepção do» eacra-
mtiUou,
— Termo du astrologia. Â communica-
(;ào tlíirt dignidades csHonciaes de dons
planetas, que estilo reei])rocamente no
(iouucilio o exaltai.-ào um do outro.
— U recebimento que se faz a quem
nos vem visitar, vêr, ou buscar.
RECEPTACULACEO, A, udj. Termo de
bouiiiiea. C^iie ('• euncerneuto ao receptá-
culo, ou adherente a elle, lallaudu do
neetario.
f RECEPTACULAR, ailj. 2 (jen. Termo
de bolaniea. l^iie está Collocado sobre o
recej)taeulo.
RECEPTÁCULO, s. m. (Do latim rece-
Ijtaculusi. Logar onde so reúnem muitas
cousas de diversos sitios. — A mia cava
é o prindijul receptáculo de. tixlfu aa
aguas, — A atnwsijhera t o receptáculo
geral de iodas as matérias voláteis.
— Nas machinas a vapor, receptáculo
do vapor, camará que contém o vapor.
— Termo do botânica. A cavidade cen-
tral do calvx, e assento das partes da tlor,
ou do fructo, separada ou conjuncta-
mente.
— Nome dado aos órgãos de fórmas di-
versas que contém os corpúsculos repro-
ductores das plantas cryptogamas.
RECEPTADOR, A, *. iDo latim recepta-
tor). i'ossoa ([ue recolhe, guarda, e es-
conde.em sua casa furtos, roubos, ladi'õe8,
desertores, ete.
RECEPTIBILIDADE, «. /. Poder da nossa
seiísibilidade receber impressões.
— Aptidão que tem certos orgiíos para
receberem os agentes morbiticos.
RECEPTIVEL, adj. 2 gen. (Do latim )<;-
ceptiòilisi. Digno de se receber. — Des-
cidpa receptivel. — Embargos recepti-
veis.
RECEPTIVO, A, adj. Que recebe.
— (.^tuc recebeu impressões das letras
que representam os sons.
RECEPTOR, s. m. ^Do latim receptor).
Recebedor, thesoureiro, depositário.
— Diz-se de uma machina, de um vaso
destinado a receber aguas superabun-
dantes.
— Apparelho de tclegrapbia eléctrica
que recebe o aviso enviado pelo manipu-
lador.
RECESSO, #. m. i Do latim recesaus), Lo-
gar remoto, retiro.
— Termo de astronomia. O aparta-
mento que o astro fiiz do nós. — Recesso
do sol.
RECETACULO, «, )n. Vid. Receptáculo.
RECEYAR, r. «. Vid. Recear. — «O qual
tinha hnnia cerciv que seria de mais de
huma legoa em roda, dentro da qual cs-
tavào fabricadas cento e sessenta e quatro
casas nmvto compridas e largas a modo
de terecenas, todas clieyas até os telha-
dos de cavcyras de gente morta, as quaia
er.MÍo tantívs em Umta quantidade que re-
BECH
ceyo muyto dizello, anal por ser cousa
(|ue se poderá mal crer, com'j pelo abuso
o ceguevra destes mi^el■avei«.» FernAo
Mendes l'into. Peregrinações, cap. 12(3.
RECEYO, *. III. \\,l. Receo, que é a
orthíjgraphia mais seguida. - « Nove dias
havia <|ue com a.-sàs de receyo estáva-
mos esperando a publieai;ars da nossa sen-
ten<;a, ([iiãdo bum Subbado pela mauhi
nos vieraõ buscar á pris3<> duus ChuDi-
biiis da .Justiça aeòpanhados de vinte
upori cõ labarda», chuças, o barretes de
malha, e outras cousjts a este modo que
os faziaõ temerosos á vista, c« quacs
nos metccjKj cm assas de medo, u ago-
nia.» Fernão Mendes Pinto, Peregri-
nações, cap. 1<>;5. — «Os quais lhe re«-
pondcraõ que elb^ estavSo todos muyto
prestes para servirem el R^y nosso senhor
em tudo o que se ofterecesse, porem que
))ois a carta de Pêro de Faria capitSo de
Malaca vinha toda funda<la no receyo que
tinha de os Aches, e a armada das cento
e trinta vellas que esperava, de que era
general o Bijayaa sora Uey de Pewlir, e
Almirante do Aachem vir a Tanauçarim. »
Idem, Ibidem, cap. 148. — «Paraquo este
(.'alaminhan entretrvesse com guerra ao
Siammon o verão seguinte, com que nâo
pudesse soccorrer o Rey do Avaa, e lhe
ticasse a elle mais fácil poder tomar e«t*
cidade, sem receyo deste socorro de que
se temia.» Idem, Ibidem, cap. 157. —
«Semelhante receyo enfrt!ou ao Rey de
Tangut, que como mais visinho, e verda-
deyro hcrdeyro de Pegii, determinava
com bastante poder tomar posse do que
por verdade vro direyto lhe era devido.»
Conquista do Pegú, cap. 7.
RECHABITA. Vid. RecabiU.
RECHAÇADO, part. pass. de Rechaçar.
Rcpellido.
RECHAÇAR, c a. Oppôr-se ao c-.rp..
que se move. c fazel-o retn>coder.
— Rechaçar o« «««uZíoí; resistir a el-
Ics.
— Rechaçar a alguém tm cara; res-
pondcr-lhc com doscortezia, com aspe-
reza.
— Rechaçar o dicto, d^xutires, zvniba-
ri'is: revirar com outro, que desfez o as-
serto, ou a zombaria, motejo, toque dado
a quem rechaça.
— Figuradamente: Rechaçar a conver-
sarão: evital-a com má resposta, ou com
outra cousa similhante.
— Rechaçar o inimigo que veio accom-
metier; fazel-o retirar.
— Rechaçar os a^altos : resistir a el-
les.
RECHAÇO, *. »'i. Reflexão do corpo
elástico, que batendo em outro torna pa-
ra d'onde vei<>.
— Resistência, repulsão.
— Estorvo dt> progresso.
— Dança conhecida por este nome.
— Resposta ou replica, com que al-
çuem tiea atalh.ndo, enleado, sem dizer
RÉCH
ou continuar o que ia a dizer, ou a fa-
zer; rerirete, retruque.
— Emprega-se também figuradamen-
te.
RECHÃ. y. f. Campo, planície.
RECHANO, 5. m. Termo antiquado.
Planície, clià em alto.
-J- RECHASSAR, r. a. Vid. Rechaçar.
Já suppliccs nos crês aos pés de César ?
Ja por escravos teus nos imaginas?
De nossas forças quem te disse o estado '?
Temos armas, e braços de sobejo
Que essas temidas legiões recka-ssem.
GABBETT, CAlIO, aCt. 2, SC. Õ.
RECHATAS. Vid. Regatas.
RECHEADAMENTE, alv. i De recheado,
e o suffiso cimente»). Com recheio.
— Figuradamente : Com gi-ande abun-
dância.
RECHEADO, pcni. pass. de Rechear.
Cheio de recheio, que tem recheio.
— Figuradamente : Que tem grande
abundância. — ^«0 qual na mesma hora
despachou seu sobrinho com doze torra-
das, que sem difficoldade tomou o corpo
do tvrano !Mocri. e o trouxe a Babarem
onde Raix xarapho lhe mandou cortar a
cabeça, de que António correa mandou a
pelle recheada dalgodam a el Rei de ( )r-
muz per Balthesar pessoa, e Rui correa.
com que assi el Rei, como Diogo lopez
foraõ mui alegi'es, e se fezeram muitas
festas.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 4, cap. 63.
Recheada
logo cheia aqui darêa.
Arèa, cofre c martelo?
vós quereis trazer Vulcano
do inferno ?
Axrosio PRESTES, ACTOS, pag. 279.
— Substantivamente: Vid. Recheio.
RECHEADURA, í. f. Recheio.
RECHEAR, ou RECHEIAR, v. a. Encher
de recheio, ou de picado, o ventre da
gallinha, leitào. etc.
Eil-o amoedado, a eito
rechear bem este peito
de pCiOs dafazcndando.
AXTo.vio PRESTES, AUTOS, pag. 407.
— Figtiradamente : Encher muito.
— Rechear-se, v. refl. Encher-se mui-
to.
— Emprega-se também no sentido fi-
gurado.
RECHEGO, s. »i. Termo de caça. Abri-
go, resguardo.
— Logar occulto entre junco ou her-
vas para vigiar as adens.
RECHÊO, ou RECHEIO, s. m. Picado,
ou massa com que se enche a barriga da
gallinha, leitào, ou peixes assados ou fri-
tos.
— Picado de que se enchem paios,
chouriços, pepinoSj etç.
RECI
— Aquillo que enche algum vào.
— Figuradamente: Grande abundân-
cia. — «AUi lhe foi cahir huma nas
unhas, que logo foi rendida, poíto que
com trabalho por ir forte, e com muita
gente, e foi tomada com todo seu recheio,
e os que escaparam vivos foram cati-
vos.» Diogo de Couto, Década 4, liv. 8,
cap. .'i.
RECHINANTE, part. acf. de Rechinar.
Que reehina.
RECHINAR, 1-. a. (Do framcez rechi-
gnevj. Ranger, fazer sussurro, ruido.
Cen-a com cUe a tempo, que assestaua
Coutra elle o fiu-ioso mortal tiro,
A frecha sacudida chega, e toca
A rodolla, que de aço he guarnecida.
Eesualla, e vai com forçii rechinando
Por meio dos sutis delgados ares,
Mas elle nas entranhas, polia parte
Do viuo coração a espada esconde.
CORTE REAL, X.^rFKAGIO DE SEPÚLVEDA, CBUt. 9.
— Produzir som agudo, e forte.
RECHINO, s. /;(. O susurro, ruido agu-
do, e fute.
RECHONCHÃO. = Significação incerta.
RECHONCHUDO, A, adj. Termo popu-
lar. <Tordo, roliço.
— Criança rechonchuda; criança gor-
da.
RECIARIO, í. m. 'Do latim refiarms).
Gladiador, que procurava envolver o con-
tendedor no combate com uma rede
n'iima mão. e na outra uma fisga. "
f RECIBIMENTO, s. m. Yid. Recebi-
mento. — O recibimento da primeira
entrada todo fechado em roda com çjrades
de latão mui grossas. — <tE passando nós
por huma ponte que atravessava a lar-
giira da cava, chegamos a hum grande
terreyro, que estava no recibimento da
primevra entrada todo fechado em roda
cõ grades de latão muyto grossas, e la-
geado todo de lageas brancas e pretas
assentadas a maueyra de enxadrez, tào
lisas e tào bem lustradas que se via huma
pessoa nellas como num espelho.» Fer-
não Mendes Pinto. Peregrinações, cap.
109.
RECIBO, í. 7)i. Escripto em que alguém
declara ter recebido algum dinheiro, ou
cousa em pagamento, deposito, ou para
entregat- ou remetter a outrem. — Pas-
sar recibo. — Os livi-os de recibo. • —
oXunca faltaõ aos Reys traças, e modos,
para evitar damnos, mas que pareçaõ in-
separáveis por invisíveis. Taes foraõ, os
que padeceo a Alfandega de Lisboa mui-
tos annos nos direitos Reaes com hum
Ministro, que tirava folhas dos livros do
recibo tau subtilmente, que ficava invi-
sível a falta.» Arte de furtar, cap. Õ4.
RECIDIVA, s. /. Tétmo de medicina.
Reappariçào de uma doença depois do
restabelecimento completo da saúde, no
fim de um lapso de tempo indefinido que
RECI
123
algumas vezes se conta por annos. — A
recidiva de lun tumor que já se tinha ex'
t ir pado.
— Acçào de cahir na mesma falta, no
mesmo delicto, ou crime.
RECIFE, s. m. Serie de rochedos á flor
da agua.
— Lanço de penedia ao longo da cos-
ta, mais ou menos alto que o nivel do
mar, entre o qual e a praia, corre um
esteiro dagua ou praia nua. Vid. Arre-
cife.
RECIFOSO, A, adj. Em que ha recife.
— • Piai<'!< recifosas.
RECINDIR, r. a. Vid. Rescindir.
RECINGIR, V. a. Tornar a cingir, cin-
gir de ni.vo.
RECINTO, s. ni. O circuito, o espaço
compreheudido dentro de certos termos.
— Circulo, cerco de defeza.
— Figuradamente : O recinto do ro-
sário de Nossa Senhora.
RECIO, s. J/i. Praça, logar.
— Alguns escrevem Rescio, e outros
Roscio.
RECIPE, .«. m. Do latim recipe). Pala-
vra latina significando tornai, e pela qual
o medico começa uma fórmula.
— Ordem ou fórmtda medicinal indi-
cando o remédio que deve tomar um
doente.
— Por extensão, toda a espécie de re-
ceitas oti firmula de remédios.
f RECIPIANGULO, s. m. Termo de geo-
metria. Instrumento para medir os ân-
gulos dos sólidos.
" RECIPIENTE, s. m. /Do latim reci-
piens). Vaso adaptado ao alambique, pa-
ra receber os gazes que se evaporam, ou
os líquidos que se dístillam.
— Recipiente jlonmtino ; recipiente que
se emprega para a distillaçào das essên-
cias mais ligeiras que a agua.
— Campamda de vidro que se colloca
sobre o prato de uma machina pneumá-
tica, e onde se encei-ram os corpos qtie
se querem jiôr no vasio.
RECIPROCAÇÃO, 5. /. (Do latim reci-
procatio). Mutua correspondência, reci-
procidade, correspondência de deveres,
correlação.
— Antigo termo de phvsica. Recipro-
cação do pêndulo ; movimento que certos
philosoplios julgavam serem communica-
dos ao pêndulo pelo movimento da terra.
RECIPROCAMENTE, adv. (De recipro-
co, e o .suffixo «mente»). De um modo
reciproco, mutuamente.
— A revezes.
— De parte a parte, com igual coitcs-
pondencia.
RECIPROCAR, V. a. /Do latim recipro-
care . ('omniunicar muttiamente.
— Reciprocar-se, v. rejl. Communiear-
se reciprocamente, com reciprocidade.
Ali verão as setas estridentes
licciprocar-ee, a ponta no ar virando
1J4
\i\'j:\
UECf.
HKCL
( 'mitru ()uniii as tirou ; que VfOA ))i;l(ij»
IV ((uiMU Oritcudc a tV; da iimdro I;írcjii.
<AJI., LLS., Cimt. 10, Ortt. 10.
RECIPROCIDADE, «. /. (Do latim rcci-
■jn-orilits). (,>ii.iliiljulo, CiU-íiL-tor do que é
meiíiroci). — A reciprocidade dos Ljuh
iijjicws,
— A ncçào qiio rociprocaiuento bo fa-
zciu iliiiis possoiís, unia á outra.
— iti-ci])r(ieii<;íli).
RECIPROCO, A, wlj. (Do latim )v;ct>n<-
(■((.si. Miituii, cni quo ha correspondência
lie [larte a parte.
roi"óiii com ((uanto luun o outro iíto quo ouviru
'i'or H0Ui4 olhos ja tom visto pi-imoiro,
I )uvo as novas porím do ((uu bnin vira
Com prão pra/.or, do amij^o c compauliciro,
.lulgando (juc o quo vio nao liu niontira,
l'(iis outro o vio tambora, mas vordadoiro,
Vj assi osta reciproca alcp;ria
J)obra, o acredita o bom daqucUe dia.
Kn.VNCI8C0 nE ANDBAPK, PllllIKIlíO IKltCO PE DtU,
cant. 20, est. 50.
l'a.S3a o homom do bosque á Bocicdado;
As precisões reciprocas soccorro
IVdirào aos iuort:ies, c ocoulta força
Irresistível sympatliia os la(;os
i)a ventara commuiu com leis aperta.
J. A. 1)R MACEDO, MEDITAÇÃO, Cailt. 1.
llllo a prova te dêo, ncUe encontraste
Jícciproca attraoi;ào dos Corpos todos.
IDKM, VIAOEM EXTÁTICA, cailt. 3.
l'or(;a de antigos ovos ignorada
1'oi attracçilo rce.iproca. c foi sempre
Centri-fuga, o coutri-pcta esquecida,
k\m\ ([uo estranhos feuoincnos 8'e.tplioão.
Aqui buscamos os brazucs, as honras,
Nelhi com sangue se disputa hum Throuo,
Se ambiciona o jioder, sempre agitada
A mortal gorai,"!io tum\iltuosa
Da guerra accende o fogo, o chama as Knvias,
E com fatal reciproca viugan(;a
Vazia a dei.\a mais : nestes limites
listrei tos na razão, no eugano grandes.
IDEM, A N.VriREZA, Caut. 2.
— Termo de Idiíiea. Praposicues reci-
procas ; duas proposiçõe.s taes que o su-
jeito de lima pôde tornar-se o attributo
da outra, e o attributo de uma o sujeito
da outra.
— Termos recíprocos ; termos que tem
a mearaa si<ínitiea(;ào, e que so podem to-
mar um pelo outro, por exemplo homem
o animal racional.
— Termo de mathematica. Fif/uras re-
ciprocas ; a(|uellas cujos lados se podem
comparar de modo que o antecedente de
lima razào, e o eousequente de outra se
acham na mesma figura. — ^1 grai-itacão
exeixe-se na razão reciproca do quadrado
das distancias.
— Termo de grammatica. Verbos recí-
procos ; \erbos quo exprimem a ac^-rto
mutua de muituM Bujcitoti uuh Hobre os
outros. — Ferem-se, auiam-íc.
— SvN. : Reciproco, muino. \'id. crtte
ultimo termo.
RECISÃO, »./. (Do latim recisio). AcySo
do reseiíniir, aunullar.
RECITA, ■•<. f. K:;eitativo.
— l{ij)rc!Siiiia^'ài) theatral de uma noite.
RECirAÇAO, «. /. Acvào de recitar.
— .íVcto de dizer os pape h do drama,
e ordinariamente do.s cantado.i em reci-
tativo.
RECITADO, i>art. pass. de. Recitar.
— Diz-.se da memoria. — Li<;iks reci-
tadas.
— Contado.
— Sub.staiitivamente : Recitativo.
RECITADOR, A, adj. e a. Tessoa que
recita.
RECITANTE, part. uct. de Recitar.
(.^uo recita.
— Substantivamente : Termo pouco
usado, lleeitador.
JIECITAR, i'. (í. (Do latim recitarei. Fa-
zer em voz alta a leitura do qualquer
obra, referir, contar. — « Das quaes coii-
clusòes, o das outras que uào recitamos,
porque bastam estas pêra oxempliriear,
sempre os Mouros letrados da l'i;rsia en-
tre si trouxeram e.stas máximas de sua
seeta, nào ousando sahir mui a campo
com ellas ; porque como o mais do tem-
po foram governados per Califas Arábios,
(pie tem o contrario, eram havidos por
heréticos, e castigados por isso.» Barros,
Década 2, liv. 10, cap. 0.
— líepetir o recitativo nas operas.
— Iveiatar.
— Recitar de cór a Fscriptura tío.gra-
da. — «Clemente Sixto tudo aquillo que
huma vez leo, sempre fclixmente o con-
servou. Valente Diácono recitava de còr
toda a Escriptura sagrada. Joào Palesti-
no Cego perguntado do repente sobre
qualquer matéria, que tivesse lido em
qualquer Author, uo mesmo poato repe-
tia por formais palavras o (jue lera.
Quem quizer uiavor noticia de lueuiorias
prodigiosas consulte o Theatro da Vida
llumaua de Laurencio Beyerliuch, c as
( (fficinas de llavisio Textor, c de Joaõ
Fclix iVstolpho.» Braz Luiz d'Abreu,
Portugal medico, pag. IO, § õ3.
— V. n. Ivezar em voz alta os officios
divinos da igreja uo coro.
recitativo", s. m. Termo de musica
dramática. Canto em quo se repete a
maior jiarte da letra das operas ; é di-
verso do quo se usa nas árias, e mais
simples. Vid. Melopéa.
RECLAMAÇÃO, s./. (Do latim reclama-
tio<. Aci,'ào de i-eclamar, de reivindicar
alguma cou.^a.
RECLAMADO, part. pass. de Reclamar.
— ^oiCM/ro reclamado com urgência.
— Adornado de reclamos.
RECLAMADOR, A, adj. Quo reclama.
— fcjttbstantivamente : Um reclaiuador.
RECLAMANTE, j>arl. ad. de Reclamar.
--S. l'.-^,..;i (jiio iipreseiita uma re-
elamai.à".
RECLAMAR, i. n. Do latim rechtmu-
rc). Oppôr-«<!, contra<lizer, contraxtar.
— Fazer uma reclama^-ilo.
— Ucstiar, retumbar, roj>elir.
— Figuradamente : Ilegiatir, £allaudo
das cousas.
— V. a. Implorar, pedir com instan-
cia. — Kn reclamo n fim Ijc.nfcnieneia c
indulgência.
Que iiilo M dovo onojar,
Mas antos muito folgar
Msitnr os de qualquer idulo.
V. »c reclama
Que sendo tào linda dimH
Por «er velho in'alK)rrcce,
l)Í7.ei-lhe (|ue mnl dcdania.
Porque minh'alma, quo a ama,
Nào envelhece.
OlI. VICKSTE, PARÇAB.
— Reclamar os saiitos ; invocar o seu
auxilio.
— Pedir uma cousa devi<la e justa. —
Reclamar o preço de uma oftra fjual>juer.
— líecusar.
— (Jiiamar as aves com o reclamo.
— Figuradamente : Chamar, conviílar
fraudulentamente para mal como o recla-
mo as aves.
— C lamar a ave uma por outra.
— Vid. Recramar.
1.1 RECLAMO, s. hl. Ave ensinada, qne
chama, cantando, outras para os laeos,
ou redes. — Ave que vem ao reclamo.
— Assobio com que o caçador imita a
voz de algumas aves para acudirem onde
ello tem o laço, rede, ou está pira lhe
atirar.
— lia também reclamos ou vozes, a
que acodem animaes.
— Figuradamente : Cousa que attrahe,
o convida.
— Figuradamente : Diz-se também das
pessoa^.
2.1 RECLAMO, s. m. Termo de impres-
são. A palavra ou siimente a syllaba, que
se imprimo abaixo da iiltimjl linha d^unia
pagina, e é a primeira da pagina se-
guinte.
— O signal posto na escriptura pani
onde clle está se lêr, ajuntar alguma
clausula ou addiçSo, que está á margem;
para rometter o leitor a cila ou ás notas.
Vid. Chamada.
— Acudir ao reclamo ; onde se falia
ou ha alguma cousa do interesse de qncni
acode.
— Termo antiquado. Ornato dos tra-
jos antigos.
— Termo de marinha. Gome com sua
roda, que se pratica nas rom.^is dos nias-
taróos, c laizes das vergas.
— tíou um reclamo dt: vossa rfputaçSn ;
sou um echo, sou o que a espallia, ou
vol-a gratigcio.
líECO
RECO
EECO
125
— Diz-se também as pessuas que bus-
cam amantes para as meretrizes.
RECLINAÇÃO, s. /. Termo de gnomoni-
ca. Situaçào de um plano que em vez de
ser aprumado, inclina-se para o horizon-
te ; numero de graus de que este plano
se afasta da vertical.
— Termo de cirurgia. Reclinação da
catarata; abaixamento da catarata.
RECLINADAMENTE, adv. (De reclina-
do, com o suflixo «mente»). Como recli-
nado sobie alguma cousa.
RECLINADO, part. pass. de Reclinar.
Deitado, recostado.
— Termo de botânica. Recurvado um
tanto para fora, ou para baixo.
— Tronco reclinado ; tronco que levan-
tando-se primeiro mu tanto de esguelha,
começa a descahir para a terra, prolon-
gando-se em arco, ou formando uma cur-
va bastante aberta.
— Pulhas reclinadas ; folhas que se
debruçam para baixo de esguelha, ou em
arco, rebitando algumas vezes a ponta
pai-a cima, e ficando tanto o lombo do
arco, como a ponta mais baixa que o pon-
to do apego.
RECLINAR, V. a. (Do latim recUnare).
Abaixar, dobrar, desviar da perpendicu-
lar.
— ^ Reclinar a cabeça; deital-a, encos-
tal-a.
— Reclinar-se, c re.fl. Abaixar-se, en-
costai'-se, deitar-se.
RECLINATORIO, s. m. (Do latim recli-
natorimn). Almofada ou travesseiro de
descançar a cabeça na cama.
RE "-LUIDO, part. pass. de Recluir.
RECLUIR. i'. a. Encerrar, clausurar.
RECLUSÃO, s. f. Clau5ura voluntária,
ou firea^la no convento, ou cárcere.
RECLUSAR, V. a. Termo pouco usado.
Encerrar, clausurar, fechar.
— Reclusar-se, v. re.fl. Encerrar-se, fe-
char-se.
RECLUSO, part. pass. irreg. de Recluir.
(Do prefixo re, e do latim clusus, fecha-
do). Encerrado. — Um penitente recluso
e)ii uma casa religiosa.
— Preso, encarcerado. — «Assim se
executou, e em vinte e três de Novem-
bro de mil seiscentos e sessenta e sete
ficou recluso el Rei D. Aftbnso em hum
quarto do Paço, e tomou seu Irmào o go-
verno como titulo de Príncipe Regente.»
Frei Bernardo de Brito, Elogios dos reis
de Portugal, continuados por D. José
Barbosa.
— Termo de botânica. Diz-se do em-
bi"yào, quando e-itd encerrado no peri-
sperma.
— Que vive no retiro. — Este homem
ficou recluso todo o inverno.
RECLUTA, «. /. Yid. Recruta.
RECLUTAR, v. a. Yid. Recrutar.
RECOA, ou RECUA. Yid. Recova.
RECOBRAMENTO, s. m. Acto de reco-
brar.
— Recuperação .
RECuBRAR, i'. a. Tornar a cobrar o
peruido.
— Recobrar a saúde; recuperal-a, de-
pois de perdida.
— Recobrar as forças ; recuperal-as. —
«Subitamente se unirão conformes, e reco-
brando forças, mais forão os instrumen-
tos da victoria, que os authores delia. Ru-
mecão se retirou desbaratado, e D, Ál-
varo baralhado com elie, entrou de en-
volta na Cidade, achando já maior estor-
vo nos mortos que cahiào, que resistên-
cia nos vivos, que se n,ào defeudiào. » ,Ta-
cintho Freire de Andrade, Vida de D.
João de Castro, liv. 3.
— Recobrar o somno ; continuar a dor-
mir depois de acordar.
— Recobrar uma herdade em vinhas;
replautal-a, estando desafruitada, ou sem
arvores, etc.
— Recobrar os sentidos; recuperal-os.
RECOBRAVEL, adj. 2 yen. Que se pôde
recobrar.
RECOBRO, s. m. Acção de recobrar, e
restituir-se do perdido.
RECOCHILHADO, A, adj. Que foi acuti-
iado mais de uma vez.
— Figm'auamente : Escarmentado por
damnos repetidos.
RECOCTO, A, adj. (Do latim recuctusj.
Terino pouco usado. Recozido.
RECOITAR, c. «. Termo de oiuãvesa-
ria. Abrandar o metal ao fogo, fazendo-o
em braza.
— Requeimar.
RECOIfO, A, adj. (Do prefixo re, e
coito i. Requeimado, ou tornado brando,
fazeudo-o em braza no fogo.
RECOLEGIR, i-. a. Yid. Recolligir.
RECOLEIÇÃG, s. m. Yid. Recolieição.
RECOLETA, s. /. Casa religiosa reíbr-
mada.
— Figuradamente : Reforma de vida.
RECOLETO, A, adj. e s. (Do francez
rccolleti. Religioso reformado, que vive
em reculeta ua sua ordem.
RECOLHEDOR
lhe.
RECOLHEITO,
Recolhido.
RECOLHER, v. a. (De re, e colher)
Tornar a colher, receber para casa.
A, «. Pessoa que reco-
part. pass. aiit. Yid.
O Sousa llio agardcce o claro, e limpo
Coração, que lhe mostra, e a vontado
Quo pêra o recolher ncllo enxcrgaua,
Sem artificio algum, singollo e fácil.
Mas desejando ver o que o segando
Soberbo templo tem, o gasalhado
Por eiitao nao lhe acceita, o despedido,
Segue a \ia que ao monte vai direita.
COETE REAL,
cant. 10.
NAUFRÁGIO DE SEPÚLVEDA,
— «Nesta porfia duraram tanto, que a
noite sobreveio tão escura, que lhe foi
necessário apartar-se sem nenhum ficar
com mais que muitas feridas, e desejo de
victoria. C imperador mandou tocar as
trombetas, e recolher cada um a sua ca-
pitania.» Francisco de Morae-, Palmei-
rim d'Inglaterra, cap. 12. — «Yós, se-
nhor, sabereis que por morte d'el-rei meu
pai fiquei encommendada a alguns prin-
cipaes do reino, que ficaram por gover-
nadores delles, que me casassem a meu
contentamento: em tanto que se isto fa-
zia, por maior honestidade minha me re-
colhi em um castello, que d'aqui quatro
léguas está, cm um lugar gracioso e ale-
gre, fora da conversação de gente.» Ibi-
dem, cap. 102. — «Com isto o fez reco-
lher á fortaleza, onde foi curado por imia
donzella sua: e as feridas, que lhe achou,
foram de tcào pequeno perigo, que nào to-
lhiam o caminho pêra o outro dia.» Ibi-
dem.— «Como, alem de bom cavalleiro,
fosse moço e gentilhomem, pareceu tào
bem a Arnalta, que o recolheu ao castel-
lo, fazendo-lhe muita honra e gasalhado,
como costumava fazer ás pessoas, que
tao bem lhe pareciam. Dragonalte vendo
Arnalta tào fermosa e informado do seu
estado e senhorio, como tivesse a idade
tenra e o coraçào desaoccupado d'outros
cuidados, assim se namorou de suas mos-
tras, que lhe parecia alli estar certa sua
perdição ou gloria.» Ibidem, cap. 111.
— Guardar na memoria.
— Receber, aceitar. — «E porque (co-
mo vimos) Simào de Sliranda Capitão' de
huma não vinha pêra Capit.âo da fortale-
za de Çofala, Jorge de Mello o espedio,
e mandou Provisões a António de Salda-
nha que naquella náo se viesse, e passas-
se per a fortaleza de Quiloa, onde estava
por Capitão Francisco Pereira Pestana,
e o recolhesse com toda a gente delia.»
Barros, Década 2, liv. 7, cap. 2. — «Tor-
nad(js pêra dar esta nova a Pêro Masca-
renhas, andava o mar de maneira, que
nào os pôde recolher, e escassamente ou-
vir o que lhe disseram, e mandou-lhes
que fossem abaixo onde se mostrava hu-
ma ponta, em que parecia podellos reco-
lher, e nunca mais apparecêram, e sus-
peitaram que os Cafres, ou alguns ani-
maes da terra os matariam; mas depois
houve mais certa suspeita que os mata-
ram os Mouros.» Ibidem. ^ — «E porque
partindo-se elle sem leixar algum recado
poderia danar aos nossos que ficauSo,
tanto que recolheo em o nauio quatro
homens delles : disse aos outros per seus
acenos que elle se partia pêra leuar a
mostrar ao seu Rey aquelles homens por-
que os desejaua ver e que dahi a quinze
luas elle os tornaria.» Idem, Década 1,
liv. 3, cap. 3. — «Concluídos nisto, sa-
bendo que Lopo Vaz hia pêra aquella Ci-
dade, assentaram de o nào recolherem, e
de lhe fazei-em seus protestos, porque o
nào conheciam por Governador, porque
nào estavam obrigados nem por juramen-
to, nem por alguma outra cousa' a isso, e
assi fecharam as portas da Cidade, e pu-
126
RECO
Zííi-am iicUíH f,n-iurloH guarlas, c vif^ias,
o míindiíi-ain pôr li uma ftiMti na harra
com hiiiii Tal)i'lli?l') pcm notificar a Lopo
Vazo (|iin Citava asHciitado. » Diogo <l(!
(joiíto, Década 4, iiv. I, cap. 15. — «Ho
Marques voo por l'ortcl, i; kc (iiiiHcra lan-
çar na fortaleza do (pio ora Alcayde do
Duque Nuno 1'oreyra, quo por ja do ea-
flo anisa lo o niTo quis aiiy recolher, o o
Marquez hc foy logo a terra d<! canipoH
em Oastella, o (hqiois refollioo a Manpie-
sa sua mollier em Scuilla.» (larcia de Re-
zende, Chronica de D. João II, caj). 44.
— «Katre os quacs se eunservou neu-
tral, naò Moni alguma nota d(^ nspero para
com ol Ufi D. l'e Iro, a quo naõ quiz re-
colher em Portugal vindo desbaratado,
nom conceder-llie mais que hum passo
menos que livro para ir a Inglaterra.»
Fi-ei Rrrnardo de Brito, Elogios dos reis
de PorUigal, continuados j)or D. .José
Barbosa .
Com osta companhia iloixa a torra
Do Constantino, o ao i':\'wo faz a via,
E recolhe também para esta pucrra
Outros tros mil á sua oompanliia ;
Iluns (los (|U0 Daniiatn ilonti-o enepn-a,
Outros dos quo crpou AU'x;nuli'in,
Outroa dos quo outros portos liabitavào
Do3 quo as Mediterrâneas ondas lavão.
P. D'ANDnAnE, I-RIMKIRO CF.IICO nV. DHíjCaUt. 1"J,
ost. 110.
— (( E isto era ja no anno do 51. D. vii.
os quaes indo assi a traucs da iliia Dani-
goxa, toparam eoni Lucas da Fonse-
ca, que vinha da Índia com a sua ca-
rauílla carregada pêra Cofala, e trazia
consigo loaõ Vaz Dalniada, quo o Vice-
rei mandaua pcra ser feitor, dei)ois que
Emanuel Earnandcz fora ter a índia, co-
mo ja dixe, o qual Ijucas da Fonseca os
recolheo na (.'arauolia, o leuou consigo a
(Jofala, e tro.ixe a ]Mo(^'ambique, onde ja
nam acharam Tristam da Cuidia, o dalli
se foram perà índia.» Damião de Goos,
Chronica de D. Manoel, part. 2, cap. 21.
• — «Luis Coutinho se lançou logo com toda
a mais gente no; outros, o o mestre che-
gou a fusta, posto que com trabalho, c os
recolheo, saluo loTio diMras, que se lançou
eom os imigos.» Ibidem, part. ií, eap. 7. —
« E delia vinte legoas na Arábia Pétrea
tem 03 Monros na Cidade Medina, hum
sepiílchro, ou cayxa que nos ares so sus-
tenta com pedras de ceuar, na qual af-
firmão foy sepultado Mafoma, nem eu
duuido disto, porque bem era, quo a hum
tam grande, e infernal ministro de Sa-
thanas, qual outro falso ludas, ate a ter-
ra lhe faltasse, e o nam recolhesse em
si.« Fr. (raspar de 8 Bernardino, Itine-
rário da índia, eap. 8.
Filha, meu ouro macii;o,
maadac lá recolher isso,
fugi azinha do aceidentos;
como aqui entram pvosontes
RECO
tenho-a morta : este Borviço
ao HOiiliur dom Braz dizni.
AN 10X10 I-IIKHTB», AIÍTO», pUg. IÕ7.
o bom d 'isto (: já HolVror :
iiiiiiulc os Honhoi^os recolher,
vistiim-nos, deixo pontinlioH.
/'/•<!(■ . Senão falaram ratinhos
monos mal, menos duor.
iiiiDF.M, pag. Kiít.
--Abrigar, agasalhar, dar pousada. —
«Mas forào socorridos i)er Diogo Fernan-
dez de Beja, que com sua galé, peró que
os njlo podesso tomar, numdou per hum
batel que os recolheo, e a fusta todauia
Hcou em poder dos Mouros ; os quaes por
ficaren» bem sangrados dos nossos, por
aípiella vez desistir.lo do que tinhilo or-
denado.» Barros, Década 2, Iiv. 1, cap.
7. — «E os Capitães com toda a gento
de armas se apousentáram em outras ca-
sas, 6 dentro da tranqueira nos lugares,
que lhe deram por estancia, t& se acabar
a obra da fortaleza, cm qu3 se haviam de
recolher.» Idem, Década 2, Iiv. 10, cap.
ii. — « E que por isso os dias passados
recolherão a artelharia, que aquellas cou-
sas estavaij em segredo por n,ào haver al-
teração, mas que os Capit.aens tinha(") de-
terminado de dar hum muito ciniel assal-
to íl fortaleza, primeiro que .se partissem
daquella Ilha por verem se a podião to-
mar e que já se preparavão para elle.»
Diogo do Couto, Década 6, Iiv. 2, cnp.
í). — «E chegando nòs à prava aonde os
dous do cavallo jà estavaõ, hum delles,
que parecia ser o mais honrado, me dis-
se : Porque o tem])0 senhor naõ sofre
muyta dilaeaij, porque me temo de muy-
ta gente, que vem atrás de mim, te peço
pela bomla le do teu Deosque sem pores
diante duvida, ou inconveniente algum,
me recolhas comtigo.» Fern.ão Mendes
Pinto, Peregrinações, cap. 202.
— Recolher alguém em sua casa; dnr-
Ihe pousada, agasalhal-o. — «O qual Un-
gindo que hia dcsauindo de dom (roter-
re, se lançou em Po Lida, onde por ser a
pessoa que era, c dolle Fernão caldeira
ter conhecimento, o recolheu em sua ca-
sa, dandolho tudo o que lho era neces-
sário, per cujo respeito lhe fez Ancostam
boa companhia.» Damião de Góes, Chro-
nica de D. Manoel, pai*t. 4, cap. 17.
• — ■ Reconduzir. — « Com tudo ellc se-
guio a<liante, fazendo recolher Duarte
varolla pêra a fortaleza, o qual por se
ver muito apertado fez volta aos imigtw,
na qual hum espingardeiro, per nome
Symam Aluarez vazou de um tiro am-
balas coxas a Pulagoripo, de que logo
eahio, ao quo acodirain Duarte varella,
Luiz aluarez escriuam da feitoria, Antó-
nio ferraz, António da costa,» Damião
de Goos, Chronica de D. Manoel, part. 4,
cap. 53. — « l>s quaes depois de serem no
campo mouidos do anu>r das mulheres, e
filhos quo lho la ficaram, voltaram com
RECO
tanto ímpeto sobre I^opo de brito que o
fezeram recolher pêra a tVjrtaleza coiu
mais de triota ferido^. <; feriram muitos
mais se os nam embaraçara o fogo.» Ibi-
dem, part. 4, cap. 02,
— (Joilier, tomar. — Recolher a sernenle.
— < Como se dissesse, minha ulma nam
tem vossos palauras à face de cima, cumo
estrada endurecida, quo nam recolhe a
semente <piu nella cat), mas estaa t(xla
aberta e regada com des(íjos de entender
e cumprir V(issa vontade : e jKjr isso vos-
sos mandamentos o palavra» tenho meti-
das no meio das minhas entranhas, nSo
somente na memoria, mas na aíFeiçam e
continua meditação.» Frei Bartholomeu
dos Martyres, Catecismo da doutrina
christã. — * Vj isto ho, o que ehamij
unhas confiadas, sem serem confidentes :
e destas ha muitas a cada passo, e no
serviço delRey nã(j falta.T; mas falta-me
a mim coragem para mostrar aqui, o que
recolhem, como se fora seu, com tanta
confiança, como se o cavarão, e o roça-
rão, ou o herdarão dos senJiores seus
avós.» Arte de furtar, cap. 62. — «Uma
nuvem de settas i-cspondeu ao subillar
das dos esculcas árabes : algumas das fi-
tas de escuma, ondeiaram, derivaram pela
corrente e dcsvarieceram-se no dorso es-
curo e scintillanto das aguas. O (Jhrys-
sus recolhia os primeiros despojos de um
terrível ciunbate.» Alexandre Herculano,
Eurico, ea]>. '.'.
— -Recolher «' baiuleira.
Sentindo isto o Silveira ja no imigo
Manda o Lopo de Sousa que descesse
A cava, coos que tom alli comsipo,
E os Turcos com gràa fúria nccommettcsse.
Pouco duvida o Sousa o grão perigo
Inda ((uo então bem c'aro o conhecesse.
Faz recolher os sens logo i bandeira
Vai cumprir o mandado do Silveira.
F. d"ani>rade, primeiro ckbco de dic, cant. Iti,
est. 128.
— Recolher « vela. — «Desejávamos
tãto chegar a Patê. que em amanhecendo
demos à vela, e dalli a seys horas a re-
colhemos estando ya ancliorada* no Por-
to da Ilha. E como a nossa embarcaçilo
fov a primcyra que com ponentes a ella
vevo aquelle anno, concorrei) a Temos
quasi todo o pouo,» Fr. tiaspar de S.
Bernardino, Itinerário da índia, cap. 6.
— Guardar, arrecadar. — « Escorcha-
da^ ao nãos de mui rica fazenda que tra-
ziào, parte da qual recolherão os nauios
pequenos que fieauão em baixo: começa-
rão alguns Mouros mercadores de Chanl
mouer compra dos cauallos que as nãos
traziào, que era mayor p,artc da sua car-
ga.» Barros, Secada 2. Iiv. l.cap. 4. —
« Acertou estarem em Lisboa dez nãos
de França grandes e de boas mercado-
rias, mandonas tomar logo tod.is. e reco-
lher com muyto recado as mercadorias
na alfandega, e tirar-lhe as vergas e go-
RECO
"RECO
RECO
127
uernalhos, e meter nellas homens que as
guardassem, e lançar os Franceses fora
delias. E mandou logo a grande pressa
com grandes prouisões e poderes a Setu-
uel, e ao Reyno do Algarue Vasco da
CTama, tidalgo de sua casa, que depois
íby Conde da Viiligueira, e Almirante
das índias, homem de que elle contiaua,
e seruia em armas e cousas do mar, a
fazer outro tanto a todas as que la esti-
uessem, ho que fez com muvta breuida-
de.» Garcia de Rezende, Chronica de
D. João n, cap. 146. — « Cide Iheaben-
tafuf per huma parte, e Lopo barriga pela
outra que então tinha consigo duzentos,
oincoenta de cauallo Portugueses, na qual
volta mataram xxv de cauallo doa imi-
gos, entre os quaes morreo hum filho de
Mezea2'a Rei de Dará, o que vendo os
do Ssrife se retiraram pêra o arraial dei-
xando no campo trinta e seis cauallos
que os nossos recolheram.» Damiào de
(roes, Chrouica de D. Manoel, part. 3,
cap. 35. — « Ganhada assi a cidade man-
dou Lopo soarez recolher alguns manti-
mentos, de que auia muitos do que se
elle depois bem arrependeo por nam to-
mar mais, e aos que ficai'am, e a mesma
cidade mandou poer o fogo, que laurou
quatro dias, antes de se acabarem de
queimar todahxs casas, e fermosas mex-
quitas, com outros ediíicios, que nella
auia, sem ficar nenhum.» Ibidem, part.
4. cap. 14. — « Despejada a cidade os
nossos sahiram a roubar o que nella
auia, e apagar o fogo, o que posto que
de todo nam podessom fazer foram com
tudo causa que nam fezesse mais damno
do que já tinha feito, e recolherão na
fortaleza muitos mantimentos, e aguoa
de que tinhaõ bem necessidade.» Ibi-
dem, part. 4, cap. 80. — « Bem se vé,
que isto he estafa, pois nunca o vio em
sua vida, senaõ aqiiella vez; e para lhe
aguçar a liberalidade, mostra-llie um li-
vro muito grande, e o muito que nelle
se rabiscou, etc. Pasma o suplicante,
lança-lhe hum par de patacas Mexica-
nas, onde só devia dous vinténs : reco-
Ihe-as o senhor escriba, de prata Fari-
seo, e despacha-o com aqui me tem v.
m. a seu serviço taõ certo, como obri-
gado.» Arte de furtar, cap. 59.
— Recolher o ar; respiral-o.
— Recolher alguém a si ; tomal-o ao
seu serviço.
— Recolher nos braços; receber, abra-
çar.
— Recolher o r/ado )ws curraes ; pren-
del-o.
— Recolher i)eíxe nas redes; apanhar
nos lanços.
— Recolher a mão ; retii^ar a esten-
dida.
— Encerrar, introduzir, metter. — «A
qual fortaleza vendo o Vicerei quam tra-
balhosa era de sostentar, por estar longe
de Cochim, per conselho de todolos capi-
tães, o pessoas de calidade, mandou dahi
a poucos dias derribar, ao que ordenou
que fosse dom Lourenço com a armada
que trazia, pêra que nella recolhesse a
gente, e a trouxesse a Cochim, e assi
ficou a ilha de Anchediua na mesma li-
berdade qxie dantes tinha, de ser com-
mua a Christãos, Mouros, e Gentios.»
Damião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 2, cap. 12. — «Com tudo os de
dentro lhe respondiam de maneira que
matauaõ, e leriam muitos delles, ponjuo
varejauam os tiros pelo campo, onde ain-
da andauam a descuberta, por nam te-
rem acabadas as cauas, e fossados, em
que se auiam de recolher.» Ibidem, part.
4, cap. 53. — «E que multiplicandose
pela corrupção da natureza os peccados
dos homens no mundo, alagara Deos to-
da a terra, com mãdar ás nuvens do Ceo
que chovessem sobre ella, e afogassem
toda a cousa viva, que nella ouvesse, e
se salvara somente um justo com sua fa-
mília que Deos mandara recolher numa
grande casa de pao, do qual depois pro-
cederão todos os outros que habitào a
terra. Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 163.
Sendo já chegada a hora da partida
Hum manda, outro executa o mandamento,
Salui logo a ancora curva constrangida,
Do duros braços, lá do fundo assento,
Subo a entena ao mais alto, onde estendida
A vcUa, em si recolhe hum manso vento,
O remo cahe, e as ondas revolvendo
Faz com que a aguda proa as vá foudoudo.
F. DE ANDRADE, PRIMEIRO CEKCO DE DIB, Cant
14, est. 21.
— « Aquelle Ai-tifice, que e.screveu a
Illiada de Homero com tanta miudeza,
que a recolheo em huma noz, assombrou
mais o mundo, que se a escrevesse com
muitas laçarias em grandes laminas de
ouro.» Arte de furtar, cap. 21.
— Recolher os livros que. corriam; sup-
primil-os.
— Recolher a rédea; colhel-a, encur-
tal-a.
— Encolher.
— Concluir, tirar noticias, informa-
ções.
— Deduzir, colligir.
— Recolher a pratica que ia diffusa ;
fazel-a mais concisa, mais curta.
— Entrar em alguma parte. — « Xo
mesmo dia que ellcgerão por capitão Dio-
go mendez de vascogoncelos lhe veo fal-
lar Crisna, e pedir que o deixasse reco-
lher na cidade com todos os seus, e al-
guns outros nossos amigos, antes que Pu-
latecão de todo ganhasse a Ilha, o que
lhe Diogo mendez concedeo, dandolhe
casas em que se agasalhasse com toda
sua fixmilia.» Damião de Góes, Chronica
de D. Manoel, part. 3, cap. 20.
— Receber. — «O que dito começaram
todos a decer pelo outeiro abaixo: os
quaes depois de serem do campo foram
cometer os imigos com tanto impeto que
03 constrangeram a se retirarem pêra
junto da praia onde Pulatecào estaua re-
colhendo 05 que ainda passauam nas jan-
gadas, os quaes vendo fogir estes come-
çaram fazer o mesmo, lançandose ao mar,
assi huns como os outros, pêra se salua-
rem r.as jangadas.» Damiào de Góes,
Chrouica de D. Manoel, part. 3, cap. 20.
— « E a hum milhaõ de emprego claro
está que deve corresponder hum grandio-
so lucro; e tal lho deixaõ recolher, sem
se advertir, que he major o arruido que
as nozes: porque cem mil cruzados, que
teuhaõ de cabedal, bastaõ, e sobejaò para
todo o menèo de dous milhoens.» Arte de
furtar, cap. 20.
— V. H. Estreitar, em opposiçao a
alargar.
— Retirar. — «Entre os quaes foi seu
filho Simam soeiro pior que todos, por
ser o primeiro que a elles chegara, mas
com tudo o Adail deu uelles com tanto
impitu que os fez recolher, sem poderem
tomar as armas dos cinco que ja ficauaõ
mortos.» Damiào de Góes, Chronica de
D. Manoel, part. 4, cap. 76.
— Tocar a recolher; fazer signal aos
que seguem o alcance do inimigo, para
o deixarem e tornarem ao corpo do exer-
cito, ou paia a praça, o-a arraial. — «An-
tónio da Silveira chegando á entrada da
Cidade, porque não acontecesse algum
desarranjo, fez alto com a bandeira de
Christo, 6 tocou caixa a recolher, o que
todos logo fizeram.» Diogo de Couto,
Década 4, liv. 6, cap. 9.
— Figuradamente : Tocar a recolher ;
desistir do começado.
— Recolher-se, i'. refí. Retirar-se, re-
fugiar-se, acolher-se a alguma parte. —
«Só em Laymundo acho nomeado por
estes annos hum Procônsul de Lusitânia,
chamado A"oluencio, e diz, que favorecia
muito alguns Bispos Hereges, que con-
turbavaò a paz e religião de Espanha, e
recolhendose com esta brevidade nem
declara qual fosse a heresia, nem os no-
mes dos Bispos perseguidos por ella, mas
Severo Sulpicio nomea a Voluencio ge-
ralmente Procônsul de Espanha, e diz,
que movido com dadivas, favoreceo mui-
to a sevta de Prisciliauo, de que falare-
mos adiàte. » Monarchia Lusitana, liv. 5,
cap. 26.
Depois do ja acabado o copioso
Esplendido banquete se recolhem
Para onde aparelhado estaua hum nobre
Bom laurado, custozo, rico leito.
CORTE REAL, NAUFRÁGIO DE SEPÚLVEDA , Caut. 4.
— «A imperatriz com sua nora não
lhe bastaram os ânimos pêra ver tama-
nha crueza, antes, tirando-se da janella,
se recolheram pêra dentro.» Francisco
de Moraes, Palmeirim dluglaterra, cap.
128
IIKCO
RECO
RECO
04. — «Acab;i'la a prova da copa, o im-
perador Be recolheu a hcu apouHi;iiti), to-
mando primeiro palavra d iloii/cdla, <pio
80 nílo l'o.^^n «om nua iici'.iii;a, poripi", <|Uo-
ria fpio Ali>a\'z:ir o FloromlcM j)rovasHuiu
a aventura, croiido qiiu (sin J-Morcndon
Oitava o liiii do tildo.» Idem, Ibidem,
cap. !M . "A dima se recolheu ao cas-
tello csjiantada da iortaloza do rioii vaio-
dor, o duHoontijnto do n<ào tor com (|uo
lho pa'<ar títo f^raudos inorcÔH.» Idem,
Ibidem, rap. Il>."). — «Assim amlainto,
aiioitcecMi, o se recolheram ao suu, por-
((uo oin torra nílo mo tiaiiam por 8o;:^ui'o.í,
lomhrando-so (juo Har-so na vcrdado do
<|ii(Mii a iiilo tom, ó poua ou-salia.» Idom,
Ibidem, cap. 117. — «FJ-roi se recolheu
com Albayzar, quo do dcscontoiíto nTio
fallava iicin (picria lho falias.-<om; quo
isto ó condi(;ão do homons afiastados. A
raiuUa quizera quo cl-roi nio doixúra ir
o cavalloiro das Doiizollas : o ás damas
pesou muito mais; porque todas sào attoi-
çoaclas a cousas novas.» Idom, Ibidem,
cap. 124. — «Por .Mil dospois que olle vio
o peso da gent'3 que carre.njaua .sobre elle
por 80 recollier, vindo aguillic)a la de al-
guns capitães nossos que a perseguia :
não a po lo mães entrot ir, e p;)r segurar
sua po>soa dentro dos Jlouros dan lo a ri-
beira por arromba la de todo, recolheose
pola porta da cida le j:l com huma lan^'a-
da no ro.sto.» João de Uarros, Década 2,
liv. õ, cap. 'J. — «Com o qual cUe man-
dou o adail a ver vista da gente, o sobre
este homoin chegou outro, e disse que em
outra parte macs perto vira alguns ho-
mons que se recolhião a hum teso junto
da aguoa, como geito que não ousaua do
sair dali, a qual toda em stni trajo erào
dos principaes, que lhe parecia poderem
logo sor tomados.» Idem, Ibidem, liv. 6,
cap. 8. — «Porém depois que vio que
sua cHada era ociosa, e que mais damna-
va a si, do que aproveitava aos outros,
tornoií-se recolher com perda do alguma
gente, que lhe a artilheria dos navios
matou.» liem, Ibidem, liv. 7, cap. õ. —
«Ao encontro do qual, depois que foi em
torra, (porque de industria ao desembar-
car não o quizeram impelir,) sahiram
liuns poucos do Jáos ao modo do cilada
do denti'o do hum palmar, os quaes tan-
to que os nossos começaram ferir, fjram-
se recolhendo pêra o palmar, mostrando
temor.» Idem, Ibidem, liv. O, cap. 7. —
«Feito isto por se vir chegando o inver-
no, recolheu-se a invernar cm Chaul,
pelo assi mamlar o liovernador. E con-
tinuando com Diogo da Silveira, foi se-
guindo sua viagem até o Oabo de (luar-
dafúi, onde as náos que vam de Achem
pêra Sloca sempre vam demandar.» Dio-
go de Couto, Década 4, liv. 8. cap. .').
— «E depois de ter tu lo euibarea'lo,
mandou dar fogo á tranqueira, em que
toda se consumio. Feito isto, recolhè-
ram-se pêra Goa, e o Acccdeean man-
dou logo todos os Portuguozcs quo lá ti-
nha.» I Icm, Ibidem, liv. I(t, cap. í), —
«Jhn ein se recolhendo Hum «airSo do
arraial nuiitos do cauallo, c de pi;, (|ue o
seguiram ate ser manhã, tratindo mal
tola a compauiiia despi nganladas, seta-
das, o sobro tudo do pedradas, que fo-
laõ tantas, que ficou aqu(dla entrada o
nome (ia< ])o Iradas.» í! areia de Hezen-
de, Chronica de D. João II, cap. ^4. —
«S-iiào que chu trinta mil Moens nfín
escaparão mais que siis oitocentos, m
quais assi feridos e desbaratados se reco-
lherão ao Meleytay, deixando no campo
dos (iuzoiíto? mil do lloy do líramaa os
cento c quinze mil mortos, e oi outros
quasi todos feridos.» Fernão Mondes Pin-
to, Peregrinações, cap. !.')(). — «/Vs fus-
tas de 3Iiliquiaz se recolheram pêra den-
tro o que também fe/.eraõ as gales de
Jlirhocem, o que vendo o comendador
liai soarez, as seguio, com a sua cara-
uoUa por lho seruir a viraçaiò, c maré, e
se meteo antro duas delias, que hiani
juntas, nas quaes mandou lançar em ca-
da huma sua ancora, e as teue aferradas
ate que as despejou de todo, e as trouxe
ambas atoadas a nao do Vicerei, e assi
se acabou de desbaratar de toilo a ar-
mada de .Mirhocem.B Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 2, cap. 30.
— «Ordenou a D. Manoel de Lima, que
com trinta navios avistasse os lugares da
Costa de Cambava, e os abrazasse todos,
mostrando ao 8oltão, que a vingança não
acabara na victoria; porém que na Ci-
dade do (ioga não entrasse, por ter avi-
so, que a cila se recolhera toda a gente
que escapou da batalha." Jacintho Frei-
re d'Andralc, Vida de D. João de Cas-
tro, liv. 3.
— Cobrir-sc.
— Recolher-se em si mesmo; abstrahir-
se das cousas externas.
— Contemplar.
— Communicar-se menos, a poucos ;
não sabir frequentemente.
— Acabar de fallar.
— Recolher-se </ alma a si; encolher-
se o animo, meíter-se por dentro.
— Ir-se deitar a clormir. — «Porém
temendo que no modo de a leixar, acon-
tecesse algum desmancho polo desejo que
toda a gente tinha de se recolherem ás
nãos, secretamente o comunicou cõ dõ
António de Noronha, e com alguns capi-
tães do seu voto: e despois a noite ante
de se recolher, teue g(*ral conselho cõ to-
dos, onde lhe propôs o que elles tinhão
visto e passado.» João do Barros, Déca-
da 2, liv. r>, ea)i. õ.
— Recolher-se da vista de ahjueut;
perder-se quasi da vista dclle. -^ «Re-
colheose da vista d'aquella ninUidào de
pouo jiera os seus paços, que erào de ma-
deira laura la no cabo d'aqnelle grão ter-
reiro, onde outra vez com sua molhcr,
filhos, e alguns fidalgos mães acceptos.
quis de vagar vor esta* peça*.» Joio de
Barros, Década 1, liv. 3. cap. 0.
--Recolher-se jiara o cajtitwt-mór ;
o que foi destacado a alguma diligencia,
tornar-se para elle.— «(.'oní cr.ta'» ava-
lias se recolherão os mais pcra u Capitão
niòr que sentio em estremo aquelle n<'go-
cio, e o houve por grande mofina «iia.»
Diogo de ('o ito. Década fi, liv. 8, cap. 12.
— Recolher-se cnuuiitjo lui camum do
vosso cotarão. -- «Nam hc outra com»
entrar no deserto i^ciiam mctcrnos p'ir
dentro, e recolhemos com voico na ca-
mará de vosso coraç.-im, c alli deligente
escodriídiardc', e trazerdes aa memoria
todolos vo-sos peccado» grandca e peque-
nos, interiores e exteriores, pêra do to-
dos vos doer e arrepender, e dcUes fazer
huma inteyra e vordadovra confissam.»
Frei Barthidomcu dos Jlartvre', Catecis-
mo da doutrina christã.
— Recolher-se ao Kmpi/reo; ir para o
Empyreo. — «Senhor Jesus, y'>é viestes
á terra evangelizar o Reyno dos Ceo» :
e havendo encommcmla lo a vossos Após-
tolos, que ])régassem o mesnio a toda a
creatura, vos recolhestes ao Empyreo.
prometendo tornar no ultimo dia.» Pa-
dre Manoel Bcrnarde-». Exercícios espiri-
tuaes, tom. 2, pag. 30.
— Recolher-se aos bafeis. — «Auida
esta vitiiria, da'ii a poucos dia» foi Fer-
nani perez cometer o lugar, onde se Pa-
ti-catir fezera forte, de que ganhou a
primeira tranqueira, de quatro que eram,
man<!andolhe logo poor fogo, o alguma»
lancharas que ahi estauam, ao que acu-
diram tantos dos de Patecatir, e doutros
que lhe tinha mantbído o Príncipe que se
tlesia de Malaca, que foraõ constrangido*
03 nossos a se recolherem aos bateis.»
Damião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 3. cap. 28.
— Recolher-se toda a gentt aos seu» ;
acolher-se aos do seu bando, ir bu''cal-08
para fazer corpo, ou para se defender
com elles. — «E a gentcib» batalha dei
Rey dom Aftonso, que pollo campo anda-
iia perdida, ounindo as trombetas, o tam-
bores do Prineipe, e vendo as fuirueyras
que no cíim])o mandou fazer, se reco-
Iheo to la a elle, com que fez huma muv-
to grossa batalha, com que aquella noite
ficmi pacifico senhor do campo, no qual
nào ficou nenhum dos Reys, cuja ha cau-
sa era.» (Garcia de Rezende, Chronica
de D. João II, cap. 13.
— Recolher-se "' -*'"^i pousada; ir para
ella, rcfugiar-se ii'ella. — «Senhores, e
nobre gei to, e muytas trombetas, e cha-
ramellas, e sacabuxas, se recolhe© a sua
pousada. E depois ouue em casi» do mar-
que/, muytos diíis de festas do dança.«. e
muv abastados banquetes. E como no-
bre e grande senhor, deu algumas da-
diuas honradas aos offioiaes que fizerRo
seus despachos. » Garcia de Rezende,
Chronica de D. João n, cap. 70.
RECO
EECO
RECO
129
— Recoiher-se para o fagode otide 'pou-
sava; ir para elle. refiigiar-se n'elle. —
«Apo3 isto se recolheo o Talapieor para
o pagode onde pousava, acompanhado de
toda a gente honrada e dos embaixado-
res, e de caminho foy gabando a deva-
çào do Portuguez, dizendo, até estes,
ainda que bestiais, e sem conhecimento
da nossa verdade, não deixão de sentir
que he cousa santa o que me ouviaõ, a
que todos responderão que era assi sem
falia nenhuma.» Fernào Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 127.
— Recolher-se á embarcação. — «E
passada huma hora de tempo ou aquelle
espaço em que lhe a elle parece pouco
mais ou menos que ellas po tem ter pos-
to, torna a tocar no tambor, e ellas se
toroão logo todas muy depressa a reco-
lher á embarcação, sem, como digo, fi-
car huma sá no campo.» Fernão Mendes
Pinto, Peregrinações, cap. 97.
— Mesurar-se, comedir-se nas preten-
ções, obrar com menos soltura, dissolu-
ção.
— Recolher-se wis promessas, despe-
zas ; restringir as que ao principio se fi-
zeram com largueza.
— Recolher-se wj hospital ; ir para lá,
acolher-se nelle. — «Ha também na Ci-
dade hum Sprital em que se recolhem, e
curam muitos pobres, e fora delia ha
muitos jardins de ortaliça, e boas fruitas,
a terra he tam fértil que ordinariamente
colhem de hum alqueire de paõ que se-
nieam tri-;ta.» Damião de Góes, Chroni-
ca de D. Manoel, part. 1, cap. 70.
• — Recolher-se ao navio; entrar n'elle.
Traz isto, porque ja no senhorio
Entrava pouco a pouco do Oriente
O tormeutoso inverno, húmido e frio,
E o formoso verão lá no Occidonte,
O Cuuha se recolhe ao seu navio,
E dividindo o mar prosperamente,
Ajudada do vento, a aguda proa
Sc vai passar o inverno á real Goa.
FRASCISCO DE ASDEADE, PKIMEIBO CERCO DE DIU.
eant. 9, e.st. 87.
— Recolher-se ás naus ; entrar nellas.
^- «O bombardeiro se lançou da mesma
maneira com huma besta debaixo do bra-
ço, e cahio sem perigar. Acabado este
negocio com tanta afronta dos nossos
Afonso dalbuquerque se recolheo as nãos,
com a mais gente.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 3, cap. 43.
— Recolher-se para suas estancias. —
«Deuse este combate desde pela manha
ate o meo dia, a qual hora os imigos se
recolherão pêra suas estancias, ficando
os nossos dando muitas graças a Deos
pola grande mercê que lhes fezera.» Da-
mião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 2, cap. 16.
— Recciher-se em boa ordem; retirar-
se ordeaadamente. — «Esta peleja du-
rou mais de quatro horas, e foi tanta a
VOL. V. 17.
multidam de gente de pe, e cauallo que
sábio da cidade, que Nuno feraandez, e
dom Pedro tomarão por partido recolhe-
rensse em boa ordem a hum porto do
rio que esta junto da cidade, com todo-
los ilouros de pazes, em que ouue mui-
tas voltas, de huma, e da outra parte
com mortos, e feridos de cada huma del-
ias.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 3, cap, 74.
— Figuradamente : Recolher-se o sol
ao leito marinha; pôr-se o sol.
Outi'a vez aqui faz que se encolhesse
O Turco Marinheiro o inchado linho.
Porque quando depois .«e recolhesse
O Sol ao usado seu leito marinho.
Quando a maré vasava, elle podcsse
Seguir prosperamente este caminho
Tanto de toda a gente desejado,
E duas vezes já cm vào tentado.
FRANCISCO d'axI)RADE, PRIMEIRO CERCO DE DIU,
cant. 20, est. 81.
— Recolher-se a frota. — «Os nossos
estauão ja neste tempo mui apertados,
sofi-endo muito trabalho, e sobre todos
Afonso Dalbuquerque que de noite nem
de dia repousaua, pêra consolaçam do
que lhe começarão George da cunha, e
Francisco de sousa maneias damutinar
de nouo a gente, dizendo que era por
demais querer defender a cidade, que
pois a auia de perder per combate, que
melhor era deixala sem perder gente, e
recolhersse a frota.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 3, cap. 5.
— Recolher-se o peixe para desovar
nas enseadas ; refugiar-se n'ellas.- — «Por
remos trazem huma taboa de três pal-
mos, e sem mais inuençào tomão infinito
peyxe, dentro nas enceadas onde elle se
recolhe pêra desouar. Saõ os mares de
contino nesta paragem grandes, por cau-
sa das correntes do Mar Roxo, e conti-
nuas as tempestades que ja mais aqui
faltão.» Fr. Gaspar de S. Bernardino,
Itinerário da índia.
— Recolher-se com Deus; meditar n'el-
le profundamente.
— Substantivamente : Facto aconteci-
do ao recolher. — «O qual feito assi aos
Mouros, como aos ncssos custou mui-
to sangue, e da nossa parte morreram
dezesete, e delles ficaram no campo mui-
tos mortos, assi ás lançadas, como da
artilheria que lhe tirou do muro ao reco-
lher dos nossos.» Barros, Década 2, liv.
6, cap. 10. — «E logo aquella noite, no
quarto da prima per auiso dos espias que
trazia, foi dar em hum lugar muito gran-
de dos imigos, o qual queimou, e matou
muitos dos que nelle moravam, com tudo
ao recolher que era ja no romper da al-
ua achou alguma resistência de Xaires,
de que matando, e ferindo alguns delles
fez fugir os outros.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 1, cap. 87.
— « E por se desmandarem alguns que
chegaram ao pé do castello foi necessá-
rio socorreremnos, por ja andarem mal-
tratados da gente do Serife, de que fo-
ram postos em tanto aperto ao recolher,
que a mor parte assi dos christãos como
dos mouros de pazes se começaram a
desbaratar.» Ibidem, part. 3, cap. 73,
RECOLHIDA, s. f. Acção de se reco-
lher, retirar em feito de guerra; reti-
rada.
— S. f. plur. Mulheres que vivem
reclusas, em clausura voluntária, ou obri-
gada. — As recolhidas das orphSs.
' REGOLHIDAMEOTE, adv. (De recolhi-
do, e o suífixo « mente) j. De um modo
recolhido.
— Em recolhimento, retiro. — Viver
recolhidamente.
RECOLHIDO, part. i)ass. de Recolher.
Retirado, refugiado. — «Pois Palmeirim,
vendo que sua partida se chegava, não
passou aquelle dia em contentamentos ;
antes da própria maneira, recolhido em
sua pousada, só com Selvião, dizia cou-
sas muito pêra haver dó delle.» Fi-ancis-
co de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 95. — «Garcia de Sousa, que esta-
va no cubello recolhido, quando vio vir
estes Fidalgos que aqui escaparam, e se
acolhiam ao sob pé do seu cubello, hou-
ve que tivera bom conselho em não sair
dalli.» Barros, Década 2, liv, 7, cap. 9.
— «Onde steve quatro dias, acabados os
quaes, tendo os de Tanger, e Darzilla
descuberto o campo, sendo certificados
per alguns mouros que tomarão, que toda
aquella gente, que andaua esperando
dom Duarte, era recolhida elle se foi
pêra Tanger em paz, com ha parte que
lhe coubera da caualgada.» Damião de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 4,
cap. 22.
Com alvoroço grande, e com grào gosto
Este recado entào foi recebido
Do Cambaio esquadrão, porque disDOSto
Cuida que tem o imigo a ser vencido.
Logo para a Cidade muda o posto,
Onde foi dos de dentro recolhido
Cora cousas que á tristeza são contrarias,
Tanger, cantos, folias, luminárias.
F. d'axdbade, prlmeiko cebco de DIU, cant. 11,
est. 68.
— Recolhido dentro cVella; mettido den-
tro. — «Elle porque a agua lhe começa-
va a fallecer, conveio-lhe arribar á Ilha
Gamaram, onde achou duas náos chega-
das á terra firme despejadas de quanto
tinham, e recolhido tanto dentro delia,
que não pudessem os nossos lá ir.» Bar-
ros, Década 2, liv, 8, cap. 2.
— Recolhido em taes idêas ; concentra-
do n'ellas.
Em taes idéas recolhido estava,
Dentro em mim mesmo contemplando o Quatho,
Que hc sempre antigo, e novo, e sempre hebello ;
1:50
IIKOO
UECO
REC(J
PoÍ8 lin obru de hum Dciih ii Nuturczií.
lio e»ttí o meu pruíor, o «rttiido lio eiito !
J. A. Dl', UACKDO, VIA<ii:U KXrArli;A, cuiit. I.
— Encerraílo, incttiilo, introfluzido. —
«O pccciído (lo lium ( 'lirintílo he mais
f^ravo : jjor(|U() levando diaiiti; a luz da
Fé, ainda tmjxira ; o recolhido dentro
da arca, ainda naufraga ; e eonliocendo
a ( 'lirinto, o crucilica eonio os Judeos,
que o naõ conluicoraõ.» Padre Jlanofl
Bernardeíi, Exercícios espirituaes, jiart.
1, pa^'. 214.
— (iuardado, arrecadado. — «Reco-
lhidos 09 mantimentos necessários á fro-
ta, ([ue foi o mor despojo ([uo aeliaram,
Afonso Dalbuquerque mandou cortar as
orelhas, e narizes a todolos mouros que
se alli tomaram, c os deixou em terra,
c fez poer fo;^o a cidade, e a mesquita,
que era Imma fermosa casa c a xxvij
nãos antre grandes, e pe([uenas.» Da-
mião de does, Chronica de D. Manoel,
part. 2, cap. 36.
Chegando ao galeão, ja apercebido
Está o Cunha, e com boa companhia,
Al) bordo o vai tomai*, o co"o devido
(iiizalhado o recebe, e cortczia.
'J'ambcai no galeão foi recolhido
Qualipier dos que na fusta ElRei trazia,
Antes todos diante cntrão agora
E todos os barretes levão fura.
FRANCISCO DU ANDKADK, PRIMEIRO CERCO DE DIU,
cant. G, est. lí>.
— Recolhido nas embarccK^Ties ; mettido
n'ella9. — «E tornandose António de Fa-
ria a recolher muyto depressa, os dons
ermitães quasi a rasto, e com as bocas
tapadas, chegou onde as embarcações es-
tavào, e recolhido nellas se fez logo á
vcUa com muyta pressa, e se foy pelo
rio abaixo.» Fernão Mendes Pinto, Pere-
grinações, cap. 78.
— Recatado, retirado. — «Usam de ar-
rebique e alvayade muito bom assentado.
Sam comnnmente muito recolhidas, do
maneira que por toda ha cidade de Can-
tam nam parecia nhuma molher, se nam
eram algumas estalajadeiras e mulheres
baixas.» Frui (íaspar da (?ruz, Tratado
das cousas da China, eap. 15.
— Figuradamente: Recolhido cm seus
olhos; modesto, composto, não ciumoso de
olliar.
— Recolhido na cadèa; preso, cncar-
cei*ado.
— Colhido, apanhado, tomado.
— CabeUo recolhido ; cabello em rede,
coifa.
— Substantivamente : Pessoa que vive
cm um mosteiro como secular, aggregado
a elle. — Um recolhido. — As recolhidas.
Foz isto o Capitão por ter sabido
(Se eu mal não adx-inho o seu intento)
Quo estando na abertxira hum recolhido
Não pi5do outro lá ter recolhimento,
1' ^110 o que lá estiver dentro mettido
SiMii ncuhuiii ri«<» *;u, ou detrimento.
Dl', lá fará f,'rão dainiio á gciito imiga
No meio da cruel, áS|K'ra briga.
rilASrlSCO I)K AMillAn)- lumi liin ( i |i< m !.K DIU,
cant. 1'J, 08t. 21.
— «O qnal no.s acompanhou sempre
pelo rio Acará, até nos recolhermos.
N'este sitio d(!scançamos um dia; e, no
seguinte, depois do fallarmos á senhora
do Balthasar do Kego e a suas lilhas,
lionrada iii.itroiia e perfeitas damas, e ai
mais recolhidas que ha cm o Pará, sem
que admitam visita alguma, nem de seus
primos e menos do padres ; tal foi a cau-
tella de seu pao, que achou a cidade n'a-
quelle tempo adultera, incestuosa o sa-
erilega.» Bispo do Orào Pará, Memorias,
publicadas por Camillo Castello Pranco,
pag. 2n<(.
RECOLHIMENTO, s. m. AcçSo de re-
colher, de retirar.
— Acto do i-ecolher-se, de retirar-se.
— Casa de morar.
Fronteiro a esta Cidade que nomeio
Lá da parte onde a tirmo terra fica.
Está hum logar de branca areia cheio,
Iluma Villa aqui o Tártaro edifica;
A qual para de nada ter receio
Com grosso muro cerca e fortofica,
E tal foi, (|uo podião neste assento
]>cm mil visinhos ter reeolliimento.
FRANCISCO d'anDBADE, PRIMEIRO CEBCO DE DR",
cant. 5, est. 30.
Manda a João da Costa que cm si tinha
Os segredos do Reino do Oriento,
Que a hum negocio quo muito lhe convinha
Vá co"os dous companheiros juntjimentc.
I)iz-lhes que vão ás casas da Rainha
Jlàc do Sidtào, que estava dalli ausente,
E que entrem também lá nesse aposento
Que dava ao morto Rei recolhimento.
IBIDEM, cant. 8, est. 50.
— Encerramento, recato, sem conver-
saçijes, sabidas, passeios c outras distrac-
yÕes. — d E conhecendo a Kainha que o
peso do gouerno do regno era mui traba-
lhoso, e que por suas mas disposiçoens o
nam podia sofrer, desejosa de sua conso-
lação, e recolhimento, nas cortes que se
fezeram cm Lisboa no anuo de mil, e
quinhentos, e sessenta, e dous o renun-
ciou neste esclarecido Príncipe, o qual
olle aceptou com muito amor do seniiço
de Deos, e dei Rei seu sobrinho.» Da-
mião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 3, cap. 27.
— Logar onde se recolhe, guarda, ou
encerra alguma cousa, receptáculo. — »0
qual negocio se fjxzia em hum recolhi-
mento de madeira tão perto das nãos,
que ainda que a terra fosse suspeitosa, o
sitio do lugar e favor delias os segunma
de qualquer temor.» Barros, Década 1,
liv. G, civp. 7.
— Casa de religião, ou retiro do mun-
do, sem votos religiosos.
— Abstracção das cousas, quo o dis-
trahiam, ou meílitação e ponderação pro-
funda sem distracção. — « < » ditof^a alma
que eontinuamento se ap|iliea a guar-
da do eoraç?lo i)uro, e recolbimeato san-
eio, e a mortificação do amor projjrio, o
de sua própria vontade uegundo a parto
inferior, coiitrastandoa, ]>urqui5 a tul al-
ma cada dia mais ce chega a De<jK, bwus
potencias se cifnrçAo maiu, e rc«iplande-
crm como estreitas, e se faz apta, e idó-
nea pêra contemplar a alteza da diuindade
com a vi.-ita intellectual sincera, e gf>zo-
■sa.» Fr. Barthohinieu df>s Martvres, Com-
pendio de espiritual doutrina, enp. 11. —
'.Mas o pen.samento anda destrabido em
varias partes sem trabalho, sem recolhi-
mento, e sem fruito, porque facilmente he
leuado de varies objeet"«, o representa-
çijes de parte pêra outra destrabido. > Ibi-
dem, cap. 12.
— Recolhimento rios fructos ; colhimen-
to, colheita d'elles.
— Retirada. — Recolhimento do exer-
cito francez.
— Recolhimento do porto de mar a
corsários; abrigo, estada, acolhimento.
— Figuradamente : Recolhimento dos
olhos; baixos, que não se empregam em
objectas euriíisos.
— Recolhimento de ladroes; a colheita
d'elles.
— Asylo, abrigo, refogio, conto, aco-
lhida, acolhimento.
Fez-se isto entrando o mez que a fiel gente
Do Eterno Rei celebra o nascimento,
CorUindo o mar a armada vai contento
Com grão favor das ondas c do vento :
E tal foi, que tomou mui brevemente
Lá dentro em Baçaim rerothimfnJo.
Cahe a ancora da proa, o fimdo atVarra.
Soa o canhão no mar, soa na torra.
FBASCISCO DE AXDtt.VDE, PRIMEIRO CEBCO DE DIC,
cant. (5, est. 29.
= Termo pouco em
refugio.
RECOLHO, s. m.
uso. Recolhimento.
— Abiiiro, asvlo,
RECOLLEIÇÃO, .'. /. Vida recolhida.
— Ca-a. niigiào, ordem de recolhidos.
RECOLLIGIR, v. a. Colligir de novo,
colligir segunda vez.
— Recolher, compilar, ajuntar cm col-
lecçào.
RECOMEÇAR, r. a. Tornar a começar,
comeear d.' novo, eomeç.ar segunda vez.
RECOHER, V. <í. Rmniar.
RECOMIDO, )''irt. pass. de Recomer.
RECOMMENDAÇÃO, s. f. Acção de re-
commendar alguém.
— Caracter que torna recommendavcl.
— Diz-se também d.-is cousas que ser-
vem de recommendaçào.
— Em recommendaçào; digno de ser
estimado, fallando da^ cousas. — Tomo
e^ta carta em recommendaçào.
— Caiia de recommendaçào ; carta a
favor d'al,gtiem. — «Ao outro dia tornou
o Christào Arábio, porá coelle, meu com-
RECO
EECO
KECO
131
panlieiro, e eu, e o nosso lingoa, liirmos
visitar el Rey, pêra quem eu trazia liu-
ma carta de recommendação, a qual Do
Pedi-o Coutinho me dera em (Jrmus, quan-
do delle me despedi.» Fr. Gaspar de S.
Bernardino, Itinerário da índia, cap. 17.
— Plur. Lembranças que se mandam
a alguém, recommendando-se em seu fa-
vor, graça, amizade.
RECOMMENDADO, ;>arf. pass. de Re-
commendar.
— Recommendado na cadèa ; embarga-
do n"ella por causa differente d'aquella
por que estava preso.
— Recommendado ; protegido.
— .'substantivamente : O meu recom-
mendado; o meu protegido, o meu afi-
lhado.
RECOMMENDADOR, A, s. Pessoa que
recommeiida.
RECOMMENDAR, v. a. (Do prefixo re,
e do latim commendare). Pedir para ser
prospere, fallando das pessoas por quem
se interessa. — Recommendam-se algumas
vezes jtessoas que não ruereceni ser recorn-
mendadas.
— Recommendar a alma a Deus; en-
commendal-a, pedir-lhe que tenha pieda-
de d'ella.
— Louvar.
- — Tornar recommendavel.
— Diz-se dai cousas pelas quaes se
pede que se preste attençào, e se tome
na devida consideração.
— Ordeuar a alguém, encarregal-o de
fazer alguma cousa.
— Exhortar. ac inselhar fortemente. —
Recommendo-vos que sejaes prudente.
— Recommendar um segredo a alguém;
pedir-lhe para o guardar, e não o reve-
lar.
— Recommendar-se, v. re^^. Reclamar
o soccorru. a protecção, os bons serviços
d 'outrem .
— Tomár-se recommendavel. ■ — • Este
homem não se recommenda por nada.
— Merecer apreço, estima, ser atten-
divel._
— É também uma expressão de delica-
deza e civilidade. Vid. Recommendação
(jjlural .
RECOMMENDAVEL, adj. 2 gen. Que é
digno de recommendação, estimável.
— Diz-se também das cousas. — A no-
breza ê recommendavel.
-;- RECOMMENDAVELMENTE, adv. (De
recommendavel, e o suífixo «mente»). De
um modo recommendavel.
RECOMPENSA, s. f. Reconhecimento
de um serviço. — Em recompensa de sua
dedicação. — «Contra o voto do qual hou-
ve outros, que eram remirem este nego-
cio por alguma boa somma de dinheiro,
dizendo, que entregues os cativos com
mais este dinheiro em recompensa do
damno que era feito ao primeiro Capitão
que alli veio, seriamos satisfeitos.» João
de Barros, Década 2, liy. 6, cap. 3.
— Em sentido contrario, castigo. —
Receber a recompensa do seu crime.
— Compensação, resarcimento, repara-
ção. — Para recompensa de seus serviços,
concedeu-lke uma pensão.
— Encontro, desconto de dividas.
RECOMPENSAÇÃO, s. f. Recompensa.
— Figiu-adamente : Indemnisação, sa-
tisfação, emenda.
RECOMPENSADO, part. pass. de Re-
compensar.
— Figuradamente : Amor mal recom-
pensado ; amor mal retribuído.
RECOMPENSADOR, A, s. Pessoa que re-
compensa, remunerador.
— Adjectivam ente: Deus recompensa-
dor.
RECOMPENSAMENTO, s. m. Termo an-
tiquado. Keconipensaçâo, remuneração.
■ — Premio, galardão.
RECOMPÈNSÃO, s.f. Recompensa, pre-
mio, recompensamento.
RECOMPENSAR, v. a. Dar uma recom-
pensa a alguém.
— Fazer alguma cousa por uma recom-
pensa. — Recompensar o trabalho, a pe-
na. — As honras são instituídas para re-
compensar o mérito.
— Por antiphrase : Castigar.
— Indemnisar, compensar.
- — Recompensar o tempo perdido; re-
cuperal-o. reparal-o.
RECOMPOR, 1-. a. (Do latim recompone-
re). CompOr de novo.- — A natureza de-
compõe, constroe, ordena, etc, e neste gran-
de cimos recompõe os mundos.
— Termo de chimica. Reunir os ele-
mentos separados. — Recompor a agua
com oxygeneo e hydrogeneo.
RECOMPOSIÇÃO, s. /. Acto de recom-
por uiua pagina ou uma folha de impres-
são.
— Termo de chimica. Acto de recom-
por uma substancia ; resultado d'este acto.
— As fiincções da nutrição são productos
ou resultados de verdadeiras operações de
chimica, de composições e recomposições
devidas ás forças de attracçòes eléctri-
cas.
RECOMPOSTO, part. pass. de Recom-
por. — A agua decomposta, e depjois re-
composta.
RECÔNCAVO, s. m. O espaço gi-ande da
terra que f Jrma tuna espécie de figura
concava ou semi-circular.
— A comarca ou terra circumvisinha
de uma cidade, ou porto.
RECONCENTRAÇÃO, s. /. Acção de re-
coucentrar-se, de recolher-se no centro e
interior.
— Emprega-se também no sentido fi-
gurado.
RECONCENTRADO, part. j^ass. de Re-
concentrar. Recolhido, profundamente es-
condido no centro, ou no interior. — Eaii-
cor reconcentrado.
— Homem reconcentrado; liomem re-
trahido.
— Termo de chimica. Excessivamente
forte.
— Espíritos, licores reconcentrado s ; es-
pirites, licores que são segiinda vez dis-
tillados, ou sublimados.
RECONCENTRAR, v. a. Recolher no cen-
tro, no interior.
— Occultar profundamente, ou pene-
trar muito.
— Reconcentrar-se, f. rejl. Recolher-
se no centro, no intimo.
■ — Emprega-se também no sentido fi-
gurado.
RECONCILIAÇÃO, s. m. (Do latim re-
conciliatio) . Restabelecimento da amiza-
de entre pessoas inimigas. ■ — «Passados
estes vinte dias em que os feridos guare-
ceraõ sem em todo este tempo aver entre
nós reconciliação da desavença passada,
nos embarcamos ainda assi malavindos
com este cossayro, os três no junco em
que elle hia, e os cinco no outro de que
era Capitão himi seu sobrinho, e partidos
daquy para hum porto que se chamava
Lailoo, avante do Chincheo sete legoas,
e desta ilha oitenta, seguimos por nossa
derrota com ventos bonanças ao longo da
costa de Lamau, espaço de nove dias.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações, ca-
pitulo 132.
— Termo de religião. Acto pelo qual
Jesus Christo reconciliou os homens com
Deus.
— Acto solemne pelo qual um herege
é recebido no seio da Egreja.
— Xova benção de uma egreja profa-
nada.
- — Confissão que suppre o defeito da
que se fez mal por algum esquecimento.
RECONCILIADO, part. pass. de Recon-
ciliar. Coi.duzido á amizade, á paz.
— Inimigos reconciliados; inimigos que
renunciaram reciprocamente á sua inimi-
zade.
— Que fez a paz com Deus. — «E to-
dos estes ditos que dizemos estarem fora
da vnidade da igi'eja, e em nenhuma ma-
neira se podem saluar, e receber a graça
do Senhor, se primeiro nam fora recon-
ciliadados, e restituydos à mesma vni-
dade da igreja, porque como disseram
sam Cypriano e sam Augustinho, Xam
terá a Deos por padre, quem não quiser
ter a igreja por madre.» Frei Bartholo-
meu dos Martyres, Catecismo da dou-
trina christã.
RECONCILIADOR, A, adj. Que produz
reconciliação. — Modos reconciliadoras.
— Substantivamente : Pessoa que re-
concilia.— Offcrece-se como reconciliador.
RECONCILIAR, v. a. (Do latim recon-
ciliare). Restabelecer a amizade entre
pessoas inimigas, a paz entre inimigos. —
«O que feito se fez a vela para Cochim,
mandando diante loão homem com a no-
va do que fezera, cuidando que por alui-
çara.s delia o reconciliasse com seu pai,
mas isto Ihç .íoççdeo ao contrario, porquo
Vi-2
KECO
UKCO
Ri:c(j
o Vicorci otn lugar da» alviBarao Uio ti-
rou ;i capitíiniii da faríiiiclla, (! iloii a
Niliif» va/, |ii'i'(!Íi;i. II Daiuiilo <li; 'íoCH,
Chronica de D. Manoel, part. 2, capitu-
lo 7.
-- Tormo do rcligijlo. Fazor a ]iaz do
homem com Deus. — Reconciliamos os
•pticcadores no tribunal da jicuitenrid. —
«10 daqui collip;irils duas cousas : primei-
ra ; (piam miserável era o estado de tua
alma: sofíunda; (piauta demonstração foy
da piedade desta Senhora ])ara eoiitif^o,
di^nar-so de jiôr cm ti os olhos para re-
conciliar-te com s<!u Fillio.» Tailie Ma-
iiocd liernardes, Exercícios espirituaes,
part. 1, pag. 122.
— Entre os catholicos: Reconciliar »»i
hcrc.fid, um peccador; dar-lhe a absolviçilo,
depois (jue abjurou ou fez penitencia.
— Reconciliar uma ec/nja ; abençoal-a
quando se ])rofanou.
— Pôr d'accordo, conciliar, fallando de
cousas.
— Admittir de novo il communhão.
— Reconciliar-se, i". rejí. CWciliar-sc
de novo, ganhar novamente seu favor.
— Pra"-se bom com alguém. — «E que
também se queria reconciliar com seu íi-
Iho, e que assim esperava em Deos do
])ouco, o pouco hir nioveuilo os seus vassal-
lo3, pêra que se rizessem Cbristàos.» Diogo
de Couto, Década G, liv. 8, cap. 6. — «Este
IMolei beua.luxera andando assi no aeruiço
dei liei dom Emanuel toue modos, o meos
de se reconciliar com ol Rei de Fez, o
se otlereceo a lhe leuar jior engano huma
boa companhia do Christãos captiuos, do
que dom Aluaro tendo suspeita nam quis
dar mais licença a Diogo de mello pura
ir com elle fazer entrada.» Dami.ão de
Ooes, Chronica de D. Manoel, part. 4,
cap. 59.
— Tornar si amizade antiga. — «Neste
tempo lhe cscreuoo Moleinacer, por mes-
sageiro expresso, dizendo-lho que lhe de-
ram nouas daquella sua ida, quo se de-
torminaua de se reconciliar com el Rei de
Fez seu irmam, quo aqucUo era ho tem-
po, que lançasse niam dos Chi-istàos quo
com elle estanam, e contra os outros co-
meçasse de fiizor guerra, senam que se
ouuesse por destroido, porque elle o hauia
logo de vir buscar, e quo nesta demanda
era forçado pcrdorsso hum dclles.» Da-
mião de Ooes, Chronica de D. Manoel,
part. 4, cap. (54.
— Reconciliar-se com Deus ; pedir a
Deus perdão dos peccados, e receber a
absolvição das faltas commettidas,
— Entre os eatholicos, diz-se quando
pouco tompo depois do se confessar, volta
ao confessionário para se accusar, antes
de eonnnungar, de algumas faltas leves
commettidas no intcrvallo, ou de pecca-
dos quo tenham esiniecido.
f RECONCILIATORIO, A, adj. Que tem
a virtudi" do reconciliar. — Os meios rc-
conciliatorios.
RECONCILIAVEL, odj. 2 «/./<. Que «e
p()do. )'o((iiicili.ir.
RECONCOVIO, ». 7/1. Termo p(q)alar.
Esconiji-ijo o mais intimo c interior de
alguma cousa.
— Tormo usado pela populaça para
denotar oh gesto» e modo» de quem na-
mora e ri -(j nesta.
RECÔNDITO, A, adj. (Do latim vecon-
dÀlusi. Occidto, encoberto.
(^uo nos vcioa recomlilos da pcdru
Occiílta jsu, muH Mubito Hciíitilla
Do rijo forro iio polpo rc|ioti(lo ;
Tal da liiunaiia razáo o ctlii'-roo r^uiiic
l'(iniiaiicceo por bcuuIos h in brillio ;
Mas cm cm fim ra/.iio, biMii como lic fof^o
O sol ilida ([im envolto oin pardas nuvons.
J. A. DE MAOKDO, MEDITAÇÃO, Cant. 1.
A conhecer recônditos priucipioa
Das cousas, c seus grilos, seu tempo, c marcha,
Que ás cousas tom marcado a Mão do Eterno,
Deste Nume Imraortal lhe aponto a Essência,
Quo Elle faz conhecer nas obras suas.
IDEM, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 2.
Desta esfera naquella ousado foste
Correr de Sol em Sol, sem deslumbrar-to.
A recniidita Lei tu nos revelas,
A sempiterna Lei, que chama os Astros
Para hum centro coinmum ; a Lei que os força
A descrever, sem descançar, a Curva,
Com que cm torno do centro o giro absolvem.
IBIDEM, cant. 3.
Então lhe manda o Samorim que ouvisse
A recôndita voz do immobil Pado ;
Que o subterrâneo pavoroso abrisse.
Do povo aos olhos, e dos Reis vedado :
t>ue do novo no altar sangue espargisse,
Com ([uo lie do Inferno Lúcifer diamado ;
Que ouvir-lhe faça o oráculo recluso,
Que a sorte exponha do potente Luso.
IDEM, OUIENTE, Cailt. IL
— Não vulgar, profundo. — òVíier re-
côndito.
— Sertão recôndito ; sertão, cujo in-
terior c desconhecido.
— Tambcin se usa substantivamente.
— O recôndito dn luinha vontade.
RECONDirORIO, .«. m. Local onde sa es-
conilo. euardn, ou occulta alguma cousa.
RECONDUCÇÃO, «. /. Prorogaç.^io do
j,uiz, ou magistrado na mesma magistra-
tura, ou logar que occupava.
— Reforma do contracto para outros
prazos.
RECONDUZIR, v. a. (Do latim recon-
duccn). Tornar a prover ou a fazer no-
va incrcò (lo officio, ou magistratura tem-
poral, cujo tempo acabara, á pessoa que
acabou de scrvil-o. — «Se a meus nígos
inclina o Vvo ouvidos, elle me recondu-
zirá digno de appreciar o que vi'is jul-
gastes devido fazer a bem da minha fe-
licidade, e de quo, sem murmurar, mo
estil gemendo o coração. Se escntassc o
Céo meus votos... Ah! continuai, oh
Mae, a la»tiinar este filho vosso. » Fran-
cisco .Manoid do Nascimcntij, Successos
de madame de Seneterre.
— Reduzir, o trazer |>ara o exereicio,
ou para seus regimentos os soldados au-
sente».
— Acompanhar p(jr civilidade até á
porta unm jicssoa que se retira dvjxn» de
uma visita.
— Reconduzir um enlrmií/eiro á fron-
teira ; c.xjml-al-o do tcnit(jrio, o fazel-o
conduzir .1 fronteira jM»r força publicd.
RECONECER, r. a. Termo antiquado.
Vi<l. Reconhecer.
RECONFESSAR, v. a. Confessar de no-
vo, tornar a confcssar-se.
— Reconfessar ronjissues ; repetir, nas
posteriores, as culpas de que se accusoa
na» antecedentes coniissSes.
— Reconfessar-se, r. rejL Tomar a
conf(!-;sar-si'. confe.ssar-se de novo.
RECONGRAÇAR, r. a. Reconciliar.
— Recongraçar-se, f. rejt. Tornar ã
antiga graça.
— Recongraçar-se com alguém ; tomar
á antiga amizade.
RECONHECENÇA, .«. /. Vid. Reconhe-
cimento.
— < ' que se paga em reconhecimento
da vassallagem.
— Gratidão, reconhecimento, ás vezes
em prestaçí^es pecuniárias, similhantes ás
que se faziam aos bispos pelas igrejas
que libertaram de pagar as terças ponti-
licaes.
RECONHECENTE, part. act. de Reco-
nhecer.
RECONHECER, v. a. Conhecer nova-
mente renovar o conhecimento d'alpnem,
ou d 'alguma cousa que so conhece. —
Reconhecer as pessoas pela voz, pelo an-
dar.
— Conhecer por algum signal, por al-
guma indicação, uma pessoa ou cousa que
nunca.se viu. — Pelo andar feconhecen-
se ser uinn deusa. — Reconhecer uma
planta depois da descripção feita pelos
escriptores.
— Chegar a de-^colirir a verdade de
qualquer ei)u>a. — Reconheceu-se sua in-
iiocencia. — Reconheceu-se -•■'ik' má fé.
— Fazor acto, que demonstre, que co-
nhecemos e confessamos. — « PertenderaíJ
03 Emperadores de Alomanha, qne todos
os Reys do Europa se reconhecessem por
seus vassallos; e havendo em Roma hum
C.avalleiro Alema('i, que pelas armas de-
fendia e>tc Direito.! Severim de Faria,
Noticias de Portugal, PUsc. i\. pag. 16. —
uOs (irous seguem hum quo os guia; ívs
abelhas tem huma que as governa : e to-
dos os animaes reconhecem dominio em
outros, (^s homens levados deste dicta-
nio da natureza, quo ho ley muito forço-
za, para não serem mais e«tolido?, que
08 brutos, tízcra»" R<\vs, e escolheraíT Jla-
gistrados. a quem se siibmeterarl. jiara
serem rcyidoj.» Arte de furtar, c^p. JU.
RECO
RECO
RECO
133
— «Isto feyto sahio hum Elephaute, apa-
ratado cõ panos de brocado, com as lim-
brias, e cadilhos cheas de campaynhas
de prata, fazendo hum experto som. O
Nayre que vinha nelle, se chegou a
(Jchaã onde o fez ajiolhar, e dar três
grandes berros, como quem reconhecia
senhorio, e lhe fazia sala, e cortesia.»
Frei (laspar de S. Bernardino, Itinerá-
rio da índia, cap. 14. — «Na segunda
exercita actos de agi'adecimento, reco-
nhecendo, que se naõ tiveras taõ efficaz
valedoriv, era quasi certa tua perdição
eterna : Memento quoniam, nisi per illos^
nnfiis non fuisses.» Padre Manoel Ber-
nardes, Exercicios espirituaes, part. 1,
pag. 123.
— Vêr, examinar. — «Os Mouros lhe
chamão Madagáscar, e sendo no anno de
l.õOS. descuberta por fora, de Fernão
Soares, como diz Damião de (iões, dali
a pouco tempo, o foy pola de dentro por
Ruy Bireyra Coutinho, e Tristão da Cu-
nha a reconheceo toda em roda, por man-
dado de Afonso de Albuquerque ; e por-
que se descobrio em dia de Sam Louren-
ço lhe poserão este nome que hoje tem.»
Frei (Jaspar de S. Bernardino, Itinerário
da índia, cap. 2.
— Admittir, acceitar como verdadeiro,
e incontestável.
— Reconhecer benefícios ; agradecel-os.
— • Reconhecer a ferida; no jogo da
espada, dar signal que a recebeu.
— Reconhecer a ferida; na linguagem
cirúrgica, sondal-a, tental-a,
— Confessar.
— ■ Reconhecer a obrigação, ou signal ;
dizer se é seu, ou não (em juizo ou fora
d'elle), e se ainda deve o que a obriga-
ção confessa, promette.
— Declarar.
— Vir no conhecimento.
— Reconhecer xim Deus.
— Reconhecer um governo; reconhecer
que está legitimamente estabelecido.
— Reconhecer um filho; confessar-se
authcntieauiente por pae ou mãe de seu
íillio natural.
— Reconhecer uma assignatnra, íima
carta, um bilhete; reconhecer que effe-
ctivamente se assignou a letra, o bilhe-
te, ete.
RECONHECIDO, 2>«''<- P««s. de Reco-
nhecer. — « A quem segue Estrabaõ : 5.
Ad rationale animal proxime accedit. Naõ
se esqueceo desta excellencia a reconhe-
cida ellegancia de Cicero: 6. Eiephanto
Oellaarumnulla prudenfior. E ultimamen-
te Eiiano: 7. Cceteris animantibus sagaci-
tate antecellere compertum est.» Braz Luiz
d'Abreu, Portugal medico, pag. 97, § 12.
— De que se rej)ôz r.o espirito a ima-
gem, a idra. — Reconhecido por seus
amigos.
— Admittido como verdade. — Está re-
conhecido <jiie a tfrra gira e não o sol.
— Declarado, confessado. — Eriv re-
conhecido. — « Ah meu Deos ! Do mou
erro já estou reconhecido : do vosso re-
médio estou agora necessitado. E pois
vós. Senhor, vos prezais de dar bem por
mal: já que dous foraõ os meus males,
que cometi contra vós; dous haõ de ser
os bons, com que me remedíeis.» J*adre
Manoel Bernardes, Exercicios espirituaes,
part. 1, pag. 96.
— Agradecido, obrigado.
— Recompensado. — Este favor tão ple-
no, e tal mal reconhecido.
RECONHECIMENTO, s. m.. Acção de re-
conhecer, de repor no espirito, a idôa, a
imagem de uma pessoa ou de uma cousa.
— Exame, verificação de certos obje-
ctos para determinar o numero, a espé-
cie. — Fazer o reconhecimento dos lagares.
— Signaes de reconhecimento ; signaes
pelos quaes se conhecem os navios que se
enconti-am no mar.
— Acto de reconhecer um governo.
— Acção de confessar, de reconhecer
um facto.
— Confissão de uma falta.
— Fazer o reconhecimento de um bi-
lhete; verificar se um bilhete que um ho-
mem nega ser d'elle, o é na realidade.
— Lembrança aftectuosa de um bene-
ficio recebido, com a intenção de o retri-
buir no mesmo sentido, agradecimento.
— « E se deyxa isto ver claramente dos
muytos que se celebrarão no tempo de
sua tutoria, e como em reconhecimento
e lembrança desta liberdade o nonieaô
no principio de cada Concilio, e lhe assi-
não o anno que entaõ corria de seu Rey-
no, como he o Concilio de Tarragona, no
proemio, onde se dizem estas palavras.»
Monarchia Lusitana, liv. 6, cap. 10,
— Prestação, serviço em reconhecimen-
to de obrigação, vassallagem, senhorio,
sujeição.
— Syn. : Reconhecimento, gratidão.
Indicam ambas estas palavras a memo-
ria do beneficio recebido ; porém reconhe-
cimento só dá a conhecer que não se es-
quece, e se confessa : gratidão exprime o
sentimento habitual que nos inclina a dar
graças polo bem que se nos fez.
Uma alma sensível não se contenta
com ser reconhecida, quer ser grata; o
reconhecimento S() lhe desperta a idêa
do beneficie), e a gratidão aviva-lhc a
lembrança do bemfeitor.
() reconhecimento paga beneficio com
beneficio. A gratidão conserva a doce
lembrança de uma boa acção com um vi-
vo sentimento de carinho para com a pes-
soa que lhe fez bem,
O reconhecimento é o principio da gra-
tidão. A gratidão é o complemento do re-
conhecimento.
RECONHECÍVEL, adj. 2 gen. Fácil de
reconhecer, fallando das pessoas e das cou-
sas.
RECONQUISTA, s. /, Acto e efleito de
reconquistar.
RECONQUISTADO, part. pass. de Re-
conquistar. — Meu sc<ptro reconquistado
me põe em liberdade.
RECONQUISTAR, v. a. Conquistar no-
vamente.
— Figuradamente : Reconquistar a ami-
zade, a estima ; recobrar a amizade, a es-
tima.
RECONSTRUCÇÃO, .■'./. Acto de recons-
truir.— ^l reconstrucção da casa.
RECONSTRUÍDO, part.pnss. de Recons-
truir. — *4 Igreja queimada foi recons-
truída no mesmo sitio.
RECONSTRUIR, v. a. Reedificar, tornar
a construir.
RECONTAEOR, s. m.. Officio que havia
na repartição do terreiro do trigo de Lis-
boa, chamado recontador de cobre.
— Diz-se da pessoa que refere ou nar-
ra de novo alguma cousa.
RECONTAMENTO, s. m. Relação, infor-
mação,
— Relatório, reconto.
RECONTAR, v. a. Contar de novo um
facto, uma historia, ete. — «E o que nom
parecesse pessoalmente ao dia per Nós
assinado, nem mandasse por si escusa-
dor, que allegasse por ello o embarguo,
e necessidade, que houve a nom vir, de-
vemo-lo mandar empi-azar oiitra vez pe-
rante Nós, recontando-lhe na carta do
emprazamento toda a couza como se pas-
sou; e nom vindo o retado ao prazo, que
lhe for assinado, devemos dar contra el
sentença á sua revelia em esta forma.»
Ord. Affons., liv. 1, tit. «4, g 7.
Ferida de outro amor, com farpões de ouro.
Em Eudóro, olhos fitos, que aventuras
VAI recontando suas, que de zelos
Na alma do Auti-Christão, não se atearião !
FRANCISCO MANOEL DO NASCIMENTO, OS MAHTYRES,
liv. 10.
Valem mais do que os feitos portuguezes
Og de Gregos, Romanos? Mais victorias.
Mais tropheus, mais virtudes nos reconta
Sua fallada historia ?
oAiiRETT, CAMÕES, cant. G, cap. 7.
Kutão reconta o sonho mysterioso
Do venerando Ganges, do rei Indo
Que ao ditoso mouarcha, ao romper d'alva,
Em visão bomfadada appareoerani.
IBIDEM, cant. 8, cap. 9.
— Recontar-se, v. refl. Numerar-se. —
Recontar-se entre os homens insignes nas
letras.
f RECONTENTAMENTO, s. m. Termo
antiquado. Relações circumstanciadas.
RECONTENTE, adj. 2 gen. Duas vezes
contente, muito contente.
RECONTO, s. m. Vid. Recontamento.
— O segundo conto da lança que tem
no reverso da hastea.
RECONTRO, s. m. (Do fiancez rencon-
tre). Encontro, confíicto, peleja não atu-
rada.— Haver muitos recontros u'ci>tc lo-
]:u
KKCO
RECO
RECO
cal. -r- a Em que foz uiuito duinno, qu<."i-
nuindo os jiSos afiucllo» <\iu.: crnin vasMal-
lort, o tril)Ut,:iri().H dul Uci «loiíi Emaimul,
o cm Bpeciíil foi mAivr. <,'ai(lc boa^íiiz iiia-
lio, com qiii'iii oiuio Imm recontro om que
lho matou trinta liouieim, o xxv caual-
ios.» Daiiiiilo de (iões, Chroiiica de D.
Manoel, part. 4, cap. 21.- "I>'>s i'(>rtu-
guose» foriram os mouros iKjMtc recontro
três, de quem hum foi loiVo loiti', criado
(luo fora de dom l'ero vaz Hlspo da (luar-
da, o» outros dous craõ moradores da cida-
de, a dom Ilierouymo matarào dous mou-
ros de pe o cauallo,» Ibidem, cap. 2;5. —
« Quebrando-lhe as for(;as em muitos re-
contros, e partieularmeute nas duas ba-
taliias dos (iararapes, veio a tiear pacifi-
co Senhor de toda afjuella (.Capitania em
vinte o sete de Janeiro de mil seiscentos
e cincoonta e quatro.» Frei Hernardo de
Hrito, Elogios dos reis de Portugal, con-
tinuados por D. .losé iiarbosa.
— Encontro casual, acaso, acerto.
— Fifíuradaraeutc : Os recontros da
adversidade, da tempestade.
— Ad.vuio :
— Recontros muitos, mas a batalha es-
cusada.
RECONVALECER, ou RECONVALESCER,
r. )i. Tornar a convalescer, convalescer
segund:i vez.
RECONVENÇÃO, n. /. (,l)o latim recon-
ventim. 'rormo do foro. Acto pelo qual o
que era demandailo, ou reu, peile ao au-
ctor na mesma causa, e denumda ou con-
trariedade, a satisfarão do alguma obri-
gação.
— Novo concerto, arrendamento ou os-
criptura, em que se muda, ou altera o
preço em que se tinha convindo.
RECONVENCER, v. a. Convencer de
novo.
RECONVIDO, s. m. Vid. Reconvimento.
RECONVIMENTO, s. m. Vid. Reconveu-
ção.
RECONVINDO, part. act. de Reconvir.
— Pis.sdii reconvinda ; pessoa contra
quem se intenta a recouvenerio.
RECONVIR, r. a. iDu prefixo re, e do
latim cdiivenin'). Termo do foro. Deman-
dar o reu ao author, que o demandava.
RECOPILAÇÃO, .f. /. Acto do recopilar.
— Svnop^e, resumo, epitome, comjien-
dio, summa, anacephaleose, — «Dos quaes
se eomposerào seis liuros em hum volu-
me, a que de comum consentimento cha-
marão Alchoriío que signitíc;i recopilação
da secta, e lev: o queymando toilos os
mais se mandou sob grandíssimas penas,
o guardassem todos, e quem po5es>e glo-
sa, ou tacha ficasse dos mais auido por
herege, e Intame.» Fr. (1 aspar de S. Her-
nardino. Itinerário da índia, cap. 20.
RECOPILADAMENTE, adv. (De reco-
pilado, com o sutlixo «meute»'!. De ura
modo recopilado.
— Em resumo, synopticamente.
— De um modo breve e conciso.
RECOPILADO, purt. pasn. de Recopi-
lar. AbiiíVÍa'lo, resuMMiJo.
RECOPILADOR, A, «. Abreviador, com-
pilador.
— iV'SHoa que resume.
RECOPILAR, 1-. a. iDo prefixo re, e de
copilan. Abreviar, compendiar a obra, ou
escriptura ditfusa, ou mais larga e volu-
mosa.
Recopilar leis; ajuntar as volantes
ou disjiersas em um corpo, tomo ou col-
leeçào; colligir,
— Uesiunir, cifrar.
RECOPTO. \'iil. Recoto.
RECORDAÇÃO, .s./. Acção de recordar.
— Lembrança da cousa, do que per-
dêramos a memoria.
— Príncipe de feliz recordação ; prín-
cipe de quem nos lembramos, havendo-
rios por felizes uo seu tempo, com o seu
governo, otc.
— Fazer recordação ; fazer memoria,
recenseamento.
— .Svx. : Recordação, memoria. Vid.
este ultimo termo.
1 RECORDADO, part. pass. de Recor-
dar.
RECORDADOR, A, adj. Que recorda.
— < ^ue excita lembrança, e recorda-
ção.
RECORDAMENTO, .v. m. Termo anti-
quado. Vid. Recordação.
RECORDAR, v. a. (\)o latim recordari).
Tornar a trazer á meuioria, passar pela
memoria. — Recordar as //çòes para a
aula. — a Dai'-te a saber que só de ti me
lembro, quando recordar-te quero. Cou-
veuho que em muito me levavas vanta-
jem, e que infiuiste unui aífeiçào enlou-
quecida ; de (jue não tens comtudo de ti-
rar grande vaidade.» Francisco Manoel
do Nascimento, Successos de madame de
Seneterre.
Tal lip d'iilma o poder, substaucia ethcrca,
Qi\o 1109 cnducos véos ilida imtilvida.
Da oiiiííin se recorda, iiida consorvii
Uiiin habito divino, e só uliuin pouto
Som iiuidar de lujíar, gyra volautc,
So muda o iiciisainento ! EUa nas tristes
fasaa penetra da e.spantosa morto,
j. AoosTnino de macedo, ueditação, caiit. 2.
So o homem vò cliepir (terrivel vista
Que lhes recorda império o tiraimia*,
Tom trémulo elauior rompe o silencio.
IDKM, A NATIRKZA, Caut. 3.
Ah, quom sabe se é esta a vez extrema
Que me ó dado ante vós o recordál-as,
E a derradeira vez góso a ventura
De olhar-vos junctos c vos ver Eomanoa !
OABRETT, CATÃO, aCt. 2, 8C. 1.
— Dosculpao-me o aNnvar chapas que siuigram,
liecordar 09 horrores do Pharsalia !
Esse dia fatal lhe intregou Roma,
E a morte de Pompeu o Egypto c o Nilo.
I.onibru-tfl, ó Marco,
Da carta...
yuc vieatc recordur-me '.
luiDKM, act. 5, K. 11.
RECORDO, s. m. Uecordaç.^o, excita-
mcnto.
— ExhortaçJlo prudencial, que excita
á virtude, o á eontriçilo, etc.
RECORPORAÇÃO, *. /. Tenno de me-
dicina. Ueeomposiçilo, nova compoBÍçlto,
O ajuntamento da^ ])artes doB corp<^M) ao
priuiciro estado, quando cilas ho touLani
desunido. Vid. Hetasjrncrise, que é o
termo tochnico.
RECORPORAR, r. «. (Do latim reeorpo-
ran . T.inin ib; medicina. Tornara com-
por o corpo viciado, e cujas partes se des-
uniram.
RECORPORATIVO, A, adj. Termo de
medicina. Que ]>õe o corpo no «eu pri-
meiro estado de samle, que renova o
corpo. — Cyclo recorporativo ou metaêi/n-
critico.
RECORREICÃO, RECURRIÇÃO, RECOR-
RICIO, ..u RECORRLNTIA, >. /. Termos
antiquados. < * mesmo que parociíia ou
freguezia, a que também cliamavam c"/-
Zrtção.
RECORRENTE, part. act. de Recorrer.
Que interpõe recurso.
— Emprega-se também Bubstantiva-
mente.
RECORRER, v. n. (Do latim rtcurrere^i.
Correr de uuia parte a outra, vendo, exa-
minando.
— Recorrer a alguém; acudir a clle
por soecorro, soccorrer-se-Ihc pedindo pro-
vimento, despacho, mercê, favor, etc. —
«Que se fossem valer dos (iodos, e pe-
dirlhe favor e soecorro, contra os Roma-
nos, porque Blondo niio diz claramente,
que saissem de Portugal em grade nu-
mero como os Alanos, scnào que recor-
rerão ao favor, e amparo dos (iodos, se-
guindo nisto o conselho dos 'Alanos, suas
palavras saõ as seguintes.» Honarchia
Lusitana, liv. O, cap. (>. — «He erro
grande, diz Ovidio. recorrer aos encan-
tos para nos fazermos amar, ou empre-
gar para o mesmo fim bebidas amorosas
a que se chama Feytiços.» Cavalleiro de
Oliveira, Cartas, liv. 1, n." 29.
— Figuradamente : Recorrer <f memo-
ria; examinar, trabalhar por lembrar-se,
recorrer com ella os tempos, e sncoessoB,
para se lembrar de algum.
— Tornar a correr ou passar.
— Acudir.
— Recorrer com os olhos; tornar a vêr,
reler.
— Recrescer, vir correndo para ou-
tros.
— Recorrer-se, '. rcji. — Recorrer-se
aos deuses. — * Não lhes vejo remédio: e,
quando a medicina os não tem, diz Hi-
pócrates que se recorra aos deuses: Adj
Deos recurreiuJum.9 Bispo do GrRo Pa
RECO
RECO
RECR
135
Memorias, publicadas por Camillo Cas-
tello Branco, pag. 59.
— Recorrer-se ao juiz siípcrior; soc-
correr-se a elle.
— Recorrer-se d justiça; goccorer-se,
recorrer a ella.
RECORRIDO, parf. pass. de Recorrer.
— Pesfoa recorrida ; pessoa contra
fjuem se interpõe recurso — O juiz re-
corrido.
RECORTADO, s. m. Obra e adorno que
se faz recortando, e talvez em figura-
rias.
— Parf. pass. de Recortar.
RECORTAR, v. a. Cortar, fazendo va-
rias figuras. — Recortar pajjeis com te-
soura para cobrir doces, amar velas,
ete.
— Termo de pintura. Applicar a cor
ao redor da figura, para que appareçam
todas as partes d'ella no seu ser.
RECORTE, s. m. O lavor, e figuraria,
que se faz recortando papeis para cobrir
caixas, e pratos de doce, e para outros
enfeites; recortando certas plantas para
ornar canteiros de jardins, e figuras, que
d'ellas se talham, tecendo e recortando
os ramos nos jardins.
— Fazem-se também recortes em pan-
nos de lavor, e costuras.
RECORTILHA, s. /. Termo de pastelei-
ro. Certo instrumento com dentes, para
recortar a massa, para llie fazer flor&s,
etc.
RECOSER, V. a. Tornar a coser com
agulha. Yid. Coser.
RECOSO, s. «i. = Significação incerta.
RECOSSO, s. w. Vid. Recoso.
RECOSTADO, parf. pass. de Recostar.
Encostado.
Xo recostado gesto se assinala
Hum venerando e próspero senhor ;
Hum panno de ouro cinge, e na cabeça
De preciosas gemmas se adereça.
CAM., Lus., eant. 7, est. 57.
Mas de todos tu foste, oh gram Gonçalves,
Quem as primícias colhe : todos brindão
A teu grande valor, á tua astúcia :
Em quanto tu, no collo recostado
Da prezada Consorte, entre os seus mimos,
Do Bispo, c do Deão te estavas rindo.
DISIZ DA CRUZ, HTSSOPE, Caut. 7.
RECOSTAR, V. a. Encostar. — Recos-
tar (t cabeça.
— Emprega-se também no sentido fi-
gurado.
— Recostar-se, v. reji. Pôr-se meio
deitado, de ilharga, encostar-se sobre o
cotovelo.
— Emprega-se também figuradamente.
RECOSTO, s. m. Terra levantada em
encosta.
— Ladeira, declive.
RECOUTO, part. pass. irreg. de Reco-
zer. = Termo antiquado.
RECOVA, s. f. Grupo de bestas, bur-
ros, e gado muar com carga. — «E os
Alarves com a mayor parte da recova
carregada foram polo caminho que elles
sabiam, onde avia mais poços dagoa, e
nam por este, E chegaram a Bacoraa os
mercadores com suas mercadorias pacifi-
camente, ainda que mal tratados das fo-
mes, sedes, e trabalhos do dito deserto.»
António Tenreiro, Itinerário, cap. Õ7.
— Figiu-adamente : Cirande recova de
mouros. — «E em muytos passos deste
caminho tivemos grande arreceo de la-
drões, e porque se ajuntou com ho Em-
baixador grande recova de mouros, e
levávamos dez oii doze espingardeyros
Portugueses, nunca nos ousaram come-
ter.» António Tenreiro, Itinerário, cap. 7.
. RECOVADO, part. jiass. de Recovar.
— tí. m. Recovo.
- — Acto de estar encostado sobre o co-
tovelo.
— Viver de recovado ; viver de assen-
tado, descançado.
RECOVAGÉM, s. /. Multidão de reco-
va, e bagagens ou cargas que ella leva,
fardagem, frasca, trem.
— Conducção por bestas de carga, e
transporte de umas terras para outras,
que partem de certa casa publica, onde
se receba a peso o que queremos enviar
a outra terra, e se paga a tanto por ar-
rátel ou arroba.
RECOVAR, i'. a. Conduzir em recova
de cavalgaduras alguma cousa.
— Ter o officio de recoveiro.
RECOVEIRO, s. »i. Almocreve.
— Homem que traz a ganho bestas de
carga de umas terras para as outras. —
«E chegando em cima da dita serra, que
he muy chaà e larga, me amostraram se-
pulturas de mouros recoveiros, que os
ladròis ali mataram por defenderem suas
bestas.» António Tenreiro, Itinerário,
cap. 65.
— Homem que leva viveres pelas ter-
ras, e negoceia n'elles comprando e ven-
dendo de uns legares em outros.
— Termo de jogo. Vid. Cró.
RECOVO, s. »i. Termo usado n'esta
phrase : Eatar de recovo ; estar recostado
sobre um dos cotovelos.
RECOZER, V. a. Tornar a cozer ao
lume.
— Recozer metaes, ou arames ; tor-
ual-os em braza, recoital-os, requeimal-os.
Vid. Cozer.
RECOZIDO, part. pass. de Recozer. Co-
zido segunda vez ao lume, requeimado.
• — Recozido em malicia ; que sabe, que
é muito esperto n'ella, repassado na mal-
dade, teimado n'ella.
RECOZIMENTO, s. m. O estado da cou-
sa recozida.
REÇOAR, v. a. (Do francez ranqonner).
Termo antiquado. Livrar do captiveiro,
resgatar.
REÇOEIRO,.s. m. Homem que tem re-
çào, ou a cobra por algum titulo.
— Outr'ora dizia-se racoeiro.
REÇÕES, s. f. plur. Termo antiquado.
Resgates, livramentos de captiveiro.
— Razões, razoameutos, discursos.
RECOLHO, s. m. Respiração forte, res-
folego.
RECRAMAR, r. a. Termo antiquado.
Fazer em pregas.
RECRAMO, s. m. Termo antiquado.
Pregas nos vestidos.
— Recramo de cabello; anneis, riçados,
e mais concertos.
— Vid. Reclamo, que diverge.
RECRAVA, s. f. Termo de canteiro.
Entalho que se faz nas peças de canta-
ria, que forma o portal de um armário,
para n'elle se embeber o caixilho em que
se firmam e trabalham as portas.
RECREAÇÃO, ?. /. Acçào de recrear-
se, de recrear.
— Prazer-, passatempo, allivio do des-
gosto, trabalho. — «Sinto que elle não
se queyra redusir a faser hoje compa-
nhia a V. A, porem diga-lhe V. A. da
minha parte, que nào espere que o mun-
do o tenha agora por mais sábio negan-
do-se ás recreaçoens, de que o mesmo
mundo imaginará que elle se aparta por
lhe uiio poder tomar o gosto que lhe
achava nos annos da mocidade.» Caval-
Iciro d'01iveira. Cartas, liv. 1, n." Õ6.
tal amigo
que fale amores commigo
e eu amores com elle :
ter esta ahna lá comsigo,
fiz conta. Fazem possantes
quintas sombras para a calma
c recrew.ões galantes ;
eu quero castello antes
Que é mais salvação da alma.
ASTOhno PRESTES, ACTOS, pag. 12.
— Eicriptos, obra para recrear o ani-
mo. — ^4 recreação doutrinal.
\ RECREADO, 'yxH-í. pass. de Recrear.
— Recreado por uma agradável musica.
— «Pêra atalharmos as tristezas, que
sam anexas á humanidade, ha mister re-
creada com exercícios conformes á nossa
incrinaçam, pêra forrarmos alguns nojos,
aliviai-mos desgostos com defensivos, que
não toquem em specie de vicios, que el-
les e as virtudes nam se habitam nem
servem por uma porta.» D. Joanna da
Gama. Ditos da freira, cap. 58.
RECREADOR, A, adj. Que recreia, que
dá allivio, prazer.
— Recreativo, que dá novos espíritos.
RECREAR, V. a. (Do latim recreare).
Tornar a crear, crear de novo.
— Alliviar do trabalho, divertir do
enfado, cançaço, com cousa de prazer,
que restitua, e reforme o animo lasso, e
abatido, o vigor, as forças, o alento, etc.
Hum murmiireo formai, nelles suaue,
E recreay com brando fresco assopro
Os acesos ardores do molesto
Intollerauel, duro, secco Estio.
vm;
RECf^
ItECK
HPXJR
Diii II lioiiru de tal fnito, a quom ju»toii,
K rliiiido.s llm >^■.i'> cnàni iniiyiirc.5.
cuarK iirAi., n.ickraoi» ur. hki-ui.vku.i, cuiit. 7.
— Recrear n vilu. — «l'or(|uo «j.sta
goiítc ilal;i\a, como tuda vivo do trati),
i: nào do (lutro luo, oiii o Hojíocio do re-
crear :i vidii, lio a };ciiti3 mais iiiiino.-ta
dai|iK'llaM iiartos, o a luai.s altiva oiu opi-
nião : tudo ho l-^idal^íuia, o tào vil iiosta
parte, "Hio so nito aclia liuiii hoiiiooi na-
tural Jlalayo, \)W pobro <iue soja, ipio
(|uoira lovar As costas cousa própria, ou
allioa, por nuiito (|uo llio dciu por isao,
todo o scrvi(;o dtdlos lio por escravos.»
]5ano.^. Década 2, liv. (>, cap. J.
— Fiffuradaiiiciito : Causar prazer.
— Recrear-se, c y<jl. Divertir-se, de-
leitar-s(í.
Aiiinias pocus os pós ncsto montado,
Todo o Zagal comtigo .«? recreu.
Jogando a luta sobre a branda aréa,
LaiKjaiido a barra sobre o vordo prado.
ABDADK DE JAZKNTK, POESIAS, tOIIl. 1, pag. 187
(odit;.. 1787).
— Cobivir vida, ali'ntos, o (juc está
mortal do paixào.
— Re-<taurar-«c, crear forya, vi^or.
RECREATIVO, A, a Ij. Que recreia, re-
crvador, i|uc diverte. — Z.et7iír« recrea-
tiva. - Ií'>iih Ni recreativo.
RECRECENTE. Vid. Recrescente.
RECAECER, v. a. Vid. Recrescer, ortUo-
prapliia pit-ferivcl. — aE seendoo creedor
fora da terra, ou escondeudo-sc em tal
maneira, que nom possa ligeiramente seer
aeliado, podo fazer esse devedor sua pro-
tcstaçom perante o Juiz soomente : e faya
todo assi escrepvor pêra ódespois nom
recrecer alj^uà duvida, o pêra se poder
provar cm certo o tempo da protestaçoin.»
Ordenações Affonsinas, liv. 4, tit. 55,
§ 4. — «Bem cuidou nosso lleciario, que
tivesse no cunliado os mesmos favores, e
socorros que achara sempre no sogro, e
com esta contiança liia continuando com
a conquista das terras do Império, e co-
mo Theo lorieo tivesse amizade cõ os Ro-
manos, e tjmesse, que a desordenada am-
bii^ào do cu liiado, excitasse novos ódios,
o llie recrecesse alguma guerra em que
perdesse as torrai, (juo tiniuv como pró-
prias.» Monarchia Lusitana, liv. li, cap. 7.
— Figuradamente : Recrecer muita <jen-
te. — «O que assi feito, dom loão, por-
que reorecia muita ge.ite dos mouros, ser-
nindoUie a maré mandou reeolker os sous,
e o mo.-imo fez (< areia de MoUo, e assi se
sairaiu do rio a seu saluo, sem lho mata-
rem mais que hum si> homem, com a qual
victoria pos muito espanto aos mouros,
porque a dom loào ato ontrio nu.ica lhe
tal aeontejora naquelle purto, nem sei
se acontvjceo depois.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 1, cap. 83.
RECRECIMENTO, *. »i. Vid, RecreBci-
meulo.
RECREMENnCIO, A, ailj. Termo do me-
dicina. 1 )i'. nu Tiiuciiio. — JlumiJit» recre-
meuticios.
RECREMENTO, n. m. íDo latim rtcre-
iiiKuUiii,,. Diz-so das im|iuruzuii uiintura-
das de diversa-i substancias.
— Km pliysiologia, humor quo dc|ioÍ8
do 80 ter Buparudo do sangue jior um oi-
gSo Becrctor, ó levado para o eaiiguu pola
via de absor))i;.n'>.
RECRÊO, ou RECREIO, *. „i. liocrcavào.
— frazor, paspatempo.
No grào, ((uo á vUta lie morto, e morto ao tacto,
Mora germoii vital, rnj á dura terra
Ks,>i'r:iii.;(Mo agricultor o laui;a.
Vai rotalbaiido o campo o lizo arado ;
Nào cAva melancólico sepulcro,
.Mas fecunda matri>;. ,Iá delia brotão
( yuo profundo m ysterio ! i as plantas todai^ ;
AVíTCÍo, c nutrii;ão d'Eutes mais nobres,
j. A. DF. ílvcedo, MUDiTAvÂo, cant. 3.
RECRER, V. f(. Tornar a crer.
— V. n. ( 'ii-r-sc seguuda vez.
RECRESCENTE, [Mit. mt. de Recrescer.
Que succes.slvamente recresce e reproduz,
renova, ajunta, accuinula, sobroveui. —
Os recrescenles trabalhos.
RECRESCER, v, ii. iDo latira recresce-
rc). Crescer de novo. — ..4 herva cortada
recresce mais endurecida.
— l\tíformar-sc, renovar-se.
— 8obi"ar, sobejar. — O tempo me re-
crescia dvs meus afazeres,
— Sobrevir, vir depois de outros, c
angmentar o numero ou qualidade. — Re-
crescer um trabalh') a outro.
Hrotão das plantas fructos espontâneos,
A industria os amacia, os multiplica ;
Crescem as precis'>es, e á luz rrcrence
Frouxa, dcbil to alli, de humano engenho.
J. A. DE M.tCEDO, MEDITAÇÃO, Caut. 1.
Xas ondas leva o Kbro extiuctos corpo.^,
Corre turvo de sangue o Ti^jo. o Douro,
E dosdo o Tibre ao A'istula gelado.
Das boccas do Danúbio ao mar d "Atlante,
Tantos recrescem batalhões cerrados.
Que scncontrào no ár contrarias bailas.
IBIDEM, cant. 3.
— Emprcga-se também no sentido fi-
gurado.
— Recrescer-se, v. reji. Accrescer, au-
gmentar-se.
RECRESCIMENTO, s. m. Acvào de re-
crescer, jobrovir, angmeutí»r-se em nu-
nieiM.
RECRESTADO, part. pass. dcRecrestar.
Tomado a crostar, crestado de novo,
crestado segunda vez. ,
RECRESTAR, v. a. Tornar a crestar,
crestar de novo.
t RECRIAR, r. a. Vid. Criar. —
«Quando algum homem encontra al::um
seu conhecanto que vem do fora, ou que
ha dia« que nam vio, huudaudo 6C hum a
outro logo llie |)ergunta be couieo c ne
responde quu iiâo ho leva a hum dwttc*
CHtalagcuH e couieui amb<M ctc-oiidiíl.-unente
o bebem, porque ha muito vi..!. o <• milhor
quo cm todas as parte» da india. ho qual
lazem do eoiifcv^-õch : »e rcíijK»;iJe que ja
tom Comido, levao a hum cutalageni o..du
somente ha vij^ho >• mari.-co líobr'- que be-
bem, das quaes taudjcm lia muitas, e alli
ho recria.» Frei Ca-par da Cruz, Trata-
dos das cousas da China, c-i]). 12.
RECRIMINAÇÃO, «. /. Ac^-lo do rocri
minar.
— Injuria, accu.sa\;iio contra o accu*a-
dor.
— - Termo di- r^etorica P^igura pela
qual sr n tM!i|iii- un.a aceu«a^'ào.
j RECRIMINADO, i>art. pata. de Recri-
minar.
-;- RECRIMINADOR, A, ndj. Que recri-
mina.— Caracteres recriminadores e acri-
moniotijs.
RECRIMINAR, v. n. Lau^ar o crim.
contra o accu.sa lor.
— I!t_-s|Mi:i(h'r a aecusações por outra-;.
— Recriminar •■'■^i'ia alifuem.
RECRIMINATORIO, A, aJj. Que coi.-
téui uuia reerimiuatj-ào. — Desculpa re-
crimiaatoria. — «A preesa com que a cha-
mavam era uma excellente desculpa re-
criminatoria para quando appareces-'
qnelradu.ii Alexandre Herculano, Monge
de Cister, cap. 14.
RECROBRAR, r. a. Plantar, cultivar,
relaícr, aproveitar. Vid. Recobrar.
RECRÚ, a ij. 2 gen. Termo de ourive-
saria. Fio recrú ; tio de prata ou de ou-
ro, que nfio ficou bem recoito, ou re-
queimado, e niio é tão tlexivel como o
recoito ; serve em trcninlas, etc.
— Fsa-se também como substantivo.
RECRUDESCÊNCIA, s. /. Do latim re-
crudcsctiilia . Termo de medicina. A volt»
dos symptiimas de uma doe; ya, com unia
nova intensidade, depois de uma remis.sào
momentânea.
— Por extensAo : Recmdescencia do
frio.
— Figuradamente: ..4 recrudescência
daf jii rltnliat;^»s civis.
RECRUDESCENTE, part. act. de Recru-
descer. Quo se manifesta novamente ct>in
svuii toni.is ni;iis assustjidores.
RECRUDESCER, v. n. (Do latim rerr,'-
desccrc ■. Termo de metlitina. Encruar-.*- .
u.ào sair bem cozido. — Recrudescer
uiiiM, as materitís.
— As#an!iar-se.
RECRUTA, #. /. (Do f rances rtcnir .
Niiva Uva de sold.ados para áubstituir <
que faltam.
— Novos soldados, — Exercito de re-
crutas.
— Um recruta ; um soldado recmtado.
— Uma recruta ; a gente que se recru-
tou, leva de soKlalos; a conducta d'elles.
RECT
EECT
RECT
137
-j- RECRUTADO, part. pass. de Recru-
tar. — Huin,:u-< recrutados á pressa.
RECRDTADOR, s. m. Homem encaiTe-
gaclo de recrutar ; homem que recruta.
— Vid. Acontiador.
RECRUTAMENTO, í. )/(. Acto de recru-
tar. — Recrutamento feito com extremo
rigor. — O recrutamento do exercito. —
A lei do recrutamento.
— Acto de buscar homens para se lhes
assentar praça de soldados.
RECRUTAR, r. a. (Do fraucez recrutar).
Fazer levas de gente de guerra.
— Formar novos regimentos, fazer gen-
te nova para o serviço militar.
RECRUZETADO, A, >vlj. Termo do Bra-
zil. — Cruz recruzetada ; cruz que na
extremidade dos braços tem outra cruz,
que atravessa, ou que vem a formar qua-
tro cruzetas.
-j- RECTA, s. /. A linha que está egual-
mente posta entre as suas extremidades
(segundo Euclides, pai da sciencia ma-
tbematica).
Do labvrintho de infinitas Curvas,
Pois se a recta diverge, eut-^o se forma
Sempre em curva infiuita. . . O sombra ! As Musas,
Em te encarando, tímidas 3"espantão.
J. A. DE MACEDO, VIAREU EXTÁTICA, Cant. 3.
— A propriedade da recta é marcar o
mais curto caminho que existe entre dous
pontos.
-j- RECTAL, adj. 2 gen. Que pertence
ao recto. — Veias rectaes.
RECTAMENTE, adv. De recto, e o suf-
tixo «mente» . De luua maneira recta.
— Com rectidão.
— Proceder rectamente ; proceder bem,
como convém, conforme o seu dever.
— Em linha recta, em linha direita.
■J- RECTANGULAR, adj. 2 gen. Termo
de geometria. Que tem a forma de um
rectângulo, isto é, de um paraUelogram-
mo cujos ângulos sào rectos. - — Solução
geral da questão da propagação uniforme
do calor numa lamina rectangular.
— Coordenadas re:tangulares ; coorde-
nadas que sào perpendiculares entre si.
— Secção rectangular do cone ; nome
que 05 antigos davain á parábola.
f RECTANGULARIDADE, 5. /. Forma
rectangular. — O ^íêjueiicí volume dos crys-
taes bem limpidos faz com que se não pos-
sa jamais, polindo-os. conservar rigorosa-
mente suo rectangularidade.
RECTÂNGULO, A, adj. Do latim rectân-
gulas, de rectus, e angulas). Termo de
geometria. Que tem os ângulos rectos. —
Uma figura rectângula.
— S. m. — Um rectângulo; um paral-
legn^ammo rectângulo. — Traçar um re-
ctângulo.
— Producto de duas linhas quaesquer
de gran']ezas differentes.
RECTAR. Vi4. Reptar.
t RECTICORNE, adj. Termo de zoolo-
gia. Que tem as antennas direitas.
TOL. V. — 18.
RECTIDÃO, í. /. Postura recta, era op-
posiçào á curvatura, ou inclinação.
— A dii-eiteza ou cuidado do que acer-
ta, ou obra bem, ao menos o desejo d'is-
so. — A rectidão dos seus desejos,
— Conformidade da intenção, e da obra
com a lei, com o dever. — Obrar com re-
ctidão.
— Plur. Dava-se este nome a tudo o
que por direito eram pertenças de uma
herdade ou ca<al.
RECTIFICAÇÃO, s. f. Acto de rectifi-
car, de tornar recto. — A rectificação de
uma roda.
— Acçào de corrigir o que é incorre-
cto. — A rectificação de um erro.
— Termo de geometria. Rectificação
de uma curva; operação pela qual se acha
uma linha recta egual em comprimento
á curva dada.
— Termo de chimica. Espécie de dis-
tillação pela qual se purificam os liquidos,
umas vezes separando os mais voláteis
que os alteram, outras vezes volatilisan-
do-os para os isolar das matérias fixas
que lhes tiravam sua pureza.
RECTIFICADISSIMO, A, adj. superl. de
Rectificado. Mui rectificado.
— Termo de chimica. Distillado duas
ou mais vezes.
RECTIFICADO, ^Ja^. 2}ass. de Rectifi-
car. Tornado recto. — A estrada rectifi-
cada pelos engenheiros.
— Termo de chimica. Apurado. — Es-
piritos rectificados.
7 RECTIFICADOR, A, í. Pessoa que re-
ctifica.
— Apparelho que serve para rectificar
03 licores, e distillal-os segunda vez.
RECTIFICAR, v. a. Tornar recto. — Re-
ctificar o traçado de uma estrada.
— Termo militar. — Rectificar um ali-
nhamento; tomar recta a frente de imi
exercito cuja ordem está desarranjada.
— Figtu-adamente : Corrigir, emendar,
dirigir.
— Termo de geometria. Rectificar uma
curva; achar imia linha recta que lhe
seja egual em comprimento.
— Termo de chimica. Rectificar um
licor ; tomal-o mais puro distUlando-o de
novo.
— Rectificar tratados; em vez de rati-
ficar.
— Rectificar as observações; corrigir
algiima falta, menos exacção que houve
n'eilas.
— Termo de náutica. Rectificar o oi-
tante; corrigil-o, emendal-o para que fi-
que sem defeito.
BECTIFICATIVO, A, adj. Que rectifica.
Artigo rectificativo.
— Termo de chimica e de pharmacia.
Correctivo.
— Usa-se também como substantivo.
— Um rectificativo.
■f RECTIFICAVEL, adj^ 2 gen. Que se
pôde rectificar. — Erro rectificavel.
— Termo de geometria. Que se pôde
tornar equivalente a uma linha recta.
— Curvas reC.ificaveis.
f RECTIFLOR, adj. 2 gen. Termo de
botânica. Que tem fl u-es rectas.
-f RECTILINEAMENTE, adv. (De recti-
líneo, com o suflixo «mente»). Em linha
recta.
RECTILÍNEO, A, adj. Termo de geo-
metria. Que está em linha recta. — O
movimento rectilíneo é o que se fazem li-
nha recta,
— Triangulo rectilíneo; ti-iangnlo ter-
minado por linhas rectas, em opposição ao
triangulo espherico, cujos lados sào ar-
cos de circulo.
— Cartas rectilíneas ; diz-se em oppo-
sição ás cartas globtdares, ou curvilineas.
— Termo de botânica. Que se estende
em linha recta, e não offerece nem cur-
vaturas, nem sinuosidades.
f RECTINERVO, A, adj. Termo de bo-
tânica. Que tem as nervuras rectas ; taes
são as folhas das gramíneas.
f RECTIROSTRO, A, adj. Termo de
zoologia, '^ue tem o bico direito.
RECTÍSSIMO, A, adj. superl. de Recto.
t RECTITE, s. f. Termo de medicina.
Intiammaçào do reeto.
RECTITUDE, s. f. (Do latim rectitiião).
Qualidade de ser direito e não cm^vo. —
A rectitude do movimento do sol.
■ — Figuradamente: Conformidade com
a razão, com a regra, com o dever. —
Rectitude do juizo, da intenção.
j RECTIUSCULO, A, adj. Termo de his-
toria natural. Que é pouco mais ou me-
nos recto, sem comtudo o ser completa-
mente,
l.;i RECTO, A, adj. (Do latim rectus).
Direito, nào curvo, que não propende mais
para um lado que para o outro. — Uma
linha recta.
— Homem recto ; homem que procede
como é de justiça e de razão, e segundo
o seu dever.
— Angulo recto ; angulo formado por
duas linhas rectas, uma das quaes é per-
pendicular á outra, e forma com eUa dons
ângulos eguaes, ou cada um de noventa
graus.
- — Recta intenção, ou recto viver ; o
desejo e intenção de proceder bem e acer-
tar.
— A estatura recta do homem; diz-se
em opposição á do quadrúpede, propensa
e inclinada para a terra.
— Figuradamente: Recta vara; jus-
tiça.
— Pagina recta ; a pagina que fica á
direita : é a primeira da folha.
2.J RECTO, s. rn. Termo de anatomia.
O ultimo dos intestinos, o que vae ter ao
anus.
— A primeira pagina de rmia folha,
em opposição a verso, que é a segunda.
— E mister refazer todos os rectos das
primeiras folhas. Vid. Folio.
]?,H
11 ECU
RECU
IIKCU
— Pôr-se no recto; no jo;;o da ospail/i,
pôr-.so de manciríi fpio o ljra<;o (rHti;ii<li-
do com a espada tV)nno um aiifíulu recto
com o corpo.
RECTOR, .V. i'i. (Do latim re.ctov). Vid.
Reitor.
— Adj. Termo de cliimicii antiga. Ks-
jilvitti rector ; a jiartc aromática do uma
plantii.
f RECTO-VAGINAL, adj. 2 (jcn. Termo
do iiiiatoniia. i^w. diz respeito ao recto
o il v:i;;inM.
f RECTO-VESICAL, aãj. 2 gen. Termo
de anatomia. Que diz respeito ao recto
c á bcxi;;a.
— tí<'i)am(:ão recto-vesical ; separação
que resulta da ai)])roximaç.ão c da adlie-
rencia das paredes corrcf^pomlentes da
bexip;a o do recto.
RECTRIX. Termo usado no plural Re-
ctrices. Termo de historia natural. As
pcnnas das caudas das aves, com que
pjovernam o seu rumo, ou direcção que
levam, como o leme serve aos barcos,
além de as ajudar a sostcr-se.
RÉGUA, s. /. Círupo de cavalgaduras.
Yid. Recova, ou Récoa.
RECUADEIRA, .s. /. Correia, que pren-
de na ponta do varal da sege, e serve
para a lazer recuar.
RECUADO, jifirt. pnss. do Recuar. Que
recuou, ou fez recuar.
— Figurada c popularmente : Atraza-
do, ou que foi a pcor de fortuna, deca-
dente, descaliido.
RECUAMENTO, s. m. Acção de re-
cuar.
RECUAR, r. a. (Do francoz rrruJer).
Fazer andar para traz. Vid. Encolher.
Instantânea fiigio HarbiiiiJado,
Vem o Keino da Paz, com cila as Avtcs :
Já fez do Cabos remar o linpcvio :
Hum dia proinctteo, que traga ao Mundo
A luz, que a Crvecia \'io, quando na Escola
O Génio de Estagira absorta ouvia,
E Platão facundissimo Ibo expunba.
J. A. DE MACEnO, VIAOEM EXTÁTICA, Cant. 4.
o sombra aiiç;u9ta, escuridão profunda,
He Newton junto a ti, qual cu, quacs todo»
lluiis ÍMipal|)avi'is lUomos obtusos.
Se l'i chefia a Kazào, pára, o recua,
Como iisítustiulus retrocedem fi-ias,
Sc a arêa vão tocar, quebradas ondas.
IDEM, MEDITAÇÃO, Caut. 1.
CV este tartavco oráculo medonho.
Tremendo recuei, senti na fronte
Hum pelado suor correndo em bagas;
Ccrrou-mc o coração súbito susto.
IBIDEM, cant. 4.
— V. n. Andar para traz, sem voltar
o rosto para essa parte d'onde veio.
— Emprega-se também no sentido fi-
gurado.— «A concepção humana recua-
ria aterrada, se podessc obsci-var nesse
momento a alma tenebrosa do monge,
rcvcndo-80 com acro o phronetico deleite
nas Hcnsações de um ódio encanecido,
ismfim satihfeito, satisfeito além de tudo
o fpie e.^p(■rilva.» Alexandre Herculano,
Monye de Cister, cap. 2H.
RECUBITO, s. "1. (IJo latim rfíctiòilus).
Termo pouco usado. Acto de estar recos-
tado, i-ecovado.
— l)iz-80 do que está encostado soVjre
o cotovelo, como os antigos lançados cm
leifoí eo<tiiuiavam cear á roda da me.sa.
RECUCHILHAR, v. a. Termo antiqua-
do. Acutilai'.
RECUDAR, V. a. Termo antiquado. Ne-
gar-se ;i jietiçào de alguém. Vid. Re-
cusar.
RECUDIR, r. II. Termo antiquailo. Sa-
hir, vir a sor para o futuro. — «i^ela
qual razom nasce na Igreja de Deos
grande escândalo, c muitas vezes acon-
tece, que he embargado o serviço de
Deos, e o Saerificio, se ha de fazer, e
antre os outros Christaão.s, do que de-
vera seer esquivados, recudem grandes
ódios, e infâmias nas pessoas, e gi-andes
perdas nos seus direitos, e nos outros au-
tos lydemos, que lhes por esso som em-
bargados.» Ord. Affons., liv. ò, tit. 27,
§3.
— Tornar a acudir, voltar para algu-
ma parte.
— Acudir a serviço.
RECUICAS. Termo usado por Diogo de
Couto, Década 10, liv. 3, cap. b.
RECUIDAR, V. a. Tornar a cuidar.
RECUMBIR, i'. n. (Do latim recumbire).
Estar encostado.
RECUNHAR, v. a. Cunhar segunda vez,
cunhar de novo.
RECUO, .s. m. Acto de recuar.
— Termo de artilheria. O espaço que
a peça retrocede ao disparar o tiro. Vid.
Repuxo.
RECUPERAÇÃO, s. f. (Do latim recu-
jierafio). Acto de recuptu-ar.
— Restauração.
1 RECUPERADO, parf. p„ss. do Recu-
perar.— Diiihrn-i) recuperado.
RECUPERADOR A, s. (Do latim recu-
perntor). Pessoa que recupera.
— Kestnnrador.
RECUPERAR, v. a. (Do latim reaijye-
rare). Recobrar, tornar a cobrar o per-
dido. — «.\. primeira empresa de Cláu-
dio, fov recuperar Jlilaò, com morte de
Auteolo, depois de ser recebido em Ro-
ma, com exquisitas dcmostraçoens de con-
tentamento, tomou a segunda contra os
(iodos, que em companhia de outras Na-
çoons Septentrionaes dctorminaraõ vir so-
bre Itália. n Monarchia Lusitana, liv. õ,
cíip. 17. — «Ds Reis visiuhos procuraram
recuperar o que o tyranno lhe tinha to-
mado em diversos tempos, entre os quaes
o de Arracaõ, e Tàgut (que era cunhado
do cercado"! seguindo o discurso do de
Siaõ, vinham com grandes exércitos por
apoderarse do thesouro, c juntamente da
occasiail de ficmclliantc desgraça.» Con-
quista do Pegú, cap. 2.
- Recuperar-se, v. reji. Indcmnigar-se.
— Recuperar-se '/<; ««</» pi-nluii.
RECUPERATIVO, A, 'i.lj. qn,; tem a
fori;.i <\r r'i ii| 1 rar.
RECUPERATORIO, A, ailj. iDu latim
1-ertipcnil'uitis . Termo do jurisprudên-
cia. Inti.rilicto rccuperatorio ; mandado
pido qual o juiz jiroce lendo summariu-
mcnte ordena quo «e ponham no primei-
ro estado todos os actos feitos c attcsta-
dos.
RECUPERAVEL, n.lj. 2 ijen. Quo é jx.s-
sivil I u| irar, recobrar.
RECURÇÃO, ». ./'. Termo antiquado. Li-
mit'', fVe^ruezia, termo, território. Vid.
Recorreição.
-{- RECURRENCIA, ». /. Termo de ana-
tomia. lv-itadi> do ([ue é recorrente. — A
recorrência dos nervos inferiorej da la-
rvnge.
" RECURRENTE, n<lj. 2 gen. iDo latim
rerinrens'. Termo de anatomia. Que sobe
á sua origem.
— Artérias recurrentes ; nome dado a
muitas artérias do antebraço, e a uma ar-
téria da perna, assim chamadas por pare-
cerem subir para a origem do tronco que
lhes deu principio.
— Nervos rectírrentes ; nervos inferio-
res da larvnge.
— Termo de philosophia. Sentibilidade
recurrente ; sensibilidade 'observada nas
raizes anteriores dos nervos rachidianos ;
se se corta uma d"estas raize.s, a extre-
midade cortada correspondente á modulla
especial é insensível, ao passo que a quo
corresponde .•l periphcria do corpo, nilo
communicando mais com o encephalo, c
sensível.
— Termo de álgebra. Serie recurren-
te ; toda a serie em que cada termo é
formado com um certo numero de termos
que o precedem combinados segundo uma
e mesma lei.
— Pulso recurrente; pulso que se tor-
na a fazer tão largo, e accelerado como
d'antes.
— Vid. Recorrente.
RECURSAR, V. n. (Do latim recvirsare\.
Recursar o entendimento ; tomar a refle-
ctir, ou passar pela retlexào, fazer vir
atra?;.
RECURSO, .». )'i. ;Do latim recwn»»).
A acção lie recorrer.
— O acto de appellar. soccorrer-sc, ou
buscar remédio em alguma necessidade,
refugio. — «Os Christàos (como jii to-
queyl tinhaõ seus S.iccrdote.", e Bispos,
e govemavaõse por Còdes nas Cidades
principaes, e nos povos de menor conta
por Juizes, ou Aguazis, que cm tU'lo os
regiaõ pelas leys dos (íoilos, sem mais
recurso aos íl.uiros. que era casos de
morte. !• Monarchia Lusitana, liv. 7, ca-
pitulo 7.
RcoTCsso. por exemplo, do tíador
IIECU
REDA
REDE
13U
que pagou pelo seu fiado, contra os bens
d'e3te para se indemnisar por elles.
— Acção de tornar a correr para d'on-
de correra, ou saliira.
— Appellação extraordinária ao supe-
rior, que emende a iniquidade, ou vexa-
me do inferior.
— Ter recurso « aJguem; soccorrer-
se a elie, pedir-liie auxilio, valer-se
d'elle.
— Recurso « coroa; o aggravo que nos
juizes da coroa, e d'el-rei, ou ás juntas
de justiça se interpõe das violências dos
juizes ecclesiasticos que usurpam direitos
do soberano, ou infringem as leis canó-
nicas, de que el-rei é defensor e prote-
ctor. Mais precioso é o recurso imme-
diafo á pessoa do soberano em audiên-
cia, ou por requerimento, de que ne-
nhum vassallo, nem o escravo é visto
ser privado em nenbum tempo, nem
caso, e é o direito mais sagrado da na-
ção portugueza.
— Remédio para emendar o mal, per-
da ou damno, moralmente fallaudo.
— Syn. : Recurso, expediente. Vid este
ultimo termo.
RECURVADO, part. ijass. de Recurvar.
Encurvado, inclinado.
■ — Emprega-se também no sentido fi-
gurado.
RECURVAR, i". a. (Do latim reciirvare).
Encurvar, inclinar.
1 RECURVIFOLIO, adj. Termo de bo-
tânica. Que tem as folhas curvas de den-
tro para fira.
RECURVO, A, adj. (Do latim recurvus).
Curvo, torcido.
RECUSA, s. /. Vid. Recusação.
— Syn.: Recusa, desculpa. Vid. este
ultimo vocábulo.
RECUSAÇÃO, s. /. (Do latim recusa-
tio). A acção de recusar.
RECUSADO, part. pass. de Recusar.
Refusado, não acceitado.
— Talho recusado ; desviado, no jogo
da espada.
RECUSADOR, A, s. Pessoa que re-
cusa.
RECUSANTE, part. act. de Recusar.
Que recusa, que recusou.
— Substantivamente : Um recusante.
RECUSAR, V. a. (Do latim recusare).
Refusar, não acceitar o que se dá, ou of-
fereee, rejeitar.— «E se alguém recusava
aos pagar, resgatava-lhe também a vida
e a pessoa com imposições feitas a sua
vontade : finalmente foi cruel e tirano
sobre todos os nascidos.» Francisco de
Moraes, Palmeirim de Inglaterra, capi-
tulo 117.
Eate, sendo também indignamente
Pelo orfTiiIlioso Bispo injuriado,
Porque á porta recusa do Caljido
Ir, como tu, a oli''rcccr o Hyssope,
Para em salvo se pôr de seus insultos.
Deixando, sabiamente aconselhado.
Disia px OBCz, uYssoPE, caat. 8
Indócil presumpçào recusa um jugo ;
Mas a despeito da soberba entende
O misoro mortal, que cLle nascera
Siímcnto para obrar ; não he seu dote
Té do que palpa, c vê, saber as Causas ;
A Scicncia o deslumbra, e sempre illudc
A infatigável, vívida esperança.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Caut. 4.
— «O privado lançou-se-lhe aos pés,
agarrou-lhe na mão e beijou-lh'a. Depois
ergueu para elle os olhos, dos quacs de-
sejaria nesse momento espremer duas la-
grymas, que o coração frio e árido lhe
recusava.» A. Herculano, Monge de Cis-
ter, cap. 15.
— Recusar alijuem; não attender ao
que elle pede.
— Recusar o ju iz ; não o acceitar por
julgador dando-o por suspeito.
— SiX.: Recusar, refusar. Vid. esta
ultima palavra.
RECUSAVEL, adj. 2 gen. Que pôde ser
recusado. — l^stcnmnha recusavel.
— ■ Diz-se algumas vezes das cousas.
— Auctorídade recusavel.
REÇUMAR, V. n. (Joar, ou dar passa-
gem pelos poros ao licor contido no vaso.
— Vid. Reçumbrar, e Ressumbrar.
REÇUMBRAR, i'. «. Significa o mesmo
que Reçumar.
— Emprega-se também no sentido fi-
gurado. — Soffrer que rsçumbra do inte-
rior.
— Vid. Resumar, que é termo mais
próprio, e talvez mais correcto, ortho-
graphicamente fallaudo, porque o s não
SC dobra depois de re nos compostos d'es-
ta preposição.
REDACÇÃO, s. /. Acção e efteito de
redigir.
— Logar, casa onde se redige.
REDACTOR, s. m. O que redige.
— Collaborador de qualquer obra lit-
teraria, ou scieutifica, de qualquer pe-
riódico ou outro género de escriptos.
REDADA, s. /. Lanço de rede.
— Figuradamente : Prisão de muita
gente, ou grande numero de cousas que
se tomam ou apanham de uma vez.
REDADEIRO. Vid. Derradeiro.
REDADO, part. pass. de Redar.
EEDAMENTO, s. m. ant. Rendimento.
REBANHO. Vid. Redenho.
REDAR, V. a. ant. Tornar a dar, dar
segunda vez. Vid. Redrar.
REDARGUIÇÃO, s. f. Acção de redar-
guir, replicar, ou retorquir o argumento.
REDARGUIDOR, s. m. O que redargue,
recriuiinador.
REDARGUIR, v. a. Replicar argumen-
tando, converter, retorquir, voltar o ar-
gumento contra quem o dirigiu. — «Es
um parvo, homem ! — redarguiu estimu-
lado o armeiro. — ííão falarias assim, se
visses o que eu vi em Valverde.» Ale-
xandre Herculano, Monge de Cister, ca-
pitulo 27,
— Figuradamente : Combater, crimi-
nar alguém, valendo-se das suas próprias
razões, e até das suas próprias palavi'as.
— Termo forense. Accusar, contradi-
zer, impugnar uma cousa por algum de-
feito ou irregularidade que contém.
REDDITO, s. m. (Do latim redditus).
Renda, rendimento, lucro do capital.
REDE, s. f. (Do latim rete, retis). Te-
cido de malha mais ou menos larga com
que se apanha peixe e se arma ás aves,
— «Ho qual foi sem outras redes, nem
varães, que esta gente, a qual bateo ho
monte ate trazerem a caça a hum es-
campado que auia entrestas serras, on-
de ficou toda cercada da gente como se
estiuera cerrada em hum curral.» Da-
mião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 4, cap. 10. — «Ko qual instante
andando huns pescando com redes, e ou-
tros lanando os cauallos, eram ja os mou-
ros tam junto delles, que nam tiueram
mais tempo que pêra assi nu.s como an-
dauam, sem poderem tomar as camisas,
nem enfrear os caualos, nem lhe porem
as sellas se lançarem ha elles em osso,
com SOS os cabrestrillos, » Idem, Ibidem,
cap. 47,
Cumprem fieis a lei, enchem, e povoào
De immensa prole as liquidas campinas
Do cerúleo Nereo, e a cada instante
Nas redes encontrada a nova espécie
Do antigo pescador confundo á mente ;
Observa o mesmo numero naquelles
Quasi insectos qu' o mar no seio encerra.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Caut. 3.
Pelas Costas maritimas cm chusma
D'exquisito sabor peixes observa
Sobre as arcas fiilgidas do Tejo,
Cativos pulào nas miúdas redes .
— Qualquer tecido de malha feito de
diíFerentes matérias e para diversos usos.
— Tecido de malha com ramaes, que
se atam nos extremos de uma vara, ou
a duas argolas, e qu^e serve para se dei-
tar a dormir, ou são levados ás costas
de pretos, que susteem cada um no hom-
bro o extremo da vara, espécie de canna
maciça de Angola, — «Despedido da vil-
la de Ourem com o ultimo sei-mão, que
foi o do menino perdido, cm acto de chris-
ma, aos 10 de Janeiro partimos de ma-
di-ugada para o Caite e nos embrenhá-
mos no matto, que atravessamos ora a
pé, ora a cavallo, e o mais tempo em
rede.» Bispo do Grão Pará, Memorias,
publicadas por Camillo Castello Branco,
pag, 188.
— Tecido mui fino, feito de fio de li-
nho, de seda, ou algodão, formando ma-
lhas muito subtis, para ornato de roupas,
de véos, etc.
— Figuradamente : Laço, armadilha,
esparrella, ardil, engano, logração.
— Rede do ar; a que se arma suspen-
dendo-a de uma arvore a outra, de sorte
140
KKDH
iu:i)K
REDE
f|uo 11'^ avos quando paMíani íiijiicin itnv
h;h ii'i'lla.
— Rede '?« pn-ssams, on de jiurdacs ;
í|ii;iltjiicr fazenda ou tucido muito ralo,
e mal fabricado.
— (Joifa om que se metto o cahollo.
— Deiliir, lanc/ir u rede; fazer tuda»
as dilifíoncias para coiist-fíuir alf^um liiii.
— kstiiwlnr as redes ; lançal-as ao mar
para pescar.
— Estender, lancear as redes ; usar de
meios Dpportunos para conseguir uma
cousa.
— Rede varreãijura, de rasto, de ar-
rastar, ou rede-/x'; rode de malhas mui-
to e.-ítroita-j e aportadas para uào deixar
escapar os peixes pequenos.
— Rede de tombo ; com que se arma ás
aves, fazendo-a cahir sobre cilas, quando
estiío juntas cm alguma pousada.
— Rede folie, e tombo ; outras espécies
de redi!s.
— Vahir na rede; cahir em poder do
que se faz espera, e armou a colher al-
guém.
— Figuradamente : Prender o vento
com redes ; trabalhar em vão.
— Termo do náutica. Rede de aborda-
gem ; a que rodeia o costado por cima dos
bordos para defeza durante a abordagem,
c impedir a passagem dos inimigos.
— Rede de combate ; a que se estica de
bombordo a estibordo, por cima da bor-
da, para que n'ella liquem em-edados os
estilhaços da mastrcaeào, nos navios, cu-
ja artilhoria joga descoberta.
— Andar ás redes ; fazendo bordos,
ou batendo, o espancando o mar. — «E
neste caminho toparão com lorge de Mel-
lo, que andaua entre aquellas ilhas bem
trabalhado com mao tempo, e todos ali
andarão (como dizem) às redes té que
a vinte do Septembro entrarão todos cm
Moçambique, Martim Coelho e Diogo de
Llello com lorge de Mello sem ainda là
serem Fernão 8oaroz, e Philippe de Cas-
ti-o.n Barros, Década 2, liv. 1, cap. 6.
RÉDEA, s. /. Correias presas do freio
do cavallo, e que o cavalleiro leva na
mão para o governar. — «Porem este foi
a terra ssm encontro por culpa do caval-
lo, que, por não ser acostumado naquel-
les passos, houve medo á ponte, que era
de pao e mui alta, de maneira que fur-
tando o corpo, tlcou seu senhor fora del-
le : o terceiro poz as pernas ao seu e en-
contraram-se com tamanha força, que
ambos ticaram a pé no moio da ponte ;
mas o que a guardava levou as rédeas em
a mão, o tornou cavalgar tão prestes co-
mo se não cahira.i) Francisco de Moraes,
Palmeirim d'Iuglaterra, cap. '20. — «E
depois do atravessar todo o reino d'Hun-
gria, caminhando polo pó de um outeiro
alto viu vir contra si um cavalleiro bem
posto cm cima de um bom cavallo arma-
do d'arma3 do negro, tão descuidado e
triste, que trazia as rédeas perdidas, e j
elle lançado nobre o arção dianteiro, co-
nu) juoni d'outra sorte não «e jioiia ter.»
Idein, Ibidem, cap. Hl. — «Max como
nas cousas da honra os que a buscam
não teiniMn os perigo) da pessoa, esque-
cidos lio (|ue tinham ante si, cada um
trabalhava por não ser o derradeiro que
sua pessoa n\ jnturasse. Antre estcii o
que primeiro baixou a lança foi Frisol, a
que aconteceu como ao outro. O dos frei-
xos passou adiante tão airoso, como a
primeira vez, e voltando as rédeas ao
cavallo, tomou outra lança das nmitas,
que a um delles estavam encostadas, que
mandara trazer, por se não ver cm ne-
cessidade delias.» Idem, Ibidem, capitu-
lo 111.
— Figuradamente : Freio, moderação.
— A vteia rédea ; a pequeno galope.
— A rédea solta ; de uma maneira in-
tcii'amçute livre, ou independente.
— A rédea solta; com toda a celeri-
dade.
— Correr á rédea solta ; a toda a bri-
da, soltar o cavalleiro as rédeas ao ca-
vallo para que corra quanto possa.
— Figuradamente : Correr d rédea sol-
ta; entregar-se sem i*eserva ao exercício
de alguma cousa, especialmente ás pai-
xões.
— Soltar a rédea; dar livre cui-so.
— Falsa rédea ; correia que prende o
focinho da besta ao peitoril, para lhe re-
colher ou sujeitar a cabeça.
— Deitar a mão ás rédeas; tomar a
rédea a um cavallo, para deter o caval-
leiro.
— Virar as rédeas ; voltar o cavallo,
mudal-o de direcção. — «Agora, senhora
Targiana, quero que vejaes que vassal-
los, os vossos vassallos tem : e virando
as rédeas contra Floriano, que o estava
olhando, abaixou a lança, e coberto do
escudo remetteu a elle com toda a força,
que o cavallo podia levar.» Francisco de
■Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 80.
— «N'isto virou as rédeas polo caminho
que os outros levavam. Ora is bem avia-
do, disse o cavalleiro : cuida c<ida um
dos que lá vão, que é pêra cento taes co-
mo vós : e vós quereis pelejar com todos :
folgo, que quando chegar, acharei já a
vós com vossa soberba perdida, e o vos-
so cavallo esperando por mim ; e então fi-
careis sem elle, e eu terei menos que vos
agradecer.» Ibidem, cap. lO-l.
— Figuradamente: Puxar, apertar as
rédeas ; cohibir, sujeitar.
— Dar, ou alargar a rédea; largal-a,
colhel-a, recolhel-a, tomal-a.
— Dar de rédea ao cavallo; fazel-o an-
dar.
— Ter a rédea curta, bater as rédeas;
fazer correr o cavallo.
— 2\r a rédea curta a alguém; tel-o
muito apertado.
— Dar rédea á paixão; desafogai -a,
ou doixal-a obrar lirremento.
— Rédea de uvas; restea de (•.•■chos de
pendura.
— Plur. Rédeas, (ioverno, direcção de
alguma cou^a. — Ai rédeas do governo.
A» rnluu trazem na iiiào
Oi) HW. TvdciU não tivcráo :
Vendo ijuiiiito iiiiil iizcr&o
A (Vibi^-a (• iiiiibi<,'ão,
Dirifftr«,-a(k)ii se acolhêrto.
CAMUEg, BEDOXDILUAS.
REDEFOLLE. Vid. Rede, e RodofoUe.
REDEIRO, v. (//. O qu- faz redes.
— Anii.-i'iilha de caçar.
REDEMIDO, part. y>ax». de Redemir.
REDEMIR. \i.l. Redimir.
REDEMOINHO. A. pala^Tas que come-
çani ijor Redemoinh..., busquem-se com
Redomoinh...
REDEMPÇÃO, s.f. (Do latim redemptio-
nem). Acção e efleito de remir.
— Resgate, recuperação da liberdade
perdida.
— Por antonomásia ontende-se, segun-
do a religião christã, o resgate que Jesus
Christo fez do género humano, por nn-io
da sua Paixão, e morte. — cE porque no
feito, que João Machado no dia seguinte
fez, que foi sesta feira da Redempçâo
nossa, salvou a Cidade Goa de ser toma-
da pelo qiie estava ordenado per alguns
máos Christãos, e delle fizemos já men-
ção, por memoria de tão catholieo barão,
e esforçado cavalleiro, como elle mostrou
ser neste dia, peri'i que per fortuna de
degredo foi áqucUas partes, diremos a
causa deste trabalho, que o poz em esta-
do de andar tanto tempo entre os Mou-
ros.» Barros, Década 2, liv. 6, cap. í*.
— «A segunda rezão he: pêra de mos-
trar a certa esperança e confiança que
tenhamos, que em nos ae cimiprirà e exe-
cutaraa a redempçam e remissam dos pec-
cados pello sangue de CHRISTO, a san-
ctificaçam e glorificaçam de nossas almas
e corpos, como estaa dito. E por isso con-
cluymos dizendo, Amcn, como se dissés-
semos, Assi certamente se faça e se cum-
pra em nòs.» Fr. Bartholomeu dos Mar-
t>Tes, Catecismo da dontrina christã, part.
1, cap. 24.
— Remédio, recurso, rcfiigio.
REDEMPTOR, s. m. (Do latim reiem-
pti,r,. 1.» que resgatou ou remiu. — Jesus
Christo Redemptor nosso.
And. Que noâ quereis, csoudeiros?
Anjo. Chama todos tíus parcciroa.
Vereis vosso Hfdemplor.
Aud.- Não dumiaes mais. Favo Var,
Ouvireis cautar aqaillo.
ou. VIGESTE, ACrO DA UOTTSX KSXDBS.
— «Se meus peccados forai5 leves, se
foraí) poucos, se nascerão somente de
ignorância, se o olTendido na3 fora meu
Redemptor, que niorreo por mim : já o
pejo fora mais tolerável.» Padre Manoel
Bernardes. Exercicios espirituaes, part. 1 ,
REDH
REDI
REDO
Ul
§ 13. — «Bento 'ne aquelle omga:iito fi-
liio teu, e Redemptor nosío, que em teu
Borae vevo às terras a nos saluar. Estas
pahuiras (juis aqni referir, porque evitea-
daes ii'mào3 o que prometeis ou affirmaes
estando à Missa, e trabalheis de o cum-
prir.» Frei Bartholomeu dos Jlartyres,
Catecismo da doutrina christã, part. 1,
cap. 43. — «Nào ha couza mais ordinária
que dizer-se, que a flor chamada Marty-
rio, encerra em si todos os instromcntos
da payxào sacratissima do nosso Redem-
ptor.» Cavalleiro de Oliveira, Cartas,
liv. 1, n." 24.
Pelo seu Redemptor softreu, foi Martyr;
Mas declina, por ora o Arbitro summo
Hoâtía encetada : olfreuda requer solida.
F. M. DO NASCIIIEXTO, 08 MAKTYRES, 1ÍV. 3.
— Diz-
Christo.
por
escellencia de Jesus
Ovelhas e cordeirinhos
He o meu gado maior ;
Muito humildes e mansinhos,
E pascem poios caminhos
E montes do Redemptor ;
Elle lie o summo pastor ;
E vós escusae a guerra,
Queu sam a flor desta serra.
GIL VICENTE, ACTO DA CANANÉA.
E graças ao Redemptor,
Pois fostes meus rogadores
Até tim de minha dor.
— Religioso da mercê, e trindade, nO'
meado para fazer o resgate dos christãoi
captivos que estavam em poder dos sar
raceuos.
REDEMUINHAR, ou REDEMOINHAR, r.
11. Remoinhar, fazer fazer movimento em
redor ; circular sobre si, ou no mesmo le-
gar.
REDEN... As palavras que principiem
por Reden..., busquem-se com Redemp...
REDENHO, íí. í/i. Zirbo, epiploon, emen-
to: prolougaçào do peritoneo que cobre
por diante os intestinos, foi'mando uma
espécie de bolsa adherente ao estômago
e ao intestino cólon, e solta por baixo.
REBENTES, s. m. Termo de fortifica-
ção. Obras feitas á feição da serra, com
ângulos reintrantes, e salientes, que se
defendem reciprocamente.
— Perfil, feitio serreo.
REDEPÉ. Yid. Rede.
REDERAR, ant. Vid. Redrar.
REDHIBIÇÃO, s. /. .Do latim redhiU-
tionem). Termo forense. AnnuUaçào da
venda que pôde intentar o comprador,
restituindo ou encampando ao vendedor
a cousa vendida com dolo ou fraude.
REDHIBIR, 1-. a. (Do latim redJiibere).
Termo forense. Restituir, encampar, tor-
nar ao vendedor a cousa defeituosa, que
se nos vendeu, encobrindo o defeito que
devia declarar ; exigindo d'elle o preço i
que se lhe pagou.
REDHIBITORIO, aJj. (Do latira reãhi-
bitoriubi. Termo forense. Diz-se da acção
que compete ao comprador para desfazer
a venda, por não ter o vendedor mani-
festado o vicio ou defeito da cousa ven-
dida.
— Que pôde operar a redhibição.
REDIÇOM, s. f. (Do latim reditiomm).
Volta, tornada.
REDICTO. Vid. Redito.
f REDICULO. Vid. Ridiculo. — (. O tri-
buto do bagaço da azeitona, quem ha
que o naò julgasse por tyrannico, alem
de rediculo: e ainda mais rediculo, o das
maçarocas, cujos executores apedrejarão
as mulheres no Porto.» Arte de furtar,
cap. 17.
REDIGIR, V. a. (Do latim redigere).
Pôr em ordem, e por escripto o que foi
deliberado, i-esolvido ou pronimciado em
algum discurso.
— Resumir, recopilar, reduzir a me-
nos um discurso mui longo.
— Compilar, recopilar noticias publi-
cas, etc. Vid. Redactor.
REDIL, s. m. Curai de gado, sebe para
encerrar e guardar ovelhas ou cabras.
— Figuradamente : Logar para onde
se retiram os fieis que vivem debaixo
da conducta de um pastor.
Illustres moradores deste excelso
Magnifico Palácio, bem sabido
Já ha muito tereis o quanto deve
O meu augusto Génio, a nossa Corte
Ao grão Prelado, que as ovelhas pasce
Dos Elvenses redis.
DINIZ DA CBUZ, HTSSOPE, CEnt. 1.
REDIMIMENTO, s. m. ant. Redempçào,
remimento.
REDIMIR, i'. a. (Do latim redimere) .
Remir, tirar da escravidão o captivo,
mediante cei-to preço.
— Tornar a comprar alguma cousa
que se tinha vendido ou possuido.
REDINGOTE, s. m. ant. Espécie de
casaeão ou capa de pouca roda, algum
tanto justa ao corpo, com mangas largas.
REDINHA, s. /. Diminutivo de Rede.
— Certo panno mui ralo.
REDINTEGRAÇÃO, s. /. O acto de re-
dintegrar, de restituir á inteireza o que-
brado, desmembrado.
REDINTEGRAR, v. a. (Do latim redin-
tegrare . Inteirar o que se quebrara.
— Repor no antigo estado, na posse
que tinha, restituir no direito, ou acção.
REDISSOLVER, i-. a. (De re..., e dis-
solver;. Dissolver de novo, tornar a dis-
solver.
— Redissolver-se, v. refl. Tornar a
desfazer-se o corpo solido em liquido.
REDITO. Vid. Reddito. — « Chegou-lhe
á minha fortuna a sua hora : ordenando
que huma escrava de casa, espanando-
Ihe o ve.stido, me espanasse a mim do
beicinho de meu amo para contribuir com
os reditos a hum rascào musico, que a
poder de .caçaras, e seguidilhas, a trazia
aniartellaia.n Francisco Manoel de Mel-
lo, Apoíogos dialogaes, pag, 72-73.
REDITO, ou REDICTO, part. 2^a^^s. de
Redizer.
REDIZER, V. a. (De re..., e dizer).
Tornar a dizer, repetir.
REDIVIVO, adj. iDo latim redivivas).
Resuscitado.
EEDIZIMA, s. f. (De re..., e dizima).
Dizima dos fructos já dizimados.
— Nova parte dos fructos já dizima-
dos, ou outra qualquer porção que se
exigir d'elles, depois de se ter pago o
dizimo.
REDIZIMAR, V. a. (De re..., e dizimar).
Dizimar segunda vez, cobrar nova dizi-
ma dos fructos já dizimados.
REDOBRADO," part. pass. de Redobrar.
REDOBRADURA, s. f. ant. Acção de
redobrar.
REDOBRAR, v. a. Be re..., e dobrar).
Reduplicar, augmentar uma cousa outro
tanto ou o dobro que antes era.
Oiço a cada instante
Redobrar o conflicto... E cu longe d'clle !
Que dirá de mim Numida e Romano ?
GARRETT, CAtÀO, act. 5. SC. õ.
— Figuradamente: Redobrar as penas.
— Reduplicar, reiterar, repetir a miú-
do, toi-nar a fazer alguma cousa.
Soão em torno os éccos, que redohrão
O som magoado, se o robusto braço
Do rústico esquadrão redobra os golpes
Da severa bipcnnc, e abate os troncos ;
Já, das altas montanhas ai'rancado3,
Gemem com elles os sonoros eixos.
J. A. DE MACEDO, MEDIT.AÇÃO, Cant. 3.
— Grargantear, gorgear muito, regor-
gear.
— V. a. — Redobrar sobre alguma ma-
téria; recursar, trazer á memoria.
REDOBRE, s. m. A repetição das arca-
das na rebeca para fazer como uma es-
pécie de trinado.
— Forro, cousa que cobre.
— Figuradamente : Fazer redobre ; ve-
Ihacarias, haver-se com dolo.
— Termo de equitação. Certo manejo
do cavallo.
REDOBRO. Vid. Redobre.
REDOLENTE, adj. 2 gen. iDo latim re-
dolenttiuj. Mui cheiroso, rescendente.
REDOMA, s. f. Vaso de vidro com bo-
jo e gargalo cylindrico ou afunilado.
REDOMINHÁ, s. f. Diminutivo de Re-
doma.
REDOMOINHAR. Vid. Redemuinhar.
REDOMOINHO, s. m. Movimento em
giro que faz a agua nos rios ou mares
encontrando-se duas correntes, etc.
— ^ oragem, sorvedouro, rilheiro.
— Redomoinho de cabeUos; os cabellos
142
IIKUO
(lÍHl)o«tort como cm u.sijiral n<« homenH,
L-tc.
REDONDAMENTE, ndv. (Uo redondo,
cimi (1 sullixo "meute»j. Km clcuinto-
ronciii, {)ii ao redor.
— Claramonto, alisolutiuiuMitc, iiositi-
vamonto, (UMcnííanadaiiHinto, sum liesita-
çilo. — Dizer que não redondamente.
— ]\'. i.;iuc:ul;i, do eiinfrc, sciu ampa-
ro. ( 'iihir ii" c/tuo redondamente.
REDONDEAR, r. <i. Arredondar, fazor
reJondo, dar tigura redonda a alguma
cousa.
— Redondear « sua herdíuh ; adquirir
terreno ao re lor, de modo a tornal-a re-
donda, som ângulos.
REDONDELLA, s. /. Roda pequena.
— Loc. Aiiv. A redondella ; á roda.
REDONDEZ. N'id. Redondeza.
REDONDEZA, s. ./'. i De redondo). Qua-
lidade, IVtrma do eorpo redondo.
— Âmbito, eirculo, circuito, circumfe-
rencia, extensão. — « A qual casa o Apos-
tolo edijicou no lugar que lae aquelle
Kei deu, que hc no sitio onde agora estiV
a nossa fortaleza declarando mai.s que
todolos Christiios que naquella redondeza
edificassem casas, nào ])aga3sem nenhum
tributo aos Reis daquelle regno.» Da-
mião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 1, cap. 98.
QuauJo uo cliiro Orieutc a fresca Auvora
Iluinu ro3iida luz mostrou, e 03 arcâ
Ofu3c:idos CO a uoito, varias flórea
Por toda a redondeza descobriào
A Lusitana dobil, fraca esquadra
Deixa o c.s.-|uiuo lugar, c ja caminha,
A marítima costa vai direita :
Tornando atras de terra hum grand'cspa(;o.
OORTE RE.VLj NAff-RAOIO DE SEPCLVEDA, Cant. 9.
— « Destas grades a dentro hia liuma
filoyra de grandíssima quantidade de
monstros de ferro coado, que a modo de
dança com as mãos dadas de huns aos
outros fecliavào toda a redondeza da ilha,
que, como digo, seria de quasi huma le-
goa em roda.» Fernão Mendes Tinto,
Peregrinações, cap. 75.
Nisto trabalha só : que bem sabia,
CJue despois que levasse esta certeza,
Aruias, c nãos, c gente mandaria
Manoel, que exercita a summa alteza.
Com que a seu jugo a lei submctteria
Das torras o do mar a redondeza:
Que elle não era mais que hum diligente
Descobridor das terras do Oriente.
CAM., Lvs., cant. 8, est. 57.
— Redondeza da ferra ; toda a sua ex-
tensão, ou supei-iicie ; o xuiiverso. —
«Fotentissimo monarca de toda a redon-
deza da terra, de Oriente a Poente, sem
que outro l'rincipe Christào (salvo o que
possue o Abexim) em tudo o que Deos
Omnipotente pOs entre os trópicos de
Cancro, e Capricórnio tenha dominio do
bum palmo de tsrra, seuaõ o nosso Rey,
líEDO
u Sunhor, c os iutieis, Mouro.s, e ííentios,
que tão dilatadas regiòes, c differentcs
climas Liabitaò como vassallos, ou confo-
deiailos reverenceam, o tremem de seu
glorioso nome.» Conquista do Pegii, cap.
1. — «Quem vira o nomo de Deus co-
nhecido, c respeitado por toda u redon-
deza da terra ! <Jh so na terra ae fizera
a vontade de Deos como no (Jeo!» l'a-
dre Jlanoel Hciiiardes, Exercícios espiri-
tuaes, part. 1, pag. :')?.
— A terrestre redondeza ; vid. Redon-
deza da terra.
O dourado aposento o Sol deixando
C'o' a Bua costumada ligeireza,
(Jom a Aurora diante, vinha dando
Xova luz á terrestre redondeza.
E desterrar a escura noite, (|uando
Sc tornou Sousa A. sua fortaleza.
Mas nào se abala a armada até áquclla hora
Que apparecco no Cco de novo a Aurora.
FRANCISCO D°ANnKADE, rBlMElBO CKBCO DE DIU,
cant. t!, est. 51.
REDONDILHA, «. /. Termo poético.
Estancia do quatro versos de oito sylla-
bas, em que o primeiro rima com o quar-
to, e o segundo com o terceiro ; outras
vezes rima o primeiro com o terceiro e o
segundo com o quarto.
REDONDILHO. Vid. Redondilha.
REDONDINHO, *. m. Diminutivo de Re-
dondo.
REDONDO, adj. (Do latim i-otundus).
De figuia circular, rotundo. — «Destas
grades para dentro estrio, por mu\-to boa
ordem, cento e treze capellas a modo de
baluartes redondos, em cada huma das
quais estava huma rica sepultura de ala-
bastro, assentada com mu\to artificio so-
bre duas cabeças de serpentes de prata,
que por estarem enroscadas, e terem muv-
tas voltas, parecião sor cobras, inda que
tiuhaò 03 rostos de molheres, com três
cornos nas testas, que nào soubemos deter-
minar o «jue signiticavào.» Fernão Men-
des I*into, Peregrinações, cap. 3. — «Es-
tes ladrões sam Turquimàis naturaes do
senhorio do Sufi, andam sempre em cam-
po em Aduares trazem humas tendas
brancas redondas de lenço sobre outras
de feltro de Iam.» Tenreiro, Itinerário,
Ciip. 4. — «A primeira cousa que se fez
fov estender no chão huma grande estei-
ra, e encima huma mesa de coyro re-
donda a modo da dos irmãos da Miseri-
córdia : nella se poserão iguarias pêra o
Capitão, o nosso iingoa, meu companhei-
ro, c eu, que fomos os que sò comemos
nella, no restante da csteyra sobre huns
panos pintados comerão até os catiuos.»
Frei (i aspar de S. Bernardino, Itinerá-
rio da índia, cap. 12. — «Xech Vmba-
roch Uey, o qual selou de suas armas, e
seilo pequeno, que era huma chapa re-
donda com humas letras Arábigas cm
que estaua o seu nome. Agardeeilhe muy-
to este fíiuor, posto que iiào nos seruio.
RE DO
nem foy ncceimario.» Idem, Ibidem, cap.
17. — «A interna, que be o verdadeiro
< )rgão do Hcntidu audiu^rio c.stà funda<ia
no usso l'etroAo; e hu coustituhe de qua-
tro oriticios, ou cavidades. A primeira,
<pie he a que se ofTerece á vLíta, se clia-
ma Meatij anditijrio ; o qual lie tortuoso,
e esguelliado para binia, redondo, e aper-
tado.» liraz Luiz d'Abreu, Portugal me-
dico, jtag. 7it, § KM. — €Vê-«e esta Ef-
ligio no ineyo de huma figura triangular,
cujo.s ângulos tsão redondos, e curcado4
da representação da tlloria.» <,'avalleiro
de Oliveira, Cartas, liv. 1, n." 24.
— De fi'inna espherica. — «Sobre a qual
hião assentiidas huuiiM grades de latilo
feitas ao torno, (jue jxir quartfiis de seis
em seis braças fechavào nuuB balaustes
do mesmo lataò, cm cada hum dos quais
estava hum idolo de molher com huma
bolla redonda nas maòs, que por então
se não pôde entender o que isto BÍgniti-
cava.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 75. — • Passada esta caaa atra-
vessamos por huma cumprida ponte a
modo de rua, to<la com arcos de obra
muyto rica e custosa, e fechada toda com
grades de latão com suas cimalhas de
prata, e escudos darmas cò letreyros dou-
rados, 03 quais encima nas voltas dos ar-
cos tinhaõ por timbre mapas redõdos, de
prata, de mais de seys palmos era roda
feitos com grande primor e custo.» Idem,
Ibidem, cap. lt)2.
— Diz-se da letra commum para dis-
tincção da bastarda, ou cursiva.
— Letra redonda; letra de imprensa.
— «A vocês, inimigos da letra redonda,
dirigem minhas vozes seu Ímpeto, com
susto de que no lethargo em que se
acham, nem voz de Estentor os esperta-
rá.» Bispo do (irão Pará. Memorias, pu-
blicadas por Camillo Castello Branco,
pag. 4ít.
— O que é bem feito.
— Cheio.
— Termo poético. O redondo ferro ,•
as balas, bomba, granada, pelouro, bom-
barda, etc.
Deste esforço leal estimulados
Km tumanho furor todos so acccndcm,
C^ue em meio surgem dos Chriâtãos soldador
E com tudo o que podem os offcndem.
Ja os duros fortes ossos encurvados
("om mil frechas subtis os aros fendem,
Salie o redondo ferro da bombarda,
Sahe o chumbo subtil 1:4 da espingarda.
FRANCISCO d'aXDRADE, rSUlEIRO CERCO DB DIC,
cant. T, est. 54.
Mas o redondo forro que sabia
I.á do concJívo bronze Lusitano.
Com quanto ardendo em fogo r fúria liia,
Faz nos imigos muros pouco dano :
Mas a armada Christãa grave o sentia
Do canhão furioso Mauritano,
Que do fixo logar faz sou serviço,
E o Tortuguei o fai de movediço.
IBIDEM, cant. '2, est. 49,
I
REDO
REDO
REDU
143
— Diz-se dos números dciiarios nas
quantidades, para distincçào dos outros,
que formam as fracçòes.
— Um não redondo ; desenganado, de-
cidido.
— BataJhào redondo ; formado em cir-
culo, de modo a apre>entar-ss sempre de
face ao inimigo.
— CaiHi, vestido redondo ; sem cauda.
— Chaga redonda ; a que nào tem cau-
tos.
— • Navio redondo ; o que tem a proa
redonda como a charrua, nào afragatado.
— Navio de vela redonda ; não la-
tina.
— ScUo redondo ; o que se imprime
nas cartas, e nào é pendente.
— Trovas redondas ; em verso hrico;
ou arte menor.
— Ave redonda jw voar ; a que nào
YÔa á tira, ou em linha recta, mas fa-
zendo voltas.
— Ser redondo no contar; usar de ro-
deios, e ambagens.
— - Trazer alguém redondo ; macio, fei-
to á mào.
— Loc. ADV. : Em redondo ; em cir-
cuito, circularmente, em cii-cumferencia,
ao redor. — Uma volta em redondo.
REDOPIO, s. m. — Andar ao redopio ;
á roda.
REDOR, í. m. Arredor, contorno, cir-
cuito, exteusào que cerca algum logar.
— Loc. ADV. : Em redor, ao redor ;
em roda, em volta, em torno. — «E no
tempo que se esta obra fazia, mandou
afastar o arraial contra a parte da cida-
de o que vendo Lourenço de Brito, e
que el Rei nam daua licença a gente de
guerra, mas antes a tinha toda ao redor
da cidade, desejou muito de avcr lingoa
pêra se informar do que passaua, ao que
se lho offereceo hum carpinteiro da for-
taleza, pêra o que logo fez hum cepo que
armou fora da tranqueira defronto da
porta.» Damiào de Góes, Chronicã de D.
Manoel, part. 2, cap. 16. — «E o mes-
mo alcançou do senhor de Menancabo,
que he quasi na ponta da ilha de Sama-
tra, defronte de Malaca, da banda do Sul
donde vem aquella cidade ouro do hu-
mas minas, em que a boa cantidade del-
le, o que também fezerào por amor delle
outros senhores daquellas comarcas ao
redor, de maneira que assi as mercado-
rias, como as vitualhas tornaram em pou-
cos dias ao preço que dantes tiuhào.»
Idem, Ibidem, part. 3, cap. 79. — «E
por isso t.idolos seus trabalhos sam em
vam, assi como vaàmente se can.sa quem
anda no redor, porque torna onde come-
çou sem yr por diante. Por tanto Ir-
mãos, ainda que nossos corpos cada dia
tenham muvtas mudanças, e dem muvtas
voltas segundo a variedade dos tempos,
e acontecimentos, nossos spirltos estam
tixo» em o seu centro que he Deos eter-
no.» Frei Bartholomeu dos Mart\Tes, Ca-
0' redor. Yid. Ao redor.
Cercai-mo sempre ó redor,
Porque vou miú temerosa
Da coutenda.
O precioso defensor
5Icu favor !
Vossa espada himiosa
Me defeuda.
GIL ^^CESTE, ACTO DA ALMA.
Arredor,
\\(\. Arredores,
tecismo da doutrina christã, part. 2, I sentidos.» A. Herculano, Monge de Cis-
cap. b3. — «Em quanto estes Chins nos ter, cap. 28.
forào contando isto, dobi-amos nós huma
ponta da terra, e vimos hxim terreyro
pequeno cercado de arvores ao redor,
em meyo do qual estava huma Cruz de
pedi-a muyto grade, e muyto bem feita,
com cuja vista certilico em verdade que
faltão pala^Tas para dizer o que Deos
nosso Senhor aly nos deu a sentir. » Fer-
não Mendes Pinto, Peregrinações, cap.
96. — «O Chaem estava, vestido de hu-
mas vestiduras de citim roxo muyto com-
pridas, franjadas de ouro e verde, com
hum bentinho como fi-ade lançado ao pes-
coço, que tinha huma grande chapa de
ouro no meyo, na qual estava esculpida
huma mào cò huma balança muyto direy-
ta, e huma letra ao redor que dezia. Pe-
so, e conta, e medida, tem a natureza do
alto Senhor em sua justiça, e por isso
olha o que íazes, porque se peccares has
de pagar para sempre sem tim.» Idem,
Ibidem, cap. 103. — «Xo meio desta tri-
buna estava huma grande estatua de
prata deitada em hum leyto do mesmo,
que se caamava Abicau nilancor, que
quer dizer, deos da saúde dos Reys, que
tàbem se tomara no templo de Àngica-
moy de que atrás fiz menção, e ao redor
desta estatua estavào trinta e quatro Ído-
los, do tamanho de memnos de cinco até
seis annos, postos todos por duas tileyras
em joelhos, e com ambas as màos levan-
tadas para ella como que a veneravào.»
Idem, Ibidem, cap. 122. — «E nós os
seus também fomos muyto bem providos
de tudo o necessário em muvta abun-
dância, e em todos estes dias ouve sem-
pre muytos passatempos de pescarias, ca-
ças, e outros muytos de diversas maney-
ras, e por toda a cidade, e ao redor del-
ia vimos alguns edifícios notáveis, e tem-
plos de pagodes sumptuosíssimos, e de
oiScinas e obras muito ricas.» Idem, Ibi-
dem, cap. 16o. — «Xo inverno trazem
meãs calças de feltro, ou grossas ou del-
gadas, mas ho pano he feito de feltro:
também usam no inverno de vestidos
forrados de mar tas, principalmente ao
redor do pescoço : usam também de Ca-
bayas acolchoadas, e alguns usam de Ca-
bayas de feltro no inverno debaixo do
pelote.» Tenreiro, Itinerário, cap. 13.
Umas SC chamaõ Mais, as outras Filhas,
Testemunhas, e Árbitros ; isto feito,
Diversas hervas queima, e murmurando
Três vezes, ao redor, certas palavras,
Começou a tremer toda a montanha.
Cem espantosas feras, cem serpentes
Sc ouvem bramir, silvar ao mesmo tempo.
A. D. DA CBCZ, HYSSOPE, Caut. 8.
— «A igreja dançava-lhe em roda, co-
mo estonteiada : o silencio zumbia-lhe
nos ouvidos, como enxame que volteia
ao redor do cortiço. Por fim perdeu os
— A redor, de redor. X\A.
e Derredor.
— PJur. Redores,
e Derredores.
REDOUÇA, ou ARREDOUÇA, s. /. Cor-
da suspensa das duas portas, fazendo seio
no meio, onde se sertã alguém para se
embalançar.
REDOUÇAR-SE, v. ref. Balançar-se na
redouoa.
REDRAR, V. a. — Redrar a vinha; ca-
val-a segunda vez, e chegar terra ás ce-
pas: amotal-as.
REDUCÇÃO, s. /. (Do latim reducfio-
nem'}. Accào e efteito de reduzir.
— Conversão, mutação de uma em ou-
tra cousa equivalente.
— Cambio, troca de uma moeda por
outra.
— Divisão de um todo ou de um cor-
po em partes miúdas.
— Passagem de um corpo do estado
solido para o liquido ou vaporoso.
— Submissão, sujeição de algum rei-
no, logar, etc, por meio do poder.
— Persuasão efficaz com argumentos e
razões.
— Povoação de indios reduzidos, con-
vertidos á verdadeira religião.
— Termo de philosophia. Reducção ;
conversão de um syllogi,?mo imperfeito
em outro perfeito.
— Termo de mathematica. Equivalên-
cia que se procura da quantidade eui
uma época com a de outra distincta.
— Termo de chimica. Decomposição
de um corpo em seus principies ou ele-
mentos.
— Resolução ou restituição dos corpos
mixtos ao seu estado natural.
— Operação pela qual se separa um
corpo dos demais com que está combina-
do, para ficar inteiramente puro.
— Termo de cirurgia. Operação pela
qual se repõe no seu logar o osso deslo-
cado.
REDUCTIVAMENTE, adv. (De reducti-
vo, com o suflixi.i «mente»). Restricta-
niente. liinitailameute.
REDUCTIVEL, udj. 2 gen. Que se pôde
reduzir.
REDUCTIVO, adj. Que reduz, que re-
põe no seu locar.
REDUCTO. Vi.l. Reduto.
REDUNDÂNCIA, s. /. (Do latim rednn-
144
REDU
REDU
reí:d
dantiaj. Siiponiljiiiidiincia, «obiíjlJJio, ni-
niiíi eojiiíi.
— iSu|)ciitiii"liiilo, niniii';il)iiiiil;iiR'iíi de
palíivr.is.
REDUNDANTE, 'i,lj. 2 ;/n,. iViirt. iict.
fio Redundai''. .Sobdjd, cxe(HHÍvo.
— Que triuiubunlfi ; i1íz-hc de rio, fon-
te, otc.
— SiiperUiio, desnecessário; diz-so dat»
palavras no diífenrso, otc.
REDUNDANTEMENTE, ndi-. (Do redun-
dante, cMiiri (I siiflixu "menteu). CJoni re-
dumlaiiri:!, lie modo rodundaiito.
REDUNDAR, r. n. iDo latim vndundd-
jvi. Transbordar, <lcitar por tVira ; diz-sc
regularniento dos liqiiidos.
— Resultar, ter por effeito ou resulta-
do, vir a dar uma cousa em beneíicio ou
damno de outrem. — «Antes o encomen-
dou aos criados do sua camará, para que
tratando com oUo o fossem abrandado, e
persuadindolhe, (jue coiulucendcsse com
sua vmitado, pois de o fazer lhe redun-
davãõ tanuinhos interesses, o do contra-
rio se podiaõ seguir desgrai^as, a que o
remédio fosso niuy diftieultoso.» Monar-
chia Lusitana, liv. 7, cap. 19.
Fal-o n'iiíita uma scitii ;
que tudo cm quo se deleita
hoiu-a, ter, n'iâto redniuhi.
AXTONIO TRBSTES, AUTOS, pag. 301.
REDUPLICAÇÃO, s. /. (De re..., e du-
plicaçãoj. Rriieti(;<ào da mesma cousa.
— Termo de rlietorica. Figura de es-
tylo que consiste em repetir consecuti-
vamente no mesmo membro de uma plira-
so certas palavras de um interesse mar-
cado.
f REDUPLICADO, pnrf. pass. do Re-
duplicar.
REDUPLICAR, v. a. Redobrar; repetir
a niiu lo, ihi]iliear de novo.
REDUPLICATIVO, adj. Que denota re-
dujilicav.Ho.
— Termo de philosophia. Proposição
reduplicativa ; a que contém uma res-
tricç.^o, para indicar a maneira como se
tem con^^iderado o assumpto.
REDUTO, ou REDUCTO, s. m. Termo
de furtitiea<;,uo. Nomo genérico de muitas
obras de fortitieatjào permanente e pas-
sageira, de difForentes formas e tania-
nho ; são construidas do ordinário nas
linhas de circunivallaçào e nos aproxes
e algumas vezes nos retornos das trin-
cheira^, fossos, etc.
— Espécie de cidadella pequena que
se construe ás vezes em um baluarte,
fortificando a sua gola até ao interior, da
praça.
— Espécie do revelim que se construe
dentro dos revelins eommuns.
REDUZIÇÃO. Vid. Reducção.
REDUZIDO, ;"((•/. p,(»s. ,íc Reduzir. —
«A primeira, para que reduzidas, o de-
terminadas a certos números, as podes-
80 comprohondor a curta capacidade do
nosso entendinuitito.» António Vieira,
Sermões do Rozario, part. 2, 8 317. —
«Veo-lho Embaixada do Oraõ Soplii da
l'ersia sobre confeilcraeaò contra o (íraò
Turco inimigo comnuim, c sobre outras
cousas de imporrancia, o honra da Chris-
tandade. Deo soccorro aos Catliolicos de
Irlanda com grande zelo do v^r aquolla
Ilha reduzida ao grémio da Igreja, e li-
vre das heresias, que se j)régaõ neila por
ser sugcita ao Reino de Inglaterra.» Fr.
Bernardo de lii-ito, Elogios dos reis de
Portugal, contiiui.idos por D. .lom'- liar-
boza. — kAs Unhas; para os insultos
epilépticos tem o segundo lugar abaixo
<la unha de gram bosta : cxhibese em
cosimento de pconia athe meya onça es-
pado de um mez, ou feitas em pó, ou
redusidas a cinza. Alguns da mosiiia
sorte, e para as mesmas queixas uz.ào de
(';'iv(!Íra.j> Braz T.uiz d'Abreu, Portugal
medico, J'ag. (IGd. — «lie certo porem
qui! trata do incêndio de liuma molher
reduzida a cinzas, pelo fogo que no seu
corpo se accndoo interiormente.» Caval-
leiro d'()liveira. Cartas, liv. 1, n." lõ.
— «A achárào hum dia pela manhã re-
duzida a cinzas exceptuado o craneo, e
as extremidades dos dedos.» Ibidem. —
«Ey-las vão, o hiri.ào todas se estivessem
todas em Italiano, jiorem como as que-
reis reduzidas a esta lingoa vào somente
U8 i|ue clrtcrminaes.» Ibidem, n." 23.
REDUZIR, !'. o. (Do latim rediicere).
Reconduzir ao mesmo logar, ou no anti-
go estado.
— Diminuir, limitar, estreitar, cir-
cumscrever.
— Converter, nnular uma cousa em
outra equivalente.
Ella, co'o3 olhos nellc, contemplava
A quanto estrago o nunido reduzia :
Ellc porém, sonhando, lhe dizia
Que todo aqucUe mal cila o causava.
CAM., SONKTOS.
Dhuni Dominante universal conhecem
A mão, o império, a lei; se ellc não fora,
Tu a vira» correr, cahir na Torra,
Qual raio accezo, c rediizilla a cinzas.
j. A. DK MACEDO, MKDrrAÇÃo, caut. 4.
AUi Monimo admiro, o grande Ilyparco :
Na abobada dos Ceos Novas Estrcllas
IVide descortinar, viaiveis Astros ;
Nessas imraensiis solidões do «tpa<;o
A numero os reduz nas classes suas.
IDEM, VIAGEM EXTÁTICA, Caut. 2.
So d'es30 coração faiscar podcssc
Scintilla que accendcsse a morta cinza
Em que toda esfriou, de consummida,
A virtude latina ! — Mas tu mesmo.
(_'iitào próprio o confessa : a nós c a poucos,
A poucos mais, os deuses reduziram
Da tviste liberdade os defensores.
GAitnKTr, cAiÂo, act. 1, se. 1.
— Cambiar, trocar uma moeda por ou-
tra.
— Compendiar ; resumir um discurso,
narraçilo, etc.
— Dividir um corpo cm partes miú-
das.
— Resolver, fazer que um corpo paMM
do estado Holidu ao liquido, ou ao de va-
por.
— Comprehcnder, incluir debaixo de
certo numero ou quantidade.
— Sujeitar á obediência os rebeldes,
etc.
— Persuadir, wjnvencer com razoes, o
arguui<!iitos.
— Encorporar.
— Reduzir it cinzu» ; abrazar de todo.
— Reduzir n dinheiro; vender.
— Reduzir « deuffeza ; diminuir.
— Reduzir <í pratica; pôr em pratica.
— (,'onvi'rter á fé.
— Termo de philosophia. Converter um
syllogismo imperfeito em outro perfeito.
— Termo líe matiematica. ^'onvertcr
um numero em outro, ou uma figura ou
solido geométrico em outro equivalente.
— Fazer uma figura ou desenho mais
pequeno, guardando a proporçSo nas me-
didas.
— Termo de chimica. Resolver, de-
compor um corjx) em sens princípios ou
elementos.
— Depurar ; separar um corpo dos de-
mais com que está combinado, para que
fique inteiramente puro.
— Reduzir-se, v. rrji. Converter-se.
trausforniar-se. — tOs seguintes pós que
saò de Hconiio saõ de boa efficacia : d^.
Castoreo drachm. j de helleòoro branco
borrifado com agoa ardente, e secco scrup.
ij. de pimenta gr. v. Reduz-se tudo a p<j
e introduz-se no nariz por hum canudo
de penna ; c se o enfermo naõ espirrar
com elle, hc o cazo deplorado, jtois signi-
fica hunia insigne exsoluvaõ do Cérebro. •
Braz Luiz do Abreu, Portugal medico,
pag. 467.
— Resumir-se, limitar-se. — • Estes
commummente se reduzem a quatro, que
saõ Agricultura, para a sustentação ne-
cessária ás Artes mechanicas, para a vi-
da jiolitica, c á Mercancia, para levar os
frutos jiroprios às Províncias alheias, e
trazer das alheias, os qiie nos faltaò, e à
ililíeia, para defensai da ()atría.> Seve-
rim do Faria, Noticias de Portugal, Disc.
1, pag. 81.
— 5Ioderar-se, limitar-se na maneira
de viver.
— Resolver-se por motivos poderosos
a executar algiuna cousa.
REDUZIVEL, adj. J ,,e,i. Que se pôde
redn/.ir.
REEDIFICAÇÃO, ,-. /. Acção c effeito
de riTMÍticar.
REEDIFICADOR, .*. m. O que reedifica.
REEDIFICAR, r. a. ,Do latim reicdiji-
cari . l!eei'ustruir, tornar a edificar, cons-
truir de novo um edifício. — « Paguei os
ordenados aos Capitães, e Feitores; gaa-
REEX
REFA
REFE
145
tei muito dinheiro em reedificar as forta-
lezas todas, sem tirar do cofre de Y. A.
hum sô real. e tudo das mercadorias, pre-
zas, páreas, dinheiro dos cavallos, e rendas
de (joa; e mandei a Cochim por vezes
dinheiro pêra as obras, por não bolirem
no cofre, que foram mais de cincoenta
mil pardáos.» Diogo de Couto. Década 4,
liv. 6, cap. 7. — «Aos três dias depois
do falecimento dei Rei D. Affonso Hen-
riques, que foraõ nove de Dezembro do
anno de mil e cento e oitenta e cinco, foi
o Infante levantado por Rei na Cidade
de Coimbra em idade de trinta e dous
annos, e a primeira cousa em que enten-
deo foi em reedificar lugares, e fortale-
zas damniticadas do tempo, e povoar ou-
tras de novo.» Fr. Bernardo de Brito,
Elogios dos reis de Portugal, continua-
dos por D. José Barbosa. ,
— Figuradamente : Reformar, regene-
rar, restaurar.
— Reedificar-se, v. ref. — Reedificar-
se o templo pela resurreiçào ; reunindo-ie
o corpo com a alma.
REELEGER, u. a. (De re..., e eleger).
Tornar a eleger o que já fora eleito.
REELEGIDO, part. paus. de Reeleger.
REELEGIVEL, adj. 2 gen. Que pôde ser
reeleito.
REELEIÇÃO, s. f. Acyào e effeito de
reeleger.
REELEITO, part. pass. irreg. de Reele-
ger.
REEMBOLSAR, v. a. (De re..., e em-
bolsar'. Cobrar a quantia que se tinha
emprestado ou desembolsado.
— Reembolsar-se, v. rejl. Rehaver, re-
ceber o dinheiro desembolsado, empresta-
do, etc.
REEMBOLSO, «. m. Acção e effeito de
reembolsar.
— Dinheiro que se reembolsa.
— Pagamento de divida.
REENCHER, r. a. (De re..., e encher i.
Tornar a encher.
— Tornar a preencher o numero.
REENCHIMENTO, s. m. O acto de reen-
cher.
REENCONTRO, s. m. Sào dous matra-
zes com o collo de um encaixado no do
outro ; é empregado para fazer circular
algum espirito.
REENVIDAR, v. a. Tornar a envidar,
dobrar a parada ao que envidou.
t REENVITE, s. m. Segundo envite,
retruque.
REESPERAR, v. a. (De re..., e espe-
rar. Tornar a esperar.
REESPUMA, s. f. O assucar feito da
escuma da primeira escuma.
REESTABELECER. Vid. Restabelecei-.
REEXPORTAÇÃO, .«. /. (De re..., e ex-
portação i. Termo de commercio. Aeç-ào
e effeito de tornar a exportar.
REEXPORTADOR, s. m. Pessoa que re-
exporta.
REEXPORTAR, i-. a. (De re..., e ex-
VOL. V. 19.
portar). Termo de commercio'. Tornar a
exportar.
REFACIMENTO. Vid. Refazimento.
REFALSADAMENTE, adv. Dolosamente,
com m:'i astúcia.
REFALSADO, pai-t. pass. de Refalsar.
Do Escnrial a onça refalsada
Os negros fios da ambição urdia
Qiie, por mãos de vendidos conselheiros.
Em labyrintho escuro inrevezavam
Os descuidados passos do monarcha.
GABEETT, D. BRASCA, CaUt. 6, Cap 2.
Xas cavernas do peito refalsado
Ódio cego lh'entrou ; os beiços roxos.
Áridos com a sedo da vingança.
Mordem convulsos. Nunca tam terrivel,
Nua a verdade lhes mostrou seus crimes,
Como na bõcca d'es3e vate ousado.
IDEM, CAMÕES, caut. 10, cap. 2.
Nunca me inganei eu. — Erguei-o, amigos,
Desse lodo em que jaz... insovalhando
Em sangue e infâmia ascans... as cans traidoras
Do refalsado velho ! — O que eu de\na
C"o'ést3 espada... Não; vive, miserável,
E arrastra ao sepulchro essa vergonha.
IDEM, CATÃO, act. 4, SC. 2.
REFALSAMENTO, s. m. Dolo, engano,
falsidade.
REFALSEADO. Vid. Refalsado.
REFAZEDOR, adj. Que refaz, ou res-
taura.
REFAZER, V. a. (De re, e fazer). Tor-
nar a fazer o que se tinha desfeito.
pôde matar, enforcar,
desfazer e refazer;
tem poder,
para que é desorelhar.
AXTOKIO PBESTKS, ACTOS, pag. 427.
— Reformar, reparar, restabelecer. —
«A qual ja ahv viera, e fora desbarata-
da pela gente da terra, com perda de
setenta lancharas, e de cinco mil homens,
aviào a sua yda entào por desnecessária,
porque segundo o que elles tinhào visto,
hia este inimigo taõ quebrado das forças,
que lhes parecia que em dez annos se
nào poderia tornar a refazer do que ti-
nha perdido.» Fernào Mendes Pinto, Pe-
regrinações, cap. 148.
— Restabelecer, reunir, ajuntar de no-
vo a tropa desbaratada. — « Pela qual
razam Diogo lopez assentou de se nam
partir ate refazer de nouo a armada que
alli auia de ficar, pelo que despachou lo-
go dom Aleixo de meneaes pêra Cochim
a dar conta a dom Duarte do que pas-
saua, pedindolhe lhe mandasse ordenar
sua embarcaçam, porque tinha tanto que
fazer nas cousas de Chaul, que quando
chegasse a Cochim nam teria tempo pêra
mais, que pêra se passar da nao em que
hia, pêra a em que auia de tornar pêra
o regno.» Damiào de Góes, Chronica de
D. Manoel, part. 4, cap. 73.
— Refazer o ãamno; emendal-o, repa-
ral-o, pagal-o.
— Refazer a quebra, etc. ; suppril-a,
inteiral-a de outra parte, por outros meios;
indemnisar. saldar.
— Refazer o justo preço; pagar o que
a cousa mais vale; e nào se dera a prin-
cipio, com lesào do vendedor.
— Refazer o gado; trazel-o a pasto para
engordar, principalmente o gado, que se
sentiu, e descahiu por causa da mudan-
ça para outra terra.
— Refazer-se, v. rejl. Cobrar, ou re-
cobrar f rças, ou saúde.
— Reparar-se da falta de alimentos,
saúde, forças.
— Refazer-se da fome; comendo.
— Refazer-se do trabalho; descançando.
— Refazer-se da calma; abrigar-se á
sombra.
— Refazer-se de gente e munições ; tor-
nar a prover-se. — «Alguns vintaneiros
dos homees do mar de Lixboa, e de Se-
ta vai, e dos outros lugares da costa do
mar dantes feitos fezerom suas vintenas
de vinte, segundo em a vossa Hordena-
çom he contheudo ; e porque destes ho-
mens parte delles som mortos, e fogidos
da terra, as vintenas ficam minguadas.
Seja vossa mercee de mandar-des se o
refarom de vinte homees, humas polas
outras, se os vintaneiros cada hum per
sy nom poder fazer comprida de vinte
homees conhecidos.» Ord. Affons., liv. 1,
tit. 69. § 9.
— Refazer-se de industrias e astúcias;
prover-se, armar-se d'ellas para novo ata-
que, ou tentativa.
— Refazer-se d'aquillo que se perdeu;
prover-se de outra tal cousa.
REFAZIMENTO, s. m. Acçào e effeito
de refazer ou refazer-se.
— Compensação, indemnisaçào.
REFEGAR. Vid. Arrefecer.
REFECÇÃO. Vid. Refeição.
REFECE, adj. 2 gen. ant. Que não está
na maior força, que declina.
— Mulher, homem refece ; de baixa
condição.
— Moeda refece ; de baixa lei, que tem
maior titulo, ou valor externo, e legal, que
intrínseco, por diminuta, e fallida no pe-
so, ou por mui ligada.
— Vender a refece; por baixo preço,
barato.
REFECER, V. a. Esfriar.
— V. ii. Arrefecer.
■ — T''. /•<//. Esfriar-se.
REFECTÍVO, adj. Termo de medicina.
Que conforta, corrobora, refaz as forças.
REFECTOREIRO. Vid.' Refeitoreiro.'
REFECTORIO, adj. — Cura refectoria;
a que se faz dando os remédios no comer,
ou alimento.
— Viil. Refeitório.
REFEGA, s. f. Golpe ou pé de vento
forte que dm-a pouco, e é continuo. Vid.
Rajada.
146
UKKK
KEFE
UEFE
— J''ifíitríulameato : Sobrcsalto.
REFEGADO, ndj. (^110 tciii refogo.
REFEGÃO, «. III. Augmoutativo do Re-
fega.
REFEGO, 8. m. Propa que se taz nas
saias para bc, desdobrar, o iicrescentar u
altura, q\iando o.stas so tornam curtas.
— Fera de refego ; uma certa casta do
porás.
REFEIÇÃO, s. f. (Do latim refectionem).
Alimento moderado qno so toma para re-
j)arar as tbr(;iis ; o acto de. refazer a fo-
me, ou fraqueza, com alimento ou comer,
que se toma.
— Supprimonto, reenchimonto.
REFEITEIRO. Vid. Referteiro.
REFEITO, /"irf. iHuss. d(! Refazer.
REFEITOREIRO, ». m. O religioso que
cuida dl) letcitorio, e seu concerto.
REFEITÓRIO, s. m. (Do latim refecto-
riuin). Casa de jantar nos conventos e
communidades. — «Onde ella jaz sepul-
tada, na crasta, junto da porta ilo refei-
tório em sepultura siniplez, raza igoal
com o cham, e porque era muito deuota
da bemauonturada sancta Úrsula guia, e
capitoa das virtuosas martyros onze mil
virgens, pedio per suas cartas ao Empe-
rador Jlaximiliano, seu primo cora ir-
mam, que quisesse mandar algumas relí-
quias destas sanctas virgens.» Damião
de Go63, Chronica de D. Manoel, part. d,
cap. 20.
REFÉM. Vid. Arrefem.
REFENDER, i-. a. (De re..., e feuden.
Tornar a tender.
REFENDIDO, part. pass. de Refender.
REFENDIMENTO, s. m. Abertura na
obra refendida.
REFÉNS, *'. 2 (lea.plur. Vid. Arrefens.
— «Finalmente tàto aporfiarão sobre o
varar dos nauios, ou que lelxasse em ter-
ra alguns homens cõ mercadorias, e isto
cm modo de reféns em quanto o Çamo-
rij o naõ despachaua, dizendo que a gen-
te do mar lho requeria, pêra poderem hir
pescar seguramente doUes.» BaiTOs, Dé-
cada 1, liv. 4, cap. 10. — «Gabriel Ra-
bello apertou muito com o Sangago pêra
que fosse ver o Capitão «e que elle fica-
ria alli em reféns, c que lhe cortasse a
cabeça, se delle, nem dos seus recebesse
cllo, nem cousa sua algum agravo. » Dio-
go de Couto, Década (i, liv. 9, cap. \?y.
REFERENCIA, s. /. Narra(;rio, ou rcla-
çiío de alguma cousa.
— Connexão, dependência ou .similhan-
Ça do uma cou'a com outra.
REFERENDADO, part. pass. de Referen-
dar.
REFERENDAR, i'. a. Rubricar; legaiisar
uma escriptura ou documento publico por
meio da tirma authorisada para isso.
— Rever, examinar os passaportes e
anuotar a sna apresentação.
REFERENDÁRIO, .>•■. 1». O que referen-
da documento publico.
— Relator de alguma supplica .
REFERIDO, part. pass. de Referir. —
" E assi Vemos (da .sentença referida aci-
ma) como no aiino seguinte do mil e
hum 80 tornàrars a povoar a» terraa de
Arouca; e assi seriaò todas as mui» da-
qu(;lla8 partes, pois ticavmT taõ do'«!m-
baraçadas do inimigos.» Monarchia Lu-
sitana, liv. 7, cap. 20. — «Ao ceguinto
dia dejiois do assalto, entrárrio pela bar-
ra D. António de Attayde, c; Francisco
(iuilherme, que n3o aclidrilo menos bra-
vos os mares, que os outros que temos
referido. DissérJIo, que nilo podia tardar
hum dia D. Álvaro de Castro, porque so
tinha jil levado a armada, com ordem
q>ic nenhum navio esperasse por outro.
( >s soldados festejárSo a nova, e o boc-
CfUTO, com musicas, e folias continuas,
eoin que já parcci.ão passatempos os peri-
gos do cerco. » .Tacintho Freire d'Andra-
dc, Vida de D. João de Castro, liv. 2. —
n i*ordêrão-se nesta desgraça trinta c cin-
co pessoas, cm que entrarão os Fidalgos,
que temoa referido, e foram mais de cem
os feridos ; mas em tFío desordenada em-
prcza, ainda se teve a desgraça por me-
nor que o erro. O Capitão Mi'>r foi logo
denuxndar a D. Álvaro, que ainda achou
sem falia, 6 a juizo doíi Cirurgiões, mui
contingente a vida, cujo perigo durou
aquelles dias que a fdosofia chama de-
eretorios ou críticos.» Ibidem. — (lEntre o
llidaleào, e o Estado deixou jNIartim Af-
fonso de Sousa vivas as causas dos ódios
que tomos referido, de que D. João de
Castro lhe não podia dar satisfação, sem
aftronta, nem negar-lha, sem guerra. Com
a retirada dos Jlouros estavão á nossa
obediência as tendas de Bardez, e Salsc-
te, nascendo os fructos da agricultiu-a,
quasi debaixo das armas com que os de-
fendíamos.» Ibidem, liv. 4. — «Estando
as cousas de Adem na contingência que
temos referido, appartceo a armada dos
Turcos, que constava de nove galés
Reaes, e algumas galeotas, as quacs de-
rão vista á Cidade, e surgindo f/ira da
enseada, armarão tendas, e fortificarão
alojamento, avisando ao Baxá se lhes ag-
gregasse com a gente que tinha.» Ibi-
dem. — «Aportou nesta occasiào Diogo
Soares de Mello com as duas galeotas,
que temos referido, como trazidas por
nossa fortuna a ajudar a victoria. No-
meou a D. Francisco Déça por Cabo des-
ta esquadra, o qual ainda mal armado,
com a pressa de quem acodia a pendên-
cia súbita, se fez na volta do mar, com
instrucção que se em dez dias não achas-
se o inimigo, se recolhesíie ao porto ; por-
que não hia bastecido para mais largo
tempo.» Ibidem. — «As I^ys Militareis
que antigamente so guardavaõ nos Exér-
citos, estaõ ao largo referidas no Rcgi-
nu'nti> da guerra.» Sevcrim de Faria,
Noticias de Portugal, Dlse. 2, pag. 8. —
«E dtqiois de lhe darem a toalha na for-
ma referida, os OflSciaes da Nobreza pu-
IjIicaO logo o nome do novo Rey de Ar-
uias, o recebe a copa, que teve a agoa,
da mão do Cop<;iro .Mór, e u leva por
sor gaja sua.» Ibidem, iJi.sc. '.i, § 19. —
«E da outra, que rò a fcicncia da nalua-
çAo, e Hapioncia CkristaJ, Lc Bolida, c
tinne ; p(ús no ineHmo lugar a"» tre» de
Mayo do auno referido, como diz Zapu-
Iho, foy ondo o Senhor deu a Iaív, e
MandamcntoH a eeu amigo, Moy»»ii».» Fr.
(ia-;|)ar de S. Bernardino, Itinerário da
índia, caj». H. — «E diz Eliano no capi-
tolo acima referido, quo tem religiJo, c
que quando nasce o Sol o adorãu, e no
cap. y. e 19. aflirnui que offcrecem re-
inos verdes k Lua cm sua crescente em
lugar de sacrLficio. » Ibidem, cap, 15. —
«Agora mo direis «juanto cpiizerea que
contra o goato se n3o disputai, e eu voa
dircy qu» estou tão longe do disputar os
gostos que tenho referido, que uilo faço
mais do que condenna-los, c maldizel-os.>
Cavalleiro de Oliveira, Cartas, liv. 1 .
n." 10. — «A vista do referido, parece-
me que podeis mostrar quo ha Gigantes,
aos mesmos que duvidào de que os hou-
vesse, e supondo que t'inho satisfeito as-
sim á ordom que uie mandastft-i, acabo a
Carta com pressa para hir sati^faser prom-
ptamcnte outra ordem, que agora recebi
para me achar pelas três horas em Gu-
pemford.» Ibidem, liv. 1, n." 49. — lEs-
te caso referido por Jlonconis he confir-
mado por Becher, o qual acrescenta que
a dita transmutação so fizera em casa do
Eleytor em presença de hnma Assemblca
muy numerosa, e que conservando-se em
barra uma parte deste ouro, de outra
parte se fizerSo moedas.» Ibidem, liv. 3,
n." S.
REFERIMENTO, s. wi. Acção do referir
ou ri'iiiiitar-se ao dito de outro,
REFERIR, r. a. íDo latim reftrre}.
Narrar, contar, relatar, — «Concluem os
Authores a historia dizendo, que desta
Cidade se ])artirão os Santos por diver-
sas de Espanha, de modo que S, Torca-
to voyo a Citania, se jà nâo foy o quo
referimos acima de ficarem a hum mes-
mo tempo, S. Pedro em Braga, e nosso
Santo nesta Cidade, donde a tradiça«5
commua o tem por natural,» Monarchia
Lusitana, liv. 5, cap. 5, — «Refiro o
que híi, que affirmar isto com certeza
não mo còsonte a pouca evidencia da
historia.» Ibidem, cap, 24, — «As quaes
jialavras me ji.ireceo justo referir em
fònna, p;ira delias se coligir a efficacia,
c grande zelo com que cstca Principea
abraçarão a Fé Catholica, a quejn logo
o Concilio louvou, e cngrandeceo c3 pa-
lavras, e aclamações dignas de tal acto, p
Ibidem, liv. 6. cap. 19, — tlnd» quo
para vermos quào estendida ^ foy pólo
Mundo semj^rc esta oxperioncia, nào dci-
xarcv do contar o caso, que no auno de
Chiisto, mil o quinhentos o noventa e
oito, acontece© a huma índia Malabar,
EEFE
REFE
REFE
147
dos Cliristãos de S. Tliomc, chamada
Achar, na forma que se refere no livro
que se compoz da jornada verdadeira-
mente Apostólica.» Ibidem, liv. 7, cap.
10. — «Ê andando a gente ocupada em
reparar as muralhas caydas, e levantar
as casas danificadas, se achou dentro em
huma Igreja dos arrebaldes a sepultura
dei Rev Dom Rodrigo, com as letras
que jà referi acima, sendo esta a primei-
ra vez que depois de sua destruição se
teve noticia do lugar cm que jazia.»
Ibidem, liv. 7, cap. 14. — «Informouse
de cujos os meninos fossem, a terra don-
de a mãy era natural e o estilo por onde
se casara: e como Tello lhe referisse a
certeza de tudo, entrou em sospeita de
ser aquella sua filha, e se acabou de cer-
tificar quando cuberta de lagrimas a vio
postrada a seus pés, pedindo j^rdSo do
desconcerto passado.» Ibidem, cap. 17.
— «Isto de balanças deve andar sempre
muito vigiado, e naõ exclua daqui a ca-
sa de Moeda : pudera referir aqui mui-
tos modos, que ha de furtar neJlas, e
deixo, porque naõ pertencem a este Ca-
pitulo, seu lugar tei"aõ.n Arte de furtar,
cap. 32. — «E aquelloutro que refere S.
Antonino de hum usurciro, que ua hora
da sua morte mandou trazer a sua pre-
sença muita prata, e ouro, e tudo o pre-
cioso que tinha, e fallando consigo, dis-
so : Alma minha, ficate comigo, e todas
estas cousas te darei, e muitas mais, que
posso adquirir.» Padre Manoel Bernar-
des, Exercícios espirituaes, part. 1, pag.
4(i7, — «Porém a Historia nos mostrará
nào leves argumentos de seu zelo, grati-
ficado do Cao com sinaes, e maravilhas,
de que referirei huma, que aconteceo
nas Malucas, que por ter a direcção de
seu (loverno, substanciarei o caso bre-
vemente, como lie meu costume.» Jaciíi-
tho Freire d'Andrade, Vida de D. João
de Castro, liv. 1. — «Mahamud Rey de
Cambava, herdeiro da Coroa, e da inju-
ria de Badur, cuja morte succedida no
governo do grande Nuno da Cunha refe-
rem nossas Chronicas, inflammado igual-
mente da gloria, e da vingança, em-
prehendeo tomar aos Portuguezes Diu, e
com liga de outros Príncipes, lançallos
da índia.» Ibidem, liv. 2. — «Referio,
que o Governador se aprestava com vi-
vas diligencias para acodir ao cerco, e
os grossos soccorros, que já tinha envia-
do. Que em Baçaim ficavào quinhentos
homens, que com o primeiro tempo espe-
ravão ati-avessar o golfão ; e que muito
impacientes na tardança tinhão tentado
03 mares.» Ibidem. — «E como esta voz
recebia credito de tao grandes victorias,
huns aos outros a referião os Mouros te-
merosos, ou crédulos. (J Governador por
íiizer appai-ente o medo, ou a galantaria,
mandou lavrar huns espetos grandes, co-
mo quem para deseançar dos negócios
inais graves, se deleitava em diversões
briosas.» Ibidem, liv. 4. — «O mesmo
refere Dom Martinho de Bolèa em sua
historia ; que por tal a tenho. Eu a vi ja
pintada, mas nào viua. Nas frutas, assi
doces, como de espinho he tão abundan-
te que os matos estão cheos delias.» Fr.
Gaspar de S. Bernardino, Itinerário da
índia, cap. 2. — «E que agora naõ tem
mais do 1,!$Í200. E de Salamanca refe-
re, que havia na Universidade mais de
lõíiOOO. Estudantes ; e agora naõ che-
gaõ a 2,*)».» Sevefim de Faria, Noticias
de Portugal, Disc. 2, § 9. — «Exemplo
seja disto Memmonis, que acompanhou
ao Infante D. Sancho, quando foi na ba-
talha de Sevilha, do qual se conta na
Chronica d'ElRey D. Afonso Henriques,
e o refere Duarte Nunes na mesma, foi.
.01. vers. que este Fidalgo tomou a ban-
deira d'ElRey de Sevilha, na qual tinha
pintado cinco Estrellas, como refere Gon-
çalo Argòte de Molina lib. i. c. 44. da
Nobreza de Andaluzia, e assim tomou
por armas as mesmas cinco Estrellas.»
Ibidem, Disc. 3, § 10. — «O qual co-
mo consta do Conde D, Pedro, quando
falia da batalha d'ElRey D. Garcia, e
D. Sancho sobre Santarém, refere que
vendo EIRey de Castella hum pendão
verde, disse, que tinha em sua ajuda o
Cid, por ser mui conhecida esta' divisa
por sua, e os S. S. trazem por fuziz de
ceda, como descendentes dos Furtados
de Mendonça, que em Castella trazem
sobre o Escudo as cadeas, que tomarão
no rompimento da batalha das Navas de
Tolosa, e as folhas de golfão por outra
grande vitoria, que alcançarão, tomando
por armas estas hervas do campo, como
refere Argòte de Molina 1. 2. c. 110. da
Nobreza de Andaluzia.» Ibidem, § 15.
— «Bramando como Touro por Europa,
voou como Cisce por Leda, desfez-se cm
chuvas de ouro por Danae, e transfor-
mou-se em outras monstruosidades, que
até a acção de referi-las, he vergonho-
sa.» Cavalleiro d'01iveira, Cartas, liv.
1, n." 29; — «Hakewil, já citado n'esta
Carta, he hum Autor de spirito tão cu-
rioso, e de coidiecimento tão dilatado,
que ordinariamente refere a mayor par-
te dos exemplos que se podem descobrir
sobre as matérias de que trata.» Ibidem,
n.° 50.
Dou-mc a mão ; quiz, na salla do Concelho,
Que lho eu refira o que passei c'os Francos.
Folgou, que áa armas dcm repouso os Bárbaros;
E a ferir, có cllcs Paz, mauda um Ccnturio.
Com mágoa alli notei muito medradas,
No César, a md cõr, e a gran franqueza.
FKASCISCO MANOEL DO NASCIMENTO, OS MARTTKES,
liv. 10.
Mostrou-so-rao o mystcrio, ao referi-lo
D'assoinbro cm mim trasborda a larga enchente;
Eu fui diguo do o vêr, diguo d'ouvi-lo
(Era por certo a voz d'Omnipotentc : )
Celeste a frase, divinal o estilo,
Qual uoâ Vates ao ouviu da Ebréa gente ;
Que do porvir rompendo a sombra escura,
A nosria gloria nos mostrou futui-a.
J. A. DE MACEDO, O ORIENTE, Caut. 1, CSt. G7.
— Dirigir, encaminhar, ordenar algu-
ma cousa para certo e determinado fim.
— Referir-se, v. refl. Contar-se, narrar-
se, relatar-se. — «O que fez no Peru, no
México, e Flórida, naõ he para se refe-
rir: dos braços das mãys tirava as crian-
ças, e feitas em quartos as dava a caens,
com que andava á caça.» Arte de furtar,
cap. 69. — « Segundo estes exemplos, po-
demos ter por certo, que havendo Rey
em Portugal, tinham conhecido os Caste-
lhanos clai-amente, que naõ podiaõ sahir
com esta empresa, como se refere na
Chronica d'ElRey D. Fillippe o Pruden-
te de Castella lib. 12 cap. 9.» Severim
de Faria, Noticias de Portugal, Disc. 2,
§^- . .
■ — Dizer respeito, ter relação uma cou-
sa com outra.
— Reportar-se, remetter-se ao que se
disse antecedentemente.
— Reportar-se aos documentos escri-
ptos, cm contraposição ás asseverações
verbaes.
— Importar, ser útil, dizer respeito.
— Referir-se ao testemunho de outrem;
dal-o, nomeal-o como auctor, e testemu-
nho do que diz o referente.
REFERMENTAR, v. n. (De re..., e fer-
mentar). Fermentar segunda vez, entrar
em segunda fermentação.
REFERRAR. Vid. Ferrar.
REFERTA, s. f. ant. Contenda, dispu-
ta, altercação, resistência.
Mandai senhor chamar com brevidade
Esse fronteiro mòr que desterrado
La em Tauira está, cuja bondade,
C!ujo valor nas armas he estremado.
Que sabendo do caso a qualidade
Virá, c esto cartel seríi aceitado,
Eu seroi o segundo sem referta,
Que a victoria co clle tenho certa.
CORTE REAL, NAUFRÁGIO DE SEPUMTJDA, Cant. 13.
— Contenda, resistência com armas,
briga.
Vendo o Turco quão bem o tiro acerta
Os do baixo, e também quão mal os trata,
E que o Christào lá em cima tanto aperta
Os imigos, que quasi os desbarata.
Pois ja lhes derrubou nesta referia
As outras duas bandeiras, e lhes mata
Os Alferes que as tem, se esfria, e desce
O furor que até então se acende e cresce.
F. d'andrade, PRIMEIRO CERCO DE DIU, cant. 19,
est. 119. '
— « Em fim a referta foy grande, e os
Fartaquins com serem taõ poucos peleja-
rão esforçadamente, mas como o numero
era tão desigual, forão entrados nos cu-
bellos, e mortos todos à espada, custan-
do esta cavalgada cinco dos nossos, que
ficarão mortos, e mais de quarenta feri-
148
REFE
REFI
REFL
(los ílo espingurdailaa.» Diogo de Couto,
Década G, liv. O, cap. ti.
— Repugnância, oppoíiçilo, contradic-
ySo, contfínilft Pm juizo.
REFERTADAMENTE, mlv. Com repu-
gnância, riMiitiini'i;i.
REFERTAMENTO, «. m. ant. Contesta-
çHo, iinpugMa(,'ào.
— Rtv|iioriiiionto afincado, instancias.
REFERTAR, v. a. ant. Contender, con-
troverter, rediátir com razões.
Ora lii, iifto refe.rlein.
Uofé, quo \ôa mo mandaoí),
c cntrcgacs
iião já como a Dcos ilcvcis.
ANTÓNIO PBF.STKS, AUTOS, pag. 397.
— Demandar, requerer.
— Contradizer, impugnar.
— Refertar-se, v. yjl. Altercar com
alguém.
REFERTEIRAMENTE, <4<lv. (Ue refer-
teiro, com o f>uftlxo omeute»». Com perti-
nácia, cantoiíílcndo.
REFERTEIRO, wlj. ant. Buliçoso, bu-
Ihcnto, rixador.
— Altercador, pendeuciador, disputa-
dor.
— Ant. Dizia-se da pessoa quo se fa-
zia rogar, esquivosa, desdeuliosa.
1.) REFERTO, s. m. ant. Vid. Referia.
2.1 REFERTO, adj. Muito cheio.
REFERTORIO, s. m. ant. Refeitório.
REFERVER, r. a. (De re..., e ferven.
Tornar a ferver.
Diz quo lie das fixas buma Estrella immovel !
Diz que lie de fogo liuiii pélago iiiâoudavcl ;
Na superfice as ondas lho refervem,
E por cila ondeando ospcssas manchas
De hum limbo a outro rápidas se volvem.
J. A. D£ MACKDO, TIAOGU EXTÁTICA, Cant. 2.
E por entro oscarcéos do- vagas negras
Levando a salvo o lenho fluctuautc,
]nda que o solto vento os ares tolde,
E as nuvens rasgue o raio estrepitoso,
E ás nuvens refervendo as ondas subão,
E abertas deixem ver o escuro abysmo.
lUEU, MEDITAÇÃO, CaUt. 1.
Então inugo o Vesúvio, c da espumante.
Boca vomita refervenle lava.
Do fumo espesso nuvens enroladas,
Grossos chuveiros de cstuantcs cinzas,
Quo a mentirosa Grécia, oatr'ora disse
Serem raios, que Encélado arremoça
Quando, movendo a hum lado o corpo opresso,
Faz oscilar a iguifera montanha.
IBIDEM, caut. 2.
— Figuradamente: Arder, inflammar-
Eompc as barras dos Cárceres profundos
Pierio fogo, quo referve u'alma ;
Cantor da Natureza, em seu império
Afouto hei de girar, nada lhe usurpa
A livre Musa, quos mortaes desdenha.
J. A. DL MACEDO, A >'ATCaEZA, Caut. 2.
— V. n. Fermentar-»e, azedar-se, al-
terar-se, fazer-se azedo. — J'Jiite doce re-
ferveu.
REFERVIDO, ]j<irt. paus. de Referver.
REFESTELLA, ». /. ant. Fe.stividade,
alegria fiu ijaiics, dança.s, festiim.
REFESTELLADO, adj. Termo popular.
De festa, galhotjiro, brincalbilo, folgazSo,
foliAo.
REFESTELLO. Vid. Refestella.
REFEZ, adj. 2 ijen. Arefcçado, vil,
baixo, abatido, aviltado, desprezível.
— Loc. ADV. : JJe refez ; facilmente,
com facilidade.
t REFFENS. Vid. Arrefens. — « Deri-
vando da qui a moralidade, de quo nem
sempre o ucnusto da forma pode tomarse
em refíeiís da discripçilo. Ainda (jue he
lastima, que uma Cabeça bem ornada jior
fora, uaò esteja bem disposta por den-
tro; Bupposto que era justo, que huma
Cabeça cbeya de vento por dentro, naò
tivesse nem hum íir de graça por fora.
Porque segundo os Latinos: Ridiculum
caput, nihilo ortuitur. K na opiniaij do
nosso Portugal o velho : 8. Cabeqa louca,
não hà inisttr touca. Destas Cabeças dis
ellegantemente o Cordovense Séneca: ti.
ErraSf si istorum, qui tibi occurunt vul-
tiòus credis ; h&7ninis ejfigies habent, mo-
res autemferarum.il Braz Luiz d'Abreu,
Portugal medico, pag. 4õ2, § 4.
REFIÃO. Vid. Rufião.
REFIAR. Vid. Rufiar.
REFILADO, part. pass. de Refilar.
REFILADOR, adj. Que refila.
REFILAR, V. n. (De re..., e filar). Tor-
nar a tilar, remorder.
— Refilar o lutvio, que está fundeado;
voltar a proa para onde a maré enche,
ou vasa. para soôrer menos impressiio.
REFILHAR, v, a. e n. Lançar renovos,
abrolhos, novedios.
REFILHOS, s. m. phir. Novos filhos que
lançam as plantas, abrolhos, renovos.
REFINAÇÃO, A'. /. Acç.ào e effeito de
rctiiKir.
— ( 'asa onde se refina o assucar.
refinadíssimo, adj. superl. de Refi-
nado.
REFINADO, pnrt. pass. de Refinar. —
« Uns tregoitadores, outros que fazem
pregações, que arremedam animaes, e
gentes, são peçonha refinada : e as que
em tudo o sào, sào umas que vendem
dixes, aguas de rosto, tiram pano, fazem
sobrancelhas com linha, alimpam o car.^o
com vidro , homens de linhas, botirinhei-
ros, mulheres que pedem para uma certa
missa de esmolas, outras para amp:u-ar
uma orfà.» D. Francisco Manoel de Mel-
lo, Carta de guia de casados.
REFINADOR, s. /. (Do thema refina,
de refinar, com o suflSxo «dor»). O que
retina.
— ^-Apurador, especialmente de licores
e metaes.
REFINADURA, *•. /. ^Do thema refina,
de refinar, com o BufRxo «durax. Acção
de refinar, retinaçào.
REFINAMENTO, «. 7,1. Refinação.
■ — Fi^'uradaiu<;nte : .Subtileza excessiva.
REFINAR, i. a. Apurar, depurar; fa-
zer mais fina, ou mais pura uma coumi,
separando-lhe a^ fezc« e maturia-s hetero-
géneas.
— Figuradamente: Requintar, apurar;
reduzir uma cousa á maior perfoiçào.
— Refinar o ódio, óamor, etc; t<imar-
se mais forte.
— I.ançar com impeto.
— Refinar-se, i-. re//. Apurar-se, eame-
rar-H<í.
REFINARIA, *. /. Fabrica, trabalho de
refinar as-ucar, etc.
REFINCAR, 1-. «. (De re..., e fincar/.
Tornar a fincar o que se arrancou.
REFINP, s. m. Vid. Refinaria, e Refina-
ção.
REFINTA, s. /. Repetição da finta, se-
gunda tinta.
REFINTAR, r. a. I.ançar segunda fin-
ta, ri-pftir nova contribuição.
REFIRMA, s. f. ant. Nova prova p<jr
testfiiiunhd da matéria das reprovas.
REFLECTIDO, part. pats. de Reflectir.
REFLECTIR, v. a. (Do latiur. reflectere).
Projectar um corpo a luz ou o raio lumi-
noso que recebeu de outro.
— V. n. Fazer a luz a sna reflexão
encontrando algum objecto.
— Figuradamente : ileditar, ponderar,
con.siderar, reparar, advertir, observar.
Etherco sopro a maquina dirige,
Assopro animador, simples, c activo. •
Produzido huma vez, eterno existe :
Pensa, previ-, recorda-sc, reflecte;
Nhum ponto sobe aos Ceos, desce n^ttm ponto.
J. A. DE MACEDO, MEOrTAçÂO, Cant. 4.
— «Na minha primeira edição le-se —
«Por vida vossa» : o que agora, novamen-
te reflectindo, me parece melhor e mais
certo.» (iarrett, Camões, nota O ao can-
to 1.
REFLECTIVO, adj. Que reflecte, pensa.
REFLEXAMENTE, adv. Com movimen-
to reflexo.
— Com retlexílo, advertência, medita-
damonte, acinte.
REFLEXÃO, s. f. (Do latim rejiejcio-
nenr. Termo de phvsica. Repulsão de um
raio luminoso, calorífico, ou sonoro.
Sc d "outro lado absorto os olhos volvo.
De multi-forrae o^r descubro a Nuncia
De áurea, serena paz, Íris formosa.
A doce rc/fíjrlo de accoz-is luzes.
l"nida á refrac<;ão sobre as miúdas
Da fria chuva gotas transparentes,
A scpti-forme cõr promptas lhe imprimem.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, CAnt. 1.
— Acçíio de reflectir, consideração at-
tenta sobre alguma cousa, meiitaçSo, pon-
deração; advertência, rejaro. — «Dej-tas,
REFL
REFO
REFO
U9
e outras miiytas implicâncias, que naõ
permitte referir a brevidade da reflexão
se originarão tantos cômputos errados,
tantas noticias incertas, tantos juizos apo-
crvfos, e tantos prognósticos mentidos ; e
isto ainda denti'0 dos limites da Astrono-
mia licita, e nataral. Mas porque de to-
da ella, demos huma bem concinnada no-
ticia, sem nos confundirmos com a varie-
dade de tantas Máximas, passaremos a fal-
lar da natureza, numero, movimentos, e
influxos dos Planetas, dos signos, e ima-
gens em que entraõ, e das mais partes
integrantes dos Ceos, tudo em ordem ao
uso Medico ; porque sò escrevemos nos
preceitos desta Sciencia, para complectar-
mos os dogmas da Faculdade Apollinea.»
Braz Luiz d' Abreu, Portugal medico,
pag. õll, § 44. — «Offerecendo-se-me
bastantes reflexoens para fazer nesta ma-
téria, permitti que divida a minha carta
em duas partes; e dando-vos tempo para
criticares esta primeyra que vos invio,
tomarey pouco para fazer a segunda, que
vos maudarey depois de amanha.» Caval-
leiro de Oliveira, Cartas, liv. 1, n." 29.
Mas se com reflexão pouco violenta
Contar quer a ruina dos meus ânuos,
Mais coutará em quinze, que em setenta.
ABBADi: DE JAZESTE, POESIAS, tOm. 1, pag. 53
(ediç. de 1787).
— «Dei parte da minha reflexão ao ji)-
ven meu vizinho, e com ella lhe avivei a
esperteza, de sorte que rompeo em bons
dittos, e rimos ambos tào folgado, que
todas as mulheres, e mormente a que eu
tivera por sua Màe, quizérào saber o as-
sumpto do nosso rlso.i) Francisco Manoel
do Nascimento, Successos de madame de
Seneterre.
Os troncos dhera, e mnsso acobertados,
Alguns ramos, que o vento açouta, c quebra,
Forção a reflexão, e alma medita
Sobre o férreo poder do tempo avaro.
J. A. DE M.ICEDO, A SATCREZA, Caut. 1.
REFLEXAR. Vid. Reflectir.
REFLEXIBILIDADE, s. /. Propriedade
de um corpo susceptível de reflexão.
REFLEXIONAR, v. a. Considerar nova
e detidamente uma cousa: pensar acerca
de alguma cousa, examinar ou ponderar
attentamente o que se faz ou se trata de
fazer.
REFLEXIVEL, adj, 2 gen. Termo de
phvsica. Capaz de reflectir, próprio para
se reflectir.
REFLEXIVO, adj. Que se reflecte ou
reverbera.
— Meditativo, costumado a fallar e a
obrar com reflexão.
— Termo de grammatica. Verbo refle-
xivo; exprime que alguém recebe em si
a mesma acçào que obra ; como : Amar-
íe, dtgolar-Èc, dtdavar-se.
REFLEXO, adj. iDo latim rejiexus). Re-
flexivo. — Verb:) reflexo.
— Visão reflexa ; a que se faz nos cor-
pos lisos, e polidos ou por natureza, ou
j)0r arte, como os espelhos, onde dá o
raio, e logo vira ao olho. — «O modo de
ver he de três sortes, por visào dyreita,
ou reflexa, ou refracta,» Arte da pintu-
ra, pag. 44.
— Consoantes Teiíexos;s^o as vozes,
cujas ultimas syllabas tem sentido, e si-
gnificam cousa diflerente da voz inteira,
d'onde sahiram. Agrada, é consoante re-
flexo de sagrada : Dado, é consoante re-
flexo de cuidado.
— S. m. A reflexão.
Eis me aparto da Terra, eis se esvaece
Engolfada no ar... Euthusiasmo,
I'ára, dotem-te aqui, admira hum pouco
Ceo q'outro Ceo circunda, e todos cheios
De immensa luz, reflexo immediato
Da Gloi'ia do Immortal ; eu vos saúdo.
Claras Esferas, que cercaes seu Tlu-ono.
J. A. DE MACEDO, A KATLKEZA, Caut. 1.
— Termo de pintura. E a parte da
pintura, que participa da claridade nos
extremos da sombra, oppondo-se-lhe cor-
po claro.
— Reflexos da gluria; que se attribue
a quem foi causa, author da maravilha,
ou acçào. de que ella resulta.
REFLORECER, ou REFLORESCER, r. a.
e n. Tornar a florescer os campos, ou a
produzir flores as plantas.
— Figuradamente : Tornar uma cousa
ao seu antigo luzimento, prosperar de
novo.
REFLORECIDO, part. pass. de Reflore-
cer.
REFLUIR, V. n. (Do latim refluere).
Retroceder, tornar atraz algum liquido.
REFLUXO, s. m. Yasante da maré.
— Figuradameote : Vicissitude, alter-
nativa, mudança das cousas humanas.
REFOCILLADO, part. pass. de Refocil-
lar.
REFOCILLAMENTO, s. m. Aceào de re-
focillar e refocillar-se.
— Alento, allivio, recreio.
— O estado do que se refocillou.
REFOCILLANTE, adj. 2 gen. Que refo-
cilla, restaura, vigora.
REFOCILLAR, v. a. (Do latim refocil-
lare). Reaientar, revigorar, recrear.
REFOGADO, part, pass. de Refogar.
— .S'. í/í. A comida que se refuga.
REFOGAR, 1-. a. Termo de cozinha.
Frigir em manteiga, ou gordura.
REFOLHADO, adj. Dissimulado, dobra-
do : embusteiro, engadador, velhaco.
REFOLHAMENTOr Vid. Refolho.
REFOLHO, .«. ííi. Dissimulo, dobrez,
fingimento, rebuço, velhacada, impos-
tura.
REFORÇADAMENTE, adv. <De reforça-
do, com o suffixo «mente»). De modo
reforçado, com dobradas fortas.
REFORÇADO, part. pass. de Reforçar.
Em dura lança além se alonga o ferro,
Além se erguiào reforçados muros.
Pelo ar vào rompendo as grossas Torres...
Ah ! Gozava o mortal ócio tranquillo !
J. A. DE SLiCEDO, VIAGEM EXTÁTICA, CaUt. 1.
REFORÇAR, r. o. E.?forçar, dar forcas,
fortificar mais. — Reforçar o campo. —
Reforçar o corpo. — «Partido el Rei do
arraial, mais bellicoso na paz, que no
contiicto, retirando-se na mesma Ilha á
quinta de Melique dava calor aos soccor-
ros, que cada dia reforçavão o campo.»
Jacintho Freire dAndrade, Vida de D.
João de Castro, liv, 2. — «Estamos como
no tempo em que D. Gonsalo Coutinho
procurava a ja esquecida primeira sepul-
tura do poeta ; acham-se difiiculdades que
fazem hesitar, mas que sào muito vencí-
veis : nenhuma razào se ofterece contra a
probabilidade, e todas a reforçam.» Gar-
ret, Camões, nota E ao cant. 10.
— Reforçar-se, v. reji. Ser reforçado.
Profano Mirabaud, que ousas impresso
O sinete de Athéo trazer na face.
Escuta, escuta a voz da Natureza,
Que contra o teu Systema se reforça
Dentro em teu coração : dalli te clama
Que existe hum Deos eterno, e os Ceos o dizem ;
Ouve o clamor do Ceo, vè seus prodígios.
J. X. DE M.iCEDO, MEDIT.AÇ.to, Cant. 4.
REFORÇO, ». m. Cousa que se põe pa-
ra fortalecer e firmar outra que pôde
ameaçar ruina.
— Soccorro, ajuda ou adjutorio.
— ilaior espessura de metal no ca-
nhão e demais armas de fogo.
— Termo militar. Cada uma das três
circumferencias da peça de artilheria.
REFORMA, s. f. O acto de reformar, de-
mudar para melhor o que ia em decadên-
cia, ou a mal. — «O qual senão morreo
cego, acabou todavia preso, mantendose
de esmolas, que algumas pessoas nobres
lhe mandavão, deixando aos Portugueses
exemplo de virtude invencível, aos Es-
trangeiros de invejoso espanto, aos Keys
de satisfação injusta, e ao Mundo todo,
das inconstancias da reforma.» Monar-
chia Lusitana, liv. 6, cap. 11. — «Porem
considerando na misericórdia de Deos, e
merecimentos de Chi-isto, pediremos a
este Summo Sacerdote, que oflereça por
nòs estes para alcançar-mos aquella : e
proporemos viver com a reíórma, que
pede taõ alto estado.» Padre Manoel Ber-
nardes, Exercicios espirituaes, part. 1,
pag. 214.
— Deposição, privação do exercício de
algum emprego que se tinha, e por ex-
tensão das cousas que se deixam de usar.
— Restituição de uma ordem religiosa
á sua antiga disciplina.
— Qualquer religião refonra''a. — Os
conventos da reforma.
150
RICFO
RKFO
REFO
— Diiiiinuivílo, rcilucyjlo das dcspezas
de uiua cíhíi, ctc. •
— Raixii do.í cavallos do exercito,
Bubstituindo-o.s por outros.
— Liconccainento do tropas.
Reforma de solando; deminsíto lio-
nesta do «orviyo, coiiservando-llie certo
BOldo, 80111 exercício.
— Termo do hi.^^toria. l)ii-so este no-
me á ros'(iliu;ilo o])cnid:i na cliristaudade
no século xvi por ijuthoro, e <|uu sepa-
rou da ijíroja romana grande jiarte da
Europa.
— Direito de reforma; direito pelo
qual 03 priucipos allemãcs declararam (jue
adoptavam o protestantismo.
Termo do conimercio. Reforma de
letra; o acto, por convcin;ão, entre o
portador de uma letra da terra, e o que
a devo pagar, de ibruiar-so nova letra
pela mesma quantia, mas com novo pra-
zo de vencimento ; renovação de um con-
tracto.
REFORMAÇÃO, s. /. Reforma.— «E
porque poderá acontecer, que despois que
com a graça do Deos viermos a tal hi-
dade, que bem possamos aver o Regi-
mento de Nossos Regnos, acordemos i)or
Nosso Serviço de conilrraar a dita Ilor-
denaçom feita i)er o dito Rey Nosso Avoo,
mandauiola encorporar em esta nova re-
formaçom das Hordenaçoões por tal, que
a todo o tempo se possa veer, e aver sem
outra defcculdade, da qual o tlieor he
este, que se adianto segue.» Ord. Affons.,
liv. 1, tit. 31, § 3. — «Aristóteles, que
sempre contradiz a seu I\Iestre Platuò,
affirma que mais mal fazem á Republica
os ricos no tempo da paz, que os jiobres ;
porque com o poder se eximem da obe-
diência das leys, e com a ociosidade es-
tiio prestes para motins, e com as ri-
quezas aptos liara os sustentar : impedem
a reformação dos costumes, rolaxaõ a
modéstia do povo com gastos superHuos
no comer, e vestir, incitando o vulgo a
desobedecer.» Arte de furtar, cap. 19.
— «O que cm mis oxccutaõ, bom se dei-
xa ver na reformação dos vícios, na ex-
tinção das heresias, e no augmento das
virtudes. Seria Portugal huma charneca
brava de maldades, seria huma sentina
do vícios, seria huma Habilonia de erros,
Be o Santo Officio nào vigiara as malda-
des, naõ castigara os vicies, e naõ extin-
guira os erros.» Ibidem, cap. 40. —
«Com que nogoceou com Deos c com ho-
mens remédio do glorioso i*adre Santo
Agostinho, pjvra mostrar que o principio
da reformação do mundo, he ter opinião
das cousas acertada, o ostimallas no que
saõ.B Paiva de Andrade, Sermões, part.
1, pag. 209. — «A reformação dos cos-
tumes cousa ó boníssima, e santíssima.
Tem pordnn nas casadas sou limite ; de
maneira que por se darem de todo a
aquelles lions exercícios, nào descmpa-
rem os da obrigaç.ào de seu estado; no
qual Deu» deixou virtude o Bantidadc
bastante para que. Bem naliirem d'clle,
se possam salvar todos, e todas a quem
coiupronile, » Francisco Manoel de ilol-
o, Carla de guia de casados, cap. 2r>.
— itoparo, concerto. — A reformação
dii fiiildliza.
REFORMADAMENTE, adv. (Do refor-
mado, com o .-.uflixo unieate»;. Com emen-
da de costumes, de uui modo regenera-
do, corrigido.
REFORMADISSIMO, adj. Superlativo de
Reformado.
REFORMADO, part. paus. de Reformar.
— "Nem ha no mundo interesse, com
que SC possa gratificar, o que este Santo
Tribunal obra em si, e executa em ni'is.
C) que obra em si, he huma observância
de modéstia, e inteireza, que assombra,
e confunde aos mais reformados talen-
tos.» Arte de furtar, cap. 40. — «E por
isso diz o Pruijhcta. Que Deoa ho mara-
uilhoso em seus sanctus. E aesi como o
Senhor he engrandecido em a alma vir-
tuosa cuja imagem, c semelhança de
Deos está reformada polia graça, e does
sobre naturacs ; assi pollo contrairo em
a alma viciosa quàto em si he JJcus aba-
tido, porque sua imagem esta nella af-
feada, e escurecida. O miserauel pecca-
dor isto deuia bastar pêra te còfundir,
e fazer tornar cm seu acordo.» Fr. Bar-
tholomeu dos Martvres, Catecismo da
doutrina christã. — «O mesmo a seu
confessor, ao prelado conhecido do con-
vento reformado. Fez Deus aos ricos
thesoureiros doj pobres, e assim é razào
que se deixem usar d'elles, como de
acrcdores seus.» Francisco Jlanocl de
Mello, Carta de guia de casados.
— tí. m. Diz-so do militar que obteve
a reforma.
REFORMADOR, s. vu (Do thema refor-
ma, do reformar, com o suffixo «dõr»).
Pessoa que reforma.
REFORMAR, f. a. (De re..., e formar).
Reparar, restaurar, restabelecer, formar
de novo. — «Com a informaçam que dom
Vasquo da Gama deu a el Rei das cou-
sas da Intlia, e da Ethiopia, modo, e tra-
to da gente destas prouincias, assentou
de ordinariamente mandai- cada anno
huma armada aquellas partes, e poniue
ha de que fora por capitam Pedralurez
Cabral lhe pareceo sufficionte pêra se as
cousas de Calecut appaciticarem, e refor-
marem as amizades com o Rei da terra. n
Damiào de Coes, Chronica de D. Manoel,
part. 1, cap. 03. — «Começou a gover-
nar com applauso commum, porque re-
formou 03 Concelhos, pronuilgou noviW
Leis para melhor administraç.aõ da Re-
pública, castigou con» exemplo poucas
vezes visto alguns Ministros culpados, e
mandou, que todos geralmente iizcsscm
inventários das fazendas, qu.-. possui.ío
ao tempo quo cnti\avaõ a scrvillo.» Fr.
Bernardo de Brito, Elogios dos reis de
Portugal, continuadoH por D. José Bar-
bosa. - — «Eu cerca da (Jidade, que era
muito grande, mandou renovar por al-
gumas partes, e reformar as guarita»,
(|ne proveo de Boldado». Ho esta cerca
de tai)<a à antiga, c pela banda de den-
tro tem unia tranqueira de madeira en-
tulhada ati- a taijia, de feição que deixa-
va hum andaimo de quatro paaiius pêra
serviço da gente, e á roíla delia tom
omitas guaritas, a fiíra ob baiuartoa: o
que tudo o Capitilo proveo, e repairou
muito bem.i Diogo de Couto, Década G,
liv. 9, cap, 6. — «E em Setuval a For-
taleza de S. Felippe, e reformou a Tor-
re de Outaõ; e em Aveiro, \'illa do Con-
de; no Porto, c Viami, Ijagos, e Villa
Nova de mil Fontes, fez novíis fnrtitica-
çocns.n .Scverim de Faria, Noticias de
Portugal, Disc. 2, S 12.
— Dar nova firma, roBtituir ú primei-
ra f()rma, refazer.
— Corrigir, emendar, pôr em ordem.
— Reduzir, ou restituir uma ordem
religiosa, etc, á sua primeira observân-
cia ou instituto.
— Privar do exercício de algum em-
prego.
— Reduzir, diminuir o numero, a qua-
lidade.
— Supprimír, reduzir as tropas a me-
nor numero ; licencear, despedir parte
delias:
— Reformar a guerra intenxnnpida ;
recomeçal-a: renoval-a.
— Reformar a gente com refresco e ar
sadios ; dar, prover, deixar restabelecer
forças e saúde.
— Confirmar o que estava feito por
outrem.
— Reformar-se, v. rejf. Tomar nova
fiirma.
— Provêr-se, refazer-sc, guarecer. —
«E partida esta frota a nove dias do mea
de Março do anno de 1545 pelo rio de
Ansesedaa acima, foy ter a Danapluu,
onde se esteve reformando de alguns
mantimentos de que hia falta.» Fcrufio
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 153.
— «Nos nossos havia ditierente pensa-
mento, porque se reformarão o melhor
que poderiío, e se preparár.^io pêra os es-
perar, e desenganar, porque bem enten-
diaõ que o Rumecan os havia de come-
ter com toda sua potencia.» Diogo de
Couto, Década U, liv. 2, cap. 4.
— Emendar-se, tomar emenda, corri-
gir-se.
— Reduzir-se, restituir-se uma ordem
religiosa, etc, á sua primitiva observân-
cia, ou instituto. — «Em seu tempo, por
ordenança dei Rei seu irmam se refor-
mou em obseruancia o dito mosteiro, e
se fez mui p-ande despe-sa cm obras da
casa, e so tirou muita parto da renda do
priorado pêra os cónegos, no que tudo
elle nào somente consentio mas teve dis-
so muito contentamento.» Damiào de
REFR
EEFR
REFR
151
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 3,
cap. 27.
— Turnnr a uascer, reproduzir-se.
REFORMATIVO, adj. (Do thema refor-
ma, de reformar, com o suffixo «ativo"^.
Que reforma ou è capaz de refjrmar,
emendar.
— Pertencente á reforma.
REFORMATORIO, s. m. Directório, ins-
trucçòes, regimento dado, traçado para
se faxer alçunia reforma.
REFORMAVEL, (nlj. 2 gen. (Do tlaema
reforma, de reformar, com o suffixo
«avel»). Que pude ou que deve ser re-
formado.
REFOSSETE, s. m. Termo de fortitica-
çào. Pequeno fosso, praticado de ordiná-
rio em meio de fosso secco, até que se
encontre agua ; estorva mais a passagem
ao inimigo.
REFOUCINHADO, adj. Crespo, carran-
cudo ; verstido, riçado.
REFOUCINHAR, v. n. Termo antiqua-
do. Inclinar a cabeça, o focinho.
REFOUFINHADO, adj. Riçado, encres-
pado, encarapiuliado. — Cabello refoufi-
nhado.
REFRACÇÃO, s. /'. (Do latim refractio-
nem). Termo de pliysica. Desvio da linha
recta que softre a luz, passando de um
meio a outro de diíferente densidade.
Unida á refrMção sobre as miudaa
Da fria chuva gotas trasparcntes,
A septi-forme côr promptas lhe imprimem.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 1.
Combinação das refraeções diversas
Da portentosa luz nos corpos vários,
Da Eterna Sapiência apuro extremo ;
E n'hum Eubim, com destra mão gravado,
Este não visto Oráculo se admira.
IBIDEM, cant. 3.
Talvez, douto Mairan, que esse abrazado
Assombroso clarão, que surge ao pólo,
Que ao gelado Lapão, e Islândia triste
Supprè da sombra prolongada hum dia,
Beja de Fobo a refraccào, que fique
Preza nos ares liquides hum pouco.
IDEM, MEDITAÇÃO, Caut. 2.
EUe primeiro o disse, que as vistosas
Cores morào na luz, na luz existem.
Da luz diversas refraeções nos corpos
Formão das cores o matiz diverso.
Ah ! s'hum Anjo invejar pudera os homens.
Tão profundo mortal certo invejara !
IBIDEM.
Tem principio no ar. Quanto aproveitão
Ao nosso Globo refracçòens tão bellas !
IDEM, A NATUREZA, Cant. 2.
— Refracção astronómica ; é aquella
pela qual o astro parece mais levantado
sobre o horisonte, do que realmente é.
REFRACTÁRIO, adj. (Do latim refra-
ctarius). Diz-se da pessoa que falta á
promessa ou pacto, ou que se recusa a
obedecer ás leis ou aos superiores.
— ^ Termo de chimica e phjsica. Diffi-
cil de fundir, que resiste ao fogo sem se
derreter.
REFRACTIVO, ailj. Termo de physica.
Que tem a propriedade de refranger a
luz.
— Figuradamente: Refrangente.
REFRACTO, part. pass. irreg. de Re-
franger.
REFRANGENTE, adj. 2 gen. (Part. act,
de Refranger). Que refrange ou causa re-
fracçào.
REFRANGER, v. a. (Do latim refran-
gere). Desviar os raios da hxz da sua di-
recção rectilínea, como faz o prisma, o
crystal, a agua.
oh ! da Divina mão alto infinito
Poder sempre sentido! Se atmosfera
Não refrangesse em si do Sol os raios,
Não se virão brilhar u'azul campina
N'huma distancia indifinita os Astros !
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, CaUt. 1.
— Refranger-se, i-. j-eji. Padecer re-
fracção.
Se refrange instantâneo, em parte opposta
Quadri-longo se vê, posto que fosse
E.*fe.-ico ao sahir da Origem sua.
Diversos grãos, e proporção distiucta
As coros entre si guardão, conservào.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, CaUt. 3.
o horizonte do purpura se arroa,
Ou ([uando nasce o dia, ou quando expira ;
Do Sol 03 raios se refrangem, brilhão
Na relva humedecida, c quando sobe
Com suave calor aviva a Terra.
IDEM, A KATUBEZA, Cant. 1.
Dos sinuosos tectos espelhados.
Onde a luz se refrange, e de mil oôrea
O vivo esmalte sáe: diversas formas
Que deu a Natureza a cada espécie,
Qu infinda so produz, se multiplica.
IBIDEM, cant. 3.
REFRANGIBILIDADE, s. /'. Termo de
physica. Proprielade refrangivel.
REFRANGIVEL, adj. 2 gen. Termo de
physica. Capaz de sofírer refracç.ão.
REFRANSEAR, v. n. (De re..., e fran-
sear). Fransear muito.
REFRÃO, s. 7ii. Rifão, provérbio, ada-
gio; dito agudo, e sentencioso de uso
commuui .
REFREADAMENTE, adv. (De refreado,
com o suffixo «meiíte»). Com modera-
ção.
REFREADOIRO, s. m. ant. Instrumento
de refrear, ou cohibir.
REFREADOR, adj. (Do thema refreia, de
refrear, com o suffixo dôr). Que refreia.
REFRE AMENTO, s. m. (Do thema re-
freia, de refrear, com o suffixo «mento»).
Acçào e effeito de refrear, reprimir ou
cohibir.
REFREAR, ou REFREIAR, v. a. (Do la-
tim refrenare). Sujeitar, á-eduzir, subju-
gar o cavallo com o freio.
— Figuradamente: Enfrear, reprimir,
domar, conter, cohibir.
Sc o peito, ou de ocioso ou do modesto,
Ou de usado a crueza fera c dura,
Co 'os seus uma ira insana não refreia,
Põe na fama alva noda negra c feia.
CAM., LOS., cant. 10, est. 47.
Canta o caminhante ledo
Xo caminho trabalhoso
Por entre o espesso arvoredo ;
E de noite o temeroso
Cantando refreia o medo.
IDEM, BBDONDILHAS.
— « E se acerta algum anno de aver
fome, he necessário, assi polia terra den-
tro como áo longo do mar continuamente
aver muitas armadas, pêra refrear as
solturas dos muitos ladrões que se ale-
vantam.» António Tenreiro, Itinerário,
cap. 26. — « Porque cousa certa he, que
se lhe estranharem ou fecharem os ouui-
dos, se enuergonhara de si mesmo, e re-
freara sua mà lingoa, e a este propósito
declara o mesmo S. Hieronimo aquelle
lugar do psahno setenta, e sete.» Fr.
Thomaz da Veiga, Sermões, part. 1,
foi. 103.
Seja quem fôr, refreemos
mormuração.
AsroNio PRESTES, AUTOS, pag. 61.
— Refrear-se, r. rejl. Conter-se, repri-
Este gosto geral, com triste manto
De geral dor so cobre, e se refreia,
Porque logo dos trcs vêem correr tanto
Sangue, qual sahe da fonte a viva veia :
Sente disto Neptuno um grande espanto,
Não sabe então que toma, nem que creia.
Pergunta aos três a causa, e não lh'a encobrem
Mas tudo por extenso lhe descobrem.
KRANCISCO DE ANDRADE, PRIMEIRO CERCO DB DIU,
Cfint. 7, est. 44.
— Refrear-se de fazer alguma cousa;
abster-se.
— Usar moderação, conter-se nos limi-
tes do dever.
REFREGA, s. f. Refega.
^ Figui-adamente : Briga, batalha, con-
ílicto.
REFRENDAR. Vid. Referendar.
REFRÊO, ou REFREIO, í. m. Freio,
cousa que refreia, contém, reprime.
— Grande abstinência, ou poder que
alguém tem em si para se abster de fa-
zer alguma cousa.
REFRESCADA, s. f. Cousa que serve
como lie refresco, e soccorro.
REFRESCADO, part. pass. de Refres-
car.
REFRESCAMENTO, s. w. Refresco.
REFRESCAR, r. a. Moderar, temperar,
diminuir o calor de alguma cousa; refri-
152
KKKR
REFR
RKFR
geivir. — Efla vii-nr/i'/ refresca o ar e. ou
corpus.
I)ii Niituroza todo o oshido a fori;a
K(i cinprORa nin IVciindai-, snrvir a TiTni ;
IJc»|)r)dn o claro Sol sobro (ília os raioit ;
Ah lliuituantiiH mivciím Hm dorraiiuio
f) l)p.infazi;jo liiuiior ; li'iiiidart apiias
Lho «ynio como saiiguo a>i lar^^ujt voia« ;
l'clo!) ároH diáfanos brincando
So nfçita o vouto, '\w, a, re.frMr.a, c nutro.
J. A. UK MACIÍDO, MEDITAÇÃO, Cant. 1.
— Jlodorar o cíiIdv, toiímiulo refrescos,
bo1)ida» refrifíeranto.-».
— Fazor, liavor-so com mal.-) anlor de
novo.
— Renovar, pôr cousa nova em lof;Hr
do ontra vollia, ou gastada.
— Refrescar a nimnorid; renovar, la-
zondo vir ;i memoria.
— Refrescar o e.vurcito, avmadn, bata-
lha; faziMido ir maÍ3 goato, tropas quo
reforce, renovo.
— V. n. Tomar mantioieatos, tomar
porto ou ancoradouro, doscan^^ar u'cllo
alguns dias, dopois do uma longa via-
gem, o tomar refresco do agua o vitua-
lhas.
— Tomar forças, vigor ou alonto.
— Refrescar o vento ; fazer-so mais
forte.
— Refrescar-se, r. rej{. Moderar o
próprio calor, ttmiar o fresco, ou descan-
sar dl! alguma fadiga.
— Tomar refi-oscos de mantimentos.
— Refrescar-se a gente ; revezar suc-
ccdendi) uns aos Dutros.
REFRESCATIVO, adj. (Do tliema refres-
ca, de refrescar, com o suffixo ativo).
Que refresca, refrigera.
REFRESCO, *•. »i. Qualquer bebida fria
ou refrigerante; refrigera(;ào, refrigério;
vitualiias frescas. — «Neste porto seguro
fczeraõ as nãos augoada, cariiagein, e to-
maram outros mantimentos, e refrescos,
que os da terra danam por cousas ile
pouca valia.» Damião do (loes, Chronica
de D. Manoel, part. 1, cap. 55. — «O
qual Galego saindo com outros em terra
quando veo ao recolher, se leixou ficar
como homem que queria saber o que là
passaua : mas logo fii tomado o trazido
ao capitão da fortaleza, que ordenou de
o inuiar com hum presente de refresco
a dom Francisco com titulo do visitação.»
Barros, Década 1, liv. 8, cap. 9.
AUi com mil refrencos e manjares,
Con» vinhoá odoriforos o rosas,
Era crystallinos pai;os singulares,
Formosos leitos, e cilas mais formosas;
Erafim, cora mil deleites não vulgares.
Os osperom as njaiioliaa amorosas,
D'amor feridas, para lho cntrcf;arcm
Quanto d'cllas os olhos cubii;areni.
OAM., n's., caut. '.1, est. 41.
— «E coucluvdo por tim de todos estes
vários pareceres, no millior c mais segu-
ro, mandou levantar baiideyra de venia-
ga ao cuHtumc da (Jliina, polo que logo
vierílo da torra duas lanteaas, que saõ
como fu)*ta.i com miivto refresco, e o«
(|uo vinli.^iK 111'llas.» Fernão iMendes fin-
to, Peregrinações, cap. 44. — «Nos com
ente alvoroço levamos logo as amarras, o
nos fomos eo batel pela proa meter em
Ininia calheta que a terra fazia da banda
do Sul, ondo estava liunia grande povoa-
ção (]ue se tlezia Miayginiaa, da (|ual
logo nos vieraõ a bordo muvtos paraoos
com refresco «juo lhe compramos.» Idem,
Ibidem, cap. Ii32. — «E fazendo assi nos-
sos pousos em terra cada dia, onde nos
proviamos de bòs refrescos, chegamos a
huma fort.iloza dei Uey do Bungo chama-
da ()s([u\-, soto legoas da cidade.» Idem,
Ibidem, cap. l."]5. — «Os Mouros da ter-
ra, que nos dias do alijamento anda-
rão pela prava furtando o facto, vondo-
nos ya f )i'a do tam temeroso perigo, vie-
rào a nao em duas embarcações trazer
refresco de Cabras, Galinhas, Peixe, e
Figos da índia.» Fr. (ías])ar de 8. Ber-
nardino, Itinerário da índia, cap. 2.
— Refresco da terra; vitualhas fresc-as
próprias ilo j)aiz. — «Dalli foi surgir hu-
ma segunda feira sete dias de Feucreiro
diante da cidade do Jíolindo, onde antes
de ter lançado ancora o mandou el Rei
visitar com refresco da terra, seguindo
logo o Principo que veo ver a bordo,
o por sinal de amizade mandaram com
elle iuini embaixador a cl Key dom Ema-
nuel.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 1, cap. 44. — «Despedi-
do o moço se fez Lopo soares a vela,
e a hum sábado sete do Septembro de
M. D. iiij. surgio diante da barra de Ca-
lecut, onde logo os gouernadoros da Ci-
dade o mandarão visitar per hum Mou-
ro honrado, em cuja companhia vinha o
mesmo moço Português, per quem lhe
mandaram hum presente de refresco da
terra, o dizer que se quizesse dar seguro
a Cojebequij que lho iria fallar sobre con-
certo de paz, pêra o que ja tinha com-
missaõ dei Rei de Calecut.» Idem, Ibi-
dem, cap. 96. — «O que acabado se abra-
çaram, c apertaram com muito amor, re-
colhendosse o Barnegaes na villa. e Dio-
go lopez a fi'ota, donde mandou hum pre-
sente darmas, c outras peças de Portu-
gal, o da Índia ao Barnegaes, e elle lhe
mandou no m,'smo dia hum cíinallo, o
huma mula de muito preço, com huma
grande cantidade do refrescos da terra.»
Idem, Ibidem, part. 4, cap. 45. — «O
qual naõ poderia muito tardar que com
ujantimentos e refresco da terra que de
mui boa vontade o seruiriaõ por saberem
•juanto prazer elRey seu senhor teria de
o ellcs assi fazerem.» Barros, Década
1, liv. S, cap. 10.
Partia, aleirremontc iiavoLTiindo,
A ver as Náos ligeiras lusitanas.
Com rf/rftco da torra, em «i cuidand')
Qnií HÍ<) aqufllait (çpnt<'» inhumanii«,
í^ui! os upo.scntoH Canpioí habitando,
A Cíin'|UÍHtar as t<"rraii Ani«nafi
Vieram ; c por ordrm do diu*tino,
O Iinjiorio tornar a Countauliiio.
UAM., LL'i., caut. 1, oat. tH).
— Refresco da* rasag ; cinn ar novo.
• — Refresco de viveiroi; com agiui no-
va do.s niaros.
— Refresco djt prar^a ; borrifada com
agua.
— Reforço, auxilio de gente nova o
sã. — «Ao qu<! o Mouro rcHpondeo, quo
iliramir/.an não «ónientc lho offerecia
aquollo refresco, maA to'la a Cidade, i«c
cumprisse a serviço dEIRey de Portu-
gal, jiolo desejo que elle tinha do 8ua
annz;.'ide.» Barros, Década 2, liv. 7, cap.
7. — «Este cerco se còtinuou sete dia«
em que os de f/ira lhe der3o cinco amal-
to», e 08 oitocentos so defenderão sempre
valerosamcntc ; porem vendo que era che-
gada a derradeyra hora do suas vidas, e
(|ue nào podiào sustentar por seu Roy a
fortaleza como sempre cuydaraõ, pelo »o-
corro (la gente de refresco que o liramaa
trouxera na armada.» FernSo Mondes
Pinto, Peregrinações, cíip. 156. — «An-
tónio CorT(!a lho resp(mdeu a tudo muito
differente do (|ue o Mouro desejava, aftir-
mandolhe que na fortaleza havia quatro-
centos homens e que tinha«"j de refresco
muitas muniçoens, c que até o outro dia
se esperava pelo filho do (4overna'lor,
que já era partido de Baç.aim cf)m seis-
centos homens, e que o (jovemador em
(ioa fazia huma grande Armada.» Diogo
de Couto. Década (j, liv. 3, cap. 9. — «O
Visorey mandou governar pêra Columbo,
e surgio fira. Os da terra conhecendo a
nào ser do R^-ino, foraõ logo a cila alguns
navios quo alli ficàraò da companhia do
D. Jorge de Castro, c sabendo ser o Vi-
sorev despedirão logo recado a Cota a
EIRev, e a (íaspar de Azevdo Alcaide
niòr, que logo acoliraò a Columbo, vindo
ElRcv muito bem acompanluido, que man-
dou visitar o Visorev com muito refresco,
e algumas peças.» Idem, Ibidem, liv. 9,
cap. 1.
Neste tempo ja toda a grossa annada,
Quo sentira o favor do amigo vento,
Rocolhondo no porto a vcUa inchada
Imprimira hum frcral contoutamonto.
Ja com vário refrffco he visitada,
Ja se lhe enche o pavol di- mantimento.
Recebe o triste Rei com alvoroço
Huma morte cruel, hum grão destroço.
FRANCISCO nr. anpbvpk, priueibo ckbco db oic,
caut. !•.>, est. i:i8.
— .clfi((/tr de refresco aos <^ue peleja-
vam ; a soccorrel-os, c deixal-o« descan-
çar.
— Subir (/<• refresco ao muro ; para
ajudiír c dar mais calor ao escalar a pra-
ça, e defendcl-a. — «Estes subirão de
REFU
refresco, favorecidos da Escopetaria do
oxcrcito.» Jn cintilo Freire d'Andrade,
Vida de D. João de Castro, liv. 2.
REFRETAR. Viá. Refertar.
REFRICAR, V. a. (Do latim refricavc).
Disputar, duvidar, altercar outra vez, ou
de novo sobro questàe.
REFRIGERAÇÃO, s. /. (Do latim refri-
geratione). Acçào e eftoito de refri,e;erar.
— Resfriamento forte, privação, ausên-
cia abí^oluta de calor.
REFRIGERANTE, arij. 2 f/m. (Part.
act. de Refrigerar). Que refrigera, re-
fresca.
•^ — S. m. Termo de cbimica. Vaso cbeio
de agua, com que se tapa a parte supe-
rior de um alambique, para favorecer a
condensação dos vapores que se elevam
das matérias subníettidas á acção do fogo.
REFRIGERAR, v. a. (Do latim refrufe-
rare). Refrescar, temperar ou dimiiutir o
calor de alguma cousa. — «E aquelle
piedosíssimo 8enbor, que por bum púcaro
de agua dado por seu amor, proniettia, e
dava gloria eterna : agora por. todos os
nuírecimeiítos antigos nau dará nem bu-
nia gota de agua para refrigerar o ardor
das labaredas irfernaes.» Tadre ]\Ianoel
Bernardes, Exercícios espirituaes, part.
1, pag. 119.
Sustento do mortal, dádiva augusta,
De hum Deus, que abasta o domicilio nosso,
Vejo oudeante na campina extensa,
Ora dobrar-se, e desdobrada a messe.
Ao leve toque do animantes sopros,
Que os calmorosos aves refrigerno;
Kis a mais rica producçào da Terra.
J. A. DK MACEDO, MKDITAçXo, Cant. 3.
Pa fatídica vara a lium leve ti'>que
Kis se fende, eis burbulha, eis corre a lynfa.
Que a ardente sede ao povo refrigera :
Do adustos areaes no vasto oceano,
Uniforme planicio, horrenda, e triste,
Nào tem baliza as Legiões, que sigào.
IBIDEM, cant. 4.
• — Figuradamente : Desafogar ; alli-
viar de algum modo os padecimentos
pbysieos, ou moraes.
— V. n. Sentir refrigério.
— Refrigerar-se, v. refl. Tomar refres-
co, beber um copo de vinbo, e comer
um poncci.
REFRIGERATIVO, arij. iDo thema re-
frigera, de refrigerar, com o sufíixo
«aíivo»). Refrigerante, que refrigera, re-
fre-ca.
REFRIGERATORIO, aclj. (Do latim re-
fri(jerat(irius>. Que refrigera.
REFRIGÉRIO, s. m. (Do latim refri-
gerium). Refrigeração, refresco; bene-
ticio ou aliivio, que se sente com o fresco.
— Figuradamente: Aliivio, desafogo;
cousa que i-efrigera, allivia, consola.
FEFUGADOR, adj. (Do tbema refuga,
de refugar, com o sufíixo «dôr»). Que
refuga.
voL. V. — 20.
REFU
REFUGAR, V. a. Separar o mau do
bom.
REFUGIAR, V. a. (De refugio). Aco-
lher, amparar alguém, dando-lhe agasa-
lho, e asyla.
— Refugiar-se, i^. rejl. Acolliei'-se, bus-
car asylo, abrigar-se.
REFUGIO, s. m. (Do latim refugium).
Asylo, acolhida, amparo, acolheita, logar
seguro. — «Mas com ser tanto, todo he
necessário por a grande variedade de na-
ções que cor.corre a esta Cidade, como
centro, e refugio de todas aquellas Ará-
bias, e desertos, na qual achey dons Por-
tugueses, e oyto Venezianos, todos os
mais erão ivirieis.» Frei Gaspar de S.
Bernardino, Itinerário da índia, cap. 19.
— Figuradamente : Escusa, pretexto.
— Irmandade em Hespanha, dedica-
da exclusivamente ao serviço dos pobres.
REFUGO, s. 7n. A porção má que se
rejeita, qualidade inferior.
REFULGENCIA, s. f. (Do latim reful-
gentia). Brilho, resplendor do corpo lu-
minoso, ou resplandecente.
REFULGENTE, adj. 2 gen. (Part. act.
de Refulgir). Brilhante, resplandecente.
Da iguivoma montanha não soujjerão
A causa natural, são fumo, e brazas
i)\V o sepultado Kncélado arremessa.
Gigante audaz, qu' o refulgente Olimpo
Quiz escalar, desconhecendo os Numes.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Cant. 2.
REFULGIR, V. n. (Do latim refulgere).
Resplandecer, brilhar, lançar luz bri-
lhante. — «Ambos, despertos por cuida-
dos acerbos, tinham-se erguido com o
dia; mas o refulgir do sol haviam-no
visto só nas faixas de luz que se iam es-
tirando pelo pavimento das suas cellas.»
Alexandre Herculano, Monge de Cister,
cap. 24.
REFUNDADO, jjarf. pass. de Refundar.
REFUNDAR, r. «. (De re..., e fundar).
Tornar a fundar, rebaixar, profundar.
— Tornar a fundar, edilicar, recons-
truir.
REFUNDIÇÃO, s. /. (Do thema refun-
de, de refundir, com o suffixo «ição»).
Acção e efleito de x-efundir.
REFUNDIR, V. a. (Do latim rejunclere).
Tornar a fundir.
— Figiu-adameute : Recompor, corri-
gir, emendar; dar nova forma e dispo-
sição a uma obra litteraria, como discur-
so, comedia, etc.
— Passar o licor de um vaso para ou-
tro.
— V. )i. Reunir-se.
— Refundir-se, v. rejí. Sumir-se, des-
appareccr.
REFUSAÇÃO, s. /. (Do thema refusa,
de refusar, com o sufíixo «ação»j. O
acto de refusar.
BEFUSADO, part. pass. de Refusar.
REFUSADOR, s. m. (Do thema refusa.
REFU
1Õ3
de refusar, com o suffixo «dôr»). O que
refusa.
REFUSAR, V. a. Recusar, oscusar;
não querer, ou não acceitar alguma cou-
sa, não conceder o que se pede.
Rem sei que a condição isenta, e seca,
Oom que me tratas sempre isto refusa,
E que a satisfação impia que peço :
Porque he dar te sor.í molesta, e graue.
Que por me negar tudo, até alegrartc
Uo meu tormento esquiuo, c morte aflicta
Me negaras ò bella, ingrata c dura
Em fim cumprasc cm mim a tua vontade.
CORTE REAL, NAUFRÁGIO DE SEPÚLVEDA , Caut. 10.
Ligeiro, c faeil foy o que pedia
Do ser por este Eey logo otorgado.
Que tendo o coração liurc de engano,
O que o Sousa lhe pede nào refusa,
Despedido ao lugar se torna e leua
Consigo, 03 que saõ causa, do receyo.
Os que uauegão deixa, e u estes manda,
Que obedeçào cm tudo, e em tudo o siruão.
IBIDEM, cant. 14.
Pois vendo a oceasiflo não na refusaò,
Nem na deixão passar, antes aferrão
A cabcUuda fronte, e com violenta
Fúria cometem logo o cruel insulto.
Alarido horrendíssimo leuantào
Que atroa campo, c montes, e o ceo toca.
Acodem num momento espessas bandas
De barbara, tostada imiga tiu-ba.
IBIDEM, cant. 1(5.
Primeiro, assentac protesto
a refusar,
quem o ha de saltear ?
Jejum com vêr deshonesto
Jejum que dobra o jantar ;
Jejum <[ue fere outra alheia.
Jejum com sensualidades.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pag. 91.
Vos vera desfazendo, o vosso depois.
Pois voto a sào
(|uo bom foi cairem ; já o meu picão
ia zunindo como abelha brava.
Hofá que o meu nào lhe refiisava.
Nem tão pouco o meu dissera de não.
IBIDEM, pag. 99.
Este é.
E traz dinheiro ?
Si, que é cousa de dar;
e se refvsar quizer
saltem com eUe
faustos, que oram melhor n'clle,
que estes se bem comprehender
sao os matadores.
IBIDEM, pag. 83.
— • Refusar a batalha ; não sahir a ba-
talhar.
• — Refusar o remo; remar para traz.
— Refusar o caraUo o estribo; recuar
quando o cavalleiro quer metter o pé no
estribo ; negar o estribo.
— Refusar-se, r. rej{. Recusar-se, es-
cusar-se.
— Termo de náutica. Refusar-se o na-
vio; fugir do vento, propendendo a an-i-
bar, ou resistindo a orçar.
1:>Í
REUA
REGA
ri:<;a
REFUTAÇÃO, *. /. (Do latim refula-
tiúiwjn). Aifíuiiiento ou prova, cujo ob-
jecto ó ileHtruir as ra/.õus do contrario.
— Termo do rhctoriea. Farte do dis-
curso, cm quo SC rebatem a» razões quo
podem oppôr-.se contra aquillo que o ora-
dor 8ust(;iit;i nu deieude.
REFUTADOR, s. m. (Do tliema refuta,
de refutar, com o siiftixo odor»). O que
refuta.
REFUTAR, V. a. (Do latim re.futarc).
Contradizer, ou reprovar alf,nima cousa.
— Confutar, combater com razões, ar-
gumentos ou objecções, convencer de
falso.
REFUTATORIO, adj. Que refuta, pró-
prio )).ii'a rctutar.
REFUTAVEL, adj. 2 gan. (Do tliema
refuta, de refutar, com o suffixo «avel").
Que se póile refutar, ou que admitte re-
futa (.'ão.
REGA, s. f. Acçilo de regar, regadia,
regadora.
— Termo antiquado. Instituto, regra.'
REGABÓFE, s. m. Termo popular. Gran-
de prazer. — Hoje é dia regabófe.
— Viil. Regar-se.
REGAÇA, s. ./". Vid. Regaço.
REGAÇAR. Vid. Arregaçar.
REGAÇO, s. m. O saceo que faz a saia,
ou roupa talar c fraldada entre as coxas
de quem a traz, e está sentado. — «Po-
lendos, filho do imperador e rei de The-
salia, o principe Ditrco, fillio d'el-roi Fri-
sol de Hungria, Belcar seu irmão, Vcr-
nao principe d'Allomanha, rilho do impe-
rador Trineo, que esto, ainda quo aquel-
les dias passasse no regaço da formosa
Valerisa, filha menor do imperador Pal-
meirim, com quem era esposado, tovc cm
menos aquelle gosto, que o quo <levia fa-
zer.» Francisco de Moraes, Palmeirim
dlnglaterra, cap. 5.
Meiga Mãy N.ituvoza os olhos fecha :
Debalde em seu re<ia':o o* filhos fuiartla
Para os dar, mas em tompo, á morte esevira.
J. A. DE MACKnO, A NATUBEZA, Cailt. 2.
— o seio que faz a fralda da roupa
talar por diante, apanhada com as mãos
para a cintura.
Tinha f<Va do çurraõ
Muitas flores no regaço,
A cabeça sobro o braço,
E 03 claros olhos uo chaõ ;
Dalli mil auapiroa dava,
Como a compassos cantando,
E cutrc elles do quando em qviando
Formozas perlas chorava.
F. RODBIQIES LOllO, PRIMAVERA.
Molh. E'-me devasso ?
Cioso. E, mais lasso,
nào quero que o sol por ella
vos lance ouro no r('gni;o.
Molh. Mettor-mc-hci n"uraa panela.
ANTÓNIO TBESTES, AUIOS, pag. 243.
— Figuradamente: O pallido regaço do
enlutado Occideide.
Surgia ontilo do pálido ref/nro
Do enluctado Occidento a noite fria,
Feia iinui(;n;ta cxteuaáo do ctlicroo espaço
Dos áureos Astros o esquudnio roíiiiiia ;
O soiiiMO lirtfniK"i"o "'" doo laço
('ançados olhos d )rt mortues prendia ;
Da Natureza dom, que o mal atalha,
Qu'cni dôr acerba bálsamos espalha.
J. A. DF. MACEDO, OKIENTE, CUnt. G, CSt. 0.
— Figuradamente : O logar do repouso,
ou estado de descanyo.
— Figuradauiento : O regaço da Au-
rora.
Nem tu, ditosa China, no rer/(u;o
Posta d'Aurora, c do nascente dia,
A meus sublimes êxtases fugiras.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Caut. 3.
— o regaço da Primavera.
Em tanta multidão se perde a ^ista,
K se confunde a mente extasiada :
Todos pedem meu cauto, e em dons tão vários
Ii-resoluta a escolha se suspende.
Tiulo no império vegetal hc grande,
Tudo serve ao mortal ! Ora <(uo volve,
Da Primavera no rer/aço, Maio,
Tudo no alvcrguc humano hc formosura.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Caut. 3.
— Pôr o crime em meu regaço.
— Mas tu, tu es também meu filho... filho
Da minha escolha, mais querido ainda,
Que orpham te puz o crime em meu retjaro. ,
GARRETT, CATÃO, act. Õ, SC. 7.
— Quasi berço. — Regaço florido.
— Figuradamente : A philosoiihia tem
em seu regaço a Séneca.
Fazes do grande Sábio homem pequeno !
Nào vejo grande a Séneca nas obras.
Pois a vida antepoz ao justo, ao pejo ;
Por ella perde de viver as causas.
Em seu regaço o tem Filosofia,
Só porque disso, que As acções internas
He presente hum Juiz, presente hum Nume.
J. A. DE MACEDO, VIAOEM EXTÁTICA, Cant. 2.
— Figuradamente : O logar médio.
— A parte do corpo quo o regaço da
saia cobre.
— A parto longa, profunda, e interior.
— Figuradamente : O regaço da pá-
tria.
E até ao triste, ao infeliz prcscripto
— Dos entes o misérrimo na terra —
Ao regaço da pátria em sonhos levas,
— Sonhos que são mais doces do íiue amargo,
Cruel c o dcspert;ir ! — Celeste nunicu.
GARRETT, CVMÕeS, Cailt. 1, Cap. 1.
— Figuradamente : Reclinar alguém em
seu regaço.
Entre clarões de luz marcha Zanotti,
Da Fvsica Scicucia o Império estendo.
Curvo, o velho Hie.ttti abstracto, o mudo
Em Bcu ret/aço, llrauia o reclinava.
J. A. DE MACKIKl, VIAUEM CXrATICA, CSnt. 4.
— Figuradamente: O regaço da paz
serena e doce.
No rf.garo da paz Hcrona, n docfl
Sc me ant/)llia voar no espaço ignoto,
Entre «ublimes cxtasis bradando:
Nào he este, nào lie terreno alvcr(fUO
Do Ente pensador mosquiiiha oHtancis.
J. A. DE MACEDO, VIAOEM EXTÁTICA, Cattt. 1.
— Plur. Dava-se outr'ora este nomo
áquelles pedaços, 06 tiras de BÔda ou de
outra droga, que se cosiam por diante, e
por detraz das alvas do que se uca no
sacrificio do altar. E porque estes peda-
ços eram quailrados, lhe chamaram quu-
dratos. Igualmente se costumava ornar
as mangas das mesmas alvas com véos
como manguitos, a que chamavam mani-
ijuetes, ou bocaes, como se vê nas mui an-
tigas, que tem os bocaes das mangas co-
bertos de rendas até o cotovelo.
Em Santa Cruz de Coimbra se guarda
a planeta e alva com que os martyres
de Jlarrocos diziam missa; na dita alva
se acham os taes regaços, ou quadratos,
e nas bocas das mangas os taes mani-
quetes ou bocaes, nào inteiros, e de mo-
do que rodêem o braço, porém só como
tiras, ou canhões, pela parte de cima.
Elrei D. Jo.ho v mandou usar d'estes re-
gaços, c maniquet^s, nas alvas de Mafra,
e lia Patriarehal.
REGADEIRA, s. /. Enxurrada. — A tb-
gadeira da rua.
— Rego, regueira.
REGADIA, s. f. O acto de regar.
— Traballio de regar.
— Ruga.
— Vid. Regadio, Rego, e Regadura.
REGADIO, A, adj. — Teria regadia; ter-
ra que se roga para lavoura.
— Penedos regadios; penedos que o
mar lava, e banha, onde se criam maris-
cos.
— Substintivamente : Regadios ; terre-
nos para prio, linho, ctc.
REGADO, part. p(uss. de Regar. — «E
m ste tompo cu.-itumam vir muito grande
soma dembarcações de todas as partes da
China da terra dentro, que ja disse que
toda ha China se navega por rios, porque
toda he cortada e regada de rios gran-
des, e trazem estas embarcações muitos
cestos por dentro e por fora, os quaes to-
dos vem forrados de papel passado pelo
azevte. pcra que v\Ão ho passe ha ngoa,
antes ha possa reter, e compra cada hum
destas embarcações ho peixe que h.-» mis-
ter pêra conforme aos cestos que traz.t
Frei Gaspar da Cn^z, Tratados das cou-
sas da China, cap. 12.
— Figuradamente: Regadas de saitgue
as terras de Bardtz. — tÇamorim depois
REGA
REGA
REGA
155
que entrárào os Portuguezes no Oriente,
nào tem porto que nào fosse theatro de
victorias suas ; e apenas tem vasallo que
nào fosse cortado de seu ferro. O Hidal-
cào cada dia vê regadas de sangue as
terras de Bardez, e Saisete; e depois de
o Governa lor lhe ía^ier injusta guerra,
trouxe Meále a (^oa, querendo honestar-
Ihe sua ruina com a justiça alheia.» Ja-
cintho Freire de Andrade, Vida de D.
João de Castro, cap. 2.
— iSer da ordem dos regados.
Críad. Dois bocados
fartam d'aquem e d'além,
sou da ordem dos regados.
Pae. São horas de te ir geitar.
Criad. E vós, pae velho?
ASTOSIO PSESTES, ACTOS, pag. 2Õ7.
— Adagio :
— Mais vale agua do eéo, que todo o
regado.
REGADOR, í. m. Vaso de lata, que se
enche de agua para regar as plantas; a
agua sahe por um ralo que tem um fundo
largo, da biqueira.
— Aguauor.
REGADURA, s. /. Acto de regar, rega-
dia.
REGAENDO. Termo antiquado. Vid.
Reguengo.
REGAENGO, ou REGALENGO, adj.subst.
.Signitica o mesmo que Reguengo. Vid.
este termo.
— Todos os direitos, pensões e rega-
lias annexas ás terras reguengas ou re-
galengas.
REGAGLISTA. Vid. Regalista.
REGALADAMENTE, ah. ,De regalado,
e o suffixo «mente»). De um modo rega-
lado.
— Com reíralo.
regaladíssimo, a, adj. Superlativo
de Regalado, iliúto regalado.
regalado, parf. pass. de Regalar.
— Homeia regalado ; homem que se
trata com regalo ; homem amigo de se
regalar.
— Olhos regalados ; olhos arregalados.
Vid. Arregalado.
— Mesa regalada ; mesa em que ha
regalos, e manjares delicados.
— Somnos regalados ; somnos de gran-
de prazer.
Meu Doutor, se essa regra é verdadeira.
Fique O malvado Acórdão subsistindo,
Chovào embora sobre mim as multas,
O vestido de soda, a loba, a murça.
Pela agua abaixo vá, tudo se perca,
Com tanto que eu nào perca um só instante
Dos meus suaves, regalados somnos.
Dixiz DA CRUZ, HYssoPE, cant. 4.
— Iguaria, vianda regalada; ig-uaria,
vianda gulosa, capaz de regalar.
REGALADOR, A, aJJ. Que regala.
— Substantivamente : Pessoa que re-
gala, que causa prazer.
REGALÃO, ONA, adj. Que se trata com
regalo, mormente no comer. Vid. Rega-
lona.
REGALAR, i*. a. Tratar alguém com
regalo.
— Produzir immenso prazer.
— T'. n. Regalar com Deus.
— Regalar-se, i-. ref. Tratar-se rega-
ladamente, viver vida regalona.
REGALARDOAR, r. a. Recompensar no
dobro.
REGALENGO. Vid. Realengo.
REGALEZA. Vid. Regalice.
REGALIA, s. f. (Do latim regalis). Di-
reito magestatico e de soberano. — As
regalias d/el-rei.
— A dignidade e jurisdicção real.
— Privilegio, prerogativa. — «íí'esse
cazo se começa a ensayar na creaçào de
hum Condado em Reyno, e nisso mostra
que virá a ser hum daquelles Cezares
famozos, que souberão defender, e sus-
tentar a sua jurisdição, e regalia.» Ca-
valleiro d'01iveira, Cartas, liv. 1, n." 17.
REGALICE, s. f. (Do fi-ancez reglisse).
Alcaçuz.
REGALINDO, s. m. Termo antiquado.
Reguengo.
REGALISTA, s. m. Defensor dos direi-
tos e regalias dos soberanos.
— : Homem provido de um beneficio
por regalia do rei.
REGALITO, s. m. Diminutivo de Re-
galo.
REGALIZ, s. f. Vid. Regalice.
REGALO, í. vu O prazer, que produz
o mimo e delicia do tratamento luxm-io-
so, na mesa, e no que é de prazer. — «E
para este effeito nsavào de cama dura
em traves, ou sexos do rio, ou espinhos
do matto ; e de meza parca, e de man-
jares ordinários, e sem regalo ; e jejua-
vào dous dias cada sabbado ; isto he ca-
da semana ; que era ás segundas, e quin-
tas feiras : e ainda quando casados nào
se chegavào a suas mulheres quàdo pe-
jadas.» Padre Manoel Bernardes, Flo-
resta, part. 1, pag. 4.
— Prazer. — «E se algum entreteni-
mento tem, he muito licito, e só lhe dá
as horas, que furta do desífenço, que lhe
era devido ; e o mais todo o gasta no
expediente das guerras, e em compor as
tormentas de negócios innimieraveis, sem
admittir regalos, nem ostentaçoens de
festas, que o devirtaõ.» Arte de furtar,
cap. 48.
— Manguito de pelles de seda, ou se-
tim acolchoado, de que usam as senho-
ras para metter as màos durante o in-
verno por causa do frio.
— Presente, mimo com que se brinda
alguém. - — «Longe de me queyxar vos
agradeço o regalo, e o livrinho que me
remeteste: ao mesmo tempo. Digo-vos
sem mentir que nào podieis escolher cou-
sa melhor para me mandar, se he que o
fisestes com intenção de que eu o guar-
de por amor de vós até á hora da minha
morte.» Cavalleiro d'01iveira, Cartas, liv,
3, n." 49.
Que assim paguei, por justa Providencia
Os regalos de Keápoli, e os aromas,
E as delicias, que lá me embevecerão !
F. M. DO KASCI5IEST0, OS MABTYBES, 1ÍV. 7.
— Um cavallo ginetado de regalo.
Eufronhae-vos n'um capuz
com seu habito de cruz,
vossos pagens, um cavallo
ginetado de regalo,
chamai-vos, que? dom Cusciis,
que achareis muito barato
sabeis quanto ; que n'um cabo
jantei hontcm, e vos gabo
que por trazer apparato
me soube um nabo a dom nabo.
AKioxio PEEsiES, Acios, pag. 123.
— A iguaria gulosa, ou cousa análo-
ga, que produz grande prazer.
REGALONA, s. f. de Regalão. Vid.
este vocábulo. — Viver á regalona.
REG'AMARGEM, s. m. Um ou dous regos
que se dào em baixo no fim da terra de-
pois de lavrada, que a tomem toda, e
recebam a agua dos regos que ella tem,
para por elles vasar a agua da chuva.
— Rego de agua.
REGANHAR, v. a. Vid. Arreganhar.
— Tornar a ganhar, ganhar novamente.
7 REGANHO, s. m. Euro, aquilào.
REGAR, 1-. a. iDo latim rigare). Ba-
nhar a terra com regadeira, ou por ou-
tra qualquer maneira.
Alguns soldados manda que se arriscão
Duas legoas tornar atras, e a parte
Onde huma cristallina fonte, as heruas
Com suaue murmm-eo rega c banha.
Mas esta de espantosos Tigres ora
E de bravos Liões muy frequentada.
Grande preço dá o Sousa ao que trouuesse
Desta fonte um pequeno vaso de agua.
COBTE EEAL, SACFBAGIO DE SEPCL^-EDA, Caut. 14.
— «Os que nascem das serranias, que
correm ao longo deste mar da parte da
Abasia, a Katureza provida os mais no-
táveis, e cabedaes encaminhou que fos-
sem entrar em o rio, a que os da terra
chamam Tagazij, que se vai metter em
outro maior chamado per elles Abauhij,
que quer dizer pai das aguas, e ambos
já em hum corpo entram em o Kilo pêra
regarem a terra do Egypto.» Barros,
Década 2, liv. 8, cap. 1. — «He habita-
da de mouros Alarves, e seraa de qui-
nhentos, seis centos moradores que vivem
per lavoiras e sementeiras de trigo, ceva-
da, e legumes, que aqui lavram : por vir-
tude de himi olho de augoa doce que em
ella nace, com que regam huma quanti-
dade de terra quanto ella pode abracger.»
António Tenreiro, Itinerário, cap. 54. —
«Desta paragem vay virando a terra dè
lõd
IUmíA
UEiJA
UKGK
AíViea, porá, u parto do Sul diiiidinddíi
da Amorica o grande Oeceaiio, f|iic a re-
ga, o cerca toda; e por((uo tanto beneti-
cio nam tícaise dosa;^radecido, llic o.stà
pagando com o rio Negro, ontraado còti-
niiainoiíte por anys bocas no largo Atli-
lantico, on<le noa agora dizemos Cabo
Vordo.» Fr. (iaspar de S. liernardino,
Itinerário da índia, cap. 7, — «A muita
abuudaucia de agoa cõ que os laurado-
res o regão. A nouidade que produs, a
copia de gado que nclle se cria, c pace,
e a maldição dos pássaros que nelle iia,
quo saõ tantoa cm numero, que por senão
multiplicarem mais, não ousão os laura-
dores a plàtarem aruoi-e alguma, por ti-
rarem a ocasião de criarem ucilas.» Ibi-
dem, cap. IG.
— Regar us faces de lagrimas ; ba-
nhal-a-».
— Figuradamente : Banhar em grande
abxiadancia.
D;i liberdiítlc a arvore não cresce,
fie a mio rer/ar dos dcsi)otas o sangue :
Embora a plantes ; nào lhe ves o fructo.
OiERF.TT, CATÃO, UCt. 4, SC. 3.
— Regar-se, v.rejl. Ser regado. — «Es-
ta villa lie mais abastada de mantimen-
tos, e muito bõs, e assi também de tâma-
ras, que a de detrás: que se rega com
outro olho do agoa mais copioso, e toda
a mais terra logo he esterile e deserta.»
António Tenreiro, Itinerário, cap. 56. — •
«Eila passada, estando á vista de Ilomus,
topamos cõ o rio Ruganto, tão caudalo-
so, como o nosso Tejo em Abrantes : e
por esta caiua diuidiJo em dczasete ri-
beií-as, cõ as quaes se regão os espaço-
sos, e largos càpos de Romus, mais fer-
tis, c playnos, que os nossos de Sancta-
rem, pois alem da novidade dos legu-
mes : dão cada anno duas, huma de ai"-
ros, outra de trigo.» Fr. Gaspar de S.
Bernardino, Itinerário da índia, cap. 16.
— Regar-se com os males d'ahjuem; ter
grande prazer com ellcs.
— Regar-se deprazev; ter grande pra-
zer.
REGARDAR, v. a. (Do francez regar-
der). Termo antiquado. Voltar os olhos,
olhar para traz, ter i-cspeito, respeitar.
REGARDO, s. m. Termo antiquado. Res-
peito, contemplação.
— Viil. Resguardo, no mesmo sentido.
REGATA, .V. /. Desatio, e corrida de
botes, escaleres, etc, á vela ou a remos,
no mar ou rios, disputando prémios ou
recompensas, que ganham os que nave-
gam com mai> velocidade.
1.) REGATÃO, s. m. Homem que com-
pra por grosso para vender por miúdo.
2.) REGATÃO, ÒA, adj. Que regateia
muito.
— Que quer vender mui caro; vende-
dor mui difficil e duro.
■ — Emproga-se também figuradamente.
REGATAR, i;, n. Nogociar, traficar.
— V. n. Vender.
— Fazer o officio de regateira, tratar,
negociar com cila, comprar para vender.
REGATARIA, ». /. Vid. Regalia.
REGATAS, s. f. 2'lur. Ciiitas da Índia.
— \'id. Regata, que diverge.
REGATEADOR, A, «. Pessoa que rega-
teia .
REGATEAR, v. n. Porliar sobre o pre-
ço, xrr (litiieil no ajusto do preço daquil-
lo que 80 compra, promcttendo pouco c
pouco. — «Encíiixaò-lho em huma dobra
a Hóstia dissimuladamcnte, mostraõ-sc
descontentes da cór, e pedem outra : vis-
tas assiui algumas, appelaõ para a pri-
meira, c mandaõ medir vinte cevados,
regateando-lhe primeiro muito bem o pre-
ço, como he costume.» Arte de furtar,
cap. 39.
— Vender por muito.
— Loc. : Regatear nas cousas d' alguém;
procurar diminuir a sua gloria, deprimir
as Cousas que podem acrescentar o cre-
dito.
— Regatear com outrem em cousas de
hagatclla; altercar cora elle.
— 1'. a. Conceder escassamente. —
Regatear honras a alguém,
REGATEIRA, s. f. Mulher que compra
pescado, hortaliça, fruta, e outros vive-
res para tornar a vender.
Vedes a']ui. Senhor Mundo, a nossa
Parteira da terra, herdeira das vidas,
Senhora dos vonncs, guia das partidas,
Rainha dos prantos, c nunca ociosa,
Adcla das dores,
A cinbaladcií-a dos gi-andvis senhores,
Cruel regateira, quo a todos enleia.
GIL VICEXrK, ACrO DA HISTORIA' DE DELS.
— «U Escripvào da Almotaçaria es-
creverá todallas cooimas achadas, assy
de guados, e bestas, como dos Mestei-
raaes, e carniceiros, e paateiras, e rega-
teiras, e enxerquelras, que pelos Jura-
dos forem acooimados, -e os que elle po-
der saber, que vaaõ contra as po^tuilTs,
e cada mez as mostre aos Almotacees; c
se 03 Almotacees nom tornarem a esto,
mostre-as aos Juizes, e aos homens boòs
da Camará, para saberem quaes som os
dapninhos, e fazer com elles cumprir as
posturas, e Hordenaçooeus.» Ord. Affons.,
liv. 1, § 22. — «E como todas as rega-
teiras haviaõ medo do amo, por uaò o
aggravarem, taziaõ da necessidade corte-
zia, e diziaò, que naõ tinhaõ troco, que
outro dia fariaõ contas, como o tivessem ;
e este dia nunca chegava, porque naõ
era do Kalendario. Mas tomaria a bulia
da composição na Quaresma, que he de
temer lhe naõ valesse, visto serem vivos,
e conhecidos os acrédores.» Arte de fur-
tar, cap. 14. — aMais occultas tem as
unhas outro exemplo, que teia feito va-
riar no expediente dello muitos Theolo-
gos. Dey a vender huma pipa de vinagre;
e a regateira foy taò ardilosa, que a fov
cevando com agua pelo batoque ao com-
passo, que a hia aquartiihando pela tor-
neira.» I<iem, cap. 5;').
REGATEIRAMENTE, wl,-. <])., regatei-
ra, c(ini o -liflixo «mente» . A maneira
de re^rateira.
— ( iro-iseiramente.
-J- REGATEYRA, «. /. Vid. Regateira.
— «E se saò mudos, também se recolheuj
em outra cii-sa como hospital, e para sua
sustentação lhe applicão todas as f>ena8
das regateyras e nuducrc bravas que se
desiionraõ em publico.» Fernão Mendes
Pinto, Peregrinações, cap. 112. — «Vie-
rào a casa doiu dos nove que éramos a
travarse em palavras sobre qual geração
tinha milhor moradia na casa dei lít;y
nosso Senhor, se os Madureyras se os
Fonsecas, e de palavra em palavra veyu
o negocio a chegar a tanto que vieraõ a
usar dos baixos termos das regateyras,
dizendo hum para o outro quem sois v<'>s y
mas quem sois vós? cò por ventura cada
hum delles ter pouco mais de nada.»
Ibidem, cap. llõ.
REGATÍA, >. f. Officio de regateira, ou
regatiim. Vid. Regataria.
REGATINHO, .'. m. Diminutivo de Re-
gato. Uejato pequeno.
REGATO, s. m. Porção de agua cor-
rente; é mais que ribeirinho, e menos
que ribeiro; secca em breve, e não é pe-
renne como a fonte. — Incógnitos rega-
tos.
Pobres, sem nome, incógnitos rerjaton
Por entre as pedras murmurando correm,
Vê-se no fundo d'agoa a inolle arca.
Preguiçosa torrente os troncos beija,
Mas bem depressa s"cntumpcp, e brame
Pelos hervosos campos derramada.
J. A. DE MACEDO, A NATCBEZA, CAnt. 2.
Límpida fonte, o serpeando o campo.
Por entre as ncdras vai com doce. e prato
Sussurro dando viço á planta. As flores,
E o feudo pouco a pouco recebendo.
Agora d"luima fonte, agora d'ontra.
Mas se lhe engrossa a vêa cristalina,
Já corre, c freme rápido regato.
IDEM, VIAGEM EXTÁTICA, Cdut. 1.
— Plur. Os ciirtes que o regato faz
por onde passa, na terra, e ficam aber-
tos.
REGATÔA, .«. /. Jlulher que regateia.
REGEDENTE, V. m. Termo antiquado.
Homem que reside, assiste, mora, ou es-
tá de .-issento cm alguma parte.
REGEDOR, A, adj. Que rege, que diri-
ge, que governa.
— /S. m. — Regedor da justii;a; é o
chefe da Relação de Lisboa.
— Regedores dus Ixjares ; as camarás,
e magistrados.
O líffiedor lhe dii-ia.
Também o Governador
Iscite dia : O Senhor
IIEJE
REGE
REGE
157
Do inundo de vós confia
Os gados de que he pastor.
GIL VICEXTE, OBRAS VABUS.
— «Alem destas casas principaes dos
priucipaes regedores, ha em Cantam ou-
tras muitas que inda que nam sejam de
tanta mag-estade como estas, sam toda
via muito grandes doutros oticiaes meno-
res, principalmente as do tronqueiro moor
que sam muito grandes.» Fr. Gaspar da
Cruz, Tratado das cousas da China, cap.
ti. — «As casas dos regedores nas cida-
des nobres, primeiro que se chegue onde
estam os regedores tem dons pateos mui-
to largos e compridos, que cada hum
deiles será de grande carreira de cavai-
lo.» Ibidem, cap. 8. — «Depois de lhe
Diogo fernandez dar ha carta de Afonso
dalbuquerque, mandou a Mellquequadra-
gi, filho do regedor de çurrate que desse
ao embaixador a cabaia e assi a todolos
outros p(»r sua ordem, o que feito os des-
pedio, dizendo a Diogo fernandez pelo
seu lingoa a que o a que vinha dixe-sse
a Codamaçào seu guazil, e que logo o
despacharia.» Damiào de Góes, Chronica
de D. Manoel, part. 3, cap. 64. — «E
mandou a todos muj largamente apo-
sentar, e lhe mandou ricas dadiuas, tudo
inuy perfeitamente, e com muvtas pala-
uras de grande amor, e muyto conheci-
mento das grandes mercês que os .seus
capitães em Portugal receberão dei Rey,
dizendo o Duque e todos os regedores
que o estimauào tanto, que nunca em
Siias vontades o acabarião de seruir. »
(Tareia de Rezende, Chronica de D. João
II, cap. 58. — «No qual estauam os Re-
gedores da villa, e ao sahir dagoa foy
feita huma pratica em nome da villa, e
acabada o 1'rincipe e a Princesa se po-
seram debaixo de hum paleo de rico
brocado que os Regedores leuauam. E
com gi"ande estrondo de trombetas, e
atabales, charamellas, e sacabuxas, e
muytos tvi-os de fogo do rio, e outros
muvtos'que estauam no muro, e torres
dalcaçoua, começaram dandar.» Ibidem,
cap. 131. — «E abaixo destes doze ha
quarenta Chaens, que saõ como Yisor-
reys, a f'>ra outras muvtas digniJades
mais inferiores, que saõ como Regedores,
Governadores, Veadores da fazenda, Al-
mu-antes, Capitaens mores, que se no-
meào por Anchacys, Aytaos, Põchacys,
■Lauteaas, e Chúbins. » Fernão Mendes
Pinto, Peregrinações, cap. 114. — «Xa
cidade de Caiisi, que como dissemos he
cabeça da província de Cansi, ha mil
casas em que se apousentam os parentes
dei Rey, e sam mui grandes e muy aven-
tajadas em nobreza e fermosura das ca-
sas dos regedores.» Frei Gaspar da Cruz.
Tratado das cousas da China, cap. 8.
— Regedor Jo elephanfe. Vid. Cornacà.
— Outr^ora houve regedores da jus-
tiça das comarcas.
REGEDORA, s. f. Termo antiquado.
Mulher do regedor.
— Mulher do regente, ou a que por
si mesma é regente do reino.
f REGEIRA, s. f. Termo de marinha.
Virador dado ao anete da ancora, que
está fundeada, ou em um ancorete, es-
piado convenientemente, e cujo chicote,
entrando pela idtima portinhola da ré,
serve, alando-se, para que o navio dê
costado a qualquer, posto que se queira
bater, ou faça cabeça para velejar, quan-
do não convenha desviar um ápice do
ponto em que se acha, e se quer fazer
de vela.
— Plur. Sào as escoras que vão de
encontro ao segundo pródigo do berço
em que o navio vai ao mar : servindo de
o demorar na carreira o tempo necessá-
rio, emqdanto se cortam as idtlmas ata-
carias.
RECEITAR, V. a. Vid. Rejeitar.
REGEirO, «. m. Vid. Rejeito.
REGELADO, part. pass. de Regelar.
Congelado, convertido em caramelo.
Entam á névc arremessando o feixe.
Nos ramos, que lhe arranca, lume aceende,
E, a seutar-me ao pé deUe me convida.
Em quanto as mãos aqueço regeladas,
Assim me dá razão dos seus successos.
r. M. DO K-VSCIUESTO, OS MAKTTRES, liv. 7.
Tal de Hiperboreos montes regelados
Se precipita o solitário Tolga,
Corta infecundo campo, onde parece
Que a Natureza esmorecera toda ;
Nem verde musgo o cobre, e assim cançado
Entra nas margens barbaras do Caspio.
J. A. DE MACEDO, UEDITAÇÃO, Caut. 2.
Tal de Hiperboreos montes regelados
Se precipita o solitário Volga,
Té mistiirar-se rápido, espumante,
Nas ondas do Mar Caspio. O Don correndo
Desde os montes Eifeos, e o Tanais frio
Na alagOa Meotide se lança.
IDEM, A s.vrcBEZA, caut. 2.
— Emprega-se também no sentido fi-
gurado.
— Vid. Regelar-se.
REGELADOR, A, aJj. Que regela. —
Frio regelador.
REGELANTE, part. act. de Regelar.
Que regela.
REGELAR, v. a. Congelar, converter
em caramelo.
— Emprega-se também figuradamente.
— V. n. Endurecer como regelo.
— Regelar-se, v. refl. Congelar-se.
— Figuradamente : Regelar-se de medo.
REGELO, í. m. Gelo coalhado, crystal-
lisado, caramelo.
— Figuradamente : Constância, firme-
za, insensibilidade.
REGÊNCIA, «. /. Acto de reger o es-
tado, ou communidade, como regente;
regimeato.
— Dignidade da pessoa que governa
um estado dirrante a ausência ou a mi-
noridade de um soberano.
— ÍTOverno.
— Funcção de regente.
— Tempo que dura a regência. — As
perturbações de uma regência.
— Governo de certos pequenos esta-
dos musulmanos, assim chamado porque
ahi estavam investidos pelo sultão de
Constantinopla, e subordinados á sua au-
thoridade. — As regências harlarescas.
— Funcções de regente n"um colle-
gio.
— Termo de grammatica. Dependên-
cia que existe entre os membros de uma
phrase, consistindo em que uma parte da
oração faça com que outra, que a deter-
mina ou explica, varie de maneira que
appareça a correlação que ha entre am-
bas. A svntaxe que ensina estas varia-
ções é denominada syntaxe de regência.
Vid. Reaer.
REGENERAÇÃO, «. /. (Do latim regt-
neraii(j). Reproducçào de uma parte des-
truída.
— Reproducçào. — A continua rege-
neração do humor medicai que dá origem
á d&r.
— Reproducçào de um objecto sob a
sua primeira forma. — Regeneração dos
mefaes.
— Renascimento, fallando do baptis-
mo.
— Figuradamente : Reformação, reno-
vação nicaai.
REGENERADO, pi^rt. pass. de Regene-
rar. Reproduzido. — A casca regene-
rada.
— Que recebeu um novo nascimento
pelo baptismo. — «Por tanto assi como
pello Baptismo somos regenerados, assi
pela còfirmaçà somos armados em caua-
leiros de Christo, postos no capo deste
mundo pêra nos deffender de todos aquel-
les que nos quiserem fazer perder sua
fè, ou seu amor. D Fr. Bartholomeu dos
Martyres, Catecismo da doutrina christã.
— Que recebeu nova vida. — O ar
regenerado. — «Segue-se logo a segun-
da, a que chamào C chlea, ou Pelvi ;
aonde esta o ar ja regenerado, puro,
subtil, 6 immovel, que he o principal
orgaõ do sentido auditório, is esta cavi-
dade se achaò algumas partículas, que
servem de instromentos para melhor, e
mais distinctameiite se perceber a diver-
sidade dos' sons.» Braz Luiz d'Abreu,
Portugal medico, pag. 79.
— Xaçào regenerada ; nação a quem
se fizeram bens, reformando os defeitos
do governo, restaurando-a do abatimento,
decadência, ruina, pobreza, miséria pu-
blica, despovoaçào, etc.
REGENERADOR, A, aJJ. Que regenera.
— Principio regenerador.
— Substantivamente : Pessoa que re-
genera.
ir)8
REGE
— Regenerador da naqcio ; homem quo
rcformii, c qiiasi qiio formou de novo,
dando lt;i^^, iioliciaiido, introduzindo as
iirtos, reformando o commorcio, u agri-
cultura, u tudo o que faz o bom go-
verno.
REGENERANDO, A, nlj. Que está para
rcctdjer nni udvo nascimento pelo baptis-
mo.
REGENERANTE, j)art. act. de Regene-
rar. Qili; ro;;o eia.
REGENERAR, i'. a. (Do latira regene-
rarei. Triduzir por uma nova geraçào.
— Termo mystico. Dar uma nova ori-
gem.
— Figuradamente : Reformar, melho-
rar, restaurar.
REGENERATIVO, A, aãj. Que tem a
virtude de roííeiíorar.
— Figuradamente: Baptiumo regene-
rativo.
REGENTAR, v. a. Reger, dirigir qual-
quer c.i leira de ensino.
REGENTE, s. 2 gen. (Do latim regens).
A pessoa que exjrce a regência. — O re-
gente, a regente do reino. — « Esta vir-
tuosa, o Catliolica Rainha instituio a con-
fraria da Jlisjrleordia nestes regnos, sen-
do regente delles no tempo quo cl Rei
dom Emanuel seu irmam era Ãlo a Cas-
tella, com a Rainha Triacesa doiina Isa-
bel, sua niolhor, a fazeremsc jurar por
Priucipes d'aquellcs regnos.» Damiào de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 4,
cap. 26.
— Figuradamente : Mulher que é ca-
paz de reger, que dirige.
— Regente da cadeira. Vid. Cathedra-
tico.
— Termo pouco iisado. Regente do re-
banho; o guardador d'clle.
— A regente de nm recolhimento, ou
casa 2>^c ; mulher que governa os alum-
nos.
— Adj. Que exerce a regência. — O
pnnc']>e regente. — A rainha regente.
REGER, f. a. (Do latim regere). Go-
vernar como rei com direito e justiça.
— Governar, dirigir. — « Outro dia
depois de sua parti la, chegaram dons
senhores alemães á corte em busca de
Veruao, que fosse tomar o septro e re-
ger seu império, que o imperador Trineo
era morto. Estas novas tizcram algum
abalo de pesar, principalmente no impe-
rador, que era muito amigo seu. Dalli
por diante esperava pola sua hora, que a
idade em que estava, o punha neste re-
ceio. A imperatriz fez gram pranto per
sen irmão.» Francisco de Moraes, Pal-
meirim de Inglaterra, cap. 95.
Pom Nuno Alvares digo, verdadeiro
Açoute do 3iiberbo3 Castelhanos,
Como ia o fero Hiumo o foi primeiro
Para Frauce/.es, para Italianos.
Chitro também famoso cavalloiro,
yue a ala direita tem dos Lusitanos,
REGE
Apto para maadá-los c rrtjt-lof,
Mom líodrigiics se dix de Vascoacelloa.
cAM., i.t'8., caut. 4, est. 2-1.
Estava hum grande exército que pisa
A terra Oriental, i|ue o llydaspc lava ;
llejf-o liuin capitão de fronte lisa,
(^ue com frondontes thyrsos pelejava :
Tor elle edificada citava Nysa
Nas ribeiras do rio, quo manava :
Tao próprio, que SC alli estiver Scmclc,
Dirá por curto, quo hc seu filho aquclle.
luiDEM, caut. 7, est. 52.
1 Ia la Rcya de grão poder,
de grandes gentes, c terras,
que sabem nuiy bem reger,
o grandes tesouros ter,
juntos na paz para as guerras.
GAKCIA DE U£ZF.>'DE, UISC£LLAXEA.
também nos mandos, poder,
cm seus nojos, c plazcr,
em reger, c gouernar,
das quaes por non enfadar,
nmvto deixo d'cscrcucr.
— « Antigamente tiueram os Ethiopes,
que ahi dous dooses, hum immortal, que
he criador de todalas cousas, e as rege
sem nellas auer nenhum defeito, e outro
mortal que tem por incerta, assi a elle,
como as cousas que se por elle regem, e
gouernam.» Damião de Góes, Chronica
de D. Manoel, part. 2, cap. 10. — « Aos
quaes respondeu, que elles erão tam bons
canal leiros, cada hum per si, que quando
elle falecesse o somenos delles abastaua,
nam somente pêra reger aquella armada,
mas ainda todo o impei-io da Forsia, e
da índia, que elle estaua tão magoado
dos de (xoa, que não teria por victoria
tomarse, sem se sua pessoa nisso auen-
turar, pelo que lhes pedia, que cada hum
se fosse a seu batel, porque elle sem to-
mar outro parecer se hia meter no seu.
Ibidem, part. 3, cap. 11. — «O que sa-
bendo Afonso Dalbuqnerque mandou pa-
ra o jungo Dinis fornandez de mello, e
Fero dalpoem, para nelle ficarem em seu
lugar o que elle uaò quis consentir di-
zendo que ainda tinha pes pêra andar,
e mãos para pelejar, e lingoa pêra fallar,
e siso para reger e esforço pêra mandar
ainda, que fosse de cama, que em quan-
to teuesse vida não hauia de ninguém de
mandar no jungo.» Ibidem, part. o, cap.
19. — «Em muitas cidades das princi-
pais principalmente desdo cavs donde
desembarcam os que governam e regem
a terra até ha casa do vecdor da fazenda
as ru.".3 sam tam nobres e largas, que
podem hir por ellas emparelhados dez.
quinze homens a cavallo.» Frei (Jaspar
da Cruz, Tratado das cousas da China,
cap. 7, — «Os que regem ha terra, que
sam principaes no rcvno, tem vaãa, hum
limitada ha renda segundo ha calidade
de sua pessoa e oficio requere : de ma-
REGE
ncira que a elle o aos seus nada falta,
mas nam lhe sobeja tanto que com isso
se possam engrossar, i Ibidem, cap. 8. —
• E daquy vereis que por isso diz que o
reyno he de casa de Jacob, para mostrar
a força dos que reconhecem vassallagem
a este Senhor o que estaõ ombro com om-
bro com os Anjos, e podem prouar força
com clles, porque o mesmo espirito rege
a todos, e os alenta a todos. • Paiva de
Andrade, Sermões, part. 1, pag. 207.
IIc bem feliz por certo, o que gómcnto
Ao rústico lavor acostumado
Conduzir sabe os bois, reger o arado,
E dar á terra a provida semente.
AOBADE DG JAZENTE, FOESLA.S, tOm. 1, pag. 10
(ediç. 1787).
Quatro vezes o pac desse atrevido
Moço, que o carro ardente rnal regira,
Na terra a sua luz tinha estendido
Antes que o Escorpiiio o recebera,
Quando no porto ja bem conhecido
De Diu a vella inchada recolhera
O Marinheiro, c faz com que se esconda
O curvo ferro lá na salgada onda.
F. dVkdbade, fbuieibo cebco de dic, cant. 4,
est. et).
Vi que de ícaro o voo, c a queda acerba
Desse soberbo, e deslumbrado moço,
Que mal regera igni-pedes Ethoates,
Eu ia a renovar. Meu alto as.sombro
Descobre a Dcosa, c se doeu de vcr-mc ;
Dêo-me a benigna mào, e eu fixo o paaao
Sobre o iuimovel pavimento immcnso.
j. A. de uacedo, vlagex extática, cant. 1.
N'ura magestoso Alciçar, que se eléva.
Cora estranha structura, até ás nuvens.
Assiste o grande Nume ; e dalli n-ge
A Luuática gente a seu arbitrio.
mxu da crcz, htssope, cant. 1.
Rege a manobra fallador apito :
— «Ala... amaina '.< Eis passada a estreita boca
Por onde seus tributos dagua e douro
Leva ao Oceano o rio dL^lyssea:
Junto da torre antiga e veneranda,
— IIojc tam profanado monumento
Das glórias de Manoel ánchora desce.
G.4BBETT, caxOes, caot. 1, cap. 8.
— Ter o império do mar, dlrigil-o. —
«Visinha a esta bella costa está situada
a cidade de Tjro. Esta grande cidade
parece estar boiando sobre as aguas, e
reger o mar todo: a ella concorrem ne-
gociantes de todas as partes do mundo ;
e seus habitantes s.lo os mais acreditados
mercadores que ha no universo.» Fran-
cisco Manoel do Nascimento, Telemaco,
liv. o.
— Reger um exercito; dirigil-o, gover-
nal-o.
Quando aos ares defralda a alva Bandeira,
E os Sicambros Marciúes Merovco chama.
Nada os atalha, em disfcrir clamores
De Guerra, e de Affoição. Tanto os admirão
Tri's gerações de Hen^es, regendo o Exercito.
F. MAXOEL DO KASCIMKSTO, OS MARTTRES, 1ÍV. 6.
REGE
REGI
REGI
159
— Os astros regem as leis eternas.
Oh! Feliz Albion, berço, c morada
Do6 Sábios immortacs, que o Mundo assombi-ào,
Tu das Scionoias magcstoso asilo,
Ouve a voz de hum mortal, quo exalta o grande
Alumno teu, que interprete seguro
Foi das eternas leis, que os Astros regem.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Caut. 3.
— Termo antiquado. Manter, susten-
tar, prestar alimentos, assim na saúde,
como na enfei-midade.
Porque discorro, existo; eu sinto dentro
De mun, quo pouso, sensações diversas.
Quando incorpóreo ser dalma contemplo,
Do Supremo Motor vejo huma imagem ;
E não direi, que me sustenta, e rege.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Caut. 1.
— Reger a estante ; fazer officio de
chantre nos coros.
— Dirigir por leis, máximas, costumes
e dictam3s. — -«O que feito, para que os
moradores estrangeiros da cidade a tor-
nassem a pouoar, e se viessem pêra ella,
sem meio, deu Afonso dalbuquerque a
gouernança dos Gentios a Ninachetu, e a
dos mouros a Vtetimutaraja, pêra os jul-
garem, e regerem a cidade per suas leis,
e costumes, reseruando apellaçam, e alça-
da peras justiças dos Reis de Portugal, e
assi se tornou muita gente desta pêra Ma-
laca, saluo os Malaios, porque a estes man-
daua fazer guerra, e matar todos onde
quer que os achauam.» Damiào de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 3, cap. 19.
— Reger um cavallo com o freio ; diri-
gil-o-
— Administrar o reino na minoridade,
ou demência, ou outro impedimento do
rei.
— Reger a mão o Todo ; dirigir a Omni-
potência o universo.
Ou porque o cego Poripato as luzes
Demorava continuo, ou porque ainda
O marcado Período não vinha.
Na activa succossào dos tempos todos,
Que a mão, que o Todo rege. ás Artes marca.
Qual do seio do Nada, a voz do Eteimo
Chama á vida politica os Impérios,
E outra vez aa existência os leva ao Nada.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Caut. 4.
A Terra que te nutre, e que tu pizas,
O ar que teus pulmões dilata, e move,
Inda quando sacrílego conjuras
Contra o Di\'ino Author, que rege o Todo,
Conspirão contra ti : por toda a parte
Te vão mostrando hum Deos. Esta harmonia,
Este da Natu'-eza eterno brado.
Não he, quaes somos u<5s, sujeito a engano.
IDEM, MEDITAÇÃO, cant. 4.
— Absolutamente : Governar, dirigir.
Té agora as bronseas fei-rolhadas portas
De crença, a cuja luz não seja avara
A turba indócil de inconstante Vulgo !
Longe de mim profanos ! Se tu reges.
Se tu mesma, ô Verdade, o Canto animas.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, CaUt. 1.
• — Reger u/na caieira na universida-
de ; ser lente ou substituto d'ella, e fa-
zer as lições.
— -Termo de grammatica. Ter, exigir
para complemento, fallando de um verbo
ou de uma preposição; exigir tal caso
de um nome, tal modo de ura verbo. —
A lyreposicão latina cum rege o ablativo.
— Esta conjuncção rege o subjitnctivo.
— Reger-se, v. reji. Governar-se, diri-
gir-se, guiar-se.
E já que a gentilidade
tanto se regeu, por vós,
mais vem rcgermo-nos nós
que em nós pòz-vos a verdade
(jue ella em si por vós não pôz.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pag. 24.
— « Os Pilotos começaram seu cami-
nho, indo diante de nòs hum bom peda-
ço, leuando sempre o tento, no nasci-
mento do Sol, e pêra onde declinaua, e
lhes licaua a sombra, porque esta era a
agulha, e Norte por onde se regiam, sem
falar hum com o outro, o que deuia ser
por nam perderem o tino de derrota que
leuauam.» Frei Gaspar de S. Bernardi-
no, Itinerário da índia, cap. 16.
REGERAR, v. a. Tornar a gerar. Vid.
Regenerar.
REGESTO, s. m. Termo antiquado. Vid.
Registo, e Bulia.
REGIA, s. /. (Do latim rer/ia). Termo
de poesia. Palácio, paço, ou casa real.
REGIAMENTE, adv'. (De régio, e o
suftixo «mente»). De um modo régio.
— Com magnificência e grandeza de
rei.
REGIÃO, s. f. (Do latim régio). Grande
extensão de paiz. — As regiões ao oeste
do Mississipi, — «Dentro da qual há
três Regioens notáveis, chamadas Gothia,
Suécia, e Noroega, da primeyra das quaes
forào natura es os Godos (tcào celebrados
no Mando, pelas terras que ocuparão e
batalhas que vencerão) da segunda os
Suevos que senhorearão grande parte da
Lusitânia, como adiante veremos.» Mo-
narchia Lusitana, liv. 6, cap. 1. — «Por
tanto lhe pedia como a Emperador de
toda aquella região Malabar, pois Deos a
elle Vasco da Gamma, e aos seus compa-
nheiros tinha feito tãta mercê que fossem
os primeiros que vierão antelle, quisesse
meter a maõ de seu poder neste ódio que
lhe os Mouros tinhaõ.» João de Barros,
Década 1, liv. 4, cap. 9.
Mas antes, valeroso Capitão,
Nos conta, (lhe dizia) diligente.
Da terra tua o clima c regi'io
Do mundo, onde moraea, distinctamente ;
E assi de vossa antigua geração,
E o príncipe do reino tão potente,
Co 'os successos das guerras do começo ;
Que sem sabel-as, sei que são de preço.
CAM., Lcs., cant. 2, est. 109.
Quando os ventos formou, não quiz por certo
Qu"a8 legiões armigeras levassem
A devastar os íncolas tranquillos
Destranha região qu'o mar divide.
J. A. DE MACEDO, NATUBEZA, CaUt. 2.
— A região celeste ; espaço que apre-
senta o céo.
Co'o3 corpos em pedaços, vão buscando
As almas, o logar de gloria, ou pena.
Que conforme ao que nesta vida obrando
Merecerão, lá na outra se lhes ordena.
A Regiào Celeste penetrando
Vai então dos fieis parto pequena,
E de infiéis hum numero infinito
Entra lá no immortal, negro conflicto.
F. d'asdrade, primeiro cerco DE DIU, cant. 10,
est. 98.
— As regiões septemtrionaes' da Hes-
panha; as porções de terra do norte de
Hespanha. — «Após ella, cubertos dos seus
saios de malha, mas sem armas, os solda-
dos de Atanagildo seguem com rosto me-
ianchoiico as mesmas trilhas por onde se
vai escoando a turba, até que, também
como esta, se derramam pelas selvas den-
sas dos montes e pelos barrancos escar-
pados que, retalhando os Nervasios, dão
passagem através delles para as regiões
septemtrionaes da Hespanha.» Alexandre
Herculano, Eurico, cap. 12.
— A região stygia e escura.
Durou esta contenda furiosa
(Tão desigual na gente e na ventura,
Porque muitos da imiga e numerosa
A regiào descerão stigia e esciu-a,
iMas a pouca fiel victoriosa
Toda em salvo ficou, livre e segura)
Até que o mar tornou a entrar no Pio
E fez com que nadar pôde o navio.
P. r>'ANt)RADE, PRIMEIRO CERCO DE DIU, Caut. 11,
est. 39.
— Termo de physica antiga. Alturas,
camadas differentes de atmosphera.
— A baixa região ; aquella que toca a
terra immeJiatamente.
— A media região ; aquella que se sup-
põe começar acima das mais altas mon-
tanhas.
— Região botânica; extensão de terre-
nos caracterisados por uma vegetação par-
ticular, ou pela presença de espécies ve-
getaes predominantes.
— Região dos bosques, das neves ; diz-
se das montanhas, das zonas occupadas
pelos bosques, e pelas neves.
— Fallando de cidades, diz-se do que
por outro nome chamamos bairro.
— Região do fogo; região acima da
do ar.
— ^1 região efherea, ou o ether; a re-
gião superior á do fogo e onde se mo-
viam os astros.
— Diz-se das diversas phases da super-
fície visível da lua.
— Figuradamente: Diz-,se do que se
compara a uma região. — As regiões do
frio. — As regiões da morte.
160
RHdl
UVAll
Rp:or
E, r|tiando mirfço o Sol, nn apapi a r.liaiiiina,
K iiuvnin cari-itgiida »i4 paHiujA f;uia
IVlas inndoiilm» to/iV5m da iiioitu.
SiitVocaiiti! calor tirra nu canijiiinm,
Nem brota u viirdn planta, ou viii;<a o friicto.
j. A. nK MVfKiio, MriiirAfÃo, caiit. i.
T)o Polo o Cidadão d''9triío com n'lii
("iiiim(!riaii BDiiibras do nloii^ada noito,
Qu 'abafa n^ rc/z/W^ do frio, o morto.
IDKM, A NATirUKZÁ, Cailt. 'i.
— ftrnn, ponto a qiio se eleva; íallan-
(lo (la pliilosopliia, ilas yciciicias, ete. —
I'eyiler-si; na região dd h>//)<i(futse. — As
altas regiões ila philiisoithin.
— Termo ilc, aniitoiíiia. Nomo dado ;is
extensões eirouni.<ei-iptas da massa do eor-
po 011 da superlicie dos oriccãos.- — A hai.rn
região. — A região umbilical. -~ A re-
gião craneann,- — ^«Ve, que o craneo se
compõem de outo diversos ossos; o que
nesta Regiaõ tem a sua origem os ner-
vos; como ja doutamente ponderou o
nosso Preclarissimo Menistro da JMonar-
chia Jlcdieo-ryusitaua ; do que naõ faze-
mos aqui menyaõ, por naõ rçpetir o que
ja fica dito.» Hraz I^uiz d'Alireu, Portu-
gal medico, pag, 87, ij 170.
— Trovincia. — A região do Alemteju.
REGICIDA, s. 2 t/en. (Do latim re.«, e
ca'ilerc). i'essoa que matou algum rei.
— Adjectivamento : Alma regicida ; al-
ma disposta ao regicidio.
regicídio, s. )ii. a aeyão de assassinar
um rei.
— Assassinato de um rei,
— < hitros dizem reicidio.
REGICISMO, s. »i. A seita, e doutrina
dos que pensam que a autlioridade e go-
verno dos reis se deve abolir, bem co-
mo devem ser todos extinctos e mortos ;
e por tanto approvam o regicidio. — A
doutrina do regicismo.
1.) REGIDO, pavt. pnss. de Reger. Go-
vernado, dirigido. — «Nam tam soomente
ha do trabalhar e cuidar pêra fazer Hor-
donaçoões o Costituiçoões justas, e san-
tas, e boas, pelas quaees o seu povoo,
que ha de reger, o cujo regimento llie
per DEOS he eomettido, seja bem e di-
reitamente regido o mantheudo em di-
reito e justiça.» Ordenações Affonsinas,
liv. 4, tit. 4, i? l. — «Riquezas d.iui cuv-
dados, e atravessarPio-se-lhe mil desven-
turas que lhe quebrarão o tio do gosto
que parece que tem o tempo : hc azado
pcra se nam azar descanço. A natureza
bem regida pouco ha mister, mas á am-
bição e avareza tudo lhe parece pouco,
6 negam os avarentos a si mesmos o que
ham mister.» D. .Toanna da tiama, Ditos
da Freira, pag. !t.
— C'íi*'<( hem regida ; casa bem gover-
nada.
— ITomem bem, ou mal regido ; homem
bem ou mal governado. ^
— Cidade regida j>or communidade, —
« E por que esta cidade era regida per
communidade do que dftna doze M(mro«
eraò a» piiiicipacH eabeceiras do gouerno
delia, naò Honiente resgatarão Huas pes-
soas e hiima rlostas naou tomadas, dizen-
do ser liaqucjla sua cidade.» Barros, Dé-
cada I, liv. 7, ca)). 4.
:.'.) REGIDO, X. m. Termo aitiquado.
Vid. Resíduo.
REGIFUGIO, s. m. íDo latim rr.fjlfa-
f/iuiii). I'"esta que se celebra em Houia em
niemori.i da fuga dos reis, por outro no-
m<' eliMni;id;i fiKjiiliití.
REGIMEN, ouREGIME, s. m. (Do latim
reijimeii). Acç.uo de governar, de reger,
de dirigir.
— l\Io:lo de governar, de administrar
um estalo. — Regime despótico.
— Regime n-jireurtitativo ; governo em
que 08 representantes fia naçào tomam
parte no jwder legislativo.
— Administração de certos estabeleci-
mentos públicos e das casas religiosas. —
<i regime das prisòes, dos hospitaes. —
Regime ptnite,uciario.
— Regime Kanitarin- eonjuncto das me-
didas e regulamentos (pie tom jior objecto
prevenir o desenvolvimento e impedir a
propagaç."io das doenças re])utadas ])esti-
lenciaes, principalmente a peste do < )rien-
te, a, febre ainarella, e a cholera-niorbus.
— Termo de jurisprudência. Regime
dotal : aquelle, sob o qual os bens trazi-
dos pela mulher podem ser constituídos
como inalienáveis pelo contracto. — Re-
gime da communhão ; aquelle que gover-
na a sociedade conjugal em connnunhào
de bens. — Casar-se sob o regime ilotal ;
sob o regime da coninuinh.ão.
— Regime hypotlwxario ; o eonjuncto
das leis relativas ás hypotheeas.
— Uso provado e methodico dos ali-
mentos e de todas as cousas essenciaes A
vida, tanto no estado de saúde, como no
de doença.
— -Termo de graniniatica. Dependên-
cia de um nome ou de um pronome, em
rclaçiio a uma outra palavra da mesma
phrase. — De todos os substantivos só lia
os pronomes que podem repularmeute pre-
ceder o verbo de que sào o regime sim-
ples.
— Regime directo: regime no qual re-
calie immediatamente a acç.ão do verbo.
Ku leio um livro, livro <; o regime di-
recto.
— Regime indirecto; aquelle sobre o
qual a acçào do verbo nào recaho dife-
ctamente, isto é, necessita do uma pre-
posiç.MÍo, ou de um caso idêntico a essa
preposiçito. — Dou um livro a I^edro, Pe-
dro «' o regime indirecto.
— Regime simples; aquelle que é re-
presentado si'i p(u- uma palavra.
— Regime composto; aquelle que é re-
presentado por muitas palavras.
— Modo como se faz o escoamento da
agua corrente, — Os cursos d' agua de
regime uniforme.
REGIMENTAL, a^j. 2 fjen. T.-i-mo de
niiliei.i. <,|iie, ,!i/, respeito a.> reginient<j,
— Ilu.-pliol regimental,
REGIMENTO, «. m. ('orjx) de gente do
guerra, composto de muitos liatalhòeii, ou
esquadrões, sub iividirlo* cm comjianhiaJS,
e cujo clicfi! se chama coronel. — Regi-
mento de. iiijaiitfria, de ravatlaria, de
arlil/ieria. — « K-tes ^'apitaetis n: foraò
lofro endiarcjir, e o ('a|)it.iõ D, 1'edro da
Silva lhos deu hum regimento «errado, e
no Hobree.scri|)to de fira lhes dizia € que
abrissem aquelle tanto qiio fossem f'>ra
dos Estreito», e que fizessem o que nelle
lhes nuindava » : e embarcados todos de-
raò as velas.» Diogo de Couto, Década
<), liv. !t, cap, ÍJ, — f Que as entra/las
que se fizciem ao sorteio, as façam «•'»-
mente pesso.as ecelesia-ticiís, como vossa
magestade tem ordenado aos oapitScs-
nn'ii-es, sob pena de caso maior em seus
regimentos, e que os religiosos que fize-
rem as ditas entradas, sejam os mesmos
que administrem os iudios em sua.*» al-
deãs. Porque sendo da mesma sujeiç.lo e
doutrina, melhor os obedecerão e respei-
tarPio, e ir.MO com elles mais seguros de
alguma rebelli.ào ou traiç.ío.» Padre An-
tónio Vieira, Cartas, cap, 1.3 íediç. de
1587).
— Governo, direcçHo. — «Sabeíe, que
nós querendo manteer, e governar em
boa hordcnança, segundo somoa theudo
jior bem ile nosso povoo, e por bíK) re-
gimento, e esguardando como em algu-
mas \'illas, e Lugares dos nosãos Reguos,
e Senhorio alguns moradores delles fa-
zem Cartas em nome ilos Concelhos das
Villas, em que som moradores.» Ord.
Affons., liv, 4, tit. 24, § 1. — € Pêro Cor-
rêa filho de dom frei Payo Corrêa bailio
da ordem de S. Io3o, e Diogo Corrêa seu
irm.no. E alem de.«tas cinco velas que
com elle auião de ficar, Aflbnso d'Albo-
querquc lhe auia de mandar outras, em
que ctrau.^o nauios de remo pela ordem
que clKey maudaua em seu regimento.»
Harros, Década 2, liv. 3, cap. 1. — «Por
quanto além de pôr ora libeniade hum
vassallo d'Ell{ey seu Senhor, como era
ElKev de (.>rnuiz, huma das cousas que
lhe mandava em seu regimento era, que
favorecesse todolos Rcys, e Príncipes da-
quellas partes, que sua amizade quizr>-
sem ter, e n.^io consentisse que Ike fo.-- ■
feita traição pehis seus naturaes, ntin
aggravo dos vizinhos, e que pêra isto
quando cumprisse se oppuzesse com toda
su.i gente em armas.» Idem, Década 2,
liv, 10, cap, :t. — «Item. Jlandou que se
acabasse ho Spritral de Lisboa da inu<v
CAçam de todolos Sanctos, na maneira,
que era c<unev.'ido, encomendandolhc, que
lio gouerno. ordem, e regimento delle
fosse ho que se tirha ertam no Sprita!
de Florença, c que todolos Spritaes de
Lisboa se conuertessem a este com todaa
suas rendas, propriedades, e cousas, do
REGI
REGI
REGI
IGl
modo que lho ho Sancto Padre tinha ou-
torgado per Bulia Apostólica, que disso
tiuba.» Damião de Gocs, Chronica de D.
Manoel, part. 1, cap. 1. — «Pedindo-lhe
de parte dos Reis, que por seruiço de Deos
quisesse poer boa ordem, e regimento na
gouernança do Ecclesiastieo, e nos mãos
costumes, ' e viços em que ha corte de
Roma estaua habituada, por falta de cas-
tigo, emmenda, e punição que hos taes
viços, tanto pelas leis humanas, quomo
diuinas mereciao.» Ihidem, cap. 33. — •
«Da dita villa Darronches entrou el Rey
em Castella com cinco mil e seiscentos
homens de cauailo, e catorze mil de pé,
e todos bem armados, afora ha carrua-
je.m que era muvta. E o Príncipe fov
cora eile falando na maneira que auia de
ter no regimento do Reyno, e em outras
muytas cousas, até o lugar de Pedra boa.»
Garcia de Rezende, Chronica de D. João
11, cap. 9.
— Forma do governo.
— Termo antiquado. Reinado, gover-
no, administração do estado.
— Norma, ou directório, em que se
declaram as obrigações do cargo, officio,
ou commissão. — O regimento dos capi-
tães, dos deseniòargadores, etc. — «E pê-
ra que se milhor fezessem as cousas que
leuaua por regimento, e mais facilmente
se emposasse da cidade, antes que par-
tisse du regno, screveo el Rei a Garcia
de Mello que andaua darmada no estrei-
to, que se fosse a Çafim pêra o ajudar
em tudo o que lhe fosse necessário, Gar-
cia de Mello, posto que entam estiuesse
muito doente, e quasi desesperado dos
médicos. u Damião de Góes, Chronica de
D. Manoel, part. 2, cap. 18. — «A quem
lior vil- prouida. da capitania do mar da
índia entregaria a frota que lhe deixa-
ua, o que concluído, dandolhe regimento
do que auia de fazer, partio de Chaul,
aos vinte, e sete do mes de Dezembro
deste anno de M. D, xxi.» Ibidem, part.
4, cap. 73.
— Procedimento prudencial, ou moral,
conducta, governo. — «E dahv foy ter
junto com Ledesma, que seudo contraria
deu ao arrayal por dinheyro mantimen-
tos, e prouisões. E dahy por suas jorna-
das foy com sua gente tão concertada, e
em tanta ordem e regimento, que nunca
ninguém ousou de o acometer.» Garcia
de Rezende, Chronica de D. João II, cap.
12. — • «As quaes se fizerào em huma
sala grande dos paços, com nuiyto gran-
de solemniilade, ordem, regimento, com
muyto ricos concertos, tudo em muvto
grande perfeição. El Rey em alto estra-
do, e sua cadeira Real com dorsel de bro-
cado, e elle vestido de opa roçagante de
tclla douro forrada de ricas martas com
o ceptro na mào.» Ibidem, cap. 20.
porto o. tracto nào ha tal
- lia terra nou tem ygual
VOL. V. — 21.
nos fructos, nos mantimentos,
goucrno, bons rerjimeiítos
lhe fallescc, e nou ai.
IDEM, MISCELLANEA.
— Administração. •
— Regimento da guerra. — «E confór-
ao seu titulo, que esta no Regimento da
guerra; a elle dà ElRey as ordens do
que se deve fazer no Exercito, e elle as
cumette ao j\Iarichal para que as execu-
te, e a elle pertence fazer os Coudeis dos
Besteiros, e dos homens de pè, cada hum
com 30. soldados.» Severim de Faria,
Noticias de Portugal, Disc. 2, § 2. —
«Como o Coudel Mòr por o Regimento
da guerra ficava capitaneando a gente de
cavallo ; depois se veio a encarregar ao
Coudel Mòr a execução das leys, que se
fizeraõ para conservar as boas raças dos
cavallos do Reyno, como adiante vere-
mos.» Ibidem, § õ.
— Regulamento, ordem. — «Pêra mòr
segurança dos lugares marítimos manda-
va o Regimento, que tanto que chegasse
qualquer Xavio Estrangeiro, o Alcaide
pequeno, e seu Escrivão fossem a elle, e
escrevessem as armas, que trazia.» Ibi-
dem, § 12. — «Neste Regimento mandou,
que todos os Navios Portugueses, que par-
tissem deste Reyno, ou de suas Conquis-
tas, ao commercio, fossem armados de ar-
mas, e de gente para sua defensão.» Ibi-
dem, § 16.
— Instrucções escriptas, ordens, man-
dados. — «E depois de passarem algumas
palavras desviadas do propósito, o duque
começou de dizer. Esforçado príncipe,
porque cuido que vos é notório o regi-
mento que Sardamanto nosso rei deixou
acerca do casamento da princeza Liouar-
da, nossa natural senhora e sua neta, se-
rá escusado trazer-vol-o á memoria.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 101. — «E que a lhe descu-
brir o que passava em verdade, elle o
achava rebel aos regimentos, e manda-
dos do Hidalcão, a qual cousa elle dissi-
mulava té saber delle Diogo Mendes o
que lhe determinava sobre o negocio des-
ta paz, que lhe o Hidalcão mandava di-
zer.» Barros, Década 2, liv. tí, cap. 9.
— «E quanto ao modo que se ha de ter
na entrega disto, que peço se fará pela
forma do regimento que Siribicão meu
Embaixador te mostrará, e não o fazen-
do assi, conforme ao que por ley de jus-
tiça te peço, me ey por declarado comti-
go por parte desta senhora, á qual por
dote me obriguey com juramento solem-
ne a defender a causa de seu desempa-
ro.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 31. — «Nesta prisaò ha conti-
nuamente, por regimento dei Rey, tre-
zentos mil homens, de dezassete annos
até cinquenta, de que nós recebemos ta-
manho espanto, quanto nenhuma cousa
tão nova e tão desacustumada se reque-
ria.» Ibidem, cap. 108. — «E marchado
com esta ordenança, chegou ja quasi á
véspera a huma cidade que se chamava
Guijampee, a qual achou de todo despe-
jada, e como a gente repousou huma ho-
ra e meya, que era o que tinha por re-
gimento, se levantou daly o campo, e tor-
nou a marchar com passo cheyo, e se foy
alojar ao pé de huma grande serra que
se dezia Liampeu, donde também se aba-
lou logo no quarto dalua.» Ibidem, cap.
123. — «E despois de sermos fora delles
inda que com trabalho, vellejamos por
nossa derrota até as ilhas de Pullo Çam-
bilão, onde me mety numa manchua bem
esquipada que levava, e navegando sempre
nella por espaço de mais de doze dias, cõ-
forme ao regimento que levava de Pêro de
Faria, espiey toda a costa deste Malayo,
que saõ cento e trinta legoas até Junça-
lão.» Ibidem, cap. 144. — «Daquy desta
paragem vellejamos por nossa derrota
mais quatro dias em que prouve a nosso
Senhor que huma menham nos achamos
entre cinco nãos Portuguesas que hião
de Bengala para Malaca, ás quais todas
mostrey o regimento que levava de Pêro
de Faria, e lhes fiz requerimento que fos-
sem todas juntas por causa da armada
dos Aachès que andava na costa.» Ibi-
dem, cap. 147. — «E el Rey deu ao dito
Bemohi de socorro, e ajuda, vinte cara-
uellas armadas, e por capitão mor delias
Pêro Vaz da Cunha, que leuaua por re-
gimento de fazer huma fortaleza na en-
trada do rio de Cenaga, a qual auia de
estar sempre por el Rey.» Garcia de Re-
zende, Chronica de D. João II, cap, 78.
— «Partido António da .Silveira de Goa
com a Armada, entrou na enceada de
Cambaya pêra fazer toda a guerra que
pudesse áquelle Reyno, como levava por
regimento.» Diogo de Couto, Década 4,
liv. 6, cap. 9.- — «Isto estimou o Gover-
nador muito, e deu por regimento a D.
Jorge de Castro «que tanto que acabasse
as cousas de Ceitavaca, passasse ao Rei-
no de Candea, e castigasse aquelle Rey,
pela traição de que usou cora António
Moniz Barreto.» Idem, Década G, liv. 8,
cap. 4. — «Depois da fortaleza de Catifa
ser posta por terra, e arrazada, não ha-
vendo alli mais que fazer, determinou D.
Antaõ de Noronha passar a Baçorà, co-
mo levava por regimento pêra favorecer
aquelle Rey que esperava por elle pêra
com 03 da sua liga cometer aquella for-
taleza.» Ibidem, liv. 9, cap. 13. — «Da-
da a vela foraõ correndo a costa de Ará-
bia, e chegando à fortaleza de Dofar,
surgiu com toda a Armada, porque leva-
va D. Fernando por regimento de seu
pay «que lançasse delia os Fartaquins,
que se tornarão a meter dentro.» Ibi-
dem, liv. 10, cap. 18. — «No regimento
quo el Rei deu a pedralures Cabral, hora
dos pontos mais substanciaes era, que tra-
balhasse muito pela amiaade dei Rei de
162
IIKCI
REGI
l{K(iI
Calecut, porquo sua vontailc era fazer
huma fortaleza naquolla CMa-le, ondo
HCU8 naturacs, o officiaua cstiuossetn se-
guros dos da terra, o mouros, e podessem
fazer as cousas quo comprissem a «eu
Bcruiço. » DaniiJo de (Joos, Chronica de
D. Manoel, part. 1, cap. 54. — «1'roueo
a Se fii' pessoas muito edoneas, o do lio-
mons virtuosos o letrados, o assi touc mui-
to bom Cabido, o que muito bem fazia
seu officio, c o ajudaua, e assi traballiou
do proucr sempre todos os mais dos bc-
ncficios quo prouco, c a Se de todo ne-
cessário, e do muitos regimentos pcra os
officios diuiuos se fazoreiíi ncllc eomo
compria.» Ibidem, ])art. .">, cap. 27. —
nlla hum regimento naquelle despacho,
quo fiquem as eapas dos fardos, que so
abrem, para os offieiaes, que assistem a
estas vóstorias : abrirão os escritórios até
a ultima gaveta, e dados por livres, lan-
çar/lo màos dos godrins ehamandolhes ca-
pas, c com elles se ficarào, que bem va-
iiilo vinte mil reis.» Arte de furtar, cap.
V)ii. — «E deu comprido Regimento aos
Offieiaes do Armaria para a eoiiservai,aõ
da Nobreza, e armas das Eamilias, de
modo que uaò houvesse mais a confusão
antiga.» Severim de Faria, Noticias de
Portugal, Disc. 3, § 18. — «A Capitay-
na nossa Senhora de Betanchor Capitito
j\Iòr Brás Telles de Menezes, e a nào
Sam lacinto Capitão Poro da Sylua de
Menezes, dos quaes o ViceRey se yeyo
despedir a bordo delias, mandando dar a
cada hum, o Regimento, e ordem confor-
me à que sua Magestadc lhe tinha dado,
e aos Fillotos, e OtTiciaes das nàos apres-
tar todas as cousas necessárias, como era
fazer aparelhos lestes, cortar as amarras,
desfraldar velas.» Fr. (!aspar de S. lier-
nardino. Itinerário da índia, cap. 1.
— Termo de medicina. Uieta.
— Guardar o regimento; observal-o.
— Dias da regimento ; dias de conva-
lo8cen^'a dos doentes, das paridas, etc.
Vid. Resguardo.
— Figurada e popularmente : Grande
numero, multidão. — Esta senhora tem
ttin regimento de filhos.
— Termo de grammatica. Vid. Regên-
cia.
REGINAL, adj, 2 gen. e s. Original,
exemplar de escriptura, feito pelo mes-
mo notário ou escrivão, o dado a uma
das partes, que nella tiguram eomo con-
tratantes, e interessadas, firmado com os
sellos, ou sinaes, segundo os logarcs,
tempos c costumes.
— Vid. Original.
RÉGIO, A, adj. ^Do latim regius). Real,
de rei. — Carta regia.
Muda de aspecto n inisora, c 8'espauta:
O Roi contemphi o Coo de fogo armado,
Qu' 03 raios vibra, porqu' a loi (\ucbniuta,
Que nega á. ReffUi esposa o Rogio estado :
Do Throiio oiitão trcmeudo ao lovauta,
Como da inortc horrífica assaltado •,
Maia BC condoiisa a sombra escura, e fea,
O Coo fuzila, a torra balaiicea.
j. A. DF. MACF.Do, O ouiENrK, caiit. 5, est. 48.
S(>rá iiiiiior teu Ilodiicy. ou teu Nelson?
Nem ti'u MoiiUe lur maior, ne o Sccptro onjcifci.
Firmando o Diadouia em Uryia fronte.
lUKM, viAOKu kxtatica, cant. 2.
— Aíjua regia ; agua forte com sal am-
moniaco; menstruo que dissolvo o ouro,
etc. Vid. Agua.
— Acto régio; antes da reforma da
Universidade, era um dos dons que fa-
ziam os lieenciados em incdieina.
REGIONAL, adj. 2 fjm. (Do latim re-
(lionnlh, de rcgio). Que pertence a uma
regirio. — Doriirns regionaes.
— De um bairro da cidade.
REGIONARIO, A, <idj.. WA. Regional.
REGIRAR, uu REGYRAR, v. a. (Do la-
tim rcijip-avei. Fazer mover em giros.
— Kegirar letras de cambio; fazer tor-
nar aos primeiros passadores, talvez com
fraude por se retardar o pagamento, ou
a outros saccados, com o mesmo mau in-
tuito.
— Regirar-se, v, rejl. Mover-se para
todos os rumos, correr todos os rumos de
entorno, ;l maneira do tufão que venta
instantaneamente em todas as direcções
da agulha. \'id. Tufão.
REGIRO, ou REGYRO, s. m. Segando
giro.
— Regiro de cambio; vid. Regirar.
— Figuradamente : Rodeio, eireumlo-
quio, ambagens. — Regiro de aríjumentos .
REGISTADAMENTE, adv. De um modo
registado.
— Parcamente, ou parcimonia, frugal-
mente.
— Rcgradamente, economicamente.
REGISTADO, part. pass. de Registar.
Vid. Registrado.
— Regido, dirigido, governado.
— Figuradamente : Regrado, tempera-
do, moderado. Vid. Regrado.
— Posto em eseripto; memorado.
REGISTAR, r. a. Vid. Registrar. — «E
nom embargante, que estiis Cart<as assy
passassem pelos Corregedores, mandamos-
vos que façaes registar, c assentar esta
Carta toda de verbo a verbo em o Nosso
Livro da Chancellaria pêra mais seer de-
vulgado, e poblieailo esto, que assy hor-
denamos, e Mandamos, como dito he.»
Orden. Affons., liv. 2, tit. 30, § 6.
Que Icvaes ?
Que levo não sei.
Negaes ?
São camarões do Tcrul.
Pois porque os luio rc</Utaeíf
ANTOXIO PRESTES, AUTOS, pag. SO.
— • Termo do náutica. Exaniinar, lan-
çar por eseripto nos livro dos registos,
combinar se está uniforme a matricula
do navio com o estado effectivo da sua
tripula<;.^((.
REGISTO. «. »/i. Vi.l. Resisto, <■ Regis-
tro. < "pia, tranlado de papel registrado.
— «Este auto se fez logo, e hoje está o
próprio, em que todiui as pessoas nomea-
das se assinarão em hum livro dou re-
gistos da fazetida dos Contos de < loa,
donde o nós tiramos, e trasladámos. E
certo ípie assim devia de andar e»crit<>
nos ânimos de tudos os (Jovernadore», e
\'isoreis da índia. • Diogo do Couto, Dé-
cada O, liv. (j, cap. V.
Ksto leva este rf^iin,
de Hanto vos dá no goto,
faz lá das ermidas quintas,
fez um orago devoto,
em que cstl conip minhoto
convertendo orfíios em pintas.
ANTÓNIO PRE.STFJ, ACTOS, pag. 14.3.
Moço, isto o que quer ser?
teu senhor não vem, que é isto ?
Meu senhor é mui previsto,
nunca o pudo bom fazer ;
puzera-lhe cUa ura rrj/islo
e soubera já de côr
onde vac c a quantas folhas.
IBIDEB, p.Tg. 315.
— Dar fio registo ; manifestar qual-
quer cousa que deve passar por alfande-
ga, ou casa de officio onde se deve ma-
nifestar.
— Termo de marinha. Embarcação ou
fortaleza (jue nas eptradas ou »ihidas
dos portos se acham incumbidas de regis-
tar as embarcações, manifestar qualquer
objecto que tenha de passar pela alfan-
dega, ou casa de officio onde deve mani-
festar-se.
— Memorial. — Eis o registo d^is que
prestaram serviços á pátria. Vid. Regis-
tro.
REGISTRADO, j>art. jtass. de Registrar.
Vid. Registado. — «levantando mil fal-
sos testemunhos ao regimento, ,que na
verdade só as capas de couro, e lona lhes
concede, e n.lo o mais, que vem regis-
trado, como fazenda.» Arte de furtar,
cap. rt'ò.
— Pcupado.
REGISTRADOR, s. m. Homem que re-
gistra ou lança por eseripto alguma cou- ■
sa no livro dos registros, como ha na ■
cúria romana.- *
REGISTRAR, v. a. (Do latim registra-
rei. Lançar jior eseripto no livro dos re-
gistros quaesquer cartas, cédulas, alva-
rás, bilhetes, conhecimentos quo devem
ser registrado*.
— Mostrar, dar ao registro, manifes-
tar cousa que n.ào entre sem ir a certas
casas.
— Manifestar, lealdar na aduana, e
casas de arrecadaç.^io de impostos.
— IVt em memoria por eseripto, his-
toriaudo.
REGI
KEGN
REGN
163
— ]Marcar o livi-o com registro.
— Figuradamente : Moderar, regular.
— Dirigir, governar, gerir convenien-
temente.
— Vêr, examinar.
— Consultar, tratar.
REGISTRO, s. m. i Do latim registrum).
O livro em que se inscrevem os actos, os
afazeres de cada dia. — Os registros do
estado civil.
— O livi-o em que se lança por escri-
pto, e faz memoria de mercadorias, ou
fazendas que entram ou sahem. — O li-
vro lios registros. — «Fez ainda Gomez
eanes outra obra no tombo deste Reyno
que alumiou muito as cousas delle, que
foraõ os livros dos registros, recopilando
em certos volumes as forças de muita
scriptui'a que andaua solta, começando
em elRey dom Pedro te elRey dõ loaõ
de gloriosa memoria.» João de Barros,
Década 1, liv. 2, cap. 2.
— Figuradamente : A casa onde se
examina e registra.
— Escriptura d'onde consta que se re-
gistrou nos livi'03 próprios a mercadoria
que se saeca, exporta ou importa.
— Exame feito nas casas da alfandega
ou do registro.
— Figuradamente : Qualquer exame.
— A acção de registrar ou lançar por
escripto.
— Registro na ãespeza ; bom governo
do que poupa.
— Conta, tento e parcimonia, boa
economia e regra.
— Registro do livro; peça de iita
pregada á mai-gem da folha para se
abrir onde está o registro ; talvez se mar-
ca o livro com a imagem de algum santo
pintado em papel, ou pergaminho, cuja
imagem se chama por isto um registro,
ou resisto.
— Registros no órgão ; peças, que fe-
chando-se, ou embebendo-se no seu vão,
ou tirando-se fora, tapam ou abrem a
passagem a certas vozes que se imitam ;
ou tornam a voz mais forte, ou mais pia-
na.
— Figuradamente: Tocar todos os re-
gistros ; faliar em tudo, e em todos os
sons, ou tons.
— A chave da bica, ou torneira de
bronze das fontes.
— Termo de impressão. A correspon-
dência das regras de uma pagina com as
outras, que lhe ficam nas costas,
— Peça dos pianos ou cravos, que ser-
ve para que os sonâ saiam mais ou me-
nos fortes.
— Figuradamente : Tocar nos regis-
tros ; faliar a propósito, acertar no que
diz.
— Registro do açude ; a taboa que se
tira e põe para dar passada á levada, ou
agua ; ao que no império do Brazil cha-
mam porta da agua.
— Vid. Registo, e Resisto.
f REGLADO, íxícf. pass. de Reglar.
Vid. Regrado, e Regulado.
em jogos muy temperado,
em comer muyto reglado,
bom salado, bem regido,
muy sotil, Icido, sabido,
humano, muy anisado.
GABCI.i DE BEZENDE, MISCELL.\2iE.\.
7 REGLAR, i-. a. Vid. Regrar, e Re-
gular.
■j- REGNADO, part. pass. de Regnar.
Vid. Reinado.
— íjubstautivamente: O seu regnado.
^ id. Reinado. — «Esta foi a mor perda
de gente, e munições de guerra que el
Rei dom Emanuel ouue em todo ho tem-
po de seu regnado, ha qual noua lhe foi
dada em Lisboa.» Damião de Góes, Chro-
nica de D. Manoel, part. 3, cap. 76.
REGNANTE, part. act. de Reguar. Ter-
mo antiquado. Vid. Reinante.
REGNAR, V. a. Termo antiquado. Vid.
Reinar. — «Que aas ditas Cidades, Vil-
las, ou Lugares perteencerem, assv de
rendas, como de direitos, como de privi-
légios, que lhes perteencerem, como de
sentenças, e mereces, e graças, que ouve-
rom, ou ouverem daqui em diante, e to-
dalas outras cousas, que aas ditas Cida-
des, Villas, e Concelhos perteencerem, e
as asseentem em o dito livro per esta
guisa, veendo o tempo, em que cada hum
dos Reyx nossos antecessores regnai'aõ,
e as mercees, e graças, e privilégios, que
de cada hum delles ouverom.» Ordenações
Afonsinas, liv. 4, tit. 24, § 3. — «Em
que começou a regnar, proueo em muita
abastança todolos lugares dalém, assi de
mantimentos, quomo de gente de pè, de
cauallo, artelharia, e outras munições,
acrecentando hos ordenados, soldos, e
mantimentos, aos capitães, adais e outros
officiaes, e assi aos moradores, e outra
gente de guerra.» Damião de Góes, Chro-
nica de D. Manoel, part. 1, cap. 11. —
«Foi casado com donna Guiomar Conti-
nha, filha de dom Francisco Coutinho,
conde de Marialva, e da Condessa de
Loulé sua mulher, o qual casamento se
tratou, e capitulou em vida dei Rei seu
pai, e do Conde, mas por elle ser ainda
entaõ muito moço se naõ consumio o ma-
trimonio, senão depois da morte delles am-
bos, regnando ja el Rei dom loaõ seu ir-
mão.» Idem, Ibidem, part. 2, cap. 19. —
«O que querendo saber lhe foi dito pelos
da terra, que alli ouuera o grande Hercu-
les duas batalhas com o Rei que entam re-
gnaua, em que Hercules fora desbaratado,
e lhe mataram toda a gente de guerra
que consigo tinha, e que por memoria se
poseram aquellas cabeceiras, o que parece
concordar com Heródoto, que diz, que
Hercules escapou da índia de todo desba-
ratado.» Idem, Ibidem, part. 2, cap. 38.
— «Para mais a sua vontade tyranniza-
rem tudo ellegerem muito moços, e co-
mo estes regnauam cinco, seis meses, ou
hum anno ao mais os cegauam, pondoos
todos em boa guarda por lhos naõ furta-
rem, e assi cegos lhes dauam tudo o que
lhes era necessário, da renda do regno.»
Idem, Ibidem, part. 3, cap. 80. — «O
qual morto fez Raix xarafo, Rei Dormuz
Patxa mahametsa filha do çafardim, que
regnaua em Ormuz ha primeira vez que
la foi Afonso dalbuquerque, e assim ficou
Raiz xarafo alguns dias no gouerno do
regno, com mais licença e liberdade do
que o dantes fazia.» Idem, Ibidem, part.
4, cap. 80.
REGNATIVO, A, adj. Que respeita ao
reinar.
REGNO, Í-. m. Termo antiquado. Vid.
Reino. — «As cartas, perque se daô Es-
cripvaães aos Chancelleres, e Escripvaães
das Correições por mercees, que Xós que-
remos fazer. H.a de dar todas as Cartas
de Escripvaninhas de todo o Regno, de
que nós fazemos merece, com que os Es-
c»pvaães nom ham nosso mantimento, ca
onde os Escripvaães ham mantimento nos-
so, em tal caso as Cartas devem passar
pelos Veedores da Fazenda.» Ord. Affons.,
liv. 1, tit. 2, § 9. — «Ao seu officio per-
teence de teer cadea, e Ouvidores, e Al-
quaides, e Meirinhos, Poi-teiros, e Escri-
pvaaens, e seu officiaaes em todolos luga-
res dos nossos Regnos, onde houver ho-
mens de Vintenas do mar, que os Ouvi-
dores, e Alquaides do dito Almirante ou-
çam, e livrem todos os feitos dos sobredi-
tos.» Ibidem, liv. 1, tit. õ4, § 19. — «A
saber, que os Juizes, e Vereadores, e ou-
tros officiaaes sejam enlegidos pelos ho-
mens boõs dos lugares, assy como ataaqui
forom, e he contbeudo nas Hordenaçoões
do Regno sobre ello feitas.» Ibidem, liv.
2, tit. 40, § 3. — «Sabede, que alguns
de meu Regno xe me queixarem, que per-
dem suas aves, e aquelles que as acham
amooram-nas, e escondem-nas e alguns as
fuitam, de guisa que as nom podem aver
seus donos.» Ibidem, liv. 5, tit. 54, § 1.
— «Outro sy os ditos ilercadores Estran-
geiros trazendo panos, ou outras merca-
darias de fora de nossos Regnos, e des-
carregando no dito nosso Regno do Al-
gai-ve, quando venderem os ditos panos,
e mercadorias no dito Regno, que possam
vender os ditos panos em grós, e a peças
inteiras, pela guisa que suso dito he, e
mandamos que as vendam na Cidade de
Lixboa.» Ibidem, liv. 4, tit. 4, § 15. —
«E por quanto a Nós he dito, que das
faquas, que vem a esta Cidade de Lis-
boa, e a alguns outros lugares do nosso
Regno, de Imgraterra, e Irlanda, alguns
as querem comprar pêra as levarem fora
de nossos Regnos, de que nos naõ praz.»
Ibidem, tit. 5, § 1. — «E aquelle nosso
irmão, que nossa sobcessão indiuidamente,
e contra justiça nos occupaua, posto em
armas com numero infindo de gente, e
apoderado de todo nosso regno, e senho»
164
REGN
REGO
ui:(;o
rio.» Damijlo de Góes, Chronica de D. Ma-
noel, ]),irt. ;5, cap. 3H. — «Ah.sí creo que
Bíiin i'oilro lu! jioilni da lei, a (|iuil lei lie
cditicada sobolo.s Troplietas, fiiinlanii^nti),
e cabeça da Jfírcja (Jatholica, Oriental, e
Occidental, onde se conhece o nomo de
nosso Seidior Icsii Cliristo do cuja E^ijreja
sain Podro Apostolo tem o poder, e as
chaues do regno do Coo, com <iiie pode
abrir, o fccliar, ligar, o deslif(ar. » Ibidem,
cap. ()0. — «Fez lei per que deuassim to-
dolos lidalfcos cavaleiros, e scudeiros do
regno pêra pagarem jugada, o que dantes
liam pagauam elles, nem seus parceiros,
ordenou que todalas sesmarias que eram
dadas com alguma obrigaram do foro
pêra coroa o naõ pagassem os que traziam
estas sesmarias foreiras por assi iicarem
obrigadas a pagarem jugada do que no
aproveitado delias semeassem.» Ibidem,
£art. 1, cap. 80. — «Dauid amado de
>cos, eohimna da Fé, do sangue da Stir-
po de ludà, fillio do Dauid, tillio de 8a-
íamão, tillio da cokimna iSyon, filho .da
semente do lacob, tilho da mam de JLa-
ria, tilho de Nau per carne, Emperador
da grande, c alta Ethlopia, de todos seus
grandes regnos e prouincias, Rei de Xoa,
do Cafate, de Fatigar, de Augotc de Ba-
ru, de Baaliganzi, do Adea, de Vangue,
de Gojane.» Ibidem, part. 3, cap. (52. —
«Depois da morte de Afonso dalbuquer-
quo chegou à índia Afonso lopez da cos-
ta, que cl Roi dom Emanuel despachara
do regno na fim- do mes Dabril com car-
tas per elle, porque lhe escreuia que es-
taua arrependido de o mandar vir, que
se fosse sua vontade podia ficar na índia
em qualquer fortaleza das que quizesse,
isscnto de Lobo soarez, c que na sua
vagante lhe mandaria a gouernança da
Índia, com titulo de Vicerei.» Ibidem,
cap. 80. — «Donde dalli a poucos dias
partio dom Garcia de Noronha com as
nãos que tornaram pêra o regno, de que
erão capitães elle de huma, c das outras
quatro dom loam deça, George de mello
pereira. Fero mascarenhas, e Francisco
nogueira, que todos vieram ha saluamen-
to. » Ibidem, part. 4, cap. 2. — «Era ho-
mem nobre, e de que ei Rei ^Vnrrique de
Inglaterra fez tanto caso, que lhe deu a
«ipitania de Cales, que era huma das
cousas de mor confiança do quantas na-
quelle regno auia de sua calidade, o qual
cu conheci, e fomos amigos, c sua amiza-
de me aproueitou pêra negócios que tra-
tei em Inglaterra do scruiço dei Rei dom
loam terceiro.» Ibidem, cap. 20. — «O
qual lhe mandou, de muita, e boa gente,
entre os quaes foi Gonçalo mendoz çaco-
to, hum dos bons, e esforçados caualeiros
que do seu tempo ouue nestes regnos, c
porque estas nouas nam sairaõ certas.
Gonçalo mendez çacoto depois dcstar al-
guns dias em çafim, pedio licença a dom
Nuno pêra se tornar ao regno.» Ibidem,
cap. 23, — «O qual Poro Cíirualho foi de-
pois guardaroupa dei Rei dom loaíS ter-
ceiro, c ])rouodor mor das obras -do re-
gno, a porta tinha (iaspar gonçaluez de
riba fria, porteiro da camará dol Rei,
que despois em tempo do mesmo Rei dom
loito torcuiro voo a ser alcaide mor da
villa de Sintra de juro.» Ibidem, cap.
;«4. — a Em que o parecer djjl Rei, do
Duque, e do Cnnde foi que nam mandas-
sem chamar Femam de magalhíles, por
nam dar ocasiam de outros fazerem o
mesmo, mas o bispo dixe que seu pare-
cer era, que o mandasse cl Rei chamar,
c lhe fizesse meree, ou o mandasse ma-
tar, porque o negocio que começaua ora
muito prejudicial ao regno.» Ibidem, cap.
37. — «Jlas passando por esta obrigação
começarei de tratar da que todos tOmos a
Fornam lopez Chronista destes regnos, e
guarda mor da Torre do Tombo, escriuão
da puridade que fui do Infante dom Fer-
nando que inorreo captiuo em Fez.» Ibi-
dem, cap. 38. — oDondo se veo ao Re-
gno a lhe dar a relaçam do que passara
nesta viagem, aho qual, em chegando,
deu el Rei ha Capitania das gales, e ga-
leoens do regno pêra hir guardar a costa
do estreito, onde andou até fim do ve-
ram.» Ibidem, cap. 4>>. — «Diogo lopez
antes de partir de Coehim despachou has
nãos que aquelle anno auiam de ir pêra
o regno, de que era capitam António de
Saldanha, o que feito se foi a (ioa, e dahi
a Chaul levando consigo António correa
que entào chegara de Jlalaca.» Ibidem,
cap. tiO.
REGNICOLA, adj. 2 gen. (Do latim re-
gnicola}. Reinicola, um habitante reini-
cola.
— S. m. Termo de jurisprudência.
Diz-se dos habitantes naturaes de uni
reino, de um paiz, considerados em rela-
ção aos direitos de que podem gozar.
— Por extensão, diz-se dos estrangei-
ros naturalisados a quem estes mesmos
direitos são concedidos.
REGO, s. m. O sulco, a abertura que
deixa na terra o ferro do arado entre
leiva e leiva.
— Trabalho de regar plantas.
— O sulco que se abre em algum ta-
boleiro de lavoura, mais baixo para dar
escoamento ás aguas, que não empocem
nelle, e não resfriem as plantas.
— Figuradamente : O rego que fez a
roda lie carro.
— Rego de Vénus; nome de uma con-
cha. Vid. Porcelana.
— O que SC abre para derivar aguas,
e as que correm pelos regos derivadas
das fontes.
— Adágios:
— Rego aberto, meia geira c.
— Rego vai, rego vem.
REGOA, s. /. Vid. Régua, orthographia
proferi vol.
REGOADURA, s.f. O trabalho de abrir
regos.
- l'ltir. Gretas nas mAos, ou nos pés.
REGOAR, V. a. Fazer regos, abril-o-í.
— Regoar-se, i-. n-jl. — Regoar-se n
terra rniit a koI ; abrir uns r-gos fun-
dos.
— Regoar-se " j/el/e do cr/rjm; abrir-se
por algUMia-i doenças.
— Regoar-se " Ji<jo maduro; abrir-se
a pelle.
REGOLFO, s. Ill, Retrocesso da a^^iui.
— Moinhos d': agua, de regolfo ; moi-
nhos, cuja agua, que oe move, toma a
retrfieedi-r contra a sna corrente.
REGOLIZ, s. m, Vid. Regalice.
REGOMARGEM, «. /. Vid. Reg'amar-
gem.
REGORGEAR, ou REGORGEIAR, r. a.
Tornar a gorgear, gorgear seo^n'la e
mais vezes. \'id. Redobrar, e Gorgear.
REGOUGADO, yuV. pmn. de Regougar.
— Lilij regougado; cão que volta o rabo
solire as ancas, á maneira de rapoza.
REGOUGAR, v, n. Diz-ee da voz pró-
pria lias rapozas.
— Regougar o cão. Vid. Regougado.
— Uivar arremedando o grito das ra-
pozas.
São n<5t;i3 de Astronómicos arcanos?
Mystório:! de Deos suuuno ? Ninguém sabe.
L:í, nuuca, sem terror, os Gallos chegno;
I,á aci-editão, que vagos fi>g09 luzem.
Que fuueljrc clamor Spcctros regongUo.
>HANCISl'0 UÀNOEL DO NASCIMENTO, OS ILIBTTKEJ.
liv. 10.
REGOUGO, .«. m. A voz própria das ra-
poiías.
— Diz-se também do uivo arremedando
a voz dos rapozas.
REGOZIJADO, ijart, pasi. de Regozi-
jar. Em (|ue ha regozijo, precedido d'el-
le. — Dia regozijado. — Sardo regozija-
do.— 7•\\«^f regozijada. _
REGOZIJAR, r. a. Produzir, causar re-
gozijo. — Este dia regozija.
Tem isto grão magestadc ;
por certo que rfijozija
pêra qvie é senão verdade.
Isto ó bom, citk st^vero.
AXTOKio PRESTES, ACTOS, pag. T5.
— Regozijar-se, v, refi. Ter regozijo, ^1
gosto, prazer. — « A tua rigorosa aosen- ■
cia iquem me diz, que n.lo será eterna''
nada desfalca dos impulsos do meu amor;
e quero que todo o mundo saiba, que não
faço mvsterios delle, antes me regozijo
de quanto contra o civil decoro, a ten
respeito fiz ; nem minha honra, nem meus
scrupiilos emprego senào em te amar os-
tremecidamente a minha vida toda, visto
que por ti comecei a tomar liçSes de
amor.» Frar.cisco Manoel do Nascimen-
to. Successos de madame de Seneterre.
REGOZIJO, .«. m. Cousa que se faz por
divertimento c festa.
REGR
REGR
REGR
165
— Gosto, prazer, alegria causada por
festas, joíTOS, brincadeiras e bailes. — «A
qual nós vimos muvtas vezes nesta cida-
de em festas notáveis que esta gente cus-
tuma fazer em alguns dias abalisados do
auno, em que teui muytos regozijes e
passatempos, porem ao modo gentilico,
quais saò todos os seus custumes.» Fer-
não Mendes Pinto, Peregrinações, cap.
124. — « ElRev se despeuiu de Rólim já
sobola tarde, e veyo dormir á Cidade, e
como ao outro dia foy maahàa separtiu
para a Cidade de Pegú, que estava dalli
dozoyto legoas, aonde chegou ao outro
dia com duas koras da nojte sem rego-
zijo, nem fausto nenhum, por mostiar
sentimento pela morte do Róliia passado,
de que se dizia que fora muyto devoto. »•
Ibidem, cap. 169.
REGOZILHO, s. m. Yid Regozijo.
REGRA, s. f. Preceito que ensina a fa-
zer alguma cousa. — A regra que ensina
a contar — «E com dizerem, que se ar-
riscaõ a perder mais nos duzentos, gual-
dripaõ os cento, a que chamamos meuos,
e ticaò muito serenos na consciência, pela
regra dos contratos onerosos ; como se no
seu houvera algum risco quando elles tem
todo o jogo na sua maò, e baralhaõ as
cartas, e fazem a que querem à dtxtris,
c à sinistris.t Arte de furtar, cap. 2õ.
— «Se he Letrado, todas as regras da
Politica vaõ dar, em que favoreçaõ as
letras, que tudo o mais é aire : Se pro-
fessa armas o Autor, lá arruma tudo
para Marte, e Belona, e deixa tudo o
mais á porta inferi. E se he Fidalgo,
tudo apoya para nobreza, e que tudo o
mais he vulgo inútil, de que se não deve
fazer conta.» Ibidem, cap. 60. — «Saò
as regras da milicia muito ajustadas com
o bem publico ; e se os Cabos (que sem-
pre sáõ homeus escolhidos) as fizerem
guardar, como tem de obrigação, tam-
bém os soldados fazem a sua, de anda-
rem compostos, ou por medo, ou por pri-
mor.» Ibidem, cap. 68. — «A tal sen-
tença digo ser confirmada no Ceo, se o
confessor a deu prudentemente e como
Deus manda, porque se elle deu tal sen-
tença sobre o peccador obstinado que
nam estaa emmendddo, nem arrependido
de seus peccados, nam he valiosa a tal
sentença, nem he confii-mada no Ceo :
porque vay contra regra que o supremo
luyz lESV Christo nosso Senhor deixou
a seus Vigayros, que sam os confesso-
res.» Frei Bartholomeu dos Martyres,
Catecismo da doutrina christã, liv. 1. —
4 Quem duvida se deve muito maior agra-
decimento ao medico que nos dá regras
pai'a nào perder a saúde, que ao que nos
dá mezinhas para que depois de perdida
possamos cobral-a.» Francisco Manoel de
Mello, Carta de guia de casados. — «Das
quatro exposições, sõ a de Ale, diflere
mais das outras três, por ter muvtos ar-
tigos, regras, capitolos, e preceptos, muy
dessemelhantes dos outros. Desta fonte,
e origem procede a gi-ande corrente de
ódios, e guerras, que ha entre Turcos, e
Persas tendose huus aos outros por He-
reges.» Fr. ÍTaspar de S. Bernardino,
Itinerário da índia, cap. 20.
— O que está disposto na lei, ou uso,
em opposiçào á excepção. — «Os feitos,
que nas terras, ou perante o Arraby
Moor forem ordenados, mandamos que se
tenha em elles tal regra, a saber.» Ord.
Affons., liv. 2, tit. 81, § 30. — «Que
fizeras por ter exceiçaõ que oppor a esta
regra? naô ha duvida que fizeras da tua
parte todo o possível. Pois nào te pedem
que faças senaò o fácil, e raciona vel.»
Padre Manoel Bernardes, Exercícios es-
pirituaes,.part. 1, pag. 402. — «Sou do
mesmo parecer, e assento em que he re-
gra admirável ler os discursos em vozes
altas depois de feitos, consultando os ou-
vidos sobre aquillo mesmo que os olhos
já aprovarão.» Ca valleiro d'01iveira. Car-
tas, liv. 1, n." 14.
nem com fui-ào ih "a acharão.
Na sentença voa leixou ?
Na tença me deu de mão,
e o seu, sem regra fica.
AKTOsio PKESTEs, ACTOS, pag. 187.
Maa por vêso á regra vossa
que já em mi nào farào mossa
passas com senhor biscouto.
IBIDEM, pag. 189.
— Instituto regular religioso, norma
de viJa dada pelo.s instituidores. — «Pel-
lo qual vos encomendo muytJ que va
em crecimento, e cumpraes as regras
da dita confraria e vos prezeis muyto
de procuradores da honra do nome de
DEuS.» Frei Bartholomeu dos Marty-
res, Catecismo da doutrina christã.
— Entrar em regras ; seguu- a lei ou
a regra geral. — Não entrar em regra;
não seguir a lei nem a ordem geral, mas
sim a excepção.
— Nào entrar n'esta regra ; nào abran-
ger os preceitos d'ella nisso, que se diz
não entrar n'ella.
— Regra de três ; aquella que tem por
objecto a resolução de uma questão, de-
pendente de uma ou mais proporções.
Divide-se em simples e composta / sim-
ples, quando depende de imia só pro-
porção ; composta, quando depende de
mais.
— Regra de companhia ; geralmente
fallando, é a que tem por objecto dividir
um numero em partes proporcionaes a
outros números dados : e commercialmen-
te fallando, tem por objecto dividir a
perda ou ganho, resultante de uma es-
peculação, em que entraram muitos só-
cios, e proporciaimente ás suas entradas,
e aos tempos d'essas entradas. Divide-se
em simples e composta. Simples, quando
o tempo das entradas é o mesmo ; com-
posta, quando é difíerente.
— Regra de Juros; aquella que tem
por objecto achar uma das quatro quan-
tidades, capital, juro, taxa e tempo, sen-'
do dadas as outras três. Divide-se em
simples e composta : simpleí;, quando o
tempo é um anno ; composta, quando
o tempo é mais ou menos do que um
anno.
— Regra de desconto ; aquella que en-
sina a achar o desconto ou abatimento
que sofEi-e a importância de uma letra de
cambio, quando se antecipa o praso do
seu vencimento. Ha duas espécies de
regras de desconto, a saber: para dentro
e piara fora.
— Regra de liga; aquella que tem por
objecto determinar o valor de toda e
qualquer mistura de substancias susce-
ptíveis de se reunirem. Pode ser directa
e inversa; directa, quando sendo dados
os valores e quantidades das matérias
componentes, se quer determinar o valor
da unidade da mistura ; inversa, quando,
sendo dado o valor da mistura, e egual-
mente os das substancias componentes,
se quer determinar as quantidades d'es-
sas substancias.
— Regra de falsa posição; a operação
que tem por fim resolver, simplesmente
pelos meios arithmeticos, todos os pro-
blemas determinados a uma só incógnita,
que dizem respeito ás quantidades numé-
ricas. Para isto subst;tua-se pela incógni-
ta do problema dous valores tomados in-
teiramente ao acaso, que em geral não
satisfarão á condição enunciada, e vendo
as difí"erenças que resultam de não ser
satisfeita aquella condição, teremos duas
quantidades expressas em números, que
se chamam os eiTOs das falsas posições ;
erros que podem ser positivos ou nega-
tivos. Feito isto, fórma-se o producto do
primeiro erro pela segunda hypothese,
diminuído do producto do segundo erro
pela primeira hj-pothese, e dividindo o
resto pela diÔerença dos erros, teremos
o valor da incógnita.
— Termo de náutica. A ração ou pi-
tança, que se dá nas naus.
— Uma porção de escriptura que che-
ga de uma margem a outra em uma só
linha, ou de uma margem da columna á
outra. — «E quanto he aas apellaçooens,
façam-nas todas em processo, e nom em
Estormentos de longo, ainda que sejam
tam pequenas, que nom passem huma
folha ; e fazendo-o em outra guisa, seja-
Ihes contada a dita escriptui^a aas re-
gras, como em processo, e o mais di-
nheiro, que for achado, que levou da
parte, façã-lho tornar em dobro : e esta
pena ajam pola primeira vez, que esto
fezerem, e por a segunda, e por a ter-
ceira vez tornem os dinheiros, que assy
levarem.» Ord. Affons., liv. 1, tit. 36,
§ ã. — aE assy per bordem, e regra di-
166
RECíR
REGU
EEGU
roita o assc-.iitciii no liiti» livro, pooiulo a
cni, o tempo, oin quis lho tbrain outorfía-
tl.ts ; o ai.iv fayaõ om todala.s outras Ks-
cripturas, quo aas ditas (Jida'lu-i, Villas,
c IjiiiíanM portooacorem.B Ibidem, liv.
4, tit. 24, § ii. — «i'or ondo mm o poi'-
mitir a ventado corte o entondiíiiento, o
que mou curto eiifícuiio iiilo alcanya; c
se ouuer quem jul^ií tí^^tas regras por cs-
cusati, tirando o nouoovro da (laixao do
ontcndiíuento jnlfíue qual ho inais.» Fr.
(laspar de 8. Bernardino, Itinerário da
Ilidia.
— Menstruo das mullieres.
— Regra. Vid. Lesbio.
— Regra.^ Vid. Régua.
— Regras; taboas em (jue corre o fer-
ro de aparar os livros.
— Moderação, econou\ia, jjareimonia.
— Despeiiiler com regra.
REGRACIAR, f. «. Tornar a agraciar,
agraciar si\^'unda vez, agraciar de novo.
— Agradecer ntivamentc.
REGRADAMENTE, wlv. (Ue regrado, c
o suflixo «mente»). De um modo regra-
do, com regra. — Despender regrada-
mente.
HEaRADO, i>nrt. [inas. de Regrar. —
Homem regrado ; homem económico.
— Temperado, nmderado. — Comida
muito regrada.
— Vidii regrada ; vida regulada phy-
slca ou moralmeiíto.
— Homem regrado ; liomem (pie faz as
cousas a sou tempo, que tem as suas ho-
ras certas para a ordem da sua vida.
REGRADOR, s. m. Ponteiro ; instru-
nientíj para regrar papel.
REGRAL, adj. 2 gen. Regular, perten-
cente :i regra c ordem monástica.
REGRANTE, pnrí. act. de Regrar.
— l 'oncijo regrante ; cónego que vive
cm eonuniiniilado religiosa. — Os cone-
(/(« regrantes ile Santo Agoatinho.
— Regular.
REGRÃO, s. 7(1. Angment.ativo de Re-
gra, tirande regra. Vid. Regrador.
REGRAR, i'. rt. Traçar uma linha no
papel com um ponteiro ou lápis.
— Termo .antiquailo. Reger, reinar,
governar lun reino.
— Figuradamente : Regrar o papel com
pauta ; imprimir as liniias que tem a
pauta de aramo, ou cordas de viola, aper-
tando o papel sobre ellas.
— Regular, moderar, temperar. — «O
acaso, ou antes o Oco me enviou a mi-
nha Bemfeitora, e agora é que conheço
o que as riquezas valem: Sim, Madania,
que sereis viSs quem me ensine o moilo
de me regrar n'uma situação para mim
tão nova.» Fr.uiclsco Jlanoel do Nasci-
mento, Successos de madame de Sene-
terre.
— Regrar a vida. Vid. Regrado.
— Regrar-se, v. rejl. Regular-se, mo-
derar-se.
REGRAXAR, c a. Termo de pintura.
I)Í7.-so da opcraçilo da pintura para ap-
plicar a tinta de certo modo.
REGRESSÃO, s.f. (Do latim regreatio).
Regres.io.
REGRESSAR, v. n. (Do latim regres-
í:hiii, i\r, ici/nulior). Voltar, tornar á par-
te, d'imde sahiu.
REGRESSO, 6'. w. 'Do latim regresma).
Tornada atraz, ao logar donde aaliiu
quem r(;gressa.
— Regresso do que era religioso, e te
secularisa; volta para o século.
— Loc. : O tempo passado não tem re-
gresso ; o tempo passado não torna a
passar.
— Termo de jurisprudência. Acto que
.se dá contra alguém, por quem pagamos,
como se faz ao iiador, que pagn pelo Ha-
do, que se dá regresso contra este.
— O impulso (jue faz voltar atraz.
— Regresso ao henejicio; tornada ou
restituição á posse d'elle.
REGRETA, s. /. Termo de impresscão.
Peque 1 ia legra de páo, com que se tiram
as letras do componedor.
— Serve também para a distribuição
u paginar.
RÉGUA, s. /. (Do latim regula). Taboa
estreita e plana, terndnada na sua lon-
gura por duas supcrticies parallelas, por
meio da qual se traçam linhas rectas,
com la]iis, (lu tinta.
REGUACHO, s. m. Vid. Recacho.
REGUADEIRO, s. m. Termo antiquado.
Arrecadador, recebedor, official da arre-
cadarão de alguns direitos reaes.
REGUANTE, ailj. 2 gen. Termo anti-
quado. Regrante, fallando-se dos cónegos
regrantes, e que vivem nos mosteiros, e
em eonmium.
REGUARDA, s. f. Termo antiquado. O
mesmo que retaguarda, que é O ultimo
esquadrão da batalha. N'elta costumavam
pôr 03 soldados, de que se fazia menos
confidencia. — « As bandeiras dos fidal-
gos ally na avanguarda, como na re-
guarda, nom devem ser tiradas das fun-
das, salvo quando for tirada, e estendida
a nossa : e esta nom deve secr tirada, e
stendida, salvo ao tempo de pelejar: e
quanto aos balsoõcs, estes podem sempre
hir estendidos, porque tal foi sempre a
usança da guerra.» Ord. Affons., liv. 1,
tit. .-.1, tj •-'■-'.
REGUARDAMENTO, s. m. Attenção, res-
peito e beneficio.
REGUARDO, s. m. Vid. Resguardo.
— Segurai\ça, clareza. — «A tempe-
rança he virtude, e muito aplaz em todas
as cousas : o trautarem bouinamente todo
o que de fazer houverem com reguardo
do serviço do Rey com honesto asscsse-
go, e temperamento, que pareça a todos
os que os, virem, que teem cuidado, e
sentimento do bem obrai"em, assy acerca
dos feitos do Rey. como da Repruvica.»
Ordenações Affonsinas, liv. 1, tit. õO,
§ 13.
Xam Bcr o diantcyro,
por ra/nardo dan (lueixudaf.
147.
REGUATÃO. Vi'l. Regatào.
BEGUATAR. \'id. Regatar.
REGUÇAR, 1-. «. Tornar a aguçar,
aguçar de novo, aguçar segunda vez.
REGUEIFA, 8. /. Rolo ou pão do beijo
da farinha.
— ]'ài> lie trigo feito em rogea, ou de
fiirma orbicular, a que ainda em algumati
terras da jjrovincia do Minho dSo O nome
de /".'/'";"•
REGUEIFEIRA, s. f. Amassadeira, mu-
lher que outrora se occupava em amas-
sar e cozer o pão para a ca.sa e famili'a
real.
— A mulher que faz regaciísL» ou as
VCTldi:.
REGUEIME, s. m. Vid. Requeime.
REGUEIRA. Vid. Rageira.
REGUEIRO, *. m. Sulco j.or onde vai
agua de regar.
— Armio. Vid. Rego.
1.) REGUENGO, s. /. Com este nome
se di.stinguiu desde o rei das Asturia-s até
ao reinado de D. Fernando, toda aquella
terra que fizera parte do património real,
Passando á corôa, ou por direito da guer-
ra ou confiscação, herança, escambo, etc,
ficava retendo o nome de reguengo, como
cousa aftecta ao real throno; e os que
n'ella povoavam e residiam, ficavam res-
ponsáveis das jugadas e outros foros, em
que pelo seu foral, couto de povoaç.no
ou prazo se haviam compromettido. De
muitos d'esse3 reguengos fizeram mercês
03 nossos augustissimos soberanos, dotan-
do e enriquecendo igrejas, mosteiros e os
seus fieis vassallos; mas nos que actual-
mente estão na corôa, nem clérigos, nem
ordens, mosteiros, fidalgos ou cavallei-
ros podem iiaver ou ganhar porção al-
guma; e isto já desde os princípios do
reino. Com tudo os cistercienses parece
foram dispensados n'esta lei, ao menos
em uma grande parte do seu rigor.
— Deu-so também este nome ás terras
ou logares que eram do património real,
como por innumeraveis documentos se
poderia mostrar; mas também se empre-
garam para explicar os foros, direitos
ou regalias que em qualquer território,
cidade, villa ou couto pertencia á co-
roa.
— Nenhuma^mão morta pódc ter bens
cm reguengo, ainda que pague o devido
foro, por ser contra o direito commum o
particular d'este reino, conforme o que
se accordou entre el-rei D. João i e a
cleresia, nas cortes de Santarém de 1427,
art. 30.°, que se encontra no Código Af-
fonsino, liv. 2, tit. 7. = Em Viterbo,
Elucidário.
•1.' REGUENGO, A, adj. Real, realen-
go cm propriedade, doação, commiss.-ío
como o mando, encommcnda que el-rei
HEGU
REGU
REGU
167
dava aos que por elle tinham, governa-
vam e defendiam os condados, commen-
das e quacs terras com poder judiciário,
militar e econouiico. 'Vid. Reguengueiro.
■ — Maçãs reguengas ; niacãs azedas,
dos termos de < >biilos e Alcobaça.
KEGUENGUEmO, A, adj. De reguengo.
— Homem reguengueiro; homem que
tom alguma herdade de reguengo, e mora
dentro n'ella; eram obrigados a pagar o
quarto ou oitavo. Vid. Jugada.
— Terra, ou hurdade reguengueira; a
que c reguengo propriamente.
REGUINGOTE. Vid. Rediugote.
REGULAÇÃO, s. /. Acçào reguladora.
— Regulamento, ordem estabelecida,
conforme a qual se deve fazer alguma
cousa.
REGULADISSIMO, A, adj. sup. de Re-
gulado. Em que nada ha fora da devida
ordem ou regra.
REGULADO, part. pass.. de Regular.
Dirigido.
— -Ser mui regulado em fazer alguma
cousa; regular-se muito pela lei, regra.
— Regular, conforme á regra.
REGULADOR, A, s. Pessoa que regula.
— Regulador do relógio. Vid. Pêndula.
— A'lj. (^ue regula, que regularisa. —
Força reguladora. — Mão reguladora.
Sc não prendera a mão rerjnladora
Do3 Elementos a discórdia, c gncrra,
Então, perdida súbito a harmonia.
Na antiga coufusào, no antigo nada
Tão formoao espectáculo cahira.
J. A. DE MACEDO, -MEDITAÇÃO, Cant. 2.
Se não contem a mão reguladora
Dos Elementos a discórdia, e gnorra,
Eutào, perdida súbito a harmonia,
Na antiga confusão, no antigo nada
Tão formoso Espectáculo caliíra.
IDEM, A NATUREZA, Caut. 2.
REGULAMENTAR, adj. 2 gen. Da na-
tureza de regulamentos, de leis particu-
lares.
REGULAMENTARIO, A, adj. O mesmo
que regulamentar.
— Systema regulamentario ; diz-se, á
má parte, o systema dos governos que
tudo sujeitam a minuciosos regulamentos,
vexativos á liberdade coramercial, indus-
trial, etc.
REGULAMENTO, s. m. Código de leis
militares em fu-ma legislatoria ; no que
diverge das leis, ou ordenações extrava-
gantes, regimentos, etc.
— Lei particular.
1.) REGULAR, adj. 2 gen. (Do latim
reguhiris). Conforme ás regras naturaes.
— O Jla.vo e rejíuxo do mar tem seus pe-
r iodos regulares.
No Firmamento súbito so espalha
Nova luz, nova pompa ; ao longe os Globos
Formão cm torno dV.ilc o gyro ctcruo,
Que incessante produz a opposta força.
O Sol os charama a si, do Sol se apártão,
E assim descrevem rer/idures curvas.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Caut. 4.
Pelo espaço s'cstende, o espaço cinge
No portentoso circulo, que forma ;
Doze porções iguacs marcào acns signos.
Por onde 03 olhos crêm que o Sol brilhante
Absolva a regular supposta marcha ;
Ao longe os claros Ceos, ao longe o Espaço
Mil thesouros do luz guardão no seio.
Sonha, inventa, animoso oppostas forças,
Da fuga da tangente os Globos tirão,
E a curva regular descrevem sempre,
Dá-lhes por centro o Sol, e o Sol abrange
Dentro cm seu turbilhão Astros menores.
IDEM, A KATCREZA, CaUt. 1.
— Conforme ás regras convencionaes.
— Um edificio regular.
— Termo de musica. Diz-se de tudo o
que está incluido nas regras e nos justos
limites, ou que segue uma progressão
uniforme. — Cadencia, marcha regular.
— Termo de grammatica. Verbos re-
gulares ; aquelles que seguem na forma-
ção dos seus tempos, as regras geraes da
conjugação.
— Nomes regulares ; diz-se dos nomes
gregos, latinos, etc, que seguem uma
das declinações ordinárias.
— Termo de geometria. Figura regu-
lar; aquella de que todos os lados, e to-
dos os ângulos são eguaes.-
— Corpos regulares ; os sólidos, cujas
superiicies são compostas de figuras re-
gulares.
— Termo de mineralogia. Diz-se do
prisma cuja copa perpendicular ao eixo
é um hexágono regular.
— Termo de botânica. CoroUa regu-
lar ; corolla symetrica de uma certa es-
pécie, de que todas as partes são syme-
tricas com respeito ao eixo.
— Diz-se do pulso, quando apresenta,
entre suas pulsações, intervallos peifei-
tamente eguaes.
— Termo de chronologia. Numero re-
gular ; diz-se dos liumeros mensaes que
se ajuntam á epacta do anuo, para achar
em que dia de semana cáe o primeiro
dia de cada mez. Os doze regulares so-
lares são: 2, 5, 5, 1, 3, 6, 1, 4, 7, 2,
õ, 7.
— Regular lunar; diz-se dos números
mensaes que se ajuntam á epacta do an-
uo, para conhecer em que dia da lua cáe
o primeiro dia do mez. Os doze regula-
res lunares são: 9, 10, 9, 10, 11, 12,
13, 14, 16, 16, 18, 18.
— Bem proporcionado. — FeiçTies hei-
las e regulares.
— Que se conforma com os deveres
da moral, fallando das pcsíoas. — Almas
regulares.
— Diz-se também das cousas. — Cos-
tumes regulares.
— Exacto, pontual.
— Diz-so em opposição a secular, fal-
lando das ordens religiosas. — Cónego re-
gular. — « Soube-se no Santo officio. Um
inquisidor, nosso amigo, escreveu ao ge-
ral que mandasse aquoUe padre para o
Brazii. O mesmo íavor se fez a um có-
nego regular, sendo geral meu tio D.
Pedro da (iloria.» Bispo do Grão Pará,
Memorias, publicadas por Camillo Cas-
tello Branco, pag. 90.
— Movimento regular ; movimento uni-
forme.
2.) REGULAR, v. a. (Do latim regula-
re). Regrar, dirigir.
— Emprcga-se também figuradamen-
te.
— V. n. Andar regular.
— Andar certo, exacto,
— Servir de norma, de regra.
— Regular-se, v. refl. Dirigir-se, go-
vernar-se, reger-se.
— Regrar-se.
REGULARIDADE, s. f. (Do latim regu-
laris, com o sufBxo «idade»). A qualidade
do que c regular. — ^1 regularidade do
curso do sol.
— Termo de geometria. Regularidade
numa figura; egualdade de todos os seus
lados e de todos os seus ângulos.
— Proporção, harmonia.
— Exacta observação dos deveres.
— Conformidade com as regras. — A
regularidade de um processo, de um edi-
ficio, de uma tragedia.
— Particularmente, exacta submissão
ás regi'as de uma ordem religiosa. — Os
monges vivem na regularidade.
f REGULARISADO, part. pass. de Re-
gularisar.
f REGULARISAR, v. a. Tornar a re-
gular o que não é conforme ás regras. —
Regularisar uma despeza.
REGULARMENTE, adv. (De regular,
com o sufíixo « mente »\ De um modo
regular. — Viver regularmente.
— Exactamente, pontualmente, uni-
formciiiento. — Jantar, trabalhar regu-
larmente.
— Por via de regra, ordinariamente,
commummente. — « As da entrada da
Cidade eram da Alfandega, que regu-
larmente naquelle tempo andava em cem
xarafins, que são da nossa moeda trinta
contos, e as outras da Cidade andavam
em quarenta e hum mil e trezentos xa-
1 afins.» João de Barros, Década 2, liv.
10, cap. 7.
— Periodicamente, sem interrupção,
ou varie lade. — « E, bem qiie coxo, sobe
accelerado ao Olympo, chega lavado em
suor, e coberto de negra poeira á assem-
bleia dos deuses, a quem faz amargos
queixumes. Júpiter agastado contra Apol-
lo, arroja-o do Olympo, e o despenha na
terra. Sua carroça dava por seu instincto
o quotidiano gyro, distribuindo regular-
mente aos mortaes os dias, as noites, e
o alternado das estacões.» Francisco Ma-
168
ILKIIA
REI
REI
110(1 d» Níit<cinicnto, Aventuras de Tele-
maco, liv. ■_'.
REGULINO, A, ailj. Tmiio antifíd de
cliiiiiica. (^110 tom o cíir.ictcr <lc mu re-
piilo, ou i|iK) diz rc.s|ioit(i il |iarto piira-
iiioiito mctallicii (te um wcnii-metal. — O
enfdil.d regulino '/« mu vikIhI <■ um estado
de pnrrzii /ifrjuili).
REGULO, "í. iii. (Do latim reijulus). Rei-
siiilio, j)o(|iiciio roi.
— Nomo ([uc antigos chimicos ciavam
ils sulutaueias mctallicas níSo ductis ex-
trahida^ dos niineraes.
— Regulo do aiitinwiiiu ; nntimonio
]>uro.
— Regulo de arsénico; arfcuico mctal-
liuo, ai-sfiiico uefjro.
— Regulo jovial; liga d'antimonio com
cstanlio.
— Regulo de Vénus; liga do antimonio
c do cobro.
— Basili.^^co.
— Estrella de primeira grandeza, que
faz jyarto da conte! lacção de Leo.
REGURGITAÇÃO, s. /. Acção pela qual
um canal uu um reservatório se desem-
baraça das matérias que alii se amon-
toam, e que reHuem por sua abertura.
— Tormo de medicina. Vomito natu-
ral e de nenhum moilo penoso, pelo qual
a creança rejeita por gides os alimentos
que sobrecarregam seu estômago.
— jModo de digestiva privativa dos ru-
minantes, pelo qual os alimentos são me-
xidos para serem mastigados, e engulidos
segunila vez.
REGURGITADO, pnvt. pass. de Regur-
gitar, t-iue saiu outra vez pela garganta,
ou bocca por onde entrou, por não ca-
ber dentro.
REGURGITAR, v. a. Termo de medici-
na. Fazer sair o nuiito clieio pela aber-
tura de um canal, de um reservatório. —
O doente regurgitava alimentos mal dige-
ridos.
— V. n. Sair, ou trasbordar do vaso o
licor, que i:i não cabv n'ellc.
REGYRÀR. Vil. Regirar.
REHABILITAÇÃO, a-./'. ( 1)c rehabilitar,
com o suffixo «ação»'i. Termo de juris-
prudência. Acção de rohal)ilitar.
— Rostabolocimento ao primeiro es-
tado.
— <> acto do tornar a ser habilitado.
REHABILITADO, part. pass. de Reha-
bilitar. — l'iii jidaltjú rehabilitado.
REHABILITAR, r. (T. Termo de Juris-
prudência. Restabelecer alguém n'uni es-
tado, nos direitos e prerogativos do que
decahiu.
" — Figuradamente: Fazer recobrar a
estima, a consideração. — Este acto reha-
bilitou-o na opinião publica.
— Rehabilitar-se, v. refl. ( tbtcr uma
re'vabilit,ioào. — Este fallido rehabili-
tou-se.
REHAVER, V. a. Tornar a haver.
— Tornar a recuperar o perdido.
REI, «. m. (Do latim rej"}. Chefe Bobo-
rano de cftrtos (estados. — « E com pare-
cer de iVimalião e alguns iirincijics, que
na corto estavam, iletorminou mandal-a
ao gram turco acompanhada d'cl-rei i'»-
Icndos o outroH cavalleiros de gram pre-
ço.» Francisco de Moraes, Palmeirim de
Inglaterra, cap. Sín. — «(írandes mudan-
ças tem o tempo o a aventura : e pois
elles com suas obras nos ensinam a ser-
mos confiados, sinta cada um que na
força do maiores dcsaveuturas devemos
ter esperança de algum bem, pêra não
cahirmos em tal desesperação, que, além
de perecer o corpo, jiercamos a alma,
que Deos criou pêra outro fim: por toda
a cidade se faziam festas de muitas in-
venções e galanterias inventadas de povo
contente e amigo de seu rei, que quando
assim o, é incansável nas cousas de seu
gosto.» Ibidem, cap. lõií. — «A terceira
Estrcllante, rei d'Ungria, com outros tan-
tos. A quarta Albanis, rei (h' Frisa, com
dous mil. A quinta Drapos, duque de
Normandia, com outros tantos. A sexta
D. Duardos com toda a outra gente.»
Ibidem, cap. 1()8.
>riinda mais hum nn pvíxtic.i cloíiantc,
Que CO 'o rei nobre as piizcs ooiicertaaso ;
K quo de não saliir nai|iii'lli' instante
De suas uaos cm terra o desculpasse.
Partido assi o embaixador prestante,
Como na terra ao rei se. apresentasse.
Com cstylo que Palias lhe ensinava,
Estas palavras tacs fallaudo orava.
c.^M., Lus., cant. 2, est. 78.
Ajuntii-se a inimiga multidão
Das soberbas c varias fçentes d"ella,
Desce Cadi.x ao alto Pyreneo,
Que tudo ao rei Fernando obedeceu.
IB1DE.M, cant. -i, est. 57.
D'c3ta sorte o judaico povo antigo
Não tocsiva na gente de Samaria :
Mais c.ttranhezas ainda das que digo
N'câta terra vereis de usani;a varia :
Oâ Naires sós são dados ao perigo
Das armas, sós defendem da contraria
l?anda o seu rei. trazendo sempre usada
Na esquerda a adarga, c na direita a espada.
iBiDF.M, cant. 7, est. 39.
Não vês um ajuntamento, de estrangeiro
Trajo, sair da grande armada nova,
Qne ajuda a combater o Jiei primeiro
Lisboa , de si dando aauctíi prova ?
iBu>EM, cant. 8, est. 18.
— «Como foram o de .langomá, Prom,
Tangut, Arracaõ, Uvá, e Siaií, esto ulti-
mo por mais poderoso, e o de Ová, como
Príncipe, de cuja geração vinham os Reis
Bramas de Pegú ; os outros pontos do seu
dircyto nas armas, que de ordinário o
costumam dar a (piem as tom melhores.»
Conquista do Pegú, cap. õ. — «Pouco
tempo delíeis das cortes acabadas, e es-
tando inda cl Rei cm Lisboa, chegou a
elle hum familiar do Papa Alexandre,
pelo qual fparece que por ihe gratifi-
car has bfiM amo(í-tta(;õc.s, que lhe fe-
zcra per seus embaixadores i IIkí nianda-
ua huuia espada, e Imuia carajiuça forra-
ila, jicças que em dias orderiado.s ao tal
aiicto, hos i'apiiA benzem, c mandaQ por
honra ao» Emj)cradore8, Reis, e Prínci-
pes Ciiristãos.i Dami.^o de (íoi-j*, Chro-
nica de D. Manoel, part. 1, cap. iJ4. —
«De que logo fez ItT a.H scritJin em Aia-
bigi', (í nio.-^trou {.'rai"í contentamento do
conthcu(lo nelljL-i. fazendo grandes offere-
eimr-ntiis a PedralurfiS, dizendolbe (|ne
dalli j)or diante elle se tinha por irmaõ,
e alliado dei Rei de Portugal, e que em
ter hum taõ grande, e poderoso por ir-
niaò, o amigo so tinha por mui ditoflo nis-
to, e em outras praticas e*tiuerai» hum
bom pedaço.» Ibidem, cap. 57. — «Hu-
ma das cousas que mais espantou desno
tempo que comecei a renoluer liuros foi
a demasiada negligencia dos Chronistait
destes regnos, e dos que escreueram o»
liuros das linhagens no quo toca ha pro-
genia dos Reis, assi da parte dei Rei dom
Afonso Anrriquez primeiro Rei de Por-
tugal, como da Rainha donna Maphalda
sua molher.» Ibidem, part. 4, cap. 71.
— «Era el Rei D. Atfonso de proporcio-
nada estatura, de excellente presença,
alvo, olhos azues, perfeito nariz, cabei-
lo louro, o comprido, e de grande memo-
ria, de que fez em algumas occaaiõea no-
táveis provas.» Fr. Bernardo de Brito,
Elogios dos reis de Portugal, continua-
dos ])or D. José Barbosa. — «Teve mais
a Infante D. Britis, que ciísou com Car-
los Duque de Sabóia Príncipe de Piamon-
te, de que nasceo ilanoel Filisbcrto, que
casou com Madama Margarita tilha dei
Rei Francisco de França, e delle^ o Du-
que Emnianuel, que hoje possue o esta-
do.» Ibidem. — «Que em seus braços es-
tava salvar a honra de seu Rei, vingar
seus companheiros, e deixar de si no
Oriente huma clara memoria; que das
mercês do Soltào estivessem seguros, por-
(|ue havia de premiar, e contar huma a
huma as feridas de todos: que se algum
se atrevia a governar o bast-ío de Gene-
ral, promettia como soldado ser o primei-
ro que sobisse no niurrj.» .Tacintho Frei-
re de .\ndrade. Vida de D. João de Cas-
tro, liv. '2.
Km cjisa deste Jtri. que .7 binta altura
D'buni est«do tão baixo o alovantára.
Se mostrou a fortuna de mais dura
Do que cm toílas «s outras se mostrara :
Mas como nenliuma ha lirrae e si-pura.
Aqui lhe deu o fim quo lhe guardara.
Digno d"hum infiel, malvado espríto,
Como esiwro que avante s<'ja dito.
FRANCISCO i>'asi>r.vi>k, prixeibo ctuico di div,
<y»nt. 2, est. 90.
Nem paga o triste liei s<5 com a vid».
Que este s«'> da crueza foi o eífeito.
A cubi(,-a, de bens que he ai homicJda.
Também quer sua parte ncato feito :
REI
REI
KEI
169
Lozo a Cidade a saque foi mettida
l/om tal desejo em todos de proveito
Que nem a pobre presa nella fic-a
Quanto mais oaro, prata, e a jóia rica.
IBIDEM, cant. 13, est. 14.
Jrm. Quem está aqui ?
J/oç. Xós por agora.
Irm. Sois nós el Reif ora embora,
ainda ha pé n"e3ta casa
d"esta tào gentil senhora :
seute-se vossa mercê.
AKTOXIO PKESTES, AUTOS, pag. 215.
— «O snr. D. João v nào gostava do
estvlo de Vieira; e ao desembargador Ba-
calliau, muito apaixonado d'aquelle ora-
dor, dizia o rei: «Também gostas de tri-
que-traques?» Bispo do (Trào Pará, Me-
morias, publicadas por Camillo Castello
Branco, pag. 148.
Galardão, não o queres. — Fui ingrato
Eu, fui ! Ingrato re/, ingrato amigo.
E a quem ! — Maiores de meu sangue ainda
Ingratos nascerão. Tu serve a pátria •,
E" teu destino celebrar seu nome.
G.iKBETT, CAMÕES, cant. 3, cap. 21.
— Figuradamente : Viver como rei ;
fazer uma despeza de rei, viver, despen-
der magnificamente.
— O rei marinho ; o rei que governa
no mar; Neptuno.
Vendo o marinho Rei em tempo breve
Desfeitos os estrondos furiosos.
Com que o cerúleo mar fazem de neve
Os montes d"agua erguidos e escumosos,
Pelas ondas meneia o carro leve
Tirado dos cavallos escamosos,
E dirá isempto ja, de prazer cheio
Ao logar se recolho donde veio.
FBASCISCO d'a>;DKADE, PBIUEIBO CEBCO de DIU,
cant. -i, est. 33.
Vai-se logo o subtil, leve na\-io
Lá contra aquelles tristes caminhando
Que co'a3 mãos o coos pés o senhorio
Andào do Rei marinho indo apartando,
Por fugirem da Parca que ja o fio
Subtil, para o cortar. Ih anda buscando.
Mas, tristes, que fugis? que a Parca fera
N 'outro maior perigo vos espera.
IBIDEM, cant. 18, est. 48.
— O rei da creaçào; o homem.
Se as sopêa a Razão, se a Graça as vence
I Si5 ella a Xatureza apei-feiçôai
São canáes da ventura, á vida servem :
Assim sujeitas, e concordes erào
Do primeiro mortal no peito ingénuo,
Xo estado da innocencia, antes que a Culpa
Do Rei da Creaçào fizesse hum servo.
3. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO.
— Ter palavra de rei ; n,^o desdizer o
que uma vez disse.
^Reis esci-avos.
voL. v. — ^22.
Este horroroso escândalo do Mundo,
Este crime de purpura vestido.
Que até de escravos Reis tributo esige.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Cant. 4.
— Ter jyalavra de rei ; cumprir fiel-
mente o promettido.
— O mais forte e principal. — O leão
ê o rei dos arúmaes.
— Peixe rei; peixe como o salmão, ou
truta ; tem a barriga e lados argentados
e luzentes; a carne cheira a violeta, etc.
— Figuradamente : Rei c/e si mesmo ; o
senhor das suas acções e paixi5es para as
reger bem.
— O rei africano; o rei da Africa.
Era fim chegado com dito.so auspicio
As melindanas praias, aqui finda
O illustre Gama a narração pedida.
Ja pazes firma c alliança amiga
Com o africano rei; e alfim nos mares
Indicos voga, demandando a terra
Que desejada ja de tantos fc5ra.
GARBETT, CAMÕES, cant. 8, cap. 11.
— Julgar Eoma os reis da terra; tor-
nar-se Roma a superior de todas as na-
ções, attribuindo a si a prepotência sobre
os reis das outras nações.
Julgar- te ! Quem, aqui ? — Ja houve tempo
Em que Roma julgava os reis da terra.
GABKETT, CATÃO, act. 4, SC. 4.
— Rei conquistador; rei que conquista
muitas terras.
Ávidas mãos, do abandonado leme
Validos travam, não a indereçá-lo
Para o rumo perdido : mas cubica
Treda, que os move, a syrthes, a naufrágios
Desarvorada a nau presto arremessa.
Em suas iras de flagello aos povos
Dm rei conquistador lhes manda o Eterno.
GARBETT, CAMÕES, cant. 6, cap. 2.
— Rei d' armas ; official publico, encar-
regado de escrever as genealogias dos no-
bres, e suas allianças, de explicar o que
toca aos brazões d'ellas, de dar cartas de
brazòes, etc.
— A qiw d'el-Tei ; locução interjectiva,
indicando a necessidade do soccorro d'el-
rei ou seus subalternos.
Proc. Á que dei Rei. que me fórça
o senhor dom Braz, que quer
fazer-me sem merecer
procui-ador pata em corça.
AXTOsio PBESTEs, AUTOS, pag. 155.
— A festa dos reis ; é no dia seis de
janeiro, em memoria dos três reis que
foram adorar ao menino Jesus em Belem ;
é conhecida esta festa também pelo nome
de Epiphania : por esta occasiào cantam-
se os 7-eis pelas portas.
— El-Tei ; o da teri*a que por excel-
lencia firma assim, ou o da nossa terra,
ou d'aquella de que falíamos. — «Onde o
o Xeque, ou capitão que alli estaua por
el Rei de Ormuz se concertou com elle ■
de lhe dar mantimentos de graça, e que
Afonso Dalbuquerque se obrigasse a lhe
nam fazer guerra ate assentar seus ne-
gocies com el Rei.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 2, cap. 21.
— «Os outros embaixadores foram dei
Rei de Xarsinga de Calecut, de Cambaia,
de Vengapor, de Onor, e de outros, of-
ferecendosse todos a Afonso Dalbuquer-
que, pêra o que lhe delles cumprisse, de
maneira que erão tantos os embaixado-
res, e outras pessoas principaes que cada
dia vinhào a Goa, que parecia ser a cor-
te de hum gi-ande Rei.» Ibidem, part. 3,
cap. 16. — «Ja fica apontado como el
Rei dom Emanuel mandou o padre loam
de sancta Maria da ordem de saõ loam
dos azues, ao regno de Manicongo, com
outros religiosos, e clérigos pêra la ensi-
narem a fe de ÍT. Senhor lesu Christo
aos da terra, de que ja eram feitos mui-
tos Christãos, e a pregarem aos que ain-
da o não erào.» Ibidem, part. 3, cap. 37.
— «Finalmente mouido destas praticas
determinou mandar hum embaixador a
Afonso dalbuquerque com cartas pêra el-
le, e pêra p1 Rei dom Emanuel, cheas de
muitos offerecimentos.» Ibidem, part. 3,
cap. ôS. — «Xas ancas do qual hum ca-
çador Pérsio leuaua huma onça de caça,
que lhe mandara el Rei Dormuz.» Ibidem,
part. 4, cap. 84.
— Rei do dinheiro ; no jogo da gara-
tusa, é o que não tem carga, tendo-a os
outros três, e assim se chama rei de duas
e duas cargas.
— Xo jogo do xadrez, rei, é a princi-
pal peça.
— Xão ter lei, nem rei, Jiem roque;
diz-se do homem livre, que não tem te-
mor divino, nem humano.
— El-rei meu senhor; formula dos reis,
fallando dos pães e mães, e parentes que
forem reinantes ou que já o foram.
— Xas cartas de jogar, é a primeira
das três figuras.
— Em Portugal dá-se o nome de rei
ao marido da rainha soberana, por cair a
suceessão em fêmea.
— Parente de rei.
Sabeis vós que se labuta
parente de Rei — dinheiro,
quem nào tem — filho da puta ?
O que não sente é o cego ;
eu sou das vossas medalhas,
mas por tirarmos saralhas
credo que não faço pego
alli a lume de palhas.
ASTOXIO PBESTES, AUTOS, pag. 121.
— Rei da banda ; o perdigão, que é
como um guia, ou chefe dos perdigotos
de algum sitio. Yid. Garela.
170
REI
REI
KEIN
— Dii rei; roal. — O fazer bem, vir-,
liuk é de rei.
— Rei do jugo de preiulun ; o que f^a-
iihoii o Joj^o, o aoiitoncciii, condoiiiiia «os
que pordorauí, 8C}íun<lo fia leis tios jof^os.
— Um rei (^ue lanihe os dedo» ao touci-
nho.
Não 80 choRuo a ouvir meu canto cengo ;
do judicit tiic Df.iis alf^iim podoiigo ;
yiu! «o tom movtiil ódio
Ao Sariipati''! qiio é pao do bródio,
como tiirào caritilio
a um rei que lambe 03 dedos ao toiciíilioV
nl81'0 DO OKÃO I-AkX, MEMOUIAS, pag. Hl).
— Coroar-se rei ; einpunliar o scoptro
real, subir ao thruiio, assumir a realeza.
— «Lembrou algucm que havia conlolo
com 03 inglezes, para virem procurar cora
poderosa armada o iiiíanto o ir coroar-se
rei ao lírazil, correndo a negociação en-
tro America e Londres. Não tico por fia-
dor da idéa : direi porém o que se se-
guiu.» Bispo do Grão Fará, Memorias,
pag. 110.
— Entre reis ; nas relações do reis com
reis, de rei com rei. — «Era o modo usual
de fechar cartas. Muito tempo depois se
usou ainda; e algumas cortes o conserva-
ram nas cartas de faire part que se es-
crevem cutre reis o príncipes nas gran-
des occasiões.B Garrett, Camões, nota J
ao cant. 3.
— A amiga do rei ; a amante do rei, a
sua concubina. — «Em Londres vae Mar-
tinho de Mello para a assembleia da da-
ma, amiga do rei, o esta, para o atacar,
lhe diz gracejando : «Dizem que já lá vao
a inquisição de Portugal?» Respondo o
Mello: «Não sei; porém, so fôr, haverá
no Tejo o levantamento que houvo no
Tamisa, quando os judeus quizcram en-
trar em Londres.» Bispo do Grão Pará,
Memorias, publicadas por Camillo Castol-
lo Branco, pag. 161.
— iSer levantado por rei da villa de
Alcácer do Sal. — «Ao tempo que entrou
na herança, e foi levantado por Rei da
Villa do Alcacere do Sal, ora do vinte e
sois annos dotado de muita prudência, e
mansidão, e taõ mimoso da ventura desde
sou nascimento, quo para o levantar ao
mais alto lugar do prosperidades, parece
quo foi derrubando com precipitada vio-
lência, muitos que o precodiaõ nc^ta he-
rança.» Frei Bernardo de Brito, Elogios
dos reis de Portugal, continuados por D.
José Barbosa.
— Adágios e provérbios:
— O braço do rei, c a lança, longe al-
cança.
— Fidalgo como el-rei, dinheiro não
tanto.
— Rei moço, rei perigoso; rei morto,
rei posto.
— Rei por natureza, papa por ventura.
— Rei se nomoie, quem não tome.
— Rogos de rei mandados são.
— Ron ron, faça-sc o que el-rei man-
dou.
— Servo a el-rei, ou a ninguém.
— Tudo é vento, se não lia rei, ou
prior om convento.
— A Deus, o a cl-rei não errarei.
— Quem a vacca d'ol-rei como magra,
gorda a paga.
— Quereis quo vos sirva, bom rei,
dai-me do que viva.
— Do cem em cem annos se fazem dos
reis villãos, e aos conto c seis, dos vil-
lãos reis.
— ■ Antes bciui rei ijue boa lei.
— Que nobreza do rei, que sem nos
conlieecr, nos saúda.
— Paga-sc o rei da traição, mas do
traidor não.
— Palavra do rei é cscriptura.
— O rei das abelhas não tem aguilhão.
— O rei que não toma, quando do seu
não ha, a vós do seu dá.
— - Novo rei, nova lei.
— Nem ante rei armado, nem ante
povo alvoraçado.
— Não digas mal d'el-rei, nem entre
dentes, porque em toda a parte tem pa-
rentes.
— Não tem seguro seu estado, rei des-
armado.
— Melhor é migalha de rei, que mercê
do senhor.
— Mau rei, bom rei, a toda a lei viva
el-rei.
— Lá vão leis, onde querem reis.
— El-rei aonde pcVle, e não aonde quer.
— El-rei por senhor, e não por deve-
dor.
— Por teu rei pelejaste, tua casa guar-
daste. ^
— A voz de el-rei não ha cousa forte.
— A teu rei nunca offendas, nem lan-
ces om suas rendas.
— Ante el-rei cala, ou cousas acceitas
falia.
— Ao rei pertenço usar da franqueza,
])ois tem por certeza não cahir em po-
breza.
— Este ó rei, que não conhece lei.
— Em sua casa cada (jual c rei.
— Ao cabo de cem annos os reis são
villões, o a cabo do cento e seis os vil-
lões são reis.
— Na terra dos cegos, quem tem um
olho é rei.
— Não ha rei sem privado, nem pri-
vado sem rei.
— O rei c como o sol, que quanto vè,
alenta.
— Se não chover entro março e abril,
venderá el-rei o carro e o carril.
— Syn.: Rei, monarcha, príncipe, po-
tentado, imperador.
Rei vem do latim rex ; o conformo a sua
etymologia ó o que rege, dirige o guia,
mandando; e seu offieio c dirigir, reger
o conduzir os povos quo lhe são confia-
dos; porém commummcnte designa o so-
berano que rege o governa só um "reino.
Monardm significa o que governa só,
ou, em linguagem moderna, o rei absoluto
o indejiondente que concentra em si to-
dos os poderes; pelo que, os reis de In-
glatera o de quasi toda a Europa n.1o
.são moimrcluis, e sómentes reis constitu-
cionacs.
1'rincipe significa O primeiro, o cabeça,
e designa geralinonte o soberano de um
estado independente, ainda que não fenha
o titido de roi ou monarclui ; particular-
mente significa o herdeiro da coroa, por-
que oiitre os filhos da coroa é o primeiro
o destinado a reinar. Também so chama
príncipe dos poetas, dos oradores, dos
pliilosojihos, ao que entre ellcs é o pri-
meiro em merccimeato, e entre todoe o
mais exiraio.
Potentado significa rei poderoso, prín-
cipe grande com poder absoluto, ou tam-
bém príncipe com domínio absoluto em
alguma província tomando investidura de
outro superior.
Imperador significa chefe militar, gene-
ralíssimo ; porém somente se u^a na signi-
ficação restricta de soberano poderoso de
certos estados, que formam confederação,
ou de um império.
BEIGADA, s. /. No corpo dos animaes,
o rego entre as nádegas até os membros
da geração.
— Reigada dos lombos.
— ..1 reigada das azas; o meio entre
cilas.
REIGADO, part. pass. Vid. Arraigado.
REIGAR, 1-. a. Vid. Arraigar.
REIMA, s. /. Vid. Reuma.
REIMÃO, í. m. Em Malaca, animal se-
melhante ao tigre.
REIMBRANÇA, s. /. Termo antiquado.
Vid. Relembrança, c Lembrança.
REIMBRAR. t. a. Termo antiquado.
Lenilirar, reniembrar.
REIMOSO, A, adj. Rheumatico, que
causa lluxào, ou corrimento do humores
indigesti>>.
RÍEIMPRESSÃO, s. /. (Do francez rtim-
pression). Acção de reimprimir; o resul-
tado d'esta acção.
I REIMPRESSO, part. pass. irreg. de
Reimprimir. Impresso de novo. — «Mul-
tas vezes reimpresso : o geral das edi-
ções contêm, antes dos Lusíadas, uma
hitroducção ; a hi<torla da doscuberta da
Índia ; a historia do crescimento e que-
da do império portuguez no C»riente ; vi-
da do Luiz de Camões ; dissortaçào sobre
os Lusíadas ; observações sobro a poesia
épica.» Garrett, Camões, nota Z) ao can-
to 7.
REIMPRIMIR, V. a. Fazer uma nova
impressão.
— Imprimir de novo, estampar.
REINADO, .«. 1». O espaço de tempo
quo um príncipe reinou, o tempo cm quo
reina. — «Naõ porem que leixassem os
I
REIX
REIN
REIN
171
nauios ordinários de faserem suas uia-
gens : té que aprouue a Deo3 de o leuar
pêra si, e lhe succedeo no reyno o Du-
que de Beja dom Manuel seu primo que
(como veremos) no segundo anuo de seu
reinado consiguio na primeira viagem a
esperança de setenta e cinquo annos,
em que seus antecessores tiuhão traba-
lhado.» Barros, Década 1, liv. 3, cap.
12. — - «E porque em começo de cada
reinado acustumamos poer parte das bon-
dades de cada hum Rei, nam nos des-
uiando da ordem primeira, tal modo qui-
zeramos ter com este. » Damião de (tocs,
Ghronica de D. Manoel, part. 4, cap. 38.
— O officio de rei.
— O direito de reinar.
— Figuradameute : Dar um lençol a
alguém por reinado.
Derào-lhc a terra por corte,
Do3 cortczàos apartado,
E hum lençol por reinado ;
Porque o mundo desta sorte
Desengana o enganado.
GIL VICENTE, OBRAS VAKIAS.
— Part. pass. de Reinar.
REINANTE, 2^cirt.. ad. de Reinar. Que
reina na actualidade.
— A epidemia reinante ; a epidemia
que está fazendo audaço, e que A'ai gras-
sando nas doenças geraes do tempo.
— PeccaJo reinante ; peccado que do-
mina a alma, habitual, apoderado d'ella.
REINAR, V. n. (Do latim regnare). Ser
rei, guvernar como chefe soberano de um
estado. — «Finalmente elle rompeo guer-
ra com Rocem Bec seu primo, que entào
se intitulava por Rey da Pérsia, e por
elle andar em differenças com seus ir-
mãos a quem reinaria, teve Xeque Is-
mael melhor maneira pêra, de doze que
eram, matar os mais delles, e per derra-
deiro-lhe íicou a requesta com hum cha-
mado Mara Bec.» Barros, Década 2, liv.
10, cap. 6. — «Que ultimamente pedia
a elle Governador lhe entregasse Meále,
porque na clemência que com elle usasse,
se visse que era digno de reinar quem
assim tratava seu maior inimigo : que
seus Embaixadores levavão ordem para
assentar todas as conveniências do esta-
do.» Jacintho Freire d'Andrade, Vida de
D. João de Castro, liv. 1. — «Neste fim
vieraõ a parar aquellas grandes esperan-
ças, que 03 Portuguezes tinhaõ em seu
Rei, e aquelles bons intentos que o mo-
verão a emprender esta jornada contra
03 inimigos da Fé Catholica, tudo por
seguir conselhos de quem os da^a enca-
minhados mais a seus próprios interes-
ses, que ao bem commúm. Foi sua per-
da no dia, e anuo que já disse, aos vin-
te e quatro de sua idade, de que reinou
vinte e hum.» Frei Bernardo de Brito,
Elogios dos reis de Portugal, contimia-
do3 por D. José Barbosa, — «Quando
Witiza reinava, na corte esplendida de
Toletum, havia dois tiuphados que a to-
dos serviam d'exempIo d'intima e since-
ra amizade. Opiniões e intentos, alegrias
e tristezas eram communs para ambos.
Chamava-se Theodemiro o mais velho,
Eurico o mais moço. » A. Herculano, Eu-
rico, cap. 8.
— Figuradamente : Reinar a hypocri-
sia, a intriga ; fazer grandes etfeitos ;
predominar.
— Figuradamente : Ter poder, domi-
nar, ter influencia, fazer effeitos gran-
des.
— Reinar a pura fé dos thalamos con-
jiigaes.
Xa tranquilla familia as leis promulga
Império Paternal, de Impérios norma,
(Que hum Rei he pai commum, familia o povo.)
Reina a concórdia conjugal, c reina
A piu-a fé dos thalamos sagrada.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, CaUt. 2.
— Reinar a paz.
Reinava a doce paz na santa Igreja ;
O Bispo, e o Dcaõ, ambos conformes
Em dar, c receber o bento H_y3sope,
A vida cm ócio santo consumiaõ.
DINIZ DA CRUZ, HYssorE, caut. 2.
Como implacáveis Déspotas polêjão,
A paz então reinou ; Zéfyros meigos,
Pelos ares subtis equilibrados,
Da liquida campina a face encrcspào.
Conduz seu doce assopro as salsas ondas,
Tocào brandas na praia, c brandas fogem.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, CaUt. 4.
Salva-03 das convulsões, da crise horrivel
Que as populares commoções arrastram ;
Moderação e paz reine cm teus lábios ;
Generoso perdoa, austero pune,
Mas pelo orgam da lei, mas so com cUa.
GARRETT, catÂo, act. 4, sc. 3.
— Reinar a vaidade.
Aos áureos dias do nascente Mundo
Fez succcder os séculos de ferro.
A vaidade reinou, deu Leis o luxo ;
Porém no seio de ignorados Campos
Dos primeiros Mortaes a imagem íica.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Cailt. 2.
— Reinar a traição,
Armão-3C occultaa, pei-fidas ciladas,
Ou corpo a corpo impávidos se atacão ;
Do vasto mar no Campo dilatado
Vês da horrivel discórdia amplo theatro,
Império onde o mais forte o fraco opprimc ;
Xcllc reina a traição, campéa o dolo,
Ora cede ao contrario, ora triunfa ;
Eis o retrato do que vês na Terra.
J. A. DE MACEDO, A KATD8EZA, Callt. 3.
■ — T'. «. Termo pouco em uso. Go-
vernar, mandar como rei.
— Reinar alguma malícia; traçar, or-
denar algum engano, ou maldade.
REINCIDÊNCIA, s. /. Recaída. — A
reincidência no peccado.
REINCIDENTE, piart, act. de Reincidir.
Obstinado, que caiu novamente na pri-
meira culpa, ou erro.
REINCIDIR, V. n. (Do prefixo re, e do
latim incidere). Recair. — Reincidir no
peccado.
— Reincidir na doença, Vid. Recair.
REINETA, *. /. Vid. Raineta.
REINETE, ,'í. /. Vid. Rainete.
REINFUNDIR, v. n. Tornar a infun-
dir.
— Pôr novamente em infusão.
REINHA, s. f. (Do latim regina). Vid.
Rainha.
REINICOLA, adj. 2 gen. Do reino, ou
que diz respeito ao reino.
— Substantivamente : Author jurista
natural do reino. Vid. Regnicola.
REINO, s. ?«. O estado de um rei ou
soberano. — «E porque tudo me louva-
rão e concederão ser muito bem aponta-
do, o mandei a V. A. por escripto, até
lhe Deos dar tanto descanso e contenta-
mento como em todos seus reinos he de-
sejado pêra que por minha arte lhe diga
o que aqui fallece.» Gil Vicente, Obras
varias.
E sendo assi que o nó d'e3ta amisade
Entre vós firmemente permaneça,
Estará prompto a toda a adversidade,
Que por guerra a teu reino se oílereça,
Com gente, armas c nãos; de qualidade
Que por irmão te tenha c te conheça :
E da vontade era ti sobre isto posta
Mc dês a mi certíssima resposta.
CAM., Lus., cant. 7, est. G3.
— «E porque em todos estes reinos
não sei pessoa, que assim obrigasse, se-
não se fosse Miraguarda, a quem tão al-
tamente louvam, quiz mandar uma don-
zella minha a vel-a ; porque se sua fer-
mosura é como dizem, mandal-o-hei sol-
tar ; e não sendo assim, castigal-o-hei
como merece, por não dar atrevimento a
muitos tratarem com despreso as pessoas
de tanto merecimento como eu.» Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 66. — «Com este pensamento cami-
nhou tanto por aquelle reino, que foi ter
á cidade de Limorsão, onde o esperavam
os grandes delle, que por um coj-reio,
que lho a donzella mandara, sabiam de
sua vinda.» Ibidem, cap. 97. — «Senho-
res, disse Albanis, eu vim ter a um val-
le onde tem Arnalta no reino de Navar-
ra um assento dos mais graciosos do
nnindo ; acertei de chegar a tempo que
a princeza por ser tarde andava folgan-
do á borda de um rio, que o atravessa.»
Ibidem, cap. 103. — «E pois o que vos
pede, além de o ser, é de tanta obriga-
ção pêra ella, e todo o reino de Trácia,
que lh'o não negueis. Pêra isto me den
172
KEIN
REIN
ui:iN
uma cartíi de cren(;a, quu vos dúsHc.o
Ibidem, cap. 104. — «Aqui deixu a his-
toria do fallar iiolla, (|U(; vai sou caini-
iilio, c toma ao cavallein» do Ti^rre ; que
diz que d(!|)OÍ» quo Haíu do reino do Trá-
cia, (|uiz outra voz Hof^uir via do (Joiih-
taiitiiio])la, quo pêra seu cuidado cm nc-
iduini outro lugar adiava repouso certo. »
Ibidem, cap. 10-1. — «D. Antaò do No-
roniia deu ordeui para a dcHeuibarca^^aò,
que liavia do ser ao outro dia, o fazendo
aiardo da fícnto quo lovava acliou mil
c cem 1'ortufíuezCM, o trea mil Farseos,
o Araiiui/.aiio;) debaixo da bandeira de
Kax Xarrato (Uia/,il de Ormuz, c de Mir-
niaxet (iuazil do JMagostaõ, cm que liavia
íuuitos j\Iires, e Capitaons do Reiuo de Or-
muz.» Diogo de Couto, Década (J, liv. 9,
cap. 14. — «Alevantado o exercito, de-
pois de lhe fazerem suas exéquias, puzo-
raõ o l'rincipe Dramabella na cadeira
Kcal, o o levantarão por Rey, dandolbe
os grandes a obediência a seu modo, sen-
do seu pay o primeiro, e depois o Al-
caide mór, e todos os grandes do Reino,
o quo so foz no mesmo dia sem festas,
nem apparato. » Ibidem, cap. 16. — O
Visorcy deixou dado ordem às nàos que
Lavlào de partir pêra o Reino, e do ga-
leão S. Jorio, que se estava concertando
em fioa, ((ue licou do anuo passado, deu
a Capitania a Manoel de Sousa de Sepúl-
veda, pêra se hir nelle com sua nuiliíer,
o casa pcra o Keino. E como fov tempo
partirão as nàos pcra Còchim tomar a
carga.» Ibidem. — «Mas eu verdadeira-
mente tenlio por muite certo, ser a pi'o-
pria natureza dos Portuguezes, mostra-
rem sua opiniaã, e lealdade no serviço
do seu lley, e Senhor : como muitas ve-
zes so vio por experiência dos muy gran-
des feitos quo nos Reinos de Portugal, e
nas partos do Meca, e nestas da Índia,
com muito valor, e esforço Hzeraõ, e aca-
l)àrai5.i) Ibidem, liv. 10, cap. 5. — «E
por sabor que as mais das igrejas do
j'eÍDO estauam mal prouidas dornamentos
mandou no anuo de mil, e quatrocentos,
o noventa o uoue fazer vestimentas, e
outros ornamentos a sua custa quo lhes
mandou dar pelo custo de quo doj)ois pe-
la mor parto lhe fez esinolla.» DamiJío
do Góes, Chronica de D. Manoel, part.
4, cap. 84. — «Doraõ-sc em dote a D.
Henrique as terras que em Portugal eraõ
ganhadas aos Mouros (algumas das quaes
saõ hoje do Reino de Caliza) com titulo
de Condado, e a conquista das que ain-
da tinhaõ usurpadas, quo era a maior
parto do que hoje he Reino do Portugal.»
Fr. Bernardo de Brito, Elogios dos reis
de Portugal, continuados por D. José
Barbosa. — «Como não era D. Joào her-
deiro da casa de seus pais, dispunhiiio
elles iuclinallo a estudos maiores : por-
que nas casas grandes for."io sempre nes-
te Reino as letras o segundo morgado.
Obodeceo D. Joào emquanto nrio tinha
libordadc juira engeitar, nem escolha pa-
ra tomar outro cxcrcicio.» .lacintlio Frei-
re de Andrade, Vida de D. Joào de Cas-
tro, liv. I .
Kstá contando
O (iuiiia ao rei ainipu oa iiiaix fuiiioHOg
Keitort doH iio»i«)H. — l>i/.-lhc d<! Kcriiuiido
Ob aiiiorcB iidultcroH, c o tíbio,
Froixo (íovôrno que indvfcKO o Tfino
Duixii ao furor imigo CuHtolliniio,
K de totiil destruirão oin pVipo :
(Juo utn fraco rei faz fraca a forte gente.
OAKUCTT, CA1IÒK8, caut. 8, cap. 4.
K mais lhe diz, que a terra se chamava
O Heino de Oganó, grande, abundono ;
C^uu ao auritro, c pouco longe se edtreuiava
Co o va»to (JoMgo fervido, arenoso ;
tjue os dilatados campos lhe cortava
<• Zaire, irmão do Nilo, immcnso, mídoso ;
Communs no ber(;o, c na carreira 8ua,
Alem dos montes áridos da Lua.
J. A. DE MACKDO, O OKIENTE, Cant. 10, BSt. 7.
• — Os naturalistas modernos dilo o no-
mo de reino a cada uma das classes a
que reduzem os seres do globo terrestre,
e distinguem três, a saber: o reino uni-
mal, vegetal, e mineral.
— Reiuo escuro de Cocyto; o inferno,
os demónios.
E 90 tu tantas almas so pudeste
Mandar ao reino osouro de Cocyto,
(Juando a sancta Cidade dustizeste
Po povo pertinaz no antigo rito,
Permissão c vingan(;a foi celeste,
E niio fori^a de brai;o, ó nobre Tito ;
(jue asâi dos Vates foi prophuti/.ado,
E dcspois de Jesu certificado.
cAu., Lts., caut. 3, est. 117.
— O mancebo inexperto, única esperan-
ça do reino.
— Dizcm-no? E' certo?
Um mancebo inexperto, unicii esp'ran(;a
Do reino, que, inda mal ! ja tanto inclina
Da primeira grandeza ! — Ah ! confiani;a
Tenho que inda haverá n'c33c conselho
Um portugucz quo portuguez lhe fajlo,
E com a respeitosa liberdade
Que é nossa natural e um bom rei preza...
GARRErr, CAMÕES, caiit. 4, cap. 2.
— Noro reino edi^ficado entre gentes tão
remotas.
Ao pensar em tão ásperas fadigas.
Tanto sangue perdido, tanta morte,
Tanto naufrágio cru, desgraças tantas
tjue a dobrar esse cabo nos custaram
Para ir edificar sublime império,
Novo reino entre gentes tam remotas,
So me alargava o coração uo peito.
GAKRETT, cavões, caut. 4, cap. 8.
— Reino escuro ; a sepultura, as re-
giões da morte.
— Figuradamente: O jxidcr do rei.
Dcmova-se a terra, iiaraore-sc dVlle
as gentes estranhas, dizei que o senlior
seu reitu) tomou, ficou vcncttior
da morte, peccado, de tudo o contra ellc,
Kc2 a redondeza daa tflrraM, de tudo
firme c ostiivel, em ctcruidadc.
ANTOXIU l-UESTKS, ALTOS, pag. t)Ó.
— «Nomeou anteA de sua morte que
tivessem o Reino até «c sentenciar cujo
fosse, e fez outras cousas, que lhe pare-
cerão conveuientcH para paz, e luelhur
expediente da herança. • Frei Bemarilu
de Brito, Elogios dos reis de Portugal,
continuados por D. Joi>é Barbosa.
— Mosteiros do reino foram enriíjueei-
dos. — • Enriqueceo el Rui com doa^;<>ea
muitas Igrejas, e Mosteiros do Reino, e
ennobrcceo as Cidades, e Villas com mu-
ros, e Fortalezas notáveis. Fundou Uni-
versidade cm Coimbra em que se les«eui
todas as sciencias. Libertou a r)rdem de
San-Tiago do Portugal da obediência doe
Mestres de Castella, e fez por indulto
do Papa Xicoláo iv. eleger !b[estre Por-
tuguez, que foi D. Lfiurencianes.» Frei
Bernardo ile Brito, Elogios dos reis de
Portugal, continuados por D. José Bar-
bosa.
— Grande poder, império.
— Legar, onde alguma coosa obra
mui forte.
— Figuradamente : O reino injiel de
Prosérpina.
Forçado desta dôr que o desatina
Dei.xa o assalto cruel, sanguinolento.
Mas no reino infiel de Prosérpina
Sua alma desta vez não fez o ass<;nto,
Porém sente nos membros grãa ruiiuk :
Da qual desaventura, c detrimento
Que hoje neste combato lhe acontece
Sc jactit assaz de|K>is, c ensoberbece.
FRANCISCO D'A>'DBAnE, PUMEIBO CKBCO DE DIV ,
cant. 20, est. 15.
— Principe e governador do reino. —
«Deposto do Throno seu irmiio el Rei D.
AfTonso sexto, foi jurado l*rincipe, o Go-
vernador do Reino em vinte e sete de Ja-
neiro de mil sei.^centos e sessenta e oi-
to. » Frei Bernardo de Brito, Elogios dos
reis de Portugal, continuados por D. Jo-
sé Barbosa.
— Figuradamente : O salgado reino ;
o vasto mar.
E cinco dias antes que o dourado
Planeta visitasse aquclle sino
Que no salgado Keino foi gerado
E no Ceo tom assento alto e divino,
Surge o Governador, acompanhado
Do sou nobre apparato, dollo dino,
Meia lepiia daqucUa forte e brava
Cidade, para onde clle navegava.
FBAXCISrO DE ANDRADE, rBtUElBO CBIOO DS Ml',
caut. 2, est. 18.
— O reino de Xeptnno ; o oceano.
No Reino do Neptuno ambos entrirào
E de terem lá cutrado 9C entristecem ,
I
REIN
REIS
REIT
173
Mas com pressa maior da que levarão
Soboiagua ambos juutos apparccem.
Logo ambos no catiir jiuitos entrarão
Coiu ajuda dalguns que os favorecem,
Que nbum o grão perigo arreceiavào,
Noutro o grande valor, e amor louvarão.
F. d'axdkade, pbimeiko ceeco de Dir,cant.
est. 22.
— O reino eterno, e glorioso; o céo.
Mas como este combate bravo e horrendo
Foi mais que os outros largo e furioso.
Também para os que esta vão defendendo
Mais que nenhum dos outros foi custoso ;
Porque se eu esta couta bom entendo
Quatorze ao Eeino Eterno e Glorioso
Passào 03 seus cspritos não vencidos,
E são mais de duzentos os feridos.
F. DASDB.tDE, FBUIEIBO CEBCO DE DIU, Caut. 20,
est. 20.
— O estado, que tem rei particular, e
se annexou ao estado de um soberano.
— Imposições e tributos dos povos do
reino. — • «Aliviou algumas imposições, e
tributos, que tiniiaò os povos do Reino :
administrou justiça com grande inteire-
za, para o que fez muitas Leis novas, e
reformou as antigas do modo que andaò
impressas.» Frei Bernardo de Brito, Elo-
gios dos reis de Portugal, continuados
por D. José Barbosa.
— Ter-s6 por reino diviso.
Tem-se por reino diviso
do que o outro lá promette ;
todo o seu cuidar compete
que o mesmo Paraiso
lhe ha-de tirar o barrete.
AíiTOSIO PBESTES, AUTOS, pag. 151.
REINOL, adj. 2 gen. Dava-se este no-
me nas conquistas ao que lhes vai do
reino.
— Ameixa reinol; certa espécie de
ameixa preta, conLiecida pelo nome de
reinol, por ser do reino.
REINTEGRAÇÃO, s. f. Acção de tornar
novanientt; inteiro.
— Termo de Jurisprudência. Acção
de reintegrar; resultado d'esta acção.
— Recuperação, inteira satisfação de
alguma cousa.
t REINTEGRADO, part. pass. de Rein-
tegrar.
— Reintegrado )ios seus bens, nos seus
emprer/os.
REINTEGRAR, v. a. Tornar inteiro de
novo.
— Termo de jurisprudência. Restabe-
lecer alguém na posse de uma cousa de
que se havia despojado.
— Restituir, satisfazer alguém do usur-
pado. Vid. Redintegrar.
— Reintegrar-se, v. refl. Restituir-se
totalmente.
REINTRANTE, <idj. 2 gen. Termo de
fortilicaçào. Angulo reintrante ; angulo
cuja ponta ou vértice corre para dentro
da praça, em opposição ao angulo salien-
te. — «Assim, o vão do arco oíierecia
quatro ângulos reiutrantes assas esciu-os,
apesar de um dia esplendido, porque os
grossos purtòes chapeiatlos de terro, abriu-
Uo sobre elles, obstavam ainda mais aos
ra.os dessa escassa luz que as duas por-
tadas, opprimidas entre os cubellos e vi-
zinhas ue altas casarias, deixavam pene-
trar a custo naquelia espécie de quadra.»
Aiexandi-e Herculano, Monge de Cister,
cap. lU.
REINVITE, s. m. A acção de revidar,
reviue.
REIO. Vid. Reyo, e Arreio.
REIRA, s. /. Dôr sobre a rabadilha.
— ^io gado vaccum, diarrhêa.
— Emprega-se também no sentido fi-
gurado.
REIS, s. wi. ]jI. Significa o mesmo que
reaes ; a ultima espécie de unidade in-
teira em moeda ideal, em que se resolve
o dinheiro, e de que usamos no nosso
modo de contar, dizendo um real, e de
aki para cima, iazeudo numero, dous
reis, ou reats, ties, quatro, cinco reis,
etc. — «Tem alcançado no Estado da Ín-
dia importantes victorias pelos seus Vice-
Reis, e Capitães (jeneraes Caetano de
Meho de Castro, Vasco Fernandes César
Ue Menezes, e outros. Mandou fazer moe-
das de ouro de oitocentos reis, de mil e
seiscentos reis, de três mil e duzentos, de
seis mil e quatrocentos, e de doze mil e
oitocentos. V Frei Bernardo de Brito, Elo-
gios dos reis de Portugal, continuados
por L>. José Barbosa. — «Ho mayor tri-
buto que tem, he cada pessoa casada, ou
_que tem casa sobre si, cada hum anno
paga de cada cabeça de sua casa dous
luazes, que sam sessenta reis : nhuma
tirania lue fazem mais que soo pagarem
seus direitos: ficam suas fazendas e tudo
ho que podem aver livre pêra ho poderem
gozar a sua vontade : polo que todos tra-
balham de ganhar e de lavrar as terras
e aproveitarias.» Frei Gaspar da Cruz,
Tratado das cousas da China, cap. lU. —
«E assi fez neste anno de oitenta e cinco
no mes de lunho as jjrimeiras suas moe-
das, s. moeda douro, a que chamou Jus-
to, e era de ley de vinte e dous quilates,
e de peso de seiscentos reis, e tinha de
huma parte o escudo Real dLreyto com
letra de redor do nome e titulo dei Rey,
e da outra parte el Rey armado de todas
armas, assentado em cadeira Real, e o
cetro na mão, e a letra dezia : lustus si-
cut Palma Jlorebit.v Garcia de Rezende,
Chronica de D. João II, cap. 57. — «E
assi deu nouo crecimento á valia da pra-
ta, que mandou geralmenta que valesse
ho marco dahy em diante a dous mil e
duzentos e oitenta reis, e a este preço se
fizerão os ditos vinteins.» Idem, Ibidem.
— « Outros ha neste género mais escru-
pulosos, que por naò serem homicias
da fazenda Real, lhes ataò sedas nos
artelhos dos pés, ou das mãos com tal
arte, que os fazem manquejar, até que
os provém de outros. E o furto esta no
danino, que se dá a ElRey, e à milicia ;
poi-que se vende o cavallo manco por
dous, ou três mil reis, para huma atafo-
na, ou nora, tendo custado quinze, ou
vinte.» Arte de furtar, cap. 3-1. — «E
assim foy, que de graça veyo : contey
por graça isto ao matalote dos duzentos
mil reis, respondeo marchando os bei-
ços : saò lanços, que naõ tiraò seus di-
reitos aos homens de negocio.» Ibidem,
cap. 56. — «O mesmo consta dos privi-
légios e em particular do d'ElRey D.
Afonso IV. que traz o Doutor Jorge de
Cabedo; porque nas aposentadorias, que
eutaò era costume dar-se nos ilosteiroa
aos Fidalgos, manda que se dem aos Ri-
cos Homens 30. reis, e aos Infançoens
lò. e aos Cavalleiros 10. >> Manoel Seve-
rim de Faria, Noticias de Portugal, Dis-
curso 3.
Por dez reis de sem-sentido
por \ús dou mil de scziido.
Homem, guardae-vos d'ahi
que isso de homens ser soi,
e mais eu que sempre ri
de palavrinhas assi,
vós da dõr que a mim doe.
AXTOXIO PRESTES, ACTOS, pag
— «Hoje se tira algum em varias par-
tes ; e em Avintes, junto a esta cidade,
se achou uma pedra com oito dentro que
pesavam coisa de 70 a 80 mil réis, não
ha muitos annos.» Bispo do Grão Pará,
Memorias, publicadas por Camillo Cas-
tello Branco, pag. 9. — «O duque do
Cadaval D. Nuno Alvares Pereira não
quiz comprar as Memorias genealógicas
de Christovão Alão de Moraes dizem que
pela liberdade com que o author qualifi-
cava as pessoas de quem escrevia. Creio
que foi por não dar os tíOOòOOO reis que
se pediam.» Ibidem, pag. 160. ,
— Houve ceitis, fracções de reaes, ou
reis. — -^ de reis.
REISEUTOS, s. m. plur. Vid. Rebutos.
REISETE, s. m. Regulo.
— Rei de um pequeno estado.
REISINHO, s. m. Diminutivo de Rei.
Rei de pequena idade.
REITERAÇÃO, s. f. (Do latim reitera-
tio). Acção de reiterar.
— Acto de administrar muitas vezes o
mesmo sacramento.
f REITERADO, part. pass. de Reiterar.
— Ordens mil vezve reiteradas sem neces-
sidade.
REITERAR, r. a.- Fazer de novo uma
cousa que já se fez.
— Reiterar a confissão ; tornal-a a fa-
zer.
7 REITERATIVAMENTE, adv. (De rei-
terativo, e o suffixo «mente»). De um
modo reiterativo.
174
UE.IA
RK.IO
UKLA
REITERATIVO, A, a^lj. 1^110 c' jji(.i)iio
a reiterar.
REITERAVEL, a //. 2 f/itu. Su.-coptivol
de »u r(!Ítt;riir. <
REITOR, «. 111. (Do latim redor). < )
cliefti, 011 ro^íento du iiiiivorrtidado.
— Reitor il" li/ceu ; o cliele dV^llo.
— Reitor (/" seminário.
— Reitor <l(is (ííiHítH ; cura, parocho de
iprejm.
-Reitor do mundo; IJeus, o aiitlior
do iinlvcTso.
— Tmiio antiquado, llhctorico.
— 'ri;niio !iiiti(|uaJo. Juiz, arl)itro.
REITORADO, *•. m. O espaço de tempo
que clurii .1 reitoria.
REITORIA, s. /. O ofiicio e direito.s do
reitor.
REIVAS, s. /. jjhir. Termo popular.
Dito alíiiiiiíi ost.i (lt'iionruiai;ào á maneira
do j)s.iliiiear da-i íroiras.
REIVENDICAÇÃO, ou REIVINDICAÇÃO,
s. f. Termo do jurisprudência. U auto
que compete ao senhor, ou quasi scniior,
para pedir que lhes restitua o que era
seu por direito das gentes, ou civil.
f REIVINDICADO, j)art. pass. de Rei-
vindicar.
REIVINDICAR, i-. a. Intentar a reiviu-
dicai^rio.
— Obtor a restituirão do seu, por meio
da reivindicação.
REIXA, s. /. Contenda, rixa, briga, a
inimizade originada por ella.
— De reixa velha; já manifesta por
actos anteriores.
— Doença, tumor pequeno que nasço
no lagrimai, próximo do nariz.
— Loc. pop. : Não mette reixa, sem
tirar reixa; nào faz nada som interesse.
— Tab.ia pequena.
— Reixa nova; briga súbita sem pro-
pcsito anterior, sem haver inimizade, ou
ódio anterior.
— Reixa de cadeado ; barrinha de ferro
que o prende.
— Barra, ou grade. — Janella tendo
reixas de ferro.
REIXELLO, s. m. Termo da província
da Beira. Vid. Cabrito.
REIZETE, .s\ m. Vid. Reisete.
REIZINHO, s. m. Diminutivo de Rei.
Vid. Reisiuho. — «ilas porque na carta
que esto Reizinho mo mostrara dos Por-
tugueses faziào elles mençaõ de huma vi-
toria que Deo? lhos dera contra os Tur-
cos o Aches desta costa, determiney do
declarar aquy o como ella passou, assi
porque mo parece que nisso darey gosto
aos leitores, couio porque se entenda que
os bõâ soldados no tempo da necessidade
não ha cousa que não levem ao cabo, c
que por isso importa muvto teronnos
muyto mimosos, e muyto favorecidos.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações, ca-
pitulo 14ti.
REJAO, s. to. RojSo.
REJAS, s. /. 2)lur. Rotulas, grades.
REJECTO, i>arL j>a«s. irrejj. do Rejeitar.
REJEIÇÃO, «./. íDo latiiii rejectio). A
ftcçí\o de. rejeitar.
— líepnlsa. — Rejeição do voto.
REJEIRA, « . /. Vid. Rageira, <• Rajeira.
REJEITADO, jxirl. pafs. de Rejeitar.—
«K .HO Kabom onde «e dà, com que ])re«-
toza, e alvoroço alli acodem, por nam
ouuireni, h»; chegarem tarde, que lhe di-
gam, a oRmola hc jiV dada, andai embo-
ra; a«r<im o.H negligentes, que perdem tem-
po accõmoilado pêra a oraçam entregan-
doso a cousas inúteis, o impertinerlte^,
sam rejeitados <le Deus.]. Frei Bartholo-
meu dos Martyres, Compendio de espiri-
tual doutrina.
ne lium fillio teu, faiuilia rejelhtfla,
K('(liviv;i oiitrii voz, na iiiiirf;eiii fria
Do espraiado Danúbio bcUicoso
Os vives ollio.s para os LVoa so volvem.
J. A. DK MACF.UO, VIAOKM i;.\TAriCA, Caut. 2.
REJEITAR, V. a. [Do latim rejicere).
Atirar, ferir com rejeito.
— Termo de volateria. Revessar, vo-
mitar. Vid. Engeitar.
— Recusar, não acccitar o que fie lhe
dá. — «.Se outrem que mut vós (lhe res-
pondi eui, essas cousas me individuasse,
rejeitaria de as escutar; mas quando Sn-
zanna a si mesma se accnsa, esperanças
me ergue de que destruida essa sua illu-
pào, recupera a razão o império que ti-
nha.» Francisco Manoel do Nascimento,
Successos de madame de Seneterre. —
1 .'\s expressões insolentes de alguns fi-
dalgos contra a quebra dos seus foros, os
alvitres oxeogitados para constranger o
.soberano a rejeitar as supplicas dos po-
vos, as disfarça' las ameaças, tudo foi tra-
duzido, interpretado, envenenado e reves-
tiilo de dimensões extraordinárias.» Ale-
xandre Herculano, Monge de Cister, ca-
pitulo l.'i.
REJEITAVEL, adj. 2 gen. Que está no
caso de se rejeitar.
— Que so pinle recusar, não acceitavel.
REJEITO, .«. m. Arma do ferir atiran-
do. — Ferir ali/nem com rejeitos.
-{- REJER, V. a. Vid. Reger.
Sou o cejro ((ue, apoz o mal quo sisro,
Os mal jíuiadoj p.assos tão mal r<y<)
Que do um perigo vou noutro perigo.
FKRNÃO SOROPITA, TOESI.VS E l'BOSAS ISEDITAS,
pag. 153.
o Cvsno altisonanto, este o teu erro,
O tou Xume este foi, que os Ceoa penetra,
Que agita o largo mar, quo uiiWe ft Terra.
Que a vida aos liomons dá, e ás feraa bi-utas,
Que a fori;a vegetjil ua.s plantas móvc :
Kste o que aviva a máquina do Mundo,
Com cila sempre unido luim Todo firma,
Além do qual debalde a mente anhéln
Outro Sor que produza, o reja o* Eutcs.
J. A. DK MACEDO, MEDITAÇÃO, Caut. 4.
REJO,
Termo da província do
Minho. Kspccie de Ralmonete. Vid. Rei.
REJUNCAR, r. a. Toruar a juncar, tor-
nar ;i <:obrir, cobrir de novo.
RELA, *. Hl. Hà verde, que vive entre
«ilvas e valladoR.
— Ra dos monte». Vid. Rabeta.
RELACIONAR, v. a. Referir, narrar,
relat.ir.
— ^'azer uma relação, jinta, etc.
■ — Relacionar (tl<jinii ; procurar-llie re-
lações, correspondcnclaw, ctc.
— Relacionar-se, v. rejl. Adquirir re-
lações.
— (."onseguir amizade, trato.
-- Aparcntar-se,
I RELAÇAM, «. /. Vid. Relação, ortho-
grapliia ]irc-íerivel. — «E na mesma noite
foram presos por mandado dei Rey dom
Fernando de Meneses, e dom fiuterrez,
e forão trazidos diante dei Rey na rela-
çam, onde dom Fern.-mdfi fez huma fala a
el Hey muy elegante, como homem nniy
prudente, e esforçado caualleiro, e niuy
isento, na qual disse algumas palauras a
el Rey, de que ouue desprazer, e por i.sso
80 nam ouue com elle piadosaniente como
tinha em vontade, e mandou que por jus-
tiça 80 determinasse seu feito, e foy jul-
gado a morte, e degolado na praça do
St!tuuel,» tiarcia de Rezende, Chronica
de D. João II, cap. ;')4. — tHo que diz
ha relaçam dos Portugueses que ha pro-
víncia de Sanxi terá de termo eincoenta
ou LX. legoas nam sey quanta verdade
tem, porque ha jirovincia de Cantão que
he huma das menores da China, alem de
ter debaixo de si ha ilha DainSo, que he
de ciucoenta legoas tem de costa mais
legoas das que diz este referimento de
Sanxl.» Frei (iaspar da Cruz, Tratado
das cousas da China, cap. 2ít. — «As vir-
tuilos que tem o azeyte da Palmeyra porá
curar feridas, tenho por impossiuel con-
talas com facilidade. Os coriosos leio o
tratado das Drogas da Índia, que com-
pôs Curistouào da Costa Affricano, ou os
Colóquios dos Simples, que assi intitulou
Grada Dorta hum IJuro que fez das
Drogas da Índia, ou a Viagem do Mala-
uar do Arcebispo de tioa. nos quaes acha-
ram estas cousas com relaçam mais larga,
e copiosa. i> Fr. (iaspar de S. Bernardino,
Itinerário da índia, cap. 3.
1 . RELAÇÃO, .«. /. (,Do latim relatio^.
Narração de successos. — «EnJlosò ha
certeza da vinda de Saõ Paulo a Espa-
nha, mas ainda não faltão Authon»8 que
tenliaõ jiara sy que foy visitada j>or S.
Pedro, o principal dos quaes he o Jleta-
plirastes, de cuja relação sabemos qno
vindo o Santo Apostolo a Espanha, dei-
xou nella por Bi.spo a seu Discípulo
Epenoto, em huma Cidade chamada Svt-
mio, o mesmo refere Liponiano.» Honar-
chia Lusitana, liv. ,'>, cap. 7. — «Para o
que fez ajunt.tr os Bispos de sua Provin-
da, com os quae.s celebrou Concilio n*
Cidade de Merida, aos dczoyto annos do
RELA
RELA
RELA
17Õ
Império de Recesuintho, cuja summa re-
ferirev. por não cansar os Leytores, com
a relação extensa de cada cousa por si. »
Ibidem, liv. 6, cap. 33. — «E porque na
falia que BemoiJ tez nesta primeira che-
gada e vista delRey segundo anda escri-
pto per Riiy de Pina clironista mór que
foi deste Reyno: assi na chronica que
deste Rey compôs, a relação da fortuna
deste Príncipe Bemoij está taõ curta quà-
to he copiosa em os louvores delRey e
admirações que elle Bemoij fazia de ver
seu estado.» Barros, Década 1, liv. 3,
cap. 6. — «Conuem pêra melhor inten-
dimento da historia darmos huma geral
relação do modo que se naquellas partes
de Ásia nauegaua a especearia com to-
dalas outras orientaes riquezas, te virem
a esta nossa Europa ante que abríssemos
o caminho que lhe demos pêra este nos-
so mar Oceano : però que em o tractado
do commercio copiosamente o escreue-
mos.» Ibidem, liv. 8, cap. 1. — «Quanto
a outra guerra que temos com os Reys e
Príncipes Mouros, assi do Reyno Decan
que pelejaõ a cauallo como do Reyno de
Cambava, Ormuz, etc. em seu tempo
daremos relação de suas cousas.» Ibidem,
liv. 9, cap. 3. — «A justiça deste, que os
Turcos saudarão por Rei, escrevem ou-
tros em dilatadas letras, cuja relação dei-
xo, por ser ao gosto importuna, e alhca
da Historia.» Jacintho Freire de Andra-
de, Vida de D. João de Castro, liv. 3. —
«Este discreto Italiano nào se esqueceo
de estabelecer na sua Relação a possibi-
lidade de semelhante caso, dizendo que o
nosso corpo he composto de Óleos, de
Gordura, e de Licores, cujos mixtos en-
cerrão tanta matéria própria para o fo-
go, como senão acha em outro algum dos
corpos que conhecemos.» Cavalleiro de
Oliveira, Cartas, liv. 1, n.° 15. — «Para
não faltar o credito a esta relação pois
que nào he certo que seja daquelle Au-
tor, digo a V. S. que Guilherme Debram
na sua Theologia Physica, L. 4. Cap. 7 .
observ. 14, Pag. 226 diz que conheceo
esta mesma molher viva muitos annos
depois de enforcada, e que lhe segurarão
que tinha tido muito tilhos.» Ibidem, liv.
3, n.° 45.
— Fazer relação ; narrar, noticiar. —
«Da viagem do qual, e do que elle, e
Francisco Serrão, que hia em sua com-
panhia passaram, adiante faremos rela-
ção, quando começai-mos a tratar em o
descubrimento das Ilhas de Maluco, on-
de elles eram enviados.» Barros, Década
2, liv. 9, cap. 3. — «Em quanto em Ma-
laca passaram as cousas, de que no Li-
vro precedente fizemos relação, as quaes
vam continuadas do Janeiro do anno de
doze, que Aftbnso d'Alboquerque se par-
tio delia até o fim do anno de quator-
ze, fez elle algumas na índia, depois que
veio do estreito do mar Roxo, que con-
vém enfiarmos na ordem de nossa histo-
ria.» Ibidem, liv. 10, cap. 1. — «Todas
as cousas da justiça e da guerra e todas
as novidades e todo ho que he dino de
se saber em cada huma das províncias
se refere pollos louthias, e por outras
pessoas ao Ponchassi, e ho Ponchassi faz
relação de tudo por escrito ao Tutam.»
Fr. (raspar da Cruz, Tratado das cousas
da China, cap. 22.
— Nuticia. — Dar relação de tudo o
que se quer saber. — «E assi mais lhe
dey relação de outras muytas cousas que
soube do Rey dos Batas, e de mercado-
res da cidade de Panaajú.» Fernão Men-
des Pinto, Peregrinações, cap. 20. — «Ha
outros que trazem grande soma de livros
que contaõ historias e daõ relação de tu-
do o que se quer saber, assi da criação do
mundo, em que dizem infinitas mentiras,
como das terras, reynos, ilhas, e provin-
das que ha no mundo, e das leys e cus-
tumes de cada huma delias, principal-
mente dos Reys da China quantus foraõ,
e o que fizeraõ, e os que fundarão as ter-
ras, e as cidades, e as cousas que acon-
tecerão em cada hum dos tempos.» Ibi-
dem, cap. 99. — «Mas deixando ja ago-
ra isto, que não toquey para mais que
dar relação dos embaixadores que vimos
nesta corte, e deste principalmente, por-
que me pareceo mais para se notar que
todos os outros, me tornarey á matéria
de qite hia tratado.» Ibidem, cap. 124.
— «Mas tomandoo pela mão acompanha-
do daquelles senhores que com elle vie-
raõ, o levou cõsigo até o meter na casa
onde el Rey estava, o qual inda que ja-
zia na cama doente, o recebeu com ou-
tra nova cei-imonia de que me escuso dar
relação por não fazer a historia proluxa.»
Ibidem, cap. 135. — «Inda que o mais
era em ver, ouvir, e perguntar de leys,
pagodes, e sacriticlos que viamos de gran-
de temor e espãto, dos quais não darey
relação de mais que de cinco ou seys so-
mente, como ja fiz em outros, porque me
parece que estes sós bastarão.» Ibidem,
cap. 159. — «Passadas estas cousas, e
outras muytas a este modo de que se pu-
dera dar relação, e na minha alçada e
engenho coubera podelas aquy escrever,
o Embaixador se despidio deste grepo
com muytas palavras de cortesia, de que
não saõ entre sy nada avarentos, porque
desta maneyra custumão a se tratarem or-
dinariamente uns aos outros.» Ibidem,
cap. 163.. — «Os meses contam nos pol-
ias luas, de maneira ham de ser despe-
didos, que cada principio de cada lua se
liam de achar todos os correos de todalas
províncias na corte, pêra que no primei-
ro dia da lua apresentem ai Rey todas as
relações de todas as cousas de cada pro-
víncia.» Fr. Gaspar da Cruz, Tratado das
cousas da China, cap. 22. — «Mas por-
que destas cousas, os Embayxadores, que
vem da Pérsia a este Revno de Portu-
gal, nos dão muy largas relações : quero
tomar ao fio da historia, que parece irse
desatando. » Fr. Gaspar de S. Bernardi-
no, Itinerário da índia, cap. 20.
— Hoje toma-se relação p 'r lista, rol,
etc.
■ — Sy^. : Relação, memoria. Vid. este
idtimo vocábulo.
2.) RELAÇÃO, s. f. A consideração ou
respeito, resultante da comparação de
dous ou mais objectos.
■ — Connexão moral e reciproca, enlace
de deveres e obrigações.
A ignorado Cantor, e a Lyra humilde,
He milito huina porção : cu, no silencio,
S<^ medito o mortal, medito os Entes,
Que tem com elle liabitação no Globo ;
E as mais profícuas arvores contemplo,
Que mais estreitas relações conservào
Co' a existência mortal, e a vida escórão.
J. AGOSTISnO DE SIACEDO, MEDITAÇÃO , Caut. 3.
— Ter relações com alguém, ou ein al-
guma terra; ter parentes, amigos e cor-
respondentes.
— Connexão, dependência. — « E por-
que muytos Authores, escreuerão delia sò
de lerem, ou de ouuida, não atentando
que pêra se verificar alguma cousa, he
necessário vella, e entendela sobpena de
cahirem em faltas tam alheas da verda-
de, quanto muytos delles mostrão esta-
rem delia em suas relações ; me pareceo
cousa conuer.iente, pois a andey toda em
roda, dar aqui huma breue conta delia.»
Fr. Gaspar de S. Bernardino, Itinerário
da índia, cap. 7. — «Eu não me espanto
ver alguns Escriptores hirem tam longe
da verdade nestas relações, que como fa-
larão de partes tara remotas, em tempo
que auia pouca noticia delias nam tem
culpa em seus erros.» Ibidem, cap. 17.
Quem fórraa as relações, c o laço estreito,
Que une, prende, sustem corpos diversos?
Quem d'eterno commercio as leis liie dieta ?
Porque motivo os Ceos, e os Astros todos
Em tão vasta extensão gyi-ando, animào
Hum s') ponto subtil, que á viata escapa?
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Caut. 4.
— Conversação, trato, dever, negocio.
3.) RELAÇÃO, s. /. Tribunal da justi-
ça, composto de desembargadores, onde
vão por agga-avo, ou appellação as cau-
sas de ante as Relações subordinadas, e
dos juizes inferiores. A de Lisboa, cha-
mada d'antes a casa da Supplicação, é a
principal. Temos depois de Lisboa a ca-
sa da Relação do Porto, mandada edifi-
car pelos Philipipes.
Muito embora : quem o manda V
A Relação por sentença.
Entre para essa, varanda
co'esta gente que ahi anda
té satisfazer a offoiísa.
ANTÓNIO PRESTES, ACTOS, pag. 493.
— Os antigos escreviam rolação, e da-
176
YIELA
vam ostc nome ao relatório, que se fazia
(lo feito para hc (li!H(!iiii)arííar na ca-a da
Sui)])licu^'!\o, (lo eivei, (; ató na» c-aiiiaran.
— Accunliim em relação; conconlam,
ouvi<la a relação «lo feito, o (|iuí hc cMcre-
vo quando o ncfíocio so docido na Rela-
ção, oii consellio ; (! nilo so desombarífa
por tençõ 'H, andando por casa dos juizo8,
porque eiitíio ci)inc(,'a o dc-<i)aclio, acor-
dam lis iln ilf.semòurfio ; o assini os que
se dosi)acbani na nio^a do dcsoinharp),
que Huppre i)bIo do paço nas Relações dos
dominios. Os reis iam muitas vozes assis-
tir ás Relações, levando talvez o príncipe
herdeiro eouisi^ío. As partes oram cha-
madas e ouvidas dentro em alf^uns casos;
e ás Relações das camarás, ou vei'oações,
para dueidir ncjioeios contenciosos, resto
dos antigos Juízos dos concelhos, podem
as partes sor presentes, requerer, inter-
por roc'ur-;o-> para as alçadas superiores.
RELAMBER, '"• «. (Do latim relambe-
re). Tornar a lamber, lamber segunda
vez.
f RELAMBIDO, /lai-f. pass. do Relam-
ber.
RELAMBORIO, A, adj. Termo popular.
De má ([\ialiilade, sem graça, sem ener-
gia.
RELAMPADEJAR, r. «. Haver relâm-
pagos na atuuis[ihi'ra.
— Relanipagucar. Vld. Relampear.
1.) RELÂMPADO, A, a,lj. Termo anti-
quado. Aliiviado, abolido, relaxado, ex-
tiacto, relevado. — Seria proveito á nos-
sa terra taes degredos serem relâmpados.
Cortes de Lisbja, de 1434. = Em Viter-
bo, Elucidário.
•2.) RELÂMPADO, s. w). Vid. Relâm-
pago. — «Sc Cl aguçar a minha espada,
iazendoa resplandecente como relâmpado,
e rainha mão tomar vingança, darei o
pago a meus amigos, o aos que me otiou-
deram castigarey, e embeberei minhas
setas em sangue : e o meu cutelo despe-
daçara carnes, s. os que viuerem carnal-
mente.» Frei Bartholiimeu dos Martyres,
Catecismo da doutrina christã.
RELÂMPAGO, >. m. É uma luz brilhan-
te produzida pela faisca eléctrica, resul-
tante da descarga entre duas nuvens car-
regadas de cleetrÍLÍilades contrarias. Ha
quati"o espécies ilc relâmpagos, a saber :
relâmpagos de ziguezague, devidos á re-
sistência do ar comprimido pela passagem
de uma forte descarga; relâmpagos que
abraçam todo o horizonte, que parecem
ser produzidos no seio mesmo da nuvem
e esclarecer sua massa; relâmpagos de
calor, que apparecem nas noites de estio
sem haver nuvens, devidos a dcscai-gas
eléctricas entre nuvens existentes abaixo
do nosso liorisonte : e relâmpagos cm f<>r-
ma de globos de fogo, cuja origem é des-
conhecida.
Nuncrt tão vivos raios fabricou
Contra a fora soberba dos gigantoâ
RELA
O grilo ferreiro sórdido, quo obrou
Do ntitcado as ariniis nuliaiitcs :
Nom tiuiti) o (irão ToMiiiitd arrciiicSHOU
lielumpiviof HO iiiiiiirlo fulminantes
No Rrao diluvio, donde bi'ih viveram
Os dous, que cm gente as pedrsB converteram.
CAM., LUR., cant. (>, est. Tb.
— «A noite esteiio sempre resplande-
cente, e clara, nilo com o.^ rayos da Lúa,
mas com os infiirnaes, e medonhos relâm-
pagos em que ella sempre ardeo, engros-
.Mando por hiinia parte tanto o tio da eliu-
ua, quando pella outra, nos batdiauào as
lagrinuis mais, e mais sem descjinsarcm.»
Fr. (jaspar de S. Bernanlino, Itinerário
da índia, cap. 1. — «Intiouse o Sol, o
dia cobriose de luto, o o ar turbado, deu
mostras de infelices daninos, por<|ne no
mesmo instante, se rasgarão as nuuens,
desfazeiídose em temerosos relâmpagos, e
trouõcs, o o mar queyxo.so deu bramidos,
sobindo com a escuma as cstrellas.» Ibi-
dem. — « Uma densa nuvem, que Júpiter
formara nos ares, salvou os Uaunos; e
um temeroso trovào declarou a vontade
dos deuses; parecia que as eternas abo-
badas do alto Olympo se desfaziam sobre
os fracos mortaes : os relâmpagos corta-
vam as nuvens d'um a outro piilo; e, no
momento em que deslumbravam os olhos
co'o penetrante clarão, tornavam os vi-
ventes a rocahir em temerosas e noctur-
nas trevas. Uma copiosa chuva, que en-
tão cfihiu, separou os dous exércitos.»
Francisco Manoel do Nascimento, Tele-
maco, liv. 17.
IJepontino relâmpago me assusta,
(Jui;ii Imn-iMido trovão, vejo espantoso
Tiillio ahia/.ado do sulfúreo raio,
Anua nas niàos do Eterno, arma espantosa.
Que aeuiprc aterra o niáo, e humilha o justo.
Onde so forja, e se prepara a .seta,
Quo tào rápida vem, que as nuvens rasga !
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, CaUt. 1.
Os sulfúreos relampagnf. que acláriío
De c3,)a(;o a espaço os negros horizontes.
Mais das trevas o horror ao Kauta atteiào.
IDKM, MEDITAÇÃO, Caut. 1.
Só com ella voando o homem dilata
O circulo mortal, o alma levada
Ko centro do esplendor, com cila oncára
Luminosos relanipaifOíi, que mostra
Do eterna Sapiência o Mundo impresso.
IDEM, A RATUBEZA, Caut. 1.
Ardo o ar om relâmpagos medonhos ;
Antes da noite a sombra luctuosa
Tapa a vista dos Ceos, nos mares pousa,
Hranie o Tnfáo, as ondas se amotiniio,
Humas nas outras embatendo estiilào.
IBIDEM, cant. 2.
— Figuradamente: Appariçào brovis-
sinia do rcsplrudor, mostra instantânea.
RELAMPAGUEAR, r. a. Haver ou fazer
relâmpagos.
RELA
— Emproga-se lambem no sentido fi-
gurado.
RELAMPEAR, ou RELAMPEJAR, . . n.
Vid. Relampaguear, ' Relarapadejar.
RELAMPO, «. m. Do |.i<tixo re, e do
grego liiiiipu.. \'id. Relâmpago.
RELANÇAR, r. a. Tornara lançar, lan-
çar ilc.' )iO\i).
RELANCE, «. in. Termo usado na ce-
guinti- phrase: (Janhir de relance; ga-
nhar lio primeiro lance, ou horte no jogo
da banca, c cmtros de jiarar. Vid. Lan-
ce.
RELAPSIA, ». /. Reincidência no erro,
ou luro-ia aburada.
RELAPSO, À, nlj. íDo latim relaptum.
Que cáe na heresia, de|>oÍ8 de ter feito a
abjuraç.^o publica. — Henrique IV herc-
lico relapso.
— Na igreja, aquelle que reincide no
pcccado, depois" de ter feito penitencia.
— A possibilidade para o» peccadores
mesmo relapsos.
— Substantivamente: Um relapso, nnta
relapsa.
RELATADO, part. pass. de Relatar. Re-
ferido.
— Termo antiquado. Levado, retirado.
— Relatado >m numero dos <íeu$e$; con-
tado entre elles. — Rómulo, primeiro rei
de Roma, foi relatado pelo povo iw nu-
mero diis (li-iises.
RELATADOR, A, .«. Vid. Relator.
RELATAR, r. a. liJo latim relatum, do
referre\. Referir, expor, narrar algum
acontecimento, facto, ou historia em pre-
sença lio juiz. — «Alem destas cousas
ordenou tiimbem outras, taõ necessárias
pêra a ordem do regimento do Regno,
quomo de sua casa, e fazenda, has quaca
tenho por cxcusadas relatar aqui, quomo
por mais importantes ao tempo, e ordem
que se entào requeria nellas, que ao dis-
curso desta sua Chronica.» Dauiiào de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 1,
cap. 9. — <i U Broquem nos consolou en-
tào com palavras noUiveis, e de muyta
caridade, e nos m.Hdou logo aly tirar as
prisões dos peis e das m.àos, e tirandonos
para hum pátio que estava mais adiàte.
nos relatou tudo o que era passado sobre
o no.sso negocio, de que nós até entào
não tinbamos sabido cousa alguma, pela^
muitas guarda-: que nos erào postas.»
Fernão Mendes l^into. Peregrinações,
cap. 142. — «E dalli a seis dias, que
foy logo a sesta feyra seguinte jâ qua.si
Sol posto, chegou hum balão que fora
dos inimigos nuiyto bem esquipado, em
que vinha hum soldado por nome Ma-
noel Godinlui a pedir alviçaras ao Capi-
tão desta Vittoria. o qual relatando em
publico todo o discurso: e o successo
delia, disse que fora o Domingo de anUs
lis di's horas do dia. que pela conta se
acliou quo fora na ]>nipria hora. em que
o Padre o disse no púlpito.» Ibidem, cap.
l 207. — « E porque da diuisào desta costa
RELA
RELA
RELÊ
177
trata Hieronymo Oísorio ; e agora uova-
niente Frey loão dos Santos na sua
Etliiopia Oriental, relata miiy ao largo
suas particularidades, ritos, guerras, trey-
ções, e costumes, por tanto i"emetto os
cm-iosos a elle.» Frei Gaspar de S. Ber-
nardino, Itinerário da índia, cap. 7. —
« Soo lhe he licito navegar ao longo da
costa da mesma Cliina. E ainda ao longo
da costa, nem de huma parte pêra outra
na mesma Cliina llie lie licito hir sem
cortidam dos Louthias da terra donde
partem: na qual se relata pêra onde vay e
ho negocio a que vay, e os sinaes de sua
pessoa, e ha idade que tem.» Frei (ias-
par da Cruz, Tratado das cousas da Chi-
na, cap. 23. — «Rumecão ainda que ex-
perimentava que nas minas era menor o
fruto, que o trabalho, ou por cansar os
nosâos, ou por ter os seus cm boa disci-
plina, começou a abrir outras, que sendo
também conhecidas se atalharão, as quaes
nào referimos, porque nào iuvo,lvêi'ão suc-
oesso memorável, como por evitar o fas-
tio de relatar cousas tào parecidas.» Ja-
cintho Freire de Andrade, Vida de D.
João de Castro, liv. 2.
A senhora,
pois ambos nos encontrámos,
lho relaie a que chegámos ;
seja ella falante agora
que lebre e filhos estamos.
ANTomo PKESTEs, AUTOS, pag. 205.
— «Uma conspiração de testemunhas
para relatarem ao santo officio de um ca-
valheii'0, em vingança de este ter feito
umas prisões por ordem do capitão gene-
ral, dizendo que elle affirmava nào haver
inferno ; vários incestos públicos e man-
cebias de trinta annos.» Bispo do Grão
Pará, Memorias, publicadas por Camillo
Castello Branco, pag. 212.
RELATIVAMENTE, adv. (De relativo,
e o suffixo «mente»). De um modo rela-
tivo.
— Com respeito, em relação.
RELATIVO, A, adj. (Do 'latim relati-
vus). Que se refere a alguma cousa. —
Esta clausula é relativa á successão.
— Que ti-az á memoria.
— Synonymo de contingente, variável,
accideutal, em opposição a absoluto. —
As idêas relativas. — A jwsição do ho-
mem no universo é Velativa.
— Termo de grammatica. Pronome re-
lativo ; aquelle que se refere a um nome
ou a um pronome precedente, chamado
antecedente. — Que, é iironome relativo.
— Proposição relativa ; diz-se em op-
posição á proposição absoluta, aquella que
está unida a uma outra, e que fijrma
com ella unia proposição composta.
RELATOR, A, s. (Do latim relator).
Pessoa que refere, historiando.
Porque não pdde em Alvito,
Logo virá O relator,
-VOL. T. — 23.
Veremos com que primor
Argumenta bera seu dito.
GIL \aCENTE, FARÇAS.
— S. m. Homem que refere, expondo
a causa ante os juizes : ordinariamente
dizemos o juiz relator, o que assoma o
feito quanto aos factos, e provas, e vota
primeiro direito e sentença.
RELATÓRIO, s. m. Relação por pala-
vras, que faz o relator.
— Exposição, descripção narrativa.
RELAXAÇÃO, s. /. (Do latim rela.mtio).
Termo de medicina. Syuonymo desusado
de rela.caniento, de tensão diminuida. —
A relaxação das fibras.
— Termo de jurisprudência. A relaxa-
ção de um prisioneiro ; relaxação desre-
grada.
— Em direito canónico : Relaxação das
penas ,• diminuição ou inteira remissão
des penas.
— O acto de dispensar, ou afrouxar
no fazer executar a lei.
— Figuradamente : Falta de observân-
cia do rigor da lei, do instituto.
— Intermissão, folga, descanso do tra-
balho, ou tarefa.
RELAXADAMENTE, adv. (De relaxado,
e o suflixo «mente»). De um modo rela-
xado, frouxo.
— Com frouxidão, com relaxação.
— Licenciosamente.
RELAXADO, part. pass. de Relaxar.
Posto em liberdade. — Um prisioneiro
relaxado.
— Enfraquecido, afrouxado.
— Relaxado á justiça secular ; entre-
gue com o processo e sentença para se
imporem ao relaxado as penas de sangue
e de morte, como fazem certos juizes ec-
clesiasticos.
— Figuradamente : Frouxo, dissoluto,
sem observância exacta, rígida das leis.
— Religião relaxada.
RELAXADOR, A, adj. (De relaxar, e o
suffixo "dôr»"i. Que relaxa.
RELAXAMENTO, s. m. Relaxação cor-
pórea.
RELAXAR, V. a. (Do latim relaxare).
Afrouxar, diminuir a força e tensão dos
nervos, ou músculos no estado sanitá-
rio.
— Relaxar o estômago; destemperal-o.
— Relaxar o voto; dispensal-o.
— ■ Perdoar.
— Relaxar o juramento, a lei; des-
atar, soltar o vinculo moral.
— Figuradamente : Moderar, abran-
dar. — Relaxar o animo. — «Mas, sem
embargo do dito, amplificando a matéria,
visto herdar el-rei nosso senhor muito
menos do que podia, deviam os seus con-
fessores dar-lhe doutrina de solida moral:
isto é, que um príncipe é verdade que
deve aflrouxar alguma vez as rédeas do
governo, relaxando o animo para adqui-
rir novo vigor.» Bispo do Grão Pará,
Memorias, publicadas por Camillo Cas-
tello Branco, pag. 184.
— Relaxar os réos impenitentes e obsti-
nados ao braço secular ; fazer o que se •
fazia na inquisição, mandando entregar
os taes á Relação, para imporem ao réo
as penas de sangue, e morte, remetten-
do-se d'antes com os processos, depois
com a sentença da inquisição, tribunal
régio, onde havia ministros, que podiam
sentenciar em casos capitães.
— Relaxar o corpo ; enerval-o, enfra-
quecel-o.
— Relaxar os costumes ; apartal-os do
rigor da lei, do instituto.
— Relaxar-se, v. refi. Perder a tensão,
a força.
— Relaxar-se nos costumes ; tornar-se
dissoluto, vicioso, solto nos erros, e nos
vicios.
— Relaxar-se o musculo, o nervo ; en-
fraquecer-se, afrouxar-se a sua tensão.
— • Relaxar-se a moral, os costumes ;
tornar se menos rígido, severo, austero.
— Figuradamente : Relaxar-se o ani-
mo, o espirito ; afrouxar, enfraquecer.
RELAXO, A, adj. Relapso, reinciden-
te na primeira culpa. — Homens impeni-
tentes e relaxos.
— Relaxado no peccado, merecendo
ser entregue á justiça punidora, sem mais
recurso.
RELÊ, s. f. Vid. Ralé.
— Casta, companhia, sorte, espécie,
raça, laia.
Car-tc já, madraço.
Moço !
Senhor !
Caíste no poço?
vai á mula, má relê.
Não sobe vossa mercê ?
Matam negócios a coço
meu senhor, que Ih 'as rebejo.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pag. 144.
— É guião de toda a relê ; diz-se de
aquelle individuo que não escolhe mulher
para objecto das suas concupiscências,
topa a tudo, rascGas, rameiras, prostitu-
tas relaxadas, faniqueiras, cantoneiras,
etc.
— ■ Alguns clássicos empregam indis-
tinctamente ralé e relê, comtudo pare-
ce muito mais verosímil escrever ralé,
fallando de volateria, e relê, laia, casta
de gente baixa. Talvez de relê se deri-
va o adjectivo popular reles, que quer
dizer ordinário, ridiculo, baixo.
RELEGADO, A, adj. Termo antiquado.
Pegado, preso, unido, aferrado. — Não
tem em cilas heranças qve os tenham re-
legados, e de ligeiro se vão quando lhes
praz.
— Figuradamente : Como arraigado,
que tom cousa que o prenda na terra pa-
ra não se mudar d'olla.
— Vinho relegado ; vinho que se ven-
de no relego.
178
RCLK
RELIO
RELÊ
RELEGAGEM, a. f. Corta poiHÍlo, ou
lôi'o <|uo Hii paf^avii do vinlio (|Uo hc ven-
dia ])or íilguin particulíir iio tein|)o, <jiio
durava o rclíifío ; era de dez até <|uiiiz(;
Hi»ldo.< ])ur tniid. : Doe. da camará se-
cular de Coimbra, de \M'>1. - Em Silves
Hl! pafíava do relegagera, do carga caval-
lar uui ulniudo, o a.snal moio almudo.
RELEGO, s. m. J'ai'occ sor contrac^'Jlo
ou aljnviatura do Regalengo. E um di-
reito, com (|U0 o «oborauo ou o sou do-
natário, podcHi livrcmontc vender o vi-
nho quo no.s sou.s reguengos, Jugada» ou
coutoa se cria ; e itiso cm certos mezes,
c por tantos dias, nos quacs se nílo piide
vender impunemeate ruitro qualquer, con-
íonno o que nos resjieetivos foraes, ou
niorcêâ se determina. D'aqui proveio clia-
mar-so igualmente relego o lagar, talha,
adoga, celleiro, em que o tal vinho se
faz, o SC rocollie, e mesmo em quo ou-
tros fructos do reguengo se depositam.
— Imposiyào antiga.
— Pagar relego ; talvez por privihv
gio da isonçíio do jelcgo real nas tor-
ras.
— Rolcgagem.
— Sair o relego ; acabar-se o tempo
do monopólio do reloguoiro.
— Vinho do relego ; o privilegiado pa-
ra se vender sem concurso, de maneira
que em quanto dura o i"elego, ou tempo
tia venda assim privilegiada, ninguém
da torra p(')de vender o vinho; taes são
os vinhos dos reguengos, e jugadas d'ol-
rei, quo tooni três mczcs de relego.
RELEGUEIRO, A, s. Pessoa quo cobra
as rendas de relego.
— Rendeiro, ou rendeira de senhorio,
que tem relego.
RELEIÇÃO, s. f. A acção do tornar a
lêr.
— Nova leitura, segunda li(,'ão.
— Leitura mais estudada para corri-
gir a composição.
■ — Prelecção feita pelo professor.
f RELEIXADO, 2"'>'f- P"^s. de Relei-
xar. Tornii) antiquado. Relaxado, dispen-
sado, afrouxado.
RELEIXAR, I'. (I. Termo antiquado.
Rohixar, afrouxar.
— l)is)ionsar.
RELEIXO, K. m. O espaço de terra eom-
prehondido entro o muro o a casa.
— Nas navalhas do barbear d;l-se esto
nomo á borda da folha iramediata ao fio,
o quo forma o mesmo fio.
— Releixo na parede ; andito largo.
— \"id. Berma.
RELEMBRADO, part. pass. de Relem-
brar.
RELEMBRANÇA, .-. /. jMemoria, recor-
dação.
— Trazer em relembrança ; trazer om
nicmorin. recordação.
RELEMBRAR, v. a. Trazer á momoria,
tornar a lon\brar. — Relembrar of pccaí-
dos es(2uecidos.
RELENTAR, r. a. Amoilecer com a hu-
midade, com o relento, afrouxar, amol-
lontar.
— Relentar-se, v. rejl. Cobrir-sc de
relento, aMiDJiooor com ellc, refrescar-HC.
- - Relentam-se an plantas com os orva-
lhos da huíulià.
--- liolaxar com a humidade, com o se-
reno.
RELENTO, s. m. A Inimidade nocturna
do ar.
— Dormir ao relento ; dormir exposto
a olle, dormir em desabrigo.
— A molleza produzida pela humidade
nocturna do ar.
— Sereno, cacimba na costa africana,
orvalliada.
RELEO, .«. m. Vid. Raleo.
RELER, r. a. Tornar a lêr, lêr segunda
vez, lêr de novo. — Li e reli « sua car-
tinha, <jue muito apreciei.
RELES, adj. 2 (jen. Termo popular.
Ordinário, ridiculo, baixo, grosseiro.
RELEU, .«í. m. Termo antiquado. Ac-
croscimo, rosto, sobejo. Vid. Releo.
RELEVADO, j'^"''- ?''««*• <^(> Relevar.
Feito de relevo. — Imagem relevada c/n
fulgida esmeralda.
De negro Paragom moldura observo,
Que em 8Í coutem de lane a iuingom viva :
IIc relevada em fulgida Esmeralda :
Parece q^ue iuda volve, e que inda alonga
Oíí claros olhos aos remotos Astros,
E que luz Filosófica rcspirão.
J. A. DE MACKDO, VIAGEM EXTÁTICA, Ciut. .3.
— Perdoado, desculpado. — Falta re-
levada.
■ — Convexo, resaltado. — Os relevados
peitos da mulher.
— O relevado da pintura; diz-sc cm
opposição aos lizos c ao fundo.
— Alliviado, livre.
— Ter os membros relevados ; ter os
membros carnudos, que mostram bem a
feição, ao contrario dos magros. .
— Emprega-se também no sentido fi-
gurado.— Os attrihutos de Deus no sa-
cramento todos relevados.
RELEVADOR, A, adj. Que releva, que
]iordòa.
— Substantivamente: Um relevador.
RELEVAMENTO, s. m. A acção de re-
levar.
— A acção de livrar, do perdoar, de
desculpar alguma obrigação, trabalho,
prestação de facto.
RELEVÂNCIA, .•■•. ./'. Importância. — >1
relevância do negocio.
— Soòresair com relevância; sobrcsair
vantajosamente.
RELEVANTE, part. act. de Relevar. Ini-
portuiito. (pio é de algimia monta e peso.
— Loc. nK .icuisrurPKXCU : Embar-
gos relevantes ; embargos que provados
relevam.
RELEVAR, V. a. (Do latim relcvare''.
Absolver, rfímittir, dispensar, perdoar.
— Relevar a falia. — Relevar a pena. —
Relevar alguma obriga<;ão.
Deixa o Mogor o »cu honrado intento '
l'olo que á Hua gente rdei-ain,
Mas com dobrada dôr c nentimcuto
Segue então o caminho que levava;
E Hcm ter iielln algiun impedimento
(!lu'ga ao logar parn onde caminhava,
Tendo maio de ci^m h^guas ja partuada»
Todatt de ricu» iuiigoH habitadas.
ruANciHco nK AHnitAiiE, ruiMKino ceuco de oit',
cant. O, cat. Wj.
— «lia loy, que os releva dos tributos
e encargo» civis, como se mostra ex l.
Médicos de Professorih. et Media. Ha
ley, que cíj os previlegios <|ue lhe« a«HÍ-
gna nobilita naõ bò os MedicoH, inas eaaé
molheres, e filh<«, como se vc ex l. Mé-
dicos cod. de ProfesBsorib., et Medico*
et ex l, in fine de vac. et e.rrusut.t Braz.
Luiz d'Abreu, Portugal medico, pag. '2iy'à.
na mente tiuiho por U:
que BC ha de desatinar
por cousa que relevar,
pois que desatino «'•
Iani;ar agoa onde ha queimar.
ANTÓNIO ratsTKs, AUTOS, pag. 315.
— Relevar a figura na pintura; pin-
tal-a de n)anoira que pareça de vulto, ou
dar-lhe aquelles traços, de que depende
parecer cila feita de vulto c relevo.
— Alliviar, livrar. — Relevar o próxi-
mo do trabalho.
— Relevar a falta, culpa, erro, des-
cuido; j)assar por ella.
— Relevar a dôr de alguém ; consolal-o.
— V. n. Importar, cumprir, convir. —
Releva-me saber esse facto minuciosamente.
Pag. Parece que adormccco.
Port. Pois jerá bom que nos vamos.
Alex. Senhor, quer que nos vejamos?
Port. Senhor vir-mc-ha do Cco :
Rfleva-me que o façamo.-(.
CAMÒKS, SELEICii.
— «Outro que se preza duns encres-
pados bem feitos, o, por não estar á cor-
tczia de canequi. manda engomar o man-
téo e compôl-o de canudos, por que ao
oulro dia halo fallar á dama, e lhe releva
ir bom enconloado de novo.» Fernão So-
ropita. Poesias e prosas inéditas, pag.
120. — «E despois que se informou dcllc
de algumas cousas que lho relevava sa-
ber, lhe preguntou tãbem pelo .^cu inimi-
go onde estava, e quo poder tinha, a que
lhe ellc respondoo, que estiva daly pouco
mais de hum quarto do legoa, era hunia
casa de palha, com S"'>s trinta pescadores
comsigo, e os mais delles, ou qu.isi todos,
sem armas nenhumas.» Fernão ^Icndes
Pinto, Peregrinações, eap. 14.'^.
» Xão releva, é tudo assi ;
mais me pesit
RELÊ
RELH
RELI
179
porque o inferno faz presa
em ter lá tantos de mi •,
n'isto quizera defesa.
A Rasão desprezada !
AXTONio PRESTES, Avros, pag. 79.
Falia do carnaz virado.
Não reU.va que dizeis.
Ora dizeis o que ciuereis,
porque o senhor eá não está
c a senhora bastará
pêra o caso que trazeis.
IBIDEM, pag. 141.
Amor me força saber
que é amor, que postura,
si saldrè d'e3ta ventura,
ou se u'ella hei de morrer.
Rdei-a n'isto haver cura
meu amor.
IBIDEM, pag. 221.
Ora vá.
Em fim, a mim quem rae leva
para a cêa, embora eu vá
com taes filhos, não releva.
IBIDEM, pag. 273.
Isso me enfada.
Jluito me dará a mi d'Í330 !
Acabae, que me releva
irdes comigo.
IBIDEM, pag. 39Õ.
Todo é, tou tou,
não se p<5de comportar !
vistes como aqui chegou ?
pois tudo nào relevou
ura figo ! foi-sc a jogar.
IBIDEM, pag. 411.
Bofe, senhora, bem raza
fica agoro d'esta lima !
parece casa de esgrima !
Nào releva; olha esta casa
que me torno para cima.
IBIDEM, pag. 45.3.
Melhor me cubram boas fadas.
Releva mil hom'as juntas
empeshar-lhe saio ou saia.
Pêra esmola de mais vaia,
ou destoutras ?
IBIDEM, pag. 437.
— Syn. : Relevar, convir. ViJ. este
termo .
RELEVO, s. m. A obi-a que sobresahe
na matéria em que tíca lavrada.
Vi que o rdevo portentoso, c raro.
Sustido era nas mãos de hum Génio illustre,
A quem dêo berço dAdria a Grão Rainha,
Que escrava vimos ser de escravos feros,
E que hoje as Águias do Danúbio ompolgão.
J. A. DE MACEDO, VI.AGEM EXTÁTICA, Cant. 3.
Tem nas mãos do Filosofo o relevo,
Que ao vivo representa, ao vivo exprime
Do grande E.^:plorador da Natureza
O respirante, magcstoso vulto.
— Dlz-.se, na pintm-a, daquella appa-
renda dos objectos, que por um prestigio
da arte parecem sobresaltar da superfície
do pauno.
— Meio relevo ; diz-se a obra que se
faz ou lavra sobresaíndo ao plano, ou su-
perfície da taboa, ou pedra em que é la-
vrada, quando sáe só meio rosto, e meia
grossiu-a do corpo e membros. — «Diz
Plinio, que em seus tempos usavaõ jà em
lugar destas imagens, huns escudos de
bronze, no meio dos quaes eutalbavaõ de
meio relevo em prata os rostos de seus
maiores, oruando-llies as cabeças com as
insignias triuraphaes, ou quaesquer outras
Coroas, que lhes competiaS, como costu-
mavaõ às imagens de vulto.» Manoel Se-
verim de Faria, Noticias de Portugal,
Disc. 1, § 17.
— Relevo inteiro ; diz-se quando to-
das as partes da figura saliem da tal
plana.
— Termo de esculptura. Figura de re-
levo ; figura que se faz e lavra sobre-
saíudo ao plano, ou .superfície da taboa,
ou pedra em que é lavrada.
— Figuradamente : O relevo dos mem-
bros torneados.
— Bordado de relevo, ou alto ; borda-
do alcachofrado. Vid. Realce.
— Figuradamente : Realce, adorno que
embelleza.
RELHA, s. f. (Do francez antiquado
reilhe). — A relha do arado ; o ferro que
abre a ten-a.
— Plur. : Relhas dos carros ; taboas
que atravessam por dentro da madeira o
meão, e as caibas, e chaços das rodas do
carro, e as segui"am.
RELHINQUIMENTO, s. m. Termo anti-
quado. Deixat-rio, demissão, renuncia. —
Este relhinquimento faço ao ahhade de
tírdseila.
RELHINQUIR, v. a. (Do latim relin-
quere). Termo antiquado. Deixar, demit-
tir, abrir mào de alguma cousa. — Con-
fesso que abro mão, e relhinquo
1.) RELHO, s. m. Cesto, cinto matro-
nal, petrina.
— Açoute de couro crú feito de uma
tira torcida sobre si.
— Chegar ao relho a uma mulher, ou
desatar-lhe o relho ; casar com ella, ou
gozal-a.
— O fecho, ou fívelão com que outr'oi"a
se apertavam os preciosos cintos das se-
nhoras portuguezas. O serem de figura
triangular, e quasi da feição das relhas,
que ainda hoje na província do Minho
estào em uso, dá o nome a este ornamen-
to do cinto ou faxa peitoi-al.
— Se fulano vier ao relho ; se elle vier
ao que pretendemos, se o subjugai-inos ;
diz-se de uma alcoviteira ou dama a res-
peito de um homem.
2.) RELHO, s. m. Nome dado a um
peixe que se pesca no rio Mondego, e
em outros rios.
3.) RELHO, A, adj. Termo popular. Rí-
gido, duro, áspero.
— Inflexível, que não dá de si.
— Que diz as verdades, nuas e cruas,
sem dissimulações. »
RELHOTE, s. m. Um pedaço de relha,
mais estreita e curta, embebido no chaco-
do carro rústico, e o segura á caiba, pe-
lo meio do chaço, nos extremos do qital
também se embebem as relhas.
I RELICAYRO, s. m. Vid. Relicário.—
«E este relicayro traz cada hum ao pes-
coço por testemunho de suas virtudes,
paraque se saiba porque crime fov con-
denado, e quando aly entrou, porque to-
dos saem por suas antiguidades conforme
ao tempo em que aly entrarão.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 108.
RELICÁRIO, s. hl. Caixa de relíquias.
RELICITAÇÃO, s. /. Termo de juris-
pnidencia. Segunda licitação, quando de-
pois da primeira, outro co-herdelro rellci-
ta, ou declara, que toma em sua sorte
por maior valor, o prédio, ou movei, ixma
vez licitado por outro co-herdelro.
f RELICITADO, pari. ^^««s. de Relici-
tar.
RELICITAR, 1-. a. Termo de jurispru-
dência. Fazer relicltaçào. Vid. Relicita-
ção.
f RELIGADO, 2J("'f- i^"»»- de Religar.
Atado, ligado com novos vínculos.
RELIGAR, V. a. Atar, ligar com novos
vínculos, ou multiplicando-os; reatar.
RELIGAS, s. f. pi. Termo antiquado.
O mesmo que relíquias dos santos. —
Mando as minhas religas a minha filha
D. Berenqueira. Vid. Relíquias.
f RELIGIAM, s. f. Vid. Religião.—
«Per caso das boas andanças, e successo
destas viajens, fazia el Rei, aliem de suas
acostumadas esmollas, outras de dinhei-
ro, e speclarlas a muitas casas de reli-
giam, assi nestes regnos, como fora del-
les, o mesmo a pessoas particulares, pê-
ra que per Intercessam e oraçam destes
prouuesse a Deos lhe prosperar seus ne-
gócios de bem em milhor.» Damião de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 1,
cap. 64. — «Poucos dias depois destas
vistas vieram a dom Vasquo embaixado-
res de certa gente Christãa, que habita
nas terras de Cranganor, pedir-lhe os
quizesse tomar em sua guarda, e em no-
me dei Rei de Portugal os defender dalli
por diante em c\xja vassallagem se pu-
nham do que elle deu graças a Deos, e
lhes prometeo em nome dei Rei de o fa-
zer assi elle como todolos os outros capi-
taens que a índia ulessem, dos costumes,
e religiam dos quaes dii-ei adiante em
seu lugar.» Idem, Ibidem, cap. 69. — «A
primeira acordaram, que os Revs de Cas-
tella requeressem a el Rcy, que por quan-
to a excellente senhora em nome, trajos,
e seruiço nam cumpria em sua religiam
o que por bem do capitulado, e seu ha-
bito era obrigada; que os Reys apertas-
sem muyto que se entregasse em poder
do Duque, ou de cada hum de seus ir-
180
RELI
RKLI
RELI
miIo3 pcra lho fazerem cumprir o que fos-
so honesto, o rezílo, p"ÍH (jue eram hcu.s
vassalloH, e auiito denlar em «cus Jiey-
no.i.» Cinreia do Rezende, Chronica de
D. João II, cap. 39.
RELIGIÃO, «. /. (Do latim religio). O
culto a l)eu8, e ao3 seus santos. — «Os
quaes posto que seguissem o error dos
Mouros, como foraõ criiidos naquella ma-
neira de religiào, o fé de Cliristo que
seus padres tinhaõ, ainda que n<aõ con-
forme a Igreja Romana.» Joílo de Bar-
ros, Década 1, liv. 4, cap. 4. — «Fez
mui grande despesa em obras mui neces-
sárias, deu ordem como aiiula que depois
sucedessem comondatarios pouco deuotos
da religião o nam podessem desbaratar,
porque, ouuc do saucto Padre bulias, pe-
las quaes concede toda jurisdiçam spiri-
tual do dito mosteiro aos Prelados trieií-
nios, alem de terem sua renda separada
da dos comendatarios pêra o diante.»
Damião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 3, cap. 27. — «Dali pur diante íf
dou mais á religião, e cousas que tiuhrio
apparencias de a terem, e por se mostrar
particular zeloso das trej Icys que auia
no mundo que erào a Ohiistà, ludayca,
e Gentilica ; fez huma teada misturãdoas
todas, e tomado de cada huma o que lhe
pareceo mais cõforme, segundo que o
acõselhauiio Sérgio, loiío : e Ccleno seu
criado.» Frei Gaspar de S. Bernardino,
Itinerário da índia, cap. 2. — «A de
Oduiào, lUianetia, que quer dizer ley-de
religiào, e devai^ao, a que interpretou
Ale, se diz Immemia, que signitica ley
Põtiíical ; esta guardam os Persas, e
muitos Arábios com muita parte da Mou-
rama da índia.» Idem, Ibidem. — «Aqui
se deu Ismael a todos os actos de virtu-
de, pedindo esmola, que todos lhe da-
iião, assi por ser filho de tã bõs pays :
como porque a repartia cõ os outros po-
bres, os quaes seruia cõ tanto amor, c
charidade, que todos se marauilhau.^o,
da madureza, virtude, e religião que
naquella pouca idade vião ; cm tàto que
o tinhiío mais por homem do Ceo, que
terreno, com que cobrou nome de virtuo-
sissimo, e sancto.» Idem, Ibidem, cap.
21. — «Entendia o Madune Rei de Cot-
ta, como o de Candea buscava com a
mudança de Religião, a protceyão do Es-
tado; e como estos Gentios sito observan-
tes zeladores de seus erros, buscou meios
para lhe persuadir que era a idolatria ne-
cessária á Coroa.» .Tacintho Freire d'ATi-
drade. Vida de D. João de Castro, liv. 4.
Ao Templo oxcolso as bases se lançarão,
Km ti fovilo 3\ibiiido, em ti de todo
No maior lustre os séculos as \nrào.
O Pors!» adorador do Sol, ou fogo,
Em ti Seligiiío buscou por corto.
J. A. DE UACEDO, ÍIEDITAÇÃO, COnt. 1.
divino.
Vida de pessoa dedicada ao culto
— Acto religioso.
— Aí couna» da religião ; as cousas
religiosas. — «Nas cousas da Religião foi
zelosíssimo, o fez reformar quasi todas
as do Reino, o roluzilias a seu primei-
ro rigor, e observância, e se nu matéria
das rendas do alguns Mosteiros uietteo
mais a maò, do que convinha, sem du-
vida foi a culpa mais dos Ministros, e
Conselheiros Reaes jwr quem os negócios
oorriaò, que do mesmo Rei.» Frei Ber-
nardo de Brito, Elogios dos reis de Por-
tugal, continuados por D. .losé Barbosa.
— A verdadeira religião ; religiilo do
verdadeiro Deus, em opposiçrio á falsa
religião. — «Porem, o mais, segundo o
que nolles notamos, tinha mais apparen-
cia de idolatria e gentilidade que de ver-
dadeyra religião, e sobre tudo eraò inuy-
to dados á torpeza nefanda.» Fcrnrio Jlen-
des Pinto, Peregrinações, cap. 124.
— Us primeiros povos que usaram re-
ligião foram os ethiopcs, diz nm certo
autlior. — «Diz Diodoro Siculo, que fo-
ram 03 ethiope^ os primeiros homens que
tiveram conhecimento de Deos, e primei-
ro usaram religião, e ceremonias no cul-
to deuino, e foram os primeiros que ach:i-
raij o modo de escreuer, e que delles veo
o conhecimento destas cousas aos Egy-
pcios donde diz que elles descendem, e
tomaram as leis porque se gouernauam.»
Damião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 2, cap. 10.
— Reverencia e acatamento ás cousas
sagradas. — «Neste diabólico templo es-
tão mettidas em religião cm muytas ca-
sas que vimos mais de cinco mil molhc-
res, mas o que notey he, que saõ todas
velhas, sem nenhuma ser moça, e a mayor
parte delias muyto ricas, as quais todas
por suas mortes fazem doação de seus
bens a este pagode, e por isso tem elle
tanta renda.» Fernào Jlendes Pinto, Pe-
regrinações, cap. 162.
— Casa de homens dedicada ao culto
de L")eus.
— Ordens religiosas de cavalleiros. —
«Quem pois quizer alcançar a graça da
Contemplaçiio deue quanto puder de.-
uiarse de todas as oecupações exteriores :
e posto, que S. Gregório diga que os
prelados das religiões deuem ser mais
frequentes na contemplação, que os ou-
tros, cuido, que isto se ha de entender
daquellcs, que antes de chegar a prela-
sia fizeraõ muitos progressos na contem-
plação bem exercitados, porque acquiril-
la de nouo quando estaõ occupados no
gouerno dos súbditos, como seja neces-
sário attender ao aproucitamento, e com-
modo delles scrà mister grande fauor, e
particular concurso, c beneficio diuino
pêra acquirir o dom de contemplar.» Fr.
Bartholomeu dos Martyres, Compendio
de espiritual doutrina.
— Figm-adamente : Virtude, santida-
de que se attribuo a alguma cousa para
salvaçSo, e por isso se lhe tem reveren-
cia.
— Culto a falsos deuses. — «Peró por-
que ostc Xeque Ismael naquelle tempo
em poder, c estado era maior senhor que
o Turco, e havia pouco tem|K> que lhe
dera huma batallm, e veio a grande po-
tencia per armas, e religião de secta, e
dclle tem escrito alguns authores.» Bar-
ros, Década 2, liv. H», cap. õ. — «Fez
(Iregorio de Mattos em Pernambuco uma
satyra universal ao clero o religiões.
Escapou-lhe um clérigo, por lhe não De-
correr e viver fora da cidade.» Bispo do
(irào Pará, Memorias, publicadas por
Camillo Castello Branco, pag. 130. —
«Entretanto, apparcceram-me alguns ve-
neráveis de todas as religiões que fun-
daram no Pará e que nmito digiiamente
occuparam as chronicas das ordens que
professaram.» Ibidem, pag. 1113. — «E
03 Índios que lhes forem necessários para
o serviço dos conventos, se lhes reparti-
rão na forma sobredita, assim a elles,
como aos religiosos das outras religiões,
conforme a necessidade dos ditos conven-
tos, e quantidade que houver de Índios.»
Padre António Vieira, Cartas, cap. 13.
— «Também n'esta de Bento Rodriíues
tinha ido um religioso de certa religião,
o qual trouxe grande quantidade dos di-
tos escravos, e foi este um dos grandes
impedimentos que os padres acharam
para reduzir estea Índios.» Ibidem, capi-
tulo 15.
— Syx. : Religião, piedade, deroçÃo.
Religião é a virtude moral com que ado-
ramos e reverenciamos a Deus. Piedade é
a virtude que move o homem a honrar a
Deus : ajunta á primeira a idôa de zelo
e aífeiçào cordeal ; é a religião aflcctuo-
sa e amável. Devoção é o fervor e reve-
rencia religiosa com que fazemos certos
exercicios de piedade, que por isso se
lhes dá também o nome de devoções.
Na religião domina a f é ; na piedade
a caridade ; na devoçào a esperança ;
que n.^o sPío nossas devoçòe^», senão vo-
tos a Deus pjira que nos ouça, por isso
que n'elle pomos toda toda a nossa espe-
rança.
As mulheres sào chamadas em lingua-
gem ecclesiastica, o sexo devoto, porque
nos exercicios de religião mostram a ter-
nura e a sensibilidade, que lhes é pró-
pria, e s.^io, por outra parte, mais minu-
ciosas, c quasi ceremoniosas nas exterio-
ridades do culto.
RELIGIONARIO, A, í. (Do francez re-
ligioiíiitiirt . Nome dado áqaella pessoa
que fazia profissão da religião refor-
mada.
— Protestante.
RELIGIOSAMENTE, adv. (De religioso,
e o suffixo .t mente »\ Com religiào. —
Viver religiosamente.
— Exactamente, escrupulosamente, e
com respeito.
RELI
— Coin modéstia, e á luaueira de re-
liírioso.
"religiosidade, s. /. (Do latim reli-
giositasí. Sentimento de escrúpulo reli-
gioso.
— Disposição religiosa, conjuneto dos
sentimentos religiosos.
religiosíssimo, a, adj. Superlativo
de Religioso. Muito religioso. — «Fora
este dado a travessuras de mocidade,
com magua de seus religiosíssimos pães
e esposa, e com sentimento da vizinhan-
ça, e grande escândalo de Lisboa.» Bis-
po do Grào Pará. Memorias, publicadas
por Camillo Castello Branco, pag. 132.
1.) RELIGIOSO, A, aJj. iDo latim reli-
giosas . Que pertence á religião. — O
culto religioso.
— Conforme á religião. — O sentimen-
to religioso une intimamente os homens
entre si. — Varão douto e de vida reli-
giosa. — • «Nestas Armadas mandou El-
Rey os primeiros Frades da Ordem dos
Pregadores pêra na índia exercitarem
seu officio, e xexo por Yigairo geral de
todos o Padi-e Frey Diogo Bermudes
Castelhano varaõ douto, e de vida reli-
giosa, e exemplar, e trouxe doze Fra-
des, que loraõ bem recebidos em Coa, e
fundarão o celebre Convento, que hoje
tem naquella Cidade.» Diogo de Couto,
Década 6. liv. 7, cap. 2.
— Exacto, pontual, escrupuloso.
— Que vive conforme as regras da
religião. — «El Rei dom Emanuel era
de sua natural condJçam religioso, e em
todos seus negócios a primeira cousa, de
que sempre trataua, era do serviço de
Deos, e doctrina de sua sancta fé, do
qual zello movido determinou no começo
do anno de iL D. iiij, mandar homens
letrados na sacra Theulogia ao regno de
Congo.» Damião de Góes, Chronica de
D. Manoel, part. 1, cap. 76. — «Esta
gente religiosa ou que por tal se tem,
he grandemente vaã e soberba e vivos
sam adourados por deoses : de maneira
que inda os menores danti-elles adouram
os mayores como deoses, rezandolhe e
prostrandose diante deles : e assi ha gen-
te comum tem muito cre.lito nelles, com
muito grande reverença e veneraçam.»
Fr. Gaspar da Cruz, Tratado das cousas
da China, cap. 1. — «Falam a lingoa Per-
siana e Arábiga, tr^^tamse como homens
religiosos. Também sam obrigados a dar
de comer daquelles legumes e mantimen-
tos as catilas que ali vierem ter três
dias.» Ibidem, cap. 56. — «Tem mais o
vaò desta grande cerca, segundo conta
este Aquesendoo, mil e trezentas casas
nobres, e de ofácinas de miivto custo, de
molheres e de homens religiosos que pro-
fessaõ as quatro leys principaes do nu-
mero das trinta e duas que ha neste im-
pério da China, das quais casas dizem
que alguns tem das portas a dentro pas-
sante de mil pessoas, a fora os servi-
RELI
dores que ministraõ de fora o necessário
para a sustentação delias.» Fernão Men-
des Pinto, Peregrinações, cap, 105.
Aqnelle Manoel que jiinto estava
Com matrimonio á Veiga valerosa,
Temendo que se o Ceo a mào voltava
Contra a gente tiei rdiíjiosa,
E forças e poder ao imigo dava,
D huma barbara mào (Jespiedosa
Despojo venha a ser a sua chara
Esposa, que de si o despojara.
FRANCISCO DE ASDBADE, PBIJLEIBO CEBCO DE DIU,
eant. 16. est. lU.
— «Licito é que o parente religioso
veja a mulher ae seu parente, ou sua
parenta, ^'euha a casa, ajude a alegrar
nas occasiòes de contentamento, e a con-
solar no desgosto ; componha a discórdia,
se aconteceu entre os casados.» D. Fran-
cisco Manoel de Mello, Carta de guia de
casados.
— Que pertence a uma ordem monásti-
ca. — ■ « Ter hum Rey Mouro, huma Yma-
gem da Mãy de Deos em sua orta, ou hu-
ma Igreja em sua corte? e com tudo sa-
bemos, que na sua Metropoli que he As-
paam, tem a Religiosa Urdem de Saucto
Agostiidio, hum Coiiuento que elle defen-
de, e sustenta à sua cust;i.» Fr. Gaspar
de S. Bernardino, Itinerário da índia,
cap. lò, — «Despoys Ue três jornadas
chegamos a hum lago de agoa amargoz
que estaa em a Arménia baixa, antre
humas serras e montanhas, que teraa de
comprido sete ou oyto legoas, e de tra-
vessa cinco ou seys: estam dentro delles
duas ilhas pequenas habitadas de frades
religiosos Arménios, onde tem certos
mosteyros, e tem bôs pumares de fruyto,
como em estas partes.» António Tem-ei-
ro, Itinerário, cap. 22.
2.) RELIGIOSO, A, s. Pessoa que está
ligada per votos monásticos, que profes-
sa religião. — «Estava o Mosteyro de
Yieyra em sitio desacomodado para Re-
ligiosas, por onde se passou a Sauta com
seu Convento para o Mosteyro de Basto,
que seus parentes lhe fundarão, e como
nesta mudança se achasse em grande fal-
ta de mantimentos, fazendo oracaõ a
Deos, se acharão ao dia seguinte à por-
ta do Mosteyro seys moyos de farinha,
com que se remediarão por eutaò as ne-
cessidades do Convento.» Monarchia Lu-
sitana, liv. 7, cap. 2õ. — «E já quando
lhas mostrarão esta segunda vez, assi lhe
licou na memoria o que os religiosos di-
zião de quada huma, que elle mesmo de-
clarou á Rainha muitas cousas da si^Til-
ficaçaò delias: e ambos receberão as que
viuhào pêra suas pessoas.» Barros, Déca-
da 1, Uv. 3, cap. 9. — «Rui de Sousa
com os sacerdotes e religiosos de que o
maioral delles era fi-ey loão da ordem de
saò Domingos: (passados os primeiros
dias de sua chegada) ordenarão que se
fizesse huma Igreja de pedi-a e cal, se-
RELI
181
gtindo lhe per elRey dom loào era man-
dado, pêra a qual obra traziào seus offi-
ciaes.» Ibidem. — • «Despois que salmos
deste terreyro onde vimos todas estas
cousas, fomos a outro templo de religio-
sas muyto siunptuoso e rico, no qual nos
disserão que estava a mãe deste Rey,
que se chamava a Nhay Camisama, ' e
neste nos não deixarão entrar por ser-
mos estrangevi-os.» Fernão ]\Iendes Pin-
to, Peregrinações, cap. 111. — «Pêra os
que viessem acharem nos religiosos con-
solaçam peia suas almas, e consciências
recebendo nelle os sacramentos da Egreja
e ouuindo os offieios diuinos.» Damião de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 3. cap.
Õ3. — «Coi.ta Jlarco I\Iatulo que indo hum
religioso por hum caminho lhe pidiraõ
certos pobres esmola, a qual lhe deu de
tudo o que leuaua, pouco e pouco, até
ficar nú sem túnica, cos panos menores,
assentado em huma pedra cõ sô o liuro
dos Euãgelhos na mão lendo por elles.»
Paiva d'Andrade, Sermões, part. 1, foi.
166. — «E does da diuina graça, que di-
zia o mesmo padre Francisco podiam bem
fazer santas inuejas aos religiosos mais
solícitos da perfeiçam. Todos liam, e es-
creviam já o Português, e rezauam pe-
las horas o officio de nossa Senhora, e
as mais orações, e particularmente a pai-
xam, da qual eram grandes deuotos, afir-
mando, que em a rezar a ella sentiam
maior cousolaçam, e alegi-ia espiritual,
que em tudo o mais.» Fr. João de Luce-
na, Vida de S. Francisco Xavier, liv. 5,
cap. 13. — «O Elogio deste Frade me-
rece huma de duas couzas, ou que os Re-
giosos a quem elle quiz louvar o exter-
minem, ou que lhe facão mudar as ex-
pressoens.» Cavalleiro' d'01iveira. Car-
tas, liv. 1, n." 28.— «Os Religiosos fo-
gem da mentira, não só pelo daniio que
causa á consciência, mas pela offensa que
ella faz á verdade.» Ibidem. — «Pelo que
toca ás Freyras de Lisboa, he melhor fa-
lar com ellas do que falar nellas. As Re-
ligiosas do meu Paiz são igualmente vir-
tuosas como as do vosso.» Ibidem, liv. 1,
n.° 36. — «Por onde a theoriea he com-
mua a todos; e assim a estaõ lendo mui-
tos Religiosos nas Escolas publicas, naõ
só fira deste Reyno, mas ainda nelle.»
]\Ianoel Severim de Faria, Noticias de
Portugal, Disc. 2, § 1. — «E dentro tem
huma Ilha que he habitada de frades Ar-
ménios, e nella tem mosteyros, e sam gran-
des religiosos, e tidos naquella terra em
gi-ande veneraçam porque me disseram
que em nome de nosso senhor Jesu Clrris-
to faziam muytos milagres, e aqui se
criou com estes frades Arménios ate que
foy em boa idade, e delles aprendeo as
cousas que costumão ensinar.» António
Tenreiro, Itinerário, cap. 5. — «Alegres,
e contentes cõ cortesias feytas a seu mo-
do, nos saudarão todos juntos, e nos com
outra igual, os recebemos a bordo. Man-
182
i:i:i
11 1; 1.1
iu:li
dou lo^o " Capitão pcra este row-hiiiicm-
to fippai-iitíir a popa da iiao de rican al-
catifas (li! Diáz, e porá «i liiinia eadeyi-a,
na qual se assentou vestido á cortesail
iudintica com m-ai bastilo, a ((ueui os fi-
dalgos, e Religiosos lizerào sua cortesia.,»
Fr. (laspur do S. Boruunlino, Itinerário
da índia, cap. 2. — «Taiubeni o st;r tU-.a-
cortez com <>« religiosos, o estar como
potro ospaiitiulii;o, tendo medo de (pial-
quer arqueiro que voa pelo ar, é andar
limito por elle. A mulher 8C descoiitia,
vemlo o pouco que Ham d'ella, eacanda-
daliísa-so a casa, o senhor se affronta, e
nada tiea melhorado.» D. Francisecj Ma-
noel de Mello, Carta de guia de casados.
— «Outro mais escrupulo.so dizia, «lue em
cm quatro parte4 1 le jiareciam bem os
religiosos : Altar, 1'ulpito, Confessioná-
rio; e pcrfíuntaudo-lhe qual fosse o quar-
to luííari' Kjspondeu : pintados.» Ibidem.
— « NiXo me mandou vossa senhoria o es-
cripto de frei Jcào da Silveira, e só me
disse vossa senhoria que o livro estava
no coUegio d'esla universidade, mas sem
nomear o religioso que o tinha. A dili-
gencia em eonnnum fez o mestre frei Isi-
doro da Luz, meu grande amigo ; mas
responderam-lho como avisei a vossa se-
nhoria, que não havia no coUegio tal li-
vro, nem noticia de tal auctor.» Padre
António Vieira, Cartas, n." 28.
— Um religioso de virtude; um reli-
gioso cheio de virtude, verdadeiramente
virtuoso. — «É constante tradi^^ào que
sempre no convento de Alemquer está
um religioso do virtude, mais que ordi-
nária, com que a corte costuma ter gran-
de devoi,'rio.B Bispo do (irão Par;i, Memo-
rias, publicadas por Camillo Castello
Brauoi), pag. 132.
— Religioso (/« Santo Ago<!tinho; fra-
de da ordem de Santo Agostinho. — «De-
terminaram embarcarse em hum Pan-
gayo, que pêra isso todos alugai*ão, no
qual chegaram a Jtõbaça em companhia
de hum Religioso de S.uicti Augustinho
chamado Fr. Itapliacl líraudam, que foy
o que me deu as nonas da não S. lacin-
to, em que elle tãbem vinha pêra o Rey-
no.» Fr. (raspar do S, Bernardino, Iti-
nerário da índia, cap. 4. — «Tornados
pêra casa mo cotaram qiio dali duas le-
goas, auia outra Cidade chamada Ampa-
za em a qual estaua huma Igreja adminis-
trada por hum Religioso de Saneto Agos-
tinho. Festejamos isto muyto, e logo lhe
escreuemos, que à véspera da Aseen-
eão do Senhor o hiriamos ver.» Ibidem,
cap. 6.
— Os sacerdotes e religiosos i><>r ojjicin
anjos. — «Saõ os Sacerdotes, e Religio-
sos por õfficio Anjos : se o naõ forem tam-
bém nas virtudes, naõ há para elles re-
demçaõ, como para os outros homens.»
Padre Manoel Bernardes, Exercicios es-
pirituaes, part. 1. pag. '2W.
— Religiosos de vida ai>i>rovada ; reli-
giusuii que cumprem bem a regra. — « E
tornou a aquentar aquella (Jhristandade,
e augmeiítalla com hum grande numero de
intieis que coiiverteo, e fundou por aquel-
la (Jomarca perto de quarenta templos,
cm que se lhes administrasMcm os OfTt-
cios l)ivin(js, e alii deixou alguns Reli-
giosos de vida .ipiirovadtt pêra os dou-
Iriíiarem, e ensinarem as ctnisas de nos-
sa Fé.» Diogo de Couto, Década (i, liv.
7, cap. ó.
— Os religiosos de tí. Jeroni/iuo. — «E
na Eimida de líethlem fundou hum ma-
gnllico convento aos Religiosos de Sào
llieronymo.» António Cordeiro, Historia
Insulana, liv. 2, cap. 1.
— JJ. Joiínna religiosa no mosteiro de
Jesus d' Aveiro; D. Joanua freira pr()fes-
sa no mesmo nmstciro. — «Teve da llai-
nha D. Isabel o Príncipe D. Joaõ, que
morreo sendo menino de pouca idade : A
Infante D. Joanna, que foi Religiosa no
Mosteiro de Jesus de Aveiro, e acabou
seus dias com opiniaij de Santa : ( ) Prín-
cipe D. Joaò que lhe sueecdeo no líeino.»
Fr. Bernardo de Brito, Eiogios dos reis
de Portugal, continuados por D. Jtfeé
Barbosa.
— Religiosos da ordem de S. Francis-
co.— «O que feito Tristam da Cunha
mandou dizer aos da pouoaçam, que com
elles nani queria senam paz, e amizade,
como com Chvistãos, de que foram mui
ledos, e a algumas molheres desta ilha,
que eram casadas com os ilouros, por
serem (Jhristàs, deu liberdade, e logo ao
outro dia mandou sagrar a mesquita, e
dizer nella Missa, o qual officio fezerani,
frei António de Loureiro da ordem de
sam Francisco, e outros religiosos, e clé-
rigos que hiaõ na frota, e lhes pos o no-
me da aduocayam de nossa Senhora da
Uicturia." Damião de Uoes, Chronica de
D. Manoel, jiart. 2, cap. 23.
— Religiosos da ordem da Caridade.
— «l''izenios orarão, a qual acabada, e
saydos fora achamos o Padre líeytor
Fr. Diogo tio Spu Sãto (que este era o
seu nome) que cõ mostras de incrediuel
amor nos leuou a ambos nos bra(;os, cò
excessos de tàta charidade, quàta os Re-
ligiosos desta ordem tem com as outras
em quahpier parte que estejão.» Fr. (i as-
par de S. Bernardino, Itinerário da ín-
dia, cap. ti.
RELINCHAR, v. n. Vid. Rinchar.
RELINCHO, s. m. Vid. Rincho.
Belligcro prazer me dóruo sempre
Õs Clarins, co' as festivas alvoradas,
yue rcboao, nas eivas penedias ;
(-'avallos, coa relinchos, que saúdão,
Km seu Oriente a Aurora. — Era um contento
Ver os Quartéis, no somuo, iuja cmpégados.
F. U. DO KASCIUENTO, OS UABTVKES, 1ÍV. 0.
RELINGA, í. /. Termo de marinha.
Corda de atar velas. — Cortar com a es-
2)ada a reliuga da vela.
RELINGAR, r. a. Termo de marinha.
Pôr a-i ndingajt ás velas.
— Fazer casa ao vento com a» relin-
ga».
RELINQUIR, V. a. (Do latim rtUiujue-
rej. Tl riuo antiquado. Deixar, abrir inSo,
deinitiir. — (luiiij-me, e relinquo-»».- d«
todo o meu tjuiuJião.
relíquia, «. /. (Do latim reliijuia).
(J que nos restou de Chri^to e do« un-
tos.
Ainda que os gentios deram este nome
a todo um corpo defuncto, os cbriíitilos
deram-n'o u3o só a um corpo inteiro de
al;rum santo, míxn ainda a t>j<loB, c quaes-
quer despojos da ^umanida<le d'aquelles
que nào duvida a Egreja t-anta reinarem
Com Christo : como eram cinza?, ossos,
vestidos, ou qualquer partícula d'olle«, e
até as cousas inanimadas, que immcdia-
tamente tocaram os seus corpos, ou fo-
ram instrumentos dos seus martyrios, e
aspergidas do seu precioso sangue. Este
culto relativo, e que verdadeiramente se
dirige a Deus, que é maravilhoso nos
seus santos, principiou com a Egreja. e
no concilio de Kicêa de 7^7 se diz, que
Deus nos deixou as relíquias dos santos,
como fontes saudáveis d 'onde r3o cessara
de nascer de continuo os mais avantaja-
dos benefícios para o povo resgatado. E
com efteito esta veneração, que sempre
na ehristandadc se deu ás relíquias dos
santos, alguma vez se estendeu ás mes-
mas Hôres, que haviam ornado os seus
altares, e sepulturas, em quanto obravam
pela fé dos crentes assombrosas maravi-
lhas, como diz Santo Agostinho. Cidades
e províncias se jidgaram bem defendidas
e seguras de seus inimigos, só por terem
em si as relíquias de alguns santos. Sem
ellas ainda depois se nào podiam consa-
grar 03 altares, ilas nào ha palavra-s,
que bem possam dizer a piedade, a ter-
nura, a devoção com que os nossos maio-
res veneravam as relíquias, com que os
mosteiros outrora se fundavam, e as lar-
gas doações, que em honra sua se faziam.
=Em Viterbo, Eluc. — «E ás vezes que
sucedia falar com Florcnciano em cousas
de S. Jlartinho, a quem venerava com
especial devaçaõ pela saúde que" no prin-
cipio de sua idade alcançara mediante
sua intercessão, o relíquias, lhe referia
sempre este milagre das uvas.» Honar-
chia Lusitana, liv. ti, cap. l.">. — «E te-
ve noticia do modo maravilhoso, com que
partira do Lev.ante, no dia que as relí-
quias de Saõ Martinho jxirtirào de Fran-
ça, e aportaía em seu Reyno, no mesmo
dia, e lugar em que cilas tomarão terra:
o venerou, e ouvio, como dom particular
do Coo, mandado para remédio da gen-
te.» Ibidem, cap. is. — ijlas se o Bis-
po quizer Icvjvr por si mesmo as relíquias,
não seja elle levado em eade\Ta peloa
Diíiconos, mas a pé em companhia da
procissão do povo, que vay aos ajunta-
RELI
RELI
RELO
183
mentoí!, que se costumão fozer nas San-
tas Igrejas, e deste modo seraõ as relí-
quias do Senhor levadas pelo mesmo Bis-
po.» Ibidem, cap. 27. — «Nòs comtudo
uào sabíamos donde fosse, nem de que
parte tivesse vindo esta Imagem, mas
sucedeo, que desfazendose o altar pelos
pedreyros, foy achada uma arquinha de
marfim antigo, e nella hum envoltório
em que -avia relíquias de alguns santos,
c hum pergaminho com esta leitura.»
Ibidem, lív. 7, cap. 4. — «As quaes con-
tas dizia serem tocadas cm todalas relí-
quias daquella Cidade de Jerusalém, e a
campainha fora de huma Capella de N.
Senhora, com a qual se tangia ao alevan-
tar a Deos á Missa quotidiana, que se
naquella capella dizia.» Joào de Barros,
Década 2, lív, 8, cap. tí.
As Igrejas destruídas
de todos foram roubadas,
as relíquias voudidas,
as cruzes cspcdaçadas,
entre ladrões repartidas.
GARCIA DE BEZEXDE, MISCELLANEA.
— «Xesta paragem virão o monte Si-
nai, onde com fabrica de Anjos forão as
relíquias de Santa Catharina collocadas
em illustre deposito; a cuja vista D. Es-
tevão da Gama armou Cavalleiro a D.
Álvaro de Castro.» Jacintho Freire de
Andrade, Vida de D. João de Castro, liv.
1. — «Concluído o negocio da embaixa-
da, quiz o Bispo, pois estava em cami-
nho, visitar as relíquias dos Sagrados
Apóstolos.» Frei Luiz de Sousa, Historia
de S. Domingos, lív. 1, cap. 2.
— Relíquias dos santos ; monumentos
preciosos d'elle3, dignos de culto. — ■
((Panchr. Agora parecendovos bem a
todos, ordenase o que convém fazer das
Relíquias, e memorias dos Sãtos, princi-
palmente das de nosso Padre S. Pedro
de Rates Apostolo desta Província, que
Sant-Iago parente de nosso Salvador dey-
xou nella, para salvação das almas.» Mo-
narchia Lusitana, liv. 6, cap. 2.
— Desde o século vii, e por um ex-
cesso de piedade, que não por desprezo,
quando os ecclesiasticos e monges de
França não podiam alcançar justit;a das
vexações, que lhes faziam os grandes do
reino, e ás suas igrejas, e mosteiros, de-
positavam no pavimento das igrejas, e na
mesma terra as relíquias e as imagens
dos santos, e até a mesma cruz do Re-
demptor, cercanilo-as, e cobrindo-as de
espinhos, e abrolhos, tapando as mesmas
portas dos templos com matagaes espi-
nhosos, para que d'este modo provocas-
sem a indignação dos homens contra os
aggressores injustos; e só depois que as
injurias, c malfeitorias se reparav?.m,
abriam-se as portas, se levantavam as
relíquias, e imagens, se purificavam os
templos, se tornavam a entoar os psal-
mo3, e continuar as fnncções sagradas,
que, durante as violências, estavam co-
mo interdictas, e suspensas. Ultimamen-
te se extinguiu símilhante abuso em um
concilio de Leão de França, pelos fins do
século XIII, e no pontificado de Gregório
X. Slas não só isto : avante passou a de-
voção das relíquias. D'ellas se serviram
os monges, levando-as com grande pom-
pa ás granjas, e prédios dos mosteiros,
para exterminar os roubadores iniquos :
verdade é que para este fim usavam
igualmente de certas preces, e proclama-
ções denti'o mesmo do sacrificio da mis-
sa. Conduzir as santas relíquias em cha-
rolas, e andores, e também as imagens
dos santos, para ajuntar dinheiros, com
que se edificassem de novo, ou reparas-
sem as casas de Deus, ou se alliviasse a
extremosa pobreza dos seus ministros,
foi cousa que viram sem grande escânda-
lo os séculos passados : e mesmo o levar
as relíquias sagradas aos logares, que ás
egrejas ou mosteiro; se davam, ou doa-
vam, como para tomarem posse d'elles.
E, finalmente, tempo houve, em que nas
outavas das rogações levava cada egreja
as suas relíquias com procissão solemne
a um logar determinado, em que se ex-
punham todas juntas, para signal de boa
paz, e união entre os moradores das res-
pectivas parochias, que" alli se reconci-
liavam de todas as suas desavenças, res-
cindiam-se as demandas, sepultavam-se
as discórdias, e agradecendo ás relíquias
dos seus patronos tanto bem, voltavam
cheios de prazer a suas casas.
• — Diz-se também entre os sectários
de outras religiões. — «Porque os tinhão
por muyto grade relíquia, de maneyra
que andando estes malaventurados em
pé, envoltos no seu mesmo sangue, e sem
narizes, nem orelhas, nem semelhança
de homens, cahião mortos no chão.» Fer-
não Mendes Pinto, Peregrinações, cap.
160.
— - Plur. : Restos, sobejos. — «Achou
porem a vida onde hia esperar a morte.
Porque a magestade da santa cruz, e re-
uerencia do nome de seu seruo fez abai-
xar as espingardas, e trocou os corações
aos mãos soldados. Tais foram ainda de-
pois de tantos annos as relíquias do fruv-
to, que o P. Francisco fez nos naturais
da ilha de Amboino.» Lucena, Vida de
S. Francisco Xavier, liv. 4, cap. 1.
Não posso, oh leáes Filhos de Teutates,
Yer-vos, neste lugar, sem verter lágrimas,
Guardar na Escrava Pátria, Leis, e Culto,
Dos Avós nossos, da Nação que dava
Ao Mundo leis. Sois vos relíquias delles ?
F. U.INOKL DO NASCIMENTO, OS MARTYRKS, 1ÍV. 0.
RELIQUIARIO, .'^. m. Vid. Relicário.
f RELIQUIMENTO, s. m. Termo anti-
quado. Xvl. Relhinquimento.
RELIQUO, A, adj. (Do latim relifiuus).
Termo puuco usado. Restante.
— Emprega-se também substantiva-
mente.
RELIR, i'. 11 . Termo antiquado e popu-
lar. Rir.
RELLA, s. /. Armadilha de caçar pás-
saros.
— Vid. Rela, que é difí'('rente.
RELOGEIRO, ou RELOJOEIRO, s. m.
Homem que faz relógios, e os concerta.
— Homem que cuida em algum relógio,
para que vá certo.
RELOGIARIA, s. f. Arte do relojoeiro.
RELOGINHO, s. m. Diminutivo de Re-
lógio. Rrlogio pequeno.
RELÓGIO, s. m. (Do grego hõrologion).
Machiua ou instrumento que aponta as
horas. — «E sentido no fallar nas qualida-
des do chá de Macau; porque se se fal-
lar no Ayson, não cuidem que é author
inglez de relógios como Taylor e Mar-
chan.» Bispo do Grão Pará, Memorias,
publicadas por Camillo Castello Branco,
pag. 50.
— Relógio de a<jua, ou de areia; am-
pulheta de agua, ou de areia usadas para
marcar o tempo.
— Adiantar-se o relógio ; apontar mais
tempo do que é passado.
— Âtrazar-se o relógio ; mostrar me-
nos tempo.
— O relógio do (empo.
O tempo, espera !
Este relojio não se destempera,
PIc muito certo e muito fatundo.
GIL VICENTE, AUTO DA HISTORIA DE DEUS.
— Relógio de rodas ; machina composta
de varias rodas, pesos e molas, que fazem
mover regularmente um ponteiro por certo
espaço dentro de certo tempo, e serve de
nos mostrar e medir o tempo, isto é, as
horas, que passaram, os minutos, os quar-
tos, etc. São de -parede os de caixa gran-
de encostados ás paredes ,• de mesa os pe-
quenos, qne n'ellas se põe; e do algibeira,
os que n'ella se trazem ; também os ha-
via peqiienos que se traziam ao pescoço, e
em anneis. — «Em Alemanha, por haver
muita gente, florece tanto a mechanica,
que a ella se attribue a invenção da im-
pressão, pólvora, e artilheria, as maravi-
lhosas fabricas dos relógios, e dos mais
dos instrumentos Mathematicos; de entre
elles sahio a artificiosa invensaõ do papel,
de qne hoje usamos, das quaes cousas to-
dos os antigos naõ tiveraõ noticia.» Ma-
noel Sevei-im de Faria, Notícias de Por-
tugal, Disc. 1, § 1.
— Outros relógios ha em que as horas
se nos mostram por meio da sombra que
um ponteiro dá sobre o risco, onde está
marcada que hora seja ; estes relógios
são os do sol, ou da lua, pela luz d'este3,
c são horizor.taes, verticaes, etc.
— Termo de Marinha. Meia hora me-
dida pela ampulheta.
— Dar os relógios iiuve horas, doze ho-
184
UE LU
REMA
lUiMA
rtiB, otu.; fa/.i>r o« hciih hoiis úh nove, <lozc
Imnin, <!tc.
— I)nr corda ao relógio ; fazer onrol.-ir
ft eonlji MH |)o<,'ii onílo m; onrcila, o doudo
Hn vai destiiiriplando a niiiJa do m;o. Ha
relógios <|iu'. nv, inovoín por |)(!.soíf um cor-
das, otii liarni.s do inolal, ou poiídulan
para iiiovor o relógio.
— l<'if,'uradaiiiiiiiti; : Andar o relógio
temperado. — « Um mostre, outro resolva ;
(\\\v, aiulaiulo dostii maneira temperado o
relógio, todos o crêoiii, toiJos o tom por
oráculo. Nào só se concerta a si mesmo,
mas faz andar aos outros concertados. E
ao contrario, se so deseoneerta, também
aos outros.» 1). l<^rai\eisco Manoel dc^ Ahil-
lo. Carta de guia de casados.
— Fi^íuradumento : Relógio desconcer-
tado; pessoa que diz parvoíces, e doscon-
cortos, desatinos.
— t^ifíuradamente : tíer <i mulher como
a nuio do relogio, e o marido o próprio
relógio. — «Não cuide v. m. que mo con-
tradigo, ou arrependo do quo tenho cscri-
pto; declai'0-me com um bom scmolhaute.
Seja a mulher como a miio do relogio, c
o marido soja o rclojíio. Aponti^ ella, e
800 oile.» D. Francisco Manoel de Mello,
Carta de guia de casados.
RELOJARIA, s. f. Vid. Relogiaria.
RELOJIO, .v. /)/.'Vid. Relogio.
RELOJO, s. ,a. Vid. Relogio.
RELOJOEIPO, *•. m. Vid. Relogeiro.
RELOUCADO, part. paus. de Reloucar.
Duas \c/.câ louco.
— Jlulto louco, mais do que louco.
RELOUCAR, V. a. Fazer duas vezes
louco, f,i/.tu- muito louco.
RELUCTANCIA, s. f. Repufínaucia, re-
8Ísteui'ia.
— ( tliposirào do forças, adversão.
RELUCTANTE, part. act. de Reluctar.
Quo resisto, que repugna.
— Repugnante, resistente.
RELUCTAR, v. n. (Do latim rehictare).
Resistir, repugnar.
— Oppnr tor(,as, refertar.
RELUMBRAR, r. n. Reluzir, brilhar,
resplandecer, seintillar,
f RELUME, s. «I. Fogo vivo.
E oscuma dns paiiollas,
ropancUas, do relmne
que rccozo outras mais que elhis.
Dizei-uio o que fiucrois que vista
vossos paiúnlios do lã?
ANIONIO THESTES, ALTOS, pilg. iitl .
RELUZENTE, part. act. de Reluzir. »^u
reluz, <|ue resplandece.
— íris reluzente.
llumas di> ('(>r da iiurpurs» se vestem ;
Outras (lo verde, que tupi/.» os campos;
Outras ajuutào uas uiiuiosas peuuas,
Qual Íris rehize.itie. as cores todas.
Das espécies carnívoras, o bravas
Seuipre he menor devastadora turba.
J. A. DK MACEDO, MEDITAÇÃO, Caut. 3.
REH, *. ./. 'inf. (\)i) latim rem, accus.
de réu), ( 'oUf^a.
— "(Jom um adv. nugulivo, HÍgidiica
liada. — Não calem rem.
K «o veossoiitra, quii llii diria,
Se Miií (lissessHe: «t'a, per Vcis perdi
Meu aiiiit;o e doas que, me traria ?•
Ku uou sey rf.m ipio lhe disHrrtsaly.
Se nou foss'esto de quo mo tem i,
Non vos di^oru i|un o non fariu.
cAMi ANTiiiii riiunidiiKsi, pag. '2i>, n," 'J>>.
REMACHADO, adj. Revirado, rebitado.
— Xoriz reraachado.
REMADA, .V. f. ( iolpo dado com o remo.
— - liiiiud.-io dado ao barco, com o remo.
REMADO, part. pasg. de Remar. —
«Chegado Aflbnso d'Alboquerque a esto
j)orto, por a Cidade ser per hum rio as-
sima, em que não podiam entrar nãos
grossas, voio a elle huma lanchara rema-
da, em que vinham seis Jlouros houra<los
da terr;i, e hum 1'ortuguez, per o qual o
lley delia o mandava visitar com oflertas
do que houvesse mister para provisão da
frota, como quem entendia o lim da(|uella
sua viagem a Malaca.» Barros, Década li,
liv. (), cap. 1.
REMADOR, s. m. (Do thema rema, de
remar, com o suffixo «dÔr»). U que rema,
renioiro.
REMADURA, s. f. i Do thema rema, de
remar, com o suffixo «dura»i. Trabalho
de remai'.
REMAESCER. Vid. Remanecer.
REMAL. Vid. Ramal.
REMANCHADO, part. pa>-s. de Reman-
char.
REMANCHADOR, adj. Remanchão.
REMANCHÃO, ONA, adj. Vagaroso, ne-
gligente, ronceiro, que tarda em fazer
(pial(]uer cousa.
REMANCHAR, v. a. Termo popular. De-
longar, denuirar, ililatar, retardar.
— Remanchar-se, v. rejl. Tardar em
fazer alguma cousa.
REMANCHO, .-. m. neseanyo, pachorra,
vauar. phleunia.
REMANÇO. \'u\. Remanso. — « A qual
do Padrão pêra dentro, tem de fundo
sete brjiças, e jjoueo mais atem hum re-
manço de vinte cinco atè trinta, e neste
pego anchoramos. Bem ao Padrão estoue
ja antigamente huma Cida<ic, da qual ao
presente não ha mais que huns longos, e
ruynas do (]ue foy.» Frei <!aspar de S.
lieri .irdino. Itinerário da índia, cap. õ.
REMANDIOLA, .>í. m. Termo populai-.
Encano a^Iueioso.
REMANECENTE, adj. 2 gen. (Part. act.
de Remanecer). Que sobeja, restii.
— (Jue persevera, persiste.
• — <S. m. O que resta, sobeja, fica. —
O remanecente d<i lurança.
REMANECER, v. n. Ficar, sobrar, so-
bejar, restar.
— Porsevoi'ar.
— Apparocer inesperadamente.
REMANENCIA, >. /. <> resU), o rema-
M''l'"-|||i-.
REMANENTE, <olJ. 2 gtn. Vid. Rema-
necente.
Aili . [).■ romauia, de jiancadu.
REMANGADO, part. p,u«. de Reman-
gar.
REMANGAR, r. a. [..ançar ui3o para
ferir.
— Remangar-se, r. rijl. Vid. Arreman-
gar se.
REMANSADO, adj. EsUignado, detido,
t-uspen liilo o curHo, ou a cíjrrento de al-
gum;i coii-í.-i ii<|uida.
REMANSO, ». m. (Du latim rematttum,
HUp, de reiíianerei. Dcton(;ão, stupeiuAo
da agiia, pcfjucna onseaila, lago. — «Já
que acjibava do correr, em uma parte,
que as aguai faziam remaaso, viu um
batel com quatro remos e quatro onc;a8
por remeiros de niaravilho«a grandeza,
jiresas a umas cadeias gros.sas, na p<'ipa
por governador um liâo envolto eui can-
gue, como que se nào mantinha d'outra
cousa senão no dos p;L<sa;.'eiros. • Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim de Inglater-
ra, cap. íiy.
— Recolhimento, retiro.
— Descanso, aoccgo. — « Pijrque, pois,
nào aproveitaremos alguns instantes; de
paz e remanso cm iniincentcs pa<«ii^atcm-
)) sV Também cu vou sendo velho, dado
que os annos nào sejam muitos. Debaixo
da coroa ainda estes eabellos negrejam ;
mas a alma sinto-a encanecer.» Alexan-
dre Herculano. Monge de Cister, cap. 24.
REMAR, V. a. Mover o barco, dando
."ios remos.
— Remar sen remo ; supportar suas li-
das, trabalhos.
— V. n. Dar aos remos, para mover
o barco. — « ( ieorge botelho, por o seu
nauio ser muito ligeiro se a-liantoa da
frota, a quem sairão quinze calaluzes doe
inngos, per antre os quaes sem delles
fazer conta, nem lhes querer tirar pas-
sou adiante, o que vendo Poro de faria
fez remar os da sua gale a voga forcada,
pêra lhe acuilir. » Dami.no de (iões, Chro-
nica de D. Manoel, part. 3, cap. 41. —
«Vendo Vaseo da tíama que com elles
nào auia meio de paz, mandou remar
pêra os nauios, e porém à espedida al-
guns besteiros dos nossos empregarão
nelles seu armazém por naõ ficarem sem
castigo: c dahi a dou* dias com tempo
feito mandou Vasco da Camma dar a
vela sem leuar alguma informavào da
terra como desejada.» Barros, Década 1,
liv. 4. cap. ií. — • D. Vasco de Lima,
com nniito grande animo, som lhe dar
dos pohmros que choviam dentro da sua
barcassa, mandou remar avante c disse
ao patrão delia, q\u> lhe puzesse a pn^a
no baluarte, que se nào contentava o seu
animo senão das cou.<as que pareciam im-
possíveis, porque elle lhas fazia t<><lns fá-
ceis.» Diogo de Couto, Década 4, liv. 7,
REMA
REilA
REMA
185
cap. 4. — « Acabadas estas salvas de
liuma 2)arte e da outra, chegou a bordo
do junco de António de Faria huma la,ii-
teaa muvto bem remada, toda cuberta
de hum fresco bosque de castanheiros
com seus ouriços assi como a natureza os
criara nelles, guarnecidos pelos troços
dos ramos com muyta soma de rosas e
cravos, entressachados com outra verdu-
ra muyto mais fresca, e de railhor chey-
ro que esta, a que os naturais da terra
chamiío lechias, e a rama de tudo isto
era tão basta que ^e não viào os que re-
mavão, porque também viuhào cubertos
da mesma libré.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 68. — «E ainda que
hiamos presos ao banco da lanteaa onde
remávamos, nào deixavão os olhos de
ver cousa muyto grandiosa nas cidades,
villas, e lagares que ao logo deste gran-
de rio cstavão situadas, das quais breve-
mente direy alguma cousa desse pouco
que vimos, e começarey logo por esta ci-
dade do Nanquim dõde partimos.» Ibi-
dem, cap. 88.
— Figuradamente : Adejar. — Remava
a ave com as azas.
— Remar para a sua opinião; fazer
por sustental-a.
— Vingar, andar, adiantar-se.
• — Remar com os j^ês.; nadar.
— Figuradamente : Nadar.
— Trabalhar muito em qualquer cou-
sa, ou para qualquer fim.
— Remar sem cadeias; soffrer traba-
lhos forçados por costume.
— Remar contra a agua, ou contra a
maré; querer conseguir alguma cousa
sem embargo das contrariedades, que se
oppõem.
— Remar-se, v. refl. Ser remado. —
«Simão d'An<:b'ade, ou porque ouvio pri-
meiro o recado, que os outros capit<ães,
ou porque o seu batel se remava melhor,
partiu diante de todos.» Barros, Década
'J, liv. 8. cap. 4.
REMARCAVEL, clj. 2 rjen. Vid. Notá-
vel, Insigne, Conspícuo.
REMASCAR, f. a. (De re..., e mascari.
Tornar a mascar, remoer, ruminar.
REMASSAR. Yid. Remaescer.
REMASSE, s. ?//. Peça de ferro usada
pelos esjiingardeiros.
REMA.STIGAR, v. a. (De re..., e mas-
tigar'. Jlastigar outra vez; ruminar, re-
moer.
REMATAÇÃO, ou REMATAÇOM. Vid.
Arrematação. — « E façam os ditos juizes
em ello teer tal maneira, como se faça
venda e remataçom delles direitamente,
sem alguma arte ou conluio ou engano,
em tal guisa que as almas dos finados, e
03 ditos meores num recebam hv algum
dapno. ou perjuizo.» Ord. Affons., liv. 4,
tit. 41, § 1. — « Pêro consirando Nos
acerca desto a prol cumunal Dizemos,
que se ao tempo, que se tal remataçom
ouver de fazer, passado o tempo que avia
TOL. Y. — 24.
d'andar em pregom, o Porteiro notificar
ao Juiz, que manda fazer, como assi
trouxe os ditos bens em pregom o tempo
contheudo na Hordenaçom, e que nom
acha por elles mais preço daquelle, que
em elles he lançado, o dito Juiz deve
novamente mandar requerer ao devedor,
que pague a divida.» Ibidem, tit. 45, §
10. — « Porque a razom da pena, que he
posta em tal caso aos Corregedores, e
Juizes, ha lugar nos outros officiaaes da
Justiça, que a dita remataçom fezerem,
6.»por tanto deve seer igual pena em el-
les^) Ibidem, tit. Õ2, § 7. — « E no caso,
houde pendendo a demanda antre o dito
creedor, e devedor, de que ao despois
decendeo a dita eixecuçom, ou despois
delia em qualquer tempo ante da dita
remataçom, veeo algum outro creedor,
que pertendesse aver direito na dita cou-
sa apenhada, fazendo sobre ella deman-
da, ou protestando por seu direito, di-
zendo que sua divida era primeira que a
do outro.» Ibidem, tit. Ò3, § 5.
REMATADAMENTE, aih. Totalmente,
inteiramente, absolutamente, completa-
mente.
REMATADO, ixirt. 2^ass. de Rematar.
— « E muitas vezes acontece, que o que
recebe dinheiro emprestado apenha por
elle alguma cousa movei, ou de raiz com
tal condiçom, que nom pagando a certo
dia, que fique o dito penhor rematado ao
creedor por a divida : o que achamos seer
contra Direito.» Ord. Affons., liv. 4, tit.
39. — « Por que xe lhe vendem seus
beens, ca em outra guisa serom remata-
dos por aquelle preço, que em elles he
lançado, ainda que pequeno seja, pois
se nom pode por elles mais achar ; e se
já feito o dito novo requerimento, ataa
oito dias primeiros seguintes o devedor
nom pagar a dita divida, e o Juiz man-
dar fazer a dita arremataçom, e for feita
em pruvico, e em lugar acustumado, sem
outra alguma arte, ou engano.» Ibidem,
tit. 45, § 10. — « Por que a dita rema-
taçom foi feita, guardando-se acerca dello
a Lei d'ElRsi Dom Donis sobre tal caso
feita com limitaçoões, e declaraçoões, que
despois sobre ella forom feitas ; e a cousa
assi rematada fique salva ao dito compra-
dor, pois que a comprou em praça per
authoridade e mandado de Justiça.» Ibi-
dem, tit. 53, § 4. — «Em tal caso Man-
damos que se faça a dita remataçom, e
seja logo o preço, ou quantidade delia
socrestada, e consinada em Juizo, e se-
jam ouvidos esses creedores com seu di-
reito sobre o dito preço, e quantidade,
segundo o theor da dita Lei d'ElRey
Dom Donis; e a cousa rematada fique
sempre salva ao comprador, que a com-
prou em praça per authoridade de Jus-
tiça.» Ibidem, tit. õo, § 5.
REMATADOR, s. m. (Do thema rema-
ta, de rematar, com o suffixo «dõr»). O
que remata.
REMATAR, v. a. Acabar, concluir, por
fim, terminar. — Rematou o discurso.
— -Pôr remate, fim, coroar. — Remata
a coroa uma cruz.
— V. n., ou Rematar-se, v, refl. Ter- •
minar-se, acabar-se, finalisar. — «Ficou
a Condessa Frãdina (se o nome he ver-
dadeiro) cercada de angustias, aborreci-
da de todos, e mal respeitada dos Bai*-
baros, servindolhe de alivio a breAridade
com que perdeo í vida, comida de vene-
noso cancere, rematandose com isto as
principaes figuras de tam lastimosa tra-
gedia.» Monarchia Lusitana, liv. 7, cap.
G. — «Diz também Jacobo Filipo Bergo-
nense no seu suprimento das Coronicas,
depois de dizer que ha duas Scythias,
huma setentrional e outra oriental, que
ha oriental se remata em hum ponto, e
que nas costas tem Ásia.» António Ten-
reiro, Itinerário, cap. 2. — «Bem junto
do olho se remata este brinco com huma
pérola ; e isto vsam quasi todas ate as
pobres. Mas as Turcas nam custumam
trazer a tal inuenção no naris, mas cm
lugar delle furão a barba, bem junto
donde começa a papada, e alli trazem
humas argolinhas do prata, ou ouro, se-
gundo a posse de cada huma.» Fr. Gas-
par de S. Bernardino, Itinerário da ín-
dia, cap. 13.
— Vid. Arrematar. — «E por aquelle
preço, em que assy os ditos bens forem
avaliados, dem elles sua autoridade a se
rematarem aos ditos compradores, se os
por elle aver quiserem, e em outra gui-
sa non consentam per nenhum modo que
os ajam : e mandem-nos meter em pre-
gom, e rematar a quem por elles mais
der.» Ord. Affons., liv. 4, tit. 41, cap. 1.
REMATE, s. rn. Ornato que finalisa va-
rias obras de architectura.
No meio buma Pyramidc s'c1ct3,
Jíostrando cm seu triangular remate
Do fogo, c clara luz o assento, c throno,
Qual d'cntro os Gregos o mais douto o mostra.
Crendo que deste fogo a alma era chéa,
Que qual laço entre si sustenta, e prende
Incorpórea sustancia ao corpo inerte.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Caut. 3.
— Conclusão de alguma cousa. — «Dio-
go fernandez depois de ser em çurrate
soube que Meliquegupi andaua fora da
graça dei Rei, pelo que como o remate
de seu negocio estaua neste homem que
entara andaua agrauado de se tornar pê-
ra índia.» Damião de Góes, Chronica de
D. Manoel, part. 3, cap. 64.- — «E logo
estes dous membros de Satanás eram am-
bos assinalados, o Capitam tartamudo, e
o Piloto torto, e cego d'hum olho, o qual
por bom remate dalgumas obras tais,
qual sua alma, furtou, ou tomou per for-
ça a hum Christam da terra a própria
molher; metemna no navio, afastamse
do porto : he o delito publico, e grande
o escândalo em toda a cidade.» Lucena,
186
REJrA
RKME
REME
Vida de S. Francisco Xavier, liv. 6, cap.
10, — «Do iimiii (juo HO ]iiirtM()U acerca
duHtuH coiisaí), iicin lio ilo iiiiiilia oljripi-
(;aiii tratalaa, nem eu Huube mui» o liai,
c remate delias. l'clo (|uu cortauiloatt
a(jui (<|uo as cousa* diiuiilosa.i, moliior
lie veiidellas por taeti, a couta de if^no-
rancia, ([uo por verdadeirab sendo falsaj*^
o laui,'ando iiiilo das <|Uo tocilo ao cami-
nho.» Fr. (iaspjir do S. Hernardiíio, Iti-
nerário da índia, cap. 12.
— Figuradamente : O augo, extremo.
Porque BO a natureza
Em ti o rtinale \mz da formosura,
(iunl Bcri a pndra dura,
Qu' a teu valor resista brandamente?
Que fará a fraca gente,
So ao Imniano parecer nâo so defende,
K a mesma Vcnus deosa, ao teu se rendo?
CAM., ÉCLOGA 4.
— O remate, ou fecho das canções ; os
versos com que o poeta as concluo.
— Fim, termo, acabamento, conclusão.
— «Affon3od'Alboiiucriiue, porque aquel-
le dia llie convinha tomar conclusão, e
remate deste negocio, mandou logo ás
mios trazer escadas, c todo o necessário
pêra entrar as casas d'FIRey per for^'a.»
Barros, Década 2, liv. 10, cap. b. — «A
que agora quiz dar principio nas que la-
ço a vós, o a vosso tilho D. Álvaro, guar-
dando o remate delias para o cabo de
vosso serviço, que eu conti >, c tenho por
mui certo, que será tal, como for.ào os
que ate agora me tendes feito.» Jacintho
Freire d'Andrade, Vida de D. João de Cas-
tro, liv. 4. — «Ao outro dia passamos por
huma ponto de duzentos arcos, dos quaes
SÔ8 vinte cinco estauão inteiros, e os
mais todos quebrados, mas em estado
que SC contauam. No principio, e remate
delia, auia duas torres pequenas, postas
mais pêra gallardia, e lustro da obra,
que pêra dcfoudella cm caso que fosse
necessário.» H^r. (iaspar de S. Bernardi-
no, Itinerário da índia, cap. 12. — uEsto
fo}' o remate de sua começada viagem.
Muy descontente, e enfadado liquey em
Aleppo, vondome entre gente, que quasi
não entendia, nem oiles a mi.» Ibidem,
cap. 22. — «Estando nesta sancta occu-
paçam. Deu o vitimo rayo cm dous ho-
mens, que também passaram pelo termo
dos outros : do modo que os rayos foram
cinco, os abrazados outo, ou nouo, os
atemorizados todos, os emmendados ne-
nhum, como depois veremos no triste
fim, o remate que a nao teuc, com quan-
tos nclla hiam, saUio eu que no tempo do
sua pcrdiçam cstaua ja em Ilierusalem,
ondo ma contarão muy largamente, e ou
depois tornando a Chypre. soube dos pró-
prios que nella hiam.» Ibidem, cap. 22.
— Nas lanças do argolinha, é a parte
onde so engasta a hastea, abaixo dos raios
do toral.
— Figurailamentc : O summo grau, o
cume, ou cumulo.
— Loc. AiJV. Km remate ; por lim, por
ultimo.
REMCOM, «. in. nnt. Vid. Rincào.
REMEAÇÃO, «. /. Tornada, volta, pas-
Sílgcill.
REMEÇ... Ar palavras quo começam
por Remeç..., Ijusqucm-sc com Remess...
REMECHER. Vid. Remexer.
REMEDADOR. Vid. Arremedador.
REMEDÃO, ». m. Vid. Ramadam.
REMEDAR. Vi.l. Arremedar. — «Feito
rancho om terra, acesaii an fogui;iras,
prendidas as rodes aoa troncos, dormi u-
se a soinno solto. Na madrugada bramia
defronte a onça; o os indios som modo a
remedavam. Nào vciu nom a vimos. Cho-
cando ao porto, dormimos nVlle, isto c,
no niatto, e ao outro dia partimos para a
(.'asa-Forto.» Bispo do (Jrrio Fará, Me-
morias, publicadas por (Jamillo Castello
Branco, ]iag. líl.j.
REMEDIADO, iiart. pass. de Remediar.
REMEDIADOR, s. m. (Uo thenia reme-
deia, df remediar, com o suflixo «dôr»,).
t ) (pic rcnicileia.
REMEDIAR, v. a. (Do remédio). Dar
remédio; prevenir, evitar, obviar, des-
viar. — « Jlas a gi"ande providencia dol-
Key Dom ( )rdonho bastou a remediar to-
dos estes danos, e fazer com que se reti-
rassem os inimigos sem o effoyto que per-
toudiaõ, trás cuja ida repudiou logo sua
mulher Dona Urraca, mandandoa ao Con-
de sou Pay, cm satisfação do aggravo,
que lhe lizcra, quereudoo excluir do Key-
110.» Monarchia Lusitana, liv. 7, cap. 22.
— "E pêra cl Uey atalhar, e remedear is-
to, mandou logo iliantc dom PeJro de No-
ronha seu mordomo mór, homem de muy-
ta autoridade, quo cercasse como logo
cercou o Sabugal, e cl Rey se aparelhou
para hyr logo após elle, o foy om pessoa,
o chegou ate Castello branco, onde com
oUô so ajuiitou logo muyto boa gente do
Rcyno muy aparelhada darmas, o bons
cauallos.» (!arcia do Rezende, Chronica
de D. João II, cap. i')5.
O que tem do prudência cheio o peito
Seguro em tudo está, nada receia,
Poniue o mais impossivel, duro feito
Elle »6 co"a prudência o rcmfdeia :
r)'onde se diz, que o fado lho hc sujeito,
E que elle ci na terra senhoreia
Os celestes influxos, soberanos,
A que o Cco fez sujeitos os humanos.
F. d'akdbade, primeiro crbco de diu, cant. 18,
est. 2.
Por onde inda que a douta antigniidade
No Capitão perfeito demandava
Ousadia, saber, folccidade,
Comtudo a experiência Uie mostrava
Que do siber tem mais necessidade,
Pois a falta este si^ remediava
Da fortuna e do esfor>;o, e n falt » deste
Faz que o esfori^o e a fortuna pouco preste.
IBIDEM, cant. 18, est. 3.
SoH douA deiit«a lo^arca, que aqui digo,
' 'udc maii i i.r uo- ■• .tri., i uiia» hc rara,
l.itao d" ■■ I) antigo
'l'i!iiij)0. ■ ■lira ;
(In (|uii.i , d"j iiiitgo
Mogur, vci» lu^tUkiu, •JU.iicíru,
Com que o <|ue crt»u fracu a uaturcza
ItcccbiM) do artcticio fortaleza.
iBiDKM, cant. 10, eHt. 7i).
— «E no quo por vossa» cartaa, e in-
formaçõe» uo* uvisa-steit acerca de iivnur
os pitvod do Socotorá da mÍ6oravcl uervi-
dilo om que vivem, nus purec4X) reine-
diallo de maneira, quo u Turcu, cujua
vassallos sàu, uiiu infesto eMes mares
com suas armadas, o quo provereis, co*
mo mais convier, com couiK-ibo do V^iga-
rio Miguel Vaz, cuja ox|joriencla vos aju-
dará muito, as-im uosto, como em to<iort
os ne^focios árduos (juo se offiirocerem.»
.Jacintho Freire d°Andrado, Vida de D.
João de Castro, liv. 1.
— Curar doença, ferida.
— Curar, emendar, corrigir.
— Soccorror era alguma urgência, ne-
cessidade, etc. — «Folgara saber, dizia
o bom velho mais safraz quo zolosó, que
cousa ho hum Rey dando audiência pu-
blica? Devia do (luerer, que lho respon-
desse, quo ora hum pai da Pátria, que
se expunha a todos para o-i amparar, e
remediar como a liihos : o fazerme dest.i
resposta alguma invectiva para seu in-
teresso : mas eu furteylhe a a^ua ao in-
tento, e respondilho.» Arte de furtar,
cap. 4.T. — «E isto fazia a diuiua Mise-
ricórdia, porque se descobrissem de ca-
da vez mais as riquezas de homibiado,
o feruor que ostauão escijdidas no peyto
delia : o por isso quanto o senhor mais
dissimulaua, tanto oUa mais alto brada-
ua, Filiio do Dauid remediay minha fi-
lha.» Fr. Bartholoineu dos Jlartvres, Ca-
tecismo da doutrina christã, liv. 2. —
a^Iartim AfFonso acudiu a este negocio,
defeniloudo aos outros quo as niio come-*-
sein. E porque iiiio lia via com que re-
mediar os pacientes, ticáram deitados
por essa praia, esperando pela hora em
quo espirassem.! Diogo de Couto, Déca-
da 4, cap. 10.
— Remediar-se, i;. iv^. Achar recur-
sos para suas necessidades, ctc. — «Quo
era cuidar quo se d.alli sahisso maltrata-
do, nào acharia onde se remediar e seria
forçado cahir nas màos do outro gigante
o do seus cavalleiros, pelejava com ta-
manho acordo o resgiuirdo, que os mais
dos golpes de seu contrario fazia saUir
om vào, dando os seus tanto ao revez,
que o gram Bracolào desamparado das
forçjis cahiu aos pcs de seu vencedor.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. lOti. — «Mas ainda quando
as repostas lhe siiem, he cousa maraui-
Ihosa, o bem sufticionte aos fazer tornar
em si, o pouco quo lhes vem a valer sa-
berem por tais vias o que foy porá se
RExAlE
IIEME
REME
187
remediarem, e muvto menos o que seva
per;i se acautelarem.» Lucena, Vida de
S. Francisco Xavier, liv. 5, cap. 15.
REMEDIAVEL, adj. 2 gen. (Do latim
remeti iaòilis, de remediare). Diz-se das
concas, dds males aos qnaes se pôde dar
remédio.
REMEDIÇÃO, s. f. (Do prefixo re, c
medição). Acçào de remedir, de tornar a
medir.
REMÉDIO, s. /. (Do latim remedium,
de re, e mederi). O que serve para cu-
rar algum mal, alguma doença.
Cuido t(iie Prothoo vendo o que passaua.
Do lastima inoiíido apercebia,
Deste mariíilio fruito a praya, c punha
Este remédio tendo inda esperança.
OOBTE REAL, NAUFRÁGIO DE SEPÚLVEDA, Cant. 10.
Dai luz h treua, e sombra cseurceida.
Vindo mancebo illustrc sempre ousado
Dai gosto á \'iâta triste auorrecida
Do lugar solitário tão esquiuo,
Dai remédio às angustias em que viuo.
IBIDEM, cant. 12.
Ah Senhora, que podeis
Ser remédio do que peno.
Quão mal ora cuidareis
Que viveis o que cabeis
N'hum coração tão pequeno !
Se vos fosse apresentado
Este tormento em que vivo,
Crcrieis que foi ousado
Esto vosso, de criado
Tornar-se vosso captivo ?
CAM., piLODEMO, act. 1, se. 2.
Que farei?
Como me descobrirei ?
Porque a tamanho tormento
Mais remédio lho não sei,
Que entregA-lo ao softrimento.
IBIDEM, act, 4, SC. 1.
— «O cavalleiro do Dragão andas^a
tão envolto em ira e maneucorio, vendo
que se lhe defendia tanto um gigante,
que do primeiro encontro derribara, que
começou desíazer-llie as armas, descu-
brir-lhe as carnes com feridas tào gran-
des e perigosas, que Albarroco descoiv
iiado da vida pelejava como morto : e
também o fazia, crendo que algumas ve-
zes é remédio da vida não esperar ne-
nhum remédio.» Francisco de Moraes,
Palmeirim d'Inglaterra, cap. 94. — «Es-
ta aífronta, em que agora a vejo aventu-
rada, é tamanha, que se não pode passar
sem algum soccorro vosso : olhai o que
podeis perder em mim : e pois todolos
outros remédios me desempararam, haja
em vós alguma lembrança do que vos
mereço, que esta só me fará a vida segu-
ra, ou ao menos morrer contente.» Ibi-
dem, cap. 99. — «Em voltando os ou-
tros sobre elle, vendo-o daquella manei-
ra, disse um delles : Não são esses os re-
médios, que vos a vós hão-de salvar ;
melhor é dardes-vos á prisão primeiro
ç[ue vos custe mais sangue e trabalho.»
Ibidem, cap. 102. — «As donzcllas de
Arnalta desarmaram Dragonalte, que tor-
nando era si, tão avorrecido estava da
vida, que engeitava os remédios delia,
soltando palavras muito pêra haver d(j
delle, que o amor fiiz mostrar estas fra-
quezas a homens mui esforçados nos ca-
sos, que parece que os desampara, ou
lhe mostra desfavor.» Ibidem, cap. 130.
- — «No remédio destes damnos empenha-
vão o Turco por zelo, e por grandeza,
porque huns tocavão á Religião, outros á
Magestade ; motivos que cobrião a am-
bição, e justitícavão a jornada.» Jacin-
tho Freire d'Andrade, Vida de D. João
de Castro, cap. 1. — «Dui-ou em fim o
alcance o que durou o dia, sendo aos ini-
migos o horror da noite remédio contra
o da victoria. Recolhidos os soldados,
cheios de sangue, de gloria, e de despo-
jos, se deixou o Governador ficar no
campo ao seguinte dia, sem arguir aos
soldados a desordem que lhe deo a victo-
ria.» Ibidem. — «Estes bichos de voo, a
modo de salto, cação os bugios, e bichos
por cima das arvores, dos quais se man-
tém. Vimos também aquy grande soma
de cobras de capello, da grossura da co-
xa de hum homem, e tão peçonhentas
em tanto extremo, que dizião os negros
que se chegavão com a baba da boca a
quahjuer cousa viva, logo em proviso
cahia morta em terra sem aver contra-
peçonha, nem remédio algum que lhe
aproveitasse.» Fernão Mendes Pinto, Pe-
regrinações, cap. 14. — «O qual movi-
do da sua infinita bondade e misericór-
dia, quando os trabalhos e os infortúnios
saõ maiores, então acode co remédio mais
certo a aquelles que se achâo mais atri-
bulados, c mais desconfiados do remédio
da terra, inda que eraò Gentias se en-
ternecerão tãto.» Ibidem, cap. 141.
Polo qual se esse amor sobejo e puro,
Bem merecido assaz do que eu vos quero.
Vos obriga a querer pòr-mc em seguro,
Eu só comvosco estar segura espero.
Nao queiraes que hum incerto mal futuro
Se atalhe co"o presente corto, o fero,
Doixai-mc estar aqui, porque eu vos digo
Que esse remédio me he o múr perigo.
P. d'anDRADE, PRIMEIRO CERCO DB DIU, Caut. 10,
est. 28.
E assi não esperando que lho soja
Appiicado o remédio á grãa ferida.
Diz para o Cirurgião que outro proveja
Que elle vai arriscar de novo a vida.
E correndo entrou lá oude a peleja
Se mostra mais feroz, o embravecida ;
Porém lá muito nella não atura
Que com dobrada causa torna á cura.
IBIDEM, cant. 18, est. tíO.
— «Mas crescendo o morbo se com-
misturaraõ o Oxirrhodino remédios que
attenuem, aquentem, e resolvaõ, como
he o Castoreo, e a quantidade do Óleo
de macella acrescentada por esto modo :
fij. Óleo liuzado, e de macella an. vnc.
ij Castoreo drachm. j. vinagre rozado
vnc, j. misce. Alguns acrescentaõ óleo
anethino; mas como este no sentir de
(íaleno appiicado á Cabeça provoca so-
mno, não será taõ seguro o uzar delle.»
Braz Luiz d'Abreu, Portugal medico,
pag. 464, § 51.
Incapaz de torcer, firme, indomável.
Não ve, não ouve, não attandc a nada !
E cmtanto cresce o mal, e a cada instante
Foge o remédio.
GARRETT, CATÃO, aCt. 1, SC. 3.
— Figuradamente : O que serve para
curar os vicios da alma, acalmar os sof-
frimentos moraes. — «E assi saberá vos-
sa Alteza em verdade que vai esta gen-
te em gi-ande crecimento em a cristan-
dade, e em muita virtude, porque vam
conhecendo a verdade, por tanto vossa
Alteza mande sempre a esta gente, e fol-
gue sempre de a ajudar, e lhe mandar
remédio pêra a sua saluaçam, se. liura-
ria porque senhor disto tem ca muita ne-
cessidade pêra sua saluaçam que doutras
cousas.» Damião de Góes, Chronica de
D. Manoel, part. 4, cap. 3. — «Ao qual
dissemos chorando, pedismoste senhor,
pelo Deos que fez o Ceo e a terra, de-
baixo de cujo poder todos estamos, que
por elle te movas a piedade da nossa
triste fortuna, porque ja que as ondas
do mar nos puseraS neste estado de ta-
manha desaventura, nos ponha a tua boa
inclinação em outro milhor diante dei
Rey, para que se mova a ter piedade de
nós, porque somos pobres estrangej^ros a
quem faltou o favor e o remédio do nuin-
do, por assi o permitir Deos por nossos
peccados.» Fernão Mendes Pinto, Pere-
grinações, cap. 139. — «Porque doutra
maneira não ha duuida, senão que todos
acabarião a viagem, e vidas, por ser seu
perigo muyto mayor que o nosso, pois
elles derão em rocha viua, e nòs em la-
ma; elles cinco legoas de terra, e nòs
pouco mais de meya, elles onde a salua-
ção da vida não tinha huma no remédio,
e nòs onde por mercê de Deos, facilmen-
te o achamos.» Fr. Gaspar de S. Ber-
nardino, Itinerário da índia, cap. 4. —
«Que remédio averà pêra que não pe-
ques, e faças penitencia dos peccados ja
feitos, pois que nem como escrauo temes
ameaços, nem como filho esperas arden-
temente a herança, de teu padre celes-
tial? Bem sey que ainda que viues, to-
dauia tens esperança de yr ao parayso.
Mas quam fria e vaã ella seja, tua vida
e obras dam testemunho.» Frei Bartho-
lomeu dos Martyres, Catecismo da dou-
trina christã.
— Remédios 2^11 rgant es ; remédios que
purgam, que limpam de mau humor. — •
«No § 14Õ aconselha o iizo de remédios
purgantes dispostos em forma de pirolas.
li
REME
REME
IIFME
80 O humor bllioao nílo for insignemcnto
cálido, o o doento nito adinittir as bobi-
diis jmrgauteH. Nr.stu caso, ou He polum
uzar as pirolas que- o M. tra.s; ou (luan-
do 80 quoiraõ dar pirola^ oin uiono.t quan-
tidade, c com a mosnia efficacia, e vir-
tude 80 receitarão estas de quo tomos
Lom uzo.» Braz Luiz d'Abreu, Portugal
medico, pap;. 21. '5, § 21 G.
— Fifíuradamcntu : Expodiente, meio
com que so atalha ao mal, c se suppre a
falta, acode á neccâsidade, ou se indem-
iiisa.
E a cachopa hc prenliada.
ÁHÍli 8C fuz.
N»o ha hi maia ?
E^^»o lie o remédio que dais ?
Oiii ostou bom aviada.
Mão, inào, ou nào sei que diga.
Gir. VICHNTK, FARÇ.VS.
— «Ao outro dia os cavalleiros dos gi-
gantes, vendo seus senhores mortos o a
esperança de soccorro perdida, postos em
conselho sobre o que deviauí fazer, tive-
ram por melhor remédio ir-se ao cavallei-
ro do Salvagcui, o de .«^ua própria vonta-
de lhe entri'g-areui as chaves das fortale-
zas.» Francisco de jMoracs, Palmeirim de
Inglaterra, cap. 108. — «U Remédio pa-
ra a segunda causa, porque falta a gento
neste Keyuo, será cxercitarem-se nclle
as artes mechanicas, do que carece.» i\Ia-
noel Severim de Faria, Noticias de Por-
tugal, Disc. 1, § 4. — aO mais efficaz
remédio para a primeira causa da falta
da Nobreza, hc fazcr-so huma ley, pela
qual se disponha, quo senaõ possaò ajun-
tar dous Morgados numa só pessoa. » Ibi-
dem, §7. — «Bem entendeo a Naneaa
quo nào erão estas embarcações capazes
de toda a gente quo tinha cum.sigo, e co-
meçando entiío a cuydar no remédio que
poderia ter esta tamaniia noeessidade, iliz
a historia que tornou outra vez chamar
a conselho, c descubrinJo em publico o
recovo que tinha, lhes pedio a todos .seus
pareceres.» Fcrurio Mendes Tinto Pere-
grinações, cap. 92.
Tal hc esta força nunca resistida
Que até a mesma fortuna lhe obedece,
Porque esta onde a cspcranija hc mais perdida
Piffcrentcs remédios otlorccc ;
Esta a cousa mais vil, bai.\a, o abatida
Mil vozes sobro as grandes engrandece,
Tal quo da y.i pequena Aldeia e pobre
Pi5dc f.azer Cidade ilhistro c nobre.
PRANCISCO d'andR.IDE, PRIMEIHO CERCO DE DIU,
caut. 5, est. 1.
No tempo que a outra gento forte e ousada
Se occupa no trabalho, o na peleja,
Toda a outra estancia deste ho rodeada
E a qualquer dos que encontra, diz, que voja
Quo pois a defensão bo ja escusada
D'outro melhor remédio se proveja.
Que devia cntregar-so em quanto espera
Achar clcmeutc a imiga geuto fera.
IBIDEM, cant. 17, est. H.
Pouco o bom Capitio com isto se enleia
Por(|uc novo não lhe lio, mas esperado,
E logo o.^tn iIlCl^rteza rcmeditia
C'uiii hum remédio ussnz prompto o avisado :
Manda que hua capaz paiiellu cheia
Do negro ruinudor pi> salitrado
Abai.xo lancem, cuja claridadi;
Descubra o que cncubrio a escuridade.
luiDHM, cant. 19, est. lô.
— « E como nossa ley nam lhe he per-
juyzo nenhum a seu dominio o governo,
mas muita ajuda para que todos lio obe-
deçam e guardem suas leys. Este soo re-
médio iui pêra na China se poder fazer
fiuito, c outro nenhum nam (falando hu-
uiaiiaiiieutei.i) Frei (iaspar da Cruz, Tra-
tado das cousas da China, cap. 28. —
o Este mesmo remédio de asj)ereza me
disse hum ])rudei>te, que se devera appli-
car ás unhas de llollanda, e Inglaterra.
Ao ladraò mostraò-sc os dentes, e naõ o
coração.» Arte de furtar, cap. 213.
— Figuradamente : Auxilio, recurso,
refugio, soccorro.
Ve que o cabcllo do ouro espalha o cobre
Co elle, o peito cburuco, c lisos hoinbros,
1'^ nào poduudo mais cubrirsc, toma
As lagrimas por vitimo remédio.
Naquolle instante foy de amor ferido
Com dourada, cruel, aguda setta.
COaiB REAL, NAUFRÁGIO DK SEPÚLVEDA, CaUt. 10.
— «E conhecendo polas palavras, que
lho ouvira, quo era Floreados, pesou-lUe
cm estremo de saber o que passava, cren-
do quo a ira de Miraguarda faria nelle
nuiito damno, e que, se se perdesse, se-
ria mui grande falta pêra o mundo : e
nào sabendo determinar o que fizesse,
assentou em ir-se, pois sua detença nào
aproveitava ao remédio e vida de Flo-
rcndos.» Francisco de Moraes, Palmei-
rim de Inglaterra, cap. (31. — «E com
sua resposta se foram á rainha Carmelia,
que, já desesperada delle nào acceitar o
casamento de sua neta, contentou-se do
outro derradeiro remédio, que era a es-
perança, cm que as cleixava com sua pro-
messa ; e quo disto pesasse a todos, cm
Litinarda fez muito maior abalo.» Idem,
Ibidem, cap. 101. — «Espedido ElKey,
dahi a poucos dias o quizera tornar a
ver; mas Aflbnso d'Alboquerque se escu-
sou por sua enfermidade nào ser pêra vi-
sitaçào de Frincipes, e como qu3m se
acolhia ao remédio do mar, por na terra
o apertar muito a doença, hum dia pela
festa enroladameuto sem rumor se em-
barcou cm a náo de Diogo Fernandes de
Beja.» João de Barros, Década 2, liv.
10, cap. 8. — «Pedindo-nos por merece,
que lhos ouvessomos sobre ello remédio
com direito, lhes mandássemos guardar
as ditas Cartas, c privilégios, e que uzas-
som delias, e de scos boos uzos, e costu-
mes, de que sempre uzaarom, o custu-
niaarom, maiormontc que os ditos albor-
nozes era trajo uzado, e costumado cm
terra do Mouros.» Ord. Affons., liv. 2,
tit. 103, § 1. — «Alguns loraò de paro-'
cer que (se cntregas.sem ai armai*, mas
outros nSo, o destes foy Dona Leonor,
que di.sHo a seu marido quo nas armas
estava todo o seu remédio, que lho pedia
por amor de Deos que tal nào fizesse.»
Diogo de Couto, Década <5, liv. íl, cap.
22. — «Hum destes qmitro meteo a carta
no sevo, e nos dis^c, qinr coino se apre-
sentasse )ui mesa do remédio dos pobres
nos responderiào, e nos proveri.^o de to-
do o necessário, e com isto se despidirão
de mis. Três dias passarSo que nào vie-
raij visitar a prisaõ, e ao quarto pela me-
niiam tornarão a vir, e fazendo-nos por
hum rol que traziào mavtas preguntíis,
lhe respondemos a todas còforme ao quo
cada huma dezia, das quais respostas el-
les ficarão muyto satisfiitos.» FomSo
Mendes Finto, Peregrinações, cap. 100.
— «Antes de ecntenceiír esta causa, cõ-
deno o promotor da justiça em vinte taeis
de prata, para o remédio destes estran-
gcyros, visto nào provar cousa alguma
do que contra elles veyo dizendo, e por
esta primeyra vez seja su.sponso do seu
officio até o Tutão prover nisso.» Idem,
Ibidem, cap. lOl, — «Ao qual tisouro el-
les chamào, Chidampur, que quer ilizer,
muro do reyno, porque dizem elle-s que
em quanto aquelle tisouro estiver aly vi-
vo para remédio dos trabalhos, a que de
necessidade se ha de acudir, n.lo lançara
o Rey tributo nem finta sobre os jwbres,
nem os povos seraò avexados, como se
faz nas outras terras em que se n3o tem
esta providencia.» Idem, Ibidem, cap.
11;?. — «E com grande dôr e pouco re-
médio chorar minha desaventura, e te
affirmo na verdade desta santa e nova
ley que agora professo, que só por ser
Christaõ e amigo de Portugueses, me ve-
jo perseguido desta maneyra.» Idem, Ibi-
dem, cap. 145. — «Consolay os attribu-
lados, alleviay os enfennos, ampíiray os
perseguidos, soeorrey os tentados, man-
tende os pobres c famintos, acodi pela
causa das viuvas e orfaòs : vós sois o re-
médio de todos, e a todos podeis, e dcze-
jais fazer bem : se eu sirvo para instru-
mento vosso nesta obra, eu me offereço
com todo o coraçai").» Padre Manoel Ber-
nardes, Exercícios espirituaes, part. 1,
pag. 40. — « Porém ellos vendo que nSo
bastava o sotlrimento, eonsultárSo meios
de restituir Meúle, huns por vingança, e
outros por remédio. Fizerào suas juntas
secretas, onde tomárào difforentes acor-
dos, os quacs lhes fazia variar cada dia o
temor, e a difficuldade do negocio, mais
árduo na execução, que no conselho.»
Jaeintho Freire d'Andrade, Vida de D.
João de Castro, liv. 1 . — «E pêra que os
homens trabalhem milhor pollo seu re-j
médio e de seus filhos. Tam longe ho h» f
China de ter cativos que de todo sejamj
cativos, que nem os que cativam na i
ra sara escravos.» Frei Gaspar da Cruz,
Tratado das cousas da China, cap. lò. —
«Diz pciis Dali l : Respice in tustamentum
tuum quia repleti sunt qid ohscurati siint
terrae domiòtis iniqidtatuni. Quer dizer
ponde Senhor os olhos no concerto que
com este vosso pouo tendes feito, porque
mais ha de poder elle com vosco para seu
remédio, que nossos peccados para nossa
destruição.» Paiva d'Andi'ade, Sermões,
pag. '12o.
ElRei para qne o tomem se convida,
E Icvantaudo a voz bem clara e forte
Por remédio tomou de sua vida
O qne mais certo o foi de sua morte.
Melhor te fora, triste, ter perdida
Agora essa alta voz, que tua sorte
Por ministra guardou, e executora
Do mal que te guardava para esta hora.
FBílKCISCO DE A>T)R\DE, PEIMEIRO CERCO DE DIU,
eant. 7, est. 72.
— «Pelo que convém, que se procure
o seu remédio, applicando todos os meios,
que pôde haver para que estas Orfas do
povo se casem : porque além do grande
serviço, que se faz a Nosso Senhor em se
tirar a occasiaõ de se perderem, ficase
alcançando o intento da multidão da gen-
te com a multiplicação dos matrimónios. »
Manoel Severim de Faria, Noticias de
Portugal, Disc. 1, § 6. — «Lançauioslhe
cabos, atàdoo de huma, e outra parte,
que a necessidade inuentora das ccn^aí.
como lhe chama Xenophonte, e Quinto
Cursio, no.s ensinaua a buscar vários re-
médios, sem nos aproueitar algum del-
les.» Frei Gaspar de S. Bernardino, Iti-
Herario da índia, cap. 10.
5[as ellcs tem desculpa ; a negra fome
Os míseros mortaes a mais obriga :
Sem saber o que escrevem, escrevendo,
Buseaõ delia o remédio, e como lograõ
Os fins dos sous intentos, o que escrevem.
Seja ou naõ Portuguez, isso que monta?
Quom desculpa naõ tem, nem a merece,
E" quem vedar-lho deve, e naõ lho veda.
A. DDilZ DA CRCZ, HVSSOPE, Cant. 5.
— Medicamento, curativo, cura. —
«Xào sev se tinha remédio a doença de
Procris a quem seu marido Cephalo ma-
tou andando á Caça. Também julgo ir-
remediáveis as enfermidades de Thebé, e
de LucuUa. Ambas eriío violentas por
força do seu Ciúme.» Cavalleiro d'01i-
veira, Cartas, liv. 1, n.» 13.— «Que
também era bom untar as partes fendi-
das cora a sahida da boca, e que o nosso
Hausmisto se tinha achado bem com esse
remédio.» Idem, Ibidem, n.° 25. — «Hu-
ma generosa piedade occupou o seu lu-
gar, obrigando-o a partir para os Paizes
Estrangeiros determinailo a aprender, e
a consultar com os homens doutos o re-
médio da cruel doença da sua amada.»
Idem, Ibidem, n." .30. — «Assim como hi
remédios que amortecem, e que destroem
REME
inte^■ramente o amor, assim os pode ha-
ver para dispor as pessoas que os tomào
a seati-lo.» Idem, Ibidem, n." 30. —
«Ainda dizem os Medico.-!, que ha mais
remédios semelhantes que se podem to-
mar interiormente, e que também ha ou-
tros que se podem aplicar com bom effei-
to ao exterior.» Idera, Ibidem. — «Su-
põem o Medico que se satisfaz á sua or-
dem, e entende que se emprega o melhor
medicamento. O i3oticario executa o con-
trario, e dá hum remédio sediço, débil,
e antigo.» Idem, Ibidem, liv. 3. n.° 51.
Xào, de remédios taes cu não confio :
Ou Kberdade, ou morte. — ■ Este é o men voto.
BARRETT, CAtIo, act. 2, SC. 2.
— Seia remédio ; irremediavelmente. —
«E com todas estas cousas nilo pode ven-
cer e abrandar seu pai, e pelos nào ver
morrer, sem lhe poder valer, se desceu
abaixo, e com as mesmas palavras com
que pedira misericórdia a seu pai, pediu
a Polendos que se quizesse antes deixar
prender com seus companheiros, que que-
rer morrer sem remédio.» Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Iuglaterra, cap. 96.
— Loc: Não liavtv outro remédio ; ser
indispensável fazer, ser inevitável. —
«Tanto andaram os bons dos picadeiros
que lhes veio a anoitecer no caminho
bem junto das Canárias a tempo que a
massada era já feita; e por mais que o
conde bradou de cima da portela, como
o alviào estava desencavado, nào houve
outro remédio senào deseni-olar a ban-
deira.» Fernào Rodi"igues Lobo Soropita,
Poesias e prosas inéditas, cap. 117.
— Dar remédio a alguma cousa; re-
medial-a, auxilial-a. — «O màdou adver-
tir branda e comedidamente, que couten-
tandose com o muyto que já possuhia, e
com as destruvçoens e males feitos nas
terras dos Romanos, desse algum termo
a suas còquistas, antes que coujui-andose
as forças do Império, lhe acontecesse al-
guma desgraça, a que nito pudesse dar
mais remédio, que cõ arrependimento do
passado.» Monarchia Lusitana, liv. 6, cap.
7. — «Passados mais quatro dias em que
a Armada acabou de se fazer prestes de
todo, o Capitão mòr D. Fràcisco Déça
se embarcou na fusta de D. Jorge seu
irmílo, porque a sua ficou alada sem se
lhe poder dar remédio, e assim as nossas
velas forào por todas oyto fustas, e hum
catur pequeno, em que hiào duzentos, e
trinta homens todos soldados muvto es-
colnidos.» Fernào Mendes Pinto. Çere-
grinações, cap. 205,
Slostra-lhe o triste estado em que está posto
Isto que tem do st bem entendido.
Mas muito mais lli'o mostra o grande gosto
Que senria de vêr-se tao rendido.
Bem vê que se d"aqui nào muda o posto.
Além do ser cada hora mais perdido.
REME
189
Perderá a occasiào que o tempo dava
De dar remédio ao mal que o atormentava.
F. DE AXDE.VDE, PRIMEIRO CERCO DE DIU, Cant. 4,
est. 8.
Consente que Xoto, Africo e Levante
Me dêem nisto o remédio só que tenho,
E que comigo passem tanto avante
Que vào lá ter á parte d'onde eu venho,
E facão lá que o mar sinche e levante,
E que a seu pesar volte a proa o lenho
Em que vai meu bem todo, e vá direito
Oiid"eu quietar possa o acceso peito.
IBIDEM, cant. 5, est. 16.
Com grande festa forão recebidos
Dos seus, que delles ja desconfiavão,
E quanto os mais haviào por perdidos
Tanto mais de os ver vivos se alegravão :
Mas vendo-os maltratados c feridos
Só por dar-lhes remédio procura vào.
Porém nem isto lh'cra impedimento
Para continuarem seu intento.
IBIDEM, cant. 7,. est. 47.
— «Acontece serem escassas ; e dos de-
feitos mais leves, que n'ellas se acham, é
este um d'elles. Xào julgo que seja de al-
gum perigo (posto que pôde ser de des-
contentamento, e azo de pouca paz) por-
que se o marido é liberal, elle dará logo
remédio á condição da mulher; se tiver
o mesmo costume, viverão com miséria,
mas cora contentamento.» D. Francisco
Jlanoel de Mello, Carta de guia de casa-
dos.— «Confesso que tora licito á senho-
ra mandar sua encommenda, fazer ao
marido esta, e aquella lembrança por um,
ou por outro pretendente, e ainda favo-
recer a algum que o merecesse, dando-
Ihe uns longes de seu negocio, com que
lhe podesse dar remédio.» Ibidem.
— Não ter outro remédio ; ser indis-
pensável, ser inevitável. • — «É pois naõ
tenho outro remédio, peço aos Veadores
da fazenda, e Offieiaes de ElRey que
aqui estaõ, que estes quatro meze"s que
ha daqui atè virem as nàos do Reino,
me queiraõ ordenar huma despeza ho-
nesta da ftizenda de ElRey pêra os gas-
tos de minha casa confonne a minha
qualidade, e à pessoa que represento.»
Diogo de Couto, Década 6, liv. 6, cap.
9. — «A vista destas quinze vellas me-
teo a nossa gente em muvta confusão, e
por ja a este tempo se não ati-everem a
se fazer na volta do mar por lhe ficar o
vento muvto ponteyro, se meterão detrás
de huma calheta que a ilha fazia da ban-
da do Sul cercada de arrecife de pedras,
porque ja não tinhaõ outro remédio, e
aly determinarão de esperar o que a for-
tuna lhe offerecesse. » Fernào Mendes
Pinto, Peregrinações, cap. 146.
— Não ter remédio; ser irremediável.
— «Pois que o negocio estando concluído
nào tem remédio, nào falemos nos males,
cuidemos nas diligencias, e nos meyos de
adoçar os martyrios que se vos tem pre-
parado.» Cavalleií-o d'01iveira. Cartas,
liv. 1, n." 32.
190
IIEME
IlEMK
KKME
— Jlumcm que tem remédio ; li<»iii< in
abastado, que nHu hoHVo j)1Ívíi(;òi'h, lu-in
uecC88Ída(ic8.
— Adágios k ritovKuitKJs :
— Qiiuiii acliar remédio iiriínciro, aju-
de parceiro.
— Cuiu má goutc, ó remédio umita
terra eui meio.
— (Jonscllio sem remédio, 6 corpo som
ahiia.
— Quem dos seus se aparta, do remé-
dio HO alarga.
— O tempo dá remédio, «mde falta o
conselho.
— Do rico é dar remédio, o do vellio
conselho.
— Svx. : Remédio, medicamento.
Remédio tem um sentido mais amplo
que iiieilicdineuto. O remédio conipreheií-
de tudo o ((ue é empregado para a cura
de uma docnya; o medicamento é sempre
uma matéria simpleí ou composta que se
administra tanto ao interior como ao ex-
terior. O exercício piide ser um remédio,
porém nunca um medicamento. O sulfato
de quinina ó um remédio ou um medi-
camento,
O remédio refere-se á faciddade cu-
rativa, ou á cura; o medicamento refe-
re-se a um dos meios de a obter. A na-
tureza facilita ou suggere os remédios ;
ha remédios caseiros. A pharniacia com-
põe, e prepara os medicamentos.
Remédio é o género de que o medica-
meiíti) c a espécie.
REMEDIR, r. a. (Do latim remetiri).
Tornai' a medir, medir segunda vez,
REMEDO, s. m. Apparencia, arremedo,
farça, iniitavào, ficçào. •
1.) REMEIRO, s. m. Homem que rema
nas embarcações, remador. — «O qual
andando assi correndo esta costa com
desejo daguoa fresca, mandou o batei ha
terra com cinco Portugueses, afora os re-
meiros, e.stes foi-am António paçanha,
loam dalnielda de quintella ambos da
vil la Diilaaquer, António de vera da ci-
dade do i'orto, Francisco gramaxo. c o
barbeiro da uao.» Damião de Góes, Chro-
nica de D. Manoel, part. 4, cap. 52.
Li contra a Christtia fusta vai direito
Que d'eutre a cruel morte antea fuj^ira,
Maa ucni isto tão pouco clic^a a clVoito,
Ardo o Turco de novo em ódio o cm ira.
A fusta, que do todo vê desfeito
O perigo em que pouco autos se vira.
Com mais (|uicto curso (pie o primeiro
Dá descanso, d;i fôlego ao Remeiro.
FRANCISCO HE ANDRADE, PRIUEIBO CERCO DB DIU,
oant. 12, est. 59.
2.) REMEraO, A, adj. Que cede ao im-
pulso do remo. — Fustas mais remeiras
y((«? ouiraít.
REMELA, s. /. O humor amarollado,
que se aggrega aos lagrimaes dos olhos,
quando estes se acham no estado intiam-
juft tório.
REMELADO, pari. jjass. du Remelar.
- líiiiiido.so, cheio de remela, que tem
rciiiil.i.
REMELAO, adj. m. — Asxucar reme-
lão ; aiísucar (|ueimado, molle sem boa
REMELAR, v. n. Crcar remela.
- 'l\;v remela.
-— Fazer assiicar remelilo no.i cngo-
uh...s.
REMELEIRO, A, adj. i De remela, com
o ■■-unixii «eiró»). Vid. Remeloso.
REMELHGR. Superlativo composto de
re, e melhor. Jlais que melhor, duas ve-
ze.s nifllior.
REMELOSO, A, adj. (De remela, com
o sufli.Ko «oso»). Que tem remelas, que as
produzem. — Velhas remelosas ; que abor-
recem.
f REMEMERADO, part. pass. do Re-
membrar. Termo antiquado. Lembrado,
recordaflo.
REMEMBRANÇA, s. /. Termo antiqua-
do. Li'iiii)ran(;a, recordaçilo, memoria.
REMEMBRAR, i-. a. Termo antiquado.
Leinlirar, recoròar.
f REMEMORAÇÃO, s. f. (Do latim re-
meiíiijratin, de rememorarej. Acçào de re-
memorar.
f REMEMORADO, part. pass. de Reme-
morar. Tiiniailo a lembrar. — Os aconte-
ciiiifiifcs rememorados por este velho.
REMEMORAR, f. n. (Do latim rememo-
rare; de re, e memorare). Tornar de no-
vo á memoria uma cousa, tornar a lem-
brar.
REMEMORATIVO, A, adj. Que serve de
trazer á memoria. — As medalhas são re-
memorativas de certos acontecimentos.
— Que .-lerve de fazer lembrar.
REMEMORO, A, adj. Termo de poesia.
Que tem reminiscência, que se torna a
recordar.
REMENDADAMENTE, adv. (De remen-
dado, com o suflixo «mente»;. De uma
maneira remendada, com remendos.
REMENDADO, part. pass. de Remen-
dar. Diz-so d'aquillo a que se deitou re-
mendo.
— Mentira mal remendada; mentira
dissimulada, encoberta, dissimulada.
— Figuradamente: Malhado. — cE ia
em cima d'um palafrem formoso, remen-
dado de preto e branco, guarnecido d'ou-
ro de martelo com alguma pedraria em
lugares convenientes ; em companhia do
cavalleiro Negro entrou pola cidade, atra-
vessando contra o paço.» Francisco de
Moraes, Palmeirim de Inglaterra, capi-
tulo 89.
— Figuradamente : Locui;ào remenda-
da; locuç.HO cheia de termos deseguaes,
estrangeiros.
— Cavallo remendado, boi remendado;
aniniaes nialhíidos, maculosos.
REMENDÃO, s. m. Official de ^•apateiro,
ou alfaiate, ete., que deita remendos em
sapatos, vestidos, etc.
— Figuradamente: Homem que é in-
ferior no Keu oílicio.
REMENDAR, v. a. Concertar, compor
com remendo, deitar remendo. — Remen-
dar um vestido, um sapata.
— Figuradamente : Remendar dr: outro
paninj; remendar coutia de outra origem,
fi'>ra do ansumpto, do chão.
— Remendar velas ; concertal-a«, com-
pol-as. — « Em quanto os ofticiaea se oc-
cuparam em aparelhar a nao, e remendar
velai) : os lleligiosos, e paiuiagevroii, noa
posemos a concertar altares, e fazer pres-
tes a c<.»usa8 uececsarias.» Fr. (iaspar do
S. Bernardino, Itinerário da índia, capi-
tulo 8.
— Remendar gali-s velha» ; concertal-a<*,
compol-as.
— Adaoios:
— Quem te ensinou a remendar tilho.-s
pequenos, pouco p.ào para lhes dar.
— Fidalgo antes roto, que remendado.
— Remenda o teu panno, chegar-te-ha
ao anno.
REMENDARIA, «. /. Um composto de
remtMiilos, ia|ia feita toda de remendos.
REMENDEIRA, s. /. Mulher que con-
certa e remenda Vestidos velhos. — A
remendeira </-/ estrada, etc.
— L'>a->c também adjectivamente.
REMENDINHO, s. m. Diminutivo de Re-
mendo. Ilemendo pequeno.
REMENDO, s. »i. Peça de panno, com
que se compõe o vestido roto.
— Peça de couro, com que se concerta
a rotura do sapato, da bota, etc.
— Figuradamente: Concerto para evi-
tar o mal feito, e imperfeições.
— Lc»c. : Fazer as cousas a remen-
dos ; fazer as cousas aos bocados, inter-
rompeudo-as, e talvez sem ordem nem
harmonia.
— Figuradamente: O remendo da vien-
ttra; a sua dissimulação, o seu disfarce.
— Figuradamente: Macula, malha de
outra côr nos diversos animaes. — Os
remendos do cavallo, do boi, do gato,
— Remendo de taboa ; no buraco.
— Remendo </<; couro; no surriio.
— Figuradamente: O remendo de uma
locução; a desegualdade dos vocábulos
nella empregados, a sua nào nacionali-
dade.
— Figuradamente: Deitar remendos á
vida; ir vivendo com necessidade, e
custo.
— Remendo no campo; monte de plan-
tas, hervas diversas das que nascem nad
mesmas adjacências, e pontos.
— Figuradamente : Remendo de outro
paniw; cousa de outra origem, fora do
assumpto, do caso.
REMENINECER, v. n. Fazer-8e criança,
cair na meninice, na infância.
— Ficar sem juizo, sem tento. Vid.
Emmeninecer.
REMERCEALO, part. past. de Remer-
cear. Agradecido.
REME
REME
REME
191
REMERCEAMENTO, s. m. (Do francez
remercinient). Termo antiquado. Agrade-
cimento.
REMERCEAR, r. a. (Do fraucez remer-
ciev'. Termo antiquado. Agradecer.
REMERECER, r. a. (Do prefixo re, e
merecer). Tornar a merecer, merecer
duas vezes, merecer mais do que vale
aquillo que se dá em paga.
REMERECEDOR, A, arlj. e s. Merecedor
em duplo, duas vezes merecedor.
— Muito merecedor.
REMERECIDO, parf. pass. de Remere-
cer. Merecido dobradamente, tornar a ser
merecido, mais que merecido.
REMESSA, s. f. A acçào de remet-
ter.
— A cousa remettida, — Uma remessa
de frutas, de fazendas, de dinheiro, etc.
REMESSADO, part. pass. de Remessar.
Arremessado, ferido de arremesso,
REMESSÃO, s. ííi. Arma grande de ar-
remesso.
— Emprega-se também no sentido fi-
gurado.
— Medida agraria de 10 palmos e
meio.
REMESSAR, i;. a. Arremessar, lançar
arma de arremesso, ferir de tiro de arre-
messo. — « E forom a elles outra vez,
fazendo-lhes deixar o Outeiro, e hiam-se
quanto podiam, e ao passar de hum máo
caminho forom encalçados dos nossos,
onde hum daquelles Mouros desviou per
hum só pee a funda á mão esquerda, e
Pêro Yazques Pinto, que hia perto do
Conde desviou-se traz elle, e em o re-
messando errou-o, e avisando-se logo da
espada, deo-lhe huma grande ferida pela
cabeça, e outra pelo ombro.» Inéditos de
historia portugaeza, tom. 2, pag. 358.
— Figuradamente: Esta praga nos re-
messa nossa massa ; esta praga nos lança
de arremesso nossa massa.
Esta praga nos remessa
nossa massa : menos pressa
na obra mais proveitosa.
Tendo mandado chamar
mão segura
de mui brava architectura
que m'os venha aqui traçar
por mui perfeita moldura.
ANTÓNIO PRESTES, iUTOS, pag. 14.
— V. n. Ir dar com força, encontrar.
— Remessar-se, i'. reji. Fazerem-se ti-
ros de arremesso.
— Abalançar-se, lançar-se. — Remes-
sar-se no abysnio, no precipício.
REMESSO, s. m. Arma de atirar, de
arremessar. Vid. Arremesso.
-r- Figuradamente : Palavra com que
se fere aquelle com quem se falia, para o
fazer declarar, o que d'elle se pretende
saber, para o perturbar no que intenta,
etc.
REMESTRE, A, s. Termo cómico. Pes-
soa que é duas vezes mestre.
REMETER, v. a. Vid. Remetter.
Meus sentidos prostrados se submetem
Assi cegos a tanta magcstade :
K da triste prisão, da escuridade,
Clieios de medo, por fugir, remetem.
CiM., SONETOS, n." (55.
— « Hai muitas feitas delles, e tantas
ordens de votos diferentes, que seria fa-
zer hum graò volume, se has quizesse
dizer per extenso, mas quomo meu ofti-
cio seja screuer Chi-onica e naõ costumes
de gentes, nem liistoria geral, remeto ho
lector ao liuro que fez Duarte Barbosa
em lingoa Portugueza, dos costumes de
toda ha gente que ha do cabo de boa
Sperança até a China, e Lequeos.» Da-
mião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 1, cap. 42. — «E porque das de-
marcações dentre Portugal, e Castella
dos termos que a cada hum destes re-
gnos cabe no que he descuberto, e esta
por descobrir escreueram algumas pes-
soas hum em fauor de hum reguo, e ou-
tros do outro, nam direi aqui nada do
que elles ti-atam em suas alturas reme-
tendome ao que se nisso achar na verda-
de.» Ibidem, part. 4, cap. 37. — «Ho
que vendo Diniz de Mello, Emanuel da
Gama, Hector de Valadares, e Francisco
Bocarro, remeteram ha huma das portas
da fortaleza da banda donde se daua ho
combate, que logo arombaram com vai-
uens, e entraram com outros de compa-
nhia ha primeira tranqueira.» Ibidem,
part. 4, cap. 6õ. — «O qual o Rey lhe
deu com muito gosto, e com ordem, e
poderes pêra contratar tudo o que dis-
semos remetendose, e obrigando se per
suas carta.? de crença a estar por quanto
neste negocio fezessem elle, e o padre,
que despedidos do Rey ambos se embar-
caram, e chegaram a Goa a 20 de Jlar-
ço de 1Õ48. auendo ja bem três annos,
que o padre M. Francisco sahira da mes-
ma.» Lucena, Vida de S. Francisco Xa-
vier, liv. 5, cap. 24.
REMETIDO, part. jKiís. de Remeter.
Vid. Remettido.
REMETTEDURA, s. /. Remettida, cn-
vestiila.
REMETTENTE, part. acf. de Remetter.
— aS'. 2 gen. Pessoa que reraette, que
fez uma remessa.
REMETTER, v. a. (Do latim remittere).
^Mandar, enviar para ser entregue. — Re-
metter uma carta por um correio expres-
so. — ■ «E antes que descansasse, queren-
do ver se Bracandor era morto, estando-
Ihe tirando os laços do elmo, chegou ao
mesmo lugar Astripardo, sobrinho de Bra-
candor, com outros dez cavalleiros, que
vinha pêra acompanhar seu tio; e vendo
os seus todos mortos, e a elle em tal es-
tado de lhe cortarem a cabeça, sem ou-
tra consideração remetteu a Palmeirim.»
Francisco de Jloraes, Palmeirim dlngla-
terra, cap. 78. — «Porém o Governador
escasso no nso, e dispêndio de tão tieis
donativos, lhos tornou a remetter agra-
decido, e pagando-lhes nas honras dos
maridos, e filhos, tào liberal, e opportuno
serviço.» Jacintlio Freire de Andrade,
Vida de D. João de Castro, liv. 4.
— Dilatar, difterir, adiar, ampliar por
mais tempo.
— Remittir, moderar.
— Remetter o negocio a alguém ; con-
.fial-o, deixal-o á sua conta e direcção.
— Entregar. — «Que couzas saõ as de-
moras de hum Mini.stro, que naõ despa-
cha y Saõ de portadores continues, de que
lhe deis alguma couza, e logo vos despa-
chará. E porque o tal he pessoa grave, e
que se peja de aceitar á escâncara dona-
tivos, remette-vos ao seu official, quando
apertais muito com elle.» Arte de furtar,
cap. 48.
— ■- Perdoar.
— Remetter um homem ao outro ; en-
vial-o para elle com recommendaçào.
— -Remetter a causa ao juiz ; deixal-a,
e não proseguir a accusação o que que-
relou.
— Remetter o cavallo; arremessal-o, fa-
zel-o sahir impetuosamente, e paral-o
quando vai na maior força da carreira.
— ■ T'^, n. Accommetter impetuosamente.
— «E posto qiic, como se já disse, neste
dia fizesse maravilhas em armas, estava
tão fraco e cansado, e com tantas feridas
e tanto sangue perdido, que aquelle fora
o fim de seus dias, se alli não acertara
de passar aquelle valente e mui esforçado
Albaizar, que vinha na via de Constanti-
nopla, o qnal vendo tào crua e desigual
batalha como era de tantos cavalleiros a
um si'i, e conhecendo que o só fora o que
lhe dera a lança no castello de Dramo-
rante, o cruel, remetteu a Astripardo en-
contrando-o de tamanha força, que lhe
lançou da outra banda uma braça da
lança.» Francisco de Moraes, Palmeirim
d'Inglaterra, cap. 78. — «Então não po-
dendo softrer a ira que d'isso lhe cresceu,
remettem ao outro, que com a mesma ira
o recebeu, e começaram ambos ferir-se
com tanta força, que nem as armas de-
fendiam os corpos, nem a desenvoltura
estorvava o damno, que os golpes fa-
ziam.» Idem, Ibidem, cap. 81. — «Aca-
bando estas palavras e remettendo a Flo-
ramão tudo foi um, porem como sua fra-
queza fosse muita e a folta do sangue lha
acrescentasse muito mais, Floramão o le-
vou nos braços e com pouco trabalho o
derribou.» idem. Ibidem, cap. 10o. — «E
remettendo um ao outro, o primeiro gol-
pe, que o cavalleiro do Salvagem recebeu,
foi dado com tanta força, que lhe cortou
gram parte do escvido ; e a espada era de
tão bons fios, que, descendo ás armas, lhe
desfez um pedaço da falda da loriga, dos-
malliando-se alguma parte delia.» Idem,
Ibidem, cap. 106. — «Tornando a elles,
192
REME
REMI
REMI
quo Cíiila iim pola conliançu, quo costu-
iiiuvji ter, ostiivii ineuciicorio de iiào ilor-
nh-.iv o outro, lí torccira carreira remet-
terara com tanta Ibri^a, qiiu, tkl.-ados oA
escmlos o armas, o cavalleiro foi ao cliào;
o Floroudos pordiíla.s m cstribuii-as so
ajKif^^oii ai) collo do cavailo; o, tnrnando-
80 a eadiroitar, íicuii aljíiim tanto corrido
do aqiadlo ijozar.» Jdom, Ibidem, caj).
109.— « To la.s omitas cousai (Hio pa.ssaiam
de parte a parte, ouviram el-rei e Alljay-
zar, o dosíijavaiii vôr so ass obras do ca-
valloiru das douzellas diziam coui as pa-
lavras. K ii'isto baixas as laii(,a< remet-
teram um ao outro.» Idcin, Ibidem, cap.
123. — «Tomamlo outras, remetteram se-
gunda vez, e foi com tanta fúria, quo
ambos erraram o oncontio; porom como
a cada um naipiollos tempos não costu-
masse fallecor acordo lop;o tornaram vo-
tar com tenção do os acertar melhor a
tei-ceira vez.» Idem, Ibidem, cap. 127.
— Remetter a fazer ahjuma cousa; co-
meçar a fazel-a.
— Ir contra. — Remetter a ah/ueiu com
os braços abertos. — «E vendo o escudo do
vulto de Miraguarda posto cm sou lugar,
detove-se um pouco, c cenhecondo Flo-
reados, f(u'estava c'o rosto descoberto,
lançando a lança no chão, remetteu. a
cUe c'os braços abertos, dizendo: Nunca
eu duvidei o quo agora vejo." Francisco
de Moraes, Palmeirim d'Iugiaterra, cap.
108. — «Não sei se se agravarão vossos
parceiros, disse ello, quos vejo estar
apercebidos de Justa, dcixai-me cumprir
co'cllos, quo tempo haverá porá fazer as-
sim couivoseo ; c, sem mais detença, to-
mada outra lança, ([ue lhe deu Armello,
remetteu contra o quo trazia as armas de
branco e pardo e Apollo no escudo, que
também o sahiu a receber.» idem. Ibi-
dem, cap. 109. — «Porá que vejaes quão
pouco podem esses enganos, disse o do
batel, olhai por vós. E remettendo a elle,
lhe deu um golpo em descubcrto do es-
cudo por cima do elmo, c foi de tanta
força, quo além d'entrar alguma cousa,
lhe fez abaixar a cabeça tó os peitos, de
que Florendos ticou descontente, e teve
em mais seu contrario.» Idem, Ibidem,
cap. 110. — «E saltando sobre os degraos
remetteu aos gigantes, que contra elle
não buUirara, antes dcixando-se cahir
auto seus pés, Ibe desembaraçaram a en-
trada, e chegado mais a ella, contente da
obediência, com que o trataram, esteve
vendo muito de vagar o lavor e obra do
portal, que oram do mesmo jaez das ou-
tras cousas.» Idem, Ibidem, cap. 120. —
oE tomando outra quo lhe deu um escu-
deiro d'cl-rei, sem mais detença remetteu
ao quinto, que o saiu a receber, e o en-
controu com tanta força, que fazendo-Uie
rebentar as cillias, deu eoni elle e com a
sella por as ancas do cavaílo; e foi de
maneira, que algum pouco esteve desAcor-
dado: e indo por diante, com a fúria do
cavailo, foi ter junto das janellas d'el-rci,
pegado com Albayzar.» Idem, Ibidem,
cap. 128.
— Enviar, arreni&sHar de um modo im-
petuoso.— «Aprescntam-nos a Acestcs,
quo, empunhando um Bcej)tro de ouro,
Julgava os povos, c se apercebia para um
grande saerilicio. luquinu-nos, com voz
severa, de que paiz éramos, c qual o mo-
tivo do nossa viajem. Mentor adiantou-se
a responder, dizendo: Vimos das costas
da grande Ilesperia, d'ondo nossa pátria
não distji muito : e por este modo evitou
descobrir sermos (iregos; porém Acostes,
sem mais ouvir, havendo-nos por estran-
geiros, quo rT'catavaTnos nossa tenção, or-
denou nos remettessem a umas brenhas,
onde sorvisscnms, como escravos, aos
maioracs do seus rebanhos.» Telemaco,
traducção de jManoel de Housa, e Fran-
cisco ]\Ian(icl d(i Nascimento, liv. 2.
— - Remetter-se, r. mjL Keportar-se,
referir-se.
- — Dav-sc por desobrigado da pena, da
satisfação.
— Acíiuiescer, estar ])or. — Remetter-
se aj) .SI V arbitrio e decisão,
REMETTIDA, s. f. O impulso com que
se. accninictte.
— Investida, accommcttimcnto, assalto.
— Remettida do touro; investida con-
tra (IS capiídias ou caralloiro.
REMETTIDO, part. jxiss. de Remetter.
Enviado, mandado para entregiir-se.
— Entregue.
— Dilatado, ampliado. — Questão re-
mettida para outra uccasião.
— Divida remettida; divida perdoada.
— Moderado, remettido. — A cólera re-
mettida.
— Arremessado, lançado com Ímpeto.
— Tinn-n remettido contra alguém.
REMETTIDURA, />./. (De remettido, e o
suftixo «ura»). Uommettimento, remettida.
■ — Assalto, investida.
REMEXER, i'. a. Mexer do novo, me-
xer segunda vez, tornar a mexer.
— Remexer os ijuadris; movcl-os lasci-
vamente em certas danças.
— Figuradamente : luquietiir, pertur-
bar.
— Adagio :
— Versas que não has-de comer, não as
queiras remexer.
REMEXIDO, part. pa.^s. de Remexer.
Tornado a mexer, mexido se^guuda vez.
— Rcm mexido.
— Figuradamente : Calabreado, mistu-
rado.
REMIDA. Forma variável da terceira
pessoa do singular do presente do con-
junctivo do verbo Remedir.
REMIDO, part. pasa. de Remir. Resga-
tado, livre do poder.
— l''iguradamcnto: Restaurado. — Co-
roa remida.
REMIDOR, s. »). Homem que remiu,
que resgatou.
— Homem que livrou do captiveiro do
demónio os que a elle estavam sujeitos
pola culpa «li- Adão; redcnqitor.
t REMIFERO, A, wlj. íDo latim re-
mun, c ferre). Toruio de ZKidogia. Que
tem parte» em fiírma do remos.
REMIGES, adj. f. phir. Termo rle his-
toria I aturai. Penrum remiges ; |iennas
alongadas das aza» das aves, que fazem
o offirio de remo».
REMIGIO, «. vt. <Y)o latim reniiffium).
— O remigio das azas; o remar d'ella«,
a ajuila ou serviço que ellíis fazem áa
vezes.
REMIGRAÇÃO, *./. iDo latim remigra-
re). Mudança para o logar d'unde alguém
antes se tinha mudado.
t REMIGRADO, part. pats. de Remi-
grar.
REMIGRAR, r. a. CDo latim remigra-
rc). Mudar para o logar d'onde outrem
antes se tinha mudado.
— Voltar para sua primeira reeidon-
cia.
REMILHÃO, s. ;//. Termo do Brazil.
(irando colher de cobre usada nos enge-
nhos fli- assucar.
REMIMENTO, *. m. Termo antiquado.
R>^nússào, resgate, jierdlo. — O remi-
mento dr meus peccados.
REMINHOL, s. m. Colher cova grande,
encavada em pau, usada nas 'casas de
caldeiras des engenhos de assucar, no
serviço das bacias, ou tachos de cozer o
mel. que ha-de ir para as formas.
REMINISCÊNCIA, s. f. iDo latim remi-
nisteiitiii \ A acção de rcpresentar-se á
phantasia a espécie de cousa que passou,
c não temos presente.
— Exorcicio da nossa memoria, facul-
dade.
— Syx.: Reminisceucia, memoria. Vid.
este ultimo vocábulo.
REMIR, V. a. Comprar o que estava
em captiveiro, ou poder do inimigo. —
«Assy como se algum homem promettes-
se certo dinheiro pêra remir algum cati-
vo, e alguma mulher liasse, ou se obri-
guasse por aquelle, que tiil obrigaçom
iizesse ; ca cm tal caso sor.n essa molher
obrigada á tal fiança, e obrigaçom, assy
como qualquer homem, sem gouvindo do
dito beneficio do Vallcano. » Ord. Affons.,
liv. 4, tit. l'^, S 1.
— Tirar de grande trabalho, opprcs-
são. — Remir us captivos. — «Succdeo-
Ihe Joan IV. do nome, filho de Venân-
cio natural de Dalmácia, que por evitar
outro roubo dos ber.s Eclesiásticos seme-
lhante ao passado, gastou quantti ouro o
prata avia em remir cativos, e em obra»
dignas do cargo que tinha, e morreo em
o Senhor, avendo hum anno, e nove m<^
ses <jue titdia o Pontificado.» Monarchia
Lusitana, liv. (>, cap. 24.
— Livrar do poder. — • Assim eetes
valerosos cavalleiros Portuguezes, que
estavaõ em Siaõ, niandàraõ dizer ao Bra-
4
REMI
REMI
REMI
193
mà que os Portiiguezes nào remiaõ suas
vidas se nào cõ as armas, nem vendiaõ
sua lealdade por todo o ouro do mundo,
que soubesse em certo, que em quanto
elles fossem vivos, nào entraria elle na-
quella Cidade. E que ainda depois de to-
dos mortos, e espedeçados (se podesse
ser) lha haviaõ de defender.» Diogo de
Couto, Década G, liv. 7, cap. 9.
Nem em déz
remiras quem se te entrega.
No melhor teu gosto estala,
não sei quem de ti se apraz.
ANTÓNIO PBESIES, ACTOS, pftg. 15.
— Remir alguém, ou alguma cousa com
dinheiro. — «A clausula da doaçào, que
manda pagar o foro, ou remilo com di-
nheiro decontado, tica escura pelo nome
de tremisses, que eu nào pudera enten-
der, senão lera na vida de Masona Ar-
cebispo de Merida, escrita por Paulo,
Diácono da própria Igreja, que tremisse
era huma moeda que corria naquelle tem-
po, três das quais faziaõ hum soldo.» Mo-
narchia Lusitana, liv. 7, cap. 8.
— Resgatar, restaurar.
Quanta má vida lhe dou,
que nào remirão iacões
minlias importunações ?
mas eu, senhor, cujo sou...
Nào, melhor pagam rasões.
AKTOXIO PHESTES, AUTOS, pag. 19Õ.
Livrar.
Pelas margens dos Rios vou attento
Remir (quanto é em mim) as desventuras
Da provança execra vel. Tem os Francos,
Por uso, tentear, nos próprios Filhos,
Sc tem de ser valentes. Sobre as ondas,
Se, em broquel postos, á flor da agua, nádâo ;
Recolhem-nos, e os salvâo: os mais... morrem.
r. M. DO NASCIMESTO, OS MAKTTRES, llV. 7.
— - Remir os peccados com esmolas ; li-
vrar-se da pena por elles merecida.
— Livrar do captiveiro do demónio
aquelles que a elle estavam sujeitos pelo
peccado dos nossos primeiros pães. —
Christo remiu os peccados com o seu pró-
prio sangue.
— Fazer cessar a obrigação pagando
por si, ou por outrem.
— Remir vexame ; livrar-se d'elle.
— Remir-se, v. reji. Resgatar -se, res-
taurar-se, livrar-se. — «Fernão de Sou-
sa, entendendo dos rodeios desta Carta,
e de outras noticias, que os Castelhanos
se queriào remir com dilações, respon-
deo, que deixados argumentos, tratasse
de defender com espada seu direito.» Ja-
cintho Freire de Andrade, Vida de D.
João de Castro, liv. 2.
— Defender-se do mal, do ataque.
— Figuradamente : Remediar-se na ne-
voT/. V. — 25.
cessidade. — Remir-se com rim pequenis-
simo ordenado que tem.
— • Tirar-se de grande trabalho, de op-
pressào.
REMIRAR, V. a. (De re, e mirar). Mi-
rar de novo, tornar a mirar, mirar se-
gunda vez.
— Rever com attençào.
— Remirar-se, v. reJi. Revêr-se atten-
tamente, tornar-se a mirar, mirar-se se-
gunda vez.
— Emprega-se também figuradamente,
f REMISSAM, s. /. Vid. Remissão. —
«Mas nam espere ninguém, alcançar es-
ta remissam fora da igreja Catholica, e
Apostólica, por quanto a soo ella sam
dadas as chaues do Reyno dos Ceos. Por
isso nenhum hereje pode alcançar per-
dam de seus peccados, ate que se nam
reconcilie e incorpore com a sancta Igre-
ja, e torne a cobrar spiritu de vida, que
he fee, esperança, e caridade.» Fr. Bar-
tholomeu dos Martyres, Catecismo da
doutrina christã.
REMISSAMENTE, adv. (De. remisso, e
o suffixo « mente »j. Francamente, negli-
gentemente.
— • Sem presteza, nem acrimonia, nem
alacridade. — • ComhaUr remissamente.
REMISSÃO, s. /. (Do latim remissio,
de i-emissus). Indulgência, misericórdia
de uma pessoa para com outra. — «Ne-
nhum sacerdote pode ter manceba, se-
nam de todo deixar o officio sacerdotal,
ficando de todo inhabil pêra nunca poder
sacrificar, nem tratar as cousas diuinas.
Se entre nos alguns dos Bispos, ou sacer-
dotes tiuer filho bastardo, os priuão logo,
sem nenhuma remissão de quantos bene-
fícios tem, e da dignidade Episcopal, e
sacerdotal.» Damião de Góes, Chronica
de D. Manoel, part. 3, cap. 61. — «Os
quais presos se tem por muyto bem li-
vrados quando os levão a trabalhar no
muro, porque da prisão do Xinãguiba-
leu, nào podem por nenhum caso ter re-
missão, aem se lhe leva nenhum tempo
em conta, nem tem outra nenhuma espe-
rança de liberdade se não a hora em que
lhe couber sayr daly para o muro por
sua successaõ, porém como saõ no muro,
tem logo esperança certa de serem livres
conforme ao estatuto que ja tenlio dito.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações, cap.
108. — «E ainda então com trabalho che-
gamos ao outeyro onde elle estava fabri-
cado, no qual avia seys ruas muyto com-
pridas, cheyas todas de balanças pindu-
radas de tirantes de bronzo, nas quais
se pesava infinita gente para cumprimen-
to de votos que em adversidades e doen-
ças tinha feitos, e para remissão de quan-
tas culpas tinhaõ cometidas contra Deos
desne que souberaõ peccar até aqucUa
hora; e segundo o prometimento, ou a
graveza da culpa ; ou a possibilidaíle que
cada hum tinha, assi se pesava.» Ibidem,
cap. Itíl.
Concrusão,
que a leveis secretamente
ao casal, como prudente
a mateis sem remissão;
que eu por tapar bocas á gente
ficarei cá, farme-hei forte.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, JJag. 491.
— Perdão; n'este sentido só se diz em
termos de theologia. — A remissão dos
peccados. — Obter de Deus a remissão
de seus peccados. — Aquelle que conta com
a remissão de seus peccados não se cokibe
de os commetter.
— -Beneficio concedido pelo príncipe a
um criminoso, mudando-lhe a pena de
morte que elle lhe decretou segundo as
leis, quando as circumstancias o tornam
digno de perdão. — O rei deu-lhe, conce-
deu-lhe a remissão de sua pena. — Pe-
diu-se a remissão ao rei. — Ohter a re-
missão.
— Cartas de remissão ; cartas paten-
tes expedidas em chancellaria, e dirigi-
das aos juizes, pelas quaes o rei conce-
dia a um criminoso a remissão do seu
crime, no caso que o que elle tivesse ex-
posto ao seu desencargo, se achasse ver-
dadeiro. — Obter carta de remissão. —
Sellar a remissão de um accusado.
— Sem remissão; sem indulgência, sem
perdão. — Ser despedido sem remissão.
— A remissão produz o efteito de des-
encarregar o culpado do castigo que lhe
tinha imposto.
— A remissão, no sentido pathologico,
é acompanhada de phenomenos pyreticos,
somente enfraquecidos; n'este sentido é
differente da intermissão, que é comple-
tamente isenta d'esses phenomenos pyre-
ticos, a ponto de simular o estado de
saúde.
— Allivio, menos rigor, — Remissão
da pena.
— Por extensão : Mitigação, correcti-
vo de que se serve uma pessoa que tem
direito, vantagem ou authoridade sobre
outra. — Usar de remissão jiara com al-
guém. — Fazer pagar sem remissão. —
Não esperar remissão alguma dos seus
credores. — Tratar um devedor sem re-
missão. — Não esperar remissão nenhu-
ma.
— ■ Um homem sem remissão ; um ho-
mem implacável, que não perdOa, que
exige ao rigor tudo o que lhe é devido.
— Graça concedida a um culpado da
pena que se pronunciou contra elle.
— Em forma de theologia, perdão. — •
João estava no deserto, baptisando e pre-
gando o baptismo de penitencia pela re-
missão dos peccados. — A penitencia ob-
tém a remissão dos peccados.
— Termo de medicina. Diminuição
temporária dos symptomas de uma doen-
ça, quer aguda, quer chronica. — Ha re-
missão na febre.
— Cessação mais ou menos completa
dos symptomas febris, entre os accessos
194
REMI
RE.M< >
REMO
iFuma febre remittente. Diz-sc tainlxjiu
a remissão no pulso.
— Termo 'lo physica. EnlVaqucciraen-
to, <rmiiniiic;?l') do intenHÍfla'lo.
— Froiixiilílo do animo remisso.
— Remissão de phrenesi; intermissilo,
iiitcrvailo do cossaçào do furor, tendo di-
lueidoi intervalios, cm que íica livre to-
tainionto do phrcnesi ou dolirio. Vid, In-
termissão.
— • Figuradamente : Quitaçilo que se
dá.
— Acçào de rcmetter, de enviar para
ser cntrepuo.
— Remissão da embargos ; remessa ao
tril)unal d'onde emanou ordem, provisão,
quando se oppõe embargos de obrigação,
etc.
REMISSIVEL, adj. 2 gm. (Do latim
remissíOilis, do remissus). Digno de se
perdoar, perdoável. — Uma pe(iuena oj-
ftnm remissivel.
REMISSO, A, adj. (Do latim remissus).
Tardio no obrar, no executar. — O cMfe
remisso em castUjar.
— Indolente, não executivo.
— Conversão remissa; conversão não
acompanhada de fervor necessário para
perseverar.
— Tardo, lento, vagaroso. — «Em seus
negócios sempre foi melhor a tençaõ, que
o effeito, na expediencia delles tão re-
misso pela mor parte, que sua indeter-
minação lhe fazia damno, como foi na
declaração do Suecessor do Reino, com a
qual (se fora feita a tempo) se puderaõ
evitar os grandes damnos, que depois se
seguira").» Frei Bernardo de Brito, Elo-
gios dos reis de Portugal, continuados
por D. José Barbosa.
— Que não tom o mesmo grau de for-
ça, ou de intensão.
REMISSORIO, A, adj. Termo do foro.
Carta remissoria, ou letra remissoria;
carta, que o juiz envia com a causa a
outro juiz; e também a que o juiz pri-
vativo passa para outro juiz lhe rcmet-
ter 03 autos, e as pessoas presas por ou-
tra jurisdicção; taes são as que passa
o conservador da universidade para os
juizes d 'alguma terra, onde está preso es-
tudante, ou pessoa que goze privilegio da
mesma universidade.
— Que encerra perdão, indulgência,
remissão. — Ordem remissoria.
f REMITARSO, adj. (Do latim remus,
e tarso). Termo de zoologia. Que tem os
tarsos cm firma de remos.
•}• REMITTENCIA, s. /. Termo de medi-
cina. Caracter das affecçijes que são re-
mittentes.
REMITTENTE, part. act. de Remittir.
(Do latim remittentem, de remittere). Ter-
mo de medicina. Diz-se das doenças que
tem remissões, e mormente das febres, que
sem cessar de serem continuas, tem re-
missões comparáveis, até um certo ponto,
ás remissões d'uma febre intermittente.
— As febres remittentes dos puizes quen-
tes.
— Febre remittente das creanqas ; fe-
bre lenta, manifostando-so na infância, e
que se assemelha por seus symptomas ao
hydroeephalo.
" REMITTIDO, jjart. pass. de Remittir.
l\-rd(jad(i, (jiiitido/ — Injuria remittida ;
offensa remittida.
— Afrouxado. — Zelo reraittido.
■ — Largado, cedido. — Direito remit-
tido.
REMITTIR, V. a. (Do latim remittere).
Perdoar, quitar. — Remittir a offensa, a
injuria, á divida, etc.
— Largar, ceder. — Remittir o direito
que tinha sobre uma cousa.
— Afrouxar, não continuar com a mes-
ma intensidade. — Remittir o rigor com
que tratava esta creança.
— Remittir-se, i'. »•«//. Tornar-se frou-
xo, diminuir da intensidade antiga. —
Remittirem-se os delirios, os phrenesis
com a i'Jjicacia dos remédios. — «\ume-
rozos saõ os delirios, e Phrenesis a que
tenho assistido; dos quais, muytos preva-
lecerão contra todos os auxílios da Arte.
matando os doentes, outros se remitirão
com a efficacia dos remciios, diminuindo-
se o perigo. He verdade que os mais des-
tes afiectos, ou quasi todos os que tenho
observado tem sido simptonias de varias
febres, como ardentes, malignas, perni-
ciozas.» Braz Luiz d'Abreu, Portugal me-
dico, pag. 394, § 147.
— Mitigar-se, moderar-sc. — Remittir-
se a dor.
— Svx. : Remittir, perdoar, Vid. este
ultimo vocábulo.
remível, aJj. 2 gen. Que é possivel
remir-sc. resgatavel.
REMO, s. m. (^Do latim remus). Termo
de náutica. Vara de pau roliço, com cabo,
e pé nos seus extremos, que se fixa na
borda da embarcação, pciado por estropo
a um tolete, ou girando simplesmente na
toleteira, fincando a pá na agua.
O batel de Coelho foi depressa
Pelo tomar ; mas antes que chegasse.
Um K.thíope ousado se arremessa
A ellc. porque não se lhe escapasse :
Outro c outro lhe saem ; vè-se em pressa
VoUoso, sem que alguém lhe ali ajudasse ;
Acudo cu logo, c em quanto o remo aperto.
Se mostra um bando negro descoberto.
cAM., LIS., caut. 5, est. 32.
Fendendo as ondss vai a proa aguda
Sem ter algum favor de linho ou faia,
Porque como cncubrir-sc o Sousa estuda
Não quer que ou hum se estenda, ou outra caia ;
O curso da maré sií lhe d.í ajuda '
Para ir buscar do baluarte a praia.
Mas tão depressa vai co'o favor delia
Que bem pódc escusar o remo o a vella.
iBiPEM, cant. 14, est. G.
— «Em lun delles vinham quatro don^
zellas sentadas na popa, vestidas todas
d'um trajo com instrumentos nas mios,
tangendo e cantando tão docemente, que
poderam fazer inveja aos três companhei-
ros, SC os alli acharam : os remos rema-
vam com um compasso tão quedo, que
nenhum estor\'o faziam.» Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 110.
— «Finalun-iitc a.-si e^tes nauios de remo
como as carauela», qtiada hum em eeu
modo fez tanto per si que difficultosa-
nientc se poderia julgar qual dos capi-
taens nesta batalha e conflicto teue me-
nos que fazer: baste saber que pelo tra-
balho que quada hum pos na parte que
lho coube por sorte, assi deu conta de si
que os imigos que poderão escapulir se
punhão em saluo quanto podiilo. » João de
Barros, Década 1, liv. 10, cap. 4. —
«AftVjnso d'Alboquerque a primeira cou=a
em que entendeo, como pos os pês cm
Cocbij, polo estado em que Goa estaua
(segundo teue nona por Patamares, que
ião e vinhão com assaz perigo por terra)
porque o tempo não seruia pêra nauios
grandes : foi mandar gente em oito catu-
res a remo, que em seis dias chegarão a
Goa.» Idem, Década 2, liv. 7, cap. 1. —
"Tomou o remo na maõ e foy demandar
as galeotas, c como homem que andava
desconfiado endireitou cõ a de Cafar, que
vinha diante, e dando-lhe homa surriada
de arcabuzaria, e de artelharia, a inves-
tio pela proa, e os que hiaõ no esporão do
navio se lançarão dentro, e destes fica-
rão dous soldados dependurados dos re-
mos, e com trabalho se subirão à galeota,
aonde ficàraõ pelejando com muito valor
(porque a fusta da pancada que deu, tor-
nou a recuar, e ficou hum pouco afasta-
da'.» Diogo de Couto, Década 6, liv. 9,
cap. 3. — «Luiz Figueira mandou aper-
tar o remo, e tomou a pôr a proa na ga-
leota, e logo se baldeou dentro com os
seus soldados, achando os outros que da
primeira pancada tinhão entrado, pele-
jando com todos 03 Turcos valorosamen-
te.» Ibidem. — «E mandou negociar dez
navios de remo elegendo pêra esta jor-
nada Gil Fernandes de Carvalho, irmã"
de Ruy de Sousa de Carvalho, que «^>
Sfouros matàraõ em Tangcre.» Ibidem,
liv. 8, cap. 5. — «Agora me quero tornar
ao íjue hia tratando. Sendo eu como jk
atras tenho dito, convalecido da doença,
que trouxe do cativeyro de Siaca, Pêro
de Faria desejando de me abrir algum
caminho, por onde eu viesse a ter alguma
cousa de meu, me mandou em huma lan-
chara de remo ao Reyno de Paõ com dez
mil cruzados de sua fasenda, para os en-
tregar a hum sen feytor que là residia,
por nome Thomé Lobo.» Fernão Mendc-s
Pinto, Peregrinações, cap. 33. — «Mas
como Deos nosso Senhor por sua miseri-
córdia nos quiz fazer essa mercê quasi
milagrosamente, ordenou que tendo ja
caminhado mais de huma legoa adiante,
o qual fazia a força do remo, e com assaz
REMO
REMO
REMO
195
de trabalho, dessem naquella hora a sua
molhei- que levara preuhe tamanhas do-
res de parir, que lhe foy forçado tornar
daly a arribar ao lugar que abaixo tínha-
mos deixado.» Ibidem, uap. 96. — «As
cinco nãos dos Guzarates se fizeraõ na
volta do mar, e as dez vellas de remo se
foraõ direytas á ilha, onde chegarão quasi
ás Ave Marias, e o Turco mandou logo
espiar o porto onde tinha por novas que
os nossos estavão, e se veyo a remo pôr
na boca da angra, por lhe ficar assi a
presa mais segura.» Ibidem, cap. 146. —
«As outras duas vindo ja sobbla tarde
destroçadas de toda a appellação dos re-
mos, distantes huma da outra mais de
três legoa=!, huma delias chegou ao porto
ás Ave Marias, que também teve a for-
tuna das outras, sem se dar vida a Mouro
nenhum.» Ibidem. — «Ao outro dia huma
hora ante-menham, sendo o vento calma
de todo, virào os nossos a outra Galeota
que andava maca, por ter alijado toda a
esquipaçaõ do remo ao mar.» Ibidem. —
«E para isto se fez á vella para dentro
do rio com conjuncçaõ de vento e maré,
e dobramos huma põta que se dezia Mou-
nay, da qual descobrimos a Cidade cer-
cada toda em roda de huma grade quãti-
dade de gente que ocupava grade parte da
vista, e no rio quasi outra tanta de vellas
de remo.» Ibidem, cap. 168. — -«Estava
o mar coalhado de velas, que os ventos
enfucavam ; e o bracejo d'innumeraveis
remos alastrava as ondas de escuma : em
todos os lados soava confusa gritaria. Via-
Be na parte dos Egypcios, que corriam
espavoridos ás armas ; e outros que dese-
javam encorporar-se na armada que viam
aportar.» Francisco Mauoel do Nascimen-
to, Aventuras de Telemaco, liv. 2.
— Picar o remo ; remar com força.
— Atado ao remo ; preso ao banco de
remar vai o galeote, o forçado das galés.
— Tirar pelo remo ; remar impetuosa-
mente.
— Embarcações de remo. — «Ha tã-
bem outros que vivem de venderem pes-
cado vivo que tem em grandes tanques e
charcos de agoa, dos quais carregaò muy-
tas embarcações de remo, onde em pavões
muyto estanques o levào em viveyro para
diversas terras daly muyto longe.» Fer-
não Mendes Pinto, Peregrinações, cap.
97. — «Desta cidade de Xolor cõtinuamos
nossas jornadas mais cinco dias por este
grande rio, vendo sempre em todos elles
muytos e muyto nobres lugares que ao
longo delle estavão, porque ja aquy neste
clima he a terra muyto melhor, mais po-
voada, rica, e abastada, e os rios muvto
frequentados de grande multidão de em-
barcações de remo, e os campos cultiva-
dos de trigos, arrozes, e de toda a sorte
de legumes, e cauaveais daçucar muvto
grandes, de que toda esta terra he muyto
abundante.» Ibidem, cap. 129. — «Desta
jnaneyra chegou á cidade de Lingator,
situada ao longo de hum rio dagoa doce
muyto largo e fundo, frequentado de muy-
tas embarcações de remo, onde se deteve
cinco dias jjor vir mal desposto do cami-
nho. Daquy se partio huma antemenham
com sós trinta de cavallo, sem querer le-
var mais companhia.» Ibidem, cap. 131.
— « Parecia que deviào de ser povos muy-
to ricos, pela sumptuosidade dos edifícios
que nelles se vião, assi de casas particu-
lares, como de templos cõ curucheos co-
zidos em ouro, e pela grade multidão de
embarcações de remo que aly se viào com
toda a sorte de mercadarias e mantimen-
tos em muyta abundância.» Ibidem, cap.
132. — «No rio avia infinidade de embar-
cações de remo, nas quais se vendiào to-
das as cousas quãtas a terra produze, em
grande abundância, das quais nosso Se-
nhor foy servido de enriquecer a gente
destas partes muyto mais que todas as
outras que se agora sabem em todo o
mundo, elle sabe o porque. » Ibidem, capi-
tulo lõ8.
— Navios pesados, ou leves no remo;
navios que se movem ligeiramente, ou
pesadamente ao remo.
— Remos de pangaio. Yid. Pangaio.
— Estar remo em punho ; estar prom-
pto para i'emar ao primeiro signal.
— Caminhar a vela e a remo. — «Pas-
sada toda esta distancia de terra, que po-
dia ser de quarenta legoas pouco mais ou
menos, caminhamos assi a vella e a remo
mais dezasseis dias, sem em todos elles
vermos gente nenhuma como cousa des-
povoada ; só em duas noites enxergamos
huns fogos muyto pela turra dentro.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações, ca-
pitulo 73.
— Entrar a remo. — «D. João de At-
tayde, que .deixámos no mar com três na-
vios, foi fazendo viagem, e porque tinha
ventos de servir, era poucos dias vio a
costa da Arábia, e foi demandar a Cida-
de de Adem, e entrando a remo na ba-
hia, deo de rosto com as galés que esta-
vão surtas ; e pOrque ainda cui'savão os
Levantes, se tornou a sahir para o pego. »
Jaciutho Freire de Andrade, Vida de D.
João de Castro, liv. 4.
— Vir a remo pelo rio abaixo. — « As
sinco nãos dos Guzarates se fizeraõ na
volta do mar, e as dês vellas de remo se
foraõ direytas à Ilha aonde chegarão qua-
si âs Ave Marias, e o Turco mandou logo
espiar o porto aonde tinha por novas que
os nossos estavaõ, e se veyo a remo pór
na bocca da angra, por lhe ficar assim
a presa mais segura, e com tenção de
tanto que fosse manhãa tomar todos os
nossos ás mãos, e atados com cordas de
dous em dons.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 146. — « Desta terra
da boa gente partio ha armada aos quin-
ze dias de laneiro, e aos vinte, e cinco,
dia da conuersão de S. Paulo chegou a
boca de um rio grande muito fresco, e
de muitas fi-uctas, e aruoredos, onde an-
corou já bem tarde, e loguo pela manhã
viraõ vir pello rio abaixo algumas alma-
dias a remo com gente da mesma calida-
de dos do rio do cobre, e antrelles alguns
mais baços.» Damião de Góes, Chronica
de D. Manoel, part. 1, cap. 36.
— Fincar o remo na agua; suspen-
del-o.
— Navios de remo. — «Os nauios de
remo dos imigos que estauam surtos de
longo da terra, em vendo fazer a nao do
Vicerei a vela, se alevantaram, e se fo-
raõ lançar a tiro de falcam da nossa fro-
ta, começando logo de júgar com a arte-
Iharia, o que também no mesmo instante
se fez, assi da cidade, como do baluarte
do mar com quarenta bombardas grossas,
que de uma e de outra parte estauam
assentadas em lugar donde mui bem lhe
podiaõ impedir o passo. x Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 2, cap. 39.
— « Por fora desta derradeyra cerca vay
huma muito grande cava de agoa, de
mais de dez braças de fundo, e quarenta
de largo, dentro da qual ha continua-
mente grande soma de navios de remo,
toldados por cima como casas, em que se
vendem todas as cousas quantas se podem
imaginar, assi de mantimentos, como de
toda a diversidade de mercadarias a que
se p/ide pór nome.» Fernão Mendes Pin-
to, Peregrinações, cap. 94. — « E aos
que fizessem Navios de alto bordo, ou
remos para andar na Costa do Algarve,
e de Portugal em corso, lhes concedia
também as prezas, justificando depois,
que sahissem em terra, como eraõ de
Cossarios, e tomadas em boa guerra;
para o que haviaõ de dar fianças, antes
de partirem, diante dos Officiaes, que
haviaõ de visitar as mesmas Embarca-
çoens.» Severim de Faria, Noticias de
Portugal, Disc. 1, § 16.
— Figuradamente: O meio, o esforço
por alcançar.
— Loc. FIG. : Navegar á vela, e re-
mo ; usar de todos os meios, e fazer es-
forços por obter.
— Figuradamente : Dar ao remo 2^<"'
onde forem as ondas; ir com a maré, se-
guir e obedecer ao curso favorável das
cousas.
— • Figuradamente : Atado ao remo ;
diz-se do mau habito, da peita, vicio,
etc.
— Figuradamente : Eenar seu remo ;
passar a vida em trabalho ; ou trabalhar
muito para viver.
— Yid. Surdo.
REMOÇAR, V. a. Vid. Remoquear, dar
remoques.
7 REMOÇADO, part. pass. de Remo-
çar. Tornado moço o que era velho.
— Figiu-adamente : Remoçada a natu-
reza.
7 REMOÇADOR, A, adj. Que remoça.
— Usa-se também como substantivo,
196
IIEMO
ki:m<j
KEMO
Toda «o iilvoroçuvu si nuturozii
A vinda alegre d'0HHa luz bminfica,
rcmn<;ailora (itoriia da fixintciicia,
Cuja» HÍlo altiia o vida do uiiivcroo.
OAnuKrr, «amõkh, caiit. D, cap. 9.
REMOÇANTE, part. uct. de Remoçar.
REMOÇÃO, .S-. /. (Do latim remoHo).
A iic^-rio de remover, ou de ser remo-
vido.
REMOÇAR, V. a. Fazer quo o velho se
liiya moro.
— Remoçar as forças ; retornal-as em
vigor, quacs as tem os moços: fazel-as
juvenis.
— Emprega-sc também no sentido fi-
gurado.
— Remoçar-se, v. reji. Fazcr-sc moço.
— Usa-sc também figuradamente.
— V. n. Tornar novo o que é velho.
— Fazer o velho moço.
— Einproga-so também figuradamente.
REMOEDURA, s. ./'. llumiadura,
REMOÉLA, s. /. Termo popular. Acin-
te, j)irrara, desfeita, acompanhando o
(|ue se faz com o acto de remoer o pu-
nho da iiiào na palma da outra.
REMOER, V. a. l\Iocr segunda voz, tor-
nar a moer.
— Moer com trabalho, c pouco.
Anci» vos dcm remoer.
Eu ? seja cila quom quizer ;
romoei- ou? isso tom.
Parcstas, que boi de cachar.
ANTÓNIO TRUSTES, AUtOS, pag. .385.
Sc cUc estivera cá,
ou nós fôramos por lá,
remoera cllo, senhora.
Dac-Uio, Senhora, marido
acima do condo.
iiuDiiM, pag. 483.
— Remoer os dentes ; diz-se do que
tem inveja, ou paixão contra alguém;
ranger, fazer e.-»tridor com os dentes.
— Figuradamente : Mascar muito.
— Reraoer-se, v. rejl. Raivar, encher-
se de raiva.
f REMOHER, V. a. Vid. Remoer. — Re-
moher os alimentos ã maneira dos bois.
— « Aqua Pendente conheceo cm Pádua
hum homem de distinçito, que tendo na
tosta hum corno muito duro do tamanho
de hun\a azeytona de Sovillia, gerou luim
liliio que reraohia os alimentos do mesmo
modo que fazem os Bois.» Cavalleiro de
Oliveira, Cartas, liv. 1, n.° 12.
•}• REMOIDO,^'rt)í, 2>ass. do Remoer. —
Moido segunda vez, tornado a moer.
— Jlascado muito.
— Moido com ti'abalho.
— Ríiivado, cheio de ira, de cólera.
REMOINHAR, i-. a. Fazer moer em re-
dcmoiniio.
— 1'. n. Fazer remoinhos.
— Mover-se cm giro, em torno.
— Remoinhar o fumo; subir girando.
— Remoinhar us ventos opposto»; quan-
do se encoiiiram.
— Remoinhar o òarcu ; quando o re-
mam por um s<') lado, ou quando uus re-
mam paru vingar avante, e outros para
retroceder, ou mancam remos dos rema-
dores feriíios, ou mortos ou intimidados.
— Remoinhar a$ ondas; diz-se onde ha
sorvedouros e voragens.
— iSubstantivamente : O remoinhar t/os
remadores. — «Na qual por o aciíso ser sú-
bito, c mais cuidando que alli estava to-
da nossa frota, por ainda nào dcscubri-
rcm o anco que fazia a terra, houve en-
tre todos tanto temor, que do remoinhar
dos remadores n.ào sabendo o que iiaviam
de fazer, ficou a lanciíara d'Ellíey sem
governo.» Joílo de Bíutos, Década 2, liv.
1), cap. 7.
REMOINHO, s. VI. Vid. Redemoinho.
— Remoinho de cabellos. \'id. Rede-
moinho.
— Usa-se também figuradamente.
REMOINHOSO, A, adj. (De remoinho,
com o nuftixo «oso»). Que produz remoi-
nhos, que gira em remoinho.
— tíorvedouro remoinhoso; vid. Vora-
ginoso.
— Vento, ondas remoinhosas; onde se
faz remoinho.
REMOLHADO, 2}art. pass. de Remolhar.
Macerado, jjo.sto de remolho.
— Molhado muito, e amollecido.
— Adagio:
— Barl)a remolhada, meia rapada.
REMOLHAR, v. a. Tornar a molliar,
molliar de novo.
— IMolhar muito, amollccer.
— Jlacerar, pôr de remolho.
— ^'ill. Molhar a palavra.
REMOLHO, *■. in. Termo usado na se-
guinte locuçSo: Deitar de remolho; met-
ter ou deitar em agua ou outro (jualquer
liquido, até ficar molle, ou perder algu-
ma parto lie si.
— Adagio :
— Quanilo vires arder as barbas do
visinho, deita as tuas em remolho; isto
é, quando vires mal pelos outros, prcvi-
ne-te contra cUe ; ou quando se demoram
as cousas para melhor vez e ensejo, pai-
rar-lhcs o tempo.
REMONSTRANTES, s. m. plur. Here-
ges calvinistas, sectários de Arminio.
REMONTA, »■. /. (Do francez rowmte).
Acto de remontíir a cavallaria, de lho
fornecer cavallos para substituir aquelles
que faltam, ou que nào estão no caso de
poderem servir.
REMONTADO, parf. pass. do Remon-
tar. Elevado ao alto, muito levantado.
— iJiscurso remontado; discurso ele-
vado, sublime.
— Distante, longínquo, remoto, afas-
tado. — «He pois de saber, que os (io-
dos ^segundo opinião de Josefo, o outros)
forão descendentes de Jlagog, tilho de
Noe, primeyro povoador da grande Ilha
de Escandinávia, de cujo bitio c grande-
za os antigos tivcrio mais opinião, que
certeza, porque como t.lo remontada de
Itália, o (irecia, omlc Horeciào as boaa
letras.» Honarchia Lusitana, liv. O, ca-
pitulo I.
— Termo militar. Provido de remon-
tas. — Troj/rig remontadas.
— Remontado aos tirou da inveja; on-
de elles nilo podem chegar, fijra do seu
alcance.
— Escondido, fugindo para o monte,
desviado da companhia, do rebanho.
— Antigo. — Emprezas tão remonta-
das.
— Car/i remontada ; caça que se fez
fugir, ou vour jiara mais alto.
— Termo lie sapateiro. Vid. Remonte.
REMONTANTE, part. act. de Remon-
tar. Que eleva ao alto.
— Termo de botânica. RealçaíJo, as-
cendente, quo se curva e se levanta de-
pois para cima, fallando dos ramos, doa
peciolos, das folhas e outras partes do ve-
getal.
REMONTAR, v. a. Elevar ao alto, le-
vantar nmito, subir.
Ide, voai. Do Povo, e Saccrdot«a
Soprai o zelo, remontai o Olympo ;
Rcsuscitai as Fabulas dos Vates.
F. >l. DO KASCIUENTO, OS MAKTYRRS, 1ÍV. 8.
Entro, cmiim, uos Rhedõns. Que me aftigura
A Armórica ? Florestas, Hronlias, Valles
Acanhados, profundos, retalhados
De líiachos, que as l?arcas nào remontão,
Que ignotas, no Oceano, ondas desAguão.
IBIDEM, liv. 9.
— Termo militar. Remontar a caval-
laria ; fornecel-a dos cavallos que fal-
tam.
— Fazer desviar, fugir para os mon-
tes, ou lugares afastados.
— Figuradamente : Remontar (ilguem
suas acçòes aos astros, ao templo da fa-
ma, da memoria, etc.
— Termo de sapateiro. Vid. Remonte.
— Remontar o vôu ; voar ao alto.
— Figuradamente : Remontar o nome.
-- Remontar-se, v. r,jl. Ausentar-se,
apartar-sc, retirar-se para logares afasta-
dos, longínquos.
— Elcvar-se, subir. — Remontar-se ao
Olympo. — «Agastado o Amor de taes
palavra.*, fugiu : e Vénus remontou-se ao
Olvmpo. Por grande espaço vi seu car-
ro, c suas duas pombas cm uma nuvem
de ouro c azul ; depois dcí^appareceu. Ao
baixar os olhos para a terra, ja não en-
contrei Jfincrva.» Francisco Manoel do
Nascimento, Telemaco, liv. 4.
Mas de arco frouxo a despedida Mtts
De Júpiter a Apuia,
Quo veloz tt ranonta, uaõ alcauya.
REMO
REM(_)
REMO
197
Fica cm silencio, Lyra, que as virtudes
Da singular Princeza
Saõ taõ inaecossiveis, como os Astros.
QUITA, OBKvs POÉTICAS, odc 2, cpodon 5.
A Fama, que olhos cem, cem bocas conta,
Q'inda mais do que a luz corre, e se appresa,
Que apenas nasce, sobe, c se remonta,
E altas nuvens transpondo co'a cabeça.
Vai topetar ecos Ceos, e os Ceos aflEronta,
Espalhada na Corte aUi começa
De publicar o esforço, e valentia
Da estranha gente, que do mar surgia.
J. A. DF. MACEDO, OBIESTE, Caut. 4, CSt. 20.
Comigo, e o sentes tu, do peso humano
Sc livra, e se desfaz o entendimento,
A"3 i'Cgiões mais altas se remonta :
Comigo sobe aos Ceos, comigo entende
Mysterios profundíssimos, e entra
No seio occulto d'alma Xatui-eza.
IDEM, VIAGEM EXTÁTICA, Caut. 2.
Vem despertar em mim medonhas massas,
Como bases do Coo, c a cuja frente
Temem, (que altura ! i remontar-se as Águias ;
Onde não sopra o vento, ou chega o raio.
Nem jamais se condensa, e expande a nuvem !
IDEM, MEDITAÇÃO, CaUt. 2.
E se hum defeito na belleza os julgas
Da nossa habitação, qu"assombro, espanto
Despertarão em ti medonhas massas
Como bases dos Ceos ; e a cuja frente
Temem, qu'altura ! remontar-se as Águias,
Onde não chega a tempestade, o raio.
Nem jamais se condensa, e espande a nuvem !
IDEM, A NATUBEZA, Cant. 2.
— Remontar-se aos séculos passados ;
estudal-os, revêl-os, examinal-os attenta-
, mente na sua distancia grande dos nos-
sos tempos.
— Ensoberbecer-se, orgiUhar-se, ufa-
nar-se.
— Sublimar-se, encomiar-se.
— Figuradamente : Enlevar-se. — Re-
montar-se o tsinrito á contemplação das
cousas sohrenaturaes .
— Fugir, evitar, desviar-se para lon-
ge, apartar-se para melhor.
— Remontar-se narrando, orando, etc;
elevar-se muito.
— ■ T^ n. Elevar-se, levantar-se, su-
bir.
— Emprega-se também no sentido fi-
gurado.
1.) REMONTE, s. m. Elevação do que
se remonta.
— O sitio afastado, distante, longin-
quo.
2.) REMONTE, s. m. Termo de sapa-
teiro. Concerto feito em calçado, reno-
vando todo o couro do rosto do mesmo
calçado.
— Meio remonte ; a renovação do cou-
ro da extremidade do pé, até ao peito
d'elle ; conhecido também pelo nome de
gaspa.
REMOQUE, s. í/i. Termos que com a
agudeza do sentido occulto picam al-
guém, e lhe dão a entender o que que-
remos.
Sou boi garganta.
E SC te lançar remoque
d 'algum toque
de herança ?...
AXTONIO PBESTE3, AUTOS, pag. 239.
REMOQUEADOR, A, s. Pessoa que re-
moqueia. que dá remoques.
REMOQUEAR, v. a. (Do francez mo-
quer . — Remoquear alguém; dar-lhe re-
moques.
— Remoquear por algumas vezes ter-se
arrependido ; dal-o a entender com remo-
ques. Vid. Remoçar.
REMORA, s. /. iDo latim remora). Ter-
mo de historia natural. Peixe, que di-
zem faz demorar a embarcação, que Yai
velejada, adberindo-se á popa.
— Termo de botânica. Planta.
— Figuradamente : Cousa que estor-
va ou obsta ao movimento. — A alma
neste niaiido vestida de remoras.
REMORADO, A, adj. iDo latim remo-
raiusi. Demorado, detido por pequenos
obstáculos.
REMORDAZ, adj. 2 gen. Que remorde.
— Kemordedor.
REMORDEDOR, A, adj. Que remorde.
— Que atormenta, que alHige. — Cons-
ciência remordedora.
— Substantivamente : Um remorde-
dor.
REMORDER, i-. a. (^Do latim remorde-
re; de re, e mordere). Morder de novo,
morder segunda vez, tomar a morder.
— iSeu cão me mordeu e remordeu.
— - Morder a quem nos mordeu.
— Figuradamente : Produzir remorsos.
— «Siírt culpa o remorde. — Nossa cons-
ciência nos remorde.
— Morder muito censurando, notando.
— V. n. Morder de novo. — Esfs fi'u-
cto ê tão áspero, que quando me viorde
uma vez, não me remorde mais.
— Figuradamente : Atacar de novo,
atacar segunda vez. — • Este cão foi tão
maltratado, que não quer mais remorder.
— Diz-se também das tropas que não
querem mais voltar a um ataque depois
de terem sido rechaçadas.
— Repisar em algum negocio, desap-
provando o sentimento dos contrários.
I REMORDIDO, part. pass. de Remor-
der, iíordido segunda vez, tornado a
morder. — Mulher remordida por cão
damnado.
— Atormentado, afflicto. — Consciên-
cia remordida.
REMORDIMENTO, .*. //;. Remorso. —
O remordimento da consciência.
REMOROSO, A, adj. (De prefixo re, e
moroso. Que agarra, demora, detém,
prende, á maneira do peixe remora, que
detém os navios.
REMORSO, s. m. (Do latim remorsum,
supino de remordere). Exprobraçào que o
culpado recebe da sua consciência. —
Um virtuoso remorso não impressiona
ainda minha alma. — Espantosos remor-
sos ; invisíveis algozes das almas crimi-
nosas. — Quando chegar o momento de ir
fazer companhia aos mortos, terei vivido
sem cuidados, e morrerei sem remorso. —
O remorso que sentimos depois do pccca-
do é uma graça interior. — O remorso
que na linguagem da Escriptura é chama-
do o verme da consciência, só é uma ver-
gonha levada ao excesso.
O convulso mortal de si fugindo.
Sem se esconder de si, no horror das trevas
Os guinchos melancólicos escuta
Das tristes aves producções da noite :
Elias lhe augmentào mais, remorso, e medo.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Cant. 3.
• — Inquietação ou guerra interior da
consciência má, que conhece que obra
mal imputável. — Remorso pungente,
roedor, cruel, miserável, incorruptivel,
vingador, funesto, importuno, salutar,
justo, longo, prompto, tardio, prematuro,
vivo, passageiro, secreto, tremendo, con-
centrado, infi-uctuoso, despedaça^Jor. —
Um remorso pungente, eterno. — Grandes
remorsos. — Remorsos despedaçadores.
— A voz do remorso. — Não ter mais
remorsos. — Século em vão subtil, onde
tantas almas insensatas não fazem esfor-
ço contra si mesmas, senão para vencer,
em logar Je suas paixões, os remorsos
da sua consciência. — O juiz mau pecea
com consciência, é indesculpável ; o juiz
ignorante pecea sem remorsos, e é incor-
rigível. — Xào ha paz, nem felicidade
para o impio, vós lhe fazeis, Senhor,
achar o seu snpplicio no seu próprio pec-
cado, entregando-o aos remorsos da sua
consciência. — O lisonjeiro cura o re-
morso da fraqueza, e afouta a timidez do
crime. — A virtude fortifica-se por um
remorso feliz. — Embotar as pontas vin-
gadoi-as do remorso. — A termu-a des-
perta-se, e os remorsos renascem.
— Por extensão : Vivo e forte arre-
pendimento. — Eu quero deixar no seu
coração que me amou o veneno do remor-
so.
■ — O remorso representa-se por um
homem deitado na terra, com os vesti-
dos despedaçados. Morde-se nos punhos,
uma serpente o cerca, e lhe despedaça o
coração. — O abutre roendo as entra-
nhas de Pronietheu é tomado também
por emblema do remorso.
— Tormento forte do culpado, que o
não deixa socegar. — Os despojos de
Germânico, sem remorsos, nem lagi-i-
mas, nem luto. — Depois do trabalho
vantajoso vem paz, mas não remorso. —
As tristes aves augmentam mais o re-
morso e medo. — Os remorsos da con-
sciência apoquentam a humanidade.
Onde o cadáver de Agripina encara.
Onde vê de Germânico os despojos
Sem remorsos, sem lagrimas, sem luto.
198
ui:.\i<»
REMO
REM« »
Kúncca o moiiHtro louva, (! «'cntriíiteoo.
Dc;(Cii(li!iicia (IMiuiii Tliroiio n t\\iAiiU> obriffiiit !
J. A. DK UACKDO, VIAUr.il KXrATlCA, cuiit. 2.
Triotos filfiort dii pompa, o da inollcza,
Tédioí, cí)iitimio« uH iiilo doíh do Campo,
Ventajo.-io trabalho vou BUtVoca,
Dopoii dello vciii paz, nilo vem remoraot.
lOKM, A NAIUUCZA, Cailt. 1.
Oh, 80 do tantas lidati c perigos,
Sustos, reinorao!>, (ai ! t.imbem iiiinorsosi
Quo t■.^ta coiis )ira(;ào mo tom ciistido,
So mo rosta collièr o fructo amar;;o
Quo a miúdo vêem traidores— o desprôzo,
O castigo, o — ainda mais acerbo! o cscarnco
Do prOjirio ingrato que lucrou iio crime !
OARRKrr, CATÃO, act. 3, se. 0.
— SvN'. : Remorso, contrição, Vid. es-
te vocaluílc.
REMOTAMENTE, fulv. (De remoto, c o
suftixo «mente»). Apartailameute, em le-
gar loiífíiiiquo, eiu distancia.
remotíssimo, a, aJJ. superl. de Re-
moto. -Mui remoto, muito afastado.
REMOTO, A, adj. Longiuquo, desvia-
do, nào próximo, distanciado. — Remo-
tas re<jiòes.
Que quom da Ilcspcria ultima alongada,
Bei OU senhor, de insânia desmedida,
lia do vir couunetter com naus e frotas
Tão incertas viagens o remotas*
CAM., LU3., cant. 8, est. 61.
— «Que agora tinha Portugal seguro
o Estado, em seus braços aeguula vez
nascido, cujas armas serviào tanto á Fé,
como ao Império, obi-audo, que em tào
remotas partes se ouvissem os brados do
Evangelho; que agora os Mouros, e Gen-
tios crerião, que nào podia deixar de ser
Dôos grandoj o Deos de tantas victo-
rias.» Jacintho Freire d'Audrade, Vida
de D. João de Castro, liv. 3. — «E por
estes negócios irem juntos, e inflados po-
rei no capitulo seguinte o treslado da
obediência que cl Rei dom Afonso de
Manicongo' mandou ao Papa per dom
Henrique seu tillio, e per dom Pedro seu
primo, por ser de hum Rei da Etliiopia
tam remoto da Europa, e hum dos pri-
meiros quo naquellas partes recebeo a
Fe de nosso Senhor Jesu Christo, e o
primeiro que nclla permaneceo, pela pre-
gaçam, e ensino da nai^am Portuguesa.»
Damião de Ooes, ChrQnica de D. Manoel,
part. 3, cap. 38. — «Porque num certo
dia em quo ellcs costumiío fazer grandes
esmolas por seus defuntos, tornou de no-
vo a ver a nossa sentença^ e sahio, que
avendo respeito a sermos nós gente es-
trangeyra, e de terra e nação tào remo-
ta que até entaõ nào avia aly de nói ne-
nhuma noticia, nem livro ou escritura
alguma que fizesse mençào do nosso no-
me, nem se achava quem entendesse a
nossa lingoagem, e juntamente por ser-
mos custumados a sofrer" a misera e vil
liobnza.» Fernão Mendes Pinto, Pere-
grinações, cap. 1 l.T. — «Peio quo ainda
(jue a gente naturalmente và em cresci-
mento, cumu teinort jirovadu ; com tudo a
no,sRa naçaõ Portugueza depois, quo hou-
ve estas Conquistas, se foi diminuindo,
naij ]ior falta <ia nmitiplicaçaõ natural,
se naõ por os Portuguezfs se irem de
sua pátria a povoar, e fundar tantas Ci-
dades, e lugares, como temos dito, em
terras taõ remotas, o taõ lart;as.o Ma-
noel Severim de Faria, Noticias de Por-
tugal, Disc. 1, § 2.
Iluin basca as Villas cheias, c as Cidades,
Outro os montes remotos, c espessura.
Natural de queixumes, e saudades.
Goza, Tirreno, o bem dessa ventura.
Mas naõ te esquc(;a a pátria celebrada,
(Jue tanto te ama, e tanto te procura.
BODBIGUr.S LOOU, ECLOOAS.
— o A mesma ignorância padece acer-
ca das cousas que tem acima de si, nu-
vens, Ceos, estrellas, Anjos, etc. : por-
que humas naõ se conhecem pelos senti-
dos, outras ricaõ remotas delles.» Pa-
dre Jlanoel Bernardes, Exercícios espiri-
tuaes, part. 1, pag. 32:^. — «Aos estran-
geiros agasalhava-os com affabilidade, e
gostava de ouvil-os; por quanto tinha
para si que sempre aproveitava com el-
les, informando-se dos usos, e máximas
das nações remotas ; e esta sua cui^losi-
dade deu motivo a que nos levassem ante
elle.i) Telemaco, traducçào de Manoel
de Sousa, e Francisco Manoel do Nasci-
mento, liv. 2.
Distantes entro si, remotos tanto,
Qu' ao pensamento as azas so afadigão.
J. A. DK M.VCEDO, SATIBEZ.1, Cant. 1.
Hum Icntamento absorve a Ellipsc iramcnsa
Em m.iis remoto espaço, em Cco mais alto,
Outro próximo ao Sol, o espaço corre
Com mais forto impulsão, rápido vòo.
Quanto hc nellas sublime a Natureza !
O Viajante attonito emmudecc
Quando vê branquejar ao longe a espuma
De NiagAra nas remotas pedras.
IBIDEM, cant. 2.
Já vai rápido o Sol no cthcreo coche
Buscando, Alcipc, as ondas doccauo,
Jil brilhào nos remotos horizoutcs
Purpúreas nuvens i-ecamadas douro.
IBIDEM, cant. 3.
Talvez que essa por vir remota idade
So admire, e zombe da ignorância nossa.
Nào és, brilhante Sol, centro a seu gyro ;
Das leis da gravidade aberra, e fi^go.
IDEM, MEDITAÇÃO, ClUt. 2.
Se hum throno se levanta, outro se abato
Nos mais remotos ângulos do Mundo.
Nos ignotos confins do impervios mares,
Oude existem Naçõos, a guerra exist.',
Dolla faz hum mister, faz gloria o homem !
ISEM, riAOEM CXIATICA, CUIlt. 1.
Tal extático »ubo, c tal me elevo
Onde não chega HurCmindo a nuvem.
Hum iMaii« puro siiibient/'. c luz mais viva
Bebo em torrentes, descobrindo, incerto
Grossa sombra pouHar na Terra iucrU;,
Que nas remota» solidões atreus
Gira »em própria luz, Planeta inglório.
IBIDEM.
Mas eu volto comtigo ao Templo augusto,
Que inda que erguido o vés, nio hc romolo
Da térrea habitação do engano, e miaha.
IBIDEM, eaiit. 2.
— O» remotos astros; os astros afas-
tados, distant.>s.
Parece que inda volve, c que inda alonga
Os claros olhos aos remotos Astros,
£ que luz Filosófica rcspirào.
J. A. DE MACEDO, VIAOEM EXTÁTICA, CaUt. 1
— Tão remotos século»; séculos tio
longínquos.
Logo apoz ellc, fulgurando cstavio
Em menos Wva luz seus tardos Netos,
Que a herança paternal, pura doutrina
A tão remotos séculos dcii4rào.
J. A. DE MACEDO, VIAOEM EXTÁTICA. CWnt. 2.
— o berço da t^rra tão remoto.
Na marcha, que vai tendo a Natureza,
Tào remoto nào ser da Terra o berço ;
A base, as progressões, a gloria, a queda
De Impérios, que ambição levanta, e prostra.
J. A. DE MACEDO, >1AOEM EXTÁTICA, COnt. 3.
. — Os ângulos mais remotos da terra ;
os ângulos mais afastados da terra.
Áureo Busto descubro em aurca base.
Da Fama pelas mãos lavrado, e posto.
EUa mesma, cmbocando anrea Trombeta,
Nos mais remotos angalos da Terra
Faz ouvir, e adorar hum nome : t Ao Tasso. i
J. A. DE MACEDO, VIAOEM EXTÁTICA, Cant. 2.
— Esquecido, ou quasi, a pessoa ou
coasa, de que se está pouco lembrado.
Que mais remotos tem limite, e termo,
Que infatigável Calculo lhes marca :
La Lande a imaginou. La I.4iDde a sente,
Mas foge, foge ao numero das cifras,
As equações algébricas se esconde.
J. A. DE MACEDO, VIAOEM EXTÁTICA, CAOt. 4.
— Se eu ttão estava remoto; se eu nâo
estava fora de mim, ou muito distrahido;
que nào dá fé das cousas.
— Figuradamente: 6e eu itão estava
remoto ; longe com aversão, ou nenhuma
vontaile.
REMOVER, V. a. Do latim removere).
Pass.oi-, mudiír uma cousa de um logar
para outro. — Remover o deposito.
— Remover alguém do cargo, o^io ;
tirar-lh'o.
i
REMU
RENA
RENA
199
— ■ Apartar, desviar, afastar, alongar.
— «E porque tinha por regimento de
ElRey que removesse os contratos que
o Visorey D. Garcia de Noronha tinha
feitos sobre o cravo, fez com Diogo de
Sousa outros de novo. E porque naõ dê-
mos em outra parte razaõ destes contra-
tos em que falamos o faremos aqui.» Dio-
go de Couto. Década 6, liv. 9, cap. 19.
— Tornar a mover, mover segunda
vez, mover de novo.
— Desviar, frustrar, tolher, afastar.
— Deus remove as horríveis tempestades
sobre nós pendentes.
— Remover os cathoUcos a doutrinas
más; desviar das boas.
— Figuradamente : Remover o temor ao
pensamento.
— Renovar, reformar, recomeçar, rei-
terar, repetir.
— Baldar, tornar inútil. — Remover
tim coníeiho, uma opiniào.
— Tolher, tirar.
— Remover as objecções; afastal-as, des-
vial-as.
REMOVIDO, part. pass. de Remover.
Passado ou mudado de um logar para
outro. — Removido o deposito.
— Tirado. — Removido alguém do car-
go, do oj^iciu.
— Apartado, desviado, afastado, alon-
gado.
— Tornado a mover, movido segunda
vez, movido de novo.
— Desviado, frustrado, tolhido, afas-
tado. — Removidas as horríveis tempes-
-, tades.
— Renovado, reformado, recomeçado,
reiterado, repetido.
— Frustrado, baldado, tornado inútil.
REMOVIMENTO, s. m. Remoção, a ac-
ção de remover ou de ser removido.
— Traspasso, trasfego, passagem. —
O removimento do vinho.
removível, adj. 2 gen. Que é possí-
vel remover-se. desviar-se, tirar. — Em-
prego removível.
f REMDDADO, part. pass. de Remu-
dar. Tornado a mudar, mudado de no-
vo, mudado segunda vez.
REMTJDAR, r. a. Tornar a mudar, mu-
dar de novo, mudar segunda vez.
— Remudar roupa; vestir outra.
— V. n. Variar no modo de obrar.
— Trocar, mudar. — Remudar de ca-
vallo.
— Mover-se, abalar do logar, retirar-se.
REMUINHAR, v. a. Vid. Remoinhar.
REMUINHO, s. m. Vid. Remoinho.
REMUNERAÇÃO, s. /. (Do latim rerau-
nerafio . Recompensa. — Justa remune-
ração. — Espierar de Deus a remimera-
ção de suas obras.
f REMUNERADO, paii. pass. de Re-
munerar. — Ser remunerado pelos seus
serviços.
— Boa acçào remunerada.
REMUNERADOR, A, s. (Do latim remu-
nerator). Pessoa que remiinera, que re-
compensa.— Deus ê o soberano remune-
rador, o justo remunerador. — Este prín-
cipe é um justo remunerador da virtude,
das grandes acçàes. — E mister, grande
Deus, que a ímpia idca, de que vós não
sois nada, seja destruída pela existência
de um vingador do vício, e um remune-
rador da virtude. — O verdadeiro remu-
nerador das grandes glorias litterarios é
a posteridade. — A consciência é sobre a
terra a primeira e muitas vezes a única
remuneradora das boas acções.
— Ad lectivamente : O Deus remune-
rador e vingador. — Vale mais, para o
bem da humanidade, reconhecer um Deus
vingador e remunerador que não reconhe-
cer nenhum. — Quando as nações esclare-
cidas annunciarem um só Deus remune-
rador e vingador, nenhum homem sensato
se rirá. tudo obedecerá.
REMUNERAR, r. a. (Do latim remune-
rare, reduplicativo de munerare, fazer um
presente). Recompensar, galardoar. — E
próprio de um rei remunerar as boas
acções. — Todos os povos crêem na exis-
tência de um Deus que remunera a vir-
tude e castiga o vicio.
REMUNERATIVO, A, adj. Termo didá-
ctico. Que serve de recompensa.
— Que assigna, que dá uma recom-
pensa.
— Que remunera.
— Remuneratório.
REMUNERATÓRIO, A, adj. Termo de
jurisprudência. Que tem logar de re-
compensa. — Contracto remuneratório.
— Doação remuneratória. — Lei remune-
ratória.
— Feito a fim de remunerar, ou de
agradecer, e recompensar o beneficio. —
Offerta remuneratória.
— Privíhgio remuneratório ; pri^^legio
em compensação de doaçào ao estado ou
serviços.
REMUNEROSO, A, adj.^ Galardoador,
que remunera, que gratifica, que recom-
pensa.
— • Remunerador. — Eei remuneroso e
galardoador.
REMURMURAR, v. n. (Do latim renmr-
murare ; de re, e murmuraré). Murmurar
segunda vez, tornar a murmurar. — Onda
que remurmura.
REMURMURIO, s. m. Do prefixo re,
e murmúrio . Termo de poesia. Acto de
remunnurar.
— O susurro, o estampido redobrado
da agua. do vento, etc. — O remurmurio
do curso da agua.
REMUSGAR, i-. ;í. Resmonear.
— Dar-se por descontente, exprimir
mal o seu descontentamento.
■ — Usa-se também figuradamente.
RENA, ou RENNA, s. /. (Do francez
renne, que provém do allemao renn; la-
pão raingo). Quadrúpede do norte da Eu-
ropa, do mesmo género que o veado.
RENAC... As palavras começando por
Renac..., busquem-se com Renasc...
RENAL, adj. 2 gen. (Do latim renalis).
Termo de medicina. Que pertence ou res-
peita aos rins, que existe nos rins. — Do-
res renaes. — Cálculos renaes.
RENASCENÇA, «. /. (De renascente).
Segundo, novo nascimento. — A renas-
cença da phenix.
— No sentido mystico : A renascença
dos homens; a sua regeneração espiritual.
— Renovamento. — A renascença da
primavera, da verdura dos pirados .
— Figui-adamente : Reappariçào das
cousas moraes ou intellectuaes.
— Absolutamente : Época em que as
letras gregas entram no occidente, exci-
tando uma viva paixão pelo estudo dos
monumentos litterarios da antiguidade ;
essa época começa ema tomada de Cons-
tantinopla em 1453, a qual causou a emi-
gração de muitos gregos instruídos para
Itália. — Architecfura da Renascença. —
viuveis da Renascença. — Sábios da Re-
nascença. — A Renascença e uina das épo-
cas mais importantes na historia da hu-
manidade.— Estylo da Renascença.
— Por extensão : Renascença, exprime
um vivo movimento nos espíritos depois
d'um tempo d'oppressão. Na França a
restauração monarchica foi considerada
como uma renascença.
— Sts. : Renascença, regeneração. O
que tinha deixado d'exlstlr tem uma re-
nascença ; o que, existindo já, entra n'u-
ma phase de vida nova e melhor, tem
uma regeneração. No sentido mystico, re-
nascença e regeneração, são perfeitos sy-
nonymos.
RENASCENTE, adj. 2 gen. (De renas-
cer . Que renasce. — A ira renascente.
— O ódio renascente de duas famílias
que pareciam já reconciliadas. — As artes
renascentes. — As letras renascentes. —
A agricultura renascente deixa já prever
a extensão dos seus beneficies.
RENASCER, i-. «. iT)o latim renasci).
Nascer de novo, voltar á vida. — Hyppo-
lito renasceu segundo conta a antiga my-
thologia.
Concentos Divináes renascem — morrem,
Qual, se Spritos Celestes modulassem.
Vem longe-rcsoantes, dcvòlvcndo-se,
Por subterreos trasvios tortuosos.
FEASCISCO MASOEL DO NASCIMEKIO, OS MABTTBES,
liv. 5.
— Figuradamente : Renascer pelo ba-
ptismo, por a penitencia ; entrar no esta-
do de graça.
— Dlz-se dos seres animados que to-
mam o logar de ser semelhantes aos mor-
tos ou destruídos. — Quantos mais inse-
ctos se matam ríeste jardim tantos mais
renascem.
— Fallando do sol, tornar a apparecer
no horisonte, depois do seu desappareci-
mento durante a noite.
2()()
UKM)
REND
REND
PoriHso, por tor firmo o luziínoiíto ;
UrHula niji-cfçia, Sol com (jiro niro,
NiiMCOu, subiu, girou, pôz-nn o renancr..
AnnAliE DE .lAZBNTK, 1'OKBIA».
— Fíil laudo dou vofíctiic», tornar a. ci-ch-
ccr. (Jro.icor do novo. — Ás jlôruH renas-
cem na jjrimaveni.
— Torniir !i vir, fjilliiudo dos dias, mc-
zesy eatayõos. — Renasce u primavera.
De «cu império á. voz, morroin, renaicem
O (liii, u noite, as c»tiii;õca, oa anno».
J. A. I>i; MACKUO, A NATLMIKZA, Cilllt. 1.
— Keapjiarecer, fallando d'iiru rio, ctc.
Polaet cntraulias coiieavas dos montes
Se liltrão rapidisaimos : renascem,
E do novo outra vez nas ondas morrem.
J. A. DE MACKDO, A NATUBEZA, Cailt. 3.
— Figuradaracnte: Diz-se do tudo o
que 60 compara a um renascimento. —
Renascem as idêas de emancipação das
mulheres.
— Absolutamente: Retomar forijas,
qualidades nioraes. — Aíjuelle vrlmiiiosi),
purijicado pelo arrependimento, renascia
jHira a vida social.
— Em linguascra mystica : Os homens
renascem pelo baptismo,
RENASCIDO, part. pass. de Renascer.
Que tornou a nascer.
— Renovado.
— llcapparccido.
— Reanimado.
— (Jajas tor^'aa ou falcudades moraos
foram n^toniadas.
RENASCIMENTO, s. f. (De renascer).
Vid. Renascença.
RENATO, part. pass. irreg. de Renas-
cer. = Usado por Francisco Manoel do
Nascimento.
RENAVEGADO, part. pass. de Renave-
gar. Tomado a navegar, que foi nave-
gado de novo.
f RENAVEGAR, v. a. o n. (De re, o
navegar). Navegar do novo, tornar a na-
vegar.
RENCH, s. m. Vid. Renque. — «Rench
por tca pai'a Justa, donde dizemos as cou-
sas postas cm ordem ou ala estarem em
rench.i) Duarte Nunes de I^^ão, Origem
da lingua portugueza, eap. 11. — Nunes
de Leão olha a palavra como d'origem
franceza, mas vid. Renque, na etymolo-
gia.
RENÇO, s. VI. ant. Vid. Ranço. = Pa-
lavra coUigida por Agostinho Barbosa,
Diccionario portuguez-latino.
RENCONTRO, .s. m. (Do francez ren-
contre). Vid. Recontro.
1.) RENDA, .v. /. (l':tymologia incerta).
Tecido transparente de varias larguras c
desenhos, formado com tio de seda, li-
nha, ou ouro e prata, para guarniçíles
de vestidos, cabeyòes, para punhos, cha-
póos de mulher, adornos do» lençoes e
travosHciroH de cama, ctc.
— Termo d'areliitoctiira. Denticulo.
Vid. esta palavra.
2.) RENDA, s. f. (Do latim reddere,
reudor (vid. Render). Nilo ó fácil deter-
minar se renda é uma forma<;!lo especial
tiratla de render, se provém da firma
latina rcdd.itu ; o ti apparece nas outra»
lingnas ronumicas: francez rente, provon-
c;al ir ala, renda; hespauliol venta; italia-
no rendita). Producto annual de proprie-
dades rústicas ou urbanas, d'um bcneti-
cio, ete., de capitães em giro. — Viver das
suas rendas. — Tem dez contos de reis de
renda. — « E assl os filhos do Conde de
Earão também forão tornados a estes Rey-
mis por el Rey dom Manoel, e dado ao
niayor suas rendas com o titulo de Con-
de de Mira, e em Castella ticou hum que
ora he Arcebispo de Çaragoça, e Viso-
rey em Aragào, homem de gr.ào valia,
íi assi casara lá duas filhas suas com o
Infante Fortuna, neto dei Rey Daragam,
e a outra com o Duque de Medina celi.
E outro iilho mais moço que hora he Mor-
domo mor da Raynha nossa .senhora.»
(íarcia de Rezende, Chrouica de D. João
II, eap. 44. — «A qual renda, porque se
saiba o modo de serviço daquelles Prín-
cipes, diremos como se despendia, ainda
que miúda, e particularmente vá, e ire-
mos fazendo a conta destas despezas per
leques, que é numero da mesma terra, e
xaratins, azar, candil, e dinar que he
moeda, por não sahir dos termos da fo-
lha que houvemos destas cousas, tiradas
dos livros da Fazenda dos Reys de Or-
muz.» Barros, Década 2, liv. 10, eap. 7.
— a Fundou de novo a Casa da Confra-
ria da Misericórdia da Cidade de Lisboa,
obra muito magnitica, e a dotou de hum
conto de renda cada anuo para entreti-
mento dos orphãos pobres, e demais qui-
nhentos mil reais cada anno pêra outras
obi'as pias como tica apontado.» Damião
de lioes, Chronica de D. Manoel, part. 4,
eap. 85. — «Que de todallas terras, e
ilhas que descobrissem rebatidas as des-
pessas que sobrisso fezessem lhes fazia
mercê da vintena, assi das rendas, como
dos direitos, e outra qualquer cousa com
titulo de adiantados, o regedores das ilhas,
e terras que descobrissem pêra elles, c
pêra seus filhos ordeiros de juro pêra
sempre ficando o senliorio supremo pêra
el Rey, c pêra seus deseendeutes.» Ibi-
dem, eap. 37. — « Affirmounos também
esto embaixador que somente das esmol-
las, dos seus confra<les passava de du-
zentos mil tacis de renda cada anno, a
fora as propriedades das capellas dos ja-
zigos dos nobres, que separadas por sy
fazião outra muyto mayor quantiilade de
renda que esta das esmollas.» Fernão
Jlendes Pinto, Peregrinações, eap. V26.
— «D que parece cousa muito larga, e
pouco contingente: e assim o vemos, por-
que depoin, que bc fez, atí»gora naJ5 so
praticou, por haver muito pouco» 3Ior-
frados neste I^íyIlo, que cheguem a ««ta
quantia de renda: o alèni dist'j aconte-
cerá poder hum mó particular ter quatro,
o cinco Morgado», que cada hum d<dle8
não chegue a 4:*t<X) cruzados lU- renda. •
Scverim de Faria, Noticias de Portugal,
l^ise. 1, í? 7. — « E assim naõ ficar obri-
gado ;i deixar a teu irmaõ mais moço ne-
nhum dfdies, o ficar por este modo frus-
trado o intenio da ley, que foi nai5 se
ajuntarem as f'asa«, nem ser um bó par-
ticular pos-<uiilor de grande, e excesfliva
renda.» Ibidem. — «A este» açudem to-
das as rendas das ytrovincias tirando os
gastos ordinários. E por elle a»gi o» ne-
gócios como os rendimentos todo» que »e j
recolhem e todo ho que se passa nas pro- ■
vineias lie referido e mandado aa corte.» »
Frei (iaspar da CJruz, Tratado das cousas
da China, eap. 1 fi. — « Em Baçaim dan-is
ordem, como se levante logo hum Tem-
plo com a invocação de 8. Joseph, cina-
lando-lhe, por nossa conta, renda para
hum Reitor, e alguns Beneficiados, e Ca-
peilães, que nelle sir\'ão.» .lacintho Frei-
re d'.\ndrade. Vida de João de Castro,
liv. 1. — «As minhas rendas mo permi-
tem fazer hum vestido novo quando a
necessidade, ou a occasião o pede, porem
confesso que me não acho em estado de
faser hum cada semana, e por Í8.?o nem
abraçarey a moda de Dom Florêncio,
nem desejarey que elle me abrace mais
do que uma vez cada anno para poder
mudar logo de vestido.» Cavallciro de
Oliveira, Cartas, liv. 8, eap. 24.
— Mullier, homem de renda, (íe mttita
renda; mulher, homem que tem grande
rendimento annual. — tE desta maney-
ra, com t^ão baixo e afrontoso género de
morte acabou esta Muhee Canatoo, filha
dei Rey de Peguu Emperador de nove
revnos, c molher do Chaubainhaa Rey
de ^lartavão, princesa ile tre^ contos
douro de renda.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, eap. 152. — «Desembar-
cado o Embaixador em terra, o Campa-
nogrem, que era o Mãdarim qne o tra-
zia, o tomou pela ni^, e assentado em
joelhos o entregou ao outro que o estava
esperando no caiz com grande estado,
por nome Patedacão, homem dos princi-
pais do governo do reyno, e segundo ,=«
de/.ia, de niuvtii renda e va.ssallos.» Ibi-
dem, eap. lt)2. — « E porque o Principe
então entraua cm idade de qnat'Tze ân-
uos, e a dita Infante dona Isabel, não
era casada, quis o! Rey saber o qae nes-
te caso faria: ív^bre o qual acordou de
o fazer assi saber a el Rev, e a Raynha
de Castella per Rey de Sande. qne en-
tão era moço da camará, e a el Rev muv
aceyto, que depois foi dom Rodrigo de
Sande do conselho, e homem de muvta
valia, e de muvta renda.» (íarcia de Re-
zende, Chronica de D. João 11, eap. 73,
REND
REND
REND
201
— « E achando depois o sitio acomodado
para Mosteiro, o fez edificar, e se cha-
ma hoje Sào Pedro de iloutes distante
da Vilia de Ponferrada sós três legoas,
e correndo o tempo, fuy acrescentado em
rendas, e editicios, por S. Valério Aba-
de, e Saõ Gemuadio Bispo de Astorga,
como se colige de huma grande pedra,
que cstà na porta da Igreja.» Monar-
chia Lusitana, liv. 6, cap. 23. — «Xas
quaes fortalezas assi nas Dafrica, como
da índia, mandon edificar Egrejas, e
alguns mosteiros de frades que dotou
de rendas, e tenças pêra os clérigos, e
frades que nellas administrassem o cul-
to diuino, e lhe deu muitos, e ricos or-
namentos, e as fortalezas proueo todas
de artelharia, e outras munições de guer-
ra, com toda a gente darmas necessária.»
Damifio de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 4, cap. 8.Õ.
— Deixar rendas, hijnr rendas; dei-
xar para um fim qualquer ou a qualquer
pessoa o rendimento ou foros d'uma pro-
priedade. — « E isto por ficar mandado
e instituído per hum senhor mouro, cuja
fora aquella aldeia, e leixara as rendas
delia pêra se dar de comer as cáfilas que
por ali passassem, e huma casa grande
pêra se apousentarem.» António Tenrei-
ro, Itinerário, cap. 63. — « Estes edifi-
cios mandaram fazer mouros defuntos, e
deixar rendas pêra se trazer ali aquella
agoa, que vem de carreto em Camelos
de muyto longe. Per este caminho che-
gamos aa cidade de Alexandria.» Ibidem,
cap. 48.
— O que se paga annualmente pelo
aluguer d'uma casa, propriedade rústica,
etc. — Pagar a renda da casa. — As ren-
das pagam-se pelo S. Miguel. — «Outro sy
queremos, outorgamos, e mandamos que
e-ta nossa Hordenaçom aja lugar, posto
que seja compra feita pelos novos, e ren-
das, ou foros dos ditos Lugares, ou cada
hum delles : com tanto que seja feita sem
engano desta nossa Hordenaçom, assy por
se nom dizer que seja arrendamento, af-
foramento, ou emprazamento ; ca nom
queremos, posto que se faça per nome
de venda, que esta nossa Hordenaçom
seja piir ello desfraudada, e enganada.»
Ordenações Affonsinas, llv. 4, tit. 2, § 9.
— " E esto se entenda nos nossos foros,
e rendas e direitos, e da Ravnha minha
molher, e dos Ifantes meus filhos, e Ir-
maaòs, e Condes, e de Igrejas, e moes-
teiros e outras quaesquer pessoas, que
moram em Regueengos, e Lugares, e
Yillas, ou herdades, que no seu foral he
contheudo, que paguem mediçom de pam,
e vinho e legumes. » Ibidem, § 64. —
« Item. Se aquelle. que trouxer alguma
posissora por certo foro, ou prazo d 'al-
gum Senhorio, a qual apenhasse ao dito
Senhorio por alguma divida sob tal prei-
to e condiçom, que o dito Senhorio ou-
vesse em salvo os frnitos e rendas da
TOL. V. — 2G.
dita possissom ataa que fosse pagado da
dita divida, em tal caso poderá aver o
dito Senhorio as ditas rendas e novos em
salvo ataa seer pago da dita divida, sem
descontar delia nenhuma cousa.» Ibidem,
tit, 19, § 5. — «Porque em quanto assi
ouver 03 ditos frnitos, e rendas do dito
foro, ou prazo, nom averá a pensom, que
lhe he devnda em cada hum anno por
virtude do dito contrauto do afloramen-
to, ou emprazamento.» Ibidem. — « E por
conseguinte o comprador perderia o pre-
ço, que pola cousa desse, e o vendedor
perderia a cousa vendida, e deve seer
todo para a Coroa dos Nossos Regnos: e
aalem de todo esto o dito comprador,
por seer onzaneiro, deve perder todolos
fi-uitos e rendas, que ouve da dita cousa
comprada, e tornar todo ao vendedor, ou
a sua verdadeira estimacom, segundo o
que valerom comnnalmente ao tempo
que os colheu, ou recebeo.» Ibidem, li-
vro 4, tit. 40, § 2. — «A qual Ley vis-
ta per Nós, ademdo em ella : Dizemos,
que se depois que esse Autor, que assy
for entregue dalguns bsns per revelia,
e receber delles algumas rendas, fniitos,
ou novos.» Ibidem, liv. 1, tit. 47, § 1.
— .ás rendas d'um estado, d'uma pro-
vinda, concelho; a totalidade de rendi-
mentos que entram annualmente no co-
fi-e da provincia, do estado. — ■ «Gs Reis
deram em casamento à Infante sua filha,
dozentas mil dobras douro da banda, de
trezentos, e sessenta, e cinco marauedis
cada dobra, pagas em três annos seguin-
tes, despois do matrimonio consumado, e
pêra sustentamento de seu estado, lhe
deram cadanno quatro contos e meo de
marauedis, assentados nas rendas de Se-
uilha. e quorao tiueram aniso de ha el
Rei ter recebida por seu procurador, lhe
ordenaram sua casa.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 1, cap. 46.
— Rendas reaes; a totalidade dos ren-
dimentos da coroa. — «E mandou aper-
ceber, e apurar toda a gente que pode,
e todo o dinheyro, que das rendas do
Reyno se deuia, e outro que andou ajun-
tando, e pedindo emprestado a pessoas
que o tinhão.» Garcia de Rezende, Chro-
nica de D. João II, cap. 12. — «Estas,
e outras mechanicas se poderàõ obrar
com grande utilidade do bem publico,
assim para as rendas Reaes, como para
a multiplicação, e sustentação do povo.»
Severim de Faria, Noticias de Portugal,
Disc. 1. — «E esto meesmo se guarde
em aquelles, que derem querellas, como
dito he, se mostrarem que as non podem
seguir com pobreza : e façam-se as cus-
tas das rendas dos Concelhos, hu os fei-
tos dessas accusaçoões forem ouvidos.»
Ord. Affons., liv. õ, tit. 30, § 6.
— Em economia politica, chama-se
renda da terra, ou, simplesmente, ren-
da, a parte dos productos afí'erente ao
proprietário, dedncçào feita das despezas
e dos proventos do trabalho e do capital
applicado.
— Por extensão : Certos encargos im-
postos a si próprio e que sào quasi pe-
riódicos. — Só para divertimentos é uma
renda o que elle gasta. — Nas suas es-
molas os pobres teem uma renda.
— Arrendar uma renda ; arrendar uma
terra, tomar uma terra de renda.
Elle dizia que o dia tercpíro.
Que negro chaiito, que guarva seria !
Nào falleraos nisso, tudo he bulraria :
Pois elle seria o Deu verdadeiro?
Fallemos em ai. Rabi Samuel.
Oitras lazeiras ha hi que contar ;
Leix"o jazer. Queres arrendar
Comigo huma renda .^ Se fores fiel ,
Arrenda comigo esto anno que vem.
GU, VICENTE, DIALOGO DA BESUBREIÇÃO.
— Ter renda ; gozar os redditos d'uma
propriedade, d'um beneficio.
Porque os capellàes d'ElEei,
Que ca na Beira tem renda,
Se rézão lá douti-a lei.
Tem outra lei de fazenda.
Jlas Deos dê muita prebenda
A Antonc Alvares, que ho rezào
Que elle c outros que lá estão.
Nos Icixárão esta lenda.
GIL ^^CE^•TE, fabças.
3.) RENDA, s.f. (Da mesma origem que
rédea, isto é, d'um baixo latim retina,
do latim retinere, reter). Termo antiqua-
do. Rédea.
1.) RENDADO, adj. (De renda 1). Guar-
necido de renda. — Um vestido rendado.
— Um punho rendado. — Um 'cabeção
rendado.
2.) RENDADO, adj. rDe renda 2). Que
tem renda ou rendas. — Homem muito
rendado.
— Que é alienado por meio de renda.
— Vid. Arrendado.
1.) RENDAR, V. a. (De rendai Termo
antiquado. Pagar renda.
— V. n. Pagar renda.
2.) RENDAR, r. a. Sachar pela segun-
da vez. — Rendar os milhos.
RENDAVEL, adj. 2 gen. (De renda, o
o suffixo «avel»\ Productivo, rendoso.
1.) RENDEIRA, s.f. (De renda 1). Mu-
lher que faz rendas para guarnições.
2.^ RENDEIRA, s. /. íDe renda 2, com
o suffixo «eira»% Mulher que cobra ren-
das.
— Rendeira de casas ; aquella a quem
pertencem os alugueis.
— Rendeira ; mulher que traz herdade
de renda.
RENDEIRO, s. m. (De renda 2, com o
suffixo «eiró»"!. O que cobra a renda ou
producto de certos impostos. — «Ao que
dizem no 19 Artiguo, que foi mandado
por nosso Padre, que nenhu, que fosse
ordenado de Ordeens Menores, posto que
fosse casado, não fosse Juiz, nem Procn-
202
REND
REND
REND
rador ilo Concelho, nem Alniotaccl, nem
Rendeiro <la» remias <\n íloncellm, nem
noaHa», uom ouvesio outros OfticioH, (jiio
em BHSO mando híIo contlicinlort, por (|uo
nílo i>()Jiamo.s per «lircito dar-llie pt'na
poios erros (jue lii íaziam.» Ord. Affons.,
liv. :5, tit. 15, íj -U).
— O que traz henlado alheia o a la-
vra ou u.-ia delia mediauto pagamento
de corta quantia ou f(euero3 ao dono. —
«Segundo fomos cntormado, estabelece-
rom os Sabedores antigos, <iuc compila-
rom as Leyx Imperiaaes, quo se algum
homo veudesise huã casa, ou herdade, ou
quahpier outra cousa d(i raiz, a qual ao
tempo da venda ja tiidia arrendada, ou
alugada a outrem por tempo, que fosso
monos de dez annos, nom lio o dito com-
prador theudo de manteer o dito con-
trauto d'alugucr, ou arrendamento ao
dito rendeiro.» Ord. Affons., liv. 4, tit.
4, § :5.
Meu pac não era do arto
Senão pcra cavallciro",
Ou fidalgo, ou rendeiro,
E o cliriâtào pei-a alfaiate
Sem agulha c sem dinheiro.
Vosso pac hc ca, senhora?
Que lhe quereis v<^3 dizer?
Pergunto a vossa mercê.
OIL VICENTE, FARÇAS.
RENDER, 1-. a. (Do latim reddere; a
nasal encontrando-sc cm frauccz rendre,
italiano rendere, catairio e hespanhol nn-
dir, póde-se concluir quo a nasal remon-
ta já ao latim vulgar n'uma forma já
exiatentc om Itália n'um periodo ante-
rior ao da divulgay."to da lingua do Ro-
ma nas outras províncias do império. Era
reddere, composto de red (^que depois per-
doa o d ficando )•?), ha, segundo os ety-
mologistas, a confusão homonyma de dous
verbos formados um da raiz da, dar, e
é o outro da raiz dh~i, por, assentar, fa-
zer ; d'ahi as duas séries distinctas, mas
muitas vezes confundidas, das significa-
ções de reddere). Dar, entregar, resti-
tuir, prestar ; n'esta primeira accepçào,
a palavra é apenas usada n'um certo nu-
mero de phrases, como as seguintes :
— Render o espirito a Deus, ou, sim-
plesmente, render o espirito (subenton-
dendo-sc a Deus) morrer, entregar a al-
ma a Deus.
Entro esta alta abundância, f[up aqui escrito
Tenho, a dos mantimentos não faltava,
Porque doâtea hum numero infinito
Lã na Villa dos Eumcs junto estava ;
E por serem do Rei que antes o esprito
Rendco om mãos da imiga fúria brava,
Arrecada-los logo os três rierào
E depois por sobejos .se venderão.
FBASCISCO DK ANDRADE, PBIMEIHÚ CERCO DE DIP,
cant. 8, est. 57.
liaudnr cmlim o triste osprito rende
Que por mil piurtcs tom larga saliida,
Hobolo mar o morto corpo entendo
(jue foi dl! taiitiM corpiirt hoinieida.
Nisto vem a parar o que pi^rtende
Segurar coo» alheiai sua vida,
Quo u l.>iviua .lustieu «einprc ordena
Que Hucceda au delictu igual pena.
iniDEti, est. 0.
— Render o corpo d morte ; morrer,
deixar-so vencer pela morte.
Pallido em terra ja morto se estende
Este, de quem Stí ii morte houve a victoria,
Porém se a morte he certo que se rende
As obriís immortaes, A immortul gloria,
Heróico varão, claro »e entende
Do. que do ti cantou a minlia historia,
Que ac á morte o mortal corpo reiutente
Co 'os teus imiiiortaes feitos a venceste.
KHANeiSCO D'AXDHAnK, rUIMClUO CEBCO DE DIl',
ciint. 17, est. 87.
— Render o vitimo arranco da vida;
morrer.
— Render as armas; entrcgal-as.
— Render fíVas ã morte; matar.
— Termo de náutica. Render o bordo;
voltar ao porto. = Antiquado.
— Render o hordo ao mar ; tornar a
navegar. = Antiquado.
— Render o quarto; entregar o scrvi-
(,■0 do quarto áqueile, ou áquelles que se
seguem.
— Por extcns.^io e abstracção do sen-
tido primitivo : Render uma sentinella,
uma guarda; dar o posto da sentinella,
da guarda a outro soMado, ou soldados.
— Render cultu, obediência, rcsjjeito,
adoraijues, obséquios, etc. ; prestal-os.
— Render (jra<;as a alguém; agrade-
cer-lho, prestar-lhe graças, fazer acção
de graç^is. — «O do Tigre lhe tirou o
elmo por vêr em que disposição estava,
e vendo que dera fim a seus dias, lim-
pando a espada e metendo-a na bainha,
com os giolhos em terra rendeu graças
ao favorecedor da sua victoria, crendo
que sem sua ajuda nenhuma força hu-
mana bastava a desbaratar tamanha cou-
sa.» Fi-ancisco de Moraes, Palmeirim de
Inglaterra, cap. 118.
Cara Esposa, rendamos a Dcos graças.
Olha quanto í comnosco providcnte
Que nos manda estes Hóspedes honrados.
F. M. DO NASCIMENTO, OS MARTVRES, 1ÍV. 11.
— Termo de feudalismo. Render prei-
to, e hometuigem ; reconhecer na qualida-
de de soberano, prestar juramento de
vassallo fiel.
— Pagar, satisfazer. — Render a di-
lida. ^Accepçào antiquada.
— Render scri-tço, ou serviços ; pres-
tar, fazer serviço ou serviços a alguém.
— X"um .-icntido irónico: Render ser-
vii;os; fingir-su muito serviçal, apregoar
muito os seus serviços, embora insignifi-
cantes.
— Dar de lucro, produzir, ti"azcr de
lucro, do rendimento. — A» terras que
pogjiue rendem-Z/ui dou» conto» de rei$
por anno. — «(J principal doi» quaes na
costa da Arábia hc a Nilla (Jabtyatc,
que rende dczenovo mil c duzonton xura-
tíus, per Cita maneira : o nictmu (Jalaya-
te onze, Ma-^cute quatro, S<jar mil o qui-
nhentos, Orfacam outro tanto, iJaba qui-
nhentos, I^açort hctecentos, Julíàr, quQ
he outro (luaziladu ncHta parto da Axa-
bi.\ com toda sua Comarca, rende seU;
mil c ijuiidientos xaratins.» Jo3o do IW-
ro.s, Década 2, liv. 10, cap. 7. — iCoin
o qual ouuc hiuu recontro cui que o deA-
baratou, junto das terras de (ioa, c lhe
tomou as cidades de Rachol, Bilgam, e
outros muitos lugares eui que entrauito
os Tanadarius do lialagatc, vczinlia« ha
(ioa, (juo rendiam umito dinheiro.» Da-
mião de Coe<i, Chronica de 0. Manoel,
part. 4, cap. 61. — «E com muyto me-
nos custo, aesi de gente como de tudo o
mais, porque somento do trato nos afiir-
marão mercadores com que falíamos, que
rendiâo as três alfandegas desta ilha Le-
quia hum couto c meyo douro, a fora a
massa de todo o revno, e as mina^ do
prata, cobre, latào, ferro, aço, chumbo,
e estanho, que rendiào ainda nmyto mais
que a« alfandegas.» Fornào Mendes Pin-
to, Peregrinações, cap. 143. — «O qual
nos affirmarào os Chins que enchia e va-
zava da própria maneyra que o faz o
mar, estando pela terra dentro mais de
duzentas legoas, e que rendia tcdiy^ os
aunos para o Rey da China èó do terço
que deste sal lhe pagavão, cem mil tacis.»
Ibidem, cap. 96.
— Absolutamente : — « Em especial a
compra dos caualos rende notauelmente,
os quaes não passão a índia sem ordem
de Ormus. Hum pouco fora da Cidade,
está a fortaleza que el Rey Dõ loào ter-
ceyro deste nome, mãdou fazer tam inei-
pugnauel, c forte, como ao Capitào de
honra, e proueito.» Frei <!aspar de S.
Bernardino. Itinerário da índia, capitu-
lo 11.
— Figuradamente : Aproveitar, dar
proveito.
Está immobil o Cunha, e do adversário
Eng-ita este conselho, que «traz digo.
Também dizem que nisto por contrario
Teve, todo o que lhe era intimo amigo.
Que lhe diz que deixar lhe hc niícoasario
Hum feito, de que espem hum grio perigo
E proveito nenhum do que pretende.
Porém nenhum conselho ao Cunha rrndt.
FRANCISCO DAKDHADB, rilMEUtO CESCO DB DIV,
c*nt. 1, est. 59.
— Fazer tornar, ser causa que uma
cousa seja differente do que era.
— Render ètwi. == Pouco usado e mal
auctorisiido ; talvez simplesmente imiudo
do francez.
— U brigar por moio da força, coagir,
REND
REND
REND
203
constranger. — Render o inimigo ao aban-
donar os postos, a praça, etc.
— Submetter. — Render uma fortale-
za. — «Despejadas as quatro gales, Paio
de Sonsa, e Diogo Pirez leuaram as duas
que renderam atoadas a uao de dom Lou-
renço, que estaua as bombardadas, com
Mirhoeem.» Damião de Góes, Chronica
de D. Manoel, part. 2, cap. 2.
Este rende munidas fortalezas,
Faz traidores c falsos os amigos :
Este aos mais nobres faz fazer vilezas,
E entrega capitães aos inimigos :
Este corrompe virginaes puresas,
Sem temer de honra ou fama alguns perigos :
Este deprava ás vezes as scicncias,
Os juizes cegando e as consciências.
cAM., tns., cant'. 8, est. 9S.
— « Sitiou Évora, cabeça daquella
Província, e rendeo-a ; o que sabido em
Lisboa se levantou lium motim, de que
nascerão os effeitos costumados.» Frei
Bernardo de Brito. Elogios dos reis de
Portugal.
— : Figuradamente :
Verás 03 grandes feitos nunca ouvidos
Dos que se hoje a teu jugo sujeitarão,
Verás os braços fortes, não vencidos
Dos que então largamente a pátria honrarão.
Verás que cm render peitos não rendidos
Tu muito, e também muito eUes ganharão :
Elles. pois coube a ti scnhore.allos.
Tu, por seres senhor de taes vassallos.
p. d'andrade, primeibo cerco de Dir, cant. 1,
est. 6.
— Tomar, ganbar ao inimigo. — Ren-
deram inaa grande presa.
— T'. n. Quebrar, cedendo ao peso.
— Renderam os alicerces.
— Racbar-se.
— Dar de si.
— Ter uma hérnia, uma ruptura qual-
quer no corpo. — Este hjmem caiu da av-
V'jre abaixo e rendeu pelas virilhas.
— Render « verga, o mastro ; estalar.
— Render-se, v. ref. Submetter-se,
ceder. — Rendeu-se o espirito até alli
tão forte. — Rendo-me a essas razoes.
— Diz-se do amor, da belleza victo-
riosa. — «E se vós padie sentirdes bem
o merecimento dessa senbora, aquella
graça no rosto, viveza nos olhos, o ar na
disposição, logo vereis que quem se lhe
nào render de todo, ou lhe vem de ser
pêra pouco ou tem os espíritos tSo mor-
tos, que nào sabe sentir nada.» Francis-
co de Moraes, Palmeirim de Inglaterra,
cap. 106.
— Diz-se na guerra, n\un combate,
das cidades, das tropas, dos individuos
que capitulam ou se deixam fazer prisio-
neiros. — 8 Os Mouros parecendolhes que
isto era huma honesta maneira que o ca-
pitão tinha de lhe pedir alguma cousa,
assentarão terem feito hum grande siso
em se render ao nauio : porque com al-
gum presente que leuassem ao capitão
mòr acabarias tudo, cã se elles prestmii-
raõ o que depois passou, caro ouuera de
custar sua entrega.» João de Barros,
Década 1, liv. 6, cap. 3. — «Dramusian-
do lhe disse : Cavalleiro, se quizesseis ha-
ver dó de vós, seria bom que vos ren-
dêsseis a mim, e curar- vos-hia de vossas
feridas, ganhadas com tanta honra, e que
vos põe a vida em tanto risco.» Francis-
co de Moraes. Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 10. — «Auderramete, vendo-se de
todo perdido, quizera render-se ; depois
havendo medo á vergonha, determinou
antes morrer que ver-se nella : com este
propósito pelejou até que de cançado
caiu, rendendo o espirito aos pés de seu
vencedor.» Ibidem, cap. 80. — «Nào sei
quem vos engana, disse outro, que cada
um de nós basta pêra vos fazer render ;
o de o termos por victoria pequena, pe-
lejamos juntamente. Mas pois vos parece
que a pé tereis melhor partido, vedes nos
descemos todos a pé.» Ibidem, cap. 102.
— «O que ficava, vendo seus companhei-
ros em tal estado, quiz antes morrer de
mistura com elles, que render-se a ho-
mem, que nào sahia se acharia n'elle al-
guma piedade.» Ibidem. — «Se isto vos
não parecer bem, rendei-vos em minhas
mãos: e será pêra menos perigo do que
delias podeis receber. Por mór o haveria
eu, disse o cavalleiro do Salvage, que o
com que tu me ameaças ; pois é tanto a
teu salvo e não longe da minha condi-
ção.» Ibidem, cap. 39. — «O do Tigre,
que assim a viu ir, sentindo sita descon-
fiança, e receando que lhe podesse acon-
tecer algum desastre, se lhe não acudis-
se com tempo, avivou os golpes de ma-
neira que com morte de três delles os
outros se pozeram em fugida, e o do
cavallo manco se lhe rendeu, pedindo-
Ihe que lhe perdoasse alguns máos ensi-
nos ou desgostos, se delle os recebera.»
Ibidem, cap. 105. — «E porque nesta
batalha houve pouco que fazer, se não
escreve mais miudamente : baste que o
cavalleiro do Tigre os desbaratou todos
quatro, com morte de dous delles, dando
vida a to^ía a outra gente que se lhe
rendeu.» Ibidem.
D "esta arte, em fim tomada se rendeu
Aquella , que nos tempos já passados
A grande força nunca obedeceu
Dos frios povos scvthicos ousados.
Cujo poder a tanto se estendeu,
Que o Ibero o viu e o Tejo amedrontados ;
E em fim co"o Betis tanto alguns puderam.
Que á terra de Vandalia nome deram.
CAM., i-rs., cant. o, est. 60.
— «Vendo os Capitães destas tve^ na-
çoens amotinadas a justificação delRey,
e as promessas que lhes fazia, se lhes
renderão todos, e lhe prometteram de es-
tarem pelo que elle quizesse.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 195.
— «Pêra ambos darem nas terras que fo-
ram de Harduel, que a breues laços con-
quistarão, e não podendo a Imperial Ci-
dade Taitris, sofrer o impetu de sua fut
ria se lhes rendeo, e caminhando com
esta corrente de victorias, chegarão a
apresentar batalha campal a Aluãthe, a
quem vencerão, e desbaratarão. » Fr. Gas-
par de S. Bernardino, Itinerário da ín-
dia, cap. 27.
Porém nào sei se fora mais ditosa
Em se render de todo ao mar e ao vento
Ficando assaz contente e gloriosa,
E coo ganho d"hum tão heróico intento.
Que apoz via tão larga e trabalhosa
Chegar ao fim ao porto a salvamento
Onde eu sei que ha de ter e (não me engano)
Outro naufrágio mór e de mór dano.
FBAXCISCO d"axDRADE, PBIMEIKO CEBCO de DIU,
cant. 20, est. 3.
— «Deos he atalaya dos corações, de-
mos-lh'o3 desembaraçados, e quebremos
nossa vontade : armemo-nos d'armas spi-
rituaes, nam nos rendamos aos inimigos.»
D. Joanna da Gama, Ditos da freira,
pag. 15 (ult. ediç.)
Que ainda que a dura fome, juntamente
Com ser fragoso e áspero o caminho
Os tinha ja muy fracos, todavia
Os viuos corações nào se lhe rendem
Antes nelles se via aquelle vsado
Costume de vencer nações ferozes.
COBIE EEAL, NArFBAGIO DE SEPÚLVEDA, Cant. 9.
■ — Abater, ceder ao próprio peso, ca-
hii". arruinar-se.
— Dar de si. — As velhas paredes ren-
deram-se com o tempo.
RENDIÇÃO, s. f. Redempção; resgate,
quantia por meio da qual é resgatada a
liberdade.
RENDIDAMENTE, adv. (De rendido,
com o suffixo «mente»}. Com rendimen-
to da vontade.
RENDIDO, part. pass. de Render. Da-
do, entregado. — O espirito rendido a
Deus. — Rendido o suspiro fnal.
— Antigamente : Pago, satisfeito.
■ — Abatido, humilhado, deprimido.
— Vencido, derrotado, submettido. —
«Mas he summamente difficultoso, pas-
sar da vida carnal a espiritual, pello que
ainda qtie muitos se esforçaõ nos princí-
pios, rendidos tornão aos costumes anti-
gos. Alguns hai que nesta mudança de
vida trazem comsigo guerra interior, mtii-
tas vezes cahem, muitas se leuantão, mui-
tas fogem, muitas tornão a batalhar.»
Fr. Bartholomeu dos ]Martyres, Compen-
dio de espiritual doutrina. "
— Praça não rendida ; praça que não
capitulou. — «E sendo ja quasi véspera,
chegarão as outi-as duas fustas que forSo
mãdadas á terra firme, co mesmo descuy-
do das outras, e ainda que ouve algum
pequeno de trabalha em abalroallas, to«
204
REXD
UEND
KKXE
davia forito ambuH rendidas, inud com
morto de dousi Portu};uuseM, doí quais
Lum íuv LojH) Sanlialia Feitor do Cei-
lilo.» Fernilo Meiídoí Tiiito, Peregrina-
ções, cap. 140.
— Figuradamoiite :
Rdinedio ác mcn mal, í|uoin tu dotem ?
QiiPin U- fiiz (|iio iiào vciibuH darmo vida?
Quem lic o i\uii iiic iitallia tanto bem V
('oiiio ostáí (lo tou Protlieo asni e.si|Uocida 'í
Vem formosa Lianor, ali Lianor vem
Alegra c»t'alma tridto a ti rtndida,
Nilo pagort tanto amor com crueldade,
Que uào se espora tal, do tal beldade.
UOHrK IlEAL, NALFnAOIO DK 8RPULVKDA, Caut. G.
liuma voz imaffino ja rendida
Ifuma alma oiid'oâtá viuo o ódio, e dureza
Imagino remédios a meus danos,
Olhai que tacs Bcrâo pois saõ enganos.
iiiiDKM, cant. 14.
— a Como o das Douzelias qulzesse con-
tentar a ellas, parecer bem a Florendos
e mostrar a Miragiiarda que nào com
medo de seu cavalleiro nogíU'a a batalha,
e visse Almourol, que iiaquella batalha
aventurava perder ou ganhar a Arlança,
a quem estava rendido, começaram am-
bos fazer maravilhas, experimentando to-
ila a sua força, daudo golpes sigualados
á custa de quem os recebia." Fraucisco
de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap.
127.
Este meu rendido atFecto,
Esto meu prostrado amor ;
Que este peito ho taõ constante,
Quando amante se vê prezo.
Que inda estima o seu desprezo.
Que inda adora
O seu rigor.
ABBJt.OE DB JA2ENTE, POESIAS.
— Vencido de amor.
— Adquirido e produzido dos redditos,
renda, imposto ou foro.
— Mudado, substituído por outro, fal-
laudo do posto de guarda, seutinclla, vi-
gia, etc. — «E feito isto, se deu logo or-
dem ao modo que se avia de ter neste
negocio, e tizeraò capitão desta gente
hum tio da Ravnha, por nome Manica
votau, o qual ajuntando logo todos os
cinco mil homens que avia na cidade,
aquella mesma noite, despois do ser ren-
dido o quarto da modorra saliio pebiá
duas portas quo estavao mais frontevras
á serra, e a cometerão tào determinada-
mente, que em pouco mais de huma ho-
ra o ciipo se dividio em mais de cem par-
tes.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, c.ip. 155.
— Em que so dou relaxação, ruptura.
— Virilha rendida.
— Com referencia á pessoa : Rendido
da virilha; que tem ruptm-a na virilha.
— Quebrado, partido, rachado.
RENDIDURA, s. f. (De readido, com o
Buffixo <ura>j. A parto ou logar do mas-
tro, pau ou aspa por (judo ello começou a
quebrar e onde so lixam rocas ou talas
bem atadas com voltas do calabre grosso
ou com preg.iduras fortes, a lim de obs-
tar a maiur quebradura.
RENDILHA, «. /. (De renda 1, com o
sudixu 'ilha» I. Diminutivo de Renda. Uen-
da cstri'ita. tina, delicada.
f RENDILHADO, i>art. j,uns. de Rendi-
lhar. C^ue tem lavores uemelhantcs á ren-
dilha ou renda.
— Figuradamente : Em musica e poe-
sia, que é variado caj)richo3a c delicada-
mente. — Ou rendilhados d' uma sympho-
nin <le Muzart.
RENDILHAR, v. a. (De rendilhaj. Or-
nar com lavor semelhante á renda ou
rendilha. — Os artistas da idade media
sabiam rendilhar admiravelmente an pe-
dras das calhiidraes.
RENDIMENTO, s. m. (De rende, thema
de render, com o suffixo «mento»). O
producto d'um capital qualquer, quer re-
presentado em metal quer em proprieda-
des rústicas, urbanas ou suburbanas, ga-
dos, ete. ; no seu sentido mais geral con-
funde-se com producto labstrahindo da
accepçào arithmctica d'esta palavraj. —
O rendimento de 20 contos de reis a S e
^/.^ por ctatu ao anno. — Vive do rendi-
mento de suas inscripi^Tks.
— Cousa de bom rendimento ; cousa
que produz muito. — «O qual como era
costumado com o grande número das náos
ter cada anno grande rendimento, vondo
quanto perdia por razào das poucas que
já lá liiauí com este temor, parece que
nestas poucas queria recompensar a per-
da, fazendo tantos roubos, o tyrannias
aos mercadores residentes ua Cidade, que
começaram de a despejar.» Barros, Dé-
cada 2, liv. G, cap. 1. — «Eraõ daquel-
le Rey, por serem um importante rendi-
mento de seu Reino, e de que ElRey se
sustentava, por serem de palmares ferti-
lissimos, que era toda sua substancia.
Com esta ultima resolução se levou o "\ i-
sorcy, o foy surgir no mar largo defron-
te de Tecaneute.i) Diogo de Couto, Dé-
cada (), liv. 10, cap. 15. — «Manda, que
03 Jiispos da Lusitânia, nào tomem dahi
em dianto as terças do rendimento pró-
prio das Igrejas Farrochiacs como costu-
mavào, mas que fiquem deputadas para
a fabrica.» Monarchia Lusitana, liv. ti,
cap. 22. — «As gentes que custumavão
a navegar por aquella costa audav."io ja
tào assombradas do nome Portuguez, que
de todo deixarão o comercio de suas via-
gens, e vararão os seus navios em terra,
por onde as alfandegas destes portos de
Tanauçarim, Juuçalào, Jlerguim, Vaga-
ruu, e Tavay perdiào nuiyto dos seus
rendimentos, polo que foy forçado a estes
pi.ivos daroni cota disso ao Emperador
do iSoruau Rey de Siào, que he senhor
supremo de toda esta terra, > Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 140.
— ^ «Que he hum ijriiicij)e de grade jki-
der que liabita no âmago deste sertio
em muyta distancia de terra, do qual
adiante tratarey hum pouco quando vier
a dar inlormaçaij dulle, para que por li-
ga e contrato de nova amizade «e fizesse
seu irmão cm armas, ofTcrecendolhe por
isso certa (]uantidadc douro e pc<lraria, e
rendimentos de algumas ti-rrat comarcSs
ai» seu reyno.» Ibidem, cap. l.')7.
— Figuradamente : Resultado que se
alcança. — Qual o rendimento da dedi-
cação dos martyrea das grandes iflf<is1
— O acto de se render, de dar-se por
vencido, de capitular.
— .Submissão, sujeiçSo. — «As anti-
gas armas da exccllentissima caza de Tri-
vulcio ; assim chamada à (ri^ilici vultu.
Eraõ três Cabeças unidas em hum só
principio ; para mostrar aquelle emble-
ma, o quanto importa para a segurança
da Jlonarchia, e proHigaçaõ do poder
inimigo, a concórdia, e uniaò dos Vassa-
los com rendimento, e obediência ao Prín-
cipe ; donde tomou occasiaò o famoso An-
tónio Trivulcio para mandar dibuxar nos
seos estandartes, e bandeiras militares
estas três Cabeças com a leti-a ao pè,
que dezia.» Braz Luiz d' Abreu, Portu-
gal medico, pag. 3(iU, § 4.
— Relaxação, ruptura, desarranjo das
juntas acompanhadas de fraqueza, fadi-
ga, cançaço, abatimento, prostração de
forças phvíicas, moraes e intellectuaes.
RENDOSO, adj. (Do thema rende, de
render, com o suffixo <oso><. Que ren-
de, produz bom rendimento, dá ganho,
lucro, beneficio. — Offici'/ rendoso. —
Í^^Hirt projjriedade rendosa. — Commercio
rendoso. — « Por onde o mesmo fora de
toda a parte, como tem sido nestes sí-
tios : e naò he menos rendosa a novida-
de da cera, que qualquer outra mercan-
cia, pois a himos buscar ao Cabo-Verde,
e a Berbéria.» Manoel Severim de Fa-
ria, Noticias de Portugal, Disc. 1, § õ.
RENEGADA, í. /. Vid. Arrenegada,
s. /•.
RENEGADO, j-art. pass. do Renegar.
(Vid. Arrenegado . Que renegou.
— Infiel á lei religiosa que seguia, que
deixou uma religião por outra.
Entro este alto furor, que tanto dano
Aos Cambaios estava então causando,
Lá d'entrc o ajuntamento Lusitano
Acaso hum chumbo ardente sabe voando,
Quo contra o rairiioiio Italiano
Os aros tão direito vai cortando,
Que huma das ímpias màos lho rompe, e o deixa
Cheio de grave dor, do gravo queixa.
KRASCisco d'a!ídrade, pbixeibú rcR.-ii nr nif,
cant. 10, est. Gá.
Fica entregue ao Latino rentffodo
Todo o canhão porém quo QnXÁo nào hia,
Quo dello e d;»s estancias grão cuidado
Toma, e do tudo o mais que alli se via,
KENE
KEXi
KEXO
205
Ixigo em logar do Turco ja embarcado
Põe a gente da sua coiuoanhia,
Porque o Cliristào não sinta esta sua ida
Temendo que se a sente eiitào Ih 'a impida.
IBIDEM, cant. 20, est. 45.
Xào me esquece que atraz deixo contado
Que dos que ao galeão levou comsigo
O misero Sultão desventurado
Hum escapou só vivo a este perigo :
Foi este o Italiano renegado.
Que d entre a geral morte que atraz digo
Foi guardado, quiçá, porque ao diante
O nome Portuguez hom-e e levante.
IBIDEM, cant. 8, est. 22.
— «E ao pobre de mim quiçá como
menos ditcso couLe em sorte comprarme
lium Cxrego renegado, de que eu arrene-
garey em quanto viver, porque me tra-
tou de maneyra em sós três meses que
tiiv seu cativo.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 6.
— S. J/i. O que renegou da sua fé.
Neste tempo ja aquollc esprito ousado
Do valeroso Sousa. iUustro e forte,
A quem o genro cruel do renegado
Com vingativo braço dera a morte.
No mar dei.Kando o corpo sepultado
Subira lá á Celeste, Eterna Corte,
Com cantos e prazer dos que o levavào
Com lagrimas e dõr dos que fica vão.
F. d'akdrade, rBDiEiKo cEBCO DE Dir caut. 7,
est. 31.
— «Que Mafamede fora hum engana-
dor, infame por obras, e doutrinas ; que
se em Cambava havia renegados, seriào
de outras Nações, qual o fora seu Pai
Coge Çofar, que como monstro da terra
em que nascera, os Pais, e a Pátria o
negavào de lillio.» Jacintho Freire de
Andrade, Vida de D. João de Castro,
liv. 2.
RENEGADOR, A, s. iDo thema renega,
de renegar, com o suftixo «dôr», expri-
mindo o agente). O, a que tem por vicio
renegar de Deus e dos santos.
ila nova he essa pêra mi .
Se assi for como dizes.
Digo qneramá ca \\m.
Porém esperae-me assi,
Fallarei tamalavez.
Deos não quiz hoje nascer
Por remir os peccadores ?
E pois que queres dizer ?
Que so CO seu padecer
Se salvào renegadores f
A perneta me forçou.
Que era senhora de mi.
on. ^^CESTE, Auro da babca do
PCBGATOBIO.
RENEGAR, v. n, Vid. Arrenegar.
Creio que a vara ha d'andar,
S'Í8âo vai dessa maneira.
Eu não SOU vossa oliveira
Que a haveis de varejar.
Renego destas respostas :
^ ae muito asinha.
GIL ^^CESIE, FABÇAS.
Oh renego de Turquia !
Eu lhe dou meu coração
Com tanta gloria e alegria,
Que as aves lhe cantarão
Continuada melodia.
Las aves á la desposada
Sabes que se monta ahi '?
Nego tanto que renega :
mas SC me isso escorregar ?
Levae na garganta pega
como boi.
ASTOsio PEESTEs, ACTOS, pag. 239.
E SC amor tal amor fõr,
eu de tal amor renego.
IBIDEM, pag. 4:20.
RENEMBRANÇA, s. /. ^De re, e nem-
brança . Lembrança, relembrança.=F(')r-
ma antiquada.
RENEMBRADO, /xa-t. pass. de Renem-
brar. Lembrado.
RENEMBRAR, v. a. ant. Relembrar,
lembrar, fazer renascer na memoria.
RENETE, s. m, (Do fi-ancez renette, ou
rainette, de i-aineri. Termo de ferrador
e alveitaria. Instrumento para cortar pro-
fundamente o casco das bestas a lim de
as curar de certas doenças dos pé?. —
«Farào humas riscas com hum renete
desde o alto do casco até a ferradura.»
Rego, Alveitaria, cap. 6<ò.
RENGA, s. f. iVid. Renque I. Enfiada,
fileira, fila. — Urna renga de casebres. —
Uma renga de pardieiros. — Uma renga
de naviot:.
RENGALHO, í;. m. Fundo liso de um
bordado.
— O tecido liso das rendas até ás bor-
das que teem lavor.
— Substancia mucosa que forra o cor-
po doí negros ; corre entre a pelle e a
epiderme.
RENGE, s. m. ant. Vid. Rengo, e Ren-
que.
RENGER, ou RENGIR, v. a. Antiga for-
ma de Ranger.
RENGO, s. ,n. iViJ. Renque . Ordem,
fileii'a, eanada, tio.
— Posto, classe, logar de cada um.
— Fio com que se tecem cassas ou te-
cidos semelhantes.
RENGRÃO, s. m. Termo antiquado. Re-
gina de escripta.
RENHIDO, paH. pass. de Renhir. Por-
fiado, debatido demoradamente. — Guer-
ra renhida. — Luta renhida.
— Uòtar renhido com alguém; estar em
gueria ; em briga accesa.
RENHIR, i*. n. (Do latim ringi^ ranger ;
propriamente ranger os dentes : lucta re-
nhida; lueta em que se rangem os dentes).
Contender, poi-fiar em disputa, briga, al-
tercação.
RENHUÇAR, v. n. Forma antiga de Re-
nunciar. =Culligida por Viterbo, Eluc.
RENIFORME, adj. 2 gen. (Do latim ren,
rim, e forma). Termo de historia natural.
Que tem a forma d'um rim. — Anthera
reniforme. — Grão reniforme. — CvtyJe-
don reniforme.
RENITÊNCIA, s. f. iDe renitente . Ter-
mo didáctico. Caracter do que é reniten-
te. - — .4 renitência d'um tumor.
— Xa linguagem geral: Resistência;
esforço em contrario.
1.) RENITENTE, adj. 2 gen. (Do latim
renitens, de reniti, resistir, de re, e niti,
esforçar-se). Termo didáctico. Que, quan-
do se comprime, dá idêa de resistência,
de opposiçâo como de mola. — Um ventre
renitente. — Um tumor renitente.
— Ka linguagem geral : Que resiste,
que se esforça cm sentido contrario.
— Substantivamente : Ha muitos reni-
tentes <jue tornam vãs as tentativas do
melhoramento intellectual.
2.) RENITENTE, adj. 2 gen. (Do latim
renitens). Brilhante. = Pouco usado e só
em verso.
RENITIR, V. n. (Do latim reniti, resis-
tir, esforçar-se). Resistir, oppôr-se á for-
ça, ao constragimento, á coacção d'ou-
trem.
RENNA, s. /. Vid. Renno.
RENNO, s. m. iDo allemão renn ; em la-
pão raingoi. Quadrúpede do norte, do
mesmo género que o veado (servKS taran-
dus, Cu vier.
RENOCERONTE, í. 7>í. Vid. Rhinoce-
ronte.
RENOME, s. m. ^De re, e nomei. Opi-
nião que o publico tem duma pessoa,
d'uma cousa, celebridade, fama, reputa-
ção; toma-se ordinariamente á boa parte.
Sim, ó Padres, assas glória e renome
Coube a nossos avós •, maior nos cabe,
(Não duvideis) maior nos cabe ainda.
GABBETT, CATÃO, act. 2, SC. 1.
RENOVA, s. f. (De re, e nova). Os ra-
mos e tronco novos d'uma planta que
tem só a raiz vivaz.
— Planta nascida da raiz ainda vivaz
d'outra cujo tronco e ramos aéreos mor-
reram.
RENOVAÇÃO, «. /. (Do latim renoia-
tio, de renovare, de re, e novare, fazer
novo). Acção de renovar. — ^renovação
d'um costume, d'uma moda.
■ — Figuradamente: Xa linguagem mvs-
tica. — A renovação do homem pela graça.
— Transformação em melhor pela no-
vidade, pela inno%-açào.
— Grande renovação (instaiiratio ma-
gna); traducçào do titulo da grande obra
philosophica do chauceller dTnglaterra,
Francisco Bacon.
— Aptigo termo de chimica. Operação
pela qual se fazia passar um corpo do
chamado estado imperfeito ao estado per-
feito, como um oxydo ao estado de me-
tal, etc.
— Termo de ordens religiosas. Cere-
2ori
RENO
RENO
RENO
nionia cnnvfíntual <m í|ii(! ea !a um rc-
n«jva cm alta vo/. os cunipniiiiiHsos ila Hiia
profi«sít<i.
f RENOVADO, iKirt. jiiiHs. do Renovar.
Torna'l() iidvo. — I'iii fato renovado. —
í/m e,xi-rclti> renovado. — Uma moda re-
novada ilepois de tantas annos.
— linitaílo do moldo antif^o. — Eis um
syatema j/hiloSDphicOf mal renovado da es-
colástica medieval.
— Termo de duvoção. Rcfícnerado cs-
pirituidmentc. — Renovado pela graça, en-
trou nas ordens sacras.
— Feito do novo, recomeçado, repe-
tido.— «E sompro o caso passara sem
castigo, SC o Espanhol seiíilo embrenhar.a
em lugar, que sua aspereza llin fez dey-
xar o cavalo polo qual fov fácil eonliccer-
Ihe o dono, que preso e atormentado por-
que descobrisse os da liga, lhe não piidc-
rilo tirar liuma si» palavra, antes ao dia
Beguinto, temondo que renovados os tor-
mentos, lhe podesso faltar a constância,
soltando-se das niàos daquelles que o tra-
ziSo, deu cora a cabcí^a em huma pedra,
onde a elle se lhe acabou a vida, aos cul-
pados o temor, e aos Romanos a espe-
rança de saberem o que tanto desejav.ão. »
Monarchia Lusitana, liv. 5, cap. 2. — «Re-
nouada a guerra, Koçalcam voo algumas
vozes cometer hft cidade, de quem se os
nossos defendiam de maneira que nunca
ousou de chegar aos muros, porque os
nossos lhes sahiam, poendosse em ciladas,
por tão bom modo que hos dcsbaratauaõ,
e faziaõ sempre fogir.» Damião de Uoes,
Chronica de D. Manoel, part. 3, cap. 21.
RENOVADOR, A, s. (Do thcma renova,
do verbo renovar, com o sufixo «dôr»).
O que renova.
— l-*artieularmonte : O que renova um
quadro, pintando-o de nouo ; o que reno-
va um texto, mudando-lhe as palavras e
phrases antiquadas u'outras do seu tem
po, ete.
RENOVAMENTO, s. m. (Do thema re-
nova, de renovar, com o suffixo omento»V
Restabelecimento d'uma cousa n'um esta-
do novo ou melhor. — O renovamento da
vegetação na primavera. — O renovamen-
to das estaçíics.
— Época de renovamento ; época em
que as sociedades experimentam uma
grande mudança nas suas opiniões, nos
seus costumes, nas suas instituições.
— AcçSo de fazer um novo tratado,
um novo acto. — O renovamento do ar-
rendamento.
— Termo de devoção. Regeneração es-
piritual. — Deus é o principio do reno-
vamento da nlma.
— Augmonto, crescimento. — Um re-
novamento de calamidades.
— Reiteração.
RENOVAR, V. a. (Do latim renovare,
de )•<!, o novare, de novus). Tornar no-
vo, concertar ; tornar como novo ; fazer
novo, substituindo uma cousa a outra da
sua espécie. — Renovar uma assembléa. —
Renovar um tj-trciío. — Renovar uma ca-
sa.— 'Reno\ar um vestuário. — Renovar
o guardu-roupa.
Viinort ncu rdificir,
iio Hnviio (izcr alçar
paços, iprcja», inostoiros,
praiiílo» poiíoa, caiiallciro»,
vi lio rcyiio reiionar.
OAKCIA I>E BEZEXDR, MIgCEI.LANeA .
lío »ua cllipsn cicontrica ehcfjado.
Quanto parece, ao circulo, que n Terra
No (íyro seu descreve ao Sol cm torno :
Asâim lonfjos períodos renóra
No espaço onde se perde a mente, c a vista.
J. A. DE MACEDO, IIEDITAçÃO, Cant. 2.
VÓB renovai» o ár com puro assopro :
Ilides depor nos campos ubcrtosos
Os férteis sacs, os suecos creadorcs :
Vós 8i'i fazeis cortar liijuidas agoas,
Se as vMas enfunais da nAo ligeira.
IBIDEK.
Assim longos periodos rtnova
Do Etlicr pelo Campo interminável.
IDEM, A KATCBEZA, Cant. 1.
— Renovar um texto; accoramodal-o á
linguagem do seu tempo.
— Diz-sc também das pessoas que se
substituem por outras nas suas fixncções.
— Renovar os administradores de conce-
lho.
— Corrigir, mudar para melhor.
— Dar uma nova força. — Renovar a
coragem. — Renovar o animo abatido.
Põe-30 ao trabalho a fraca, iuhabil gente
Para alentar os fortes ja cansados,
De que cada hum tal vergonha sente
Que n'huTis membros ja assaz debilitados
Ileiwra tjil fervor, c esprito ardente.
Que da desconfiança estimulados
Kmprelicndem cousas taes, que a natureza
Impossíveis as faz a tal fraqueza.
F. d"andradf., primeiro cerco de DIU, cant. 15,
est. 90.
— A volta da prímaiera renova a na-
tureza.
— 5Iudar as instituições, as idèas, os
governos, os costumes, fallando d'uma
revolução. — A i-evolução franceza reno-
vou a face da Europa.
— Renovar o mal, a dôr d'alguem; fa-
zer sentir de no^-o o seu mal, a sua dôr.
— Renovar uma chaga (no sentido pró-
prio e no tigurado) ; abril-a de novo.
— Renovar a attençíío ; ter uma nova
attençào, uma maior attenção.
— Renovara memoria; excital-a, re-
frcscal-a, rcvivel-a.
— Renovar a lembrança d'xtma cousa ;
lembral-a, fazel-a lembrar.
— Renovar um edito, uma hi; pol-a de
novo em vigor.
— Pôr de novo em uso, em vigor. —
— «E porque a perfídia dos An-ianos,
não perturba-sse a pureza da Fè Catholi-
ca, reoovarão a conii.>8ari do Concilio Ni-
ceiío, para que tenilose nau Igrejas de
Espanliu, KOubeHKum os fieis o que Ibe
convinha crir c guardar. Kaò anda este
Concilio imprenso era parte que eu até-
gora visHc.» Monarchia Lusitana, liv. O,
cap. 2. — «MiL-í ElRey D. Fclippe o Pru-
dente mandou extinguir ei>ta« Coudela-
rías nas Cortes de Tomar, as quaos Soa
Jlage.stade, que Deo.ij guarde, tornou a
renovar, com que ha jii muitos, e bons
cavai los no Revno, por serem os desta
Província taò afamados em Europa que
por isso o.s nomeavaõ por filhos do Ven-
to.» Manoel Severim de Faria, Noticias
de Portugal, Di.sc. 2, § 10. — •E>u or-
dem se guardou em tempo d'ElRey D.
Sebastião, até todo o d'ElRey D. Filip-
pe, c depois se renovou algumas vezes,
e de presente se observa com cuidado.
Porém nos lugares maritimos, e no R*y-
no do Algarve está isto em mais obser-
vância.» Ibidem. — tTerceiro: excita em
ti hum etileaz dezejo de andar, quam
continuamente poderes, na presença de
Deos, e faze por renovar, e confirmar
este habito, porque he hum atalho breve,
direito, e seguro, para chegares á per-
feição.» Padre Manoel Bernardes, Exer-
cícios espirituaes, part. 2, pag. 93.
• — Renovar um contracto, um tratado,
um arrendamento ; pôr de novo em vigor
o antigo, ou como estava, ou modificado,
por um novo lapso de tempo. — «.Sobe-
las quaes o Vicerei renouou o contrato,
contentandosse de dous mil cruzados ca-
danno, porque soube que nam tinha Ni-
zamaluco poder para pagar os cinco mil
que lhe dom Lourenço pedira.» Damião
de Góes, Chronica de D. Manoel, part.
2, cap. 38.
— ■ Termo de theologia. Regenerar es-
piritualmente.
— Fazer de novo, recomeçar, conti-
nuar.— «£ tomando a remetter aedo
Salvagem, começaram outra vez renovar
sua batalha, que ao parecer de quem a
olhava era temerosa e grande.» Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 106.
— Renovar conhecimento; entrar de no-
vo em relações com uma pessoa que se
tinha perdido de vista.
— Fazer nascer uma planta das rai-
zes velhas ; fazer nascer ramos n'um
tronco velho.
— T'. M. Augmcntar. — A febre reno-
va todos os dias.
— Tomar a succeder de novo. — Re-
novam as cstaçtkí. — Renovam as feiras.
— Renovar-se, v. reji. Tornar-se novo.
— .fl vegetação renova-se.
— Tomar sentimentos novos. — O co-
ração renova-se a esta idèa.
— Termo de theologia. Regenerar-se
espiritualmente. — Os homens que não
se renovam não se saham.
KENU
RE^'U
KENU
207
— Renovar-se na lembrança, na memo-
ria; ser recordado.
— Apparecer, mostrar-se de novo, re-
petir-se, renascer.
E tanta foi a força, tanta a pressa
Com que o bom Sousa e oâ seus os accommettem,
E o damno dos peloiiioâ, que arremessa
O canhão, que dào mortes e as promettem,
Que o se.ffundo faror no Turco cessa,
Rerwva-se o temor, e lá se mettem
Nas barcas outra vez, que o mal presente
Fez a vergonha ao modo obediente.
FBASCISCO DE ASDBADE, PBIMEIBO CEECO DE DIC,
cant. 19, est. 30.
RENOVO, s. m. (De renovar). O ramo
que brota da planta podada ou cortada.
— Figuradamente : Novo ramo n'uma
familia. — O renovo òrigantiuo ; o ramo
brigantino da casa real de Portugal.
— Renovo, ou, no plural, renovos; as
novidades da terra, os fructo? comestíveis
e gados, e em geral os productos agrí-
colas.
— Os fructos a dinheiro ou renda pe-
cuniária.
— Figuradamente : O producto, resul-
tado, efíeito.
— Planta nova para se dispor e reno-
var os plantios onde ha falhas e morto-
rios.
— Figuradamente : Faltanirnos reno-
vos de grandes homens.
RENQUE, s. /. (Do germânico: antigo
alto allemào hring, allemão moderno ring,
circulo, annel, fileira, etc. ; portuguez
arenga, íra,vicQZ harangite, rang. etc). Ala,
serie, fila. fileira, enfiada, _ alinhamento.
— Uma renque de casas. — Renque de
arvores n'uma alameda, — Renques de
homens armados.
— Observ. gkamm. : Ha quem empre-
gue esta palavra como masculino : um
renque ; mas é um uso vicioso e contra-
rio ao emprego clássico em que é sem-
pre feminiriO.
RENTE, adv. Cerceo, pela raiz, pelo
pé. - — Cortar o cabello rente. — Cortar
uma arvore rente.
— Rente com; próximo, junto a. —
Andar uma ave rente com o chão. — A
casa está rente com a estrada. — «Foi
cortar o corno junto a pelle, na distan-
cia da grossura de hum dedo, onde o
sentimento, e a dor do padecente era tào
forte, que não foi possível talhar-se mais
rente como se inteutou.» Cavalleiro de
Oliveira. Cartas, liv. 1, n." 12.
RENUIR, f. 71. (Do latim renuere). Re-
cusar, nà', querer, rejeitar, nào acceitar.
RENUNÇAR, v. n. Antiga f jrma de Re-
nunciar. = CoUigido por Viterbo, Eluc.
RENUNCIA, s.f. iDe renunciar). Acçào
de renunciar a alguma cousa. — Renun-
cia do beneficio.
— Particularmente: Renuncia de si
mesmo; acto da alma que se desinteressa
dos seus próprios interesses.
— Na historia d'Inglaterra : Acto de
renuncia a si mesmo; bill pelo qual a
camará dos communs determinou que to-
do o membro do parlamento seria excluí-
do das fuLicções civis e militares (1G44").
— Na moral christã, acçào de renun-
ciar ás cousas do mundo.
RENUNCIAÇÃO, *. /. (Do latim renun-
ciatio, de renuntiare, renunciar). Acçào
de renunciar a alguma cousa. — n Acon-
teceo Cita vitoria quasi nos últimos dias
delRey Dõ Ramiro, porque a renunciaçaõ
do Abade Joaõ se fez entrando dous dias
no anno de Christo, de oitocentos e cin-
coenta, em que morreo no primeyro dia
do mez de Fevereiro seguinte.» Monar-
chia Lusitana, liv. 7, cap. 14.
— Particularmente : Acçào de aban-
donar um direito, uma posse.
— Acto pelo qual se renuncia a uma
cousa.
— No sentido espiritual, abandono de
si mesmo.
f RENUNCIAÇOM, s. f. Antiga forma
de Renunciação, asada até ao século xv.
— «Porem mandamos, que assy se guar-
de, e seja avudo por Ley daqui em dian-
te; e o Tabelliam, que algum Estormen-
to de renunciaçom fezer doutra guisa
contrairá desta, perca o officio do Tabel-
liado ; e porem mandamos, que o dito
uso, e Hordenaçom se guarde, segundo
suso he escripto, e per nos declarado,
como dito he.» Orden. Affons., liv. 4,
tit. 8, § 1.
RENUNCIADOR, A, adj. (Do thema
renuncia, de renunciar, com o suíBxo
«dôr»i. Que renuncia.
— Substantivamente
cia.
RENUNCIANTE, part.
ciar. Que renuncia.
— Substantivamente: O, a que renun-
cia.
RENUNCIAR, v. a. (Do latim renun-
tiare; de rf, e nuntiare, annunciari. Re-
signar, abdicar, não querer, desistir de.
— Renunciar um cargo, um officio. — Re-
nunciar a coroa. — Renunciar o cominan-
do. — Renunciar o império. — «E se al-
euem promette,sse em algum coutrauto
pagar, ou reponder em lugar, que nom
fosse de seu foro, ou renunciasse qual-
quer privilegio de foro, que lhe fosse ou-
torgado, geeral, ou especial, ou d'espa-
ço, ou de qualquer outro privilegio gee-
ral, ou especial, mandamos que em taaes
casos nom aja lugar o dito artigo, mais
aja lugar o Direito Comum, e as Horde-
naçooens do Regno sobre ello feitas.»
Orden. Affons., liv. 4, tit. 7, § 2. —
«Item. Se alguma molher fiasse outrem,
obrigando-se por elle como fiador, e re-
nunciasse expres.samente o beneficio de
Yalleano, declarando seer certificada, e
sabedor como podia delle gou^•ir, e seer
relevada da dita fiadoria, e obrigaçom, e
esso nom embargante, prometteo de nun-
O, a que renun-
act. de Renun-
ca se chamar ao dito benaficio do Yallea-
no, nem gouvir delle em algum tempo.»
Ibidem, tit. 18, § 3. — «Porque aquel-
les, que emprestidos tiram, ou fazem ou-
tros eontrautos, por mui meesteirosos que
sam, segundo a voontade dos creedores,
porque hajam razom de lhes acorrer com
aquello, que lhes comprir, fazem muitas ve-
zes confissões do que nom he, e renunciam
03 direitos, que os ajudam contra aquel-
las confissoões, que fazem.» Ibidem, tit.
55, § 1. — «E se acontecer que o deve-
dor este mandado renunciar dos sessenta
dias. dizendo ao tempo do contrauto que
renuncia o direito, que diz que ante dos
sessenta dias possam vir contra sua con-
fissom. Mandamos que tal renunciaçom
seja nenhuma. » Ibidem. — «Se algum Ta-
balliaõ renunciar o Taballiado, ou Escri-
pvaõ Escripvaniuha, com condiçom que
Nós o demos a outra certa pessoa, ou el-
le meesmo Taballiaõ, ou Éscripvaò po-
nha seu OíBcio em certa pessoa, nom
dará o Chanceller Carta em tal caso a
aquelle, em que o Officio seja posto pri-
meiramente, ou requero, que lho dem ; e
quando tal Officio for sempresmente re-
nunciado, e a- Nós aprouver, N(Js o dare-
mos a quem Nossa mercee for, e assy
dará o Chanceller dello Carta.» Ibidem,
liv. 1, tit. 2, § 11.
— Deixar, abandonar a posse, o dese-
jo d'alguma cousa. — «Começou Cons-
tado a governar a parte que lhe coube
do Império, e com cila nossa Lusitânia,
e parecendolhe grande peso o de tantas
Províncias, renunciou a seu companhei-
ro, Africa, e Itália, ficando só com Es-
panha, França, InglateiTa, e Allemanha,
que regeo com universal satisfação de to-
dos, sem aver inquietação de guerras, no
tempo que lhe durou a vida favoreceo os
Christãos, posto que elle o nào fosse, e
permitia levantaremse Igrejas, e celebra-
rem nellas os officios Divinos publica-
mente, com que tornou a respirar a ley
Evangélica das cruéis perseguiçoens pas-
sadas.» Monarchia Lusitana, liv. 5, cap.
24. — «Foraõ a petição, e lagrimas de
tanto effeito no animo de S. Rosendo, que
lhe nào pode negar seu consentimento, e
aceitando o cargo Abbacial, se vio o
Mosteyro logo cheode Cavalleiros, e se-
nhores grades, que renunciando as pom-
pas do Mundo se vinhào dedicar ao ser-
viço de Christo, e muitos Conventos do
Monges, e Religriosas de Portugal, e Gal-
liza, lhe mandarão dar obediência.» Ibi-
dem, liv. 7, cap. 24.
— Abjurar, renegar. — Renunciar as
crenças i^cj''^-
— r. n . Renunciar a ; desistir de,
resignar, abdicar.
Perjuros ! renuncio ao vosso aôccto.
Desobedientes, vosso amor fingido
Lanço de mim ; e impreco os sanctos deuses
Que sobre vós...
208
RÉO
REPA
REPA
Catào, não nos inuldifcan :
Obodoocinos jâ.
oAiiuiírr, (j.vtIo, iict. 6, Hc. õ.
— Turriio do dovoí^ilo. Renunciar «o
vuutlo; co:i>ii^rar-.so lí vila ni ií,'i()<a.
— Turnit) de j<>X'^ do carta-*. (Jubrir
uiua carta com outra (|iio mio Hoja do
inesino uaipc n(!in trunfo.
Senhora, ditamos
(lillcrciitod na triumfuda,
viis o ou rciiiíiu:iiiiiio/> :
triuinfu uu d'ouro.<, vóM dn copa»;
íindiino.H muito achaco.-io»,
dipo, «cm po ito.í poiito.-*o-j,
(|uc dão uápo.saa c.icUopas
nod cacliopoa com capodoa.
ANTÓNIO I-BESTKS, AUTOS, pilg. 24.").
— Figurailanieuto : Renunciar o nutlal;
misturar cousaa do diver.sas naturezas :
1ocu<;.m[o ^quo .se explica pelo sentido de
wiipii quií tinli.i .1 pidavra metal.
•f RENUNCIATARIO, A, í. (De renun-
ciar). Aquidlr, a([uella a favor de quem
so rt-nuiicía.
RENUNCIÁVEL, nlj. 2 gen. (Do thenia
renuncia, de renunciar, com o suffixo
ítavel»). (^110 é su.iccptivel de ser renun-
ciado, que pVle renunciar-so. — Benefi-
cio renunciável.
RENUNCaLO, s. m. Vid. Rainunculo.
RENUTRIR, f. a. (Do re, o nutrir).
Dar ii'iva nutrirrio; nutrir do novo.
RENZILHA, .V. /. Brifí-a, rixa, lucta.
— Ai>.\(;.: Renzilha de S. Joà'), paz
para todo o aimo.
RÉO, ou REU, s. ta. (Do latim reiu).
O que é chamado a juizo, por acção
eivei ou crime; criminoso, culpado. —
« Quando naõ ha testemunhas so o reo
quer que íiquc em seu juramento, ho
por este modo : pisaõ a casca de hum
certo pao a qual moida lanyaõ o pó delia
na agoa que bebo o se n.ão arreuesa he
saluo o reo o arrjuesaudo he condomna-
do.» Barros, Década 1, liv. 10, cap. 1.
: — « Do sorta que 03 maiores S.TÍtos por
hum só peccado mortal, ticaõ seRuudo a
presente justiça tão reos da condem na-
ção eterna como os m 'smos demoniis.»
Pa Iro Manoel Bernardes, Exercícios es-
pirituaes, part. 1, pap. llll. — « Jí como
ho ucsíoeio era do muita importância e
muit) encomendado, tudo ho que diziam
os reos c os acusadores escreviam estes
officiacs por suas próprias màos.» Antó-
nio Tenreiro, Itinerário, pají. 2õ.
so vos cliepavcm a citado
dar-voâ-hei um letrado
Huo os fai;a d'antorc3 r«'o8;
hoinetu de marca chapado,
o mais, muito mou amigo.
ANTÓNIO PBKsrKs, AUTOS, pa<». '251.
— Réo (/e morte ; eondemuado á morte,
por haver commettido crime.
— Réo de estado; que tem crimo com-
mettido contra o estado.
— Injustamente erinúnado.
— Figuradamente: O que cominetteu
uma acr.Ti) n.Tli) meritória, nilo apropria-
da au si'u car;ieti;r (»u scMitinientos.
REOBARBO. Vil. Rheubarbo.
REORDENAÇÃO, ». /. (Do re...,' o or-
den;içaO'. Acln peio qual se reordena o
p.adre.
REORDENAR, v. o. De re..., e orde-
nar). Tornar a pôr em ordem.
— Drdenar de novo o sacerdote.
— ("oiiceder de novo o exercício das
ordins ao saecnlote.
REORDINAR. Vid. Reordenar.
REORGANISAÇÃO, s. /. (De re..., e
organisaçãoi. .Verào de reorjtíanisar.
REORGANISADOR, 'ilj. (Do thema re-
organisa, de reorgauisar, com o sufllxo
«dÒr» . <i'ii(' rrijr;.;;iiii';i.
REORGAKISAR, ou REORGANIZAR, i.
a. ( >i-i;ani -ar ilc iicivo.
REOXYDAÇÃO, REOXYDAR. Virl. Oxy-
dar.
REPAB, s. »í. Instrumento musico ára-
be, com duas cordas.
REPAGAR, V. a. (De re..., e pagar;.
Turiiar a pa<íar.
— Pa.uar com excesso, larj^^amente.
REPAGO, [mH. pa-síf. de Repagar.
REPAIRAR. Viii. Reparar. — « E cor-
rem lo com este tempo a pounaçào de
Mclindc fez Pedraluare/. seu canduho a
JMo(;àbiquc, onde repairou as uaos d'al-
gum díino que lenauâo.» Barros, Década
1, liv. 5, cap. 9. — «Morto este des-
avcnturado Key de Aarú da maneyra
que tenho dito, e toda a sua gente desba-
rata-la, logo a cidade e o reyno todo foy
tomado muito facilmente, c o ileredim
Mafamede general da frota, repairou, e
furtiticou a tranqueira ile todo o neces-
sário á scguiauça do mais que tinha ga-
nliailo.» Feruào Mendes Pinto, Peregri-
nações, cap. l'.s.
REPAIRO. Vid. Reparo.— «Depois de
feitas as estancias plantou nellas cinco
peças de bater com seus repairos, e
mantas muito fortes, E teudo tudo ne-
gociado começou a dar sua bataria ix for-
taleza com tanta fúria, e força, que lhe
iizeraõ algumas ruii.as, c lhe derribarão
todos os altos.» Diogo de Couto, Década
G, liv, y, cap. 14. — « E como a fortuna
nunca começa por pouco, nilo faltou gé-
nero de tormento que estes periliilos nào
passassem : porque quando achavaõ fruv-
tas nos matos, ou craiiguejos, e peixe naá
pravas que o mar lançava ftra, que elles
comiaò por banquete, faitavalhes a agua,
que he mal sem repairo, e acoiiteceo ven-
clerse hum qvnirtillio delia por ilez cru-
zados.» Ibidem, cap. 22.
REPANÇO. \ i.l. Ripanço.
REPANDIDO, a,IJ. Termo do botânica.
Tortuoso. — innbruciilii repaudido.
— Fol/iuí! repandidas ; as que tem no
fio da margem elevaçrwjs um tanto con-
vexas, alt"';rna'las com sinuosidades mui-
to (ibtu-a-.
REPANHAR, i-. a. Tirar, arrebatar com
firei I- \io|i':icia.
REPARAÇÃO, «. /. (Do thema repara,
d(! reparar, com o suffixo «ação»). Acto
de reparar, ile melhorar, de renovar.
— Satisfaç.^o completa de uifcnsa, etc,
— ^O concerto que se faz reparando.
— A nossa reparação ; redempçâo.
— lleuniflo de estudantes nas cscijlas,
para repetirem a liç3o e argumentarem
ás ve/.c-i iiii-; com 08 outros,
REPARADO, i>(nt. pass. de Reparar.
REPARADOR, s. m. (Do latim repam-
t>ir\. i) q le repara, reforma, concerta al-
guma cousa.
— O que censura, que critica, que
repara, ou nota defeitos cora frequên-
cia.
— Reparador do geiu-ro humano; o ro
dcmptor. .Fesns Christo.
REPARAR, V. a. Restituir ao primei-
ro estado, fallando em edifícios c ou-
tras cousas arruinadas; concertar, refor-
mar, restaurar, — « Suceíleoihe Honório
primeiro, Hlho de Petronio VaraS Con-
sular, natural de Campania, que em do-
ze annos, onze mezes, e dozasete dia^.
que teve o Pontiticado fez obras dignas
de perpetua lembrança, reparando, edi-
ficando de novo, e enriquecendo com da-
divas e ornamentos quasi todos os Tem-
plos de Roma.» Monarchia Lusitana, liv.
G, cap. 2i.
Nestes dias porém não »c assegura.
Nem SC descuida ou dorme o bom Silveira,
Xo muro rrparna toda a rotura
Com que de novo fica sàa. c inteira,
E tudo o mais faier então procura
(Que esta mostra não ha por verdadeira)
Quanto a se defender lhe era imrartante,
Couio so o Turco \ira inda diauti!.
F. DF. andbadf:, rsinEiBO cBBco DK DiT, cant.
20, est. 51.
— Emendar, corrigir.
— Restabelecer, instaurar, emendar al-
gum erro ou damno.
— Satisfazer ao otfcndido.
— Aparar um golpe, defender-se d'cUe.
— Reme liar, prevenir algum damno.
— Fortalecer as forças próprias, dar
vigor.
— Dar a ultimo dcraiio á obra. aper-
feiçoiíl-a.
— Ant. í?occorrer, supprir de muni-
ções, etc, para qualquer falta, necessi-
dade.
— Resguanlar. — Reparar o corpo dv
frio.
— Reparar-se, v. reji. Abrigar-se em
alguma parte t>u ancoiadouro, alliviar o
navio, c descansar a gente dos trabalhos
sotlridos com os teniporaes.
— Concertar-sc. restaurar-sc.
REPA
REPA
REPA
209
Mas iiostc tempo vendo ja acabar-sc
Toda a pedra que havia cutão ua torra,
Com que ao Christào forçado hc reparar-se
P:u-a se dofcuder naquella guerra,
Toda a casa se vê logo arrasar-se
Que a fortaleza dentro em si encerra,
Porque co'a pedra que ella de si déaso
O reparo importante se fizesse.
F. d'andrade, pbimeiro cebco de Diu,eant. 10,
est. 81.
— Resguardar-se, abrlgar-se, cTefen-
der-se. — Reparar-se do sol, da chuva.
— Resarcir-se, restitiiir-se, pagar-se,
satisfazer-se. — « Reparando-se da perda
do naufi-agio. » Severim de Faria, Noti-
cias de Portugal, foi. 101, v., em Bla-
teau. — «Para se repararem de taõ gran-
des damnos, deraõ com a causa delies
no mundo Novo, onde fez tal estrago,
que só na Ilha de Cuba, que tem qui-
nhentas legoas de cumprido, e duzentas
de largo, matou mais de doze milhões de
índios, para se encher de ouro.» Arte de
furtar, cap. 69.
— V. n. Olhar com cuidado, notar,
advertir alguma coasa, censurar ; consi-
derar, reflexionar. — «E naõ hà, que
reparar em parecer, que será isto cousa
diffieultosa, ou muito custosa, se naõ or-
dinária, e fácil ; pois o grande trato das
sedas de Sicilia teve pi-incipio em ElRey
Rogério trazer de Corintho, o Athenas,
quando as tentou, alguns Officiaes de se-
da para Sicilia. » Jlanoel Severim de Fa-
ria, Noticias de Portugal, Disc. 1, § 4.
— «Reparou Coge Çofar no damno, por
ser grande, ordenando que na obra se
trabalhasse de noite, para que tirando os
nossos com pontaria incerta, e vaga, fos-
se menor o effeito, mandando fazer maior
ruido, onde se obrava menos, a fim de
que 03 nossos artilheiros, guiados pelo ou-
vido, apontassem as peças ao tino do ru-
mor, e dos eccos.» Jacintho Freire d'An-
drade, Vida de D. João de Castro, cap.
2. — «Foi este simples sacerdote procu-
rar o poeta e agradecer-lhe muito não o
metter na satyra. Perguntou-lhe o Mat-
tos o nome e onde assistia. E depois
accrescentou : «Reparou v. m., na obra,
n'um multitudo cavaUorum que lá vem?»
Bispo do Grão Pará, Memorias, publica-
das por Camillo Castello Branco, pag.
139. — «Houve ahi genealógico que em
certa arvore de um fidalgo, que tinha
uma filha dama do paço, notou a esta de
prostituida. — Como assim? — lhe per-
guntava um amigo ; e elle respondeu :
«Não reparaes, quando acompanha a rai-
nha, aquelles movimentos de corpo que
ella faz?» Assim o ouviu o monsenhor
Leitão.» Ibidem, pag. 153.
— Ter duvida, repugnância, contradi-
zer, não querer commetter.
REPARA VEL, adj. 2 gen. Que se pôde
reparar.
— Notável, digno de attenção.
REPARO, s. m. (De reparar). Restau-
ração, remédio.
TOL. V. — 27.
— Concerto em obra deteriorada.
— Observação, advertência.
— Duvida, difficuldade, obstáculo.
— Confortativo para os doentes.
— Inspecção curiosa, miúda, atten-
tada.
— Soccorro, supprimento de munições,
etc.
— Supprimento das necessidades da
vida, casa, mulher e filhos.
— Termo de artilheria. Machina de
madeira com rodas e taboões compridos,
em se montam os canhões, e outras pe-
ças. — Montar um canhão no reparo.
— Termo de fortificação. Qualquer
cousa disposta com o fim de resguardo
ou defeza.
La na entrada da porta esto profano
Pelouro agora vai fazer o efteito,
Onde o Sousa, temendo qualquer dano,
Hiun bom reparo tinha então ja feito ;
Bato o canhão também do muro o pano
Que para a fortaleza olha direito,
E a torre da menagem buscar veio
Que está do baluarte posta em meio.
FEANCISCO DE ANDHADE , PBIMEIRO CEBCO DE DIU,
cant. 17, est. 50.
— Terreno levantado á roda da praça,
revestido de muros de pedra e cal, ou de
formigão, adobes, tepes, terra batida,
salchichos ou semelhante modo, com es-
carpa proporcionada, para bem se susten-
tar, sobre o qual terreno se assenta o pa-
rapeito. — Fazer um reparo « roda da
2>raça. — ■ «Entre a Fortaleza, e a Cida-
de estava outro reparo mayor que a de-
fendia, que era a fidelidade Portngueza.»
Jacintho Freire dAndrade, Vida de D.
João de Castro, liv. 2, n.° 23, em BIu-
teau. — «Com este artificio chegarão os
Mouros a senhorear a cava da Fortale-
za, onde assentarão dezoito basiliscos,
com que tirarão quinze dias continuos,
fazendo na Fortaleza tal estrago, que os
nossos, por ultimo remédio, se reparavão
com suas mesmas minas, fazendo contra-
muros, e reparos das pedras derribadas.»
Ibidem.
Tanto esta parede ao ar alçada
Quanto tem qualquer homem de comprido,
A qual lá pola borda vai lançada
Do que a Turca bombarda tom batido ;
Por dentro hc com degráos fortcficada
D'onde bem pelejar pode o atrevido :
E este atalho e reparo a terça parte
Oecupavào d'aquelle baluarte.
IBIDEM, cant. 15, est. 65.
— Reparo de pregador ; a duvida que
move sobre a intelligencia de algum lo-
gar da Sagrada Escriptura, ou a reflexão
que faz sobre alguma circumstancia do
dia, tempo, lugar, etc, do sermão.
REPARTIÇÃO, s. /. (De re, e do latim
partitionem). O acto de repartir, distri-
buição. — «O qual posto a cauallo huma
quinta feira de Endoenças saio da cidade
a espoi-a fita publicamente a se lançar cõ
os Mouros, cõ este ardil cõsultado pelos
outros que ficauão: que logo á sesta feira
seguinte a tempo que a repartição da
guarda e seruico da cidade cabia a estes
da consulta daqucUa infernal obra, Roz-
tomocan mandasse gente pêra os recolher
ao tempo da sua saida, porque a gente
de cauallo da cidade auia logo de sair
trás elles.» Bai-ros, Década 2, liv. 6, cap.
9. — «E he tão boa esta veniaga entre
elles, que ás vezes se vê num porto de
mar entrarem numa maré duzentas e
trezentas vellas a carregar delia, como
nesta nossa terra entrão urcas a carre-
gar de sal, e ainda se lhe dá muytas ve-
zes por repartição de almotaçaria, con-
forme á falta que ha delia na terra, e
por ser este esterco taõ excellente para
as sementeyras, dá esta terra da China
três novidades cada anno.» Fernão Men-
des Pinto, Peregrinações, cap. 98. — «E
foy mandado aos soldados e á mais gen-
te da nossa companhia que cada hum por
sy apanhasse o que pudesse, porque não
avia daver repartição nenhuma, se não
que o que cada hum levasse avia de ser
tudo seu, mas que lhes rogava que fosse
muyto depressa, porque lhes não dava
mais espaço que só meya hora muyto pe-
quena, a que todos responderão que craõ
muyto contentes.» Ibidem, cap. 65.
— Divisão, parte, membro.
— Partilha, sorte, quinhão.
— Repartição de vedor da fazenda ;
cada vedor da fazenda tem sua reparti-
ção nos negócios tocantes á fazenda real
e bens da coroa.
— Competência do juiz, de official pu-
blico, o que diz respeito a seu cargo.
— Termo moderno. Casa, edificio on-
de trabalham os empregados públicos,
incumbidos da direcção dos negócios de
que se trata na mesma repartição. — Re-
partição da marinha. ■ — Repartição dos
negócios ecciesiastiros.
REPARTIDAMENTE, adv. (De reparti-
do, com o suffixo «mente»). Por partes,
com repartição.
REPARTIDEIRA, s. f. Nos engenhos de
assucar é como um tacho pequeno de co-
bre com seu alvado encabado em haste
de pau, para repartir nas formas o me-
lado ou mel apurado, e a ponto de se fa-
zer assucar bruto.
REPARTIDO, i^art. pass. de Repartir.
— «Depois deste dom Pedro ter negocia-
do as cousas a que veo, el Rei o despa-
chou mandando em sua companhia por
embaixador a el Rei de Manicongo Si-
mão da sylua fidalgo de sua casa caual-
leiro da ordem de Christus, e o filho dei
Rei, e irmão, e moços nobres ficaram ca,
repartidos per mosteiros, onde os ensina-
ram a ler, screucr, gramática, e cousas
da Fe de que alguns delies sairam bons
latinos, e theologos.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 3, cap, 37.
210
RE1'A
REPA
REPA
— «Finalmcnto Iniiií» per Iiuma parto,
oiitro8 |)cr outra era repartido o parocor
cm liuni fçonori) tlu coiituííito 8ein sabor
tomar liuma boa coiicliiHnio, com cpio a
Cidade ardia, iiíto hc Habcndo dotorini-
iiar.n 15arnw, Década 2, liv. (5, cap. 15,
— «Já qiio a manbria esclarecia, o diKpio
mandou toda aijiiolla ^'cntc., (pic repar-
tidos corrcHKcm a floresta, c vissem se o
aciíavaiii, e toriia.sscm alli com recado;
ponpie Florida tinha ordenado nào fa-
zer do si mudança, tó saber o quo delle
ora feito. Pridos, lillio do duque do C)a-
lez, primo do ]). Duardos o grande sou
amigo, se metteo polo mais espesso da
montanha, contra onílo ))alia o mar.»
Francisco do iloraes, Palmeirim d'lugla-
terra, cap. ii. — «Que. para qiu! o.s Ín-
dios tenham tempo do acudir ás suas la-
vouivis e familias, e possam ir ás jorna-
das dos sertões, que se hão-de fazer para
descer outros, o os converter á nossa
santa fé, nenhum indio possa trabaliiar
fora da sua aldôa cada anno mais que
quatro mezea, os quaes quatro mezos nào
serão juntos por uma vez, senão reparti-
dos cm duas, para que desta maneira se
evitem os doasorviços do Deus que se
seguem de estarem muito tempo ausen-
tes de sua casas.» Padre António Viei-
ra, Cartas, n.° 13. — «A cada huma des-
tas portas está luim escrivão com quatro
porteyros do alabardas para darem razão
do que entra e sae por cada liunia del-
ias, as quais por regimento do Tutão saõ
repartidas por todos os trezentos e ses-
senta dias do anno, de maneyra que ca-
da dia por seu giro se celebra com muy-
ta solennidade a festa da invocação do
Ídolo de cada luima das portas, de que
ella também tem o nome, o disto ja atras
tratey também largamente.» Fernão jMen-
dos Pinto, Peregrinações, cap. 107 —
«Dentro dos (piais disseraõ ao Embaixa-
dor que tinlia o Calamiuham hum grosso
tisouro dos vinto e quatro que cstavão
repartidos pelo rcyno, de que a mayor
parto era em jn-ata, o qual teria de peso
seys mil caudins, que da nossa conta saõ
vinte e quatro mil quintais, o qiial todo
estava em poços debaixo do chão.» Ibi-
dem, cap. 158. — «Dotou o Bispo In-
quisidor Gorai, fundador desta "Capclla,
ao Convento de Bemtica, para sustento
dos Religiosos que hão de assistir ás obri-
gações delia, duzentos e quarenta mil
réis de juro em cada anno, situados nis
rendas da Camera desta Cidade de Lis-
boa, repartidos pela ordem seguinte.»
Jaciutho Fi-eire d'Andi-ade, Vida de D.
João de Castro, liv. 4. — «Tanto que
foy conliecida, ser a Ilha do Sam Lou-
renço, e não a de loão da Nona, nem
o bayxo da índia que alguns imagina-
iião, se deu ordem aos Capitães da vigia
pêra qtuí elles com toda a mais gente,
repartidos de noyte, o de dia despejas-
sem a níio, c aos Religiosos que tiuessem
a cargo, vigiar o fogo como cousa no
mar de mais importância o quo cõ gran-
de tonto HO fazia, por ser o mayor peri-
go que ncllí! poilc auer.» Fr. Caspar de
S. Bernardino, Itinerário da índia, cap.
1. — «Auia neste ti;m])o na Arábia hum
iiomcm princij)al chamado Abdelmonatis
seniiiir ile vassalos, e de algumas aldíia»,
e lugares grandes; e em casa de Abdel-
talif, iiunia íilha sua por nome IIa>lixa
dama de muytas jiartes, com quem a na-
tureza as tiniia bem repartidas, a quem
M atonia amaua, assi por se criar com
cila cm casa do pay desde menino, como
por ser sua prima : esta casou com Abdcl-
mouaíis.» Ibidem, cap. 20.
Estii cúpia do inortos c foridos
No baUiíirto da barra bi') sc achárSo,
Mas o» fados cruci» endurecidos
Nnsto rt<^ desastre hoje não pararão.
Doutros canliõos que cstavão repartido»
N outras partes, alguns arrcbcutárão,
1'' por todos vècra sete o ultiuio dia,
Quinze vão ter cm mãos da cirurgia.
F. DK ANDKADK, miMEIRO CF.BCO DE DIL" , Caut.
H, est. -14.
— «Passo também por outras anómalas
compostas de mais misturas quo o campo
do duque d'Alva, nos quaes achareis to-
dos os signilicados das outras barbas som-
madas por algarismo ; que, se podesscm
ser repartidas em redomas com seus ró-
tulos de letra cabidoal, 47 ei"am bastan-
tes para povoar uma botica maior que a
do Peres em seu tempo.» Fernão Rodri-
gues Lobo Soropita, Poesias e prosas iné-
ditas, pag. 71.
REPARTIDOR, s. vi. O quo reparte,
distribuo; distribuidor.
— Logar ou ponto em que se dividem
as aguas.
— Juiz de partillias, ou official que ao
fazel-as assiste ao juiz.
— Repartidor ile assucar ; repartideira.
REPARTIMENTO, s. /)/. Divis.ão, separa-
ção. — «Eui outro repartimento iiavia ro-
chas da penedia áspera e fragosa cuber-
tas de era e outras ervas, conforme a sua
propriedade : do mais alto d'ellas desciam
canos d'agua, que ao descer vinham dan-
do de pedra em pedra, e eram compostas
por tal arte, que o rugido dagua nas pe-
dras formava toda quanta harmonia rou-
xinoes e outros passarinhos alegres podem
fazer no tempo, quo mais são pêra escu-
tar." Francisco de Moraes, Palmeirim
dluglaterra, cap. 120. — «E logo no ou-
tro arco junto a esto, está D. Anna de
Attaydo sua mulher. No vão desta Ca-
pclla se fez hum carneiro com seis arcos
do pedraria, em hum dos quaes ha Altar
para se dizer Jlissa ; e os mais tem re-
partimentos para os ossos, e córpi>s dos
defuntos.» .Taeintho Freire de Andrade,
Vida de D. João de Castro, liv. 4.
REPARTIR, V. <i. Distribuir, dividir,
separar por partes. — «No que ouue assas
do resistoncia, mas em fim depoi* de ter
morto maÍH de HciBcento», an iiaos forão
entrada», na» quaeB «o achou alguma
pouca despeccaria, o outras mercadorias,
e mantimciitoB, e três Elepliante* quo
l'edralurez mandou matar, e salgar pêra
prouisão darniada, e alguns mouros quo
achou escondidos pela» nao» mandou re-
partir pela frota, pcra scruirem no quo
fosse necessário, por nella auer falta de
gente, pela muita que ja era morta. • Da-
mião de Ciocs, Chronica de D. Manoel,
part. 1, cap. Oti. — «Nos.so pai quando
veio a hora de sua morte, porque nai!» po-
dia repartir o seu Con<lado, nem se podia
determinar a qual de nú» por direito vi-
nha, o derradcirij dia de sua vida fez-nos
huma falia dizemlo : Filha» eu me parto
deste mundo bem descontente, porque
vos naõ leixo taõ dcscançadas, como qui-
zera : pois Dcos he servido de mo levar
antes de meus olhos verem este prazer,
quero-vos dizer algumas cousas que cum-
prem a vosso descanço.» Barros, Clari-
mundo, liv. 2, cap. 2;}. — «E ainda que
no sitio da cidade nào auia pedra, deu
elRey cuidado a hum seu capitSo, que
com toda sua gente donde quer que achas-
se trouxesse a necessária : e a outro deu
da madeira, repartindo o trabalho per to-
dos pêra se fazer com mães breuidade. >
Idem, Década 1, liv. 3, cap. 9.
Cezll. Nacco huma noite clara
Quando a lua apparccia,
E Vénus tomava a vara
Com que as graças repartia,
Como em cllc se declara.
GIL VICENTE, FABÇAS.
— «Daqui se foy cõ os seus á Cidade
de Tcbico, onde lhe veyo muita gente de
guerra, que repartio por dez Capitães,
de que foy o principal a Bubequer seu
sogro, e cõ elles moveo contra os Povos
de Abul, Buata, e depois contra Mecha,
a qual posto que nào rendesse desta pri-
meira vez, ao fim a veyo a conquistar
com muitas Províncias, e nações daquel-
las partes.» Monarchia Lusitana, liv. G,
cap. 24. — «E mandou logo cl Rey a to-
dalas fortalezas, que o Duque tinha em
todo o Reyno, que erão muytas, e muy
boas, fidalgos priucipaes. c cauj^Ueiros de
sua casa, delles quo na Corte cstauào, e
outros que erào ausenteíi, pêra com suas
cart;is, e prouisões, e com outras do Du-
que que também leuauào, as aucrcm, ou
combaterem logo, não se querendo entre-
gar, repartindo logo apontadamente as
comarcas, villas, o fortalezas a que cada
hum com milhor disposição auiào de yr.»
(i areia de Rezcn<le, Chronica de D. João
II, cap. 44.
Por 60r a terra falta, estreita c scc.a,
Muy cstcril, minguada, c desprouida
i
REPA
REPA
REPA
211
Ello pôde o Lianor cora seus meninos
Alli ficar, e co cUcs pouca gcute.
E <iue esta fosse qual elle escolhesse,
A outra repartindo por lugares
Que vizinhos estào sendolhe fácil
Conjunção esperar mais oportuna.
COETE BEAL, NAUFRÁGIO DE SEPÚLVEDA, Caut. 5.
— c( Mandaudo repartir algum dinheiro
entre os soldados e trabalhadores; e se
vossa alteza por sua mão o fizesse levan-
do para isso quantidade de dobrões, este
seria o meu voto, e que vossa alteza se
humane conhecendo os homens e chaman-
do-03 por seu nome, e fallando nao só
aos grandes e medianos, senào ainda aos
mais ordinários.» Padre António Vieira,
Cartas, n." 5. — «Por vezes me disse que
os havia de repartir na forma sobredicta,
offerecendo-me que tomaria d'elle3 para
as nossas aklèas do Maranhão e Pará to-
dos os que quizesse, o que eu de nenhu-
ma maneira aceitei.» Ibidem, n." 11. —
«E repartindo a gente, pôs no junco de
Quiay Paujão trinta Portugueses quais
elle quiz, porque em tudo lhe fazia a von-
tade, por ser assi necessário, e nas duas
lanteaas pôs seis em cada huma, e no
junco de Christovào Borralho vinte, c
com elle ficarão os mais que eraS trinta e
três, e fi'u'a os escravos e outra muyta
gente Christam valentes homens, e muyto
fieis.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. Õ8. — «Ao outro dia, logo em
sendo menham clara, os quatro tanigo-
res da irmandade que visitavão a prisaõ
aquella somana, nos mandarão chamar à
enfermaria onde estavão repartindo o co-
mer dos doentes, e nos deraõ conta do
bom despacho que era saydo, com espe-
r.viças de boa sentença.» Ibidem, cap.
101, — «O exercito das matronas fez aqui
também seu officio, acudindo aos baluar-
tes em que pelejavaõ, carregadas de lan-
ças, dardos, panelas de pólvora, pedras,
e de outras muitas cousas desta qualidade
pêra empecerem aos imigos, que repar-
tiaõ pelos que pelejavaõ.» Diogo de Cou-
to, Década 6, liv. 2, cap. 4. — «A Ar-
mada tanto que vio o sinal que lhe fize-
raõ da fortaleza, estando jà pi estes, e
negociada, porque Nicolao Gonçalves (a
quem aquelle negocio estava encomenda-
do) tinha arvoradas muitas lanças por
todos os navios, que estavaõ fermosamente
embandeirados, e tinha cortados muitos
murroens em pedaços, e acesos os repar-
tio pelos moços, e maiúnheiros pêra que
os imigos cuidassem que eraõ espingar-
das.» Ibidem, liv. 4, cap. 1. — «E pêra
isto repartio o anno era diuersos tempos
conuem a saber ante Natal toma quatro
semanas pêra celebrar o mystcrio da vin-
da do Senhor em carne, e pêra aparelhar
seus filhos a deuotamente receberem seu
senhor nascido, o qual tempo chamou
Adueuto.» Fr. Bartholomeu dos Martv-
res, Catecismo da doutrina christã,
Dobrar as vellas faz em toda a parto
Que vè que delias tem necessidade.
Polo muro também logo reparte
De pedra solta grande quantidade ;
Faz lá de Sião Thomé no baluarte
Logar, d 'onde a fulminea tempestade
Hum camalete si51te horrendo e forte,
De que o Turco receba espanto o morte.
FB.ASCISCO DE ANDRADE, PRIMEIRO CERCO DE DIU,
cant. 19, est. 8.
— «Assinaõ os Quadrilheiros, que hão
de de repartir depojos das batalhas, e
sacos dos lugares.» Manoel Severim de
Faria, Noticias de Portugal, Disc. 2,
§2. — «E foi o primeiro jMarichal Gon-
çalo Vaz de Azevedo. Ao Marichal per-
tence pelo Regimento da guerra repartir
03 alojamentos de seu exercito; depois
que pelo Aposentador do Condestable for
assinado o lugar, onde se houver de as-
sentar.» Ibidem, § 3. — «O primeiro foy
Dom Pedro Souto Mayor com seus solda-
dos nomeados: O segundo Francisco Cor-
rêa da Costa : O terceiro Martim da Cu-
nha Deça : O quarto Diogo Florim ; re-
partindo por elles toda a gente necessá-
ria pêra este ministério.» Fr. Gaspar de
S. Bernardino, Itinerário da índia, cap.
1. — «Fuja-se como de peste, de repartir
casa, e receber criados com distincção,
taes para o senhor, e taes para a senho-
ra. Se o casamento é união, de que serve
dividil-o? Este ponto é mais proveitoso á
advertência, que agradável á especula-
ção. D'aqui vem, que nem lhe fujo, nem
a persigo.» Francisco Manoel de Mello,
Carta de guia de casados.
— Assentar, distribuir alguma contri-
buição, ou imposto por partes.
— Applicar. — Repartir as horas a di-
versas occui}açues.
— Partir, extremar.
— Termo de arithmetica. Dividir o di-
videndo pelo divisor,
— Repartir-se, v. rejl. Dlvidir-se. —
Repartiu-se o trabalho por todos. — «Ca-
minhando por aquelle valle onde a estra-
da se repartia em duas, se apartaram um
do outro tão contentes como o desastre
do cavalleiro do Salvagem os fazia ser,
que o amor onde é gi-ande sempre cria
grande receio.» Francisco de Moraes,
Palmeirim d'Inglaterra, cap. 114. — «Da
missão que fiz ao rio dos Tocantins, já
vossa magestade foi informado como aquel-
les Índios se repartiram e despedaçaram
por onde quiz a cubica de quem então
governava, agora achei que muitos esta-
vam vendidos por captivos.» Padre An-
tónio Vieira, Cartas, n." lõ. — «Tanto
que as novidades parece que estão ja cer-
tas e seguras, se reparte o trigo velho
por todos os moradores, e gente dos lu-
gares, conforme á possibilidade de cada
hum, e lho dão a modo de empréstimo,
por tempo de dous meses, os quais ho-
mens, acabado este tempo que pela jus-
tiça lhes foy posto, vem logo todos entre-
gar outro tãto trigo novo quanto recebe-
rão velho.» Fernão Mendes Pinto, Pere-
grinaçães, cap. 113. — «Ha tantos exem-
plos disto oje no mundo, que tiuera Só-
lon pouca necessidade deste estratagema
para prouar o que dizia, pois que repar-
tindose co a multiplicação dos filhos e do-
brando-se o amor de si mesmo, faz que
sejão os cuidados, os desejos e as preten-
ções, com que se os homens perdem muy-
to mais vehementes.» Paiva d'Andrade,
Sermões, part, 1, pag, 259. — «No mes-
mo dia, que foi o dezessais de Agosto,
sahio o inimigo com todo o poder, de seus
alojamentos, e repartindo-se ordenada-
mente pelos baluartes, deixou o maior
grosso do exercito, para acometter o de
Sant-Iago, por onde esperavão abrir a
porta á victoria ; ao qual se arrojarão tu-
multuariamente, dando espantosas vozes,
e tirando sobre elles grande copia de ar-
mas de arremesso para chamarem á de-
fensa a maior força dos nossos.» Jaeintho
Freire de Andrade, Vida de D. João de
Castro, liv. 2. — «Porque era ley entre
elles, que tendo o Senhor de hum lugar
muitos filhos, se repartisse por todos a
fazenda ; porem o governador do lugar
ficasse sempre com o mais velho; pelo
que lhe chamavaõ vulgarmente : Sénior
illius loci ; que he o mesmo, que o mais
velho do lugar; ao que ajuda o que diz
sobre esta palavra : Sénior, Santo Agos-
tinho, Epistola 174.» Manoel Severim de
Faria, Noticias de Portugal, Disc, 3,
§ 27, _
— Repartir-se entre cuidados j virtudes;
applicar-se em satisfazer vários cuidados,
virtudes,
— Espalhar-se, derramar-se.
Desde que as sombras lúgubres cahíi-ão
Do cima das montanhas, e que a Terra
Em negro manto 3'envolveo, fulgirão
Os fanaes, com que a sombra se desterra :
Luminosos faroes se re2)artirão
Pelo ameno vergel, que em torno cerra
Alta cebe de alegre» C'>T]araomo3,
De flor cobertos, que lhe suppre os pomos.
J. A. DE MACEDO, O ORIENTE, Caut. 7, CSt. 103.
— Adágios :
— o que reparte toma a melhor parte.
— Repartiu-se o mar, o fez-se sal.
REPARTIVEL, adj. 2 gen. Que se pô-
de repartir, dividir.
REPAS, s.f.2}hir. Termo popular. Ca-
bellos ralos da cabeça ou da barba.
REPASAGE, s. /, Planta, espécie de
almeirão.
REPASSADO, part. p«ss. de Repassar,
REPASSAR, r. a. (De re, e passar).
Tornar a passar.
Bem como no fecundo ardente Estio
Correm formigas próvidas, lembradas
Das agras privaçoens do Inverno frio,
Dos grãos do louro trigo carregadas :
Que nunca socegado o negro fio
Passa, e repassa as veigas dilatadas,
212
REPE
RE PE
REPE
Tacfi daa vertentes límpida» voltavilo
O» Lu!)o« para a» Nilo.í, dus X;'ios tornavào.
J. A. DK UACEBO, O OllIKNTK, CUnt. 5, CUt. ÓO.
— Reler.
— ToriKir ;i lêr a lirào,
— Examinar do novo, correr levemen-
te polii virttii ulf,'U)ii cscripto.
— Repassar <« Jit<í, o (/aluu ; fazer no-
vas libtiiá n pur da primeira, ou entrela-
çar as pontuH, fazendo lon^^aria.
— Repassar o caldo, ou molho, a fru-
cta, conserva, etc; erabeber-se, ensopar-
80 bem n'clla.
— Repassar-se, v. reji. Embeber-se.
— V. II. Rever o papel, dar passagem
á tinta, apitareeondo da outra face.
f REPASTADO, pnrt. pass. do Repas-
tar. — «Tem infinito gado de toda a sor-
te grande, fcruioso, c bem repastado,
Elophiltos, Camellos, e outros animaes de
soruiço, e graudissima variedade de pas-
sares, c aues, tam difierentes na espécie,
como yguaes na fermosura.» Fr. Gaspar
do S. Bernardino, Itinerário da índia,
cap. 2.
REPASTAR. f. a. Tornar a pastar, ou
a dar pa.sto. Vid. Apascentar.
REPASTO, s. 7/1. O pasto junto ao or-
dinário ou regular.
— Bodo, banquete.
REPATRIAR, v. h, (Do latim repatria-
rei. Regressar, voltar á pátria.
— V. a. Restituir á pátria.
REPEAR, r. a. Vid. Serpear.
REPEÇAR, V. a. [De re, e peça). Ter-
mo antiiiuado. Remedar, cerzir, cozer (no
sentido próprio o no figurado).
REPEDAR, V. n. (Do latim repedare).
Recuar, tornar pé ati'az.
REPEENDIMENTO, s. »;. ant. Satisfa-
ção, iuilenuiisai^ào.
REPEITAR, V. a. Dar segunda peita.
REPELEJAR, v. a. (De re, e pelejar).
Tomar a pelejar.
REPELLADÒ, part. pass. de Repellar.
REPELLÃO, .«. m. EmpusFío, sacudi-
diua.
— Figuradamente : Corrida prompta
que dá o cavallo a toda a brida.
— Aos repellões ; por partes, com dif-
ficuldade, ou resistcneia.
— De repellão ; á pressa, sem detença.
— Ferir de repellão ; picar com as es-
poras, abaixando os talões, e puxando
pelas puas para cima, acompanhando a
barriga do cavallo.
— Dar um repellão; reprehensSo ás-
pera.
— Assalto, ataque. — Deram outro re-
pellão (í fortaleza.
REPELLAR. Vid. Arrepellar.
REPELLENTE, adj. -J ,;e„. ,Part. act.
de Repellir . C^hio repelle.
REPELLIDO, part. pass. de Repellir.
REPELLIR, V. a. (Do latim repelhre).
Lançar de >i alguma cousa com violên-
cia, impellir, recliassar, repulsar.
— Exircer a força repulsiva.
REPELLO, «. m. Pôspello.
— A repello ; por mal, A força, com
violência.
REPELUSADO, udj. Arripiado do me-
di), assiist.idd. cs]iavorido.
7 REPENDER-SE. Vid. Arrepender-se.
viiicm cm Kiicra, e contenda,
som aiicr quom sfi rfptnda,
de quanto mal faz fazer,
nom lia aij satisfazer,
nem corrcger, nem emenda.
GARCIA DE REZENDE, MISCELLAXBÁ.
REPENDIMENTO. Vid. Arrependimen-
to, n Repeendimento.
REPENICAR, V. a. Termo popular. Dar
golpes repetidos, repicar.
REPENSÃO, s. f. (De re, o pensão;.
Segunda pensão, imposta ao beneficio
pensionado.
REPENSAR, V. n. (De re, o pensar;.
Tomar a jionsar, pensar de novo.
REPENTE, «. m. Acçào, dito, succes-
so repentino.
■ — Loc. ADV. De repente; de impro-
viso, repentinamente, som pensar, de sú-
bito, inesperadamente. — «Se a dor de
Cabeça forte se oecultar, ou desvanecer
de repente, sem subscguir evacuação al-
guma, nem haver diminuição no morbo,
de que a dor depende, he signal funesto,
e pella mavor parte mortal ; porque ar-
guo abolição, ou esquecimento da facul-
dade animal, que ja nào sente, nem per-
cebe objecto algum dolorifico.» Fernào
Mendes Pinto, Peregrinações, pag. 173.
— «lias quando naõ virdes cousa mani-
festamente roim, nem enxergardes cla-
ramente oftensa de Deos lançai tudo a
melhor parte, e acostumaiuos a attribuir
■13 cousas a bem, se de repente vos en-
trar alguma sospeita, naõ consintais nel-
la, antes lhe resistireis com inteireza.»
Fr. Bartholomcu dos Jlartyres, Compen-
dio de espiritual doutrina, cap. \h (ediç.
de U)53i. — « Estava já com velas met-
tidas toda a .armada, e embarcada muita
parte da Nobreza do Roino, c os solda-
dos na expectação de quem havia de go-
vernar facçào tào importante; quando de
repente se divulgou a nomeaçito em D.
Joào do Castro, feita com geral satisfa-
ção, ainda dos mesmos pretendentes. »
Jaeintlio Freire d'Andrade, Vida de D.
João de Castro, liv. 1. — «Antes pelo
contrario, quem lhe abrio caminho a ser
meu Esposo foi a constância na sua pri-
meira inclinação : cuja Senhora, por des-
graça delle, morreo quasi de repente ; e
quem mo penetrou a alma foi a mágoa
que ollc t.ío venladeira sentia, n Francis-
co Manoel do Nascimento, Successos de
madame de Seneterre.
Hum pomo lhos lani,-ava, o do repente
KaqueUa parte, c nesta esferas cento,
E eonccntricoé círculos se fónniUi ;
'I'aci iMjmlhadoA no grão vicub et<;mo
Wiyt ir rijdaudo lúcido4 PUiuota*,
A quem dá luz do centro imuiúbil Ajitro,
K coin for^a centrípeta Oé rejjúi» ;
Com cila a curva cUiptica descrevem.
J. A. DK MACEDO, MEDITAçIu, CaUt. 2.
Nem férc co' a luz súbita mcu« olhou,
Nom cálic doH 4re» de repeidt a noite ;
Mas propresaiva escuridío «'avança,
(t Ar f.iriiia o crepúsculo dii tarde.
Quando pareço, quu lui occidua Theti»
Do Sol o disco fiilgido se iinincrgc.
IBIDlilf.
Sc 03 nadadores peixes á porfia
Queres chamar do fundo ao lume d'agoa.
Hum pomo cntâo Ihoí lan(,'ai4 de repente,
liatido o cristal liquido se f'>rinio
Na<)uella parte, c nesta eefcrad cento.
IDEM, A NATUBE2A, CAnt. 1.
REPENTINAMENTE, adi. iDe repenti-
no, eom o .sufiixu «mente»;. De repente,
subitamente.
En tudo via, c meditava absorto !
Mas repentinamente hum véo 8'câtcnde,
Tudo foge a meus olhos, e se esconde.
Qual nos rouba da ^^sta o Sol brilhante
Hum grupo espesso de pesadas nuvens.
J. A. I>T. MACEDO, VtAOBM EXTÁTICA, Caut. 4.
REPENTINO, adj. (Do latim repenti-
nusi. Súbito, imprevisto, nào esperado,
inopinado.
Chegava
Elrci então ; signal de partir soa :
E o vate c o missionário assim findaram
Sua triste despedida •, — que mandado
Accompanhar a armada o monge fora
liepentino casa nouto. O tredo fio
Descobrira o cantor da vil intriga.
GABBETT, CAMÕES, CaUt. 10, Cap. 7.
Sorve-lhc a terra os muros, c os Palácios ;
Nem se escuta clamor, nem voz, nem pranto
Dos miseráveis cngulidos nella.
O sitio ondo existio debalde inquiro,
Tào repentina sepultura a feíha !
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, CaUt. 2.
Se nSo fora Aristóteles, nSo forão
Honra da He->peria. c Gallia, honra do Mondo.
Bem como á voz omnipotente surge
Do cego abvsmo a máquina da Terra,
E repentina a luz se espalha, e brilha,
Assim das Artes, das Scicneias todas
Surge si voz de Aristóteles a base
Que jaz6ra até alli na sombra involta.
IDHM, VIAOEM EXTÁTICA, CaUt. 2.
REPENTISTA, *. 2 gen. (De repente,
como .suftixo íistai). Improvisador, o que
faz versos de reponto.
— O que toca. ou canta sem estado
prévio. :i primeira vista.
f REPERA, s. f. Termo de botânica.
Género de plantas da familia das «ygo-
phvlleAS, originarias da Nova HoUanda.
REPERCUSSÃO, s. /". (Do latim reptr-
cussionfint. Acto de repercutir.
— Reverberação, retlexâo da lux, do
som.
REPE
REPE
REPE
213
— Embate, que causa um corpo, em
que outro topa, e pelo qual recua.
— Figuradamente : Rebate, repulsão.
— Termo de cirurgia. O acto de re-
colher-3e o humor da superticie para o
centro.
REPERCUSSIVO, adj. Que tem a pro-
priedade de repercutir.
— Termo de medicina. Adstringente
que faz refluir os humores ao interior do
corpo.
REPERCUSSO, s. m. Reflexo, reverbe-
ração.
REPERCUTIDO, part. pass. de Reper-
cutir.
REPERCUTIR, r. a. (Do latim repercu-
tere). Fazer repercussão, retroceder, mu-
dar de direcção um corpo chocado com
outro.
— Reverberar, reflectir a luz, ou o
som.
— Termo de medicina. Fazer que um
humor reflua para dentro do corpo.
REPERDER, v. a. (De re..., e perder).
Tornar a perder.
REPERGUNTA, *. /. (De re...,
guntai. Pergunta repetida.
REPERGUNTAR, t;, a. (^De re...
guntari. Perguntar segunda vez
mo.
REPERTÓRIO, s. m. (Do latim reper-
torium). Index alphabetico, ou livro abre-
viado em que se fazem menções succin-
tas. Vid. Reportório.
REPESADOR, s. m. (Do thema repesa,
de repesar, com o suftixo «dôr»). O que
repesa e mede o que se vende, a pedido
de quem suspeita ter sido enganado.
per-
e per-
0 mes-
pesarj.
pescar,
REPESAR, V. a. (De re..
Tornar a pesar.
REPESCAR, 1-. a. Tornar
apanhar.
REPESO, s. m. (De re..., e peso .
Acção de repesar.
— Logar em que se repesa.
— Encargo de repesar.
REPETANADO, ou REPETENADO, aJj.
Termo popular. Insolente, inchado.
— Furioso, arrebatado.
REPETÊNCIA, s. f. Termo de medici-
na. Refluxo de humores para alguma
parte do corpo.
REPETENTE, s. ra. O que faz repeti-
ção nas esciilas.
REPETIÇÃO, s. f. (Do latim repetitio-
nem). O acto de repetir, toruar a dizer,
ou fazer o mesmo. — «Mas parece que
pêra maior gloria destas tão notáveis pes-
soas permittio Deos tanto esquecimento
em seus herdeiros, porque o descuido seu
fosse causa desta nossa repetição.» Bar-
ros, Década 2, liv. 6, cap. 10. — «Como
sej que vos hevde ver na Opera, ainda
hoje hirey ouvir a repetição das duas
Árias do Crés, pro, Cras, que verdadev-
ramente me atemorizão.» Cavalleiro de
Oliveira, Cartas, liv. 1, n." 18.
— Lição, prelecção doutrinal.
— Exame privado; exame de conclu-
sões magnas em algumas universidades
antes de se conferii" o grau de licenciado.
— Machiuismo do relógio, para que
dê as horas quando se toca uma mola.
— Termo forense. Acção pela qual
pedimos, se nos torne o que déramos, a
tim de nos darem, ou fazerem alguma
cousa que não nos deram, ou fizeram.
— Termo de artes. Obra de pintura,
ou esculptura repetida pelo mesmo au-
ctor original.
— Termo de rhetorica. Figura em que
uma mesma voz, ou phrase se repete
muitas vezes em mn periodo, para dar
maior energia á expressão.
REPETIDAMENTE, adv. (De repetido,
com o suitixo «mente»). Frequentemen-
te, de novo, com repetição.
1 REPETIDO, pari. pass. de Repetir.
— «Mas porque os tais humores repeti-
das vezes se encontrarão em muytos so-
geitos, e com tudo nem sempre produzem
Convulsão, julgou Sennerto, que os hu-
mores antes de romperem nesta queixa
adquiriam alguma qualidade occulta ini-
miga dos nervos, semelhante àquella que
costuma produzirse na Epilepsia.» Braz
Luiz dAbreu, Portugal medico, pag.
745. — «Sobre esta tomadia ferve outra
vez a tempestade repetida, se bem me-
no-i escura, porque já corre vento para
ambos os piktos, que espalha as nuvens :
e dahi vem que nem todos tomaõ o mes-
mo, e cada hum se recolhe livremente no
que lhe fica mais a geito. Qual seja mais
seguro para escapar, elles o digaò, que o
experimentaõ.B Arte de furtar, cap. 16.
— «Entrou el Rei D. João em conside-
ração de buscar quem governasse o Es-
tado da índia, porque Martim Affonso
tinha acabado o tempo, e pedia vSucces-
sor com repetidas instancias, porque as
cousas do Oriente estavão por vários ae-
cidentes hum pouco declinadas, e não
queria que a guerra com algum desar lhe
desluzisse a gloria de seus feitos, como
quem sabia, que dá a ignorância do Po-
vo poder a huma desgraça para desau-
thorisar muitas victorias.» Jacintho Fi-ei-
re de Andrade, Vida de D. João de Cas-
tro, liv. 1. — «Passados alguns dias, pas-
sava ao repetido uzo das pirolas seguin-
tes : R. de massa de pirolas (Jochias, de
Escamonea an. drachm. vj. de elleboro
negro, e tártaro vitriolado an. drachm.
iy. com q. b. de xarope Pérsico forme
massa de pirolas.» Braz Luiz d'Abreu,
Portugal medico, pag. 302. — «E o que
só distinguia com clareza era a pala\-ra
— valor — muitas vezes repetida, e ar-
rancados suspiros que me despedaçavão
o coração. Por fim chegou perto de mim,
e levando-me dos braços para me sentar
n'uma cadeira, ficou longo tempo em pé
diante de mim, immovel como uma stá-
tua.» Francisco Manoel do Nascimento,
Successos de madame de Seneterre.
REPETIDOR, s. m. (Do thema repete,
de repetir, com o suffixo «dôr»;. O que
repete.
— O que repete as lições aos alum-
nos.
REPETIMENTO, s. m. Repetição.
REPETIR, V. a. (Do latim repefere).
Tornar a dizer, a cantar, a recitar, a fa-
zer o mesmo. — « E porque desta vez que
Aires Corrêa là foi repetio muitas vezes
que os Mouros dauaõ carga de noite às
nãos de Mecha que estauaõ naquelle por-
to.» Barros, Década 1, liv. 5, cap. 7. —
«E eu tenho dado conta das injustiças, e
roubos, que Castella executou em Portu-
gal; e porque estou já rouco de repetir
tantos, deixo muitos mais, e concluo com
a minha consequência, de que, quem tal
fez, que naõ faria?» Arte de furtar,
cap. 18. — «O Rey de Siaõ como lhe
não era possivel no Inverno sustentar o
cerco pela multidão de gente, que trazia
em seu exercito, para a qual não era
possivel haver mantimentos no assolado
Rey no de Pegú, e assim o obrigava o
tempo a recolherse ás terras da sua Mo-
narchia; e entrando o Yeraõ, tornava a
repetir o assedio com multiplicadas for-
ças.» Conguista do Pegú, cap. 2. — «E
o repete Francisco Pereira Pestana em
um Discurso sobre a guerra de Africa,
em que mostra ao mesmo Rey quanto
contra seu Estado era sustentar nos lu-
gares de Africa 2:000. lanças, que naõ
faziaõ força mais que de 100.» Severim
de Faria, Noticias de Portugal, Disc. 2,
§ 7. — «Os Senhores, a quem os Reys
de Portugal deraõ o Titulo, referirei co-
mo fiz nos passados sem repetir duas ve-
zes o mesmo Condado; ainda que ao fi-
lho, ou neto se tornasse a fazer mercê
delle.» Ibidem, Disc. 3, § 25. — «O que
repetimos três vezes, a nao que começa
a hir andando, tè nos hirmos poer em
fundo de oyto braças, sem leme, ou mas-
to grande, sem forças, e sem fazenda,
mas com tudo muy ledos, e contentes.»
Frei Gaspar de S. Bernardino, Itinerá-
rio da índia, cap. 2.
Vasconcellos porém, em quem o espirito
Heróico eada vez mais se a-sãventa,
Ao Fonseca repete o que antes dito
Lhe tinha já outra vez, e lhe accrescenta.
Que pois hum dcsestrado, c fortuito
Caso, que assaz a todos descontenta,
Faz que o direito braço cUe nào mude
Lhe dê a elle o logar, pois tem saúde.
F. DE ANDRADE, PBIMEIKO CEBCO DE DIC, Cant. 16,
est. 123.
— « Como V. M, disse hontem em pu-
blico, que dm-idava da certeza dos meus
discursos a respeito dos cornos, em que
y. M. principiou a falar, parece que sou
obrigado a repetir por escripto o que re-
feri nesta matéria, autorizando as histo-
rias que contey com os Escriptores que
as divulgarão.» Cavalleiro de Oliveira,
214
ui;i'i
KKI'l
ui:í'L
Cartas, liv. 1, n.° 12. — «Faço escrú-
pulo do repetir a» oraçooiíH, porquo ou-
toiídr) qiK! HO a.4 aJuntiiSHO aijui, que nito
faltaria ainda hoje quciii as rozaHso fa-
zendo .a exporioncia djis coriínonias.»
Ibidem, n." 2i). — «Eu bom quizera ter
feito a Cançilo, poreui dií,'o a V. S. que
a foz o dito Matauanii> na Liiifíoa (ire-
ga, e quo ollo niosnio a traduzio em
Francoz da fiirma quo eu a repeti a
Sylvia.» Ibidem, n." 41.
Já não repitú as ilocorf cantiloiiaH,
Com quo alcgi-e atequi pasmava o aiino ;
Poia 8.1 clioi-ando as imlgoas, (|uo mo oi-douas,
So oscMita na campina o tristo Albano :
A fraiita, com quo já fiz mais pequenas
Antijças Bcim-ra/.ões de Amor tyranno,
(Porciuo liojo allivio nella ao mal nào acho)
Na lovada a deitei pclla a^ua abaxo.
j. X. D1-: Mirrou, rimas, pag. 105 (3." cdii,'.)
— « Minhas perguntas,
Cttvalleiro, não sào do curioso;
Outra voa o repito : um pobre mongo
Tom uma pobre coUa o magra coia.
Mas ambas otlbrecc d'alma e gosto.
OARRKTr, CAMÕES, caut. 1, cap. 21.
A ti, a quem a vida, quo se me ia
Em desalento, em desconforto, devo,
A ti minhas ondoixas mal cantadas
Nas solidões do cxilio, onde a repelem
Os ermos cchos do cxtrangeiras gruttas.
A ti meus versos consagrei na lyra.
iBiuKM, cant. 1, cap. 3.
Virá um dia... — Mas ó longo ainda
Ksso dia do nós. — Ai ! quantas vezes
O tomos ditto ambos ! Inda agora
M'o repelliste, Maidio : Roma c sorva.
iDSM, ca.tXo, act. 5, se. 7.
— « Ditas estas palavras, o cavallciro
negro cravou as esporas no ventre do
ginete e repetiu: — ávanto!» A. Hercu-
lano, Eurico, cap. 15.
— Todir o que se tinba dado.
— Tornar a executar um artitice uuui
obra que originalmente havia feito, ou
alguma parte d'ella.
— Nas universidades, defender tkoses,
conclusõos magnas para receber o grau
de licenciado.
— V. n. Reiterar, segundar, tornar a
vir. — Repetir a febre, a doença.
— Repetir-se, v. rejl. Ser repetido.
Qual Natureza dá, prazer ingénuo
Do lagareiro sórdido se apossa,
Da pacifica orgia os lodos gritos
Se repetem nos montes cavernosos.
J. A. DE MACr.DO, X NATUKEZA, Cant. 1.
REPIAR. Vid. Arripiar.
— Loc. ADV. : A repia carreira; for-
çado a retroceder.
— A repia cabello ; forçadamente ; con-
tra a quela, a pôspello.
REPICADOR, s. m. (Do thoma repica,
que
de repicar, com o suílixo «dôr»;. O
re|(iea.
REPICAPONTO, <idv. — De repicapon-
to ; liem l''iti), executado com tudo o pri-
mor.
REPICAR, V. a. (Do re, è picar). Fe-
rir batendo muitas vezos.
— Tanger os sinos, dar rebato com
elles. — « F » que ainda lhe doo pre-
sumçíTio desta ida foi, jjonjue ante manli.T
acabada a obra, como quem repicava em
salvo, mandou Laesamana tanger todoloe
seus sinos, quo srio de metal ao modo de
bacias grandes, e delias taes, quo o seu
tom quando sào muitas em Imma frota,
SC ouvem no mar hunia légua.» Barros,
Década 2, liv. í), cap. 2. — a Pení quan-
do chegou á porta ila fortaleza, e soube
elle Ser acolhido, dissimulou a vinda, di-
zenilo de fjra a lluy do l»rito, que cou.sa
era aquella que vinha alli por ouvir re-
picar, que mauilava sua mercê que fizes-
se com aquella gente que trazia.» Ibi-
dem, cap. G.
— Cortar, reduzir a partes mui pe-
quenas o ténues.
— Fazer repique no jogo dos centos
ou dos pitpies.
— ]'"'a7,er mostra de alegria.
REPIMPADO, 2>art. pass. de Repimpar.
REPIMPAR, V. «. Encher, entulhar a
barriga.
Dizem que farão de patos
gaviães, de melões trigo,
cm tanto repimpam o cmbigo :
c|nando olhaea os pobatos
liça o trigo papa-figo.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, p.lg. 73.
— Figuradamente :
E alma é má.
Mas repimpa o corpo a vida
com que está jurando ahi alma,
(|uc o corpo diz — juro o mento —
diz ahi alma — eu o amargarei.
ANTÓNIO PRESTES, ALTOS, pSg. 307.
— Repimpar-se, v. rejl. Encher muito
a barriga, rochear-se até ficar impando.
REPINALDO, adj. Diz-se d'uma espécie
do pêros.
REPINCHADO, adJ. Ancho, inchado de
vaiilado ou de contentamento.
REPIQUE, *■. ni. Acçào e effeito de re-
picar; toíjue festivo de sinos, ou para dar
rebate. — «Com isto so recolheo para
dentro de huma casa, e me mandou aga-
salhar em outra de hum mercador Vron-
tio natural do reino de Andraguirec, o
qual cm cinco dias quo cu aquy estivo
me banqueteou sempre esploudidamente,
iuda que naquelle tempo tonuira eu an-
tes qualquer ruim iguaria cm outra par-
te onde me ouvera por mais seguro, po-
ios muitos repiques e rebates òe inimigos
que aly avia cada hora.» Fcrnrio Mendes
Finto, Peregrinações, cap. 22.
Kra já ulto dia, c retumbava
Km alegres repitjuej Eiva» toda,
(guando o Deão acorda ao grande ruido,
E chamando os ('riudos Ihi; pergunta,
Qual do grande Zào-Zàu era o motivo.
Eiitào o Cozinimiro, debulhado
Km lagrimas, lhe conta, que a noticia
De t<!r vencido o 1Jís|K) o graudc pleito.
Que trazia com sua Senhoria,
Tinha, ha jiouco, chegado por um 1'roprio.
DiaiZ DA CBUZ, IIYaBOPE, caut. 8.
— Altercação, abalo súbito.
— Acudir (nj repique ; ao signal de
rebato.
— Ljinc; no jogo dos centos.
REPIQUETE, «. //(. Rebate repetido dos
sinos.
— Ladeira curta, íngreme, empinada,
do mau descer, picada.
— Vento de repiquetes ; o que salta e
corro 03 rumos, durando pouco em cada
um.
REPISA, 8. /. iDe repisar). O acto de
repisar.
— Vinho de repisa ; o que se faz das
uvas repisadas.
REPISADO, part. pass. de Repisar.
REPISAR, ou REPIZAR, t-. a. De re,
o pisar). Tornar a pisar.
• — (.'alçar aos pés.
— Repisar a mesma matéria ; repetir a
mesma cousa, tornar a fallar e tratar
delia.
REPLANTAÇÃO, s. f. Acçilo ou acto
de replantar; ou plantar segunda vez.
REPLANTAR, v. a. [De re, e planUr .
Tornar a plantar, plantar do novo.
REPLEÇÃO, s. /. (Do latim repletio-
n-eiiij. Enchimento dos vasos poios humo-
res, ou do estômago pelo comer.
REPLENADO, adj. Cheio, terraplenado,
entulhado.
REPLENO. Vid. Terrapleno.
REPLETO, adj. (Do latim repletu».
Muito cheio. = Ápplica-se á pessoa muito
clieia de humores ou de comida.
REPLICA, *. /. O argumento que se
faz contra o que se respondeu.
— Resposta que se dá, impugnando o
que SC disse ou manda. — € Finalmente
depois do passadas, de huma, e da outra
parte muitas replicas, vendo Ueorge dal-
buqnerque a openiara do tyrano determi-
nou ir sobrele, e lhe tomar aquella for-
ça, em que tinha toda a sua confiança.»
Damiiio de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 4, cap. 06.
— Obedecer sem replica ; sem respon-
der, sem refertar, sem contradicçào.
— Termo forense. Articulado ; escri-
pto do author contestando a resposta do
réo. — «Tiram meus inimigos por teste-
munhas, e esteve ao porguntíir delias Ma-
noel de Macedo, que descubertamente he
meu inimigo. Fui lançado de réplica, c
de outros termos, quo tinha de Direito
Divino, e Humano.» Diogo de Couto,
Década 4, liv. ò, cap. 7.
— Fazer uma replica ao juiz ; repre-
REPL
REPO
REPO
215
sentar alguma cousa acerca do seu des-
pacho.
REPLICAÇÃO, s. f. (Do latim replica-
tioiíeinK Aeyào e elfeito de replicar.
REPLICADO, jKirt. pass. de Replicar.
— jS. wi. Vid. Replica.
Eseuscmoa )-eplicados.
Vós querciâ
registar o que trazeis V
Nào.
Nào? Faustos escusados
salteae, nào perdoeis.
ANTOSIO FHESTES, AUTOS, pag. 85.
REPLICADOR, s. m. O que replica fre-
quentemente, que contraria.
REPLICAR, V. a. (Do latim replicare).
Tornar a responder. — «Os quaes casti-
gariào do modo que elle quisesse, e llie
dariào toda a carga despeciarias que lhe
fosse necessária, Diogo lopez lhe respon-
deo que se lhe mandasse Rui daraujo, e
03 maia portugueses, que tornaria a en-
trar no porto, ao que el Rei, e o Renda-
ra replicaram que tornasse a entrar, que
tudo se faria como elle quisesse.» Da-
mião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 3, cap. 2. — «Senhor, tenho que
dizer a isso, replicou o Conselheiro. Ca-
lay-vos, naõ me insteis ; que vos man-
darey lançar hum grilhão nessa lingua :
bem sey o quo quereis dizer : naõ tendes
que me vir aqui com conveniências de
cortar hum braço, para naõ perdermos a
cabeça : saõ isso discursos velhos, e ca-
ducos.» Arte de furtar, cap. 29. — «E
como D. Álvaro instasse, que era preci-
so executar as ordens que levava, que
erão saltar em terras, e abrazar os por-
tos do inimigo, lhe replicarão no Conse-
lho, propondo que se ticasse elle General
no mar mandando, e que os Capitães dos
mais navios commetteriào a barra.» Ja-
cintho Freire de Andi-ade, Vida de D.
João de Castro, liv. 1. — «Replicava o
outro, que sim o era, porque conhecera
em tal parte o senhor fulano seu marido ;
e ella tornava : Senhor, digo-vo-lo por-
que eu casei por procuração, e fui casa-
da por carta ; e isto é nào ser casada. E
era assim, que pelas ausências de seu
mr.rido apenas o conhecera.» Francisco
Manoel de Mello, Carta de guia de ca-
sados.
Nenhum desses desastres, Deos louvado,
Me^suceedco : (o Lara lhe replica)
Ao Padre Guardião somente quero
N'um negocio fallar, se for possível.
DI5IZ DA CKUZ, HTSSOrE , caiit. 5.
Senhor Deaõ (replica entaõ a Ama)
Sc da sua tristeza é essa a causa,
Tem por certo razaõ para affiigir-se ;
Supposto, que naõ é o mal taõ grande.
Que naõ possa remédio ter ainda.
IBIDEM, cant. 8.
— Fazer replica.
— Responder como impugnando o que
se disse ou manda.
— Termo forense. Refutar a resposta
ou defeza do reu.
— Replicar ao juiz ; representar-lhe
alguma cousa a respeito do seu despacho.
— Replicar ao superior ; f;izer-lhe al-
guma retlexào, representar alguma cousa
acerca do que elle diz ou manda.
— Redobrar, repetir,
REPOLEGAR, v. a. Dobrar, fazendo re-
polego.
REPOLEGO, s. m. Filete retorcido e
grosso, ou bainha roliça á borda das toa-
lhas de rosto.
— Cordão de massa em redor da em-
pada.
REPOLHAL, adj. 2 gen. Repolhudo. —
Couve repolhal.
— S. m. Terreno plantado de repo-
lhos.
REPOLHAR, i'. n. Fazer-se repolhudo.
REPOLHO, s. m. Espécie de couve fe-
chada e redonda que não abre as folhas.
— Cabeça ou volume roliço, que al-
gumas plantas formam, apinhando suas
folhas umas sobre outras.
REPOLHUDO, adj. (De repolho, com o
suffixo «udo»). Diz-se das plantas que
formam repolho, como a couve lombar-
da, a alface, etc.
— Termo popular. Grosso, muito gor-
do, fallando do homem.
REPONCIO, s. m. (Do latim rapun-
tiuin). Planta de flores vermelhas e se-
mente negra dentro de cabeciuhas como
as da papoula.
REPONTA, s. /. (De re, e ponta).
Nova ponta ou direcção.
— ^l reponta da maré ; é quando tor-
na a começar a encher.
REPONTAR, 1-. n. Vir apparecendo de
novo. — Repontar o dia.
— Repontar a maré; começar a encher,
ou a vasar.
REPOR, V. a. (De re, e pôrl. Tornar
a pôr.
— Repor no jogo ; pôr na mesa outro
tanto dinheiro, como está no bolo.
— Restituir. — Repor o dinheiro que
se havia recebido.
— Refazer o saldo, a falta.
REPORTAÇÃO, s.f. Comedimento, mo-
deração, modéstia.
REPORTADO, part. pass. de Reportar.
REPORTAMENTO, s. m. Acção e effeito
de reportar, ou reportar-se.
REPORTAR, V. a. Fazer temperado,
moderado, comedido.
— Alcançar, obter, conseguir.
— Attribuir, referir. — «A' experiên-
cia me reporto, sobre a qual nào será
necessário o favor que vossa senhoria me
faz, o qual eu renunciara de boa vonta-
de na pessoa de D. Pedro para seus ac-
crescentamentoa quando elle o houvera
mister pelas obrigações que lhe tenho, e
pelos bens que lhe desejo ; traga-nos Deos
boas novas de vossa senhoria, a que o
mesmo Senhor nos guarde para nosso
amparo e desempenho. Maranhão 4 de
Dezembro de 1660.» Padi-e António Viei-
ra, Cartas, n.° 19.
— Reportar-se, v. re.jl. Moderar-se,
comedir-se, refrear as paixões.
— Reportar-se a alguém, ou a algum
vionumento ; remetter-sc.
REPORTO, s. m. Termo antiguado. Ob-
séquios, favores.
REPORTÓRIO, s. m. Vid. Repertório.
Indicação dos dias, mezes, e estações do
anno.
REPOSIÇÃO, s. /. (Do latim repositio-
liem). Acção de repor.
— Reposta de bolo em jogo.
— Figuradamente : Vomito.
REPOSITAR, V. a. Repor, depositar,
coUocar.
REPOSITO, part. pass. irreg. de Repo-
sitar.
• — <S'. m. Repositório, deposito.
REPOSITÓRIO, adj. Termo de pliarma-
cia. Diz-se dos vasos em que se guardam
03 medicamentos, como bocetas, frascos,
garrafas, etc.
— S. m. Logar para pôr ou coUocar
alguma cousa.
1.) REPOSTA. Vid. Resposta.— «Des-
pedido Dom Afonso da Sylua com ha re-
posta, de sua embaixada, e acabados ou-
tros negócios a que el Rei quis dar fim,
antes de partir de Monte mór, na entra-
da da Quaresma do anno de M.ccccxcvj,
se foy a Setuual onde ho estaua speran-
do ha Rainha dona Leanor, e ha Duque-
za de Bragança dona Isabel suas irmãs,
e ha Infante dona Beatriz sua mai pêra
tratarem negócios que com elle tinham,
e alli tiuerão todos Páscoa da Resurrei-
ção.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 1, cap. 13. — «O que sa-
bendo o senhorio da nao se foi logo a
queixar a el Rei, e após elle outros seus
achegados, e amigos. Finalmente, que
com ha reposta que acharão em el Rei,
e ódio que tinhão aos nossos por serem
Christaons, se ajuntarão os mais dos Mou-
ros da cidade, e com mão armada forão
dar na casa da feitoria.» Ibidem, cap.
59. — «Com a qual determinaçam res-
pondeo a hum recado, que lhe Afonso
dalbuquerque mandou de paz, e amiza-
de, dizendo, que elle lhe nam podia dar
reposta sem ter recado dei Rei de Or-
muz seu senhor, do quo auia de fazer.»
Ibidem, part. 2, cap. 31. — «Afonso dal-
buquerque respondeo a Çufalarim, que
elle lhe mandaria a reposta ao outro dia,
o que assi fez per Fernão perez dandra-
de, e nos apontamentos que lhe deu, os
principaes foram, que lhe desse o çabjim
dalcão huma tanadaria na terra íirme,
das que estiuessem mais perto da cidade
de Goa.» Ibidem, part. 3, cap. 6. — «A
forma das palauras foram que lhe desse
conselho do que deuia de fazer neste ca-
216
REPO
REPO
REPO
80, mcn irmJto lho respondeo, qiio elle bo
nílo atrouia fallar a cl Rei ftin cousa do
qiui toilolort lidalj^os quu lho fallaram, (?ai-
ram com reposta ilo ho tiulo coiuetor a jus-
tiça.» Ibidem, c-ap. 40. — «Mas Nuno fer-
nandoz como maiulou o.-<tc roçado a dom
loaõ, som mais e.-jpoiar reposta, tondosso
por Batisfoito do conipriíiicnto, que com
cUc fczora, com cobiça de .sor toda a
hoiirra sua, partio lo<,'o do Oalim coin
sua {^onto \wm ordenada, o do caminho
foi tor com (lido Ihcabuntafuf. » Ibidem,
cap. 48. — «Recolhido na nao do Vicen-
te dalbuquorquo o sobrinlio do Kaix nor-
dim por arrofons de Nicolau ferreira,
Afonso dalbuquorquo o mandou a el Rei
bem acompanhado com a reposta de sua
embaixada, quo, a naõ tomou bem dollo
por se tornar Christam, com tudo as car-
tas que lho leuaua dol Rei dom p]manuel
recebeu com muita cortezia, o sem tra-
tar mais nada com Nicolao torreira o dcs-
pedio.» Ibidem, cap, (56. — «O (piai ai'-
tipo visto pin* nos com a reposta a ello
dada, dizemos quo devo seer declarado
em esta f?uisa, a saber; que se em algum
coatrauto alguém promctto a dar, ou fa-
zer alguã cousa, ou a pagar alguã quan-
tidade, ou qualquer outra cou<a a tempo
certo sobre corta poiía, c nom a dando,
fazendo, ou pagando ao dito tempo.» Ord.
Affons., liv. 4, tit. 7, § 2. — «O qual
artigo visto per nós com a reposta a oUe
dada polo dito Senhor Rey, avemos por
boa, e mandamos que so guarde e cum-
pra por Ley, como cm ella he conthcu-
do.» Ibidem, tit. 31, § 2. — «E com es-
ta dcclaraçom Mandamos quo so guarde
o dito artigo, segundo em elle he con-
theudo com sua reposta, e per Nós de-
clarado, como dito he.» Ibidem, tit. 48,
§ 4. — <iE no que diz que na successaõ
dos Roynos feudaes naõ ha lugar á ro-
presentaçaõ, ho commumente reprovado ;
além do que o Royno de Portugal naõ
he feudal, nem podem militar nello as
razoons das Concessoens domiuicafi ; como
em seu lugar mo-itrarey na reposta da
razaõ X.» Arte de furtar, cap. 1(5. —
B IV. Reposta contra a quarta razaõ. Ad-
mittimos o argumento contra os outros
Oppositorcs, e negamo-lo contra a Se-
nhora Dona Catharina por razaõ da me-
lhor linha, em que se achava, com que
vencia a Pilippe, como fica explicado na
reposta próxima contra a terceira razaõ.
V. Contra a quinta.» Ibidem.
O Capitão lho diz quo da sua gente
A vitima reposta saberia,
Que estando este varão ja transtoniado
Não entende a trai>;ão tào clara e vista.
^OSTG REAL, l«A.Ult-B,(.OIO DE SEPÚLVEDA, Cant. 15.
— «Mas direis, quo muitas destas dá
aos mãos, e peruersos : attentai porá a
reposta; por causa dos bons premite
Deos, que aja mãos, como por causa, c
seruiço dos homens se conseruaíí os ju-
mentos, qualquer mao, e peccador, (diz
Sancto Agostinhoj que o permite ])co.«,
porque, ou lia de vir a ommendarso, ou
pêra quo so exercito o justo, e tenha o
morecimonto de sofrello, donde ainda os
mao» por vosso respeito viucin. » Fr. Har-
tholomou dos Martyres, Compendio de
espiritual doutrina, cap. 14. — «E fi-
cando uiis iium jK)uco sobresaltados com
esta sua reposta, o quasi corridos do
moilo com <jiic noia disscrào, llie pedi-
mos perdTio, dizendo que nossa ignorân-
cia nos desculpava, assi para com Deos
como para com elles.» Fornito Mendes
Pinto, Peregrinações, cap. 102. — «E
com isto .se metcrào om tanta cólera, que
hum doUes deu ao outro huma gríldo bo-
fetada, a qual ouve por reposta huma
grande cutilada pelo rosto do quo a deu,
dada cõ huma faca, que lhe derrubou
meya face cm baixo.» Ibidem, cap. 11.").
— «Esto, quando ouvio a nossa reposta,
pôs os olhos no Coo e disse, ó quem pu-
desse preguntar a Deos pela declaração
deste segredo, a que o nosso pobre en-
tendimento não pôde chegar, que porque
causa que gente tão avessa do conheci-
mento da nossa verdade responda assi
improviso com huma doçura de palavras
tão agradáveis aos ouvidos.» Ibidem, cap.
121. — «Da qual reposta alguns dos que
estavão presentes, segundo dclles infiri-
mos, motejarão algum tanto com alguns
ditos cortesãos e galantes, de que el Rey
gostava muyto.n Ibidem, cap. 122. — «E
espantada a Rayniia das repostas que
hum dos nossos lhe dava, disse, fabão co-
mo homens quo so criarão entre gente
que vio mais do mundo que n(js, e des-
pois de se deter comnosco hum pequeno
espaço em algumas perguntas, nos des-
pidio com boas palavras, e nos mãdou
dar cem taeis de esmola.» Ibidem, cap.
128. — «Elle tomando ao Tártaro quasi
igual de sy, abalou por huma sala muy-
to comprida até huma porta que na frõ-
tai"ia delia estava, e batendo nella três
vezes, lhe resp 'uderão de dentro que era
o que queria, a que elle respondeo com
voz misuraila, he chegado por custume
antigo de verdadeyra amizade Imm em-
baixador do grão Xinaraii da Tartaria,
para sor aquv ouvido do Prechau Gui-
mião que todos temos por senhor de nos-
sas cabeças, com a qual reposta as por-
tas ambas forão de todo abertas, e en-
trarão para dentro.» Ibidem, cap. 130.
— «A qual lhe ello não negou, e lhe
respondeo por palavra que se lhe entre-
gasse a Ravnha primeyro, com sua gen-
te, tisouro c royno, c que elle a fatisfa-
ria em outra cousa de que ella fosse cõ-
tcnte, e que a isto lhe respondesse logo
no mesmo dia que para isso lhe dava de
espaço somente, porque com a sua repos-
ta se determinaria no que avia de fazer.»
Ibidem, cap. 154. — «Chega a Baçaim,
Manda D, Álvaro a Surratc. Despede D.
Álvaro a D. Jorge, c outros Capitães.
Que lhes suceedo. Voltào a D. Álvaro.
Que fez o (íovernador em líaçaim. Ajun-
ta-secom seu filho. Avista o SoltSo. Apre-
senta-lho batalha. Falia aos soas. Repos-
ta dos Fidalgos, e Cabos. Está no campo
tros horas, o fímbarca-se, Damnos que
faz. Chega a Diu. D, João Jlascarcnlias
faz dcixação da Praça.» Jacintho Freire
d'Andradc, Vida de D. João de Castro,
liv. 4.
2., REPOSTA, .«. /. (])c repor). Ter-
mo de jogo. E quando o feito não chega
a fazer as vasas necessárias para ganhar;
no qual caso repõo na mesa outras tan-
tas polhas quantas estSo no bolo. — Fa-
zer reposta.
REPOSTADA. Vid. ResposUda.
REPOSTARIA, s. f. Casa destinada nas
habitações de pessoas ricas, para fazer
doces e bebidas.
— Todos 08 objectos e provisões per-
tencentes á copa, e a gente que n'ella se
occupa.
REPOSTE, s. í;i. ant. Casa de guardar
moveis,
— O que se guardava n'ella.
REPOSTEIRO, *, m. Official, qne tem
a seu cargo o reposte, pratas, roupas
guardadas n'elle, que adornam as casas,
o mesas reaes dos moveis pertencentes,
— O que tem a seu cargo a copa nas
casas ricas.
— Reposteiro^wr ; fidalgo que tem a
seu cargo tudo o respectivo ao ramo de
reposte o mantearia.
— Panno com as armas da casa, que
serve para cobrir as cargas das azemo-
las, ou para cobrir as portas, etc.
— O frade official, administrador da
vostiaria.
REPOSTO, i>"rf. p-ifs. de Repor.
REPOUSADAMENTE, mlv. (De repousa-
do, cora o suífixo » mente»}. Em repouso,
com socego.
REPOUSADO, part. pass. de Repousar.
— Por isso trabalhem por vida repousa-
da e não atravessem tlorestas ; porque
inda (pio levem guardador que as segure
d'outrein, terão mister quem os segure
delle. Bom entendeu seu cavalleiro estas
palavras, o ella pêra isso as disse, mas
elle dissimulou, como sempre costumava.
Pois senhor, disse o outro que ficava, a
mim que mandais, que eu uào tive tem-
po de escolher n(^nhuma, porque o deixa-
va em v<'>s.» Francisco de Moraes, Pal-
meirim d'Inglaterra, cap, 125.
Dospois que Magalhães teve t(?cida
A breve historia sua. que illustrasso
A 'Ferra Santj» Cruz, pouco sabida ;
Imaginando a quem a dedicasse,
Ou com cujo favor defenderia
Sou livro d'algum roilo q<ie ladrasse;
Tendo nisto occupada a phantasia.
Lho sobreveio hum somno rfjtoiífiido.
Antes que o sol abrisse O claro dia.
CAMÕES, ELEGIA i.
REPO
REPO
REPO
217
comei ora repoiuado,
cobri, que viiidea suado;
oude está teu seulior, moço?
Ora, á meza o seu bocado
é o vosso, e o vosso d"ella.
ANTOmO PRESTES, AUTOS, pag. 111.
Tranquillo o repousado no atahudc,
Como viajante reclinado á poppa
Ua galé que em bonança vai ciugrando
Com brandos ventos para o porto amigo.
GARKETT, CAMÕES, caut. 5, cap. 2.
REPOUSAR, V. a. Descançar o corpo.
— Aquietar, socegar.
— V. n. Ter repouso, descançar, so-
cegar das fadigas. — «Brandimar, como
nestes dias o amor o não deixasse repou-
sar, passava-os todos no paço, occupaudo
de continuo os lugares donde podia ver
Braudisia, e as noites gastava arredor de
seu apousento, porque alli satisfazia o co-
ração com ver as paredes, que seu bem
encerravam.» Francisco de Moraes, Pal-
meirim d'Inglaterra, cap. 90. — «E por-
que a escuridão da uoite não deixava
vel-o, nào pode divisar as armas nem as
cores delias, e pôz-se a escutal-o, con-
tente de o ouvir, porque um triste com
outras tristezas repousa.» Ibidem, cap.
76. — «Pas.sados alguns dias depois da-
quella temerosa batalha, e os feridos taes
de suas feridas, que já não havia que te-
mer, Floreudos, a quem a saudade das
aguas do Tejo e arvoredos do castello de
Almourol não deixavam repousar.» Ibi-
dem, cap. 9.Õ. — «E quando houverem
de fazer batalha, que el-rei meu senhor,
por me fazer mercê, lhe mandará segurar
o campo; e por hoje quizer repousar, o
pôde fazer, que ámanhãa haverá tempo
pêra tudo.» Ibidem, cap. 123. — «Mas
neste tempo desceu el-rei ao terreiro, que
o desejo que tinha de conhecer o cavalleiro
das Donzellas, o nào deixou repousar ;
e com sua authoridade e palavras desviou
a batalha, levando-os comsigo, que tam-
bém os outros eram merecedores daquel-
la honra.» Ibidem, cap. 129. — «Porque,
como Dauid auia pruphetizado) a carne
do Saluador nam auia de experimentar
corrupçam, mas em breue espaço auia de
repousar no sepulchro em certa esperan-
ça de resurreiçam.» Frei Bartholomeu
dos Martvres, Catecismo da doutrina
christã, llv. 1, cap. 12. — «Não procuro
apparelhar e quietar meu coração pêra
queDeos uelle repouse. Antes com o con-
tino arroido de destraymentos e tumulto
de pensamentos vãos, nào permito que
elle ache repouso em mim. Ay de mi
que sem causa viui atee o presente: e
affrontome porque assi viui, e mais qui-
sera não ser, que ser tal.» Ibidem, cap.
2. — «A terceira propriedade he satisfa-
ção, a saber, gozo, e descanso da alma
em seu amor, porque esta lhe basta, nem
de outra cousa alguma se lhe dà, a cau-
sa deste cabal descanso, e satisfação está
• Tot. V.— 28.
patente, porque como quer que todas as
cousas repousem em seu centro, e perfei-
ção, e esta tenha a alma descansando,
como em seu centro na vniào cõ Deos
summo bem seu, e que summamente a
aperfeiçoa, claro íica o fundamento de
seu descanso, porque sendo Deos o centro
da alma, estando nelle, naõ lhe íica mais
que desejar: antes tica cumpridamente
satisfeita, e gozosa alcançada a tal vniaõ.»
Idem, Compendio de espiritual doutrina,
cap. 12.
— Descansar, socegar, dormir. — «O
que feito dom Bernardo se foi pêra a al-
deã, em que achou muito trigo, ceuada,
galinhas, e outros mantimentos, onde re-
pousando chegou Rui barreto da aldeã
que ja tinha tomada dom loam, que per
seu mandado hia recolhendo a gente que
andaua espalhada pelo campo, e de longo
do rio.» Damião de Góes, Chronica de
D. Manoel, part. 3, cap. 48. — «Com tu-
do depois de comer, e repousarem dom
Bernardo mandou tocar as trombetas e
com toda sua gente recolhida, e oitenta
almas que captiuara, e muito gado gros-
so, e meudo se foi para dom Joaõ, que o
recebeo com muita alegria, lançandolhe
os braços no pescoço, c a benção, por
quão bem o tinha feito.» Ibidem, cap. 48.
— «O que elle negociou, e sendo a duas
legoas de Baluam com as cargas de ti-igo
que fora buscar, estando repousando,
chegou a elle o adail Dazamor com ses-
senta de cauallo, a horas de jantar, do
que os mouros sobresalteados, parecendo-
Ihe que hiam sobrelles derào com as ten-
das no chão, pondosse em som de pele-
ja.» Ibidem, cap. õ4. — <tPa.ssado este
vao mandou dom Aluaro descarregar as
Azemelas, e a vista dos mouros, que es-
tauam da outra banda do rio, jantaram,
e repousaram, per espaço de duas horas,
o que feito se tornarão perá cidade com
as almas, que leuauam captiuas sem
acharem outro nenhum recontro.» Ibi-
dem, part. 4, cap. 39. — «Deu isto muy-
to em que cuidar a Maximino, e pare-
cendolhe cousa perigosa meter tempo em
meyo, se fez na volta de Itália, jurado
de assolar a Cidade de Roma, donde sa-
hio Pupieno, para lhe fazer resistência,
mas escusaraõ-no os mesmos Soldados de
Maximino, que aborrecidos de suas tyra-
nias o matàrau, a elle e seu filho, estado
huma sesta repousando na tenda, dando
traças no pensamento para tomar a Cida-
de de Aquileya, que tinha cercada.» Mo-
narchia Lusitana, liv. 5, cap. 16. — «E
el Rey pollo grande bem que lhe queria,
tanto que lhe a noua deram sem fazer
detença alguma partio logo muyto de-
pressa, e muyto só por mingoa de bestas,
porque el Rey partio de Benauente em
huma barca, e por trazer bom vento, e
boa viagem veyo em poucas horas, e cui-
daua repousar em Alcouchete ate as bes-
tas virem por terra, e por isso fov nas
bestas que achou no lugar, e soo, e muy-
tos íidalgos foram após elle em bestas de
albarda por o seguirem.» Garcia de Re-
zende, Chronica de D. João II, cap. 180.
— «Subi pêra cima e repousareis, que'
cuido que vos é necessário ; e depois par-
tiremos quando ordenardes, que em tão
má casa não é necessária muita detença.
Florendos lhe agradeceu a vontade, com
que o recebia, e repousou alli oito dias
por causa de suas feridas, sem poder ver
a dona senhora do castello, que estava
encerrada em uma camará, de que nunca
quiz sahir em todo aquelle tempo, uem
quiz que a visse ílorendos pola não co-
nhecer adiante, se alguma hora o encon-
trasse, p Francisco de Moraes, Palmeirim
d'Inglaterra, cap. 74. — «Assim se foram
ambas juntamente ao cavalleiro do Tigre,
que, atalhando suas palavras, por não
ouvir seus louvores, com outras de cum-
primentos se forom repousar; e esteve
alli três dias pêra descançar do trabalho
dos outros passados, no lim dos quaes se
partiu, deixando a dona e sua íilha em
socego e paz, tão obrigadas a seu serviço
como lh'o elle por obras o merecia.» Ibi-
dem, cap. 105. — «E como os tempos em
pequeno espaço fazem grandes mudanças,
achou já estes castellos povoados de ou-
tros novos senhores ; e quei'endo-se infor-
mar do que passava por um ermitão, em
cuja casa repousou uma noite, soube del-
le que do gigante Calfurnio licaram dous
irmãos, que ao tempo da sua morte, não
tomavam armas.» Ibidem, cap. 106. —
«Agora, que vos tenho a vós, cuido que
tenho tudo : por isso peço-vos que esta
noite repouseis, pois o trabalho do cami-
nho vos pòe em necessidade d'isso, ama-
nhã vos darei conta do pêra que vos hei
mister.» Ibidem, cap. 113. — «Alli re-
pousou o que do dia licava por gastar, e
determinou passar a noite pêra se infor-
mar do hospede de as cousas daquella
terra. Estando sobre ceia praticando em
algumas, que o tempo oflerecia, lhe pe-
diu que lhe dissesse cuja era aquella
Ilha e o que havia nella pêra o poder di-
zer em outra parte.» Ibidem, cap. 117.
Eis aqui, quasi cume da cabeça
De Europa toda, o Reino lusitano ;
Onde a terra se acaba c o mar começa,
E oude Phebo repousa no Oceano.
CAM., Lus., cant. 3, est. 20.
Vamos, fillio, para dentro,
Em quanto a cama se faz :
Bepousae como capaz ;
Que a mi me dá cá no centro
A pena que assi vos traz.
IDEM, EL-BEI SELEUCO.
Activa, insomne sentinella guarda
Em torno aos arraiaes, quando cançado
O volante esqurdrão repousa, e acampa.
Quem lhes prescreve o tempo, c pódc a estrada.
Que cUes devem seguir, marcar sem erro?
Que bússola os conduz transpondo os mares ?
J. A. DE ÍIACEDO, MEDITAÇÃO, Cant. 3.
218
REl'()
— Jazer, estar enterrado.
— Repousar cm » Himlinr ; inorror.
— -AnHoiitíir, ])iiriticar-HO oii aclarar-sc
um liqiiiild, (lopuiiJíj as iinj)Uit!zas iio
fundi).
REPOUSEIRO, s. wi. aul. Quinta, casa
do roerei".
REPOUSO, .". «i. Descanso, socogo. —
«Os (|uo .so entenilom bo acham com cul-
pas, andam denasosHCgiulim, íjuc o tumor
Ilie rompo o corayilo com imaKinayõcí
tristos c dosifíuaes ; quo se dizoni com
huma potencia desdizem com todas as
outras. Oi malfeytoros sempre andam
descnquietos o dcsapoderados de repouso,
c o (pio fazem não iie a horas se nain a
deslioras. » D. Joanna <la (ííima, Ditos
da Freira, paj^. 14. — «Todavia cm modo
de am()osta(,'ão disse áqucllcs dons íilhos,
quo elie liie entrofíava a Ci<lade, que a
defendessem como diziam, porque elle
n.'ío tinlia jd mais f(n-(;as que as do conse-
lho, e que este naturalmente nos homens
do tanta idade, como elle ora, sempre se
inclinava ao repouso da paz.» Barros,
Década 2, liv. (i, cap. íí. — «Finalmeute
com esta nova da partida d'El-Rci, e des-
avenças d'antre elle, e seu lilho, come-
çou a Cidade tomar alijuma maneira de
repouso dos grandes trabalhos que os dias
passados teve : no qual tempo Aftouso
d'Alboquerque também começou a enten-
der na fortaleza que queria fazer.» Ibi-
dem, cap. 6. — «Partida Targiana e o
imperador tornado íI cidade, Florendos,
cm quem não cabia descanço, nem repou-
so, quiz também por em obra sua deter-
minação, c posto que a imperatriz e (iri-
donia tizeram o quo podoram polo deter,
foi trabalho em vão, porque passados dous
dias depois de partida Targina se poz ao
caminho, levando comsigo Albayzar em
ura palafrem sem armas com dous pa-
gens.» Francisco de Moraes, Palmeirim
d 'Inglaterra, cap. 95. — «E porque já
queria ser manhãa, e sou cavallo o o de
Solvião iam tão cançados, que quasi se
não podiam mover, se desceram dclles,
tirando-lhe os freios por liie dar algum
repouso, em quanto a manhãa esclarecia.»
Ibidem, cap. 104. — « Assim que cança-
dos do revolver toda a tloresta, os valles
o outeiros que a cercavam, lhe foi ne-
cessário desceren\-so pêra dar algum re-
pouso ás bestas, que com o trabalho pas-
sado andavam tão caueadas, que se não
podiam menear.» Ibidem, cap. 10.'i. —
«ilas como o somno não fosse com re-
pouso, tanto que a mauhã foi clara, o er-
mitão, depois de rezar, disse missa, a quo
o cavalleiro do Salvagera esteve presente
armado de todas as armas somente o el-
mo.» Ibidem, cap. 106. — «Baleato, vendo
no vallo homem armado, como então sua
vida fosse não dar vlila a ninguém, com
voz temerosa começou a dizer : Quem és
tu, que na força do minha ira buscas o
repouso em tempo e parte, que o não
IIE1'0
dou a ninguém?» ibidem, cap. 107. —
■iPassaflr) o-ito dia, a« outro, tanto que
amanheceu ; Florendos, a que seu cuiilado
não dava outro repouso, se foi contra o
escudo do vulto do sua senhora, jú que o
original não podia vór: c pondo os olhos
nollc, começou dizer.» Ibidem, caj). lOli.
— «Senhor, disse elle, este negocio não
ó de qualidade, <|fio soffra nenhum repou-
so ; por isso eu nào no posso ter : antes
acabado do dizer ao que venho, com a
conclusão quo so n'isso tomar, me irei
dormir ao campo, onde ticam minhas ten-
das ; que, so d'outra maneira o fizesse,
não sei so prazoria ao turco meu senhor.»
Ibidem, cap. 112, — «O do Salvagcm o
o velho caminharam todo o que daquelle
dia estava ]ior passar, e a noite, .sem ter
nenhum repouso : e em amanhecendo de-
ram de comer aos cavallos c cUes repou-
saram um pouco ; porem o velho, que to-
do repouso havia por trabalho, o fez logo
tornar a cavalgar.» Ibidem, cap. 113. —
(iPoivni como a contenda durasse muito
tempo, e o cavalleiro das Donzellas qui-
zesse mostrar a cilas próprias que servi-
dor tinham, o apertou, som lhe dar um
momento do repouso, de sorte que do
puro cansaço, mais que feridas nem perda
de sangue, cahiu a seus pés quasi deses-
perado da vida.» Ibidem, cap. 125. —
«Aquella noite concertou as armas, como
quem as havia mister melhores que os
dias passados. O do valle, como natural-
mente fosse incansável, e a desesperação
do pouco que valia com aquellas senhoras
o tivesse morto, nenhum socego nem re-
pouso tinha.» Ibidem, cap. 144. — «Fi-
lho, gerado em minha vontade, tanto cui-
dado me tem dado o amor, que vos tenho,
e o contentamento de vossas obras, que
não achava em mim nenhum repouso,
porque não via onde as satisfizesse.» Ibi-
dem, cap. 151. — «Assi era venerado,
obedecido e acatado, como se tivera in-
teira disposição pêra governar c mandar.
Foram-lhe feitas tão solemnes obsequias e
honras, como se a fortuna e o tempo jier-
mittiram repouso pêra se poder fazer. O
dia desta ceremonia c de seu enterra-
mento toda Constantinopla saliio cuberta
de dl), vestiduras negras e tristes.» Ibi-
dem, cap. 167.
Algum rcpo>iso era fim, com riuc poJossc
Refocilar a lassa humaiiidadc
Doa iiavepautes sciis, como iiitoreasc
l")o trabnlho, que encurta n breve idade.
Pareco-Uio razão, quo eontji dóaso
A seu filho, por cuja potestade
Os dcoses faz descer ao vil terreno,
E 03 humanos subir ao eco sereno.
cxM., Lus., cant. 9, est. 20.
— (i(h'denou logo o Capitão .Mi'>v Innna
fraca trincheira, que mais no.s devidia,
quo amparava do inimigo ; a qual se obrou
com as armas nas mãos, quasi furtirn,
HE PO
ficando por alojamento dos soldados o lu-
gar da batalha; onde, nem sobre as ar-
mas, podi.^o ter seguros hum pequeno re-
pou.-io, por(|uo nem inira curar lu feridas
tinhão tenípo, ou lugar opjxjrtuno.» Ja-
cintho Freire de Andrade, Vida de D.
Joáo de Castro, liv. 2. — tEstci* estrur
nlios effiMtos da imaginação noa cni)ÍDrio,
que o cuiilado do nosso repouso deve
concorrer com a submi.ssão que devumos
a Ocos, e á Igreja para dominar a curio-
sidade de investigar o futuro.» Cavalleiro
do Oliveira, Cartas, liv. 1, n." 44.
Se a relva dava cntào tranquillo* emr.rum
A fV)mbra, que esp:ilhava o Fr<>ixo nnnoM,
R sn cHtancnva a m-àn a lympha purm
Do serpeanto linipido rejíato,
O vello se arranou do. iiiuniío armciilo.
Que ao can(;ado mortal repouso prRSta.
J. A. DF. liACKDO, VIAGEM KXTÀTirA, CAnt. 1.
A abobada do Coo, da Terra o (rlobo,
Eu roubo á noutc ag horas do rrpoiun.
A solidão me apraz, c alheio ao Mundo,
Entro o fragor da guerra, escuto aa Blosaa.
IDEM, MEDITAÇÃO, Cant. 1.
— «Como assim! — exclamou o man-
cebo— ainda nào buscastes o repouso?
Depois de tão larga correria, não imagi-
nava achar-vos ao pé de mim, que vôlo
porque a amargura nào consente que o
somno mo cerre as pálpebras. Tendes,
acaso, uma írman querida, uma esposa
que muito ameis, por quem devais tre-
mer, e que, talvez, neste momento seja
victima das paixijos descnfreiadas dos in-
fiéis.» Alcxandie Herculano, Eurico, ca-
pitulo 13.
— Tranquilidade, socego de espirito. —
«Dous annos viveo a Santa donzela, de-
pois de passado este primeiro tranco, om
grande quietação e repouso do ospiritu,
aproveitando no caminho do Senhor, de
quem era espiritualmente visita-la com Di-
vinas consolações.» Monarchia Lusitana,
liv. 6, cap. 24. — «Não é muito que, no
que tanto vos releva, csteis t.lo cego, pois
é certo que poucas vezes em coraç5o sem
repouso se acha juizo claro.» Francisco
de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap.
101. — «O alma que dormes em a noytc
do peccado, aleuantate e allumiarteha
Christo, e ficaras verdadevra lemsaleni
ique quer dizer vista de paz) csperimen-
tãdo em ti quam doce cousa ho a paz de
conciencia, e qnietaç.im e repouso da al-
ma com Doos." Fr. Bartholonieu do Mar-
tyres. Catecismo da doutrina christá, ca-
pitulo 2.
— Repouso absoluto; persistência de
um cor] o na mesma parte do espaço.
— Repouso re/dtivo; o mesmo quo re-
pmisn a/isoluf'^, mas com referencia aos
corpos que o rodeiam.
— O repouso eff»'-'. ^if^rtnl ,• a vida
eterna.
REPR
REPR
REPR
219
— Logar onde alguém repousa.
REPOVOAR, 1-. «. (De re, e povoar).
Tornar a ]iovoar.
REPRAZER, V. a. ant. Aprazer, agra-
dar, folgar.
REPREGADO, part. 2)f-(ss. de Repregar.
REPREGAR, v. a. (De re, e pregar).
Pregar de novo, segurar bem com pre-
gos.
REPREGO, s. m. O trabalho de repre-
gar o que so despregou.
REPREHENDEDOR. Vid. Reprehensor.
REPREHENDER, v. a. (Do latim repre-
liendere). Dar repi-ehensão, exprobi-ar, ar-
guir; censurar. — «Estes, porque os re-
prehendem com sua modéstia; e aquelles,
porque os convencem com sua doutrina.
E o certo he, que esses mesmos Zoilos,
que murmuraõ, quando querem a sua fa-
zenda segura, ou o seu dinheiro bem guar-
dado, que nas mãos destes Anjos da guar-
da depositaõ tudo.» Arte de furtar, cap.
39. — « li. Eu Senhor, nunca lhe vi di-
zer cousa que cumprisse a serviço de V.
A., mas sempi-e a contrario, porque sem-
pre foi medianeiro em pendenças ; e por-
que disto o reprehendia muitas vezes, e
de acceitar tantos convites, que não era
de seu cargo, dizia que o deshonrava.»
Diogo de Couto, Década 4, liv. 6, cap. 8.
■ — ■ Corrigir. — «Mas hei medo que pê-
ra repreheuder vicios alheios bastamos
todos e pêra nos apartar dcUes ou as
vontades não consentem ou damnos cul-
pa ti fraqueza da carne, podendo-se re-
sistir com bem pequenas forças.» Fran-
cisco do Moraes, Palmeirim d'Inglater-
ra, cap. 106. — «Foi também compara-
do ao Leaõ na sua pregação, pois sem
temor dos Escribas, e Phariseos repre-
hendeo os seos vicios, e os lançou do
Templo, aonde os commetiaõ, cora huma
fortalesa do Leaõ; e por isso disse o Pro-
pheta Oseas: I. Quasi Leo ruqivt ; quia
ipse rugiet, et formidahunt Jilij nutris. v
Braz Luiz d'Abreu, Portugal medico,
pag. 231, § 13.
REPREHENDIDO, part.pass. de Repre-
hender. — «Tornados a cidade, por pare-
cer de todos, e por assi se ter por costu-
me ellegerão por capitão Francisco pan-
toja, que era alcaide mor, o que clle nam
quiz aceptar, dizendo que nam queria
ser capitam de huma cidade que tam ju-
gada estaua aos dados, como aquella do
que publicamente mui reprehendido de
todolos que alli estauam.» Damião de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 3,
cap. 20. — «O qual Principe foi mui in-
clinado a letras e armas, grande caçador,
e montoiro, e muito musico, era tam da-
do ao monte que por matar hum porco
montes, ou hum veado dormia muitas ve-
zes vestido no campo, do que reprehen-
dido per hum seu familiar, lhe respondeo
que 03 homens não podiaõ bem exercitar
a guerra se na mocidade senão acostu-
massem ao trabalho da caça, porque com
este se faziam abiles pêra poderem so-
frer todolos outros.» Ibidem, cap. 78, —
«Quem ha, que deuendo ser reprehendi-
do, ao menos por si mesmo não deua ser
castigado? não quer Deos que os pecca-
dores tomem a morte por suas maõs, po-
rém quer que por suas maõs tomem o
castigo.» D. Fernando Corrêa de Lacer-
da, Carta pastoral, pag. 87.
REPREHENDIMENTO. Vid. Reprehen-
são.
REPREHENSÃO, s. /. (Do latira repre-
hensiuiíeiu). Palavras em que dizemos a
alguém que errou ou obrou mal, moral
ou injudiciosamente.
— A culpa que a merece.
REPREHENSIVEL, adj. 2 gen. Digno
de reprehensão. — «Se eu lhe ensiney o
termo, minha Senhora, esteja V. S. cer-
ta em que lhe não aconselhey o uso que
faz delle. O termo he próprio, e eu não
posso ter culpa que o uso que se lhe dá
seja reprehensivel.» Cavalleiro d'01ivei-
ra. Cartas, liv. 3, n." 2.
REPREHENáOR, s. m. (Do latim repre-
hensor). Ruprcliondedor, o que reprehende.
— ( ) que critica, censura.
REPREHENDEDOR. Vid. Reprehensor.
REPRENDER. Vid. Reprehender. — «O
Mordomo mor dom loam de Meneses so-
bre hunias pousadas disse maa palauras
a Aluaro Rodriguez aposentador, que foy
logo fazer queixume a el Rey, que o
mandou logo chamar, e estaudolho per-
guntando por o caso, e reprehendeoo
muyto disso, o Mordomo mor lho disse.»
Garcia de Rezende, Chronica de D. João
II, cap. 195.
Kiiiq. Buscas outro mor bem qu'c3sc ':
Todo. Busco mais quem me louvasse
Tudo quanto eu fizesse.
Kinr/. E ou quem me reprenãesse
Em cada cousa que errasse.
Dcrz. Escreve mais.
GIL VICENTE, FARÇAS.
— «E reprendendo elles o povo por
isto que dezia, lhe disseraõ que naõ dis-
sessem aquillo que era grande peccado,
nem ouvessem medo, porque elles lhes
prometiaõ de pedirem todos ao Quiay Ti-
guarem deos da noite, que mandasse á
terra que não fizesse mais do que tinha
feito, porque lhe não dariaõ esmollas.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações, cap.
96. — «Vida activa he empregar-se hu-
ma pessoa no exercício das obras de mi-
sericórdia, assi corporaes, como espiri-
tuaes, socorrendo ao que padece fome,
ou sede: vistindo o nuu, curando, ou
seruindo os doentes, reprendendo os pec-
cadores, ensinando, e aconselhando os
ignorantes, consolado os tristes, e as ou-
tras mais.» Fr. Partholomeu dos Martv-
res, Catecismo da doutrina christã.
REPRENDIBO, part. pass. de Repren-
der.
quem deuc ser insinado,
reprendido, castigado,
muyto mal podo ensinar,
casa c filhos gouornar,
se deuc ser goucrnado.
GARCIA DK REZENDE, MISCELLANEA.
Din. Que tons sabido?
jBere. Que quer em extremo grado
Todo o Mundo ser louvado
E Ninguém sor reprendido.
King. Buscas mais, amigo meu?
Todo. Busco a vida o quem m'a dè.
Nin(/. A vida nào sei que he,
A morto conheço eu.
Bers. Escreve lá outra sorte.
GIL VICENTE, FABÇAS.
REPRENDOIRO, adj. ant. Reprehensi-
vel.
REPRENSÃO. Vid. Reprehensão.— «El
Rey ficou muy espantado de tamanha des-
onestidade, e ouue disso muyto despra-
zer, e porque as cousas mal feitas não
deixaua passar sem repreiísam, ou casti-
go, mandou logo dizer ao Marquez, que
se lhe lembraua a elle que o Rey por
quem trazia tal do o fizera Marquez, e
lhe dera Montemor, e lhe fizera sempre
muytas honras, e mercês.» Garcia de
Rezende, Chronica de D. João II, cap. 30.
Elles te castigarão.
Mâe, a muita reprensão
Busca mui poucos amigos ;
E esta he a concrusão,
Eis ca vem hum caçador ;
Generoso representa,
E traz ar de gran senhor.
GIL VICENTE, FABÇAS.
Vio que outros encarecem cousas dignas
De grando reprensaS, vio que as vontades
Inclinadas a mal outros aprouão.
Com nome de justiça, e sancto zello.
Tanta era a multidão da falsa gente,
Que no tenijilo não cabe, o aguardão tempo
Os quo vinlião detrás, em que pudessem
Entrar mais a sou saluo e sem perigo.
CORTE REAL, NAUFRÁGIO DE SEPÚLVEDA, CaUt. 11.
— ■ «E porque nesta se atreueo o de-
mónio dizer huma palaura tam descortês
contra DEOS pedindo ser adorado, nam
quis o Senhor que mais fosse por diante,
mas mostrando que o conhecia o lançou
de si, com áspera reprensam dizendo. »
Fr. Bartholomeu dos Martyres, Catecis-
mo da doutrina christã, liv. 2. — «Cau-
sou em todas as mulheres delia tamanho
espanto, que as mais delias se sayrão de
suas casas assi como naquella hora se
acharão cos filhos e filhas pelas mãos,
sem porem diante as reprensoens que lho
podiaõ dar seus maridos, nem arrecearem
as más lingoas da gente praguenta e ocio-
sa, que movida da sua má inclinação e
natureza tem por custume fallar mal de
muytas cousas que pela singelleza e boa
tenção com que saõ feitas, as aceitara
nosso Senhor muytas vezes em serviço,»
220
KEPR
KEPK
UEPK
Fornao Mendes Pinto, Peregrinações, c;ip.
141.
Sniiliorn, entre vóit c cu,
<i ptirftiitn Joílo Aiitlo,
me HolVro.i uma reprnia!\o ;
i[uc ((liem II iiAo hoIIVc, dco
«cmpro coiico iio upiilliilo.
ANTÓNIO PKKSTKS, AUTOS, pag. 455.
REPRENSOR. Vid. Reprehensor.
REPRESA, s. /. Suspuiwito, interrupi;à()
do nioviínouto.
— Koprosadura, represália.
— Termo do uTchitecturií. Assentos ar-
rimados á obrn.
— Termo de náutica. Navio que so to-
mou da niào do inimigo que o havia apre-
sado.
REPRESADO, part. pass. de Represar.
— «As Catilias tornarito a correr de no-
no como de primeiro, cõ fjosto gi-ral dos
mercadores, c vindo em iiuma delias al-
guns Cliristàos Venezianos com dinheiro,
c algumas pe(>'as de preço; foy Abrahi
Moehon anisado delias, por alguns Mou-
ros da companhia, e tanto lho atiçou o
Dcnion'o a vontade, que tinha de os rou-
bar, (jue logo a cobiça que nos dias atras
ncUe andaua, eomo reprezada, tom o Ím-
peto de sua tyrania, e dcshumanidade
deu mostras da internai eondiçrio cm que
andai'a cufroi ilíada.» Fr. (laspar de S.
Bernardino, Itinerário da índia, cap. 13.
REPRESADOR, adj. Que represa.
REPRESADURA, s. /. O acto de repre-
hender, e apoderar-se dos bens e vassal-
los do inimigo para compensação dos que
elles nos tomaram em guerra, oii hostil-
mente.
— Ju izo dos represadores ; qnc decide
da justiça das presas, c represálias.
REPRESÁLIA, s. /. Direito de tomar ao
inimigo alguma cousa em compensação
do, que elle tomou.
— Tci'mo familiar, e por extensão,
qualquer despique cm vingança de uma
òfifensa.
— Contísco de bens dos que ficaram
011 se acolheram a paiz inimigo, ou dos
vassallos de inimigos que nào observa-
ram com os nossos o que estipularam a
beneficio dos sens estantes entre nós, e
a quem se guardara o outhorgado por nós,
em indemnisações, c composições, e sa-
tisfações de perdas e damnos, em casos
de Iwstilidades confinaes c esti'emenhas,
ou do (Ultras naç('íes.
REPRESANIA. Vid. Represália.
REPRESAR, I'. a. Deter o ciu"so das
aguas. ^
— Figuradamente : Atalhar, suspen-
der, deter, suster.
— Reter, embargar os navios, ou gen-
te que o represador tem no seu porto,
terra ou poder.
— Termo do nauticíi. Retomar ao ini-
migo a embaroaçrio por elle apresada.
REPRESARIA, í. /. ant. Vid. Represá-
lia. — «E BC ora como represaria j)cra
auer o que dizia terem jiordido os Por-
tugueses no aleuantamento passailo, (jue
ju lhe tinha inuiado dizer quãto niues
ditno e mães fazenda elle Almirante ti-
nha auido (pie perdido cm Calecut, e
(pui f(iss(! huma nerda por outra.» JJar-
ros, Década I, liv. (i, cap. :'>.
REPRESENTAÇÃO, «. /. (D(j latim re-
jmrsenfittiijiwm). Acç2o do representar,
de exhibir.
— Acção do representar no tlieatro al-
guma peça.
— Poema dramático.
K vimo» singularmente
fiizcr rej>reseniac,òeii
destilo niuy cluqucnte,
de muy nouas invcníjõca,
c feitas por tíil Vicente.
GARCIA DE REZENDK, HISCKI.LANEA.
— Apparencia, mostra. — dO qual mo-
do de Payo do Sousa em ir e vir per
maõ daquelles Mouros, e chegada a este
lugar, e pratica que teue com esta pes-
soa que lhe diziaõ ser d'elRey de Cedaõ,
tudo foi artitieio d'elles e quasi huma re-
presentação de cousas que naõ eraõ :
parte das quaes Payo de Sousa entendeo
e despois se souberaõ em verdade.» Bar-
ros, Década 1, liv. 10, cap. õ. — «Po-
rem como aquellcs medos não tivessem
mais damno do que mostrava a represen-
tação dcUes, chegou á borda dagua sem
receber nenhum ; e vendo quos romeiros
do batel desamarravam da outra banda
por se vir a elle, começou fazer-se pres-
tes, e tendo a espada na mão e o escudo
no braço, com os mais avisos que o me-
do e a necessidade Jhe emprestavam.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Iu-
glaterra, cap. 90.
— Authoridadc, dignidade, caracter rc-
commendavel. — Homem de representa-
ção.
— Figura, imagem, idêa que substi-
tuo muitas vezes a realidade. — «Por
certo (disse o companheiro! que só com
a reprezeutaçaõ do que hias dizendo,
sentia na alma huma alegria tão conten-
te, que se via a vontade nella como en-
leada ; c bem folgara eu de ouvir o que
tu alli cantaste, mas ainda terei outro
tempo em que te naõ valha escnza. »
Francisco Rodrigues Ix)bo, Primaveras,
pag. 254.
— Exposição de tazões, factos, ou di-
reito, requerimento ao rei, ou a supe-
rior. — «Jlas esta resposta se desfaz,
como névoa ii vista do Sol, com a ley. e
razaõ da representação, que já discuti-
mos. II. C'ontra a segunda. Admito, que
podia Portugal hazer ley, que e^trangc-
ros nii le bordassem : mas niego, que la
hizo. v lo prucvo com exonplo de la Rev-
na de Castilla Dona Beatriz, hija union
dolRey de Portugal D. Hernando. » Arte
de furtar, cap. Ití.
— Tíirmo forense. O direito de repre-
sentar algunia pessoa, o usar do direito
que lhe competia. — «Segunda, jwr fal-
ta da representação, que h<'> bc admitte
nos descendentes immediatos do primeiro
gráo, e elle era já bisneto delKey L).
Matioel, em comparai/aõ da Senhora iJo-
^na Catharina, (jue era neta pela mesma
linha do Infante D. Duarte.» Arte de
furtar, cap. KJ.
— Representação naciwuxl; corpo de
deputados de uma naçSo rcunidoB em
cortes.
REPRESENTADO, j>arf. jjftês. de Repre-
sentar. — «Cuidar (|Ut! eiu mim nâo l»a-
via as qualidades, que cumprem aoi Go-
vernadores, mas porque nunca fui tâo
esquecido de minha honra, nem tilo min-
guado d(; juizo, que nào tivesse sempre
representado diante de mim, que onde
tão honrados Capitães...» Diogo de (Jouto,
Década 3, liv. ti, caji. 7. — «Ouve tam-
bém outras três ou quatro comedias ao
modo desta, representadas por molhcres
moças muyto nobres com tanto apparato,
primor, e riqueza, e com tanta jn-rfeiçaõ
em tudo que os olhos não desejavão de
vêr mais.» Fernão Mendes Pinto, Pere-
grinações, cap. Iti;'). — «Acabado isto
ouve huma comedia representada jjor do-
ze molheres muyto fL-rmosas, e muyto
bem vestidas, na qual veyo huma filha
de hum Rey atravessada na boca de hara
peixe, que despois aly em publico pe-
rante todos foy engulida do mesmo pei-
xe, o que vendo as doze, se foraõ com
muyta pressa e muytas lagrimas fugindo
para huma hermida que estava ao pé de
hum.i serra, donde tomarão com hum er-
mitão cimisigo.í Ibidem.
REPRESENTADOR, .«. m. (Do thema
representa, do representar, com o suf-
fixo «dór" . '• que representa.
REPRESENTANTE, u-lj. 2 gan. iPart.
act. de Representar!. A pessoa que re-
presenta no theatro.
— O que representa, e faz as vezes
de ontrem, e por elles obra e requer o
que é seu direito e razão.
— Doputadii da naçào.
REPRESENTAR, v. a. e n. (Do latim
reprívsentarei. Parecer, semelhar. — «Se-
ria oste Rey de trinta o cinco annos de
idade, na condição manso, como todos o
gabauão, de rostro alegre, na pratica
grane, nos moneos modesto ; e finalmen-
te pêra representar hum Principe per-
fevto, sò lho faltava o nome de verda-
devro Christ.^io.» Fr. dasjwr de S. Ber-
nardino, Itinerário da índia, cap. 6.
— Descrever, imitando alguns • obje-
ctos com palavras, tintas ou figuras. —
«E quanto gosto tinha de dizer isto tan-
to lhe aborrecia comer, e todalas cousas
de folgar, e prazer, que Diogo Fernan-
des, e Poro d.Vlpoom lhe representavam,
por lhe verem enfraquecer muito os es-
píritos, assi com a enfermidade como com
REPR
REPR
REPR
221
as novas que lhe deram, esperando elle
outras cousas de seu galardão.» BaiTOs,
Década 2, liv. 10, cap. 8.
O teu Sermaõ ao vivo representa
Da morte o desengano : c era cordura,
Que a amboâ nos lembrasse esta tormenta.
ABBADE DE JAZESTE, POESIAS, tOm. 2, pag. 49
(ediç. 1787).
— Declarar, informar, referir.
— Fazer vèr. — «Que em elle dizer
isto compria com a obrigação que lhe de-
uia, que era representar lhe as cousas
de seu seruico : que alem do seu deuia
tomar parecer doutras pessoas, apon-
tando lhe logo em alguns seuí5 ofiiciaes
que elle Catual sabia jà estarem da
parte dos Mouros, cà pelo testemunho
destes iicauaõ suas palauras com maior
fé.» Barros, Década 1, liv. 4, cap. 9.
— Recitar em theatro. — Hoje repre-
senta a Emilia das Neves a Medêa.
— Fazer as vezes d'alguem.
Vês o Conde Dom Pedro, que sustenta
Dous cercos contra toda a Barbaria ?
Vês outro Conde está, que representa
Em terra Marte, em forças, c ousadia?
De poder defender se não contenta
Alcacero da ingente companhia ;
^fas do seu Bei defende a chara ^ida,
Pondo por muro a sua, alli perdida.
cAji., Lus.. cant. 8, est. 38.
— «A sua magestade represento, que
importará ainda para seu serviço, que os
d'esta qualidade se premêem como mere-
cem, para que haja quem continue o que
D. Pedro tem começado ; e que venha
8ucceder-lhe tal pessoa, que nào desman-
che o que com tão bom zelo e com tào
bons trabalhos se vae fazendo.» Padre
António Vieira, Cartas, n." 19. — An-
da3 na sua terra matando caens, e es-
crevem a seu tempo ao amigo, que os
approvem lá na matricula, representan-
do suas iiguras, e nomes : e daqui vem
as sentenças lastimosas, que cada dia
vemos dar a Julgadores, que naõ sabem
qual é a sua maõ direita, mais que para
embeiçarem com ella espórtulas, e orde-
nados, como se foraõ Bartholos, e Covas-
Rubias.» Arte de furtar, cap. 32.
— Fazer tigura pela sua posição, re-
presentação, dignidade, graduação.
— Manifestar no exterior os sentimen-
tos de affecto de que se está possuído.
— Mostrar, indicar, significar. — « E
derredor de cada um destes meninos vão
seis moços até quinze annos com maças
de prata, de mane\Ta que não ha pessoa
que isto veja, que por uma parte lhe nào
tremão as carnes de medo, e por outra
não fique pasmado da grandeza e mages-
tade que isto representa.» Fernão Men-
des Pinto, Peregrinações, cap. lOG.
Nem tiuha ainda chegado bem ao meio
Do arrebatado seu curso ligeiro.
Quando da parte lá de fora veio
Da fortaleza aquello mão Faleiro,
No trajo, o na arte ja de todo alheio
Do que representando hia primeiro,
De brocadilho ornado, e de grãa fina,
Cortados á feição que o Turco ensina-.
F. d'asdr.adb, pbiheieo cerco de DIU, cant. 15,
est. 17.
— « E assim este.«, e aquelles (como
comediantes) cada qual em seus trajes
próprios, se recolham a sua própria casa,
que Vem a ser a sepidtura, donde cada
qual vay então só com o cabedal, que
lhe deu a natureza, despindo os faustos,
as tramojas, com que para representa-
rem suas figuras, os adornou a ambição,
com a soberba.» Francisco Manoel dé
Mello, Apologos dialogaes, pag. 30. —
« Uma árvore tinha por baixo um A .
uma Besta tinha por baixo um B. et sic
de cceteris até ao Z, que tinha por cima
um Zodíaco, a que nijs chamávamos Z
pandeiro, pela miiita parecença que com
o pandeiro tinha ; pois que até os doze
signos nos representavão as soalhas.»
Francisco Manoel do Nascimento, Fa-
bulas de Lafontaine, liv. 1, cap. 14,
— Paris, e naõ Pariz. diz o letreiro,
(Circunspecto lhe volve o Padre Mestre)
Nem Francez, como crê. Cabelleirciro,
A personagem foi, que representa:
Mas em Trova nasceo de estirpe regia.
DISIZ DA CRUZ, HTSSOPE, Cant. 5.
— « Fernando iii ordenou que se fi-
zesse uma medalha deste ouro Philoso-
phico, a qual representa de huma parte
hum Moço nú com hum sol em lugar de
cabeça, tendo na mão direyta huma Lv-
ra, e na esquer.la hum Caduceo com es-
ta letra.» Cavalleiro de Oliveira, Cartas,
liv. 3, n." 8.
— Afigurar-se á imaginação, á phan-
tasia; apresentar-se a^iS olhos. — ■ a E au-
tes que a alva esclarecesse, mandando
enfrear seu cavallo se tornou a seu cami-
nho, desejoso de se vêr já na corte do
imperador seu avô, e passar poios medos,
que lhe o amor representava. Porque
quando elles são grandes, passal-os de-
pressa os faz parecer menos.» Francis-
co de Moraes, Palmeirim de Inglaterra,
cap. 76. — «Ao pé d'um daquelles frei-
xos estava lançado um cavalleiro grande
de corpo, sem outra nenhuma companhia,
porque seu escudeiro sempre nos lugares
solitários o apartava de si, pêra maior
contemplação das cousas, que naquelles
dias lhe representava a memoria.» Ibi-
dem, cap. 87. — «Antre algumas pala-
vras, que a dor, e ira lhe representa-
vam, começou dizer: Xào sei pêra que é
crer na ajuda de tão fracos valedores
como são estes deuses vãos, em que té-
gora cri, pois sua potencia é pêra tão
pouco, que não pode resistir a tão gran-
des acontecimentos, como é vêr destruída
força de meus irmãos Calfurnio e Cam-
boldão por mào de tào fraca cousa como
é um só cavalleiro.» Ibidem, cap. 107. —
«E se a ventura consentir que sejam
más, torna-te a Constantinopla, e dize á
senhora Polinarda, que ainda que com
perder a vida se segurassem meus tra-
balhos, não recebo nisso gloria que o
meu verdadeiro contentamento nào con-
sistia em mais que na lembrança de os
passar por elia, e com este desbaratava
todolos receios, que o amor e o tempo
me representavam : mas agora que a mor-
te me privou do bem que minha vida me
dava, não sei que descanço me tique, que
me faça descançado.» Ibidem, cap. llõ.
— « Tudo isto parecia pouco a quem mais
estima as cousas conformes a seu desejo,
do que cobiça thesouros d'outra qualida-
de; que em torno da casa no alto das
paredes, onde a livraria não chegava, es-
tavam imagens de vulto tiradas ao na-
tural das outras, que alli se represen-
tavam, que eram as mulheres mais assi-
nadas em foi-mosura e parecer, que té
aquelle tempo houvera no mundo.» Ibi-
dem, cap. 120. — «Porém representa-me a
memoria ser vencido em vos.-a corte : a
quebra que n'ella recebi: sobretudo pêra
mais ter que sentir vi nella a princeza
Targiana furtada de vosso neto, o caval-
leiro do Salvage, que sendo caso tanto
pêra castigar, nunca valeu razão, nem
justas amoestaçoes offerecidas polo turco,
pedindo-vos que fizésseis justiça delle,
ou lh'o entregásseis pêra se fazer em sua
corte; antes n'isso negastes o direito que
costumaes guardar a todos, não tão so-
mente desprezando quem vol-o pedia, mas
ainda ouvindo quasi por escarneo as em-
baixadas que sobre isso vos deram.»' Ibi-
dem, cap. 131. — «E tiquey fora de al-
guns rfceyos que antes se me represen-
tavão pelo pouco conhecimento que até
então tinha desta gente, e me mandou
dar duzentos taeis para o caminho, cos
quais me fiz prestes o mais depressa que
pude, e nos partimos o Fingendono e eu
em huma embarcação de remo a que elles
chamào funce.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 135. — «A.ssi que a
prymeira cousa em ordem, que no enten-
dimento de Deos se representou fov seu
filho homem e por elle como por hum re-
trato fez e tirou os outros: E antre ou-
tras rezõens que para isto pode auer, a
que se me amym representa mais pró-
pria, he que como sabia os peccados que
no mundo auia de auer, e as misérias e
perigos em que os homens auiâo de cair,
quis antes que os criasse tratar do remé-
dio delles, o qual foy fazellos à imagem
de seu filho unigénito, por cujos mereci-
mentos se auia de remedear o mundo,
para que ella tiuesse mais força para o
prouocar a misericórdia, que os peccados
222
IIEPR
a ira o iiiJinaçilo.» Diogo Paiva iVAn-
drade, Sermões, imit. 1, paf,'. '22'.i. —
« Aborruuido ja dci andar cin »U9))Ciisrios
e incertezas, doliborei-nic ir á Sicilia,
para onde me liaviauí dieto qiio os vonto.s
o tinham lançado; desifínio a quo, por
temonirio, .se ojipiinlia o nublo Mentor,
aqui presente: representa-me d'unia par-
to o.s (Jyelopo-», pKaiitrs nionHtruo.sos (pie
trap;am os liumanos.u Telemaco, traduc-
\'!lo de Manoel do Sousa, e Francisco
Manoel do Nascimento, liv. 1.
— Sor imafíom, symbolo, emblema de
outra ])essr);i ou cdusa, parecor-so-lhc.
REPRESENTATIVO, adj. (Do latim re-
presentntu.i, com o suffixo «ivo»). Que
tem a virtude do representar. — Os em-
baixadores tem o cdi-acler representativo.
— Palavras representativas '/t ntíxeria
de quem falia. — Os deputados são re-
presentativos da narài).
— Esjiecie, ima(/ein representativa; es-
pécie, imafrem typica.
— Governo representativo; governo se-
gundo o qual a nação nomeia represen-
tantes encarregados de concorrer ;l for-
mnçílo das leis e de votar o imposto.
— Assembleia representativa; assem-
bleia composta de reprcseutuntes.
— Substantivamente : O representati-
vo ; o que representa.
— Figura, in\agoni.
— Particularmente : (J governo ropre-
seiítativ".
REPRESENTAVEL, adj. 2 gen. Susce-
ptível de ser representado, que podo ser
representado. — Deus é reprensentavel
2ior mei^ tia hóstia.
REPRESO, adj. (Do re, e preso). Que
ó preso pela segunda vez, novamente.
— Que ó preso depois de ter fugido
da prisilio onde se adiava.
— Por extensão : Detido, embargado
om represália.
REPRESSÃO, s. f. (Do latim repressio,
de /•(fyj/i jísKí, part. pass. de reprimere).
Aeeào de reprimir. — A repressão dos
almsos.
REPRESSIVO, adj. (Do latim rcpressus,
part. pass. de reprimere, com o suffixo
«ivo»). Qiic tem o poder de reprimir.
— Leis repressivas. — O espirito repres-
sivo dos antigos tempos.
REPRICA, s. /. Forma antiga e popu-
lar de Replica. — « Setembro deste anno
tíirnou el lley a mandar o dito Rey de
Pina ós lleys de Ca^tella, que estauam
no Mosteiro de nossa Sonliora de Cuiado-
lupo, com respostas e repricas da embai-
xada a (|ne o Barão fora. Apertando com
rezBes muy ouidcntes, e com fundamento
de mais amizades, o amor entro elles, e
que as terçarias todauia se mudassem,
ou desfizessem, e também que acerca da
excellente senhora n.ío requei"essem mais
nouidades, nem estreltezas das que acer-
ca delia erão ja concruydas, assi por n.MÍo
parecer que as pazes e ccjisas passadas
REPR
cntrellcs não forSo feitas cora aquella fir-
meza que deuião, c também porque da
maneyra cm que ellas oatauào seria bem,
c sossego, c asui Hcgui-o do liuma parto e
da outra.» (iarcia de liezende, Chronioa
de D. João II, c.ip. iiõ.
REPRICAR, f. a. Antiga forma do Re-
plicar.
f REPRIMIDO, iHirt. pass. de Repri-
mir.
Poróm tio cheios ja todoâ nndavão
D'liiiin aceso furor não reprimulo,
C^uo iicra polo Uoiuiugo ja osi)cravão
Ncin aor-lhes do Sil-vcira concedido,
Mas em iiualriucr logar (juc su topavâo
()u fosse descubcrto, ou escondido,
(,!uaos'|uer que orào então, hc accoinmettiSo
Com armas que alli so offcreciáo.
lUAXCISCO DU AIIDnA.DB, PUIUHIBO CUBCO 1>H DIU,
cant. IO, est. -G.
REPRIMIDOR, A, adj. (De reprime,
thema de reprimir, com o suHixo ador»).
Que reprime.
— Suijstantivamèute: U, a que repri-
me. — Reprimidores de motins.
REPRIMIR, V. a. (Do latim reprimere;
de re, e premerei. Conter o etieito, a
marcha d'uma cousa. — Reprimir o des-
envolvimento d'um tumor.
— Diz-se das cousas que fazem uma
acção semelhante.
Nem foi isto escondido i imiga gente
Que mais de mil lhe tem direita a fronte,
K qual soe o libré que o touro sente,
Ou seiite o javaly correr no monte,
Salta de cá e de lá, feroz e ardente
Por ferrar o animal (jue tem defronte,
Mas rejiriíne-o a tosa c dura trella,
E o astuto ca(,-ador que affcrra uelia.
FBAKCISCO d'aNDB.VDE, PUIMKIUO CEllCO DE DIU,
caut. n, est. 00.
— Conter, não deixar transparecer,
revelar-se exteriormente.
— Impedir que se faça mal com amea-
ça ou castigo. — Reprimir os revoltosos.
— Reprimir-se, v. rejl. Couter-se, mo-
derar-se.
— Ser contido.
— Parar, detor-sc. = Pouco usado e de
mau emprego neste ultimo sentido.
reprimível, adj. 2 tjen. ^Do reprime,
thema de reprimir, com o suffixo «ivel»).
Que pi)de, deve .ser reprimido.
RÉPROBA... As palavras começando
por Réproba..., busquem-se com Repro-
va...
RÉPROBO, adj. c s. (Do latim repro-
Ous, de reprobare; vid. Reprovar "i. Con-
demnado por Deus ás penas eternas. —
Os réprobos e os escolhidos.
— ilalvado. *
— Coudemnado pela sociedade como
malvado.
REPROCHADO, part. pass. de Repro-
char.— ressoa reprochada. — Cousa re-
prochada.
UEPU
REPROCHAR, v. a. (l)u francez repr</-
dier, lic.-jjunhol repruc/utr. U he«pauhol
provém muito provavelmente du francess
e o portuguez tanibcm d'eiite, quer dire-
ctamente, quer por intermédio do besjja-
nhol^. Objectar a alguém uma cousa, ou
censurável ou dr.-sairosa.
— D. Fiei Francisco do S. Luiz, no
seu Glossário de termos, etc, introduzi-
dos do francez, eondemna o uso d'esta pa-
lavra como gallicismo; elia está hoje fora
d'u.-o, mas o seu emprego {xxler-fie-hia
defender com o facto <í'ella ter sido ap-
plieada já no seenln .\v por Azurara, no
Cancioneiro de Rezende, etc.
REPROCHE, s. w. 'Do francez repro-
c/tet. <) (pie se diz a uma pessoa para a
censurar, para a criticar.
— tíem reproche; em que nada piíde
ser censurado.
— Loc. ADV. : Hem reproche ; sem
pretender fazer reproche.
REPRODUCÇÃO, 8. /. (De re, e pro-
ducção . Aer.H(j de reproduzir. — A re-
producção das idêas.
— Acção pela qual os corpos organisa-
dos, animaes e vegetaes, produzem seres ■
semelhantes a si, seja qual fír o modo 1
por que essa acção se exerça. — A repro- ■
ducção natural das plantas por mtio xUu
sementis,
— Diz-se tambcm dos meios artificiaes
pelos quacs se multiplicam os vegetaes.
— Os eiijvrtos, as mergulhias são meios
d<- reproducção.
— Partes que succedem, se criam em
substituição das que foram arrancadas,
ou mutiladas.
— Acção pela qual se conserva na in-
dustria, na agricultura a somma dos va-
lores, c se reproduz o que foi consum- m
niido. \
— Acção de reproduzir, do publicar
segunda voz por contrafacção, ou doutro
modo. um livro, uma obra d'arte.
REPRODUCTIVEL, adj. 2 gau Vid. Re-
produzível.
REPRODUCTIVO, adj. (Do latim re, e
p/roductus. part. pass. de producere, pro-
duzir». Que produz de novo. — As forqas
reproductivas da natureza.
REPRODUZIR, f. a. (De re, e prndu-
Cf'?-( . l'roduzir de novo. — Reproduzir
plantas por sementeira, de mergulhia, de
enj:erto.
— Apresentar de novo, mostrar de
novo.
IVncficios 8cm numero, que scuiprc
Vejo reproduzir, porque lhe demos
O nosso coraijfto, o amor, o incenso:
Urafartc os vastos campos fortiliza
Porque ás fadigas dos mortacs rcápondâo.
1. 1.. DK UACl^DO, A NAIUBKZA, C4Ult. 3.
— Imprimir n'uma publicação cm toda
ou cm p.arte uma publicaç-ào anterior. ^
— Reproduzir-se, r. reJl. Pirpetuar-se
REPR
REPR
REPT
223
por geração. — Os animnes de differentes
espécies não se reproduzem ; para haver
reproducção ó mister que o macho e a
fêmea sejam da mesma espécie.
— Ser produzido, creado de novo.
— Ser apresentado, mostrar-sede novo.
Oh imagem feliz, qu"inda hoje p6de
Eeprodtizir-se em solitária Aldêa
Do inculto Senegal, qu* cu roubo ousado
Do mudo esquecimento ás sombras frias.
J. A.. DE UÀCEDO, A MATUBBZA, Caut. 2.
reproduzível, adj. 2 gen. (De re-
produzir . Que se pôde reproduzir, sus-
ceptivel de sor reproduzido.
REPROFUNDAR, v. a. (De re, e pro-
fundar). Termo didáctico. Tornar a pro-
fundar.
REPROMETTER, v. a. (De re, e pro-
metteri. Prometter de novo; tornar a
promctter : prometter varias vezes.
REPROMISSÃO, s. f. (Do latim repro-
missio, de re, e promittere, prometter).
Promessa reciproca, mutua.
— Promessa reiterada, repetida.
REPROVA, s. /. (Contracção de Repro-
vação, segundo Moraes, que ignorava
completamente que d'um verbo se deriva
immediatamente um substantivo verbal
sem suffixo, como estima de estimar, pio
de piar, etc. ; assim reprova de repro-
var). Rejeição, reprovação. — Reprova de
testemunhas, de provas, de atfenuantes.
REPROVAÇÃO, s. f. (Do latim rejjro-
batio, de reprobare, reprovar; vid. Re-
provar i. Acção de reprovar. — A repro-
vação dos examinandos.
— Particularmente : Juizo dado por
Deus de toda a eti^rnidade contra os pec-
cadores que morrerem impenitentes.
— Simplesmente : Censura severa. —
Merece a reprovação dos homem hcmra-
dos.
REPROVADAMENTE, adv. Com repro-
vação.
REPROVADO, part. pass. de Reprovar.
Rejeitado, condemnado. — -Estas idms são
reprovadas pela opinião piihlica.
— Substiintivamente: O que é rejei-
tado pela sociedade como os parias.
— Particularmente : Rejeitado de Deus.
— 8. m. O que é destinado ás penas
eternas ; réprobo.
Abel Bic disse : Confusão tão nova
Bem he que n'alma tal cffeito obrasse,
Que fazendo da dor inteira prova
De lagrimas a ^-ida sustentasse ;
Resta sc5 que te diga como a cova
Que aqui nos trouxe se communicasse
C'os logares A pena repartidos
Para esses reprovados, e escolhidos.
BOLiM DE Mona.^, Nov. DO HOMEM, caut. 3
est. 63.
REPROVADOR, A, adj. e s. Que re-
prova.
REPROVAR, V. a. (Do latim reprobare,
de re, e probare). Não approvar; rejei-
tar.
Eu digo, senhor, que não
que lh'o quero reprovar,
e amostrar.
AXTOSIO PRESTES, AUTOS, pag. 423.
Hei-o por bom tão jocundo
que dcs agoro me fíindo
reprovar quem mo provar,
que fica ao mundo que dar,
pois me cm vós dão todo mimdo.
N'isso nada me ganhaes.
IBIDEM, pag. Ití3.
Não move hoje arreceio aquelles peitos
Que nunca a mesma morto an-eccárào.
Mas por justas rasões, justos respeitos
Defender a Cidade reprovarão.
Somente, aquelles são illustres feitos,
Aquelles seu autlior somente honrarão
Que a rasào e a prudência tem por guia.
Não huma temerária valentia.
F. d'asdrade, pbimeibo cebco de DIU, cant. 11,
est. ÕO.
— ■ «Tendo o Governador recolhido na
Fortaleza já todos os soldados, achou so-
bre acometter o inimigo opiniões diver-
sas ; e como as razões de huns, e outros
cahião sobre a contingência do snccesso
não se podia escolher, nem reprovar, sem
o conhecimento do futiu-o a todas escon-
dido.» Jacintho Freire de Andrade, Vida
de D. João de Castro, liv. 3. — «Orde-
nou-se a partida cora grande repugnância
dos Fidalgos antigos, que tinhaõ expe-
riência das cousas da guerra, e muito
applauso dos que viaõ agradar-se el Rei
de suas confianças, e abonações, mas já
se faziaõ de modo, que se deixava vêr
nelles uma tristeza manifesta, porque nun-
ca se persuadirão, que a jornada viesse a
effeito, nem se executassem seus conse-
lhos, mas quando já viraõ o fructo delles
dissimulavaõ com sua magoa naõ se atre-
vendo a reprovar, o que elles próprios
tinhaõ ordenado.» Fr. Bernardo de Brito,
Elogios dos reis de Portugal, continua-
dos por D. José Barbosa. — «Entre tan-
tas qualidades de um grande capitão,
é accusado de cuidar mais em ganhar ba-
talhas, ainda que sem consequência do
que em conservar as tropas por occasiões
de maior utilidade. E também lhe repro-
vam ter o coração tão endurecido nas
crueldades, que nenhuma o move á com-
paixão.» Bispo do Grão Pará, Memorias,
publicadas por Camillo Castello Branco,
pag. 18. — «O dictame, e acordo de hum
Rev vale mais que mil alhevos, não re-
provo conselhos : anteponho 'o do Rev a
todos, porque he menos arriscado a erros:
esta resolução para mim he evidente.»
Arte de ^furtar, cap. 4õ.— «Xào lhe pa-
reça a V. M. que eu reprovo, ou que cri-
tico a Ortographia que V. JI. determina
aos nossos filhos; eu a venero, e elles a
devem respeitar só porque he sua.» Ca-
v,illeiro d'01iveira. Cartas, liv. 1, n.° 7.
— Termo de theologia. Condemnar ás
penas eternas.
REPROVÁVEL, adj. (Do thema reprova,
de reprovar, com o sufiixo «avel»j. Que
merece ser reprovado.
REPROVIR, V. n. (De re, e provir).
Tornar a provir. = Pouco usado.
REPRUIR, V. a. (De re, e pruir). Tor-
nar a pruir.
— Coçar brandamente ; fazer cócegas
brandas.
— Figuradamente: Lisonjear.
— V. n. Estar em estado de comichão.
— Figuradamente : Estar concupiscen-
te, luxurioso. — Quando ha remoqamento
nos velhos reprue-lhe a carne.
1 REPTAÇÃO, s. f. (Do latim reptatio,
de reptare, frequenta tivo de repere; vid.
Reptil I. Termo didáctico. Acção de arras-
tar-se.
j REPTADO, part. pass. de Reptar.
Accu-ado de desleal, aleivoso ao rei.
REPTADOR, .?. m. O que repta.
REPTAMEKTO, s. vi. (Do thema repta,
de reptar, com o sufiBxo «mento»). Acção
de reptar.
REPTANTE, adj. 2 gen. (Do latim re-
ptans, part. act. de reptare, frequenta-
tivo de repere; vid. Reptil). Reptil, re-
ptilia.
REPTAR, V. a. (Do latim reptare; vid.
Reptação . Accusar fidalgo ou cavalleiro
perante o rei por desleal, aleivoso, trai-
dor á sua real pessoa e estado, oíFerecen-
do-se a provar a accusação em juizo ou
por meio de duello.
REPTIL, adj. (Do latim reptilis, de re-
ptus, part. pass. de repere, arrastar-se).
Que se arrasta, rasteja. — /níecfo reptil.
— aS', m. Xa linguagem commum, todo
o animal que não tem pés e marcha arras-
tando-se, e todo animal que tem os pés
tão curtos que parece arrastar-se sobre a
barrica.
Desgi-aça ao gado misero que pasce !
O sanhudo Dragão lhe enlaça o corpo,
E c.\hala o Toiu'o os últimos arrancos.
Não sequaz dOptimismo o mal conheço.
Que hediondos reptis na terra espalhão ;
São flageUos da cólera divina.
J. A. DE M.4CED0, MEDITAÇÃO, Caut. 3.
Mais humildes reptis no campo gyrão,
Sem veneno, sem pérfidas ciladas.
Que innocentes nas plantas se apascentão.
!\Iilagre3 são da Eterna Omnipotência.
— Figuradamente : Pessoa que se serve
de meios vis para alcançar seus fins.
— Em zoologia : Animaes vertebrados,
oviparos, de sangue frio, de pulmão ve-
siculoso, que tem um coração d'um ou
dons amiculos, mas sempre d'um só ven-
trículo, divididos em quatro ordens dis-
tictas : 1.* Oaícheledonios: ex. : as tarta-
224
REPII
RE PU
BEFU
rupas; 2.* os saurianos ; ex. : os lagartos;
;i." ort (i|)liiiliu8 ; t;x.: ha serpentes; 4." os
batríicliios ; ex. : a rS.
O (loborbo Quadriiprdn oainpôn
K bato n torra, o curro impotuouo,
O ignorado rrptil acii cor|M> urrustra
('oiii t(irCiioda.'4 voltiiA coinplicadurt,
Levo» iizart dcsprcgão brandas Aves,
E a diverso oloinciito o Corpo cntrpgào.
J. A. DK MACEDO, A NATUBCZA, Cailt. 1.
REPTILIA, .S-. /. Via. Reptil). Animal
roptil. {'mieo iisa'l().
j- REPTILIVORO, «(//. (Do reptil, o do
latim vniare, comeu). Termo do zoolo^íia.
C^iie so alimenta de reptis. — AUjnns re-
ptilivoros sào muito úteis á agricultura.
REPTO, .>.. m. (Vid. Reptar). —Desatio
proposto por quem repta. — «Repto he
hum acciísamonto, quo fazem os tilliodal-
gos, e os cavallieiros hum ao outro per
corte, accusando-o do treiçom, que fez
contra el-rei, o sou real estado.» Ord.
Affons., liv. 1, tit. 04.
— Entrar eni repto ; intentar e provar
a aceusai,ão de traii^'ão. — Desafio, para um
jof^o, uma corrida a vôr qual chega pri-
meiro, uma disputa litteraria.
REPUBLICA, s.f. (Do latim respuòlica\
Estado cuja constituii,'ão c democrata, em
que o povo se governa a si mesmo, quer
immediatamente, quer por seus delega-
dos.
Distinguem-se três espécies de republi-
cas : as aristocracias, nas quaes o gover-
no existe entre as mãos da alta classe dos
cidadãos; as vligarchias, nas quaes o go-
verno existo outro as mãos do menor nu-
mero ; o as democracias, em que a maioria
da nação toma parte no governo. Poder-
se-hia accrescentar a estas republicas as
federativas, compostas de muitos estados,
toudo cada um sua constitui(;ào differente.
— As republicas antigas. — As republicas
iwnlcninn. — A republica roíuana. — .1
republica de Athcitas, de Veneza, (/<? Gc-
iiova, da Suissa. — Estabelecer uma re-
publica. — Formar uma republica. — Dc-
dicar-se j/ela republica. — «Embaixador
foy muito bem recebido de ElRey, que
jurou perante elle as pazes, e as mandou
apregoar por seus Reinos, c lhe fez en-
trega do Embaixador, e Portuguezcs. O
Clovernador entendeo o que faltava do
inverno em algumas cousas do governo
da Republica. » Diogo de Couto, Década
6, liv. 7, cap. 1. — «Nesta cidade, po;-
ordom do Aitao da Bitampiua, que como
ja disse, he o supremo Presidente sobre
todos 03 trinta e dous almirantes dos trin-
ta o dous reynos desta monarchia, ha ses-
senta capitães, trinta do governo da re-
publica desta cidade, e que tom cargo de
a porem por sua ordem, e ouvirem as
partes de sua justiça, c outros trinta para
guarda dos mercadores que vem de f/ira. »
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações, ca-
pitulo 98. — «E 80 alguns por defeito da
naturi-za nâo saiT para ai)reader oilicioH,
também se laes dá outro remédio do vi-
da, conforme á necessidade do cada hum,
HO saõ cegos, rlão a cada atafoneyro que
tem engenlio do milo, tros, dous para
moerem, e hum para peneyrar, e oste hc
o modo que as Republicas tem para jtro-
verem, assi os cegos como os outros ne-
cessitados, i Ibidem, cap. 112. — «Vinhào
também muytos tidalgos e pessoas no-
bres, de muy honrado termo, e modéstia,
sem que ouuessc escândalo, ou dilTeren-
ça alguma, nem inda na gente commúa,
e do couuès : sendo os oftieiaes da niio
também criados, c entendidos que o
menos cm que o pareciào, era nas cou-
sas de sua obrigação, que eorto llio
podia ter cuueja hiima Republica nmy
concertada. D Fr. íiaspar de S. Bernar-
dino, Itinerário da índia, capitulo 1. —
«Isto misce da multidão da gente de Ale-
manha, que por ser muita, cada hum
busca por sua industria, e arte seu me-
lhoramento, e de maneira tem em honra
esta occupaçaõ, que desde o Emperador,
atè o ultimo homem da Republica se pro-
fessa algum officio mecliauico, e se pre-
za muito de fazer obras de maior preço.»
Manoel Severim de Faria, Noticias de
Portugal, Disc. 1, § 1. — o<.>s successo-
res de Alexandre, que podemos dizer fo-
raõ os possuidores da Monarquia Grega,
também se valerão de exércitos grossis-
simos, e a Republica Romana adquirio o
senhorio do mundo, naõ menos com o
grande numero das suas Legioens, que
com sua prudência, e valor.» Ibidem. —
«Porque em huma Republica mais con-
vém (assim para haver muita gente, co-
mo para defensão delia, e bom serviço
do Rey) haver muitos Morgados, e Ca-
sas, que commodamente se possaõ sus-
tentar, que haver poucos, que teuhaõ
cm si muitas Casas destiis, e sejaõ por
isso muito ricos.» Ibidem, § 7. — «Dcu-
Ihes Deos instrumentos para as monda-
rem ; deu-lhes a enxada para arrancar
as hortigas, e abrolhos, deidhes a fou-
ce para cortarem os sylvados, e todas as
malézas ; e ás Republicas nenhum ins-
trumento deu acomodado, nem se quer
hum ancinho, para as podermos mondar,
e alimpar de tantos ladroens, que nos
destroem, o de tantos males, que nos
causaõ sem remédio I » Arte de furtar,
cap. 68. — «Vendo primevro a Republi-
ca quem cscollio para procurar por ella,
e curar delia.» Francisco Manoel de
Mello, Apol. Dial-, pag. 187. — «Está
bem quanto ao entre o Rey, e o Reyno;
mas quanto a huma Republica, sem Pro-
curador, e Curador, como se acomoda-
ria V» Ibidem. — «Republica discursiva, ou
Cidade Vivente na Terra o define enge-
nhosamente o profundo Azoliiío. Nelle,
saõ mármores tundamentaos, os ossos ;
e tantos os Palácios particulares, quan-
tas as oflieiua«, e membros. i Braz Luiz
dAbrou, Portugal medico, pag. ;'), § 8.
— «Mousieur do la llaie \'entel<t residi»
na Porta Ottomaiia com o caracter de
Embayxador da Corte de França. Sendo
accusado em Constantinopla de faser nào
sey que Xegociaç.ío eoui a Republica de
\'ene.-a do interesse de seu Amo.» (.'aval-
leiro de Oliveira, Cartas, liv. '.\. n." •2'.i.
— «Quando se disse que a Republica tinha
sido castrada pela morte de Scipiâo Afri-
cano, jmreceo a idca t.^o vilàa que fui
condomnada a dita Metaphora por Cice-
ro, e depois por Quiutiliano.» Ibidem,
liv. 1, n.° :iO.
Ou liberdade ou morte ! — é voto nnaniiiM
Uo soiiudo. Qomaiius aoioos todon:
K que Romano a discrepar se atreve
I.)c ttia 8c!nteni;a, de teu nobre voto,
O Catão ? Tu es a alma da rrpiMica,
O gcuio que preside a seu di^tino.
OÂBECTT, CATÃO, act. 2, SC. 2.
Um tyranno (•, sem duvida, Oii terra
C) malv:ido maior : loas nem por isso
Te é licito puni-lo. Magistrados
Que o julguem, leis que o punam — com algOMS
Para as executar — tem a republica.
IBIDEM, act. 4, BC. 3.
Deuses, guardaveis-mc inda o trago acerbo
Para a meu corarão I — Fado inimigo,
Ja uào consegues abalar-mc o peito.
Vi desertar da causa da republica
Seus mais strcuuos fautores.
IBIDEM, act. 4, SC. 3:
Os meus soldados
Sào auxiliares teus c da repuUica.
IBIDEM, SC. 4.
— Todo o estado que não é submetti-
do ás leis, qualquer que seja a forma do
seu governo. — aparta com doue rei», e
Roma com dous cuntuU*, eram republi-
cas.
— Os antigos davam este nome aos
estados oligarchicos nos quaes a massa
micioual não tinha poder algum, porque
cUes não reconheciam senão duas espé-
cies de governo, o de um s<i, ou o de
muitos.
— Toma-se algumas vezes por toda a
sorte de estados, de governos. — O des-
prezo das leis é a peste, o jlageílo da re-
publica. — Os Césares destruíram a re-
publica roínaim, mas deixaram subsistir
o nome.
— Figuradamente : A republica das
letras ; os homens de letras, os sábios em
geral, considerados como se formaasem
uma nação. — ^>er conhecido tia republi-
ca das letras.
— Figuradamente : Ê uma peqvêna
republica ; diz-se de uma pequena famí-
lia, de uma communidade, de luna socie-
dade numerosa.
— Tenno de philologia. Republica de
Platão ; obra em que ee conta sua poli-
tica. Nella enumera e classifica ;is di-
REPU
REPU
EEPU
versas termas de governo, e reconhece
ciuco iVellas : a aristocracia, a. democra-
cia, a oligarchia, a temocracia ou gover-
no dos ambiciosos, e a tvrannia. É á pri-
meira que elle dá a preferencia.
REPUBLICANISMO, s. m. AíFectação de
opiniões republicanas. — O republicanis-
mo de mintas j^essoas não ê senàu um vio-
lento amor do domínio exercido em nome
da pátria.
— Opinião, qualidade, virtude de um
republicano. — O republicanismo é inse-
parável das virtudes ; só piide subsistir
nas nações agrieolas. — O verdadeiro
republicanismo nào existe na forma do
goverr.o, mas nos respeitos dos direitos
nacionaes particulares.
REPUBLICANO, A, adj. Da republica,
que pertence á republica. ■ — Governo
republicano. — Forma republicana. —
Coniítitinção republicana.
— Que favorece o governo republica-
no. — Ahna republicana. — Espirito re-
publicano. — Máximas republicanas.
— Substantivamente : Pessoa apaixo-
nada do governo republicano. — Gran-
de republicano. — Verdadeiro republica-
no. — Republicano austero, fogoso. — O
verdadeiro republicano nào deve ter ou-
tros senhores senào a Deus, a lei e as
necessidades.
Mas a9 bênçãos d'um povo agradecido
São melodia de suavca notas
Que por eras e eras se prolonga
A"3 gerações por vir. Um rei eomo este,
Dae-lhe3 um rei como João segundo ;
E esquecido o tenaz republicano
Do Brutos e Catões, ajoelha ao sceptro.
GABBETT, CAMÕES, cant. 8, cap. 9.
REPUBLICIDA, s. 2 gen. Destruidor de
uma republica, de um governo republi-
cano.
t REPUBLICISMO, s. m. Emprega-se
como syuonymo de Republicanismo.
REPÚBLICO, A, adj. e s. Zeloso do bem
publico.
7 REPUBLICOLA, s. 2 gen. Termo de
politica. Membro de uma republica.
7 REPUBRICA, s. /. Antiga forma de
Republica. — «E daqui hé (diz o mesmo
autor I que para se mostrar que a estra-
da por onde os homens caminhão a to-
das as cousas boas, saõ esperanças : na
lingoa Caldea o próprio nome Enos, que
significa homem, significa esperança, por-
que não se pôde chamar o que nào riue
d'e5perança nem repubrica de homens a
que senào sustenta e gouema com espe-
ranças, de que se ha de fazer muvta
prouisaõ.B Paiva de Andrade, Sermões.
REPUDIAÇÃO, s. f. (Do latim repudia-
'íVi. Acção de repudiar uma successào,
de a renunciar.
— Recusa de uma mulher com quem
se vivia unido. — ã repudiação é em ge-
ral permiftida em todos os povos não chris-
tãos.
voL. V. — 29.
REPUDIADO, pa)•^ jmss. de Repudiar.
Olímpias aqui cstaua repudiada
Do grão Philipo Rcy da Macedónia
Ca?ado com Cleópatra, e por Pausanias
Da geração de Orestes, alli morto.
Tàbem sogro, c molher que descuidados
Xas adulteras vodas so mostrauào
Estaua aqui huma alta forca, o nella
Tinha esse matador coroa de ouro.
COBTE KE.U., NACFBAGIO DE SEPCLVEDA , Cant. 3.
Mulher repudiada por
E uma doutrina
— Rejeitado
seu marido.
— Figuradamente
repudiada geralmente.
REPUDIÁNTE, part. act. de Repudiar.
Que rejeita, que abandona a mulher.
— ò'. 2 gen. Cônjuge que repudia o
outro.
REPUDIAR, r. a. (Do latim repudiarei.
Rejeitar a mulher segundo as £'>rmas le-
gaes. — Os hebreus e os romanos tinham
direito de repudiar suas mulheres em cer-
tos casos. — « Cego Pygmaliào com o vio-
lento amor que lhe tinha, repudiou a rai-
nha Topha, sua esposa ; e so se esmera-
va em satisfazer as paixões da ambicio-
sa Astarbé, cujo amor lhe não era me-
nos fatal, que sua infame cubica.» Fran-
cisco Manoel do Nascimento, Telemaco,
liv. 3.
— Diz-se do marido que faz divorcio
com a mulher.
— Figuradamente : Rejeitar, deixar,
abandonar. — Repudiar seus principios.
— Repudiar sua doutrina. — Repudiar a
crença, a gloria de seus pães.
— Desamparar.
REPUDIO, s. m. iDo latim repudiurn .
Termo de direito romano. Retractaçào
de uma das duas partes, entre os espon-
saes e a celebração do casamento.
— A acção de repudiar a mulher, de
se divorciar, de se desquitar d'ella, dis-
solvendo o casamento como era uso en-
tre os romanos e judeus.
— Acção de rejeitar com desprezo.
— Desdém, esquivança.
— Stx. : Repudio, divorcio. Vid. este
ultimo termo.
REPUGNADO, part. pass. de Repugnar.
Impugnado, resistido com razões. Vid.
Impugnado. — Casamento repugnado.
REPUGNADOR, A, adj. De repugnar,
com o sufSxo «dor»'. Que peleja, resis-
tindo contra o que accommetteu.
— Que refusa com esquivança.
— Que sente repugnância, que resiste,
que faz difficuldade.
— ■ Usa-se também substantivamente.
REPUGNÂNCIA, s. f. «Do latim repu-
gnantia^. Espécie de aversão por alguém,
por alguma cousa. — Ter uma gi-ande re-
pugnância em tomar este, ou aquelle par-
tido; ter grande repugnância n'isso. —
Vencer uma repugnância. — Consentir
numa cousa com repugnância. — Ter re-
pugnância para casar-se. — Insjpirar re-
pugnância. — • Um sentimento de repugnân-
cia. — A própria piedade tem suas repu-
gnancias e seus desgostos.
— Objecções, obstáculos, estoi-vos.
Cahe o assento também, que em si encerra
O Silveira, e a parede lá da estancia
Do Sousa Lopo, vera também a terra,
Sam poder o canhão ter repttgnancia ;
Ordena apoz isto hum ardil de guerra
Que derrube a Christãa dura coastancia
O Turco, que co'a força não se atreve.
Mas este Canto he ja m<5r do que deve.
FEA>XISCO DE ASDBADE, PBIiEEIBO CEBCO DE DIT,
cant. 18, est. 107.
— Contrariedade nas leis.
— Antipathias, opposições, contrarie-
dades.
— Incompatibilidade.
— Syx. : Repugnância, antipathia. Vid.
este ultimo termo.
REPUGNANTE, part. act. de Repugnar.
Que repugna. — ■ Comida repugnante.
— Contrario, opposto. — Proposição
repugnante á razão, d lei.
— Os ventos repugnantes ; os ventos
que resistem contra.
Ao grande Eolo mandam já recado
Da part« do Neptuno, — que sem conto
Solto as fúrias dos ventos repugnantes,
Que nào haja no mar mais navegantes.
CAM., Lcs., cant, tí, est. 35.
— Ajustar cousas repugnantes ; ajus-
tar cousas incompativeis, inconsistentes
umas com as outras.
— Diz-se também qualidades repu-
gnantes.
— Sizanias repugnantes ; sizanias que
excitam dissensões, discórdias.
REPUGNAR, V. a. (Do latim repugna-
re). Ser mais ou menos opposto, con-
trario. — Esta nova proposição repugna
á primeira. — Estas cousas repugnam
umas ás outras. — • Sua vida repugna
d sua doutrina. — Isso repugna ao senso
comnuDU, repugna á religião christã. —
Isso repugna aos principios da mechani-
ca. — o Cuidarmos, que toda a gloria he
como esta, e que naõ ha outra, será en-
gano, que até ao lume natural repugna;
porque a grandeza, constância, e formo-
sura do Ceo nos testemunha, e assegura,
que ha outra couza melhor, que isto que
cá vemos, e que ha bemaventurança so-
lida, e verdadeira. » Arte de furtar, capi-
tulo 70.
— Experimentar um sentimento de re-
pugnância. • — • Meu gosto repugna-lhe,
— Resistir, sentir repugnância, não
acquiescer. — «Apeámo-nos no Palácio
Egalité, onde fizemos quantiosas compras,
e de lá fomos ás lóges de Le Roy, e des-
sa demoisella Despeaux em quem na vés-
pera me fallárão; e de lóge em lóçe, e
sempre comprando, empregámos quatro
horas boas. Não, que eu me desse por
220
IIKPU
REPU
HEPU
mui s.itinfcita cm mou interior do que
mo iuclinavào a fiizor; inaj não me Hcn-
tia com fôri;!i, iioiii com vontailo bem de-
clarada (lo repugnar.» Francisco Manoel
do Nas(-iinoiiti>, Suocessos de Madame de
Seneterre.
— Causar, Ins]>irar repugnância. —
Este homilia repugna. — Eata mulher re-
pugna-rae.
— Repugnar uma cousa com outra; não
Bo conformar, não acquicsccr.
— Repugnar aos appetites. Vid. Repu-
nhar.
— Repugnar-se, v. rcjl. Resistir a si
mesmo, c ordinariamente ás suas más
afFeiçõcs.
— Sor contrario a si mesmo.
— Pensar, crôr n'unia cousa, c obrar
outra.
• — V. a. Pelejar, resistimlo contra o
quo aceommettcu. — «E por isso o princi-
pal exorcicio deste sagrado tempo ha do
ser repugnar, contrariar, e quebrantar
nossas más inclinações, o desejos, c a
este intento se cnderença a doutrina que
a Sancta ]\[adre Igreja vos dá neste Do-
mingo, trabalhando de esforçar, e acen-
der nossos corações a pelejar fortemente
esta celestial |>cloja atoe alcãçar vieto-
ria.» Fr. Bartholonieu dos Jlartyres, Ca-
tecismo da doutrina christã.
— Kofasar com esquivança, esquivar,
não querer com resistência.
REPULEGO, .V. VI. Vid. Repolego.
REPULGAR, r. «. Vid. Repolegar.
REPULGO, s. m. Vid. Repolego.
REPULHÃO, s. »!.= Signitioação incer-
ta.
REPULHAR, i'. (í. Em vez do Repullu-
lar.
f REPULLULAÇÃO, s. /. Acção de re-
bentar de novo. — As repullulações sus-
peitas que sobrevem tão frequentemente
no curso da cicatrisação de uma chaga
mais ou menus extensa.
1 REPULLULADO, part. i^dss. de Re-
pullular.
REPULLULAR, v. a. (Do latim repuUu-
larc). Kouasecr em grande quantidade,
brotar de novo. — Os insectos repuUula-
ram durante estes rp-andes calores. — As
más hervas repullulam incessantemente
ii'este jardim.
— Figuradamente : Os erros repullula-
ram depois pouco.
REPULSA, s. /. (Do latim repulsa). A
«vcção de dar repulsa, de negar a alguém
o quo se pode, de lançar de si sem des-
pacho.
— A acção de ropellir, — A repulsa
da injuria.
REPULSÃO, s. /. (Do latim repulsio).
Termo de physica. Força em virtude da
•íjual os corpos ou suas moléculas se re-
pellem mutuamente. — - A atti-accão e a
repulsão. — A repulsão dos corpos elás-
ticos. — A attracção e a repulsão mutua
dos corpos electrisados.
— Repulsão do MUfjnete; propriedade
quo tem um magneto de re|)ollir um ou-
tro magneto, quando se apresentam um
ao outro pelos poios do mc-tnio nome.
— Repulsão eléctrica; propriedade que
tom um corjio actualmente clectrisado,
de rcj)ollir, depois de o ter alterado, os
corjios ligeiros qao se lhes apresentam a
uma certa distancia.
— Repercussão.
— Eniprega-sc também no sentido ti-
gui-ado.
REPULSADO, pari. pass. de Repulsar.
Ri'pi'lliiiii, rejeitado.
REPULSAR, V. a. (Do latim repulsare).
Dar repulsa, negar o que se lhe petlo,
lançar do si sem despacho.
Qiicin liil, que repulsar tács riifjos valha?
(ilicm deslembre o piedoso Zacliarias V
Eu, por amor do Christo vos pcrduo,
Do Cliristo, meu Senhor, c Senhor vosso.
K. M. no NASCIMENTO, 03 MARTVBES, 1ÍV. 9.
— Repulsar o som; reflectir, fazer re-
soar.
— Repellir, rejeitar.
Dizem qu'a forte exhalação da Terra
(.'omsigo aos aros liquides atira,
O Sol a cliaraa, os ares a repulsão,
Da rija coUisào se forma o vento
Mais forte, se lie vapor mais grosso, c denso,
E d'um ténue vapor Zéfiro nasce.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Caut. 2.
REPULSIVO, A, adj. Termo de phvsi-
ca. Que repelle. — Virtude repulsiva. —
Força repulsiva. — Está provado que o
calor ampueuta a forra repulsiva.
— Refraccão repulsiva; diz-se da du-
pla refracção, quando o raio extraordi"-
nario se desvia mais do eixo que o raio
ordinário, e que este está situado entre
elle c o eixo.
REPULSO, part. pass. irreg. de Repul-
sivo. Vid. Repellido.
REPUNAR, f. rt. Vid. Repugnar, termo
profei-ivol.
REPUNHADO, pai-í. pass. de Repunhar.
Vid. Repugnado, tirmo mais em uso.
REPUNHANTE, part. act. de Repunhar.
Vid. Repugnante, termo mais correcto.
REPUNHAR, V. a. Vid. Repugnar, or-
thograpliia preferível.
REPURGAÇÃO, s. /. iDo prefixo re, e
do latim piir,iatio'\. ísova purgação.
— ( ) tornar a purgar.
— Aci.'ào do alimpar.
f REPURGADO, part. pass. de Repur-
gar. Tornado a dar purga.
— Tornado a purgar.
REPURGAR, V. a. (Do latim repurgare).
Purgar do novo, tornar a purgar.
— Tornar a dar purga.
REPUTAÇÃO, .«. /. O renome, estima,
opinião quo o publico tom de uma pes-
soa. — Uma boa reputação. — Uma iná
reputação. — Uma (fraude reputação. —
Uma reputação duvidosa, equivoca, usur-
pada, òril/iftnle, ephimera, — Ter uma
ijraule reputação. — Ter a reputação cie
um /fjmeiíi fran<o e leal. — Um homem
de uma reputação exrellenfe. — Ama-te
mais a grawh reputação <yi<e a boa. —
« Com homens experimenta los na guerra
falo, c da experiência que jiclla tenho
deveis estar bem satibfeitos, sobre o quo
vos ouso aíTirmar com toda coiitiança,
que presteza, e reputação í^duas cousas
do grande poilcr na guerra) scrílo as que
dem venturo.so remate a esta. A quem
não causarii lastima, o que padecem por
meu respeito naquella terra, os que pcr-
severaõ cm ser Icaes? c dilatarfhe hum
SI) dia neste soccorro, seià a multiplicar-
Ihe mais suas misérias.» Honarchia Lusi-
tana, liv. G, cap, 2:'). — € Sentiu Henii-
quc este golpe mais pela reputação <!o
mundo, quo por escrúpulo que tivesse de
SC ver escomungado, e posto que com
mostras de penitencia, e humildade pe-
disse perdão, e fosse a'lmitiilo â peniten-
cia no lugar de Canusio.» Ibidem, liv. 7,
cap. 30.
Este depois que a sua nutlioridado
(Como ja atraz a minha hi.storia escreve)
Fez quietar a gente da Cidade,
E dentro dos seus muros a deteve,
A re]iiitar'io mesma, c dignidade
Na torra lhe ficou que sempre teve,
Agora o acata mais, mais o venera
A gente, do que nunca antca fizera.
F. DE ANDRADE, PRIMEIRO CERCO DE DIC, CaUt. 9,
est. 116.
— « EUes mesmos imprimem na sua
reputação a marca do labèo eterno da
sua deshonra, ticando então culpados na
infâmia que não tinhão antecedentemen-
te.» Cavalleiro d'(.>liveira, Cartas, liv. 1,
n.° 13. — «Acena-lhe quem pxle com a
bengalla, mostra-lhe vestido ou sustento;
acode logo e deixa-se como toiro agarro-
char na alma c na reputação.» Bispo do
Grão i'ará, Memorias, publicadas por Ca-
millo Castello Pranco, pag. 104.
— Absolutamente, e sem epitheto, to-
ma-so sempre em boa parte. — Estar em
reputação. — Ter muita reputação. — <!?<.'r
forte em reputação entre os sábios. — Per-
der a sua reputação. — Fazer uma nmloa
na reputação. — Dar reputação ás suas
armas. — tíubscrtver á sua reputação. —
Descahir da sua reputação. — -1 reputa-
ção é a obra do tempo.
— Fama.
— Loc. : Pôr-se em reputação com al-
guém : grangear o l)om conceito d"elle.
— Perder a reputação ; perder a boa
fama.
— Diz-so também das cousas que tem
o renome de serem excellentes na sua
espocic. — Poesias que estão em grande
reputação. — Vinho qite tem reputação. —
Os cavallos inglezes estõo em reputação.
— A reputação de nossas anmis. — A
santidade e a reputação do seu templo.
I
REPU
EEPU
REQU
227
— Termo de iconologia. Representa-se
sob a figura de uma mulher vestida de
estofos leves, e transparentes, na acçào
de correr, tendo duas grandes azas bran-
cas, e em cada penua olhos, boccas, ou-
vidos, e tendo uma trombeta: a estes
emblemas accrescentam-se também flores
odoríferas que se escapulam pelo seu
vestido.
— Ser tido em reputação ãe santo ;
considerar-se, reputar-se como tal. — «E
querendose estes embaixadores partir, fo-
raõ visitar o Talapicor a hum pagode
onde estava aposentado, porque por ser
gi-andioso e tido em reputação de santo,
não podia pousar cõ nenhum homem se-
não cõ el Rey somente, porem elle lhes
mandou que se não fossem aquelle dia,
porque avia elle de pregar em hum tem-
plo de religiosas da invocação de Ponte-
maqueu.B Fernão Mendes Pinto, Pere-
grinações, cap. 127.
— Svy. : Reputação, consideração; vid.
este ultimo termo.
, REPUTADO, parf. imss. de Reputar. —
É reputado mui rico. — E reputado por
homem de bem. — -«Era el Rei D. Diniz
taõ reputado por sábio, e justiçoso, que
el Rei de Castella, e o Infante D. Affon-
so de Lacerda, qne pertendia ter direito
no Reino, por ser iilho de D. Fernando
de Lacerda, primogénito dei Rei D. Af-
fonso, que morrera vivendo o pai, se lou-
varão na determinação, que elle, e el Rei
de Aragão tomassem jurando de estar
pela sentença que dessem, e desistir do
nome real qualquer delles que se julgas-
se ter pouca justiça.» Frei Bernardo de
Brito, Elogios dos reis de Portugal, con-
tinuados por D. José Barbosa.
REPUTAR, 1-. a. (Do latim reputare,
de re, e pufai-e). Estimar, prezar, ter em
conta. — Reputar algum homem sábio. —
Não reputar alguém capaz de occupar
um logar. — Reputar algum homem d'hon-
ra. — «Falleceo brevemente D. Garcia,
a quem succedeo D. Estevão da Gama,
que na índia teve os brios dos de seu
appellido, e parece que tivera a fortuna,
se não fora tão breve o seu Governo.
Emprehendeo huma facção, no perigo, e
na gloria, grande ; qual foi embocar o
Estreito do mar Roxo, e queimar as ga-
lés dos Turcos, que no porto de Suez se
fabricavão, com voz de lançar os Portu-
guezes da índia ; empreza que o Turco
reputava por digna de seu poder.» Ja-
cintho Freire d'Andrade, Vida de D. João
de Castro, liv. 1. — «O Governador en-
tendendo que estes soccorros reputavão
nossas forças, e criavão amigos ao Esta-
do, assentou, que com a mesma armada
se desse favor ao de Caxem, visto ser
huma mesma a \-iagem, e a despeza, com
que se podia obrar huma, e outra em-
preza.» Ibidem, liv. 4.
— Grangear reputação para outrem,
ou dar-lh'a.
— Considei'ar, julgar, crer. — «A per-
da que elle fez, e que reputou grande,
ou fisesse bem ou mal, o determinou a
renunciar á sociedade do mundo dedi-
cando-se elle, e seu filho ao serviço de
Deos.» Cavalleiro d'01iveira. Cartas, liv.
3, cap. 36.
— Reputar-se, v. rejl. Considerar-se,
julgar-se, ter-se por. — «Hora he que se
poderá reputar a descuido não dizermos
que causa houue pêra el Rei mandar to-
mar hos filhos dos ludeus, e naõ hos dos
mouros, pois assi huns, quomo hos outros
se sahiaõ do Regno por nào quererem re-
ceber ha agoa do Baptismo, e crer ho
que cre ha EgTeja Catholica Christãa.»
Damião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 1, cap. 20. — «Desta forma em to-
da a força da equidade, não se deve, nem
se pôde julgar mal de hum homem que
se visse jnuitas veses em taes casas, ain-
da que seguramente se reputa esta acção,
e estes passos como cousas muy escanda-
losas.» Cavalleiro d'01iveira, Cartas, liv.
3, cap. 27. — «Naõ ha também duvida,
que 03 Cyrurgioens, e Boticários peritos
no seo officio, e estudiozos da sua obri-
gação, devem justamente gozar de no-
breza, e reputarse por dignos de mayor
estimação que os mais Artistas; naõ só
porque costumaõ tractar-se como Nobres
em todas as acçoens, vivendo com estado
distincto dos Peaons ; mas porque o seu
emprego he grandemente útil, e necessá-
rio á Republica para conservação, e re-
paro da vida Jiumana.» Braz Luiz de
Abreu, Portugal medico, pag. 260, § 113.
j REPUXADO, part. pass. de Repuxar.
Puxado para traz.
— Repellido. — «Pelo que se poseram
outra vez a cauallo emcaminhando para
a banda per onde se a gente saluaua, ate
chegarem as tranqueiras, onde plejaram
sobela entrada, com cento, e cincoenta
de cauallo, e duzentos de pe, que empu-
xaram duas vezes pêra dentro e outras
tantas foram elles repuxados pêra fora,
ate que a segunda, sendo ja os nossos
juntos, os entraram matando os mais
delles.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 3, cap. 72.
REPUXAR, V. a. (Do francez repousser).
Puxar para traz. — Repuxar a chuça. —
«Dos quaes Dinis fernandez de mello,
que hia na dianteira, meteo huma chuça
perantrellas, sobelo que tiuerào huma
grande pertia, elles a repuxar a chuça,
e Dinis Fernandez, e Diogo fernandez
de Beja, que lhe logo acudio a ter mão
nella, ate que chegou a mais gente, que
vinha aos botes com os imigos, que fica-
ram fora, que tomaram por partido ts-
coarensse poucos, e poucos de longo do
muro contra a porta dos Bacharéis.» Da-
mião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 3, cap, 11.
— Ripellir, rechaçar a quem ataca
hostilmeníe.
— Fazer repuxo ao miu'o.
REPUXO, s. m. O pendor que se dá ao
muro, o alambor, a escarpa, que nos
reparos se aparta um pouco da perpen-
dicular, para o fortificar mais. — «De-'
rão-lhe os Mouros fogo, o qual achando
resistência nos repuxos, e escarpas do
muro que lhe conírapuzerão, rebentou
pela face de fora retrocedendo ; e voando
a cortina do muro, a lançou sobre os
Mom-os com tão grande violência, que
matou mais de trezentos, e muitos mais
ficarão estropeados.» Jacintho Freire de
Andrade, Vida de D. João Castro, liv. 2.
— Fazer algum repuxo ; lançar espa-
danas dagua para cima. — «Causa este
milagre a meu parecer, serem estes rios
muito largos e grandes, polo qual quando
as agoas sam vivas no mar entre tanta
força dagoas do mar com as marees por
elles acima, que faz algum repuxo a es-
toutras da corrente com que corre no
rio de Loech pêra cima, por sua corrente
nam ser tam impetuosa como he ha do
rio de Sistor, e dos dous de Chudurmuch
pêra baixo, polo que aas vezes corre com
mais força, aas vezes com menos segun-
do as marees.» Frei Gaspar da Cruz,
Tratado das cousas da China, liv. 3.
— Termo de náutica. Ferro de cala--
fate com que se embebem as tarrachas na
madeira; peça que se bate com vaivém
para a fazer entrar em outra.
— Parede com pendor, ou base mais
larga e gi-ossa, que se encosta nos arcos,
e nos fundos das minas para os suster
contra a força que pietende dembal-os.
Também se fazem repuxos nas minas
para o fogo rebentar para cima com as
resistências dos lados, ou para dirigir a
explosão contra o lado opposto ao repu-
xo, que deve ser mais forte que o panno,
que queremos derribar.
— Fonte de repuxo ; fonte que lança
espadanas d'agua para cima.
— Termo de marinha. Tira de couro
unida pelos extremos, que os marinheiros
introduzem na mão direita, sahindo o de-
do pollegar por um furo praticado na
mesma tira ; serve para n'elle se cozer
um dedal chato que empurra a agulha,
quando se cose o panno.
— Termo de architectura. Encosto,
obra que sustem um pé de arco, e o es-
triba para este supportar o peso, a pare-
de opposta.
— O repuxo de artilheria; o recuo, ou
movimento para traz que faz o couce, ou
culatra das armas de fogo em geral.
REQUA, s. /. Yid. Recua, orthographia
preferirei.
REQUEBRADO, part. p,ass. de Reque-
brar. Tcrcido, inclinado.
— Olhos requebrados ; com o geito que
faz o namoro, ou quem quer inspirar o
amor.
— Algumas vezes é synonymo de
amante.
228
REQU
REQU
REQU
— Com gesto o ar affectado de quem
namora, ou com qucbros c requebroH da
voz.
— Termo do botânica. Curvado para
baixo ou para ílra, e formando .simulta-
ncamoiite um aiif^ulo, ou cotovelo na sua
curvatura, tallaudo do foliolo, do pe-
dúnculo, (Ids lanios, etc.
REQUEBRADOR, A, adj. Que faz roque-
bror), fícstos (lu namorado.
— (ialanteador, namorador.
— Substantivamente : Um requebra-
dor.
REQUEBRAR, v. a. Torcer, inclinar,
dar um f^rito namorado ou lascivo. — Re-
quebrar us olhus. — Requebrar « voz can-
tíuulo.
— Dizer finezas, e amores, galanteando.
Tid. Isto quanto o que cu conheço,
Diab. Pois fâtiiiido tu s;>irando,
!sc estava cila requebrando
Com outro de mcnoa preço.
GIL VICENTE, ACTO DA DAHCA DO ISFEBSO.
— Requebrar-se, v. rejl. Mover o cor-
po affectadamentc.
— Namorar-se.
REQUEBRO, s. m. Movimentos lasci-
vos, iutloxõos lascivas dos olhos, do cor-
po, voz c gestos. — Dizer requebros com
a voz, com os olhos, — «Aehava-se na
mesma casa um dos convidados, mance-
bo bem illustro, mas muito dado aos cos-
tumes da terra; e como todos estivésse-
mos sobre ceia (o que n'cste se enxei'ga-
va melhor que nos outros) deu-lhe na ca-
beça levar da mào ao simples do marido
o retrato da mulher, que beijava, c abra-
çava mais francamente, que .se fosso sua,
dizendo-lhe : O' alferes mio! O' alferes
viio, e mil requebros descompostos.» D.
Francisco Jlanool de Mello, Carta de
guia de casados.
— Expressões amorosas.
REQUEIJÃO, s. »í. A tlor, nata do lei-
te, coalliada ao lume. Outros inferiores
sào do segundo coalho do soro, depois de
feito o queijo.
— Adagio e piíoverbio:
— Não fartes o criado de pão, não te
pedirá requeijão.
REQUEIMAÇÃO, *. /. Acção do requei-
mar. e etVcito dV-sta acção.
REQUEIMADO, pari. pass. de Requei-
mar. ^luito sceeo.
— Queimado com os ardores do sol, ou
pclú muito calor.
— Termo de medicina. Humor requei-
mado.
— Carroíado na cor escura.
REQUEIMAR, r. a. Seccar muito, fazer
evaporar o luuuido, ou parte aquosa.
— Requeimar o fo de ferro ; tornal-o
vermelho ao fogo para não se tornar que-
bradiço, quando o dobram ou tecem.
— Requeimar-se, r. >v//. Sentir-se sem
o dar a enteuder.
— V. n. Figuradamente^ Pungir, ar-
der.
— Diz-se tauibcm fallaudo das drogas
aromáticas o ardentes : Requeima a mo»-
tariln, II /liiiienta, etc.
REQUEIME, «. m. Termo de zoologia.
Um piixe marinho, que tem dous ferroes
próximo dos ouvidos. Não é grato ao pa-
ladar do umbigo para a cabeça, e por í.hso
faz-se Siuneiite u.-jo d'elle para alimento
do umbigo para baixo.
— O sabor das especiarias ardentes,
do gyrofe, da canolla, das pimentas das
duas Índias; a impressão quo i>roiluzem
na iingua estas dj'ogas.
REQUEIXADO, A, adj. Termo antiqua-
do. Aeaidiado, estreito, opprimido, e des-
povoado.
REQUEIXARIA, s. f. Tudo o quo per-
tence a ([ucijoâ e lacticinios.
— ( )lTici^i do requoixeiro.
REQUEIXEIRO, s. m. e)ffieio antigo da
requeixaria.
REQUEJÃO, s. Hl. Vid. Requeijão.
REQUENTADO, part. pass. de Requen-
tar. yVqueutado segunda vez. — Comida
requentada.
— Figurada e populai-mente : C&mer
requentado ; satisfações más de uma of-
fcnsa.
— Adagio e provérbio:
— De amigo recouciliailo, e de caldo
requentado nunca bom bocado.
REQUENTAR, i\ a. Aquentar segunda
vez, tornar a aquentar. — Requentar a
comida.
— Requentar-se, v. rejí. Aquentar-se
de novo, tornar a aquentar-se.
' REQUEREÇÃO, s. f. Em vez de Requi-
sição.
REQUEREDOR, A, adj. c í. Que requer,
que supplíca, (pie pede.
— Requeredor da alcaidarin ; o que
cobra as rendas, e coimas applicadas pa-
ra o alcaide.
— O que pede muitas vezes. — O re-
queredor de mercês e òeneficios.
— Hoje diz-se requerente.
REQUERENTE, part. act. de Requerer.
Que requer, que pede em juizo.
— Que revê, que dá busca.
— Que demanda.
— tí. 2 gen. Pessoa que vai ás audiên-
cias, e cuida nos despachos das causas
alli, e por casa dos letrados, ou nas se-
cretarias e outras repartições.
— Pessoa que pode e sollicíta para ou-
trem. -
— Pessoa que requer ou traz algum
negocio cm alguém. — «Debaixo do qual
estava o Chaem com grande aparato e
magestade, assentado n'uma rica cadey-
ra de prata, e hnma mesa pequena dian-
te de sy, com três meninos ao redor as-
aentatlos em joelhos ricamente vertidos, e
com cadeas douro aos pescoços, hum dos
quais que estava no mevo, servia de dar
a penna ao Chaem com que assinava, e
os douH dos cabos tomavão as petições
aos requerentes, e as apresentavão u a
uiesa para se lhes dar de-pacLo.» h^r-
nSo Mendes Pinto, Peregrinações, cap.
1<J3. — «A outra parte requeria forte-
mente, que naò tinha o f-jito que ver, e
que em hum quarto de hora o po<iia des-
pachar: agastava-se o Dezembargador
com tanta importunação, e ameaçava o
requerente, que o mandaria metter no
Limoeiro, se mais lhe fallava no feito,
que era de qualidade, que harfa mister
mais de hum mez de estudo, e que por-
is80 o tinha guardado para as ferias.»
Arte de furtar, cap. 48. — <Res])onde-
Ihe : de graça dezejara servir av. m.
mas vive hum homem alcançado, e sus-
tenta casa com este ofiicio, dê v. m. o
que quizer. E se o requerente insta, que
lhe diga ao certo o que deve, por que
naõ traz ordem para dar mais, nem h.-
bem que dê menos.» Ibidem, cap. 59.
REQUERER, i-. a. i Do latim re>j u irerê .
Pedir ao soberano, ao magistrado, ao bu-
peri T, o que segundo a lei nos deve ser J
concedido. — «Primeiramente tanto que %
chegardes a cada huum lugar, requeree
ao Coudel, que achardes cm posse do
officio, e dizee-lhe que vos dê em escri-
pto todolos acontiados, que tem em seu
livro, assy de cavallo, e armas, como de -
cavai lo sem amms, e armas sem cavai- È
lo; e também de beesteiros de coiito, co- ■
mo d'homen3 de pee.» Ord. Affons., liv.
1, tit. 71, cap. 19, § 5. — «Em tal ca-
so nom ha lugar o dito costume, nem fi-
cará a molher em posse de taaes beens,
que o marido ouvesse, e possuísse em sua
vida, nem esso meesmo o marido per
morte da molher dos beens, que pelo di-
to modo a ella perteenceísem, mais re-
quere-se que pêra cada huum delies aver
gaançada tal posse, que a tome autual-
meute depois tia morte de cada hum del-
ies.» Ibidem, liv. 4, tit. 12, § 1. — «Se
o turco ou o seu embaixador dizem que
o partido que vos commettem nasce da
sua virtude e real inclinação, eu hei que
lhe nasce da muita necessidade que tem
de o fazer ; que os vassallos de Albayzar
lh'o requerem pela salvaçJlo de seu se-
nhor, n Francisco de Moraes, Palmeirim
dlnglaterra, cap. 112. — «Poucos dias
depois chegou Vicente da Fonseca, que
hia pêra Malaca c m as cartas de D.
Jorge, com os autos, e papeis contra D.
Garcia, e foi agazalhar-se com Gonçalo
Gomes, a que também contou ao que hia
pêra Malaca, requerendo-lhe que pren-
desse D. (iarcia. do t|ue se elle escusou;
niíis disse que lhe tomaria o navio por
ser da obrigação da fortaleza.» Diogo de
Couto. Década 4, liv. 4, cap. 8. — «O
Caciz Moulana que ja ahy era chegado
cõ mais outros dez ou doze seus inferio-
res também Cacizes da maldita seita,
requereo ao lleretlim Sofo Capitão da
cidade, que nos mandasse de esmola á
REQU
REQU
REQU
229
casa de Meca para onde elle estava de
caminho, para que em nome daquelle
povo fizesse aquella romaria. » Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 6. —
«relo que Diogo Dazambuja, e Garcia
de Mello se quiseram declarar com Ha-
liadux e Iheabeutafuf, requerendolhes
que hum delles regesse a cidade em no-
me dei Rei dom Emanuel, porque ja
sentiam auer antre elles ambos discór-
dias secretas, buscando modos, e meos
para hum matar o outro, e se fazer se-
nhor.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 2, cap. 18. — «O que que-
ria ser feito Almocadem, requiria ao
Adail, e o fazia certo das qualidades,
que para isso tinha, que havia de ser
pratica da guerra, e noticia da terra, e
esforço, ligeireza, e lealdade.» Manoel
Severim de Faria, Noticias de Portugal,
Disc. 2, § 6. — «Quando pedirdes mer-
cê não lembreis nenhuns agrauos : que
não se contentaua fazer mercê aos ho-
mens, mas ainda lhes ensinaua como a
auiam de pedir. E Duarte do Casal era
valente homem de sua pessoa, e mandou
requerer huma cousa a el Rey, e não
lhe falaua nisso, e vindo el Rey hum
dia pêra comer em Euora na sala o vio,
e perante muytos o chamou.» Crarcia de
Rezende, Chronica de D. João II, cap.
85. — «E pelos de seu pay quer lhe dém
huma tença grossa para sua mãy, que
está viuva; e quer por contrapezo sobre
tudo isto, que lhe dê Sua Magestade pa-
ra duas irmans dous lugares em hum
Mosteiro. Toma este tal o pulso ás vias,
por onde ha requerer ; informa-se das
valias dos Ministros, corre-os todos com
memoriaes. » Arte de furtar, cap. 47.
— «Porem perseguil-o, e obriga-lo para
hir requerer, e pertender o que importa
á sua casa, e o que convém á sua pes-
soa, alem de ser affecto de Criado que
merece estimação, he conselho de Com-
padre que deve ser obedecido, não por
ser affecto, e conselho de Criado, e do
Compadre, mas por ser amor, e ordem
da Princesa May, e da Esposa de V.
A. que hontem me recommendárão quan-
do parti de llsdorf que lhe fisesse exe-
cutar.» Cavalleiro d'01iveira, Cartas, liv.
3, n.» 14.
— Reclamar, pedir, — Requerer auxi-
lio e assistência. — Requerer a força pu-
blica.— Requerer o ministério de um of-
ficial iniblico. — • «E vendo elle que per
si o não podia ja fazer por estar de ca-
minho pêra Portugal, leixaua este cuida-
do a hum capitão que hauia de ficar na-
quellaâ partes com huma armada, o qual
ao presente estaua em Cananor com ella :
e a elle quando tiuessem necessidade po-
dião requerer qualquer ajuda e fauor
porque elle o faria com tàto amor como
aos próprios Portugueses que auia de lei-
xar em Cochij e Cauanor.» João de Bar-
ros, Década 1, liv. 6, cap. 6. — «Para o
que escolhereis Ministros em que haja as
partes que semelhante ministério requer.
E porque sobre tudo grandemente dese-
jamos, que nesse Estado seja o nome do
Senhor Deos conhecido, e reverenciado,
e sua Santa Fé recebida, queremos e he
nossa vontade, que em todas as terras de
Salsete, e Bardez, sejão de raiz arranca-
dos todos os Ídolos, e o culto infernal,
que nelles ainda se lhes faz.» Jacintho
Freire d'Andrade, Vida de D. João de
Castro, liv. 1.
— Pedir alguma cousa em juizo. — Re-
querer sua justiça. — « E mandando cha-
mar o escrivão que tinha a nossa appel-
lação, se enformarão delle muy miuda-
mente, e lhe pedirão cõselho no modo que
terião em requererem nossa justiça, e to-
mando por item as cousas que fazião ao
bem do nosso direyto, disseraõ que lhes
deixasse levar o feito, porque o queriaõ
ver todos juntos na mesa cos procurado-
res da casa, e que ao outro dia lho ter-
nário á mão para o levar ao Chaem como
estava determinado. » Fernão Mendes Pin-
to, Peregrinações, cap. 100. — «E elle
despois de estar hum pouco calado, res-
pondeo, não he necessário dizerdes mais,
basta serdes pobres para que isso corra
por outra via differente da que correo até
agora. Mas eu pelo ofiicio que tenho vos
dou de espaço cinco dias, confonne á ley
do terceyro livro, para que façais vossos
procuradores que requeyraõ vossa justi-
ça, e de meu conselho deveis de fazer
petição aos Tanigores do santo officio,
para que elles por zelo da honra de Deos
tomem a seu cargo vossos trabalhos.»
Ibidem. — «Desta petição se mandou dar
vista ao prometor da justiça que era o
que requeria contra nós, o qual veyo
dizendo nuns artigos que fez, que elle
provaria por testemunhas de vista, assi
naturais como estrangeyras, que nós éra-
mos públicos ladrões, roubadores das fa-
zendas alheyas, e não mercadores como
deziamos, porque se viéramos de bom ti-
tulo á costa da China, e com tenção de
pagarmos os diro-tos a el Rey nas suas
alfandegas, que nós nos metêramos nas
colheitas dos portos onde ellas estavâo
postas por ordem do Aytao do governo.»
Ibidem, cap. 101. — « Ja que por tuas ca-
tivas nos embarcamos comtigo nestas tris-
tes casas da morte, consolanos com a vis-
ta da tua presença, para que partamos
cõ menos dôr desta carne penosa a ver
o justo Juiz da mão poderosa, diante do
qual protestamos com lagrimas requerer
tua justiça cõ vingança perpetua da sem
razão deste crime.» Ibidem, cap. 151.
— Pedir alguma mercê, graça, despa-
cho. — «Feitas todas estas arengas, e ce-
remonias, sendo ja todos juntos a tiro de
besta da porta da cidade, sahio o Gouer-
nador de Roma com todolos Prelados, e
família do Papa, e alli fez huma arenga
em nome da sua Santidade a Tcistam da
Cunha, dandolhe da sua parte a bem
vinda, com grandes offerecimentos, e
mostras da boa vontade que tinha a to-
dalas cousas dei Rei, ao que o doutor
Diogo pacheco respondeo o que taes, e
tam bons offereciuieutos requerião.» Da-
mião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 3, cap. 55.
— Demandar, pedir. — Requerer di-
vidas, impostos, tributos. — -«Em que pe-
la dita Hordenaçom mandámos pagar por
huma quatro, mandamos que paguem dez
por huma ; pêro se esses devedores reque-
rerom com as pagas a seus ereedores, e
as nom quiserom receber ataa ora, posto
que nom fezessem outra consinaçom, man-
damos que nom sejam theudos a pagar
mais de quatro por huma.» Ord. Affons.,
liv. 4, tit. 1, § 55.
— Figuradamente : Demandar, impor-
tar comsigo.
— Exigir, demandar. — Requerem-se
boas qualidades piara este emprego. — «Flo-
rentina Virgem de Christo viveo vinte e
hum anno, e nesta vida tào breve, fez
obras para que se requeria largo discur-
so de annos, dormio na paz de lesv, a
quem amou vivendo, ao primeiro de Abril,
da era de seiscentos e vinte e seis, que
he anuo de Christo, quinhentos e oitenta
e oito.» Monarchia Lusitana, liv. 6, cap.
17. — «Era a parte uiuy dura, porque
com suas riquezas e muito poder, não
avia oíEcial de justiça que não atrahisse
a seu parecer, e sobre todos a el Rey de
cujo serviço era; do que lastimado Saõ
Fructuoso, quanto requeria o caso, e
vendo que sua modéstia e termos de Re-
ligião, não convencias o animo endure-
cido do cunhado, recorreo a Deos, em
quem nunca faltou socorro.» Ibidem, cap.
23. — «Deixava pêra quem suas qtiali-
dades requerem, não desejeis empregar
tão mal quem a fortuna guarde u pêra
maior bem. Ja sei, disse a donzella de
Trácia, que sempre na sua camará esta-
va e a estas palavras fora presente, que
não tem o amor tão pequena parte em
vós, que vos deixe lograr o que vossas
obras merecem.» Francisco de Moraes,
Palmeirim d'Inglaterra, cap. 101. — «E
dandolhe conta do que passava, ficarão
elles todos tão sobi-esaltados, quanto a
qualidade do caso requeria, e logo na-
quella noite, e no dia seguinte espalma-
rão 03 navios, e os lançarão ao mar, e
embarcarão mantimentos, agoa, artilha-
ria, e munições, e se puseraõ co remo
em punho, com tenção, segundo me el-
les despois contarão, de se irem para
Bengala ou para Racaõ, por se não atre-
verem a pelejar cõ armada tão grossa.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações, cap.
146. — «E a substancia de sua embaixada
era resposta ao Xeque Ismael do que lhe
o seu Embaixador da sua parte requere-
ra, e o lugar onde o achara, que era to-
mando posse do Re%-no de Ormuz, e que
230
REQU
REQU
REQU
Liivia aiinos quo ellc tinha coiu|iii.sta'I()
o anui tirar ElKoy 'Ia(|iiollo tyniMni' qntí
o tiulia quasi [irc/,!).» Joili» de JJarrus,
Década 2, liv. 10, i;ap. 5. — «K lios ( !au-
(liliio.s trata o livro 4. tit. j!.'J. das Parti-
das lio (Jastoiia, onde hc apoiítaò as qua-
lidade.'!, quo para os (Jaiidillios no reque-
rem.» Manoel Suvcrim de Faria, Noti-
cias de Portugal, Disc. 2, §5. — uPuzo-
raõ por \'icc-licy a IJuqiicza de Mai.tua
estrangeira, o (jue naõ era parenta do
Koy no gráo, quo so requeria para tal
governo : puzerau-llio (JoUatcrai^s, o Con-
sollioiros Ca-stelliaiioí, quo se uaõ does-
80ni do uóá depondentoí», para que sugei-
tassem seus voto.s.» Arte de furtar, cap.
17. — «O bom namorado ha do cometer
alem do quo lho sua possibilidailu reque-
re, nada temer por mais ga laniios, (pio
luo a razão tai^a.» Jorge Ferreira de Vas-
concollos, Eufrosina, aet. 1, se, 1.
— ]}ascar varias vezes, trabalhar, di-
ligenciar repetidamente, conseguir algu-
ma cousa, empreza.
Se na fala vos conheço
não achegarei a vov-vo3.
Não me bu3':|ueis defender- vo3
com tornai'-voí no exceáso.
Quo requero obcdccor-vo3.
AXIONIO PRESTES, ALTOS, pag. 211.
— Accusar alguém em juizo. — «E
querendo elle insistir no que tinha pedi-
do, sem mostrar causas justa:-, nem pro-
va suílieiente para o que requeria còtra
estes homens estrangoyros, foy condena-
do por mym em vinte tacis de prata pa-
ra o remédio dellcs.» Fernão Mendes
Pinto, Peregrinações, cap. 103.
— Examinar, infonnar-so de alguma
cousa.
— Requerer mcsteiraes e obreiros; pro-
cural-o?, buscal-os.
— Rover, dar busca.
— Requerer a sentença aos juizes, ou
algum despacho.
— Requerer de autores uma dama; sol-
licital-a.
— Loc, AXT. : Requerer as velas; ron-
dar as sentincUas, vigias, guardas.
— Requerer a paz; pcdil-a.^ — «E che-
gou este negocio dos eavallos a tanto, que
não somente os Mouros, mas ElRey de
Narslnga Gentio, e ElRey de Bisa por
ser seu vassallo, onviáram logo seus Em-
baixadores visitar Aftbnso d'Alboquer-
(jíie, requerendo-lhe paz, e amizade com
alguns :>po\itanientos sobre a entrada des-
tes eavallos per seus portos.» João de
Barros, Década l', liv. 7, cap. 7.
— Pedir, suppliear. — «Item. Citará
aquelles, que o Corregedor mandar citar,
e outros nora, salvo se alguns estevereni
porá se partir, que seria perigo requere-
rem o Corregedor, possa citar per sy ; e
se alguma parte qui/.er citar per palha,
e nom per Porteiro, deve requerer ao
Corregedor, e ollo lho dará palha pcra
citar.» Ord. Affons., liv. 1, tit. l!l, §
1. — «Item. N«jm ahasta pêra desfazer a
dita Venda dizer o vendedor dcspois da
venda fbita, o do todo acabada, que quer
tornar ao compiador todo o preço, quo
dclle ouve, com outro tanto, mais reque-
re-se que seja enganado na dita venda
aalein da moetade do justo preço, que
valia ao tom])o que a venda f(ji feita: e
cm outra guita nom se podenl a dita
venda desfazer.» Ibidem, liv. 4, tit. 4."),
§ ti.-^aE posto que Aftonso d'Alboquer-
que eentio estas cousas, levemente as
concedeo, com o mais que o Embaixador
requereo, c logo dalli o quizera espodir,
mas elle não se quiz ir, dizendo que El-
Rey seu Senhor lho mandava que se nào
fosse sem levar a náo Merij.» João de
Barros, Década 2, liv. 8, cap. õ. — «Mas
nenhum delles 03 houve da maneira que
requeriam, porque nenhum concedeo o
que Ationso d'Alboquerque pedia; e isto
causou andar João (íonçalves com o Hi-
dalcão muito tempo sem trazer alguma
conclusão, que aprouvesse a elle Alfonso
d'Alboquerque.B Ibidem, liv. 10, cap. 1.
— «Sabendo Eitor da Silveira que Paro
de Faria estava á sua porta, assomoii-se
a hum balcão que íiizia a escada pêra a
bíiuda de fora, e perguntou-lhe quo que-
ria: elle lho disse, o Governador o man-
dava prender, e que lhe requeria da par-
te d'ElRey que lhe desse a menagem :
ao que lhe elle respondeo que subisse
assima a lha tomar, que elle lhe faria o
quo elle merecia, pois era tão roim Fi-
dalgo que acceitava illo prender.» Dio-
go de Couto, Década 4, liv. 2, cap. 11.
— oE vendo-se com ElRey lhe pódio, e
requereo, que mandasse vir seu pav a
Cota, porque tinha que falar com elles
ambos cousas que compriaõ ao serviço
de ElRey de Portugal. ElRey havendo
que Diogo de Mello não buliria com elle,
mandou chamar o pay, que veyo logo a
Cota.» Idem, Década li, liv, 10, cap. 7.
— «ElRei como foi adcparte com o bis-
po, desvestiosso logo e ticou em huuma
saya dezcarllata, e por sua maão tirou
ao bispo tolas suas vestiduras, e come-
çou do o requerer, quo lho confessasse a
verdade daqucl maleticio em que assi era
culpado.» Fernão Lopes, Chronica de D.
Pedro I, cap. 7. — «E com quanto na
lancliara não éramos mais que quatro
Portugueses, os pareceres foraõ muvtos
c muyto ditVercntes huns dos outros, em
que ouve requereremme quo nào quises-
se saber o que me nào revelava, o me
fosso para onde me mandava Poro de Fa-
ria, porque perder huma só hora daquel-
lo tempo, era pôr a viagem em ventura,
e a fazenda em risco, o cu iicar dado
m;i conta de mim se me acõtecosso al-
gum desastre.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. ;'i3. — «O segundo
lilho dei Rey, por nome Aricbandono,
moço de dczaRseis até dezassete annon, e
a quem cllo era muyto affeiçuado, mo
requereo alguma» vezes que o quiseeso
insinar a tirar, do que me eu escusey
sempre, dizendo que avia mister mnyto
tempo para o aprender, |K)rein elle nSo
aceitando esta minha ruzáo, fez queixu-
me de mym a «eu Jiay.» Ibidem, cap.
13'». — «E mai« por essa vontade, c la-
grimas que to vejo, mo lemi)rarey «em-
j)rc de ti, e servindo tu a meu filho ser-
ucrf a mim, e o empedimento de teu tio
he nenhum, jK)rque meu filho n3o no ev
de apartar de mi, e mais he milhor pêra
vos outros, ponjue teu tio requerera a
mi por ti, e tu a U)eu filho jior elle.»
Garcia de Rezende, Chronica de D. João
II, cap. 201.
A tonçio d'cUa se infere
pin obrarmoB
com aqucllas trca, c darmos
o que cada uma requere
8ú a Deus pcra acertarmos.
ANTÓNIO PBESTES, AUTOS, pag. 21.
— «Esta nesta terra de todos os offi-
cios muita cantidade de officiaes, e mui-
ta abundância de todas as cousas pêra ho
uso comum necessárias, e assi se requere
porque ha gente he muita. E porque ho
calçado he c^uisa que mais se gasta, de
çapateiros ha mais oficiaes que dos ou-
tros ofícios.» António Tenreiro, Itinerá-
rio, cap. 11. — ilrá Suzanna lançar-se
a vossos pés, e dar-vos 03 agradecimen-
tos de vossos benefícios : e so vos não
parece estranho que eu requeira vosso
filho de que me nào espere, pedir-vos-hia
que viésseis até Londres a meu encon-
tro; porquanto necessito de me vera siis
comvosco, ao menos para a visita que
farei a M. Birton c sua familia. > Fran-
cisco Manoel do Nascimento. Successos
de madame de Seneterre. — «Vinde, ami-
ga minha, receber ao pé dos altares um
nome, que vos deo ha muito tempo a mi-
nha gratidão. Não vo-los requeremos,
Suzanna, cabedáes, nem no-los pede a
vontade.» Ibidem.
— Requerer com muita itistancia; sup-
pliear muito, pedir cora eftícacia. — «Ao
qual andando assi occupado nestes tra-
balhos, vco falar secretamente loam ma-
chado auisandoo que tiuesse boa vigia
na sua frota, porque Pulatec5o tinha de-
terminado de lha mandar queimar, a es-
tes trabalhos se lhe acreecntaram logo
protestos de Georgc da Cunha, Francis-
co pereira Coutinho. Francisco de sousa
maneias, c outras pe>so;»s, que lhe cara
muita inst.incia requeriam que deixasse
a ciilade, e se fosse antes que os matas-
sem a todos.» Damião de Góes, Chroni-
ca de D. Manoel, part. 3, cap. 5.
— Syx. : Requerer, padir. Yid. este
idtinio terHio.
REQUERIDO, part. pass. de Requerer.
REQU
Pelido. — «E depois desto o dito Sealior
Rey fez Cortes na Cidade de Coimbra, e
antre 03 Capitules geraaes, que lhe por
parte dos Concelhos forom requeridos,
foi este que se segue, com a reposta a
elle dada na forma que se segue.» Ord.
Affons., liv. 2, tit. 29, § 7. — «Elrei
Dom Fernando da gloriosa memoria em
seu tempo fez Cortes geraaes na Cidade
de Lixboa, em as quaees lhe forom re-
queridos certos artigos por parte dos Con-
celhos de seus Regnos, antre os quaees
foi hum acerca dos servidores, como lhe
aviaõ seer pagadas suas soldadas, de que
o theor com a reposta a eUe dada pelo dito
Senhor he em esta forma que se segue.»
Ibidem, liv. 4, tit. 29. — «E depois desto
o dito Senhor Rey fez outras Cortes Ge-
raaes na dita Cjdade de Coimbra, e foi-
Ihe pola parte dos Concelhos requerido
acerca dos sarviçaaes outro artigo, o
qual com a reposta a ellj dada pelo dito
Senhor, he em esta forma que se segue.»
Ibidem, § 16. — «ElRey Dom Joham de
louvada memoria em seu tempo fez Cor-
tes geraaes na Cidade d'Evora, e antre
os Capitules, que lhe pola parte dos Con-
celhos geeralmente forom requeridos, foi
hum com a reposta a elle dada em esta
forma, que se segue.» Ibidem, tit. 30.
— «ElRey Dom Joham de gloriosa me-
moria em seu tempo fez Cortes Geraes
na Cidade d'Evora, nas quaees lhe fo-
rom por parte dos Povoos requeridos cer-
tos artigos, antre os quaees lhe foy re-
querido hum, do qual o theor tal he com
a reposta a elle dada.» Ibidem, § 34. —
«Quando os homens som postos em ne-
cessidade d'aver mester dinheiro empres-
tado, ligeiramente outorgam qualquer
cousa que lhes he requerida, por averem
emprestado o que ham mester, por saí-
rem de necessidade em que som postos.»
-Ibidem, § 39. — «O qual polia muyta
lealdade, e amor, e muy grande obe-
diência que como próprio iilho a el Rey,
tinha, fosse de crer que consentiria nis-
so, e em qualquer outra cousa que fosse
da Tont:ide dei Rey, a Ravnha sua irmàa
com muyta bondade, virtude, e consciên-
cia sosteue sempre a honra do Duque, a
qual se aífirma ser dei Rey murtas ve-
zes pêra isso requerida, e por nào con-
sentir, sofrer muytas paixões, desfauo-
res, e esquiuanças, que com muvta pa-
ciência, dissimulaçam, e prudência sofria,
sem nunca querer nisso outorgar. » Gar-
cia de Rezende, Chronica de D. João II,
cap. 133. — • «Depois que hos Rsis de
Castella lançarão hos ludeus fora de seus
regnos, e senhorios, quomo atras fica di-
to, el Rei dom Emanuel requerido per
cartas dos mesmos Reis determinou de
fazer ho mesmo, mas quomo ho negocio
fosse de qualidade pêra se delle não to-
mar resolucà'), sem bom conselho.» Da-
mião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 1, cap. 18. — «Estando em tudo
BEQU
seu siso, e entendimento, e depois das
cousas que cumpriam a saluaçam de sua
alma, a qual deu a Deos cuja era huma
segunda feira quinze dias de Maio, des-
te anno de M. D. xiiii, seu corpo foi en-
terrado na Se da mesma cidade de Aza-
mor, com tolalas solemnidades, e honr-
ras requeridas a huma tal pessoa, com
muita dor, e tristeza de todolos que se
entào alli acharão.» Ibidem, part. 3,
cap. õl.
— Exigido, demandado. — «El Rey
Dom Fernando de louvada memoria em
seu tempo fez Cortes geraaes na Cidade
■de Lisboa, nas quaaes lhe forom reque-
ridos por parte do povoo certos artigos,
entre os quaaes lhe foi requerido hum,
de que o theor tal he com a reposta a
elle dada pelo dito Senhor.» Ord. Affons.,
liv. 4, cap. 47. — «El Rey Dom Fer-
nando da famosa e louvada memoria em
seu tempo fez Cortes Geraaes na Cidade
de Lisboa, nas quaaes lhe forom reque-
ridos por parte dos Conselhos certos ar-
tigos, antre os quaaes foi este, que se
adiante segue, com a reposta a elle dada
pelo dito Senhor.» Ibidem, cap. 48.
— Buscado muitas vezes.
— Citado.
REQUERIMENTO, s. m. Petição verbal
ou por escripto. — Fazer um requeri-
mento. — «Visto este protesto, e reque-
rimento pelos Fidalgos todos, o manda-
ram também notificar á Camará de Goa,
e visto pelos Vereadores, mandaram re-
cado a Lopo Vaz, que eíles tinham hum
protesto pêra lhe notificar, por ser cou-
sa do serviço d'EiRey, qne houvesse por
bem que lho lessem; ao que Lopo Vaz
disse, que lho fizessem, que elle lhes res-
ponderia.» Diogo de Couto. Década 4,
REQU
231
liv. 2,
cap.
«Este Diogo Botelho
Pereira^ por aquella hida que fez ao Rei
no na fusta, naò lhe quiz ElRey respon-
der muitos annos a seus requerimentos,
e depois liie deu a Capitania de S. Tuo-
mè, onde adoeceo de hydropesia, e en-
grossou tanto como hum' tonel, e se fov
pêra o Reino.» Idem, Década 6, liv. 8,
cap. 1. -- «E como elle era homem de
muitos primores acerca de pontas de hon-
ra : teue sobre este negocio alguns re-
querimentos a que el Rey lhe não satis-
fez.» Joào de Barros, Década 1, liv. 6,
cap. 2. — «Finalmente depois que per-
guntou e deo audiência a outros de tanto
tempo como havia que dalli era partido,
contentando a todos delles com mercê em
nome d'ElRey, outros com palavras, e a
muitos com esperança de seus requeri-
mentos, começou entender em o modo
que havia de ter no commettimento da-
quella fortaleza Benestarij ; cá segundo
a informação que teve, era cousa mui du-
ra de commetter.B Idem, Década 2, liv.
1, cap. 4. — «Finalmente os que erào que
elle não entrasse, debaterão tanto n'isso,
que chegarão a modo de requerimento
por parte do seruiço d'elRey, a que os ho-
mens em casos são mães obrigados que a
sua honra: com que dom Lourenço se par-
tio dali bem agastado. » Ibidem, liv. 4, cap.
4. — «Antes incitados e estimulados pela
mãy, não desistindo do requerimento,
apertarão tanto com elle, que elle por se
escusar de fazer o que não era sua vonta-
de, com tenção de legitimar o filho mais
velho que tinha da Nancaa, e deixarlhe
o reynO; se meteo em religião em hum
templo que se chamava Gizoni, que se-
gundo parece foy idolo e seita que tive-
rào os Romar.os.B Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 92. — »«E porque os
Reys de Cav^tella tinhão dei Rey muytas
sospeitas como nào deuião, e porisso cui-
dauão que o fundamento de seus reque-
rimentos era cauteloso, e com respeito de
nouidades, e não para bom fim como o
embaixador lhe dizia, em quantas cousas
requereo não tomou concrusão alguma,
que fosse para aceitar.» Garcia de Re-
zende, Chronica de D. João II, cap. 35.
— «Ruy Dabreu Alcayde mor Deluas
era homem, que el Rey estimaua, e fa-
zia muyta honra, por ser muyto bom ca-
ualleiro, e homem de que el Rey confia-
ua, e falandolhe hum dia Ruy Dabreu
em hum seu requerimento se agrauou
delle, el Rey lhe disse : Ruy Dabreu,
tomay, tomay huma cousa de- mi como
damigo.» Ibidem, cap. 85. — «O qual
requerimento lhe el Rei dilatou o mais
que pode, mas vendo que insistia nelle
lho concedeo, com condição, que não en-
trasse na corte de Castella, nem na de
Roma, nem se detiuesse em Veneza.»
Damião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 3, cap. 45. — «E só hum bem tem,
que he estarem quasi todos juntos den-
tro de hum paíeo, com que ficaõ menos
trabalhosos os requerimentos das partes,
para forrarem de tempo, e passadas na
busca dos Ministros ; que também fora
bom viverem arruados todos, e naò taõ
espalhados, e remotos huns dos outros,
que fará muito hum requerente muito li-
geiro, se dêr caça a dons, ou três no
mesmo dia, para lhes lembrar o seu ne-
gocio.» Arte de furtar, cap. 30. — «Hum
lhe diz, que traz sua mercê requerimen-
tos para três annos : e falia verdade ;
mas que forrará tempo, se souber con-
tentar os Ministros : e falia verdade.»
Ibidem, cap. 47. — «Este tal requeri-
mento deve com mais razão fazer o ma-
rido a sua mulher, e quando ella não
convenha n'elle, outro tal castigo lhe
merece.» D. Francisco Manoel de Mello,
Carta de guia de casados.
— Cobrança, exacção de impostos, de
tributos.
— Figuradamente : Requerimentos da
carne, da concupiscência ; tentações repe-
tidas.
— Pedido, exigência. — «E com estas
e outras cousas em que elRey via com
232
REQU
REQU
UEQU
quanta vontade o VisoRcv o f|ucria com-
prazer cm HciiH requirimentos, tr.iliallia-
va cllo tambíini por Ília pairar, inamlando
fazer com diligencia tudo o (pio ello quo-
rla.» JoSo do Harros, Década 1, liv. íl,
cap. 4. — o E com estoutros requerimen-
tos, que dortsc dlo hifíar a m fazer huma
fortaleza cm J5aticaiá por ser terra sua,
requirimento quo já dependia do tempo
do \'^i->()-K(n- dum Francisco d'Alnioida:
a (piai ida nilío fundio macs que palavras
gcracíí, que clRoy de Nartíinga deu de si,
posto qno rccebco esta embaixada com
solomnidade.» Idem, Década 2, liv. 5,
cap. 3. — « Com esta resposta vinham os
Bens requirimentos, o eram, que elle Af-
fonso (TAlbuqucrque lho havia de man-
dar tamboni dar lugar em Malaca onde
os Mouros (tuzaratos de seu Royno tives-
sem uma casa forte pcra guarda de suas
mercadorias quando lá fossem, c assi que
lhe mandasse dar a não McriJ, que lhe
fora tomada.» Ibidem, liv. 8, cap. b. —
(t E a causa de sua ida ora sobre as ter-
ras firmes de Ooa, que lhe Affonso ({'Al-
boquerque pedia a troco doutro requeri-
mento da entrada dos cavallos da Pérsia,
que elle llidalcão, queria temendo que
ElRoy de Bisnaga, com que elle tinha
guerra, houvesse esta entrada per Bati-
calá, que era sem porto, sobre o qual
negocio commettr^ra j;l grandes partidos
a elle Afi'on80 d'Alboquerque, e elle tra-
zia-os ambos suspensos neste requerimen-
to pêra o conceder a quem lho fizesse
melhor partido.» Ibidem, liv. 10, cap. 1.
— (t Jaz mais ao Noruorooste desta terra
Loquia hum grande arcipelago de ilhas
pequenas, doudo se traz niuyto grande
quantidade de prata, as quais segundo pa-
reço, e eu sempre sospeitcy pelo que vV
cm Maluco nos requerimentos que Ruy
Lopez de Vilhalobos general dos Castelha-
nos fez a dõ Jorge de Castro capitão que
entaõ era da nossa fortaleza Ternato, de-
vem de ser as do que esta gente tem al-
guma noticia, as quais nomeavão por is-
lãs plataiias.» Fernão Mendes Pinto, Pe-
regrinações, cap. 143.
REQUERIZ. Vid. Regoliz, e Glycyrrhi-
na.
REQUESTA, s. ./'. Petição, requerimen-
to, supplica com instancia.
— Contenda, disputa, briga.
— Protcnsijes e sollicitações de dama.
— Briga, combate.
— Defeza, fortiticaçSo.
— Tornar á requesta; aceitar o des-
afio.
— Termo pouco em uso. Desafio, bri-
ga, duoUo.
— Peleja.
— Bulha, refrega.
— Combater a to<hx a requesta, e a to-
do o transe ; estar prestos para fazer duel-
lo com todas as condições, que se propo-
zerem, ató rcmettcrcm, ou chegarem ao
extremo da vida.
— Porfia, demanda, desafio.
— Contenda com contrários prctenso-
ro».
— Requesta entre ihtas náos ; briga.
— Tomar a requesta jjor outrem; ser
seu camiieílo, defensor, sair a campo por
elle.
— f Inorra. — Fazer a algnevi uma ilen-
m requesta.
REQUESTADO, purt. pass. de Reques-
tar. Buscado, sollicitado muitas vezes,
pretendido.
— Provocado, tentado.
— Desafiado, reptado.
— Defendido com fortificações.
— ticnhora requestada ; senhora pre-
tendida de naiitos, requerida de preten-
dentes, sollicitaila.
— Praça requestada; praça atacada
])or vezes, varia-i vezes combatida.
REQUESTADOR, A, s. c aclj. (De re-
questar, com I) snffixo «dor»). Que re-
questa, que Hollicíta, que pretende, que
busca.
— Que desafia, que repta.
REQUESTAR, i-. a. Buscar, soUicitar
duas vezes, e diligenciar por consegiiir
e alcançar, e possuir.
— Requestar uma dunzella; sollicital-a,
tental-a, desafial-a, pretcndcl-a. — <( De-
pois de estar alguns annos na sua ordem,
succedeu ir visitar uma senhora sua ir-
mã, e não a encontrando em casa, achou
um fidalgo requestando-lhe dcshoncsta-
raente uma sobrinha, tillia de sua irmã.»
Bispo do (ír.HO Pará, Memorias, publica-
das por Camillo Castello Branco, pagi-
na 126.
— Dar logar a se fazerem armas de
jogo, ou de sanha entre os requestados.
— Aceommetter, defender. Vid. Re-
questado.
REQUIA, s. /. Vid. Requie.
REQUIE, *'. /. (Do latim requies). Des-
canço, repouso.
— Oração que a igreja faz pelos mor-
tos. — Cantar o requie.
— Termo de musica. Uma das partes
da missa dos mortos postas em musica.
— Missas de requie ; missas que se di-
zem pelo descanço de aigum defunto. —
Missa de requie executada a grande or-
chesfra.
REQUIFE, s. m. Termo de sirgueiro.
Lavor, tecido estreito que serve para
guarnição de vestidos e paramentos de
igreja.
— Dá-so também este nome a certos
biscoutos com recortes, e de um sabor
delicioso. — Biscoutos de requife.
REQUIN, s. m. Termo da Ásia. Licor
espirituoso da índia.
REQUINTA, s. /. Instrumento de mu-
sica, espieie de pequeno clarinete.
REQUINTADO, i>art. juiss. de Requin-
tar. Apurado, levado ao seu auge.
— Nimiii, alTeetado. — Devoção requin-
tada.
— Elegância requintada ; elegância su-
bida a muitos c exqui>ito9 objecto», e de
bom jtreço.
— Fino, aprimorado.
REQUINTAR, v. a. Apur.ir quanto é
poHsivi-l, levar m> maior grau. --Requin-
tar Jini zan.
— Requintar-se, v. rejl. Apurar-s«.
— V. n. líaver-fie com aftcctado pri-
mor e curiosidade.
— Requintar em alguma cotiêa ; che-
gar ao auge, ao mais elevado ponto, ao
maior extremo, perfeiçSo, talvez com ex-
cesso, e grande aifectaçlo. — Requintar
no esti/lo.
— Requintar na censura; ser nimio e
miúdo.
— Ser excessivo no desejo da perfei-
ção, e singularidade.
— Requintar no tratamento ; baseando
cousas excdientes e esquisitas.
REQUINTE,*, m. Cou.sa exquisita, maior,
mais elevada no seu género.
— Nimiedade, excesso.
— Augmento, elevaçSo ao mais alto
grau.
— Viola de cinco requintes.
— Requinte do amor, da tyrannia, da
aleivosi'1, ctc.
REQUIRIR, v. a. Termo pouco usado.
Reviuerer. ]K'dir, demandar, exigir.
REQUIRIZ, s. m. Vid. Requeris. J
REQUISIÇÃO, í. /. (Do latim requisi- \
tio). Termo de jurisprudência. Acção de
requerer.
— Pedido evidente formado na audiên-
cia, quer pelo ministério publico, quer
pelo advogado de uma das partes, quer ■
finalmente pela própria parte. ■
— Requerimento que faz a authorida- ■
dade publica de pôr á sua disposição pes-
soas ou cousas. — Fazer uma requisição
cios mancebos dfsde a idade dos diizoito
annos até aos vinte e cinco, para ot man-
dar assentar praça.
— A requisição da força armada; o
direito de exercer esta requisição s<5 per-
tence ao magistrado ao qual tem a lei
delegado para a segiu-ança das pessoas e
suas ])ropriedadcs.
— Exacção, cobrança por authoridade
publica.
REQUISIR, 1'. a. Termo antiquado. Ro-
gar, i>i'dir. soUicitar com instancia.
REQUISITAR, v. a. Exigir por authori-
dade publica, supplicar-lhe, pedir-lhe.
REQUISITO, f. "I. Cousa que se requer
paia se conseguir algum fim, ou fazer
alguma cousa segundo as leis. — O» re-
quisitos necessários para qvé seja um
perfeito orador. — « E porque sabiaõ, que
era homem de capricho, e brios^ que naC
havia de evitar a cmpreza, sem os requi-
sitos para cila; e para seu credito, c
honra navegar direito, accrescer.taraS que
naò convinha dar-lhe Beca. nem Habito
de Christo antes de hir.» Arte de furtar,
cap. 13.
RESA
RESA
RESA
2'òí
— Tudo o que é mister para comple-
meuto da pessoa, cousa ou acção, que
possa chamar-se perfeita, legal e regu-
lar.
— Este documento tem todos os requi-
sitos.
— Adj. Requerido, devido. — liepu-
blíca com as condições requisitas. —
«Guerra Ciril entre duas partes da mes-
ma Republica nunca he licita da parte
aggressiva; e muito menos contra o Prín-
cipe, se nao for tyranno : porque falta
em ambos os casos a potestade da juris-
dicção; e daqui se segue, que pôde o
Príncipe fazer guerra contra a sua Repu-
blica com as condiçoens requisitas, que
temos dito.» Arte de furtar, cap. 21.
REQUISITÓRIA, s. f. Carta de um juiz
pai'a outro, rogando-lhe com a devida
delicadeza, que mande executar algum
mandado d'esse que envia a requisitó-
ria.
— Deprecatoria, ou precatória.
— Adj. f. — Carfa requisitória.
f REQUisITORIAL, adj. 2 gen. Que
tem requisitório.
REQUISITÓRIO, s. m. Requisição feita
por escripto por aquelle que preenche
n'um tribunal as funcções do ministério
publico. — Longo requisitório. — Requi-
sitório pouco favorável ao accusado. —
Que doutrina abominável como a d'este
requisitório !
1.) RES. Partícula reduplicativa, que
se usa em muitas palavras da nossa lín-
gua, taes como resguardar, resfriar, etc.
Outras vezes supprime-se ou elide-so o
s, e fica somente re, taes como resalvar,
resaltar, etc. Víd. Re.
2.) RÊS, s. /. Vid. Rez, orthographia
preferível. — Mercado de reses.
Outros era fundas couas cauernosas
Com toruação se metem sem ter couta
Com mais que com sahiarse, vào seguindo
Os bra(;os victoriosos cate alcanso :
Mil manadas de reses tomaõ grossas,
E tomào de innoceuto manso gado
Hum numero infinito, com tal presa
Se tornào, mas primeiro as casas ardem.
CORTE REAL, NAUFRÁGIO DE SEPÚLVEDA, CaUt. 12.
f RESA, s. f. Vid. Reza, melhor or-
thographia e mais em uso. — « Entrando
pelo Acará dentro, rio alegre e de boas
terras, occupando o tempo em rasa, lição
e outros exercícios, para o que folgáva-
mos de ir solitário, e a que o génio nos
inclinou desde os primeiros annos. » Bispo
do Grão Pará, Memorias, publicadas por
Camillo Casteílo Branco, pag. 209.
RESABER, i'. a. Saber perfeitamente,
saber muito bem.
RESABIADO, A, adj. Espantadiço, ma-
nhoso. — Cavallo resabiado.
— Desgostoso, anojado.
RE3ABIAR, v. a. Fazer tomar resaíbo,
vicio ou mau costume.
VOL. T.— 30.
— Fazer ganhar desaffeição, desagra-
do.
— Resabiar-se, v. i-efl. Ganhar resaí-
bo, desagrado, desaffeição.
— Desgostar-se.
RESABIDO, A, adj. Muito bc-m sabido.
— Esperto, muito fino, íntellígente.
— Parf. pass. de Resaber.
RESABIO, s. m. Vid. Resaibo.
Técem-lhe, em torno do jazigo, dansas,
E tem do seu fallar, resábio ainda.
Tam meigo lhe é de 0%idio, inda, lembr.ar-gc !
Com d(3r se erguia o Vate, eutam, dos Bárbaros
Xáo o comprender : e inda hoje o chúrão Sarmatas.
FR.Í.NCISCO MANOEL DO NASCIMENTO, OS MAHTYRES,
liv. 7.
RESACA, s. /. O movimento feito pelo
rolo do mar, recuando da praia. Vid. Res-
saca.
— Porto formado da enchente do mar.
Vid. Saco.
— Emprega-se também figuradamente.
RESACAR, V. a. Fazer resaque.
— Reexportar. Vid. Sacar.
RESAIBIAR, 1-. a. Vid. Resabiar.
RESAIBO, s. m. (De re, e saibo). Sa-
bor que fica adherente a algum vaso.
— Vício, manha ou doença das caval-
gaduras.
— O sabor mau, e para mal do refina-
do, e resabído; o ser resabido.
— P^iguradamente : Semelhança ou res-
to de uma cousa, que se communicou a
outra, ou que se possuiu, e teve antes ou
em outro estado.
RESAIR, r. n. Tornar a sair, sair se-
gunda vez, sair de novo.
RESÁIU, s. m. Termo antiquado. Vid.
Rocio.
RESALGAR, s. m. Termo de Botânica.
Planta veneno.?a, que até com o contacto
mata a quem a tem por muito tempo fe-
chada na mào.
RESALTADO, part. pass. de Resaltar.
Relevado.
— Saltado aos olhos.
— Díz-se de tudo o que sobresáe, e
fica mais elevado que o fundo, plano ou
superficíe. — Olhos resaltados.
— Feições resaltadas ; feições avulta-
das.
RESALTAR, v. a. (De re, e do latim
salfuin, de salire). Relevar, fazer sobre-
saír ao nível, ficar mais alto.
— V. n. Saltar aos olhos, por mais ele-
vado, saliente, prominente, e resaltado.
— Saltar reflectindo.
— Sobresaltar fora da superficíe, fun-
do, ou de outro corpo a que está unido
por o lado de baixo.
Entào sahindo súbito do seio,
Onde até alli vivoo, resaIJa, e brilha
A lúcida faisoa, e se outro corpo
Junto acaso encontrou, se prende, c atea.
J. A. DE MACEDO, NATUREZA, Cant. 2.
— Emprega-se também no sentido fi-
gurado.
RESALTEAR, v. a. Tomar a saltear,
saltear segunda vez, saltear de novo.
RESALTO, s. m. A prominencía, a
saliência da cousa que se eleva sobre o
nível de alguma superficíe, onde está
embebida o d'onde nasce. — Resalto dos
olhos.
— Salto dado pelo corpo elástico, quan-
do estendendo-se, e largando-se, em se-
guida voltou ao seu estado primitivo.
RESALVA, s. f. Declaração por escri-
pto para segm-ança de alguém.
— Cautela para evitar prejuízos.
— Resalva da entrelinha ; é a declara-
ção feita pelo tabellião, de que a entreli-
nha foi posta por elle, e diz alli o mes-
mo que pOz na entrelinha, e firma a re-
salva.
— Excepção, reserva.
RESALVADO, part. pass. de Resalvar.
Exceptuado, reservado como excepção.
— Declarado com resalva.
— Livre do mal, seguro.
RESALVAR, v. a. Fazer ou dar re-
salva.
— • Declarar com resalva.
— Livrar de damno, mal, segurar. —
« Mas, para resalvar de escândalo, des-
empenharei o caracter especial prologe-
tico. Ahi vai : A quem, se não a vossês,
na ociosidade heroes, se devia offerecer
este bazulaque em ócio concebido e em
ócio guisado? Defendam-no, pois, de den-
tes e línguas inimigas e malignantes.»
Bispo do Grão Pará, Memorias, publica-
das por Camillo Casteílo Branco, pag. 57.
— Exceptuar, reservar como exce-
pção.
— F. rejl. Resalvar-se ; tomar resal-
vas, prevenir accusações com razões, des-
culpas, ordinariamente antecipadas.
■ — Figuradamente: Resalvar-se da sua
inépcia e descuido.
RESAMPHONINAR, ou RESANFONINAR.
Vid. Reçanfoninar.
RESÃO, s. f. Vid. Razão.
RESAQUE, s. m. A acção de sacar uma
nova letra de cambio, por meio da qual
o portador se reembolsa sobre o sacador,
ou sobre um dos endossadores do princi-
pal da letra protestada, e suas despezas.
Vid. Recambio.
f RESAR, V. a. Vid. Rezar.
tem por dcvação resar cada dia
muito devoto uma Ave Maria,
que lhe eu bem desejo ficar no tinteiro.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pag. 9.
— « E, com effeito, assistindo eu a um
moribundo de primeira plana em Lisboa,
parecou notável a casualidade de chegar
o padre da benção de Alemquer, a tem-
po que poude ajudar-me, resando o ofti-
cio da agonia, emquanto eu auxiliava o
moribundo com actos próprios d'aquelle
234
RESO
RESE
RESE
instante» Bispo do GrUo Pará, Memo-
rias, publicailaH por Caniillo Cantello
]>rancii, pai;'. I-"!-.
• RESARCIMENTO, *-. m. A acçào de re-
Barcir e o olloito d'o.íta acçito.
— SatÍHta(,:ilio, reparo, emenda. — O re-
sarcimento </« perda.
RESARGIR, '■. «. (L)t) latira resarcire).
Rjparar, .satisfazer, emendar. — Resarcir
a perda de algum dumno, que se tenha
tausado.
RESAUDAR, r. a. Responder á sauda-
do do alguém com outras tacs palavras,
o eortczia.
RESBALAR, r. a. Vid. Resvalar.
• RESBORDO, s. m. (Do franco/- rehord).
Temio do niai-iuha. Soííundo .solho do na-
rio, n;i co-Uiira da tahoa <lo resbordo.
RESBUTOS, ou REISBUTOS, s. m. plur.
íioutio.s d(! (j.-unbaya ou tiuzarato.
RESCALDADO, i>art. pass. de Rescal-
dar. JMuito escaldado.
— Muito (piriite.
RESCALDAMENTO, s. m. Termo anti-
quado. Acto vio escaldar, cffeito d'esto
Acto.
— Abrazanicuto.
RESCALDAR, r. a. Escaldar muito.
■ RESCALDEIRO, s. in. Prato furado com
íescaldo, para ter quentes no de cima,
A mesa, guisados do molhos, que se en-
grossam quando frios.
— Vasilha de cobre, á maneira de tu-
bo com tampa do mesmo, e cabo do páo
Ond^ebido no alvado pegado ao rcscaldei-
ro ; collocam-30 n'ella as brazas ou res-
òaldo para aquecer a cama, correndo-a
entro os lonçocs, em tempo frio. Os po-
bres, nos paizos frios, servem-se de res-
caldeiros de barro, para baixo dos pés.
Ou aquecer as mãos; brazeirinhos, estuti-
libas cobertas com testos gretados ou fu-
rados. Vid. Comadre, c Esquentador.
RESCALDO, *'. m. O borralho, ou cinza
com algumas brazinhas.
• — As cinzas quo lançam os respira-
douros do fogo, ou vulci3os.
— Figuradamente : O rescaldo da ira,
do ódio.
— As fezes que íieam no estômago de
comeres que as deixam. — « Onde acha-
tam cangrejos, o lapas, que por razão da
humidade quo ao comer lhe achavam, por
matar a sede, mcttòram-so tanto nelles,
que houveram do morrer, como o estô-
mago começou entrar no rescaldo do sal
que levava aquella humidade.» João de
Barros, Década 2, liv. 8, cap. 4.
— Figuradamente : O rescaldo do vi-
nho, que esquentara; restos dos seus eflfei-
tos.
RESCAMBO, s. »i. Termo antiiiuado.
Troca, mudança, permutação.
RESCÃO, .<!. /. Vid. Rascão.
RESCENDER", r. a. Vid. Recender.
RESCINDIMENTO, s. »i. Acto de res-
cindir, c ctVeito d'esta acção.
— AunuUação.
RESCINDIDO, part. pasn. de Rescindir.
Coilado, i'(iti).
— Aiuiullado, invalidado.
RESCINDIR, c. a. (Do latim rescindere).
Quebrar, aunuUar, invalidar. — Fazer
rescindir um acta, uma ohrigar^ão, um
contracto, uma partilha, etc.
— Figuradamente : Rescindir o cam-
mento.
— Cortar, romper.
RESCISÃO, s. f. (Do latim rencisioj. A
acção do rescindir, e o cfleito d'e8ta ac-
ção.
— Annullação de um acto, de uma
partilha. — Erigir a rescisão de um
acta.
I RESCISÓRIO, A, adj. Termo de ju-
risprudência. Que dá logar á resci.sào.
RESCREVER, v. «. (Do latim rescriòc-
re). Escrever de novo, escrever segunda
vez.
— • Dar um rescripto.
— Responder por escripto.
RESCRIPÇÃO, s. f. (Do latim res-
cripfio). Mandado para se pagar certa
somma.
RESCRIPTO, s. m. (Do latim rescrip-
tam). Ordem por escripto, mandato por
occasião de alguma consulta, suppliea, ou
requerimento.
— Resolução regia.
— Resposta dos imperadores romanos
lis questões em que eram consultados pe-
los governadores das províncias, pelos
juizes, ou pelos particulares nos seus de-
bates. Ha muitos rescriptos dos impera-
dores que fazem parto do direito romano.
— Nos rescriptos impcriacs, os impera-
dores não interpretavam simplesmente as
leis, mas applicavam-n'as a casos particu-
lares, assimilando assim as funcções de le-
gisladores e do juizes. — O uso dos res-
criptos, que parece datar do reinado de
Adriano, prevaleceu depois de Alexan-
dre Severo.
— Resposta do papa sobre algumas
questões do thcologia, para servir de de-
cisão ou de bulia.
— Lei, ordem do certos juizes.
RESCRITO, s. «i. Vid. Rescripto.
RESECCAÇÃO, s. /. Acção de rcscccar.
f RESECCADO, part. jkíss. de Resec-
car. Socco novamente.
— Muito seccií.
RESECCAR, V. a. Scccar novamente.
— Fazer evaporar o húmido ou a parte
aquea.
— Reseccar-se, v. refl. Tornar-se re-
secco.
RESECCO, A, adj. Que está muito sec-
co, que está secco do mais.
RESEDÂ, s. /. (Do fi-anccz reseda^.
Termo de botânica. Planta, tvpo da fa-
mília das resedaceas, que abrange mui-
tas espécies annuaes e vivazes, cuja es-
pécie a mais geral é a resedà odorifvra,
originaria da Barbaria e do Egypto, cu-
jas tlores esbranquiçadas, com as anthc-
ras cór de tijolo, oxlialam um cheiro
nmi agraria vei.
f RESEDACEO, A, adj. Que se aseo-
melha á rc;-edá.
— )S. f. plur. Familia de plantas que
tem por tv|io o género rimiAii.
f RESEGAL, ou RESIGAL, «. m. Termo
de miiH:jaio;:ia. Synonvnio de Rosalgar.
RESEGUNDAR, J» «.Tornar a segun-
dar, nsduplicar, redobrar.
RESELLAR, t. a. Pôr segundo sello,
ou oiiirn scljii. -- Resellar a.i fazenda» .
■\ RESEMEADO, part. pas». de Rese-
mear. Tornado a Benicar. — I^ão rese-
meado.
RESEMEADURA, «. /. Nova semeadura,
segunda .-^oiiiradura. Vid. Semeadura.
RESEMEAR, v. a. Tornar a semear, se-
mear segunda vez. — Resemear o aimyo.
— Figuradamente : Resemear a fé.
RESENHA, s. f. Enumeração, revista,
alardo, mostra que se faz das tropas, pa-
ra se vêr de que numero constam. — Fa-
zer resenha.
c v<á esta s/i para mim,
ha \'ilào que faz retenha
do nobre, me dirão, faz,
li lhe jaz
antro artéria uma y\\. grenha,
vil, que do longe lhe traz
o âo como agua d'azcnba.
ANIONIO PBESTB8, AUTOS, pag. 253.
RESENHADO, jmrt. pass. de Resenhar.
— Trupas resenhadas.
RESENHAR, v. a. Fazer resenha.
— Reconhecer, vêr o numero, se está
completo, e assim as cousas se tem as
qualidades requeridas.
RESENHOR, s. m. Termo de comedia.
Duas vezes senhor, segunda vez senhor.
Mo<;o. Cadeira eu?
guardc-vo3 Deos não me ponha
m.au vezo.
Dese. Eu sou todo seu.
Moi;o. Não, mas mui resenhar meu.
Dcse. Assonte-sc.
iloço. Hei vergonha.
AÍTOSIO PRESTES, ACTOS, pag. 185.
RESENTIDO, 2^<^''f- y^"**- «le Resentir.
Tornado a sentir, sentido vivamente.
--Oâendido, irritado.
— Despertado, excitado.
— Advertido.
— Prescntido, que prevê o seu futuro.
— Figuradamente: Tocado, qussi po-
dre.
— Scntid<\ desgostoso.
RESENTIMENTÒ, «. m. (Do francez re,«-
scntiment). OfiFensa leve, ou que se enco-
bre.
— Sentimento produzido por esta of-
fonsa.
RESENTIR, V. a. Tornar a sentir, sen-
tir segunda vez, sentir com força, viva-
mente.— Resentir a morte dalguem.
— Resentir-se, v. njl. Offender-se, ir-
RESÉ
RESE
RESP
?3á
ritar-se, mostrar algum sentimento, ou
pezar. — Resentir-se íV alguém, que of-
fende.
— Advertir, dar fé. — Resentir-se do
mal que fez.
— Despertar, exeitar-se.
— Resentir-se d' alguma cousa; sentir
o effeito d'eila.
RESEQUIDO, A, adj. Secco, exhausto
de sueco, e humidade. — Ameixas rese-
quidas. Vid. Resecco, que é difFerente.
RESERAR, i>. a. (Do latim reserare).
Abrir.
RESERVA, s. /. Acçíto de reservar. —
Fazer reserva n'um contracto. — Fazer
doação dos seus bens sobre a reserva de
uma pensão.
Porém seja o que for, a nossa idade
Passará pelo tempo sem desmaio ;
Mas sempre com reserva na igualdade.
ABBADE DE JAZENTE, POESIAS, tOm. l,pag. 59
(ediç. de 1787).
— A parte que se' guarda, poupa, não
gastando, dando ou empregando tudo. —
«Nos exércitos, e campanhas se experi-
menta o mesmo, que por falta de corda,
ou de bala, ou de pólvora, se perdem
vitorias ; e por naõ meterem mais ceva-
da nas garupas, ou mais mantimento na
bagagem, se recolhem sem concluírem
a empreza, que era de mais ganho, e
proveito, que o que se poupa na reser-
va.» Arte de furtar, cap. 52. — «E como
os mandados dos Reys inteiros saõ leys
invioláveis, assim vieraõ todos : foy-lhe
vendo as capas, e poz de reserva todas,
as que achou feridas, para p<jr a seus
donos de dependura. E assim passou o
negocio, que com tesouradas invisíveis
assegurou thesouros, que unhas invisíveis
lhe roubarão.» Ibidem, cap. 54.
— Termo de jurisprudência. Reserva
legal; parte dos bens que a lei declara
nào disponíveis, reservando-os a certos
herdeiros.
— Corpo de reserva; tropas que o che-
fe de um exercito defensivo reserva para
um dia de batalha, a fim de as fazer dar
quando a occasião o exigir. — Fazer avan-
çar a reserva.
— Corpo de reserva ; parte de um gran-
de exercito destinado a supprir a insuffi-
ciencia das tropas alistadas, ou a pres-
tar-lhcs auxilio.
— Tudo o que alguém guarda do capi-
tal não o mettendo todo a ganho, em em-
prezas commerciaes, etc, nem expondo-o
todo a risco.
— Figuradamente: CircumspecçSo, dis-
crição, retenção. — Não f aliar senão com
muita reserva. — Mostrar uma grande re-
serva.— Usar de reserva. — Para commi-
go não tens reserva.
— Gente de reserva ; gente que está
sobreselente para servir, e acudir onde
houver necessidade. Também se lhe cha-
ma retaguarda, por ir atraz da bata-
lha.
— Não ter reservai para com ninguém;
depositar em toda a gente uma confiança
cega.
— Ficar de reserva ; ficar guardado,
ftra do serviço, para alguma cousa ex-
traordinária, sobreselente.
— Ter de reserva; ter guardado,
— Syx. : Reserva, decência. Vid. este
ultimo tei'mo.
RESERVAÇÃO, s. /. Acto de reservar,
acçào pela qual se reserva.
— Condição posta na doação, que res-
tringe e limita o seu beneficio a certos
usos.
— Reservação de peccados ; restricçào
imposta para que só os possa absolver
certas pessoas.
— Diminuição feita aos fi'Uctos do be-
neficio, reservando parte d'elles para si
a pessoa, que o renuncia em outrem, ou
lh'o confere, ou a beneficio de um ter-
ceiro.
RESERVADAMENTE, adv. (De reserva-
do, com o suílixo «mente»). Com reser-
va, com circumspecçào.
RESERVADO, pari. pass. de Reservar.
Guardado, posto de parte.
^leM. Easa lavre Bom Cuidado ;
que o bo!n cuidar
i' cuidar que o descançar
no céo ficou reservado,
que o do cá ha de acabar.
A5T0NI0 PRESTES, AUTOS, pag. 27.
Kào diga, Seuhor, tal, que neste tempo,
Oh Tempo, oh Costumes! (diz o Padre)
O sabor o Francoz é saber tudo,
E' pasmar! ver, Senhor, como um Pascazio,
De Franeez com dous dedos se abalança.
Perante os homens doutos, c sizudos,
A fallar nas scieucias mais profundas,
Sem que lhe escape a Santa Thoologia,
Alta seiencia, aos Claustros reservada,
Quo tanto fez suar ao grande Scoto,
Aos Bocouios, aos Lclios, e a mim próprio !
DINIZ DA CKCZ, nYSSOPE, Caut. Õ.
• — Circuraspecto, discreto, cauteloso,
retrahido, refolhado, — Ser mtii reserva-
do em fallar de si, e em criticar os ou-
tros. — Reservado em palavras. — Um
jjrocedimento reservado.
— Preservado, livre do mal, da inju-
ria.
'■ — Caso, peccado reservado ; caso, pec-
cado de que de ordinário não absolve se-
não a pessoa a quem é reservado.
RESERVADOR, A, adj. e s. (De reser-
var, com o sufiixo «dor»). Que reserva,
que guarda, que põe de parte.
— Que preserva, que livra do mal.
RESERVAR, v. a. (Do latim reservare).
C4uardar, reter uma cousa entre muitas.
— Reservar o usufructo, o gozo de um do-
minio. — Reservar os fundos. — «Porque
nam seria rezam que descobrindo elles
ilhas, e terras se lhes atrauesassem ou-
tros a fazer o mesmo que era sua mercê
de por tempo de dez annos nam dar li-
cença a pessoa nenhuma pêra ir desco-
brir pelo caminho, e derrota que elles
fezessem, reseruando que seus capitães
que tinha nas prouincias do mar do Sul
podessem ir buscar o estreito daquelles
mares dandolhes elles para isso licença.»
Damião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 4, cap. 37. — «Dizia elle : «Então
estarei morto! Foi destresa d'el-rei para
me tirar os novos direitos. Lá vae o di-
nheiro que eu reservava para o meu en-
terro.» Bispo do Grão Pará, Memorias,
publicadas por Camillo Castello Branco,
pag. 164.
— Preservar, livrar do mal, da inju-
ria.
— Guardar muito, e para si só. — «O
segi-edo disto deuia a natureza, reseruar
pêra si, como fez ao de outras muytas
cousas, a que as razões naturafls nam
chegam.» Fr. Gaspar de S. Bernardino,
Itinerário da índia, cap. 21.
— Tirar ao beneficio parte dos fructos,
pensionando-] he o beneficio.
— Reservar peccados ; restringir a cer-
ta pessoa ou pessoas o poder de os absol-
ver.
— Reservar-se, v. refl. Guardar, pôr
alguma cousa de parte para si.
— Ficar de reserva. Vid. Reserva.
— Ser circumspecto, discreto na sua
linguagem, em transmittir seus segi-edos,
pensamentos, etc.
RESERVATARIO, A, adj. Que recebe
reserva.
— Cónego reservatario ; cónego que
renuncia o beneficio, reservando para si
uma pensão aniiual.
RESERVATÓRIO, s. m. Recipiente que
contém uma quantidade de agua quaU
quer, onde a conserva, e d'onde se dis-
tribuo para diversas partes e difieren-
tes usos. Vid. Recipiente, Receptáculo,
Reconditorio.
RESERVIDO, part. pass. de Reservir,
Servido do novo, servido segunda vez.
RESERVIR, V, a. Servir de novo, tor-
nar a servir.
I RESFOLEGADO, jmjí. pass. de Res-
folegar. Respirado, lançado.
— Descançado.
RESFOLEGADOURO, s. m. Orifício por
onde se respira.
— Respiradouro, aberta, por onde se
respira, e inspira o ar puro, ou os vapo-
res e exhalações de canos, poços, ade-
gas, machinas em que o fogo e vapor
entram, como moveis, etc. • ■
RESFOLEGAR, v. a. Respirar, lançar.
— V. n. Respirar.
— Figuradamente : Descançar, tomar
respiração, fôlego,
RESFOLEGO, s. m. Anhelito, respira-
ção.
RESFOLGADOURO, s. m. Vid. Resfole-
gadouro.
236
RESCI
RESfi
RESG
RESFOLGADO, jmrt. jiriss. <lo Resfol-
gar. Viil. Resfolegado.
RESFOLGAR, v. a. o íí. Vid. Resfole-
gar.
1.) RESFRIADO, yurt. pms. >kt Res-
friar. Toriiiid» !i esfriar, osfriado outra
vez.
— Des.aniinado.
— • Doento do resfriado.
— Fif^uradamciito : Fazer resfriado ;
fazer donanimar tratando eoin frieza, com
iiidifforonra, uoin do.sfavor.
2.) RESFRIADO, ». m. Docnya produ-
zida peia obstrucyjlo do.s poros, e falta do
rcspirayiio.
1.) RESFRIADOR, A, ndj. (Do resfriar,
e o siiílixii «dór). Quo resfria. — Tunipn
resfriador.
■ — Figuradamente : Quo desanima.
2.) RESFRIADOR, s. m. Vasilha cheia
do agua fria para resfriar vinlios, ou ou-
tras bebidas.
— Vaso cheio de agua fria ou gelada
para mctter as serpentinas, ou canos dos
alambiques, para que o liquido quo se dis-
tilla saia frio, o se não oxhale com o ca-
lor a parte mais volátil e espirituosa.
RESFRIAMENTO, s. m. Acção de tor-
nar frii) aíjuillo ([ue ei"a quente.
— Figuradamente : Subtracção de ca-
lor, furor, paixão, energia, e aci-imonia.
RESFRIAR, II. a. Esfriar de novo, tor-
nar a esfriar.
— Figuradamente : Desanimar, des-
alentar. — Resfriar o animo.
— Fazer cessar o calor, e ser frio. —
Resfriar o corpo.
— Resfriar-se, v. rejl. Tornar-sc frio.
— Adoecer de refriado.
— Entibiar-se.
— Figuradamente : Abater-sc, ou aca-
bar.
RESGALAR, v. a. Vid. Arregalar.
RESGATADO, part. pass. do Resgatar.
Remido com dinheiro.
— Comprado ou permutado.
— Figuradamente : Salvo do captivci-
ro do diabo.
— Vendido por resgate.
RESGATADOR, A, s. (De resgatar, e o
suffixo udõr»). Pessoa quo resgata, que
vende por resgate.
RESGATANTE, part. act. de Resgatar.
Vid. Resgatador.
RESGATAR, v. a. Remir por dinheiro
a cousa vendida.
— Resgatar a vida ; remil-a dando di-
nheiro, a quem lh'a deixa ou conserva.
— Vender por resgate.
— Resgatar a obra, ou escripfura ; ti-
ral-a ;l luz, livrando-a do esquecimento,
ou ruina a que estava exposta.
— ■ Dar liberdade o prosador, a quem
tem preso, o lhe paga o resgate. — «So-
mente pareço que deu nona nas povoa-
ções da chegada do nauio, c como trazia
os moços pcra resgatar : porque sendo
ja passados oito dias vierão macs de cem
pesHoas ao resgato delles, por serem fi-
llios dos iiiaes nobres daqueíles Alarues.»
Barros, Década 1, liv. 1. cap. 7. — «Na
qual cart.i clle Alloiiso d'Alboqucrque
escrevia ao Xeque como tinha sabido
que em sou poder estavam cativos certos
Tortuguezes, que vieram ter ao seu por-
to que lho pedia houvesse por bem do
os resgatar.» Idom, Década 2, liv. 8,
cap. o, — «Muitos j)ays houve, que li-
vrarão seus filhos seis c sete vezes dostu
modo, em diíFerentes annos ; com que
lhes vieraò a custar tanto como se os
resgatarão do Turquia.» Arte de furtar,
cap. 8. — «A este tempo viraõ os nos-
sos caliir Luiz Figueira de uma espin-
gardada de que logo morroo, tendo feito
taes cousas que os Turcos ficíiraõ pasma-
dos, c o Cafar disse aos soldados que alli
licàraõ cativos (segundo elles depois que
os resgatarão dissoraò) que se Luiz Fi-
gueira não morrera da espingardada, sem
duvida ellc ticàra o rendido.» Diogo de
Couto, Década (i, liv. O, cap. ?>.
— Figuradamente : Resgatar o tempo ;
dar o tempo gastado em boas obras, dal-o
por mal gasto.
— Figuradamente : Salvar, livrar da
escravidão do demónio, do captiveiro do
peccado.
— Comprar, permutar. — «Acabada a
obra e a tcri-a corrente e resgate, espe-
dio Diogo d'Azambuja os nauios e a gen-
te sobreselente que se veo pêra o Keyno
com boa copia d'ouro que resgatarão, e
elle ficou cõ sesenta homens ordenados A
fortaleza segundo hia per regimento dcl-
Rcy.» Barros, Década 1, liv. 3, cap. 2.
— «As nãos <iue foraij esperar os juncos
de Jaoa aos Estreitos, recolherão a si to-
dos os que vieraõ, e com elles resgata-
rão todos os mantimentos quo traziaõ, a
troco de roupas, c carregados delles se
tornarão pêra Malaca, com o que a vi-
toria se acabou de arrematar, porque jà
tiuhaõ que comer.» Diogo de Couto, Dé-
cada (5, liv. í', c<ap. 9. — «E assy man-
dou logo com clle feytores, o officiaes pê-
ra lá estarem, e resgatarem a dita pi-
menta, c outras cousas que na torra auia.
E depois por ser muyto doentia, e o tra-
to não ser do muyto proueito como se es-
pcraua, a feytoria se desfez, o os officiacs
so vieram.» (í areia de Rezende, Chroni-
ca de D. João II, cap. (i5.
— Resgatar cnptivos; remil-os. — «Que
nam tem remédio, faz muitjis osmollas
pcra casamentos de orphans, ou pcra se-
rem tonuidas para freiras cni mosteiro.
Quando se tomou o cabo do Cue deu
hunia grão somnm de dinheiro para res-
gatar captiuos, principalmente mininos,
pelo perigo da idade tonrra aparelhada
pêra facilmente perder a fc.» Damião de
Gocs, Chronica de D. Manoel, part. 3,
cap. 27.
— Resgatar-se, c. rojl. Remir-se. —
«E depois mandou Estcuão Vaz sou es-
criuão da camará, quo depoia foy fcytor
das casas da Índia o da Mina, homem de
quo cl Rey coníiaua, que com o dito dom
loam ontondesHc no roí-j^att; do dito Bar-
caxe, o qual se concertou com cUea de
se resgatar por quinze mil dobras de
banda, c dez catiuoB Clm«t3o«, e vinte
caualloH bons, pêra que logo deu íilhoB
seus, e outras pessoas príncipaea por aeui)
arrefcns.» (larcia do Rezende, Chronica
de D. João II, cap. 08.
RESGATA VEL, af)j. 2 (ji:n. Que se pôde
ou ha de resgatar, dando-se o valor da
cousa quo se resgata, fallando dos bilhe-
tes de credito, quo circulam como di-
nheiro ou acções, e titulo do sommas
exigíveis, os quaes se resgatam dando o
seu valor ao apresentante, ou tomando-
lh'o3 como dinheiro. — Os objectoa pe-
nliorados, hypothccados, e vendidos a re-
tro são resgatáveis, dando-se ao credor,
ou Vendedor o valor dos seus créditos,
ou do que venderão. Vid. Remir.
RESGATE, 8. VI. A acção do resgatar,
de remir com dinheiro a couaa vendida
ou empenhada. — «Entre os mais cati-
vos, que se perderão nosta jornada for2o
Dulcidio Bispo de Salamanca, e Henno-
gio de Tuy, cujo resgate senão dilatou
muyto tempo, por se dar a contia de di-
nheiro em que o de Salamàca foy apres-
sado, e ficar em refons pelo de Tuy, hum
seu sobrinho, chamado Pelayo.» Monar-
chia Lusitana, liv. 7, cap. 17.
— CúUHa de pouco resgate ; cousa de
pouco preço.
— O logar onde se faz o resgate de
mercadorias, escravos, captivos ; feira ;
mercado nas costas da Cafraria, e seme-
lhantes. — «Postos todos cm terra, ven-
do Jlanoel de Sousa perdidas as espe-
ranças de poder fazer o caravelão, por
não haver de que, porque o mar destro-
çou a nào, como dissemos, assentou por
conselho de todos hirem buscar o rio de
Lourenço ilarques, aonde todos os annos
vinhão navios de Moçambique ao resga-
te do marfim.» Diogo de Couto, Década
U, liv. 9, cap. 22.
— O preço por que se resgata. — «E
porque quando deste Reyno partio, cl-
Rey dõ Manuel ordenou que Bartholo-
meu Diaz e Diogo Diaz seu irmào fossem
a Mina do Çofala descobrir e assentar
aquelle resgate, o qual negocio nSlo ouue
eftecto por se perder Bartholomeu Diaz
no dia que se perderão outras três velas,
e Diogo Diaz era desaparecido.» Barros,
Década 1, liv. ."■>, cap. 7. — «Manoel Ro-
drigues Coutiniio despcdio recados muy
apressados a Còchim, tratando de seo
resgate com o Naique (que porque se
resgatassem mais depressa, e melhor, os
tratou muito mal, c lhes estreitou as pri-
zoens\ Os recados que partirão pêra Cò-
cliim. foraõ cm poucos dias na Cidade, e
se dcraõ no Capitão.» Diogo de Couto,
Década G, liv. 10, cap. 8. — «0<jucac»-
RESG
bado estancio o Vicerei ainda era Dabul
lhe deraõ cartas de offerecimentos de Mi-
lifj^uiaz, e outras dos Portugueses que
captiuara em Cliaul, em que lhe scre-
uiam sobelo resgate de suas pessoas, e
quão bem de tratados delle eram, mas a
visitaçam de Miliquiaz era mais para
pelo mesageiro saber o que o Vicerey
fazia, que naõ por desejo que tiuesse de
sua amizade.» Damião de Góes, Chroni-
ca de D. Manoel, part. 2, cap. 38. —
«Andando assi ocupado nestes negócios
mandou el Rei de Bintam dizer per hum
messageiro ao Senhor de Siaca seu vas-
sallo, que se lhe desse a cabeça de Geor-
ge botelho, o casaria com huma sua fi-
lha, porque elle era o que lhe fazia a
guerra mais que nenhuma outra pessoa,
o que quisera poer em obra, mas a trai-
ção lhe foi descuberta per hum homem
daquella comarca que fora seu captiuo, e
elle soltara sem lhe leuar resgate.» Ibi-
dem, pait. 3, cap. 79. — «E em este
tempo estava aqui huma armada de Bar-
ba roxa, em que vi muytos Christãos com
ferros, e mal tratados dos Turcos, que
vinham falar com os mercadores a dita
cidade sobre seus resgates.» Tenreiro,
Itinerário, cap. 49.
Na tua edadc
Rcspeitam-se os anciãos, ouvc-se e apprcnde-se.
Mancebo, escuta: — Libertar a pátria,
E dar pelo resgate a própria \-ida,
Não é mais que dever ; grande heroísmo,
Acções de glória, n'Í380 não as vejo.
GABBETT, CATÃO, act. 4, SC. 3.
— Resgate dos altares ; certa e deter-
minada pensão que os mosteiros paga-
vam aos bispos todas as vezes que aos
monges sf! davam ou doavam algumas
igrejas parochiaes, e mormente quando
eram doadas por pessoas seculares. Paga-
va-se este resgate todas as vezes que n'el-
las entravam a servir de novo parochos
monges ; ou fosse quando pela primei-
ra vez os mosteiros a entravam a paro-
chiar, ou quando por ausência, remoção,
demissão ou morte do primeiro parocho,
succedia outro monge no seu lugar.
RESGUARDA, s. f. Termo antiquado
de milicia. Rectaguarda. Vid. Reguarda.
RESGUARDADO', 2>a)-í. pass. de Resguar-
dar, (juardado com cautela e vigilância
para evitar damnos e perigos.
— Olhado, visto, attendido, conside-
rado.
— Resalvado, reservado.
— Defendido, vigiado.
— Casas resguardadas do frio.
— Acautelado, circumspecto.
RESGUARDAR, v. a. (De re, e esguar-
dar). Guardar cautelosa e vigilantemen-
te para obstar aos damnos e perigos.
ifas o alto Deos, que para longe guarda
O castigo d'aquclle que o merece ;
RESG
Ou para que se emende ás vezes tarda,
Ou por segredos que o homem não conhece ;
Se até aqui sempre o forte Rei resguarda^
Dos perigos a que cilc se otferece,
Agora lhe não deixa ter defesa
Da maldição da mão que estava presa.
CAM., Lus., cant. 3, est. 69.
Nunca, nunca tão alto me clamaram
Que sós som Deus, sós pelo esforço humano
Não fariam jamais os portuguezos
O que hão feito no mundo... Dei c'o tumulo
De custoso lavor que ahi resguarda
As cinzas do monarcha afiortunado.
GARRETT, CAMÕES, cant. 3, cap. 19.
— Olhar, vêr, attender, considerar.
Vid. Esguardar.
— Reservar, resalvar.
— Resguardar-se, v. refl. Defender-se,
acautelar-se, vigiar-se. — «E se he fa-
mosa a arte, que do centro da terra des-
entranha o ouro, que se defeude com
montes de difficuldades, naõ he menos
admirável a do ladraõ, que das entranhas
de hum escritório, que fechado a sete
chaves se resguarda com mil artiiicios,
desencóva com outros mavores o thesou-
ro, com que se melhora de fortuna.» Ar-
te de furtar, cap. 1. — «E porque estes
comunmente sam muito rigurosos, e le-
vam todo por rigor de justiça, destes tra-
balham mais os Louthias de se resguar-
dar que os nam comprendam em culpas.»
Frei Gaspar da Cruz, Tratado das cou-
sas da China, cap. 17.
E o Pastor ocioso na choupana,
Alverguo da innoconcia, imper^-io ao crime.
Mal se resguarda do entranhado Inverno.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Caut. 1.
— Resguardar-se dos inimi/jos ; yigiar-
se d'elle3.
— Resguardar-se de alimentos insalu-
bres; ter resguardo, ter dieta.
RESGUARDO, s. m. Cuidado cauteloso,
precaução, vigilância que se põe em
evitar algum damno, mal, perda, erro
ou perigo. — Ter grande resguardo. —
«Orlanda que era a mais velha d'ellas,
e gram sabedora n'aquella arte, a curou
com tanto resguardo, como a pessoa a
que o já devia, provendo-se do necessá-
rio d'uma botica que o gigantfe costuma-
va ter.» Francisco de Moraes, Palmei-
rim d'Inglaterra, cap. 28.— «Daili le-
vado ao castello o curaram com todo res-
guardo, inda que o maior mal que sen-
tia, e a ferida que o mais atormentava,
era cuidar que de todo o desamparava a
esperança de poder cobrar sua senhora.»
Ibidem, cap. 130. — «E como nesta se-
gurança de que elle quis vsar o maior
risco era sua fjizenda, e não em cousas
de que pudesse dar conta que teuera
pouco resguardo em se confiar, no tem-
po que andarão estes recados de suas
vistaíi depois que assentou com elRey
RESG
237
onde auião de ser.» Barros, Década 1,
liv. 5, cap. 4. — «Com regimento, que
em nenhuma maneira fizessem preza,
nem tomadia, ante procurassem paz, dan-
do do seu per onde quer que fossem, e
assentassem padrões, e as terras nas car-
tas, e outros muitos avisos, e resguar-
dos, que convinham pêra tão novo des-
cubrimento.» Idem, Década 2, liv. 6,
cap. 7. — «Mas com todo este resguardo
o Piloto, e officiaes da náo a mettêram
nas correntes das Ilhas de Maldiva, e
foram dar com ella em huma, a que cha-
mam Candaluz.» Ibidem, liv. 7, cap. 1.
— «E com quãto isto se fez com todo o
tento e resguardo possível, nào pôde ser
tanto a nosso salvo que a arvore grande
nào levasse debaixo de sy quatorze pes-
soas, om que entrarão cinco Portugue-
ses, os quais todos ficarão aly amassados,
arrebentando cada hum dèlles por mil
partes, que foy huma cousa lastimosíssi-
ma de ver, e que a todos nos derrubou
os espritos de tal maneyra, que ficamos
como pasmados.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 137. — «Mas nem
assi se pode fazer com tanto resguardo
que os moradores do lugar o não soubes-
sem, e se saíssem com suas molheres, fi-
lhos, e o melhor de suas fazendas, coiiã
tudo Nuno fernandez que leuaua a dian-
teira, captiuou cincoenta almas, e dalli
se tornarão aos aduares de Cide Ihea-
benfuf, com tenção de irem todos a Mar-
rocos.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 3, cap. 49. — «Ho anno
seguinte que foy de quoarenta e nove foy
mais riguroso resguardo na costa pollos
capitães darmada, e mayor vigilância nos
portos e entradas da China, de maneira
que nem fazendas, nem mantimentos vi-
nham aos Portuguezes.» Frei Caspar da
Cruz, Tratado das cousas da China, cap.
24. — «ilostciros, recolhimentos, e ou-
tros resguardos semelhantes, em que os
homens depositam suas nudheres, não
deixam do ser arriscados ; e de certo,
quando a occasião não seja muito urgen-
te, é usar com as mulheres ruim lei, e
fixltar-lhes com a fé, e companhia devi-
da; porque se cada uma d'aquellas qui-
zera ser freira, bem escusara de se ca-
zar.» D. Francisco Manoel -de Mello,
Carta de guia de casados.
— Gente ou diligencia que se põe para
vigiar e acautelar o mal.
— Dar resguardo ; levar em vigia.
— Prevenção para segurar a consecu-
ção de algum fim.
— Balaustres, grades, redes de arame
e tudo o que cobre e evita a chegada a
alguma cousa para lhe não causar damno.
— Dar resguardo ; evitar, desviar o
damno a alguém, fazer signal que o
evite.
— Resguardo do segredo ; cuidado, pre-
caução para que elle se não revele.
— Respeito, attenção, acatamento.
238
RESI
— No sentido moral, tudo o quo serve
para resguardar alpunia pessoa de alfíuin
inconveniente. — Jlapuriíjas sew resguar-
do, nem ilecuro.
— De resguardo; de reserva, sobrese-
lente.
— Cuidado quo o doente deve ter na
dieta, e ])recanv(')03 para evitar rocaliida.
— Ter resguardo non iloentes.
— Al)A<ilO K PUOVKUBIO :
— Na hacca do sacco está a rc^'ra, o
o resguardo.
f RESGUATE, «. m. Vid. Resgate. —
«E foy wolto fazendo a el Rey concerto,
e capitulação do sempre ser a seu serui-
ço, porque ao tal temiio oUe estaua mal,
e eia iini^o de Jloleyxeque Rey do Fez,
o tinha cora elle gu rra, o sabia que el
Rey continuamente Ília mandaria fazer
como fazia. E c<to resguale nào ouue
ctfcvto, porque daiiy a poucos dias for.Mio
liurcmontc soltos os fillios, e arrefens de
Barraxe, c dados por dom António, filho
do Conde de ViUa Real, que sendo Ca-
pitSo em Ceyta por seu pay foy dos Mou-
ros em hunia peleja muy ferido, e cati-
uo, como ao diante so ilirá.» (iarcia de
Rezende, Chronica de D. João II, capitu-
lo GS.
" RESICAÇÃO, s. /. O estado do que es-
tá rusicado.
RESICADO, parf. pass. de Resicar. Mui-
to seei'o, mirrado.
— Falto de líquidos.
RESICAR, ou RESIGCAR, i'. a. ^De re,
e do latim siccare). Termo de medicina.
Secc.ar muito, queimar. — Resicar as en-
tranliaí!.
RESIDÊNCIA, s. /. Morada continua,
em alííum logar, em alguma cidade, em
algum paiz. — «Que os Grandes vem vi-
sitar 03 Religiosos ás suas Cellas, onde
fazem gostoza, e continuada residência.»
Cavallciro d'01iveira, Cartas, liv. 1, n.»
28. — «Sabe a mesma alma que esta re-
sidência não he mais do que huma pas-
sagem para a viagem eterna, e quo nào
tem mais tempo para preparar-^e quo
aquelle pouco que dura a vida.» Ibidem,
liv. ;5, cap. 40. — «íiivreuos Dcos a to-
dos de otlereoimentos secretos, que cor-
rem sua fortuna sem testemunhas, acei-
tos torcem logo as meadas até quebrar o
fiado polo mais fraco; e a poder de nós
cegos o fazem parecer inteiro; até nas
residências, onde so daõ em se fazerem as
barbas huns aos outros, fica tudo sem
remédio, e com a mayor parte da preza
em Imm momento, quem nos hia restau-
rar dos damuoâ de hum triennio.» Arte
de furtar, cap. 4. — «N'estas quatro co-
lónias, que se estendem por mais de qua-
trocentas léguas de co-sta, tem a compa-
nhia dez residências, que sSo como ca-
beças de ditferentes ehristandades a ellas
annexas, a que acodem os missionários
de cada uma em continua roda, segundo
a necessidade e disposição que se lhes
RESI
tem dado.» Padre António Vieira, Car-
tas, n." 17.
— OÍTicio de residente. Vid. Amaro.
— Fitzcr residência fm alguma parte;
estacionar alli, fazer alli a sua morada.
— aE com elle tornou a Portugal, quan-
do lio (licto Du(jue dõ Diogo, depois de
conualocer da djença, que Uic ostoruou
sua ida, foi fazer residência em Castella
per caso das ti^rçarias do 1'rincipe dom
Afonso, e da Princesa duna Isabel, das
quaes terçarias, c da causa porque se
ordenaram, e desfezeram, se trata copio-
samente na Chronica dei Rei dom Afon-
so, pelo que tenho por cxcusado fallar
aqui nellas, por ser fora de seu lugar.»
Damião de Coes, Chronica de D. Manoel,
part. 1, cap. 5.
— Comparecimento do réo, que está
seguro em juizo, e, se nào comparece,
quebra a residência.
— Exame, ou informação que se tira
do procedimento do juiz, ou governador
a respeito de como procederam nas cousas
do seu officio, durante o tempo que resi-
diram na terra onde o exerceram. — Tirar
residência. — «E porque lhe tinhão che-
gado novas da morte de D. Joaõ Henri-
ques (iipitaõ de Ceilaò, despachou pêra
aquilia fortaleza Dom Duarte Deça, e
assim o fi'z também às nãos de Jlalaca,
em que mandou o Licenciado Fiancisco
Alvarez pêra hir tomar residência a D.
Pedro da Silva da Gama, e pêra fazer
outras cousas que conviniiaõ ao serviço
do EiRey.» Diogo de Couto, Década (i,
liv. 10, cap. 0.
Cria. E cu tomár.i residência
:io corregedor •, pào d'arca
n;i cominarca
diintre r|ueijo e consciência •,
não iiietter agora cm barca
j;nitav piroz ou prudência.
.\2iX0MI0 PBESTE9, ACIOS, pSg. 275.
— o tempo que dura a residência.
— Loc. FiG.: í)rtr íKfí residência ; dar
conta da vida c acções em juizo a Deus.
— Di'purar puv residência; deixar re-
pousar o liquido para as impuridades as-
sentarem no fundo do vaso.
— Dar residência; entregar um go-
vernador, ou capitão as chaves da cida-
de, ou praça, ao menos da principal, ao
successor.
— Casa i-eligiosa, que não era eolle-
gio, nem casa professa, nem granja, nem
casa de prazer,
— O logar da residência.
— Syx. : Residência, domicilio. Vid.
este ultimo vocábulo.
RESIDENCIAR, v.a. Tomar residência.
. — Indairar, informar, examinar.
1.) RESIDENTE, part. act. de Residir.
Que resido, que está de assento em al-
gum logar, cidade, casa.
2.) BlESIDENTE, 5, 1/1. Miuistro que as-
RESI
siste em corte estrangeira, e que é me-
nos qu») um embaixador, jx^rém mais que
um ;i;;(-nte.
RESIDENTEZA, «. /. Mulher do resi-
dente.
RESIDIDO, part. paus. de Residir. Clo-
rado, halntado.
RESIDIR, V. a. (Do latim ruidere). Fa-
zer uma morada cm algema parte. —
Residir ;í'iihi lugar. — Residir em Liê-
òíMt. — Residir 'juasi ncmprt na sua terra.
— «Residio todo, ou o mais do tempo em
Roma, desaprovando nisto o conselho de
seu antecessor; mas com madura consi-
deração, dizendo que além do Príncipe
ser pesado aos lugares, por onde passa
com a muita gente que de ordinário se-
gue a corto Honarchia Lusitana, liv.
,"), cap. \?>. — « l'ara Vcador do Duque
do Sabóia lua D. Juaò de Almeida de-
pois Conde de Assumar, Embaixador do
imperador Carlos sexto, quando residio
em Barcelona, e do Conselho de Esta-
do. « Frei Bernardo de Brito, Elogios dos
reis de Portugal, continuados por D. Jo-
sé Barbosa. — «E quo esta era a cansa
porque mandaua fazer fortiileza em So-
cotorâ, pêra ali residir huma armada,
que defendesse a entrada e saída do es-
treito do mor Roxo a esta gente.» Bar-
ros, Década 2, liv. 4, cap. 2. — «O Rey
da China reside o mais do tempo nesta
cidade do Pequim, por assi o prometer e
jurar no dia da sua coroação, era que lho
metem na mão o cetro de todo o governo,
do qual ao diante ti"atarcy hum pouco. »
F.rnào Mendes Pinto, Peregrinações, cap.
112. — «O Rei he rico, e })oderoso, pur
caso dos muitos portos do mar quo tem
onde ordinariamente entram muitas naoa
carregadas de mercadorias, de que lhe pa-
gam dii'eitos : traz sempre muita gente a
soldo, tem muitas vezes guerra com os de
Narsinga, o mais do tempo reside nas ci-
dades do sertam, e na de Coulam tem sem-
pre por regedores, e gonernadores pessoas
prineipaes de seu regno. » Damiiío de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 1, cap. 79.
— «Nuno fernandez, como teue pelos
mesmos mouros da terra, a noua deste
cerco, anisou el Rei per via de mercado-
res Christaõs que residião em Azamor,
e assi per via do Ci\stello do loiio lopez
de Siqueira, que he o do Sancta Cruz,
como per via de Calez.» Ibidem, part.
:>, c.rp. 11. — «E com elles tomou todo-
los merciídores christ.ão3 que alli resi-
diam, de que os mais er.am Genoeses, o
Castelhanos, os quais todos trouxe ao
castello de Sancta Cruz.» Ibidem, part.
4, cap. 51. — tDa cidade Doucheo, qno
he onde reside ho governodor de Cansi
o Cantam ate ho estremo da provincia
de Cansi, que sam lugares mais perigo-
sos: ha continuamente armadas de co-
renta cincoenta emb.arcaçòe^ : tod.os es-
tas guardas c vigias so p.agam das ren-
das comuas do re_\Tio. » Fr. Gaspar da
RESI
RESI
RESI
239
Cruz, Tratado das cousas da China, liv.
9. — «E deixado o Keyno Abel, que Lhe
fica mais vizinho, damos na sua metropô-
Iv, que he a Cidade Zevla, em que os
Rers deste Reyno sempre residem, a
qual fica antes das portas do Estreito
26. legoas alem da qual está a boca do
sino Arábico, que tem de lai'go três e
mea, ficando bem na sua gargàta huma
Ilha chamada Babel Maudel.» Fr. Gas-
par de S. Bernardino, Itinerário da ín-
dia, cap. 7. — «Nella residem continua-
mente, quinhentos Portugueses de paga,
cõ sua praça darmas, e corpo de guar-
da. Dentro nella ha três cisternas muy
grandes, das quaes senão gasta mais que
em tempo de cerco, e extrema necessi-
dade, e por esta causa, estào sempre qua-
si cheas.p Ibidem, cap. 11. — «O D. Ma-
noel Lobo da Costa Practico prudente,
experto, e estudiozo residindo na Yiila
de Ourem assistio a António Homem de
Magalhaeas Cavalliero principal daquel-
la Terra; o qual padeceo por largos tem-
pos o mesmo achaque da propensão ao
somno, que nelle era de sorte invencível,
que muytas vezes ate com o bocado na
boca se esquecia: e dormitava.» Braz
Luiz d'Abreu, Portugal medico, pag. 488,
§ 166. — «Colomb residiu algum tempo
em Islândia, cujos nauegadores, está ho-
je fora de toda a dúvida, conheciam o
norte da America muito antes d'elle.»
Garrett, Camões, nota A ao canto 4. —
«Foi ministro e logo embaixador de In-
glaterra em Lisboa, e n'este character
residia quando se concluiu o casamento
d'el-rei Carlos U com a infanta D. Ca-
tharina. Foi depois embaixador em Ma-
drid onde morreu em 1666.» Ibidem, no-
ta D ao canto 7.
— Diz-se de Deus. — Deus está pre-
sente por toda a parte, porém reside de
um modo particular nos templos.
— Figuradamente : AUi reside a inno-
cencia e a paz. — No palácio dos reis,
onde a felicidade parece residir.
— Existir em alguma parte. — A so-
berania reside no povo.
— Figuradamente: Consistir. — A ques-
tão, a dijiculdade reside n'isto. — Eis
onde reside a questão, a dijiculdade.
— Assistir pessoalmente. — Os bispos
devem residir. — Ha beneficios que obri-
gara a residir.
resíduo, s. m. (Do latim residuum).
O restante, o sobejo, o excesso, o resto.
— Um fraco resíduo.
— Termo de arithmetica. Numero que
fica de uma divisão. — O resíduo d'esta
divisão é de tanto. — Diz-se de ordinário
resto.
— Termo de chimica. O que fica de
uma ou mais substancias, solidas ou li-
quidas, submettidas a uma operação me-
chanica ou chimica. — Fraco resíduo. —
Resíduo inodoro, terroso.
— O officio do provedor do resíduo, j
— O que fica no alambique depois da
distillaçào, ou de corpos descompostos,
que se resolveram em outros.
— O resíduo da noute.
— O resíduo da febre,
— Casa dos resíduos; casa composta
de vários officiaes, que arrecadam o di-
nheiro, que o defunto deixou para obras
pias; que revêem as contas que dão aos
juizes dos orphàos; que provêem sobre
capellas, albergarias, confrarias, etc.
— Os resíduos das matérias vegetaes,
e animaes,
RESIGNAÇÃO, s. f. Demissão de um
beneficio. — Resignação pui-a e simples.
— Resignação em favor de alguém.
— Submissão á sua sorte, á sua des-
graça. — Sojf-rer sua sorte, sua desgraça,
seu êxito com resignação. — Mostrar mui-
ta resignação.
— Xo sentido moral : Submissão á Pro-
videncia, á vontade de Deus. — Morrer
com uma grande, uma inteira resignação
d vontade dos céos. — Morrer com uma
resignação muito edijican>e. — Não tem
consolação senão nfurna resignação inteira
á vontade do Ente Supremo. — « E do tal
modo vos alheai de vos, e de todo o mais
como se nunca viuereis. ou fôreis ja mor-
to : em todas as cousas buscai, e procurai
a hom-a de Deos, com grande attenção,
ao cumprimento de sua diuina vontade
de sorte, que com vossos desejos, e ora-
ções ajunteis resignação de vossa vonta-
de na do Senhor, e affectuoso rogo, que
a sua se laça.» Frei Bartholomeu dos
Martyres, Compendio de espiritual dou-
trina. — « Xào vos queixeis da severida-
de de minhas máximas; que são as má-
ximas christans quem, meu filho, me con-
servarão esta vida; e a minha resigna-
ção na vontade celeste me deo a força
com que sobrevivi á morte de vosso
Pae.B Francisco Manoel do Nascimento,
Successos de madame de Seneterre.
— Resignação da própria vonUide; con-
formaado-se com u que lhe é adverso.
RESIGNADAMENTE, adv. (De resigna-
do, com o suffixo «mente»}. De um mo-
do resignado.
— Com resignação, submissamente.
RESIGNADÍSSIMO, A, adj. Superlativo
de Resignado. Mui resignado.
RESIGNADO, part. pass. de Resignar.
Renunciado.
A calva occasião é esta agora.
Corramoá-lhe ao incontro : generoso
E magnânimo é Júlio : hade qucbrar-llie
As iras todas submissão tam piompta,
Tani resignada : — e nós salvoí, bcmquistos
Do_ Senhor do universo, porventura
Qujnhoaremos também nos seus despojos.
GABBETT, CATÃo, act. 1, SG. 3.
— Resignado com a sorte; ter a pró-
pria vontade sujeita á sorte. — « Muito
me consola essa vossa gratidão, e de
mim mesma me envergonhara, se experi-
mentasse a menor repugnância a d'ella
me aproveitar. Mas, Suzanna minha, os
effeitos delia convém que os limites; que
resignada estou já co'a minha sorte, e
mais carência tenho de socego que de
opulências.» Fr.ancisco Manoel do Nasci-
mento, Successos de madame de Sene-
terre.
— Resignado com os trabalhos, nas
doenças, etc; ter a própria vontade su-
jeita aos trabalhos, ás doenças, etc.
RESIuNANTE, part. act. de Resignar.
Que se resigna.
— Que renuncia.
— >S'. 2 geyi. Pessoa que resigna.
RESIGNAR, V. a. (Do latim resignare).
Renunciar. — Resignar o beneficio.
— Demittir-se de um officio.
— Resignar a própria vontade ; sujei-
tar, limitar a sua vontade a algum res-
peito, conformar-se á vontade dos ou-
tros.
— Resignar-se, v, rejl. Render-se, en-
tregar-se á vontade d'outrem. — « Essa
Suzanna me careou o animo de maneii'a,
e tanto de mim se deo a amar, que eu
ante-poséra, sem a menor dúvida, viver
pobre com Suzanna e com meu filho, a
essas opulências sem um dos dous ; nem
o meu coração sabia fazer entre elles
differença. Que alma tão nobre! Como
ria sua sorte se sabia resignar!» Fran-.
cisco Manoel do Nascimento, Successos
de madame de Seneterre.
— Submetter-se.
— Entregar-se nas mãos de Deus.
RESIGNATARIO, s. m. Homem em que
se resigna o beneficio.
RESILIAÇÃO, s. f. A acção de resilir.
— Termo de jurisprudência. Annul-
laçào de um acto. — Resílíação de um
contracto.
f RESILIDO, 2J«/-í. pass. de Resilir.
luvaliiiado, rescindido.
RESILIR, V. a. e ?;. (Do latim resilire).
Termo de jurisprudência e de theologia.
Arrepender-se, negar-se ao cumprimento
do contracto estipulado, e mormente dos
esponsaes, para o que em direito canóni-
co se apontam caiLsas legitimas.
■ — Tornar nuUo, resciso qualquer con-
tracto.
RESINA, s. f. (Do latim resina). Termo
de chimica. Matéria inflammavel, gorda
e unctuosa, de um cheiro e de um sabor
mais ou menos pronunciado, semi-trans-
parente, de uma côr amarellada, ardendo
com uma chamma amarellada e fumara-
da negra, e dimanando de certas arvores,
taes como o pinheiro, o terebintho, o la-
rix e a aroeira, etc. Ha umas resinas mais
liqiddas que outras. — A resina dissolve-
se em espirito de vinho e electrisa-se pelo
attrito.
— E o nome collectivo de um grande
numero de productos vegetaes, que go-
zam da propriedade dos ácidos, isto é,
240
RESI
RESI
RESI
qiio poflcni combinar-se com as basos Boli-
dificaveirt. Sua natureza nilo ó aitiila bom
conlicoida; pároco «or o jiroducto tio oloo
votatil coiidoiiHado nas celliilas d'cf(tes
corpofl orpaiiicoH.
— Na liiipiiafíem ordinária, dá-so esto
nomo ao rosidiio da di»tilla(;rio do tero-
binthina.
— Diz-rto particularmonte da resina ex-
traliida dos pinlielros. — Um archote de
resina.
— Diz-so também uma mistura do três
])art08 do alcatrjlo sccco, o do uma parto
do .galipodio, quo se afuudam juntamon-
to, o ([uo se passam atravoz do uma es-
teira do palha,
— Ti;rmo de botânica. Resina elástica;
gomma elástica ou caoutcbuc.
— Resina hiUaria ; substancia resino-
sa, extraliida da distilla^'rio da bills.
— Resinas animaes; substancias resi-
nosas que se encontram nos corpos orga-
nisados dos animaes. Suas propriedades
difFerem, em certas relações, das resinas
vcgctaes, e representam um grande papel
em medicina.
— Resina da terra; o enxofre.
RESINADO, i>nrt. pass. de Resinar.
— Kcsineuto, da naturc2a da resina.
— Termo do pharmacia. Vinho resi-
nado; vinho saturado do resina de pi-
nheiro.
RESINAR, V. a. Vid. Resignar.
RESINATO, s. m. (Do latim resina).
Termo do chimica. Nome dado ás com-
bÍMa(,'õos das resinas com as bases solidi-
licavois.
f RESINEINA, s. f. Termo do chi-
mica. Olco obtido pela distillaç.ão da co-
lophonia.
RESINENTO, A, adj. Que tem resina,
da naturoza da resina.
t RESINEONE, s. /. Termo de chimi-
ca. Um dos productos da distillação da
osse.ncia de; tercbinthiua.
RESINETE, s. m. Vid. Hydrophane.
RESINGA, s. /. Termo popular. Dis-
puta, altorração.
RESINGAR, u. n. Termo popular. Dis-
putar, altercar, ter razões.
— V. a. Pleitear ralhando, altercar.
RESINGUEIRO, A, adj. Habituado a re-
singar, a disputar.
RESINHAR, V. a. Vid. Resignar.
f RESINIDE, adj. 2 gen. Termo de
chiniic-a. Que se assemelha á resina.
RESINIDEOS, s. m. plur. Vid. Polydeo-
teos.
t RESINIFERO, A, adj. (Do latim »e-
sinifcriif:). Termo do botânica. Que for-
ucoe a resina.
RESINIFICAR-SE, v. rejl. Converter-sc
em resina.
RESINIFORME, adj. 2 gen. (Do latim
resinijormis, de resina, o forma). Que
tem a apparencia, o aspecto de uma re-
sina.
RESINI-GOMMA, s. f. Nomo dado a cor-
tas substancias quo participam da natu-
reza das ri'8Íiias o das goiíimas.
RESINITE, adj. 2 fjen. Termo de uii-
neralogia. (}w: tom o aspecto de uma re-
sina. - (iiKiriz resinite.
RESINO AMARGO, *. m. Termo de chi-
ndca. NoNii! dado ao aloé, que constituo
eflVctivaineiitc lima substancia particular.
RESINOCERUM, s. vi. Termo de phar-
maciji. Medicamento composto de uma
mistura dn resina o de cera.
t RESINO-EXTRACTIVO, adj. Termo de
chimica. (lUie participa das propriedades
fias i(^siiias, e das dos extractos.
RESINO-GOMMOSO, A, adj. Termo de
chimica. i^yv\ ])articipa das j)ropriedade8
da gomma, o da das resinas.
RESINOIDE, ou RESINOIDEO, A, adj.
( I )i) latim resina, e do grego eid<js). Ter-
mo de chinúca. Que tem -a apparencia
de uni;i rtísina.
•j- RESINOMA, s. /. Termo de chimica.
Producto difieronte da resineone obtido
da mesma f('irma pela distillayão da es-
sência de, terebinthina.
RESINOSO, A, adj. (De resina, com o
suffixo «oso»). Que produz a resina, que
tem d'ella algumas qualidades. — Arvo-
re resinosa. — ■ Pão resinoso. — Gosto
resinoso. — Cheiro resinoso.
— Diz-se das plantas que são cobertas
de um sueco viscoso de natureza resinosa ;
ou dos cogumelos que crescem nos tron-
cos dos pinheiros. — Poh/poro resinoso.
— Termo de phvsica. Electricidade re-
sinosa ; aquella que so desenvolve quan-
do SC roça a resina, e outras substancias
análogas.
RESINULA, s. /. Termo de chimica.
Nome sob quo se designam algumas ve-
zes 03 corpos chamados suli-resinas.
RESIO, s. m. Vid. Recio, Ressio, e Ro-
cio. — « Começaram a matar todoUoa
christãos novos que achauam pelas ruas,
o os corpos mortos, e meos viuos lança-
uam, e queimauão cm fogueiras que ti-
nhão feitas na ribeira, e no resio ao qual
negocio Ihts seruiào escrauos, o moços,
que com muita diligencia acarrctauào le-
nha, e outros materiaes pêra acender o
fogo, no qual domingo da Pascoclla ma-
tarão mais de quinhentas pessoas.» Da-
mião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 1, cap. 102.
— Fiíur.idamonte: Prazer, deleite.
RESIPISCENCIA, s. /. (Do latim resi-
piscentia). Kcconhocimento da falta com
A emenda. — Chegou em Jim á resipis-
cencia.
— Emenda que toma o que ia errado,
e mal moralmente.
RESISTADO, part. pa.''s. de Resistar.
A'il. Registado, e Registrado.
RESISTAR, V. </. \id. Registar, c Re-
gistrar.
RESISTÊNCIA, s. f. (Do latim resisten-
tia). Qualidade pela qual um corpo re-
siste á acção de um outro corpo.
— A reacção, força, obstáculo, quo
uma couf^a ojipòe a outra, que bc movo
contra cila.
— Resistência da vontade ; que nega,
o repugna cfmseutir, soffnr, obedecer.
— Embaraço, diflicubiadc, obstáculo.
— «Na qual estes inimigos eruevs c des-
humanos fazi.^o tamaidio estrago, «em
acharem resistência <m contradição algu-
ma, que em s<')S cinco dias se disse que
matarão quatorze mil pe.SHoas, e toila« es-
ta», ou a mayor parte delias foraò mo-
Iheres e criãçaa e homens velhos que nâo
podiSo tomar arma«. E desengan&do o
Koolim que trouxera a carta das falsaa
promessas deste tyrSno, e assaz descon-
tonte do pouco respeito que se lhe tive-
ra, lhe pedio licença para se tornar á ci-
dade.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 154.
Nisto põe o Falcão sua cloqucncia,
Sou mando, sou poder, sua valia,
Mas aclia no temor grãa rtfistencia
Que então a si g/iraontc obedecia :
E vendo que nenhuma diligencia
Lhe basta a dar otFeito ao que queria,
Pondo fogo aos oaiiOcs d'alli gc parte
E deixa quanto podo o baluarte.
F. D'A!(nRADE, FBIilEIBO CEBCO DE DIU, Cailt. II,
est. 15.
— «Porque acontecendo, que duas pes-
soas de igual caridade sejão exercitadas
huma em sentimcito de deuação, e ou-
tra do tentação, e tral.alho, com que so-
portc alguma intirmidade, e faça diligen-
cia e guerra por vencer alguma imper-
feição, naõ menos se merecerá neste con-
flicto, que na presteza, e suauidado da
deuaçaõ: mas antes na paciência da ad-
uersidade, e resistência do mal auera
mais merecimento se legitimamente se
pelejar.» Frei Bartholomeu dos ilarty-
res. Compendio de espiritual doutrina.
— «I )cpois de biverem transpost-:. as
montanhas que so alteiam desde as ribas
septemtrionaes do Belon até Lastigi, on-
de a; serranias se enlaçam com a.í altu-
ras de Nescania, tinham-se assenhoreia-
do sem resistência da cidade episcopal
d'Asido, e, descendo dalli para os val-
les quo serpeiam de Gades a Segoncia,
haviam assentado as tendas do Islam nas
margens do Chí-vssus.» Alexandre Her-
culano, Eurico, cap. 9.
— Fazer resistência a alguém ; reais-
tir-lho, oppòr-se-Uie. — «Idacio contan-
do esta entrada dei Rey Rechila cm Me-
rida, diz, que hum Conde chamado Cen-
surio, que viera por Embaixador .aos Sue-
vos, tornandose, foy cercado em Merto-
la, chamada antigamente Júlia Mirtilis,
índa que Idacio corruptamente lhe cha-
ma Misertilis, e que sem fazer muyta re-
sistência so entregou pacificamei.te a Re-
chila.» Monarchia Lusitana, liv. O, cap.
G. — «E a gente Eclesiástica e Secular
costumada iis liberdades e solturas em
RESI
RESI
RESI
241
que viviaõ tinhaõ o animo tào debilita-lo,
e pouco vigoroso para fazei- resistência
aos vicios que permanecerão na ordem
de vida passada, dando com isto pressa
ao castigo Divino, e chamando com seus
peccados as gentes Barbaras para exe-
cutores da lastimosa vingança, que cedo
cahio sobre toda Espanha.» Ibidem, liv.
6, cap. 30. — «Mas como desfavorecido
dos Lioneses, naõ podia com suas forças
fazer tàta resistência, que deixasse de
perder muitas Villas, e lugares princi-
paes de seus estados.» Ibidem, liv. 7,
cap. 25. — «Frey loào de Sam Genii-
niano diz que foy ja este mar de tanta
grandeza, que alagaua toda a prouincia
do Egvpto, e com sua humidade, fazen-
do resistência ao Sol, tomaua a côr das
eruas, o por esta causa se chamaua o 5Iar
Yenle.» Fr. Gaspar de S. Bernardino,
Itinerário da índia, cap. 8.
EUe mudável he. : e contra o fado
Naõ valo dos mortaes a diligencia ;
Pois 8Ó pôde fazcr-lho resistancia
No mudo sofltimento hum desgraçado.
ABBADE DE JAZESTE, POESIAS, tOm. l,pag. 116
(odiç. de 1787).
A continuação da longa guerra,
E dos bravos assaltos a frequência,
Cubrírào cincoenta ja de terra
Dos que fizerão ja mais resistência :
Dos mais que a fortaleza cm si encerra
Quasi todos sentirão a violência
Do imigo aço, de que huns ja sãos estavão,
Outros, iuda que enfermos, ajudavão.
P. DE ANDRADE, PRIMEIRO CEBCO DE DIU, Caut.
18, est. 74.
— Opposição da força armada, ou ata-
que, ou de força a qualquer violência. —
aE vendo-se assim ferido e maltratado e
a seu contrario em melhor disposição, se-
nhoreado da ira e manencorio, começou
dizer : Como, e é possível que um só ca-
valleiro se me defenda tanto espaço, e
que minhas forças e e.^forço nào baste
pêra confundir tão pequeiia resistência?»
Francisco de Jloraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 106. — aO ermitão, temorisa-
do da ferocidade e braveza de Bracolào,
posto de joelhos, pedia a Deus que favo-
recesse 03 seus. O do Salvagem, posta
sua derradeira esperança na misericórdia
divina, ajudava-se de sua ligeireza, cren-
do que mais delia que de sua força, lhe
era necessário, que a diabrura dos gol-
pes de seu contrario nenhuma resistên-
cia sofFriam.» Ibidem, cap. 106.
Mas O leal vassallo, conliecendo
Que o seu senhor não tinlia resistência,
Se vae ao Castelhano, promctteudo
Que ellc faria dar-Um obediência.
CAM., Lus., cant. 3, est. 315.
Quem viu iim olh;\r seguro, um gesto brando,
Uma suave c angélica exeollencia
Que cm si está sempre as almas transformando,
Que tivesse contra ella resistência?
■ VOL. V. — 31.
Desculpado por certo está Fernando
Para quem tem de amor cxpcricncia :
Jlas antes, tendo livre a phantasia,
Por muito mais culpado o julgaria.
IBIDEM, cant. 3, est. 1-13.
Porém maior foi a gloria
De me vêr de vós vencido.
Sem me terem resistência,
Os Grandes me obedecerão,
Como ElEei morto tiverão :
Em sinal de obediência
Esta copa me trouxerão.
IDEM, AMPHITKIÕES, act. 2, SC. 2.
— «Passando daquy para diante che-
gou aos muros de Singrachirau, que .saõ
os de que atrás disse que dividem estes
dous impérios da China e da Tartaria, e
nào achando nelles resistência alguma
se foy alojar da outra banda em Pam-
quinor, que era a primeyra cidade sua,
que estava três legoas deste muro de Sin-
grachirau, e ao outro dia chegou a Xi-
pator onde despidio a mayor parte da
gente.» Fernão Mendes Pinto, Peregri-
nações, cap. 123. — «E para isto se co-
meteo a cidade toda em roda a escalla
vista, e achando nella fraca resistência,
em pequeno espaço foy entrada e meti-
da a saco, com hum cruel estrago dos
miseráveis moradores delia, de que nós
os nove companheyros andávamos como
pasmados.» Ibidem. — «E posto que acha-'
ram nos inimigos grande resistência, to-
davia escandalizados do fogo, e do ferro,
largaram tudo, e foram fugindo pêra a
Cidade, ficando o baluarte despejado, a
que logo puzcram fogo, que ardeo com
braveza. Sina Raja o nosso Capitão Ma-
layo, que estav*. na praia, em vendo o
fogo, começou a bater a Cidade, e com
grandes gritas, e estrondos fez que com-
mettia a entrada.» Diogo de Couto, Dé-
cada 4, liv. 2, cap. 3. — «Alixá vendo
o galeão todo arrazado, determinou de o
abalroar, e entrar, o que accommetteo
com grandes gritas; mas custou-lhe caro
este accommettiuiento, porque achou nos
nossos tal resistência, que com morte de
muitos o fizeram aflastar, e assi por ou-
tras algumas vezes que os tornaram a
commetter.» Ibidem, liv. 4, cap. 9. —
«Receberão os ilouros grande damno na
fugida, nenhum na resistência. Forão os
nossos duas legoas executando as licen-
ças, e crueldades da victoria, recolhen-
do as armas que miseráveis largavão co-
mo carga, e não como defensa.» Jacin-
tho Freire d'Andi-ade, Vida de D. João
de Castro, liv. 1. — «Cousa certo de muv-
to louuor, e espanto, entregaromse assi
leuemente, e tão sem duuida vinte e cin-
co villas, e fortalezas do Duque, so por
mandado dei Rey, sem vista de sua pes-
soa, neui resistência alguma dos alcay-
des, que foy muvto de louuar sua muyta
obediência, e grande lealdade a el Rey,
e parece cousa de mysterio de Deos.»
Garcia de Rezende, Chronica de D. João
II, cap. 44. — «Antes que o fogo se po-
sesse ouue assaz de resistência da parte
dos imigos, em que morrerão delles mais
de setenta, e dos nossos morrerão huni
criado de dom Francisco, per nome Fran-
cisco Serrão, e hum bombardeiro, e fo-
ram muitos" feiidos.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 2, cap. 3.
— « O que feito se partio aos xxx dias
Dagosto pêra Teuhij, quatro legoas de
Calaiate, onde tomou agoa com trabalho,
por achar resistência nos mouros do lu-
gar, com fauor dalguns que alli vieraõ
ter de Calaiate.» Ibidem, part. 2, cap.
36. — «Nestes adargados deu dom Ber-
nardo, indo em sua companhia Afonso Te-
lez seu primo, loam dornellas, Rui de
miranda, (^eorge rodriguez pinto, Antam
tellez, e Duarte do quintal, os quaes pos-
to que nelles achassem assaz de resistên-
cia, desbaratarão, sem captiuarem mais
que dous.» Ibidem, part. 3, cap. 48. —
«E como sendo entrada a Cidade, os
Mouros se fizessem fortes na Mesquita,
donde faziaõ grande resistência, sem po-
derem ser entrados.» Manoel Severim de
Faria, Noticias de Portugal, Disc. 3,
§16.
E porque com pacifica apparencia
Dar alguns sobresaltos intentarão,
Logo o Silveira pôz tal diligencia
Que as armas lhe tomou, quantas lh'achárão ;
E sem nunca achar n"elle8 resistência
Em ásperas prisões alguns ficarão,
Por causarem na ten'a alguns insultos
Alguns ajuntamentos e tumultos.
F. d"andb.vde, peimeiko cerco DE DIU, cant. 10,
est. 74.
Esta geral suspeita tanto esperta
O prudente Silveira neste ensejo,
Que tendo elle também por cousa certa
Que d'euganá-lo o Turco tem desejo.
Esse pouco que tem tào bem concerta
Que parece que tudo tem sobejo :
Tal era o grande esforço, a grãa prudência
Com que oídeuava então a resistência.
IBIDEM, cant. 20, est. 28.
— Termo de physica. Resistência dos
sólidos ; a força pela qual elles resistem
ao choque, á impressão de irm corpo em
movimento.
— Resistência dos líquidos ; a forca
pela qual os corpos que se movem nos
meios fluidos são retardados nos seus mo-
vimentos.
— Termo de mechanica. Toda a força
que não se pôde equilibrar nem vencer
senão empregando uma outra força de
que se disponha.
— Solido de menor resistência ; solido
descripto pela revolução de uma curva
em volta do seu eixo, e que se move em
um fluido, encontrando menos resistência
que qualquer outro solido circular da
mesma base. - .
— Xas machinas distinguem-se duas
espécies de resistências : a resistência
útil, e a que o nào é. A primeira cons-
242
RESI
tituo um trabalho a fazer ; a segunda ó
quo ó orif^iuada dos attritos o doB cho-
queis das (liffcreiítus poças da luachina
empreitada jKira o trabalho, o que absor-
vo em pura perda uma porçiío da for(;a
do motor.
— Fifíuradamento o no sentido moral:
Opposivilo aos dosiynios, ás vontades, aos
sentimentos do um outro. — • Obedeci:!-
sem resistência. — Encontrar muita re-
sistência. — Haverá resistência da ■mi-
nha parte. — Os sitiados jiztram resis-
tência. — A ameaça inspira o temor, e
provoca a indi(jnai;ão e a resistência.
Porém pouco ja vai íi rcsiitlencia
l)'aloiito o forças ja clcibilitadas,
doutra os que o vão buscar a competência
(Jom for(;,a3 uovas sompro, c revezadas;
K asai de todo deu a obediência
As iuiigas, cruéis, duras espadas,
Que llio derão por mil partos sabida
Não ao sauguc siSmeute, mas á vida.
F. d'andrade, paiMEino cebco db Diu,caut. 17,
oat. 80.
— «Consta a Rhetea o tra,í,'lco succes-
so, e parto subitamente de Eebataue pa-
ra Roxanace. Conta-lhe Zarina tudo o
que se tinha passado, sem lho encobrir
nem a sua fraquosa, nom a sua resistên-
cia.» Cavalleiro d'01ivoira, Cartas, liv.
a, n.o 2.
— Defoza que fazem os homens o os
animaes contra atiuelles quo os atacam.
— - Uma resistência vigorosa, fraca. —
Fazer muita, pouca resistência. — Op-
pôr uma loivja resistência. — «Manoel
de Sousa arremcttco com as tranqueiías
com grandes gritas cluunando por Sant-
iago, descarregando sua arcabuzaria nos
que a defendiam, quo pnr hum grande
espaço fizeram brava resistência ; mas
não podendo sofiVer mais o estrago que
03 nossos nolles fizeram, largando tudo
se recolheram ;V Cidade.» Diogo de Cou-
to, Década 4, liv. G, cap. 9. — «Ini-
portunavíto os novos hospedes a D. João
Mascarenhas, que os deixasse vêr o ros-
to ao inimigo, tentando deitallo fora do
baluarte Sant-Iago, o quo ellc concedeo
Icvcraento, querendo também acompa-
nhallos. AprestárSo-se para o outro dia,
c em amanhecendo subir.lo pelos muros
com que o inimigo se cubria, lançando-
se aos Mouros tão impetuosamente, que
os deitarão f u-a, sem lhes valer o esfor-
ço, e resistência com quo se defende-
rão.» Jacintho Freire d'Andradc, Vida
de D. João de Castro, liv. 2. — «Chega-
do a cidade de Almedina a tomou com
pouca resistência, e mandou cortar as
cabeças a trcs dos principaes delia, que
ftUi quiseram ficar, contra parecer de
Alemeimam, que sabendo o poder com quo
cl Rei vinha, se acolheo com hum seu fi-
lho molhercs, e casa a Çafira.» Damião
de Croes, Chronica de D. Manoel, part.
3, cap. 31. — «Najqual frota liião dons
RESI
mil homens, o não mais quo cento e cin-
coenta de cauallo. E dom Fernando man-
dou «ahir a gente em terra em tilo boa
ordem, e regimento, (|uc a villa foy logo
entrada, e «em nenhuma resistência to-
mada, j)i)rque os mouros tanto que virão
que a dita frota hia sobre ellcs, os luais
-o acolherão logo ás serras onde se sal-
uarão, o j)orem alguns forão mortos, o
captivos. II (larcia de Rezende, Ch)'onica
de D. João II, cap. 111,
Dúmos sobro o traidor o sobre as hostes
Do tyrauuo do Roma, — que ingodada»
Ua» promessas do indigno, mal cuidavam
lucoutrar tam porliada resistência.
OABBETI, CATÃO, UCt. 4, 8C. 4.
RESISTENTE, part. act. de Resistir.
Que resisto.
— Que oppije resistência.
— Que 80 oppõe ao movimento de um
outro corpo, tenaz. — «Os Chaldeos, Gre-
gos, Egypcios, Árabes e Latinos onten-
derai), que os Ceos eraõ corpos densos,
sólidos, espessos, duros, c resistentes; e
os dividirão em outo Orbes, aceommo-
dando aos primeiros sette, os sette Pla-
netas ; e eollocando no outavo a multi-
dão das Estrcllas fixas.» Braz Luiz de
Abreu, Portugal medico, pag. 508, § 3(3.
RESISTIBILIDADE, s. /. Termo neolo-
gico. Propriedade de resistir, inherente
e jiarticuhír dos corpos vivos.
RESISTIDO, part. paus. do Resistir.
Repellido, a que se oppoz resistência.
Tanto tempo esta baixa c vil canalha
Daquelle alto temor foi comb;itida.
Quanto nesta cruel, dura batalha
Teve settas o mocjo, o teve vida;
Porque e chumbo subtil, que no ar espalha
A fon;a do arcabuz mal rexistida,
Tirou ao moi;o a vida nhum momento
E aos Kcmciros aqucllc impedimento.
FBAJICISCO DK ANDRADE, PUI.MKI110 CERCO DE DIU,
cant. 7, est. 37.
Era três firaudes batalhas repartida
A gente, iV fortaleza se apresenta,
Tào ufana, lustrosa, e tão luzida
Que o Turco Capitão comsigo assenta
Que não jicdorã então ser resistida,
E tanto da victoria se contenta
Quo os despojos (Jhristàos ja então reparte
Dando a qualquer dos seus ja sua parte.
IBIDEM, caut. 19, est. 26.
RESISTIDOR, A, adj. Vid. Resistente.
RESISTIR, r. n. i Do latim rcsistereK
Não ceder, ceder difficilmente á impres-
são de um outro corpo. — Um chapéo que
resiste <í chuva.
E vendo o Capitão quo lhe ho forçado
A fúria residir a seu imigo,
Com animo feroz comete, c arranca
A curta espada, a coUera uiouido.
COBIE REAL, XAVFHAC.IO DE SEPULX-ED V., CaUt. 12.
Nenhum rumor da serra lho resiste :
Nenhum pássaro vôa, mas parece
RESI
Que, do canto vencido, lhe oWdecc.
Porém, irmão, melhor me parecia
Que não fò»Hfimo4 lá ; que i-itorv.irenjog ;
Mas Hohidos n'(í*t'ArTori.' sombria,
Ti^o o vallo do aqui dcDcobrireiuos.
CAM., eoi.'iUA 1.
— Oppôr-se, fazer-lhe reoistencia phy-
HÍca ou moral.
Com raiua e com furor mortal inuÍHt<sm
As r|uc porá defensa não tem gente,
E com Ímpeto c fori;a entrar insistem :
Achando a cOMJunc<,ão tão conuenientc.
Oh poucos I'ortuguese3 bem resittem,
l?em mostrão ser na<;io fera c valente,
Mas 03 muitos, c armados ja tcdcíío
Os poucos, c som armas que morríâo.
COBTE BKAL, HAUrBAOIO DE SErCLVEDA,
cant. 13.
Ifunfl dizem que entregar as armas, era
Engano conhecido, e mao onselho,
K que esperar Wrtiidc cm gente falsa,
Era vão fundamento, e fraco juizo.
Outros dizem que com tiil c;ilamidade
Aos Cafres remstir, era perigo,
Que era muito melhor d'cl Rcy fiar-BC,
Que negandolhe as armas ser lhe imigoa.
IBIDEM, cant. 13.
Como geral enchente quo saindo
Do curso costumado na inuemada,
Irão 03 foro3 Bárbaros cobrindo
A Portuguesa gente ja cansada
A permissão do ceo não renistindn
Será a triste demanda alli ac^ibada
E ainda que vencida a empresa honrosa
Tal gente ficara victoríosa.
IBIDEM, cant. 14.
— ^ «E posto que do seu encontro der-
ribou um delles atravessado na lança, e
com a espada na mão esperasse resistir
aos outros, viu que já os cinco outra vez
faziam volta assim a cavallo com tençlo
de o atropellar, de quo Albayzar, que a
isto era presente, recebeu tamanha dôr,
que se não podia soffrer, vendo vileza
tão grande de tantos contra um só : e
sentia mais aquella hora não ter armas,
que se perdera a metade do todo seu se-
nliorio.» Francisco de Moraes, Palmei-
rim d'Inglaterra, cap. 102.
Que cidado tão forte por ventura
Haverã que resista, se Lisboa
Não pode resistir A força dura
Da gente, cuja fama tanto v^a ?
,Iá lhe obedece toda a Estremadura,
Óbidos, Aleraquer, por onde S'!'a
O tom das frescas aguas entre as pedras,
Que murmurando lava, c To^^cs-^ cdras.
CAM., Lcs., cant. 3, est. 61.
Olha nm Mestre, que desce de Castella,
Portuguez de na<;ão, como conquista
A terra dos Algarves, c já n°cUa
Não aoha quem por armas lho resista ;
Com manha, esforço c oom benigna ostrella
Villas, castellos toma á escala >-ista:
Vês Tavira tomada aos moradores.
Em \'ingança dos sete caçadores?
IBIDEM, cant. 8, est. 25.
— «E segundo ditos dalguns, que a
RESI
RESI
RESI
243
isto foram presentes, alli tomarão todos
por concrusào, e determinação de não
consentirem a entrada dos corregedores
em suas terras, e que com todo o risco
lhe resistissem, e sobre isto o Marquez
de Montemor, o Conde de Faram, e o
senhor dom Aluaro se viram, e ajunta-
ram algumas vezes no mosteiro de Santa
Maria do Espinheiro em Euora.» Garcia
de Rezende, Chronica de D. João II, cap.
39. — aQuem jamais vos resistio, que
tivesse paz? Naõ quero i-esistir a vossos
preceitos, e conselhos ; resistir sim a vos-
sos inimigos, que o saõ também da mi-
nha alma.» Padre Manoel Bernardes,
Exercícios espirituaes, tom. 1, pag. 118.
— «O feitor sem cuidar no que se dalli
podia recrecer, consentio no que loam
homem fez o que poseram em obra com
ajuda de Pêro Raphael que ahi estava
com a sua carauela, sem os mouros ou-
sarem de lhe resistir com medo que
lhes meitessem as nãos no fundo.» Da-
mião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 2, cap. 5. — «O que feito se reco-
lheram, assi 03 dos barcos, como os ir-
mãos dei Rei de Fez, correndo de cami-
nho a Arzilla, donde leuaraõ mais de
setecentas cabeças de gado, ao que os
da villa nam poderam resistir pola gros-
sa companhia que era.» Ibidem, part. 3,
cap. 52. — «Isto confo fica dito, foi no
anno de M. D. xi, e no de doze tornou
o mesmo Rei de Fez em pessoa sobre
Arzilla, e assentou o arraial no facho,
donde seus alcaides correrão ate a tran-
queira do Anjo, sem lhe o Conde poder
resistir.» Ibidem, cap. 36. — «O que sa-
bendo el Rei, e vendo que nam podia re-
sistir ao Gouernador se alli quisesse fa-
zer fortalleza, se lhe mandou desculpar
do erro passado, e offerecer ajuda pêra
se fazer fortaleza, Lopo soarez lho agra-
deceo.» Ibidem, part. 4, cap. 32.
Que eu 03 espero forte ;
Não para resistír-Ute confiado,
Mas a seus pés prostrado,
Para a mortal ferida,
(Inda quando me custe a doce vida)
De uovo o triste coração lhe oSorto
A peito descuberto.
J. X. DE MATTOS, BIMAS.
Mas para dar a esta obra segurança.
Porque do novo amigo não se fia,
A Manoel de Sousa (a quem a lança
Imiga, pouco, ou nunca resistia)
Da fortaleza deu a governança,
E oitocentos lhe deixa om companhia
Portuguczes, d'esforço grande c raro,
Muitos de sangue illustrc, antigo e claro.
FKAXCISCO d'aNDRADE, PBISIEIBO CEBCO DE DIU,
cant. 5, est. 91.
Toma a subir de novo alvoroçado
E cm entrar, com gràa força dura e insiste.
Porém acha diante o Sousa ousado
Que agora como sempre lhe resiste.
Do qual cmfim se vê tão maltratado
Que outra vez desta empresa já desiste,
Outra voz desce abaixo com grão pressa
E dentro lá nas barcas se arremessa.
IBIDEM, cant. 18, est. 24.
Quem me resistirá f Kinguem. Nos raios
Da Lua me deslizo, e em casa te entro.
D'um trocáz Pombo hci-de tomar a forma.
Ir-me-hei, voando á ameia do Castéllo.
F. M. DO If.VSCIMEXTO, OS MABTYBES, 1ÍV. 10.
Que fazias aqui?
Eu ! — esta carta...
Não a quiz — resisti — foi quasi á força..
Começada a rasgar...
GAEETT, CATÃO, act. 3, SC. 3.
Eu resisti por honra, por estricto
Civico pundonor, — não que esperasse
Friicto da resistência : fructo, digo,
Para o colhermos nós ; que a resistência
Do povo a seus tyrannos e oppressores.
IBIDEM, act. 5, SC. 7.
— Emprega-se muitas vezes fallando
do amor. — Ao poder do amor é era vão
que se resiste.
Quanto então pôde em consola-la insiste.
Dizendo : Se o que mais Amor inflama
A desesperação do Amor resiste
Esperando abrandar quem o desama,
Contente deveis vós ser, e não triste,
Pois amacs a quem mais que a si vos ama,
E do quem corta estaes (pois deveis crê-lo)
Que mui cedo comvoseo haveis de vê-lo.
F. d'axdrade, pbimeibo cerco de dic, cant. 4,
est. 68.
Em quanto estas palavras solta o triste
E sollicito amante, desejando
Dar vida ao seu amor, de novo insiste,
E ao postigo outra voz so vai chegando :
EUa que ao seu amor menos resiste
Quanto mais amor nolla está enxergando,
Das suas rasõcs mesmas contra elle usa
E com ellas d'cntrar então se escusa.
IBIDEM, cant. 9, est. 64.
— Supportar, tolerar facilmente o cas-
tigo, o trabalho, fallando dos homens e
dos animaes. — Resistir a todas as fadi-
gas. — Resistir a um grande calor, a um
grande frio. — Resistir d dor.
E ainda que pudera
Besistir contra o mal meu.
Saiba que o não fizera •,
Que pouco valera cu,
Sc contra vós me valera.
CAM., FILODEMO, act. 4, SC 6.
— Defeuder-se, oppôr força a força. —
Resistir aos agentes da for(^a publica. —
Resistir animosamente. — Nào -poder já
resistir.
Nem basta que nos bens os tristes preme
Mas também aos seus corpos volta a folha,
Porque como ás gaiés falte quem reme
Quantos ha mister toma, e os aferrolha :
Nào vai ao que resiste, ou roga, ou geme.
Para que este trabalho entào lhe tolha.
Que contra o duro peito inexorável
Do Baxá, tudo fica indefensável.
F. d'andeade, pbimeibo CEBCO DE DIU, Cant. 12,
est. 113.
Que vão contra os Christãos, para impcdir-lhes
Mostrar-se aos infiéis, e resistir-lhes.
IBIDEM, cant. 14, est. 59.
Não pude resistir... Cuidei... — Occulto
Vigiava d'alli... Mas já é tarde.
Meu amigo, estão ja n'es9e átrio... Foge,
Foge, ou...
GARRETT, CATÃO, SCt. 5, SC. 10.
— Figuradamente : Oppôr-se aos desí-
gnios, á vontade de outrem, conser%-ar-sa
firme contra alguma cousa de potente.
— Resistir á seducção, á tentação. ■ — Re-
sistir ás paixões, — Resistir á adversi-
dade. — Resistir ás orações de alguém.
O omnipotente padre não resiste
Aos feitiços do angélico semblante,
AqucUa doce nuvem de tristeza
Com riso misturada : — qual a dama
Em amorosos brincos maltrattada.
FRAXCISCO DE ANDRADE, PRIMEIRO CEBCO DE DIU,
cant. 7, est. 18.
Mysterioso, o diz-mc : Certa eu stava
De accarear-te aqui. Nada resiste
Aos escoujuros meus. E logo canta :
Desceste, Alcides, a Aquitania relva.
F. M. DO KASCIMEXTO, OS MARTVRES, 1ÍV. 10.
E a cuja virulência nem resiste
O de Fabrício e Cincinnato. Iniamcg
De gárrulos sophistas, de grammaticos
Vieram corromper a incauta prole
De Poma : seus theatros e palestras.
GAEREIT, CATÃO, aCt. 3, SC. 1.
— Fazer resistência, tornar-se mais
forte.
O sexo feminil, enja fraqueza
líesisfe mais que os duros peitos fortes,
Nào pôde resistir a esta braveza,
Que so mantinha só de humanas mortes ;
Pois também fez sentir sua crueza
Aquellas, cujas duras, tristes sortes
Com firme c conjugal nó lhe juntarão,
Que com seu próprio sangue desatarão.
F. d'aXDEADE, PBIMEIBO CEBCO DE DIU, Cant. 1,
est. 11.
— Resistir alguma cousa ao esqueci-
mento; não esquecer.
Presististe, venceste, c hum monumento
A teu nome já celebre prepara,
Capaz de resistir ao esquecimento.
ABBADE DE JAZEXIE, POESIAS, tOm. 1, pig. 121
(cdiç. 1787).
— Resistir aò diabo; oppôr-se-lhe ás
suas tentações, á sua vontade, aos seus
desígnios, — « Mas com esta advertência,
que para resistir ao diabo, he necessário
resistir cada hum a si mesmo: porque se
244
KESO
UESO
UKSO
Cíidíi liuin SC deixar lov;ir da sua concu-
pÍHconcia, (Jíta o (iiitrií^Mi-á nas initos de
HoiH iniiiii^'(w.» Tadrc Maiiool líoriiardos,
Exercícios espirituaes, iia;;. l.V.t. — oEs-
ta lio a rtcxta i)cti<;am : Na qtial pedimos
nani sor voiicldon, o «opuados nas tcata-
çrjo» do que contimiaiueiito somos com-
batidos do mundo, da carno, o de Sata-
nás : mas quo nos dee o Sonhor ajuda do
sua fcraça pêra Ibrtomonto resistir ao de-
mónio, porá desprezar ao mundo, pcra
castigar a carno, pêra (jue final mento se-
jamos coroados como c.iualleyros vitorio-
sos.» Frei l'iart'iol()iiK'u do-i Martvres, Ca-
tecismo da doutrina christã.
— Resistir o puder Woutrem; impc-
dil-o.
— Resistir a audácia.
— OHorecer resistência. — « Esta moe-
da, e as nossas patacas de Espanha, va-
lem em todo o mundo, c em particular a
pataca, quanto mais lõgc antla do Espa-
nha, tàto uuiyor prc^-o tem, o que não
sabemos do alguma outra moeda, llc
notauol a renda da Alfandega desta (.'i-
daile, porque iodas as cousas, que passào
da Europa pcra A^ia, ou pelo contrario :
de forcado resistem nclla.» Fr. Gaspar
de S. Bernardino, Itinerário da ludia,
cap. 11.
— Pôr estorvo á forca para mover,
romper, desf;izer-se.
— Resistir d justiça; não lhe obede-
cer, usar de fornia, estorvando as suas
diligencias.
— Figuradamente: Resistir ás leis;
oppôr-se-lhes.
— Resistir-se, v. rcji. Fazer resistên-
cia a si nie^nio.
RESISTÍVEL, aãj. 2 gen. A que se
pôde resistir.
— Que tom força, meios para resistir.
RESISTO, s. m. Vid. Registo, e Regis-
tro.
RESLUMBRAR, v, n. Transluzir, dar
passaircni á luz.
— Kinproga-so tambcm figuradamente.
RESMA, s.f. O conjunto de vinte mãos
de papel, ou a reunião de quinhentas fo-
lhas. — Uma resma </'■ papel.
RESMONEAR, c a. Vid. Remusgar.
RESMONINHADOR, A, adj. e s. Que
rcsmoninha.
RESMONINHAR, v. a. Vid. Remusgar.
RESMUDA, -v. /. Termo popular, ilu-
danij-a, determinarão avessa do quo esta-
va ordenado.
RESMUGAR, i-. n. Vid. Remusgar.
RESMUNGAR, v. a. Vid. Remusgar.
RESOANTE, part. act. de Resoar. Que
resòa, que retumba, que faz echo.
RESOAR, V. a. (Do latim resonare).
Tornar a soar, repetir o som, o cântico,
louvor cantado.
O matutino Si>l, abrindo-so ároa
Pelos seios d:is mivcna de ouro, as Inzes
Nas Florestas, uo Mar, uoa deus Exércitos,
Disparava do Hiiliito. A c:iiiii)inu
(''o fu/,iliir dan laiiuas, das ciinciraH,
Atligurava urdor. riariíis Mavórcio*
'Umoíiiulo o (Jo4iiroo autifjo C*atito
LtMiibravão o como k Gallia uncetou via.
F. U. DU NAHl;lSIKXrO, ÚB UAUirBKH, liv 6.
— Resoar; por razoar. Vid. Razoar.
— V. II. Retumbar, fazer echo.
Que agasalho pedia a povo c povo,
("ego, os 1'oHmaa 8CU3, A sombra do Álamo
|)c llylc, com estro, rfjtonn, Divuio.
Cego, cm Chio, passou, na praya, a noite,
K azar lho aconteceu, cos Cães do fíhUico.
t^hianto peregrinou, por longes Tirrras !
Vagou, do Tlci do Kubra, ao3 ludiM fúnebres.
Onde llcsyodo ousou pleitear a Homero,
A palma da Poesia.
r. U. DO NASCIUCNTO, OS UABTYBEg, 1ÍV. 2.
Do Gcnto cm Gente renoou preclara
A vóz, i]ue prenunciava Hrcmio, ein Homa,
E clamava a Ccdicio, na alta noite :
Vái-to aos Tribunos, dize, que infalliveis
Toui, de ámanlian, os Galloí ser comvosco.
iBiDKM, liv. 7.
— « Calypso vivia inconsolável da au-
sência d'Ulysses: sua alHicção tornava-
Ihe pesada a imortalidade. Já sua grut-
ta não resoava com os suaves accontos
de sua voz: as nymphas que a serviam
não ousavam fallar-lhe. Repetidas vezes
passeiava melancólica por entre as flori-
das leivas, com que uma continua pri-
mavera matizava sua ilha ; mas estes de-
liciosos sitios, longe do mitigar-lhe a dòp,
avivavam-lhe a triste saudade d'Uly3ses,
que tantas vezes tivera junto a si.» IJem,
Telemaco, liv, 1.
Dentro dos negros cárceres resoa
Doloroso clamor, so move o corpo
A niontauha se inclina a hum lado e outro,
Rebenta novo incêndio, ao longo tremem
Espavoridas de Trinacria as praias.
J. A. DE MACEDO, A X.VTCREZA, Caut. 1.
RESOBRADO, part. pass. de Resobrar.
Quo recobrou muito, com grande vanta-
gem.
RESOBRAR, v. n. Sobrar muito, com
vantagem ao necessário.
RESOCAS, s. Termo do Brazil. Vid.
Refilhos.
RESOLTO, ^Jfirí. pass. img. de Resol-
ver. Desfeito, dissolvido.
— Reduzido, convertido.
— Vid. Resoluto, que diverge.
RESOLUÇÃO, s. /. (Do latim reí>ohi-
tio). Cessai;ão total da consistência, re-
ducção de um corpo em seus primeiros
princípios.» - — -4 resolução ihi agua cm
vapor. — A resolução il« imie em agua.
— A resolução dos corpos em seus ele-
mentos, e geus principius.
— Termo de pathologia. Acçào pela
qual uma parto tumcticada, volta pouco
a pouco o sem suppuração ao sou estado
primitivo. — Resolução de um tumor.
— Resolução do» vienthroi; paralvsÍA
quc impressiona os membros no curso de
uma doen<;a.
— Termo de jurisprudência. Kescit-So
de um contracto, cjucr |><jr conseutiiiieuto
das partei», quer por authoridadc dos Jui-
zes.
-^ Decisão de uma quentão, de uma
difficuldade, — A resolução df um pro-
blema. — A resolução </«■ um cato tU cotta-
ciencia. — Dar uma resolução soòre uma
(jneulão (qualquer, — f A resolução da qual
crttaua em trcs pontos, ua oljriga<,'So que
tinha de fazer pelas cousas dos Mouros,
c no dano que eiles o ellc tinha recebido
de nós, e na pouca obediência que lhe
eIRey de Cocliij tinha sendo elle Camo-
rij do Malabar e tudo cnu fauor de nos-
sas armas.» Barros, Década 1, liv. 7,
cap. 1.
— Termo de mathcmatica. Geralmen-
te, designa a divisão ou separação de
qualquer quantidade composta n'eaaa8
partes constitutivas.
— Em álgebra : Resolução da» equa-
ções; da determina^rio dos valores das
quantidades desconhecidas de que estas
equaçijes são compostas.
— Desígnio, propósito, animo, valor
deliberado. — «E a ultima resolução que
se tomou nclle, por parecer de todos os
seus, foy, que ante» de entender em cou-
sa alguma, mandasse notificar ao Rev do
Achem o direito que tinha novamente no
reyno de Aarú, por parte do casamento
com a Raynha delle, sua nova molher, e
que segundo lhe elle respondesse, assi se
determinaria.» Fernão Jíendes Pinto, Pe-
regrinações, cap. 31. — «E maudandoo
sayr para fira da tenda se praticou so- •
bre a resolução deste feito, em o qual ■
por peccados nossos se não tomou nenhu- •
ma, por aver nesta janta tantas diversi-
dades de opiniijes e de p.treceres, que
Rabylonia cm seu tempo não lançou de
sy mais variedades de lingoas.» Ibidem,
cap. 148. — «Com esta resolução so
mandou António de Faria levar, e sem
estrondo, nem rumor algum se chegou
bem á terra, e rodeando toda, A sua von-
tade, e notou particularmente nella tudo
o que a vista podia alcançar.» Ibidem,
cap. 74, — «Depois alguns movimentos
políticos tizeraõ, quo se tomasse a reso-
lução de o mandarem para o Castello da
Ilha, e cidade de Angra, donde foi tra-
zido para o Palácio de Sintra, em que
acabou a vida de hum accidcnte de apo-
plexia a doze de Setembro de mil seis-
centos c oitenta e tivs.» Fr. Bemanlo
de Brito, Elogios dos reis de Portugal,
continuados por D. .Tose Barbosa. —
«Este bom Ecclesiastieo em hum quarto
de hora, toma mais resqluçoens do que
muitos homens juntos podem tomar em
toda a vida.» Cavalleiro dOliveira, Car-
tas, liv. 1, n." 22. — «Sendo necessário
tomar a sua resolução, chamou a conse-
RESO
RESO
RESO
245
lho o sou desgosto, e ainda que as deter-
rainaçoem deste forào violentas nào áey-
xárào de esecutar-se.» Ibidem, liv. 1,
n.o 40.
— Firmeza, coragem, desembaraço. —
Mostrar muita resolução. — A resolução
afasta o perigo. — «Em conclusão: as
Republicas ricas devem mostrar sua grau-
deza na niagestade de seus Tribunaes
com casas amplas de frontispícios magní-
ficos, e bem guarnecidos por dentro, cla-
ras, e sumptuozas; porque a excellencia
dos apparatos exteriores esperta no inte-
rior dos ânimos espíritos grandiozos, e
resoluçoens alentadas.» Arte de furtar,
cap. 30.
— Resolução de forças ; frouxidão.
— Parecer, ultima determinaçào toma-
da em conselho, e previa deliberação. —
«D. Álvaro de Castro acodio a detellos,
estranhando-lhes resolução tão fea, di-
zendo, que el Rei sentia mais a desobe-
diência de hum soldado, que a perda de
huma Fortaleza; que ao Capitão Mór só
tocava o governar, ' a elles obedecer, e
peleijar.i) Jacintho Freire d'Andrade, Vi-
da de D. João de Castro, liv. 2. — «Mas
quem se enche de razão vem a cabo de
quanto quer. Tudo puz em mão de D.
Brites. Mas que lágrimas me nào cus-
tou essa "resolução ! Depois do mil mo-
vimentos, mil incertezas, que tu não
conceituas, e de que eu por certo não te
darei noticia, lhe pedi juramento de que
nunca mais m'as tornasse, ainda quando
eu para as ver uma vêr uma vez, lhas
pedisse; antes que sem me dar parte,
t'a3 remettesse.» Francisco Manoel do
Nascimento, Successos de madame de
Seneterre.
— Fluxo, soltura de ventre, a magre-
za, e fraqueza, que a continuação pro-
duz.
— Stn. : Resolução, decisão. Yid. este
idtimo termo.
RESOLUTAMENTE, adv. (De resoluto,
com o siiffixo «mente»). Com uma reso-
lução fixa e determinada.
— Com resolução, com valor delibera-
do, peremptoriamente, com coragem, al-
tivamente. — Passar resolutamente atraz
dos perigos.
resolutíssimo, a, adj. superL Mm
resoluto.
RESOLUTIVO, A, adj. Termo de phar-
niacia. Diz-se dos remedins que determi-
nam a resolução dos tumores, inflamma-
ções, etc. — Unguento resolutivo. — Aguas
minerar s resoiutivas. Vil. Resolvente.
— Metkodo resolutivo ; o methodo ana-
lytico, em opposiçào ao methodo syntfie-
tico.
— Substantivamente : Um resolutivo
formidável. — Os resolutivos sào toma-
dos ora na classe dos emoUientes, ora ra
dos excitantes e tónicos, segundo o tu-
mor é de natureza inflammatoria ou ato-
uica.
RESOLUTO, p«ií. l^ass. irreg. de Re-
solver. Desfeito, derretido, dissolvido,
desatado. Vid. Resolto.
— Resolvido, determinado.
Xesta determinação ja resoluto
A espada aperta, e dentro so aballança
Mas entrando ficarão em silencio
Aquelle fero estrondo, e gritos altos.
COBTE BEAL, SADFRAGIO DE SEPCLVEDA, Cant. 12.
— «Mandí u recado a Afonso Dalbu-
querque, pedindolhe seguro pêra se vir
pêra elle, e o seruiv com a armada que
tinha, como o fezera a el Rei Mahamed
ja defunto, o qual seguro lhe logo man-
dou, mas estando resoluto em se vir pê-
ra a cidade lhe screuej-ào alguns, que o
não desejauão nella, que o nào fezesse.»
Damião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 'ò, cap. 19. — «Do que nam con-
tente escreueo sobrestes desgostos cartas
a el Rei cheas de culpas do mesmo, pe-
dindolhe que lhe nam desse tunto credi-
to, como o ate entam fezera, porque pe-
las culpas que lhe achaua, e intelligen-
cias que deziam ter com el Rei de íez,
elle estaua resoluto em se nam fiar del-
le, e sobre tudo em lhe nam consentir
que leuasse nenhuns Portugueses nas en-
tradas que fasia, porque tinha por certo
que se lhos pedisse que auia de ser pêra
os entregar aos mouros.» Ibidem, part.
4, cap. 5õ. — «Forão os Mouros sabedo-
res das novas do soccorro, e antes que
os nossos se engrossassem com as forças
qae esperavão, dispuzerão hum assalto
geral, resolutos a entrar a Fortaleza, ou
dar ao Mundo, e ao Soltào desculpa com
as mortes, com o sangue, e com as mi-
nas.» Jacintho Freire de d'Andrade, Vi-
da de D. João de Castro, liv. 2. — «E
logo ou incauto, ou violentado conspirou
na traição do Madune, como enfermo
fc-enetico contra os instrumentos da saú-
de indignado : esperarão em fim ds hos-
pedes, resolutos em executar a maldade
que tinhào concebido.» Ibidem, liv. 4.
— «Confio tanto na vontade que de com-
prazer-me em vós conheço, a este respei-
to, que nem. mesmo aguardo a vossa res-
posta; e como não me atrevo a antever
o que fará M. de Seneterre, mais reso-
luta estou a não lhe declarar o porto do
meu embarque : além de que, elle obra-
ria mui desacertado em vii- a Paris bus-
car-me, aonde é certo que me não achas-
se; pois que eu mesma nào sei quando
lá tornarei, nem ainda tornarei antes da
minha partida.» Fiancisco Manoel do
Nascimento, Successos de madame de
Seneterre.
— Que recebeu iima solução. — O pro-
blema politico está resoluto.
— Determinado, altivo, corajoso, ani-
moso.— Iloinem resoluto. — Mulher re-
soluta. — «O snr. Antas, arcebispo de j
Lacedemoniaj me coutou que certo mi- |
nistro detivera os autos de um pobre,
mas resoluto homem, dois annos em Lis-
boa. Desobrigava-se o ministro na Qua-
resma com o padre Alexandre Duarte
da compaahia, em Santo Antão.» Bispo
do Grão Pará, Memorias, publicadas por
Camillo Castello Bra.ico, pag. 149.
— Conclusão resoluta ; deliberação fir-
me; deliberação que termina o negocio,
ou mostra o animo determinado finalmen-
te. — a O bom conselho era perder ha
saudade a todolos proueitos, e tributos
que se desta gente tii-auaò, e por o in-
tento em só. Deos, e na sua Sancta Fê,
porque elle dobraria com suas mercês o
que se nisso perdesse, e que pois este
negocio per sua vontade viera a se por
em determinação de conselho, que ha
resoluta conclusão delle fosse lançarem
logo do regno aquelies que não quises-
sem receber ha agoa do baptismo, e crer
ho que cre ha Egreja Catholica Chris-
tàa.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 1, cap. 18.
— Desfeito, desatado, não obrigatório,
sem eâeito.
— Humem resoluto emnegocios ; homem
pratico n'elles, exercitado.
— Vir resoluto ; o que está cei*to do
que ha de decidir em doutrina, do que
ha de obrar, determii ado.
— Firme, determinado depois do con-
selho e reflexão.
— Resolvido, decidido. — «E destrinça-
do o caso, fica a cousa occulta, e em opi-
n.aò; e quem a quizer ver decidida veja
o Doutor, que já toquev, que eu nàõ
professo aqui ensinar casos de consciên-
cia ; ainrla que sey, que a praxe deste
está resoluta nos ceUeiros do Estado de
Bragança, ' onde se pedem as crescen-
ças aos Almoxarifes.» Arte de furtar,
cap. õó.
RESOLUTORIO, A, adj. Termo de ju-
risprudti.cia. Que tem por efteito resol-
ver algum a.to. — Acto resoiutorio. —
Convenção resolutoria. — Clausula reso-
lutoria.
REiOLUVEL, adj. 2 gen. Que se pôde
resolver.
— Termo de mathematica, Diz-se das
questões e dos problemas de que se pode
achar a solução por algum methodo co-
nhecido.— Eis o problema da quadratura
do circulo, procurado desde ha tanto tem-
po, demonstrado impossível por um me-
thodo que se teria resolvido, se elle fosse
resolúvel, o que se pôde chamar uma
residuçào real.
RESOLVENTE, part. act. de Resolver.
Que resolve.
— Que dissolve, que desfaz.
— Termo de medicina. Que pôde re-
solver : Etmedio resolvente.
— Emprega-se também substantiva-
mente: ['/ií resolvente.
RESOLVER, V. a. Do latim resolvere).
Destruir a união que existe entre as par-
246
RESO
tes do um todo. — Resolver um corpo em
pú. — O fiiju resolve a inmleira em ciii-
ZC18 6 funil).
— Tonao d») nielicina. Fuzor dcsap-
pareccr i);iul;itÍMaiiiontc e sem sujjpura-
çilo. — Resolver um tumor. — As fric-
ções e as f,menlu(jòes resolvem os tumores.
— Deci lir um ufiso duvidojio, uma ques-
tão. — Resolver um problema. — Resol-
ver uma oòjecção. — Resolver um amo
de consciência. — Resolver ama dijficul-
dade.
— Tonno do juri.sprudoucia. Destruir,
annuUar um acto por um outro contrario.
— Resolver um contracto.
— Determinar, decidir uma cousa.
— Toriuo de cliimica. Decompor, ana-
lysar os corpos, e reduzil-os a seus ele-
meutoa.
— Figuradaraeutc : Desfazer.
Na luz crástiua, em f|iie trajava a Lua
Todo o âplciidor, pausados resolverão,
Quanto ibiioj altercarão furiosos.
F. M.VNOEL no SASCIMEÍirO, 03 MARTYBES, 1ÍV. 7.
— Dissolver. — A agua em ebuUiqão
resolve mais rapidamente o sol, do que
no estado natural.
— Rasumir.
— Tirar por conclusão.
— Determinar alguém a fazer alguma
cousa. — Resolver ahjuem a empreliunder
uma viagem. — «Nem foi o infante nem
seu irmào el-rei D. Duarte, mas sim as
Cortes que resolveram se não dósse Ceu-
ta pelo resgate do infante. O que elrei
sentiu, mas não ousou contestar.» Gar-
rett, Camões, nota E ao cant. i). — sO
Calliariz foi quem persuadiu a Manuel
de .Saldanha que não recebesse em Se-
túbal a rilha do Quevedo ou Cabe lo, co-
mo devia, e o resolveu a fugir para Ale-
manha.» Bispo do Grão Pará, Memorias,
publicadas por Camillo Castello Branco,
pag. lOõ. — «Estiveram sempre os je-
suítas de mii fó com a inquisieão, depois
da prisão do Vieira, c resolveram fazer
uma opera ou dialogo cm que o Vieira
apparccia no theatro preso com cadeias,
e um anjo inspirai\do-lhe as respostas o
razões. Fez-so isto n'aquclle deserto de
Coimbra ! Não assistiram inquisidores.
Desaforo!» Ibidem, pag. 160. — «Mor-
tificaram-nos muito por espaço de quin-
ze dias. Assim mesmo, não obstante as
persuasSes em contrario, resolvemos ir
chrisraar.i> Ibidem, pag. 20b.
— Resolver-se, i'. rejl. Roduzir-se, con-
verter-se. — O pau que se queima resol-
ve-se em fumo e cinzas. — A agua resol-
ve-se e»i vapor. — Os vapores resolvem-
se em chuva. — As resinas resolvem-se
no álcool.
— Mudar-se, convorter-se. — Uma pro-
posição negativa pôde resolver-se em af-
jirmativa.
— Reâumir-se. — aO Israel, ô povo
RESO
Catholico, que outra cousa te pele o Se-
nhor teu DE( )S se nain que o tciuas, e an-
des cm seus caminhos, o sigas a ellc teu
DEOS e Seuiior com todo teu coraçam, e
tua alma, e guardes seus mandamentos V
do maneira ([ue todas a» cousas trabalho-
sas que DE(JS me manda fazer, se resol-
uem e assomam em amor : porque quem
o tem, nenhuma cousa de seruiço de
Dcos acha diflieultosa, e trabalhosa.» Fr.
Bartholomou ilos Martyres, Catecismo da
doutrina christã.
— l''iguradameuto : Ioda a philosophia
se resolve na pratica da virtude.
— Determiuar-se a fazer uma cousa.
— o O Infante D. Luiz, Frincjpe digno
de omprezas iguaes a seu valor se resol-
veo acliar nesta jornada com o Empera-
dor seu cunhado ; e ainda que de el Rei
D. João mui dissuadido com razões dif-
fereutes, humas que topavão no amor de
sangue, e outras no respeito da Pessoa.»
Jaeintho Freire d'Andradc, Vida de João
de Castro, liv. 1. — «O softVimento dos
miseráveis era melhor para virtude, que
para remédio ; porque até da paciência
servil dos innoceiítes se cansava o tyran-
no. No domínio da Cidade lhe succedeo
Marzào, e também nos in.sultos tão cruéis,
que apiu-arão de todo a paciência dos
pobre moradores, resolvendo-se a podei-
lo soffrer como inimigo, mas não como
Senhor.» Ibidem, liv. 4. — «Com este
pensamento resolveu-se a perder antes
o Reyno, c com elle a vida, do que viver
sem honra infamado, e abatido; negou o
tributo que costumava pagar, e preven-
do o que lhe havia de succeder, ajuntou
o melhor, e mais copioso exercito, que
lhe foy possível.» Conquista do Pegú,
cap. 2. — í Poucas vezes acontece, que
concorraõ na mesma pessoa engenho pa-
ra discorrer sobre o que se consulta, e
juizo para obrar, o que na consulta se
determina : muitos são de fraco juizo
consultados, mas para executar, o que
se resolve, saõ destríssimos.» Arte de
furtar, cap. oO.
— Termo de medicina. Desappareccr
pouco a pouco, e sem suppurayão. — Es-
te tumor não se resolve facilmente.
— Resolvem-se os perigos ; desfazem-se.
— Padecer resolução, por gi-audes sol-
turas de ventre, e taes evacuçòes exces-
sivas que consomem o corpo e enfraque-
cem.
— T'. n. Decidir, tomar propósito, de-
liberação cm alguma cousa. — Resolvi
■marciutr hoje para a capital.
RESOLVIDO, part. jiass. de Resolver.
Dissolvido, desfeito.
— Decomposto.
— Problema resolvido ; questão cuja
solução ost:l feita.
— Z)uf((7a resolvida ; duvid.a que já
está decidida.
— Eoi resolvido <;iii' se fizc-sse isto ;íoi
concluído sobre deliberação.
RESP
— Vid. Resoluto.
RESONANCIA, s. f. Do latim resotian-
lin . Jvlio, hom. — A resonancia da voz.
RESONANTE, part. act. de Resonar.
Que resóa, que redobra, que repete ofl
SOU.S, retumbante.
JA piío o tUtio Cume, c Luz immetiM
J4 ii<; diliuudo, c éii in'csi>allia em tomo.
Como do mfiio do profundo Decano
Costuma al(;ar-so escolho alto, c fragoso.
Que vA na otcrna base e«|K-d»<;ar-8C
Com fúria ioutil resonanit vaga.
J. 1.. DE MACEDO, TIAOBU EXTÁTICA, CAOt. 1.
RESONAR, ' . a. (Do latim retonare).
Redobrar, resoar, repetir o» son^.
— liespirar com ruído quando se dor-
me.
— Fazer echo.
o caualo de cor natiua esicnro,
Ia de espesso suor branco se mostra :
O teuido dosporaa, c a contínua
Grita, faz resonar as altas nuues.
CORTE REAL, NAUFRÁGIO DE SEPUMT.DA, Cant. 4.
RESOPRAR, V. a. Tomar a soprar, so-
prar de novo.
— Resoprair fob a colla ; traquear, fal-
lando de uma besta, sendo n'este caso
colla svnonvmo de cauda ou raòo.
RESORBER, ou RE30RVER, v. a. Sor-
ver do novo, Sorver segunda vez, tomar
a sorver.
RESPALDAR, v. a. Termo de encader-
nador. Solfar.
RESPALDO, s. m. O encosto das cadei-
ras de espaldar, e a parte trazeira da
sege ou coche, onde se encosta quem vai
sentado dentro.
— Respaldo nos cavallos ; defeito pro-
cedido talvez de se carregar, ou magoar
cem o arção trazeiro da sclla.
RESPANÇADO, A, adj. líaspado onde
estava escripto.
— Pergaminho respançado ; pergami-
nho que se prepara p;vra n'eUe se escre-
ver, c fazer illuniinações.
RESPANÇADORA, s. /. Vid. Raspadu-
ra, termo preferível.
RESPANÇAMENTO, *. ni. A raspadura
que se faz nas cartas e escripturas, para
apagar alguma palavra, e escrever outra
no mesnii) loirar.
RESPECTATIVO, A, adj. Liwnjeiro,
adulaiior, que guarda respeito. Vid. Res-
peitativo.
RESPECTIVAMENTE, adv. (De respe-
ctivo, e o .suffixo fmente»^. De uma ma-
neira respectiva, reciproca. — -45 ftartcs
adversas tem apresentado respectivamen-
te suas rcrjuestas.
RESPECTIVO, A, adj. Que diz respeito
a caiia um em particular, quo pertence
reciprocamente ás partes interessadas, as
cousas correspondentes. — Direitos res-
RESP
KESP
RESP
241
pectivos. — Servidues respectivas. — In-
teresses respectivos.
— Que respeita, venera e acata.
— Que guarila respeitos, respeitador.
— Homem respectivo. Vid. Respeitativo.
— Homem respectivo dos templos ; lio-
mem venerador, cultor, respeetuoso.
— Que guarda respeitos, que é par-
cial.
— Que guarda proporção.
— Valor respectivo ao tempo; valor
que tem segundo a circumstancia d'elle.
RESPECTÕ, s. m. Termo antiquado.
Yid. Respeito.
RESPECTUOSO, A, adj. (De respecto,
com o suffixo «oso»). Que merece respei-
to. — Homem respeetuoso. — Uma senho-
ra respectuosa. — Meninos respectuosos.
— Os filhos devem ser respectUOSOS para
com seus j)(t^s> ^ mestres.
— Acompanhado de respeito, cheio d'el-
le. — Tinha uma ternura respectuosa pa-
ra com sua esposa.
— Que indica respeito. — Um ar res-
peetuoso. — Postura mui respectuosa. —
Guard.ar um silencio respeetuoso. — Es-
crever, fallar em termos respectuosos.
— • Vid. Respeituoso, termo mais em
uso.
RESPEITABILIDADE, s. f. Qualidade
de uma pessoa, que pela sua posicào so-
cial, merece ser respeitada.
RESPEITADO, part. pass. de Respeitar.
A que se tem respeito, tratado com res-
peito, e consideração. — Um nome res-
peitado. — Um titulo respeitado. — « Foy
pois este Sãto Varão (como cota o Diáco-
no de Merida) de nação Godo, nacido de
geração muy nobre, e antes de subir à
dignidade de Bispo, teve a seu cargo a
Igreja de Santa Eulália, onde suas vir-
tudes o fizeraõ tão conhecido e respeita-
do, que morrendo o Sãto Varaõ Félix
Pastor da Igreja de Merida. foy de com-
miim consentimento sublimado naquelia
dignidade.» Monarchia Lusitana, liv. 6,
cap. 20. — « Lembro-vos que El-Rey
Xerxes, que pelo seu grande poder, e
pela sua bella presença, foi respeitado
como o mesmo Júpiter, vendo arruinar-
se pelo Ímpeto das ondas, a famosa Ponte
que tinha mandado fèibricar sobi-e o Es-
treyto do Hellesponto.» Cavalleiro d'01i-
veira. Cartas, liv. 1, n.''-18. — «Aqui
encontramos um mulato ou cafuz cego
chamado Ignacio, que foi criado do pa-
dre António; e pela confrontação dos go-
vernadores e capitães mores, seguia a
chronologia direita e sem anachronismo,
de que se colhia ter mais de 120 annos;
e de robusta compleição, voz forte, tino
excõUente, sacristão da egreja, e cathe-
quista dos mais, ensinando-lhes a dou-
trina, 6 muito respeitado dYdles.» Bispo
do Grão Pará, Memorias, publicadas por
Camillo Castello Branco, pag. 208.
— Que se trata com respeito, e at-
tençào, ao que é de razão e justiça, fal- |
tando-se por contemplação, e a respeito
d'elle,
— Respeitada a necessidade ; attenta,
attendida.
— Emprega-se também como substan-
tivo: Os respeitados.
RESPEITADOR, A, s. (De respeitar,
com o suffixo «dor»). Pessoa que respei-
ta, que tem respeito, que attende a al-
guma cousa. — Respeitador dos templus.
— Usa-se também como adjectivo : Ho-
mem respeitador das leis sagradas.
RESPEITAR, V. a. Hom-ar, reverenciar,
ter respeito. — Respeitar a velhice. —
Respeitar os logares santos. — Respeitar
o caracter, a qualidade de alguém. —
Não respeitar ninguém. — « E como sem
cabeça a quem respeitar fossem os con-
selhos de pouco efeyto, determinaram ele-
ger dentre si Rey, e seguir as mesmas
passadas que os Asturianos tiveram na
escolha de Dom Pelayo.» Monarchia Lu-
sitana, liv. 7, cap. 15. — « D. Duarte de
Menezes o respeitava, como se houvera
lido nesta Historia as victorias da Ásia,
que estamos escrevendo. Por suas mãos
lhe quiz dar, e receber a honra de o ar-
mar Cavalleiro, gloriando-se tão anteci-
padamente no hlho de sua disciplina.»
Jacintho Freire de Andrade, Vida de
D. João de Castro, liv. 1.
Daga-se tudo pois ; e por piedade
O Mundo ou me respeite, ou me suporte
Por devida atenção á larga idade.
ABBADE DE JAZEKTE, POESIAS, tOm. 1, paff. 99
(ediç. 1787).
— d Deos se lembre de mim, pois que
até as Ortographias de Lisboa se vão le-
vantando contra este pobre Ulysiponen-
se. Vamos ás Molheres. Sendo as damas
as Creaturas que mais respeito, o juizo
com que V. M. lho dá he o que mais ve-
nero.» Cavalleiro d'01iveira. Cartas, li-
VTO 1, n." 7. — «Professo huma Ordem
que me impõem a obrigação de defender
o mesmo ponto, que venero, e respeito
por devoção particular.» Ibidem, liv. 1,
n.° 53.
Ligeira se mudou do Mundo a sccna,
Qual dava, e quer a ingénua Xatureza ;
A mão do Luxo abate a choça humilde.
Que. ou respeita, ou ignora o raio accezo,
E vai tirar dos montes empinados
Com sacrílego insulto as duras pedras.
J. A. DE SIACEDO, A XATCHEZA.
V0S.S0S dias — 6 03 teus, glória de Roma,
Esplendor derradeiro de seu nome,
Catào, esses teus dias preciosos,
Oh, nào os barateies tam sem fructo !
César teme, respeita essas \-irtude3
Que adornam o mais digno dos Eomanos.
GABRETT, CATÂO, act. 2, SC. 2.
Mas uma lei, 6 pae, tu me insinaste
Que sobre todas respeitar se deve :
Mais veneranda c antiga m'a dizias
Que todas essas leis.
IBIDEM, act. 4, SC. 3.
— Considerar, attender. — « Mas como
ás cousas da vontade pola maior parte
as outras obedecem, e a sua estava tão
affeiçoada, que por nenhuma via .se podia
apartar, obedecia-lhe a razão pêra consen-
tir sua pena : os outros sertidos consen-
tiram, uns pêra consentir seu mal, outros
pêra ser contentes delle o juizo respeita-
va a causa onde estes males nasciam, e
havia-os por bem vindos.» Francisco de
Moraes, Palmeirim de Inglaterra, cap. 56.
- — Figuradamente : Respeitar nma or-
thographia nova. — Respeitar !';n escripto.
— « Ao Canto de V. M. cede tudo o que
a Musa antiga canta : isto he sem falar
na Ortographia nova que estimo, venero,
e respeito sem seguir.» Cavalleiro d'01i-
veira, Cartas, liv. 1, n." 7.
O mar que ha tantos sceiúos' respeita
Na molle arêa os términos cscriptos.
J. A. DE MACEDO, A XATCEEZA, Cant. 1.
— Reparar em alguma cousa. — O
amor nunca respeita inconvenientes.
— Respeitar authoridade, dignidade,
pessoa ; accommodar-se, desviar-se do que
deve ser em razão da authoridade, pes-
soa, dignidade. — « Queixou-se o Procu-
rador do Convento á justiça, tirou -se de-
vaça, 6 como tinhaõ contado em banque-
tes, o que depennaraS, foy fácil apanha-
los a todos ; e chorarão as penas, que
mei"eciaõ, e se lhes perdoarão pur mise-
ricórdia, respeitando sua authoridade, e
nobreza.» Arte de furtar, cap. 60.
— Respeitar em si ; considerar, ponde-
rar.
— Attender, proporcionar.
— Olhar á importância e consequên-
cias.
— Olhar, estar voltado para alguma
parte.
— V. n. Tocar, dizer respeito. — « Pelo
que me respeita digo outra vez a V. S.
que não conheço alguma que possa servir
de prova, ou de exemplo á opinião em
que estou, de que se não pode formar hu-
ma idea mais vantajosa das Damas do
nosso século.» Cavalleiro d'01iveira. Car-
tas, liv. 1, n.° 35.
— Referir-se a alguém, tel-o em con-
sideração, em conta.
RESPEITATIVO, A, adj. — Conselho, pa-
recer respeitativo ; conselho, parecer que
se dá respeitando pessoas, e interesses.
— Conselheiros respeitativos ; conse-
lheiros que dão conselhos respeitando as
pessoas, e não a verdade. A^^id. Respe-
ctivo.
RESPEITÁVEL, adj. 2 gcn. Que mere-
ce respeito. — Pessoas respeitáveis. — ■
Seu nome é respeitável, mas deshonra-o
por seu procedimento. — Os grandes c/e-
248
RESl'
RESP
RESP
vem raupcilnr a reli(jião, única 'jnc ou lur-
ua respeitáveis.
f REoPEITAVF.LMENTE, mlv. (De res-
peitável, <■'! M o «iiílixu 'unente»). ]>e um
luoilii nspcitiivol,
RESPEITO, ». »í. (Do liitim respectim),
Vener!ii;?ío, difcroiicia qiio «o tom paru
coin iilfíiiom, piíifi CDU) iilsmiia cousa, oui
virtuile tia sua oxcolleucia, do weu cara-
cter, lia »ua (jualiilado, da sua idadu. —
Um (/raude respeito. — Um profundo
respeito. — l^m- respeito rduiinsit. —
Respeito fdial. — Te.r respeito ixtra com
as cousas sufjradas. — Dour respeito a
alfjueiii. — Aitriihir o respeito. — Impor
respeito. — Faltar ao respeito devido a
ahpicm. — Perder o respeito. — tíaír do
respeito. — O respeito do lugar, da pes-
soa, — O respeito das leis, dos costumes.
— «O cavalleiro do Salv<ag-em ergueu os
olhos, e vendo não ser Arlanya, se le-
vantou om pé : e como osta douzella an-
tro todas fosse a que melhor lhe luiroccs-
se, a rocebeu eoin palavras difteroutcs
das outras passadas, que eram clieias de
seu respeito, forjadas todas de enganos
compostas de seu desejo. Mas antes que
despendesse muitas a donzella lhe disse.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
teri'a, cap. 124. — «A iudi^naeào do
mancebo, entendeo o pouco fiuyto (|ue
se podia tirar desta jornada, e manda Jo
pessoas de sua casa que estranhassem à
Inf<ãta o modo de sua parti la, e lhe per-
suadissem que tomasse marido, o deixas-
se 03 pensamentos do Clu-istã, que a tra-
zlaõ alienada do respeyto que devia a
seu estado, fez com Germano, que sobrc-
estivesso na partida atè seus mensagei-
ros tornarem cõ a resposta.» Monarchia
Lusitana, liv. 5, cap. 19. — «Aceittir.ào
os Bi poi a jornaila, e chegados a Fran-
ça foraõ recebidos de Theodorico com a
veneração o respeyto devido a sua digni-
dade, porquo inda que tivesse a heresia
de Arrio, era todavia taõ modesto o co-
medido, que a ninguém negava o termo
e bom aci)lhimento, próprio a seu esta-
do.» Ibidem, liv. 6, cap. 7. — «O (Jo-
vornador porque sabia que Jordão de
Freitas viera de Maluco muito quebrado
com Bernaldim do vSousa, a quem por
suas partes, e qualidades quiz mostrar
respeito, o evitar escândalos, despachem
Oliristovíiõ de Síi seu sobrinho por Capi-
tão de huma caravela pêra hir a Jlaluco,
e lho dou huma provisão em segredo, pê-
ra Bernaldim de Sousa lhe entregar a
cUe a fortaleza.» Diogo de Couto, Déca-
da 6, liv. 7, cap. 6. — «E riscadas em
publico suas razões, por virem fumbvlas
em mau zelo e inclinação, e fAra dos res-
peitos justos e agradáveis a Deos, cuja
misericórdia sempre se inclina aos mais
fracos da turra quando lhe chorão, se-
gundo parece pelos cfFoitos piadosos de
sua grandeza.» Fernão Mendes Pinto, Pe-
regrinações, cap. 103. — «E como a
santa justiça do respeitos limpos c agra-
dáveis a iJcos, iiaõ aceita razões de par-
tes contrarias sem aver clara prova no
([uo dizem, parcceoMic nilo m-a- justo acei-
tar o libuilo do promotor, pois naõ pro-
vava o que nclle dczia.» Ibidem. — «En-
tre os lioiuons que então acompanliavão
o Mita(|uer, estava hum por nome Bon-
quinadau, homem ja de dias, e dos prin-
cipais senhores do reyno, o que aly era
(japitão fia gente citrangevra, c das ba-
das da gua)'da do cripo, a quem se tinha
nuiis respeito ijue a todos os outros que
cstavão presentes.» Ibidem, cap. 121.
— «Duarte da Uama lhe respondeu com
todo o respeyto, e cortesia devida ao re-
cado, e aos oílerecimentos que lhes tize-
ra, e lhes disse qne festejávamos a che-
gada do Padre por ser homem santo, e
a quem Elliey de Portugal tinha muyto
respeyto.» Ibidem, cap. 2(10. — «Antes
trabalhai quanto em vos for polo fazer-
des vosso amigo a tim de Uie dardes os
exercicios espirituais, ao menos, quando
mais não podesseis, os da primeira soma-
na, que atras apontaua. L)a mesma ma-
neira vos auercis com os sacerdotes da
terra, procurando, e consoruando a ami-
zade de to los, teadolhe, e mostrandolhe
muyto respeito, e trazendo-os a que se
recolham per alguns dias a tomar as mes-
mas meditaçòes.» Joào de Lucena, Vida
de S. Francisco Xavier, liv. 15, cap. 11.
— «A lasciva he também huma poderosa
causa do excesso desta payxào, e como
a niolher (falando com o devido respeito)
lie mais lasciva do que nós por naturesa,
essa a obriga como por força a ser muito
mais ciosa.» Cavalleiro d'Oliveira, Car-
tas, liv. 1, n." i:5. — «Ver a Madre de
Deos, e estar na gloria he o mesmo. Ver
Carnide he estar com os Anjos, Para ver
o Saerameuto he necessário tremer de
respeito.» Ibidem, liv. 1, n." 36.
Este o feudo da estima, o do rcjtfito,
Que eu primeiro paguei, Xai;ào soberba,
Quo asiiiras a empunhar uo vasto Occauo,
Soui conhecer rival, o azul Tridente.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM KXTATICA, Caut. 2.
— A este respeito ; a este lado, ou fa-
ce do negocio, da cousa.
— Attcução, dever, consideração, con-
templação. — «E Eutropio diz, que o ca-
nonizarão por Sãto, que iie relaçafí bem
diferente, dos que o calumniavào por Ar-
riano, sem respeito do muito que traba-
lhou, por apurar a verila le da Fè no Cõ-
eilio Niceno, cujas particularidades con-
taremos logo. eivni as de sua mày Santa
Elena.» Monarchia Lusitana, liv. 5, cap.
24. — «O Godo que não era costumado
a sofrer estas afrontas, vendose ter em
pouco do cunhado, a quem elle aconse-
lhava com bom zelo,* pospondo todo res-
peito de amor e parentesco, ajuntou o
mais poderoso campo que lhe foy possível
e com Boccorro dos RevB de França, e
I5orgonha, entrou em E«panba buscando
a Ueciario, por não ooperar que ellc o
fos.se demandara ToioHa.» Ibidem, liv.
(i, cap. 7. — «E porque V. A. era obri-
gado a liia dar, e elle so houve nas pcn-
dença» d'EIUey do f^rmuz muit<i a ser-
viço de V. A., liavendo respeito a tudo,
lhe tiz mercê desse dinheiro, f Diogo de
Cr)uto, Década 4, liv. (j, cap. 8. — lEm
a justiça he tão inteiro que nunca per
nenhum respeito, ou alfeição se inclinou
mais a hun>a parte que a outra.» Damião
de Gocs, Cbronica de D. Manoel, part. 3,
cap. 27. — «O que vendo o Conde de
Borba pedio liccnea ao Duque pêra lhes
>-air, mas per respeitos que a i^so teue
lho nain (|uis consentir, porquo seu in-
tento era mais om tomar a cidade, que
liam em cometer cousa, que lho podesse
estornar, pelo que os Mouros se foram
sem ousarem de chegar mais perto do
arraial do que estauain.» Ibidem, cap.
47. — «E vindo ás < •ricntaes de nosso
instituto, (que em respeyto do interior
do Reyno estaò ao Oceidcnte) he de sa-
ber que a parte interior desta enseada,
que he a mais Boreal delia, regaa o fa-
moso rio Ganges, que cortar.do por muy-
tas partes os Reynos de Bengala com
seus inchados braços, parece que quer
fazer guerra ao mar, como iudifrnado de
([uc r.elle feneça o seu nome.» Conquista
do Pegú, cap, 1. — «Tem todavia ima-
gens de Loutliias que adouram por ave-
rcm sido em alguma cousa ou cousas in-
signes. E assi estatuas e imagens dal-
guns sacerdotes dos idolos e algiunas
doutros homens por alguns respeitos par-
ticulares.» Fr. (íaspar da Cruz, Trata-
do das cousas da China, cap. 27. — «.V
luiarua dos Ala'.>ardeiro3 introduzio f'l-
Itev 1). Seba*tiaõ, assim para respeito
dii Pessoa Real, como para segurança
delia, pelos muitos Estrangeiros Here-
ges, que havia em Lisboa, mas naS eraõ
de Tudescos, senaõ de Portuguezes, e
foi seu Capitão da Guarda Francisco de
Sà Camareiro M«ir d'ElRey D. Henri-
que, e Coiíde de M.itozinhos.» Maníx;!
Severim de Faria, Noticias de Portugal,
Disc. 2, § 4.
Fosses quem fosses tu, digno ós por c^rto
]>o respeito dos séculos, mais qu'e&M»,
Que fizerào pcmer. curvar co'o pczo
De Impérios vastos .•» mesquinha Terra !
J. A. nE JIACBDO, MEnlTAÇÂO, Cflllt. 1.
He esta a fonte de rexjf^lto, e estima,
Que eu Vate, que cu filosofo consagro
A ti, graude Na<;So. soberba, c forte.
iDEV, vi.vGEM ExrAricA, cant. 2.
— «Senhor, saiba v. m. qne á sua al-
ma se acrescenta outra alma de novo; á
sua obrigação se ajunta outra obrigaç3o.
Assim devem crescer seus cuidados, e
RESP
RESP
RESP
249
seus respeitos.» D. Francisco Manoel
de Mello, Carta de guia de casados. —
« Acerca do tiro que se deu em Lisboa
sobre Fernando da Costa, e cuidaram
ser D. Manuel de Souza Calhariz o ho-
micida por zelos da princeza de Holstein
sua infeliz mulher, hoje sabe-se ter sido
o assassino um criado do conde de S. Vi-
cente, pae, em respeito de sua filha a
condessa de Avintes, que era donzella ;
e ficava-lhe defronto Fernando da Costa,
por morarem os srs. de S. Vicente por
então junto aos Cardaes.» Bispo do Grão
Pará, Memorias, publicadas por Camillo
Castello Branco, pag. 105.
• — ■ O lado, ou face por onde se olha, e
considera alguma cousa.
o que por mim ha de ser,
Deiia o toma a bom respeito.
Esmolar, estaca na raia,
d 'onde não podeis passar
som primeiro rcg;Í8tar
vossa bolsa ; registae-a
se não podeis perdoar.
ANTÓNIO PBESTES, AUTOS, pag. 85.
— Motivo, razão, causa, consequência.
— « E per non cairem nas penas que teera
promettidas nom pagando aos ditos ter-
mos as ditas sommas d'ouro ou prata, em
que sam obrigados dão mais da dita nos-
sa moeda, por o dito ouro ou prata, do
que he o seu verdadeiro valor per res-
peito da prata que teem, e assy fica a
no.ssa moeda viltada, e desperçada, e abai-
xada : a qual cousa he grande perda, e
danno a nós, e aos nossos Regnos, e se-
nhorio, ea todo nosso povo.» Ord. Affons.,
liv. 4, tit. 2, § 3. — • «Em tanto que dan-
do, ou offerecendo o dito comprador o dito
preço, que seja seu ao vendedor, será elle
theudo, e obrigado de lhe entregar a
cousa assy vendida, se for em seu poder;
e se em seu poder nom for, deve-llie de
pagar todo interesse, que lhe perteencer,
assy per respeito de gaança, como por
respeito da perda.» Ibidem, tit. 4, § 36.
— «A terceira fica ao Norte, e se chama
a porta de Magdam, e sobre ella está o
Castelo, e casa do Baxâ. A quarta ao
Oriente, esta se diz a porta do meyo, na
qual ha meno.s concurso, por cuyo res-
peyto' se fecha huma hora antes de se
poer o Sol ; nas quaes ha de cõtino pre-
sidio de soldadesca com seus Capitães
Genizaros.» Fr. Gaspar de S. Bernardi-
no, Itinerário da índia, cap. 19. — «To-
dolos outros rebates que tiveram d'ElRey
Mahamud pelo tempo em diante, tiveram
em pouco em respeito do perigo que pas-
saram por causa destes dous Jáos Patê
Quetir, e Patê Unuz.» João de Barros,
Década 2, liv. 9, cap. õ. — «Eu lhe acei-
tey a viagem de boa vontade, e me par-
ty huma quarta feyra nove dias do mez
de Janeyro do anno de 154.5 desta forta-
leza de Malaca, e seguy minha derrota
com ventos bonanças até Pallopraeelar,
voL. V. — 32,
onde o piloto se deteve por respeito dos
baixos que atravessauão todo este canal
da terra firme á ilha Çamatra.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 144.
— « E pêra que hos desembargadores
despachassem has partes com mòr bre-
uidade lhes concedeo de nouo, assi a el-
les, quomo aos corregedores das comar-
cas assinaturas, has quaes el Rei dom
loão seu filho depois tirou per justos res-
peitos.» Uamiuo de Góes, Chronica de
D. Manoel, part. 1, cap. 9. — «Sam taõ
destros no tirar, que nas guerras, que
tem com os Portugueses lhes metem as
frechas pelas junturas das armas, pelo
que se acostumarão a huns laudeis de
panno de linho, que os cobre da cabeça
ate os pès, imbutidos dalgodaõ, taõ gros-
sos que as frechas cmbaçaõ nelles, mas
estes frecheiros lhes naõ tiraõ jagora por
este respeito senaõ aos olhos, e saõ nis-
so taõ certos qvie matam muitos.» Ibi-
dem, part. 1, cap. 56. — «Ao que Afon-
so dalbuquerque não quis dar orelhas por
muitos respeitos, mas antes mandou que
logo se alasse a frota pêra fora do porto, e
que saqueassem as nãos que ahi estauam,
e lhes posessem o fogo no que se passa-
ram dous dias sem da cidade lhe sair
ninguém, o que feito se fez a vclla pêra
ho estreito que he trinta legoas Dadem,
pêra onde partio na segunda octaua de
Páscoa.» Ibidem, part. 3, cap. 43. — «E
porque isso assentamos, por nos parecer
cousa de nosso seruiço, e no que somos
bem servido, temos por certo que vos
nam obriga outro nenhum interesse, nem
particular respeito, saluo sermos seruidos
a nossa vontade, e assi como nos con-
uem, e este temos visto em todos vos-
sos seruiços.» Ibidem, part. 3, cap. 53.
— «Deu a dom Nuno mascarenhas, le-
uando mais em suas instrucçoens, que
acabada a fortaleza da Mamora, dom An-
tónio lhe desse nauios, e três mil homens
para ir fazer outra fortaleza em Anafe a
qual fortaleza desejaua elRei tanto tella
nítquellas partes, que por esse so respei-
to ordenou de mandar esta armada a
Namora, para que acabada esta se fezes-
se a outra com menos trabalho, e peri-
go.» Ibidem, cap. 76. — «Em que alem
de ter pedidas outras grandes ajudas de
dinheiro que lhe foram outorgadas, quis
de nouo pedir outras muito maiores, o
que lhe foy contrario, per alguns dos
procuradores das cidades, e villas, entre
os quaes o principal foi loam de padilha
procurador da cidade de Toledo, natural
da mesma cidade, que per este respeito
so despedio das cortes, sem tomar con-
clusam em nada.» Ibidem, part. 4, cap.
55. — «Contra este mandamento tam-
bém pecea quem por algum medo, ou
por outro respeito negou a fee. Item,
aquelle que idolatrou, adorando o demó-
nio, ou outra criatura. Item, contra este
mandamento peccam todos os blasphema-
dores, arrenegadores, pesadores.» Frei
Bartholomeu dos Martyres, Catecismo da
doutrina christã, cap. 38.
O Baxá, que isto tudo governava.
Nunca a frota deixou, nella se encerra,
Assi porque guarda-la a elle tocava
Por estar nella a força desta guerra.
Como porque do todo lhe negava
A sua antiga idade vir a terra,
Ou por outro respeito extraordinário,
Mas d'alli provê tudo o necessário.
FHANCISCO d'aNDBADE, PEIMEIRO CERCO DE DIU,
caut. 15, est. i7.
• — Respeitos mundanos ; attenções do
mundo. — «Da parte do qual lhe reque-
rião huma e duas e muytaa vezes que
olhasse que era mortal, e que a sua na-
tureza era acabar em breve tempo, que
por Deos lhe era dada a vida da carne,
no fim da qual avia de dar conta daquel-
las cousas que lhe erão ditas e requeri-
das, pois se tinha obrigado por juramen-
to solenne a fazer tudo o que o seu claro
juizo entendesse muyto inteyramente,
sem respeitos nenhuns mundanos, per-
turbadores do fiel da balança, cujos pe-
sos o mesmo Deos tinha afilados na in-
teyreza da sua divina justiça.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 101.
— Homerif! de respeito ; homens res-
peitáveis pela sua pessoa, pelo seu saber,
talento, etc. — «Despois que o despa-
charão nesta mesa da primeyra tavan-
graa, nos fomos á outra que estava mais
adiante, dalj' huma legoa, pelo rio aci-
ma, na qual achamos outros homens de
muyto mór respeito, os quais também
cõ outra nova cerimonia viraõ a carta e
o presente, e puseraõ em todas as peças
huns cordões de retrós encarnado com
três mutras de lacre, que foy o remate
para a embaixada poder ser recebida do
Calaminhan.» Fernão Mendes Pinto, Pe-
regrinações, cap. 162.
— Imagens feitas sem respeito nenhum;
imagens que se fazem sem merecerem
respeito, nem veneração, acatamento. —
«Assi que ho mayor Deos que tem he ho
Ceo, pollo qual lia letra que ho significa
he ho principio e ha primeira de todas
as letras. Adouram o sol e ha lua e as
estrellas, e quantas imagens fazem sem
respeito nenhum.» Frei Gaspar da Cruz,
Tratado das cousas da China, cap. 27.
— Figuradamente: O respeito das ar-
mas. — «Nos Reinos de Cananor, e de
Cochim quasi dominão com absoluto Im-
pério em Porca, Coulão, Calecoulão, Do-
torá, Birinjão, Travancor. Alcança o res-
peito de suas armas até o famoso Cabo
Comori, defronte do qual está a illustre
Ilha de Ceilão, onde carregão as nãos
de difterentes drogas.» Jacintho Freire
de Andrade, Vida de D. João de Castro,
liv. 2.
— Havendo respeito a ahjuma cousa ;
attendendo a ella. — «E avendo também
250
RESP
RESP
RESP
respeito a aver na terra poucos (Ic<;ia-
Jiiilo.s para o 8crvi(;o ordinário da líopii-
blica, o do.s oíTiciaia da Justiça, a que de
necessidade so avia de acudir, mandava
que por esmola feyta em nome dei lley,
a pena do crime que cometêramos se síi-
tisKzesse cos açoutes que nos tinliaõ dii-
dos, e (içássemos aly cativos para sem-
pre até o Tutíio mandar o contrario se
Uio brm parecesse." Ferníío Mondes Pin-
to, Peregrinações, cap. 115. — «Depois
de Duarte de Lemos ser em Cananor
Afonso da!l)U(piorque lhe deu conta de
como detcrminaua tornar sobre Goa, pc-
dindo-llie que quisesse ir com elle, auen-
do respeito quanto importava aquella ci-
dade ao seruiço dei Ivci, soboUo (juc ja
tivera muitos ciinscllios.n Damião de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 3,
cap. lõ. — «Per vertude dos quues, se
lhe viesse a propósito podia ficar na ín-
dia mais tempo dos três annos que ja ti-
nha vencidos, se escusou desta viagem,
o que el Rei tomou bem, c auendo res-
peito as despesas que ja tinha feitas, e
aos serviços que lhe fezera em Africa, e
outras partes, e em especial em Arzilla,
o na tomada de Azamor, c na batalha
dos alcaides.» Ibidem, part. 4, cap. 31.
— Por seu respeito ; em attenção a
cUe, ou a si. — ■ «Andámos após os en-
ganos, somos solicites cm nosso damno,
não nos queremos desenganar por huma
má opiniam do mundo; himos contra a
alma por amor do corpo, que nos foy da-
do por seu respeito; estimamos a vida
como que fosso perpetua.» D. Joanna da
Gama, Ditos da freira, pag. 26 (ediç. de
1872). — «Estes males todos causou a
desonestidade de huma molher, porque
poramor delia ferio, e decepou seu mari-
do Fernam Caldeira a Anrrique de tou-
ro, e por seu respeito mandou dom Go-
terre matar o mesmo Fernam Caldeira.»
Damião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 4, cap. 17.
— Em attenção a nós. — Por nosso
respeito fez-se isto. — «E porque Nam-
bear giuizil, que fora do Çamorij passa-
do, por causa nossa ora lançado do llov-
no, e depois em Cananor, onde também
servia a ElRey deste cargo, elle o espe-
dio, tudo por nosso respeito ; quando Af-
fonso d'Alboquerque assentou estas cou-
sas da paz com o novo Çamorij, traba-
lhou com elle que tornasse a restituir em
seu officio a Nambear, o que elle foz.»
João de Barros, Década 2, liv. 8, cap. li.
— «Mas não ho razão que nos peçais (pic
fallcmos ao julgador com tenção de pur
nosso respeito fazer elle o que não devo
em sou officio, poi-que será dar-lhc moti-
vo de peccar cõti-a Deos, e yrse ao in-
ferno, e nós ficaremos sendo mais pro-
priamente servos do diabo que ministros
do remédio dos pobres.» Fernão Mendes
Pinto, Peregrinações, cap. 102. — «Este
perro quàdo soube da nossa prisai3, e co-
mo cl Rey estava determinado de nos
mãdar soltar, cmburilhou o negocio do
maneyra, e disse de nós tãtas mentiras a
el Rey, que (piasi lhe fez crer que sem
duvida pcnleria muyto cedo o reyno jjor
nosso respeito, porque lhe disse que era
nosso costume espiarmos huma terra so
color de mereãcia, e despois a tomarmos
como ladrões, matado e assolado toda a
cousa que nella achávamos.» Ibidem,
ca}). IrW.
— A respeito de ahjucm, ou efe nhjii-
ma cousa ; com relação a elle. — «E os
contrautos dos ditos afloramentos, ou em-
prazamentos, ou d'outros (piaecsquer fo-
ros, ou rendas, per que fazem pagas a
respeito da moeda antiga, que forom fei-
tos ante da dita Era de mil e trezentos
e noventa e cinco aunos atras, paguem
settecentas por huma dês este primeiro
dia de Janeiro, que ora vem da Era de
mil e quatrocentos e triuta e seis annos
em diante.» Ord. Affons., liv. 4, tit. 1,
i} 63. — «Lionarda, ao tempo que o im-
perador chegou a cila, vendo uma idade
tamanha, a presença grave e authoriza-
da por extremo, pareccndo-lhe que todo
seu estado c fama a respeito da pessoa
era pequeno, com toda cortesia e acata-
mento, que pode o recebeu, debruçando-
sc p<u' lhe beijar a mão pola mercê, que
lhe fazia cm a querer ter cm sua casa e
corte.» Francisco de Moraes, Palmeirim
d'Inglaterra, cap. 111. — aTornando a
elles, depois de verem todo o apousenta-
mento, foram ao lugar donde estava o
gigante de metal, e isto houvei-am por
tão pouco a respeito do passado, que o
não olharam. D'ahi foram ter onde se
passava o rio, e vendo o modo da ponte
e a estreiteza e podridão delia, a altura
da agua, aqui se pôz em esquecimen-
to todos outros trabalhos passados.» Ibi-
dem, cap. 119. — «Esta certeza está muy
experimentada, e parece-me que provada
na minha carta a respeito dos ânimos
inferiores, e ordinários que se sogcitão
ás suas extraordinários violências.» Ca-
valleiro d'01iveira. Cartas, liv. 1, n.° 13.
■ — «O que entendo a respeito de huns e
do outi-os, e o que julgo definitivamente
de todos os amantes, hc que não ha Amor
sem Ciúme, e que ninguém pikle nem
sabe amar som ser Cioso. » Ibidem. —
«Ainda não vi idea mais jixsta do que a
vossa a respeito da fragilidade huma-
na. Ordinariamente não amamos os obje-
ctos SC os não vemos.» Ibidem, n.° 42.
— «Parcceudo-me que basta de exem-
plos autorisados, a respeito de pessoas
que SC distinguirão das outras pelas sn:tó
forças, vos dircy que todas cilas da mes-
ma forma que Sansão não forão Gi-
gantes, e ainda que das referidas hou-
ve algumas de mayor estatura que a
ordinária.» Ibidem, n.° õO. — «Vós mo
obrigaes a que, discorrendo nesta ma-
téria, vos mostre que sou neUa o mais
ignorante dizendo-vos qual ho o meu
parecer, c o meu juizo a seu respei-
to.» Ibidem, n." 43. — «Todos sabem o
erro commuin em que se acliãu as Par-
teyras a respeito dos meninos quo nas-
cem impellicadoí, ou para melhor diser
com a cabeça ornada de huma coifa a
(jue 08 Gregos chamavão amnios.* Ibi-
dem, n.° 11. — «Perguntando Caos bc
cllc dcyxára dito alguma cousa a seu
respeito, lhe disse o (iovernador da casa
do dito Cavalheiro que não tinlia dis-
})osto, nem deyxado outra cousa que cer-
tos pi;8, que lhe pedira que conservas-
se com todo o cuidado.» Uiidem, n.° 8.
— «Este he o meu parecer a respeito de
Hipparchia ; e a respeito do seu amor
conhece muito mal as molheres, quem
atribuo á virtude o que ellas podem obrar
por ca(iricho, c por rnáo gosto. Pór-so
um homem sempre da pcor parte quan-
do 88 deve faser juiso das suas acçoens,
parece-me que he a regra mais segura
que se pôde seguir para errar menos.»
Ibidem, n.° 10. — «E cntaõ lha assen-
tavaõ nos livros, a respeito da que o
pai havia, porém sempre maid peque-
na, para dar lugar aos acrescentamentos
ordinários.» Manoel Severim de Faria,
Noticias de Portugal, Disc. 3, § 21. —
«Entrando-lhe um cai-deal em casa, gri-
tou que lhe fossem buscar um crucifixo
para a cabeceira da cama. Isto são ve-
nialidades a respeito de coisas moraes. »
Bispo do Grão Pará, Memorias, publica-
das porCamillo Castello Branco, pag. 78.
— «Respondeu : — «Quo v. exc* é um
grande de Portugal. — Nào digo isso: fal-
lo a respeito dos meus versos... tornou
o conde. — E coisa em que lá se líào fal-
ia. — Assim castiga Deus com um desen-
gano uma vaidade!» Ibidem, pag. 108.
— Respeitos humanos; o medo que se
tem do juizo, e dos discursos dos homens.
— O respeito faz commetter muitas fal-
tas.
— Relação de uma cousa com outra.
— 1 Como porém concorda Amor contrá-
rios táes ! D'essa opinião vem que maior
ciúme não cabe que haja, do que o meu
ciúme á cerca de quanto te diz respeito;
e iria eu não menos ao cabo do mundo
grangear-te admiradores. Abhorrêço essa
Franceza, com tão entranhavel ('>dio, que
não ha hi crueza que em destruição sua
eu não executara.» Francisco Manoel do
Nascimento, Successos de madame de Se-
neterre.
— Guardar a dama respeitos; fugir,
evitar occasiões de dar ciúmes.
— Intento, intuito, fim, projecto que
algucm propõe conseguir.
— Ter respeito ; ter attenção, conside-
ração.
— Mover-sc pelos respeitos da fazetv-
da, da honra, do int' reste : mover-se por
influencia, considcraç^ão, attenção da fa-
zenda, da honra e do interesse.
RE SP
RE SP
RESP
251
— Com respeito ; com consideração,
reflexão.
— Logar de respeito ; logar em qiie se
deve estar com respeito. — As igrejas
são lagares de respeito.
— ^1 respeito ; em comparação.
— Sem respeito a recreações, nem a
deleites; sem que elles influam, ou sejam
causa de resolução ou acção.
— Munição de respeito; balas, pellou-
ros de grande calibre.
— Respeito de pessoas; acceitacão d'el-
las.
— Cousa de respeito, pessoa de res-
peito ; cousa de importância, digna de
attenção, veneração, que inspira respeito.
— Sou com profuiuj.o respeito ; for-
mula pela qual se termina de ordinário
as cartas a um superior.
— Srs.: Respeito, deferência, reveren-
cia, veneração, acatamento.
O respeito reside na imaginação; a
veneração no coração. Esta é o effeito da
persuasão interior do animo; aquelle re-
sulta da impressão causada pelo objecto
em nossos sentidos. Por isso respeita-se
a authoridade, e venera-se a virtude. Um
varão apostólico excita nossa veneração ;
um pai, nosso respeito ; um soberano vir-
tuoso, nosso respeito e veneração.
Deferência é o respeito que os deveres
soeiaes e a boa educação nos impõem rela-
tivamente aos desejos ou dictames alheios.
Reverencia é o respeito acompanhado de
vene7'ação.
Acatamento é todo o acto externo com
que mosti-amos nosso respeito ou venera-
ção, com que acatamos.
— Syx. : Respeito, consideração. Vid.
este ultimo terir.o.
RESPEITOSAMENTE, adv. (De respei-
toso, com o sufiixo «mente»). De uma
maneira respeitosa, com respeito. — Fal-
lar, escrever respeitosamente a alguém.
— Proceder respeitosamente com alguém.
Approximar-se "respeitosamente do altar.
RESPEITOSO, A, adj. Que testemunha
respeito, que move respeito. — Um ho-
mem respeitoso. — Uma filha respeitosa.
— Filhos respeitosos.
— Reverente.
E cu. que o não conheci, Lasthêncs ricco!
Como 03 Céos mófào da agudeza humana !
Servo te imaginei, por ordens tuag,
Dos hospedáes devêrca incumbido.
Lasthênes se inclinou, co's olhos baixos ;
Eudóro a Mãe seguia respeitoso.
F. M. DO KASCIMESTO, OS MAHTYEES, 11 V. 2.
— Que mostra respeito. — Um aspe-
cto respeitoso. — Postura respeitosa. —
« Pedio Suzanna que nos deixassem sós,
e advertiu seu marido com tom de afago,
de que não ia jantar fora, e que^imandas-
se por desculpa faltas de saúde ! Litgo
que nos vimos ambas sós ella me fez tan-
ta caricia com tão amável e respeitoso
gesto, que fez com que vertessem na mi-
nha alma quantos abalos agitavão a sua.»
Francisco ílanoel do Nascimento, Succes-
sos de madame de Seneterre.
— Que observa veneração, cortezia.
Feliz, o que, nos valles vive, em prantos!
Que, a Deos, manancial de bênçãos, busca !
Feliz, quem vio seus erros perdoados,
E, em dura penitencia, a Gloria encontra !
Feliz, quem, no silencio, ergue o Edifício
De boas Obras iSalomonio Templo,
Onde 03 golpes do scôpro, ou do Machado
Não se ou%'iào, em quanto, respeitoso,
A casa do Senhor lavrava o Obreiro).
F. M. DO SASCIMEXTO, OS MABTTKES, 1ÍV. 3.
RESPEITUADO, part. pass. de Respei-
tuar. Respeitado.
RESPEITUAR, i-. a. Haver attenção,
respeitar.
RESPEITUOSO, A, adj. Vid. Respectuo-
so, e Respeitoso.
RESPICIENCIA, s. /. = Termo pouco
em uso. Respeito, consideração, reparo.
RESPIGA, s. /. O trabalho de respigar
as searas.
— Emprega-se também no sentido fi-
gurado.
RESPIGADEIRA, *. /. Mulher que apa-
nha as espigas, que remaneceram da se-
ga no agro.
— Vid. Rabiscadeira, que é difi"erente.
RESPIGADOR, s. m. Homem que respi-
ga as searas ceifadas, e recolhe as espi-
gas, que ficaram por segar.
— Figirradameute : Homem que es-
preme todo o ganho, lucro, até illegal-
mente.
RESPIGADURA, s. /. O que se respiga.
RESPIGÃO, s. m. E-pigão, que nasce
junto ás unhas.
RESPIGAR, 1-. a. Recolher as espigas
que ficaram no agro ceifado.
— Figuradamente: Tirar, succar todo
o ganho, até sem legalidade.
— Vid. Rebuscar, ou Rabiscar, que
difi"erem.
RESPINGADOR. Vid. Respingão.
RESPINGÃO, ONA, adj. Que respinga,
que coucêa.
— Cavallo respingão ; cavaUo inquieto,
desobediente, couceador.
RESPINGAR, 1-. n. Inquietar-se a bes-
ta, coueear.
— Figuradamente : Resistir, recalci-
trar, repsgnar.
RESPINGO, s. m. Couce, fallando da
besta que respinga.
— Estalinho de vela, cuja cera ou se-
bo tem agua misturada.
— Figiu-adamente : Resistência, recal-
citraçào.
RESPIRABILIDADE, s.f. Termo de phv-
sica. Qualidade de um gaz que pôde ser-
vir para a respiração.
— Aptidão a ser respirado.
RESPIRAÇÃO, í. /'. (Do latim respira-
tio), Funcção em virtude da qual o flui-
do nutritivo de um ser organisado é posto
em contacto com o ar, que lhe rouba uma
parte das suas propriedades, e lhe com-
munica outras ; ella consiste em dous mo--
vimentos oppostos, chamados inspiração e
expiração ; aspira-se oxygeneo e azote, e
expira-se azote e acido carbónico. Nos in-
sectos a respiração eôectua-se por canaes
particulares chamados trachías; na maior
parte dos animaes aquáticos, ella tem lo-
gar por uma espécie de franjas mem-
branosas chamadas branchios. Em todos
os mammiferos, aves e reptis, effectua-se
nos pulmões, da mesma maneira pouco
mais ou menos que no homem. O mecha-
nismo da respiração existe todo inteiro
em movimentos successivos de contrac-
ção e dilatação do peito, ou thorax, e
portanto dos próprios pulmões, os quaes
movimentos produzem successivamente a
expiração e aspiração do ar atmospheri-
co. — Ter a respiração livre, fácil, dif-
ficil, desembaraçada. — Os órgãos da res-
piração. — «Largo tempo nos demorámos
n'e5te género de disputa; quando vimos
endireitar para nós um homem tam apres-
sado, que quasi trazia tomada a respira-
ção : era elle outro ministi'o de Pvgma-
lião, que da parte d'Astarbé 'mulher for-
mosa qual uma deusa) nos vinha deman-
dar, i Francisco Manoel do Nascimento,
e Manoel de Sousa, Telemaco, liv. .3.
— Soffrer falta de respiração ; não ter a
respiração no seu estado normal. — «Que
tem isto com o Imperador Augusto, per-
guntará V. A. e com rasão? Eu a dou.
Amava Au.gusto muito a Vú-gilio, e a
Horácio. Tinha-os quasi todos dias á sua
mesa, e sentava-se entre elles. Virgilio
sofria faltas de respiração. Horácio tinha
huma fistula lacrimosa.» Cavalleiro d"01i-
veira. Cartas, liv. 3, n." 17.
— Termo de pathologia. Os movimen-
tos respiratórios variam muito nas doen-
ças. A respiração é frequente ou rara,
conforme os movimentos são mais ou me-
nos numerosos u'imi tempo dado que o
não são em saúde; viva ou lenta, con-
forme o gi-au de rapidez ou de lentidão
com o qual os seus movimentos se exe-
cutam; grande ou pequena, conforme ha
muito ou pouco ar inspirado e expirado;
fácil ou difícil, conforme se executa com
facilidade ou sem ella : a respiração dif-
ficil constitue a di/spnêa. Ella é igual ou
desigual, conforme a successão igual ou
desigual de seus movimentos ; quando
em um numero dado de respirações fal-
ta uma, a respiração chama-se intermit-
tente. Ella é sonora ou insonora, confor-
me se faz com ruido ou sem elle : no pri-
meiro caso toma diversos nomes, segundo
a qualidade do som que produz : assim é
sibilante, quando faz ouvir o som parti-
cular conhecido pelo nome de sibilamen-
to; suspiriosa, quando produz o ruido que
constitue o suspiro ; luctuosa, quando o ar
expulso dos pulmões pela expiração pro-
252
RESP
RESP
RESP
duz o som cliamado gemido; sterlorosa,
quando faz ouvir, n<m niovimcutos do
expirarão c de iutipirarào, uma espécie
do 8ora, que iuiita bem o ruido da agua
fervente.
— Termo de munica. A acçào de res-
pirar para cantar diílcre em alguma cou-
sa da respirai.ão para fallar. (guando se
respira para fallar, o primeiro movimen-
to é o da aspirai^^ào; entào o ventre iucLia,
o sua parte superior avaui,a um pouco, e
depois o segundo movimeuto é o da ex-
piração; estes dous movimentos operam-
se lentamente, quando o corpo existe no
seu estado normal. Telo contrario, na ac-
çSo do respirar para cantar, é mister
achatar o venti'e, o fazel-o subir com
promptidiio, inchando o peito.
— Termo do botânica. Os vegetaes
apresentam também phonomcnos respira-
tórios que se tem comparado com razão
aos que se observam nos insectos. O ar
penetra no tecido vegetal por uma mul-
tidão do aberturasinhas da superfície in-
ferior das folhas, que representam igual-
mente 03 estigmas dos insectos; o se dis-
tribuo em todas as partes d'este tecido
por trachèas análogas ás trachèas dos in-
sectos quanto á estructura, c suas fnnc-
ÇÍÍes. Nas plantas aquáticas, como nos
peixes, a agua cheia de ar vem banhar
immediatamcnte as cellulas, em que a
seiva está encerrada, e estiis cellulas fa-
zem o officio de brauchios.
— Figuradamente : Respiração do tra-
halJw; allivio, folga.
— Soltar a respiração ; soltar, expel-
lir do bofo, ou recolher o ar respirando.
RESPIRADEIRO, s. m. Vid. Respira-
douro.
RESPIRADO, part. i^ass. de Respirar.
Solto pehi rospiração.
— liccolhido.
RESPIRADOR, s. m. Termo de physica.
Apparelho próprio para facilitar a respi-
ração.
— Respirador antimcphitico; instru-
mento de que nos servimos para fazer
sem perigo certas experiências no mephi-
tismo das fossas, latrinas, etc.
— Termo de anatomia. Diz-se dos ór-
gãos que sorvoui para a respiração.
RESPIRADOURO, s. m. Resfolgadouro,
abertura quj dá passagem a vapores, a
fumo, a cxhalaçr)es, á luz.
RESPIRAMENrO, s. m. Assopro, bafo,
alento.
— Descauí;!^, cessação do trabalho, da
fadiga.
RESPIRATÓRIO, A, adj. Termo de ana-
tomia o physiologia. Quo serve, que tom
relação com a respiração. — Oi-íjãos res-
piratórios. — Movimentos respiratórios.
RESPIRANTE, part. act. de Respirar.
Que respira como os ânimos vivos.
Ou foi insipicnoia, ou foi li^wnja
Iloiu-iir as ciiuiis do soberbo Júlio
(^in lucto uiiircrsal du Natureza ;
^[as a luz. du Scicncia iiida niio tinha
Fulpuradij oiitrc os fillioí di; .Miivortc ;
Duixavilo <|uc oiitroH de ]iolidos bronzes
Urt rrupiranteíi bustos luvautasiicin.
j. A. vK UACKDO, uKDiTAçÃo, cant. 2.
Qual SC nos mostra hum Hercules Furnesi,
Cjual riu iulmira du M(-dicis u Vonus;
Súbito vira que a dcscrti praia
Fura nliUMi tempo babitai,'ão du bumanos,
Que hum Fidiari,lmm Luucippo, hum i'raxiti.'lles,
A niupiraiite inólc ao ar erguera.
loiDKu, cant. 4.
— Termo de poesia. Que assopra, ou
sopra brando.
RESPIRAR, f. n. (Do latim respirare).
Rec(jlher e soltar o ar alternadamente
pelo movimento dos bofes. — Difjicahladt
da respirar.
Trcs vpzcâ quiz fugir, s trcs o Medo
Os passos lhe embargou : immovcl tica,
E semi-vivo respirar naõ pôde.
A. DIXIZ D\ CBUZ, HYSSOPE, Caut. 8.
Alli vapor mefítico respiràn
Miseráveis mortues: alli mil vezes
Cabe ruinosa a abobada que fiirmiio,
E os desgraçados paru senipro cobre.
J. A. DF. HACnDO, A KATDRBZA, CaUt. 2.
Mas a teu lado outr'anra cm fim respiro,
Foge a ^^3ào, oa cxtasis par;\riio.
IBIDEM, cant. 1.
— Viver. — Respirar para vós. — « To-
dos os outros Principes se hão de armar
contra o commum inimigo, para poderem
respirar na antiga liberdade em que vi-
vião. Pelo que a mim toca, os filhos, a
fazenda, e a pessoa oííereço a esta guer-
ra; se acabar nella, em meu sangue verá
Badur minha íidclidade; e cm ambos os
suceessos não terei por menos hoiu-ada a
morte, que a victoria.» Jacintho Freire
de Andrade, Vida de D. João de Castro,
cap. 2.
— Termo de poesia. Assoprar, ou so-
prar.
O brando, suaue Zcphiro respire
Nos brandoá corações dos dous amantes,
Fauoreça o grão mal, que o brauo, e fero
Vulturno tinha ncUes imprimido.
Venha ja, venha ja a lúcida cstrella
Do Scpulucda ja ditoso, e ledo,
lirotcni lirios os campos que atégora
De cardos espinhosos se cobrião.
COKTE REAL, KACFKAOIO DE SEPÚLVEDA, Caut. 4.
Tinha uma volta dado o Sol ardente
E n'outra começava, quando \iram
Ao longe dous navios, brandamente
(.'o"o9 ventos navegando, que respiram;
Y'orquc haviam de ser da maura Gente,
l'ara ellos arribando as velas virara :
l'm, de temor do mal que arreceava.
For se s.-Uvar a gontc, á costa dava.
CAM., LIS., Ciint. 2, est. GS.
— Parecer que t'!m vida ijensirel.
— I)ar ttignaes de vida.
— Figurailanicntc: Ot t^u* etcriptos
respiram li(;òe» do céo.
Og teus e«críptos immortaeti reapirão
Cclcstiaca liçúos, virtude austera.
J. A. DE IfACKDO, VIA<;r.ll KITATICA, caut. 2.
— Respirar « vida; resuscitar, revi-
ver.
— Figuradamente : Respiram o* #i:ie»t-
cias amortecidas.
— Respira o /"</o ; exliala a sua força.
— Figuradamente : Descançar, tomar
fôlego, ter allivio da oppressào, do traba-
lho.
C)!) ! — Ja vào sahindo o porto,
Ja largaram a.s naus. Heipiro: um péao
Férreo se me tirou de sôbrc o peito.
Kst&o salvos, e ca livre ! — Meu amigo,
Tu Tais com dica.
OASBETT, CATÃO, aCt. 5, gC. 7.
— Respirar o famo ; sair pelo respira-
douro.
— Soltar o ar do bofe, em oppoeição a
inspirar.
— Respirarem os nossot; retirando-se
do inimigo, ou entretendo-se em cousa
que lhes dava grando trabalho, e descan-
ço aos nossos.
— V. a. Exhalar cheiro, ou aroma.
— Desejar, ameaçar, fazer.
— Respirar famo ; soltal-o por algum
respiradouro.
— Assoprar, ou soprar.
— Respirar agua jyelas trombas um
peixe.
— Anuunciar, exprimir. — Seiís dis-
cursos respiram òcndade.
— Desejar ardentemente. — Xào res-
pira se/ulo vimjança. — Elle respira guer-
ra. — Xão respira senão prazeres.
— Usa-se também como substantivo :
O respirar opprcsso dos círcumstantes. —
« K buscava descobrir o corregedor, que
não viera ao sarau. Emquanto dous ou
três pagcivs saiam a procurar o doutor
Gil Eannes, apenas se ouvia pelo espaço-
so aposento o respirar opprcsso dos eir-
cumstantes, esperando assombrados o dcs-
feolio daqucUe estranho drama, que, em
vez do arremedilho de Alie, servia d'in-
troito aos momos e folgares.» A. Hercu-
lano, Monge de Cister, c.ip. 2ri. — iPor
alguns minutos, não .se ouviu mais nada
senão o sou respirar afadigado e, de
quando em quando, um pé que escorre-
ga v.i nas lageas do pavimento. > Ibidem,
cap. 2S.
RESPIRÁVEL, wJj. 2 gen. Que é susce-
ptivel (lo servir para a respiraçiSo. — Um
ar respirável. — Os gazes respiráveis.
RESPIRO, s. m. O ar que se solu do
bofe.
— Descanço breve de fadigas.
RESP
RESP
RESP
2Õ3
— Fol.ffa, espaço a devedor,
RESPLANDECÊNCIA, s. /. Termo pouco
em usu. Luz. ou claridade, que alguma
cousa tem em si.
RESPLANDECENTE, ijart. act. de Res-
plandecer. Que resplandece.
— Ikilhante. — ■ Uma htUeza resplande-
cente. — Figura resplandecente de saúde.
— • «No cabo desta casa, em liuma tribuna
redonda de quinze degraos estava hum
altar leito á proporção da tribuua, sobre
o qual estava a estatua da Xacapirau, em
iigura de mollier niuvto fermosa, cos ca-
bellos soltos por cima dos ombros, e as
màos ambas levantadas ao Coo, e ella em
sy tào resplandecente por ser o ouro
muito rino e muyto brunhido, que n.no
havia quem lhe pudesse ter os olhos di-
reytos.i) Fernào Mendes Pinto, Peregri-
nações, cap. 110.
O Lusitano Heitor, á porta imiga
Chega, com ferroa luz resplandecente,
Não ha nenlium dos seus que nào o siga,
E também que nào coiumetta ousadamente :
Trava-se alli cruel c dura biiga.
Porque a força maior da imiga gente
Posta em um esquadrão naqucUa parte
Do forte Capitão segue o estandarte.
PRAXCISCO DE A5DBADE , PRIMEIRO CERCO DE DIU ,
cant. 2, est. 3.
— Diz-se dos corpos luminosos e bri-
lhantes, dos corpos gloriosos, dos bem-
aventurados. — Na traasjiguraçào, Jesus
Christo appareceu todo resplandecente de
gloria e de luz.
Com qualquer pouca parte,
Senhora, que me deis d'ajuda vossa
Podeis fazer qu"cu possa
Escurecer ao sol resplandecente:
Podeis fazer que a gente
Em mi do grão poder vosso s'e3pantc ;
E que vossos louvores sempre cante.
CAMÕES, ÉCLOGA 4.
Ja das cavernas hórridas sahião
A perturbar a paz da humana gente
Aquelles monstros vários, que assistião
K"csse conselho lá do Reino ardente.
As areias que os Mares encobriào.
Os átomos do Sol rejíplandecente.
O grande Ceo, que em pontos se fizera,
A quantos são, igual tudo nào era.
BOLIM DE MOURA, XOV. DO HOMEM, Cant. 1,
est. 22.
RESPLANDECENTEMENTE, aJv. (De
resplandecente, e o suffixo «mente»). De
um modo resplandecente, resplandecendo.
RESPLANDECENTISSIMO, A, adj. su-
perl. de Resplandecente. ]Mui resplande-
cente.
RESPLANDECER, v. n. iDo latim res-
■pUndere'. Luzir com grande brilho.
— Emprega-se também no sentido fi-
gurado: Brilhar, luzir. — «Querem dizer.
Vós soberanos Sittos, cuja presença aqui
resplandece, emparay esta Cidade, e mora-
dores delia, om vosso costumado favor.
Outras muytas obras fez este Catholico
Príncipe, assi na Cidade de Toledo, como
em outras partes de Espanha, e de crer he,
que não se esqueceria de engrandecer em
Portugal a pátria onde nacèra, e se cria-
ra, inda que sua destruição pelos Jlourus
a deixou em estado, que não podemos ver
edifício, de que se colija o muito, ou pou-
co que fez nella.» Monarchia Lusitana,
liv. l3, cap. 2(3.
Mest. Ilesp'andece,
nasce de sangue polido.
Diab. Seíior, quando la presencia
atapa, reprucva meugua.
AXTOSIO PRESTES, AUTOS, pSg. 65.
— «Recolhidos pêra casa, gastouse qua-
si todo o dia em darmos cota de nòs, e
nossa vinda. Ao outro que foi da Ascen-
são do Senhor, e 4. de Mayo de 1606.
còfessey todos os Portugueses, e sé o Se-
nhor foy seruido, na Missa lhes dey a
Saucta Comunhão, e depois por melhor
festejarmos a festa jantamos todos juntos
cõ muyta alegria, que muytas vezes na
tal còformidade, resplandece a que esta
na alma, e coração. « Fr. Gaspar de S.
Bernardino, Itinerário da índia, cap, tí.
— « Onde não aueraa medo de morte,
ou de inferno : onde tudo seraa paz,
e tranquilidade, alegria, luz, e deley-
tes eternos: onde a Sancta Madre Igre-
ja Esposa de Christo, alcançara perfeita
fermosui-a, e nam teraa magoa, nem ruga,
mas resplandeceraa, triumphara, e reina-
rá eternamente com seu Esposo.» Frei
Bartholomeu dos Martyres, Catecismo
da doutrina christã. — «O Senhor eudu-
rence vossos coraçòes, e corpos em a cha-
ridade de Deus, e paciência de Chi-isto,
pêra que em vossos corações resplãdeça
seu amor : em a vossa carne penitenciada
e mortificada, resplandeça a paciência
que o Senhor teue nas penas, e tormen-
tos da sua.» Idem, Ibidem.
— Mostrar-se com luzimento e brilho.
— O mesmo que rutilar.
— Figuradamente : Resplandecer a mo-
déstia no semblante,
— Resplandecer de alguma cOr; appa-
recer delia mui viva, e iiitida.
— Figuradamente : Apparecer mui cla-
ramente, manifestar-se muito.
Os que mostrarão aos mortacs a estrada
Dalma justiça alli resplandecião ;
Os que co' a mente acocsa. ás Musas dada.
Sobre as azas do canto aos Ceos subiào:
Os que primeiro á torra fecundada
Com provideutc arado o sulco abriâo.
Os qu' ousarão primeiro em frágil pinho
Tentar do mar o liquido caminho.
J. A. DE MACEDO, O ORIENTE, Caut. 6.
— Resplandecer alguém por armas, por
letras, por virtudes.
— Resplandecer em, ou com milagres;
fazel-os mui grandes e honrosos em Deus.
— V. a. Fazer brilhar muito, e dar
resplandor.
— Emprega-se do mesmo modo que o
verbo neutro no sentido figurado.
RESPLANDECIDAMENTE, adv. (De res-
plandecido, com o suffixo «mente»). Com
resplanddr.
RESPLANDECIDO, 2^art' j^ass. de Res-
plandecer.
RESPLANDOR, .9, m. O grande clarão
que sáe dos corpos á maneira do sol, ou
da grande chamma. — «Ouvirão as guar-
das do cárcere as palavras da Santa, e
as orações com que os de sua companhia
invocavaõ soccorro do Ceo, e como se pu-
sessem a escutar o que passava, e vissem
o resplandor, sentissem o cheiro, e lhe
abrisse Deos os olhos para poderem ver o
Anjo que falava com a Infanta, forào di-
vinamente alumiados.» Monarchia Lusitâ-
nia, liv. 5, cap. 19.
Sat. De fogo, ou que calidade?
Belz. Era assi hum resplandor '
Cercado de nuvens pretas ;
Os raioa eram de settas,
E o fogo de temor.
GIL VICEXTE, AUTO DO CÉO.
— «Xem ha duuida, que sendo como
disse o Senhor no Euangelho a boa inten-
çam os olhos d "onde vem a luz, e res-
plandor a tudo quanto ha, e passa dentro
de nossas almas, seja juntamente de tam
grande efleito contra o Imigo nas tenta-
ções, quanto he o nojo, que nos elle pre-
tende fazer, e faz com as trenas, confu-
sam, e cegueira espiritual.» João de Lu-
cena, Vida de S. Francisco Xavier, liv. 6,
cap. lõ. — »E do Rey da China para
baixo, fallando ja humanamente, trata do
banquete dos Tutoens, que saõ as dez di-
gnidades supremas no mando sobre todos
os quarenta Chaens do governo, que saõ
Visorreys, e aos Tutoens chamào resplan-
dores do Sol, porque dizem elles que assi
como o Rey da China he filho do Sol, assi
os Tutoens que o representão se podem
chamar resplandores que procedem delle,
assi como os rayos que o Sol lança.» Fer-
não Mendes Pinto, Peregrinações, cap.
lOõ. — «Porque somente na cidade de
Minapau, que está situada dentro da cer-
ca dos paços dei Rey, ha cem mil capa-
dos, e trinta mil molheres, e doze mú ho-
mens da guarda, a que el Rey dá gros-
sos salários e tenças, e doze Tutoens, que
saõ as dignidades supremas sobre todas
as outras, aos quais /como ja dissei o co-
mum chama resplandores do Sol, porque
como o Rey se nomea por filho do Sol,
dizem elles, que estes doze, por represen-
tarem em tudo sua pessoa, se chamào res-
plandores do Sol.» Idem, Ibidem, cap.
11-1. — «E que também lhe mostrara a
estatua douro do Quiay Frigau que se to-
mara em Degum toda cuberta de pedra-
ria, tào rica, de tanto resplandor, e de
254
RESP
RESP
RESP
tamanlio proço, qiio tinha para sy que cm
todo o iiiiindi) iiàd avia cousa ipual a cila.
]Je inauoyra qiio do ([110 est»; iioincin de-
clarou aly cm publico pelo juramento qu(!
lho dcraõ, ticaraõ os ouvintes todos tào
espantados, quo aos mais dollcs parecco
sor acjuillo cousa impossivci.» Idem, Ibi-
dem, cap. 148. — «Que em pouco cspayo
o ar 80 vio ardor todo cm fuf^o, e a torra
lianhada em sangue, o ajuntandosc a isto
o resplandor das espadas, e dos ferros das
lanças quo por entre as labaredas ile quã-
do em quando reluzião, faziSo hum tào
medonho espectáculo, que nós os J*ortu-
f(uoses andávamos como pasmados. » Idem,
Ibidem, cap. lí')4. — «A primeira he, que
a luz da manhaã dos quo comeya a rõper,
vay crecendo, e so vay perfciçoamlo, assi
em resplandor, como em feruor, tcc ser
luz do meyo dia claríssima, e feruentis-
sima : assi a Virgem desdo dia cm que
naceo, ateo o dia que foy trcsladada, c
exalçada sobre os Choros dos Anjos, sem-
pre foy crccondo om claridade, e perfei-
çara spiritual, em resplandores do conhe-
cimento de Dcos, o om feruoros do seu
amor: tè que chegou ao põto, e resplan-
dor o feruor meridiano.» Frei Bartholo-
meu dos Martyros, Catecismo da doutri-
na christã. — «Este primeiro grão todo
he cheio despcsso fumo, jiouco, ou iiaila
tom do feruor, e resplandor. < • segundo,
tem j;i lume com fumo de mistura. O ter-
ceiro, resplandece com fogo jnuissinio.»
Idem, Compendio de espiritual doutrina.
— Resplandor nos vl/ios ; muito bri-
lho.
— Coroa, planeta, c com raios uietalli-
003, que so colloea na cabeça dos santos.
— Figuradamente : O resplandor du
igreja catholicn ; o seu brilho e augmcn-
to. — «Nesta parte nasceram, viuiu-uo, e
morrerão outros muytoa Sanctos. Daqui
como rosa de espinhas, saliio <Y|iiellc lu-
me, e resplandor da Igreja Catholica,
Sancto Agostinho natural da Cidade Tha-
gasta, o depois bispo na de ]?ona.» Frei
Gaspar de 8. Bernardino, Itinerário da
índia, cap. 7.
— Figuradamente : O resplandor (/"
gloria, das suas virtudes.
— Figuradamente : O resplandor dos
anjos. — oE como o Anjo era espirito, e
elle homem mortal, não podia soffrer o
seu resplandor, o traspassava-se da ma-
neira quo ella via.» Barros, Década 2,
liv. 10, cap. 6.
RESPLENDENTE, adj. 2 gen. (Do latim
resplendens) . lv.'splaudocente.
So ou dciío o covaçilo, ae cu filrn dollo
Quero hum Dcos conhncor, que alto, o sublime
Hesplfiideiite espectáculo doviso
Nii eterna relação doa Entes todos!
J. A. DK UACEDO, MEDITAÇÃO, CUnt. 4.
RESPLENDECER, r. a. e n. Vid. Res-
plandecer.
RESPLENDER, r. n. (Do latim resplen-
derei. Lu/.ii-, lirilhar, resplandecer.
RESPLENDIDO, part. pass. de Resplen-
der. liU/.idii, lii'ilhante.
RESPLENDOR, s. vt. Vid. Resplandor.
A ncvoa foge, o rcnpleiídor se occulta,
Despido o monte aos olhos apparecfí ;
A face de MoyHi''S com fo;;o avulta,
Quando dos picos escarpados desce:
N'lium mar profundo d 'alegria exulta
A escolhida Nação, quo hum Deus couhcce;
De incircuncisos sem temer a guerra,
Segura corre í i)romcttida terra.
riiANCISCO DE ANDIIADE, PRIMKIRO CERCO DE DIU,
cant. 9, est. 114.
RESPONDAO, ONA, adj. o «. Que res-
pondo contradizendo, sem respeito ao su-
perior que o adverte e reprehonde. —
ILnnem respondão. — Maldito respon-
dão!
RESPONDEDOR, adj. e s. Que respon-
do. — llornem respondedor.
— Fiador.
RESPONDENCIA, s. f. Correspondência
mercantil.
— T.ucro, retorno de mercancia.
RESPONDENTE, part. act. de Respon-
der.
— S. 2 gen. Pessoa que responde ou
depõe a artigos, sobro que se requer de-
poimento da parte contraria.
— 8. m. Correspondente. — Os seus
respondentes. — «Os quais sacerdotes
lhes dão para isso huns escritos como le-
tras de cambio, a que o conunum chama
Cuchimiocós, para que l;í uo Ceo, cm el-
les morrendo, lhes decm a cento por
hum, como que tivessem elles lá respon-
dentes.» Fernão Mendes Pinto, Peregri-
nações, ca)). 114.
RESPONDER, v. a. (Do latim resiwn-
dcrc). Dar resposta vocal ou ])or cscri-
pto. — «A este artigo responde Jlartlm
Pires Chantre, e Joham Jlartins Cooni-
go de Coimbra, Procuradores do davan-
dito Rey Dom Douis, que esse Rey nom
fez atte qui esso, e prometem em seu no-
me, que o nom fará daqui cm diante.»
Ord. Affons., liv. 2, tit. 1. — «A este ar-
tigo respondemos, que nos outorgámos
esto a algumas pessoas, por entendermos
que he aguisado de lho outorgarmos, o
outorgámos-lho com rasam aguisada, c
que ao tempo de suas mortes liquem es-
sas herdades a pessoas leiguas.» Ibidem,
liv. 4, tit. 48, § 1.— «A 'este artigo
respondemos, que os nossos Moordomos,
e Rendeiros, nem ontro nenhum, nom
levem daqui cm diante delias penas do
dinliciros, jior casarem ante do anuo c
dia, nem cousintaõ aas Justiças, que as
delias levem.» Ibidem, tit. 17, i? 1.
— Tornar alguma cousa a quem nos
pergunta, interroga, ou propõe.
Kcsta tal conjunção, aqui aportarão
Doua fortes, e animosos csti-augeivos
K ante clTícy Dom loâo nc aprcHcntar&o
Dizendo »or de França aucoturciros.
í^igo juntos os dous desutiarão
C)rt seus nobres c inuigiies caualleiros,
Mas nenlium rfjpoiuUo ao cartel ))osto,
Mostrando d 'isto clRcy grande dcsL''»»to.
coiiTK KEAL, xAi-FBAOlODe «Erixvr.DA, csnt. Vi.
— «Que sowlo perguntado» em seu
martyrio quem lhe cn.sinara aquelia ley
por cuja observância cstiniavaií a vida
tào jiouco, responderão que a ouvirilo ao
Apostolo Saò Paulo, o sendo raturacs de
(ializa, c morrendo dentro cm Espanha,
fica em boa cõscquencia, que viria -o San-
to Apostolo jirí-gar a estas partes Occi-
dentaes e remota-;, honrandoas com sua
presença.» Monarchia Lusitana, liv. .õ,
cap. 7. — «E como perguntasse aos cir-
cunstantes BC o ouviílo, e confe.wasaem
que não : feita primcyro oraçSo, mandou
chamar huina menina, quo perguntada,
respondeo, que ouvia as vozes, mas que
não entenrlia a significação do llvsterio.»
Ibidem, liv. 7, cap. 24. — «Isto o fez
logo mais alegre, c fallar com mais des-
pejo, respondendo : Certo, senhores, eu
hei na maior boavcntura do mundo que-
rerdes que a senhora Lionarda case, se-
gundo meu pacecer.i) Francisco de Mo-
raes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 101.
— «Arlança estava tão fi'>ra de si de vêr
a braveza do cavalleiro do Salvagem,
que não teve acordo pêra lhe pedir na-
da, nem pêra responder a Alfemao.»
Ibidem, cap. llõ. — «A tudo isto podeis
responder, que todos morremos do mal
de Phaeton, porque dei dicho ai hecho,
vá gran trecho. E de saber as cousas a
passar por ellas, ha mais differcnça, que
de consolar a ser consolado.» Camões,
Carta 2.
Ao longo da agua o níveo cisne canta,
iie.<;)o,<(/e-lhe do ramo a philomcla :
Da sombra de seus comos não se espanta
Acteon n'agua chrystallina c bclla.
iDEM,.Lus., cant. 9, est. 63.
Com verdadeiras lagrimas Laurente,
Não sei, (dizia) 6 Nympha delicada.
Porque não morre ja quem vive ausente,
Poi.s a vida sem ti não presti nada.
liesponde Sylvio : Amor não o consente ;
Que olicnde as esperanças da tornada.
IDBU, SONETOS, U." 717.
— «Ao que cUe respondeo que ILc pe-
saua de vir o seu recado taõ tarde, por-
que os ministros de sua morto foraõ nis-
so mui diligentes por suas culpas o me-
recerão : de que elRey e os Mouros fica-
rão mui tristes c temerosos de taõ pu-
blicamente fazerem o que ante faziaò.»
Barros, Década 1, liv. 7, cap. G. — «Dõ
Francisco a estas palauras respõdeo gra-
ciosamente, atribuindo muita parte aos
méritos da pessoa dellc Tinioja : que
quanto ao negocio da paz e p.-u-eas d"cl-
Rcy de Onor, elle se não podia ceter ao
RESP
RESP
KESP
255
presente por lhe conuir ir a Cocliij des-
pachar as nãos da carga, mas que seu
iilho dom Lourenço auia de tornar logo
de armada per aquella costa, ao qual elle
daria comissão peia todas estas tíbusas.»
Ibidem, liv. 8, cap. lU. — «Ao que elle
Utimutiraja respondeo que era verdade
da ajuda que dizia, a qual foi mais appa-
recer a sua gente no feito, que pelejar.»
Idem, Década 2, liv. 6, cap. õ. — «Di-
zem os Parseos, que os filhos de Alie, e
Fatama, e seus doze netos, tirando Jla-
hamed, tem preminencia sobre todolos
Profetas : respondem os Arábios, que es-
ta preminencia he sobre todolos homens,
mas nào sobre os Profetas.» Idem, Dé-
cada 10, cap. 6. — «Este vendome jazer
assi despido na área, me perguntou se
era Portuguez, e que lhe não negasse a
verdade, a que eu respondy que sy, e
de parentes muito ricos, e que por mim
lhe po Jeriào dar quanto pedisse , se me
levasse £ Malaca, porque era sobrinho
do Capitàò da fortaleza, filho de uma sua
irmam.» Fernão Mendes Pinto, Peregri-
nações, cap. 24. — «E tornando-lhes a
perguntar de que tamanho era aquella
ilha de Ainào de que tantas grandezas
se contavào, lhe responderão elles, dize-
nos tu primeiro quem es, ou a que vens,
e então te responderemos a tuas pregun-
tas, porque te certificamos em ley de
verdade que nunca em nossos dias vimos
tanta gente manceba em navios de ve-
niaga como esta que aquy trazes coniti-
go, nem tào polida e bem tratada.» Ibi-
dem, cap. 41. — «E pei-guutàdolhe An-
tónio de Faria se eraõ aquelles mininos
filhos dos Portuguezes que dezia, respon-
deo que naõ, mas que eraõ filhos de Nu-
no Preto, e dè Giaõ Diaz, e de Pei-o
Borges cujos eraõ tãbem os moços e as
moças.» Ibidem, cap. 46. — «Encontra-
ram-se os discípulos em ferias, e como
frei Cs^priano andaíse com solidéu e oc-
culos, perguntado, respondeu ao condis-
cípulo : «Amigo, isto ó propfer farsol-
lam.i) Bispo do Grão Pará, Memorias,
publicadas por Camillo Castello Branco,
pag. 137. — «Olhou elle para as nuvens,
e sendo de parecer contrario ao meu, me
respondeo em latim depois de observar
os ares : Deus só por homem.» Cavallei-
ro de Oliveira, Cartas, liv. 1, n." 25. —
«Digo minha Senhora, outra vez, que
não posso advinhar onde ella o achou
para responder justamente a V. M. po-
rem declaro que eu mesmo sem o conhe-
cimento nem a capacidade, nem o spiri-
to da Princesa, tenho dado com o pé, e
com os olhos neste mesmo defeito nào só
em qualidade de defeito, mas como sinal
de todos os defeitos.» Ibidem, liv. 3,
n." 13.
— V. n. Dar resposta por palavras ou
por escripto. — Responder a uma carta
de urgência. — «E esto, que dito he, nom
averá lugar na viuva, que onestamente
vive, e no Orfaõ menor de quatorze ân-
uos, ou pessoa mizeravel, porque taacs
como estes, naõ responderão perante o
dito Corregedor contra suas vontades ;
salvo em caso de força, Soldadas, Guar-
da, Condisilho, quando os Autores qui-
serem ante perante elle litiguar.» Ord.
Affons., liv. 1, tit. 16, § 2.
Vente, vente comigo alarga o passo,
Sigueuic que ja he tempo que feneça
Tua dor insofriuel, c scrto oy guia,
Darás fim ao viuer que assi auorrcces,
Dosciperação sou comigo acabào
As ânsias, e agonias de huma alra'aflicta,
O misero varão sem re-spondfvlhe
A vay seguindo, ja determinado.
COBTE BE.VL, NAUFKAGIO DK SEPÚLVEDA, Cant. 17.
— «E depois de responder a certas
preguntas que por cerimonia lhe fizerão
03 três principais que estavão á mesa,
lhes mostrou a carta, na qual emendarão
algumas palavras que vinhào f'»ra do es-
tilo porque se lhe custuma a falar, e
também lhes mostrou o presente que le-
vava.» Fernão Mendes Pinto, Peregri-
nações, cap. 162. — -«Despois de lhe dar
em nome de todos as graças devidas, lhe
pedio licença para lhe preguntar algumas
cousas que folgaria de saber delle, a que
o grepo se abrio muito dizendo, que le-
varia nisso muyto gosto, porque do ho-
mem discreto e curioso era preguntar pa-
ra saber, e do ignorante sem saber res-
põder,» Ibidem, cap. 163. — «Ao que
Vasco da Gamma mãdou responder, di-
zendo quem erão e o caminho que faziaõ
e a necessidade que tinhaõ de alguns
mantimentos.» Barros, Década 1, liv. 4,
cap. 5.
« Quem era ? e por que causa lhe convinha
A divisa, que tem na mão tomada? »
Paulo responde cuja voz discreta
O mauritano sábio lhe interpreta,
CAM., Lus., cant. 8, est. 1,
— «E como se mandasse escusar com
sua muita idade, elles lhe responderão
mais asperamente, do que o caso reque-
ria, donde dizem alguns, que atemoriza-
do o velho se matara com peçonha, sen-
do jã morto a ferro seu companheiro Ma-
ximiano pelas desordens que cometeo a
fim de tornar a usurpar o império, que
voluntariamente renunciara.» Monarchia
Lusitana, liv. õ, cap. 24. — «Ora, se-
nhoras, respondeu elle, já sei que pêra
comvosco tudo se perde, mas muitas gz-a-
ças a mim, que sou tão senhor de meu
cuidado, que posso fazer o quero, e da-
qui vem achar-me poucas vezes engana-
nado d'elle.» Francisco de Moraes, Pal-
meirim d'Inglaterra, cap, 127. — «D.
João Mascarenhas sobindo o muro, qua-
si ao mesmo tempo, que os outros Caíjos,
vio muitos soldados do motim, que esta-
vão ao pé delle sem ousar cavalgallo, e
em voz alta lhes accusou com palavras
feas, a desobediência, e a fraqueza ; os
quaes callados, como querendo responder
com as obras, o seguirão,» Jacintho Frei-
re d'Andrade, Vida de D, João de Cas-'
tro, liv. 2. — «Porque as mais delias
passaram em tempo em que elle ainda
não reynaua, determinou desculparse lo-
go ao Papa, e ao sagrado collegio dos
Cardeaes, e assi lhe respondeo pollo mes-
mo Núncio, que se chamaua loanes de
Merle, e ordenou loguo de mandar sua
embaixada honrada, e por Embaixado-
res Fernam da Silueyra Coudel mor, e
o doutor loão Deluas.» Garcia de Rezen-
de, Ghronica de D, João II, cap. 48.
Por toda a armada vai atravessando
Com esta ordem que aqui vos tenho escrita,
Em toda a parte o apito o vai salvando
Besponde-lhe a sonora, aguda grita:
Mas com quanto o vai tudo festejando
A mostrar alegria nada o incita,
Que o sollicito eaprito, c grào desgosto
Xào lhe deisào mostrar alegre rosto.
F. DE AXDEADE, FBUCEIBO CERCO DE DIU, Caut.
6, est. 78.
Se a conversação minha te aborrece,
.Tá não digo, cruel, que me respondas;
Mas 30 quer, lá de longe sobre as ondas,
A meus saudo.sos olhos apparece.
J. X. DE MATTOS, RULiS.
Se, como cu vou suspeitando,
Buscas fugitivo amor.
Onde achai-ás melhor,
Que onde elle te anda buscando?
Nào fujas a quem se esconde.
Para te esconder de quem te ama:
Ouve, e fala a quem te chama;
Nào chames a quem não responde.
T. BODBIGUES LOBO, FBIMAVEEA.
— Esse [responde o Padre) foi Alcides,
Cujo tremendo braço, cujos feitos
Ha de, por certo, Vossa Senhoria
Ter ouvido exalçar discretamente.
Em seus sermões, ao nosso Padre Arronches,
DISIZ DA CRUZ, HYSSOPB,
— «Gritavam-lhe os mais, que se de-
tivesse, e como o fizesse assim, e lhe
perguntassem aonde ia, respondeu: Ami-
gos, vou-me, porque se estou mais de
vinte e quatro horas no campo, cuido
que me torno boi.» D. Francisco Manoel
de Mello, Carta de guia de casados.
Os Eomanos, de Probo o Canto, entoào:
i< Vencidos mil guerreiros destes Francos
Que, de Persas, milhões nào venceremos! »
Cantão, cm Coro os Gregos o seu Poean :
O Hymno Gallos cantão dos seus Druidas
(Canto de morte!) Os Francos lhes respondem.
F. M. DO NASCIMENTO, OS MABTVEES, IJV. 6.
— Figuradamente : Responder-lhe a ar-
tilhería. — «Dado per Aâonso d'Albo-
querque Sant-Iago, que as trombetas de-
ram sinal de peleja, levantou-se huma
256
RESP
RESP
KESI'
grita ontrc os nosson, respondendo-lhe al-
guma artillicria qiio hia nos bati;ii<, (juc
varejou j)(;r cima da |)onto, oihIc os Ma-
layos c.-ttavam.» Barro», Oecada 2, iiv.
6, cap. 4.
— Responder em poucas puiftvi-as ; res-
ponder em resumo. — «Respondeolhe em
poucas palauras tanto a «cu coiiteuta-
mcnto, que logo este prazer deu a ello
Beraoij outro rostro, outro animo, outro
ar e gra(;a.i) Barros, Década 1, Iiv. 3,
cap. G.
— Responder com disinirafc ; dar uma
resposta disparatada. — « Martim. Bem
varrido de vcrgoulia que tu uic pareces.
Dize: Cujo lillio êsV lie para ver com
que disparate respondes. Muro. A fallar
verdade, pareco-me a mi, quo eu sou fi-
lho de hum meu tio.» Camões, Seleuco.
— Responder (/«e sim; dar uma respos-
ta affirmativa. — «A que hum homem
velho (jue parecia do mais autoridade,
respoudeo que sy, mas que aqucUe lugar
onde estávamos nilo era o onde cila se
fazia, 86 não outro porto mais adiante
que se chamava Uuamboy, porque nolle
estava a casa do contrato da gente es-
trangoyra que a ellc vinha, como em
Cantivo, e no Chincee, c Lamau, e Coni-
hay, e Sumbor, e Liampoo, o outras ci-
dades que estavào ao longo do mar para
desembarcarão dos navegantes que vi-
nhão do IVira.» Fernào Meudes Biuto,
Peregrinações, cap. 44.
— Responder (^ue não; dar uma res-
posta negativa. — «E perguntado se ma-
tara mais Portugueses, ou dera favor pa-
ra isso, respondeo que não, mas que es-
tando avia dous annos no rio do Choa-
boqucc na costa da China, fora ahy ter
hum junco grande com muytos Portugue-
ses, de quo ora Capitão hum homem muy-
to seu amigo que se cbamava Ruy Lobo,
que dõ Estevão da Gama Capitão de Ma-
laca mandara do veniaga.» Fernão Men-
des Pinto, Peregrinações, cap. 51.
— Figuradamente : Respondeu com i-in-
te soldados, que lhe muudou. — «P^lRey
como estava roubado, e despezo, não te-
ve que lho mandar, mas o Camereiro
mòr tirou huma arclhana de ouro, que
valeria quinhentos cruzados, e lha man-
dou pura que pagasse os cincoenta solda-
dos. I). Duarte recebeu a arclhana, e lhe
respondeo com vinte soldados que lhe
mandou, e por Capitão doUes .loaõ Coe-
lho.» Diogo do Couto, Década G, Iiv. 10,
cap. 12.
— Tornar alguma cousa a quem nos
pergunta, interroga ou propõe. — «Os
que vinham com a donzella uão eram
mais do seis; que os outros se foram
metter na fortaleza de sua mãi, pêra a
ter segura do sua mão; e esperando-os
onde se fazia um encampado, viu a Filis-
tor vir fallando cora ella, tirado o olmo;
c ella, alóm do lhe não responder, cho-
rava grandemente.» Francisco d» Mo-
raes, Palmeirim dTnglaterra, cap. 10.').
— • f Senhora, se vossas lagrimas se po-
dem enxugar com salvar-vo» de mãos
destes que vos levam, desvie agora come-
çai a ser contente, que jjera os mãos pe-
quenas for(,'as bastam, que a malicia por
si «e desbarata. Destas palavras houve
Kilistor tão grani manencoria, que não
llic podendo responder, sem tomar elmo
nem escudo, (pie lho trazia um escudei-
ro, arrancou da espada com tendão de o
matar. » Ibidem. — « E também do dia
que elle combateo a ('idade Adem a quin-
ze dias per dromedários se soube a nova
no Cairo, per os quaes o Xeque senhor
delia escrcvco ao 8oldào, pedindo-lhe aju-
da contra os Portuguezes; ao quo elle
respondeo, que guardasse bem sua Cida-
de, iinrque ellc teria cuidado de mandar
guardar seus portos.» Barros, Década 2,
Iiv. 8, cap. 3. — o A que o velho, que
se chamava Raja Benão, respondeo, assi
parece que deve ser, porque homens que
por industria e engenho voão por cima
das agoas todas, por aquirirem o que
Deos lhes não deu, ou a pobreza nelles
he tanta que de todo lhe faz esquecer a
sua pátria, ou a vaydade, e a cegueyra
que lhes causa a sua cobiça he tamanha
que por ella negão a Deos, e a seus pavs.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações, cap.
122. — «E a Riiynha dona Isabel de Cas-
tella est^mdo hum dia liuns grandes se-
nhores com ella, cuydando que lhe apra-
ziào nisso, lho disserão mal dei Rey dom
loam. E ella como tão excellento, e sin-
gular Princesa como era, lhes respondeo :
Prouuesse a Deos, que taes fossem meus
filhos como ellehe.» Carcia de Rezende,
Chronica de D. João II, cap. 154. — «Ao
quo lhe el Rei respondeo quo os tiuesse
a bom recado, e mandasse hum delles ao
regno, com procuraçam dos outros, para
tractar seus negócios na corte, e se fazer
nisso, o que fosse rezam, e justiça, o que
assi fez.» Damião de Góes, Chronica de
D. Manoel, part. 4, cap. 51. — «Tem
mais dous postigos ao logo do rio, e es-
tes sòs se custumão fechar com huma, ou
duas horas da noyte. Todo o Corpo da
Cidade será pouco mayor que Sanctarem
cõ a ribeyra, contando também a Baby-
lonia, hum pedaço da Cidade que está
alem do rio Tigris em q\ie morarão te
mil almas, quo quasi responde a Cassi-
Ihas em Lisboa, inda que fica mais per-
to, pois toda a distancia, ser;\ pouco mais
que hum tiro de pedra.» Fr. Gaspar de
de S. Bernardino, Itinerário da índia,
cap. 10.
lietpondeo por gentis modos:
como quor quo n\ não tivesse
jamais outro, me parece
quo assi dovcm de sor todos.
ANToxto PKcsTKs, AUTOS, pag. 309.
— « Honrada cst;\ agora a filha do In-
fançom. Ao que ella respondeo: Este In-
fançom, que vòs dizedcs, por Rico Ho-
mem era tido cm sua terra. Por onde nc
vi- claro; quo mòr di;,Miidad<; era a do
Rico Homem, <|ue a de Infançaò.» Ma-
noel Sevcrim de Faria, Noticias de Por-
tugal, Di8c. 3, § 22.
o Silveira também nigto concerta
r'o'o parecer daquella companhia,
E rfpOTul'. f|uc pois tanto o» aperta
A falta que de tud'» lá havia,
Qui.' clles mesmos e*colhào a imiis corta
K de sua saúde a melhor via.
Torna o Fuleiro aos seus, tendo licença,
Que esta resposta ».i lhes põe detença.
rBAMCISCO D'A!<nBADK, rUMEIBO CUCO DE Dll',
cant. 14, c»t. M.
— « Pay da mentira he, respondeo o
bruxo, e por tal o conheço : mas com
tudo isso, ainda que muitas vezes me
mentia, não deixava algumas vezes de
me fallar verdade, e eu pelo uso alcan-
çava logo tudo; porque mo fallava cm
duas linguas, que eraò a Portugueza, e
Castelhana.» Arte de furtar, cap. 1*5. —
« Depois que seu marido lhe perguntou
muitas vezes o que tinha, ella lhe res-
pondeu que tinha invejas de o merder no
cachaço.» Cavalleiro de Oliveira, Cartas,
Iiv. 1, n." IG. — «O desconhecido olhou
para o movimento ameaçador de Sancion,
e pelo rosto passou-lhe um sorriso desdc-
nlioso. Cruzou os braços e respondeu com
voz lei^ta e solemne.» Alexandre Hercu-
lano, Eurico, cap. 13. — « Responde o
cónego: — 8nr., estimo muito mais essa
memoria que a semelhança: esta é effeito
da natureza, e aquella do beneficio de
V. M. Continuou o rei : « Até isso é de
seu pae.» Bispo do Grão Pará, Memo-
rias, publicadas por Camillo Castello
Branco, pag. 165.
Mas pelo ausente esposo o pac rttponde
O amante não vem : jniz severo.
Pelos beijos damor, lhe traz castigo
Quo nào merece amor, nem quando é crime.
GABBETT, CAUÒES, c^nt. T, cap. 23.
— Replicar, ser rcspondão, allegar ra-
zões, pretextos, mostrar má vontade, cm
vez de obedecer sem replicar á pessoa a
que se deve obedecer.
— Corresponder, conformar-sc, ter con-
veniência com outra cousa, igualar.
— Responder com bom rosto ; respon-
der muito satisfeitamente, alegremente.
)[as que nenhum concerto, ou de sen grosto.
Ou do sua honra fosse, ou sou proveito,
Entre elles ficará por obra posto
Sem ser ao Capitão peral acceito.
A isto os Turcos rffjtonrlem com bom rosto,
E dizem que elle fosse dar-lhe eScito,
E «lue handa a licont;a. tratarião
Uo pacto que entre si fazer podião.
FB.OÍCISC0 t>'ASDRAI>B, FBUCEIBO CERCO PI Ml'.
cant. 14.
RESP
RESP
RESP
2Õ7
— Responder com palavras arrazoa-
das; responder com termos discretos. —
« A que olle o a molher responderão cõ
humas palavras tão bem arrezoadas, e
tanto para notar, que nós todos estáva-
mos como pasmados do vermos o modo
com que atribuyão suas cousas á causa
principal do todos os bens, como se elles
tiverão lume de fé, ou conliecimento da
nossa santa ley Chrlstam.» Fernão Men-
des Pinto, Peregrinações, cap. lOi.
■ — Responder chorando ; responder no
meio de choros o lagrimas. — «Logo após
esta princesa vinhão em duas fileyras,
sessenta grepos rezando por livros, cos
rostos baixos e chorando muytas lagri-
mas, os quais de quando em quando com
voz entoada a modo de ladainha dizião :
tu que por ty tens o ser de quem es,
justifica em ty nossas obras, paraque se-
jão aceitas na tua justiça, a quem outros
respondião chorando, assi te praza Se-
nhor que seja, porque não percamos por
nós os ricos dons das tuas promessas.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações, ca-
pitulo 157.
— Responder a propósito; dar uma
resposta conveniente, responder conve-
nientemente. — «A que o Padre tornou:
Não respondo a cousa que não entendo
por isso declara te mais no que dizes, e
então te responderey a propósito; por
que se eu nunca fuy mercador, nem sey
aonde he Frenojama, nem faley nunca
comtigo como te havia de vender fazen-
da?» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 211.
— Figuradamente: Responder com uma
bandeira. — «E tomou por derradoyro re-
médio entregar-se nas mãos de seu ini-
migo, á condição do que quizesse fazer
delle, e ao outro dia ás seys horas da
manham apareceo no muro huma bãdey-
ra branca em sinal de paz, a que logo
do arrayal responderão com outra, e o
Xemimbrum que era o mestre do campo
mãdou hum homem a cavallo ao baluarte
onde a bandeyra estava.» Fernão Men-
des Pinto, Peregrinações, cap. 149.
— Fallar a alguém, que chama, ou
bate á porta.
— Responder em uma voz; responder
ao mesmo tempo. — « El Rey olhando
para ellc com rosto alegre, lhe respon-
deo, no seu desejo e no meu conforme o
Sol com a doce quentura dos seus claros
rayos esto verdadcyro amor até o ultimo
bramido do mar, paraque o Senhor seja
louvado na sua paz para sempre, a que
todos os senhores que estavão na casa
responderão cm huma voz, assi o conce-
da o que dá ser ao dia e á noite.» Fer-
não jMendes Pinto, Peregrinações, capi-
tulo 130.
— Responder po?- jmlavra; responder
vocalmente, dar resposta de bocca. — «E
que o Hidalcão respõdera i^or palavra
aos offerecimcntos que o Baxá lhe man-
voí.. V. — 33.
dará ftxzer em nome do Turco, que antes
queria a amizade dei Rey de Portugal,
com lhe ter tomada Goa, que a sua, com
lhe prometer a restituição delia.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 8.
— Responder cmi espantosa grita; res-
ponder com voz alta esforçada, que cau-
sava respeito. — « O admirável, e piedoso
Senhor, não nos tomes conta de nossas
maldades, porque ficaremos mudos diante
de ti, a que todo o povo com outra es-
pantosa grita respondia : Xapntey dana-
co o fanaragipaieu, que quer dizer: Con-
feçamos Senhor nossos erros diante de
ti.» — -Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 222.
— Responder como homem prudente ;
responder com prudência. — « Pelo que
em tudo o que naquella terra podesse
seruir a el Rei dom Emanuel o faria, se
o nisso quisesse occupar, o que Vasco da
Gama lhe agradeceo com promessa de
lhe pagar bem sen trabalho, então lhe
perguntou pela pessoa dei Rei de Cale-
cut, e modo de seu viuer, e estado, ao
que tudo lho respondeo quomo bomem
prudente.» Damião de Góes, Chronica de
D. Manoel, part. 1, cap. 39.
— Responder na mesma língua evi que
falia o que pergunta. — « Ao que tudo
respondia na mesma Hngoa latina em
que elles fallauam o Doutor Diogo pa-
checo, mas não ao Embaixador de Cas-
tella, porque esto fallou em lingoa Cas-
telhana, a quem Tristam da cunha, pela
entender mui bom, respondeo na Portu-
gueza, pola saber milhor, como sua na-
tural.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 3, cap. 55.
— Responder muito devagar; dar uma
resposta vagarosa, paulatina. — « Estes
todos detinha com lhes responder muito
de vagar, pêra assi verem as cousas que
ordenaua, pêra regimento da Ilha, e ci-
dade, e o que fazia pêra defender a ilha
dalguns capitaens do Çabaim dalcão, que
então mandara, sobrella, dos quaes o
principal era Milique agrihaje, que foi
desbaratado pelos nossos, e sobre tudo
pêra verem a armada que fazia pêra ir
buscar os rumes.» Damião de Góes, Chro-
nica de D. Manoel, part. 3, cap. 16.
— Não responder nada ; não dar res-
posta alguma. — « Item. Quando nos ou-
tros artigos das culpas que lhe punham
não respondia nada, por em nenhum del-
les se achar culpado, e que de qualquer
erro que fosse comprehendido pedia mi-
sericórdia, e perdam a Afonso dalbuquer-
que.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 3, cap. 25.
— Responder em alta voz ; dar uma
resposta em voz alta. — «O Mouro por
mostrar sua fidelidade, e nos tirar dal-
guma sospeyta, que de sua informação
podcriamos ter, respõdeo em voz alta es-
tas palauras; (Cassis Frangi) que quer
dizer, são sacerdotes dos Clu-istãos.» Fr.
Gaspar S. Bernardino, Itinerário da ín-
dia, cap. G.
— Responder uma epocha á outra; cor-
responder.
— Responder nas línguas de que tem
algum conhecimento. — « Desta forma não
só he capaz de responder nas lingoas de
que tem algum conhecimento, porem em
Grego, em Hebraico, em Chaldaico, e em
Syriaco.» Cavalleiro de Oliveira, Cartas,
liv. 1, n." 25.
— Figuradamente : A terra responde
a mui pouco suor.
A mui pouco suor responde a Terra
Com fructos, qu' o desejo excedem muito;
São de todos, e d'hum, quaes vêm nos ares
Plumoso bando sem disputa ao pasto
Chegar unido, festejar contente
Os cspoutancos dons da Natureza.
J. A. DE MACEDO, A NATUBEZA, Cant. 2.
— - Responder affectando modéstia; dar
resposta com aftectação de modesto.
«Mas que não poderá um Génio gi-andc,
E tal, como o de Vossa Reverencia?»
O Guardião cutaõ todo enfunado.
Mas modéstia affectando, lhe reipoiule.
DiHiz DA CRUZ, HTssoFE, cant. 5.
— Responder com constância; dar uma
resposta com persistência. — «Com esta
resposta despedio o Governador os Em-
baixadores, que na constância com que
lhes respondeo, entenderão que o não do-
braria a entregar Mcále, temor, ou bene-
ficio. Apercebeo-se logo para fazer, c es-
perar a guerra, que como era de Prínci-
pe visinho, primeiro poderíamos sentir o
golpe, que vêr a espada. » Jacintho Frei-
re d'Andrade, Vida de D. João de Castro,
liv. 1.
— Corresponder, valer o mesmo que
outra cousa. — «Cuja saudade acrecenta-
ua o tocar da frauta, e charamella, a que
d'outra -parte respondião as do Capitão
Mor do Malauar Dom Nuno Aluares Pe-
reira, meneando o brando vento nas Ga-
lês,- e Nauios, os gallardos pendões, e es-
tandartes, cuja vista tanto acrecentaua a
magoa em todos, quanto a despedida em
tam largo apartamento, era sufficiente
pêra o causar.» Fr. Gaspar de S. Ber-
nardino, Itinerário da índia, cap. 1.
— «Concertados os bateis o milhor que
pode ser, partimos pêra o matto carregar
da fruyta, e agoa ; e com ella, e os ba-
teis ambos enramados, chegamos a não,
onde com aluoroço nos esperanam. Sau-
damola primeiro (como be costume fazer-
se no mar) ao que da náo responderão
com tanta alegria, como se entam che-
gássemos da índia.» Ibidem, cap. 2. —
«Na cabeça barrete de cramesi laurado, e
nelle por galantaria hum cutello pequeno
de fio douro (que deuia ser súa deuisa,) e
por cima huma finíssima touca de seda, e
RESP
RESP
RESP
fio (lo prata, o entre cila hum penaclio do
ayroncs, quo llin respondia «lontra parte
ao cutelo.» Ibidem, eap. 18. — «O seu
domingo hc a sexta feira : n'oBto dia, o
todos o.s mais, custuina sobir ao mais alto
do Alciíor.lo (quo entre nôi respõde á
torro dos sino:<) hum Turco, que serue
como de Thezouroyro, a quem ellos cha-
milo Telismano, ou Jleyzini.» Fr. (;a^])ar
do S. Hernarííiiio, Itinerário da índia,
cap. 19. — Bem He vé, como responde
tudo isto ao titulo dcsto Capitulo; .si>
huma cousa ha aqui, que a naõ entendo,
nem haverá quem a ileclare; que morra
enforcado o homicida, que matou :'i espin-
garda, ou ás estocadas hum homem; e quo
matem IJoticarios, e Médicos cada dia mi-
lhares dellcs, som vermos por isso nunca
hum na forca.» Arte de furtar, cap. 4 —
«Na principal atalaia dos mossclcmanos
soou então uma trombeta ; centenares
d'ell;v3 responderam por todos os ângulos
do campo a esto convocar para a morte.
Os esquadrões uniam-se com a rapidez do
relâmpago e, abandonando o recinto das
tendas, arrojavam-sc para a margem do
rio.» A. Herculano, Eurico, cap. 9.
— Refutar, impugnar algum escripto.
— O premio responde á boa obra, o fa-
vor ao merecimento; o premio acompanha
ou segue a boa obra, o favor acompanha
o merecimento.
— Dar, fazer retorno. — «E velejando
por nossa derrota, chegamos a huma Ilha
pequena de pouco mais de huma legoa em
roda, que se chamava Pullo Hiuhor, don-
de nos sahio hum para/) em que vinhaõ
seis homens baços, todos com ban-etes
vermelhos, mas pobremente vestidos, e
chegando a bordo do junco, que ainda
neste tempo hia à vella, nos salvarão com
mostras do paz, a que nós respondemos
da me -ma maneyra.» Fernão Mendes
Pinto, Peregrinações, cap. 145.
— Responder a uma dadiva, presente,
com outro; remunerar, retribuir.
— Responder j^or alguém; defcndel-o.
— Agradecer, reconhecer.
— Responder por si ; defender-se. —
Cada Mm responde por si.
— Ser, ou licar responsável, dar conta,
razão.
— Cantar por seu turno o ramo do
psalmo, ou de versos que lhe tocA.
— Responder por alguém; abonal-o, fi-
car por seu fiador.
— Responder com as i-endas ; pagal-as.
— Responder-se, v. rcfl. — Responder-
se a versos ; revezal-os, altcrnal-os nos cir-
ros rezando. — «E encima de cada huma
delias estava huma cavcyra de homem, c
embaixo muytos castiçaes de prata com
ycllas de cera branca, as quais os mini-
nos tinh.ão cargo de espivitar cantando á
consonância de outras vozes entoadas por
grepos a modo de ladainha, a que huns
aos outros se respondião.» Fernão Men-
des Pinto, Peregrinações, eap. 102.
— AdAOIOS E PKOVEUKIOS :
— Quem bem ouve, bem responde.
— Como canta o abbade, ai«><im res-
ponde o .«aeristão.
RESPONDIDO, pnrt. puas. do Responder.
A (jue SI-; dr.ii rr.qiosta.
— Jloiiiism respondido ; homem a quem
80 deu resposta i pergunta ou objecção.
— (c Uespois de fazerem suas salvas, en-
trarão dentro no junco grando em que
vinha António de Faria, porem vendo
nello gento que até então nunca aly ti-
nhào visto, licarão muyto espantados, c
jicrguntàdo (jue homens éramos, ou (jue
queríamos, lhes fny respõdido que éramos
mercadores naturais do reino de Syão, e
que vinhamoâ aly a fazer fazenda cò elles,
se para isso nos dessem licença, u Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 44.
— Correspondido, conformado. — Fim
respondido ao principio.
— Agradecido, reconhecido. — Benefi-
cio respondido.
RESPONSABILIDADE, s. /. Termo em
uso. Obrigarão de responder pelas suas
acções, ou pelas dos outros. — Grau de
responsabilidade. — Responsabilidade ter-
rii'l. — Estar dcbairo da í-íkí responsa-
bilidade.— A responsabilidade </'./.<-■ mi-
nistros. — Funccilo i^ue importa nunsigo
muita responsabilidade. — Responsabili-
dade moral.
— Responsabilidade cii-tV; obrigação
que nos impõe a lei de responder pelo
prejuízo causado pelas pessoas que estão
sob a nossa dependência, ou por cousas
que lhes pertencem.
— Responsabilidade dos officiaes publi-
cas; responsabilidade dos tabelliàes, dos
advogados, e dos bedéis. As partes, ten-
do em, certos casos de recorrer ao minis-
tério de certos e determinados individues,
aos quaes a lei pôz exclusivamente o exer-
cicio de certas funcções, o de os investir
assim de uma confiança forçada, as par-
tes, cujos interesses tem sido compromct-
tidos pela falta d'estes, devem necessa-
riamente ter contra elles, e depois da sua
morte contra os herdeiros, uma acção rc-
cursoria.
— Responsabilidade dos ministros e de
seus. subordinados ; obrigação de tomar
conta, sob uma sancção pessoal, do exer-
cicio regular do poder, que as leis confiam
aos seus agentes. Os ministros traidores
podem ser accusados pela camará dos de-
putados, o julgados pelas camarás dos
pares. A responsabilidade tem por sanc-
ção a condemnação dos culp.ados ; tem
por exercício a rubrica de todos os actos
do governo; e tem por gar.antia a impo-
tência da corrupção das cam.aras. A res-
ponsabilidade dos ministros perde-se com
o fumo nas alturas do poder. Os agentes
secundários podem cair nos casos de res-
ponsabilidade, quer violando a lei na exe-
cução, quer rcpellindo para lá dos seus
limites a execução de uma ordem legal.
— Responsabilidade moral; responsabi-
lidade dos ministros c outro» agente» da
authoridade publica, resultante do juízo
dos seu» concidadEos.
— - Responsabilidade cti-(7 rios viinigtrot;
responsabilidade que p<x!c cxerccr-se,
quando o estado ou um partietdar julga
ter que 80 quei.xar dos actíis de um mi-
nistro, e que se dirige aog tribunae<i ci-
vis para obter d'elles uma reparação, que
80 resolve em indemnisações c intereií-
ses.
— Responsabilidade criminal ; a que
foi prevista j.ela carta, e que ainda nSo
foi definida ]>cla lei.
RESPONSABILIZADO, part.pa*s. de Res-
ponsabilizar. TuriiJido responsável.
— < >bri;:.idn a alguma responsabilida-
de, sujcifi ;i <l!a.
RESPONSABILIZAR, r. a. Tornar ou-
trem responsável.
— Impor responsabilidade.
— Responsabilizar-se, v. refl. Obrigar-
se á responsabilidade, sujcitar-se a ella,
ofTerecer-so.
— Tornar-so responsável por algnem,
ou por alguma cousa.
RESPONSADO, jiart. pass. de Respon-
sar. Por quem se rezam responsos.
— Dito cm vez do responso, rememo-
rado por occasião do morto.
— Figuradamente : Responsado em vi-
tupério.
RESPONSAO, í. m. Termo u^^ado n'csU
phrase : Pagar de responsão ; de conhe-
cença, a titulo de foro, reddito, oa censo.
RESPONSAR, 1-. n. Rezar responso. —
Responsar pelos mortos.
— V. a. — Responsar os defuntos; suf-
fragar-lhes com responsos; dizer-lhes em
vez de responsos, rememorar por occasião
do morto.
RESPONSÁVEL, adj. 2 gen. Que deve
responder pelas suas próprias acções, ou
pelas dos outros.
— Que deve dar conta da sua admi-
nistração. — Na administração do reino,
todo o funccionario publico i responsável
pela sua gestão. — Os ministros são res-
ponsáveis. — Editor responsável; editor
sob a responsabilidade do qual app.xrece
uma folha periódica, um jornal.
RESPONSrVA, adj. J. Que contém uma
re-i posta. — Mem<iria responsiva.
RESPONSO, .«. m. Vi.l. Responsorio.
RESPONSOM, .'. Hl. Termo antiquado.
Contribuição, subsidio, quota, talha, finta,
reddito, censo, conheeença, pensjio certa,
tributo, e toda a qualidade de desembol-
so, quo obrigatoriamente se faz, e com
que o vassallo, emphyteuta ou colono,
responde ao soberano seu, o direito se-
nhorio. — K deu em cada um nnno duas
mil e quinhentas libras de responsem ao
convento.
— Resposta.
RESPONSORIO, s. m. Certa oraç.ão, ou
suppliea, dita pelos defuntos, e talvez o
RESP
RESP
RESS
259
louvor de algum santo, para se obter al-
gum beneficio espiritual ou temporal.
— Diz-se das matiuas depois de cada
lição.
RESPOSTA, s. f. Yiil. Reposta (termo
usado entre os plebcuri, c homens sem
illustração). — «Mas Floramao as estra-
nhava e agasalhava tão mal por serem
fora do seu costume, que a nada respon-
dia senão com palavras desconcertadas,
bem desviadas da resposta e agradeci-
mento, que as do imperador mereciam.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 29. — «Certamente, disse
Palmeirim, em homens de tno má tenção
nenhuma cousa se pôde empregar bem;
e ainda que o que me pedis mereça ou-
tra resposta conforme a vossa nescidade,
por não perder o tempo, que quei'0 dis-
pendcr em ir traz vossos companheiros,
não vol-a dou.» Ibidem, cap. 104. — «A
mercê que vossa magestade me fez, ac-
ceito pêra da vinda que vier com Lionar-
da minha senhora, a possuir com o mari-
do que vossa magestade houver por seu
serviço ; e muito maior mercê recebo da
resposta da embaixada que trouxe, ser
da maneira que eu desejava. » Ibidem. —
«E porque o pateo era tão pequeno, que
n'ellc não se podia pelejar a cavalio, se
desceram a pé. O do Tigre, a que a fú-
ria, que trazia, não dava lugar a gastar
tempo em respostas, ainda os outros não
foram a pé, quando começou ferir n'elles
com tamanha fúria e força, que em pe-
queno espaço os fez arrepender de abrir
a porta.» Ibidem, cap. 105. — «O impe-
rador se encostou sobre uma mão, cui-
dando um pouco na resposta que daria ;
mas como o do Salvage conhecesse me-
lhor aquella gente, e se temesse que a
bondade do imperador seria causa de
fiar-se de quem não devia, levantou-se
em pé, e disse: Senhor, em cousa tão
certa pêra que é cuidar na resposta V
Tenha vossa magestade na memoria com
quanta causa prendeu os vossos, e por
aqui podereis julgar o que deveis fiar
delle.» Ibidem, cap. 112. — ■ «Peço-vos,
senhor, disse Arnalta, que antes que pe-
çaes a resposta, me digaes quem sois e
como vos chamam, que o desejo saber, an-
tes de me determinar no que pedis. Tu-
do farei, respondeu elle, poi-que não te-
nhaes alguma escusa, de que lanceis mão,»
Ibidem, cap. 130. — «Porém, pois mais
não tenho, que uma só, e essa ainda des-
encordoáda de todo o prazer que de an-
tes tinha, com ella na palma da mão es-
tou aguardando resposta vossa, que, vin-
do como eu confio, me será mais saboro-
sa que migas de azeite com verde vinho
em cima.» Fernão Rodrigues Lobo Soro-
pita. Poesias e prosas inéditas. — «O
Viso-Roy posto que desse orelhas a isso,
sua resposta era que quando fosse tempo
elle lhe auia d'entregar a índia, pois el-
Rey seu senhor o mandaua : e quando a
lançasse a perder, a culpa não seria sua.»
João de BaiTos, Década 2, liv. 3, cap.
9. — «Esta resposta, diz Valério Máxi-
mo, que desejara que sahira da boca de
algum Romano, porque não era digna de
ser dada por outra alguma nação.» Dio-
go de Couto, Década 6, liv. 7, cap. 9.
— «Lida a carta Lopo soarez quisera
mandar o Mouro com a resposta, e reter
o moço, o que elle nam quis fazer, di-
zendo que se ficasse, que a todolos outros
que estavão em Calecut cortarião as ca-
beças, ou pelo menos os tratarião mal,
do que mouido o deixou tornar sem res-
ponder, senão de palaura, dizendolhe que
quanto a paz que elle se hiria dali a Ca-
lecut por esse só respeito, pola também
desejar.» Damião de Coes, Chronica de
D. Manoel, part. 1, cap. 96. — «Lereno
o ajudou a guiallo, posto que elle o es-
cuzasse, e também de deixarem a prati-
ca: com tudo foi de gosto o caminho,
porque chegando á coroa do monte, no
chaõ delle estavaõ dous pegureiros, que
ao olho do Sol tosquiavaõ as ovelhas, e
descançando ao tempo que o amo chega-
va com a companhia de Lereno em per-
guntas, e respostas, cantarão esta canti-
ga.» Francisco Rodi-igues Lobo, Prima-
vera.
Bandui-, que buma soberba, buma ufauia
Tom, o buma uatural fúria indomável,
E eutào era maior, porque scutia
Nas guerras a fortuna favorável,
E porque tinha em sua companhia
Hum exercito grande e innumcravel.
Tal resposta Ibe dá, tão solta e feia,
Que d'hura baixo e vil servo ind'era albeia.
F. d'axdkade, pbimeibo cebco de DIU, cant. 3,
est. 13.
Concluída a resjyosta foi desta arte
E na mào ao Falciro logo a derão,
Elle sem mais tardar, d'aUi so parte
E se vai aonde lá juntos o csperào
O que ja governou o baluarte
De que 03 Turcos eutào senhores crão,
E o máo Cojaçofar, e alli nào párào
Mas todos d'alli juntos se apartarão.
IDIDE5I, cant. 15, est. 3G.
Fonseca não o ouvindo por ventura.
Polo tento que tem na gente imiga.
Ou scndo-lbe pesada cousa e dura
Deixar o seu logar, durando a briga.
Do que diz Vasconoellos pouco citfa,
Não lhe torna rcsjiosta, nem mitiga
O esforço natural que o está movendo,
Antes com isto mais Ibo vai crescendo.
IBIDEM, cant. 10, Gst. 122.
— «Não somente gostey de ler esta
resposta duas vezes, como V. M. me
disse que fizesse, mas de a explicar ou-
tras duas vezes em Francez, aos Amigos
que certamente podem ter voto na maté-
ria.» Cavalleiro d'01iveira. Cartas, liv.
1, n.° 7. — «Pelo que respeita á Caste-
lhana pikle V. S. diser o que quiser, sem
que me obrigue a dar-lhe resposta no
caso que se engane em alguma opinião,
visto que as gentes Hespanholas fasem
Rei/no á parte y Eeyno suyo que es en
el su mayor gloria. j> Ibidem, n." 41. —
« Ainda no tempo del-Rey D. AíFonço
X. o Sábio de Castella teve justa prohi-'
biçaõ esta arte na. 1. i. tit. 23. partid.
7. ibi eii cabeça de home muerto, de ò bes-
tia. Na cidade do Zamora costumava o
Demónio dar respostas aos antigos den-
tro de huma cabeça de metal, como tra-
zem Tostado, 16, e Yepes. 17. Também
íallou muytas vezes nas caveiras de muy-
tos Gentios mortos; como foi na de Po-
lycrito ; que conta Plethomnio; 18. na
de Gatino, que refere Plinio; 19. e na
de hum Magico, que trás Francisco Pi-
co. 20.» Braz Luiz d'Abreu, Portugal
Medico, pag. 607, § 92. — «Ella faz
muito bem em nos amar (disse o Marido)
poi-que muito a amámos nós também. Eu
não lh'o digo, porque sei que tu lhe ex-
plicas isso melhor do que eu, e concor-
darás comigo que te não puz estorvo a
quanto para ella desejaste ; antes bem
pelo contrario. Não digo eu bem? — A
resposta que Suzanna deu a seu marido
foi beija-lo mui amorosamente.» Fran-
cisco Manoel do Nascimento, Successos
de madame de Seneterre.
RESPUBLICA, s. /. Vid. Republica.
RESPUBLICANO, s. m. e adj. Vid. Re-
publicano.
RESQUÍCIO, s. f. Abertura, fenda,
greta.
— Cova, lapa apertada.
— Figuradamente : Abertura por on-
de se divisa, e alcança o interior do
animo.
— Figuradamente : Resto, sobras, ves-
tígios.
RESREGRADO, part. pass. de Resre-
grar. Regulado relativamente aos preços,
RESREGRAR, v. a. = Termo pouco em
uso. Permutar proporcionando o equiva-
lente.
— Regular os valores equivalentes nas
commutações.
RESSABIAR, v. a. Vid. Resabiar,
RESSABIO. Vid. Resaibo.
RESSACA, s. /. Termo de marinha.
Choque impetuoso das ondas contra a
costa, o movimento que faz o rolo da
agua recuando da praia, encontrando
maior peso do mar, o que faz formar o
rolo. Vid. Resaca, e Rolo.
f RESSENHA, s. f. Vid. Resenha. —
«E mandando fazer ressenha da gente
que tinha, achou que toda ella não pas-
sava de mil e trezentas pessoas, das
quais as quinhentas sós erão homens, e
todas as mais, molheres, e crianças pe-
quenas, para a qual copia de gente não
avia mais em todo o rio que três laulees
pequenas, e huma jangaa em que não
podião caber cem pessoas.» Fernão Men-
des Pinto, Peregrinações, cap. 92. — «A
que o Chaubainhaa, para quietar o mo-
tim que já se começava de levantar, res-
260
REST
REST
REST
pondco, que asai Horia como duziào, o
para isto inautloii fazer Uc novo ressenha
da ^'cnte que podia i)olojar, e uilo we acha-
rão mais ((UC aórt dons mil homeits, c ossos
todos ja tais, c tào quebrados do animo
que nem a mollieros fracas rciistirilo.»
Ibidem, cap. 14'J. — «iVtido este Key
]5raniaa da cidade de ^lartavão, como
atnls liça dito, caminhou tanto por suas
jornadas que ciicfíou a Pcgú, onde antes
do dcspidir seus capitJics fez ressenha da
gente que tinha, e achou que dos setecen-
tos mil liomens cõ que cercara o Chanbai-
nhaa trazia monos oitenta c seis mil.» Ibi-
dem, cap. 153. — «E feita ressenha do
toda a copia dos mortos de ambas as par-
tos <pie tinha custado esta vinda ao Mc-
loytay, so achou que da parte do ]5ramaa
crão conto e vinte e oito mil, c da do
principe filho do Key do Avaa quarenta
c dons mil cm que ontrarílo todos os trin-
ta mil Moês do socorro.» Ibidem, cap.
ir)7.
RESSIO, s. m. Vid. Recio.
— Traça, logar publico. — Tendas ar-
madas no ressio. — «Em outro dia es-
tavam muy granidos temdas armadas no
ressio a cerca daquol moesteiro, em que
avia granidos montes de pam cozido,
e assaz do tinas chcas de vinho, c logo
prestos porque bevessem, e fora estavam
ao fogo vacas cntciras em espetos a as-
sar.» Fernão Lopes, Chronica de D. Pe-
dro, cap. 14.
— Terras de lavoura, deitadas em res-
sios ; torras que ficam cm baldios e ma-
ninhos.
RESSOPRAR, r. a. Termo de poesia.
Soprar do novo, tornar a soprar.
— Redobrar o assopro.
— Ressoprar-se, v. rejl. Atlçar-se, fal-
lando do fogo.
RESSUDAR, V. a. Aid. Resudar.
RESSUMBRADO, part. ijass. de Ressum-
brar.
RESSUMBRAR, v. a. Vid. Reçumar, o
Reçumbrar.
RESSURÇAS, *•. /. phir. (Do francez
restiourccii). E puro gallicismo do que tão
inadvertidamente se servem até pessoas
doutas e discretas. Diremos na nossa lín-
gua c.vpedicntes, recursos, arbítrios, meios,
traças, vwdos, artes, invenções, etc.
RESTABELECER, v. a. Reduzir uma
cousa ou possoa ao seu primeiro estado.
— Restabelecer sua satule,
— Figuradamente : O remorso restabe-
lece )intit(ts vezes o homem na ordem mural.
— Figuradamente : Fazer renascer. — •
Restabelecer o culto de Deus. — Resta-
belecer (IS estudos. — S. Bernardo pro-
cura restabelecer a fé dos seus maiores,
na ruina das novidades profanas.
— Collocar alguém no estado, no lo-
gar em que estava d 'antes. — Deus res-
tabeleceu <í casa real.
— Restabelecer-se, f. reJl. Recobrar
a saúde, — Restabelecer-se cm saúde.
RESTABELECIDO, part. jmss. de Res-
tabelecer. Uiitaurado.
— Reduzido ao seu primeiro estado.
— Recobrado, recuperado.
RESTABELECIMENTO, s. m. Acç.lo de
rcstaljccei-, estado do (pie é restabeleci-
do. — (J restabelecimento de um cdijicio.
— O restabelecimento ilc uma nairallia.
— O restabelecimento d'uma lei, d'uiii
costume.
— Retorno, volta ao estado da sauile
natural, em consequência do seu trata-
mento, ou dos esforços da natureza, quo
procuraram a cura da doença de (jue es-
tava jjossnido.
RESTABOI, s. 7)i. Termo de botânica,
llerva jicnnne c medicinal, conhecida
tandicm pelo nome de uniuujata.
RESTAGNAÇÃO, s. f. (Do latim resta-
(jnatio). Estagnação, represamento das
aguas.
RESTAGNADO, iiart. pass. de Resta-
gnar. Estaicnado, represado, accumulado.
RESTAGNAR, v. n. = Termo pouco cm
uso. Estagnar, represar, accumular-se.
RESTAMPA, s. /. Reimpressão da es-
tampa, nova estampa.
RESTAMPADO, part. pass. de Restam-
par. lmj>rcsso, gravado de novo.
RESTAMPAR, v. a. Imprimir de novo.
• — Reimprimir a estampa, reproduzir
exemplo d'ella.
— Usa-se também figuradamente.
— Restampar-se, v. reJl. Reimprimir-
sc.
1.) RESTANTE, part. act. de Restar.
Que resta, que sobeja.
Lombra-mc, inda liojc,fiuc encontrei, nas ruínas
D'um desses airaislcs da hoste Romana,
Uni Pegureiro. Em quanto derrocavão
A Obra restante dos Senliores do Orbe.
F. MANOEL DO NASCIMEKTO, OS MAKrYRES, 1ÍV. 9.
— Que permanece, que fica, que re-
manece.
— Que est;l f('ira do numero.
2.) RESTANTE, s. m. O resto, o resí-
duo, o que resta de uma grande somraa,
de uma maior quantidade.- — Pagar o
restante com os interesses. — O i'estante
da gente lusitana.
Eis vem depois o pai, que as ondas corta
Co'o restante da gento Lusitana,
E com força, c saber, que mais importa,
líatallia dá felice, c soberana !
líiins, paredes subindo, escusam porta.
Outros a abrem na fera esquadra insana:
Feitos farão tão dignos de memoria.
Que não caibam cm verso, ou larga historia.
cAM., LU3., cant. 10, est. 71.
— «Que desatino tão grade foy o vos-
so, em querer fazer tanto mal, a quem
sempre vos fez bem e mercê. A vida se
vos dará, não por vosso merecimento,
mas por motivo de minha clemência, o
restãte de vosso castigo se determinara
com niayor deliberação.» Mouarchia Lu-
sitana, iiv. G, cap. 20.
RESTAR, V, )í. (Do bitim rtutare, de
re, por retro, e ttarci. Ficar, permane-
cer, remanecor.
('onfiug pouco nos supremos dciucd.
'I'eu vcuur:indo pac, aaan TÍrtud«»
Iiid.i MOS refluiu.
liAiiiiKrr, CATÃO, act. 1, »c. 5.
Nos (|uasi abertos, derrocado» muros
I)'Utica HO nos reitit amparo dobil,
l'or Buas brrxhas sem (Kintn, a (;uda instante
Nos entra a escravidão, no» foge a pátria.
No.^sag legiões tam poucas, tain cau^'adas,
Fracos sobejos da fatal derrota.
IBIDEM, SC. I.
Sóbrc esses males .
So me venta gi-mer : assas contra elles
Luctui debalde.
loiDEu, act. 5, se. .3.
— «E se n'ella houve alguma vonta-
de, foi s(j a de Deus, a qual verdadeira-
mente tenho conhecido cm muitas occa-
siões, com tanta evidencia, como se o
mesmo senhor m'a revelara. Sii resta
agora que eu não falte a tão clara voca-
ção do ccu, como espero não faltar com
a divina graça, segundo as medidas das
forças com que Deus fôr servíílo alentar
minha fraqueza.» Padi'e António Vieira,
Cartas, n.° 7.
— O pouco tempo que me resta; o pou-
co tempo de que me c ainda permittído
dispor, ou que me foi concedido. — O
pouco tempo que te resta de vida.
— Ficar devendo alguma parte da di-
vida.
— Sobejar, sobrar.
— Estar f.')ra do numero, descripção.
— Ajudar a fazer o trabalho que res-
ta ; ajudar a fazer o trabalho que está
por fazer ainda.
RESTAURAÇÃO, s. f. (Do latim restau-
ratio). Operação quo tem por objecto re-
parar, restaurar um antigo quadro, uma
estatua mutilada, ou mesmo de supprir,
de imaginar o que tempo destroe, ou faz
desappaiecer de um edificio antigo. — A
restauração de ttma igrrja, de um monu-
mento publico. — A restauração (^« uma
estatua. — a F(>v cons;igrado este Templo
por quatro Bispos, (Senalio de Astorga,
Sabario de Duiuo, Frumirdo de Leão, e
Dolcidío do Salamanca, na era 944. aos
vinte quatro de Outubro, que fica sendo
a restauração no .anno de Ciiríâto, SOõ.
o a eoiis;i,'rração novecentos o seis.» Mo-
narchia Lusitana, Iiv. G, cap. 23. — iDi-
zem quo nos acoliaõ cm suas armadas,
como se vio na restauração da Bahia.
Respondemos que o fizeraõ para assegu-
rarem ;iíi suas luilia-s. e que se pagavaõ
muito bem.» Arte de furtar, cap. 17. —
» Na restauração da Bahia entregou o
Mouarcha dous ou três milhões a D.
REST
REST
REST
261
Fradique de Toledo para as despezas da
guerra. Houve depois desgosto eutre el-
les, e o Coade de Olivares, que gover-
nava tudo: e ajudando-se este do vali-
mento para se vingar do Fradique, mau-
dou-lhe tomar contas.» Ibidem, cap. 20.
— No sentido mural : A restauração
de um estado. — A restauração das Ld-
las-htras. — -1 restauração da discipli-
na. — A restauração das leis.
— Termo de medicina. Restabeleci-
mento das forças após uma doença, uma
grande fadiga.
— Termo de esculptura. A restaura-
ção das estatuas consiste em ref;izer e
adaptar á obra partes novas, substituin-
do aquellas que se perderam ou se muti-
laram.
— Termo de politica. Restabelecimen-
to de uma antiga dynastia no throno.
RESTAURADO, pàrt. pass. de Restau-
rar. Renovado, reformado. — Columna
restaurada. — Quadro restaurado. —
Mausoléu restaurado.
— Restabelecido, posto em bom esta-
do, em vigor, depois de ter tomado ali-
mento.
RESTAURADOR, A, adj. e s. Que res-
taui'a, que renova. — D. João I e D. João
IV foram os restauradores da liberdade,
e os defensores do reino.
— No sentido moral : Restaurador das
bellas-htras. — Restaurador da liberdade,
do commercio, das leis, etc.
RESTAURANTE, part. act. de Restau-
rar. Que ú próprio a restaurar. — Reine-
dio restaurante. — Bebida restaurante.
— Alimento restaurante.
— S. VI. O que restaura. — É um bom
restaurante como o vinho, o caldo.
RESTAURAR, r. a. (Do latim restaura-
re). Reparar, restabelecer, pGr em bom
estado, em vigor. — Restaurar as forças.
— Restaurar a saúde. — Um remédio bom
para restaurar o estômago. — «E os cbris-
tàos que viviaõ nas terras de Portugal,
com favor de alguns senhores, que faziaõ
entradas em terra de irdmigos, começa-
rão a levantar cabeça, e restaurar mui-
tas povoaçoens que os Mouros deixarão
assolladas os annos antes.» Monarchia Lu-
sitana, liv. 7, cap. 20. — « O filho do
Necodá, que como já disse, era mancebo
de bom espirito, e criado eutre Portugue-
ses, vendo a dor e vergonha em que este
aperto me tinha posto, peLlio a seu pay
que lhe desse vinte niarinheyros do jun-
co, para com elles restaurar aquelle po-
bre Reizinho, e lançar aquelle laiirào fora
daquella ilha.» Fernào Mendes Pinto, Pe-
regrinações, cap. 14Ò. — « Este como rei-
nava na outra contracosta da Arábia sa-
bendo que Adem, era soccorrida de nos-
sas armas, ajuizando que com a mesma
armada o podíamos restaurar, escreveo
ao Governador, que não seria menos gra-
to ao Mundo restituir a Caxem, que de-
fender a Adem. Representava quão fiel
hospedagem acharão nossas armadas em
seus portos, fazendo resenha das que aili
haviào ancorado em tempos diôereutes,
a cuja causa se fizera aos Turcos sospei-
toso ; o&erecia além da fidelidade mode-
rado tributo.» Jacintho Freire d'Andra-
de, Vida de D. João de Castro, liv. 4.
Poiâ dcom-tc audiência :
caíste cm peccado, não ha pcuitencia
que te restaure, admittain-te a isso.
Se anjo me levam por lei de comisso
que me hão de admittir a impaciência.
AJÍTONIO PBESTES, ACTOS, pag. Õ.
Da fria Terra a machina sepulta,
Em que o corpo mortal restaure a força,
Com que ao surgir d'Aurora matutina
A seu cuidado torne, c a seu trabalho.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Caot. 1.
— Restaurar a perda, o damno ; emen-
dal-a, pagal-a.
— Restabelecer, reproduzir, reparar.
— Refazer, renovar.
— Restaurar o erro, a opinião; reaquis-
tal-a.
— - Recobrar.
— Restaurar a fraqueza; remedial-a,
tornal-a vigorosa.
— Restaurar a casa ; restaural-a das
dividas em que estava empenhada.
— Restaurar « debilidade dos nervos.
— Restaurar as bandeiras que o inimi-
go tomara.
— Figuradamente: Restaurar as leis,
as artes e as sciencias. — Restaurar o
commercio.
■ — Restaurar-se, v. refl. Restabele-
cer-se.
• — Restabelecer as forças tomando o
sustento. — Ter jiecessidade de se res-
taurar. — Acabo de restaurar-me um
pouco.
— Restaurar-se o edifício das ruinas;
retornal-o bom.
— Restaurar-se dos males, da doença,
perdas, trabalhos, etc. ; reformando, tor-
nando ao bom estado de que descaiu, do
que se perdeu, deteriorou, etc.
— Restaurar-se o estado revolucionário
d paz antiga; retornar ao bom e antigo
estado.
RESTAURATIVO, A, adj. Que tem a
virtude de restaurar. — Medicamento res-
taurativo.
RESTAURA VEL, adj. 2 gen. Que é pos-
sível restaurar-se. — Instituto restaura-
vel. — Disciplina restauravel.
1.) RESTE, s. m. (Do fraucez antiqua-
do arrest). Riste, peça de armadura, on-
de o cavalleiro justador encosta o conto
da lança para encontrar de justa o adver-
sário. Vid. Riste, no fim.
2.) RESTE, s. f. (Do latim restis). Cor-
da de certa porção feita de peças tran-
çadas. — Uma reste eh cebolas.
— Loc. POPULAB: Metter-se em reste;
contar-se no numero, entremetter-se na
conta.
■ — Reste de sol. Vid. Réstia.
RESTE, s. m. Termo antiquado. Resto.
RESTEA, s. /. Reste. — Uma restea de
luz.
Disse: e três golpes deu, no throno o Sceptro:
Três ecchoâ rc-mugio a Avema furna.
Sento o tri-golpe o Chãos, próximo do Orço :
Escacha-ao, c a travéz, calar consente
Uma râstea de luz, na enleada Xoitc.
F. M. DO NASCIMENTO, os MABTYEES, Uv. 8.
RESTELHO, s. m. Vid. Rasteio da
chave.
RESTELLAR, i-. «. — Restellar linho;
tirar-lhe a estopa por meio do restello.
RESTELLO, 's. m. Pente de ferro de
restellar linho.
RESTEVA, s. f. Rastolho.
RÉSTIA, s. f. — Réstia de sol; a luz
que d'elie raia por eutre nuvens, e dura
pouco tempo.
— O ramo ou vara d'arvore, que nas-
ce do meio para cima, mormente aa do
freixo.
RESTIFORME, adj. 2 gen. Termo de
anatomia. Corpos restiformes ; a parte su-
perior dos cordoes posteriores da medulla,
que formam os pedúnculos inferiores do
cerebello.
RESTILLAÇÃO, s. f. Termo de chimica.
A acção de di.stillar outra vez.
RESTILLADO, part. pass. de Restillar.
RESTILLAR, v. a. Termo de chimica.
Distillar de novo, apurar mais a distilla-
ção.
— Restillar espíritos; para ficarem sem
agua, fortes, e depurados. Vid. Rectifi-
car, termo de chimica.
RESTINGA, ou RASTINGA, s. f. Termo
de mariídia. Baixo de areia ou de pedra,
no mar alto ; nas costas, quando entre pelo
mar ; sendo ao correr da costa, é recife,
— «Desta manejTa passamos a mayor
parte da noite, e co junco meyo alagado
corremos até o quarto da modorra rendi-
do, que varamos por cima de huma res-
tinga, na qual logo ás primeyras panca-
das se fez em pedaços, em que morrerão
sessenta e duas pessoas, huns afogados, e
outros esborrachados debaixo da quilha,
cousa de tanta dOr e lastima, quanta os
bons entendimentos podem imaginar.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações, cap.
137. — «E ajuntandonos todos assi feri-
dos como estávamos de muytas cutiladas
das ostras e das pedras que avia na res-
tinga, encomeudandonos a nosso Senhor
com muytas lagrimas, começamos a cami-
nhar metidos na agoa até os peitos, e al-
guns lugares atravessamos a nado.» Idem,
Ibidem, cap. 138.
RESTINGUIR, v. a. (Do latim restingue-
re). Extinguir de novo, tornar a extin-
guir.
262
REST
RESTIR, V. a. Termo antiquado. Resis-
tir. Viil. f.stij tonno.
f RESTITUIÇAM, s. f. Vil. Restitui-
ção.— «A qual restituiçam Mauilumoa
quu posna assy poJir perauto Nós per sim-
ples emfoniià(;am, ou perante os Juizes
OrJiiiiirios, ou Deloguados, que o feito
j)rincipaliuonte dcâcuibarguáraò ; c se es-
ses Juizes forem Couiprimissarios, em tal
caso soja peiliJa perauto Nós, ou perante
03 Or.linairos desse Luguar, lioade esso
fuito principalmeuto foi dcseuibarguado. »
Ord. Aífons., liv. 1, tit. 3, § 12(j.
RESTITUIÇÃO, s. /. (Do latim restitu-
iio). Acto peio ipial SC restituo ou entre-
gai — Enlar uòrifjaJo d restituição. — Fa-
zer restituição. — Restituição forçada,
legitima. — Exigir, fazer a restituição
dtí algama cousa. — Alii digo ca que vav
o furtar do monte a monte, o que tomaõ
os taes ministros mhvtí si cargas irreme-
diáveis do restituição, cujos antecedentes
não lograõ, e só com as consequências
das tiçoadas, que por tudo haõ de levar,
se licaõ.» Arte de furtar, cap. 7.
A acç.ào de lepôr uo mesmo estado
e condição, cm que se gozava de certos
direitos. — A restituição do menor. Vid.
Restituir.
— A acç3io de restabelecer, ou de ser
restabelecido; do tornar a pôr no estado
primitivo, o que se acha destruido ou al-
terado. — «Ntísto tempo chegaram as no-
vas de sua victoria á corte, onde se fize-
ram muitas festas, assim pola restituição
dos castellos, que qiiasi tinham por im-
possivel, como por ser da mão de quem
era.» Francisco de Moraes, Palmeirim
d'Iuglaterra, cap. lOS.
— Restituição do nascimento; legitima-
ção por mi^rcè do rei.
— A restituição djs vassallos feita
pelo estado. — « Porque assim como ella
apa^a os incêndios do amor, assim emba-
raça a restituição que o Estado pede dos
Vassalos que a guerra lhe arrebatou.»
Cavalleiro d'Oliveira, Cartas, liv. 1, u."
m.
restituído, part. pass. de Restituir.
Reposto no antigo estado. — «E tornau-
do-lhe a fazer instancia que ao menos (jui-
zesse ficar com o nome do Rei de Portu-
gal, e que elle ficaria com o do Algarve,
porque naõ tornasse a estado de Príncipe,
quem jii o tivera de Rei, se escusou com
a mesma inteireza, dizendo que naõ era
abater em sua grandeza ficar vassallo, e
sugeito ao Pai que o gerara, e que em
mais tinha vello restituído a seus Reinos,
que alcançar o Império do mundo todo.»
Fr. Bernardo de Brito, Elogios dos reis
de Portugal, continuados por D. José
Barbosa. — «E tanto que se alcança este
intento das caixas, pessas, ou bisalhos,
seguc-se o segundo de desfazer a mara-
nha, e abonallo, até pór em pés de ver-
dade restituído a seu primeiro ser, e va-
limeuto.» Arte de furtar, cap. 55.
REST
— Indemnisado, restaurado.
— Reparado.
— Tomado a dar o que se tomara. —
Prer^o restituído. — « E o comprador avcn-
do a cousa comprada a seu poder, gaatiha,
e faz compridainente seos todolos fruitos,
novos, e rendas, que ouve da cousa com-
prada, ataa que lhe o dito preço seja res-
tituído.» Ord. Affons., liv. 4, tit. 40.
• — Reedificado. — Monumento restituí-
do.
RESTITUIDOR, A, s. Pessoa que resti-
tuo.
— Figuradamente : Pessoa quo resta-
beleceu, restaurador.
— Adjectivamcnto: Fructo restitui-
dor.
O cedro nos campos, cstrcUa no mar,
Na serra .ivo plienix, huina só amada,
Huma HO som mácula, c »o prcaervcrada,
Huma 80 nascida, sem conto c B«m par!
Do que l'2va triste ao umndo tirou
1''qí o teu fructo Tfjtitttidor.
GIL VICENTK, AUTO PASTOHIL TOUTUGUEZ.
RESTITUIR, V. a. (Do latim restituere).
Repor no antigo estado, tornar a entre-
gar o que se tomara. — «E como huma
noite estivesse dormindo, lhe aparoceo a
Virgem e Martyr Santa Eulália, e ferin-
doo cruelmente com hum açoute, lhe dis-
se, que se não queria experimentar, ou-
tro castigo mayor, lhe restituysse seu
servo, o que elle fez, obrigado da grande
aflicaíj cm que se vira entre os açoutes,
cujos sinaes lhe ficarão depois de acorda-
do.» Monarchia Lusitana, liv. G, cap. 20.
— cElUey vendo que elles dospois de sua
chegada te aquelle tempo ^mpro traba-
lharão por o restituir em seu estado com
tanto perigo e sangue derramado ante
seus olhos, e em ficar aquella nao e dous
nauios, era o mães que lhe podiaõ fazer,
ficou satisfeito.» João de Barros, Década 1,
liv. 7, cap. 2. — cMas Deos inspirou na
vontade d'elRey em mandar aquelle anno
duas armadas, que com sua chegada á ín-
dia animarão muito o espirito de Affonso
d'Alboquerque, pêra se tornar a restituir
na posse daquella cidade Goa, que era a
cousa que elle mães desejaua.» Idem, Dé-
cada 2, liv. õ, cap. 8. — «Na qual espe-
rança elle se não enganou; cá sabendo
Afíbnso d'Alboquerque sua fortuna, elle o
consolou, orterecendo-se ao restituir em
seu estado.» Idem, Ibidem, liv. f!. cap. 2.
— a Alem do que lhe promctoo de ho res-
tituir nos que lhe el Rey dom João toma-
ra, e dera a diuersas pessoas, a quem sa-
tisfaria ho valor querendo-lhos elles sol-
tar, e nam ho fazendo lhe daria a elle
mesmo rendas, e tenças que valessem ou-
tro tanto, sendo hos taes bons dados per
cl Rei dom João de juro, mas que sendo
dados cm vida lhos tornaria La dar per
falecimento daquellos que hos possuião,
sem mais outra nenhuma satisfação. > Da-
REST
mião do Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 1, cap. 1'}.
Viiiiog ricoa ac((uerir
riquezas mal udjuntaduH
com mal comer, mal vestir,
Bem pairar, reMituyr,
c com vidas muy canitada^.
UÀHCIA DK BEZEXDE, MlKliLLÀXCl.
muyfog homens castigou,
c ofiicios tirou:
depois que Lixboa vio,
tudo Uic reMilnyo,
c o titulo lhe tornou.
— «Pelo qual o Siammon se lhe obri-
gou pelo tomar debayxo do seu amparo,
e se pór em pessoa em campo por elle
todas as vezes que lhe fosse neees.«ario, e
o restituir no Reyno do Prom dentro de
hum anno, para o que logo lhe deu cen-
to e trinta mil homens, os trinta mil do
soccorro, que o Brama tinha morto no
Meleytay, e os vinte mil quo aqui esta-
vaõ n'esta Cidade, e os oytenta mil por-
que se esperíiva de que o mesmo Rey do
Àvâ vinha por General.» Fern.ão Men-
des Pinto, Peregrinações, cap. 152. —
a Dizia o Confessor da índia ao seu peni-
tente, que era obrigado a restituir os nove
mil cruzados por inteiro, visto não lhe
constar, se seus companheiros tinhaõ dado
satisfaçaij á sua parte.» Arte de furtar,
cap. 65. — «Pela quarta e ultima vez
(digo ultima, porque já não tenho que me
penhorem) a minha tal, e qual Livraria,
fato, e mi')Veis os perdi, pela perfídia
d'uma Mulher, que tomei, para me ser-
vir, a qual os Juizes condemnárão a res-
tituir tudo, e a dous annos de prisão; e
outros arbitrarão, que ella ficasse com
tudo; e a querer eu resgatar o que éra
meu, pagasse 040 francos, que eu nunca
devi.» Francisco Manoel do Nascimento,
Os martyres, cap. G.
— Restituir alguém de alguma perda.
Injuria ; indeninisal-o.
— Reproduzir cousa cgual.
— Restituir o damno ; renoral-o, res-
taurai-o. — « Da mesma m.ineira póJe
soccorrer o Príncipe ao que se nietteo
debaixo de sua tutela, se tiver algimia
destas caus.as por si. Quem fizer guerra
sem alguma destas causas, pccca contra
justiça, fica obrigado a restituir os dam-
nos.» Arte de furtar, cap. 21.
— Restituir em direito, restituir al-
guém; consideral-o no esfcido de menor,
ou outro tal em que goze de certos di-
reitos, e privilégios, para que n3o lhe
sejam livres os actos, ou omissões feitas
no tempo da menoridade, e repor as cou-
sas no est.ido em que se achavam antes,
o como se não houvesse contrahido nada.
■ — • Restituir alguma obra; recdifical-a.
— Figuradamente : Restituir as rui-
REST
REST
REST
263
nas de iim homem. — «Hum CTentio ho-
mem cio pouca sorte, que usando mal de
seu officio, despovoou a Cidade, e sem
ser julgado, ello se condcmna á morte ;
e outro Mouro com titulo de Rev, e que
restitue as ruiuas do outro, sem culpa
vem a morrer per condemnaç.ão de ou-
trem.» Barros, Década 2, liv. 9, cap. 7.
— Restituir alguém d amizade d'ou-
trem; á sua graça.
— Restituir-se, v. rejl. Tornar ao es-
tado de que descaiu. — • «A dor, e má-
goa da qual perda vinha tão viva no ani-
mo de todos, que desejando restituir-se
ncUa, muitas vezes com o grande nume-
ro da gente que eram, e esterilidade do
inverno, per combatiss, per fome, sede, e
continuação de vigílias, e trabalhos, to-
dos aquelles Fidalgos cavalleiros, e gen-
te darmas padeceram grandes aifrontas.»
Barros, Década 2, liv. 7, cap. 4.
— Restituir-se de alguma perda; sa-
tisfazcr-se d'ella, cobrar o perdido, in-
demnisar-se d'ellc.
— Requerer o beneficio da restituição,
ser restituído em direito, e evitar lesão.
— Entregar-se, cobrar. — «Mas como
a força venceo a razaõ continuarão os
Senhores daquella grande casa no seu in-
fortúnio até que satisfeito o castigo de ses-
senta annos se lhes restituio o que era
seu. » Fr. Bernardo de Brito, Elogios dos
reis de Portugal, continuados por D. Jo-
sé Barbosa. — « E nós ainda que tivésse-
mos mais poder nas armas, o adjutorio
das outras cousas pêra continuar guerra
per muitos annos hia deste Reyno de
Portugal, que hc no fim da terra tantas
mil léguas de Malaca, a qual cousa lhe
dava esperança que em hum tempo, ou
em outro se havia de restituir.» Barros,
Década 2, liv. 9, cap. 6.
RESTITUIVEL, adj. 2 gen. Que se de-
vo ou pi'ide restituir.
RESTITUTORIO, A, adj. (Do latim res-
títutorius). Que tem virtude ou é feito a
fim de restituir a seus direitos a pessoa
que goza do beneficio, ou privilegio de
restituição jurídica.
RESTO, s. 711. O restante, a ultima par-
te, a ultima porção. — «Tornado Lopo
bai-riga, tiucrão os de Xiatima aniso que
os de Cide Iheabentafuf auiam de ir a
mirauel, o outros castellos pêra fazerem
trazer aos daquella comarca a Oafim as
páreas qu; erão obrigados pagar, de que
deuiam alguma parte, por resto do anno
passado, de M. D. xi.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 3, cap. 32.
— «E vem a fazer a senhora vendedeira
de huma pipa três, ou quatro; e fica-se
com o resto, que he mais outro tanto cm
dobro : o alimpa o eserupaln com lhe cha-
mar fruto de sua industria.» Arte de fur-
tar, cap. 5õ.
Man. Fiam em restos cutiladas
tac3 palavras como casas:
vou-me.
Irm. Vae-sc, domia honrada?
ANTÓNIO PRBSTES, AUTOS, pag. 217.
Que hum r^-tfo he si maravilhoso, c bello
Dessas da luz uudulaeõcs pasmosas,
Que detidas do ar no bojo immcnso.
J. A. DE MACEDO, VIACEll EXTÁTICA, CSUt. 1.
Tudo lhe cede. — E nós mesquinhos restos
Ao furor escapados de Pharsalia,
É que havemos de oppor-nos á torrente
Que arroja aos pés de César o universo!
GAKUETT, CATÃO, act. 1, SC. 2.
— Ter o resto ; mandar jogar a quem
nos pára o nosso resto, acceitar a para-
da d'ellc.
— Um resto ; uma parada do resto.
— Fazer um resto ; paral-o.
— O que fica, o residuo que falta pa-
ra inteirar.
Nunca o Pó velocissimo, que as agoas
Sente engrossar co'a neve, que nos Alpes
Descoalha o Sol, tão rápido se lan(;a
No Adriático mar, como furiosas
Da gcUada Sibéria as Hostes correm,
E vem pizar do Tibro a margc' inerme.
Da grandeza Latina inúteis reftos !
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Cailt. 2.
— Figuradamente : Os pobres restos
da agonizante Roma.
Príncipe, bem o vês. Desconfianças,
Incerteza cruel acabariam
De desunir de todo os pobres restos
Da agonizante Roma.
GAHRETT, CATÃO, aCt. 3, SC 7.
— Os restos innocentos do fasto, e da
gloria.
Grandes Cidades vê, campinas férteis,
E os restos immortaes do fasto, e gloria.
Que inda em quebrados mármores avulta,
Vê longos rios fecundando a terra,
E no Tirreno mar, d'Adria nas ondas
Altas Náos vê rasgando o dorso a Thetis.
J. A. DE M.^CEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Caut. 1.
— A porção de dinheiro que o joga-
dor reserva, e não parou.
— Metter o resto ; parar o dinheiro que
fica, depois de pei-dida alguma porção.
Não metera o resto,
se homem fora.
Sois commigo.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pag. 59.
— Figuradamente : Metter um resto ;
empenhar, ou metter todas as forças, e
diligencias.
RESTOLHAR, v. n. CoUigir, aprovei-
tar os re-ítos, o rastolho. Vid. Rebuscar,
e Respigar.
— Figuradamente : Restolhar os retra-
ços da í«)berba.
RESTOLHO, s. m. Yid. Rastolho.
RESTRIBAR, v. a. Fazer fincapó, re-
sistir fortemente.
— Restribar-se, v. rejl. Firmar-se, es-
corar-se.
RESTRICÇÃO, í. /. Clausula restricti-
va, limitação.
— Contlição que restringe, que modi-
fica. — Pôr uma restricção. — Clausula
que tem restricção.
— Restricção mental; reserva que se
faz de uma parte que se pensa, para in-
duzir um erro áquelles de quem se falia.
— A restricção mental foi permittida
por alguns casuistas remissos, mas é con-
traria á moral.
RESTRICTAMENTE, adv. (De restricto,
com o suffixo «mentes). De um modo
restricto.
— Limitadamente, com restricção.
RESTRICTIVA, .'. /. Restricção.
RESTRICTIVAMENTE, adv. (De restri-
ctivo, com o suffixo «mente»). De uma
maneira restrictlva.
RESTRICTIVO, A, adj. Que restringe,
que limita. • — Termos restrictivos. —
Uma clausula restrictiva.
— Complemento restrictivo ; aquelle
que é pedido por um substantivo appel-
lativo a quem pertence ou restringe, e
que ordinariamente leva antes de si a
preposição de. — Amigo do rei; este ter-
mo do rei c um complemento restrictivo,
c assim est 'outras locuções : falta de di-
nheiro; rei das Hespanhas ; vaso d' ouro,
etc.
— Termo de lógica. Incidente restri-
ctivo ; diz-se aquelle, que tirado da ora-
ção a que está ligado, altera o sentido
d'elle, devendo subsistir para a sua ver-
dadeira intelligencia, — Os portuguezes
q%ie acclamaram D. AíFonso Henriques
no campo d'()urique, foram valentes.
RESTRICTO, A, adj. Que restringe,
que modifica.
— Limitado. — Obrigações restrictas.
Inda me resta qne fazer na terra ;
Deveres sacratíssimos, restrictas
Obrigações. — Fiel e hom-ado é Manlio:
Vou confiar-lhe tudo... Oh, ei-lo chega.
6AERKTT, CATÃO, act. 5, SC 2.
Juba,
Tuas obrigações sâo mais restrictas
Que as delle ainda. Onde o poder supremo
Se tolera n'um so, — todo lhe incumbe,
É responsável pelo incargo inteiro
Da republica. Devcs-te a eUa, príncipe.
IBIDEM, act. õ, SC. 9.
RESTRINGENCIA, s. f. Termo de me-
dicina. Adstringência, aperto, qualidade
do que é adstringente.
RESTRINGENTE, part. act. de Restrin-
gir. Que restringe, que limita.
— Termo de medicina. Que tem a vir-
tude de apertar uma parte frouxa. — Me-
dicamento restringente. — Água restrin-
gente.
364
RESU
RESU
RESU
— 6'. m. — Um restringente. — /IjipU-
car tim restringente.
RESTRINGIDO, jmrf. /mss. <\c Restrin-
gir. Liinit:i'lii, ;i|iurt;ulo, inuditieiulo. Wú.
Restricto, (\nr ta/, ilillV-roní/a.
RESTRINGIMENTO, í. m. Acto do res-
tringir.
— Acção lio rodiizir a maior aperto, e
rifror.
RESTRINGIR, v. n. (Do latim restrin-
geie, de re, c slrintjere). Termo do medi-
cina. Apertar. — Medicamento que res-
tringe.
— Limitar, modificar, diminuir a ex-
tensão ou coniprclicnsão, — «Restringen-
do e limitando eiu esto a Ley, que so-
bre esto foi feita, pola qual avião esses
servidores faculdade de viver com quem
quiserem, Jlanda, que com homens, que
nsem de mester, assy como Capateiros,
Alfaiates, Ourivczes, Armoiros, e Can-
deeiros, o Almocreves, e todolos outros
dos mesteres iion vivào esses mancebos e
servidores.» Ord. Affons., liv. 4, tit. 29,
§ 10.
— Figuradamente : Restringir a sen-
tença da lei a certos casos; não incluir a
todos, ou a todas da mesma espécie.
— Restringir o cerco, o sitio que es-
tava ao largo chegando-se á praça ; en-
curtar o espa(;o, a extensão.
— Figuradamente : Reduzir, diminuir.
— Restringir uma proposição. — Restrin-
gir SMOS perguntas a tal ou qual cousa.
— Restringir a authoridade de alguém.
— Restringir-se, v. refl. Limitar-se,
reduz ir-se.
— Conter-sp, moderar-se, abster-se.
— Cohibir-so. refrear-se, retor-se.
RESTRINGIVEL, adj. 2 gen. Que é pos-
sível ro^trir.trir-^e.
RESTRINGIVO, A, adj. Termo de me-
dicina. Adstringente.
RESTRUGIR, r. n. Termo de poesia.
Dobrar o estrondo, e estrugimento.
RESTUCAR, r. a. Tapar greta, ou fen-
da, com unia cousa glutinosa o pcgadiça.
RESUDAÇÃO, s./. Termo de mclicina.
TranspiraijVMo de humor, coado pelos po-
ros.
RESUDAR, v. a. (Do latim resudare).
Recamar, rever, coar-se em ténues go-
tas. — Resudar o sangue pelos poros. Vid.
Reçurabrar, e Rezumbrar.
RESULTA, s. /. I > que resulta, proce-
de e se segue. — A resulta de uma deli-
beração.
— Effoito, consequência, resultado.
RESULTADO, iiKrt. /lass. de Resultar.
Que resultou, que procedeu, que se ori-
ginou.
— Que ò effeito e consequência de al-
gum acto.
— S. m. O que resulta, o que se se-
gue de unia deliberarão, de uma confe-
rencia, de um principio, de uma causa,
de um acontecimento, etc. — O resulta-
do de um discurso, de uma consulta de
advogados, de médicos. — O resultado <le
uma assembleia, d' uma conferencia, d' uma
discussão, d'uiita deliberação. — O resul-
tado <le uma disputa. — Discurso que nã<j
dii, que não (tftresenta resultado algum.
— O resultado de uma experiência chi-
micti. — <> resultado de uma empreza. —
O resultado di huia guerra.
RESULTANCIA, «. J. O resultado, ef-
feit'i, ciiii.-^eijucncia.
RESULTANTE, part. acf. de Resultar.
Que resulta. — Os casos resultantes dos
processos. — .íI* provas resultantes. —
Uma obrigação resultante de um acto.
— ò'. /. Termo de mechanica. Força
que resulta da composição de muitas for-
ças applicadas a um ponto dado. Quando
duas forças sào dirigidas sob a mesma
recta, o exercem sua acção no mesmo
sentido, a resultante é igual á sua som-
ma, e dirigida segundo a mesma recta;
se cilas actuam em sentido contrario, a
resultante é igual á sua diffcrença, e di-
rigida no sentido da maior. — A resul-
tante pois de um numero qualquer de
forças que actua segundo a mesma recta,
e em sentido contrario, é igual á somma
das forças que actuam em sentido oppos-
to, no sentido da maior somma.
RESULTAR, r. )i. (Do latim resultare).
Seguir-se, originar-se, proceder, dima-
nar, nascer.
E o deos, que foi n'um tompo corpo humano,
E por virtude da horva podfrosa
Foi convertido em peixo, e dVste dano
Lhe resiilloit deidade gloriosa ;
Ilida vinlia chorando o feio engano
Que Circe tinha usado co"a formosa
Scylla, que elle ama, desta sendo amado;
Que a mais obriga amor mal empregado.
CAM., LU3., cant. li, est. 24.
— «Da amisade destes homens vos re-
sultão dous proveitos. Hum do trato, c
comercio, e o outro do favor, c ajuda
nos trabalhos, por isso Senhor vede o
que fazeis, naõ queirais por um pequeno
apetite arriscar tantas vezes a honra, e
a vida.» Diogo <le Couto, Década Ci, liv.
9, cap. 5. — «Tornando ao Reino foi in-
duzido por mãos conselheiros a matí»r D.
Inez de Castro, de quem o Infante D.
Pedro, seu tilho, tinha alguns alhos, o so
dizia ser casado com ella por e«tar Já
viuvo da Infante D. Constança. DestA
morte resultarão grandes discórdias en-
tre pai, e tilho. querendo Deos pagar a
el Rei as que tiveia com el Rei D. Di-
niz fou pai." Frei liernaido do Brito,
Elogios dos reis de Portugal, continua-
dos por D. José Barbosa. — «E porque ha
chegado á nossa noticia a violência que
este Rei faz aos índios que recebem a
Fé, tomando-lhcs as fazendas, procura-
roií, eoiu muitas veras, apartar ao dito
Rei ia quem sobre o caso escrtvenios'i de
tão barbara crueldade, pois delia resulta
tanto mal para .'w almas, e corpos de
seus vassalloB : o que fará por ser nosso
amigo, pondo vós da vos«a parte o cui-
dado (|uo vos encommend.-imos. » Jaein-
tho Freire d'Andrade, Vida de D. João
de Castro, liv. 1. — «E as^im resultarão
depois destas divisoens maravilhoso-) au-
mentos em todas as Cidades, c Povos,
quo tiveraò iiarticular Senhorio, tanto cm
Itália, o França, como em Alem.iiiha.»
Maiioi-l Severim de Faria, Noticias de
Portugal, Disc. ;5, tj 2'). — iMas que
advertisse, que em sua cabeça levava a
vida, e saúde daquello homem, e que lha
havia de tirar dos hombros, ao alguma
desgraça lhe succedia, e quo rogasse a
Deos que nem ailocccsse : porque tudo ha-
via de resultar em mayor desgraça sua.
E resultou daqui, que as unhas temidas
ticaraõ tímidas : e e-íte hc o remédio que
i* acama, nem ha outro.» Arte de fur-
tar, cap. 23. — cDescuidaõ-se na eleição
da qualidade das couzas ; e até dos lu-
gares, onde as devem arrumar, se dcs-
cuidaò. K resulta de tudo faltar o bis-
couto, c agua no meyo da viagem ; por-
que acertaS os tempos de a fazerem mais
comprida.» Ibidem, cap. 28. — «Estas
saõ as unhas agudas, que fazem a sua
sem deixarem coimas : e destas ha mi-
lhares, que na fazenda delRey fazem
grandes estragos com alvitres, e conse-
lhos, que despontaõ de agudos, e levaõ a
mira em encherem as bolças ; como íc
vio nos das maçarocas, e bagaços, de
que naò resultou mais que gastos da fa-
zenda Real para Ministros.» Ibidem, cap.
33. — «O Numero Denario, hc chamado
circular; porque he fira dos números; e
deste à maneyra de Phenix. tornaõ a re-
nascer os mesmos, que resultarão da Uni-
dade. Entre os Philosophos sa3 dês os
Predicamentos. Entre os Astrolagos dès
as cspheras Celestes.» Braz Luiz d'Abreu,
Portugal medico, pag. 142, § 114. —
«Provaõ fi ratione, porque os humores
que causam o phrenesi concorrem em
abundante copia para o cérebro, e para
as suas menbranas : logo necessariamen-
te devem excitar tumor; porque este não
se prodiis por outra occaziaõ, se naõ por-
que os líumores concorrem copiozamente
era mais abundância para a parte, do que
no estido natural, donde resulta a sua
mayor elevação.» Ibidem, pag. i(\h. —
«No dia 24. fui jant ir á egreja de .S. Do-
mingos da Boa-Vista, que fica bem no
sitio oncle o Guamá se une com o Ca-
pim, de cuja continência resulta uma
copia e peso d'agaa3 mui notável. E' dos
grandes pontos de vista que encontrei.»
Bispo do (ír.no Pará. Memorias, publica-
das por Camillo Castello Branco, pag.
173.
— Refluir, saltar.
— Tornar-se. ter cm resultado. — «As
fillias em conventos; uns. e outros n.io
sejam desamparados nunca : que euifim
soem ser filhos do amor, a quem se deve
RESU
RESU
RESU
265
boa correspondeucica ; e que por faltos de
fazenda, e cheios de obrigaç-rio de seus
uomes, se acham em mil atflicções, que
todas resultam em damno da honra, e da
consciência de seus j^ais.» D. Francisco
Manoel de Mello, Carta de guia de casa-
dos.
RESUMAÇÃO, s. /. Acçào de resu-
mar.
RESUMAR, V. a. Vid. Reçumar, Res-
sumbrar, e Resumbrar.
RESUMBRAR, c a. Vid. Reçumbrar e
Ressumbrar.
RESUME. Vid. Resumo.
RESUMIDAMENTE, a.)x. (De resumido,
com o sufiixo «mente»). De um modo
resumido.
• — Em resumo, em summa, synoptica-
mente.
RESUMIDO, fart. fass. de Resumir.
Reassumido, tornado a tomar.
— Recopilado, reduzido a menos.
— Resolvida, determinada a cousa al-
tercada.
— Contido em resumo.
RESUMIDOR, A, s. (De resumir, com
o sufRxo «dor»). Pessoa que resume,
abrevia, reduz a compendio imia escri-
ptura, historia, d i*; curso não largo e ex-
tenso.
' RESUMIR, V. a. (Do latim resumire}.
Reassumir, tornar a tomar.
— Encurtar, dizer eui poucas palavras
o que ha de mais importante nVima ois-
cussão, n'um discurso, ii'um argumento.
— Resumir um discurso.
— Resolver, determinar a final a cou-
sa altercada.
— Conter em si resumido, em resumo.
— Recopilar, reduzir a menos, e a
mais breves razões.
— Cifrar, abreviar, epilogar.
— V. n. Resumir em poucas palavras.
— Resumir com ordem. — Resumir com
clareza. — Resumir rapidamente. — o Fi-
nalmente elle resumido nisto, que podia
dizer a elRey e ao seu governador Cóge
Atar que o enviara, que elle era vindo
per mandado d"elRey seu senhor a noti-
ficar a elRev de Ormuz que se queria
pacificamente nauegar os mares da ín-
dia, que lhe auia de pagar hum certo
tributo em sinal de vassallagem.» João
de Barros, Década 2, liv. 2, cap. 3. —
« O meu amigo o Sr. António Feliciano
de Castilho, a cujo favor devo as precio-
sas informações que aqui resumi, está
actualmente dispondo aquelle relatório,
de cuja publicação resultará certamente
o'generalisar-se a convicção de tam gran-
de descuberta, e vir em fim a nação por-
tugueza a recuperar o seu Palladio litte-
rario.» Garrett, Camões, nota E ao can-
to 10.
— Resumir-se, v. reji. Conter-se, ci-
frar-se.
RESUMO, s. m.
da obra, discurso,
Recopilação, epitome
ou razões mais
— Summario.
— Em resumo ; resumidamente, sum-
mariamente.
Xo desprezível, no pequeno insecto
Inda se mostra mais ; dco-se em resumo :
Mai.í 03 distinctos attributos brilhào
A mento do Filosofo tào claros,
Quanto na inteira maquina do Mundo.
J. A. Dl HACEDO, MEDITAÇÃO, Cant. 3.
RE3UMPÇÃ0, s. /. Acção de resumir.
— A resumpção d'um argumento.
— A acção de tornar a começar o que
se havia interrompido, prorogado, espa-
çado.
RES.UMPTA, s. f. Resumo.
— Nas escolas, é repetição dos argu-
mentos do sustentante, ou das objecções
que elle descobre que se lhe podem fazer
ás suas conclusões.
RESUMPTIVO, A, adj. (Do latim resum-
ptivus). Termo de medicina. Medicamen-
to resumptivo ; medicamento que não só
cura. mas serve de alimento.
RESUPINAÇÃO, s. /'. Termo de botâni-
ca. Estado de uma tlOr cuja corolla su-
perior se torna inferior.
— O estar em posição resupina.
— O avessamente, ou reviramento.
RESUPINADO, A, adj. Termo de botâ-
nica. ',Uie nasce n'uma direcção tal, que
oiferece na parte inferior as partes situa-
das na parte supeiúor em seres análogos,
e na parte superior as que estão na parte
inferior entre estas. — Dicliptero resu-
pinado.
RESUPINO, A, adj. (Do latim resu-
piuus'). Deitado sobre as costas com a
barriga ]iara o ar.
RESURGIDO, part. pass. de Resurgir.
Tornado a viver, resuscitado.
RESURGIR, V. n. (Do latim resurgere).
Tornar a viver, e erguer-se d'entre os
mortos, reviver, resuscitar. — « E pêra o
dia do sacrifício, que delle esperam fa-
zer, tem juntos comsigo em uma villa,
onde está que é daqui quatro legoas, al-
guns amigos seus e antr'elles um seu ir-
mão gigante, mancebo também cruel e
esforçado, que chamam Pavoroso, que de-
pois que está nesta Ilha por sua má vida
tornou resurgir a de seu cunhado e so-
brinhos, cousa que agora parece mais ás-
pera polo muito que havia, que começa-
vam a viver em liberdade.» Francisco
de Moraes, Palmeirim de Inglaterra, cap.
117. — «O Christaõs, ô membros de Chris-
to, se he verdade que ja resurgistes com
Christo da morte spiritual pêra a vida
buscay as cousas de cima, aleuantay o
coraçam da terra, e pondeo no ceo onde
Chi"isto esta à destra de Deos, procuray
alcançar sabor e gosto das cousas celes-
tiaes, e nam das térreas. Sabey que se
a VI ssa fee he viua, ja estais mortos pêra
as cousas do mundo, e da carne, e a vos-
sa vida estaa escondida com CHRISTO
em DEOS.» Frei Bartholomeu dos Mar-
tyres, Catecismo da doutrina christã.
— -Resurgir a mdhor vida; sair da
morte do peccado, converter-se.
— Figuradamente : Ser exigido nova- '
mente.
— Figuradamente: Re surjam os anti-
gos a vêr o ardor com que se aprende.
Aqui resurjam todos os antigos
A ver o nobre ardor, que aqui se apprende:
Outro Sceva verão, que espcdaçado
Nào sabe ser rendido, nem domado.
CAM., Lus., cant. 10, est. 30.
— Figuradamente : Resurgir dos vicios
á virtude.
f RESURREIÇAM, s. /. Vid. Resurrei-
ção. — «Irmãos esta gloriosa mudança
da carne do senhor, da morte á vida, e
de tantas misérias a tantas glorias, he
hum claro traslado, e debuxo da nossa
resurreiçam, assi spiritual nesta vida,
como corporal no dia da resurreiçam
geeral. Frei Bartholomeu dos Martyres,
Catecismo tía doutrina christã. — « Por
tanto irmãos, se desejamos ser partici-
pantes na resurreiçam gloriosa da carne,
conuem que em quanto neste mundo vi-
uemos, procuremos diligentemente a re-
surreiçam da alma. O filho de DEOS
veyo às terras, principalmente pêra re-
.'niscitar nossas almas da morte spiritual,
causada pellos peccados, á vida spiritual
de sua graça.» Ibidem. — «E nas outras
que disse: Bemauenturados os misericor-
diosos, por que elles alcançarão miseri-
córdias. Por tanto irmãos, se queremos
chegar á gloria da bemauenturada re-
surreiçam que oje nos é mostrada, e
prometida conuem com as Sanctas Marias
prouermonos destes celestiaes vnguentos,
'porque estes sam com os quaes o senhor
quer de nos ser vngido.» Ibidem.
RESURREIÇÃO, s. f. Restituição do
morto á vida. — A resurreição de Nosso
Senhor. — A resurreição de Lazaro. —
A resurreição dos mortos.
— Resurreição ^jara um tempo; aquel-
la em que um homem morto resuscita
para morrer de novo.
— Resurreição perpetua, eterna; aquel-
la em que se passa da morte á immorta-
lidade. — O dogma da resurreição dos
mortos é xima crença comiuum aos judeus
e aos christãos.
■ — Termo de liturgia. Diz-se em honra
da resurreição de Jesus Christo que a
igreja celebra a festa da Paschoa. — « E
tanto que a dita villa foy socorrida, e
prouida como compria el Rey se veo a
Cordoua, e ahy esperou poUa Raynha,
andando prenhe se foy de Medina a To-
ledo, e ahy pario acerca da Páscoa a in-
fanta dona Maria no anno de quatrocen-
tos e oitenta e dous acerca da Páscoa de
Resurreição, e de Toledo se foy a Ray-
nha a Cordoua, onde a Infanta foy ba-
■ voL. V. — 34.
íátíG
RESU
RESV
RETA
ptizada na Igroja mayor pollo Bispo da
cidadí} com {,'raiido8 ccryiiionias.» (lar-
cia do Rozondo, Chronica de D. João II,
cap. i55.
— Quadro ciii ostampa que rcproson-
ta a resurreição do Jesus (Jliristo.
— Enj/ariir ale, ou pela resurreição
doa capuc/ws; esporar por cousu (pu; nao
La de succodor, nrui vcn(icar-.sc.= E.sta
locu<;ão ó cxtraliifla ila prosumpi;rio du
um irado, <pio proinottou rosuscitar um
mor tu.
RESURTIR, ou RESSURTIR, v. a. Sair
com impoto ao alto, ru^altar.
Na frniito ingonua e livre um raio assoma
Do subritancia iinmortal, rcsimrtf. viva
Dos ollio.s siiH (^•Ic.sto iiitclligoncia,
l\'lo.s hibioH lie pui-pura di'»liza
Doce bi-iuido Hun-irfo ; os Kntcs todos
No Mortal pensador seu Rey conhecem.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Cant. 1.
Não rfiSííiVc do Fcbo; o Coo brilhante
Não guarda os Astros Incidos s/micuto
Qii'a nossos olhos snbito fulgnrào
Quando a noite desdobra o véo sombrio.
— Reflectir olasticamonte.
Entre todos mais luz, talvez mais clara.
Que a que ressurte dos Argivos ]5ustoa,
O sobre-humano Cicero derrama.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM E.\T.\TICA, Cant. 2.
Entre o Grego saber ! . . . Como em polidos
Cri.staes, que unio Buftbn, do Sol a chanima.
Reverbera mais forte, activa, o clara,
Da avassallada Grécia assim ressurte
No vasto Império da Potente Roma
Luz, ([ue espalhou revérberos mais vivos.
IDEM, MEDITAÇÃO, Caut. 1.
RESUSCITAÇÃO, í.-. /. O fazer resusci-
tar.
— O acto do, toruar alguém á vida.
RESUSCITADO, part. pass. de Resusci-
tar. Tornado á vida.
— Fl}íuradamento : Renovado, trazido
& memoria.
RESUSCITADOR, A, s, (De resuscitar,
com o suffixo «dor»). Pessoa que faz re-
suscitar.
— Resuscitador das artes, das letras,
das scieiíciaSj do cominercio, da indus-
tria.
RESUSCITAR, v. a. (Do latim resusci-
tare, do re, o suscitare). Fazer voltar â
vida. — « E veudoos em trajos tão hon-
rados, tornados com tanta paz, c saúdo,
era em todos o prazer, e alegria tanta,
como se todos resuscitarâo da morte á
vida, o com a noua de sua tornada, que
foy pêra todos de grande espanto, o se
espalhou por muvtas partes, vinha tanta
gente á corto, que se não podia estimar,
porque os negros que vierão erão homens
nobres o nmyto conlieeido.s.» Garcia de
Rezende, Chronica de D. Joào II, cajii-
tulo lóli.
Minha prima (quanto agora
resiitctlei cu do morta!)
me lia do entrar hoje de fura!
l'e/.ar de niinlia avií torta,
que, nem bocado dormi.
ANTÓNIO PllE.STES, AUT03, pag. 329.
— Figuradamente: Renovar, trazer á
memoria.
-T- Reproduzir, fazer existir outro, ou
semelhante.
— Resuscitar as preíeiu^òes ; rcnoval-as.
— Resuscitar velhices; tornar a asar
e }iôr eui pratica costumes, ou cousas
antiquadas.
— U.sa-se também como verbo reflexo.
— O tiniíjenito de Deus resuscitou-se.
— V. n. Tornar a viver. — « A che-
gada de loaiu do noua a Cochim foi pêra
os nossos resuscitar, o tornar de nouo ao
mundo, porque ainda que os o Rei fauo-
recesse muito, c mandasse de noite, e de
dia guai'dar pelos seus Naires, andauam
tam atemorizados dos Moiros da terra,
que lhes parecia, que nam podiam es-
capar de os matarem, sem mais verem
pessoa ncnliuma do rogno.» Damião de
Góes, Chrouica de D. Manoel, part. 1,
cap. 613.
— Tornar a apparecer o que não exis-
tia ha muito tempo atraz. — « Rouipeo os
jMouros em dezasete batalhas, ganhtiu-lhe
duas Cidades, e muitas Villas, e Castel-
los fortes; e resuscitou o nome Portu-
guez com a Cidade do Porto que engran-
deeeo, c fortiticou no lugar onde ora está,
o fez nella Igreja Cathedral, que a Rai-
nha D. Theresa sua mulher depois inno-
breceo com i"cndas, que deo ao Bispo D.
Hugo, e aos cónegos no anno de mil e cen-
to e vinte.» Frei Bernardo de Brito, Elo-
gios dos reis de Portugal, continuados
per D. Jo.^é Barbosa.
RESUSCITAVEL, adj. 2 geií. Que ó pos-
sível resuseitar-se, que pôde ser resusci-
tado.
RESVALADEIRO, s. m. Local, onde se
escorrega com facilidade, como são la-
deiras, encostas, etc. Vid. Resvaladouro.
RESVALADIO, A, adj. Lúbrico, escor-
rt'gadio, ondo os pés não podem firmar-sc
por eseorregarrem. Vid. Resvalar.
— Emprega-se também no sentido fi-
gurado.
RESVALADOURO, s. m. Vid. Resvala-
deiro. — Trrra riTcada de resvaladouros.
RESVALADURA, s. /. Signal, vestígio
que liea no loeal onde se resvalou.
— Escorrcgadura.
RESVALAR, v. a. Fazer escorregar.
— r. n. Escorregar, talvez conservan-
do-se em pé, como no norte sé faz por
divertimento sobre os lagos, e rios con-
gelados: ou escorregar o cair.
— Figuradamente : Cair da íú e da
innocencia.
— (Jortar ligeiro e nereno.
— Resvalar o tempo; correr ligeiro o
insensivi-lnientc.
— Resvalam os baixeis iuj mar Roxo.
— Loc. Kifj.: Resvalar o p>-; cair em
erro, culpa.
— Figuradamente : Resvalar a lança
no cscitdij.
— Resvalar a naval/ux lui barba,
— Resvalar em erro; cair imprudente-
mente.
— Resvalar por uma penedia abaixo;
escorregar por cila, c cair por ella abai-
xo,
RESVELAR, v. a. e n. Vid. Resvalar,
termo mais em u.-^O, e como tal preferí-
vel. — Res velar " pé. — Resvelar o lem-
p'i. — Resvelar « lança no escudo.
RETABOLO, s. m. (Do franccz retalie).
Oljra feita «le mármore, de pedra ou de
madeira, que firma o ornato de um al-
tar.
— Qualquer quadro, painel. — Um re-
tabolo lie Nossa tíenhora. — «Pedio o Pa-
dre Custodio a todos os passageyros pas-
sássemos a popa, o nella de joelhos, dian-
te de hum deuoto Retabolo da Senhora,
com lagrimas, o gemidos de deuaeão en-
toamos as suas Ladaynhas: e indo na-
quella palaui-a que diz, (Consolatrix afli-
ctorum ora pro tiobis).» Frei Gaspar de
S. Bernardino, Itinerário da índia, capi-
tulo 2.
RETÁBULO, s. m. Vid. Retabolo.
f RETAÇO, >'. //(. Termo usado por An-
tónio Prestes nos seus Autos.
o mais bem lá vive em cima,
c não vos fa(;acs retaro,
fazei vós como lho cu faço,
uâo quero co'o demo nèspcras,
manhã missa, á tarde vc3i>oras,
ponha-se-lhe n'um baraço.
ANTÓNIO PRESTES, ACTOS, pag. 333.
RETADOR, A, «. e adj. Vid. Repta-
dor.
RETAR, V. a. Vid. Reptar.
RETAGUARDA, s. f. A trazeira, o ul-
timo esquadrão do exercito.
— A ultima companhia ou fileira do
regimento. — ..l retaguarda do batalhão.
RETALHADO, part. pass. de Retalhar.
Cortado em retalhos.
— Golpeado, cortado em talhos.
— Vendido a retalhos, por miúdo, n.ão
em balas, ou por grosso.
— Figuradamente : Dividido correndo
pelo meio.
RETALHADOR, A, .-■. Pessoa que reta-
lha, que vende a retalho.
— Que tem loja do retalhos, que ven-
de por miúdo.
RETALHADURA, s. /. Acto de retalhar,
de eoitar em retrtlhos.
— O golpe que se deu retidhando.
RETA
RETA
RETE
.267
RETALHAR, v. a. Talliar de novo, cor-
tar de novo em retalhos.
— Cortar em talhos, golpear, dividir
em partes. — O frio agudo e intenso re-
talha os membros.
So o Sol surgindo as pálpcbras-lhe toca,
Frouxo, iudoltíute o bárbaro desperta.
Ora hum Tigre veloz o despedaça.
Ora co'a hervada frecha vara hum Tigre ;
Co'a mosqueada pelle os membros cobre,
Se o frio agudo os membros lhe retalha ;
Sente o calor ? indittcrcnte a deixa ;
Nào 90 ouve hum pranto, lagrimas não correm,
(Feudo que á morte a Natureza paga)
Se no bocejo estremo a vida foge.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Caut. 1.
— Retalhar a ferra com arado ; re-
goal-a.
— Vender a retalho, por miúdo, e
nào por grosso nem por junto.
— Figuradamente : Dividir correndo
pelo meio.
A Alexandre o Oriento, a Eoma o Mundo?
Que retalhe de Koma o Império immenso ?
Que faca, que cm Farsalia, o Sogro, o Gem-o,
(Tumultuoso par!) disputem o Globo?
J. A. DE MACEDO, A NATUUEZA, Caut. 1.
Avaro medidor retalha, e marca
O chào qu'era commum, qual luz, qual vento ;
Nào baatào Messes, que produz a terra.
IBIDEM, cant. 2.
Vestem em torno dilatados campos.
Que mil torrentes trémulas refalhào,
Das agras serranias despenhadas.
N 'alguns cabeços de empinados montes
Sulfúrea labareda .aos árcs sobe.
Fanal, que a Natureza ao longe mostra
Do fatigado navegante aos olhos.
IDEM, MEDITAÇÃO, CaUt. 2.
— Figuradamente : Estes desgostos re-
talham-me o coração.
RETALHEIRO, A, s. (De retalho, com
o suffixo «eiró»). Que vende por miúdo,
e não por atacado.
— Retalhador.
RETALHINHO, s.m. Diminutivo de Re-
talho. Retalho pequeno.
RETALHO, s. m. Pedaço cortado de
uma peça, ou que se tira talhando obra.
— Um retalho de panno.
— Manta, ou capa de retalhos ; man-
ta, ou capa feita de bocados variados.
— Mercador de retalho; homem que
vende ás varas, e por miúdo, e não por
junto.
— Figuradamente : Manta, ou capa de
retalhos : homem que sabe as cousas aos
bocados. — Este homem é manta de reta-
lhos em línguas.
RETALIADO, imrt. pccss. de Retaliar.
Vingado com outi'0 mal semelhante ao
que o réo ou offensor fez a outrem .
— Castigado com a pena de talião.
RETALIAR, v. a. (Do latim retaliare).
Applicar a lei de talião, pul-a em prati-
ca, impôl-a.
— Vingar com pena de talião.
— Causar damno igual ao que nos fi-
zeram.
RETAMA, s. /. (Do hebraico rotham).
Gies'ta.
RETAME, adj. — Assucar retame ; o mel
ou melaço novamente extrahido, levado
ao ponti> do assucar.
RETANGHAR, v. a. Pôr bacello no
mesmo covato, em que estava outro que
não medrou.
— Cortar pela raiz o que não cresce
para tomar força.
RETARDAÇÃÓ, s. /. A frouxidão do
movimento de um corpo, quando esta
remissão é o eíFeito de mna causa parti-
cular. — Newton foi o primeiro que deu
as leis da reíardação do movimento do
corpo nos fluidos. Vid. Retardamento.
RETARDADAMENTE, adv. Com demora,
tardança.
— Remissamer.te, com frouxidão.
RETARDADO, ixirt. pass. de Retardar.
Demorado, dilatado.
— Não despachado a tempo.
— Ser retardado de fazer alguma cou-
sa; por acção de outrem que obsta, que
ponha obstáculo.
— - Correio retardado; correio que não
chega no tempo ordinário.
— Carta retardada; carta que não é
enviada a tempo devido.
— Movimento retardado ; movimento
que vae diminuindo, e que não se acce-
lera.
RETARDADOR, A, s. e adj. Que faz
demorar mais do necessário.
— Que não despacha a tempo.
— Que faz que seja tardo, menos ve-
loz.
— Que não envia a tempo devido,
— Que não faz as cousas no prazo,
dentro do termo.
— S. m. Peça do relógio, que retarda
o movimento da roda que faz girar os
ponteiros.
— *S'. /. Termo de physica. Diz-se da
força que retarda o movimento dos coi'-
pos.
RETARDAMENTO, s. m. Acção de re-
tardar.
— Demora, dilação, delonga, deten-
ça, prorogação. — Causar retardamento
a alguma cousa. — O retardamento não
virá do meu lado.
— Termo de pliysica. Afrouxamento
do movimento.
RETARDANÇA, s. f. Termo antiquado.
Retardamento, delonga, dilação, proroga-
ção, tardança.
RETARDAR, v. a. (Do latim retarda-
re). Differir, adiar. — Retardar a parti-
da. — Retardar o julgamento de um pro-
cesso. — Retardar um pagamento.
— Impedir de ir, partir, de avançar,
ser causa de que uma cousa venha a ser
differida. — Retardar o correio. — Retar-
dar um relógio, um pêndulo; fazer que
elle indique uma hora menos adiantada,
e que ande com menos velocidade.
• — V. n. Andar mui lentamente, andar
ati-azado. — O relógio retarda.
— Diz-se também : A febre retarda.
— Retardar-se, v. ref, Demorar-se,
diíFerir-se.
— Figuradamente : Os homens retarda-
vam-se a si p)roprios. — « Mas a distan-
cia que os separava era grande, e os ára-
bes, lançando-se ás cegas por entre as
sarças e estevas e enredando-se nellas,
retardavam-se a si próprios e augmenta-
vam essa distancia.» Á. Herculano, Eu-
rico, cap. l."i.
RETARDATÁRIO, A, adj. (Do francez
rctardataire). Que se acha em atrazo. —
Pagamento retardatário.
— S. Pessoa que não chega a tempo,
nem a horas.
f RETARDATIVO, A, adj. Que está em
atrazo, que anda lento. — Movimento re-
tardativo.
RETARDIO, A, adj. Termo de poesia.
Lento, vagaroso, tardo, dilatado.
RETARDO, s. m. (Do francez rétard).
Vid. Retardamento, termo mais usado e
mais próprio da lingua portugueza.
RETAVOLO, s. m. Vid. Retabolo.
RETEAR, V. a. Termo antiquado. En-
curralar, retirar, obrigar a recolher.
f RETELHADO, part. pass. de Reta-
lhar. Coberto de novo com telhas.
RETELHADURA, s. /, A acção de re-
telhar, de cobrir de novo com telhas,
RETELHAR, i-. a. Cobrir segunda vez
com tcllias ; compor os telhados.
RETÉM, s. Mi. O sobreselente, que está
de reserva para algum serviço. Na milí-
cia, o sargento de retém.
— Armazém de retém ; armazém onde
se recolhem as fazendas sobreselentes,
RETEMIRABILE, s. /. (Do latim rete,
rede, e mirabile, admirável). Termo de
anatomia. Um tecido de muitas arteriasi-
nhas existente na cabeça, no meio do osso
basilar, debaixo do cérebro.
RETENÇÃO, s. f. (Do latim retentio).
Demora, delonga, detenção.
— Beneficio de retenção ; beneficio con-
cedido pela lei ao rendeiro de prédios
em que faz bemfeitorias, para não ser
despejado em quanto lh'as não pagarem,
ou as depositarem para se liquidar o que
valem ; o vendedor tem o direito de re-
tenção, até lhe darem o preço, qiiando
não fiou.
— Retenção das bulias; probibição ou
suspensão regia da execução d'ellas, fi-
cando na secretaria d'estado por onde se
expedem os placitos régios.
— A acção de reter, de conservar um
posto, ou cargo, que se tinha, quando
passa a outro.
— A retenção da urina; embaraço
d'ella, obstáculo á sua expulsão. Do
268
RETE
IIETI
RETI
mesmo modo so diz: Retenção dos e.c-
creriuiiúus, das fezeg.
— A retenção do aUicio; que «e nilo
restituo, pii^';i, ou entrcfíii.
— Toruio de mediei ua. Estudo cm que
Oi líquidos ou as substunéias mollos «ào
retidas cui eavidades ou vasos d'onilc
B.ào por habito expulsos. — Retenção
dl) auor. — Retenção da^ viatcrim idvi-
naa.
f RETENIDAS, s. f. phir. Termo de
náutica. Cabos ipio survcm para aguen-
tar por pouco tcuipo qualquer cousa a
(|ue estào ligados.
T- Termo de artilheria. Talhas que
dadas em um olhai fixo na face de den-
tro da carreta, sorvem de alar o aguen-
tar a poya, quando não está em bateria,
ou cui quanto se não carrega.
RETENTIVA, s. /. Faculdade de re-
ter; memoria.
RETENTIVO, A, adj. Termo de ana-
tomia. Que retém, c obsta á saída do li-
quido pela bocca do seu vaso. — Múscu-
los retentivos.
— Faculdade retentiva ; faculdade que
tem os músculos retentivos.
— Atadura retentiva; atadura que sus-
tem o remédio unido á ferida.
RETENTO, i^art, pass. irrecj. de Re-
ter.
— lieligioso do habito retento; reli-
gioso que tinha licença para viver fora
do seu convento, usando de habito pró-
prio da sua ordem.
RETENTRIZ, adj. f. Vid. Retentivo.
RETER, V. a. (Do latim retinere). Não
largar, não despedir de si, não deixar
ir. — « E assi lhe fugiram pêra Ma-
laca quatro, ou cinco mercadores ricos,
que EIRey quizcra reter eomsigo pêra
se aproveitar de suas fazendas na resti-
tuição dc seu estado. » João de Barros,
Década 2, liv. 6, cap. G. — « Tornai meu
amado, vossa presença hei de buscar,
vossa face, não vos escondais; porque o
Senhor mostra, que se despede, e quer
que lhe roguem, queira íicar ; se se apar-
ta, quer quo o retenhão por amor, por-
que o sou despedirse, he a tempo por
dispensação o tornar, sempre lhe hc pró-
prio, e de vontade, e huma e outra cou-
sa cheia de juizo occulto.» Frei Bartho-
hmicu dos Martyres, Compendio de es-
piritual doutrina.
— Guardar sempre, conservar o que
se tem, não so desfazer delle.
— Apenar.
— Reservar. — Retenho isto para mim.
— Parar, suspender, fazer demorar,
não deixar ir. — Reter alguém para jan-
tar.
— Diz-se dos movimentos, das neces-
sidades naturaos. — Reter as higrimas.
— Reter o hálito, a respiração. — Reter
a urina.
— Oppôf-se ao cffeito próximo d'uma
acção que está a ponto de acontecer, de
inna força activa. — Reter o Oraro de
uma pessoa,
— Impedir de cair, dc se desligar. —
Reter um muro que cúe.
— Reprimir, moderar. — Reter sua
cólera. — A estes gritos o cavalleiro re-
teve o caiallo.
— Jlettor, imprimir, guardar alguma
cousa na memoria. — Reter « lição. —
Reter twlo o que se ouve. — Reter o no-
me dc alguém,
— Ter como preso. — O esposo reteve
o adultero.
— Reter o alJieio ; não o entregar ao
seu dono.
— Loc. i^G. E POP. : Não pôde reter
as aguas; não pôde guardar segredo.
— V. n. Conceber, conservar na me-
moria. — A memoria é a faculdade de
reter.
— Reter-se, v. rejl. Deter-se, parar.
— Reter-se no meio da carreira. — Re-
ter-se á borda de um precipicio.
— Jloderar-se. — Este homem não sa-
be reter-se.
— Dlz-se tambcm das necessidades na-
turaes.
— Abster-sc de fazer força, de fazer
violência.
— Adágios e provérbios :
— O que te não aproveita e não has
mister, não deves reter.
— Não p>')de reter as aguas.
RETESADO, ou RETEZABO, part. pass.
de Retesar. Entesado, endurecido.
— Estendido, teso, com dui"eza.
RETESAR, ou RETEZAR, v. a. Endure-
cer, tornar-se duro, entesar. — Retesar
a sola.
— Retesar-se, v. rejl. Endurecer-se,
tornar-se duro, entesar-se.
RETEÚDO, part. pass. ant. de Reter.
RETEZIA, s. /. Termo usado na lin-
guagem pleblèa do Minho, e designa a
contenda existente entre duas pessoas,
que a cada passo estào disputando com
frequente contradicçào, encontrando-se
em tudo, tendo miudadamente mutua
coUisão.
RETEZIAR, V. a. Termo plebeu da pro-
víncia do Minho. Dar de encontro uma
cousa com outra, contender, pugnar, ba-
ter-se, quebrar-se mutuamente.
RETICENCIA, s. /. (Do latim reticen-
tiui. Siippressão ou omissão voluntária
de uma cousa que se devia dizer. —
Usar de largas reticencias com alguém.
— Figui'a de rhetorica, que consiste
cm romper a phrase, doixando-a incom-
pleta, exprimindo aftectos já de cólera,
já dc dôr, já de receio e escrúpulo. —
Eu vos... mas insta abonançar as va-
gas. — O rústico veste como rústico, e
falia como rústico, mas um pregador ves-
tir como religioso, e filiar como .. . não
o quero dizer em reverencia do logar.
RETICULA, s. /. ^Do latim reticulum).
Termo de antiguidade romana. Redesi-
nha cm que as matronas romanas aper-
tavam 08 cabcUos.
— Termo dc astronomia. Con-stellaçilo
boreal.
— Termo de botânica. Vagem fibrosa,
que envolve a baae das folhas nas pal-
meira».
— Termo de physica. Annel no qual
se estendem os fios, que se vêem nas lu-
netas de «agrimensura. Este annel quo
entra por attrito no tubo da luneta, e«iá
coUocado no fV>eo coiumum do objectivo e
do ocular. — Reticula quadrada, circu-
lar. — Reticula < m loxaiu/o.
1.1 RETICULADO, A, adj. (Do latim
reticidalns, dc reticulum). Termo de mi-
neralogia. Diz-80 doa crystaes auricula-
res, quando as agulhas se cruzam.
— Termo de botânica. Diz-sc do ama
superficie que é indicada por linhas en-
cruzadas á maneira de rede. — Eoliiaa
reticuladas.
— Termo de entomologia. Diz-se de
uma superfície que offerece linhas dispos-
tas em rede.
— *S'. m. plur. Termo de zoologia. Sec-
ção da ordem dos polypeiros lapidcscen-
tes, comprehendendo aquelles cujas cel-
lulas são em geral dispostas em rede na
superficie das expansões.
■2.) RETICULADO, A, adj. Diz-se de
uma guarnição de pedra em rectângulos,
(pie 03 romanos antigos punham nas pa-
rede^ á semelhança de uma rede.
RETICULAR, adj. 2 gen. (Do latim re-
ticularis). Que se assemelha a uma rede.
— Membrana reticular. — Tecido reti-
cular do osso. — tíubsfancia reticular.
— Diz-se de uma túnica dos olhos por
modo de rede.
— Termo de botânica. Vid. Reticu-
lado.
RETÍCULO, .'. »i. Vid. Reticula.
f RETIDO, part. pa^s. de Reter. Con-
servado, guardado.
— Não largado, preso.
EUe, vendo que jA lhe não convinha
Tornar a terra, porque nào (K>de*se
Ser raais retido, sendo ás Xaus chegado,
X'eUas estar se deixa descansado.
CAMÕES, Lus., caut. 8, est. 95.
— Ruy d'Araujo, cujo era o paráo,
querendo-se t;xmbem p;issar aos outros,
travou-lhe da saia de malha que trazia
hum tolete do remo, com que foi retido
pêra sempre: cá neste descmpeçar veio
huma lança de arremesso, que o matou
e foi eavisa de morrerem outros.» Joào
de Barros, Década 2, liv. P, cap. 2.
— Reprimido, mo'ierado. — Cólera re-
tida. — Cavallo retido pelo cavalleiro.
— Conserwido em memoria. — Lição
retida.
— Diz-se dos movimentos, das neces-
sidades naturae^. — Lagrimas retidas.
— Reservado.
«
EETI
RETI
RETI
269
f RETIFICADO, part. pass. de Retiíi-
car. Vi !. Rectificado.
RETIFICAR, 1-. a. Vid. Rectificar, e
Ratificar, que diíFerem. — «Quiz Sérgio
ouvir do Santo o que sentia naquelle
caso, e fazeudolke perguntas confessou a
ley de Ciiristo em que cria, e retificou
as palavras que primeiro dissera.» Mo-
narchia Lusitana, liv. 5, cap. 7. — «E
como o Santo se retificasse na primeira
coniissào desprezando tudo pelo amor e
gloria de Ckristo, o .sentencearaò a per-
der a cabeça, e tirãdoo a iiuma praça
que so fazia diante do alcaçar de Córdo-
va, e agora se cliama o eampilho, foi de-
golado aos dezaseis de Julho do anno de
Christo, 8õl.» Ibidem, liv. 7, cap. 15.
RETIFORME, aãj. 2 gen. (Do latim rc-
tiformisi. Que tem a forma de uma rede.
— Tecido retiforme.
— Termo de botânica. Epitlieto dado
ás falsas nervuras dos fucos, quando es-
tão dispcstas em firma de rede.
— Eaizes retiformes ; raizes que se
enredam á maneira de rede.
RETIMTIM, ou RETINTIM, s. m. Voz
oaomatopaica, que imita o som de dous
corpos sonoros, quando se tangem. — O
retimtim das landas.
RETINA, s. /.'(Do latim retina). Ter-
mo de anatomia. Membrana molle, pol-
posa, pardacenta, meia transparente, mui
delgada, estendida desde o nervo óptico
até ao crvstallino, abraçando o corpo vi-
drado, e formando a ciioroidea, sem con-
tratar a adiíereueia com estas duas par-
tes.— A retina é o órgão imraediato da
vista. — A sensibilidade da retina é em
certas occasiões de tal sorte exaltada, que
a vista supporta com dijficuldade a im-
pressão da mais fraca luz.
RETINACDLO, s. m. (Do latim retiiia-
cuhimi. Termo de botânica. Corpúsculo
globular viscoso, ao qual está ligado o
pequeno pedúnculo que sustem as massas
do pollen nas orchideas.
— Instrumento próprio para impedir
a queda ou a descida do intestino no
sacco herniario, depois da sua reduc-
ção.
— S. m. plur. Termo de medicina.
Membrana contida no ovário, e que faz
parte das que concorrem para o desen-
volvimento do feto.
f RETINASPHALTO, s. m. Termo de
mineralogia. Eossil bituminoso de um
amarello azulado, tirante algumas vezes
á côr de ocre.
•{■ RETINERVO, A, adj. (Do latim reti-
nervis). Termo de botânica. Diz-se das
folhas cujas nervuras sào reticuladas.
RETINÍjIR, V. a. Tingir de novo, tin-
gir segunda vez.
RETINIANO, a, adj. Termo de anato-
mia. Que é coaceruente á retina,
RETINIDO, part. pass. de Retinir.
RETININTE, part. act. de Retinir. Que
tine por longo tempo.
— Que faz som intenso e agudo. —
A setta retininte.
T RETINIPHYLLA, s. /. Termo de bo-
tânica, (jieijero de plantas dicotvledoneas
de dores completas, monopetalas, da fa-
mília das rubiaceas. — A retiniphylla, de
jiores unilateraes, arbusto de cerca de qua-
tro metros d'altura, cresce na America
Meridional,
RETINIR, ou RETIMIR, v. n. (De re,
e do latim tinnire:. Tinir por muito
tempo.
— Produzir som agudo.
— Figuradamente : Aquella voz fez re-
tinir os meus ouvidos.
RETINITE, s. f. Termo de medicina.
Indammaçào da retina.
RETINOIDE, s. m. Termo de pharma-
cia. ]\Iedicamento que tem por base um
excipiente resinoso simples.
RETINOLE, s. m. Termo de pharmacia.
Medicamento que tem a resina por ex-
cipiente. ou por principio predominante.
t RETINOLICO, A, adj. Termo de phar-
macia. Que tem por base um excipiente
resinoso.
7 RETIPEDE3, s. m. plur. Termo de
historia natiu-al. Familia de aves compre-
hendendo a dos animaes que tem a peUe
das pernas dividida em escamasinhas po-
lygonas.
' RETINTO, s. m. Côr escui-a, muito car-
regada.
— Figuradamente: Synonymo de cas-
ta, qualidade, sorte.
— Part. pass. irreg. de Retingir. Diz-
se do que é muito carregado na eôr.
RETIRA, s.f. (^Contrahido de Retirada.
Acto de retu-ar-se com o rosto para o
inimigo, se está perto.
RETIRAÇÃO, s. /. Termo de impres-
são. Acto de retii'ar o branco.
— A parte da folha opposta á que se
acaba de tirar.
— O que liça em branco, nas costas
da face impressa.
RETIRADA, s. f. Termo de milicia. A
acçào de retirar-se do ataque. — « E co-
mo grades exércitos senão possão susten-
tar por largos dias, sem elles, nem lhe
seja possiueí aos Turcos, cometellos nas
serras a que se acolhem; não tem outro
remédio que tornarse, e como as retira-
das comummente saõ sem ordem, descen-
do 03 Persas das serras com mangas de
caualo em seu alcance, os destruem, e
desbaratào. 1) Frei Gaspar de S. Bernardi-
no, Itinerário da índia, cap. 14. — «Mas
porque esta lembràça he mais própria de
outro lugar, me não detenho aqui nella.
Foi esta retirada de Mafoma tão notauel
e conhecida pelas nações do Oriente, que
em memoria delia ; os annos que tè aquel-
le tempo se contauão, entre elles pela
hera de César, u Ibidem, cap. 20. — o Dos
Mouros pereceo a maior parte, huns no
couiiicto, os mais na retirada. Maior ani-
mo mostrarão as mulheresj que os mari-
dos; elles perderão as vidas, que não
soubérão defender; ellas podendo-as sal-
var, as desprezarão. Dos nossos morrerão
vinte e dous : forào mais os feridos, em
que entrou o General de huma setta. Foi
necessário acabar um estrago, para co-
meçar outro.» Jacintbo Freire de An-
drade, Vida de D. João de Castro, liv. 1.
— Local para onde alguém se retira,
e acolhe do perigo, do trabalho, e tumul-
tos.
— Tocar a retirada; fozer signal com
o tambor, ou com as trombetas^ á tropa
para que se retire.
— Logar para onde alguma tropa se
pude recolher.
— Figuradamente : O acto de retirar-
se de tumultos, pretenções disputadas
ambições, etc.
— O dar costas ao inimigo, e ir-se
desviando d'e]le, em caso de revez ou
de desbarate que se espera. — A retira-
da dos alanos. — o Os Suevos, que como
temos visto, erão mais poderosos e senho-
res de mayores terras, diz o mesmo Au-
thor, que também perderão o animo nes-
ta guerra, e desemparando a Cidade de
Lisboa, e muytas outras povoaçoens da
Lusitânia, parte delles seguio a retirada
dos Alanos, ainda que a meu ver seriaõ
Embaixadores de Hermenerico.» Monar-
chia Lusitana, liv. 6, cap. 6. — « Depois
passando a Ceilaõ com o General Dom
Jeronymo de Azevedo, militou seis an-
nos, e foi capitão de íiuma Companhia,
aonde assim em famosa retirada de Mal-
vana, como em outras perigosas occa-
siões conseguiu muita honra não menos
de esforçado soldado, que de prudente
Capitão, como temos escrito na historia
daquella Ilha em tempo do Insio-ne Ma-
thias de Albuquerque, Viso-Rey'^que foy
dos Estados do Oriente.» Conquista do
Pegú, cap. 3.
RETIRADAMENTE, adv. (De retirado,
com o suffixo «mente»). Em retiro, livre
da commimicação da gente.
RETIRADO, part. pass. de Retirar.
Apartado.
— Remoto da frequência, e conversa-
ção da gente, escuso.
— Viver retirado ; viver fora dos tu-
multos do mundo.
— Pessoa retirada; pessoa que foge
de companhias, conversações. — « Sendo
moço, casou D. João de Castro com D.
Leonor Coutinho, sua prima segunda
maior na qualidade, que no dote: com
a qual retirado na Villa de Almada fu-
giu com anticipada velhice ás ambições
da Corte.» Jacintho Freire de Andrade,
Vida de D. João de Castro, liv. 4.
— Isolado, remoto, afastado. — «A cer-
ca do lugar não se pode dar regra certa,
porque a huns conuida pêra còtemplar o
bosque retirado, a outros o campo a ou-
tros moue o estar na Igreja, ou na celia,
a outros excita a mudança do lugai-, por
270
RETI
onílo, caila hum escolha o fine achar, pf)r
in.s|)irai;.ào diuiiia, que niaU lhe conuoiu,
c (lilij^oLitiuMinianicuti) [irccuro andar scm-
jirc, rccalliido dentn) de seu cijra(,'rio por
honi owtunie, ou no de.serto, ou no po-
uoado.» Frei Hartholonieu dos Jlartyros,
Compendio de espiritual doutrina.
As retiradas wiuias; quo vivem cm
retiro, fora da conp;ro^Mvào com m ou-
traa aves.
Coiieordos entrf si vorio aos Ares
Ali Bompre afcresti-s rcliraitao Águias.
Vivo co'o liObo o Lobo carniceiro ;
Da» fraga* juntos aalicm, juutos caminhão,
Dividiam entre si, si; o gado asialtào,
Com iguiil i)roporção cruento pasto,
j. A. DK mai;kdo, mkditaçÃo, cant. 3.
RETIRAMENTO, s. m. O retiro da con-
versai^rio, das companhias.
— A vida solitária, e crcmitica.
RETIRAR, V. a. (Do fraucoz retirer).
Fazer quo se deixe o ataque, ou o posto
onde estava, ou a batalha.
A esto o líoi Cambaico sobcrbissimo
Fortaleza dará na rica Dio,
Porque contra o Mogor poderoaiasimo
Lhe ajude a defender o seuliorio :
Deapoia iril com peito csforvadiaainio
A tolher, que não passe o Rei gentio
De Calecut ; que assi com quantos veio
O fará retii-itr de aanguo cheio.
CAM., Lfs., caut. 10 est. tí-t.
— « O que ouvindo hum daquelles bon-
zos, quo foram os princlpaos naquellc mu-
tim, c vcudo quo a gente se começava ja
a retirar pelo que tinha visto, tirou com
huma pedra ao santo homem, e disso,
quem u.ào lizor o que eu faço, a serpe
da noyte o trague no fogo.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. Olj.
— « Porque durando esta cuutumaz por-
fia até que se pôs a Lua que seria ás
duas horas despois da meya noite, em
que 03 mandou retirar, se achou polo
alardo que se fez ao outro dia que mor-
rerão vinte e quatro mil homens, a fora
mais de trinta mil feridos, de que des-
pois ao desamparo morreo outra quanti-
dade, donde nacoo aver tamanha peste
no campo, assi pela corrupção do ar, co-
mo porque a agoa do rio estava cheia de
sangue.» Ibidem, cap. Iii4. — «Ainda
que 03 seus companhcyros julgár."io que
era só medo o mal que tinlia, o retira-
rão como pedia, o não faltou outro que
quizessc descer em seu logar.» Cavallci-
ro de Oliveira, Cartas, Hv. 1, n.° 1.").
— Figuradamente : Cessar de conce-
der, privar de alguma cousa. — Retirar
a amizade. — Retirar sua proUcrão, c
esfima. — Deus retira as suas graais,
— Retirar a mão, o pé; tiral-o d'onde
estava posto.
— Retirar os luzimevtos ; fugir das oc-
casiões de luzir e brilhar, cvitivl-as.
Rim
— Retirar-se, v. njl. Apartar-se, de.^
viar-sc, «eparar-BO. — uUom esta Princo/.a
(quo por exccUencia chamarão a excellen-
tc Senhora) houve cm dote os Re.iuo.s de
(Jasteila, o Leaõ, e o direito, c pretensão
dellos com muitas inquietaçòe.'», c desaven-
turas para os do Pwtugal, que se vicraõ a
concluir naquella memorável batallia de
Toui-o, donde cl liei se retirou meio des-
baratado.» Frei Bernardo do Brito, Elo-
gios dos reis de Portugal, continuados por
í). José liarbosa. — ol''iii tamanho o medo
deste desbarato que o mesmo Rei de Ca-
lecut desesperado, e cij medo do lhe toma-
rem a artelharia que cstaua no baliuirte
que mandara fazer defronte do passo, a
mandou tirar dalli, o leuou consigo reti-
randose do campo como homem desbara-
tado.» Damião de Góes, Chronica de D.
Mauoel, part. 1, cap. H7. — a Que se os
Castelhanos se retirassem queixosos, fa-
cilmente os tornaria a trazer sua mesma
otlensa; que ainda que desbaratados do
mar, e das doenças, se os obrigassem a
condições injustas, maior força lhes fa-
ria o brio, que a necessidade em que
estavão.» Jaeintho Freire de Andrade,
Vida de D. João de Castro, liv. 2. —
« Retirou-se ElRey de Sião triumfante
com os despojos, o postos á mira do que
obraria o inimigo, com todo o desvelo
attcndia em o que previa lhe poderia ser
necessário, se os pactos lhe não fossem
observados.» Conquista do Pegú, cap. 13.
— « Se o senhor Conselheiro, quo tal vo-
ta, tivera o peito de bronze, tamanho
como o campo de Alvalade, dizia muito
bem, e duzentos peitos bastavaõ para
fortiticar, e defender Lisboa, e o Reyno
todo : mas he de temer, que naõ tomou
nunca a medida a peitos mais que de
perdizes, c galinhas, e que na occasiaõ
se retire, ou vá calçar as esporas, para
atar as cardas.» Arte de furtar, cap. 29.
Porém não julgues, que a maia longe ainda
De ti não possa rttirar-me: he Sirio
A maia chegada a nós, maia clara Eatrclla
De quantaa o cerúleo esmalte bordão.
J. A. DB UACEDO, A KATUBEZA, Caut. 1.
— Fugir, acolher-se. — «Retirou-se
com aquelles que o puderaõ seguir para.
a Cidade do Porto, onde fez nova massa
de gente, que lhe acodio de diversas
partes do Reino, mas como era a mais
delia de pouca experiência, em chegan-
do Sancho do Ávila com humas bandas
do cavalaria a poz toda cm fugida.» Fr.
Bernardo de Brito, Elogios dos reis de
Portugal, continuados por D. .losó Bar-
bosa.— «Trabalhos que passa. Prudên-
cia com que modera os seus. Esforço com
que peleija. Retira-se. Arrepende-se el
Rei de Candea. ^landa-lhe hum Jlcnsa-
geiro. Quor António Jloniz tornar. Os
seus o encontrão. Recolhc-sc a Armada.
O Hidalcào mauda sobre as terras firmes.
RETI
Retirílo-se do temor do» nosso». Manda
outra gente, e quer ellc vir. El Rei Aey-
ro proso em doa.» .laciíitho Freire de
Andrade, Vida de D. João de Castro, li-
vro 4. — « Hum gato, costumado j»or es-
ta molher ao mesmo mantimento do que
ella usava, a descobrio; levando a huma
caza da vizinhança huma mão humana,
e observando-se aonde o gato se retirava,
se dco subitamente na caza desta des-
graçada.! Cavalleiro de Oliveira, Cartas,
liv. 1, n.° 10. — « Commcrciou eni ne-
gros no Reyno de Angolla, e em (iuiné,
e retirou-se a c-ita Corte com duzentos
mil riorins.i- Ibidem, n." 17.
— No jogo, recolher a parada.
— Apartar-se de si, de conversar. —
Retirar-se da amizade.
— Ir para retiro, — < Aqui pois se
retirou à Igreja de S. Acisclo Martyr,
onde estudou em companhia de alguns
Christàos os Mysterios de no3.«a Fe, e
matérias tocantes à verdade delia, em
que aproveitou tanto mediante a graça
Divina que alumiava seu entendimento,
que de discípulo chegou brevemente a
merecer nome de Mestre, o foy ordenado
em Diácono, cò geral aprovação das pes-
soas que conheciaõ a inocciícia, e pureza
de sua vida.» Monarchia Lusitana, liv. 7,
cap. 15.
Maa a vãa Senhoria, que conhece
A quem aa ameaças se encamiobaõ.
Vendo, por este modo as mãoa atadas,
Para seguir o empenho começado,
A carpir, se retira. n'um deserto.
Sua grande desgraça, envergonhada.
DINIZ DA CBCZ, nYssoPE, cant. 8.
RETIRO, s. «1. Lugar retirado, remo-
to, livre dos reboliços do mundo, ermo,
deserto. — «E está tão fi')ra de se apro-
veitar com estas execuçoens, que executa
nellas sua perda, e de seu Reyno total
ruina. Exemplo temos de tudo na Mo-
narquia de Castella, cujo Rey porque
gastou quinze ou vinte milhoens, se naõ
foraõ mais, nas supertiuidadea do Retiro,
os acha menos agora, quando lhe eraõ
necessários para os apertos, cm que se
vê.» Arte de furtar, cap. 15.
«Tudo o que vèa, e o que não vês he Jove.»
Mas foste Portnguez, teu crime he eatc.
Porque ao berço íijuntaste enpfnlio, estado,
E na ^-ida civil, retiro, e honra.
J. A. DE MACEDO, VIAOEM EXTATiai, Cant. 2.
— « Assim vivem contentes no seu re-
tiro, custando muito a unia, que se acha
casada, griínde diligencia para admittir
o estado e largar su.as irm.às.i Bispo do
(irão Bará. Memorias, publicadas por Ca-
millo Castello Branco, pag. 209. — «Já
ficam presos e rcmettidos p.ara a fortale-
sa da cidade dois dos culpatlos, c um,
quo é dos principacs, fugiu para o mat-
to; mas nem os seus .ânuos permittem
RETO
RETO
RETO
271
sofiÊrer muito tempo o retiro, nem outras
pessoas, que se metteram ao interior,
sào capazes de subsisth.- n'elle.» Ibidem,
cap. 212.
RETO, «. m. Vid Repto.
Vendo alçar-se da terra os negros vnltos,
Arranca da brilhante Darindana,
E o capote traçando velozmente,
Põe-âe no reto. parte, atira um furo.
Faz pé atraz •, mas tropeçando acaso
N'um podengo, que á força de pedradas,
Os travessos rapazes tinhào morto,
De costas se estendeu na dm-a terra,
Coberto de vergonha, esterco, e lama.
DIXIZ DA CKUZ, HVS30PE, Caut. 8.
— Vid. Reto, no jogo da espada.
— Loc. ADVERBIAL: A TetO] em direc-
ção recta.
— A reto; a eito. direito.
RETO AR, V. a. Vid. Reptar.
7 RETOCADO, part. pass. de Retocar.
Tocado ue novo, tocado segunda vez.
RETOCADOR, *•. m. Termo de ourive-
saria. Instrimiento de ferro que serve
para tirar a rebarba do ouro.
RETOCAR, V. a. Tomar a tocar, tocar
segunda vez, tocar de novo.
— Corrigir, reformar, aperfeiçoar. —
Retocar um quadro.
— Retocar a pintura; aperfeiçoal-a de
algum ligeiro defeito, aperfeiçoal-a me-
lhor depois de mettidas as cores ; emen-
dar o defeito que o tempo, a velhice, ou
outro accidente lhe cansou.
— Figuradamente: Retocar o poema;
aperféiçoal-o, limal-o.
RETÓÇAR-SE, v. refl. Vid. Retouçar-se.
RETOLO, s. m. Vid. Rotulo.
■j- RETOMADO, jmrt. pass. de Retomar.
Tornado a tomar, recobrado.
RETOMAR, V. a. Termo de náutica.
Tornar a tomar, recobrar.
RETOMBAR, v. n. Vid. Retumbar, me-
lhor orthographia.
— • Cair de novo, cair segunda vez, re-
volver-se.
RETOQUE, s. m. A acção de retocar.
— Ultima demào que o pintor dá á
sua obra para a aperfeiçoar, ou á obra
de um discípulo para corrigir o que esta
tem de defeituoso, ou supprir o que falta.
RETORÇÃO, s. m. Acto de retorquir,
ou de virar contra outro o argumento,
ou o mal que elle nos quer fazer. — Os
dilemmas inconqjhtos dão lagar muitas ve-
zes a uma retorção.
RETORCEDURÃ, í. /. Volta da cousa
retorcida.
RETORCER, v. a. Tornar a torcer, tor-
cer de novo, torcer segunda vez. — Re-
torcer uma perna.
— Retorcer as cousas, e retornal-as
alijuem para si ; forçal-as a servir a seu
proveito, intentos, desenhos, etc.
— Retorcer a lança; fazer que torne
contra a parte d'onde foi an-emessada.
— Retorcer linhas. Vid. Torcer.
— Retorcer o caminho; não ir por ca-
minho direito, serpear.
— Figuradamente : Trazer, applicar
forçadamente, e contra sentido a razão.
— AUudir, apontar indirectamente.
— Retorcer o caminho pelos próprios
passos; tornar por onde veio.
— • Retorcer os ollws para a cidade;
voltal-os para ella.
— Figuradamente: Retorcer os gostos;
rechaçal-os, desvial-os a fora, a longe de
si, repellil-os.
— Retorcer os olhos; envesgal-os dan-
do provas de aversão.
— Retorcer os argumentos. Vid. Re-
torquir.
RETORCIDO, part. pass. de Retorcer.
Que nào está em linha recta. — Concha
retorcida.
Da ÍSatureza o Interprete Eomano
D;i-lhe a justiça, dá-lho a probidade,
Raríssima wtude entre os hmnanos.
Da enorme frente do animal á terra
Desce volúvel, enroscada tromba,
Cruzào-se os alvos dentes retorcidos,
Que o negro Caçador da Xubia assastão.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Cant. 3.
— Palavras retorcidas; palavi-as nas-
cidas de ânimos incrédulos.
— Estylo retorcido ; estylo de cons-
trucção crespa, áspera, e não fácil.
— Que se serve de imi estylo retorcido.
— Rebatido.
— Que volta arremessado para d'onde
se atirou.
— Com o corpo voltado, torcido a um
lado.
— ■ Olhos retorcidos ; olhos revirados,
em signal de aversão, reprovação ou in-
veja.
— Palavras retorcidas do seu sentido
natural; palavras tildadas á força para se
applicarem forçadamente.
— Linguagem retorcida; a sua cons-
trucção com inversões e coUocação não
portuguezas.
— Cabello retorcido ; cabello revolto,
encarapinhado á maneii'a dos pretos e
de alguns mulatos, que os não tem lizos,
e estirados, mas naturalmente crespos
á maneira de lã de ovelhas.
— Canaes retorcidos ; canaes em vol-
tas, não direitos.
RETÓRICA, s. /. Vid. Rhetorica.
RETORNADO, part. pass. de Retornar.
Termo antiquado. Voltado, regressado.
— Revirados, — Beiços retornados.
— Convertido, ou equipollente.
— Retornado em sua saúde; restituído
a ella,
-j- RETORN AMENTO, s. m. Retomo,
volta.
— Paga, satisfação ou recompensa do
beneficio recebido.
RETORNAR, v. n. (De re, e tornar).
Voltar, regressar. — Retornar a Portu-
gal.
Quebra os ferrolhos de diamante, e dentro
Sentranha nos abysmos, e retorna
A vêr de novo o Ceo. Do Hidaspe, e Gange
As margens corre, pelos I?einos voa
Da molfeza, e dorgulho, e vai mil vezes
Pa33i'ar sobre o íris, e contempla
Desde o curvo Listão, da chuva, e gelo.
J. A. DE MACEDO, A SATUREZA, Caut. 1.
— Retornar a si; cobrar animo, recu-
peral-o.
— Retornar á vida; reviver o mori-
bundo, o mprto, ou o que tem accidentes
mortaes, epilepsias,
— Tornar a si de algum desmaio.
— V. a. Tornar, ou fazer tomar.
— Dar ás cousas o geito que é ntil
a quem as retorna, dar-lhes uma volta
conveniente e proveitosa.
RETORNELLO, s. m. Termo de musica.
A parte da ária que se repete.
— Termo de poesia. O verso que se
repete varias vezes, no fim de cada ins-
tancia.
RETORNO, s. w. A fazenda que se
traz em troca da que se leva para com-
merciar. — « P. Quanto dinheiro vos deo
ElRey de Ormuz, e Rax, e Xarrafo ?
R. Xào me deram nenhum dinheiro, se-
não peças de ouro, e prata, -que poderiam
valer três mil cruzados, de que logo hou-
veram seu retorno de minha fazenda,
que bem valia o que me deram, e mais.»
Diogo de Couto, Década 4, liv. 6, capi-
tuleis,
— Golpe dado a quem nos feriu.
— Fazer retorno ; recompensar, remu-
nerar,
— Besta, sege de retorno ; besta, sege
que torna de vazio para casa do dono,
e que em regra se aluga mais commoda-
mente.
— Troco de dinheiro.
— O que se dá em permutação, re-
compensa, e agradecimento de outra da-
diva.
— Recompensa, reconhecimento, grati-
dão.
— Termo de náutica. A parte de qual-
quer cabo, cuja direcção primitiva, sen-
do perpendicular, ou obliqua, passa por
mu moitão, a que se chama retorno, ou
por meio de papoidas, a gyrar na direc-
ção horisontal, para na sua manobra se
poderem empregar maior numero de bra-
ços, e por tanto maior força ; o dito cabo
sahindo do ultimo moitão do apparelho é
aonde se emprega a gente que puxa, e
ao moitão lhe chamam moitão de retorno.
f RETORQUIDO, part. pass. de Re-
torquir. — Argumento que não pode ser
retorquido.
RETORQUIR, r. a. (Do latim retorqui-
re). Emprecar contra seu adversário as
razões, os argumentos, as provas de que
elle se serviu. — Retorquir um argumen-
to. — Retorquir um raciocinio. — Retor-
quir tima prova.
— Retorcer.
272
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RETORSÃO, >.f. Vid. Retorção.
RETORTA, í. / A iiaito curva iio ba-
go j.astcral.
— Tiiniio (lo cliimica o th' pharmacia.
Vaso (lo vidru (iii haiTo, com bojo, com
um cano retorcido para baixo.
— Áilj. f. — Mourisca retorta ; danf;a
antiga.
f RETORTEIRO, .«. m. Ilnnicm que i:\7.
retortas.
Ao relorteiro U' trazem
("om albiirdit o sem cabresto;
S(í iiiettcin todos geu resto
Nas afrontas que te fazem.
F. R. LOnO SOHOPITA, POESIAS K PROSAS
INÉDITAS, pag. 130.
RETORTO, A, adj. (Do latim refortus,
do retorquerc\. Curvo para a parte infe-
rior.
RETGSAR. Vid. Retouçar.
RETOSTAR, i-. a. (De res, o tostar).
Repetir os tostes, ou brindes, :i inglc-
za. Vid. Tostar, depois da mesa levan-
tíida.
RETOUÇAR, V. a. Toucar outra vez,
toucar de novo.
— Retoucar-se, v. ref. Toucar-se de
novo, toucar-se .segunda vez.
RETOUÇADOR, Á, adj. Retoução.
RETOUÇÃO, ÔA, adj. Turbulento, in-
quieto, bulc-bule. — Animal retoução ;
retou(;ador.
— Que foz movimentos descompostos
com a aletrria.
RETOUÇAR, V. n. Espojar-se por brin-
co, lallando do cão, do eavallo, brincan-
do, afagando. — O (jado retouça.
— Retouçar-se, v. rejl. Não parar om
\va\ logar. andar correndo, brincando.
RETOUÇO, s. in. A acção de retou-
çar-se.
RETRACÇÃO, s. /. (Do latim retractio,
de retrahere, de re, e traho). Termo de
anatomia. O puxar, dobrar para traz.
— ^1 retracção do prepúcio; a con-
tracção d'ello, o encolhimento.
— Diz-se também : Retracção do braço,
da perna, etc.
RETRAÇADO, parf. pass. do Retraçar.
Cortado, rcbutado como retraço.
— Figuradamente: Deixado como i-e-
traço, desdenhado.
— Termo de botânica. Folhas, raízes
retraçadas; retrahidas para traz.
RETRAÇAR, v. a. Cortar, e rebutar
como retraço,
— Figuradamente : Deixar como re-
traço, e desdenho.
— Picar a traça, ou outro insecto a
roupa, pai>eis.
— Retraçar-se, r. refl. Retrazer-sc, rc-
colher-se, retirar-se para se agasaliiar.
RETRAÇO, s. «1. O sobejo da palha
que as bestas rejeitam, ou esperdiçam
comendo.
— Desprezo, nenhum apreço, desleixo.
— Figuradamente : Cousa de que se
não faz cano.
— Adagio:
— ] >e tal jiolaço, tal retraço.
RETRACTAÇÃO, .•>./. (i>o latim retracta-
tio;. .Acto, (li>cnrso ou escripto contendo
a desapprovação formal do que ne fóz,
se disso ou 60 escreveu precedentemente.
— Fazer uma retractaçào. — Uvta re-
tractação puldica. — Obri(/ar alguém a
uma retractaçào. — Retractação sincera.
RETRACTADO, pari. pa.ss. de Retra-
ctar. 1 )es;ipprovado expressamente, des-
dito.
RETRACTAR, r. a. (Do latim retracta-
re). Dosapprovar expressamente.
— De.ídizcr-.se do qualquer erro que
se defendia.
— Tornar a tratar do mesmo objecto.
— Retractar-se, v. rejl. Reconhecer o
erro, de.sdizer-se.
— Vid. Retratar, que diverge.
— Syx.: Retractar-se, desdizer-se.Wà.
esto voealiulo.
f RETRACTIL, adj. 2 gen. (Do latim
ntractilis). Termo de zoologia. Diz-se
das unhas, quando a phalange que as
supporta é articulada.
-j- RETRACTILIDADE, s. /. Qualidade
de uma parte (jue é retractil.
RETRACTIVEL, adj. 2 gen. Que se re-
tracta, (iiie se deve ou se ptkle retractar.
RETRACTO, .'. m. Vid. Retrato.
RETRAER, ou RETRAHER, r. a. Termo
antiquado. Vid. Retrahir. — « Porque
naquella parte o ribeiro tinhp. umas con-
cavidades altas, que as cheias de muitos
annos fizeram, ao tempo de retraer, poz
os pés na borda daquella altura, e cor-
rendo a terra com elle caiu no fundo do
barranco, dando tão gram pancada com-
sigo nas pedras, que em baixo estavam,
que com ella foz fira a seus dias, e pen-
samentos.» Francisco de íloraes, Palmei-
rim de Inglaterra, cap. 107.
RETRAGUARDA. <=. ./". Vid. Retaguarda.
RETRAHIDO, part. pa.ts. de Retrahir.
Retirado, puxado pai-a traz.
— Recolhido, escondido no mais oc-
culto.
— Reprehendido, notado, murmurado.
— Encerrado, ]ircso.
— Que anda retirado em sua casa, ou
camará, e não recebe visitas.
— Homem retrahido ; homem reserva-
do, que uào di/. francamente o que pensa.
RETRAHIMENTO, s. m. Acção de se
tornai- a tirar o que já se tinha promet-
tido, concedido ou dado,
— O logar retirado, e interior da casa.
— Solidão, logar solitário.
— Reserva de pensamentos secretos.
— Uotirada.
RETRAHIR, r, a. (Do latim retrahere).
Retirar, fazer voltar atraz.
— Recolher, esconder no mais occulto.
— Retrahir alguém d^ alguma cousa;
tiral-o, impcdil-o delia.
— Fazer tomar para donde saiu,
— Retrahir a pr'i/mefsa; tornar atraz
com a palavra, não a cumprir.
— Retrahir-se, r. rejl. Ríícuar, ir-«o
retirando, c talvez largando o chimpo, ou
porto ao inimigo.
— Recolher-se a sua ca^a, au>:cntar-Be
d'onde estava.
— Recolher-se ao interior ou ao retiro,
e longe da frequência e da conversação.
— Fazer retirada.
RETRAIR, i. a. Vid. Retrahir.
RETRAMAR, v. a. Tramar de novo,
traiii;ir novanicnte.
RETRANCA, s. f. (De retro, c anca).
Correia que cerca a alcatra das bestas,
prcndendo-se os dons extremos na parte
posterior da sella. — « Os estribos eam
cnnio ari(;avcÍ3 de bestas do tempo anti-
go, porem de mais ferro: e ho freo he
quasi ginete e do menos ferro, com ca-
beçadas estreytas e retrancas, c peytoral
tiuio pespontado, e dellcs pintados de
azul e de óleo, de que alguns trazem as
sellas, e nas ancas dos cavalos trazem
huns xareis de seda ou borcadilho que
lha cobre toda, com forçadura de retruz
de cores.» António Tenreiro, Itinerário,
cap. 17.
— Termo de náutica. Verga com boc-
ca de lobo dada ao mastro da mezena,
logo por cima do bordo, e em cujo exte-
mo opposto, saliente á popa, caça a drai-
na mezena, ou veia grande latina, des-
cança sobre um fruquete dado na face
superior da grinalda da popa.
— P/((r. fiadeiros do berço, que ser-
vem de cont r os chassog dos prodicos no
logar detcrmirado pela parte de fora.
•j- RETRAPOLES, 5. m. Monstros fabu-
losos.
Qu(" eu vejo por outras portas
uns liõos, uns retrapolet
da cidra ciuo matou Hercolles,
uuias buzaranhas tortas.
Axroxio PRESTES, ACTOS, pag. 33.
RETRATADO, part. pass. de RetraUr.
Copiado por meio de pintura.
— Representado em sombra a imagem
de qualquer debuxo, painel, figura, pai-
zagem.
— Figuradamente : Descripto.
— Reproduzido.
RETRATADOR, A, í. Pessoa que faz
retrates.
— Kmprega-se também no sentido fi-
gurado
RETRATAR, f. <j. Fazer cm pintura
a semelhança de qualquer pessoa, ou ob-
jecto.
— Retratar algucm ; tirar a sua ima-
gem, (ui figura pint.indo.
— Figuradamente : Descrever. — «Com
tanto que me nào retrates, fala ou berra
quanto quiseres. Xào cuides que jx»r ser
inimigo de Italianos, equivoco a palavra
RETll
RETR
RETR
273
com o balido. Nesse caso nào me esque-
ceria de comparar a tua com o ziirix».»
Cavalleiro de Oliveira, Cartas, 1í\t:o 3,
u.? 16.
Os pincéis de hl Bnim nào são mais fortes.
Quando as batalhas de Alexandre pinta,
Se no duéllo de Tancredo e Argantc
0d;03, fiirias, amor retrata, c mostra.
J.'A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 2.
Entro 03 quadros, Buflfon, que a par te Icvão
Dos quasi divinacs pincéis d'Urbino,
Quanto me assombraõ carregadas cores,
Com que retratas o Coador terrível,
Das negras serranias assomando.
Que o longínquo Acapulco em torno assombrão !
Co' as azas veda o Sol, e immensa espalha
Pela extensa campina infausta sombra.
IDEM, MKDITAIJÃO, Cailt. 3.
A'ós, alto rei, não digo de estatura,
digo do coração, digo do braço,
que em vós novo Alexandre nos retrata.
tardaãtes em cUe^gar, porque a ventura,
preguiça do Brazil com tardo passo,
o que mais se deseja mais dilata.
BISPO DO GBÃO PARÁ. MEMORIAS .
— Figuradamente : Retratar em si ; li-
mitar, arremedar, fazer o que outro faz.
A Cândida Açucena se debruça
Xa clara fonte, e nella se retrata.
1. A. DE MACEDO, SATLBEZA, caut. 1.
— Copiar pintando.
— Representar em sombra a imagem
de qualquer debuxo, painel, iigui-a, pai-
zagem.
— Retratar-se, i'. rejl. Fazer o seu
próprio retrato.
— Figuradamente : Vêr-se e revêr-se.
De beHeza inunortal hum raio asaóma
Nas tuas producções. Tu te retratas
Na inteira creaçào desde o momento
Em. que chamaste do confuso Nada
A vasta Natureza ; e que t^eu braço
Ao tenebroso horror marcou limites.
J. A. DE MACEDO, A SATUBEKA, Caut. 1.
De bclleza immortal um i-aio assoma
Nas tuas producções. Tu te retratas
Na inteira Creaçào desde o momento,
Em que o teu dedo omnipotente aos Astros.
O Creador Geômetra Divino,
Assignalára as órbitas no espaço.
Onde se agitào, se revolvem Mundos,
Além do qual somente, ó Deos, existes,
E tudo em tua immensidado fechas.
IDEM, MEDITAÇÃO, CaUt. 1.
— Reproduzir-se a imagem.
— Vil. Retractar, que diverge.
RETRATISTA, s. 2 ,jen. Pessoa que na
pir.tura se applicA especialmente a tirar
retratos.
— Rctratador, pessoa que faz retra-
tos.
RETRATO, s. m. A pintuia em que se
imita, e representa a imagem, ou figura
YOL. V. — 35.
de alguma pessoa, ou cousa. — «Louua-
mosllie tanto amor, e fidelidade, c com
razào, porque os 3Iom"os aborrecem os
retratos, c por nenhum modo os cõsen-
tem em suas casas, pelos terem por agou-
ro.» Fr. Gaspar de S. Bernardino, Itine-
rário da índia, cap. 12. — « Foi el Rei
D. Filippe de meà estatura, mais sobre
pequeno, que grande, de presença grave,
e respeitada, teve a testa grande, os olhos
formo-íos, e azues, o nariz bem tirado,
a boca grossa, e corada, com o beiço de-
baixo derrubado, a barba bem composta
e loura: seu retrato se tirou em idade
de sessenta e oito annos.» Fr. Bernardo
de Brito, Elogios dos reis de Portugal,
continuados por D. José Barbosa. — «Foi
o Conde homem grande de corpo, de pre-
sença alegre, e venerável, teve o cabei-
lo louro, e os olhos azuis, como diz sua
Historia, e o mostra hum retrato de illu-
minaçào antiga, que temos em huma Bí-
blia de maõ antiquíssima, onde na primei-
ra folha do Prologo está a figura do Con-
de armado de armas brancas, e ordina-
riamente o pintaõ com a coroa de louro,
que por naõ ser Rei, e ser tào victorloso
o fazem assim.» Fr. Bernardo de Brito,
Elogios dos reis de Portugal, continua-
dos por D. José Barbosa. — o Ainda hon-
tem vi himi retrato da Conddça Aurora
feito por elle ao qual nào falta mais do
que a fala, e do que a razào.» Cavallei-
ro de Oliveira, Cartas, liv. 1, n.* 22, —
« Porem eu que tenho a fortuna de co-
nhecer a Princesa, tenho a infelicidade
de ver este retrato, que durada posso
ter em segurar a Y. A. que a copia se
parece ao original, assim como huma Es-
trcUa se parece a huma Lagarticha, e as-
sim como o sol se parece a hum Cachim-
bo"? A neve, e o azeviche estào para so-
nhar, e para se parecerem melhor do
que se parece a Princesa ao seu Retra-
to.» Ibidem, liv. 3, n." 15.- — «Pergun-
tas-me o que acho no retrato? Soponho
que queres que te diga. Nada. Pois mes-
mo te digo. Nada acho no retrato porque
nada acho nelle do original. Original !
dises tu agora : em que me fala este ho-
mem"? Eu sey que cousa he original, ou
meti-me algum dia em semelhantes de-
buxos'?» Ibidem, n." 16. — « Em outras,
a cabeça de huma iíagestosa Slatro-
na armacia com hum capacete, era fi-
gura de Roma. insigne em taõ glorio-
zas batalha-s. Nas que Júlio César man-
dou bater, se via de huma parte o seu
retrato, e da outra a cabeça, de Marte;
para mostrar, que desta deidade (ainda
que mentida I bellicoza, trouxe o Povo
Romano a sua origem ; e daquella Ma-
gestade Cesárea, o seu império, e o seo
explendor. » Braz Luiz d'Abreu, Portugal
medico, pag. 157. — «Estando uma noi-
te t^qual estas) em Flandes, em certa
casa, onde assistiam grandes pe.ssoas, foi
um dos circunstantes tão pouco adverti-
do, que tirou o retrato de sua mulher,
para o mostrar aos outros.» D. Francis-
co Manoel de MeUo, Carta de guia de
casados,
— Pintura em verso, raras vezes em •
prosa, das feições de uma pessoa.
— Figuradamente : Fiel copia, ima-
gem.
Aonio commovido
Lhe disse enternecido :
Ay formoza memoria.
Eetrato de huma gloria.
Esse possuí tào breve,
Neve ao sol, fumo ao ar,- ao vento neve.
BAKB. BACELtAB, SAUDADES DE AOXIO.
— Modelo, exemplo.
— Syn. : Retrato, ejfigie. Vid. este ul-
timo vocábulo.
RETRATTAR, r. a. Vid. Retratar.
E as vivas rosas, que das faces fogem :
Pela ferida os borbotões se esvaem.
Cos innocentes filhos abraçada,
Nào geme, nào suspira ; a beijos colhe.
Uma a uma. as feições que tanto ao vivo
As do querido amante lhe retrattam.
0.1BBEIT, CAMÕES, cant. 7, cap. 24.
-j- RETRATTO, s. m. Vid. Retrato.
O refratfo... Oh ! jamais não será ditto
Que em pontos de honra e generoso brio
Fique Luiz de Camões de outrem vencido.
Guardae-o vós, senhor, gnardae-o : .é vosso;
A um inimigo tal amor o cede.
G.vKRKTT, CAMÕES, cant. 9, cap. 14.
f RETRAUTADO, jmrf. paíí. de Re-
trautar. Vid. Retractado. — «Em tal
caso Mandamos, que tal remataçom assi
feita per authoridade e especial manda-
do da Justiça, nom possa seer mais re-
trautada, nem desfeita em algum tempo
por razom do fallimento do justo preço. »
Ordenações Affonsinas, liv. 4, tit. 45,
§ 10,
RETRAUTAR, v. a. Vid. Retractar.
RETRAZER-SE, v. refl. Recolher-se, re-
tirar-se do combato.
— Retrahir.
— Fazer pé atraz.
RETREMER, r. n. Tremer segunda vez,
tremer de novo, — Retremer a terra.
RETRETA, s. /. Recolhimento á hora
de dormir, o toque que se dá para este
fim.
— Loc. MiLiT.iK : Tocar a retreta ;
tocar a recolher.
RETRETE, s. m. Do francez retraife).
Aposento interno, e o mais recolhido, na
parte mais secreta da casa.
— Moça do retrete : moça que serve
na camará, e no interior.
— Commua, secreta.
— Plur. Figuradamente: Os esconde-
rijos, segredos Íntimos. — 0$ retretes do
coração.
RETRIEUIÇÃO, í. /. Salário, recom-
274
RETR
penea do trabalho que m faz, <la jKma
que 86 tomou por alfíumii ou do Hervi<;o
quo 80 lhe proítou. — Retribuição %»-
tima. — Retribuição ronvrnicui,', /loiwatu.
— Kula ari-dii mnrecu retribuição.
-j- retribuído, pari. pua», do Retri-
buir. lil'.CMlU|H!IlSailo.
— Dado «'III paíía, om recompensa,
RETRIBUIDOR, A, «. Pessoa que retri-
buo.
— Recompensador.
— PiMsoa que í,'osta de recompensar.
RETRIBUIR, i'. (í. lOo latim retriòuere).
Dar a alf^ucm o salário, a rccouípcusa
que merece. — Retribuir cunvenienUmenU^
— Dar em )ia;ía, recompensa. — «<>
primeiro, ho dcseouhecimento, ou esque-
cimento do beneficio. O segundo, he dis-
simular o beneficio, nam querendo por
elle dar graças, e louuores, e pior seria
se chogasso tè o desprezar, e vituperar
com a llngoa. O terceiro grão, he nam
retribuir com a obra, podendo e oíFro-
cendose lugar, e tempo : o pior seria se
retribuísse mal por bem.» Frei Bartho-
lomcu dos Martyi'C3, Catecismo da doutri-
na christã.
f RETRILHADO, part. pass. de Retri-
Ihar. Trilhado segunda vez, trilhado de
novo.
RETRILHAR, v. a. Trilhar de novo,
trilhar segunda vez.
— Ir pela mesma estrada, pelos mes-
mos passos.
— Figuradamente : Relrilhar os cami-
nhos da virtude; tornar a elles.
RETRINCADO, parf. pass. de Retrin-
car. Tornado a trincar, trincado segunda
vez.
— Malicioso, cavilloso, muito dissimu-
lado. Yid. Trincado.
RETRINCAR, r. a. Tornar a trincar,
trincar do novo.
— Figuradamente : Tomar as palavras
e acções de alguém maliciosamente, in-
tcrpretal-as em mal.
RETRINCHEIRAMENTO, s. m. Yid. En-
trincheiramento.
1.) RETRO. Palavra latina que entra
em muitos termos compostos, e que si-
gnifica atraz, para traz,
2.) RETRO, s. M. — Vender a retro;
vender alguma cousa, com pacto de que
o vendedor, ou denti'o de certo tempo, ou
a todo o tempo que quizer o possa res-
gatar, tornando o preço que recebeu.
RETROACÇÃO, e. f. Acçào de uma cou-
sa cujo poder ou influencia remonta ao
p.ossado.
RETROACTIVAMENTE, adv. (Do retro-
activo, com o suftixo «mente»). De uma
maneira retroactiva.
RETROACTIVIDADE, í. /. Qualidade do
que ó retroactivo. — .íl retroactividade
de uma lei.
RETROACTIVO, A, adj. Que obra para
traz. — Utn e [feito retroactivo. — luso
opera por um efeito retroactivo. — As leis
RKTR
não devem ter effeifo retroactivo. — Ne- 1
nhum poder nntuml nem solirenntural pu-
de justificar u effeit^) retroactivo d'aliju-
ina lii.
RETROAR, V. n. Tornar a troar, troar
segunda vez, troar de novo.
■ — Itellrctir a troada em eclios, ou sons
tais mui furtes.
RETROCADOS, «. m. plur. Espécie de
adorno e guarniçrio antiga mis bordadu-
ras.
RETROCEDENTE, parf. act. de Retro-
ceder. C/ue retroce.de, (|ue torna atraz.
— Que cede, qu •. nào continua.
— <^>ue rctriigrada, que desanda.
RETROCEDER, r. n. (Do latim retro,
e c.edere). Tornar atraz ou j)ara traz an-
dando.
— Termo de jurisprudência. Ceder por
um novo acto algum direito que se tinlia
adquirido por transporte, c que se dá
áquelle de (|uem se tinha recebido.
— Descontinuar no intento, na reso-
luç.1o.
— Retrogradar, ragressar, desandar.
— SvN. : Retroceder, recuar, retrogra-
dar.
Todos estes verbos exprimem a idêa
do voltar ou andar para traz, porém ca-
da imi d'elles com sua eircumstancia par-
ticular, i) que retrocede volta para traz
no que tinha andado ou adiantado. ()
que reciia anda para traz sem voltar o
rosto para essa parte. O que retrograda
volta para traz, ou retrocede pelos mes-
mos passos, ou graus.
O quo segue seu caminho, e n'elle en-
contra um obstáculo que o nSo deixa ir
por diante, retrocede, ou seja pelo mes-
mo caminho, ou por outro. Segundo a
etiqueta antiga do paço, o que entrava
a el-rei tornava recuando. lieciía a sege,
o carro, a peça de artilheria. Eetrogra-
davi os planetas na ecliptica ; retrogradam
03 estudos, as bellas-artes com as guer-
ras e invasões inimigas ; retrogradou a
sombra no relógio de sol do Achas,
RETROCEDIDO, part. pass. de Retroce-
der.
RETRO CEDIMENTO, í. m. Yid. Retro-
cesso.
— Regresso, tornada, volta do torna-
di^-o,
RETROCER, r. a. Yid. Retorcer,
RETRO CESSÃO, s. f. Termo de juris-
prudência. Acto pelo qual se retrocede.
— Termo de medicina. Aeto de voltar
para traz, para dentro, fnllando de uma
doença, cujo transporte se faz sobre um
órgão interior. — A retrocessão de tim
exanthema.
-{■ RETROCESSIVO, A, adj. Termo de
jurispru'leucia. Por onde se opera uma
-retroeessào. — Acto retrocessivo.
RETROCESSO, ,<;. m. Do latim ivtro-
ccfsuí . A aeçào do retroceder, de andar
para traz.
RETROCHAR, v. a. Yid, Retrucar,
RETR
RETROGRADAÇÃO, ». /, (Do latim re-
trofiradiitiiij fie retnjgradare''. Morimento
retrogradn, movimento para traz.
— Termo de astronomia. Aeçilo de re-
trogradar, isto é, de ir contra a ordem
dos signos zodiacaea. — A retrogradação
de Júpiter.
— Diz-se também o movimento dos
equinoxios. — A retrogradação do» pon-
tos eqniiwxiaes vem de que o$ poloi da
terra giram do oriente para o oceidenté
em roda dos poios da ecliptica n'um cír-
culo de cerca de 47 grau» do diâmetro.
— Figuradamente: IVIwiida, tendência
politica em virtude da qual se procura
estabelecer um passado incompatível com
o presente.
— Termo de mechanica. Acçlo pela
qual um corpo se move «-m sentido con-
trario díi sua direcção j)rimitiva.
RETRO GRADADAMENTE, adv. Andan-
do para traz.
— Emyirecra-se também figuradamente.
RETROGRADADO, part. pats. de Retro-
gradar.
RETROGRADAR, v, a. iDo latim retro-
qradm-r. de retrogradus). Desandar, an-
dar para traz, — O exercito foi obrigado
a retrogradar.
— Seguir uma ordem retrograda,
— Termo de astronomia. Mover-9« con-
tra a ordem dos signos zodiac^ies, isto i-,
de oriente a occidente. Ha cometas qoe
sào rotrogados.
— Diz-se que os pl.anetas retrogadam
quando o movimento da terra, mais rápi-
do que o íelles, faz p.ireccr que andara
para traz, contra a ordem dos signos.
— Figuradamente : Perder o que se
tinha adquirido, e aprendido.
— Figuradamente : Este esfaMecimen-
to, no tjual se tinham fundado tão grandes
esperanças, nào faz »er»5o retrogradar. —
Quando se não avança nas artes, retro-
grada-se. — A fortuna e a gloria re-
trogradam, quando se não pode avançar
mais.
— Fazer voltar atraz.
— SvN'. : Retrogradar, retroceder. Yid.
este ultimo vocábulo,
RETROGRADO, A, adj. (Do latim re-
troqradusi. Que anda para traz. — Mar-
cha retrograda. — Ordem retrograda.
Miserandas catástrofes o» thronos
DeixÃo no abatimento, oiii cinzas deixam ;
E SC bra(;o escondido As Monarqui«s
Fixa o tiTuio da filoria, o da rutua.
Das luzOJ a fluxãcí tinibom suspendo.
Sou pcrenno fiU^r convortc oní sombra.
Em seus passos, retrntjrtuio caminha
Para o bárbaro estado o cngciibo humano,
Dec.aho TIomauo Imporio, as ArtfS áudio
Aos Brutos, aoç Catr>os, a TuUio, a Cosftf,
Snocodp a oscr»\-idiio. succedom trívas.
J. A. DE MACEDO, VEDIT.VÇÃO, Mnt. 1.
— Termo de mechanica, .Vcção pela
qti;il um corpo se move em sentido con-
trario da sua direcçSo primitiva.
RETR
RETU
REUX
— Phrases, versos retrógrados ; plu-a-
ses, versos que apreseiatani os mesmos
tei-mos, quando se lêem pelo avesso.
— Figuradamente : Que quer restabe-
lecer o passado. — Uma medida retro-
grada.
— Termo de mineralogia. Diz-se de
uma variedade de cal carbonatada, cuja
expressão encerra dous decrescimentos
mixtús, que sào taes, que as faces que
resultam d'elles parecem retrogradar do
lado opposto ao que considera a face em
que nascem.
— Fallando dos corpos celestes, e do
movimento dos equinoxios : Que vai ou
parece ir contra a ordem dos signos. —
O sol e a lua nunca são retrógrados. —
«Em falando de Aspectos, de Physiouo-
mias, de Quadrado, de Oposiçoeus, de
Conjuneçoens, de Retrogrado, de Signos
Zodiacos, e de Casas Celestes, tem con-
seguido o seu intento, fasendo com que
por estah palavras se formem grandes
ideaa da sua doutrina.» Cavalleiro d'01i-
veií-a, Cartas, liv. 3, n.° 11.
RETROGUARDA, s. f. Vid. Retaguarda.
RETROITAR, r. a. Termo antiquado.
Contrariar, contradizer, impugnar, tor-
nar ao principio, e averiguar a causa
com a maior esacção, e pelos seus prin-
cipios. — «Quero o testado do dito pro-
cesso, e da dita sentença, para aver con-
selho, para retroitar, e empunar, e poer
meu direito contra tudo.» Eluc, de Vi-
terbo.
RETRÓS, ou RETROZ, s. m. (Do fran-
cez retrós u Fio torcido de seda, de dous
ou três fios, mais delgado que o torçal . —
«As botas e çapatos ricos, sam de fora
cubertos de seda de cores, atorcelados
de cordões de retrós, de obra muito ga-
lante, e ahi botas de dez ci-uzados, ate
de cruzado, e çapatos de dous cruzados
e dabi para baixo, e em algumas partes
ha çapatos de meo real.» Fr. Gaspar da
Cruz, Tratado das cousas da China, cap.
11. — «Todos estes presos pella manhã
sam tirados das correntes, e todos saem
fora pêra as crastas, e geralmente todos
sam çapateiíos, principalmente de çapa-
tos de seda, tecidos de retrós : e com is-
to e com ho arroz que lhe el Iley da aos
ja condenados como ja acima tocamos, se
spstentam.» Ibidem, cap, 21.
RETROSEGUIR, v. a. Vid. Retroceder.
RETROSEIRO, ou RETROZEIRO, s. m.
Termo antiquado. Official que torcia re-
troz.
— Modernamente : iSome dado ao mer-
cador que vende retroz, fitas e outras fa-
zendas de seda, etc.
+ RETROSPECTIVAMENTE, adv. (De
retrospectivo, com o suifixo «mente»).
De um modo retrospectivo.
RETROSPECTIVO, A, aJj. (Do latim
rctrospicere, de retro, e spicere). Que olha
para traz.
— Que descreve os acontecimentos pas-
sados, fallando do presente. — Methodo
retrospectivo.
RETROTRACTIVO, A, adj. Vid. Retro-
activo.
RETROTRAHIR, i-. a. (De retro, e do
latim trahere). Levar atraz, até á sua ori-
gem.
— Retrotrahir o effeito de wna lei pos-
terior; fazel-a applicar aos casos anterio-
res á sua promulgação.
RETROVENDENDO, pari. act. de Re-
trovender.
— -S. m. — Pado de retrovendendo ;
aquelle em que se convenciona, ou que
o comprador não possa, dentro de certo
tempo, revender a cousa comprada, se-
não ao vendedor; ou que o vendedor a
possa recobrar, restituindo o preço ; n'es-
te ultimo caso diz-se venda a recair.
RETROVENDER, v. a. Vender a retro,
tomar a vender a quem vendera.
RETRO VENDIÇÃO, s. f. Termo de ju-
risprudência. A acção de retrovender.
RETROVENDIDO,'par<. pass. de Retro-
vender. Vendido a retro.
RETROZ, s. m. Vid. Retrós.
RETROZARIA, s. f. Objectos de retroz.
— Quantidade de retrozes.
f RETRUCADO, parf. pass. de Retru-
car. Retorquido.
— Reen^sidado a quem nos trucou.
RETRUCAR, v. a. Retorquir, objectar
aos argumentos ou razões d'alguem, pro-
duzindo outros em contrario.
— V. n. Reenvidar a quem nos tru-
cou.
RETRUQUE, s. vi. Termo do jogo do
truque do taco. Volta da bola sobre a que
a impelliu.
— Figuradamente: Revirete.
— No jogo das cartas, reeuvite a quem
nos trucou, o que se faz quando se diz:
retruco, etc.
RETULAR. Vid. Rotular.
RETUMBADO, part. pass. de Retum-
bar. Resoado, reflectido o som á simi-
Ihança do echo.
— Repetido em echo.
RETUMBANTE, j^art. act. de Retumbar.
Que retumba, que resôa, que reflecte o
som á maneira do echo. — Retumbante
vos.
— Que rebomba.
RETUMBAR, v. n. Resoar, reflectir o
som á similhança do echo.
Ka mão a grande coucba retorcida
Que trazia, com força já tocava:
A voz graude canora foi envida
Por todo o mar, que longe retumbava.
cAM., tus., cant. 6, est. 19.
— «Em todas as partes retumbavam
voses, os tambores do Forte, e o estron-
do das escopetas com a lus das arreme-
çadas alcanzias no meyo da escuridade da
noyte causavam horror, ainda nos ânimos,
em que o temor não tinha entrada.» Con-
quista do Pegú, cap. 6 — «De repente o
grito : — Allah ! — retumbou d'além do
Cryssus : seguiu-se um estridor de pou-
cas frechas, e n'um instante os atalaias
do campo viram alvejar fitas d'escuma,
que se estendiam através do rio para a
mai'gem esquerda. Eram os esculcas que
o cruzavam a nado, tendo empregado na
dianteira dos godos os seus primeiros ti-
ros.» A. Herculano, Eurico, cap. 9.
— Rebombar, resoar com muita força.
— Retumbar a voz.
RETUMBO, «. 7)i. Som reflexo da voz,
ou dos instrumentos.
— Retumbo da voz; rebombo d'ella.
RETUNDIR, v. a. iDo latim retundere).
Termo de medicina. Reprimir, temperar
a força, ou qualidade activa.
REU, s. m. Vid. Réo.
Horrendo erime.
Barbara aftronta a Deu.s e á humanidade,
Clama por vós, senhor, a gi-andea brados.
A queixosa, a otfendida í a bella dama
Que aqui vedes; o reu... Interrogae-a,
E delia o sabereis.
GAKBETT, D. BBAKCA, Caut. 9, Cap. 7.
— «Brevemente esperamos estes réus,
para vêr ao menos com o castigo se re-
solvem a deixar o peccado. Miiitas vezes
ficaram em visitas ; mas enganaram a al-
guns de meus predecessores, prometten-
do fazer egreja á sua custa, e com effeito
fizeram.» Bispo do Grão Pará, Memorias,
publicadas por Camillo Castello Branco,
pag. 212.
REUBARBO, s. m. Vid. Rheubarbo. —
«A cada hum dos livres que entra, se
põem na taboa do braço direyto huma
chapa de huma certa confeição de óleos
e bitumes de lacre com reubarbo e pe-
dra hume, que depois que se seca não se
pode por nenhum caso tirar senão com
vinagre e sal muyto quente, » Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 108.
REUMA, s. f. Vid. Rheuma.
REUNIÃO, «. /. (De re, e união). Acto
de reunir partes divididas; efteito d'esta
acção, — A reunião de dous fragmentos.
— Termo de cirurgia. Acção pela qual
se tem em contacto e approximadas as
partes, que experimentaram uma solução
de continuidade. A reunião é immeãiata,
quando as extremidades das chagas se
põem em contacto nmas com as outras ;
e é mediata, quando a cicatrisação não
pôde operar-se sem suppm-ação,
— Acção de unir o que está separado ;
efteito d'esta acção. — A reunião dos
raios do sol com o auxilio de uma lente.
— Figuradamente : Reconciliação pela
approsimação das vontades e do espirito.
— Particularmente : O conjuncto de
pessoas. — A reunião era nttmei-osa, —
Um logar de reunião.
— Reuniões publicas ; reuniões onde
se discute, e expõe algiim objecto publico,
f REUNIDO, part'. pass\ de Reunir.
276
RlíVE
Tornado a unir, Ucíjoío ilu mjiariír.
« Dosfi/i-lhcH a couta, dci-Uics o a^írudc-
cimcnto o lavoroci-oft cm tado que pudo :
uSo lao parecuram capavsus de, coufuHào:
de coiupaixílo «im. Entava illumiiKuLi a
villa, a or<luiiaiii;a formada, c a camará
reunida (luaudn (-hcj^Mmod. » HUpu do
Gríío Tani, Memorias, publicadas por
Caniillo Cantcllo JJrauco, pag. TJl.
— Tornado a ajiuitar.
— lloannexado.
REUNIR, V. a. Tornar a unir o que es-
tava separado.
— Tornar a ajuntar.
— lleanucxar.
— Approximar-so, juntar-se o quo so
acha separado. 7- E,eunir os lábios d' uma
ferida. ^., ,
— Estabelecer cpipmunlcàçâo de uma
cousa com outra.
— Aj)proximar, reconciliar.
— lluir u (|uc está sojjarado.
— Rcunir-se, v. reji. Tornar a tiuir-
se, a juntar-so.
— Ajuntar-se, formar reuniões.
— Concorrer, fallando das cousas. —
Todas as artes se reuniram ;x<ra dar
realce a esta festa.
BEUSSINA, s. /. Termo de miueralo-
gia. Substancia mineral, formada de sul-
fato de soda c de suUato de magnesia.
f REUSSITA, s. /. Bom ou mau suc-
cesso.
— rarticularmonte : Bom succcsso.
REVALIDAÇÃO, s. f. Acção de revali-
dar.
REVALIDAR, r. a. (De re, c validar i.
Tornar a dar forya, e valor legitimo ao
que o perdera; ou era invalido o nullo.
Quando o feito que ó injusto, opiwsto a i-llas,
A salvaijão da pátria o revalida.
OARHETT, CATÃO, SCt. 4, SC. 3.
REVANCHA, s. f. Termo oriundo do
franet'/.. Despique, desforra. =^ E g.alli-
cisuio.
REVEDOR, s. m. Homem que vê e
examina |iara vèr so ha erro.
— Revedor d^^ livros; censor.
— Revedor das folhas impressas ; re-
visor.
REVEL, adj. 2 gcii. Termo de juris-
prudência. O que nem por si, nem por
outrem apparcce em juízo, quando devia,
até dar-so a sentença ; ou disse, que ain-
da que o citassem nào iria á audiência.
— Rebelde, contumaz, dosprezador do
legitimo ujandado. — Ti/ra>uio revel. —
«A substancia da qual embaixada era
liança de amizade, e que pois elle tinha
desti-uido aquello tyranno, que tanto tem-
po lho fora revel, o nunca pudera casti-
gar, que dalli eu» diante podia mandar
os seus povos de Siào viver áquella Li-
dado, porque seriam tratados nella como
os próprios 1'ortuguezes.» .To.^io de Bar-
ros, Década 2, liv. ti, eap. 7.
UEVH
iMiii» culpado, qu« o uiáiit rei:ã doA Anjo»,
Sf ciipavômi do mal, <|ii<! obrou pcrvcruo.
('o'aiidar il^m ICran virrfti-, oh S;ib(T falso,
K mtiini fallurtU!, nu Turt^rct Cúria.
KUAXIJIHCU Ul.NOKL I>U MAHCIUIwMrO, OB UmTTktA,
Uv. ».
■ — • Figuradamente : (íado nào revel de
vietler ao camiii/w ; gado qu« obedece e
caminha á voz dos tangcdorc» e pasto-
res.
— (.) que nau ia á mostra, oa alardo
(juc faziam os coudeis, anadeis, etc.
REVELAÇÃO, s.f. i^Do latim rcvelatio,
de reveliirej. Acto de revelar. — A re-
velação lie um scijredij.
— A inspiração pela qual Deus faz
conhecer sobrenatui-almente certas cou-
.sas. — aFavorece também nm\'to esta
opinião o que Sàta MitUildo Freira nos-
sa, escreve em suas revelaçoens, quildo
diz que á instiuicia de curto líoligiuso,
pedio a Cbristo Uedcmptor nosso, lhe
<ioelarasse que estado tlnhaò as almas de
Sansam, tíalam.ào, Urigenes, o Trajano :
á qual ellc respoudeo as j)alavra8 seguin-
tes.» Monarchia Lusitana, liv. f), cap.
12. — «Vaite lilho com brevidade, por-
que to nào encontrem falando comigo, os
iliuistros de justiça, que nào tardarão
muyto de virem cm minha busca, para
me levarem ao lugar onde me haõde
cortar a cabeça. Foy esta palavra estra-
nhai para os outros prcísos, que o aeom-
panhav.ào no cárcere ; vendo que, ou nào
podi.ío ser certas, ou scndoo, naciào de
revellação, e saboduria profética.» Ibi-
dem, liv. 7, cap. lõ. — «E continuando
algum tempo nusta romaria (que fazia a
pó ordinariamente) foy Deos servido aoei-
tarllie suas oraç.oons, e por nieyo de cer-
ta revelação a cneheo de esperanças do
que tanto desejava.» Ibidem, cap. 24.
— A cousa revelada. — As revelações
de tí. Juuo, — íiSa reuelação que o An-
jo fez a S. lose notara aquollas palavras
ilerradeiras. IIuc atitem Mam factiim mí
ut adimpleretur. As quais ainda que co-
mimunente se tem serem do Euangelis-
ta, em que mostra como se hiào cum-
priuilo as profecias, todauia S. Clirisos-
tomo c Theophilato com elle, querem
que scjiío também do Anjo, em que mos-
trasse a S. lose mais claro o mistério.»
Paiva d' Andrade, Sermões, pag. 1.02.
— Diz-sc algumas vezes : As três reve-
lações; fallando da religiào judaica, chris-
tà e niusulmaua.
— A religi.ílo divina, ou a religião re-
velada. — A aitt/toridailf da Kscriptitra
tíanta é fundaJa iia revelação.
Si- linaado cm si mesmo iutouta, e busca
Rascar o au{;usto vco do impcrvio arcano,
yuc sii Jievi-liírão dcdara aos homens.
J. A. DX HÁCKIH), A KATIIUEZA, CaUt 1.
— Figuradanumte : tíaòer uma cousa
REVÊ
pe.la revelação ; sabid-a sem a ter apren-
dido.
— SvK. : Revelação, iimpiratã'!. Vid,
Crtte ultimo tcruio.
Revelação HÍf^nitica, em ger&l, a maoi-
festae.^o de .■d;íUMia verdade Kttcrct* OU
occulta, e em lint^ugein theologica a ma-
nifostaçào que Deu» fax ao« homens de
verdades, que nào |>odcin conkecer-Bc
pelas forças da razào, ou por meio* pu-
ramente natoraes. A iutpirarno é a il-
lustraçàf) ou movimentít sobrenatural com
(jiie Deus inclina a vontade do homem a
pratica d 'alguma acç.Vj bo.i.
A revelação i Ilustra o entendimento ;
a iitspirttr/ii, move c leva a vontade.
— Revelam-se factos, verdade», dou-
trinas ; inspiram-ie sentimento», desejo*,
aflfectos, resoluções.
Aa doutrinas c<'mtid.iH nas .Sagradas
Escripturas sào reveladas ; p<irf|ue Deng
manifestou a seus authorc» factos e ver-
dades que elles nào ])iKliani alcançar pe-
las luzes da razào. Oh sagrado» e«;ripto-
res forani inspirado» para e»creTol-a8 ;
isto é, o Espirito Santo illu»trou-oB in-
toriormente, movou-os a escrever, e di-
rigiu sua penna cm tudo o quô escreve-
ram para ensino c santiiicaçito do» ho-
mens.
f REVELADO, part. pas*. de Revelar.
Descoberto. — Um sti/redo revelado.
— Conhecido por uma conimunieaç3o
divina.
— ^1 reliqiào revelada ; o christiani»-
mo.
REVELADOR, A, adj. Do latim reveln-
tor, de revelarei. l'essoa que faz uma re-
vclaçào. — Foi este hr,mem o revelador
do segreda. — «Nào mei\os he Bacco gran-
de tiallador, e revelador de segredos :
bem assim como o mar cm tormenta vo-
mita fácil íLs pravas, o que dissimulador
encerrava no fundo. Por ondo disse Es-
quilo, qne no espelho vê bum o seu ro<»-
tro, no vinho ram os outros o seu cora-
ção : ^■Ks/oniio* sjyecuhim tst, firmni tnoií-
tis.* P.adre Manoel Bernardes, Floresta,
cap. 20.
— Adjectivamente : Lidicio revelador.
— Circiinistancia reveladora.
REVELÃO, í. m. (De revel . Vid. Re-
belião, e Revelõa.
REVELAR, V. a. (Do latim rev^l-artK
Fazer conhecer o qno era desconhecido
e. secreto. — Os c«/í revelarão «<*» »»»-
ijuidadr, e a terra .v Urantirn emxtm
elles. — .4 morte revela os segredos dts
foraçíie^s. — « Prinialiào, como que lhe
revelava a cAme algum.-» cousa, estava
tíim triste de ver as feridas do caraUei-
ro negro, como se an cllc roceber» ; pos-
to que no semblante do r.>sto nin^em
lho sentia : que isto hSo de ter os cora-
ções grandes, sentir os dantw alheios e
ninguém o conhecer nolles.» Francisco
de Moraes. Palmeirim dlnglaterra, cap.
80. — íE porque uaõ ha couza oocnlta,
REVÊ
REVÊ
REVÊ
277
que tarde, ou cedo, se naõ revele, e oi
murmuradorer! tudo deslindaõ, veyo-se a
descobrir o feito, e o por fazer na maté-
ria : ckegaraõ accusaçoeus, a quem pu-
xou pelo pouto: deraò-lhe logo com a es-
critura uas barbas: tizeraò mentirosos os
zeladores, e iicarào-se rindo.» Arte de
furtar, cap. 25.
Anib. Ora zombae.
Braz. Eeveloii-me em demasia
de ir dar quatro parole
áquellc homem do outre dia.
Amb. A qual?
ASTOXIO PBE3TK3, ACTOS, pag. 117.
Outra Laura maior quessa, quoutrora
Do Vate, todo amor, dêo força á Lyra
Xas sublimes Canções, que iudhoje admiro.
Noa peneti-aes da jíatiireza entrando,
A Spallansani explica altos mysterios,
Que stmpre nos receia, e nunca explica.
De si mesmo ciosa, a Natureza,
j. X. DE MACEDO, riAGEu EXTÁTICA, cant. 2.
— Loc. bíblica: Revelar vnãher; co-
nhecel-a carnalmente.
— Particularmente : Diz-se da inspi-
ração por que Deus se faz conhecer.
— Inspirar, dictar.
— Revelar-se, v. refi, Manifestaz--se,
declarar-se, descobrir-se, dar-se a conlie-
cer.
— Vid. Revellar.
— Syx. Revelar, declarar. Vid. este
ultimo termo.
REVELHUSCO, A, adj. Termo popular.
Um pouco Telko.
REVELIA, ou REVERIA, s. /. O esta-
do, condição ou o caracter do que é re-
vel.
— Correr a causa á revelia ; sem ser
ouvido o revel, ir por dianto no processo,
— Figuradamente : Revelia ; a senten-
ça da revelia e as penas que por ellas,
e nào comparecimentos em juizo, nas mos-
tras 6 alardos, se pagavam.
— Seiítenciar á revelia de alguém;
sentenciar sem ser ouvido, porque foi re-
vel, 6 nào compareceu até se dar a sen-
tença.
— Comer á revelia de algueni; comer
sem esperar mais por elle além das ho-
ras certas.
REVELIM, s. /. (Do fmncez revelin).
Termo de fortlÊcação. Obra externa que
consta de duas faces, que foruiam um an-
gulo saído para cobrir, ou defender algu-
ma cortina, ponte, etc.
REVELLÃO, s. m. Vid. Revelão, e Re-
velôa.
REVELLAR, v. n. Resistir, oppôr-se.
- — Revellar o cavailo; estar inquieto,
indomado, nào obedecer ao cavalleiro.
— Revellar-se, r. reji. Rebeilar-se,
portai'-se ajmo um rebelde.
— Revellar-se á obediência; rebellar-se.
REVELLENTE, jjurt. aci. do Revellir.
Que revelle.
— Revulsivo.
REVELLIR, V. a. (Do latim revelhre).
Termo de medicina. Arrancar o liumor
d'onde está áxo, e derival-o para outra
parte.
REVELLOSO, A, adj. De revel, com o
sufíixo «oso»). Vid. Rebelde.
REVELÒA, ou REVELLÔA, s. /. de Re-
velão. Vid. este termo.
REVENDA, s. /. Segunda venda.
— ■ Acção de vender a outrem o que
já está vendido.
REVENDÃO, ONA, s. Pessoa que com-
pra para tornar a vender.
REVENDEÇÃO, s. /. Termo antiquado.
Revendita. revindieta.
REVENDEDOR, A, *. (De revender,
com o sufSxo «dor»). Pessoa que re-
vende.
— Que faz segunda venda.
— Pessoa que vende a cousa segunda
vez a diversas pessoas.
— Pessoa que vende em segunda mão.
REVENDELHÃO, s. m. Vid. Revendi-
Ibão.
REVENDER, r. a. (^Do latim revendere,
de re, e venderei. Tornar a vender, ven-
der segunda vez, vender de novo, ven-
der o que se compra. — »E qualquer
que o fezer, e lhe provado for, pague
anoveado pêra nós o que assy comprar,
ou revender : e damos porem lugar a to-
dos, que possam comprar ouro, ou prata
pêra seus usos, e despesas, e guardas, e
aos ourivizes pêra haverem de la^Tar, e
vender as cousas lavradas que lavrarem.»
Ord. Affoas., liv. 4, tit, 2, § 7. — «E
mandamos que nenhum nom compre, nem
venda ouro, nem prata pêra revender
como cambador, pêra sy, nem pêra ou-
trem, porque os caimbos som nossos, e
forom sempre dos Reyx nossos anteces-
soi-es. » Ibidem, tit. 8, § 17. — «E se
per ventura leixar de carregar por al-
guma razom aguisada, entom possa re-
vender essa sua parte, que lhe assy foi
dada, por toda aquclla quantia, por quan-
to lhe foi dada pelos ditos fretadores, e
nom por mais ; e se o contrairo desto fe-
zer, que aja as ditas penas. » Ibidem,
tit. 5, § lõ. — <Item. Ao que dizem
no quadragésimo quinto artigo, que em
alguns lugares do Nosso Senhorio ha Clé-
rigos, e Fidalgos, que compram muitas
cousas pêra ao depois revenderem, e
usam pubricamente de regataria, e nom
querem consentir que os Almotacees ajam
em elles jurdiçom, pêra lhes mandarem
como revendào, as cousas, e lhes dem as
medidas, e fezer outros autos, que per-
teencem a seus Officios. » Ibidem, tit.
47. § 1.
REVENDIÇÃO, *. /. A acção de fazer
segunda venda, de vender segunda vez.
7 REVENDIDO, part. pass. de Reven-
der. — Uma terra revendida.
REVENDICAR, v. a. Vid. Revindicar.
REVENDILHÃO, ONA, «• Revendedor.
— Pessoa que negoceia em comprar e
vender as cousa.s muitas vezes.
— Pessoa que revende em tavernas,
etc.
REVENDITA, s. /. Vid. Revindieta.
REVENERAR, v. a. (Do prefixo re, e,
venerar». Reverenciar.
— Mostrar respeito, acatar, venerar
mais que uma vez.
REVER, V. a. (Do prefixo re; e vêr).
Vêr de novo, vêr segunda vez.
— Examinar de novo, observar cuida-
dosamente. — Rever nossas acções, nossos
discursos, etc.
E fogc-me o atrevimento
que molher tem a reter;
mas é molber, sem saber,
é em arêa fundamento.
AUTOJilO PRESTES, AUIOS , pag. 4Ú1.
Nào durides
De mim, Romano. O sangue nào vingado
De meu pae iuda alii está revendo fresco
Deante de meus olhos. Na orphandade
Tua pátria me adoptou ; tua pátria é minha.
GAKEETT, CAtÀO, BCt. 1, BC. 5.
— - Diz-se dos processos, dos negócios
submettidos a uma nova jnrisdicção.
— T'', n. Coar de si humidade, reçu-
mar.
— ilarejar.
— Revêr-se, v. refl. Vôr-se de novo.
— Revêr-se em alguma cousa; estar
olhando para ella com muito prazer e
gosto.
— Figuradamente : Revêr-se em algu-
ma cousa; ter-lhe muita affeição e amor.
REVERÁ, loc. adu. (Do latim re verá)j
Realmente, na verdade.
REVERBERAÇÃO, s. /. (Do latim rever-
beratio, de reverberare). Reflexão da Inz
e do calor por um corpo que não os ab-
sorve. — A reverberação dx)t raios do
sol.
— Diz-se da repercussão do som.
— Figuradamente : Reflexo.
— Figuradamente : Maldizentes de re-
verberação; os que não dizem mal dire-
ctamente.
— Fogo de reverberação ; fogo de que
os chimicos usam, e applicam ao vaso por'
reflexão da chamma. ~
REVERBERADO, part. pass. de Rever-
berar. — 0$ raios do sol reverberados
pela muralha.
REVERBERANTE, part. aci. de Rever-
berar. Que reverbera, que tem a pro-
priedade de reverberar; que produz a re-
verberação. — Superficies reverberantes.
— Liso como o espelho, que reflecte a
imagem dos objectos luminosos.
REVERBERAR, u. a. (Do latim revtr-
berare, de re, e verberare). Reflectir, faN
lando da luz, e do calor. — Plactts de
ferro qne reverberam o calor do fogão
na catnara.
278
revp:
— Antigo ternio de chiraica. Ketluzir
08 corpo» H cal por um fopo violento.
— V. n. Brilhar, rc-tplniKlocer, Iuh-
trar. — «líii iiH;.fiiiii norti; a nliiia em
cjuiinto iiiJo He ciiclie do amor diuiiio, Cd-
tíi dentro de buuh limitti^, inaH fttoruo-
rando.se todji dclle, ocupada Robe vigo-
rosa sobro 8i, e votv sobro sua» forcas ao
alto, jjorijuo acesa, o banhadii do» raios
da coatemplaçSo toda se desfaz em amor,
e abrazada se derrete do hum certo mo-
do; como hum espelho coneauo, receben-
do 08 rayos do Sol em si costuma accen-
derso, e queimar reuerberando tó atea-
remso os fomentos materiaes, (|ue llie li-
carom pefíados, e fi'outoii"Os.« Frri Uur-
tholomeu dos Martyres, Compendio de
espiritual doutrina. — « Todavia, as ar-
mas polidas, ordenadas cm feixes, e as
stalaetite» seculares, penduradas do te-
cto, reverberando o clarào da fofcueira,
davam ao topo da lapa um aspecto es-
plendido, que do aljjnm modo assemelha-
va esta habitayílo do feras a uma sala
d'armaa do paços afortalczados.» Alexan-
dre Herculano, Eurico, cap. 11).
— Reilectir. — A luz reverbera nas
aguas do rio.
— Dar nos objectos.
REVERBERATÓRIO, A, adj. Que serve
para reverberar.
REVERBERO, s. m. Termo de chimica.
Nomo dado ás paredes de um forno, des-
tinadas a retieetir o calor radiante que
emana do foco sobre a matéria que se
quer aqiiecer.
Sc (103 fulguvautcs raios so. miâturaj
ync o Sorno ustorio foco accendc, c ajunta,
l'cuotrant03 rtvírhtros dai-doja :
UorretCâ ferro, inarinorca calcinas
Quaudo luuga de ti mandas o incêndio.
J|, A.PÇ.MACXDO, MEDITAÇÃO, caut. 2.
De lúcido cristal idto-esplcndcntc
Se levantava altiâsinia facliuda.
Arcos, columnas, arcUitraves, tudo
Do pedraria Oriental 3'elcvii,
Onde huma luz celestial batendo,
Dfispodia rcvérbtras brilliautca.
tPKM, VIAOKH EXIATICA, CHnt. 1.
Tal aos tristes rtoirheroa da fronto
Onde enroscadas serpes sibilavão,
Ficou suspenso, enregelado o monstro,
Qu' hia a tragar Andronieda, dos aros
Persco compadecido ás oud:id baixa.
inSH, A MAtOHEZA, CAllt. 8. ' '
— Espelho destinado^á 'rèfyctir n'unia
direcçílo destinada a luz ou o calor.
Quo suaves rofiViero» de luzes
Do tantos corpos ikMidoi rcsurtúm !
Com quanta pompa os mostra a Natureza I
Qnanto tinha lhes doo, ((uanto \)odia;
Toda ncllos so mostra, o tod» ke bella.
}. ▲. DB «ACKOO, A MATVaEZA, C»Ut. '1.
— Por exteusíto, lanterna munida de
BEVE
uma lâmpada, e de um ou mais reflecto-
res, o que serve para illuminar unia rua,
uma pra^a, títc.
— Funuilha de reverbero ; fornallia
que serve em jreral para as distillaçíJes.
— Fi/ijo rfe reverberoo; fopo quo não
tendo respiradouro para cima, faz rcHe-
ctir a cliainma Bobre as matoria* oxpotí-
tas á sua acçilo.
Bate co' ft longa cauda hum lado, c outro;
No iiiurtculoso collo lhe fluctúa
l^iiiniarauhiida juba ; os vivuri utlios
Dospirdeni mil rererberoa de fogo :
Sac<xle, crri(;a o péllo, e na espantosa
Cova medita o crime, o »aho bramindo,
K das fauces reconcava* di^rrania
Espuma om borbotões ua arêa adusta.
j. AoosTiaao pu macedo, hkuiiação, cant. -i.
Quem despede os rwtrheroi de fogoV
Quem o turva, o cominovc, o assusta, o prende?
Tardos fructos não são da sociedade ;
Não he da educação falso principio.
iDiDEM, caut. 4.
— Termo poético. Resplandor, brilho.
REVERDECER, v. a. Fazer tomar v«r-
de, o cobrir-se de folha, rama, verdura.
— Loc. POÉTICA: Uma historia de fo-
cas reverdece ; nasce de novo, ou renova,
fazendo o mesmo que elle tizera.
— l'''igiiradamente : Dar nova força,
novo vigor. — «Entregandoa noutros ao
ferro e fogo dos pei-seguidores, quo cor-
tem, e abrasem segundo seu furor : qual
está d'algun8 annos a esta parto de bai-
xo da crueldade de Faxiba, seruindolhe
porem o forro de poda pêra ci-ecer, e pê-
ra mais reuerdecer o fogo, como a anti-
ga çarçft. ou como serue de maior res-
plandor ao ouro fino. » Lucena, Vida de
S. Francisco Xavier, liv. (3, cap. 18.
— V. n. Toruar-sc verde.
Já de Académo o bosque reverdece ;
Entre liuh.as de Plátanos frondosos,
Com fama eterna o PeripátO surge.
Enliorào-se os Jardins, e as foutus correia,
Do frugal Epicuro outr"ora asylo.
Além cuido escutar trovões 9oni'ros
Da hocca de Dcmosthencs, que assustào
Ao longe o foro Déspota no throno.
J. A. I>B UACEDO, UEDITAÇÀO, Caut. 4.
— Tomar alentos.
— Reverdecer o temi»}; tornar a fazer-
se verde, ou invernoso.
— Figuradamente : Renascer, tornar a
ter mais viço, e vigor. — Reverdecer a
heresia.
— Figuradamente : Reverdecer o amor,
a amizadf.
— Reverdecerem as artes, a sciencia, o
cumiiu rciíj f a industria.
— Figuradamente : Reverdecerem as
pai. voes.
REVERDECIDO, pnrt. jiass. de Rever-
decer. Tornado veitle. — A folha renas-
ceste e os braços reverdecidos.
— Figuradamente: Qne parece reju-
REVE
vencscido, fivllaudo de um velho. — A'»»-
contrei-*/ todo reverdecido.
REVERENÇA, ». /. Vni. Reverencia.—
«1'orquo niuitus vezes acmtix-e que as
molheres, por modo ou revereaça dos
maridos, leixaò caladamente al;.'uma.í oou-
MW jjasHftr, jíor non ousarem <le o contra-
dizer, receando alguns e.sc»ndalo«. e pe-
rigos, que lhes em outra guisa ligeira-
mense poderiam vir.» Ord. ASons., liv.
1, tit. 11, S ".
REVERENCIA, ». /. iDo latim rtiereit-
tia.. Kinpiito, veneraçSo que se tem im
cousas sagradas, aos padres, aos templos,
ás imagens, e aos sacramentos. — TV-a-
tar as cousas santas com reverencia. —
Prestar reverencia a alt/uem.
— Titulo d'hoara da'lo aos religiosos
que eram pobres. — Voi/sa reverencia.
— «E Diogo Sjares lhe respondeu que
ello viuha c3 determinação do nUo to-
mar Malaca, por lhe nâo fazerem pa-
gar direytos daquella pouca fasenda que
levava, ja que não tinha outra cousa,
de que Be su8t6nta6.se a si, e aquelJe.s
soldados; mas que, pois qae -Bua Reve-
rencia lho pedia CÒ tanta efBcacia de
palavras tilo santas, e tanto para se te-
mer a desobediência delias, visto ser,
como dizia, puro zelo da I^ey de Deos,
de cuja parte o requeria, elle era murto
contente de lho cõceJer.» Fernão Men-
des Pinto, Feregrinaçies, cap. 204. —
«Estando a nao ja de todo prestes para
partir, o Contramestre lhe mandoa àa
duas horas depoLs da ■ mé& norte dúser
por hum moço seu sobrinho a nosaa Se-
nhora do Outeyro, a3de então estava, quo
sua Reverencia ee embarcasse lego ns-
quella mauchua que alli lhe mandava,
porque a nao se queria fazer á vela.»
Ibidem, cap. 215. — «Veado isto bum
dos Portuguesea se chegou a mi, e disse.
Ah Padre, pude muv bem ser, quo al-
guém o tenha ja por morto, e vossa re-
uerencia vay agora em companhia de
hum Rev, q»ie lhe vay ensinado o cami-
nho.» Fr. Gaspar de S. Bernardino, Iti-
nerário da índia, cap. tí. — • Era a bo-
dega mais triste, mais escura, mais Ioda-
centa de Lisboa : mas, em c^impensação,
Nathanaol vendia o viuho que 08 frades
de .S. Vicente colhiam nas suas €am»sas
vinhas do Lumiar, Carnide. Palma, Char-
neca e Leccia laquelle que nãn era des-
tinado a am})arar suas reverencias na
áspera estrada da mortiticaçào; vinhu es-
pirituoso, iuullectual, e cuja origem re-
ligiosa lhe dava um certo .pacãune de
sanctid.ade. » A. Herculano, Monge .âe
Cister, cap. 18. — «Depois da partida de
Fr. l»ureuço, o mouro Alio, em vi-z de
peiorar, melhorou materialmente. Com
grande escândalo de Fr, Julião foi esco-
lhido por sua mui p(iieri>«i reverencia
para ser servente seu jmrticular em quan-
to residisse em Lisboa.» Ibidem, cap. 2l>.
— Movimento que se faz com o corpo
re^t:
REVE
REVÊ
279
para se salvar, quer inclinando a cabeça,
quer cirrando os joelhos. — Uma pro-
funda reverencia. — Uma grande, uma
humilde reverencia. — Fazur a reveren-
cia. — « E o que a derribava, se decia
loiro do cavalo e a tomava e fazia uma
grande reverencia ao Suty, e lhe davào
buma taça de vinho : e logo deciam a vara
por hum cordel, e tomavaõ a por outra
maçàa.» António Tenreiro, Itinerário,
cap. 17.
Com. Estacs bem encabeçado
na cousa, na consequência;
filhos sem obediência,
filhos de pao levantado
para os pacs, sem reverencia.
AXIOSIO PKESXES, AUIOS, pSg- 251.
— Em reverencia do seu noine; em
honra e acatamento d'elle.
— Veneração, respeito.
— ■ Syk. : Reverencia, respeito. Vid. este
ultimo termo.
7 REVERENCIADO, part. pass. do Re-
verenciar.
Sam tam reitere iu:>ados
03 fidalgos dos viUãos,
tão grandemente acatados,
<iue se delles sam tocados
são logo mortos ás mãos.
GARCIA DK KEZEXDE, MISCELLAXE A .
REVERENCIADOR, A, adj. Que reve-
rencia.
— Que mostra respeito, acatamento.
REVERENCIAI, adj. 2 gen. Nascido da
reverencia, ou expressivo d'ella.
— Apóstolos reverenciaes. Vid. Apos-
tolo.
— Substantivamente: Os reverenciaes.
Advirto-lhc também, que não se esqueça
De pedir os Apóstolos; e sejaõ
Os reverenciaes. por que suspendaô
Do malévolo Acordaõ os etfoitos ;
E naõ imia só vez. mas muitas vezes,
Com mais, e mais instancia, instantemente.
A. D. DA cHCz, HTssorE, caut. 4.
Í REVERENCIAR, v. a. Fazer reveren-
cia. — «Ca este homem com quem elle
fallou ainda que em o tractamento de
sua pessoa e gente que o reuerenciaua,
1 parecia ser quem lhe diziaõ, elle naõ era
elRej de Ceilaõ, mas o senhor do porto
' de Gale.» João de Barros, Década 1, liv.
10, cap. 5.
— Mostrar respeito, acatar. — - « Pos-
trados em terra a adoramos, e reueren-
eiamos, como em tanta breuidade nos fov
possiuel. Xem aos Mouros pareceo mal o
nosso modo, que em fim as cousas de
Deos a todos contentão, e alesrrào.» Fr.
Gaspar de S. Bernardino, Itinerário da
ladia, cap. 15.
REVERENCIOSAMENTE, adv. iDe re-
verencioso, com o suffixo n mente»). De
um modo reverencioso.
— - Com respeito.
REVERENCIOSO, A, adj. HumUde e
ceremonioso. — Discurso reverencioso.
— Palavras reverenciosas.
REVERENDAS, s. f. phir. Letras dimis-
sorias do bispo, pelas quaes concede a fa-
culdade a algum seu diocesano para or-
denar-se com outro bispo.
REVERENDÍSSIMO. Superlativo de Re-
verendo. Titulo dhonra que se dá aos ar-
cebispos, bispos e geraes d'ordens, etc.
— « Isso testctica o Reverendíssimo Pa-
dre Dom Joseph Barbosa na sua Censu-
ra, cuja opinião nào pode deyxar de ser
approvada de todos, sendo de hum Varão
tão insigne, e tào illustre nos seus escri-
tos, e nos seus pareceres.» Cavalleiro
d'01iveira, Cartas, liv. 4, n.° 7.
— Fallando a religiosos, diz-se : Vossa
reverendíssima. — «Dou a vossa reve-
rendíssima muitas graças por tal sujeito,
mas cooi condição que vossa reverendís-
sima no-lo não queira descontar no nu-
mero dos seis, o qual esperamos muito
inteiro, e antes accrescentado que dimi-
nuído.» Paiire António Vieira, Cai'tas,
n." 12. — « De mais d'estes recebemos
dois irmãos coadjutores, um dos quaejs é
Francisco Lopes, que servia este coUe-
gio, de cujo espirito nào digo nada, por-
que o conhece vossa reverendíssima; ou-
tro Simão Luiz, official de carpinteiro,
homem de muito bons costumes e présti-
mo.» Idem, Ibidem. — «Quanto mais,
que lembrado estará vossa reverendíssi-
ma que na consultinha que vossa reve-
rendíssima fez no seu cubículo sobre a
côngrua que se havia de pedir para cada
um dos missionários, em que nos achá-
mos com vossa reverendíssima o padre
Francisco Ribeiro, e eu, se resolveu en-
tre todos, que para sustentar no Mara-
nhão um sujeito bastavam vinte ou vinte
e cinco mil reis.» Idem, Ibidem.
REVERENDO, A, adj. iDo latim reve-
rendus. Digno de ser reverenciado, de
ser acatado.
— Titulo d'honra que se dá aos sacer-
dotes. — «Aqui se despediu de nós o te-
nente coronel Joào Filippe para a cida-
de, e ao mesmo tempo chegaram o reve-
rendo padre fr. João d^Assumpçào, cus-
todio que foi da sua província, e votou
em Roma no capitulo de sua ordem, re-
ligioso honradíssimo.» Bispo do Grão
Pará, Memorias, publicadas por Camillo
Castello Branco, pag. 208.
REVERENTE, adj. 2 gen. (Do latim re-
verens). Que reverencia, reverenciador.
Dos votos seus o templo condecora,
As supplicfls lhe escuta, e finalmente
Aceita obséquios mil. que reverente
Te faz o mundo, que feliz te adora.
ABBADE DE JAZESTE, POESIAS, tOm. 2. pag. 110
(ediç. 17871.
— Que dá signaes de reverencia inte-
rior. — Com reverente applauso foram
recebidos. — «Depois de alguns annos
vierão seus ossos ao Reino, que tbrão re-
cebidos com reverente, e piedoso applau-
so, idtimo beneficio, que com suas cinzas
ha recebido a pátria, e trazidos aos hom-
bros de quatro netos seus ao Convento
de S. Domingos de Lisboa, onde muitos
dias se lhes fizerào sumptuosas exéquias.»
.Jacintho Freire de Andrade, Vida de D.
João de Castro, liv. 4.
REVERENTEMENTE, adv. (De reveren-
te, com o sufiiso «mente»!. De um modo
reverente. — Os homens estão acostuma-
dos, desd.t ha muito, a faltar ao respeito
(pie devem a Deus, e a tractor pouco re-
verentemente as cousas sagradas.
— Com reverencia, acatamento, res-
peito. — FaUar reverentemente de Deus,
das cousas santas.
REVERIA, s. /. Vid. Revelia.
Diab. Las de vuostra senhoria.
Cav. Kão é minha honra tamanha.
Moço. Dé-ma, qucu tenho por manha
scl-o á sua reveria.
ASTOXIO PBESTES, AUTOS, pag. 65.
— Considera-se como gallicismo gros-
seiro e intolerável toda.s as vezes que se
lhe der a significação de phantasia, pen-
samentos, imaginações, delírios, e talvez
meditações.
REVERSA, s. /. Vid. Revessa.
REVERSAL, adj. 2 gen. — Carta rever-
sal; carta que se faz em resposta de ou-
tra, ou se refere a algum acto.
REVERSÃO, s. /. ("Do latim reversio).
Volta, tornada para donde saíi-amos.
— Termo de jurisprudência. Direito
em virtude do qual os bens de que uma
pessoa dispõe em favor de lun outro, lhe
vem quando este morre sem filhos.
— Termo de rhetorica. Figura de es-
tylo que consiste em fazer vir sobre si
mesmo com um sentido differente, e mui-
tas vezes contrario, certos termos d'uma
mesma proposição.
— Reversão dos bens ao antigo domí-
nio; volta dos bens á coroa, d'onde se
haviam tirado, ou desmembrado por doa-
ção. Vid. Devolução.
REVERSAR, r. a. Vid. Revessar (vo-
mitar).
— F. «..Voltar, tomar.
f REVERSIBILIDADE, s. f. Termo de
jurisprudência. Qualidade do que é re-
versível. — A reversibilidade de uma
pensào.
— Termo de theologia. Â reversibili-
dade das penas, das recompensas ; os me-
recimentos dos santos imputáveis para
diminuir as penas, e augmentar as re-
compensas.
REVERSÍVEL, adj. 2 gen. Termo de
jurisprudência. Fallando de bens, de ter-
iJ80
KIÍVE
REV£
EEVE
raH f|uo poduni voltar :io propiiotiiri» <|uo
(JÍH|I()2 (l'oila8.
— Reversivo, f|uo tom natureza e pro-
priísdiídc de reverter paru ii inosuia pos-
HOfi (roíiilf, naiu.
REVERSIVO, A, àdj. Que torna a vir.
— Toniií) flc aimtoinia. Nirrvus rever-
sivos; niTVim (lo peH(!(ioo, que da nua
onfí«ni Hiicm doHcoiido, o iofío sobt-ui ató
á laryiifíi"- Vid. Recorrente.
— Termo de moilicina. FeJiyn reversi-
va ; fubro ípio nào ó aguda, maa <|ue voin
com crescimentos vapos, o despedidas
imporf'citH«.
— .Sujeito a reversão.
1.) REVERSO, A, adj. (Do latim re-
versus). (Ino tica posterior, relativamen-
te a outra cousa.
— Fitíuradameutc : Do mau caracter.
— Que tornou á soita ou erro (jue
abjurara.
— Termo de arcliitectura. (luld re-
versa ; convexa.
— ■ Madeira reversa de lavrar ; ma-
deira que não tem libras direitas, porém
nodosas.
— Diz-so também d'aquelle3 que pos-
tergando 03 eciitlraoutos da lioncstidadc
e da virtude, se abandonam aos vicios da
camo corrompida, c a tudo o <jue se op-
p5e a rectidão e bons costume."}.
2.) REVERSO, s. m. A parto posterior
a respeito doutra.
— O reverso da medalha ; a face op-
posta áquclla onde está o rosto, busto ou
figura princijval.
— Figuradamente : Vejamos o rever-
so da medalha; examinemos a cousa por
outro lado, ouçamos outra versão, ou
londa do caso, e vulgarmente diz-se quan-
do a outra versão é desfavorável.
REVERTER, v. n. (Do latim reverterei.
Tornar para d'onde saiu.
REVERTIDO, part. pass. de Reverter.
Que tornou para d'onde saiu.
— (i>uo voltou ao primeii"o dominio.
REVERTIVEL, adj. 2 gen. Que devo
reverter. — Bens revertiveis d coroa.
Vid. Reversível.
REVÉS, s. V). Vid. Revez. — «Ha por-
ta que está em fronte na couraça, he
como ha dos muros de dentrti : tem tíim-
bem porta Icvadiça, as portas que estão
cm revés na couraça sam pequenas.»
Frei (laspar da Ciuz, Tratado das cou-
sas da China, cap. 6.
-{• REVESADO, A, adj. Vid. Revezado.
— «Tem nm artilicio secreto, que vã'> re-
vesados os tercetos; um quo na derra-
deira regra tom a mesma palavra duas
vezes, e o outro apoz elle tom a derra-
deira palavra contraria também á da ul-
tima regra.» Feriulo Rodrigues Lobo So-
ropita, Poesias e prosas inéditas, pag.
114.
REVESSA, s. /. --Revessas uo$ rios,
ou tuis praia.1 ; onde encho a inanS : é a
agua próxima ás margens, quo tem mo-
vimento contrario ao da veia o toBÍo de
agua, e enche (|uaiido ella vasa, c ás
avessas. — «Savndo fleste estevro de
(juampanoo, «miramos em hum rio muv-
to grande que ho chamava Aiigegumaa,
de mais de ti'ea icgoas em largo, e em
f)artes de cento e vinte braças de fundo,
eoni revessas t3o impetuosas, rpie muy-
tas vezes nos fa/.i.lo desandar nmyta
]iart(! do e;iniiiiho.» Fernão Aiendes l^in-
to. Peregrinações, eap. 1.'j8.
— Loo. ADV.: JJe revessa ; contrario
ao natural do estômago. Vid. Revessar.
REVESSADO, part. patH. de Revessar.
Voinitaiio, reversado.
— l'"iguradamenti' : Desprezaílo.
— ( )pposto ao revez do direito.
— Caminho revessado ; caminho op-
posto, torcido para encobrir o lugar por
onde queremos ir.
REVESSAR, V. a. i Do latim reversare).
Vomitar, arrevessar, reversar.
— Figuradaujentc : Desprezar.
— F. n. Fazer o mar revessa. — Re-
vessa >> rio.
— Vid. Arrevessar, e Arravessar.
REVESSO, A, adj. Diz-^o das ondas
quo correm contra a parte d'onde vem o
navio. Vid. Revezo.
— Madeira revessa. Vid. Reverso.
REVESTIDO, part. p'L.'<s. de Revestir.
Coberto com um vestido .segunda vez,
tornado a vestir. — «E entrando na Ci-
dade achàraõ o Bispo revestido em Fon-
tifical, com hum Crucifixo nas mãos, e
todo o Cabido, Cle''igos, e Religiosos em
procissão. Chegado ElRey ao Bispo, pros-
trou-se de giolhos diante dello com mui-
ta veneração, c fez sua adoração ao Cru-
cifixo, o o beijou com muita humildade.»
Diogo do Couto, Década tí, liv. 7, cap. 5.
— Figuradamente : (Jrnado, decorado,
fortificado. — tX terra estaua muy vi-
çosa, reuestida de hum alegre aruoredo :
03 matos cheos do sombrias amores, de
uarias, e gostosas fruytas. Entre as quaes
vi huma chamada lamgomas, que muyto
se parece com somas, assi na gràdeza,
como na côr, excepto que no sabor me
pareceo a todas as outras leuar muyta
ventagem.» Fr. (! aspar de tí. Bernardi-
no, Itinerário da índia, cap. 2.
— ■ (iuarnocido, munido.
• — Hometn revestido de dotes, prenda»,
valor; homem possuidor d'clles.
— Figuradamente : Acto revestido das
solemiiidades do direito; acto acompa-
nliado e corroborado com ellas.
REVESTIMENTO, s. m. O quo reveste.
— O revestimento dn peite pelo pipilo,
peniuis, escamas., conchas, etc.
— Parede que reveste alguma obra
mais eleva<la que o pavimento.
REVESTIR, t". rt. Vestir segttnda vez,
vestir de novo.
— Pôr sobre si ou sobre alguém um
vestido. — Revestir um habito.
— Termo de jurisprudência. Pòr a um
acto tudo quanto o inií-tcr para que tdle
seja válido. — Ktte. acto reveste todaa u*
fiWinni reijtieridaji.
— Figiiradameiito : Cobrir como com
um vestido.
— Revestir a mentira ilas aj/jtartneiaM
da reriUidi ; dar á mentira o ar e aspe-
cto de vordado.
— Figuradamente : l{oceber ou tomar
tal ou qoiil qualidade, tal ou qual «ppa-
rencia.
— Revestir os pensainento» de um tê-
tyli) poético; (!Xprimil-os poeticamente.
— Revestir um caracli-r ; t-izer conhe-
cer a quajidade, a authoridadc que pos-
su(! sem a mostrar.
— Cobrir, ncnbrir. — Os jiiUot que
revestem eJ^terionnente os aníniaes. — As
laminas d'ouro que revestiam erferior-
menfe n» portas do Capitólio.
— Revestir-se, v. rejl. Vestir-se se-
gunda vez.
— B^iguradamente : Revestirem-se os
troncos de folhas ; adornare-m-g'" com el-
laa, encherem-se d'eIUa.
No Roino vegetal ^nçoso, e bello,
Do circumfuso fluido m- sente
A cfficaciu, c poder: com elle ax plantas
De saborosos fructos se enrinuéceni :
fíyrsi com elle a gere animadora ;
Sccoos troncos de folhas se revertem.
J. A. DE MACEDO, KEDITAÇIO, Cant. 3.
— Revestir-se de authoi-idade ; tomar
este poder, mostrar qne se poune. —
«Quando porem não dissessem cousa al-
guma que não fosse na ultima perfeição,
a autoridade de que pare.ce que se reves-
tem neste caso, fará oom que sempre »e-
jão dcsgotosas as suas convereaçoens. »
Cavalleiro d'Oliveira, Cartas, liv. 3, nu-
mero õá.
— Revestir-se o sacerdote ; assentar
sobre os seus vestidos ordinários, as ves-
tiduras sacerdotaes.
— Fallando das cousas: As fórumê de
que o pensamento se reveste.
REVEZ, í. Hl. Pancada com as costas
da mào.
— A alternativa, o estado contrario
que teem as cousas do mnndo boas ou
más.
— Revez da medalhn. Vid. Reverso.
— O golpe dado com a espada diago-
nalmente, ferindo d;i direita para a e«-
quei-da.
— No jogo da pella, como quem dá
um revez da espada.
— Alternativas, vicissitudes. ^^ Appli-
ca-se ortlinariamcnte ás mndanças em mal.
— «Assim ipje. agora temendo estes re-
vezes, desejando tua alliança e amizade
te commcttcm estias condições.» Francis-
co de Moraw, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 93. — «E jiosto que to<los estives-
sem cora este temor, porque de todos era
mui amado, sna bondade cm armas tinha
tamanhos segre^los, qne ao tempo- que
RE\T!
REVÊ
REVI
281
mais por morto o julgavam, aciulia com
revezes tão grandes, que desbaratava to-
do o poder á fortuna.» Ibidem, cap. 9-4.
cxtranhoa por naturacs :
sào tão ecrt03 03 cspritos
portugueze3
revcsaroin muitas vezes
03 gostos, 03 appctitos,
que dahi uacera tacs rcvhes.
ASTOsio PRESTES, AVTOs, pag. 73.
— Termo de fortificação. Synonymo
de travez.
— A fijrtuna com seus escarneos e re-
vezes.
— Revezes no mar: tormentas que suc-
cedem ás bonanças.
— Estrepes €711 Te'vezes; melo deitados.
— Fazer o cavalleiro revezes na sclla;
torcer o corpo ao bote da lança, e á des-
compostui-a.
— Seri)iam sem haver revezes ; isto é,
pessoas que saccedessem em logar das que
tinkam servido, para as descançarem.
— Loc.ADv. : A revezes; alternativa-
mente, ora um, ora outro. — Vigiar a
revezes.
— Loc. ADV. : Ao revez; ás avessas, ao
contrario.
Nenhumas pegadas vão
Por aqui dos outros trcs :
Ainda clles ca não são.
Plutão faz rasto de cào
Com as unhas ao revez.
GIL VICENTE, COMEDIA DE RCBEXi.
— oAlmourol, porque lho o cavalleiro
pediu, foi onde estava iliraguarda, que
acabada a batalha, se tirara da janella:
6 dando-lhe conta do que passava, como
sua tenção fosse fazer extremos, mandou
que tomassem a fé ao cavalleiro, que ne-
nhum tempo sei-visse outra senão Arnal-
ta, 6 trouxesse a devisa do seu escudo
ao revez do que a trazia, porque não pa-
recia honesto o amor andar preso em po-
der de seus vassallos.» Francisco de Mo-
raes, Palmeirim dlnglaterra, cap. 110.
— «Alguns dias esteve o embaixador do
Turco na corte do imperador, esperando
por Albayzar cm companhia de Polen-
dos, que o tratava bem ao revez do que
lhe a elle fizeram em Turquia.» Ibidem,
Ciip. 123. — «Bem pareceram estas pala-
vras a todas, e cada uma as approvou
como melhor pode. Já me parece, senho-
ra, disse elle contra Polifema, que Avin-
des agastada d'algunia cousa, e d'ahi vos
nasce tratar-me mal som causa, e porém
eu vas prometto, que por me salvar d'es-
sa suspeita, em que me tendes, eu tra-
balharei Y>ov vos mostrar quanto ao re-
vez do que me julgaes, tenho a vontade.
Assim praticando chegaram ao pé da for-
taleza a tempo que Miraguarda saía de
dentro pêra ir folgar em um batel polo
voL. v. — 36.
rio acima com suas donzellas e Almourol
com ellas: que já naquelle tempo polo
repouso do reino tinha a licença mais
larga.» Ibidem, cap. 126.
— Apresentar benejicios a revezes ;
apresental-os alternadamente, ora um,
ora outro.
REVEZ ADAMBNTE, adv. (De revezado,
com o sutilxo «mente»}. Por turno, a gy-
ro, alternativamente,
REVEZADO, part. imss. de Revezar.
Alternado.
Entra esta descansada gente forte
Onde resiste a forte mas cansada,
A tempo que a dous toem levado a morte
E que oito teem ao sangue aberta a estrada.
Querendo esta também tentar a sorte
Contra a gente mil vezes revezada,
Faz que o Sousa co'o3 seus d'alli se aparte
Toma ella a defensão do baluarte.
r. i>'A!(nn\DE, pbimeibo cebco de diu, cant. 16,
C3t. 110.
— Amor revezado ; amor reciproco,
correspondido.
— 'S'. phir. Os que servem no seu ^\-
ro. ou turno alternado com outros.
REVEZAMENTO, í. m. Revez, alterna-
tiva.
REVEZAR, V. a. Alterar.
^Revezar as sortes, os destinos; va-
rial-os, alternal-os, dando o ser e estados
diíFerentes, e diversas condições.
— Revezar soldados; mandal-os servir
para descançar os que serviram.
— Revezar ao peito os filhos; dar de
mamar ora a um, ora a outro.
— Revezar-se, f. reji. Alternar-se, ter
alternativas.
— Revezar-se o dia comanoute, a luz
com as trevas, etc. ; alternar-se.
— Revezarem-se as estoçòes; succede-
rem-se por seu turno.
— Revezar-se aos trabalhos; alternar-
se.
— Repetir-se no que disse, no que já
fez.
— Figuradamente: Revezar-se de um
cavallo em outro; cavalgar ora em um,
ora em outro.
— V. li. Alternar.
REVEZILHO, s. m. — O revezilho da
meia ; obra que se faz n'ella pela barri-
ga da perna, dando o ponto ás avessas:
junto a elle vão os mates para estreitar
a meia.
1.) REVEZO, A, adj.—Mar revezo.
Vid. Revesso.
— Que tem veia,s torcidas, e empeça-
das umas pelas outras.
— Figuradamente: Diffieil, impidoso,
que diíBculta a conchtsão das cousas. —
Negócios revezes.
— Madeira reveza ; madeira cujas fi-
bras correm torcidas para um lado, e pa-
ra o outro, e não longitudinalmente cal-
das, ou com uma só direcção; é má de
lavrar e alizar.
2.) REVEZO, s. m. Pasto ceiTado para
crear capim, relva, ou grania, e para
onde se muda o gado, em quanto outro
cercado empasta, e cria herva, não sen-
do pisado e comido do gado por certo
tempo.
— Emprega-se também no sentido fi-
gurado.
REVIDAR, r. a. Tornar a envidar, en-
vidar sobre o envite.
— Figuradamente : Corresponder com
cousa maior.
— V. n. Revidar com injurias,
— Fazer outro tal.
Meu Lemos c meu descanso
eu sou teu.
Lem. Eu cujo sou,
meu Philippe.
Silv. Se vem lanço
cu revidarei.
Mn/;. Mais manso.
A5T0KI0 PRESTIS, ACTOS, pag.
REVIDE, s. 77!. O acto do revidar, a
aeçào de tornar a envidar.
REVIGORAR, r. a. Dar ou fazer adqui-
rir nova força, novo vigor.
— V. n. Adquirir nova força.
P-EVÍMENTO, í. m. A acção de rever,
reçumar, ou soltar, e coar agua pelos po-
ros.
— Termo antiquado. Revista de feito,
de demanda.
REVINDICADO, parf. pass. de Revin-
dicar. Vid. Reivindicado.
REVINDICAR, v. a. Vid. Reivindicar!
REVINDICTA, s. /. 'De re, e vindicta).
Vingança tomada de quem nos fez inju-
ria, ou acinte em vingança de outro, que
primeiro lhe fizéramos.
— Vingança de vingança. Vid. Reven-
dita.
REVINGADO, part. pass. de Revingar.
Vingado segunda vez, de novo.
REVINGAR, 1-. «. Vingar segunda vez,
vingar de novo.
— Tomar uma vingança maior que a
offensa.
REVIRAR, V. a. Tornar a virar, pôr
ao contrario do que estava. — Revirar
umas calças.
— Figuradamente: Dar resposta agu-
da e picante, a quem nos picou, ou tam-
bém recriminar.
— Revirar ttma bofetada ; dal-a como
em resposta de affronía.
— Tornar a accommetter.
— Dar um revirete, remessar, dando
ao que arremessou.
— Revirar-se, v. reji. Tornar-se a vi-
rar.
REVIRAVOLTA, s. f. Geito ou força
que se emprega para voltar qualquer
cousa ao contrario do que estava.
REVIRETE, s. vi. Replica aguda, ou
picante.
REVISÃO, s, f. (Do latim revisio). Ac-
282
REVI
Ri:v()
REVO
vSo pela ((ual ho revi, o hií oxainiii.i tlc
jiovo. ViJ. Revista, quo ó ilifTcrento.
REVISITA, s. f. Vi.l. Revisitação.
REVISITAÇAO", ». /. Ac^ào do revisi-
tar.
— Seffunda visita, visita feita de novo.
REVISITAR, V. <i. (Do latim revisUa-
ri-i. Tornar a visitar, visitar de novo.
REVISOR, A, ». ressoa quo rovê, c
cxaniina.
— Pessoa que revê, e emenda as pro-
vas da imprensa.
— S. m. Censor de livros.
REVISORIO, A, adj. Que diz respeito
ii rt'vista ilc um processo.
REVISTA, s. /. Segunda vista, segun-
do exame.
Glorioso San Dom Martinlio,
Apoatolo c Evangelista,
Tomac cate feito á revista,
Porque leva mao caminho,
E dac-lhc csprito.
QIL VICENTE, FARÇAS.
— Revista das tropas; resenha, exame
do seu estado, e disciplina, que se faz nos
princípios dos mezes, ou nos quartéis á
noute, etc.
— Purgar a revista. Vid. Purgar.
— Figuradamente : Dar revista ; exa-
minar de novo, examinar segunda vez.
f REVISTADO, part. pass. de Revistar.
— Tropos revistadas.
REVISTAR, V. a. Passar revista. —
Revistar «s tropas.
— Revistar o feito; examinal-o em
instancia de revista.
— llevêr, examinar pessoas, cousas
que não passem por alto, ou levem cousa
alguma em fraude.
REVISTO, part. pass. de Rever. Tor-
nado a vêr, visto segunda vez.
— Livro revisto ; livro corrigido, emen-
dado.
REVITADO, part. pass. de Revitar.
Vid. Rebitado.
— tíaberes revitados ; saberes agudos,
í, mil parte.
— Emprega-se também figuradamente.
REVITAR, V. a. Vid. Rebitar.
REVITE, s. m. A acção de revidar, se-
gundo envite.
— Vid. Rebite.
REVIVER, V. «. (Do latim revivere, de
IV,, e i'iit')-e). Voltar á vida.
— Reanimar-se. — «Outras que se mor-
rem pelo cheyro do cebo, c outras que
parece que revivem com o chevrinho do
vento do lium arroto.» Cavalleiro d'01i-
veira, Cartas, liv. 1, n.° Ití.
— Fazer reviver vma pessoa; dar-lhe
força, vigor, entregal-a á esperança, :l
alegria.
— Figuradamente : Viver de novo.
— Fallando das cousas, renascer, re-
novar-se.
— Figuradamente : Revivem as plan-
tas, as esperanças, etc.
REVIVICER, r. „. Vid. Reviver.
1- REVIVIFICAÇÃO, ». /. Acção de fa-
zer renascer a vida.
— Reviviflcação das plantas e dos ani-
mues ; diz-so do termo «las inanifcstaçijes
vitaes depois da dessecação, o somnu Jii-
bernal ou a morte apparontc.
— Termo de chimica. Synonymo de
i'educí;ão.
— Reviviflcação de itm metal; volta do
oxvdo ao esta o uwtallico.
I REVIVIFICADO, part. pass. de Revi-
vificar. ('iiinlu/iilo á força metallica.
REVIVIFICAR, V. a. (Do latim revivi-
Jlcare, de re, e vivijlcare). Vivificar de
novo.
— Termo de tlieologia. A graça revi-
vifica o pecrador, ella dá-lhe uma nova
vida espiritual.
— Termo de chimica. Revivificar o
mercúrio; restituil-o ao seu estado metal-
lico.
f REVIVISCENCIA, s. /. Acto de revi-
ver,
— Termo de physiologia. Faculdade
de retomar as manifestações da vida, de-
pois do as ter perdido por uma desseca-
ção mais ou menos completa.
f REVIVISCENTE, adj. 2 gen. iDo la-
tim reviviscens). Que pôde ser reanimado
pela humectação, depois de ter perdido,
pela dessecação, todas as appareneias da
vida. — Os rotiferos são reviviscentes.
f REVIVISCIVEL, adj. 2 gm. Que é
dota'lo de reviviscencla.
REVIZITAR, V. a. Vid. Revisitar.
REVOADA, s. f. A acção de revoar.
— O regresso da ave voando.
REVOAR, V. n. Tornar a voar, voltar
voando.
— - Voar por um sitio varias vezes.
REVOGAÇÃO, s. f. Acto de revocar. —
A revocação de uma disposição. — A re-
vocação de nm empregado.
REVOGADO, part. pass. de Revocar.
Chamado c- mandado que torne.
— Rebocado, trazido a reboque.
REVOGAR, V. a. Do latim revocarc, de
re, e vocare. Chamar, e ordenar que
torne. — Revocar um prefeito.
— Fallando das cousas, annullar, de-
clarar nuUo.
— Revocar os soccorros; tornar a pe-
dil-os, ou chamal-os.
— Revocar o errado caminfw que hva;
fazer (|U0 proceda bem, o mude de vida.
— Revocar as artes, as scieneias, agri-
cultura, etc.
— Revocar os espiritos.
— Rebocar o navio.
— Revocar o curso da natureza; fazer
resuscitar um morto.
REVOGATÓRIO, A, adj. Vid. Revoga-
tório.
REVOGÁVEL, adj. 2 gen. (Do latim re-
vocabilis^. Que pôde ser rcvocado. —
Unia procuração) v revocavel.
— Que se pôde fazer tornar atraz.
I REVOGAÇAM, #. /. Vid. Revogação.
— -«K naiii lazia latu bo Jy<;iitiiia mais
que pêra noij fazer terror jK-ra que ILc
déssemos Lo Ambre per hum dos presos,
porque nam nos po^lia dar ho outro, por-
que era ja sentenccado a morte, e contír-
maila ha neiitença por cl Rcy, que nam
tinha revogaçam, e elle queria aver ho
Ambre, porque esperava aver dei Hey
outra mercê mayor que de Ponchassi p<jl-
lo .\nibre.» Frei fiaspar da Cruz, Trata-
do das cousas da China, cap. l!t.
REVOGAÇÃO, s. f. A acção de revo-
gar, de annu.lar, de desfazer o que está
feito.
REVOGADO, part. pass. de Revogar.
AunuUado. — Lei revogada. — (trdent re-
vogada. — «E ElRcy meu iSonhor, e Pa-
dre na dita sua Ley estabeleceo, e man-
dou como se ouvesse de pagar ouro, e
prata promctti<la, o devuda per algum
contrauto dafforamento, ou darrenda-
mentoj e assy parece aver revogada a
dita Ley feita pelo dito Senhor Rei Dom
Joham meu Avoo.» Ord. Affons., liv. 4,
tit. 2, § 18. — « Outro sy averá lugar,
quando ao tempo da Doaçom aquelie,
que a fez, nom avia filho algum, e ao de-
pois veeo a nascer d'antre ambos; por-
(jue em tal caso logo e?ta Doaçom ficou
revogada per bem da nascença do filho. •
Ibidem, tit. U, § 3.
— Magistrado revogado ; magistrado
destituido, privado do officio, do posto.
— Emi)rcg.a-se também figuradamente.
REVOGADOR, A, s. Pessoa que revo-
gou.
— Pessoa que desfez o que estava fei-
to, que annullou.
REVOGANTE, part. act. de Revogar.
Que revoga, que annulla.
REVOGAR, 1-. a. iDo latim revocare>.
Annullar, desfazer o que está feito. —
Revogar a lei, a ordem. Vid. Revocar. —
«E se algum homem vendeo alguma cou-
sa de possissom sem outorgamento de sua
molher, a saber, contra a postura da Cor-
te, e a molher quizer esto revogar pi-r
Carta dElRey, assy como he postura da
Corte, aduga o marido comsigo, quando
vier perante o Juiz alli hu ho a possis-
som, e doutorgamento de seu m.irido o
taça.» Ord. AÍEfons., liv. 4, tit. 11, § 1.
— <> O qual costume visto per ni>s, de-
clarando em elle dizemos, que o dito cos-
tume aveni lugar, quando aciuelle, que a
Doaçom fez. a revogou ova sua vida.»
Ibidem, tit. 14, S 2. — «Nom embargan-
te Cartas de graças, ou privilégios, ou
mandados, ou sentenças, que sobre esto
tenhaõ ile nós. ou de nossos antecessores,
as quaeoâ revogamos, e avemos por ne-
nhuàs, c mandamos que Ihe^ non sejam
guardadas contra esto. que aqui per uos
he estabelecido e hordeuado.» Ibidem,
tit. 26, i? 8. — «Estas declaiaçooeus man-
damos que se guíinlom segundo por I*<>s
he declarado, revogando a ilita Ley, co-
EÉVO
REVO
REVO
285
mo dito he, por seer contra Direito Co-
mum, e des y por nunca seer usada, nem
guardada em estes Regno? em alguum
tempo.» Ibidem, tit. 37. § õ. — «E auen-
do respeito a Hieronymo cerniche ser es-
trangeiro, lhe reuogou depois a sentença
em degredo pêra Portugal, e deu a capi-
tania da nao de Diogo mendez de Vas-
cogoncelos a Fernão Perez dandrade.
que a tomou, com sobrisso ter muitos
comprimentos com o mesmo Diogo men-
dez, e ha de Hieromino cerniche deu a
dom loam de lima, e a de Pêro coresma
a Gaspar de paiua, e a de Balthesar da
sylua, por elle estar ainda doente em
Cananor. a laimes teixeira.i) Damião de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 3,
cap. 16.
— Emprega-se também no sentido fi-
gurado. — Revogar a ordem dos destinos.
REVOGATÓRIO, A, adj. Que revoga,
que annulla, que desfaz o contracto, doa-
ção, instituição, nomeação, etc.
— Que se pôde revogar.
— <S'. /. — A revogatória do papa.
REVOGÁVEL, aãj. 2 gen. Que se pôde
annuUar, desfazer. — Lei revogável.
REVOLTA, s. /. (Do francez revolte).
Levantamento contra a authoridade esta-
belecida.— nPorque como elle era imigo
capital de Melique Az, desejava haver
em Dio huma fortaleza nossa, polo ver
mettiJo em alguma revolta comnosco.»
Barros. Década 2, liv. 8, cap. 5. — «Por-
que cobraram os Mouros tanto animo
neste embaraçar dos nossos» que desce-
ram abaixo, metíendo-se na agua ás lan-
çadas com elles ; na qual revolta morre-
ram estes Capitães, Coi-istovão Mascare-
nhas, António d'Azevedo, Jorge Garces
filho do Secretario Lourenço írarces, e
assi mataram Christovào Pacheco, e ou-
tros té numero de doze pessoas.» Ibi-
dem, liv. 9, cap. 2. — aO que fez por
nam ficar da casta destes Reis senam ho
que regnaua entam, por naõ reerecérem
no regno algumas reuoltas, e aleuanta-
mentos, poi-que estes todos eram herdei-
ros, e seus filhos delles, os quaes hos tv-
rannos, que governauam ja de muito tem-
po atrás aquelle regno, tinham por cos-
tume.» Damião de Ooes, Chronica de D.
Manoel, part. 3, cap. 80.
Durando esta rtvolta, que a braveza
Do combate algum tanto repinmira,
A gente que de lá da fortaleza
A favor dos Christãos antes partira,
No baluarte entrou com grãa presteza
Abrazada em furor, acesa cm ira.
Com que dmi novas forças aos amigos
Encheo do medo os peitos dos imigos.
TRANCISCO DE ASDII.VDE, PBIUEIBO CERCO DB DIC,
cant. 10, est. 70.
Quasi doer-se da revolta antiga,
Qae em sempiternos cárceres o fecha,
Donde a furto sahindo. em pranto toma
A ferrolhar-sc cm lòbrega morada.
J. A, PE MACEDO, VIAOEM EXTÁTICA, Cant. 4.
— Volta.
— Figuradamente : Diz-se de uma per-
turbação moral comparada a uma revolta.
— Confusão de muita gente, desor-
dem.
— Ambages, rodeios para prolongar a
conclusão de algum negocio.
— Alvoí-oço, rebate dos inimigos, ou
a desordem causada por elles. — «Aquel-
le dia á noute chegarão novas, que en-
travaõ por Oòchim de cima oito mil Nav-
res Amoucos, e que vinlião fazendo gran-
des estragos, com o que a Cidade se poz
em revolta.» Diogo de Couto, Década 6,
cap.
« E por acharem a por-
ta fechada, por Ruy de Brito a fechar
sobre si, quando sentio a revolta debai-
xo, discorrendo elles pelas casas dos Of-
ficiaes, foram dar na do Alcaide mór Ai-
re.s Pereira, que não teve outra salvação
senão lançar-se por uma janella por ir
soccorrer a Ruy de Brito, e nesta casa
mataram a Mesti-e Jorge Fysico, e dous
homens de serviço que estavam com elle.»
Ban-os, Década 2, liv. 9, cap. 6.
Nada basta a deter a arrebatada
Fúria, dos infemaes tiros malditos,
Sente algum damno a gente baptisada
Que dhuns sahe sangue, doutros os espritos :
Nova revolta sente a nossa armada
Com nova confusão, com novos gritos,
Que este novo embaraço que lhe veio
Lhe deu mais que fazer, mas não receio,
p. i)'axdradk, PKnrEiBO cebco de DIU, cant. 7,
est. 55.
Cresce em tanto a revolta e a crueldade
Donde a todos mortal damno succede,
Ja descem de lá alguns da Christandade
A que a ferida estar lá em cima impede ;
Qual com queixosa voz, e pied.ade
Para a alma que sahe remédio pede,
Qual pondo nas feridas óleos, ovo,
Se toma a receber outras de novo.
iBroEM, cant. 19, est. 80.
Ja nesta hora a infiel gente atrevida
Com a gente fiel andava envolta.
Com fúria tão acesa c embravecida
Que huma e outra parte o sangue e a vida solta ;
Mas quanto solta mais de sangue e vida
Tanto mais o furor cresce, e a revolta,
Ja por todo o logar a morte vôa,
Era toda a parte o estrondo e a grita sóa.
mrDEM, est. 32.
— «Acolhendosse pêra pouoaçaõ onde
estaua a força da gente, e como isto fos-
se tam de súbito posse todo o araial em
reuolta, mas como ha gente era muita,
assi dos gentios, como dos mouros, e an-
tre elles ouuesse homens práticos na guer-
ra se começarão de fazer em coruo.» Da-
mião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 4, c<ap. 62.
— AiTuido, briga.
Nunca veio hum grão mal sem companhia.
Que a fortuna por pouco não começa.
Na barc.iça o Falcão da artilheria
Recolhera a miúda c a grossa peça,
Nem a grande revolta que lá havia
No baluarte então faz que lhe esqueça
Qualquer cousa das que elle dentro encerra
Que podessem ser boas para guerra.
FKAXCISCO DE A>'DE.\DE, PKIJlEIiiO CEKCO DB DIU,
cant. 11, est. 10.
Cresce a revolta, quanto cresce o vento,
Que cada hora mais bravo o mar combate,
Porém não se descuida hum s<5 momento
O comitre infiel neste combate.
Ja se curulha o longo palamento
Também o grosso mastro ja se abate,
Cabe de novo da proa o férreo dente,
Desapparece do alto toda a gente.
IBIDEM, cant. 13, est. 56.
REVOLTADOR, A, s. e adj. (De revol-
ta, e o suffixo «dôr»). Que incita á re-
volta.
— Revoltadores da plebe ; os excitado-
res da uuiào, motim, sedição, perturba-
ções.
— Revoltoso.
REVOLTANTE, parí. act. de Revoltar.
REVOLTAR, v. a. Fazer voltar para
traz, donde sahiram.
— Produzir revolta, fazel-a.
■ — V. n. Tornar a voltar, voltar de
novo.
— Figuradamente : Retomar, reinci-
dir.
— Revoltar-se, v. rejl. Revolver-se.
— Pôr-se em movimento, união, per-
turbação, alvoroto.
REVOLTO, A, adj. (Do latim revoltus).
Movido de baixo para cima, revolvido.
— «Em esta Aldeya habitão Christãos
gentes brancas, entre as quaes ha hum
género delles trabalhadores, que como
ca os ratinhos, os quaes tem huns enge-
nhos de paos com travessas, e taboas de
huma parte, que t«m o assento como pa-
diola, e os paos de huma parte saõ re-
voltos para cima como rábicas de arado,
sobre o que põem hum costal, e o homem
com os braços para trás pegão nos ditos
paos, e vão arrojando pela neve, e para
nelia naõ atolar embrulhaõ mnyto pano
de burel.» António Tenreiro, Itinerário,
cíip. 24.
— Crespo, torcido.
— j4giti« revolta; agua com qualquer
agitação, que muitas vezes a turva. Vid.
Envolto.
— Negocio tão revolto. — «Espedidos
estes Embaixadores, e navios que Af-
fonso d'Alboquerque mandou, começou
entender em sua partida pêra a índia,
leisando primeiro assentado todalas cou-
sas da Cidade o melhor que se pudesse
fazer em tão breve tempo, e em negocio
tão revolto como se tratou depois que
chegou a ella té sua partida.» Barros,
Década 2, liv. 6, cap. 7.
— Terçado revolto ; terçado cui'vo pe-
la cota.
— Curvo para baixo, ou retorto. —
Ave de bico revolto.
$
28-1
IIEVO
KEVO
REVO
Maifl ncliado
('• o que cuida f|iii! cn^jana
íicar Hcmpri; o ciiKiiiiado.
Por(|iio i;ili; r luuito rico,
avo de re.vollo bico,
do lidaljço alaga a terra.
ANTÓNIO rnESTEfl, AUTOS, pag. Ifj.T.
— Fogo revolto ; nos Barabenitos eram
chaininas pintadas com as pontas jiara
baixo, o cjiio SC fazia aos que cscapavaiu
de ser queimados nos autos de fé.
— Tampo revolto ; tempo níio sereno,
turbado.
— Figuradamente : Inquieto, ponto cm
revolta. — «Ao qual lastimoso c eruel-
lissimo espectáculo bo levantou cm todo
o povo bum tamaulio tumulto tlc gritos c
V0Z03 que a terra tremia debaixo doá
pois, 6 no campo se alcvantou hum mo-
tim com que ellc esteve tão revolto c
baralhado, que a el lley llic foy necessá-
rio fazorsc forte na sua estancia cõ seis
mil Bramas de cavallo e trinta mil de
pé, o ainda assi estava bem cheyo de
modo do que sempre arreceou que ou-
vcsse, como ouvcra de ser se a noite o
nào estorvara.» Fern.^o Jlcndes Finto,
Peregrinações, cap. \h2,
Moatrallie alli também aqucUa insigne
OppuUonta cidad<- Oliaboiíenso
CiM-caJa por elKey, e afiucUa armada
Que oní seu fauor- aa ondas diuidiíi.
Iluuia dura peleja alli lhe mostra
Na cidade renolta, o posta cm armas,
Por hum a parte o Rey por for(;a entraudo
Os Britanos por outra cm sangue ii tiugcin.
conTí itBAL, NAUFnAoio DB sEPiTDVÉDA, cant. 13.
Toma sobro si Prothco, com suspiro
Das entranhas diz falso Amor injusto.
Que reitoUa anda ea neste meu peito
{^iie grande confusão nesta alma triste
Que duros .sobresaltos, que desordens,
{Juc sospcitas, reeoyos, que ciúmes
Que falsas csperani,'.a3, ((uc fadigas,
Que ânsia, e afllicçào do pensamentos.
jniDKM, cant. 14.
— Envolvido. — Ter á vida revolta
CHI cousas doeste miuido,
— O mar revolto ; o mar que anda re-
volvido, inquieto com vento.
Quando obscuro mortal, do Inferno aborto
Maia (pio rcvoUo mar, feio, iracundo.
Deixar om lueto, cm lagrimas absorto,
Como deixara Saladino o Mundo :
Até negando da esperança o jwrto
Aos homens neste pélago profundo :
Qu;d vil escrava sopeando a Terra,
lim cavilosa paz, e injusta guerra.
j. A. DE MACKDO, o oníENTE, caut. 12, cst. 102.
Escoltada da l\[orte assombra o Mundo
Quando corrompo o ar ; nào de outra sorte
O mar qu'lio la<;o das Nações, se torna
Origem de uiil bens, se ho lizo e mauso,
Poren\ dos bravos furacões reiolto.
IDKM, A NATUREZA, Caut. 2.
— Voltado, dobrado.
— Figuradamente : raixòis revoltas.
— A cidade revolta on nrinau e iun-
Irumento».
REVOLTOSO, A, adj. (\h> revolta, c
o Huffi.XD «os0"i. Quo suscita c jiroduz
revoltas. — Pessoa revoltosa. — «E en-
tro algumat) que elle pódio ao Víbo-Uov,
foi que levasse dali certos homeuiu dos
(|uo ostauaB om companhia de (íon^lo
(iil por scrcui reuoltosos.» Rarro.n, Déca-
da 1, liv. 9, caj>. -i. — UiM;is u.^o te acon-
selho quo a desembarques cm terra, por-
que luuytas vezos a vistu cau.sa cubira,
o a cubica, desmancho na gente quieta,
quanto mais na revoltosa c de má cons-
ciência, que tem por natureza iuciinar.se
mais a tomar o albeyo, que a dar do aeu
aos necessitados pelo amor de Deus.»
Ferniio Slendos Piuto, Peregrinações,
cap. 45.
Mas já que tu, oh Jíispo rtrolloso,
E teu infame, adulador Cabido
A mudar me obrigais com vis Cabalas
Do tão santo propósito, — até onde
Chega dos Laras o valor, o o brio
Desta vez provareis. Isto dizendo,
I.i'vanta-se furioso •, c sem respeito
Ao real Rober, que ganhado tinha.
DINIZ DA CRUZ, nrssoPB, cant. 4.
Quo a revoltosa mivo por sceptro empunha.
Vendo sahir da blasfemantc bocca
Revoltos turbilliõe» do fumo e fogo,
Quaos dlléela, e do Vesúvio exhala o seio.
J. A. DT5 MACEDO, MEDITAÇÃO, Cailt. 1.
I",llo OS mares crcou, cUe os aepára
Da terra, quo apparece árida, e secca :
(^uo vantagens, qu<^ bens do mar lho nascem !
Por oUe os povos, o as nações se ajuntào -,
Eile hc laço commum, que a todos prendo :
Xa essência he sempre igual, no aspeito lie vario
Qual espelhado Ceo, tranquillo, o lizo ;
Qual revoltoso inferno, horrendo, e bravo.
IBIDEM, cant. 2.
— Litigioso, suscitador de demandas e
accusaçõcs.
— Revoltoso arruido.
— Crime revoltoso.
Mas se os duros grilhões do corpo arrastro.
Também lhe imponho as leis ; livre vontade
Nunca, se quer, obstáculos encontra.
Da guerra das pai.xões desarmo a fúria ;
Dos preeipicios, se me apraz, nu» tiro;
l^osso enfrear os férvidos desejos,
l'os30 dar tudo á natural virtude,
Tudo negar ao revoltoso crime.
J. A. DE MACEDO, UEDITAçÃO, Cant. 1.
— Que se revolta, c rebella.
— Tempo revoltoso; tempo de revol-
tas, uniões, tumultos.
— Que 8C servo de rodeios, e amba-
ges para delongar a demanda, ou paga-
mento, e empalhar os credores. — <( Se o
Juiz adiou que o accusador he m.alicioso,
ou revoltoso, ou useiro do fazer taaes
qucrellas c accusaçõcs, ninda que aja per
que can-egua e pague as custas, dò-lhe
mais hunia pena arbitraria, qual vir que
mereço, otc.* Ordenações AfTonsinas, liv.
:'), tit, 2ít, t? a.
— Suhrtt.iiiti vãmente: Os revoltosos.
REVOLUÇÃO. ». /. (Do latim r^vAutio,
de rtcolulus). Volta de um uétro ao pon-
to d'onde partiu. — Aê obnervar/tt» eu-
iroiKJiiiicaH vuislram que oê (jvulradu* do$
tempos das revoluções lUi» planttas eíião
entre si como o» cubos </<; suas distancia»
do centro coiiimum de sua revolução. —
Tudos os planetas fazem swis yrawits re-
voluções em ruda do sol, mas estas revo-
luções são ílesiíjufus entre si, seguiulo as
distancias a <jue os jjlanetof eitàv do sol.
— A revolução de Marte faz-se em volta
do sol evi duus amios e em viníe e quatro
horas em volta do seu eixo,
A gloria do Immortal me oppriínc, c ctga
Se, ousado indagador, lhe peço a chnve
Dos áureos cofres, quos uistiírios giuu-dâo,
P.atal herança do mortjil primeiro !
Se rompe n'hor!zonte a argêntea Lun,
Entào de Tlietis no cerúleo império
Jievolni;'to inaravilhudu obs Tvas.
J. A. DE MACEDO, A NATUBEZA, CUnt. 3.
,Entào de Thetia no cerúleo império
lievoliic/io maravilhosa observo :
Entumoce-se o mar, cresce na» praiaii,
V. outra vez «e contraho, deixando aa margens ;
Manifesto periodo, e constante,
Quai.s ob.servo girar nos Ceos os Astros:
Nào terminada oscilação descubro.
IDEM, MEDITAÇÃO, Caut. 2.
— Tempo que um a.stro emprega a
descrever sua orbita, cm grrar sobre seu
eixo.
— Estado d'uma cousa que se revolve.
— Termo de geometria. Diz-se de um
movimento de rotação que uma linha ou
um plano determinado descreve em roda
de um eixo immovcl.
— tíuperjicie dn revolução ; supcrticie
gerada por uma curva qualquer que gyra
ora volta de uma recta tixa, de sorte que
cada um dos seus pontos descreve um
circulo n'um plano perpendicular ao eixo.
— tíolido de revolução ; todo o solido
que se pôde considerar como produzido
pelo movimento de um plano determina-
do em volta de uma linha recta que for-
me um dos lados deste plano.
— Diz-sc dos períodos do tempo. — A
revolução dos séculos, das estaçues. — A
revolução fatal do tempo a que tudo cede.
— Antigo termo de medicina. Revolu-
ção de humores; movimento extraordiná-
rio no.s humores.
— Figui"adamentc : Mudança nas cou-
sas do mundo, nas opiniões. — « Tercei-
ra : levantai"-se hum valido com o meneo
de tudo : De tudo resulta, que com ty-
rannia se izontaõ, com ambição roubaõ,
e com soberba atropelaõ os inferiores: e
f;\zendo-se odiosos movom revolnçoens,
como cm nuvem prenhe de oxhalaçoens,
que nrio socega, até qne nàio arrebenta
com trovoons, e rayos, assolaçoens, e rui-
REVO
REVO
REVO
285
nas.» Arte de furtar, cap. 19. — -«Eis
alii, senhor, — disse o abbade esmoler-
mi')r, encamintiando-se para o monarclia
— porqiia obstei tanto tempo a que Fr.
Vasco viesse fazer-vos esta revolução
odiosa. £ o que não teria acontecido, se
eu tivesse podido advinhar que elle acha-
ria ensejo e meios para chegar aqui...»
Alexandã-e Herculano, Monge de Cister,
cap. 2õ.
— Mudança violenta na politica e no
governo de um estado.
— Diz-se dos acontecimentos naturaes
que tem mudado a face da ten-a.
— Revolução das almas; transmigra-
ção.
— Revolução dos cahdlos. Vid. Rede-
moinho.
— Annuas revoluções da terra.
A longa duração de qaasi hnin cento
De anauas reroluçòes da Teita iucrte,
Aos profundos Astrónomos a entrega
FontenolJe didcissimo, que ílundos
Vio mais no espaço, que áridas Sciencias
Tanto soubera ameuisar no estilo.
J. A. DE MACEDO, TL4GEM EXPAUCA, Cant. i.
— Syx. : Revolução, insurreição. Vid.
este ultimo termo.
REVOLUCIONADO, part. j)a3s. de Revo-
lucionar. Mudado por uma revolução.
Vid. Revolto.
— Posto em estado de revolução.
REVOLUCIONAR, v. a. Vid. R'evolver.
— i'Gr em revolução, agitar por idêas
revolucionarias .
— Propagar os principios revolucioaa-
rios.
— Revolucionar-se, v. rejl. Figurada-
mente : Pôr-se em revoluçno, produzir
uma viva emocào, revoltar-se.
REVOLUCIONARIAMENTE, adv. (De re-
volucionário, com o suffixo «mente» !. De
luu modo revolucionário; como nos tem-
pos de revoiucào.
REVOLUCIONÁRIO, A, adj. Que tem
relação, que é favorável ás revoluções
politicas.-^ — Governo revolucionário.
— Medidas revolucionarias; medidas
tomadas em tempo de revolução, com um
caracter violento, e extraordinário.
— Substantivamente : Partidário das
revoluções. — Um ardente revolucionário.
— Propagador de revoluções.
— Pessoa que pugna por alterar o re-
gimen, etc, do estado.
REVOLUTO, jmrt. pass. de Revolver.
(Do latim revolutus, de revohere). Ter-
mo pouco era uso. Enrolado.
REVOLUTOSO, A, adj. Termo de botâ-
nica. Enrolado para fora, ou para baixo,
fallando das folhas, corollas, etc.
REVOLVEDOR, A, s. Pessoa que re-
volve.
— Pessoa que provoca desordens, e
revoltas.
— Pessoa que aza desordens, e as ne-
goceia.
REVOLVELHAS, s. /. 2J^«''- = Signifi-
cação incerta.
REVOLVER, r. a. (Do latim revohere).
Mover peiturbadamente, — Revolver a
terra cavando-a.
Ia se trazem sotis : delgadas redes,
Co ellas a ribeira ja se atalha,
Ia com forçosos golpes reitolaendo
As agoas, ticam turuàs, e confusas.
COBIE KEAI., NACFKAGIO DE SEPCLVEDA , Caut. 1.
Diogo Mendez Dourado, varão graue:
Denodado, feroz, robusto, e forte
Ajunta-se a este numeio, e reuohie
A cortadora espada a todas partes.
António de Sampayo cujo aspecto
Mostra do coração o viuo esforço
Outro Arcabuz nas màos tem cõ que ofifende,
E mata grande copia dos imigos.
IBIDEM, eant. 9.
Estando assi confusos sem sabcrsc
Eesoluer no quc mais vissem acr vtil,
O diuino castigo reuoluendo
Entre todos a espada sancta e justa.
Despede aqui, e alli Eayos forçosos.
IBIDEM, cáíit. 15.
Da tarde cm todo o resto não socega,
Nem na profunda noite estas ideias
O deixaò descansar ura só momento :
Sobre os fofos colchões revolve o corpo,
Mil maneiras pensando do adulal-o.
A. DIXIZ D.V. CBUZ, HYSSOPE, Caut. 1.
— Jlover em gvro.
— • ^'èr, examinar muito. — 4 Para
achar esta palavra, e para saber as suas
explicaçoens nào he necessário incommo-
dar as Historias Antigas, nem revolver
Ai-chivos, e Cartórios velhos.» Cavalleiro
d'01iveira, Cartas, liv. 1, n." 5õ.
— Revolver na phantasia; meditar
muito.
Pouco obcdcícc o Catual cornito
A taes palavras, antes revolvendo
Xa phantasia algum subtil e astuto
Engano diabólico e estupendo :
t>u eomo banhar possa o ferro bruto
Xo sangue aborrecido estava rendo,
Ou como as Xaus em fogo lhe abrazasse,
Porque nenhuma á pátria mais tornasse.
C.4M., Lus., cant. 8, est. 83.
— t Estando assim comsigo revolvendo
na fantesia se acharia algum remédio em
cousa que o já nào tinha, teve por seu
conselho encommendal-o ao efiquecimen-
to; mas quando as cansas muito doem,
mal se pode isto fazer.» Francisco de
Moraes, Palmeirim de Inglaterra, cap.
107.
— Revolver os olhos; meneal-os, vi-
ral-os a alguma parte.
— Fazer voltar atraz, ou mudar a di-
recção. — « E a tempo que a manhã es-
clarecia, tornaram a cavalgar; e, revol-
vendo tudo o que lhes pareceu que outro
dia não andaram, nunca poderam achar
novas da donzellaj de que a dona ia tão
triste, que com nenhumas palavras, de
quantas o cavalleiro do Tigre lhe dizia,^
se podia contentar.» Francisco de Mo-
raes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. lOõ.
— Mexer, remexer, fazer embrulha-
das.
E em gastar desordenados,
e tantos trajos mudados,
tanto mudar de viucr,
tanto tractar, reuolner,
tanto ser negociados.
GABCIA DE REZENDE, MISCELLASEA.
Ah! se de hum Vate a voz revolve as Cinzas,
E chama do sepulcro as sombras nuas,
Deixa, ó Lucrécio, a tenebrosa estancia,
Contempla, escuta meus cadentes versos;
Olha a seus pés teus louros esmagados,
Transformados cm pó. Vénus hum tempo
Fez em tomo de ti marchar as Graças;
Mas cahio teu Império, he cinza, he nada.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Cant. 4.
— Revolver no peito alguma cousa.
Tremulo, e semivivo c pobre Zotc
Então se foi dalii escapulindo ;
E o farfante Deão fica suspenso.
No peito revolvendo a quem daria
A grande commissào : — quando á memoria
Lhe a traz a Senhoria (que a seu lado
Invisivcl assistel o bom Gonsalves,
Escrivão atrevido, e sem piedade,
Que a si inesmo prendera, se podéra.
Disiz DA cBcz, nvssorE, cant. -7.
— Revolver fogo. — «Que, ameaçando
com imi golpe por nma parte, revolvia
logo d'outra: e d'esta maneira lhe deu
duas ou três feridas de muito damno;
em especial uma, que trazia na perna
direita donde saía muito sangue, de que
a donzella e o escudeiro tinham tanto
medo, que se não sabiam valer.» Fran-
cisco de^ Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 107.
— Revolver meditando; considerar mui-
tas vezes.
— «Irei, simn rompe o vate, continuando,
Alto, o discurso que atélli na mente
Comsigo meditando revolvera,
«Irei, sim. Nào achais que devo, ainigo?»
— 'Deveis o quêV»
— «Ir.i
— «Onde?.
— *Onde é meu fado.»
GABBETT, c.imões, cant. 4, cap. 2.
— Revolver o cavallo; fazel-o dar vol-
tas em pouco terreno.
— Revolver na memoria ; muito medi-
tar.
— Revolver os séculos; lêr as historias
d'elles.
— Causar revolta, desordens.
— Revolver o cavallo; viral-o pelas rèi
deas.
— Revolver alguma cousa no pensa'
mento; consideral-a muitas vezes.
286
REVO
. Revolvia-me « temi ; com intrigiis, o
uiiiotiiiandii.
-Revolver n Urra, o cio; produzir
}<raiiiK'rt revoltas.
Revolver a vontade de alguém con-
tra oalram; indispor, fazer com quo O
veja mal.
— O tufão revolve as ondas.
K maiit atroz os pnipoUdo« marcst
Da Cliiiia, oiul.' o Tvifão reví>ti:f art onda»,
K tapa repentino os CeoJ, o o.i Astroj !
J. A. DH MiCEnO, A VATI-RB7.A, CilUt. 2.
Revolver o monte., a floresta ; andar
por elle, e por olia, em procura de al-
fíuem.
— Em um revolver d'ullws; em um
momento.
— Revolver-se, v. refl. Aptar-se, mo-
ver-ae oin fíyrc», <>u em divei-sas direcções.
«Ho qu.-il combate cstam ate que o
Elephante doàtituido das forças vitaes
(per caso do sangue que lhe falecei CJie,
louando debaxo de sim a serpente sobre
que se revolue, a qual vai tam incbada
do sangue que bebeo, que arrebenta, e
assim morrem ambos, o do sangue que
sae da cobra que ícspalha pelo chaui.»
Damiilío de Góes, Chronica de D. Manuel,
part. 4, cap. 18.
■ — Revolver-se com alguém ; brigar cora
oUe. — «Na qual sabida querendo-se os
;Mouro3 revolver com os nossos, foram
tão esearuientadõs, ficando alguns mortos
no campo, que se passaram muitos dias
sem virem correr a Cidade na face dos
nossos, como dantes faziam.» João de
Barros, Década 2, liv. (i, cap. 10.
— Mexcr-se, raover-se. — «Mas como
o do Tigre o achasse desarmado, e des-
cesse j;l com um golpe, dos que trazia
por costume, foi de tanta força, que en-
trando a espada té os niioUos, deu com
elle morto: e revolvendo-se antrc os ou-
tros, que de todas partes o cercavam, co-
meçou a fazer maravilhas.» Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. lOfi.
Revolver-se o império; revolucio-
nar-se, liaver revolução politica.
— Revolver-se ; começar o acabar, fa-
zer a sua revolução.
— Revolverem-se discórdias. — «De
que se fizerão contratos assinados, e ju-
rados pelos ditos Reys com grande segu-
ridade: De quo todos mostrarão receber
descfinso, e contentamento, por se escu-
sarem antre elles diferenças, e discórdias,
que se ja começauão a reuoluer contra-
rias li. sua paz, e amizade.» Garcia de Re-
zende, Chronica de D. João II, cap. 1G7.
— Revolver-se entra sophismas.
Ka escura toi ProtAgoras conheço,
Eutrc siitisinas »f revolce, e nega,
Oh ! Saoriltfíia audácia ! Huin l)eo3 ao Afundo !
Kom vò na iniinonsa gradaijào dos Seres
Kegxiladora mão, que rege o Todo,
Os Btieitoâ apalpa, c a causa nega.
REVO
Nem vt'! im < tbra Artífice Supremo,
Sein foute o rio, rimh impulso o moto !
J. A. 1>K MACK[H>, VlAdKU KlrATlOA, Oailt. 2.
— l'erturbar-8C.
— Revolver-se a eapada ; na uilo de
quem não a podo já bem apertar pela
omj)uniiadura.
■— Revolver-se o tempo; haver mudan-
ça na atmosphora.
— V. n. Dar uma volta inteira, e tor-
nar ao logar d'onde partiu, ou saiu.
— Fazer a sua revolução diária.
REVOLVIDO, part. paus. de Revolver.
Jlovido, agitado. — Terra revolvida. —
Liipiidi) revolvido dentro de um rojm.
— Mexido, remexido. — Revolvido o
dinluiiro.
— Figuradamente : Revolvidas as cau-
sas nm conceitos; consideradas por todos
os lailos, modos.
REVOLVIMENTO, s. vi. Revolução.
— O revolvimento da agua da pisci-
na, e de outras ijue estão quietas e sum
movimento ; a revolução da agua da pisci-
na, e de outras que passam a ser movi-
das, agitadas por causa externa, ou in-
terna.
— Revolvimento do estômago; embru-
lho do estômago.
— Revolvimento e ímpeto d' aguas; diz-
se quando depois de espraiar toma a en-
cher impetuosissimo.
REVOO, s. m. A acção de revoar aon-
de SC levantou a ave, ou quando vôa c
torna a voar volteando, etc.
REVORA, s. /. Termo antiquado. Ida-
de.— «!■] o que foi dado per Totor pela
Justiça, assy como he de custume nos me-
ninos, que nom som de revora, pode de-
mandar de tanto por tanto o herdamen-
to, que foi de sua avoenga daquelles me-
ninos; c pode outro sy algum pedir aa
Justiça, que aquelles, que nom som de
revora, que lhes dcm Tetores, que de-
mandem por elles o herdamento, que foi
de sua avoengua, do tanto por tanto, e
o Juiz lhos deve dar.» Ord. Affons., liv.
4, tit. 38, § 8.
— Ser de revora comprida; ser de ida-
de completa, ou própria physica, jurídi-
ca ou moralmente para algum acto. — «E
derem avor huum anno e dia, desque fo-
rem de revora comprida, pêra demanda-
rem o dito herdamento de tanto por tan-
to.» Ord. Affons., liv. 4, tit. 38, í? 2.
— JJar por de revora ; declarar judi-
cialmente, quo alguma pessoa o púbere,
c do idade competente para exercer os
actos legítimos.
REVGRAR, r. a. Termo antiquado. Vid.
Reborar.
REVOREDO, .<!. m. Termo antiquado.
Matta, ou bosque de robres, robledo.
REVOSO, A, adj. tl)o francez reveua-"^.
Termo antiquado. Indignado, raivoso,
cheio de ira o furor.
— Cuidoso, pensativo.
REV
REVOSSO, A, adj. Tenno de comedia.
Segunda vc;4 vosno, duas V'-/.--i V(h«<i.
Sois nniito doamaz^^lado.
Man autos, de dnlicidu
Cuio puda^ a pcdaf^
V. maiit i-u golTrcr uão poswi
í}uc me faí;ais tanto fero,
Qun^tou ja ponto no ofwo,
]'or(jue Hou YOáMí c rerifMo,
J'or vida de quanto quero.
CAMuiji, riuii/íUí), act. 4, éc. 2.
REVULSÃO, ». /. iDo latim revulsio,
de rtvulsum, supino de recelUre, de re,
e velUrei. Termo de roe<Hcina. Acçilo dos
remédios revulsivos.- — tíantjrar o pé para
fazer uma revulsão de sangue em laij-o.
— Enipre;:a-.s<- também fi;niradamonto.
REVULSIVO, A, adj. Termo de mciici-
na. Diz-íc dos diver.sos meios que a arte
emprega para remover o principio duma
doença, um humor para uma parte mais
ou menos afastada.
— Substiintivamente : Rumedio revul-
sivo.
REVULSORIO, A, adj. Termo de medi-
cina. Que causa ou produz revulsSlo. —
Sangria revnlsoria.
RÍEX, *. VI. (Do latim rex). Termo an-
tiquado. Vid. Rei. — «Lhe confirmamos
todas as graças, dadas, outorgada*, o
contirmaJas por os Rex, que ante nós
forom.» Era Viterbo, Eluc.
REXA, s. /. Graie ou barra de pôr em
janellas para ter luz, e não poderem en-
trar por ellas.
— Petrecho próprio do arcabtuoiro an-
tigo, que trazia na bolsa dos pelouros.
— Termo pouco usado. Arado.
REXIO, s. f. Vid. Recio.
REY, .<. )/). Vid. Rei, orthographia pre-
feri vel.
A Portugal virá hum valoroso
Kei/ de animo constantí-. o peito ardimte :
Indómito, guerreiro bellicoso,
Muy liberal magnauimo, c clemente.
CUBTE REAL, NACraAGIO DB SETIXTEDA, Cant. 14.
— . ( Pe.draluarez leixando estes dons
Reys de Cochij e Oananor em tanta pas
e concórdia fezse h vela caminho deste
Revno a dezaseis dias de laneiro, dando
louuores a Deos pois partira da índia
macs contente do que chegara a cila.»
Barros, Década 1, liv. 5. cap. 0. — «E
aconteceo qno estando elle .-icolhido nes-
ta jvirte, huns eseranos Abexij» da ca-
mará delRey Xabadim sen innào o ma-
tarão na ilha de Queixome, onde elle
Rey tinha uma casa de prazer.» Idem,
Década 2, liv. 2, cip. 2. — «Esta velha
me acenou com a mão como que me
mandava que entrasse, c com aspeito
grave e severo me disse, tua vinda, ho-
mem de Malaca, a esta terra dei Rey
meu seiíhor, he tào agradável á sua von-
tade, como a chuva em tempo soco na
PvEY
REY
REYN
287
lavoura de nossos arrozes.» Fernào Meu-
dcá Pinto, Peregrinações, cap, lõ. — «A
que se respondeo que por a terra ser
muvto grande, e aver nella Reys de di-
versas nações que o não consintirião, a
que elle tornou, que he o que vindes
buscar a essoutra, porque vos aventurais
a tamanhos trabalhos.» Ibidem, cap. 122.
— «Mas como Manoel de Sousa de Se-
púlveda nào hia jà em si, tomou as ar-
mas, em que entravaõ quatro espingar-
das, e as entregou ao Rey, do que elle
teve pouca culpa, porque jà nào sabia o
que fazia, e toda foy dos que lhe con-
sentirão entregallas.» Diogo de Couto,
Década 6, liv. 9, cap. 22, — «Xcão se
pode negar, que sem dom ^Vluaro Lisboa
nào presta pêra nada : e isto dizia, por-
que dom Aluaro por ser muy principal
sempre nos taes dias leuaua os Reys pol-
ias rédeas, e era tão sabedor, cortesão,
e gracioso, que elle por si fazia festa.»
Garcia de Rezende, Chronica de D. João
II, cap. 56. — «Tanto que os nauios de
socorro, partiram, teue el Rey conselho
geral com todos os que presentes eram,
da maneira que socorreria aos cercados,
porque com todo seu poder determinaua
os liurar.» Ibidem, cap. 82. — «E por
quanto ham de despachar com el Rey e
ho ham de comunicar das portas aden-
tro, e nam he licito a outros nenhuns co-
munioallos, nein^ outros ho vem, e ham
de ter entrada onde estam as molheres
dei Rey, que sam muitas, comunniente
sam capados.» Frei Gaspar da Cruz,
Tratado das cousas da China, cap. 16.
— «Cada mes he obrigado ho Tutam a
deápedir hum correo pêra ha corte que
leva a enformaçam por escrito ai Rey
de todas as cousas que naquelle mes pas-
saram.» Ibidem, cap. 22. — «Disse e
preguntou A esses procuradores sse Auia
hi outro alguum capituUo ou capitules ou
clausulas ou outras cousas do dicto con-
trauto que entre ell e o dito Rey de cas-
tella he fíeito.» Doe. de 1377, no Corpo
diplomático portuguez, pag. -±124, publi-
cado pelo Visconde de Santarém. — «Sò
nôs nào conhecíamos a gente, nem tínha-
mos por quem perguntar. Entre o tumul-
to do pouo, veyo hum Príncipe Mouro, por
nome Muvnhe Gombe, irmão que fora de
hum Rey a quem Dom Fernando Masca-
renhas, mandou cortar a cabeça no anno
de 1(303. castigo bem merecido, por o
grande ódio que aos Portugueses tinha.»
Fr. Gaspar de S. Bernardino, Itinerário
da índia, cap. 6. — «Dey todo este <les-
uio, porque huma das cousas de que fuy
mais perguntado foy desta : e com isto
cny do ter satisfeyto aos curiosos. Tor-
nando a Africa, o primeiro, que nella
pregou a Fè de Christo, fov o Eunucho
da Raynha Candace que baptizou o Apos-
tolo S. Phelipe. Os Reys que nelle ha
mais poderosos, saõ o Emperador dos
Abexins.» Ibidem, cap. 8. — «Com este
titulo se livrarão os Hollandezes, c se li-
vraõ os Catalans, se levantou Xapoles,
se amotinou Sicilia : e Portugal declarou
por seu Rey, a quem por direito o era,
para o governar, como natural sem ty-
rannias.» Arte de furtar, cap. 16. —
«Que nunca Deos queira, que elle diga
a seu Rey hiuua couza por outra, que
nem por seu pay mudara huma cifra
contra o que entende : e com estes -«n-
salmos apeya os melhores do primeiro
lugar, e levanta o ultimo aos cornos da
Lua.» Ibidem, cap. 37. — «E para sahi-
rem insignes nas armas creavaõ todos
seus filhos com grande parsinionia nos
vestidos, e manjares ; dando os mesmos
Reys aos outros exemplo nest-a matéria.»
Manoel Severim de Faria, Noticias de
Portugal, Disc. 2, § 1. — «Esta digni-
dade creou ElRey D. Ferrando do novo
em Portugal juntamente com a de Con-
destable, à imitação dos Reys de Ingla-
terra, quando cà andava o Condo de
Cambris.» Ibidem, § 3. — «E na tomada
de Ceita, e outras jornadas, que os Reys
por mar fizeraõ, levarão sempre bom nu-
mero delias: a chusma das quaes se pro-
via atè o tempo d'ElRey D. Joaõ I.»
Ibidem, § 14. — «Tudo isto assi como o
hia falando, assi o escriviam, dous e três
escrivàis. E assi lhe disso também que o
Sufv era morto, e o filho alevantad.o por
rey, o que elles entam acabaram de
crer.» António Tenreiro, Itinerário, cap.
29. — «E assi de como he abundosa e
abastada de muytos mantimentos, e de
como nella se aconteceo meterem huns
três moços em hum forno muyto arden-
te, per mandado de hum rey de Gentios,
e os nomes sam, s. Sidac, Misac, Bede-
nago, como no capitulo seguinte se de-
clararaa.» Ibidem, cap. 31,
— Os três reys magos; os santos reys
magos, vindos do Oriente, que vieram
visitar o Menino Deus onze dias depois
do sei; nascimento, B que se chamavam
Belchior, Gaspar, e Balthasar. — «Fiz
esta menção, porque nos serue pêra a
vida de Mafoma, e caminho dos Sanctos
três Reys Magos. Passado pois o rio, en-
tramos no deserto a que comummente
chamão o pequeno; por quanto o cortào
alguns rios, que saõ causa de ao longo
delles ser em algumas partes habitado.»
Fr, Gaspar de S, Bernardino, Itinerário
da índia, cap. 16. — • «Daqui partirão pê-
ra Hierusalem os Santos três Reys 3Ia-
gos, como conta Zapulho : e nella final-
mente foy onde acõteceo aquelle caso di-
gno de eterna memoria a el Rey Assuero
com hum ministro de justiça, que dando
huma sentença sem ella, o mandou esfo-
lar, e que com a pelle se forrasse a ca-
devra da ludicatura, sobre a qual m.ãda-
rão assentar pcra dar outra, hum filho
do defuncto tícãdolhe diãte dos olhos es-
crito este vers.» Ibidem, cap. 18.
— Rey esforçado ; rey valente, ma-
gnânimo, — «E depois de visto, como
singular Príncipe que era, c muy esfor-
çado Rey, disse ao Coronista. que estaua
muyto bem escrito, e que não tirasse, ,
nem posessc palaura, porque tudo aquil-
lo, e muyto mais era verdade, que elle o
wa muito bem por seus olhos, e que
assi ficasse escrito, porque assi era ver-
dadeiramente.» Garcia de Rezende, Chro-
nica de D. João II, cap, lõ4.
REYGNO, í. m. Termo antiquado. Vid.
Reino.
REYMÃO. Vid. Reimão.
REYNADO, parf. pass. de Reynar.
— <S. nu Vid, Reinado. — «Outras
cousas tem a doação dignas de notar,
que deixo ao bom entendimento dos cu-
riosos, por concluyr esto Capitulo cõ a
morte delRey Aurélio, que aconteceo no
sétimo anno de seu reynado, pelos de
Christo, setecentos e setenta e quatro,
que foraõ quatro mil e setecentos e trin-
ta e dous, da Creação do Mundo,» Mo-
narchia Lusitana, liv, 7, cap. 8.
Vimos rortug.il, Castella
quatro vezes adjuntados,
por casamentos liados,
Principr natural delia
que herdaua todos reynados.
GAKCU. DE BEZESDE, MI3CELLAXIA.
Quinze reis, quinze reynados
vimos ja na christandade
buus dos outros í>am tomados
per força ou falsidade,
em soos scpte sam tornados.
REYNAR, r. a. Vid. Reinar, orthogra-
phia preferível e mais correcta, — «Para
o que importa saber que Carlos o gran-
de, começou a reynar em França pelos
annos de Christo setecentos e sessenta e
nove, pouco mais ou menos, e avendo jà
trinta que reynava, foy eleyto Empera-
dor pelo Papa Leaõ, na festa do Naci-
mento de Christo, que foy o primeiro dia
do anno de oit-ocentos e dous : e na di-
gnidade Imperial viveo treze annos, e
hum mez, pois faleceo aos vinte e oito de
Janeiro, entrando jà o anno de oitocen-
tos e quinze.» Monarchia Lusitana, liv.
7, cap. 12. — «Quer dizer que se fez
aquelle testamento dia conhecido primey-
ro de Abril, era de 1038. (que he aiuio
de 1100.) reynando em Toledo, e Galiza
elRev Dom Afonso, cm Coimbra o Con-
de Dom Henrique, e na Sè de Braga
Dom Giraldo.» Ibidem, cap. 30. — «E o
titulo de Duque com algumas cousas des-
sas lhe deu el Rey dom Manoel depois
de rejmar, e de outras se escusou, por-
que o Reyno o não poderia consentir, e
mais aquelle tempo não era pcra tama-
nhas cousas se darem a huma pessoa,
tendo ja os mestrados Dauis, e Santia-
go.» Garcia de Rezende, Chronica de D.
João II, cap. 214.
■&«í
REVN
REYN
liEYN'
Ilii miiyto pnra n»|iiuitar,
((uc por rlli! vir li<!rtlar
Hiiia hurdeií-ort fallt-HciTaiii,
ho.i quaiirt todiiH ouu".ríim
Aiitcrt diillo di; reynar.
o. I)K UBZeNUK, «HCEUANKA.
— a Vimos mais aquy nosta cerca de
fiSra (que como ja <ii.iHe, cin^e toda 0.1-
tontrii fid.add) cm distancia de main trcH
le^íoa.s (lo lavfío, e sete de comprido, trin-
ta o dotis aiiosentos muvto {grandes, apar-
tados hilns dos outros pouco innis de tiro
dtí falcílo, quO sítô 03 estudos das trinta
c duas leys que lia nos trinta e dous rey-
nos d'ostc iiiip(U-io.i> Fernão Mendes l'in-
to, Peregrinações, cap. lOii. — «De que
ViH todos ouvoreis do ser os principacs,
o prouvera a aijueile que vive reynando
na formosura de suas estrcUas, que me-
recereis vós ante elle fazerdesmo este
bem, de que meus peccados foraò o in-
convonionte, porque V()S auf^mentarcis por
tnym & sua loy, o eu mo salvara nas pro-
Inessas da sua verdade.* Ibidem, cap.
149. — «Daqui foy Tobias o vilho, e
moço, a Abrahão, Labào, Lia, llaehel,
na Mesopotâmia foy laeob pastor de ga-
do, nella reynou Semiramis, Nabuchdo-
nosor, 03 dous Baltczaros, ('yro, Dário,
e em fim nella morrco Alexandre Magno
Cidade que pcra tam grande Jlonarclia
ainda lho fuy pequena.» Fr. (íaspar de
S. Bernardino, Itinerário da índia, cap.
18. — «Aloppo cabeça da Caniogena foy
fundada (como diz Diogo de Couto) por
0 Patriarcha Abraliam, que nella reynou.
Bem no coração da Cidade está tium
Castelo muy forte, com mil homens de
presidio, c quinhentas peças de artelha-
ria, com sua cmia.» Ibidem, cap. 22. —
«Também se a Sancta Jladre Igreja hon-
ra, e faz reverencia a nossa Senhora, e
aos Santos que reynam com Christo, nam
o faz dandolhe a mesma honra que a
Dcos, que isto seria ydolatria, porque
bem sabe que todolos Sanctos sam cria-
turas, o feyturas de Dcos, mas honraos
como a bons scruos de Doos, o priuados,
c amigos seus, chamandoos, e t<imandoos
por auogados diante de Dcos.» Frei Bar-
tholomeu dos Martyrcs, Catecismo da
doutrina christã. — «Viva o Kmperador
potentissirao de todo o Universo ; viva,
c reyne no meu coração, o nos de toda
a crcatura capaz de conhccello, e amai-
lo : viva por séculos de séculos, e além
da eternidade.» Padre Manoel Bernar-
des, Exercicios espirituaes, tom. 1, § 13.
REYNICOLA, s. m. Vid. Reinicola.
REYNO,s. »n. Vid. Reino, mellior or-
thogxaphia. — «O qual sem lembrança
da misericórdia, f[ue Recaredo com elle
usara, nem da lealdade, que como vas-
salo devia a Liuva, o prendco, no se-
gundo anno do seu Reyno, <[ue foy o de
Christo, t)03 que saõ 4ri(U da Crcaçaô
do Mundo, e depois de lho cortar a mão
direita o privou do Kcyno c vid», fican-
do-Ho cllo apoderado do Espanha, «em
por cntãi) aver quem ousa«so a lho de-
mandar taiiuiidm tirania. Monarchia Lu-
sitana, liv. O, cap. 20. — "(JrdeiiaiidoHc)
andar hum earavelão da ilha de S. Tlio-
mé onde eoneurrião assi os escrauns da
costa de Benij, como os do Reyno de
Cõgo : por aqui virem ter todalas arm.v
çõe.s que so faziaò pêra estas parte», o
deíla illia o» leuaua esta carauela h Mi-
na.» Barro», Década 1, liv. 3, cap. 3. —
«iS',to havendo muitos dias que estos Ca-
[litães eram chogft<Jo8 a Goa, quando che-
gou João Serrão, e Payo do 8á, quo o
anno de dez icouio escrevemo.sj partiram
deste Reyno a oito d'Ago.^t'i, com funda-
mento de ir Jcscubrir a Ilha do S. Lou-
renço em hum porto chamado Antepara
no Reyno de Turubaya.» Idem, Década
2, liv. G, cap. 10. — a Processaram meu
feito contra toda a ordem do justiça des-
tes Reynos : assi que em mim so come-
çaram a excitar todos os novos costumes,
c novas leis pêra ser doshonrado. » Dio-
go de Couto, Década 4, liv. (i, cap. 7.
— «E por isto quo esto primeyro Rey
disse quãdo esta pedra, que os Chins tem
por huma profecia muyto ceita, fizerão
despois 03 seus descendentes hum estatu-
to em que se mãda so gravíssimas penas,
que nenhuma gente estrangeyra entre no
reyno senão sós embaixadores e cativos,
pelo qual quãdo os tomão, he forçado de-
gradaremnos do huns lugares para ou-
tros, como nos iizerão aos nove que ^^ra-
mos.» Femão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 94. — «Ha se de saber, que
estando cu em Malaca fundando huma
cafa de minha ordem, e pregando fuy
enformado aver no reyno de Camboja
(que he subjecto ao Rey de Siam, e
estaa pêra banda da China e contina
com Chanipa, donde vem ho muy pre-
cioso Calainbuco, ou pola sua lingoa Ca-
lambach, muito aparelho e dcsposiçam
pêra se pregar ho evangelho, o pêra se
fazer frueto.» Frei (i aspar da Cruz;, Tra-
tado das cousas da China, liv. 1. — «Or-
denou, e começou o Esprital de Lisboa
da maneyra em que está, que he o mi-
Ihor que se sabe. E assi fez, e ordenou
outras muytas cousas de muyto proveito,
c boa gouernança de seus reynos, em
que raostraua o grande amor que a seus
pouos tinlia, c bem conforme ao Pelica-
no, que por deuisa trnzia.» (íarcia do
Rezende, Chronica de D. Joào II, cap.
1. — «Ha nella sete reynos, e gente in-
numerauel ; inda que Marco Paulo Vene-
to, diz não ter Rey algum, mas que so
goucrnão por quatro Ciouernadores, o que
eu não sey como elle poderá prouar, pois
a embavxada que nos veo era de Rey. e
não de (iouernador.o Frei (íaspar de S.
Bernanlino, Itinerário da índia, cap, 2.
— • (I E esta ordem se guartlou dali por
diante, que os mais dos dias so largaua
huma Pomba atò que chegamos Aleppo,
Pareccomo o modo excelente, e contan-
doo ncsto reyno a alguman pessoas, tiue-
rão por abuzilo, e matéria do zombaria.»
Ibidem, cap, 23. — «Naõ far«y minha
oltrigaçaõ, fc nan enxcrir arpii huma igno-
rância fatal, que andu moente, e corren-
te neste reyno, na emenda da -qual to-
mo» muito que aprender nas outra» Na-
çoens, ainda que ellas obraõ com injus-
tiça, o que ncVn pofleinos imitar sem ne-
nhum escrúpulo.! Arte de furtar, cap.
32. — «Porém, como o nosso Joaõ do
Barros na terceyra Década da Ásia cap.
4. com elegante cstylo descreveu o sitio
do Royno de Pegú, somente farey hum
breve epilogo, ou suecinta narr.-içaõ, quan-
to baste para declarar o que he aquello
reyno : em que parte do Universo : o o
estado em qu(! o acharão os nossos quan-
dr) o conquistarão, mais com favores Di-
vinos, que forsas humanas. 1 Conquista
do Pegú, cap. 1. — «Neste reyno tam-
bém houve esta prohibiçaô, mas estava
taõ esquecido o cuidado do bem publicx»
pela falta dos Prineipe« naturâes, que
toda a laã se levava para f>'>ra. de ma-
neira, que no anno de ll)4ô. »i'i em Évo-
ra cm poucos dias se comprarão com di-
nheiro de Merea/lores Estrangeiros !••>
arrobas.» ^lanoel Severim de Faria, No-
ticias de Portugal, Disc. 1, § 4. — «Pe-
lo que neste reyno se naõ concedia li-
cença para fazer estas toiTCs, o pòr ameas
ncllas, senaõ a pessoas illustres ; como
parece das qnc estaõ registadas nos li-
vros das Chancellarias dos Reys anti-
gos.» Ibidem, Disc. 3, § 2. — «Através
desta vila pêra a banda do norte huma
jornada pequena de caminho estaa o rey-
no dos O urgis, que sam Christãos em
terras muntuosas e de serras: sam gen-
tes brancas c ruivas como Ingreses. Tem
lingoagem per si, e os seus livros em
caldeo : tinha avia pouco tempo guerra
com os Turcos, e os conquistavam e fa-
ziam Christ.los.i António Tenreiro, Iti-
nerário, cap. 2G. — «E navegando com
muyto arreceo de Turcos, chegamos a
hum porto que se chama Donas cm ho
reyno de Valença. Donde me parti p«r
terra, e atravessey a mancha DaragSo,
e cheguev aa cidade de Toledo, donde
me parti per posta, e cheguev a Portu-
gal a Lisboa.» Ibidem, cap. (>0.
— Os nobres th reyno ; os fidalgos, os
ricos senhores d'elle. — «Aquelle dia
todo se gastou em visitas dos nobres do
Reyno, e neste geral contentamento »>'< a
novva estava descontente, pt>rque era i-x-
tremo atfevçoada a hum certo mancebo
Fidalgo filho de lumi que se dizia Gropre
Aarum, que he como Paraõ entre n>'>s,
mas muyto differonte no ser, no estado, e
na valia do Fucarandono pay da noyva.»
Femão Mendes Pinto, Peregrinações,
cap. 200.
— fts (jran^ies reynos ; os reynos que
occupam uma grando extensão de ter-
REZA
REZA
REZA
289
reno. — « Os muitos e grandes reynos
que cercam ha China estando ao longo
delia estendidos acima do lago donde tem
origem ho rio Thamaa da banda de euro-
pa, esta huma Rusia que da fim a euro-
jia, ha qual pertence a scithia e lie parte
d'ella. 9 Fr. Oaspar da Cruz, Tratado
das cousas da China, cap. 3.
f REYNOL, ailj. Vid. Reinol.
— Ameivas reynoes. Vid. Reinol. — ■
«Ha também muitas fruitas. s. pexigos,
amexas reynoes, e outra maneira de ame-
xas que nam ha antre nos que tem os ca-
roços redondos, compridos e agudos nas
pontas, e destas ha militas passadas. »
Frei Gaspar da Cruz, Tratado das cou-
sas da China, cap. 12.
f REYNOLA, f. /. Termo antiquado.
Vid. Raineta.
Senhor, sempre o pardal
quer casa co'a cotovia ;
digo, isto aasim por tal
que eu que não sou naranjal :
quero dar reynola fria.
ANTÓNIO PKESTf;s, AUTOS, pag. 32.
REYO. Vid. Reio, e Arreo.
1.1 REZ, ou RÊS, s. /. Cabeça de gado
de qualquer sorte. — Foram mortas trez
rezes.
— Figuradamente : Ralé.
Esta rez he mui esquiva ;
Caça-3o chuma donzclla,
E não per outra cautela
Se cativa.
Este traz grandes carretos
E requero seu proveito,
Porém não pede direito.
GIL VIOEIIIB, FABÇAS.
— Adágios e provérbios :
— Em caminho francez, vende-se o
gato por rez.
— Triste rez é fulano.
— A rez perdida, em abril cobra a
vida.
2.) RÉZ, s, f. (Do francez rez). Nivel.
— Esta caso jica situada ao réz do chão.
REZA, s. /. Orações feitas por obriga-
çíio ou devoção.
REZADO, ijart. pass, de Rezar.
— Murmurado.
— 3Iissa rezada ; missa que nào é can-
tada.
Que despejei n'o3te3 frios,
Sem nunca matar desejo.
Kão digào missas re^adax,
Todas sejào bem cantadas
Em Frameugo e Allemão,
Porque estes rac levar.\o
As vinhas mais carregadas.
GIL VICENTE, OBRAS VARIAS.
— Terço rezado ; terço não cantado.
— Sentcnra rezada ; sentença prefe-
rida.
.TOL. V. — 37.
REZADOR, A, adj. e s. Pessoa que
reza muito, e a miúdo.
Bran. Não hei medo de ninguém: —
Vistes oraV
Air. Levantac-vo3 d'hi, senhora;
Dac ó domo esse rezar ;
Quem vos fez tão rtzadora?
Bran. Leixae-mora na ma ora
Aqui acabar.
GIL VICENTE, FABÇAS.
REZAM, s. f. Termo antiquado. Vid.
Razão. — «Nom leixaram per seu estu-
do cousa alguma, per que o direito das
suas partees possa perecer ; nem alegua-
ram per sy, nem lhe daram Conselho,
que aleguem, ou provem alguma cou-
sa, ou resam, porque o preito sem jus-
ta rezam seja perlomguado, ou a parte.»
Ordenações Affonsinas, liv. 3, pag. 39.
— «E o desleal fundamento disto era,
que com quanto estas cousas pareciam
justas, e honestas, e que era rezam se
fazerem, que poUa calidade delias el Rey
as não auia de conceder, nem outorgar
em nenhuma maneira, e que entam os
Reys de Castella teriam com isso rezam
de romper com elle guerra, e que o Du-
que, e seus irmãos com esta causa pare-
cer justa se escusarião dei Rey ao não
seruirem, nem sosterem guerra, pois não
qu»ria seguir rezam.» Garcia de Rezen-
de, Chronica de D. João II, cap. 39. —
<i Causas lhe parecia bem hirse pêra o
Príncipe, e o acompanhar, e seruir até a
Corte, e em suas terras lhe fazer aquelle
recebimento, e serviço que era rezam, e
elle por ser seu senhor merecia, e da ou-
tra receaua de o fazer por não saber
quanto el Rey disso seria seruido, e con-
tente, pois lhe não escreuia.» Ibidem,
cap. 41. — «E também lhe disse, que a
Ilha da madeira no que pertencia a sua
coroa elle Duque a teria em sua vida in-
teiramente, mas que per seu falecimento,
quando Deos o ordenasse, era rezam que
por ser cousa tamanha se tornasse a co-
roa, e aos Reys destes Reynos que os so-
cedessem. As quais palauras, que el Rey
entam disse ao Duque, forão todas pro-
nosticos do que ao diante se vio, pois
tudo foy como elle entam o disse.» Ibi-
dem, cap. õl. — «E mandou com elle a
el Rey hum seu sobrinho por embaixador
com huma grossa manilha douro por car-
ta de crença, que he o cnstunie de sua
terra, por antre elles nam auer letras, e
lhe mandou por elle pedir armas, e na-
vios. E el Rey com razam e justa causa
se escusou, dizendolhe a defesa, e esco-
munhões que o Papa tinha postas a quem
desse armas a infiéis, e por elle não ser
Christam lho não podia mandar.» Ibi-
dem, cap. 78. — « Mas que entre os in-
fiéis, em quanto a forma, e aplicaçam
do santo bautismo sò se pode confiar dos
mesmos que pregam a fé, como eUa, e
elle sani as primeiras portas da vida eter-
na, e ainda o bautismo mais, que o co-
nhecimento da mesma fé : muyta rezam
tinha o padre Francisco em auer por muy
bem empregado o mòr talento do mundo,
onde tantas almas saluasse, quantas crian-
ças bautizasse.B João de Lucena, Vida de
S. Francisco Xavier, liv. 6, cap. G. —
« Com nmyta rezam (diz Sam Bernardo)
lhe chamamos mestres da vida, pois nos
ensinaram a saber viuer, e ter vida. Nam
nos ensinaram as virtudes das eruas ou
das pedras, nem os cursos dos planetas,
nem as propriedades dos animaes, mas
ensinarãonos a viuer. Grande cousa he
saber viuer.» Frei Bartholomeu dos Mar-
tyres, Catecismo da doutrina christã. —
« E com muyta rezam se põem estes no
cabo, por quanto necessário he, que to-
dos os virtuosos, que constantemente so-
bem esta escada, tenham contra sy muy-
tos perseguidores, e escarnecedores de
seus caminhos, e obras : os quaes con-
uem pacientemente, e alegremente sof-
frer.» Ibidem.
REZÃO, s. /. Vid. Razão, orthogra-
phia preferível. — «E com justa rezão
deve ter esperança, que por a confiança
que em elle temos pêra bem fazer no Of-
ficio, que de ísós tem, lhe faça compri-
mento de Justiça, e nom confiando delle
que o assy faça, peita-lhe do seu aver
tanto, per que o faz mover de boõ pro-
pósito.» Ord. Affons., liv. 3, tit. 28.
Em concrusão,
Que amor não quer rezão,
Nem contracto, nem cautela,
Nem preito, nem condição,
Mas penar de coração
Sem qucrolla.
GIL VICENTE, PARCAS.
E Dona Lnna de Cosiel,
E todos me querem muito.
Cort. Senhora, por piadade
Que entendais minha rezão:
Entendei minha verdade,
Entendei minha vontade,
E mudareis a tenção.
— «A qual cousa, pelo grande fausto
e aparato com que estava feita, era muy-
to para folgar de ver, e a rezão disto di-
zem que foy, porque dizem que desta
maneyra ganhara hum foaõ de quem os
verdade^Tos Farias deccndem, as armas
da sua nobreza nas guerras que antiga-
mente ouve entre Portugal e Castella.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações,
cap. 68. — «Usando nisto de huma gran-
de rezão de estado; porque dividindo
nesta forma as Províncias em muitos Se-
nhores particulares Vassallos, ficava se-
guro de se lhe naõ poderem rebelar.»
^Manoel Severim de Faria, Noticias de
Portugal, Discurso 3, § 2õ. — «Quanto
ao primeiro sou hua pobre velha estran-
geira, o meu nome.he Comedia, mas nào
290
REZA
cuydci» quo mo aucis por isso de comer,
poniuo cu naci cm (Irocia, o Id. mo loy
posto o nomo por outras rezões (juij urio
portencom u esta vossa liii^aia.» Sá (lo
Miranda, Os Estrangeiros, Frol. — «E
cl Koy so llio ollurocuo a todo o que fos-
BO rezão: o porque os l"'raiiccses tinlião
ainda em Caacacs as ditas fçales llie dis-
so, que 80 as quisosscui comprar, c res-
gatar, que lho emprestaria para isso ([ua-
roíita mil cruzados cm ouro, o mais, se
mais quisessem.» Oareia do Rezende,
Chronica de D. João II, cap. õS. — «Ora
nilo está em rezão cuidar (|uo à Virpra
a que cscolhoo jmra tào diílcrente minis-
tério, o para tilo estreita conucrsac;!!© não
dosso mais particulares prcrupatiuas, e
outro género do pureza muvto extraordi-
nário.» Paiva do Andrade, Sermões, pag.
18, — «Deuia o Author contar isto do
ouuida, porque ou a vi, o trago debuxa-
da ao natural, no modo cm quo hoje ostà,
como quem a vio de vagar, e passou bom
perto delia. Thoodoreto d:\ a rezão, por::.
que esta torre não foy do pedra, e diz
que pela grando falta quo delia ha na-
qucUas partes ; c tem elle muyta, por om
todos estes desertos, não aucr luima pe-
dra por muy pequena que seja.» Frei
Gaspar de S. Bernardino, Itinerário da
índia, cap. 18. — «Achei tribulação, e
dor, e inuoquei o nome do Senhor, os
quo assim cstau attribulados saõ seme-
lhantes a pomba, que naõ achando no di-
luuio onde cm terra por pê, c tomar por-
to desejado, do boa rezaõ, c mui asserta-
damento se tornou a recolher a arca da
contemplação.» Frei Bartholomeu dos
Martyres, Compendio de espiritual dou-
trina.— «E cõ muyta rezão antecipa
esta memoria, o se occupa nclla tantos
dias, porque pcra a cura e limpeza dos
peccados que noste sancto tempo da Qua-
resma pretende, nam ha mezinha mais
cfficaz quo a lembrança e meditaçam da
paixam do Sonhor : porque em só cila
achamos o traslado e espelho do todalas
virtudes, a dcstruyçam de todolos vicios,
e mortiticaçam de todas as paixões.»
Idem, Catecismo da doutrina chrislã.
Len». Jí. 90 ia, a não lho. acodir
dopeis, como um pnssivrinho.
Leon. Ello não poderá agora
dar rezãot
AHTONIO mESTES, AUTOS, pag. 221.
Ao fim de minha tenção
quero isto accomodar,
quo é ir contra os que sSo,
que carcoc do rezão
juizo que anda no ar,
uisBu, pag. 317.
Que reiflo, ou quo juizo
tarei pcrdendo-vo3 cu'?
quo sois meu choro c meu viso,
minha doudisso, meu siso,
A bcbor do vonto meu?
IBU>EM, pag. 351,
REZA
— RezSes mui evidentes; rezões mui
claras, mui obvias. — «Do que cl Kcy,
o todos os ([ue com cllc vinlijio, íicaraõ
muy contentos, e muy alegres, jiorque
antrc olles ouuc alguns, que duuidauão
do Principc fazer tamanha bondade, c cl
Rcv com muyto contentamento, c nmytas
palauras de amor, c rezões muy cuiden-
tes, que pcra isso ao lilho alegou, quise-
ra, c apertadamente lhe cometeo, e ro-
gíui, que pois jior seu mandado era alça-
do por Roy, não deixíisso de o ser, e H-
casse Rey de Portugal, que ello se con-
tentara com ticar Rey dos Algarucs, c
nos lugares dalém yr acabar sua vida,
fazendo guerra aos infiéis por seruiço de
Deos.» (iarcia do Rezende, Chronica de
D. João II, cap. 18.
REZAR, 1-. ít. Fazer oração a Deus, di-
zer-lho orações, orar a Deus.
Din. Ora rezemos, parceiro,
K porque seja melhor,
'l'oma, vcs hi o psaltciro
Ue Nabucodonosor,
•jiic lhe furtou Frei Suniro.
Berz. Quem come(;ará primeiro?
GIL VICESTK, FAm,AS.
Fid. E passageiros achais
I'era tal habitação?
Diab. Vejo-vos eu em feição
Pêra ir ao nosso caos.
Fid. Paroce-to a ti assi.
Diab. Em que esperais ter guarida?
Fid. Que deixo na outra vida
Quem rez» sempre por mi.
Diab. Quem rezo sempre (wr ti?
Hi hi hi hi hi hi hi.
GII. VICENTE, AUTO DA DASCA DO
I^•^•^;R^"0.
— «Por fr)ra de todo o cumprimento
desta procissão corrião niuytos homens a
cavallo com bastoens ferrados nas mãos,
bradando muyto alto á gente do povo,
quo era infinita, paraque se afastassem,
e não dessem trovaçaõ aos sacerdotes que
hiào rezando, o ás vezes dav.ào tamanhas
pancadas ijuo dcrrubavão três quatro no
chão, e outros muvtos hião escalavrados,
a que nenhum respondia, nem levantava
os olhos simientc.» Fernão Mondes Pin-
to, Peregrinações, cap. 160. — «E es-
tando cl Uev ouuindo Jlissa rezaua com
oUe Diogo (le Sousa Ailayam de sua ca-
pclla, que depois foi Arcebispo do Bra-
ga, e em se cl Rey leuant;indo ao Euan-
gelho se lhe tirou um pantufo do pe, e
querendo tomalo o Adayão so abaixou
rijo, c tomou o pantufo, o cm joelhos lho
quisera meter no pe.» (J areia de Rezen-
de, Chronica de D. João II, cap. 701. —
a E falando sempre jialauras santas, e
encommendando a todos quo não choras-
sem então por lhe não fazerem toruação,
beijando niuytas vezes o vulto de nosso
Senhor, o a Cruz, com os olhos postos
ncUo, o a candea na mão, com todo seu
perfeito saber, e 03 sentidos muy esper-
REZ.V
tos, e a vista toda inteira, «cm fazer
geyto nenhum, rezando cempro com os
liispoB verso por v(!rso, c na derradeira
com o nome de lESV na boca com gran-
díssima dcuaç.lo dizendo Aijnus Dei, <fui
tollis j/ecata mundi, miivrere mei.t Ibi-
dem, cap. 212.
AUi incunio, primeiro quo rezauem,
A 8'-u« s.ibios CoUcgas propuz^-rSo,
(^ue i)ara resolver certo ncfrocio
iJu maior iutcresíc ao grande (jorpo,
Preciso vinlia a mt, que ao outro dia.
Km que o Diaij da Terra »c aumentava,
Se ajuntasse o Cabido. Na proposta,
Sem nenlmm discrepar, todos eoDCOrd&o.
DUIZ DA CBCZ, UTgBOrB, CAUt. 3.
— Rezar o ojfficio divino. — « Teve
muito que padecer da gotta, quando
preso, e dizia : • El-rei prendcu-me e
Deus lançou-me os grilhões.» Kâo era
fácil em deixar de rezar o officio divino,
e costumava dizer.» Bispo do GrSo Fa-
rá, Memorias, publicadas por Camillo Caa-
tello Branco, pag. 88.
— Rezar muita orarão; rezar muito.
Nem cuideis que arrecadais.
Por rezar muita oração,
Sc no coração estais
Fora de contemplação.
OIL VICETrB, AUTO DA CAXABílt.
— Rezar um Pater nonter, e uma Ave-
Maria. — « Depois pedireis a Deos o
perdam, e proporeis a emenda das cul-
pas, que adiardes rezando hum Pater
noster, e huma Ave Maria, e meditareis
hum pouco no modo, que aueis de ter
pêra vos emendar, e melhorar.» João de
Lucena, Vida de S. Francisco Xavier,
liv. G, cap. 14.
— Diz-se também da religião protes-
tante : Rezar certa areiuja. — « Tomou
depois a balança, c botando nella huns
cauaquinhos, como de pao de Calambà,
cujo cheyro era odorífero, e excelente as ■
cnsençou ; e depois toda a Mesquita (ou I
Mochamo) portas, e adro pela banda de ■
fora, reZEmdo certa arenga, que nenhum
dos nossos entcndeo.» Fr. Gaspar de S.
Bernardino, Itinerário da índia, cap. 9.
— V. TI. Orar, fazer oração.
— Rezar pelus dcfunctos ; orar por el-
les. — € Dãolhc humaa seiras para que ás
costas acarretem das praças por dinhey-
ro, carne, pescado, ortaliça, e outras cou-
sas, á gente que nem tem quem lho leve,
nem o pcKÍe ella levar, e aos que sSo
aleijados de peis e de mSos, com que to-
tíUmentc carecem de remédio para ga-
nharem por sy suas vidas, poemnos em
humas casas muyto grandes como mostey-
ros, em que também ha grande quanti-
dade do mcrcccyras que rezem pelos de-
funtos, e d.as offortas dos saimentos de
todos os mortos lhes dão a metade, e aoa
sacerdotes a outra metade, i Fernão Men-
REZI
RHAG
RHAP
291
des Pinto, Peregrinações, cap. 112. —
« E que tinha de ordinário doze mil sa-
cerdotes a que se dava de comer e ves-
tir, que, como merceeyros, eraõ obriga-
dos a rezar pelos defantos daquelles os-
sos, 03 quais não sahiào fora daquela cer-
ca, sem licença dos seus Chisangués a
que obedecião, mas que de fora avia seis-
centos servidores que lhe negociavão o
necessário.» Ibidem, cap. 126.
— Rezar ás aranhas.
Adiante va a mulher
Que não crê senão patranhas,
E reza sempre áa aranhag,
E não crê o ciue ha de crer
E adora as tartaranhas.
GIL VICENTE, FABÇAS.
Os mouros estavam rezando perto da
mesquita; fallando em linguagem protes-
tante. — < Perto delia vi oyto Mouros
que estauam rezando ou pêra melhor di-
zer blasphemando como Mercieyros, a
que elles chamão Dreuis, ou Deruis, que
quer dizer Irmitiío: aos quaes todoa da-
uão esmoUa, estes nos festejarão, queren-
do mostrar que o nosso habito desprezi-
uel, elles o venerauão.» Fr. Gaspar de
S. Bernardino, Itinerário da índia, capi-
tulo 13.
— Rezar por contas. — «Os quais des-
calços, e com as cabeças cubertas hião
rezando por contas, e esforçando estas
senhoras, e acudindolhos com agoa quà-
do esmoreciào que era muytas vezes, o
qual espectáculo era tão piadoso que não
avia homem que nào pasmasse de dôr e
tristeza. » Fernão Mendes Pinto, Peregri-
nações, cap. 150.
— Murmurar, rosnar, fallar pela boc-
ca pequena.
— Mencionar por escripto, ou no es-
cripto. — -4. tabeliã reza isto.
— Rezar sentença; proferir, dar, pro-
nunciar, escrever sentença.
REZENHA, s. /. Vid. Resenha.
REZENTAL, adj. 2 gon. Vid. Recen-
tal.
REZENTE, adj. 2 gen. Vid. Recente.
REZIDIR, V. n. Vid. Residir. — «A al-
ma não se destroe, porem em semelhan-
tes occazioens deve a vida ao gi-ande nu-
mero, e á mesma contrariedade dos seus
inimigos; o ódio de huma parte lhe gella
o coração onde ella rezide, sufocando os
spiritos, e apagando o calor natural.» Ca-
valleiro de Oliveira, Cartas, liv. 1, nu-
mero 13.
REZINA, s. f. Vid. Resina, orthogra-
phia mais em uso.
REZINADO, part. lyass. de Rezinar. Vid,
Resinado.
I REZINAR, V. a. Vid. Resinar, ortho-
graphia preferível.
f REZINENTO, A, adj. Vid. Resinento.
f REZINETE, s. m. Vid. Resinete, ter-
mo mais orthographico.
f REZINETO, s. m. Vid. Resineto, me-
lhor ortographia.
REZINGA, s. f. Movei antigo, de que
se nào sabe o seu uso, enumerado na
relação da guarda-roupa de D. Manoel.
REZISTO, s. m. Vid. Registro.
I REZISTADO, part.pass. de Rezistar.
Vid. Registrado.
f REZISTADOR, s. m. Vid. Registra-
dor, termo mais em uso.
f REZISTAR, r. a. Vid. Registrar,
melhor orthogxaphia.
f REZISTRO, s. m. Vid. Registro, ter-
mo preferirei.
f REZINITE, adj. 2 gen. Vid. Resi-
nite.
f REZINOIDE, adj. 2 gen. Vid. Resi-
noide.
■f REZINOSO, A, adj. Vid. Resinoso,
orthographia preferível.
REZOAR, V. a. Arrazoar o feito, ou
causa.
— Discorrer. Vid. Razoar, e Arrazoar.
-}■ REZULTANCIA, s. /. Vid. Resultan-
cia. — «Mas a quem o Demónio mais
prende, e perde; he a huns homens, e
molheres, que doutrina como alumnos,
para o servirem como menistros ; consti-
tuhindo-os Médicos, e fazendo-os mezi-
nheiros dos mayores achaques; para que
com a triaga da iledicina, encubra o ve-
neno da perdição; e com as rezultancias
do enterece, suavize o acerbo da iniqui-
dade.» Braz Luiz d'Abreu, Portugal Me-
dico, pag. 589, § 42.
REZUMBRAR, v. a. Reçumar, coar ou
dar passada pelos poros ao licor contido
no vaso.
— Reçumbrar. Vid. Reçumbrar, Reçu-
mar, e Ressumbrar.
— Figuradamente : Rezumbrar no licor
que banha o rosto, a grave dOr ; mostrar-
se de algum modo, rever.
f REZUMBRADO,p«rí. pass. de Rezum-
brar. Reçumado, ressumbrado. Vid. Res-
sumbrado.
RHÁA, s. /. Dragoeiro, arvore pro-
ductnra do sangue de drago.
RHACHITIS. (Do grego rhachis). Vid.
Rachitis, e Raquitis.
f RHACOSE, s. /. (Do latim rhacosis).
Termo de pathologia. Afrouxamento do
scroto.
f RHADAMANTHO, s. m. Filho de Jú-
piter e de Europa, e irmão de Minos;
um dos três juizes do Inferno.
RHAGADIÁS, ou RHAGADES, s.f.j^htr.
(Do latim rhagadias). Fendas, ou peque-
nas ulceras longas e estreitas que tem
sua sede nos interstícios das dobras dos
lábios ou do anus. — Rhagadias sijjjhyli-
tiras ou venéreas. — Rhagadias no anus.
Vid. Ragadia, e Fissura.
RHAGIA, s. /. Termo de entomologia.
Género de insectos coleopteros, de ailten-
naa longas, de seda, da familia dos xy-
lophagos.
RHAGIÃO, s. m. (Do grego rhagion).
Termo de entomologia. Género de inse-
ctos de duas azas, de antennas sem pêllo
lateral, de bocca formada de uma trom-
pa retractil, da familia dos simplicornes.
t RHAGIONIDE, adj. 2 gen. Termo de
entomologia. Que se assemelha a um rha-
gião.
— S. m. plur. Tribu da familia dos
dipteros tanystomos, que tem por typo o
género rhagião.
f RHAGODIA, s. /. Termo de botâni-
ca. Género de plantas dicotyledoneas,
de flores incompletas, polygonas, da fa-
milia das atripliceas, que crescem na No-
va Hollanda. — Rhagodia parabólica.
RHAGOIDE, ou RHAGOIDEO, A, adj.
(Do grego rhax, rhagos, bago, e eidos,
forma). Termo de historia natural. Que
tem a forma de um bago de uva, que
tem a sua cor.
— Termo de medicina. Epitheto dado
á uvea, membrana do olho.
RHAMNACEAS, ou RHAMNEAS, s. f.
plur. Familia das plantas que tem por
typo o rhamno.
' f RHAMNEGINA, s. /. Termo de chi-
mica. Matéria colorante amarella, encon-
trada no abrunheiro tinctorial, e isomero
da rhamnina.
-j- RHAMNINA, s. /. Termo de chimica.
Vid. Rhamnegina.
RHAMNO, í. VI. (Do grego rhamnos).
Espinheiro que dá espinhos brancos.
t RHAMNOXANTINA, s. f. Substancia
encontrada na casca e sementes de alguns
rhamnos.
f RAMPKOTHECA, s. /. Termo de zoo-
logia. Tegumento córneo ou cutâneo do
bico das aves.
f RHANTHERIA, s. f. Termo de botâ-
nica. Género de plantas pertencentes á
ordem das synanthereas, e á tribu natu-
ral das inuladas, e de que somente se
conhece uma única espécie.
f RHANTISPOREO, A, adj. Termo de
botânica. Que cresce nos legares húmi-
dos.
f RHAPHENEDON, s. m. Termo de ci-
rurgia. Nome dado á fractura dos ossos,
que tem logar segundo a sua espessura,
n'aquella cujo plano é perpendicular ao
eixo do osso.
f RHAPHIOLEPA, s. /. Termo de bo-
tânica. Género de plantas dicotyledo-
neas, de flores completas, polypetalas, da
familia das rosáceas.
f RHAPONTICINA, s. f. Teimo de chi-
mica. Substancia amarella que deposita
a raiz do rheubarbo.
f RHAPONTICO, s. m. Termo de botâ-
nica. Género de plantas dicotyledoneas,
de flores completas, da familia das com-
postas flosculosas. — Rhapontico unifor,
— Raiz de uma espécie de rheubarbo.
RHAPSODIA, s. /. Vid. Rapsódia.
RHAPSODO, s. m. Vid. Rapsodo.
i RHAPSODOMANCIA, s. m. Termo de
antiguidade. AdivinhaçUo que se pratica*
292
EIIET
RHEX
RIIIK
va por meio do passagens tomadaH o ti-
rada* i'i Horte n'uni pootii, inórmciito em
líomoro c Viifíiiio.
-j- RHAPTOCARPO, A, adj. Torino de
botanicii. <^ii(! tem fructos carregados do
cicutrizcH.
-J- RHEGMATO, s. m. Termo de botâni-
ca. Fructo dicrebilio correspoiídento il
elateria de Ricardo.
-J- RHEINA, .V. /. Termo de cliimica.
Matéria amareiliula, coaheeida também
polo nomo de acido rlioico, acido cliry.so-
pheaico, que contém a raiis do rheubarbo,
e que 80 torna, jmr meio dos alcalis, de
um vermoUio do purpura.
■j- RHEMBASMO, s. vi. Tcnuo do medi-
cina. Soiunauiliulismo.
f RHEMOBOTO, s. m. Termo de histo-
ria ecclosiastlca. Nome dado por S. Jero-
nymo ^ certos falsos religiosos do iv sé-
culo, que andavam de aldeia em aldeia,
C que levavauí uuui vida dosordenada.
f. RHENANO, A, adj. C^ue pertence ao
Rheno. - As finuniuiuis rheuanas.
RHENOCERONTE, s. m. Vid. Rhinoce-
ronte.
f RHENOMETRO, s. m. Termo do by-
drauliea. Escala para medir a altura das
aguas do rio RUeno.
RHEOMETRO, s. m. (Do grego rlieO, eu
corro, e inetroii, medida). Termo de pby-
sica. instrumento para medir a força do
uma corrente eléctrica,
-}• RHEOPHORO, s. «i. Termo de pbysi-
ca. Nome dado aos tios metallicos, que
n'uma pilha conduzem as duas corren-
tes eléctricas.
RHETORICA, s. /, (Do latim rhctorica).
A arte do fallar do maiíeií-a a persuadir;
a dialéctica das verosimilhanças, segundo
a definição do Aristóteles. — « tío V. S.
mo tisesse hHUia pergunta em Philoso-
phia, om Historia, em Rhetorica, em Di-
rcvto, em Torto, ou em Dobrado, talvez
que algum dos meus amigos mo dissesse
o quo havia do responder, onsiuando-uie
o meyo do satlsfaser :l curiosidade de
V. S.» Cavalloiro de Oliveira, Cartas,
liv. 3, n.° 2. — « Ah ! quem me dera aqui
corto Mestre do Rhetorica, meu conheci-
do. Como daria elle pulos na salla; e
como gritaria alli : — Isso ó Prosopopoia,
6 Èthopeia, e se «rio, é Cassiopeia.»
Francisco Manoel do Nascimento, Fabu-
las de Lafoutaiue, liv. iJ, n." 21.
— Fiiiuras d£ rhetorica ; formas parti-
culainjs de linguagem, que d.Tlo força e
graçA ao discurso.
— Termo do coUegio. A rhetorica ; a
classe onde se ensina a rhetoriaa. — Fu-
zer a sua rhetorica. — Professor de rhe-
torica.
. — Obra eseripta em i"hetorica. — .íi
Rhetorica de Quintiliano.
— .Titulo do certos tratados de rheto-
rica.
— Figurada c popularmente : Tudo o
quo 30 emproga uo iliscurso para persua-
dir alguém, ou para expor, descrever al-
guma cousa.
— Por desprezo : Discurso viSo e pom-
poso.
RHETORICAMENTE, adc. íl),-. rhetori-
ca, i 1 o .suflixo umente»». (.'enformo as
regras ila riíetorica.
RHETORICAR, v. a. (Do latim rUtori-
cari). Termo popular. Fallar, escrever
com concerto rhctorico.
RHETORICO, A, udj. Quo diz roipeito
á rliitni-iea.
• — Figui'adamentc : O que falia discre-
ta o concertadamente.
— Substautivaraeuto: Homem que sa-
be rlietoriea. — «No uso da Metaphora
deve ser o Rhetorico tão atento como no
de todas as mais figuras, evitando com-
paraçoens quo niio sojão conhecida», ou
que po.ssão soar mal.» Cavalloiro d'01i-
veira. Cartas, liv. 1, n.° 'òih
— Estuilaute que estuda a arte da rhe-
torica.
RHEUBARBARINA, s. /. Tei-mo de chi-
miea. Substancia amarello-avermelhada
extrahida pelo ether da raiz do rheu-
barbo.
RHEUBARBARO, s. m. Vid. Rheubar-
bo.
RHEUBARBAROLOGIA, s. f. (Do latim
rken/tiilxiruiio. Tratado do rheubarbo.
RHEUBARBERINO, .x. in. Termo de ehi-
mica. Principio colorautc e crystallisavel,
quo combinado com outra substancia es-
cura e insolúvel na agua, parece formar
a rheubarbarina.
RHEUBARBO, ou RUIBARBO, s. m. (Do
latim rlietiòarlianim'}. Planta medicinal,
que vegeta nas margens do rio Volga ;
tem a raiz escura por fira, por dentro
amarella, de sabor amargo, c do cheiro
suave ; vem da China. Era conhecido ou-
tr'ora também pelo nome de rhda.
RHEUMA, s. /. (Do grego rlteuma).
Fluxão ou corrimento do humor crasso,
ou indigesto.
f RHEUMAMETRIA, s. /. Medida da
rapidez de um curso de agua.
f RHEUMAMETRO, s. m. Instrumento
de que nos servimos para medir a rapi-
dez do uma cdrreute.
RHEUMATICO, A, «</./. (Do latim rheu-
matieiíi.'. Produzido pela rheuma. — Doen-
(.'rt rheumatica.
RHEUMATISMO, s. in. (Do latim rheti-
matiítiiiu.i). Doença produzida pela tluxào
de humores emanados para alguma parte
do corpo, c que produzem dòrcs insolfri-
vois.
-{■ RHEUMICO, A. adj. Termo de chi-
mica. Diz-se do um acido encontrado no
rheubarbo.
f RHEUMINA, s. /. Termo de chimica.
Nome dado também á rheina.
RHEUMOSO, A, adj. (De rheuma, com
o sutlix» toso»). Que tem rheuma, cheio
de rheuma. Vid. Reimoso.
RHEXIS, *. /. (.Do grego rltexis). Ter-
mo de medicina. Ruptura dai veias por
violência e extísn^ãd.
f RHIGMATOPNONTE, wij. 2<jen. Quo
respira por vuitieulas pulmonares.
— <S'. Hl. (Jrupo de animaes inverta»
brailoH.
RHIMA, f. f. Vi.l. Rima.
RHINALGIA, *. /. Termo de patholo-
gia. iíórqiie tem a Rua sede no nariz. J
f RHINANTHACEO, A, adj. Termo de jj
botânica. Que se assemelha ao rhiuan-
tho.
— S. f. jãnr. Familia da» pedicularia-
das, cujo tvjMi é o género rhiimntlui.
f RHINÁNTHO, *. m. Termo de botâ-
nica, (ienero de plantai da familia das
per.sonadas, comyjrehendcndo os vegetaci)
herbáceos de tlôres geralmente amarellas,
o dispostas em espigas terminacs.
RHINAPTERO, A, adj. i Do grego rlún,
e ajiteri/in. t^ue tem um chupador, o é pri-
vado tle azas.
— <S', Dl. jilar. Familia do insectoa
apteros, caracterisados pela falta de ma-
xiLlas, que sào substituidas por mna es-
pécie de bico, ou chupador.
f RHINARION, *. »>i. Termo de zoolo-
gia. ExtriMiiid.adc do nnriz de um mam-
mifero, quando ó coberto de ama pello
húmida.
— Nos insectos, espaço comprehendido
entre o bordo anterior do nariz e o lábio.
-j- RHINENCEPHALO, A, adj. Termo do
toratologia. — Mutistros rhinencephalos ;
monsti'os ([ue tem o nariz prolongado em
fcírma de trompa.
f RHINENCHYSIA, s. /. Termo de chi-
mica. Operaç.ào pela qual se introduziam
injecções uo nariz por meio da rhinen-
chvte.
f RHINENCHYTE, s. vi. Termo de ci-
rurgia. Instrumento destinado a fazer in-
jeci;òes no nariz.
RHINITE, s. /. íDo grego rhin). Ter-
mo de pathologia. Inilammaçiio da mem-
brana nasal.
-{- RHINOBATO, s. m. Termo do ichthyo-
logia. (ienero do peixes choudropterygios
da ordem dos trcnatopnos, e da familia
dos plagiostomos.
f RHINOCARPO, s. m. Termo de boti-
nica. Género de plantas dicotyledouoas,
de ilôres polygamas, da familia das the-
rcbinthaeeas, que crescem das margens
de um rio da Nova-(iranada.
f RHINOCEPHALIA, *./. Estado de um
monstro rhinoeeplialo.
f RHINOCEPHALO, A, adj. e «. Termo
de zoologia. Monstro cuja cabeça se re-
duz quasi a uni nariz.
RHINOCERONTE, RHINGCER03. ou RHI-
NOCEROTE, .'■■. )'i. D.i latim rhinoceros .
Orando quadrúpede selvagem, tendo um
ou dous cornos no nariz, género da or-
dem dos jiaohydcrmes. — Depois do elt-
phantt, o rhinoceronte e o viais poUtite dos
aniinnis ^ unlnijH<hs.
RHINOCNESMO, s. m. (Do grego rhin,
RfflX
RHIZ
RHOD
293
e kilSsmai. Termo de medicina. Comichão
110 nariz.
t RHINO-LARYNGITE, s. /. Termo de
pataolo,£ria. Intlammaçào simultânea das
membranas mucosas, nasal e guttural.
f RHINOLOPHINO, A, adj. Termo de
zoolo^ria. Que se assemelha a um rhino-
lopho.
7 RHINOLOPHO, s. m. Termo de zoolo-
gia, (ienero de mamiiiiferos da ordem
dos cheiropteros.
■^ RHINOMACERIDE, adj. 2 yen. Que
se assemelha ao rhinoceronte.
-j- RHINOMACRO, s. m. Termo de en-
tomolojria. (ienero de coleopteros tetra-
meros da familia dos rhinocerontes.
f RHINOPHIDE, adj. 2 gen. Diz-se das
serpentes, cujo nariz se prolonga em trom-
pa.
— <S'. ííi. jilur. Familia dos reptis ophi-
dio3, comprehendendo os que tem o nariz
prolonírado em uma espécie de trompa.
1 RHINOPHANIA, s. /. Termo de phv-
siologia. Resonancia da voz nas fossas
nasaes.
f RHINOPHYSAL, adj. e s. m. Termo
de anatomia. Diz-se de um dos ossos da
face.
-}• RHIWOPLASTIA, «. /. Termo de ci-
rurgia. Operação que tem por fim refa-
zer um nariz, quando esta parte da cara
tem sido cortada ou destruida por uma
causa qualquer.
t RHINOPLASTICO, A, adj. Termo de
cirurgia. Que pertence á rhinoplastia.
f RHINOPLASTO, «, m. Homem que
pratica a rhinoplastia.
f RHINOPOMO, s. VI. Termo de zoolo-
gia. Género de mammiferos cheiropteros.
f RHINOPTIA, s. f. Termo de medici-
na. Acçào de vêr pelo nariz.
— Deformidade causada por uma gran-
de doença do grande angulo do olho, ou
da raiz do nariz, que fez nas paredes
das cavidades nasaes uma abertura atra-
vés da qual os raios luminosos podem
chegar ao olho.
-j- RHINOPTICO, A, adj. Termo de me-
dicina. Que pertence á rhinoptia.
f RHINOPTO, A, adj. Termo de medi-
cina. Que vê pelas narinas, que é affe-
ctado de rhinoptia.
— SuVjstantivamente : Um rhinopto.
RHINORRHAGIA, s. f. (Do grego rhin,
e rh"gnyini\. Termo de pathologia. He-
morrhaíia nasal.
t RHINORRHAGICO, A, adj. Que diz
respeito á rhinorrhagla.
-j- RHINORRHAPHIA, s. /. Termo de
medicina. Reuuiào, por sutura, dos bor-
dos de uma chaga do nariz.
f RHINGRRHEA, s. /. Termo de me-
dicina. Evacuação de mucosidades lím-
pidas pelo nariz sem algum symptoma
intlammatorio.
t RHINORRHEICO, A, adj. Que diz
respeito á rhinorrhea.
f RHINOSE, s. /. Termo dç patholo-
gia. Estado de frouxidão e dobradura da
pelle na jihthysica.
f RHINOSmO, s. m. Termo de ento-
mologia. Género de insectos coleopteros
que vivem nas cascas.
f RHINOSTOGNOSE, s. /. Termo de
medicina. Obstrucçào, obturação das fos-
sas nasaes.
7 RHINOSTOMO, A, adj. Termo de en-
tomologia. Diz-se do bico que parece nas-
cer da fronte.
7 RHINOTHECA, s. f. Termo de zoo-
logia. Epiderme do bico das aves.
RHITMA, s. f. Vid. Rima.
RHITMICO, À, adj. Yid. Rhythmico.
RHITMO, í. ,n. Vid. Rhythmo.
f RHIZAGRE, s. f. Termo de cirur-
gia. Instrumento próprio para extrahir
as raízes dos dentes.
f RHIZANTHO, A, adj. Termo de bo-
tânica. Diz-se das ilôres ou pedúnculos
que nascem da raiz.
7 RHIZOBLASTO, A, adj. Termo de
botânica. Diz-se do embrvào que é pro-
vido de raízes.
f RHIZOBOLEAS, «. /. plur. Familia
de plantas dieotyledoneas, contendo gran-
des arvores da Guyana franceza e do
Brazíl.
f RHIZOCARPEAS, s. f. phir. Plantas
aquáticas, cujos fructos parecem nascer
sobre as raízes.
7 RHIZOCTONO, s. wi. Género da fa-
milia dos cogumelos, composto de espé-
cies parasitas sobre as raize.s dos vege-
taes superiores.
7 RHIZODO, A, adj. Que se assemelha
a uma raiz.
— .5. rã. pht)-. Familia da ordem dos
helminíaogaiuos entomoides.
f RHIZOGRAPHIA, s. /. Descripçào
das raize-;.
-[ RHIZOGRAPHO, s. m. Homem que
descreve as raízes.
f RHIZOLITHO, s. m. Raiz fóssil.
f RHIZOMATOIDE, adj. 2 gen. Termo
de botânica. Epítheto dado ás raizes que
tem um rhizomo.
f RHIZOMATGSE, s. /. Termo de bo-
tânica. Conversão de uma raiz em haste
ou rhizomo.
•j- RHIZOMO, s. w. Termo de botânica.
Haste subterrânea ordinariamente hori-
zontal, que se estende deitando ora ra-
mos, ora folhas n'uma das suas extremi-
dades, ao passo que ella se destroe por
outra.
I RHIZONICHION, s. m. Temio de zoo-
logia. Phalange que tem unha, nos mam-
miferos e nas aves.
RHIZOPHAGO, A, a<íj. Termo do zoo-
logia. Que vive de raizes.
— Substantivamente : Um rhizophago.
— Phn-. Uma povoação da Ethiopía.
f RHIZOPHILO, A, adj. Termo de bo-
tânica. (^>ue ^•^ve sobre as raízes.
f RHIZOPHORO, A, adj. Termo de bo-
tânica. Que tem raizes.
— S. f. jJÍur- Género de plantas dos
paizes intertropicaes.
7 RHIZOPODO, s. VI. Base filamentosa
de um cogumelo.
— Plur. Animaes cujo corpo consiste
somente em uma matéria homogénea con-
tractíl, sem epiderme, sem cavidades,
sem celhas.
1 RHIZOTOMIA, s. f. Herborisação,
corte das raízes.
f RHIZOTOMO, s. m. Homem que re-
colhe as raízes e as plantas medicinaes.
— Instrumento destinado a cortar as
raizes.
7 RHODANOGENO, s. m. Outro nome
que tem o sulfocyanogeneo.
-}■ RHODATO, s. m. Termo de chimica.
Género de saes produzidos pelo oxvdo
rhodico.
t RHODEORETINA, s. f. Producto ex-
trahido da raiz do jalapa.
7 RHODICO, adj'. m. Diz-se de um dos
oxvdos d(i rhodio.
f RHODICO-AMMONICO, adj. Termo
de chimica. Diz-se dos saes duplos re-
sultantes da combinação de um sal rho-
dico cora um sal animonico. — Chlorure-
to rhodico-ammonico.
t RHODICO-POTASSICO, adj. Termo
de chimica. Diz-se dos saes produzidos
pela combinação de um sal rhodico com
um sal potássico. — Chlorureto rhodico-
potassico.
t RHODICO-SODICO, adj. Termo de
chimica. Diz-se dos saes duplos resultan-
tes da combinação de uni sal rhodico com
um sal sodico. — Chlorureto rhodico-so-
dico.
-i" RHODIO, s. ííi. Termo de chimica.
Metal pouco fusivel, encontrado na pla-
tina do commercio.
1 RHODODAPHNO, s. m. Loureiro-rosa.
t RHODOGRAPHIA, s. /. Tratado ou
descripçào das rosas.
t RHODOGRAPHO, í. m. Author de
um tractado, de uma descripçào de ro-
sas.
t RHODOISE, s. /. Termo de minera-
logia. Nome dado ao cobalto arseniado
terroso, porque esta substancia que se
apresenta sempre no estado pulverulen-
to, é rosa, ou de rosa roxa escura.
RHODOLOGIA, *. /. (Do grego rhodon,
e lugus). O mesmo que rhodographia.
RHODOMEL, s. m. Termo de pharma-
cia. ^lel rosailo.
7 RHODONITA, s. /. Termo de mine-
ralugía. Mineral de manganez, composto
principalmente do silicato de manganez,
acompanhado de um pouco de acido car-
bónico e algumas vezes de agua.
+ RHODOSO, A, adj. (De rhodio, e o
suffixo c.oso»^ Termo de chimica. Que
pertence ao rhodio.
— ■ Acido rhodoso ; o primeiro grau de
oxydaçào do rhodio, que ainda não foi
isolado.
1 RHODOSO-RHODICO, adj. Termo de
294
RHOM
chimica. Diz-sc do uni oxydo (fue ru-
Bulta da combirijirào do oxydo rliodoso
com o oxvdd rliodico.
■j- RHOMBICO, A, 'i'lj. Termo do pco-
metri.i. t^m tem a tórma do um rhombo.
— Fiijiira rhombica.
f RHOMBIFERO, A, ndj. Tormo do
mineralogia. Epitlicto dado a uma varie-
dade em quo certaa facesinhiw bSo ver-
dadeiros rliombos, ainda quo sepundo o
modo por que b.Io cortadas i)olas face» vi-
sinhas, nSo pareoara á primeira vista de-
ver Bor de uma fic^ura symetrica. — A
esmernIJíi rhombifera.
•}- RHOMBIFOLIO, ailj. Termo de botâ-
nica. Qiii' tiiii folli.is cm IVirma de rhombo.
I RHOMBIFORME, adj. 2 gen. Que tem
a fi'>rma de um rhombo.
RHOMBO, s. m. (Do latim rhombus).
Termo de geometria. Quadrilátero, co-
nhecido a3 maia das vezes pelo nomo de
losango, sendo os lados todos iguaes, sem
que os ângulos sejam rectos, diíferindo
d'e8te modo do quadrado, por este ter os
angulo» recto;.
— Termo ile conchyliologia. Género de
conchas univalves.
— Termo de ichthyologia. Nome de
ura geuei-o de peixes acanthopterygios, c
malacoptervgios.
f RHOMBOEDRICO, A, adj. Que tem a
fórm.a de um rhomboeilro. — Corpo rhoni-
boedrico. — IVinnn rhomboedrica.
-[- RHOMBOEDRO, k. m. Tormo de geo-
metria. Corpo solido cujas faces sito rhom-
bos. — O carbonato tlc ferro, a cal car-
bonada, etc, crystaUisam em rhomboe-
dro.
— Termo de mineralogia. Crystal cu-
jas seis faces se assemelham a rhom-
bos.
RHOMBOIDAL, adj. 2 gen. Termo de
geometria. Que tem a figura de nm rhom-
bolde.
— Termo de orystallogi-aphia. Prisma
rhomboidal ; prisma cujos ângulos diedros
lateraes srio desiguaes c do duas espécies,
um agudo o outro obtuso, supplemento
do primeiro.
— Dodecoédro rhomboidal ; nome dado
a um solido composto de doze planos da
figura do um rhombo.
— Termo de botânica © de zoologia.
Diz-se de um corpo que se approxima da
forma de um rhombo. — Folha rhomboi-
dal.
— S. m. Peixe da America Septem-
ptrional .
RHOMBOIDE, .». m. (Do grego rlwmbot,
c eidos). Figura plana cuja forma se ap-
proxima da do rhombo.
— Solido hexaedro cujas faces eSo rhom-
bo3 parallelos dous a dons.
— Termo de anatomia. Musculo do
dorso coberto pelo trapézio, e que das
apophyses espinhosas das vértebras dor-
saes 88 estende ao bordo interno da omo-
RHYT
— Adjcctlvamcnte : Mutculo rhomboi-
de.
f RHONCO, t. m. (Do latim rTumcua).
Termo de. medicina. ERpecie de ronquei-
ra mais ou menos forte e ardente que fa-
zem ouvir os apo[detico3, quuudu a para-
lysia tem attingido a abobada palatina,
ou os agoni.santes cm alguma-s phasea de
doenças graves.
f RHOPALIGO, A, adj. — Verto rho-
palico ; verso grego ou latino, formado
de uma serie de palavras tendo cada um
uma syllaba de mais que o precedente :
o primeiro é sempre uni monosyllabo.
— Período rhopalico ; periodo e.n\ que
os incisos dos membros do periodo se
tomam cada vez mais longos, ou cada
vez mais curtos.
f RHOTACISMO, ». m. Pronunciarão
viciosa da letra r.
RHUIBARBO, s. m. Vid. Rheubarbo.
RHUM, .v. m. Vid. Rum.
t RHUMAPYRO, s. m. Termo de p.v
thologia. Febre rhumatismal.
RHUMATALGIA, s. /. Termo de n>edi-
cina. Dór rliumatismal.
f RHUMATALGICO, A, adj. Que diz
respeito á rhumatalgia.
-f RHUMATICO, A, adj. Synonymo de
rhumatismal.
f RHUMATISADO, A, adj. Que é affe-
ctado lie rhuuiatismo. — Estou todo rhu-
matisado.
f RHUMATISMAL, adj. 2 gen. Que per-
tence ao rhumatismo. — Accidentes rhu-
matismaes.
— Fvbre rhumatismal ; febre sympto-
matica quo acompanha o rhumatismo
agudo.
t RHUMATISMALMENTE, adv. (De rhu-
matismal, com o suffixo «mente»). Por
efieito de um rhumatismo.
1 RHUMATISMO, s. m. Termo de me-
dicina. Dores situadas especialmente nos
músculos ou articulações, e que nílo são
acompanhadas nem do febre nem de al-
gum outro caracter intlammatorio.
— Rhumatismo articular; intlamma-
çrio do systema tibro-cerveo das articu-
lações, complicada de uma alteraç.^ío par-
ticular do sangue; é a^udo ou chronico.
I RHUMATOIDE, adj. 2. gen. Termo
de medicina. l)iz-se da.s dores análogas
ás do rhumatismo, que se manifestara nas
proximidades das articulações dos mem-
bros, nas regiões corvicaes, lombares e
sternaes, era consequência dos acciden-
tes primários da svphilis.
RHYMA, ou RHYTHMA, s. /. Vid. Ri-
ma.
f RHYNCHITO, s. wi. Género de inse-
ctos coleoptiTos.
f RHYTHMADO, A, adj. Que tem rhy-
thmo.
RHYTHMICO, A, adj. Quo è concer-
nente ao rhythmo.
RHYTHMÒ, ». m. (Do grego rhi)lhmos\
Qualidade do discurso, que, por meio de
RIBA
suas syllabafl accentuadas, vem ferir nos-
sos ouvidos em certos intervallos.
— Toma-se algumas vezes por metro.
— Termo do musica. .Systema daa du-
rações dos sons.
— Proporçilo que tem entre si om par-
tes de um todo.
— Jlaneira própria a um poeta.
— Termo de uieiiicina. Diz-se dos ba-
tidos do pulso, para exprimir a propor-
ção conveniente entre uma pulsação e as
seguintes.
I RHYTHMOPÊA, s. f. Na musica dos
gregos e latinos, a arte de fazer bom rhy-
thmo, phrases bem rlivthraadas.
1 RHYTIDOMO, «. m. Termo de botâ-
nica. (Jamada de tecido ccllular situada
entre o invólucro herbáceo e o líber, con-
fundindo-se com as folhas exteriores d'e8-
te, e arrastando-as á sua queda. J
f RHYTON, s. m. Nome de um antigo ■
vaso grego, servindo para beber, largo
para cima, e estreito para baixo.
RIA, s. f. Foz por onde o rio desagua
no mar, embocadura do rio.
RIACHO, s. m. Pequeno rio.
RIADO, adj. Termo antiquado. .tVr-
rciado.
RIBA, s. f. Outcirinho, coUina, ou ter-
ra levantada, que está eminente, ou so-
branceira a um rio, caminho, povoaçio,
etc.
— Termo antiquado. Ribeira, ou terra
da visinhança do algum rio.
— Ribanceira, margem. Vid. Alcantil.
— « Como estourar do rolo de mar enca-
pcUado, tombando de súbito sobre os al-
cantis d'extensas ribas, as lanças cruza-
das.» Alexandre Herculano, Eurico, ca-
pitulo 10,
Kobrc Jubt.
O louro (los hcroc» cu»t,i ninis ganpue
E laprym.is, do que águas leva o Tibre,
A cujas ribas cresce a fatal rama.
OABBETT, CATÃO, SCt. 5, SC. G.
— Logares de riba-niar; logares sitos
á margem do mar.
— Loc. AnvEUKiAi. : ..i riba; acima. —
Ir a riba. Vid. Arriba. — «O qual por ser
muito conhecido per todas aquellas par-
tes, e tido por homem de verdade, e sa-
ber bem a língua, foz tjinto com hum se-
nhor dos princip.aes que vivem por aquel-
le rio a riba (posto que fosse subjecto a
el Kei de Bintaõl que ouue por bem os
das suas terras tornarem a leu.ir man-
timentos a Malaca.» Daniilo de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. .^, cap. 79.
— Loc. .viiVEiíiUAL : De riba; de ci-
ma, do alto para baixo.
RIBADA, .«. /. Vid. Riba, e Alcanti-
lada.
RIBADILHA. .«. f. Vid. Rabadilha.
RIBALDARIA, «.* /". Acto de ribaldo.
— Termo de direito maritlmo. Vid.
Barataria.
RIBE
RIBE
RIBE
2Ô3
RIBALDERIA, s. /. Vid. Ribaldaria.
RIBALDIA, s. f. "Vid. Ribaldaria.
RIBALDIO, A, adj. — Figo ribaldio; fi-
go de uma espécie bravia.
RIBALDO, A, s. Seg:iim?o uns, signifi-
ca homem vil, perverso; segundo outros,
mariola, que embarcava e desembarcava
as fazendas nas margens do rio Sena;
porém propriamente é o liomem mau, ve-
lhaco.
RIBA-MAR, s. m. A margem do mar.
Vid. Riba.
RIBANÇA, s. /, Termo antiquado. Ri-
ba, margem alta.
RIBANCEIRA, íí. /, Margem do rio a
pique.
RIBAR, V. a. Termo antiquado. Derri-
bar, lançar por terra, demolir.
RIBAS, adv. Termo antiquado. O mes-
mo que arriba, e acima. — Estas terras
ribas escriptas. — Segundo a ribas Jica
dito.
f RIBATEJO, s. f. A ribeira do Tejo.
— « E porque os Franceses com os Ye-
nezeanos se não concertarão, os France-
ses recolherão as mercadorias a seus na-
uios, e venderão as gales que el R'3v
comprou, e mandou leuar a ribatejo, ate
ver o que a Senhoria de Veneza ordena-
ua delias. E assi defendeo que ninhumas
cousas, que das ditas gales forão toma-
das, em seus Rejnos não fossem compra-
das, o que assi se comprio.» Garcia de
Rezende, Chronica de D. João II, capi-
tulo 58.
RIBEIRA, s. /. (Do francez rivièrt).
Ribeiro, rio.
O mastro da fortaleza
Como cristal reluzia ;
A vela corri fé cozida
Todo o mundo esclarecia ;
A ribeira mui serena,
Que nenhum vento bolia.
GIL VICENTE, AUTO DA BABCA DO
PC BG ATOBIO .
— « Sabidos da Cidade, demos em tan-
tas ortas. pomares, jardins, e vinhas, que
por espaço de três legoas não vimos ou-
tra cousa, regadas todas cõ muvtas fon-
tes, e cora huma ribeira dagoa excelen-
tíssima, ao logo da qual caminhamos dous
dias, sem lhe podermos achar o princi-
pio ou origem, por a ter desviada do ca-
minho.» Frei Gaspar de S. Bernardino,
Itinerário da índia, cap. 16.
— Terra baixa junto ao rio. — «O ca-
pitão Ruy Lourenço vendo toda a ribeira
despejada e querendose por em consulta
do que faria: viraõ vir hum mouro cor-
rendo com huma bandeira das quinas
reaes deste Reyno aruorada em huma
aste, bradando per arauia paz paz paz.»
João de Barros, Década 1, liv. 7, cap. 4.
— « As casas, muros. Torres, Castellos,
e Mesquitas todas saõ de adobes, e betu-
me sem auer huma de pedra. He a Cida-
de muy abundante de todos os manti-
mentos, os quaes se vendem a pezo atè
caruão, com sua ribeira de peyxe, que
se pesca nos três rios, em que se tomão
alguns tão grandes, como pescadas muy
gordo, e gostoso.» Fr. Gaspar de S. Ber-
nardino, Itinerário da índia, cap. 19.
— « E por terra de longo da ribeira
mandou hum esquadrão de dous mil ho-
mens pêra os favorecerem, e elle ficou
cora outros dois mil no campo. Os navios
chegarão às nàos, e lhes deraõ fogo, em
que todas ellas se consumirão e mais de
trinta navios outros.» Diogo de Couto,
Década 6, liv. 8, cap. 13. — «Esta ca-
bilda de Abida estaua onze legoas de Ca-
fim, sobre Xiatima, na ribeira de Aguz.
Lopo barriga andou alguns dias'fora, nos
quaes deu com a gente que leuaua de ca-
uallo fauor, e soccorro aos Dabida contra
os de Xiatima, que por não serem nossos
amigos estauam com elles de guerra.»
Damião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 3, cap. 32. — « O que feito se tor-
naram perà bandeira, que com os mais
Christãos estaua esperando por elles em
hum teso, donde logo Nuno fernandez da-
taide, e dom Pedro de sousa aballaram, e
foram cear em huma ribeira que se cha-
ma Ihenim lubem hahabras, quatro le-
goas do porto.» Ibidem, part. 3, cap. 75.
— A ribeira oriental do Ganges ; a bor-
da, ou margem oriental do rio Ganges.
Digno estudo de hum Sábio. O Vate apenas
P<5dc 03 olhos deter, e a fantasia
No quadro universal da Natureza ;
E ao que resalta mais, e he mais brilhante,
Seus versos consagrar. Corre a meus versos,
Meu canto aformosèa, ó bello Insecto,
Que da ribeira oriental do Ganges
Vencedor Europeo trouse entre as palmas.
J. A. DE MACEDO, HEDITAçlo, Cant. O.
— A ribeira do mar; a praia. — «A
Cidade está situada ao sob pé desta ser-
ra, quando se mette no mar, onde se fa-
zem dous portos, hum tem o rosto na ri-
beira do mar per onde se a Cidade ser-
ve, a que elles chamam Focáte, o qual
fica abrigado de alguns ventos com hu-
ma ilheta, que tem diante chamada Ly-
ra. » Barros, Década 2, liv. 7, cap. 8.
— Toma-se também pela terray que
de inverno foi lavada do rio.
— As terras que ficam ao longo do
curso de um rio, e perto d'elle. — «E era
toda de madeira sem muros nem caua,
somente a defensão dos homens como ge-
ralmente se ve nas grandes pouoações :
prouiase deste grão numero do peças de
artelharia pêra a por toda ao longo da
ribeira, se alguma armada ali fosse ter,
principalmente a nossa que elle mães te-
mia que outra alguma, por as marauilhas
que vira fazer a artelharia que Diogo
Lopez de Sequeira leuaua.» Barros, Da-
cada 2, liv. tí, cap. 1.
— A parte da margem de um rio, em
que estão os arsenaes, e se fabricam os
navios. — «O Visorey se foy à ribeira
das Armadas, e com muita pressa man-
dou preparar os galeons, caravelas, ga-
lez, e fustas, e como na ribeira havia
ainda mais de quinhentos homens do mar,
repartindo-se por todas as embarcaçoens,
as foraõ preparando sem confusão, nem
estorvo de huns, e outros, pela boa or-
dem que naquelle negocio houve.» Dio-
go de Couto, Década 6, liv. 10, cap. 5.
• — • «E desembarcando em terra, despois
que se lhe mostrarão algumas cousas que
Pêro de Faria quiz que ella visse por fa-
zerem em nosso caso, como foraõ os al-
mazeus, a ribeira, a armada, a feitoria,
a alfandega, a ca-a da pólvora, e outras
cousas que ja para isso estavão prepara-
das.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 29. — «Mas nam passaram oi-
to dias que Lopo Barriga nam tornasse a
chamado dos me.<mos Árabes ver se po-
dia tomar este castello de Algel, com os
quaes, e com cento, e cincoenta de ca-
uallo, que leuaua, e alguns besteiros, e
espingardeiros de pe se foi assentar em
huma ribeira, ao pe do rochedo d'aquel-
la furna, ou lapa, que he três legoas do
castello.» Damião do Góes, Chronica de
D. Manoel, part. 3, cap. 73. ■ — «Contra
o qual repartio suas estancias pelo modo
seguinte, o miradouro que he da porta
da ribeira ate o baluarte da perna dara-
nha, encommendou a Femam caldeira
com cem homens entre os quaes eraô
pedrafonso homem, e seus irmãos, loam
fernandes torres, fernam meirinho, Gas-
par caldeira, e Antão Roiz.» Ibidem, part.
4, cap. 5. — «Faleceo nos paços da ri-
beira, de huma febre specia de modorra ;
doença de que naquelle tempo em Lisboa
morria muita gente da qual acabo dos
noue dias que lhe tocou deu a alma a
Deos, em idade de cincoenta, e dous an-
nos, seis meses, e treze dias dos quaes
regnou os vinte, e seis hum mes, e deza-
noue dias.» Ibidem, part. 4, cap. 83.
— Carpinteiro da ribeira; carpinteiro
que trabalha na construcção náutica.
— Termo de agricultura. A terra que
serve como de margem ao pomar, vinha.
— A ribeira de Lisboa; o mercado do
peixe.
— Adjecti vãmente : Terras ribeiras ;
terras marginaes dos rios,
— Adagio e provérbio :
— Tu, ribeira, alta vils, não te passa-
rei, não me levarás.
— SrN. : Ribeira, margem. Vid. este
ultimo termo.
RIBEIRÃO A, s. f. Corrente, rio, tor-
rente.
— Termo antiquado. Correntes, espa-
danadas, golfadas de sangue, que cor-
rem de alguma ferida, golpe, veia rota,
ou chaga. — As ribeiradas do nieu gilvaz
já são vedadas.
RIBEIRÃO, s. m. Augmentativo de Ri-
beiro. Grande ribeiro.
896
RIBE
RIBE
RICA
— Dii-80 osto nome, non districtos diii-
mantiuos do Brazil, a ccrto.s torreiKw,
próprios para a lavra de iiiiuas do dia-
mantes.
RIBEIRINHA, s. /. Diminutivo de Ri-
beira. I'i:i(iicna ribeira, riacho,
RIBEIRINHO, s. vi. Diminutivo de Ri-
beiro. J'i'.(|iiiMio ribeiro.
— Mo(,:o da ribeira do jx-ixe, e mcrea-
dos.
— Moço da ceirinha.
— Moço de guarilar, moço qiio faz car-
rotoB em eavalfçaduras.
■ — -^'Jj- Que anda ou vivo na:j ribei-
ras.— Ave ribeirinha.
— Que mora na.s ribeiras do mar, rias,
etc.
RIBEIRO, s. VI. Agua que mana de al-
gum olho ou fonte.
A formosura desta fresca sorra,
E a sombra doa vcrdoa castanheiros,
O manso caminhar dpstos ribeiros,
líondo toda a tristeza se desterra ;
O ronco .som do mar, a estranha terra,
O esconder do sol pelos onteiros,
O recoilier dos p.ados di^rradciros, "
Das nuvens pelo ar a hi-anda guerra.
CAM., SONETOS, D." 2tí9.
— «O cavalleiro do Sal vage todo o dia
gastou na conversação da donzella ao
longo do ribeiro, onde passaram a sesta
debaixo dos arvoredos que occupavam.
Chegada a noite, porque n.ão sentiram
nenhum povoado onde seguramente a po-
dossom ter, tiveram por con.solho mais
eeguro passarem-ua naquollo mesmo lu-
gar.» Francisco de Moraes, Palmeirim
dlnglaterra, cap. 107. — «Em todo olle
niio entra rio de agua doce quo seja no-
tável ; porque a torra do Arábia, depois
que entram as portas do estreito, he mui
secca, e estéril, somente tem hum rio, a
que elles chamam Bardillo, que quer di-
zer branco, e preto por ,so ajuntar de
dous pequenos ribeiros, hum dos qu-aes
tem a agua branca, e o outro preta.»
Barros, Década 2, liv. 8, cap. 1.
Quo estranhos casos vi no monte, <■ prado
Era quanto ouvi teu canto : Aiiuellc outeiro
Hum pouco se movoo, c esto ribeiro.
Para te ouvir melhor, ficou parado.
J. X. r>E MATTOS, RIMAS.
A esta nova se abala o campo inteiro,
I)'huma parte para outra a pente tece,
E com tal fúria sahc, qiuil o ribfiro
Traz, fjuo no inverno hi do monto decc ;
E como uenlnun quer ser derradeiro
Em tanta (luautidade a gente crecc,
Que (juem nolla quizora pôr o tonto
Bom vira quo era quatro vezes cento.
r. d'andrade, rniHBiBO cebco de Diu,caut. 11,
est. 92.
— 4 Chegamos ao meio dia a sitio on-
de achamos aeeomodação feita pelos ín-
dios muito bastante e bem escolhida, por
ser em sitio por onde tluia um grande ri-
beiro por leito d'alvissima areia c cxecl-
Icnto agua n3o só pela frescura do neve
que também pída líondadc <liurectiea.»
Bispo do <!rrio Pará, Memorias, ))ublica-
das por ('amillo Castello Branco, pag.
188.
RIBES-NEGRO, x. m. Cacis; planta.
RIBETE, .1. III. Fita de armar, de real-
çar, de guarnecer.
— Termo de architcctura. An estrias
do ribete.
t RIBEYRA, s. f. Vid. Ribeira. — tDa-
(|uy de^ta ribeyra até o arrayal dei Key,
que podiaõ ser duas legoas, caminhou cíS
a gente fiira da ordenança quo até aly
trouxcr.a, assi por se não encontrar cij a
muyta que peio.s caminhos em magotes o
estava esperando, como também pela ou-
tra que os «(ínhores trazlão eomsigo.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações,
cap. 10. — «E chegado ás tren lioras
despois do mcyo dia a huma ribeyra que
se chamava Palemxitau, o veyo aly re-
ceber ao caminho hum capitão Tártaro
com obra de cento de cavallo, o qual
avia Ja dous dias que aly o estava espe-
rado, o lho deu huma carta dei Iley que
trazia para clle, a qual elle estimou muy-
to, e a recebeo do que Uia tra/.ia cõ gra-
de cerimonia de cortesias.» Ibidem. —
«E logo cl Rey se foy dally a pe, e a
Raynha, o Princesa como mortas, leua-
das, c atrauessadas em mulas ás casas
de Vasco Palha, que são na mesma ri-
beyra.» Clareia de Rezende, Chronica de
D. João II, cap. 132.— «He terra nion-
tuosa, mas alegre, fresca, e chea de muy-
to aruoredo, o largas ribeyras dagoa do-
ce, e não menos do muy caudelosos rios,
e enceadas da salgada.» Fr. Gaspar de
S. Bernardino, Itinerário da índia, cap.
2. — «Do mar viamos a gente pelos mu-
ros, e praya derramada, que com gran-
díssimo aluoroço nos esperauão. E nòs
quo com outro scmelhãte estauamos de
nos vermos em terra. Em làçãdo ferro
se cobrio de Mouros toda a ribeyra, liuns
que vinhão perguntar, e saber nonas, ou-
tros buscar seus amigos, e parentes.»
Ibidem, cap. 6. — « A's duas horas da
tarde chegou o Ermitão, pêra com clle,
meu companheiro, e o nosso lingoa hir-
mos ver a horta dei Rey, que seria de
grande meya legoa, com três ribeyras
muy caudalosas, que a atrauessauào, e
regauão toda.» Ibidem, cap. lã. — ■ «Es-
ta fez vir Aluardiehão o anno de mil e
aeyscentos c quatro, à orta dei Rey de
mais de vinte legoas. Tanto que perde-
mos a ribeyra de vista, nos embrenha-
mos em huns grandes bosques, de car-
ualhos, e aruores de enccnso, por entre
as quaes andamos dous dias o mcyo com
muyto gosto, indo sempre emparados eom
suas sombras.» Ibidem, cap. lli. — «A
Cidade Niniue e-;tà junto da eiTrento do
rio Tigris ao Oriente da Mesopotâmia.
Lembrado estou quo Diodoro Syculo, não
consente bcu assento, senão na ribeyra
do Eufrates.» Ibidem, eajj. 17. — «Ao
longo do algumas delias corre a ribeyra
.Sitiga de muy boa agoa. Ho trato da
terra he graiulissinio, pela muytJi varie-
dade de nações que neila moram.» Ibi-
dem, cap. 22.
RIBOMBAR, V. u. Resoar, retumbar. —
Ribombaram o» echos. Vid. Rebombar.
RIBOMBO, s. ,n. Vid. Rebombo.
RIBRANQUIO, A, wlj. — Fi,jo ribran-
quio; esj^eeie de }í;íos, quo são vermclUoA
interiormente, e esbranquiçados exterior-
mente
RICAÇO, A, ailj, AugmentativodeRico.
Termo popular. Muito rieo.
— Substantivamente: Um ijrarule ri-
caço.
RICADONA, «. /. Termo antiquado.
Mulher, viuva, ou filha, c successora do
rico-liouicni.
RICAMENTE, adv. (De rico, com o suf-
llxo «mente»;. De um modo rico. — CW-
sar uma Jilha ricamente.
— Maguitieamentc, com riqueza, cus-
to-samente, com magnificência, luxo, os-
tentação. — «Dizendo, que .ainda que seu
escudo era Real, por sua gloria e louuor
fosse de victorias de Reys ricamente bor-
dado, n.ào seria agora menos acompanlia-
do com memorias de Reys quo fizesse.
Que as primeira.s per ventura seriào bc-
netícios de fortuna, e esta seria a própria
i)ondade, o grandeza de seu coração.»
íiareia de Rezende, Chronica de D. João
II, cap. 78. — «E daliy se tomaram a
Borba, e a Princesa começou seu cami-
nho a dez dias do mes de Noucmbro, e
vinha com cila o Cardeal dom Pêro Oon-
çaluez de Mendoça Arcebispo de Tole-
do, e o Mestre Dalcantara, e o Conde
de Benaucnte, e o Conde de Feria, o
Bispo de laem, e dom Pedro Porto C.ar-
reiro, e Rodiúgo Dilhoa Contador mor,
quo vinha por Embaixador, e assi outros
niuytos ricamente aparelhados.» Ibidem,
cap. 120. — «Encima dos primeyros três
degraos destii tribuna estavão oito por-
tevros cõ suas maças de prata cm pé, e
embaixo no chão sessenta homens Mogo-
res muyto bem despostos, em duas filey-
ras, assentados em joelhos, com alabar-
das atauxiadas douro nas mãos, c na
diautcyra destes, em pé, como tenentes,
ou cabos do esquadras dous gigantes fan-
tásticos muyto bem desjxwtos, e ricamen-
te vestidos, eom seus troçados a tiracol-
lo, e alabardas muyto grandes nas maõs,
os quais os mesmos Chins ch.-un.ão em sua
lingoa gigauhos.» Fernão Jlendes Pinto,
Peregrinações, cap. 103. — «A pessoa
delKey e.stava ericima no piambr«, que
era a tribuna, corcjído de doze meninos
que ao redor delle estavão em joellioe,
com suas maças douro pequenas a modo
de cetros, postas aos ombros, logo mais
atra.'» estava huma moça muyto formosa,
c muyto ricamente vestida, que com hum
RICI
RICO
RICO
297
abano o abanava do quando cm quando,
a qual era irmani do Slitaquer nosso ge-
neral, e muyto acerta a el Rcy, por cu-
jo meyo elle tinha tamanha valia c tama-
nho nome em todo o exercito.» Ibidem,
cap. 122. — «Ao qual som dançavão tam-
bém diante delle molherea muito formo-
sas e ricamente vestidas, ás quais o po-
vo dava as csmollas que se offerccião, e
da mão delias as recebião os Sacerdotes,
e as ofFerecicão diante da tribuna do Ído-
lo cõ grandes cerimonias de cortesias,
deitandose de quando em quando de bru-
ços no chão.» Ibidem, cap. IGl. — «In-
do no fim de tudo, ver a horta dei Rey,
nos sahio ao caminho, huma menina de
seys annos, alua como huma Framenga,
muy linda, e ricamente vestida, e che-
gando nòs diante da sua porta, veo a
correr, e se nos atrauessou diante, e pon-
do a mão no peyto, e abayxando a ca-
beça, disse (Saia Malech) que quer di-
zer, beyjouos as mãos.» Fr. Gaspar de
S. Bernardino, Itinerário da índia, cap.
13. — «Vinda a manhãa, e acabada a vi-
gia, se vestia ricamente, e ouvia na mes-
ma Igreja Missa cantada mui solemne,
depois da qual posto de joelhos diante do
Padrinho, era perguntado, se queria re-
ceber aquel la honra?» Manoel Severim
de Faria, Noticias de Portugal, Disc. 3,
cap. 28.
— Abundantemente, com abundância.
— Bem, bellamente. — «E antre as
portas Dauis era feyto o parayso muyto
grande, muyto alto, ricamente ordenado
com todalas ordens do ceo, com muyto
oui'0, e muyta riqueza concertado, cousa
de muyto custo, e auia nelle singulares
cantores, cousa muyto pêra folgar de
ver, e ouuir.» Garcia de Rezende, Chro-
nica de D. João II, cap. 123.
RICANHO, A, adj. Termo popular.
Rico avarento.
— Substantivamente: Um ricanho.
RICA, ou RISSA, s. f. O pêllo de le-
bre, castor, etc., despregado do chapéu,
quando se escarduça, para lho voltar o
pêllo.
RIÇAR, V. a. Encrespar.
— Riçar o cabello; concertal-o, pegan-
do na guedelha pela ponta, e correndo o
pente de alisar para a raiz, com que fica
preso, crespo á maneira do dos mulatos,
e preto? .
RICHARTE, adj. 2 gen. Termo popu-
lar. Pequeno, gordo e teso.
■ — Substantivamente : Um richarte.
RIGINATO, s. m. Termo de chimica.
Género de saes, resultante da combina-
ção do acido ricinico com as bases salifi-
Gaveis.
f RICINELAIDICO, A, a/j. Termo de
ehimica. Acido ricinelaidico; isomero do
acido ricinostearico, produzido por uma
transformação moilecnlar d'este ultimo,
sob a influencia dos vapores nitrosos.
RICINICO, A, adj. Termo de chimica.
voL. V. — 38.
Acido ricinico ; acido obtido pela distil-
lação do liquido que fica depois de se
ter extrahido o acido ricinostearico.
RÍCINO, s. m. Planta exótica da famí-
lia das euphorbiaceas, chamada também
palma- Christt.
■ — • Óleo de rícino ; óleo purgativo ex-
trahido das sementes do ricino.
— Termo de historia natural. Carra-
pato, género de insectos apteros mui pró-
ximo da familia dos parasitas, que so-
mente se tem encontrado no corpo das
aves. Differem dos piolhos por terem
mandíbulas situadas debaixo da cabeça,
que é sempre de forma achatada.
f RICINOSTEARICO, A, adj. Termo de
chimica. Acido produzido pela saponifica-
ção do óleo de ricino.
RICO, A, adj. Quo possue grandes
bens. — Jacob tornnu-se extremamente rico,
teve grandes rebanhos, servos e servas, ca-
mélias e burros. — « E se no caso suso
dito fosse a dita Doaçom feita em tal
modo, que logo em vida d'ambos valesse
per direito, assy como quando aquelle,
que a faz, nom he por ella feito mais po-
bre, ou aquelle, a que he feita, nom he
por ella feito mais rico, ou qualquer ou-
tro caso, e;n que tanto que a Doaçom he
feita pelo marido aa molher, ou pela mo-
Iher ao marido.» Ord. Affons., liv. 4, tit.
14, S 7.
Ir-vos-hcÍ3 por esta estrada
Até à cidade do Creta,
Onde sereis perfilhada
De hua senhora honrada
Mui nobre, rica e discreta.
Gil. VICENTE, COMKDI.\ DE RUBEN A.
— «Partido elle, ficaraS todos quatro
levando a melhor vida que os homens le-
varão : que estas irmãas além de sua fer-
mosura eraõ mui ricas, e abastadas de
todalas cousas pêra a deleitação da vida,
e por espaço de hum mez que estes Ca-
valleiros alli estiveraõ, emprenhou Alta-
mira, que foi pêra ella grande contenta-
mento, pois não S(jmente aquelle filho a
fazia herdeira, mas ainda lhe havia de
dar tanto louvor com suas obras.» Bar-
ros, Clarimundo, liv. 2, cap. 24. ■ — «E
mães que hum Rey taõ poderoso, e rico
como elles diziaõ ser o seu, mal mostra-
ua este poder no presente, que lhe man-
dara: pois eraõ peças que qualquer mer-
cador que vinha do estreito as daua me-
lhores.» Idem, Década 1, liv. 4, cap.
9. — « A qual segundo tinha entendi-
do, Pulate Can contrariava, e todo o
seu negocio era ir avante com aquella
guerra, como homem que se via rico, e
honrado depois que a começou.» Idem,
Década 2, liv. 6, cap. 9. — «Esta Cida-
de posto que antigamente foi mui rica, e
celebre, com nossa entrada na índia se
fez mais : cá os principaes mercadores
que viviam em Calecut, Cananor, e per
toda aquella costa da índia, o assy de
dentro do estreito do mar Roxo na Cida-
de Judá, se passaram alli.» Idem, Ibi-
dem, liv, 7, cap. 8. — « Depois de cura-
dos. Solviam tornovi á cidade por andas,
e nellas os levaram a casa de um caval-
leiro nobre e rico, que ahi perto vivia,
onde sem nenhum accordo estiveram os
primeiros dias.» Francisco de Moraes,
Palmeirim d'Inglaterra, cap. 81.
Agora a rica Ormuz estremecendo,
Agora Afeliapór, c o CTiizaratc,
Aftamados destrictos discorrendo.
J. I. DF. MATTOS, BIMAS.
— oE aquelle mesmo dia fomos dor-
mir a hum Mosteyro de officinas no-
bres e ricas que se dizia Satilgão, e como
ao outro dia foy mcnham, caminhamos
ao longo de hum rio mais cinco legoas,
até hum logar quo se chamava Bitonto.»
Fernão Mondes Pinto, Peregrinações,
cap. 4. — «Das quais, nos dous meses
que aqui andamos em nossa liberdadéj
vimos algumas dez ou doze em que avia
infinita gente, assi de pé como de cavai-
lo, que numas caixas como de bufaria
nheyros vendião quãtas cousas se podem
nomear, a fora as tendas ordinárias dos
mercadores ricos, que em suas ruas par-
ticulares estavão postos por muyta boa
ordem.» Ibidem, cap. 107. — «Este em-
baixador, alem da visitação que vinha
fazer como os outros, vinha também tra-
tar casamento deste Emperador Caraõ
com huma irmam do Tártaro, que se cha-
mava Meica vidau, que quer dizer, çafi-
ra rica, molher ja de trinta annos, mas
bem assombrada, e muyto inclinada a fa-
zer bem aos pobres pelo amor de Deos.»
Ibidem, cap. 124. — «Os outros capi-
taens eram Diogo Barbosa criado de dom
Aluaro, irmam de dom Fernando Duque
de Bragança, cuja a nao era, e Francis-
co de nouaes criado dei Rei, e da cara-
uella Fornam vinet de naçam Florentim
criado de Bartolomeu Marchione Floren-
tim, senhorio da carauella, mercador mui-
to rico.» Damião de Góes, Chronica de
D. Manoel, part. 1, cap. 63. — «Desta
cidade partio Diogo Lopez de Siqueira
pára a de Malaca, a qual chegou aos onze
dias do mesmo mes de Septembro que
naquelle tempo era a mais prospera qUe
so sabia em todo mundo, porque auia
nella mercadores tam ricos, e de tanto
cabedal, que fallauão per babares douro,
que tem cada bahar quatro quintaes, dos
quaes babares alguns destes mercadores
tinham entam dez, e doze.» Idem, Ibi-
dem, part. 3, cap. 1. — «E as mulheres
de alguns cidadãos ricos lhe mandarão
quantidade de jóias, com huma carta
cheia de honradas queixas pelas não ha-
ver aceitado, nem despendido na primei-
ra offerta; mostrando-se as de Chaul, ain-
da que no exemplo segundas, na offerta
298
KICO
maiores.» Jaclntlio Freire (l'Andradc,
Vida de D. João de Castro, liv. 4. — «Ve
HO ;i priínoini iia ílí^uni, <iiii! llie o Trofc-
t:i dou n;i ]jíiral)oi;i, a qual ioy do pere-
grino, ((uo jia.sHaiido do caiiiiiilio se aga-
aalliíju por liospedc sòinontu cm casa do
rico; sem duuida porá siíçniHcar, que
liam fora toui.^iiu do pobre lloy catre{,'ar-
Be per niuyto tempo ao adultério, e que
mais cahira a caso fazendo conta que a
paixam passaria, e elle se aleuautaria,
que de jiroposito, pêra se deter, o deixar
estar iiella iiuiytos dias.» Lucena, Vida
de S. Francisco Xavier, liv. 6, cap. 10.
Oh ! que fazem una caldosiulios
para sogros velho» rico*
quo são bicos
d<í rosinócs; uns olhinhos
da panola, uns bcloricos
que oUas lavram Ac. pontinhos.
ANTÓNIO rBKSTES, AUTOS, pag. 255.
— ^ico feitio. Vid. Feitio, e Ricofei-
tio.
— Casas ricas ; casas com magnificên-
cia. — «E juntamente se descobrem gran-
des braços de rios por onde vem. lia hu-
mas embarcações em que navegam os re-
gedores, as quaes tem gasalhados altos e
de dentro csisas muito bem feitas, doura-
das, ricas c muito galantes.» Frei Gas-
par da Cruz, Tratado das cousas da Chi-
na, liv. í>.
— Ricos ifjnorantes.
Cobertos de baldõos, e de impropérios,
Dos Bicos ignorantes, c dos (Irandos,
Com mofa, e com desprezo saõ olhados.
" niHiz DA cRCz, UYBSOPK, cant. 1.
— Cidades ricas; cidades possuidoras
(lo grandes riquezas. — «Era diuisa em
duas cabeceiras, com tudo gouernauasse
sem diuisoens, nem desconcertos, o que
80 poucas vezes acostuma cm lugares pe-
quenos, quanto mais em tamanhas cida-
des, e tan\ ricas como esta era.» Damião
do Góes, Chronica de D. Manoel, part. 3,
cap. 47. — «Xenophonte, c loiío Annio
dizem, que os antigos chamauão as Cida-
des rústicas, e pobres MonopiMy ; pala-
wra Grega, que significa singela; e as
quo crJio ricas, e politicas dezião Dipò-
ly; quo quer dizer dobrada, e a que era
jirineipal em huma Prouincia, se chama-
na Tripòly.» Fr. Gaspar de S. Bernardi-
no, Itinerário da índia, cap. 18.
— Mouro rico ; mouro que tinha mui-
to do seu. — «Na da laoa maior havia
um mouro muito rico, per nome P:\teo-
nuz senhor da cidade do larapa, situada
na costa do mar, o qual muitos dias an-
tes quo Aftonso Dalbuquorque tomasse
Malaca se earteaua com Vtetimutaraja, o
qual per alguns agrauos quo dezia ter
dei Rei determinou per seus modos, c
RICO
meos dar entrada a ràtconuz aa cidado,
o o fazer liei.» Damiilo de Goos, Chroni-
ca de D. Manoel, part. ."], cap. 41.
— Vnif^as ricas « abundanlcs, — «lul-
guey aquoUa pouoayilo, por huma das
boas de toda a Pérsia. Nella ha treze
mil fogos, c cinco mil homens de caualo,
que nestas partes saõ umitos, baratos, c
excelentes. Tem duas praças menos cu-
riosas quo as de Lara, mas uiuyto mais
ricas, e abundantes, d(! todas as cousas
necessárias.» Fr. (iasp.ar de S. JJernar-
dino, Itinerário da índia, cap. 14.
— Cavallciros ricos; cavalleiros abas-
tados, poderosos. — «Aliem destes vi-
uião uella muitos caualeiros, naturais da
mesma ilha, ricos, o abastados, que scn-
tretinhrio de suas heranças, c soldo que
ganhauão no tempo da guerra.» Dami.ão
de Góes, Chronica de D. Manoel, part. ii,
cap, 3.
— Mercadores ricos ; mercadores de
bastantes teres c cabedaes. — «Seguindo
assim viagem, lhes deu hum temporal
com que a armada dei Rei de Ormuz, e
algumas das nossas velas se espalharam
de maneira que António corrca chegou
ha ilha de Baharem com so loam pereira
onde surglo ao mar afastado da cidade,
a que chamam do mesmo nome, muito
formosa de edifícios, gTaude, e bem h.a-
bitada de gente nobre, e mercadores mui
ricos.» Damião do Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 4, cap. 63. — «Na guerra
acreeentam lanças : e armas defensivas de
laminas de ferro o de aço : E como disse
he tamanha íi bondade do sitio, que so-
bro ser tam estéril aa na cidade muytos
e muy ricos mercadores, o carafos que
cambam a moeda e de grosso trato assi
naturaes, como estrangeyros do diversas
partes do mundo. » António Tenreiro, Iti-
nerário, liv. 1.
— Abharh rico ; abbade que possue
bastante riqueza. — «Huns lhe chamavaõ
o Clérigo Santo, outros o Abbade rico,
outros o Perulcii"o ; cm tanto, que cres-
ceo a cobiça nos mercadores da terra, e
se piearaõ a fazerem negocio com elle.»
Arte de furtar, cap. 64.
— Fazer um rico casamento ; desposar
uma pessoa que tem uma grande for-
tuna.
— Figuradamente : Diz-se das quali-
dades pessoaes consideradas como um
bem de grande valor. — Est^ homem é
rico cm virtudes, c isso vale thesotiros.
EUa tom das virtudes o ornamento :
Não ha dote mais rico ,• o o nosso estado
Para ser tào foliz como Sagrado,
S<í lhe faltava o seu conscutimeuto.
J. X. DE 1IATT03, BIUAS.
— Abundante, fértil, productivo.
Um paiz rico em searas.
RICO
IguiiL jjrcço nilo he dn fonnonura
Douro a arfiiii, qufl o rico Tejo espraia,
-Ma» hum amor, qufi para Bcmpre dura.
(.'AUÕK8, r,CI,00A 8.
Quam rica descobriste a Katurcza !
De HOu» pineis a for(;a a^iui «c ajtura,
Sen vigoroso eolorido excita
No génio ás .Musas dado amiomkro, c fogo ;
Por vastas solidOes eHt<.-nd>; o» rio»,
(2uo ante» de entrar no mar parcc<:m mar«8.
j. A. nr MACKDO, MHDiTArÃo, Cant. 2.
— Figuradamente: Fecundo cm idéa«i
fallaiido das obras do espirito. — Uma
matéria, mn assumpto muito rico.
Por certo entre os mortau nenhum tí- agora
láo profundo saber juntou eo'a rica
Larga vêa caudal d'aurca eloquência.
J. A. DE MACEDO, TIAGCU EXTÁTICA, Cant. 2.
Da Natureza no opulento Império
Vagnéa Valisneri, c abrange tudo
Quanto depoi.f IJufton na rica veia
D'aurea eloquência ctcrnisím nu Mundo.
iniDKM, cant. 4.
— Precioso, magnifico, de grande pre-
ço, de custo.
Depois do ja acabado o copioso
Esplendido banquete se recolhem
Per.a onde aparelhado cstaua hum nobre
Bem laurado, cuatoíio, riro leito.
Omad'a quadra toda d-' huma seda
De cor varia apraziuel, c lu8tro.sa
Que la da Pérsia vem, também se via
Nella, de prata hum rico e sotil vaso.
COBTE REAL, NACrB.\GI0 DE SEPCLVCDA, CSnt. 4.
Ali cm cadeiras rira* crystallinas,
Se assentam dous e dous, amante c dama ;
N'outra3, á cabeceira, douro finas,
Esfcí co'a bella deosa o claro Gama.
CAH., Lus., cant. 10, ost. 8.
— «Não passou muito espaço depois
que chegaram, que polo mesmo valle vie-
ram quatro cavalleiros armados de armas
ricas e louçàos e sobro tudo fortes ao pa-
recer : chegando <mdo estava Targiana
detiveram as rédeas aos cavallos olhan-
do-se uns aos outros, como quo se espan-
tavam de a ver.» Francisco do Moraes,
Palmeirim d'Inglaterra, cap. S6. — <E
foi, que estando desenlazando Palmeirim
o elmo porá o tirar, entrou pois porta
uma donzella grande de corpo, vc<»tida
d'atavio8 ricos, e pouco louçilos.» Ibidem,
c.,p, 93. — ,E praticando com cila o
co'as outras passou a ceia. quo foi ser-
vida de muitas iguaria? ; d'ahi o leva-
ram a uma cam.ira que estava rica e bem
concertada, onde todas juntas o ajud.i-
ram a despir, e por derradeiro ao tempo,
que se despediram, aquella, que á mesa
lhe dera de beber, se chegou a elle di-
zendo.» Ibidem, cap. 113. — «Ao outro
dia atravessando por uma floresta vio
sahir debaixo de uns arvoredos altos um
cavalleiro de umas armas ricas, que alii
RICO
dormira aquella noite : no escudo, que
Uie trazia o escudeiro, viu em campo ver-
de um tigre de ouro.» Ibidem, cap. 114.
Deixa aquella
O rico fio, com que urdia a tella ;
Huma deisa do satyro o queixume,
Outra de ver os peixes em cardume,
Como saltão na rede aos pescadores ;
E ora cheias de inveja, ora de amores,
Estão debaixo d'agua a huma e huma
Levantando as cabeças sobre a espuma.
J. X. DE MATTOS, RIMAS.
Vencedor da braveza de Neptuno,
Senhor do seu Tridente, e ricas conchas.
ANTÓNIO FERBEIBA, CARTAS, 1ÍV. 1, U." 1.
— «Acabado isto estenderão os Verea-
dores hum muito rico pallio e o tomàraõ
debaixo, hindo o Governador sempre à
sua maõ esquerda praticando com elle
muito ri.sonho, e alegre.» Diogo de Cou-
to, Década 6, liv. 7, cap. 5. ■ — «Alguns
dias depois de Afonso Dalbuquerque ter
tomado Malaca, vendo o Lasamane, como
a cidade estaua de todo à obediência dei
Rei de Portugal, tendo por noua certa,
como el Rei Mahamed morrera de no-
jo, por se ver despossado de huma tam
rica jóia, e o Príncipe fora desbaratado
no rio de Muar, e se retirara para o ser-
tão.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 3, cap. 19. — «Pelo qual
serui(;o lhe mandou el Rei dom Emanuel
dar hum rico presente, e o mesmo fez a
sua molher que veo a este regno, com a
Rainha, e a duas sobrinhas do mesmo
xeures que também •vieram com ella,
huma casada com monsieur de Fiones
no Condado de Flandres, e outra que
depois casou com monsieur António Mar-
ques de Berges, no ducado do Braban-
te.» Ibidem, part. 4, cap. 33. — «Logo
se armou hum rico doccl, e tudo prepa-
rado veyo o Gouernador, acõpanhado de
todos os grandes, os quaes se forão as-
sentando, segundo seus grãos, e dignida-
des, como conuinha a cada hum.» Fr.
Gaspar de S. Bernardino, Itinerário da
índia, cap. 14. — «E neste dia ouue ses-
senta senhores fidalgos vestidos de opas
roçagantes- de ricos brocados, e sessenta
senhoras, donas, e damas vestidas a fran-
cesa de ricos brocados, e ouue muvtos
vestidos de ricas sedas, e fizeramse mur-
tas festas.» Garcia de Rezende, Chronica
de D. João II, cap. 2. — «O qual vinha
saber nouas desta terra por auorcm por
muyto estranha cousa a gente delia, e
com grandes oíferoclmentos forãolhe mos-
tradas muytas cousas das boas destes
Reynes, e el Rey o mandou tornar a sua
terra honradamente em huma boa cara-
uella, e a partida lhe fez mercê de ves-
tidos ricos para elle, e sua molher, ô
doutras cousas.» Ibidem, cap, 65. — «E
a todos seus officiaes mores, Mordomo
mor, Veador da fazenda, Guarda mor,
RICO
Camareiro mor, Porteiro mor, Veador, c
Mestre salas, foz muyto grandes mercês,
e a todolos outros vestidos de ricas se-
das, e brocados, e outras mercês.» Ibi-
dem, cap. 117. — «E de dentro era to-
da das paredes e de cima armada, e tol-
dada de ricos e fermosos lambeis, cousa
noua, que parecia muyto bem polia dif-
ferença que tinha dos brocados e tapeça-
ria.» Garcia de Rezende, Chronica de D.
João II, cap. 118. — «Em guarda des-
ta tenda estavão sessenta alabardevros
que afastados hum pouco delia a cerca-
vão toda em roda, os quais estavão ves-
tidos de 'couro verde escodado, cõ suas
celadas ricas e bem lavradas nas cabe-
ças, o que tudo junto era hum espectá-
culo assaz formoso e de grade magesta-
de.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 122. — «Veio também a elle
por causa desta notificação hum Mouro
Guzarate de nação, que alli estava com
huma grande, e rica náo, que disse ser
de Melique Gupij Senhor de Baroche,
aquelle grande competidor de Melique
Az.» João de Barros, Década 2, liv. 6,
cap. 2.
RICO
299
res daquelle exercito, e com semblante
alegre lhes disse.» Fernão Mendes Pin-
to, Peregrinações, cap. 190. — «Nesta
casa estava este Rey Tártaro acompa-.
nhado de muytos príncipes e senhores, e
capitães naturais e estrangeiros, entre
os quais estavão os Reys de Pafua, Me-
cuy, Capimper, e Raja Benão, e o An-
chesacotay, e outros Reys mais, que por
todos fazião o numero de quatorze, os
quais vestidos de vestiduras ricas, e de
festa, estavão todos assentados ao pé da
tribuna, afastados delia dous ou três pas-
sos.» Ibidem, cap. 122.
— Ricas salvas d' ouro alto-lavradas ;
salvas d'ouro preciosas, de grande va-
lor.
Trazem no entanto moços de pellote,
Em riccas salvas d 'ouro alto-lavradas,
— Páreas de avassalados reis do Oriente —
A casquinha gulosa c delicada,
Da selvosa Madeira arte e renome,
Luxo de lautas mesas ; amplas jarras
De louçan, transparente porçolana,
Raro producto do Chinez longínquo.
GARRETT, camOes, caut. 8, Cap. 3.
Uma arte de rica. cota,
um volante, uma marquezota
que ganhar-vos amor,
sojaes \6s o matador
e a dita senhora a sota.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, p-lg. 113.
Um rico cordão de nós.
Cordão não.
Pois que? um cós?
O que ella mais escolher.
IBIDEM, pag. 375.
— Uma língua rica ; uma lingua abun-
dante em palavras, e phrases.
— Um diccionario rico; diccionario
que contém muitos termos, muitas locu-
ções.
• — EsUjlo rico ; aquelle em se reúnem
em grande quantidade os ornatos e as fi-
guras brilhantes ou agradáveis.
— Momos reaes, ricos, e galantes. —
«E logo a terça fevra seguinte ouue na
na sala da madeyra muyto excellentes e
singulares momos reaes, tantos, tão ri-
cos, e galantes, com tanta nouidade, e
difterenças de antremeses, que creo que
nunca outros taes forão vistos.» Garcia
de Rezende, Chronica de D. João II, cap.
127.
— Vestiduras ricas; vestes de gi-ande
preço e valor. — «O Chaumigrem ainda
que ficou assas sobresaltado com aquella
nova, todavia a dissimulou por entaõ com
tanto esforso, e prudência, que ninguém
enxergou nelle turbação alguma, mas
vestindo-se de humas vestiduras ricas do
setim carmesim, brosladas de ouro, e com
hum eollar de pedraria ao pescoço, man-
dou chamar todos os Capitães, o senho- j
— Alcatifado de ricas alcatifas; alca-
tifado de magnifica alcatifas. — « Seria
como a moor sala de hum rey de Espa-
nha, redonda com hum esteyo no meyo
tam grosso como a perna de hum homem
pela coxa, pintado douro e de azul, e de
tintas finas e oleos. A tenda toda entreta-
Ihada de cetim de cores, com muytas laça-
rias e alcatifada de ricas alcatifas : e com
muytos coxins de seda.» António Tenrei-
ro, Itinerário, cap. 17. — « As.sentados
em ordem e o Sufy mais adiante hum
pouco, e por diante da dita tenda himi
alpendre do mesmo jaez que occupava
grande espaço do campo, e ficava como'
por terreyro da tenda do Sufy, alcatifa-
do de ricas alcatifas, por onde lhe faziam
o serviço, e traziam as yguarias.» Ibidem,
cap. 17.
— Casas mui ricas ; casas mui magni-
ficas.— «Píissado este terreyro entramos
noutro aposento em que avia quatro ca-
sas muito ricas e bem cõcertadas, nas
quais estava muyta gente nobre, assi de
naturais como de estrangeyros.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap, 122.
— Nãos carregadas de ricas fazendas;
náos carregadas de fazenda de grande
preço e valor. — «E entretiveram té che-
gada de Affonso d'Alboquerque duas náos,
que queriam sahir do porto caminho de
Judá, huma das quaes era do Soldão do
Cairo, e ambas carregadas de mui rica
fazenda ; e a fiíra estas estavam no porto
outras duas do mercadores Mouros, e Ju-
deos de Judá, que na chegada de Affonso
d'Albuquerque foram também tomadas.»
João de Barros, Década 2, liv. 8, cap. 2.
— Estatua dourada e rica; estatua de
grande magnificência, — « E segundo oa
3(J0
BICO
RICO
RICO
quilatca das virtudes cm qiio cada hum
oxorcitou a vida, .'ihhí Ilio fiizoin a ostutua
inairt ou inciioH dmiraila t) rica, juniquo
od vivoá (juc u.s viroui asMi liourados, se
iiicitum o auiinom a o-i imitarum, para
quo dt!.ipoÍ3 do mortos llic layaõ a cllcs
outro tauto. D Fcrnào Mondes Pinto, Pe-
regrinações, cap. 128.
— Ricos thcsuuros; aLundantes thesou-
ro3.
AoH fatigantos abrazado» diiis
Suoccde o pardo Ontomno, o cm eopia iugontc
Jíirnn tlinHouro.4 o.í mortacrt pcrcobcm :
Então «'ciiipoiília a Katiirtiza toda,
J)oco.s pi)inn-i noa dá. Muitos »c aprilzçm
Ató dos dia:? (lo engelhado Inverno.
J. A. Dli MACIiDO, MKDITAçXo, Cant. 2.
— Armado de ricas armas ; armado de
armas mui valio^iaíi pelo nrtiticio. — « E
assi a nao como batci.s com imiytas vcllaii
de cera douradas toda.s acosa.s, c as Lan-
doyras, o estandartes crào das armas dei
Rey e da rrincosa, todas do dama.ico, e
douradas, e vinhão diante do batel dcl
llcy, quo efa o primeiro, sobre as ondas
hum muyto grande c formoso Cirne, com
as penas brancas, c douradas, o após el-
lo ua proa do batel vinha o seu cauallei-
ro em pe, armado de ricas armas, e guia-
do delle, e em mime dei Key sahio com
sua íalla, e em joelhos deu á rriueeza
hum breve conformo a sua tenção, que
era querela soruir nas festas de seu ca-
samento.» Garcia de Razende, Chronica
de D. João II, cap. 127,
— Diz-se das substancias que contem
outi-as. — Mineral rico em prata.
— Um tempo rico ; um tempo favorá-
vel aos differentes recolhimentos.
— Ricos ornamentos ; ornamentos pre-
ciosos e de grande preço. — « E lhe dis-
serão os Fi'ades Missa cantada com ór-
gãos, c ricos ornamentos que levavam
pcra o Rey, c cm grande maneira folgou
de a ouuir, e esteue a ella com nuiyta
deuaçam, e sempre pedia aos Frades que
lho ensinassem as cousas que ei'a obriga-
do fazer pêra poder merecer saluac^am de
Bua alma.» Garcia do Rezende, Chronica
de D. João II, cap. ITiO.
— Pe<;as muito ricas ; poças do naulto
valor. — «De quo todos iiearaõ muyto es-
pantados, principalmoute quando viraõ a
cadeyra douro, e a pedraria do elefante,
cujo \)i'cço e valia, aegundo o dito de
inuytos lapidairos era do quinhentos ou
Boiseontos mil cruzados, a fi)ra outras
niuytaa peças muyto ricas que também
levava, como ja disse.» Fernão Mendes
pinto, Peregrinações, cap. 1G2. .
— Rica^ pedrarias; abundantes pedi"a-
Truotfim r/iYis pedrarias,
aain muy prados inoveadorea,
tom ricas uiercadovias,
drof^QH, c.ipeciarias,
saiii lÚHiiO iiiuy «abcdorcs.
UARCIA DE UKZr.KííK, MISCELLAMEA.
— Rico, e marmóreo paço; magnificen-
te, luxuoso paço.
Triumphador Exercito te siga
Anto.s (piTiora fluprcma o Re(;io Manto
Mrtta nas uriíaH Hcpulcraes ; ooiihecií
Qiiani ])ouco ttvultoa no fasto.HO, c rico
Marmóreo l'a<;o, ignoto a Bactro, a, Tliulc,
Aos longinquos Antípoda» ignoto.
J. A. I)K UACKIIO, A MATUIICZA, Caut. 10,
— Substantivamente : Um rico ; uma
pessoa rica. — < l'on;m isto toca mais aos
ricos, que aos pobres; porque estes como
não tem com que se sustentar, perecem
de ordinário os mais delles à fome, e des-
amparo.» Scverini de Faria, Noticias de
Portugal, Disc. 1, § G. — «PerBuadiudo
que o homem se apresente aos cidadãos
da Corte Celestial, como pobre mendigo,
cego, ferido, e assim peça humilmente
aos mais ricos delles esmola, e principal-
mente a Deos, porque muitos que vsa-
raõ deste exercicio alcançarão o fim de-
sejado, isto he a mortificação de seus
pensamentos, e paixões, e na verdade
ex])erimentaraõ a promessa do Ciiristo
executada, o qual prometeo abrir a por-
ta aos que jicrseuevassem cm pedir, u Fr.
P.artli(>lomon dos Martyres, Compendio de
espiritual doutrina, part. 1, cap. 15 led.
de 1003).
Sempre foio
criando cariio, olhando
o sete ostrcllo, e boc^-jando :
eu era bom para rico
(lue cstil cofre vigiando.
ANTÓNIO PnESTES, AUTOS, pag. 219.
— O máo rico ; aquelle de que falia
o Santo Evangelho.
— Por extensão: O máo rico; todo o
homem muito rico que não é caritativo.
— Adágios k viíoveuuios :
— A rico não devas, e a pobre não
prometias.
— De rico a soberbo não ha palmo in-
teiro.
: — I)o rico é dar remédio, c do velho
conselho.
— Mais tem o rico quando empobrece,
quo o pobre, quando enriquece.
— Quando o viilão está rico, não tem
parente, nem amigo.
— Se queres ser rico, calça de vacca,
o vc^te de fino.
— Em casa de mulher rica, ella man-
da, ella grita.
— A viuva rica, com um olho chora,
c com o outro repica.
— Nào ha casamento pobre, uom mor-
talha rica.
— O homem rico, a fama casa seu fi-
lho.
— Quem casa com mulher rica o fei&,
tom ruim cama, e boa mesa.
— - Quem por cubica veio a ser rico,
corre niaiu perigo.
— (^uem te fez o IjÍco, ti; lez rico.
— Aquclles 8.1o ricos, que tem amigos.
— Pai) no largo e bom feit'>r, faziam
rico ao cummcndador.
— Não te façus pobre, A quem to iiJlo
ha de fazer ríco.
— O moço, e o amigo, nem pobre nem
rico.
— Formosura da mulher, não fiaz rico
ser.
— O avarento rico, nío tem parente,
nem amigo.
— Máo é o rico avarento, mas pcor
é o pobro soberbo.
RICO, g. 7)1. Vid. Risso.
RICOCHET, ou RICOCHETE, ». m. jDo
fr.ancez ricoclitli, — Tiro» dt ricochet.
Yid. Chapeleta.
RICOFEITIO, s. m. Imagem tosca de
crucifixos, que fazem liomens inertes, e
ignorantes da arte dos imaginários ; fi-
gura de gesso mal feita, e uial parecida
com o objecto que havia de representar.
Vid. Feitio.
RICO-HOMEH; <. m. Termo antiquado.
Grande do reino, que era obrigado a ser-
vir ao rei na guerra com certas compa-
nha.s, polo que tinlia mantimento, ou ter-
ras de el-rei. ilestres de campo, e geno-
raes em guerra, só clles podiam levantar
gente d'armas, e sustental-a, não conhe-
cendo mais superioridade que a do mesmo
rei, de qui m h.aviam recebido o titulo, as
baronias, ou senhorias com que podes-
sem snstcutal-o. Eram os ricos-homeos
do conselho de el-rei, e com o seu voto
e parecer se faziam as cousas de mais
importância, assim na guerra, como na
paz; podiam ajudar com seus vassallos oa
reis estranhos, quando no reino não era
precisa a sua assistência, ^ão tinham
obrigação de se acharem na guerra se-
não a quando o mesmo rei em pessoa.
(.)s seus vassallos gozavam dos mais exor-
bitantes piivilcgios, luormente em íkvor
da agricultura; suas mulheres sa chama-
vam ricas-duuas, e gozavam proeminên-
cia de condessas e baronesas, e os seus
filhos, se alguma vea se nomcaraiu in-
fantes, oram comummente nomeados in-
f(iH<;òes. Foram notados os ricos-homen»
com vários titules honorifieos, como priu-
cipes, condes, barões, malorinos, podes-
ttules, tenentes, ete., como se podo vèr
n'esta3 palavras. Assim continuaram u'es-
te reino, até que totalmente se extingui-
ram, succcdendo em sen lognr os títulos
modernos. — • E armas, c uiandM'a a
hum Rico Homem, que lhe cingisse a es-
pada sem peseoçad.a; d posto ent.ão o es-
cudo no chão com o concavo para cima,
se punha sobre ellc o que havia de ser
feito Adall, e ElRey lhe tirava a espada
da cinta, e lha dava nua na mào.i Manoel
RIDI
RIFA
RIGO
301
Severim de Faria, Noticias de Portugal,
Disc. 2, § 6. — «E aquelles, que pelas
riquezas de bens se avantajaTaõ aos ou-
tro.?, mantendo à sua custa geute de guer-
ra, 03 iutitulavaõ Ricos Homens. Estes de-
pois foraõ os Mestres de Campo, e Ge-
neraes na guerra, que só podiaõ f;xzer
gente, e ti-azella a seu cargo, e nào re-
conheeiaõ outro Capitão senào o mesmo
Rey. 1) Ibidem, Disc. 3, § 20. — « Conti-
nuou-se o Titulo de Ricos Homens neste
Reyno por muitos annos, e ainda EI-Rey
D. Manoel faz menyào delles, e das Ri-
cas Donas, que eraõ suas mulheres. Po-
rem nas Ordenaçoens he mais nome ge-
nérico, que nào particular Titulo.» Ibi-
dem.
Que cm deredor festiva se agitava,
Na tenda do monarcba não penetra ;
Pezado é tudo ahi. Seua riccos-homeiís
Se compõem no silencio e na tristeza
Que da frente do principe reflecte.
A mão no rosto pallido, e c'o3 olhos
Fitos no vago, Affonso meditava.
GABEETX, D. BBAKCA, Cant. 9.
RIDEIRO, A, adj, e s. Risote, que se ri.
RIDENTE, adj. 2 gen. (Do latim ri-
dens). Termo de poesia. Que se ri, riso-
nho.
RIDES. Vid. Rizes, termo mais em uso.
RIDICULAMENTE, adv. De um modo
ridiculú.
RIDICULARIA, s. f. Cousa, acto, pala-
vra ridícula.
RIDICULARISADO, fart. jjass. de Ridi-
cularisar. Mettido a ridículo.
RIDICULARISAR, ou RIDICULARIZAR,
V. a. Fazer escarneo, ou representar co-
mo ridícula, e digna de riso qualquer pes-
soa ou cousa.
— Ridicularisar-se, v. nfi. Tornar-se
ridículo, fazer-se digno de escarneo, zom-
baria.
ridículo, A, adj. (Do latim ridicu-
lus). Digno de escarneo, fallando das
pessoas ou das cousas. — «Trata de spí-
ritos ordinários, e mal polidoí;, os das que
vivem sabia, modesta, e retíradamente.
Que mortiticação nào seria para Fulvia,
se ella conhecesse, que quanto mais se
expõem á vista dos outros, tanto mais
ridícula lhe parece, e que todo esplen-
dor em que vive lhe serve somente de a
fazer mais desprezável? o Cavalleiro de
Oliveira, Cartas, liv. 3, n." 44. — «Bem
sentia eu que me acuavào ridícula, e o
muito que m'o davão a conhecer bem me
humilhava; e com eíFeito quando eu com-
parava o meu enfeite (em que tanto se
embeUezára M. Chenu), os diches que me
ajoujavào, o desmarcado barrete que me
encovava o rosto, e que eu com muito
desvelo troujçéra da minha terra.» Fran-
cisco Manoel do Nascimento, Successos
de madame de Seneterre.
— Que iaz com que se riam d'elle por
irrisão.
— Extravagante, próprio de buíao, bo-
bo. — « Diz Mr. Charpentier, Deos lhe
perdoe, que he para elle uma cousa min-
to ridícula, ver no principio do Quinto
Livro das Metamorphoses de Ovídio, hum
Tocador de Lyra ferido á morte, querer
tocar ainda as cordas daquelle instru-
mento com a mào tremula, e moribun-
da.» Cavalleiro de Oliveira, Cartas, liv.
1, n.° 37.
— A esquerda, á esquerda,
Meu senlior, não inçares um finado
Em sua última \'iage : ha mal em vel-o
Face por face.
— « Deiía-me, ignorante,
Com teus medos ridicidos. •
— I Embora,
Embora : mas na índia. . . >
GABKETT, camões, cant. 2, cap. 3.
— Loc. : MdUr a ridículo ; ridicula-
risar, escarnecer, metter em escarneo,
motejar.
— Insignificante, de pouco valor, para
se dar. — Cousa ridícula.
RIDICULOSISSIMO, a, adj. sup. de Rí-
diculoso. Mui ridiculoio.
RIDICULOSO, A, adj. (Do latim ridi-
cidosus . Vid. Ridículo.
RIDO, pari. pass. de Rir. De quem se
ri, ou faz escarneo.
RIDOR, s. VI. Termo antiquado. Ridei-
ro, risote, que se ri a miúdo por escar-
neo, irrisão.
RIFA, s. /. Teso, ladeira, costa arriba.
— Jogo de dados, no qual quem lança
maior ponto leva o premio, que é algu-
ma peça, cujo valor, ou custo pagam por
escote, os que entram na rifa, e nas sor-
tes.
— Xo jogo, sào muitas cartas do mes-
mo metal.
— Termo antiquado. Briga, rixa, con-
tenda.
RIFADOR, A, adj. Brigão, rixoso, que
provoca rixas, contendas.
RIFÃO, s. m. Adagio, provérbio.
Diz o rifão :
Matou-me Moura e nào mouro
E quem ma lançada deu
Moura ella e moura eu.
GIL TICESTE, OBOAS VABIAS.
— « Diz um antigo ditado : Quem não
tem marido nào tem amigo. Diz outro:
Quem tem mulher tem o que ha mister.
E na verdade assim é entre os bons ca-
sados; e os rifões, senhor X., sentenças
sào verdadeiras, que a experiência, sum-
ma mestra das artes, pronunciou pelas
bocas do povo.» D. Francisco Manoel de
Mello, Carta de guia de casados. — «Por
isso disse o nosso rifão : por fora páo, e
viola, e por dentro pào bolorento.» Idem,
Apologos dialogaes, part. 157.
— Figuradamente : Composição poéti-
ca, breve, má, vulgar.
— Andar alguém em rífão ; ser trazido
na bocca de todos, e lembrado por cousa
notável, e exemplo trazido por aresto,
RIFÃOSINHO, s. VI. Diminutivo de Rí-
fão,
RIFAR, V. a. Sortear alguma cousa en-
tre muitos.
— Rifar algum traste; obtel-o em sorte
deitada em rifa.
— V. n. Brigar. Vid. Respingar,
RIFARIA, s. f. Termo antiquado. Bri-
ga, desordem, rixa.
RICAÇO, «. ?n. (Do latim rígo, regar).
— Pão de rigaço ; pão que se colhia nas
terras regadias, como são pela maior par-
te as terras da província do Minho.
RIBEIRA, s.f. Vid, Rageira, e Rogeira.
RIGEZA, s. f. Vid. Ríjeza.
RIGIDAMENTE, adv. (De rígido, com o
suffixo «mente»). De mn modo rigido, ás-
pero, severo.
— Com rigidez, com severidade, com
aspereza.
RIGIDEZ, ou RIGIDEZA, s. /. O cara-
cter do que é rigido.
— Figuradamente : Rigidez de costu-
mes, de principias, etc.
— Rigidez cad-averica; endurecimento
considerável dos músculos, que sobrevem
depois da morte, e d'onde resultam a ap-
proximação das maxillas, a dexào dos
dedos, e a impossibilidade de fazer mo-
ver as articulações umas sobre as ou-
tras.
RIGIDO, A, adj. Termo de historia na-
tural. Que nào dobra, que é duro.
— Figuradamente : Severo, áspero, rís-
pido, rigoroso,
RIGISSIMO, A, adj. superl. de Rijo.
Vid. Rijíssimo, orthograpbia preferível,
RIGO, A, adj. Termo antiquado. Rijo,
forte, seguro. Vid. Rijo.
1.) RÍGOR, s. VI. (Do latim rigor). A
dureza, fortaleza, ou força, — O rigor
do braço. — cEu hia cansadíssimo, assi
pelo descustume, como por sempre ca-
minharmos por montes de área, que es-
tes forâo os mayores que achev em toda
esta jornada, O Sol fazia seu officio com
tanto rigor, contra quem passaua de dous
dias que quasi nam bebia; que em fim
me não atreuia a passar co elles a fon-
te.» Fr, Gaspar de S. Bernardino, Iti-
nerário da índia, cap. 10. — «Conside-
rai os pobres ordinaiúos mancos, doentes,
que soportam frios, calmas, fomes, rigo-
res de chuuas, e ventos, com quanto so-
frimento por espaço de hum dia inteiro,
se for necessário aguardam a huma porta
por pequena esmola, a qual as vezes nam
alcançam,» Fr. Bartholomeu dos Marty-
res, Compendio de espiritual doutrina.
— A maior exactidão. — «Cousas de
que os grandes devem guardar-se por te-
mor dos criados e vassallos, que sendo
senhoreados com tyrannia, se o tempo
lhes abre algum caminho de viver em li-
berdade, com rigor o seguem e com ten-
302
Ri(;o
RKiO
RIO O
çilo dttinnada, nascida de seus apfpravos,
\ini\m do Kua fortuna, nJto ol liando o aca-
t.aiiionto (111 piiHMoii, ii í|iio o itempiM tive-
ram, iiiirquf; uk vontiidiw com qmi tó alli
os tratiiram, fç^ni cHti! eti|iu!ciiiiniito.»
Francisco de Morao», Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 1 IH.
— Severidade, aspereza, rif,'iiki/,.
nendido aqui me toua soin ilcfeuiU:rjiia
Bogcito ao que Amor ((uíh, vum, iimis nl tarde»
Executa o rii/or do tua isenta
Aspora condi(;iio tilo fera, e dura.
COUTE RKAL, NlUFEMIO DB BEP0I.VUOA, Cant. G.
— «De nianoyra quo na diversidade
destas horrendas pinturas cm que se pu-
nhaij 03 ollios se declarava o género de
morte que se devia a cada género do
culpa, e o grandissinio rigor de justi^'a
com quo a» leys ordeuuvão estas tais mor-
tes.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 103. — fPorque essa s() resir-
vava para ay, o comendo delia, gostarião
por castigo desta culpa, o rigor do a(,()u-
te da sua justiça, a que perpetuamente
ficaria obrigado cora tórios os mais (|ue
descendessem dellc.» Ibidem, caj). IGo.
• — uEllo ILie respõdeo liunui carta niuy
favorável, podo nella termo ao rigor da
persiguiçaõ; e eomo depois de ser eleito
Emperador, encontrasse cij corto houioni,
que antes do o ser lho tinha feito alguns
desabores, por onde lhe tinha ódio, cui-
dado o outro, que naquolle encontro se
executaria o castigo.» Monarchia Lusita-
na, liv. ;'), cap. '2'ò. — «Naõ paroceo aos
Konianos que lho covinha aguardar os
rigores do Maximino, tendolhe feyto hum
doasabor tão grade, como foy aprovar
outra eltni,-ão, em seu despeito, e junto o
Senado elegerão a Máximo Fapieno, e
Clodio Balbino, por Emperadorcs, e por
Cosar o sucessor no Império a Ciordiano,
neto o lilho dos quo morrerão em Afri-
ca.» Ibidem, liv. 5, cap. Iti. — «M;is
que elle conhecia bem a condiçam dei
liei, que ora acabarse tudo com ello per
bons meoâ, e modos, c nada per força
nem rigor, que sua Alteza acostunhaua
ir muitas vezes visitar a Rainha dona
Leonor sua irmãa. » Damião do Góes,
Chroiiica de D. Manoel, part. .'i, cap. 40.
— «De di>nde, ó alma minha, proc-ode
tanto rigor comsigo mesmo, seuaõ do co-
uheclmento (pie tinhaõ de que cou.sa hc
peceado, e do entranliavel ódio que lhe
tinhaõ.» Padre Manoel Bernardes, Exer-
cícios espirituaes, pag. 133,
Do câporRo m:Vi9 agudo, a Alma pungida,
Sento o 'Ri^pvobo, e mi'dra a Dòr cm dobro.
Tal, na deserta Zaiira, o Negro auscia-so
No bochúruo da secca trovoada,
Kutre as Sírpos, na areia se arremosaa
Entro Leões, (como cUc) asáPdeutadósV ■"' ' '"'
No mór W_(7t>r SC crÇ, no m6r íupplieio... ''
F. U. DO MASCUIB^ITO, 08 HABTVBBS, 1ÍV. 8.
So ja teuB dons cantei <• o» t<;u« rigores
Em scntidii» uiidoixas, w; piedoso
Km teus altares húmidos de pranto
Dopnz o cora<;iiij ipie inda arquejava
Quando o arranquei do peito malH<ííIriilí(
A' fo/. do Tejo — ao Tejo, 6 doiisa, ao Trjo
.Me leva o pemtuineiito que esvoaça
Tímido e ae/)Vardadi) entre os olmedos
Qu(! as [lobres ag ias dV-ote Sena regiiin.
oaebiltt, cauôí:», cant. 1, cap. 1.
— O rigor do texto ; o sentido propriis-
simo das palavras.
• — /Sujeitar a theoria ao rigor matlu-
maticu ; cxorcital-a com todo o rigor scieu-
tilico.
Ao ri</nr Mathcmatico sujeita
A abstracta tlieoria, ou cego abysmo
Das humanas pai.tões tumultuosas.
J. A. DB UACKDO, VIAOKM KXTATICA, CaUt. 4.
— Loc. ADV. : Em rigor; restricta-
mente, conformo a força, na força da ])a-
lavra.
— O rigor de uma belhza. — «Isto po-
dia soeeder sem milagre, eu mesmo te-
nho visto muitas veses, que a insenBÍbi-
liJade lie luini monstro vinga a offensa
quo o rigor de huma belle.sa faz a mui-
tos homens de l)c,m. Não me atrevo a di-
ser quo as liberdades que a Philò.sophia
Cynica permitia ao Amor, forão a ver-
dadcyra causa do que Crates mereeeo a
Hipparchia.» Cavalleiro d'01iveira, Car-
tas, liv. 3, n." 10.
— Termo de medicina. Tosara preter-
natural dos nervos, com que so fazem in-
llexiveis.
— >Syn'.: Rigor, severidade. Vid. este
ultimo vocábulo.
2.) RIGOR, f. VI. Flocco do seda del-
gado.
RIGORIDADE, s. /. Vid, Rigor, vocá-
bulo mais usado.
RIGORISMO, í, m. (Do latim rigor, c
o suflixõ «ismo»). Severidade, exacção
pontualissima, do que não é exigente do
rigor das leis, do que se lhes deve com
rigorosa obrigação; em opposiçào a ííío-
derantismo. — «A moral mais segura en-
sina não ser licito valer d'estcs meios;
mas os gabinetes que se querem ser\'i-
dos, em taes casos, não apj)rovam rigo-
rismos.» Bispo do Grão Panl, Memorias,
public.;ida3 por Camillo Castoilo liranco,
pag. Kil.
RIGORISTA, .<!. 2 gcn. Pessoa que leva
em excesso longe o rigor, a severidade
da moral.
RIGOROSAMENTE, adv. (Do rigoroso,
com o suftixo >>menteu>. Do iim modo ri-
goroso.
— Com rigor, com severidade.
— Em rigor.
RIGOROSIDADE, s. /. (De rigoroso, o
o sutBxo «idade»). Rigor, aspereza, seve-
ridade.
RIGOROSÍSSIMO, A, a./y. *u;>er/. do Ri-
goroso, iliii ngorono.
RIGOROSO, A, (vlj. (De rigor, com o
suílixo cQso»). t^ue usa il<- rigor.
Nenhum delles diz mai*, mas proveitoso
I.lie fi.ra n eadii linm tw, maiit falbira,
K quanf < o fuUar a outro hi- damiioMi
Tanto aurora a e^tU-n doiu aproveitara,
Porque i()(íO o KUvcira rlrjurotn
Que ao» dou» para isto a mort<- dilatara,
Manda (e logo »•■ faz) que a salgadit cnxlii
Com peBoA ao \ii-tc'uiQ ambo» ciicouda.
viAKCiHcu ni Axoii^oa, raiioiíao cijux) Da WV,
cunt. 19, cét. 7tj.
— Asporo, difíicil de se supportar, £al-
lando das cou.sa.s.
Como vos Tsí neMC mar
Tio profundo e espaçoso?
No^fso mar lu' fortuuoâo,
Nos.-*o viver lacrimoso,
E o chegar rigoroio.
GIL VICEXTE, FABÇAS.
— «Cousa por certo assaz rigorosa, e
que 8Ó pode soportar jvquelle que fizer da
conciencia, pena, e da verdade, tinta.»
Francisco Maúoel de Mello, Epanaplioras,
part. 1, pag. f).
— Em que se uaa de rigor, era que ha
rigor. — - tíenteuc^a rigorosa. — «O dia em
que se executou esta rigorosa sentença,
foy hum domingo aos 2tj. de JutLho,.an-
no de Christo 92(3. segundo huma opinLnS
de quem discrepa Morales, dimiauindo-
Ihe hum anno desta conta com bastantcà
fundamentos. 1 Monarchia Lusitana, liv.
7, cap. lí>.
• — Austero, severo,
Ah rigorona Nympha ! ah ! não me faças
DajT cm vão tantos gritos : vem ; ireuiDS
Ambos a leTant;\r as virdes nai;a9.
Ambos os anzoes curvo.4 cobrirvmoi
De mentirosas iscas, com que os priíes
A todo prazer nosso prenderemos.
CAx., i:au>OA 9.
— «Neste tompo ci-ptinuando o Ouvidor
Gaspar Jorge pelas rigorosas execuçiJea
que CAda dia fazia nuns, e noutri*, den
motivo de muyto escândalo eu» to<Ia a
terra, e não cõtente com is.so, oooliada
nas largas Provisões que o VisoRey Ibe
dera, se quis intrometer na jurisdicçào
do Capitão D. António, e so apoderou
tanto delia, que ao Capitão lhe não tica-
va mais que só o nome, e ser hum olbey-
ro da Fortalesa.i Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 219.
— Que prova uma exactidão severa.
— Maj-ivia rigorosa.
— Incontestável, evidente. — T>emoiis-
tra^ão rigorosa. — Provas rigorosas.
— Diz-so de uma temperatura a.^^pera^
dura.
— Figui-adamcntc: Oéo rigoroso; a di-
vindade que pune.
I
RIJE
RIJO
RBIA
303
— Syn. : Rigoroso, austero. Vid. esto
ultimo vocábulo.
RIGUEIFA, 5. /. Vid. Regueifa.
RIGUEIRA, s. f. Abertura na terra,
onde se escoa a agua da chuva, a modo
de ribeirinho.
— Rigueira de pão. Vid. Regueifa.
RIGUEIRO, s. m. Vid. Rigueira.
RIGUEITA, s. /. Vid. Regueifa.
RIIGO, A, adj. Termo antiquado. Apres-
sado, segundo a interpretação de alguns
auctoreí.
f RIGUROSO, A, adJ. Vid. Rigoroso.
— • «Esta enfermidade irmão meu, inda
que pareça rigurosa, cora tudo não he
mortal, e pois entrou pelos olhos, e a
sustenta o desejo, atalhay estas duas cau-
sas, e Deos acudirá com o remédio.» Mo-
narchia Lusitana, liv. 6, cap. 2-4.
Mais que o marmovc, e o tigre braua, e dura?
Onde te vas cruel? onde me leuas
Por força as3Í roubada esfaima minha ?
Se tanto rigurosa te me mostras
Por te dizer meu mal, e de atreuido
Jle quiseres culpar, Amor me força :
Amor te tem senhora toda a culpa.
CORTE REAL, NAUFRÁGIO DE SEPCLVEDA,
cant. 0.
— «Querendo ja os crueys algozes dar
effeito a aquella rigurosa justiça, as mi-
seráveis padecentes cõ assaz de lagrimas
se abraçarão humas com as outras, e pon-
do todas 03 olhos na Nhay Canatoo que a
este tempo estava como morta encostada
no collo de huma molher velha, lhe iize-
rão as mais delias suas çumbayas, c huma
delias como que fallava em nome das
mais fracas que o não podião fazer, lhe
disse, Senhora, capella de rosas de nos-
sas cabeças.» Fernão Mendes Pinto, Pe-
regrinações, cap. 151. — «E ha riguro-
sa justiça desta terra he causa de freo
das maas inclinações e desassossegos que
ha gente delia tem, que com ser tam ri-
gurosa como he, estam todavia todos os
troncos comunmente cheos de presos, com
serem tantos como temos dito.» Fr. Gas-
par da Cruz, Tratado das cousas da Chi-
na, cap. 26.
RIJAMENTE, adv. (De rijo, com o suf-
fixo «mente»). De um modo rijo.
— • Rijo, com força. — Ser morto rija-
mente. — «E contase no mesmo livro que
nove dias despois de ser enterrado o san-
to homem, que foj naquelle mesmo lugar
onde elle então jazia, tremera aquella ci-
dade de Cohilouzaa onde ello fora morto,
huma vez taõ rijamente, que a gente do
povo CO grande temor que recebera, fu-
gira toda para o campo, e se agasalhara
em tendas, sem aver ninguém que ousas-
se de entrar nas casas.» Fernão Mendes
Pinto, Peregrinações, cap. 96.
RIJEZA, s. f. Caracter do que é rijo,
duro.
— Dureza. Vid. Rigeza.
rijíssimo. A, adj. siqjerl. de Rijo.
Muito rijo.
1.) RIJO, A, adj. (Do latim rigidus).
Duro, forte, áspero, robusto. — E vindo
com vento rijo infunado com todas as
vellas, por chegar mais depressa, se lhe
fora supitamentc ao fundo, de que se sal-
vara o Ruy Lobo cõ dezassete Portugue-
ses, e alguns escravos, e viera ter na
Champana ao ilheo de Lamau sem veila,
nem agoa, nem mantimento algum.» Fer-
não Mendes Pinto, Peregrinações, eap.
51. — «Simão da Costa tauto que vio as
velas, e se affirmou serem galez, se foy
sahindo pêra o mar, para descobrir se ha-
via mais que aquellas, e não vendo mais
tornou-se pêra dentro, porque não pode
sofrer o vento Ponente, que era muito
rijo.» Diogo de Couto, Década 6, liv. 10,
cap. 1.
AtFerra o arco, a frecha entre os dedos prende,
No pé esquerdo se affirma, e do tal geito
Para diante o braço esquerdo estende,
E para traz encolhe o que he direito.
Que o rijo arco á griia força então se rende,
Tanto o encurva que a corda chega ao peito,
E com tal fúria a aguda frecha lança
Que em breve espaço a misera ave alcança.
F. d'asdrade, primeiro cesco de DIU, caut. 5,
est. 17.
Ouves? Rija celeuma aos ares sobe
E fere os ventos que nas ondas folgam.
— II Terra, terra ! » bradou gageiro alerta.
GARRETT, camõks, caut. 1, cap. 4.
— Figuradamente : Forte.
— Homem rijo ; homem de forte con-
dição,
— Figuradamente: Sauãe rija.
— Inteiro, severo, rigido, áspero de
condição.
— Substantivamente: O mais rijo da
batalha.
E que talvez segura no mais rijo
Da batalha o brandira, — mal ousava
De ir, CO a orla da toga, a medo e trépida.
Aos olhos que alma tímida arrazava
de feminino pranto... — O que é o povo?
GARBKTT, CAxIo, aCt. 4, SC. 3.
2.) RIJO, adv. Rijamente, fortemente.
— «Pelo que parecendo aos mouros, que
hiam os Chi-istàos atemorizados aperta-
ram tão rijo com elles que foi necessário
a dom loão fazer volta, em que lhes ma-
tou perto de cincoenta dos de cauallo, do
que assanhados, deixada ha escaramuça
se começaram da juntar dando mostra de
quererem dar batalha.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 1, cap. 48.
— «Dom Lourenço achou os imigos em
mui boa ordem, porque os adargados es-
tavam diante emparando os frecheiros, e
dalli tirauam a seu salvo, ferindo alguns
dos nossos, o que vendo dom Loiu-enço,
os esforçou, apertando tão rijo com os
imigos, que os fez retirar para a fralda
da serra.» Idem, Ibidem, part. 2, cap. 4.
— «E vendo serem moços Christãos, bra-
damos rijo aos marinheyros que amainas-
sem, o que elles não quiseraõ fazer, mas
antes a modo de desprezo, tangendo com
hum tambor, derão três apupadas muyto
grandes, capeando, e esgrimindo cõ tre-
çados nús, como quem nos ameaçava.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações,
cap. 50. — «O capitão da guarda vendo
a detença que o Chaubainhaa fazia, e a
razão porque não queria passar adiante,
e não se sabendo determinar na causa
porque elle se queixava dos Portugiiesea,
voltou muyto rijo no elephante em que
andava sobre Joaõ Cayeyro, e lhe disse,
despeja logo o caminho.» Idem, Ibidem,
cap. Í50. — «íío meyo deste trabalho, e
medo com que todos andávamos, vimos
descer de sima do morro a grande pres.sa
dous homens de cavallo, os quaes nos ca-
pearão com huma toalha, e nos bradarão
rijo que os tomássemos, e como a novi-
dade do caso nos pos em desejo de saber
o que aquillo era, se mandou logo a man-
chua a terra bem esquipada, e porque
aquella noyte me tinha fugido hum moço
meu com outros três.» Ibidem, cap. 202.
— «Ho qual vendo os da ai-mada, que
estavam vigiando em cillada, arremete-
ram muito rijo e muy prestes aos dous
juncos, e mortos alguns Portugueses que
nelles acharam, e feridos outros, toma-
ram os navios.» Fr. Gaspar da Cruz,
Tratado das cousas da China, cap. 24.
— Fallar rijo; fallar alto; fallar aspe-
ramente.
1.) RIL, s. m. Termo antiquado. Rim.
2.1 RIL, s. m. Certa dança.
RILHADOR, s. ni. Pessoa que rilha,
RILHADURA, 5. /. A acção de rilhar.
RILHAR, i!. a. Comer roendo, e puxan-
do com os dentes, como se costuma fazer
á carne dura, ás pelles.
— Figuradamente : Roer mm-murando,
mascar.
RILHEIRA, s. /. Termo de ourivesa-
ria. Peça em que se vasa a prata fundi-
da, para d'ella se fazerem chapas.
1.) RILHEIRO, s. m. Redemoinho de
agua,
2.) RILHEIRO, s. m. Molho de trigo
segado, e atado pelo meio.
— Outros dizem ser meda de centeio,
ou trigo, e não móiho.
1.) RIM. Forma variável do presente
do indicativo do verbo rir. Hoje está
adoptada a orthograpjiia riem, attenden-
do á etymologia latina rident,
2.) RIM, s. m. (Do latim ren). Visçera
do animal, cujo principal uso é receber e
filtrar aquella parto sorosa do sangue,
que passa á bexiga da urina.
1.) RIMA, s. /. (Do grego rhythmos),
O consoante em que terminam os versos,
— A rima diz-se consoante quando
desde a ultima vogal accentuada até ao
304
RIMA
RIO
RIO
fim (las p!ilavi'<as [lor qiK! tc7'iniiiaiii dou»
ou iiiaÍH voraoH, f^itanla conforiiiiiladc cm
toda» as lotnis, tanto vogaus, como con-
soantos:
Dá luz (■ biilho A Holva qiio verdeja,
E o Bol do Portugal o mundo o inveja !
— A rima diz-se toante qnando a con-
forniidade so dá só nas vogaes da ulti-
ma syllaba dos versos.
— A rima consoante divido-sc ainda
em encadeada, cnipíirelhada e interpola-
da; ò encadeada quando a dic(;i\o iinal
do um verso rima com-i;ma ou mais dic-
ções do meio do verso seguinte:
Filha! não jioaso agasalhar-to cm vida;
Rosa pendíVía quo tu vaori finar !
Quom to arrancara d'oaaas mãoií ferozes
Doa meu» algose» quo te vão matar !
— E emparelhada quando os finaes
de dons ou mais versos consecutivos ri-
mam um com o outro:
Tu... dA-me ao ceiTar noite o meu inverno
Um leito funeral ao sonino eterno.
— E interpolada quando dons ou mais
Versos que rimam entre si, são permcia-
dos do um até sois versos de rima Jiffe-
rente :
Eu nunca vi I.isboa, e, tenho pcíia,
Mãe de .labios, de hcroes, criíno e \\xt<ide;
Golfão de riso c dòr, que ora serênn,
Ora referve c escuma em roclia rí«?e.
— Figuradamente : O canto dos pas-
sarinhos.
— Oitava rima. Vid. Oitava.
lli estava agora.
E ladrão de outava rima!
Dias ha, sculior, quo digo
que não ponba pé om ramo
nesta casa.
ANTOMO PRESTKS, ADTOS, pag. 433.
— • Plur. Versos.
2.) RIMA, .•-•. /. Monte, abundância, pi-
lha, Ijard.i, amoutoamento. — ■ Uma rima
de cadáveres.
3.1 RIMA, s. /. (Do latim rima). C4re-
ta, tisga, fenda, abertura.
— Tormo de cirurgia. Fractura, ou
fonda no anus.
RIMADO, part. pass. de Rimar. Que
tem rima ou con.soante. — Fersos rima-
dos; em ojiposiçilo aos versos soltos,
RIMADOR, A, .f. Pessoa que faz rimas;
diz-se ordinariamente do mau poeta, que
imagina que o fazer bem versos não é
mais que rimar em consoante.
— Trovista.
RIMANCE, s. m. Vid. Romance.
RIMAR, V. a. Escrever em verso.
— Figuradamonto : Rimar nabos com
bugalhos; dizer cousas disparatadas.
— Rimar um verso covi outro; tornal-ofl
consoantes.
— V. n. Corresponder nos consoantes,
ter a mesma terminação, e formar o mes-
mo som.
— Cumprir, convir, estar bem, ca-
ber.
— Figuradamente: Concordar, ser con-
vcnic.nt", dizi'r bem com outro.
RIMBOMBO, .V. m. Vid. Rebombo.
RIMIR. Vid. Remir.
RIMOSO, A, adj. (Do latim rimosus).
Cliiio de rinia^ ou fendas.
RIMULA, s. f. Termo de einirgia. Di-
minutivo de Rima. Fendasinha, fractura
pc(iuena no anus.
RINCÃO, s. m. Termo pouco cm uso.
Canto secreto, recôndito.
RINCHADAS, s. f. plur. Cachinadas de
riso, gargalhadas, graúdos ri.-íadas.
1.) RINCHÃO, A-. m. Certa planta me-
dicinal.
2.) RINCHAO, ÔNA, adj. Que rincha
muito. — Eijua rinchona.
— Homem rinchão ; homom quo faz
muita roda e farfalhada ;ls mulheres, sem
vir com cilas á conclusão. Vid. Rin-
char.
RINCHAR, V. n. Diz-so do cavallo quan-
do solta o seu rincho, que 6 a sua pro-
pria voz. — «E os que os traziam sentin-
do os quo vinham, e vendo que os não
podião trazer todos sem nuiyto risco de
suas pessoas, se embrenharam cm huma
grande mata, e mataram os cauallos por
não rincharem, e aos doas Marinheiros
cortaram as cabeças, que trouxeram, e
ao Piloto depois da terra segura, e as ir-
mandades hidas, trouxcrão andando de
uoite com anzolos na boca por não fat-
iar, e vieram com cUe a Euora, onde h)-
go foy esquartejado, por onde nenhum
ousaua de yr cumo nrio deuia.» (íarcia
de Rezende, Chronica de D. João II, cap.
188.
— Figurada c popularmente : Alvoro-
çar-se o homem com vista de mulheres,
dizer iinezas, etc.
RINCHAVELHADA, s. /. Destempero de
riso, risada desentoada.
RINCHO, .<. "1. A voz própria do ca-
vallo.
RINDEIRO, í. m. Vid. Rendeiro.
RINGIDOR, A, adj. Quo ringc ou que
range.
RINGIR, V. a. V»!. Ranger.
RINHA, s. /. = Signilicaç.ão incerta.
RINHÃO, s. m. Vid. Rim, subst.
■ — AlV\GIO E 1'ROVKUmO :
— • o boi e o leitão cm janeiro criam
rinhão.
RINHIR, V. i>. Brig.ar, disputar, con-
tendor, rixar. \"id. Renhir.
RINOCEROTE, s. »i. Vid. Rhinocerote.
RINS, s. m. plur. Vid. Rim.
1.) RIO, í. «>. (Do latim rivus). Fra-
gua, corr(;nte por entre margons, cm
grande copia.
O rio H'cncarampIou !
Nunca tal m'acjnt«c(Ki,
Jíou bota, liou bota, bou !
ait vicr.yTK, auto da ntvA vo rutoA-
TOKIO.
Ku >'ou ao rio pcrcin.
Porque hei «ide c beberei,
K nicuís r|uc n.idarci
Kmquanto O clero vcin.
Lcixand o chapoirSo
Mettido nc.ita moutcira,
E o cinto p ertmoleira,
Porrine lá logo o rcrilo,
Não me aquela outra tal foira.
lliy.H, FABVAfl.
— tltem. Vos mandamos, qu« ponha-
des em vintenas todos os moços de liida-
de de doze annos pêra cima, eeendo fi-
lhos de pescadores, ou viverem com elles
por soldadas, e usarem do mar ou do
rio cm barcas de carreto, e de pescar,
pêra crecerem, e nos ser\-irem quando
forem pertecncentea pêra uo.s.so serviço.
Ord. Affons-, liv. 1, tit. 70, § 12.
As pronncia.s, que entre um o outro rio
Vês com varias nações, são infinitas ;
Um reino Mahomct», outro Gentio,
A quem tciu o Dcniouio leia cseriptas.
cAic., Lus., cant. 10, cat. 108.
Corta a frot:i infiel inda arrogante
Contra a M.adrafabat a onda marinha,
liio que da Cidade catar distante
Cinco Icguas, ja di'«e a bi?<toria minha ;
E não sendo passada, ainda ávanto
.V fortaleza vio assaz visinha,
Faz-lhc a de\-ida salva e cortczia
Co'o furor da mortal artilharia.
IBIDEM, cant. 13, est. 62.
— € Assegurando-os a profiimleza do
rio, que correndo entre duas rochas in-
acessíveis, he naquella parte de fundo niuy
alc^intilado, fira do qual a penedia cor-
taila a pique tira as esj>erãças a quem
lhe j)oem os olhos, de se poder nella fa-
zer acometimento de proveito. • Monar-
chia Lusitana, liv. 7, cap. 27.
No fértil Oriente : la na parto
Onde o famoso Rio Indo, «"esforça,
E o furioso Gango com crescido
-\ccellorado curso, a terra lua».
O Roino Canari entro cst«s /fio»
Tem sua jurdii,-am, o antipo aíwonto,
("•ndi- sogeita a Gafe, áspera serra,
Huma nobre cidade a (.iiristo adora.
CORTE BKAt,, XAUrBAOIO DE SCrCXTKDl, CAUt. 1.
Vc Galacia, Pamphilia, e Capadócia
(Juo dos seus aruoredos tone o nome,
Vio Phrigia, onde a famosa iufaoâta, c triste :
Miscrancl cidade, foi situada.
Vio Liei a CO seu oiont"- alto Cbimera,
I.idia CO rio PactUolo f:uno».-i.
Cilicia \no tainlx-m, a que de Lyco
O tilbo de Pandião, tomou t^il nome.
iiirKM, cant. 2.
I
RIO
RIO
RIO
305
Determiaào buscar iim grande rio
Que de Lourenço Marques tiuha o nome
Onde agora ficou ja pêra sempre
Agoada de boa paz aos nauegantcs.
Fruta amarga montcza eomeiíi todos,
Ossos secos torrados nào engeitào,
E se acaso se acerta achar alguma
Alliraaria ja morta, cata recolhem.
IBIDEM, caut. 10.
— «O do Salvag-ein depois que passou
o rio, a nuvem que d'"antes o cubria ti-
cou sobre o batel, que de niuito preta
lho fez perder de vista; e porque a seu
animo nenhuma cousa fazia medo nem
receio, posto que sentisse que havia de
que o ter, começou amlar assim a pé
contra o castello, que daquelia parte tu-
do estava claro. ■> Fraucisco de Moraes,
Palmeirim d'Iiiglaterra, cap. 113. — «Já
que o mais do dia era g^astado, se acha-
ram á vista d'um castello, que sobre
uma rocha estava assentado, ao parecer
dos olhos fermoso e forte ; e polo pé del-
le corria um rio de tanta ag:ua, que em
nenhuma parte fazia vao, e passava-se
com uma barca tào pequena, que nào po-
dia alojar em si mais que té dous passa-
geiros.» liidem. — ■ tPois vós quereis as-
sim, disse o primeiro, aguardai, que eu
vos mostrarei o que gai.hais nesta defe-
sa. E passando da outra parte do rio
com a lança posta no reste, arremetteu
a elle, que Já o esperava com outra, que
os escud-eiros das tlouzellas vieram pro-
vidos dellivs da corte d'el-rei Recindos.»
Ibidem, cap. 125. — «E segundo estes
pouos eutre si saõ bellicosos, e de pouca
fé ja toda esta grande regiaò fora súbita
ao mães poderoso: se a natureza nào ata-
lhara a cobiça do? homems com grandes
o notaueis rios, montes, lagos, matas, e
desertos, habitação de muitas, e diuersas
alimárias que impedem passar de ura rey-
no ao outro.» João de Barros, Década
1, liv. 4, cap. 7. — «Porém foilhe mui
contrariado esse seu prop:isito, principal-
mente daquelles de cujo parecer seu pae
lhe mandaua que tomasse a determinação
de qualquer feito que ouuesse de come-
ter, poendolhe diante o grande numero de
velas, e a estreiteza do rio, e o fauor dos
Mouros da cidade ; e mais nào saberem
se era algum ardil dos mesmos Mouros
pêra o acolherem dentro daquelle rio,
de que ainda nào tiuha muita noticia.»
Idem, Década 2, liv. 1, cap. •!. — «Xas
quais lhe derrubarão hum dos dous ba-
luartes que defendiào a entrada do rio,
e por elle, cõ bailas de alg 'dão que le-
vavão diãte, o cometerão huma antema-
nham, sendo Capitão deste assalto hum
Abexim por nome Mamedecào, que viera
de Judá avia menos de hum mes assen-
tar e jurar a nova liga e contrato que o
Baxá do Cayro em nome do Turco tinha
assentado co Rey do Achem, no qual lhe
elle dava casa de feitoria no porto de
Paacem.» Fernão ilendes Pinto, Peregri-
YOL: V. 39.
nações, cap. 26. — «E que avia ja três
annos que tomara aquelle rio por colhei-
ta de seus furtos, e também por aver
que nelle estaria mais seguro de mVs,
porque nào custumavamos fazer fazenda
nos portos daquelia enseada e ilha de
Ainaõ.ii Ibidem, cap. 46. — «Tom El-
Rey mandado pôr hum masto no meyo
do rio, guarnecido, c forrado de sedas
de core*, o nelle pendurada huina fermo-
sa joya pêra o que mais remar, e chegar
primeiro a ella.» Diogo de Couto, Déca-
da 6, liv. 7, cap. 9. — «Faz este rio
Nilo huma grande ilha, per nome Meix)e,
a que agora chamão Elsaba, ou Nobá,
donde dizem os do, terra que era senhora
a Rainha Sabá, ou 3Iaqueda, e que dalli
partiu pêra Hierusalem a ver-se com el
Rei Salamam, que da mesma ilha foi
também senhora a Rainha Candaces que
mandou o Eunuco, per nome Indic a
Hierusalem com offertas ao templo. » Da-
mião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 3, cap. 62.
— Os braços de um grande rio. — «Es-
ta cidade de Goa he situada em huma
ilha que também se chama Goa, donde a
cidade toma o nome, a ilha chamão os
Canarins naturaes da teiTa Ticuari, esta
antre dous braços de huvíi grande rio a
que os da terra chamam Pangim, será
(íe sette, ou oito legoas de roda, a qual
ilha com algumas terras no sertão deu el
Rei de Dacam, cujas erào a hum seu
criado per nome çabaio em satisfação de
seus serviços.» Damião de Góes, Chroni-
ca de D. Manoel, part. 3, cap. 3.
— Castellos levados do rio ; castellos
arrasados pela enchente do rio.
Infindas casas cahiram,
castellos todos inteiros
Icuadoá do rio virava,
edifícios se sumiram,
casas, fortes, moestejTOS.
<;. DE HEZEXDE, MISCELL.tSEA.
— Xau grande servindo mais para
guarda do rio, que para navegar. — «A
qual fortaleza eu per seu mandado de-
buxey, c com elle ordeney a sua vonta-
de, e elle tinha ja dada a capitania delia
a Aluaro da Cuuha seu estribeiro mor,
e pessoa de que muyto contiaua, e por-
que el Rey logo faleceo, não ouue tempo
pêra se fazer: e a sua nao grande, que
foy a mayor, mais forte, e mais armada
que se nunca vio, mais a fez pêra guar-
da do rio, que pêra nauegar.» Garcia de
Rezende, Chronica de D. João II, cap.
181.
— Entrar jiorio; embarcar n'elle, na-
vegar por elle. — «E emlim todas estas
obras, e despesas, e fundamentos de Be-
mohi acabarão mal. Porque depois que
ho dito Pêro Vaz com toda sua armada,
e com o dito Bemohi chegou, e entrou
no dito rio, onde a dita fortaleza se auia
de fazer, tomou sospeytas de trayeào
contra o dito Bemohi.» (Tareia de Re-
zende, Chronica de D. João II, cap. 68.
— Tomar ponto era um rio ; desembar-
car. — «A boca da noite tomamos porto
em hum rio a que dizem Chylife ; aqui
sahimos em terra firme de Africa ra
Ethyopia. Aneria pouco mais de hora
que nella cstauamos, quando vimos des-
cer por huns montes abayxo hum bando
de Cafres, a que chamão Mosseguejos,
todos niis fazendo grandes gritas, e alíi-
ridos,» Fr. Gaspar de S. Bernardino,
Itinerário da índia, cap. 5.
— Cheias dos rios ; enchentes, transbor-
dações. — «Muytos escriptores saõ de pa-
recer que o Eufrates passaua pelo meyo
de Babylonia, a mi nam me quadra este
dito, porque a fertilidade daquellas ter-
ras nam consiste níaia, que nas cheas dos
rios, e se o rio atraueesara a Cidade,
estiuera ella sempre alagada, que como
he capina, seria inuy dificultosa de alim-
par, e trabalhosa dé seruir, e não se pô-
de crer que em hum pouo tão grande se'
consentisse tam notaviel defeyto. » Frei
(.iaspar de S. Bernardino, Itinerário da
índia, cap. 18.
— Rios impetuosos; rios caudalosos e
poderosos. • — «Pela qual causa no veraij,
em que a mayor parte da neve se derre-
tia, -v-inhaõ a^uelles rios tào impetuosos
o com tanto pode-r- de agoa quanto tí-
nhamos visto, que era mais que em todo
o outro tempo dò anno.» Fernão Mendes
Pinto, Peregrinações, cap. 72.
— Lançarem-se ao rio ; submergifem-se
n'elle. — «Mas Deos que do pensamento
dos mãos costuma tirar matéria para
mayor gloria dos seus servos, permitio
que os corpos dos LIartyres se mostras-
sem daquelle modo mais belos, e as aves
não tocassem em todo tempo, que os alli
lhe tiveraõ, do que confusos os Bárbaros,
deraõ ordem para que secretamente se
tirassem, e fossem lausados ao rio.» Mo-
narchia Lusitana, liv. 7, cap. 15. —
— «Acabando estas palavras, saltando
fora do cavallo, se metteu no batel e
mandou remar contra a outra parte.
Ainda não seria no meia d'agna, quando
os cubriu uma nuvem tão escura, que
com ella, perdeu de vista os de terra, e
elles a elle. Como seu escudeiro quizesse
lançar-se ao rio pêra seguil-o, z^epresen-
tou-se-lhe ante os olhoB uma serra muito
grande cnberta de névoa, e a seu pare-
cer julgava que aquella se mettia antr'el-
le e seu serhor.» Francisco de Moraes,
Palmeirim d'Inglaterra, cap. 113.
— Ah':m do rio; para lá do rio. — «Sen-
do ja o campo mea legoa alem do rio vol-
tiiram Abida, c G arábia, e após elles os
da Xerquia com alguns Christàos. que .^^e
desmandaram da ordenança, e os fezeram
voltar ate o rio, em que lhe mataram
dous caualleiros, e dez cauallos, de que
hum foi o Alcaide dei Rei de Fez.». Da-
306
mo
RIO
RIO
iiiiilo do (roes, Chronica de D. Manoel,
part. 3, cap. 75.
— Eiitrnr pelo rio dentro; oiiibarcar. —
« Foito odte nogocio so embarcou o (jro-
vernador, o ao outro dia surgio com a
Armada grosBa na barra de Còcliim, o
ollo com as galcz, o todos os mais iiavioa
do remi) (a (jiic toda a gcute »c passou)
entrou pelo rio dentro, c pas.sou pela Ci-
dade com «lios ombaiidcirados, e postos
om armas, e foy surgir aquelle dia no
castoUo de cima.» Diogo do Couto, Déca-
da 6, liv. 8, cap. 12.
— ■ Lnnçar-se pela barroca abaixo coiUra
o rio. — «Ao que aoodindo os mouros
defenderam a entrada per hum bom es-
paço, mas cm Hm o.i nossos ganUaram a
villa, c niatarrio muitos dcllos, o outros
so lançaram pela barroca abaixo contra
o rio, do que morreram alguns, o os que
isto nam fezoram quo foram em numero
duzentos cincoenta, o sois trouxe dom
Aluaro captiuos om Azamor, sem perder
nenluiin dos seus posto quo dez ou doze
d(í!les viessem feridos.» Damião de Cloos,
Chronica de D. Manoel, part. 4, cip. 40.
— Levar-se mais para duntro ilo rio ;
ir para dentro. — «Assentado isto assi e
jurado, o feito disso hum assento cm que
os mais assinarão, o Capitão mór se le-
vou mais para dentro do rio, distancia
de dous tiros de falcão, o antes que sur-
gisse chegou á sua fusta huma ulmadia
de terra, na qual vinha luim Rrainene
que falava muyto bem Portuguez.» Fer-
não Jlendcs i'into. Peregrinações, cap. 9.
— iVai'e(/ar rio acima; navegar contra
a corrente do rio, — «E em hum dia e
huma noyto cliegamos ha foz do rio, que
se chama ho Poõ : e navegamos cinco ou
seys legoas per este rio acima, o cheguey
a huma vila que se chama Riam, do du-
cado o senhoria do Ferraiw.» António
Tem'oiro, Itinerário, eap. (J7.
— Navegar rio abaixo; navegar a fa-
vor da corrente, para a foz do mesmo
rio. — «Aqui mataram á frecha os mo-
tuns, quo comeram do seu rancho, os Ín-
dios do Gaite, e um veado pequeno. A
13 pelas cinco horas da manhã navega-
mos rio abaixo em canoas pequenas, com
o trabalho de cortar a macliado muitos
troncos.» Bispo do (irào Pará, Memorias,
publicadas por Camillo Castello Branco,
pag. 190.
— Ao longo do rio. — «O qual a gran-
des brados com aquelle spirito do paixão
com quo vinha ao longo do rio, metoosc
na agoa ato a cintai : pedindo ao capitão
mòr quo ouuesso misericórdia dello, ptir
quanto era natural do Cananor c ostaua
ali com aquollas nãos que orão suas e de
outi'os homoms principaes vassallos de Ca-
nanor.» Barros, Década 1, liv. 8, cap. 10.
— A barra do um rio; o leito do mes-
mo. — «Chegado Diogo Cam á barra do
rio do Padrò, foi recebido pelos da terra
com rauito prazer : vendo os seus natu-
raes que ollc trouxera viuos o também
tnictados como hiSo.» Barros, Década 1,
liv. ',), cap. i5. — iO capitam llio man-
dou ilizcr que logo auisaria o gouernador
de Nauto, huma villa Junto da barra do
rio quo vcin de Cantam jjera quo fezessc
saber ao» goueniadares da cidade <lc sua
vinda.» l>amião de Coos, Chronica de D.
Manoel, part. 4, cap. 'ji. — «Parecu-
Ihes quo seria de grande importância fa-
zer junto tia barra daquellc rio de Siriaõ
huma Fortalesji, de cuja fabrica, e de-
fensíi Salvailor Kibcyro ofFereceu cncar-
regar-se entro tanto quo Filippo de Brito
avisasse ao Visorroy da Índia, como fes.»
Conquista do Pegú, cap. 3.
— Vi'.r correr crespas as aguas do rlo ;
vèl-as alteradas, encrespadas.
Vejo no campo extenso aa louras messes
Kiirmar cadèas do douradas ondas ;
Vejo, treinendo nas erpiidaa Faias,
Troucos Hfxiveis, folhas volteaiitca ;
Vejo crespas correr do rio as agoas •,
O brando vento com benigno assopro
Taes bens derrama de principio ignoto.
J. A. 1)R MACEDO, MEDITAÇÃO, Cant. 2.
— Cidade situada junto do rio Tigris ;
cidade situada á beira daquelle rio. —
«Caraemite he luima cidade como cabeça
de royno mui notável em aquellas partes :
he de grande comarca : situada junto do
rio Tigris pêra a banda do norte, cerca-
da de niuy notáveis muros, c barbacàis,
e oditicios de grande admiraçam.» Tele-
maco, traducção de Manoel de Sousa, e
Francisco Jlanoel do Nascimento, liv. :i9.
— //•, seguir, subir, entrar pelo rio
acima; ir, seguir, subir, entrar contra a
corrente do rio. — «Passado aquelle dia
tendo o capitão Lançarote assentado com
os outros capitães pêra irem per o rio
acima descobrir, por ser a cousa que o
Infante mãos desojaua.» Barros, Década
I, liv. 1, CJip. 13. — «Começou entre el-
los haver differença, a qual apagaram
com elegerem por Capitão a António do
Miranda d'Azevedo, per ordenança do
qual entraram pelo rio acima té onde se
fazia hum esteiro, dentro do qual obra
de meia légua estava a Cidade Campar.»
Idem, Década 2, liv. 9, cap. 7. — «Da-
quy seguimos nosso c.irainho mais cinco
dias pelo rio aeima, nos quais sempre os
vimos ao longo da agoa, o iis vezos la-
vandoso nús, mas não que nos comuni-
cássemos com elles mais que esta vez so-
mente.» Fernão Mendes Pinto, Peregri-
nações, cap. 73. — «Logo que entrAmos
em Mcmj»his, cidade opulenta o magnifi-
ca, deu o governador ordem que fossemos
a Thebas, para la sor apresentados ao
rei Sesostris, que per si mesmo queria
apurar as cousas, c estava mui agastado
contra os Tyrios. Subimos mais pelo rio
acima thé a famosa Thchas de cem par-
tas, onde assistia este grande rei.» Tele-
maco, traducçSo de Manoel de Sousa, e
Francisco Manoel do Na-<cimento, liv. 2.
— A borda de um rio ; na margem do
rio. ■ — «E muito laàu «« lho acro6c«iitou,
quando ao longo na bor'ia do mesmo riO
viu assentado um castello de maravilho-
sa feição. Caminhando pcra aquf^lla par-
te, lhe saiu ao encontro uma donzella a
j)é, e com eila dous escudeiros. (Jhcgado
a elles, vendo só Florendos armadn, on-
deroçando-lhe suas palavra» diiise.» Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim dlnglaterra,
cap. 102. — «Os CelLites, posto que sua
vivenda he mais no mar, que na terra, e
alli liies nascem os tilhos, alli os criara
sem fazerem alpum assento na terra; to-
davia porque fí&íram em ódio cíim o» de
Cingàpura, e com todaias llh.a» de seu
senhorio,- n3o ous:iram de tornar áqucUas
partes, e por então vieram fazer sua v\-
venda à borda de hum rio.» Barros, Dé-
cada 2, liv. G, cap. 1.
— Vêr descer tantos rio8 do» Alpes ;
correrem n'uma direcçjlo obliqua, e nào
horisontal.
Vês dos aerco» escalvados Alpes
Tantos rio.» de3c<'r, qn' a ITesperia hinndin?
Porém na Ejnpeia arêa, e pedrp^josaa
Inliospitas Arábicas montanhas.
De chuvas, onde o Cco se mostra avaro.
J. A. DE MACKDO, A IfATlTKIZA, CAOt. 2.
— Ir, seguir pelo rio abaixo; ir, se-
guir a favor da corrente. — «E porque
da entrada vla princeza se fallará adian-
te, torna a Florendos, que ao segando
dia, depois de Daliarte c seus companhei-
ros partidos, andando elle c FloraroSo a
pé passeando á borda d'agoa, armados de
todas armas somente os elmos, viram vir
polo rio abaixo dons batei>j a remos.»
Francisco de Moraes, Palmeirim dlngla-
terra, cap. 110. — *<} cavalleiro das
donzellas se foi poio rio abaixo, por ver
se acharia algum vao pêra lhe trazerem
o cavallo, e passar da outra banda; le-
vava a donzella pola mSo, qne inda oc-
cup.ada de medo lhe rSo lembrava qne fi-
cava seu escudeiro atado ao pé d'uma .ir-
vore. e com um pao na bôc.n, qtie o ata-
ram 03 cavallciros. parque nSo bradasse ;
e leinbrando-se tão tarde, o fez tomar
atraz.» Idem. Ibidem, eap. 12'*. — «Qnem
nos dissesse a ilistnneia que podia aver
daly ú ilha de Calempluy, e qne se pelas
informaçoons que achássemos víssemos
que era taÕ fácil o cometimento -delia
como o Similau nos tinha dito, fossemos
•adiante, o quando n.ão, entilo nos tornás-
semos pelo meyo da corrente do rio abai-
xo, porque ella nos IcTaria .10 mar para
onde tinha sen curso.» Fernão Mendes
Pinto, Peregrinações, cap. 74. — «E se-
guindo mais sinco dias de no.«sa viagem
por este rio abavxo, fomos hum Sabbado
pela r.ianhàa ter a hum grande templo
por nome Singnafatur, o qual tinha hum
RIO
RIO
RIPO
307
cerco, que seria de mais de hurua legoa
em roda.» Idem, Ibidem, cap. 12G.
— Lançar fogo a alguma cousa que
voe pelo rio abaixo. — «E o que mais
atormentava a gente o tempo que esteve
neste lugar, era o fogo que lançavam
pelo rio abaixo pêra queimar este junco,
porque com a sua artilheria os Mouros
nào o podiam metter no fundo, por estar
affastada hum pouco alta, e todo o damno
delia era pelas obras mortas.» João de
Barros, Década 2, liv. 6, cap. 7.
— Homens lançados pelo rio abaixo;
homens lançados a favor da corrente. —
«E para dar remate a todas ellas, ao ou-
tro dia que foy o de São Bertolameu
mandou espetar em caloetes todos os no-
bres que tomarão vivos, que serião quasi
trezentos homens, e assi espetados como
leitoens foraõ também lançados pelo rio
abaixo. De maneyra que fez aquy este
tyranno justiças tão novas nestes miserá-
veis, que nós os Portugueses andávamos
todos ct-)mo pasmados.» Fernão Mendes
Pinto, Peregrinações, cap. 155.
— A bocca do rio ; a embocadura do
rio. — «E esta he a nova que achamos
quando surgimos na boca do rio, cõ a
qual licamos todos bem alvoroçados e
contentes, e determinamos que tanto que
viesse a viração entrarmos para dentro,
porem quiz a dciaventura por nossos pec-
cados, que não vissemos isto que tanto
desejávamos, porque sendo quasi ás dez
horas, estando ja para jantar, e com a
amarra a pique para em acabando nos
fazermos á vella, vimos vir de dentro do
rio hum junco muvto grande só co tra-
quete, e mezena.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 36. — «Esta situada
na costa do regno de Siam, na boca de
hum rio pequeno, era esta cidade neste
tempo de huma legoa de comprido, mui-
to estreita em comparaçam da longura
em que auia mais de trinta mil visinhos,
he muito viçosa de fruetas, e boas au-
goas.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 3, cap. 1. — «Do que el
Rei se cxcusou, por lho assi requerer ha
molher do mesmo loanne Mendez, e logo
após estas cartas, sabendo el Rei dom
Carlos como el Rei dom Emanuel deter-
miuaua fazer huma fortaleza na boca do
rio de Tetuam, e que tinha mandado la
dom Pedro Mascarenhas a sondar a en-
trada, e ver ho posto onde se melhor po-
deria fiizer, lhe escreueo outra carta, es-
tando ainda na Cruuha.» Idem, Ibidem,
part. 4, cap. 48. — «Demais d'estas duas
missSes se fez outra á ilha dos Nheengai-
bas de menos tempo, e apparato; mas de
muito maior importância, e felicidade.
Xa grande boca do rio das Amazonas
está atravessada uma ilha de maior com-
primento e largueza que todo o reino de
Portugal, e habitada de muitas nações de
índios, que por serem de linguas diíFe-
rentes, e difficultosas, são chamados ge-
ralmente Nheengaibas.» Padi-e António
Vieira, Cartas, n.° 17.
■ — Figuradamente : Rios de pérolas.
E alastrados, de pérolas, seus rios,
Coalhadas de Âmbar de suave cheiro
Mansas ondas, que esprayào, que amortecem,
No canclleiro cm flor, c a rays bejào-lbe.
FBASCISCO MASOEL DO KASCiMEKTO, OS UAKTTBES,
Kv. 3.
— Figuradamente : Deus ser mar, e o
homem rio. — «Dezejo ver vossa formo-
sura, dezejo alcançar a minha origem,
dezejo buscar o meu centro : vós sois mar,
e eu sou rio; vós soLs centro, e eu sou
pedra: oh entre já este rio no seu mar,
ache esta pedra o seu centro.» Padre Ma-
noel Bernardes, Exercícios espirituaes,
part. 1, pag. 55.
— Argênteos rios ; rios parecendo de
prata, resultado da influencia da lua so-
bre as aguas.
Também fases análogas llie vira,
Quaes na Lua estou vendo, argênteos rios,
Ilhas dispersas, mares, promontórios.
E não será de habitador estranho,
Qual vejo a Terra, povoada a Lua ?
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Cant. 2.
— Vêr lia lua Jluctuanics rios.
Qu' O peso de teu corpo opprime, c honra.
EUo errante também, e ao Sol opposto,
Ora todo illustrado, e loso em parte
De igual figura, e giro similhauto
Também manchas análogas lhe viras
Quaes vês na Lua fluctuantes rios.
J. A. DE MACEDO, A KATCKEZA, Cant. 1.
— Figui-adamente : Rio de prata; abun-
dância considerável de dinheiro. — «E
por tal arte medeaõ as couzas, que naõ
lhas trazem senaõ a pezo de dinheiro; e
vem a ser neste Reyno hum rio de pra-
ta, para que naõ lhe chamemos de ouro,
que está correndo continuamente para a
Guria Sacra, por letras de Bispados, Igre-
jas, e Benefícios, e mil outras graças.»
Arte de furtar, cap. 56.
2.) RIO, s. m. Termo de marinha.
Cabo delgado, ou cordinha de dous ou
três fios.
— Rio ; forma variável do verbo rir,
mas que alguns concordam em que se es-
creva riyo, para evitar a confusão.
— Adágios e provekbios :
— Em rio grande, passar derradeii"0,
— Em rio quedo, não mettas teu dedo.
— Rio torto, dez vezes se passa.
— Quando o rio não faz ruido, ou não
leva agua, ou vae crescido.
— Fazenda de sobrinho, queime-a o
fogo, ou lève-a o rio.
- — O que o rio achega, o rio leva.
— Não sou rio, para não tornar atraz.
— De grande rio, grande peixe.
— Vae a moça ao rio, conta o seu e o
do seu visinho.
RIOSINHO, s. w. Diminutivo de Rio.
Rio pequeno, de pequena extensão.
1.) RIPA, s. f. Pedaço de taboa estrei--
ta ou longa de certos coqueiros, ou páos
fendidos, que se atravessa sobre os bar-
rotes e caibros, e faz uma grade com el-
les, sobre o que" se assentam as telhas
nos telhados.
2.) RIPA, s. /. (Do latim ripa). Vid.
Riba, e Ribanceira. — - A ripa de um rio.
RIPADO, s. 7)i. As ripas do telhado em
forma de grade para se pôr a telha.
RIPAL, adj. 2 gen. — Pregos ripaes ;
pregos com que se pregam as ripas nos
caibros.
RIPANÇAR, r. a. Preparar com o ri-
panço. — Ripançar o linJio. Vid. Respan-
çar, que diverge.
1.) RIPANÇO, s. m. Livi-o contendo os
officios da semana santa.
2.1 RIPANÇO, s. m. Camilha de dormir
a sesta.
— Esprlguiceiro, marqueza.
3.1 RIPANÇO, s. )/!. (De ripar). Peça
de madeira, que serve para separar a
baganha do linho.
• — Instrumento dentado de jardineiro ;
serve para raspar a terra e ajuntar as
pedras.
— Adágios e provérbios :
— Es como ripanço, que só serve de
lima cousa.
— Faz oíEcio de ripanço.
1.) RIPAR, V. a. (Do francez riper).
Separar a baganha do linho por meio do
ripanço.
— Raspar a terra, e ajuntar as pedras
por meio do ripanço.
— Ervilhas de ripar ; ervilhas cozidas
com vagens, que se comem mettendo-as
na bocca, e puxando pelo pedúnculo.
— Figurada e popidarmente : Furtar,
agatanhar.
2.) RIPAR, V. a. (De ripa). Gradar
com ripas os caibros dos telhados.
RIPÍA. Vid. Arripia, e Repiar.
RIPIADO, A, adj. Que tem ripios.
— Figuradamente : Que contém pala-
vras, que vão só para encher a medida.
• — Versos ripiados.
j RIPICOLA, adj. (Do latim ripa, e
colere, habitar i. Termo de zoologia. Que
vive na margem dás ribanceiras.
f RIPIDION, s. m. Termo de botânica.
Género de plantas da familia dos cogu-
melos.
RIPINHA, s. f. Diminutivo de Ripa.
Ripa ]>equena.
RIPIO, s. m. Pedrinha de encher os
vãos, que deixam nas paredes as pedras
— Figuradamente : Na linguagem poé-
tica, a cunha ou palavra que vai somen-
te para encher e completar a medida.
7 RIPOGONE, s. /. Termo de botâni-
ca. Género de plantas monocotyledoneas,
aos
HKMI
do ílôriw iacompletAH, da fanillifi das as-
para^íiiioas, que cro.sccin na Nuva llol-
laiiila, o niiH illiaw do mar do Sid. — A
ripogone Iminai.
RIPRICAR, 1-. íí. Uiii.licar. Vid. este
tejMiio.
RIPUARIO, A, u<lj. Quc! pertence aoH
ripiiariDM.
-— Li!s rjpuarias; leid dos ripuarios,
attriliuiilas a Tlicodorieo, filho do CIovIh,
c 8C11 rei. E.sta.s leis corupòem-se do 8ÍI ou
í)l tira.s, lorniando 224 ou 227 artigon. —
A hi do» ripuarios confcntiivíi-sc c(mi>r<j-
vas nefjativds.
— àS". plur. Tribu da cqnlbdcraçào dos
franccxi!.! que oeeupava a uiar;?oni Occi-
dental do Ilho.no, donckí o nomo pareço
dcrivar-so. Formaraui-.so, dcpoÍH dos fran-
cezes salioj, a tribu mais potente da na-
ção, e quando o.stC3 ultimoá avançaram
para a (iallia, os ripuarios espalharam-se
pelo occiílentc, oceupaudo o paiz situado
entre o Rheno o o Mo.-ia até ús Ardeunas.
A tribu dos ripuarios Junt.ira-se, sob o
comniando do Clóvis, á dos francezes sa-
lios.
1 RIQUESA, í. /. Vid. Riqueza. —
«Gallonio foi dotado de taõ insaciável
gula, qu(i gastou todas as suas riquesas,
que craõ muytas, eiu profusos banque-
tes; de sorto que ficou om provérbio,
quando alguém queria rogar huma gran-
do praga o dizcr-sc : Tão bêbado te veja
cu como António ; tão escarnecido como
Cario; tão gastador comi) Aypicio; e taõ
goloso como Gallonio. » Braz Luiz de
Abroii, Portugal medico, pag. 28.
RIQUEZA, Í-. /. i^Do hebraico reqiish).
Superabundância de bens de fortuna, e
de cousas preciosas, cm opposiçrio á j>o-
breza. — «O segundo passou em Tirccia,
confiado no favor, e parentesco do Em-
porador Theodosio, deixando os bens o
riquezas, que tinhaõ em poder dos ven-
cedores, que 03 meterão a saco; pagado
com este roubo, c outros miútos que se
cometerão ua Cidade de Falência, e sua
Comarca (dõdo estes irmãos eraõ natu-
raes^i aos Ilarbaros Honoriacos.» Monar-
chia Lusitapa, liv. O, cap. 1. — «Assi
que se elles om nos viam que temer, os
nossos em ver a grandeza da Cidade, e
o grande número de povo, a multiaão
dáa riáos, o navios, também tinham que
cuidar, posto que pela grão fama <la sua
riqueza tudo se convertia cui desejo de
' a conquistar. » Barros, Década 2, liv. Ij,
cap. 2. — «E a este moio saõ todas as
mais cousas de que a natm-eza a dotou,
assi na salubridade e temperamento dos
ares, como na policia, na riqueza, no es-
tado, nos apai-atos, e nas grandezas das
suas cousas, o para dar lustro a tudo
isto, Ua também nella huma tamanha
ob80í'vaueia da justiea, o hum governo
tão igual e tão excel tento, que a todas
as outras terras pode fazer inveja.» Fer-
nKo Mendes Pinto, Peregrinações, cjip.
RIQU
99. — «E dandollia entaõ (JhristovSo Bor-
ralho, elles a tomarão eoiii liurua grande
cerimonia du ^aiidu cortesia, dizcinhj,
louvado Boja o que tuilo criou ijoíh kc
(juer servir de peccadoroH na terra, para
j)(ir isso lhes fazer a feria do seu paga-
mento no derradevro dia de todo» oh dius,
com lhos piugar ííou jornal tanto por on-
cLeyo nas riquezas do.-i ouus iiautuii ti-
Houros, quo segundo temos para nó» será
cm tanta umltiplicaeão como as gotus
que as nuvens do Cco tem lançado cm
toda a terra.» Ibidem, cap. llKJ. — -a Es-
tas feiras se fazem nos meses de .lulho e
Janeiro, com festas notáveis, feit.as á in-
vocação dos seus Ídolos, onde por si-u
modo tem seus jubileus plenissimos em
que lhes promettcm grandes riquezas de
dinheyro na outra vida. tíaõ estas fey-
ras ambas francas e livres, sem pagarem
uenimm dircyto, pela qual causa concor-
re a ella tanta gente, que se afíirma que
passa de três contos de pessoas.» Ibidem,
cap. 108. — «A primeyra foy dizemos
que lhe tinhão dito os Chins e Lequios,
que Portugal era niuyto ma^-or em quan-
tidade assi de tcn-a como de riqueza,
que todo o império da ('hina, o (jue ncjs
lhe concedemos.» Ibidem, cap. \'.V:i.
(|uc c:isas (|iic ac juntaram ?
que rendas que alcançaram ?
\ii3saHos, villas, rlqiie:<t T
jurdiçõfs, mando, nobloza?
que senhorios liordaram V
OARCtA DE RKZENDK, MISCELLINEA .
Entrou com mil alegrias,
saliio com prandcs tristezas,
tauto ouro, e pedrarias
uaiii ac vio cm nossos dias,
nem t.ies gastos, taos riquezas.
1D[DKU.
— «Todos com grande riqueza e per-
feyçam de carregamentos de suas pes-
soas, casas, e seruidores. E segunda fey-
ra a vinte e dous dias de Noueuibro a
Princesa partio da Cidade de 15adajoz
aeompanhada do (^irdeal, e todolos se-
nhores que eom ella vinhão, e com a gen-
te da cidade e suas danças.» Idem, Chro-
nica de D. João II, cap. 121.
A riqnezii, o poder, a dignidade,
Objectos vaõs de hum iufelií cuidado
Oirrece a «(uem te tem por Divindade.
Aiin.Km: de jazkste, pof.sias, tom. "_', (lag. 119
(odiç. do 1787).
. — «Da muita gente se colhe a rique-
za do Príncipe pelos direitos, que se pa-
gai» dos frutos da terra, obi-as de mãos,
e mereaneias. Acontece isto naturalmen-
te.« Manoel Severim de Faria, Noticias
de Portugal, Dise. 1, § 1. — «Em esta
trasladação fez extremos ilignos ile lem-
brança, porque além da riqueza das an-
das em que o corpo vinha, e do acompa-
RJQU
nhamonto de Honhorcs, e Renhoras illu«-
tres do Ueiíiu, i-iii todait an dczjuetu le-
guai» que ha de Coimbra a Alcobaça lui-
via de huma, e outi-a purtu bouteim com
brandõcri de cera ardendo, pelo meio diOii
quaes liiaõ as andah, c acoiupaniiamunto.»
l-'r. lieiíiardu de Jirito, Elogios dos reis
de Portugal, continuadoH por 1>. JoȎ
Barbosa. — «Pêra que a nieeiua pobreza,
a quciu ofíondera, lhe deca^iauave ao
Senhor, e ali visse (|Uunt4> niaÍH eaboruita
ella seria que a riqueza se foMe tani vo-
luntária, e acabasM- em tim de perder os
vãos teniorea, (jue todos lhe teniofl, di-
zendo muytas vezes u ^i menino, ei» aqni
o de (pie tanto medo tinlia.» Luecoa, Vi-
da de S. Francisco Xavier, liv. õ, cap.
'■'i. — «iíocolheoo ' lovcriuwJor os despo-
jos, que forào os Beaes, uiuitai* bandei-
ras, e quarenta peças de artelharia gros-
sa, em que entrava aquella, que iioje te-
mos ua Fortiileza de S. Iji.ào, que do lu-
gaj-, em que se gardiou .ainda couscrva o
nomo. Entregou a (Jidade ao saco, sem
reservar para si hum só ferro de lança,
sempre d.as riquezas do (Jrientc dej»pre-
zador constíinte.D .Jaeintho Freire d'Aii-
drado, Vida de D. de Castro, liv. íJ.
Kin qu.onto por salvar esta rif/ufza
K a uudhe.r, o Sultão assi trabalha,
Nào ces-ía do .Mogor a :dta cruc/.».
Por tudo quanto vè, cruel sc.-^»alha :
Dos seus o que escapou a esta braveza,
K »<'• a fugida espera que lhe valha,
A Diu se recolhe em tompo breve,
Omlc estar o Sultão por novas teve.
FRANCISCO d'aNDRADK, rKIXClBO CEBCO lUI DIC,
cant. 3, est. 81.
Usa tu comigo hoje do brandura,
Uasta ser-mc a fortuna imiga c forte.
Sequer porque ísta grande foniiosura
Ante ti nào receba cruel u)orte.
E tudo o quú uutrc tanta desventura
Me eonsentio 8:ilvur a adversa sortt;
Te dou, que mais r!q'i<'za cu nào procuro
Que vêr-mc com meu bera posto em segure
iBiDF.si, cant. 'I, est. 44.
— «E he o primeiro desengano, que
damos a todas as unhas, que furtaõ para
fartar sua eobiça, e fume, que tem de
riquezas; desenganem-sc, que trabalkaõ
debalde; porque raayor a haò de ter,
quando mais sti encherem, e mayores
montes ajuntarem; porque ho hydrope-
sia, (pie quanto mais bebe, tauto mayur
sede tem.» Arte de furtar, cap. 70.
Niio he de huuia Na^ào. da Torra he todo
O sabiú, que a riqnczn augiueoita ás Artes.
J. A. DE ILACEDO, VIAtíKU KXTAIICA, CJUlt. 4.
Na ingenuidade natural se^ro,
tíiii<inti nào comprada apresentava :
Trai o fnieto es|Vintaneo. o leite puro
1X> manso armejit<^, que no pasto andava ;
Tauto de trato dobre, e en^raiKi, alheio.
Que á.'t clu><,'as leva os luiutas sem nceio.
ii>t:y, o ouiKNri:, CAUt. T, Ciit. úl.
RIQU
RIQU
RIQU
309
— Valor intrínseco da moeda.
— Magnificência, osteutaçrio, luxo, es-
plendor. — «E o que a todos mais espan-
tava e mais vinham a ver, eru a íermo-
sura, riqueza e atavios de Turgiana, que
a vinham vêr como cousa cahida do Ceu.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 89. — «El Rcv com gramle
estado Real, e o Priucipe sahiram pella
manhãa cedo com a Raynha, c Princesa,
e todalas damas com muyta riqueza ves-
tidas, e concertadas, e foram ao campo
Daluisquer na jibeyra de Santarém a co-
lher ramos verdes.» Oarcia de Rezende,
Chronica de D. João II, cap. 131. —
« Suzanna, a infeliz Suzanna, tilha de Ma-
dama de Senueterre ! e eu lastimar-me
da minha siirte ! Nunca melhor que hoje
senti que nào a riqueza mas sim a ami-
zade, mas sim a virtude são as que en-
curtito as distancias.» Francisco Manoel
do Nascimento, Successos de madame de
Senneterre. — «Oondemnada me vejo a
um luxo, que tantos invejão, e que a mim
serve de supplicio ; condemnada a visi-
tar, a receber, e a accolher uma socieda-
de que me não quadra em modo algum.
Quanto mais triste nic vè, tanto mais dis-
pende M. Chenu, capacitado que a cou-
sa mais estimável no niundo é a riqueza,
e que luzimento vale ventura.» Idem,
Ibidem.
Immeusas solidões, no horror sublimes,
Magestade, cxtcasão, riqueza, tudo
A imagem te amostrou do Omui[)oteiite,
E destes troncos se dcrramào filhos,
Euormos como os pais, os Guararapcs,
Cuja espantosa cima os pés humanos
Nunca poderão profanar té agora.
J. A. DB MACEDO, MEDirAÇÃo, cant. "2.
— Riquezas espiíítaaes e celestiaes; as
riquezas do céo. — - «E isto nasce de ter
posto seu eoraçam, c affeyyam em outras
riquezas mayores, s. nas spirituaes, e ce-
lestiaes. E por isso diz o Senhor, Bem-
auenturados os pobres de spiritu, s. de
vontade spií-itual mouida ao desprezo das
riquezas terreaes, pello amor (jue tem ás
spirituaes, e eternas. E neste primeyro
degrao, he muyto pêra cusiderar quam
contraria he a diuina sabeduria à mun-
dana.» Fr. Bartholomeu dos Martyres,
Catecismo da doutrina christã.
— Riquezas encerradas naquelle que
se iiufre dan lagrimas d'aur(/ra.
Perfumada Ceil.^, v.W, mares onde
■Se vai perder o fabuloso Hidaspe,
Quantas riquezas cuoorrais uaquellc
Que se nutro das lagrimas d 'Aurora !
J. A. DE MACEDO, A NATUBKZA, Caut. 3.
— Vã riqueza; riqueza superficial.
Este o primeiro da assisada turba
Do Cynico mordaz. Cratcs coutúmplo,
Que julga inútil pezo a vã riqueza,
E no abysmo do mar com oUa esconde
Imiuicto temor, voraz cuidado ;
Seja d'oHi'o o grilhão sempre he cadêa !
J. A. DE MACEDO, MEDIPAçÃO, Caut'. 2.
— Siilida riqueza dos mortaes.
Mais útil quadro aos olhos se oflerece ;
Pacíficos rebanhos pelos prados
Sào dos mortaes a solida riqueza,
Siio pcrmaneutcs bens da idade de ouro.
Da tranquilla virtude inda hoje emprego
lie do pastor a vida ; o insano orgulho
Nella couhece, a seu pezar, ventura.
J. AGOSTINHO DE MACEDO, HEDirAçÃO, Cant. 3.
— Nas riquezas, adquiridas pur rou-
bo, nãi} pôde existir para quem as pqssue
bemaventurança. — «Pelo meio da prodi-
galidade, e avareza, corre a liberalidade,
que dispende, e guarda com a moderação
devida, e porisso he virtude; e porque o
he, naõ atina com ella, quem serve o
mundo, que traz apregoada guerra com
as virtudes. E vedes aqui, como nas ri-
quezas naò pôde haver para vós a bem-
aventurança, que nos fingis.» Arte de
furtar, cap. 70.
. — As riquezas das fratenuis artes.
Se em soberbo salão do Louvre antigo,
Da muda Poesia o Thronohum tempo,
Ou do Museo mais vasto onde s'encerrâo«
Hoje as riquezas das fraternas Artes,
Qu' a lastimada Itália lis armas cede.
Entrara para ver quanto traçarão.
J. A. DE MACEDO, A MAICHEZA, CaUt. 3.
— Jazer a riqueza no centro escuro da
humana habitação, sendo desenterrada por
famintos brados.
Da humana habitação no centro escuro
Jaz a riqueza, que famintos braços
Foi-ão desenterr.ar, c vio primeiro
Do dia .a clara luz nocivo ferro,
IJtil á vida, c péssimo instrumento.
J. A. DE MACEDO, A KATUREZA, Cant. 2.
— Senhor de grã riqueza ; muito rico,
opulentis.simo.
Por isto, c creio mais por lhe ser dito
Que este Turco he senhor de grãa riqueza.
Sem mais outra rasão, outro delito
Para huma tal justiça, antes crueza,
Manda que o triste Turco renda o csprito.
Que por obra se põe com grãa presteza ;
Calie do corpo a cabeça, o esprito logo
Entra no inextinguível bravo fogo.
F. d'andrade, pbimeiho cehco de dic, cant. 12,
est. 131.
— Adagio e provérbio :
— N.ào te exaltes por riqueza, nem
te abaixes jior pobreza.
— ■ Syn. : Riqueza, opulência.
Riqueza é a superabundância de bens
da fortuna, de cousas preciosas. Opulên-
cia é a grande riqueza acompaidiada de
ostentação, e talvez de poder e influen-
cia.
A riqueza consiste na posse; a opu-
lência no gozo apparatoso dos bens da
fortuna.
O avarento que enthesoura e não gas-
ta é rico, mas iião opulento. O fidalgo, o
lavrador abastado que não enthesoura, e
gasta com ostentação suas rendas, é opu-
lento sem deixar de ser rico. Póde-se ser
rico sem ser opulento, mas nào opulento
sem ser rico; por isso se diz rico e opu-
lento, e nào opulento e rico.
RIQUIOVA, s. f. Termo antiquado.
Tudo o que era pertencente á bagagem,
e aposentadoria daquelles senhores, que
alli se detinham, e de cujo titulo se for-
mou este vocábulo.
— Loc. : Ir á riquiova e t rov iscada;
ajudar nas tinguijadas, e jornadas do se-
nhor.
RIQUISSIMAMENTE, adv. (De riquíssi-
mo, com o sutiixo «mente»). Mui rica-
mente, com muita riqueza. — «Passada
esta casa chegamos a huma porta onde
eatavão seys porteyros com maças de
prata, c por ella entramos noutra casa
riquissimamente fabricada, onde estava o
Calamlnhan em hum teatro de grande
magestade, fechado em roda com três or-
dens de grades de prata, acGpanhado de
doze moiheres muyto fermosas, e riquis-
simamente vestidas.» Fernão Mendes Pin-
to, Peregrinações, cap. 1G2.
RIQUÍSSIMO, A, aJJ. supcrl. de Rico.
Mui rico. — « Foi commettldo depois de
alguns dias pelo exercito do Duque, e
ainda que houve alguma resistência, como
o numero era taõ desigual, e a gente Por-
tugueza taõ pouco exercitada na guerra,
foi o senhor D. António po.sto em fugida
com huma ferida na cabeça, e seu campo
roto, e saqueados os arrabaldes de Lis-
boa, em que se alcançou hum despojo ri-
quíssimo.» Fr. Bernardo de Brito, Elo-
gios dos reis de Portugal, continuados
por D. José Barbosa. — «Cujas campinas,
segundo os Geographos, naõ servem de
outra cousa mais, que de pastos, e com
isto está riquíssima.» Manoel Severim de
Faria, Notícias de Portugal, Disc. 1, § 5.
— «x\. de hum Jesuíta, homem porem
Doutíssimo, Eloquentíssimo, c Riquíssimo
na intelligencia dos significados, e no
uso de todos os Vocábulos Latinos.» Ca-
valleiro de Oliveira, Cartas, liv. 1, n.° 7.
— «E de ver no riquíssimo poema de
Byron, o Chlld-Harold, a descripção da
entrada de Lisboa, etc. O leitor portu-
guuz encontrará ahi cousa que não é mui-
to para lisongear o amor próprio nacio-
nal ; mas tenha paciência, que ainda as-
sim não é muito grande a injustiça do
nobre lord.» (Jarrett, Camões, nota J^ ao
canto 1.
— : Um jyeixe riquíssimo foi o brazão
de Fhenicia, e a gloria de Tyro.
OUia o peixe riquíssimo, que fora
De Eenicia o brazão, de Tiro a gloria,
310
RIR
Que (las alfçoítas pedra» arrancado
Licor, inairt c|u' o Uiibi, brilliuiiti;, ««€!'.•«)
Da* raHgaJa» ciitraiilia* oiitornava.
J. A. Ur. MACKDO, A NATLUBZA, Cftut. 3.
— Aurito rafre riquissimo, cravado de
opalas e riiòin.i.
Co' a fríiitc humildo, p curva IIkí olVcrcci!
Aurco cofre rti/MÍMimo cravadn
Dir opAlas, o rubiurt, (luc. rRdplaiidccc,
Quiil lirillia cui CVo nocturno, astro elevado:
AoH TjUsitano.H olhoí apparecc
O primeiro tributo, qui- huniilbado
Aoi péa do Hei do Tejo armi-potcute
Manda, VaSriallo, o di;ticobeit Oriente.
J. A, 1>K lIACtDO, o OIllKNM!, Caut. 11, CSt. 85.
RIR, V. 11. ((Joiitrac4.'rio do latim ride-
r«). Fii7A>r uin certo inoviíueuto tlc bocca
produzido pela inipressilo que excita em
i»Ó3 ali^mna cousa de alep;ria, de jíracejo.
— f E Pêro de Mello, tídalj^o do sua casa,
era muyto bom caualleiro, e muyto des-
maulioso, c hum dia leuando de beber a
el Rev a mosa hia-llic tremi-ndo a miio, e
em querendo tomar a salua cahiolhe o
púcaro coui a agoa no cham, de que ii-
cou muyto corrido, o alguuias pessoas
priucipaos começaram de rir, e el Rey
disae alto: De que vos rides, nunca lhe
caliiu a lança da mào, ainda que lhe ca-
hisso o púcaro: de que Pêro do Mello fi-
cou niuvto contente, e toruoulhe a dar de
beber.» Mareia de Rezende, Chronica de
D. João II, cap. 87. — ■ «Olhay nesta ('or-
te para Dom Pablo Ximeues de Aragão,
o vede as outras todas chcyaa do Dom
Pablos. Fazer rir aos Monarcas seria
honra para elles, o fazer rir as Divinda-
des seria diseredito para mim? Niío Se-
nhora.» Cavalleiro d'(Jliveira, Cartas,
liv. 1, n.° '2. — «Toda a sua fandlia olha
p.ara ellc, e ri, ilenalco olha para todos
03 seus Criados, e ri aimla mais do que
elles mesmos. Saho Menalco do seu 'i)ala-
cio acha uma carroça á sua porta, cuida
que he a sua, moté-se dentro, anda o Co-
cheyro para casa cuidando que leva seu
amo.» Idem, Ibidem, liv. 3, n." 18. —
«Fulana riu muito na ocUa do sicrana;
fulana caiu á saiila do coro; fulana teve
nma iudigesti\o do lagosta, ou qualquer
indigestão de coisas assim innocontca.s
Bispo do Orão Par:i, Memorias, publica-
das por Camillo Castello Branco, pag.
121.
Sim, rio,
Maniio, e de ouvir-to. O cego cnthusiusmo
Uu Uruto não se intlammu, não ccutellia
Com mais viva olopioncia, nem lhe rompe
Coiu tanta convicijào do intimo peito.
OAHRKTT, CATÃO, act. 5, BC. 7.
— Rir ás paredes; rir ftSra do tempo.
— Rir rt aurora ; apparccer alogrc c
graciosa, risonha.
— Rir ao sol; rir fora do tempo; diz-
se que o façam os tolos.
RIR
— Rir-se, V. rejl. Fazer um certo mo-
vimento com a bocca, produzido p<;Li
iiiôa de alguma cousa galante, grucuju-
dora, e engraçada.
íjton. Si, a^ora, eraniá,
Taiiibein i u me ria ea
Das couiía» ipie mo dizia:
('liamava-mn lu/ do dia:
Nunca teu olho verá.
aiL VICKXTU, rABÇAS.
— "Haverá pouòos dias que topei com
este cavalleiro em uma festa, onde de-
pois de prender os que n'ella vinham, o
a elle ter em meu poder, antre alguma»
novas, que me deu de Albayzar, me dis-
se que estava desafiado com elle pcra se
irem combater a casa do imperador Pal-
meirim, de <pie me muito ri, aconscKian-
do-lho (lue lhe não posasse de se vêr fora
de tamanho porigo. » Francisco de Mo-
raes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 80. —
«O imj)erador, que bem attcnto esteve
ouvindo as palavras da donzella com sof-
frimento grande, depois de a deixar aca-
bar, riudo-se conti-a os seus, disse: Por
certo, estranha donzella, não sei que em-
baixada a dos gigantes pi'(de ser, que com
melhor vontade não receba que essa vos-
sa.» Idem, Ibidem, cap. 93. — «Esta Gi-
gante era bastantemente formosa, porem
quando se ria, a modo das molheres que
querem mostrar os bons dentes que tem,
descompunha tanto a boca que se des-
feava intoyramente, e fasia medo a todo
o mundo.» Cavalleiro d'01iveira, Cartas,
liv. 1, n." 49. -— «Elle que em tantas
experiências de alhos, e cachimbo tinha
sempre triumphado se começou a rir do
meu ameaço, e rcspondeo. Pois i^ue vós
não sois aisado comigo ensinai esse rtine-
dio a minha molher, a qual certamente
vos será agradecida.^ Idem, Ibidem, liv.
2, n." 8.Õ.
D niiscria !
liasão assi Ak matéria
que em nenhuma rasão cabe?
Que tom cliõro c filatcria.
Itio-me d'Athena3 e d'isi0
tpie fundiu em nimigulha.
AMÓNIO »"BE3TE3, ALTOS, pag. 43.
era entre elles tal amor
que de mais amor se riam :
crê que se queriam muito,
muito mais do que te digo,
escuta-me bem. Escuto.
iiuDKx, pag. 321.
Hi-te da intriga, ri-se dos projectos
Qu' ao severo Politico envcnonão
O triste cora^Ào.
J. A. bU UACKDO, A XATUKSZA, Cant. 1.
— «Dcscancc V. M. cozarea, porque
Í:i não ha de atraiçoar outra vez o padre.
Encontrei-o ahi nas ante-camaras ; não
RISB
me lembrou que estava em palácio... já
l:i ficou entendido. Pordóp; V. M. a inad-
vertoiíciu.i Riu-se o imperador. Fez-sc a
paz.» Bispo do (Irão Parii, Memorias, pu-
blicadas p)r Camillo (Jastello Brftnoo,
pag. 7ti.
— V. a. Escarnecer rindo, Eorabar,
fazer escameo c<jui riso.
Da prezada C^tnaortc, entre os açus niiaKM,
Do liiapo, c do Dcaô te estavas rindo.
A. i>. m cicz, iirssorK, cant. 7.
cm mi não tem Benliorío
em quem sâo, néscia me atrevo!
de todo mundo me rio.
AKToiío rirsTcs, ACTOf, pag. 467.
Em vão, na arremittida, os de Cavallo
I'õem ânsia em lhe ir diante : os Oulloa riem
Dessa ausia van ; volteando ante ellea,
Os vão dissaburciindo , com uiutejoit.
>'. M. 1>0 HASOilIt.SIU, US HAUmEH, liv. G.
— «Porque será que as ca^as d'oraç5o,
08 templo» parecem privilegiados entro as
obras dos homens V A Philusophia respon-
derá com um Burriso, a Piedade com um
levantar dolhot! ao ceo. Nenhuma te con-
vence : talvez. Mas se heide crer sem in-
tender, porque hade ser antes no que ri
e zomba, do que n'e88e que vive tam
certo em sua fcV» Garrett, Camões, nota
D ao cant. ít.
— Ad.agios e proveubios:
— Ande eu quente, ría-se a gente.
— Ria-se o diabo, quando o faminto dá
ao farto.
— Aprende chorando, e rirás ga-
nhando.
— Rir ás paredes (fira do tempo).
— Rir-se ás jiaredes (chulariai.
— Ri para o demónio.
— Substantivamente : Ter um rir agra-
davel, encantador. — Um rir louro. —
Um rir irónico. — ('«i rir forçado. —
Um rir amargo. — Um rir convulsivo.
— Um rir simples.
RISA, s. /. Risada.
RISADA, s. f. Gargalhada, que muitas
pessoas dão simultaneamente, zombando
de alguém ou de alguma cousa. — Dar
granties risadas.
— Zombaria, escameo. — Erpôrst á
risada do ptthlico, á risada publica. —
Ser objecto de risada. — Nada ha tão <li-
giw de risada como vma creança yresum-
jjçosa.
— (abjecto de escameo, de zombaria.
— Servir de risada a alijueiu. — Quan-
tas vizes Isaias não foi a risada do
poV" .'
RISBORDOS, í. »)i. plur. Termo de ma-
rinha. As portas que se abrem na almei-
da da popa, ou no costado do navio, para
introduzir objectos, cujo comprimento
torna impossivel a sua iutroducçào pelas
escotilhas.
RISC
RISC
RISC
311
RISCA, s. /. Traço, ou rasgo de pen-
na, ou estylo.
— Sigual que serve para marcar os
pontos que se fazem no jogo da bola, la-
ranjinha.
— Termo de jogo. Raia, meta.
— Riscas da palma da mão; as linhas
existentes n'ella.
— Loc. ADV. : A risca; ao pé da le-
tra.
— Loc. ADV. : Cumprir á risca; cum-
prir exactamente,
RISCADA, s. f. Risca para borrar a es-
criptura.
RISCADO, s. m. Tecido com riscas de
cores diíFerentes ao longo, ou de fios me-
tallicos.
— Part. pass. de Riscar. Apagado com
riscos.'
1.) RISCADOR, s. m. Instrumento de
riscar, usado pelos carpinteiros, ourives,
etc.
— Ponteiro de ferro.
2.) RISCADOR, A, arlj. Que risca, que
faz riscos.
— Que apaga com riscos.
— Que faz raias differentes nos risca-
dos.
— Substantivamente : Pessoa que ris-
ca, que traça riscos.
RISCADURA, $. f. (De riscar, com o
suffixo «dura»). Acção de riscar.
— Riscadas.
RISCAMENTO, s. m. Vid. Riscadura.
RISCAR, i'. a. Extinguir por meio de
riscos. — Riscar a escriptura. — • «Da
qual nossa petieaõ se escandalizarão el-
les muyto, e nos disserão, se vós outros
fôreis naturais como sois estrangeyros,
isso 80 bastara para vos riscarmos da
obrigação' que a casa vos tem, e nunca
mais darmos passada em vossos negócios,
mas a vossa ignorância e simplicidade
nos fará dissimularmos agora esta vossa
fraqueza, porque crede que quem isso co-
mete não he dino das esmolas de Deos.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações,
cap. 102. — «Não cuideis que falo da-
quelles que declamão contra o Amor,
porque elle os riscou do numero dos
seus vassallos, e que dispensados do ju-
ramento de fidelidade, a que se alliárão
desde que nascerão, executão a liberda-
de de mormurar continuamente do seu
Soberano originário.» Cavalleiro d'01i-
veira, Cartas, liv. 1, n.° 29.
— Fazer riscas com um riscador, pon-
teiro, etc.
— Fazer raias diversas do fundo, nos
tecidos, riscados, e talvez de fios metal-
licos.
— -Riscar alguém dos livros d'el-rei, e
do seti serviço ; apagar o nome dos livros,
onde está assentado, e excluil-o do ser-
viço. — «Pelo que perguntou a hum dos
officiaes que o seruião a mesa, se erão
aquellcs os filhos de dom Aluaro, e sa-
bendo que era assi chamou dom loam de
meneses Conde de Tarouca, priol do cra-
to seu mordomo mor, e lhe dixe que oa
mandasse riscar dos liuros da cozinha.»
Damião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 3, cap. 40.
— Figuradamente : Riscar do livro da
vida, ou dos livros de Deus; ficar ré-
probo.
— Figuradamente : Riscar j^'^^ ctma ;
avantajar-se, ficar superior. Vid. Raiar
por cima.
— Riscar os pontos; no jogo, fazer ris-
cos para os marcar.
— Debuxar, ou fazer o pintor um risco.
1.) RISCO, s. 7)1. Traço de penna.
— Debuxo, traça de edifício.
— • Figuradamente : Fôr, ou lançar o
risco mais alto que outrem; avantajar-se-
Ihe. — «E que eu nào possa buscar-lhe
cousa, que iguala com seu merecimento,
porque cuidar isto seria trabalho, ao me-
nos buscarei pessoa, que ao parecer de
v(')3 todos, ponha o risco diante de quan-
tos eu sei; e sendo assim, eu com minha
honra ficarei livre de tamanha obrigação
como é a em que me pondes.» Francisco
de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap,
101. — «Na primeira, Oriana e Briolan-
ja estavam tanto por igual, que seria du-
ro determinar-se qual punha o risco por
cima, posto que o vulto de (Jriana tinha
uma honestidade serena, que dava affei-
ção aos olhos pêra lhe darem a victoria. »
Ibidem, cap. 120.
— Delineaçào feita pelo pintor com o
barro sobre o panno ; compõe-se só de
perfis e linhas, e serve para vêr a for-
ma da idêa.
2.) RISCO, s. m. (Do francez risque).
Perigo, em que entre a idêa de azar. —
Um grande risco. — «Bem se mostra o
saber e descripção d'el-rei Sardamante
ser difiFerente dos outros homens e a va-
lentia de Palmeirim polo o risco acima
de todalas desta vida, que eu não sei
quem em tal temor se vira, que tivera
esforço ou conselho pêra se tirar delle.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 104. — «E cometendo-a os
nossos por huma parte, e ElRey pela ou-
tra, foy entrada, e tomada, ainda que
com muitos riscos, e mortes dos nossos,
e com perda de mais de seiscentos dos
imigos que a largarão.» Diogo de Cou-
to, Década 6, liv. 8, cap. 7. — «Ao qual
elle deu relação do que vira, e lhe faci-
litou a tomada do castello sem nenhum
trabalho, e com pouco risco, de que o
Mitaquer ficou tão contente que não ca-
bia de prazer.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 119. — «Durou isto
muito tempo, e chegou a grandes traba-
lhos, e riscos, os quaes todos carregauam
sobrelle, todauia, com fauor de Nosso Se-
nhor, e ajvida dei Rei seu irmão, foi a In-
quisiçam por diante, e fezeraõ-se muitos
autos em <)uo foraõ condemnados muitos
Herejes, teue para isto mtii bons offi-
ciaes.» Damião de Góes, Chronica de
D. Manoel, part. 3, cap. 27,
Mus pois cora esta ausência seguramos
Este grão bem que aqui cm ri^co temos,
TJasào será que hum breve mal sofframos
Para que longamente o bem logremos :
Vamos agora traz o que esperamos,
K este bem duvidoso avcntiiremos
Por ter huma segura alta bonança,
Enganemos embora esta esperança.
T. pVkdrade, fbuieijbq cerco de did, cant. 3,
est. 76. - -:.- 1
— -«E porque o ardil a que hiani não
ouue eft«ito, e se tornou, por não hirem
cm vam arribaram junto da cidade do
Anasoe, onde o capitão por conselho dos
principaes que com elle erão mandou
certos caualleiros, e besteiros de cauallo
com guias espiar a terra, os quaes com
grande risco forão espiar outros aduares
de Mouros da enxouuia, nos quaes auia
alguns de muyta gente, o estauam duas
legoas da costa do mar.» Garcia de Re-
zende, Chronica de D. João II, cap. 67.
— «Se na oppugaaçào de Diu perdeo o
inimigo hum exercito, que falta a esta
facção para a victoria? e que para cas-
tigo? A oíTensa intenta-se com forças
iguaes ; a vingança com muito superio-
res; porque não se ha de ir satisfazer
hum aggravo com risco de nova injú-
ria.» Jacintho Freire d Andrade, Vida
de D. João de Castro, liv. 2. — «Alguns
com maior ousadia, que prudência, votá-
rcão que sahissem os nossos, e lhes estor-
vassem a obra a risco descuberto, sem
vêr que era maior o perigo que acomet-
tião, que o de que se livravão. Pou-
cos approvárão este conselho; nenhum
sabia dar outro. » Ibidem. — « Do que
eu bem me quisera escusar, por me lem-
brarem 03 trabalhos e riscos que tinha
passado. E apertando muyto comigo, e
falando a homens meus amigos, que me
falassem, e me aconselhassem que o fi-
zesse.» António Tenreiro, Itinerário, cap.
58. — «E vera a ser rapina verdadeira,
e com que se levantaõ á mayores fazen-
do unha da Religião, para agarrarem o
capital, e os redditos, sem entrarem nos
riscos, que sempre grandes lucros trazem
corasigo. E vedes aqui as verdadeiras
unhas bentas : bentas na opinião de sua
cobiça, e malditas na de quem melhor
o entende.» Arte de furtar, cap. 39. —
«E se lho pedem no tempo, em que an-
da a pecunia nos boléos da fortuna, com
riscos de se hir o ruço a traz das canas-
tras, fingem ausências, e que tem a arca
três chaves, que dahi a quinze dias vira
da feira das Virtudes Bento Quadrado,
que levou huma, que ahi esta o dinheiro
cheo de bolor na arca : e passaõ-se quin-
ze mezes, e naõ ha dar-lhe alcance. » Ibi-
dem, cap. 61. — «Senhor N., nenhum
prudente, nenhum honrado pretenda com
riscos suas melhoras. Que ha de ganhar
312
IUíS(J
UIS(J
1US(J
(lo j)or vir, quem logo de. aiiti'iii3o outra
pordendo? (j.? bons nicrcadoro-i nepurain
as uncoiiiinorulHci do imír valia.» I). Fian-
CÍ8U0 Manoel do Mello, Carta de guia de
casados.
— Aiidiicia, atrcvldamcnto, ousadia ;
CX]iOHÍ(;ãii a ilauiiui.
— (Ànrcr o risco n ali/umu nnisn ; es-
tar oljrigado a noflVer, a indoiniiiaar a
porda d'<dla.
— Loc. : Correr risco da nJrjuma cou-
sa, onpc.iHoa; ostar oní poripo do acr le-
sado, sollVor por c'au;<a d'('.lla. — «ivHta.i
palavras alg-iius a^ jtdparam por Kid)cr-
bas, outros affinnar.-iin «pui llie na<ciain
na confiança do si inosmo. Dramiante
tornou a cavalgar, maneiicOrio do seu
do.iastre; melhor lho tora compôr-.^iO com
elle, quo tornar A justa; porque o caval-
leiro o oneoiitrou de maneira, ([ue, fal-
aando-lho CKmdo o armas, o lari(;ou no
campo mal ferido do encontro, e ainda o
favorocou algum tanto em ser dado pou-
co cm cheio, que d'outra maneira corre-
ra mui gram risco.» Frauciseo de Mo-
raes, Palmeirim d'Iiiglaterra, cap. 111. — ■
«Porque sendo a porta arrombada com
hum buraco, per ([uo podia caber hu ho-
mem, querendo cadahum doile.s entrar
com a adarga diante, outra adarga de
AfFonso (TAlboqucrquo que elle lançou
sobro a cabeea de dom António, diden-
deo de lha não cortarem, e a Nuno d'A-
cnnha saluou seu avo loão Fernandez:
e outro tal risco corroo Jorge Harreto. »
Barros, Deoada 2, liv. 4, cap. 3. — «O
Mouro yendo o pouco risco que correo,
desejoso de levar aquella bandeira a Ku-
mecan, tornou a cometer a mesma sorte,
o jà na'~ pode ,ser taõ oncuborto, (pie não
fosse viati) de alguns soldador de hum
daquelles baluartes, e vendo-o cometer a
subida prepariira("> as espingarda.?, e om
pegando da bandeira lhe dou hum pelou-
ro pelos peitos de quo logo cahio, e aco-
dindo alguns daquelles .soldados lhe cor-
tàrars a eabet;a.» Diogo do Couto, Déca-
da (>, liv. H, cap. õ. — «Mas que lhe.?
aflirmava (pic o não podia fazer por ne-
nhum modo, por quàto a nionç^aõ era j.a
quasi gastada, por onde lhe era for(;ado
tornarse logo, para yr concertar aquoUe
junco grado om que vinha, porque fazia
tanta agoa que setenta marinhovros naõ
levavSo nunca a mão do tre.í bobas, o
que eorria niuyti> risco yr8(dhe aly ao
fundo eõ <|uanta fazenda trazia.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. dl'.
Sómpnt(> devo o mundo riícc.ar,
yuo a véU toda r liis lhe deixe vcp.
Polo Wsoo que corro cm s« abraisur.
AxnAor. PE JAZESTE, roKsiA9, tom. ti, pag. lOõ
(cdiç. do 1787 >.
— « Fj ao vazar das ditas mares, cor-
rem a> nãos muyto risco, so se nam
acham no meyo do canal delle, c espe-
ram nutra vc/. encher a marcc, que fa-
zem tornar a ago.i doce do dito rio atraH,
e alcvantar cte ri", fiera poderem nave-
gar nãos carre^radas f»or elle atoe Báco-
ra.» António Tenreiro, Itinerário, capi-
tulo 60.
— Kittftr em grande risco ; estar cm
granilc perigo. — «K j)osto (pie per Re-
gimento d'EIRey OH Alcaides mi'ire» sue-
cedem aos (Japitães, por o negocio da
defen.«So da (^'idade estar cm grande ris-
co, c pcra o governo delia havia mister
hum iioinem de madura idade, e do mui-
ta experiência TIa^ cousas da guerra.»
Barros, Década 2, liv. ti, eap. 8. — • Ks-
touo a (irdem de Saõ Bernardo cm risco
de totalmente .íc extinguir neste regno,
por lhe tirarem os maiores, e milhores
mosteiros de Sam Bernardo, e so annc-
xarem ao conuento de Tomar, ao que
acudio, e com muito trabalho tirou «.•)
taes mnsteirns. » Hamião do < loes, Chro-
nica de D. Manoel, part. 15, cap. 27. —
« Dom loam cuidando que era isto as-
si, BC foi com toda a frota em companhia
dt) embaixador Darracam ande esteuc a
risco de se perder de todo, porque el
liei, depois de <> ter dentro no rio, man-
dou sobrele muitas lancharas, e gente de
guerra com (pie pelejou, e se desfez del-
les com muito trabalho.» Ibidem, part.
4, cap. 27. — ■ «A F'ortaleza esteve a ris-
co de se perder, se o Divino favor a não
amparara : por([ue (confoinne o.s inimigos
contaram) hum grando Cavalleyro em
hum cavallo mais branco do que os Ar-
minhos os feria, e matava taõ cruelmen-
te, que nào podendo sofrer o resplandor,
que o acompanhava, e obrigados do es-
trago quo fazia, desistiram do combate.»
Conquista do Pegú, cap. tí.
— Fitar em risco de «« perder; arris-
car-se, expôr-so ao perigo de so perder.
— « E corto que segundo foi grande a
frota que o anuo de oito deste Reyno par-
tio, se cila chegara inteira na ordenam;*
(Itie elRcy a mandaua, muito mayor tra-
balho lhe ouuera ainda de dar do (|U0
elle imaginaua : porque nella o maudaua
elRey vir, que fora para elle termo de
morte não kixar acabado o que ello fez,
(pie alem de ser hum doa macs illustrea
feitos que se na Índia fezerão, iicara em
risco de se perder. » liarros, Década 2,
liv. 3, eap. 1.
— Pôr-sc «m risco (í« «e perdere^n ; ex-
l>ôr-se ao perigo do se perderem. — • Do
maneira quo a openiain doa mais foi que
a cidade senão líouia de cometer, jH>id a
frota la nam po lia clicgar, sem se pocr
a risco de as bombardadas a meterem os
imigos no fnndo. o que as.scntado Ijiipo
8t>arez determinou de so partir, mas \híT
o vento ser contrairo esteuo alli alguns
dias. • Damião de does, Chronica de D.
Manoel, part. 4, cap. 13. — •fuja morte
foi causa lia de lo.ào gomoz, donde so
azou a de loào machado, e doutros uiui-
toK, e po(rr/>Be a illiA do ('u>x com a ci(la-
'le em risco d<; ^e perderem Rcnão for»
a vinda de loflo do hilueira, e «ocorro de
Rapluud Perestrello, |j».r(pic »« ofte» nSlo
clegaram .i tempo tam Il(•(•e•'^ariov »«
Deus os pudera halvar do [xjder do* inii-
goB. » Ibidem, tap. 17.
— Termo atitiqu.-ido. Penhatco mui ele-
vado e alcantilado.
— - I'lur. Asperezas grande» e covas
polo* c^iminhiMi, que pòc arquem anda mi
perigo do graves (|uedas.
— Sy\. : Risco, perigo. Vid. ojto alti-
mip Voc;il,ulii.
RISCOSO, A, (!'/;'. 'De risco, com o «uf-
lixo «080» i. ArrÍHcado.
<,hie causa ri.-co, perigo.
RISIBILIDADE, «. /. (Do latim ritiMi-
(as, de rifi/jí/is.. Termo didáctico. Facul-
(latlc de rir.— yl risibilidade. y*M le diz
ser uma i>r<']>rie'i<tde dn funnein.
— Qualidailc, estado do que é risível.
— A risibilidade lUi maior parte do» not-
sus jnojectvs,
RISINHO, s. VI. Diminutivo de Riso.
l'equeno rL-^o. — Risinho </c alegria. — Ri-
sinho '/« Hl'»/íl.
risível, (idj. 2 gen. (Do latim risibi-
lis, de riswn, supino de ridert'. Termo
de philosophia cscola.stica. í^ue tem a fa-
culdade de rir. — Elle fra anUs aniiHnl
invijofo (jue animal risivel. — E ttrdade-
que u homem, tjui: i' um nnimál risÍTSl, «
Uimbem. um. animal orguUuxQ.
— Que é próprio a fazer rir. — £»'<
qui pro quo «' risivel.
— Que é di;rno de zombaria, de eecar-
neo. — E um hunevx risivel.
RISIVELMENTE, adv. .De risivel, com
o snifixo «mente» '. De um modo risivel.
RISO, s. m. ' Do latim risus, de r».»i»wi,
supino de ridtre. Ac<;ào de rir. — Riso
agradavd. — Riso de$deiJio$o. — Riso/t>r-
cado. — Riso continuo.
Ur qn'eacondida» conchas emolhettet
A» poriam preciosas Orientaos,
Qui: fuUan do mostrais ijo docfr riso ?
1'ols vos formastes t.il. Cflmo quuostes,
Viiriiii-vos do vós. nào vos \-vjiiii.
Fugi da» foiítea ; límbro-^•o« Narciso,
c*)». , SONETOS, n." 27.').
— « O qual quando <A\x-m para ello
não se pôde ter (pio nào tiiie^e também
o quo oa outros faziào, de mancyra que o
fim da prega(;Xo, a#si no que pre^cava co-
luo nc>3 ouvintes ac soltou uitm riso com
tanto gosto, (pie ate a Vanganarau com
todas as nieuigrepa.s da religião, lulo avia ■
CM}usa. quo r.s pude«»e toruar a nietar na ^
autorida<le com que primcyro cstavào,
tendo todos para sy que o IV^rtuguez fa-
zia aqnillo com deva^-ào e om todo sea
siso. » Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 127.
o c«r|>o todo t«m mapro c deafoito,
A face triste, paUida, c modouha.
RISO
RISO
RISP
313
Nunca para niugacm olha direito,
Poróm nào lho procede de vergonha ;
Os dentes ncgroí? tem, c sempre o peito
Cheio de fel, e a lingua de peçonha,
Jamais á sua boca o riso veio
Scnào quando lho trouxe o mal alheio.
FB.VNCISCO DE ASDRAI>E, PRIJIEIBO CEECO DE DIU,
cant. 9. est. lOi.
— «Furtar para rir he muito niáo mo-
do de zombar; porque ordinariamente se
converte o riso em pranto, como aconte-
ceo em Coimbra a liuma corja de estu-
dantes, por sinal qiio eraõ frraves, e bem
nascidos.» Arte de furtar, cap. 6(3.
D'entrc nuvens de pó, de fumo espesso,
Com riso amargo, despiedada Eriunis
Vè qu'os humanos não precisão delia.
J. A. DE MACEDO, A S.\TUKEZA, Cant. 2.
Cheio de assombro, extático detenho
Na frente do Denuícrito meus olhos.
As azas audacíssimas desprega
De universal Saber na esfera iinmensa ;
Architectando de átomos errantes
Jlundos, Mundos sem fim no espaço eterno.
Com riso insultador desdenha os homens.
IDE.M, VIAGEM EXTÁTICA, Caut. 2.
— O gesto que se faz com a bocca, e
talvez o som que soltamos a rir. — «Ora
do riso que diremos ? Pois se ellas tem
bons dentes, e aquillo que cliamam graça
na bocca, e cova na face, ahi liie digo eu
a V. m. que está, o perigo. Ha muUier
destas, que rirá a todo o sermào da Pai-
xão, como se fosse ao do dia de Páscoa,
somente por assoalhar aquelle seu thesou-
ro. Nào disse Platão, nem Séneca, cousa
melhor quíj o que disseram as nossas ve-
lhas: Muito riso, pouco siso.ti D. Fran-
cisco ]\Ianoel de Mello, Carta de guia de
casados.
— Ser matéria de riso. — «Em Villa
Viçosa conheci hum Fidalgo, ha mais de
vinte annos, no serviço da Real Casa de
Bragança, o qual tomou por matéria de
riso calçar todo o auno, sem pagar ne-
nhum pár de obra ao.s çapateiros, que
vieraõ a dar-lhe na trilha, levantando-se
ás mayores com palavra, que correo en-
tre todos, que nenhum se fiasse delle,
nem lhe desse calçado, sem lho pagar
primeiro.» Arte de furtar cap. 66.
— • Bocca de riso; bocca risonha. — «E
lhe disse, aos peis da Binaigaa do santo
Calaminhan cetro dos Reys que gover-
nào a terra, foy dada noticia da tua che-
gada, tào aprazível a suas orelhas, que
com boca de riso te manda buscar para
em sua presença seres ouvido do que teu
Rey lhe pede, a quem novamente recebe
na guarda de seus irmãos com amor de
filho de suas entranhas, para que fique
poderoso sobre seus inimigos. » Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 162.
■ — Dar riso; causil-o.
— Morrer de riso. • — «Confesso-vos que
cuidey de morrer de riso, quando vi que
.voL. y. — 40.
o dezejo se hia executar diante dos meus
iJhos com beneplácito do mordido.» Ca-
valleiro de Oliveira, Cartas, liv. 1, n." 16.
— Apparencia alegre e jucunda.
De ri.^o, e de prazer Filosofia
Cercada alli buscou summa Ventura
Xoâ braços da Virtude, ou da Indolência.
Inda além surgem Pórticos quebrados,
I>ascados capiteis de hera cingidos ;
De caliido sobrolho, c de rugósa
Pálida tez, moral Pilosofia
De Zcno ao lado passeava outr'ora.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, CSnt. 2.
— i^aaeJTÍso de alguma cousa ; tornal-a
objecto de irrisão e escarneo.
— Mover riso; provocal-o, excital-o.
— Ser riso a alguém; ser objecto de
escarneo.
— Os risos da aurora; quando ella
apparcce serena e alegre.
— Zombarias, escarneos rindo.
— Riso sardónico ; riso contra vontade.
— Adágios e provérbios :
— (Jnde ha muito riso, ha pouco siso;
ou : O muito riso é signal de pouco siso.
— No riso é o doudo conhecido.
RISONHAMENTE, adc. (De risonho, e
o suffixo «mente»). De um modo riso-
nho.
— Com ar de riso.
RISONHO, A, adj. Com aspecto de riso.
— « El liei mesmo estaua dizendo a Rai-
nha os nomes de cada huma delias, muito
alegre, e risonho, o que acabado se forào
todos a capella fazer oração, no qual dia
por ser vespora do Apostolo santo An-
dré, ouue vésperas, e depois de cea se-
ram, e ao outro dia depois de acabada a
Missa.» Damião de Góes, Chronica de
D. Manoel, part. 4, cap. 34.
E á velha, que também de gosto salta,
Com ri>o/í//o semblante intima, c manda,
Que nào fique na graude capoeira
Fôlego vivo em tào festivo dia.
DINIZ DA CKUZ, HYSSOPE, Cant. 0.
— Figuradamente: Olhos risonhos.
— Que provoca o riso.
— Favorável. — Fado risonho.
— Que se ri facilmente.
Eis vem Demócrito : ria
do que chora este bisonho,
pois que ri, o é tào risonho
f|ue estou de phantesia
oh ! íjue pés, mas como os ponho.
AXTOXIO PRESTES, AUTOS, pag. 41.
— Céos risonhos.
Eia hum novo prodigio : os Ceos risonhos
Divisão nova sccna, c novo objecto.
J. A. PE MACEDO, A XATUBEZA, cant. 1.
— Figuradamente: Alegre.
Nas mostras c no gesto o não mostrou ;
.Mas com risonho e ledo fingimento
Tratal-os brandamente determina.
CAM., Lus., cant. 1, est. 69.
Tu viste, 1^ Senegal, quadro ri.^onhn,
Vive, c vive feliz, e em ti desponte
A luz que vem do Ceo, e a, paz a leve ;
Desde o Berço teus Íncolas ditosos
Felizes irão ser nos Astros sempre.
J. A. DE MACEDO, A XATUHEZA, Caut. 2.
A tantos quadros desastrosos siga o
Hixonhas perspectivas, olha as ílcsses
Formar cadeias de douradas ondas ;
Nào vês tremendo das virentes Faias
Troncos flexíveis, folhas vicejantes ?
IDEM, IBIDEM.
— « E o sancto-homem do abbade, co-
mo lhe chamava o seu melhor amigo, o
chanceller, encostado á cabeceira do ca-
tre no cdllegio de S. Paulo, sentia escoa-
rem-se ligeiras as accidentaes horas de
vigilia nocturna, vendo volteiar ante si
as imagens risonhas do opprobrio e des-
ventura que preparava ao seu inimigo.»
A. Herculano, Monge de Cister, cap. 20.
- — Risonhos prados; pi-ados alegres,
amenos e deleitáveis.
Como brilhantes pérolas, cahiâo
Do frc.-íco orvalho transparentes gotas
í^obre os risonhos prados, que parece
Danmi maior realce ao verde esmalte,
Com que opulenta Natureza os veste.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Caut. 1.
Busca-sc cm vão risonho, ameno prado
Onde com gosto os olhos se apascentem ;
Silencio, escuridão, domina, e prende
A natureza toda-, encadeada
Como era lethargo jaz nas mãos da morte.
IDEM, A XATCREZA, CBnt. 1.
RISOTA, s. f. Riso de escarneo, de
desprezo, de irrisão. — Deram grandes ri-
sotas sobre os que adoravam phreiutica-
menfe a ( 'hríst-o.
RISOTE, s. 2 gen. Termo familiar. Pes-
soa que ri mofando, escarnecendo, des-
prezando, mettendo a ridicido.
— Ridor, rideiro, mofador, escarnece-
dor. — Os risotes da religião, das cousas
sagradas.
RISPIDAMENTE, adv. (De ríspido, e o
suffixo «mente»). De uma maneira ris-
pida, áspera.
— Com rispidez, com aspereza.
RISPIDEZ, s. /. O caracter do que é
ríspido.
— Asppreza. severidade.
RISPIDEZA, s. /. Vid. Rispidez.
RÍSPIDO, A, adj. Áspero, não macio;
severo.
Sempre de lado olhando a pór-se cm fila
Ao recto da vergasta do Centurio ;
r.,á, dos Corcéis, arranha o rincho rispido :
Grilhões, de rastos, rugem, rodão lentas
ríraves Balistas, brutas Catapultas.
Vai a medido passo a Infantaria.
F. M. DO NASCIMENTO, OS MARTTRES, 1ÍV. G.
314
RITO
RIVA
RIVA
O campo BO cultivii, o campo hc próprio ;
^^ll» Honi iirmas, som riiipidaii cndr^ii,
I'orqiio inda o vicio a frrntii toinorona
No berço do» inortai;» iiilo tinha alçado.
J. A. nK SIACKDO, VIAOKM KXTATIOA, Cailt. 1.
Til da verdade iiidapadora, o faclio
Lmniiioío da vida ! O' tu do vicio,
Tu da ignorância, riijiiilo flagcUo ;
Tu, (|uc és tudo ao mortal, que és luz c vida,
Auto teus olhoi me coudun Fadiga.
iBinKM, rant. 2.
— Ferro ríspido ; forro quebradiço e
não doce.
- — Ferro ríspido; ferro jjouco ou nada
niallcavcl.
— Ferro ríspido; ferro pedrez.
RISSO, s. m. Paiiuo, veliudo de 13, on
de seda.
— Vclliido de pêllo curto.
RISTE, ou RISTRE, s. «i. Poça de fer-
ro em (pio o eavalleiro embebo o conto
da lança encostada ao peito direito, quan-
do a leva hori.sontaimente, para encon-
trar o ailver.sario. Vid. Reste.
RITO, í. m. (Do latim ritiis). Ordem
prescripta das ceremonias que se prati-
cam n'ama religião.
— DÍ7,-so mitrraento do que diz respei-
to á, relii^ião christã. — O rito da igreja
romana é differcntc do da igreja grega. —
O rito latino. — O rito grego.
— O antigo rito ; a lei vellia.
— Congregação dos ritos ; tribunal ro-
mano instituído por Sixto v, encarregado
de fixar os ritos religiosos por todos os
paizes catholicos, do examinar as difficul-
dados que polem sobrevir na pratica do
culto, de supprimir os abusos, de appro-
var ou roprovar os novos offieloí, ote.
— Fazer alguém do seu rito ; creal-o,
eonvertel-o il religião de quem o fez tal.
— As próprias ccremonias do culto. —
Os ritos do paganismo. — Xossos ritos,
nossos mysterios são immutaveis.
Vio a quente yEthiopia criadora
De graiide8 Elefantes, cujas gentes
De nomes monstruosos, guardão rííoí
.\bominaueiâ, torpes, o nefandos,
l^rreudo a costa, firma juutamouto
()s olhos la no mar Mediterrâneo,
As ilhas Baleares ve que mostrão
Nos gados, c nas lãs grande abundância.
CORTE REAL, NACPRAGIO DE SEPÚLVEDA, Caut. 2.
— «Os Mouros naturacs saõ baixos de
corpo, na còr bassos, nos ritos, c cere-
monias, guard.w as .\rabicas, !»aõ muv
lasciuoj, c ollas monos continentes, do
que conuom à lionoítidade, o mode^tia
das mi^hores.B Fr. Oaspar do S. Bernar-
dino, Itinerário da índia, cap. 4. — <A
Ilha hc povoada de Mouros oppostos aos
Turcos, por serem t^^ainda que cultores de
Mafamede) diffcrentos na crença, porque
seguem os ritos, e ceremonias do Persa,
a quem dá a beber o Demónio aa abomi-
nações do Mafoma cm vasos differentes.»
Jacintlio Freirt! d'Aiidrade, Vida de D.
João de Castro, liv. ii.
1 RITORNELLO, «. »»«. (Do italiano ri-
torncllo, diiiiiuutivo do ritorno). Termo
de inu.sica. Rompimento de s^inphonia
que 60 emprega á maneira do proludio no
principio do uma ária, de que ordinaria-
mente annuncia o cauto; ou no fim, para
imitar c a.ssegurar o fim do mesmo can-
to ; ou no meio, para reforçar a expres-
sílo, embellezar o trecho, e dar ao can-
tor o tempo para dcscançar e tomar a
respiraçpío. — O ritornello de uma ária.
— «Em quanto durava o ritornello da
Ária que cilo cantava, a mulher do ca-
marote junto ao meu, lhe ouvi dizer a
quem eu vêr não podia: — Este Aífonso
vai perdido. Quem imagináia que o filho
de tão respeitável faiiiilia, e que tantas
desgraças cxperimentuu, se dc?8e a tão
m;ís couipanhias para contentar a sua in-
clinação aos <livertiment08.» Francisco
Manoel do Na-^cimento, Successos de ma-
dame de Seneterre.
— Figiu'ada e popularmente : Repeti-
ção frequente das mesmas cousas, das
mesmas idêas.
1.1 RITUAL, s. m. (Do latim ritualis).
Livro que contém os ritos ou ceremonias
que se devem observar na administração
dos sacramentos e na celebração do ser-
viço divino. — O ritual romano. — O ri-
tual de Lisboa. — «Ainda não tivemos
da corte aviso costumado; mas, 8cm em-
bargo, fomos logo á capella do mestre de
campo, que se achava bem ordenada, e
em companhia de vários ecclc^iasticos e
pessoas graves, se entoou o Te Deum lau-
danius, e dissemos as orações do ritual. >
Bispo do (irão Pará, Memorias, publica-
das por Camillo Castello Branco, pag. 213.
2.) RITUAL, «'//. 2 gen. (Do latim lí-
tualis). Quo contém os ritos. — Os li-
vros rítuaes dos etruscos.
— Que diz respeito a usos e ceremo-
nias, concernente a ellas.
— Que usa segundo prescroA-cm os ri-
tos rcligioso.s e ceremonias do culto.
f RITUALISMO, .«. »)). (De ritual, com
o sufllxo «ismoi'). Termo de historia ec-
clesiastica. Systema, conjuncto dos ritos
de uma igreja.
1 RITUALISTA, í. 2 gen. Auctor que
tracta ilos ditferentes ritos.
RITUALMENTE, adv. (De ritual, com o
suffixo cimente»>. Segundo o rito, ou cc-
renionia-í do culto.
RIVA, .«. /. Termo de marinlia. Riba,
praia, margem, ribeira, outeirinho jn-oxi-
mo :l margem do rio, ribanceira, borda
d 'agua.
RIVAL, s. 2 gen. (Do latim rivalis).
Pessoa que aspira, que pretendo as mes-
mas vantagens quo ura outro concorren-
te. — O tempo é precioso, 'juando se teme
um rival.
Fo«t<! o primeiro ta. Cantor do Aeato,
Quem ao Pindo levou Fil<j«ofia ;
I'udesti--lho ajustar I..atíiioH caiitofl,
K « «ublitrie no abvsmo, cm qu<? te engolfa*,
Krt rivri/ d(í Di'iiiocrito no Tybrc,
K vcncodor do Hesiodo te admiro.
J. A. DC HACKDO, MBDlIAçIo, Cailt. 1.
Quacg mostra a Xaturcxa, oê Serea mostra.
KUa ajunta art NaçiVs. e o« liomniM toma
Do Mundo inteiro ('idadãoA traiufuilliMi.
A paz os faz irmàos, riifirji n giii-rra :
Kinmudecem sem paz sublimis Vati'»:
1'oréni versos quf sÃoV 'l"é fica muda
Sem forças, som vigor Filosofia.
iBinEM, cant. ■3.
Tanto hc mai« doce a paz, quo a guerra inoana,
A paz traz o repouso, c em seu regaço
O Krttudo, a Sapiência, as Artes vivem.
Klla anima os cinzéis, d4 viço ás rores.
Com que, rival da luz, génio de Urbino.
IBIDEU.
Pelos lábios d<^ purpura desliza
Doce, brando surriso: os Entes todos
No -Mortal p<,-nsador seu liei conh«?ccin ;
Traslado he do Senhor, c imagem sua-,
Feliz se o não Icvjwse atroz soberba
A querer sor rivaí '. Nunca dcsct-ra
Do Sólio A escravidão, do Socptro aos ferros!
iDiDEM, cant. 4.*
E Pausylipo ao viandante mostra.
Tu talvez excedeste os sons acordes,
Qne Sanazáro, seu rival. tirAra
Ora de agreste Frauta, ora da Tuba.
IDEM, VIAGEM EXTÁTICA, COnt. 2.
De Salustio riral. seguindo ao perto
Do eloquente Amino a Luz, e o Gcnio;
E da grlida Escócia o timbre, e a gloria,
Que na eterna Metrópole do Mundo,
A eterna paz de hum tumulo quizeste,
Sobn'-huniano Hraclav. de .aasombro ehoio,
O teu profimdo entendimento acato.
•Condo !•
Bradou convulso, c a mão ao ferro leva
O insotVrido g-ierreiro. Mas tranqnillo
O rira' lhe tornou : tSois offcndido?
Desaffrontae-vos; ferro e braço tendes.
Nem vos fujo eu : porém a rainha espada
Jamais demandará um peito que ella...>
GABBETT, CAMÕES, cant. 9, cap. 12.
— Particularmente, dir-se da pessoa
que di.<puta o coraçSo de uma amante.
— Como entre dons rÍTaes o ódio é natu-
ral!
— Pessoa igual em obras, em mereci-
mento, em fama ; emulo. — E o ■filh') e o
rival de Achilles. — K'tei <hnis rivaes de
Horácio, herdeiros da siui lyra.
Transpõe agora do Thebano Alcides
As profarud.iâ, irrisórias mitas.
Vê 110 boi» do mar, qu" os restos cobre
W)S altos muros da rivn' de Roma.
J. A. DE MACEDO, A ÍATTBErA, CSUt. 3.
l">o Cônsul Orador rival por certo ;
Nunca até agora os scculos nos dcrio
RIZE
ROBR
ROBU
315
Outro com maia saber, clareza, e força,
Que oé ouvidos encante, a alma suspenda.
IDEM, VIAGEM EIIATICA, Caut. 2.
— Sem rival ; sem cousa ou pessoa que
— Adjectirairiente : Nações rivaes. —
Virtudes rivaes.
— Syx. : Rival, emulo. Yid, este ulti-
mo vocabulu.
RIVALIDADE, s. /. (Do latim rivalitas,
de rival is). Concorrência de duas ou mais
pessoas, que aspiram, que pretendem a
mesma cousa. — As pequenas rivalidades
provam a pequenez da alma. — A egual-
dade desanima os hiyinens, a rivalidade os
estimula. — A emulação louvável é a imi-
tação da virtude; a rivalidade é o ciúme
da preferencia.
— O caracter do que é rival.
■ — Emulação, competência de alguma
cousa de interesse.
— Syx. : Rivalidade, emulação. Vid.
este ultimo vt.cabulo.
RIVALISADO, part. pass. de Rivalisar.
RIVALISAR, ou RIVALIZAR, v. n. Dis-
putar em talento, ou mérito com alguém,
egualal-o, emular, competir.
Dêo Augusto a Tirgilio hum pão somente,
Mas seu nome immortal conserva intacto.
Das ohammaa voracíssimas lhe salva
Os Versos di\anaes, que riia/isjo
Com Roma em duração, com Roma cm gloria.
J. A. DE 1I.4.CÍD0, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 2.
— V. a. Entrar em rivalidade com al-
guém, metter em competência de a quem
mais, ou mellior.
RIXA, s. f. (^Do latim rixa). Querela
acompanhada de ameaças, injurias, e al-
gumas vezes de pancadas. — Uma rixa
saTiguinoleata.
— Debate, disputa viva, discussão tem-
pestuosa. — O jogo produz sempre rizas.
E eil-o, que entoa as Náos, entía as rixas
Ou de Ayax, ou de Hector. — Assim, outrora
Em Syracusa presos os de Atheuas,
Para, a seu captivciro dar alivio,
De Euripides os versos diseantavão.
r. MAXOSI. DO KASCUtSSIO, OS ilABTTBES, 1ÍV. 6.
— Rixa nova; diz-se em opposição á
rixa velha. Vid. Reiía.
BIXADOR, A, 5. e adj. (De rixar, com
o suffixo «dor»). Que gosta de rixas, bri-
gador, rixoso, amigo de discórdias.
RIXAR, V. a. Ter rixa, brigar, ter dis-
córdia.
RIXOSO, A, adj. (Do latim rixosus). En-
tregue a rixas, a discórdias.
— Brigão, briguento, entregue a bri-
gas. — Homem de condição rixosa.
RIZAR, V. a. Apanhar, colher, encur-
tar a veia com os rizes.
RIZES, s. m. íDo francez ris). Termo
de marinha. Gaxetas em. forma de tran-
ças, que se enfiam nos ilhós dos dous ter-
ços das velas do navio, nas forras dos ri-
zes, para as ligar de encontro ás vergas,
quando se necessita encurtar as velas,
por ser o vento mais forte, ou convém
navegar com pouco panno. — Metter as
velas nos rizes.
■j- RIZO, s. m. Vid. Riso, orthographia
preferi vel.
A Deosa o conhecèo, que mudo, e quasi
Abstracto estava, c do sentido alheio.
Hum rizo deslizou dos rozeos lábios,
Solta a voz suavíssima, e mexclama.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 1.
1 .'• ROAZ, adj. — Lobo roaz ; lobo ar-
rebatador do que pôde tomar.
— Figm'adamente : Murmurador, ma-
ledico.
2.) ROAZ, s. m. Um peixe menciona-
do no foral de Setúbal.
ROBALLO, s. m. Termo de ichthvolo-
gia. Peixe conhecido por este nome.
ROBAZ, adj. m. — Animal robaz ; ani-
mal roubador, aiTebatador do que pôde
tomar.
ROBE, s. m. Vid. Arrobe.
ROBI. Vid. Rubim.
ROBIM.Vid. Rubim.
ROBISSÃO, s. in. Termo popular no
Bi'azil. ííobrecasaca.
ROBLE, s. m. Termo de botânica. Um
dos nomes vulgares do carvalho, com o
tronco e ramos tortuosos, a cortiça esca-
brosa, e com uma altura um pouco infe-
i'ior á do carvalho propriamente dito.
ROBLEDO, í. J/i. Matía de robles.
ROBOLEIRA, í. /. Vid. Reboleira.
ROBORA, s. /. Vid. Revora.
ROBORAÇÃO, s. f. Acção de roborar.
— LVirroboração, confii-mação.
ROBORADO, part. pass. de Roborar.
Corroborado, fortificado.
— Figuradamente : Confirmado.
— Contracto roborado com escriptura
publica.
ROBORANTE, part. act. de Roborar.
Que fortifica.
— Figuradamente: Confii-mando. —
Roborante espirito.
ROBORAR, r. a. (Do latim roborare).
Termu de medicina. Fortificar, dar força.
— Figuradamente : Confirmar. — Ro-
borar M//i contracto cora escriptura piti-
blica.
ROBORATIVO, A, adj. Termo de medi-
cina. Que fortifica, que d.i força.
— Corroborativo, fortificante.
— Emprega-se também como substan-
tivo. — Tumar um roboralivo.
ROBRE, s. m. Vid. Roble.
Oh I se inda eu vos verei I Se os rohres duros.
Se me guardam fieis os seixos ^"ivo3
O humilde nome do esquecido vate
Que em dias de prazer — tam breves foram !
Dias de glória, ternas mãos gravaram !
GABBETT, cajiões, cant. 5, cap. 11.
-j- ROBULA, s. /. Termo de conchyliolo-
gia. Género de conchas, comprehendendo
uma única espécie que se encontra facil-
mente na Toscana.
•j- ROBULINA, s. /. Género de conchas
univalves.
ROBUSTAMENTE, adv. (De robusto,
com o suflixo «mente»). De um modo
robusto. — Esta mulher é robustamente
constituida.
ROBUSTEZ, ou ROBUSTEZA, s. f. O
caracter do que é robusto.
— Disposição vigorosa do c jrpo. — A
robustez d'c^ta mulher í admirável.
ROBUSTIDÃO, s. /. Vid. Robustez.
ROBUSTÍSSIMO, A, adj. superl. de Ro-
busto, ^luito robusto.
ROBUSTO, A, adj. (Do latim robustus).
Capaz de supportar a fadiga, o mal.
— Forte, vigoroso, fallando das pes-
soas e do que tem relação com ellas. —
oPrimalião, que algum tanto era de co-
ração mais robusto, encobriu aquelle con-
tentamento melhor. E porque algum es-
paço se não gaste em palavras e recebi-
meiítos, fiseram levar Albayzar ao apou-
sento do imperador.» Francisco de Mo-
raes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 89. — ■
«Com esta indignação de si própria, usan-
do de seu robusto coração, tornou a apla-
car aquelle primeiro movimento, e affei-
çoaudo palavras pêra o contentar e dissi-
mular o ódio, lhe disse : Senhor cavallei-
re, té aqui sempre tive o coração cansa-
do, porque pêra uma oflensa, que me é
feita, me faleceu o soccorro e a esperan-
ça de ser vingada.» Ibidem, cap. 113.
Xào acabava, quando huma figura
Se nos mostra no ar. robusta e valida,
De disforme e grandíssima estatura,
O rosto can-egado, a barba esquálida.
Os olhos encovados, e a postura
Medonha c má, e a côr terrena e pallida ;
Cheios de ten-a, e crespos os cabellos,
A boca negra, os dentes amarellos.
cAM., Lcs., cant. 5, est. 39.
Eu acceito os bons annos, sem que o susto
De poder desgostar-mc, me entristeça ;
Que supposto, que velho te pareça.
Conto setenta e seis, forte, e rohmto.
ÁBBADG DE JAZESTE, POESIAS, tOm. 1, pag. 47
(cdiç. 1787).
A férrea começou, e expresso ao vivo,
Eu alli via Agricultor robusto
Rasgar com duro ferro o seio á terra ;
O primeiro suor nclla se entorna.
Com que se amassa o pão de infausta vida.
Do crime original he esta a pena!
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. I.
Delle, e do fructo agreste, ou cultivado
A humana geração se alimentava :
Era a idade robusta, e tarda a morte.
Antes que a mào do luxo, e da vaidade
Preparasse as opíparas viandas,
Que a prematuro tumulo nos Icvão,
E das Parcas nas mãos o ferro agução.
IDEM, MEDITAÇÃO, Cant. 3.
310
lu h:a
ROCA
ROCA
o fiii-oi' ili>ii iiiortai^x iriiiiiii ti:m;io á guerra
( 'imi -lijço oi coudiuio ; rohni/a im;» iJu:i
I).; Iiiiiii:i torrií itni liHn, iij^iij n l:iiii;aii
Contra as liruty.i dilli rii; arrumu.-avilo.
ii>KM, iiiiiji:m.
— ■ a Polft Oácuriíliío cl;i noite, nos lof^a-
roâ oníuw o ás lionia murtas do alto silen-
cio ii pliuntiísia lio Iionieni ú mais anionte
c robusta.» A. llocculano, Eurico, cup. ;').
— * O ferro, porém n.ão pôde cliofíar á
eimoira do capacete do conde. Outro fer-
ro, separo |)or milo robusta, se metteu de
pornioio. Era a espada do Miifíuoiz, o
qual, passando, vira o perijjo eminente
do seu ainij,'o o correra para o salvar.»
Idem, Ibidem, cap. 10.
— Fi^uradanioute : Tur luna fé ro-
busta ; ter uma fé tirmo, inabalável.
— Dlz-âo tivmbom dos animnes e dos
vegetaes : Um cavallo pouco robusto. —
Uma idunUi robusta.
lv|uilibrado nas robimlas azaâ
Girou dl) Ktlu-r pelo campo iiiiiuenso,
A luz foi díseobrh- na ignota fonto,
Kra i|ual fora o Nilo á antiga idado
Na fonti' igaoto, na carruira visto,
Não d '■ St.igira co'as ambíguas vozes,
Occultas Leis, ou turbilhões sonhados.
J. A. DK .M.VCKnO, A N.UCllEZA, Caut. 1.
E f|uand'> observa .tolidos os membros,
K j;l rolfi.iln^ musculou nas azas,
Com presontida voz dhum troaco os chama.
Adeja, o vòa hum pouco, e marca o trilho
Pelo cspai,'0 diáfano dos árcs.
iDiiM, MEuic.vçÃo, caat. 3.
Dú IA, transpondo o Gilto, c immcnso Tauro,
E depois o Sinay, vira a robuMa,
Sublime Palma, das victorias premio,
CouíO cresce, viceja, c multiplica
Nos campos Idumèos ! Como ind'aâsombra
Os restos immortaes d'alta Palmyra,
E do iucau;;avcl Nillo as margens borda !
IDBM, lUlDKM.
— Diz-so das cousas e dos objectos
personificados: A robusta suavidadi do
Estio, filho do tSid.
— Sv>í. : Robusto, viijoroso. YiJ. este
ultimo termo.
1.) ROCA, s. /. A vara ou canna que
a mulaer mottc na cinta, c tenj enrolado
na ponta o copo do linho, ou algod.ão,
que vai tiauio, oarolaio no bojosinlio,
que sô faz rachando a canna, o introdu-
zindo doutro d'osse bojosinho uma rodi-
nha gorahuontts de cortiça, tondo d'e3to
modo as roxas reatadas no bojo.
— Termo de marinha. A obra qu3 se
faz il roda do mastro rendido, nom.> dado
ao agíírcgalo do antenas e arrotaduras,
arranjalas para este effeito, á força de
cabrestante ou tala, mettcn'lo-se-lhe cu-
nhas entre as autou:i3 e a trinca a tím de
ticar mais rija.
— Nos vestidos, tira estreita usada nas
mangas, calças. Vid. Roçado.
— A pi!ça da lança de argolinha.s, que
é cercada do.í rains. Vid. Toral.
— Certa espada de pcquenati guarni-
ç(5e3.
— Kigurailamente: A mulher.
— Roca de fof/o; vara com artificios
do fi>;ío no exti'omo, usada na guerra.
— « Estando asai pelejaudo chegou Nau-
boadarim com a vanguarda, que com
grande Ímpeto cometeo o vao, mas os no.s-
sos lho defenderam as bombardada^, e
com rocas de fogo que lho lançauam
ameude, matando muitos delles, e porque
a maré vazana.» Dauiiiío de ('■oe.'!, Chro-
nica de D. Manoel, part. 1, caji. 80.
— Iiiuii/ein ilc roca; a que tom meio
corpo imitando o humano, iv.s.sentado so-
bre um circulo de taboa, que .se levanta
sobro uma balaustr.ada do taboinhas cm
i-edondo, sobre uma base circular.
— Roca de pedras; inHtrumento de
combater, com pollouros do pedra.
2.) ROCA, s. /. (Do franccz roc). Mas-
sa de ])edra mui dura que existe adhe-
rente á torra, roclia. — Edificar sobre a
roca. — Atravessar a roca. — Duro como
iiDni roca. — Eortnlezn sobre uma roca. —
Tão firme como uma roca. — Uma roca,
morada queriíla das avos carnicoi-as,
— Penhasco levantado no mar ou na
terra. — O cabo da Roca.
— Cnjstaes de roca ; crv.staes conhe-
cidos por este nome para se difterençarem
dos artiliciaos.
— Figuradamente : Cousa mui dura,
immovei, firme, constante.
— .\d.\C}IOS V. PUOVEKHIOS:
— Jíal vai á casa, onde a roca manda
a espada.
— Nào ha casa forte, onde a roca n.ão
anda.
— Perdi a roca, o o fuso n.no acho, três
dias ha que lhe ando pelo rasto.
— Sabbado á noute, Jlaria, dá-me a
roca.
ROÇADA, «. /. A lii ou linho que enche
uma roca para se fiar, e que se põe em
i-oda.
— Paneala com a roca.
ROÇADO, A, adj. — Muiujas roçadas ; no
trajo antigo, eram mangas compostas to-
das de tiras ao comprido, p:u'a deixarem
vêr a roupa de baixo.
— Sapatos roçados; sapatos que ti-
nham na ponta os taes golpes como as
mangas.
— Mantéos roçados; pellotes roçados;
fendidos á maneira do copo da roca de
canna de fiar linho.
1.) ROCAL, alj. f. — Aoz rocal. Vid.
Noz.
'2.^ ROCAL, s. ííi. Enfiadura de contas,
ou de pérolas, usadas pelas mulheres
para adorno.
ROCALHA, s. /. Avellorio de vidro for-
te, lavra lo em figura de contas, para fa-
zer rosários.
fROCAMADOR, ou ROCA-AMADOR, «. m.
A religião, instituto, ou congregação hos-
pilalaria de Roca-Amador. Antigamen-
te em Portní,'al fn mui C'debre esta con-
gregação. .Santo Amador, que na pri-
mitiva egrcja floresceu cm França na
província de Xarboiía, pas>aniio o ultimo
quartel d;i vida ii'um altii<HÍmo rociied.0
apartado do commereio dos mortaes, fui a
caut<a o origem d este nome. A sua sepul-
tura, que no anno de lltili se descobriu
com o seu corpo, n.n.o longe d'e8ta rodia,
foi um manancial de uiaravilluts e por-
tentos que attrahiu peregrinos e rumciroD,
ainda mesnin dos paizes mais remotoe.
Aili se erigiu lopi uma egreja intitulada
<]e Sauta Maria de Roca-Amador, e junto
d'ella nni famo.so hospital jjara i-uccorro c
anifiaro dos pobres, e enfennoi*, que eram
servidos por varões cheios de misericór-
dia e piedade. Os amplíssimos legados,
esmolas, e offertas que a este lugar san-
to se faziam, lisonjeando a negra ambi-
ção dos abbadca, em cujo districto ficava,
nào foram bastantes a tiral-o da humilde
fabrica, em que a primeira devoçHo o
construirá, Dalli se estendeu este pie<io-
so instituto ]ior muitas províncias da Eu-
ropa, intitnlandò-se os teus alumnus ere-
mitas de Nossa Senhora de Roca-Amador.
Ei-a o seu espirito o serviço dos hospitacs.
Em companhia da armada do norte, que
no anno de 11 Si* ajudou El-roi D. San-
cho I na conquista de .Silvos, e outras
praças do Algarve, entrou esta religiRo
em Portugal. No anno de 1193 lhes fez
o dito monarcha doação da viUa de .Sosa
junto ao mar, e nào longe da cidade do
Aveiro. Nella estabeleceram a sua ca-
pital, d'onde .se dltfuudiram logo pelos
hospitaes de Lisboa, Coimbra, Porto,
Santarém, Leiria, Torres-\'edras, Gui-
marães, Braga, Chaves, Lamego, etc.
(.iuardavam a regra de Santo Agostinho,
e foram mui attendidos e respeitados dus
povos, em quanto miseravelmentt: nào caí-
ram da primitiva observância; porém tra-
tando mais dos seus interesses que da
fiel administração dos hospitaes. El-rei
D. Affonso V por auctoridade do Pio ii
fez commenda da oi\lem òe Santiago a
iirreja de Susa que se intitulava Sauta
Mari.i do Roca-Amador, e se extinguiu
este inútil instituto. Foi tão mal visto
o fim d'estes hospítalarios, que a rainha
D. Leonor, mullior d'el-rei D. João 11,
fundando o hospital das Caldas, declarou
era sua vontade cxpressii que nunca fos-
.se administrado por frades. Apesar d'isto
o foi de|X)is pelos fnides lovos, como ou-
tros muitos do reino; attendendo os nos-
sos monarchas antes á graade virtude,
desinteresse e caridade d'esta coi.grega-
ção. que ent.ío se fazia admirar, que á
relaxação, crimes e excessos com que
outros regulares se vieram a extinguir.
Em quanto as virtudes validas e as le-
tras se encontraram nos eremitas de Ro-
ca-Amador, nào o fauU explicar a devoção
ROÇA
liberal com que os nossos príncipes e os
seu3 vassallos encheram de temporalida-
des as suas casas e hospitaes. Nào só lhes
doaram e testaram copiosos bens, mas
também deixaram particulares mandos
a quem fosse por eiles ein romaria a
Santa Maria de Roca-Ámador, assim como
outros mandavam ir a S. Thiago, ou a
Roma. Ei-rei D. Aflbnso ii no seu testa-
mento de 1221 se lembra de Santa Ma-
ria de Roca-Aniador. Nas inquirições de
Alfonso lii se acha um pasmoso numero
de terras pertencentes a Roca-Amador.=
Em Viterbo, Elucid.
ROCAZ, s. m. Peixe.
ROÇA, s. f. Acto de roçar.
— Terra roçada do matto.
— A sementeira plantada no matto.
— Vulgarmente se entende da lavoura
da mandioca.
— Granja, terra de lavoura no Brazil.
— Termo de náutica. O estado em que
está uma ou mais ancoras, que se tem de
prevenção sobre bocas, promptas a serem
picadas, quando o mau tempo faz recear
que o navio garre, ou que arrebentem as
amarras.
— Adagio e provérbio :
— Auda a cabra de roça em roça,
como o bocejo de bocca em bocca.
— Roças, e Roças-valles ; um grande
numero de casaes que eram de Santa ala-
ria de Roças, assim como outros perten-
ciam ás ordens militares do Templo e do
Hospital. No testamento da Rainha Santa
de lo27 se nomeia o hospital das Roças-
valles.
ROÇADO, part. pass. de Roçar.
— Substantivamente: Fazer iim roça-
do; roçar.
— Clareira entre mattos, desmontes
para plantio, etc.
ROÇADOR, s. m. Homem que roça.
— ■- Emprega-se também como adjecti-
vo: Fouce roçadora; fouce de roçar mat-
to grande.
ROÇADURA, s. /. (De roça, cjm o suf-
fixu «durai. A acção de roçar.
— O attrito.
ROÇAGANTE, adj. 2 gcn. — Roupa, ou
vestido roçagante; roupa, ou vestido de
cauda de arrastar pelo chào, larga, rica,
vistosa. — Os vestidos roçagantes das se-
nhoras, — cHia ilubanâ Mufama Luuale
(que assi chamauào ao Rey,) vestido de
humas roupas lõgas roçagantes, na cabe-
ça huma tuuca de fotas listradas de lina
seda adamascada, a cabaya de algodão
acolchoada, o alfmge Turquesco bem ar-
cado, que do ombro esquerdo com graça
lhe cahia, com sua guarnição muv curio-
sa, e perfeytamente acabada.» Fr. Gas-
par de S. Bernardino, Itinerário da ín-
dia, cap. 6. — «Quando querem lançar
ao mar novamente algum navio, vem os
seus sacerdotes chamados por eiles dentro
acs navios a fazer seus sacriticios com
vestiduras de seda compridas e roçagan-
ROCH
tes.» Fr. Gaspar da Cruz, Tratado das
cousas da China, cap. 27.
ROÇAMALHA, s. /. Termo synonymo
na Índia do estoraque liquido. — «Nos
quais dizem que arderão sessenta mil es-
tatuas de Ídolos, a mayor parte delias co-
zidas em ouro, e três mil elifãtes que se
comerão no cerco, e seys mil peças de
artilharia de ferro e de brõzo, e cem mil
quintais de pimenta, e quasi outros tan-
tos de drogas, sândalo, beijoim, lacre,
puxo, roçamalha, aguila, cânfora, seda,
e outras muytas sortes de fazendas muy-
to ricas, e sobre tudo infinidade de rou-
pas que de todas as partes da índia aly
tinhão vindo em mais de cem nãos de
Cambava, Aachem, Melinde, Ceilão, e
de todo o estreyto de Meca, Lequios, e
China.» Fernão Mendes Pinto, Peregri-
nações, cap. 151 .
ROÇAMENTO, s. m. A acção de roçar-
se com outra a peça de uma machina, e
o attrito e retardamento que esta fric-
ção causa. — O roçamento dos eixos.
ROÇAR, V. a. — Roçar matto; cortal-o,
derribal-o.
— Figuradamente: Chegar perto, e al-
cançar quasi.
— Esfregar uma cousa por outra, ou
com outra.
— Tocar levemente.
E as immortacs Pyramidcs disputào
Ao Mundo a duração, fauaes cteruos,
Entro a soaibra doa séculos plantados,
Por cuja cima o Tempo apenas roqa,
Voando de continuo, as férreas azas.
J. k. D£ MACEDO, HEDITAçlo, Cant. 1.
— Roçar-se, v, reji. Figuradamente:
Parecer-se, approximar-se.
ROCEDÃO, s. m. O fio que serve para o
sapateiro atar o couro em roda da forma.
ROCÉGA, s. f. Vid. Roséga.
ROGEIRO, s. m. Homem que faz, e
planta roçados, vulgarmente de mandio-
cas e legumes, e diverge do lavrador de
cannas. tabaco, algodão, e anil.
7 ROCEIRO, s. m. Vid. Roqueiro. —
aEsta terra he muyto fértil e boa: ha
nella muytos olivais de azeitona cordo-
vil. E junto desta vila estaa hum caste-
lete roceyro.» António Tenreiro, Itine-
rário, cap. 31.
ROCHA, 5. /. (Do francez roche). Cu-
mulo de pedra mui dura, em massa ou
isolada. — «Como a altura da rocha fos-
se grande, e o peso das armas o aflron-
tasse, conveio-lhe descançar duas ou três
vezes. Neste espaço de detença se passou
o dia, de sorte que, quando chegou ao
alto, era já noite. A este tempo se abri-
ram as portas do castello e sahiram delle
quatro donzellas com tochas acesas, que,
tomando-o ante si, o levaram comsigo.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 13.
— Penedo, penha, roca que sobresáe
no mar, ou que está levantada da terra.
ROCH 317
Alguns a quem o esforço ainda não falta,
Por fugirem do jugo Lusitano,
Qual o ferido cervo corre e salta
A buscar o i-emedio de seu dano,
^obem logo na rocha que he mais alta,
E se vão abraçar coo Largo Oceano,
Onde chegando ja despedaçados.
Entre os peixes iicárão sepultados.
CAM., Lcs., cant. 2, est. 13.
— «Assentado á sombra de uma ro-
cha que formava um promontoriosinho
do lado do sul, lancei os olhos em volta
até onde se uescubiia o liorisonte. Lá, no
extremo do Estreito para a banda do
mar interior, viam-se na ponta da Afri-
ca os cimos das torres de Septum fron-
teií-a aos cerros escalvados do Calpe.»
Alexandre Herculano, Eurico, cap. ti.
■ — -Pedra, ou veia delia, mui dura, e
solida. — «Daquy nos saj-mos em com-
panhia do embaixador, e fomos cõ elle
ver as lapas dos penitentes, que pelo
bosque abaixo estavão obra de hum tiro
de berço, feitas á mão entre huns pene-
dos de rocha viva numa grande ordem
de furnas, cousa que não parecia poder
ser feita por maòs de homens, as quais
erão por todas cento e quarenta e duas,
em algumas das quais estavão homens
que eiles tem pur santos fazendo peni-
tencia com hum estranho excesso de aus-
tiridade, e aspereza ue vida.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 161.
O Castello, d'onde eu regia os Povos,
Foi dos Gallos antiga Fortaleza,
Fundada numa rocha : accommetcndo
Júlio Cesar Tenêtos Curiosólitos,
Lhe deu augmcnto. Poucas milhas longe
Do Mar tem pé n'um Lago, encosta em brenhas.
F. VI. DO NASCIMENTO, OS MARTYKES, 1ÍV. 9.
Visto apenas de longe, entre inacccssas
Hochas alpestres de escarpados montes.
Se abrio de todo, se mostrou qual era.
Oh! Scena portentosa, oh! Quadro augusto!
J. A. DZ MACEDO, VIAGEM ESTÁTICA, Caut. 4.
Desmaia a fantasia, encolhe as azas
Timida Musa, se transpor dL'stina
D;id altas rocliaa escalvado cume.
Que sj naufrágio universal cobrira.
Tanto, ó Haller, teus êxtases poderão !
IDEM, MEDITAÇÃO, cant. 2.
JA sua luz penetra abysmo escuro;
Lyra, que chama os marmórea a Thebas,
Quebre as rochas do Cáucaso espantoso :
Eis vejo o centro escuro ao Emo, aos Alpes.
IBIDEM.
Das rochas desiguaes a formosura,
Dhumanos monumentos as luinas,
De crepitante raio inda os vestígios
Pelos penhascos hórridos impressos.
As lavas dos Volcões, que agora extinctos.
IDEM, A NATL-BEZA, Cant. 1.
Golconda, Vizapor, teus campos vejo,
E as rochas de Narsinga onde se occulta
Brilhante pedi-a, sólido Diamante
318
ROCII
ROO II
RODA
Qn' f.vn luz, cm fogo, fim míigrstailo , cm tudo
O vulfço (íxcodi; dos r.idinutC;* corpoj).
luiDKM, cant. 2.
A» alta» i-o/;/ia<, o» finsosofl niontes,
CujaH base» hciouo iuuuda o rio,
Embora nutrão no fecundo seio
Ricos motacs, os Ídolos do Muudo.
Á tua voí potruto as roflian f|Ucbro
Primeiro monte, o Caucií.so cspanto.-io.
— Termo ilo scolop;ia. Jíaít.sas niine-
raeâ da crusta terrestre, quer sejam mol-
les, quer scjain podrcf!;osas.
— Rocha de fogo, ou de. enx.ifre; mas-
sa feita <io salitre, enxofro, pólvora, ctc,
que feita em pedaços e arremessada ao
inimififo, ardo com violência.
— Fijjuradainciito : Coração de rocha ;
coraçilo duro, oiupedcrnido, insonsivel.
— Termo de mineralogia. Di/.-so das
substancias mincraes consideradas em
massa. — Rochas vulcânicas.
— Rochas (iijuouds ; rochas formadas
pelas matérias que as a^uas tem deposi-
tado.
— Rocha negra; diz-se algumas vezes
dos basaltos, das rochas do serpentina.
— Rocha morta; nomo dado á rocha
viva, que perdeu ^^na dureza e eonsiston-
cia pela impressão dos elementos húmi-
dos á superticie da terra.
— Rocha de esmeraldas, de topasios ;
rocha conteúdo esmeraldas, topasios.
— Cri/stal cie rocha ; pedra transpa-
rente, quoé uma crystaUização do quai'tz,
ou da ftiliea pura.
— Rocha viva; aquella que tem suas
raízes muito profundas, ([ue não é mistu-
rada de terra, e que nào existe por ca-
madas.
— Rocha corneana ; rocha (pio tem a
appareneia da córnea.
— Rochas [ilandiãosas ; rochas que con-
tinham niineraes mais duros que as ma-
térias que 03 envolviam.
— Em geral as rochas designam-se se-
gundo a maneira como se formam. — Ro-
chas arciiaceas. — Rochas ccinenteas. —
Rochas isomeras. — -Rochas priíuarias. —
Rochas secundarias. — Rochas de sedi-
mento. — Rochas simples.
— Desiguam-so tambom pela fiSrma que
apresentam. — Rochas amigdaloides. —
Rochas argilloidcs. — ■ Rochas porphi/roi-
des.
— Designam-se também segundo as
matérias principacs que entram na sua
composição. — Rochas alnmíiiosas. — Ro-
chas ainphibiiUcas. — Rochas argillut^as.
— Rochas cidcareas. — Rochas chloriti-
cas. — Rochas fclilspathicas. — Rochas
ferruginosas. — Rochas graniticas. — Ro-
chas inagnesianas.
— Termo de historia i-omana. Rocha
Ihtyeia; coUina de Roma, d'ondo os ro-
manos prccii)itavani os criminosos con-
dem ii.rlos ;i morte.
ROCHAZ, udj. 2 gnn. Orçado noa ro-
chedos, que vive entro clles, á manfira
de certas aves do rapina. Vid. Gerifalte.
ROCHEDO, «. m. Ptmha, penli.isco. Vid.
Rocha. — «Oh la villa vendesse entrados
SC lançaram pelo muro, c rochedos |)era
se saluarom, de que morreram a ferro
duzrmtos, o dos que se lançaram pelo ro-
chedo abaixo mais de mil almas, entre
homens, nioHieres, e miiiinos, de que
muitos morreram espetados em aruores
que ania no rochedo per onde se lança-
uam, e assi os cauallos selados, e enfrea-
dos por nam ficarem em poder dos chris-
tãos.» Damião do does, Chronica de D.
Manoel, part. 3, cap. 12. — tE &m se
eutríigou to<lo ils aguas, do mar, domle
Avaior cuidara morrer; e agua deu pres-
taracnte com elle por um <m3eio, que por
parte daquelle rochedo S(! fazia, e es-
praiava logo com a maré : e recolhidas
que foram as aguas se ficou elle ahi dei-
tado naquelle areal per um grande espa-
ço havendo-se per morto: porque com a
desconte da maré, que já, então era, não
tornou mais a chegar o mar .a ellc.» Ber-
nardim Bibeiro, Menina e moça, part. 2,
cap. 12.— «Desta paragem caminhando
hora por espaçosas campinas, hora de-
eendo de altos, e Íngremes rochedos,
vem fazendo suas costeadas voltas, em
partes com tanta ligeyroza, o velocida-
de, como noutias detoudoso com seus
meandros tam quietos, o vagorosos que
nellcs parece estar conuidando o mundo
todo a vello.n Fr. (Saspar de S. Bernar-
dino, Itinerário da índia, cap. 21.
Nuuips d'hum Vate sois, Silencio, e Sombra ;
Nos rochedos da Córsega dVsfartti
Do ingrato Nero ao virtuoso Mestre
O desterro se adoi;a, e suppre a Corte.
J. A. DF. UXCEDO, A NATITREZÁ, CSUlt. 1.
De tanto precipício, escuro, c oégo,
Scriiio causa ra])idas torrentes,
Qu'iinpetuoso eurso entre rochfdoa
Tem jil por tantos séculos volvido ?
iDiDKM, caut. 2.
Immensa multidilo de peixes vejo
De impenetrável concha habitadores,
Pegados aos rochedos escabrosos.
Ou dispersos uas húmidas arèas.
uiiDKii, cant. '■>.
Oh qu' aprazível o momento eliega
De contemplar a Naturer.a ! -l^ora
Minh'alma no spectaculo embebida
Se dava a contemplar. Comtigo ao lado
Por ein\a dos inhospit«s rorhedof
Iliremos ver o mar : por ello a vista
Filosofando alongaremos hoje.
iuiDi:ii.
Viste ha i»uco esse conc.avo rochedj
No mar qnasi afundado, e que servi.i
Ao pensativo pescador de asylo?
iniDF.ii.
ROCHEIRO, adj. Vid. Roqueiro.
ROCHETE, *. 111. ípr. roíjuele; do fran-
cez roílíKl). Sjbrepelli/, do iiiungab Cítrci-
tas, que os bÍHpos c iiiuituK outro.s ecclo-
Biasticos trazem. — 0$ òitj/os pregam d*
rochete, e de murta.
— (Js rochetes ; o» bÍB]ios.
— Vid. Roquete, orlhographia preferí-
vel.
ROCIADA, s. f. Orvalhada, chuveiro.
— At priíiieiríu rociadas ; m primeiras
horas da maiihH, quuiidu orvalha ; orva-
lhadas.
— Figuradamente : Rociada cie darJ/js e
seitas ; chuveiro d'ellaH.
ROCIADO, part. pu»s. de Rociar. Orva-
lhado, borrifado. — O ceu rociado pelo
mar ijue sakiu dos seu» limita. — Olhoi
rociados de lagrinuts.
ROCIAR, V. a. Orvalhar, banhar, bor-
rifar com rocio. — Rociar os olhos com la-
grimas.
— Emprcga-se Uimbem figuradamente.
ROCICRÉ. Vid. Rosicré, e Rosicler.
ROCIM. Vid. Rossim.
AUAfílOS E I-UOVKKllIO.S :
— A boa mão do rocim faz cavallo, e
a ruim do cavallo faz rocim.
— O rocim em maio torna-se cavallo,
— Oouce de égua amorci) para rocim.
— A quem mal queiras, um rocim lhe
vejas, e a quem mais mal mu par.
— Mulo ou mula, asno ou burro, ro-
cim nunca.
— Ooin latim, rocim, o florim, andarás
mandarim.
ROCINAL, adj. 2 gen. De rocim, ou de
rossim.
— Carga rocinal; carga de rocim ou
cavallo ]iequeno e desmedrado.
ROCINAM. Termo antiquado. Vid. Ros-
sim.
ROCINATO. Termo antiquado. Vid. Ros-
sim.
ROCIO, s. m. (Do latim rot, oris).
Chuva miúda, orvalho.
— Rocio nutri mental ; vid. Sueco nutri-
ticio.
— Emprega-se também no sentido fi-
gurado.
— A praça, e por cxcellencia ama pra-
ça de Lisboa.
ROCIOSO, A, adj. Orvalhoao, que pro-
duz orvalho, que tem orvalho. — A Jna-
nhã está rociosa.
— iVií i e^í rociosa ; nuvem que solta ,
orvalhadas.
ROCLÓ, s. m. Capote de mangas de pou-
ca i-oda ; conhecido outr'ora pelo nome de
josósinho.
ROÇO, *. m. Ave do mar oriental, de
grandeza e força extraordinária, ou seja
ospecie de alcião, ou de maçarico.
ROÇO, s. m. Termo de pedreiro. O tra-
balho de cortar alguma pedra que está
mais alta que o p.ivimcnto, trabalho cha-
mado por olleit» rocar.
RODA, ». /. (Do latim rota . Peça pia-
RODA
RODA
RODA
319
na circular que se põe em movimento gy-
rando sobre eixo. — A roda de um carro,
de uma carruagem, etc. — «E após elles
vinhão dous grandes e altos cadafalsos
com rodas per dentro, que homens faziam
andar, sem verse como andauão, os quaes
erão ricamente pintados douro, e muyto
bem feytos, e ordenados com muytas e
ricas bandeyras, todos cheos databaley-
ros com os atabales polias bordas dos ca-
dafalsos da parto do fora, que fazião ta-
manho roído por serem tantos, que se
não ouuia ninguém, e os atabaleyros vi-
nhão todos sem figuras de homens.» Gar-
cia de Rezende, Chronica de D. João II,
cap. 128.
— Roda de agua; roda que se move
á força de agua, e que faz mover a bo-
landeira, e esta a das moendas, e que
serve de esgotar as minas.
— Roda dentada; roda que tem den-
tes na circumferencia.
— Figuradamente : Roda ; circulo de
pessoas, mó de gente. — Uma roda de in-
dividuas.
— • Roda de coroa, ou de chão ; roda
que tem os dentos parallelos ao seu eixo,
ou veio, como a roda que empena na pe-
quena da nora.
— Roda ; nos conventos, armário re-
dondo com vãos, que se move por um
eixo perpendicular na aberta de uma ja-
nella, com as umbreiras da qual quasi se
roça ; nos vãos da roda se põem as cousas,
que se tiram, revolvendo a roda para
dentro.
— Gyro do ceu, dos astros.
Antes que aquclla vez lá no Oceano
O sol metteaso a leve roda usada,
Aquclle horoico csprito maia que humano
Solto já da prisão fria e pesada,
Entra no Eterno Assento, e Soberano,
Deixando a torra triste c acompanhada
De lagrimas, do dòr, de sentimento
Por cata grave perda o apartamento.
F. d'aiídrade, pbimeibo ceboo de DIU, cant. 19,
est. 98.
— Figuradamente : A roda da fortuna ;
os seus revezes e alternativas. — « Qvando
a fama do gram Turco Hahometo segun-
do deste nome, andaua com suas insignes
victorias, assombrando o mundo, pare-
cendolhe que a fortuna que a tão alto es-
tado o leuantara, não poderia j;l mais des-
andar com sua inconstante roda.» Fr.
Gaspar de S. Bernardino, Itinerário da
. índia, cap. 21.
— Penar atado a uma roda.
E porque a meu desejo me gabei
De conseguir hum bem de tanto preço ;
Além do que padeço,
Atado em uma roda estou penando,
Q'uem mil mudanças me anda rodeando ;
Onde, SC a algum bem subo, logo deço.
CAM., CANÇÃO 2.
— Roda de trabalhos;
ternativa continua.
cerco, gvro, al-
— Figuradamente ; A roda dos séculos.
Intactos, ao volver de idade, o idade.
Sobre a roda dos séculos vorazea
Vicejào mais, e maia. Impérios fogem,
Fogem nas azas do volúvel Tompo.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Cant. 4.
A luz, que a França vio brilhar maia pura,
Quando o Grande Luiz subira ao Trono,
Que eterna Fama, ctcrnoa monumentos
A' grão roda dos séculos deixara.
IDEM, VIAGEM EXTÁTICA, Cailt. 4.
— Figuradamente: A volúvel roda.
Quantos triste moral dons preciosos
Recebe da frondifcra Oliveira !
A forca oppresaos da volúvel roda,
Em doces ondas do liquor mudados,
Formào vivo clarão, que suppre o dia,
Na sombra universal, que a noite eapalha.
J. A. DE M.WEDO, MEDITAÇÃO, Caut. 1.
— • Termo de náutica. Pau grosso c
curto que termina a popa e a proa do
navio ; também ha rodas no poleame, das
quaes algumas são bronzeadas.
— Bomba de roda; bomba em que se
trabalha por meio de uma roda, como os
lemes de roda.
— Roda a roda; o maior comprimento
do navio, desde o espelho da roda de
proa até á barra da contra-almeida.
• — /)• í/e roda a roda ; ir de encontro
com a bochecha de proa ao costado do
outro.
— Roda do leme; a que anda aggrega-
da ao cylindro em que se encapella o
cabo do leme, e de cuja circumferencia
sahem as malaquetas que servem de apoio
ao homem que o governa, para lhe dar a
direcção conveniente.
— Roda viva; roda que nunca pára.
— ^ Figuradamente : Roda viva; lida,
trabalho incessante.
■ — Roda dos engeitados, ou dos expos-
tos; nas misericórdias, é uma roda á ma-
neira da dos conventos, onde se coUocam
as creanças que se engeitam.
■ — Roda de encontro ; a roda dos reló-
gios, a ultima que topa com os dentes nas
palhetas do volante.
— Na roda do anuo ; por todo o espaço
do anno.
— Adarga redonda.
— -Roda do tempo; roda que serve de
adiantar ou atrazar o relógio; fica junto
ao guarda vohinte.
— Roda do joelho. Vid. Rodella.
— Ha rodas também nas roldanas.
— Peru de roda; o grande que a faz
já: d'aqui veio dizer-se, no sentido figu-
rado, desfazer a roda ; abater a vaidade.
— Dar á roda a fortuna; mudar-se.'
— Trabalhar, jogar a artilheria em
roda viva; trabalhar, jogal-a incessante-
mente.
— A roda de alguém; os parentes, ami- 1
gos, pessoas com quem convive, que o |
buscam como amigo, conversam, gran-
geiam, adulam, ete.
— Roda do pavão, do peru; a abertura
que fazem inchando as pennas e abrindo
as remiges e as da cauda em grande le-
que redondo, parecendo d'este modo que
estas aves são orgulhosas e vaidosas.
— Roda de nabo, beterraba, pepino, e
outros fructos ; talhada redonda e chata
para se comer.
— Roda de limão; talhada de limão
que se colloca sobro o lombo do porco
para lhe dar um sabor mais grato ao pa-
ladar.
— Roda de escachar; aquella com que
os tiradores do fio d'uuro e prata fazem
a palheta.
— Loc. poética: A fatal roda; o fa-
do, o destino, ordem da Trovidencia.
— Roda de couces; que se dão acompa-
nhando a quem os leva á roda da casa
por onde foge.
— Figuradamente : Untar a roda ; pei-
tar otiiciaes e agentes de negócios e de-
pendências ; deixar as rodas untadas para
03 ter a seu favor.
— Roda de fogo; roda que gyra sobre
seu eixo á força de foguetes atados.
— Roda de altos couces; jogo infantil.
— Desfazer a roda a alguém ; abater-
Ihe a soberba, e desvanecimento do pros-
peridade.
■ — ^Roda; que servia de sobre ella se
quebrarem os ossos dos braços, pernas,
etc, a certos criminosos que sofEriam este
cruel castigo por crimes atrocíssimos.
■ — Roda da ilha; circumferencia, cir-
cuito.
— Roda, por rota; tribunal de Roma,
— Lançar roda ; allusão da plebe, que
para adivinhar quem fez uma acção má,
escreve os nomes dos suspeitados, e faz
mover a roda onde os lança escriptos
perpendicular ou verticalmente, e aquelle
nome sobre que a roda pára, hão que é
o do delinqueiitc, e que a justiça divina
lh'o descobre para justificar os innocen-
tes.
— Plur. Quasi manchas circulares no
pêllo dos cavallos rodados.
— Loc. ADV. : A roda; em redor, em
volta. — « Três braceletes de ouro e pedra-
ria: hum anel grande com hum olho de
gato, e rubis á roda, um formoso olho de
gato solto, o que tudo se carregou sobre
o feitor da Armada, e aquelle anno foy
pêra o Reino, O Visorey também levou
seus brincos, e antes de dar á vela se foy
ver com elle hum filho do Madune, Rey
e Ceitacava, de o que passou com o Vi-
sorey não se sabe. Depois de o ouvir deil
á vela para Cúchim.» Diogo de Couto,
Década 6, liv, 9, cap, 1. — «Ao que elle,
olhando jiara os que estavão á roda, des-
pois de fazer alguns meneos com a cabe-
ça, lhes disse, que vos parece a vós ou-
tros desta gente y fala de Deos como que
tem noticia da sua verdade, algum gran-
320
RODA
UODA
RODA
de inundo devo do aver ncuto criado, do
qiio na?) toiíioH ainda noticia, o j)i)Í8 oo-
nhccfiin a foiíto drin hítnfi, rn/.âo scni r|U(!
80 ii«o com ollow cnnformo ;is iafírinias
com quo o )]prl(tiii.ii FeriiíTlo Jlondcs Pin-
to, Peregrinações, eap. 180. — «IIunH
erão EiicjintoM, o outros Foytioos. Ou pri-
moyros pcidião )imito a[)[iarato. Arniava-
BO Innn Altar ornado ú roda do hum fron-
tal. Quciíiiava-sc nollo incenso macho, o
oiitroH perfumes.» ('avaliciro d'(Hivcira,
Cartas, liv. ], n.° 20. — «Como de, pap,'^
a tillios aH (liverHas f;()ra(,'õcH SC continuam
o ontreteccni sem divisão, semelhantes li
tunicn inconwHtil do (íiiristo, assim a ci-
dade antiga se transmuda imperceptivel-
mcnto na nova cidade ; o c(nno o octoffc-
nario, na vizinhança do tumulo, não vô
il roda do si, nem (lao, nem irmãos, nom
amigos da infância, mas tillios, ma-i ne-
tos, mas existências todas virente-i, todas
cheias de vida.» A. Ifereulano, Monge de
Cister, rra/oí/o.
— Andar á roda; vidtar so])re si mes-
mo, á mauoira de um i)cào.
— Loc. .\DV. : Em roda ; eironlarmon-
te, pela eircumforencia. — oFilonarda, co-
mo souljo quo vinham, tiramio-so das an-
das, cm quo caminiiava, cavalgou cm um
paiafrem branco, poupado pêra aqtudlc
dia com uma guarnição de muito ])reço,
c cila vestida em unia roupa aguisa (hí
Gi'0cia, toda em roda broslada de chapi;-
ria rica, obra muito para vêr: emcima
trazia uma capa do escarlata branca, for-
rada de setim l)ranco, quo so abrochava
por diante com uns diamantes a maneira
de botões, e toda em cerco occupada dcl-
les, antremetidos com pérolas tanto por
compasso o ordem, qun davam muita gra-
ça ao ve<tido.ti Fraticiseo de J[oracs, Pal-
meirim de Inglaterra, cap. 111. — » Tem
mais esta cidade em roda, segundo os
Chins nos aflínnarão, trezentas o sessenta
entradas, cm cada uma das quais estão
sempre quatro upos, como pouco ha disse,
armados, e com alabardas nas mãos, para
darem razão de tudo o quo passa nella,
ha aly tambcm immas certas casas quo
são como casas de camará, que a cidade
para isso tem deputadas com seus Ancha-
cys 6 officiais de justiça, c a oude tam-
bém se levão os moços que se perdem,
paraque seus paya oa venham alv luis-
car.» Fernão Jlendoíi Pinto, Peregrina-
ções, cap. 94. — « Por fora desta grande
cerca, a qual, como digo, corro por fi'>ra
do toda a cidad,u, estão cm distancia de
três logoas de largo, e sete de comprido
vinte e quatro mil jazigos de Mandarins,
que são hmuas capellas pequenas cozidas
todas cm ouro, as quais tom todas adros
fechados em roda com grades de ferro, o
do latão feitas ao torno, e as entradas
que tem, saõ hnns arcos de muito custo
e riqueza.» Ibidem, cap. 10."i. — «K cor-
rendo por este esteyro a Tjcste, e a Les-
nordeste, e cm partes a Lessuoste con-
forme ás quedas por onde a agoa fazia
sua evasão, clu^gamo-t ao lago de Siriga-
l)amor, que os naturais da terra nonii-ão
por ('uncbcti;c, que, segundo a onforma-
ção quo nos dcriío, tinha cm roda trinta
o scys legoas, no (piai vimos tanta diver-
sidade do aves do toda a sorte, í|ue me
não atrevo a jindelo dizor.» Ibidem, cap.
128. — a I'^ vellcjando por nossa derrota,
chegamos a huma ilha ])í;quena do pouco
mais de hnma l"go!i em roda que so cha-
mava l'ulio Ilinluir, dõde nos saiiio lium
paraoo em que viniião seys homens ba-
ços, tórios com barretes vermelhos, mas
pobremente vestidos.» Ibidem, cap. 14.Ó.
— « Até dez anno.i riquissimamcnte ves-
tido o cõ hunui hnrfangaa douro r.a ca-
beça, que ko a nujdo de mitra, mas fi-
chada toda em roda sem abertura nenhu-
ma, e huma maça douro a modo de cetro
))Osta ao oml)ro, o qual sem fazer caso do
Monvagarnn, wv.m dos mais senhores que
alv cstavão, toMU)u o endjaixador 8<') peia
mão.» Ibidem, cap. 102. — « Deste modo
ficou o Reyno de Lara, junto a Coroa
Persiana, c agora de nono se torna a edi-
ficar, auendo ya nella duas cousas nota-
ueis, í|ue saõ hum castelto que tem quasi
meya legoa em roda, o qual lhe fica ao
Ponente, assentado sobre huma serra pe-
quena, qur, est;l (juasi sobre toda a cida-
(le.» Fr. Tíaspar de .S. Pernardino, Iti-
nerário da índia, cap. 13.
Eténia Tompiistiulc, om rodn. ronca
Das minaccs ameias ; stéril Arvoro
TjIic módra á jii^rta ; no Torreão trcuiAla
Hasteado, a meio-ardido d'nin corisco,
O íStendarte do Orftulho. Vc7,03 nrtvc
Cinge o Torreão, rocingc-o, torvo muro.
F. M. DO NASCIMENTO, 03 JIABTYBKS, 1ÍV. 8.
Vivo cm roda de nís, vive, espalhado
No immcnfiuravel amliito dos ares,
Apento universal, faminto, e pronto
A devorar, a conamnir o Mondo,
Se o Supremo Motor omnipotente
Não lhe lauí^ára hum freio iis bravas fúrias.
J. A. DE MACEDO, A SATUBEZA , Cant. 2.
Além dos >íundo3 o Infinito existo.
Onde se fuidão surpe a Immeusidadc.
Sente a Divina Kssencia, isto s.i hasta;
Ihim termo está prcscripto ã mento hcmann,
.\!ém delle somente existem sombras,
Cidipinosa escuridão nrofunda,
Quo em roda do seu throno o Eterno espalha.
inrM, MKnrrAi,Ão, cant. 1.
— Km roda âa casa; cm volta d'ella,
por toda dia, ou sua eircumforencia in-
terna ou externa.
RODADO, i><irt. pass. de Rodar.
— i',irta rodada; carta sellada com
sello redondo, ou carta em que a firma
ou nome vai circulado, como se observa
nos documentos antigos, onde a firma do
soberano e.^t.-l no centro do circulo, om
roda os das pessoas da família real, os
dos ricos-homens, prelados, etc.
— Alíjufiie rodado; alqueire r.'u>o ou
arrasado.
— C/uiu rodado ; cliw marcado com o
carril que deixam as rodas.
— Quebrado no supplicio da roda. —
Ktte homtm fui rodado vivo.
— (Jaíiio por ladeira, <.iicor.ta.
— l'triliiiãi) rodado; pcrdigilo que tem
malhii.s redondas.
— Figuradamente : Muido, caidu de ea-
ta'!o, iligniiladc.
RODAGEM, s.J. A totalidade das rodau
de qna|.|nir machina. — A rodagem dt
um rtli (i'in.
RODÀMONTADA, «. /. Ameaça de fan-
farr.Mo, fuifanonice, bizarricc, ronca.
RODANTE, iiarl. a<t. de Rodar. Que se
move em roda, que gyra, que rola.
— Quo anda jhjIo ch.òo, cm desprezo
c poucíi estima.
— Que các ])or ladeira, encosta, es-
cada rolando a baixo.
— Que cáe do estado, de dignidade,
de posto elevado.
— Que se move como em circulo de
tempo.
— Quo faz movcr-ee em roda.
— Que cÚQ revolvendo-80 sobre si.
— 1'eriodo rodante; período mui con-
certado e sonoro.
RODAPÉ, «. »i. Panno á símilhança de
sanefa, ((Ue. cobre a rola da cama desde
o colchão até abaixo, ao réz do chão.
RODAR, V. a. Fazer mover-,-e em roda,
ou andar sobro rodas.
— Cair revolvcndo-sc sobre si.
— Rodar vivo; castigo a que outr'ora
eram condeniiiados muitos criminosos,
quebrando-lhes os membros com massa de
ferro na roda.
— Rodar o mundo; correr, gyrar.
— Rodar o mnr; navegar á roda, ro-
dear, dar uma volta ao mar.
— T^ u. Jlover-se em roda, gvrar, ro-
lar.
— Rodar a tei~ra.
Qu "outra prova d'hum Deos, que ctcmo oxistc,
Podemos desejar? Contempla, observa
O Ponto em que apartada a Terra pire
Po centro Inminoso, olha a distsincia,
OUia o justo c<|UÍlihrio, se alongada
UndíWfe hum pouco mais, algente, c froiO,
Inhabitado Globo o capado enchera.
.r. A. PE M.VCEDO, A NATCBEZA, C;lnt. 1.
Rodando sempre hum cimdo descreve,
E som romper doa Trópicos a meta,
Or.a proxim.i ao Sol, ora apart-ada.
Debaixo sempre de diversos poutos
Nos mostra sempre o Sol no immobil centro.
Do paternal asilo desiH>jados
Prosoriptoâ Incas, ferros arrastando.
DAmbii;.ào, da Sevícia ao c^irro atados.
Sem ma«s crime, qne o ouro, eis vão rodando:
Nunca de s:»npue tigres abastados
I.evão a tudo estrago miserando,
(Juando laiinas, e terror derrama.
Então paz a hum deserto. Almagre chama.
iDKM, o OKir.NTC, cant. O, ost. H4.
RODE
RODE
RODE
321
Pois quasi confundido, c quasi ignoto
Correndo vai no Ceo, qual vái de arêa
Pequeno grão rodmido em ar vazio
Xas leves azas rápidas do vento,
Do calmoso Verão nas longas tardos ;
Assim gyra, assim corre ignoto, escuro
Entro maiores lúcidos Planetas,
Que tom por centro o Sol no espaço immcnso.
IDEM, MEDITAÇÃO, cant. 2.
Vai n'lium Carro apoz ollc a Cypria Deosa,
Róseos freios batendo ás alvas Pombas,
Mais bello, e luminoso entre os Planetas ;
E n'outro Ceo mais alto a escura Torra,
Como 03 outros rodando o giro absolve.
IDEM, VlàOEJf EXTÁTICA, Caut. 3.
— Andar pelo cbào, em desprezo, e
pouca estima.
— Figuradamente : Rodarem as ondas
umas sobre as outras.
— Andar, correr para cá e para lá.
— Rodar o dinJieiro ; ser mui abundan-
te, e vulgar, andar a rodo.
— Figuradamente : Cair de estado,
posto, dignidade.
— Rodarem os astros; gyrarem na sua
orbita.
— -Rodar em um coche; andar n'elle.
— Cair por ladeira, encosta, escada ro-
lando a baixo.
— Rodar o tempo ; correr, gyrar.
— Rodar a fortuna ; alternar-se.
RODA VALHO, s. m. Yid. Rodovalho.
RODEADO, part.pass. de Rodear. Cer-
cado cm roda.
E aquelle de quem ja no tempo antigo
Prophetizou Daniel, que naceria
De huma fera espantosa hum como escuro :
Que com força três cornos lhe tiucbrasse.
De gente innumerauel rodeado,
Estaua amado delia, obedecido,
Este fez o Alchorão, este com armas
Arábia subgigou, .lEgipto, e Siria.
CORTE REAL, JÍAOFRAGIO DE SEPÚLVEDA, Cant. 11.
Xa praia um regedor do reino estava.
Que na sua lingua, Catual se chama,
Rodeado de Naires, que esperava
Com desusada festa o nobre Gama.
cAu., Lcs., cant. 7 est. 44.
— «Pelos assenos conhecerão, que eu
vinha saspirando por ella, a qual me de-
ram por vezes, que nào auia abastar-me.
Em menos de hum quarto de hora que
aula chegado a Aldeã, me vi rodeado, e
cercado de muitos Mouros, molheres, e
meninos, que como a extremo, me vi-
nham ver, perguntando cada hum, o que
a vontade lhe ditaua.» Fr. Gaspar de S.
Bernardino, Itinerário da índia, cap. 10.
Moasambique, a traidora, castigada
Para escarmento a pena ; e o temeroso,
Kamorado gigante em dura terra
Por sons atrevimentos convertido,
K, por dobradas mágoas, rodeado
De Tlietys formosíssima que amava.
GARRETT, CAMÕES, Caut. 8, Cap. 10.
vol! V. — 41.
— Rodeado de dores, trabalhos; cerca-
do d'elles, cheio d'elles.
— (Tvrando.
— Vid. Rodado.
— Razoes rodeadas a seu intento; ra-
zões que se achegam com rodeios para
conseguir, exquisitas para isso.
— Emprega-se também figuradamen-
te.
RODEAMENTO, s. m. A acçcào de ro-
dear. <-Hi lie ser rodeado.
RODEAR, i'. a. Fazer andar em roda,
fazer j^vrar.
Pharamundo, rodeando olhos medonlios,
Sparsas as câns aos ventos matutinos,
Assentado, no tope da fogueira,
A vista debruçava ao Filho, ao Xéto.
y. M. DO NASCUfENTO, OS M.^RTTRES, 1ÍV. G.
Cercar.
Entrão na grão praça, ao eco leuauta
A gente popular, clamores altos :
Soarão juntamente os instrumentos
E a,s vozes miseraueis dos perdidos.
Com lento passo a praça rodearão
As figuras cruéis, abomiuaueis;
Ouuese grand'estrondo de inouido
Ferro, c grossas cadeas arrastadas.
CORTE BE.^L, NAUFRÁGIO DE SEPÚLVEDA , Caut. 5.
— «Os Mouros como viram a corrida
que levavam, começaram os de cavallo
rodear a sua pionagem, e pola ante si, re-
colheudo-se em boa ordem.» Barros, Dé-
cada 2, liv. 7, cap. 4. — ■ «As nãos dos imi-
gos fezeram mui bem seu ofRcio, em quan-
to Cojeatar andaua rodeando, e combaten-
do a nossa frota, no qual tempo com hum
tiro grosso com que tirauam da nao Cyr-
ne, arrombaram a do Principe de Cam-
bava de maneira que se foi ao fundo, e
trás ella com o tiro da mesma bombarda
outra das milhores armadas, que era de
]\Ii!iquiaz senhor de Dio, nas quaes, e na
ileri tinha el Rei de Ormuz toda sua es-
perança.» Damião de Góes, Chronica de
D. Manoel, part. 2, cap. 33. — «Os quais
sào todos forrados de pastas de chumbo
muyto largas e grossas, e por fiira tem
huuia cava dagoa muyto funda que a ro-
dea toda, com suas pontes levadiças que
de noite se levantão com cadeas de latào,
e se sospendenx em humas colunas de fer-
ro coado muyto grossas. » Fern.ào Mendes
Pinto, Peregrinações, cap. 108. — «E
logo á entrada da tenda estavào quatro
moços muyto gentishomens, e ricamente
vestidos, que com seus encensarios a ro-
deavão por fjra de dous em dous, os
quais ao som de certas pancadas que se
davào em hum sino se prostravào por
terra, e se encensavào huns aos outros,
dizendo em voz alta, como quem canta
entoado, Hixapu alitau xucabim tamy
tamy ora pani magno, que quer dizer,
chegue a ty nosso brado assi como chey-
ro suave, porque nos ouças.» Idem, Ibi-
dem, cap. 122. — «Passado este dia com
grade alvoroço de todos para se ver esta
entrega ; logo ao outro pela menham o
dopo dei Rey, que era a sua estancia,
apareceo com oitenta e seys tendas de
campo muyto ricas, cada huma das quais
rodeavão trinta elifantes postos em ala de
duas fileyras a modo de guerra com seus
castellos embàdeyrados, e panouras nas
trombas.» Ibidem, cap. 149. — «Passado
esto termo dos sinco dias, o Chaem cõ os
Anchacis do governo, e cõ toda a gente
do povo (digo homens somente, porque as
mulheres tem elles para si que não saõ
capazes de Deos as ouvir pela desobe-
diência do primeyro peccado, que Eva
cõmetteu) rodeando com huma espàtosa
procissão as principaes ruas de toda a Ci-
dade, com clamores que rompiaõ o Ceo,
diziaõ os seus sacerdotes, que seriaõ mais
de sinco mil.» Ibidem, cap. 222.
— Andar cm roda.
— Rodear a ilha por fora ; navegar.
— Cercar em roda, banhar.
— Rodear para aprisionar, agarrar, to-
mar,
— • Estar posto á roda.
— Fazer passar por uma serie de
acontecimentos alternados.
— Cingir, cercar. — Rodear uma quin-
ta de muros.
— Passear á roda, andar cm redor.
— Gyrar. — A terra rodeia o sol.
— Rodear razões ; usar de rodeios para
dizer as cousas.
— Rodear a casa; olhal-a toda.
— Rodear caminhos; ir não directa-
mente, mas seguir rodeios e voltas.
— Rodear com a vista; olhar em roda
os objectos circumstantes.
— Rodear um logar com os olhos ; olhar
por todos 03 lados, ou em roda.
— V. n. Andar em roda.
— Figuradamente : Gyrar. — Rodear
o anno.
— Emprega-se também substantiva-
mente : O rodear dos annos.
— Rodear-se, i". rejl. Cercar-se. — «E
como a manhàa foy clara, juntos em con-
selho todos os que para isso foraõ chama-
dos, assentaram que visto como himia
cousa tào grandiosa como aquella, e que
de si mostrava hum apparato, e mages-
tade tamanha, não parecia possivel que
estivesse sem alguma gente que a guar-
dasse ; lhes parecia bom conselho que com
todo o silencio possÍA'el se rodeasse pri-
meyro toda por fora para se ver as en-
tradas que tinha.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 74.
-{- RODEIAR, V. a. e n. Vid. Rodear.
— nSe vos parece — tornou Ranimiro — •
rodeiaremos a Ilha Verde, entraremos no
canal, e saltareis na margem. Pelo tem-
]io que vai, ella estará agora esmaltada
de verdura e boninas.» A. HercuIar:o,
Eurico, cap. G.
322
RODE
RODI
ROED
Kl), Fernando, a inonma calma,
mal «Rnto o iiu(i ou rodr.io ;
Jfirtii ! c.imanlio (inloio
vCr (!»tar arílcmlo iiina alma
antro rccoio o rcooio !
ANTÓNIO rRESTE», AUTOS, pag. 297.
f RODEIO, s. m. Viil. Rodêo.
Ja lio MoiiJogo HA águas apparcccm
A mouH ollioá, não moa», nntoí allieioi,
Qno do outras dilVcrcntes vindo cheios,
Na «ua branda vista inda mais crccc.m.
Parnoi- quo também for<;adiis ducnm,
Segundo se dotem cm seus rodeion.
Triste! por quantos modos, quantos meios,
As minhas saudades me entristecem !
CAM., SONETOS, n." 111.
Guardc-nos Doos, o por tanto
do comprir o manilamento
— não cubicarás o alheio - -
me arma agora um rodeio
do ripar-me o mantimento
que l>cos me deu, se lhe aprougiie.
ANTÓNIO PKEsrEs, Auros, pag. 143.
Amor ferir de rodeio
por amor se lhe supporta ;
mas que cu rodeasse a porta
d'onde me sou golpe veio,
é matar moura já morta.
iniDEji, pag. 173.
RODEIRA, s. /. A religiosa, que assiste
á roda nos conventos, e responde a quem
a chama.
— Caminho por onde v.ão carros.
RODEIRO, A, adj. — Mac.o, malho rodei-
ro; maço grande usado pelos segeiros e
carpinteiros de carro para ajustarem as
rodas, a cunhar as cabeças dos eixos,
etc, em obras que se chegam, e calcam
a golpes pesados.
— /6í. m. phir. Rodas nos eixos, sem
leito.
RODELHAS, s. f. lylur. Termo de ma-
rinha. Anneis de cabo que cingem as
vergas para não correrem os envergues.
RODELLA, s. /. Diminutivo de Roda.
Escudo redondo, broquel. — «Andaõ nús
da cinta pêra riba, e pêra baixo andão
cachados com pannos de soda, e algodão,
trazem sempre espadas, c rodellas, ar-
ques, frechas, e lanças, o também espin-
gardas que ja has vsauau neste tempo,
ainda que poucas, mas agora tom muitas,
e muito boas, feitas na mesma terra.»
Damião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 1, cap. 42. — «Do maneira, que
em hum Navio os mais levaõ espadas, e
rodellas, o vaij poucos tiros de fogo, o
nenhuns mosquetes.» Manoel Sovcrim de
Faria, Noticias de Portugal, Dise. 2, § 2.
— Uma vasilha.
— Rodella de matto; mouta.
— Osso circular e movediço existente
na parte anterior do joelho.
RODELLEIRO, A, <("//. Armado de ro-
della.
— Carrapato rodelleiro ; carrapato cha-
to, redondo.
— Substantivamente: Um rodelleiro.
RODELLINHA, «. /. Diminutivo de Ro-
della. K^della jiiMjiiona.
RODELO, «. >n. Tomba na bota, ou no
sap.-itc
RODENDO, s. m. Tornio do historia na-
tural. Peixe de uma 8(') espinha, á seme-
lhança do enxarroeo: existe na Africa,
na Cafr.aria, c no rio de Zaiiabezc.
RODÊO, ou RODEIO, s. m. Volta no ca-
Miiidio, rctirandii-.se da estrada mais bre-
ve. — «Não querem estrada coimbrãa, e
camiidio direyto, buscão rodeos, (; ata-
lhos, em quo se perdem, confundindo, o
que querem ;lÍ7,cr.» Francisco Rodrigues
Lobo, Corte na aldêa, pag. ú3.
— Rodeio de palavras; nome dado pe-
los rhetoricos á periphrase, circumlocu-
ção.
— Volta, g)T0 em roda de alguma
cousa.
— Rodeios do rio ; que retalha o cam-
po, fazendo voltas, serpeando.
— Rodeio do montante; que se manda
em roda.
— Fazer as cousas buscando rodeios ;
fazel-as não directamente, mas por enco-
bertas, e terceiras pessoas.
— Andar de rodeio, pôr-se de rodeio
710 ar; na volateria, subir a ave, fazen-
do voltas ou gyros em firma de espiral.
— Rodeio no obrar ; quando se não faz
directamente, o logo, o que se devia fa-
zer.
— Levar a vista em rodeio ; olhar em
roda, ou com disfarce.
RODETA, s. f. Diminutivo de Roda.
Roíla pequena.
RODETE, s. m. Vid. Rodizio.
RODICIO, s. »!. Roseta collocada no
remate das disciplinas,
RODILHA, s. /. Circulo ou rosca de
pannos, que os carregadores coUoeam á
cabeça, e n'ella assentam a carga para
os nào magoar.
— Bolo de rodilha; com repolegos, e
enfeites.
— Rodella do joelho.
— Farrapo da cozinha.
— Ad.\(uo e pkoveubio:
— Furtar gallinha, apregoar rodilha.
RODILHADO, .«. m. Termo antiquado.
Panno atado em roda da cabeça para
dormir, e suster o cabello. — Este ho-
mem para melhor dormir, serviu-se de um
rodilhado.
RODILHÃO, *'. m. Augmentativo de
Rodilha. Rodilha grande.
— Roda pequena usada nos carrinhos
pequenos de mão, nas zorras, etc.
— Uma peça da atafona.
RODINHA, í. /. Diminutivo de Roda.
Roda pequena.
RODIO, ou RHODIO, s. m. Termo de
metal 1 urgia. Metal descoberto em a pla-
tina do eonnnereio : é branco, infusivel,
quebradiço, nào dúctil, c difficilmente
oxvdavel.
RODÍZIO, f. m. Pau groMO cónico, ou
em ftrma de fuso, cuja base assenta no
clião; n'ella tem umas travessa» chama-
das pcnnas, onde dá a agua, e faz andar
o rodizio, e este faz gyrar a roda do
moiniio.
— C<;rto jogo.
RODO, t, ni. Espécie do enxada, ten-
do cabo, c uma taboa em vez do forro,
que serve para ajuntar o trigo na eira
ou celleiro.
— IjOV. ai>v.: a rodo; cm grande
abund.-incia <; pelo cliào.
RODOFOLLE, <m RODEFOLLE, «. w. Re-
de em f Jrma «le funil, tendo a bocca aber-
ta por meio de um arco em que se cose,
que serve de apanhar o peixe que anda
8obre-agua<lo com a coca, bem como de
apanhar o pulgão, sacudindo no rodofolle
a videira. No Brazil ciiama-se jarere ou
poça, porém este propriamente é maior
que aqiielle.
RODOMA, .«. /. Vid. Redoma.
RODOMOINHO, s. m. Vid. Redemoinho.
RODOPELLO, í. m. — Ao rodopello ;
ao redor, cm roda.
RODOPIADO, A, adj. Quo g^ra em cor-
roi)io, cm roda viva. — Rodopiado /imo.
RODOPIO, s. m. Redemoinho de cabel-
lo nas bestas.
— Trazer alguém ao rodopio ; fazel-o
andar em roda viva, em trabalho e pres-
sa, sem descanço.
— Roda viva.
— Vertigem.
RODOR. Vid. Redor, termo mais usa-
do.
RODOVALHO, *. m. Termo de zoologia.
Peixe marítimo, de natureza chato, ten-
do as costas pardas, bocca rasgada, e
desdentada.
— Ha uma espécie do rodovalho, co-
nhecida pelo nome de pregado, que tem
espinhas nas escamas.
ROEDEIRO, s. m. Termo de volateria.
Peça com que o caçador levanta o fal-
cão, quando está comendo a vianda que
lhe deram.
ROEDOR, A, adj. o s. Que roe. — 5»-
ch'> roedor d<i consciência.
— Figuiadamente: Cuidados roedo-
res.
Que sccna encantadora aos olho? nasce !
Vc par em par as portasse franqnoào
Do Templo dalogria. o bando espesso
De mil cuidados roedore» foge.
J. A. DE MACEDO, A NATVBIIA, Caut. 1.
— Figuradamente: Que censura, que
diz mal.
— »!>. «1. ;'/iir. Termo de zoologia. Fa-
milia de mammiferos, comprehendcndo
um grande numero de géneros, caractc-
risados geralmente por dous grandes den-
tes incisivos cm cada maxilla, seguidos de
um considerável vazio até os moilares. que
tem nmas vezes cheios de tubérculos, ou-
ROGA
ROGA
ROGA
323
trás vezes com as coroas cliatas, havendo
stj um pequeno numero, que os tem com
pontas. Sào assim denominados, porque
comom roendo o alimento com os dentes
incisivos. Pertençam a esta familia as le-
bres, 03 esquilos, os castores, etc.
ROEDURA, s. /. (De roer, com o suffi-
xo «dura»). Acto de roer.
— Ferida produzida pelo roçado força-
do de algum corpo áspero pela carne.
ROEL, s. m. Termo de braz.ào. Vid.
Arruella.
ROER, r. a. (Do latim rodere). Cortar
a miúdo com os dentes. — O cão roeu o
osso.
Que roas.
Pois não digo cu matal-a,
mas sobre morta chuchal-a ;
c não fora mau, scoliora,
que mo csmecháreis agora
com um argola.
AJÍTOXIO PBE3TES, AUTOS, pSg- 159.
— «Falta o roer as unhas, grande fon-
te de consoantes, fértil campo de alegres
despropósitos ; mas o author nào faz co-
plas por officio, e só de curiosidade, como
o conde Lucano, que disse, perguntado :
Jlazeis coplas.» B'spo do Grão Pará, Me-
morias, publicadas por Camillo Castello
Branco, pag. õõ. — «A amarra em bre-
uc tempo se roeu, e cortou, porque o
masto grande que ficou ao longo delia, a
desfez em mil pedaços. Após esta lança-
mos outra sobre que estiuemos atè pela
menhaà; gastando a noite em baptizar
escrauos, que inda não erào Christ<ão3, e
em confessar os Sacerdotes toda a gente
da nào, segundo que cada hum milhor
podia.» Fr. Gaspar de S. Bernardino,
Itinerário da índia, cap. 1.
— Figuradamente : Murmurar, maldi-
zer.
— Gastar, consumir. — O tempo tudo
róe.
— Figuradamente : AíBigir, inquietar,
molestar, picar, pungir. — Este crime róe
a consciência, como testemunha Jiel das
acções do homem.
■ — Figuradamente: Roer cadeados ; sof-
frer-se com a sua raiva.
— Adágios e peovekbios :
— Osso que acabes de comer, nào o tor-
nes a roer.
— Dizer bem por diante, e roer por
detraz.
ROFA, s. /. No jogo dos presos a rofa
é a menor sorte com encontro.
1.) ROFO, s. ?/i. Prega, ou aspereza da
superfície; crespidão, arruga, franzido na
pelle.
2.) ROFO, A, adj. Que tem a superfí-
cie áspera, sem polido. — Prata rofa.
ROGAÇÕES, s. f. plur. (Do latim ro-
gatio, de rogare). Termo de liturgia catho-
lica. Preces publicas e procissões pelos
bens da terra, durante os três dias que
precedem a Ascensão.
— Termo de antiguidade romana.
Projecto de lei apresentado ao povo. —
A famosa rogação de Manilio, que con-
cedia a Pompeu poderes mui amplos, foi
sustentada por Cicero no discurso pela
lei manilia.
ROGADO, part. pass. de Rogar. Pedido
por graça, favor.
ROGADOR A, s. (Do latim rogator).
Pessoa que roga, que pede. — Maria Vir-
gem, rogadora nossa.
— Pessoa que serve de empenho para
obter alguma graça.
— Rogador de males a outrem; im-
precadur.
— Advogado, medianeiro, intercessor.
— Maria SS., rogadora dos peccadores.
■ — No século XIV e xv tomavam-se em
ambos 03 géneros, masculino e feminino,
muitos nomes derivados de verbos, como :
servidor, procurador, governador, rogador,
etc. — Entregamos nossas almas a Deus
e a Santa Maria rogador dos peccadores.
ROGAL, adj. 2 <jen. (Do latim rogalis).
De fogueira, ou pyra de queimar os mor-
tos, ou pertencente a ella.
ROGAR, i'. a. (Do latim rogare). Pedir
por graça e mercê alguma cousa. — « Al-
bayzar lhe atalhou aquellas palavras,
porque nào era n'elle softrer nenhumas
em seu louvor e rogou-lhe quizesse dizer
porque via Astribor alli viera t3r e a re-
zão porque a prendera.» Francisco de
Moraes, Palmeirim de Inglaterra, cap. 96.
— « Polinarda lhe fez muita hom"a e ga-
salhado, dando-lhe jóias e peças de sua
pessoa de grani preço : rogando-lhe que
de sua parte oftereeesse sua amizade a
Lionarda, e lhe pedia que por fazer mer-
cê a ella, fízesse a vinda mais breve. »
Ibidem, cap. 104. — « Amigo Selvião,
bem vês a fortuna a que minha vida vai
offerecida, e quanto á minha honra con-
vém esta viagem, pois esse cavallo não
está pêra me puder aturar, rogo-te que
chegues ao primeiro porto do mar que
achares, e tomando um navio te embarca
para a Ilha Profunda, que foi do gigante
Bravorante, pai de Calfurnio, que ahi
acharás novas de mim se o tempo nào
me estorva a jornada. » Ibidem, cap. 115.
— « E já que de mim tendes entendida
esta vontade, vos rogo muyto, que con-
formeis a vossa com ella e que queira hum
de vós ambos yr a Bungo ver este Rey
que cu tenho por pay e senhor, porque
estoutro a que dey nome e ser de paren-
te não o ey de apartar de mim até que
de todo me não insine a tirar como elJe.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações,
cap. 135. — « E depois de mandar publi-
car a carta que el Rey lhe mandara, nos
disse, rogovos muyto por amor de mym
que já que Deos vos fez tamanha mercê,
lha saibais agradecer, com lhe dardes
inuytas graças e louvores por ella, por-
que se vos achar agradecidos, communi-
carvosha de lá de cima donde tudo proce-
de.» Idem, Ibidem, cap. 142. — « R. Eu
roguei a Diogo de Mello, que emprestas-
se dinheiro a ElRey, porque sempre tra-
balhei por V. A. ser pago de suas divi-
das; e se o elle ha por mal, perdoe-me.» .
Diogo de Couto, Década 4, liv. 6, cap. 8.
— «Deuia de não exprimentar esta verda-
de, como cu algumas vezes fiz rogando
ao Nayre o fízesse deitar, e erguer como
fez. Entendem a lingoa que se usa na
Pátria, e qualquer outra que lhe ensi-
nem.» Fr. Gaspar de S. Bernardino, Itine-
rário da índia, cap. 15.
E tão grave temor a frecha imiga
Da chusma pôz então no fraco peito.
Que nenhum Capitão sabe que diga
Que por falta de remo perde o feito :
Hum roga, outro ameaça, outro castiga.
Mas toda a diligencia he sem proveito,
Que a chusma teme mais do moço o braço
Que o castigo dos seus, ou ameaço.
F. DE ANDRADE, PRIMEIRO CEBCO DH DIU, Caut.
7, est. 3G.
E vendo emfim que em vão tem consumido
Rogo, mando, brandura, ou aspereza.
Por salvar um navio já perdido
Por medo de sua gente, e por fraqueza,
Parte d'um furor grande combatido.
Parte d'huma profunda, alta tristeza,
Deixa o que si5 não pode hum forte peito
Salvar, o lá á Cidade vai direito.
IDEM, IBIDEM, Caut. 11, CSt. 21.
— «Deixal-o, deixai-o estar em minha
desgraça, que primeiro que o castigasse
com ella, lhe roguei muito que me tomasse
por amigo entre os mais por quem me
deixou, e nunca quiz senão deixar-me por
seus amigos.» D. Francisco Manoel de
Mello, Carta de guia de casados.
— Fazer-se de rogar ; fazer-sc difficil
em conceder-lhe o que se pede, para lh'o
rogarem muito.
— Rogar pragas ; fazer imprecações
contra alguém.
— Pedir a Deus. — Rogar a Deus pelo
seu rei. — «Ordenou no anuo de mi), e
quinhentos, e sete doze mercearias, a
honrra dos doze Apóstolos, pagas na casa
da mina, para estes merceiros rogarem
a Deos por elle sem nenhuma outra obri-
gação, as quaes doze mercearias, com as
trinta caualarias que tinha ordenadas na
casa da índia, meteo na conta dos cin-
coenta caualleiros sem habito do modo
que fíca dito.» Damião de Góes, Chroni-
ca de D. Manuel, part. 4, cap. 86. — «Fo-
ra estas dizem outras muitas em que pe-
dem ao pouo venha á Mesquita rogar a
Deos pelo seu Rey, e lhe queyra acres-
centar seu pouo, e nação, e extinguir o
Christão, e nos dè a nòs perpetua guer-
ra, e a elles paz, e muytos bens n'esta
vida, e a gloria na outra em companhia
de ]\Iafoma. » Fr. Gaspar de S. Bernardi-
no, Itinerário da índia, cap. 10.
— Supplicar que se faça alguma cousa.
— «El-Rey com isto tornou de novo a to-
324
ROGA
mar 08 parccorcs dos ([uo aly iicariiõ com
ello, c llifs rogou a todos muvto, que
vistii por limuii parte a contradivào ilon
hiiuzKt, o por ijiitra o furando perigo cm
<iue Hoii lillio estava, e sn grandes dores
que sentia ILo aconsolliassoui o que faria
nesta perplexidade om que se nào sabia
dotenninar, c elles todos lho disseram
(pie iiiuvto uiillior era ser ourado logo
(pie csjierar o tempo que os bouzos de-
ziào. » Feriiào Mendes Piuto, Peregrina-
ções, eap. i;-57. — «Afonso Dalbuqnerquc
Uu; ])edio perdani por nào ter cumprido
eoni elle rogandolhe que desistisse daqucila
opiaiauí, porque nauí era serviço de Ueos,
nem dei Koy deixai lo ir a perder, e assi
o tinha assentado cm cousellio, porque as
cousas do Malaca eram de tanto peso que
80 auia mister para ella muito maior ar-
mada, e mais gente da com que so toma-
ra (!oa, mas quj llie pedia (pie o acom-
piuiUassc a ir buscar os Rumes.» Damiào
de (!ofs, Chrouica de D. Manuel, part. 3,
cap. K). — «Introduz este Toeta a Larie-
no, o qual uueamiuUiido o Catão em no-
me de todo o Exercito lhe roga que pois
que o Ceo os condusio ás visinhanças do
Templo de Júpiter Ammon, queira con-
sultar o Oráculo para saber (jual será o
successo das suas armas.» Cavalleiro de
Oliveira, Cartas, liv. 3, n." 11.
— AnAfíios E rmiVERBios:
A quem lias- Jc rogar, não has-de assa-
nhar.
— Assas caro compra, quem roga.
— Nào ha cousa que se rogue, que
nào seja cara.
— ()s males não vem rogados.
— Fazeis uma cousa, e rogaes a Deus
por outra.
— Quanto mais rogam ao ruim, peor t;.
— Quem te nào roga, nào vae á boJa.
— Quem deve, ou pague, ou rogue.
— Vào á missa os sapateiros, rogam a
Deus (|ue morram os carneiros.
— Roga ao santo, até passar o bai--
ranco.
— Melhor é comprar, que rogar.
— Qu;indo Deus não quer, santos nào
rogam. — « Quando Deus nào quer Santos
não rogão. A Triucesa foi batendo o fer-
ro, e ou deyxava malhar como se fosse
cm fan'o frio. » Cavalleiro d'01iveira, Car-
tas, liv. 1, n." 10.
— Syn. : Rogar, pedir. Vid. este ulti-
mo termo.
ROGATIVA, s. /. Supplica, pedido,
prece.
ROGATIVO, A, (J //. Que roga.
ROGATÓRIA, s. /. llogaçào, supplica,
podido, roi^ativa.
ROGATÓRIO, A, adj. Termo de antigui-
dade romana. Que diz respeito a uma ro
gai;ão. — As leis eiitre os romanos eram
sempre apresentadas ao povo sob a for-
ma rogatória.
— Carta rogatória; carta que o clero
e o povo de uma cgrcja dirigiam aos me-
IIOÍH;
tropolitanoH, para o.s convidar a consagrar
o bi.Hpo (|uc tinliam eleito.
ROCEIRA, ». /. Vi.l. ílageira.
ROGINAL, «. III. Termo antiíjuado. Ori-
ginal, u.tcriptura autograplia, c da primei-
ra mão, e íjue não leve exemplar algum,
a quem .seguis.se. Também se diz da pin-
tura, itc. ViiJ. Original.
ROGIR, r. H. Vid. Rugir.
ROGO, «. III. A ac(,ão de rogar, de pe-
dir alguma gra(;a, mercê, favor.
— i'edido, supplica, rogativa. — « Se
diz (pie Floriano trouxe sua tilba, eu o
confesso; mas foi por seu mandado e rogo
delia. Em lim, cu hei por tenqio perdido
dar desculpas neste caso; baste (jue o ca-
valleiro do Salvago não entregarei por
nenhum preço, se nào a quem o estimar
tanto como eu.i> Francisco de Moraes,
Palmeirim de Inglaterra, cap. 122.
O Rei O não cuidado estrago vendo,
As mortes, e o temor do seus notando,
K tiinto cm breve cspa(;o entregue ao fogo,
A soberba (íon verte cm brando roífo.
SÁ DK UENKZES, MALACA CONQ., 1ÍV. Ò, CSt. '
— « Emquanto cl Rei viueo sempre seu
desejo, e vontade foi passar em Africa,
pêra pessoalmente fazer guerra aos Mou-
ros, mas o tempo, o sucesso delle nunca
lhe quis a isso dar azo, o que no anuo
M. D. iij. quisera poer em obra, com a
mesma companhia, com que o dantes ti-
nha ordenado, quando per rogo do Fapa
mandou socorro aos Veuezeanos contra o
Turco, quomo atras tiiiua dito.» Damião
de Coes, Chronica de D. Manoel, part. 1,
cap. tiã. — « E porque temeo (juc o rogo
auia de obrar nelle mui pouco, mandou
logo nas costas do recado três capitães em
seus batéis que dessem em algum lugar sem
lhe fazer damno por serem terras d'elKey
de Cambava.» João de Barros, Década
2, liv. 3, cap. Ò. — « E pêra ser certo de
lha darem, e haver resposta, mandou-a
per hum Moiu-o mercador, que já em ou-
tro tempo fora seu cativo, c a rogo de
Meli([ue Az Senhor de Dio lhe dera li-
berdade juntamente com outros que fo-
ram tomados em huma não.» Ibidem,
liv. 8, cap. 3. — «Seu irmão Ismael foy
obedecido, e jiu-ado por Rey : mas tanto
que se vio no goueruo, ou fosse a instan-
cia, o rogo do Turco, (,ou por sua má in-
clinação; ellc mandou se guardasse a se-
cta, no modo que os Turcos faziãu, sem
respeitar a deliração do auô, nem de Ale.»
Fr. Oaspar de S. Bernardino, Itinerário
da índia, cap. 21.
— Cartas de rogo; pedido, recoinmeu-
dação. — « E posto que algumas vezes
vejam Nossas Cartas de rogo pêra pocrem
prestemo a algum de Noss;i Corte, ou
qualquer outro. Mandamos que se nom
embarguem delias, nem ponhaui os ditos
prestemos, so o nom sentirem por sua
prol ; porque muitas vezes damos algumas
RruM
Cartas de rogo ]>or seus grandes affica-
meiítoH, de que Nos com junta razom noin
polónios escui<ar. > Ordenações Affonsinas,
liv. 4, tit. Ii4, § 2.
— Dava-pc tamisem este nfnne, no f<jral
diis tSalzcl.ix, á geira ou gcira^ que os
moradores do couto s.lo (abrigados s dar
ao mosteiro. Ainda depíHS ho dÍH«e: <ai»-
tos ou ijuatitoê rogos por ijtira. — • E para
cstaH duas geiras, a que cliamain rogo,
recebem moços e moças, ainda que t>ejum
pe(|ueno8, comti ftrem para vindimar, 'hi
apaniiar azeite, ou castanha.» Em Viter-
bo, Elucid.
— AuA(;ios K puovKKbios:
— A coiLsa mal feita, rogo ou peita.
— Rogo e direito fazem o feito.
— Rogo de grande, mandamento i.
— Rogos de rei, mandados .são.
1.) roído, part. pass. de Roer. Coru-
do miudamente com os dentty».
— Gasto, consumido. — O feiío roido
pela ferrugem.
— Figuradamente: Inquietado, moles-
tado, pungido. — Consciência roida pelo
crime.
— Murnuirado, maldito.
2.) roído, «. m. Vid. Ruido.
ROIM, <idj. 2 geií. Vid. Ruim. — t .Sete
meses auia que Emina mãy do Mafoma
andaua delle pejada, quando lhe faleceo
o pay; que cuydo atè elle se correo ver
Com seus olhos nesta vida, hum tão roim
tilho. Dali a dous sahio ao mundo este
monstro infernal : a cuja nascença se achou
presente hum tio seu, irmão da mSy por
nome Baheyra grandíssimo Magico, e As-
trólogo.» Fr. Gaspar de S. Bernardino,
Itinerário da índia, cap. 20.
— Adágios e pkoveubios:
— O roim cuida que é industria a mal-
dade.
— Roim seja por quem ficar.
— Todos ao roim, e o roim a todos.
— Ao roim, roim c meio.
— De roim gosto nunca bom feito.
— De roim nunca bom bocailo.
— Não ha tão roim tena, que não te-
nha alguma virtude.
— De roim panno nunca bom saio.
— Quem não se louva, de roim se
afoga.
— Fallaes no roim, logo apparece.
— Um roim com outro se quer.
— Um roim conhece outro roim.
— Quem quizer conhecer o roim, dt--
Ihe officio.
— De roim a roim pouca é a melhoria.
— De roim a roim, queui accommette,
vence.
— Dadiva de roim a seu dono parece.
— Jlette o roim em teu palheiro, que-
rerá ser teu herdeiro.
— Gout« roim não ha mister chocalho.
— A dous roins, e dous tições, nunca
bem lhe compões.
— Ao roim, quanto mais o rogam, tan-
to mais se estende.
ROJO
ROLA
ROLD
— Quem roim c em sua terra, roim ê
fora tUelia.
— Um roim se nos vai da porta, outro
vem, que nos consola.
— (_) mais roim do logar porlia mais
no fallar.
— Nem roim letrado, nem roim fidal-
go, nem roim galgo.
— O roim me compre o amigo, que o
bom bago é vendido.
— Por cobiea de ilorim não te cases
com roim.
— Nunca roim por compadre.
• — ■ Em roim gado, nào ha que escolher.
— Roim senhor, cria roim servidor.
— A roim ovelha do fato suja a terra.
— O roim se assenta na mesa, talhada
que toma, a todos pesa.
— A cada roim, seu dia mau.
— Melhor é dar a ruins, que pedir a
bons.
— De roim moça um bolo basta.
— Quem dá, bem vende, se nào é roim
o que recebe.
— Por abril dorme o moco roim, e por
maio o moço e o amo.
— Do bom tudo, e do roim nada.
— De roim ninho sahe bom passarinho.
— Em roim villa briga cada dia.
— Quem muito falia, e pouco entende,
por roim se vende.
• — Roim é a festa, que nào tem oitavas,
ROIO, s. í/2. Vid. Arroio.
ROISINHOR, *. m. Vid. Rouxinol.
ROIXEAR, V. a. Vid. Rouxear.
ROIXO, A, adj. Vid. Rouxo, e Roxo.
ROIXINOL, s. m. Vid. Rouxinol.
ROJADA, s. f. Vid. Rajada.
ROJADO, A, adj. Termo antiquado.
Torrado, assado.
— Pavt. pass. de Rojar. Arrastado
pelo chão, trazido de rastos.
RGJADOR, A, adj. (De rojar, e o sufi-
xo dor;. Que se arrasta, que se roja á si-
milhança dos reptis, caracoes, serpentes,
etc.
ROJALGAR, s. m. Vid. Rosalgar.
ROJÃO, s. m. Acção de arrojar, de ar-
rastar pelo chão.
— Loc. : A rojões. — Levar a rojões ;
tirar, levar arrastando. Vid. Arrojão.
— Termo popular. Toque rasgado na
viola.
• — Garrochào.
— Plur. Torresmos.
ROJAR, V. a. Arrastar alguma cousa
roçando por outra. — Rojar uma cadeira,
mesa, etc.
— V. n. Arrastar pelo chào. — ■ A ser-
pente roja. — O vestido roja.
— Figuradamente: Rastejar, andar
arrastado, abatido.
ROJEIRA, s. f. Vid. Rageira.
RO JEITO. Vid. Rejeito.
ROJO, s. J7i. A acção de arrastar-se al-
guma cousa roçando sobre outra.
— Loc. : Ir, ou trazer a, ou de rojo ;
ir, ou trazer de rastos, arrastando.
— O som produzido pelo corpo que se
arrasta.
— Pau, ou madeira de rojo; pau, ou
madeira extrahida das mattas arrastando
por sua grandeza e longor, nào podendo
vir em carga de carro, ou boi. Outros di-
zem jorro, e de jorro zorra de arrastar
madeira.
ROL, s. m. (Do francez role). Aponta-
mento de nomes, de pessoas, de cousas,
de artigos, sommas, etc. — O rol da rou-
pa que se dá semanalmente á lavadeira.
— (J rol do numero das pijssoas da fami-
lia. — O rol dos culpados na devassa.
— Termo de volateria. Peça de couro,
em que se atam azas de aves, e corpau-
ços de galliuhas, com que o caçador cha-
ma o faleào que anda voando.
— Roes de pejados. Vid. Pejado.
ROLA, s. /. Certa espécie de pomba.
— «O Zeimoto vendoos tão pasmados, e
o Nautoquim tão contente, fez perante
elles três tiros em que matou hum milha-
no e duas rolas, e por não gastar pala-
vras no encarecimento d'este negocio.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações,
cap. 134. — «Ora em ver as suas festas,
as suas casas de oraçaõ, os seus exerei-
cios de guerra, os seus navios darmada,
e as suas pescarias e caças a que saij
muyto aífeiçoados, principalmente ás de
alienaria com falcoeiís e açores ao nusso
modo, e algumas vezes passava também
o tempo com a minha espingarda, matan-
do muytas rolas, e pombos, e codornizes,
de que a terra era bem abastada.» Ibi-
dem, cap. loU.
— Um viveiro de rolas ; casa onde el-
las se criam. — «Para que rasga Ollan-
da, onde basta linho? Para que come ga-
linhas, e perdizes, e tem viveiro de rolas,
se pode passar com vaca, e carneiro ?
Para que dispende em doces, e conser-
vas, o que bastava para cazar muitas or-
fansV» Arte de furtar, cap. 43,
— Adagio e pkoverbio :
— Bem sabe a rola, em que mào
pousa.
ROLAÇÃO, s. /. Termo usado nas Orde-
nações Affousiuas em vez de Relação.
ROLAÇOM, s. m. Termo antiquado. O
mesmo que auto de vereação nas cama-
rás, ou audiência dos juizes para despa-
charem as causas em conselho.
ROLADO, imrt. pass, de Rolar. Mo-
vido.
— - Figuradamente : Navio rolado pelas
ondas e ventos impetuosos.
ROLÃO, s. m. Parte que se separa do
trigo moido, melhor que o farelo, e infe-
rior á farinha. Parece melhor dever pro-
nunciar-se rairio, por ser originado de
rala, pão, farinha grosseiramente moida.
— Figuradamente : Gente do popula-
cho.
ROLANTE, ijart. act. de Rolar. Que
rola,
— Que se move dando volta sobre si.
— Que se enrola. — Ondas rolantes.
— Termo de miiicia. Foi/o rolante;
fogo que a areabnzcria faz e dispara suc-
cessivamente por pellotões, continuo e .
sem interrupção á similhança das ondas
que soam rolando successivamente contra
a praia, ou recife, contra a costa.
ROLAR, i'. a. (Do fi-ancez rouler). Mo-
ver alguma cousa revolvendo-a sobre si.
— Rolar galgas de pedras; rodal-as,
precipital-as.
— Cortar tudo em roda.
— Figui-adamente : As ondas, c os ven-
tos impetuosos rolaram o navio.
— ■ V. n. Mover-se alguma cousa dan-
do voltas sobre si.
Acabou de beber : c pouco a pouco
O veneno se actua dentro na alma.
Uma chama subtil, ura \nvo fogo
Lentamente se ateia: arde em desejos
De ir o Bispo buscar, de offerecer-lhe
O mais activo incenso ; mil obséquios
Ka cabeça lhe rolaõ, o o transportai).
A. DIXIZ DA CRUZ, HYSSOPB, Cant. 1.
— Rolar o mar; envolver-se, fazer rolo
quando está grosso, ou quando correndo
as ondas para a praia formam uns como
rolos. — O mar rola.
— Figuradamente : Rolar o tempo.
— Diz-se da voz das pombas.
— Substantivamente : O rolar das pom-
bas.
ROLDA, s. /. Termo antiquado. Ronda.
— « Ha em cada tronco soo pêra os con-
denados aa morte, cento e vinte homens
que servem de vigias e tem sobro si hum
Louthia como seu capitam, ou como so-
bre roída. Sam os troncos huns grandes
encerramentos cercados de muro alto de
pedra. D Fr. (Jaspar da Cruz, Tratado das
cousas da China, cap. 21. — «Tàto que
nos tlverão atados, a gente de pé nos fe-
chou a todos no meyo, e os de cavallo
hiaõ diante correndo de huma parte para
a outra a modo de roídas.» Fernão Men-
des Pinto, Peregrinações, cap. 138.
ROLDADO, part. pass. de Roldar.
ROLDADOR, «. m. Termo antiquado.
Homem que anda de ronda.
ROLDANA, s. /. Termo de mechanica.
Moutào, ]iolé, roda.
ROLDÃO, s. m. Termo usado na se-
guinte locução adverbial : De roldão ; de
golpe, de sobresalto. — A gente entrou de
roldão. — « E abrindcse, como digo, estas
portas, toda a gente entrou de roldão em
huma grande casa a maneyra de igreija,
pintada toda dalto abaixo de diversas
pinturas, e estranhos modos de justiças
que algozes de gestos medonhos e espan-
tosos fazião em todo o género de gente, e
com letreyros ao pé de cada huma das
pinturas que dezião, por este tal caso se
dá este tal género de morte.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 103.
— Figuradamente: Com a luxuria en-
tram de roldão todos os outros vicios.
320
lioi.ll
ROLDAR, i'. fi. 'IV-rino antif|ua(lo. Ron-
tl,i,.. _ Koldar a 'jji<t<;n. — "K acodiíi.lo
àquollii iiartc, tlirtso ii Cliristovuõ ih; S:i,
e a outros cavalloinw, ((iio com cUc osta-
vaõ, qm; acoili.sHciu às easM aoiido os
Mouros cstavau inotulos, c ellc foy roldar
as oitaiicias aoiulc ouvia pramles pritas.
Oa 110930) tanto que souberaõ Odtarcin
Mouros nas casas, se foraõ huns poucos a
ellos, o sobinilo-BO om cima dos tolliados
os (lostolliíiraõ, e com as csi)iní,Mnlas naõ
faziaõ 8CHUÕ dorriliar uoUcs.» Diogo du
Couto, Década (í, liv. 9, cai). '^•
ROLEIRA, s. f. Mulher que faz o rol.
— Palmatória, que servo jiara n'ella so
collocai- o nild do accoudor.
1.) ROLEIfvO, s. m. Homem que faz o
rol.
— Homem quo faz rolos.
2.) ROLEIRO, A, a,lj. Q.uo rola.
— Mitr roleiro; mar quo auda em al-
voroço rolando muito as ondas.
— Mar cm que rolam muitas ondas,
navio que não se aírueuta para barlaven-
to, o descáe de mais para sotavento om
consequência do mar que rola sobre elle.
f ROLETA, ."i. /. Termo de jogo. Jogo
que consisto em uma mesa, contendo no
centro uma circumferoncia numerada, e
ao lado direito d'oss:i circumferencia exis-
te, em pequenos quadrados, uma longa se-
rie de algarismos gravados sobre a mes-
ma mesa, em alguns dos qnacs coUoca-se
\ima parada, fazendo-se gyrar depois so-
bre a circumferencia uma pequena bola,
que depois de ter perdido toda a sua vo-
lociJado deve caliir sobre um numero
qualquer da circumforeneia; e, se esse nu-
mero corresponder ao numero onde pri-
mitivamonto se tinha coUocado a parada,
ganha-se, do conti'ario perde-se, ou sof-
from-se algumas modificações, segundo o
local onde existirem algumas paradas.
ROLETE, i'. III. Diminutivo de Rolo.
Pequeno rolo.
— Antigamente eram as tranças de
cabello, que as mulheres accunnilavam
no alto da cabeça, o a que TertuUiano
chama tnnibus verticcm, por se asseme-
lharem a uma torre. Outros lhe chama-
vam snirie, por sorcm enrolados a modo
do caracol. Ainda depois so praticou,
mormente em algumas cidailos de Hcs-
panha. Em outras torras tornou-so o ro-
lete em cabeça rapai la.
— Roleta da canna; uma divis.^io de nó
a nó.
— Instrumento quo serve para enfortir
os ehapóos. Vid. Enfortir.
ROLHA, 8. /. Tampa de cortiça, me-
tal, vidro, adaptada A bocca das garra-
fas, redomas, etc.
— Figurailamonte : !Z\'í-a»- rt rolha; fal-
lar o que não devia, commummentc por
medo, ou por decoro.
— Loc. FIG.: Metter uma rolha na
bocca ; CJilar-se, ter silencio forçado.
ROLHÃO, *'. "I. Augmentativo de Ro-
ROMA
lha. Instrumento UHado pelo» pctlrciros,
para a conducçào das pedras com menos
traiialho.
ROLHAR, V. a. Tapar, fechar com ro-
lha. — Rolhar Um unta garrafa.
ROLHEIRO, ». Til. Torrente do agua ar-
rebatadíssima. Vid. Rilheiro, que c diflc-
rente.
1.) ROLHO, s. m. llodella do joelho. —
«Do sapatos de mulheres até cerca de
rolho de altura, com boa sola e vira, se
pagará de par 45 reis.» Em Viterbo,
Eluc.
— Talvez se deva entender, segundo
alguns auctores, antes o tornozelo.
•2.) ROLHO, A, adj. Nutrido, carnudo,
gordo. — Cavallo rolho. — Ilomein ro-
lho.
ROLIÇO, A, adj. Que tem a forma de
um rolo cylindrico.
— Termo popular. Kutrido, nédio, car-
nudo. — ILimem roliço.
ROLIM. Vid. Roolira.
ROLINHO, *. m. Diminutivo de Rolo.
Rolo pequeno.
ROLO, s. m. Peça longa, redonda cm
todo o seu comprimento, il maneira de
uma vela, canna.
— Pavio de cera que se enrola.
— Figuradamente: Cousa que envolta
sobre si tenha essa f n-ina. — Um rolo
d,; tabaco de fumo. — Um rolo de jjerga-
II linho.
— Rolo do mar; aquella parte d'el-
le, que se envolve, quando faz a resaca.
e se desenvolve, e espraia em lingua do
mar junto da praia, ou baixo sobre-agua-
do, perto de recife, terra. — Laiiçar-se
ao rolo do mar, — «1'oróm como elle nào
sabia andar, e o mar andava bravo, com
promessas de Pêro Mascarenhas, lançá-
ram-se no rolo delle hum ilarinheiro, e
hum Negro, e da prática que o mari-
nheiro teve com Mouros que achou da
terra, soube onde estiwam.» Barros, Dé-
cada 2, liv. 7, cap. 2.
— Termo de impressão. Um composto
de grude c melaço em forma de rolo, que
recebe a tinta, que depois se appliea ro-
lando sobre os tvpos : gvra dentro d'uma
trempo de ferro, tendo por cima dous ca-
bos de maileira: hoje usa-se em vez das
antigas balas.
— Coser em rolo as folhas dos autos ;
diz-s6 em opposição a coser em batideira,
enrolando, á semelhança dos pergaminhos
dos antigos manuscriptos.
— Rolo do boi, ou da vacca ; a parte da
perna desde o joelho para cima, até á
primeira noz.
— Figuradamente : O rolo dos que vão
pelejar; a multidão á semelhança das on-
das onde o mar rola.
ROM, s. m. Tinta de côr amarellada,
espécie de gomnia.
I ROMA, .«. m. (Do latim Rama). No-
me da cidade de Itália, que conquistou
o mundo inteiro ; fundou o maior dos im-
ROMA
perios, o tomou-t>e a capital do catholi-
cismo.
Nada vejo.
Acato ignorai)
Quem Ci-íar iiomcíou ;i dicUulura V
Que o Hciiado do JlomaT...
UÀaHcrr, <:àtI(i, act. 2, «c. 5.
Filho es Bo de Homa.
Devo...
IDIDKM, act. 3, 8C. 3.
Ordena-o Roma;
Vivirei, sim : — maiida-o Catào ; cu vivo.
Miis este Haii(;uc... oh itaiii^c abominável!
Km Hacrificio á morte cstíí votado.
lUlULU, BC. 4.
O tvranno de Unrna hcide immolar-tc.
("•h mfu pae, oh dirigf o polpc ardido,
Li'va-lh'o ao coração da tua vietima.
IDIDEU, BC. 7.
Bruto, esse nome qup te inlcva tanto.
NTio se illustrou assim. O ouro ciicondido
No bacuJo, era a imagem da prudcocia:
E com essa é que Roma foi liberta.
iBiDEu, act. 4, BC 2.
Filhoí do Roma,
Não meus, — filhos de Roma, c dignos d'ella,
Prnteja-vos o Deus que a desampara
Por ucssos crimes — o a vós voa àalvc,
Que innoccntos soií dVllcs.
IDIDKM, act. 5, 8C. 5.
Menos ingrata do que a nosia Roma,
E porque não iremos nós entre cUos
Procurar as fortuna.s de Sertório
EA no ertrfmo Occidcntc. n'cs!»ca montes
Ferozes de sua ingénua liberdade?
IBIDBIi, BU. 7.
Roma ! — Que o decretem
Os soberanos diíuses, Hruto deve,
Onde expirar Catão, morrer com elle.
lUIDEM, SC. 9.
— Adágios e provérbios :
— Nào irei pela pendência a Roma.
— Aonde está o papa, ahi ê Roma.
— Roma nào se fez n'um dia.
— Caminho de Roma, nem mula man-
sa nem bolsa vazia.
— Bem está S. Pedro em Roma.
— Uma figa ha em Roma, para quem
lhe dào, e nào toma.
— Dizem em Roma, que a mulher fie,
e coma.
— Quem tem boccA, vai a Roma.
ROMAGEM, s. /. Peregrinação devota
á casa d'algum santo. — Ir ik romagem
a alguma parte.
Porá os homens so criirio.
Pao folga á vossa passagem
Dhoje a mais :
Dcâcansae, jwis descansarão
Os quo pas-sjirão
Por esta mesma romagan
Quo levais.
OIL «OESTE, ACTO DA ALUA.
ROMA
— íO qual pelo comprazer me rogou
que lhe desse hum par de tiros para lhe
satisfazer aquelle apetite, a que respon-
dv que dous, e quatro, e cento, e quãtos
sua alteza mandasse; e porque elle neste
tempo estará comendo com seu pav, fi-
cou para despois que dormisse a sesta, o
qual inda aquelle dia não teve effeito,
porque fov aquella tarde com a Raynha
sua mày a hum pagode de grande roma-
gem, onde fozia huma festa pela saúde
dei Rev.» Fernão Mendes Pinto, Pere-
grinações, cap. 136.
Vc-lo-ha, o objecto de suspiros tantos,
De saudade tam longa, da romage
Devota ; mas so vc-lo, — ^e adeus eterno,
E para sempre adeus!... Cruéis lhe vedam
Mais que esse adeus. Voltou á praia, c morre.
G.vHBETT, CAMÕES, cant. 9, cap . 10.
ROMÃ, ou ROMÃA, ou ROMAN, s. f.
Termo de botânica. Fructo vulgar, ten-
do por fora uma casca verde, com suas
cores vermelhas, e coroada; e dentro uns
baguinhos de côr purpura, e sueco agra-
dável. Diz-se galo a porção que divide
uns dos outros.
— Termo de náutica. A parte mais
grossa do mastro ou mastaréo, onde as-
sentam 03 curvatões, cestos de gávea,
vaus, etc, para sobre elles assentarem
as encapelladuras das enxárcias, e mais
apparelhos tixos.
f ROMAICO, A, adj. Termo de his-
toria. Que pertence aos gregos moder-
nos.
— Língua romaica; idioma que falta-
vam os gregos modernos, mijrmente os
que habitavam a Morea, a Livadia, a
Thessalia, a ilha de Cândia, o Archipela-
go, uma parte da Albânia, da Macedónia,
da Romelia, da Ásia Menor, da ilha de
Chvpre, e alguns paizes da Valachia, da
Moldávia, da Syria, e do Egypto.
— Substantivamente: O grego moder-
no.
■j- ROMAIKA, s. f. Dança nacional dos
gregos modernos.
ROMANA, s.f. Balança que consiste em
um travessão de dous braços desegnaes;
o objecto que se tem de pesar está liga-
do ao mais curto, ao passo que um an-
nel movei tendo um peso, passa ligeiro
sobre um outro braço, até que pare no
ponto em que se faz equilibrio ao obje-
cto que tem de se pesar, e indica o peso
d'este objecto sobre uma escala gravada
no travessão.
— Termo de marinha. Instrumento em
forma de balança, que serve para medir
a força dos canaraos.
f ROMANAMENTE, adv.^ (De romano,
com o suffixo «mente»). À maneira dos
romanos.
ROMANCE, s. m. A lingua vulgar de
alguma terra.
— Antiga historia, escripta em versos
ROMA
simples e naturaes, cujo fundo é tocante,
e a forma apropriada ao canto.
• — Por excellencia, entende-se o por-
tuguez.
— Composição poética em que não ha
rimas, mas toantes, ou rimam-se os ver-
sos, terminando as duas vogaes ultimas
d'eÍle semelhantes.
— Toda a peça de verso moderno, ver-
sando sobre um assumpto terno, ou mes-
mo triste, e posta em musica.
— Ar no qual se canta um romance.
— Novellas, coutos fabulosos de amo-
res, 03 quaes começaram em verso ou lin-
gua romance ou vulgar. — « Ainda fico
com escrúpulo sobre a lição em que mui-
tas se occupam. O melhor livro é a almo-
fada, e o bastidor; mas nem por isso lhe
negarei o exercício delles. Estas que sem-
pre querem ler comedias, e que sabem
romances delias de cór, e os dizem ás ve-
zes entoados, não gabo.» D. Francisco
Manoel de Mello, Carta de guia de casa-
dos.
— Talvez se possa empregar também
como adiectivo: Um cantar- romance.
ROMANCEAR, v. a. Traduzir em lin-
gua vulgar.
— Introduzir no romance termos de
outras linguas, adoptados com alteração
similhante ao génio da lingua.
ROMANCEIRO, s. ;7i. Livro em que es-
tão incluiJos muitos romances.
— -Yid. Romancista.
ROMANCISMO, s. »i. Ficções, descri-
pções românticas.
ROMANCISTA, s. 2 gen. Auctor de ro-
mances modernos.
— Figuradamente : Diz-se d'aquelle cu-
jas idêas e theorias são chimericas como
um romance.
— Pessoa que somente sabe a sua lin-
gua, c ignora principalmente a latina.
ROMANESCAMENTE, adv. (De roma-
nesco, e o suffixo (í mente»}. De um modo
romanesco.
I ROMANESCO, A, adj. Que tem o cara-
cter de um romance; que é maravilhoso
como as aventuras de um romance, ou
exaltado como os personagens de um ro-
mance, como o sentimento que se lhe
presta. — Estylo romanesco. — Historia
romanesca. — Aventuras romanescas. —
Maneiras romanescas. — Paixão roma-
nesca. — Id(-a romanesca. — Gostos ro-
manescos. — O amor n'um, mancebo é
sempre romanesco. — Era nos campos
mormente que as disposições romanescas
de Joseph se desenvolviam com inais liber-
dade e encanto. — As pessoas romanes-
cas não são já d'este mundo. — Uma ima-
ginação viva não distingue as persona-
gens históricas das romanescas; ella re-
suscita-as todas. — ■ As mulheres que fa-
zem romances são geralmente mui pouco
romanescas. — Os costumes que seguem
sempre a carreira do luxo, subiram ao
tom d'esta magnijicencia romanesca.
ROMA
327
— Que tem romance, maravilhoso, fa-
buloso.
— Exaltado, chimerico como as per-
sonagens de um romance.
ROMANÍA, s. /. Termo usado n'esta lo--
cução adverbial : De romania ; de golpe,
de repente, de pancada. Vid. Redonda-
mente.
f ROMÂNICO, A, adj. Termo de philo-
logia romana. Lingua românica; o idio-
ma provençal.
ROMANINHO, A, adj. Diminutivo de
Romano.
f 1./ ROMANISAR, v. a. Transformar
em romano, fazer prevalecer a influencia
romana.
— • Termo de philologia. Escrever em
caracteres romanos as linguas orientaes,
mormente a árabe e a pérsica.
— V. n. Seguir os dogmas da egreja
romana.
2.) ROMANISAR, v. a. Dar uma appa-
rencia romanesca ao que se conta, trans-
formar em romance.
ROMANISCO, A, adj. Versado nas cou-
sas, e maneiras de negociar de Roma.
— Pintor romanisco ; pintor que imi-
ta o estvlo e eschola romana, diíferente
da flamenga, etc.
-j- ROMANISMO, s. m. Xorae dado em
Inglaterra á egreja romana.
f 1.) ROMANISTA, s. m. Partidário do
papa.
— Nome dado aos jurisconsultos que
se occupam do direito romano.
-}- 2.) ROMANISTA, s. m. Homem que
faz romances.
1.) ROMANO, 5. m. Termo de archite-
ctura. Uma folhagem do friso.
2.) ROMANO, A, adj. (Do latim rovm-
nus). Que pertence aos romanos ou á an-
tiga Roma. — Liiperador romano. — Ci-
dadão romano.
Alli vejo Epitccto, escravo humilde,
Mas livre mais que os Eeis, mais Soberano ;
Que a alma d"hum Filosofo não sente
Entro ferros cruéis do feiTO o peso.
Cuja frágil alampada de barro
Jijgou Romano Povo alto thesouro,
E jóia preciosissima entre as jóias,
A que o Mundo dar quer preço, e valia.
J. A. DE UACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 2.
SemproHio, tu es senador romano,
Eu um chefe de Numidas selvagens.
GABBETT, CATÃO, act. 4, SC. 4.
— Cidadão romano ; homem que goza-
va dos foros de cidade em Roma.
Foi tempo — ja lá vai — em que o cadáver
D'um cidadão romano, gottejando.
GABBETT, catão , act. 5, SC 3.
— Cidadão romano ; titulo que foi con-
cedido por extensão aos reis alliados, e
mesmo ás cidades e províncias da Itália.
— Btlleza romana ; mulher que tem
328
ROMA
ROMA
ROMA
BÍgnaes mui assignalados, e um ar nia-
gcstoflo.
— Diz-80 taml)ein iIhh coiisas. — Di-
reito romano. — Imperi» romano. — Tem-
plo romano. — O Kanijiin romano. — Cons-
tniiciíi romana. — ( '(n-ui-ào romano. —
JJ/jerilailc romana. — Virtudes romanas.
Soi tildo: — o tiidn n'.alma tenho iinproMo
Em fopo - ■ f|a(! iiUT,:<rt.iiitn ni'a dinora.
IMiiH 110 |)(■'.^o da Hoitíí ilida não curvo :
Ti-iilio 110 |ioito corinjào romano;
K oint|iianto a OHp.ada do tyniiiiio Ccsar
M'o iiiu) Hoiibur vai-ar, iiíio cedo a Ccsar.
O-AUUKTT, CATÃO, act. I, SC. 1.
Tua nobro constância ndiniro c louvo ;
Romana c, — romana dc-i.íos tempos
Que para sempre... seiíijire su acabaram.
Oli, 80 cila noa salvasse, Marco-Hnito !
IDIDKM.
Qiic disse eu! áiiianhan... ali, porventura
K.-íte sol (|uo alii nasce é o derradeiro
Que hiz sõlire a romana liberdade.
iniDKx, se. .').
Impossível ! Não é. — Todo aqui jorre
Na terra; e o coravão dcsalírontado
Do saiifíuc vil — romano e.^pirc ao menos.
IBlDKM, act. 3, SC. 3.
Kl otro antigo edifício
1'antéoii trniplo romano
quien le tiassó, quícu? mi mano;
qiiieii le labn'! ? mi officio ;
priiova mi Scbastiano.
ANTÓNIO rniiSTEs, AUTOS, pag. 71.
— Algarismos romanos; as letras de
que nos servimos para exprimir os nú-
meros 11 maneira dos romanos. E.stas le-
tras são: C, D, h, I, M, V, X. — Os nua-
(Irantes dos relógios e das pêndulas tem
ordinariamente algarismos romanos.
— Fifíuradaniciito : Que recorda a co-
ragem, a austeridade, c outras qualidades
dos antigos romanos. — Umafa<;unha ro-
mana. — O sentimento de uma alma ro-
mana.
— Diz-se tarabom das pessoas e das
cousas que pertencem ;l Roma moderna.
— A egreja romana. — A religião catho-
lira apostólica romana. — Jireviario ro-
mano.— Ritual romano. — Pontijical ro-
mano.— (.'alvndario romano. — Martyro-
Inijio romano. — Rito romano.
— Tmiio de historia. Republica voiaa.-
na; gcivorno aristocrático, ereado em úOi»
antes de Jesu-^ Christo.
— Império romano; governo monarchi-
00 introduzido com effeito em Roma por
Octaviano Ccsar, a quem o senado con-
cedeu o titulo de Augusto, no anuo oO
antes de Christo.
— Calendário romauo ; calendário pri-
mitivo de Roma. c que era cominuni a
esta cidade e a um rc.^to do Lacio; com-
puuha-so de ;504 dias divididos cm 10
mezes. Numa o reformou, o elevou o an-
uo até ;>;').') dias ou 12 mczes, com uma
intercalaçào todos os 4 ânuos.
— Comiidia romana; comedia em quo
se pintam earacteros romanos.
— Camarás e c/iancellarias romanas ;
compreliendo-so de ordinário a rcuniàu
iliis cnllcgios de adniinistra^-íto contrai c
de judicatura, (|ue compõem o governo do
pajia, e que <lccidem, em seii nome, to-
dos os negócios geraes que interessem ao
estado e ti egreja.
---S'. m. Habitante de Roma. — (Jm
romano.
K porque tanto imitam as antigas
< 'bras de nieus l!omann>, me olVcrcço
j\ Mie dar tanta ajuda em <|iiaiito posso,
A ((uanto se estender o poder nosso.
CAji., LL'5., cant. í), est. .'!7.
— «Entre 03 Romanos usava a Fami-
lia dos Torcatos do coilar de ouro, e os
Cincinnatos da cabelleira, porem naõ co-
mo armas, porque como c<msta de toda a
historia latina, as armas das Famílias Ro-
manas foraõ as imagens, e estatuas de
seu.i maiores, que tinhaõ nos patoos à
entrada das casas.» Jlanoel Severim de
Faria, Noticias de Portugal, Disc. .õ, 4} 3.
— otíaõ parte ilas Armas os Timbres,
que hoje se trazem sobre os Elmos, o
qual uso he antic|uissirao, assim entre os
Gregos, e Romanos, como nos Alemaens,
segundo se vè de muitos lugares de Vir-
gílio na guerra Troyana, e no Catalago
da gente, que veio em favor de Turno
contra Eneas.» Ibidem, S 17.— oSuc-
cederaõ estes Reys de Armas modernas
aos Antigos Feciales Romanos, que eraõ
os que publicavaõ as pazes, e guerras
nos Exércitos, de que faz inen(;aõ mui-
tas vezes Livio, e outros Authores Lati-
nos.» Ibidem, § 18. — «Para cujo enten-
dimento he de saber; que estimulados os
Romanos da violência, que El Rey Tar-
quino fez a Lucrécia, detreminaraõ, que
em Roma naõ houvesse mais Reys, e que
para despique daqucUe insulto, ficasse
entre os Romanos o nome de Rey ava-
liado pello mais o liozo vocábulo, para
que em nenhum tempo tornassem a admi-
tir naquella Republica semelhante titu-
lo.» Braz Luiz d'Abreu, Portugal medi-
co, pag. 1.^)9.
Oli Vencedor de Siracusa illustre.
Magnânimo liomano (se a verdade
.\easo a Fama diz), tão viva chamm.a
Teus l$ai.xeis abrazou, desfez om cinzas :
llum 8ií braço deixou dúbia a victoria.
J. A. DK MACKDO, A K.VTUKEZA, CaUt. 2.
De Siracusa nos entrados muros ;
Foi esta a voz primeira, ó griio Romano.
Que fez Iteroi^s bum pranto enternecido!
K ao Mundo aligeirou, fez doce ao Mundo
l ) férreo jugo do Latino Império !
IDEU, Vl.\GEH EXTÁTICA, CaUt. 2.
Á maior perfeição ; poi» ji nantiga
Idade a vio nahir absorto o .Mundo
Das miSos do «abio escravo de eloquentí*.
Kiitrc os Jtmnnno» o maior, que he Tullio,
A quem, deposta a Consular «jbrrba.
Si) dignou do escrever, chamar-lhc- amigo.
inioKM, cant. 3.
Krra do orgulho, cepa do vaidade
yu''in presume guiar com mão cci^nra
< I tropel dojivairado i- tumultiiurio
IViiina revolmâo. Rebenta súbito
K.m tinbilbrws torrente impetuosa,
Que arrasta c leva planos n prnj)«toil,
K, CO liomoin que os urdiu, oa roja ao abyuino.
(iARBETT, CATÃO, act. 1.
Morre commigo o meu wgrodo.
Pois bom. As portas velam do oceid-^ntc
Soldadoí teus. Itnrnnnn algum com ellr-s
Não ^Hgia esta nouto. >íal cfiinero
A ingrossar-.SR o crepúsculo da tarde,
Calladamente com tua* tropas marcha
A Imbuscar-te detraz d'aqu<d|i-s oonibros
Que A esquerda vês, não longe da cidade.
IBIDEM, act. 3, 8C. 1.
Nunca trahiu ninguém. Romano.
IBIDEM, SC 7.
— Habitante do império romano. — O
poder, a grandeza dos romanos. — As
obras, os monumentos dos romanos.
— Romanos gaulezes; nonu- dado aos
habitantes das gailias sob a domina^'iio
romana.
— Faiz dos romanos; dÍ2-ge, até ao
século IX, dos paizes que eram governa-
do.-! si-gnndo o direito romano.
f ROMANTICAMENTE, adv. (De ro-
mântico, com o suffixo (imante»). De um
inoilo n>!nantici>.
ROMÂNTICO, A, a.lj. iDo francez ro-
mantiquei. Diz-se dos legares, d.is paiza-
gens que chamavam á imaginação as des-
cripyões dos poemas e dos romances. —
Situação romântica. — Aspecto românti-
co. — Tudo ei)ca>it<í a nteus ollioa este sitio
romântico.
— Diz-se dos escriptores que aiTectam
livrar-se das regras da composição e do
estylo, estabelecidas pelo exemplo dos au-
thores clássicos. — Aut/ior romântico. —
Escriptor romântico. — Poeta romântico.
— Escola romântica. — Poesia românti-
ca. — Estylo romântico. — Poema ro-
mântico.
— Termo de pintura. Diz-se de certos
assumptos de quadros, e de certas ma-
neiras de compol-o, executal-o.
— Subst.'iutivamente : O romântico i
um género novo.
t' ROMANTISMO, í. m. Termo de lit-
teratura. .\nior d" romântico. — A accu-
sctçào do romantismo tornmise wlgar.
— O que diz respeito ao estylo e gé-
nero romântico. — E romantismo. — O
sowJkJ é uma lanterna magica, em çu« se
vc, tendo os ol/ins fechtidos, tudo o qu6
o romantismo tem de mais maravilhoso.
ROMB
ROMP
ROMP
329
— Systema litterario doa escriptores
modernos românticos.
1 ROMANULA, mlj. f. Termo de anti-
guidade romana. Diz-se de uma daa por-
tas do Roma, situadas no monte Pala-
tino.
ROMANZEIRA, s. /. Termo de botâni-
ca. A arvore que produz romJis, conhe-
cida outr'ora pelo nome de romeira, con-
fundindo-se assim com a mulher que vai
de romaria.
f ROMANZOWITA, s. /. Termo de mi-
neralojíia. Variedade de granito.
ROMÃO, Ã, adj. Termo antiquado. Ro-
mano.
ROMARIA, s. /. Peregrinação devota á
Terra Santa, ou á casa de algum santo.
Vid. Romagem.
Que houvésseis por prazer
De irmos lil em romaria.
Seja logo sem deter.
Oi-a i-3te ciimiuho lie comprido,
Contac hum.a historia, marido.
Bofa que me praz, mulUor.
Passemos primeiro o rio.
OIL VICENTE, FARÇAS.
— « Daqui foi dom .João ter a Chiquer,
com tençam de chegar a Marrocos sem
Nuno fernandez, no qual lugar de chi-
quer aueria entam obra de vinte casas,
em que morauão sacerdotes, que serui.ão
em hum alcoram que alli esta mui no-
meado entre os mouros, onde vem mui-
tos, e de remotas prouincias em roma-
ria.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 3, cap. 40. — «Tornãdo-
nos daquv para a tavangraa onde deixá-
ramos o Embaixador, fomos de caminho
ver as cabililas dos jogues que aquy vi-
nhão em romaria pela maneyra que atrás
tenho dito, que eraõ quarenta e seys, de
cento, duzentas, trezentas, e quinhentas
pessoas cada cabilda, e algumas de mur-
tas mais, que como num arrayal, estavão
todas alojadas ao logo do rio.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 162.
— Adágios e provérbios:
— Às romarias, e ás bodas vão as lou-
ças todas.
— De taes romarias taes perdoes.
f ROMARINO, s. m. Termo de botâni-
ca. Género de plantas, tendo por tvpo
um arbuííto aromático da familia das la-
biadas. E um estimulante enérgico. —
Os perfumadores fazem uso do romarino.
— Mel de romarino ; mel que se pre-
parava com as summidades floridas d'es-
ta planta, e que se empregav^a algumas
vezes em lavamentos contra a hvsteria,
o cólicas ventosas.
ROMBADAS, s.f. plur. Vid. Arromba-
das.
ROMBAMENTE, adv. fDe rombo, com
o suffixo «mente»). De um modo rombo.
— Sem finura, com rudeza.
— Como homem de intelligencia rom-
ba.
VOL. T. — 42.
1.) ROMBO, s. m. Furo, quebrada. —
«E quomo isto fosse seis legoas a la mar
de Diu, Melequiaz que ja ahi estaua man-
dou Ilagamahained com dezoito fustas a
socorrer esta nao, mas quando a ella che-
gou era ja despej.ada, e mortos os mais
dos mouros, e muitas molheres, e meni-
nos que nella vinham, recolhidos na nos-
sa frota com tudo ainda Hagamahamed
achou alguns que ficaram escondidos e se
saluarani na mesma nao, com taparem os
rombos que lhe Nuno fernandez mandou
dar pêra se ir ao fundo.» Damião de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 4,
cap. 69.
— Deitar rombos nos navios, tomar
os rombos (jue teeni; dcital-os, tomal-os, a
fim de que não façam agua.
2.) ROMBO, A, adj. Não agudo, não
pontudo. — Nariz rombo. — Espadas
rombas. — aE como podem entrar vem
aas lançadas e cutiladas, pêra ho que
tom lanças compridas, e espadas rombas,
sobre talabartes derribados. Ha outi'os
juncos do carregaçam pêra fazenda, mas
nam sam tara altarosos como os de guer-
ra, inda que os ha muv grandes.» Frei
Gaspar da Cruz, Tratado das cousas da
China, cap. 9.
— Alma, intelligencia romba ; alma,
intelligencia sem delgadeza d'ella.
ROMBOIDE, s. m. Vid. Rhomboide.
ROMEIRA, s. f. Termo de botânica.
A arvore produetora das romãs, roman-
zeira.
— A mulher que vai em romaria.
ROMEIRO, s. m. O homem que vai em
romaria.
— Termo de zoologia. Peixinho, que
anda adiante da baleia, e se sustenta do
comer que lhe fica entre os dentes.
— Adágios e pkoveubios :
— Não ha romeiro, que diga mal do
seu bordão; ou: Não é o romeiro, que diz
mal do seu bordão.
— Bem vai ao romeiro se lhe esquece
o bordão.
— Um romeiro não quer outro por
parceiro.
ROMPANTE, adj. 2 gen. Altivo, arro-
gante, precipitado.
• — Palavras rompantes ; palavras atre-
vidas, empoladas.
— Substantivamente : O primeiro rom-
pante ; o primeiro impeto, furla, saída ar-
rebatada .
ROMPÃO, s. 711. Vid. Rompões.
ROMPEDEIRA, s. /. Cunha cravada em
um cabo, com quo os ferreiros abrem os
ferros em braza ; talhadeira.
ROMPEDOR, A, adj. Vid. Rompente.
ROMPEDURA, s. f. Vid. Rotura.
ROMPENTE, part. act. de Romper. Que
rompe, que dilacera, que abre á força.
— Que arromba.
— Leão rompente ; animal que nos es-
cudos se pinta, apparecendo só a cabeça
no alto do escudo, ou em pé.
Deixa Colombo as praias da Liguria,
Ao rompente I>eào da altiva Hcspanha
Novos Impérios dá, thesouros llo^•oa :
Américo seu nome eterno imprime
Do Globo á parte máxima, que corre,
Desde o Pólo do Sul, do Norte ao Prtlo.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 4.
- — Rompente a alma ; em vez de rom-
pendo a alma.
— Lacerante.
— Esquadrões rompentes.
Corre sanguíneo o Rhodano espumante,
O Rhono de pavor se volve á fonte,
Rompentes esquadrões pisando o gelo
Trazem do frio Pólo a guerra, a morte.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Cant. 1.
ROMPER, V. a. (Do latim rompere).
Quebrar, fazer em pedaços, despedaçar.
— Romper uma porta. — Romper xim. cas-
tello. — As crianqas rompem tudo. —
LeZes sempre prestes a romper suas ca-
deias.
— Entrar pelo meio, passar pelo meio.
— «Todos, por lhe dar lugar, se desvia-
ram, inda que os gigantes com ferocida-
de soberba vinham rompendo a gente,
sem esperar pela cortezia com que lhe
despejavam o paço. Tanto que chegaram
ao imperador, sem fazer nenhum acata-
mento, se detiveram, esperando o que a
donzella diria. « Francisco de Jloraes,
Palmeirim d'Inglaterra, cap. 93. — «Bem
dcscuydado estava Banha Lao de ser
acometido, como aquelle que sabia os
poucos soldados que havia no Forte, e
dado que de ouvido soubesse serem os
Portuguezes atrevidos, mal se persuadi-
ria que elles tivessem animo para sair a
campo, e muyto menos que se atreveriam
a romperlhe suas tranqueyras povoadas
de tantos guerreadores.» Conquista do
Pegú, cap. 5.
■ — Romper a carta, o escripto; ras-
gal-a, abril-a. — «Querendo nós em elle
poer castigo mandamos, que se alguém
tal escripto achar aberto, e o leer, que o
rompa logo, de tal guisa que se nom pos-
sa leer, som mais fallar no que cm elle
achou ; ca se o publicar, oii mostrar, ou
a alguma pessoa em ello fallar, haverá
tal pena, como mereceria aquel que o fez,
e aver-s'a por Author.» Ord. Affons.,
liv. 5, tit. 117.
— Romper a cortezia. — «A quem fora
da perda de varaõ taõ santo, dohia mui-
to, ver que os Mouros rompessem jà a
cortesia, e tivessem em pouco aos Mon-
ges d'aquelle !Mosteyro, que até entaõ
costumavào ser o amparo e refugio ordi-
nário de todas stias tribulações.» Monar-
chia Lusitana, liv. 7, cap. 12.
— Figuradamente: Romper o coração;
despedaçal-o. — «E chegaiido-se á Onça
por ver se recebera algum mal dcUes,
saltava-lhe nos peitos, e começava de lhe
romper o coração sem o querer desaferrar,
1
330
RO Mi'
té que lhe bebia o Hanjifuo.» Harroti, Cla-
rimundo, liv. -, cap. 1.
— Romper a manhã; apparcecr a au-
rora, (lo-ípoutar o ília. — «l'oicrn tanto
que rorapeo a inerililH, Hzciuds sinal ao*
barcos (que erSto muitos) pêra nos leua-
rcm, c toilds juntos passamos ila outra
parto, c fomos aportar junto a huma for-
taleza gran<le, c noua em que auia quin-
ze torres bem puarnocidas; c detrás dei-
las, vimos a Cidade Cutliu, cujos muros
86 andauam acabando de taypa, altos,
grossos, o quadrados, e cm catla pano
dezanoue torres.» Fr. (iaspar do S. Ber-
nardino, Itinerário da índia, cap. IG.
— Romper o dia ; amanhecer.
E SC esvaecem súbito as Imagens ;
O mesmo monte s'eseondêo •, vapores
Levantados em torno á yiatSL enferma
Sobre mim denso véo de nuvens formão.
Da cscuridilo no centro me parece,
Que rompe o dia...
J. A. DF. MVCEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 3.
— Romper a ah-a; apparoccr a auro-
ra, rompíir o dia. — « Nós, chegando a
esta praia rompendo alva, inda não aca-
bávamos de lanyar os cavallos fora, quan-
do nos saltc'aram seus cavalloiros, e elle
veio traz ellcs poios favorecer e animar:
poderá sor que corrêramos risco, se a tal
tempo não viéreis, e pois Deos assim
quiz, também quererá que tudo venha a
bom iim, que já n.ão podo ser meo, pois
o cavalleiro do Salvagem não chegou pri-
meiro quo nós.» Francisco de Moraes,
Palmeirim dluglaterra, cap. 117. — «Do
qual caso foi logo dar conta a Pedralua-
rez e assentou com elle que ao seguinte
dia que erão dezaseis de Noucmbro des-
sem em rompendo alua os bateis cm huma
nao que auia suspeita estar carregada.»
João de Barros, Década 1, liv. 5, cnp. 7.
— listo era no romper dalua, a qual
hora 08 imigos com algunuis bombardas
que tinhaõ assentadas em terra na ponta
da ilha, começaram de tirar contra os
nossos, e logo dahi a pouco aparoceo a
frota, que era de duzentas, e cincoenta
velas, e por vir ainda longe, Duarte Ta-
clieco fez dar voga aos bateis, o em che-
gando a terra foi cometer a cstãcia don-
de os imigos tirauara, c os fez fugir, e
porque não j)ode trazer as bombardas, as
mandou cucrauar.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 1 , cap. SG.
— «Isto tudo se fez ao romper dalua, c
logo dahi a pouco com a jusante da maré,
a frota de Calecut começou de decer
pelo rio abaixo na ordem que arriba
dixe.» Ibidem, cap. 91. — «Dalli to-
mando dom loaõ seu caminho para Aza-
mor, com toda a caualgada, que seria
de duzentas almas, e muito gado, vacum,
meudo, camelos, canallos, c outras alimá-
rias veo dormir a Mercultam, que he qua-
tro legoas destas duas aldeãs, donde no
ROMP
romper dalua partio, e a terça feira vie-
ram ter a huns aduaren do Oledambram,
leuando dom Bernardo a «lianteira, no
qual dia entrarão antes do Sol posto em
Azamor.» Ibidem, part. :i, cap. 4.S. — «(J
que sabido assentou com os outros ca.\n-
tães o que i^e auia de fazer, o em rom-
pendo a alua deu na tranqueira tam du
súbito, que a entrou, e matou, c capti-
uou rimitos dos que nella stauaõ, porque
03 outros fogirain pêra Pado com o capi-
tão que cl liei de Bintam ali tinha, que
era hum do.s jirincipac-s de sua casa.» Ibi-
dem, part. 4, cap. .")2. — «(Caminhando
assi todos a lio antes de romper de todo
a alua, em sesta feira das indulgências,
se ajuntaram, e ordenaram sua batallia
em cinco azes, ilas quaes trcs eram da
gente de dom loão, elle cm huma, e Rui
barroto cm outra, e loaõ Gonçalvez da
camará tilho de Simão Gonçalvez capi-
tam da ilha da madeira, com Aluaro de
carualho, e loain da sylua na terceira, c
Nuno fornandez com dom Afonso de Fa-
ram seu genrro na quarta, e ('ide Ihea-
bentafuf com toda a sua gente na quin-
ta.» Ibidem, part. 3, cap. ôO.
— Desbaratar, fazer desunir.
Rompe, as filas fat:lcs dos Combatenbis •,
Arreme.í.-sa-se ao centro do Conflicto.
Vê o Pác, cm mortács vascas, arquejando;
Ketcm o Carro ; abafâo-na os pezares.
F. SI. DO NASCIMENTO, OS MARTVRES, 1ÍV. 10.
Menos bárbaro foi pnr certo o tempo,
Em que do Pólo A(|uilonar rompendo
Fero Ataúlfo, e (renserico veio
Despeda(,ar dos Ccsarcs o Tbrono.
J. A. DK MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 3.
— Atravessar, passar.
Tal das entranhas da Goiama rompe
O Tlicsouro do Egipto, o vasto Nilo,
Xas agoas do Ganibea confundido,
De novo resaltando o Egipto alaga.
J. A. DE MACEDO, A XATUREZA, CAnt. 2.
Tal dos aéreos And<'S .'falie pequeno
O Mi.ssisíipi, o rápido Oronoco;
Tal d:i3 entranhas da Goi.ama rompe
O 1'aretonio Nilo, e hum pouco as agoas
(Icculta no Gambèa, c vem de novo
Trazer na inundarão fartura, e nomo
Ao livre Egypto hum tempo, o agora escravo.
IDEM, MEDITAÇÃO, Caut. 2.
— Romper as sombras; passar por ci-
las, atraves.sal-a8.
Nos confins do Geométrico Compasso
Anciado me volvo, e aqui não passo.
Como nos Cantos do encontrado Oriente,
íviltar hum vòo rápido aos abvsmos,
Vêr o feroz Satan, que rompe as sombras.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 4.
— Figuradamente ;
espesso; rasgal-o.
Romper o manto
RíJMP
Qual no Inverno tríntonbo, o tenebroao,
Quando a fria, importuna, c groMa ncvoa
Km t<irno fecha o ar : »c o So! brilhante
Itompe com vivo raio o manto «apenso.
Súbito foge, Hubito o negrume
Til >a de novo o fulgurante a^jtecto,
K da noite impfrfeita o ImpiTio «Mt^-nde.
1. A. Dl MAI.KIH), VIAOKM EITArlCA. CHUt. ^.
— Romper a denta escuriílão; atravcê-
sal-a.
Quando s barbárie Gothíca domínA
l'or tão ob.'Wuroi< >w;culo.4 no Mundo,
Dos contínuos fenómeno* a causa
Sempre ignorada foi. De e.ipnro a eípaço
Surgia hum (ieiiio, i|ue romprr procura
A densa escuridão! baldado esforço!
J. A. DE UKCr.íK), TIAOIM EXTÁTICA, CVlt. 4.
— ■ Romper «« treva»; passal-as, atra-
veaaal-as.
Voar, qual vi'.a o espirito, eíqnivar-nc
Dos sentidos íis ríspidas cadèasV
K abrir os Ccoá com penetrante* raios?
Ir buscar no passado illustres feitos?
Com alma luz romper treva» profunda*.
Que escondem dentro cm si futuro incerto?
Fazer surgir do túmulo as Scienciaa?
}. A. DE MACEQO, MEDITAÇÃO, Cant. 4.
Do Sábio indagador ás vistas fogem :
Nada esquecido está! IfencUcl. IJomare
Das minas vão romper trevas C8pc>w«« ;
Perdem da vnsta o Cco, da vista o dia.
IDEM, VIAGEM EXTÁTICA, Caot. 4.
— Figuradamente : Romper obstaculot
fortes; destruil-03, fazel-os desapparecer.
Nelles o fogo so introdui, c os fortes
Poderosos obstáculos rompendo.
Tudo di.ssolve, e fnnde, e volatiza,
Mas nunca sem combate os vence, os doma.
J. A. DE MACEDO, A XATCBEZA, Cant. 2.
— Romper os áureos têllos; abril-os,
rasgal-03.
Foi teu maior estudo e»»e Volume,
Onde as \-is*>es de extático Profeta
ílm sombra impenetrável se sepnitão;
Não vadeáveis, não, que os áureos Sellos
Só lhos deve romper momento extremo.
Quando oscillante a Máquina Mundana
Vir das nuvens baixar do Eterno o Filho.
J. A. DE MACEI>0, VIAGEM EXTÁTICA, CaOt. 3.
— Romper o véo; rasgal-o.
Ciosa a Natureza o fecha, o guarda
Dentro de Siia obscuridade envolto ;
Té do divino 1'ranio a luz, o gettio
O denso escuro véo romper não pôde.
J. A. DE MACEDO, A XATCREZA, CUlt. 3.
— Romper a noits : atravessal-a, pas-
sal-a.
I">e ti não longe vai o Estagrrita ;
A noite tu rompente, cm que so involve ;
Teu desgraçado Génio excede a todos.
J. À.. DE MACEDO, XEDITAçÃO, Cant. 4.
ROMP
— Romper o globo; atravessal-o.
Rompe outro globo, c rápido descreve
A terrível parábola noâ ares;
Com súbito fragoi- despedaçado
Leva a tudo a ruina, a tudo a morte.
J. A. DE MACEDO, A SATCUEZA, Cailt. 2.
— Figuradamente : Romper as rejle-
xões ; destruil-as.
Tal Quadro olhando, c os lances da Fortuna :
Eis rompe as reflexões, e assim perora.
P. M. DO SASCIMEXTO, OS StABTYBES.
— Figuradamente : Romper o amor a
setta irada; despedaçal-a.
O amor nau perdoa a nada ;
Rompe ao mais a sétta irada
Obrando extrema crueldade ;
Pois lie bem morra a vontade,
Se só Nnvo a prenda amada.
..^BADE DE JAZESTE, POESIAS, tOm. 2,
pag. 20 (ediç. 1787).
— Romper alguém; feril-o, golpeal-o
com algum instrumento cortante ou per-
furante.
— Romper a linha ; desbaratar, ou met-
ter algum, ou alguns dos navios de que
ella se compõe, de sorte que fique inter-
rompida a communicação entre uns e ou-
tros navios da linha inimiga.
— Arrombar.
— Romper os muros, os duiues; pôr,
arrombar, abrir passada.
— Romper mattos ; entrar por elles com
trabalho.
— Romper o véo pudibundo ; desvirtuar
uma donzella.
— Romper maninhos; roçai -os, desmou-
tal-os.
— Romper lanças justarido ; quebral-as
justaniJo, justar.
— Romper guerra; começal-a.
— Figuradamente : Romper as difficul-
dades, os receios ; proceder sem se impor-
tar com elles.
— Romper as leis; quebral-as, trans-
gredil-as.
— Romper o nome. Vid. Nome.
— Romper o soumo ; interrompel-o, des-
pertal-o.
— Romper a palavra; atalhal-a, cor-
tal-a, estorval-a.
— Romper a paz, as tréguas ; que-
bral-as.
— Romper o silencio, o segredo; trans-
mittil-o, revelal-o.
— Romper o sitio d^ uma praça /abrir
a trincheira, e principial-o.
— Romper terras; arroteal-as, aral-as,
e lavrar pela primeira vez as que nunca
foram lavradas.
— Figuradamente : Romper o ar, as
nuvens; atravessa 1-as.
— - Vencer, desbaratar.
— V. n. Quebrar.
ROMP
— Romper com alguém ; quebrar com
alguém. — Romper com seu contrario. —
í Sintio Phelipe, as novas desta desgraça,
como que lhe entendia as dificuldades, e
partindo de Roma com determinação de
romper com seu contrario, lhe atalhou a
gente de guerra, chegando à Cidade de
Verona onde o matàrau, e os Pretorianos
de Roma, sabendo esta nova, matàraõ a
Phelipe seu filho, de quem se conta, que
no tempo que viveo o não virào nunca
rir, pronosticando nesta tristeza, o apres-
sado fim de sua vida.» Monarchia Lusi- 1
tana, liv. õ, cap. 17.
— Quebrar a paz, a amizade.
— Mover, incitar guerra.
— Romper peJa gente; entrar pelo meio
d'ella. — (í Despois que o embaixador se
deteve hum espaço nestas ruas das ba-
lanças, passando mais adiante por todas
as estações dos sacrificios, esmoUas, en-
tremeses, bailes, autos, musicas, e lutas,
chegamos á casa do Tinagoogoo com as-
saz de afrõta e trabalho, por ser a gente
tanta em tanta quãtidade, que não avia
romper por ella por muito que nisso se
trabalhasse. » Fernão Mendes Pinto, Pe-
regrinações, cap. 164.
— Figuradamente : A eloquência rompe
eííi doces ondas de purpúreos lábios.
— Disparar, começar a operar com
força.
R031P
331
Em grito alegre rompem os Armoricos :
Clemência (cin mim tam fac.il ! i põem nas nuvens.
Rcquciro-lhes promessa antes que partào,
De abjurar tam horrendos sacrificios.
Que um Cláudio, que ura Tibério proscreverão I
F. M. DO SASCUIESTO, 08 MARTTSES, 1ÍV. 9.
Tal o retrato dos Mortaes primeiros
Té quhuma Fúria do profundo abismo
Surgio no Mundo ; da empeçada grenha
Uuma serpe arrancou, lança-a no peito
Do mesquinho mortal, larra o veneno
Da soberba ambição, do amor infausto
De ter, de possuir: rompe a Soberba,
Dos males todos desgraçada origem,
Pejo, verdade, e fé, súbito fogem.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Caut. 2.
Sair com Ímpeto.
Quem marca o giro dos ethereos Globos
Qincessantes nas orbitas caminhão !
Esta a primeira voz, que dalma rompe
Do mortal pensador. No abysmo. e sombra
Se engolfa, c perde humano entendimento.
J. A. DE ILVCEDO, .A S.ATLEEZA, Caut. 1.
D'e3tranha forma desusados peixes ;
Rompem do seio das cerúleas ondas,
E as auriverdes azas sacodindo
Sequilibrào do ar no espaço extenso.
IBIDEM, cant. 3.
— Ao romper da batalha; no começo
d'ella.
— Apparecer.
Bem como do purpúreo acccso Oriente
O flamuiigero Sol surge envolvido
Xhum véo de nuvens, que seu disco ardente
Conserva, e traz aos olhos escondido;
Quinda assim mesmo rompe, c ao Ceo patente
Envia a luz do Limbo esclarecido,
E presente se mostra, inda que occulto,
Como da inteira Natureza ao culto.
J. A. DE MACEDO, O OSIEXTE, Cant. 1, CSt. 13.
■ — Sair, dar ao publico, publicar-se.
— Mar que rompe cm flor; que quebra
fortemente, e se desfaz em grossa escuma.
— Romper contra o imjjeto da inclina-
ção; fazer força ao seu natural.
— Romper por fogo e morte; atraves-
sar por clle.
Despedido atraz isto o varão forte
Ao primeiro perigo a fusta entrega,
E rompendo outra vez por fogo c morte
Com invencivel peito o mar navega ;
E tal favor então da amiga sorte
Sentio, que á fortaleza em salvo chega.
Apesar do perenne fogo ardente
A dotê-lo apressado e diligente.
FRAXCISCO DE ANDB.IDE, PEIJIBIKO CEBCO DE DIU,
cant. 14, est. 14.
— Romper pela garganta delicada.
Tacs milagres, teus dons, do ar se formão.
Pela garganta delicada rompe,
Em mil undulações. suspenso, ou livre.
Transplanta na minh'alma o Elísio todo.
Bera como á voz dEolo as turvas ondas
Sc Icvantão bramindo, e s'encadeão,
Assim tu mandas ás paixões. Quimperio !
J. A. DE MACEDO, A XATUEEZA, Cant. 2.
— Cortar, sem descontinuar.
— Commetter cousa que demanda ar-
rojo, despejo.
— Romper em pranto, em lagrimas;
desatar a chorar impetuosamente.
— Romper a voz; sair com força.
— Romper por obstáculos, pior tudo;
fazer alguma cousa vencendo, ou apesar
de obstáculos.
- — Romper a voz; romper em soliló-
quios.
— Romper-se, v. refl. Quebrar-se, des-
pedaçar-se. — «Desenganados todos de
estarmos encalhados, e as velas desfral-
dandose em vão, se começou a romper o
Ceo com gritos, e a ferir os ares com
alaridos, qnaes pode julgar facilmente,
quem ja se vio em semelhantes perigos.»
Fr. Gaspar de S. Bernardino, Itinerário
da índia.
Tam nobre Creatura ? — Inda os lamentos
E a não-valiosa mágoa ia alongando
O exasperado Archanjo... Eis que o abrazado
Boqueirão se lhe rompe... Avista o Abysmo!.
E, entam, que odiosa ideia lhe resurge !
F. M. DO NASCIMENTO, OS MABTTBES, 1ÍV. 8.
Primeira producção da industria vossa ;
Foi pezado alvião, foi lizo arado ;
Este do ferro primitivo emprego.
332
ROMP
BONG
ROND
O seio »c rompe.o da incida terra,
Em pouco m! cobrio Jn louras iiiciison;
K 110 ciiipiíiaJo oitciro u<> Sol Ojiiic-ito
Oá viccjantc.1 imiuiiaiioj n r.iila(,',iio.
í. A. DB «\CKDO, MKUirA<;\0, Cllllt. 1.
Porém rnmpfii-ie. Rlfiiii : timii vo?, doco,
Languid^i como a frniitu da papoulu
Que pcudi! o ardor do sol, incina o suave
Como o iiu.44urro da aura matutina
Eiitru a.4 tiururi do orvalho rociadas,
Uma voz disHO : — Oli ! tem do iiiim piedade.
Oh ! do minha fraqueza nilo abuse».
OÀUBKir, D. DRAN'u\, caut. 4, cap. 5.
— Romper-se a virgem; corrompcr-ac,
desvirtuiir-so.
— Romper-se o mar no rocliedo; Jos-
pcdaçar-.su, qucbrar-so ii'ellc.
— Romper-se o caramelo do rio; que-
brar-ae, dcsfjizer-se.
— Adágios k provkuuios:
— Melhor é descozer que romper.
— O demasiado rompe o saceo.
— ]íom sabe o domo, cujo frangalho
rompe.
— Cose, quo cosa-*, c não que rompas.
ROMPETERRA, adj. (composto de rom-
pe, e terra). Termo de poesia. Que rom-
pe a terra.
ROMPIDO, pari. pass. de Romper. Vid.
Roto.
liran. DiU ma ora huma topada ;
Trafjo as sapatas rompida-i,
Destas vindas, destas idas,
E cm fim não ganho nada.
Velho. Eisaqui
Dez cruzados pêra ti.
oiL vtcEHiE, f;lbças.
— Rompida a guerra, a paz; a guerra,
a paz começada pelos primeiros actos hos-
tis.
— A senda nunca rompida na vastidão
do mar.
Qual deve a ^lagalhães o Nauta a senda
Na vastidão do Mar nunca rompida.
J. A. DE MACEDO, VIAGEU EXrATICA, CaUt. 3.
— o discipulo rompido; discípulo des-
feito, desbaratado.
ROMPIMENTO, s. m. Acçiío de romper,
de quebrar, despedaçar. — O rompimen-
to da giiarra.
— Estar com alguém em rompimento ;
estar do ([uebra, inimizado.
— Rompimento </<; gente na guerra;
desbarato, destroço.
— Rompimento de canal; rompimento
em terra para navegar.
ROMPÕES, s. m.plur. Nas ferraduras
são as poutas voltadas para baixo, que
fazom um como salto; usam-se maiores
para se,:;urar no regelo vidrado dos paí-
ses onde a neve coalhada n'essa consis-
tência escorrega, como o faria um pavi-
mento de vidros ; contra o qual os de pé
calçam por cima do» sapatos palmilhas
d'i)ur(do'<, ou paniio asperu.
ROMULEO, A, alj. Termo de poesia.
Ooiiciiriieiite a li-jumlo, do iiomulo. —
Terra romulea.
RONCA, .". /. Amwiça de fanfarrão,
fanfarroiiice, bravata.
— União de ires ou quatro anzoes em
fiirma de fateixa, para pescar nu alto pei-
xes grandes.
— Um instrumento de som rouco e
muilonliii.
RONCADOR, A, adJ. o s. Que ronca,
(jue d:i um som rouco.
— Fanfarrão, valentão, ameaçador,
sem valor para pôr cm execução as amea-
ças.
— Quo ruge.
— Que bravatoia, que ameaça grandes
cousas em vão.
— Que se jacta, que se vangloria, que
blasona.
— tí. m. Peixe do império do Bra-
zil.
RONCADURA, s. /. Termo popular. Be-
xiga cheia de vento; ronco.
— O som do instrumento popular, a
que denominam gaita de folie. Vid. Ron-
ca, e Ronco.
RONCAR, V. n. Dar ura som ronco, á
similhança d'aquclles que dormem.
— Blasonar, fallar com ostentação. —
Roncar de Jidalgo valente.
— Jactar-se, vangloriar-se, orgulhar-se.
— Kugir. — Roncarem as tripas.
— Ameaçar grandes cousas inutilmen-
te, bravatear.
— Roncar o porco irado.
— Figuradamente : O mar ronca em
tormenta.
— Adagio-s e provérbios :
— Quem a porcos ha medo, os montes
lhe roncam.
— Taiiibcm ronca o mar, c mijo n'elle.
RONCARIA, s. /. U som ronco do pei-
to que se respira com diíBculdade.
— Fanfarroaices de roncador, grandes
aui cavas.
RONCARIA, s. /. Movimento ronceiro.
— Preguiça, negligencia, incúria.
RONCEAR, V. n. Mover-se, obrar va-
garosaineiite.
RONCEIRAMENTE, adv. (De ronceiro,
com o suffixo «mente»). De um modo
ronceiro.
— Tarda, lenta, preguiçosamente. —
Andar ronceiramente.
RONCEIRO, A, adj. Que se move de-
vagar o lentamente.
— Zon-ciro, passeiro.
— Vagaroso, lento, tardo.
liotwfira veio a luíva
A'« plácidas campinas,
Oiido só dos amores, das boninas
Tractamos quando o cjiniixi se renova.
FB.VNCISCO UASOKL DO NASCIMENTO, OBBAS,
tom. 1, pag. 11-t.
— Pouco activo, com pouca diligencia.
— Criado ronceiro.
— Que faz poucas progre.iso3 no que
aprende, tardo, <juc aproveita [hiucú.
— Termo de náutica. Navio mau de
vela, pouco andador.
RONCINADO, A, <idj. Termo de boU-
niea. Diz-.-.e, das foliuu que sendo oblon-
gas e piniiatitidas, tcem os lóbulos dirigi-
dos jiara a ba-e.
1.1 RONCO, s. VI. O som que se faz
roncando. — O ronco do jacali.
— O som produzido pela rouca.
— Bravata, faufarrooice, ameaça de
valentão, ronca.
■J.i RONCO, A, a^lj. Termo antiquado.
Rouco.- — Ronca trumbeta.
RONCOLHO, A, adj. Não castrado per-
feitamente.
— Ca vai lo roncolho; cavallo que tem
um sii testículo, ou mal ca]>ado na volta.
— Porco roncolho; que ticou mal ca-
pado.
RONDA, s. /. (Do francez rcmde). Vi-
sita nocturna cm roda de uma praça de
guerra, n'um campo, etc. — Fazer a ron-
da. — Ojficial de ronda. — A hura da
ronda. — Ronda '/<■ oj/ii:iiil superior.
— Ronda simples; ronda da capitania,
logar-tenente, sub-logar-tenente ou sab-
oíBcial.
— Caminho de ronda; caminho desti-
nado a fazer a ronda.
— A própria tropa que faz a ronda. —
Reconhecer a ronda. — A ronda ^xwía.
— Figuradamente : Fazer a ronda ; gy-
rar em volta de algum logar para obser-
var se tudo está em ordem, visitar o in-
terior de uma habitação.
— DIz-so algumas vezes dos animaes.
— O leão faz a ronda ; sente de longe
os estranho.-?.
— Ha também rondas de justiça, para
evit;ir distúrbios á noute.
— Circulo de pessoas, que dançam an-
dando á roda.
— Syk. : Ronda, patnUha, guarda, pi-
quete, escolta.
Estes termos distinguem-se no caracter
que tem as pessoas armadas que desem-
penham as funcções militares por elles
designadas.
Ronda é a visita do gente armada que
se faz uoctaruamente em roda de uma
praça, de um arraial ou campo militar,
para observar se :i3 seutiuollas estão aler-
ta. FatruUui ê uma esquadra de soldados
que se ]>òe em acção para rondar, uu
como instrumento de força para reprimir
qualquer desordem. Guarda é o corpo de
soldados que assegura ou defende algum
posto a elles contiado. PiquiU c certo nu-
mero de soldados pertencente a uma com-
panhia, com seus ofHcia&s e que cstào
proniptos para qualquer operação. Escol-
ta ó uma porção de soldados que acompa-
nha o vae dan lo guarda a alguma cousa
ou pessoa.
RONQ
Não tem fundamento algum a distinc-
ção que alguns fazeiu entre patrulha e
ronda, illzeiído qua esta ó de gente de pé,
e aquella de gente a cavallo. E mister
não conhecei' Lisboa depois do conde de
Núvion para não saber que a cidade era
percorrida de noite por palridhas de po-
licia a pé e a cavallo, e que egual servi-
ço faz hoje a guarda municipal, patru-
lhando a pé e a cavallo. Assente-se pois,
que patrulha é de gente de pé ou a ca-
vallo, mas sempre gente de guerra, e
para segurança dos habitantes, etc. ; c
ronda é ordinariamente de gente de pé
para vigiar as sentinellas á roda, e n'isto
se differenca da patrulha.
t RONDÁCHINA, s. f. Termo de botâ-
nica. Género de plantas abrangendo uma
única espécie que cresce na America Se-
ptemtrional, nas aguas estagnantes, co-
brindo algumas vezes a sua superfície. E
muito notável em que suas hastes, seus
peciolos, pedúnculos e botões de folhas e
fructos são envolvidos, antes da flores-
cência, de um muco gelatinoso, em appa-
rencia perfeitamente semelhante á deso-
va da rà. Este muco desapparece desde
que a fecundação acaba.
RONDADOR, s. m. Pessoa que ronda,
que anda de ronda.
— Adjectivamente : Que ronda. — Sol-
dado rondador.
RONDÃO, s. m. Vid. Roldão.
RONDAR, V. a. Andar de ronda. —
Rondar a praça, a cidade.
— Figuradamente : Vigiar, fiscalisar.
A este que as rondara, c que as segaia ;
Disse huiua das mais novas — Tu que intentas?
Tendo corrido ji tantas tormentas,
Inda o corpo te pede hoje folia V
ABBADE DE JAZENl'E, POESIAS, part. 1, pag. 41.
— Termo de marinha. Alar, atesar,
rodear ou dar voltas com algum cabo á
roda de qualquer cousa em que traba-
lham, dizendo : ronda o eaba.
RONDO, s. Hl. Termo de musica. Ária
cujo primeiro verso se repete muitas ve-
zes. Vid. Ratornello.
— • Termo de poesia. Poemeto, redon-
dilha.
RONHA, s. /. Espécie de sarna, que
costuma dar nas ovelhas.
— Loc. POPULAR: Ter muita ronha;
ter muita malicia, muita manha.
— Figuradamente : Vicio morai, erró-
nea.
RONHOSO, A, adj. (De ronha, com o
suftixo «080»). Atacado de ronha. — Ove-
lha rouhosa.
— Figuradamente: Manhoso, astuto,
cheio de malicia.
t RONHURA, s. /. Termo de náutica.
Synonymo de goivadura.
RONQUEAR, v. a. Alimpar o atum das
espinhas para o estopejar, e pGr em con-
servas .
ROQU
RONQUEIRA, s. /. Doença do gado.
— E.iformilade que consiste em uma
mudança estranha do soído e natural da
voz, motivada de algum estorvo ou pre-
juízo recebido nas partes que concorrem
a formal-a, ou nos órgãos d'ella.
RONQUENHO, A, alj. Rouco.
RONQUIDÃO, s. f. Ronco.
RONQUIDO, s. m. Ronco. Vid. Rouqui-
dão.
ROOL, s. m. Termo antiquado. Vid.
Rol.
ROOLIM, s. VI. Termo do Pogú. Digni-
dade suprema do seu sacerdócio.
RO OS, s. m. piar. Roes.
ROPA, í. /. Vid. Roupa.
ROPETÃO, s. í/i. Vid. Roupetão.
ROPIA, s. f. Vid. Rupia.
ROQUE, s. m. Termo de jogo. Peça do
jogo do xadrez, collocada nos cantos,
uma á direita, outra á esquerda.
— Adagio e provérbio :
— Não ha rei nem roque.
Que não i tanta
que me faça Rei nem lioqae.
Leixa-o carregar ua manta.
Ler-lhc-hei Palmeirim.
ANTÓNIO PRESTES, Auios , pag. 239.
ROQUEIRA, s. /., ou ROQUEIRO, s. m.
Peça de artilheria que joga pcllouros de
pedra.
— Ha roqueiros pequenos, que jogam
pellouros pequenos, e se disparam em
festas de igreja sem elles.
— Toma-se também por rageira, ou
rogeira. — «Ao outro dia nos partimos
daly pola mesma terra deste senhorio
passada huma serra achamos terra povo:.-
da de aldeãs e lugares grandes de lavra-
dores e junto delias fortalezas, castelos,
roqueyros, e cisternas de aguoa c.iovidi-
ça servem estas fortalezas e castelos pêra
se acolherem os moradores delias quando
aintem ladroes que os vem a roubar por-
que nunca vem de cento pêra bayxo.»
António Tenreiro, Itinerário da índia,
cap. 4.
ROQUEIRADA, s. /. Tiro de roqueira.
1.) ROQUEIRO, A, adj. De roca, de ro-
queira.
— Bombardas roqueiras; canhões cur-
tos e grossos, que disparam rocas de pe-
dra.
— Castello roqueiro ; castello com ar-
tilheria que dispara rocas de pedras miú-
das. — «Partidas estas cartas, havendo
sete dias que alli estava, chegarão os ou-
tros nove navios de sua conserva, com
que entrou pelo rio Eufrates, e chegou a
huma Ilha que faz logo dentro chamada
Mouzique. Aqui estava hum castello Ro-
queiro pequeno com alguns Turcos, que
tanto que viraõ a nossa Armada o despe-
jarão.» Diogo de Couto,' Década 6, liv. 9,
cap. lõ.
RORI 333
Qual Castello roqueiro, o forte Cuneo
SótiVo as.ialto ; a briga se afFervora :
O pú sanguineo se revolve em nuvens,
Por elmos, plumas sobe ennovellado.
i\ M. DO NASCIMENTO, OS MARTYBES, 1ÍV. 6.
— Pellouro roqueiro ; pellouro de pe-
dra, di.sparado da roqueira.
— Castello roqueiro ; castello fundado
em monte, pedra, rocha, rochedo.
2.) ROQUEIRO, A, adj. Que fia em
roca. — /ça roqueira; fêmea moça do
commum, ou das que trabalham com sua
roca e fuso.
ROQUEJAR, i'. a. Produzir um som
rouco. Vid. Rouquejar.
ROQUELAURE, s. m. Vid. Rocló, ter-
mo mais correcto e mais harmónico com
a nossa linguagem.
ROQUETE, s. m. Vid. Rochete.
— Eiu roquete ; no brazào, é o mesmo
que em triangulo.
ROQUEYRO, A, adj. Vid. Roqueiro. —
Castello roqueyro. — «E outras povoações
muyto grandes cercadas de muros muvto
fortes e largos, com seus castellos roquey-
ros ao longo da agoa, a fora muytas tor-
res e casas ricas de suas gentílicas seis-
tas, campanayros de sinos e curucheos
cozidos em ouro, e pelos cãpos avia tanta
quantidade de gado vacum, que em algu-
mas partes occupavào distancia de seis sete
legoas da terra.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 97. — «E he (como
ja disse outra vez) toda fechada cõ duas
cercas de muros muyto fortes, e de muyto
boa cantaria, onde tem trezentas e ses-
senta portas, a cada huma das quais está
hum castello roqueyro de duas torres
nmyto altas, e todos com suas cavas, e
pontes levadiçasnellas.» Ibidem, cap. 107.
RORANTE, adj. 2 gen. (Do latim ro-
rans, úe rorare). Termo de poesia. —
Que solta de si orvalho, orvalhoso, rori-
fero.
RORARIO, adj. m. (Do latim rorarius,
de j-omcei. — Soldado rorario ; na milicia
romana antiga, soldado da primeira e
Ínfima urdem.
— Substantivamente : Um rorario.
ROREJANTE, adj. 2 gen. Vid. Rorante.
— Os rorejantes zephyros moviam as fo-
lhas.
Os rorejantes Zéfiros co'as azas
Davào ligeiro movimento <4s folhas
Das verdejantes arvores copadas ;
E do meigo Favouio ao doce assopro
Do brando somno as Flores despertavão.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Caut. 1.
De ondas immensas de escarlata, e de ouro
Erào os Céos Orientaes banhados ;
E pelo espaço liquido dos ares
Os rorejantes Zéfiros co'a8 azas
Do bosque as folhas trémulas movião.
IDEM, NEWTON, Caut. 1.
RÓRIDO, A, adj. (Do latim roridus).
334
ROSA
Termo de poesia. Orvalhado, húmido com
orvalho, chuva, {,'ottín da agua do mar.
RORIFERO, A, mlj. (Do latiiu roris,
orvalho, íí ferre, levar, trazer). Termo do
poesia. Qii •■ tiaz ou bonita com orvalho.
Vid. Orvalhoso, c Rorante.
RORIFLUO, A, ciilj. (Do latim ros, ro-
ris, (tjlti"). Termo de poesia. Rorifero, ro-
lante; iroiide iiirre orvalho,
f RORIJANTE, adj. 2 yen. Vid. Rore-
iante.
Que os Torijaiitca Zt.fyroâ adèjio,
K com fecundo aíso;)ro o ár tmiiiRTrio,
Contento vem buscar antigos l;uos.
Com verniz mais luzente as luas brilhilo :
Pelos aros va/.ios se arremoi;a
A volante falange, o atlronta ousada
Sobre as nuvens o mar, que freme, e espuma.
J. K. DK MACEDO, MEDITAÇÃO, Cant. O.
ROSA, í. /. (Do latim rosa). Termo
de Hotaniea. Flor olorifera, ordinaria-
mente do um vermelho um pouco de.seo-
rado, e que crcsee. sobre um arbusto es-
pinhoso. — Rosa simples. — Rosas de todo
o anno. — Uma grinaldit de rosas. — A
ingratidão é como a rosa, </i<8 pica anuelh
que a colhe.
Quem vè que cm branca neve nascem rosas,
Quo crespos fios de ouro vão cercando,
Se por entro esta luz a vista passa,
Raios de ouro verá, que as duvidosas
Almas estão no peito traspassando,
Assi como hum crystal o sol traspassa.
CAMÕES, SONETOS, U." 60.
— í Bem no meyo, estauao rauytos
alegrete.'?, por gentil ordem dispostos, c
traçados; cõ toda a variedade do rosas,
e boninas, assi da Índia, como de Espa-
nha, e entre ellas as casas em que cl Rey
86 recrea, er.^o todas j)iutadas, com va-
rias historias, e algumas figuras monstruo-
sas.» Fr. (laspar de S. Bernardino, Iti-
nerário da índia, eap. 15.
Que Vi5s sois das milagrosas,
e se cu yi. tivera filho
vos auinarcis de rosas,
ANTÓNIO PBBSTKS, AUTOS, pag. "247.
Senhora, chamae-Uic a esposa,
quo venha vèr seu esposo.
Grimanoza !
Grimaneza é ? fui ditoso ;
mestre, tornae-nie formoso,
que fique cravo com rosa.
IBIDEM, pag. 313.
Eosa», lirios, daqui, dalli rebentão
No chão qno o Corpo opprimc, o so dol>rm,'ão
No seio quo a compasso arqueja, o bato :
Ncin 30 descobre todo, ou todo escondo.
J. A. DG MACEDO, A NATDREZA, Caut. 1.
Se o vivo azul do (íco no mar 3'o3pelha,
Quando o bafeja Zofyro suave;
Se nas ondadas pcrolas observo
A variante aòt do ouro, e do rosas,
Quo d'Alva, ao despontar, no rosto assomão.
IDEM, MEDITAÇÃO, Caut. 2.
ROSA
No Mancebo Poléo juntai triunfos.
Juntai desse, a (|ue!ii deu Cartliagu o iioine.
Todos os louros eiiiiastrai do ("isar,
K us, (|ue Augusto coUioo, palmas no Kufratc* ;
Tanta gloria iiào tem, tanto não valem
Como hum dia do paz. Quanto hc mais doce
Das rosa-1 na osta<;ão manhã que aponta,
Que cm triste Inverno a noite borrascúsa.
iiiiDKM, cant. 3.
— Agua de rosas ; agua cxtrahida daa
rosas por meio da distillaçUo.
— Termo de poesia. Â estação das ro-
sas ; a primavera.
— Diz-se também, como a tlor, para
designar a virgindade.
— Toma-se tambeiti por uma donzella
bonita e formosa.
— Figuradamente : Diz-se do que é trio
agradável como a rosa. — Colher a rosa
na manhã da vida.
— Estar em um leito de rosas ; viver
n'uma molleza, gozar de uma felicidade
perfeita.
— Prazeres, júbilos, alegrias. — Esta
cidade não c semeada de rosas.
— Figuradamente : Diz-se de uma ves-
tidura de branco e de encarnado que apre-
senta o tinto do rosto.
— Beiços de rosa ; lábios, beiços ver-
melhos.
— Nome de varias flores, que se asse-
melham pouco mais ou menos il ro.<a. —
Rosa dos Alpes. — Rosa do céo. — Rosa
da índia. — Rosa do Japão.
— Rosa d' ouro; figura de rosa em ouro
que o papa costuma abençoar á missa da
quarta donúnga da quaresma, que cUe
leva na procissão, e que envia depois a
algum priíicipe soberano.
— Diamante rosa; diamante talhado
por cima em facetas, e por baixo chato.
— Não é uiH brilhante, é uma rosa. Vid.
Chapa.
— Termo do Náutica. Rosa d'agulha ;
o mostrador d'agulha de marear, onde
estão os rumos e graus em que se divide
a esphera.
— Termo de Architetura. Pequeno or-
namento circular de folhas, collocado
nos forros do tecto das cornijas, ou no
meio do ábaco do capitel corinthio.
— Nome dado aos interiores das igre-
jas gothicas, a essas grandes vidraças cir-
culares, formadas de nervuras em pedra,
cujos intervallos estão cheios de caixilhos
de vidros; d'onde provém os comparti-
mentos de todas as espécies de cores,
cujo efFeito é muito .agradável.
— Termo de Marinha. Rosa dos ven-
tos; a reunião dos trinta e dous raios cm
que se divide a circumferencia do hori-
sonto, a fim de poder avaliar no mar a
direcção dos ventos.
l''4r(m rosas; rosas t-içosa.o; diz-se em
opposição a rosas mortas, ou murchas.
Amor, que o gesto liumano na alma escreve.
Vivas faiscas me mostrou hum dia.
ROSA
Donde hum puro crystul se derretia
Por entre vivait ro«« >• alva neve.
< AM., SUKKTua, U." Tl.
— Figuradamente : Fresca rosa.
o mais d°ellc
beberá nenhum com cUe ;
porém DC fôr c-om fá co|>o
ou mi tassa é todo file.
Paroee que »c empoleiram
corvo» nclle; fresca rota
Be cria cm vós, bem vos feiram.
AXTONIO PBK8TIS, ACTUl, pag. 47.
— Nó de rosa ; laço relevado de fita,
espécie de rosa que as damas costumam
trazer na cabeça como enfeite.
— Termo de encadern.ador. Peça de
latão com lavor, que se applica quente
sobre o ])!) d'ouro para dourar os livros.
— Nódoa amarellada, alaranjada ou
azul que o aço apresenta algumas vezes
no meio de sua fractura.
— Maré de rosas ; maré boa, excellen-
te, óptima, magnifica.
— Dominga de rosas ; encontra-se cm
os nossos documentos dominga de rosas, e
dominga da cosa áurea: a primeira de-
pois da oitava dsi Ascensão, porque n'e8-
te dia celebra o .'^ummo pontifico em San-
ta Jlaria a Rotunda, e no sermão se fal-
ia da vinda do Espirito Santo, dcitando-
se simultaneamente desde o mais alto do
templo grande numero de rosas, ct>m a
figura do mesmo Espirito Santo, costu-
me, que com outras circumstancias, allu-
sivas ao mysterio, diz Du Cange, até ao
seu tempo se observavam em algumas
egrejas de França: a segunda é a do-
minga quarta da quaresma, chamada La-
ctore, e n'ella costumaram sempre os
summos pontifices, depois de Innocencio
IV, benzer uma rosa de ouro, que offere-
cem a algum grande principo, que se
acho em Roma, ou mandal-a a aigom
imperador, rei, potentado, ou republica,
em signal de benevolência e gratidão.
— Adjectivamente: Arvtas rosas, «<;-
tim rosa ; armas côr de rosa, setim côr
de rosa.
— AD.4GI0S E PROVÉRBIOS :
— Junto da ortiga nasce a rosa.
— Foi maré de rosas.
— Não ha rosas sem espinhos, nem
mel sem abelha.
ROSÁCEO. A, adj. i Do latim rosaeeut,
de rosa). Termo do botânica. Que est;i
disposto á maneira das pétalas de uma
rosa. — Uma jlòr rosacea. — Condia ro-
sácea. — Ovários rosáceos. — Estetme»
rosáceos.
— ò'. /. plur. Familia de plantas, que
tem ]>or tv)ni o género rosa.
1 ROSÀCICO, A, adj. Dir-se do uma
substancia de côr rosada, ou avermelha-
da, que a ourina deposita em consequên-
cia dos accessos do febres intermitten-
tes. Reconbcceu-se que é uma combina-
EOSA
ROSE
ROSI
335
ção de acido úrico com uma matéria par-
ticular, de cor vermelha.
ROSADA, .'. /. Um peixe.
ROSADO, A, a^J. Que é de um verme-
lho fraco, approximanda-?e da cor da ro-
sa. — Tin^a rosada. — Cor rosada.
— COr de rosa. — Aurora rosada.
Cortarias ao largo o intacto Oceano,
Jlas para abrir as recatadas portas,
Puniceo berço da rosa<ia Aurora,
Pcide mais teu valor, que os Astros podem.
J. A. DB H-iCEDO, A XATIBEZA, Cant. 1.
■ — ■ Unguento rosado composto : unguen-
to medicinal.
— Diz-se da côr de certos vinhos. — •
Champofjne rosado.
ROSAIRO, ?. m. Vid. Rosário.
Bofa não do meu rosairo :
c esse ?
Mão quem falou.
Por que não lanças a rede
nesse somno ? enreda-o bem .
AHTOKIO PKESTES, AUTOS, pag. 259.
ROSAL, í=. m. Mata de roseiras.
ROSALGAR, *. m. Espécie de arsénico;
oxydo de arsénico. — «Se Marfisio tiras-
se efFectivamente a vida a V. M. a van-
tagem nunca era grande. Hum só grào
de rosalgar podia faser isso mesmo.» Ca-
valleiro d'01iveira. Cartas, liv. 1, n.° 48.
— Adagio e provérbio :
— Pouco rosalgar não faz mal.
ROSALGARINO, A, adj. De rosalgar,
veneno>o como elle.
ROSÁRIO, s. 77). Coroa composta de
quinze dezenas de contas, em cada uma
das quaes se recita uma Ave-Maria ; es-
tas dezenas são separadas por uma conta
isolada que indica um Padre Nosso. O
fim d'esta oração é recordar aos fieis os
quinze mysterios principaes da vida de
Jesus Christo. e da Santa Virgem.
— Ordem do Santo Rosário ; ordem
fundada por Frederico, arcebispo de To-
ledo, que se estabeleceu depois da mor-
te de S. Domingos; o signal distinctivo
d'e5ta ordem era uma cruz branca e pre-
ta, que tinha um medalhão oval, onde
estava representada a Santa Virgem, ten-
do n'uma das mãos o menino Jesus, e na
outra um rosário.
— Machina de extrahir agua das mi-
nas; um cano, pelo qual sobe uma ca-
dêa, em que estão enfiadas meias bolas,
ou êmbolos justos, que vão levantando a
agua que subira para o cano.
— Rosário de jambú ; arbusto análogo
ú murta.
ROSASOLIS, s. /. (Do latim ros solis).
Planta annual de flor rosácea, em cujas
folhas se encontra uma espécie de orva-
lho, ainda no maior vigor do calor.
— Certa bebida. Vid. Rossolis.
f ROSAYRO, s. m. Vid. Rosairo, e Ro-
sário. — «Sobre os mais vestidos, huma
marlota de veludo verde laurado chea de
alamares com fio de prata, e botões dou-
ro tà grandes como nozes, e ao pescoço
hum rosayro de grossos, e finos alam-
bres : a tiracolo hum alfange com terços
douro, e baynha de prata, e a do punhal
do mesmo feytio, por sinto huma fiuella
mais larga que relho cõ pedras de muyto
preço, e e>tima.i' Fr. (íaspar de S. Bei'-
nardino. Itinerário da índia, cap. 19.
ROSBIF, 5. m. Termo derivado do in-
glez roastbeef, que significa boi ou vacca
assada. — Servir um rosbif. — Comer um
rosbif.
— Os cozinheiros dão também este no-
me á parte posterior de um carneiro, de
um bode, cordeiro, etc.
ROSCA, s. /. Linha circular espiral,
que se faz quando se enrosca alguma
eousa. — A serpente faz mil roscas.
Que em ser sempre tratado, c conhecido
De toda a humana gente o não ficaua,
O rosto tem sagaz, astuto, e ledo.
De cores variado, o corpo em ro-^ca,
De pés, c mãos carece, e não tem cousa,
De que mostre seruirse mas na lingua
Venenosa, e cruel satisfas quanta
Falta nos outros membros recebia.
COBTE KEAI., XAUPRAOIO DS SEPULTEDA, Caut. 11.
— Lavor espiral com uma quina viva,
que se faz aos parafusos de metal ou pau ;
as roscas entram nos vãos, ou espiras
entrantes da porca.
— Bolo de farinha feito cm argola tor-
cida. — Uma rosca de pão.
ROSCI ABO, part. pass. de Rosciar. Bor-
rifado, iirvalhado.
ROSCIAR, r. a. Borrifar com roscio.
— V. n. Borrifar, orvalhar, cair o ros-
cio. Vid. Rociar.
ROSCIDO, A, adj. (Do latim roscidus).
Termo de poesia. Orvalhado, borrifado.
— Cnmjios roscidos. — Flores roscidas.
ROSCIO, s. TO. Vid. Rocio.
ROSCIOSO, A, adj. iDe roscio, com o
sutfixo «oso» I. (Jrvalhoso, que esparge or-
valho.
— Acompanhado de orvalho. — Nuvens
rosciosas.
ROSEGA, í. /. Termo de marinha. A
acção de procurar e tirar do fundo dos
portos as ancoras perdidas, quebrando ou
cortando as amarras.
ROSEIRA, í. /. Termo de botânica.
Género da fiimilia das rosáceas, eompre-
hendendo os arbustos espinhosos de uma
grandeza notável dispostos em maior ou
menor numero no vértice dos ramos, ou
em pequenos ramos lateraes, juntando á
belleza e elegância das formas as cores
mais agradáveis, e muitas vezes um doce
perfume.
— A roseira do Japão ; a camélia.
t ROSEIRISTA, s. m. Termo de Horti-
cultura. Homem que se entrega á cultura
das roseií-as.
k
ROSELHA, í. /. Herva denominada pe-
los botânicos cistus mas, cistus albidiis.
RÓSEO, A, adj. (Do latim roseiis). Ter-
mo de poesia. De rosa, ou côr de rosa.
- — Faces róseas, bocca rósea.
A Primavera envolta em rosfa nuvem,
Scnte-lhc a força a scvc amortecida,
Plantas, arbustos, arvores abrolhão.
J. A. DE MACEDO, A KATCBEZA, Caut. 1.
Porém não julgues qu' a belleza augmenta,
Qu" aos ondados cabcllos, rosfas faces
Dera a mão liberal da Natvireza ;
Hum Cóllo torneado, hum niveo Seio
Dão mais graça aos revérberos das' pedras,
Qu' a cobiça mortal converte em Numes.
IBIDEM, cant. 2.
ROSETA, s.f. Bolinha armada de puas,
coUocada nos remates das disciplinas de
açoutes.
— Côr roseta; entre os pintores, faz-
se de raspas de pau brazil com pedra hu-
me, sal, grã, e gomma arábica, tudo fer-
vido.
— A peça da espora, que tem puas, e
que fere o cavallo picando-o.
• — Peça análoga á roseta de esporas,
que se applica ao compasso para tirar li-
nhas de pontinhos; é como uma roda den-
tada.
ROSETE, adj. 2 gen. Algum tanto côr
de rosa, fallando do vinho pouco carre-
gado de côr.
L) ROSICLER, s.m. Termo antiquado.
Peça de pedraria, que cinge o pescoço :
alguns dizem que era de cabeça, e com-
posta de pingentes.
2.Í ROSICLER, adj. 2 gen. Cor ardente,
e accesa como a da rosa : alguns dizem
côr de rosa e de açucena. Outros dizem
que ó de côr de purpura com vislumbres
de ouro, aúrirosada, como nos pires de côr
para o roíto.
ROSICRÉ, s. m, Côr fina de postura
accesa, abrazada, de carmim.
E outra musica cm si
não orfea, será fim ;
quereis mais rosicré n'ella
que ir-vos vêr á jancUa
como is, que chega aqui?
vistes vida igual a esta,
dina em si de mais estima?
ANTÓNIO PBESTES, AUTOS, p8g- 111-
ROSILHO, s. ;)!. Vid. Russilho.
ROSINHA, s. /. Diminutivo de Rosa.
Rosa pequena.
Ai , como venho cançada !
Meu espelho, como estais?
Minha rosinha orvalhada,
Lá vos deixo cncommendada
A Virgem dos Olivaes.
O devota madre minha,
Quando vos mereci tanto ?
GIL nCESTE, COMEDIA DE RUBEN A.
ROSINHO, s. m. Vid. Russilho.
336
ROSS
ROST
RObT
ROSMANINHAL, s. m. Campo do ros-
niaiiliilms.
ROSMANINHO, s. m. Arbusto do mui-
to» r;ii)ii)-i ou víira», com follian id(;iitiua8
ás da altazonia, porém mais brancas e
ostrcita.s. Tem clioiro aromático, sabor
acro o amarffoíío.
ROSMAR, ou R03MAR0, s. m. Tormo de
Zoolo^jia. Animal amphibio, espucio do
plioc.i, da jíranílcza do um elephante.
ROSMEAR. Vid. Resmonear.
ROSNADOR, A, n'lj. Pcdsoa que rosna,
qiK! nuirmiii"a.
ROSNADURA, s. /. Acto do rosnar.
ROSNAR,' I'. n. Murmurar, fallar entro
8Í, fallar em voz baixa. — « Ello hc chovo
como um ouriyo, j)orem chovo de niabla-
de, disso a Cunhada pela primeira vez
que falou, o a Prima quo também ate alli
eatovo callada tomou seu pouco do fo£,'o,
porem falando jior entro os dentes iiào ])U-
de perceber o quo rosnava com as suas
pabavras, qu<! nào cahirào no chão.» Ca-
Talleiro d"()iiveira, Cartas, liv. 1, n.° 10.
tiulf) ]A são palavrinhas,
que dirá a minha pcuto ;
c cila lia do câtíir a rosnar
8C cu tardar.
ANTÓNIO riiESTKS, AUTOS, pag. 371.
Rosnara W coinsigo frei Soeiro •,
Mas o mal quo lhe quer, pelo respeito
Do quom o manda, declarar uão ousa.
OAnuETT, D. nuANCA, cant. 1, eap. 5.
— Rosnar-se, r. rcji. Dizer-sc em se-
gredo, ou pela bocca pequena.
— Susurrar-se como em segredo ; apu-
ridar-se.
ROSQUILHA, .«. /. Ro.squinha.
ROSQUILHO, s. wi. Uos(piiiiha.
ROSQUINHA, .t. /. Dimiminutivo de
Rosca. Uosoa pequena.
ROSSA. Termo usado na phraso adver-
bial: Ancora á rossa ; ancora prompta
para se soltar a baixo, a pique. Vid.
Roça.
f ROSSAR, 1-. a. Vid. Roçar. — « Fera
nos ganhar as võtades, ou para melhor
dizer o arros : ferio fogo diStc de nòs,
tomando dous paos, rossando hum pelo
outro, sem mais outra alguma pedra, fu-
sil, ou bisca, cousa geral cm muytas Ilhas,
e 13^'ando huns caruõcs na bal.íça se foi
à talha, da qual tirou huma pouca de
mantevga, com que vntou as três Cruzes,
começando pela do meio.» Fr. (íaspar do
S. Bernarilino, Itinerário da índia, cap. i1.
ROSSEGA, y. /'. Termo de Náutica. A
acçào, e o trabalho de procurar as anco-
ras no fundo do mar.
— Cabo forte cora que se buscam .is
ancoras perdi las.
ROSSEGAR, V. (i. Procurar uma ancora,
ou qualquer outro objecto, perdido no an-
coradouro, e ir tirar a ancora, etc.
ROSSIM, «. «1. Cavallinho, ou mau ca-
vallo, e fraco.
ROSSIO, ». m. Vid. Recio, e Rocio.
R0S30LINA, «. /. Toraio de botânica.
Planta, em cujas follias se encontra uma
esj>eeie. lU: orvaUio.
ROSSOLIS, K. m. Vid. Rosasolis. I-^po-
cie do lieor iloce c agradável, formado de
aguanlente, com certos aruuias, e sândalo
verniídlio.
ROSTALHADA, s. f. Vid. Raslolhada,
e Reslolhada.
ROSTINHO, 8. 7)1. Diminutivo de Rosto.
Pequeno rosto.
lá essas noras de ronUnhos
denfe.itados, tero líro :
ora olhac.
ANTÓNIO PRKSTES, AUTOS, pag. 249.
— Pliir. Indieios de descontentamento.
ROSTIR, r. a. Termo antiquado. Me-
nospn-zar, maltratar.
— Figuradamente : Mastigar. = N 'este
senti<lo está pouco em uso este termo.
ROSTO, ,f. VI. (Do latim rostrum). Fa-
ce, cara, semblante. — Rosto bonito, po-
rém todo cimo de modéstia.
Eu lovarci daqui por presupposto
Desta nova estranheza que fizeste,
Que em ti nào pôde haver cousa segura.
9uc, pois o claro lume, o bcllo rosto
Áqucllc monstro tão disforme déstc,
Não creio ([uhaja Amor, senão Ventura.
CAM., SONETOS, H." 20G.
— « Isto lhe causava tanta tristeza,
que por forya se lhe enxergava no rosto,
por mais que dissimulava, de que seus ír-
mrios também tinham muita parte, ven-
do-o assim sem nunca poder tirar dcUe
quem o fazia de-;eoutente.» Francisco de
Moraes, Palmeirim de Inglaterra, cap.
16. — n Acabadas as palavras com ipie 0
gram Barrocante, que assim havia nome
o gigante, deu sua embaixada, o impera-
doi-, a quem pouco medo fizeram, com
rosto alegre e rindo-se, lhe disse : Vejo-
vos tão manencorio que não sei se vos ou-
torgue o que pedis : d'outra parte temo
que inda (jue conce lesse nesse casamento
do soldào, minha neta Polinarda nào ser
contente. » Ibidem, cap, 93. — « Porem
ao tempo, que o fez de Polinarda, lhe
vieram uns sobresaltos ao coração taes,
que, se seu acordo nào fora pêra muito,
poderá dar azo a se sentir. Ella nào pode
tanto dessimular aquclle apartamento que
na còr do rosto se lhe nào visse alguma
mudança.» Ibidem, 'cjip. íir>. — «A «»t.a-
dura do rosto, que trazia desarmado, al-
gum tanto medonha e carregada; as ar-
mas, que trazia, quasi desfeitas dos mui-
tos golpes que recebera nellas, alem disso
tão cheias de sangue, que escondiam com
ello as coros e devis;is delias; o escudo,
quo lhe trazia um escudeiro, vinha tal
que quasi não havia nelle mais que aã
ombraçaduras. • Ibidem, cap. 126. — c£
logo mais adiante a entrada da porta que
estava entre duas torres inu\t<j alta«, ar-
mada Boijre vinte o quatro coluiias de pe-
dra muyto gr<Msa8, ortavuiii duas liguraa
di: homem*, cada hum coin sua ma^-a de
ferro iiaa mSog, como quo guanlavSo
aqiK lia entrada, cuja estatura e grandeza
era de cento e quarenta palmos, com huní
rostos tão feyofl om tanta maneira que
quasi tremião as carne» a quem os olha-
va, aos quais os (.'hins chamavSo Xixipi-
tau Xalieào, fjne quer dizer, assoprado-
r(^s da casa do fumo.» Fernão Mendes
Pinto, Peregrinações, cap. 1()'J. — f E a
grande dór e lastima com que derraman-
do saugue de to-Jo seu rosto, lamentava
com altas vozes a morte do sou marido e
de seus Klhos, o lhe afUrmarai} que tinha
Deos toma<lo á sua conta o c;istigo da sem
razão deste crime, e as palavras da carta
dizião assi.» Ibidem, c.-.p. 141. — «Assen-
tado em huma cadeira, com o rosto pêra
huma porta que sahia pcra hum baluar-
te, onde 03 soldados vig-iavan toda a noi-
te, e tinha antro as pernas hum menino,
seu filho nataral í^que depois se chamou
Aires Falcaõ, o foy Capitão de Baçaim,
o de Dio, e tem hoje filhos, e netos) e
como ello estava com candeas acesaa, e
os quo passavaõ pêra o baluarte hião de
longo da porta. » Diogo de Cout^), Década
G, liv. 7, cap. 2. — « Aqucl las escusas
que o Sangage deu pêra n.ío hir ver o
Capitão, foraò, porque se não se atreveo
a ver o rosto a ElRey de Ternate, por-
que havia que tlelle lhe nascera todo o
seu mal.» Ibidem, liv. 9, cap. 13. —
« Porque se s/) a esperança do bem, que
se dilata, ailiige a alma; que será o te-
mor do mal quo se pressente? Ah meu
Deos ! so chegarão os olhos de minha al-
ma a ver algum dia vosso alegre rosto Tt
P. Manoel Bernardes, Exercícios espiri-
tuaes, part. 1, pag. 'à2>^. — » Hia, e diz,
que o achaua com o rosto abrasado, e os
olhos abertos sem nenhum vso porem
d 'este sentido, nem dos mais : porque fa-
zendo o moço grande rumor com os pés,
bolindo com as portas, escarrando alto,
naila bastaua pêra a alma acudir, e tor-
nar de lá de dentro, onde estaaa só com
Deos, ás portas de fora.» Lucena, Vida
de S. Francisco Xavier, liv. G, cap. 4.
Ho posaivel (lhe diz) hum 8<'> meu gosto.
Hum 9Ó amor meu, hum Si) contt^ntamcnto.
Que pois todo meu bem cm ti cstí posto,
De mi nastja este triste apartamento ?
C\>uio ouso eu hoje a ti voltar o r<v>fo,
So eu c;\uso hoje esse moa c t«u tormento ?
Ou como autca uão quir perder a vida.
Que sentir pstJi triste do-spodida"?
F. DK ANDB\DK, FKIXKIBO COCO DE DIC, CMlt.
3, est. GJ.
Direm que aquella barba que so via
O antigo rosto o.ntão cstir-Iho ornando,
Quatro vezcs ou cinco, se snbia
Que ciu branca e preta a cor fora alterando :
ROST
ROST
ROST
337
I
Sendo branca de todo, de novo hia
Pouco a pouco huma negra côr tomando,
K snndo toda negra se mudava,
E pouco a pouco em branca se tornava.
IBIDEM, caiit. 8, est. 64.
Eis aquclles que ja não se ntrevêrão
Ter contra o iraigo são, rosto direito,
Vendo o porque os Christãos se recolherão.
Tendo por grave o damnp que lhes he feito,
O temor que então tem logo perderão,
Enchem logo de novo ardor o peito.
Ousado cada hum torna ligeiro
A tentar o f|ue em vão tentou primeiro.
IBIDEM, eant. 18, est. 2.3.
— «Desta vila nos partimos com ho
rosto ao occidente, e andamos liuraa pe-
quena jornada, o fomos dormir a huma
aldoa do Christãos, que he edificada de-
baixo do chão pola torra sor muyto fria
cm demasia.» António Tenreiro, Itine-
rário, cap. 25. — «Era este luf^ar ha
muytas hiranijeyras, e alfaroubeyras, e
olivaes: he habitada de alarves gentes
bravas mal obidientes aos Turquos : e
daqui nos partimos com o rosto ao po-
nente e a longo de huma serra per terra
chaã.» Ibidem, cap. 36. — «Quando vos
acheis só com hum sinal sempre espero
que mo mandeis, porque sendo-me abso-
lutamente necessário para encobrir hum
defeito, sey que he impos.sivel que o em-
pregueis em parte alguma do vosso ros-
to sem ocultar huma perfeição.» Caval-
Iciro d'Oliveira, Cartas, liv. 2, n." 87.
No mais profundo da sombria estancia
Assisto a cruel Deosa, cujo rosto
Apenas se divisa, á luz confusa.
Que cspalhào, respirando de continuo.
DiKiz DA CRUZ, uYssorE, caut. 2.
— «Dei então um suspiro, e entre mim
disse : E a que mulheres terão de asse-
melhar-me? a mulheres que andão nos
olhos de todos?» • — Continuava Affonso...
quando eis que, avançando o rosto para
me designar alguém, o avistou uma mu-
lher que estava no caraariHo chegado ao
nosso, e chamado por ella mo deixou.»
Franci.sco Manoel do Nascimento, Succes-
sos de madame de Seiíeterre.
Dá-mc vossa merci"' a mão,
senhor Dinheiro ?
Esse rosto,
esses olhos vol-a dão ;
Dinheiro, onde elles estão,
não tem data, nem tem posto.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pag. 205.
Meu Senhor é como um doudo
que se chamava o Sobrinho,
vcstia-se cm casa a seu gosto
o ia lavar mãos e rasto
ao chafariz de Andaluz,
e assi n'e3tc caminho
anda cinfira meu senhor posto.
IBIDEM, pag. 299.
— Da rosto n rosto ; de cara a cara.
voL. v. — 43.
— oE começando a obra de vir rosto a
rosto, em ambas as partes, assi na pon-
te, como na outra encommendada a D.
João de Lima, acudio a estes dons luga-
res grande pezo de gente.» João de Bar-
ros, Década 2, liv. G, cap. 4.
— Dar de rosto covi alguém ; encon-
trar-se cara a cara com elle. — «ElRey
com o seu Elefante, ao tempo que os ou-
tros voltaram em fugida, por se guardar
do Ímpeto delles, tomou a boca d'outra
rua, afa.stando-se hum pouco do concurso
dos nossos; e tornando sobre elles, quasi
como que lhes queria tomar as costas,
veio dar de rosto com Fernão Gomes de
Lemos, Vasco Fernandes Coutinho, Mar-
tlm Guedes, e outros que os conseguiam.»
João de Barros, Década 2, liv. 6, capi-
tulo 4.
— Rosto a rosto ; a cara descoberta.
— • Accommetfer rosto u rosto ; accom-
metter de frente, por diante.
— Figuradamente: Mostrar bom rosto
a alguém; mo.strar bom semblante, bom
agrado.
Tem nos pés hum letreiro que dezia
Engano sou de todo estado amigo,
IMostro bom rosto a todos, mas o peito,
Do veneno mortal tenho corrupto.
Parase o Capitão, e olha o caminho,
Qua com a innumerauel gente ferue.
Vários enganos vio todos cubertos
Com capa de amizade ou de virtude.
CORTE REAL, NAUFRÁGIO DE SEPÚLVEDA, Caut. 1.
Senhora, tirae o manto,
mostrac As caras bom rosto,
pois o tendes a meu gosto.
Estou casada.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pag. 233.
— Trazer o rosto descoberto; trazel-o
sem véo em signal de pouca modéstia.
— «E descendo-se ao pé d'uns alamo.s,
como Targiana trouxesse o rosto descu-
berto, e fo.^se tão natural com o vulto
que Albayzar trazia no escudo, os caval-
leiros, que ao pé da fonte estavam, co-
mo a viram, afíirmando ser aquella por
quem Albayzar se combatia, determina-
ram tomal-a por força d'armas, posto que
pêra o fazer pouca força lhe parecia ne-
cessária, e presental-a ante quem ser-
viam pêra desculpa de seu vencimento ;
porque sem duvida lhe pareceu a mais
fermosa cousa do mundo.» Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 87.
— Pôr uma arma ao rosto; collocal-a
de maneira que possa disparal-a conve-
nientemente. ^- «E querendoa carregar
como algumas vezes me tinha visto fa-
zer, como não sabia a quantidade de pól-
vora que lhe avia de lançar, encheo o
cano em cõprimento de mais de dous pal-
mos, e lhe meteo o pilouro, e a pôs no
rosto e apontou para huma larãgeyra que
estava dcfrõte.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 136.
— Cobrir o rosto com alguma cousa;
não o deixar vêr.
O sangue em borbotões rebenta, c mancha
O sceptro, que sustinha a Tyrannia :
Cobre o rosto co' a clamyde soberba,
E victima cahio de Eoma e.-tcrava.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Cailt. 2.
— Rosto altivo; semblante orgulhoso.
Dareis antes, no Campo, alcance aos Nortes.
Antes, nos Ares colhereis as Aves.
Hosto altivo, azues olhos, têz corada
Vrbrão vista feroz ameaçadora.
F. M. DO NASCIMENTO, OS MARTVRES, 1ÍV. G.
— Figuradamente : A chamma mostra
o rosto ao cheios; alumia-o.
A cliamma ardente, o pura o Mundo aclara,
Ao C.áos mostra o rosto, o Caos foge,
Co'a inextinguível força aviva os Entes
E purifica os Elementos todos.
J. A. DE MACEDO, A N.iTUREZA, Caut. 1.
Voltar o rosto ; vid. Voltar.
Voltão rosto os Bomanos, que fugião -,
No peito do mais frouxo, do mais timido
De golpe entra a Esperança. Tal, no Eôo,
Se assoma matutino, na tormenta,
O Sol ; e o Ijavrador, que alentos cíbra
Admira o como, cm toda a Natureza.
F. }I. DO NA3CI.MEXT0, OS MARTYKES, 1ÍV. G.
— Rosto egual; semblante, disposição
egual.
De brutos animaes tão varia espécie ;
Do humano Corpo a maquina pasmosa.
Em todos rosto igual, diverso em todos ;
São de inerte matéria acaso as obras?
J. A. DE MACEDO, A NATDREZA, Cant. 1.
— Ter os olhos 'pregados no rosto d'al-
guem; olhal-o attentamente, ter os olhos
fitos no rosto d'elle. — Tinha os olhos
j>regados no rosto d' aquella figura trans-
cendente c que revelava pelo seu aspecto
grande talento.
Sem que a excelsa razão sepulte cm sombra,
Otfuscando-lhe a luz, tollieudo os voos.
Qual ser costuma nos mortaes se he grande !
Pregados em seu rosto cu tinha os olhos.
Com celeste prazer minh'alma toda
Em sobrc-humanos néctares s'engolfa.
J. A. DE MACEDO, VIAGE.M EXTÁTICA, Caut. 1.
— Rosto madraço; semblante que in-
culca inércia, ócio.
Por este rosto madraço
que m'o haveis bem de pagar,
e d'outra vos não passar
como as mais que vos eu passo.
ANTÓNIO PRESIES, AUTOS, pflg. SÓ,').
338
ROST
ROST
ROST
— Esperar, aguardar com rosto serju-
ro (ilijaein; osponil-o com rosto intrépi-
do, Bolido, liniio. — «Viu o desalento
pintado iio.í semblantes dos mais valoro-
sos, e a ultima esperança varrcu-rfe-lho
da alma. Todavia, esporou com rosto se-
guro a cliegaíla dos cavalloiros quo su-
biam a encosta.» Alexandre Herculano,
Eurico, caj). 12.
— Fij^iiradamente : O sol farta o ros-
to ás Solidões (jeladas; não lhes dá luz,
níto as alumia.
Da vida almo vigor, o Sol brilhante
Froxo vislumbro a modo espalha apenas,
K furta o roulo As solidões peladas.
Da Natureza tumulo, o da vida.
J. A. DK MACEDO, A NATURKZA, Cant. 3.
— o abrazado rosto ; o ardente ro.sto.
Não vejo fulfciirar nos Ceos a espada,
Nem do abrazado rnxlo a cliamma ondeante,
Que liiim pregão de furor se antolhe ao Mundo ;
Mas vejo fumefjar de sangue hum rio;
Do Tejo, e do Danúbio a margem fi-ia
Vejo thoatro da medonha morto.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Cant. 2.
— Rosto do sapato, ou bota ; a parto
dianteira quo cobro o peito do pó.
— Rosto do livro; a primeira pagina
do titulo. Vid. Frontispício, e Titulo.
— yl/ííii-rosto ; a folha que precede ao
rosto do uma obra, e cm que sóraeute se
encontra o nome d'ella sem auctor, anno,
etc.
— Figuradament'! : A fronte ou parto
dianteira. — «E da parto de dentro nes-
te mesmo dedo, começando da ponta del-
Ic que he o rosto do cabo ComoriJ, te o
inaes estremo lugar desta enseada onde
ella fica mães curua, aucrà quatro con-
tas e dez legoas.» Joílo de Barros, Déca-
da 1, liv. 9, cap. 1. — «O primeiro dos
quaes que tomou terra no rosto da cida-
de em que estaua ordenado que auiaõ de
sair, foi o de dom Francisco, onde todo-
los capitiíes acodiraij e se fez em corpo
em hum teso em quanto os bateis torna-
uão por outo golpe de gente.» Ibidem,
liv. 8, cap. 5.
— Toma-se também pelo animo, por-
que as mudanças, ou affecções d'elle
transluzom no semblante ordinariamente.
— Fazer cOr no rosto; corar. — «Alli
lho veio A memoria Floriano do Deserto,
quo seria da sua idade, e lá dava um ar
seu: esta lembrança lho fez uma cor no
rosto, que a tornou mais formosa: c scn-
tando-se ambos em uma janella, que caia
sobre o rio, começou dizer.» Francisco
do Moraes, Palmeirim de Inglaterra, cap.
102.
— Fazer no rosto differenqas novas;
mudar de cor. — «E alem disso concerta-
va o toucado, apertava o vestido, esque-
cia-se nas pala%'Tas, fazia no rosto iiraas
differenças novas, mudando a côr de ma-
neiras diversas, segundo oh Bobrcsaltos o
coraçilo lhe dava, hora lha via namorada
e no mesmo instante irosa, como quem
])ele Java comsigo. i Francisco do Moraen,
Palmeirim d'Inglaterra, cap. 106.
— Fazer ao rosto uma barrida de leite
de burras; dar-lho uma barreia do mes-
mo leite.
Jíofé, quo b'cu fora cila
fizera ao rònto uma barreia
de leite de burras, que 6
um marfim de Silo Tliomí
liara a alvura, o fal-a bolla.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pag. .331.
— • (^> rosto da medalha; a parte op-
posta ao reverso.
— ICm rosto da jwrta; em face, de-
fronte dVlla.
— Enxotar do rosto as moscas ; fa-
zel-as desapparecer do semblante.
O Urso ia A caça, c co'ella o regalava :
E como era também bom Caça-môscas,
Quando o Amigo dormia, lhe cn.xotava
Do rosto csac Animal mui parasito,
Que appellidanioa ?Iò.sca. — Em certo dia.
Que alto dormia o vólho, veio a Mosca
Na ponta do nariz aposeutar-sc-lhc :
Dcscspóra-so o Urso: cnxota-a... (Irrorio).
F. M. DO NASCIMENTO, FABULAS DE LAFONTAINE,
liv. 3, U." 27.
— A frente.
Mas nem a falta d'hum tâo importante
Membro, alguma causou no forte peito.
Que inda que a dôr que tinha era bastante
A sujeitar o nunca antes sujeito,
Nenhum nelle o aentio, dos (|ue diante
Alli tinha, ou no rosto, ou n'algum geito,
Quo mais o aperta o csprito não domavcl
Que aquella grave dôr intolerável.
FBAMCI3C0 UB ANDHADR, PKIMEIBO CBBCO DE DIU,
cant. 16, est. 117.
Para meu gosto quizera-lhe menos
rosto.
Sim, que pêra meu gosto
(|uizora-lho monos rosto,
rosto de monos formosa.
ANTÓNIO PBESTRS, AUTOS, pag. 305.
— Esperar alguém de rosto a rosto ;
espcral-o ile cara a cara. — tTera se El-
Rcy de Cambava o quizesso cometer, o
esperar do rosto a rosto, e que se con-
tentasse com o que fez o Emperador Car-
los Quinto, quando esperou o Turco So-
leiniaõ em Viena, porque tudo o outro
mais ora temeridade. O Governador ven-
do todos contra si desistio de sua opi-
ni.uo.» Diogo de Couto, Década 6, liv. õ,
cap. 7.
— Figuradamente : Da alma ao rosto
vae um canal aberto.
Mas d'alma ao rorío vai canal aborto
Que HO intupein vicirHi. ou fingido
Orgulho do lioiiiem vão. 1'orque te eocondcs
Na toga consular o vult/j au»t<T0,
Libertador do líoina? Ja itus;iciisaii
As segure» estio... Tam firme peito
Que faz, que nào sustenta o rorito ao golpe?
OABBETT, CAMÕEfl, cant. 8, cap. 1.
— Volver o rosto ; voltal-o.
A fresca virai^ilo quo mal das aguas
Leve incrcspava a aupcrficie apcnau ;
Uin.a voz me chamou, — voz que em meu peito
Ouve inda o corarão — voz doce e meiga,
Que nunca mais... oh ! nunca uiais na terra
Escutarei dos vivos... volvo o rorto.
OABBRTT, CAMÒBt, caut. 4, cap. 3.
— Rosto angélico; rosto de anjo, de
uma alma bem formada. — O rosto an-
gelico da Virgem Sagrada, — tE porque
claramente mostraua estar naquella casa
o tbesouro que buscauào, sem nenhama
duuida ehcgar.no á porta, c tàto que vi-
ram aquclle angélico rosto da Virgem
sagrada, logo sentir.HO que aquella Senho-
ra era mais que criatura humana, enten-
deram quo bastiiua vir tal 3I5_v, pêra co-
nhecer quem era o lilho.i Fr. Bartholo-
nieu dos Martyres, Catecismo da doutri-
na christã.
— Rosto grave e severo; semblante se-
rio e rigoroso. — «Entào tornado a olhar
para nós, proseguio adiàte com suas pre-
guntas, e sempre com rosto grave, e
mostras irosas, como ministro inteyro em
seu officio, lias quais se deteve quasi
huma hora, e ja por derradeyro nos dis-
se, pois, qual foy a causa porque as vos-
sas gentes no tempo passado quando to-
marrio Malaca pela cubica das suas ri-
quezas, matarão os nossos tanto sem pie-
dade, de que ainda agora ha nesta terra
algumas viuvas?» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 140. — *0 Calami-
nhan com rosto grave o severo lhe res-
pondeo, eu aceito em mim est;\ nova ami-
zade, para em tudo satisfazer a teu Rey
como a filho novamente nacido de minhas
entranhas.» Ibidem, cap. 163.
— Divisar no rosto de alguém a ima-
gem do prazer, e a da paz; enxergal-a,
conhecel-a distinctamente no seu sem-
blante.
A imagem do prazer, da pai n imagem.
Que eu de c;l no teu roito dinsava,
Ao vèr de tanta maravilha o quadro.
Já se perturba hum [xiuco, e se esvaece.
J. A. DE MACEDO, A XATIBEZA, Cdnt. 1.
— Observar no rosto d'aljuefn as fei-
ções dignas d'aquelle^ monstros.
Inda 03 achastes nos acrcos cumes
.\rniados d"aço c ferro, inda no n>*to
Lh' obsori".aste as fei<;iV'3 dignas d'aqnel]c8
Hórridos monstros, ávidos de sangue,
Mais que de s;\nguc cobiçosos d'oiiro.
J. A. DE MACEDO, A XATtTBKZ-K, Ca»t. 2.
ROST
ROST
ROST
339
I
— Vários rosLos ; rostos diversos, ros-
tos variados.
No3 vários aniraacs, nos rostos vários,
Eu nas côi-cs, nos sous. eu n'alma o vejo
Almo thcsouro de Clemcncia eterna.
EUa enriquece a Terra, c a vejo cm tantas
Tão varias producções na espécie eternas.
J. A. DE MACEDO, ■^^AC^EM EXTÁTICA, Caut. 1.
— O rosto involto em véo sombrio ; o
semblante coberto com um véo sombrio.
Desfarte involto o rosto cm véo sombrio :
Se algum fròso vislumbre hum pouco o manto
Tentava levantar, maia carregada
Vinha cahiudo a sombra da ignorância.
J. A. DE SIACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Caut. 4.
— Pelo meu rosto correm lagrimas; as
lagrimas correm pelas faces abaixo.
Pelo meu rosto lagrimas escorrem,
Pranto doce, e feliz, e recolhida
Kesto sagrado horror rainhalma goza
Os doces toques da melancolia.
J. A. DE MACEDO, A SATCKEZA, Cant. 1.
Tu deste a Hydrodinamica pasmosa.
Teu Hemisfério Hydraulico os louvores
Do taciturno pensador La Grauge
Te soube merecer ! Ricati o grande
Te abra(;a terno cora silencio augusto.
Sobre teu rosto lagrimas derrama.
IDEM, \^AGEM ESTÁTICA, CaUt. 4.
— oE' verdade que se para arder o
auditório é preciso que arda o orador,
bem pôde ser que as lagrimas, que ape-
nas poiliamos suster, fossem também cau-
sa de que corressem pelos rostos dos ou-
vintes.» Bispo do Grão Pará, Memorias,
publicadas por Camillo Castello Branco,
pag. 182.
— Deitar em rosto ; reprochar, censu-
rar, dizer na face cousa que aíFronte. —
« E a este propósito declara Theodoreto
aquellas palauras dos Cantares : aonde a
Esposa diuina, vendo que suas cõpanhei-
ras lhe deitauão em rosto, que era ne-
gra, e disforme, lhes respondeo.» Fr.
Thomaz da Veiga, Sermões, part. 2, foi.
77, cap. 1.
— Dar muitos beijos nos rostos ; beijar
muitas vezes as faces. — «E tornando de
jiovo a tomar os filhinhos nos braços,
despois de lhes dar muvtos beijos nos
rostos como que se despidia delles, espi-
rou no coUo da molhcr sem bulir mais
comsigo, a que o algoz acudiu cõ muyta
pressa, e a pindurou na forca da maney-
ra das outras, o qu^e também fez aos qua-
tro filhinhos, pondolhe dous de cada par-
te, de maneyra qne a triste da luãv fica-
va no meyo.» Fernão Mendes Pinto, Pe-
regrinações, cap. 152.
— Deitar, lançar em rosto o favor, a
mercê, o beneficio (^ue se faz; lembral-o,
dizel-o á pessoa beneficiada.
— Dar bofetadas no rosto de alguém ;
offeudel-o. — «Os culpados na preguiça,
se pesavaõ a lenha, arroz, carvão, por-
cos e fruyta. O que peccou na inveja, de
que se não tira mais fruyto que o pesar
do bem que Deos quiz dar a outrem, o
pagava com o confessar publicamente, e
com lhe darem doze bofetadas no rosto
em louvor das doze luas do anno.» Fer-
não Mendes Pinto, Peregrinações, cap.
161.
— -Fazer rosto ; fazer mostra.
— Fazer bom rosto á fortuna; não des-
maiar no perigo, desgraça, trabalho; dis-
farçar no rosto sereno ou alegre a afflic-
ção, amofinação de animo nas cousas ad-
versas.
— Lançar em rosto ; vid. Deitar em
rosto.
— Pôr-se com alguém rosto a rosto ;
luctar, batalhar de perto.
— Torcer o rosto a alguém, ou a alguma
cousa; mostrar-lhe desapprovação, mau
modo.
— Dar o vento no rosto ; assoprar por
d'avante, e vir ponteiro, ser contrario; e
assim a maré.
— Direcção, marcha.
— Figuradamente: Com o mesmo ros-
to ; com rosto igual, sem turbação.
■ — Dar de rosto a alguma pessoa, ou
cousa; esquival-a, fazer-lhe mau gasa-
Ihado.
— Figuradamente: Dar-me afortuna
de rosto ; mudar-se-me, ser-me contraria,
oppôr-se-me.
— Estar rosto por rosto com algu em ;
estar só com essa pessoa, de só a só.
— A meio rosto ; a meio voltado, e não
cara a cara.
— Termo de pintura e eaculptura.
Uma das dez partes em que se divide
na symetria o corpo humano, pintado
ou esculpido.
— Dar co7n a pjorta no rosto. Vid.
Dar.
— Fazer bom, ou mau rosto ; fazer as
cousas com ar de boa ou má vontade.
— Dar em rosto a alguém com alguma
cousa mal feita, com algum vicio; fazer
reproche d'isso na cara.
— Fazer rosto de accommetter ; atacar
por alguma parte.
— Ti-azer o coração no rosto ; não ser
dissimulado.
— Mostrar a victoria o rosto ; favore-
cer; em opposição a virar o rosto.
— /)• rosto a leste; ir para esse ponto,
ou lado.
— Torcer o rosto ; mudar o semblante
de triste em alegre e vice-versa.
— Voltar o rosto ao inimigo; fugir.
— Ter o rosto quedo á fortuna; não
desmaiar nas desgraças.
— Mostrar o rosto ao inimigo; não lhe
fugir.
— Fazer rosto o navio; voltar a proa
e rumo para onde o faz.
— Fazer, ou ter rosto ao inimigo; resis-
tir-lhe.
— Pôr o rosto á fortuna ; aventurar-
se, pôr em risco, arriscar-se.
— Adágios e pkoverbios :
— Tem tinto, quando te der no rosto
o vento.
— ^ Melhor é vergonha no rosto, que
magoa no coração.
— A mais obriga um rosto bem assom-
brado, que um homem armado.
— Cuspo para o céo, cáe-me no rosto.
— Luar de janeiro, não tem parceiro,
mas lá vem o de agosto que lhe dá de
rosto.
— Quem não debulha em agosto, de-
bulha com máo rosto.
— Màe, casae-me logo, que se me en-
ruga o rosto.
— Besteiro tonto atira aos pés, e dá
ao rosto.
— Melhor ó rosto vermelho que cora-
ção negTO.
— Uma mão lava a outra e ambas o
rosto.
— Rosto alegre com perdão, vingar-se-
ha de baldão.
— O bom mosto sáe ao rosto.
— A quem Deus quiz bem, ao rosto
lhe vem.
— No rosto de minha filha, vejo quan-
do o demo toma a meu genro.
— Enojar-se de outro, é ferir-se no
rosto.
— Formosa é do rosto, a que é boa de
seu corpo.
— Carne de penna tira do rosto a
ruga.
— Syx. : Rosto, Cara. Vid. este ultimo
termo.
ROSTOLHADA, s.f. Vid. Rastolhada, e
Restolho.
ROSTRADO, A, adj. (Do latim rostra-
tus). Que tem bicos, que tem esporões.
— Termo de botânica. Que tem a for-
ma do esporão das aves, ou do seu bico,
fallando-se da corolla, do nectario, etc.
f ROSTRAGINA, s. f. (Do latim ros-
trum). Xome dado antigamente aos den-
tes dos peixes fosseis, que tem a forma
de um bico d'ave.
ROSTRAL, adj. 2 gen. (Do latim ros-
irum). Termo de entomologia. Diz-se das
antennas, quando estão inseridas no rostro.
— Termo de Antiguidade. Nome dado
ás columnas erectas em memoria de uma
victoria naval, e que são ornadas de po-
pas e de proas de navio, com ancoras e
fatexas.
— Coroa rostral; coroa conferida ao
romano, que n'um combate tinha saltado
primeiro ao bordo de um navio inimigo.
Esta coroa tinha por ornato figuras de
popas e proas de navio.
ROSTRATA, adj. f. — Coroa rostrata ;
coroa adornada de esporões de navio :
dava-se em premio aos vencedores d'al-
gum combate naval.
310
IIOTA
IIOTA
K(>'1"A
f ROSTRICORNE, wlj 'J <jeii. Termo de
cntoinolo^íia. DÍz-ho dii.s iiiitouiiart dispos-
tas sob lima Cíípocio do bico produzido
por um prolonfíamonto da cabc(,u.
— ó'. III. plur. Família dos coleoptc-
roH.
ROSTRIFORME, uilj. 2 geií. (Do latim
roslrum, <i funua). C^ue tora a forma do
bico.
ROSTRILHO, s. in. Termo de botânica.
Radicula da semente germinada.
1.) ROSTRO, «. III. Termo autiipiado.
Vid. Rosto, termo mais cm uso. — « E
após isso lamentações com grandes vozos
e prantos, o bofetadas nos rostros, ferin-
dosse com pedras nas eabeyas tnto sem
piedade ipie os niays doUes se banliaviío
lio seu ])ioprio sangue.» Fernào Mendes
Pinto, Peregrinações, eap. lúU. — «E
cõ os ollios oní iiòs, o quasl de si esc[ue-
cido, ficou assentado na prava com o ros-
tro sobro huma mão, ao (juo julgamos,
saudoso, descontonte, o pensativo, e nòs
com as velas dadas, c a vista nello, o fo-
mos deyxaudo de sorte, que nunca mais
soubemos delle.» Fr. (íaspar de tí. Ber-
nardiuii, Itinerário da índia, cap. 10.—
« A quarta antes da nieya noyte. Chega-
dos à Mesquita nenlium entra dentro,
sem primeiro descalçar à porta os çapa-
tos : a segunda cousa quo iazom lic, la-
nar rostro, mãos, e pcs, e mais partes
secretas, parecendoUies que com estes la-
natorios llies perdoa Deos seus peccados.»
Ibidem, cap. Uí.
— Tt;ruK> de botânica. Esporão.
— Termo de botânica. A casca da se-
mente prolongada em forma assovelada
ou um tanto cónica.
2.) ROSTRO, s. in. (Do latim rustram).
Tribuna onde os oradores romanos tinham
por costume fallar ao povo, assim chama-
da por estar ornada de esporões das ga-
los tomadas ao> anciates.
f ROSTRO-LABIAL, aJj. 2 </cii. Diz-se
do um nniscuUi da boeca da rã.
"l" ROSULAR, uílj. 2 gen. Que tem o
bico ou a dispo#i(;ào das pétalas de uma
i'Osa, como as folhas radicas da cnusula
rosular, as orbiculas de (juo se carrega a
superticic das expansões do echinop/ioro
rosular.
1.) ROTA, *•. /. Desbarate do exercito.
— Rompimento de guerra, combate,
peleja.
2.') ROTA, s. /. (Do latim ruta). — O
tribunal da rota cm lluiua ; tribunal com-
posto de doze auditores, e a ello vão
por appellai,'ão as causas do orbe catho-
íico. Alguns querem que so lhe dê esto
uomc, porque os ministros d'este tribu-
nal servem a gyros, mas segundo Du
Cango, dcu-se-lho esto nome, porque o
pavimento da camará onde so ajuntam,
era antigamente de podi-as do mármore
assentadas em forma de i"oda.
'ò.) ROTA, s. /. (Do francoz route).
Derrota, caminho injuitimo.
Ao inuiii alto do mastro uiiiliiii Hubindo
A» ultus ror.liart jii llii; otimliícliio.
Kiitão ja i'llc tiiiibrm vai d'v<i:nl)riiido
() 'lui! ;iiitc'H rt'.rt OH .Miiuro.4 <li'í«;ubrirào.
Diz qiic Hi!ti! iiiivio» vir abrindu
]m da parti; d:i Arubia o iiiiir hu viilo,
K <|iir mal') ciiiiiiaradu vè outra fruta
(jau tia/.ia tandjfiii a. nu-gina rola.
V. IlANllUAUk:, rUlMKIUO CEUCO DB DIUjCailt. 12,
est. -l.f.
— Rota batida, nn abatida; viagem se-
guida sem arribar.
— Rota i>or terra ; que levava o caval-
leiro. — «Pompides levaram sua rota polo
campo abaixo i]raticando naquelle acontc-
einionto: e como na(iuella parte as aven-
turas estivessem sempre certas, não an-
daram muito <iuando polo mesmo valle
viram atravessar uma donzella em cima
d'um palafrom murzcUo, que em chegan-
do a elles se deteve, dizendo.» Francis-
co de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 7G.
— Loc. FUi. : Pasaar a tuia rota de
onda em onda : viver do trabalho em tra-
balho, alternando-se a viila entre elles.
— Ir de rota batida; ir depressa, ir
sem demora.
— Figuradamente : tíeguir a rota do
seu parecer no mar da vida.
4.) ROTA, ». /. Termo da Ásia. Espé-
cie de sipó, ou junco de atar, de cujas
apaias ou feveras com parte da casca se
fazem vehis tecidas a modo de esteiras :
é uma espécie menor e mais delgada da
(pie chamamos cannas bengalas; é can-
ua maciça. Vid. Urupema.
ROTAÇÃO, s. /. (Do latim rotatio). ^lo-
viniento circular de um corpo que gyra
sobre si mesmo. — ^-1 rotação Ju terra em
roda do sol.
Talvez, talvez que cxhalaçõus, quf rompem
Do térreo Globo, c furnas teuebrosas,
Talvez, talvez que a rot(n;'w diurna
Da mesma Terra noa seus ei.xoJ seja
Deste mysterio incógnito o principio.
J. JL. DE MACEDO, %1AQESI EXTÁTICA, Cant. 1.
Co' a rot(u;ão marcada os annos forma,
E traz com lni;o3 intimoã iiuidas
Ligeiras Estai;òe3. Leda te embebes
No sou Cantor sublime ; eu posso apenas
Adorar, c seguir de louge os voos,
Com (|ue esta Águia inda alem do aéreo cume
Sóbc do riudo, e se remonta aos Astros.
IDEM, A SATUIÍKZA, dlUt. 1.
— Termo de anatomia. Movimento cir-
cular que pôde ser executado por certas
partos do corpo.
— Termo Ue botânica. Nome dado á
circula<,"ão intraccUular, isto é, ao movi-
mento dos líquidos que se opera no inte-
rior mesmo das cellulas ou pequenas ca-
vidades fechadas que coustitueui a maior
parte do tecido das planUis.
— Termo de geometria. Kevolu\;ão de
uma superticic em roda de uma recta Lm-
movel, e concobc-sc esta revolução geran-
do um solido.
— Termo do mcchanica. Movimento de
um corpo em volta de uma linha recta,
(pn- toma o nome de eixo lU rotação.
ROTAMENTE, adv. (De roto, cui o
suflixo «mente» I. Tonno pouco cm uao.
Abertameriti;, hcm segredo.
f ROTACEO, A, adj. Termo de botâni-
ca. I)i/.-.--e daM coroUas mono|>ct;iia8 cujo
tubo muito curto se desabrochou em lim-
bo aberto e |)lano.
I ROTACISMO, K. VI. Nomo dado a es-
te vicio de prouuucia<;ão conhecido maia
pelo nome de </aijuice.
1 ROTADOR, i. 111. e (tdj. (Do latim ro-
tatur). Termo de anatomia. D?lo-Be e.->tes
nome 4 a alguns músculos que fazem exe-
cutar em cortas partes, como a cabeça, o
ollio, o braço, as coxas, etc, movimentos
de rotação.
f ROTALA, .0. f. Termo de boUnica.
Género de plantas dicotyledoueas, da fa-
milia das caryophyllas, tendo por typo a
rotala iniicillea, planta bcrbacca das ín-
dias OrienUies.
I ROTANTE, adj. 2 gsn. Que roda. —
Miindoíi rotanles. — Globos rolantes. —
Coclic rotante.
Nest;t 1'Stcndida cúpula azulada
Vojo dis;)tT90». c rntantt» Mundos,
Vejo o Sol, vejo a Lua, o dia, a sombra.
Constante aiterontiva ! A Luz, os Are*
Sao cifras, cm que escreve a mão suprema
De hum Ente Summo, Sapieutc, Immcnso.
J. A. DE UACEDO, VLAOKU EXTÁTICA, CAOt. 1.
Se cada Estrclla hc Sol, c he centro a maitos
Rolantes globos, que dejjcrevem pirofl,
Poniue do immobil Sírio, ou doutra Estrclla
Próximo ao Sol, passando algum Planeta
De centro remotisslmo, qual vemos.
IDESI, A XATIBKZA, CaUt. 1.
Foi minha esta illusào, mas doutra Causa
Nascerão os profundos espantosos
Abysmos que tu vés ; lipado, e preso
O ar uo centro do rotaiUe globo.
IBIDEM, c:uit. '2.
Quando attrahidaá são, das praias fogem,
Porém se Fcbe no rolante coche
Desce, o se esconde nliorixouto. as ngoaa
Levadas de seu peso ás praias toruio.
IBIDEM, cant. 3.
O moto vario dos rolante* globos
Encontra Filoláo ; e elle o primeiro.
Que o Sol, astro central, declara immovol.
IDBU, MEDITAÇÃO, Cailt. 1.
Se cada Estiella hc Sol. o lie centro a iiiuito«
Uotiviíe.i globas, que descrevem curvas ;
Porque do imniovel Sírio, ou d outra EstreiLi
Próximo ao Sol pjissando algum Planeta
Tão longe de seu centro, como vemos
Que anda longe do Sol nMnófo Urano,
Nào seja o Astro, que se diz Cometa?
IBIDEM, cant. 'J.
•{• ROTATIVO, A, aJj. — Machina ro-
ROTI
ROTO
ROTU
341
tativa ; denominação que abrange todas
as macliinas a vapor em que o movimen-
to rectilíneo alternativo da haste do pis-
tão é transformado em um movimento de
rotação.
ROTATÓRIO, A, aíj. Termo de me-
cliauica. Qud tem movimento do rotaçào,
que se move em roda.
— S. in. i)lur. Familia de infusorios,
coniprehendendo aqiielles cuja bocca é
cercada de uma coroa de celhas vibrateis,
que tem a figura de uma espécie de
roda.
ROTEA, s. /. Vid. Arrotea, e Rotearia.
ROTEADOR, s. ia. O que roteia a terra.
ROTEADURA, s. f. Vid. Rotearia.
ROTEAR, V. a. Arrotear, romper os
maninhos.
— Rotear uma charneca; desmoutal-a,
desmaninhal-a, arrancar as hervas e as
plantas infructiferas, e aproveital-as.
— Termo antiquado. Navegar seguin-
do derrota.
ROTEARIA, s. /. A acção de rotear,
arrotea. Vid. Reteria.
ROTEIRO, s. m. Termo de náutica.
Livro que aponta a situação das costas,
ilhas, portos, baixos, correntes, ventos,
etc, para dirigir os navegantes na sua
derrota ; direcção sobre o modo de pro-
ceder, servindo de gaia aos navegantes.
■ — Figuradamente: Regimento, escri-
ptura directoria do modo de proceder,
norma.
ROTELA, s. f. Termo antiquado. Rom-
pimento, força, rotura, violência.
ROTIA, s. /. Vid. Arrotea.
f ROTIFERO, A, adj. (^Do latim rota,
e ferre). Que tem uma roda. — Um pe-
dicellar rotifero.
— /S'. m. ijlur. Nome dado a uma or-
dem de infusorios, a uma secção da classe
dos polypos, a uma secção dos microzoa-
rios heteropodes, em tim a uma ordem de
microscópicos, abrangendo os animaes,
cuja parte interior do corpo é guarneci-
da de appendices ciliibrmes amontoados
em fíisciculos, e produzindo o eíFeito de
uma roda, quando entra em movimento.
t ROTIFORME, adj. 2 geií. Vid. Rota-
ceo.
ROTINA, s. f. (Do francez routine).
Caminho sabido, usual, trilhado.
— Via, ou cousa costumaria, e prati-
cada vulgarmente.
— Figuradamente : Estrada coimbrã.
— Alguns consideram como gallicismo
desnecessário este termo, porém é vul-
garmente usado, signiticando trilho, usan-
ça, cousa trivial, vulgar, etc.
t ROTINEIRAMENTE, adv. (De roti-
neiro, com o suflixo «mente»). De um
modo rotineiro.
— Por rotina.
ROTINEIRO, A, adj. e s. (Do francez
routinier). Aquelle que obra por rotiua,
que se conforma á rotina. — Ente honiein
não é senão um velho rotineiro.
— Espirito rotineiro. — Hábitos roti-
neiros.
— Q,ue faz como os outros fazem, o
segue oj rumos de pensar, e obrar popu-
lares, e- communaes, sem examinar se
são bons e exactos, e se pôde ou não
melhurar-se ou rectiticar-se o que se obra.
— Seguidor da estrada coimbrã, e que
não sabe navegar senão entre os paralie-
los frequentados, e como os antigos e
ignorantes costeiros.
ROTO, part. pass, irreg. de Romper.
Rompido, quebrado. — Rotas as armas.
Xoste tempo já vendo a geiite imiga
Que lho dii larga entrada o rolo muro,
Couliança, oiiáadia, o ódio os obriga
A ir tomar o que haviào [)0r seguro ;
E quando de Titon a chara imiga
De novo desterrou o manto escuro,
Hum dia apoz os cinco que gastarão
Em bater, para o assalto se prcpárâo.
FKANCISCO DE ANDRADE, rUIMKIIlO CEKCO DE DIU,
cant. 15, est. 07.
— «E posto que a determinação delia
fosse detel-o, tanto que veio a manhãa,
se armou de suas armas, que por alguns
lagares estavam rotas e maltratadas e,
depois de se lhe despedir, o fez de Blan-
didom, Tenebror e Roramonte, e não o
fez do príncipe Floramão, que desde o
tempo que conversaram nos matos, onde
oá achou Roborante seu escudeiro, iica-
ram amigos em tid extremo, que em
quanto depois lhe durou a vida, durou
esta vontade a cada um ; cousa inuito de
estimar, por quam mudáveis as cada dia
vemos. u Francisco de Moraes, Palmeirim
dlnglaterra, cap. 103. — «E se teus
companheiros quizerem também que seu
fim e a tua toda seja uma, eu tenho três
sobrinhos, que comigo entrarão contra el-
les, mas hei medo que se escusem com o
trabalho, que hoje passaram e com dizer,
que tem armas rotas : porem pêra isto eu
lhe mandarei trazer muitos corpos delias
da armaria, que íicou de Bravorante meu
cunhado, e alli escolham.» Ibidem, cap.
117. — Já que se punha o sol, veio o ca-
valleiro das Donzellas armado d'armas
rotas e desbaratadas, o escudo destiugl-
do todo, em um cavallo crescido e fer-
moso.» Ibidem, cap. 129.
— Homem roto ; homem mal vestido.
— Furtaley.a rota ; arrombada com bre-
chas, ruinas nas muralhas.
— Inten-ompido. — Vocábulos rotos en-
tre lagrimas.
— Destroçado, desbaratado.
Estes grandes bateis {que de tal arte
Apparelhados vào para esto feito,
Que pudérão fazer em toda a parte
Tremer a barba ao mais ousado peito)
Haviam de bater o baluarte
Que da parto do mar estava feito,
E roto com poder do ferro e fogo,
Se haviào de chegar para elle logo.
FEANCISCO d'aNDRADE, PBIMEIBO CEBCO DE DIU,
cant. 2, est. 24.
— «A batalha foy a mais áspera, e
acesa de quantas os nossos tiveraò, e
em que nunca se viraõ, e todavia ainda
que foy com perda de mais de cincoenta
dos nossos, os imigos forão rotos, e des-
baratados, ficando deus mil delles mor-
tos, e atassalhados no campo, e os mais
se recolherão, feridos muitos de espingar-
dadas, porque a nossa arcabuzaria foy a
que fez nelles grande estrago.» Diogo de
Couto, Década 6, li,v. 9, cap. 2.
— Roto é o testamento ; é de nenhum
eífeito.
— ^ Figuradamente : Rota a paz; rotas
as cadeias; quebrada a paz, e as cadeias.
— Haver roto a guerra; ter começado.
— Rotas as novas; divulgadas, espa-
lhadas.
— Rota a vanguarda; desfeita, desba-
i-atada.
— Figuradamente: Natureza rota; na-
tureza rendida a obrar mal, fraca, sem
resistência; entregue ao risco e naufrá-
gio, como a nau rota no mar.
— Roto o campo ; desbaratado o exer-
cito.
— Parar em guerra rota a fogo e san-
gue.
— Adágios e provérbios :
— Pae velho, manga rota, não é des-
honra.
— Fidalgo antes roto, que remen-
dado.
— Mãe velha, e camisa rota, não des-
honi-a.
— Melhor é roto, que alheio.
— A barca é rota, salve-se quem po-
der.
sapato roto, que pe for-
Vid. Rotulo, termo
— Melhor
moso.
ROTOLO, i
mais cm uso.
ROTORIA, s.f. Termo antiquado. Rom-
pimento do terra, agricultando-a, desbra-
vando-a, fazendo-a levar fructos, e reno-
vos, o que antigamente, e depois em al-
gumas partes, chamavam rotêa, ou arro-
tea, do verbo romper, ou arroTnper.
ROTULA, s. /. (Do latim rotula). Ter-
mo de anatomia. Nome dado a uma espé-
cie de osso sesamoide chato, curto, es-
pesso, arredondado, collocado na parte
posterior, e que é desenvolvido na espes-
sura do tendão commum aos músculos
extensores da perna.
— Termo de botânica. Género de plan-
tas dicotyledoneas, da familia das borra-
gineas, tendo por typo a rotula aquática
da Cochinchlna.
— • Obra de madeira, com gelosias para
tapar as janellas ; dá entrada á luz e ao
ar.
ROTULADO, part. pass. de Rotular.
Que tem mtulo.
ROTULAR, i'. a. Pôr rotulo, ou inscri-
pção.
ROTULAS, s. f. plur. Termo de phar-
macia. Rodeliinhas, pequenas rodellas;
342
ROUR
Roun
EOUB
nomo quo se (1.1 a iiicllcamentos oii pas-
tilliiiH |)rii]nius ]i;ir;i ;<i; triivarciii na Ijocca.
t ROTULIANO, A, adj. Que diz res-
peito, (|U<! p !itnncc :l rotula. — Articula-
ção /(?;;iíí»-o-rotuliana.
ROTULO, s. III. Rolo do pergaminho,
ou de outra qualquer matéria, cm que se
escreviam os livros, c quo se enrolava
Bobro um cylinJro.
— Rotulo (Ic um livri); o distico que
tom na lumlmla. \'i(l. Titulo, e Rosto.
f ROTUNDICOLLO, a>lj. (Do latim ro-
taiidus, e colluin). t^ue tem o pescoço re-
dondo.
ROTUNDIDADE, í. /. (Do latim rotun-
ditas). Iie.(l(>iiilc/,:i.
f ROTUNDIFOLIO, adj. (Do latim ro-
tunlua, e foliam). Termo de botaaica.
Que tem as folhas redondas.
I ROTUNDIVENTRE, adj. (Do latim ro-
iundiis, e i-eukr). C^.ue tem o ventre ou o
abdómen arrclondado.
ROTUNDO, A, adj. (Do latim rututidus).
Redondo. — (i/obo rotundo.
ROTURA, s. /. (Do latim ruptura). O
estado de uma pessoa ou de uma heran-
ça, quo não é nobre. — Terra em rotura.
— Abertura, desuiúno, rompimento.
— As roturas do taiKjuc, oit outro vaso,
podem vedar-se.
— Quebra de paz, de amizade.
— Rotura da guerra ; rompimento.
— Quebradura, doença.
— Rotura do muro, do baluarte, e que-
bradas.
— Rotura da terra; por terremoto, ou
grandes gretas com o niniio calor.
— A rotura das nuvens do céo sereno.
— Rotura de yalavras; razões descon-
certadas de doíavindos. — «E como elle
lho não quizesse dizer, vieram em tanta
rotura do palavras, que affastados um do
outro com as lanças baixas se encontra-
ram nos escudos, e feitas em peças se to-
param dos corpos com tanta força, que
elles o os cavallos vieram ao chão, e er-
guendo-se com as espadas arrancadas,
começ^iram com tamanha braveza, como
se autre elles houveiM algum ódio de mui-
tos dias.» Francisco de Moraes, Palmei-
rim d'Inglaterra, cap. 81.
— Viil. Ruptura.
ROU ROU, interj. pop. Denota impor
silencio.
— Adagio e ruovEKuio :
— Rou rou, faça-se o que el-rei man-
dou.
ROUBA, 5. /. Termo antiquado. Roubo,
furto, defiaudaçào dos bens alheios.
ROUBADIA, s. /. Termo antiipiado.
Rapina, rnidtantia.
ROUBADO, part. pass. de Roubar.
— Dircito)! roubados. — «Assentado sou
arrayal fira do iinuoação de Culimanja,
onde elRey de ^lolimle então cstana, vie-
rãose a desconcertar eõ elle por os gran-
des direitos que lhe pedia; e vendo elle
que 80 querião ir como que ião buscar
outro porto, mandou dar do noite nelles
o forão roubados, que causou tamanho
escândalo, que nunca niaes ali tomarão.»
Barros, Década 2.
— Tirailo o que não 6 seu. — «O que
sabendo se [)osorào todos a cauallo tendo
a gente do Serife ja roubado hum A^luar,
e mortos alguns aos quaes os nossos che-
garão som serem sentidos, e os segui-
rão ato pela manhã, de que matarão cin-
co, e lhe tomarão noue eauallos.» Da-
mião de fioes, Chronica de D. Manoel,
part. .3, cap. 71. — aDaquy seguirão sua
derrota mais sete dias sem em todos elles
vermos cousa do que se pudesse fazer
caso, no fim dos (juais abocamos por hum
esteyro que se dczia Quatan<iur, pelo
qual 03 pilotos entrarão, assi por encurta-
rem o caminho, como por se arredarem
de irem encontrar com hum famoso cos-
sayro quo tinha roubado a m.ayor parte
daquella terra.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 128.
— Figuradamente : Casa roubada ; casa
sem adorno.
— Mate roubado. Vid. Mate.
— Roubado d morte.
Com rápida carreira as ondas corta,
Qual liive sttta rusga os ares li\T:es:
Kis o fafjuuiro Poiíc a (|uem dt'canta
Antiga Poesia, c doo-lhc o premio
De ter roubado á morto o Vate egrégio.
J. A. DE MACEDO, A NATUHKZA, Cant. 3.
ROUBADOR, A, s. ^De roubar, e o suf-
fixo « dor »). Pessoa que rouba, que tira
o alheio a seu dono. — o Pela informação
cjue os Chins me deraõ do mao viver
destes estrangeyros, certificãdo-me cõ ju-
ramento solenne na fé quo tinhaõ em to-
dos os seus deoses quo eraõ elles sem falta
coss.ayros do mar, e roubadores na terra
de fazendas alheyas, trazendo continua-
mente seus braços tintos do sangue da-
quelles que com justa causa defendião o
seu, como era notório por todo o univer-
so.» Fernão Mendes Pinto, Peregrinações,
cap. 142.
A avara mão do roubador mil vezos
Uo attentado cruel souto o castigo.
J. A. DK MACEDO, A NATUBEZA, ClUit. 3.
— Figuradamente : Roubador da incau-
ta Europa.
So vejo os toques do purpúreo esmalte
Da rosa uos jardins, quandú o moz volta
Do Touro roubador da incauta Kuropa ;
So o p:Uido matiz, so o roxo enfeita
A violeta humilda ; se descubro
Sobre o lirio o candor da neve Alpina,
E o vordo universal, que enroupa as plantas.
J. A. DE MACKDO, MEDITAÇÃO, Caot. 2.
— Roubador de uma donzella.
Nosta Selva de Teixo «, c de Pinhoa,
Sentou meu Páo morada. C)h ! mais D&o cntrea.
Que elle, da Fillia ronluulor tf aceusa.
Sem griio dó, p.'.d('s vi-r-ine curtir penas;
Mas iágrimaii «rum Velho o peito rasgio.
Ir-te-hci vér ao CaHtcllo. Eis corre, e cmbrenha-M.
y. U. DO IIA5CUIK1ÍT0, os MABTVBtlS, 1ÍV. 10.
— Adjecti vãmente: //c/mena roubadores.
ROUBANTIA, *. /. Termo antiquado.
Rapina, acto ile ladrão, roubadia. Vid.
este ultimo vocábulo.
ROUBAR, V. a. Tirar o alheio eleval-o
por força. — t Side Iheabentafuf soubo
deitas cartas, pelo que cscreueu outras
a cl Rei em que lhe daua conta da sua
innocencia dizendo que dom Nuno indu-
zido per mexericos de mouros, o judeus
seus iniigos, com cartas falsas, que se el-
les mesmos fazião screucr de amigos quo
tinham em ^Marrocos, se indignara tanto
contrelle, quo escreuera ha alguns dos Xe-
ques dos Árabes que o matassem do que
tomaram ousadia de lhe roubarem quanto
tinha em Arfum.» Damião de Góes, Chro-
nica de D. Manoel, part. 4, cap. 55. —
« U que assim orclenou com tençam de
aplicar isso que fosse a proueito do mesmo
Rei, pêra que o não roubassem tyraniioa,
como so dantes aco.<tumava fazer, e o en-
tam fazia este Raix xarapho. > Ibidem, cap.
63. — «Então nos deu hum tael de es-
molla, e nos disse, guarday muyto bem
o vosso dos moradores desta prisão, por-
que sabey que tem mais por ofBcio rou-
barem o alheyo que partirem do seu cos
necessitados.» Fernão Mendes Pinto, Pe-
regrinações, cap. 100. — lE procedendo
este perro contra mim ordinariamente
com seus libellos, me veyo pi5do nelles
muytos aleyves nunca cuydados, só a fim
de me matar, e de me roubar, como fizera
a todos os outros que vierão no junco, e
me fez em juizo perguntas por três vezes
em publico, a que eu nunca respõdi cousa
que fosse a propósito, de que elle com to-
dos 03 mais que estaviío presentes se me-
terão em muita cólera.» Ibidem, cap.
153. — «E dizendo eu algumas vezes
quo por me roubarem minha fazenda mo
assacav.ão todos aquelles falsos testemu-
nhos, mas que o capitão João Cayeyro
que estava em Pegú daria conta disso a
el Rey muyto cedo, por isto que eu a caso
disse ja como desesperado, e sem saber o
que dczia, permitio nosso Senhor que
fosse livre da morte.» Ibidem. — « Por-
que nella per muytas vezes se ajuntam
grande numero de ladrCies, e delles ar-
mados, e publicamente roubão os mer-
cadores, em outros onde sintem que lia
riquezas.» Fr. (í aspar da Cruz, Tratado
das cousas da China. cap. 44.
Nevados Cvâncs. que o meu Carro tirão,
Mimosas Dansas, namoradas S^lvaa
FestivAes Sacriric.io-i jubilosos...
E esse leve desconto das Celeste»
Alegrias, \nraõ Christãos roiiliar-m'o *
r. M. DO MASCIMEXTO, OS llABm£â, IÍV. 8.
ROUB
Sempronio,
Eu ja fui pac — e sou Eomano ainda.
Ves aquelle cadáver ? — é meu filho :
Tu mo roubaste...
GARRETT, CAtIo, act. 4, SC. 5.
— Termo de jogo. Em alguns jogos é
tirar a carta melhor do trunfo que foi le-
vantada, pondo em seu logar outra do
mesmo metal, e menos valor.
Sem esse az
TÓ3 mesma me roubareis.
Matador, hajamos paz,
e aquillo que mo faz
que mo vós maia uào mateis.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pag. 381.
■Arrebatar, enlevar.
Ganhão-uos tão mal ganhados,
Que vos rntihio as orelhas.
Pola hóstia consagrada
E polo Dcos consagrado
Que os lobos nas ovelhas
Não dão tão crua pancada.
GIL VICESTE, FAHÇAS.
Quem rouba ao ar pacifico cquilibrio V
Pode um Vate romper tão densas sombras ?
Nellas s'involve a Natureza, c nellas
A sua augusta magostade esconde.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 1.
Aqui 8e vião nos incultos bosques
Errantes os mortaes, sem Lei, sem Pátria,
E quasi extincto o facho luminoso
Da celeste Eazão, como eclipsado
Se nos descobre o Sol no Firmamento,
Quando hum corpo interposto a luz nos rouba.
IBIDEM.
Sc Maio cm fira, de Zéfiro nas azas
Leva a doce Estação, se aos olhos rouba
O quadro encantador, que novo, e bello,
Lisonjeiro espectáculo se mostra !
IDEM, A NATUREZA, Caut. 1.
Penetra nos umbraes da Natureza,
Rouba hum só raio á luz, c elle só basta
Quando, atravez do prisma crvstallino.
Faz sahir deste raio as cores todas.
IDEM, MEDITAÇÃO, Caut. 2.
Tu sabes como o Sol ao vasto Oceano
Rouba em vapor subtil cerúleas ondas.
No seio as fecha dos delgados ares,
Karefaz-se o Vapor, tolda-se o dia.
IDEM, A NATUREZA, Cant. 2.
— Roubar o coração,' apossar-se, as-
senhorear-se, apoderar-se d'elle.
Pyreue, que deu nome a Ibérios montes.
Do Rei Bcbricio Filha, deu a Alcides
De Esposa a mão. Que em Gregos, sempre é de uso
Roubar o coração ás gentis damas.
F. M. DO KASCIMESTO, OS MARTYRES, 1ÍV. 10.
Í
■Roubar da vista o sol brilhante.
ROUB
Em tudo via o meditava absorto !
Mas repentinameute hum véo s'e3tende.
Tudo foge a meus olhos, e se esconde.
Qual nos rouba da vi.sta o Sol brilhante
Hum grupo espesso de pesadas nuvens.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Caut. 4.
— Roubar o fôlego.
— Figuradamente: Levar por despojos
do inimigo. — Roubar o campo. — « Che-
gado este Cogequij a Rodrigo Rabello,
contou-lhe o modo do desbarato do Nai-
que, que estava em guarda do passo, e
que lhe parecia, (segundo o que de noite
se podia estimar,) os Mouros poderiam ser
té duzentos ; e porem pela nova que lhe
davam os lavradores das aldeãs, per toda
a Ilha andava muita gente espalhada
como quem vinha a roubar o campo, e
nào commetter a cidade.» João de Bar-
ros, Década 2, liv. 6, cap. 8. — «Cide-
Iheabentafuf não acudio a este descon-
certo, porque do lugar onde se ordenou
que estiuesse, vendo a sua gente como os
mouros forão desbaratados do primeiro
encontro, se lhe desmandaram a roubar
o campo, sem elle nisso poder poer or-
dem.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 3, cap. 50. — «Pêra elle
se apparelharam mais cento e trinta pes-
soas, entro gente de pè, e de caualo, e
todos juntos cõ alguns Camellos em que
Ília a fazenda dalguns mercadores Persia-
nos, nos partimos a boca da noyte, te-
mendo que 03 imigos viessem em nosso
alcance, a fim de nos roubarem.» Fr.
Gaspar de S. Bernardino, Itinerário da
índia, cap. 12.
— Roubar a donzella de casa de seu
pae, a casada de seu marido. Vid. Ra-
ptar.
~- Roubar o tempo ; tiral-o, gastal-o em
cousas, que são menos importantes que
se o gastasse em outras.
Elle farta a minh' alma, elle he thesouro,
Qu' a ambição me não tira, ou rouba o tempo.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Cant. 1.
— Roubar a paz; privar alguém d'ella.
Tu lhe roubas a paz. Até parece,
Que constrangida o dera a Natureza :
Vè onde o foi guardar, no fundo abismo.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, CaUt. 2.
■ — Roubar a tranquillidade.
■ — Levar, arrebatar.
— Roubar o bem que a fortuna dá. —
«Sij uma cousa acho que desfallece pêra
poderes senhorear o mundo; esta em tua
mão está, se a quizeres acceitar; mas
temo que a fortuna, que era tamanho es-
tado te poz, invejosa do bem que ella dá,
desejosa de o tornar a roubar, segundo
seu costumo, to estorve.» Francisco de
Moraes, Palmeirim de Inglaterra, cap.
93.
— Toma-se também absolutamente :
ROUB
343
Uns matam, outros roubam. — «Os gigan-
tes cada dia sahem por esta terra, cada
um por sua parte; e os seus cavalleiros
por outra: uns matam, outros roubam, e
nestas obras exercitam as forças com exe-
cução de suas vontades damnadas, fazen-
do tantas cruezas, que se Deus cedo lhe
não dá o castigo, que merecem, acabaria
esta terra de perder-se de todo.» Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 106. — «Outros de outra seita que
se chama Gizom, tem para sy que sós as
bestas pela penitencia que fizeraõ nesta
vida cos trabalhos que levarão nella, al-
cançarão despois o Ceo, em que descan-
sem, e não o homem que sempre viveo á
vontade da carne, roubado, e matando, e
fazendo outros muytus jieccados.» Fer-
não Mendes Pinto, Peregrinações, cap.
114. — «Deixo outras consequências, que
teve a historia, porque estas bastão para
mostra que ha ladroens, que furtaõ ac-
cresceutando, a quem roubaõ, mais do
que lhe fnrtaõ.» Arte de furtar, cap. 13.
— «Isto fazem de noyte, e em aquella
rua onde vão roubar alevantam huma
grande voz, em que dizem e nomeiam a
casa do mercador ou mouro que vam rou-
bar; e dizem que ninguém seja ousado
que saya fora de casa, nem aa jaiiella :
porque os mataram.» António Tenreiro,
Itinerário, cap. 44.
— Roubar-se, v. rejí. Furtar-se, fu-
gir-se.
Ao que medita, e vê se apraz mostrar-se
Sem véos em claro aspecto a Natiu'eza,
Só pela voz da experiência falia,
E a soberbas hypotheses se rouba.
J. A. DE MACEDO, .'. NATUREZA, Cant. 2.
Génios tão grandes súbito desmaiào.
Se infinitas myriades contemplão
Destes Seres orgânicos, que á força
Até do vidro augmontador se rozibào.
IDEM, MEDITAÇÃO, Caut. 3.
ROUBAZ, adj. Vid. Roaz.
— Liibii roubaz ; lobo rapace.
ROUBLE, s. m. Vid. Roble.
ROUBO, s. m. A acção de roubar.
— Furto acompanhado de força. —
«Governava por este tempo a Espanha
Ulterior, e cõ ella nossa Lusitânia Vibio
Sereno com titulo de Procônsul, e como
a gente Portugxiesa tinha deixado as ar-
mas, e vivia ocupada só em cultivar seus
campos, e as forças principaes (como vi-
mos no capitulo passado) estavaõ cõ pre-
sidio de Romanos, atreviaõse os governa-
dores a fazer grandes extorçoens e rou-
bos na fazenda dos naturaes.» Monarchia
Lusitana, liv. 5, cap. 2. — «Mas que por
andarmos com cossayros de ilha em ilha,
permitira Deos, a quem os males e rou-
bos erão aborrecidos, que nos perdêsse-
mos, para por isso sermos presos pelos
ministros da sua justiça, para conforme a
ella colhermos o fruyto de nossas más
344
ROUC
ROUP
UOUP
obras, que era a pena do morto que por
cilas incrcciainos, conforme il Icy fio «e-
giinilo livro cm qno isto ospp.ciiicrailainon-
to 80 declarava.» Fcriiito iMcndcs l'intii,
Peregrinações, cap. 101.
Tu vintr rm scRSPiita annos tni» miidfínçfiH,
Mortes, batalhas, miilio», o conruiistas,
Qiio parcrií mais fácil succcdnrcni ,
Que cm outro tanto tempo reforil-a».
AnnADF. nr. jazente, poesias, tom. 1, pag. 21.
Itonbo', mortes, c todo o malefício
E.tccutão som tt'n'm piedade,
E tão ricos andaviio que o mais pobre
Er» então liberal, ora então nobre.
rRANCISCO D'A!iDR\nK, l-RIMKinO OFllCO DF. DIU,
cant. 5, est. 43.
— Rapto, enlevamcnto com visão,
tríinsporto, enlevo, arrebatamento, ctc.
— Fifiura" lamento: A cousa roubada.
— O roubo de uma mulher; o rapto
que d'clla se fez. — «O roubo do uma
molher Tliebana origio a Guerra Sacra,
quo durou dez anno3 entre os Thcbano.s,
e 08 Focenses. Outro insidto semclliante
causou as guerras <lo-s Messenios com os
Laccdemonios. » Oavalleiro d'Oliveira,
Cartas, liv. 1, n." 20.
— Svx.: Roubo, /«rio. Vid. este termo,
ROUCAMENTE, adv. (De rouco, com o
suílixo nmeute»í. De um modo rouco. —
Falhir roucamente.
— Com rouquidrio, com som rouco.
ROUCO, A, adj. (Do latim rancus). En-
rouquecido. — Homem rouco. — Vento
rouco. — Voz rouca. — «Porém o outro
estava tão transportado, ou enlevado, que
nem llio lembrava quo o podiam ouvir,
nem se arreceava d'i.sso, antes com voz
algum tanto rouca e pouco e.sfort^ada, di-
zia: Senhora cm que vos mereci tratar-
des-me tão mal, que me trazeis vivo pêra
desejar a morte, e não consentis que mor-
ra pêra com maior dor passo esta vida.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 87.
Entra invisivel lil no rico e ornado
Aposento, oudo as queixas tinha ouvido,
Mas apenas lá doutro foi entrado
Quando d'entrar \\ foi arrependido.
Mas sinto-me eu tão ro^icn e tão cansado.
Que enido que sou ja mal entendido,
Cousouti que descanse aqui alf;;um tanto
Porque com clara voz me torne ao Canto.
puAscisco d'andk\dk, ruiMKino cerco dk nic,
cant. 3, est. 110.
Mas ah ! qii' a paz se turba, irado, c ronco
(Repentina catástrofe) rebrama.
J. A. OE M.ACErKJ, A N.VTUREZA, Caut. 3.
dão.
Roucos ais ; ais dados com rouqui-
As emigrantes Aves já misturiio
Aos bramido.s do n\ar, do vento aos sopros,
Roncos ais, froxo canto ; estes acccntos
De magcstade, do tristeza excitiVo
N'alma as idéas da virtude austera,
N'af;onizant(í Natureza observa
O Sábio o fim qu'f»pora, o fim do tudo.
j. A. HE MAcrno, A "(ATUBrzA, cant. 1.
ROUÇAR, V. n. Termo antiquado, Vid.
Rousar.
ROUÇOM, .«. «1. Termo antiquado. IIo-
mi-iri (|oi- lipr(;a c violenta mulheres.
ROUDÃO, .'. m. Termo antiquado. Vid.
Raudão.
ROUFENHO, A, adj. Vid. Rouquenho.
ROUPA, .S-. /. (Do latim rauim). Fazen-
da ])ara vestiilog, o outro-5 servieo.s; cfiei-
tos commerciaes, — «A qual, depois de
pôr o.í olhos na gente que na sala estava,
p(Uico contente fio ver a nobreza grando
fios cavalloiros daquella corto, o a multi-
dão fUelles, d'outra parte a gram eomma
lie flamas formosas, com tão ricos atavios
e roupas <le diversas maneiras, coniroou
dizt-r.» Francisco de Moraes, Palmeirim
d'Inglaterra, cap. 03. — «No outrf> batel,
que á maravilha traziam ataviailo do
pannos ile seda, coxins e outros atavios
ricos, vinha uma donzella, que ao pare-
cer, devia s '.r sonhcn-a fraquella frota,
vestida d'umas roupas d'invenyào nova
nuiito lou(;.ãa, e sobre os outros vestidos
trazia um roupão de tafetá preto, que
isto era na fon;a do vtTào, cortado polas
mangas c outros lugares necessários, e os
cortes se tornavam a juntar com umas
visagras d'ouro esmaltadas de passari-
nhos, e outras invençijes alegres de fli-
versas maneiras.» Ibidem, cap. 110. —
«Estes depois que o leuaraõ pella terra
dentro a primeira honra o gasalhado que
lhe íizeraõ, foi esbulharcnnio de quanto
leuaua assi de vestido e roupa como de
hum pouco de biscouto trign e legumes
de seu comer. • Barros, Década 1, liv. 1,
cap. 10. — «Assentado isto, puzeraõ em
cima as armas, o todos os mantimentos,
pólvora, e roupas, e logo se embarcou
Manoel de Sousa no batel com sua mu-
lher, e filhos, o perto de trinta pessoas
principaes, em que entravaõ Pantaleaõ
de Sà, Tristão de Sousa, Amador de Sou-
sa, Diogo Mendes Dourado de Setuval,
Raltliazar de Siqueira, e outros, e com
algumas espingardas, c armas se puzeraõ
em terra, e tornou o batel a desembar-
car os mais.» Diogo de Couto, Década (.i,
liv. 9, cap. 22. — «E lhe deu muitas
rendas, quo pcra isso comprou da Coroa
do rcgno, c ricos ornamentos pêra o ser-
vit;o dluino com grande somma de roupa
pêra camas, c seruisso das pessoas que se
alli viessem curar assi ricos, como po-
bres, o pêra hos pobres tlcixou rasoens
ordenadas per espaço de hum mes, que
ho lio tempo cm que as aguoas tlaquellas
calflas faz<nn sua obva.n Damião de Ciocs,
Chronica de D. Manoel, p.irt. 4, cap. 2G.
— «Estes nos levarão assi j>resos como
hiamos por seis ou sete ruas, nas quais
nos florão osmolla que valia mais ile vin-
te cruzados, assi em roupa como em di-
nheyro, a fiira muyto mantimento do car-
ne, arroz, farinha, e fruyta» da qual es-
molla partimo.s peio meyo cos quatro upo«,
[lorfiue !\.^v\ era cu.^tume.» Fernão Men-
fles Pinto, Peregrinações, cap. 89.
\'am-si; ao lon^o da praLt
afastadn» do logar,
deitam a rooya "nxupar
A sombra de huina fava ;
Ysabel encolhe a Raya,
Fran(;i.sca dfrixa molhar.
Se bem lavam, melhor torcem,
namorou-me o sen lavar.
cfiBiBTOvÃo FAixrÃo, OBBAs ícdíç. 1871).
— O reeolher da ronpa que todo» fa-
zem ; o ajustar e poupar fazenda, a quem
mais o faz.
— Loc. rop, : hto não e roupa dt fran-
ceses; isto n.ão .são bens de piratas, de
que cada um piVle abusar.
— Furtar a roupa ; vid. Jogar a fur-
ta-lfte o fato.
— Corsário de toda a roupa; o que
rouba as nações amigas e inimigas,
— Capa, ou vestidura, que veste por
cima das outras mais justai, — <E so
quizerem trazer albernozes, tragão-nos
i;arrados, e cozeitos com seos escapullai-
ros, assy como agora trazem ; o se qui-
zerem trazer balandraaes, ou capuzes,
tragão sempre com elles escapullairos de-
trás, como de sempre trouxeram e o que
nom trouxer cada huma das ditas rou-
pas, perca a roupa, que trouxer, e seja
preso ataa nossa mercee; e trazendo as
ditas roupas, se nom forem taaes, como
devem, segunflo suzo he declarado, per-
cão nas, c jaçam na cadea quinze dias,i
Ord. Affons., liv, 2, tit, 103, § 6, —
«Agora me quero rir, disse o outro; de-
pois que passastes toda a noite em sora-
no, quercis-me metter em consciência que
errastes o caminho; pois faço-vos saber
que são pegados comvosco; e redes as-
somam por cima daquclle outeiro, e tra-
zem comsigo a donzella que iam buscar,
que vejo roupa de mulheres.» Francisco
tio Moraes, Palmeirim dlnglaterra, cap.
lOõ. — «Puis como o cavalleiro do S.al-
vagem fosso mestre destes accidentcs,
com amorosas palavras e afagos necessá-
rios, a começou tentar; e achando-a mais
branda na pratica, deu nma pequena de
ousadia ás mãos, tocando-a nas mangas
da roupa, e outros lugares, onde não pa-
recia ileshonesto, e sentindo-lhe a vonta-
de entregue, satisfez com seu de.sejo de
maneira que quando o escudeiro tomou
era feita dona, o bem contente.» Ibidem,
cap. 100. — «Padre, disse o do Salva-
gem, dai-me um seguro que na vossa ce-
la estaes isentos destes accidentcs huma-
nos, ou que debaixo destas roupas se vos
não revela a carne : cntào terei estes pe-
rigos em mais.» Ibidem. — «Vivem tam-
bém nesta cerca todos os mainatos que
lavão roupa a toda a cidade, que segundo
BOUP
ROUP
ROUS
345
nos affirniarào passaõ de cem mil, por
aver aquv grandes rios, e ribeyras da-
goa, com infinidade de t.àques muyto
fundos, e lagos fechados todos de cercas
de cantaria muyto forte, e de lageas muy-
to primas e bem lavradas. » Ferncão Men-
des Pinto, Peregrinações, cap. 105.
— Roupa preta ; vestuário preto, e o
mais decente, e menos garrido, e de que
se faz uso para muitas occasiões. — «Ma-
noel de Sousa de Sepúlveda tomou con-
selho com todos sobre o que seria melhor,
e assentarão «que se puzessem em terra,
e que se fortificassem, e que das cousas
da nào fizessem hiun caravelaõ, em que
se pudessem hir pêra Çofala, ou Moçam-
bique, ou mandarem recado pêra os vi-
rem buscar, c que se puzesse cobro nas
armas, e alguma roupa preta, que era o
com que haviaõ de resgatar o que hou-
vessem mister.» Diogo de Couto, Década
6, liv. 9, cap. 21.
— Roupa de linho; fazendas brancas
de linho, que tem variadas cores. — «E
com tanta quãtidade de peças de sedas,
brocados, tellas, e roupas de linho, e de
algodão, e de pelles de martas, e armi-
nhos, e de almizcre, aguila, porcellanas
finas, peças d'ouro, e de prata, aljofre,
pérolas, ouro em pó, e em barras, que
ni'is os nove companheyros andávamos
como pasmados.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 107.
— Roupas de jogo; vestidos festivos, e
de adornos; em opposição aos vestidos de
armar o corpo, como eram as cotas d 'ar-
mas, as malhas, couras, cambazès, folhas
de bufaro, laudeis de acolchoados, cace-
tes, etc. Vid. Jogo.
— Diz-se do homem de pouco mereci-
mento e valor. — Este é fraca roupa.
— ■ Alvas roupas ; vestidos brancos, fa-
zendas brancas, como são os lençoes, saias
de linho, camisas, etc.
Vão diante Eubages, e comsigo lévào
Dons alvos Touros (Victimas votadas).
Bardos cantando vem, ao som das Cytharas,
Louvores de Teutates. vem Alumuos,
Em alvas roujyas: ura Arauto os guia ;
Galéro alado traz ; na dextra um ramo
De Yerbemia, com Serpes retorcidas.
F. M. DO NASCISIEXTO, OS MABTYRES, 1ÍV. í).
■ — A queima-TOupa; muitissimo perto.
— Disparar um tiro á queima-Tonfa.
— Guarda-iQupa. — « De maneira, que
ao que agora dizem o Veador da Casa,
chamavaò Comes rei privatce- : ao Guarda
roupa : Comes sacrce vestis : ao veador da
fazenda: Comes largitionum.» Manoel Se-
verim de Faria, Noticias de Portugal,
Disc. 3, § 2õ.
— Figuradamente: O génio da monta-
nha trajando alias roupas de nuvens.
E o nome de Beatriz, também gravado
Na sílice do monte, lhe responde,
TOL. V. — U.
Como echo das cndeixas namoradas
Do cantor da soidão. Sentado viram
O gonio da montanha, alvas trajando
Iioiipas do nuvem, dar ouvido attento
As canções magoadas c suíivissimas
De Bernardim saudoso e namorado.
G.iERETT, CAMÕES, cant. 9, cap . 9.
— Roupa branca; os vestidos, camisas,
saias de linho, de algodão, toalhas, len-
çoes, etc, de lençarias, ou cotonia.
— Adágios e provérbios:
— Nào haja di'i de quem tem muita
roupa, e faz má cama.
— Bem estamos de roupa, se nos nFSo
molharmos.
— Dá Deus o frio, conforme a roupa.
• — Dá Deus a roupa, segundo é o frio.
— Roupa de francez.
ROUPADO, pa7-t. pass. de Roupar. Pro-
vido de roupas. — Pinturas bem roupa-
das.
ROUPAGEM, .s. /. Termo de pintura e
de escuiptura. A parte que representa as
roupas, vestidos, pannos. — A roupagem
da sua ]>intura.
ROUPÃO, s. m. Augmentativo de Rou-
pa. Roupa grande, ou vestido largo, ta-
lar, mui fraldado, que- se traz sobre os
outros : era também de mulher.
— - Modernamente diz-se dos vestidos
de mulher, abertos por diante, á manei-
ra das sobrecasacas dos homens.
ROUPAR, V. a. Prover de roupas, ves-
tir. Vi 1. Enroupar.
— Roupar as jiguras do quadro; pin-
tar-lhe as roupagens.
— Roupar as estatuas ; lavrar as rou-
pas ao escopro, ao cinzel.
— Roupar-se, i-. rcjl. Prover-se, ves-
tir-se de roupa.
ROUPARIA, s. f. Vestiaria.
— Ca-^a onílc se guardam as roupas.
ROUPAVELHEIRO', A, s. Pessoa que ven-
de fatos velhos, á maneira dos adelciros e
adeleiras, apesar de que estes também os
vendem novos.
— Al d bebe.
ROUPEIRO, A, adj.~Uva roupeira;
espécie de uva conhecida por este nome.
— S. Pessoa que trata e cuida da rou-
paria.
— Entre pastores, diz-se do que guar-
da as ovelhas.
ROUPETA, í. /. Roupa mais estreita.
— nDa qual gente vimos alguns homens
aquy nesta cidade, que saõ ruvvos, e de
estatura grande, vestidos de calções, rou-
petas e ch.ipeos ao modo que nesta terra
vemos usar os Framengos e os Tudescos,
e 03 mais honrados traziào roupões forr.a-
dos de pelles, e alguns de boas martas,
traziào espadas largas e grandes, e na
lingoagem que fallavào lhe notamos al-
guns vocablos Latinos, e quando espirra-
vão deziào três vezes dominus, dominus,
dominus. » Fernão Mendes Pinto, Pere-
grinações, cap. 124.
— Roupeta de escarlatim. — «São todos
mui aôeiçoados a cousas de Portugal, o
velho, e lembra-lhes do bispo Pinheiro,
quando começou a pregar, e das festas
do principe, a que elles chamam o bom •
tempo; e não se amancebarão do uma
capa de arbim de espada e de uma rou-
peta de escarlatim, ainda que os escom-
munguem.» Fernão Rodrigues Lobo So-
ropita, Poesias e prosas inéditas, pag. 62.
— Túnica religiosa. — ^1 roupeta je-
suitica.
ROUPETÃO, í. m. Augmentativo de
Roupeta. Roupão, vestidura longa, saio.
Vil. Ropetão.
ROUPINHAS, 5. /. plur. Vestidura de
mulher, que se aperta por diante, chega
até á cintui-a, e tem manga até meio bra-
ço, ou que o cobre todo.
ROUQUEJAR, f. n. Dar som rouco. —
Rouquejar " rn.
ROUQUENHA, s. f. Termo antiquado.
Rouf[uidàii. rnuquice.
ROUQUENHO, A, adj. Algum tanto rou-
co, um pouco cheio de rouquidão. — Ho-
mem rouqueuho.
ROUQUICE, .■••. /. Termo pouco em uso.
Vid. Rouquidão.
ROUQUIDÃO, s. /. Embaraço no órgão
da voz, soltando-se os sons difficilmente,
não se tornando bem intelligiveis, nem
distinctos.
ROUROU. Vid. Rou rou.
ROUSADA, s. f. Dava-se antigamente
este nome á mulher forçada, cuja hones-
tidade, contra o seu querer, e apesar da
sua resistência, foi violada e offendida;
e também :í que era furtada para o mes-
mo fim, ainda que o rapto algumas vozes
não fosse mais do que de seducção. Em
muitos foraes antigos se permittia a im-
munidade d'este delicto, comtanto que a
mulher não fosse casada.
Gozavam pois da immunidade no crime
de rauso, apresentando-se aos senhorios
d'aquellas terras, cujos foraes lhe conce-
diam, assim como no de homicídio; exce-
ptuando sempre o adultério ou violência
íeita a mulher casada, e que solemnemente
estava recebida. E quando se dizia — o
que sair da sua terra com mulher rou-
sada — -não era dizer que a mulher saiu
na companhia do aggressor, mas sim que
este saiu culpado no delicto de rousar a
mulher; e que esta seja a verdadeira in-
telligencia da palavra rousada se mani-
festou do facto de Jlaria Rousada, de
Bemfica, a cujo marido fez dar a morte
El-rei D. Pedro i, apenas soube que a
forçara, antes que com ella se casasse,
como Lopes e Nunes informaram.
ROUSAR, V. a. Termo antiquado. Vid.
Rausar.
ROUSADOR, 5. m. Vid. Rausador.
R0U30, s. m. Vid. Rauso.
R0U3SAR, V. a. Vid. Rausar.
ROUSSO, «. »)i. Vid. Rauso.
ROUSSINOL, s. m. Termo de zoologia.
Passarinho bem conhecido, cujo cauto é
846
ROXO
ROXO
ROXO
mui aprarlavol. — An alvonidas doa rous-
sinoes.
ROUVINHOSO, A, adj. De mau humor,
diiTu-il il(! coiitiiiitar, (-.'iprirlioso.
f ROUXADA, .V. /. Vid. Rousada.
ROUXAR, V. a. Vul. Rausar.
ROUXEAR, V. a. VuL Roxear.
ROUXINOL, s. VI. Vid. Roussinol.
c oí f(iir! cá poi' mói' oníprosii
tem foliaíi,
roitxinne.fi o mulodias
no melhor manjar o mosa,
isso lho ha do ser arpias.
ANTÓNIO niESTEs, AUTOS, pap;. 03.
EUa iiào sabe a certeza,
f|uo Ihu levo para a mcza
ronxiiinf.a rpie estém cantando :
pcdi-mc doz mil cruzados
pela fçorgp.ira, c vereis
HO os estimo.
iiiiDKM, pag. 393.
— Adagio k i-iíovioubio :
— Noiu o rouxinol de cantar, nem a
mulher do falLir.
1.) ROUXO, s. m. Si^nitica o mesmo
que Rouso, ou Rousso ; estupro, rapto.
2.) ROUXO, A, adj. Vid. Roxo.
ROUZAR. Vid. Rousar.
ROVOKENÇA, s. f. Vid. Reverencia.
ROXADO, A, ad'j. Vid. Raxado, e Ra-
jado.
ROXEADO, yarl. imss. do Roxear. Tin-
tado de rOxo.
— De côr tirante a roxo.
ROXEAR, V. a. Dar côr roxa. - — As nu-
vens roxeando a bel la aurora.
— Figuradamente: Fazer de côr roxa.
— V. n. Toruar-8C roxo, apparecer
roxo.
ROXICRÉ, s. »i. Vid. Rosicré.
ROXETE, s. m. Vid. Rochete.
ROXINOL, s. m. Vid. Roussinol, c Rou-
xinol.
E o linxinol na simplicn pluniap;c
Co 'o magcstoso accento os aros prende.
J. A. DE M.VCEOO, A NATUREZA, CiUlt. 1.
ROXISCURO, A, adj. Do côr entro roxo
o negro.
1.) ROXO, s, m. Termo antiquado. Vid.
Rouxo; estupro, rapto.
2.) ROXO, A, adj. Cor de violeta ordi-
nária.
Nascerão por as praias deleitosas
Os iVsporos abrolhos cm lugar
Dos roxos lírios, das pudicas rosas.
CAM., EQLOQA 3.
— « Já quo o sol se queria pôr, entrou
polo terreiro um cavalloiro, que parecia
vir de longe, armado d'armas de roxo
com esporas verdes, no escudo em campo
índio uma espora da mesma sorte, pas-
sado por alguns logarcs cavalgava; em
um cavallo ruço pombo, manchado de
sangue, quo o fazia mais formoso. E om
passando fez seu acatamento ao impera-
dor I! imperatriz.» Francisco de Moraes,
Palmeirim d'Inglaterra, ca]». 23. — *(>
derradeiro vinlia armado de roxo e encar-
iiido com barras ifouro atravessadas, e
antremettiiias u nas por outras de uma
maneira o invenyilo, nova, no escudo cm
campo roxo uns fogos acesos tilo natu-
r;ios, que pareciam ujais verdadeiros que
fantásticos.» Ibidem, cap. lOí). — «Mas
no canduho achou cousa, que Jlios foz ti-
rar delia: porque antes de chegarem a
('onstantinopla um quarto de Icgua, pe-
gado com uma ornnda do S. Luis, que
junto da estrada estava, á sombra d'un8
freixos, que a cercavam, viram um caval-
loiro armado d'armas de roxo e encarna-
do semeadas d'abrolhos d'ouro miúdos,
que quasi as cubriam todas, o elmo da
própria sorte, e no escudo em campo azul
uns eyprestes verdes com seus pomos dou-
rados.» Ibidem, cap. 111.
Nos ares o estandarte logo vôa
Itranco, vermelho, azul, roxo, amarollo,
A sonora trombeta o mar atroa
Com som que a orelha mal púdc soffrcllo,
("> guerreiro atambor tambcm ja soa
Que os peitos alvoroi.a, ergue o cabello,
A bombarda quo a fúria alli despende
Com pacifico estrondo, os aros fende.
F. D'ANnaADE, PBIJIRIRO CEBCO DE DIU, Caut. 4,
est. 81.
Ou dos rôxo.1 listões, quo afformoseão
Os doces apartados horizontes.
Quando o Sol (|uasi immcrgc o disco ardente
No seio undoso da cerúlea Thetis,
A luz lhos dá belleza, c empresta as graças.
J. A. DE M.ICKD0, MEDITAÇÃO, Cant. 2.
— Tonia-so também por vermelho ar-
dente.— A roxa cJuimma.
Rompe por ferro e fogo aquoUc ousado
Peito, mais forte que hum, mais que outro aceso,
E tanto que á barca(;a foi chegado,
Que de ninguém lhe píde ser defeso.
Faz logo o que lho foi eucommendado,
l);l por mil partes fogo ao grosso peso ;
15ebe-o a secca matéria, e dentro o chama,
Sahe logo o negro fumo, c a roxa chama.
K. d'aNDRADE, PBIMEIUO CERCO DE DIU, CaUt. 13,
est. 89.
— « Mas depois que as suas agoas co-
meçaram a hir dcminuyndo, ficou com
taõ poucas que os rayos do Sol quo nes-
tas partes ferem com mais vehemencia,
tornarão as áreas vermelhas, ou roxas, e
eomo a agoa he clara e transparente, pa-
recia da mesma cor delias, c por esta causa
se cliamou Mar Roxo.» Fr. (raspar de S.
Bernardino, Itinerário da índia, cap. 8.
Mil frutas, mil corbolhas, mil compotas
A terceira coberta logo adornaõ ;
E cm dourados cristaes, oh lout;aõ Haccho,
De tuas plantas brilha o roxo fumo.
Entre tento na porta do Palácio.
A cem |>obrcs o iiii-lio da Cosinha,
Por ordem do Pastor cirititivo,
Um caldeirão de caldo repartia.
DINIZ DA CRUZ, iivssorK, Cant. 3.
- A roxa espada.
('ontra o» portuguBzca
Nilo foi clle, quo as luaa mahoinf-tanaa,
Deanto a roxa espada vacillando
l)t; Sanctiago, seu fulgor perderam ;
E o mostre, da victoria precedido,
Ja de Tavira iis portas se apresenta.
OABHKTT, D. I1HAXCA, caiit. 3, Cap. 17.
— O mar Rôxo; o mar que banha a
parto Occidental da Ásia, o a oriental da
Africa; é notável historicamente pelos
factos bíblicos quo alli succederam, como
foi a sua passagem feita pelos israelitas,
e que ^loysés tinha aberto com a sua
vara, tocando nas aguas, que lho obede-
ceram; o além d 'isso a submersão dos
egypcios que sob o commando de Pliaraú
trataram de seguir as pisadas do exer-
cito israelita, julgando que o milagre de
Moyscs taud>em era para os cgypcioe,
porém Moysés depois do ter atravessado
o mar, bateu novamente no mar Rõxo, e
os egypcios ficaram afogados nas aguas
d'cstc mar. — «A outra especoaria que
eutraua per o mar roxo, fazendo suas es-
calas por os portos dellc : chegaua ao
Toro ou a Suez, situados no vitimo aeo
deste mar.» João de Rarros, Década 1,
liv. 8, cap. 1. — < E neste anno veio tam-
bém Feriião Peres d'Andrade com as suas
que trouxe de Malaca, (como dissemos).
Partidas estas nãos, despojou-se Afonso
d'Alboquerque de todolos outros negócios,
c enteudeo em os de sua partida pêra
hum destes lugares, aonde ElRci D. Ma-
nuel Um )nandou que fosse ao estreito do
mar Roxo, ou a Ormuz.» Idem, Década 2,
liv. 10, cap. 2.
Pouco antes que com mostra horrenda c bella
(Si'i3 oito dias são se não m'engano)
Sobre Diu colhesse a inchada vóUa
O esperto marinheiro Lusitano,
Hum Capitão fugindo entr.ára nclla
C,'ue d;i obediência ao Suliinano,
Kuniecão era e nome que ellc tinha,
E l:i do rõxo mar fugido vinha.
F. DK ASDRADF., PRIMEIRO CEBCO DE DIU, Cant. !
est. 37.
— «Os nossos padres antigos niuyt.is o
grandes marauilhas de Deos viram. ' '
Ceo lhes orualhou manjar de Anjos j)era
sou mantimento. ( ) mar roxo se lhes
abrio cm carroyras, pcra quo pudessem
passar a pcc enxuto. O rio lordam se re-
tirou pêra a fonte donde nascia, pêra
lhos dar liuro passajem.» Fr. Hartliolo-
men dos Martyrcs, Catecismo da doutrina
christã.
— Ruivo.
ROZA
RUA
RUA
347
— Sabstaiitivamente: O roxo; a cor
Este o Manto Real no vaato Império,
Com cllc se atavia, c o Miiudo enfeita.
Do azul, que forra 03 Ueo3, o Indico he perto.
Da saudade o magoado aspecto,
Matiz da Violeta, cia brilha o roxo.
3. A. DE M.iCEDO, VI.VGEM EXTÁTICA, Cailt. 3.
3.) ROXO, s. m. Natural da Rússia.
Vid. Russo.
f 1.) ROYDO, yart. pass. de Roer. Vid,
Roído, ortho<rr;ipliia preferivel.
f 2.) ROYDO, s. wi. Vid. Ruído, ortho-
graphia preferivel. — «He muito pêra
folgar de ver as entradas das portas da
cidade, ho roydo dos que entram e saem,
huns carregados de cães, outros de lei-
tões, outros de adens, outros de hortali-
ça, outros de diversas cousas, bradando
cada hum que lhe dem lugar.» Fr. (ias-
par da Cruz, Tratado das cousas da Chi-
na, cap. 12.
ROYO, s. m. Vid. Arroio, termo mais
em uso.
-f- ROZA, s. f. Vid. Rosa.
S(5 vós, formosas
Que adornadas do lirios e de rozas
Fazeis mais poderosa a formosura,
Só vós por eutre as arvores saudosas.
Que já alguin'lioi-a attentas mo escutaram,
A males tão crucia fostes piedosas.
FERNÃO SOROPITA, POESIAS I PROSAS INÉDITAS,
pag. 32.
— Cõr de roza; côr vermelha, encar-
nada. — Lábios côr de roza.
Da boUeza inimigo, c da ternura,
Xouócrates descubro austero, c triste.
Vergonhoso baldão da espécie humana.
Que nem ao vivo seintilar dluius olhos,
Nem ao mago sorriso deslisado
De hum lábio, côr de purpura, ou do ror.as,
Ou aos áureos auneis de tranças de ouro.
J. A. DE MACEDO, VI.\.GEM E.XTATICA, Caut. 2.
f ROZADO, A, adj. Vid. Rosado.
— Côr rozada no rosto; ter na face
uma côr de rosa. — «Tirando o do Sal-
vagem o elmo, como viesse afrontado do
caminho e trouxesse uma côr rozada no
rosto, fosse moço e gentil homem, pare-
ceu tão bem á douzella, qixe, ainda que
nas palavras o não mostrasse, o do Sal-
vagem o sentiu nas outi-as mostras, por-
que cora os olhos parecia que o oliiava
d'outra maneira.» Francisco de Moraes,
Palmeirim d'Inglaterra, cap. 106. — • « O
ro.stro; grande com boa conformidade, e
comprido mediocremente ; a carne bran-
da; a còr rozada; as artérias, e veas sub-
tis, e gravo.samentc descubertas : Fácies
est matjna, et oblonga aUíiuantum, et vfí)'sus
inferiorem iKvrtem aliqualiter acute deji-
nit : adhcec est carne molli, j)lena cuteque
levi, et clara rósea rubediíie intermixta ; et
'jjulchris intensa cosruleis, et magnis arte-
k
rijs, venis, vasisque capillaribus obdu-
cta. » ]3raz Luiz d'Abreu, Portugal medi-
co, pag. 325, § 76.
ROZEIMO, s. m. Termo da província
da Beira. Ódio, rancor, aversão, resen-
timento, pique, desprazer, dissabor. —
Ter rozeimo a um homem facínora, la-
drão, patife, etc.
RUA, s. /. Espaço entre as casas, nas
povoações, por onde se anda e passeia.
— «Estraflas, e ruas pru viças autigua-
raente usadas, e os Rios navegantes, e
aquelles, de que se fazem os navegantes,
se som cabedaaes, que correm continua-
damente em todo tempo, pêro que o uso
assy das estradas, e ruas pruvicas.j Ord.
Affons., liv. 11, tit. 24, §5.— «No qual
alcance hiam os nossos tão acesos, que de
mestura quiseram entrar com elles, se
lho Afonso Dalbuquerque nam defendera,
por ser ja quasi noite, e a cidade de ter-
rados, e ruas e^itreitas, em que facilmen-
te se poderam todos penler. » Damião de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 2,
cap. 36. — «Despejada assi a ponte de-
terminou Afonso dalbuquerque de se fix-
zer forte nella, pêra onde se logo reco-
Iheo, e mandou fazer huma tranqueira
em que pos alguma artelharia, com que
varejaua toda aquella rua grande, de que
deu a guarda a Nuno vaz de castel bran-
co, e a George nunez de leaõ.» Ibidem,
liv. 3, cap. 18. — • «E como dom Fran-
cisco pela experiência da entrada de Qui-
loa, sabia a manha d'este3 Mouros que
mães se seruiaõ das janelas e eii-ados que
das ruas, leuaua entre a gente de armas,
besteiros e espingardeiros repartidos que
lhe despejauaõ os lugares altos donde os
ofFendiaõ.» Barros, Década 1, liv. 8, cap.
8. — «Seria o povo que se ajuntou, e poz
per as janellas, e eirados da rua per on-
de ElRey hia, passante de trinta mil al-
mas ; e quando o viram naquella pompa,
e com maior estado do que nunca caval-
gou, todos a uma voz em modo de lou-
vor davam graças a AíFonso d'Alboquer-
que por lhes tirar o seu Rey do cativeiro
daquelle tyranno, e o poz em estado de
tanta hom-a.» Ibidem, liv. 10, cap. 5. —
«Passado desta rua a outra, per que via
coi-rer o iio da gente, veio Afibnso d'Al-
boquerque ter a este mesmo lugar; mas
parece que inspirou Deos em hum homem
que hia diante, que tornou a elle, dizen-
do : Jende-vos, Senhor, não passeis per
aqui, porque nesta rua está algum peri-
go : cá sendo tão principal, não a vejo
trilhada de gente. ^ Idem, Década 2, liv.
6, cap. õ.
Oh Bna de San Gião,
Assi 'st:ls da .sorte mesma
Como altares de riuarcsma
E as malvas no verão.
Quem levou teus trinta ramos
E o meu mana bobamos,
Isto a cada bocadinho?
alL VICENTE, OBRAS VARIAS.
— «Tem muytas ruas de todos os offi-
cios muy abastada : a huma banda desta
cidade estaa huma cerca muyto grande
de grandes pomares e ortas onde estam.
as casas do Sufy e sam huns paços muy
laviados feytos de alabastro ou mármore
daquella terra muyto fino, e de muytas
vidraças ricas.» António Tenreira, Itine-
rário, cap. 15. — «Ha também ao longo
d 'este grade rio da Batampina por onde
fizemos este nosso caminho da cidade do
Nanquim para a do Pequim, que he dis-
tancia de cento e oitenta legoas, tanto nu-
mero de engenhos daçucar, e lagares de
vinhos e azeites, feitos de muytas e muyto
diversas maneyras de legumes e fruitas,
que ha ruas destas casas ao longo do rio
de huma parte e da outra de duas e três
legoas em comprido, cousa certo de gran-
díssima admiração.» Fernão Mendes Pin-
to, Peregrinações, cap. 97. — • «A cada
homem honrado, ou mercador principal
destas ruas nobres lhe cae por distribui-
ção huma noite de vigia com certos ho-
mens de sua quadrilha, a fura os trinta
capitães do governo que roldão por fora
em baloens muyto bem equipados, por-
que não escape ladraõ em nenhuma par-
te, os quais sempre andao bradado para
que sejaõ ouvidos.» Ibidem, cap. 98. —
«E a cada hum de todos estes se dá hum
tanto por cada "mes para seu mantimen-
to, os quais, segundo os Chins nos affir-
mai-aõ, chegavão a copia de cem mil,
porque em cada hum destes aposentos de-
zião elles que avia duzentos homens. Vi-
mos mais huma rua de casas térreas muy-
to cõprida, onde pousavão vinte e qua-
tro mil remeyros, que saõ os das panou-
ras dei Rey.» Ibidem, cap. 105. • — «Pas-
sando esta porta por baixo de huma gros-
sa cadea que a atravessava toda, e fe-
chava nos peitos destes dons diabos, fo-
mos dar numa rua muyto formosa, assi
de larga como do comprida, fechada to-
da de huma banda e da outra com arcos
todos pintados de diversas maneyras, por
cima dos quais hião duas fileyras de Ído-
los quanto distava o comprimento da rua,
em que averia mais de cinco mil vultos,
os quais não devísamos bem de que ei-aõ
feitos, porem eraõ todos dourados, e com
mitras nas cabeças de diversas inven-
ções.» Ibidem, cap. 110. — «E põdolhe o
fogo, quiz a desavcntura que. arrebentou
por três partes, e deu nelle e lhe fez
duas feridas, huma das quais lhe decepou
quasi o dedo polegar da mão dire3-ta, de
que o moço logo cahio no chão como mor-
to, o que vendo os dous que cõ elle esta-
vão, forão fugindo caminho do paço e
gritado pelas ruas hião dizendo, a espin-
garda do estraiigeyro matou o filho dei
Rey.» Ibidem, cap. 136. — «Ao outro
dia ja menham clara nos levarão para a
cidade, á qual chegamos ás quatro horas
despois de meyo dia, e por ser ja tarde
nos naõ vio entaõ o Broquem, nem nos
3-18
IILTA
RUBI
RUIU
vio sunilo (l.ily n tre.s «lias, «iiH! ;hsí pre-
goa nos mainlou levar i)(;raiitij s_v polas
principais <|uatro ruas da ciila<le em que
avia graiifiissima copia de fronte, a final,
no que de tVn-a parecia, mostrava ter pie-
dade o compaixão do uos^^a miséria e des-
aventnra, principalmente as inolliercs.f
Ibidem, cap. IHÍ'. — «E desta maneyra
fov passando esta espantosa iJrocissSo por
mais' de cem ruas <iuc para íhso cstavào
feitas, enramadas de palmeyras o coni se-
bes de murta, cõ muytos estcmlartos e
bandevras de seda, em partes muytos eii-
tremoses com mesafi postas cm ([ue se
dava de comer ])clo amor do Deos a todo
o género de gente que o queria, e oní al-
gumas partes se davSo vestidos c dinliey-
ro, o se fazião roconciiiaçocns do inimi-
zades.» Ibidem, cap. UiO. — «E tocando
tambores acodio toda a gente com que se
tomàraõ as bocas das ruas, porciuc os
Amoucos nJlio entrassem na Cidade.» Dio-
go de Couto, Década t3, liv. O, cap. 2.
— «.lorge Cabral aooiiio ;\ rua direita, e
cõ olle o Capitai"), o Manoel de Sousa do
Sepúlveda, que o Visorey tinha deixado
por Capitão mòr dos rios pcra fazer cor-
rer a- pimenta.» Ibidem.
Senhor, scnti-vos falar
na rua com vosso irniào,
vi serdes vós, cu ontào
por v^')S dcixci-inc estar,
uão, bofo, u"outra tenção.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pag. 291.
— «Xa mesma Fortaleza se escondião
curiosas danyas, que com acordailas vo-
zes cantav.ão .ao (íovernador louvores a
números atados, deleitando o ouvido na
harmonia, o juizo na letra. O concerto
das ruas, como para dar a conhecer a
opulência do Oriente ; as tolas de lavo-
res, ))or usuaes, se olhaviío com despre-
zo.» .Tacintho Freire de Andrade, Vida de
D. João de Castro, liv. ;5. — «Bem avia-
do estava eu minhas Senhoras, respondi
a todas, se cu falasse com Voss.as Senho-
rias. As pedras da rua se levantariào
contra mim se me metessp. nessa alha-
da.» Cavaileiro d'01iveira, Cartas, liv. 1,
n." 10.
Acçaò, por certo, digna de ser lida
Com letras de ouro, na Gaicta da Haya,
Ou nas folhas volantes, que ein Lisboa
Os Cegos apregoaõ pelas ruas.
DINIZ DA CRUZ, nvssOPE, caut. •">.
— «Porque, no desenvolvimento da sua
complicada ostruetura, ainda tinha a cau-
da orabcbiila na Rua-nova, quando já as
fóruias siujíularcs da fronte se adianta-
vam, como um sonlio do pesadello ou uma
scena do phantasmagoria, ao redor de
Valverde, caminho da cathodral.» Ale-
xandre Herculano, Monge de Cister, cap.
17. — «Quem, o perro do Alie quinteiro
que foliava por cssao ruas, c que dcsap-
parucou dusdc o dia oiii (pie o atropelaram
á sé, (piaiido tu e os outros velhaco» ila tua
laia lho estorroarani im cara lixo e terra,
porque arrenegava de (Jhristo e do Ma-
famcdc, iio meio das .«ua.! lastimas dori-
das? » Ibidem, cap. 10.
— Nos jardins, 6 o espaço entro ron-
ques, alèas, ou canteiros.
— Rua de gente; collocada em tileiras
parallclas.
— (Jaminho para chegar ao rauro ini-
migo, coberto das baterias dos cercados.
— Ala, serie do casas, arvores, etc.
— Adaoiu:
— Merva crua deital-a r.a rua.
RUÃO, s. V). (De liuào, cidade do Fran-
ça). Panno de linho tosado que se fabri-
ca cm líu.^io.
— Diz-se do cavallo branco com ma-
lhas pretas redondas.
— Ruão /n'crt(/y; a que os hcspanhoes
chamam ays-iicur cauella.
I RUANA, s. f. Tecido de lã, que se
fabrica no Ferú, o serve para vestir a
gente pobre.
-]■ RUANTE, «'/j. Diz-sc do pavào que
levanta a cauda.
RUBBIO, í. J«. Termo de metrologia.
Medida de líquidos usada na Lombardia,
equivalente a 41 libras.
RUBEFACÇÃO, *-. /. Termo de medi-
cina. Intlaniiiiaeào, vermelhidão dolorosa
da pellr.
RUBEFACIENTE, ndj. 2 gen. Termo de
medicina. Que produz rubor, ou leve in-
ilammaeiío na pelle.
I RUBELANA, .«. /'. Termo de minera-
logia. Sub.-taneia mineral opaca, que tem
o a.sjiccto da mica, c se encontra na Bo-
hemia.
f RUBELITA, s. /. Termo de minera-
logia. Variedade de turnialina carmezim
que se encontra na Sibéria.
RUBENTE, adj. 2 gen. (Do latim rubens,
rubentis'. De côr vermelha, rubra.
RUBEO, aJj. (Do latim rubeus). De côr
vermelha.
RUBETA, s. /. (Do latim ruòctaK Ter-
mo de zoologia. R-ã de sarçal; género do
reptis batrachios, adornados de bonitas
coros, especialmente a verde, e o azu-
lado.
RUBI. Vid. Rubim; no plur. Rubis.
Minhas flores, colhei flores.
Quizera eu que esses amores
Forào perlas preciosas,
K de rHÍii*
O caminho per onde is,
K a horta d "ouro tal.
Com lavores mui sutis,
Tois pie Deos faicr-vos quix
Angelical.
GIL VICENTE, fAHÇAS.
Do brancJí seda todos trazem fotas:
Cingidos huns alfanges de obra estranha.
Kngastados \>or elles esmeraldas
Grandes nibk. i;atiras, e diaiuautes.
Em maacaru ao ^ngo vno vucobríio
("».< conhecido« rantoa. trazem inuitAS
('luras toclian diante, c vem fuviidu
Ao Hom dl- saenbuxas 1<--Ua daiii;a.
lliKTr. K|;AL, XAUrilAUIO DK SKrLXVEDA, coiit. i.
— «Hinii colar de ouro grande com pé-
rolas, c rubis, e tre.^ cmzfs de pclraria
no pè com huma grande pcrola em bai-
xo: outro colar com rubi', hum no movo
grande: outro colar douro com alguns
rubis, olhos de gato, e no meyo hum
olho de gato grande com rubi* à ro-
da.» Diogo de Couto, Década ij, liv. D,
cap. 1.
Mette o riihi pnrpureo. a aznl Rafim,
Verde esmeralda, n branco diamante.
Que (|ualqucr a muito ouro o valor tira,
Qualijuor de grande pre(;o está diante :
Aqui põe sua mulher por quem suspira.
Por quem arde d'amnr. que do possant«
liei de Deli era filha, c vt-ncí^dora
Fura em Ida, se lá a i|uarta fora.
FRANCISCO D'ANDRtDE, PRIMEIRO CERCO DC t>IC,
c;uit. 3, est. 5t>.
RUBIA. Vid. Ruiva.
RUBIACEAS, í<. /. j'lur. Termo de bo-
tânica. Famiiia de plantas dicotyledoneas
monopetalas, cujas espécies são arvores,
arbn.«tos ou hervas de folhas oppostas, e
de tlôres dispostas em ramos. A maior
parte d'ellas possuem propriedades roedi-
cinaes, como a quina, a ipecacnanha, o
café, etc; e nas artes também são apre-
ciadas pelos princípios colorantes que sub-
ministra a ri-yva e outras espécies.
7 RUBICELA, «. ./'. Termo de minera-
logia. .Vluniinato de magnesia, topasio
amarei lo. avermelhado.
RUBICON, ou RUBICÃO, adj. Diz-se do
cavallo em que o pêllo é mesclado de
branco e ruivo.
RUBICUNDO, adj. (Do latim rubicun-
ditsK Vermelho.
Abre a roraaã, mostrando a rubicunda
Côr, com que tu. rubi, teu preço perdes;
Entre os braços do ulmeiro, está a jucunda
Vide. dhuns c;icho3 rouxos, e outros verdes:
K vis se na vossa arvore fecunda.
Peras p\Tamidaes, viver quizerdes,
Entregai-vos ao danmo que co'os bicos
Em vós fazem os pássaros inioos.
«AM., Lcs., cant. d, est. 59.
Murmurantes arroios, mansamente»
Em seu correr, de amores conversando
Co 'as dryades do bosque ; os rubicuMdot
E dourados thfjjouros de Poiuoua...
GARRETT, C.IMÒES, CiUlt. S, Cip. 13.
RÚBIDO, adj. Do latim rubidusi. Ver-
melho, arrouxeado, ardente.
Formão brilhantes Horcaes Auroras.
Ao riibiJo horisonte em parallela
T.inha se mostrão, s«^ mais baiias correm,
l)u u'huni centro couuuum s'unom subindo ;
RUBO
Mas exhaladas as porções sulfúreas
Pouco a poa«) do ar dcsapparecem.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTAIICA, Cant. 1.
flu quando pelo rúbido Orieate
Hum dourado Listão S3 observa apenas,
Xuncio do Sol, que fulgurante assoma
Poucos momentos se demora, á vista.
■j- RUBIEVA, *-. /. Termo ue botânica.
Geaero cie plantas da fauiilia das cheno-
podea?.
7 RUBIFICAÇÃO, s. /. Aceào de tingir
uma cousa i!e vermelho.
RUBIFICANTE, adj. 2 gen. i^Part. act.
de Rubiucar . Que produz, ou causa ver-
melhii-iàu.
f RUBIFICAR, V. a. Tingir com côr
vermelha.
f RUBIFORME, adj. Termo de botâni-
ca. Que tem a fárma de fiamboeza.
RUBIGINOSO, adj. iDo latim ruhigi-
luisus'. Ferruginoso.
RUBIM, s. m. iDo latim rubeus). Pe-
dra preciosa, de côr roxa, rósea ou car-
mezim. — «Basta saber que levou elefan-
tes carregados de preciosos rubins, de
que os Mouarchas Pegús abundavam so-
bre todos os Príncipes do Universo: ha-
via sessenta idolos de tino oiiro guarne-
cidos de pedras, e pérolas riquíssimas,
com outras joyas, em cuja conducçaõ he
certo que trabalharam alguns elefantes
mais de quinze dias.» Conquista do Pegú,
cap. 2.
O abrazado Rubim, que até na sombra
Da noite em si conserva a luz do dia :
A saudosa Amctliista, onde se apura
O suave matiz do roso Lyrio ;
O pálido Topázio, em que lie mais bella
A palidez do Goivo, e da Giesta ;
O esperançoso verde aos olhos grato.
De que a Esmeralda fulgida s"arrêa.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Cant. 2.
— Figoiadamente : Que tem um ver-
melho vivo. — Lábios de rubim.
RUBINA, s. /. Termo de mineralogia.
Xouie que se aava antigamente a vários
sulfures metaliicos, nativos ou artlticiaes,
por causa da sua côr vermelha.
— Rubina de antímoniu ; sulfur de an-
timonio, dissolvido por fusào no protoxv-
do de antimonio.
— Rubina de arsénico; o arsénico sul-
furado vermelho, que se faz derreter.
— -Rubina de enxofre; dissolução de
enxofre em um óleo, que tem uma cOr
vermelha, mais ou menos semelhante á
do rubim .
RUBINETE, s. m. Diminutivo de Ru-
bim.
RUBIQUE. Vid. Rebique.
RUBLO, ou RUBLE, s. m. Moeda de
prata da Rússia, do valor approximado
de 830 reis.
RUBO, s. IH. (Do latim ruhus . Sarça.
RUC
RUBOR, s. m. (Do latim rubor). Yer-
meimuiio, vermeiíio muito vivo.
— U rubro das faces, por eâeito do
pudor.
— Pejo, vergonha.
RUBRICA, s. /. (Do latim rubrica).
íàigiial, tirma, cetra, guarda do nome;
cifra que cada um faz no fim do seu no-
me.
— Termo forense. Antigamente era o
titulo dos livros de direito, escripto com
letras vermelnas.
— Termo de religião. Regras para of-
ticiar, em termo de liturgia.
— Termo de artífice. Almagre usado
pelos carpinteiros para marcar as linhas
na maaêira que bào de seriar.
RUBRICADOR, adj. (Do thema rubri-
ca, ue rubricar, com o suffixo «dôri);.
Que rubritu.
RUBRICAR, 1-. a. (Do latim rubricare).
Pôr a rubrica, o signal.
— Rubricar um livro, documento, etc;
pôr a rubrica no alto de cada folha.
— -Rubricar o lente a jjostilla; attes-
tar no fim delia, que o estudante a to-
mou na sua aula.
— Tingir com sangue.
— Marcar com almagre.
RUBRICIóTA, s. m. Individuo bem ver-
sado nas rubricas ecclesiasticas; escriptor
que explica, e expòe as rubricas do mis-
sal e uo breviário.
RUBRO, adj. (Do latim rubrus). Ver-
meino vivo. — «As Hervas Stomachicas
frias sau: Raízes de tanchagem, e de aze-
das. Pàos, sândalos citrinos, e rubros.
Folhas de tanchagem, e muita. iSemen-
tes de tiinchagem, e de marmelos. Flores
rosas vermelnas, e balaustias. Fructus
marmelos, peras, nesperas, e murtinhos.
Suecos de acácia, que he a arvore da al-
mecega, e de piítegas.» Braz Luiz de
Abreu, Portugal medico, pag. oò6, § 2-il.
Eu vejo o rubro, pavoroso aspeito
Do túrbido Cometa : he Astro errante.
Mas tem leis inda incógnitas aos homens ;
Porque inda tantos séculos nao bastão
Para espòr, conhecer prodígios tantos.
J. A. DE MACEDO, MEDIIAçlo, Cant. 2.
Eu vejo rubro pavoroso rosto
Do túrbido Cometa, he astro errante,
A massa, o peso análogo ao dos Astros.
IDEM, A NATLBEZA, Caut. 1.
f RUBUÇO. Vid. Rebuço. — « Seraõ es-
tes, os que vos sayem nas estradas com
carapuças de rubuço, e espingardas no
rosto y Tiray là, que ainda que lhes cha-
maes salteadores por antonomásia, saò for-
migueiros por profissão; e taò singelos,
que nunca levantaò casa de sobrado, nem
tem bens de raiz, nem ajuntaõ moveis,
que naõ caibaõ de baixo do braço.» Arte
de furtar, cap. 34.
RUC, ou RÍICH, s.f, Xome de uma ave
RUDA
349
que, segundo Paulo Veneto, liv. 3, cap.
40, se cria em certas ilhas, além da ilha
de S. Lourenço; e apparece em certos
tempos do anno. Certo embaixador do
Grão Cam Cublal, que arribado naquel-
las partes, viveu n'ellas algum tempo,
contou a Paulo Veneto, que a dita ave
tem feição de águia, mas tão grande,
que cada aza sua em comprido tem doze
passos, e as mais partes do corpo, propor-
cionadas a esta, com tanta força nas
unhas, que com ellas levanta da terra um
elephante tão alto, que largando-o, se faz
em pedaços, e o come. O mesmo refere
D. ilartlnho de Boléa em sua Historia,
liv. 3, cap. 40, e Jonstono, no seu livro
De Avibus, pag. lõl, faz menção doesta
ave, sem dar fé ao que d'ella escreve Pau-
lo Veneto. Estas noticias, pouco verosí-
meis, encarecem-se com outias fabulosas,
a saber : que cada aza d'esta ave tem dez
mil covadc s de comprido, e que certo mer-
cador, que passara por aquellas partes, le-
vara a Africa Septemtrional a raiz de uma
penna da dita ave, em que cabiam nove
odres de agua; e finalmente, que andando
com alguns seus camaradas, toparam em
uma altura de terra, que lhes parecia um
monte, e era um ovo da ave ruc. — aHuã
ave chamada Ruc, que se cria n'estas par-
tes.» Fr. Gaspar de S. Bernardino, Iti-
nerário da índia, pag. 11, em Bluteau.
RUÇAR, V. a. Fazer ruço.
— T'. /i. Er.canecer.
RUCHOCHÓ. Vid. Ruxoxó.
RUÇO, aij. Pardo-claro, fallando do
pêllo de um cavallo. — «Ao tempo que
se acabava, estaado-se desrevestindo o pa-
dre, ouviram contra a parte da montanha
tropel de cavallos. O cavallelro do Salva-
gem acudiu á porta e deu de rosto com
uma donzella, que se lançava d'ura pala-
frem ruço, em que vinha tào desacordada
e morta, que nenhum acordo dava de si.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap, 106. — « Vinha em um cavallo
ruço, rodado, gi-ande, desarmado, e ves-
tido ao modo hespanhol, airoso, e gentil
homem. Chegando defronte da jauella
donde el-rei e rainha estavam, depois de
se fiizerem suas cortezias, esteve assim
praticando com ellas, lançando juízos so-
bre a vida do cavallelro das donzellas, as
quaes palavras elle ouviu, e a maneira de
que o julgavam.» Ibidem, cap. 123.
— Tei mo familiar. Grisalho ; dlz-se de
quem começa a encanecer.
— Ruço rodado; côr ruça do cavallo,
apresentando malhas circulares, ou círcu-
los formados de pêllo.
■j RUCKERIA, s. /. Termo de botânica.
Género de plantas da família das com-
postas,
\.) RUDA. Vid. Arruda.
2.) RUDA, Vid, Rudo.
A leoa feroz que carregada
De presa, entra na sua inculta e ruda
350
RUDE
Casa, c a víí dos filUinliort despojada
A qiiom vinha iii;iiiti!r (! d;ir ajuda,
(;om fiivia tão cruel, tão denodada
Outra vez o vAa/. pasao não innda,
Hurfcando o que d'alli liroH lanhou fora,
Como o forte Silveira leva agora.
F. D'ANnR\I>l'., rUlSÍKlHO CKBCO DK DIU, Cttnt. 10,
ost. 6^!.
— n f inania a tua bolsa •
Jíuda intcrpoz a rouca voz do nauta,
«Cavalleiro orgulhoso; tanto quero
Os teus pardaus, como a tua espada temo.
Mas esto padre falia como um anjo;
E o que ollc disse, é ditto. Atraca a bordo ;
E abaixo o amigo Jáo. — Rémalu
oABKErr, cAMUKS, caut. 1, cap. 11.
RUDAMENTE, adv. Com dureza.
RUDE, adj. 2 gen. (Do latim riulis).
Tosco, grosseiro, pouco conforme ás re-
gras da, arte.
Alli se admirão simplices viventes,
Das voadoras Aves ensinados.
Das brutas Feras nos incultos montes.
As cliOyas rudes levantar primeiro
Do huma folhagem sècca, annosos troncos,
Ondo, quaos Foras nos covis, se acoutào
Das injurias do ar, c irados ventos.
J. X. 1)U MACEDO, VIA.0KU EXTÁTICA, Caut. 1.*
No coração da I>ibya, onde a Avareza,
Onde a Ambii;ão cruel não penetrarão.
Por onde o Senegal entre arvoredos
Vai volvendo tranquillo as largas ondas ;
Alli aos rudes Íncolas ditosos
Tudo a torra produz, o nada o luxo ;
Os espontâneos dons da Natureza
São de todos, o de hum ; todos os colhem.
IDEM, MEDITAÇÃO, Cant. 2.
— « Pouco devia tardar o instante em
que a formosa irman de Pelagio achas-
se, depois de tantos perigos e terrores,
abrigo e paz nos rudes paços de seu es-
forçado irmão.» Alexandre Herculano,
Eurico, cap. 10.
— Ignorante, grosseiro, não polido, não
cultivado, estúpido, incivil.
Da pesada Magnéte, eu vi dous globos ;
Da Magnéte, nwsterio indecifrável.
Qno inda cni distancia igual conserva o Sábio,
E o vulgo embrutecido inerte, e rude.
Virtude do attraci;ào ncUa resido.
j. A. DE M.iCEDO, viAQF.a líxr.vTicA, caut. 2.
E jã, não ritde habitidor das brenhas,
Kem surdo \ voz da Natur<!za, o homem
Sente do império paternal o jugo
Incógnito até'lli, pois se dos peitos,
E braços materuaos se desprendia,
Findava a dependência, amor findava,
ília ao longe buscar pasto, e guarida.
iiiKii, Mr.mrAçÃo, cant. 1.
RUDEMENTE, adv. (De rude, cora o suf-
11x0 iimeale»). Grosseira, broneameute,
com rudeza.
RUDEZ. Vid. Rudeza.
RUDEZA, s. /. (Do latim ntditas). Qua-
lidade tosca que naturalmente affecta al-
guma cousa, grosseria.
RUFA
— Estupidez, pobreza de espirito.
— -Falta do policia no discurso.
f RUDGEA, *. /. Tiinno do Ixitanica.
Cíenero An jilantas da família dai rubiu-
ceaM, iiidig(!iias da (íuyana.
-|- RUDIARIO, *. VI. Termo de historia
antiga, (iladiador retirado, a quem pelo
«eu mérito se concedia o privilegio de n3o
volt.ir ao circo.
RUDIMENTAR, adj. 2 ijen. Diz-sc do
qualquc.r órgão em rudimento ou com des-
envolvimento incompleto.
RUDIMENTOS, «. w. jjI. (Do latim ru-
dinientn). Elemento.s, ensaios, princípios
de arte ou scieiíeia.
— Termo de historia natural. Primei-
ros traços de um órgão vegetal ou ani-
mal.
RUDÍSSIMO, adj. stiperl. de Rude.
f RUDISTOS, .". m. j>hu\ Termo de
zoologia. Ordem de molluscos conchyli-
fcros dimvarios, encontrados fosseis nos
terrenos cretáceos.
RUDO. Vid. Rude. — «Os do termo
sam homens rudos, e grossos dengenho,
pouco dados a trabalho, nem a laurar,
sendo a terra muito boa, e muito fértil
de tudo o que se nella põem, ou semca.»
Damião de Góes, Chrouica de D. Manoel,
part. 2, cap, 18.
Ora vê, liei, quamanha terra andámos,
Sem sair nunca d'estc povo rudo,
Sem vermos nunca nova, ucin signal
Da desej.ada Parte Oriental.
CAMÕES, Lcs., cant. 5, est. 69.
Pranchas de escuro til, rudo, lavradas,
Do aposento as paredes guarneciam.
Sòbrc uma banca de egual custo e obra
Poisava antiga cruz donde pendia
Agonizante o Christo : lavor fino
Que no indico dente a mão devota
D'uni ncophyto d'A3Ía executara.
GARRETT, CAsi., caut. 3, cap. 1.
Inveja vil de pérfidos validos,
Não é tua esta victima ; seus osáos,
Não lhos possuirás, ingrata pátria.
Seu fado negro foi, mas antes elle;
Antes perder a vida As mãos selvagens
Do rudo cafre na deserta areia,
yue :l forno... k fome, e no seu pátrio ninho.
IBIDEM, caut. 8, cap. 17.
Precisa de tyranno. Catilina,
Sylla, Mário cahiram do i>onca arte.
Do pouco expertos no mester ditlicil
De dourar os grilhões : foram lanç.ivr-lU'o3
liudos, negros ao coUo inda lembrado
Do autigaJ ufanias.
IDEM, CATÃO, aot. õ, SC. 7.
RUELLA. Vid. Arruella.
f RUELLIA, s. /. Termo de botânica,
(íeuoro de plantas da familia das acau-
thaceas, que crescem na Nova lloUanda.
RUER, V. n. (Do latim ruere). Termo
poético. Correr jirecipitadameute, sair
com iiupeto, despenhai"-se.
RUFA, .♦. /'. Termo de jogo de cartas.
Vid. Rifa.
RUGI
RUFAR, V. a. Tocar ruílas, ou rufos
no tambor, com .«oin tremulo.
— Kiguradameiite: Rufar o pandeiro,
RUFAR, t'. )i. (iuaniecer com rufos. —
Rufar Hiii reatido.
RUFIÃO, ou REFIÂO, «. w. Alcovitei-
ro, que inculca mulheres, dama^^, acode ás
suas pendências, o as apadrinha. — «Es-
padachins, matadores, nifioens.» Fran-
cisco Rodrigues I>jbo, Corte na aldéa,
Dial. 1.'). — «Rufião, que tiver manceba
na mancebia, de quem recebe bera fazer,
he dep-adado para Africa, açoutado. >
Ord. Affons., liv. .'>, tit. 33, em Blutean.
— <) «pie as disfructa de graça, ou é
mantido jior ellas.
RUFIANAZ, s. m. Augmentatiyo de Ru-
fião.
RUFIAR, V. n. Fazer officio de rufiJo.
RUFIO, s. Vi. Homem brigoso, de«-
aiiante.
RUFISTA, s. m. Rufião brigoso.
RUFLA, s. f. Floreio de tambor, que
se faz de ordinário por honra de certo*
officiaes, quando chegam ou passam.
1.) RUFO, .1. m. Vid. Rufla.
2.1 RUFO, adj. (Do latim rufus.) Ter-
mo de jioesia. Ruivo, avermelhado.
-{- 3.) RUFO, s. m. Guamiçiio para ves-
tidos, cte., que consta de uma tira de fa-
zenda franzida de ambos os lados.
RUGA, s. /. (1)0 latim ruga). Dobra,
prega, franzido na pelle.
Af|ucllc mostrará rugas, ou roscas,
Kstc com espravocns, chagas profundas.
Hum sempre com vigor, outro com moscas.
ÁBBADE DE JAZESTE, FOESLAS, tOm. 1, pag. 01.
— Prega que faz a roupa por não ca-
tar justa ao corpo, ou por estar mal do-
brada.
RUGAR. Vid. Enrugar.
RUGERUGE, «. "i. < > .«om que faz ro-
çando-se. — O rugeruge das tedas.
— O ruido dos intestinos. — Â barriga
me faz rugeruge.
— Adágios e provérbios:
— Qualquer ruge faz mil cascavéis;
ou : Dos rugeruge se fazem os cascavéis ;
dos runujrcs vêem a cousa, a fama, a no-
ticia publica, a sojtda, ou infâmia. —
«Ter toadas he ter noticias, mas não he
ter certezas. Do ruge ruge se fazem os
cascavéis, porem parece-me que não he
esta a mata da onde ha de sahir o coe-
lho.» Cavalleiro de Oliveira, Cartas, liv.
1, n." 7.
D'aqui livanto. senhora
não ireis de noite f.'>ra
e mais esse murde fugc :
não digo mais, qualquer ruge
faz mil cascavéis agora.
D onde vens sem teu s«ihor'
AVTOXIO TRBSTBS, ACTOS. pSg. 137.
RUGIDO, part. pass. de Rugir.
— ò'. m. Bramido, voz do leào.
RUID
RUID
RUIM
351
— • Estridor.
— • Fisruradamente : Ruido que as tri-
pas fazeai no ventre.
RUGIDOR, arlj. (Do t'iema ruge, de ru-
gir, c'im o suíRxo «dor»'. Que ruge.
RUGIFERO, adj. Que tem rugas" trans-
Ter?ae<.
RUGIR, V. n. (Do latim rugire). Bra-
mir o leão.
Arde, empina-sc o Sol, dardeja a prumo
Nos Climas do Equador seu fogo em ondas
Isos ermos areacs de Zara adusta,
Mais sanhudo o Leão, mais bravo ruge,
Ouvem-lhc ao longe o berro, as Feras fogem,
E o negro habitador da espessa brenha
Prestes atcza o arco, e embebe a sctta.
J. A. DE MACEDO, A SATCEEZA, Cant. 1.
— Figuradamente : Bramir, fazer es-
tridor.
Eis nos ares diáfanos 3"escuta
Bugir do Norte o berro estrepitoso ;
Võa o Xoto batendo húmidas azas ;
Perturba, enluta o Ceo o que das praias
Nos vem, donde nascente assoma o dia,
Em'ola, engrossa acastelladas nuvens.
J. A. DE MACEDO, ASATCBEZA, Cant. 2.
— « Era o bulcão do deserto que rugia
por lá. Ao amanhecer tudo estava tran-
quillo; porque, bem como a procella, Pe-
lagio era repentino e destruidor e só es-
crevia na terra com os caracteres sangui-
nolentos de rumas e mortes a noticia da
sua quasi invisivel passagem.» A. Her-
culano, Eurico, cap. 13. — «Rugindo de
cólera ao contemplarem este espectáculo,
apertavam contra o peito a cruz das es-
pada-. Então, sentiam escorregarem-lhes
as lagrimas pelas faces tostadas, e des-
cer-lhes com ellas aos seios d'alma a re-
signação e a esperança na piedade de
Deus.» Ibidem.
— Fazer murmúrio. — O rugir d' este
remmiso,
— V. refi. Rugir-se ; soar, começar a
faUar-se de uma cousa que estava igno-
rada. — ■ «Ruv andava impando, e por
isso fizera orelhas de mercador ; mas a
palavra «excommungado» pi'oferida, aliás,
com a maior innocencia do mundo, fil-o
espirrar. Sabia bem que lh'o chamavam
pelas costas, segundo o que se rugira
acerca delle e da moura Zilla, e não ti-
nha graça nenhuma affrontarem-no com
balda certa em auto de tanta devoção.»
A. Herculano, Monge de Cister, cap. 18.
— ■ V. a. Fazer rugir.
RUGOSO, adj. (Do latim rugosus). Que
tem rugas.
— Figuradamente : Áspero.
RUIBARBO, ou RUIBARBERINO. Yid.
Rheubarbo.
RUIDO, ou RUYDO, s. m. Estrondo, ru-
mor, estrépito. — « Acabadas estas bata-
lhas, cuidando Palmeirim que não havia
mais que fazer, sentiu gran ruido de ar-
mas, e não sabendo que fosse, entraram
pola porta da salla vinte piões armados
de piastròes e alabardas, e diante delles
dous cavalleiros que vinham dizendo :
Morra, morra o que matou o melhor ca-
valleiro e mais nobre senhor do mundo, »
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 70. — «Entrando nós desta
porta para dentro, dêmos em huma rua
muvto larga, fechada toda de ambas as
partes com arcos muvto ricos, assi no fei-
tio como em tudo o mais, nos quais avia
infinidade de campainhas de latão que
por todas as voltas dos arcos estavão pen-
duradas por cadeas do mesmo, que com o
movimento do ar que dava nellas fazião
hum tamanho ruydo, e huma tamanha
traquinada que não avia quem pudesse
ouvir por muvto alto que se fallasse.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações,
cap. 109. — dE em cima no lugar das
ameyas fechada toda em roda com gra-
des de latai5, e a cada seis braças tiran-
tes de ferro sobre colunas de bronzo que
fechavão de humas nas outras, com infi-
nidade de campainhas penduradas por
cadeas, as quais movidas co ar, que con-
tinuamente lhes dava, fazião hum conti-
nuo e tão espantoso ruydo, que não avia
pessoa que o pudesse esperar.» lijidem,
cap. 110.
Inda o Tâmega inchado, c a turva fonte
Muda o som doce em áspero ruido ;
E do fundo do vale ao monte erguido
Nada alegre se vè no Horizonte.
ABBADr DE JAZEXTE, POESIAS, tOm. 1, pag. 53.
— «Pouco a pouco aquelle ruido, mal
sentido a principio, cresceu e tornou-se
mais distiucto. Brevemente, fácil foi de
perceber o tropear de milhares d'homens.
Os esculcas árabes conservavam-se uni-
dos e em silencio.» A. Herculano, Euri-
co, cap. 9.
— • Contenda, motim, tumulto.
— Figuradamente : Grande apparen-
cia, pouca realidade, vã ostentação.
— Brado, fama.
— Estrépito feito de caso pensado, com
fim p.articular.
— Fazer ruido ; causar rumor, excitar
a admiração.
— Fazer ruido ; fazer bulha.
— Querer ruido ; ser amigo de conten-
das.
— Ad.^GIO :
— Fingir ruido, para vir a partido ;
explica a astúcia e malícia de alguns que
não tendo razão querem fazer-se temer
para conseguir o que desejam.
-}- RUIDOSAMENTE, adv. (De ruidoso,
com o .«uffixo «mente »1. Com estrépito,
com pomiia, com fausto.
ruidoso', adj. (De ruido, com o suffi-
xo «oso»). Que faz ruido.
Disse: e de arrojo cáe, nos sitios. onde
Soltão lamento eterno as suas victimas:
Pela ardente Campina o passo alonga.
Já, com vêr o seu Eei, se abala o Abysmo,
E as labaredas rugem mais ruidosas.
I. M. DO NASCIMENTO, OB MABITBE8 , 1ÍV. 8.
Nas Ígneas azas do trovão ruidoso,
Desce, c correndo no sulfúreo trilho
O raio segue sem temor, e prorapta
Nas ondas se mergulha, e busca, e mede
O fundo escuro do Oceano ondeante.
As nuves fende, intrépida vo.indo,
Mais longos dias, vagarosos annos.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, CaUt. 2.
— Figuradamente: — «O assassino e
fatal instrumento d'aquella ruidosa mor-
to era o filho do carcereiro de Lisboa,
que morreu enforcado por ordem de D.
João v.» Alexandre Herculano, Eurico,
pag. 112.
— Homem ruidoso ; gritador, brigoso.
RUIM, ou RUIN, ou ROIM, adj. 2 gen.
Mau, assim no sentido natural como mo-
ral. — «Certo que nessa tua resposta co-
nheço eu seres muvto bõ homem, e muv-
to meu amigo, porque de o seres te vem
não te parecerem mal as minhas cousas,
como a esses perros cães que ahy jazem,
e tftando da cinta hum cris que trazia
guarnecido douro, mo deu, e huma carta
para Pêro de Faria de muvto ruins des-
culpas do que tinha feito.» Fernão Men-
des Pinto, Peregrinações, cap, 19. — «A
qual muytas vezes custuma a desenquietar
os bõs e quietos, quanto mais a gente que
não professou paciência em suas adver-
sidades, donde ficava claro que a nossa
discórdia procedera mais dos efieitos que
a nossa miséria e pobreza causara em nós,
que da ruym natureza de que o promo-
tor nos accusava.» Ibidem, cap. 115.
Digo nihil por agora ;
B'eu isso fige alguma ora
nunca cu seja alumiado.
Gentil praga ! não zombemos ;
se assi é, ruins estremos
seguis em dardes, compadre,
má vida a minha comadre ;
paguemos o que devemos.
AíTO»io rBESTEs, ADT08, pag. 139.
J?"ím letra
me parece essa, meu neto.
IBIDEM, pag. 2G1.
Não, que a embuça
coo corpo, e que dá ruim conta
per traz da malicia aguça
que per lá já a conta chua
e descoberto teme a afronta.
IBIDEM, pag. 360.
— «Estando as cousas neste bem ruim
estado, fogiraõ da fortaleza três escravos
que forão levados a Rumecar, e delles
soube a miséria dos Portuguezas, e da
fortaleza, e tudo o mais que atè entaõ
era succedido, affirmando que não havia
j<^ mais de sessenta homens sãos, que
pudessem tomar armas, porque os pouco
352
Rum
UUIN
UUIN
iiiairt f|uo liavia ostavSo feridos, e doen-
tes.» Diopfo (lo Couto, Década 4, liv. i5,
caji. 2.-— «K-ita noito «c cnibarfoii Jor-
ge Cabral, o teve taõ ruim, e trabalho-
sa viaííoin por partii' tanlc, que poz oi-
to inczcs no caminho, poniue chimpou a
Lisboa om outubro.» Idcni, Década íi,
liv. í>, cap. 2. — «O Catar também ficou
ferido do huma ruim espliif,'ardada por
hum braço, c perdoo mais do (|uaroiita
dos «CUM. Os outros navios da cõpanliia
do Luiz, Fif,'uoira, tanto que viraõ o seu
Capitão mòr rendido, o jnorto, se foraò
afastando, o dcraõ à vela com o Poncnto
rijo, (! foraò fugindo pcra fi')ra do Estrei-
to.» Ibidem, cap. ?>. — «E vem a pagar
o marido, sem culpa, 03 desabrimcntos
da mulher aggrcssora, o merecedora da
ruim vontade dos sorvos, que, como pou-
co {)rudcntes, nào distinguem em acções
tão j)roprias como as de mulher, e ma-
rido, ipial d'elles é digno de amor, e qual
de, desamor.» Kraneisco Jlanoel de Mel-
lo, Carta de guia de casados.
No Mundo não con1i(\o maia ruim bnata,
Quo lun Kdcoliir ; — mais que nato nfi o Pedante :
E a dizer a verdade, o melhor delles •
Nunca cu ([ui/.cra tê-lo por vizinho.
IKANCISCO MANOKI. nO NASCIMKXrO, IWDII.AS UE
i.AKONrAisn, liv. 3, n." -li).
— Adágios :
— O ruim cuida, (pie é industria a
maldade.
— Ruim seja, quem por ruim se tem.
— Ruim seja por quem ficar.
— Todos ao ruim, e o ruim a todos.
— Ao ruim, ruim e meio.
— T)e ruim gosto nunca l>om feito.
— De ruim nunca l)om bocado.
— Não ha tão ruim terra, que não te-
nlia alguma virtude.
— De ruim pagador, cm farelos.
— De ruim panno nunca bom saio.
— Quem não se louva, de ruim se
afoga.
— Fallaes no ruim, logo apparece.
— Um ruim com outro se quer.
— ITm ruim conhece outro ruim.
— Um ruim se toma com outro ruim.
— Quem quizer conhecer o ruim, dè-
ll\e offieio.
— De ruim a ruim ptnica é a melho-
ria.
— De ruim a ruim, quem aceommctte
vence.
— Dadiva de ruim a sen dono parece.
— j\Iette o ruim em teu palheiro, que-
rerá ser teu herdeiro.
— Geutc ruim não ha mister choca-
lho.
— A dons ruins, e dons tições, nunca
bem lhe compões.
— Ao ruim qu;uito mais o rogam, mais
se estenile.
— Quem ruim é em sua terra, ruim ó
fora d'ella.
— Um ruim se nos vai da porta, ou-
tro vem, que nos consola.
— (J mais ruim do lugar jmrfia mais
no fallar.
— Nem ruim l^trailo, nem ruim fidal-
go, nem ruim galgo.
— O ruim me compro o amigo, que o
bom logo é vendido.
— l'or cubica do florim não te cases
com ruim.
— Nunca ruim por compadre.
— Em ruim gado, não ha que esco-
lher.
— Ruim senhor, cria ruim servidor.
— A ruim ovelha do fato suja o tarro.
— < > ruim se assenta na mesa, talha-
da <pie toma, a toilos pesa.
— A cada ruim sou dia mau.
— Melhor é dar a ruins, quo pedir a
bons.
— De ruim moça um bolo basta,
— Quem dá bem vende, se não é ruim
o que recebe.
— Tor abril dorme o moço ruim, e por
maio o moço, e o amo.
— Do bom tudo, e do ruim nada.
— Do ruim ninho sác bom passari-
nho.
— Ein ruim vilia briga cada dia.
— Quem muito falia, e pouco entende,
por ruim so vendo.
— Ruim é a festa, que não tem oita-
vas.
RUIMMENTE, adv. (De ruim, com o
sufTixo amente»). Com ruindade.
ruína, s. /. (Do latim ruína). Des-
truição, queda, caída; decadência, perda,
destroço, desastre. — tEm sua salvação
hà a mesma duvida, que cm sua peni-
tencia e parece que foy alta permissão
Divina ticar escuro o suecesso de pessoa
tão eminente, porque ninguém iiado om
sua sciencia deixe de temer a mina que
teve esta machina de fabedúria.» Monar-
chia Lusitana, liv. ô, cap. 24. — «E no
Código Theodosiano, achamos também
mençaõ de Condes de Espanha, a que
compotiaõ as cousas da gueiTa, de modo
quo neste tempo de Constãtino, se vio
em tudo huma nova forma de officios o
outro novo estilo de governo em tudo di-
ferente do antigo c com a mudança do
Império para Constantinopla, se abrio
caminho para a ruina que veyo a ter a
Monarehia Romana, como veremos no
«liscurso da historia.» Ibidem. — «Quem
for vencido, deve examinar a causa do
sua ruina, se foy por falta dos Capi-
taens, se dos soldados, para emendar o
erro : o se o naõ houve, nem no inimi-
go mayor poder, devo aplacar a Deos,
tendo por certo, que o irritou contra si
com as causas da guerra.» Arte de fur-
tar, cap. 22. — «Negocio (ao parecer
dos seus) não mui difficil; porque discor-
rião, que o Estailo era hum corpo mons-
truoso, pois tendo a cabeça no Occiden-
te, nutria membros distantes de si mes-
mo por infinito espaço com tantos mares,
o terras interpostas; e que era tSo gran-
de o poder de fambaya, quo tanto com
a ruina, como com a victoria podia oppri-
rnir o E-»tado, enfraquecido então i>or va^
rios accidentes. * Jaciíitho Freire ile An-
drade, Vida de D. Joáo de Castro, liv. 2.
T»l o gro^M) canlião hoje parece
(■Iw d Imiiia 1: d outra part<- asaaz trabalha,
<• Sol coo <'S])c>i.-iO fumo «escurrce
Km quanto polo» nr<'it nào «'cApalha ;
A frágoa de Vulcano n isto obedece,
Pouco reiistc o arncz, mcnog a malha,
t^u'c.ito cs.nantoao tom cruiil e imigo
Morte sempre c mina traz comsigo.
p. n'AnnBADr, rBiuRin» rKtco ur. Diu, eant. 2,
est. 47.
Af/ira estes canhões que se applicavão
A riiinn do pro.^so muro forto,
Por diverso.s logares »c asscnfcwio
Outro.í canli"'cs tambcm de vária sorte,
Cujas horrendas fúrias se empregavão
Km ruina da gente, c cruel morte,
K qualquer destes seu assento tinha
Na casa :\ fortaleza mais visinha.
iDiDEu, eant. 1.5, est. 41.
Huma e outra vez encolhe c estende o braço,
Mas nem o que pcrtendc asai alcanea :
O tri.st(^ Mouro cm todo aqncUc cspaíjo
Nem sómeuto lhe veio huma leuibrani;a,
Que. também traz ao lado o subtil a(;o
Tom que de se salvar tenha esperança.
Que tanto o aperta o medo, que imagÍDa
Que tem ua salvação maior ruiiui.
iBiDKit, caut. 17, est. IG.
Eu, que jA me sentira c"o Prophcta
Nos destroços da trágica Gomorrha,
Babylonia avistei desde Corintho.
Que Cidades, outrora tam llorcntca !
Hoje estrago, e ruina! Magoa, aos olhos
Do Passageiro, ou Nauta, ao pór-lhc a vista!
Os, que, em bandos, A túlda, ávidos 8<''bem,
Vem Templos derrocidos, e emmudeccm.
K. M. no XASCIllKXrO, os MABTYHES, Hv. 4.
Fina. em-eíFoito o ódio dos validos
Que ao infeliz Camões arrebatara
Protectores e amigos. Desterrado
Por cP.es o virtuoso e nobre Aleixo ;
Por cUes inviado A ccrfc» raina
Que ao malfadado rei, A flor do exército,
A pátria, nas areias escavaram '
De Afriei adusta, o missionário fora.
r.ARRKTT, eAMÒEs, eant. 10, cap. 8.
Jaz Thebas em mini. cm cinza Mênfis,
,Iaz sobre culto Egypto agreste Eg>-pto,
E do sábio Antiquário a mão teimosa
Das iucultiis arèas desenterra
Cem eolumnas de p.''rfido lascadas.
Rostos de antigos Pórticos ; hum dellw
Vale, ó Roma imniortal, tudo o que a furia
Do (iodo assolador cm ti doi.xára,
E se acjibou coos 'Wandalos do Sona,
Montão de estragos, Templos sobre Templos,
De teus monstros, tens Reis vaidade, e luxo.
J. A. DF. 5I.VrEr>0, lIEniTAÇÃO, Câtlt. 1.
Não haja quem no Mundo empunhe hum Sccptro,
Eu serei só dominador da Terra ;
Embora fique de habit.antett crina ;
Dos homens na ruina acabem tbronos.
IRIPGM, CAUt. 3.
RUIN
RUIV
RUMA
353
Do incêndio, e da ruína oa restos guardSo,
Por hum deserto domicilio imprimem
Hum caracter sombrio, augusto, c grande,
Qu'o coração m'olcva, a mente arreda
Das sendas da mentira, e da vaidade.
IDEU, A NATUBEZA, Cant. 1.
— Figuradamente: Desgraça, infelici-
dade, infortúnio, miséria.
— Bater cm ruina; disparar a artilhe-
ria contra alguma fortaleza, para arrui-
nal-a e deital-a a terra.
— Fazer ruina; arruinar-se.
— Cousa que cáe, e arruina sobre ou-
tra,
— Plur. Ruínas; o que resta de edi-
fícios arruinados, destroços, restos. —
«Eraõ estas povoaçoens muvto de estimar,
considerando o estrago, e solidão em que
a terra estivera; mas não de maneira que
se imagine ficarem as Villas e lugares em
grandeza semelhante à passada ; porque
quando no meyo das ruinas de Braga,
Viseo, e outras Cidades semelhantes, se
levantava huma cerca capaz de cento ou
duzentos vezinhos era boa povoação.»
Monarchia Lusitana, liv. 7, cap. 16.
Quanto há famoso, os meus Avós domarão.
Grécia assólào. Bizâncio rendem, pouaào
Quartéis, nas ruinas de Ilion, de Mithridatea
Conquistão o dominio ; aos dalém Tauro
Scj^thas duros, jamais vencidos, vencem.
P. M. DO NASCIMENTO, OS MAETTBES, 1ÍV. 7.
Essa inda em pé, no meio das ruinas
Deamantelladas, seu fiel cimento,
Tenaz na antiga fe, guardando ainda,
No azul que era sua gloria lhe vestiram,
As estiellas do Yaman e os inJaçados
Charactercs do Hvdjaz ! . . .
GAKEETI, CAMÕES, Caut. 9, Cap. 5.
Cavando vão profundo, vasto leito
Longo tempo na terra, aos turvos mares
Aa ruinas do globo, os restos levão.
J. A. DE MACEDO, A NATUBEZA, Cant. 1.
Impetuoso sahe de férreos tubos
O globo acceso, que conduz a morte:
Altas torres converte era cinzas frias,
Ficão ruinas os soberbos muros.
IBIDEM, cant. 2.
Os duros braços dos gucrrciroa : formão
Subterrânea caverna •, alli ã'e3condo
Sulfúreo pó ; que danos, que ruinas
Dalli vão já naacer ! Kebrama a Terra.
Inda mores desgraças, e rvinas
Nos podo prodazir, s'cncadeado
As austeras priaíes, e os fcrrcoa laços
Co'a rija força elástica desata.
IBIDEM.
Jovo não vinga o bárbaro attentado
De caminhar por montes de ruinas,
E por ferros, que á Pátria o jugo aggravão.
Ao sólio encantador, onde orgulhoso
Ao Mundo avassaOado as leis promiUguc.
IDEM, MZDITAÇÃO.
TOL. V. — 45.
— Ruinas do vmro ; quebradas por onde
se pôde subir.
RUINADO, part. pass. de Ruinar.
E como tem a empresa por vencida
Ir cada hum diante então trabalha ;
Súbe o animoso alferes do corrida
Lá pola minada, alta muralha.
Acompanhado foi nesta subida
De quantos o logar cm si agasalha,
Que como não esporão resistência
Vão já traz a victoria a competência.
r. d'ándrade, rsiMBiBO cebco db diu, cant. 14,
est. 56.
RUINAR, V. a. Vid. Arruinar.
— T^. 11. Cair derruído, desfazendo-se.
RUINDADE, s. f. (De ruin, com o suf-
fixo «dada"). A qualidade de ser ruim,
phjsica ou moralmente.
— Acção vil, de mau caracter, indeco-
rosa ou infame.
— Mesquinhez, avareza.
RUINIFORME, adj. 2 gen. Que repre-
senta ruinas. — Pedras ruiniformes.
RUINOSAMENTE, adv. (De ruinoso, com
o suffixo « mente o V De modo ruinoso.
RUINOSO, adj. (De ruina, com o suffixo
«oso»). Que ameaça ruina.
— Que catisa ruina, perda, destrui-
ção.
RUIPONTO, s. m. Segundo Bluteau, é
o mesmo que i'aiz do Ponto, porque an-
tigamente do Ponto nos traziam esta raiz.
De ordinário é do comprimento de um
dedo, e da grossura de dons dedos pole-
gares; por fora, e por dentro parece-se
muito com o rheubarbo, excepto que é
mais leve, menos compacta, menos chei-
rosa, e menos amargosa. Também difíere
do rheubarbo, em que mastigada, não é
viscosa na bocca como é o rheubarbo.
Trazem-na secca da Ásia. A planta d'esta
raiz é uma espécie de lapathum, que pelo
que dizem, nasce ao longo do rio Tanais.
Galeno e Myrepso são de parecer, que na
falta d'esta raiz, se tome a do centau-
reutn maius, que é o ruiponto commum.
Os boticários chamam-lhe rhaponticum
ou rheuponticum. — tDe ruiponto meva
oytava.» Polyanthêa medicinal, pag. 12,
n." ?A, em Bluteau.
RUIR, f. n. (Do latim rueré). Cair, ar-
ruinar.
RUIVA, s. /. Planta assim chamada por
ter a raiz vermelha. Ha duas espécies :
uma domestica, rabia sativa, e ruhia tin-
ctorum, porque usam d'ella os tintureiros
para tingir de vermelho. Tem uns talos
compridos, quadrados, nodosos e ásperos
ao tacto, e de cada n(5 sahem cinco ou
seis folhas compridas, estreitas e vellosas;
as flores sahem da extremidade dos rami-
tos, com um verde tirante a amarello, e
as raizes são muitas e compridas, cada
uma do tamanho do cano de uma penna
de escrever, vermelhas, lignosas e de um
gosto astringente. A segunda espécie é a
ruiva brava, e é mais pequena, e mais
áspera que a domestica.
RUIVACA, s. f. Peixe muito pequeno,
de côr avermelhada; cria-se nos ribeiro3
e lagos pequenos, nos tanques e reserva-
tórios. Alguns chamam-lhe ruivo.
RUIVIDÃO, s. /. COr ruiva.
RUIVINHO, adj, dim. de Ruivo, Algum
tanto ruivo.
1.) RUIVO, adj. Amarello muito acce-
so, tirante a vermelho-claro. — Caballo
ruivo.
Colhendo ruivas conchas d'cntre a arêa.
Aonde o Sol mostra estrellas prateadas.
Andava a bella Ninfa Dinopêa.
F. B. LOBO, PBIMAVEBA, pag. 270.
Se em dourado Baixel vens manso, e manso
Eompeudo a vêa das cerúleas ondaa,
Que pouco o pouco a deaigual marinha
Começas d"observar, e a ruiva ai-êa
Onde ainda vivos prateados sáveis
Lança contento o Pescador insomne,
Súbito o Tejo aurífero espraiado.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Cant. 1.
— Adágios :
— Ruivo de mau pello, mette o demo
no capello,
— vSe o grande fosse valente, e o peque-
no paciente, e o ruivo leal, todo o mun-
do seria igual.
— Falso por natura, cabello negro e
barba ruiva.
— !Manhã ruiva, ou vento ou chuva.
2.) RUIVO, s. rn. Peixe do mar, cabri-
nha jil grande.
Do ruivo, e peixe cabra,
Não repares na palavra,
Nem na cabeça vazia,
Porque a palpa he de valia.
BANQUETE ESPLENDIDO, 2.* part., H." 16,
EM BLUTEAU.
RULAR, V. 11. Gemer como o pombo ou
rola.
RULLO, s. m. ímpeto das ondas, cha-
mado também lingua das ondas, Vid.
Rolo.
RUM, ou RHUM, s. m. Aguardente fa-
bricaria de canna de assucar.
RUMA, s. f. Quantidade de cousas umas
sobre as outras.— Ruma de cadeiras. —
« Fora de cada huma destas casas estavão
os ossos das cave%Tas que estavão dentro
nella, postos em rumas tão altas que so-
brepujavão por cima dos telhados mais de
três braças, de maneyra que a mesma
casa ficava metida debaixo de toda esta
ossada sem se apparecer delia mais que so-
mente a frõtaria em que estava a porta.»
Fernão llendes Pinto, Peregrinações, ca-
pituhi 126.
RUMAÇÃO. Vid. Arrumação.
RUMADO, iJart. pass. de Rumar.
354
RUMI
RUMO
RUMO
RUMAR, V. a. Termo do nnutica. Túr,
racttiu- cm rumo.
— Arrumar em mappas, cartas geogra-
phicas, ctc.
RUMBO. Vid. Rumo.
RUME, wlj. o 8. 2 (/en. Natural da fi ro-
cia c Tliracia. — « i'or(jue como as cou-ias
da Índia cstauão fracas por a nona que
BC tiuha do estado cm que Hcaua, o per
via do Louante tinha cl Roy noua que o
Soldào maudaua nouamcnto fazer outra
armada pcra cnuíar lá, por razão da ou-
tra que lhe desbaratou o Viso-Uey dum
Francisco : auia suspeita que podiãn tam-
bém aucr Rumes na Índia.» Barros, Dé-
cada 2, liv. 7, cap. 2. — «Os outros qua-
tro navios da nossa companhia também
abalroarão cada hum com o seu, e depois
de grandes rcfertas oa rcndèraõ, e enves-
tiraS outros. Oil Fernandes de Cai-valho
depois de muitas horas, e de ter feito
grande estrago nos imigos, deu com os
mais ao mar, aonde também se salvou o
Rume, e se foy pêra a terra que era per-
to.» Diogo de Couto, Década 6, liv. 10,
cap. 0.
Dhuma c. outra parte vem correndo a gente,
Grãii cópia em derredor dellc se ajunta,
O Mouro que ha que a morte tem presente
Se cobre d'uma nejira côr defuncta :
O Silveira do vê-lo assaz contento
Por novas que llie importão lho pergunta,
Do exercito que cst.í lá na Cidade
E dos liiimes se ha alguma novidade.
F. r>E A.NDRACE, PRlMKtRO CEBCO DE DIU, Cant. 12,
C3t. 23.
f RUMIA, s. /. Termo de botânica.
Género de plantas da família dos umbel-
liferas, indígenas da Sibéria.
— Termo de zoologia. Género d'inse-
etos lepidopteros, da familia doa noctur-
nos.
RUMIADOR, adj. Que rumina, rumi-
nante.
RUMIADOURO. Vid. Rumidouro.
RUMIADURA, s. /. Acção de rumiar.
RUMIAR, V. a. (Do latim ruminare).
Mastigar outra vez o comer que volve
do estômago á bocca, ruminar.
— Figuradamente: Recogitar, revolver
no pensamento, considerar muitas vezes
o mesmo.
RUMIDOURO, s. m. O estômago em que
os animaes ruminantes depõem o comer
para depois rumiarem.
RUMINAÇÃO, s. f. Acção de rumiar.
RUMINADO, p<u-t. pass. de Ruminar.
— Figuradamente: Negocio l>êm rumi-
nado ; bem pensado, bem preparado, con-
siderado.
RUMINAL, adj. (Do latim ruminalis).
• — Figueira ruminai; dá-sc este nome á
figueira, debaixo da qual dizem quo Ró-
mulo e Remo mamaram o leite da loba:
debaixo d'esta arvore, expunha a super-
stição romana as crianças; e aos pés da
mesma plant», ^depois do varias ceremo-
nia» e Bacrificios de victimas, a quo tam-
bém chamavam ruminaes, enterravam os
sacerdote» as ruliquias dos estragos dos
raios, e depois de seccas com o andar
dos aniios, tinham os megraos a obriga-
ção de plantar outra figueira no seu le-
gar.
RUMINANTE, a>Ij. 2 gen. (Do latim nt-
miiums, aiitis). Que rumina.
— S. m. plur. Ruminantes. Termo
de zoologia. Ordem do mammiferos qua-
drúpedes, que teem quatro estômagos, e
são dotados da propriedade de volver á
bocca, para ser rcmoido, o alimento que
ingerem no estômago.
RUMINAR. Vid. Rumiar.
RUMO, f. m. Termo do náutica. Qual-
quer das trinta e duas divisões da bús-
sola que indicam a direcção de cada
vento.
— Direcção do navio, corrente, costa,
maré, etc. — tjoão (iomes como o tem-
po também lho era contrario, com assas
trabalho ás voltas chegou 1:1, e achou que
todo o tempo era geral, scimente quando
acalmava havia alguma bafugem de ou-
tro rumo, mas era pêra mover hum ba-
tel, com a qual nova se tornou a Affon-
so d'Alboquerque.» Barros, Década 2,
liv. 8, cap. 2. — «E andando assi erama-
rados sem vella nem remos, nem quem
entendesse qvie rumo lhes demorava, con-
tinuarão neste trabalho dezasseis dia-s em
que de todo lhes faltou a agoa que foy a
causa das suas mortes, e destes dezassete
que escaparão no batel, sós três licaraõ
vivos da maneyra que aquy os achcy.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações,
cap. 14:7. — fPartido este embaixador
daquv do Avaa em Outubro do anno de
1545 fes seu caminho por este rio do
Q.ueitor acima, com a proa Loeussudoes-
te, e em partes a Leste franco, por cau-
sa das voltas que a decente da agoa fa-
zia, e por esta variedade de rumos con-
tinuamos por nossa derrota sete dias, em
que chegamos a hum estcyro que se de-
zia Guampanoo, pelo qual o Robão, que
era o nosso piloto fez seu caminho, por
s« desviar da terra do Siammon, como
levava por regimento dei Rey, e chega-
mos a huma grande povoação que se cha-
mava Guatelday, onde este embaixador
se deteve três dias, provendose dalgumas
cousas necessárias para a sua viagem.»
Ibidem, cap. 158.
— Lançamento, ou situação de terra
com relação a algum rumo.
— Caminho que alguém se propõe se-
guir no que intenta ou procura.
— Trazer os scits iifgocios a rumo;
dar-lhes boa ordem, pôl-os em bom esta-
do. — «Tratou os seus negócios, e os
trouxe a rumo por nicyo de Pompevo.»
Monarchia Lusitana, tom. 1, foi. 318,
col. 3, em Blutoau.
— Termo de carpinteiro de naus. São
seis palmos de agua, c cada palmo inclue
um ])aImo ordinário, c mais o dedo pole-
gar até a ultima junta d'clle; sei» pal-
mos d'cstos correspondem a sete palmos
singcloa.
RUMOR, «. TO. (Do latim rumor). Es-
trondo, ruido, suaurro.
Entrar- vos alli. sínhor,
Qtic out.o o corregedor ;
Temo tanto cHta d<'vaHHa:
Eiitrae v.'.r( neiw outra essa,
Que «intíj grande rumor.
OIL VICEXTB, rAH','A8.
— «A gente de armas que Affonso
d'.\lbofinerque mandou e^tar na praia,
porque ouviram o nimor desta gente de
Uaez llamed, entraram dentro rijo onde
ElRey estava com Affonso d'Albt>qucr-
que, ao qual elle tomou nos braços, e se
apartou a huma j)arto com elle fora do
Ímpeto da gente, da qual ElRey teve te-
mor.» Barros, Década 2, liv. 10, cap. 5.
— « E chegando ao caiz, ouvimo.'» grande
estrondo de sinos que se tangiào em to-
das as ermidas, o de quando em quSdo
rumor de gente, a que os Chins disseraõ,
senhor, não tens ja mais que ver nem
que saber, acolhete pelo amor de Deos,
e não sejas cansa de nos matarem aquy
a todos.» Fernão Mendes Pinto, Peregri-
nações, cap. 78. — «E feito silencio no
rumor que esta gente fazia, nos prastra-
mos assi como hiamos diante da tribuna
em que estava o Broqueni.» Ibidem, cap.
1.39. — «A terça feyra me fuy p«"r era
huma varada, na qual des que sabia o
Sol, ate porespaço de huma hora, se tan-
gerão muytoí atabalcí, e trombetas, com
tanta desordem qOe parecia huma confu-
são, cujo nunor se ouuio por toda a Ci-
dade, e elle seruio de chamar o pouo a
audiência.» Fr. Gaspar de S. Bernardi-
no, Itinerário da índia, cap. 14.
— Susvirro, murmúrio, ruido brando
e suave. — «Dava tanta graça ao cantar,
quo se não podia esperar mais de ne-
nhuns homens. Depois d'is80 o rumor das
aguas do Tejo era tão pequeno, e ellas
corriam tão socegadas e com uma clareza
trio viva, que tudo parecia que seguia a
consonância.» Francisco de Moraes, Pal-
meirim dlnglaterra, cap. 109.
Alli polU deserta Praya se onne
De quHndo cm quãdo a voz de Alcione triste
Que o seu «mado Cevs cm rào buscando
Chsma por cUe em vão, c em vão sospini.
Alli nas tremoluntos brancsâ folhas
Dos Alamos cncidos, e altas Favaa,
Hum confuso rtimnr soa que causa
Xo libistino peito huma ânsia grande.
COBTE SEAL, ICACTRAOIO DH SErCLTUDA, CAIlt. 16.
— Figuradamente : Fama que corre de
alguma cousa, que se espalha não em pu-
blico, mas secretamente.
RUMOREJAR, »•. n. Correr rumor, no-
ticia vaga, fama.
RURA
RUST
RUTI
355
RUMRUM, s. 9». Termo popular. Ru-
inur que eurre.
RUNCARIO, ou REUNCARIO, s. m. Ter-
mo de religião. Iniiividuos de uma seita
religiosa, que sustentavam que o homem
nào pôde peccar mortalmente senão com
o coração, e que todos os actos da parte
inferior do corpo são innocentes; por con-
sequência entregavam-se ás maiores des-
ordens.
RDNFA, ou RUMFA, *. /. ant. Certo
jogo.
RUNHA. Vid. Ronha.
RUNNEMTO, -5. ant. — Runnemto da
viures ; roediira de ratos.
f RUNICO, adj. (Do latim runicu^).
Diz-se das letras, monumentos e poesias
dos antieos srermanos.
t RUNOGRAPHIA, s. /. Tratado dos
caracteres runicos.
7 RUNOGRAPHICO, adj. Relativo á ru-
nograpiíia.
f RDNOGRAPHO, s. m. O que escreve
acerca dos caracteres runicos.
f RUPELLARIO, adj. Termo de zoolo-
logia. Que vive nas rochas.
— S. m. plur. Rupellarios ; género de
conchas bivalves modernamente desco-
bertas.
RUPIA, s. /. Moeda de Surrate e do
Mogol.
— Um lac de rupias ; segundo a ava-
liação franceza equivale a cem mil ru-
pias, e cada rupia a 480 reis no Mogol.
— Termo de botânica. Género de plan-
tas da familia das nayadeas, que cres-
cem no fundo das aguas doces.
— Termo de medicina. Certo estado
inflammatorio da pelle, caracterisado por
am polias de base muito rubra.
RUPICABRA, s. /. vDo latim rupica-
•pra). Cabra brava.
-f RUPICOLA, $. ■/. Termo de zoologia.
Género de aves da ordem dos pássaros,
que vivem nas rochas e cavernas e teem
uma bonita plumagem.
RUPITÃO, s. in. (Do latim rupes, ro-
chedo). Termo de religião. Xome dado
aos donatistas da Africa, porque atra-
vessavam os logares mais difficultosos,
para irem propagar a sua doutrina.
f RUPTIL, adj. Termo de botânica.
Diz-se de um órgão que se abre, rom-
pendo-se em forma irregular, por eífeito
do engrossamento das partes que elle
contém.
-j- RUPTILIDADE, s. /. Termo de botâ-
nica. Estado ou qualidade do que é ru-
ptil.
RUPTORIO, s. m. Termo de medicina.
Designação do cautério potencial, porque
corroe e produz solução de continuidade.
— Instrumento cirúrgico de abrir fon-
tes.
RUPTURA, s. f. Vid. Rotura.
RURAL, adj. (Do latim ruralís). Rús-
tico, camponez, que toca ou pertence á
lavom-a, aos campos.
7 RURALMENTE, adv. (De rural, com
o sufiixo «mente»). De uma maneira ru-
ral.
7 RURICOLA, adj. Que vive nos cam-
pos.
RUSGO, s. 7)!. (Do latim ruscus'). Her-
va medicinal. Vid. Gilbarbeira.
7 RUSPONE, s. m. Moeda de oui-o da
Toscana.
RUSSILHO, adj. (Do latim russeolus).
Cur ruça, mesclada de cor de rosa.
1.1 RUSSO, aJj. Da Rússia ou de seus
habitantes.
— .S. ;/i. O natirral da Rússia.
2. . RUSSO, adj. Vid. Ruço. — sAccor-
dou deste pensamento aos brados que Sel-
vião lhe dava: viu-se pegado com a pon-
te, e D. D nardos no meio delia, aperce-
bido de justa : e querendo tomar a lança,
viu vir contra si uma donzella em cima
de um palafrem russo, com um escudo
nas mãos, dizendo.» Francisco de ilo-
raes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 41. —
cAntre outra gente, que veio ter á praia,
veio o gi-an-turco, acompanhado de pou-
cos nobres, em cima d'um cavallo russo
pombo, a barba branca tão crescida e
grande, que lhe dava pola cinta, e como
fosse carregado nos dias, e tivesse muita
pessoa, parecia merecedor do senhorio,
que possui que este bem tem quem a na-
tureza dotou de perfeições corporaes ; por-
que muitas vezes a pouca authoridade da
pessoa dá pouco credito nas obras, inda
que sejam boas.» Ibidem, cap. 96.
RUSTICAMENTE, adv. (De rústico, com
o suffixo «mente»). Grosseiramente, de
modo rustii.-o.
RUSTICAR, V. n. (Do latim ntsticare).
Viver dias no campo, gozar, fazer vida
de camponez. '
RUSTICIDADE, s. f. (Do latim rustici-
tatem). Qualidade de rústico, de gros-
seiro.
— Grosseria, rudeza, aspereza do que
é rústico.
RÚSTICO, adj. (Do latim rusticus). Per-
tencente ao campo, camponez.
Pa3são-3e dias, que não vejo o gado
Perdido pela rústica montanha ;
E vivo á solidão tão costumado,
Que entro na Aldeã, como em terra esti^anha:
Já me lembra não o jogo do cajado,
Ka canseira qualquer Pastor me apanha :
E SC algum mo pergunta a causa disto,
Ecspondo que nào sei ; mas he por isto.
j. I. DE uATTOs, BruÁs, pag. 40.
Nau de outra sorte rúbido Podengo,
Que seguindo fiel, c lisongeiro
O riistico Saloio, que á Cidade
Vem, de seus Campos, a vender os frutos,
Se ao pé d"alguma esquina se demora.
Dii"iz DA cErz, HTSsoPE, cant. 6.
- — Tosco, grosseiro.
Quando Pão que os amados passos segue
Alli chegado, toma (em fogo ardendoj
O sonoroso rii^ltco instrumento.
Cantando nelle os versos que se seguem.
COBTE HEAX, SArFEAGIO DE SEPCLVEDA, CSUt. 10.
Tem-se feito entre nc^s tanta mudança,
Que Portugal taõ ruslico algum dia
Já nas Naçoens estranhas se avalia
Por alumno fiel da douta França.
ABBADX DE JAZESTE, POESIAS, tOm. 2, pag. 103
(ediç. de 1787).
Que faz amar delicias innocentes
Do hum domicilio nistico, que excede
Da Eazào na balança, em preço o fasto
Dos Palácios dos Reis ; dalta Palmira
De Mênfis, e de Roma a gloria infausta.
J. A. DE ItACEDO, VIAGEM EITATICA, CSnt. 2.
— Figuradamente: Inurbano, descor-
tez.
— Ordem rústica ; a mais simples de
todas e a mais livre de adornos.
— >S'. 771. Camponez, homem do campo.
— «De longe se verá o affecto nào me-
nos do que se divisa o Parnasso com os
dois cumes bautisados na Aganipe. Ac-
ceitem estas expressões correntes e cla-
ras como a agua que o rústico ofFereceu
a Xerxes, em signal de que daria mais
se tivesse.» Bispo do Grão Pará, Memo-
rias, publicadas por Camillo Castello
Branco, pag. 54.
Arrancados da brenha, os Gallos Divos
Creras : c lá do colmo das malhadas,
Star provocando os seus ao morticínio.
Tanta audácia lavrava, nesses rústicos!
FB-UíCISCO MAHOEL DO MASCIMBKTO, O» MABTTEBg,
liv. 10.
RUSTIQUEZ, ou RUSTIQUEZA. Vid. Rus-
ticidade.
RUTACEAS, «. /. plur. Termo de bo-
tânica. Familia de plantas dicotyledoneas,
dotadas de propriedades medicinaes.
f RUTENIO, s. 771. Termo de minera-
logia. Xovo motal descoberto no osmiu-
reto de iridium.
-|- RUTHE, s. m. Medida de extensão
do Hanover.
RUTHILE, ou RUTILA, s, /. Termo de
mineralogia. Oxydo de titano, de cor
avermelhada, e que risca o vidro e ás
vezes o quartzo.
RUTILANTE, adj. 2 gen. (Part. act. de
Rutilar). Que rutila, e resplandece, bri-
lhante.
Vimos a parte menos TuiUante,
E, por falta de estreUas menos bella,
Do polo fixo. onde inda se não sabe
Que outra terra comece, ou mar acabe.
CAM., Lus., cant. õ, est. 14.
Do Monumento augusto em tomo vejo
Três respeitáveis niagestosos Vultos;
Hum venerável Ancião coa frente
Lisa, e serena, os olhos elevados
Aos claros Ceos, aos Astros rutilantes,
Crê que habitados são, que a argêntea Lua
35G
RUTI
RUTU
RYTH
Ho como a Terra povoada, o cheia
Do Bcinovcntos aiiimiidos Seres.
J. A. DE MAOKDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 2.
RUTILAR, V. n. (Do líitiia rutilare).
Luzir, resplandecer, briliiar.
Da Lua os claros raio» ru/Uavam
Pelas arKcnt(i;is oiid;iH neptuiiiiia» :
As cstrellas o» eros acompaiihavain,
Qual campo revestido de boninas;
O» furiosos ventos repousavam
Pelas covas escuras, percfíi-inas ;
Porem da armada a gente vigiava
Como por longo tempo costumava.
cAM., LU8., cant. 1, C3t. 58.
— V. n. — Os olhos rutilavam cham-
mas.
RUTILE. Viil. Ruthile.
RUTILINA, #. /. Tormo do chiinica.
Sub.staiicia rubra, produzida pela acyitu
do acido sulfúrico sobro a Halicina.
I RUTILITA, «. /. Termo de minera-
logia. \^irieilado de granada ou silico-ti-
taiiato do cal.
RUTILO, acij. (Do latim rutilus). Ruti-
lante, côr de ouro, resplandecente.
RUTINA. Vid. Rotina.
RUTO, s. m. ant. (Do francez route).
Rota, viagem, estrada.
RUTURA. Vid. Rotura.
RUVINHOSO, fidj. Carcomido, carun-
choso.
RUXOXÓ, s. m. Voz onoraatopica, for-
mada do fioin, Com que se enxotam avus.
— Termo popular. KeprelieuBâo aHpB-
ra, exijroi)ra<,ào.
+ RYDER, «. m. Moeda de ouro da
llollanda, (|ue vale ll'J realea e 4 mara-
vedis, ou r)>(i(K) rei».
RYPTICO, a'{j. Termo de medicina.
Diz-se dos medicamcntOB próprios para
alimpar e purificar oa bumorea víscosob,
e corruptos.
RYTHMA. Vi.i. Rima.
RYTHMO. Vid. Rhythmo.
^kf,e^/U^_
"^fa
^Í^^S^^
s. m. Decima nona letra do
alphabeto e decima quinta
das consoantes.
Um S grande; um s pe-
queno. Um S de caixa alta;
um s de caixa baixa.
— Xo alphabeto physiologico o s é uma
spirante dental áspera, quando tem o som
que lhe damos no começo das palavras
como: se, santo; e uma spirante dental
branda quando tem o som que lhe damos
entre vogaes : casa, peso.
— Sé abreaviatura de santo, seu; S.
S., sua santidade, Santíssimo Sacramen-
to. — S., somma. — S., soffrivel, sufi-
ciente.— aS he letra semiuogal, e mais
assouio que letra, segundo disia Marco
Messala. D'onde veo, que a figura delia
denotarão, como hiia cobra enroscada,
por parecer mais pronuiiciação de cobra,
que de homens.» Duarte Xunes d:3 Leào,
Orthographia da língua portugueza. —
«O Grego o nomea (o s) Sigma, e o He-
breo, Samech, ou Sin, porque tem duas
formas de S, e com alguma differença
em eUes; porque o S. que chamam Sa-
mech he de prolaçà aguda, e o S, que
chamam Sin, quando tè ponto e a cabe-
ça direyta, vai por S crasso, e quando
na esquerda, nà se defferença do S, Sa-
mech.» Franco Barreto, Orthographia,
pag. 160.
SÂ, adj. f. poss, ant. Sua.
— Encontra-se este pronome no singu-
lar e no plural com muita frequência já,
desde os principies ^ da nossa raonarchia
até ao século \'x. A imitação dos roma-
nos, que primeiramente disseram sa e
sas, e depois sua e suas, assim dizemos
nós sa ou sas herdades, e hoje sua ou
suas herdades.
SÃA, s. f. Termo antiquado. Som, voz,
estrondo.
— Chamada. — - Capitulo per sãa de
campãa tanjuda.
— Forma feminina de São.
SÃAMENTE, ou SÃMENTE, adv. (De
são, cum o suffixo «mente»). De um mo-
do são.
SAAMOUNA, s. /. Grande arvore das
índias occidentaes, de cujo fructo em
forma de ervilhas vermelhas se extrahe
um sueco medicinal.
SAAR, V. a. (Do latim sanare, tirado o
nj. Termo antiquá-lo. Sarar.
' SABADEADOR, A, adj. Que guarda os
sabbaiios, á imitação dos judeus.
— Substantivamente : Um sabadeador.
SABADEAR, v. n. Guardar o sabbado,
á nossa imitação, que guardamos o do-
mingo. — Os judeus sabadeam. Vid. Sa-
batizar.
SABADILLIA, ou SABADILLINA, s. /.
Termo de chiuiica. Base salificavel orgâ-
nica que existe na cevadinha. A saba-
dillía é crystallisavel em prismas assas
grossos, solúveis no álcool, ether e agua
fervente: torna verde o xarope de viole-
tas, funde a um calor de 200 graus cen-
tígrados, e forma com muitos ácidos saes
susceptíveis de crystallisação.
SÁBADO, ou SÀBBADO, s. m. (Do la-
tim sahbatum). O dia da semana poste-
rior á sexta-feira, e anterior ao domingo,
què era guardado pelos judeus, e no qual
se abstinham de toda a sorte de traba-
lho. — «Na terceira parte desta Glironica
íica dito como Afonso dalbuquerque des-
pachou Dormuz o embaixador do xeque
Ismael, e em sua companhia Femam go-
mez de lemos com embaixada, os quaes
partiram em companhia de Habraim Be-
nati capitam da cidade de Trager hum
sabbado, cinco dias de Maio do anno do
Senhor de M.D.xv.f Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 4, cap, 9.—
«E porque o embaixador adoeceo aquy de
hum inchaço nos peitos, foy acSselhado
que não passasse adiàte até não ser saõ
delle, pelo que assentou cõ alguns dos
seus de se yr curar a huma grande en-
fermaria que estava daly doze legoas
adiante em hum pagode por nome Tina-
googoo, que quer dizer, deos de mil deo-
ses, para onde partio logo, e chegou lá
hum sabbado ja quasi noite.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 158.
— «Preparado pois tudo o que nos im-
portaua, e despedidos dos Portugueses
mercadores, que em Lara ficarão : com
huma cõpanhia, que ja nos estaua espe-
rado, que seria de quatrocentos homens,
entre a gente de pè, e de caualo, nos
partimos hum Sabbado pela menhaã, o
qual gastamos quasi todo em porfias.»
Fr. Gaspar de S. Bernardino, Itinerário
da índia, cap. 14. — «Aqui pescamos ex-
cellente peixe para o jantar, e de tarde
para a noute, por ser sabbado. Todo o
peixe n'este sitio é delicado : pescadas,
tucanaris e trairás.» Bispo do Grão Pa-
rá, Memorias, publicadas por Camillo
Castello Branco, pag. 179.
— Repouso, deseaueo. — O sabbado
eterno dos predestinados no céo.
— Dá-se também este nome ao séti-
mo dia, em que se fazem honras e exé-
quias aos defuntos, alludindo indubita-
velmente ao descanço, e refrigério, que
esperavam conseguir pelas orações, e sa-
crifícios que então se mandavam cele-
brar. D'aqui faztr o sabbado, por fazer
as exéquias a um defunto no dia sétimo.
— « Mando para o meu sábado vinte li-
vras.» Doo. ant.
— Jejuar aos domingos, ou sabbados ;
abster-se de carne n'estes dias. — «E
ainda neste era cousa execravel o jejuar,
se falíamos dos principio» da igreja Orien-
tal. Tanto assim que S. Ignacio disse,
que se alguém jejuasse aos Domingos ou
sabbados, excepto o da Sernana Santa,
este tal era matador de Christo: Siquis
Dominicam diem, aut sabòaturn (uno ex-
cepto) jejunarit, hic Christi interfector
est: isto he (como explica o P. Azor)
protesta, ou parece querer dar a enten-
der com o penoso e triste da abstinência,
858
SABA
SABE
SABE
quo Christo de tal modo morrco à sexta
feira, que naõ ticoii livre do tonnentos
ao sabljailo, e da ine.siiia morte ao I)o-
minffo.» Tadre Manoel Bernardes, Flo-
resta, part. 1, pa;r. 7.
— tíuittíjicui' o dia do sabbado ; guar-
dal-o; diz-se da lei judaica, cm que Deus
tinha santificado o sabbado, e os judeus
eram obrigados a guardar. — « E por tanto
benzeo e sautidcou o dia do sabbado. Mas
a nos he posto Cste mesmo preccpto em
outra fornia de palauras, que .■'ão estas.
Guardaras os Domingos e festas, que a
santa madre Igreja Catliolica manda guar-
dar.» Fr. Hartholomt-u dos Martyrcs, Ca-
thecismo da doutrina christã.
— Adágios e i-uovkkuios:
— Nem sabbado sem sol, nem moça sem
amor.
— Sabbado á noute, Maria dá-me a
roca.
— Quem quizer mulher formosa, ao sab-
bado a escolha, nJio ao domingo na voda.
SABAGAGI, .«. m. Termo da Ásia. Len-
çaria a-^sini ilenoniinada, feita de algodào.
•j- SABAITA, adj. e s. Termo de histo-
ria religiosa. Diz-se algumas vezes por
sabeu, adorador dos astros.
•j- SABAL, *. m. Termo de botânica. Gé-
nero de palmeiras. (J sabal é a menor
de toda<! as palmeiras.
-{- SABALINEO, A, adj. Que se asseme-
lha ao sabal.
— "S. /. plur. Termo de botânica. Tri-
bu da familia da ordem das palmeiras que
tem pi>r tvpo o género sabal.
SABÃO, *. VI. Massa ou pasta, resul-
tante da mistura de azeite ou de outra
gordura, cozida em decoada alcalina de
cal e cinzas, que contenham alcali vege-
tal, e se denomina sabão molle, quando
tom esta preparação.
— Sabão duro, ou de pedra; diz-se
aquelle que ó preparado com cinzas ou
barrilha que contenham alcali mineral ou
soda. O seu uso é lavar roupa, lavar
cara, fazer a barba, etc.
— Um fructo do Brazil, que nasce em
cachos pelos vallados ; tem uma côr ama-
rella pela parte externa, e na casca um
sueco, que faz escuma á maneira do sa-
bão ; caroço negro.
— Loc. POPULAR: Dar um sabão a a/-
guem; reprehendel-o.
— Adagio e piíoveuiuo:
■ — Ensaboar a cabeça do asno, perda
de sabão.
SABASTO, s. m. Yid. Savastro.
SABASTRO, s. m. Vid. Sebasto, e Sa-
yastro.
f SABAT, ou SABATH, s. m. Termo de
chronologia. Undécimo mcz do anno he-
braico : corresponde ao mez de janeiro.
SA6ATAD0S, s. «i. plur. Deu-so este
nome, na Hespanha, a certos hereges, se-
quazes dos AValdenses ou Pobres de Lug-
duno, não por allusão ao sabbado mas
sim ao sabbiito, quo ora calçado dos pés
ou fossem socos ou sapatos. E como o seu
disti activo era certo uignal a nio<lo de
coroa, quo iuipriuiiam a ferro no couro
do dito calçado, d'aqui se lhes originou o
nome. No Concilio de Tarragona do 1242,
e já nas Constituições de D. Pedro i, rei
do Aragão de 1197, se faz menção des-
tss sabatados.
SABÁTICO, A, adj. Que é concernente
ao sabljado.
— Anno sabático; dizia-so entre os ju-
deus o de cada sétimo anno, por ser o
anno do repouso das terras.
— Termo de geographia. Ribeira sa-
bática ; ribeira da Palestina septemtrional
que deixava de correr cada sétimo dia da
semana.
SABATINA, s. f. Pequena these de con-
trovérsia (jue 08 estudantes de philosophia
sustentavam no meio do primeiro anno do
seu curso. — ISusUntar uma sabatina.
— Exercício académico feito aos sabba-
dcs, em que uns perguntam e outros res-
pondem sobre as lições de toda a semana,
e talvez sobre alguma questão de mais.
lia outro exercício sobre as questões de
todo o mez, e é chamado sabatina nitn-
sal.
— Reza do ofiScio divino, própria do
sabbado.
SABATINO, A, adj. Que pertence ao
sabbado.
— Termo de historia religiosa. Bulia
sabatina ; bidla que contém os privilégios
do escapulário concedidos a Simão Stock
e que promette todos os sabbados livrar
uma alma do purgatório. Era assim cha-
mada por ser este sétimo anno, assim
como o sétimo dia da semana, consagra-
do ao dcscanço.
SABATISMO, s. ni. Observação do sab-
bado.— Nà o faltar nunca ao sabatismo.
SABATIZAR, v. a. (Do latim sabbati-
zai't>\ Celebrar o sabbado. Os judeus sa-
batizam reiíularmenie. Vid. Sabadear.
f SABAZIA, s. /. Termo de botânica.
Género de plantas da ordem das sjnan-
thereas.
SABBAOTH. Termo de philologia. Vocá-
bulo hebraico empregado n'esta locução:
Deus sabbaoth; Deus dos exércitos. —
Santo, santo, santo é O Senhor, o Deos
sabbaoth.
SABBATARIO, A, adj. e «. Nome dado
aos judeus por observarem o sabbado. —
Os sabbatarios. — O povo sabbatario.
— Membro de uma seita de anabaptis-
tas, que observa escrupulosamente o sab-
bado.
SABBATISMO, .<t. m. (Do latim sabba-
tisiiiuf. \"\d. Sabatismo.
SABECHÃO. Vid. Sabichão.
SABECHOSO, A, adj. Vid. Sabichoso.
SABEDOR, A, adj. c ,«. Quo sabe e tem
noticia de alguém, ou de alguma cousa. —
€ E dizemos ainda que esta Excepção he
de tam grande força e poderio, que se o
Juiz for sabedor, que o Autor he pubrico
escommungado, devc-o lançar da deman-
da, ainda que peila outra parte lhe nam
seja requerido.* Ordenações Affonsinas,
liv. '.'j, tit. .')•>, § 3. — f Porque disserom ou
sabedores, que compilarom as I^-ví* Impe-
riaae.^, <jue nom deve iia.«cer aazo de in-
juria da Ley, ou contrauto, donde nasce
o Direito.» Idem, liv. 4, tit. 9, § 5.
— « Ca se o assi nom nomear por autor,
ainda que lhe a cousa seja vencida, nom
lhe será ello dcspois thcudo de lha com-
pocr, nom embargante que esse, de que o
demandado ouve es.--a cousa, fosse certo e
sabedor como lhe era feita demanda sobre
ella em juizo.» Idem, tit. õO, § 2. — «E
em todo caso, hondc o vendedor pro-
meteo ao comprador a lhe compoer a cousa
vendida, se lhe fosse vecncida, será theu-
do a lha compoer, ainda que o comprador
ao tempo da compra fosse sabedor que
era alhea, e nom do vendedor: e bera assi
honde ambos, assi o compra/ior, como o
vendedor sabiam a cousa seer alhea, e
nom do vendedor.» Ibidem, § 11. — «E
fingindo que o negocio se começara sem
el Kei, nem elle serem disso sabedores,
deu sua fe a Rui daraujo, e o tomou em
sua guarda, ficandolhe por fiador do mes-
mo Bondara hum mercador muito rico,
per nome Ninachatu gentio, que fauore-
cia muito os nossos.» Damião de Góes,
Chronica D. Manuel, part. 3, cap. 2.
Embora imprcgue sahedorof artes
O piloto infeliz ; que hãodc imputar-lhe,
Hàodc fazcr-lhe das desgraças — crimes.
GASKETT, CATÃO, aCt. 2, SC. 1.
— Sábio, prudente. — «E assi deve to-
do esto ficar cm alvidro do Julgador ; ca
poderá esto acontecer antro taees pes-
soas, e sobre tal cousa, que poderiam
abastar pêra o que dito he ao dito for-
çado dous, ou três dias, e poderá acon-
tecer antro taaes pessoas, e sobre taaes
cousas, que nom abastarem pêra ello doua
mezes ; o por tanto disserom os Sabedo-
res, que esto deve ficar em alvidro do
Julgador, como dito he.» Ord. Affons.,
liv. 4, tit. 65, § 8.
Os mais do3 geucmadorca,
que ha.i índia foram mandados,
vij mortos, ou accusados,
cauallciros. fobedoret
nou vij destas escapados.
OABCLA DE BSZKSSB, MlSCSUJUnU.
Tem-se dlo por tnhedor,
é discreto, c letras tem ;
mas para o que cu alego,
afirma, approva. sustem
que o amor se pinta bem
menino, co'arco, e cigo.
AXTOSIO PRESTES, AUTOS, pag. 423.
SABEDORIA, s. /. Sciencia, saber, dou-
trina, prudência. — *E era raz.ão que as-
sim o parecesse, posto que o não fosse,
SABE
SABE
SABE
359
por ser obra das mãos daquella gram sa-
bedoria infante Melia, que alli pousou al-
guns annos no tempo d'el-rei Armato de
Pérsia seu irmão, segundo que na caroni-
ca mais largo se reconta.» Francisco de
Moraes, Palmeirim dlnglaterra, cap. 4í;>.
— «Aqui vereis a providencia e sabedoria
de Urganda, cuja foi esta illia, a quem não
deveis pouco; pois com seu saber fez im-
mortaes vossos feitos. Por certo, disse
Beroldo, muito se deve a ella polo que
neste caso sentiu; porém deve-se mais a
quem tamanhas cousas acaba, que de
mim vos sei dizer, que sabendo que aquel-
las alimárias são mortas, lhe hei medo,
e poria em duvida commettel-as, quanto
mais quem estivesse ante sua ferocidade
viva.» Ibidem, cap. 119. — «Por isso
irmãos nesta alta sabeduria auemos de
voar com freo de fee e humildade, mais
pasmando e amando, que escodrinhando,
porque não aconteça o que o Senhor nos
ameaça, dizendo.» Frei Bartholomeu dos
Martyroí, Catecismo da doutrina christã.
— «Porque se desordenadamente, se amar,
e estimar, ou buscar qualquer destas
cousas, inda que boas também saõ impe-
dimento, pêra a alteza da sabiduria, e
perfeição, que fica dita.» Idem, Compen-
dio de espiritual doutrina, cap. 10. —
«Aquelle preclaro Doutor S. Dionvsio
Areopagita chamou a theologia mvstica
sabiduria estulta, como si disera intelle-
ctiua, alem do discurso, e juizo ordiná-
rio, e sobre o natural conhecimento. Em
quanto a agua está fria, não saie de seu
curso natural, mas posta em feruura ao
fogo, e pullando a borbolhões, não se
contem dentro de si, e naõ cabendo em
sua própria esphera, salta, e sobe acima.»
Ibidem, cap. 12.
Que rasgos de imraortal mhedoría
Qaiz impressos deixar do Eterno a dextra
Nestes do ar plumosos habitantes !
Quanto me assombra o carinhoso affceto.
Com que os filhos nutria, mimosas aves !
Ko berço os defendeis, velais no berço.
J. A. DE SUCEDO, MEDITAÇÃO, Cant. 3.
— A sabedoria incarnada; o Verbo
Eterno.
— A sabedoria infinita; Deus, o Ver-
bo Divino.
— Sabedoria da carne, do mundo; diz-
se em opposição á verdadeira, e boa das
cousas da vida eterna, e boa moral.
— Ttr sabedoria d'alguma cousa ; ter
conhecimento d'ella, sabel-a. — «E se
acontecesse, que o devedor ouvesse pa-
gada a divida ao credor com a crecença,
ante que nós delles ovivessemos sabedo-
ria, ou ante que fosse feita por nossa
parte a demanda ao dito devedor, e cree-
dor sobre a dita razom.s Ord. Affons.,
liv. 4, tit. 19, § 1.
— O livro da sabedoria; um dos que
compõe o Antigo Testamento.
— Sem sabedoria d'el-rei; sem elle o
saber.
— Mercúrio, senhor de muitas sabedo-
rias.
Eu sam Jlercurio, senhor
De muitas sabedorias,
E das moedas reitor,
E doos das mercadorias :
N estos teuho meu vigor.
GIL VICENTE, AUTO DA FEIBA.
— Syn. : Sabedoria, sciencia.
Sabedoria corresponde ao vocábulo la-
tino sapientia, oriundo de sapio ; sciencia
é palavra latina, oriunda de seio. A pi-i-
meira tem significação mais extensa e
complexa que a segunda.
Sabedoria é o conhecimento intellectual
das cousas divinas e humanas, é a razão
perfeita, como disse Cicero. Sciencia é a
noticia ou conhecimento das cousas hu-
manas.
A sabedoria é uma qualidade que se
considera inherente ao homem, abrange
o saber e o obrar segundo a recta razão ;
a sciencia somente diz respeito á parte
especulativa, e pode considerar-se inde-
pendente do homem ; e n'este sentido a
definem os escriptores modernos, uma se-
rie de verdades discursivas, que não al-
cança por si só o senso commum. A geo-
metria, a mathematica, a astronomia,
etc, são sciencias, porém não podem ser
denominadas sabedorias.
SABEDORMENTE, adv. (De sabedor,
e o suffixo «mente»). Termo antiquado.
Polida e sabiamente.
— Elegantemente.
— Sabendo aquillo de que se trata.
SABEISMO, !'. m. Vid. Sabismo.
7 SABELLIANISMO, s. m. Doutrina an-
ti-trinitaria pregada no século iii por Sa-
beUio, que ensinava que não ha em Deus
senão uma única pessoa, que é o Padre,
do qual o Filho e o Espirito Santo são
attributos, emanações ou operações, e
não pessoas subsistentes.
SABELLIANO, A, adj. Conforme á dou-
trina de Sabellio.
— Substantivamente : Pessoa que pro-
fessa o sabellianismo.
SABENÇA, s. /. Termo antiquado. Sa-
bedoria.— «E isto por conselho e saben-
ça de Nosso Senhor.» Eluc, de Viterbo.
SABENDAS. Adverbio antiquado usado
n'esta locução : A sabendas ; de propósi-
to, acinte, com conhecimento e noticia.
— «O segundo caso he, se o Padre cin-
temente ouvesse juntamente carnal com
a molher, ou barregaã de seu filho, que
ouve theuda em algum tempo por sua
manceba ; e bem assy se a Madre a sa-
bendas ouve ajuntamento carnal com o
marido, ou barregaão de sua filha, que
em algum tempo ouve theuda por man-
ceba.» Ord. Affons., liv. 4, tit. 100.
SABENTE. — i^açrt?)i-)io/-osabente; noi-o
façam saber. — «É visto per Nós o di-
to Artigo com a reposta a elle dada, de-
clarando acerca dello Dizemos, e Man-
damos, que a Hordenaçom antiiguamen-
te feita, per que he defeso aos Conce-
lhos, que nom ponham prestemo a al-
gum, que SC guarde, e tenha ao diante;
e se alguém quiser poer prestemo, façam-
no-lo sabente, declarando a razom em
que se fundam ao poer, e com Nossa au-
toridade o ponham, e d'outra guisa nom.»
Ord. Affons., liv. 4, tit. 64, § 2.
SABEO, A, adj. e s. Pertencente á ci-
dade de Sabá, capital da Arábia Feliz,
e que abunda muito em incensos, e ou-
tras espécies odoríferas.
— Laíjrinta sabea ; o incenso distilla-
do do golpe da arvore que o produz.
— ■ Lagrima sabea ; o que distilla o ca-
jueiro.
1.) SABER, V. a. (Do latim sapere).
Ter noticia, ter conhecimento de alguma
cousa.
O sábio dií senbor, se desejaes
Saber aquclla nobre antiga historia
lusto he que de taes homens, tào leaes
Ficasse eterna, e viua tal memoria
E que destes varões aqui saihaes
Os feitos que merecem fama, e gloria.
Pêra exemplo daquellcs cujos peitos
Sc oÉferecem a grandes c altos feitos.
CORTE BEAL, NAUFRÁGIO DE SEPÚLVEDA, Cant. 13.
— € Outro sv mandamos aos nossos
Meirinhos, e Corregedores, que enquei-
raõ, e saibaõ pela guisa que o fazem, e
comprem aquello, que lhes per nós he
mandado, pêra lhes darem a pena sobre-
dita, se acharem que o nom guardaõ, ou
em ello forem negrigentes; e nos façaõ
saber o que sobre todo obrarem, e feze-
rom, sob pena dos Officios.» Ord. Affons.,
liv. 4, tit. 4, § 7. — íE morando elles
ambos em desvairadas Comarcas, entom
lhe poderá seer feita a dita demanda ataa
vinte annos compridos, e contados como
suso dito he; e hindo essa cousa ao pos-
suidor sem titulo algum, avendo acerca
delia maa fé, porque sabia bem que nom
era sua de direito, nem lhe perteencia.»
Ibidem, tit. 49, § 3.
Ser. Consciência digo eu,
Que vos leva ao paraiso.
Bran. Não mbemos nós quhe isso ;
Dae-o ó deoho por seu.
Que ja nào he tempo disso.
GIL V^CENTE, AUTO DA FEIBA.
Leon. Xó mais ceremonias agora;
Abraçae luez Pereira
Por mulher e por parceira.
Fero. Ah, eu m'cmpacho ma ora
Quanto a dizer abraçar :
Depois que a eu usar
Entouces poderá ser.
Inez. Nào lhe quero mais saber;
Ja me quero contentar.
IDEM, FABÇAS.
Por vida vossa, zombais?
Quem he ? quereis-mo dizer ?
L
360
SABK
SABE
SABE
NÃO o liavci» V('i» lUi labr.r,
IMi': uo mo iiAo puitsK!».
l.AU., FILOUCUU, aut. 1, SC. 5.
Porque? Porque mo dizcii»
Qui; *') do MIOU piirecor
VoiJ pn'ci"(Ii', o qu(i sabeis.
Ho vnrdtido.
IDEM, SKI.HUCO.
<SVi')íVi o do casa a manha,
Sabia os pasws, fu^ni,
O Ratinho da montanha
Aos pcos om pro-iaa tamanha
O conii;ão lho caliio.
SÁ DH SIIUANDV, CAIUA A Mi;M DE si.
— «Nem o sui, uem culilo que uiii-
ífuoin o sabe, disso o outro; poroin creio
que ilcvc sht mui perto, polo que a(iuello
homem uio disse; e tauibeu» ponpio inda
lioje foram as batiilhas do eavalleiro do
Salvafío, e não poilora ser aqui trazido
de mui longe em tão pc(|ueuo espaço.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 40. — «(J eavalleiro poz lo^^o
o ponto em outra parte, o i)olas mais sa-
tisfazer todas, sem escândalo do nenhu-
ma, tomava um dia pêra conversar cada
uma, e parece que ou lhes pareceu tão
bem, ou suas palavras eram doces, ou
ollas tilo pouco discretas, que, antes que
chegasse ao castello d'Almourol, todas
iam arrependidas do que perderam, sem
uma poder ser testemunha d'outra: assim
sabia furtar as horas a tempo, que pêra
tudo tinha lugar.» Ibidem, cap. 125. —
«E sabei que ha muvtos, com quem o te-
mor d'estas cousas pode mais que a me-
moria das eternas : e nam he mao, quan-
do nam acodem logo aos outros remédios,
trazel-os per este ao caminho da peniten-
cia.» Lucena, Vida de S. Fraacisco Xa-
vier, liv. 6, cap. 11. — «Kstes dous capi-
tães mandava elRoy que fossem desco-
brir toda a torra do cabo do Boa Espe-
rança to Çofala, e parte daquellas ilhas,
ver se achauão noua de Francisco d'Ai-
buquerque, e Fero do Mendoça que sa-
bião sei"em desaparecidos naquelia para-
gem, segundo escrevemos.» João do Bar-
ros, Década 1, liv. 9, cap. 6. — «Sobro
tudo que no porto se encarregauão nãos
de mercadores, o que se não podia fazer
som o ello, ou seus officiaes saberem, no
que em tudo contrariaua ao que lho pro-
metera, que mandasse prouer nisto com
brcuidade, porque era já tempo de se
p.artir.» Damião do Góes, Chronica de D.
Manoel, p.art. 1, eap. Õ9. — «Poreni se
nisso com alguma maginação errada al-
guma cousa entendestes, sabei que mi-
nha vontade o verdadeiro des,'jo he es-
quccerme de tudo, e assi volo perdoar,
como se as culpas disso fossem seruiços e
merecimentos. Folio qual com toda eftica-
cia que posso, e mais no que deuo, vos
rogo muvto, que posposto tudo queirais
ser conformo comigo, pois me Dcoa fez,
e dcyxou j)or lierdcyro desta coroa de
Fortiigal.» < lania <le Uuzcude, Chronica
de D. Joào II, cap. il7.
Max nm quanto trabalha nesta entrada
.V profana bombarda horrenda o fora,
Kii líi a Madiafahat faro a jornada
( Indo a frota intifl sr.i r|uo me oupora.
Ksta oítando ja assaz bem preparada
Do que a Bua ton<;ào necessário era,
Nào (|uer alli deter-»e mais huin'hora.
Pois tem o mar e o vento brando agora.
r. n'ANnitAOK, riiiHisiHO ckuuu dk Div, cant. 20,
c»t. 11.
— «Andava u'e.-.le tempo D. Fernando
de Castro doente do febres, e sabendo
([Uo se esperava por hum grande as.^alto,
mandou-se levar pcra o baluarte S. Joaõ,
sem o Capitão lho poder defender, por-
que desejava de se não bulir até cobrar
mais alento.» Diogo de Couto, Década tí,
liv. 2, cap. 'J.
— Conhecer. — «Em a qual deve seer
perguntado primeiramente, se aquolle,
que foz a doaçom, se a fez per alguum
euduzimento, arti>, ou engano, ou medo,
prema, ou prisom, ou algum outro con-
luio, e se liie praz, que a dita doaçom
assy per ellc feita seja per Nós aprovada,
e confirma la : o bom assi devem seer per-
guntados seus vizinhos, que ham razora
de saberem como a dita doaçom foi fei-
ta.» Ord. Affons., liv. 4, tit. 68.
Não posso escutar, quo vou campear,
E 3e llie tardar, bem saòee tu isto
Em que \tíM:: parar •,
Porque este boli;ão não tem cerradouros.
QIL VICEMTK, DIALOGO SOBOE A BESLBBEIÇÂO.
Veja-t'cu, crua, amar qucra to desame,
Porque saiba» que cousa he ser amada
Do quem t.vito aborreces c desprezas.
Veja-t'ou ser ainda desprezada
De quem tu mais desejas que te amo.
Porque sintas em ti tuas cruezas.
Sintas tuas durezas,
E quinto pi'ide o seu cruel ctfcito
Khum cora<,ào sujeito.
UAUUES, KGLOOA 4.
— fSe isto puder levar avante, não
quero mais preço, que o contentamento,
e que deste se deve também contentar,
quando a houvesse de mim ; porém que
liie peço, que me mostre por qual da-
quellas se combate, e me diga seu nome
pêra saber o (juc iranlu-i.» Francisco de
Moraes, Palmeirim dlnglaterra, cap. 123.
— « Quando parem deytàose de huma
ilharga, o não se pode saber no.s primei-
ros três dias, se pario macho, ou fome.;»,
por que o que nouamcute nasce, vem
metido dentro cm hum folio, ou bexiga,
daqui precedeo affirmarcm alguns Autuo-
res que o Camello nascia imperfeito, e
que depois se liia perfeytjorulo. > Fr. Gas-
par do S. Bermudino, Itinerário da ín-
dia, cap. 17. — «Estas nãos mandou o 1
liei apaielhar de todalas coudaa necessii-
rioH a feito do guerra, porque ja sabia
que liauiaS de ter disso n'.-ce8aidadc pelos
nogocioH, que acontecerão a Va.squo da
< iama, a-ssi na índia, como na costa da
Etio()ia, na (piai hiain mil, o quinhentos
soldados.» Damião de iiiHin, Chronica de
D. Manoel, part. 1, cap. .'»4. — •< >u como
o malévolo Semci, que se nai5 «lava hum
[lasso fijra de Jerusalém, era porque aa-
bía que em sahiiido haviaij de matallo. »
Fadro ^lanoel Bernardes, Exercícios es-
pirituaes, pag. 41H, — a Quereis saber
quem ou sou? Lê, Felagio, o que escre-
veu ahi Theodemiro. Diz-lhe dep<ji» qual
é o meu nome.» E, tirando da oscarcella
uma tini de jierganiiidiO dobrada, abriu-a
e entregou-a a Felagio.» A. Herculano,
Eurico, cap. 13.
Não... nem tn Wie* inda quantos crimM
ToDB que lavar no sangue do malvado !
OAUOKTT, CATÃO, SlCt. 4, 8C. 4.
— Saber viver; saber portar-se com
prudência inoffensiva, grangear a todos
para seu proveito.
— Vir a saber-se; ser notório, vir á
noticia.
— Não saber maia nada; ter conheci-
mento só de uma certa cousa.
Porque o filho do lavrador
Casa lá com la^Tadora,
E nunea snh/-m mai.4 nada,
E o filho do broslador
Casa com a brosladora :
Isto per lei ordenada.
GIL VICENIK, FABÇAS.
— Não saber agradecer servtçoê; não
se importar com a gratidão, portar-se in-
grato. — «Falam as boas obras por quem
as faz, e desfazem as más opiniões de
lingoas danosa.s. Muyto pouca força tem
as boas obras e serviços quando sam fei-
tos a quem os nam sabe agradecer.» D.
Joanna da Gama, Ditos da freira, pa?.
44 (ediç. 1872.^.
— Saber o pouco que sei, não está na
minha mão. — • Nào está na minha mão,
minha senhora, saber o pouco que scy.
For isso nào esteve nella ser tào serioso
neste papel como mandastes. Deos vos
guarde muitos annos.» Cavalleiro d'Oli-
veira. Cartas, liv. 1, n." 30.
— Não saber dizer alguma cousa;
ignoial-a. — «Nào deyxe V. A. do crer,
ainda que eu lho nào saiba disor, que
lhe sou infinitamente obrigado, e que os
seus mimos me farão lembrar sempre de
que devo ser p<<r toda a minha vida.»
Cavalleiro do Oliveira, Cartas, livro 2,
n.MU.
— Saber muifo de qualqvr sciencia;
ter bastíintc conhecimento delia. — « Ues-
pondeo o Medico. Sim Senhor, N . Ex.*
para Duque sabe muito ilc Medicina, }h>-
rem para Medico he certo que não sabe
SABE
V. Ex.* o que diz.» Cavalleiro de Oli-
veira, Cartas, liv. 1, n.° 38.
— Nào se saber que7n é; ignorar-se
quem é. — « E que direy das innumera-
veis unhas, que se toléraõ ria grande Ci-
dade de Lisboa ! Envergunhala-hemos com
Cidades muito mavores, que ha na Cliina,
nas quaes lia taõ grande vigilância nisto
de unhas de gente vadia, que de nenhuma
maneira escapa pessoa viva, de que se naõ
saiba quem he, o que trata, e de que
vive, para evitar roubos, e outras desor-
dens, de que saõ autores os ociosos, e va-
gamundos em grandes Republicas.» Arte
de furtar, cap. 56,
— Fazer saber a alguém alguma cousa;
participar-lhe alguma cousa. — « Alem
destas pessoas que Aftbnso d'Alboquei'que
despachou pêra fora, despois que tomou a
cidade, mandou também hum caualleiro
per nome Gaspar Chanoca a el Rey de
Narsinga, fazendo-lhe saber como tomara
aquella cidade, com oftertas que fazendo
elle guerra aos Mouros do Reyno Decan,
elle por os seus portos do mar os aperta-
ria de maneira para totalmente os lança-
rem da Índia.» Barros, Década 2, liv. õ,
cap. 3. ■ — «Porém em Dabul duas, que ahi
achou o Capitão da Cidade, não quiz fa-
zer entrega delias, sem primeiro o fazer
saber ao Hidalcão, cuja a terra era.»
Ibidem, liv. 8, cap. 6.
— Saber-se uma verdade; divulgar-se,
ter-se noticia d'ella.
Fálaris, Tamorlão, Mezencio, Nero,
Que tanto humano sangue derramastes,
Xói oâ dous Dionizioâ, que co'o foro
Nome só, a Siracusa amedrontastes,
E 03 mais de que tratar aqui não quero.
Que o mundo com cruezas espantastes,
Dizei, porque se saiba esta verdade.
Quão pouco vos durou a magestade.
FB\SCISC0 DE ANDRADE, PRIMEIBO CEKCO DE DIU,
cant. 3, est. 2.
— Saber Uiiguas ; ter conhecimento
d'ellas, não as ignorar. — » E assi enuiou
dizer a el Rey outras cousas como homem
muy prudente, e pêra começo da Chris-
tandade muy necessárias, antre as quaes
foy, que elle lhe pedia por mercê, que
certos moços pequenos de seu Revno, que
liie mandaua, lhos mandasse logo fazer
Christàos, e ensinar a ler e escreuer, e
aprenderem muyto bem as cousas de nossa
Fé, pêra que estes em tornando em seu
Reyno, por saberem ambas as lingoas, e
costumes que saberiam, poderiam a Deos
e a elle muyto scruir, e aproueytar a to-
dolos de seu Revno.» Garcia de Rezen-
de, Chronica de D. João II, cap. lõG.
— Nào saber o que se faz; não estar
disposto a ordenar bem as cousas. — «Al-
guns foraõ de parecer que se entregassem
as armas, mas outros não, e destes fov
Dona Leonor, que disse a seu marido que
nas armas estava todo o seu remédio, que
lhe pedia por amor de Deos que tal não
voL. V. — 46.
SABE
fizesse. Mas como Manoel de Sousa de Se-
púlveda não hia jà em si, tomou as ar-
mas, em que entravaõ quatro espingar-
das, e as entregou ao Rey, do que elle
teve pouca culpa, porque jà não sabia o
que fazia, e toda foy dos que lhe consen-
tirão entregallas.B Diogo de Couto, Dé-
cada 6, liv. 9, cap. 22.
— Saber-se j^^^o^ discursos dos céos es
eclipses do sol e da lua; conhecerem-se
por elles. — «Verdade he que se acha al-
guma por acerto que tem alguma noticia
dos discursos dos ceos, por onde sabem os
eclipses do sol e da lua. Mas estes se ho
sabem por algumas escrituras que se
acham antrelles, insinam no a algum ou
alguns cm particular, mas nam ha disto
escolas.» Frei (íaspar da Cruz, Tratado
das cousas da China, cap. 17.
— Saber pedir conselho; ter conheci-
mento para o dar. — «Pois por certo que
aquelle que deseja bons conselhos, já pa-
rece que d'elles não necessita; porque é
tão grande prudência pedir conselho, que
do homem que o sabe pedir, crerei que
nenhum lho fará falta.» Francisco Ma-
noel de Mello, Carta de guia de casados.
— Saber aquillo de que lhe nào pedem
conta; ter conhecimento d'aquillo de que
lhe não pedem conta. — «A ninguém se
pôde com rasão pedir conta, do que nào
pôde obrar ; e ninguém a poderá dar boa
do que não quiz, ou soube fazer, tendo
cargo de saber, e querer obrar, aquillo
de que lhe não pedem conta.» Francisco
Manoel de Mello, Apologos dialogaes,
pag. 47.
— A mulher deve saber honrara quem
seu marido honra. — « Saiba, todavia, a
mulher sisuda, que deve honrar a qirem
seu marido hom-a; e o homem honrado,
que a ninguém deve dar azo que a sua
mulher perca o respeito. » Francisco Ma-
noel de Mello, Carta de guia de casados,
cap. 9.
— Figuradamente: Os olhos saberem
responder. — « Que fora do melindi-e de
teu animo, se não deparasse c'um coração
tão delicado! Esses olhos tão eloquentes, e
tão bem comprehendidos, qaáes, a não ser
os meus, saberião responder-lhes? Dá-o
por impossivel ! Amar? só nós ambos o
sabemos : e de mágoa morreríamos um e
outro, se differente empenho sorteassem
nossas almas.» Francisco Manoel do Nas-
cimento, Successos de madame de Sene-
terre.
— Mulher que sabe escrever; mulher
que tem conhecimento da linguagem es-
cripta, porque a põe em pratica. — « Kão
m'o tinhão ditto assim; se porém vossa
ultima vontade é essa, será forçoso, Ma-
dama, conformar-se com ella ; porque em
fim de tudo, se me cazo com outra que
tenha algum dinheiro, não acertarei c'uma
Mademoisella Suzanna e com a ventagem
de mulher que me saiba escrever, que é
quanto eu lhe desejo.» Francisco Manoel
SABE
361
do Nascimento, Successos de madame de
Seneterre.
— Saber i^arfe de alguma cousa; ter no-
ticia d'ella.
— Saber de cor; ter de memoria, lem-
brar-se.
— Ser sábio, e viver como elle.
Maa cu fallo, cm despeito da vontade,
Que anhéla de te ouvir. Uso é de Velhos.
Embébem-sc na glória do que saheyn,
Púr-lhes, só o pódc imi Deos, atilho ás vozes.
F. M. DO NASCIMENTO, OS MARTYKES, 1ÍV. 9.
— Tão bem me sabes o nome; tu não o
ignoras. — «Já vos não ficareis sem ellas,
disse elle, pois tão bem me sabeis o nome ;
e se quizerdes aguardar que mande pôr
minhas armas, com esta lança que engei-
tastes, vos castigarei; e quando a fortuna
vos favorecer tanto, que fiqueis pêra mais,
faremos nossa batalha, e n'ella vos ensi-
narei com que cortezia se hão de tratar
minhas cousas.» Francisco de Moraes,
Palmeirim d'Inglaterra, cap. 123.
— Saber fazer ouro de enxofre. —
(í Essa he a valentia desta arte, como a
dos Alquimistas, que se gabaõ que sabem
fazer ouro de enxofre : de gente vil faz
fidalgos, porque aonde lúz o ouro, naõ ha
vileza.» Arte de furtar, cap. 2.
— Saber f aliar a lingua portugueza;
ter d'ella conhecimento. — « Com elles
veo hum Mouro chamado Faque Volay
que sabia fallar a nossa lingoa Portugue-
za, o qual fora criado em Moçambique, e
peccados seus o leuaram aquella paragem,
como a nòs também os nossos.» Fr. Gas-
par de S. Bernardino, Itinerário da ín-
dia, cap. 2.
— Saber, viver mal; não saber viver
com prudência inoftensiva. — «Teve no
Reino grandes inquietações nascidas da
insolência dos nobres, que sahindo da
brandura dei Rey D. Aôonso, e dando na
inteireza do filho, sabiaõ mal viver em
taõ disconformes estremes.» Frei Bernar-
do de Brito, Elogios dos reis de Portugal,
continuados por D. José Barbosa.
— Informar-se de alguma cousa. — •
« As pessoas de calidade que aqui mata-
rão de que pude saber o nome afora loam
machado, foram George de magalhães, e
loão roiz pessoa.» Damião de Góes, Chro-
nica de D. Manoel, part. 4, cap. 17.
— Saber novas de alguém, ou de algu-
ma cousa; ter novas d'alguem. — «A pri-
meira cousa que dom Aluaro fez depois
de ser em Azamor foi mandar Aluaro ra-
phael, Alcaide mor da cidade com coren-
ta, e cinco de cauallo saber nouas de
huns aduares que andauam aleuantados,
o qual indo junto de Muguroz, que he
seis legoas de Azamor, encontrou com
huns mouros de cauallo, e por auer diffe-
renças entre os que Pêro Raphael leuaua
consigo, elle depois de tudo consultado se
iriam buscar os Aduares, ou darião na-
3G2
SABE
SABE
SABE
ciiiellcs niouroH.» Damião de Ooes, Chro-
nic;i de D. Manoel, part. 4, cap. '.iO.
— Saber n cunsa d'al<jutna cousa; niío
a ifijnorar, tor conhecimento d'(!lla. —
4 Isto pos muito o»|)arito aon fsmbaixailo-
rcH, <|uo aimla alii cstauão que sabendo a
causa, louuaram muito ho que AibiiHO
dall)iiquenpu! fazia, com tudo por iiitcr-
CC8HH0 do iiomcui lidalgoa oa ombaixado-
ro3 dei Rei de Narsinf^a, o do Cambaia,
llie pediram as viilas fios outros mestfcs,
o pilotos que ja Icuauain a padecer, que
lhes conccdoo mudando a ])eria da morte
em dofjjrcdo pêra outras nãos.» Damião
de Gocs, Chrouica de D. Manoel, part. 3,
cap. 16.
— Saber muito bem Ur; não sor anal-
pliabcto, ter conhecimento doa caracteres
alphabeticos. — « Isso mesmo tem ja der-
ramados per 80US regnos muitos liomens
naturaes da terra de Cliristãos, que tem
escolas, e ensinam a nossa .sancta fe ao
pouo, o aasi também scolas de moças que
ensina uma sua irmã que ho molher hem
de sesenta annos, e sabe muito bem ler,
e em sua velhice aprendeo, (pie folgaria
vossa Alteza de a ver o assim outras sa-
bem ler, e todolos dias do mundo vam a
Egreja a Missa encomcndarsse a nosso Se-
nhor.» Damião de Gocs, Chronica de D.
Manoel, part. 4, cap. 8,
— Sem ninijuem o saber; ignorando-o
todos. — « Azarias como teuc esta certeza
mandou secretamente humas taboas do
mesmo molde, das que estauam na arca
do Testamento, as quaes no dia que sacri-
ficou, mctco na arca, e tomou as verda-
deiras, que Deos dera a Mouscs no monte
Sinai, e as leuou consigo, sem o ningucm
saber, se nam depois de ser em Ethio-
pia.» Damião de Góes, Chroaica de D.
Manoel, part. 3, cap. 151.
— Saber a Ihigua arábia ; ter conheci-
mento d'ella. — « Pelo que mandou a isso
per algumas vozes e ora diversos tempos
homens que sabião a lingoa Arábia entre
os quaes foram, hum Afonso do paiua
natural de Castelbranco, e loão piroz do
Couilhã, 08 quaes despedio de Santarém.»
Damião de Gocs, Chronica de D. Manoel,
part. 3, cap. 58.
— Sabeis de mim?
ARasiío todos namora.
Sabeis de mim ?
Por quo n&o? SRnhorn, sim.
Como? dizoi, Mestre honrado.
Sois Rasão mato fori,-:ido
a que hemos do vir emRm.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pag. 24.
— Saiba-me d'isso; informe-se a esse
respeito.
— Convém a saber : isto é, quer dizer.
— «Despois que temos tratado das cou-
sas que Deos manda crer, como se ma-
nifestou na dcclara(,'am do Credo, e assi
-das que nos manda esperar, desejar, e
podir, como tambom se declarou na ora-
(;ão do i'ater no^ter : Conuem tratar ago-
ra do exercieio da ciiaridade, conuem a
saber das cousas (|ue Deos nos mauda
fazer.» l'"rui Ikiitliulomeu dos Martyres,
Catecismo da doutrina christà. — «A pri-
meira he, que ha de ser diligentemente
examinada, conuem a saber que o pecca-
dor antes que venha aos pés do confes-
sor, penso cuydadosamcnte em seus pec-
cados, o cscodrinhe os canttjs de sua con-
sciência: pêra o qual exame tanto mais
tompo ha do contar, quanto mais tempo-
ha que se nam confessou.» Ibidem.
— ■ Jla iào pouco que saber cm mim! —
«lia tam pouco que saber era mim, que
a tudo respondo com o que vês : porque
o nome, se elle declaia o ser de quem o
tem, a certeza mo deu; terra nào a te-
nho, porque nenhuma me consente ; o
que busco nesta, he o quo mais desejo
perder; o sommado isto, sou hum triste,
o peregrino que busca a vida, quo abor-
rece : porém se esta verdade só te não
satisfaz, o meu nome ho Lereno Fran-
cisco Rodrigues Lobo, Primavera.
— i''açt> «abar ; formula de que os reis
se servem para a publicação de uma car-
ta de lei, de um alvará, etc. — «Dom
Affonso pela graça de DEOS Rcy de
1'ortugal, e do Algarve. A quantos esta
Carta virem fazemos saber, que alguns
Mercadores do i'orto, e de Braga, e de
Guimaraães, e de Viseu, e de Cliavees,
e d'outros Lugares se me querellarom,
dizendo que recebiam grande agrava-
mento dos Juizes e Vereadores.» Ord.
Affons., liv. 4, tit. 5, § 1. — «E devcra-
no fazer saber a nós, pêra mandarmos
proveor a esses bens, em guisa que aquel-
íes, que os ouverom de herdar, nom re-
cebaõ dapno.í Idem, tit. 15, § 1.
— A saber; isto é, quer dizer. — «Em
tal caso deve o dito creedor perder e pa-
gar a nós todo aquello, que houver, a sa-
ber o principal, e crccença, que ouve do
dito devedor , e a dita crecença deve seer
descontada ao devedor do que ha de pa-
gar, a saber, d'outro tanto como he o
principal, que ja pagou ao credor.» Ord.
Affons., liv. 4, tit. 11), i? 1.— «E esta
demanda lhe poderá fazer atta dez annos
compridos, e contados dês o primeiro dia,
em quo a dita cousa foi a poder do pos-
suidor com titulo, e boa fé, e se ambos
eram moradores em huma Comarca, a
saber, o creedor, e o possuidor. » Ibidem,
tit. 49, § 3. — «E se o vendedor recu-
sasse d'entregar primeiramente a cousa
vendida ao comprador, duvidando daver
doUe o preço, o bem assy nom conliasse
o comprador do vendedor, duvidando ha-
ver delle a cousa comprada, so llie pri-
meiramente pagasse o preço, em tal caso
Mandamos quo seja a cousa vendida, e
bem assi o dito preço todo socre^tado em
maaõ d 'homem liei, o qual entregue do
todo faça as partes entregues, e conten-
tes, a saber, o vendedor do preço, e o
comprador da cousa comprada.» Ibidem,
tit. tiO, § 20. — «E bera ansi Dizemos
dos OfTiciaacH, que coui <-ll<; andarem, a
saber, Jleirinhos, Chanci-lJeres, c Escri-
pvaães, qu<! assi andarem por tempo cer-
to.» Ibidem, tit. (51, § 1. — tE qualquer
quo o contrairo fezer, aja p<)r pena, a
saber, que o contrauto a«»i feito «eja ne-
nhum, e todo aquello, que o dito Oãicial
per bem delle assi receber e ouver, seja
todo ])erdido pcra a Coroa ilos Koesos
Regnos, por tal que a pena d'hum seja
eixemi)lo ao» outros.» Ibidem. — «Em
tal caso deve-se a dita jialavra logo en-
tender, a saber, que haja esse forçado
tam gran<le espaço pêra cobrar, e aver
a dita cousa, em que aguisadamontc pos-
sa pêra ello chamar seus parentes, e ami-
gos.» Ibidem, tit. 65, § 8. — «Uutro sy
mandamos, que os Mccstrcs da» Cavalla-
rias das Ilordens, e Priol do Hosjiital, e
Commendad res, e Freires das ditas Ilor-
dens, que tenham cada hum deites cavai-
los aquelles quo os nom teem, assinando-
Ihe tempo a quo os ajam e tenham, a sa-
ber ataa dia d'Omnium Sanctorum pri-
meiro quo vem; e mandamos, que aquel-
les que nom teverem os ditos cavailoa
ataa o dito tempo, que se forem nossos
vassallos, ou de cada hum dos sobreditos,
que percam aquella conthia, que de nóa
ou delles ham por aquelle anno que os
nom teverem, e paguem a nos outro tan-
to, quanto som as conthias, que de nos
teem os outros Cavalleiros nossos.» Idem,
liv. 5, tit. 119, § 4.
— V. n. Tor o sabor. — K-^tn comida
sabe-me bem. — Este alimento sabe-me o
cebola.
— Ando que não sei de mim ; ando mui
distraindo com negócios e trabalhos.
— Figuradamente : Agradar.
zombe um homem, chcgno ao cabo
de lhe dizer — sois mui fia —
contra oUe em ódio se atêa ;
c chamar-lbc cila diabo
sabe-lhe a cUe a crarca.
ANioiiiú ruESTES, AUTOS, pag. 30Õ.
— Adaoios e proverhios:
— Quem pouco sabe, azinha reza.
— Cuidar não é saber.
— Erro é epual, não sabendo respon-
der, e sabendo perguntar.
— Não é nmilo que percAs teu direito,
não fazendo saber teu effoito.
— For novas não penareis, far-se-hSo
velhas, sabel-as-heis.
— Bem sabe esto, onde a bugia tem o
rabo.
— O parvo sabe á .'ua custa.
— Todos querem saber, mas ninguém
fazer.
— Segredos queres saber, busca-os no
pezar, e no prazer.
— Mais vale saber, que haver.
SABE
SABE
SABI
363
— Nada duvida, quem nada sabe.
— Ninguém se metta no que não sabe.
— O bom saber é calar, até o tempo
de fallar.
— Para seu proveito cada um sabe.
— Quanto mais vivemos, tanto mais
sabemos.
— Se queres saber quem é o villão,
mette-lhe a vara na mão.
— Quem não sabe, pergunta.
— Sabe as pancadas ao vinte.
— Sabem-n'o cães e gatos.
— Sabe como sete paliteiros.
— Sei isto como minhas mãos.
— Não sabe qual é a sua mão direita.
— Quem para si não sabe, não ponha
escola.
— Quem lêr, leia para saber ; quem
souber, saiba para obrar.
— Quem não sabe do mal, não sabe
do bera.
— Quem não sabe soflErer, não sabe re-
ger.
— Quem de trinta não pôde, de qua-
renta não sabe, e de cincoenta não tem,
não pôde, não sabe, nem tem.
— Muito fallar, pouco saber.
— Quem sabe da luta, luta, e quem
não sabe da luta, labuta.
— Quem me quer bem, diz-me o que
sabe, dá-me o que tem.
• — Quem mais vive, mais sabe.
— Grande saber é, não fallar o co-
mer.
— Mais se sabe por experiência, que
por aprender.
— Mais sabe o tolo no seu, que o si-
sudo no alheio.
— Onde ha bom saber, poucas vezes
ha reprehender.
— Até ns crianças sabem isto.
— Onde entra beber, sáe o saber.
— Se queres saber quanto vale um
cruzado, busca-o emprestado.
— Ventura te dê Deus, que saber
pouco te basta.
— Perdo-se o velho por não poder, e
o moço por nào saber.
— Quem sabe dar, sabe tomar,
— Bem sabe o gato, cajás barbas
lambe.
— Bem sabe o demo, cujo' fragalho
rompe.
— O sisudo não ata o saber á estaca.
— Não sabe o que tem.
■ — Não sabe como governar, quem a
todos quer contentar.
— Não sabe dizer palavra.
— Não sabe da missa metade.
— O que não sabe o que ha-de saber,
é bruto entre os homens; o que sabe mais
do que ha mister, é homem entre os bru-
tos; o que sabe tudo o que pôde saber, é
Deus entre os homens.
2.) SABER, s. m. Sciencia, doutrina, o
ter as partes do sablo. — t Nisto passou o
dia; porque cada uma havia mister pêra
si outro dia. E tornando a despender na-
quellas cousas, o mais que delle ficava,
se fez noite, a maior parte da qual gas-
taram em louvar o saber e descripção de
Urganda; impedindo com esta pratica
tanto o somno, que já quasi manhã en-
traram nelle.» Francisco de Moraes, Pal-
meirim d'Inglaterra, cap. 120.
Arriaga que tanger !
ho cego que gram saber
no3 órgãos ! e o Vaena !
Badajoz ! outros que a penna
deixa agora dcscreucr.
o. DE REZENDE, MISCELLANEA.
Vemos-lhc altos desejos,
e propósitos fundados,
03 espiritus apurados,
grã saber, graça, despejos
nos lugares despejados.
IBIDEM.
— «Foy el Rey daquy das Alcaçouas
a Viana: vindo de la o mandou Ruy de
Sousa anisar ao caminho como hya a elle
hum Embaixador de Castella, que se cha-
raaua dom Alonso da Sylua, pessoa prin-
cipal, e de muyto bom saber, irmão do
Conde de Cifontes, e vinha bem acompa-
nhado.» Garcia de Rezende, Chronica de
D. João II, cap. 205.
— Homem de muito saber ; homem bas-
tante erudito.
— A paixão do saber ; a paixão do
estudo, a paixão pelas letras.
Abre, piza, franquêa ignota estrada
Co'a paixão do Saber, e os homens leva
Da A'crdade iramortal ao Templo augusto.
Que escondido não hc, qual foi primeiro.
J. A. DE MACEDO, VIAOEM EXTÁTICA, Caut. 1.
— O moderno saber.
Abre a Pliuio seu seio a Natureza,
E seus thesouros llie descobre todos ;
Do moderno Saber he este a fonte ;
E o gérmen nos deixou no aurco volume,
De quanto soube nas idades todas
A humana experiência, humano estudo.
Da Natureza o Quadro contemplando.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 2.
• — Abrir uma nova estrada ao saber.
Deste globo da Terra, c quasi ignoto
Nos espaços sem fim, e onde espalhados
Por mão d'Omnipotente os Mundo girão;
E se o Toscano Ceo d'Astro3 he cheio,
Que ao throno Medícêo dócil formarão,
O teu engenho inaccessivel abre
Nova estrada ao Saber.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 3.
— Figuradamente : Andar cego no sa-
ber.
Olhae aquelle argumento :
Além de bella, avisada!
Oh nem tanto, nem tão pouco !
Vedo vós o que fallais.
Cego no saber andais.
CAM., SELEnCO.
— SvN. : Saber, génio. Vid. este ulti-
mo vocábulo.
SABERETES, s. m. plur. Termo popu-
lar. Erudições, noticias, fallando-se á má
parte.
— Astúcia.
SABEZA, s. /. Termo antiquado. Sa-
bedoria, saber.
SABIÁ, s. /. Termo de zoologia. Pás-
saro canoro do Brazil, que arremeda o
rouxinol.
SABIAMENTE, adv. (De sábio, com o
suíSxo «mente»). De um modo sábio.
— Com sabedoria.
— Com prudência.
SABICHÃO, ONA, adj. Termo popular.
Muito sábio, tomado por zombaria.
De návas Philamintas sabichònas ?
De Bonzos? de Rançosos, que hoje arrotào
Pôr banca de pui-istas e censores V
F. M. DO NASCIMENTO, OBRAS, tOm. 1, pag. 96.
— Substantivamente :
Uma sabichona.
Um sabichão. —
A minha Ama... e mais é uma Zompeira,
N 'outro tanto nào gasta nove mezes :
E com tudo, naõ passa, entre as peritas,
Por grande sabichona neste officio.
DINIZ DA CKUZ, HYSSOPE, Caut. 5.
SABICHOSO, A, adj. Sábio de mau sa-
ber, para censurar mal.
SABIDAMENTE, adv. (De sabido, com
o suffixo «mente»). Conhecidamente, sa-
biamente.
SABIDO, paii. pass. de Saber. Que se
sabe. — «Armisia, que também era de
condição piedosa nas cousas onde não ha-
via ódio, mandou uma sua donzella, que
fosse a dizer ao do Touro, que sabido o
nome do outro o deixasse. A donzella
chegando a elles, pondo os olhos no ven-
cido, conheceu que era Adraspe filho do
duque de Sisania, que matara o príncipe
Doriel irmão de Armisia.» Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 132.
— «Então mandando Pompides e Platir,
que fossem saber a causa, e sabido por
elles o desapparecimento de Daliarte e
morte de Tarnaes; aqui acabaram d'as-
sentar que a fortuna de cada um tinha
já dado fim a suas obras, e o limite de
seus dias estava no derradeiro termo,
que bem viam que tamanha mudança,
feita por Daliarte, nascia de ter a espe-
rança perdida, e já desconfiado da victo-
ria, queria pôr em salvo aquellas cousas,
que, entregues aos imigos, lhe dariam
maior contentamento e aos senhores del-
ias maior pena.» Ibidem, cap. 169. —
«Porque como da índia não tinhão mães
noua que a que trouxera dom Vasco da
Gamma e a nauegação daquellas partes
não era sabida: ante de toparem esta
carta hião ás escuras e mui confusos em
sua viagem.» Barros, Década 1, liv. 5,
cap. 10. — «Porque ainda que tinham
364
8AB1
SABI
.SABI
• sabido lia vitoria quo d'anto houveram,
com .sua morte tudo es(|uocoo; e mais
vendo quo o (jciitio da terra atassalhado
grande número dello entrava elamando
quo a Ilha era entrada de muito.s Mou-
ros.» Ibidem, liv. (J, cap. 8. — «O pri-
•meiro danno que Affoiwo d'Albo(jucrquo
miUdou fazer, foi enuiar AíTon.so Lopcz
■tl'Acosla, António do (^ainpo c lolo ihi
Noua quo eõ sua fçento fossem cm os ba-
téis a hum arrabalde da cidade, o que
trabalhassem por auer alpuns ilouros à
mão, e isto atim de atormentar os da ci-
dade : por a este tempo U-r jà sabido por
lium Mouro.» Idem, Década 2, liv. 2,
.cap. 5. — «i'õro da Nhaya acabando de
assentar as cousas da fortaleza som ter
sabido esta perdigão de seu tilho, come-
çou de entender em as do resgato do ou-
ro: o qual corria inui pouco com as mer-
cadorias ([ue se Icuaraò deste Ueyuo. »
Idem, Década 1, liv. 10, cap. ;>. — «Lo-
go ao outro dia foy ei Key avisado por
xartas do Broquem, aasi da nossa prisaõ,
como do que pelas presuntas tinha sabi-
do de nós, e lhe apontou algumas cousas
em nosso favor, as quais o moverão a
não mãdar logo fazer justiça de nós,
como dezião que tinha determinado por
alguns mexericos que os Chins de nós
lhe tinhão feito.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 140. — «O que sabi-
do pelo Ohaubainhaa Rey de Martavão,
03 mandou logo buscar com promessas de
grandes partidos para o ajudarem couti-a
O Key do Bramaa que naquello tempo se
fazia prestes na cidade de Pegú para o
vir cerciír com setecentos mil homens.»
Ibidem, cap. 14(3.
Ja tinha bem tahido qufi a profana
Gente, quo tem na armada seu assento,
Vira a pequena frota Lusitana,
E tem do ser Christàa conhecimento,
Porque a luz da nocturna alma Diana,
Que untão ja iiia cm grande crescimento.
Não somente os cátures lhe mostrara.
Mas serem Portuguczea lhe declara.
FBANCISCO d'andrADE, PBIMBIBO CEBCO DE DIU,
cant. 18, est. 5.
— «Demos ordem pêra a nossa parti-
da; o quo sabido do pouo com huma li-
beral vontade, c animo charidoso, se of-
foreceo porá quanto nos fosse necessário.
Em especial o Capitão Dom Pedro Couti-
nho, que entam era, nos deu huma es-
mola tão grande na contia, como pe-
quena na võtade, e desejo.» Fr. (!as-
par do S. Bernardino, Itinerário da ín-
dia, cap. 11. — fQuem é a pessoa que
esse bilhete vos escreveo? (perguntei cu
a Suzanna). Nunca em tal me haveis
fallado. — Senhora, receiava que entrás-
seis no meu dcsasocògo. Por quanto ti-
nha sabido que já não estava vosso tilho
em Philadolphia; o concordara comigo
M. Chcuu cm tomar informações, que
como nSo surtirão a, nosso desejo, vo-las
oncobrimog. » Francisco Manoel do Nag-
ciraonto, Successos de madame de Sene-
terre.
— Conhecido. ■ — ■ aK (juo sabida a car-
ga que podia auer cm (Jochiin pcra a»
naos, 80 passasse logo a Coulam com as
outras naoH, pcra as lã fazer carregar, c
a» cartas que leuaua ])cra o Hei da terra
Iha.s desse, estando clie ahi, c quo sobre
tudo trabalhasse por auer licença dei liei
pcra alii fazer huma furtah-za.» Damião
do (!ocs, Chronica de D. Manoel, part.
2, cap. 1, — «O que sabido pelos de Xia-
tima se ajuntarão oitocentos de cauallo,
e estando Iheabentafuf no castello de
Mirauel, com conto, e sescnta de caual-
lo, que era a três legoas do lugar donde
estaua a cabilda de Abida lhe dixeram
que vinham os de Xiatima sobrelle.»
Ibidem, part. il, cap. 32. — «Todas es-
tas j)rayas sam hoje muy sabidas dos
Portuguezcs, e inda de muytas molheres
Chi'istaãs peregrinadas, e triliiadas, que
perdendose por seus peceados, na via-
gem, vam aqui ter em vida o Purgató-
rio, que muytas almas dos Predestinados
tem na outra.» Frei Gaspar de S. Ber-
nardino, Itinerário da índia, cap. 7. —
«No mais que toca ao Parayso Terreal,
no segundo Liuro como lugar mais pró-
prio o tratarey : lembrando aqui que es-
tiue na Mesopotâmia, onde muytos cuy-
dão que elle foy, a qual he toda terra
sabida, c trilhada, sem nella auer rastro,
vestígio, ou nouas de tal Parayso.» Ibi-
dem, cap. 22.
Sc toda a rcziio galante
d;l srt por partecipante
ante a muDier, seu marido
que se vio tào mal sabido
que lhe ponha outro diante !
ANTÓNIO rEESTES, AUTOS, pag. 325.
Sou contente,
antes cu fique sem elle
que vossas {a.\tí\s sabidas ;
polo monos copia d'ollo,
faço bom mil vidas nello
SC em mim pôde haver mil vidas.
IBIDEM, pag. 441.
— Novas formosuras não sabidas por
antigos cantores ; não conhecidas por el-
les.
Ávido o livro abriu, leu. Admirado
De ver trajar alfaias lu3itnna.s
As homoroas belle/.as, aos appuros
Das virgilianas graças, — mas ainda
Do originaes, de novas formoííuras
Por antigos cantores nào sabidas.
OARRUTT, CAMÕES, cant. 6, Cap. 6.
— Arcanos- não sabidos; segredos in-
cógnitos, inexcrutiiveis.
Mais larga, e mais segura a rstrada bate ;
Nova luz dOo á Fvsica, c sobindo
De (^"oo» cm Cco«, fxjioz d'A»troiiuioia
Nilo luijitU» iucogiiituí arc:inoj.
J. A. I>K MACEDO, VUUKH EXTAT|r;A, Ont. 2.
— Mundo nào sabido ; mundo deuco-
nhecido.
Por buftcar novo Mundo, e n&o lalnilo,
Da nativa montanha «ntào ne virão
(Jortadoj abut<:r-«<! o CUujio, a Faia;
Lá v&u iiutf ondas c<>ntra.'itar co'oit vcntoa.
J. A. DE MACEDO, VIAOEM EXTÁTICA, CAnt. 1.
— Nova» sabidas pur ahjuein ; novas
que chegaram ao coníiccimento d'elle. —
< Sabidas pelo Çabaim daicào as novas da
tomada do (ioa, fez loguo tregoaa com
esses scnhorcã a que andaua fazendo
guerra, c com todo o exercito que tinha,
o mais gente que ajuntou se vco a cidade
de Bilgam que esta situada junta da ser-
ra do Gato contra Goa, donde mandou
hum seu capitão Turco, per nome Pula-
tecaõ com gente de pè e de cauallo p;ira
lhe poer cerco.» Damião do Góes, Chro-
nica de D. Manoel, part. 3, cap. .'>. —
< A qual noua sabida também per Nano
fornandez, mandou Nuno da cunha com
duzentas laiiça.> a Aguz onde entam es-
taua por capitam hum Francisco men-
doz com cincoenta besteiros de pe Por-
tugueses.» Ibidem, cap. 35.
— Homeiíi sabido ; homem astuto, des-
tro, cxperimentad'j, prudenti-, sabedor.
SABIDORIA, s. /. Vid. Sabedoria, or-
thograpliia preferível, c a mais usada.
SABIDOS, *. Hl. plur. Dizera-se os or-
denados que o apresentante da igreja ou
parochia paga aos parochos, vigários ou
priores.
— C*s lucros, emolumentos legitimes,
e não fraudados, e levados occultamente,
como a fraude costuma fazer das suas oc-
cultamente, e nào pela porta dianteira,
como se diz.
SABINA, «. /. (Do latim sabina). Ter-
mo de botânica. Arbusto sempre verde,
resinoso, do cheiro forte, de sabor pi-
cante e adurente.
f SABINIANO, A, aJj. Dizia-se do« ju-
risconsultos romanos, partidários das dou-
trinas de Capitou.
SABINITA, s. f. Termo do mineralo-
gia. Pedra que offerece o desenho d'uma
folha de sabina.
1.) SABINO, A, aJj. (Do latim saòi-
nus' . Que diz re.'ipcito aos sabinos, anti-
gos povos da Itália.
— Substantivamente: Um sabino. —
Uma sabina.
2.1 SABINO, A, a<lj. Cavallo ruço,
abastardado, que tem três pêllos, bran-
co, vermelho e preto.
SÁBIO, A, aJJ. Que tem sabedoria,
doutrina.
Que dlâoreto, que pstjís, r qn* eloquente
No concurso da fáifia Natorexa !
SABI
De teus versos a arraoniea bcUcza
Me quer fazer a idade florecente.
ABBADE DE JAZESTE, POESIAS, tOm. 1, pag. 59
(ediç. 1787).
Agora sim, agora, á sábio amigo,
He tempo do abraijar os desouganos,
Que o Tempo a todos dd: mas naõ comigo.
— «E O que mais he para admirar,
muitas vezes, os que se prezaõ de mais
sábios, e discretos, esses saõ, os que mais
crassamente erraõ o ponto da salvação.»
Padi-e Mauoel Bernardes, Exercidos es-
pirituaes, pag. 176. — «Observou muito
bem hum Escritor moderno, e disse que
os homens sábios fasem todas as diligen-
cias por diminuirem os dissabores da vi-
da, ao mesmo tempo que os loucos se
empregào somente em augmenta-los.i» Ca-
valleiro de Oliveira, Cartas, liv. 3, n.°
11. — «Xaõ te desvaneças porem, Ho-
mem Medico, com a dignidade, se a ca-
zo naõ enches a meditla do nome com a
excellencla : Para hum Homem ser ver-
dadeiro Medico, lia de ser completamen-
te sábio. Para registar o volume do sol,
ha de ser Águia, s Braz Luiz d'Abreu,
Portugal medico, pag. 45, § 162.
Ditas estas palavras, se assentarão,
E o farfante Deaõ assim começa :
«Por certo, que naõ pôde duvidar-se
Do augmento, Senhor, que em nossos dias
Tem tido Portugal, por alto influxo
Do Grande, Forte, e nunea assaz Louvado
Rei, primeiro no nomo, e nas virtudes,
E do sábio Ministro, que lhe assiste.
A. D. DA CKCZ, HTSSOPE, Caut. 5.
Eu, sendo mo^a, instituída
Fui nas artes de Madre Celestina,
Pela velha Cauidia : muito trato
Tive entaõ com o sahio Abracadabro,
Famoso Encantador, que ainda vive,
Naõ louge deste sitio, n'uma gruta.
IBIDEM, cant. 8.
Beija apenas com lagrimas Delille,
Envoltas dhera, e pó, lascadas pedras.
Do Templo de Jlinerva inúteis restos.
Mas vives, vivirás, Meónio Vate;
Sabia Athenas he pó, Corintho ho nada,
Eterno vai teu Canto, e nos teus versos
Vais disputando a duração coo Mundo.
J. A. DE MACEDO, MEDIT.AçIo, Cant. 1.
Tanto nos Animaos o instincto pôde !
S'cntr'elle3 dura guerra o facho accende,
Da Natureza mestra he sábio impulso,
Este apparentc mal mil bens occuita.
IDEM, A NATUREZA, Caut. 3.
Do mar os tira a sabia Natureza,
Ella 03 conduz ás húmidas áreas :
Formou seu corpo de diversos órgãos
Qu'em dous diversos fluidos existáo.
— Estylo sábio ; estylo usado por mão
sabia e destra.
SABI
De Millâo, e Arinino alli se viào
Os Sinodos auidos por não sanctos
Onde muy justamente os estatutos
E os seus decretos foráo aprouados.
Vio, o que em Nicomedia leo a sacra
Eseriptura, e despois se oppos contra ella,
Aquelie ao qual com docto, sábio estillo :
Cirillo coufundio todos seus erros.
COBIE BKAL, NAUrEAGIO DE SEPÚLVEDA, Cant. 11.
— Que conhece perfeitamente o bom,
e o mau, e quer o bem, e o segue, e evi-
ta o mal.
— Que conhece o caminho da verda-
de, e o segue.
— Que segue o caminho da virtude ;
homem sabedor, prudente. — «E alem
de ser razào seguir o mandamento de
um prini-ipe tào sábio e prudente em to-
das as suas cousas e tào pouco costuma-
do a errar em nenhuma, a nós todos jun-
tamente nos parecia grào sem rezào que,
o que vós com gran trabalho ganhastes,
possuísse outro com vida descansada, lem-
brando-nos também que nisto cobramos
rei e senhor digno de outros maiores es-
tados.» Francisco de Moraes, Palmeirim
d'Inglaterra, cap. 101, — «Deyxay aos
Babylouios os cálculos em que se lison-
geyào de o conhecer. íSede mais sábio,
diverti-vos, a vida he curta, nào leveis
muito longe as vossas esperanças.» Ca-
valleiro d'01iveira, Cartas, liv. 1, nu-
mero 44.
— Utihas sabias. — «Outras unhas an-
daõ entre nós taõ sabias, que despontaõ
de agudas : e podemos dizer delias, o
que disse Festo a S. Paulo : Multai te lit-
terrce ad insaniam convertunt. Actor. 26.
Que os fazem doudos as muitas letras
que alrotaõ.í Arte de furtar, cap. 31,
— Substantivamente : Um sábio. —
«E se isto nào basta, logo achaò hum
sábio da sua sciencia, que se examina
por elles, mudando nome por menor pre-
ço, 6 lhes alcança carta de examinação,
com que fica graduada a ignorância do
candidato, e ello dado por mestre peri-
tissimo.» Arte de furtar, cap. 32.
Aquelles tabios naturaes nos davão.
Por hum sõ alvião, quantos esconde
Metaes o Potosi. Mas destes males
Maiores bens a Providencia tira ;
Hum só laço preadeo dois hemisférios,
Ficão communs as producções dos Mundos.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, caut. 1.
Fecha-se aos olhos seus da Natureza
Luminoso volume, onde se embebe.
Onde estuda, onde lè Habio profundo,
Onde encontra a verdade intacta, c pura
Que lhe antecipa a possessão de Elysio,
Onde descobre Artiíice Supremo,
E aprende a conhecêllo, aprende a amaUo.
IBIDEM, cant. 3.
Eis novos sábios, nova Academia ;
E magestoso Sócrates preside :
Ponde dos lábios seus Platão facundo,
E mudos Alcibiadas, Theofrasto,
SABO 365
Celeste voz da Sapiência escutào,
E que os Numes aos homens aproxima.
Tenta auoioso buscar do Todo a origem.
IBIDEM, cant. 4.
Nobre emprego este foi de antigos Sábios,
As fontes ir buscar das cousas todas.
Amor da Sapiência, amor d 'estudo
Entre os mortaes se diz Filosofia.
IDEM, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 1.
Quantos Sábios a penna empunhào, quantos
Escriptos contra ti tem visto o Mundo !
Quando attento medito as obras suas,
Nào vejo impugnações, só vejo insultos.
IBIDEM, cant. 2.
Tranquillo o Sábio, indifforcnte, e gi-ande,
Só lhe pede, que ao Sol nào vtde as luzes,
Nem lhe tolha o calor ; que ao frio, inerte
Corpo negado tem frugalidade.
Na cultura do Campo o Sábio he grande ;
Nem pôde o estudo ter mais digno objecto,
E nunca outro Mister, nunca outras Artes
Com mais affan buscasse engenho humano !
Celeste Agricultura, oh ! digno emprego
Té do mortal primeiro inda innoceute !
Sahio traçou Meridiaua Linha,
E por ella nos mostra o variante
Moto veloz da Terra ao Sol em torno.
Dos Ceos no immenso, e luminoso Livro,
Quasi de todo aberto, os homens lêrào.
IBIDEM, cant. 4.
— Syn. : Sábio, erudito. Vid. este ul-
timo termo.
SABIS, s. M. plur. Christãos da Baby-
lonia entregues ao sabeisnio.
SABISMO, s. m. Religião em que se
adoram como deuses os corpos celestes,
e particularmente o sol e a lua. Esta re-
ligião é muito antiga ; espalhou-se mui-
to tempo antes do chi-istianismo, não
só na Arábia e no Egypto, mas também
em toda a Ásia superior, e mormente
entre os chaldeus e os persas. Uma reli-
gião análoga reinara em toda a America
meridional antes da conquista dos hespa-
nhoes.
SABLE, í. wi. Termo de brazão. A cor
verde.
SABOARIA, s. f. Fabrica de fazer sa-
bão.
— A renda do sabão.
SABOEIRA, s. f. Termo de botânica.
Yid. Saponaria.
SABOEIRO, A, í. Pessoa que faz sa-
bão.
— Pessoa que vende sabão.
SABOGA, í. /. Termo de ichthyologia.
Peixe conhecido pelo nome de sável.
SABOIANO, A, adj. e s. Natural de Sa-
bóia, que pertence a este estado.
SABOLETA, s. f. Diminutivo de Cebo-
la. Vid. Ceboleta, orthographia preleri-
vel.
— Reprehensão, arguição, vaia.
366
SABO
SABO
SABU
SABONETE, s. «i. Rolo, pedaço do rni-
bilii) di.spo.sti) coiu luai.s artificio para di-
verHaa appllcaiifòcB. — Fazer a barba com
sabonete.
— Torino popular, lloprcliens.^o pn-
blica.
— Irrisílio acouipaiiliaJa de clamor ;
apupada.
SABOR, -1. «». (Do latim sapor). A sen-
saçilo produzida no orgào do gosto pelos
corpos sapidos.
A Natureza cm primitivo estado
De 9eu!4 fructos, sou» dons, c Sfus thesouros,
Pompa frupiil fazia, (Mitào «ingelo
Era o sahor, que a8 Igiiariaíi tiuhão.
]. A. D» MACIDO, MKDITAÇÃO, Cant. 1.
— O prazer quo produz a regularida-
de perfeita, boa symetria. — «Outro sy
nom devo seer muito cscas.so, porque ha-
jam sabor o.s homecns de ficarem coui
elle do melhor mente; ca assy seria mal
seer muito gastador das cousas, que fo,s-
sem mester pêra a guarda do Castello,
outro sy devo seer discreto pêra saber
partir o que tever com os homens, quan-
do lhe mester fosse,» Ord. Affons., liv.
1, tit. G2, § 2.
Com cUe farei,
qno depois quo o calcei
saiba quo lhe acho tabor,
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pHg. 341.
— Figuradamente: Qualidade do cor-
po, quo i)rovoca ou produz sensarão agra-
dável de qualquer órgão, ou mesmo do
quo só agrada ao entendimento.
— A seu sabor; a seu prazer, a seu
entender, a seu gosto.
Em ossudos Leões, manchados Tigres,
Em ardidos Gim'to3, negros Ursos,
Ou cm Toupoií-as vis, vis Musaranlios,
A sou sabor, os liomcus couvortiaõ.
A. miiiz i>A cBUz, iiYssoPE, cant. 6,
Ah I De Ariosto noa extasia divinos
Calculador povisado em viio se ajusta !
Avcsado a correr no immonso Império
Da Fantasia pri^diga de Mundos,
Que a seu sabor do Nada ou cria, ou chama.
t. A. DB UACEDO, VIAGKM EXTÁTICA, Cant. 4.
— Fatiar em sabor ; gracejando.
— Foliar com sabor ; fallar com dis-
crição.
— Correm as cousas a nosso sabor;
correm a nosso gosto, segundo os nossos
desejos.
— Fallar a sabor da vontade alheia;
como a ella apraz, conforme ao que de-
Beja.
— Graça, jocosidade, prazer.
— Conversa, jogo de sabor ; o que re-
creia e agrada.
— Viver a sabor ; seguir cm tudo os
seus appetitas.
— Adaoios e PKOVKRnios:
— l'anclla que muito ferve, o sabor
perde.
— O pDio pela cór, o o vinho polo sa-
bor.
— ■ Su o viUão soubesse o sabor da gal-
linha cm janeiro, nenhuma deixaria no
poleiro.
— Um sabor tem cada caça, mas o
porco cento alcança.
— Quem um sabor quer, outro ha de
perder.
— Anda a teu amo a sabor, 8C queres
ser bom servidor.
— Quão grande o peixe, tão grande o
sabor.
— Dos cheiros o pXo, do sabor o sal.
— Syn. : Sabor, gosto. Vid. este ulti-
mo termo.
SABOREADO, part. pass. de Saborear.
Que tomou o sabor do alguma cousa, e
gostou d'clla.
— Que vive a gosto, e a sabor, rega-
lado. Vid. Treinado.
SABOREAR, v. a. Dar sabor aos ali-
mentos.
— Figuradamente : Temperar o gosto
desabrido. — «Certo: cada soldado que
vês, te arranca um suspiro, e já saboreio
o gosto de que to ouvirei, quando volta- 1
res, que tem dias de vago o teu juizo, e
que toda a jornada te vagueou. Seguro
e.stou eu que ninguém te boquejou em
mim; em mim que não tenho esse defei-
to de soljeja razão; antes desarrazoo em
modo tal, quo se espantão quantos me
escutão. » Francisco Jlanoel do Nasci-
mento, Successos de madame de Sene-
terre.
— Figuradamente : Fazer boa bocca,
o produzir o prazer do paladar,
— Saborear-se, v. rejt. Gostar delei-
tando-se.
— Soborear-se d'alguma cousa; habi-
tuar-se ao uso d'ella com deleite e gosto,
de maneira quo a ])rivação depois venha
a ser grave e molesta, — «E a graça de
tantas desgraças he, que os authores des-
tas emprezas, depois de roubarem cora
ellas a ElRey, aos soldados, e a todo o
Reyno, porque a todo abrangem tantas
perdas, iieaõ-se saboreando da destreza,
com que fizeraij seu officio.» Arte de fur-
tar, cap. 12.
SABORIDO, A, adj. Que tem sabor, to-
mado do ordinário á má parte.
— Figuradamente : Agradável.
SABOROSAMENTE, adv. (De saboroso,
com o suffixo «mente»). De um modo sa-
boroso.
• — Com sabor, com gosto.
SABOROSÍSSIMO, A, adj. suj)erl. de
Saboroso. Mui saboroso.
SABOROSO, A, adj. Que provoca bom
sabor, — Fructos saborosos.
Se foge dos Jardins o esmalte, o brilho.
As abundautes, laborotas frutas,
Com suave fragancii, c cór mimoM,
Da fugitiva Flora os doas nos Mpprctn.
J. A. i>K HAcp.uo, A aATiiiczA, cant. 1.
— Pratica$ saborosas ; razões dcsabrí-
' Figuradamente : Discreto, agradA-
— Loc. : Ir-se, ou sair-se saboroso d«
algum atrevimento, perigo, commettimenío
de mal; illeso, pem outro tal retorno.
SABORRA, «. /. Talvez areia grosaa
misturada com pedras, Vid, Burgão.
SABRA, s. f. Casta de uva, conbecidA
pelo nome de liòua.
SABRE, ». m. (Do franccz sabre). Ter-
çado.
SABROSO, A, wlj. Vid. Saboroso, ter-
mo mais cm u.so.
SABUDO, j>art. pass. ant. de Saber.
Sabido. — «Mandamos, que da feitura
desta nossa Carta em diente todolos de-
vedores, que forem obrigados a pagar
ouro ou prata de foros, ou prazos, que
tenham feitos de herdades, casas, possis-
soões, assy em vida de pessoas, como per
annos sabudos, ou infatiota, ou sejam
obrigados per casamentos, ou per ven-
das, ou por contrautos, ou casi contrau-
t03 feitos ataa ora.» Ord. Affons., liv. 4,
tit. 2, § n.
— Pão sabudo, e malação; o mesmo;
isto c, um, dous ou mais moios, e nSo o
meio, o terço, o quarto dos fructos da
parceria, e do que a terra der ; é quantia
certa, dè a terra muito ou pouco, e ma-
ta o rendeiro nos maus annos; a ração é
a parte dos fructos que a terra der, e se
partem em raqào, ou á proporção dos
ajustes ontre os parceiros, o dono e o
rendeiro.
— Pão sabudo ; a medida de p.ío que
se paga de renda, por exemplo um ou
mais moios. Vid. Ração.
1.) SABUGAL, s. m. Sitio onde ha sa-
bugueiros em lameda, ou muitos.
2. 1 SABUGAL, adj. f. — Uva sabugal ;
outrora elianiada uva de cão.
l.) SABUGO, s. m. (Do latim sambu-
cus). (> sabugueiro. — Flores de sabugo.
2.1 SABUGO, s. m. A medulla do cor-
no cio boi.
— Sabugo do viilho; a parte onde o
grão está embebido nos alveoloe da es-
piga.
— Sabugo do cabo das bestas ; a parte
da cauda da qual procede a colia, e on-
de est.-io as sedas.
SABUGUEIRO, s. n. (De sabugo, com
o sutiixo « eiró »'i. Termo de botânica. Sa-
bugo, arvore. — Chá d£ sabugueiro.
SABUJO, s. ni. Cão de correr monte-
ria, c veação, como porcos, veados, cor-
ças, etc.
— Ad.^gio e provérbio:
— Ainda que teu sabujo é manso, nSo
o mordas nos beiços.
SABULOSO, A, adj. (Do latim sabulo-
SACA
SACA
SACA
367
sus). Que tem areia, ou está misturado
com ella. — Urina sabulosa.
SABURRA, s. /. (Uo latim saburra).
Termo de medicina. Sedimento, ou pé
que se depõe dos liumores, que se pega
á lingua suja, por vicio do estômago, etc.
SABURRÁR, V. a. (Do latim sabur-
ra). Termo de marinha. Lastrar o na-
vio, íazer-llie lastro para lhe fazer equi-
librio.
SABURRENTO, A, aJj. Termo de me-
dicina. Cheio de saburra. — Língua sa-
burrenta.
SABURROSO, A, adj. Vid. Saburrento,
termo mais em uso.
1.) SACA, s. /. Extracção, exportação.
— Levar uma saca de mercadorias para
outra parte.
— Dar saca; dar licença para tirar
alguma cousa para fora da terra, ou lu-
gar. — «Éramos requeridos dos nossos
naturaes, e d 'outros estrangeiros, que lhe
ouvessemos de dar saca de pào, o de
gados para fora do nosso Reino.» Eluc,
de Viterbo.
— Termo de marinha. A acção da on-
da, avançando sobre a praia ; também se
lhe dá o nome de resaca.
— Figuradamente : As mentiras tem
muita saca.
— Alcaides das sacas; espécie de dua-
neiros, que vigiam sobre a exportação
defeza nas províncias.
— Alvarás de saca ; licença para ex-
portar effeitos, dada a estrangeiros, e
proporcionados ao valor do que impor-
tassem, e dizimados nas alfandegas e ar-
mazéns.
— Vid. Sacco.
2.) SACA, s. /. Sacco grande. Vid.
Saco.
SACABALA, s. f. Instrumento para ti-
rar a bala da espingarda, Vid. Sacapel-
louro.
SACABOCADO, ou SACABOCCADO, s.
m. Vasador, instrumento de ferro arma-
do de aço e lavrado de maneira que, ap-
plicado ao couro, sola ou panno, faz bu-
racos de vários feitios e lavores.
— Adj. m. — Panno sacabocado; pan-
no picado ou golpeado, por adorno, com
vasadores e outros ferros de recortar.
SACABUCHA, s. f. Vid. Sacatrapo, e
Bucha, e Sacabuxa.
SACABUXA, s. /. Espécie de trombeta,
dividida pelo centro, quando a tangem;
ha uma peça que sobe e desce por ella
para se fazer a differença de vozes que
a musica pede.
Estando todos ja tempo esperando
Mostrando os corações viuo aluoroço
Supitameute 8oào mil diuersos
Instrumentos que o campo e mõtc atroâo.
Trombetas, sw:abit.x(ijí, atabales,
Bátegas sonorosas, c as siluestres
Rudas gaitas, tocadas jvntamente
Formão som, que os cabcllos arrepia.
COBIE BEAL, KAUF8AQI0 DE 8EPUI,VEDA, Cant. 6.
— «Ha outras casas onde se daõ mu-
sicas com todas as arpas e violas darco
descantadas com doçaynas, frautas, or-
les, sacabuxas, e outras muytas difleren-
ças de estromentos de musica que naõ
ha entre nós.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 106.
— Teimo de artilheria. Sacatrapo.
1.) SACADA, s. /. Acção de levar qual-
quer mercancia, ou género de uma para
outra parte.
— Imposto, tributo, talha.
— Certo direito, que pagavam os que
tiravam para fora do paiz quaesquer mer-
cadorias ou géneros. Em algumas partes
era a obrigação de metterem uma carga
para poder tirar outra.
— Districto, jurisdicção do alcaide das
sacas.
2.) SACADA, s. f. Termo de construc-
ção. A obra resaltada que o navio tem
nas suas obras mortas, tanto á ré como
avante, seguindo o sentido contrai-io ao
amassamento; a sacada é inteiramente
arbitraria, e tem por fim ampliar as ac-
commodações da popa, ou avante para au-
gmentar a largura do castello, e apoiar
os paus dos turcos.
— Metter garfos na sacada; na viuha-
teria, é cortar a vide, como quem dá o
primeiro talho á penna, que vai aparar;
e feito o mesmo ao garfo que se ha de
enxertar, unil-os, e atal-os.
— A sacada do telhado; a aba d'elle,
as telhas que correm fora da parede.
— Jaiiellas de sacada ; janellas que se
apoiam sobre pedra, ou madeira que nas-
ce da parede.
3.) SACADA, s. /. (Do francez sacade).
Termo de manejo. Movimento súbito com-
municado ás rédeas pelas mãos do caval-
leiro ou do conductor.
— Abalo violento que se dá a alguém.
— Movimento irregular e violento.
— Figuradamente : Reprehensào gros-
seira, correcção com grosseria.
SACADELLA, *. /. Acto que faz o pes-
cador, puxão que elle faz, quando sente
que o peixe mordeu a isca, para que elle
se ferre no anzol, ou a siga, e devore
quando cuida que lhe foge o engodo.
— Figuradamente : Dar uma sacadella
a alguém; dar-lh'a de sorte que cada
vez lhe suba mais o preço; fallando de
cousa que se ia tirando, fazendo-a a pri-
vação mais desejada, e d'ella torcedor
para algum fim.
SACADO, parf. pass. de Sacar. Tirado
para fira, extrahido.
— Exportado.
— S. m. Aquelle a quem o sacador ou
passador do uma letra de cambio man-
da que pague o seu valor ao portador ou
ajiresentador da letra.
1.) SACADOR, s. m. O que saca ou
passa ktnis de cambio sobre outro que
se diz sacado.
2.) SACADOR, s. m. O cobrador de
rendas, foros e quaesquer contribuições.
Vid. Sacada.
— Commummente os sacadores tiravam
as dividas do rei, os porteiros as do com-
mum, e geral.
— Sacador d' esmolas; o que as cobra,
ou pede.
— Cobrador com auctoridade coactiva
ou executiva.
— Adjectivamente: Cão sacador; cão
que toma caça aos outros para que não a
atassalhem, ou comam, e a guarda intei-
ra para o caçador.
SACADORIA, s. f. Recebedoria.
SACAFILAÇA, s. /. Termo de artilhe-
ria. Agulha de artilheiro, com duas ou
três fívrpas.
SACALADOR, s. m. Vid. Açacalador,
ou Acicaiador.
SACALÃO, s. m. Termo popular. Em-
puxão para sacar, para tirar.
SACALINHA, í. /. Vid. Sancadilha.
SACAMETAL, s. m. Termo de artilhe-
ria. Viil. Agulha de garavato.
SACAMOLAS, s. m. O tirador de den-
tes ; diz-so por abatimento do mau den-
tista, tirador de dentes.
SACANABO, s. m. Termo de marinha.
Hastea do ferro do feitio de uma cavi-
lha, com gancho no extremo, que serve
para tirar e metter o nabo da bomba.
SACÃO, s. 771. Salto dado pelo cavallo
para sacudir o cavalleiro ; corcovo.
SACAPELLOURO, s. m. Instrumento de
tirar o pellouro do arcabuz.
— Modernamente diz-se sacatrapo.
Vid. Sacabala.
SACAR, V. a. Tirar para fira, extra-
hir. — « Se o Padre, ou Madre, forom
presos per alguma di^íáda, e o filho ba-
rom os nom quisesse fiar por os sacar da
dita prisam, sendo abonado, e abastante
pêra os fiar, e livrar delia, o fosse pêra
ello requerido.» Ord. Affons., liv..4, tit»
99, § 13. :jTUHADA8
— Arrancar da espada.
— Sacar uma letra sobre alguém ; man-
dar ao sacado, e ordenar-lhe que pa-
gue o seu valor ao dono da letra, ou á
sua ordem, ou ao apresentador, e mos-
trador d 'ella no termo, e com as condi-
ções na letra, ou cédula declaradas.
— Exportar. — Sacar mercadorias. —
Sacar moeda.
— Termo de ourivesaria. Sacar de lus-
tre; correr o buril por cima das orilhas,
para que a obra fique mais lustrosa.
SACA-RABO, s. m. Animal que tem a
figura do furão, e pouco maior; tem ore-
lhas quasi análogas ás do homem, e rabo
longo.
1.) SACARIA, ou SACCARIA, s. /.
Quantidade de saccos, grande porção
d'elles.
— Officio de quem tem a seu cargo os
saccos empregados em algum armazém,
trezena, ou repartição em que são neces-
sários.
368
SACO
SACO
SACE
■ 2.) SACARIA, ». f. Termo «iUl(|n.ado.
EHtnitaKema do uin bom ^p.ncral, que
faz pòr cm armas, o B/ihir a campo a «ua
gento, finf^indo que o iniinipo os vem
atacar nos arraiaos: o do tirar o puxar
as tropas iiara fiini dos r|uarteifl «c disso
sacaria. <iI'o uma sacaria, «pio Nuno Al-
vares foz para provar os sous do quo rs-
for(,'o ni-am.» FornJto Lopos, Chronica de
D. João I, cap. 91.
3.) SACARIAS, s. f. j>lur. Imposições,
que do povo s(í arrocailavani para a co-
roa. El-roi I). .Io.mío I protiíHtou rpio o sou
desejo ora fazer a ciilado do Lisboa fran-
ca, o livro il(! sacarias. Vid. Sacada, o
Sacador.
SACARINO, A, aJj. (Do latim saccha-
runi). Que contém aasucar, que tom os
caracteres d'cllc. — A ritjuezu sacarina
das bnlerrabns.
— Quo iliz respeito a assucar. — In-
dustria sacarina. — Apparelho sacarino.
— Acido sacarino; nome antiquado do
acido saccli.arico.
SACAROIDEO, A, adj. Termo de pbar-
macia. C^ue contém assucar. — Extractos
sacaroideos.
— aS'. ih. Vid. Polydeoteos.
SACAROLEOS, s. vi. plur. Termo do
pharmacia. Moilicamentos ])ulverulentos
resultauto.i da mistura cx.acta do assucar
em pó com outras substancias iyuabuento
pulvoris;v<bis.
SACAROLHAS, s. m. Instrumento que
serve para sacar as rolhas da garrafa; é
uma haste de ferro, ou de aço, cravada
em um cabo atravessado, o terminando
em rosca.
SACAROLICOS, s. m. plur. Termo de
pharmacia. Freparações que tem por cx-
cipiente o assucar, mel, ou outra subs-
tancia saceharina : esto é o penero de que
são espécies os sacaroleos, ou xaropes, as
geleias, etc.
SACARUTO, í. 7J», Termo de pharma-
cia. MeJicameuto que se obtém deitando
uma tintura alcoólica ou ethereíi em as-
sucar branco quebrado era pedaços, des-
pindo d'alcool ou d'ether a mistura, e rc-
duzindo-o a pó grosseiro.
- SACATRAPO, í. 7)1. Termo do artilhe-
ria. lustrumento férreo, que servo para
tirar a buxa da espingarda; e outro
maior, o taco da peça, tem o extremo
cm fiirma de espiral.
SACCA, .•!. /. Vid. Saca, o Sacco.
SACCELAÇÃO, s. /. Termo do medici-
na. Acto de applicar sobre um membro
doente, saquinhos cheios do matérias
quentes.
f SACCHARATO, s. m. Termo de chimi-
ca. Nomo dado a certas combinaçSes que
o assucar faz com os oxydos nietallicos.
— Saccharato dí cu/.
f SACCHARIDES, s. vt. plur. Familia
de corpos que abrange diversas espécies
de assucar.
f SACCHARIFERO, A, aJj. Quo pro-
duz ou d.-i assucar. — I.iijuido sacchari-
fero.
f SACCHARIFICAÇAO, ». f. Conversilo
do uiria sul).--tiinciii c-m assucíir.
f SACCHARIFICAR, v. a. Converter
cm assucar.
f SACCHARIFICAVEL, adj. Que se podo
Haccliarilicar.
f SACCHARIGENO, A, adj. Díz-bc do»
corpos t.ai;s, como a cellulosa, a fécula,
as gomnias, que d.lo assucar livdrataii-
do-sc.
f SACCHARIMETRO, ». m. Instrumen-
to jiara .-iprociar a ipiantidade de assucar
contiila n um liquido.
SACCHARINO, A, ndj. Vid. Sacari-
no.
f SACCHARICO, A, adj. Termo do chi-
mica. Ariíln saccharico ; acido incrystal-
lisavel produzido pela reacção do acido
azotico sobre o a-*sucar, detida antes da
trausforniaçào d'estc ultimo cm acido
oxalico. l)iz-se também oxalhydrico, e
oxi/sacch(irico.
'f SACCHARITO, «. m. Mineral granu-
loso da .Sibéria, silicato triplo d'alumina,
do soda o do cal, assim chamado por cau-
sa da sua apparencia granulosa.
f SACCHARO-GLYCOSE, s. /. Producto
da acção do-i aci<los enérgicos sobre o as-
sucar de calina.
SACCHAROIDEO, A, adj. Vid. Sacaroi-
deo.
f SACCIFERO, A, adj. (Do latim sac-
cu.t, o ferre). Termo de historia natural.
Que tem um sacco, ou algum órgão era
fi)rma de sacco.
t SACCIFORME, adj. 2 gen. Termo di-
dáctico. Que tem a firma de um sacco.
SACCO, s. m. Vid. Saco.
SACCOLA, *. /. iSaceo de dous alforges,
ou fundos, que trazem os frades mendi-
cantes pedindo.
SACCOMANO, í. m. Termo antiquado.
A acvão do saquciír.
SACCOMÃO, s. 7/!. Termo antiquado.
Saitcailor, saqueador. Vid. Saccomardo.
SACCOMARDO, s. m. Termo auti(iuado.
Saqueador, ladrão.
— Soldado a quem se offerecia o sacco
ou roubo dos vencidos cm paga do soldo.
f SACCOMYS, s. m. Oeucro de roedo-
res da America.
f SACCOPHORO, A, adj. Que tem um
sacco.
— Substantivamente: Nome de certos
sectários que se cobriam do ura sacco
em signal de penitencia.
■}• SACCULAR, adj. 2 (jeu. Termo de
anatinnia. Que diz respeito ao sacculo.
— Nervo saccular.
f SACCULINA, s. f. Nome de um pa-
rasita adheronte il cauda de certos crus-
táceos.
f SACCULO, s. m. Termo de anatomia.
Uma das duas vesículas do vestíbulo mem-
branoso do ouvido niedio, coUoCAdo na
fosseta redonda vestibular. — O sacculo
rjmimunica com outro sacculo, e é alcati-
fado de otoronia.
SACELLO, «. 7(1. iI)o latim lactllut).
i'equ<íiiii templo, ermida, cafxlia.
SACERDÓCIO, ». t;i. (Do latim êacerda-
tium,. Miiii.-tteriu d'aquelles que tinham
o poder de oíFerectr yictiiiiaa a Deoa en-
tre 08 judeus, etc.
— Diz-se também d'aqaoncs que, no
polvtheismo, tiidiam a seu cargo offerecer
sacrifícios aos deuses.
— O corpo ccclesiastico. — tV, & fira
estes aposentos ha outro niuvto mayor e
mais nobre, reparado por sy, que terá
quasi huma b-goa em roda, em que so
vem habilitar todos o» que se h]lo de agra-
duar, assi no sacerdócio, como nas Icys
do governo do rcyiio, no qual aasiste hum
Chacra da justiça, a quem os mayoraia
dos outros estudos obedecem, que ee cha-
ma por dignidade suprema o Xileyxita-
pou, que (|uer dizer, senhor de todos os
nobres.» Fernão Mendes Pinto, Peregri-
nações, cap. lOt). — € Depois de {«as-sar
pelos differentes graus do sacerdócio, Y.ti-
rico recebera ainda de Siseberto, o pre-
decessor de Oppas na sé de Ilispalis, o
encargo de pastoreiar esse diminuto reba-
nho da povoação phenicia.» Alexandre
Herculano, Eurico, cap. 2.
— Figuradamente: O poder espiritual,
e as pessoas que o tem.
SACERDOCRACIA, s. f. (Do latim «o-
cerdos, e do grego kratos). Poder sacer-
dotal, croverno dos padres.
SACERDOTA, s. f. Vid. Sacerdotiza.
SACERDOTAL, adj. 2 gen. (Do latira
sacerdotal is, de sacerdos). Pertencente ao
sacerdócio. — Os sacerdotes prostravam-se
aos pés do altar com suas togas sacerdo-
taes. — i Nestes mesmos liuros dos Con-
cílios mandara os Apóstolos, que qualquer
sacerdote que for toraado em adultério,
homicídio, furto, ou em dizer falso testi-
inunho, que lhe tirem as ordens, o digni-
ilade sacerdotal, e o castiguem corao aos
outros malfeitores leigos.» Damiilo de
Ooes, Chronica de D. Manoel, part. 3,
cap. 61.
Estranh.íra-rac cm Virccra qnasi bronca,
\ profundrz, na Orepa, c Galla Histori».
A r.ão saber, que olla era do .Vrchi-Druida
Prole, e qup um Sciiani, a fim que olla entre
Na Ordem factrdotal IíçOps lhe dera.
r. U. DO JCASCIJIEMTO, OS MABTYHF^, 1ÍV. 10.
SACERDOTE, s. «». (Do latira saardos).
Sacritieador gontilico. — « Nem daqui em
diante concederemos perdão do delicto co-
metido, se desde agora algum dos sacer-
dotes Carthagine?es desprezar a Digni-
dade da sobredita Igreja, anteí passará
sem nenhuma falta o que for desobediente,
assi por sentença de excommunhão Eccle-
siastica, ou degradação d.is onlcns, como
por censura da no.ssa indignação.» Mo-
narchia Lusitana, liv. G, cap. 20. — « Em
SACE
SACO
SACO
369
cada huma destas ruas, até nas mais po-
bres, ha casas de oração, fabricadas sobre
çraiides barcaças, como galés, e mnyto
limpas e bem concertadas com toldos co-
zidos em ouro, que servem de capella
onde está o idolo, com os seus sacerdotes
que ministraõ os sacriâcios que a gente
do povo offerece, de que todos tem assaz
larga comedia das offortas e esmoUas que
lhes dão continuamente.» Fernão Meml es
Pinto, Peregrinações, cap. 98. — « Es-
pantados ni')s disto e perguntado o que
era, nos foy respondido por hum dos gre-
pos que aíy estavão que era sacerdote,
que o que tínhamos visto, e de que nos
espantávamos, ei"aõ os oitenta e três deo-
ses dos Timocouhós que el Rey, quando
os desbaratara no campo, lhes tomara em
hum grande templo onde estavão, porque
a mavor honra, e de que el Rei fazia
mavor caso, era triumphar dos deoses de
seus inimiííns, que a seu despeito trazia
cativos.» Ibidem, cap. 130. — « Em tanto
que quanto se jurão cousas increlveis en-
tre as nações que habitào a terra, para
se lhes dar credito a ellas, não se diz ou-
tra cousa senão pelo santo Quiay Nivã-
del deos das batalhas do capo vitau, e em
huma grande ci'iade que se chamava So-
rocataõ, em que foraõ mortas quinhentas
mil pessoas, se cativarão todos estes deo-
ses que aquy vedes presos em despeito
dos Revs que crião nelles, e dos sacerdo-
tes que lhe ministravam o chevro suave
de seus sacrifícios.» Ibidem, cap. 1G2. —
« Era o Grande Sacerdote o que fazia be-
ber ás molheres acusadas de impudicida-
de hum grande copo de agoa muy amar-
gosa a que se chamava agoa de Ciuroe.»
Cavalleiro d'01iveira, Cartas, liv. 1, nu-
mero 13.
— Homem que faz ou ministra os sa-
crifícios do verdadeiro Deus, e é de or-
dens menores, ou maiores, e presbytero,
etc, até o sacerdote su.mmo, ou papa. —
« Por isso o Sacerdote Ileli, quando vio a
Anna orar com gestos, julgou (ainda que
erradamente) estes eíFeitos por filhos da
ebriedade : Usquequò ébria eris ? digere
paulisper vinum quo mades: não o sendo
senão do animo attribulado, que desaba-
fava com Deos na Oração.» Padre Ma-
noel Bernardes, Floresta, part. 1, pag.
20. — « Que escândalo será vermos alli,
não a casulla, mas ao Sacerdote, que a
veste? Pois mais cazo fazemos do orna-
mento, que da pessoa? Por ventura he
menos saari^ada esta, do que aquelle? n
Idem, Exercícios espiríluaes, part. 1,
pag. 208. — s E hum sacerdote frade, ho-
mem velho, e de barlja de cabelo com-
prido com o rosto no altar em contravro
do nosso costume.» António Tenreiro,
Itinerário, cap. 22. — « E em aquelle
tempo que por aqui passey me disserão
que estava em esta terra hum Christão
Maronita sacerdote de trezentos annos, e
eramlhe ja caidos os dentes e barbas e
TOL. V. — 47.
tornadas a nacer outras e que adevinhava
muytas cousas e era delles tido em gran-
de veneraçam caminhando com o rosto ao
sudueste chegamos a outra cidade que se
chama: Aniaa.» Ibidem, cap. 33.
SACERDOTIZA, s. /. i^Do latim sacerdo-
tissa). Mulher que entre os pagãos e ido-
latras, faz nos templos os sacrifícios, etc.
SACHA, s. f. Yid. Sachadura.
SACHADOR, s. m. Homem que sacha.
SACHADURA, s. /. Acto de sachar.
— Monda feita com o sacho.
SACHÃO, s. m. Augmentaiivo de Sacho.
Sacho grande.
SACHAR, V. a. Lavrar na agricultura
com o sacho, cavando a terra para afo-
fal-a, e raondando-a das más hervas.
SACHINHO, s. m. Diminutivo de Sacho.
Pequeno sacho.
SACHO, s. m. Instrumento de ferro de
três dedos de largura, com cabo longo de
pau, corta por dentro, e mui rente as
hervas nocivas ao pão, e levanta a terra
para ficar fofa e solta.
SACHOLA, *. /. Espécie de enxada mais
pequena ; instrumento de agricultura.
f SACIADO, prtí-í. pass. de Saciar. Far-
to, cheio.
SACIAR, V. a. (Do latim mtiare). Far-
tar. — Saciar a síde, a fome.
- — Figuradamente : Saciar os olhos, os
ouvid'is, a ira, a paixão, etc.
— Saciar-se, i'. rejl. Fartar-se.
SACIAVEL, adj. 2 gen. (Do latim satia-
bilis). Que pôde fartar-se, que é possível
saciar-se.
SACIEDADE, s. f. (Do latim mtietas).
Fartura, o que é sufficíente para fartar e
saciar.
— O estado do que está farto.
— vSyx. : Saciedade, faHura. Yíd. este
ultimo termo.
SACO, ou SACCO, s. m. (Do latim sac-
cus). Vaso feito de panno ou de couro, de
duas peças rectangulares cosidas de três
lados ; fica um aberto que serve de bocca,
por onde se mettem as cousas, que se en-
saccam, ou guardam no saco.
Estea co'as mãos as abas levantavam
Das roupotas fazendo d'ella8 saceos.
MANOEL DE GALHEGOS, TEMPLO DA MEMORIA, 1ÍV.
4, oit. 26.
Que ficacs d 'ellas um saco;
SC o ouvireis n'e8se ensejo,
sobre cêa bem moscada,
não vos pozera o dom nada
tanto a bocca uo desojo
com a ár da vida casada.
AXTOXIO PRESTES, AUTOS, pag. 1"21.
— Rapina que faz o vencedor depois
da batalha, e a outorga aos soldados do
que poderam guardar, e couber no seu
saco ou mochila. Víd. Escala. — «Que
quanto ao que lhe era concedido do saco
na entrada das Cidades que tomassem,
isto se entendia em as dos Chrístãos, e
não dos Mouros.» João de Barros, Déca-
da 2, lív. 10, cap. 6.
— Metter a saco ; authorisar o com-
mandante do exercito vencedor os seus
soldados a saquear durante horas oii
dias determinados. — «E para isso esten-
de as unhas, que chamaõ Politicas, ar-
madas com guerra, hervadas com ira, o
peçonha de inveja, que lhe ministrou a
cobiça : e nada deixa em pè, que naõ
escale, e meta a saco. Este Reyno he
meu, e esta Província lie o menos, de
que se trata.» Arte de furtar, cap. 60.
— Dar a saco a cidade ; o mesmo que
metter a saco. — «Cessou a ira, começou
a cubica. Mandou D. Álvaro dar a Ci-
dade a saco ; onde o despojo igualou a
victoria; porque não tinhào os Mouro3
posto em salvo cousa alguma ; ou fosse
confiança, ou descuido, o até a gente
inútil para a defensa guard;irão na Ci-
dade, ou por desprezo de nossas armas,
ou por não mostrar sombra de temor os
defensores, forào em fim as fazendas tan-
tas, que senão puderão recolher aos na-
vios.» Jacintho Freire d'Andrade, Vida
de D. João de Castro, liv. 1.
— ■ Tomar o saco da cidade para si,
— «Por ser ja quasi noite quando se aca-
bou de fazer esta entrega, temendose el
Rey que a gente do campo entrasse na
cidade a tomar o saco delia para sy,
mandou pôr em todas as portas delia que
eraõ vinte e quatro, capitães Bramaas
que as guardassem, e cora pena grave
que não consentissem pessoa nenhuma
entrar delias para dentro, até elle não
prover nisso conforme á promessa que
tinha feito á gente estrangeyra, a quem
tinha promettido de dar campo franco.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações, ca-
pítulo lõl.
— Dar saco a suas fazendas; rou-
bal-as.
— Habito fúnebre ou penitente.
— Vestjr-se de saco e cilicio; vestir-
se de luto, de panno vil e áspero, mui
chegado e apertado ao corpo.
— A porção que leva um saco. — Um
saco de pão.
— - Figuradamente : Metter a saco a
caridade mal illudida.
— Saco de terra; terra que leva seis
alqueires de semeadura, que fazem na
Estremadura e Beira- Alta um saco de
pão. Para isto se deve notar qiie na Es-
tremadura, e mormente nas ribeiras do
Tejo, chamam moio de terra áquella por-
ção de campo ou lezíria, que leva moio
e meio de semeadura, que são noventa
alqueires, ou quinze sacos de seis al-
queires cada um. È pois moio de terra,
a que leva noventa alqueires, e saco de
terra, a decima parte d'esta terra, que
não leva mais que seis alqueires de se-
meadura.
— Saco de enseada; a parte mais fun-
da d'ella.
370
SACR
SACR
SACR
— Loc. rop. : Metter tudo a saco ;
(liz-so do quem om uma conversaçíío gri-
ta muito, poleja, o nilo deixa fallar uin-
giiem.
— Dar saco d inesa ; comer o que ha-
via n'olla.
— Adágios k puovKRnios :
— llom-a e proveito nHo cabem n'iim
saco.
— A cobiça rompe o saco.
— O saco do genro nunca é cheio.
— • Deitar om saco roto.
— E saco roto.
— N.ão o botaste om saco roto.
— Ellcí) mataram de nóá quatro, o nós
furtamoa-iho um saco.
— l)iga, minha visinha, e tenha meu
saco farinha.
— Por S. Marcos, bagos a sacos.
— Quem come emprestado, come do
seu saco.
— Um era pasto, outro em saco, e
chora pelo do prato.
— Calado como toucinho em saco.
— Bocca do saco, a regra, e o res-
guardo.
— Cada dia trea e quatro, chegarás
ao fundo do saco.
— Jletter tudo a saco.
SACOLA, .S-. /. Vid. Saccola.
SACOLEJAR, i'. a. Vid. Vascolejar, ter-
mo mais em uao.
SACOMÃO, .í. m. Vid. Saccomão.
SACOMARDO, s. ■»». Vid. Saccomar-
do.
SACONDRO, s. líi. Termo do zoologia.
Insecto volátil, da ilha de Madagáscar,
que faz favos de mel análogo ao assu-
car.
SACOTRIM, s. m. Vid. Socotorino.
SAÇOM, s. VI. Termo antiquado. Vid.
Sazão.
SACRA, s. /. Taboa ou quadrosinho,
que está no altar com as palavras da
consagração e do credo, etc., para auxi-
liar a memoria do sacerdote.
— Acto da sagração de uma igreja.
— A parte da missa era que se cele-
bram 03 mystcrios mais sagrados d'ella,
mormente a consagração do corpo e san-
gue de Christo.
SACRAMENTADO, part. pass. do Sa-
cramentar. A quem se administrou os
iiltimos sacramentos. — Pessoa sacra-
mentada.
— Deus sacramentado ; a hóstia con-
vertida n'elle. — «Para os lugares San-
tos de Jerusalém mandou huma Custo-
dia para nella so expor na gruta de Be-
lém Sacramentado aquclle Dcos, que na
mesma Lapinha se dignou de nascer fei-
to Homem, e para mostrar a sua grande
piedade por vários Decretos tem dado
tal providencia, que desde o anno de
1710 até o de 17-22 tem hido de Portu-
gal duzentos e vinte mil cruzados para
subsidio daquelles Santos lugares.» Frei
Bernardo do Brito, Elogios dos reis de
Portugal, continuados por D, José Bar-
bosa.
SACRAMENTAL, adj. 2 yen. (Do latim
sacrdiiicnhi/i.t). t^uo pertence a uui sa-
cramento. — O sacerilolfí pronuncia em
nirme de Jesus Cliristo, á missa, as pala-
vras sacraraentaes.
— Cuiijuradoras sacramentaes ; doze
hiinion.s ([ue no juizo dos feudacs antiga-
mento juravam com o litigante, que ti-
nliam j)ara si om vei-dadu, o que o liti-
gaiito affirmava cora juramento. Este
mesmo numoro de conjuradorcs se reque-
ria em muitos dos nossos foraes antigos,
para que o forçador da mulher que se
queixava, fosse livre da pena da lei, ju-
rando elles a favor e pela innocencia do
inclaniado rcu.
— Palavras sacramentaes ; palavras
ossenciacs á forma do sacramento. Vid.
Conjuradores.
— Mezinhas sacramentaes ; os sacra-
mentos que remedeiam peccados, o dão
graça. — «Ora irmãos, sede deuotos de
vos confessar nmytas vezes, e pois muy-
tas vezes adoecejs na alma, vinde muy-
tas vezes buscar a mezinha sacramental,
que vos Deus deyxou, vinde ao juizo
piadoso da confissam, porque escapeys
do juyzo temeroso do outro mundo. Se
estás cujo vente lauar ao banho do sangue
de lesu Christo, cuja virtude, e valor
está na absoluição sacerdotal, c assi liea-
rás lanado, limpo, resplandecente, e de-
saliuado.» Frei Bartholomeu dos Marty-
res. Catecismo da doutrina christã.
SACRAMENTALMENTE, adv. (De sa-
cramental, cora o suffixo «mente»). De
um modo sacramental.
— Em firma de sacramento.
SACRAMENTAR, v. a. Administrar os
sacramentos. — Sacramentar alguém.
— Figuradamente : Deixar exposto co-
mo cousa santa c digna de veneração pe-
lo que representa.
— Sacramentar o co7-po de CTiristo ; fa-
zer que a hóstia se converta nelle.
— Sacramentar-se, v. reji. Fazer de
si sacramento. — Christo sacramentou-se
na Eucharistia.
— Figuradamente : Não se deixar vêr,
nem conversar.
— Receber algum sacramento. — Este
homem sacraraentou-se.
1.) SACRAMENTARIO, s. m. Antigo li-
vro de cgreja, onde estavam escriptas as
ceremouias litúrgicas ou da missa, e da
administração dos sacramentos.
2.) SACRAMENTARIO, *. m. Nome da-
do algumas vezes aos reformados que pu-
blicaram opiniões contrarias ás dos catho-
lieos na Eucharistia.
SACRAMENTO, s. vi. (Do latim sacra-
mi't>tum\ Aeto religioso instituído por
Deus para a santificação das almas. —
Os sacramentos da antiga lei, da mn-a
lei. — ^l circumcisão era utn sacramento
da antiga lei.
— Entro 09 cbristãos, ceremonia des-
tinada á consagraç.lo religiosa das diver-
sas phases da vida privada dos tici» : os
sacramentos são eni numero dt sete. —
— «Com a sentença do «antcj officio, e
que Lconfir confessava não crer em sa-
cramentos da egreja, compoz o marido
uma alhgaçuo latina exccilentemente tra-
halliaila a primor de elegância.» liÍ!!|H>
rio ( irão Pará, Memorias, publicada» por
Camillo Ca.-ítello Branco, pag. 101. —
«Porque se lhe cntam escapar, sabe cer-
to que nurica mais a poderaa tentar e
combater. E por i-»o o Senhor ordenoa
este Sacramento pêra nesta hora esforçar
seus canalcyros contra os Ímpetos do de-
mónio : na qual as forças da alma e do
corpo estam muy quebradas.» Fr. Bar-
tholomeu dos Martyres, Catecismo da
doutrina christã.
Por acaso. Bem esse tcwramenlo,
Na") podiaõ salvar-»c, c 8crcm sabios?
Pois aqui cm scfrrcdo lho. descubro.
Que o Franccz, para mim, o mesmo monta,
Que a língua dos Salvagcna 13oticudo8.
DINIZ D.V CBCz, uv9sorE,cant. 5.
— O Sacramento do altar; a Eucha-
ristia, o Santíssimo Sacramento. — «Des-
tes dous niil miticaes douro mandou cl
Rei fazer huma custodia p.ara o Sacra-
mento do altar, guarnecida de jieJras
preciosas que manvlou ofFerecer no mos-
teiro de Bethelem : depois da vinda de
dom Vasquo da C!ama a seis dias che-
gou a Lisboa Esteuam da Oama.» Da-
mião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 1, cap. 60.
— Freqnentar os sacramentos ; confes-
sar-se e commungar muitas vezes.
— O tíanfissimo Sacramento ; por ex-
cellencia, é a Eucharistia, o do altar. —
«E mouendo quanto poderdes os ouuin-
tes a contriçani, dor, e lagrymas por
suas culpas, exortando-os a que se con-
fessem, e recebam o santíssimo Sacra-
mento, e particularmente vos anisai que
nunca rcprcndais do púlpito a pessoa,
ou pessoas, que teuerem mando na mes-
ma terra, parque os homens d'e8ta sorte
quando publicamente sara reprendidos
mais depressa se fazem peyores do que
se emendam.» Lucena, Vida de S. Fran-
cisco Xavier, liv. G, cap. 11.
— O sacramento do corpo e sangue de
Christo. — «Em a quinta feira seguinte
quando so celebra a festa do sanctissimo
Sacramento, so lea o sermão que na ma-
téria dos sacramentos acima liça oscripto
quando tratamos do mesmo sacramento
do corpo e sangue do Senhor.» Fr. l>ar-
tholomeu dos Martyres, Catecismo da
doutrina christã. — «De maneyra que a
remissam dos peccados que neste artigo
confessamos, he fundamento de todas as
nossas esperanças de s.<iluaçam, e bem-
auenturança, a qual nam se podo alcan-
SACR
SACR
SACR
371.
çar senam por virtude do sangue de
CHRISTO, e seus sacramentos, em os
quaes esta, e obra a virtude e efficacia
do mesmo sangue.» Ibidem.
— Privar dos sacramentos ; recusal-os,
pena espiritual que a (.-grtja intlige algu-
mas vezes.
— Approximar-se dos sacramentos ;
confessar-se e commungar.
— Os sacramentos da egreja; o ba-
ptismo, a contirmaçào, a communhão, a
penitencia, a extrema-uncçào, a ordem, e
o matrimonio. — «De maneira que esta
vnidade da Igreja consiste nisso, que he
todos 03 Christãos terem huma sò fee,
crerem e confessarem os mesmos artigos
e douctrina da Igreja, e concordarem em
os mesmos sacramentos, especialmente no
sacrifício da Missa.» Frei Bartholomeu
dos Martvres, Catecismo da doutrina
christã.
— Sacramento da chrisma ; o sacra-
mento da contirmaçào administrado pelo
bispo. — «Pêra a qual batalha entre muy-
t03 remédios e defensiuos de que nos pro-
ueo a diuina Misericórdia, hum muyto
principal foy o Sacramento da Cbrisma :
Pello qual a graça do íSpirito Sancto lie
em nossa alma acrecentada e roborada,
e nos he dada particular ajuda pêra po-
dermos resistir as tentações, e confessar
a fee ousadamente e alegremente diante
dos enimigos delia, quando o caso reque-
rer.» Fr. Bartholomeu dos Martyres, Ca-
tecismo da doutrina christã.
— Sacramento da conjirmação ; chris-
ma. Vid. Chrisma. — «E como Catholico
filho da Igreja dou dagora por diante a
obediência, ao Bispo meu Prelado que
está em lugar do Summo Pontífice, e co-
nheço a Igreja Romana por cabeça de
toda a Christandade. E assim lhe peço
como Prelado, e Cura de minha alma que
me dè o Sacramento da Confirmação,
porque me nào fique acto algum de Chris-
taõ por fazer.» Diogo de Couto, Década
6, liv. 4, cap. 7.
— Termo antiquado. Juramento.
SACRÁRIO, s. m. Logar onde se guar-
da cousa digna de veneração, cousa sa-
grada.
— Por antonomásia, as formulas ou
partículas consagradas para se darem na
communhào.
— Sacrário de relíquias.
— Figuradamente : O peito, o coração,
que retém e guarda em reserva, mórmen-
mente bons pensamentos, intenções e sen-
timentos justos, e pios.
Eichardson tambcm, que abre, e franquea
Do humano coração sacrário occulto,
No labrrintho das paixões deixando
Sempre hum seguro fio á Mente incerta
Entre profundas carregadas sombras.
J. X. DE MACEDO, ■VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 2.
Lhe quiz a porta abrir do seus sacrários.
Nào confundo com elle o Peripáto ;
Elle foi luz, o Peripáto sombra ;
A seu lado Alexandre a Terra espanta.
Muito, e muito a ciosa Natureza
Era seu sacrário esconde ! Os bens gozemos ;
Eu deixo as causas ao Motor Supremo.
Que bons trazeis á Terra, ignotos ventos!
Quanto vos deve humano domiciho !
IDEM, MEDITAÇÃO, Caut. 2.
Sigo as suspeitas de Epicuro, e Bruno,
Entro de Newton no Sacrário occuho
Longe do Mundo frivolo, mui longe
Do reboliço vão, dos vãos caprichos
Quora só dos mortacs a mente oecupão,
Que formão gloria de afundir Impérios.
IDEM, A SATCKEZA, Caut. 1.
SACRAS, adj. f.plur. — Ordens sacras ;
ordens couferidas pelo bispo áquelles que
querem exercer as funcções ecclesiasti-
cas. Vid. Sacra.
sacratíssimo, A, adj. superl. (Do
latim sacratusi. Muito sagrado. — «Xào
polia grandeza do milagre que em se
achar acõteceo, porque outros muitos e
muito maiores obrou nosso senhor por
este sinal sacratíssimo da Cruz, mas pa-
ra ter huma continua persuaçào que ren-
dêssemos os corações, entregássemos as
vontades a hum senhor, que podendo
tanto nos deixou tào certas mostras de
amor, e de misericórdia.» Paiva d'An-
drade. Sermões, pag. 232. — « Senhor,
que mandais que eu faça agora? quereis
que eu faça isto, ou aquillo? E esta re-
signação tereis, ainda em cousas muito
pequenas, e meudas. Xas conuersações
vos portareis moderadamente nos gestos,
e palauras, tendo a Deos diante dos olhos,
como quem sô a elle deseja de agradar,
e naõ aos homens, e sempre trazei dian-
te o exemplo de Christo lesu para imi-
tar sua Sacratíssima vida.» Fr. Bartho-
lomeu dos Martyres, Compendio de es-
piritual doutrina, cap. 10.
— Figuradamente : Verdade sacratís-
sima.
SACRE, s. m. Termo de zoologia. Gran-
de ave do género falcão; tem a pluma
ruiva, e talvez tirante a branca; tem o
bico, coxas, e dedos azues.
— Canhào, cu'o alcance era em tiros
de olivel 480 passos; é do calibre de 4
até 6. Vid. Sacro.
SACRIFICADO, parf. pass. de Sacrifi-
car. (Jfferecido em sacrifício. — Uma rez
sacrificada sobre o altar.
— Diz-se de um homem tornado victi-
ma de algum interesse, de alguma neces-
sidade.
— Estar sacrificado o tudo; estar ex-
posto, sujeito, e talvez resignado como
victima dos sacrifícios.
— I\Iorto, que sofíre algum mal.
SACRIFICADOR, A, s. (Do latim sacri-
ficator . Entre os hebreus, e os polvtheis-
tas, ministro destinado aos sacrifícios.
— Pessoa que sacrifica.
— ■ Adjectivamente : Sacrifico.
SACRIFICAL, adj. 2 gen. (Do latim sa-
crificalis). Que diz respeito a sacrificio.
— Ritos sacrificaes.
SACRIFICANTE, part. act. de Sacrifi-
car. Que sacrifica.
— Substantivamente: Um sacrificante.
SACRIFICAR, V. a. (Do latim sacrijica-
re). Oflerecer a Deus alguma cousa com
certas ceremonias. — Sacrificar as victi-
mas. — Âbrahão ia sacrificar seu Jilho.
— Entre os christàos : Sacrificar o cor-
po e o sangue de Christo; fazer o sacrifi-
cio da missa.
— Diz-se dos sacrifícios oflerecidos aos
deuses, no polytheismo.
— Renunciar, dar de mão a alguma
cousa para satisfazer suas paixões. — Sa-
crificar o gosto. — «Este gi-ande nome
que he vento, esta t^i-anna a quem sa-
crificamos o nosso gosto, e esta chimera
a que chamamos honra tem grandíssimo
poder, porem o seu domínio ncào se dilata
tanto como imaginào as pessoas do vosso
sexo, que nào só a respeitâo mas a idola-
trào.i) Cavalleiro d'01iveira, Cartas, liv.
1. n." 32.
— • Sacrificar alguém ; toi-nal-o victima
d'alguma paixão, de algum interesse. —
«Por certo pouco deves á fortuna, que a
tal estado te trouxe; e essa captiva don-
zella muito menos, a quem eu mandarei
sacrificar com muitos géneros de cruezas;
e assim farei a quantas achar, pois por
uma se perdeu Bracolào, o melhor caval-
leiro do mundo.» Francisco de Moraes,
Palmeirim d'Inglaterra, cap, 107.
Sangue correu então : mas qual ? seu próprio.
Seu próprio ás mãos do algoz jorrou na terra
Quando os fillios indignos sacrifica
A merecida pena, á morte justa.
GARRETT, CATÃO, SCt. 4, SC. 3.
— Sacrificar aos demónios animaes ; of-
ferecer-lh'os em holocausto. — « Com te-
rem toda esta condição, saõ com tudo,
grandíssimos feyticeiros, sacrificão ani-
maes aos Demónios; crem os agouros, e
ja mais se oecupão, em cousa alguma,
inda que seja comer, ou beber, sem que
primeiro se lauem, e a razam dizem ser,
porque a agoa laua os peccados, no que
tinham muvta se o entenderão pela do
sancto baptismo.» Fr. Gaspar de S. Ber-
nardino, Itinerário da índia, cap. 12.
— Sacrificar alguém; pOl-o a grande
risco.
— Perder alguém, ou alguma cousa
em vista de algimia cousa. — Sacrificar
sua fortuna á sua honra.
— Sacrificar aos numes ; ofi^erecer-lhea
em sacrifício alguma cousa.
Da fronte a c'ròa arranca de Yerbenna,
Despe do cinto a affiada fouce de ouro,
E, na Acção de quem sacrifica aos Numes.
F. M. DO SASCIMESIO, OS MAEIYBES, 1ÍV. 10.
ái2
.SA(JU
— Sacrificar tuilò aos teus inlfrasscn ;
fiizer cedor tudan a.H uDUsas uorf sons iiitc-
iKísses.
— Sacrificar todj o seu tempo a uina
cousa; uonsafíral-o a cila todo intoiro.
— Fi;,'ui a- lamento: Dar, empregar.
— Sacrificar-se, v. re.Jl. Uffcrccer-so
cm sacritic-io.
— i<'i;^'iirailainerito: Toniar-.so victiiiia
de algum iiitorosse, <le alguma dudica-
^ão. — «A f(')ra estos viiiliaõ também ou-
tros a quo elles clianirio Xixaporaus, que
também se sacrificavão diante destes car-
ros, cortando pela sua mesma carne tan-
to sem piedade, que parecia cousa muy-
to íVu'a da natureza humana, e tomando
os pedaros da sua carne, que olles corta-
vào com inins iiavallioeus muyto agudos,
03 metiDio em liuns arcos como pilouros.»
Fcrnilo Mendes Tinto, Peregrinações,
cap. 100. — «E assi pelo inolo destes
malaventurados se sacrificarão mais ou-
tros inuytos, que em copia, segundo o
que ahy nos contarão mercadores lioura-
dos a quo se podia dar credito, passarão
de seiscentos.» Ibidem.
— Sujeltar-se, expôr-se a cousa traba-
lhosa, e incommoda.
— tívN. : Sacrificar, immolar.
A idèa conimum d'estes termos é de
consagrar uma cousa á divindade; porém
a primeira é o género, e a segunda é a
espécie.
Sacrificar uma cousa é desfazer-se d'el-
la para consagral-a á divindade, dcdiear-
lh'a de tal modo que seja perdida ou
ti'an.sformada, Immolar 6 consagrar ;l di-
vindade por meio de xim sacrillcio san-
grento, é degolar uma vietima sobre o
altar.
Sacrifica-se todo o género de objectos;
não se immoluin senão victimas^ seres
animados. O objecto que se sacrifica 6 ot-
ferocido á divindade; o objecto que se ini-
viola é destruído em honra da divindade.
Figuradamente, e em sentido profano,
tem estas palavras as mesmas ditFeren-
ças. Sacrifica-se toda a espécie de cousas
a que se renuncia voluntariamente, ou
quo se abandonam por algum interesse
particular, ou em proveito doutra pes-
soa; immolam-se objectos animados ou se-
res personiticados, que se consideram
como victimas, e se consagram á morte,
ao anathoma, :l desgraça.
A idèa de sacrificar ó mais vaga, c
mais extensa; a de immolar mais forte e
mais limitada.
Napoleão sacrificava columnas inteiras
de homens para vencer o inimigo ; e nuii-
tas vezes iinmolou a justiça á vingança,
a equidade á ambição.
SACRIFICATIVO, A, aJJ. Próprio para
O sacritloio.
f SACRIFICATORIO, A, aJj. Que per-
tence ao s;uriticio.
SACRIFICAVEL, adj. 2 ,j()i. Quo se
pôde sacrilicar.
SACR
SACRIFICIAL, «'//'. 2 <jen. Vid. Sacrifi-
cai.
SACRIFÍCIO, s. III. ( iJo latim sacriji-
ciuiii). Entre os hebreus, otferta feita a
Deus com certas ceroinonias, c consistin-
do em victimas ou dóre.s.
— Entre os cLristãos: O sacrificio dn
Jusun C/iristo; a sua morte sobro a cruz.
para a redempção do género humano.
— Diz-se do que se ollerecc aos deu-
ses, no polytheismo. — «Todos estos mi-
nistros do demónio fazendo seus sacrifi-
cios com fumos ciicirosos, e outras ceri-
monias custuuiadas entre ellos, pcrmitio
nosso Senhor jior justo castigo de sua di-
vina justiça, (pie sendo quasi ás onze ho-
ras da noite, tornou a terra outra vez a
tremer com tamaniio Ímpeto, que tem-
plos, casas, muros, e todos os mais editi-
cios quàtos avia na cidade vieraõ ao
cliaõ.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 'JtJ. — «E assi ofiorecidos em
sacrificio cometessem a serra, c ou ven-
cessem, ou morressem todos feitos amou-
cos pela defensão do seu Key, pois era
minino, e lhe tinhào dado menagem, e
feito juramento de lhe serem bons e leays,
e assentados todos neste jJarecer, que a
Ivaynha e todos ouverào então por mi-
Ihor e mais acertatlo para o tempo em
que estavào, para mais tirmeza disto, ti-
zeraõ todos entre sy hum juramento so-
lenne de assi o cumprirem.» Ibidem, cap.
155.
Vinha hmçando ao Lago, cm sacrificio,
Tusues de Ovelhas, tõ:is de alvo linho,
Kuélaa do ouro, c prata, c pàes de cera.
F. MANOEL DO SABOIUGKTO, OS MAUrTSE9, 1ÍV. 0.
— Sacrificio contínuo de Christu; sua
presença perpetua na hóstia consagrada.
— O santo sacrificio da viúna.
— Fazer sacrificio ; sacritiiar. — «O
Chaubaiuhaa em pondo os olhos nelle que
o conhecco, voltando o rosto se deixou
cayr debruçado sobre o pescoço da ele-
phàta, e não querendo passar adiante
disse com as lagrimas nos olhos aos de
que hia cercado, verdadeyramento vos
afiirmo irmãos e amigos meus, que por
menos dor e iifronta tenho fazer ue mim
este sacrificio que Deos pcrmitio por sua
justiça, que ver iliante de meus olhos
gente tão ingrata, e tão má como esta,
ou me matem aquy, ou os tirem iLily,
porque não ey de passar mais adiante.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações,
cap. 150.
— Sacrificios humanos; sacriticios nos
quaes a vietima é um ser humano.
— Figuradamente: Abandono, perda
com a qual se resigna. — I''tz grande sa-
crificio pela educai^ão de seu jitho.
— Oblação da vietima, ou qualquer
cousa a Deus, em reconhecimento da di-
vindade. — « Deste bom Emper.ador acho
huma memoria em Po)-tug;il, donde se
SACK
pÍKle coiiigir, quo obrigaria os Portague-
rtCM com Ijenoticios ])artieularcii, ou o« co-
muns seriaò taci, que i>h inoveHwe a ofe-
recerem sacrificios, pula eternidade de
seu império, que era o termo do falar,
que então se ut^ava: a pedra está em
liuma Igruja de X. Senhora, junto a Co-
lares, refc.rea Anibronio de MoralcH, ue«ta
firma. i> Monarchia Lusitana, liv. 5, cap.
15. — «Assim se mudam o» tempos, e
não é menor sacrificio que poSAo ofterecer
a Deus n.xs eireumstancla< do presente,
vêr-me por seu amor em estado que haja
mister tcstimunhaA a minha verdade.»
Padre António Vieira, Cartas, n." 20. —
«(Jomo esta sua festa e esta feira que nella
se fazia com tanta cf)ncorrencia de gente,
e diversidade de companbiai» rle peregri-
nos, como atrás fica dito, durava quinze
dias, cm c|ue .avia muytas ditferença^ de
sacrificios e cerimonia.<i, não avia nenhum
dia em quo nio ouvesso muytas maiíey-
ras de cousas muyto novas e muyto cu»-
tosas, e muyto para ver, e muyto mais
para notar. » Fernão Mendes Pinto, Pe-
regrinações, cap. 100.
— Entregar uma pessoa ao sacriflcio.
— « Como imaginarei quo se possa con-
fiar no meu amor, e queira unir com a
minha sorte a sua, aquctla mesma que cu
desamparei, e entreguei ao sacrificio T
Kstáes ainda lembrada, que nunca v/ts
c'um 8ii mover de olhos, oh Suzanna (des-
culpai-me este nome que tão querido tra-
go na memorial me deixastes adivinhar
que vos inclináveis ao aíTecto do desgra-
çado AdolphoV» Francisco Manoel do
Xascimento, Successos de madame Sene-
terre.
SACRIFICO, A, adj. (Do latim sacriji-
cusi. Termo de poesia. Sacrificador, sa-
cerdote.
— Emprega-se também como substan-
tivo.
SACRIFICULO, «. "1. (Do latim »acri/í-
cu/uiJi.. t )flicial ajudante do sacerdote,
ou sacrificador de victimas, que as ma-
tavam e queimavam entro os idolatras.
SACRILEGAMENTE, adv. ,De sacrilego,
e o sutVixo «mente»'. De ura modo sacrí-
lego, com sacrilégio. — «A isto chama
prudência o mundo estúpido e ambicioso;
a isto, que não é mais do que uma pros-
tituição abençoada sacrilegamente peran-
te as ara- sacro.santas. » Alexandre Her-
cul.ino. Eurico, cap. G.
SACRILÉGIO, .«. m. (Do latim tacrile-
gium). Acção impia pela se qual profa-
nam as cousas sagradas.
Via brilhar a hu da meiga cstroUa,
l'nico uorte meu. l*or mar em fora
0:1 dulos membros ne^os o^tcudia
KsjL- irii^anto cujo aspecto borivndo
l'rimeiio cu vi, primeiro a souí amores
Corri o voo dos int«TpostOâ séculos :
Quiz-me punir do ousado tarrileifio
Com ((uc o* âo^n-doâ scui vulguci na lyra.
QABBETr, cjuiÕKS, caut. 5, cap. 4.
SACR
SACR
SACR
373
— Toda a acção contra uma pessoa sa-
grada, digna de veneração e de respeito.
— Dar sacrilégios ; consignar a alguém
as penas psouniarias dos excommungados,
como alguns prelados davam a seus crea-
dos.
— Peccado contra a religião, ou con-
tra cousas, pessoas, e legares sagrados.
— Lesão ou violência a respeito da
cousa sagrada. — A copula com friira,
ou com pessoa que fez voto de castidade, é
um sacrilégio.
— Os sacrilégios ; as excommunhões.
sacrílego, a, urij. (Do latim sacrile-
gus, de sacruin e legere). Que commette
um sacrilégio.
— Que tem o caracter de sacrilégio,
fallando das cousas. — a Hum silencio
profundo atado a lingua do penitente com
muitos annos de confissoens nullas, e
communhões sacrílegas: huma palavra
funda, que abraza liouras, e vidas.» Pa-
dre Manoel Bernardes, Exercícios espirí-
tuaes, part. 1, pag. 203.
E porque huma sacrílega c maldita
Seita, de que cllca sào adoradores,
A louvarem Mafoma os move e incita
■Por serem tào sem damno veiiccdoroâ,
Visitào ora huma, ora outra Mesquita,
Oude lhes dào por isto mil louvores,
E ncUes também dura este exercício
Até que torna o Sol a seu officio.
FBAXCISCO DE ANDRADE, PEIUBinO CEBCO DE DIU,
cant. 11, est. C9.
Substantivamente : Um sacrílego.
Tendo eu, ante os Levitas, sido excluso
Do Templo, e dos mysterios, por sacrílego,
Por Espia, me houvérào, que sci-utava
O arcano, que prudente a Igreja encobre.
F. M. DO KASCIUENTO, OS MABrYBES, 1ÍV. 5.
Profunda allegoria onde descobre
A vista perspicaz castigo, e pena
Do atrevido sacrílego que piza
A lei, que traz nascendo impressa n'alma,
Lei qu'a distancia, she possivcl, mede
Que vac do Xada ao Creador Supremo.
J. A. DE XACEDO, A KATLBEZA, Caut. 2.
SACRISTÃ, s. m. Yid. Sacristão, termo
mais em uso.
SACRISTÃ, í. /. Muliíer que tem a seu
cargo o aceio da sacristia íeatre freiras).
SACRISTANIA, s. f. Officio de sacristã
ou de sacri.stão.
SACRISTÃO, s. m. (Do latim sacristã).
Homem que tem cuidado da sacristia de
uma egreja. Vid. Sanchristão.
— Adagio e provérbio:
— Dinlieiros de sacristão, cantando
vem, cantando vão.
SACRISTIA, s. f. Legar onde estão de-
positados 03 vasos sagrados, os ornatos da
egreja, e onde os sacerdotes se revestem
com vestimentas próprias para os actos
religiosos. — « Houveraõ às màos huma
Hóstia, que pedirão em certa Sacristia
para uma Missa das almas : daõ comsigo,
e com ella na rua Nova: pedem a um
mercador, dos que cliamaõ de negocio,
lhes mostre a melhor pessa de Londres.»
Arte de furtar, cap. 39.
— O proveito que se tira do que se dá
para mandar dizer missas, serviços e ora-
ções. — N'esta parochia a sacristia tem
um tanto por aiino.
— O que se contém na sacristia. — Â
sacristia d'esta parochia é muito rica.
Roubou a Sacristia f ou do Diabo
Tentado, violou alguma Virgem,
E asilo vem buscar na nossa Igreja ?
AXTU.MO DINIZ DA CBl'Z, HYSSOPE, CaUt. 5.
1.) SACRO, s. m. Peça de artilheria an-
tiga, out'ora conhecida pelo nome de sa-
cre.
2.) SACRO, A, adj. (Do latim sacer).
Sagrado.
Abraçados consigo os dous amados
Innocentcs filhinhos, diz ó Virgem
Emperatris do ceo, a tantos males
Dai vòs madre de Deos algum soccorro.
Gabando não se va ledo, e contento
O numero infiel quasi infinito.
Que em tal afronta tem aos que confessaõ
Do vosso vnico filho o sacro nome.
COBTE BEAL, NAUFBAGIO DB SEPLLVEDA, CaUt. 9.
As esquadras dizemos inimigas :
Como hemos de cantar em terra alhca ■
As cantigas de Deos, sitcras cantigas ?
Se a lembrança cu perder que me recrea
Cá nestas pcuosissimas fadigas,
OUícioiíi Jetur dextra mea.
cAJi., SONETOS, n." 239.
E como o Turco hum 'hora não socega,
yue não llio sorfre o imigo cruel peito.
Também dos seus canhões a fúria emprega
Xo ^acro Templo então, pouco antes feito ;
Não sodre ver em pé o que arrenega,
E em pouco tempo o bate de tal geito
Que quasi todo foi por terra posto,
Com mágoa doa Christàos, e grão desgosto.
F. DE ANDILIDE, PBIMEIKO CHKCO DB DIU, Caut.
IG, est. 82.
Porque applaque seu Pae iroso, a Fillia :
Sacro Antiste (lhe dizj refréa os Ímpetos
Dessa ira: — que equivale á Fome a Cólera,
Sendo ambas Mães de pérfidos conselhos,
Pode, iuda, esse erro nosso reparar-se.
P. U. DO NASCIMENTO, 03 JÍABTVEES, 1ÍV. 1.
Nas suspeitas, de que ella se inclinava
A nova Religião, puzéra o César
A Prisca Augusta Espiões. Dispoz Hierócles
Quem siga ao Culto sacro a Imperial Sposa.
Vio-as, e a mim sahir ; disse-o ao Sophista,
Este ao César, e o César disse-o a Augusto.
IBLDEM, 1Í7. 5.
Seguio somente a voz da Natureza
Ao Sacro Templo da verdade impervio,
Elle primeiro o disse, que as vistosas
Cores mõrào na Luz, na Luz existem,
Da Luz diversas retracções nos corpos.
J. A. DE MACEDO, A KAICEEZA, COUt. 1.
— Ordens sacras ; ordens de subdiaco-
no, de diácono, e de presbytero.
— Termo de anatomia. Osso sacro ;
o osso maior de todos os do espinhaço,
com quasi cinco ou seis vértebras. O oS'
so sacro é a ultima vértebra ; é o osso
que termina a espinha dorsal.
— O sacro inceiíso; o incenso sagrado
de que se faz uso nos nossos templos.
Aqui o famoso templo está que ardendo
Continuamente cem altares mostra
Fumegando o Sabéo sacro incenso
Sacritício deuido ao ceo mais alto.
Aqui grinaldas mil do verde murta
As Dóricas colunas ornào sempre
Aqui diuersas flores, aqui rosas
Polia terra se vem sempre espargidas.
COBTE KEAL, NAUFBAGIO DE SEPÚLVEDA, CaUt. 4.
Sangue, que tanto apraz da guerra ao Nume,
E com que o cego Fanatismo alaga,
Theatro dambiçào, mesquinha Terra ;
Puro atiecto he somente sacro incenso.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, CSnt. 2.
— Figuradamente : Respeitado, não of-
fendido, como cousa sagrada.
Vio ao longo dos Alpes o condado
De Tirol, abundante de aruoredos
Espessos, c sombrios, vio Bauaria
Que deu granes varões ao sacro império.
Ve ii parte direita Áustria famosa
Regada co Danúbio, e Sauo insignes,
Vio a infame Morauia. pella torpe
Vil rapina, de seus habitadores.
CORTE BEAL, NAUFBAGIO DE SEPÚLVEDA, Cant. 2.
— Termo de poesia. Sacro 7íU7)ie. — Sa-
cra mente.
f SACRO-COCCYGIO, A, adJ. (Do sa-
crum, e coccyx). Termo de anatomia.
Que diz respeito ao coecyx e ao sacro.
— Articulação sacro-coccygia ; ai-ticu-
laçào da extremidade inferior do sacro
com a faceta superior do coccvx.
SACRO-COXALGIA, s. /. Termo de me-
dicina. Dor no osso sacro, e na articula-
ção da coxa.
f SACRO-ESPINHOSO, A, adj. Termo
de anatomia. Que diz respeito ao sacro,
e á espinha do dorso.
— Ligamentos sacro-espinhosos ; liga-
mentos, um superior, outro inferior, que
se estendem das espinhas inferiores, pos-
teriores e inferiores do osso iliaco, até ás
partes lateraes e posteriores do sacro,
i SACRO-ILIACO, A, adj. Termo de
anatomia. Que diz respeito ao sacro e ao
osso iliaco.
— St/mphi/se, ou articulação sacro-ilia-
ca; symphyse de cada face lateral do
sacro com o osso iliaco correspondente.
f SACRO-LOMBAR, adj. 2 gen. Termo
de anatomia. Que diz respeito ao sacro
e aos lombos.
SACROSANTO, ou S.ACROSANCTO, A,
adj. (Do latim sacrosanctus). Santo, sa-
grado. — A sacrosanta igreja rcmiana.
374
SACU
SADI
SAFA
Depois Zazoulo vi, dcpoia Carondag-,
Sicilia com taos lieiíi *1 foi dito-ia !
No meio bem do sarroniiutu Alvorg\ic
Taciturno l'vtli:igora« admiro.
j. A. i)B MACKno, viAOKM f.xrArii A, cant. 2.
f SACRO-SCIATICO, A, <vlj. Termo do
anatomia. Lií/ttiiieii'ns sacro-3CÍatico8; li-
gauientoH inembrauiíoniies, que concor-
rem para encerrar a artiuula(;2o sacro-
iliaca.
f SACRO-VERTEBRAL, a,lj. 2 gen. (Do
sacrinn, c vertcòra). Termo do anatomia.
Que pertence ao sacro e á vértebra.
— Articuhu^ão sacro-vertebral ; arti-
culação (lo sacro com a face inferior da
ultima vértebra lombar.
— ■ Ángulij sacro-vertebral ; anfjulo que
o sacro c a ultima vértebra lombar for-
niam na sua parte anterior.
SACUDIDA, s. /. Vid. Sacudidura.
SACUDIDAMENTE, adv. (De sacudido,
c o suttixo líiuenle»'!. Com aacudimcnto.
— Fiiíura' lamente : Com deaembara-
ço, com (lesiuíji).
SACUDIDELA, s. /. Sacudidura lin;eira.
SACUDIDO, ijart. pass. de Sacudir. —
€ Dizem que o tal beneficiado tivera a
fortuna de se escapar com vida; mas,
senipro sacudido com pesada inào, en-
tregou il ligeiresa dos pés desviar-se do
que tinha merecido a leveza da cabeça.»
Bispo do (íi-rio Pará, Memorias, publica-
das por Camillo Castello Branco, pag.
177.
SACUDIDOR, A, s. Pessoa que sacode,
que abala, i|ae move, que ai^ita.
SACUDIDURA, s. /. A acção de sacu-
dir.
— Al)alo. movimento, tremura.
SACUDIMENTO, s. m. Vid. Sacudidura.
SACUDIR, V. a. (Do latiui succufere).
Abalar, mover, agitar uma cousa para
uma e outra parte.
A diâforuic cabeça sobre as ondas
Al(;!i do verdes limos abr!i(;;ida,
Hacode a barba inculta c os caboUoS
Irtos, c duros, mais quo a nono brancos.
Olha o antigo velho como as ondas
Arrcbentiio na nao alta, c soberba.
Olha os diuersos trajos, olha a gente
Que pello ver ao bordo se ajuntaua.
COBTC BF.AI,, NACFBAQIO DE SF.rUI.\T.DA , Cailt. 6.
O velho Gallo, que n'um prato cstav»,
Kntre fraugaõs, e pombos lardeado,
Em pé se levantou, o as nuas azas
Troa vezes taeiídindo. cstiis palavras.
Em voz articulou triste, mas clara.
DINIZ DA CKOZ, UYS80PE, Caut. 7,
As azas polo espaço indlioje vejo,
Quo Altisonanto 1'vndaro s^u-ndf :
Kão longe dello vào transpondo os tempos
Do Mitvleno os inclytos aliuunos ;
Alcèo que os hymnos immortac^ ontòa ;
A desditosa Sapho, amor das Musas,
Do bum desgraçado amor victima infausta,
J. A. DC ILACKDO, UCDITAçÂO, C«ut. 1.
— Sacudir o somno ; despertar, desve-
lar, acordar.
— ■ Sacudir o jugo da conquista, da ty-
rannia ; lovantar-.te, e ficar livre do do-
mínio do couquibtailor ou tyrauuo.
— Ikiter, (lar golpes.
— Kxpellir.
Sobre cila a fraraca Mcroveo sanóde;
Ella vou /.unindo, c ciit<'rra o gumo,
Qual, u um l'inho, ii(; untf.rra o do inacliadú.
Do (jtcncral se escacha u fronte, cm duau,
Cúbrc o crrebro a chão, os olhos rodâo-llic,
Inda, um átomo; o corpo, cm pé sustenta
Convulso, estira as mãos, vacilia, cáho.
Que lagrimoso, miscro spcctaculo !
F. M. DO MASCIUENTO, 03 UAIITYBF.S, 1ÍV. G.
— Flguradameutc : Expellir.
Já liaccho brande o thyvso, o a lança Palias ;
òacoí/e o facho Amor, curva arco l'hcbo,
E os l'cnates proferem vozes mysticas ;
Dào vaticínio os Numes de lllion alta.
No Capitólio. Encosta o l'ác do Engauo
Um sprito a cada Simulacro de Ídolo,
Que previsto, c com manha a Gente iUuda.
T. U. DO NASCIMENTO, os MABTYBES, 1ÍV. 8.
— Sacudir o açoute ; brandir, vibrar
para dar o golpe com força.
E, sacudindo o viperino açoute.
Rompe negra Tisifone do Inferno,
Quando ambição frenética no Sena,
Unida ao Filosótioo delírio,
Quiz nivelar as condições humanas.
Do Pastor fazer Rei, do Rei vassallo.
J. A. DK MACEDO, HEDITAÇÃO, CaUt. 2.
— Largar, arrojar de si.
— Loc. POP. : Sacudir o pó dos pés ;
ir-se, apartar-se de algum lugar, que
merece castigo.
— Sacudir a lança ; arremessal-a com
força.
— Loc. POP. : Sacudir o pó de alguém;
d;ir-lhe pancadas.
— Fazer cair ou derrubar sacudindo.
SACUPEMA, s. /. Termo de historia
natural. Ave galliuacea do Brazil, seme-
lhante ao pcrú.
SADIAMENTE, adv. (De sadio, e o suf-
fixo «mente»!. De um uiodo sadio.
— Saudavelmente.
SADIO, A, ailj. Bom, favorável ò. saú-
de. — Clima sadio.
— Amigo sadio ; virtuoso.
— Que nSo se gasta em liberalida-
des.
— Que não diz, nem faz bem ao ami-
go, nem próga a virtude, sen.ão quando
espera nito desaprazer a algum contra-
rio, ao poderoso inimigo, ou vicioso; que
não se expõe, nem compromette, nem
mesmo pela boa causa.
— Figuiadamento : Epigramma sadia.
Uma cpigramma por hi,
porque é «adia aqui
para um grilblo, dá-lhc eraç*-
Scuhor, uão «e anoje ati<i.
ABioxio rauTKs, aliui, pag. 4d5.
— Jloiiicin sadio ; homem que logra
boa haudc.
— Huinem sadio ; homem que não se
expõe a perigos de vida e saúde.
SADO, a. VI. Termo da Ásia. Embarca-
ç.^o fie |)escar.
SAETA, ». /. Vid. SaieU.
SAFA, s. f. Voz de quem manda tafiar,
oriunda do imperativo do verbo *a/ar. —
Ouviu-se um safa.
f SAFA-CABOS, s. vi. Termo de mari-
nha. Voz que dá o oiTicial que couinian-
da a manobra, logo apiis d'ella concluí-
da, c consiste cm o.s aclarar c colher nos
seus respectivos legares : diz-se safa-ca-
bos, safa-pcs da amarra, etc.
SAFADO, part. past. de Safar. Tirado
fora.
— Gasto com o uso.
— aludia safada; moeda, cujo cunho
quasi se iiào distingue pelo uso.
■j- SAFANÃO, ». ni. Termo popular.
Uma bofetada dada com as costas da
mão. — Levar um safanão.
SAFAR, V. a. Extrahir, tirar fora, ex-
pellir.
— Safar qualquer objecto; pól-o claro,
á mão.
— Termo de marinha. Safar uma an-
cora; pol-a á roça, apta a ser fundeada.
— Desembaraçar o navio de tudo o
que pôde estorvar as manobras e marea-
ção.
— Safar-se, v. rejl. Termo popular.
Esgueirar-se, fugir.
— Figuradamente : Esquivar-se, li-
vrar-se.
SAFARA, ou ÇÁFARA, s. f. Alguns
dào-lhe a significação de saharáf e escre-
vcni-no com estas letras.
SAFARIO, A, adj. Termo mais usado
no teniinino: Romã safaria; rom£ que
tem os bagos granules e quadrados.
SAFARO, ou ÇAFARO, A, adj. Termo
de volatcria. Falcão safaro ; falcão bra-
vio, esquivo, difficil de amansar, que
nunca se domestica bem.
— Figuradamente: Áspero, indócil,
rude, á similhança da gente do matto;
desconfiado.
— Ser safaro dos óculos.
Sou dos óculos ta/aro:
molhores que muito v^m,
molhcrcs que muito sabom,
niolhercâ que tudo cn^m,
serão quacs cabeças têem,
mas não sizos que lho gabem.
Asroino MESTKs, Acros, pag. 5.^7.
SAFAROSO, A, adj. Vid. Safaro.
f SAFA-SAFA, .<■. /. Termo de náutica.
O arranjo que .«e pratica nos navios,
sempre que é necessário pôr a artUheria
e manobra em estado de combate.
SAGA
SAGA
SAGR
375
SAFATE, s. m. Yid. Açafate.
SAFENA, s. f. Vid. Sapheua.
SAFINA, s. f. Vid. Safena.
SAFFIR. Vid. Safira.
1.) SAFIO, s. m. Termo de iclithyolo-
gia. Peixe maritimo; espécie de congro
mais pequeno.
2.1 SÁFIO, A, adj. Tosco, inculto, igno-
rante. — Aldeão sáíio.
— Areaes sáfios ; areaes safares.
SAFIRA, ou ÇAFIRA, ou SAPHIRA, s. f.
Pedra preciosa, de cGr azul, tirante tal-
vez a purpúreo.
Todo era d 'ouro o consagrado Alcaçar ;
De aziíl celeste a abobada esmaltada,
Oude brilhantes lúcidas Estrellas,
Quáes sáfira-s finíssimas, s'enga3tào,
De eterna luz eternamente accesas.
Todo he Pyropo Oriental o s<51o.
J. JL. DE UACEDO, TIAGEM EITATICA, Cant. 1.
— Empreça-se também figuradamente.
SAFIPICO; ou SAPHIRICO, A, adj. De
saphira.
SAFIRO, s. m. Vid. Safira.
SAFO, A, adj. Vid. Safado.
— Desembaraçado, despejado. — O
navio safo.
— A artilheria safa; artilheria sem
carga .
— Livre, desembaraçado.
SAFÕES, ou ÇAFÕE3Í s. vi. plur. Ter-
mo antiquado. Calças largas.
1.) SAFRA, ou ÇAFRA, í. /. Massa de
ferro, calçada de aço, posta em um cepo,
onde o ferreiro malha o ferro em braza ;
é mais larga que a bigorna; é quadrada,
e nào tem pontas como esta tem.
— Termo de chimica. Osydo de co-
balto, denegrido, pulverulento, qud mis-
turado com duas ou três vezes o seu
peso de pedregulho, rubro ao fogo, for-
ma a espécie de pó pardacento que se
vende no commercio sob o nome de sa-
fra; serve para fazer o vidro azul.
2.) SAFRA, s. /. Novidade. — Safra
de azeitona.
— Foi anno de safra ; foi anno de bas-
tante novidade.
— Emprega-se também figuradamente :
Safra de peccados.
— Vid. Safara.
SAFRADEIRA, í. /. Vid. Alfeça.
SAFRÃO, s. m, (Do francez safron).
Vid. Açafrão.
•j- SAFYRA, s. /. Vid. Safira.
Nas luminosas trémulas safyra^.
Que recamào da nouto o véo sombrio,
Descobre ardentes Sues, descobre centroa
De mil ignotos Planetários Mundos.
J. A. DE MACEDO, MEDirAÇÃo, Caut. 1.
1.^ SAGA, CAGA, ou ZAGA, s. f. Ter-
mo de milicia autiga. A retaguarda. Vid.
Raçaga, e Costaneira.
2. SAGA, s. f. (Do latim saga). Mu-
lher feiticeira, mettida a prophetisar, fa-
zer encantos, para enganar todos os cren-
deiros.
SAGAÇARIA, s. /. Termo antiquado.
Sagacidade, ardis, traças executadas com
muita destreza, juizo e finura.
SAGACEZA, s. f. Termo antiquado. Sa-
gacidade, obra de homem sagaz. Vid.
Sagueza.
SAGACIA, s. /. Termo antiquado. Sa-
gacidade.
SAGACIDADE, s. f. (Do latim sagaci-
tas). Subtileza de espirito, comparada á
subtileza do olfato.
— Peneti'açào de espirito, que nos faz
descobrir o que ha de mais difficil e oc-
culto nas sciencias, nos negócios.
— Astúcia com que se inventam e
traçam os meios de alcançar alguma
cousa.
— Sagacidade dos animaes.
— Syn. : Sagacidade, subtileza. Vid.
este ultimo termo.
SAGACÍSSIMO, A, adj. (De sagaz, com
o suffixo «issimo»!. Superlativo de Sa-
gaz. Mui sagaz.
SAGAPENO, s. m. Gomma-resiua, pro-
veniente talvez da fécula pérsica.
1.) SAGAZ, adj. 2 gen. Dotado de sa-
gacidade, astuto, manhoso. — «Foi dom
Francisco dalmeida, aliem de bom caual-
leiro, mui prudente, e sagaz, bem assom-
brado, e graue em sua pratica, acerca
das cousas da índia, foi de opinião, que
quantas mais fortalezas el Rei la tiuesse,
tanto mais fraco seria, que a força com
que auia de senhorear a índia era no
mar, que sem nelle trazer grossas arma-
das, nam poderia defender, nem soster
as fortalezas.» Damiào de Góes, Chroni-
ca de D. Manoel, part. 2, cap. 44.
Ora vae,
chega a casa mui sagaz,
vê O que faz
esse velho de meu pac,
se está inda contumaz.
ASTOxio PKESTEs, ACTOS, pag. 239.
Os fortes Lusos a Calamnia espia,
Venenosos farpoons prompta arremcça.
De vis enganos a caterva impia
Ka rude plebe de lavrar começa :
Sagaz se occulta do clarão do dia,
E lhe apraz envolver-se em sombra espessa ;
Veste com as roupas da verdade o engano.
Mostra inimigo o forte Lusitano.
J. A. DF. MACEDO, O ORIENTE, Cant. 11, CSt. 8.
Das varias estações já sente a volta
Cultivador eaga:. reflecte, e segue
O passo igual da Natureza activa.
IDEM, MEDITAÇÃO, Cant. 1.
O' lisonjeiro do sagaz Augusto,
Teu svstema tal foi ; teus áureos Versos
Somente o Cortczào, e Amor respirào
Entre as infames libações de Bacho.
IDEM, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 2.
2.) SAGAZ, s. m. Termo de zoologia.
Espécie de mosca de quatro azas, que
fingindo estar presa nas teias, faz sair as
aranhas para a caçarem, e entào as mata.
SAGAZIDADE, s. f. Vid. Sagacidade.
SAGAZMENTE, adv. (De sagaz, com o
suffixo «mente»;. De uma maneií-a sa-
gaz, com astúcia.
SAGEIRA, s. /. Termo antiquado. Sa-
bedoiia.
SAGENA, s. f. Cárcere, prisão dos ca-
ptivos christàos, entre os mouros.
SAGERIA, s. f. Vid. Sageira.
SAGES, adj. Termo antiquado. Sábio,
prudente, honesto, virtuoso, sabedor.
SAGEZA, s. /. (Do francez sagesse).
Termo antiquado. Sabedoria, prudência.
SAGEZMENTE, adv. (De sagez, com o
suifixo «mente»). De uma maneira sagez,
— Prudentemente, como sabedor.
— Destramente, com juizo, tino e ac-
cordo.
SAGIÃO, s. m. Termo antiquado. Vid.
Saião, algoz.
SAGINAR, V. a. (Do latim saginare).
Cevar, engordar.
SAGION, s. m. Termo antiquado. Mi-
nistro de justiça, como alcaide ou juiz.
SAGIRAVE, s'. m. Prateleiro.
SAGITADO, adj. Termo de botânica.
Vid. Afrechado.
SAGITAL, ou SAGrriAL, adj. 2 gen.
(Do latim sagittalis, de sagitta). Termo
de anatomia. Sutura sagital; sutura exis-
tente no meio da coronal, e da sutura oc-
cipital.
SAGITA-MAIOR, «. /. Termo de botâ-
nica. Planta aquaria, espécie de rainun-
culo.
1.) SAGITÁRIO, ou SAGITTARIO, «. m.
(Do latim sagittarius} . Termo de astrono-
mia. Constellaçào representada sob a fi-
gura de um centauro entesando um ar-
co. — O sol estava no sagitario.
— O decimo nono signo do zodiaco,
que em consequência da revolução da
terra, parece percorrido pouco mais ou
menos de 20 de novembro a 20 de de-
zembro pelo sol.
2.) SAGITÁRIO, A, adj. (Do latim sa-
gittai-itis). Setteiro, que ia á guerra de
arcos e de settas.
SAGITIFERO, A, adj. Termo de poesia.
Que leva settas.
1.) SAGO, s. m. Saio militar.
2.) SAGO, s. m. Vid. Sagú.
SAGOIM. Vid. Sagui.
1.1 SAGRA, s. /. Termo de zoologia.
Grande insecto, coleoptero, de cores mui
brilhantes, que se encontra nas regiões
tropicaes.
2.) SAGRA, s. f. A festa do orago da
egreja de S. Domingos em Cascaes.
SÀGRAÇÃO, s. f. (Do latim sacratid).
Acçào de sagrar.
- — Consagração.
SAGRADAMENTE, adv. (De sagrado,
com o suffixo «mente»). De um modo
sagrado.
376
SAOR
SAHI
SAHI
— Vcncravolmcnto, rospcitamlo cousa
divina.
SAGRADO, jmrl. pnss. de Sagrar. De-
dicado, consa^jrado. — «E isto lie o qiu
diz o Sagrado Texto, qiio o principio do
Ncinbrotli, fov nestcH qii;itro bayro». João
do Leão tratando da iundacão dosta Ci-
dade diz, (jiui da criac^ílo do inundo tò o
diluuio 80 passaram mil o Heyscentos c
cincoenta c soys annos, e quo noa conto
o trinta c hum dejioi» delle se cditicnu.»
Fr. fiaspar de 8. Bernardino, Itinerário
da índia, cap. 18. — a Por esta sagrada
liistoria nua (|uis o Senhor ensinar, qne
80 queremos chepar a ver e ^ozar a phi-
ria da resurrcicào que esperamos no tím
do nmndo, conuoni quo em quãto viue-
mos no.'^ apercebamos do vnpnentos aro-
máticos, o cheyrosos, nam corporacs, so-
nam spirituaes, c3 os quacs vnjamos o
Senhor cousa quo elle do nòa principal-
mento requer. Estos vngucntoa saõ três
(como diz S. Bernardo) s. cõtri(;rio, de-
uaçam, c misericórdia.» Frei Bartholo-
meu dos Martyros, Catecismo da doutrina
christã. — «Também he maia accoinnio-
dado o lugar sagrado, o o tempo de al-
p^uma festa solemno pêra receber liberaes
influencias, e fauores do Coo, pêra allc-
garmoa ao Senhor. Em bom dia vimos a
vo$ pedir mercês : donde em dia de Natal
canta a sancta Igreja, Hoje saíi o# Ceos
feitos rios de. doqura, e mnnnnriaes de
toda a siíanidadf.í Idem, Compendio de
espiritual doutrina, cap. 1.']. — «Eu bom
podia dizer a V. M. que nos doc\UTiento3
do Texto Sagrado, na doutrina doa Pa-
dres da Igreja, na opinião dos Autores
Clássicos, e na Infinita Caterra do Fcn-
nas velhas e novas, se acha a cada pas-
so para huma Ostentação mil oposiyoens
ao juizo das Damas.» Cavalleiro d'01i-
veira, Cartas, liv. 1, n.° 7.
Mns he doce o meu nome a quem Virtude,
A quem mérito apraz ! scgue-mo, i filho,
Cruza comig;o os Pórticos taifrados.
J. A. DK MACEDO, TIAQEII EXTÁTICA, Caut. 1.
— Sagrada pagina; a Sagrada Escri-
ptura.
■ — Os sagrados apóstolos; os que fize-
ram o credo, e que foram escolhidos por
Christo,
Obra de insigne Mestre. Talvez este,
Como Príncipe foi do Apostolado,
Baste no nosso caso, a serem nello
Os fogrado» Apóstolos precisos.
Veja, Doutor, se tem isto caminho,
Por poupsr-nie a vergonha de pedi-los.
nmiz DA cRi-z, HYSSOPK, caut. 4.
— O sagrado tempo penitencial ; o san-
to tempo da quaresma. — «Pois quo elle
ho o primeiro Domingo desto sagrado
tempo penitencial que começamos, seraa
cousa muy proueytosa ensiuaruos a tra-
ça e ordem que auois do guardar cm
vossa penitencia pcra que stija aceyta a
Dcos.» Fr. Bartliolomcu do» Jlartyrcs,
Catecismo da doutrina christã.
— A Sagrada Ksrriptnm ; o livro na-
grado que contém a.s vcrda'leB da reli-
gi.ão cutholica; a «agrada pagina. — «Foy
esta (Jidado tain magnifica, o opulenta,
que a Sagrada Kscriptura, nSo achou
outro nome, ([ue lho pôr senão Cidade
grande de trcs dias do Caminho. A Mo-
narchia Ecclcsiastica, affirma ter ella em
ciriuyto quat)occntt)S e oytenta e.sta<li<is,
que saH dez legoas.» Fr. (!a«par de S.
Bernardino, Itinerário da índia, cap. 17.
— «E quo a Cidade fosse edificada entre
os dous rios : a Escriptura Sagrada, o as
ruynas delia cm quo cu niuytas vezes
cntrey, saõ verdadeyraa testemunhas dis-
so, p Ibidem, cap. 18.
— Substantivamente: O logar vedado
a profanidados, asylo; o resguardo, o
respeito devido a pessoas ou cousas sa-
grai las, e santas, veneráveis.
SAGRAL, adj. 2 gen. Termo antiqua-
do. Secular.
SAGRAR, f. a. (Do latim sacrare). Con-
ferir um caracter do santidade por meio
de cortas ceremonias religiosas. — Sagrar
wna egreja.
SAGRE, í. )». Vid. Sacre.
SAGÚ, ou SAGUM, í. m. O miolo de
uma arvore :l semelliança da palmeira,
de que se faz fiirinha, ou massa, quo se
guarda por jirovisão.
— Bebida espirituosa, usada na índia,
a que dão o nome de tuáca; c feita de
licor que distilla doa ramos da mesma
arvore podados em quanto tenros. Vid.
Sagueiro, e Sagur.
SAGUÃO, CHAGUAO, ou XAGUAO, s. m.
Pateo descoberto no centro das ca.sas on-
de cáeni com grande estrépito as aguas
dos telhados.
— Termo antiquado. Entrada coberta
junto da porta principal do convento, ou
do alguma casa, da qual se passa para
03 pateos, corredores, escadas, etc.
SAGUATE, s. m. Termo da Ásia. Pre-
sente.
SAGUEIRO, s. m, A arvore de que se
tira o sagú.
SAGUEZA, s. f. Termo antiquado. Sa-
gacidade. Vid. Sagaceza.
SAGUI, ou ÇAGUI, «. wi. Espécie de
macaco pequeno.
1.^ SAGUM, .«. "1. Vid. Sagii.
2.) SAGUM, s. »i. Vestimenta de guer-
ra, curta c que não passava das joelhos,
de que usavam os romanos.
SAGUNTINO, A, adj. e s. Que perten-
ce á cidade de Sagunto.
SAGUR, .«. ni. Diz-sc que nas Molucas
corresponde estji arvore ;Í8 palmeiras do
Malabar, c que os molucos extrahem d'cl-
la pão, vinho, vinagre, ctc. Vid. Sagú.
SAHI. Vul. Saitaia.
SAHIDA, s. /. Vid. Saída. — - .íI sabi-
da das mert/uU/rias. — «Sobre o qual ne-
gocio 80 passaram muitos recados, e des-
contentamentos d'EIKey do (^ananor, e
d'ElUcy de Cochij : cá illcs p<zav»-lhc«
muito estarmcjs ein i)az com í.'alecut, pfir
perder na entrada e sahida das mercaílo-
rias grande renda, pola muita copia de
pimenta, gongivre, o outras especiarias
que tinha em Calecut, e havia de abat«r
no firoveito dcdlcs.» BarroK, Década 2,
liv. 7, cap. 6. — «F<>ra'"5 a* Pnjcissoens
significadas na sahida quo o« filhos d'lB-
rael tí/.eraò do Egijito, nssi como por
ella tirou Moyses o Israelitico pouo do
poclcr de Faraó, tirou (Jhri.>»to o pouo Ca-
tholiío, da boca <lo Ijca3.» Ijicerda, Car-
ta pastoral, pag. JJHG. — «Na corte do
Madrid se achou hum tratante de índias
com grande quantidade do esmeraldas
lavradas, som liies achar trasto, nem sa-
hida para se desfazer delias.* Arte de
furtar, cap. M.
— Dar sahida. Vid. Saida. — «E com
outra parte de gent-; elle AfFonso d'Al-
boquerque iria invernar a (íoa; o ou-
tra, a que queria dar sahida, era em
huma armada de quatro velas pcra an<lar
na boca do mar Roxo entre o Cabo Guar-
dafu, e o de Fartaque.» JoAo de Barros,
Década '2, liv. 10, cap. 1.
7 SAHIDO, part. pass. de Sahir. Vid.
Saído. — « Algumiis lagrimas houve na-
quellas senhoras, o não tantas como na
partida de Florendos. Sahido Palmeirim
d'antr'ellaa se dej?pediu também de Pri-
malião o Vernao e do seu irmào, de Dra-
musiando e outros seus amigos, que con-
tra sua vontade o deixavam ir, e se poz
no caminho do reino de Trácia, acompa-
nhado de Selvião e da donzella, ficando
a corte tão desacompanhada sem elle,
que parecia que estava sii.» Francisco de
Moraes, Palmeirim de Inglaterra, cap.
95. — « Escreve-se delle, que depois de
sahido de Ilespanha e passar por Navar-
ra, onde deixou casado Dragonalte, can-
sado ou enfadado da conver.sação dos dias
passados, sà com Arlança e suas criadas,
determinou seguir seu direito caminho a
Constantinopla, e ir vèr sua senhora Lio-
narda, rainha de Trácia, a que o amor
com mais rasão verdadeira o ia affeiçoan-
do.i- Ibidem, cap. 130. — « Sabidos em
terra, fomos todt>8 abraçalo, e elle com
outro igoal amor foz o me.«mo: e depois
de nos dar a boa vinda, e niie a elle a
sua estada, fomos andando pêra a Igreja
indo el Rcy diàte a pê ensinàdonos o ca-
minho, que j\ verdade onde ha amor ver-
dade vro, não se consente perfeyta grani-
dade.» Fr. (íaspar de S. Bernardino,
Itinerário da índia, cap. 6.
Qnando .Tponas il!»s mãos do Omnipotente
Tinha do Mundo ;i Machinn fahido,
O Teinfw novamente produzido,
Sc mostrou contra os homens inclomento.
ABBADK DK IXZMStS, rOESUS, tOOI. 'J, p«g. 38.
SAHI
SAHI
SAHI
377
— « E que tendo sabido do mundo em
apparencias, querem entrar mais dentro
delle do que antes estavão. » Cavalleiro
d'01iveira, Cartas, liv. 1, n.° 28. — « Suc-
cedia-liie logo outra meza de seu filho
herdeiro, que comia com hospedes de or-
dinário, e de quem eu o fui algumas ve-
zes ; e eis aqui que appareciam outra vez
aquellcs pratos, sendo J;'i a tsrueií-a que
no mesmo dia tinham sahido a publico.»
Francisco Manoel de JIcUo, Carta de guia
de casados, cap. 4õ. — « D'acjueila casa
tinliam sahido geraes para a eougregaçào
de S. Bento, como D. Pedro da Gloria
para a dos Cruzios, frades douti.ssimos
como frei Ignacio de Jesus, bispos e ca-
pitães generaes, navegadores e martyres
do Oriente.» Bispo do Grão Pará, Memo-
rias, publicadas por Camillo Castello
Branco, pag. 2.
SAHIR, V. n. Yid. Sair, termo mais
em uso. — « E vindo nesta lanchara de-
fronte de Pacem, que he huma Cidade
cabeça do Reyno assi ciiamado, que es-
tava adiante, sahiraiu a elles certas man-
chuas, era que vinham Mouros da terra,
com que houveram peleja.» Joiio de Bar-
ros, Década 2, llv. 6, cap. 1. — «Foi
logo avisado Gogo Çofar da industria, com
que lhe frustrámos tão custoso trabalho,
e acudindo áquella parte, impaciente na
contraposição que achava a todos seus de-
senhos, sahio da Fortaleza huma bala per-
dida, que no meio de hum esquadrão de
Turcos, lhe levou a cabeça. Houve no
exercito sentimento publico pela falta de
tão grande soldado.» Jacintho Freire de
Andrade, Vida de D. João de Castro,
Hv. 2.
Gretas, buracos fazia
ha terra, e se abrio,
agua, e avca sahia,
que a eusufre fedia ;
isto em Almeirim se vio.
OABCIA DE BEZEKDE, MISCELLANEA .
— « Cuidando o dono da Caza que que-
riamos jogar ás cristas sahio de seu ga-
binete, e chegando-se a mim com bastan-
tes inguirimanços, depois de fazer a sua
costumada caramunha, se meteo de gor-
ra onde não era chamado.» Cavalleiro
d'01iveira, Cartas, liv. 1, n.° 10. — «Nel-
le tem el Rey quatrocentos Parseos de
presidio, os quacs em todo anno, nem
elles, nem o Capitão podem sahir fora
sem expresso mãdado dei Rey, nem me-
nos entrar pessoa alguma estrangeyra,
inda que não seja mais quo auer o co-
mum, e praça dulle.» Fr. Gaspar de S.
Bernardino, Itinerário da índia, cap. 13.
Tal oom clle, cortando a Libva adusta
Sahe da mesma montanha o Zaire, o busca
Debaixo do Equador o immonso Oceano
Onde o Sol já cahindo o carro atufa.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Caut. 2.
TOL. T. — 4<S.
Se algumas vezes do Troiano estrago
Folhêas o Cantor, foi neste Coehe
Qu'a cruel Mày do pérfido Menino,
Qu'he paz, o he guerra dos humanos todos,
/•iahio do mar para mostrar-so ao Mundo.
IDEM, A NATCREZA, Cant. 3.
— Sahir i^ara oavir missa; partir com
o fim de assistir a um acto religioso. —
«E esperandoo hum Domingo á porta da
fortaleza, em tempo que o terreyri) esta-
va todo cheio de gente, e elle sahia para
yr ouvir Missa, o foy demandar, e des-
pois de se fazerem entre ambos as devi-
das cortesias lho disse.» Fernão Mendes
Pinto, Peregrinações, cap. 29.
— Sahir pela barra fora. — «Chegou
D. Antaõ de Noronha a Cóchim aquelle
dia, e achou a D. Fernãdo de Menezes
doente de camarás, e esteve com elle
aquella noite toda, o que pass.àraõ auti-e
ambos não se soube, e logo pela manhãa
se despedio delle pêra se tornar. Sahindo
pela barra fora houve vista da Armada
do Visorey, que vinha demandando a
barra, e foy o demandar, e com elle tor-
nou pêra Cóchim. O Visorey o deteve,
porque tinha necessidade de seu conselho
pêra certas cousas.» Diogo de Couto,
Década 6, liv. 9, cap. 18.
— • Sahir ao encontro ; encontrar-se com
intento d'isso. — «Pêra o que he de sa-
ber, que dons annos antes, fazendo o
nosso Faraute outra viagem, neste cami-
nho, e paragem, lhe sahirão ao encontro
entre o rio Carcha, e o Charon, noue
ladroes, atirandolhe ás frechadas, de que
ficou muy mal ferido.» Fr. Gaspar de S.
Bernardino, Itinerário da índia, cap. 16.
— A aurora sahindo da triste noite;
apparecendo.
Já n'e3te tempo a Aurora
Dentro a.s escuras cavernas,
Sahindo da triste noite,
Xo convez do Ceo passca.
JEKONYMO BAHIA, JOBSADA II.
— ■ Sahir em terra. Vid. Sair. — «Pas-
sada esta tragedia tornamos a sahir em
terra, e eõ o olho sobre o ombro, cozei'ão
os nossos do arros, estando outros entre-
tanto pescando no rio muyto, e bom pev-
xe, que todos juntos aquella noyte cea-
mos com tanto gosto, e alegria, como se
demais longe nos conhecêramos.» Fr.
( raspar de S. Bernardino, Itinerário da
índia, cap. õ.
— Sahir um rio d'este lugar ; tirar
d'aqui a sua origem. — «Aqui em Ilhas
e Peninsolas que nella ha, se vee o mons-
truoso animal Catoblepas ; o sahindo des-
te lugar o rio, com sua fúria costumada,
se faz na volta do Nordeste, e algumas
vezes do Noroeste, sendo sua verdadoyra
derrota buscar o Norte, cousa que de ne-
nhum outro rio sabemos.» Fr. Gaspar de
S. Bernardino, Itinerário da índia, ca-
pitulo 21.
— Sahir as lagrimas a alguém; chorar,
derramal-as por algum motivo. — «O
qual el Rey quis conceder, e sahindo
hum dia polia manhãa a ouuir missa fo-
ra, cuberto de muyto grande doo, e quan-
do se vio sem o Príncipe seu filho, que
sempre trazia junto de si, não se pode
ter que lhe não sahissem as lagrimas, e
como foy visto leuantouse tamanho cho-
ro, e pranto em todos, quo era piedosa
e muy triste cousa pêra ver.» Garcia de
Rezende, Chronica de D. Manoel, pag.
132.
— Sahir ao jardim ; ir até lá. — «Fi-
zeram tamanho alvoroço estas palavras
em todos, que, sem mais aguardar, pedi-
ram armas e sahiram ao jardim, e no
lugar onde o dia passado viram tudo
raso, acliaram aquella casa, que de fora
estiveram olhando, que era muito pêra
isso.» Francisco do Moraes, Palmeirim
d'Inglaterra, cap. 120.
— Sahir da j^risão; tornar-se livre,
gozar da liberdade. — «E porque isto
era tarde, Arnalta mandou dar de cear
a Florendos e aos que sahiram da pri-
são, tão abastadamente, como se estive-
ra de muitos dias apercebida pêra o ban-
quete.» Francisco de Moraes, Palmeirim
d'Inglaterra, cap. 102.
— Sahir sangue de qualquer ferida;
derramal-o, correr d'ella. — «De sorte que
em pouco espaço desfizeram as ai-mas,
dando-se feridas mortaes, de que sahia
muito sangue, especialmente ao gigante,
que por ser menos destro andava peior
tratado.» Francisco de Moraes, Palmei-
rim d'Inglaterra, cap. 127.
— Sahir da cidade; ir para fora d'el-
la, retlrar-se d'ella, — «O cavalleiro das
Donzellas, tanto que sahiu da cidade,
não andou muito que não anoitecesse, e
acertou de ser em uma íloresta algum
tanto afastada de povoado; mas por ser
no verão, tempo em que se pode gasa-
Ihar em qualquer parte, quiz repousar
do trabalho passado e esperar a clarida-
de do dia debaixo de uns sovereiros al-
tos, onde havia uma fonte dagua clara e
mui singular. » Francisco de Moraes, Pal-
meirim d'Inglaterra, cap. 124.
— • A frecha sahe do arco viouro; des-
pede-se, atira-se.
Xunca a mais grossa nuvem, mais inchada
Que poios ares vai não vagarosa,
Tanta parto eucubrio da luz dourada
Que a terra opaca faz clara e formoaa,
Xem tanta parte do ar foi occupada
Da banda d 'estorninhos copiosa,
Quanta a frecha que sahe lá do arco Mouro
Occupa do ar, encobre da luz douro.
F. d'andrade, pkimeieo cebco de Dio,cant. 19,
est. 38.
— Sahir contra a enseada; arremetter
contra ella, ir-lhe ao encontro.
Nesta hora sendo ja mais moderada
A fúria do feroz, bravo Levante,
378
SAIA
S('>lta n volla du novo a imifju arnindii,
E d'alli HO vai pôr lium pouco iWauto ;
Ate liuma ponta aahc contra a cnsoada
Do Cambaia, (|uo oin freiíti; Cít.i, o distante
Da Ciiristãa fortaleza In^oa o meia,
BuBca outra voz o forro a funda areia.
r. DE ANDRADK, fRIUEIHO CKBCO D« DID, Cant.
20, cBt. ao.
— Sahir a receber alguém ; csperal-o
para o receber, ir ao encontro cUello pa-
ra o.sto úm. — (ilil foi o encontro tal, que
o cavallo do FlorenJo.^ ajoelhou o elle
perdeu ambos estribos ; mas como o ca-
vallo do outro cahiu com seu senhor, le-
vando-lho uma perna debaixo, do que se
achou um pouco mal tratado, Florendos
depois que se concertou na sclla, bradou
ao terceiro, que, como estivesse nianeu-
corio de vêr tratar assim seus compa-
nheiros, acompanhado do sua ii"a c for-
ça, o sahiu a rccebtír.» Francisco de Mo-
raes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 100.
— Sahir-se, v. rrjl. Vid. Sair-se. —
«Vendo elRoy a triste profecia do pano,
se achou alcãçado do não aceitar o cõ-
Belho dos antigos, e com grande tristeza
se sahio do paço, fazendoo fechar da ma-
treira que antes estava, encomendando
eegredo aos que sabiaõ do caso, por evi-
tar altcraçoens, que so movem na gente
vulgar, com someihãtes novidades.» Mo-
narchia Lusitana, liv. 7, cap. 1. — «Os
Portuguczes nrio estavaõ fora do dano,
porque como o fogo era muito, e os ar-
rçmessos tão bastos, huns queimados aco-
diaõ ás tinas a se banharem na agua, e
outros com as cabeças quebradas, braços,
e pernas espedaçadas, sahiaõ-se a pedir
cura : de maneira que em todas as par-
tes avia de.savonturaa.» Diogo de Couto,
Décadas, liv. 'ò, cap. 2.
»E
eutrelunho de Outubro, depois da gente
estar dentro, el Rey mandou, que todo-
los escrauos e negros, que na cidade auia,
se sahissem fora por dez dias, sob pena
de se perderem.» Garcia de Rezende,
Chronica de D. João II, cap. 78.
SAIA, s. /. Vestidura antiga de homem
de guerra. Vid. Malha.
— Diz-se modernamente da vestidura
da mulher que cobre o corpo da cintura
para baixo,
doixo a mou filho uma saia :
oh ! como so vem chegando !
livrao-mo ora aanta Olaya !
jil m'o arcabou(;o dosmaia.
ASTONIO rnESTES, AUTOS, p»g. 419.
E a vossa ama d'uma faia
vos foz cuoiro.
IBIDEM, pag. 401.
— Termo de marinha. Supplemento lis
velas latinas, que se aggrega á esteira
d'ellas quando so navega com tempo fa-
vorável, ou 86 dá caça ao inimigo.
SAII)
— Saia (lo cabrestante ; a parte inferior
d'cdlc, onde gorno o cabo de ala c larga.
SAIAGUEZ, «. m. Homem que veste
saial.
— Adj, 2 gen. Figuradamente: RuBti-
co, grosseiro, rude.
SAIAL, H. m. Panno grosseiro, felpudo,
do uma face.
— Vestidura feita do saial para mulher
ou ]iara homíím.
SAlAO, ou SAYAO, s. m. Termo anti-
quado. O algoz, o verdugo.
— Ofliciaes do justiça para citações,
prisões o outras execuções, e saioarias.
— Augmeiítativo de Saio. Vid. Saio.
— Ilerva dos telhados.
SAIBO, n. m. Sabor.
— Dh-sc conmiummente: ííiau saibo, e
bom sabor.
— Figuradamente : Um saibo da mi-
nha gentileza.
— Vid. Resaibo.
SAIBRÃO, í. Vi. Augmentativo de Sai-
bro, iíarro forte areoso, em que, onde as
chuvas são frequentes, se dão bem as can-
nas d<> assucar, c outras lavouras.
SAIBRO, .v. m. Areia grossa, estéril.
SAIBROSO, A, adj. (De saibro, c o suf-
tixo «oso»). Com saibro, cheio de saibro.
SAICA, s. ./". Vid. Polaca.
SAÍDA, s. /. A acção de sair.
Estacs sempro aqui mcttida,
tendes aqui mil saida.i
o sois para vós tão crua.
ANTÓNIO PBESTES, AUXOS, pag. "245.
— «Sempre a mim me pareceu mal a
saída do cavalleiro do Salvage da corte
da maneira que .saiu, e o medo que té
qui trazia de sua vida, torno a perder
com saber quem vai em sua guardív. Com-
tudo nós o seguiremos té ver onde isto
pára; porque também se neste caso lhe
acontecer algum desastre, não seria bom
ficar homem fira delle.» Francisco de
Moraes, Palmeirim de Inglaterra, cap.
115.
— Figuradamente : Venda. — Esta sac-
ca de arroz não tem saída nenhuma.
— Sortida contra o inimigo.
— Loc. figurada: Dar saída; dar ra-
zões, que desculpem, ou sirvam de des-
feita.
— Talvez saca, exportação, em oppo-
sição Á entrada.
— Passo, como porta que dá saída.
— Loc. FIGURADA : Dar saída ; dar
interpretação, intelligencia.
— Êxito, resultado.
— Saída da vida; morte, o fim da vida.
— r>xpedição.
— Acabamento, successo.
— Saida do anno; fim d'ellc.
— Saída do anno; fim d'elle.
— Saída de proixisito; vid. Digressão.
SAÍDO, part. pass. de Sair. Apartado,
ausentado.
SAIN
— Aj femefu iÍj» unimac» andam saí-
das ; andam ao cio, na brama, em tempo
de appetccerom a copula.
— l'ulavra$ saídas da alma; palavras
dimanadas do fundo do coraçrio, e n2o
dos lábios. — ( Drauiusiando, que já e*«
tava a pé, tem<;ndo algum de^a^tre, com
palavras saídas de seu animo, que er»
grande, e pêra muito, o esforçou algum
tanto com cilas, ttndo toda a diligencia
quo pode em ajjertar as feridas d 'ambos,
Icnibrando-lhe que no tempo do perigo
não se ha de viver descuidado.» Francis-
co de Moraes, Palmeirim de Inglaterra,
cap. 87. — « Como quer qne e-Las pala-
vras fossem saídas dalma, trouxeram
comsigo lagrima» pêra testemunho do que
sentia: o posto que todos seus segredos
pêra Selvião nunca fossem occaltos, não
quiz mostrar-lhe de si tamanha fraqueza
em tempo, que havia necessidade de do-
brado esforço : antes, pondo as pernas ao
cavallo, se partiu não esperando respos-
ta.» Ibidem, cap. 11.'),
— Dentes saídos para fiWa ; dentes que
ficam por fi>ra do que os devia encerrar ;
resaltados.
— Acabado, passado.
SAIETA, s. /. Certa droga de lã de
forrar vestidos.
SAIEZA, s. /, Termo antiquado. Astú-
cia, sagacidade, ardil,
SAIGA, s. /. Antílope do norte.
SAIMEL, *. m. Termo de architectura.
A primeira pedra sobre o capitel, ou ci-
malha, que começa a formar a volta do
arco,
SAIMENTO, », «». Termo antiquado.
Pompa fúnebre de pessoas enlutadas,
que saiam a celebrar, ou assistir aos fu-
neraes régios.
— Fim, conclusão final, saida.
SAINETE, s. m. O pedacinho de tuta-
no, ou miolos, que os falcfKjiros, ou caça-
dores de volateria dão ao falcão, ou pas-
s.aro para os terem mansos, c amigos ;
também se lhes dão para a muda,
— Presente, mimo, dom com que se
ameiga a gente esquiva e adversa,
— Figurad.imente: Qualquer cousa
agradável com que se suavisa o desabri-
incnto, ou inconimo<lo d'outra que anda
anncxa com ella. — Por sainete d'e-tta
agrura.
í^ SAINHA, #. /. Termo antiquado.
Salina, marinha de sal,
2. i SAINHA, s. /. Diminutivo de Saia.
SAINHO, ». m. Diminutivo de Saio.
Vestuário antigo de mulher. Os casacões,
sobretudos, albernojtes, roupões, saitim-
barcas. e finalmente os bajiis s.ão restos
dos saios, cujos diversos talhos já hoje
nada nos intercjísam, variando tudo e se-
guindo a moda, que para se adoptar deve
accroscentar o gosto, e diminuir o gasto.
O saínho, porém, nada mais era que um
gibão redondo e sem abas.
SAÍNTE, pa>i. act. de Sair. Que sáe.
SAIO
tíAIR
SAIR
379
— ■ Anno saiate; anno que vae aca-
bando.
— Saíiite da quinta suso; saindo da
quinta para baixo.
SAIO, ou SAYO, s. «1. (Do latim sa-
giim]. Espécie de veste com fraldão até
ao joelho, ou mais curto, porém com
abas, conhecido também pelo nome de
saiote, e saião, o maior de que usavam
os saiões, ou officiaes de justiça.
De que diz?
D'um íííio que ha de ir d'aqui.
Temo3 moço papagaio ?
O melhor que nunca vi.
.4ST0SI0 PKE3TBS, AUTOS, pag. 439.
E saiba, senhora, de mim
que neste saio se encerra
grandes signaes.
iBroEji, pag. 441.
Nào mo consente
o que VOS quero.
Negae-o
pêra isso.
Esse saio
me dae autea.
Até alli SC mostra junto
um amor com outro amor;
do saio não lhe dê dôr,
que este sAio era defunto
e falava em meu senhor.
Não, que nào vae a penhor ;
mudàmo-nos d'estas cazas
pcra outras mais monarcas ;
começa cUe a levar fato,
porque o saio era um pato
que pezava mais que as arcas ;
foi logo por aparato.
IBIDEM, pag. 447.
— O saio das mulheres; era como a
roupa aberta de hoje, só com a differen-
ça de ter mangas perdidas até ao collo
do braço, abertas no sangradouro, e por
esta abertura se enfiava o braço, não o
querendo cobrir com toda a manga; e a
cauda do vestido era de quatro quartos,
ou por mais enfeite de dous somente; ti-
nham no cotovelo um bolso grande.
— Diz-ae também uma batina, uma
beca, uma garnaeha, etc.
— Termo usado pelos rústicos.
— Loc. PROV. : Isso não me descose o
saio; isso nào me faz o menor mal.
SAIOADO, s. m. Officio de saião.
SAIOARIA, ou SAYOARIA, s. m. Termo
antiquado. Execução feita por saião, al-
gozaria .
— Força, violência feita por oíRciaes
executores da justiça.
— Figuradamente : Vexame, oppres-
são, dcspeitamento por officiaes de justi-
ça, exactores.
SAIONIZIO, s. m. Termo antiquado.
Estipendio, ou gajes, que se davam aos
alcaides, esbirros, algozes, ou agarrautes,
e que hoje se chama salário de mão pos-
ta. Kão só se pagava a estes ministros, e
executores da justiça a pena de carccra-
gem por levarem os criminosos ao cárce-
re, mas ainda a de mão posta pelos pren-
derem e manietarem.
SAIOTE, í. VI. Diminutivo de Saio.
Vid. este termo.
— Espécie de saia, com que vestem
anjos de procissões, e as mulheres; é
curta.
SAÍR, ou SAHIR, i;. n. Apartar-se,
passar de dentro para fora. — Sair da
casa, da cidade. — «No próprio instante
saíram de dentro da fortaleza seis caval-
leiros armados de frescas e lustrosas ar-
mas, 03 escudos embraçados, as lanças
baixas, dizendo: D. cavalleiro sandeu,
agora convêm que sintaes os damnos que
a necessidade traz comsigo.» Francisco
de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap.
102. — « E o Duque em sayndo cuydou
que o leuauão a alguma fortaleza, e
quando vio todos a pé ficou muyto enlea-
do, e triste. Foy assi leuado a humas ca-
sas da praça, que parece cousa de notar,
porque o dono delia se chamaua Gonçalo
Vaz dos baraços, e em Euora não se
vendiâo senão em sua casa.» Garcia de
Rezende, Chronica de D. João II, cap.
46. — »E indo nós, como digo, elle e eu
para o mato, como nos era mandado,
acertamos de encontrar numa rua antes
que saíssemos da cidade huma grande
somma de gente, que com grande regozi-
jo o festa levavão a enterrar hum morto,
com muytas insígnias de pompa fúnebre.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações,
cap. 116. — «Desbaratada esta frota,
Lopo Soarez fez desembarcar os nossos,
dando a dianteira aos cinco capitães, os
quaes juntos com o Príncipe de Cochim,
que veo per terra, e a outra nossa gente
derão na de Naubeadarim Príncipe de
Calecut, os quaes depois de se defende-
rem hum bom pedaço deixaram o campo,
e entrando per huma porta da cidade
saíram pela outra, indolhe os nossos no
alcance ate os lançarem fora.t Damião
de Góes, Chronica de D. Manoel, part. 1,
cap. 97. — «Do que consolados liics dixe
que era necessário, assi elles como todo-
los outros Mouros, e ludeus que estauam
na cidade nam saírem delia ate elle nam
tornar, e que o contador Xuno gato, que
ficaua em guarda delia lhes faria boa
companhia. » Ibidem, part. 3, cap. 14. —
«O que vendo George de brito foi força-
do a fazer o mesmo, e deram com tanto
ímpeto, assi poucos eram, nos dianteiros
dos imigos, que os fezeram entrar pela
porta da cidade, donde el Rei ainda naõ
saíra.» Ibidem, part. 4, cap. 67. — «Hoje
15 de junho de 1760, e cercada a casa
do núncio, e pela manhã se lhe intima a
ordem de sair da corte dentro de três
1 horas, e de Portugal dentro de três dias.
Luiz de Mendonça, governador da corte,
o acompanhou com 80 cavallos.» Bispo
do Grão Pará, Memorias, publicadas por
Caraillo Castello Branco, pag. 104. — '
«Saindo do claustro e entrando na porta-
ria do mosteiro, olhou para o alto d'a-
quella formosíssima casa, e vendo um
leão nas armas de S. Bento postas no es-
tuque, poz-se a chorar dizendo a frei
Agostinho de Santa Maria que era o por-
teiro.» Ibidem, pag. 116. — «Caso que
não é factível dar-se; pois antes de che-
gar á cocheira d'este logar, entrando pelo
matto e saindo logo adeante, evita-se a
diligencia.» Ibidem, pag. 188.
— Sair de mergulho; sair de baixo d'a-
gua para fora.
— Sair em terra; desembarcar, fazer
desembarque hostil. — «A cerca do qual
caso me parece, que seria bem sairmos
esta noite dez ou doze homems em terra
daquelles que mães dispostos se achas-
sem pêra isso : e espei-o em nosso senhor
que com vossa ajuda nos iremos desta
terra mães honrados que quãtos té ora
vierão a ella.» Barros, Década 1, lív. 1,
cap. 6. — «Polo que mandou a dom Lou-
renço, que entre tanto que senão tomaua
concrusaõ no que os Mouros deziam,
saísse em terra, com alguma gente, e
queimasse as nãos, como fez.» Damião de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 2,
cap. 4.
— Tirar-se, llvrar-se, desemharaçar-se.
— «O desaventurado velho alegre de sua
maldade sair como desejara, e ver que se
a opinião de sua virtude padecera que-
bra para com a Santa, a quem descubrí-
ra a imperfeição do seu animo, estava a
sua abatida para com o Mundo todo.»
Monarchia Lusitana, liv. 6, cap. 24.
— Resultar, ter êxito, terminar. —
«Quantas culpas lhe sairiam, ás quaes o
erro dos homens dá outro dono!... mas
não empecemos aqui, porque o prognos-
tico nos está acenando de cima do cam-
panário.» Fernão Rodrigues L bo Soro-
pita. Poesias e prosas inéditas, pag. 81.
— Sair a receber; apparccer, apresen-
tar-se para isso. • — ■ « O do Tigre, e seus
companheiros os saíram a receber acom-
panhados de seu esforço, e, todos de uma
banda e outra acertaram os encontros.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 118.
— Figui-adamente : Trazer a sua ori-
gem. — «E depois de apertar Palmeirim
como a cousa que lhe saíra d'alma, to-
mou antre os braços Floriano, a que nun-
ca vira, e com palavras cheias d'amor os
levou comsigo pêra cima, onde achou a
imperatriz, acompanhada de Vasilia e
Polinarda, que os estava esperando, que
já lá chegara a fama de quem eram.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 94.
— Sair 2"^^^^ ajudarem ; apparecer,
apresentar-se para este fim. — «Os ou-
380
SAIR
SAIU
SAIR
tros Cliristílofl, qiin licanvni na villa vo-
llia, vendo que <loiii loam hi; alorií^aua
110 alcancR, qiiiHorain sair jx-^ra o ajmla-
rem, o (pio iiam poiloram fazer, porque
muitos dos Mouros llio viiiliaiu cortando
t)S vallailo.s, e tiulião Jà touiado o cami-
nho por omlc ollo dura uot< outros.» Da-
mião do (locB, Chronica de O. Manoel,
part. 1, cap. t)().
— Sair a visitar ; ir íni-.i para esse
fira. — «Resolvido o dia do sairmos a vi-
sitar, para cumprir com o coucilio tri-
dentino e saj^rados cânones, que, confor-
me 08 doutores, oljripani gTaveuiente, e
com rasilo, porque sondo de direito divi-
no apascentar as próprias ovei lias, o Es-
pirito Santo em os l'rovorbio,-i diz quo
dilin;enteinento conheça o pastor o sru
rebanho.» Bispo do (irão ViivA, Memo-
rias, publicadas por Camillo (^'astcllo
Branco, pa^. 170.
— Sair fora; app.arecer, apresentar-se.
— «Polendos manilou pôr a proa da galé
om torra, o tomando Targ-iana pela mão,
acompanhado de seus companheiros ar-
mado do ricas armas e olla vestida com
suas damas d'atavio3, que de Coustauti-
nopla i)ora aquelle dia traziam sairam
fora.» Francisco de Moraes, Palmeirim
dTnglaterra, cap. 96. — «Ariança, ven-
do quo o quo o vellio dizia era bom porá
dar esforço a quem o não tinha, limpan-
do as lagrimas, quiz contrafazer o medo
e sair foi*a; mas inda quo seu coração
fosso pêra muito, veado as bravas ondas
do mar tão fc')ra de seu natural, que ás
vezos parecia que davam com o navio no
ceo, outras vezes descia aos ab3'8mos, e
junto com isto o mastro quebrado, o na-
vio tomar tanta agua por bordo, que qua-
si ficava de todo alagado.» Ibidem, cap.
115.
— Dimanar, correr. — «E posto que
ella sentisse donde lho viera o dauino,
bem cuidou o imperador e os que alli
estavam, quo as feritlas de Albarroeo,
de que lho tanto sangue sairá, o pozeram
em tal estado. » Francisco de Jloraes,
Palmeirim d'Iaglaterra, cap. 94.
— Não sair il<i imu ; não desembarcar.
— «O que acabado se embarcou sem mais
sair da naa, onde raandaua negocear as
cousas que lhe eompriam, ate quo se par-
tio, muito amigo com Afonso dalbuquer-
quc, que a tudo o que lhe mandaua pe-
dir daua, e mandaua dr.r todo o auia-
mento necessário, com muita diligencia.»
Damião de Góes, Chrouica de D. Manoel,
part. 2, cap. 41.
— Sair ao mar ; desembarcar n'oIle,
ter n'olle a sua foz. — «Vem estes I/ios
a Camboja por hum rio abaixo muitos
dias de caminho, ho qual hc nuiy gran-
de e dizem ter oi-igem na clúna como
outros muitos que saem ao mar da Ín-
dia: tem oito, quinze, vinte braças de
fundo, como eu om hua grande parte
delle vi por oxporioncia.» Fr. Gaspar da
Cruz, Tratado das cousas da China, ca-
pitulo ii.
— Pencadore» sairem ao mar; entra-
rem n'olle para pescarem. — «K «o asse-
nhorear do regno como tyrano, determi-
nou <!arcia de Sa, que seruia do capitam
de Jlalaca c(jnio fica dito, de mandar
Emanuel i'aclicco cin huma nao bem es-
quipada, e artilliada para quo andasse
entre o porto de l'acem, c Achem, c de-
fendesse a entrada aos que a elles quises-
sem ir, porque por entani nenhuma guer-
ra ]>odia fazer mor ha este Rei quo ve-
darlhe os mantimentos que vinham de fo-
ra, e estornar os pescadores que nam
saissem ao tuar.» Damião do ( loes, Chro-
nica de D. Manoel, part. 4, cap. Ivl.
— Apj).ireciír, mostrar-se. — «Renoua-
da a guerra, Rf>çalcam veo algumas ve-
zes cometer ha cidade, de quem se os
nossos defendiam de maneira que nunca
ousou de chegar aos muros, porque os
nossos lhe saiam, poendosse em ciladas,
por tão bom modo que hos desbaratauão,
e faziam sempre fogir.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. íí, cap. 21.
— Sair fora <le mãu. — «Pois a natu-
reza os dotou tão inteiramente de bens
temporaes e do serviço dos homens, que
nenhuma outra cousa lhe fica era que
possam conhecer a deos, se não na supe-
rioridade do príncipe, que os opprime a
não sair tão fira de niào como a condi-
ção 03 obriga.» Francisco do Moraes,
Palmeirim d'Inglaterra, cap. 97.
— Sair cum ijeiítfi ; apparecer com ella,
jiara atacar, combíiter, etc. — «E entre
alguns auisos que lhe mandou, foi que cm
quanto o cerco não vinha, no tempo que
elie Lourenço de Brito visse que melhor
se podia fazer, saisse com gente e dece-
passe quantas palmeiras podesse, por fazer
maior cãi)0 de fronte da fortaleza, pêra
que o arrayal da gente que auia de ser
muita, lhe ficasse mães longe: com os
auisos também lhe mãdou duas almadias
do mantimento.» Barros, Década 2, liv.
1, cap. 5.
— SãiT ferido; apparecer n'um estado
de ferimento. — «Dos nossos morreram
neste derradeiro desbarato setenta, e os
mais quo escai>aram sairam feridos, en-
tre os mortos foram Luis raposo, e Pêro
Veloso, os quaes em chegando a praia, e
nam adiando George de brito disseram
que nunca Deos quisesse que se embar-
cassem sem saberem que era feito do sou
capitam.» Damião do Góes, Chronica de
D. Manoel, part. 4, cap. 52.
— Ficar. — «Affirma também este li-
vro, que tem cento c vinte praças no-
bres, em cada huma das quais so faz ca-
da mez huma feyra, quo feita a conta ao
numero delias, sae a quatro feyras por
dia em todo o anno.s Feruno Jlendes
Pinto, Peregrinações, cap. 107.
— Rio (/Ktí sàe dos Andes; rio que tom
a sua origem dos Andes.
'IW iloR acrcoí Andca láf poqaeno
O MiiiKiiiiiipi, o rápido (froii/iquc.
J. A. DE UACKUO, A KAtUUKZk, Caot. 2.
— Sair a» porta»; auaentar-sc, apar-
tar-se.
Dccio não ch^ga ! K o sol e«i no horisonto
Precipitado ju. D'-ccrto í ido
I>u Utica. — Oh, ni-lo »ai agora a« portM.
UÀBBKTT, CITÂO, aCt. 3, »C. C.
— Nascer, dimanar, correr.
Os crríHpoa fioi d 'ouro deaparzidoe
Pelo collo (|uc a neve e.-Mjiincia ;
Lácteas tetas i|ue andando lhe tremiam,
('oui r|nern amor brincava e não se via;
Ah flamas que llic larm dalva pctrina ;
Desejos (|ue corno heras inrolado«
Pela» lisas columnag lhe trepavam...
OABRETT, CAMÕES, cant. 7, cap. 18.
— Sair-lhe avessa ; sair-lhe ao contra-
Minhas noras?
nc{;am-lhc os meua burro? eaaa j
o se cabeça
ou pés aflora estas hora»
n'Í3so tem, taio-lht avps.4a.
AXTONio TRESTES, Ainos, pag. 49.
d'ella
Sair de uma opprcssão; livrar-so
vou-mc mcttcr na prisão
por ver se coo meu vertido
sairá d'csta oppress&o,
pois nào é cm miuha mão
vel-o em cárcere mcttido.
AKTONIO TBESTBS, ACTOS, pkg. 493.
Figuradamente: Sáe do mesmo ovo.
noto, ou\-irá caso novo,
porque não tenho outro cstrovo :
como digo, é fria a terra,
tudo o que n'ella 8e encerra
K<íe assi do mesmo ovo,
do mesmo frio, c nação.
ANTÓNIO PBESTES, ACTOS, pag. 149.
— Sair que quinJieiUos casamentos ; ap-
parecerem.
e formosa, casamentos
lhe .«(iiíim que quinhentos,
e eila a todos deu de mão ;
que antes cazar x\ào queria.
ANTOsio rBESTEs, Acros, pag- 333.
— Saiu tal bei%tjo.
Vac, vac.
Disâc-lh'as como ou desejo.
Sain oUe tal benejo
a tal boneja.
Amoxio rBBSTBS, ACTOS, pag. 131.
SAIR
SAIR
SAL
381
— Não sair um alvará de minha mão;
não passal-o a outro; guardal-o bem. —
« Com esta vão os alvarás de que cons-
tam os exemplos, e o principal funda-
mento da justificação da nossa causa, que
V. m. nos fará mercê, de que não saiam
da sua mào, porque importam.» Padre
António Vieira, Cartas, n." 6.
— Figuradamente : Depois dos jwrtii-
guezes saírem dos troncos; depois de se
desenvolverem physica e moralmente. —
tDe maneira que os Portugueses depois
de sayrem dos troncos e terem alguma
liberdade, em nhuã gente achavam tan-
to gasalliado, honra c favor como nestes.»
Frei Gaspar da Cruz, Tratado das cou-
sas da China, cap. 8.
— Sair 67)1 vão, sair debalde ; ter re-
sultados frustrados, desvanecidos.
— Sair ao encontro; vir ao encontro,
vir a encontrar-se.
— Loc. FiG. : Sair do atoleiro; tirar-
se de passo difficil, ou de perigo.
— Sair á luz; nascer, dar-se ao pu-
blico.
• — Sair com a sua tenção ; conseguir a
satisfíiçào do seu intento, ou capi'icho,
apesar das opposições.
— Sair ao inimigo ; que nos apresenta
batalha, ou apparece diante da praça.
— Sair mal^ bem, victorioso ; ser bem
succedido no negocio, na batalha, etc.
• — • Sair o intento; succeder, verificar-
se, effectuar-se segundo o seu desejo.
— Sair a palavra da bocca.
— Saiu-me o covado d'esfa fazenda a
tanto; veio a custar-me tanto.
— Apparecer feito .
— Sair da vontade de alguém ; não se
conformar com ella.
— Sair sobre as fontes ; levar os cate-
cumenos, e adultos solemnemente a ba-
ptisar pela paschoa.
— Sair a égua; andar ao cio.
— Agora sàes com isso ; agora dizes
isso que se nào esperava, por fora do
tempo, e alheio do assumpto.
— Sair um lanço a alguém; acontecer
alguma cousa desejada, esperada, succe-
der-lhe á vontade.
— Sair a alguém; parecer-se-lhe no
modo de obrar. — O filho sáe d mãe.
— Sair por alguma cousa, ou pessoa ;
acudir por ella, toi-nar por ella como de-
fensor, campeão, defendel-a era apologia,
desculpa, ou prova de innocencia e re-
pto, duello por prova judicial, e muito
usada pelos antigos.
— Sair uma voz pelo povo ; derra-
mar-se.
— Sair do propósito; fazer digres-
são.
— Sair a nado ; sair nadando do mar
á praia.
— Sair ao inimigo; mover, abalar con-
tra elle, fazer sortida.
— Sair a nova do povo ; ter a sua ori-
gem d'6ntre o povo.
— Sair !í7/irt sorte a alguém em loteria ;
caír-lhe cm sorte algum premio.
— Sair uma sorte em branco ; não ter
premio.
— Sair em preto a sorte na cdlecção
dos mancebos para milicia; ficar esse, a
quem ella sáe, sujeito a assentar praça.
— Sair de si, ou de siso ; perder a
advertência do que faz, a reflexão, o
tento.
— Sair uma ilha do mar ; apparecer
fora d'elle, surgir.
— Sair da parede, ou muro ; ficar de
sacada fora d'ella, resaltado do olivel, ou
face, sobresair.
— Sair em; apparecer em outro estado,
figura.
— Sair fjra de si ; fazer demonstra-
ções excessivas de prudência, de mode-
ração.
— Figuradamente : Sair o agradeci-
mento fora de si; fazer excessos.
— Sair o appetite dos limites da razão;
desviar-se d'elia.
— Sair o rio da madre ; trasbordar,
inundar.
— Sair ao campo, ao terreiro ; sair
para combater, pelejar, luctar.
— Sair sobre alguém; fazer suffragios,
ou dizer responsos sobre alguma sepul-
tura.
— Sair da lei, da regra; desviar-se da
sua observância.
— Sair certa a j)rophecia ; cumprir-se,
verifiiar-se.
— Sair a alegria, ou a ira á cara;
manifestarem-se estas paixões da alma,
nas mudanças do semblante.
— Sair tiual(£uer cor, ou matiz entre ou-
tras ; apparecer bem, não morrer.
— Sáe bem o ouro sobre o azul; n'este
passo sáe bem o verso do nosso poeta;
está, e parece bem, realça-o.
— Sair a machina dos eixos.
— Saírem os ossos.
— Saír-se, v. reji. Desviar-se, apar-
tar-se. — «Isto é, senhor, o que está
mandado dizer a todos, o que já tem aba-
lado a muitos das suas terras, e o que
nas nossas detém a outros, que de deses-
perados se queriam sair d'ellas.» Padre
António Vieira, Cartas, n.° 15.
— Sair-se um navio de outro que o se-
gue; em opposição a entral-o ; escapar-
Ihe ou afastar-se bem, e ligeiramente
d'elle.
— Saír-se ; parecer, tomar-se. — « To-
mara já acabado isto ! Vae-me saindo
longa a dedicatória; mas ahi está a do
cardeal Cionfuegos na vida do Santo
Borja. Bom arbítrio ! divida-se a dedica-
tória em duas partes. Novidade!» Bispo
do Grão Pará, Memorias, publicadas por
Camillo Casteilo Branco, pag. õ3.
— Sair-se com desculpa; recorrer a
esse expediente.
— Sair-se do cavallo, ou outro encar-
go; ficar livre, dispensado de o ter.
— Adágios e provérbios:
— Sai-me ao sol, disse mal, ouvi peor.
— Saio do lodo, caio no arroio.
— Saem captivos, quando são vivos'.
— O mal que da tua bocca sáe, em
teu seio cabe.
— O mau visinho vê o que entra, mas
não o que sàe.
— Sair das conchas.
— Saiu de um atoleiro, e metteu-se
n 'outro.
— Não saias ao luar, que não sabes
qaem te quer bem, nem mal.
— Não sair do caminho.
— Nào saiáes fora da vossa esphera.
— Entrar lambendo, e sair mordendo.
— O filho do mau, quando sáe bom, é
razoado.
— ^Nào cures filho alheio, que não sa-
ldes qual sairá.
• SAIRÁ GRANDE DO BRAZIL, s. wi. Ter-
mo de zoologia. Pássaro conhecido tam-
bém pelo nome de cotinga azul; é de um
azul celeste brilhante, tendo a garganta
e peito violete, um cinto do mesmo azul,
e algumas malhas douradas ; a fêmea não
tem o cinto, nem as malhas.
— Espécie de melro mui brilhante.
SAISSO, s. m. Vid. Vime, ou Salgueiro.
SAITAIA, s. m. Termo de zoologia. Ma-
caco da America, de cabeça chata, de fo-
cinho pouco proeminente, de cauda lon-
ga, que se enrosca em torno do corpo,
nádegas sem callo, bochechas sem papos,
e ventas abertas aos lados do nariz ;
taes são o saitaia negro do Pará, o sai-
taia chorão, o saitaia amarello do Pará,
etc.
1.) SAL, s, m. (Do latim sal). Subíitan-
cia dura, secca, friável, que dile na agua;
é formada de partes delgadas que pene-
tram facilmente o paladar. — t Salvo que
mandamos que possam comprar fruita, e
vinhos, e sal no Regno do Algarve, e nos
outros lugares da dita nossa terra, pêra
carregarem, e levarem fora da ten-a, e
nom pêra revenderem, como dito he.»
Ordenações Affonsinas, liv. 4, tit. 4, §
14. — « Estabelecerom outro si, e man-
daarom, que durando o tempo da dita
guerra, nom fosse algum Christão tam ou-
sado, que levasse a terra de Mouros ne-
nhumas mercadorias de pam, vinho, azei-
te, sal, cera, sevo, mel, e geeralmente ne-
nhumas outras mercadorias.» Ibidem, tit.
63, § 1.- — « Porem Mandamos, que os
nossos sobditos e naturaes possam levar as
mercadorias vedadas no segundo capitulo
nomeadas, a saber, pam, vinho, carne,
pescado, mel, azeite, sal, etc. a terra de
Mouros soomente pêra tirar, e remiir al-
guns Chrisptaaõs cativos, que lá jazem.»
Ibidem, § 4. — «Ao Norte tem Ormus o
mar da índia, ao Sul o Estreito, ao Orien-
te a Pérsia, e ao Ponente a Arábia felice,
ficado desta noue legoas, e da outra três.
Em circuyto tem quatro, nas quaes senão
vem mais que sal, enxofre, cinza, e viej-
382
SAL
SALA
.SALA
ro3 duhnafíra. u Fr. Gaspar do S. JJornar-
diiio, Itinerário da índia, cap. 11. —
« Alom de.sti; c-imitiiriu, «o louauta Imiiia
serra, toda do vicyroa daluia^ro, enxofre,
sal, o cinza: bom no alto dolla cstà liuina
Ermida, cluimada nossa Scnliura da l'cn-
na, cujo nonui llie poserào pela niuvta
8oniolliaiii;a (juo tem com u de >Siiitra.»
Ibidem. — Carucem também de sal, e
huma e outra cousa lho dào, e podem im-
pedir 03 FortuguozoH, eom o que, o com
o estado presente do Keyno será fácil tra-
sello á sua obediência.» Conquista do Pe-
gú, cap. 1 .
Os aars com oUe, ii» agoan so misturào,
A» viccjautoâ arvores com olln
Do Haboroios iVuctoi ao curiíiuocom.
J. A. I)K UAOEDO, A NATUBK/.A, Cajlt. 2.
Porçõcí heterogcno.a» so miriturão,
Enxofro, taes, c fogo, oli quain terrivciíí.
Que pavoroâas sào ((uando fechadas
Da torra dura uo cavado solo,
Força occulta c sympatliica as opprimc !
— Os apontolos são o sal da terra ; de-
vem livrai-a e defendol-a da corrupção
moral.
— Modernamente div-se o nomo de sal
ás substancias resultantes da combinarão
dos ácidos com as matérias térreas e alca-
linas.
— Antif^amente distinguiam-se muitos
Baes: como sal acido, alcalino, volátil,
Jixo, etc.
• — -Sal ammoniaco. Vid. Ammoniaco.
— O sal de salgar é mineral, ou mari-
nho; é coalbado de agua do mar evapo-
rada em talhos de marinhas, cm vasos de
ferro na fogo, etc.
— Estar o comer uma pilha de sal;
estar muito salgado.
— Figuradamente : Disci'içào, graça.
— O sal da sabedoria ; o sal que uo
baptismo se metto na boeca aos baptisa-
dos.
— Figuradamente: Sabedoria, prudên-
cia. — «O meu sal não é corrosivo, nem
Séneca o estóico o approvava d'outro mo-
do; porém, tal qual é, pôde aproveitar a
algumas cabeças, posto na moleira dos
que as tem vasias como a da estatua que
viu a raposa no tempo em <iuc tudo fal-
lava.» lUspo do Grão Pará, Memorias,
publicadas por Camillo Caslello Branco,
pag. 49.
— Sabor, gosto, graça.
— Arrazar a cidade de sal, ou salgar
as casas ; castigos usados.
— As plantas dão saes esLtrahidos por
varias operações chimicas.
— Doutrina do bom saber o salvação.
— Figuradamente : Preservativo, o que
isto faz, e dá bom sabor.
— Sal jinto; sal coalhado, á diflerença
do que uão ora.
— AoAfiios E i-uovEumos:
— G sal quanto «alga, tanto vai.
— Gvo de l'ortugal Jiào é mister sal.
— O taleigo de sal quer cabedal.
— liepartiu-se o mar, c fez-sc sal.
— Sal vertido, nunca bem coUiido.
— O íiclalgo .» o galgo, c o taleigo do
sal, junto do logo os hão de aclutr.
— Dos cheiros o pào, e do sabor o sal.
— Um ovo (juur sal e fogo.
— \Á vai o mal, oudo comem o ovo
sem sal.
— O velho e o peixe ao sal apparc-
cem.
— Panclla sem sal, faze conta que não
tem manjar.
— Não tem sal, nem onde o deitar.
— Do mar se tira o sal, e da mulher
muito mal.
— Não te has de fiar, senão com quem
comeres um moio de sal.
2.) SAL. Imperativo do verbo antiqua-
do salir. Vid. Salir.
SALA, a. /. Peça interior e principal
de uma casa, mais espaçosa, e ordinaria-
mente com melhor adereço que as outras,
proprÍ4 para receber visitas, bailes, etc.
— « Então um dos gigantes, que algum
tanto parecia fazer vantaje aos outros,
com voz temerosa e alta, que toda a sala
enchia, começou dizer.» Francisco de
iloraes, Palmeirim de Inglaterra, cap.
93. — » G turco se foi a este tempo por
uma porta falsa, que hia ter a um corre-
dor, que vinha sobre a sala, e começou
dizer a grandes vozes : Polendos, dato e
teus companheiros á minha prisão, se não
será força mandar-vos matar a todos,
cousa contra minha eondiç.uo.» Ibidem,
cap. 9G. — «Entrou polias portas da sala
com nove bateis grandes, em cada hum
seu mautedor, e os bateis metidos em on-
das do mar feytas de pano de linho, e
pintadas de maneira que parecia agoa.»
Garcia de Rezende, Chronica de D. João
II, cap. \'21. — «Na primeyra sala cm
que entramos, vimos na parede pintada a
Ivaynha dos Anjos com o Menino Iesvs
nos braços, eom cuja vista nos alegxamos
estranhamente, e não faltou na compa-
nhia, quem de alegria chorasse.» Fr. Gas-
par de S. Bernardino, Itinerário da ín-
dia, cap. 15.
Este na Sala entrou de loba, e capa,
Mas debaixo do bra*;o, co'a Catana,
Com quo om noitcã de escuro tem brigado
(So de seu grau valor uaõ mente a famai
Sluitas vezes, com todos os Diabos.
Asroxio Di.Mz DA cKLZ, iivssorK, cant. 7.
— Sala de tspera ; sala onde estão os
hospedes até que sejam conduzidos ao in-
terior. As saias ordinariíis são á frente
das casiis, para gozar a luz da rua.
— Figuradamente : Ter boas sedas ; o
que á primeira e externamente faz bons
gasalUadoa e comprimentos.
Sala viarinarea; sala de mármore.
Tu, do Norf! /i Filosofo gui-rrciro.
Quantos ouvÍ8fe'S na marmórea Sala,
Que inda abaixo do8 bruto4 se arrutravio?
d\n^o» nas produc'<;úcH, ua uMcucia eorjXfS,
De nenhum jiuro i-spirito animados,
(Estranho paradoxo!; i'llo« gc acelamão !
J. A. DE MACKUO, MKDlTAçIo, Cant. 4.
— Dar sala franca ; dar banquete a
quem quizer ir comer.
— As salas f atoes d'eban'j « d« ouro.
Vfjo o vulto de Séneca, »cu» olhos,
Cinde arcano fulgura hum lume, c volvf
.Míditabundo ao luminoso asocnto.
Pizo as Kil.of fataes d'cbano, c de ouro.
Onde a sombra de Nero horror derrama.
J. A. ni: UACKlMj, VIAGEM EXTÁTICA, CAUt. 2.
— Fazer sala « alguém ; frequentar a
sua casa para o graugear.
SALA, ou ÇALÁ, í. "I. Gração, depre-
cação feita cinco vezes ao dia pelos mou-
ros.
— Figiirailamente : Cortezia.
SALABORDIA, «, /. Termo popular.
Semsaboria, pratica tola de vulgarida-
des.
SALADA, *. /. iDo francez salade).
Alimento composto de certas hervas ou
de certos legumes temperados com sal,
pimenta, vinagre, azeite, etc.
— Termo de poe.sia. Compo.-;ição poé-
tica de coplas, redondilhas, entre as quacs
se mi.stura todo o género de versos, e lin-
guagem; tem retornello.
— Ad.\gios e provérbios:
— Salada bem salgada, pouco vinagre,
bem azeitada.
— Quem sobre salada não bebe, igno-
ra o bem que perde.
SALADEIRA, í. /. Prato covo para tra-
zer salada ;i mesii.
SALADINHA, ou SALADINA, s. /. Con-
tribuição imposta outrWa em Inglaterra
e França para a cruzada contra Saladi-
no, sultão do Egypto.
S ALAM A, í. í)í. Saudação. ViJ. Sale-
ma.
SALAMALÉ, s. m. Vid. Salama.
SALAMALEK, s. m. Saudação profunda
entre es turcos, civilidade exagerada.
— I.oc. pi>i'.: Fazer grandes sàLami'
leks. ^ il. Salema.
SALAMANDRA, s. /. i Do latim sala-
mandra). Reptil da f.inna da lagartixa,
do qual o vulgo crê que vive no f(^o.
— Dá-se também este nome ao amian-
to ou abesto.
— Salamandra aquática, ou salamanti-
ga dagua; amphibio que se encontra nas
aguas encharcada*.
— Termo da antiga chimica. Sangue
da salamandra ; vapor rubro que se ele-
va durante a distillação do espirito de
nitro. E hoje o acido hypo-azotico.
SALC
SALG
SALG
383
SALAMANTEGA, ou SALAMANTEIGA, *.
f. vSigiiitica o mesmo que salamandra.
— ■ Outros querem dar-lhe a significa-
ção de um bicho estreito e longo, cheio
de pés de um e outro lado do corpo.
SALAMANTICO, A, adj. Coucernente a
Salamanca.
— Substantivamente : Um salaméin-
tico.
SALAMANTIGA, s. /. Vid. Salaman-
tega.
SALAMÃO, ou SALOMÃO, s. m. Epithe-
to do rei da Judêa, filho de David.
— Figuradamente : Homem muito sá-
bio.— Este individuo é iiin Salomão.
SALAME, s. m. Espécie de paio, que se
come sem ser cozido.
SALAMEAR, ou ÇALAMEAR, v. n. Ter-
mo do náutica. Levantar ou cantar a ce-
leuma. Vid. Celeumear.
— Cantar a córoí. Vid. Psalmear.
SALAMIM, s. m. Vid. Selamim.
1.) SALÃO, í. m. Sala grande.
— Figuradamente : Os primeiros sa-
lões do imvienso alcaçar.
Além, naquclle inculto ermo espantoso,
O Peripáto foi, onde o profundo
Pensativo Aristóteles obteve,
Das mesmas mãos da Natureza, a chave
Dos primeiros salões do immenso alcaçar.
J. A. DE JIACEDO, MEDITAÇÃO, CaUt. 2.
2.) SALÃO, s. m. Termo de marinha.
Fundo de areia e limo, que encontra o
prumo, quando se lança para saber a al-
tura d'agua n'aquelle logar.
— Termo de agricultura. Barro gros-
so, nào visguento com mescla d'areia,
boa terra para cannas nos climas, ou an-
nos chuvosos.
SALARIADO, part. pass. de Salariar.
SALARIAR, r. a. Vid. Assalariar.
SALÁRIO, s. in. íDo latim salário). Es-
tipendio por trabalho, ou por serviço. —
Os officiaes pedem vniitas vezes augmento
de salário.
— Figuradamente : Recompensa.
— Salário dos soldad,os; o pré, o soldo
delles. Viu. Pré, e Soldo.
SALAVANCO, s. m. Vid. Solavanco.
SALAZ, adj. 2 gen. fDo latim salaxi.
Impuro, impudico. — O salaz membro ge-
nital.
X SALÇA-PRÔA, s. f. Termo com que
se designa aquella parte do navio, quan-
do em vez do beque ou talham ar, tem
apenas uma curva, contra a qual se ate-
sa a trinca.
SALCHICHA, s. f. (Do francez saucis-
íc. Tripa de porco cheia de pernil, e
gordura picada com sal, semente de fun-
cho, e um golpe de vinho branco.
— Termo de fortificação. Fachina lon-
ga de muitos pés de longor, usada para
cruzar, e segurar as outras, atravessan-
do-as por cima. Vid. Salchichão.
— -Termo de artiiheria. Um chouriço
de panno com a costura alcatroada, de
um dedo de diâmetro, que se enche de
pólvora, e se enterra no chão para d'ella
se communicar o fogo á mina.
SALCHICHÃO, *. m. Augmentativo de
Salchicha. í^alchicha grande.
— Termo de fortificação. Molhos de
toda a casta de madeira atados pelo meio,
e extremos, os quaes supprem por fachi-
nas.
SALCHIGHEIRO, A, s. Pessoa que faz
salchichas.
— Pessoa que vende salchichas.
SALDADO, part. pass. de Saldar. Ajus-
tado, egualado o debito com o credito, a
receita com a despeza.
— Pago completamente.
SALDAR, r. a. Pagar o saldo.
— Inteirar o resto, ou a difl^erença de
debito e credito em contas commerciaes.
— Alguns dizem soldar na significação
de pagar o resto ao credor.
— Saldar as contas; inteirar, pagar a
diíferença.
SALDO, s. VI. (Do francez solde). A
somma, que falta ou resta para ajustar
o debito com o credito nas contas d'en-
tre devedor e credor, ou administrações
em que ha receita e despeza.
SALE, s. 2 gen. (Do francez salé) . Car-
ne salgada. Vid. Sele.
SALEIRINHO, í. wi. Diminutivo de Sa-
leiro. Saleiro pequeno.
SALEIRO, s. m. Vasilha em que se traz
o sal para a mesa.
— Termo de montaria. È a nascença
das pontas, fallando da parte mais ele-
vada da cabeça do veado.
— O homem que vende sal.
1.) SALEMA, s. f. Termo de náutica.
Vid. Celeuma.
2.) SALEMA, s. f. Cortezia, reveren-
cia profunda em signal de obediência e
submissão, acompanhada de certos vocá-
bulos, entre os quaes vem salemas.
3.V SALEMA, s. f. Peixe vulgar.
SALEMINHA, s. /. Diminutivo de Sa-
lema ipeixe\
•{■ SALENE. Termo usado por António
Prestes nos seus Autos.
Oh ! como vindes salèn>' !
Mestre, toda a gentileza
vem comvosoo em vir aqui.
AKTOxio PKESTEs, AUTOS, pag. 339.
SALEP, ou SALEPO, s. m. Substancia
alimentar que se extrahe dos tubérculos
de todas as orchideas indistinctamente.
— Bebida que os orientaes fazem com
os bolbos das orchideas.
— Ha outras variedades com diversos
nomes.
SALETA, s. f. Diminutivo de Sala. Sa-
la pequena.
SALGA, s. f. A acção de salgar o pei-
xe ou carne para os curar.
— Tributo imposto sobre o sal pelos
reis de Aragão.
— Local onde se salgam e curam pei-
xes. Vid. Salgadeira.
— Jlarinha do sal.
SALGADAMENTE, adv. (De salgado, e
o suffixo omenten). Com muito sal, de
um modo salgado.
— Figuradamente : Graciosamente, fa-
cetamente.
SALGADEIRA, ». /. Tina com fundos
postiços, em que se tem o peixe ou car-
ne na salmoura.
— Lugar onde se salga e cura peixe.
— Termo de botânica. Planta que tem
o gosto do sal.
SALGADÍSSIMO, A, adj. superl. de Sal-
gado, ^lui salgado.
SALGADO, part. pass. de Salgar. Que
tem sal em abundância.
As taes formas no mar polia mor parte
Animadas e viuas ficào sempre.
Polia disposição que a natureza.
Na glotinosa c grossa matéria acha.
Assaz ba.stante, c fértil acremento
Das amargas, falgada.') grossas aguas,
Disto a mestra engenhosa cria feros,
Espantosos, marinhos feos monstros.
coKTE REAL, xArFBAGio DE sepcl\t;da , caut. 16.
Tal acontece ao navegante, quando
Donde inda nào scdgado o Tejo corre
Em ligeiro baixel vem. manso e manso.
Rompendo a vêa das cerúleas ondas,
Que pouco a pouco a desigual marinha
Começa de observar, e a ruiva arêa,
Onde inda vivos, prateados peixes
Lança contente o pescador insómne.
J. A. DE MACEDO, ífEDITAçÃO, Cant. 2.
— Figuradamente : Diz-se do que é
gracioso, do que já se sabe, etc.
— Figuradamente : Caro, custoso.
— Termo de poesia. O salgado rio; o
mar.
— O comer está salgado ; o comer tem
sal de mais.
SALGADURA, s. f. A acção de salgar.
SALGALHADA, 5. /. Termo popular.
[Miehordia.
SALGAR, V. a. Temperar com sal. —
«Em outras partes ha miiytos almazena
de infinidade de mantimentos, e outras
tantas casas como terecenas muyto com-
pridas, em que chacinão, salgão, empe-
saõ, e defumão todas as sortes de caças
e carnes quantas se crião na terra.» Fer-
não Mendes Pinto, Peregrinações, capi-
tiTlo 97. — «Costumando chamar as crian-
ças a sua eaza as matava, as salgava, e
as comia. O crime fica raramente sem
castigo, diz Horácio. Jiaro anfecedentem
scelestum deseruit pede pana claudo.v
Cavalleiro d'01iveira, Cartas, liv. 1, nu-
mero 16.
— Salgar as casas ; arrazal-as de sal.
— Figuradamente : Corrigir, emendar.
— Pôr sal nas carnes, peixes, etc,
para as conservar sem putrefacção.
384
SALl
SALI
SALL
des.
Figuradamoiito : Salgar ou vonlu-
— Salgar-se íi tana ; cutr.ir pur cila
agua salfíailii.
SALGEMA, .s. /. Um sal minorai, que
nili» e.ital/i no f";,'o, mas faz-so canJoiíto.
SALGUEIRA, *./. (Do latim aalijc). Ar-
vore Ar. ijuo lia iiiaclio c fumoa; tom a
caHca lisa, lluxivol, aa fulhaa felpudas,
loiífjfati, mais estreitas quo as do pece-
puuiro. Ha diflcroutcs cipccies do sal-
giKíira.
SALGUEIRAL, s. 7/1. Campo ou arvore-
do de sal^juciros.
SALGUEIRO, *■. m. Vid. Salgueira.
SALHAR, D. «. l'uxar, tirar, arrastar.
— A-ise.star,
— Salhar <i artilhiria ; tiral-a do po-
rão. Vid. Assestar.
— O' salha! dizem os que puxam al-
guma cousa com corda e arrojões,
SALIAR, alj. 2 f/en. (Do latim salia-
ris). Qu • diz respeito aos salios, sacer-
dotes do deus Marte.
SALICARIA, N. /". Plantíi rosácea.
t SALICIFOLIO, A, adj. Termo do bo-
tânica. Diz-sc das folhas quo se asseme-
lham :is do salgueiro.
SALICINA, «. /. (Do latiui talix). Ter-
mo de chimica. Substancia que se encon-
tra na casca dos salgueiros e do alguns
choupos.
f SALICINEA, s. /. Familia de plan-
tas dicotyledoneas, que tem por typo o
salgueiro.
f SALICITA, s. /. Termo de mineralo-
gia. Te Ira tigurada imitando uma folha
de salgueiro.
SALICO, A, adj. (Do latim salicus). —
Lei salica ; a lei fundamental de França,
que excluc do throno as fêmeas.
-}■ SALICOLA, aJj. 2 çjen. (Do latim
sal, e colere). Que cultiva o sal, que o
produz. — As jjhmicies salicolas.
f SALICULTURA, s. /. Producção ar-
tificial do s.il, cultura das salinas.
. + SALIGYLICO, A, udj. Termo de chi-
mica. Ai-iJo salicylico ; corpo obtido,
aquccondo-so o acido salicyloso com um
excesso ile hvdrato e de potassa.
f SALICYLITO, s. w. Termo de chi-
mica. Nouie dos saes do acido salicyloso.
f SALYGILOSO, A, a.lj. Termo do chi-
mica. Acido salicyloso ; corpo extraindo
das flores da rainha dos prados pela dis-
tillação com a agua.
SALIENTE, «'//'. 2 <jen. Que sobresde,
quo fica mais elevado que o fundo, que o
plano ou superficie.
— Amjulu saliente ; angulo que sáe
fora do plano do alinhamento do muro,
ou o que fica n.v frente do baluarte.
t SALIFICAÇÃO, s. /. Termo da anti-
ga chimica. To la a opcrai;ão em que se
produzia um sal ou corpo crvstallisado.
f SALIFICAR, V. a. Converter em sal.
SALIFICAVEL, adj. Termo do chimica.
Diz-so das substancias que são susceptí-
veis de formar saes, combinaado-Be com
um outro coqio, como os oxydoa iiietal-
lieos com os aeidos, os sulfuretoi entre
si, o chioro com o sódio, ctc.
SALIGAS, ou SALIGUE3, «. vt. plur.
Arma dr arremesso.
SALINA, s. f. Termo de marinha. Ma-
rinha de sal. — «.\o outro dia abranilou
o tompo, mudando-80 em popa, fizemiM
nosso candidio, c ao» catorze de Feue-
rcyro, chegamos a Ciiypre. Eiitroy no
Mosteyro cio nosso l'adre Sam Francisco,
que está om Arnica, perto das Salinas,
onde o l'adre (iuardiuo ine recebco com
grandíssima deua<,ão, amor, e charida-
de.ii Fr. (laspar (Ic S. Bernardino, Iti-
nerário da índia, cap. 22.
SALINAGEM, *•. /. Termo do chimiwi.
()p<ira(,rio (juc. consiste em fazer crysUil-
lisai' o s;d.
SALINA VEL, adj. 2 gtn. Termo de chi-
mica. ^^>ue piule reduzir-«e ou converter-
se em sal.
SALINEIRO, .•!. «1. (Do latim aalina-
riuí). Homem que fabrica o sal.
SALINO, A, adj. Que contém sal, que
ó da natureza d'elle. — Concreção sa-
lina.
— Que cresce nas terras embebidas de
aguas salgadas.
— Dizia-sc, na antiga chimica, das
substancias acidas, alcalinas e de algu-
mas outras. — As matérias salinas sHo
as que tem sabor ; mas donde lhe vem
esta propriedade que nos é tão sensível,
e que affecta o sentido do gosto, do ol-
fato, e mesmo o do toque ? — Os princi-
jiios salinos, que se podem reduzir a
três, a saber: o acido, o alcali e o arsé-
nico.
— Os corpos salinos; os saes.
SALIO, «. m. (Do latim salius). Termo
de antiguidade romana. Diz-se dos sacer-
dotes de Marte, e dos hymuos cantados
em sua hom-a. — O collegio dos sa-
lios.
— Emprega-so também adjectivanicn-
te : Sacerdotes salios. — Cautos salios.
SALIR, 1-. n. (Do latim saíire). Termo
antiquado. Sair.
SALITRAÇÃO, s. /. Synonymo de sali-
trisarãii. Vid. este vocábulo.
SALITRADO, A, adj. Que tem salitre,
que leva salitre.
— Reduzido a salitre, impregnado e
imbuído d'elle.
— Acompanhado de crvstallisações.
— Loo. POET. : O salitrado fogo, ou
pó ; pólvora.
SALITRAL, s. m. Vid. Nitreira.
SALITRAR, V. a. Keduzir a salitre.
— reuiporar, preparar com salitre.
Vid. Salitrisar.
SALITRE, s. Hl. (Do latim salnitrum).
Ternio de marinha. Género de sal mine-
ral.
— Sal formado pela uni.ão do acido
uitrjco com potassa. Fundc-se no fogo,
misturado w^m enxofro, e carvJlo; d'elle
se faz judvora. Vid. Nitro.
SALITREIRO, «. m. O fabricante do sa-
litre.
SALITRISAÇAO, ». /. A aeçJlo, traba-
lho ciiimlco (lara reduzir a salitre.
— Formarãij natural do i-alitre.
f SALITRI3AD0, part. pasa. de Sali-
trisar.
SALITRISAR, ou SAUTRI2AR, v. a.
Termíj de chimica. Reduzir a salitre.
— Fazer impregnar as terras do sali-
tre pelort modos da arte.
— Alguns dizem que se pronuncie *a-
Utrijicar, porém o uso tem adoptado sa-
litrisar, por ser mais breve o fácil. Vid.
Salitrar.
SALITR030, A, adj. Que contém sali-
tro.
— Nitroso. — Plaiita salitrosa.
SALIVA, «. /. (Do latiui taliva). Hu-
mor inodoro, iiisipido, um pouco transpa-
rente, viscoso, segregado pelas glândulas
parotidas, sub-maxiUares, e tub-linguaes,
derramado pela bocca, c destinailo a im-
pregnar o bolo alimentício, e a fazel-o
8off"rcr, com o auxilio da ma3tigaç.ío, o
principio da elaborarão. — Engulir a sa-
liva.— Um dos eflFeitoâ da saliva é amoUe-
cer os alimentos, dissolvel-oe algumas ve-
zes, e tornal-os, por isso mesmo, de mais
fácil digestão.
— Sailiva abdijmlnal; nome dado algu-
mas vezes ao sueco pancreatico, ao liqui-
do segregado pelo pâncreas.
— Loc. FIG. : Engulir a saliva; não
poder, nào se atrever a dizer alguma
cousa.
SALIVAÇÃO, s. /. (Do latim aalivatio,
de sulivare). Termo do medicina. Fluxo
superabundante de saliva provocado por
mastigadores, ou por uma doença, o mor-
mente por preparações mercnriaes.
SALIVAL, ou SALIVAR, adj. 2 gen. (Do
latim saliiarius, de saliva). Termo de
anatomia. Que diz respeito á saliva. —
Glândulas salivares. — Os sueco* saliva-
res misturados coin os aliinenttíS.
— Cálculos salivares ; concreções que
se encontram muitas vezes nas glândulas
salivares.
— Fistulas salivares; aberturas fistu-
los.is resultantes de uma lesào do canal
excretor principal, e de uma glândula
salivar.
SALIVAR, V. a. (Do latim salivare).
Fazer muiu saliva. — O mercúrio faz
salivar,
— Lançar a saliva da bocca.
SALIVOSO, A, adj. (De saliva, com o
suffixo «oso:- . Cheio de saliva.
■j- SALLA, s. /. Vid. Sala. — *E quan-
do os viraõ entrar por meio da salla, co-
nhecendo a Clarimundo, e alguns delles
a Dom Dinarte, por já terem esporimeu-
I tado seus encontros.» Barros, Clarimun-
' do, liv. 2, cap. 8. — « E deitjido vestido
I em huma camilla ouoia Missa na salla, e
SALM
SALP
SALS
385
isto fez al<runs dias ate que veio a tanta
fraqueza que se nào podia leuantar, e la
na camará lhe diziam Missa, e da cama
via Deos.j Garcia de Rezende, Chronica
de D. João II, cap. 210.
— Salla de comer; a peça, em que se
tomam alimentos.
— Salla do bilhar; sala onde se joga o
bilhar.
— Salla de audiência, de recepção; o
logar onde as pessoas constituídas em di-
gnidades dão audiência. Entende-se tam-
bém a sala onde o tribunal foz jus-
tiça.
— Salla do baile; sala onde se dão os
bailes, os concertos, etc.
— Por metonyniia : Os senhores que
occupam a salla, em opposição aos cria-
dos.
— Salla de dança; peça onde os pro-
fessores de dança dão suas lições.
— Salla d'armas, oii salla de esgrima ;
logar onde se ensina publicamente a fa-
zer armas.
SALMAÇO, A, adj. Termo pouco usa-
do. Salobre.
SALMÃO, s. m. (Do latim salmo). Ter-
mo de ichthyologia. Peixe vulgar, que
tem a carne amarellada.
— Signo salmão; dous triângulos de
metal travados, que costumam trazer as
creanças, como uma especio de enfeite.
SALMAR, f. a. Vid. Açaimar.
SALMARINO, í. m. Termo de ichthyo-
logia. Peixe do género do salmão.
SALMEJAR, V. a. Termo de Lisboa.
Acarretar o pão para a eira.
SALPÍEAR, V. a. Vid. Psalmear.
f SALMISTA, í. m. Vid. Psalmista.
SALMO, s. m. Vid. Psalmo.
E aasi nSo trazem aos peitos
outra noraina nem salmos
que vista de Rei mil palmos
mortos com raiva de aceitos
por se tornarem aos onsalmos.
ANTÓNIO PBESTES, AUTOS, pSg. 301.
SALMOEIRA, s. f. A"aso em que se tem
a carne, ou peixe posto em sal.
— Estar em salmoeira; estar apinha-
do, e apertailo incommolamente.
SALMOEIRAR, v. a. Pôr de sal delido
em agua bem saturada d'elle o peixe, ou
carne.
— Figuradamente: Pisar, moer.
SALMOEIRO, s. m. Vid. Salmoeira.
— Figuradamente : Ter wn salmoeiro
no inferno.
SALMOIRA, s. /. Vid. Salmoura.
SALMONEJO, s. m. Salmão pequeno.
SALMONETE, s. m. Vid. Salmonejo.
SALMONICO. Vid. Ammoniaco.
SALMOURA, s. /. (,De sal, e do grego
mi/riaK O sal desfeito no humor que sáe
do peixe,' ou carne, que se põe de sal, a
fim de se conservar incorrupto.
— Salmoeira.
voL. V. — 49,
— Termo popular. Áspera, severa re-
prehensão.
— Agua com sal para curtir azeitonas,
conservar carnes, peixe, etc.
— Termo figurado : Pancadas, pisa,
sova.
SALMOURADO, ;?arí. pass. de Salmou-
rar. ]\Iettido em salmoura, em conserva.
— Escravos salmourados ; escravos a
quem se untaram com salmoura as feri-
das dos açoutes.
SALMOÚRAR, V. a. Vid. Salmoeirar.
SALOBRE, adj. 2 gen. Vid. Solobro.
SALOBRO, A, adj. Que tem gosto de
sal, que toca de salgado. — Agua salo-
bra. — «A terra em si he mui estéril,
sem agua, e toda a que se alli bebe se
traz em camelos perto de duas léguas, e
ainda tão salobra, que he mais pêra os
camelos que a trazem, que pêra homens:
e o que confirma o parecer de D. João
ser alli a Cidade dos Heroas, he que
naquelle sitio se mostram algumas ruinas
dos edifícios delia meios cubertos de arêa,
e grande numero de cisternas mais cheas
delia, que de agua.» .João de Barros, Dé-
cada 2, liv. 8, cap. 1.
- — -Homem salobro; homem sem sal,
sem sabor.
— Homem salobro ; homem insípido,
desenxabido, insulso.
— Adagio e provérbio:
— Agua salobra é doce.
SALOIA, s. f. Mulher do saloio.
SALOIO, s. m. Agricultor do termo de
Lisboa, que traz a vender as fructas, o
pão á cidade.
SALPA, s. /. Termo de zoologia. Inse-
cto marinho transparente. Vid. Biphoro.
SALPICADO, part. pass. de Salpicar.
Molhado com gottas esparzidas.
— Figuradamente : Matizado.
— Maculado no phvsico com pintas,
no moral com laliéos, notas, etc.
— Passarinho salpicado ; de azul, ver-
de, e outras cores.
SALPICADOR, A, adj. e s. (De salpi-
car, com o suffixo «dor»). Que salpica.
— Figuradamente: Que macula.
— Que salga, esparzindo pedras de
sal sobre alguma cousa.
SALPICADURA, s. f. Salpico.
SALPICÃO, s. m. Presunto de vinho«de
alhos picado, e mettido em tripa de vac-
ca, e curado.
SALPICAR, 1-. n. Molhar com gottas es-
parzidas.
Figuradamente: Matizar com man-
cha, ou moscas de côr varia, o assento
do tecido, ou pintando.
— Salgar, derramando umas pedras de
sal sobre alguma pousa.
— í^iguradamente : Macular a condu-
cta com descobrir algumas faltas. Vid.
Salpicado.
SALPICO, s. m. Gotta que salta, e bor-
rifo, e talvez o sigral que ella deixa.
— Motes, gracejos leves salgados, gra-
ças, zombarias leves contra alguém, com
graciosidade que não morda, ou pique,
nem ofFenda muito.
— Nódoas nos costumes.
— ■ Mancha de côr varia no tecido, ou
pintura.
SALPICOLA, s. f. Planta que dá flores
azues, ou côr de carne, e produz folhas
pouco maiores que as do trevo.
SALPIMENTA, s. /. Mistura de sal e
pimenta.
— ^Mesclada de branco e cinzento.
SALPIMENTAR, v. a. Temperar com
sal e pimenta.
— Figuradamente : Maltratar de pala-
vras que picam e ardem.'
SALPINGA, s. /. Serpente da Africa.
SALPREZAR, ou SALPRESAR, v. a. Sal-
gar levemente, quanto baste para livrar
da podridão.
SALPREZO, ou SALPRESO, A, adj. Sal-
gado levemente, e quanto é suflâciente
para li%Tar da podridão,
1 .) SALSA, s. /. Hortaliça vulgar, que
serve para temperar a comida.
— Salsa-parrilha. Vid. Salsaparrilha,
— Alguns dão-lhe o nome de sarça, e
é talvez o termo mais próprio.
— Adágios e provérbios:
— Salsa de S. Bernardo,
— Tenhamos a pata, então falharemos
na salsa.
2.) SALSA, s. f. Molho para dar me-
lhor sabor ao peixe, carne, e abrir o
appetite.
— Loc. FIG.: Ter salsa; ser maltra-
tado na guerra.
SALSADA, s. /. Termo popular. Enre-
do, embrulhada, mistiforio.
SALSAFRAZ. Vid. Sassafraz.
SALSAPARINA, s. /. Termo de chimi-
ca e de pliarmacia. Substancia contida
na salsaparrilha.
SALSAPARRILHA, s.f. Planta da Ame-
rica, cuja raiz é depurativa c sudorífica.
Vid. Salçaparrilha, e Parrilha.
SALSEIRA, s. /. íDo francez sauciire).
Vaso em que se costuma trazer a salsa á
mesa.
— Galheta de azeite e vinagre para
molhos, que se faz com elles na mesa,
SALSEIRINHA, s. f. Diminutivo de
Salseira. Salseira pequena.
SALSEIRO, s. m. Aguaceiro, nuvem de
agua escura, e medonha.
" SALSINHA, í. w. Termo popular. Ho-
memzinho inepto.
— S. f. Diminutivo de Salsa.
SALSIXA, s. f. Vid. Salchicha.
SALSO, A, adj. (Do latim salsus). Ter-
mo de poesia. Salgado.
— Salsas ondas; ondas do mar.
Conduz seu doce assopro as salsas ondas ;
Tocão brandas na praia, e brandas fogem.
Da terra a superfície se povoa
De vicejantes pâmpanos ; c correm
I^ambendo o tronco ás Faias, e Avellciras
Regatos que murmurão : fresca relva
386
SALT
SALT
SALT
LUoa borda as marRcna, o as mimosas flores
Ao ar cluvào ciilicL-s briiliauti ■*.
J. A. Dl HACKDO, A NÀTUUIZl, Caut. 1.
— Salso argeiUo ; o mar.
— Salsos mares; mares cheios (lo sal.
E quíiiitos (lo medonha catadura
Tcixcs di,'sciibro, que iioi fiUnon marca
Sempre cm guerra, o caruagera »o conacrvão !
Ho sua eterna lei, discórdia, c morte.
J. A. DB MACEDO, A SATUBEZA, CaUt. 3,
SALSDGEM, s. /. (Do latim salsugo).
Humor salpado.
— Figiirailamcnte : A salsugem das
miscrias.
— Erupção cutane^a com comichão pro-
veniente (la acrimonia de humores, etc.
SALSUGINOSO, A, a<Ij. (De salsugem,
com o sufllxn aoso»). Cheio do salsugem.
SALTADA, s. /. O impeto no saltear.
— O vir de súbito, dar em casa para
prender, apanhar contrabando, etc.
— O roubo do salteador.
SALTADO, part. jniss. do Saltar. Rc-
saltado, que tica acima do olivel, supor-
fieio, tlòr. — Olhos saltados. — «Era es-
te Rcy de corenta e cinco annoi de ida-
de, rostro comprido, e grande, os olhos
saltados, a côr baça, e do huma catadu-
ra torriucl, a barba larga, e pouoada, de
condição afauel, c naturalmente bem in-
clinado, mas cheo de huns indicies que
mostrauão prezarse de altiuo, c arrogií-
tc.» Fr. Gaspar do S. Bernardino, Iti-
nerário da índia, cap. 17.
SALTADOR, A, adj. e s. Que salta.
SALTANTE, part. act. de Saltar. Que
salta, que dá saltos.
— Que se representa em postura de
saltar.
1.) SALTÃO, s. m. Peixe de Sofala, da
fórma da tiiinha, porém de muito maior
grandeza.
— Um insecto que salta muito.
2.^ SALTnO, ONA, adj. Que salta muito.
SALTAR, V. 71. (Do latim saltare). Dar
saltos, levantar o corpo do chão com es-
forço, e levantar-se ao ar, ou salvar al-
guma altura, ou cova, ou lançar-so d'alto
a baixo.
Saltào também traz esto outros soldados
Invejosos de ser outro o primeiro.
De tal ódio, c tal ira acompanhados
Que nenhum quer alli ser derradeiro.
Deste imigo furor estimulados
Não sei se lhe deixarão uiombro inteiro.
Que cm quanto a alma da carne uào lh'apartâo
Do sangue os cruéis bra(;os não se fartão.
FRANCISCO dVxdrade, primeibo cerco de Dir,
caut. 8, est. 8.
— Saltar em terra: sair era terra, des-
embarcar.
Panthaliào de SA, Tristão de Sousa
Ambos cm torra fa'líio. e após elles
Àutouio dú Saiupayo, quo^das oudas
Com Amador de Sousa se cobri&o,
O grão batel ja liurc desta carga.
COHrH UEAL,, KAL-ruAOlO OE SEPÚLVEDA, Caut. H.
— € Aportou á Ilha da Jladeira huma
não de carga, saltarão em terra <is passa-
geiros a lazer viuiagus, c entro elles hum
Clérigo, i|Uo eu vi (grande pirata devia
de sor pelo tear, quo armou para fazer
seu negocio melhor, quo todosy.» Arte de
furtar, cap. tí-l.
— Saltar no chão; dar um salto do ar
para o chão, ou de (jualquer outro corpo
elevado para a terra. — « Ni-<to chegou á
mesma porta BracoLlo, um do.s gigantes,
armado darmas branca.s em um cavallo
crescido e fcrmoso ; e porque em chegan-
do, viu que o cavalleiro do Salvagcm,
tomada a donzella por uma mão lhe per-
guntava de quem fugia, saltou no chão,
dizendo: Não cuido que tomastes porto
seguro.» Francisco de Moraes, Palmeirim
de Inglaterra, cap, lOli.
— Saltar do carallo; apear-se, desmon-
tar-se. — tE saltando do cavallo, que não
o pode virar na estreiteza da ponte, o
achou com a espada nua e o escudo em-
braçado, e arrancando a sua começai-am
de ferir-se de sorte, que os três derruba-
dos, que eram Luimão de Borgonha, Oer-
mão d'Orleans e Tenebrante se espanta-
vam da braveza da batalha.» Francisco
de Moraes, Palmeirim de Inglaterra, c^ip.
20. — «E saltando tiira do cavallo pêra
lhe satisfazer o apetite, o outro, que tra-
zia ApoUo no escudo, a que se nào escon-
dia nada, se nietteu no meio. não consen-
tindo a batalha, dizendo: Senhor Floren-
do3, pêra com os vossos esta é assaz vi-
ctoria.í Ibidem, cap. 109. — c Almourol
tanto que se viu no chão, cuberto do es-
cudo com a espada na mão se veio a cUe,
que saltando do cavallo, por Ih 'o não ma-
tar, da mesma maneira o recebeu.» Ibi-
dem, cap. 127.
— Sobrevir. — c Fisestes huma pintu-
ra que me veyo á mão, fiz huma Carta
que te saltou nos olhos. Vi na pintura o
merecimento que tens, achastes na Carta
o premio que se te deve, e como to nào
derão logo, pareço que o engeitas, e que-
res outro peor. Exaqui porque eu digo
qu« os Italianos como tu são tolos, e quan-
do j;i o não tivera dito de boa vontade,
tu só me obrigarias a dise-lo de todo o
meu coração.» Cavalleiro d'01iveira, Car-
tas, liv. 3, n." li?.
— Accommettcr alguém de repente. —
« Um jcsuita na índia, como os marinhei-
ros saltassem um à\a, em fazendas da
companliia, sem embargo de serem por-
tuguczes, tratou-03 mal do palavras. Ma-
rujos de nau da Índia são muito livros.
Moeram o padre a pau. ficou por morto,
e de isto ciicgou a noticia a l!>a e a Lis;-
boa.» Bispo do Urào Pani, Memorias, pu-
blicadas por Camillo Castello Branco,
pag. 98.
— Saltar o Ume f<tra ; cair fora do leu
logar. — • D. Álvaro obstiua/lo em boc-
correr a Diu, andava a huma, e outra
parte errando, vendo-i^e jwr momentos so-
çobrado, ati'; quo com o trabalijar do na-
vio, lhe saltou o leme f.ira, com que o
impaciente arribou a Baçaiui destroçado
com alguns navios 'Ic sua connerva; ou-
tros tomarão dilferentes pjrtos, e ensea-
das.» Jíiciíitho Freire do Andrade, Vida
de D. João de Castro, liv. 2.
— Cair, quebrar precipitaílamente.
Das celeste» abobadas o lume
Kntão se ha do apamr : como ai<'iust.-ulo«
llao de fugir os (.Vos, v a dura Terra
Dor eixos siUtani feita em pedalo*.
J. A. DE MACEDO, A «ATIREZA, CAUt. 2.
— O vento salta de um rumo a outro;
muda de improviso.
— Saltar de capitão a coronel, de coro-
nel a ijc Iterai, etc.
— Saltar do uma cousa a outra prati-
cando; variar sem transiçiíes, ou passar
a fallar em cousa sem ligação com a que
se tratava.
— Figuradamente : Saltar alguma faís-
ca ao corai^ão. — « Poriim as matérias da
ira, e contra a castidade, tlraõse desta re-
gra, e he necessário fazer os propósitos
muyto em geral, e abstracto : vigiando
entretanto, não salte alguma faisca no co-
ração, porque este he pólvora, e ambos
aquelle^ vicios saõ fogo.» Padre ^Lanoel
Bernardes, Exercícios espirituaes, capi-
tulo til.
— Saltar fora ; dar um salto de dentro
para fora. de cima para baixo. — • E o
cavalleiro das pelles se desceu para to-
mar o cavallo ao do Tigre, que pêra se
enxugar de agua era necessário descer-
se. Porem cUe, que nào quiz que com ta-
manha cortezia o tratasse, saltou fora e o
levou nos braços.» Francisco de Moraes,
Palmeirim de Inglaterra, cap. 114. —
« l)epois forão desenterrar o leme do ato-
leiro cm que ficou quando saltou fora,
desfazendo-se pêra isto toda a enxarcea
do traquete, pêra a força do cabrestante,
com engenho marauilhoso machinado pelo
Còtramcstre, viesse a nao como veo de
mais de huma grande Icgoa.» Fr. Gaspar
do S. Bernardino, Itinerário da índia,
cap. 2.
— T'. a. P.issar por cima, salvar de
salto.
— Saltar ligares; passar aos de maior
graduação sem ir por algum intermédio;
passar subitamente a maior graduaçSo,
sem ir o passar por os entremeios.
— Saltar «lí palavras : diz-se na leitura
ou na oscripta. não as lèr, ou copiar,
omittil-.is. passal-as por alto.
— .Vdagios k provérbios :
— Salta a cabra na vinha.
— Nem tão velha, que caia. nem tSo
moça, que salte.
SALT
SALT
SALT
387
— Faze bem á gata, saltar-te-ha na
cava.
SALTAREGRA, s. f. Instrumento ma-
thematieo, conhecido pelo nome de acu-
ta, porque se ha de cerrar, ou abrir por
triangulo, ou por esquadro, servindo tam-
bém de regra.
SALTARELLO, s. m. Certa dansa a três
tempos.
— Adjectivamente: vid. Saltador.
SALTÁTRICE, s. /. Termo pouco em
uso. Dançarina, bailarina.
— Bailadeira de dansas alt;is.
SALTA-VALLADOS, adj. 2 gtn. Termo
popular. Que salta muito; muito ligeiro.
SALTEADA, s. /. Vid. Saltada.
SALTEADO, part. pass. de Saltear.
Acconunettido de repente.
Digo que me acho enleado.
Por vir tão determinada ?
nào te espante isto nada,
isto foi mate forçado :
éa sidteado
de quem tu és salteada.
AaTOMIO PBESTES, AUTOS, pSg. 319.
— Salteado do hospede; repentino, ines-
perado.
— Sabe)- de cór e salteado; saber al-
guma cousa com perfeição, estar bem
sciente d'tílla, e nào se enganar quando
se repete.
■ — Ficar salteado; ficar de sobresalto,
ficar turbado.
— Figuradamente: Escriptura saltea-
da de censores.
— Tomar alguma terra salteada ; to-
mal-a de surpreza, dando nos inimigos
desapercebidos.
— Guerra salteada; guerra guerreada.
— Salteado do vento; no mar, quando
cáe subitamente.
SALTEADOR, s. e adj. Que vire de sal-
tos em estradas, que rouba. — « Acaba-
do isto, nào tardou muito que o escudeiro
tornou a mui grande pressa, dizendo :
Parece-me, senhor, que neste valle ha
mais salteadores do que se pôde cuidar. «
Francisco de Moraes, Palmeirim de In-
glaterra, cap. 128. — «E aos dalçada es-
creueo, que tais homens naõ deueraõ de
condenar, e justiçar, sem primeiro lho
fazer saber. Tanto estimaua os homens,
que em qualquer cousa faziaõ aos outros
auentagem, que sendo estes ladrões sal-
teadores, por serem muyto esforçados, e
forçosos, lhe pesou porque os matarão, e
lhes quisera dar a vida.» Garcia de Re-
zende, Chronica de D. João II, cap. 92.
— Figuradamente : Diz-se dos ani-
maes.
SALTEAMENTO, s. m. Sobresalto.
— Alguns tomaram também este vocá-
bulo por surpreza.
— Acçào de assaltar, de accommetter.
SALTEAR, V. a. Atacar subitamente
aos passageiros e viandantes, e roubal-os
nas estradas ; accommetter, fazendo subi-
tamente algum mal á similhança dos sal-
teadores. — «Dizendo huns para os ou-
tros, grande novidade deve ser esta com
que nos Deos agora visita, e queira elle
por sua bondade que nào seja esta nação
barbada daquelles que por seu proveito e
interesse espiào a terra como mercado-
res, e despois a salteão como ladi-ões,
acolhamonos ao mato, antes que as faís-
cas destes tlçoens branqueados no ro>to
com a alvura da cinza que trazem por
cima, queimem as casas em que vivemos,
e abrasem os càpos de nossas lavouras,
como tem por custume nas terras alheas.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações,
cap. 41.
E para etfeito disto so sahirão
Alguns da estancia lá que os alojava,
Os Christàoâ la do muro quando os virão
Logo o sigual fizorào aos da cava ;
Elles, que no signal bom advertirão,
Porque só cada hum nello attcntava,
Salteào sem tardança a Turca gente
Que tardança em furor não se consente.
FRANCISCO dUkDBADK, PEIlTEmO CEKCO DE DIC,
cant. IG, est. 147.
Tem ellas isto, ousarão
era dobro mais que um barão,
só n'uin caso não tem guarda ;
com um estouro de espingarda
as saiteam, são quem são.
ANTOSIO PBESTE.S, AUTOS, pUg. 133.
— Vir de improviso. — Salíeal-o tnn
typho.
— Roubar, saquear em facção de
guerra.
— Fazer invasão bellica de repente,
para fazer presas por terra, ou em naus
contra naus. — «O do Tigre ficou com
seus amigos praticando, e perguntando
como lhe acontecera aquella batalha.
Senhor, disse Daliarte, como quer que o
gigante tem espias por toda esta ilha,
inda não aponta o navio, quando o sal-
têam pêra ver quem vem n'elle, parece
que não aconteceu assim a vós por não
poder acudir a todo.» Francisco de Mo-
raes, Palmeirim dlnglaterra, cap. 117.
— « Andando o Adail nestes negócios
soube como o Serife estava em hum seu
castello que chamam Amagor, descuida-
do de o poderem la saltear, sobelo que
com parecer dos Xeques dos Bárbaros, e
dos Árabes (que ja neste tempo eram to-
dos vassallos dei Rei dom Emanuel) scre-
ueo a Nuno fernandez pedindolhe que
pêra com breuidade cometer este nego-
cio lhe mandasse mais gente de cauallo,
e besteiros, e espingardeiros.» Damião
de Góes, Cbronica de D. Manoel, part. 3,
cap. 74.
■ — Sobresaltar, produzir sobresalto,
susto.
— Cair, dar de improviso, sobrevir.
— Á luz salteou-me os olhos; deslum-
brou-me, ferindo n'elles subitamente. ,
— Figuradamente : Os animaes ferozes
saiteam.
— V. n. Andar de salto, de rapina.
— Saltear-se, i-. rejl. Ficar salteado,
ou sobresaltado, como cousa inesperada.
— Admirar-se, ficar admirado.
1.) SALTEIRO, s. ni. Homem que faz
saltos de pau para sapatos.
SALTEIRO, ou SALTÉRIO, s. m. Vid.
Psalterio.
SALTIBANCO, ou SALTIMBANCO, s. m.
Charlatão, que baila nas praças, faz pel-
loticas, vende drogas, etc.
t SALTIGRADO, A, adj. Termo de
zoologia. Que marcha saltando.
SALTIMBARCA, s. /. Espécie de rou-
peta aberta pelas ilhargas.
SALTIMVÃO, s. m. Jogo de rapazes.
SALTINHO, s. m. Diminutivo de Salto.
Salto pequeno.
— Andar de saltinhos. — « Ha huns
pássaros mais pequenos que patos, de
grandes pescoços, todos ruivos, e todo o
mais corpo muito negro, tem os pés mui-
to curtos como papagaios, e andam de
saltinhos, tem o bico grande, e com tan-
tos debruns n'elle, como quantos annos
tem, porque cada anno lhe nasce hum.»
Diogo de Couto, Década 4, liv. 7, cap.
10.
1.) SALTO, s. m. (Do latim saltus).
Acto pelo qual o animal se levanta da
terra com esforço, e se eleva ao ar, ou
salva alguma altiu-a, ou se lança d'alto a
baixo, — « Alguns hai, que per tendem
chegar de hum salto ao mais alto do
monte, outros carregados de occupaçôes
seculares escusadas presumem subir; oii-
tros desabridos, e enfadados das moscas,
isto he dos cuidados occurrentes desistem
deste caminho, deuendo enxotallas, e per-
sistir nelle.s Fr. Bartholomeu dos Mar-
tyres. Compendio de espiritual doutrina,
cap. 15.
— - Figuradamente : Elevação do pen-
samento ao alto, sublime, a cousas aci-
ma do alcance vulgar.
— Logar onde aquelles que vão em ca-
noas, ou jangadas as arrastam, e levam a
carga ás costas, até chegar onde o rio
corre horisontalmente. — Passado o salto.
— Tomar o salto de longe ; vir corren-
do a saltar.
— Fazer salto a successão; dar-se a
herdeiro, a que não deve ir.
— Figuradamente : Tomar o salto de
longe; prevenir-se, acautelar-se de longe,
provendo-se de todos os meios para con-
seguir o seu intento.
— Figuradamente : Esperar o salto a
alguma cousa, ou pessoa; esperar a mu-
dança, que ella em si faz, ou soffre.
— Termo de miisica. Subida repenti-
na da voz fora do mesmo compasso.
— Salto mortal; salto que dá o volan-
teiro dcixando-se cair de cabeça abaixo,
e voltando-se depois no ar para cair com
os pés para baixo.
388
SALT
SALU
SALV
— //•, ou vir cm um salto: ir, uii vir
doprcssa.
— Salto do sapato; a. ))e(;;i (im; Uca
por baixo do talilio, o o faz oryucr do
cliilo para csho lado.
— Termo do volaturia. A correia do
falcão, (jiu; vac do tornol ás lagrima», ou
coiitax.
— Nos rio3, catadupa, catarata, casca-
ta, saída, descida do cur.so liorisoutal
a baixo.
- — Caixa de, salto; caixa (juc tciii mola,
quo tocada do corto modo rcsaltji, c laz
levantar a tampa com forca.
— Figuradanioiito: Na convei-aação,
desvio, digressão fu-a do propo.sito.
— Loc. Auv.: Salto a salto; aos sal-
tos.
— Corro, outeiro, torra levantada, col-
lina, bosque, tloresta, logar eiiiiucnte
cheio de arvoredo c pastagens, matto fe-
chado, brenha. — Tomaram o salto um
pouco ante-manhã.
— Termo de marinha. Diís-se arrear
cousa pouca, quaUpier adriya, escota ou
outro quahpier cabo. — Salto às escotas
das velas do (jarupts. — Salto ás (javeas,
— Salto de vento.
— Loc. ADV. : De salto; com summa
diligencia e presteza.
— De salto ; sem passar pelas casas,
individues, ou estados, que ficam de pei'-
meio, nas series ou graduações.
2.) SALTO, s. ííi. A acção de saltar nas
estradas ou em aeçào hostil e bellica, so-
Lresaltoar por terra, por repentino des-
embarque. — «E em dous ilias que per
ali andarão de ilha em ilha, e assi em
alguns saltos que iizeriío na terra firme,
tomarão quorenta o ciueo alnuis cõ que
Be tornarão aos nauios que ficarão atras
cinco Icgoas.» João de Barros, Década 1,
liv. 1, cap. 8.
— Fôr-se de salto ; occulto para sal-
tear; com emboscada.
— Surpreza, sobresalto.
Vem ai|ui
Fci-moâurii upi5s Diuliciro.
Nó solia sor assi.
Sculior, esto sobrcrfalto
relevc-m'o, por niolhcr,
quo não pódc moiioâ sor :
C11S03 dão is vezos salto
muito impossível de crer.
JiNTONIO PBESTKS, AUTOS, p:lg. 203.
— Tomar o salto; tomar o lugar por
onde 80 vai assaltar.
— Logar de salto; logar do cilada.
— Pòr-se de salto ; pòr-se em cilada
de salteador.
— SvN. : Salto, jinlo.
Salto é o acto de saltar ou de levan-
tar o corpo com ligeireza e impoto. Pulo
é o salto do corpo elástico ou do animal
vivo, para o ar, e voltando ao mesmo lu-
gar ou próximo d'elle. Salta o homem do
muro, da janella abai.vo; salta o cavallo
adestrado por cima da terra nu campo.
Pala a bola, a ])ella, cahindo nu chào ;
jHila o daiisariuii jior arte; pula o homem
do contente. <Js tigres prêam de j/ulo
iia altura de trinta palmos, aus que dur-
mem sobre as arvores para Ihea escapa-
rem.
SALUBERRIMO, A, adj. suptrl. de Sa-
lubre. -Mm lialubre.
SALUBRE, adj. 2 <jen. (Do latim lalu-
òvr). .Sadio, saudável.
— Fi-rida salubre ; ferida fácil do cu-
ra r-se.
SALUBRIDADE, s.f. {Do latim salubri-
lasi. tonalidade do que é salubre. — A
salubridade d'estc paiz.
SALUÇAR. Vid. Soluçar.
— Ti'rmo de náutica. Saluçar a nau /
arfar.
SALUDADOR, s. m. (Do latim salus, e
dator). Homem que cui'a, benzendo; ben-
zedor.
— Saludadores em Hespanha; dizem-se
os descendentes de Santa Cathariua ou
de Santa Quitéria, e trazem nos braços
pintadas as suas cabeças, e as rodas de na-
valhas com puncturas de ferro, nas quaes
se embebe tinta azul ou preta, e talvez
por embuste usavam nominas com seme-
lhantes figuras, com as quaes benziam
para dar saúde, como talvez se vê em
verónicas com cabeças de tí. Braz, de
Santo Athanasio, ete.; a abusão é que
era punida, para evitar illusão do povo,
c super.-tiçrics.
SALUDAR, V. a. Curar por meio de ora-
ções e de bênçãos.
— Benzer para curar, á semelhança
dos embusteiros, chamados pelo vulgo
benzcdores, saludadores, benzedeiras, ete.
— Termo de Hespanha. Curar ben-
zendo, ungindo com cuspo ao hvdropho-
bo, ou mordido de cão damnado.
■f SALUDÉ. Termo hespanholadii, usado
por António Trestes nos seus Autos.
Sii gesto, puos 110 mo cngaua,
stiliide, lo que parece
que CS devido.
Não ó virote perdido
cortezia.
ANTÓNIO PBKSTES, AUTOS, \>Ag. GÕ.
SALUTAR, adj. 2 tjen. (Do latim salu-
taris). Útil para a conservação da vida,
da saúde, da honra, ete.
Jil com cUes se agi tio, se uiisturào
As espalliadas iiuveus lluctuaiitca ;
Do frio agudo comprimidas toraào
A sou beri;o torreuo, e primitivo,
Em chuva salutar desfeitas descem.
J. A. DE MACEDO, VIAOKM KXTATICA, Cailt. 1.
— *S. m. O Salvador, Jesus Christo.
— O veriUideiro Dius, nosso salutar.
f SALUTARMENTE, adv. (De salutar,
e o saffixo fmente»;. De um mudo salu-
tar.
SALUTIFERO, A, >ilj. ,Do latim fulu-
tijuram. C^ue dá bauilc, «audavel. — Ba-
nli'j salutifero.
Alli tuiiibom Timor, que o Icuho manda
Sândalo 'idntifrro o, cueiro.*) :
Olha a Siiiida táo larga, ijue uma banda
Kscjiide para o Sul dilliculUjdu :
A gente, do licrtào que Ui« terra» auda,
ITm rio diz i|U<- li;m miraculoiiO,
tjue por onde elle ».í gcm outro vac,
Converte cm pedra o pau <|uo nellc cac.
CAH., I.U8., cant. lU, e<t. 134.
— Figuradauíente : Útil, benéfico.
SALUTO, «. m. Moeda antiga, e talvez
estrangeira.
\.i SALVA, s.f. A acção de disparar
a artilhcria uu mosquctcrías em bala, por
festa ou honra funeral militar, e actua ae-
melliante.s, quando navios se encontram ou
entram nos portos ; recebimento com tiros
de bala. — <U (iovemador andava so-
bre maneira cuidadoso dos negócios de
Diu, interpretando mal a falta doa avi-
sos, quando apurtou na barra de Goa a
(,'apit.inia em que fora D. Álvaro. Vinha
o navio todo embandeirado, c dando ale-
gres salvas, querendo indicar de longe
as novas que trazia.» Jaeiutho Freire de
Andrade, Vida de D. João de Castro, liv.
2. — «Tareceo aos nossos, que a alegria
do campo solemuisada com duplicadas
salvas seria no recebimento doa Turcos
que esperavào. Logo D. Juào Mascare-
nhas ordenou a Fernão Carvalho Capitão
do forte do mar, que mandasse huma al-
madia a tomar lingua, para saber ua pas-
sos do inimigo, porque as eapias que tra-
zia no Cíimpo, ou se havião feito dobres,
ou erão descubertas.p Ibidem.
— Salva tomada; bebendo o resto quem
dá a bebida.
— Desculpa com razões, que prece-
dem á objecção, que se prevê.
— Loc. FIG. : Tornar a salva íU ali/u-
ma coiisa a alguém ; antecipar-se-lhe em
a fazer, ou usar d'ella.
— Tomar a salva ; comer ou beber pri-
meiro d'aquillo que so oflcrece ao hoa-
pede.
— Faztr salva ; provar, mostrar a in-
nocencia. — tOs quais tanto que noa re-
conhecerão, e se afiirmaraõ na verdade
de quem éramos, se vieraõ mais afoutos
a nós, e despois do fazerem sua salva, a
que nós t:tmbcm rcspoudemoa, subirão
acima.» Fernão Mendes Pinto, Peregri-
nações, cap. ,")G.
— (. 'vm salva ; expressão ou phrasc de
que usa quem, dizendo alguma cousa,
quer segurar-se de que so lhe impute a
erro, em todo ou om parte, aquillo que
diz.
— S;iudaçào que se diz ao encontrar
alguém.
SALV
SALV
SALV
389
Vc-la diante do padre omnipotente
Como na salva do Ida ac amo3ti'ára
Ao mui feliz troiano !... que, se a vira
Tal o que ja por vista menos bella
Vulto humano perdeu, nunca seus galgos,
Barbara lei ! — o houveram devorado,
Que primeiro desejos o aeabaram.
GARBETT, CAMUE3, Caut. 7, Cap. 17.
— Por salva de sua fé ; por segui-an-
ça ou apuração.
— Tomar a salva ; experimentar.
— Peça de serviço, de vidro, prata ou
outro metal ; é um como prato sustenta-
do em ura ou mais pés, sobre que se traz
a taça, copo, etc.
— Termo de Marinha. Saúde com o
canhão.
— Na antiga marinha, os navios sau-
davam por numero impar, e as galeras
por numero par.
— Termo de artilheria. Salva imperial;
cento e um tiros.
— Termo de artilheria. Salva real;
vinte 6 um tiros.
■ — Termo antiquado. O mesmo que
purgação canónica. — «A rainha D. Leo-
nor, sabendo que o conde D. Fernandes
Andeiro era morto no seu mesmo palácio
pelas razões que todos sabem, disse: O
mataram bem sei porque ; mas eu pro-
metto a Deus que me vá de manhã a S.
Francisco, e que mande ahi fazer uma fo-
gueira, e ahi farei taes salvas, quaes nun-
ca mulher fez por estas cousas.» Fernão
Lopes, Chronica de D. João I, part. 1,
cap. 11, em Viterbo, Elucid.
— Diz-se de muitos canhonaços atira-
dos successivameute nas mesmas occa-
siões.
— Canhonaços atirados simultaneamen-
te. — Deram ama salva de cento e um ti-
ros á ch'>gada do imperador do Brazil ao
Porto. — Deram uma salva de vinte e um
tiros á chegada de sua magestade real ao
Porto,
— Atira-se o canhão em salva, quando
se atiram muitas peças simultaneamente.
— Uma salva de applausos ; applausos
brilhantes e enthusiasticos n'uma assem-
bleia inteira. — Uma salva de applausos
acolheu este actor.
— Adagio e provérbio:
— A verdade da bocca do mau deve
tomar-se com salva.
— Passar carta com salva ; com clau-
sula se assim é ; ou que não valha aquella
apparecendo a original.
— Passar carta com salva ; diz-se tam-
bém de qualquer documento.
2.) SALVA, s. f. Termo de botânica.
Herva vulgar.
— No Brazil é mui aromática, e amar-
gosa, mui estomacal, mui susceptível de
supprir a macella gallega. Além d'esta ha
mais quatro espécies; taes como a salva
esclarea, a dos jurados, a bastarda, e a
dos bosques.
t SALVAÇAM, s. f. Vid. Salvação.
jejuna, c oraçara,
lagrimas, e coutriçam,
e coniissara verdadeira
com satisfaçam inteira
enthesouram saluaçam.
GARCIA DE REZENDE, MISCELLANEA.
— « E foy grande parte pêra se lhe
imprimirem nalma estas, e muytas outras
cousas, verem ao P. Francisco tam des-
apegado de todas as da teiTa, e que ne-
nhuma aceitaua, nem queria delles fora
da saluaçam de suas almas. » João de Lu-
cena, Vida de S. Francisco Xavier, cap. 4.
— « Eu vos gloritiquey sobre a terra, e
acabey o negocio da saluaçam dos homens
que me encomendastes : eu lhes manifes-
tey vosso nome, e elles creram e conhe-
ceram que vòs me eauiastes ao mundo.»
Fr. Bartholomeu dos Martyres, Catecismo
da doutrina christã. — « Primeira que
em vossos trabalhos e tribulações imiteis,
e tomeis exemplo do glorioso S. loam,
que assi como a elle os trabalhos da pri-
sam, e cárcere nam tiraram a lembrança
do Saluador do mundo, e da saluaçam de
seus discípulos, assi vôs em todas as vos-
sas tribidações, e penas nam vos esque-
çaes de Deos, do negocio de vossa salua-
çam, porque todas as aduersidades deste
mundo nam as manda o Senhor senam
pêra que nos espertemos na lembrança do
outro mundo, e emmendemos nossas vi-
das.» Ibidem.
SALVAÇÃO, s. /. (Do latim salvatio).
Acto de procurar a saúde espiritual. —
í A saluaçaõ e graça de nosso Redem-
ptor lesu Christo, e da nossa sancta Se-
nhora Maria Virgem se estenda sobre
vossos estados, e sobre vossos lilhos, e fi-
lhas, e sobre toda a vossa casa. Ameu.»
Damião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 3, cap. õ9.^ — «Nem cuydo quan-
tas almas estão agora no inferno sem es-
perança de saluação, que cometeram me-
nos e menores peccados do que eu tenho
cometido té o presente dia. Digamos es-
tas palauras nam com a boca, mas com
o coraçam, pêra que conhecendo que a
vida passada foi perdida, ao menos ga-
nhemos e aproueitemos este pedaço.» Fr.
Bartholomeu dos Martyres, Catecismo
da doutrina christã. — « E ainda que oc-
cupaua nas mais excellentes obras de vi-
da actlua que podia ser, não se tornaua
por isso, nem distrahia como Martha da
alteza, e pureza de sua contemplação.
Todo o dito serue, não somente pêra de-
clarar as excelleucias da Virgem sagrada,
mas tão bem pêra ensino da nossa salua-
ção.» Ibidem. — «Irmãos cada hum se
examine, e escodrinhe sua consciência, e
veja se sinto em si aíFeição á doutrina
spiritual que Deos nos deyxou escripta
pêra nossa saluaçã: porque ter fastio à
tal doutrina e conselhos, manifesto si-
nal he de morte spiritual.» Ibidem. —
« Escolhei antes estar retirado, e esque-
cido, que apparecer, e montar, escolhei
antes ser súbdito, que prelado, não vos
pejeis da humildade, e exterior humilia-
ção, cuidai continuamente, que sois nada,
e nada valeis, porque deste conhecimento
próprio, e humildade depende a saluaçaõ
do homem, conforme todos concordaõ sa-
biamente, u Compendio de espiritual dou-
trina, cap. 10. — í Deos açoutado, Deos
cuspido, Deos crucilicado ! Deos morto,
Deos alanceado! Quem naõ ha de confiar
neste Deos, que me ha de dar tudo o
que me for necessário para minha sal-
vação?» Padre Manoel Bernardas, Exer-
cícios espirituaes, cap, 36. — «E por
isso dezia em outra parte. O quanto
amey vossa le}' senhor, que todo dia
não cuidaua em outra cousa. E por isso
vos irmãos que andais continuamente
occupados em os negócios deste mundo,
procuray muyto de nam criar callos de
diu-eza e frieza pêra as cousas de Deos,
e de vossa saluaçaõ.» Fr. Bartholomeu
dos Martyres, Catecismo da doutrina
christã.
— Cuidar na 'salvação da alma; pra-
ticar as virtudes e actos religiosos para
a conseguir.
— Salvação da alma; que vai á bem-
aventurança. — -«Cobrou de mouros a Ci-
dade de Sylves no Algarve soccorrido com
huuia Armada de gente do Norte em que
por saluaçaõ do suas almas hião muitos
Catholicos em soccorro da Terra Santa.»
Fr. Bernardo de Brito, Elogios dos reis
de Portugal, continuados por D. José
Barbosa.
— Bóia de salvação. Vid. Bóia.
— Acção de salvar, ou de salvar-se do
naufrágio, perigo, damno, a pessoa, vida,
fazenda. — « E quando disseram que o
turco determinava matal-os todos, se lhe
não entregassem o cavalleiro que levara
sua filha; por certo, respondeu Floriano,
se esse ha de ser o deri'adeiro remédio
de sua salvação, antes me eu entregarei
em poder do turco, que vêr que por meu
respeito se perdem tantos e tão sinalados
cavalleiros.» Francisco de Moraes, Pal-
meirim de Inglaterra, cap. 108. — « Po-
zeram toda sua esperança em suas for-
ças, convertendo a desesperação em ani-
mo, pelejando esforçadamente, crendo que
se de suas obras não tirassem salvação
pêra sua vida, todolos outros remédios se-
riam por demais.» Ibidem, cap. 115. —
< Mas tudo era em vão, que os corações
fracos, nas grandes afilicções são muito
fracos, e lhe fallece o esforço pêra sua
salvação, e juizo pcra se saber aconse-
lliar: e quasi desesperado de vêr tamanha
fraqueza uelles, visitava de quando em
quando Arlança, dizendo: Senhora, es-
forçai pois em vós só está a vida de to-
dos.» Ibidem. — «Mas como naquella
hora o cavalleiro do Salvage estivesse
cheio de ira e com razão, nenhum golpe
dava, que não fizesse damno ; de maneira
que em pequeno espaço estii-ou dous dei-
390
SALV
SALV
SALV
lei. Como 03 outros vissem que no fa^lr
tinham poiuíii salvação, o do voncclor
dcsesperassoni .■ileaii(;;ir niisericdrdia.» Ibi-
dem.
E vondo quo chrgar jíi não podia
As ostiincias dos rtnun IA junto il cava,
Ondo cutão miiin si^guni o certa via
Ar|uclta .'<i%'va';'io que doiojava
E pôr-3t! nni dofonsão nào BC atrevia
Contra o moço faroz, qnn o maltratava,
No rio o roito põe, com grande magna,
Determinando ja salvar-itc n'ugua.
V. d'àni>badi!, i-HiMKiRo cp.RCO OR Dic, cant. 17,
est. 8.
Qual ? a do entendimento,
que se cstondc
qu<'m a .talrar/in pertcndo,
pêra bom niorocimento
Bom Trabalho.
ANTÓNIO riiKiirEs, AUTOS, pag. 27.
— «Ver aqui a variedade nos conse-
lhos, o falar manso a orelha, o aperce-
ber de arma-), quem ajuntaua o pequeno
fardel, (piem lauçaua o; olhos aquillo em
que determinaua saluarse, quem se acou-
selhaua sem conselho, quem ora de huma
opinião, e logo arrepuJiaua, não se de-
terminado em alguma, sondo tudo huma
cõfa.-*ão fundada na saluação de huma vi-
da que parcscia andar mais morta que
viua.» Fr. Gaspar de S. Bernardino,
Itinerário da índia, cap. 2.
— A salvação do yenero humano; o
acto do salvar a humanidade. — «Tra-
zem hoa bramanas tros tios lan^'ados ao
collo sobraçados de hum braço ao outro,
em sinal da Trindade, que crem, como
nos : tem per fò que Ueos veo ao mun-
do, e tomou carne humana, por salua-
ção do género humano.» Uamiiío de (toes,
Chronica de D. Manoel, part. 1, cap. 42.
— Ancora da salvação. Vid. Ancora.
— Saudação.
— Entrar o navio a salvação pela bar-
ra ; entrar a salvo, a salvamento.
— Salvação publica; a salvação da hu-
manidade.
Que scnatuâconâultos, — era maia clara
Equidade fundada do qu^ o Álbum
Do pretório, — gravada noutro bronze
Mais durável que as tábuas dos decemviros ;
Lei das leis, immutavol o suiirema,
— A da salvação pública.
GABULTT, CATÃO, act. -1, 3C. 3.
■A salvação contmum; a salvação de
todos.
Acceita eqmílcos, chammas, e as dodica,
A sa>r(v;'io cominum. A Yiigem timida
So, do Sposo, ella a pi'na,e angustia aujjmcuta,
Tambcni lhe h;l-do augmcutar premio, triumpho.
r. M. DO N.VSCUIKXIO, 03 U.VBIYBKS, 1ÍV. 3.
1.) SALVADO, part. pass. do Salvar.
Yid. Salvo, e Salvar.
2.1 SALVADO, *. VI. A parte que ficou
salva de algum incêndio, ruína, ou nau-
frágio.
— O que se dava ou expunha á prova
da salva.
— Plur. Os destroços, fragmentos, ob
pedaços naufragcs do navio, e as fazen-
das escapada.^, o recuperadas.
SALVADOR, A, adj. e «. Que salvou.
Tu, lalvculor magnânimo da pátria,
C'onfusào de perversos, de traidores,
Flagello de tyrannos, tu decide,
Dispile de n/.s : cm tuas miios se intreg*m
Estes poucos fieis, que iriU> contcnt<:s
Por ti, comtigo, té o extremo, á morto.
QABRETT, CATÃO, aCt. 2, SC 2.
— Por antonomásia: Nosso Salvador;
Jesus (Jhristo. — «Esta he minha fe, e
lei, e do pouo Ciiristào da Ethiopia, sub-
geito ao precioso loam, a qual com tan-
to amor de Jcsu (yhristo he contirmada
autre nos, que nem por medo de morte,
nem do fogo, nem de cutcUo, ajudado
da graça de nosso saluador lesu Christo,
ei de arronuneiar, nem negar, e esta fe
auemos de leuar todos no dia de juizo
diante da face de nosso Senhor Icsu
Christo.» Damião de Góes, Chronica de
D. Manoel, part. 3, cap. 60. — «E certo
que he muyto de notar, que antes da
vinda de Chinsto nosso Saluador ao mun-
do, ja a Cruz entre esta gente era vene-
rada : e tida em tanta estima, que diz
Ruphino, que os Egyptios a màdauão es-
culpir no peito de seu Deos Serapis; e
por ella significando a esperança da saú-
de, e vida que esperauão, que em algu-
ma mancyra parece isso prophecia, o in-
dicio do remédio, e bem que por ella nos
auia de vir.» Fr. (íaspar de S. Bernar-
dino, Itinerário da índia, cap. it.
7 SALVAGE, *. m. Vid. Salvagem. —
«Aquclla noite dormiu o cavalleiro da
Fortuna em uma cama de pclles, confor-
me a outra, que sempre naquella casa ti-
vera. A mulher do salvage quiser.i-lho
mostrar os pannos em que viera envolto
o dia, que nascera, e descobrir-lhe quem
era, e o salvage não o consentiu por lhe
não fazer perder a suspeita em que vivia
de lhe parecer, que podia ser seu filno.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. ?>\. — • u Então se despediram ;
e pondo-sc elle a cavallo, começaram de
caminhai- elle e Selvião não lhe dando
conta do que passara com o Salvage, por
não ser cousa de se deterem mais em
tornar a vel-o : antes caminharam con-
tra a parte onde ouviam dizer que a per-
dição de todos acontecia, que dalli era
muito perto, não rceciando o perigo a
que ia, porque seu propósito era virtuoso;
que esta qualidade tem a virtude, todo-
los trabalhos estim.ar pouco e os vicios
muito manos.» Ibidem, cap. 32. — «O
cavalleiro do Salvage, ainda que o seu
acordo fosse grande, e o esforço pêra
de.^baratar qualr|uer temor, ncrta hora
n.lo jiôde temor tão J(ouc<j a aífronta cm
que se via, que se acbaBse desacompa-
nhado de receios muito grandes.» Ibi-
dem, cap. 1U7. — «Minha «enliora, disi^o
o do Salvage, não cuideis que nesta jor-
naila perdestes nada; nem perder vossa
mãi so p/>de chamar perda, que suas obras
o merecem. O património quo vos ficou
de vosso pai, vos nilo tirará ninguém;
que, se eu viver, esse e outros maiores
espero que vos fiquem : e porque o tem-
po será d'jsto testemunha, não o qaero
mais aíTirmar.» Ibidem, cap. \\b. — «O
do Salvage saiu fira, dizendo: Chagado
é o tempo, Aifernao, que vossas malícias
haverão seu galardSo. E cuidando alcan-
çal-o com um golpe, se ]h'o metteu an-
tro os <miros, que se pozeram 'iiante polo
defender.» Ibidem. — «O <lo Salvage, que
trazia a tenção desviada do .«eu desejo,
fez que a não entendia ; antes faltando
em cousas fira d'csse propósito, chega-
ram junto das tenda», que eram riciís em
extremo. N'isto veio uma das donzell&.s a
elle, dizendo.» Ibidem, cap. 11»5. — «Se-
nhora, disse o do Salvage, se vós vos
vísseis, viw me desculparíeis; de vos n3o
verdes, vos nasce cuidardes que tenho
culpa, que esses olhos não se podem pV
cm parte, que não roubem vida e alma.»
Ibidem, cap. 148.
1.' SALVAGEM, s. f. Uma peça de ar-
tilheria antitra.
2.1 SALVAGEM, ou SELVAGEM, s. 2
gen. Pessoa silvestre, habitant** das sel-
vas, mattos, etc. — «O do salvagem to-
mou outra lança d'alguma3, que o sen
escudeiro aquella noite trouxera de Cons-
tantinopla, e encontrando-se com Trofo-
lante o fez vir ao chão com a sella antre
as pernas, e o cavallo do do salvagem
ajoelhou com a força do encontro, qne o
fez lançar fora ; e arrancando das espa-
das começaram ferir-se de tio duros e
pesados golpes, que nelles se podia bem
conhecer a força, e esforço de quem os
dava.» Francisco de Moraes, Palmeirim
d'Inglaterra, cap. 13. — tC) velho saltou
tVira do seu cavallo, e disse ao do Salva-
gem: Bem vedes, senhor cavalleiro, que
a barca é tão estreita, que. se quizermos
entrar todos nella, poremos as pesso-is em
risco desnecessário. » Ibidem, cap. 113. —
• Em chegando ao cavalleiro do Salvagem
o tomou pola mão. recebendo-o com tama-
nho gasalhado e honra a seu parecer, co-
mo o poderá fazer a pessoa, em cuia mSo
estivera todo o remédio de sua vida: e
assim o metteu em uma c-:imara do mes-
mo jaez da sala, armada de tapeçaria ri-
ca.» Ibidem.
3.^ SALVAGEM, adj. 2 gen. Que vive
nas selvas, nos mattos. — Homem salva-
gem.
— America salvagem ; diz-se cm op-
posição á Amenca eiiilisada.
SALV
SALV
SALV
391
Negros vultos irão de Afriea ardente
Dssoatr&nliar na America salvagem
Thesoaros ricos de metal luzente.
j. X. DE MATTOS, EiMAS, pag. 286 (3.* edição).
— Vidas salvagens ; vidas selváticas.
— Gente bruta, salvagem; gente de
costumes bárbaros, feroz, irracional. —
«Mas nam he mm- to que os que de Deos,
e da saluação da sua alma se apartào,
que as potencias delia em certo modo se
apartem, e ab.?entem também deUes. Tor-
nando aos Sacatorinos, elles saõ gente
bruta, e saluagem, e como tacs viuem
polas serras eneouados, sem casa, nem
pouoação : pobres, e mal assombrados :
os mais delles com as mãos, dedos, e bra-
ços cortados, que este he o castigo mais
ordinário contra os culpados.» Frei Gas-
par de S. Bernardino, Itinerário da ín-
dia, cap. 9.
— Brutos salvagens. — «Xào guardão
lej, ou secta alguma, nem viuem em Ci-
dades mas pelos matos como brutos sal-
uagens, em choças tã pequenas, que mais
parecem sepulturas, que casas, e bem he
que gente que tal vida viue, em vida
pareçào mortos, pois não conhecem o
verdadevro Author da vida. Muytos que-
rem dizer que pêra a parte do Sul, ou
Meyo Dia, ha gente branca como nòs.»
Frei Gaspar de S. Bernardino, Itinerá-
rio da índia, cap. 2.
— • .>YX. : Salvagem, feroz.
Salvagem é o animal que vive nas sel-
vas, bosques ou matos, e por consequên-
cia agreste e bravio ; diz-se também do
homem sem cultura nem civilisaçào. Fe-
roz applica-se em sentido próprio aos ani-
maes carniceiros ou damninhos ; e em
sentido figurado, ao caracter ou qualida-
de moral de algumas pessoas. O leão, o
touro, o tigre, o javali são animaes sel-
vagens e ferozes; o veado, o gamo, a
corça, o cabrito montez são somente sel-
vagens ; muitos Índios do Brazil são sel-
vagens, sem serem /eroses ; o ladrão de
estrada que rouba e mata, não é selva-
gem, mas sim feroz.
SAL VAGINA, s. f. Carne de veaçào e
montauheza, qual é a dos porcos, vea-
dos, etc.
— Pelleteria nào preparada de animaes
montezes.
SALVAGINO, A, adj. De
monteziuho, de bruto, fera, etc,
— Car)i£. salvagina ; carne dos animaea
e veaçào montauheza, como porcos mon-
tezes, veados, etc.
SALVAGUARDA, s. f. Guarda para de-
fender, proteger.
— Figuradamente : Cousa que prote-
ge, defende.
— Protecção dada por escripto, para
que os soldados nào roubem o lugar ami-
go a que se dá, ou também signal de pro-
tecção arvorado nos lugares, a fim de
que 03 nào roubem e maltratem.
SALVAJARIA, s. /. Termo popular.
Acto praticado por selvagem.
f SALVAJEM, s. m. Vid, Salvagem.—
«Aqui deixa a historia de fallar nelles,
por fallar d"uma aventura, que aconte-
ceu ao cavalleiro do Salvajem no Yalle
Descontente com outro que o aguarda-
va.» Francisco de Moraes, Palmeirim de
Inglaterra, cap. 20.
SALVAJOLA, s. m. Termo popular.
Grande selvairem.
SALVAL. Vi 1. Sável.
SALVAMENTO, s. m. O estado de se
salvar, e livrar de perigo. — O navio
chegou a porto de salvamento. — tAs ou-
tras seis nãos repartio o VisoRey em
duas capitanias mores, huma deu a Bas-
tião de Sousa, em cuja companhia veo
Manuel Telles, e Diogo Fernandez Cor-
rêa, quada hum em sua nao, que chega-
rão a este Reyno em saluamento : e a
outra capitania mòr deu a Fernão Soa-
res, com o qual vierão Diogo Corrêa, e
Antão Gonçaluez.» João de Barros, Dé-
cada 1, llv. 9, cap. 5. — «Prouve a nos-
so Senhor que «hegney a salvamento à
Cidade de Lisboa aos vinte e dous de
Septembro do anuo de lòõ8. governan-
do entaõ este Reyno a Rainha D. Catha-
rina nossa Senhí^ra, que santa gloria ha-
ja, a quem dey a carta, que lhe trasia
do Governador da índia, e lhe relatey
por palavra tudo o que me pareceu que
fazia ao bem de meu negocio.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 225.
— «O que tudo ordenado, e a fortaleza
acabada (em que deixou cem soldados
portugueses, afora os officiaes dei Rei)
elle se fez de vella pêra Malaca, onde
chegou a salvamento.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 4, cap. 66.
vam sempre a popa, e vem,
grande segurança tem
de virem a salvamento,
polia certeza do vento,
se 03 tempos tomam bem.
GABCIA DE BEZESDE, MISCELLANEA.
SALVANDO, A, a'lj. Termo antiquado.
Excepto, salvante.
f SALVANOR, s. m. — Vb salvanor ;
com o devido respeito.
Irra ! pulha he isso, salvanor,
Seu não fora pulhador,
Jella passava o burel.
GIL VICEKTE, AUTO DA BARCA DO ISFEHNO.
Diz Nabucodonosor
No sideraque e miseraque,
AquelLe que dá gran traque
Atravesse-o no salvanor.
E diz mais, quem muito pede.
Mana minha, muito fede.
Sete mil custou a pipa ;
Se quereis fartar a tripa,
Pagae, que a vinte se mede.
On. YICSKTE, OBKAS VABIAS.
1.) SALVANTE, part. act. de Salvar.
Que salva, que defende.
— • Que tira do perigo.
— Testemunha salvante ; aquella cujo
depoimento salva alguém. Vid. Salvar-se
em juizo.
2.) SALVANTE, adv. Excepto, salvo,
tão somente. Vid. Senão, Salvo, Excepto.
SALVAR, V. a. Pôr a salvo, tirar do
perigo. — Salvar a vida de alguém. —
«Senhor cavalleiro, se vos lá virdes em
alguma aíFronta, encomendai-vos ás da-
mas, que o vosso merecimento ante ellas
é tal, que vos salvara logo delia. d Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 93. — «Eu conheço do imperador,
disse o do Salvagem, que, por salvar o
mundo todo, não forçara a condição em
cousas, que lhe parecerem fora de seu
costume : antes, polo que delle sinto, te-
nho a perdição dos seus por mais certa,
e logo me quero partir pêra sua corte,
que não é bem, que estando toda sua
casa aventurada em tamanho perigo, que
eu só me ache fora delia.» Ibidem, cap.
108. — «Porque a mim não me convém
metter a vossa nelle, se nSo salval-a de
todos, pêra aventurar naquelle com os
cavallos pêra que a trago, peço-vos que
descavalgueis e passareis só ; e o vos-
so escudeiro e eu passaremos cada um
por sua vez, que d'outra maneira esta-
ria o perigo certo e a passagem duvi-
dosa.» Ibidem, cap. 113. — «Porem, por
que em toda a parte folgaria se publi-
cassem as obras, de quem cada dia
salva a mim e estas senhoras de mão
de homens de tenções damnadas, ide á
corte de el-rei de Hespanha e de minha
parte vos presentais ás damas.» Ibidem,
cap. 125. — «Determinei então haver
delle por força o que me não quiz entre-
gar de vontade ; defendeu-as de maneira
que, além de lhe ficarem, eu fui vencido
delle e posto no derradeiro extremo da
\nda, a qual salvei com offerecer-me a
fazer o que me mandasse ; e quiz que de
sua parte me viesse presentar ante vossa
A., e lhe pedisse perdão por elle de se
não descobrir em vossa corte, porém
que da volta que fizer do castello de
Àlmourol o fará.» Ibidem, cap. 126.
— «Vós podeis ir- vos embora, disse el-
la, que nào ha pêra que vos deter ;
nem eu, disse el-rei, não quero de voa
ai, se não pedir-vos que pois essas armas
não estão pêra vos poderem servir, nem
salvar d'algum trabalho, acceiteis outras
de mim, e escolhais na minha estriberia
o cavallo, que vos mais contentar; por-
que ainda que sei que vossa tenção foi
sempre servir ao. imperador Palmeirim,
queria que ninguém viesse com necessida-
de, que quando se fosse a tornasse ainda
a levar. » Ibidem. — «Naõ bastou a mu-
dança do caminho, para salvar os inimi-
gos das mãos de Frojaz Vermuiz, porque
sabendo os passos por onde se hiaõ rer
392
SALV
SALV
SALV
tirando, os assaltou cm liuin vallo junto
ao rio Cambra, e damlo ropciítiimiiiento
noUes, fez taõ cruel matani;a, que cli.i-
inamlo-se o vallo aiito-i ()tF<it, como vimos
alfíumas vozdíi, o cliaiiiaraò «lalii cm ilian-
tc Uirclla.i Monarchia Lusitana, liv. 7,
cap. LT). — • t(U)m esta caualfjada, 80 co-
meçarilo a recolher os nossos, mas os
mouros dorão outravez nellos, e se tor-
nou de nouo a trauar outra mais braiia
polleja, porque os mouros com dor dos
parentes, molliores, c tillios que de dian-
te dos seus ollios viàn leuar captiaos se
osfi)r(,'auar> quanto podiam pêra ver so os
poderiaò saluar, e assi sua fazeniia, e í;a-
do3 que Ui'' os nos-ios leuauHo. » Damião
do (tocs, Chronica de D. Manoel, part.
3, cap. (59.
lluiiíi poucos, quo. por nomo tem Rpabutns,
E qual'iunr do Sultão era vnsíallo.
Que são na rida qujics alarves bnito».
Em vez de o consolar, e d'<'ijudallo,
Seguindo do ladrões os iiiatitxitos
Vão duas ou tros vezos ariltfiiUo,
Jí desse pouco os «cus lhe dnspojiírão
Que na fugida os míseros salmrão.
r. DK ANDBADR, IMIIMEIBO CIBCO DT. DIU, CUnt. 3,
est. 4-1.
— t Chjpre ; c assim não posso dizer
que o sou. Os deuses são testinmnhas de
minha sinceridade: a elles compete con-
.servar-me .a vida; nem eu quero dever o
salval-a a uma mentira.» Francisco Ma-
noel dl) Nascimento, e Jlanoel de Sousa,
Telemaco, liv. ;>. — o Tratei a certo ho-
mem (pie para salvar a vida se envolvia
com habito do ermitão. Era este de na-
ção estrangeira, e passava por Lisboa a
outro reino. Era pessoa illustre.» Bispo
do Grão Pará, Memorias, publicadas por
Camillo Castello Branco, pag. 121). —
« Se combatesse pelos mosselemanos, crê-
lo-hiam o demónio da assolayào ; mas,
pelejando pela cruz, dir-se-hia que era o
archanjo das batalhas mandado por Deus
para salvar Theodemiro e, com elle, os
esquadrões da Betica.» Alexandre Her-
culano, Eurico, eap. 10.
Seu nobre cxfòrço, amigo, que medita?
Como intenta mb-nr-nos f Que defesa
Havemos de fazer n'câtas ruínas
Contra esse iuimonso exercito que aperta
Sobro n<^s de hora a hora ? Que esperanças
Da moribtinda — morta liberdade
Conserva ainda?
OARRETT, CATÃO, BCt. 1, SC. 3.
Persuadiu-mo — o algum numen inimigo
Jfe fascinava então ! — que a stilvar Roma
Mo fadavam os cous, o a ))unir César ;
Quo cm Utica tramava poderosa
Coujuraijão occulta quo í'sta noite.
IBIDEM, aet. ■!, se. 4.
So este coraijâo, so a minlia alma
Quero salvar do crime.
IBIDEM, act. 5, 8C. 3.
— Termo do náutica. Saudar, fazer
cortezia dando nalva d(! artilhcria, ou
mosquctaria. — « Ijinramlo ancoras junto
com turra, comcearam salvar o porto com
tiros dartilhcria cm tanta (|uantidaile,
que os da cidadã acudiam uns ao mar,
outros se punham polas ameias e janel-
las, n3o sabendo determinar aquella no-
vidade de festa, cousa quo naquella terra
não se acostumava havia muitos dias.»
Francisco de Jloracs, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 9(5.
— Dar a salvação eterna.
Constantinopla fundou
Imperador Constantino,
lilho de, lllcna que .achou
o lenho Santo diuino
da Cruz ipin Dcos nos talnou ;
do Imperador chutado
Constantino era chamado,
e a mãy tumbism Hiena,
o que o Império com grã pena
pcrdeo ; c foy degolado.
OABCIA DE BEZENDK, MI3CEI.L.VNEA.
— Conservar, guardar.
Salve Deus todos, e guarde.
Senhor, seja bem chegado.
ANTÓNIO rKESTES, AUTOS, pag. G3.
— Salvar os tkesotiros da invasão dos
godos; occultal-os, livral-oa.
Da Gothíca invasão, naufrágio horrendo,
Os thesouros salvou, que o Mundo espantào,
Que mais que as armas sustentarão lloma,
E no seio da Gloria inda a sustentào.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EITATICA, Cant. 4.
— Saudar.
Dcante do teu, seu gcuio acovardado
Vacilla : — teme o vencedor da terra
Do ticar vencedor ! Tal é o zOlo,
O impenlio com que, á custa de seus louros,
Quer salvar os teus dias preciosos.
OABBETT, CAlIo, aCt. 2, SC. 5.
— Livrar do perigo.
Casaste mal, ou é feio ?
Não é isso o que me salva
nem me põe o melhor arreio.
Hofé, quo já a vi mais alva.
Estou palha de ceuteio.
ANTÓNIO PBESTES, AUTOS, pag. 33.
Esquecido na torra, invergonhado
O nome portuguez... — Opprõbio, magoa.
Dura pena de crimes ! — tábua única
Lhe darás tu para snlvar-lhe a fama
Do naufrágio. Tu fkí dirás aos séculos,
Aos povos, ás nações: AU i foi I.ysia.
GABRETT, camõks, caut. 3, cap. a.
— Passar em salvo da outra bauda,
saltando.
— Salvar os i>tri(jo$ ; sair dVlles a sal-
vo, iicar livre d'ellcs, c evital-os.
— Defender, desculpar.
— Salvar a ac<}ão: livral-a de imputa-
ção.
— Salvar o hurmuro, o baixo, etc. ;
atraves-al-o por cima sem o tocar, ou to-
cando mui levemente; ou ladeando, oa
costeando, o pondo-se f.ira d'elle.
— .Justificar, absolver, cm opposiçSo a
rrindemuiir.
— -Salvar a» appnrencia»; fazer que
estas sej/im boas,
— Minha fé me salva ; minha fé me
defende.
Dcfonde«-te ?
Não defendo,
minha fú inc sa/.va o sana.
Acho que ti;nlio acertado
cá comigo.
ASrO!«IO PRESTES, AUTOS, psg. 153.
— Salvar fazendas; tiral-as livre» de
direitos por privilegio.
— - Salvar-se, v, rejl. Acoitar-se, abri-
gar-se.
— Pôr-se a salvo do perigo.
Venderás muito perigo,
Que tens nas treva» e-scurap.
Eu vendo perfumadums,
Quo, pondo-as no crabigo,
He talvão as criaturas.
GIL VICENTE, AUTO DA PEIBA.
— < E aprouve a Deos que se saluou
toda a gente, e parte da fazenda, por lhe
logo acudirem D. João de Lima, o Ma-
nuel de la Cerda.» JoXo de Barros, Dé-
cada 2, liv. 8, cap. 5. — € E tornàdose
os nossos a fortificar de novo cõ estou-
tras duas fustas, determinarão de espera-
rem alv a.s quatro galeotas que erão man-
dadas :i ilha do mar, porem a estas deu
là nosso Senbor ao outro dia tanto vento
Norte que deu com duas delias ;i costa,
de que se não salvou pessoa nenhuma.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações, ca-
pitulo 146. — « Estando em Pemba ima-
ginado ser Zanzibar, víamos na carta de
marear, hum baixo que chegaua ate a
Ilha de ílonfia, sobre o qual nòa liiamos
cahindo, segundo nosso parecer o que
visto de todos derão nmytos o seu, que
fov varasse a nao em terra, porque muvto
melhor era, morrendo alguns saluaremse
08 mais do que himios cahir no bayxo,
onde todos acabas,*einos.» Fr. (Jaspar de
S. Bernardino, Itinerário da índia, eap.
3. — « Pêro dataide se perdia nos baixos
de S. Lazaro, nta* a gente se salvou com
|)arte da qual se foi em hum zambuquo a
Moçambitine. onde morreo. e a outra se
foi a Melindo.» Damião de Góes, Chro-
nica de D. Manoel, part. 1, cap. 8. —
€ Separadas c.stas capitanias, passaraS to-
dos juntos a linha, aos vintanoue dias do
mes de Abril na qual derrota despois das
frot.-w serem ja apartadas huma da outra,
a iiao de Pêro ferreira fogaça, com cal-
SALV
SALV
SALV
393
mariaf, e vauzear, por ser muito velha,
fez duas vezes agoa de que na derradeira
se foi ao fundo, sem delia se salvar mais
que a gente, o huma arca de prata da
capella de dom Francisco dalmeida.» Ibi-
dem, part. 2, cap. 2. — « Com esta tor-
uoada se apartou a nao de George Nunez
de leam do jungo, em cuja guarda hia,
por se os laos nam alleuantarem com
ella, 03 quaes vendesse apartados da nao,
derào em Simão martinz que hia doente,
e nos outros portugueses, e os matarão
todos, saluo quatro marinheiros que se
saluaraõ em huma almadia. que também
foram ter a Pacem, e o jungo a cidade
de Timiaõ, que he na illia de Çaraatra, o
qual se perdeo depois.» Ibidem, part. 3,
cap. 26. — « E como os remeiros, e gen-
tios, que alem de andarem forçados, cor-
riam também o mesmo perigo dos tiros
das bombardas pêra se saluarera dixeram
aos de Hagamahamed em sua lingoagem
que abalrroassem a gale sem receo, que
dentro nara hauia ja quem a podesse de-
fender.» Ibidem, part. 4, cap. 73.
Saíva-se nellc o Interprete das Musas,
As Filhas da Memoria em doec aecento
Sobre o Pindo seu nome immortalizào,
E foi levado a povoar os Astros.
J. A. DE MACEDO, A KATUEEZA, Cailt. 3.
— Conseguir, alcançar a salvação eter-
na.—«E quanto ao que toca a^s mini-
nos, a que a EgTCJa Romam chama pa-
gãos, por nam receberem a agoa do ba-
ptismo, nos lhe chamamos meos Chris-
tãos, e temos que se saluam, por serem
nascidos de pães Chi-istãos, no baptismo
dos quaes, e do Spiritu Sancto, e do san-
gue de nosso vSenhor lesu Christo se sal-
uam.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 3, cap. 61.
esta casa bem sentida
SC ella agora finara,
entendo que se salvara,
porque eumprio já na vida
o seu testamento á clara.
ASTCXIO PKESTES, AUTOS, pag. iÒÒ.
— Salvar-se sobre sua fé. — ■ «E que
elle em sua vontade auia el Rev por tão
bem a\ienturado, e de tanto coração, e
saber, que elle auia por boa ventura sua
regerse per suas leys, e sobre sua Fec se
saiuar, porque aquelia, e não outra auia
de ser a verdadeira, pois Deos nella o
criara.» Garcia de Rezende, Chronica de
D. João II, cap. lõG.
— Salvar-se a nado; pôr-se a salvo
nadando.
Ousadamente ao mar logo se lança,
Que o grào perigo faz o medo ousado,
Guia-o nisto huma uma vãa, falsa esperança,
Porque cuidou poder salvar-se a nado.
Lançárào-se traz elle sem tardança
Também os de que estava acompanhado,
VOL. V. — 50.
Que nem na derradeira hora o dei-^carão
Os que sempre na vida o acompanharão.
FRANCISCO DE ANDRADE, PRIMKIBO CERCO DE DIU,
caut. 7, est. 07.
— Livrar-se do perigo.
Alguns dos principacs, que dos passados
Desbarates salvar-se então puderão,
E cm difterentes partes retirados
Todo o tempo das guerras esti verão.
Vendo 03 imigos ja tão apartados
A seu Sculior de novo se vierào,
Com que foi restaurado o estado antigo,
Até que o Ecino vio som guerra e imigo.
F. d'andrade, primeiro CERCO DE DIU, caut. 5,
est. 95.
— Salvar-se a pê, — «O que tudo fez
no mesmo dia em que sahio da cidade,
que foi dentrudo, no qual vieram ahi
amanhecer seis de cauallo dos que es-
caparam de que hum era Francisco de
Mello, e ao outro dia desaseis besteiros,
e espingardeiros, e dous de cauallo que
se saluaram a pe. » Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 4, cap. 64.
— Salvar-se por ferro quente; provar
a sua innocencia contra testemunhas, to-
mando nas suas mãos o ferro em braza,
quente, ou caldo,
— Salvar-se em juizo; livrar-se, fozer
salva com testemunhas, que se denomi-
nam salvantes, porque o seu depoimento
salvava quem as dava,
— Livrar-se judicialmente.
— Salvar-se da prisão ; pôi'-se a salvo
d'ella, libertar-se. — «Perdi então a es-
perança de voltar a Ithaca. Fiquei en-
cerrado n'uma torre em a praia visinha
de Pelusio onde devia fazer-se nosso em-
barque se Sesostris não acabara. Teve
Methophis o ardil de salvar-se da prisão,
e restabelecer-sc junto ao novo rei ; sen-
do causa de me prenderem para vingar-
se da desgraça, que eu lhe originara.»
Telemaco, traducção de Manoel de Sou-
sa, e Francisco Manoel do Nascimento,
liv. 2.
— Salvar-se de ser preso j^^^a justiça ;
pôr-se em salvo, fora do reino, em asvlo.
SALVATELLA, adj. f. — Veia salva-
tella ; é um ramo da cephalica entre os
dedos annular, e minimo.
SALVATICO, A, adj. Yid. Selvático.
SALVÁVEL, adj. 2 fjen. Que pckle sal-
var-se do perigo, naufrágio, doença, etc.
SALVAVIDA, s. f. Bóia de salvação.
— Apparelho ou machina moderna,
própria para salvar a vida aos navegan-
tes, que estão em perigo de se afoga-
rem.
— Apparelho próprio para salvar os
individues que estão em perigo ena um
editicio incendiado,
SALVE, loc. lat. designando sauda-
ção.
— Dar o Deus vos salve ; saudar.
Salvar.
Vid.
— S. f. — Rezar a salve rainha.
SALVETA, s. /. O prato do candieiro.
SALVETTA, s'. /. Termo de botânica.
Espécie de salva.
SALVINA, s. f. Uma composição fe-
brífuga.
1.) SALVO, A, adj. (Do latim salvus).
Livre de perigo, sem risco. — O enfermo
está salvo.
— Loc. AXT. : Salva a sua paz; usa-
va-se não querendo que alguém se oôen-
desse do que se dizia.
— Bemaventurada. — -Seremos salvos,
se praticarmos a virtude.
— Tinham salvo ; tinham posto em co-
bro.
— Em salvo ; livre de perigo, mal,
quebra.
— Posto em salvo ; salvado. — «Por to-
dolos christãos nonos que escaparão des-
ta tamanha fúria, serem postos em salvo
por pessoas honrradas, e piedosas que
nisso trabalharão tudo o que nelles foi,
e o tempo, e desordem delle lhes pode
conceder, sem poderem euitar que não
perecessem neste tumulto mais de mH,
e nouecentas almas, que tanto se achou
per conta que mataram estes máos, e
peruersos liomens.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 1, cap.
102.
— Ad,v. Excepto, senão. — «Quer di-
zer. Que Tito ou Tibério Cláudio Saili-
cio. Cavaleiro da terceira Cohorte dos
Lusitanos eumprio com alegre animo o
voto que fez aos Deoses e Deosas da-
quella terra, que alli se chama Conium-
bria, salvo se acaso foy culpa do Escul-
ptor, e em lugar de Conimbrica, lhe
acrecentou o u, demais.» Monarchia Lu-
sitana, liv. õ, cap. 8. — «E porque ou-
tro sy na dita Ley feita pelo dito meu
Senhor e Padre he contheudo, que quem
quizer comprar ouro ou prata, que a
possa comprar aa voontade de seu dono,
pagando logo, etc. ; e por outra Ley de-
pois per elle feita he geralmente defeso,
que ouro ou prata se nom possa comprar,
nem vender, salvo no seu caimbo sob
certa pena : porem declarando em esta
parte, mandamos que se guarde a nossa
Hordenacom sobre esto declaradamente
feita.» Ord. Affons., liv. 4, tit. 2, § 19.—
«E d'outra maneira nom valha quanto el-
la hy fezer, salvo se na Carta d'ElRey,
que pêra ello gaançou, for contheudo que
Nosso Senhor ElRey dá a ella poder que
faça essa demanda sem outorgamento de
seu marido,» Ibidem, tit. 11, § 1. — «Ca
depois que o mancebo for requerido pe-
las nossas Justiças pêra viver com ou-
ti-em, segundo a forma das ditas Horde-
nações, nom poderá ir a viver com outro
algum, salvo acabado o tempo, que avia
de viver com esse, com que lhe foi man-
dado que viesse.» Ibidem, tit. 25, § 2.
— tPerque pareceria fora de razom, pois
que seu Padre os criara e geerara, e com
394
HALV
SALV
SAM
cllo (luoriiir; viver, sdroiii constrangidos
porá morar coiii outroin : salvo su esses
mancebos c Hcrvldurcs (|ui.si;n!m viver com
alí^uom per soldada i)ei' sini «(rado, por
muitos (pio Hoflressciii.» Ibidem, tit. '2d,
§ 9. • — • «P] bem as.sv' dizemos iio que deo,
ou vondoo a cousa sua a outrem com a
dita condiçom, a saber, que so noiu ])0-
dcsso cuulbcar, ou vender, salvo a ai;;jum
seu Irmaaõ, etc. porque iio estabelecido
por direito, que cada luiin possa acerca
do sua cousa poer (pialquer coudieom o
cautella que lhe prouver, cniii tanto que
seja licita o honesta.» Ibidem, tit. 'M,
4} ii. — «Salvo se no contrauto fosso acor-
dado antro as partes, que lhe nom fosse
theudo a lha compoer; ca entom será
theudo soomente tornardiíe o preço, que
esse vendedor por essa cousa ouve: pêro
fie as partes outra cousa ouvessem acorda-
da ao tempo do contrauto, ou despois em
alpjum tempo, fruanlar-sia o que antre si
aeordárom.» Ibidem, tit. ã!', § 12. —
«Salvo se ao tempo do contrau.to antro
ellcs feito, ou entrega da cousa, o ven-
dedor delia so ouve por pago do dito
preço; ca entom será o comprador feito
senlior delia, assi como se o dito preço
ouvesso pagado, ou oífereeido ao dito
.vendedor.» Ibidem, tit. GO, §3. — «E
aquelles, que o contrairo fezerem, os
Santos Cânones os ham por escumunga-
•dos per esse meesmo feito sem alguã ou-
tra sentença, salvo se as levassem pcra
remijr cativos alguns Chrisptaaõs, que
lá jouvessem.» Ibidem, tit. 63, § 1. — «E
■porem nom he Nossa tençam, que aquel-
les, a que taacs Cartas enviamos, scjaõ
necessariamente eontrangidos a compril-
las, salvo quando lhes com justa e agui-
sada razom aprouver do o fazor, e d'ou-
tra guisa nom.» Ibidem, tit. G4, í? 2. —
«E se o forçador nom ouver direito na
cousa, em que fez a força, componha-a
ao outro com outro tanto do seu, quanto
vai a cousa que esbuliiou : salvo no caso,
bonde per direito he outorgado que se
possa cometer força, assi como se homem
fosse forçado d 'alguma cousa, e elle a
quizesso logo per força cobrar, ca o po-
derá bem per direito fazer sem embargo
desta Lei.» Ibidem, § 3. — «A este ar-
tigo diz ElRey, que por efteitos civiis
nom prendam nenhum, se tever per
bonde pagar, salvo se for por feitos ma-
liciosos, em que per a llordcnaçom do
Rogno devam secr presos, e pagar da
Cadea : o este Corregedor, ou Juiz, que
o contrairo fezer, pague por cada vez mil
reis brancos, dos quaaes a meetade seja
pêra quem ho acusar, e a outra meetade
seja pcra as obras do Concelho daquello
lugar, bonde esto acontecer.» Ibidem,
tit. 67, § 1.
Italianos, Millanoâos,
Soyços, o Escovcescs,
vimos todos batalhai-.
huiiH com outroii «o laatur,
sdlito Vugro», c PortugiiíMíCB.
— «E O galeilo depois deile morto foi
ter a huma iliia que esta apar de Qui-
loa, onde deu a costa, e os mouros nam
contentes do roubarem o que nelie lua
mataram todclos Portugucse-), sem da-
rem vida a nenhum dclles, saluo a hum
moço que era sobrinlio do mestre que
el Rei de Zamzibar reeoiheo.» DamiTio
de (joes, Chronica de D. Manoel, part.
•1, cap. 3(3. — «A])pliquoi a alguns Ín-
dios outras triagas conhecidas na Ame-
rica, e nenhumas operaram efficazmen-
te, salvo a indicada.» Bispo do (.Irào
Tara, Memorias, publicadas por Ca-
millo Castello Branco, pag. 190. — «E
porque se niío suba a clle, a ladoyra
lie toda lageada, e uuiy Íngreme, de sor-
te, que nrio he possiuel sobir acima por
parte alguma, saluo entrando pela porta,
em (|ue ha de contino muyta guarda, c
vigilância.» Fr. (i aspar do S. Bernardi-
no, Itinerário da índia, cap. 2J.
— Salvo que; excepto se.
— Quando não é adverbiado, concor-
da com o nome. — « Com estas xv nãos
partio o Mariclial de Lisboa aos doze
dias de Março, de M. D. ix, e o primei-
ro porto que tomou foi Jloçambique, don-
de foi ter a Meliiide, c dahi a Cananor
no mes Doutubro, com toda a frota jun-
ta, salno Francisco marecos que inuer-
nou em Jluçambique. » Damiào de Cioes,
Chronica de D. Manoel, part. 2, cap. 41.
— « E me amostraram a serra e a ai-ca,
que tudo estava cuberto de neve: e eu
uani vi outra cousa salvo neve, ainda
(pic comigo aperfiavão que olhasse bem,
e que a veria clara, mas eu nam vi mais.»
António Tenreiro, Itinerário, cap. 21.
2.) SALVO, s, ?)(. — J^òr-se em salvo;
pOr-se em logar seguro, livre de risco.
— ^1 salvo ; sem damno, sem prejuízo.
— «Por terra acompanhado de trinta mil
homens, com sua artelharia ordenada
como sempre acostumaua fazer, e diante
delle o senhor de Rcpelim, com huma
grande somma de gastadores, pêra fiize-
i-em vallos, e fossas na ponta Darraul,
onde se os seus podessem abrigar dos ti-
ros da nossa artelharia, e jugar com a
sua a salvo.» Damiào de Góes, Chronica
de D. Manoel, part. 1, cap. 91.
— líiliicar em salvo; dar noticia, ou
rebate do inimigo posto na torre, e se-
guro.
— A seu salvo; sem damno, nem pre-
juízo seu. — o Os perigos não se guarda-
ram senão pêra aquelles, que os não te-
mem, venha a morte quando quizer, que
darei a vida tão cara, que ninguém se
possa louvar a seu salvo de mim.» Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 94. — «Bem parece que não sois
vós quem nesta aventura quer experi-
mentar sua pessoa, poiít tanto a vosso sal-
vo querei» levar o escudo a furto do
quem o guarda. Mas, pois clle não está
presente pêra vol-o defeiuler, eu o farei
por sua parte, e quero vér «e t-ois pêra o
tomar por força.» Ibidem, cap. 127. —
«Ma» tornando ao ciintramesire, em ven-
do o (|uc passaua bradou da gauea, ao
que SC Diogo l^jpez aieuautou, pedindo
armas, mas antes que lhe acudissem, os
Malaios so lançaram aos barcos, e se fu-
ram pcra a cidade a seu saluo, e o mcA-
mo fez'5ram os que ostauam nas outríis
nãos.» Damiào de Gocs, Chronica de D.
Manoel, part. 3, cap. 2.
.Ia o iinifro outra vez, não d<'Hcuidado
Melhorara as nstancias, ondi; i-stivn,
Que |)or c.-ttar ao muro mais clie^jado
Di^iitro da boca a» p6z da iio^ía cjiva ;
K como SC» intento, seu cuidado
Vati damno do« (Jhri»tào» »<'> »o empregava,
Pois a BCii "(dvo p/idc, dutcnnina
FaztT ao baluarte huma alta mina.
tUANCISCO d'aNDBADK, rBIMEIBO CEBCO DE DIT,
cant. 17, est. 58.
— «Queimava vivos os Cacizes maia
opulentos, esfolava Reys, degolava Em-
peradores, para mais a seu salvo devorar
serras de prata, e montes de ouro, que
mandava a Espanha, para fazer guerra a
toda Europa, Africa, e Ásia.» Arte de
furtar, cap. G9.
— J^cjjicar em salvo ; fallar afouto das
cousas perigosas, quando não incorremos
cm o perigo d'cllas.
— Figuradamente : Repicar em salvo ;
dar noticia do perigo, depois de esíar
salvo d'elle, ou talvez dar noticia mui
antecij^ada iln perigo.
SALVO-CONDUTO, ou SALVO-CONDU-
CTO, s. m. Cartii de seguro, «[ue se dá
ao banido ou inimigo para que possa vir,
e estar na terra onde é responsável por
crime, ou outra obrigação, passar por
cila, sem receio de detença, estorvo ou
outro damno.
— Figuradamente: Privilegio, isen-
ção.
— Figuradamente : Liberdade concedi-
da por salvo-conducto. — «Para o que
quasi de todas as gentes tiveraiS salvo-
conducto. Tomaõ o nome da principal Ci-
dade do Revno, Ultimamente saõ os Reys
i!c Armas, que se intitulaò do nome da
Provineia.» ^Manoel Severim do Faria,
Noticias de Portugal, Disc. 3, cap. 18.
1.) SAM. Fiirma antiquada do verbo
ser na tci'ceira pessoa do ]dural do pre-
sente do imlicativo. Vid. São.
Quo cousas tam prand ^5 »<i m
hos da Índia, c luoatam,
c (juani \\!\ China osjíantosas,
que faijanhas faij.inhosas
no Brasil e Poru vaam ?
o. PE BF.zrXnE, MISrF.t.UXEA .
— «lia na terra muitas fauas, feijoeus,
SAM
SAM
SAMB
o9õ
e outros legumes Ac muitas cores, que
comem, nào tem vinhas, mas fazem vi-
nho de milho, e da mesma farinha cais-
tas, que he como cerveja, ou cidra, de
que bebem, e se embebedaL» a meudc, e
depois de bêbados sam muito traidores, e
maliciosos.» Damião de Góes, Chronica
de D. Manoel, part. 1, cap. 56. — «O
que o gouernador foi fazendo per hum
bom espaço a sua maõ direita, ate que
lhe mandou que se tornasse a banque-
tear o embaixador, para que o conuidou
o embaixador dei Rey de Lores, e o dei
Rei de Gorgia, que tem suas terras a
trinta legoas da cidade de Tauriz, e sam
Christãos, vezinhos ao turco, com quem
tem muitas vezes guerra.» Ibidem, part.
4, cap. 10. — «Pelo que mandou Fran-
cisco de ga, e Lourenço de cosme a cos-
ta de Ethiopia buscados, e algumas ve-
las que lhe laltauam da frota, e assi pêra
descobrirem o porto de Maçua, e Arqui-
quo, onde auia de lançar os que hiam
com o embaixador do Emperador, e Rei
do Abexi, cujos aquelles portos sam, no
que, e em mandar desfazer a fortaleza,
que na ilha começaram Raix soleimaõ, e
Mirhocem, passou os dias que alli este-
ue.» Ibidem, cap. 13. — «E porque sem
particular ajuda de Deos não podemos
por nossas forças fazer e.íte adubio nas
ceppas de nossas almas, que sam as vi-
nhas de Deos : por tanto mostra o Senhor
no Euangelho que da sua parte nam nos
faltara aquella ajuda que nos he necessá-
ria pêra o tal trabalho, e apparelho.»
Fr. Bartholomeu dos Martyres, Catecis-
mo da doutrina christã. — «Sam estes
Cin-istãos gentes brancas, da terra natu-
rais, e muyto antigos nella. Tem por seu
custume clreundaremse e bautizaremse,
falara lingoa Arábia, e vivem per trato c
lavranças.» Antoiíio Tenreiro, Itinerário,
cap. 44. — aPorque como temos dito as
terras todas sam bem aproveitadas, e os
homens com serem comedores e gastado-
res, sam curiosos em buscar ho remédio
da vida, ha muita fartura na terra, e
muita abundança de todalas cousas ne-
cessárias pêra comer, e pêra remediar ha
vida: e porque ho principal mantimento
da terra he Arroz, ha muita abundança
delle em toda ha terra, porque ha muy
grandes várzeas, que dam duas e três
novidades no anno.» Fr. Gaspar da Cruz,
Tratado das cousas da China, cap. 12, —
«Aa porta esta huma vasilha grande de
arroz muito encereijado c muito bem
concertado, e porque os negócios da jus-
tiça sam comunmente quasi das dez oras
por diante, e muitos tem as casas longe
por ser ha cidade muito grande, ou por
ser gente que de fora vem com negócios
assi os moradores como os de fora comem
nestas estalagens.» Ibidem. — «E no fim
mandam dar muitos açoutes aos ladrões,
que sam os malfeitores mais odiosos que
ha na terra: e os açoutes sam de manei-
ra que delles morrem muitos.» Ibidem,
cap. 17. — «Em que entravam três reys.
s. o Rey de Gilam, e o rey de Xirvam,
e o rei de Mazandram, e dous embaixa-
dores do reyno dos Gurgis, que sam
Christãos, e confinam com as ultimas ter-
ras do Sufy, pêra a banda do norte.»
Ibidem. — «E assi em toda ha China
nam se acha uhum China mouro. Os
mouros que ha na China nam sam delia
naturaes, como se mostrara no capitulo
seguinte.» Ibidem, cap. 27. — «Hora se-
nhoreada polo grão Turco em que estaa
de contino hum Baxaa, com boõ exercito
de gente de Turcos de cavalo, em hum
castelo e huma fortaleza que tem muyto
forte dentro em a dita cidade, estaa ou-
tro capitão com trezentos Geniceros, que
sam escravos do grão Turco, que nam
dão obediência a este Baxaa poios ter o
grão Turco por mais leais: porque este
he o seu custume.» Ibidem, cap. 33.
2.) SAM. Abreviatura de Sancto. Vid.
San. — «E assi ordenou que de cada mes
se guardasse hum dia em louuor do Anjo
Sam Miguel, c segundo o ordenaram os
Apóstolos nestes oito liuros dos Concílios
guardamos o dia do martyrio de sancto
Esteuam, e de outros martyres.» Damião
de Góes, Chronica de D. Manoel, part. 3,
cap. 61. — «Fundou de nono o mosteiro
de Sancto António de pinheiro de sam
Francisco da obseriiancia, fez o corpo da
Egreja de sara Francisco Deuora, fez do
nono o Mosteiro danunciada de freiras da
Ordem de S. Dondngos na cidade de
Lisboa na mouraria.» Ibidem, part. 4,
cap. 85. — «Assi os moços metidos na
fornalha, como com huma boca orauam,
e louuauara o Senhor. E sam Lucas de-
clai-ando como orauam os Apóstolos des-
pois da Ascensam do Senhor, diz que
pcrseuerauam juntos em oraçam, com
perfeita concórdia de corações. Nam tem
rezam de chamar a DEOS Pay nosso,
aqnelle que a outro Christão nam tem
por irmão.» Frei Bartholomeu dos Mar-
tyres, Catecismo da doutrina christã. —
«As iguarias da quella pousada em que
esta todas sam spirituaes e altas. Procu-
ra algum gosto delias, porque doutra ma-
neyra debalde te chamas Christam. As-
senta no meyo de teu coraçam aquellas
abrasadas palauras que sam Paulo te dis-
se na Epistola da Missa do Gallo e cuy-
da nellas e amolentarteham, e inflamar-
teham, por duro e frio que sejas.» Ibi-
dem.
— Sam, forma antiquada do verbo
sei-, por sou. Os antigos diziam som, e
sam.
Kão me hajais por estrangeiro,
Lusitânia, descan(;ao,
Qu'eu sam Maio o messageíro
E principal eavalleiro
Da côrtc de vosso pac.
GIL VICENTE, FAKÇAS.
Eu sam Genebra Pereira,
Que moro alli á Pedreira,
Vezinlia de João de Tara,
Solteira, ja velha amara.
Sem marido e sem nobreza.
Fui criada cm gentileza
Dentro nas tripas do Paço,
E por feitiços qu'eu faço.
Dizem que sam feiticeira.
SAMARITANO, A, adj. (Do latim sama-
ritanus). Concernente a Samaria.
— Caracteress samaritanos ; antigos ca-
racteres hebraicos.
— S. VI. Membro de uma seita judaica
que existe ainda em alguns paizes do
Levante.
— Figuradamente : Uin bom samari-
tano ; um homem [bom, misericordioso e
humano.
SAMÃO, s. Vid. Salmão (peixe).
SAMARRA, ou ÇAMARRA, s. /. Roupa
pastoril de pelles de ovelhas preparadas,
ficando com a de lã, da fiirma de dalma-
tica ; ou é palhas ; ou talvez de panno,
ou pellote do campo.
— Os ecclesiasticos usam de umas tú-
nicas abertas por diante, com mangas, e
umas tiras largas soltas, á similhança de
mangas perdidas; é vestido caseiro, ou
de noute, e passeio.
SAMARRÃO, s. m. Grande samarra,
SAMARRO. Vid. Samarra.
SAMBAIA. Vid. Zumbaia.
SAMBAJON, s. m. Termo de pharma-
cia. Diz-se ser remédio feito de gemmas
de ovos batidas com vinho, assucar, âm-
bar e canella.
SAMBARCO, s. m. Termo antiquado.
Sapato ou chinelo velho,
— Outr'ora parece ter significado tra-
vessa que se lançava á porta por fora,
por auctoridade judicial, quando se fazia
penhora nos bens da casa, que diziam
çambarcar, Vid. Cambarcar.
- — Faxa peitoral, que se colloca nas
cavalgaduras do coche, piara os tirantes
não magoarem os peitos. Vid. Açambar-
car.
— Moedas de sambarcos ; moedas cu-
nhadas em sola, de que só ha uma tradi-
ção vaga, e não monumento authentico
em Portugal.
— Figuradamente : Faxa ou cinta lar-
ga peitoral das mulheres, para levantar
os peitos.
SAMBENITAR, v. a. Pôr sambenito a
alguém.
— Emprega-se também figuradamente.
SAMBENITO, s. m. Vestido de sacco
bento, que na primitiva egreja se punha
aos penitentes, e o levavam nos autos de
fé os penitenciados pela inquisição, e eram
duas peças de baeta amarella e verme-
lha, que se enfiavam pelo pescoço, e
caiam sobre o peito e costas em aspa.
396
SAMF
8A0
SAO
— Insígnia mal raorcci<la do honra.
— LOC. : Faznr de sambenito (/ala;
gloriar-80 de cousa vorgoalio.sa, dcslion-
rosa.
f SAMBEXUGA, «. /. Vid. Sanguesuga.
— « E cuticií.uidoso do ni')» com j;raii(lL!i
assoiitoa ijuo so fizoraõ sobro Íhso por os-
crivitoí piiblicoi!, ao partiraij logo aquollo
mosmo dia, no qual ja quasi uoito clio-
gainos a uma villa quo se cliainava Guu-
doxiiau, na qual lomo.s mctidoí} om uma
luaziiiorra feita como cisterna debaixo do
cliaõ, onde estivemos aquoila noite com
graudissimo tral)aliio em hum cluirco
dagoa om quo avia iufinidaile de sambe-
sugas, das quais todos ficamos assaz ou-
sanguontados.» Feruiio Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 139.
SAMBIXUGA, s. /. Vid. Sanguesuga.
SAMBLADOR, s. m, Ilomeui quo sani-
Lla, ([ue ajunta madeira lisa, e a cu-ta
cm meia escpiadria, faz lavores o moldu-
ras, uuirmonto nos ângulos o juntaras
das obras de carpinteria.
SAMBLADURA, s. /. Juntura de uma
taboa, ou pei;a de madeira com outra nos
anguins.
SAMBLAGEM, s. /. (Do franccz asmem-
Ihuje). O trabalho, obra, lavor do sam-
blador.
SAMBLAR, V. a. (Dofrasccz assembler).
Fazer obra de samblador em alguma jun-
tura, ou aniíulds de madeiras, que se ajun-
tam, Vid. Ensamblar.
— Alguns dizem antes sambrar, ensam-
hrar, e assim todos os derivados.
SAMBUCA, s. /. (Do latim sambuca).
Um instrumento musico antigo da feição
de harpa.
— Uma machina militar da forma do
harjia.
SAMBUCO, s. m. Batel, lancha, ou pe-
quena embarcação costeira usada na ín-
dia.
SAMBURÁ, s. m. Termo do Brazil. Ces-
to de sipi'), pequeno, com fundo largo c
bocca afunilada ; n'elle levam a isca os
pescadores de miúdo, o recolhem o quo
pescam : o pobre jicudura e guaida a car-
ne socca, o peixe da sua provisão.
SAMBUXA, s. /. Vid. Sacabuxa.
-]- SAMEADO, jjait. pass. de Samear.
Vid. Semeado.
Bolo do trigo alqucivado
Com doiiâ ratos no meu liir,
Por miuha mào samcatlo.
Colhido, moido, amassado,
Kas costas do alguidar.
OIL VICESTE, FARÇAS.
f SAMEAR, V. a. Vid. Semear.
SÃMENTE, adv. (De são, e o suffixo
«meute»i. De uma maneira sã o saudá-
vel.
— Com saúde.
— Sincorameute, com animo sincero.
SAMFENO, s. »/i. (Do francez sainfoin).
Planta pcrcnnc, conhecida também polo
nome de euparitlla, de que se fazem pra-
dos artiticiaes.
SAMICAS, 8. VI. Termo popular. IIo-
moui pojjro de espirito.
— Ailv. ant. Por ventura.
SAMITARRA, ». f. Vid. Cimitarra.
SAMNITAS, 01. SAMNITES, s. m. plur.
(Do latim naiiiniteíi). Antigos povos da
Itália.
SAMNITICO, A, adj. Doa samnitcs.
SAMO, *. í/l. A parto tenra c branca
da arviuc, outro a casca e o corne; al-
vura, alburiio, o branco entre casco c
miolo, ou entre o casco o o cerne.
SAMOCO, s. «í. Termo de botânica.
Aivuii; ciinhocida também pelo nomo do
faia ilns illias.
SAMOLO, s. m. Tormo de botânica.
Planta conhecida também pelo nome de
liítitiKicliia, e nwrriuu de agua,
SAMOLOIDE, s. f. Planta; cspccie de
chil da .Jamaica, e Imlias occidentaos.
1.) SÃO. Abreviatura de Sancto. Vocá-
bulo usado antes dos nomes que princi-
piam por letra consoante, Vid. San. —
u El Rei no mesmo dia que a Riiinha fa-
leceo se foi a Pcralonga, onde esteue
duas sonuinas, e depois se voo ao Mos-
teiro Denxobregas da Ordein dos azues
de Saõ loam, donde passados oito dias se
tornou para a cidade, com cuja vinda se
alegrarão todos, e se reformou a Corte,
e começou el Rei denteuder em negó-
cios.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 4, cap. 19.
Quem digo.
Quem ? a senhora hoy comigo ?
lX'ixae-a.
Por São Fernando
quo está agora cantando
como no vcnia, amigo.
ASTOSIO PBKSTES, AUrOS, p.lg. 115.
Se eu perder o compadrado
dou-mc a Hão Bartholameu.
Dizem-me que is dormir fora,
que é tacha para casado.
iBiDK», pag. 139.
EuV!
dou-mc a >S"o Bartliiilonicu
mcttcr-mc cm boa fadiga !
tBiDF.M, pag. 399.
2.'! SÃO, por SOU. Forma antiquadi\ do
verbo ser. Vid. Sam.
E sobre que é isso?
Eu s'io
do conselho d 'Eiva, o Aldrào,
d'um logar nome arrevesso
que chamam — Justii^a avesso.
ANTÓNIO rilESTKS, ACTOS, pag. 141.
— Forma do verbo ser na terceira pes-
soa do plural do presente indicativo.
Ali fôo Bcus trubolhú» e fadigai,
Ali moHtram vi^ror iiuuca (MjKTado :
TacH andavam a» Nviii(ih;is c<torvando
A Uciitt! |>ortuguczu o íiin m-faiulo.
CAM., LU»., caiit. 2, Cát. 'i''i.
Entilo logo llicii parccirm
Ao» outro*, que H&o inainadoí ;
E os que iHo mais privudui,
Sibrc cllcs LHtrciacccm.
IBIDKll, SKLEUCO.
Deixo ar|ui-Uc« (|uc tomão por cucado
De seus vicius e vida viTgoaboita
A nobreza Ai- »<-uH aiitcces.sorrs,
E nilo cuidáo de si que fAo peorc».
)I>Ea, EPISTOLA 1 .
— « Porém cucobria-o o melhor que
podia; forçando a vontade por uitar dod
cumprimentos necessários á amizade. Que
este bem tem os pradenteá, que inda as
cousas que forçaclameute fazem, lhe são
agradecidas.» Francisco de Moraes, Pal-
meirim d'Inglaterra, cap. lui. — « Oh
cavalloiro do Salvagem, bem bastara pêra
vos vingardes de mim o damno que me
tendes feito, e não quererdes me fosse
forçado padecer esta vergonha, que não
são uduhas cousas tão encubertas a vú.>,
que nas mostras delias não conheçais mi-
nha vontade, e parece que té iiisto me
perseguiu a ventura, > Ibidem, cap. 124.
— «E finalmente tem posta a vida, o
morte em tão breve termo, como s.^o três
dedos de taboa ád vezes comesta de Bu-
sano, c no descuido de cahir em buma
povide de candca em lugar onde se possa
atear, e em outros mui particulares, e
miúdos casos, do que resulta tào grande
cousa, como vemos cm Utnto número <le
nãos que são perdidas.* Barros, Década
2, liv. 7, cap. 1. — «E da levarem del-
ias té o porto de Judá huma não, levam
vinte e cinco té trinta cruzados, e nave-
gam este mar com dous ventos geraes,
que são Levante e Ponente; e quando
não são mui tendentes, ventam alguns
terrenhos, o porém poucas vezeá.t Ibi-
dem, liv. 8, cap. 1. — « Este he o oíBcio
dos pregadores, que proseguem a obra da
redenção, e continuào o que Ciuristo co-
meçou no mundo: este deue ser o intento
dos ouuintes, quando vem buscar prega-
ção, e assi 03 predadores são coadjutores
de Christo na obra da redenção.» Paira
de Andrade, Sermões, part. 1, pag. l.'!>7.
— € Os moradores delia são gente fraca
e desarmada, nem tem .artilharia, nem
cous.a que possa prejudicar a quaisquer
quinhentos bõs soldados que a comete-
rem.» Fornão ilendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 132. — «São tam bem dignos
de muito louuor, por chegarem por terra
de tantos imigos a huma tal, c tam me-
moraucl cidade, c tam metida no ser
como o esta de Marrocos he, de quem 091
escriptores antigos e modernos, Oregoa^f
Latinos, c .^Vrabios, tantas, c tào memo*]
SAO
SAO
SANC
397
raueis cousas tem ditas, do que tudo hc
digna de muitos mais louuores, se os delia
mores quisessem poer por escripto.» Da-
mião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 3, cap. 74.
iy[anda hum delU'9 a Goa, que encuberto
Co'a figura do meu foi'to Silveira
Ao Viâo-Rei Xoronlui faça certo
(Apressando a veloz sua carreira)
Dos meus que estão cm Diu o grande aperto.
Porque mandar-lhcs logo ajuda queira ;
Os quaes a tanto estremo são chegados
Que das mulheres ja são ajudados.
FRANCISCO DE ANDRADE, PBIMEIRO CEBCO DE DIU,
cant. 16, est. 70.
— « E Tliomas Porcacho lhe da mais
trezentas e trinta; de largo quasi cento
e cincoenta, e de comprido perto de tre-
zentas : e assi das três mayores que até-
gora se tem descobertas, que saõ Sama-
tra na Assia junto de Malaca ; Inglaterra
nas partes do Norte na Europa; Sam
Lourenço he a mayor de todas.» Fr. (jas-
par de S. Bernardino, Itinerário da ín-
dia, cap. 2. — -(íilas porque ilarco Paulo
na sua viagem que fez de Veneza á Chi-
na trata de huma aue charaade Ruc, que
se cria nestas partes, direy o que elle
conta, (porque se he verdade) pêra mi he
marauilhosa; Diz que tem apparencia de
Águia cujas azas cada huma em comprido
tem doze passos, os quaes elle não diz se
são Geométricos, ou dos outros, e nellas
tanta força, que leuanta da terra nas
vnhas hum Elephante tào alto, que lar-
gãdoo se faz em pedaços, c o come. »
Ibidem. — « E muytas ha em as Ilhas de
Maldiua, cujos fructos, saõ de tanto va-
lor, e estima, como de notauel virtude.
Mas nà temos de que nos marauilhar,
que pois esta aruore foy a que Chi-isto
nosso Redemptor tomou em sua morte,
pêra nella pregadas suas màos, entregar
a vida.» Ibidem. — «Ao menos nào po-
derey negar, diz V. S. que os Portugue-
ses, e os Hespanhoes são os homens em
que se acha o mayor amor, e a mayor
teraura. » Cavalleiro de Oliveira, Cartas,
liv. 1, n.° 40. — « Em uma couza que se
parece muito o conselho com o dinheiro,
e he, que ambos saõ muito milagrosos.
Três milagres muito grandes achou um
discreto no dinheiro ; naõ iia quem os
naò experimente, e p ir serem muito or-
dinários, ninguém faz memoria delles.
Primeiro, que nunca ninguém se queixou
do dinheiro, que lhe pegasse doença.»
Arte de furtar, cap. 30.
Olhe, 09 planetas
de mi e meu amo sào
de mui gentil conjunção ;
de planetas, sào pernetas
no capricórnio grilhão.
ASTOXIO PRESTES, AUTOS, pag. 495.
E como 03 seus, Senhor, saò desse porte,
Se deve recear, que levemente
A sua appcllação possaò ncgar-lhe ;
Asaim, por evitar lo:igas ambages.
Que dinheiro, paciência, e tempo gastaõ
Será melhor, que Vossa Senhoria
Appelle logo, — coram probo viro.
A. Dixiz DA CRUZ, HISSOPE, cant. 4.
N'um canto do escaler, humilde e absorto
Era pensamentos que nào sào da terra
Um velho, em que atclli uão atteutaram
Indifferentes olhos, se assentara.
Alvejavam-lhe as cans das longas barbas
No burel negro que lhe cobre o peito.
GARRETT, camõks, caut. 1, cap. 13.
3.1 SÃO, SÃ, ou SÃA, aJj. (Do latim
sanus). Que está de saúde, que está cu-
rado. — « Alguns dias passaram depois do
vencimento de Albayzar primeiro que
elle nem o príncipe Floreados, fossem
sãos de suas feridas. O imperador com a
gloria daquelle vencimento andava tào
ledo e contente, que nunca nenhum tem-
po o foi mais. » Francisco de Moraes,
Palmeirim d'Inglaterra, cap. 90.
— Inteiro, sem lesão. — «Os muros sam
muy altos e muy largos, de cantaria e
torrejados de muito altas e fermosas tor-
res : e todos ainda muy inteiros e sãos :
disseramme que fora dos Gregos.» An-
tónio Tenreiro, Itinerário, cap. 29.
— Não ter osso são ; estar, ou fazer
doente de todo o corpo, moído.
— Homem são ; homem sem defeito
moral, recto, probo, de exccllentes inten-
ções.
— Fructa sã; fructa que nào está po-
dre.
— Sino são ; sino não rachado.
— Figuradamente: Bom. — Costumes
sãos. — « E posto que pêra isto não bas-
tasse vosso estado e merecimento, as per-
feições de vossa formosura e parecer são
pêra desbaratar vontades livres, e fazer
extremos.» Francisco de Moraes, Palmei-
rim dTnglaterra, cap. 95.
E ás formos.13 campinas do Mondego
Fez do Hélicon descer as áureas musas.
Claros lumes da terra, sãos costumes,
Constituições e leis co'enc floreeem.
GARRETT, CAMÕES, CaUt. 7, Cap. 20.
— Salubre, sadio, nào doentio.
Estes, inda que assaz os apertassem
As dores que as feridas lhes fazião,
E mais a descansar os obrigassem
Que aos trabalhos que aUi se offerecião,
Fez-lhes a necessidade que engeitasscm
O descanso que assaz mister haviào,
E que como o mais sào que alli se veja
Entrem, ou no trabalho, ou na peleja.
F. d'axdbade, primeiro cerco de DIB, cant. 17,
est. 11b.
— Voz sã; voz que nào dá pontos fal-
sos, desafinados, trémulos.
— Que conserva a saúde.
— Salvo, sem perigo, sem lesão, que-
I bra, detrimento, rachadura.
SÃO-SIMONISMO, s. m. Systema phi-
losophico e suciai, estabelecido por Cláu-
dio Henrique, conde de Sào Simào. Os
seus principios sào : a associação univer-.
sal; abolição de todos os privilégios de
nascimento ; dar a cada um conforme a
sua capacidade, o a cada capacidade se-
gundo as suas obras; abolição de heran-
ças; emancipação do sexo feminino, tor-
nando-o igual ao sexo masculino. A es-
chola de São Simão não foi de longa du-
ração, pois que seus sectários tendo-se
desavindo entre si, seguiu-se a dissolu-
ção, e o governo francez processou os
priucipaes chefes, accusando-os de escre-
verem nos seus jornaes contra os bons
costumes e moral publica, e fez cessar as
suas reuniões em 1832.
SÃO-SIMONISTA, adj. e s. 2 c/en. Pes-
soa que segue o svstema de Sào Simão.
SÃO THOMÉ, s. 'm. Moeda d'om-o mais
fino, que na Ásia bateu Garcia de Sá;
entravam 67 em marco mais 2 tangas, e
8 grãos e ~ do grão.
SAN, ou SAM. Abreviatura de Sancto,
que se coUoca antes dos nomes que co-
meçam por letras consoantes — San Pe-
dro; San Tkiago. Yid. São.
O precioso Santo Arelhano,
Martyr bem-aventurado,
Tu que foste marteirado
Neste mundo cento c hum anno ;
O San Garcia
Moniz, tu que hoje em dia
Fazes milagres dobrados,
Dá-lhe esfcirço o alegria,
Pois que es da companhia
Dos penados.
GIL VICENTE, FAUÇAS.
— Forma feminina de São. Vid. este
vocábulo. — «Que querendo antes ser-
vir-se e ajudar-se da fortaleza de seus
membros, que d'outro nenhum saber, se
feriam tào mortalmente, que alem de
desbaratarem as armas, traziam tantas
feridas, que em pouca parte de seus cor-
pos havia cousa sãa. » Francisco de Mo-
raes, Palmeirim dluglaterra, cap. 94. —
«E o pobre do homem, porque lhe naõ
paguem com cruzes os seus cruzados,
dará outros seis mil, e que o deixem lo-
grar suas queixadas sans, e levar suas
brancas limpa.s ao outro mundo, ainda
que vá com a bolça limjja, e sem bran-
ca.» Arte de furtar, cap. 23.
SANAR, V. a. (Do latim sanare). Sa-
rar, curar.
— Figuradamente : Remediar falta,
erro, culpa.
SANATIVO, A, adj. Que sara, que
cura.
SANAVEL, adj. 2 gen. Curavel, que se
pôde sanar.
— Figuradamente : Remediavel. Vid.
Sanar.
SANBENITO. Vid. Sambenito.
SANCADILHA, s. f. Cambapé que se dá
para fazer cair alguém.
398
SANC
SANC
SAKC
— Lançar sancadilha; piini (l.rriliar.
— Usar de sancadilha; furtar o arri-
mo, e fiiztir cair.
SANCARRÃO, «. VI. Auginentativo de
Sanco.
SANCÇAO, «. /. iI->o latim sanctio).
Acto jjclo (lual, u'uin fçovoriio constitu-
cional, o soberano ajjprova uma kl ; iip-
provaçãi som a qual não seria executó-
ria. — Esta lei ainda não recebeu a sanc-
ção.
— Approvaçào daila a uma cousa. —
Esta palavra não recebeu a sancção do
uso.
— A pena, ou a recompensa que uma
lei dá, para asscfíurar a sua execuyão.
— Figuradamente: Termo do iôro. De-
terminação, coulirmR(,'rio, ívpprovação su-
perior.
— No Bra/.il slgnitiea o assentimento
dos presidentes da.-i províncias ás delibe-
rações das respectivas assembleias pro-
vinciaes, para que íiquem sondo leis n'es-
Bas provindas.
— Constituição, ordenança em mate-
iras ecclesia^tica.s; usado ordinariamente
com a palavra in-agmatica.
SANCCIONADO, part. pass. de Sanccio-
nar. — A lei sauccionada p<;Zo principe.
— Um uso sanccioaado pelo tempo.
f SANCCIONADOR, (c/j. m. Que sauc-
cioiía. — l'odi:r sauccionador.
SANCCIONAR, v. a. Dar a sancção, ap-
provar, conlinuar, ratiticar.
SANCHINAS, s. /. plur. Copumclos.
SANCHRISTÃO. Vid. Sacristão.
SANCO, *■. in. A caucUa da ave, des-
de oudo tica descoberta da penna o da
carne.
SANGRESCHÃO, s. m. Vid. Sacristão.
SANCTA SANCTORUM, s. m. \\)o latim
sanda canctorum, o santo dos santos). A
parte do tabernáculo mais recôndita onde
o summo poiítitiee entrava uma vez uo
anuo a consultar os oráculos do Deus.
SANGTIACiO, s. m. Vid. Santiago.
■}• SANCTIDADE, *■. /. Vid. Santidade.
— II Oõ a qual obra daria causa a (jue
Bua Sanctidade incitasse os Revs e Prin-
cipes chi'istãos occupados em guerra do
seus próprios membros, a se ajuntarem
com elle sua cabeça per amor e concór-
dia, pois nelle estauão vnidos per fee.»
Barros, Década 1, liv. 8, ci\\i. '2. — « E
porque com a copia das muitas agoas
que loua cm que parece querer competir
cora o Gauge, ou per qualquer outra opi-
nião do gentio, como ao O auge elles cha-
mão Ganga, c tem que as suas agoas sào
sanctas (segundo adiante veremos) assi a
estotro de que falíamos chamào Ganga, e
dizem ter a mesma sauctidade.» Ibidem,
liv. 9, cap. 1. — «E isto que aqui pon-
tamos a vossa Sauctidade se disso tem
vontade como cremos, tudo está em sua
mão, compoendo os ódios, dissensões, e
discórdias dos Reis, c Príncipes Ckiús-
tãos, com doçura damor, o paz, o que
emprendeo o Papa Alexandre vosso ante-
cessor, amocstando pêra isso alguns Priíi-
cipos Clu'istãos, dos quaes cu fui hum,
mas isso não ouue clfecto, uem cremos
que fosso ])or outra causa somente peru
Deos guardar esta obra tão saneta, c tào
j)iadosa pcra vosso tem|)0.i Damião de
Góes, Chrouica de D. Manoel, part. 1,
cap. 'Xò. — «E quanto as ameaças, e vin-
gança que o dito Soldam publica com pa-
lauras de muita soberba contra o Sepul-
cliro de lesu Christo, isso nam podemos
deixar de sentir com muita dor, e triste-
za, nem iie sem razão, (juando o Soldam
sereve a vossa Sauctidade, que temos
por verdadeira cabeça de nossa Fé, não
tendo reeco de dizer cousas de deslion-
ra, e abatimento da mesma Fè.» Ibi-
dem. — «E daqui fica claro quam longe
estaua a Virgem sagrada de lho tocar a
pena desta ley, pois cõcebeo pcllo Spiri-
to sancto e pario aquclle que he a fonte
de toda a limpeza c sauctidade. Mas sem
ser obrigada, eila voluntariamente se so-
meteo à ley geral das paridas : pêra nos
dar exemplo de obediência e hundldade,
assi como seu filho sem ser obrigado se
sonieteo à ley da eircuucisam.» Frei Bar-
tholomeu dos Jlartyres, Catecismo da
doutrina christã.
t SANCTISSIMO, A, adj. Vid. Santís-
simo.— a Aristóteles o gaba de gentil
memoria, e domestico, e diz que ellc sò
dos in-acionaes, adora os Reys, e Prínci-
pes da terra ; e eu digo que vi em Goa
adoi-arem ti-es o Sauctissimo Sacramento
postos de giolhos, à porta da Sc, o dia
octauo da Paschoa, em que na índia se
faz a Procissão do Corpo de Deos, por
respeito das calmas.» Fr. (íaspar de S.
Bernardino, Itinerário da índia, cap. lõ.
— «Isto tudo fez lesu Chiásto, porque
era ekeo de diuindade, e a mesma diuiu-
dadc estaua na sua alma, e no seu san-
ctissimo corpo, e esta diuindade deu vir-
tude a Cruz, a qual diuindade elle teue
seuipre, e tem com o Padre em Trinda-
de, e unidade.» Damião de Gocs, Chro-
nica de D. Manoel, pai-t. 3, cap. 130. —
tE assi o filho de Deos logo ajuntou à
sua pessoa, assi a alma, como o corpo,
ficando verdadeiro Deos e verdadeiro ho-
mem, duas naturezas, diuina e hunuina,
em huma pessoa, ornando a natureza di-
uina aquella sanctissima alma, o infinita
graça, e de todolos dòcs sobreuaturaes, e
sabeduria infinitamente, e sem medida.»
Fr. Bartholomcu dos Jlartyres, Catecis-
mo da doutrina christã.
SANCTO, A, adj. Vid. Santo. — A
Sancta iyieja catholica rovjana. — c O
que hc contra Direito da Sancta Igreja,
e contra a Ordenaçam de alguuus nossos
antecessores : e pediaõ-nos por mercê,
que mandássemos que esto se nom fizes-
se, e puséssemos algum escarmento áquel-
les, que contra esto fossem.» Ord. Âffons.,
liv. 4, tit. 17, § 1.
Ca vou fica cate Scuhor
]'ubremciito Ht^pultaUu :
Kculiora, iw^ju lembrado
Que cm voií:íu êawto louvor
O achei sempre occupuilo.
OIL VICEXTE, OBHAIi TAaiAg.
1'oloB tancto» cvangelhoí
Que levuiii tudo ao cabo,
L/l onde cabo nào ha.
K<:)ml>aÍA e daiu a entender
Zombando, que m 'enteudeiíi.
meu, FABÇAs.
lA>go eu adivinhei
Lá na mis^ia onde eu cgta%'a,
Como a miiili.i Iiicz lavrava
A tarefa ()uc Ih 'cu dei.
Acaba esse travesseiro.
E naceo-to alf^u unheiro;
Ou cuidas que hc dia tancto f
— tE vendo eu quo ao presente tinha
caminho aberto, inda que perigoso, pêra
poder cumprir huns desejos grandissimos,
que sempre tiue de visitar os lugares
Sanctos de Mierusalem, lanccy ni5o del-
le nesta boa conjunção.» Fr. Gasjiar de
S. Bernai-dino, Itinerário da índia, cap.
5. — «Teue Ale de sua molher Fátima
dous filhos, hum que faleceo antes de ca-
sar estando ya desposado, e outro chama-
do Ale Husçaim, que foy pay de doze fi-
lhos, que entre os Persianos tiueram to-
dos nomes de sanctos, e destes procedera
os Sophis da Pérsia, em cuja memoria
ordenarão, que todos trouxessem no seu
carapução Vermelho doze preg^as, ou do-
bras, como de gorras, e isto ficasse por
diuisa entre as duas imigas nações.» Ibi-
dem, cap. 20. — tFundou esta Senhora
também de nouo o mosteiro da inuocação
da Madre de Deos, no valle Denxobre-
gas, junto de Lisboa, e o pouoou de nouo
de freiras de sancta Clara da ordem de
saõ Francisco da Observância, que per
seus institutos comem .sempre peixe.» Da-
mião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 4, cap. 26. — «Alem dos sanctos
que dixe tem os Chins outros, de cujas
vidas tem lenda, e lhes fazem suas fes-
tas pelo descurso do anuo.» Ibidem, cap.
25. — « Crem os Chins em hum so Deos
criador de todalas cousas, adorào trcs
imagens de homem todas trcs semelhan-
tes, fiizem grande honrra a imagem de
huma molher, que tem por sancta, a que
chamào Nãma, que elles crem que he
auogada de todttí ante Deos, assi dos que
andam pella terra, como dos que nauc-
gaõ pelo mar, tem outra saneia, que foi
filha de hum Rei de China, e se retirou
do mundo a viuer em religiam.» Ibidem.
digo senhor, que rac espanta
que maudaes
põr nos vossos trcs portacs
letra de oração tào tancta:
quanto homem vivo vê mais.
AXTOXIO FSSSTBS, ACTOS, pftg. 33,
SAXC
SAND
SAXE
399
— « Despois disto desprezadas todas as
cousas inferiores vos resignareis na von-
tade do Senhor, aparelhado a tomar tudo
da sua sancta mão, e sofrer com paciên-
cia tudo o que vos enuiar penoso, aduer-
so, affectuosissimamente lhe pedireis tudo
o que he necessário, pêra vos vnirdes
com elle perfeitamente : pêra isto inuo-
careis a Virgem Maria Màe de Deos por
vossa auogada, a todos os sanctos por
vossos padroeiros, viuos, e defuntos, e
particularmente pellos que estaõ a vos-
so cargo.» Frei Bartholomeu dos Marty-
re?, Compendio de espiritual doutrina,
part. 1, cap. 11. — «Eíte produz seis
etfectos, conforme dizem os Sanctos. O
primeiro illusíração, isto he huma sabo-
rasa, e experimental noticia, e conheci-
mento da gràdeza de Deos, e da própria
vileza de si mesma.» Ibidem. — «Estahe
a causa porque neste Domingo faz a
sancta Igreja huma tão noua mestura,
que despois de fazer procissam tào f -sti-
iial, ajunta o ofEcio da payxam, mestu-
rando couías alegres com tristes e cho-
rosas pêra nos manifestar, e ensinar, que
assi nosso Redemptor, como nos por pai-
xões e tribulações auemos de alcançar
as festas e honras eternas : e que se nos
atrae e deleyta a gloria e honra eterna,
não nos espãte a pena.» Idem, Catecis-
mo da doutrina christã.
Que há legitimo Amor, Amor culpado,
Cólera Sancta. e Cólera que é crime,
Nobre Altivez, peccaminoso Orgixlho,
Valor cordato, c bruta valentia.
F. M. DO S.ISCIMESTO, OS JIARTTEES, 1ÍV. 8.
Eu theatro já fui maravilhoso
Do5 milagres do braço omnipotente ;
Quando chamou do Cáhos tenebroso
A terra, eu berço fui da humana gente:
O Saiicto Povo de seus dons mimoso
Entre os meus cscolheo : então patente
Se deseobrio com magestade tanta,
Que inda o Synai convulso o Mundo espanta,
j. X. DE MACEDO, o oEiESTE, cant. 1, est. 31.
— « Monges negros ! » disse
Frei Soeiro com gesto de desprezo :
Pernoitar sua alteza era tal mosteiro :
Senhora, grande sando foi sanBcnto.
G.VBBETT, CAMÕES, cant. 1, cap . 7.
— Terra Sancta; logar onde Christo
morreu, e deixou estampados os passos
da sua sagrada Paixão. — «Esta ordem
fundou dom Phelipe Duque de Borgonha,
o bom dalcunha de que ja falei a imita-
ção do verlo dourado de lasom, e de suas
perigrinações cora o preposito de passar
ha terra sancta fazer guen-a, aos turcos,
o que não fez por lho storuarem outros
negócios, e achar pêra isso pouca ajuda,
e fauor no Papa, Reis, e Principes chris-
tàos.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 4, cap. 34.
— Nosso sancto padre; o papa. — «O
mesmo dia que elles offerecerão o Ele-
phante, e todolos outros does, veio ao
no5SO sancto Padre hum messageiro dal-
guns ponos Christãos, que guardão, e
conseruam a Fe da Egreja catholica,
que morào junto com Hierusalem.» Da-
mião de Góes, Chroaica de D. Manoel,
part. 3, cap. Õ7.
— Quinta feira da semana sancta ;
quintíi feira de Endoenças. — -c Depois
de ser a vela por se deter muito no gol-
fam com bonanças foi tomar a ilha de
Çacotorà para fazer agoada, e dahi fez
sua derrota perà cidade Dadem da qual
ouue vista quinta feira da somana san-
cta, e a festa das indulgências ao meo
dia lançou ancora no porto com assaz
trabalho por o mar andar de leuadio.»
Damião de Góes, Chronica de D. Ma-
noel, part. 3, cap. 4o.
— O castello de Sancta Cruz; castello
situado n'uma parte da Africa. — «Por-
que alem de suas grandezas, elle acudio
sempre com tanta gente, e nauios, a sua
custa a todolos rebates, e cercos, que de
seu tempo ouue nos lugares Dafrica, as-
si no castello Real, como no de sancta
Cruz, Aguz, çafim, Azamor, Mazagão,
Septa, Tanger, Arzilla, e Alcácer ceguer,
elle em pessoa, ou seu filho herdeiro loam
Gonçaluez, ou quando não podião ir man-
dauam seus parentes, e amigos.» Damião
de Góes, Chronica de D. Manoel, part. 3,
cap. 11.
7 SANCTUARIO, s. m. Yid. Santuário.
Jamais deve o fragor da guerra insana
O Saitcfuario profanar das Musas.
Tolvo ligeiro ao Sol, eu tomo aos Astros,
Abrem-se as portas do purpúreo dia,
De Febo o rosto assoma, a Luz se entorna.
J. A. DE MACEDO, A SATCEEZ.\, Cant. 1.
SANDALHA, s. f. Yid. Sandália.
SANDÁLIA, s. /. (Do latim sandalium).
Calçado que é uma sola de sapato atada
por baixo da planta do pé com correias
repassadas por cima do peito do pé;
abarca.
— Calçado antigo de que usavam as
senhoras.
SÂNDALO, s. m. Certa arvore, cuja ma-
deira aromática é de cores, branca, roxa
ou vermelha, e cetrina ou pallida : é
usado na pharmacia, e na Ásia para per-
fumes.— «Buscarão outro nouo caminho
pêra nauegarem as especearias que auiaõ
das partes de 3Ialaca, assim como crauo,
nòz, maça, sândalo, pimenta, que auiaõ
da ilha Çamatra em os portos de Pedir,
e Pacem, e outras muitas cousas daquel-
las partes.» João de Barros, Década 1,
liv. 10, cap. õ.
— Planta d'este nome.
SANDARACA, s.f. Resina odorífera, que
reduzida a pi'), serve para diversos usos.
— Rosalgar roxo mineral.
— Herva chupamel.
SANDEJAR, r. a. Termo pouco em uso.
Yid. Ensandecer.
j SANDETO. = Significação incerta.
SANDEU, ou SANDEO, adj. m. Insano, -
mentecapto. — -«Isso estava agora olhan-
do, disse el-rei, e na verdade, ou este
homem é algum sandeu, ou por algum
caso grande anda assim com seu fadário.
Estando n'isto, veio Albayzar ao terreiro
vêr esta aventura, porque em sua pou-
sada lhe deram a nova.» Francisco de
Moraes, Palmeirim dlnglaterra, cap. 123.
Quem he esse, que vos deu
Taes novas, saber queria ?
Quem mo pergunta.
Quem, eu?
Quereis-me fazer sandeu ?
Mas vós me fazeis sandia.
CAMÕES, AMPHITKIÕES, act. 3, SC. 4.
-}• SANDIA, a'1j. e s. /. Desassisada,
louca e sem tino.
SANDIAMENTE, adv. (De sandio, e o
suífixo II mente»). De uma maneira san-
dia, loucamente.
SANDICE, s. f. Xecedade, parvoíce,
loucura, tolice.
Aqui vio bem ElRei quamanho engano
E quão desatinada fora esta ida.
Mas tarde o viste ja. falso tvrano.
Tarde foi a sandice conhecida.
Porque verás no teu o alheio dano,
Mil mortes pagarás chuma só vida :
Ao5 mortos se dará justa vingança.
Aos vivos para as vidas segurança.
r. d'axdbade, primeiko cerco de dic, cant. 6,
est. 84.
— Adagio e provérbio :
— Quem de sandice adoece, tarde ou
nunca gnarece.
SANDICINO, A, adj. Da cor do escarla-
te ou do vermelhão.
SANDIO, A, adj. De sandeu.
SANDIVERRA, s. m. Termo antiquado
e popular. Palrador, fallador.
— Que falia inconsideradamente, sem
pensar o que diz.
SANDIX, ou SANDYX. Yid. Sandiz.
SANDIZ, s. /. I Do gi-ego sandyx). Her-
va que, segundo alguns, dá uma flor se-
melhante ao escarlate.
— Outros querem que seja o próprio
escarlate, e não herva.
SANDRAHA, s. m. Arvore cuja madei-
ra é mais negra do que ébano.
SANDWICH, 5. m. (pr. sanduíche). Ter-
mo inglez, usado na lingua portugueza
para significar fatias finas de pão unta-
das com manteiga, envolvendo tiras de
presunto ou vitella, etc, que se servem
ordinariamente á noite com o chá.
SANEAMENTO, s. m. A acção de sa-
near, ou sanear-se a rotiu-a da paz e
amizade; o damno causado, etc.
— Emenda, reparação.
400
SANG
SANG
SANG
SANEAR, V. u. Tomar são, suacoptivcl
de HO habitar, do viver.
— Sanear a tenção; desculpar.
— Sanear o danino; reparal-o, rciuc-
dial-o.
— Sanear-se, v. reJI. Remcdiar-sc.
— Sanear-se c-on a/ífitem; soldar a ami-
zade com ll(^^ullll)aH, ou tirar a offonsa.
— «E movido (ia((uoilc zelo, mas enga-
nado de tiío perversa opinião, matou com
suas próprias mãos sua mulhor, o íillios.
Vj (pierondo ultimamonto fazcllo a si pró-
prio, foi (irttorv.ido dos seus, ipio pêra se
sanearem eom Catabruuo lho entregaram
com graiiiJe m;igoa, o dor do seu cora-
ção i)or não poiler otieituar o seu díise-
jo.» Diogo de (Jiiuto, Década 4, liv. 10,
caj). 6.
SANEDRIM. Vid. Synhedrim.
SANEFA, ou ÇANEFA, s. /. l*o(;a do
cortinado ijiic se atravessa no alto da
portada, o chega de unia poriia á outra.
— Termo do carpintoria. Taboa assen-
tada de travez, na qual encabe(j;am, c se
asseguram as que vão ao comprido.
SANFONA, s. /. Instrumento musico de
cordas, vulgar, que se toca fazendo mo-
ver umas como teclas ; costumam tra-
zel-as os cegos, e cantam a ella. llsam-
n'a também os pastores.
SANFONHA, s. /. Instrumento agreste
á maneira de frauta.
— Alguns querem que soja o mesmo
que sanfona, variável comtudo na ortho-
graphia.
SANFONINA, #. /. Diminutivo do San-
fona.
— <S. Hl. Homem que toca sanfonina.
SANFONINAR, v. a. Tocar sanfonina.
— Figuradamente : Fallar fora de tem-
po, iniportuuamente.
SANFONINEIRO, A, s. Pessoa que toca
sanfonina.
f SANFONINHEIRO, A, s. Yid. Sanfo-
nineiro.
— Adagio:
— Nunca do ruim gaiteiro bom sanfo-
ninheiro.
SANGA, «. /. Termo do Brazil. Algi-
rão, bocea dos eóvàos, por onde entra o
peixe para o fundo d'ellc3 ou dos giquis,
c não pi^de voltar atraz, ficando entala-
do, ou porque a sanga faz para dentro
entrada afunilada, lia ratoeiras ile ara-
me eom sangas de pontas para dentro.
SANGADO, A, acij. Preso da sanga pa-
ra o fundo.
— Figuradamente : Preso no buraco,
d'onde não pôde sair.
t SANGALHA, mlj. f. — ífedidn sanga-
Iha; era de sólidos e liquides.
SANGALHO, .>;. m. Meilida de pão, que
consta de cinco selaniins.
SANGEACO, ou SANGIACO, s. m. Ca-
pitão de termo o\\ território de uma ci-
dade.
SANGOEIRA, s. /. Vid. Sangneira.
SANGRADO, part. pass. de Sangrar.
Aberta a veia para fazer correr sangue.
— tE assi apertou com elie, que n3o
ficou algum do batel, quu não fosse bc-ni
sangrado dclle, c eilc não de algum; té
que mais cansado, que vencido, meio
atassalhado cahio, onde foi tomado ás
mãos, sem haver remédio de morrer, nem
de verter sangue per quantas feridas ti-
nha.» João de Barros, Década 2, liv. (i,
cap, 2.
— Figurailaniente : Ferido com arma,
do modo que faea sair o sangue.
— Figuradamente : Terra sangrada de
ouro.
— Rio sangrado para alguma j^arte;
rio que vai diminuto c fallecido da agua
que se lhe desviou i)ara fossos.
— Figuradamente : Peixe sangrado ; o
homem escarmentado ilo males, ferido.
SANGRADOR, s. m. Homem que tem
por offieiíi sangrar.
SANGRADOURO, s. m. A parte interior
do biaro, opposta ao cotovelo, onde se
pica a veia.
— O local onde se desvia e tira parte
da agua (\i\ algum rio, e se encaminha a
outra jiarti'.
SANGRADURA, s. f. O sangradouro.
— Vid. Singradura.
SANGRALINGUA, s. f. Termo de botâ-
nica. Herva que produz umas folhinhas
compriílas, e por baixo mui ásperas com
uns biquinhos.
SANGRAR, V. a. Abrir a veia ou a ar-
téria ))ara fazer correr sangue.
— Sangrar n foçjat-a. Vid. Fogaça.
— Sangrar o rio para ahjuma parle;
derivar agua (rdle para regar, encami-
nhando-se a algum logar.
— Figuradamente: O estado foi-se san-
grando ; foi-se debilitando e consumindo.
— Figuradamente : Ferir com arma,
de modo que faya sair o sangue, com
açoutes, e lançadas, e cutiladas.
— Sangrar a mina, ou uma terra d'ou-
ro, dinheiro, ou drogas, que ha n'ellas;
tirar, livrar.
— Sangrar o dique, fosso, lagoa; abrir
sangradouro para desviar a agua a outra
direcção, ou para o dcsagiiar.
— Sangrar-se, v. rejl. Tirar sangue do
corpo.
— Figuradamente : Sangrar-se eni saú-
de; acantelar-se com satisfação, desculpa
previa, ou com prevenção de algum mal
que poiler.i sobrevir.
SANGRENTO, A, adj. Sanguinolento, em
que ha derramamento de sangue, cruento.
No nascimento àcWc se mostr.iua
Anteposto ,no Saturno o fero Marte
Olliandoso de aspecto aduerso, triste
De olhos encaniii,'ados, e stinprcntof.
CORTK nEAL, NAIKKAQIO DF. SEPÚLVEDA, CAUt. 5.
Outros vereis qno âO andào rebolcjindo
Naquellc humor aiiiu/rciito nojiro c frio,
Os cauallos, e os homens liir tombando
Polias ondaa de hum alto c fiiudo Rio.
Olhai quo BC vâo todos afofrando
Olliai, c não vcrcirt lu^ar vazio
' )]iili! At)\)T<; oi4 ja mortoit Cuualleirog
N;i<) (jritcm iiej^ro* coruo.í curuicciros.
iiio^KM, cant. li.
SANGRIA, «. /. InciRSo feita na veia
ou artéria, jjara se Boltar o sangue do
co)'po. — «E ain<la dado eazo que bc »e-
guiso alguma noxa da sangria, com tudo,
como o Phrenesi naõ podo esperar afl de-
moras da purga, sempre bo deve tirar
sangue sem dilação, pirque do exercício
deste remédio, ainda ho mayor a ntilida-
do que se tira, do que a offença, que bo
teme; pois se cvacíia, e se diverte o hu-
mor com mais celeridade ; o que naíJ po-
de fazer o remédio purgante, que pela
sua demora, o agitação ixpem pela mavor
parte de peor condição a qufMxa.i Braz
Luiz dAbreu, Portugal medico, pag. 372,
§ õ3.
— Mistura de vinho tinto com agua,
assucar e sumo de limão.
— Jlistura de vinho com agua para se
beber menos forte.
— Figuradamente: O que se tira a al-
guém por dolo, calote, ou astucioso cons-
trangimento.
SANGUE, s. m. (Do latim sanguiê). Li-
quido bastante espes.^o, de uma côr ver-
melha ou dcncgidda, que enche o syste-
ma completo dos vasos arteriaes e veno-
sos.
Com bramido espantoso se debrnça
O pentio na torra onde co'a raiua
Mortal as emas morde, f]M<^. do tangtie
Da ferida cruel ja estauào tinta.s.
Toma -Vmador de Sousji ardendo cm ira
lluma tesa, mociça. {rros-^a lança
Torcendo o corpo aquirc mores forças
E a bum monte de inimigos a arremessa.
CORTE BEXL, MAUFB.VQIO D8 SEPÚLVEDA, CAIlt. 9.
— « () imperador, Primalião e Polen-
dos com os outros príncipes vendo o de-
sastre que a Dramusiando acontecera, e
que da ferida do cavalleiro do DragSo
lhe saia roais sangue, que das outras, ti-
nham gram medo ao fim do sua porfia, e
louvavam por C2S tremo a prova da valen-
tia, que fizera em defender Barrocante.»
Francisco de Moraes. Palmeirim d'Iugla-
terra, cap. 94. — « Florendos também
trazia algumas, de que lhe saia muito
sangue, mas a braveza, com que pele-
java, lhas não deixava sentir. > Ibidem,
cap. 102. — « Jlas ella era tão avarenta
daquella mostra, que nunca chegava a
uma janclla. senão nos tempos de seu
gosto, que era quando o campo á custa
d'alguns era coberto de sangue e armas
e a vida posta no derradeiro estado, como
ante seu castello muitas vezes se viu.i
Ibidem, cap. 109. — « E antrotanto em
seu nome, elle tomaria a menagem, e
proveria de governador conformo a suas
vontades; podindo-lhe que se houvessem
SAN(
SANa
SANG
401
por contentes ser vassallos de quem, por
seu próprio sangue á custa de muitas fe-
ridas, 03 comprara; que esto tal já os
amaria como a pessoas que tauto custa-
ram. Os principaes da terra, que ahi eram
juntos, responderam que qualquer delles
eram contentes de o ter por senlior: e
que na maneira que elle quizesse ou or-
denasse, lhe dariam homenagem, e en-
tregariam, as "fortalezas.» Ibidem, capi-
tulo 119. — «Todalas armas tintas de
sangue, cousa também piedosa pêra ver,
se se permittisse que algum dos authores
de seu mal houvesse de liaver d(5. Por
certo, tudo se podia notar, que d'uma
parte se via tudo tristeza, d'outia tudo
sangue e desventura, e os ânimos appa-
relhados pêra mor mal.» Ibidem, cap.
168. — «El Rei, e os que com eile hião
ficarão mui espantados de verem a mul-
tidão das chagas, e sangue que lhe ainda
delias corria, pelo que mouido el Rei de
piedade, mandou ao homem que se co-
brisse, e fosse pêra sua casa, que ,elle
proueria no ca'=o com justiça.» Damião
de Góes, Chronica de D. Manoel, part. 3,
cap. 40. — « He esta gente vermelha co-
munmente e nam alva, andam nus da
cinta pêra cima, comem carne crua, e
untam os corpos com ho sangue delia:
pello qual comunmente sam fedorentos e
tem niao cheiro.» Fr. Gaspar da Cruz,
Tratado das cousas da China, cap. 4. —
« Depois de comettido o maior delicto,
qual não terão por leve? Quem duvidará
ser offensor onde se não vingào injúrias?
Acabemos pois de despertar deste mortal
lethargo; mettamos até os cotovellos os
braços no sangue destes cruéis tjrannos;
neste veneno banhemos os alfanges, por-
que percão com as vidas a gloria de tão
grandes insiiltos.» Jacintho Ferreira de
Andrade, Vida de D. João de Castro,
liv. 2. — « Atracados em breve espaço,
tingirão as armas, e ainda o rio em san-
gue. Diogo Soares entrou a galé Capita-
nia com cincoenta soldados, e achou nos
Mouros tão poriiada resistência, que to-
dos forão mortos, porém nenhum rendido;
com o mesmo orgulho peleijárão os ou-
tros. Conheceo-se a victoria pelos vasos,
mas não pelos cativos.» Ibidem, liv. 4.
Ao Portugiicz imigo emfim se rende,
Depois d hum dia iutoiro do batallia,
Em que dLum e outro sangue assaz 8'ospalha.
IBIDEM, cant. 13, est. 34.
Elle manda avisar-vos, que render- vos
Queiraes, c em seu poder entregar tudo
Sem menear espada, ou dcfcnder-vos,
Porque se usacs contra elle lança e escudo
Em vào depois haveis de arrepender-vos.
Pois com inexorável ferro agudo
Fará de vosso sangue chào vermelho.
Agora o vêdc, e havei lá bom conselho.
iBiDKM, cant. 15, est. 31.
— <s Chega o homem a fazer-se neste
cazo de peor condição que as mesmas
Feras. Não sabemos que esta paixão as
obrigasse até agora a imitarem os ho-
mens, que apagão no seu próprio sangue
a violência do fogo que os devora.» Ca-
valieiro de Oliveira, Cartas, liv. 1, nu-
mero 29.
Nunca em fera cruel, dura batalha,
Lá onde ódio e furor 03 braços manda
Contra o imigo a que cobre' arncz e malha
Tanto sangue houve dhuma e d'outra banda,
Quanto dos naturacs aqui s'e5palha ;
Por toda a parte a morte cruel anda.
Os montes gemem, o ar chora e suspira,
Só nos humanos peito dura esta ira.
FBASCI3C0 DE A^DUADE, PBIMEIBO CERCO DE DIU,
cant. 1, est. 73.
Conhece este o navio, a cUe se lança,
Que hum imigo furor o move e acende,
Seu desejo com grão trabalho alcança,
Que o Turco com gràa força se defende;
Jlas vendo que em vào move a espada e lança
VÒL. V. — 51.
Xovo Annibal do Pólo assusta, e piza
Nào generosos Con.sules, mas feras ;
E a corrompida Gallia agora sente
Estragos mais cruéis, que Eoma outrora
Sentira em Trazimeuo, em Trcbia, cm Cannas.
E quanto sangue, e lagrimas entornas
Inda atrgora, espavorida !
J. A. DE M.VCEDO, MEDITAÇÃO, Cant. 2.
Guerra, guerra,
E liberdade emquanto ha sangue a dar-lhe !
E Catào dictador: meu voto é este,
Foi e hade ser. Inútil imbaraço
E um senado aqui, deliberando
Entre armas e combates...
GAERETT, CAlÃO, act. 2, SC. 2.
De pedras — cimentadas com cadáveres
E sangue! — daqui lhe oiço a voz ingente
A Eomano3 e a Numidas bradando,
Dando ordens ; e co'a intrépida firmeza
Daquella alma, so menor que a tua.
IBIDEM, act. 5, se. 0.
— T<xlo em sangue ; coberto de san-
gue.
Imperando este foi desbaratado
No caminho do Pérsia, e alli se mostra
Banhado todo em sangue, leuantados
Os olhos ja mortaes ao ceo, dezia
(Bramando com furor impaciente)
Venceste Galileo alto gritaua
Nisto bom conheceo ser luliano
Aquello Emperador falso Apóstata.
CORTE nEAL, NAUFRÁGIO DE SEPÚLVEDA, Caut. 11.
— «A cujas vozes se levãtou hum ta-
manho tumulto na gente, que toda a ci-
dade se fundia, acudindo com armas e
grandes gritas á casa onde o pobre de
mim estava, e ja entaõ qual Deos sabe,
porque recordando eu cõ esta revolta, e
vendo jazer o moço no chaò junto do mim
ensopado todo em sãgue, sem acudir a
pé nem a maõ, me abracev com elle ja
taõ desatinado e fora de mim que nàõ
sabia onde estava.» Fernão Mendes Pin-
to, Peregrinações, cap. 136.
— Figuradamente: Casta, geração, fa-
mília. — í Deixou huma só filha per no-
me donna Beatriz, qixe aliem de ser muito
discreta, foi huma das fermosas, e bem
dispostas molheres, que em seu tempo
ouue nestes regnos, com as quaes partes,
e nobreza de sangue, e bom dote que ti-
nha trouxe sempre opinião de casar com
o Infante dom Fernando, filho terceiro
dei Rei dom Emanuel, posto que fosse
muito mais moço queíla.» Damião de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 1,
cap. 82. — « E a Rainha, cujo primo com
irmam dom Aluaro era, e el Rei dom
Fernando seu marido ' folgarão muito com
sua vinda, e lhe fezeram muita honrra, e
se seruirão delle em negócios de muita
calidade, e o trataram como pessoa tam
conjunta a seu sangue como elle era, e
quando lhe el Rei deu licença que se fosse
.sua molher, e filhos.» Ibidem, part. 3,
cap. 45. — « E o Naire que he o mães
nobre em sangue de toda esta gente, naõ
faziaõ os ludeus em seu tempo tanta pu-
rificação quando se tocauaõ com hum Sa-
maritano, quantas elles fazem, se per de-
sastre algum d 'este pouo lhe toca.» João
de Barros, Década 1, liv. 9, cap. 3. —
« Gonçalo Pereira Marramaque mostrou
este dia os quilates de seu sangue, e es-
forço, apresentando-se sempre nos luga-
res mais perigosos, ainda que alli não
havia algum que o não fosse, e estivesse,
e em tudo era companheiro de todos,
assim nos trabalhos, como nas feridas,
porque também trazia três muito cruéis
fi-échadas por seu corpo.» Diogo de Cou-
to, Década 6, liv. 10, cap. 13.
Nascido da eselarecida
Eaynha nossa Senhora,
deste gram sangue nascida
no mundo mny escolhida,
de Deos grande seruidora.
G. DE KEZENDE, jnSCELLASEA.
Degenerado da impulsão primeira
Que lhe imprimira a mão da Natureza,
Da doce agricultura ao campo foge,
Em qu'a ct'ga ambição de sangue abaste.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Cant. 2.
— Baptismo de sangue ; o martyrio sof-
frido sem ter recebido o baptismo.
— O sangue de Jesus Christo; o san-
gue do cordeiro, o sangue que Jesus der-
ramou pela redempção dos homens. —
« Entre algumas cousas que entaõ lhes
disse huma foy afiirmar lhe que o Deos,
em cuja Fé se haviaõ de saluar, se cha-
mava JESV CHRISTO, o qual viera do
Ceo á terra a se fazer homem, e fora ne-
cessário morrer pelos homens, e que co
preço do seu Sangue derramado na Cruz
pelos peccadores, se houvera Deos por
taõ satisfeito cm sua ju-tiça, que ontre-
gando-lhe o poder dos Ceos, e da terra,
lhe promettera que a todos os que profe-
402
SANG
SANG
SANd
çassom sua Loy com fi';, o obras, se Uio
niHo ncf^aria o premio que por i-^so era
promottiilo.» Fcrnito Mendíis l'iiito, Pe-
regrinações, ciip. '.III. — «Mas l)H!nilita
Beja viisHH miscriconlia; que o sangue,
que por mim derramastes, e as atlVoíitas
•com que caviloeestos, e quasi aniquilastes
vosso sor, tem virtude (c cilas sii tem
esta virtude) para do tal modo apaj^ar
todos 08 pcccados, como so nunca loraõ
cometidos.» Tadre Manoel liernardes,
Exercícios espirituaes, i)afí. 42.
— Cidade rvíjadd com o sangue de seus
naturaes. — «Daqui tomos n;uicj;ando a
vista da ti^rra, vcmlo nolia a sayda que
faz ao Jfar, o rio lupo, e mais alem a ci-
dade Mapadaxò, quo em aiffum tempo
foy ret^ada com o sangue de seus natu-
raes, vendo a seu pczar aruoradas, nas
mais altas ameyas, e castellos as (piinas
Reaes de Portufjal.j Fr. Gaspar do iS.
Bernardino, Itinerário da índia, cap. 7.
— Dorramamento de saníruo na bata-
llia. — «() quo visto por ^ulema, o sa-
bendo quào leal, e animosa ponte estava
recolhida na fortaleza; c o muyto sangue
quo avia do custar ontrala, cometeo ao
Abade com palavras brandas a se render
com partido avantajado, à mercê delRoy
Abderramen, assejíurandolhe mercês e
prémios dignos de estima, c muyto mayo-
res quando deixada a Fè de Cbristo se
quisesse preverter aos erros de Mafoma,
como ellc próprio fizera.» Monarchia Lu-
sitana, liv. 7, cap. Ií5.
— Tinto no sangue do mesmo moço. —
«E o Bonzo Asquciào teixe que era o
Presidente da justiça, cos braços arrega-
çados, e huma gomia tinta no sãgue do
mesmo moço na mão me disse, eu te es-
cõjuro como a filho do diabo quo es, e
culpado neste crime tào grave como os
habitadores da casa do fumo metidos na
cocava funda do centro da terra, que
aquy om voz alta que todos te ouçào me
digas qual foy a causa porque quiseste
que a tua espingarda cõ feitiçarias ma-
tasse este innocente menino que todos
tínhamos p 'r cabeUos da nossa cabeça?»
Fernão Jlendes Pinto, Peregrinações, cap.
136.
— Faminto do sangue lusitano.
Refreando dcsfarte o forto braço
Aceso então d'oâprito mais que humano,
A geuto Christiui pára algum espaço
Para vencer de]>oÍ3 com menos dano,
Até que de Cambaia o luzente aço
Faminto assaz do sanífiir I^usitano,
Mostrando ja por obra esta vontade
Lho pòo de combater necessidade.
F.DE ANDRADE, PRIMEIRO CEBCO DE DIC, C«nt. 1"2,
cat. 6.
— Vida 7-evolta em negro sangue da
ferida.
Te que de um bote o cão forte, o nervoso
Aborto cahc, tingindo o sangue a terra,
Onde lançava a espumosa vida
Envolta i'in negro laifjiir. da ferida.
oAORiEi, pr.afAKk. DK c;ahtho, lxymhAa, cant. 7,
est. ;io.
— Oceano tjne se rs^ir/iin i tu sangue
e lagrimas.
LA, no centro do nbysino, n'um Oceano,
Que ondèu c (|ue se espraia i-m tanijnr c lagrimas
Se ergue, entre r<'ichas, negro atroz Custclio:
Da DeseS|)eração, da Mi'irte é fabrica.
V. M. Illl NASCISIKSTO, OS MAUTVBKS, IÍV. 8.
— São carni'. e sangue; s.lo carnaes,
sujeitos a paixões e afi'eiçò.-s humauas.
— tícr Ivjmem de sangue; ser cruel,
sanguinário.
— Diluvio de sangue; inundaçrio, dif-
fusão d'elle.
— Estar a fogo e a sangue com alguém;
estar em grande inimizade, ódio e oppo-
sição.
— Fronte empastada de sangue.
Bojo ísta face pallida, esta fronte
Impastada de san^uf, e óstas mãos hirtas...
Ah, que!...
— Levae-o araigos.
GAllBETT, C.VTÃO, act. 4, SC. 5.
— Armas de sangue.
Pelo rei, pela pátria... Aqui araigos,
Christàos, mercê de Deus, somos nós todos
Quantos somos aqui. E ao ceo nào praza
yue um cavallciro portuguez arranque
Contra seu natural armas de sangue.
GARRETT, CAMÕES, Cant. 1, cap. 14.
— O sangue espadanando em ondas.
Do frágil bordo de baixel pequeno
Farpada lança ao monstro se arremeça.
Lá SC embebe no corpo, o sangue em ondas
Espadanando, purpúrea 0.3 mares.
J. A. DE UACEDO, X NATUREZA, Cant. 3.
— o teu sangue fuma ;»o cadafalso
vil
Co'.a Sciencia Astronómica já vive
O mortal morador no ethereo asscuto!
Desgraçado liailly, funia o teu san^e
No cadafalço vil ; tua alma agora,
Já solta das prisOes, lá vê nos Astros,
Se o grão discurso teu falhou no Mundo.
J. A. DE MACEDO, VIAOEM EXTÁTICA, Caut. 4.
— Figuradamente : Carne e sangue ;
os appetites, affoições, interesses da car-
ne e do mundo.
— Loc. POl\: Sangue das uvas, da
parreira, de Baccho; o vinho.
— Nao enxovalhar a es2>ada em tal
sangue.
Vm nomano
Km ntiigiit tal ixkii iuiovalha a cipada.
Lictorcs, d«( Scinproiiiii o vil rastigo
Aiiuunciac ás eoliorti-« ; e iiitlraii<--lhc
Que (• njlo Hcr cidadão, fruxtrar-lbo a pena.
OARBCTT, CATÃO, BCt. 4, KC. ».
— Fazer as cousas a fogo e n sangue ;
fazel-as com muita vioh-ncia c rigor.
— Tempttiwlt de sangue ; combates,
batalhiui cm que se derramou muito san>
gue.
— Homem de sangue ; homem nobre,
— Não tomar vingaiii-a do sangue de
três filhos meus. — «dmi os quais te ju-
ro de em quanto viver nunca ter paz nem
amizade, até n.*iii tomar vingança do san-
gue de trcs filhos meus que de continuo
me pedem com as lagrimas derramadas
pela nobre M.'iy quo os concebeo, e os
criou a seus peitos. » Fernão Mendes Pin-
to, Peregrinações, cap. 13.
— ILjuu ih de sangue ; homem guerrei-
ro, militar.
— Ter muito sangue, ou sangue quen-
te; diz-se do moço robusto, cm todas as
suas forças c na das paixòes.
— Não ficar golta de sangue no corpo ;
ficar bastante atemorisado.
— A custa do sangue romano.
PiVle-sc vêr hnm claro desengano
Em Terêncio Varrão disto que digo
Bem á custi do seu fanyue Itomano,
E com que p<>z o Império em grão perigo:
No qual aquellé bárbaro Africano
Daquella vez fartou sen ódio antigo,
Emilio o diga. e a.'^ mais \-ida8 Romanas,
Tu também o dirás, funesta Canoas.
F. D°ANDKADE, PBIITEIBO CEBCO DB DIC, Caat. 2,
est. 2.
O sangue inimigo.
O moço, que de todo .se ja sente
Livre d'hum tal trabalho e tal perigo.
Também se põe em pé, assaz contente,
Inda envolto no fresco fanjut imigo.
Dasatina de novo a imiga gente
Porque lhe tolhe ir a ellc o que atraz digo.
Mas CO 'o que pôde cntào lhe faz que veja
O que o seu peito imigo lhe deseja.
F. d'axdbade, raiMEiBO cebco de DfC, cant. 17,
est. 22.
.\lmeida vem depois co'o nobre filho
Que do Indico oceano as aguas tinge
Pe nangiie imigo e seu. .\troí vingança
Corre c'o iroso pae : Dabnl, Gambaia,
luseadas de Diu, ei-lo no ferro
Destruidor vox trai cxicio o morte.
o.taRETT, CAMÕES, CBnt. S, cap. 17.
— Figuradamente : O sangue da tnno-
cencia.
— O atro sangue de um tyranno, des-
parzido no aftar da liberdade.
Tu lhe chamas
Inútil I — O atro nanyie dum tyranno
Desp.-irudo no altar da liberdade.
sAíía
SAXG
sAna
403
Inútil p<5de ser? — A mào ditosa
Que o ferro imbebe no malvado peito,
Que llie descose as pérfidas intranhas.
GASEErr, CATÃO, act. 4. se. 3.
— O nosso sangue, gotta invisível no
mar da escravidão.
Póde-lhe ella atrazar um só momento
A inevitável queda ? o nosso sanfpte,
No mar da escravidão gotta invisível,
Adclgaçar-lhe os ferros que a agrilhoam?
GARBETr, cAilo, act. 2, SC. 1.
— Queremos aqui o sangue do matador.
Não ; detende-vos.
Não hade ir a jazigo deshoiirado
O corpo do heioe. Aqui o sangue
Do matador queremos. Pede-o Roma,
Pedimo-lo nós todos, e é devido
A seus manes. Soldados, companheiros,
Dizei-o : sotfrereis tammanha injúria?
GASsErx, CATÃO, act. -i, SC. õ.
— Loc. ADV. : A sanque-frio ; desen-
calmadamente, desagastadamente, sem
paixão. — Castigar a sangue-frio.
— Adágios e pkoverbios :
— Todo o sangue é vermelho.
— Tem sangue no olho.
— O bom vinho faz bom sangue.
— Do sangue mi.sturado e do moço re-
falsado me livre Deus.
— De amigo sem sangue, guar-te, não
te engane.
— Quem tem sangue, faz chouriços.
— Cào que muito lambe, terá sangue.
— Xào quero escudela d'oui'0, em que
cuspa sangue.
— A letra eoai sangue entra.
— E.-5tar com o sangue na guelra.
— Arrenego da tigela d"ouro em que
hei de cu<pir sangue.
SANGUECHUIVA, ou SÁNGUECHUVA,
s. /. Hemorrhagia, estillicidio, fluxo de
sangue.
SANGUE DE DRAGO, s. m. Resina sec-
ca, que por incisão distilla da dragueira
em licor, que se endurece, e se congela
ao sol em pequenas lagrimas fi-iveis e da
côr do sangue.
7 SANGUE-FRIO, s. m. Estado da al-
ma, quando está socegada : tranquiUida-
de d'espirito, presença d^espirito.
— Matar alguém a sangue-frio ; ma-
tal-o com intento premeditado, e sem
ser arrebatado por algum movimento de
violência.
SANGUEIRA, s. f. Abundância de san-
gue vertido.
— O sangue que escorre dos animaes
mortos.
SANGUENTADO, A, adj. Yid. Ensan-
guentado.
SANGUENTAR, v. a. Vid. Ensanguen-
tar.
SANGUENTO, A, adj. Que derrama san-
gue.
— Em que ha muito derramamento de
sangue.
— Inimigo sanguento ; desejoso de san-
gue, ou morte, o que faz muito mal.
— Cheio de sangue, coberto d'elle.
SANGUESUGA, s. /. Termo de zoolo-
gia. Insecto aquático, preto, que se es-
tende muito, e alarga, pega-se aos ani-
maes. e chupa-lhes o sangue.
SANGUEXUPA, s. /. Vid. Sanguesuga.
SANGUEXUVA, s. /. Yid. Sanguechu-
va.
SANGUICEL, s. m. Embarcação peque-
na da Índia.
SANGUIFERO, A, adj. Termo de me-
dicina. Que contém, ou traz sangue.
SANGUIFICAÇÃO, s. f. (Do latim san-
guis, e f acere). Termo de phvsiologia.
Geração do sangue com o auxilio dos
princípios que chegam aos vasos pelo in-
testino, pulmão, etc.
SANGUIFICAR, v. a. Termo de medi-
cina. Converter em sangue o alimento ou
chvlo.
SANGUIFICATIVO, A, adj. Que conver-
te em .^angue.
SANGUIFICO, A, adj. Que tem a facul-
dade de converter o alimento ou chylo
em sangue.
SANGUILEIXADO, A, adj. Termo anti-
quado. O que está sangrado.
" SANGUILEXADOR, s. m. Termo anti-
quado. Sangrador.
SANGUILEXIA, í. /. Eutende-se a san-
gria, e também a officina em que os mon-
ges se sangravam, e com tanta frequên-
cia, que nas constituições antigas de Pom-
beiro se mandavam sangrar todos de
dous em dous mezes ; não sei se para
abater e macerar o corpo, se para pre-
venção contra as enfermidades, a que
está sujeita uma vida poltrã e sedentá-
ria. E para as despezas d'esta officina,
se applicavam também os rendimentos
daquellas herdades, e mormente sendo
então alli mui crescido o numero dos
monges, que expulsos de Lorvão se ha-
viam retirado áquelle mosteiro. Também
o fundador do mosteiro de Tojal, no bis-
pado de Vizeu, determinou que os reli-
giosos d'elle, ainda mesmo na saúde, fos-
sem sangrados de seis em seis mezes.
Hoje se abandonou esta disciplina, sa-
bendo-se por experiência, que a sangria,
ás vezes dá saúde, ás vezes mata, e que
fora de uma precisão urgente, nada mais
seria, que temeridade e loucura.
SANGUINA, s. /. Pedra preciosa.
SANGUINAÇÃO, s. f. Acção pela qual
o sangue se converte em diversas subs-
tancias pelos processos secretorios. Vid.
Elaborar.
SANGUINARIAMENTE, adv. (De san-
guinário, L-oui o suffixo «mente»). De
uma maneira sanguinária.
SANGUINÁRIO, A, adj. (Do latim san-
guinarius). Que gosta de derramar san-
gue, cruel.
De fero aspeito debuxado estava
Saii^nnario Nembrot, quergue seu throne
Sobre o pescoço das nações em ferros.
A Terra se povoa, o archote acesso
Não se apaga jamais nas mãos das Fúrias.
J. A. DE MACSDO, VUGEX EXTÁTICA, Cant. 1.
Sujeita a seu império equoreos monstros,
E a sanguinário Tigre, indócil sempre,
Amar ensina, e conhecer ternura.
iBXDEH, eant. 2.
— Leis sanguinárias; leis que impõem
muitas penas de sangue.
— Diz-se do que tem o caracter de
crueldade.
— Massa sanguinária ; a totalidade do
sangue, que g\ra no corpo. — «E sup-
posto que pella sangria do braço se com-
munique a qualidade Gallica ao fígado, e
á massa sanguinária, e conseguintemen-
te à todo o corpo com algum perigo da
vida; com tudo deve este desprezarse,
porque naõ he taõ agudo, e pode espe-
rar remédios.» Braz Luiz d'Abreu, Por-
tugal medico, pag. 180, § 98.
SANGUÍNEA, í. /. Termo de botânica.
Planta rasteira, que dá raminhos tenros
revestidos de folhas á maneira de malvas
recortadas nas extremidades; nasce nas
serras.
SANGUÍNEO, A, adj. (Do latim san-
guineus, de sanguis). Termo de anato-
mia. Que pertence ao sangue.
— Vasos sangtiineos ; vasos que ser-
vem para a circulação do sangue.
— Systema sanguíneo; conjuncto dos
vasos arteriaes e venosos.
— Em que o sangue predomina. — As
pessoas sanguíneas são de ordinário de
um humor alegre,
— Temperamento sanguíneo; tempera-
mento que tem por attributo um rosto
corado, formas pronunciadas sem serem
duras, o conjuncto do corpo saudável,
uma imaginação folgazã, o coração in-
constante, e o espirito ligeiro.
— Doenças, affecções sanguíneas ; doen-
ças, aífecções occasionadas por uma gran-
de abundância de sangue.
— Que é da côr do sangue. — Um ru-
bro sanguíneo.
— Sanguinolento, cruento.
Nas duras Artes da sanguiiiea guerra
Roma a Grécia excedeo ; e excede a Grécia
Nas Artes divinaes, que a Paz fomenta.
Voarão pelo Globo altivas Águias,
A Lusitana as vê, o Hvdaspe as teme,
Chegào do Elba á foz, do Nilo á fonte.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Cant. 1.
D 'áurea luz coroado, e ardentes raios
O Sol snccede: e se descobre Marte,
Rodando n"outro Ceo, sanguíneo, e torvo.
De Júpiter o Globo immeaso, e claro,
E n"hum remoto circulo caminha.
IDEH, VIAGEM EXTÁTICA, Caut. 3.
o espantoso fenómeno nos mostra
Da Luz Zodiacal: co'a paralaxe
404
SANa
SANil
HAXII
Do medonho, nangiUneo, accoBO Marte
A dintaiicia marcou do Sol á Torra ;
])ii4t;uicla, que, ciMifutidc a iiioiitn Iminiina,
K que a luz ii'liuiu uioiiicato abrange, c corre.
iiiiDBu, caiit. 4.
Eia apartemos do mur/uiiiM quadro
Olhoi qu' á dor arf hifírima» iiio iiegio,
Do Marte li viitta tiabida so asHusta
Tranquillo l''M|)octador da Natureza,
A qucni rei)OU:io apraz, «ileucio lie NuitiC.
iDKJí, A N.iruuKZA, cant. 1.
SANGUINHA, s. f. l'l:vnta. Vid. Corri-
jola.
1.) SANGUINHO, A, w'j. Vid. Sanguí-
neo.
— Substantivíiracnte: O sanguinho.
2.) SANGUINHO, s. m. Tauuo com que
o sacerdote alimpa o culix depois de eom-
mungar.
3.) SANGUINHO, s. m. Arvore, que a
popula<;a chama sangrino, ou saiujri-
nhtiiri).
t SANGUINHOSO, A, «r/j. Vid. Sangui-
noso.
Vâo homens, vão cauallog submergidos
Por baixo da corrente impetuosa
Cauallo.^, o homens licào ostoiídidos
Na caiiipaiiha funesta sau^niiilwa.
Vcdi! illuiítros varões todos cabidos,
E a sua descondoncia valorosa
Entre canalha vil degenerada
Som dillcreui;,a alguma alli abraçada.
CORTE BE AL, NAUFRÁGIO DE SEPÚLVEDA, Caut. 11.
SANGUINIDADE, s. f. Cousanguini-
dade.
SANGUINIFERO, A, aJj. Vid. Sangui-
fero.
SANGUINO, A, aJj. Sauguineo. — Ar-
mas saiiguiuas.
Hum Tlei, por nome Afonso, foi na Hospanha,
Que fez aos Sarracenos tanta guerra,
(iui" por armas .in/i^iinin.». força, o manha,
A nuiitos fez perder a vida, c a torra ;
A'oaudo deste Rei a fama estranha
Do Herculano Calpc á Caspea serra.
Muitos para na guerra esclarecer-se.
Vinham a oUc, e á morte ofterecer-sc.
CAji., tcs., cant. .3, est. 2.3.
SANGUINOLENCIA, .s. /. Crueldade, cf-
fusPio de .sangue, derraiuameuto d'elle.
SANGUINOLENTO, A, a<lj. (Do latim
saDguiuoleiUus). Termo do medicina. Tin-
to de saugue. — Escarros sauguinolen-
tos.
— Cruel, que derrama sangue, cruen-
to. — « E mais por llio roubar esta glo-
ria, que por piedade o cõpaixilo natural
(como ello publicava^i buscou outras per-
seguii;oens que n.^io fossem sanguinolen-
tas.» Monarchia Lusitana, liv. õ, capitu-
lo 26.
Estes quo dos mortnna .lanfiiinohiifoíi
Grolpes dos Lusitanos vâo fugindo,
Com apressados pa».Hoi mais quo leutoit,
Juntos ao4 (|uc ao clauior vem acudindo,
i) numero de mil siibre quiiiUeutos
Í!^m breve espaço alii forao cumprindo,
(.^om que não t<iiu<°m Ja, nem se retirao.
Mas seguem oj de quem antes fugirão.
r. u'a.nuua[je, i'biiieiuo ceucu db Diu,caut. 17,
est. 7'.l.
— tíacrijicio sanguinolento ; sacrilicio
de victimas degolada.s.
— Mmlo sanguinolento de curar; de-
gollan<l(> ciii .-aii;;ue o doente.
SANGUINOSO, A, adj. [Do latim san-
í/niiiu.susi. Em que liouve muito sangue
derramado.
Noga-9c a Lira a bárbaros, o oscnros
Termos, que jurão aanyiiinosa guerra
Do metro Lu.so á magica harmonia.
J. A. DV. MACEDO, VIAUKM EXIAIICA, CaUt. 4.
— Ensanguentado.
— ■ .Vmigii de derramar sangue.
SANGUISEDENTO, A, adj. Termo de
poesia. Que tem sôde de sangue, sangui-
nário.
SANGUISORBA, s. f. Espécie do pim-
piíiella, planta oflicinal.
SANGUISUuA, s. /. Vid. Sanguesuga.
SANGUIXUGA, s. /. Vid. Sanguesuga.
SANHA, s. /. li-a, fui-or, á similiiauça
do animal que mostra os dentcò amea-
çando.
Que é desde nossos pais fama constante,
(Jue aonde o sol se põe nessas montanhas
lia um fundo logar, de que é habitante
O perlido auliangá com cruéis sanhas:
Ali de cn.xofre a cscurid:'io fiimante
Com cem portas cerrou Tupá tamanhas,
C^ue as náo pi'ide forçar, nem todo o inferno:
A morte é a chave, c o cadeado é eterno.
DLK.io, c.ui-VMLRÚ, caut. 3, cst. 25.
Nem tu piídcs suster de Marte a sanha
Tu que pudeste, oh Musa, até da Morte
As iras quebrantar, e as Leis do Averno,
Dando outra vez a Esposa a Orfeo piedoso.
J. A. DE M.VCEDO, A NATUREZA, Cant. 1.
Não foi por certo, não, de Jovc a sanha,
Que no sol quiz vingar de Koma o crime.
Como a voz da lisonja, cm áureos versos,
yuiz o Mundo iUudir no egrégio Vate,
guando o punhal da infausta "liberdade,
Tirando á Pátria hum monstro, a entrega a cento.
IDEM, MEDir.KÀo, cant. 2.
— Fazer armas de sanha ; brig;u' em
duello por prova judiciaria ; o assim nos
reptos ou desalios, para provar o accusa-
dor quo reptava, a traiy.ão do reptado, e
esto a sua innoccneia.
— ^l)'/ii(/s de sanha; diz-sc em oppoai-
«,ilo a anuis de jugo,, quo eram justas,
torneios, etc.
— Sanha de villão; o agastauiento im-
prudoute, intempestiva, que uos faz per-
der algum bem.
— Eiguradameute : Sanha do fado.
'l'ambem um não-s«i-<|ué nic diz no peito
Que c'-sta taiUia do fado hade accahnar-iio...
UAUHKrr, catXu, act. 3, se. «.
— Sanha de villão; locução proverbial
que allude á necci»sidado, e coatume cor-
te/.âo de requerer humilde, c agradecer
an repuUas com Halás, c lisonja.-*, e nada
de raivas,
— Adagio e i'UovEumo:
— AmanHe sua sanha, quem por ai
mesmo se engana.
— Svx. : Sanha, escandescencia. Vid.
este uitiiiiií vocábulo.
SANHADO, A, adj. Termo antiquado.
Sujeltu a saniia, saidiudo. — Homem sa-
nhado. \"\>\. Assanhado.
SANHEDRIM, /». m. Vid. Synhedrim.
SANHUANLIRA, *. /. Termo antiquado,
Reuiias, f(injs, pensões que se pagam j)eIo
S, Joào. Vid. Sanhoaneiro, e Sanjoa-
neira. — «Que todoios outro» empraza-
mentos, aíloramento.'», arrendamentos, e
cliauceilaiia-í, e direito.-!, e eoliíeitas, fo-
ros, rendas, e tributos, portageená, cen-
sos, e sauhoaneiras, cm que alguuns
CíjncelLos, Moradores d'algumas Villaâ,
e lugares, o outras quaeesquer pessoas,
que por esto ajam de pagar certos dinhei-
ros i)er as ditíis moedas, ou ouro, ou pra-
ta de quo pagavam por a dita moeda de
três libras e meia huma libra, que pa-
guem a dita moeda, ou ouro, ou prata.*
Ord. Affons., liv. 4, tit. 1, §30.
SANHOANEIRO, A, adj. _ Porteirot
sanhoaneiros; os porteií-os ou sacadores,
que algumas corporações, ou grandes se-
nhores conseguiam d'£l-rei para lhes ar-
recadar os seus fructo.-*, fijros, e rendas;
mas deviam-se obrigar ])rimeiro os que os
pediam, a pagar e i^atisfazer ás partes,
todo o damno que os ditoi porteiros sem
raeionavil causa lhes fizessem,
SANHOANHE. Termo antiquado. San
Joào.
SANHOSO, A, adj. Cheio de ira, colé-
rico, raivoso, irado.
SANHUDAMENTE, adv. (De sanhudo,
com o suflixo «mentep). Iradjunente, com
ira, sanha, — « E vistas per n<>8 as ditas
Leyx, declarando e temperando as penas
em ellas coutheudas, dizemos e poi'nios
por Lov, que todo aqueile, que sanhuda-
meute renegar de DEOS, ou de Santa
Maria, se for Fidalguo, Cavalleiro, ou
Vassallo, pague por cada vez que a^ST
renegar mil reis pêra a arca da piedade.*
Ord. Affons., liv. 1, tit. OH, S 4.
SANHUDO, A, adj. Assanhado, sauho-
so, irado, colérico.
— Figuradamente : Mal assombrado.
— Guerreiro sanhudo.
— Termo jioecieo. Sanhado mar; mar
embravecido, encapeliado.
Trováõ não stála, c ron&i, cm Alpes duros,
Nem com mAr oít.impido, o Etna dertSlre
Abrazada alluvião, do cavo seio :
SANS
SANT
SANT
40õ
Com miiâ fragor, não quebra, cm pvespas Coítas
Saiihudo Mar, quaudo o Tufão rebenta,
E o Cl-o desaba, á voz do Eterno, em chuva.
F. M. DO NASCIMENTO, 03 MÁRTIRES, 1ÍV. 6.
SANIAR, i'. a. Vid. Sauear.
SANICULA, s. f. Flauta medicinal da
fivmilia das umbelilferas, conhecida tam-
bém pelo nome de orelha de asno,
SANIDADE, s. f. (Do latim sanitas). O
estailo da cousa sã, ou curada. Vid, Cura.
SANIE, s. f. (Do latim sanies). Termo
de medicina. Matéria purulenta, liquida,
ténue, serosa, sanguinolenta, e do um
cheiro fétido, produzido pelas ulceras e
chagas de um aspecto pardacento.
SANIOSO, A, a<lj. (Do latim saniosus,
de sanies). Que pertence á natureza da
sanie. — Um humor sanioso.
SANISSMO, A, rt-/j. (Superlativo do la-
tim saaus). Muito são. — Mulher sauis-
sima.
SANITÁRIO, A, aJj. (Do francez sani-
taire). Que diz respeito á conservação
da saúde publica. — Leis, medidas, ijre-
cauçoes sanitárias.
— Cordão sanitário ; linha militar col-
locada de modo a impedir toda a com-
raunicação com paiz infeccionado de uma
doença contagiosa.
— Descarga sanitária; descarga das
mercadorias de um navio infeccionado
com todas as precauções necessárias para
prevenir entre os homens empregados, a
transmissão da doença.
SANJA, s. f. Abertura larga, entre
vallados, para escorrer agua. Vid. Sar-
geuta.
— Sanjas dos hacellos; rego na vinha.
SANJAGO. Vid. Sangiaco.
SANJAR, 1-. a. Abrir sanjas. — Sanjar
a terra.
1.) SANJOANEIRA, s. /. Tributo anti-
go que talvez se pagava pelo 8an João.
Vid. Sanhoaneira.
2.) SANJOANEIRA, s. /. Uma espécie
de peras assim chamadas.
SÃMENTE, adv. Vid. depois de Sam-
buxa.
SANO, por SÃO.=Emprogado nas Pro-
vas da Hist. geaeal. da casa real.
SANQUITAR, v. «. — Sanquitar a Sroa;
pôl-a no algiddar, e dar-lhe algumas vol-
tas com farinha para se unir bem a
massa.
f SANSGRITARIO, A, adj. Que se re-
fere ao sanscripto.
— - Substantivamente : Homem que se
applica ao estudo do sanscrito.
f SANSGRITICO, A, adj. Relativo ao
sanscrito.
-j- SANSGRinSMO, s. m. Estudo do
sanscrito; reunião das doutrinas philolo-
gicas e historias derivadas d'este estudo.
f SANSCRITISTA, s. m. Diz-se d'aquel-
les que se distinguem no conhecimento
do sanscripto.
SANSCRITO, A, adj. — A limjua sans-
crita ; antiga lingua dos judeus, lingua
sagrada do Indostão.
— Substantivamente : O sanscrito ; a
lingua sanseripta. — Estudar o sanscrito.
SANSIMONISMO, s. m. Vid. São-simo-
nismo.
S.\NT', ou SANGT'. Abreviatura de San-
to, ou Saucto. Termo coUocado antes tios
nomes que principiam por vogal. Vid.
San.
SANTAARVORE, s. f. Arvore da ilha
do Ferro, análoga nas folhas ao loureiro,
sempre verde.
SANTAFOLHO. Vid. Centafolho.
SANTAMENTE, adv. (De santo, e o suf-
íixo «mente»). De iinia maneira santa.
— Cotno santo.
— ('(un santidade, piedade.
SANTANARIO, A, adj. Termo popular.
Beato, rezador, entregue a beatices.
SANTÃO, ONA, s. Termo da Ásia. Re^
ligioso tido em conta de santo.
— Hypocrita, que se iiuge santo ou
santa.
SANTARRÃO, ONA, s. Augmentativo de
Santo. WA. Santão.
SANTEIRAMENTE, adv. (De santeiro,
e o suftixo «mente»). Com superstição,
com sautinionia, hypocritamente.
1.) SANTEIRO, s. m. Esculptor que faz
imagens de santos.
— Dá a plebe também este nome aos
indivíduos que vendem imagens de san-
tos.
2.) SANTEIRO, A, adj. Devoto de san-
tos com superstição.
— ■ Dias santeiros ; dias santos.
— • Religioso, sincero.
SANTELLO, s. m. Espécie de Irede de
pescar peixes.
SANTELMO, s, m. (Do francez saint-el-
me). O efieito da electricidade que se ma-
nifesta em fogo, e que apparece nos mas-
tros e n'outras partes do navio, mormen-
te por occasião da tormenta.
— Figuradamente : Pessoa ou cousa
que livra do mal imminente, ou cm que
alguém está.
SANTIAGO, í. m. Santo mui venerado
e acatado em Hespauha, e mormente na
Galliza.
— Termo de alveitaria. Mostrar o ca-
vallo a estrada de Santiago ; estender,
estando quieto, alguma mão adiante.
— Dar Santiago ; signa! de voz, cai-
xa ou tiro, para principiar o ataque, pe-
leja, etc.
— Loo. POP. : já estrada de sautiago ;
a via láctea.
— • Dar Santiago ; romper a batalha
com o appellido do Santiago, invocando
o seu auxilio, como se usou em Hespa-
iiha nas batalhas contra os mouros.
SANTIAMEN, s. m. Termo popular usa-
do na locução : Em santiamen ; no mesmo
instante, sem demora, sem interrupção,
em um momento.
SANTIGO, s. m. Brinco em que está
um santo esmaltado em ouro e se traz ao
peito.
SANTIDADE, s. f. (Do latim sancfitas).
A qualidade do que c santo. — «E posto
que a santidade, e grandeza de cada
qual, seja tão esclarecida na Igreja de
Deos, não sey com tudo a causa porque
se retirasse o nome de Padroeyros de
Lisboa, a quem primeiro regou as ruas
delia com seu próprio sàgue por honra de
Jesv Christo.» Monarchia Lusitana, liv.
5, cap, 23. — «Donde quando ella mor-
reo, não somente o leixou rico com toda
sua fazenda, de que o fez herdeiro, mas
ainda acreditai !o de santidade entre aquel-
le povo rústico.» João de Barros, Década
2, liv. 10, cap. 6. — «Todos sabemos
Senhores, c irmãos, dizia o capitam, da
grande santidade do padre M. Francis-
co; toda he por nós, aqui o temos com
nosco, a sua oraçam ; as suas lagrimas ;
o seu espirito sam ferro, fogo, morte aos
iniigos.» João de Lucena, Vida de S.
Francisco Xavier, liv. 5, cap. 13.
Ante a face de Xosao Senhor,
cuja patente com firma scfrura
c a grandeza, o liem, formosura
o tanger das palmas, a gloria, louvor:
e a saiifiJadc.
ANTÓNIO PIIESTES, AUTOS, pag. PÓ.
— Sua santidade ; o papa, o padre
santo.
— Plur. Deidades do paganismo, deu-
ses e deusas.
SANTIFICAÇÃO, s. /. (Do latim sandi-
Jicatio). Acção e efleito da graça que san-
tifica.
— Acção de procurar o que santifica.
Vid. Santiíicar.
— Santificação do domingo, e dias de
festa; sua celebração segundo as leis da
egreja.
SANTIFICADO, ijart. i^ass. de Santiíi-
car. Tornado santo.
SANTIFICADOR, A, adj. e s. Aquelle
que santifica.
• — Que ensina a ser santo, digno d'es-
te titulo.
SANTIFICANTE, part. act. de Santifi-
car. Que santifica. — Estas obras são
santas e santificantes.
SANTIFICAR, (ui SANCTIFICAR, v. a.
(Do latim sanctijicare). Tornar santo, sa-
grado. — Os logares que Christo santifi-
cou com sua presença. — «Quanto pêra
desejar, e estimar seja a contemplação
considerai das palauras seguintes. A gra-
ça da contemplação nam somente purifi-
ca o coração, e o deixa limpo de todo
amor da terra, mas também o santifica,
e intíania em amor das cousas do Ceo, e
quem por inspiração, e reuelaçam das
cousas celestiaes chegou ao estado de
contomplaçam, recebe um penhor da abun-
dância da gloria, onde eternamente des-
cansara na contomplaçam, e visam bea-
406
SAXT
SAXT
SANT
tificii (lo Deos.» Fr. Bartlioloiiicii dos
Martyros, Compendio de espiritual dou-
trina, c;ip. 1 1.
— Tomar santo, tomar conformo á
lei divina.
— Santificar por seu exemplo; dar bons
exemplos para o caminlio da salvação e
da 8antiri<.'ni,'ão.
— Di-i-Mí lias cousas em um sentido
análogo. — Santificar « poesia por uma
vbra tiii) preciasa.
— Santificar o dia do domiwjo ; cí:\c-
bral-o sefíiiiido as leis da egreja.
— Santificar a alma ; fazer obras de
santidade.
— Obrigar a ser santo, livro das pai-
xões lia carne.
— Honrar como a cousa santa.
— Santificar o «tí/ne de Deos; bemdi-
zel-o.
— Ensinar santos costumes, persuadir
ás virtudes religiosas.
— Declarar por santo.
— Santificar-se, v. rejl. Tornar-se san-
to.
SANTIGAR, V. a. Fazer o signal da
cruz, ili/.cr orai,'ues sobre o doente.
SANTIGUAR-SE, v. rejl. Cobrir-se com
pretexto santo, e representar-se como
santo, para prender os outi-os, ou cau-
sar-lhes males, pcrseguiçCes, etc.
SANTILÃO, adj. o s. ílypocrita, que se
tinge santo.
SANTIMONIA, ou SANCTIMONIA, .«. /.
(Do latim Hinctimonia). Santidades, ou
rigoridades de santos.
— Exterioridades de santos, obras me-
nos essenciaes a que cUes se applicam;
tomado li. má parte.
SANTIMONIAL, adj. 2 gen. (Do latim
sanctíiiioiHulis}. Com aspecto, maneiras
de sautimouias. — lii/pocrisia santimo-
nial.
SANTINHO, A, aJJ. e s. Diminutivo de
Santo.
Como cstaes?
Passou-sc !
Qunudo ?
Ilida agora, vac santinJtn.
l'artio como um passarinho !
Scubor, imo-uo3 cautaudo.
ÀNTÚXIO PUE3TE3, ALTOS, pag. 285.
SANTÍSSIMO, A, adj. superl. de Santo.
Muito santo. — «E assim como o amíir a
Deos deveras consiste em fazer sua Séin-
tissima vontade em todas as cousas : as-
sim o aborrecer-me a mim consiste em
naõ fazer a minlia vontade em cousa al-
guma.» Padre Manoel Bernardes, Exer-
cícios espirituaes, pag. 71.
— Á imiiiaculada Vouceirão de Maria
Santíssima. — «Ordcnon-me V. A. ha-
verá dons meses depois de hum argu-
mento que tivemos, que lhe mostrasse as
rasoens que eu tinha para deflendcr a
sempre pura, o in\maculada Conceyçiío
de Maria Santíssima, Màe de Deus, e
sempre Virgem.» Cavalleiro (i'01iveira.
Cartas, liv. 1, n." ú^.
— >S. m. l*or antonomásia : O Sacra-
mento da Eucliaristla.
1.) SANTO, ou SANCTO, A, adj. (Do
latim saiiclus). Dotado de santidade, li-
vro de toda a culpa moral.
— Virtuoso, conforme as leis do Deus,
o da virtude.
Ascanio, (so trazer me hc couccdido
Entro santos exemplos hum profano)
liei do Império, despois tão conhecido,
Do IkOma, o só relíquia do Troiano,
Vingou eom setta e ânimo atrevido
As soberbas palavras de Numano ;
K logo foi dalli remunerado
Com louvores de Apollo, e celebrado.
CAU., EPISTOLA 3.
— «Mas põderay o que diz S. Thomas
que ainda que naõ podia auer mais pura
criatura, mais santa si, porque a perfei-
ção euãgelicji he cousa que nilo tem ter-
mo pois o naõ tem a de Deos, que he
o aluo a que os Santos tiraõ, e aque todo
Christaõ deve tirar.» Paiva de Andrade,
Sermões, part. 1, pag. 10.
— Dia santo ; com obrigaçSo de ouvir
missa, o abster-se de trabalho.
Quando hos priucipes sahiam
dias santos caualgauani,
todos seus pouos oa viam,
clles viam e ouuiam
todos quantos lhes fallaunm.
GABCIA DE KEZKNDR, UISCEULAKEA.
— Dias santos dispensados, ou aboli-
dos; dias cm que se pikle trabalhar.
— O santo nome de Deus; o seu sa-
grado, respeitável nome. — «E avendo
elles este prospero successo por mercê
grande dada da mào de Deos, tizerão
todos huma devota salva em que lhe de-
raõ muytas graças e muytos louvores, e
lhe pedirão cõ muitas lagrimas que os
não desemparasse, porque por hora do
seu santo nome se lho offerecirio todos
em sacriticio para no mais que cò seu
favor esperav.ão de fazer darem as vidas
pela sua santa Fé Catholica. » Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 140.
— O santo padre; o papa. — «Não se
acabár.ào por aqui as disputas do nosso
Santo Padre co Bonzo Fucaraudono, por-
que ajuntando elle a si outros seis, em
que tinha coutiansa, o vierào buscar muy-
tas vezes, e lhe propnnhão niuytiis qucs-
toens, nas quaes lhe arguhião sempre
muytas cíiusas de novo contra a verda-
de, que o Padre lhes pregava.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 213.
— Santa lei de Deus; lei dictada por
Deus. — «A mentira he hnum peccjido
auto Deos muito aborrecido, o ponido
naõ somente per a sua Santa Loy, mas
ainda por Ley natural.» Ord. Affons.,
liv. 3, tit. 27."
— Tido por homem santo ; tido por ho-
mem cheio lie santidade. — « Nesta pele-
ja de hum pelouro de bombarda mataram
hum mouro cacls per nome Maimauie
Marcar, estando em orai;."io na camará da
galé em ()ue vinha, auido cntrelle« jjor
homem santo, o qual el Rei de Calecut,
c o de Cambaia mandaram au Soldam da
Babilónia pêra o exhortar, e requerer
que mandasse gente a índia, que lanças-
se fora deliu os Portugueses.» Damião de
C4ocs, Cbroníca de D. Manoel, part. 2,
cap. 2í).
— Que a egreja declarou por bem-
aventurado, o gozando da visão beatifica.
— «A isto acudirão logo os bonzos para
apaziguarem a união do povo, pijrquo
todo junto a huma voz dezia com gran-
des brados, o sangue do santo homem
ostrangeyro ha de pedir vingança da
morte que os nossos bonzos lhe derão
porque fallava verdade.» Fernão ^leodes
Pinto, Peregrinações, cap. 90.
— Uma Jé limpa, e santa. — «A qual
Fé limpa, santa, e perfeita não era taõ
avarenta, que tizesse exceyçaõ de pes-
soas, como elles diziaò, porque naõ im-
possibilatava ás mulheres terem salvação,
por ser género mais fraco por naturesa,
nem punha o remédio que ellas nisso po-
diaõ ter, no muyto que lhe a elles des-
sem por isso, como elles lhe davaõ a en-
tender.» Fernão Mendes Pinto, Peregri-
nações, cap. 212.
— O santo Crucijixo; Christo pregado
n'uma cruz. — Dizem que este Santo
Crucifixo, he da grandeza de hum ho-
mem de estatura ordinária, que tem oe
cabellos da cabeça, e os da barba bas-
tantemente compridos.» Cavalleiro d'01i-
veira, Cartas, liv. 1, n." 24.
— A santa lei de Mafamede. — «E bra-
dando alto para que todos o ouvissem,
disse por três vezes, lah hilah hilah lah
Muhamed roçol halah, ii Massoleymões c
homens justos da santa ley de Mafame-
de, como vos deixais vencer asai de hu-
ma gente tão fraca como saõ estes cies,
sem mais animo que de galinhas brancas
o de molherca barbadas?» Femiio Men-
des Pinto, Peregrinações, cap. õP.
— O pendão da iusiijnia santa.
Mas entre esta revolta que cAusár&o
No baluarte os infiéis soldados,
Koligiosos peitos não faltarão.
Os quaes da honra da Cruz estimulados,
Ou acabar :illi dotorminárào,
Sondo na terra e Ceo etcmis.">do3.
Ou erguer o pendão da insignim ranta
E abater o que o Turco impio levanta.
FBASCISCO D°ANDBADE, rBlMElBO CBBCO BB OIC,
cant. 14, est. lOó.
çao.
Santa Mattr Dei; termo de invoca-
Carvào quero, á que d'el-rci I
acodi dllio!
SANT
SANT
SAXT
407
Que é isto ?
É o ante-ehristo,
Jesu ! SaiUa Mator Dei !
ASTOSIO PRESTES, ACTOS, pSg. 419.
Termo de inrocacào. Santos céus!
Vós, sanios Ceos, e Tu, Astro brilhante
Que o dia trazes, e que o dia levas,
E que eu nascer naO vejo ha longos annos,
Vós testemunhas sois, se eu pcrtendia
Jlais, que em paz desfructar minlia Prebenda,
Comer, jogar, dormir, e divertir-me.
A. D. DA cKcz, HTssoPE, cant. 4.
E logo proseguiu. Se minha estrella
Ordenado me tem, que pov encantos
De alguma feiticeira, ou Nigromante
Em fero bruto eu haja de mudar-me,
Praza a vós, santos Ceos! ao Fado praza.
Que, antes do que em sendeiro lazarento,
Em brioso Cavallo, clles me mudem.
IBIDEM, cant. 5.
— Santo Thyrso; termo de invocação
d'este sauto.
Jesu ! nora !
ai ! como estou amarello !
satito Thvrso ! <5 pesadelo
toma a maçã, vae-tc embora !
ASTOSIO PRESTES, AUTOS, pag. S99.
— Os tanigores da santa irmandade .
— «E mandando eu por meu despacho
aos tanigores da santa irmandade que por
parte delles arrezoassem sobre final, el-
les o fizeraõ no termo que por mim lhes
for assinado. E sendo satisfeito por am-
bas as partes conforme ao estilo deste
iuizo, mandey que me viesse o feito con-
cluso, para determinar nelle por minha
sentença o que fosse justiça. » Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 103.
— Edijicio santo ; editicio sagrado, res-
peitável.— «E nos primeiros alicerces el
Rev por sua mão por honra de tão san-
to, tão grande, e piedoso ediíicio, lançou
muytas moedas douro, e esse dia andou
todo ahv vendo como se começaua, e
comeo em casa do conde Monsanto, que
he pegada com a orta do dito Esprital.s
Garcia de Rezende, Chronica de D. João
II, cap. 140.
— Juro a estes santos Evangelhos;
uma formula de juramento. — aFoaõ Pas-
savante juro a estes Santos Evangelhos
nas mãos de Foaõ Rey de Armas, que
bem, e verdadeiramente, e com todo o
cuidado, e diligencia aprenda todo o que
necessário for ao nobre officio das Armas,
para que dignamente possa passar, e ser
acrescentado ao officio de Arauto, e de
Rey de Armas, quando ElRey Nosso Se-
nhor disso houver por seu serviço de me
prover. 11 ]\Ianoel Severim de Faria, No-
ticias de Portugal, Disc. 3, cap. 19.
— Sino de Santo Antão. — aE el Rey
tinha mandado, que tanto que o Duque
fosse morto, tocassem o sino de Santo
Antão, e estando el Rey com poucos ou-
uio tocar o sino, e em no ouuindo le-
uantouse da cadeyra, e pozse em joe-
lhos, e disse : Rezemos polia Alma do
Duque, que agora acabou de padecer, e
isto com os olhos cheos de lagrimas, e
assi em joelhos esteue hum espaço re-
zando por elle, e chorando.» Garcia de
Rezende, Chronica de D. João II, capi-
tulo 40.
— • Santo Thomaz; Santo Borja. —
«Nem se me pôde estranhar este argu-
mento por alheio da profissão Ecclesias-
tica, por quanto a Milícia he parte de
Politica, e como tal trata delia San-
to Thomaz em muitos lugares de suas
obras.» Manoel Severim de Faria, No-
ticias de Portugal, Disc. 2, cap. 1. —
«Navegamos dez léguas n'e3te dia sem
susto e divertidos a ver garças e muita
caça de alternaria ceder á fortuna de
destros caçadores. A termos a mortifi-
cação do Santo Borja, largo campo se
abria em que a podessemos exercitar.»
Bispo do Grão Pará, Memorias, publica-
das par Camillo Castello Branco, paír.
190.\ '^^
— Virtuoso, cheio de santidade.
Dizei, senhora, não vedes
como está Santo f
ANTOsio PRESTES, AUTOS, pag. 389.
Nào ? pois não morrerá santa.
queimemol-a.
Cazar, eu !
homem ha que capuz ponha,
nem no sonha
por molher.
IBIDEM, pag. 415.
— O santo oficio; o tribunal da in-
quisição.
— Corpo santo. Vid. Santelmo.
— A santa egreja cathJica.
— Os santos padres; os que ensinam
doutrina sã de erros em dogmas, ou mo-
ral, e que santifica os homens.
— O santo officio; o officio do inqui-
rir sobro a herética pravidade dado aos
officiaes do tribunal da santa inquisição.
— Útil. — Medicamento santo.
— Respeitável. — «E destes desatinos
e outros muytos a este modo nos contarão
tantos, que he niuyto para pasmar, mas
muyto mais para chorar, ver com quão
claras e manifestas mentiras traz o de-
mónio tão enganados a homens por outra
parte tão entendidos, sem poderem atinar
com a trilha desta nossa santa verdade
que o Filho de Deos veyo notificar ao
mundo, porem o segredo disto elle só o
sabe.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 111.
2.) SANTO, ou SANCTO, A, s. Pes-
soa santificada, ou canonisada pela egre-
ja. — «For entre estas duzentas e oiten- |
ta casas avia infinitas colunas de bronzo,
e encima de cada huma delias estava
hum Ídolo do mesmo bronzo dourado, e
alguns destes idolos erão de prata, que
saõ as estatuas dos que elles nas suas
seytas tiveraõ por santos, e de que con-
tão grandes patranhas.» Fernão Mendes
Pinto, Peregrinações, cap, 128.
— Figuradamente: Encommendar-se a
bom santo ; sair do perigo, alcançar al-
guma cousa difficil por moio de bons va-
ledores.
— Um santo ; a imagem de qualquer
santo.
— Cognome dado a uma pessoa que
pelas suas excelsas virtudes mereceu es-
te titulo. — oEl Rei D. AíFonso onzeno
de Castella, tendo alguns aggravos de
D. Joaò Manoel, filho do Infante D. Ma-
noel, 8 neto dei Rei D. Fernando o san-
to, com cuja filha, chamada D. Constan-
ça, estava casado por palavras de futu-
ro, por ser ella ainda menina, a deixou
sem outra causa, e casou com a Infante
D. Maria, filha dei Rei D. Afí^onso, dei-
xando concertado que o Infante D. Pe-
dro casasse com D. Branca, filha do In-
fante D. Pedro, que morreo na Veyga
de (íranada.» Fr. Bernardo de Brito,
Elogios dos reis de Portugal, continua-
dos por D. José Barbosa.
— Na miiicia, é o nome de um santo
que se dá como signal nas guardas em
segredo, e que deve, quem vem render,
dal-o á sentinella, a fim de manifestar
que é o competente, e em tempo de guer-
ra, que é dos nossos, e não inimigo. Vid.
Nome.
• — • A festa de todos os santos ; festa
que a egreja celebra no dia 1 de novem-
bro, véspera da coramemoração dos fieis
defuntos.
— Adágios e provérbios :
— Deixar fazer a Deus, que é santo
velho.
— O rio passado e o santo não lem-
brado.
— Rogar o santo até passar o bar-
ranco.
— Lá vem agosto com os seus santos
ao pescoço.
— Palavras de santo, e unhas de gato.
— -Quando Deus não quer, santos não
rogam.
— Pelos santos novos, esquecem os ve-
lhos.
— Em quanto tem saúde, quedos es-
tão os santos.
— Ao bom calar chamam santo.
— Dizem os sinos de Santo Antão,
que por dar, dão.
— Dia de Santiago, vai á vinha,
acharás bago.
— Salsa de São Bernardo.
— Agua de São João, tira vinho e não
dá pão.
— Até São Pedro, ha o vinho medo.
— Dia de São Pedro, tapa o rego.
408
SANT
SAPA
SAPA
— Dia lio São IVjiIro vô o tmi ollvc-
do, c si; vires um fírào, cHporfi por (íciito.
— Dia de São Jlatlúiis firincipiain us
enxertias.
— Diu lie São Vi<-e)iti% toila a fronte é
quoiílc.
— [)ia lU: São J5cri'.ardo secca-so pelo
pé a pallin.
— São Mi][,niel das uvas, tardo vens, e
pouco iiui'as; so duas vozes vioras no an-
uo, nílo estiveras com amo.
— Por São Francisco seniôa teu tri-
go, e a velha que o dizia, semeado o ti-
nha.
— i'or São roncas sabem as uvas.
— i'or Santa Iria, toma o boi o scraêa.
— Por São Similo e Judas coUddas t^ão
as uvas.
— Dia do São Martinho prova teu vi-
nho.
— Por São Martinho nem fenos, noni
vinho.
— Por São Clemente alea a mão da se-
mente.
— Fevereií'o faz dia, e logo Santa Jía-
ria.
— Por Santa Maria vai ver tua vinha,
e tal a adiares tal a vindima.
— Por Santa Jlaria do agosto, repasta
a vacca um pouco.
— Do dia de Santa Catharin^ ao Na-
tal, mez igual.
— Dia do Santa Luzia cresce um pal-
mo o dia.
— I )ia de Santa Luzia mingua a noite
e cresce o dia.
• — De pae santo filho diabo.
— Aos parvos apparecem os santos.
— Por todos 03 Santos a neve nos
campos.
— Por todos os Santos semeia trigo,
colhe canlos.
— Por todos os Santos até ao Natal,
perde a paileiva o cabedal.
1.) SANTOANE, s. m. San João.
2.) SANTOANE, s. m. Termo antiqua-
do. Parece ser pauno ou droga. — « Dei-
xo a Fulanç sete cevados de santoane
Íara ura vestido.» Documento antigo. —
)e ser esta droga mui levo, fresca, e
pouco encorpada, é de presumir lhe vi-
ria o nome de San Joã ■, pois só era
própria do tempo quente, e calmoso, qual
costuma ser no me/, de junho.
SANTOLA. Vid. Centoia.
SANTO OFFICIO. Vid. Santo [adj.).
SANTOR, .V. m. (Do fraucez smttoir).
Termo do Rrazil. Aspa.
SANTORAL, s. m. Livro de panegyri-
cos, ou viilas dos santos.
SANTORUM, s. »;. Termo da provincia
da Reira. i) pào por Deus. Vid. Pão.
SANTUÁRIO, .S-. m. [Do latim sandua-
riiuii). O lugar do templo judaico, onde
só entrava o sunmio sacerdote.
— Casa onde so guardam reliquias, e
relicários de alguma egreja, ou legares
santos.
SAO. Vid. depois de Samoloide.
— Adágios k imjovkuuios:
— Filho mau, melhor ó doente que
são.
— Nilo ha moco doente, nem vollio
são.
— So queres viver são, faze-tc velho
antes do tempo.
SAÕES, p/ur. de Saão, ou Saião. Vid.
esta jialavra.
SAPA, s, f. (Do francez mjie). <) tra-
balho do sajiador, a obra que ello faz.
— Pá de pau ou de ferro, com cabo do
levantar a terra cavada, como as dos ri-
beiriídios.
SAFADA, .«. /. Chapada, planura, bu-
periieie ]ila;ia. Vid. Chapada.
SAPADOR, s. v>. (Do francez aipeiir).
Soldado enearrcgado da cxeeue.lo das sa-
pas. — C")»j)nnhin ile sapadores.
— Particularmente: Soldado de infan-
teria armado de uma lanya, que marcha
á frente dos regimentos.
SAPAL, s. m. Terra brejosa, apaulada,
que er'a muitos sapos; lameiro, tremedal.
SAPÃO, .«. wí. Termo de botânica. Ar-
voro «la índia que tem alguma similhança
com o pau bi"azil; da sua madeira é ex-
trahida uma tinta vermelha para tingir
A lã.
SAPAR, V. a. (Do francez saper). Le-
vantar a terra com a sapa.
— Trabalhar com o picão para destruir
os fundamentos de um eililieio, etc.
— Figuradamente: Minar, atacando os
principies, como se mina uma muralha,
atacando os alicerces.
SAPATA, ou ÇAPATA, s. /. Sapato de
mulher.
— Termo de marinha. Uma espécie do
bigota mais pequena, e de diversa gran-
deza, com um só furo no meio, e este
quasi da mesma figura de uma sapata;
serve para se fazer iixa no extremo de
algum cabo, como patarrazes, e fazer pas-
sar por elles e por algum olhai, ou arga-
néo, voltas de algum cabo delgado para
alll se fazer firme.
— Termo de pedreiro. Sapata da pa-
rede; a parte do alicerce que cresce so-
bre a terra, c tem mais grossura que a
parede que cresce sobre a sapata.
— Feijiíes de sapatas ; os que se cozem
com as vagens.
— Termo de náutica. Poleame surdo,
que se aguenta nos chicotes dos estaes,
cabrestos, ctc.
— Espécie de bota sem canhão até
meia perna ; é usado também das mulhe-
res.
— Vid. Berma.
SAPATADA, .í. /. Golpe, ou antes pan-
cada com o sap.ato. j
SAPATÃO, s. m. Augmentativo de Sa- j
pato. Sapato grosso. |
SAPATARIA, s. /. Bairro, ou rua de ,
sapateiros.
— Oflicio de sapateiro, I
SAPATEADA, f. f. Acto de sapatear,
l.) SAPATEADO, part. jxus. do Sapa-
tear.
•J. I SAPATEADO, ». m. Ccrtii dança.
SAPAIEAR, i'. )i. Dar certas pancadaa
mesuradas coiii o nalto do 8apat<j no chão
em certos bailes.
SAPATEIRA, «. /. Uma espécie do ma-
risco de concha vulgar.
L) SAPATEIRO, s. m. Homem que &z
sapatos, ou outro qualquer calçado.
luto t°avÍ40 daqui,
F;i/.f-o por .'oiin- f1''' mi.
Vofim, ^ -n
(JiK' iiiM'. r. meu
I'.-.a d
Qiic furei, i|uu u éajtii/aro,
Núo tcin lioiiia, nem tcui pcUc ?
GIL VICEXrB, VIUVAS.
não cubr.ins por minha \'i(la,
tendo que isío me di-rrctc.
Isso é muito tapalriro.
ANfOMO PBESTEg, ACT08, pSg. 339.
— Honif-m que vendo sapatos.
2.) SAPATEIRO, A, adj. Que é de sa-
pateiro,
— Azeitona sapateira; azeitona que já
está molle, c tocada de podre mi sal-
moura.
SAPATETA, t. f. Sapata, talvez de ta-
lilo, como o lie chinela.
— (J som que se produz andando em
chinelas, e batendo o salto d'ellas na ca-
sa ou no calcanhar, ou saltando ou tocan-
do os saltos ou calcanhares um ro outro,
como fjizem dançarinos, e bailadorcâ de
terreno.
— Correr a sapateia a ahju/em ; dar-
Ihe uma corrimaça do apupa-las ou pan-
cadas, e .-^cixadas, e fazel-o fugir.
f SAPATEIRO, *. m. Vid. Sapateiro.
— «Tem por immundas todas as outras
nações, nem comem como outrem, que
naò seja do seu sangue com tanta supers-
tição, que o sapateyro naò entra em ca-
za dos Bracmenos, (que saõ os Sacerdo-
tes) nem os filhos do alfayate casam com
os do ourives, e deste modo se conser-
vam, sem se misturarem hnns com os
outros, o que grandemente difficulta o
negocio da conversão.» Conquista do Pe-
gn, cap. 1.
SAPATILHOS, í. «1, phn: Termo de
marinha. Aros de ferro formados de cha-
pas com meia canna para a parte exte-
rior, ficando cono.ivo pelo centro: servem
para se aguentarem nos punhos das ve-
las, nos chicotes das velas onde se intro-
duzem gatos, nos tectos da.? veias p.oi^a
os impunidoun^is, nos moitões e cadcmacs
de gatos, onde pegam as pôas, por se
n.io cortar as bolina.*, ou em que pegam
os briíies na esteira da vela, etc.
— Os sapatilhos da cnnua do assucar;
as primeiras folhas que deitam do pé meio
SAPE
SAPI
SAPI
409
enterradas, já seccas, que se tiram quan-
do as alimpam para filharem.
SAPATINHA, s. /. Diminutivo de Sapa-
ta. .Sapata pequena.
SAPATINHO, s. m. Diminutivo de Sa-
pato. Sajato pequeno.
SAPATO, s. m. Calçado ordinário, que
consta de rosto, pala, salto, talào e ore-
lhas ; aperta-se com fivelas ou laços de
fita.
Sajiatos me daria cUe,
Se me vós désseis diabciro.
Eu o haverei agora,
E mais calças te prómetto.
Homem que não tem nem preto,
Casa muito na ma ora.
GIL VICENTE, FARÇAS.
— «Pé grande, de marca e fora da
marca, pé de Barcellos, e cu) > sapato —
como os do licenciado Cabra na Historia
do gram Tacauo de Quevedo.» Bispo do
Grào Pará, Memorias, publicadas por Ca-
millo Castello Branco, pag. õ9.
— Sapato ih malhão ; sapato grosso
contra as lamas, á maneira dos rústicos.
— Pós de sapato ; o que se faz do fu-
mo do azeite ou graxa, e é muito negro
e leve.
— Jogo do sapato ; faz-se passando-se
um sapato por baixo dos que o jogam, e
anda um buscando-o, ao qual dào com
elle nas costas, e o tornam a esconder.
— Sapato picado, ou golpeado ; por en-
feite ao modo antigo.
— Sapato de feltro, etc.
— Sapatos de ferro. Vid. Sapatilhos.
— Alguns escrevem çapatos, mas eíta
orthographia está hoje pouco em uso.
— Adágios e provérbios:
— • Sapato roto ou são, melhor é no pé
que na mão.
— Fazer o pé para o sapato.
— Não lhe dá pelo bico do sapato.
— Andar com sapatos de feltro,
— Metter-se em um sapato.
— Sapato, quanto duras? quanto me
untes !
SAPE! interj. = Usa-se para espantar
os gatos.
como gato que ouve sape ;
e entào dar, cortar, fender :
n'cs3e mar morra eu de engulho
80 me cllc hoje não põe nesta
a ahna. vida, e o debulho,
apesar do cascamulho.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pag. 419.
— O jogo do sape na barba ; é de dous
rapazes que tem a ni?Ío na barba, e com
a outra esperam e dào uma pancada.
SAPE, s. m. Uma herva que no Bra-
zil nasce nas torras cançaJas, de fo-
lhas compridas e estreitas, de um pen-
dão branco; serve de cobrir palhoças, o
seu raizame é nodoso, e trava tanto que
voL. V. — 52.
faz as terras más de lavrar com arado,
e nào deixa alargar raizes de outras plan-
tas.
— Casa de sapé ; de taipa de sebe,
coberta com elle.
-|- SAPECA, s. /. A menor fracção mo-
netária da Cochinchina. E uma moeda
chiiíeza.
SAPEZAL, s. m. O local onde ha muito
sapé.
— Terra infructifera, que só produz
sapé.
SAPHENA, s. f. Termo de anatomia.
Nome dado a duas veias da perna.
— Grande saphena, ou saphena inter-
na; saphena que nasce na face dorsal
dos dedos internos dos pés, e se abre na
veia crural perto da arcada inguinal.
— Saphena externa, ou pequena saphe-
na ; aquella que nasce nos dedos exter-
nos dos pés, e vai abrir-se na curva da
perna na veia poplitada.
SAPHICO, A, mlj. (De Sapho, celebre
cantora lyrica). — Verso saphico ; verso
inventado por Sapho, e composto em ge-
ral de cinco pés, sendo o primeiro cho-
rou, o segundo espondeu, o terceiro da-
ctylo, o quarto e o quinto choreus.
— Saphico hexametro ; é, segundo Plu-
tarcho, um hexametro que começa e aca-
ba por um espondeu como o quinto da
primeira écloga de Virgilio.
— títrophe saphica; strophe inventada
também por Sapho; é uma das combina-
ções as mais harmoniosas que os antigos
fizeram dos versos lyricos. Compõe-se
de três saphicos e de um adonico.
SAPHIRA, s. f. Vid. Safira.
SAPIA, s. f. (Do latim sapimis). Espé-
cie de madeira de pinho mau de lavrar,
e de pouca dura.
SAPIDO, A, adj. (Do latim sapidus).
Que tem sabor. — Todos os saes insolú-
veis na agua são insípidos; aquelles que
se dissolvem n'ella- são mais ou meno^
sapidos.
SAPIÊNCIA, s. f. (Do latim sapientia)
Sabedoria das cousas intellectuaes e dl
vinas. — O temor do Senhor é a sapien
cia.
Xobre emprego este foi de antigos Sábios,
As fontes ir buscar das cousas todas.
Amor da Sapiência, amor d estudo
Entro 03 mortaes se diz Filosofia.
J. .A. DE MACEDO, \1.\GEJI EXI.ATICA, Caut. 1.
Consolação extrema hc Sapiência
Xo mal da Natureza, e da Ventura.
IBIDEM, cant. 2.
Da Sapiência antigos amadores,
Os Sacerdotes do celeste Nume,
São do Teui(jlo immortal alto ornamento,
E seus Bustos de Poifido formavào
Oâ Timbres, c os Troícos do Altar sagrado.
LBIDEJI.
A gloria do Immortal me opprime, e cega.
Se, ousado indagador, lhe peço a chave
Dos áureos cofres, que os mysterios guardão.
Fatal herança do mortal primeiro.
He como um dia opaco, hum Ceo nublado,
Essa, que os homens desvanece tanto,
Filha do estudo, altiva sapiejicia.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Caut. 2.
— Termo da antiga chimica. Lufo da
sapiência ; aquelle que serve para fechar
hermeticamente os vasos.
— Absolutamente : A Sapiência ; o li-
vro de Salomão.
— Termo de theologia. O divino Ver-
bo, a razão eterna, a infinita sabedoria.
O teu nome, <5 mortal, lançado estava
No Livro arcano do Destino immobil,
Tu devias entrar no Templo eterno.
Que a Sapiem^ia levantou no Olvmpo.
J. A. DE M.ACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 1.
Xunca deixou de perseguir o Mundo
A Sapiência, o Mérito, a Virtude:
Tristes Aves da noite a luz odeào.
Fogo o grande Aristóteles de Athenas,
E busca asilo cm morte voluntária.
IBIDEM, cant. 2.
Quanto pode atinar mesquinho humano
Co' as sendas da verdade, e da virtude,
Antes que a luz do Ceo baixando ao homem
As densas trevas d'alraa lhe espancasse,
O Egypto possuio ; foi este o berço
Da -"apicncia, que na Argiva terra
Ao fastígio chegou, como inda admiro
Dos sábios seus nos immortacs volumes.
IDEM, MEDITAÇÃO, Cant. 1.
Profunda Sapiência, eterna força,
Teus bens continues são, teus bens são novos:
Thesouros, profusão, gloria, e belleza
Tu no Palácio do mortal derramas :
Que proporções, que sabia arquitectura
Na minha habitação descubro absorto !
IBIDEM, cant. 2.
— Livro da Sapiência ; um dos livros
do Antigo Testamento, attribuido a Salo-
mão, filho de David.
SAPIENCIAL, adj. 2 gen. (Do latim sa-
pientialis). Próprio da sapiência, de sa-
piente.
— Sábio, prudente, de sabedoria.
SAPIENCIAES, adj. 2 gen. jjlur. Diz-se
de certos livros da Escriptura Sagrada,
como o Ecclesiastico, os Provérbios, Ec-
clesiastes. Cânticos, etc. — Os livros sa-
pienciaes.
SAPIENTE, adj. 2 gen. (Do latim sa-
piens >. Dotado de sapiência, sábio, pru-
dente.
SAPIENTEMENTE, adv. (De sapiente,
com o suffixo «mente»). De uma maneira
sapiente, sabiamente.
SAPIENTISSIMO, A, adj. superl. de
Sapiente. ^lui sábio, mui .sapiente. — O
sapientissimo Deus.
SAPINA, s. /. Certo género de pedra.
SAPINHO, í. m. Diminutivo de Sapo.
— Piar. Na bocca das creanças, são
umas nódoas brancas, que lhes vem á
lingua; aphtas.
410
SAPO
SAQU
SARA
— Doença que dá também noí cavai-
lo», bois, c outros animaes.
SAPO, x. m. Termo de zoolo^i.a. Ani-
mal ampliibio qiio vive cm lo^arcá brcjo-
808 c húmidos.
Isto ho fcvBura do snpo,
(iuc ostá nnstn guardanapo.
Eis aqui mania do porca,
J5arb:in dií bodo furtado,
'Foi do morto cxcommuiigado,
Scixinhos do pó da forca.
GIL VICENTB, FAHÇAS.
— Fif^uradamcnto : Sapo da terra; o
cubiçoso insaciável.
— Sapo conch'>; no Minho, o cágado.
— AdaCtIO.s k ruovKUiuos:
— Ora ha um anuo mo mordeu o sapo,
e agora mo inchou o papo.
— Andar como sapo por alquoives.
SAPON, «. m. Vid. Sapão.
SAPONACEO, A, n-lj. (Do latim aapo).
Termo do historia natural. Quo tem os
caracteriís do .sabão; que pôde ser em-
prejí.ido nos mesmos usos que o sabào.
SAPONARIA, .S-. /. Planta de que se fo-
zcm fervor as folhas na agua para lim-
par 03 lanifícios, as rendas do lã, etc.
— Género da familia das cariophylla-
das, que tem por tvpo a saponaria.
f SAPONARINA, s. /. Termo de chimi-
ca. Substancia crystallisavel que se en-
contra n;v saiionaria.
SAPONARIO, A, a'1j. Termo de phar-
maeia. Cous.a ou medicamento em cuja
prcpara(,'?io entra sabão.
f SAPONICO, A, ndj. Termo de chimi-
ca. Acido saponico ; pó branco, insolúvel
na agua e no ethcr ; solúvel na agua, e
álcool fervente.
SAPONIFICAÇÃO, s. /. Operayão pela
qual uma substancia gorda se converte
em sabão, com o auxilio dos oxydos al-
calinos. — Í7rti principio de saponifica-
ção.
— Acção, arte de fazer o sabão.
SAPONIFICADO, part. pass. de Saponi-
ficar.
SAPONIFICAR, V. a. (Do latim sapo, e
f acere). Transformar um corpo gordo em
gabão.
— Saponificar-se, v. refl. Transformar-
se cm sabão. — Todos os ohos ou qordu-
ras não são stisceptiveis de saponificar-se
egualmenfe.
' SAPONIFICAVEL, adj. 2 gcn. Que p.'.de
ser saponiticado. — Os óleos são saponifi-
caveis.
t SAPONINA, s. /. Termo de chimica.
Principio immediato cxtrahido da raiz da
saponaria.
— D;l-so-lhe também o nome de stru-
thina.
f SAPONITO, s. m. Mineral talcoso,
cspccie de stealite.
SAPORIFERO, A, adj. (Do latim sapo,
c ferre). Que traz sabor.
— Que produz sabor no paladar.
SAPORIFICO, A, adj. (Do latim sapor,
()/a(;(')«i. (.jjui; jtroluz o sabor.
f SAPROPHAGO, adj. Termo do zoolo-
gia, (luv, vive do matérias orgânicas de-
compostas.
— tí, m. phir. Familia de coleopteros,
abrangendo os insectos que vivem na»
matérias corruptas.
f SAPROPYRA, 8. /. Termo do medi-
cina. Xonie da'li) á febre pútrida.
SAPUCAIA, ou SAPUCAYA, s. f. Termo
do líra/.il. ( "ôco dum, de cór esverdea-
da, ((ue tem uma tampa cónica, ficando
a ponta para dentro do vão, quo está oc-
cupado por UMia e.specie de castanhas;
quando ost:í maduro, a tampa abre jjor
si, e o frueto các: os macacos abrem o
coco, batendo um contra o outro, e sal-
tando o tampo do que está maduro, ti-
ranilhe as enstanhas ;i mão.
SAPUCAIEIRA, <iu SAPUCATEIRA, .'. /.
Termo de botânica. A arvore que produz
madeira chamada sapucaia, e os caroços
ou castanhas. A madeira é de natureza
rija, dá para eixos, e virgens das moen-
das de asÃUcar, esteios enterrados, car-
ros, etc. O fructo tem dentro amêndoas
de tão cxcellente gosto, que se asseme-
lham muito :'i3 amêndoas.
SAPUCHE, s. VI. Uma herva do Brazil,
e da .Africa, contraveneno de cobras.
SAQUA, s. /. Vid. Saca, exportação.
SAQUE, s. m. Saco, acção de saquear.
— • O saque de uDia letra; acção de a
tirar sobre alguém, dar-lhe ordem que a
pague a quem a apresentar.
f SAQUEADO, part. pass. de Saquear.
SAQUEADOR, A, adj. Pessoa que sa-
queia, que rouba.
SAQUEAR, v. a. Despojar a cidade, ou
navio do inimigo que se lhe tomou.
c saqoeoii a cidade
com muy f;raude crueldade,
captiuou 03 Cardeaes,
destravo todoâ os mais
sem nenhuma piedade.
GARCIA DK BEZKNDE, MlSCELL.OfEl.
— Roubar.
SAQUEIO, s. m. Vid. Saque.
SAQUETARIA, s. /. Ofíicina da c^isa
real, onde estava o pão cozido.
SAQUETARIO, s. vi. O ofVicial que ti-
nlia :i sua conta a saquetaria.
SAQUETE, í. m. Sacco pequeno.
SAQUILADA, s. /. A saca da novida-
de do trigo.
SAQUILHÃO, .«. «i. Ramo quo se collo-
ca nas pontas das aivecas do arado para
alargar bem o rego, e espalhar a teiTa,
cm que se ha de metter o baccUo.
SEQUIM, .'. »i. Vid. Zequim.
SAQUINHO, s. m. Sacco menor que sa-
quete.
— Termo de artHhcria. Cartuxo atado,
e cheio de pólvora, para carregar jis pc-
ÇAS.
SAQUINO. \'id. Saquim.
SAQUITARIO, «. m. Vid. Saquetario.
SAQUITEIRO, «. m. Vid. SaqueUrio.
SAQUITEL, K. VI. Diminutivo de Sacco.
SARABAJARA, »./. Planta análoga nas
folli.i-^ .1 I- ii orea.
SARABANCO, «. m. Vid. Salavanco.
SARABANDA, s. f. Musica o dança ale-
gi'e com meneios de corpo um pouco in-
decorosos.
— Figuradamente: RcprebensSo áspe-
ra e severa.
SARABANDEADO, paii. pata. de Sara-
bandear.
— iorte sarabandeada ; no jogo das
presas, continuada.
SARABANDEAR, r. h. Dançar á sara-
banda.
SARABATANA, s. f. Vid. Zarabatana.
— Buzina que leva a voz a longa dis-
tancia.
SARABULHA, .-. /. Vid. Sarapulha, e
Sarabulho.
SARABULHENTO, A, adj. Áspero, es-
cabroso.
— Cheio de bostellas, espinhas.
— Ciilierto de sarabuihos.
SARABULHO, á. vt. De.segualdade e as-
pereza na superfície da louça, originada
dos grãos de areia, ou grossura do vidro
mal fundido, etc. Vid. Sarrabulho.
SARABULHOSO, A, adj. Coberto de sa-
rabui.io. Vi 1. Sarabulhento.
SARAÇA. Vid. Sarasa.
SARACOTE, s. vi. Inquietação do que
anda para aqui, e para alli, e nào pára
em um ioLrar.
SARACOTEADOR, A, adj. Pessoa que
anda vagando fV>ra de sua casa ou ceUa;
que nào guarda recolhimento.
SARACOTEAR, r. n. Nào parar em um
logar, andar vagando, gyrando inquieto.
— Loc. POP. : Saracotear os quadriê ;
movel-os. dançando indecentemente.
SARACOTÈO, ou SARACOTEIO, #. «i.
Acto de saraeotejir, e seu efuito.
SARADO, jHtrt. pass. de Sarar.
SARAFINA, í. /. Vid. Serafina.
SARAGAÇO, í.m. Vid. Sargaço.
SARAGOÇA, s.f. Panno de 15 preto fa-
bric-ado no reino, e bem conhecido.
— Ha também saragoça de côr de cas-
taidin. Viil. Briche.
SARAIVA, s.f. (^.raniso, pedrisco, pro-
duzivio por chuva.
— Syx.: Saraiva, gelo. Vid. este ulti-
mo termo.
SARAIVAR, I-. n. Cair saraiva.
— T''. a. Açoutar, flagellar com sa-
raiva.
SARAMAGO, í. m. O rabão silvestre.
SARAMANTEGA, í. /. Vid. Salamante-
ga, e Salamantiga.
SARAMANTIGA, .'. /". Vid. Saramante-
ga.
SARAMATULOS, .-í. m. Termo de mon-
toria. Os cornos novos do veado que se
renovam cada anno.
SARA
SARO
SARD
LU
SABAMBEQDE, í. 7». Um taile alegre
e lascivo.
SARAKBURA, í. /. Tecido de algodão
de Benpala.
SARAMENHEIRA, s.f. Arvore que pro-
duz o sarameniio.
SARAMENEEIRO, s. m. Vid. Sarame-
nheira.
SARAMENHO, s. m. Uma espécie de
peras pequenas.
SARAMPÃO, ou SARAMPELLO, ou SA-
RAMPELO, s. m. Doença que consiste em
umas piutas roxas pelo corpo, precedidas .
de febre ardente; em gerai dá nas crian-
ças.
SARAMPO, s. m. Termo popular. Vid.
Sarampão.
SARAMPURA, s. f. Vid. Saramhura.
SARAMUGO, í. m. Peixe do rio de Lis-
boa.
SARANDALHA, s. /. Termo popular,
originado de ciranda, e alterado de ci-
randagetu. As alimpaduras que se apar-
tam cirandando, e se lançam fora.
— Figui-adamente : A plebe, gentalha,
gente que não é de casta.
SARANGUE, s. m. Piloto, guarda da
proa.
SARÃO, s. m. Vid. Serão.
SARÁO, s. íii. Baile nocturno entre pes-
soas nobres.
— Alguns dizem serão, em vez de s«-
ráo.
SARAPANEL, s. m. Termo de arcliite-
ctura. — Vdta de saparanel ; abobada de
volta abatida.
SARAPANTADO, A, adj. Termo popu-
lar. Aturdido, espantado, surprezo.
— Part. 2)ass. de Sarapantar.
SARAPANTAR, v. a. Termo popular.
Espantar, atemorisar.
— Alã'uns pronunciam assarapantar.
SARAPATEL, s. m. Guisado de sangue
de porco, cozido em agua, e frito com
banha derretida, e talvez com o ligado,
e vários adubos.
SARAPILHEIRA, s.f. Vid. Serapilheira.
SARAPíNO, s. m. Vid. Sagapeno.
SARAPINTADO, A, adj. Termo popu-
lar. Pintado de .sardas, manchas.
— Mesclado de diversas cores ; mos-
queado.
SARAPULHA, *. /. Vid. Sarabulha.
SARAR, V. a. iDo latim sanare). Dar
saúde, curar.
— V. n. Recobrar a saúde. — aXunca
tão claro conheci o excesso do meu amor,
como quando tanto esforço íiz para sarar
delle. Receio que, se houvera visto d'an-
tes as dificuldades, e violências d'esse
empenho, me arrojasse a emprendê-lo.»
Francisco Manoel do Nascimento, Succes-
sos de madame de Seneterre.
— Emprega-se também íiguTadamente.
SARASA, s. f. Género de tecido, de
que se servem as mulheres malaias.
1.' SARASSA, s. f. Peça de chita da
índia, inteiriça, ou em dous ramos, para
coberta de cama, ou panno de se em-
brulharem pretas, etc.
2. 1 SARASSA, í. /. Termo da provín-
cia da Beira. Um ferro com isca que ar-
mam aos lobos.
SARCASMO, s. m. (Do grego sarlcas-
mos). Zombaria picante, insultante, vitu-
perosa.
— Chança desprezante.
— Apodo de insultar.
SARÇA, ou ÇARÇA, s. /. Silveira.
— Vid. Azinheiro.
SARÇAL, í. iii. Logar onde ha muita
sarça.
SARÇAPARRILHA, s. /. (De sarça, e
parra). Vid. Salsaparrilha, termo hoje
mais usado, e corrupto de sarçaparrilha.
SARCILEOS, s. m. plur. Termo áe ana-
tomia. Membranas do coração da forma
de orelhas, ou azas das aves.
SARCINÁ, s. f. (Do latim sarcina).
Peso, carga, gravame.
— Termo de historia natural. Planta
coriacea, transpiarente, consistindo em
massas cubicas ou prismáticas, que se
encontram algumas vezes nos vómitos das
pessoas atacadas de affecções chi'onicas
do estômago.
-{■ SARCO. Palavra grega que entra na
composição de muitos termos scientificos,
e qiTe significa carne.
j SARGOBASE, s. f. Termo de botâni-
ca. Largo disco carnudo, que serve de
apoio ao ovário de algumas jdantas.
f SARCOCARPIO, ou SARCOCARPIANO,
A, adj. Termo de botânica. Que é car-
nudo e da natureza do fructo.
— Diz-se dos cogumelos que são car-
nosos pelo menos nos seus primeiros tem-
pos.
f SARCOGARPO, adj. Termo de botâ-
nica. Diz-se do fructo que é carnudo.
— S. m. Parte do pericarpo situada
entre o epicarpo e o endocarpo, paren-
ch^Tuatosa, mais ou menos carnuda, al-
gumas vezes apenas visivel, e contendo
todos os vasos. O sarcocarpo é muito
desenvolvido na maçã, melSo, pecego,
etc. ; é o que se come.
SARCOGELE, s. m. (Do grego sarar, e
kelíj. Termo de cirurgia. Tumor schir-
roso dos testiculos.
SARCOGOLLA, s. /. (Do gi-ego sarx, e
kollai. Substancia resinosa que corre de
um vegetal da Pérsia, e que se emprega-
va para incitar a reunião das chagas.
SARGOCOLLEIRA, *. /. Arvore^de que
se extrahe a gomma sareocolla.
-J- SARCOCOLLraA, s. f. Termo de chi-
mica. Principio que se extrahe da sareo-
colla.
7 SARGODE, s. m. Substancia homo-
génea, sem tegumento, que constitue os
infusorios, em opposição á opinião que
lhes concede a polygastricidade.
— Substancia que sáe por exsudação
em roda do corpo dos helminthos ainda
vivos, collocados no microscópio entre
duas laminas de vidro, assim como em
roda dos fragmentos do tecido laminoso
dos peixes, e de diversos órgãos moUes.
SARCODERMA, s. /. Vid. Mesosperma,-
7 SARCO DIGO, A, adj. Que se refere
ao sarcode.
7 SARCO-EPIPLOCELE, s. f. Termo de
cirurgia. Hérnia epiploica complicada de
sarcocele.
f SARCO-EPIPLOMPHALA, s. /. Termo
de cirurgia. Hérnia umbilical formada
pelo epiploon tornado duro e carnudo.
SARCÓFAGO, ou SARGOPHAGO, s. m.-
(Do grego sarXj e phatjô). Pedi-a que con-
some em breve todo o cadáver, e de que
por isso se faziam os túmulos, os caixões
conhecidos também pelo nome de sarco-
phagos. — Os antigos depositavam n'estes
túmulos 03 corpos que não queriam quei-
mar.
— Modernamente toma-se por eça.
-}- SARCO-HYDROCELE, s. m. Sarcocele
acompanhado de hvdrocele.
SARCOLITHA, s! /. (Do grego sarx, e
lithosi. Pedra cor de carne e transparen-
te, descoberta no Vesúvio.
SARCOLOGIA, s, /. (Do grego sarx, e
logos). Tratado das carnes e das partes
molles do corpo.
SARCOMA, s. /. Termo de cirurgia.
Toda a excrescência ou tumor que tem a
consistência da carne.
— Tumor duro, sem dôr, que se forma
em diversas partes do corpo.
SARCOMATOSO, A, adj. Termo de ci-
rurgia. Que diz respeito á sarcoma.
— Que tem sarcoma.
• — Alguns dão este nome aos polypos
duros que tendem a degenerar em can-
cros.
SâRGOMPHALO, s. tíí; Termo de cirur-
gia. Tumor duro desenvolvido no umbigo.
SARGOPHAGO, s. m. Vid. Sarcófago.
SARCOPHYLLA, s. /. Termo de botâ-
nica. A parte carnuda ou cellidosa da
folha.
SARCOTIGO, A, adj. (Do latim sarco-
ticusi. Termo de medicina. Próprio para
accelerar a regeneração das carnes.
f SARC0TRIPSIA,%. /. Termo de ci-
nirgia. Esmagamento linear das carnes.
SARÇOSO, Â, adj. Diz-se do logar onde
ha muita sarça.
SARDA, s. /. (Do latim sarda). Um
dos nomes vulgares da baleia propria-
mente dita.
— Espécie de cavalla menor.
— Mancha pequena, e parda, no rosto
e mãos.
SARDACHATA, s. /. Pedi-a pequena,
espécie de agatha.
f SARDANAPALESCO, A, adj. Que per-
tence a Sardanapalo, ou a um Sardana-
palo.
7 SARDANAPALICO, A, adj. Vid. Sar-
danapalesco.
f SARDANAPALISMO, í. m. Vida lu-
xuosa e etieminada.
412
SAIID
SAUíJ
S.UiJ
•J- SARDANAPALO, s. m. Nomo de um
rei do Niiiivc, quo viveu na iiioUcza, o
no prazer.
— Diz-ntí, |)or antonomásia, doá prin-
cipcs o grandes que gozam uma vida effe-
miiiaila o dissoluta. '
SARDÃO, s. III. Termo do zoologia. La-
garto vcrdo, graúdo inimigo das co-
bras.
SARDENHO, s. m. Género de cavalga-
duras.
SARDENTO, A, udj. Quo tem sardas no
rosto, ctc.
— Sardo.
SARDINHA, s. /. (Do latim srtrcZwKi, ou
sardinia). Peixinho vulgar.
— Loc. PUOV. : Cada um cheija a hraza
á sua sardinha. — « Tonlia V. M. mào
desse cauto, mo disse o Conde. Ponlia-se
V. S. aqui verá Talmella, liie disse eu.
V. M. lovanta-se ás niayores na minha
Caza'? Me disse elleV Cada hum chega a
braza á sua sardinha, llie respondi eu.»
Cavalleiro d'01iveira, Cartas, liv. 1, nu-
mero lU.
— Adacuos e vuovEuaios:
— Da mulher e da sardinha a mais
pequenina.
— O que sardinha quer é picar e be-
ber.
— Cada um chega a braza á sua sardi-
nha.
— Quem quizcr mal á sua visinha, dê-
Iho em maio unui sardinha.
— Deitai outra sardinha, que outro
ruim vem da vinlia.
— Nem cada dia rabo de sardinha.
— Em agosto sardinha, c mosto.
— Em tua casa uiio tens sardinha, e
na alheia pedes gallinlia.
— Com uma sardinha comprar uma
truta.
— A quem em maio come sardinha,
em agosto lhe pica a espinha.
SARDINHEIRA, s. /. Mulher que ven-
do sardiulias.
— Loc. : Andar á sardinheira ; andar
á pesca da sardinha.
SARDINHEIRO, s. m. Homem que ven-
de sariliului-i.
— Adj. De sardinha.
— Barco sardinheiro ; barco que anda
á pesca das sardinhas; á sardinheira.
SARDIO, s. m. i'edra preciosa meio
transparente, que nào brilha; ordinaria-
mente é de côr de carne.
— Alguns dizem que o seu nome vul-
gar é carnerina, corrupto depois em co-
ralina.
1.) SARDO, A, adj. e s. (Do latim sar-
aus). Natural da Sardenha.
2.) SARDO, A, ailj. Sardento, cheio de
s&rdas.
— Côr de sarda.
SARDONIA, s. /. Termo de botânica.
Planta análoga ao apiastro, ou herva
cidreira.
SARDÓNICA, s. /. i^Do latim sardonyx).
Podra preciosa, quo é um mixto do sar-
dio, e da cornaliua.
SARDÓNICO, A, adj. (Do latim sardo-
iiicuD). — A'iòu sardónico ; riso convulsivo
causado por uma eoiitraci;iIo nos muscu-
les do rosto.
— Jiino sardooico ; riso immodcrado,
produzido pula bebida da herva sardo-
nia, ou (pialquer riso immodcrado, que
talvez mata.
SARECOTEAR. Vid. Saracotear.
SARGACINHO, A, adj. — Uca sargaci-
nha ; uva pequena á maneira da baga do
sargaro.
SARGAÇO, ou SARGASSO, s. vi. Planta
marinha que anda travada no cimo da
agua, e forma grandes mantas cm certos
mares e costas ; cada pé de folha tem
uma baga como um grào vazio de pimen-
ta, e sem raiz.
— Mar de sargaço ; mar quo está en-
tro dezoito e trinta graus ao norte da li-
nha cquiiioccial.
— Sargaço vesiculoso; planta aquáti-
ca, conhecida também pelo nome de òo-
tilhuo vesiculoso, ou carvalhinho do mar.
— Dá-se-lhe também o nome de òode-
Iha, ou carvalho marinho.
SARGEL, s. m. Termo antiquado. Cer-
to género de tecido grosseiro.
SARGENTA, s. /. O sangradouro de
uma lagoa. Vid. Sargeta.
— Vallos, eanaes, sangradouros, ri-
guciros, ou fossos, que se fazem para en-
xugar as terras, e dar vasào ás aguas
encharcadas.
— Vid. Sargente, irmã leiga.
S ARGENTE, s. 2 gen. (Termo corrupto
de Servente). Pessoa que acode com o
necessário a uma e outra parte; servi-
dor.
— S. f. Irm<ã leiga, quo servia em
communidade.
— Flur. OflBciaes de justiça; pessoas
que servem na sua administraçào, ou
quaesquer offieios aibuinistrativos.
SARGENTEAR, v. n. Fazer as vezes do
sargento.
— Disciplinar a tropa.
— Dar ordens com fadiga, ou pCl-as
em execução.
SARGENTO, s. m. (Do francez sergent),
Oflieial inferior militar, que recebe as or-
dens do ajudante, e iis participa ao seu
capitão, distribuo as d'oste aos subalter-
nos cabos de esquadi-a, e soldados, com-
põe as tilas, e posta as sentinellas.
— Na ordem de Malta, servidor.
— Sargento-»!''", ou inajur; otYieial que
manda o regimento ao exercicio, e tem
outros encargos; é superior ao capitão,
inferior ao coronel o tenente-coronel, cu-
jas vezes substituo em falta gradual d'el-
les. — « Hontem mo trouxe o sargeu-
to-mór dos Índios um presente, que ne-
cessariamente acceitamos, porque sentem
com excesso o contrario: era um euormo
aerobim, peixe de pelle branca e parda,
saboroso.» Biitpo do OrSo Pará, Memo-
rias, p;ig. \K-2.
— Sargento-Mí/yr de batalha; era im-
me liatii ao mestre de campu general.
— Sargento-»/('> iLt praça ; offieial mi-
litar (pie giiverna a trupa dep<-»is do go-
vernador.
— Sargento-nioV de brigada; o major
mais antigo dus que I14 cm uma brigada.
SARGETA, s. f. Diminutivo de Sarja.
(Icnero de tecido de lã de cordão tino.
Viil. Sargenta.
1.) SARGO, A, adj. — Uva sarga; cer-
ta espécie de uvas.
2.) SARGO, ». m. (Do latim mrgu*).
Termo de ichthyologia. Um p«ixe >Til-
gar.
SARIÇA, s. f. I^nça, ou jjique compri-
do dos rumanos a uso e co.itumu du8 ma-
eedoi)i(>s.
SARIDO, s. T/l. Termo antiquado, tíoi-
do, ru^áiío.
SARIGUE, s. »). Termo de hidtoria na-
tural. Animal mammifero da ordem doa
marsupiaes, cuja família teui sobre o
ventre uma espécie de bolsa, em que
traz os iilhos pequenos ; é chamado pelo
vulgo (/aiiibá.
SARÍGUEIA, «. /. Vid. Sarigué.
SARILHADO, part. pajís. de Sarilhar.
SARILHAR, V. a. Dobar em sariliio.
Vid. Serilhar.
— Sarilhar as armas. Vid. Sarilho.
SARILHO, s. m. Dobaduura em quo se
envolvem os tius das massarocas para fa-
zer as meladas.
— Pôr as artnas em sarilho ; pôr as
armas enfeixadas umas com outras, em
pé sobre iis coronhas, onde não ha des-
canços de madeira assentados como nos
corpos de guarda tixos, quaudo os solda-
dos descançam cm guarda movivel.
— Uma hastea atravessada em cruz
por outras, que serve de encosto daa ar-
mas nos acampamentos.
— Maehina que consta de uma peça
de pau cvlindiúca, atravessada horison-
talmente sobre dous pontos, com umas
barras ou raios em um dos extremos,
que a f:uem revolver sobre aeus fulcros,
e cnvulver em si a corda do peso, que se
levai; ta.
SARISSA, í. /. (Do latim sarista). Vid.
Sariça.
!.• SARJA, s. /. Abertura com lanceta
na carne para tirar sangue.
2.1 SARJA, *. ./". Tecido leve de seda,
ou là, como uma ospccie de trançado.
SARJAÇÂO, .s. /. Termo de cirurgia, O
acto <le sarjar; saria.
SARJADÓ, jniit. jiass. de Sarjar. Esca-
riticado.
— ]'tii/(>.<a sarjada; ventosa collocada
sobre sarjas com lanceta, para tirar san-
gue d'elliu;.
SARJADOR, s. m. Espécie de lanceta
com que SC sarj.a.
SARJADURA, a. /. Sarja, incisão.
SAKR
SART
SATÃ
413
SARJAR, f. a. Abrir sarjas a algaem,
escariticar.
— Figarada e popularmente : Tirar di-
nheiro a alguém.
SARMÃO, s. m. Termo de iclithyolo-
gia. Vid. Salmão.
SARMENTAGEAS, s. /, idur. Termo de
botânica. Fa.uilia de plantas, que tem
por tvpo a videira.
SARMENTICIO, A, aclj. De sarmento.
— tí. III. Figui-adameute : Alcunha da-
do aos primitivos christàos, porque amar-
rados a um madeiro, e Ctírcados de molhos
de vides, eram queimados os martjTes
em grande quantidade.
SARMENTO, s. jíí. (Do latim sanmn-
tumi. O renovo da vide e de outras plan-
tas que lançauí muita rama batida, como
a vide que não foi podada.
— Rama da vide secca para o fogo.
— Sarmentos ; caules lenhosos ou her-
báceos, de fulhas um tanto remotas, ge-
niculados, lançando raizes nas articula-
ções nodosas, como sào as da videií-a e
escalracbo.
SARMENTOSO, A, adj. (Do latim sar-
mentosus). Termo de botânica. Que deita
muitos sarmentos, fallando da vinha.
— Por extensão : Diz-se das plantas
cujos ramos longos e tlesiveis só podem
elevar-se com o auxilio de corpos visi-
nhos, nos quaes tomam o ponto de apoio.
— Haste sarmentosa.
SARNA, s. f. Doença que consiste em
nus gràosiuhos que vem á pelle, mui co-
michosos ; é contagiosa.
— Saraa castelhana ; as boubas, ou o
gallico.
— Loc. FiG. : Não IJie falta sarna pa-
ra coçar-se ; não lhe falta trabalho que o
inquiete.
SARNENTO, A, adj. Que tem sarna.
; SARNOSO, A, adj. Vid. Sarnento.
SARO. ViJ. Sardo.
7 SAROPODE, adj. 2 gen. Termo de
zoologia. Que tem as patas avelluuadas
e similaantes ás caudaá das aves.
SARPAR, V. n. Termo de marinha. Le-
vantar. — Sarpar a ancara.
SARRABAE3, s. m. pZur.= Significação
incerta.
SARRABULHADA, s. /. Grande quanti-
dade de sarrabulho.
— Figuradamente : Desordem porca,
por mal enteudida, ou mau intento.
SARRABULHO, s. m. Vid. Sarapatel.
SARRACENO, A, adj. e s. Povo origi-
nário da Arábia : mouro, musulmano. —
«Os naturaes saò descendentes de Ismael,
filho bastardo de Abrahà, e de Agar sua
escraua, se dizem Agarenos, e de Sara
que foy sua legitima molher, se chamào
Sarracenos ; e de Xabaoíh, primogénito
de Ismael, se chamou a Província Xaba-
thea, e de Sabo filho de Chus, e neto de
Chã, e bisneto de Xoè se chamou Sa-
bea.» Fr. Gaspar de S. Bernardino, Iti-
nerário da índia, cap. 10. — «Seu pay
Abdala foj filho de Hesim Gentio Idola-
tra, pela linha de Ismael filho de Abra-
ham; e sua mãy Emina filha de AbJel-
meaef ludeu de naçào, pela liuíia de Sar-
ra, e desta se chamarão Sarracenos, e de
Ismael, Ismaelitas, e de Agar sua màv
Agarenos, os quaes nomes forão depois
variando, segundo as terras que habita-
uào.s Ibidem, cap. 20.
— Trigo sarraceno ; trigo negro ou
mourisco.
SARRADO, A, adj. Cerrado, inteiro,
completo, e sem diminuição alguma. Vid.
Cerrado.
SARRAFAÇADOR, s. ííi. Homem que
sarrafaça.
SARRAFAÇADURA, s. /. A acção de
sarrafaçar.
SARRAFAÇAL, s. m. Termo popular.
Mau officiãl do officio de cortar, serrar ;
mau baibeiro. ttc.
SARRAFAÇAR, v. a. Sarjar, escariti-
car.
SARRAFAR, v. a. Vid. Sarrafaçar, e
Sarjar.
SARRAFO, s. f. Termo de carpiuteria.
Uma tira louga de tábpa; pedaço de tá-
boa, sen-ado ou cortado d'ella.
SARRALHAS, «. /. Vid. Serralha.
SARRALHEIRO, *•- m. Vid. Serralheiro.
SARRÃO, á. »i. Uma espécie de sacco
pequeno e grosseiro. Vid. Raza, e Ser-
rão.
SARRAR, V. a. Vid. Serrar, ou Cer-
rar.
SARRENTO, A, adj. Que tem sarro.
SARRIDO, s. J/i. A dificuldade em res-
pirar, que tem o peito serrado por doen-
ça ou atfiicçào.
SARRILHA, s. f. Vid. Serrilha.
SARRILHADO, pai-t. pass. de Sarrilhar.
Vid. Serrilhado.
SARRILHAR, v. a. Vid. Serrilhar.
SARRIM, s. m. Termo da Ásia. Panuo
tecido de uma herva de Bengala.
SARRO, s. m. As fezes do vinho ou da
urina, que se pegam no fundo do vaso.
— Sujo branco na lingua dos febrici-
tantes.
— Crosta suja nos dentes pouco lim-
pos.
SARRUGA, s. /. Vid. Saruga.
1.) SARTA, s. /. Enxárcia, cordoalha
do navio presa ás antennas.
2.) SARTA, s. f. Termo pouco em uso.
Cordão de cousas enfiadas; fio, enfiadu-
ra. — Sarta de figos.
SARTÃ, SARTÃA, ou SARTAM, s. /.
Frigideira, ou antes chapa de terro, com
pouca borda de frigir, assar peixe.
— Servia também para atormentar os
martyres. Vid. Sartem.
SÁRTAEM. Vid. Sartã.
SARTA GEM, s. /. Vid. Sartã.
SARTAL, *'. tii. Termo antiquado. Vid.
Sarta L').
SARTÃO. Vid. Sertão.
SARTEM. Vid. Pasta.
SARUGA, s. /. Barba, aresta, pragana
da espiga.
SAkZIR, V. a. Vid. Serzir.
SASÃO, V. a. Vid. Sazão.
SASSAFRAZ, s. m. Lenho aromático
melicinal da índia ou do Brazil. — «A
outros exhibia por hum mez hum escro-
pulo atae huma outava de pós epilépti-
cos de Gutteta de Riverio; e sempre a
agoa do uso cosida com pào sassafràz.»
Braz Luiz d'Abreu, Portugal medico, p.
302, § S2, Observ. 4.
SASSAR, V. n. (Do francez sasser). Pe-
neirar. — Sassar a farinha.
— Xo Brazil diz-se sessar.
SASSOLINA, s.f.. ou SASSOLINO, s. m.
Termo de cliimicií. Xome dado ao acido
bórico, e que se acha em dissolução nas
aguas de alguns lagos da Toscana, so-
bretudo em Sasso; serve para o fabrico
do bórax.
SASTRE, s. m. Termo antiquado. Vid.
Alfaiate.
SATAN, s. í/i. Vid. Satanás.
Assim blasphêma, om treva eterna o Arebanjo
Vencido já por Christo, quando as portas
Do r)rco alluio, coa Cruz, e aos Cco3 03 Justos
Subio. De olhar de Christo a luz, fugia
Pávida a inferna Turba — A Satan mesmo,
Nos Seios de seus Reinos, atterrado.
F. M. DO NASCIMENTO, OS MAEIYEES, 1ÍV. 8.
SATANÁS, s. m. Vid. Satanaz. — jE
nisto estão estes miseráveis tão cegos,
que muytas vezes deixão de comer, e
proverse do que lhes he necessário, por
terem que dar a estes sacerdotes de sa-
tanás, avendo esta veniaga por boa e
muyto segura.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 114.
SATANAZ, s. í/í. Xoiue que a Escriptu-
ra dá ordinariamente ao chefe dos anjos
rebeldes, tornado o espirito do mal.
E quem pode
Hum termo assignalar dalina aos dominios?
Incircumscripta força lhe descubro
Sc o Britannico Homero aos astros vôa
Sobre as azas de cântico Divino,
Quando do fundo pélago abrazado
Faz sahir Sataiiaz, e os gonzos quebra
Da grà porta do Abysmo, c opposto aos monstroa
Que o medonho vestíbulo guardarão.
J. A. DE ttACEDO, MEDITAÇÃO, Cant. 1.
— Termo de devoção. O reino de Sa-
tanaz ; o mundo em que vivemos.
— Os vassallos de Satanaz ; os habitan-
tes do inferno. — Um dia Satanaz, mo-
narclia dos infernos, fazia passar revista
aos seus vassallos.
— Os filhos de Satanaz ; os perversos,
os réprobos.
— Um Jilho de Satanaz; um homem
mau.
— Diz-se também: Orgullioso como Sa-
tanaz.
— Satanaz é também o typo da mal-
dade.
414
SATI
SATI
SATI
I SATÂNICO, A, iiilj. Que tem o cara-
cter do Sataiiiiz, o eluiCu e o poior doí
demonio-i. — Muldwle satânica.
SATELLITE, *. w. (I'ij latim mUllcs,
itis). Ti'iiiio (lo astronomia. l*lanotíi qiio
faz Hua rovoluyilo om volta do um outro
planeta maior, e o sog^ue na rcv()iu<;Jto
quo este faz om volta do sol. — Os sa-
tellites '/<3 Júpiter.
Seguindo n piza ao Fuiuliidor, ao Mostre
Dii Seioiícia Astroiioiniea, tíiii|)Uiiliaiido
Tou Telescópio o singular Uampani,
Do Saturno os .Sa/f//í/e.t descobre
Quasi todos ontào : busca aa Estrollaa,
Que iminortal Oaliloo primeiro achara,
(Luas do Jovc aio O fanal aos. N autua.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EITATICA, CaWt. 4.
Vcncc-to ao lonpc o fri<çido Saturno,
Em grandeza, em ncUelliti:^. om tudo
Tu és menor, quo Jove, inda (|ue Marte,
Mas os Astros, os Ccos te invejào todos.
IDGM, A NATCBKZA, Cant. 1.
Entumccc-se o mar, cresce nas praias.
Outra vez se contralie, dríi.xando as margens.
No salellHt nosso, argêntea Lua.
uunEU, cant. 3.
— Figuradamente : O satellite do de-
mónio ; homom perverso.
— Figuradamente : Os satellites da
fome; a raiva o o desespero.
— O guarda, que cerca, c acompanlia,
para segurança, para executar os man-
dados, 03 castigos que lhe mandam fa-
zer.
— Modernamente toma-se por esbirro,
beleguini, offieial inferior de justiça, bem
como por qualquer homem as.salariado,
que acompaniia quasi sempre a outrem
para acções más e criminosas, etc.
SATEPOZA, s. /. Estofo de algodão
bengalez.
SÀTHAN. Vid. Satan, Satanás, e Sata-
naz.
f SATHYRO, .0. m. Vid. Satyro. — tS.
Hieroiivnu) na vida de S. Paula affirma
auer Sathyros, e luuenal, o Aulo (íclio,
que ouue Pigmeos, que eriXo sò de dous
palmos, em cõprimonto, e no Supleiuen-
iu Oronicorum, nomea Diogo Phelippo
Bei'gomatJii, vinte duas maneiras de mõs-
truosidades; e pois taes, c tantos Autho-
res o affirmào, não hc bem quo eu o nc-
guo.» Fr. Gaspar de S. Bernardino, Iti-
nerário da ludia, cap. S.
SÁTIRA, ou SATYRA, s. m. (Do grego
6 latim satyrà). Poema censório dos cos-
tumes e defeitos públicos, ou de algum
particular ; ordinariamente faz-sc cm ver-
so, ou prosa e verso.
— Syx. : Satyra, invectiva. Vid. este
ultimo termo.
SATIRlAO, ou SATYRIÃO, s. m. (Do
latim s<1tl/)■illll^. 11 erva satvrio.
SATIRÍCAMENTE, adv. "De um modo
satirico.
— Com sátira.
satírico, a, (fij. l^ue diz respeito á
sátira. — IV;/.»* satíricos.
— Poeta satirico; «striptordc sátira».
— Sy.s'. : Satirico, f«i/*<ico. Vid. este
ultimo t>'niio.
SATIRI3AD0, pari. pans. de Satirisar.
SATIRISAR, ou SATYRISAR, V. a. Cen-
surar o.i costumes, e acções ile ulguem ;
uscjevi^r sátira contra elle.
SATIRISMO, s. í/l. Doença, priapismo.
Viii. Satyriasis.
SATIRU, ou SATYRO, s. m. (Do latim
satj/riiis). Termo de nivtiiologia. Monstro
ou semi-dcus entre os gentios, meio ho-
mem da cintura a cima, a baixo meio
cabra; os satyros oram companheiros de
Hacclio, mui kujcivos, o chocarreiros que
faziam mofa, e zombavam de quantos in-
divíduos encontravam.
— Figuradamente: Homem mal feito,
torpe.
SATISDAÇÃO, a. /. (Do latim salis-
datio). Termo de jurisprudência. Fiança,
ou eauçào.
SATISDAR, V. a. (Do latim satisdare).
Dar fiança, caução, pessoal ou real.
SATISFAÇÃO, s. f. (Do latim satisfa-
ctiu). A acção de satisfazer, pagar.
— Sentimento agradável que experi-
mentamos quando as cousas são a nosso
gosto. — A satisfação interior vale mais
que a reputação.
— Couteiitamento. — cPorque também
das outras satisfações, com que se mais
podia contentar, era já desesp^^rado, se-
gundo o que sentia na condição de quem
servia. O imperador desejoso de conhe-
cer o cavallciro, que desencantara a co-
pa, suspeitando quo podia Por Palmeirim,
quiz quo tirasse o elmo.» Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 93.
— « Liouarda quizcra que fora nuiito mais
fermosa do que dizem, pêra verdes se
basta isto a desbaratar minlia iò. Seu es-
tailo que seja grande, não é essa a satis-
fação, que meu desejo quer, e se ou va-
lesse com vos acabar com a senhora Po-
linarda, que me ouvisse, creria que al-
gum tanto desejáveis fazer-me mercê. Já
creio, disse Dramaciana, que vossa fir-
meza não se pi')de desbaratar com ne-
idiuma cousa.» Ibidem, cap. 05. — «E
inda que quiz onoobrir a Florendos a
paixão, que, quando é grande, S3 não
podo dissimular, deu azo a ser entendido,
do que se não espantou, por ser já cos-
tumado á aquellas satisfações.» Ibidem,
cap. lOS. — «Do mez do Junho do se-
guinte anuo, dia dos Apóstolos S. Petlro,
e S. Paulo entrou em Lisboa, onde se
lhe fez hum custosissimo recebimento, e
conipoz as cousas com gorai satisfação
do povo.» Fr. P.ornardo do Brito. Elo-
gios dos reis de Portugal, continuados
por D. José Barbosa. — «Por sua morte
ioy elevto João terceiro do nome, tílho
de Anastasio, homem nobilissimo, e dos
mais abalisados de Koma, que governou
a Igreja do Deos, com nmyta paz, e sa-
tisfação, cluze aiinos, onze meiteí, e vin-
te e sei.4 diaK.» Monarchia Lusitana, liv.
t), cap. 11. — iVini.a muis o Inquisidor
Antuniu de Barros, que na índia doze
annoH o fjra, de cujo procoíliinento, o
autlioridado, se teue muyta satisfação, u
poderá ser bom encarecimento deijta per-
dição, logo em este principio, contar a
conuers.1o da vida quo fez, dopoig de es-
capar com ella, se o contar, taes parti-
cularidades, não fora cousa alhea de mea
intento.» Fr. (ía^ipar de S. Bernardino,
Itinerário da índia, cap. 1. — «João (íon-
çalves Zarco, desciibridor da ilha da Ma-
deira em 1440, foi homeni valoroso e
sei-viu em Africa com grande satisfação,
sendo criado do snr. D. João l, e D.
Duarte, e muito acceito ao in£ante D.
Henrique.» Bi.spo do Crão Pará, Memo-
rias, publicadas por Camiilo Castello
Branco, pag. 72.
— Rejjaraçào de uma offensa que se
fez a alguém. — «Cumpre que em satis-
fação desta quebra vades comnosco, que
não sinto outra via, com que se olia me-
lhor cure. Parece-me, respondeu Floria-
no, que quereis sobre uma magoa outra
maior: contentai-vos do pouco quo fizes-
tes na contenda dos escudos, c não quei-
raes experimentar mais a fortuna, que
por ventura será cada vez poor. » Fran-
cisco de Moraes. Palmeirim dJnglaterra,
cap. 87. — «O irmrio do morto, que se
chamava Xircan, ficou t.ão escandalizado,
que logo cm seu animo tratou de sua sa-
tisfação ; e foi dissimulando com o nego-
cio o mais que jiode, até buscar occa-i
siào, que a fortuna nunca nega.» Diogo
de Couto, Década 4, liv. 10, cap. 3. —
«E o da Tartaria, como ja atrás fica
contiido, ordenara com parecer doa po-
vos, que para isso foraõ chamados a cor-
tes, que todos aquelles que por justiça
fossem condenados em pena do degredo,
fossem degradados para a fabrica daquel-
le muro, aos quais se daria mantimento
somente, sem el Rey lhes ficar por isso
obrigado a satisfação nenhuma, pois lhes
fora aquillo daflo em pena de seus deli-
ctos.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 108. — «E não se detendo
aquv mais que sós sete dias cm que aca-
bou de negocear satisfações e pagas de
soldos, e execuções de justiça em alguns
que trazia pregos, se embarcou aforrado,
como homem não muvto contento, e se
fov na via de Ivinçame sem levar maia
companhia que si'is cento e vinte laulees
de remo, em que podião yr até dex ou
doze mil homens.» Ibidem, cap. 123.
— O que se obriga a fazer para repa-
rar os peccados que se commettaram. —
• Xão lhe sev dar outra cuasam, senão
que por andarem as almas muyto toma-
das das paixões, de pretenções, o de af-
feições, lanção muyto mais a m.ão do que
nas pregações serue para satisfação d«
SATI
SATI
SATI
415
nossas magoas, que para remédio de nos-
sos males, e assi sempre a imagiaação
var ao que fere os outros, e nào ao que
cumpre a nós.» Paiva de Andrade, Ser-
mões, part. 1, pag. 71.
— Cumprimento, acto de satisfazer,
— «Pedindo os elmos pêra os enlazarem,
que do mais estavam apercebidos, dando
brados, que lhe mostrassem o campo on-
de a batalha havia de ser, pêra que a
detença da satisfação de ta33 palavras
não durasse tanto.» Francisco de Mo-
raes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 93.^
« O imperador, e Primaiiào, e os prínci-
pes de sua corte foram acompanhal-a uma
légua, e nunca pode acabar-se com Flo-
rendus, que deixasse ir Albayzar, que o
queria pêra testemunha de suas obras e
satisfação da vontade de iliraguarda.»
Ibidem, cap. 95. — «Que vontade tào
leal e fé tào approvada e serviços de
tanto tempo, não se haviam de pagar
com galardões tão incertos, e deixar-te
em satisfação do qu'^ mereces meus cui-
dados por paga.» Ibidem, cap. 115. —
«X'isto as fez cavalgar, e elle tomou um
dos cavallos dos vencidos que lhe melhor
pareceu, e deu o escudo a um dos escu-
deiros das donzellas, que cada uma leva-
va o seu; as tendas deixou aos cavallei-
ros vivos em satisfação do muito que
perderam.» Ibidem, cap. 116. — «Eísa
condição, respondeu o do Salvage, eu a
houvera de pedir primeiro, pois sou o que
n'isso recebo mercê, que sei que o impe-
rador o estimará em muito e haverá sua
casa por honrada; e em satisfação da que
me n'isso faz, dê-me vossa alteza a mão,
e beijar-lha-hei.» Ibidem, cap. 130.
— Syx. : Satisfação, contentamento.
Vid. este ultimo vocábulo.
Satisfação é o sentimento jucundo que
experimentamos quando se cumpre nosso
desejo ou nasso gosto; se este sentimento
é cabal e durável, se n'elle se aquieta a
alma, e judiciosamente o approva, esse é
o estado de contentamento. A satisfação
precede o contentamento, o qual é sua
consequência, ou seu complemento.
SATISFACTORIO, A, arJj. (Do latira
saf hf actor ius). Susceptível de satisfa-
zer.
— Termo de dogmática. Que é pró-
prio para reparar, e para expiar as fal-
tas commettida>; diz-se da morte de .Je-
sus Christo, e das obras de penitencia.
— A morte de Jesus Christo é satisfacto-
ria para t4}dos os homens.
— Papeis satisfactorios ; papeis que
faziam prova, e satisfação de pessoa, e
sua abonação.
SATISFAZER, V. a. (Do latim satisfa-
cere, de satis. e fac-ere). Pagar a divida,
obrigação, serviço. — «E quanto a lhe
tomar o traçado, elle estava empenhado
por outras dividas, que El-Rey de Or-
muz devia a Portuguezes, pelo que o
mandei pôr em mão do Feitor, até ElRey
mandar satisfazer as dividas.» Diogo de
Couto, Década 4, liv. 6, cap. 8.
Morto o triste milhano á terra deco
CoQi grào louvor do destro e forte Mouro,
A tristeza dElRei desapparece
Que por livre se tem do mão agouro :
Ao Tártaro hoara muito, e favorece,
Cuida que be pouco a prata, mcuos o ouro
Para satisfazer bastantemente
Hum serviço tào bom, tào diligente.
F. DE AXDBADE, PRIJTEiaO CEECO DE DIU, Cant.
5, est. 19.
— Cmnprir, encher as obrigações, pro-
messas, ordens do superior. — « Onde,
depois de passarem alguns dias, veio ter
um cavalleiro mancebo bem disposto e
gentil homem, cujas qualidades me pare-
ceram de tamanho merecimento, que de-
sejei casar com elle, crendo que alli sa-
tisfazia o mandado de meu pai, e a mim
dava marido igual á minha qualidade e
pessoa.» Francisco de Moraes, Palmeirim
d'Inglaterra, cap. 102. — « Ó destruidor
de meu sangue ante ti tens o maior imi-
go do mundo; trabalha polo destruíres,
que se té isto não vai, no teu espero ba-
nhar estas mãos, e satisfazer a vontade,
que com ai a não posso fazer contente. »
Ibidem, cap. 107.
— Satisfazer a fome; fartar.
A io Scithia, vio Samarcin povoadas
De Tártaros erueis, que auorrecendo
O cultiuar as terras, satisfa-em
A fome só com sangue de caualos.
CORTE BEAL, NAUFRÁGIO DE SEPtJLVEDA, Cant. 2.
— Contentar, dar causa de contenta-
mento. — «A todos pareceram bem as
palavras da donzella, que isto tem as
obras da descrição satisfazerem aos dis-
cretos, e não parecer mal ao? que não
sào.i Francisco de ]\Ioraes, Palmeirim
d'Inglaterra, cap. 101. — «Miraguarda,
que havia muitos dias que não via justa
nem batalha no seu castello, as de então
lhe trouxeram á memoria as cousas pas-
sadas, e não pêra satisfazer ao mereci-
mento de ninguém.» Ibidem, cap. 109.
— «Ao cavalleiro do Tigre inda que ne-
nhuma cousa lhe fizesse contente, lhe pa-
receram bem estas razões, e ficou algum
tanto satisfeito. Aquelle dia durou a tor-
menta, e ao outro abrandou de todo, pola
qual razão o cavalleiro do Tigre deixou
a galé, satisfazendo ao patrão, que sua
tenção não era caminhar mais n'ella ; an-
tes fretando um navio dos que estavam
no porto; se foi n'elle não querendo ir
no que ia Daliarte, porque um nào es-
torvasse a aventura do outro.» Ibidem,
cap. 115. — «O cavalleiro do Tigi-e lhe
satisfez com palavras, de que Satiafor fi-
cou contente, e de que depois nasceram
obras muito verdadeiras. Logo se deter-
minaram partir, deixando Daliarte por
alguns dias naquella terra. i Ibidem, cap.
120. — -«Peço-vos me deis licença, que
com Ahnourol, pois está armado, corra
outro par de lanças para satisfazer estas
senhoras que comigo vem, e se então
quizerdes ver mais de minhas obras, nel-
Ic vol-as mostrarei.» Ibidem, cap. 127.
— «Aos quais fazia sempre grandes es-
mollas, pelo que nos afiirmavão em ver-
dade, e juravaõ por sua ley que nos naõ
avia de fazer nenhum mal, as quais con-
solaçoens, inda que nas mostras de fora
nos parecerão algum tanto piadosas, com
tudo naõ nos satisfizeraõ nada, porque
ja a este tempo estávamos tão desconfia-
dos da vida, que ainda que nola.s disse-
raõ pessoas de que tivéramos muyta con-
fiança, piadosamente lho crêramos, quan-
to mais Gentios crueys, e tyrannos, e
sem ley nem conhecimento de Deos. »
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações, ca-
pitulo 138.
— Satisfazer os ódios; fartar, saciar.
— «. Porém teve Affonso d'Alboquerque
tanta prudência em os saber contentar,
soldando entre elles ódios das guerras
passadas, que os satisfez ; e finalmente
D. Garcia vendo-se em Cranganor com
o Principe Xaubeadarij, e com o Senhor
de Chálle chamado Cheneachena Coripa,
e dous 3Iouros per nome Xambear, e Po-
caracem grandes nossos amigos, todos as-
sentaram esta paz per capitulações.» Bar-
ros, Década 2, liv. 7, cap. 6.
— Encher as medidas do desejo, ou
gosto. — «Ainda que a saudade d'aquel-
la partida e viagem ninguém a sentia no
extremo, em que ella se podia sentir, se-
não o cavalleiro do Tigre, que os outros
lá mandavam cartas e recados, com que
algum tanto satisfaziam seu desejo; mas
quem de si não fiava seu segredo, como
o descobriria a outrem pêra descançar
com isso.» Francisco de Moraes, Palmei-
rim dlnglaterra, cap. 119. — «Hum del-
les veyo a tomar tanta amizade comigo
em aquelles poucos dias, que nella con-
fiado, me perguntou se queria ir ver hum
Pagode seu ; aceytey o comprimento, assi
por lhe fazer a vontade, como por satis-
fazer a minha, por me jiarecer veria nel-
le, cousas que sabidas dos Christàos co-
nheceriam melhor por ellas, a quantos
que o nam saõ, trás o Demónio abatuma-
dos seus entendimentos, e captiuas suas
vontades.» Fr. Gaspar de S. Bernardi-
no, Itinerário da índia, cap. 12. — «D.
Jorge de Castro estimou muito aquella
embaixada, e ordenou logo de satisfazer
àquelle Rev, mandando com os Embai-
xadores dous Frades de S. Francisco, e
com elles o Capitão Francez com doze
soldados, e lhes deu por regimento «que
«fossem por via de Negumbo, por se des-
«viarem das terras do Madune.» Diogo
de Couto, Década 6, liv. 8, cap. 6. —
« Porem naõ satisfas a alguns esta rezo-
luçaõ; porque se o humor biliozo envia-
do de huma para outra parte pode ser
416
SATI
SATI
SATI
percnne, o diuturno, o nossa tal parte
excitar hum affofto «vnipatico porinunon-
te, por Bcr e^sa mcíiiiia |)artc 'Jistincta ila
niamlantu.» Braz Luiz (i'Abrou, Portu-
gal medico, pag. 169, § 5:3.
— Dar boa solur.to ou resposta á per-
gunta, ou oliiceçilo. — «f)ceorrc<) A jiraia
grainid parto do povo, sollicito a peigun-
tar pídos filliofl, parentes, c amigos, c os
menos emijonliados, pelo foinnunn do Es-
tado. O ('apitilo foi lovado aos Paços do
Governador, satisfazendo pelo caminho
a duplicadas, e molestas perguntas.» .Ja-
cintho Freire do Andrade, Vida de D.
João de Castro, liv. 2. — «(Joncluida a
expliear.ã'^, tomou Vieira vénia par.i im-
pugnar. Impe liu-o Nunes, tiraiido-o para
fi'ira, nJto sem alguma violência, satisfa-
zendo ao queixoso Vieira com o seguinte
dilemma.n Bispo do Grào Pará, Memo-
rias, publicadas por Camiilo Castello
Branco, pag. 161.
— Reparar. — Satisfazer o rlamno, a
injuria. — «t JA sei, disse elle, que pêra
terdes mais do que vos contentar de vos-
sas victorias, quereis que passe todos es-
tos temores. Ora olhai jKir vós, que pode
ser que som c^sc favor, de que quereis
que me aproveite, satisfaça todos os ma-
les, que fizestes.» Francisco de Moraes,
Palmeirim d'Inglaterra, cap. 139.
— Satisfazer j>i'la culpa; satisfazer
com p 'uitimiias, obras meritórias.
— Satisfazer um atjgravo ; vingar.
— Satisfazer a hibricidade. — « Falo
de Messalina, cuja lubricidade foi tào
grande, que ella mesma não tinha forças
])ara a satisfazer. » Cavalleiro d'01iveira,
Cartas, liv. 1, n.° 30.
— Pagar. — « Eu tenho cumprido o
que fiquei, agora, vós senhora, vede o
que ordenaes de mim. Grande foi o alvo-
roço que se fez com Albayzar que era
mui conhecido naquella casa. O impera-
dor ficou descançado, que estava reeeioso
de lho acontecer algum desastre, o que
n?!o quizera por nenhum preço, que de-
sejava satisfazer Targiana o muito que
lhe devia.» Francisco de Moraes, Palmei-
rim d'Inglaterra, cap. 131. — «E pois
nestes dias d'agora nSo tenho de meu
cousa, em que me possais ver esta von-
tade, peço-vos que por penhor delia aecei-
teis de mim esta ilha, que 6 a cousa desta
vida, que com maior risco de minha pes-
soa o despeza do meu sangue ganhei :
nisto haverei que satisfaço meu traba-
lho.» Ibidem, cap. 120.
— Compensar.
— Satisfazer das penas do amor; con-
tentar com ellas.
Como ja asjova não te satísfazfn
Das penas deste amor, que por q«ercr-tc,
Be teu merecimento são capazes ?
Pois quem com outro nicrito ronder-te
Presume, (oli rai-o monstro de belleza!)
Muito mais longe cstA de mereccr-tc.
CAliÕES, KI.EO(A S.
— Satisfazer-se, v. re.fi. Fartar-so, to-
mar bastante.
— Pagar-se, indemnisar-so.
— Ter satisfaçilo, contentar-80.
Dcgto coração vosio a fortaleza
Ficará por iiiiiiiubil forf nutro,
1'icarA por rxcmplo do, tirinczn.
Não desmaycis senhor, estai nepiiro,
t^iio o m(!u conteiitamentíj a«»i impedido:
>S'e satiafaz co |;osto, e bom futuro.
CORTE BEAL, NAUFItAOIO DE SErULVEDA , CflUt. 2.
— <í A do;ia ou donzella, que o fez cn-
geitar tamanha cousa como foi o casa-
mento de Lioiíarda, iiSo sei que lhe fique
pcra lh'o poder pagar; ainda que os co-
raçõos namorados com pouco se satisfa-
zem.» Francisco de ^loraes, Palmeirim
d'Inglaterra, cap. I<»4.
15cm como quo rac falava.
Isto quo se satisfaz,
Olha o fim que o esperara,
E eu de suspenso parava,
Lançando os olhos atraz.
r. IIODBIGUES IX>B0, RCL0GA8.
— «o segundo, feruor affcctuoso. O
terceiro, deleitação, ou suauidade. U
quarto, desejo ardcntissinio de possuir as
cousas diuinas, fartura cabal, porque as-
sim se satisfaz a alma com a diuina jire-
sença, que nenhuma outra cousa quer,
nem deseja.» Fr. Hartliolomeu dos Mar-
tyres. Compendio de espiritual doutrina,
cap. 15.
— Preencher-se. — « Todos os referi-
dos gostos se podem satisfazer a pouco
custo, porem o seguinte he verdadeira-
mente gosto de Princesa, e de grande
gasto.» Cavalleiro d'Uliveira, Cartas, liv.
1, n." 16.
— Vingai--se. — «Em cuja pessoa es-
pero tomar vingança tào crua e áspera,
que nella se possa satisfazer alguma pe-
quena parte de minha gram dôr, e pêra
isto, deoscs, de vós outros não qnero ou-
tro favor nem ajuda, senão raostrardes-
m'o, que pêra o mais nem vol-a peço nera
ma deis, pois o vosso poder ó falso : só
na confiança das minhas forças ponho
toda a esperança, qne de vós nenhuma
me fica.» Francisco de Moraes, Palmei-
rim dTnglaterra, cap. 107. — « E além
d"isso, deixadas as armas, vos haveis de
entregar a ella, pêra quo se satisfaça
d'um aggiavo ou desserviços que lho fi-
zestes.» Ibidem, cap. 130. — « Estes fa-
zem também petições e cíirtas, e dão con-
selhos como procuradores, e outras consas
a este modo com qne também ganhão
niuvto bem sua vida. Ha outros que pelo
mesmo moio vem numas embarcações
muyto ligeiras, e com liomcus armados
apregoando em altas vozes, quo quem se
quiser satisfazer de quem o afròtou ou
injiirion qne venha aly fallar cõ clles, e
será logo restituydo em Bua honra. • Fer-
não McndeA Pinto, Peregrinações, capi-
tulo 90.
SATISFAZIMENTO, «. m. Termo anti-
qua !o. S.it t.içn.i, cumprimento.
SATISFEITO, part. p.i^t. de Satisfazer.
Çont';i.te. — • Auderram<;tte, corrido de
tal desastre, se levantou em yli. c arran-
cando da espada, disse: Cavalleiro, já
vejo que da justa estareis satisfeito, mau
esta minha esjiada fará taes obroA, qne
se emende tudo ; por isso de»cei-voB se
não quereis quo mate o cavallo, e fare-
mos nossa batalha a pó.» Francisco de
Mora-s, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 80.
— € Poios me-itres foi certificado, que aa
feridas não eram de jiorigo, de que o cm-
liaixador e sua corte ficaram tão satisfei-
tos, como Albayzar descontente.» Ibi-
dem, cap. 94. — « Satisfeita e contente
ficou a donzella com estas palavras, e ao
imperador pesou ouvil-as, que a Palmei-
rim queria maior bem, e tinha mais affei-
ção que a nenhum de seus netos. Dalli
se foi d imperatriz, a que também pesou.»
Ibidem, cap. 95. — « E porque de todo
nào estava satisfeita pola perda de sua
filha, pêra que o prazer fo<5e acabado,
não tardou muito que a viram vir acom-
panhada de cinco cavalleiros, que a tra-
ziam do ca.stelIo d'nnia sna tia, onde fora
ter, que d'alli quatro léguas estava.» Ibi-
dem, cap. 10.5. — « r>'alli assentou em
sua vontade casal-o com Lionarda, por-
que parecia que do tal ajunfamcnto o me-
recimento dambos ficaria satisfeito. IV
linarda pediu por hospeda a princeza, e
o foi todo o tempo, que na cGrte esteve :
e tanto se amaram d'alli por diante, que
nenhum segredo havia em uma, quo não
communicasse com a outra.» Ibidem, ca-
pitulo 112. — < Chegando ao paço, a im-
peratriz, com Gridonia e sua neta Poli-
narda, vieram receber Lirtnarda h pri-
meira casa de seu apousentamento, tra-
tando-a com igual cortezia, mon.^trandiv
lhe todo o amor c gasalhado que pfdiam,
de que Lionarda ficou assas satisfeita,
parecendo-lhe que quem noa principios lhe
fazia tamanha ceremonia, seria pêra ao
longe a honrar de todo.» Ibidem. — « Sa-
tiafor, ainda que desta troca não fosse
satisfeito, dissimulou sua vontade, j>or
não criar ódio no novo senhor; e com
esta dissimulação de sua pena lhe deu
logo a obediência, pedindo porem ao ca-
valleiro do Tigre, que d'ahi p<ir diante o
nào tratasse por vassallo estranho, nem
se esquecesse delle.» Ibidem, cap. 120.
— «O cavalleiro do Salv.-íge se despediu,
deixando Dnigonalti^ em todo seu con-
tentamento e a rainha satisfeita com a
promessa de a levarem ú còrte do impe-
rador.» Ibidem, cap. 130. — « Tanto que
o Camorij teue este presente o os seus
oflííciaes foraõ satisfeitos segnmlo o con-
selho de Monçai le, foi Vasco da Gamma
leuado ante elle : ao qual recebeo jà com
SATI
SATU
SATY
417
mães honra em outra casa.» JoSo de Bar-
ros, Secada 1, liv. 4, cap. 8. — «Com
isto ficou António de Faria algum tanto
mais quieto, e lhe disse que fosse muyto
embora por onde lhe parecesse milhor, e
que da murmuração dos soldados de que
se queixava lhe não desse nada, porque
de gente ociosa era emendar vidas alhevas,
e nào olhar pela sua; mas que elles se
refrearião cialy por diante, ou os castiga-
ria muvto bem, de que o Similau então
se deu por satisfeito.» Fernão Mendes
Pinto, Peregrinações, cap. 71. — «Ao
que nós lhe dissemos que tudo era verda-
de quanto lhe tínhamos dito sem falta ne-
nhuma, cõ que ellc ficou satisfeito, e nos
disse ja que sev que sois os que dizeis,
vinde comigo, e não ajais medo, porque
eu vos segui-o em min:ia verdade.» Ibi-
dem, cap. 82. — « E mandaudonos vir
de comer, nos mãdou assent ;r junto de
sy, e nos fez outras muytas horas ao seu
custume, de que algum tanto ficamos sa-
tisfeitos, mas bem arreeeosos dos desas-
tres da fortuna, se por nossos peccados o
negocio não socedesse conforme á espe-
rança que o Mitaquer ja tinha cõeebida.»
Ibidem, cap. 119. — «No que em tudo
se achara com mui ta, e boa gente de pe,
e de cauallo paga a sua custa, lhe fez
mercê de dez mil cruzados pagos na casa
da contratação da índia, e lhe fez depois
outras mercês de que se teue per satis-
feito.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 4, cap. 31 . — « E assi ouue
o Príncipe de Jlartim de Sepulueda fi-
dalgo castelhan a fortaleza de Noudalan,
que estaua, e era tomada dos Castelha-
nos. E lhe fez por isso em Portugal mer-
cê, de que elle foy muyto contente e sa-
tisfeito.» Tiareia de Rezende, Chronica
de D. João II, cap. 16. — « De que to-
dos forão muy satisfeytos, e ouuerão in-
ueja de tão bem feit-a cousa por ser em
tal dia, e por amor de nosso Senhor lesu
Christo, que tantas cousas nos perdoa
cada ora.» Ibidem, cap. 102. — «Se o
naõ haveis por mais, dou-vos duas Co-
mendas, e que sejaõ embora as mais gros-
sas do Mestrado do Christo; e faço-vos
Fidalgo nos livros dei Rey, para que com
honra e proveito fiqueis mais satisfeito.»
Arte de furtar, cap. 70. — « Que não fi-
zera eu quando contente de ti, se trans-
portada de amor, agora mesmo que mais
motivos tenho de queisar-me... Mas tu
me conheces bem; satisfeita me viste, e
viste descontente; agradecida, e queixo-
sa e sempre entre iras. ou agradecimeu-
tos extremosa Amante. E não te dá emu-
lação carácter que é tão de appetecer nas
Damas?» Francisco Manoel do Nascimen-
to. Successos de madame de Seueterre.
E soberbo de si, nào satisfeito,
A seu profundo, altivo pensamento,
Da tocha da Razão seguindo o lume.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cailt. 1.
voL. V. — 53.
SATIVO, A, aàj. (Do latim sativiis).
Que se semeia. — Plantas sativas.
SATO, í. í)i. Espécie de cobra boi.
SATRAPA, s. f. (Do latim satrapes).
Titulo dos governadores da provinda nos
antigos persas.
— Figuradamente : O grande, o nobre
do reino. — «Os Grandes, e Satrapas
do Reino se partião em pareceres diíFe-
rentes ; huns ajuizavão já por fataes as
armas Portuguezas em damuo de Cam-
bava, argumentando com o primeiro cer-
co, do qual ainda tinhão as feridas, e a
memoria fresca: e ainda que os estimu-
lava a morte de Badur, com a paciência
de outros oíFendidos, desculpavão a sua.»
Jacintho Freire d'Andi-ade, Vida de D.
João de Castro, liv. 2.
SATRAPEAR, v. n. Fazer de satrapa.
— Dar ares de grande do reino.
SATRAPIA, s, f. (Do latim satrapia,
de satrapes). Governo de um satrapa. —
A satrapia de Babylvnia, que era a mais
opjuJenta de todas.
SATRAPISMO, s. m. O mando, sober-
ba, are? senhoris dos satrapas.
SATURABILIDADE, s. f. Termo de chi-
mica. Qualidade do que é saturavel. —
As leis da saturabilidade.
SATURAÇÃO, s. /. Termo de chimica.
O termo onde as affinidades reciprocas
dos dous princípios de um corpo binário
sendo satisfeitas, algum dos dous princí-
pios não é mais susceptível de se unir
com uma nova quantidade d'outra. — A
saturação dos alcalis pelos ácidos. ■ — ■
Quando se satitra o acido arsénico de
magnesia, fórma-se uma matéria espessa
no ponto de saturação.
— Diz-se também d'um liquido que
não pôde dissolver uma quantidade mais
considerável de uma substancia solúvel ;
de um gaz que não pôde receber uma
maior quantidade de vapor. — A satu-
ração da agua pelo assucar. — A satu-
ração do ar pela humidade.
— Ponto de saturação ; quantidade de
humidade que o ar peide dissolver a uma
temperatura dada.
— Em phvsica : Magnetisar á satura-
ção um pedaço d'aço; dar-lhe o mais ele-
vado grau possível de magnetisação.
t SATURADO, pari. pffss. de Saturar.
Termo de chimica. Diz-se que um corpo
é saturado d'um outro, quando é combi-
nado com toda a quantidade possível
d'este.
— • Agua de cal saturada ; agua em que
se deita a quantidade de cal viva, que
ella pôde dissolver.
— Ar saturado de humidade; ar que
não pôde receber d'ella vantagem.
— Figuradamente : Estar saturado de
uma cousa; estar saciado d'ella.
t SATURADOR, s. m. Termo de chimi-
ca. Apparelho para saturar uma agua de
acido carbónico.
SATURAGEM, s. f. Segurelha, herva.
f SATURANTE, imrt. act. de Saturar.
Que tem a propriede de saturar, de ab-
sorver.
SATURAR, r. a. (Do latim saturare).
Termo de chimica. Produzir a saturação
entre duas substancias. — ■ Saturar um
acido, ura alcali.
— Saturar a agua de sal; deítar-Ihe
sal ati'> ella o não desfazer, ou delir.
SATURAVEL, adj. 2 gen. Termo de
chimica. Que é susceptível de saturação.
SATURNAL, adj. 2 gen. (Do latim sa-
turnalis). Pertencente a Saturno, que lhe
dizia respeito.
SATURNINO, A, adj. De Saturno.
— De chumbo.
— Figuradamente : Triste, hypochon-
di-ico, melancólico.
SATURNIO, A, adj. De Saturno, deus
da fal:)ula.
— Saturnio Juno; Juno, filho de Sa-
turno.
f SATURNITE, s. /. Termo de minera-
logia. Variedade de chumbo sidfurado.
SATURNO, s. m. (Do latim Saturnus).
Termo de religião dos latinos. Um dos
grandes deuses que precedeu Júpiter;
ei-a filho de Urano ou do Ceu.
— Toma-se algumas vezes pelo Tempo.
— Termo de astronomia. Um dos pla-
netas do systema solar, cuja revolução se
faz em 29 annos e meio, cuja rotação se
faz em dez horas e meia, e que está a
146 milhões de myriametros do sol.
Inda além delle vagaroso, e frio
Vai do antigo Satur/io o frôxo raio.
Immoveis pontos, trémulas Estrcllas
Xo cristalino assento immoveis brilhão
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 3,
— Em astrologia, Saturno é um pla-
neta fixo, malfazejo, inimigo da natureza
do homem, e das outras creaturas.
— Termo antigo de chimica. O chum-
bo.
— Sal de Saturno, assucar de Satur-
no ; antigos nomes do acetato neutro de
chumbo.
SATYRA, s. /. Vid. Sátira.
SATYRIASIS* s. f. (Do grego satyria-
sis). Termo de medicina. Estado de exal-
tação mórbida das funcções genitaes, ca-
racterisada por uma inclinação irresistí-
vel a repetir o acto venéreo, com a facul-
de de o exercitar sem se esgotar.
SATYRIASMO, s. m. Termo de medici-
na. Doença dos rins, proveniente da lu-
bricidade.
f SATYRICO, A, adj. Vid. Satírico.
— «Aos misteres de gracejador, golíardo
e trovísta satyrico Alie ajunctaria por
gratidão o de espia.» Alexandre Hercu-
lano, Monge de Cister, cap. 120.
SATYRIO, s. m. Termo de botânica.
Planta que exhala um cheiro a bode
mui desagradável, e cujas raízes tuber-
cxdosas tem semelhança com um scroto.
418
SAUD
ÍAUD
SAUD
SATYRO, «. "1. Vid. Sátiro.
Doixii .a(|ucllii
O rico fio, com que urdia a tfrllii ;
Iluma deiía du «aí.yro o i|uiji.\uiiic,
Outra d(; ver os |>i!Íx<!íí cm cardiimi!,
Como saltão na reJu ao» [HMcadorcrt ;
E ora chflian dt; iiivoja, ora du amores,
Eat&o diíbaixo d'af;ua a luima o Imma
Levantando as cabulas «obro a uiípiíuia.
J. X. BE MATTOS, BIMAS, pUg. 220.
SAUCO, s. m. Parte do casco da bosta
entro a tapa, o a ])aliiia.
SAUDAÇÃO, ». /. (1^0 latlin sawlatio).
A acçilo de saudar.
— A saudação amjtUca; a oi-açào da
Avc-Maria.
SAUDADE, s. /. A ma^ua que produz
em nóá a auscucia da cousa amada, com
o intento de a ter presente, c de a tor-
nar a vôr.
Ma» tornemos a jogar.
Porque touho taiidade
De tn ouvir arrenegar,
E descrer c brasfemar
Do mistério da Trindade.
GIL VICENTE, AUTO DA DABCA DO riR-
OATORIO.
Juro-vos cjuc de saudade
Tanto de pão não comia
A triste do mi cada dia.
Doente, era luima piedade.
Ja carne nunca a comi :
Esta camisa que trago
Em vossa dita a vesti.
Porque vinha bom mandado.
IDEM, FABÇAS.
Oh Senhora
Como sei que estais agora
Sem saber minha saudade!
Oh senhora matadora.
Meu corii(;ào vos adora
Do voutade.
— d Desde quo jaso nesta terra, foram
tão damninhas as saudades (jue se em-
poleiraram cm mim quo não ha ponto
cm meu coraçllo onde cilas não espara-
vatassem. E, como me tomaram em os-
so, fizeram taes mataduras em meu con-
tentamento, que só vossa vista, como al-
veitar de meu desejo, poderá cural-as.»
Ferniio Rodrigues Lobo Soropita, Poe-
sias e prosas inéditas, pap. 9. — «Sau-
dades ao lonjje c conversarão ao porto
sào as mciliores guarnições que amor
tem nas suas fortalezas.» Ibidem, pag.
37. — «Muitas saudados, depois da glo-
ria, bom merecem muita gloria depois
das saudades.» Ibidem. — (.^liegat. Quan-
tas cartas vos mandei, e que saudades
iam nellas, creio que volas nJlo ilcram.
— Moqo. Nunca vi uonbuma, dcsejan-
do-as como a vida.» Francisco de Mo-
raes, Dialogo 3. — «Trazendo á memo-
ria mil couteutameutos, quo com oUe
pausara, o vertendo muitas lagrimas pola
pena quo Uie esta lembrança dava, oc-
cupava tanto n'iii.so o Mentido, que algu-
mas vezes penlia o tempo de comer, es-
tando tão elevada na contemplação des-
ta saudade, quo tudo o ai lhe es(|ue-
cia.» Idem, Palmeirim d'Inglaterra, aip.
■i. — f 1'asrtadod il<-/, dias ro dciípediu
delia o d'ol-rei, deixando Silviana, quo
na corto ora conhecida com Artisia e
suas companheiras, que o n.^o quizo-
ram mais acompanhar; mas ao tempo
do apartar, a lembrança do quo perde-
ram trouxe alguma saudade, que fez o
despedimento com lagrimas. » Ibidem,
cap. 12Í). — «A mão direyta desta Cida-
de, fica a Sancta de llierusalem, com
toda a mais terra de Imlea. Mas porque
esta ticíi na Ásia, tornado ao KL'y]itõ
(que saudades da terra de Proinis.são me
leuarào agora a ella). Passado elle, vay
correndo ao longo do mar Mediterrâneo
a Kegiam Barbarica, quasi toda deserta
em particular até Tripoli Barbarico. »
Fr. (i aspar de 8. Bernardino, Itinerário
da índia, Ciap. 7.
K posto, fpu' lembrar-me possa a historia
Do nosso amor por força da saudade,
Hão de os aggra\03 confundir a gloria.
J. X. DE MATTOS, RIMAS, pag- 33.
Alestrc, já tinha saudmle
d 'este vir ;
mas não podo o céo mentir,
basta sor céo, sor verdade
c tèl-a pêra a comprir.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pag. '2i.
— a Dons annos passei arredada de Pa-
ris, d'ondo só mo crescião saudades cm
quanto a meu Irmão e sua Esposa, que
ainda assim tivérào a bondade de vir
passíU" conngo o tempo que meu marido
militou.» Francisco Jlanoel do Naseimcn-
to, Successos de madame de Seneterre.
Campo no oriente a grandes feitos se abre.
Volta com nome tal que tudo vença.
Ku ^nverci de lagrymas... — Embora.
Mattar-me-hão saudades... — Não, não hãodo.
GARRETT, CAMÕES, CHOt. -1, Cap. 4.
Alli 9Ó com meus tristes pensamentos
Livro ao menos dos homens, só commigo,
Co'as lembranças da pátria, co'a3 saudades
Que lá me tinham coração o vida.
Se não vivi fclix, siquer tranquillo.
iniDEU, cap. 13.
Ai ! sècca jaz em torra, o deapojada
Do viço e folhas a árvore querida.
Tudo, tudo acabou, menos a mágoa,
Nfonbs a saudade que o consummo.
IBIDEM, oant. 10, cap. 13.
— Dar saudades ; exprimir a saudade
de quem ti ca, a quem manda dar sauda-
des.
— Fazer saudades ; olhando para on-
de está a cousa quo lí» faz, cantando, ou
dando outrcM KÍgnu<:^4 das quo padecemos.
— i Entrando no de Navarra, ao »egun-
do dia, que caminharam, furam ter a um
vallo gracioso e grande : pelo moio cor-
ria uni rio de muita agoa, coberto d 'ar-
voredos de diversas maneirax, couna qne
a Florendofl fez saudade, quo Ilie trouxe
á memoria a mansidão das a;;oaH do Te-
jo c castollo d'Almour<>l. • Francisco do
Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 102.
E a mi faz-mo saiulade
minha ca4a, que metade
de mi podreço já aqui.
AXTo.tio rsKsrEB, Auros, pag. .^õ.
— Fazer saudades ; c-iusal-as. — t Um
levava o escudo <lo vulto <le Miragoarda
envolto em uma funda de seda, e outro
o seu ; um do.s escudeiros d'Alba_vzar o
de Targiana, que Florendos o consentiu,
por lho fazer a vontade em alguma cou-
sa. ÍJram saudade fez na cÍTte a partida
de Florendos aos cavallciroa que neila
ficavam, qne sua conversaçSo era dina
d'isso.» Francisco de Moraes, Palmeirim
d'Inglaterra, cap. 05.
— Impor silencio ds saudades ; fazel-as
desapparecer. — cMadama qaanto me
lastimara eu agora de me ver separada
de vi!>8, se não imposéra silencio á;* mi-
nhas saudades, a dita que e»táoé gozan-
do? Nunca Suzanna careceo tanto doa
vossos conselhos e vossas consolações. Fe-
nece© M. Depréval. Terrível aconteci-
mento me arrebatou um Esposo que me
cumpria que amasse, pois que quanto nel-
le era, contribuía para a minha felicida-
de.» Francisco Manoel do Nascimento,
Successos de madame de Seneterre.
— Carpir saudades ; arrancal-as.
Com a trémula mão tonteia as chordas
D'aquoUa I\Ta onde troou a plíria.
Onde gemou amor, carpiu Mxudndf.
E a pátria... Oh! e quo pátria os ecos lhe deram !
GARRETT, TAMÔES, C4\nt. 10, Cap. 15.
^ — Despe Jir-st de algvem c<mi muitas
saudades ; de>pedir-se, custando-lhe mui-
to a separação e lamentando-a. — «Os
treze per conselho do piloto, conc«rtaraõ
o bate!, e com licença dei Rei, quo os
despodio de si com muita saudade, se fe-
zeram a vela caminho de Moçambique.»
Damião de Goos, Chronica de D. Manoel,
part. 2, cap. *?1.
— Saudade bruvu
Matastí" a quem a vio ? Já morto pstava.
Que dis<.'orre o Amor? Fallar não ous.t.
E quem o (ar. ciliar? Minha vont-ide.
Na Corte que ficou? SaudivU brava.
Que fic-1 lá que vêr? Nenhuma oou*.t.
Que gloria lhe faltou? Esta beldade.
CAM., sosEios, n.o 83.
SAUD
SAUD
SAUD
419
— Termo de botânica. Flor rosa ou
vermelha salpicada de branco.
A noite de ventos muda
como saudade escolha
e porque mais prazer colha,
chovia agoa miúda
por cima da verde folha.
D. JOAXXA DA GAMA, DITOS DA FREIRA,
pag. 8.
— Saudades perpetuas ; flor que é cul-
tivada nos jardins, e nasce espontanea-
mente.
— Saudades, ou suspiros brancos do
monte; planta perenne.
— Adágios e provérbios :
— Bom é largar saudades quando o
tempo desengana.
— Saudade é íxaeo remédio, mas é do-
ce engano.
— As saudades são filhas do amor, e
enteadas do engano.
— Se saudades matassem, muita gente
morreria.
— Saudades sào seccuras, meu amor dá
cá a borracha.
SAUDADO, part. pass, de Saudar.
— Foi saudado e acclamado por seu
rei ; foi tratado como seu rei.
SAUDADOR, A, adj. e í. Que saúda.
— Qu-3 salva.
— Yid. Saludador, que diverge.
SAUDANTE, firt. act. de Saudar. Que
saúda, que faz o comprimento cortez.
— Toma-se também substantivamente:
O discreto saudante.
SAUDAR, 1-. a. (Do latim salutare). Dar
o Deus te salve. — «E pois es cõpanhei-
ro e parente de Deos em a natureza, não
degeneres de taõ alto parente, tornado às
antiguas vileza.s e carnalidades. Diz mais
o glorioso Euàgelista que enti'àdo o An-
jo S. Gabriel na camará dõde a senhora
estava recolhida, a saudou, dizendo. Deus
te salue chea de graça, o Senhor he cõ-
tigo benta es tu em as molheres.» Frei
Bartholomeu dos llartyres, Catecismo da
doutrina christã.
— Saudar rei, cônsul, ou imperador ;
dar parabéns com mostras de alegi-ia,
quando damos estes titulos ao novo elei-
to n'estas dignidades.
— Saudar rei, consuJ, imperador j ac-
clamar rei, imperador.
— Fazer o comprimento cortez e ur-
bano, usado entre os que se avistam e
visitam, desejando-se mutuamente a saú-
de. — «Fizemo-lo assi, e com nossas cor-
tesias o saudamos dando a carta, a hum
Príncipe irmito seu pêra que a lesse, co-
mo fez, a tempo que a gente era já tan-
ta no pateo que nào cabia nelle. Lida a
carta nos disse que a estimaua : pergun-
tou como ficaua o Capitão ; offereceo suas
casas para estarmos nellas, as quaes nào
aceytamos.i) Frei Gaspar de S. Bernar-
dino, Itinerário da índia, cap. 17.
— Adágios e provérbios :
— Os que se conhecem, de longe se
saúdam.
— Que nobreza de rei, que sem nos
conhecer nos saúda.
— A homem ruivo e a mulher barbu-
da, de longe os saúda.
SAUDAYEL, adj. 2 gen. Que produz
saúde. — «Naciam, e floreciam os lirios,
creciam os cedros, fructificavam as oli-
ueiras, estendiamse os plátanos, os frei-
xos dauam saudaueis, e frescas sombras,
vestiase a terra toda de rosas, de flores,
e boninas; que he a magestade do Líba-
no, a frescura de Saram, a belleza do
Carmello. de que ali falia o Propheta.»
Lucena, Vida de S. Francisco Xavier,
liv. 4r, cap. 6.
— Figuradamente : Útil, benéfico.
— Saudáveis 'medicamentos ; medica-
mentos que curam, saudadores. — «Em
quanto ao uzo de remédios purgantes,
ainda que nào se descobrem medicamen-
tos que purguem o sangue, porque os que
o purgaõ taò longe estaò de serem me-
dicamentos úteis, que antes saõ vene-
nos mortíferos : cõ tudo, muytos me-
dicamentos saudáveis, e benignos se co-
nhecem, dos quais se pode dizer, que
purgaõ com especialidade o sangue, em
quanto o purificaõ.» Braz Luiz d'Abreu,
Portugal medico, pag. 192, § 141.
— • Varão saudável ; vai'ào em quem
está a saúde de outros, da pátria, etc.
SAUDAVELMENTE, adv. (De saudável,
e o sufiixo «mente»}. De um modo sau-
dável.
— Com utilidade de saúde.
SAÚDE, í. /. O estado do corpo com
respeito ás suas acções e funções, que se
fazem segundo a ordem da natureza hu-
mana, e sem obstáculo nem incommodo.
Pois esta hora de vos ver
Alcançar, Senhora, pude ;
Para mais contente ser,
Conformem co'oste prazer
Novas de vossa saúde.
CAMÕES, AMPUITBIÕES, aCt. 2, SC. 2,
— «Xo qual tempo dom loam de Sou-
sa, capitam da dita Yilla, adoeceo a mor-
te, de maneira que não podia acudir a
cousa alguma que comprisse, e por não
morrer por mingoa de físicos, e cousas
necessárias a sua sauáe, ordenaram to-
dos que se viesse logo a curar a Portu-
gal.» João de Barros, Década 1, cap. 81.
— Ordinariamente toma-se por boa
saúde.
— Carta de saúde ; documento de bor-
do que attesta o estado de saúde da equi-
pagem.
— Salvação, conservação.
Femand"Alvares me seria
Grande saúde e socêgo,
E no bispo de Lamego
Queria cu a portaria.
E se passa deste dia,
Morto so,
Porque no cuento mis quejas
Si á voa no.
GIL VICEXTE, OBEAS VABIAS.
— Conservar a saúde ; nào a perder
com extravagâncias, deboches. — «Dis-
se-me que se queria conservar a saúde
que nào comesse arengas, nem espina-
cras, nem fadigas repassadas, nem gela-
das, nem alagumes porque todos esses
animentos de que me via gostar me vi-
riào a fazer pestivo.y) Cavalleiro d'01i-,
veira, Cartas, liv. 1, n.° 2õ.
— Tribunal de saúde; tribunal que
tem a inspecção sobre a sua conservação,
a visita dos navios para evitar as pes-
tes, etc.
— Viver com pouca saúde; viver
doente. — «Quanto a costumes, escrevia
ao conde da Ponte:... «Eu vivo com pou-
ca saúde, muita moléstia de cabeça,
maior debilidade na vista, e se me vae
exaltando a hypocondria. » Bispo do Grão
Pará, Memorias, publicadas por Camillo
Castello Branco, pag. 22.
— Convir á saúde das almas; ser im-
portante á conservação da alma, ao esta-
do sanitário perante Deus. — «Em quan-
to se estas execuções faziaõ, naõ deixaua
el Rei de cuidar no que conuinha à saú-
de das almas desta gente, pelo que mo-
uido de piedade dissimulaua com elles,
sem lhes mandar dar embarcação, e de
três portos de seu Regno, que lhes pêra
isto tinha assinados, lhes vedou lios dous,
e mandou que todos se viessem embar-
car a Lisboa, dandolhes hos estaos pêra
se nelles agasalharem, onde se ajuntarão
mais de vinte mil almas.» Damião de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 1,
cap. 20.
— Beber á saude de alguém; beber vi-
nho, brindal-o.
— Visita da saude ; a que faz o medi-
co e officiaes da saude aos navios que
vem de fora, de logares suspeitos de pes-
te; a que se faz aos mantimentos para
que se não vendam pútridos.
— A saude publica ; a saude do es-
tado.
— Dar saude a alguém; cural-o, dar-
Ihe os medicamentos úteis para a sua
conservação. — «El Rey lhe aprovou este
conselho por milhor e mais acertado, e
como tal lho aceytou e lho agradeceo. E
tornando a cõtinuar comigo me fez de
novo muytos afagos, e me prometeo de
me fazer muyto rico se lhe desse saude a
seu filho, a que eu com as lagrimas nos
olhos respondy que eu o faria com tanto
cuvdado como sua alteza veria.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 137,
— Fazer uma saude a alguém; fazer
brinde, bebendo vinho.
— Visita da saude ; a melhora breve
ou apparente que tem algum gravemen-
420
SAUD
«AVE
SAYA
te onfcrino, ;l (jual so mo<,'uo (lupoi.s a
morto.
— Adaoios IO puovKitiiio.s :
— ■ Paz i; saudc, dinliuiru a qiioiii o
quizcr.
— Sangrar oiii saúde.
— -A pouco dinheiro pouca saúde.
— Em ([luinto tcni saúde, quodoa es-
tilo 09 santos.
— Saúde come, quo níio bocca j^rande.
— Saúde ó a que joga, quo nào canii-
sa nova.
— Camarás do maio, saúde do todo o
anno.
— A saúde uns volhos c mui remen-
dada.
SAUDOSAMENTE, adv. (De saudoso,
com o «idlixo «mente»). De um modo
saudoso.
— (Jom saudade.
f SAUDOSÍSSIMO, A, mlj. superl. de
Saudoso. Alui saudoso.
Oh Cintra ! oh saudoniummo retiro
Ondo so esquecem mágoas, oiido folga
De »o olvidar no seio á natureza
Pensamentos que iuibala adorinooido
O sussurro das folhas, c'o murmúrio
Das despenhadas lymphas !
GARKETT, CA.MÕB3, cant. 5, cap. '.I.
SAUDOSO, A, a'lj. Acompanhado de
saudade, ([ue a sente. — «Aos sote de
Ma^-o, preparadas todas as cousas pêra
nos partirmos em bum Pangayo que esta-
ua de caminho pcra Ormus, vcyo o Pilo-
to com o Capitrio chamamos, pêra nos
embarcarmos; o que logo fizemos acoui-
panhandouos todos os Portugueses, e al-
guns Jlouros da Cidade; dos quaes des-
pedidos largamos as velas, indo tam sau-
dosos dos que ticauam, como elles de
nos verem hir.» Fr. Gaspar de S. Ber-
nardino, Itinerário da ludia, cap. 6.
E n'um morro empinado, escolho assento.
Qual, de Ithaca sandnso. o triste Ulysses,
Ou quács IMirygias, no Siculo desterro,
Chorando olhava o amplíssimo das aguas;
E me diiiia. — As abas do Taygètte
Nasceste, Eudíro, o o sòm, que logo ouviste
Ao ver a ethérea luz, foi o murmúrio.
F. M. DO NASCIMENrO, 03 MAllrYllES, 1ÍV. 10.
— Que dá mostras de sentir saudade.
— «Eu, a quem o logar o o costume o
dcfeuiliam, susteutei-me algumas horas
cm saudosos pensamentos, e dentro elles
Bahiu esto talsario. » Fernào Kodrigues
Lobo tíoropita, Poesias e prosas inéditas,
pag. 2ã.
— Que inspira saudade.
No verde campo do snxdo.io Tojo,
Morada do prazer, oudo sentira
Couitigo ao lado acceso Euthusiasmo,
Olha a copia da fulgida Esmeralda,
Qu' o remoto Pogú tao vara envia.
J. A. r>E M.VCKOO, A NATUREZA, Caut. 2.
1 SAUDOZO, A, adj. Vid. Saudoso. —
«(Jliegando o pastor á vista delia ae teve
no estreito caminho por naõ estorvar a
hum rou.KÍnol, (jue de hum ramo do ave-
leira com saudozos assobios fazia hum
sonoro oeeo entre os montes; e depois de
redobrar com mil (pi(;iximies a cantiga,
de hum vi')i» se passou para liumas arvo-
res altas, que da outra jiarte ficavaij: en-
tão foi o pastor adiante, e licou muito
mais confuzo vendo a Lizea, que sentada
sobre huma pedra da fonte tinha em o
chaõ escritas estas palavras...» Eeriúlo
Kodrigues Liibo, Primavera.
SAUGUATE, s. m. Viil. Saguate.
SAUGUIM, s. m. Vid. Sagui.
SAURIM, s. í/i. Um pauno originário
da Índia.
SAURIO, A, adj. (Do grego saurus).
Análogo ao lagarto.
— ■ iS. III. 'plur. Termo de historia na-
tural. Segunda ordem dos reptis, com-
prehondendo os animaes de pelle escamo-
sa, providos de dous, ou as mais daa ve-
zes de (juatro membros, e tendo o corpo
terminado por uma cauda extensa. — <j
crocodilo, o canialeào sito os typos mais
conlieeiílos d'esta ordem.
SAUZ, s. m. Salgueiro.
SAVADILHA, s. J. Termo do botânica.
llelleboro branco.
SAVANA, s. /. Logares incultos na
America ondo pastam os animaes.
SAVANDIiA, s. /. Vid. Cevandija. —
(iA(juella lingua, tpie Já naò tem fjrma
de lingua, he a que se jactou, mentio,
jurou, murmurou, lisongeou, blasfemou.
Aquellas entranhas, fragua do tantos
ódios, secreto de tantos tiugimentos, ago-
ra saõ hum enxame de savaudijas asque-
rosas.» Padre Manoel Bernardes, Exercí-
cios espirituaes, pag. 480.
SAVASTRO, s. m. Vid. Sebasto, c Sa-
basto.
— Talvez sabre, espada cm*va e curta.
SAVEIRO, s. m. Barco de atravessar o
rio, e do pescar ú linha.
O duro Pescador cantando alegre
Sobre a proa do concavo saveiro,
Sc 03 nocturnos Frisõcs rege alta Lua,
Que doce vista ! nas cerúleas ondas
Para lautos festins contente Oi leva.
Vários em nome, vários em grandeza.
J. A. DE MACEDO, .V XATUBEZA, Cant. 3.
— Homem que rema o saveiro.
SÁVEL, s. »í. Termo de historia natu-
ral. Certo geuoro de pescado muito co-
nhecido n'este reino. — «Na qual o mais
do despojo que se achou, forào algumas
bombardas que os Mouros nam poderam
louar, e muito trigo posto em eouas, e
uniitos saueis escalados.» Damião de
Coes, Chronica de D. Manoel, part. i>,
cap. 47.
Eu terei mão n.a candèa.
Mestre, estacs viJs de vèa?
Oâcaruae-me como sável,
i|uc vejam a honra tio notável
que tiro d'ciita pouvéa.
AMTOXIO rBEATKR, AUTOS, [mg. 333.
— AiJAcio.s K i'UovKumos:
— Sáveis \x)r S. Marcos enchem os
barcos.
— Sáveis de maio, maleitas de todo o
anno.
— Boa é a truta, Ijom o salmão, bom
é o sável, ([uando é de sazão.
SAVELHA, 8. /. Pequeno peixo, talvez
sável yjequeno, ou a enchova da Europa.
SAVICA, 8. /. Pe\a do coche, que se
mettc nas pontas dos eixos para pegarem
nas porcioneiras.
SAVINA, .V. /. Vid. Sabina.
SAVONULO, í. VI. (Do latim tapouu-
liis). Termo do chiinica. Nome penerico
dado a combinações particulares dos óleos
cssenciaes com as bíiscs alcalinas.
SAVUGO, s. m. Termo antiquado. Vid.
Sabujo.
SAXATIL, aJj. 2 gen. (Do latim »axu-
tilis). Que se cria pegado ás pedras, ou
entre ellas. — Polvos saxatiles.
SAXEO, A, adj. iDu latim ««.reji»;. Ter-
mo de poesia. De seixo, de pedra.
•j- SAXICAVO, adj. (Do latim saxum, e
cavarei. Termo do historia natural. Que
fura as rochas. — MoUuscos sazicãTOS.
f SAXICOLA, adj. 2 gen. (Do latim
saxum, e colere). Termo de historia natu-
ral. Que liabita os rochedos.
— -'S. f. Género de aves insectivoras.
SAXIDÀS, s. /. plur. Sabidas. Vid.
Saídas.
SAXIFRAGA, s. /. (Do latim saxum, e
fraiiijcre'. Planta conhecida pelo nome de
caliitrava, a que se attribue a virtude de
desfazer a pedra da bexiga : é agreste,
vivaz, de Hôr rosácea; nasce nos fundos
dos rochedos.
SAXIFRAGIA, s. /. Vid. Saxifraga.
SAXIFRAGO, A, adj. Termo antiquado
de medicina. Pi-oprio para dissolver a pe-
dra.
— Termo do poesia. Que quebra pe-
dras.
SAXHORN, .«. 7/1. Instrumento musico
de sopro.
SAXOSO, A, ailj. (Do latim taxosua).
Cheio de seixos, de pedras.
SAYA, s. f. Vid. Saia. — *E assi na
guerra mais usam de ardis e de multi-
dam, do que se aiiroveitam de forças,
ainda que auimosximente cometem. Usam
ilo sayas de malha o capacetes e das
mais armas que dissemos atras.» Fr. Gas-
par da Cruz, Tratado das cousas da Chi-
na, cap. 14.
SAYAL, *•. J/l. Vid. Saial.
Has gixlautoâ iuucui;õcâ,
S'.' tornaram cm paiiòcs,
lios borcados em sinW.
lio prazer gn\ndo geral
em nojos, hinientaçõcs.
QABCIA DE BSZENDE, XUCELLASSA .
SAZA
«CAL
SC AP
421
SAYDA, s. f. Yid. Saida. — « E como
a terra fosso estreita para a multidão de
gente que avia neiia, fizerào por vezes
alíjumas saydas em que torão ocupando
Províncias estranhas, e conquistado ter-
ras de seus vezinhos, nas quaes se ficavão
por moradores, como difusamente cotào
Joào, e Olao Jlaguades, e outros.» Mo-
narchia Lusitana, liv. 6, cap. 1.
SAYÃO, s. m. Yid. Saião.
— Termo de botânica. Planta vulgar-
mente chamada ensaíão.
SAYELO, s. í/i. Termo antiquado. Sello.
SAYLAR, i. a. Termo antiquado. Yid.
Sellar.
SAYNHO, s. ra. Yid. Sainho. — «Tra-
zem saynhos de mangas largas, gastam
comunmente no vestido mais sedas que os
maridos ; mas no trajo comum andam
vestidas de pano de linho branco. Fazem
mesura ao modo das Portuguesas, se nam
quanto fazem três juntas e apressuradas. »
Fr. Gaspar da Cruz, Tratado das cousas
da China, cap. 15.
SAYO, s. m. Yid. Saio, e Saiote.
— Adagio e provérbio :
Em maio a quem nào tem, baste-lhe o
sayo.
SAYOADO. Yil. Saioado.
SAYOANE. Yid. Sanhoauhe.
SAYOARIA, s.f. Termo antiquado. Yid.
Saioaria.
SAYONARIA, s. f. Yid. Saioaria.
SAYON. Yid. Saião.
SAYORIA, s. f. Yid. Saioaria.
SAYR, V. a. Vid. Sair. — « Levantan-
do hum muro deíde a ponte de Alcânta-
ra, até a de S. Martinho, onde se ajunta
cõ outra muralha antiga, que sayndo do
Alcaçar pela porta que chamaò do san-
gue, e do ferro, dando volta por Saõ Do-
mingos o Real, vay parar na ponte de
Saõ Martinho, onde se encoi-poraò am-
bos.» Monarchia Lusitana, liv. O, cap. 26.
— « Estas nações todas se puseraõ na or-
dem que lhe foy mandado pelo Xemim-
brum mestre do campo, o qual pôs os
Portugueses na dianteyra de todos, que
era junto com a porta da cidade por onde
o Chaubainhaa avia de sayr.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 119.
— « E por esta solta se deixa este, e ou-
tros taes como elle, hir descantando se-
melhantes letras, ate que sayem com a
sua por escrito, estorvando, e tirando os
despachos a quem os merece, para os in-
corporarem em si. E ainda mal, que lhes
succede.» Arte de furtar, cap. 3G. —
« Fazem as suas guardas sem que jamais
sayão de facção, e fazem as suas senti-
nellas sem que jamais cerrem os olhos.»
Cavalleiro d'01iveira, Cartas, liv. 1, nu-
mero 28.
SAZÃO, s. /. (Do francez saisoji). Es-
tação do anno.
— Figuradamente : Tempo próprio, op-
portuno.
— ^Conjuncção, conjunctura, ensejo.
— Sem sazão ; fora do tempo.
— Fruta ajjanliada em sazão ; fruta
apanhada quando está de vez, e a tempo
de colher.
SAZOADO, part. jjass. de Sazoar.
SAZOAR, V. a. Vid. Sazonar.
SAZOAVEL, adj. 2 gen. — Terra sazoa-
vel ; terra disposta para produzir o que
se planta.
SAZONADO, part. pass. de Sazonar.
— Fruta sazonada ; bem madura na
estação, e saborosa.
— Figuradamente: Discurso sazonado
de razões discretas; discurso adornado
d'ellas.
— Disciírso sazonado de razões discre-
tas ; discurso saboroso, agradável.
— Tempo sazonado; tempo chegado ao
próprio de fazer alguma cousa; tempo
opportuno, bom.
— Temperado.
— Satisfeito com o tempero.
— Figuradamente : Messe sazonada de
fructos.
Do turvo Xilo na fervente arêa
Esta nação prodigiosa cresce,
De antigo pai nascido na Caldea,
Por tradição constante, hum Deo3 conhece :
Messe do Justos sazonada, o chêa
Alli SC multiplica, alli florece,
E co'a esperança, que no peito encerra,
Supporta a escravidão na estranha terra.
J. A. DE MACEDO, O ORIENTE, Caut. 9, Cât. SO.
SAZONAR, V. a. (Do francez assaisoji-
neri. Amadurecer os fructos.
— ■ Satisfazer com o tempero.
— Dar bom sabor á comida, temperar.
— Figuradamente: Sazonar o discurso
com razões discretas; adornal-o com ellas,
tornal-o saboroso, agradável.
— Sazonar a verdura dos annos.
— Sazonar-se, v. rejl. Amadurecer.
■ — Figuradamente : Aperfeiçoar-se.
SAZU, s. ■//!. Termo de zoologia. Pás-
saro de Sofala do tamanho do pardal.
SCAAN, s. f. Termo antiquado. No bai-
xo latim disse-se scandalium, e escanda-
leum por uma certa vasilha, que constava
de quinze medidas, cada uma das quaes
pesava duas libras e doze onças. D aqui
disseram os portuguezes scaan, variando,
porém, alguma cousa nas libras e onças,
conforme as terras. Ha pois todo o fun-
damento para se dizer que a scaan por-
tugueza levava um almude da medida
corrente, que consta de quatro quartas,
cada uma de doze quartilhos; pois em al-
guns documentos se acha expressamente
um almude de manteiga, em outros uma
quarta, em outros um alqueire.
SCALA, s. /. Termo antiquado, que no
baixo latim teve variadas signilicações.
1.° signiíicou a forca (signal de jurisdic-
ção suprema) em cuja escada eram ex-
postos á vergonha publica os que tinham
crimes graves, mas não que merecesssem
a pena capital; 2.° a rua, bairro ou qua-
drilha de uma povoação ou cidade; 3."
o prato da balança ; 4." a tumba ou es-
quife que tinha alguma semelhança com
a escada; õ." o logar, ordem ou assento •
que cada um deve ter; e daqui se disse
sentar-se á escada; 6." esquadrão, tur-
ma, companhia de gente militar; 7." uma
medida agraria; 8." o porto a que as em-
barcações arribam, e d'aqui — fazer es-
cala, por — arribar a um porto. Significa
também taça, vaso ou copo. Eram pois
duas preciosas taças lavradas ao buril, de
obra peregrina ou esti-angeira, que a no-
bre fundadora dava para o serviço do re-
feitório do seu, mosteiro.
— Também chamavam scala ao estri-
bo para montar a cavallo.
— A campainha ou pequeno sino.
-[ SCALAR, 1-. «. Yid. Escalar. — .An-
dando assi estes recados, chegou aquello
porto Emanuel da gama, que vinha de
Malaca em hum navio darmada, com cu-
jo parecer, e dos outros capitães, e ho-
mens nobres da frota, assentou George
dalbuquerque o modo e ordem que teriam
no tomar daquella tranqueira a qual pos-
to que fosse muito forte determinou de
combater, e scalar com os Portugueses
que alli stauam, que poderiam ser ate
duzentos, e oitenta.» Damião de Góes,
Clironica do D. Manoel, part. 4, cap. 66.
SCALENO, A, adj. ,Do latim scaJenus).
Termo de geometria. Triangulo scaleno;
triangulo cujos três lados são deseguaes.
— ■ Termo de anatomia. Músculos sca-
lenos ; músculos que tem suas inserções
nas apophvses transversas das vértebras
eervicaes, assim chamados porque os com-
paravam a um triangulo scaleno. — O
scaleno anterior, o scaleno médio, o sca-
leno posterior.
f SCALENOEDRO, s. wi. Termo de crjs-
tallographia. Que é de faces scalenas.
SCALIDO, s. 7ÍÍ. Logar em que desagua
o canal do moinho.
SCALLADOR, s. m. Yid. Escaladores.
-{- SCANDALIZAR, i-. a. Yid. Escandali-
zar.
Outras sjTnonias callo,
grandes trocas e partidos,
e benefícios vendidos
a taees, que de soo falallo
scandaliza hos ouuidos.
GARCIA DE REZENDE, MISCELLAKEA.
SCANÇÃO, s. m. Yid. Escanção.
SCAPHIDIOS, *. m. plur. (Do grego
skaphidion). Termo de historia natural.
Género de insectos coleopteros mui pe-
quenos, assim denominados por terem o
corpo em fúrma de barco : encontram-se
sob a casca das arvores e nos cogume-
los.
f SCAPHOCEPHALO, adj. Termo de an-
thropologia. Em forma de barco. — CVa-'
ne,o scaphocephalo.
422
SCEL
SCEN
SCEP
f SCAPHOIDE, a,lj. T.riiio didáctico.
Que tem a f/iruiíi de um b:irco.
— Termo do .iiiatomiu. Fosso scaphoi-
de; pcinuina caviíiade .situada na parto
Buporior da aza intoriia da apopliywo pto-
rygoide,
— Osso scaphoide; nome dado a dona
pequenos ossos (jue concorrem para for-
mar, um o (.'•■irpo, outi-i) d tarsu.
f SCAPHOIDO-ASTRAGALIANO, A, adj.
Tormo de anatomia. Que pertence ao
scaphoide o ao astraj^alo. — Articularão
scaphoido-astragaliana.
f SCAPHOIDO-CUBOIDIANO, A, a<lj.
Termo tlc aiialomia. Que peitence ao
scaplioido c ao cul)oidu. — Arliculac^oes
scaphoido-cuboidianas.
f SCAPTINA, s. ,/'. Termo de cliimica.
Matéria extractiva, tirada da di^^ital.
SCAPULALGIA, s. /. (Do latim scapu-
la, e lio ,i;r^rC" 'd(jos). Dôr no hombvo.
f SC APULO, s. m. Termo de anatomia.
Osso (la espádua.
f SCAPULO HUMERAL, adj. 2gen. Tor-
mo de anatomia. Que pertence á, omo-
plata e ao humero.
— Articulaí^ão scapulo-humeral; aquel-
la que tem lofjar entro a cahci^^a do liu-
moro e a caviílade glenoide da omoplata.
SCARIFICADO, part. pass. de Scarifi-
car. Vid. Escarificado.
SCARIFICAR, r. <i. Vid. Escarificar.
SC ARO, s. Dl. Termo de lii.storia natu-
ral. Genoro de peixe thoracico, conlieci-
do também pelo nome de sart/o bastardo:
tem um caracter bom decisivo entre oa
peixes de espinha; e vem a ser, que os
seus ossos niaxillares se acham descober-
tos, e fazem o oflieio de dentes; tem cor-
po obloní^o, comprido, e coberto, assim co-
mo a cabeça, de grandes escamas.
SCATHOPSE, s. f. (Dú grego skatos, e
opsoii). Termo de historia natural. Inse-
cto lepidoptero, cuja larva vive nos ex-
crementos.
SCATOPHAGO, A, adj. (Do grego ska-
tos, e phagò). Termo de zoologia. Que se
nutre de excrementos.
f SCATOPHILO, A, adj. Termo de
historia natural. Que cresce ou vivo nos
excrementos.
SCAURO, s. m. Termo do zoologia. In-
Becto eoleoptero.
SCELERADAMENTE, adv. (De scelera-
do, e o suflixo a mente»). De um modo
Bcelcrado.
— Com malvadez, facinorosamente.
SCELERADO, A, adj. (Do latim scelera-
tus). rapaz de grandes crimes.
— Que tom o caracter do grandes cri-
mes, fallando das cousas. — Uma acção
scelerada.
— Facinoroso, malvado.
— Substantivamente: Um scelerado;
uma scelerada.
Tanto contnírio, aonde sem polpja
Coutavam co'a victoria. Ivcohasâadas
Foram completamente. Ia Uiiivolta
Na fuga o êcderado.
OAUKKl-T, CATÃO, act. 4, BC. 4.
SCELIFICAR, V. a. Vid. Celiíicar, por
ser mai.s coiifoiuic com a etymologia oriun-
da de cwlum.
— Segundo alguns authoros, significa
annunuMar entre os signos ceieste.s.
t SCELITA, «. /. Pedra figurada imi-
tamlo a firma de uma perna humana.
SCENA, .'-•. /. (Do latim tcena). Parto
de um acto de qualquer drama. — Os
actores entram em scena.
— Figuradamente : Espectáculo.
A grando Scena da «oberba I?oma,
Vencidos Reis, o Capitólio, os Louros,
Quaes sombra.s se esvaecem ijuando os olhos,
Ao pi'aiito sempre alheios, alongava
Pelo insigne espectáculo da noite.
J. A. DE MACEDO, A NATUBEZA, Cant. 1.
Impenetráveis V(5o3 se rasgilo, novas,
Brilhantes scenau, se me avanço, observo.
Confesso, ó Padres ; timida a minha alma
Não titã sem horror tam negras sreiías.
GAHRETT, CItÃo, act. 2, SC 1.
— POr uma obra em scena ; regular o
modo como os actores a devem represen-
tar.
— Pôr uma personagem em scena; re-
prosental-a n'uma obra dramática.
— Em scena; aos olhos do publico, em
uma represeutaçào qualquer.
— Adorno, ornato do theatro.
— A acçiio mesmo que faz o sujeito da
peça que representa.
— Abrir a scena ; come<;ar a roprescn-
taçào, ser o primeiro a apparecer no thea-
tro.
— ^ Figuradamente : A arte dramática.
— Os aul/iores que illusirurum a scena.
— ^1 scena trágica ; a tnigedia.
— A scena cómica; a comedia.
— A scena li/rica ; a opera.
— Conjuncto de objectos que se offe-
recem il vista.
— Figuradamente : Diz-se do que se
comparou á scena de um theatro.
— Figuradamente : Diz-se de toda a
acçíio que offeroce alguma cousa do notá-
vel, de extraordinário. — Scenas de pra-
zer e de alegria.
— Loc. FIO.: Mudnrem-se as scenas;
mudarcm-se as circumstancias, as pes-
soas, os estados, as fortunas.
— Apparecer em scena. Vid. Figurar.
— 2^1 ur. Bastidores e vistas do thea-
tro, que representíim o logar da acçào.
SCENARIO, s. «1. As vistas, bastidores
do seena.
SCENICO, A, adj. Que diz respeito ao
theatro, á seona. — Os jogos scenicos.
— Estjjlo scenico; estylo da scena, do
theatro.
— Listinclo scenico; instincto d'imita-
çjlo.
SCENOGRAPHIA, «. /. iDo grego tke-
lúi, e grapki:). Termo de pintura. Arto
que consiste em desenhar ott edificios, as
cidades, etc. em perspectiva, isto é, com
as diminuições (|ne a perspectiva ahi pro-
duz, em opposiçilo á ichiujgraphia e or-
th/graphia, que são planod puramente
geométricos, onde a perspectiva n2o é
observada.
— Particularmente: Arte de pintar aa
decorações sccnicas.
— As mesmas repreaentaçiJea, ob obje-
cto.H r(;|iresi-ntados.
I SCENOGRAPHICAMEKTE, adv. (De
scenograptaico, com o sufíixo «mente» i.
Seguinlo as regras da scenographia; em
perspectiva.
-}- SCENOGRAPHICO, A, adj. Que diz
respeito :i sceiiographia.
SCENOGRAPHO, s. m. Homem que tra-
ta da .'■eenographia.
SCENOPEGIA, s. /. Do grego sketú, o
pêgiiiô). Nome dado pelos gregos i festa
dos tabernáculos dos judeus. Deu-se-ihe
este nome, em consequência da festa,
que durava sete dias. Vid. Encenia.
t SCEPTICAMENTE, adv. (De sceptico,
com o suflixo «mente»;. De ura modo
Bceptico.
SCEPTICISMO, í. "i. Doutrina dos phi-
losophos que duvidam, e que examinam.
— O scepticismo é o primeiro passo pa-
ra a verdade. — O scepticismo nào con-
vém a todo o mundo, suppõe um exame
profundo c desinteressado.
— Particularmente: Doutrina dos phi-
losophos pyrrhonicos.
— Diz-se, em linguagem geral, dos que
duvidam de tudo.
— Sy'X. : Scepticismo, pyrrhonismo.
São termos de philosophia que designam
dons systenias philosophicos, oppostos am-
bos á tlieoria da certeza ; o primeiro nada
affirma. o segundo tudo ne^ra. ( > sceptico
suspende o juizo sobre todos os objectos;
o pyrr/tonico affírma positivamente a in-
certeza universal.
Ura e outro svstenia encerra em sua
própria natureza o principio da sua des-
truí çiio, porque ambos sào mais ou me-
nos dogmáticos. A razão ntio p<'>de atacAr
a razão, senão empregando o raciocínio,
e todo o raciocínio suppõe principies, e
suppõe a certeza das regras da lógica.
SCEPTICO, A, adj. Dir-se de uma seita
de philo30])hos antigos, os pyrrhonicoe,
cujo dogma principal era duvidar de tu-
do; e, por extensão, daquelles que entre
os modernos seguem as doutrinas pyr-
rhonianas, ou que preferem a duvida phi-
losophica.
— Philosophia sceptica. — Mcueimat
scepticas.
SCEPTRIGERO, A, adj. Termo de poe-
sia. Que traz sceptro.
SCEPTRO, í. «1. (Do latim sceptrvtm).
SCEP
SCHM
SCIA
423
Bastão de commando, que era uma das
insígnias da authoridade rt'al. — «E com
liuma cana, que em lugar de sceptro llie
auiam metido na mão, o feriam na cabe-
ça. Todos estes desprezos, e escarneci-
mentos, quis o senhor que tantas vezes
se multiplicassem sobre elle : pêra ver se
era possiuel assi curar a soberba e arro-
gância do género humano, e eutranhauel
desejo que tem de valor, e excellencia,
e de alcançar honra, gloria, e dignida-
des.» Frti Bartholomeu dos Martvres,
Catecismo da doutrina christã.
Foi destes feros hórridos Tjrannos
Ludibrio o coração ; mesquinho escravo,
O dHi'o Império soffre, o sceptro beija ;
Da crua guerra hc victima, e theatro ;
Frente a frente comsigo entra em combate.
Sc intenta o jugo sacudir, recrescem
( »3 duros batalhões, quaes se amontôão
No vasto, e fundo mar túmidas ondas,
Quando nos ares os tufões pelêjào.
J. A. DE MACEDO, MEDITAçÃO , Cant. 1.
o sangrue em borbotOes rebenta, e mancha
O mesmo Sceptro, que sustinha a dextra,
Cobre o rosto co' a chlamide soberba,
E victima cahio de Roma escrava.
IDEM, A NATUBEZA, Cant. 1.
Ah ! Nunca os passos avançaras tanto !
Deste ao Tejo opulência, e nella a glona:
Seu timbre hum tempo foi, mas hoje opprobrio,
O Sceptro, que lavrou, das màos lho arrancão.
IDEM, VIAGEM ESTÁTICA, Caut. 4.
— Figuradamente: O poder soberano,
a authoridade monarchica.
Se nunca vio a imagem da ventura
Esse, que desde o pó subio a hum SoIio,
E hum Sceptro sustentou molhado em sangue.
Que a seus pés as Xações prostradas teve,
Mas sem contar hum coração vassallo,
Será ditoso o Aulico assustado,
O valido inquieto, a quem Fortuna
No circulo de hum dia eleva, c piza ?
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Caut. 1.
Do Indo, Hidaspe, e Gange as aguas trouxe
Dentro em barro Chinez, e era Ataide.
Será maior teu Sodnev, ou teu Nelson ?
Nem teu Monke he maior, se o Sceptro enjeita,
Firmando o Diadema em Eegia frente.
IDEM, VIAGEM EXTÁTICA, Caut. 2.
— Um sceptro de ferro ; uma authori-
dade dura e despótica.
— Figuradamente: Superioridade, per-
manência.
— Empunhar o sceptro ; tomal-o.
Eis súbito apparecc, e sobre o Globo
Movendo os passos magestosamente,
Seu poder annuncia, e Sceptro empunha.
J. A. DE MACEDO, A KATUREZA, Caut. 1.
Mal obediente o valoroso filho,
Domador das subcrbas castelhanas.
Do venerando pae impunha o sceptro.
GAEBETT, CAMÕES, C3nt. 7, Cftp. 21.
— Figuradamente: O rei.
— Figuradamente: Dignidade, officio,
poder real.
— Loc. FiG. : O sceptro do peccado;
o seu grande poder, o seu predomínio.
— O sceptro oriental. — « Mormente
que em nada tem a fortuna maior impé-
rio, que nas cousas de guerra; alcanção-
se muitas vezes as victorias por leves
accidentes, e por outros se perdem. Será
pois justo deixar na contingência de hum
successo o Sceptro Oriental, com espan-
to, e enveja das gentes fundado sobre
tantas victorias?" Jaointho Freire de An-
drade, Vida de D. João de Castro, liv. 2.
— Loc: Dar o sceptro a alguém; re-
conhecel-o por soberano, fazer-se vassallo
d'elle.
— Figuradamente : Dar o sceptro do
seu coração ás paixões; fazer-se, tornar-
se escravo d'ellas.
SCHAH, ou SCHACH, s. m. Titulo que
os europeus dão ao soberano da Pérsia.
f SCHEAT, s. VI. Estrella de segunda
grandeza coUocada na consteliaçào do
Pégaso.
SCHEELICO, adj, m. Termo de chimi-
ca. Acido scheelico ; acido descoberto por
Scheele em um mineral chamado íttH^-
sU.no, na Suécia.
SCHEELIN, s. m. Termo de mineralo-
gia. Vid. Tung-steno.
SCHELLING, .«. vi. Vid. Shilling.
SCHEMA, s.f. Nome genérico de todas
as figuras, formas ou ornatos de estylo.
Entre os gregos e latinos toma-se tam-
bém em um sentido mais restricto pelas
tiguras das palavras propriamente ditas,
pelas figuras do pensamento, com exclu-
são dos tropos.
— Representação dos planetas, cada
um em seu logar, por um instante dado.
— Termo de anatomia e de physiolo-
gia. Nome dado ás figuras, que por effei-
to de demonstrar a disposição geral de
um apparelho, ou a successào dos esta-
dos de um ser ou de um órgão, são ex-
cutadas, abstrahindo de certas particula-
ridades de forma, de volume, de direc-
ção, ou de relações de partes.
— Diz-se, no leibnitzianismo, de um
principio essencial a cada monada, e que
constituo o caracter de cada uma d'ellas.
No systema de Kant, objecto que existe
no entendimento, independente da maté-
ria.
— Na egreja catholica, proposição re-
digida subuiettida ao concilio.
-{• SCHEMATICAMENTE, adv. De um
modo scheuiatico.
I SGHEMATICO, A, adj. Q.ue corta o
plano de uma cousa, sem destruir a sua
forma.
I SCHEMATISAR, v. a. No kantismo,
considerar os objectos como abstracções,
schenias.
f SCHEMATISMO, í. m. Termo de gram-
matica. Diz-se da dififcrença de duas pa-
lavras, quando consiste unicamente na
posição do accento.
SCHENO, s. m. Termo dantiguidade.
Medida itinerária que valia cerca de
10:.500 metros.
SHERIF, s. m. Príncipe árabe, ou
mouio : homem elevado em dignidade.
SCHINANCIA, s. /. Vid. ''Esquinen-
cia.
SCHÍRRO, s. tn. Vid. Scirro.
SCHISMA, s. /. (Do grego schisma).
Vid. S;isma.
SCHISTO, s. m. (Do grego schizein).
Termo de mineralogia. Mineral de estru-
ctura laminosa, formado principalmente
de silica, de argilla, e de diversos oxv-
dos metallicos,
— Schistos bituminosos ; schistos argil-
losos impregnados de matérias bitumino-
sas, contendo destroços orgânicos.
SCHI3T0S0, A, adj. Que é da natiu-o-
za do scliisto.
t SCHISTOSOME, adj. Termo de tera-
tologia. Monstros schistosomes ; que apre-
sentam uma eventraçâo lateral ou media-
na, em toda a extensão do abdómen, e
que não tem membros pelvianos, ou que
os tem mui imperfeitos.
t SGHIZOCEPHALO, A, adj. Termo
de teratologia. Monstros schizocephalos;
monstros cuja cabeça é dividida longitu-
dinalmente.
f SCHIZOLITHA, í. /. Termo de mine-
ralogia. Género que compreliende a mica,
o chlorito, o talco e o lapidolitho.
f SCHIZOPODO, adj. Termo de zoo-
logia. Que tem os pés fendidos.
T SCHIZOPTERO, adj. Termo de zoo-
logia. Que tem as azas fendidas.
I SCHIZOTHORAX, adj. Termo de te-
ratologia. Monstruosidade caracterisada
pela divisão do sterno, ou de toda a es-
pessura daB paredes thoracicas.
f SCHIZOTRICHIA, s.f. Termo de ana-
tomia. Divisão dos cabeUos na sua extre-
midade.
SCHOLASTICO, adj. Vid. Escolástico.
SCHOTISH, s. m. Certa dança moder-
na, usada nos bailes, etc, da gente po-
lida.
SCIAGRAPHIA, s f. (Do grego skia, e
gralho). Termo de astronomia. Arte de
conhecer a hora do dia, ou da noute pela
sombra do sol, ou da lua.
— Termo de architectura. Delineação
da fachada, e fuga dos lados.
SCIATERICO, A, adj. (Do grego skia,
e tcrein). Que mostiva a hora pela sombra
do ponteiro. — Quadrante sciaterico.
— Telescópio sciaterico ; quadrante ho-
risontal munido d 'uma luneta para ob-
servar o tempo verdadeiro.
— Geometria sciaterica ; que investiga
as distancias, longitudes, etc., das cou-
sas á sombra da luz, directa, reflexa, e
refracta.
SCIATICA, s. f. Termo de medicina,
Dôr mui viva, que fixando-so no trajecto
424
SCIK
SCIE
SCIE
do níírvo sciatico, occiípa a i)artc poHtc-
riiir lia Cdxa c da perna.
SCIATICO, A, wlj. Turmo do anatomia.
Quo diz respeito ao (jiiadril, no alto da
coxa.
— Nervo sciatico ; o mais grosso ner-
vo de toda a economia animal, rpio nas-
ce do |>lexo naírraiio, que o teriniia.
— Tuberosidaile sciatica ; enduencia
larga, o arredondada, formada ])ola rcu-
niilo dos bordos posterior e inferior do
osso ilíaco.
— Plexo sciatico ; plexo nervoso intcr-
rnciliario nos plexos lond)ar o sagrado, e
dando origem aos nervos sciaticos.
— Chanfradura sciatica; clianfradiira
situaila no bordo posterior do cada osso
iliaco abaixo da espinha iliaea posterior
inferior.
— Espinha sciatica ; endneneia curta,
pyramidal, acliatada, situada abaixo da
grande clianfradiira sciatica.
— (lutiti sciatica.
SCIENCIA, .t. /. (Do latim sclentia).
Conhecimento cpie se tem d'alguma cou-
sa, noticia.
Sol) vosso podor o mão
deturuiino de cnlcval-o
COMI se !>/(<■( d'
(Vestas três concupisecnciaa,
que poásam prodominal-o
no pinhão das trcs Potencias.
ANTÓNIO rnKSTEs, AUTOS, pag. 40.
— Conhecimento daquillo em que so-
mos bem instruidos. — «Por certo, ainda
que tó li nas outras cousas quo liavia
visto, 08 trouxessem espantados, as da-
quella casa lhe pareceram muito maiores;
quo alem dos livros ser quasi infinitos, e
nelles se encerrasse toda a exccllencia de
quantas sciencias se podem dizer.» Fran-
cisco do Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 120.
V<5s só podcia, sagrado Evangelista,
Angélico abrazado Soraphim,
E na scicncia mais alto Chcrnbim,
Do que hc mais sabio Amor ser Coror.ista.
CAM., SONETOS, n."» 245.
— «Pois sem a força da Milícia naõ
pòdcni permanecer as leis, nem profos-
sar-se as sciencias, ou exercitarem-se as
artes, nem finahneute cirnservar-sc a paz,
o liberdade.» Manoel Sevorim de Faria,
Noticias de Portugal, Disc. 2, cap. 1. —
«No de artilhcria havia muitas nnl peças
grossas, e meúdas, que depois se gasta-
rão no serviço do Castclla, c deste Rey-
no. Agora estaõ providos os Armazéns
da Tenencia de toda a siirte de armas, e
se obra tudo com grande facilidade, e
perfeição pela scieacia dos Mestres, o
estaõ concertados do maneira, que saõ
dignos de so ver.» Ibidem, cap. 11.
— «A esta graça podemos melhor che-
gar por meio do cõpunçiHo humilde, que
por discurso j)roftindo, mais por suspi-
ros, ijue jior argumento», por lagrima.s
antes, (jue por conceitos, mais por ora-
ç.~io, ([uc por liçilo ; finalmente, mais de-
pressa por benolicio de lagriuia.s, que por
scieucia, c estudo do letras. • Fr. Har-
tholoineii dos Martyres, Compendio de es-
piritual doutrina, caji. 11. — «Klla os es-
tudou com aquella atteiição (jue merecem
as boas Obras, c fez nesta sciencia todos
os jirogrossos que a jioiliào lisongcar.»
Cavalleiro d'01iveira, Cartas, liv. I, n."
40. — «Culpais-mo de que enqiregasse o
mou tempo dando satislaçoens cm ma-
téria do eloquência, julgando como de-
feito a muita a))licaçào ao estudo desta
para mim grande sciencia.» Ibidem, n."
20. — «São aqui estimados todos oâ que
fazem progressos em alguma arte, ou
sciencia útil á navegação. Um bom geo-
metra é altcndido: um hábil astrónomo
bem acceito : ])rc!ida-so largamente o \n-
loto, que se distingue dos mais cm .sua
arte : não se faz pouca conta do um insi-
gne carpinteiro; a contrario ])agam-lhe,
e tractan-o bom.» Francisco Manoel do
Nascimento, Telemaco, liv. ;}. — «Mos-
tra-so: j)orquc todas as Sciencias fazem
os scos Professores nobres : A Medicina
Dogmática he Sciencia, como já se pon-
derou: logo a Medicina nobilita os que a
professan. Prova-se a Mayor 7vx tcvt. In
l. Provldanduni. ibl : (/uos scieutia nobl-
llsslinus fiicU.K Braz Luiz d'Abreu, Por-
tugal medico, pag. 240, § 79.
No Império da Sciencia a luz estende
O homem pensador, e a esfera pas.ia
Oudc presido o Sol, e os Astios uiéde.
J. A. DK MACEDO, MEDITAÇÃO, CaUt. 1.
Profunda escuridão, pesado luto
O vasto Império da iScie.tí-in abafa,
Cjue onde apparccem \\'andalos acaba.
IDEM, VIAGEM EXTÁTICA, Caut. "2.
Bem como á voz omnipotente surge
Do cego abvsmo a máquina da Terra,
E repentina a luz se espalha, u brilha,
Assim das Artes, das òVic/icin.? todas
Surge ã voz de Aristóteles a base,
Que jazera até alli na sombra iuvolta.
Da Sciencia o deposito conserva.
Fadada para as letras Hasiléa
Tantos Beruouillis dii, quantos os Sábios,
Claro oruaiuonto da Scicncia exacta.
iniDKM, cant. 4.
Gravado hum nome só — Academia -
Ou domicilio das Sciencias todas.
— Sciencia de visão; sciencia que faz
eonlieeer tolas as cousas do Ente Su-
A copaiba cm caras applaudida,
Que a mí'dic.1 tciencin (-rttnna tanto.
FH. J. HAXTA BITA MUû, CAK.VHCIlÚ , Cailt. 7,
est. 01.
— Sciencias occulfng. — « í'.>^ta quali-
dade de gente antigamente necessitava
de muita i;abilidade, e de muito estudo
para enganar. < >s Doutores das Sciencias
occultas basta disercni na Era j)re.<entc
qne as conhecem j>ara serem cstiinaílos.
São cridos debavxo somente da cua pala-
vra, e enganão tão groRseyramente que
enganào as gentes a cdlios abertos.» Ca-
valleiro de Oliveira, Cartas, liv. 3, nu-
mero ] 1 .
— Berço das sciencias todcu.
Não falece alli, não, pasmosa Itália,
Paiz tào earo no» Ocos, tào f;rato aos Sábios,
Fecundo b"r(;o das Scienciat todas.
]. A. DK MACEDO, VIAGEM UTATICA, Cant. 4.
premo
Sciencia medico.
— A sciencia astronomic/i.
Venerando Hailli curvado ao peso
Da longa idade, que hum Tyranno acaba
Nhnm Patíbulo vil, e as.sim fenece
O Sábio, o profundissimo, eloquente
Da Sciencia Astronómica Analista,
Que o Mundo ciichêo de luz, de gloria a França.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 2.
Não foi sem frncto, não, nem foi deleite
A .Vidência Astronómica entre os homens ;
Quão vantajosa luz no Mundo cspallia !
iDiDEu, caut. 4.
— Conhecimento certo e evidente daa
cousas por suas causas. — « Nem obsta,
que muitas vezes os mesmos Authores,
que a cliamaõ Sciencia, a denominem
Arte, como saõ (laleno, 20. Avicena, e
outros, 21. em vários lugares; porque ou
a Arte se considera por contraposição à
Sciencia; e neste sentido a definio Aris-
tóteles : Habltus saclemll vera cum raiio-
íie.» Braz Luiz de Abreu, Portugal me-
dico, pag. 2;^!?, § 41. — «Na das^^e dos
Summos Pontífices foraõ Médicos Fami-
gerados S. Eusébio, que succedeo no Pon-
tificado a Marccllo; Jlcdico experto ra
sciencia, e filho de Pay Medico na pro-
fiçaõ, como escreve Molano. 4. Kiculao
Qulnfo famoso prescrutador desta scien-
cia.» Ibidem, pag. 24.'i, § 66. — «Se ho
nobre a Metlicíiia pellos seos predicados
essenciaes quãto Sciencia, naõ o he me-
nos pellos grau les indultos, e previlegios,
que os Imperadores. Reys, e Mooarchas
do mundo concederão at>s seoe Professo-
res.» Ibidem, pag. 253, § 90.
São confusas hypotheses, problemas
Tudo o que Roma disso, o ouvira Athenas.
Sobre as ruir.as das Srieiícta» todas
Alça a voz linm Propheta, e explica tudo:
SCIL
SCIO
seis
425
(Oráculo immortal, minh'alraa abastas!)
n Creou Doos uo principio 03 Ueos, e a Terra.»
Mortaes, eis a verdade, o mais... delírio.
J. A. DK MACEDO, MEDITAÇÃO, Cailt. 4.
— A arvore da sciencia ão bem e do
mal; a arvore do paraíso terrestre, de
que Deus tinha prohibido os íruetos a
Adão.
— Systema, reunião de conhecimentos
sobre uma matéria.
— Saber que se adquire pela leitura e
pela meditatjíio.
— /Sejui-sciencia ; sciencia imperfeita,
superficial, limitada.
— Sciencia da razão ; sciencia em que
as verdades poderão ser obtidas só pelo
raciocínio, partindo de axiomas, de prin-
cípios primitivos.
— ■ Termo de tbeologia. Sciencia de sim-
ples intelligencia; faculdade pela qual
Deus se conhece a si próprio.
— Sciencia media; sciencia pela qual
Deus aprecia as consequências de tal ou
qual causa.
— - A sciencia infusa ; sciencia que
vem de Deus por inspiração e que suppo-
mos dada pela natureza.
— Popularmente ; Juhjar ter sciencia
infusa ; diz-se de um homem que se jul-
ga sábio sem ter estudado.
— Sciencia do mundo.
■ — A sciencia do coração; o conheci-
mento dos sentimentos.
— Termo de bellas-artes. Diz-se de
tudo o que pôde reduzir-se a regras ou
preceitos.
• — Syn. : Sciencia, sabedoria. Vid. este
ultimo vocábulo.
SCIENTE, adj. 2 gen. (Do latim sciens) .
Que tem sciencia, douto.
— Sabedor, que tem conhecimento, no-
ticia.
SCIENTEMENTE, adv. (De sciente, e o
suflSxo «mente»). De um modo sciente,
sabiamente.
— Com conhecimento da cousa; acinte.
SCIENTIFICAMENTE, adv. (De scienti-
fico, e o suflixo «mente»). De um modo
scientlfico. — Proceder scientificamente.
SCIENTIFICO, A, adj. Que diz respeito
á sciencia. — Matérias scientificas.
— Em que se mostra a sciencia.
SCIENTISSIMO, A, adj.superl. de Scien-
te. ilui sciente.
SGIEROPIA, s. m. Termo de medicina.
Lesão da vista em que todos os objectos
parecem mais escuros.
SCIFÃO, s. m. Vid. Sifão.
SCILLA, s. f. (Do latim scilla). Termo
de botânica. Género de plantas da famí-
lia das liliaceas, comprehendendo plantas
communs na Europa, de que ha muitas
espécies.
SCILLITICO, A, adj. Termo de pharma-
cla. Que participa da natureza da scilla ;
que encerra alguns dos seus princípios. —
Vinagre scillitico. — Pilidas scilliticas.
f SCILLITINA, s. /. Termo de chimi-
ca. Substancia acre extrahida da scilla.
SCINCUS, s. m. (Do grego skiggos).
Termo de zoologia. Animal terrestre se-
melhante ao crocodilo.
SGINTILLA, s. f. (Do latim scintilla).
Termo pouco em uso. Faísca.
SCINTILLAÇÃO, s. f. (Do \&útq scintil-
latiu). Termo de astronomia. Vivo movi-
mento de agitação que se observa na luz
das estrellas, mormente quando a atmos-
phera não está tranquilla, e cuja rapidez
produz a illusão de verdadeiras faíscas.
— Phenomeno de scintillação. — Scintil-
lação das estrellas. — Observa-se scintil-
lação nos planetas.
SCINTILLADO, parf. pass. de Scintil-
lar.
SCITILLANTE, j^^rt. act. de Scintillar.
Que scintilla por sua natureza, que tem
a propriedade de scintillar.
Que em lide percnnal, em anciã eterna.
Nos agita n'hum circulo continuo ;
Por ella sem pavor Guerreiro empunha
A scintUlante espada, o o Pegureiro.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Cant. 1.
Eu vi logo a Xoé, que intacto surge
Do Lenho guardador da espécie humana.
Aos filhos seus, doa sei ntil! antes Astros
Ensina as posições, o aspecto, o moto.
IDEM, VIAGEM E.XTATICA, Cailt. 2.
Xo vasto mar dos fogos sci/itillantes
Me engolfo, e vejo a solidão do vácuo
Ante quem d'espantada a alma recua.
IDEM, A NATUREZA, Cailt. 1.
— Termo de astronomia. O astro que
scintilla.
SCINTILLAR, v. n. (Do latim scintilla-
re). Ter um movimento do scintillação,
faiscar, lançar faiseas. — Nas regiões do
Norte as estrellas scintillam mais que nos
nossos climas.
Ou tu, da Terra habitadora, Alcipe,
Do quem me lembro si5, de quem contemplo
Xo compassado scintillar dos Astros,
Xo magestoso moto a imagem viva
Do teu suave angélico semblante !
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Cailt. 1.
Uniforme clamor dos Entes todos.
Isentos de paixões, isentos de erros.
Vè scintillar brilhantes meteoros,
Yè no Polo que o gelo ao Xorte opprime,
Xovas Auroras, fulgurantes globos.
Que pelos ares fluidos discorrem.
IDEM, MEDITAÇÃO, Caut. 4.
— Figuradamente : Brilhar.
— O ferro scintilla ao haterem-no.
— Scintillarem as pedras com as fer-
raduras dos cavallos.
— Scintillarem os olhos do homem, ou
da mulher mui coléricos.
f SCIOBIA, s. f. Termo de zoologia.
Género de insectos coleopteros.
SCIOGRAPHIA, s. f. Vid. Sciagraphia,
SCIOLO, s. m. (Do latim sciolus). Ter-
mo pouco em uso. Ignorante presumido
que affecta saber o que na realidade
ignora.
SCIOMACHIA, s. /. (Do grego schia, e
machè). Termo de milícia. Simulacro de
combate, pequena guerra.
f SCIOPHILO, s. m. Termo de ento-
mologia, (ienero de insectos dipteros.
f SCIOPTICO, A, adj. Termo didácti-
co. Que diz respeito á visão na som-
bra.
— Termo de physica. Esphera sciopti-
ca; esphera atravessada de um buraco
cylindrico, em que se encontra uma len-
te. Este instrumento serve nas experiên-
cias da camará escura.
SCIOTERICO. Vid. Sciaterico.
SCIRRHO, ou SCIRRO, s. m. (Do latim
scirrhus). Termo de medicina. Tumor
duro que costuma formar-se no ventre.
SCIRRHOSIDADE, s. f. Termo de me-
dicina. Qualidade de ser scirrhoso.
— Tumor scirrhoso.
SCIRRHOSO, A, adj. Da natureza do
scirrho.
SCISMA, ou SCHISMA, s. m. ou/. Divi-
são entre os vassallos de algum bispo, ou
do papa, que reconhecem outro pastor, que
não é o seu canonicamento eleito, e pro-
vido. — «Nem permitimos que esta Pro-
víncia Carthaginesa se divida, em duvi-
doso governo de dous Metrojíolitanos,
contra os Decretos dos Padres, por onde
naça variedade de scismas, com as quaes
se preverta a fé, e se rompa a imião.»
Monarchia Lusitana, liv. 11, cap. 20.
— Figuradamente : Divisão entre os
sectários de uma seita, quando escolhem
diversos pontífices, ou chefes, devendo
ser um só.
— Pensamento, apprehensão errónea.
— Loc. POP. : Metter-se uma scisma
na cabeça d' alguém; metter-se-lhe uma
mania, uma opinião mal fundada.
— Preconceito, opinião sem funda-
mento.
SCISMAR, V. n. Termo popular. Pen-
sar, cuidar muito em alguma pessoa ou »
cousa, com apprehensão eiTonea.
— Imaginar com muito aferro, estar
imaginativo sobre alguma cousa.
SCISMATICO, ou SCHISMATICO, A, adj.
Que fez scisma, que o segue.
— Bispo scismatico ; que pretende ser
bispo da egreja, que tem pastor canó-
nico.
— Pensativo, que está com cuidado em
alguma cousa.
— Substantivamente : Pessoa que re-
conhece o pastor scismatico.
SCISSÃO, s. /. (Do latim scissio). Se-
paração, divisão n'uma assembleia politi-
ca, n'um partido, n'uma seita. — Fazer
uma scissão.
— Divisão de opiniões e de vozes. —
Scissão entre os opinantes.
426
SCOL
SCRA
SCRE
SCISSURA, s. /. iDo latim «císíura;.
Vid. Cisura.
— Fifíuradamente: Quebra, ou inter-
riipçilo do paz, e amizade entre as cor-
tou, ou t':iiiiilias.
SCISURA, ». /. Vid. Scissura.
SCITALE. Vid. Scytal.
SCITOSAMENTE, adv. Advertidamente,
a 8an<íue-t'rio, eoni eonliecimento claro.
— Aleivosamente, insidiosamente, acin-
tosamente sobrepensado. Vid. Aceitosa-
meute.
f SCLEREMA, s. f. Termo do medici-
na. Endurecimento do tecido cellular.
f SCLERIASIS, ou SCLERIASE, s. m.
Termo do medicina. Endurecimento do
bordo das pálpebras.
SCLEROPHTHALMIA, s. /. Termo de
patliologia. Ophtlialmia caractcrisada polo
desonvolvimento de pequenos tumores no
bordo livro das pálpebras.
f SGLEROPHTHALMICO, A, adj. Que
diz respeito á sclrrophthalmia.
f SCLEROPHYLLO, A, adj. Termo de
botânica. Que tem folhas rijas.
f SCLEROPTERO, A, adj. Termo de
zoologia. Que tom azas potentes para o
voo.
SCLEROSARCOMA, s. /. (Do grego
skhros, c sarkosi. Termo de medicina.
Tumor duro, quo ataca as gengivas.
SCLEROSTOMAS, «. /. plur. i Do gre-
go skleros, e stoma). Familia de insectos
dipteros, caractcrisados por um chupador
saliente da í/irma de uma tromba.
f SCLEROTICA, s. /. Termo de anato-
mia, ilcmbrana tibrosa á qual se ligam
os tendões dos músculos que movem o
globo ocular: é dura, opaca, composta
de laminasinhas fibrosas entrecruzadas.
Chama-se vulgarmente o branco do olho.
SCLEROTICO, A, adj. Termo de anato-
mia. Túnica sclerotica; tuuica que forra
o olho, na parte interna.
SCOLECA, s. »i. Termo de entomolo-
gia. Género de vermes intestinaes, de
tamanho excessivamente pequeno, e de
cabeça grande.
f SCOLECIOSIA, s. /. Termo de medi-
cina. Doença entretida pelos vermes.
f SCOLECODE, adj. 2 geti. Que se as-
semelha a um verme.
— Termo de medicina. Que é occasio-
nado por vermes.
f SCOLECOLOGIA, s. /. Tratado so-
bre os verines.
SCOLFITO, por ESCULPIDO, lavrado de
csculptura.
— Vaso scolíito; vaso que tem algum
lavor ou csculptura.
SCOLHEITA, s. /. Vid. Escolheita.
SCOLHENÇA, s. /. Vid. Escolhença.
SCOLIASTES, s.'jn. (Do grego skolia-
Z(3\ Vid. Escoliastes.
SCOLOPENDRA, s. /. Termo de ento-
mologia, (i onero do myriapodos da or-
dem dos chilopodos, comprehendendo os
auimaes de corpo extenso, e dividido em
numerosos segmentos. Suas antennas silo
longas, e seus pós são em numero de
vinte.
— Ha outra espécie na ilha de S, Do-
mingos, que tem listrSo de côr de fogo
polo meio das costas, e os pés a modo de
cabelliiihos em que corre com suuuna ve-
locidade ; é do tamanho de um dedo, cha-
to, e de eòr ferruginosa.
— Termo de botânica. Planta medici-
nal, que tem alguma similhança com o
insecto pelas listras que tem na sua par-
te inferior: c conhecida também pelo no-
me de douraillnha, e língua cervina.
SCOMUNGADOIRO, A, adj. Termo an-
tiquado. Merecedor, e digno de ser ex-
communga'lo.
SCONDUDO, ant. Vid. Escondido.
SCOPO, s. m. (D.) latim scopus). Ter-
mo pouco em uso. Fira, objecto, alvo.
SCOPRO, s. m. Vil. Escopro.
SCORBUTICO, ou ESCORBUTICO, A,
adj. Termo de medicina. Que tem scor-
buto. — Doença scorbutica. — Constitui-
ção scorbutica. — Tumor scorbutico. —
A{fecção scorbutica. - — Ulceras scorbuti-
cas.
— • Que é atacado de scorbuto. — Ser
scorbutico.
— Substantivamente: Uma pessoa scor-
butica. — E um scorbutico.
SCORBUTO, ou ESCORBUTO, s. m. Ter-
mo de meJieina. Doença que corrompe a
massa do sangue, e cujos principaes ca-
racteres são um estado de entorpecimen-
to, de aversiíi) para o exercício, de nó-
doas lividas nas differcntes partes do cor-
po, a vermelhidão, a molleza, a tume-
tacção, a fungosidade, e o fluxo de san-
gue das gengivas pela menor pressão, a
fetidez do hálito, a disposição para as
hemorrhagias e para as ulcerações fungo-
sas com um estado de debilidade geral. O
escorbuto ataca em geral os marinheiros
durante a sua viagem, e em geral os in-
dividues reunidos cm grande numero em
logares estreitos. Os marinheiros olham a
batata como o melhor preservativo do es-
corbuto.
SCORDIO, í. m. Vid. Escordio.
f SCORODITA, s. /. Termo de minera-
logia. Arseniato de ferro.
SCORODONIA, s. /. Vid. Escorodonia.
I SCORZO, s. m. Termo antiquado.
Corticeira, vasilha de cortiça do sobrei-
ro, que levava seis canadas de vinho.
SCOTIA, s. /. (Do grego skotos). Ter-
mo de architcctura. Um dos membros da
base da columna, que fica mais recolhi-
do, e ó algum tanto escuro c sombrio.
SCOTODINIA, í. /. (Do grego skotos, e
i/íií(" . Termo de medicina. Vid. Scoto-
mia.
SCOTOMIA, s. m. Vid. Escotomia.
7 SCRAVO, í. m. Vid. Escravo. —
«Afonso dalbuquerque se fez a vela, com
SOS três nãos, e hum jungo, em que man-
dou embarcar muita fazenda, assi dos
quintos dei Rei, como sua, e de partes
no qual hia por capitão .SimSo niartinz
com treze Portugueses, a mais gente era
sessenta laos c^isados com suas molheres,
e filhos, escrauoB dcl Rei, todos carpin-
teiros, ferreiros, e calafates que leuaua
pêra na índia ensinarem outros scranos.i
Damião de Oocs, Chronica de D. Ma-
noel, part. i5, cap. 20.
Fui Snravo, dci4<l°entain. Galardio Bnmmo
I)c Dco» o tfinho, Pm con»ofruir a Dit»
D<! BPinoar di- .Josu» Christo a crença.
Na liarbara Nação, em que óra existo.
y. M. DO NASCIMENTO, OS XABTTKEJ) , 1ÍV. 7.
Quem nâo vcrtíra Up-imas, olhando-te
Acatada, n'iim tronco da Germânia,
D'um arraio Orcgo, dum Homano gcraro,
E d°uma egrégia itarbara Rainha V
SCRAVONETA, a. /. Rnbim em bruto,
legitimo, ii.Ho polido.
7 SCREVER, 1-. a. Vid. EscrcTcr. —
iE a António de Saldanha, que hia por
capitão da armada, que mandaua ao Em-
perador, screueo que toda aquclla via-
jem onde quer que o Infante seu irmão
estiuesse, em todo, e por todo lhe obede-
cesse como a oUe mesmo se presente fos-
se, e fezesse tudo o que lhe mandasse.»
Damião de Góes, Chronica de D. Ma-
noel, part. 1, cap. 101. — «E que antes
de partir, ou depois, per qualquer nauio
da terra, mandasse a el Rei de Melinde
per hum dos degradados que com elle
hião, as cartas que lhe leuaua, e lhe scre-
vesse o que passara em Quiloa, e de 6ua
parte lhe fezesse muitos offerecimentos,
como a bom amigo.» Ibidem, part. 2,
cíip. 1. — fXo mesmo anuo vieram a
este regno, estando el Rei em Enora,
desauindos do mesmo Rei dom Fernando
o Duque de medina sidónia, e dom Pe-
dro gyrão seu cunhado, filho do Conde
Doruonha, do que el Rei dom Emanuel
teue desgosto, e screueo a Christou.ão
corroa, que estaua entam com seus negó-
cios em Castella, que desse disso suas
desculpas a eIRei dom Fernando, que
lhe naõ parecesse que procedia isto del-
le.» Ibidem, cap. 30. — «Neste tempo
mandou cl Rei dom Emanuel Nuno da
cunha a Çafim com cem lanças, pêra la
estar por fronteiro, debaixo da bandeira,
e mando de Xuno fcrnandez dataidc, e
screueo a dom Xuno m.iscarenhas que se
uiesse para o regno, o deixasse as suas
cem lanças a Nuno femandcz.» Ibidem,
part. 3, cap. 35. — tltcm. Porque Ihea-
bentafuf he razara que com fauor seja
de nos tratado, por seus seruiços, nos
lhe uotiticamos esta nossa determina-
çam, encommendandolhe pois nos o ane-
iiuis assi por scruido lho pareça assi bem,
como sempre lhe p.arcccm as cousas de
nosso seruiço, com algumas cousas, por-
SCRI
SCYL
SE
427
que a isso mais uos mouemos, e que aue-
mo3 por honrrosas pêra elle, segundo
que pela carta que lhe screuemos o ve-
reis.» Ibidem, cap. õ3. — «Esta noua
fez tanta impressam nelle, que logo dixe
que seus trabalhos erào acabados, e que
Deos per sua misericórdia lhe tinha ja
concedido o descanso delles, o que dito
screueo huma carta a el Rei em que de-
zia. Senhor screueo a vossa alteza com
saluços que he sinal de morte.» Ibidem,
cap. 80. — «No que nào podendo Pêro
correa tomar conclusão o mandou el Rei
vir pêra o regno, screuendolhe que dei-
xasse o carrego dalgumas outras cousas
que lhe ficauaõ por acabar a Caristouào
barroso veador da casa do Emperador
Maxirailiano.» Ibidem, part. 4, cap. 1.
— *Este somenos vosso seruidor, verda-
deiro em amor, e em muitos seruiços, co-
mo de seruidor, mil saudações vos enuio,
sabe que sam vosso seruidor, e quero
vosso bem la vos mando Coje alacredim
mahamed pêra que vos diga o que lhe
dixe acerca de nossa amizade, em ser-
mos huus, e tendeo assi por certo, sem
vos disso esquecerdes, screueime sempre,
qualquer cousa, ou seruioo que de mim
quiserdes, ou mo mandai dizer, e eu o
farei, e me fareis nisso muita mercê.»
Ibidem, cap. 11. — «Nesta carta diz as-
sim, Folgo muito de lhe darem o carguo
da Chronica dei Rei dom Emanuel como
me escreue, porque sei que a fará muito
bem por a deuaçam, e amor que teue a
seu seruiço, e a suas cousas, e parece
esta conta que da de como andou de mão
em mào esta chronica, o que se screue
das Rhapsodias de Homero. » Ibidem,
cap. 38.
non ha nenhuma memoria,
nem se screueo em historia
de tantos cauallos yreia
sobre mar tam longe c %-irem,
o nam fallo da victoria.
GARCIA DE BEZEXDE, inSCELLASEA.
SCRIBA, s. m. Vid. Escriba.
SCRIBOMANIA, ou ESCRIBOMANIA, s.f.
(Do latim scribere, e do grego mania).
Neologismo que algumas vezes se em-
prega por mania de escrever, de fazer
obras.
f SCRIPTO, part. j}ass. irreg. de Scre-
ver. Yid. Escripto. — «E nestas três lin-
goajens estauam as taboas scriptas o que
o judeu mandou declarado em lingoa Ma-
labar, da qual se tresladou na Portugue-
sa. Estas taboas sam de metal fino, de
palmo, e meo cada huma de comprido, e
quatro dedos de largo, scriptas dambalas
bandas, e infiadas, pela banda de cima
com hum fio darame grosso.» Damiào de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 1,
cap. 98. - — «E dalli per terra chegou a
corte do Empeiador da Ethiopia Rei do
Abexi, que se chamaua Alexandre, ao
qual deu as cartas que lhe leuauaõ dei
Rei, scriptas em lingoa Arábia, de que
leuou muito contentamento. » Ibidem,
part. 3, cap. 58. — «Depois que Matheus
apresentou esta Cruz a el Rei lhe deu
outra carta scripta nas mesmas lingoas
Arábia, e Persiana metida em hum ca-
nudo douro, de que o treslado he o se-
guinte.» Ibidem, cap. 59. — «E polas
mesmas constituições scriptas nos mes-
mos liuros, guardamos sabbado, e o Do-
mingo, o sabbado porque nelle repou-
sou Deos depois de ter criado o mundo,
e o Domingo por nelle resurgir nosso
Saluador lesu Christo.» Ibidem, cap. 61.
t SCRIPTO, s. m. Yid. Escripto. —
«E entom diredes aos ditos Juizes, e Ofi-
ciaaes, que vos dem aquelles, que vos
assy forom dados em scripto pelo coudel
e anadal do luguar por beesteiros do con-
to, e os façam logo vir ante vós pêra vós
delles, e dos outros, que vos já derom,
escolherdes aquelles, que comprem pêra
comprimento do dito numero, e dos bees-
teiros do conto, que vós achardes, que em
este luguar devia d"aver.» Ord. Affons.,
liv. l,"tit. 68, § 17.
1 SCRIPTURA, «. /. Yid. Escriptura.
— «Do que o nos outros sabemos, e que
se o vossa Alteza visse ficaria espantado,
diz as cousas também ditas, e tam certas
que me parece que sempre falia o Spiri-
tu sancto nelle, porque senhor não faz
outra cousa, que estudar, e muitas ve-
zes adormece, sobre os liuros, e muitas
vezes sesquece de comer e beber, por
fallar nas cousas de nosso Senhor, e que
esta tam cnleuado nas cousas da scriptu-
ra que sesquece de sim mesmo, n Damião
de Góes, Chronica de D. Manoel, part.
4, cap. 3.
f SCRIVÃO, s. m. Yid. Escrivão. —
«Acabadas estas, e outras cousas, Tris-
tão da Cunha entregou a capitania da
fortaleza (a que pos nome de Sam Mi-
gueli a dom Afonso de Noronha, que
delia hia prouido, e por alcaide mor For-
nam lacome de Tomar, cunhado do mes-
mo dom Afonso, e por feitor Pêro Yaz
Dorta, e Gaspar Machado, e Francisco
Saraiua, por scriuães.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 2, cap. 23.
— «O que assentado deu a capitania da
fortaleza a Rui de brito patalim, natural
de Santarém, a alcaidaria mor, e feitoria
a Rui daraujo, por scriuaens Francisco
dazevedo, e Pêro salgado, e a capitania
do mar deu a Fernão perez dandrade, e
por entre elles nam auer algumas dife-
renças.» Ibidem, part. 3, cap. 26.
SCROFULA, í. /'. Yid. Escrófula.
■{- SCROFULOSÒ, A, a^ilj. Yid. Escrofu-
loso.
SCULCA, s. /. Yid. Enculca.
SCULPTAR, *i-. a. Yid. Esculpir.
SCYLLA, í. /. Rochedo e escolho famo-
so situado na costa da Itália, á entrada
do estreito de Sicília, em face de um ou-
tro escolho chamado Charybdis,
— Figuradamente : Qualquer extremo
ruinoso e perigoso. Yid. Scilla, que é
differente.
SCYLLEO, A, adj. De Scylla.
SCYPHOS, s. m. ■plur. Termo de botâ-
nica. Corpinhos turbinados, que se en-
contram na extremidade do tronco ou
ramos dos lichens, ou na margem do ou-
tro scypho.
— Ha scyphos nos fungos.
1.) SCYTAL, ou SCYTALE, s. f. (Do
grego shytali). Termo de antiguidade gre-
ga. Cifra de que os lacedemonios se ser-
viam para escrever cartas mysteriosas.
Consistia cm uma tira estreita de perga-
minho, na qual se escrevia depois de a ter
enrolado em spiral em volta de um cv-
lindro de madeira.
2.) SCYTAL, ou SCYTALE, s. f. Termo
de historia natural. Serpente mui vistosa.
Vid. Scitale.
-}■ SCYTALIDE, s. f. Termo de antigui-
dade grega. Espécie de dardo, o mais
das vezes inflammado.
f SCYTHISMO, s. m. Nome dado por
Santo Epiphanio a todas as religiões bar-
baras que se estabeleceram depois da con-
fusão das linffuas até os gregos.
f SCYTHICO, A, aáy. Que pertence aos
scythos ou á Scythia.
"f SCYTHROPS, s. m. Termo de omi-
thologia. Ave da Nova-Hollanda.
t SCYTHYMENIA, s. /. Termo de bo-
tânica. Género de plantas hyssoides que
se encontra nos rochedos húmidos e nas
suas fendas, e no centro das madeiras da
província da Suécia.
j SCYTODE, s. m. Termo de entomolo-
gia. Género de aranhas.
f SCYTODEPESIO, A, adj. Termo de
chiniica. Que endurece a pelle como o
cortim.
t SCYTONEMA, s. /. Termo de botâ-
nica, trenero de confervas.
t SCYTOSYPHOM, s. m. Termo de bo-
tânica. Género de plantas marinhas da
familia das algas, e da ordem das confer-
voideas fucoides, comprehendendo duas
espécies.
t SCYTROPE, s. VI. Termo de entomo-
logia. Género de insectos coleopteros.
1.) SE, conj. condicional. (Do latim si).
No caso de, dando-se a circumstancia,
etc. E sobretudo usado com o conjuncti-
vo, mas occorre também com o indica-
tivo. — ^ « E posto que quizesse, não que-
ria el-rei Recindos de Hespanha, que tem
seu filho em prisão, e Albayzar em seu
poder. Pois dizei ao turco que entregan-
do-me os prisioneiros que tem, lhe darei
a Albayzar; e, se pêra se fiar de mim
não bastar dizel-o eu, lhe darei por fiador
á senhora Targiana, que, polo que conhe-
ce de mim, creio que o quererá ser; e
pois ella nisto perde ou ganha mais que
ninguém, tendo seu marido preso, não
deve negar o partido. » Francisco de Mo-
I raes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 112.
■12H
SE
SE
HE
— « Por isso, seuliora, (Icscani^Mi c con-
tentai-vo8 mais do rjuo achastes iielle,
que do quo desejastes acliar; c se ino der-
des iicen(;a, ou lhe pedirei que luc di^a
com quem vos determina casar, o tam-
bém lhe porei diante vossa vontade, jx-ra
ver se se move alfijuma cousa.» Ibidem,
cap. 124. — «Quem quereis vi')S, disse
Palmeirim, que vos empida a vonta<le uiu
cousa tanto do vosso fíostoV Fazei o que
vos cila pede, frauqueai-nos a entrada,
que se vós nilo o fazeis, perder-lhe-homos
a esperança.» Ibidem, cap. 120. — «An-
tónio correa lhe mandou dizer, que lho
paroeia muito bem, que se queria que
fossem alf^uns portugueses com Kaix i^a-
dradiín (jue lhos mandaria, o que lhe elle
mandou muito agradecer, dizendo que
por entam nam auia disso necessidade.»
DamiSo de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 4, cap. 03. — « E assi fez hunia
tranqueira no tim da ponte da parto da
fortaleza, porque os Mouros não podessem
vir a ella, temendo que se Pato Unuz to-
masse a Cidade, todos se haviam de ajun-
tar com cUe.» Joào de Barros, Década 2,
liv. 9, Ciip. 5.
Autcs por este vallc, amigo llmbrano,
Se t'aprouver, levemos as ovelhas ;
Porque, se ou por acerto não mo eugauo,
De IA mo sôa hum oco nas orelhas :
O doce acccnto não parece humauo.
CAM., ÉCLOGA 1.
Por isso, c não por falta de natura,
Não ha também Yirgilios, nem Homcros ;
Nem haverá, se este costumo dora,
Pios Eacas, nem Achiiles feros.
IDEM, Lus., cant. 5, est. 98.
— « E não vejo cousa por onde haja
de entregar a índia a Lopo Vaz. Porque
se El Rei soubera que eu estava de posse
da governança, não mandara tal ; e ainda
no mesmo Alvará de Lopo Vaz me no-
mea El Rey por (iovernador da Lídia,
por me haver por pessoa para isso.» Dio-
go de Couto, Década 4, liv. 2, cap. 9.
Porém, de muito obrigado
A formosura tam rara.
Todo o dia uào cessara
Deste cauto.
Se lho concedera tanto
A hua ditosa cstrcUa,
Torna a pór os olhos ncUa
Com receio.
F. n. LOBO, o DESE^°OA^'AD0.
Sela.
meu primo for ahi buscar-me,
digam-lhc como estou cá,
e ([uo aqui mo achará
se se enfadar de cspcrar-me.
ÁNTOmO PHESTES, AUTOS, pug. 418.
— « Eu nào liz esta Carta para disor
o que tenho dito a V. A. porem para pe-
dir-lhe que se está já tradusida a Oração,
ou a Arenga que o dito Arcebispo de
Epekia fez hontem ao Lnjjerador, que me
faça V. A. o favor de ma remeter, o do
mo nào chamar por essa rasào impaciente
como costuma.» Cavalleiro d'<Jliveira,
Cartas, liv. :5, n." 17. — «Se viis tendes
tào pouco conheeimonto do mim, e me
auiaes tanto como eu vos amo, tenho mui-
tas graças que dar ao Amor, e aos As-
tros.» Ibidem, liv. I, n." 47.
Mas 'e o frio he maior, cândidos véllos
(,'oudazidos do vento os campos cobrem,
Quando o Inverno desprega inertes az.is,
Com triste escuridão tapando os ares;
fyu com miúdas gotas condensadas.
Nas ondeantes nu''sscs esparsidas.
Ao dosvelado Lavrador conduzem.
Depois de lougo allan, tristeza, c pranto.
J. A. DE UACEDO, VIAGEH EXTÁTICA, Caut. 1.
K que nào pôde o braço omnipotente
Do Eterno Animador, ne novos Mundos
Elle pi')dc crcar, mandando ao Nada
yu'cncha d'Astros o Ceo, de luz 03 Astros !
IDEM, A NATUKEZA, Caot. 1.
Oh grande Fundador da minha Pátria,
(Aqui brada o Deaõ) se maõs tiveras
E se pernas, e pés te naõ faltarão.
Os pés, e maõs humilde te beijara ;
Mas SC manco, o maneta aqui te vejo,
E á franccza vestido, a mal naõ hajas
Que á franccza te beije a fria face.
A. DINIZ DA CRUZ, HVS30PE, Caut. Õ.
— d Pois as priucipaes se reduzem
agora a Moçambique, Goa, Cochim, Co-
lumbo, e Dio pelo que está hoje a índia
naíj peior para o trato das especiarias,
que he o principal comercio; e junta-
mente está mais defensável, se houver
nella milicia paga; porque tirando o tem-
po do Veraõ, em que os soldados andaò
nas Armadas, os Invernos ticaõ na terra,
sem terem quem lhes dè de comer, che-
gando muitos a pedir esmola pelas ruas,
e Portarias dos Conventos.» ^íaaoel Se-
verim de Faria, Noticias de Portugal,
Disc. 1, cap. 3.
2.) SE, pron. da terceira pessoa singu-
lar e plural, que tem diversas funcções.
— 1.° Exprime que a acçào recáe so-
bre o sujeito que a pratica (retíexo). —
«Andando assim estes recados per meo
de Ninaehatu Gentio, amigo dos nossos,
recebeo Afonso Dalbuquerquc huma car-
ta de Rui daraujo, em que dczia que as
dilaçoens que el Rei com elle vsaua erào
pêra se fortalecer, e o lançar daquelle
porto ou lhe tomar a armada, ou lui quei-
mar.» Dami.no de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 3, cap. 17. — «E de mi-
nha parte vos preseutai á rainha, a quem
direis, que o cavalleiro das Donzollas,
que ante ella justou com Albavzjvr, lhe
manda beijar as niiios e lhe pede de
mercê lhe perdoe o não se descubrir a
cila, nem ai rei ; que da vinda, que vier
do castello dAlmourol, pêra onde vou,
o farei.» Francisco de Moraes, Palmeirim
dlnglaterra, cap. 125. — «Arjentao man-
dou fazer jirestes uma fusta, que na ter-
ra liavia uiuitaA, por ser navios de que
Uravorante mais se servia, c nella se
ouibarcaram os quatro compaiiheiroo, e
Arjentao com alguns principaiís da ilha
eni outra, levando al;;uns refrescos e uian-
timcntos, ])Orquc n-ào sabiam quilo pnjvi-
da entrio estaria a Perig<jsa. » Ibidem,
cap. 1 l'J. — «E para assegurar eatc pon-
to, devem os Principes acautolar-se de
pessoas, que tenhaò apgravado ; por mais
talentos que tcuhaò, naõ liem dellea oa
]i(>stos, cm que podem ter occasiaò de se
vingarem : Plataõ diz, (|ue os Conselhei-
ros haõ de «star livres de ódio, e amor.»
Arte de furtar, cap. 30.
Entre as portas da coTa alta e profunda
A dormideira está sempre, c florccc,
Doutras ervas alli a t<;rra abunda
Com cujo çumo a noite se enriquece
De somno, que i>or toda a terra infanda.
Com quo a gente descansa r te adormece,
E do mais que a donnir move, c convida
Se vê aquella terra bem proNnda.
F. d'akdbade, i-bimeibo cebco de dic, cant. 15,
est. 63.
— «Parte dos quaes, por fugir o ferro
dos nossos que os sangrava, se lançaram
a huma alagoa a nado; outros se mc-ttiam
nos barcos que tinham no esteiro, que
eram do serviço da fortaleza.» Barros,
Década 2, liv. 7, cap. 4. — «xVffouso de
Alboquerque desesperado de o poder aco-
lher, naquelle próprio dia se p:issou á
ilha Diuarij : leixando naquelle passo a
JLanuel de la Cerda e a Bodrigo Rabel-
lo, e elle tornouse a Goa a prouer uaa
obras da fortaleza que mandaua fazer.»
Idem, liv. 5, cap. 10. — «E dahy pelo
mesmo caso o foy para a cidade de Di-
gum, onde foy morto, por causa que pre-
gava disto publicamente, que era certi-
ficar que Deos se fizera homem, e se
pusera na Cruz pelos homens.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 1G3.
— 2." Exprime a reciprocidade. —
«Ao tempo, que se despediram per» ir
fazer a batalha, a donzella de Trácia se
chegou a Floriano, quando o viu tào vi-
vo em cousa que tào mortos deixava os
corações de muitos, dizendo.» Francisco
de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, ca-
pitulo 93.
— 3." Emprega-se em alguns verbos,
que designam uma acç.ão neutra, muitos
dos quaes se empregam também inde-
pendentemente. — «Affonso dalbuquer-
quc se foi a cidade de Goa, onde man-
dou fazer exccuçam nos arrenegados,
guardandolhes .is vid.os, como ficara as-
sentado nos concertos das pases. mas por
exemplo doutros n.io fazerem o que estes
fezerào, lhes mandou com pregão cortar
as orelhíis, narizes, e as mãos direitas, e
os dedos jwlegares das esquerdas.» Da-
mi.ão de Góes, Chronica de D. Manoel,
SE
SE
SE
429
part. 3, cap. 3. — «Alguns dias depois
de Tristão da cimha ser em Roma, e to-
da sua famiiia, e dos que com elle hiào,
e assi Xicolao de faria, com o Elephante,
c Onça, ordenou o Papa que fezesse sua
entrada no primeiro Domingo da Cores-
ma, xii dias de Março, no qual dia se
foi ante manhã a humas casas, e jardim
do Cardeal Adriano, que estaõ junto da
cidade.» Ibidem, cap. 5õ. — «É alii se
foi Alàquer, e Dalàquer a Muja, onde
nouamente fez Conde Dalcoutim dom
Fernando de Meneses, filho de dom Pe-
di'o de Meneses, primeiro Marques de
villa Real, e lhe concedeo, e fez graça,
e mercê, que dalli por diante os filhos
mais velhos legítimos dos Marqueses de
villa Real se chamassem Condes Dalcou-
tim.» Ibidem, part. 1, cap. 77. — «Aca-
bando o mercador de carregar a lancha-
ra, que era a embarcação em que levava
esta mercadaria, se partio para Malaca,
onde chegou daly a tros dias, e se foy
logo á fortaleza ver o Capitão, e me le-
vou comsigo, a quem deu conta do que
tinha passado comigo.» Fernão Mendes
Pinto. Peregrinações, cap. 2õ. — «E por-
que lhe pareceo que na ilha não ha,via
mais que vèr, determinaram logo partir-
se. Arjentao com os outros da Ilha Pro-
funda foram ver todalas particularidades
daquella terra que lhe pareceram mui
grandes.» Francisco de Moraes, Palmei-
rim d'Inglaterra.
Xào houve então uenhum tão pouco forte
Entre aquella infiel gente perdida,
Que temendo a futura, certa morte.
Que tinham ja bem clara, e conhecida,
Ou com desejo doutra melhor sorte,
E conservar mais longo tempo a vida,
A Portugueza gente se viesse,
E do que lá passava novas desse.
FRAXCISCO DE ANDRADE, FBIMEIBO CKECO DE DIU,
cant. 1, est. 77.
■ — «E trazem tanto este negocio em
caso de honrra que andam a quem ho
fará milhor; rauyto se espantou o gover-
nador que nos convidou do Embaysador
e portugueses deytarem agoa no vinho.»
António Tenreiro, Itinerário, cap. 6.
Agora, que de neve se embranquece
Aquelle monte, e o burro se arrepia,
He chegado o Inverno: principia,
Pauliuo, a ver que cedo te anoitece.
ABBAj>]!: DE jxzEXTE, POESIAS, tom. 2, pag. 79.
E o anjo assim me disse. E mais, que um dia
Tamanho se fará teu nome e glória,
Que encha o universo. — Vai: adeus! Terrível,
Amargo adeus i este... Xão importa.
Parte... c jamais te esqueças...
GARRETT, CAMÕES, CaUt. 4, Cap. 4.
— 4." Exprime a passividade. — «Es-
ta he a maneira, que nós ElRey Dom
Joham mandamos que se tenha sobre as
pagas, que se devem fozer aos Prelados,
e Fidalgos, e outras quaeesquer pessoas
nos afloramentos, c emprazamentos, e
arrendamentos, e alugueres, e outras
quaeesquer paguas, que se ouverem de
fazer per ouro, ou prata, ou per outras
quaesquer moedas.» Ordenações Affonsi-
nas, liv. 4, tit. 1, § 33. — «E assi mandou
fazer outra moeda douro, que se cha-
maua Espadim, que era da lei dos Jus-
tos, e da metade do preço, e peso delles,
que era trezentos reis, e tinha de huma
parte o escudo Real com o nome e titulo
dei Rey, e da outra huma mão com huma
espada nua com a ponta pêra cima, e
por letra de redor : Dominus protector vi-
tce mea, a quo trepidabo : e estes Espa-
dis mandou fazer deste nome por deua-
çào, e lembrança da conquista DaíFrica,
que sempre com a espada na mão se fez,
e prosegue por honra, e Exalçamento da
Fe de Xosso Senhor lESV CRISTO.»
Garcia de Rezende, Chronica de D. João
II, cap. 57.
De índios se nos pegou
tratar, e mercadoria
dantes non se costumou,
por baiiesa se auia,
em alteza se tornou.
IDEU, MISCEI.L.IXI.1.
— «O qual dõ Lourenço não se auia
de mostrar que hia ali por não dar algu-
ma presumpçào aos Moiu-os quando vis-
sem pessoa taõ notauel : somente hiaõ to-
dos em modo de visitação da parte do
capitão môr ao capitão da fortaleza e as-
si se fez.» João de Barros, Década 1,
liv. 8, cap. 9.
Isto se pôde ver mui claramente
Nesta que hoje ha de ser de mi cantada,
A qual dhuma vi!, pobre, e baixa gente
Ja no passado tempo foi morada :
E depois coni a industria d'iuim prudente
Varão, foi tão famosa e celebrada
Que a cabeça entre todas foi erguendo
Quantas visita o Sol hoje em nascendo.
F. DANDKADE, PRIMEIRO CERCO DE DIL", Cant. 5,
est. o.
Junto do Caspio mar, contra o Oriente,
Lá nas partes da Pérsia interiores.
Habita huma animosa e forte geute
Que teem inda por nome hoje Mogores ;
Cuja língua algum tanto lie dítierente
Da que se usa entre os Persas moradores ;
Alvos 03 homens são, brandos, tratáveis.
Domésticos, polidos, conversáveis.
IBIDEM, cant. 3, est. 4.
Aquelle baluarte que hoje em dia
Com nome de Couraça se conhece
Huma grossa cadeia despedia
Do metal a ()ue todo outi-o obedece,
Que lá até o balurte se estendia,
Cora que o mar se defende e fortalece,
E a força do pesado cabrestante
Faz, com que ella se abaixe c se alevante.
IBIDEM, cant. õ, est. 24.
Jesu ! que avocação !
Pois dir-lhe-hei como, e que geito :
naquelle logar estavam
dous easaes que se chamavam
um Justiça c outro Dereito.
ASTONIO PRESTES, ACTOS, pag. 141.
Triste vida se m"ordena
pois quer vossa condição
que os males que dão tal pena,
me fiquem por galardão.
F. DE MORAES, PALMEIRIM d"iXGLATERRA,
cap. 109.
— «Pelo que sem haver na índia gen-
te paga, e pratica paia andar nas Arma-
das, 6 presidiar as Fortalezas, naò se
pôde esperar nenhum bom eâeito de nos-
sa milicia, p is alem do que temos dito,
toda ella he feita cada anno em Goa tu-
multuariamente, e de soldados armados
com toda a desigualdade, assim no nu-
mero, como nas Armas, porque cada hum
traz as que quer.» ^Manoel Severim de
Fai-ia, Noticias de Portugal, Disc. 1, cap,
3. — <iSe creia que fazem justiça com
grande acerto — artificio de infernal in-
veja — e tudo encaminhado a metter
n'um chinello a quem não podem egua-
lar em méritos e fortuna.» Bispo do Grão
Pará, Memorias, publicadas por Camillo
Castello Branco, pag. 59. ■ — « Despedi-
dos da freguezia, paramos em a fregue-
zia de Sant'Anna, acommodando-se a fa-
mília em casas de um padre Custodio, e
ficando nós na canoa, por causa de se
nos ter tirado de um dedo quatro bichos
que, sendo pulgas de cão ou gato, se in-
troduzem na cútis e carne do pé, e cres-
cendo se fazem do tamanho e feitio d'u-
ma pérola ou aljôfar ordinário.» Ibidem,
pag. 205. • — «Em Mastrich, e no Mos-
teyro das Senhoras Brancas da Ordem de
S. Maria Magdalena Penitente, se vè
hum Crucifixo que uasceo dentro de
huma Nogueira.» Cavalleiro d'01iveira.
Cartas, liv. 1, n.° 24. — «Parece-me que
estou vendo em cada hum dos Edificios
do Olympo, este bilhete assignado por
todos os Deoses. Casa que se vende
no Ceo para pagar na terra a obriga-
ção que devemos a Domiciano. » Ibidem,
n.° 33. — «Fonte limpa he o Deos que
naquella casa se adora, de cuja boca
procede toda a verdade, mas os homens
da terra saõ charcos de agoa turva, em
que por natureza continuamente moraõ
desvarios e faltas, pelo que se deve de
aver por maldito o que confia no bocejo
dos seus beiços.» Fei"não Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 30.
Destes tiros assi desordenados,
Que estes moços mal destros vão tirando,
Nascem amores mil desconcertados
Entre o povo ferido, miserando :
E também nos heroes do altos estados
Exemplos mil se vêm de amor nefando,
Qual o das moças, Bibli. c Cinyrea :
Hum mancebo de Assvnria, hum de Judca.
CAH., Lus., cant. 9, est. 34.
430
SEBA
SECA
SECÇ
— «Volumes (lo providencias do mar-
quez do Pomba!, milhões de dcspeza» era
dosintuUios, concertos o ciJilica^fões no-
vas; mas nem uma onlem dada, nem um
cruzado gasto para se descuijrir o jazi^^o
de Luiz de Camões.» (larrctt, Gamões,
nota E ao cant. 10.
SEARA, s. /. A sementeira de trif^o,
centeio, ete., em quanto está em j)é no
campo. — «Mas antes quando os .Senho-
rios o (pierem, ellea o não consentem,
pelo danno, ([ue temem, que os taes mora-
dores lhes haõ de fazer nas suas searas, e
nem huma arvoro do fruto, ou parreira
ouzaõ plantar na terra.» Manoel Seve-
rim de Faria, Noticias de Portugal, Disc.
1, cap. If).
— Kipuradaraente: (irando copia do
pessoas eonvortidas ú santa fé, ou pró-
ximas a isso.
— Fazer seara; plantar cm terra alheia,
não encabeçado n'ella.
— Pequena porçXo de terra cultivada
por um seareiro ou lavrailor pobre.
— Porçíío de terra semeada pelos ha-
bitantes de um povo, ein beneficio eom-
mura.
— Adágios:
— Faze tua seara onde canta a ci-
garra.
— Mcttor a fouce era seara alheia.
Pois se aca»o sn truta outra matcria
Maia polida, maia aória,
Uizem quf! hc cousa feia
Mettor a fouce na seara alheia.
j. X. DK MATTOS, iiiMAs, [)ag. 218 (lí.» cdiíjão).
SEAREIRO, s. m. (De seara, cora o
suffixo «eiró»). O que faz searas.
— Lavrador pobro, que só cultiva uma
pequena por(;ão de terra ; é usado quasi
exclusivamente no Alemtejo.
SEARINHA, s. /'. Diminutivo de Seara.
SEBA. Vid. Alga.
SEBACEO, (idj. (Do latim sohaceus).
Vid. Seboso.
— Termo de anatomia. Glândulas se-
baceas ; bolsinhas glaudulosas, situadas
na espessura da pello, (pie sejíre^am um
humor unctuoso, chamado matéria seba-
cea.
SEBACICO, ailj. Termo do chimica.
Diz-se de um acido que se obtcra decom-
pondo as jiorduras \w\o calor.
f SEBASTENO, ndj. De Sobaste, per-
tencente á ciilade de Sebaste.
— iS. Natural de Sebaste.
SEBASTIANISTA, s. 2 yen. Sectário da
crença dos quo esperam a vintla do el-
rei D. Sebastiiío. — «Não admira a in-
constância de Vieira ; pois no sermão de
S. Sebastião, o primeiro que fez em sua
vida, mostrou idéas sebastianistas, e nos
outros diz claramente: morreu ol-rei D.
Sebastião.» Bispo do (.irão Pará, Memo-
rias, publicadas por Camillo Oastello
Branco, pag. 85.'
SEBASTO, «. in. A tira de cór diffe-
rcuto no meio de outras duas na casula
do saci-rdote.
SEBASTOCRATOR, n. w. Dignidade na
tíC>\U; ilti CiHistaiitinopla.
SEBATO, s. 7/1. Termo de chimica. Sal
formado pelo aciíio sobacico e uma Ijase.
SEBE, *•. /. (Do latim se/jet). Tapume
de r;ima seeca ))ara cercar o vedar o ac-
cesso a quinta, viidia, otc.
— Casas de sebe; feitas e tapadas de
esteio o enchameis de pau, cruzados com
ripas, varas, ete., formando uma espé-
cie de graile ; c tapam-se os buracos com
barro amassado,
— Adágios:
— Uma sebe dura três annos, três se-
bes um cão, três cães um cavallo, três
eavallus um homem, três homens um cer-
vo, três cervos um elefante.
— Sebe dura três annos, o cão três
vidas do sebe, o cavallo três vidas de
cão, o homem três vidas de cavallo, o
corvo três vidas de homem,
f SEBEA, *•. /. Termo de botânica. Gé-
nero de plantas da familia das gencia-
neas, cujas espécies são indígenas do ca-
bo da Boa-Esperança.
f SEBEIRO, s. m. Pedaço de pau com
um entallio ou concavidade no centro,
em que os calafates levam o sebo para
untar as brocas e verrumões.
SEBEL, s. f. Termo de anatomia. Veia
dos olhos, que os médicos chamam dila-
tativti.
SEBENTO. Vid. Seboso.
SEBESTA, A-. /. Fructo do Egypto,
pequeno abrunho ou fructo da sebes-
teira.
SEBESTE, ou SEBESTEIRA, s, /. Ter-
mo de botânica. Planta que dá o fructo
chamado seOesta.
SEBO, s, VI. (Do latim sebum). Gordu-
ra, banha, unto solido c duro que se tira
de alfíuns animaes, e que derretido ser-
ve para velas e outros usos.
— Adagio :
- — Quando o gosto é sobejo, mais cus-
ta a mecha que o sebo.
SEBOLA. Vid. Cebola.
SEBOSO, adj. [Do latim sebosus). Que
tem sel)u, cheio, abundante de sebo.
— Da natureza do sebo.
— Sebento, ensebado, untado, besun-
tado de sebo, de gordura.
— Parecido com o sebo.
SECA, ou SECA. Vid. Sêcca, ou Sécca.
j- SECAMENTE. Vid. Seccamente. —
« V. S. lhes chama Vénus tão secamente
que julgo se esqueceo de que os Histi>ria-
dorcs das delicias, das desenvoltura-;,
das desordens, e das deshonestidades de
Vénus, não lho poderão negar jamais a
autoridade, o respeito, e o nome de
Deosa.» Cavalleiro d'01iveira, Cartas,
liv. -2. u." 3r>,
SECANTE, adj. J g,n. Termo do ma-
thematiea. Qualquer linha que corta uma
curva, ou superfície, ou qualquer plano
que ciirta algum corpo, Vid. Seccante.
— Secante de um arco; a recta que
saindo do centro do circulo, passa pela
extremidade do dito arco, até se encon-
trar com a tangente.
SECAR. Vid. Seccar.
Tudo êeeou :
»ein cor d 'cApcraDça
o tempo levou
toda a coiifiaii<;a *,
a pena ficou
com quem bom me pcaa
luiqueata defcza.
D. JOANXÀ DA UAMA, t>IT0« DA rSZIBA,
pag. %.
Folgo de acliar-me aqui com este leque,
poia n'cs»e caso to vai tanto e toca.
Ha mullier espada, c ha homem roca:
eu quero fazer esta a^ua que rtquf,
c não seja freio tào doce a csaa bocca.
ANTÓNIO rBESTF.S, AUTOS, pag. 9.
SECATURA, «. /. Vid. Seccatura.
SECAZ, a. f. Vid. Sequaz.
SÈCCA, *."/. Falta de chuva, estação
em que não cáe chuva, tomando a causa
pelo efteito, que 6 seccar, e osterilisar a
terra.
L) SÉCCA, s. f. Enfado que causa o
fallador longo, e importuno; conversa en-
fadoniia, aborrecida.
2.) SECCA, s. 2 (jen. Importuno, caos-
ticante.
SECCAÇÃO, s. /. (Do thema secca, de
seccar, com o suffixo «ação»). Acção de
seccar os corpos húmidos.
— Termo de pharmacia. Operação de
seccar as drogas para se poderem guar-
dar, sem se corromperem.
SECCADO, part. pass. de Seccar.
SECCAMENTE, adv. (De secca, com o
sufiixo «mente»). Com seccura.
— Sem ornato, em poucas palavras.
— Desabridamente, asperamente, sem
attenção nem cortezia.
— Friamente.
1.) SECCANTE, adj. 2 gen. (Part. act.
de Seccar». Que secca.
— ò'. 2 ijen. Importuno, fastidioso.
2.) SECCANTE, ». m. Termo de pintor.
Composição feita ordinariamente de óleo
de linhaça fervido com alhos, vidro mol-
do e lithargvrio, ou almartega de doura-
dor, que se emprega para seccar depressa
as tintas.
SECÇÃO, ». /. (Do latim tectionem).
Porção, parte, divisão de um todo.
— Divisão de uma obra, tratado oa
matéria em livros, capítulos, paragrapboa
ou artig.'s, para melhor clareza e compo-
sição.
— Cada uma das partes em que se di- j
viilem os indivíduos de uma mesma cor-
poração, repartição ou officina. para me-j
Ihor serviço e execuçSo dos trabalhos.
— Termo de architectura. Delineaçloj
da altura e profundidade de um edificio, '
SECC
SECC
SECC
431
como se fora partido pelo centro, para se
vêr a sua parte interior.
— Termo de matliematica. Corte das
linhas, figuras e corpos solides.
— Capacidade do leito do rio ou canal,
determinada por um plano perpendicular
á corrente da agua, que a corta desde a
superfície até ao fundo.
— Termo militar. Fracção administra-
tiva e de manobra da cavallaria que
consta da quarta parte do esquadríio.
— Subdivisão de bateria que consta de
duas peças.
— Termo d'astronomia. A divisão das
estações.
— Ponto de secção ; o em que dous
pontos se tocam.
SECCAR, V. a. (Do latim siccare). En-
xugar, privar da humidade.
— Fazer murchar de todo. — A falta
d'agua sécca as flores,
— Gastar, ir consumindo o humor, o
sueco dos corpos.
— Enxugar, esgotar ; exhaurir, tirar
a agua de um poço, de uma lagoa, etc.
— Ser importuno, causticar, dar sécca.
— Seccar a alma com tristeza ; fazer-
Ihe perder sentimentos humanos, e libe-
raes ; a alegria.
— Termo de náutica. Seccar a vela
do navio; ferral -a.
— Seccar-se, v. reji. Enxugar-se, per-
der a humidade, tornar-se secco pela eva-
poração.
— Esgotar-se, cessar de correr ; per-
der a agua o rio, a fonte, etc.
— Murchar-se, ficarem seccas, mortas,
murchas, privadas de suecos as plantas.
— Figuradamente : Enfadar-se, agas-
tar-se, aborrecer-se.
— Definhar-se, emmagrecer; ir-se atte-
nuando e extenuando pouco a pouco por
doença, ou por velhice.
— Seccar-se as plantas; ficarem sec-
cas, murcharem, morrerem.
— Acabar-se. — Seccar-se o commercio
da índia.
— Faltar. — Foi causa de nos seccar tudo.
— Seccar-se a alguém; mostrar-se-lhe
secco, desabrido, com modo secco; dei-
xar de rir, ficar serio.
SECCARRÃO, adj. Augmentativo de
Secco. Muito secco.
SECCATIVO. Vid. Siccativo.
SECCATURA, s. f. Sécca, pratica im-
portuna, enfadonha.
SECCO, adj. (Do latim siccus). Enxu-
to, privado de humidade, sem agua.
A sombra destas rochas sempre estava
Em grào silcucio o mar brando e sereno,
Entro hum e outro penedo se mostrava
Hum cspa(;o de praia não pequeno,
Da qual a secca areia se acabava
N'hum prado verde, assaz suave e ameno,
Que hum outeiro tão alto tem defronte
Que bem merecerá nome de monte.
F. DK ANDBADK, PBIMEIRO CEBCO DE DIU, Cant 4,
est. 40.
— Sem verdura, falto de suecos, de
louçania; diz-se particularmente das plan-
tas. — Este jardim tem as Jlores todas
seccas.
Fero. U.xtix, agora não pacerão elles,
E lá por essas charnecas
Vem roendo as urzeiras.
Fosco. Leix'os tu. Pêro Vaz, qu'eUc3
Achão aqui as hervaa seccas,
E não comem giesteiras.
GIL VICENTE, FAUÇAS.
— «Não prosigas.»
— «E que ha» disse, apontando para o féretro
Que entrava a egreja então, o missionário,
«Que ha tam medonho c mau n'e3se3 despojos
Da passageira vida V Um tronco sêcco,
Pelos ventos do outomno despojado
Do viço c folhas, — tenda abandonada
Pelo viandante que voltou á pátria.
GAíREiT, CAMÕES, caut. 2, cap. .3.
Das ondas vencedor, entre espantosos
Ermos d'ardente Arábia o Povo avança \
Alpestres montes sèccos, pedregosos
He tudo quanto ao longe a vista alcança :
Xos ostuantes campos arenosos
Já de marchar o exercito se cança ;
Assíduo Sol a prumo abrasa, c fere,
Som que a nuvem volante o ardor modere.
J. A. DE MACEDO, o ORIENTE, Caut. 9, CSt. 103.
— «Emquanto Astrimiro subia ao vai-
lo, de cujo topo se descortinava melhor,
postoque a breve distancia, o caminho
que haviam seguido, Gudesteu trabalha-
va em ajunctar alguns troncos de arvo-
res e as folhas seccas amontoadas pelos
ventos do estio que as chuvas outonaes
ainda não tinham arrastado.» A. Hercu-
lano, Eurico, cap. 16,
— Magro, de poucas carnes.
— Diz-se do tempo em que não chove.
— Figuradamente: Só, sem mistura
de outras cousas. — • Comer pão secco.
— Estéril, árido, inculto, falto de or-
natos, sem bellezas, etc; diz-se de um
assumpto, estylo, ou matéria.
— Áspero, desabrido, pouco aífavel.
— Secco de palavras.
— Frio, pouco devoto, pouco fervoro-
so na virtude; diz-se em sentido mys-
tico.
— Insensível aos affectos,
— Portos seccos ; passos, entradas de
um paiz por terra firme, e não por mar
ou rio.
— Ama secca ; a que cuida na crian-
ça, mas nào lhe dá de mamar.
— Amores seccos ; sem gostos de pra-
zeres carnaes.
— Concubito secco ; sem seminação.
— Asthma secca ; a que não tem es-
tertor, nem sibilo, nem pintainhos na
garganta.
— Batalha, briga secca ; fingida, por
exercício, em que não ha eíFusão de san-
gue.
— • Bocca secca ; sem saliva ou humi-
dade.
— Bolsa secca; vazia.
— Criado a secco ; aquelle a quem se
não dá de comer.
— A dinheiro secco ; por soldada, sem
comer.
— Fruta secca ; diz-se das frutas de
casca dura, como avellãs, amêndoas, no-
zes, etc. ; e também das frutas a que se
tira parte da humidade para que se con-
servem, em cujo caso se chamam tam-
bém passadas, como figos, passas, etc.
— Missa secca; em que o sacerdote
não consagra.
Ao glorioso Seixal,
Senhor dos outros Seixacs :
Sete missas me dirão
E 03 caliz encherão.
Não me digào missa sêcca;
Porque a dor da enxaqueca
Me fez esta devaçào.
GIL VICENTE, OBBAS VAKIAS.
— Nós seccos ; apertados, que não dão
logar a que os .soltem.
— Piso secco ; desabrido, que não é
de coração, fingido.
— Navegar, correr arvore secca; com
as velas ferradas. — «Assim desta ma-
neira correndo arvore secca, haviam por
mais corta sua fim do que lhe ficava es-
perança alguma de vida.» Francisco de
Moraes, Palmeirim dlnglaterra, capitu-
lo 115.
— Loc. ADV. : Em secco ; fora d'a-
gua, ou de logar húmido. — « Porque
quando veio pela manhã com a maré va-
sia, e o mar espraiar muito, por serem
aguas vivas, estavam todos em secco
huns sobre coroas de arêas, outros em
vasa, de maneira, que os nossos bateis
não podiam ir a elles, e estavam hum
pouco aftastados pêra com artilheria lhes
fazer algum damno.» Bancos, Década 2,
liv. 6, cap. 8.
— ■ Dar em secco; encalhar o navio.
— Dar em secco co7n a moeda ; arrui-
nar-se, ficar pobre.
— Ficar era secco; ficar parado, sem
poder continuar, proseguir.
— Secco de sede; mui sequioso, que
arde em sede.
— Pão secco ; sem conducto, ou outro
alimento solido.
SECCURA, s. /. Falta de humidade, de
chuva; sede.
— Escassez, ou falta de fructos em
algum paiz, aridez ou esterilidade d'elle.
— Por extensão : Diz-se do que deve-
ria offbrecer utilidade, mas que não dá
producto.
— Figuradamente : Sequidão, frieza,
desabrimento, desapego; aspereza e du-
reza de génio, folta de carinho, modo
secco, pouco aíFavel de tratar.
— Sequidão, aridez, esterilidade, fal-
ta de doçura e eloquência no estylo.
— Falta de fervor, insensibilidade, es-
tado da alma que não sente conforto nos
432
SECO
SECR
SECE
exorcicios de devoção; diz-se em sentido
mvHtico.
SECEAR. Vid. Cacear.
SECEDIMENTO. Vid. Succedimento.
SECESSO, s. 7/1. (int. Apartamento, sc-
pararao, retiro.
SECIO, ailj. (iarrido, enfeitado; sum-
niaincntií uiiidailoso (lo seu cnfuite.
SECIOSO. Viil. Cicioso.
SECO. \'iil. Secco. — «Com a mesma
tormenta se íui Antào non^ueira perder
na enseada de Cambaia diante do lugar
de Dam.ão, e raorrco dom Afonso por se
lançar ao mar, em a nao dando em seco,
e os outros que saíram depois oscraparam,
o foraõ lanados a el Rei de Cambaia,
que sam os que cscreuerara a Afonso
Dalbuqucrquc pelo cmLiiixailor do mes-
mo Uoi como atras fica dito.» Damião de
Gocs, Chronica de D. Manoel, part. í?,
cap. lõ.
E seco vimos o anno,
c bem claro o engano,
em que a9trolof;o3 ostauam,
pois dantes tanto affirmauam
por chuuas auer giã dano.
QARCH DE KEZENDE, MISCKLLANEi.
Aquclla condição isenta c teca,
Onde tal desamor senuirc enxergaua,
Eatc3 versos compôs, c a CImodJcc
Pede que os canto, a qual no mor silencio
Da tenebrosa noite, estando em calma
As alteradas ondas, assi disse.
COUTE RKAI., N.tUFRAOlO DE SEriLVEDA, Cant. 7.
As cstrellas no mais alto subidas
Do eco mcauão sua grão jornada
Subindo da segunda crusta aos ares
Delgados, e sotis secou vapores,
Que penetrando a Sphrera Aérea, chegão
Ao fogoso elemento, o qual se esforça
Pêra lho resistir, lançando estrellas
Velooes, contrafeitas, c tingidas.
IBIDEM, cant. 10.
— «As justificações do livro do Beato
Amadeu, estimei grandemente vêr, pela
variedade e incerteza com que nelle fal-
iam os auctores; o o melhor que tem, é
estarem desempedidas daquelle seco,
onde as coisas d'este género costumam
encalhar na nossa terra.» Padre António
Vieira, Cartas, n." 2õ. — «E ao tratarsc
da sepultura, se lhe achou escondida en-
tre as vides secas, que lhe serviaõ de
cama, kuma panella do dinheiro, que
«ajuntava vendendo as oflertas dos devo-
tos, contra o voto da pobreza, quo pro-
fessara.» Padre Manoel Bernardes, Exer-
cícios espirituaes, part. 1, pag. 472.
Pregaes-me frestas, janelas,
ou nem pé em ramo seco.
o ilida sois toda querelas,
que tão cazeiro é jã estremo.
Não se f.Ala d'al na praça
se não d'is3o.
Oh ! dae ao demo !
ANTOSIO PRESTES, AUTOS, pag. 291.
Eu cuidava a arvore Ȏca,
que farnesins todavia
os não havia
senão de febre c de peca.
iniDKM, pag. .307.
SECREÇÃO, s. f. (Do latim secretio-
nnm). Termo do medicina. Segregação
de divcr.sos humores do sangue, elabor.v
da [lolas glândulas.
SECREST... As palavras que começam
por Secrest..., busquem-se com Sequest...
Ou dera assi um tecrejilo,
ou o dez pela tranquiaha
ou no vão ;
de trunfar guardae-me o pão,
compadre, levaes manilha.
ANTÓNIO rnESTEs, AUTOS, pog. 59.
SECRETA, 8. f. (Vid. Secreto). These
defendida só em presença dos doutores,
em algumas universidades, pelo candida-
to que quer receber o grau de licenciado
em direito canónico.
— Cada uma das orações que o frade
diz cm voz baixa, antes do prefacio.
— A privaila, commúa, latrina.
SECRETAMENTE, a<lv. (De secreto,
com o sufBxo «mente»). Occultamente,
em segredo, ;is occultas, escondidamente.
Eu me achei no presente
onde estavam escondidas
c no penedo metidas
lavando .•'errelamriitr ;
mais quizera seer ausente
que presente me achar,
se bem lavam, melhor torcem,
namorou-me o seu lavar.
D. JOANNA DA GAMA, DITOS DA FREIRA,
pag. 26.
— Consultou el Rey secretamente os
Sábios que avia em Espanha e lhe disse-
raõ, que pela estatua, e seu movimento
se entendia o tempo cõ suas mudanças
ordinárias, o no rotulo das costas dava a
entender, que andando o tempo seria Es-
panha conquistada dos Árabes, nas letras
da parede que ficava á mrio esquerda se
aununeiava a perda, e destruyçào dei
Rey, e nas da m.iio direita a dos Godos,
e moradores de Espanha, e nas da en-
trada se mostr.ivaõ os bens dos vencedo-
res, e males dos vencidos.» Monarchia
Lusitana, liv. 7, cap. 1. — < l)uarte Pa-
checo, que esperaua o mesmo, mandou
logo arrasar a ponta da ilha Darraul, e
cortar todo o aruoredo, que nella auia,
por os imigos uam })oerem alli secreta-
mente algumas bomb.irdas, e mandou
dar cabos de huma cju-auella a outra, fa-
zendo toda aquella noite grande festa,
por assim darem a entender aos imigos
que lhes nam auiam medo.» Damião de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 1, ca-
pitulo 88. — <t Neste anno no mos de lu-
nho por algumas suspectas, que el Rei
teue da cxcellentc senhora donna loanna
Rainha, que fora do Castella, e Leaõ, se
querer tornar secretamente pêra os ditos
regno», ordenou que se viesse de .Sancta-
rem, onde então ei^taiui, pêra Lisboa, e
por as informações que sobre isso deram
a el Rei nam serem de calidadc pêra »e
lhe dar fc, e el Rei achar dep«i« ser tudo
falso, tenho por nmito eacusado fazer disso
mais declaraçam, da qual senhora, e de
seas infortúnios tenho tratado atmiu per
extenso na (Jhronica do Príncipe dom
loam, Rui qui- foi destes regnos, seíjundo
do nome.» Ibidem, cap. \)i. — fSolUlozei-
nal lho teue em mercê, mas parecendolhe
que erão tudo palauras, arreceandosse
que o leuasse Afonso dalbucpierqae con-
sigo a índia, fogio da cidade com todo-
los seus tam secretamente, que nunca fc
pode saber para onde.» Ibidem, part. o,
cap. 20. — « El Rei como ja tinha von-
tade de lhe perdoar respondeo a dona
Leanor, tudo que se faria bem, e ao outro
dia dixe a meu innam FrucUjs de goes
(que secretamente lhe tinha ja dado con-
ta do que passara com dona Luanori que
fosse a casa de dom Aluaro.» Ibidem,
cap. 40. — «O que fezeram tam de sú-
bito, que nem Raix Xarafo, nem Raix
madafar, irmam de Riiix Hamed, nem os
que com elle vinhào armados secreta-
mente poderam entrar.» Ibidem, cap. tj8.
— « Com tudo receosos, ou sabendo ja de
certo ao que Diogo lopez liia, poserâo a
bom recado Feroam inartinz euangelho
que alli estaua negoceando cousas que
compríam a seruíço dei Rei, e todolos
mais Portugueses que auia na Cidade,
porque senaõ acolhessem secretamente os
quaes Diogo lopez nam pode haver. » Ibi-
dem, part. 4, cap. (10. — «El Rey lhe
disse : He verdade que eu passei esse
aluara com falsa enformação, e quando o
soube por nào passar outro em contrayro
mandei chamar o homem, e secretamente
lhe mandei por Antão de Faria dar du-
zentos mil reis em ouro, e elle he bem
contente e satisfeito, e lhe mandei que
nào folaíse nisso.» tiarcia de Rezende,
Chronica de D. João II, cap. 107. —
« Dezia, ja a tenho dada, e entam se-
cretamente via no livro as pessoas da ca-
lidadc de tal cousa, e áquella a que mais
obrigaçam tinha a daua, c as vezes ca-
tando as taes pessoas fora do Reyno em
seu seruíço lhe mandaua cá fazer seus
despachos, de que muytos se espantauam,
e foy singular virtude, em que todolos
bons tinham muyta esperança de seus
seruíços : este livro tenho eu cm meu po-
der.» Ibidem.
quantos rasos la passaram,
tudo mouros ordenaram,
como mãos. secrelamaite,
cm que morreo mu\'ta gente,
muytos delles o pagaram.
IDEM, MISCELI..VXB.I .
— «o Catual como em tudo queria
SECR
SECR
SECR
433
còprazer aos jMouros, leuou Vasco da
Gama fora de Calecut mostrando que o
acompanhaua te o meio caminho de sua
embarcação : e secretamente tinha man-
dado aos officiae? dei Rev que estauaò
em Capocate, onde se espedio delle qne
o retiuessem.» Barros, Década 1, liv. 4,
cap. 10. — «Finalmente postos em ordem
de partida e mães secretamente que po-
derão hunia noite sairào jiela barra de
Goa fora : do que logo Aííbnso d'Albo-
querque foi anisado, e alguns querem di-
zer que per Fero Quaresma, que era hum
dos capitães da companhia, que nào sa-
hio cõ os outros, que erão Diogo ^lendez,
Dinis Cerniche, e o nauio de Balthasar
da Silua por elle estar doente em Cana-
nor,» Idem, Década 2, liv. 5, cap. 10.
— «Acudindo acompanhado de sua guar-
da, achou Brandimar já quasi morto, e
Artibel foi preso. El-rei, sabido de Bran-
dimar o caso como passava, e, acabado
de lho dizer, expirou : e alcançando por
sua arte que sua filha era prenhe de sete
mezes, quiz aguardar qne parisse, e em
tanto teve preso secretamente Artibel, a
quem passado o tempo, porque esperava,
mandou matar.» Francisco de Moraes,
Palmeirim d'Inglaterra, cap. 90.
Tal o vago juizo fluctiiava
Do Gama preso, quando lhe lembrara
Coelho, SC por caso o esperava
Na praia co'o3 batéis, como ordemira :
Logo xecretamerite lho mandava.
Que se tornasse á frota, que deixara,
Nào fosse salteado dos enganos.
Que esperava dos feros Maumetanos.
CAM., tns., cant. 8, est. 88.
— « Porem vendo as cõdições que esta
pobre Raynha lhe maadava cometer, e
as humildes palavras da sua carta, atri-
buindo tudo a medo e a fraqueza, nunca
mais quiz responder a propósito ao men-
sageyro, mas antes secretamente manda-
va fazer alguns saltos por toda a terra
em gente fraca e desarmada, que confia-
da em sua pobreza se não sayra das cho-
ças que tinha pelos matos.» Fernão Men-
des Pinto, Peregrinações, cap. 154.
SECRETAR, v. a. Termo de medicina.
Formar a secreção, elaborar os diversos
humores, tirando-os do sangue.
— Termo de sombreireiro. Preparar
as pelles, para tornar o pêllo próprio a
formar feltro.
— Secretar-se, v. refl. Ser secretado.
SECRETARÍA, s. /. "Emprego, officio
de secretario, e casa onde se guardam os
documentos da repartição, do secretario,
e onde este exerce as suas funcções.
SECRETÁRIA, s. f. :\Iulher que exerce
o officio de secretario de alguma senhora
particular, communidade, ou associação.
— Mulher que guarda segredos, confi-
dente.
— ?>Ii>vel do gabinete, espécie de es-
crivaninha.
SECRETARIAMENTE, adv. (De secre-
tario, com o sutfixo «mente»). Secreta-
mente.
SECRETARIAR, v. n. Fazer officio de
secretario.
SECRETARIO, 5. m. (Do latim secreta-
rius, de secixtus). O que escreve cartas,
despachos, correspondências, e dá conta
do estado dos negócios de algum prínci-
pe, de alguma pessoa particular, de al-
guma repartição, ou corporação, cujas
deliberações dispõe e coordena, etc. —
« Pelo que logo ao outro dia Afonso dal-
buqnerque mandou Diogo fernandez de
Beja, e o secretario Pêro dalpoem a pe-
dirlhe fortaleza, e gasalhado na cidade
pei'a sua gente, porque determinaua es-
tar alli oito, ou noue meses, sobelo que
oiine muitos recados; mas em fim el Rei
mandou dizer a Afonso dalbuquerque,
per Raix nordim, que era contente de
lhe dar a mesma fortaleza que ja estaua
começada.» Damião de (iões, Chronica
de D. Manoel, part. 3, cap. 66. — « Fo-
i'am captiuos Lopo barriga adail, dom
Anrrique de sa, George de brito, Chris-
touão Nuncz sobrinho Dantonio carneiro
secretario dei Rei, Aluaro do tojal, loam
gomes Cardoso, Cosmo tome, e outros
que foraõ per todos trinta, e cinco, es-
caparam obra de cento de cauallo, e de
pé.» Ibidem, part. 4, cap. 6. — « O mar-
quez estando em Castello branco, logo
com ódio, e ma vontade que a cl Rey
sem causa tinha, fez capitolos muy falsos
e deshonestos da vida dei Rey, que to-
caua muvto a sua honra, e estado Real,
e os mandou logo por nm Affonso Vaz
secretario seu a El Rey, e a Raynha de
Castella, que entam estauam em Medina
dei Campo.» (Tareia de Rezende, Chro-
nica de D. João II, cap. 31. — «Tenha
mão V. m. acode a Senhoria, para que
veja como trago a v. ra. na casa dian-
teira, e suas couzas diante dos olhos. Se-
nhor Secretario, léa v. m. lá as cartas,
que escrevi hontem para Sua Magestade,
e para o Concelho da Fazenda, e Ultra-
marino.» Arte de furtar, cap. 37. —
«Xestas náos mandou El Rey um Alvará
ao Governador Nuno da Cunha, feito em
Évora por Pêro de Alcáçova Secretario,
em que mandava a todos os Capitães das
fortalezas da índia, que acudissem com
as menagens delias aos Governadores, e
lhe obedecessem como á sua própria pes-
soa.» Diogo de Couto, Década 4, liv. 8,
cap. 7.
De tal sorte o Sultão se Ibc affeiçoa,
Que quando o Secretario se despede
Para cortar o mar direito a Goa,
Lho pede que lho deixo, o lh'o concede.
Logo a sua bonança ao cume voa,
E todas as passadas bem excede,
Que logo foi em tantas honras posto
Quantas soube inventar o amor e o gosto.
FKASCISCO Di: AKDBADE, PBIMEIBO CEKOO DE DID,
cant. 2, eat. 85.
Atraz VOS prometti, se não me engano,
(Faltar-vos da promessa não queria)
be vos dizer quem era hum que seu dano
Achou naquelle a quem favor pedia.
Esto que se lançou lá co"o tvrano
Baudiu-, como pouco antes vos dizia.
Secretario hc do Rei Mogor, o ho dito
Que lho tem o Sultão ódio infinito.
IBIDEM, cant. G, est. 4.
— O que escreve o que outro dita, es-
pecialmente cartas.
— Ant. Pessoa a quem se confia algum
segredo para o guardar.
— Ave de rapina que dá cabo das ser-
pentes.
7 SECRETAYRO. Vid. Secretario. —
«Dizeudoliie logo com palauras, e mos-
tranças de muy grande sentimento, que
no Mosteiro de nossa Senhora de (-iuade-
lupe tinhão preso a Pedro Montesinho,
Castdhano, com cartas e estruções de
dom Fernão Gonçaluez de Miranda Bis-
po de Lamego, prior de São Marcos, que
fora de Castella, e Alonso de Ferrara,
(Jastelhano, e Daluaro Lopcz secretayro
dei Rey sobre casamento dei Rey Febos
de Nauarra com a senhora dona loana.»
(Garcia de Rezende, Chronica de D. João
II, cap. 3õ.
SECRETÍSSIMO, adj. superl. de Se-
creto.
— Logar secretíssimo ; muito occulto.
— Homem secretíssimo ; muito guar-
dador de seus segredos.
SECRETO, adj. (Do latim secretus).
(Jcculto, ignorado, escondido, encoberto.
— • «(,) Tetimutaraja, como atras fica di-
to, era tam poderoso, que desobedecia
em muitas cousas a el Rei de Malaca, e
intentou algumas vezes per modos secre-
tos de se fazer Rei, e como este desejo
de regnar o trouxesse cego.» Damião de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 3,
cap. 24.
Adendo ticncn las mentes
Huns secretos trovadores.
Que fazem cartas d'amore8, ,
De que ficào mui contentes ?
Não querem sahir á praça ;
Trazem trova por negaça ;
E SC lha gabais, quhc boa,
Diz qu'lie de certa pessoa.
Ora que quereis que faça.
Senão ir-me por esse mundo?
CAM., BEDONDILUAS.
— Que está em silencio, em segredo,
não sabido. — «E perque minha senhora
tem conhecimento das grandes mercês o
honras que recebeu nesta casa, e se te-
me que este concerto traga no secreto
algum engano, me mandou diante com
recado á imperatriz ; porém já que vossa
alteza está presente, e a elle mais qne a
ninguém toca, dir-lhe-hei ao que venho.»
Franci.sco de Moraes, Palmeirim d'lngla-
terra, cap. 112. — «(^s Rciíuauos tiníjaõ
hum Templo dedicado à Deidade do Con-
434
SKCR
SECT
SECU
sollio, e ora escuro, para denotar, quo os
conscllios dcvoni ser secretos, <• 'jnn nin-
guém deve ver, nem cnteiidi/r <\r. t.'>ra, o
que se trata nollin.» Arte de furtar, caj).
30. — «Embarcildosp, elle o in.iis secreto
que podo, c estando alevantando a aneo-
ra para nos fazermos ^ vella vicraõ a
nós três ou c|uatro bateis do Turcos ar-
mados, (pic elle de muyto valente, quis
esperar, confiando no vonto bom que ti-
nliamos, e deyxou entrar os do hum ba-
tel dentro no navio.» António Tenreiro,
Itinerário, cap. 47.
— Ficar secreto; era segredo.
Al(;ii o dedo.
Todos cinco.
E ou to darei um brinco
como homom.
Fica secreto
tanto que com o.s dentes trinco.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pSg. 281.
— «E como do inclinaçoons taõ simi-
lliantes se faz a boa amizade, a cada
hum destes dous pastores ficou secreto o
dezejo de se tratarem, c communicareni
por amigos, em especial Loreno, que
muito em particular soube de seu amigo
Egorio quem era, o como viera ter áquel-
la ribeira.» Franci.-sco Rodrigues Lobo,
Primavera.
— Figuradamente : Recôndito, desco-
nhecido, oceulto. — « Palmeirim tendo
lembrança das palavras do cavalleiro ve-
lho, ia arrependido do seu primeiro pare-
cer, que então conhecia o erro em que
cahira, que, perdido o caminho, mettido
naquellas trevas escuras, nem sabia on-
de guiasse, nem como se defendesse de
uma dôr secreta, que parecia que lhe ar-
rancava o coraçrio ; de que se muito es-
pantou, que nilo cuidava que naquelle
lugar ninguém po lesse empecer-lhe, se-
não o seu cuiilado.n Francisco de Mo-
raes, Palmeirim dlnglaterra, cap. 98. —
«Não tem rios, ou fontes que fertilizem
a terra, o também as aguas do Ceo lhe
faltão por dous, e por três annos, ou seja
condição do clima, ou castigo secreto ;
assim a conduzem em cáfilas do canudos
de partes mui remotas». » .lacintho Freire
d'Andrade, Vida de D. João de Castro,
liv. 4.
— Retirado, solitário, oceulto.
— Que sabe guardar segredo.
— Que se diz cm voz baixa.
— Ir secreto ; que ninguém o veja.
— Ordaiis secretas ; em segredo, não
em publico.
— Pítrtcs secretas do corpo; as que o
pejo encobre.
— No tribunal da inquisição, o despa-
cho ou decisão das causas do fé. Tam-
bém so dava este nomo á secretaria em
que se decidiam e guardavam estas cau-
sas.
— aS. ?«. Vid. Segredo.
Ainbi(;ilo, siMilior, também
t<;iii trrrrton
de muitOi) pentis «oneto.4
ilc:ve iiHiir doí <|ue tem
i|iio é peru lilhoH o noto».
ANTOHIO PBKSTF.M, AUTOS, pSg. 81.
— Adágios :
— Em p 'ssoa do sccptro, não ha vicio
secreto.
— No bocca do discreto, o publico c
secreto.
— Não ha secreto, que tardo ou cedo
não s(tja dcsc-oberto.
SECRETOR, >olj. Vid. Secretorio.
SECRETORIO, <i<IJ. Termo de anato-
mia. Que segrega, separa do nanguc, c
elabora as secreções; diz-se dos órgãos
ou vasos.
SECTA. Vid. Seita. — aOs três Reys
que nella ha saij vassallos do nosso de
Espanha; todos clles guardão a secta de
Mafoma. A terra tem mais gente, e man-
timentos que as outras Ilhas de seu ta-
manho, saõ muy dome.sticos, e nossos ami-
gos, e no travar leuão ventagem a todos
seus vezinhos.» Fr. Gaspar da Cruz, Tra-
tado das cousas da China, cap. li. — «Des-
calços todos ati' o Rei entram na Jlesqui-
ta, na qual nào ha pintura, figura, ou
ymagem alguma, mais que huma cadeira
pequena, e nella posto o Aichorào, que
he o liuro da secta de Mafoma.» Ibidem,
cap. 19. — «Este tirandolhe o nascimen-
to por elle eonheceo, auor de ser em po-
der, e secta, hum dos mais notaueis ho-
mens do mundo; por cujo respeyto o
criarão sempre cij muita guarda, e vigi-
lância ; posto que a may não viueo mais
que anno e meyo depois de seu parto,
da qual idade fie lu órfão de pay, e mãy.»
Ibidem, cap. 20. — «E como nuidar pá-
tria, e secta custo muyto, achou o pouo,
q"ue mais fácil lhe era, mudallo a elle
desta vida pêra a outra, do que obede-
cer a negocio tão mal ordenado, c pior
asseyto. E assi huma tanie, em que sa-
hio a jugar as canas, se lhe tornaram
todos lanças, e delias atrauessado acabou
miííorauphnonto.i) Ibidem, cap. 21.
SECTADOR. Vid. Sectário.
SECTÁRIO, *'. »i. ^l)o latim sectárias).
O que professa ou segue uma seita. —
«E porque, sectários de uma religião
nova, crédulos martyres do inferno, bus-
cam os embusteiros e torpes deleites que,
além da morte, lhes promctten o prophc-
ta do Yatrib, arremessando-se com um
valor que se creria de desesperados dian-
te do ferro dos sons contrários e conten-
tando-se de acabar, comtanto que sobre
os seus cadáveres so hasteie victoriofo o
estandarte do Islam.B Alexandre Hercu-
lano, Eurico, cap. 9.
SECTATOR. Vid. Sectador.
SECTOR, .-•. Hl, [Do latim sector). Par-
te do circulo comprchendida entre dous
dos seus raios, e o arco que elles com-
prehendcm.
— Sector d'fjijjlierft : uma parte d'ella,
solido ou cone qu'; tem por hantí a sa-
perficio de um BCgniento da csphera e
termina cm ponta nn centro d'clla.
— Sector df.nleadn ; roda (-m 'lue só
uma parte da circuinferencia tem dentea;
serve para trannformar um movimento
circular continuo cm circular alternativo.
— Instrumento astronómico menor qae
o quadrante.
SECTURA, «. /. Termo de pharmacia.
f 'urtaiiura, reducção do» corpos a parte»
mais pci|uena>í, por moio de instrumento*
cortantes.
SECULAR, alj. 2 gen. (Do latim iecu-
laris). Que dura séculos.
— Que se faz ou succede do cem em
cem annoa.
— Mundano, do século.
— Laical ; não regular, que nilo vítc
em communidade. — «Diz maia, que cn-
correm também nesta omis.sail, e descui-
do assim homens, como molheres secula-
res, que tiuerão lugar, e tempo, docu-
mentos, e disposição, e talento pêra se
entregar a Deos totalmente, e te melho-
rar com affecto, e feruor maia apurado,
e não o procurarão.» Fr. Bartholoraea
dos Jlartyres, Compendio de espiritual
doutrina, cap. i:í.
— O òraço secular ; o poder civil.
— S. VI. Religio.^o que vive no século,
em opposição ao que vive cm clausora,
— íEstabeleceo ElRey per Conselho de
sua Corte, que elle, nem Rico-homem,.
nem outro nenhum poderoso, de qualquer
estado e condiçom que seja, em todo o
Rígno, assy Religioso, como Secular.»
Ord. Affons.", liv. 4, tit. 10. s 3.
SECULARIDADE, .«. /. 'Do secular, e
o suffixo «idade»!. Estado, condição de
secular, fallando de ecclesiasticoa e com-
munidadcâ.
— Plur. Secularidades ; ditos, acçSes
do pessoas seculares, não religiosas ; diz-
se á má parte dos religiosos, que vivem
á lei dos seculares, com desejos, obras,
maneiras mundanas.
SECDLARISAÇÃO, s. /. Acç.ío e effeito
de .-íicularisar o;i de ser secularisado.
I SECULARISADO, /«irf. pass. de Se-
cularisar.
SECUL.\RISAR, ou SECULARIZAR, c. a.
Fazer secular o que era ecclesiastico.
— Secularisar '> religioso; absolvel-o
do voto de clausura.
— Secularisar-se, i\ ne/í. Obter a se-
cularisação, passar do e^^tado de religioso
ao de secular.
SECULARMENTE, ndr. iDe secular, e
o sutlixo «meute»'. De um modo secu-
lar, conui sccul.ir, temporalmente, roun-
(laTiamente,
SÉCULO, «. "1. (Do l.itim stculum''.. Es-
paço de com annoa solares. — «Sérvio,
dis que a vida de cada hum homem se
pode chamar secnlo- Porem commum-
mente vale o mesmo, que o numero de
SECU
SECU
SEDA
435
100 annos, alludiíulo aos Jogos, que os
Romanos faziaõ de cem em cem annos,
aos quais (segundo Pouipeo) chamavaõ
seculares.» Braz Luiz d'Abreu, Portugal
medico, pag. 556, § 172.
Qu'os iminensos poriodoa não podem ^
>s"lmm seciilo aeabav, qu"errante3 girão,
E deste iramobil ^ol recebem luzes,
E outros Astros não vistào, que recebão
D'outroâ Soes o Clarão, Astros que sejào
De pensadores Entes domilicilio.
J. A. DE MACEDO, A SATIBEZA, Caut. 1.
Ás entrauliaa desceo da escura terra,
Laborioso Agrícola, o descobre
A fonte dos metaes, talvez mais clara.
Qual depois de três séculos a mostra _
Luminoso Saber d'Anglia, e da Gallia.
IDKM, VIAGEM EXTÁTICA, CaUt. 4.
— Época, edade ; tempo, duração de
alguma pessoa ou cousa notável. — O
século das cruzadas. — O século de Au-
gusto,
Mas qnc prodigio tal novos trouxessem
Os aecídos de Pyrrha, — inda o teu uome
Nào o esquecera transmudado o mundo.
GiUBEiT, CAMÕES, cant. 5, cap. 13.
— Tempo.
Vai colher u'Oriente eterno hum Louro,
A longa estrada o Coo te pateutèa ;
Com grande Império, e temporal thesoui-o
As virtudes dos Reis também premêa:
Veja assombrado o sfculo vindouro
Em teu domínio a gloria de Ulyssêa,
De tua piedade eterno exemplo,
Veja ao Senhor dos Ceos votado hum Templo.
J. A. DE MACEDO, O OKIEXTE, Caut. 1, CSt. 00.
— «E sente com amargura que o seu
século já repousa em paz e espera por
elle que tarda, assim o ultimo editicio da
eidade que passou, quando pendido amea-
ça desabar, olhando á roda de si não vê
nenhum daquelles que, ahi perto, cam-
peiavam senhoris e formosos no tempo
em que elle também o era.» Alexandre
Herculano, Monge de Cister, Frol.
— Tempo indeterminado, assim pas-
sado, como presente ou futuro. — «In-
tentou ganhar a Cidade de Argel com
huma poderosa Armada que se ajuntou
nos Portos de Itália, que naõ houve o
eôeito desejado per occultos juizos de
Deos ; mas vendo que naõ podia fazer
este damno á Cidade de Argel, entrou
no pensamento de lançar tora de todos
os dominios de Hespanha os Apóstatas
Mouriscos, que nella se haviaõ conserva-
do por tantos séculos.» Fr. Bornardo de
Brito, Elogios dos reis de Portugal, con-
tinuados por D. José Barbosa. — «A His-
toria de todas as Naçoens, e de todos os
Séculos o confirma. Os tempos mais igno-
rantes forào também os mais férteis em
pessoas achacadas desta epidemica enfer-
midade.» Cavallelro d'01iveira, Cartas,
Hv. 3, n.° 11.
Áureos risonhos séculos se avanção :
As mãos d'Eterna Sancta Provideucia
Rios de néctar pela terra lanção.
Que enchem Lysia de força, c de opulência:
Seus filhos immortaes no Hydaspe alcauçào
Troféos de nobre, militar potencia ;
Onde da luz Solar o Império esplende.
Lá chega o Sceptro Luso, e lá se estende.
J. A. DE MACEDO, O OBIESTE, Cãnt. 8, CSt. GG.
Entre o fulgor da purpura brilhante
Eu vejo Passionei, ccde-lhe a Palma
Demosthencs, c TuUio, inda que venhào
Do grão peso dos seculof seguidos ;
Xào tem que opponha, que lhe iguale o Sena.
iDBM, ^^AGEM EXTÁTICA, caut. 2.
Esculpida na base a Ai-pa divina,
Donde os sons extrahio Divino o Vate,
Com que cm todos os séculos só elle
Eterna fez Jerusalém terrena.
A férrea mão dos séculos vorazes
Nào pôde inda (quiujuria!) a massa enorme
Desfazer daa P yramides soberbas !
IDEM, MEDITAÇÃO, cant._l.
íío cther liquidissimo presente
A irresiâtivcl mão que o traz seguro
Pelo espaço da Ecliptica brilhante,
Depois de tantos séculos conserva
Incxhaurivel luz, e o fogo ardente.
IDEM, A NATUREZA, Cant. 1.
Dos campos ao prazer contente ajunta
Doctos cscriptos dos illustres mortos,
Qu'arte, e gosto dos séculos approvão.
— «A providencia assim o ordenara, e
o combater e o estrebuxar do privilegio,
que queria viver de vida própria, eram
v."ios, porque nào podiam chegar a uma
causa final e faltava-lhes apenas um sé-
culo para se tornarem impossíveis.» Ale-
xand)-e Herculano, Monge de Cister, ca-
pitulo 17.
— O mundo, as cousas mundanas, com-
jnercio e trato dos homens no que res-
peita á vida commum e politica. — «Oh
verdade iucommutavel Deus meu, Senhor
meu, e todo meu bem : apartai com toda
a suave violência de vossa graça meu co-
ração do amor do século.» Padre Manoel
Bernardes, Exercícios espirituaes, part.
1, pag. 23.
— O mundo, as cousas mundanas, a
vida mortal.
— Século, ou edade de ferro ; tempo
que os poetas fingiram, durante o qual
desappareceram da terra as virtudes e
começaram a reinar todos os vicios e des-
graças.
— Por extensão : Diz-se do tempo ca-
lamitoso, cheio de misérias e de guer-
ras.
— Século, ou edade de cobre; tempo
em que, segundo os poetas, se adiantou
a malícia dos homens.
— Século, ou edade de ouro ; tempo em
que os poetas imaginaram ter reinado o
deus Saturno, e durante o qual, diziam
elles, terem vivido os homens feliz e di-
tosamente.
• — Por extensão : Dá-se este nome a
qualquer tempo feliz e afortunado, em
que ha paz e abundância.
— Século, edade de ouro, tempos flo-
ridos e felizes em que havia "paz e so-
cego.
— Século de pirata ; tempo em que fin-
giram os poetas ter começado a reinar
Júpiter; e em que os homens menos sim-
ples, principiaram a edificar casas de
taipa, a lavrar as terras, e semeal-as.
— Século das luzes; o século xix, o
século actual.
— Deixar o século ; deixar o mundo,
retirar-se á vida religiosa.
— Por todos os séculos, ou ^^eZos sé-
culos dos séculos ; eternamente, por toda
a eternidade.
— Viver fora do século ; não ser d'es-
te mundo.
SECUNDA. Vid. Segunda.
SECUNDAR, V. a. Coadjuvar, auxiliar,
ajudar, apoiar.
f SECUNDARIAMENTE, adc. (De se-
cundário, com o suffixo «mente»). Em
segundo logar.
SECUNDÁRIO, adj. (Do latim secunda-
rius). Segundo em ordem, qualidade ou
graduação.
— S. m. plur. Secundários. Termo de
astronomia. Círculos que passando pelos
pólos da ecliptica, a cortam perpendicu-
larmente e servem para assignalar o lo-
gar respectivo de cada estrella.
— Termo de physica. Luz secunda-
ria, luz procedente de reflexão, ou re-
fracçào.
SECUNDEIRO. Vid. Segundeíro.
SECUNDINAS, a. f. Termo de anato-
mia. Orgcào cellulo-vascular ; as páreas
da mulher depois do parto.
SECUNDOGENITO, adj. Filho segundo.
SECURA. Vid. Seccura.
SECURE. Vid. Segure.
SECURIDACA, s. /. Termo de botâni-
ca. Género de plantas da família das pa-
pilionaceas.
f SECURIFORME, adj. Termo de histo-
ria natural. Em forma de segure.
f SECURIGERA, s. f. Termo de botâ-
nica. Género de plantas da família das
leguminosas.
-[ SECURINEGA, s. f. Termo de botâ-
nica. Género de plantas da família das
eiiphorbiaceas, indígenas de F'rança.
I SECURIPALPO, adj. Termo de zoo-
logia. Que tem os palpos em forma de
secure, ou machadinha.
SEDA, *./. ant. (Do latim sedes). As-
sento, cadeira de juiz.
SEDA, s. f. (Do latim seta). Substan-
430
SK1>A
SEDA
SEIJK
cia filaiiicntdsii o lustrosa quo fórina o
ca-tulo lio hiclio cbfiiiiado de sèdn, o quu
dopoirt (lo liaiia, servo para fabricar dit-
fcreiíto.s ostôtos. — «Diz o E-iColano na
historia do Valont;a, que nilo havendo cm
Espauluv atò o toiíipo dos (lodos seda,
nem assucar, iiom aiToz, os Mouros de-
pois, que nell:i entrarão, trouxeraõ cã
ostas somences, as quaes bc cultivaò liojo
oin Val(in(;a com tanta utilidade, ([ue at-
firmaò importar cada liuuja destas cousas
hum milhar) cada anuo.» Manoel Sove-
riuí do Faria, Noticias de Portugal, Disc.
1, cap. 4.
— Obra, estôto, ou tecido do seda. —
Cortiiiadus de seda. — Um vestido de
seda preta. — «Ho chào desta salla era
todo cuborto de veludo verde, o iias pa-
redes armadas do panos de seda, e ouro,
do cores. El Rei ostaua lauyado eui hum
catei (que saõ leitos quonio do campo)
cuberto de hum pano de seda branca,
o ouro, bem laurado, e j)or cima hum
sobreceo do jaez.» Daniiào de (.iões,
Chronica de D. Manoel, part. 1, cap.
41. — «A ti'a3 estes vinham os cria-
dos dos embaixadores mui bem atauia-
dos, e após ejtes a ordem dos nobres;
que eraõ em numero cincoenta, todos ves-
tidos de panno douro c seda com colares
de ouro, miõ menos de peso, que demos-
tra, de que os mais delles dauam frrandc
resplandor por caso das muitas perlas, e
pedras de que eram senicaJos.» Ibidem,
part. !), cap. 50. — «Em que houue limi-
tas viandas, e {jenero de vinhos, de que
todos beberam liberalmente, ho qual aca-
bado lhes deu o pjouernador vestidos de
seda, 6 brocado, feitos ao seu modo, que
lie huma das mores honrras que naquel-
las partes se faz aos conuidados.» Ibi-
dem, part. 4, cap. 10. — «As quaes
Leyx vistas per nc')S, mandamos que se
guardem, seguudo cm ellas he coutheu-
do : e declarando em ellas, mandamos
que se vendaõ osteJas, e panos France-
zes, e todos outros pannos, salvo paunos
d'ouro, e de seda, que se possam reta-
lhar. E com esta declaração mandamos
quo se guardem as ditas Leys, como em
ellas he contheudo, e per nós declarado,
como dito he.» Ord. Affons., liv. 4, tit.
4, § 18.
O ouro iio.i;i que ho,
K ;i3 pedras preciosas,
K brocados?
K as sed<is pêra que V
Toude por fé,
Que pr'a as almas mais ditosas
Forão dados :
Vòdi-s aqui hum colhir
D 'ouro mui bem esmaltado,
£ dez auucis.
OIL VlCKNrK, AU CO PA ALMA.
— «Finalmente tornados ante o Almi-
rante com luuna somma do dinheiro
amoedado cm ouro, e alguma prata la-
urada, brocados, sedas, tiue tudo poderia
valor ate doze mil cruzados : mandou
elle Almiràte entregar tudo ao feitor, e
elles ([Ul^ se toriiasscni à sua uao que ao
outro dia os despacuaria por «er ja umi
tarde.» Darros, Década 1, liv. (j, cap. .'J.
— f lio de mais «ervc lhe pêra enrolar
autre as peças de seda, ate ho esterco do
homem aproveitam o he couiprado por
dinheiro, ou a troco de ortaliça, o ho le-
vam <las casas.» Frei ( i aspar da Cruz,
Tratado das cousas da China, ca|i. 10.
— i'Vo, cordão de sêda ; seda torcida.
— «A imagem, que estava sobre elle, cm
presença de toJos abriu unia buçeta, que
tinha no regaço, pequena e muito louçila
e de tanto preço, que se nào podia esti-
mar; e tirando de dentro uma chave
douro pequena, a deixou cahir por um
cordão de seda preta, que o sábio Daliar-
te tomou e abriu com ella a jwrta.»
Francisco de Min-aes, Palmeirim d'In-
glaterra, cap. 120.
.•Vqui chepava
O coutar da sua liistoria, quando á porta
Da eella redobrados golpes batem.
Õ missionário abriu ; um pagem mo<,'0
E de custoso do ataviado
Uma carta fechada a fio ucgro
Do seda traz.
OAHRurr, cAMÕKS, caut. o, cap. 'i-l.
— Crcação da sêda ; do bicho da sêda.
— «Em Murcia, e Córdova todas as mu-
lheres se occupaõ coin a crcaçaõ da seda.
E a seda, que o Marquez Fernaõ Cortcz
introdusio no México, tem crescido de
maneira, que agora he a maior mechani-
ca, que hà naquella Provincia, como se
vc da arte, que escreveo da sua creança
(lonçallo de las Casas, que anda no lini
da Agricultura de llerrera.» Manoel Se-
verim do Faria, Noticias de Portugal,
Disc. 1, cap. 4.
— Seda afogada ; a que se fia depois
de afogado o bicho, dentro do casulo.
— Sêda crua, em rama; nào prepara-
da, não tinta, apenas fiada, ou só tor-
cida.
— Sêda de coser; retroz.
— Sêda verde ; a que se fia, estando
vivo o bicho dentro do casulo.
— De toda a sêda ; diz-se dos tecidos
de sêda sem mistura de outros fios.
— Pèllo rijo e longo de alguns aui-
macs, especialmente do javali; cerdas.
— Termo de botiinica. Pèllo rijo que
se observa nos invólucros fioraes das gra-
míneas.
— O pedículo que sustenta o urnario
dos musgos.
— Entro canteiros, ti eiva, falha nos
instrumentos por onde de ordinário se
quebram.
— Plur. Sedas; producções filiformes
e rijas, similhantes ás sêdjis do porco.
SEDÂCEIRO, s. m. O que faz se laços,
e os tece.
SEDAÇO, K. 7(1. Sêda rala, de que Be
faz painio pura as p.íueiraj?.
SEDADO, j>art. pa*H. de Sedar.
SEDAL, adj. 2 ijeit. Termo de anato-
mia. Diz-se d;i Vt-ia do iiessu.
SEDALHA, 8. /. Sedelho, ordinha de
sêda com (|ue se ata o anzol á cunna.
SEDANTE adj. 2 ijeit. Vi.l. Sedativo.
SEDAR. Vil. Assedar.
SEDATIVO, adj. Termo de medicina.
Que aplaca dôr, irritação; diz-se doa re-
médios.
SEDE, «. /. (Do latim sede*). Aucnto,
cadeira.
— Dignidade de bisiio, arcebispo, pon-
tifico, quo exercem jurisdicç&o e auctori-
dade em algum território. — «A tercev-
ra cou.sa he, o nome de Uispo da pri-
meyra sede, que so dá a Pauchraciano,
quo alguns imagin.^io (e nSo sem funda-
mento) ser o mesmo que Arcebispo Me-
tro|>olitano, inda que a uutrus parece de
notar a dignidade da primazia que naquel-
les tempos ninguém negou ao de Braga,»
Mouarchia Lusitana, liv. O, cap. 2.
— Sede, ou ié apostólica; tanta sede,
ou santa sé; a egreja de Koma.
— Sede plena ; sede actualmente occu-
pada por um bispo ou jwntifice.
— Sede vaccante; vaga por falta de
prelado.
— Termo de pedreiro. O assento de
pedras itas janellas.
1. SEDE. Modo imperativo futuro do
verbo ser. — * O Senhor sede meu de-
fendedor, sede meu socorro, e velhacou-
to, pêra que me salue : porque vòs soo
sois minha fortaleza, e emparo, e por
amor de vosso nome me guiareis, o es-
forçareys, porque em vos soo tenho posta
minha esperança, confio que nâo ficarey
corrido, e affrontado no que espero. •
Frei Hartliolouieu dos Mart\Tes, Catecis-
mo da doutrina christã.
2.1 SEDE. s. /. iDo latim sitig). Ne-
cessidade, desejo natural ou appetite de
beber agua, etc. — t Porque chegou a
sede a tanto, que com ella chegou de
todo hum Luiz Machado filho do Doutor
Lopo d'Arca, e a líie Deus fazer muita
mercê, vieram dar em huuia furna onde
se mettêram, por se abrigar da maresia,
e buscar algum marisco. • Barros, Déca-
da 2, liv. 8, cap. 4.
Mas SC s-aò naturais,
K vós ardente chamma.
Como do fogo a agua se derrama ?
Sc uaò SC nos mostrais
Na que de vós procede.
Que ue agua de matar, mas naõ já • »fde.
r. BODBIGCES LOBO, O DESESG.IXADO, pag. 1P9.
o adusto habitador busoA debalde
Gélida fonte que lhe estanque a ffdf.
J. A. DE MACEDO, A KATCBEZA, Cant. -■
— Figuradauicute : Seccura, falu de
SEDE
SEDI
SEDU
437
chuva, ou de agua de rega, que tem os
agros ou campos.
— Figiu-adamente : Desejo ardente,
cubica.
Alguns vào maldizeudo c blasphemando
Do primeiro que guerra fez uo mundo ;
Outros a sede dura vào culpaudo
Do peito cobiçoso e sitibuado,
Que, por tomar o aliicio, o miserando
Povo aventura ás penas do profundo ;
Deixando tantas mães. tantas esposas
Sem lilhos, sem maridos, desditosas.
cAu., Lus., cant. 4, est. 44.
— « Este desejo esprimentaua em si
mesmo Dauid, quàdo dezia senhor uam
somente miuha alma ha sede de vos, mas
tam bem minha carne por mil maneiras
suspira a vos, desejado e esperando a
gloriosa reformaram que lhe tendes pro-
metida. Esta minha carne neste mundo
rodeada de mil misérias e faltas, e por
isso continuamente geme poUo dia de sua
restauração, e gloriti caçam.» Fr. Bartho-
loraeu dos martyres. Catecismo da dou-
trina christã, liv. 2.
Esta continuai; ào, este exercício,
Esta sede de sangue, de que fallo,
O fez chegar a tanto neste ^■icio ,
Que já SC nào contenta de mandallo ;
Mas usando d'algoz e baixo officio,
Por estas próprias mãos vai drramaUo,
Para que ao seu cruel e bruto intento
São seja a diiaçào impedimento.
F. d"asdkade, pboielbo cerco de DIU, cant. 1,
est. 13.
Á sede ardente do Dominio, ajunta
A nativa crueza, e o furor cego
Contra os Cliristàos íuo Império grau tormento)
Bronca Villan, a Màc desse Armentario,
Sacrificando aos montanhezcs Numes,
L'ou-so, que 03 Discípulos do Evangelho,
A tacs superstições nào acudiào.
F. M. DO NASCIMESTO, OS MAKrTKES, líV. 4.
— Sèàe falsa; os médicos chamam as-
sim á secciu"a quo se sente nas fiiuces ou
na bocca pelos muitos vapores que sobem
da fermentação dos alimentos.
— Apagar, matar a sede; sacial-a, be-
ber até satisfazel-a.
— Arder com, ou em sede ; morrer de
sede ; ter muita vontade de beber.
— Fazer sede ; excitar a beber ; diz-se
dos manjares appetitosos, picantes e sal-
gados.
— Não ãnr uma sede de agua; nào
ter compaixão, não dar o menor allivio,
nm soccorro ténue a quem a implora ou
está necessitado.
— Ter sede a alguém; ter desejo de
lhe fazer algum mal, ou vingar-se d'elle.
AD.4GI0 :
— Olhaes para o que bebo, e não para
a sede que tenho: usa-se contra os que
murmuram da propriedade alheia; sem
considerar o trabalho, que custou alcan-
çal-a.
SEDEÂR, V. a. Termo de ourivesaria.
Limpar o ourives com a escova de sedas,
prata ou ouro e pedras preciosas.
SEDEIRO, s. m. Peça de madeira, onde
estão cravadas puas, ou dentes de ferro,
coliocados em fileií-as ; por elle se passa o
linho, para lhe separar a estopa, e o afi-
nar, ou assedar.
SEDELLA. Vid. Sedalha.
— Figuradamente : Trincar a sedella ;
baldar, frustrar as esperanças.
1.) SEDENHO, s. III. Termo de cirurgia,
e veterinária. Fita ou cordão chato, que
se introduz na pelle, atravessando-a em
certa extensão para promover a suppura-
çào ou dar saída ás matérias alli deposi-
tadas.
2.) SEDENHO, adj. Que tem sedas,
pêllos.
f SEDENTARIAMENTE, aãv. (De se-
dentário, com o suífixo «mente»). De
maneira sedentária.
SEDENTÁRIO, adj. (Do latim sedenta-
riusj. De pouca agitação e movimento;
diz-se do officio ou vida de pessoas que
trabalham sentadas, ou da de pessoas ca-
seii"as que vivem em retiro e fazem pou-
co exercicio.
SEDENTE, adj. 2 gen. Sequioso, se-
dentu.
SEDENTO, aJj. Sequioso, que tem sede.
— Figuradamente : Sequioso, ávido,
que deseja ardentemente.
SEDERENTO, adj. ant. Sedente.
SÈDE3, ant. Segunda pessoa do plurar
do presente do indicativo do verbo ser,
por Sois.
SEDEÚDO, adj. Cerdoso, que tem se-
das, ou cerdas.
SEDIÇÃO, s. f. (Do latim seditionem).
Levantamento, motim, alvoroto, reboliço
contra o soberano, ou a auctoridade.
— Figuradamente: Desobediência, su-'
blevação, guerra da parte sensitiva do
homem, contra a razão.
SEDICIOSAMENTE, adv. (De sedicioso,
com o suffixo «mente»). Tumultuosamen-
te, de modo sedicioso, com sedição e tu-
mídto.
SEDICIOSO, adj. (Do latim seditiosus).
Que promove, ou fomenta sedições. —
«Forâose depois conquistando as mais
Cidades de Gallilea, a ultima das quaes
foy Giscala, onde estava por Capitão
hum sedicioso, chamado João, que esca-
pando cautelosamente das mãos de Tito,
se retirou a Jerusalém, com alguma gen-
te de armas.» Monarchia Lusitana, liv.
5, cap. lo.
— Propenso á sedição.
SEDIÇO, adj. Podre, corrupto, velho.
— Figuradamente : Velho, sabido, tri-
lhado.— «Os que se dão a este lugar
commum de conversação, os vejo sogei-
tos a repetir os mesmos contos, sem con-
siderarem que ao mesmo tempo que se
estão divertindo a si com huma das suas
historias mais escolhidas, estão os ouvin-
tes mormurando delia, pelo nojo que lhe
causa a exposição de huma cousa já sé-
diça.B Cavalleiro d'01iveira, Cai'tas, liv.
3, n.° 52.
— Muvels sediços ; antigos.
7 SEDIMENTA .10, aJj. Termo de geo-
logia. Diz-se das rochas estratificadas e
fossiliferas, que foram depositadas pela
agua.
SEDIMENTO, s. vi. (Do latim sedimen-
tunij. Boira, fezes, lixo; parte mais cras-
sa e impura dos suecos e liquidos que
assenta e faz pé.
— Termo de geologia. Roclias de sedi-
mento ; rochas estratificadas e fossiliferas
que na sua origem ibram depositadas pela
agua. Esta denominação comprehende to-
da a serie neptuuiana.
SEDIMENTOSO, adj. (De sedimento,
com o suffixo «oso»). Pertencente ao se-
tlimento, ou que participa da sua natu-
reza.
■ — - Crasso, cheio, mistm'ado, abundan-
te de sedimentos.
— Termo de medicina. Diz-se dos de-
pósitos ou sedimentos que se encontram
no fundo das ourinas, e que indicam o
caracter das doenças.
7 SEDLITZ, s. m. Termo de chimica.
Sulfato de niagncsia.
SEDONHO, ••••. ni. Doença que ataca os
porcos.
SEDORENTO. Vid. Sedento.
SEDOSO, adj. (De seda, com o sufBxo
«oso»}. De seda ou parecido com seda,
— Que tem sedas, ou pêllos duros.
— Termo de chimica. Crystaes sedo-
sos ; aquelles em que crystallisam certas
substancias.
SEDUCÇÃO, s. f. (Do latim seductio-
nem). Accào e eÓeito de seduzir, ou de
enganar.
— Attractivos, encantos ; cousa que
seduz, attrahe.
SEDUCTOR, adj. (Do latim teductor).
Que attrahe, e seduz. — - Uma mulher se-
ductora.
— <S. Jii. Pessoa que seduz; diz-se par-
ticularmente do homem que desencami-
nha uma mulher, para a gozar.
SEDULA. Vid. Cédula.
SEDULO, a<lj. (Do latim sedulus). Cui-
dadoso, diligente.
SEDUZIDO, /,art. pass. de Seduzir.
SEDUZIMENTO, s. m. Acção, e effeito
de seduzir.
SEDUZIR, 1-. a. i^Do latim seducere).
Enganar, persuadir. — «Vendo a mãy
que se não rendia ás conveniências da pes-
soa procurou seduzillo com rogos, a que
satisfez representando as ruínas e estra-
gos, que nos ameaçavão sujeitos a Prín-
cipe, e a leys estra-has.í Fr. Domingos
Teixeira, Vida de D. Nuno Alvares Pe-
reira, liv. 1.
— Enganar com arte e astúcia, per-
suadir suavemente ao mal, conduzir a
obrar mal com insinuações.
438
SEEM
SEEU
SEGA
— Deshonr.ar iiiiui nniUicr, com cfl):io-
cialiiliiilo 80 cila é virfíííin.
— Eiieuntíir, arrebatar, oiiclier de il-
SEDUZIVEL, ailj. 2 f/iui. (Japaz, expos-
to ;i ser stiluzklo.
f SEE. Viil. Sé. — «E aos oiizo dias
do ilito mos de Mayo em hum l)omin{ío
foy o priíicipu baptizado na See de Lis-
boa com furando scdeiDiiidadc. E dos j)a-
ços atee a See era tudo ricnmontc arma-
do, o toldado por cima <h! ricos panos, e
por baixo niuvto Hmi)o o esj)adanado, o
a See muvto hornamiMitada, c todidos se-
nhoreia, e fi lal;j;os, sciiluiras, donas, e da-
mas hiilo a pó, e ieuaram muytas tochas
apagadas, que a vinda vieram acesas.»
(Tareia de Rezende, Chronica de D. João
II, cap. 2.
SEEDA, í. /. Assento, banco, iofíar,
posto; estada ou jazida. — «Em quanto
da seeda noni dom nada.» Capítulos es-
peciaes de Saularem. Vid. Seda.
f SEELLADO, i>iirt. pasi^. de Seellar.—
«E esta pena ajam outro sy os que abri-
rem nossas Cartas sinaladas per nossos
Officiaaes, e seelladas com o nosso seel-
lo, que som de desembargo da Justiça,
ou pcra recadar o nosso avcr.» Ord. Af-
fons., liv. 2, tit. 123, {? 4.
SEELLAR. Vid. Sellar.
Y SEELLO. Vid. Sello. — «Era de mil
e quatrocentos e trezo aanos, vinte e seis
dias de May o, em Santarém, pi-esentc
AfFonso Domingues, e Vaasquo Gonçal-
ves Vassallos d'ElRey, e do seu Conse-
lho, e de (4il Eannes Vassállo, e Sobre
Juiz d'ElRoy na Casa do Civil, que en-
tom tinha o seello da dita Casa, e Jo-
bam Lourenço Vassállo d'ElRey, e Juiz
por elle na dita Villa, e (iouçalo Domin-
gues, Procurador do dito Concelho, e
presentes outros muitos homens boòs.»
Ord. Affons., liv. 4, tit. 4, i? 8. — «E
as fazer aflirmar, andando jielas casas
rogando outros que lhas assinem, e de-
pois as fazem assellar aaquelle, que tem
o seello do dito Concelho, nom seendo
taacs Cartas feitas nas Camarás dos di-
tos Concelhos, nem com autoridade dos
Juizes, c homens boòs dos ditos Lugares,
pola qual razom taaes Cartas som sorra-
ticias, e feitas como nom devem.» Ibi-
dem, tit. •J4, i? 1.
I SEEMBRA. Vid. Sembra. — «E o me-
nino he de revora de quatorze annos, e
a menina de doze annos. JLais se o Pa-
dre, ou Madre, ou ambos sem seembra
venderem algum herdamcnto, antes que
naça o menino, ou menina, nom ho po-
derá demandar, nem aver nenhuum dol-
les, como quer que seja aquelle herda-
monto de sua avoengua, pois que o ven-
derem, ante que fossem nados.» Ord. Af-
fons., liv. 4, tit. 38, §2. — «E se o Pa-
dre, ou Madre, ou ambos em seembra
comprarem algum herdamcnto, que nom
seja do sua avoonga, e despois o vende-
rem, nom o pcjs.sam demandar seu fdho,
ou filha, ufMi aver <le tanto jior tanto.»
Ibidem, í? :>.
SEENDA, K. f. Entrada.
— Figuradamente : AdmisBao.
SEENTE, uiU. de Seer.
1.) SEER, V. n. Vid. Ser. — «E esto
se entenda a.ssi cm aquelle peso, e medi-
da, (|uo for maior que o padrito, como na
que fôr mais pequena, porque assy se
pode fazer erro, o falsidade, por seer
maior, como por seer mais pequena. »
Ord. Affons., liv. ], tit. .'), § 'M). — «Item.
Se (HU- falicimi-nto de cada hum dos Al-
niiraiitc.-i, que forem em estes Regnos, e
o dito Almirantado herdarem, acontecer
nom ficar delle filho barom lidimo, e lei-
go, que decenda do dito Mico Manuel
per liidia direita lidimamente nado, en-
tom o dito Almirantado com todalas cou-
sas, c direitos a elle anexados, deve seer
tornado livremente aa Coroa dos nossos
llcgnos sem outra nenhunta contenda.»
Ibidem, tit. iA, § 18. — «Nom esguar-
dando 1)E<)S nem suas almas nem o pro-
veito da V'ilia, fretavam Naaos per .sy,
nom seendo hy chamados aquelles que
as carregavam, e poinhara algumas Naaos
em taaes contidas, quaaes era sua von-
tade. » Ibidem, liv. 4, tit. 5, § 3. —
oE todo esto, que dito he, ha lugar nos
bens cominuns, que ham de seer parti-
dos antro a mollier, e os herdeiros do
marido, ou antre o marido, e os herdei-
ros da molher, e em outra gui.~a nom;
ca se o marido, ou molher ouvessem al-
guns beens feudaaes, ou da Coroa do Re-
gno, ou de Moorgado, ou emprazamen-
tos, em que a molher nom fosse nomea-
da, per tal guisa que nom tevesse em
ellcs direito, ou em outros similhantes.»
Ibidem, tit. 12, S 1. — «E esto foi assy
estabelecido em favor do matrimonio, no
caso onde foi licitamente feito segundo a
dispoziçom do Direito Canónico, por tal
que essa molher assy casada nom podes-
se em algum tempo seer achaila sem do-
te.» Ibidem, tit. 18, § 2. — «E manda-
mos que os nossos Almoxarifes, cada hum
em seu Almoxarifado, ou outro qualquer,
que os possa accusar, e levar a meetade
pêra sy, e a outra meetade pêra nós, e
possaõ seer accusados, segun<lo pessoas
que forem.» Ibidem, tit. 2(J, § 3. — «E
querendo nós a esto accorrer com remé-
dio, que por tal razom nom venha dis-
córdia, nem escândalo antre os nossos na-
turaaes e Vassallos, estabelecemos e pee-
mos por Ley, que qualquer Vassállo d'al-
gum dos nossos Vassallos maiores, que
nos ham de servil- com certas lanças, ou
com sua companha, se durando, ou nom
seendo comprido o tempo, que de servir
ham por sua conthia, ou maiosia que lhes
dar», se se espedir, ou se partir daquelle,
cujo Vassállo for.» Ibidem, Sb. — «Pêro
que queiraõ viver com seus Padres e Ma-
dres, segundo he contheudo em as Leyx
de BCUH Antecest-ores, geijaõ costrangidoa
pêra morar com os suão ditos, a que he
dadí) lug.-ir que o» ]>õssaõ aver; jH;ro que
se elles quiserem viver de sua voontade,
que o poMsaõ fazer com quem qui.serem
das 8USO ditas [xisHoaM, nom seendo pri-
meiramente citados, como dito he em oa-
tros servidores, que nom teem Padres e
Madres.. Ibidem, tit. 2í», § 12. — «Po-
ro SC o vendedor, e o comprador se lou-
vassem em alguum homem, poendo em
«a maaij, que llie.i assine o pre^*o, por
quanto fosse vendida a cousa, ontom a»-
sinailo o preço per aquelle, em cuja maaõ
o j)uõc-, valerá a venda; e se este, em
cujo alvidro o poõe, a'<BÍna.-i8C o preço des-
aguisado, a saber, muito maior, ou meor
do (pie a cousa valia, entom deve seer
corregido o preço segundo alvidro d'ho-
mens boòs; mais se aquelle, em cuja
maaõ posessem a cousa, morresse ante
que assiua-se o preço, entom nom valerá
a venda. » Ibidem, tit. 35, § 2. — « E
dis.serom ainda, que certo deve seer o
preço, em que se acordam o comprador,
e o vendedor, pêra valer a venda, cá
dizendo o vendedor assy contra o com-
prador, vendo-te esta cousa por quanto tu
(juizares, ou por quanto eu quizer, tal ven-
da como esta nom valeria.» Ibidem. —
«Assi como se fosse contrauto d'aveença
antre dous, ou muito.>, que esperassem
seer per morte d "algum vivente, que per
sua morte algum iielles nom herdasse em
sua herança.» Ibidem, tit. G2, § 6.
Xain vive quem vos nara viu,
nem creio que pode »etr
vcr-vos c poder viver.
CUBISrúvÃo FALcIo, 0BKA3.
— Estar sentado. — «Quem bem see
não se levanta.» Jorge Ferreira de Vas-
conecllos, Eufrosina, Prol.
2. SEER, .«. 7)1. Peso de Bombaim,
equivalente a 317 grammas.
— Peso de Calcuttá e de Bengala,
egual a 847 grammas.
SEESTRO. Vid. Sestro.
I SEETZENIA, .«. /". Termo de boUni-
ca. (íencro de plantas classitícido em
seguida á familia das zygophylleas, cuja
orcanisnç.To é muito notável e anómala.
SEEXTRO, a,lj. .tnt. Vid. Sestro.
SEFIR, uu SEFER, s. m. O seendo
mez dos árabes.
— Embaixador, enviado turco.
— Termo de philologia. Nome hebrai-
co quo significa Urro por excelUncia;
emprega-se ás vezes para designar as es-
cripturas sagradas.
SEGA, í. /. Acção o effeito de segar,
ceifa.
— O tempo da sega.
— Sega tio arado; o ferro do arado,
que corta e abre a terra.
SEGADA, í. /. Segadclla, o tempo de
SEGN
SEGR
SEGR
439
SEGADELLA, s. /. ant. Ceifa.
SEGADO, parf. 2>ass. do Segar.
SEGADOR, s. m. O que ceifa ou sega
as cearas, os pães maduros, coifador, cei-
feiro.
SEGADOURO, adj. Propicio para se cei-
far ou segar.
— Fouce segadoura ; instrumento para
secar.
SEGADURA, s. f. Sega.
SEGÃO, s. m. Augmentatlvo de Sega.
— Ferro que se ajunta ao arado. Jun-
to ao teiró, para ajudar a abrir a terra.
SEGAR, V. a. (Do latim secare). Cortar
as searas, recolher os pães maduros ; cei-
far. — ■ «E de outro, que sendo-lhe per-
guntado pelo moço que lhe dava de ves-
tir, que vestido queria lhe concertasse
para o outro dia, lhe respondeu : Vai-te
para casa de teu pai até que te mando
A'ir ; porque primeiro se ha de segar
aquelle trigo, que alli andam semeando,
que eu haja mister vestido.» Francisco
Jlanoel de Mello, Carta de guia de casa-
dos.
— • Ceifiir, cortar a herva.
— Figuradamente: Cortar do qualquer
maneira, especialmente aquillo que so-
bresáe, ou está mais alto. — Segar a ca-
beça, o pescoço.
SEGARREGA. Vid. Cegarrega.
SEGAVIDAS, adJ. 2 geií. Que corta
muitas viíJas.
SEGE, s. /'. Espécie de caleça ou cor-
ricoche, de um si) assento, com cortinas
na frente o antigamente vidraça; diz-se
actualmente de qualquer carruagem de
passeio, pequena.
Aqui naseeo a Moda, o d'ariui manda
Aos vaidosos mortans as várias formas
Do seges, de vestidos, de toucados,
Do jogos, de banquetes, de palavras.
Único emprego de cabeças ocas.
ANTÓNIO DINIZ DA CRUZ, HYSSOPE, Cant. 1.
SÉGEIRO, s. m. (De sege, com o suf-
fixo «eiró»). O que faz seges.
— O que as aluga.
SEGELH... As palavras que começam
por Segelh..., busquem-se com Sigill...
SEGEL03, s. m. piar. ant. iSellos de
sellar cartas.
SEGETAL, adj. 2 gen. Que cresce em
searas.
SEGLAE5, adj. ant. Seculares, laicaes.
SEGLAR, adj. 2 gen. Pertencente á vi-
da, ao estado, aos costumes do século ou
do mundo, secular, mundano.
SEGMENTO, s. m. (Do latim segmen-
twm). Pedaço, porção ou parte de alguma
cousa.
— Termo de mathematica. Parte de
ura circulo comprchendido entre o arco
e a sua corda.
SEGNICIO, adj. Vagaroso, inerte, re-
misso.
SEGNILIDADE, s. /. (Do latim segnis,
frouxo). Frouxidão, inércia.
SEGNO, s. m. Termo de musica. Signal,
palavra italiana que se emprega n'esta
phraso : ai segno ; e que nas partituras
quer dizer que se deve repetir desde o
signal indicado.
"SEGONDO, ndv. ant. Segundo.
f SEGONTIACOS, s. ni. 2Jlur. Povos
que habitavam a '_Tran-Bretanha,
f SEGOVIANO, adj. Pertencente á ci-
dade de Segóvia.
— • íS'. m. O natural do Segóvia.
SEGRAL, adj. 2 gen. ant. Secular, se-
glar.
SEGRE, s. m. ant. Século.
— Adj. 2 gen. ant. Secular, que é cou-
sa do século.
SEGREDEIRO, adj. (De segredei. Que
guarda segredo, que o sabe guardar.
SEGREDINHO, s. m. Diminutivo de Se-
gredo.
SEGREDISTA, s. 2 gen. Pessoa que tem
o costume de cochichar, de fallar em se-
gredinhos.
SEGREDO, s. m. (Do latim secretum).
Cousa que se cala, sobre que se guarda
silencio, que se não communica a outrem
ou a terceira pessoa. — «El Rei de Ca-
lecut foi anisado do segredo desta obra,
do que se começou arrecear, e assi todollos
seus, porque per experiência conheciam
ja o animo, esforço, e industria que auia
em Duarte Pacheco, que neste tempo fez
algumas entradas pelos rios, e na terra
firme, em que queimou muitos lugares,
e tomou quatro paraos dei Rei de Cale-
cut com treze bombardas, de que fez ser-
uiço a el Rei de Cochim.» Damião de
Cloes, Chronica de D. Manoel, part. 1,
cap. 90.
Voltasc o Capitão aos seus, dizendo
Aqui me esperareis ate, que a volta
Com saber tal segredo seja certa,
Que cu não tardarei mais que sòs três dias.
CORTE REAL, NAUFRÁGIO DE SEPÚLVEDA, Caut. 12.
E O segredo das canas
das orelhas do rei Jlida,
que o que conta anuos de \'ida
pcrdel-o em duas semanas,
é parvoíce parida.
ANToxio PRESTES, AUTOS, pag. 259.
— «E muyto mais altamente que a
Magdalena se occupaua cõtinuamente em
soruentissima contemplação da diuindade
de sou filho, e seus segredos : os quaes
todos (como diz S. Lucas) ella conserua-
ua em sua memoria, e moditaua nelles de
dia, e de noyte.» Frei Bartholomeu dos
Martjres, Catecismo da doutrina chris-
tã. — <iNam fov descuberto este segredo
geeralmente ao pouo dos ludeus, mas fi-
cou reseruado seu descubrimento pêra o
tempo em que a sabeduria diuinal de
Deos auia de aparecer nas terras vestida
de carne humana, pêra abrir ao mundo
os thesouros da diuiua misericórdia, e
sabeduria.» Ibidem. — t O qual segredo
com grande humildade, e agardecimento
auemos de receber, nam presumindo maia
do que nos he dado, nem nos parecendo
que neste mundo podemos alcãçar como
isto he, mas contentandonos de o ter cõ
firme e viua fé, pêra que despois desta
vida o mereçamos entender e ver clara-
ramente. Porque como disse o Propbeta
Isayas, se não crerdes não entendereis.»
Ibidem. — «E despois declarou o Senhor
cm especial a seus discípulos esta com-
paraçam, dizendolhes desta maneyra. A
vos discípulos meus, que aueis de ser
mestres do mundo semeadores da iliuina
semente, quero eu descobrir o segredo
daqnella semelhança, que propus ás com-
panhas.» Ibidem. — «Nós, como estáva-
mos de todo alheyos de entendermos o
segredo desta novidade, assentarão todos
CO Capitão serem espias da armada que
ficava atrás, a qual não tardaria muyto
que não aparecesse.» Fernão Mendes Pin-
to, Peregrinações, cap. 47. — «Aqui tão
judicioso, como soldado, discursou douta-
mente sobre as causas, porque ao mar
Roxo foi imposto este nome; e também dos
impulsos, e movimentos naturaes das cres-
centes do Nilo nas monções do Estio ;
matéria que desveloii muitos engenhos, a
quem a natureza tantos annos escondeo
estes segredos.» Jacintho Freire d'An-
drade, Vida de D. João de Castro, liv. 1.
Zéfiro, a que hum desejo grande acende
De saber o segredo do que ouvia,
Invisivel entrou lá onde entende
Qu'a verdade sabor disto podia :
Porem de ter lá entrado se arrepende,
Porque cm entrando vio o que não cria
Que o Coo para outro etfcito então creasse
Senão para que os livres captivasse.
FRANCISCO DE ANDRADE, PRIMEIRO CERCO DE DIU,
cant. 4, est. 4.
A vinda destes dous Turcos que agora
Os segredos dos seus mauifestavão.
As mulhcros-chcgon , que naquella hora
Também do trabalhar partecipavão ;
E vendo a hum homem vir da casa fora
Onde ou\-iào dizer que elles estavão,
Hua que era casada, a elle se ajunta
E 30 estavão lá dentro lhe pergunta.
IBIDEM, caut. 18, est. 79.
— «Forçado da minha obrigação vos
descubro agora hum segredo que ha mui-
to tempo vos occidto. Hoje faz Justamente
hum mez que vos conheci, e confesso-vos
que desde aquelle instante vos amo. Se
vos oflFendeis da minha afteição será cruel-
dade. Não ha cousa mais injusta que a
de ver hunia bellesa como a vossa sem
ama-la.» Cavalleiro d'01iveira, Cartas,
liv. 2, n.° 17.
Tu descobriste os segredos,
Que o Sol escondeu ao mundo
Kas aguas do mar profundo,
Nas entranhas dos penedos.
F. BODBIGUES LOBO, ÉCLOGAS,
440
SEOR
SEGR
SEGU
D'niiti>;a, c doata idado os Snbion todi)i<
Sol)ro oa livro.s (;m viio Bo anadipúrão
1*01" descobrir » iiiengiiito ff/rflo :
Ciosa a Natiirciza imlii o roscrva
Dentro da Hiia obsciiridadu envolto.
J, A. nv. MACKnu, HKniTAVÃu, cant. 2.
— Acto de occiíltar, do c.-ilar al^cunia
conaa.
— Achado, invento nàc conhofido do
publico; receita particular.
Tange o Mundo? náo sabia
tamanho «ciireilo iiVlle.
Quoin d'irt!« iiinis inolodia
pelo f|uc) sou taiisor piiia
no< leva elle ao lim dcilc.
ANTÓNIO l-RRSTKS, AUTOS, pag. 81.
— «Tornuõ lá 03 nossos a satisfazer
esta perda, o hc oiitro engano ; porque
com o que trazem, naõ se reeuperaò os
lavradores; tudo he dos soldailos, que o
malogTaõ, e dos atravessadores, que o
dis.-iipaõ. E assim se vaõ encad<?ando pur-
das sohre perdas, (|iic unhas toleradas
vai3 causando sem remédio; porque naõ
se deu ainda no segredo desta espoa ja.»
Arte de furtar, cap. 56. — «E quando o
vio vir com a espingarda as costas, e
dous Chins Cí\rregados de caça, fez disto
tamaulio caso, que em todas as cousas se
lhe enxergava o gosto do que via, por-
que ciinii) até ontào naqnella terra nunca
se tinha visto tiro do fogo, nào se sabiào
determinar co que aíjuilio era, noni cn-
tendião o segredo da pólvora, e assenta-
rão todos que ora fiitiraria.» Fernào
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. i;]i.
— Algibeira que se põe peLa parte de
dentro do cós dos calções, etc, para
guardar alguma cousa pequena.
— Esconderijo em um gabinete, em
um cofre .oníle se niette alguma cousa,
com a qual ninguém atina senão quem a
escondeu.
— Figuradamente: Obscuridade, si-
lencio, sombra da noite.
— Casa secreta, em que se mettem
pessoas por culpa grave, e lhe Vcão fazer
perguntas, e dar tratos para as obrigar a
confes.?ar a verdade.
— Segredo <le comedia; já sabido de
todos.
— Segredo da natureza; qualquer dos
effeitos naturaes que por serem pouco sa-
bidos, excitan» a curiosidade.
■ — Segredo natural; o ipie a mesma
natureza manda que se cale e occulte.
— Deitar algum segredo á rua; pu-
blical-o.
— O jogo dos segredos ; jogo pueril
cm que se respondo a um o que se ini-
via do rosiiondor a outro, o se chama os
despropósitos.
— Loc. Ai>v. : Em segredo, ou com
segredo; com toda a reserva, privada-
mente, em particular, sem testemunhas.
— «Com tudo cllf so nam pode embar-
car com tíiuto segredo, por caso de dom
António de noronha «eu sobrinho mandar
poer fogo a<n almazens, cm que auia
muito breu, alcatrão u tanques ilazeite.»
Damião de ( ioos, Cbronica de D. Manoel,
part. '.i, caj». .'). — « K por iio Príncipe
sor moço, o lhe querer grande bem, llie
dou o aluarii feyto á vontade de Nuno
Poreyra som o ninguém saber, o qual
teue nmytos annos cm segredo, sem ilis-
so dar parta a pessoa alguma, nem lem-
brar mais ao Principe. E depois qnc foy
alçado por Kev, Nuno Pereyra com o al-
uarii na in.^o lhe vi;o requerer que lho
cumprisse.» (iarcia do Rezende, Cbroni-
ca de D. João II, cap. 24. — •<> (pml
Dormis I5ec era que dò-im batalha cam-
pal, pois tantas vitorias lhe tinha dado
Deos, c que não era menos ]«>dero80 o
Tártaro Xaba Ham, que o Turco, porá a
esperar delie, dando ainda em segredo
entender ao Xeque Ismael ser aquelle
consellio de (^an Maham -.cl rodeado porá
honra sua, por se mostrar aos Turcos,
do que era viziídio, sendo isto em grão
vitupério de sua pessoa vir de tão longe
buscar seu indgo, e á hora de pelejar re-
traher-se disto.» Barros, Década 2, liv.
õ, cap. (5. — «E este negocio mandou
tratar com muyto segredo por hum Pau-
lo de Seixas natural da villa de Óbidos
que tinha comsigo dentro na cidade, o
qual em trajo de Pegú, por não ser co-
nhecido, veyo ter huma noite á tenda
onde estava o João Cayeyro, e lhe deu
huma carta do Chaubainhaa, a qual de-
zia assi.» Fernão Mendes Pinto, Peregri-
nações, cap. 148.
Vamos, não vonha alsruoin que aqui nos coute ;
E no valle as veremos com xci/reth :
Que, SC baõ de vir cantando já de noutc,
Far-lhc-bemos d'cntrc os matos algum medo.
F. R. LOnO, PRIMAVERA.
— Adágios:
— Quem seu segredo guarda, muito
mal escusa.
— A quem disseste teu segredo, Hzes-
tel-o senhor de ti.
• — • Segredos queres saber, busca-os no
pezar, e no prazer.
— Dize ao amigo o segredo, e pôr-te-
ha o pó no pescoço.
— A teu amigo não encubras teu se-
gredo, que darás causa a perdel-o.
— Teu amigo é trefo, se te encobre
seu segredo.
— O fraco de todos diz mal cm se-
gredo.
SEGREGAÇÃO, .«. /. (Do latim segrega-
tioiíem). Acção e effeito de segregar, se-
paração.
— Separação ou apartamento de uma
cousa que estava entre outras.
SEGREGADO, part. pafs. de Segregar.
SEGREGAR, v. a. I>o latim segregarei.
Pôr de parte, apartar uma cousa do en-
tre outras.
— Seqregar-se, «. refi. Scparar-se.
SEGUDE. Vid. Segure.
SEGUIDA, ». /. Acção e effeito de se-
guir iiu segui r-fie, seguimento.
— I»c. Aov. : iJe seguida ; se(íuid*-
meiíto, consccutivament': ou cuntinua-
mi-nto, sem intf'rru|ição.
— Km seguida ; logo, em acto conti-
nuo, segui'laijii-' te.
SEGUIDAMENTE, adv. (De gegaido,
com o suffixo • mente •!. Em geguiiia.
— Sem iiiteiTujx.-ão.
SEGUIDILHA, ». '/., ou SEGDIDILHAS,
plur. I )o h<-spanhol tegnidllln . Trovas
garridas, alegres, lar<civas, que .^^) cantam
com toada similhantc, o com qne ec bai-
lam diversas dança», principalmente em
Hespanha.
— Composição poética de quatro ver-
sos em fpie o quarto rima cora o segun-
do, os quaes constam de cinco syllabas,
e o primeiro e o terceiro de sete, e ha-os
com estribilho e sem elle. U estribilho
consta de três versos; o primeiro e o ter-
ceiro de cinco syllabas rimadas entre si,
e o seirundo de sete.
I SEGUIDILHEIRO, «. m. i De segu di-
Iha, Com o suflixo <eiro>i. Cantador,
dan.sador de seguidilhas, pessoa affciçoa-
da a cantal-as ou dançal-as.
SEGUIDO, part. pasa. de Seguir.
F.is o Deos <iue .a Moys;'s inspira, ensina,
Author da Natureza, .\uthor de Tudo ;
Aos degráos de seu Throuo a Fé se clcvm,
Vai da razão lerjuida humilde, e muda ;
Filosofia he s<í dócil escrava
Da Luz, que revelada illustra os homens.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, CJUlt. 4.
SEGUIDOR, s. m. (Do thema segne, de
seguir, com o sufGxo «dor>). O que se-
gue ou acompanha alguém ou alguma
cousa.
— Sectirio. partidário.
-{■ SEGUIERIA, s. /. Termo de botoni-
ca. Género de plantas da família daa
phyttolacc<aceas, cujas espécies são arvo-
res ou arbustos, que crescem na Ameri-
ca tropic^il.
SEGUIMENTO, s. m. iDo thema segue,
de seguir, com o suffixo «mento»'. Acçào
e effeito de seguir, de acompanhar, de ir
após.
— Andamento, progresso, marcha, des-
empenho continuado do um negocio.
— Ettou encarregado do seguimento
,7o plell.K
SEGUINTE, adj. 2 gen. (Part. act. de
Seguir. Qnc se segue na serie on ordem.
— «ELRey Dom Affonso o Quarto em
seu tempo fez huà Lei, cm a qual antre
as outras cousas le contheudo hum Ca-
pitulo na forma segiiinte.» Ord. Affons.,
liv. õ, tit. 5. — «Ao P>ominpo seguinte,
que dobrarão ho cabo, dia de Sineta Ca-
therína XXV de Nouembro chegarão à
auguada de Saõ Bra^, que he sessenta
SEGU
SEGU
SEGU
441
legoas (lo cabo, na qual parajera lià mui-
to?, c grandes Elephantes, e muitos bois
mansos e gordos, hos quaes nos negros
trazem com humas albardilhas de feição
das castallianas, feitas de taboa, e se ser-
uem delles, quomo nos dos cauallos, do3
quaes se ha armada proueo, atroquo dou-
tras cousas, que dauão ao.s negros por
elles, e por carneiros, de que ahi ha mui-
tos grandes, e gordos.» Damiào de Góes,
Chroaica de D. Manoel, part. 1, cap. 35.
— a O que assentado mandou a Gonçalo
Gil Barbosa, que trouxesse ao outro dia
o embaixador a nao. Do estado, e poder
do qual Rei antes que diga ao que man-
dou este embaixador, tratarei particular-
mente algumas cousas no capitulo se-
guinte.» Ibidem, part. 2, cap. 5. — «E
tornando a Historia, com esta gente da
ilha da madeira, e com a que então ha-
uia na cidade ordenou Nuno Fernandez
as estancias no modo seguinte.» Ibidem,
part. o, cap. 12. — «Que quanto a man-
dar embaixador a el Rei de Portugal que
o caminho era longo, assi por mar, como
por terra, mas que os messageiros seriào
as nouas que iriào a el liei dom Ema-
nuel da guerra que elle determinaua fa-
zer no anno seguinte ao turco.» Ibidem,
part. 4, cap. 10. — uE no Capitulo se-
gundo da mesma Chronica dei Rei dom
Fedro declara Fernam lopez, que elle
mesmo fez ha Caroniea dei Rei dom
Afonso quarto, onde acrecenta as pala-
uras seguintes, dizendo, como em alguns
luffares deste liuro se faz mencam, o
qual liuro como se vè no contexto da ma-
téria, entende por todalas Chromcas do
regco.» Ibidem, cap. 38. — «Dos annos
seguintes, 1085. e 86. e 87. ha no pró-
prio ilosteyro seis, ou sete doaçoens, de
que se coílige o mesmo cõ eviiencia, e
no anno de Christo, lOSiS. costa que go-
vernava a mesma Cidade.» Monarchia
Lusitana, liv. 7, cap. 30. — «E a Igreja
com muyta pressa se começou a seis dias
de Mayo de mil e quatrocentos e nouen-
ta e hum, e acabouse o primeiro dia de
lulho logo seguinte, casa grande, e de
muyta deuaçam, cora muytos ornamen-
tos, e muytas imagens, e foy da inuoea-
çào de N. Senhora Sap.cta ]\Iaria.» (Gar-
cia de Rezende, Chronica de D. João II,
cap. 159.
E no Janeiro do anno
logo stguintc sinaes
espantosos vimos, taes,
que non basta ingeuho vmano
aos boquejar non mais.
IDEM, MISCELLASEA.
— « E no seguinte, mandou o Infante
a hum Diogo Gil homem de mui bom sa-
ber, que fosse assentar tracto com os
Mouros de ]Meça, que be doze legoas
alem do cabo de Gue, e seis á quem do
cabo de Nam, tào pouco tempo auia taõ
temeroso na opinião dos mareàtes.» Bar-
■íoL. V. — 56.
ros. Década 1, liv. 1, cap. 15. — «Ao
seguinte dia começando os pedreiros que-
brar huns penedos que estauaõ sobre o
mar junto onde tinhào elegido os alice-
ces da fortaleza.» Ibidem, liv. 3, cap. 2,
— « Vasco da Gamma depois que tornou
o pouso diante desta pouoaçào Moçambi-
que : ao seguinte dia em companhia do
Mouro do recado que o veo visitar mã-
dou o escriuào do seu nauio cõ algumas
cousas ao Xeque.» Ibidem, liv. 4, cap. 4.
— « Por razão da qual necessidade tinha
elle nesta cidade Adem o capitão Mirâ-
mirzan, que dissemos : o qual determinou
de a defender, como fez, e não entregar
a Affonso d'Alboquerque, como veremos
neste seguinte capitulo.» Idem, Década 2,
liv. 7, cap. 8. — 8 Mas porque para a
reforma da vida naõ basta crer, e ver a
morte, sem também a ponderar: ponde-
rarei esta verdade pelas três considera-
çoens seguintes.» Padre Manoel Bernar-
des, Exercicios espirituaes, part. 1, pag.
390. — « He dom de Deus e como tal se
deve pedir instantemente: e para alcan-
çallo aproveitarão as seguintes disposi-
çoens. Primeira: aborrecer todo o gé-
nero de mudanças.» Ibidem, pag. 77.- — ■
« Prestes a Armada de Dom Antaõ de
Noronha, lançou-a o Visorey fora o pri-
meiro de Abril: os Capitaens qiie hiaõ
nella saõ os seguintes. Eile no galeão 8.
Lourenço, Joaò Fernandes de Vasconcel-
los, Manoel de Vasconcellos, Martim Af-
fonso de Mello Hombrinhos, Pedro Af-
fonso de Avelar, António Lopes de Oli-
veira, o Licenciado Jeronvmo Rodrigues,
que hia por Veador da fazenda.» Diogo
de Couto, Década 6, liv. 9, cap. 14. —
« E temendose el Rey que podesse o Ca-
pitão tomar mal mandarlhe elle matar o
seu feitor na volta dos condenados, e que
por isso lhe mandasse lançar mão por al-
guma fazenda sua que lá tinha em Ma-
laca, me mandou logo naquella noite se-
guinte chamar ao Jurupaugo onde então
estava dormindo, sem até aquella hora
eu saber alguma cousa do que passava.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações,
cap. 19. — n Ao outi-o dia seguinte pela
menham nos partimos deste ilneo de Fiu-
gau, e cori^emos a costa do mar Oceano
em distancia de vinte e seis legoas, até
abocar o estreito de Minhagaruu, por onde
tínhamos entrado, e passados á contra-
costa destoutro mar meditterraneo, segui-
mos nossa derrota ao longo delia até junto
de PuUo Bugay, donde atravessamos a
terra fixuie.» Ibidem. — «E com isto se
forão todos os sacerdotes somente em pro-
cissão á casa deste idolo que era o prin-
cipal, sem aver pessoa nenhuma do povo
que quisesse yr com elle.s, por averem
medo de entrar na cidade, e dizem que
estando a noite logo seguinte após este
tremor.» Ibidem, cap. 96. — « E fomos
dormir a seguinte norte em hum lugar
em que estam duas fermosas carvançaras
e de ricos aposentos c camarás fechadas
sobre si com frestas e vidraças de novo
disseramnos que a Raynha moJher do Sufi
as ma,ndara fazer e que avia pouco tempo
que eram acabadas.» Tenreiro, Itinerá-
rio, cap. 14. — «E ao outro dia se-
guinte me levaram os Turcos apresentar
a Abraem Baxaa, e lhe deram as cartas
do outro Baxaa, que nos a elle enviara. »
Ibidem, cap. 41. — «Com tudo de pre-
zeute experimentamos neste Reyno falta
de gente, assim para a milicia, como para
a navegação, e muito mais para a culti-
vaçaõ da terra; pois por falta da gente
Portugueza se servem os mais dos lavra-
dores de escravos de Guine, e mulatos.
Pelo que apontaremos as causas, porque
neste Reyno falta a gente do povo, e da
nobreza, que parece saõ as seguintes.»
Manoel Severim de Faria, Koticias de
Portugal, Disc. 1, cap. 2. — «Sintio o In-
fante esta morte, como se com ella lhe ti-
rarão a vida, e moveo guerra ao Pai so-
bre tomar vingança dos homicidas, qtie naõ
pode ser em sua vida, mas morto elle hou-
ve ás mãos Pêro Coelho, e Álvaro Gonsal-
ves em quem fez estranhas crueldades.
Ficáraõ a el Rei D. Pedro de D. Ignez de
Casti-o 03 filhos seguintes.» Fr. Bernardo
de Brito, Elogios dos reis de Portugal,
continuados por D. José Barbosa. — «Foi
esta perda entaõ mui chorada no Reino,
e as dependências delia sentidas com
maior dor cm nossos tempos. Casou-se el
Rei D. Joaõ com a Infanta D. Cathari-
na, filha dei Rei D. Filippe o primeiro
de Castella, e da Rainha D. Joanna, de
quem houve os filhos seguintes.» Ibidem.
— « Passados doze dias, que na Cidade
nos detiuemos, ao seguinte se ocupou o
nosso lingoa em cobrar sua fazenda pelo
mesmo pezo, e medida, que os guai-das a
tinhão recebido quãdo chegamos.» Fr.
Gaspar da Cruz, Tratado das cousas da
China, cap. 16. — «Na madrugada se-
guinte continuamos sem encontrar cousa
mais notável do que ouvir araras, papa-
gaio.?, motuns e outras aves.» Bispo do
Grào Pará, Memorias, publicadas por Ca-
millo Castello Branco, pag. ISS. — «O
Doutor Greaves que teve a curiosidade
de faser o exame, o declara assim na Des-
cri peão das Pijramides do Egypto em 1636
e se quereis ver o mesmo em outra parte
o achareis na CoUeção das viagens de Mr.
Ray. Tom. i, pag. 18 onde encontrareis
sem duvida as palavras seguintes do dito
Greaves.» Cavíilleiro de Oliveira, Cartas,
liv. 1, n.» ÕO.
Disse o Mouro fiel, e o Rei Indiano
Ao Luso niensageii'o os braços dava,
Julga mais que mortal, quem do Oceano
Vence a immcnsa extensão, e a fúria brava :
Quer vêr de perto o grande Lusitano,
E o conhecido !Mouro ;'is Nãos mandava ;
Ouvir o Núncio portentoso espera.
Quando o seguinte Sol brilhar na Esfera.
j. A. DE MACEDO, OEiEKTE, eant. 9, ost. 22.
442
SEGU
SEOU
SEGU
— Termo do areliitoctura. Triângulos
entro arco o arco, ou uiui.s claramcnto «Ho
as engras, que continuani sobro oa somi-
circulos dos arco».
— Termo de carpentaria. Diz-so dos
lados, ou illiarfças do uma gelosia.
SEGUIR, V. a. (Do latim sequor, sequi).
Ir depois, camiuliar após, atraz de... —
Seguir altjiicm. — a í^l lliú tomou bem ho
quo llio Vasquo da Gama foz dizer, e logo
mandou que cUe, c Fcrnaõ Marti iiz so
fossem pêra outra eamara, que cstaua
junto daqucUa, seguindo logo trás cllos.»
Damiiío do (iões, Chronica de D. Manoel,
part. 1, cap. 41. — «Dos que .-«e foram
som licença foi o Duque do Bragança,
dom Tiioodosio, o qual ou que o Infante
teucsso coramunicado com ellc esta sua
ida, ou com desejo que teria de se achar
em hum tal, o tão honroso feito do guer-
ra, se partio do madrugada Devora, se-
guindo a via que o Infante levava, o qual
achou cm Arouches.» Ibidem, cap. lUl.
— « No qual tempo ostaua Lopo barriga
com sua companhia, e Iheabentafuf com
todolos Alarucs de pazes juntos em Aguz,
onde. lhes deraõ nouas que vinha cl Rei
de Marrocos sobrelles, com tanta gente
de cauallo, quo muitos mouros daquella
prouincia seguiaõ o campo, pcra verem
a gazua que os dei Hei de JMarrocos auiam
de fazer nos mouros de pazes, c nos
Ohristrios.» Ibidem, part. 3, cap. 35. —
» Estando assim dcspois de comer ouui-
ram huma grande grita, pelo que se po-
seram todos a cauallo encaminhando pê-
ra onde vinham estes que gritauam, que
eram alguns dos Aduares do Serife, que
se vinham lançar com os nossos, aos quaes
seguio alguma da sua gente ate vista dos
nossos aduares, a quem Lopo barriga jun-
tamente com 03 mouros de pazes sahio, e
03 seguiram todas estas três legoas.» Ibi-
dem, cap. 73. — « Começando cada hum
do so por em saluo assi como a sua uiai
parira, com tudo hos mais delles, porque
tinham has lanças tanchadas no ciiam, as
leuaram nas m.nos, com que se hiam de-
fendendo dos mouros que Uies seguiam
mui bem ho alcance.» Ibidem, part. 4,
cap. 47. — « í^aio cm terra, leuaudo dian-
te a bandeira Real do que era alferez
Afonso valente, e tractou o negocio de
maneira que el Rei com medo se acolheo,
indolhe os nossos nas costas matando, o
ferindo muitos, ate que António correa
lhes mandou que não seguissem mais
adiante por nam saberem a terra.» Ibi-
dem, cap. Õ2. — « Seguio hum pouco trás
elle, mas conhecendo que o melhor era
nam ir mais adianto, mandou embandei-
rar a galo, c desparar toda a artelharia,
em sinal do victoria, do que os da terra
ficaram espantados.» Ibidem, cap. 73. —
« Este Dragonulte, vendo-se mancebo es-
forçado, a quem os feitos do seu pao c
avós punham cm obrigação de não pas-
sar a vida ociosa, pêra parecer a cllcs,
quiz ir polo muncjo seguir as aventuras ;
e não se foi logo á corto ilo imperador
Palmeirim, onde a habitação de todos es-
tava mais certa, porque desejava primeiro
soasse nella alguma fama do sua» idiiiís. •
Francisco do Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 111
Ofl furioROS vento», quo teguirUo
Õ companliciro sempre qy^ o» puiava.
Tanto que da priaào goltOA ho virào
Modtião a rtua antiga fúria brava :
Os mansos mares tanto que «entirão
.\q>iella fúria que antes prtHa estava,
Do tal sorte so vão oinbraveccndo
Quaté iÍ9 nuvens parece ir-se erguendo.
F. DE ANDBADC, rRIMEIBO CKRCO DE DIC, Cftllt.
4, est. 20.
Oh ! que scena de languidos praierca,
Que paraizo de deleite, ó Vcuus !
Pelo travesso filho assctt-adas
A» esquivas nereidas suspirando,
Sejiiem a bcUa deusa, que pronictte
A suspirar tam doce um doce premio.
GARBtTT, CAUÕE3, caut. 8, cap. 13.
A que fim se encaminha, e quaes 8'cncontrem
As desgra(;a», ou bens na incerta vida.
Perfeita mo.stro a máquina do Mundo,
E da Verdade ao Templo os homens levo,
Se ingénuos apoz mim seyuem meus passos.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 2.
— Continuar, proseguir. — «Seguindo
assi sua viajem pelo gollaõ que se faz da
costa de Melinde, ata ha do Malabar, a
huma sesta feira xvij, dias de Maio vi-
rão huma terra altíi, ha qual o piloto Ca-
uaqua não pode bem conhecer, por o tem-
po andar eucuberto com chuneiros.» Da-
mi.ão de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 1, cap. 38. — «Da:^ outras três nãos
que hiam debaixo da sua capitania eram
eapitaens Gonçalo de sousa, Hierouymo
Teixeira, e loaõ Nunez, com as quaes
partio de Lisboa aos cinco dias Dabril
de M. D. viij, seguindo sua viagem foi
ter aos Medãos do ouro aos xx. de lu-
Iho, onde se veo encontrar com elle
Duarte de Lemos, que hia por sota c.i-
pitão de (ieorge Daguiar, de quem tica
ja feita mençam.» Ibidem, part. 3, cap.
1, — «Acabada a tormenta, seguindo
sua viagem tomou outra nao de Cambaia
que hia para Malaca, e da parajem don-
de se esta tomou ate a ilha de çamatra
tomou outras três de Cambaia, que tam-
bém hiào pêra Malaca, todas carregadas
de muita, e rica roupa.» Ibidem, c;ip. 17.
— «Item. Quo llie pedia outro seguro ge-
ral pêra quacsquer nãos que viessem da
Índia a tratar em Ormuz, que sendo
achadas no mar de seus capitães, lhe n.ão
fosse feito damno, e as deixassem liurc-
meutc seguir sua viajem.» Ibidem, cap.
G6. — «Feito este estrago nos que acha-
ram pela Cidade, seguindo o c^iminho de
Pam em busca do outro ramo de gente
quo hia já diante desta, foram matando
nelles t6 chegar á Cidade Pam, onde
o Governador estava cercado do Poyoá
de Lugor, que (como dissemoB) estava
esperando por estes seus que ficavam
mortos.» Barros, Década 2, liv. 6, capi-
tido 1.
« OiaSf-lhe, senhora, querein compaidiia?
I>i»»i!-mc, Escudeiro, «'//'/í vossa vi». •
Senhor, o almocreve hc uqacUc,
Que os chocalhos ou(;o cu :
Este hc o facto, senhor.
GIL VICE.NTK, rAB<,-A8.
— «Partido Florendos, de quem se fal-
lará a seu tempo, a donzella de Trácia,
que não esperava mais que a disposição
de Palmeirim pêra também seguir seu
caminho, vendo que já e.ntava pêra o po-
der fazer, um dia ante o imperador, c
em presença dos mais de sua corto, lhe
disse.» Francisco de Moraes, Palmeirim
d'Inglaterra, cap. 9.^. — «E crendo que
o palafrcm poderia tomar contra o seu
castello, perdida toda outra esperança,
seguiram aquellc caminho; c chegaram
a elle a horas de ve-ipora, onde além de
não acharem a donzella, acharam o cas-
tello acompanhado de quatro cavalleiros,
que Filistor mandara pêra guarda delle.»
Ibidem, cap. 105. — «Porque ha muito
que se já não fallou em í'loriano do De-
.verto, deixa a historia de contar de Pal-
meirim, que seguia seu caminho na via
de Constantino|>la, e torna a elle; quo
depois de acabada a coroação do impe-
rador Vcrnao, partidos da corte elle e
muitos outros cavalleiros que a isso fo-
ram presentes, a seguir as aventuras, ca-
da um onde sua vont.ide o levava.» Ibi-
dem, cap. lOG. — «Aqui deixa historia
de fallar nelle, polo fazer de Florendos,
que, seguindo a via do castello d'Almou-
rol. entrado já no reino d'Hespanha, on-
de fez algumas cousas notjiveis e dinas
de memoria, que em as chronicas anti-
gas dos reis estão escriptas, antre aa
quaes não teve pequeno quinhão o prin-
cipe Floramão. » Ibidem, cap. 108. —
«Deixamlo o cavallo, s.i ci>m as armas se
metteu dentro, seguindo a via da Ilha
de Colambar, que naquelle tempo era
bem nomeada poios gigantes que a se-
nhoreavam, e antes de sua morte ne-
nhum navio ousava aportar n'ella, que
além das pessoas ter risco da vida. oa
tributos eram incomportáveis.» Ibidem,
cap. 115. — «E seguindo seu caminho,
chegou a huma serra que se chamava ]
Pommitay, onde se alojou aquella noite, j
e ao outro dia pela menham se partio,
caminhando algum tanto ra.iis aprossadoj
para poder chegar com de dia ao Pequim,!
que era daly sete logoa5.» Fernão Meu
(les Pinto, Peregrinações, cap. 120.
«E chegado ao rio de B-iguetor, que hi
hum dos três que atrás disse que s-icin"
do lago de Famstir no rcyno da Tarta-
SEGU
SEGU
SEGU
443
ria, o passou da outra parte em laulees
6 jangaas de remo que lhe ja aly tinhào
prestes, e uellas segiiio seu caminho pelo
rio abaixo até hum lugar graude que se
chamava Natibasoj-, onde desembarcou
ja quasi noite sem fausto nenhum, u Ibi-
dem, cap. 131. — «E ordenada ai}- hu-
ma igreija para se doutrinarem os nova-
mente convertiilos, nos tornamos ao jun-
co, onde embarcados demos logo á vella,
e seguimos nossa derrota na volta de
Tanauçarim, onde esperava de achar o
Lançarote Guerreyro e os seus compa-
nheyros para tratar com elles o negocio
que atrás tenho dito.» Ibidem, cap. 146.
— «Feita esta diligencia seguimos daquy
nosso caminho, e passados nove dias che-
gamos á barra de ilartavâo, huma sesta
feyra de Lazaro vinte e sete de Março
do anno de Õ45 tendo passado por Ta-
nauçarim, Tovay, Jlerguim, Juncay, Pul-
lo Camude, e Vagaruu, sem em nenhmu
destes portos achar nova destes cem Por-
tugueses que hia buscar, porque a este
tempo erão lançados lá dessa parte do
Chaubainhaa Rey de Mai-tavão.» Ibidem,
cap. 147. — «O Visorey foy seguindo sua
derrota atè Còchim, aonde de passagem
deu despacho a algumas cousas, e par-
tindo dalli dobrou o cabo do Camorim, e
atravessou a Ceilaõ, aonde chegou em
breves dias.» Diogo de Couto, Década 6,
liv. 9, cap. 16. — «Os que licauào em ter-
ra saudosos de cos verem partir ; Cerra-
ra I os olhos por nos nào verem cami-
nhar; e nôs abrimos os nossos, porque
nào nos fartauamos de os ver. E assi
com agoa nelles, e magoa no coração,
fomos pela costa seguindo nossa derrota,
engolfandonos de tal maneira, que mais
05 não vimos.» Fr. Gaspar da Cruz,
Tratado das cousas da China, cap. õ.
— oAquella noyte ceamos todos de par-
çaria, com grande alegria, e festa, e an-
te manhaà despedido o Capitam, e os
seus, depois de os contentarmos; largan-
do a vela seguimos r.ossa jornada, e dali
a dous dias, que foy hum Domingo de-
zoyto de lunho auendo mays de mes e
meyo, que sahiramos de Mombaça che-
gamos a Ormus.» Ibidem, cap. 10.
Com vivas cores debuxada vejo
A multi-forme Boreal Aurora,
Mairan seguindo os cálculos profundos.
J. X. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 1.
Seu curso vai se<fuindo. e lhe levauta
Perdurável Troféo na douta Historia,
Que ha de durar por certo era quanto o rio
Ao mar correndo fõr, lavando os muios
De tão vastas Metrópoles fastosas.
IBIDEM, caut. 4.
— Acompanhar ; ir em companhia de
alguém, andar com elle. • — «Assentado
que fosse Isuno vaz o que auia de afer-
rar Mirhocem, passaramse pêra sua nao
loam Gonçaluez de Castel branco de
Coimbra, António de sousa de Santarém
hum filho de Emanuel paçanha^-e loaõ
Gomez cheira dinheiro, e outros, e pêra
a nao de George de mello, que auia de
seguir Nuno vaz, se passou Fernam pe-
rez danJrade, e Simào daudrade seu ir-
mam se passou pêra a de Francisco de
tauora seu cunhado.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 2, cap. 39.
— «A estes que ciJiuetiam a pe, seguiam
alguns de cauallo que os animauam entre
os quaes auia hum acubertado, que como
pessoa principal os mandaua a todos.»
Ibidem, part. 3, cap. 12. — aOs quaes
quinze com o que aleuautaram seguirão
liraz da sylua que tomara o caminho dos
Aduares do valle, segundo lho mandara
dom Xuno, e sem saberem per onde liiam,
porque o perderão de vista, eucaminiia-
ram pêra hos três aduares que estauã no
outeiro.» Ibidem, part. 4, cap. 44. —
«Aos quaes Afibnso d'Alboquerque ao
tempo de sua chegada reeebeo com hon-
ra, e gazalbado, e per elles houve do es-
tado d'EiRey, e como hia tào desbarata-
do, que o nào seguiam mais que té cin-
coenta homens, e cem mulheres, e fazia
seu caminho em Elefantes na volta de
Fam em busca do genro que houvera de
ser.» Barros, Década 2, liv. 6, cap. 6.
Pede ao Eey que se torne, e leue toda
Quanta gente de guerra alli o seguia.
Que somente Lhe deLse os que versados
Xa passada do Eio saõ mais certos,
Que assi quer embarcar, inda que sabe.
Que está dos seus e delle a^sas seguio.
COBTE BEAI, , NAUFRÁGIO DE SEPÚLVEDA, Cant. 1-1.
— « Por certo, disse Floriano, bem
pôde acontecer o que quizer, mas já eu
hei de chegar ao cabo com esses medos :
e despedindo-se de Palmeirim e Pompi-
des, que o quizeram seguir, se foi só traz
o corpo, que nas audas ia, desejoso de
vèr o fim das palavras, que lhe o escu-
deiro dissera.» Francisco de Moraes, Pal-
meirim dlnglaterra, cap. 76. — «Vossa
filha eu a vi ir contra aquella parte dos
arvoredos; e parece-me que não deve ser
longe : por isso deixemos os mortos, e
vamos traz ella, e onde mais quizerdes ;
que em quanto o medo vos acompanhar,
eu vos seguirei té que vos pareça que
estaes segura.» Ibidem, cap. lOõ. —
«Alli mettida em uma carreta toldada de
pannos a levaram ao navio, acompanha-
da de algumas donas suas criadas, que a
pé e em cabello a seguiam com tama-
nhos gritos e palavras tào piedosas, que
até no coração daquelles, que delia rece-
beram escândalo, criava dor e lastima.»
Ibidem, cap. 119. — «Porque como vi-
rão hir os primeiros em desbarato, logo
todos se passarão da outra baiida do Es-
treito, que eraÕ terras de Bisme Xaique,
bum vassallo do Rev de Canarà. Manoel
Rodrigues Coutinho mandou também pas-
sar sua mulher, e filhos, e elle com os
que o seguirão também o fizeraõ.» Dio-
go de Couto, Década 6, liv. 10, cap, 9.
Traz ElEei me quero ir, porque apressado
Me foge, com ligeiro curso leve,
O qual vendo-se ja desaffiiontado
Dos três que antes na sua fusta teve,
E o soccorro que então lhe era chegado
Que as fustas que o seguiào lhe deteve,
Coa presteza que o medo lhe ensinava
Lá dii-eito á Cidade caminhava.
FBAXCISCO DE ASDBADE, PBllIEIRO CEBCO DE DID,
cant. 7, est. 71.
— «Se estamos sós, senhor X., hei de
contar a v. m. uma historia de mancebo,
que ouvi em Barcelona. Havia alli um fi-
dalgo casado de pouco, cujo nome era
Mosen Grallia. Passou o imperador Car-
los V. para Itália, e o seguiu este cata-
lão a despeito de sua mulher moça, for-
mosa, e honrada.» Francisco Manoel de
Mello, Carta de guia de casados.
— Professar ou exercer alguma scien-
cia, arte, etc.
— Proseguir, continuar com perseve-
rança um pleito ou negocio, tratar d'elle,
ou manejal-o com diligencia. — Segue
cam rancor o pleito que elle tem viovido.
— «E no caso, bonde o vendedor, que
foi nomeado por autor, como dito he,
nom quis defender a demanda, e este
que o nomeou seguio o preito em Juizo,
e o veenceo per sentença, será theudo o
vendedor a compoer ao comprador toda-
las custas, e despesas, que fez no prose-
guimento da dita demanda, despois que
o nomeou em Juizo, como dito he.» Ord.
AfTons., liv. 4, tit. 59, §5.- — «E ainda
Dizemos, que no caso, bonde o deman-
dado em Juizo por alguà cousa se cha-
masse a autor, e o nomeasse, e citasse,
que o viesse defender, e esse nomeado
por autor nom quisesse vir a defender o
demandado, ainda que esse reeo deman-
dado seguisse fielmente a demanda, e
apellasse da Sentença, e seguisse a apel-
laçom, etc.» Ibidem, § 6.
— Ser sectário, seguidor de alguém,
ser da sua opinião ou partido. ■ — «Se-
guem a mesma opinião Christiano Ma-
seu. Santo Antonino, Joachimo Perionio,
George Venero, Egidio Çamorense, Ta-
rapha, Figuerola, Philippo Bergomense,
Theodulo, Gerardo Matbisio, e outros
muvtos que deyxo por naõ casar os Lei-
tores cõ tantas alegações.» Monarchia
Lusitana, liv. 5, cap. 7. — «Ataces Rey
da Lusitânia, inda que na verdade fosse
Cliristào, todavia seguia a seita dos Ar-
rianos, o qual destruhio a antiga Cidade
de Coimbra, e a tomou a edificar junto
do Rio Mõdego, á custa do trabalho e
suor dos naturaes da terra, e de muitos
servos de Deos, e ao tempo que estava
mais ocupado na obra, sobreveyo Her-
meuerico, Rey dos Suevos, que andava
444
,SE(ilU
SEOU
SEGU
da outra parle do llio Douro.» Ibidem,
liv. (5, cap. ò. — «O.s quo seguiaõ a par-
cialidado <lo Ali olcg-éraõ om suu lu^ar
llaíceu «t!U jilho mais vullio, que por
neto do Maloina, o inuy neiuelliãte a cllo
na lilo-toiíiia, ora beui quisto e amado do
todos, e portto quo Moavia »o aclias.se po-
deroso para llic dar batalha, todavia so-
bro o.stuve tomoroso do succosso delia.»
Ibidem, liv. O, cap, 30. — «E outros
chauialos Einozaidi nito iiccoltaiu muitas
cousas do Alcorão do Mahainod, os (piaes
seguem o.sta doutrina de Zaidi, que foi
neto do lloeen se;(undo tillio de Alie, e
estes Mouros são aqucUes, ijue Iiabitauí
toda a terra do Preste João, e costa de Me-
linde.B liarros, Década 2, liv. 10, cap. 6.
— «A cujas palavras todos os outros bon-
zos fizerão o mesmo, de maneyra que lo-
f;'o aly o matarão ;ls pedradas, e lan(,'an-
doo no rio, a corrente da a<;oa se deteve
tãto, quo em ospa(;o de cinco dias que o
santo corpo esteve no rio nunca elle cor-
roo para baixo, com a qual maravilha
seguirão entaõ muytos a ley daquelle
homem, do que ainda avia por aquclia
terra huma í;;rande quantidade.» Fernão
Mendes Finto, Peregrinações, cap. 96. —
«E cm todas as qualidailes de pessoas
que conheci, sou da opinião que seguem
03 meus Naturaes, e assento em que o
crime cometido pela molher sendo sem-
pre vergoulioso.» Cavallciro d'01iveira,
Cartas, liv. 1, n." 12. — «Elles que fa-
sem Tcrdadeyramente numero muito gran-
de, e nuiito famoso no Mundo, seguem a
opinião de Marcial, tendo a contraria em
conta de erro crasso, e por consequência
de defeito grande. A qualquer dcUes que
V. M. consultar achará iirmc neste pare-
cer, e achará quo não somente lho defen-
de como faseuda de ley, mas que he ca-
paz de lho faser crer como artigo de íé. »
Ibidem, liv. 3, n.° 13.
— Figuradamente: Perseguir, acossar;
ir em busca ou alcanço com instancia e
empenho de render ou molestar. — «Mas
vendo os poucos que eram, e que os do
campo acoiliain aos quo elle seguia, fez
volta perà villa, na (jual foi mui mal
tratado dos Mouros, porque lho mataram
alguns cauallciros, e feriram muitos e a
elle com huma lança darrcmesso, que lhe
passou hum coxete, com tudo chegou on-
do estauam os que deixara na villa ve-
lha.» Damião de Goos, Chronica de D.
Manoel, part. 1, cap. .^0. — «Porque os
sete mouros, com muitos outros quo os
defendiam foraõ mortos, o todos desbara-
tados, e o capitam o primeiro que fugio,
dos quacs seguindo os nossos o alcanço
ganharam o baluarte, e juntamente entra-
ram na cidade demvolta com os vencidos,
em que foi tamanho o mado, que nenhum
dos que se pode acolher ficou nella.»
Ibidem, liv. 2, cap. i\S. — «E logo dahi
a poucos dias os mouros alarnes da co-
marca vieram correr por trei vezes o
campo, a quo lhes os nossos, que eritaò
podiaõ ser ato ciucocnta de cauallo, saí-
ram com alguns de pê, o os seguiram da
primeira vez ato os azambugeiros, onde
matarão triis, dos quaes os dous derribou
Lopo 13arriga, c (jceorgo da Maia, o ter-
ceiro, o das outras duas vezes lhe saí-
ram tauibcni, cm que matarão alguns del-
Ics, de que sempre coube a fjo])o Barri-
ga hum, porque como esforçado cauallei-
ro, cm todalas cousas om (|uc se achou,
se foi sempre hum «los primeiros.» Ibi-
dem, cap. 18. — «Neste tempo eram já
chegailos os Malabares, sem os Oanarins,
os quaes vendo os imigos desbaratados
juntamente com os nossos os seguiaõ as
frechadas, fazendoos espalhar do huma
parte pêra a outra, em que moiTcram
dclles as frechadas, espiugardadas, c cu-
tiladas mais de trezentos.» Ibidem, cap.
20. — «Estes voltarão contrelle cora mui-
to animo, c lhe matarão hum homem de
cauallo, mas Lopo barriga deu nelles, e
03 arrancou, seguindoos ate os mcsturar
com os que hiam diante, entre os quaes
todos se trauou a pelleja de maneira que
foi necessário acodir dom Afonso com a
gente que com elle iicara, e assi Ihea-
bentafuf. o Ibidem, cap. G9. — «Do que
o logo anisou, que vendo que as cousas
se lhe endereçauam como dcscjaua, dei-
xou poer 03 nossos atalaias, dos quaes o
primeiro que descobrio os mouros foi
íoam mealho, que logo começaram a se-
guir mas elle por ter bom cauallo se lhe
acolheo.» Ibidem, liv. 4, cap. 29. —
«Nesto alcance derubaram os nossos hum
mouro, e sem se enformarem deile, que
tam açodados hião passarão adiante, ate
irem dar na cilaiLi, donde Molei habraem
sahio cora sua gente, seguindo os nossos
ate o porto cm que mataram dezaseto de
cauallo.» Ibidem. — «Os quaes em os
vendo se recolheram nas bestas que ti-
nham de carga dando gritos, e apupos
com que os que andauaò espalhados pela
várzea se poseram a cauallo recolhendos-
sc pêra a villa, hos mouros que vinham
diante seguiram estes quo andauaõ a le-
nlia ate atalaia Ruiua.» Ibidem, cap. 76.
— «E os que mais seguiram este alcan-
ço, foram o Capitão Manuel da Cunha,
Fernão Corrêa, Pêro Quaresma, e Braz
Bocarro, e assi lhe ficou o braço mais
cansado.» Barros, Década 2, liv. 6, cap.
8. — «E não sabendo determinar quo
poderia sor, cnlazou o elmo cora desejo
de os seguir. A este tempo, pola mesma
rota dos outi'Os, veio um eavalleiro que
trazia mais vagar por causa do cavallo,
que lhe cmanquecèra ro caminho.» Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 104. — «Segue-o, o pcrsegue-o ate
nam poder mais, (jue nam sendo podero-
sa a justiça secular, nem ecclesiastica da
cidade pêra prender, nem deí.jr os ailul-
tcros, que se faziam á vela, cllo mesmo
SC embarcou a lhes fazer granes reque-
rimentos da parte do Ucy eterno, a quem
imnca aiguem fugio nem r'!SÍ8tio. » Luce-
na, Vida de S. Francisco Xavier, liv. G,
cap. IM. — «(J (jovernador a entrega a
Luiz Falcão. Embarca-se, e dainnos que
faz. Compaixão do Governador. Paca a
Baçaim. Sente n.^o se tomar Siirrate.
Lembra a el Rei ou que servirSo. Torna
o IJidalcão com guerra. O Capitilo de
(Joa lhe quer sahir. A Cidade o encon-
tra. Avisa ao Governador. Embarca-.-<e
logo. Avista Dabul. Sah»} \). Álvaro em
terra. <) ííoveriiador o segue, e toma a
(JiJade. Chega a .\'.'ai.aiiii. » .Jacintho
Freire d'Andrade, Vida de João de Cas-
tro, liv. 4. — «NavegarSo oito dias sem
encontrar a armada, e chegiidos a huma
Ilha tiveram novas, que o inimigo esta-
va ancorado cm Queda, viagem de dous
dias. Determinou D. Francisco passar
avante; porém os soldados se amotinarão,
dizendo que era do Capitão bisonho se-
guir a quem fugia ; que os bastimentos
cstavão já acabados; que ellea não bião
a peleijar com a fome; e que se o regi-
mento do Capitão Mor se estreitava a
dez dias, melhor era a obediência, que a
victoria.» Ibidem. — «Soube o Governa-
dor, que os Mouros erão recolhidos a
Pondá, onde estavão abrigados com a ar-
telharia do seu forte : alguns Capitães
forào de parecer que o Governador não
seguisse o inimigo, qi:o fugia.* Ibidem.
Porem C0!n quanto ElRci tão longe ir vejo,
Huin.i fusta das nossas que o sajuia
Ajudada da pressa c do desejo
Se igualou com aquelle que fupa :
Chcga-lhc juntamente neste cns<yo
O ligeiro caturcm que o Sousa hia
A quem na fortaleza lá obedecem,
Que também ódio e pressa o favorecem.
FUAMCISCÚ d'a!<-DRADU, pniHEIBO CEBCO DE DID ,
cant. 7, est. 17.
— Figuradamente : Imitar alguém, di-
rigir-se, guiar-se por elle, fazer alguma
cousa pelo seu exemplo.
Si, tem,
eu cuido que si, que também as traz.
Segue a soirícnça, que armas na pai
como na guerra, parecem tào bem
que cm fim, paz c guerra na lingua só jaz.
AKTONIO FRKSTBS, AUTOS, pag. 9.
Cuidei que a velhice honrada,
matrona de gravid;ide,
do cousolho da Verdade,
por to vêr tào derribada
não tfjnisse mocidade.
luiDEíi, pag. 51.
— «O Rey do qual mandou ha muy-
tos annos a Ternate o Príncipe seu filho
pêra que trat;indo ahi a Christâos, e
Jlouro^ tomasse das duas leys a que me-
lhor lhe parecesse, e elle a seguisse tam-
bém depois com tolo seu iiiipcrio.» Lu-
cena, Vida de S. Francisco Xavier, liv.
SEGU
SEau
SEGU
445
4, cap. 14. — «Auimados todos com es-
tas palavras, disseram que o seguiriam
em tudo, o logo se puzcram em armas.»
Diogo de Couto, Década 4, liv. 4, cap.
7. — «Depois desta victorla, começou a
pregar descubertamente sua secta, e o
primeiro que se converteo a ella (ou pê-
ra millior dizer) abrio a porta do infer-
no, por esta via, íi sua alma, foy Zey-
dim seu criado, a quem seguirão tantos,
como vemos.» Fr. Gaspar da Cruz, Tra-
tado das cousas da China, cap. '20. —
«Por isso A-iara impôs nome próprio a
todas as cousas; porque pella particular
Physiognomia coniieeeo a natureza de
cada huma delias : Apdlavit<£ue Adam
nominibus suis cuncta. Sobre o que dis
com boa erudição Joaõ Federico Helvé-
cio ; a quem hei de seguir muyto nesta
matéria, ]ior tracíar delia sem contro-
vérsia com a melhor noticia.» Braz Luiz
de Abreu, Portugal medico, pag. 319.
Em Cânones também mettora ousados ;
Estea consulta, e sei/nt 03 seus dictanies,
Para o orgulho abater de teus contrários.
DINIZ DA CBtIZ, HYSSOPE, Caut. 4.
Sejui da Natureza o aus^sto exemplo,
Deslumbrados Herócs, dai paz ao Mundo:
Do Cco não veio dádiva maia bclla.
Faz a guerra hum feliz, e a paz a todos.
J. A. DE MACEDO, MEDIIAçlo, Caut. 3.
Entre os brutos domésticos dotado,
Constíiuto na alieiçào, observa, e seyue,
De seu senhor o aceno, o movimento ;
Sc he triste, está sombrio, e se he contente.
As mesmas aficiçõea no gesto amostra.
IBIDEM.
— Figuradamente: Seguir o caminho;
dirigir uma cousa com toda a ordem, e
methodo, sem se apartar do intento.
— Seguir as bandeiras de alguém; mi-
litar debaixo d'ellas, pertencer ao mesmo
partido.
Aquclle illustre Lopo e valeroso
Que das alcunhas tem Sousa a primeira.
Nu occupaijào geral não he ocioso
Também lhe dá em que entenda o grão Silveira,
Porque então hum negocio perigoso
Com a gente que segue a sua bandeira.
Em que se ha de doccupar, lhe põe diante
Assaz aos Portuguezes importante.
F. DE ASDHADE, PKIUEIBO CBKCO DH DID, Caut.
11, est. 82.
— V. n., ou Seguir-se, v. rejl. Vir de-
pois, immediatamente, succedcr-se uma
cousa a outra, por ordem, numero, etc.
— a Antre Évora, e Mouzaras, e o Re-
dondo, e Portel estas matas, que se se-
guem; primeirament;! des o peego do lobo
a amouta de perichalvo ; e des v aa ri-
beira do allemo e dhi à cabeça das fas-
quias; e dhi ao pauço da pedra alçada;
é dhi hindo per a ribeira da aroeira aa
ribeira de freixio, e pela ribeira de bem
casa ii aa mouta da agua, e des y ao pee-
go do lobo.» Ord. Affons., liv. 1, tit. 67,
§ 15. — «El liey Dom Joham de glo-
riosa memoria em seu tempo fez Ley so-
bre as pagas das moedas antiguas, como
e em que maneira se ouvessem de fazer
d'hy em diante, em esta guisa que se se-
gue.» Ibidem, liv. 4, tit. 1. — «E de-
pois desto o dito Senhor Rey Dom Joham
meu Avoo fez outra Hordenaçom sobre
os afforamentos, e emprazamentos, e ar-
reuctamentos, e alugueres, e outras quaes-
quer pagas, que se ouvèrem de fazer per
ouro, ou prata, ou quaesquer outras moe-
das, em esta forma que se segue.» Ibi-
dem, § 32. — « E depois desto o dito
Rey acerqua deste passo fez outra Ley
por Conselho da sua Corte, em esta for-
ma, que se segue.» Ibidem, liv. 9, § 2.
— «E quando assy vaau, e vêem, fa-
zem muitos homezios, e furtos, e outros
maleiicios, e acolhem-se aos Regnos ue
Castelia, houde moram e vivem : seguin-
do-se desto aa Nossa terra, e moradoí-es
delia muitos dapnos.» Ibidem, tit. 44,
§ 1 . — «El Rey Dom Atiornso o Ter-
ceiro de famosa memoria em seu tempo
tez Ley em esta iorma, que se segue.»
Ibidem, tit. G2. — «El Rey Dom Juham
da famosa e excellente memoria em seu
tampo fez Ley em esta forma, que se se-
gue.» Ibidem, tit. 65. — « E despois
desto o Virtuoso Rey Dom Joham, de
muito esclarecida memoria, acerca deste
passo fez huma Ley em esta forma, que
se segue.» lijidem, liv. õ, tit. 28, § 2.
— « E assim se a dentender do que dom
Rodrigo Arcebisco de Toledo screveo na
sua Clironica, a quem seguem dom Afon-
so de Cartagena Bispo de Burgos, e o li-
uro velho das linhagens que dizem que
donna Orraca tilha legitima deste Rei
dom Afonso casou com dom Raimom,
sem dizerem donde era Conde.» Dami,ão
de Góes, Chronica de D. Manoel, part. 4,
cap. 72. — « E logo se seguia a Senhora
Dona Maria, por ser íilua de varaõ, e
mais velha, que a Senhora Dona Catha-
rina sua irmãa: mas excluiraò-na, por
defunta, e a seu iilho, que era o Senhor
Raynuncio Príncipe de Parma por estran-
geiro, e por ficar fora do gráo, em que
se admitte representação.» Arte de fur-
tar, cap. 16. — « Feita a mercê, dado o
passeyo, e pagos os três mil cruzados,
tudo foy o mesmo: mas muito differente
o que se seguio ; porque conceberão todos
os Mouros opinião, que aquelle homem
era grande pessoa, e muito privado, e
valido do seu Rey.» Ibidem, cap. 64. —
« Ao depois dessa Capitania, e (jenerala-
to, tomara saber, o que se vos segue para
appetecer? Segue-se huma Comenda fa-
mosa, para ter renda, que gastar, e com
que viver na Corte, livre dos perigos da
guerra, e das baixas da chatinaria.» Ibi-
dem, cap. 70. — « Seguirão-se muitos
que os imitarão, e ainda ha alguns que
03 arremedào ; porem depois da morte de
Esopo, que foi admirável nessa matéria,
creyo que se perdeo a raça verdadeyra,
dos homens fingidores, multiplicando-se
somente a dos fingidos.» Cavalleiro d'01i-
veira. Cartas, liv. 1, n.° 11. — «Lam-
becius, Bibiiothecario que foi de sua Ma-
gestade Imperial, julgou que se devião
explicar da forma que se segue. Bea-
toris Oibis, ou Beutoiis getieris humani
Christo Regi tíemjjiterno. Truino, Cruci-
fixo.yi Ibidem, n." 24. — «A Segunda
Feyra se determina á Lua principalmente
a primeyra hora, seguiudo-se com esta
ordem supostos os mais dias da semana
ao domínio dos outros Planetas.» Ibidem,
n.° 43. — «Depois de ditos os oíEcios dos
Capitaens, segue-se tratar da qualidade,
e numero dos soldados. » Manoel Severim
de Faria, Noticias de Portugal, Disc. 2,
cap. 7. • — - « Porém cumo por morte d'El-
Rey D. Feriando se seguirão taõ largas
e continuadas guerras sobre a successão
desta Coroa, sustentando huns as partes
da Rainha Dona Brites filha do morto Rey
D. Fernando, e mulher d'ElRey D. Joa3
de Castelia, e outros, as do Mestre de
Aviz, e Rey D. Joaõ I, de Portugal, foi
tanta a variedade, e alteração das cousas,
que com razaõ diz o Chronista, que co-
meçou entau neste Reyno, em certo mo-
do, e sétima idade do mundo.» Ibidem,
Disc. 3, caj). 18. — « E caminhado daqui
por diante, se seguem as terras desertas
da ardente Libia, que eu agora venho
correndo, e acabam na primeyra ponta
Pyramidal, que foy o cabo de Guardafuy
donde comecey esta discripção, não me
metendo nunca no sertão da terra.» Fr.
(iaspar da Cruz, Tratado das cousas da
China, cap. 7. — « Deyxando esta terra,
se segue -outra de gente bruta chamados
03 Asbitas, Geulos, e Massamões; ficando
neste direito a Ilha Creta hoje Cândia, e
defronte delia o Bosphoro de Elesponto,
que diuide Europa de Ásia.» Ibidem.
— Inferir-se, ou ser consequente uma
cousa de outra que a antecede; colligir-
se, conclulr-se, deduzir-se. — « Deste re-
médio se seguirá logo acharem-se muitos
casamentos convenientes para mulheres
Fidalgas, e Nobres, e que naõ sejaõ ne-
cessários taõ grandes dotes para jíoderem
casar.» Manoel Severim de Faria, Noti-
cias de Portugal, Disc. 1, cap. 7. —
« Ora assentamos que qualquer mudança
causa estranheza. Mudar de umas casas
a outras é em alguma maneira esquivo.
Segue-se logo que não se muciará a vida
seui algum receio.» Francisco Manoel de
Mello, Carta de guia tíe casados.
— Figuradamente: Causar-se, origi-
nar-se; nascer, proceder uma cousa de
outra. — « Porque poderia acontecer, que
desto se seguiriam omezios, estabelece-
mos, que se alguém quizer vender, ou
apenhar suas próprias possissoões, que lhe
i
446
SEGU
SEGU
SEGU
acontecessem da purtc do Bua avoon^a,
e ouver Innaauft, ou propiacon, que ch-
tas j)0!ísisMuõc-i qucimm Cíjnipiar, ou lilLar
a penhor por junto prc^'o, dctcndcnioa quo
iienliuum cstmnlio, num iiiixín ulouguilo da
linlia noui compro catas puHuisBuucti.i) Ord,
Aiíons., liv. 4, tit. 37, § 1, — « Certo
que esta obra do fazer quo ho8 ludeua se
tornassem Ciiristàoa, foi di^çua de muito
louuor, poíjto quo se delia pudessem se-
guir lios iuconuonientos, que no conselho
ilel Uei forào aiiontados, o muitos outros
quo 80 depois virào em (juo se cntaõ po-
derá mal cair, porquo ninluuna perda po-
dia vir ao llc^ao pela conuersaõ desta
gente, que so {)0-lcsso estimar perda, ena
compararam do que se f^anhou em conhe-
cerem ha verdade do ijue liauiari de crer.»
Darniilo de (iões, Chrouica de D. Manoel,
part. 1, cap. 21. — « lluiu dos Kci.s que
ajudaram na guerra ao 1^'aaiorij liei de
Calecut, foi o do Tauor seu vezinho,
com o qual mesmo Çamorij depois de
sair do Turcol, por causas que se entrol-
les moueram, eomoyou de ter debates de
que se seguio guerra, do que mouido o
liei do Tauor, no mesmo tempo em que
Lopo tíoarez foi sobre Crangaiior.» Ibi-
dem, cap. íti). — o Oh que profundos pec-
cados cavou a malicia profunda dos ho-
mens! hum peccado, de que se seguem
terríveis consequências : hum peccado,
que traz comsigo muitos escândalos, e
eu fuy o inventor, e mestre delle.» Pa-
dre Manoel Bernardes, Exercícios espi-
rituaes, part. 1, pag. 202. — « E porque
de hum absurdo se seguem muitos, como
diz o Filosofo : deste da for(;a, e violên-
cia, se seguirão tantas injusti(;as, em que
logo se desempenhou Castella, que menos
bastavaõ i)ara lhe tirar o direito, dado, e
naõ concedido, que algum tivesse; e para
corroborar o da Senhora Dona Cathari-
na, ainda que fosse fraco.» Arte de fur-
tar, cap. 10. — I De que se seguio gran-
de bcnetieio a estas Trovineias, porque
como as searas saõ de regadio, uuuea
faltaõ; o fundindo muito, vem a ser o
mantimento muito barato, com que o po-
vo Uca de todo abastado.» Manoel Scve-
rim de Faria, Noticias de Portugal, Disc.
1, cap. 4.
— Adágios :
— Segue a formiga, se queres viver
sem fuliga.
— Segue a formiga, viverás com fa-
diga.
— Segue a razão, posto que a huns
agrada, a outros u.tío.
— Seguir o bem parado.
SEGUITO. Vid. Séquito.
SEGUNDA, s. /. Aula de grammatica,
que se^ue á primeira.
— Termo de musici». Intervallo de
uma nota a outra inmiediata ; por exem-
plo : do dú ao rc, de fã ao sol.
— Diz-se da faiiuha de qualidade infe-
rior.
— Tenuo de chimica. Agua segun-
da; agua forte já enfraquecida, |)or ter
servido na cliMiolu^ào do alguns nietaec.
SEGUNDADO, /jurt. pan». de Segimdar.
SEGUNDA-FEIRA, #. ./. .Segundo dia da
Semana. < ieialmeiíto conta-se como o pri-
meiro, desde quo se transferiu ])ara o do-
mingo a festa e descanso que dantes era
ao .sabbadii.
SEGUNDAMENTE, aãv. (De segundo,
com o sufíixu o mente»). Eui segundo io-
gar.
SEGUNDAR, v. a. Reiterar, repetir.
— Seguudar inatriíuonio ; tornar a con-
trahil-o.
— Segundar o primeiro votante ; votar
depois d'elle, ou propor seu voto, e arbí-
trio, conforme ao primeiro.
— Figuradamente : Ajudar, servir, fa-
vorecer.
— V. n. Repetir, fazer segunda vez o
mesmo.
SECUNDARIAMENTE, adv. (De segun-
dario, com u ^urtixo «mente»'. Em se-
gundo logar. — « Seguudariamente contra
este maniiamento peccam todos os que
voluntariamente duuidam nas cousas da
fee catholica, aiuda que a iiam neguem
de todo nem se apartem delia, porque
per ser hcrejo c periler a fee da alma,
basta duuidar, o vacilar deliberadamen-
te. » Fr. Bartliolomeu dos Martvres, Ca-
tecismo da doutrina christã, cap. 38.
SECUNDÁRIO, a<IJ. Do latim secutida-
ítK.s). Segundo em ordem, qualidade ou
grailua<,'ào.
— Luz segundaria; em physica, luz
procedente da retlexão ou refrac^ào.
— tí. m. plur. Segundarios. Termo de
astronomia. Círculos quo passando pelos
pólos da ecliptica, a cortam perpendicu-
larmente, e servem para assignalar o lo-
gar respectivo de cada estrclla.
SEGUNDAS. Vid. Secundinas.
SEGUNDAVO, .-. m. Um dous-avo.
SEGUNDEIRA, *\ /. Kome que na Or-
dem Seraplúca se dava ao sino menor do
campanário.
— Segunda por(,'ão de vinho que da-
vam aos religiosos em di;i3 festivos.
SEGUNDEIRO, aJj. Dizia-se doa moi-
nhos (|uo inoiam milho, e pain(,'0.
SEGUNDINO, adj. Termo de botânica.
Ladeado, que se inclina sempre para o
mesmo lado, seja qual fôr o seu ponto de
apego.
SEGUNDO, adj. num. ordiíi. (Do latim
sccundus). O que se segue immediata-
mente ao primeiro. — O segundo volu-
me. — No segundo dia da lua. — 1).
Fedro Segundo. — El-rei D. Sancho Se-
gundo, chamado o Capello,Jilho d'el-rti D.
Ajjonso u Segundo, reiniíso e descuidado.
— D. João Segundo </«; Portugal era Jil/ui
d\l-rci D. Ajfonso Quinto, e D, Afonso
Segundo erajilho d'el-rei D. Hauclut Pri-
meiro.— «O segundo artigo he tal. Se
os Bispos, ou priores das Igrejas escõ-
mangam seu froiguesea, porque lhe«
nom dam suas diziniad, ou outrori direir
los, que Iheí devem, ou poueni intcrdi-
cto em «ous lugarcí, a^iv como a justiça
manda, Ellíey, e o» bod», jter cajom des-
tes, quo asHv cxcSmun^am, fazc-o« dei-
tar da terra, e Hlha-lhes or benx.* Ord*
Affons., liv. 2, tit. 1. — cE pela segun-
da vez perca todallari terran, e jurdievòet
per qualquer guiiia, e per qualquer titu-
lo, e todolos outros bens próprios, que
ouver, c seja todo apricado aa Coroa do
nosso Regno ; e pola terceira vez seja
desterradtj de todo nosso Senhorio.» Ibi-
dem, tit. UU, § 13. — «O segundo Capi-
tulo he : Que os depósitos, u guardas, e
condccilhos, e recebimentos feitos per a
moeda autigua, ou nova, que se fez ataa
postumeiro dia de Dezembro da Era de
mil e quatrocentos vinte e três annos,
per Almoxarifes, Tetores, ou Cura/ioreí.»
Ibidem, liv. 4, tit. 1, 8 3- — «ELlíey
Dom Affonso o Segundo de louvada me-
moria em ."seu tempo fez Lev em e-»ta
forma, que se segue.» Ibidem, tit. 37.
— « Mas por lhe isto nSo succeder a von-
tade casou depois com dom Pedro de
Meneses, seu primo com irmSo, Conde
Dalcoutim, filho herdeiro de Dom Fer-
nando segundo Marques de villa Real,
como se ao diante diríi.» DamiSo de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 1,
cap. 82. — «Mas auendo ja bf>m pedaço,
que de huma, e da outra parto servia a
artelharia, de maneira que com o fumo,
e fogo da pólvora se nam viam huns aos
outros, mandou Duarte Pacheco tirar
com hum camello que ainda nam descar-
regara, o que se fez em tam boa hora,
que do segundo tiro desmanchou de todo
a jangada, arrombando quatro paraos
que logo ae foram ao fiindo.» Ibidem,
cap. 86. — f Ouue mais el Rei dom loam
da Rainha donna Phellippa sua molher,
o Infante dom loam que foi mestre da
ordem de Sanctiago, e Condestabre do
regrio, pai da Rainha donna Isabel, mo- .
Iher dei Rei dom liam de Castella, se-
gundo do nome.» Ibidem, part. 3, cap.
24. — «El Rei dom loào o segundo vi-
uendo teue sempre grandes desejos de
descobrir a nauegai^^âo da índia, e assi
de ter alguma noticia do preste Io3o das
índias, por ser ChristJSo, parecendolhe
que se poderia naquelas partes ajudar de
sua amizade.» Ibidem, cap. ÕS. — «Esta
segimda diligencia iliz Gomezeanes que
uiandciu fazer el Rei dom Duarte, e o
nomoa por Rei, e na quo se fez no re-
gno, quando encomniendou a Chronica
dei Rei seu pai a Fernam lopez, o no-
mea por Infante, de maneira que elias se
fezeram em diuersos tempos.» Ibidem,
part. 4, cap. 38. — tile do notar que do
tempo que o Império se passou de Fran-
<;a a Alemanha o primeiro Emperador
dos da lemanha foi Ottho, per cujo fale-
cimento foi electo Ottho seu filho segun-
SEGU
SEGU
SEGU
447
do Emperador a quem, depois de prese-
dir uo Império dezasete annos socedeo
Ottho seu filho terceiro Emperador, em
vida do qual ordenou o Fapa Gregório o
mo 'o que se ate agora tem na eleiçam
dos Emperadores da lemauha.» Ibidem,
cap. 71. — «Outros dào outra probabili-
dade, dizendo que mal pôde ser aquella
obra de Damasceno, que no livro segun-
do de Fideortodoxa, affirma nào aver de-
pois da morte remédio de penitencia, e
ser a morte para os homens, o mesmo
que para os Anjos foy sua queda.» Mo-
narchia Lusitana, liv. õ, cap. 12. —
«Assinaõ-se no privilegio Dom Ordonho,
e Dom Garcia, hum filho, e outro irmão
delRey, ambos os quaes caem n'este
Dom Ramiro segundo, inda que neste
particular também os teve o primeiro.»
Ibidem, liv. 7, cap. 20. — -«Però como a
necessidade he mestra de todalas artes,
em tempo delRey dom loaõ o segundo
foy per elle encomendado este negocio a
mestre Rodrigo, e a mestre losepe ludeu
ambos seus médicos, e a hum Martim de
Boémia natural d'aquellas partes.» Bar-
ro?, Década 1, liv. 4, cap. 2. — «E o
segundo curso mai-itimo que elle nào sou-
be, o qual começa no cabo de Moçambi-
que, e acaba em o das correntes que será
per costa ate cento e setenta legoas : fica
ella hum pouco mães encarnada com hum
auco que faz o cabo das correntes logo
na volta delle quando vaõ de cà do po-
nente. » Ibidem, liv. 8, cap. 4. — « Aca-
bado este feito da tomada de Malaca,
que se fez c3 oitocentos homens d'armas
Portuguezes, e duzentos Malabares de
espada e adarga, por aquelle dia uào fez
Afíbnso d'Alboquerque mães que fortale-
cerse nesta ponte: e ao segundo, porque
de duas casas grandes vizinhas a ella
toda a noite lhe tirarào com mil modos
de tiros que fazião muito danno, mandou
a ellas estes capitães, Jorge Botelho, Af-
fonso Pessoa, e Simão Martinz.» Idem,
Década 2, liv. 6, cap. 6. . — «E, como a
sagunda vez viessem com maior fúria,
tiveram tanta força os encontros, que
Florendos perdeu um estribo e fez um
revez algum tanto desairoso; o outro foi
ao chão por cima das ancas do cavallo,
cahindo porem em pé, como quem em
tudo mostrava acordo. » Francisco de Mo-
raes, Palmeirim dlnglaterra, cap. 109.
— cHa primeira e mayor ha dei Rev
com sua bandeyra Real da parte donde
estaua a mayor batalha dei Rey dom Fer-
nando com sua bande^Ta, sem elle estar
nella. E a segunda batalha de menos
gente foy ha do Príncipe, porem era gen-
te cortezàa, e muy escolhida, e com sua
bandevra se pos ha outra parte de fron-
te.» Vida e feytos dei Rey D. João II,
cap. 13. — «Segundo: faze entre dia
muitas vezes exame de tuas obras, bre-
ve, mas frequente, e rematado com hum
acto de contrição.» Padre Manoel Ber-
nardes, Exercícios espirituaes, part. 1,
pag. 338. — «Era o seu primeiro Gover-
nador [qne este foi o nome, com que ua-
quella occasiaõ embarcarão os Capitães)
D. Joaõ de Lancastro, o segundo Manoel
Jaques de Magalaães : pi-imeiro Tenente
Peflro de Figueiredo de Alarcão. A Al-
mirante era S. Benedito, e seu Governa-
dor Lourenço Nunes.» Frei Bernardo de
Brito, Elogios dos reis de Portugal, con-
tinuados por D. José Barbosa. — ■ «A se-
gunda pêra Ormuz, donde me mandaram
chamar com milita pressa, por estar Ras
Xarrafo alevantado contra ElRev, com
arraiaes formalos, e Diogo de Mello em
meio; e concertei estas cousa.s que esta-
vam muito arriscadas.» Diogo de Couto,
Década 4, liv. 6, cap. 7. — • «E por den-
tro ficava rasa co chão, fechada por cima
toda em roda de duas ordens de grades
de latào, de que as primeyras que esta-
vão mais para tora, erào de seis palmos
dalto somente, em que a gente se podia
encostar, e as segundas que estavào mais
por dentro, eraõ de nove palmos, as quais
tinhaò leosns de prata postos encima de
bollas redondas, que como ja disse algu-
mas vezes, saõ armas dos Reys da Chi-
na.» Fernão Mendes Pinto. Peregrina-
ções, cap. 111. — «O segundo e iro foy
que cuydamos sempre as agoas, corre-
rem pêra a terra, da qual nos afastaua-
mos, quanto podíamos, sendo pelo con-
trario que tirauão pêra o mar, e Ilha de
Sam Lourenço sem cahirmos neste enca-
no.» Fr. Gaspar da Cruz, Tratado das
cousas da China, cap. 1.
Aquelle experimentado cavaUeiro
Jorge de Lima vai aquelle dia
Xo seyundo batel, a quem primeiro
Xinguem no esforço foi, e na ousadia.
Levava Tristão Homem o terceiro.
Cujo animoso esprito c valentia
Era huma verdadeira testemunha
Que lho convinha assaz a sua alcunha.
F. d"as'drade, pbisieibo cerco de dic, cant. 2,
C3t. 23. '
— «^a segunda estancia andava outra
laia de parvos, inimigos capitães da con-
versação, que, por mais necessidade que
tenham de se caldearem n'ella, para re-
médio da sua manqueira, andam por ou-
tra parte tào amarrados a uma opinião,
que se deixam antes envelhecer na estre-
baria que buscar um bom pasto, onde se
poderam fazer mais nédios que mula de
cardeal: a estes não lhes vale a egreja,
porque são parvos de propósito.» Fernão
Soropita, Poesias e prosas inéditas, pag.
10-- — «Um leào, em pequeno se aman-
ça. Aos próprios ferros da gaiola, em que
vive preso, toma afi"eição um passarinho;
sendo aquelle por seu natural feroz, e es-
te livre. E a creaçào outro segundo nas-
cimento ; e, se em alguma cousa differe
do primeiro, é só em ser mais podero-
so este segundo.» D. Francisco Manoel
de Mello, Carta de guia de casados.
— Causa segunda ; a que recebe a sua
actividade da cau>a primeira.
— Segunda intenção; intenção quasi
sempre damnada e malévola e que se oc-
culta.
— Prep. Conforme. — Segundo a lei ;
segundo « arfe, — «Ordenamos, e Decla-
ramos, que todos aquelles, que per bem
de seus Privilégios podem trazer seus
Contendores á Corte, segundo ia avemos
declarado no Titulo suso escripto, todos
esses podem ser demandados na Corte,
ainda que naò sejam achados em ella, e
para outra parte naò podem ser citados.»
Ord. Affons., liv. 1, tit. 3, § 5. — «E
esto meesmo lhe sejam contadas as hidas,
que forem a alguns lugares fazer os di-
tos enventarios ; e outro sy alguuns es-
tormentos, que fezerem das partiçoões
dos ditos beens, segundo a forma da nos-
sa Hordenaçom, que sobre ello he feita,
do que os Taballiaães, e Escripvaàcs ham
de levar, e d'outra guisa nom.» Ibidem,
tit. 39, § õ. — «Os quaees capítulos vis-
tos per Nos, demos ao pee de cada huum
nossa resposta com acordo dos do nosso
Dísembarguo, segundo adiante he escri-
pto : dos quaees capítulos com a reposta,
que a elles demos, o theor he que se
adiante segue.» Ibidem, tit. 49, § 1. —
«E do Arraby Moor venham esses aggra-
vos, ou appellaç )òes a nós, e nom fique
nenhum feito crime, em que a Justiça
segundo direito e Ordenaçom do Regno
aja lugar, findo per seus livramentos,
mais em toda guisa venham a nós.» Idem,
liv. 2, tit. 81, § 30. — «E quanto he nas
Cartas das outras pessoas, Mandamos,
que os que as abrirem, sejam punidos es-
timando a pena, segundo as pessoas que
as enviarem, e a quem fossem enviadas,
e o que em ellas for contheudo, e a pes-
soa, que as abrir.» Ibidem, tit. 123, § 7.
— • «E assy parece que feitos per esta gui-
sa a ouro, ou prata som cousas novas, e
as novidades, segundo os Philosophos,
sempre fezerom discórdia, maiormente
tam grande como esta ; e porem nom
deve seer consentida tal novidade como
esta.» Idem, liv. 4, tit. 2, § õ. — «Ou-
tro sy estes arrendamentos, afíbramentos,
c emprazamentos se usarom em estes nos-
sos Regnos dês pouco tempo a ca, que se
soiam de fazer per as moedas, que cor-
riam nos tempos dos contrautos, ou a
pam, ou a vinho, segundo as cousas que
se assy arrendavam, afloravam, ou em-
prasavam.» Ibidem. — «E com esta de-
claraçom mandamos que se guardem as
ditas Le^-x, segundo em ellas he contheu-
do, e per nós declarado, como dito he.»
Ibidem, tit. 9, §6. — «E também pode-
rá aver lugar quando a Doaçom fosse fei-
ta antes que fossem casados, e ao depois
per casamenti) fossem comunicados seus
bens, segundo costume da Estremadura. »
448
SEGU
SEOU
SEGU
Ibidem, tit. 14, § 4. — «E vista per m^a
.1 ilit;i Lcy, (loclíirando cm ellii, dizemos
(jiui ajii lu^iir ii.i(|tiolio, que ao tempo
que foi morar com air^inn, iiom ora ainda
a oaso tempo costrann^ido pela Jiiatiya,
ou citado |>cra morar com outrem, se-
gundo as IIordiMiaçõos do Rcip^no solire
ello feita.s.» Ibidem, tit. 2o, §2. — «Item.
Temperando a ])ona posta em a dita Ley,
mandamos que seja em alvidro dos Jui-
zes, aos quaaos mandamos quo penem
aqiielios, quo contra a dita Lcy iorem,
segundo a qualidade do feito, o a culpa
ora quo forem, em tal guisa cpie os for-
çadores da liberdade nom fiquem sem
pena.» Ibidem, § 3. — «E deve jurar aos
Santos Avan'-Tollios que os dinheiros som
seos, segundo costume, e pustura ile casa
d'Elllov. E se por ventura aquelle, a
que assy demanilar o hcrdamonto do tan-
to por tanto, diz que ello filhe o hcrda-
monto, o que lhe de de aquello que lhe
custou, aquelle que demanda lho deve
loí^o dar, ante que se os Juizes vaaõ do
(Joncelho, outro tanto, quanto por elle
deu aaquelle, de que o comprou.» Ibi-
dem, tit. í58, § 9. — «E quomo cl Rei
dom lOmanuel foi em todos seus ne<íocios
vif;i lauto, o tinha por officio perder pou-
co do tempo, los^o alli cm Monte mòr no-
tificou has confirmações, c mandou á to-
dolos que tiuosscm preuilcgios, liberda-
des, o cartas de mercês, e outras, has
viessem ou mandassem contirmar, pêra
ho que elogoo hos principaes letrados do
llegno, por cujo parecer confirmaua, der-
ro<?aua ou limitaua, segundo ha qualida-
de cias cousas rcqiu'rla.» Danúão de (íoes,
Chronica de D. Manoel, part. 1, cap. 0.
— «Çafim a que o> numros chamam Azaa-
fi, he clda le muito antisjua antrolles, edi-
ficada pelos naturais da t.^rra, segundo
o dizem os .Seript^es Arábios, situada
na costa do mar Oceano Atlântico, na
prouincia a que nos corruptamente cha-
mamos Davluceala.» Ibidem, part. 2, cap.
18. — "(Segundo elle disse) os Mouros mu
cuja companhia ficou, erão pastores e pa-
rentes dl) alouro que voo pêra o Reyno
com Antaõ Oonçaluez.» Barros, Década
1, liv. 1, cap. 10. — «E este rio Çana-
çCíl per a diuisaõ nossa he o que aparta a
terra dos Mouros dos negros, posto que
ao longo de suas agoas todos saõ mesti-
ços, em cor, vida, e custumes, per razão
da cópula que segundo custume dos ]\Iou-
ros toda molher acceptão.» Ibidem, liv.
3, cap. 8. — «A qual segundo a estima-
ção dos ])ilotos lhe pareceo quo podia dis-
tar pêra aloeste da costa de Guiné qua-
trocentas cinquoenta legoas, e em altura
do polo Antartico da parte do sul dez
grãos.» Ibidem, liv. ò, cap. 2. — «O que
ello Almirante nito ouue per estr.anho pa-
recendolhe serem modos de contractar a
sou prazer, segundo o tinha anisado Gon-
çalo Gil que estaua em Cochij : e assi
Vuyo Rodi-iguez que ficara ali em Cana-
nor (1'arniada do loão da Noua.» Ibidem,
liv. 6, cap. 4. — «Porque falecido o Rey
do Sião, que sou pai temia, com Arma-
das de navios do remo, a quo os Cellate»
oram n)ui costumados, começou de obri-
gar as núo< que navegavam per aquelle
estreito d'antro Malaca, o a Ilha Çaina-
tra, que não fossum adiante a Cingápu-
ra, e as de Levante que viessem alli fa-
zer com estas de Ponentc suas commu-
tações de mercadorias, segundo seu an-
tigo uso. I) Idem, Década 2, liv. 6, cap.
1. — «Como j:i começava entrar na pa-
ragem dos baixos, segundo lhe diziam os
Mouros Piloto 1 que levava, mandou ir
diante todolos navios pequenos, hnns ao
longo da costa da Ilha, e outros mais ao
mar por resguardo <las outras náos de
maior porte.» Ibidem, cap. 2. — «Faz'!n-
do Alfonso d'Alboquer(pie fundamento
que per meio deste commercio viria to-
mar liuni pé de entrada naquolla Cida-
de, e depois com o favor d'ElRey de
Camhav, segundo as esperanças que Me-
liquo Gupi lhe dava, podia alli fazer
huma fortaleza com titulo de Feitoria.»
Ibidem, liv. 8, cap. 5. — «Porque pu-
nham a confiança de o vir a ser nas pro-
pri.is obras, que faziam conformandose
com a mesma ley, e nam ra graça, e
misericórdia do Christo, qne segundo a
fé, ouueram de esperar, e pretender.»
Lucena, Vida de S. Francisco Xavier,
liv. 6, cap. 16. — «Bozio contra Machia-
velo lib. 3, cap. 1. nomea só no Reyno
de Nápoles muitos milhares de povos
mais, que os que tinha toda Itália anti-
gamente segundo Estrabo, Ptolomeu, e
Plinio, o qual chega a contar atè os Ca-
saes, o Bozio naõ co'ita lugar de menos
do oOO. risinhos.» ^[anoel Severim de
Faria, Noticias de Portugal, Disc. 1, cap.
2. — «Esta foi a causa porque antiga-
mente em Grécia chegarão a tanta per-
feição as artes da pintura, e escultura,
porque segundo Plinio toda a nobreza se
occupava nellas.» Ibidem, cap. 8. — «N.
de N. não tem nada, N. do N. não lhe
b:ista nada, e eu não sei qual é maior
tentação, se a necessidade, se a cobiça.
Tudo quanto ha na capitania do Pará, ti-
rando as terras, não vai dez mil cruza-
dos, como c notório, e d'esta torra ha-de
tirer N. do N. mais de cun mil cruzados
em três annos, segundo se lhe vão lo-
grando bem as industrias.» Padre Antó-
nio Vieira, Cartas, n." 10.
— Seguido immediatamente de um ver-
bo; conforme, como, tal qual. — a E sen-
do essa Excepçam opposta, e alleguada
contra o Juiz, deve El Rey dar outro
Juiz, quo delia conheça, e dé sobre ello
final terminaçam, segundo achar per Di-
reito, se ElRey for em esse luguar, bon-
de tal caso acontecer.» Ord. Âffons., liv.
3, tit. 56, § 5. — «li pêra se concorda-
rem, e aprovarem os ditos números, man-
damos ao dito Vasco Fernandes, e Ar-
mou Botim, que bc vaão per telas as
Comarcas, pêra fazerem comprir os que
minguarem, segundo som o.-icripto» em
seus livros, o porá fazerem tirar alguns,
que per velhice, ou necoi»8Ída<lefl nom po-
derem servir, e lhes «'ardes outros em
seus nomes, segundo esto roais com|irida-
mente l:o contheudo cm outro Regimen-
to, que levam.» Ibidem, tit. 69, § .SO. —
«E SC o devodor de cada hum dos casos
do primeiro Capitulo oí]Vrec<!0, o conui-
nou, e depôse o que devia da moeda an-
tigua, ou noisa que se fez ataa primeiro
dia de Janeiro da Pira de mil e quatro-
centos e vinte e quatro annos huma li-
bra por outra, ou per as moedas, quo se
fezerom dês primeiro dia do Janeiro da
Era de mil c quatrocentos e vinte e cin-
co annos, ataa .laneiro de mil e quatro-
centos e trinta e seis annos, a cinquo
libras por huma, segundo era conteúdo
na nossa Hordenaçom sobre cto feita.»
Ibidem, liv. 4, tit. 1, § 6. — «Fazendo-
se compra e venda d'alguma certa cousa
por certo preço, despnis que o contrauto
he acordado, e firmado pela.s partes, nom
se pode mais d'hy em diante alguma del-
ias arropendí^r sem consentimento da ou-
tra parte, porque segundo disserem e es-
tabelecerem as Lf^yx Impriaaes, tanto
que o c<unprador, e o vendedor som acor-
dados, e firmados na compra e venda de
alguma certa cousa por certo preço, logo
esse contrauto he perfeito e acabado.»
Ibidem, tit. 36. — «E per qualquer ma-
neira que fosse, segundo aprehcndemos
em huma chronica dos Reys de Quiloa
de que atras fizemos menção, os primei-
ros daquella costa que vieraõ ter a esta
terra de Çofala a cheiro deste ouro, fo-
rão os moradoras da cidade ilagadaxó.»
João de Barros, Década 1, liv. 10, cap.
2. — «Finalmente Payo de Sousa somen-
te com dous dos sons foi leuado aquelle
lugar onde, segundo diziaÕ os Mouros,
estaua a pessoa d'elRey : e tanto que che-
garão a elle, logo os cspedio, mostrando
ter contentamento de ver cousas d'elRey
do Portugal, dando graças a elle Payo
de Sousa por sua ida.» Ibidem, cap. 5.
— «Pois, deixando a clles, tocaremos no
ciivalleiro do Salvage, que, segundo con-
ta a historia, depois que no reino ile Hes-
panha venceu os quatro cavalleiros da
floresta, e ganhou as donzellas, caminhou
tanto por suas jornadas, que um dia,
quasi véspera, chegou A cidade de Bru-
sia, que agora se chama Toledo, onde
então estava cl-rei Recindos, contente e
alegre polas novas que lhe vieram da
soltura de seu filho o dos outros caval-
leiros. qne estavam em poder do Turco.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 123. — «Pos agora convêm
que, segundo deixou ordenado, promet-
tacs lie vos presentar ra corte d'el-rei
Recindos, SC não passareis por outra pe-
na maior da que vos dão vossas feridas. •
I
SEGU
SEGU
SEGU
449
Ibidem, cap. 129. — «Leese na primey-
ra Ciironica das oitenta dos Revs da Chi-
na no capitolo treze, a qual eu ouvy muv-
tas vezes lèr, que despois do diluvio seis-
centos e trinta e nove annos avia huma
tsrra que então se chamava Guantipo-
cau, a qual, segundo parece pela altiu-a
do clima em que está, deve de estar em
sessenta e dous grãos da banda do Nor-
te, e jaz nas costas desta nossa Alema-
nha.» Fernào Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 92. — íE a razào disto foy,
segundo affirma a mesma historia [a, qual
os Chins tem por muyto verdadeyra) que
vindo esta ai-mada toda junta, para sem
neuluima piedade effeituar na pobre Naa-
caa, e nos seus três filhos, e na mais
gente que estava com ella, os danados e
cruevs intentos do tyranno Silau.» Ibi-
dem, cap. 93. — «Este mesmo costume
guardavaõ, segundo parece, as mais das
Naçoens do Norte: porque todas ellas os
tiveraõ quasi semelhantes, e por elles se
governarão muitos em lugar de leys.»
Manoel Severim de Faria, Noticias de Por-
tugal, Disc. 3. — «Camões chegou a Lis-
boa em 1569, e publicou os Lusíadas em
1572 na officina de António Gonsalves.
Fez logo segunda ediçào no mesmo anno,
segundo dem.onstrou o Morgado de Mat-
theus, e ja Faria-e-Sousa tinha descu-
berto. Desde então, pode-se dizer que a
imprensa ainda não descançou de multi-
plicar exemplares d'esta assim como das
outras obras de Luiz de Camões. (Nota
da seçiunda edição.^j) GaiTett, Camões,
nota H ao canto 9.
— Segando qtie ; conforme, da mesma
maneira, no mesmo estado que, tal qual,
como. — «Atee que primeiramente sejaò
demandados, condapnados, e eixecutados
os principaae: devedores; porque nom
com menos razom o devem ellas aver,
que 03 homens, a que per Direito é ge-
ralmente outorgado, segundo que mais
compridamento diremos no Titulo, que
se começa, Da Fiadoria de muitos. n
Ord. Affons., liv. 4. tit. 18, § 10. — «E
esto achamos por Direito que ha lugar,
quanilo a cousa he vendida polo justo
preço, segundo que dito avemos no Titu-
lo, Das Usuras: ca se a cousa fosse ven-
dida por menos a quarta parte do justo
preço.» Ibidem, tit. 40. § 1.
— Segundo ; por segundo o que. — «E
com esta declaraçam Viandamos que se
guarde a dita Ley, segundo em ella he
eontheudo, e per nós declarado, ca em
outra guisa pareceria ser contra a outra
Ley arate desta.» Ord. Affons., liv. 4, tit.
1, § 4. • — »Por quanto acerca delles fo-
rom feitas Leyx especiaes pelos Revx
nossos antecessores, per que forom de-
claradas certas penas aaquelles, que se-
melhantes maldades comettessem, segun-
do em ellas mais compridamente he eon-
theudo.» Ibidem, liv. 5, tit. 2, § 13. —
«Por certo, disse Albayzar, pouca cousa
vol-os fará deixar, ainda que os muito
estimeis, segundo em vós vejo; com tu-
do, peço-vos hajais por bem, se vos der-
ribar desta vez, que vos vais presentar
de minha parte ao gigante Almom"ol e
lhe digais que comvosco hei por desem-
penhada minha pessoa da obrigação, em
que me poz Miraguarda, posto que já es-
tava fora delia.» Francisco de Moraes,
Palmeirim d'Inglaterra, cap. 124.
— tí. m. Termo de astronomia. Cada
uma das sessenta partes em que se divi-
de o minuto de circulo ou de tempo.
SEGUKDO-GENITO, adj. (Do latim se-
cundo genitus). Diz-se <!o filho segundo.
t SÉGDNDO-GENITURA, s. f. Termo
forense. Qualiúade e circumstancia de
ser filho seguniJo.
7 SEGUNTIWO, adj. rDo latim sigun-
tinus:. Pertencente á cidade e província
de Siguenza.
— S. m. O natural de Siguenza.
SEGUR. Vid. Segure, Secure, e Segura.
SEGURA, «. /. 3Iachado grande para
lavrar adaella.
SEGURAÇÃO, s. f. Seguro mercantil.
— Contracto de seguração.
SEGURADO, part. pass. de Segurar.
— <S'. m. N um contracto de seguro, o
que dá premio ao segurador.
SEGURADOR, s. m. Vid. Assegurador.
— Garante, fiador, abonador: o que
fica por alguém para segurança de divi-
das ou de outra cousa, pela qual elle é
obrigado.
— Garante de tratos, tratados, capitu-
lações entre reis.
— Seguradores do campo; nos reptos e
duellos. os que mantinham a segurança
dos reptados ou desafiados.
SEGURAMENTE, adv. iDe seguro, com
o suffixo «mente» I. Com segurança, de
modo seguro. — «Entào lhes mandou dar
cascaueis, ceptis, e anéis destanho, e ou-
tras cousas desta calidade, ho que toma-
rão mui alegres, specialmente hos casca-
ueis pelo som que faziaõ, e dalli por
diante começarão de vir à praia segura-
mente, e dar dos mantimentos, que hauia
na terra, atroquo de outras cousa.?.» Da-
mião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 1, cap. 35.
— Certamente, com certeza, ou sem
risco de cquivocar-se.
SEGURANÇA, s. /. Estado das cousas
que as torna firmes, certas e livres de
todo o risco c perigo. — «E dizemos, que
no caso hocde o comprador, e o vende-
dor ouvessem acordada, e firmada sua
venda e compra de certa cousa por cer-
to preço, e o comprador desse logo de
sinal certo dinheiro ao vendedor, que se
chama em direito arra, per segurança da
dita compra, em tal caso se elle compra-
dor se arrepender, e quizer afastar do
dito contrauto, podclo-á bem fazer.» Ord.
Affons., liv. 4, tit. 36, § 1. — a Com es-
tas ordens se acrescentou grandemente o
comercio em tempo d'ElRey D. Sebas-
tião, e navegavaò os Navios deste Reyno
com grande segurança de Cossarios.»
^lanoel Severim de Faria, Noticias de
Portugal, Disc. 2, cap. 16. — aAftbnso
d'Albuquerque em quanto Abrahem Bec,
e o Embaixador do Xeque Ismael esti-
veram na Cidade, e elle ordenou estas,
e outras cousas, por segurança daquelle
Reyno de Ormuz, nunca os tomou por
parte nisso, ante por medianeiros, como
a homens nobres tão acceitos ao Xeque
Ismael, e sempre em todos aquelles ne-
gócios qualquer causa que lhe elles re-
queriam, folgava de fazer.» Barros, Dé-
cada 2, liv. 10, cap. 5.
Oli esperança, esperança,
A mais certa pena minha
Com toda esta segurança!
Tu CS a mesma tardança
Era figura de mezinha.
Oh quem tal arrepender.
Tal maneira de penar,
Lá soubesse no viver !
Oh r|uem tornasse a nascer,
Por nào pcccar !
Gn, nCEKTE, AUTO DA BABCA DO
PUBGATOKIO.
— «Recolhido elle mandou o Governa-
dor a Francisco de Jlello Pereira, que
tinha vindo rico de Banda, que fosse es-
tar em Rachol com duzentos soldados
Portuguezes pêra segurança das aldeãs,
e lhe deu titulo de Capitão mor das ter-
ras de Salsete, e mil pardaos de ordena-
do cada anno, pagos nos foros daquellas
aldeãs. Francisco de Mello Pereira se
passou à outra banda, e de Margaõ pêra
Rachol gastou todo o inverno, quietando,
e segurando as terras, e arrecadando os
foros delias.» Diogo de Couto, Década 6,
liv. 4, cap. 9. — «O Bacharel lhe disse
«que lhe mandasse o mayor, e o mais
«rico que pudesse, que elle faria com D.
«Antaõ que lho tornasse depois : porque
«não queria mais que acreditarse com os
«homens, e que pêra segurança disso lhe
«daria hum assinado do mesmo D. An-
«taõ, e outro seu. ElRey o fez assim, e
estando hum dia D. Antaõ de Noronha
com D. Diogo de Noronha, D. António,
e todos, ou os mais dos Fidalgos, e ca-
valleiros de sua Armada, chegou a visi-
tação de ElRey, e o presente, que valia
dez, ou doze mil cruzados, porque era
hum fio de pérolas riqmssimo, algumas
peças de ouro, c prata curiosas, alcatifas
grandes, e ])equenas, muy finas, e outras
cousas.» Ibidem, liv. 10, cap. 10. — «E
gracejado cos seus sobre esta matéria cõ
alguns ditos c galantarias, a que natu-
ralmente saõ muyto inclinados, chegou o
Fingeindono, ao qual me elle logo entre-
gou com palavras de muyto encarecimen-
to a cerca da segurãça de minha pessoa,
de que me eu ouve por muyto satisfeito.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações,
450
SEOU
SEGU
SEGU
cap. 13:'). — «E depois se foz em Lisboa
o Forto da Cabeça Scea, que se começou
em tempo dos ííoveriiadorcs, e iio d'EI-
Rey D. Fclippo o Purilento, o de Santo
António, para segurança da liabia de
Cascão». » iMariool .Sovcrim de Faria, No-
ticias de Portugal, Disc. 2, cap. 12.
— Ohrd fcitii cum segurança; em que
não lia receio de se arruinar oin breve.
— Carta de seguro, que d:l o sobe-
rano.
— • Filhar imnnos de segurança ; fazer-
se religioso.
— Despojo, dciicnvoltura honesta.
, — O acto de segurar, garantia.
— O que segura do incertezas, e pe-
rigos, ou algum estado.
— -Segurança da égua; prenhez, con-
cepção, gravidação.
— Figuradamente : Repouso, soeego,
tranquillidade.
• — Firmeza de animo, intrepidez, cons-
tanci.a. — «O sexto, suspensão do animo
enlcuado em Deos, ou arrebatado, que se
chama rapto, no qual não se pode decla-
rar o que a alma sente delle. Aos sobre
dito; aíToitos se seguem dous, a saber,
segurança, com a qual a alma naõ teme
padecer por De s, quanto se oftrecer, e
ccrtissiniameiite conlia, (|ue nunca scra
dcUe apartada.» Fr. I).arth(domeu dos
Jlartyrcí, Compendio de espiritual dou-
trina, ca]>. 15.
SEGURAR, i'. a. Firmar, fazer seguro,
ou lirinc para não cair, ou se conservar
no lugar onde se poz. — «O comprimen-
to de toda a Vara era de pé e movo, e
segurava a porção do hum pé com a mão
diruvta, e com a esquerda o resto da
Vara, «pie era a parte infcricu'.» Caval-
Iciro (rOliveira, Cartas, Hv. 3, n." 38.
— Livrar de risco, perigo.
— Proraetter com segurança, e asse-
vci'ação.
. — Fazer ousado, intrépido.
— Fazer certo o que era contingente.
— Fazer firme, seguro, estável. — «O
Reyno dos Lombardos em Itália esteve
por estos annos em poder de Pertharito,
e de sou tillio Cuniperto, a quem tomou
por comiianheiro no Reyno, para efeito
de segurar nelle a sucessrio, e como se
lhe rebelasse Alachis Duque de Trento,
especial amigo de Cuniperto, o pay lhe
perdoou a rebelião, e acrecentou em seu
estado a Cidade de Brexa.» Monarchia
Lusitana, liv. (3, cap. 30. — «E o Con-
do vendo a grande mercê que Deos lhe
llzora, a quis segurar, e tomando o des-
pojo dos mortos, leuando o Alcayde es-
condido, começou com sua batalha muy
cerrada de andar pêra a Villa com muy-
to tonto, o os mouros hião após ello sem
ousarem de o cometer, nem se determi-
narem por não terem Capitão.» (í areia
de Rezende, Chronica de D. João II,
cap. 71.
— Figuradamente : Animar, inspirar
confiança, segurança. — « Pcdraluarez
também por mães segurar elRey, e não
serem aquelias vistas com tanta descon-
fiança, que pi-ra eoiisiliar, e acquirir ami-
zade era cousa jircjudieial : não quis que
tudo fossem cautelas, c mães prjrquc nel-
las mostraua temor.» Ijarros, Década 1,
liv. 5, cap. 4.
Ao feio aspecto do fatal hospício,
As carnes ao DcaO se arripiAraõ.
l'omcça u vacillar ; iiiaa a malvada
Velha Bruxa o terjura, alenta, anima.
DINIZ DA CRUZ, iiyssoPK, cant. 8.
— Segurar /aze rtf/as, mercadorias, etc.;
dar certo ijreniio ao seguro, pelo qual
este toma sobre si o risco d'ellas.
— Segurar alguém; dar-lhe carta ou
promessa de seguro.
— Segurar o golpe ; dal-o de forma que
não false, que o perigo não possa esca-
par-se.
— Segurar algumi; prendel-o de modo
que não possa fugir.
— Segurar o campo nos duellos, tor-
neios, etc. ; pôr gente de guarda que im-
peça desordem, traição, e que se pertur-
be a igualdade que deve haver ; dar se-
guro ao que vem a elle, e isental-o por
aquelle tempo da jurisdieção e força da
lei, por obrigação ou crime, a que a pes-
soa que a elle vem é responsável. — «Se-
nhora; pois de tão longe vos escolhemos
por juiz, mandai-lhe segurar o c^mpo, c
vamo-nos logo a elle, que eu prometto do
não me desarmar té que com minhas
mãos timie a satisfação de tamanha inju-
ria.» Francisco de Moraes, Palmeirim
d'Inglaterra, cap. 80.
— Segurar a veia; fixal-a para não
errar a sangria.
— Segurar a cidade com defezas; de-
fender.
— Segurar bem a linha solar; tomar a
altura, ou hititude geograpliica.
— iSó em Deus seguro meus males; es-
pero li^^•ar-me d'elles a meu salvo.
— Cavallo de cavallagem, que caval-
gue e segure 20 éguas; que cubra e ande
com loto de 20 éguas.
— Segurar-se, v. reji. Fic;ir seguro,
destemido, intrépido.
— Preservar-se, eximir-se, pOr-se a
salvo de perigo, damno.
E por ss ser/tirar melhor da morte,
Ou d'hum !n;il que tal medo nelle punha,
Manda a Martim .'Vtfonso, varão forte,
Que dos illiístrcâ Sousas tem a alcunlia,
Outro recado então da mesma sorte
Qual fora o que mand:ira ao grande Cunha ;
O qual Sousa cm Chanl cutào estava
E por Capitão-m<ír do mar audava.
F. n'ANPRADE, TRIMEIRO CEECO DE DIU, CaUt. ."5,
est. í>8.
— Tomar carta de segurança, ou de
seguro.
— Segurar-se de alguém; tomar carta
de seguro relativa ao caso de que alguém
piide quertdar.
— Segurar-se de algum delicio; tomar
carta ou alvará do segurança de vida,
tomar carta de seguro judicial, por al-
gum delieto.
SEGURE, s. f. (Do latim tecurisi. Ma-
chado grande para cortar.
— Termo de historia. Machadinba que
08 lictores romanos levavam entre os £as-
ees, como iiisignia de punir, e com que
cortavam as cabeças aos delinquentes.
— Espécie de poesia, que e.-cripta imi-
ta uma segure pela desegualdade de bcub
versos.
SEGURELHA, «./. (Do latim satureia).
Ilerva, que lança uns pequenos ramos,
redondos, vermelhos, e algum tanto fel-
pudos, com folhas pequenas, compridas,
cheias de bunaquinho», ma« que nào pas-
sam de parte a parte ; dá umas flores pe-
quenas, semelhantes ás do thymo, alva-
dias, e declinante-; a côr de purpura.
Cultiva-se nas hortas, e entra nos gui-
zados ; é aperitiva, penetrante, attenuan-
te, corrobora o estômago, fortifica 08
nervos, e a vista. — A segurelha vejo
que é discreta. — « De fura" de Acelgas
une. ij ; de fumo de ruda, e de segure-
lha an. une. j. de mel rezado an, une. j.
e semiss. de óleo de nozes une. ij ; de
sal gema drachm. j.» Braz Luiz d'A-
breu, Portugal medico, pag. 483, § 149.
— Palavra do jugo de pião, de que
usam os rapazes.
— Termo de atafoneiro. Ferro que
tem as extremidades mais largas e vai
diminuindo para o meio, no qual tem uma
abortura, aonde entra o ferro, que faz
andar a ])odra de cima.
SEGUREZA. Vid. Seguridade.
SEGURIDADE, «. /. ',Do latim securita-
tem). Estado das cousas que as torna fir-
mes, certas e ll^Te3 de todo o risco e pe-
rigo; segurança. — « E, por nào mostrar
o que sentia, os despediu logo, tomando
Floriano em sua guarda. E pêra mais
seguridade mandou annar quinhentos ca-
valloiros, e que estivessem no campo.
Floriano llie quiz biijar a mào.» Fran-
cisco de Moraes. Palmeirim dlnglaterra,
cap. 80. — « Que té aqui fossemos de
imigos, agora como amigos nos entrega-
mos ; e, por mais seguridade, estas são as
chaves dos castellos, que vos tanto san-
gue custam: dclles podeis fazer o que
quizerde*, e de n('is o qr.e vos vier á von-
tade; inda que em homens, que se ren-
dem, n.ão se pode usar crueza.» Ibidem,
cap. 108. — « Pêra mais seguridade lho
tomou sua fé com todalas firn.ezas n^^ces-
sarias, dizendo-lhe que se contentasse
com tào leve castigo, pois seu erro fOra
dino de outro mor.» Ihidem.
— Repouso, soeego, tranquillidade.
seguríssimo, alj. superl. de Seguro.
SEGURO, adj. (Do latim secHrusi. Livre
SEGU
SEGU
SEGU
451
e isento de todo o perigo, damno ou risco.
— «Ante manhã chegaram Siinào Dan-
drade, e Christouão lusarte nos bateis,
porque o vao fieaua seguro com a raare
que enchia.» Damiào de Góes, Chronica
de D. Manoel, part. 1, cap. 88. — «Com
tudo tendo noua per seus espias que es-
taua o campo seguro lhe deu quarenta de
cauallo dos moi-adores, e alguns iidalgos
fronteiros, de que naquelle tempo auia
muitos em Arzilla, e mandou com elle o
Almocadem Pêro de Meneses, para irem
dar em hum a casa de hum Mouro rico
que estaua em Benagarfate. » Ibidem,
part. 3, cap. 9. — « Com esta noua, por
ho cabo ficar seguro determinou António
dazeuedo de sembarcar na earauela, afiu-
zaJa também em duas nãos biscainhas
que nauegauam pêra leuante. e estauam
ancoradas na Almadraua.» Ibidem, part.
4, cap. 50. — « Mas elle, que té alli nun-
ca vira outro gigante, e este era um dos
mais bravos e ferozes do mundo, não te-
ve a sua vida por mui segxira.» Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 27. — « E nào se tendo por seguros
em toda aquella costa, a força de remos,
que o vento não consentia vela, em pouco
tempo arribaram ao mar da Turquia,
onde, passando alguns dias, chegaram
ao porto d'uma cidade nobre, onde o
turco fazia sua habitação.» Ibidem, ca-
pitulo 96. — «Senhora, gi-ave será a cou-
sa que d 'aqui por diante me faça affas-
tar de vós, e deisar-vos á cortezia dos
cavalleiros desta terra, que o fazem mal
com as donzellas, que cuidando que ca-
minham seguras, sua confiança lhe faz
damno.» Ibidem, cap. 128. — «E mais
quem tem conhecimento delias não ha de
viver tào seguro nas mostras de amor
com que o tratam, que cuide que na for-
ça delle deixem de fazer mudança, que
é sua condição natui-al.» Ibidem, cap. 129.
Escolhe por melhor, e mais escuro
Conselho, demandar ao pay por justa
E Canónica lei, a que pêra isto
Lhe tinha dado ja consentimento.
Por hum fiel amigo dizer manda
Ao Sã, que de Lianor nada despenha
Porque por lei diuiua se lhe deuc
Entregar por esposa que era sua.
COBTE B£AI., NAUFBAGIO DE SEPÚLVEDA , Cant. 1.
— o E jurou de o fazer assi, e de os
aver por seguros debaixo de sua verda-
de, e que nenhum ladrão daly por diante
lhe tomaria cousa alguma de suas fazen-
das.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 52. — « E tãbem me parece
que quanto mais cedo vos fordes daquv,
tanto mais seguros estareis dos trabalhos
que o tempo nos começa a mostrar nisto
que agora sua alteza quer emprender de
novo por conselho de alguns que haõ mis-
ter mais de conselho para se governarem
a sy mesmos, do que a terra ha mister
de agoa para produzir os fruitos de suas
sementes.» Ibidem, cap. 125. — «E nós
os oito constrangidos da necessidade nos
fov forçado assentarmos partido com elle
paraque nos levasse comsigo por onde
quer que fosse, até que Deos nos melho-
rasse noutra embarcação mais segura em
que nos fossemos para Malaca.» Ibidem,
cap. 132.
Os da Cidade vendo aquelle duro
Fim do seu Rei, e estrago da sua gente,
Teme em si cada hum o mal futuro
Polo que entào nos seus xia. presente.
E nào se havendo alli por bem seguro
Qualquer então procura alli somente
Por salvar sua ^^da e faculdade
Com pressa, com temor, com brevidade.
F. d'aSDRADE, PBDreiRO CEKCO DE DIU, CaUt. 1,
est. 31.
Pouco ja da vergonha entào curarão
Quando a morte diante os faz medrosos,
E de tornarem \ivo3 mais tratarão
Que de poder tornar ^-jctoriosoa :
Os que das barcas mais perto se acharão
Estes então se tem por mais ditosos,
Que estes hão que tem mais segura a vida
Mais longe do Christào ferro homecida.
IBIDEM, cant. 18, est. 31.
— « Ao som das charamelas com fes-
ta, e alegria o posemos em seu lugar,
tendo nos ja por seguros, (se possível he
podelo estar em esta vida).» Fr. Gaspar
da Cruz, Tratado das cousas da China,
cap. 2. — «A barra de Leuante, posto
que tem outro tanto fundo como a outra,
com tudo não he-tà segura, por ser mais
pequena, e estreita; a quem for necessá-
rio tomala, encostese bem a Fortaleza,
porque junto delia, ha mais agoa que nas
outras partes.» Ibidem, cap. õ.
— Que se não abala, firme.
E pcra claro cimento
E a obra nào ser escura,
Direi em prosa o argumento;
Porque a cousa que he segura,
Procede do fundamento.
GIL VICENTE, FAKÇAS.
— « E por esta falta andou fugindo o
cavallo cora elle pelo campo, e sempre o
lançara fora, se não estivera cercado de
segura paliçada que o imperador sempre
queria, que estivesse feita, receando que
uma hora alguns bons cavalleiros por
falta delia perdessem o galardão de seu
esforço.» Francisco de lloraes, Palmei-
rim'd'Inglaterra, cíip. 94.
— Certo, indubitável, infallivel. —
« Depois de Afonso Dalbuquerque ser
na sua nao, logo dahi a pouco tornou
Cojebeirame, dizendo que por ser ja
muito tarde lhe mandaua el Rei pedir
que fosse contente de esperar ate o ou-
tro dia pela manhã, que elle mandaria
as pessoas com que auia de contratar, e
que disso se tiuesse por seguro.» Damião
de Góes, Chronica de D. Manoel, part. 2,
cap. 33. — «Finalmente assentou elRey
que em quanto o negocio de si naõ daua
outro conselho, o mães seguro, e melhor
era ir logo poder de nãos, e gente, por-
que nesta primeira vista que sua armada
desse àquellas partes, que ja ao tempo'
de sua chegada toda a terra auia de es-
tar posta em armas contra ella, conuinha
mostrarse mui poderosa em armas, e em
gente luzida.» Barros, Década 1, liv. 5,
cap. 1. — «O ca vali eiró do Sal vage,
vendo-se no derradeiro extremo da vida,
quiz aventural-a de todo, tendo por mais
seguro remédio ; e remettendo a Baleato
com um golpe, cuidando de o tomar em
descoberto, o gigante o recebeu no escu-
do, e foi de tanta força, que entrando
algum tanto por elle, quebrou a espada
em três pedaços, e o mais pequeno lhe
ficou na mão.» Francisco de Moraes, Pal-
meirim d'Inglaterra, cap. 107. — « Logo
se entregou das chaves, contente de vêr
tão seguro fim em cousa, que tão ás-
pero teve o principio. Os cavalleiros o
acompanharam alguns dias, esperando
sua saúde pêra em sua companhia f e irem
a Inglaterra, porque suas promessas os
punham em grandes esperanças.» Ibidem,
cap. 108. — « E inda que pêra o fazer-
des vossas obras, e o que por ellas me-
receis, vos tirem o atrevimento, podeis ir
seguro, que a clemência do imperador é
maior que os erros de ninguém.» Ibidem,
cap. 116.
Xão te dês por tão seguro,
nesse bem, nesses estremos :
eu sou Sibyla, e te juro
que Sibylas sabem demos,
sabem presente e futuro.
Asioiao PRESTES, AUTOS, pag. 321.
— « E naS obstante esta opinião, que
he a mais segura, accrescento, que forti-
ficaçoens grandes, que demandaõ quinze,
ou vinte mil homens de guarnição, que
mais barato he naõ se tratar delias ; por-
que posta essa gente em campo, faz hum
exercito capaz de dar batalha, e alcan-
çar vitoria, e Portugal assim se defende
sempre.» Arte de furtar, cap. 16.
— Firme, constante. — « E o Bispo
como grande letrado, e o Prior como es-
forçado caualleiro, lhe disseram então o
que pêra sua alma, e corpo cumpria, e
el Rev muvto em si, e com o rosto muy-
to seguro, como muvto esforçado e va-
lente Principe.» Garcia de Rezende,
Chronica de D. João II, cap. 27. — «E
dalli em diante foram seguros e leaes;
qualidades, que ás vezes os homens tem
por natm-al e deixam de fazer polas con-
versações. Tanto que o cavalleiro do Sal-
vagem foi convalecido de suas feridas,
veio nova da prisão de el rei Polendos,
Belcar, e os outros cem cavalleiros do
imperador, com que se recebeu gram pe-
sar e tristeza.» Francisco de Moraes,
Palmeirim d'lnglaterra, cap. 108.
4ò:
.SE(iU
SEGU
SEi
— Inti-cplilo, sem rccoio. — «O que as-
ai assenta lo os nosso.s coino ainifíos amla-
uilõ pela turra fazomlo rfoiu ikj^íocío.s tam
seguros, comn os mu.siuo< naturacs dolla,
no que co:itiiiiiaiain ate o uios do luulio
doauiiode .M,D.xx. que lhes scruio o tem-
po para se tornarom, oui que António cor-
roa 80 foj a vola caniinlio de Malaca, com
cinco jiingos eaircí^ados de mantimentos,
que foi a mollior mercadoria que poderia
iiaquelle tempo trazer a Cidade por del-
les auer muita falta.» Damião do (íoes,
Chronica de D. Manoel, part. 4, cap. Õ2.
— «Entra seguro e sem roeeyo do nada,
porque ja to Un, i)')la bondade de Deos,
somos coiuo vos outros, o assi esperamos
noUo quo seja até o dorradeyro bocejo do
luundo, o metendomo dcutro na casa on-
de el Key estava, llie úa meu acatamen-
to, pondo três vezes o joellio no cliào.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações, ca-
pitulo lõ.
— Corto, digno do confiança. — Ho-
vietn seguro.
— Cidade, terra, íogar seguro; que
offeroce segurança, livre de risco. — «Es-
ta terra creio que não é segura, eu fol-
garia que me acompanhásseis uma jorna-
da ou duas o d'ahi fareis o que mais qui-
zerdes, que eu não quero outra mercê.
Nisto a recebo eu muito grande, disse o
do Salvage, e no ai a vontade de vós
queria ter certa, pois sem eila não tenho
saúde nem vida segura. » Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 10(5.
— «N'isto se calou um pouco. O do Sal-
vage, que sentiu que aquelle era Balea-
to, o outro irmão de Bracolão, quo já in-
formado da morte de seu irmão, o ia bus-
car, iicou de todo contente, polo tomar
em lugar tão seguro e apartado de seus
cavalleiros.» Ibidem, cap. 107. — «Che-
gada a nianhãa, unia das cousas em que
mais trabalhou foi em fazer partir a don-
zella, pois a terra era segura, do que não
pesou ao do Salvage, que tinha por con-
dição, se cumpria com o desejo, desejar
logo outra: o a ella pesou muito, que a
Bua delias ó, depois que se entregaram,
não querer mais apartar-se.» Ibidem.
— Ficar seguro d'al(jueiH ; não ter re-
ceio acerca delle (de que peroa a amiza-
de, fuja, minta, etc). — «Polinarda lhe
teve em mercê aquellas palavras, assim
polo contentamento de o cavalleiro do Sal-
vage, a quem oUa muito estimava, como
por viver f')ra do receio em que a puul>a
sua formosura; c pêra perder este cui-
dado desejava quo se entregasse algum
tanto a elle, o ficar segura do Palmei-
rim; que neste caso nunca vivem tão sem
modo, (pie lhe não fique algum ou algu-
ma desconfiança.» Francisco do Moraes,
Palmeirim d'Iuglalerra, cap. 112.
— Que alcançou carta do seguro.
— Seguro e»! ahiuma pessoa, ou cousa ^
confiado om sua guarda, defensão, am-
paro.
— Fazenda segura ; de que o segura-
dor tomou o risco.
— MitUfir segura ; que presumo não
ceder aos amantes.
— OOra segura; feita com segorança.
— Passos seguros; lirmes.
Vif iii;iis oceulta ori;ji!iii, pela^ navc«
Do templo i-iitrou coii\ passos mal stgiiro»
ICIle, (pip tuiit;i9 vcíCS ha rompido
As corradiis tiloirag.
(iAitiovrr, CAUõr.s, cant. 2, cap. -í.
Alli Wollio consnrva, i: o mostra ao Mundo ;
l'rofiiud;i'.nniiti^ calculando, scpue
Mathcuiutica luz, t\\n: immcuaa espalha,
Em ijuanta a Torra ^^o Filosolia ;
E com sci/iiroa viporoaos passes,
Ua exacta Sapiência entra o sacrário.
J. A. DE UACEDO, VIAOF.M EXTÁTICA, Cant. i.
— Tempo seguro ; em que não ha con-
tingência de chover por dia.s.
— Etjiia segura ; prenhe.
— Estar seguro d'alguem ; livre de
seus receios.
— Estar seguro d' alguém; certo, sem
duvida, sem receio.
— Jogar seguro ; não se arriscando te-
merariamentc.
— Montar seguro ; firme a cavallo.
— Carta segura ; carta de seguro, sal-
vo-conducto. — «E compridos os oito me-
ses do anno quo ficão peia justiça, man-
do ao Chumbim, e aos Conchalaas, e
Mouteos, e todos os mais ministros do
seu governo a que esta minha sentença
for apresentada que logo lhe passem car-
ta segura para que livremente se possaõ
vr a sua terra, ou onde for mais sua von-
tade.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 103.
— <S'. m. Salvo-conducto. — « No dia
seguinte que Afonso dalbuquerque ga-
nhou a ciciado lhe veo fallar Crisna, o
pedir seguro pêra os Bramanas, e outros
moradores da ilha que logo deu, saluo
pêra os Mouros, e Neiteas, porque como
fica dito este assentou do lançar da ilha.»
Damião de õoes, Chronica de D. Manoel,
part. ii, cap. 11. — «Item. Que lhe pe-
dia seguro geral pcràs nãos Dormuz, e
de sous vas.sallos poderem nauegar perá
índia sem lho ser feito danno, nem em-
bargos poios c;tpitãos de suas armadas.»
Ibidem, cap, l3G. — »E se ante do dito
tempo se quizer vir oscripver, que o pos-
sa tazcr per sy, ou per outrem, porque o
dito seguro liie uom valerá, salvo despois
que for oscripto.» Ord. Affous., liv. 5, tit.
8Õ, § o. — «O Xemimbruin lho mandou
logo por dons Bramaas a cavalln, homens
ambos muyto jirincipais, o qual seguro hia
n'uma foliia douro batido em que estava
o sinal dol Rey.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 140. — «E lhe dis-
serào de cima que o Cuaubainliaa queria
mauiiar launa carta a ei Key. quo lue
mandassem seguro para isso.» Ibidem.
— Termo de commercio. Contracto ou
cscriptura com que ho .-ioguram a» voiuias
ou objectos <|ue correm algum risco por
mar ou por torra.
— Cohiijuithia de seguros ; socicJade
mercantil (|Utí reintegra as perdas occa-
sioiíadas por incêndio, naufrágio, etc,
mediante uma pequena retribuição que
paga o segurado. .Se tem j>or objecto as-
segurar aó as propriedades dcs indivíduos
que a compõem, ciiania-se ontilo compa-
nhia de seguros mútuos.
— Vir sobre seguro; sobre cousa cer-
ta, sem risco, perigo, com certeza de bom
êxito.
— Comiiutter alguma couta sobre segu-
ro; con> certeza do n conseguir.
— Tomar carta de seguro; precavcr-
so, tomar salva, contra objecção.
— //• sobre seguro ; proceder com cau-
tela, não 60 ex|jôr.
— PreiuJer sobre seguro ; a(|uel!e que
tinha carta, e a promessa de seguro.
— Termo juridico. I.sençào cias leia ci-
vis, criminaes, ou da guerra, quo o sobe-
rano ou chefe concede, para que entrem
no território ou venham á presença d'elle,
ou requeiram nos tribunaes soltos, a pes-
soa ou pessoas que estão sujeitai a f^aas
leis, e a quem se dá o seguro; diz-se
seguro real, quando c dado pelo rei.
— Loc. .\i>v.: Em seguro; cm segu-
rança, em parte onde não ha que temer,
nem recear damnn.
— tíobre seguro ; seguramente, com to-
da a segurança.
— AuAGlOS:
— Quanto maior é a ventura, tanto me-
nos é segura.
— Alt.i mar, e nào de vento, não pro-
mette seguro tempo.
— Quem corre pelo muro, nâo dá pas-
so seguro.
— Quando cuidas metter o dente em
seguro, toparás o duro.
— Do juizes não me curo, que minhas
obras me fazem seguro.
— Em povo seguro nào ha mister mu-
ro.
7 SEI, primeira pessoa do tempo pre-
sente do modo indicativo do verbo saber.
Do vÓ9 Seiíor querria cu sabor.
Pois dcâcjades mia mort"avcr,
E cu non moir' c querria morrer,
Que ipe diirados que farei eu y.
Com mia mort' me seria gran ben.
Por que sei ci vos prareria en,
K pois non moiro vciV a vós porcn,
Que mo digados quo farei en j.
TROVAS E CANTARES, n.« 259.
Alto, TcmiK), aparelhar,
Porque Roma vem á feira.
Qucro-me eu concertar.
Porque lho sei a maueirs
Do seu vender c comprar.
lilL VK-EXTE, AlTO DA FEIRA.
— «EsUi c a resposta que lhe podeis
SEI
SEIO
SEIO
453
dar, que ao presente nao posso dar ou-
tra. Sjiilior, disse o embaixador, já sei
qae ás vezes mãos consellios damnam
teações singulares, e assim acontece a
vós : ea me vou, pois aqui nào lia mais
que íiizer; quanto aos vossos far-se-!ia
como quereis ; porque da senhora Tar-
giana eu sei que dará a vida por vos fa-
zer a vontade, nào devendo ser assim,
pois tendes em vossa casa quem tamanho
desserviço fez a seu pai.» Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 112.
amor chafariz, .amores
guaritas c matadores,
amor papa e amor bua,
amor cuicha, mil amores,
sei amor de gato preto
ao luar de quai-ta feira,
amor galo, amor joeira.
ASTOxio PRBsrEs, AUTOS, pag. 223.
— «Vejo que anda a cavallo cora dous
lacajos aquelle Ministro, que nào tem de
ordenado mais que oitenta mil reis : sey
que anda em coche o outro, e sua mu-
lher em andas, sem terem de ordenado,
nem de renda mais que. quando nuúto,
até duzentos mil reis.» Arte de furtar,
cap. 53. — «E de entendimentos largos
e grandes, que não medem as cousas das
outras terras só pelas misérias e baixezas
que tem diante dos olhos, porque estes
sey eu, que assi pula grandiosidade de
seus espíritos, como pela sua natural cu-
riosidade, e pela capacidade dos seus en-
tendimentos folgarão muyto de as saber.»
Fernào Mendes Pinto, Peregrinações,
cap. 114. — dBem sey que Francisco
Thamara, e DiodOro Syculo dizem, nào
nascer mais que em Basilèa, a quem dé-
ramos credito, se a muita copia que del-
le temos da índia, nos nào desengana-
rão.» Fr. Oaspar da Cruz, Tratado das
cousas da China, cap. 2. — aLembro-me
por este estilo de predicoens, das Ban-
darrices de hum insigne çapatevro Por-
tuguez, que dando também em olhar pa-
ra o futuro tem feito dar muitas voltas
ao juiso a alguns dos meus Compatrio-
tas, que se persuadirão, e nào sey se ain-
da crem que os seus Vaticínios se cum-
prirão, e se effeituárão.» Cavalleiro d 'Oli-
veira, Cartas, liv. 1, n.° 43.
Assi que tratar disto ja nào quero
(Pois estou vendo era vós que me he escusado)
Porque vós nào cuideis que desesjéro.
Ou sou raeaos do que era confiado
Do vosso heróico esprito, ousado, e fero.
De todos domador, nunca domado,
E também porque sei que aos grandes feitos
Voa auimào assaz os vossos peitos.
raAKCisco d"axdrade, pkimeibo cebco de dic,
cant. O, est. 10.
Sei que lho morre de todo minha gloria,
Mas ali mostra só para matar-me
Ter vivos os effcitos da memoria.
F. R. LOBO SOBOPITA, POESIAS E PKOSAS IKEDITAS,
pag. 3o.
— íN'e3te tempo estava o padre frei
Lourenço Brandão, monge beneditino,
em companhia dos snrs. de Aguiar em
Composceila: e, voltando para Portugal,
na leira da Arrifana, se encontrou com
Fernando de ilagalhães, e este lhe dis-
se: «já sei que esteve em Compostella
quando mataram João Satur.» Bispo do
Orào-Pará, Memorias, publicadas pur Ca-
millo Castello Branco, pag. 118. — «El-
ias já sei que me terão por suspeito ;
pois até os movimentos lhes hei medir.
Uma das terríveis cousas que ha na mu-
lher é usar de meneios descompostos. Sei
que nem todas podem ser airo.-as; mas
graves, todas o poJem ser.» Francisco
Manoel de Mello, Carta de guia de ca-
sados.
Pela pátria morrer sei que é virtude :
Mas pede Eoma a nossa morte '?
GARRETT, CAxÃo, UCt. 2, SC. 1.
— cE justamente esse cadáver que te
brada por ella... Bem sei que a tua al-
ma tem vacdlado e descrido, e o teu
oliu e.-friado.» A. Herculano, Monge de
Cister, cap. 23.
SEIA, SEIÃO, aid. Variacues do verbo
Ser.
SEIAR, ou CEAR, v. a. (Do hespanhol
cia7-). Termo de náutica. Komar para
traz.
SEIAVOGA. ViJ. Ciavoga, ou Ceiavoga.
SEIBA, uu SEIVA, s. f. (Do latim *a-
po, sueco;. Sueco, humor nutritivo dos
vegetaes.
— Saliva, sueco, ou sumo de hervas
maícaias. — «Hu vaso de prata, para
lauear a seiba, que fazem no Betei, que
andão remoeudo. » Barros, Década 1, íl.
117, col. 2, em Bluteau.
SEIBÃO, s. m. Termo asiático. Alpen-
dre.
SEÍDA. Vid. Saída.
SEIDIÇO. ViJ. Sádico.
-[- SEIDPiA, .s. í/í. Grão sacerdote da
seita .!e Ali, entre os persas.
SEIFÍA, s. /. Peixe do alto como o sar-
go, de cabeça pequena e aguçada; é nmi-
to commuin no Algarve.
7 SEIMIRI, s. m. Termo de zoologia.
Espécie de macacos americanos, que tam-
bém se chamam sapajú aurora, ou saua-
jú de Cayeiia, e formam a transição dos
sapajús para os saguins.
SEIO, s. m. (Do latim sinus). Espécie
de sacco, ou volta sinuosa que se faz to-
mando as abas ou pontas do vestido.
— O sacco que a camisa faz desde os
peitos até á cintura, por onde está atada.
— Logar interno, occulto ; concavi-
dade.
Que despojos mortaes no seio occulta
ÍVelloso exclama) a triste sepultura,
Oue entre os soberbos mausoleoa avulta,
Mais na fúnebre pompa, e na escultura?
Este o poder dos séculos insulta
Troféo de amor, o timbre da ternura,
(Lhe diz o Vclhol e lúgubre desgosto
Mais lhe augmcntava a pallidcz do rosto.
J. A. DE MACEDO, O OBIESTE, Cailt. Õ, CSt. 44.
E já convulsa a Terra abre as gargantas.
Em seu seio outra voz engole os montes.
Que de sou seio despediu outr'ora.
IDEM, A NATDREZA, Cant. 2.
Tudo no triste cavernoso seio
Nos annuncia agrilhoado o logo,
Das várias producçòcs da Natureza
Ineihaurivel fonte, almo principio.
IDE.M, ÍÍEDITAÇÃO, Caut. 2.
Até no seio incógnito dos mares
Os monstros d'uma espécie em paz existem.
Fez de cada individuo o infausto crime.
luiDEu, cant. 3.
— Ventre materno.
— Figuradamente :
Xa parte opposta a fulgida Coroa
No Americano Ceo fulgura accesa.
O briDiante Zodiaco se avança,
Traz mil Astros no seio, c n'hum momento
Pelo espaço s"cstende, o espaço cinge.
No immensuravel âmbito, que forma,
A luminosa estrada aos olhos mostra
Do infatigável Sol. Os Ceos, o Espaço,
•Ia fazem pompa de iiiimortaes thesouros,
E o Sol inda nào tem, inda do Nada
Nào sabe da luz o Cenho, Autor do dia.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Caut. 1.
Das Leis, dos Cultos teus vejo os vestígios
Pelo vasto Indostão, pasmcso Egvpto !
Do indagador á vista a Natureza'
Em ti mostrou primeiro o seio immenso
Da sciencia, que os Ceos contempla, c mede,
E segue o gyro dos fulgentes Astros.
IDESI, MEDITAÇÃO, Cant. 1.
Tempo virá, (que os séculos nào párào)
Em que até no Equador se extinga o fogo,
Que óra guarda no seio o térreo Globo,
Qual nos [lolos já vejo amortecido.
Onde a vida acabou, e a morte esiste.
IBIDEM, cant. 2.
Se a tenebrosa noite estende as azas
Pelo seio dos ares dilatados
Accezo globo, e fulgurante ondêa ;
Tocha, que a sombra universal desterra ;
Celeste conductor, que a estrada aponta.
IBIDEM, cant. 4.
Em ti tíverão berço Lockc, e Tompson,
Boile, Derhan, que a Natureza indaga,
E lhe arranca do seio altos mystcrios !
IDEM, VIAGEM KirATICA, Cant. 2.
És grande para mim, porque em teu seio
Bolimbroke apparece, Addison, Pope ;
Apparecc Bacon, Milton tactêa
Arpa tocada só de Hebreo Monarcha.
Abre a Piinio seu seio a Natureza,
E seus thesouros lhe descobre todos ;
Do moderno Saber he este a fonte.
454
SEIR
SEIS
SEIS
]);if|acllo fogo cápiíi iiitfnninavcl
l)c M/madaa galiio, f|u'in(hi hojo o Astro,
Qai! o dia nos conduz, do mo espalha
Ksac iinmonHO osplo.ndor, '\\w Luz se chama,
E quo á voz do Inimoital brilliou primeiro.
IBIDEM, cant. 'i.
— 0.1 peitoa da mulher,
— Figiirailamoiite : Peito.
Afíonizantc, pallida donzcUa,
Do Amante, Inim ti^mpo, no maprondo icio
Qiior a vida oxlialar ; foj^n do vê-la,
Ncga-lhe a doce mão, ncf?a-llio auxilio
Ertac qu'outr'ora hum Ceo via cm acu rosto.
J. A. DE MVCF.DO, A NATlIBEZt, Cant. 2.
Os olhos me lançou, como sf ha muito
Naquclla Estancia mo ap;navdasso ; estende
Formosos braços, c me aoerta ao seio ;
E a vo/ anf;olical soltando exclama.
IDEM, VIACiKM EITATICA, Caut. 1.
— o seio da nlma; o secreto d'ella,
03 S0U3 esconderijos.
Difficuldade é esta.
Que bem vai, que a proponhão. Linda cousa
E' um vcrdidoiro Amigo,
Que no seio da alma scruta o que faz falta ;
E que te forra o pejo
De lh'o apontares tu ! Um sonho, um nada
O estremece, o o assusta,
Quando so trata do que mais estima.
F. M. DO NASCIMENTO, FABULAS DE LAFOSTAINE,
liv. 3, n.» 29.
— Termo de anatomia. Qualquer ca-
vidade interior do corpo animal.
— Termo de náutica. Enseada, exten-
são consiileravel de mar, rodeada de ter-
ra, e mais ou menos larga na sua entra-
da.
— Bolso ; em çeral é toda a curvatu-
ra formada por objectos tlexiveis quando
nào sào tendidos. — Seio de vm cabo, de
lima vela, etc.
— Termo de religião. — Seio de Aòra-
hão; logar em que estavam detidas as al-
mas dos fieis, que tinliam passado d'esta
vida na fé, e com esperança no Rcdem-
ptor.
— Adágios:
— Filho alheio, braza no seio.
— Filho alheio, mcttc-o pela manga,
sahir-te-ha pelo seio.
— Mette a mão em teu seio, naõ di-
rás do fatio alheio.
— Quem crè de ligeiro, agua recolhe
no seio.
— Braza deita no seyo, quem se honra
com erro alheio.
— < ) mal que da tua bocca s:le, em
teu seio cáe.
— Pão de centeio, melhor he no ven-
tre, que no seio.
SEIR... As palavras quo comecem por
Seir..., busq\K>ni-se com Ceir...
f SEIRANOTA, s. /. Termo de zoolo-
gia. Género de reptis batrachioa.
■j- SEIRO, s. í«. Termo de zoologia.
Género de insectos hemipteros da tribu
dos .>;cuteiarios.
SEIS, <idj. iium. (Do latim sex). Nu-
meri) (pie se compõe de cinco unidades,
mais uma. — « (larcia de Sousa, Fran-
cisco do tauora, Pêro barroto de maga-
Ihaens, e quatro nauios de gauea, capi-
taens, Emanuel telez barreto, dom An-
tónio de noronha, Martim Coelho, Afon-
so lopez da costa, e seis caraucllas, ca-
pitacns, António do campo, o commcnda-
dor Rui soarez, Plieiipe rodrigues. Pêro
cão, Aluaro paçanha, Luis preto, o duas
galés, capitacns. Paio de sousa, e Diogo
))irez, e hum bargantim de que era capi-
tão Simão martinz.» Damião de (^oes,
Chronica de D. Manoel, part. 2, cap. 38.
— (I Viuhaò a esta cida'le naquelle tempo
todalas naçoens de gente que a desno Re-
gue de Quiloa, mar de Arábia, Pérsia,
ate China, Laqueos, e Luçoens, a que
traziaò to lalas mercadorias que a naquel-
las prouincias, que alli trocauam humas
pelas outras, era tamanho este trato, e
de tanto ganho quo auia na cidade al-
guns mercailores que atrauessauam cinco,
seis nãos, e tornauam a dar carga parei-
las aos mesmos de que comprauaõ.» Ibi-
dem, part. 3, cap. 1. — « Ha este nego-
cio mandou el Rei com dom Pedro Mas-
carenhas, António leite, Cliristouam lei-
tam, André Casqueiro, Diogo de Medi-
na, e loam Nunez delpont, do que dom
Pedro anisou el Rei per huma carta es-
cripta em Septa aos seis dias de maio, e
se fui dalli Arzilla prouer cm cousas que
lhe tinha encommendado. » Ibidem, part.
4, cap. 48. — «O anuo de quatro centos
e quarenta e seis, tornou Nuno Tristão
em huma carauela per mandado do In-
fante a descobrir mais costa alem do que
Aluaro Fcrnandez leixaua descuberto,
que foi te o cabo dos Mastos.» Barros,
Década 1, liv. 1, cap. 14. — «Per outra
parte havia já seis, ou sete dias que não
podia touuir conclusão alguma com El
Rey, e dissimular tanto artificio, como
com elle queria ter, pêra sua condição
era hum grave tormento, porém tudo
softria por ver se podia ter algum modo
de salvar Ruv d'Araujo.B Idem, Década
2, liv. 6, cap. 3.
El líey dom Afonso andou
ae^s vezes fora da terra,
Castella, Fcez conquistou,
em batalhas pcUojou,
seu sogro matou cm guerra.
GABCIA DE REZENDE, UISCELLANEA.
— « Daquy passando mais adiãte, se-
guindo o Isitaquer o os quatro moços,
chegamos á porta de huma grande sala
térrea, fabricada ao modo de igreija, na
qual estavão seys porteiros de maças,
que com huma nova cerimonia que tive-
raõ co Mitaquer, nos meterão a todos
dentro, sem darem entrada a outra ne-
nhuma pessoa. » Fernão Mende» Pinto,
Peregrinações, cap. 122. — « Pa''sado8
com bem de descanço nosso estes qua-
renta c seis diaa, sendo ja chegado tem-
po da monção, o Broquem nos mandou
dar embarcação num junco de Chins que
Ília para o porto de Lianipoo, no reyno
da China, conforme ao que el Rev lhe
tinha mandado, e ao Capitão do junco se
tomarão grandes fianças a cerca da segu-
rança de nossas pe.-soas, por<|uc nos não
fizesse traição no caminho.» Ibidem, ca-
jiitulo 143. — « E porque outros que tí-
cavão de ftra que erão muvtos, ganhas-
sem também o mesmo Jubileu e indul-
gência, ajudavão aquelles que levavão as
mãos nas cordas, com lhes porem as suas
nos pescoços, e outros faziaõ o mesmo a
estes, de modo que a cada comprimento
de cada huma destas cordas hião seis c
sete fileyras, em cada huma das quais
yrião mais de quinhentas pessoas. • Ibi-
dem, cap. IGO. — « Com estas, e outras
considerações, despachou este anno para
a índia seis náos, que partirão em mon-
ções differentes. Das primeiras três, que
partirão em Novembro, era Canitão Mór
Martim Corrêa da Sylva, que levava á
Fortaleza de Diu.» Jacintho Freire d'An-
drade. Vida de D. João de Castro, liv. 4.
— « Pouco depois disto faleceo na nossa
fortaleza Ei Rey Bayano, a que (outros
chamão Bohat, que foi filho de Boleife, o
primeiro que nos agazalhou naquellas
Ilhas, que faleceo os annos 1Õ20, fican-
do-lhe três filhos legitimos, isto he, este
Bayano que agora faleceo, Ayalo, e Ta-
barija, que ficaram tão moços, que o mais
velho não passava de seis annos. • Diogo
de Couto, Década 4, liv. 7, cap. 7. —
« E logo apoz Vasco da Cunha despedio
o (jovernadtir seis caravelas carregadas
de mantimentos, muniçoens, escadas, pi-
coens, cudilins, enxadas, cestos, padio-
las, e de todas as mais cousas desta qua-
lidade para efleito do que determinava, e
mandou embarcar quatrocentos espingar-
deiros. Destas c;»ravelas foy por Capitão
mòr Luiz de Almeida, e de suas viagens
a diante daremos razaõ.» idem, Década
6, liv. 3, cap. 7. — « Vaza este rio seis
mezcs, e enche outros tantos. E no tem-
po das vazantes vaõ os navios pêra cima
à toa, porque he muito alcantilado de
ambas as partes.» Ibidem, liv. 7, cap. 9.
— « Os que por esta costa tratarem, pro-
curem ir ao mar delia seys legoas, por
ser fora deste termino chca de bayxos, e
Çnja. e não se querendo afa<t.ir tanto na-
ucgucm Si', de dia.» Fr. 'Gaspar da Cruz,
Tratado das cousas da China, cap. 5. —
c A primeyra que se nos ofterece he, a
grandeza do mote Athlante, a quem ou-
tros chamão Montes Claros, por i-starem
sempre cubertos de neue, e .is altas nu-
ueus, ja mais chegarem a cubrillos : es-
tes atrauessão toda Berbéria, de Oriento
SEIS
SEIS
SEIT
455
a Ponente. e se tem ser o mais alto de
todo mundo, seys legoas do qual liça a
Cidade Marrocos, illustre pelaz premis-
sas da ordem Franciscana, que neila pa-
decerão.» Ibidem, cap. 8. — « E se ouue-
ra a quarta forçado ouuera estar ao Orien-
te, pois Sam Matheus diz, que os Magos
vierão do Oriente, e sendo a vitima terra
firme da Ásia a China, dado que nella
ouuesse a tal Arábia; caminho era que
se podia fazer em seys meses, quanto
mais que na China nam ha Província,
nem Reyno que tal nome tenha.» Ibi-
dem, cap. 17. — - d Acompanhauàno qua-
tro mil homens de pê que hiào na van-
guardia; e bem junto delle seis Geniza-
ros a caualo com outros tãtos à destra,
nas cabeças leuauào mitras de arame, e
em cada huma pedras finíssimas, e entre
estes, e o Baxà vinte homens despidos de
meyo corpo acima, os quaes estimão so-
bre todos de mais valentes : e esforçados,
inda que eu os julguey por os mais ne-
cios, e paruos.» Ibidem, cap. 19.
Outro com seis arrobas de barriga
Namora uma menina de dez annos,
Que Ibc chora no colo e dá-lhe figa.
FEBSÃO SOBOPITA, POESIAS X l'BOSAS CtEDITAS,
pag. 50.
— d Às seis horas me acharei em caza
de Calamati, onde terey o gosto de ver
a Copia do mesmo Original que admiro.
He certo que este homem trabalha com
perfeição, encontrando os objectos com
felicidade.» Cavalleiro de Oliveira, Car-
tas, liv. 1, n.° 22. — o Por este modo
encheu de peças a imagem de Xossa Se-
nhora que expunha como taboleta de ou-
rives ; e quem queria comprar uma peça
das que estavam na imagem, o nosso ita-
liano, sem se embaraçar com usui'as, an-
tes julgando moderado ganho cento por
cento, vendia-lh'a dando por doze o que
custou seis.» Bispo do Grão Pará, Me-
morias, publicadas por Camillo Castello
Branco, pag. 197.
— Sexto. — Capitulo seis.
— S. m. Caracter ou algarismo que
representa o numero de cinco unidades,
mais uma.
— Carta de jogar que tem seis signaes.
— O seis de espadas.
— Nos dados, são seis pontos negros
que elles têm n'um dos seus lados.
SEISAGESIIflO. Vil. Sexagésimo.
SEISAVO, s. m. Soxta parte de um nu-
mero.
SEISCENTOS, adj. num. iDo latim
sexcentis). Numero que resulta da multi-
plicação de seis pela centena.
Seiscentas tochas accezas,
Escuras a quem as via :
Triste pranto até Belcm
Nem pas30_nào se esquecia.
Em terra fica enterrado,
Porque assi mandado havia,
Conhecendo que era terra
A mundanal senhoria.
GIL VICÍSTE, OBRAS VABIA3.
— «E lhe deu logo juntamente cinco
mil cruzados em ouro, e seiscentos mil
reis de renda em beneficies logo nomea-
dos, pollos quaes logo mandou despedir
as letras, mas não ouuerão eíFeito, por-
que antes de despedidas o dito Diogo Ti-
noco faleceo. E depois foy el Rey de
tudo anisado por dom Vasco Coutinho fi-
lho do Marichal, e irmão do dito dom
Guterrez, o qual dom Vasco por descon-
tentamentos que tinha dei Rey estaua
neste tempo despedido delle para se hir
fora do Reyno.» Garcia de Rezende,
Chronica de D. João II, cap. 53. — «Ha-
verá quatorze mezes que continua a mis-
são pelo c-.rpo e braços d'aquelles rios,
d'onde se têm trazido mais de seiscentos
escravos todos examinados pelo mesmo
missionário, na forma das leis de vossa
magestade.» Padre António Vieira, Car-
tas, n." 17. — «Vendo então alguns va-
dios e gente ociosa, desejosa de tais suc-
cessos como aquelles, que o tímpo e a
occasiaíj era então muyto accommodada
para fazerem o que antes co temor do
Rey não ousavão, se ajuntarão numa
grande companhia quasi quinhentos ou
seiscentos destes.» Fernão Mendes Pin-
to, Peregrinações, cap. 3õ. — «No qual
se affirmava que vinhaõ vinte e sete
Reys, e que se dezia que trazião comsi-
go hum conto e oitocentos mil homens,
de que os seiscentos mil eraõ de cavallo,
que por "terra eraõ vindos da cidade de
Lançame, e de Famstir, e de Mecuy,
dõde partirão com oitenta mil badas em
que vinha o mantimento e toda a baga-
ge, e o conto e duzentos mil de pé.» Ibi-
dem, cap. 117. — -«De maneyra que o
fervor deste apetite e curiosidade foy
daly por diante em tamanho crecimento,
que ja quando nós daly partimos, que
foy daly a cinco meses e mevo, avia na
terra passante de seiscentas.» Ibidem,
cap. 134:. — «E feita assi a esmo a ava-
liação e a lista desta desaventurada vin-
gãça, se disse que morrerão a fome, e a
ferro .cento e sessenta mil pessoas, a f Jra
quasi outras tantas cativas, e foraõ quei-
madas cento e quarenta mil casas, e mil
e seiscentos templos.» Ibidem, cap. 151.
- — « Chegado em fim a esta insigne Cida-
de de Miocò, metropoli de toda aquella
Monarquia da nação Japão, se naõ vio
como qnizera cõ este Cubumcamà, por
lhe pedirem por isso cem mil caysas,
que eraõ seiscentos cruzados, de que
elle por algumas vezes se mostrou muv-
to magoado de os naò ter para effeytuar
isto qne tanto desejava.» Ibidem, cap.
208. — n Exasperou esta resolução aos
verdadeiros Portuguezes, e para corta-
rem de huma vez a cadêa da sua escra-
■^-idaõ no primeiro de Dezembro de mil
seiscentos e quarenta acclamáraò por seu
Rei ao Duque de Bragança Di Joaõi que-
foi o quarto deste nome.» Frei Bernardo
de Brito, Elogios dos reis de Portugal,
continuados por D. José Barbosa. — «Na
Cidade de Valhadolid, aonde entaõ se
achava a Corte de Hespanha, nasceo este
Príncipe em Sesta feira Santa, oito de
Abril de mil seiscentos e cinco annos.»
Ibidem. — «E Fr. Brochardo a põe en-
tre a Cidade Memphis, ou Damiata, e a
Ilha Delta a quem cerca o Nilo. E não
falta Author que afBrme trabalharem
nella trezentos, e sessenta mil ofSciaes :
e loão Rauisio na sua ofiScina diz, que
seyscentos mil que tantos forão os Ju-
deus, que sahirão do Egypto.» Fr. Gas-
par da Cruz, Tratado das cousas da Chi-
na, cap. 8. — «Descuvdado o triste ve-
lho de ser chegado o termino de seus
dias, entrou huma tarde seu secretario
Buhanduça, a lhe falar, com huma ma-
çaã na mão muvto fermosa, e nella a
morte por ir chea de veneno ; e ao outro
dia que forão de sua idade setenta e três
annos, e do Nascimento de Christo seys-
centos e trinta e dous, e de Hixara vin-
te, o acharão morto em sua cama, sem
saberem a causa de tão repentina morte.»
Ibidem, ca;!. 20.
SEISDOBRO, s. m. O numero de seis,
ou tantas vezes seis.
f SEISEN, s. »i. Antiga moeda de pra-
ta de valor de meio real, equivalente a
seis dinheiros de Aragão.
j- SEI3ENA, s. m. Moeda de cobre de
Valência, que vale seis dinheiros ou doze
maravedis. Está quasi estincta, pois ha
muitos annos que se não cuniia.
SEISMA, s. /., ou SEISMO, s. vi. A
sexta parte de alguma cousa. • — Uvia
seisma de i-ara.
SEI3TAVAD0. Vid. Sextavado.
SEI3TIL. Vid. Ceitil.
SEISTO. Vi.i. Sexto.
SEITA, s. /. (Do latim seda). Opinião,
doutrina religiosa ou philosophica que se
aparta da crença geral. — «Com tudo os
Arábios declarando os Pérsios por heré-
ticos, e cismáticos, ficaram com a opi-
niam, e seita de Mahamed, e os Pérsios
com a de Ale, per cuja morte aleuantou
esta gente per Califa Hocem seu filho
mais velho, que ouuera de Fatema filha
de Mahamed, a qual dignidade lhe cus-
tou a vida.» Damião de Góes, Chronica
de D. Manoel, part. 3, cap. 67. — «Criou-
se nas Cortes de grandes Príncipes, em-
brulhou-os a todos : teve por avos o Ma-
chavello, Pelagio, Calvino, Luthéro, e
outros Doutores desta qualidade, com
cuja doutrina se fez taõ viciosa, que del-
ia nascerão todas as Seitas, e heresias,
que hoje abrazaõ o mundo. E eisaqui,
quem he a Senhora Dona Politica.» Arte
de furtar, cap. 60.
456
SEJA
SEJA
SELA
— Doutrina particular onsiiiaila ou cs-
tabolocida 1)01- alfíuiii iiKistn! celebro.
— Fiííurailanionti! : Partido, bando,
opinião.
— Errar n seita a alf/iiem ; enganar-
ee no que ciie intenta, não llio conhecer
a 6ua arte, suas tragas.
— Furtar o vento á seita ; fazer mu-
dar de priiposito, o ir contra a sua pró-
pria tendão; ou ijaldar os intentos (Je al-
guém, fazendo (|uo niío lho sirvam os
incios, caminluif», e niaximaa adoptada.s
para sair com clle-i.
SEITIA. \\i\. Setía.
SEITIL. Vid. Ceitil.
SEIT03AMENTE, a,lv. ant. De acinte,
de si>i)r(!]ion,saio; atrai(;(iailamonte,
SEITOSO, wlj. Atrai(;oailo, porfido,
traidoí-.
SEIVA, a. /. Vid. Seiba.
SEIVOSO, ailj. Termo de botânica,
Quií t(Mu seiva. — Suecos seivosos.
SEIXA, s. /. Ave. Nt) escudo da.s ar-
mas dos Seixas, se vê umas aves pratea-
das com os bicos vormelhis, e do feitio
de gansos ou adons pequenas. — «Tem
os Sitvx.is por armas cm oani|io verde
cinco Seixas do prata voando.» Nobliar-
chia porlugueza, pag. ;528, em Blutoau.
— (JubiM-tura de cabeça usada pelos
turcos.
— Plnr. Seixas ; nos livros encaderna-
dos, a parte das canas que sobresáe ás
folhas nas suas três faces.
SEIXADA, s. f. (tolpo com seixo atira-
do :í n\ão, ou com funda.
SEIXAL, s. VI. (De seixo, com o sufli-
xo oalu). liOgar onde ha seixos.
SEIXATIL, adj. Vid. Saxatil.
SEIXINHO, s. m. Dinniuitivo de Seixo.
SEIXO, s. m. (Do latim snxuni). Pedra
tosca e muito dura, de diversos tama-
nhos. — «K posto que taes sinaes, segun-
do o uso connnum flelles, mais servem
pêra encaminhar os caminhantes, que de
memoria de alguma notável pessoa, aqui
bem nos podomns também servir este nio-
rouço de seixos, o Cruz pêra encami-
nharmos nossas obras ao fim porá quo fo-
mos creados.B Barros, Década 2, liv. 6,
oap. 10. — «Esta fonte esta em hum
profundíssimo vale; do qual sae hum
olho dagoa, (que ter<\ três palmos om
roda) cõ tanto Ímpeto, o fúria que leuan-
ta pedras, o seixos, se a caso lhos botão.
A esta fonte cerca huma lagoa tã gran-
de como huma sala ficado cila no movo.
Nclla entramos cento e sete pessoas, das
quaes oyto erão Christãos, os mais Mou-
ros, o (ientios.» Fr. Oaspar da Cruz,
Tratado das cousas da Chiua, cap. 12.
SEIXOSO, (iilj. (De seixo, com o suffi-
10 «oso»l. Que tem seixos; abundante
do seixos.
f 1.) SEJA, presente do modo subjun-
ctivo do verbo ser. — «Se alguns, ou al-
gnãs morarem com alguém per suas von-
tades, que estes nom sejaõ costrangidos,
nem tirados a estes com que assv mora-
rem, n(.'m sejaõ co-itrangiilos pêra nioia-
rem com outrem om mcnti'o a^8y com cl-
Ics morarem.» Ord. AlTons., Jiv. 2, tit.
29, § (i, — «Outro sy Mando, se alguns
80 colherem a essas Honras, ípic (bdjas
nom sejam mora hn-cs, que; o meu Por-
teiro entro cm ellas, e os cito jierante o
meu Juiz, ([uo do direito deve conhecer
de lai Feito.» Idem, liv. 3, tit. ÕU, íj 7.
— «A qual inquiriçom acabada, o trazi-
da ])erante Ni'i8, ou jjcrante os Nossos
Desemiíargadorcs, (|ue jiera ello som de-
putados, se [ler cila adiarmos, que a di-
ta doa^'oni foi bem feita, e como devia, o
que jiraz a aquelb; que a fez, que seja
per Ni'>s confirmaria, mandaremos-lhe dar
assi Nossa Carta de contírmaçoni, e d'ou-
tra guisa nom.» Idem, liv. 4, tit. 68. —
«Ordena que o Sacerdote que tiver mui-
tas freguezias a seu cargo (inda quo se-
jam pobres) dè ordem cõ quo se diga nel-
las Missa ao menos cada Domingo; fa-
zendo comemoração ))elos bcmfeitores e
fundadores delias, ou ante o altar se fo-
rem vivos, ou na ementa dos mais fieis
por sua ordem se forem mortos.» Monar-
chia Lusitana, liv. 6, cap. 22. — «Embo-
ra, seja assim, ainda que lho pudera ne-
gar; porque neste mundo naõ ha velhice
descançada, nem lustrosa: tíenectus ipsa
est morbiis. A mesma velhice em si hc
doença clieya de md desalinhos. p]ssa
velhice ha de ter o fim : o ao depois dei-
lo tomara saber, que he o que se segue
a V. Excellencia, nicn senhor Marquez y»
Arte de furtar, cap. 70. — «Ha nos mu-
ros de Cantam da parte contraria do rio
huma torre alta toda fechada per detr.is,
pêra que quem nella andar nam seja vis-
to nem devassado do outeiro que disse-
mos estava fora dos muros, c he lançada
em comprido ao longo do muro, do ma-
neira que hc mais comprida que larga,
c vay toda feita cm varandas nuiito ga-
lantes, da qual se descobre toda ha ciiia-
dc, o as várzeas e campos alem do rio,
que serve de passatempo dos que regem.»
António Tenreiro, Itinerário, cap. 6.
Fantasma», meus corações,
estas casas não doixois
por quanto vai o Xarifo ;
fautasma que no* dá réis,
guarda, n.ào na esconjureis,
inda que seja patife.
AMTONIO ruESTKS, AUTOS, pag. 407.
— «E dado que algumas sejão tão di-
gnas de se saberem, como outras indi-
gnas do se imitarem : com tudo escolhe-
rey o quo mais fizer a meu propósito,
deixado o que não conucm a mt'u inten-
to.» Fr. Ctaspar da Cruz, Tratado das
cousas da China, cap. 14. — « Seja po-
rem a caça moderada, quo do contrario
SC podem seguir nmitos damnos, o seja
moderadissinui, porque Portugal niío cstjl
em termo» de ponipear como os outros
reinos, mr^rmcntc diqiois do terramoto.»
Bispo do íirUo Pará, Memorias publica-
das por Camillo Ciistcilo Branco, pag.
1«7.
F i- força,
K fiiiça... í|ui! este »(tja o dttrradciro !
OAIlIlKTr, CATÃO, act. .0, SC. 7.
— «Porque Bua irman é a Esperança,
e a esperança nunca morre nos cí-uh. Do
l;l cila ilescc ao seio dos máu» antes quo
sejam precitos.» Alexandre Herculano,
Eurico, cap. 4.
2.1 SEJA, .^.f. Assento de janella. Vid.
Sede.
SEJANA. Vi.I. Sagena.
SEJO, por ESTOU. Antiga voz do ver-
bo fftur.
t SELA. Vid. Sella.
por Í880, levac de «e/a
O que vos dipo, c o pae d'clla;
vós hí, contao-Ihc que hcrdaes
muitas terras c casses
lá da vossa comcndcla.
ANTÓNIO PRESTES, ACTOS, pag. 12.3.
— «Posto que trazíamos com nosco
guias da terra, he tam fria e neva tanto
que rauytas vezes se acontece nella re-
gelar se o homem a cavallo e assi rege-
lado na sela se .acha morto algumas re-
zes o o cavalo o leva a altru;u lugar, is-
to nos contaram em aquella terra.» An-
tónio Tenreiro, Itinerário, cap. 14.
SELAD... As palavras que começam por
Selad..., busqucni-se com Salad...
j SELADO, part. pass. de Selar. —
«El Rey com seus manteiloros foy decer
á fortaleza ja de noite, onde todas cea-
rão com ellc cm mesas junto da sua, e
todos dormião no castello, e comíào com
elle, c dentro tinhão suas armas, e mny-
tos cauallos sempre selados, e elles .ar-
mados a giros, para que em vindo o auen-
tureíro tanto que o facho fosse derribado
sahissem com muyta diligencia sem de-
tenç.a alguma, c assi se fazia, e fez em
quanto as justas durarão.» (íarcia de Re-
zende. Chronica de D. João II, cap. 127.
f SELAGINEAS, .-•. /. plur. Termo de
botânica. Família ile plantas dicotyledo-
neas monopetalas. cuj.as espécies crescem
no cabo da Roa-Esperança.
f SELAGINITO, s. »». Termo do botâni-
ca, (ienero d.e plantas que parecem per-
tencer á família d.as lycopodiaccas e cu-
jas espécies hão sido encontradas fosseis.
SELAGO, .». ni. Termo de botânica. Gé-
nero de plantas da família das selagineas.
— Selago aòí tina. — Selago da Ethiopia,
etc.
— Planta que os druidas colhiam com
muitas ciTcmonías supersticiosas.
SELAHIM, .«. m. A decima sexta parte
do alqueire, medida de grãos, farinha-,
etc.
SELE
SELE
SELL
457
f SELANSTRIA, s. m. Termo de zoolo-
gia. Uoueio lIo insectos hymenopteros da
íamilia dos tenthredineos.
f SELAR. Vid. Sellar.
SELARIO, s. m. Direito antigo, ou im-
posto de que D. João I isentou Lisboa.
Vid. Sacarias.
■\ SELASIA, s. /. Termo de zoologia.
Generu tle insectos coleopteros, da íami-
lia dos malacodermes.
SELA VALEDI, s. f. Sella antiga, as-
sim chamada.
SELE, 5. 2 gen. Vid. Salé.
— Carne de selé; salgada.
SELÊA, s. f. Cano sem rodas, usado na
Rússia; trenó, rastillio.
SELECÇÃO, s.f. (Do latim selectionem).
Escolha, acto de escoliíer.
SELECTA, s.f. (De selecto). Livro ou
coUecçào de extractos de differentes au-
tliores, reunidos em volume.
SELECTIVO, adj. Selecto.
SELECTO, adj. (Do latim selectus). Es-
colhido.
— Termo familiar. Superior, incompa-
rável, exquisito, muito excellente.
— Lagares selectos ; prunas selectas ;
livros onde se acham reunidos trechos
de differentes authores.
— • Laranjas selectas ; uma espécie mui
delicada do Rio tle Janeiro, de polpa mui-
to agennnada.
f' SELENHYDRATO, s. m. Termo de
chimica. Sal formado pela combinação
do iiydrogeneo seleniado com um sele-
niureto raetallico.
SELENHYDRICO, adj. m. Termo de chi-
mica. Diz-se do acido que resulta da com-
binação do selenio com o hydrogeueo.
f 'SELENIA, s. f. Termo de botânica.
Género de plantas da família das cruci-
feras, cuja espécie typica cresce na Ame-
rica do Norte.
f SELENIADO, adj. Termo de chimica.
Q,ue contém selenio.
-j- SELENIATO, s. m. Termo de chimi-
ca. Sal formado pela combinação do aci-
do selenlco com uma base.
t SELENIBASE, s. /. Termo de chimi-
ca. Combiiiação de selenio que represen-
ta de base.
t SELENICYANURETO, s. m. Termo de
chimica. Sal cm que o cyanogeneo e o
selenio fazem o papel de principio ele-
ctro-uegativo.
SELENICO, adj. Pertencente á lua ou
aos seus movimentos.
— Diz-se do discurso que se pronuncia
ou da obra que se escreve acerca da lua.
— Termo de chimica. Diz-se de um
acido formado pelo selenio e o oxyge-
neo.
f SELENIDOS, s. m. plur. Termo de
mineralogia. Familia de mineraes, que
tem ])or base o selenio.
f SELENIFERO, adj. Termo de chimi-
ca. Que conténi selenio.
SELENIO, s. m. (Do latim sehuium).
voL. V. — 58.
Termo de mineralogia. Metal simples, des-
coberto em 1817 por Berzellio na Suécia.
Conduz mal o calórico e o fluido eléctri-
co ; reduz-se com facilidade a pó ; tem
grande siniilhança com o enxofre e arde
ao ar livre, dando origem ao acido sele-
nioso.
SELENIOSO, adj. Termo de chimica.
Diz-se de um dos ácidos que forma o se-
lenio com o ox3'geneo.
f SELENITA, s. Termo de astronomia.
Habitante da lua.
— S. f. Termo de mineralogia. Nome
dado por Dioscorides a uma variedade
crystallina e laminosa de gesso, conheci-
da vulgarmente pelo nome de folha de
talco.
SELENITES. Vid. Selenita.
-j- SELEKITO, s. m. Termo de chimica.
Sal formado pela combinação do acido
selenioso com uma l)ase.
SELENITOSO, adj. Da natureza da se-
lenita.
SELENIURETO, s. m. Termo de chi-
mica e de mineralogia. Combinação do
selenio com ovitro metal qualquer.
f SELENOCEPHALO, s. m. (Do grego
seléne, e keyhalê, cabeça). Género d'in-
sectos hemipteros homopteros, da familia
dos cercopldos.
f SELENOCENTRICO, adj. Termo de
astroaonda. Q,ue tem relação com o cen-
tro da lua.
f SELENODERO, s. m. Termo de zoo-
logia. Cenero de insectos coleopteros pen-
tauieros, da familia dos clavicornes.
t SELENODONTE, s. m. Termo de zoo-
logia. (Jencru d'insectos coleopteros pen-
tameros, da familia dos maiocodermes.
I SELEN0GN03T1CA, s. f. Reunião de
todos os factos conhecidos sobre a cons-
tituição physica da lua.
SELENOGRAPHIA, s. f. (Do grego se-
lenc, liux, e fjrai/heiíi, dcscripção). Descri-
pção da lua.
f SELENOGRAPHICO, adj. Concernen-
te ou relativo á selenographia.
f SELENOGRAPHO, 's. m. (Vid. Seleno-
graphia). O que ilescreve a lua ou é ver-
sado em selenographia.
f SELENOPÁLPO, .s-. m. Termo de zoo-
logia. Género de insectos coleopteros he-
tcromeros, da familia dos stenelytos.
f SELENOPE, s. m. Termo de zoolo-
gia, íjenero de arachnides da tribu das
aranhas, cujas espécies vivem em ambos
os continentes.
f SELENOSIS, s. f. Termo de medici-
na. Jlancha branca nas unhas.
SELENOSTATO, s. m. Termo de physi-
ca. Instrumento para observar a lua.
SELENOTOPOGRAPHIA, s. f. (Do gre-
go sde.nê, lua, e topographia). Topogra-
phia da lua, descripçào da superfície d'es-
te planeta.
f SELENOTOPOGRAPHICO, adj. Con-
cernente ou r. dativo ;i sclenotopographia.
-j- SELEUCIDE, s. /. Ave astuta e nuii
voraz, que se alimenta principalmente de
gafaidiotos.
f SELEUCIDA, s. Termo de historia..
Descendente de Seleuco, rei da Syria.
SELEDMA. Vid. Celeuma.
SELGA. Vid. Aceiga.
SELHA. Vid. Celha.
SELKOS, adj. aii.t. Senhos.
SELIAR. Vid. Ciliar.
SELICIO. Vid. Cilicio.
f SELIERA, s. f. Termo de botânica.
Género de plantas da familia das goode-
niaceas.
■j- SELINO, s. m. Termo de botânica.
Género do plantas da familia das umbel-
liferas.
-j- SELIO, s. ??i. Termo de zoologia.
Género de crustáceos ierneideos, da fa-
milia dos chondracanthos.
SELLA, s. /. (Do latim sella). O ade-
reço, em que se assenta o cavalleiro nas
costas do cavallo ; é composto de arção,
espendas, vão, peitoral, cilha, etc. — «El
por quanto os escudeiros, e outraiS gen-
tes que nom devem trazer dourado, logo
do presente nom podem aver garnimen-
tos de cavallos, e selias muares, quaees
08 devem trazer, da-lhes ElRey espaço
de quarenta dias de publicaçom desta
Ley, a que os possam aver, e que nom
ajam no dito tempo por ello pena alguã.»
Ord. Aífons., liv. 5, tit. 43, § 6. — «Pri-
meiramente vinham diante seis trombe-
tas, e seis charamellas, e depois hum Ín-
dio sobre hum fermoso cauallo, ornado
de huma sella da índia, o qual trazia de
traz de si sobre as cubertas das ancas
do cauallo, huma besta semelhauel a hum
Leão pardo, mas de menor corpo e mais
delicada, de muitas, e desuairadas co-
res.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 3, cap. 57.
Nem so ganha o paraíso
Senão com offcrtas muitas.
Emíira. vou eu muito asinlia
Empenho huma sella que tinha,
E albardo o meu cavallo,
E foi-nic forçado alugal-o
Pêra acarretar farinha,
E fiquei desbaratado.
GIL VICENTB, FARÇAS.
— «O do Tigre lançando os olhos con-
tra onde lhe dizia, viu que era verdade;
e, porque ainda estavam algum tanto
desviados, teve tempo d'enlazar o elmo,
e mandar apertar as cilhas, e corrcger-se
na sella como pêra tantos era necessá-
rio.» Frauciscctrde Moraes, Palmeirim de
Inglaterra, cap. 105. — «E tornando-se
a concertar na sella se foi ao posto, e
viu que o esforçado Platir lhe saía : e
encontrando-se juntamente dos corpos e
escudos, rachadas as lanças, Platir e o
seu cavallo foram ao chão, e o outro es-
teve ii'ísso atoruido do encontro. O im-
perador estava tão atónito do que via,
4Õ8
SELL
SELL
SELO
que nem fallava, nem sabia que fallas-
se.» Ibidem, cap. 111. — «O gigante fez
a laiiya em [ledavoa no escudo do caval-
leiro do Tigre, íalsando-lLe d'aiiiba8 par-
tes, o foi eoiii tanta força, quo lhe fez
perder ambos o.s estribos e apegar-se ao
collo do cavallo; poróm tornou-se logo a
concertar, dando a paga deste encontro
com outro também acertado, f|nc, falsan-
do o escudo o armas do gigante, deu
com elle no chilo, levando a sella antro
as pernas, o uma feriíla sobre o peito es-
querdo do que lhe saía muito sangue.»
Ibidem, cap. 118. — «U das Donzcllas,
depois de tornar-se a concertar na sella,
vendo-o ainda desacordado, disse: Não
me parece que do nâo haver batalha an-
tre n(is, sois vils o cjue perdestes menos.
E mandandodho tirar o elmo, ficou al-
gum tanto com o sentido mais esperto e
conheceu seu damno. El-rei, polo hon-
rar, se desceu a pé e o ajudou a levan-
tar.» Ibidem, cap. 124.
— Sella estardiota ; ó a que hoje se
chama brida; e tudo é ao revez da gi-
neta.
— Sella bastarda ; que tem duas bor-
rainas de diante, e nrio as tem atraz.
— Sella vaza nos hidos ; que só tem
arções e não tem borrainas; era nsada
nas academias, hoje não se usa.
— Sella poltrona ; que tem o arção tra-
zeiro muito baixinho, coberto com obra
acolchoada, e seu arção dianteiro pe-
queno.
— Perder o cavalhiro a sella; ser sa-
cudido d'ella pelo cavallo.
— Figuradamente: Andar em sella;
estar posto im sella ; no mando ; superio-
ridade.
Quanfcsses vos quero cu dar ;
Vós cuidais que estais na sella ?
Pois podeis-voâ descer d'clla ;
Qu'eu nuuca vos pude olhar.
CAU., AMrilVTRiÕES, act. 1, SC. 3.
— Firme na sella; confiado cm si.
— Voz de entre ambas as sellas; nem
boa nem mA, ou nem alta nem baixa,
alludindo ás duas sellas, ;l da gineta, o
á da estardiota. — • olluma guitarra mal
temperada, a huma voz de entre ambas
as sellas.» D. Francisco de Portugal,
Pris. e solt., pag. 19.
— Cadeira de braços. — As sellas cu-
mes dos romanos.
SELLADA, .«. /. O logar onde quebra a
lombada do monte e faz aberta baixa,
como a da sella.
1.) SELLADO, part. pass. de Sellar n.
A que s.' poz sella. — Ter os cavallos
sellados.
— Que dobra, quebra ou faz volta,
como o assento da sella, quasi arcado.
•J.) SELLADO, part. pass. do Sellar 2).
A que SC poz o sello.
\'('jo-t<; ag li;traa felladoê,
teu cr<«lit<) iruin novello,
as I<^is inuit/j mal ^uardadaA ;
m; algum liorncin achi-i nos nadas
vi-o como não lisivid-o.
Oli ! Atlioims (|iii'm te viu
c vé af;orii !
ANTÓNIO l-BKBTKS, AUTOS, pilg. 11.
SELLADOR, «. m. (Do thema sella, de
sellar 2j, com o suffixo «dór»). O que
sella ou põe sello.
SELLADOURO, s. m. A parto das cos-
tas da besta, onde se coUoca a sella.
SELLACíÃO, s. m. Uma espécie de sel-
la qiuí tem duas borrainas diante e ar-
ção muito pequeno, e raza atraz. Os ca-
valleiros que n'ella andam cáein facilmen-
te por detraz.
— Sella sem arção, de que usam os
ecclesiasticos.
SELLAGEM, .". f. Acção e effeito de
sellar. Vid. Cellagem.
1.1 SELLAR, V. a. iDc sella). Tôr a
sella n'um cavallo, ete.
— V. n. Dobrar com peso ; fazer vol-
ta, acurvar.
2.) SELLAR, r. a. (De sello). Pôr o
sello. — Sellar uma letra, u»i dociuuento.
— Estampar, imprimir ou deixar mar-
cada uma cousa cm outra.
— Concluir, rematar, pôr fim.
— Cerrar, tapar, fechar.
— Marcar com o ferrete do beneficio
e outras obrigações, e ter por seu obri-
— Figuradamente : Confirmar com sa-
crifícios pessoaes a verdade da causa que
se defende.
— Fechar os lábios, a bocca, não di-
zer palavra, calar-se.
— Sellar-se, c refl. — «A gente a ado-
rou, c se sellou com a sua marca para
serem conhecidos por seus vassalos.»
Paiva d'Andrade, Sermões.
SELLARIA, ou SELLERIA, s.f. Rua de
selleiros.
SELLEGÃO. Vid. Sellagão.
SELLEIRO, adj. (De sella, com o suffi-
xo ceironi. Que já levou sella, — Ca-
vallo selleiro.
— Figuradamente : Diz-se da pessoa
acostumada a caiTCgar, a soffrer o peso
de outrem.
— Que se segura bem na sella.
— Figuradamente: Diz-se do quo re-
siste a qualquer Ciíso adverso, repu-
gnante.
— aS. »)i. O que faz sellas.
SELLIM, s. »?i. Diminutivo de Sella.
Sella raza, e pequena.
SELLO, s. m. (Do latira .«íi/iV/hjhI. Peça
ordinariamente de metal em que estão
abertas as armas, ou divisa de algum
príncipe, estado, republica, religião, coin-
munidade, senhor ou cavalleiro, parti-
cular, que se imprime em cartas ou pa-
peis de importância, para os tornar váli-
dos e autlieuticos; c algumas vozes vac
enfiado, c pendente do fios de seda. —
«Feita cin Lisboa onze de laiieiro de Mil
quatrocentos quarenta, e noue assinada
per o dito senhor, c selada do seu sello
[lendente.» Damião de Oocs, Chroníca de
D. Manoel, caj). '^H. — «Escriptas em
íluas fidlias de <mro batido ambait de hum
teor cada huma com três sellos, hum
d'elUey de ouro, o os dous de Cijge Atar
e Kaez Nordiíii, que erâo de prata, me-
tidas em duas caixas de prata, segando
costume dos Heys orientaes.t Barros, Dé-
cada 2, liv. 2, cap. 4.
— Sinete, chancelia; instrumento ou
peça com caracteres ou algum deeenho
gravado, que serve para fechar as car-
tas, ou a capa de qualquer pupel, ou
para imprimir algum sigiial particular
em cera, lacre derretido, obreia, ou ou-
tra matéria branda, ou com tinta.
— Casa ou repartição jnde se estampa
ou põe o sello a alguns escriptos para os
auctorisar.
— O que fica estampado, impresso, o
sellado no mesmo sello.
— Figuradamente: Ultima perfeiçAo.
— Signal, vestigio, marca.
— Pôr, lançar o sello ; sellar.
— Figuradamente :
Onde amor lançar o $elU),
Nenhuma cousa o desterra.
Porqninda que o pensamento
Vos fique, Senhor, cm calma,
Por morte ou apartamento ;
Sempre vos lá ficão n°alma
As pegadas do tormento.
CAM., AMPU-iTBlÕES, aCt. 1, BC. 6.
Como a Nai;ão fatil, aos meus Maiores,
Lhes pôz mysterioso tello, o Fado,
NeUa, do Orbe os Acasos, consignando.
F. U. DO NASCIMENTO, OS KABTVRBS, 1ÍV. 7.
— Pôr o sello ; acabar, ultimar, con- j
cluir, aperfeiçoar o que se começou. I
— Sello e;)i branco; o que se imprime '
fortemente sobre papel, para lhe deixar
marcadas as partes proeminentes.
— Sello volante; o que se põe nas car-
tas sem o apertar, j)ara que fiquem aber-
tas, e possa lêl-as n pessoa por mào de
quem se dirigem a outra.
— Logar do sello; nota que se põe no
fim de alguns despachos.
— Sello real ; o das quinas que se põe
nas patentes, cartas que passam pela
chanccllaria-mõr, ou dos officiaes que os
põe, e parece diverso do sello privado,
ou camafeu do soberano.
— Passar alguma cousa seyn sello ; ser
admittida, correr sem exame.
— Ordem sellada. — Obedecer ao sel-
lo <^i' jui--
SELLOTE, 5. "I. Diminutivo de Sella.
Sella (lequena sem arção.
I SELOURA, s.f. Vid. Ceroulas. ^Em-
pregado comicamente por António Pres-
tos, jogueteando sobre Braga, nome pró-
prio e appellativo.
SELV
SEM
SEM
459
Sois de Saloi-ico, bcbado?
Nem de Salorico agoado.
SoÍ3 da Honra de Xinàcs?
de Guimarães?
Braga? selouraf
Acamado
jazo todo em Ruivàes.
ASTOsio PBKSTES, Auros, pag. 361.
SELVA, s. /. (Do latim silva). Bosque,
matto.
A Divina Poesia, uniea prenda,
Que dos Cios nos desceu, porque tal mimo
Nos coubesse, de Vós fez Jove escolha.
Oh filhas de Jlneraósyne, que as seivas
Do Olympo amáes, amáes de Tempo os Valles.
F. M. DO NASCIMENTO, OS MAHTTKES, 1ÍV. 2.
Aos membros lassos, co'a diurna lida,
Mesquinhas horas sós, da Xoite dava
Desfallecido ; e nesse prazo curto.
Acaso, vinha o grato Esquecimento
Da minha uóva sorte ; e quando da Alva
Aos primeiros clarões. Trombetas ferem
Cos sons de Diana, os ares, despertando.
Pasmava cu de me vér, em selvas broncas.
iBiDEií, liv. 6.
Poisar-lhe o coração suavemente
Sobre esquecidas penas, amarguras.
Anciãs, lavor da \-ida ? — Oh gruttas frias,
Oh gemedoras fontes, oh suspiros
De namoradas selva-i, brandas veigas,
Verdes outeiros, gigantescas serras l
GARRETT, CAMÕES, cant. 5, cap. 11.
No Globo incerto da serena Lua
Mares, selvas, montanhas suppozerâo.
Té do ser pensador foi dita alvergue.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Caut. 2.
— Figuradamente : Bastidão, grande
numero.
Os cabellos na frente se ouriçaram.
Como selva de lanças se ergue súbito
Ao grito alarma cm dia de batalha.
O coração parou-lhc, — o o corpo túrgido.
GARRETT, CAMÕES, CaUt. 2, Cap. 6.
SELVAGEM, adj. (De selva). Silvestre,
agreste, bravio; diz-se do animal que
vive nas :;.elvaã, bosques ou mattos, que
não é domestico.
— Bravio, não ciiltivado, maninho ;
diz-se do terreno.
— Silvestre, bravio; diz-se das plantas
não cultivadas.
— Figuradamente : Rude, agreste, du-
ro, intratável.
Mui falsa idea
Fizeste da virtude : amena e doce.
Não áspera, selvagem, desabrida,
A crearam os cens ; ao peito humano
Foi dadiva e mercê, não foi castigo.
GARRETT, CATÃO, aCt. -3, SC. 1.
pido.
• Grosseiro, ignorante, rude, estu-
■S. in. Homem rude, que vive no
matto, em selvas, bosques, montezinho,
de costumes bárbaros.
SELVAGERIA, ou SELVAJARIA, s. f.
Qualidade de selvagem ; grosseria.
SELVAGINA, s. f. Animal feroz, selva-
gem.
SELVAGINO, adj. (De selvagem). Vid.
Salvagino.
SELVATICAMENTE, adf.,(De selvático,
com o suffixo «mente»}. A maneira de
selvagem.
SELVÁTICO, adj. (Do latim silvaticus).
Pertencente ou relativo ás selvas, mon-
tezino, que nasce, cresce ou se cria nas
selvas.
Vè do Benomotapa o grande império.
De selvática gente, negra e nua ;
Onde Gonçalo morte c vitupério
Padecerá pela Fé saucta sua.
CAM., Lus., cant. 10, est. 98.
Selvático terreno, acobertado
De Florestas é a França, a qual começa
Além do Rheno ; cirta por Batavia
Ao Poente, e lhe tica a Scandia ao Norte,
Gallias ao Sul, Germânia pelo Oriente.
F. M. DO NASCIMENTO, OS MARTYKES, 1ÍV. 6.
• — • Selvagem, rústico, agreste, mon-
tez.
— Amigo das selvas, da solidão,
SELVATIQUEZA, s. /. Qualidade, con-
dição ou natureza do que é selvático.
— ■ Rusticidade, rudeza, falta de cul-
tura.
SELVOSO, adj. (Do latim silvosus).
Perteuceute, relativo ás selvas, ou pró-
prio d'ellas.
— Diz-se do território ou paiz, em
que ha muitas selvas, mattos.
1.) SEM, s. f. (Do latim sémen). Gera-
ção, semente. Vid. Semel.
2.) SEM, prep. (Do latim sine). Denota
exclusão, privação, falta. — Deixaram o
forte sem gente que o defendesse. — o E
se a venda fosse feita sem alguà condi-
çom, e acabada de todo, e despois fosse
publicada por algum maleticio, que o ven-
dedor ouuesse cometido, ou a mandasse
Ei Rei filhar por alguà necessidade, ante
que fosse entregue ao comprador, em
cada hum destes casos perteence o per-
dimento e perigoo da cousa assi pobli-
cada ao vendedor.» Ord. Affons., liv. 4,
tit. 46, § 5. — « Porem Puemos defesa,
que daqui em diante nenhum nosso na-
tural, nem outro algum estrangeiro, de
qualquer estado e condição que seja, nom
compre nenhuuã das ditas faquas, que
veerem do dito Regno de Imglaterra, ou
d'outra alguà parte, pêra as levar fura
dos ditos nossos Regnos sem nossa licen-
ça.» Ibidem, tit. 50, § 1. — « E porque
fomos enformado, que muitos Corregedo-
res das Comarcas, e Ouvidores dos Ifan-
tes, e dos Prelados, e Meestres, e bem
assi os Juizes temp^a-aaes, e aquelles que
poemos em alguãs Cidades e Villas sem
limitaçom do tempo certo, se fazem mer-
cadores
Ibidem, tit. 61, § 2. — «E
visto per Nós o dito artigo com a respos-
ta a elle dada, adendo e declarando em
elle Dizemos, que por a divida privada,
que decenda de feito civil, assi como d'al-
guum contrauto ou casi contrauto sem
outra alguma malicia, nom deve alguum
homem seer preso, ainda que nom tenha
per honde pagar, atee que seja condapna-
do per sentença, que passe em cousa jul-
gada.» Ibidem, tit. 67, § 2. — «Porque
todo aquelle, que se usa da cousa que he
posta em guarda e condisilho, sem voon-
tade de seu Senhor, ou nom lha entre-
gando a todo o tempo, que pêra ello he
requerido, sem justa e liidima excusa-
çom, tal como este comete furto, e assi
como ladrom deve seer preso, ataa que a
entregue da Cadea; nem deve seer sol-
to, ainda que pêra ello dè fiadores abas-
tantes ; nem por dar lugar aos bens, pois
que he caso de malefício,» Ibidem, § 5.
E havendo piedade
De mulheres mal casadas.
Pêra as ver bem maridadas.
Ando pelos adros nua.
Sem companhia nenhuma.
GIL VICENTE, OBBAS VARUS.
Como chegam a hidade
moças do dez ou onze annoa,
has mães fora da cidade
mancebos de autoridade,
de linhagem, sem enganos
buscam, e mãdauí chamar,
para as filhas ensinar.
GARCIA DE REZENDE, MISCELLASEA.
— (( E como este Hacem Bec era ho-
mem novo sem parentesco de nobreza, e
estrangeiro na terra, por melhor segurar
o que ganhara, e se liar com os Prínci-
pes do Reyno, casou huma filha sua com
Xeque Aidar, que além de ser homem
nobre em sangue, por vir da linhagem
de Alie, e secta que novamente profes-
sava, com que tinha acquirido muita gen-
te, houve Hacem Bec que a dava a huma
das mais notáveis pessoas da Pérsia.»
Joào de Barros, Década 2, liv, 10, cap, 6.
— «O esforçado Deserto, armado de ar-
mas verdes, e no escudo em campo bran-
co um Salvagem com dois liues por uma
trella da mesma maneira, que costumara
trazer em seu principio, se partiu só sem
outra companhia, chamando-se sempre o
cavalleiro do Salvagem, como dantes ;
cuja fama ainda então em toda pessoa
fazia medo e espanto, quando na memo-
ria representavam as obras de seu dam-
no.B Francisco de Moraes, Palmeirim
d'Inglaterra, cap, 106, — «Senhor, disse
Alternao, é tão prezada a liberdade para
quem vive sem ella, que ás vezes o de-
sejo de a cobrar, faz aventurar, a quem
a não tem, a cousas de tamanho perigo,
que, depois de posto nelle, tomaria por
4G0
SEM
jiurtiilo viver íintes sem ella, f|iio cohral-a
por tacs modoH.» Ibidem, cai». 11<). —
ot AsHim f|iio, oncoiitramlo-Ho no meio dos
escudos, Hzeram as lanras pivlaros e pas-
saram por diante sem mais (laimn). To-
mando outras, que el-roi mandara trazer,
correram a segunda vez; c pcsto quo se
tornassem a encontrar em cheio, nilo se
trataram poior ([ue da primeira.» Ibidem,
cap. i'24. — « llespondoraõ, Deus nosso
Senhor, poço sem fundo de misericórdia
to pratitiquo com bens nesta vida as es-
moUas qnv. fazes aos pobres por seu amor,
])orqno crê irmào nosso que o bordão
princi])al cm que a alma se encosta para
não cayr quãtas vezos embica, he a cari-
dade que usamos co próximo, quãdo por
vaingloria não leva farello do mundo que
cegue a alvura do bom zelo a quo a sua
santa ley nos obriga.» Fernão Mendes
Pinto, Peregrinações, cap. 104. — « E
dot(!ruiinauiloso de a irem buscar, se eiic-
garaõ a cila, o lhe dcrào duas çurriadas
do artilharia com quo lhe matarão a mayor
parte da gente, e apos isso a abalroarão,
o a tomarão sem nenhum trabalho, por
ter a gente quasi toda morta e ferida, e
a trouxerão á toa para dentro da angra
onde as outras estavão.» Ibidem, capi-
tulo 146.
JIcu ii-mão foi causa aqui
dhavor cavallos cabrões,
c giilos nem covai^íiJes.
15ofó, senhor, que isso ouvi.
E bolinhos de confci<;ue3,
Isso ouvi também.
ANTOmo PRESTES, AUTOS, pag. 217.
— « Polo contrario os Pegús comem
carne de vacca, que he abominável ás
nações do quasi toda a Imlia, e bebem
vinho, e usam tudo o que admittimos em
nossos ordinários manjares sem escrúpulo
algum, julgando-se por honrados da nossa
conversação.» Conquista do Pegú, cap. 1.
— « ( traudes saõ verdadeyramente os
trabalhos do mar, se os que lanção nos
dirovtos da casa da índia aqui se acha-
rão, cuydo que mais jnedosamcnte se ou-
uerão com as partes. Contai"ão mais, que
vendose sem gouerno, hum dos passa-
gevros que na nao vinha posera hum
gosto.» Fr. (laspar da Cruz, Tratado das
cousas da China, cap. 4. — <e Tc quo aos
dezasete, depois de partirmos de Laza,
vimos os muros de Babylonia, com que
me alegrey em extremo : o outivas muy-
tas Aldeãs quebradas, e sem geute. Ao
ontro dia ao pôr do Sol, chegamos ao rio
Diala, quo liça três legoas da Cidade;
onde dormimos aquella noite, em quanto
forão pedir licença pêra entrarmos nella,
porque assi se custuma naquellas terras.»
Ibidem, cap. 17.
Porém, OU eu mal ouço, ou com voz alta
Mo chama agora o Taroo, o mo importuna.
SEM
Que doscja partir-BO, poii Uio falta
Da» armas o favor, e da Fortuna,
.ia para cUo outra voz meu canto salta
l'ois ja prestoí o vejo, e i|ui! o.>portuQa
(^'onjun(;ào tem agora de partir-sc,
K vejo que tem mim pódc mal ir-sc.
y. ii'àni)I(Aue, rKiMEiuo cebco i>k uiu, cant. 20,
est. 7-1.
— « Teve nmitas occasioene de ver a
sua vivesa, examinou a sua vivacidade,
SC he (pie he couza ditterente uma da ou-
tra, e sem atenção a este encanto nanio-
rou-se de (ialetti, irmãa da Dançarina,
que hc iiuma moça morta á vista desta. »
Cavalleiro d'01iveira, Cartas, liv. 1, nu-
mero 'ò'ò. — « Impedido assim de consul-
tar escritos antigos e modernos, de exa-
minar as historias passadas, e presentes,
c de adivinhar as futuras pai"a poder
achar a prova, he necessário fasi--la como
V. M. onlcna muito fácil, c nmito inte-
ligível sem autoridades, nem argumentos
que a contundão.» Ibidem, n." 54.
Porem naõ façais mudança,
Por maia que o tempo apersiga ;
Que amor por pacto me obriga
A viver sciii esperança,
E a tiilla por inimiga.
r. nODKIGUKS LOBO, PRIMAVERA.
Ora, certo tu já no bom despacho.
Podes som nojo algum, ou sem empacho.
Fazer versos com mãos, c mais com pés,
Jil que estás no teu tempo, c no teu mcz ;
Porque seria asneira conhecida,
noi.\ares de ganhar a tua vida
l'or este lionrado modo.
ADUADE DE JAZENXE, POESIAS, tOUl. 2, pag. 35.
— Quando se junta com o iutinito do
verbo, significa o mesmo que não, com o
seu participio ou gerúndio. — Fui sem co-
mer ; isto é, não tendo comido, não co-
mendo. — « E delia houve ha Iníanta
dona loanna, que moi-reo Freira no Mos-
teiro de Jesu Daueiro, e el Rei dom loào
segundo deste nome, pai do Príncipe
dom Afonso, que falecerão ambos pai, e
filho sem deixarem filhos, nem filhas de
legitimo matrinumio.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 1, cíip. 3.
— « Uouuerão mais hos Reis de Castella
quatro filhas, a saber ha Infante dona
Isabel que casou com lio Príncipe dom
Afonso filho dei Rei dom loào segundo
do Portugal, ho qual príncipe pouco tem-
po depois de ser casado, faleceo em San-
ctarem de huina queda ijue deu indo cor-
rendo a eauallo, de que logo morreo, sem
deixar filhos, e ha Princesa dona Isabel
se tornou viuua pêra Castella.» Ibidem,
cap. 22. — « Francisco de iliranda, fi-
zera o que cUos fizerão, e por isso me
aueroy com elles temperadamente, e logo
sem outro mais requerimento mandou
cessar as deuassas, e in(|ulriçòis, sem
falar nisso mais, porque fora sobre vin-
"■ança de injuria de pay.» Ibidem, cjipi-
SEM
tulo 145. — « Dos noasos morrerSo três
de eauallo dos moradores de Çatiin, e
forão feridos outros, entre os quais foi o
Adall ívopo barriga, assi se tornarão pcra
cidade de Çafim sem trazerem caiialga-
da, nem acharem quem lhes sainãe ao
caminho. > Ibidem, part. i), cap. 33.
E BC lha dam a comer
liam lhe pode empecer,
e se alguém bebe o »cu \iiiho,
ou mosca come seu cospinho,
morre tem poder viuer.
OAHCIA DE BKZC.XDE, MIBCKLLAXEA .
— « Finalmente sem fazerem mais
damno foram jjrczos Luns delle», e 08
outros 80 lançaram a nado, o salváram-
80 cm terra, por ser perto delia.» Bar-
ros, Década 2, liv. 9, cap. 3.
palha nenhuma : mas cllc
deixa-mc assi $em comer,
então cu que hei de fazer ?
rir com este e com aqucUo
para d'isto me manter.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pag. 4Õ3.
— »Asslm que com estas e outras, que
lhe disse, o fez ir seu caminho : e pas-
sados alguns dias, sem achar cousa que
lhe impedisse, chegou á vista daquella
grani cidade de Constantinopla um do-
mingo hora de vespora. E vendo os pa-
ços do imperador e apousentamento de
Polinarda, poz os olhos nelles.» Francis-
co de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 25. — o Pois deixados a elles té seu
tempo, torna a historia a dar conta de
Florendos, que caminhando por suas jor-
nadas contra o reino de Hespanha sem
achar impedimento a seu caminho, que
j;i então as aventuras eram menos, ura
dia a horas de véspera chegaram a um
valle gi-acioso e grande; no fundo delle
estava assentado um castello formoso e
forte.» Ibidem, cap. 96. — •Perdido o
navio de vista, como o dia fosse grande
e o cavalleiro do Tigre pouco costumado
a ter momentos ociosos, pediu aos outros
que quizessem ver a sua ilha Perigosa,
que d'alii perto estava, que lho parecia
fazer o que não devia, passar-lhe tanto
pola porta sem a visitar; de que todos
receberam contentamento; que as cousas
delia eram pêra de muito longe as vir
buscar, quanto mais estando tâo perto. i
Ibidem, cap. 119.
Entrados, o Ódio disse aqui te buscAo
Estes com quem ja venho de sua parte.
Ambos os leuaremos sem dv>tcrsc
Que a determinaç,io ja nos aguarda.
COETE BKAL, NACVBAOIO DK SEPÚLVEDA, Cant. 2.
— tCom este fervor, sem fazer mais
detença, se pôz em hum Alifante, e acõ-
SEM
SEM
SEMA
461
panliada de trezentos dos seus que aly
tinha comsi.2'0 para sua guarda, e de ou-
tros muvtos que deípois se lhe ajunta-
rão, com que fez bum corpo de setecen-
tos homens, se veyo com elles para a ci-
dade, com determinação de lhe pôr o fo-
go, porque os inimigos a nào lograssem.»
Fernào Mendes Pinto, Peregrinações, cap.
28. — aEstes andarão peia ten-a dous
dias, sem acharem mais que humas ca-
sas palhaças despovoadas, porque parece
que os moradores delias fugirão de me-
do dos nossos.» Diogo de Couto, Década
6, liv. 9, cap. 22. — «E atinando iio
milhor que pude, e sem perguntar a nin-
guém, cheguey ao apouseuto dos \' ene-
zeanos, que em ella habitam : de que era
cônsul e principal hum niicer André, pê-
ra o qual eu trazia huma carta do capi-
tão Dormuz, escripta em latim, que em
aquelle tempo nam era abi.» António
Tenreiro, Itinerário, cap. 13. — «Olhay
para a vara de hum aguazil damninho,
parecevos vaqueta de arcabuz; e ella he
espingarda de dous canos; porque vay
por esses campos de Jesu Christo, a me-
lhor marràa, que encontra, e o melhor
carneiro, aponta nelles, e quando volta
para casa, acha-os estirados na sua loge,
sem gastar pólvora, nem dar estouros.»
Arte de furtar, cap. 57. — «Ninguém
faz meliior do que V. M. conte;itando-se
com o Dom que o nascimento lhe deo,
sem querer o titulo de Marquez Maldo-
nado, que he o mesmo que aqui tem to-
mado muitas pessoas a quem elle se nào
deo, nem se dará. Guarde Deos a V. M.
muitos annos. » Cavaileiro d'01iveira, Car-
tas, liv. 3, n." 27. — • «Ficou o hospede
sem dar embaixada nem fazer cortezia á
porta, porque deu com um conuuctor que
merecia ser baxá de três caudas, por le-
var os narizes do hospede aos óculos da
casa...» Bispo do Grào Pará, Memorias,
publicadas por Camillo Castello Branco,
pag. ò3. — «Em Hespanha é assaz cele-
brada a memoria do conde da Ericeira
na pena daguias d'alto vôo, como Bacal-
lar e Sana, sem fallar nos gabos de Ma-
ner e outra inferior turba de nocturnas
aves.» Ibidem, pag. 108.
— Sem conto; immenso, innumeravel,
infinito. — «Ha neste Reyno Thesourei-
ros, Depositários, e Almoxarifes sem con-
to ; todos arrecadaõ em seus depósitos,
que chamaõ arcas, grandes copias de di-
nheiro, hum uelRey, outro de orfaõs, e
muito de outras muitas partes.» Arte de
furtar, cap. 61.
— Sem cobertura ; descoberto, que não
tem tampa. — «Acabado o juramento, o
Copeiro Mur ti-az huma taça de prata
bi-anca com agua, e sem cobertura, e o
Veador huma toalha, e dando o Copeiro
Mór a taça a ElRey.» Manoel Severim
de Faria. Noticias de Portugal, Disc. 3,
cap. 19.
— Sem Jetinça; logo, immediatamente.
O Turco lh'o agradece, e c[ue olle o leve
Mauda a Coustantinopla em companhia,
O Baxá que hum teinor uiio menos leve
Do que 03 outros delle hão, do Turco havia,
Se parte sem detença, c em tom;io breve
Entra lá na Cidade para onde hia,
Ao Grào Turco o infiiiito ouro apresenta
Que de vê-lo se admira, e se contenta.
F. DE AXDBADE, PBIMEIEO CEECO DE DIU, CSUt. 12,
est. 73.
— - Sem duvida; certamente, segura-
mente, com certeza. — - «Celebramos e
festejamos o nascimento do gloriosíssimo
Baptista do Senhor. E sem duuida nào
còuem que passe este liia sem alguma
memoria de suas façanhas, de sua vida
e doutrina pois foi tal que mereceo que
o SaluaJor do mundo delle preegasse.»
Fr. Bartholomeu dos Martyres, Catecis-
mo da doutrina christã, liv. 2.
— Sem remédio; irremeiiiavelmeute. —
«Nào po.ie ser este movimento tão oc-
culto, que o nào entendesse o T\Tanno,
que se apercebeo para a defensa, fortifi-
cando a entrada da Ilha com trincheiras,
e estacadas fortes; e quando os nossos
ganhassem estes reparos, tinha coberto
os passos que guiavào á Cidade com es-
trepes, e puas de ferro, tocados de her-
va, onde passando os nossos furiosos da
cólera, e victoi-ia, se perderiào sem re-
médio.» Jacintho Freire de Andrade, Vi-
da de D. João de Castro, liv. 1.
— Sem medo; destemido, audaz, co-
rajoso, impávido, ousado.
O furor Hespanliol transpoz sem medo
Estas da Terra altíssimas barreiras.
Com que em porçõe.í iguaes d hum Pólo a outro
Dividio Natureza o Mundo opposto !
Nunca farto de império, e de thesouros.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Caut. 2.
— Trazer a cabeça sem nada; desco-
berta. — «A cabeça trazia sem nada,
porque os cabellos mereciam nào ser oc-
cupados d'outra cousa, somente vinham
tiiuiados atraz com uma fita de preto e
ouro, somettidos por dentro de maneira,
que lhe dava muito ar ao ro-to." Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim de Inglater-
ra, cap. 89.
— Semtirte nem guarte ; sem ceremo-
nia, sem hesitar, sem más nem boas. —
«He hum homem que sem tirte nem guar-
te, beja por força a mão a todas as Da-
mas, e se alguma lhe nega deita isso pa-
ra traz do cachaço, que he mais para
a canga que merece do que para a Or-
dem que traz.» Cavaileiro de Oliveira,
Cartas, liv. 1, n." 10.
— Sem razão ; desarrazoado, injusto.
— «Nào sou tão sem razào, disse elle,
que vos afaste de vossa companhia; ide
com elles, pois estas senhoras os enviam
ás damas ; assim de minha parte vos pre-
sentai a ellas e dizei-lhe, que lhe peço,
que quando alguma affronta certa tivera
pêra passarem, que se encommendem a
mim, que as salvarei delia, e não temam
a que podem correr comigo, nem as en-
gane o conselho de quem lho contrario
manda dizer.» Francisco de Moraes, Pal-
meirim d'Inglaterra, cap. 125.
— Sem dentes; desdentado. — «Estan-
do alli a armada, lançou o mar hum pei-
xe na praia mais grosso que hum tonel,
e taõ comprido como dous, ha cabeça, e
os olhos como de porco, sem deutes, as
orelhas da feição das de Elephante, o
rabo de lium couado de comprido, e ou-
tro de largo, a pele como de porco, da
grossura de um dedo.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 1, cap. Õ5.
— - Sem tempo; antes de tempo, prema-
turamente, com precocidade.
— AD.4GI0S :
— Nã>) ha rei sem privado, nem pri-
vado sem idido.
— Nào ha gosto sem desgosto.
SEMANA, s. f. (Do latim septimana,
de septem, sete). O espaço de sete dias
contados de domingo até sabbado.
— Semaua da Paixão; a que precede
a semana santa.
— Semana santa ; a ultima da quares-
ma, desde o domingo de Ramos ao de
Paschoa de Resurreição.
— Estar de semana ; fazer algum ser-
viço durante uma semana que lhe tocou
por gyro.
— Feria, ou salário ganho durante a
semana.
— Loc. FAM. : Para a semana dos no-
ve dias; usa-se dizer para despedir al-
guém, negando-lhe o que pretende, ou
para significar a impossibilidade de con-
seguir alguma cousa.
— Semana de annos ; período de sete
annos.
— Termo de chronologia. Períodos se-
ptenarios de tempo, seja de mezes, an-
nos, ou séculos, como as semanas de Da-
niel.
— Termo de historia. Segundo Moy-
sés e a Sagrada Escriptura, a divisão do
tempo em semanas deve a sua origem á
creação do mundo, porque Deus o aca-
bou em seis dias e descançou no sétimo.
Diào Casio pretende que os egypcios fo-
ram os primeiros que usaram d 'esta divi-
são de tampo, cuja idêa tomaram dos se-
te planetas. Os gregos e os romanos an-
tigos nào conheceram esta divisão, pois
aquelles contavam seus dias por décadas,
e estes por novenas.
— Semana tridua; a de três dias, de
que faz menção Santo Agostinho. Na Can-
tábria esteve em uso, pois na sua língua
ha vestigios que o demonstram, como:
aste-Jena, que corresponde a segunda-fei-
ra, e quer dizer primeiro dia da semana:
aste-artia, que corresponde a terça-feira,
e aste-astjuena, que equivale a quaría-
feira, dia ultimo. Ost-eguna, significa sab-
bado, ou dia depois da semaua.
462
SEMB
8EMB
SEME
SEMANAL, ailj. 'J (/en. (De semana,
com o Hiiffixo «ai»). Fcrtonccnto á bo-
nifina.
SEMANALMENTE, ndv. (Do semanal,
com II Hiiflixo «menle»). Por sciiiíuiaí»,
cm ti)'l;n ;n srinan.-i-^, ili'. modo soiiuinal.
SEMANARIAMENTE, mlv. (Do semaná-
rio, cDiíi o HuUixo «meute»). Vid. Sema-
nalmente.
SEMANÁRIO, adj. (Do semana). Fcr-
tencciíto ;i Hciniiiiii ou que succede so-
nianiilnuMite.
— reriudico semanário ; que se publi-
ca uma 8Ó vez por Kcinana.
— tí. vt. O quo está do semana, ser-
vindo al^am officio ou obrigaçílo.
— Papi',1 ou periódico semanal.
SEMANEIRO, s. m. Vid. Semanário.
f SEMANOTO, .S-. m. Termo de zoolo-
gia, (leiíoro d'insoctos coleoptcros sub-
pentanieros, da familia dos longicornes.
SEMBELLA, s. /. Tormo do nunii.sma-
tica. Moeda pequena de jirata, usada na
antiga Roma, e que valia metade do asse.
SEMBENITO. Vid. Sambenito.
SEMBLAGEM. Vid. Samblagem.
SEMBLANTE, s. m. Rosto, taco, cara,
appaioneia; reprcsenta^ílo exterior que
no rosto se mostra, do que n'alma se
passa. — «E eu desta si) niercé serei sa-
tisfeito, que não vos saberei pedir outra.
Tarpiana, algum tanto mudada a cór,
pôz os olhos em seu pai o gram turco, e
depois virando-os contra Fioriauo com
semblante alegre o aceeitou por seu ca-
valleiro, de que o grani turco ticou con-
tente, polo ter em sua casa, crendo que
com alguns taes como olle sua corte se-
ria nobrecida e famosa.» Francisco de
Moraes, Palmeirim dlnglaterra, cap. 80.
E vcndo-3C ja janto a seu imigo
Na proa do cátuv liguiro salt.i,
li d'alli, com nemblante inda damigo
A Saiitigo didsc com voz alta :
Dizo a Kinoi (luo se venha ter comigo
A este cútur, não haja nisto falta,
(^uo o Governador manda a Sua Alteza
Quo vá daqui direito á fortaleza.
F. d'aNDBADE, PKIUKIltO CEltCO DF. Diu,caut. 7,
eat. 18.
— «Aqui se fortiticáriío os Turcos, e
começárào a ganhar os Arábios visiuhos,
huns com as armas, outros com benefi-
cies, criando em Baçorá novo Principe,
quo como descendente de seus antigos
Reis, seria aos Arábios gratos, e aos Tur-
cos fiel : liberalidade, com que mostra-
vão entrar com semblante do amigos,
escondendo a ambii^ão de Senhores.» Ja-
cintho Freire d'Andrade, Vida de D.
João de Castro, liv. '^. — «Pareceo-me
pelo ar que no semblante dava; que niio
despontava de discreta, no que ella te
dizia : mas nada menos boa parte do
tempo que durou a visita, com ella coi\-
versaste ; e quào duro me foi ouvir-te
que te não desagradava a sua couversa-
çíto! E quo falias de encanto tal te lia
ella ditto?» Francisco Jlanoel d(i Nasci-
mento, Successos de madame de Sene-
terre. — - «Os estragos que cm meu sem-
blante fêz a tiui ausência, dá-los-hás por
mais Jucundos que a frescura da mais
linda téz; e por horrivcl me tivera eu,
se três dias privada de te vér, aílciuda
mo não tivessem.» Ibidem.
Naquellc» ferros Sc^cratc» espira ;
l'arc,ce que no pálido semblante
luda di^scubro a iiiiagom da virtude,
E entorna toda a luz Filosofia.
Aqui se eleva em Dóricas columnas
Sustentando o Thcatro, onde se cscutão
Do Mclpomono o.s aia, c até dcviso.
J. A. DU UACEDO, UKDITAçlo, Cant. 4.
— Figuradamente: Mostras, apparen-
cia, exterior, aspecto, representaçiio do
estado das cousas.
— Semblante eyual ; que se não altera
nos perigos, trabalhos, etc.
— Semblante sanhudo ; carregado, se-
vero, carrancudo.
— Bum semblante; boa cara, ar de saú-
de.
— Mudar de semblante; de cara, mos-
trar outra cara, mudar de côr; alterar-
se, dando-o a entender no rosto.
— Fazer semblante ; dar mostras.
SEMBLE, *. /. llcmerobio dos lodos.
SEMBLÈA. Vid. Assembléa.
f SEMBLIDE, s. ni. Termo de zoologia.
Género de insectos nevropteros, da fami-
lia dos semblidos, cujas larvas são aquá-
ticas e ao transformar-se em nymphas,
siiem da agua c introduzem-se na terra
ao pé das arvores.
f SEMBLIDOS, s. m. lúur. Termo de
zoologia. Fandlia de insectos nevropteros.
SEMBRA (EN), loc. adv. Juntamente,
ao nie>mo tem])0, em companhia.
SEMBRAGEM. Vid. Samblagem.
SEMBRANTE. Vid. Semblante.
Acompanhao cl líey com toda a gente
Que para guerra tem ja limitada,
E com triste sembrante siuaes mostra
Ter doUes graúdo lastima, e saudade.
Pouco tem caminhado quando chogào
Ao Eio quo desejào roas não sabem.
COBTE BKAL,KAUFBAOI0 DE SGPCLVSDA, CSUt. 14.
— «E seria ja quasi ils duas horas des-
pois da meya noite, elle nos fez gasalha-
do com sembrante afabel, porem giave e
severo, e fazendonos chegar para junto
do sy nos mandou logo tirar parte das
cadeas em quo de trcs em três vínhamos
presos, e nos preguntou se queríamos
comer, a que ni>s respõdemos que sy,
porque avia ja trcs dias que nolo não da-
vão, o que elle estranhou niuyto ao Ti-
leymay, e o reprendeo com algumas pa-
lavras.» Fernão Jlendes Pinto, Peregri-
nações, cap, 119. — «E chegando nós a
onde elle estava cõ aquellas cerimonias
de grandeza e magestade com que se lhe
custuma a falar, que saõ as mesmas de
que usou quando estava no Pequim, co-
mo atrás deixo contado, nos olhou com
Ijom sembrante, e disse ao Mitaqner quo
nos preguntasse se o qucriauios servir,
porquo teria gosto disso, e nos faria mer-
cês e lioiiras mais avantajadas que a to-
dos os outros estrangeyroH que o servilo
na guerra.» Ibidem, cap. PJf). — *A que
eu por então não respõily palavra por es-
tar tão fi')ra de mim que ainda que me
matara cuydo que o não sentira, porém
elle cõ sembrâte feroz e irado me tomou
a dizer, se não respòderes a minhas pre-
guntas te ey por cijdenado a morte de
sangue, e fogo, e agoa, e assopro de ven-
to, para nos ares seres despedaçado como
pcnna de ave morta que se divide em
muytas partes.» Ibidem, pag. 136.
SÊMEA, «, /. Parto que se tira do tri-
go peneirado, depois de separar-se o ro-
lão.
SEMEAÇÃO, «. /. Acto de semear, de
lançar as sementes á terra.
SEMEADA, s. f. Terra, campo semea-
do.
SEMEADO, part. pau. de Semear. —
« As armas custumadas saõ arco, e fre-
cha, e paos tostados c3 pontas de ossos
de animaes. Os que viuem pela costa,
muitos saõ marinheyros, as embarcações
em que nauegão, saõ velocíssimas, mas
pequenas, e assi nunca saem da terra ao
mar largo, mas ao longo delia, por hum
parcel grandíssimo qne tem da banda de
dentro, todo semeado de coral fazem sua
nauegação.o Fr. Gaspar da Cruz, Tra-
tado das cousas da China, cap. 2.
— .S. 111. Vid. Semeada.
SEMEADOR, «. »i. (Do thema semêa,
de semear, com o sufiBxo fdôr»). O que
semêa.
— Figuradamente : Semeador de here-
sias.
SEMEADOURO, s. w. Terra, campo
que se ha de semear, próprio para semea-
dos.
SEMEADURA, s. f. Acção e eflFeito de
semear; diz-se principalmente das terras
lavradias, para as distinguir das terras
de pastos, etc.
— O grão que se ha de semear.
— A terra semeada.
SEMEAR, V. a. (Do latim semínart).
Lançar grão, semente á terra.
Baccho oloroso, que annos déz sinala.
Era aurca copa vértc ondas purpúreas ;
E 03 dons do Ceres, ique a sentar instruirá
Triptolomo ao bom Arcas caro aos Numos)
A Glande substituem, que nutrira
Pclasgoâ aborígenes de Arc-ndia.
T. U. DO SASCIÍIESTO, OS «ABTTBES, 1ÍV. 2.
— Figuradamente : Esparzir, espalhar,
derramar.
— Causar, occnsionar, promover a dis-
córdia, a sizania, erros, uma doutrina
nnl, falsos rumores, otc. — « E dando
SEME
SEME
SEME
463
conta daquelle negocio a Manoel Falcào,
a Diogo da Rocha, e a Manoel Botelho,
(de quem era mui grande amigo), e como
parecia que o demónio andara nas cousas
desta Ilha, entre os nossos semeando zi-
zanias, e discórdias, aconselháram-lhe es-
tes, que cumpria a sua vida matar D.
Jorge, tirando Manoel Falcão, que lhe
disse, que muito melhor era prendello : e
que tirasse devassa de suas culpas, e o
mandasse á índia, e que ficasse elle por
Capitão até o Governador prover aquella
fortaleza.» Diogo de Couto, Década 4,
liv. 4, cap. 3. — «A quarta maneira de
damnificar com a lingoa, se chama me-
xericos, que he quando huma pessoa com
sua maldita lingoa anda negoceando que-
brar amizade e semear odios entre ami-
gos. O qual peccado basta pêra conhecer
quam graue e abominauel he diante de
Deos ser contra a charidade proximal,
paz, e concórdia que Deos tanto amou e
encomendou.» Fr. Bartholomeu dos Mar-
tyres. Catecismo da doutrina christã.
— Collocar, sem ordem, alguma cousa
para adorno de outra.
— Espalhar, publicar, divulgar.
— Fazer algumas cousas, tendo o fito
no lucro ou fructo.
— Cobrir, tapetar de flores, de her-
vas.
— Juncar. — Semear a planicie de ca-
dáveres.
— Semear em má terra; beneficiar in-
gratos.
— Semear de sal a casa ; castigo, por
traidor ao soberano.
— Semear para colher; fazer cousa
d'onde se espere lucro.
— Semear-se, u. rejl. Esparzir-se, es-
palhar-se, derramar-se. — «O Pregador,
não ha de ser como o auditório quer,
mas como lhe conuem, o que o auditó-
rio quer, regularmente são flores, de que
se não tirão suaues fauos, o que ao au-
ditório lhe cõuem são as searas do Se-
nhor em que semeandose as diuinas pa-
lauras, se colhem espirituaes fructos.»
D. Fernando Correia de Lacerda, Carta
Pastoral, pag. 77.
— Semear na areia; fazer bem aos in-
gratos e desagradecidos ; trabalhar de-
balde.
— Adágios :
— Cada um colhe, segundo semèa.
— Do grão te sei contar, que em abril
não ha de estar nascido, nem por semear.
— Dia de S. Matheus vindimam os si-
sudos, e seméam os sandeus.
— Em tal logar nem quero colher,
nem semear.
— Por Todos 03 Santos semêa o trigo,
colhe cardos.
— Natal em sexta-feira, por onde po-
deres semèa, em domingo, vende os bois
e compra trigo.
— Por S. Francisco semêa teu trigo,
e a velha que o dizia semeado o tinha.
— Por Santa Érea, toma os bois e se-
mêa.
— Quem em terra boa semêa, cada
dia tem boa estreia.
— Quem não tem bois, ou semêa an-
tes ou depois.
— Quem semêa em caminlio, cança os
bois e perde o trigo.
— Quem semêa, recolhe.
— Quem semêa, em Deus espera.
— Quem semêa em restolho, chora
com um olho, e eu que não semeei com
os dous chorei.
— Quem semêa em arneiros, semêa
moios, colhe quarteiro?.
— Queres bom cabaço, semêa-o em
março.
— Quem ralo semêa, ralo leva a pa-
vêa.
— Semêa cedo, colhe tardio, colherás
pão e vinho.
— Semêa e cria, terás alegria.
— A quem não tem pão semeado, de
agosto se lhe faz maio.
— Ao lavrador descuidado, os ratos
lhe comem o semeado.
— Cousa que se não colhe, ninguém a
semèe.
— Quem abrunhos semêa, espinhos co-
lhe.
— Assim como semeares, colherás.
— Quem bem semêa, bem colhe.
SEMEAVEL. Vid. Semelhável.
SEMEDEIRO. Vid. Semideiro.
f SEMECARPO, s. m. Termo de botâ-
nica. Ueueru de plantas da familia das
anacardiaceas, cuja espécie typica é uma
arvore grande que cresce nas índias
orieutaes e se cuitiva em certos logares
das Antilhas e da America tropical.
SEMEIOLOGIA, s, /. Termo de medi-
cina. Parte da medicina que trata dos
signaes, e dá a conhecer as alterações
que annunciam o que existe, o que pas-
sou e o que ha de occorrer, especial-
mente no estado de doença.
f SEMEIOLOGICO, adj. Que se refere
á semeii>l"íria.
f SEMEIOLOGO, s. m. O que escreve
acerca da semeiologia.
f SEMEIOPHGRO, s. vi. Um dos cinco
officiaes inferiores que tinha cada heca-
tontarcKia do exercito grego.
SEMEIOTICA, s. f. Tenno de medici-
na. Parte da medicina que trata dos si-
gnaes, e do seu valor nas moléstias, dan-
do a conhecer pelas alterações exterio-
res, o que occorre interiormente.
— Termo militar. Arte de fazer mano-
brar as tropas, indicando-lhes os movi-
mentos ciim sifrnaes e não com a voz.
j SEMEIOTICO, adj. Concernente aos
signaes.
SEMEL, s. 711. anf. Geração, descen-
dência.
SEMELHA, s. f. ant. Semelhança.
SEMELHADO, part. pass. de Semelhar.
SEMELHANÇA, ou SIMILHANÇA, s. f.
O parecer-se uma cousa com outra; con-
formidade de duas ou mais cousas, que
se parecem umas com as outras ; pare-
cença.—«E no que toca as dos Reis
dom Pedro, dom Fernando, e dom loam
primeiro, nam a que disputar senam que
as compôs Fernam lopes, porque o estylo
delias he todo igual sem ter mistura, e
em muitas jiartes tem semelhança deste
estylo as Chronicas dos Reis atras, exce-
pto a dei Rei dom Afonso Henriquez,
que Duarte galuam como ja apontei diz
que fez de nouo.» Damião de (Joes, Chro-
nica de D. Manoel, part. 4, cap. 38. —
« Porque os primeiros nossos, que foram
ter áquellas Ilhas, tomando-o na mão, e
veado a semelhança que tinha com hum
cravo de ferro, Ine ficaram chamando
cravo, por onde hoje he tão conhecido no
Mundo.» Diogo de Couto, Década 4, li-
vro 7, cap. 9. — « Alberto Magno vio na
Germânia dous gémeos taõ prodigiosa-
mente conformados na semelhança, nos
gestos, na vox, e nos affectos do animo,
que a penas haveria quem os podesse
distinguir. O que mais he, que ambos
adoeciaõ, e ambos saravaõ ao mesmo
tempo.» Braz Luiz d'Abreu, Portugal
Medico, pag. 19, § 69.
— Figuradamente: Imagem, figura,
comparação que aclara, exemplifica para
doutrina, etc. — « Outra parte cavo an-
tro espinhas, e nascendo as espinhas,
juntamente cõ o trigoo, aíFogarâno. E a
outra parte acertou de cayr em terra
bôa, e nascendo deu fructo cento por
hum. E diz o Euangelista, que dita esta
semelhança deu o Senhor hum grande
bra lo dizendo : Quem tem orelhas de ou-
uir, ouça. Como se dissesse, Aquelle ou-
ça a quem Deos fez mercê que enten-
desse o que ouue.» Fr. Bartholomeu dos
Martvres, Catecismo da doutrina christã.
SEMELHANTE, adj. 2geu. Que tem se-
melhança; parecido, semelhável. — «Man-
damos, que todos aquelles, que encorre-
rem em algumas penas por algum delito,
ou casi delito, assy como barregaãs de
Clérigos, ou os que trazein armas, ou
quaaesquer outros semelhantes, que en-
correrem em algumas penas, quaeesquer
que sejam, maiores ou menores que estas
suso escriptas.» Ord. Affons., liv. 4, tit.
1, § 48. — «E póde-se poer outro eixem-
plo semelhante, quando algumas partes
querem fazer algnã conveença, e dizem
que aquella conveença lhes praz de se
fazer em escripto; ainda que expressa-
mente noni digam que nom valha em ou-
tra maneira, hi se deve d 'entender, por-
que em escripto se chama, quando a Es-
criptura he da sustancia do contrauto, ou
conveença.» Ibidem, tit. 56, § 4. — «A
experiência passada (lhe tornou o Santo)
e a promptidaõ para outra semelhãte,
bastavaõ para te mostrar o pouco que
po lem comigo temores de teus tormen-
tos, e o gosto com que me vès buscar a
46-1
SEME
SEME
SEME
7iiortc, o pouco caso (|Uf) posHO fazor daH
lioiir.is (í ])rcti!iiHoi',iiM (lii vidií.» Monar-
chia Lusitana, liv. f), cap. <!. — «E por
(pio (piainlo ll^^ semelhantes pust-oun, anui
nos, uoiiio os oiitro.s l'iincipe8 c lloio
CliristJío.s cnvianids liiiiis aos outros, lio
costumo leuiiroiii nossas cartas pelas (piaes
saiu cridos cm todo o que de nossa parto
liio inamlaiiios fuliar aiiucllcs a (pioiii os
enuiamos nos falíamos com o dito Simam
da Rvliia to ia nossa voiitado acerca da
sua ida a vos.n Damião (K; (loos, Chro-
nica de D. Manoel, part. '.i, caji. H7. —
«Taiulioiii podcin nascer semelhantes
couí?olaçoens do ter os liuiiiorcs liem coiu-
ploxioníidos, e o corpo em jjostura des-
cançada, ou de se deleitar o entendimen-
to com alguns pontos novos, altos, c cu-
riosos.» Tadre Manoel lícrnardcs, Exer-
cicios espiriluaes, jiart. 1, pa^. íil. —
« Vj como o dia foy claro, o Necodá cba-
níou toda a gente a conselho, por sor
assi seu curtume em semelhantes casos,
o lhe disse, (pio pois todos aviào de pai--
ticipar do jierigo, todos também dessem
nello seu voto, e a todas geralmente fez
huina fala em que lhes pôs dianto o que
aquella noite ouvira, e o receyo que por
isso tinha ilo yr surgir na cidade, sobre
que «uvo alguns pareceres e opiniões di-
versas, por fim das quais se eoncruvo
que todavia se fosso ver cos olhos o de
que ao temiaõ.» Fernão Meudt^s Pinto,
Peregrinações, cap. 148. — «E ain la ipie
ja tenho escritas outras semelhantes,
também confessei ja quanto interesso em
as escrouer. Andando, diz, na maior for-
ça da tormenta me oncomendei a Deos
nosso Senhor tom.ando por valedores na
terra todos os da bem dita Companhia do
IE8V.» [jucena, Vida de S. Francisco
Xavier, liv. õ, cap. 20. — *() que seudo
de grande oppressão para os mareantes,
6 semelhante gente, fizeraõ com ElRoy
D, Joaõ, que aceitasse de novo outra di-
zima do pescado, fi')ra a que jà pagavaõ,
para com o tal dinheiro prover as (ialés
de romeiros. 1) ^[anoel Severim do Faria,
Noticias de Portugal, I>ise. 2, cap. 14.
O forto Sousji c oâ s(íu3, a quem a us.iiiça
T)ii .tfinefhantes casos hoje dava
Nesto monos temor niie coiifi.inça
Pouco teinon(lo a imipra fúria brava,
E movendo também espada e lança
Ousados vào buscar quem os buscava,
Também no ar levantando liuma alta grita
Que 03 peitos alvoroça, acende, e incita.
FRANCISCO RE ANDRADK, rBlUEIBÚ CERCO DK DIU,
cant. 15, 08t. 72.
Poróm antes qiio passe mais avante
E si segunda mulher o verso mude,
Consenti que aqui desta hum caso cante
Que prova sou valor, sua virtude ;
E inda que ja atra/, outro stmdhante.
Uautoi, uào me fará que nào estudo
Cautar este também, porque os bons feitos
Sempre 03 fez a mír ci^pia mais acceitos.
iBiDEH, caut. Iti, cat. 8.
— «Vinha a nào também prouida de
todas as cousas, assi pêra a alma, como
[)i',ni as mais, (|Ue com verdade se po li;
affiiinar, auur muyloH annos, ila Índia
não partir outru semelhante, ({uc luuusse
noue Kcligiosos, hum da Companhia do
Iksvs, que ora o l*ailro Propósito Fran-
cisco Vieyra, e os mais de Sam Francis-
co, sendo hum dello» o Padre Frey Mi-
guel de riam Uoauentura Custodio, e
Comuiissayro Cèral (pio acabara sor de
to la a iniiia; e o Padre Frey iManocl lio
Mcnite ( )liuete, todos três Mestres cm
riancta Thooiogia; Frey Hieronymo do
Sam Pedro Pregador, e cu, e os mais.»
Fr. ( iaspar da Cruz, Tratado das cousas
da China, cap. 1. — « Encima delle vi-
mos ovto Abutres, que saõ aues niayores
ipio minhotos, inda que a cllcs muy se-
melhantes, todos brancos, os quaes de
ordinário alli andão.« Ibidem, cap. 'J. —
«Todos eslauào pasmados, vondo o habi-
to do burel, quo ou leuaua, porque nem
lhes j)arecia Português no travo, nem cl-
lcs sabiam de que na(;ào jioilessc ser;
por ja mais verem outro semelhante. De-
ram desta nouidade rebate, e cota ao Ca-
pitam da Fortaleza, que logo sahio com
alguns homens bem trayados à Persiana
com seus alfanges arcados.» Ibidem, cap.
10. — « Nem Deos nosso Senhor, ijue das
alturas em que mora, olha sempre seme-
lhantes actos de ctuuidade, lhos dilatou
a paga a sua deuação: porque nos dias
que em Ormus estiuemos, lhes Icuou pêra
a gloria a premissa de seus filhos, que
nào cncgaua a anno, e mcyo, vestido no
nosso habito, o qual eu, e meu compa-
nheiro lenamos a sepultar.» Ibidem, cap.
11. — «Heródoto, e Strabo, louuào mui-
to o modo cõ que os Babylonios autigua-
inonte curauão seus enfermos, que era
leualos à pra(,'a, onde sabido seu mal lhe
aplicauão a mezinha cõ quo de outro se-
melhante forão liures, e cõualecerào; a
razão que pêra isto dauão era os Médicos
neeios matarem a gente, e uam auer jus-
tiça pcra elles.» Ibidem, cap. li*. —
aCreyo que não ha cousa tão irregular
como os pensamentos de hum hoincm se-
melhante, pois quo as companhias em
que se acha, e que os objectos que se lho
presentão não são cíipazes de o excita-
rem.» Cavalleiro d'01iveira, Cartas, liv.
3, n.* 18. — «Um certo ministro grande
costumava dar audiência ás senhoras f(>ra
de sua casa, cm um lugar tão decente,
que ora demasiado recolhido. Levaram alli
(loiís fidalgos suas mulheres para seme-
lhante negociação; e deixando-as lá, se
sahiram logo. Viam isto outros, e entào
disse um d'elles.» Francisco Manoel de
^lello, Carta de guia de casados.
— Tal; diz-se da ] essoa ou cousa a
que nos referimos. — 2\ào tetih" listo se-
melhante inul/ier. — NutH-a ii semelhan-
te livro. — «A liOtra O se-profcre com a
boca aberta, c boiços algum tanto esten-
didos cm figura circular. Por isto se-nota
cKta Letra com semelhante figura. Us
gregoí tem ()'micri/U, islii hi:, i> breve, o
o'iiief/u, i.'to he, O ijranilir, ou ly/ugn, quo
iiu a ultima Letra do Keii Alji/ui/jeto.»
Fr. Luiz do Monto Caruiollo, Compendio
de orthographia, pag. 1:^7.
— Teimo de mathcmatica. Figura»
semelhantes; as que teoui o» au^ioa
cguacs o os lados proporcionaes.
— Semelhante a si vitsmo; o homem
níto variável, coherentu na sua condu-
cta.
— Semelhante a; i)arecido com, confor-
me a, igual a. — « ]•] outros quaees(|uer
direitos Bemelliantes a niH dcvudos, ou a
Cidade, ou Villa, ou Prelados, ou Igre-
jas, ou a (mtras quaeesquer pessoas de
nossos Regnos, o todolos outros coutraa-
toB, ou casi contrautos, c direitos seme-
lhantes a todos estes suso escriptos, fei-
tos e celebrados pclan inoe ia.* antiguas,
ou pelas nossas quo se fezerom ataa pos-
tumeiro dia do Dezembro Era de mil
qiiatrocento.? vinte e três annos.» Ord.
Affons., liv. 4, tit. 1, § 2. — «TraU, ó
alma minha, de ad()uirir esta diifcrença
que to faz semelhante aos Anjos, e ao
mesmo Deos : nào faças cazo algum das
outras, em que podem ser teus semelhan-
tes 03 brutos, os condenados, c os demó-
nios.» Padre ]tIanocl Bernardes, Exercí-
cios espirituaes, part. 1, jiag. 4U5. —
«O que Adào pert-iiideo em deaobclecer
a Deos foy ser semelhante a Deos, o que
lhe daquy resultou, bem o vistes, ser po-
bre enuergonhado, o cheio de todas as
misérias, vem nosso Senhor n.lo se con-
tentou com perdoar o erro que nisto fi-
zera, mas da-lhe o que pretendia e fallo
como Deos. Ego dixi <lii estis et jilii tx-
celsi onmes.t Paiva d'.'\ndrade. Sermões,
pag. 81. — «E no reyno de Pegii, onde
eu ja estive algumas vezes, vy outro pa-
gode semelhante a estu a que os natu-
rais da terra nomeão por fiinocoginana,
Deos de toda a grandeza. O qual edifício
fizeraõ antigamente os Chins quando ee-
nhoreariiò a Índia, que foy, segundo pa-
rece pela sua conta, desdo anno do Se-
nhor de mil e trezo até o de mil e seten-
ta e dons.» Fernão Mendes Pinto, Pere-
grinações, cap. 9G. — «E subindo no pri-
iiievro degrao lhe disse em vos que todos
ouvirão, o t)tinão cor Valirate, prcchau
com panoo djis forças da terra, o bafo do
alto Deos que tudo criou prospere o 8er
de tua grandeza para mil annos as tuas
alparcas serem cabellos de todos os Reys,
com to fazer semelhante aos ossos c car-
ne do grande principc da.s serras da pra-
ta, por cujo mãdado aquy sou vindo a te
visitar em seu nome como por esta niutra
do seu re;il sello polés ver.» Ibidem,
cap. 130. — «Entr.ando entaõ ellas para
dentro da outra caía, se detiveraõ hum
pequeno espaço, e as que ticiíraõ fora se
desenfadarão entre tanto bem á nossa
SEME
SEME
SEME
465
custa com mu3'tas graças, e zombarias
de que todos estávamos bem corridos, ao
menos os quatro, por serem mais novéis,
e não entenderem a lingua, porque eu ja
em Tanixumá tinha visto outra í'ar.-a,
que se teve com Fortuguezes semelhante
a esta, e poi- algumas vezes as tinha vis-
to também noutras partes.) Ibidem, cap.
223. — « O processo dos principiantes he
semelhante ao tempo de inuerao, em que
experiíyeníamos grande frio, e neuoeira.
Mas dos que Cítào jà provectos he a se-
melhaiiça com o verau, que algumas ve-
zes estamos frios, e outras quentes.» Fr.
Bartholomeu dos Martyres, Compendio de
espiritual doutrina, cap. 15. — >i Xam
sou eu Christo. E os embaixadores lhe
perguntaram entào, Pois quem es tu"? Es
tu Elias'.' E respondeo, Nam sou. Per-
guntaiãolhe, Es tu Propheta ? Respon-
deo, Xam. Na qual reposta queria dizer
que não era Propheta semelhante aos ou-
tros antigos 1'rophctas, ainda que fosse
verdadeiro Propheta, e mais que Prophe-
ta : porque nam viera ao mundo a Pro-
phetizar do Messias como vindouro, se
nam a apregoar que era ja vindo, e mos-
trallo com o dedo.» Idem, Catecismo da
doutrina christã. — « E nos dias que eu
estiue em Mombaça chegou huma embar-
cação desta Ilha, com escrauos, que to-
dos erão semelhantes aos de Moçambi-
que, e mais terra da Cafraria.» Fr. Gas-
par da Cruz, Tratado das cousas da Chi-
na, cap. 4. — « Mais aiiiante jas a nossa
Ilha Moçambique, refugio, e emparo dos
nauegantes da carreyra da índia. Aqui
deyxando entre a terra firme, e a Ilha
de Sam L>uienço, o perigosíssimo bayxo
da índia, cuja figura he muy semelhante
aos rayos do peixe poluo: e continuado
com a terra firme da Ethyopia, começa
a costa de Moçambique, que tem duzen-
tas legoas até ilombaça.» Ibidem, cap. 7.
— «Ditosos ssrào os que tomando estas
bebidas não entrarem em furur semelhan-
te ao de Calígula, a quem Cesouia fez
engulir hum Hippomane inteyro.» Ca-
valleiro d'01iveira. Cartas, liv. 1, n." 30.
— «Depois de empregar no discurso to-
dos os termos semelhantes a syutomas,
accessos, princípios, augmentos, e decli-
naçoens, sem se esquecer de syncopes,
efimeras, e febrifuges perguntou muy
vaidoso ao dito Medico assistente, se ti-
nha elle satisfeito á sua obrigação?» Ibi-
dem, n." 38.
— S. í/i. Que é homem como nós.
— Um semelhante ; uma comparação.
SEMELHANTEMENTE, adv. (De seme-
lhante, com o suffixu «mente»). Com se-
melhança.
SEMELHAR, ou SIMILHAR, v. a. Re-
medar, imitar.
— Comparar, fazer semelhante.
— Semelhar-se, v. rejl. — Semelhar-se
a alguma cousa; comparar-se-lhe com
emulação.
voL. V. — 59.
— V. n. Assemelhar-se ; ser semelhan-
te, parecer-se uma cousa com a outra.
— Parecer, ter apparencía.
SEMELHÁVEL, arlj. 2 gen. (Do thenia
semelha, de semelhar, com o suffixo
«avelo i. Que pijde comparar-se, compa-
rável.— «Salvo se lhe fosse dado em es-
caimbo por outro lugar que a nós, ou a
cada hum de nossos antecessore-s fosse
dado, e o nijs ajamos cuui semelhável j ur-
di com: ou se algum polo edito geeral,
que foi feito per ELRey Dom Affonso
nosso Avoa sobre as jiu-dições, ao tempo
desse edito, ou despois, viesse, e mostras-
se que havia alguma jiu'diçam, e lhe foi
julgado, e outorgado pelo dito nosso Avoo
que a houvesse per qualquer titulo, ou
razom, que mostrava.» Ord. Affons., liv.
2, tit. Ij3.
SEMELHAVELMENTE, o.h. ij)s seme-
lhável, com o suffixo «mente;))' Com se-
melhança, da mesma maneira, semelhan-
temente.
SEMELIMO, superl. irreg. de Semelhan-
te, ^íuiti) semeluante.
SEMELITUDINARIAMENTE, adv. Por
semelaauça.
SEMELITUDINARIO, adj. Em que ha
semelhança.
SÉMEN, s. m. (Do latim sémen). Es-
perma, licor seminal ou prolífico dos ani-
maes machos, que fecunda as fêmeas e
os ovos.
SEMENÇAR. Vid. Femençar.
7 SEMÉNCINA, í. /. Uma das três prin-
cipaes espécies do semen-contra.
SEMEN-CONTRA, s. f. Termo de botâ-
nica. Xonie dado cm pharmacia ás extre-
midades não floridas de algumas espécies
de artemisa, (|ue se administram, como
remédio vermífugo muito efficaz, especial-
mente paia as crianças.
SEMENISTA, s. /. O philosopho que
attribue ;i matéria seminal ou espermati-
ca a propagação das espécies animaes.
SEMENTAL, adj. 2 gen. Concernente á
semealura ou determinado para ella.
— Que é pae de éguas, cavallo de se-
mente, de padreação.
— Que é pae de rebanho. — • Carneiro
semental.
SEMENTAR, v. a. Semear; espalhar,
lançar a semente.
— Sementar-se, v. rejl. Prover-se de
semente, fazer criadouros de sementes,
para as dispor em outros partidos.
SEMENTE, s. f. iDu latim sémen). Ter-
mo de botânica. Corpo vegetal produzido
pela germinação, que depois de fectinda-
da se desenvolve e adquire propriedades
que a tornara capaz de dar nascimento a
uma nova planta. — «Quando busca os
peixes se intitula Picatura; cujo exercí-
cio foi em outro tempo taò estimado en-
tre 03 Romanos, que à maneira da se-
mente na terra, se semeavaõ no mar de
Itália us peixes estrangeiros, para isso
coudusidos dos mais distantes golfos, de
sorte que muytas famílias Romanas deri-
varão dos peixes os seos apellidos ; como
03 Licinios, Murenas, Sergios, e Hora-
cios.» Braz Luiz d'Abreu, Portugal me-
dico, pag. 121, § 80. — «As Hervas sto-
machícas cálidas saij : Raízes de Gingi-
bre, de caiamo aromático, de Galanga,
de junca cheiroza. Cascas de cidi-a sec-
cas, e de cauella. Pão xiioaloes. Folhas
de orteiaà, de losna, de salva, de beto-
nica, de alecrim. Sementes de her\'a do-
ce, funcho, de coentro, de cidra, e de
pimenta. Fructos cravinhos da índia, noz
moscada. Flores de salva, de alecrim, de
betonica, açafrão. Gomas aknecega. » Ibi-
dem, pag. 356, § 240.
— A matéria dos animaes.
— As crianças que nascem dos ani-
maes, por parto ou desovamento.
— Troços de cannas d'assucar, que se
plantam em covetas ou regos do arado ;
de nianiva, com que se reproduz a man-
dioca.
— Figuradamente : Doutrinas, primei-
ras noticias.
— Manancial, cansa, origem.
— Carneiro <le semente ; o que anda
no rebanho para fecundar as ovelhas.
— Homem, ou mulher de semente ; cas-
tiço, generoso, de boa geração.
— Semente de bichos de seda ; peque-
nos ovos d'onde o bicho se reproduz, tra-
zidos ao calor do corpo humano ; nos
climas intertropicaes com o calor atmos-
pherico desovam por si mesmo, e põem
nas folhas que pascem das amoreiras.
— Semente santa; absinthio, losna ma-
rinha.
— ■ Semente de discórdia; cousa que ao
diante vem a causal-a.
— A semente da vida; doutrina da
salvação eterna.
• — Semente das ijerolas; pérolas mui
miúdas, assim chamadas pelos ourives e
lapiílarios.
SEMENTEIRA, s. f. (De semente, com
o suffixo «eira»). Viveiro de plantas no-
vas e de arvoresinhas para depois se
transplantarem. - — «A ilha he mui fértil
de sementeiras, fructas, arvoredos de
palmares, arequaes, e outras aruores, e
muy viçosa dortaliças, fontes e poços
dagoa muito boa, com muitas quintas,
pumares, hortas, e heranças que laurão,
e aproueitào os gentios naturaes a que
chamão Dacanis.» Damião de Góes, Chro-
nica de D. Manoel, part. 3, cap. 3. —
«C) qual entre elles não he tão má ve-
niaga^ que não aja muytos mercadores
delia muvto hõrados e ricos, e este es-
terco serve para estercar as sementeyras
em terras alquévadas de novo, porque
achaò que he milhor que o de que co-
mummente se usa.)) Fernão Mendes Pin-
to, Peregrinações, cap. 98. — «Ao outro
dia sendo ja nienham clara, este exercito
tão cruel e tào bárbaro como o seu Ca-
pitão, pôs fogo á povoação c a outros
46G
SEMI
SEMI
SEMI
muyto3 lugares muyto frescos, que ao
longo deste rio estavío, o que também
caliio em sorte a hum campo chamado
Bumxay, de mais de seis Icgoas cm ro-
da, o muyto plano, todo de sementeyras,
que a este tempo entava menos do movo
segado, e tudo o mais do trigo que nciie
estava ainda por segar, que era a mayor
parte, fov consumido do fogo de tal ina-
neyra, que não íicou nelle cousa que não
fosse desfeita em cinza.» Ibidem, cap.
120.
— O que se semêa, a semente lança-
da na terra ou agro.
— Estação, tempo, sazão de semear.
SEMENTEIRO, s. m. O sacco em que
vac o trigo ;is costas do agricultor, quan-
do scniêa.
— < ) que semòa ou faz sementeiras.
SEMENTILHAS, s. /. Sementes da sa-
ponilria.
f SEMENTINAS, s. /. plur. Termo de
liistoria natural. Festas que se celebra-
vam cm Roma, para obter boa semen-
teira.
SEMESTRE, adj. (Do latim semesfris).
Que dura seis mezes.
— 8. m. O espaço de seis mezes con-
secutivos, meio anno.
SEMESTREIRO, adj. (De semestre, com
o puffixii «eiró»). De semestre.
SEMET... As palavras que começam
por Semet..., busquem-sc com Symet...
SEMI. Prefixo latino que significa me-
fadi-, meio, e que se antepõe a muitas
outras palavras para modificar a sua si-
gnificação. — Semici"rfí(Z(j; semicíews. —
«As moças, desesperadas, fugiram de ca-
sa, e levando-as a mãe para uma rossa,
teve o desaccordo de as conduzir a casa
de um seu irmão semi-barbaro (homem
que matava escravos com açoutes) para
que lhe castigasse as filhas.» Bispo do
Grão Farã, Memorias, publicadas por Ca-
millo Castelio Branco, pag. 176.
SEMIABARCANTES, adj. f. i^lur. Ter-
mo de botânica. Diz-se das folhas que
abraçam metade da hastea.
SEMIANIME, adj. 2 gen. (Do latim se-
vtianiiiiis). ^Icio morto.
f SEMIARIANISMO, «. m. Seita origi-
nada pelo arianismo, porém com modifi-
cações e reformas que a constituíam mui-
to mais moderada.
SEMIAXIO, adj. Alcunha que os gen-
tios davam aos christãos.
SEMIBREVE, .". /. Termo de musica.
Figura ou nota fundamental da musica,
que vale um compasso menor, ou metade
de uma Lrevc.
SEMIGADAVER, s. m. Corpo de homem
ou mulher (juasi morto.
SEMICAPRO, s. ?)i. (Do latim semica-
2)cr). Meio bode, e meio homem; epitheto
que os gentios davam a alguns dos seus
deuses.
SEMICHAS, ou SSOMICHAS, s. /. ;>?.
Uma canada mais em almude. — «Seis
almudea de vinho mollo A bica do lagar
cora suas ssomichas.» Doo. de 1528, em
Vit(;rb(), Elucid.
SEMICHROMATICO, adj. (De semi...,
e chromaticoj. Termo de musica. Diz-se
de certo género de musica composto do
diatónico o do ehromatico.
SEMICIRCULAR, adj. (De semi..., e
circulari. Concernente ou relativo ao sc-
micirculo.
— Disposto em fitrma, ou á maneira
de scinicircido.
SEMICÍRCULO, .•!. J/l. (De semi..., e cir-
culo;. Meio circulo, ou metade de circu-
lo, cortada por um diâmetro.
— Instrumento mathematico que faz as
vezos de ]u-ancheta.
SEMICOLCHÈA, s. /. Termo de musica.
Nota ou ligiira de musica, que valo meia
colchêa.
f SEMICOLON, .í. m. Antigo signal de
pontuação, que valia meia pausa, o uma
coma.
SEMICOMPLEMENTO, s. m. Termo de
mathcmatica. Meio complemento.
SEMICOPADO, s. m. Termo de musica.
Nota que divide o compasso em dous
tempos.
SEMICUCUFA, s. f. Termo de medici-
na. Barrete pespontado, com pós cepha-
licos, que se applica em certas moléstias;
difiere da cucufa, em que esta encobre
toda a cabeça, e aquella só parte.
SEMICÚPIO, .". m. :\Ieio banho, ou ba-
nho ii'a<,nia até á cintura.
SEMICYLINDRICO, adj. (De semi..., e
cylindriCQi. O que é cylindrieo por um
só lado.
— Termo de botânica. Diz-se das fo-
lhas quando são planas de uma banda, e
convexas da outra.
SEMIDÊA, ou SEMIDEUSA, s. /. Assim
chamavam os gentios áquellas heroinas
que por seus altos feitos, pareciam des-
ceiídor de algum de seus deuses.
SEMIDEFUNTO, adj. ^Meio morto.
SEMIDEIRO, s. m.'ant. Atalho.
SEMIDEOS, ou SEMIDEUS, «. m. Meio
deus, divindailc subalterna, deus de se-
gunda ordem.
— Nome que os gentios davam aos lie-
roes e varões esclarecidos por suas faça-
nhas, a quem collocavam entre os deuses.
SEMIDIAMETRO, í. m. R.aio de circu-
lo; nietadi' do diâmetro.
SEMIDIAPASÃO, s. m. Termo de musi-
ca. Intcrvallo dissonante de oito vozes,
quatro tons e três semitons maiores.
SEMIDIAPENTE, s. m. Termo de mu-
sica. Intcrvallo de dous tons e dous se-
mitons maiores, quinta remissa.
f SEMIDIAPHANO, adj. Que não é per-
feitamente transparente.
SEMIDIATHESERÃO, s. m. Termo de
musica. Quinta diminuída, intervallo dis-
sonante de quatro vozes, um tom e dous
semitons.
SEMIDISCO, s. 1». Meio disco. Termo
de botânica. Aba de uma folha guarne-
cida de nervura dorsal.
SEMIDITONO, 8. m. Termo de musica.
Intervallo que consta de um tom e um
semitoiíi, t'r<ilra menor.
SEMIDOBRADO, adj. a>e semi..., e do-
brado i. Meio dobrado.
— Termo de botânica. Diz-se da flor
cuja corolla tem rnais ordens de péta-
las, ou maior numero de lacinias, do que
costuma ter naturalmente; conserva o
pistillo, e alguns estames, e dá algumas
sementes fecundas.
SEMIDOBRE. Vid. Seraiduples.
SEMIDOBREZ, .<•. m. Temi • de botâni-
ca. () viço das flores semidobradas, a
sua multiplicação.
SEMIDOUTO, adj. (De semi..., e douto).
Que Sc') tem coniiecimentos superficiaes e
pretendo pa«-ar por homem douto.
SEMIDRAGÃO, s. m. Meio homem o
meio dragão. K termo do estylo phantas-
tico, ou metaphorico.
SEMIDUPLES, ou SEMIDUPLEX, a^lj. 2
gen. (Do latira semiduplex). Diz-se das
festas ecclesiasticas, que se celebram com
menos solemnidades que as duplex, e com
mais que as simples.
f SEMIENCYCLOPEDICO, adj. (De se-
mi..., o encyclopedico). Que é quasi en-
cyclopedico, que abrange uma noticia
mui succinta das principaes artes e scien-
cias.
f SEMIESPHERA, s. f. Jletade de uma
espiíera, meia r-íijjhera.
-}■ SEMIESPHERICO, adj. Que firma
meia osphc-ra.
\ SEMIESPHEROIDE, s. m. Metade de
uma p-;]ihoroide.
SEMIFENDIDO, adj. Termo de botâni-
ca. Meio fendido; dividido em dous seg-
mentos.
SEMIFLOSCULO, s. m. Termo de botâ-
nica. Flosculii liguloso, ou cuja corollula
c ligulosa.
SEMiFLOSCULOSO, adj. Termo de bo-
tânica. Diz-se das flores compostas, e que
constara de corollulas ligidosas, tanto no
disco como no âmbito, ou raio.
— S. f. pi. Estas plantas formam a
1.3. ^ classe do methodo de Tournefort.
I SEMIFLUIDO, adj. Meio fluido, que
não é i; teiramcnte fluido.
SEMirUSA, s. /. Termo de musica,
ileia fusa; nota que vale metade de
uma f"n>a.
SEMIGLOBOSO, adj. Meio globoso, meio
espherico.
SEMIGOLA, ou SEMIGOLLA, s. /.
Termo militar. Dcmigola, meia gola; li-
nha tirada do flanco ao angulo d» gola.
I SEMIGOTHICO, adj. Meio gothico.
— Escriptura semigothica; escriptura
gothica, alterada pela mistura de cara-
cteres romanos.
SEMIINSPIRAÇAO, .«. /". Termo de mu-
sica. Tausa que dura a metade de uma
inspiração.
SEMI
SEMI
SEMI
407
SEMILETRA, ou SEMILETTRA, s. /. Si-
gnal quo vale a metade cie uma letra.
SEMILHA, s. f. Nome claJo, em algu-
mas partes, ás batatas inglezas.
I SEMILHANTE. Vid. Semelhante. —
« E, se me disser que o sr. eonego a tem
em casa, com dois íiltios e uma menina,
ou coisa semilhante, hei de eu crêl-oV
Ora, deixem-mc, meu» senhores.» Bispo
do Grão Pará, Memorias, publicadas por
Camillo Castello Branco, pag. 119.
SEMILUNAR, adj. Da forma de meia
lua crescente.
SEMILUNIO, s. 7)1. (Do latim similu-
niuni). Meia lua, metade do tempo em
que a lua faz a sua revolução.
SEMIMEDIGO, s. m. Semidouto na me-
dicina.
SEMIMEMBRANOSO, adj. (De semi...,
e membranoso). Diz-se de um musculo
situado na parte posterior da coxa.
SEMIMETAL, s. m. Meio metal, subs-
tancia mineral menos pesada, e menos so-
lida que o metal.
SEMIMINIMA. Vid. Seminima.
SEMIMORTO, adj. Meio morto, semi-
anime.
SEMINAÇÃO, s. /. (Do latim seminatío-
nem). A dispersão das sementes.
SEMINAL, adj. 2 gen. (Do latim semi-
nalis). Espermatico; de sémen, perten-
cente a elle, ou que o contém.
— Termo de botânica. Diz-se das pri-
meiras folhas das plantas que se desen-
volvem na semente pela germinação, e
que são os cotyledones convertidos em
folhas.
— Figuradamente : Productivo. — A
malícia seminal das doenças.
SEMINAR. Vid. Disseminar.
SEMINÁRIO, s. m. (Do latim semina-
rium). Viveiro de plantas; espaço de ter-
ra, no qual depois de bem cavado, se se-
mêam as plantas, e depois de crescidas,
se tiram d'alli, e se transplantam, e se
dispõem pelo campo em ordem, com seus
intervallos. • — ■ «Tanto que arrancarem es-
tas arvores do seu seminário, as trans-
plantem logo em terra, que não seja des-
semelhante.» Leonel da Costa, Georgi-
cas, pag. 78.
— Casa em que se educam, e ensinam
moços em bons costumes, e virtudes para
o serviço de Deus e da egreja. Depois do
concilio cridcntino encommendar e orde-
nar a fundação dos seminários, se fizeram
muitos na christandade, dos quaes os pri-
meiros e principaes authores foram S. Car-
los Borromeu e S. Francisco de Sales.
O bispo de Coimbra D. Paterno, com o
conde D. Sisnando, deu ordem a um se-
minário de moços na própria sé episco-
pal e egreja de Santa Maria, da mesma
cidade, a estes doutrinou, e foi dispondo
para receberem o grau do presbvterio, e
quiz que vivessem em comniunidade, se-
gundo a regra de Santo Agostinho.
— Origem, principio, assim para o bem
como para o mal. — «Com propósito de
fazer alli o seminário do suas emprezas.»»
Monarchia Lusitana, tom. 1, foi. 152,
col. 2, em Bluteau.
— Adj. Seminal. — Virtude semina-
ria. — «Se transfunda para isso na virtu-
de seminaria. » Vasconccllos, Noticias do
Brazil, pag. 112.
SEMINARISTA, s. m. (De seminário,
com o suffixo «ista»). Alumuo interno
de algum seminário.
— O que é educado em seminário.
f SEMINIFERO, adj. Que encerra ou
contém sementes,
— Termo de anatomia. Vasos, ou con-
ductos seminiferos; vasos mui pequenos,
da reunião dos quaes se forma a substan-
cia do testículo, e nos quaes se segrega
e circula o esperma ou sémen.
SEMINIMA, s. /. (De semi, e minima).
Termo do musica. Nota que vale meia
minima; é a quarta nota.
SEMINIO, s. m. Semente, gérmen.
f SEMINOTA. s. /. Termo de zoologia.
Género de insectos hymenopteros, da fa-
mília dos evanidos,
SEMINU, adj. Meio, ou quasi nú.
SEMIOCTAVA, s. /. ant. Composição
de quatro versos consonantes, que é a
primeira metaile de uma octava.
SEMIOGRAPHIA, s. ./'. (Do grego sc-
meioii, sigual, e graphein, descrever),
Sciencia que tem por base conhecer o
valor e força dos signaes, e caracteres
das doenças.
7 SEMIOPHORO, s. m. Género de pei-
xes, da faniilia dos escamipenneos.
f SEMIOTO, s. m. Termo de zoologia.
Género de insectos coleopteros pentame-
ros, da familia das serricornes,
— Género de insectos hymenopteros,
da faniilia dos chalcidios.
SEMIPALAVRA, s. /, Palavra mal pro-
nunciada.
SEMIPARENTE, adj. 2 gen. Que tem
algum parentesco.
SEMIPARTIDO. Vid, Semifendido,
■{- SEMIPEDAL, adj. 2 gen. Que tem
meio pé de comprimento.
■[ SEMIPELAGIANISMO, s. m. Termo
de historia e religião. Doutrina professa-
da no V século da egreja, por Fausto e
Capieno. Pretendia conciliar as opiniões
dos pelagianos com as dos orthodoxos,
sobre a graça, sobre o peccado original.
SEMIPELAGIANO, adj. O que seguia
parte dos erros de Pelagio.
SEMIPERIPHERIA, ou SEMIPERIFERIA,
s. /'. Meia ]ieri|)heria do circulo.
SEMIPLENAMENTE, adv. (De simiple-
no, com o suffixo «mente»). Com uma
prova imperfeita, semiplena.
SEMIPLENO, adj. (Do latim semiple-
nus). Meio cheio,
— Prova semiplena; diz-se da pi-ova
imperfeita ou não completa, como a que
resulta da declaração de uma só teste-
munha, sendo de toda a excepção.
SEMIPOETA, adj. Rimador, poeta de
agua doce, mau poeta.
f SEMIPROVA, s. f. Termo forense.
Prova semiplena, meia prova,
SEMIPUTRIDO, adj. Meio pCdj-e, qua-
si podre.
t SEMIQUINTIL, adj. Termo de as-
tronomia. Diz-se do aspecto dos plane-
tas, separados um do outro trinta e seis
graus .
SEMIRACIONAL, adj. (De semi, e ra-
cional). Estúpido, grosseiro, parecido com
os irracionaes; diz-se da pessoa que pra-
tica algumas acções impróprias de gente.
SEMIRECTO, adj. Diz-se do angulo
que tem quarenta e cinco graus, por ser
a metade do angulo recto.
SEMIROLIÇO, adj. Termo de botânica.
Vid. Semicylindrico.
SEMIROTO, adj. Meio roto,
■[ SEMISECULAR, adj. (De semi, e se-
cular). Que tem meio século.
f SEMISEPARATISTA, s. vi. Termo de
historia. Individuo de uma divisão da sei-
ta dos separatistas,
SEMISERPENTE, adj. Animal meio ser-
pente.
f SEMISEXTIL, adj. Termo de astro-
nomia, Diz-se do aspecto que apresentam
dous planetas separados um do outro uns
trinta graus.
f SEMIáTAMINAR, adj. Termo de bo-
tânica. Diz-se de uma ílôr dobrada que
não mudou em pétalas mais que uma
parte dos seus estamos,
1.) SEMITA, s. f. (Do latim semita).
Atalho, vereda, = Caído em desuso,
f 2.) SEMITA, s. m. (De Sem). Descen-
dente de Sem, primogénito de Noé. Os
semitas são os árabes, os hebreus, os
chalileus, os phenicios e os syrios.
SEMITARRA. Vid. Cimitarra,
SEMITENDINOSO, adj. Termo de ana-
tomia, Diz-se do musculo superficial da
parte posterior e interna da coxa da
perna,
SEMITERÇÃ, adj. Diz-se da febre meia
terçã, homitriteia, febre quotidiana, com
um segundo accesso mais intenso, um dia
sim, um dia não.
SEMITERCIANA. Vid. Semiterçã.
f semítico, adj. (De semita). Con-
cernente a Sem, filho mais velho de Noé.
— - Termo de philologia. Línguas semí-
ticas ; nome dado ás linguas que faliam
03 povos da Ásia occidental, que a Biblia
nos diz serem os descendentes de Sem,
O árabe antigo é o typo das linguas se-
míticas. O hebreu, o s^-riaco, o ethiopi-
co, o samaritano, o phenicio, etc, per-
tencem a este grupo.
SEMITOM, s. m. Meio tom, voz baixa.
SEMIT0N0, s. m. Termo de musica.
Meio tom, intervallo que separa certas
notas de musica.
f SEMITRANSPARENTE, adj. (De semi,
e transparente). Meio transparente, al-
guma cousa transparente.
L
408
SEMI'
SEMP
.SEMI'
SEMIUSTO, aiij. íDo l.-itiiu Mtmiusius).
Jlcio (jnidiii.iílo, (|uarti qui!Íiii;iiJo.
SEMIVIBRAÇÃO, *. /. Meia vibração.
SEMIVIRO, nilj. (Do latim xemiviri).
•Meio liDiiioiii. — (Jcntanrn semiviro.
— l<'iijiir-;ici;imriit(: : lOlfuiiiiiiaiJo.
I SEMIVITREO, <t<lj. Quu bo pânico
iiin poucii i-oui o viilro.
SEMIVIVO, tidj. Meio vivo, ([uani mor-
to, com ]i()ucíi viiia.
SEMIVOGAL, adj. 2 yen. Diz-so do uma
letra eoiisoautc que se iiilo profere sem
uma vo;:al.
SEMJUSTIÇA, .V. /. Injustiva, a quali-
dade Aí: ser inJuKto, o faíUir á justi<,'a.
SEMNÓ, .V. /. 1'huita da provincia do
Ahiiiitejo, cuja follia tem seuiellian(,'a de
junco.
■\- SEMNOPITHECO, s. m. Termo de
zoologia, («enero do niamniiíeros quadru-
uiauo.-i.
f SEMNOTEO, adj. Termo de liistoria.
Nome iladii ans druidas pelos gregos.
SEMNUMERO, s. m. Numero incalculá-
vel; a que se não sabe o numero, infinito.
SEMOLA, s. /. Farinha reduzida a jie-
queiios jrrumos de (jue se fazem caldos.
■j- SEMOTILO, s. m. Termo de zoologia,
(ieuoro de peixes ab<lominues, composto
de três espécies.
SEMOTO, (idj. (Do latun isemottts).
Apartadii.
SEMOVENTE, adj. Diz-se do que por si
juesmo se move, como os gados, escra-
vos, etc, que síío òois semoventes.
Porciu qiiiMii pod(5 prcscrovei- limitos
Aos oafov(;o3 do ctoruii Oniui|)OtcnciaV
Da imiiiiMisa crcacjào no iiiuiu>nso Impurio
De óuti-os oi-gãoí talvez, iVoutra figura
Sejào dotados scwoee/i/ps Sores,
Que liabitudoros do tão vastos Corpos,
Como na Terra iiils, no espaijo vivào!
J. A. nu aACBDO, VIAGKSl KirATlCA, caiit. -í.
SEMPAR, ailj. 2 <jen. tíem igual, sem
semelhante.
f SEMPITERNA, s. /. Tecido de lã
vasto o encoriiailo que usam ordinaria-
mente as mídlveres ])obres para vestir-se.
SEMPITERNAMENTE, adv. Eteruameu-
te, sempre.
SEMPITERNO, adj. (Do latim sempiter-
lius). ISempre eterno, aempiternal.
Vouho, Houriquo lho diz, 6 Lusitano,
Do Motor sempitcrito a ti mandado,
Hoje, que ;l meta do poder humano
'IViis, por jjjloria da Pátria, cm tlin chegado :
E da Fama no Alcaçar Soberano,
Çom taos feitos teu non\o oturuisado ;
Neste dia, ((ao mostra á Europa absorta,
A hum Quinto, o mór Iraporio aberta a porta.
J. A. DB M\CKDO, OllIENTE, Catlt. 8, CSt. Gl.
A pôr il vista as vozes debuxadas,
E com siguacâ pasmosos as deixílrão
<SeHíUi7er/i(is nos olhos, e memoria :
Porem marcar as épocas uào posso
Da pasmosa invoui;ào, pasmosa traça.
Que de lUiílcs, o bons traz cheio o Mundo.
iDEu, uuDiTÀçÃo, caut. 1.
A))raz-mo contemplar u humctii nu inuiieiisa
Ksfcra posto das Hcicncias todan
QuaHÍ á Hupromu perfuii;iu> levadas ;
Da Poesia atmjiiternon Ixiiros
(jue frente» cingem na soberba Homa !
Hazão de todo o turliido Pantusma
Dissipa do l'".picuro ; o cego Acaso
Ante u luz da Kazão fogu, e 80 acaba,
K He esvaece uubito a coliorte
Das aeinpilf.riuu niúuadas errantes,
Que agitadas n'huin vácuo indclinito.
luiDKU, cant. 1.
Ao ar, ao portamcnto, á vista, ao moto
Súbito conheci que os Sábios eriío,
tjuo as sempiterna» Leis da Natureza
Em pró dos outros coniiecer tentarão.
IIIKM, VIAUKM EXTÁTICA, CaUt. 1.
Em toda a parte encontro, ob-scrvo em tudo,
De huma Infinita Sa|)iencia a marclia.
Tudo, tudo me diz que hum Deos existe,
Que lio sempiterno liei de Império Eterno.
A' Luz ordena que me aclare, e manda
Ao Ar, ([ue me sustente, e a vida aspiro.
Se extasiada fantasia podo
Publicar teu puder, teu nome, c gloria,
Ho este o llinnio da Urandeza tua,
tSempiter no Motor : se o peso immenso
A' mesma fantasia encolhe as azas.
IDEM, A KATUKEZA, caUt. 1.
Da confusa razào frágil compasso
>iao chega a medir tanto... O Eterno falia;
O Nada lhe ouve a voz, e o Nada he Tudo,
No vácuo sempiterno onde brilhava
Astro Divino, e só, eis repentinos
Astros brilhao sem numero, e ac agitào.
lUIDEM.
Sempiterno Geómetra assignala
Compassada distancia, que convinha
A' Natureza, ás prccisuea dos Entes,
Da Terra o Globo dos Planetas segue
Invariável Lei, nos Ceos tluctua.
O sempiterno Sol do quem rerteio.
Ou sombra he esta aiampada do dia,
Da verdade os revérberos brilhantes
Fez luzir 110 Syiiái : náo me envergonho
De deixar por Moisés, Newton, Descartes.
E quando em cega, sempiterna guerra
Fervo orgulhosa opinião dos Sábios,
Então foge a verdade, a luz nao briilia.
Só i|ueui ouve a razão co' a estrada atina.
I1Í1UE.U, cant. 2.
SEMPLE, ant. por Sempre.
SEMPRE, adv. ^Do latim semper). A
toiía a hora, em todo o tempo, em toda
a uccasiàu. — «ísalvo em aquoUes casos,
que he eontheudo na Hordeua(;om d'El-
Key Dom Atíouso pellas malfeitorias, se-
gundo iie eontheudo na Lei d'ElRey
Dom Fcrnauiio, e sempre se assy custu-
mou ; porque se alguuus delles disserem
o que nom ilcveiu, que as justi\'as o pu-
gnam, como acharem que lie direito,
nom provando o qu'; mmy diuserom. »
Ord. AÍIonB., liv. :'), lit. ";}4, S 10. —
«NestcH dias que ol Uii dauu audiência
uuia sempre na camará em qiic ent&aa
musica de crauo, e cantores : foi muito
inclinado a letras, e letrados, c (tiiteudia
bem a liagoa latina, em (jue fora doctri-
nado sendo moi^o, da qual Babia tanto
que podia julgar entre <-, tilo ijom, e luuo.»
Damião de (joes, Chronica de D. Manoel,
part. -4, cap. 84. — aFoi el Itei mui cas-
to, e continente nem se Huube depoia de
ser casado que teuesse conuersassam se
nam com as liainhas suas molheres: o
em quanto foi viuuo da Kaiiiha doua Ma-
ria, p.tia mor co:iíirinat;am diutu dorini-
raij sempre na sua camará, em huma
cama o Príncipe, e o Infante dom Luií
seus iilho.s aos pes do seu leito.» Ibidem.
— «E, inda (jue sempre conheceu nclla
vontade clara pêra ciiusa.s de Palmeirim,
vendo aquelles estremo.'* tão diiferentes
dos passados, a quiz consolar, dizendo:
iSeniiora, não cuidei que nenhuns acci-
dentes bastassem a desbaratar vossa des-
cripção : se estas novidade.i nascem da
partida de Palmoiriui, porque vos nào
lembra que todo seu desejo é tornar ao
lugar onde vos jiossa ver.» Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 9.õ.
— "Senhora, disse Palmeirim, se voa eu
algum hora merecera dizerdes-me pala-
vras, que me assim magoem, nâo me es-
pantiira achal-as em vós ; mas sempre
tive a vontade tão certa pêra vos servir,
que por isso quabjuer aggravo recebido
de V()S é pêra mim muito mi'ir que se ou-
trem mo lizesse.» Ibidem. — «Florendos,
acompanhado de seu euidado e da amiza-
de de Fliiramào, ticou guardando o pa.s-
so, que sempre ilefeudera, não se quei-
xando de seu mal, ainda que tivesse cau-
sa. Porque, quem a fortuua alguma hora
experimentou, tudo ha de saber soffrer,
espantando-se de poucas cousas escanda-
lizando-se de menos.» Ibidem, cap. 109.
— «Porque criada antre as tyrannias de
seu pai, cruezas de seus irmãos, favore-
cida da condi(,'ào damnada de sua mãi,
sempre foi piedosa, benévola, cheia de
piedade e inclina(,'ão virtuosa; tanto que
tis vezes importunado seu pai e mãi de
suas lagrimas for^-ava a condição a fazer
cousas contrarias a elles.» Ibidem, cap.
119. — «Aliança lhe lançou os braços no
pescfço, dizendo : Bem sei, minha ami-
ga, que sempre em vós tenho certo o ca-
minho do meu desciínso; peço-vos que
vades pêra elle. e se o nào poderdes ven-
cer ao menos desculpa-me, porque não
lique por tão má. Ora, senhora, deixai-
me com isso e vos repousai : não sintam
estas douzellas nada; que seria infamar-
vos a vós e a mim, e descontentar a elle.
Eut.~io indo-se pei-a onde o cavalleiro se
encostara a ])riuieira vez, o .-ichou já des-
viado, por Arlança ii.ào tornar mais a
elle.» Ibidem, ciip. 1:^4. — «E passados
SEMP
SEMP
SEMP
469
os dous meses que tinhamos de liberdade
para podeniios aquy estar, iio3 partimos
para Quaiisy a cumprir nosso degredo
em companhia deste moiiteo, o qual tã-
bem daly por diante nos tratou sempre
muyto bem, e nos lez muytos favores,
até que os Tártaros eutraraõ na cidade,
cõ cuja vinda ouve nella muytas des-
aventuras, muytas mortes e muytos tra-
balhos, como adiante cõtarey mais larga-
mente.» Fernão Mendes Pinto, Peregri-
nações, cap. 104. — «Perigoso íby sem-
pre bolir com o caõ que dorme : e poris-
Bo muitas vezes as couzas passaõ por alto
até as sepultar o esquecimento: mas isso
naõ tira ser furto, o que por esta via se
arrastra. E estas saõ as unhas, que cha-
mamos descuidadas; porque até quando
mais lembradas, a avai-eza por huma
parte, e o medo por outra, as põem em
estado de descuidadas, e esquecidas : e
assim fica tudo sem remédio.» Arte de
furtar, cap. 28. — «Sempre o segundo
erro he peyor que o primeiro, por isso
mesmo que he segundo : como os circu-
les na agua onde cahio a pedra, que sem-
pre vão seguindo-se mavores.» Padre
Manoel Bernardes, Exercícios espiri-
tuaes, part. 1, pag. 202.
Approva o uovo Rei ])or proveitoso
O conselho que o Cunha lhe mandara,
E fora nesta empresa assaz ditoso
Se aaai como o approvou o executara :
Mas a vida passou alli ocioso
Sem tratar do que entào bem começara,
Com que a fortuna entào fugir lhe obriga
Que sempre do ócio inerte foi imiga.
FB\NCISC0 DE AMDR.VDE, FRIUKIBO CEBCO DK DIU,
cant. 8, est. 88.
— «Estimou sempre a paz, e a con-
servou com os Reis seus visinhos com
tal prudência, que andando o imperador
seu cunhado em continuas guerras com
França, e outros Reinos, elle se houve
de maneira, que sem agravar nenhuma
das partes, foi sempre amigo de todos,
e com tanta authoridade, que cada qual
estimaua muito tello por confederado, ou
ao menos por neutral.» Fr. Bernardo de
Brito, Elogios dos reis de Portugal, con-
tinuados por D. José Barbosa. — «A pri-
meira, e principal he, pelo grande per-
juro que cometereis contra Mafamerl, e
pela authoridade, e fé Real, que os Reys
saõ taõ obrigados a guardar. A segunda
he, porque da parte dos Portuguezes naõ
ha occasiaõ alguma de escândalo, antes
sempre se mostrarão amigos, e tanto, que
sofrerão cousas de que bem poderão lan-
çar maò.» Diogo de Couto, Década 6,
liv. 9, cap. 5.
— Continuadamente, sem sessar, sem
descanço. — Esta mulher esteve sempre
o chorar. — o Partido Fernão Peres a
este caso, não achou em todo o estrei-
to nova, nem noticia de tal Armada; e
porque os nossos sempre andavam sus-
peitos com as novas que davam os Mou-
ros, por as mais vezes serem falsas, tor-
nou-se Fernão Peres a Malaca acabar de
se aperceber pêra a índia.» Barros, Dé-
cada 2, liv. 7, cap. 4. — «Com o qual
fundamento sempre andou derredor da
Cidade avexando-a, ora com rebates de
suas Armadas, ora cora lhe tolher os man-
timentos, e mudando o assento de sua
pessoa, té que per derradeiro se foi as-
sentar de vivenda em huma Ilha defron-
te de Cingapura chamada Bitam, nome
que 03 Malayos chamam á Lua, por a
mesma Ilha ter a feição da Lua quan-
do he meia.» Ibidem, liv. 9, cap. tí. —
«Já as novas da soltura destes cavallei-
ros eram tào espalhadas por algumas par-
tes, que ao imperador Trineu que alli
perto vivia, chegara a noticia delias, E
porque té entào vivera sempre triste pola
perda de seus filhos Vernao, e Polinar-
flo...» Francisco de Moraes, Palmeirim
d'Inglaterra, cap. 44. — - «E com gloria
de vitoria tão crescida se foi pêra Tar-
giana, que estava quasi morta, receando
05 desastres da fortuna, que a seu pare-
cer pêra ella estavam sempre aparelha-
dos, 6 esforçando-a com novas de venci-
mento, tornaram tomar sua rota.» Ibi-
dem, cap. 96. — «O escudeiro de Daiiar-
t(? tomou o cavallo ao do Tigre, e todo
aquelle dia passaram ao longo do mar,
olhando sempre se parecia algum navio,
por chegarem ao desembarcar tão pres-
tes, como os imigos.B Ibidem, cap. 117.
— «Aqui lhe deu de jantar mui abasta-
damente, que Satiafor, além de o ter por
natural, desejava ganhar a vontade ao
cavalleiro do Tigre. As-im passaram o
dia, e chegada a noite acharam leitos pê-
ra todos, que ficaram do despojo de Eu-
tropa ; que, além de ser rica e gram se-
nhora, estava sempre provida de cousas
necessárias a hospedes, que assim lhe
convinha pêra agasalhar os amigos ; que
os imigos outro gasalhado lhe parecera
melhor que o seu.» Ibidem, cap. 119.
andAra sempre no cólo ;
mamara, uào houvera frio,
nem lá com meu senhorio
atolara como atolo.
Alto, apertar o carrio.
ÀNTONIO PEE3TES, AUTOS, pag. l-ÍÒ.
Toda a pessoa discreta
Teri, Senhora, assentado,
Que hum bem muito desejado
Se ha de alcançar por dieta.
Para sor sempre estimado.
CAMÕES, AMPHyTHiÕEs, aot. 3, SC. 1.
— «Francisco da Cunha homem Fidal-
go pelejou sempre com hum faicaõ com
muito valor, e destreza, fazendo tiros tão
certos, como se toda a vida usara aquelle
officio.» Diogo de Couto, Década 6, liv.
10, cap. 13. — «Vendo-se D. Álvaro per-
dido se foy recolhendo pêra as paredes
com o rosto nos inimigos, pele'ando sem-
pre com muito valor, e esforço. Vendo
Jorge de Mendonça a cousa taò arriscada
(posto que tinha huma espingardada em'
huma perna) tomou D. Álvaro de Cas-
tro nos braços pura o pôr em cima da
parede, mas a fraqueza lho nào deixou
fazer, e todavia acodiolhe seu irmaõ Luiz
de Mello, que o ajudou a subir.» Ibidem,
liv. 3, cap. 6. — «Notaõ os Políticos, que
os Romanos antigos, assim para cultiva-
i'em toda índia, como para conseguirem
a multiplicação da gente, que sempre
pretenderão, usaraõ muito deste remédio
das Colónias.» Manoel Severim de Faria,
Noticias de Portugal, Disc. 1, cap. 5. —
«O Doutor António Francisco diz, que
estes Vassallos tem o primeiro grào da
Nobreza ; fazendo a Ordenação sempre
esta distincçaõ.» Ibidem, Disc. 3, cap.
21. — «E sò este celestial prazer (como
diz sancto Agostinho) pode sempre du-
rar, o que nam tem os prazeres munda-
nos, que nam sam em o Senhor. Porque
claro está que quem se alegra em rique-
za, ou em honra, ou em deleyte carnal,
não se pode sempre alegrar ainda neste
mundo : mas quem se alegra em o Se-
nhor, nam ha cousa por onde se possa
acabar sua alegria : porque nem na pros-
peridade, nem aduersidade lha podem ti-
rar: pello qual está escripto.» Fr. Bar-
tholomeu dos Jíartyres, Catecismo da
doutrina christã, part.
ca])
77.—
« Por outi-a parte o Condestable cora
seus bombardeyros, o Mestre cos ma-
rinheyros, o Guardião com os grume-
tes se ocupauão todos, ora em huns, ora
noutros ofiicios : gastando neste contino
trabalho catorze dias, e noytes, alijando
sempre sem descansar.» Fr. Caspar da
Cruz, Tratado das cousas da China, cap.
1. — «E hão sey certo, de qual me ma-
rauilhe mais, se da certeza com que os
males no mar saõ sempre certos ; se da
confiança com que os que por elle naue-
gào cuydão nam ter algum.» Ibidem, cap.
5. — «A roda dos muros vay huma cava
larga cincoenta palmos, e funda braça e
meya, a qual está sempre chea dagoa. A
terra que delia se tirou, lançarão ao lon-
go do muro, da bàda de dentro, e esta he
a razão, porque desta parte saõ menos
altos que de fora.» Ibidem, cap. 19.
Não perde hoje o Silveira aquelle csprito
Sempre na mòx afti-onta mais ousado.
Antes com hum valor quasi infinito
Sc mo^itra mais alegre e confiado :
Comtudo escreve logo hum breve escrito,
O que diz a ninguém he declarado.
Ao mesmo o dA que pouco antes viera,
E que as novas da armada lhe trouxera.
FRANCISCO d'aNDRADE, PBiaEIBO CEBCO DK DIU,
caut. 12, est. 48.
— «Provavão (os cy nicos), que o ani-
mo do homem se havia de despojar de
objectos baixos, para se empregar sem-
470
SEMP
pre cm a con.sidei-iu;ilo, e amor «lofi al-
tissimoH ; a cujaH azas fazia estorvo o Uíso
doa uommoJod tuinporae.H, civi.s, o politi-
cort.t Fraiici.sco Maaucl do Mullo, Apolo-
gos dialogaes, pag. l'J7.
Douto Paulino, n minha mocidade
Da» Muiias tempre. foi todo o disvolo ;
K dad Ninf:i:4 a tua lie Mongibelo
Di: agudo frio, c ardcutc actividade.
íboàdk de jazeste, I'0I£9Us, tom. 2, pag. 57.
— Entretanto, no entanto, todavia. —
«Nào penso tal, por niinlia vida; mas di-
rei sempre que sem um bom diecionario
de .sviioii\'nio.s, o outro do origcii.s ou cty-
mologico, nunca ehegaremo.i a fallar uma
lingua perfeita o de na(,ião civilizada.
Quem so occupará «risso? A academia,
que iicou no azurrar cm o primeiro e
ponderoso volume do sou vocabulário.»
Garrett, D. Branca, Notas.
— Sempre (jue; todas as vezes que,
quanta.s vezos.
— Para sempre; perpetuamente, eter-
namente.— «Por que nom deva do car-
regar, que aja a pena das dita.s quinhen-
tas libras, e seja deitado de vizinho; e
se for Mercador de fora, pague as ditas
quinhentas libras, e nom lhe dem todo
nquolle anno carrega em essa Cidade, e
ficará a postura firme para sempre.» Ord
Affons., liv. 4, tit. 5, S lí>-
«Ponho
03 olhos no vosso vultn, vejo cousas, que
me matam, c nenhuma que estorve meu
damno : pcra mo matar todalas mostras
tem vivas, pêra mo ouvir acho-a morta e
todo^ assim que pêra meus males espe-
rarem algum bem, teuho a esperança
perdida e pêra sempre viver triste, so-
bejam-me as esperanças.» Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 109.
Convoca aa alvas filhas di; Xereo,
Com toda a mais cerúlea companhia ;
Que, poniue no salgado mar nasceu,
Das aguas o podei- lhe obedecia ;
E pro.iondo-lhc a causa a que desceu.
Com todas juntamente se partia,
Para estorvar que a Armada uào chegasse
Aonde para sempre se acabasse.
cAM., Lus., caut. '2, est. 19.
— «E que ja lhe tinha feito hum arre-
messo avia tros mil auuos, o que dahy a
outros três mil lho avia de fazer outro, e
que assi do três em tros mil aunos avia
de gastar cinco pilouros, com que a avia
de acabar de matar; e como fosse morta,
avião todos aquelles ossos que aly csta-
v.no juntos de tornar aos corpos cujos an-
tes foraõ para morarem para sempre na
casa da Ijua. » Fernào Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 109. — a Com esta
vitoria se tornou o Dclamethes pêra o
Xatliamaz, quo o reccbeo honradissima-
mente, e mandou que pêra sempre se
fostoiasse aquelle dia entre os Persaa,
que foi a dez do mez de Outubro.» Dio-
SEMS
go de Couto, Década 4, liv. 8, cap. 14.
— «Asai quo iicando este modo de viuer
aos Turciis, o o do Ale aoa Pursas, fica-
rílo as guerras om pè pêra sempre, e per-
mitira Deos lhes durem muit(js aniio-í pê-
ra que huns com outros ae cõsuinào, e
acabem.!) Fr. tliisparda (Jruz, Tratado
das cousas da China, cap. 20.
— Para todo o sempre; porpotuamcn-
te, sem fim.
— Uuasi sempre ; as maia daa vezes.
He dcUcs quasi sempre o louro, a palma.
O mcsuio cor.-Mjáo seus duros ferros
Por cúmulo do horror, cativo abra(;a.
J. A. DE MACKOO, MEDITAÇÃO, CaUt. 1.
Devendo sor do mérito a coròa,
Quasi seinprf, ho do crime o premio, c causa,
K estimulo do mal nas máoa dos homens.
IDKJÍ, VIAGEM EITATICA, CaUt. i.
— Adágios :
— Sempre a verdade saiu vencedora.
— Deus consente, maa não sempre.
— Sempre promette em duvida, pois
ao dar ninguém te ajuda.
— Sempre o rabo é mau de esfolar.
— Q,uem sempre se recata, nunca aca-
ba nada.
— Quem sempre mente vergonha não
aente.
— Quem com donas anda, sempre
chora _e não cauta.
— Aquém ou além, veja eu sempre
com quem.
— Quem mal marida, sempre tem que
diga.
— A mentira sempre é vencida.
SEMPREMENTE, adv. ant. Vid. Sim-
plesmente.
SEMFRENOIVA, s. f. Ilerva que uào
fenece uo inverno.
SEMPREVERDE. Vid. Semprenoiva.
SEMPREVIVA, s./. Termo de botânica.
Género de plantas, da familia das com-
postas.
SEMRAZÃO, s. f. Acção desarrazoada,
injustiça.
SEMSABOR, adj. 2 gen. (De sem, e sa-
bor . insípido, desenxabido.
— Diz-se da pessoa indiscreta, desen-
graçada, sem sal.
Por que ? dize, semsabor,
Vem cum fidalgo.
AilTOXIO FUKSCES, ACTOS, pag. í'ti.
Perdoe vossa mcrcí
outorgar sem ver porque ;
de paruo a ncmrabor
não ha medida de um pó.
IBIDEM, pag. -137.
— Tinto em semsabor ; iuaulso, inepto,
sem graça.
— <!í. m. Cousa que causa desgosto le-
ve, dissabor, desprazer.
SENA
SEMSABORÃO, s. m. Termo popular.
Pcn.soa in.iipila, sem graça.
SEMS./VBORIA, «./.Insipidez.
— inépcia, dito aem graça.
— Trato, couveraaçuo «tccante, cnía-
douha, niatuiite.
— Figuradamente : Falta de scioncia,
de t-aber, de sapiência; indiacriçilo.
SEUSAL, adj. J gen. Não salgado, fres-
co.
— Sem sabor.
— Figuradamente : Sem graça, insul-
ao, enfadonho.
SEMVALOR, adj. 2 gen. Que nSo valo
preço algum.
SEN, aiit. Sem.
f SENA, s. f. Os seis signaea pretos
que o dadu tem n'uui dos seus lados.
t SENACULO, *. VI. Termo de historia
antiga. Lugar onde se reunia o aeaado
romano, antes de entrar na cúria.
SENADO, s. in. ^Do latim aenatu»).
Corpo, junta, assemblôa de senadores.
— Logar, casa onde se juntam os se-
nadores.
— Termo de historia. Conselho perpe-
tuo da republica romana, inatituido por
Rómulo e abolido por Justiniano, de|x>is
de mil trezentos e vinte e um annos de
existência. Houve também o senado de
Athenas, e o senado de Sparta, o qual
constava de vinte e oito anciões eleitos
pelo povo. — « Cota Tertuliano que Ti-
bério César antecessor de Calígula pro-
pôs ao Senado Romano que adorasse a
Christo por Deos polias nouas que delle
escreveo Pilatos e milagres que seus dis-
cípulos fazião, e como o Senado o nSo
quiz aceitar por Deos pollo ter por tào
ambicioso que queria ser.i Paiva de An-
drade, Sermões, part. 1, cap. 75.
Humilde ob'doi,'o
As ordcHS de Catão.
As do senado.
OABKETT, CATÃO. SCt. '2. SC 1.
Scraprouio ! — Ha poucas horas a mim mesmo
Se me gabou que ousara no senado
Do.safiar a Dccio, e que...
iBiDcu, act. 4, SC. 3.
— Em alguns paizes onde rege o sys-
tema representivo, como no Brazil, etc,
a camará de seuadorea ou o senado é a
camará alta, ou a primeira camará.
— Senado da camará; eoustava de
presidente, vereadores da cidade ou vil-
la, juiz do povo. mesteres, escrivão e
almotacós; actualmente está substituído
pela camará nmnicipal.
— Senado das damaj; senado daa mu-
lheres estabelecido pelo imperador HelicH
gabalo, no qual se discutia e re^solvia sem
appellaçào acerca dos privilégios do bello
sexo.
— Príncipe do seneido ; titulo que se
SENA
SENA
SENA
471
dava ao senador cujo nome se tinha ins-
cripto em primeiro logar nas taboas de
censor.
SENADOR, s. m. (Do latim senator).
Magistrado, membro do senado, — «O
contentamento de taõ bom successor co-
mo Antonino deixou no Império, fez com
que sua morte não fosse tão sentida, co-
mo mereciaõ as grandes virtudes de sua
vida, porque sabendo os Senadores, co-
mo ao tempo de morrer mãdára passar a
imagem da fortuna para o aposíiito de
seu genro Marco Aurélio.» Monarchia
Lusitana, liv. 5, cap. 14.
N'um Campo militav, vi, sobro o muro.
Atalaiando C330 ermo, um logiouario ;
E vi, no mesmo prazo, ommaranliar-se
Nas çarças da espessura, Lúcia toga
Dum Senador, progénie desses Gallos.
V. U. DO NASCIMENTO, 03 MAHTrKES, 1ÍV. 10.
Senadores, da pátria é que ac tracta,
Da liberdade, e do quo nos incumbo
Fazer por ambas n'cstc caso extremo.
Fallae : — >ranlio c... Sempronio.
OAEEETT, CATÃO, act. 2, 80. 2.
SENAL, adj. 2 gen. Diz-se do diamante
em bruto, e muito miúdo, que nào tem
meio grão de peso.
f SENAM. Vid. Senão. — «ElRey Dom
Joliam meu Avoo da esclarecida memo-
ria em seu tempo fez Ley, per que de-
fendeu que nam podessem comprar ou-
ro ou prata, sanam em seu caibo, cm
esta forma que se segue.» Ord. Affons.,
liv. 4, tit. 3. — «Os Portugueses que
sairam em terra, eram por todos mil, e
trezentos, porque os demais ficarão em
guarda da frota com alguma gente do
mar e a outra mandou Afonso Dalbuquer-
que que saísse em terra, para poer fogo
a fustallia dos inimigos, senam ganhaso
a cidade 'los quaes deu o cargo a Antão
vaz mestre da sua nao.» Damião de Ctocs,
Chronica de D. Manoel, part. 3, cap. 11.
— «Começando logo de descarregar a ar-
tilheria contra a nossa frota, o que ven-
do Lopo soarez desembarcou com a mor
parte da gente, lio que senam pode fazer
com tam pouco perigo que os imigos nam
ferissem, e matassem com ha artelharia
alguns Portugueses, entre os quaes foi Ve-
rissimo pacheco.» Ibidem, part. 4, cap.
32. — «Camallo notou mui bem todo o
tempo que esteue em Cochim o processo
dos negócios que se tractauam sobresta
armada, a qual elle assentou consigo, que
nam podia ser senam pêra ir sobre Diu,
pelo que era Diogo lopez indo de Co-
chim pêra Goa, leuandoo em sua compa-
nhia, na mesma fusta em quo viera.» Ibi-
dem, cap. 60. — «Nam sou pêra dar con-
selho, senam pêra o tomar de quem me
essa esmolla fizesse : eu lho agradeceria. »
D. Joanna da Gama, Ditos da Freira,
pag. 22 (ediç. 1872).
Tudo acaba senam
amar Doos do coraçam,
e seruillo de vontade ■,
todo o ai hc vaidade,
e cousas quo vem, e vam.
a. DE REZENDE, MISCELLANRA.
— «Depois espantavase muito delRey
chamar quasi a mesma cousa Mouros, e
Christãos; senam era por saber pouco
de huns, e nada dos outros.» Lucena,
Vida de S. Francisco Xavier, liv. 4,
cap. 4.
SENÃO, adv. Excepto, menos. — «Aca-
badas estas palavras, a copa se tornou
tão clara, d'uma ciíir tão viva e excellen-
te, as lagrimas tão desfeitas em agua
verdadeira, que todos deram a ventura
por acabada, senão a donzella, que sabia
o que lhe ainda fallecia pêra o ser. » Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 90.
L4 vos avinde : bem sei
que não gabámos da lei
senão o que faz por nós ;
mal me lo demande Diós
se ao que tirastes tirei.
ANTÓNIO PRESTES, ACTOS, pag. 119.
— «E' cousa rija que a senhora de
casa, de tudo seja amiga, senão de sua
casa; como acontece a aqueilas, que ou
perdem a casa, porque nunca estão n'el-
la; ou porque o estar n'eila as ajuda a
que a lancem a perder.» Francisco Ma-
noel de Mello, Carta de guia de casa-
dos.
-— Equivale aos advérbios : somente, sú„
unicamente, precedendo preposição nega-
tiva. — Nào espero senão que te vás; isto
é, só espero que te retires. — «Não me
conforteis, que eu fuy tão mao bicho, que
nunca me acenarão que não mordesse : e
com muytas lagiimas o assinou, e porque
lhe falauão por Alteza como soyão, disse:
Não mechameys Alteza, que não são
senão hum saco de terra, e de bichos.»
Garcia de Rezende, Chronica de D. João
II, cap. 212. — fE se pegava, dava lu-
gar a que o apagassem, com que a gente
da terra tinha assas de trabalho; porque
como este era o seu aposento, não havia
outro amparo senão aquella pouca de
olla, de que as casas eram cubertas, e
defendia a ellas do Sol, e chuva, porque
ambas estas cousas escaldava aquella po-
bre gente da terra.» Barros, Década 1,
liv. 6, cap. 9.
Porém não hei de casar
Sen~io com home'avÍ3ado :
Ainda que pobre pellado.
Seja discreto em fallar.
Eu TOS trago hum bom marido.
Rico, honrado, conhecido.
GIL VICENTE, FARÇAS.
«Dizei a Astribor, que eu não sou
o que deseja achar ; porem conheço-o
muito bem, e sei quo matou Dramorante
com todos seus cavaileiros como muito
esforçado; e que entregar minhas armas
não o farei, senão em parte onde mais
seguridade tivesse. Pois convém, disse o
escudeiro, que em quanto torno com es-
sa resposta vos defendais daquelles qua-
tro cavaileiros, que tem de costume to-
mal-as por força ao que as não quer dar
por vontade.» Francisco de Moraes, Pal-
meirim d'Inglaterra, cap. 96. — «O' Al-
fernao, quam asinha as obras damnadas
nascidas de máos pensamentos acham seu
pago, que bem creio eu que esta fortuna
e tormenta não nasceu senão de nossos
merecimentos, aqui alcança a justiça di-
vina, nascida de pouca razão, que havia
pêra matar este cavalleiro, que aqui le-
vamos, que, se elle matou meus irmãos,
fez o que devia, que os venceu em bata-
lhas iguaes de um por um.» Ibidem, cap.
115. — «A este tempo o cavalleiro do
Tigre e seus companheiros se chegaram
sem nenhum impedimento, e todos jun-
tamente entraram dentro, onde logo co-
nheceram, que a victoria daquella casa
de razão não convinha, senão a quem a
houvera, tendo por isso em muito mór
estima a sciencia de Urganda : que nella
estava a sua livraria, e alli era o seu
estudo.» Ibidem, cap. 120. — «Dauid
vendo o pouo afligido, e que não tinha
que allegar por elle senão males, allega-
Ihe com o cõcerto que tinha feito cõ o
pouo de Israel, que nunca em ninhum
tempo os havia de destruir de todo. E
parecenie que allude a hum lugar do Le-
nitico, no qual antre outras cousas que
diz deste concerto de Deos diz ctas pa-
lavras.» Paiva d'Andrade, Sermões, part.
1, pag. 223. — «E por escusar de cotar
tudo o que se passou n'ellc, porque he
cousa para se não crer, não dircy mais
senão que o Nautaquim levou o Zeimoto
nas ancas de hum quartao em que hia,
acompanhado de muyta gente, e quatro
porteyros com bastões ferrados nas mãos.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações,
cap. 134. — «E sobre tudo naõ conhece
a Deos senaõ pela luz escura da Fé, ou
pela da razaõ, que he muito diminuta;
e os mayores Theologos despois de tra-
balharem muito, huns portos naõ alcan-
çaõ a declarar, outros enchem de opi-
nioens, e em todos mais dizem o que
Deos naõ he, do que dizem o que he.»
Padre Manoel Bernardes, Exercicios es-
pirituaes, part. 1, cap. 322.
Mas para que i^odessc dar effbito
A esta difficuldadc que pertende,
Junto CO 03 pés e mãos este direito
Mastro, aquelle atrevido logo prende ;
Ja cora gràa força o abraça, e o chega ao peito,
Ora se encolhe todo, ora se estende,
E caminhando ao Ceo desta maneira
Nào pára semo lá junto á bandeira.
F. d'aNDBADE, PBIJIF.IBO CEBCO DE DIU, Caut. 12,
est. 42,
472
SENA
— «Ertta carta cnculjrio, o não mos-
trou senão h alguns Fiiliil^im muito aiiú-
fíos, «[lUi fifaraiii com cila ahalailo.s; e
httvouilo hoIjio irido consuliio, a-isoiitou-so,
quo OHcrevosHC o í.ioviíriíailov a Cliristo-
vJlo lio .SoiiHa, o Uioi notilica8.se a prizào
do Poro Madcarouliart, c como «a fizera
por con.sciitlmoiito «le toilos os Fidalfíos,
sem owtromlo, noin ilivi.sào alguma.» Dio-
go do Couto, Década 4, liv. 2, cap. 7.
— «E «cm temor irEIRcy ho foi a Or-
muz, deixando a liniia toda do guerra,
e lá foz nuiitoH desorvií^o.s a El Hoy,
e multa.s moi-oês a muitos homens jicra
03 ter de sou bando, o quo não podia
fazer por governar om meu lugar ; o
mercês não aa piklc fazer senão hum
Si) (iovornalor, especialmoiite do dinliei-
ro.i) Ibidem, cap. 0. — «Ay daquoUos
cujos cuidados o pensamentos iiaõ sani
outios senão in)|ioJir estj spiritual con-
cobimeuto o <lc.struir esta diuiua íiliai,'am,
quaos craij aquellos aos quaes dczia san-
cto í]steuam, U duros e reueis: vos sem-
pre resostistos ao Spirito sancto. » Fr.
Bartholomou ilos Martyres, Catecismo da
doutrina christã. — «Faltava P^mbaixa-
dor, o Conduetor do S. A. 11., e ninguém
duvidava, quo paríi lugar taõ graúdo naõ
havia outra pessoa no Reino, senão o
Duque D. Nuno Alvares iVreira de Mel-
lo Mestre de Campo General junto á Pes-
soa do S. Alteza o Príncipe D. Pedro.»
Fr. Bernardo do Brito, Elogios dos reis
de Portugal, continuados por D. José
Barbosa. — «Foy pêra elle esta noua
huma das mayores, segundo depois nos
contaua, que muytos annos auia tiucra,
porque estaua sò, e nam tinha copia do
Cõf ssor, senão ora om Mombai^a, que
dali estaua sessenta legoas, onde ollo ca-
da anuo uPio po lia ir mais que huma, ou
duas vozes.» Fr. Gaspar da Cruz, Tra-
tado das cousas da China, cap. 6.
— Aliás, quanilo n.ão. — o Pois con-
vém, disso o turco, que todavia vos deis
a prisão, senão morrereis. Nisto chegou a
fermosa Targiana onde seu pai estava, o
vendo a detoi-miuação doUc, so lançou a
seus pes, peillndo-lbo que não fizjssc ta-
manha crueza ora homens quo lh'o não
mereciam, trasendo-lhe a memoria as
honras que recebera em casa do impera-
dor, o gasalhado e amor com que sem-
pre a tratara, e o serviço quo lhe depois
fizeram no niar.i' Francisco do Moraes,
Palmeirim d'Inglaterra, cap. 96. — «O
cavalloiro do batel veudo-o tão mettido
no esquecimento da batalha, o tomou
por um braço, o disso: Senhor cavalloi-
ro, quem comigo ha do entrar om campo
não lho convêm passar o tempo ora des-
cuidos : tornai em vós, senão tomarei o
escudo, que não posso esperar tanto em
tempo do tanta pressa.» Ibidem, cap. 110.
Foniando, não zombam comvoseo,
bom vos podeis assentar.
SENA
Wifl hoiii-m(i do barbear
mui bem, urnào lo^o mosco.
ARroNio FBKaricB, Auros, pag. 343.
— Conj. Mas. — « Por certo ou o ca-
valleiro 6 porá muito, ou esta oflonca nào
m'a foz ollo, senão viis, que por vos con-
tentar, ou jjarecor bem, so offereco a ta-
manha cousa. Inda o imperador não aca-
bava estas ]ialavras, quando viu vir voan-
do lloramonte, (pio om sua corto c cm
toila a parto era tido ]ior csjjucial caval-
loiro, ficaiulo o outro tào inteiro na sella
como 80 o nào tocaram.» Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 111.
— Senão, por se, o não. Devem oscrc-
vor-se .separadamente. — « A.-^sistirào cora
ello Maxiuio Arcebispo do Merida, Folix
do Biaga, Faustino do Sevilha, e Veia
do TaiTagona com os mais que deixo do
reforir por senão acharem seus nomes nos
originaes, onde oste Concilio se escreve.»
Mouarchia Lusitana, liv. (3, cap. '29. —
« Trazem as barbas pelladas, e o caboUo
da cabeça moo tosquiado, encrespado pcra
riba sem so cobrirem, porque dizem que
sobella cabeça do homem senão a'ie puer
cousa nenhuma, o tem por injuria tocar-
Ihcs alguém com a inain nella, sobello
quo se matão muitos, pelo qual respeito
nain fazem casas sobradas, por lhas nin-
guém andar soboUa cabeça.» Damião de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 3,
cap. 41. — «E porque os nossos senaõ
desmandassem no alcance, mandou logo
fechar todalas portas, dando graças a Dcos
da merco que lhe fezera, de cora tam
pouca gente tomar huma tal cidade, tam
proui la de gente, artelharia, o todalas
outras cousas uccossarias para se ilofcn-
dor. » Ibidem, cap. 11. — « Por esta causa
usavaij ainda na paz dos Exércitos Mili-
tares, posto que fingidos; para que quan-
do lhes fossem necessários senaõ acharem
bizonhos, mas destros nelles.» Jlanoel
Sevorim de Faria, Noticias de Portugal,
Disc. 2, cap. 1. — «As Caldeiras, quo o
peudaõ levava por divisa, tiveraõ sua
origem do pouco dinheiro, quo entaõ ha-
via era Hespanha; por cuja causa senaõ
dava aos Soldados soldo do dinheiro, mas
mantimento.» Ibidem, Disc. 3, cap. 20.
— « Ha nella minas de ferro, e cobro das
quaos os naturaes senão aproucytão, que
parece inda a malicia humana nã cliegou
entre esta gente a desentranhar da terra
o metal que a tantos enterra nella. loào
liothero cm sua relação vniucrsal diz ter
também minas do prata. Na guerra pe-
leyjão sem ordem, e a sua mais ordinária
he nunca a torein.» I'''r. (íaspar da Cruz,
Tratado das cousas da China, cap. 2. —
t Nos quaes passamos cò chuuoyros, as
Ilhas do Quilôa, Mòfia, o Zãzibar, sem
as vermos, ate que aos 6 de Abril, che-
gamos à Ilha do Pomba sem conheeerraos
estar nella. Autos dos (juo a vimos cuv-
damoa ser Zanzibar, porque nos dias em
SEN D
que a pa8.4amo8, goucrnauasc ao naciuo,
ou juda faiitozia, por senão poder tomar
o Sol, qu(5 do no» <iii'lo se andaua <i8con-
dondo, • Ibidem, cap. 3. — t A qual cob-
tuiiião ter excripta na rua liii^roa llcbrea,
cm duas cartas de porgamiidio inuy gran-
des, nictidati om huns cayxues feytos a
nio lo lie roda de freyraa, ourulla<loH ora
humas columnas de p;u) delgadas, por se-
não cortar, como cu vi na Ilha de Gul-
phò, onde elles não ialt.lo.» Ibidem, ca-
pitulo 12. — « Ora ain<la disto naco ou-
tro mal a meu juizu, não menor, que he
o descrédito do Evangelho, e das virtu-
des, porque como as obras eaò de vici<w,
0 os nomes de virtudes, ficaõ poilos no-
mes homens, e a!guma.s molhercs que se-
não doyxào arra.'^tar vergordiosamente por
movimentos iiii]ictuoso8.i (Javalleiro de
Oliveira, Cartas, liv. 1, n." 13. — tQuan-
do huma desconfiança semelhante se in-
troduz na alma débil, o aborrecimento
acha também com facilidade o seu lagar,
porem como nes.se cazo senão p<^de des-
terrar o amor inteyraniente, sofre o spi-
rito dezordens incxpliciveis sendo proce-
didas de payxoens om tudo opostas, i
Ibidem.
— Senão <fianto; m com a differença,
cora o desconto.
— Senão «<-; salvo se, excepto se.
— Senão guando ; de repente.
— ti. m. Defeito, falta, mancha. —
Não ha formoêa tem senão. — Humem
bom, muito honrado, e sem senão.
Somente a a.spereza,
De vos.ía condirão,
Senliora, uam disâcra
Por que senão soubera
Que cm viís podia haver algum «ij^o.
CAM., CANÇÃO 5.
SENARIO, arlj. (Do latim senarius).
Diz-se do numero que se compõe de seis
unidades.
— Termo de litteratnra. Diz-se do
verso latino, composto de seis pés, regn-
larmcnte jainbicos.
SENAS.' Vid. Sena.
— Termo de alveitar. Diz-se das veias
que estão por cima dos olhos.
SENATORIO, aHj. (Do latim seiutto-
rius). Perteucentc, ou relativo ao sena-
do, ou aos seiuidores.
SENATUS CONSULTO, s. m. (Do latim
senatiiíi ciinsultiimi. Decreto ou determina-
ção do senado. Só se diz dos decretos que
dictava o antigo senado de Roma.
— As deliberações do senado conser-
vador de França também tinham eete
nome.
SENDA, í. /. Vereda, caminho estreito
por onde cabo só uma pessoa, ou um
animal.
— Vereda, qualquer caminho, aind»!
que n.ío seja estreito.
1 — Figiu-adamente :
SEND
He meu propvio C3tc dom ; por mim descobrem
Que lie só feliz na Terra, hc Sábio, he Grande
Quem 8c domiua a si. Guia incorrupta
He minlia luz nag sendas intricadas,
Por onde a vida humana incerta corro,
Ignara de seu fim, da origem sua.
J. A. PE MACEDO, VIAGEM EXT.ATICA, Cant. 2.
— Conilucta boa ou má.
— Caminho da virtude, caminho do
vicio.
SENDAL, .í. m. Tecido Uno de cobrir o
corpo.
O corpo ferraosissimo se cobre
De hum sendal claro azul, qu'estrellas bordão.
Na dextra mão sustenta huma grinalda,
De pedraria Oriental composta,
E acena de cingir com cila a fronte.
J. A. DK MACEDO, VIAGEM EXT.VTICA, Cant. .S.
— Ant. (4uarp.içrío de vestidos.
— Liga da meia.
— Veu fino, que serve para cobrir o
rosto.
— Termo de cirurgia. Ligadura de
panno muito fino ou seda, que se põe na
duramater descoberta, para que se não
ofFenda nas esquirolas.
— Adagio :
— As mãos do official, envoltas cm
sendal.
SENDAS. Vid. Sendos.
SENDEIRO, s. »!. Qnartáo mau, cavai-
lo que uài) é de marca, nem pôde servir
para a guerra.
-f SENDO. Gerúndio do verbo ser. Yid.
Ser. — a E com esta fama foi a cousa em
tanto crescimento, que sendo já lá de-
zoito homens de gente vil, começou en-
trar no coração de algumas pessoas de
mais qualidade. » Barros, Década 2, liv. 6,
cap. 9. — ■ a 'E pêra dar maior contenta-
mento a Affonso d'Alboquerque com sua
chegada, além de ir carregado das vito-
rias que houve naqaellas partes, e de es-
peciaria, sendo tanto avante como os bai-
xos de Capaiia, topou António de Miran-
da d'Azevedo, que vinha do Reyno de
Sião.» Ibidem, liv. 9, cap. 5.
SEND
atraz se conta, como não tivesse outros
filhos, e a estes amasse de perfeito amor
de mãe, sendo certificada de sua ixiorte,
nào mostrou sentimento, segundo as mu-
lheres co.numam.» Francisco de Moraes,
Palmeirim d'Inglaterra, cap. 114. —
«Nào dou eu tão barato, disse o das Don-
zellas, as cousas; que muito estimo mas
com tudo façamos o que havemos de fa-
zer, e seja este o partido, que vencendo
eu, fique o cavallo comigo, e sendo ao con-
trario, fique em sua esc dha delia com qual
de nós se contenta.» Ibidem, cap. 127.
E fendo assi que o nó desta amizade
Entre viis firmemente permaneça.
Estará pronipto a toda adversidade,
Que por guerra a teu reino se ofieroca,
Com gente, armas, c nãos...
CAM., LL-s., cant. 7, est. G.ii.
SENE
473
Que fará o desamado,
E sendo desesperado
Do favor ?
Moça. Ora dá-lhe lá favores !
Velhice, como te enganas!
Gir, VICENTE, FABÇAS.
— «De maneira que assi como crecia
no corpo, e hidade, crecião nelle virtu-
des, bons costumes, bom ensino, e boas
manhas em tanto crecimento, que sendo
muyto moço veo logo a ganhar tanta au-
ctoridade com os pouos, com os nobres, o
com el Rey seu pay, que não fazia con-
selho, nem cousa grande, em que o não
metesse, e tomasse seu parecer.» Garcia
<le Rezende, Chronica de D. João II, cap.
í?. — «Diz a historia que Colambar, mãe
de Bracolão e Balleato gigantes, que o
do Salvagem matou em Irlanda, segundo
vÒL. V. — (30.
— «De muvtas nãos que tome no ter-
reiro, escapara huma por marauilha: e
sendo este tara cruel cossaii-o no tem-
po da tormenta, nam faltam outros pêra
o da bonança: porque em todo o mar
do Oriente nam ha tantos, nem tam
deshumanos ladrões. » Lucena, Vida de
S. Francisco Xavier, liv. G, cap. 8. —
« Contra a terceira he que diz bem,
se todos os Oppositores foraõ filhos do
mesmo pay, assim como eraõ netos do
mesmo avô; porque entaS o mais velho
seria o Morgado, Príncipe, e legitimo
herdeiro : mas sendo filhos de difterentes
pays, como eraò, devia-se o direito sii
áquelle, cujo pay o tinha :í coroa.» Arte
de furtar, cap. 16. — «Seria incompará-
vel a grandeza deste Príncipe se se ex-
perimentassem na Corte as mesmas feli-
cidades, que na campanha. Hum acci-
dente de ar que lhe tomou metade do
corpo sendo ainda menino lhe deixou
menos livres, e mais confusas as opera-
ções do entendimento.» Br. Bernardo de
Brito, Elogios dos reis de Portugal, con-
timiados por D. .José Barbo.^a. — «Ho-
mens d'estes: de maneira, que desta sol-
dadesca, que tanto custa à Fazenda Real
a pôr na índia, se perde a maior parte,
sendo a causa o desamparo, com que sè
trataõ os soldados naquelle Estado.» Ma-
noel Severim de Faria, Noticias de Por-
tugal, Disc. 1, cap. 3. — «Porém de-
pois da entrada dos Mouros, sendo o
poder dos Reys Christãos muito peque-
no, 6 naõ podendo resistir sempre no
campo, se recoUiião às Cidades, e como
estas estavaõ sempre em Fronteiras
assim como as tomavaõ lhe nomeavaò
Capitão, para que com os moradores,
que também faziaõ oflicio de soldados, se
defendessem, e vigiassem perpetuamen-
te, e o mesmo fizião os Mouros, pela
continua guerra, que lhes os nossos fa-
ziaõ.» Ibidem, Di.sc. 2, cap. ]2. — «Sua
figura hc como Pyramidal, sendo a baza
toda^a terra, que jaz deste cabo de Guar-
da Fuy, ate o cabo do Espichel, em cuja
distancia auerà bem perto de duas mil
legoas, sendo a terceyra a do cabo de
Boa Esperança; ficando todas três muy
apartadas, e distantes. A primeira come- '
çando das partes do Oriente he esta de
(Tuarda Fuy, que entrando pelo mar
Roxo fica à mão esquerda.» Fj-. Gaspar
da Cruz, Tratado das cousas da China,
cap. 7. — «O estado da perfeição dos
bispos são poucos os theologos que o ex-
plicam bem. Consultando eu muitos, o
que me pareceu melhor foi Soares, o
grande, que diz: consiste na disposição
do animo para obras heróicas. Preparado
estou para oôerecer fazenda e vida, sen-
do necessário, pelo meu povo.» Bispo do
Grão Pará, Memorias, publicadas por Ca-
millo Castello Branco, pag. 29. — « Não
foi convidado o cardeal Àccinoli, sendo
núncio actual, por estar a corte mal sa-
tisfeita do seu proceder, pelo que respei-
ta aos jesuitas, tomando o partido do car-
deal Rezzonico que os favorece e é nepo-
te do papa reinante Clemente xii.» Ibi-
dem, pag. 104. — «Chega o desattento a
tanto, que n'este trajo se acceitam visi-
tas ; e é cousa muito para evitar, por ser
tão pouco airosa para quem a offerece,
como para quem a recebe. Ambas as pes-
soas desestima quem a sua mostra sem
compostura a outra pessoa. Ao que bem
alludia um cortezão, que sendo convida-
do de um amigo, e d'elle mal agasalha-
do, lhe disse : Nào cuidei que éramos tão
amigos.» Francisco Manoel de Mello,
Carta de guia de casados.
SENDOS, aJj. pi. ant. Diz-so de dous
objectos da mesma natureza, que se refe-
rem, ou pertencem a duas pessoas, le-
vando ou tendo cada uma o seu. — Iam
em sendos cavaUos ; isto é, cada um d'el-
les levava o seu cavallo.
1.) SENE, s. m. Herva usada em me-
dicina como purgativa.
■ 2.) SENE, aclj. 2 gen. ant. CDo latim
senex^. Velho, idoso, ancião, decrépito.
■ SENEBIERA s. /. Termo de botani-
plantas da família das
seneca ;
ca. Género de
cruciferas.
1.) SENECA. Vid. Arsénico.
2.) SENECA, s. m. — FaUai
sentencioso, discreto,
^ SENECA, ou SENEGA, s.f. Polygala da
A'irginia, raiz medicinal.
"}■ SENECIO, s. VI. Termo de botânica.
Género de plantas da familia das com-
postas, que contem muitas espécies, al-
gumas das quaes teem propriedades me-
dicinaes.
T SENECIONIDEAS, s. f. pliir. Termo
de botânica. Tribu de plr.ntas, da familia
das compostas.
^ -j- SENECTO, adj. (Do latim senecius).
Velho, ancião, de edade provecta.
SENECTUDE, s. /. (Do latim senecfus,
utis). Senio, senilidade, velhice, edade
provecta.
SENEDRIM. Vid. Synhedrim.
474
SKNII
SEN II
SENH
f SENEGALI, ». III. Tmiut dn zoologia.
Sub-gonoro ile aves «la oniuiii 'los pas-^a-
ros o (lo píiiioro parilal, cuja CHpcuio ty-
pica lial)ita no Si;iui;,'al.
SENEirUDE. Vi'l Senectude.
SENEMBI. Vil. Iguana.
SENESCAL, ou SENECHAL, s. m. Eui
alguim jiai/.c.-i, inorloiiio-iinn", suporiutcn-
donto, oii vodor (l;i casa roal.
— Cliefo ou cabeça principal da no-
breza (lo povo íjuc a governa o.spocial-
nicnto oní ti-nipo <lc guerra.
— Juiz supremo, ou governador da re-
publica ou reino, ou do alguma parte
d'cl[e.
■[ SENESCALIA, *. /. (Dj senescal).
Dignidade, cargo ou emprego de senes-
cal.
— .Turisdicção do seno^cal.
— Logar onde o senescal exerce ou
exercia a justiça.
SENGO, fvlj. aiit. Prudente, sábio, avi-
sado, sabedor.
— r)Í3.simulado, que obra calando. =
Usado na jirovincia da Reira.
NiMii oUo o triste mostrongo
Lhe ha de valer o aor sciiyo.
I". MANOKI. I>K MEI.LO, ODIIAS MÉTRICAS,
pavt. 2, fl. 249, col. 2, em lUutoau.
SENGRADURA, s. /. Vid. Singradura.
SENHA, .'>■. /. Signal; indicii sensivcl
que serve para indicar alguma cousa ou
vir em seu conlieciniento.
— Aceno, gesto, etc, conhecido e com-
binado entre duas ou mais pessoas para
se entenderem.
— Moeda do chumbo que cada loja de
genei"os tem com a sua marca particular,
para dar as demasias, quando vendem
alguma cousa, que vale menos de um
real, e que por isso suppre as moedas
mais Ínfimas.
— Termo militar. Signal o nome, que
SC ajunta ao santo, nas praças de armas,
para se reeonheccrom as patrulhas.
— Senha <le //«caíco; Contramarca.
SENHEDRIM. Vid. Synhedrim.
1.) SENHO. Vid. Cenho.
•2.) SENHO, (fij. Vid. Senhor.
SENHOANEIRO, ou SENHOANNEIRO,
«((/. (int. |)o cada anno, annnal. Vid.
Sanhoaneiro.
SENHOR, s. Ȓ. Dono, po.ssuidor, pro-
prietário de qualquer cousa, quo tem do-
mínio sobre cila. — «E tanto quo o pre-
ço for pagado, ou offerecido ao vendedor,
logo esse comprador he feito senhor da
cousa comprada; e nom pagando, ou of-
ferecondo logo o dito comprador o dito
preço ao vendedor, poderá cUe cobi-ar a
dita cousa do comprador assi como sua,
quando quiser.» Ord. Affons., liv. 4, tit.
60, § 3. — «E o que mais dano lhe fez,
foy a morte de seus parentes o» sete In-
fantes de Lai'a, fillios de Gonçalo Gustio.s,
senhor da Villa de Salas, junto a Burgos
(quo jíl vimoH acima, om que gruo era
doHCondentf, do (."onde Dom Diogo l'or-
cellosj e il<! Dona Sane ia, natural do Ija-
ra.» Monarchia Lusitana, liv. 7, cap. 2').
— o() estrondo destes primeiros encon-
tros foi tamaniio que parecia outra cousa
maior, licando polo campo muiton cavai-
los sem senhores: e olles no cli.lo, c al-
guns maltratados.» Francisco de Moraes,
Palmeirim dlnglaterra, cap. 12. — «Cora
a chegada ilo junco ficou ellc senhor da-
(piei la passagem de maneira, (|ue a gen-
te da maior povoaçilo ria Cidade, (pie era
da parte de Upi, nilo podia pa<sar a ou-
tra onde El-Rey vivia, que AflFouso de
Alboquerque tomou.» Diogo de Couto,
Década 2, liv. 6, cap. õ. — «Gabo mui-
to, senhor meu, um conservar nas casas
certos costumes nossos familiares, o aTi-
tigos, que as fartam, alegram, c agasíi-
lliam, corroborando de novo o amor que
se tem ao senhor da casa.» l"^'ancisco
Manoel de Mello, Carta de guia de ca-
sados.
— Soberano, chefe, dominador, poten-
tado ; o que possue algum estado ou lo-
gar.— «Dom Johara pela graça de DEOS
Rey de Portugal, e do Algarve, c Senhor
de Cepta. A V(')S Corregedor da nossa
Corte, e a vos Corregedor da nossa Ci-
dade de Lixboa, e a todolos nossos Cor-
regedores das Comarcas de nossos Re-
gnos, e a todo-los outros Juizes, e Justi-
ças, a que esta Carta for mostrada, saú-
de.» Ord. Affons., liv. 4, tit. 24, § 1.
— «ElRey Dom Eduartc meu Senhor e
Padre de louvada memoria em seu tem-
po fez Ley em esta forma, que se se-
gue.» Ibidem, tit. 44. — • «D qual con-
trato fczerào (iuilheline de Crui, senhor
de xeures, e o doetor mestre loaõ sauuage
chàçarel mor dei Rei dom Carlos, e Alua-
ro da costa, e alem das quinze mil do-
bras Castelhanas que clrei daua cadanno
a Rainha donua Leanor sua molher pêra
despesa ile sua casa.» Damiiio de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 4, cap. 33.
— «Esta armada cm que Diogo lopez foi
ao mar Darabi i se acabou de aperceber
muitos dias autos que partisse, c porque
Milii]ui:iz senhor de dio dissimuladamcn-
tc mandaua suas fustas fazer todo o mal
que podessem aos Portugueses, e a seus
amigos. o Ibidem, cap. 36. — «Este ne-
gocco durou desde pela manh.ní ate meo
dia, a qual hora vendo Fernani pei-oz
que nam aiiia mais que fazer que aferrar
os jungos de Pateonuz que se hiam aco-
lhendo por lhos o vento seruir, mandou
passar a sua nao alguma gente das ou-
tras pêra com mor auantajcm os ir co-
meter, c porque Pateonuz hia diante do
Temungam senhor do Poliuibam.> Ibi-
dem, cap. 42. — <íO qual negocio Puro
d'Euora fez com muita diligencia, o ou-
tro mais principal, que f»n fuer paz com
Hczcguiclie senhor daquella costa, donde
ficou o nomo que hoje tem aquclle por-
to.* Barros, Década 1, liv. 3, cap. 1. —
« E sobre fUm com iiia<;ii auctoridade era
Namb -a larij, senhor da comarca Repc-
liru que o^tà ao pé da i<urra: a qual co-
marca ho hum posto donde se colhe a
melhor pimenta de toda a(|uella costa.»
Ibidem, liv. 7, cap. 1. — «No qual tem-
po (pie idlc andou na.4 p;acrras, que o Sa-
bayo Senhor de Goa tinha cora seus vi-
zinhos, ganhou tíinto credito, (jue o fi'Z
Capitilo <i alguma gente.» Idem, Década
2, liv. 6, caji. !). — «Tudo a fim de a
nobrecer, e fazer senhora do princi|ial
poder, e força, com que os senhores do
sertão, que era EIR'\v de Narsinga, e os
Capitilefl do It-yno Decan, se faziam po-
(lerosos huns contra os outros, que eram
estes eavalhjs (|ue lhe hiam de Pérsia, e
Arábia.» Ibidem, liv. 7, cap. 7. — «Po-
rém ellc durou pouco no ratado, porque
o mesmo Rey de Adem teve mcKlo como
o mandou matar, e poz i>or (iovernador
da terra hum seu escravo com gente do
guarnição, e assy ee fez senhor da ter-
ra, de que El Rey de Adem tinha homa
grande renda, principalmente da pesca-
ria de nljofre que se alli faz.» Ibidem,
liv. 8, cap. 2. — «E depois de assi ser
nestes Reynos casou cora dona Violante
de Tauora, molher de niuy nobre gera-
ção, e ouue delia hum filho, que se cha-
ma dom António Dataide, que ora ho
Conde da Castanheira, Senhor de Pouos,
e Chileyros, Aleayde miir de Alegrete, e
de Colares, e Veador da fazenda dei Rey
nosso senhor, homem de rauyto grande
estima, e muyto aceito a el Rey, e de
muyta valia.» (larcia de Rezende, Chro-
nica de D. João II, cap. 54. — «Est^-s
fizeram muitas guerras a Carabaya c
nella mtiitas entradas sam senhores ago-
ra do finite e do reyno do Delli, que he
muy grande reyno na terra dentro alem
do finiJe, e polia terra dentro chega aos
confins de Cambava.» António Tenreiro,
Itinerário, cap. 4. — «Que jwis éramos
hospedes em Diu, nào convinha dar leis
como Senhores ; e que levarião aspera-
mente os moradores o qne lhes ordena-
vào seus Reis, tolher-lho seus vÍ8Ín'ios ;
ipie de vassallos alheios devíamos querer
amizade, e nào obediência.» Jacirtbo
Freire iPAndrade, Vida de D. Joào de
Castro, liv. 2.
Ja Mp1íiH'o To<»o, sfnhor àn torm,
Antes iconio vos ja disso» sabia
Poâte grande apparato. desta guerra,
Que diant'^ do si agora \-ia :
Tambcm diz-íc que dentro lojro encerra
Munições, mantimento, artilharia.
Armas, gente, e tambcm rcpaira o muro,
Miia com isto não so ha por bem seguro.
FBASCISCO DASnRADE, FEIIIKIBO CEECO DE DIC,
cant. 2, Cât. 3õ.
— «E assim juro em todo o qne pelo
dito Senhor, e por aqnellcs, que para
elle seu lugar tiverem, me for mandado,
SENH
SEXH
SENH
47Õ
que de meu ofíScio de Passavante faça, e
farei toda a fidelidade, cuidado, e dili-
gencia, assim como devo, e saõ obriga-
do fazer ao serviço de meu Rey n.itural,
e Senhor.» ^Manuel Severim de Faria,
Noticias de Portugal, Diíc. 3, cap. 19.
— «Pelo que de officios se ficarão fazendo
dignidades, como aconteceo quasi aos Ca-
pitaens deste Rsyno nas Ilhas, e no Bra-
sil, que de cargo ordinário se lhes deu
em ^ddas, e fez hereditário, de modo que
tanto monta agora chamar a hum homem
Capitão de huma Capit:inia do Brasil,
ou de huma Ilha como Senhor, e Gover-
nador delia.» Ibidem, cap. 23.
Mais crime não teriam que a vontade
Do imperioso senhor que a seus vassalloâ
Villões de sua terra — seus como ella —
Quiz do poder que tem mostrar a alçada !
GARRETT, CAMÕES, Caut. 7, Cap. 3.
— Termo de cortezia, fallando com al-
guém, ou d'alguem superior, egual ou in-
ferior.
Das cayxas envernisadas
crede, senhor, que m"abalo,
porque ssam moas douradas,
emxarrafadas
nas quacs agora nam falo.
cAsc. DE REZEiíJE, tom. 3, pag. 2i2.
— í E depois desto o dito Senhor Rei
Dom Joham fez outra Hordenaçom, e de-
claraçom acerca das pagas, que se ham
de fazer das moedas antiguas, em esta
forma que se segue.» Ord. Affons., liv. 4,
tit. 1, § 50. — «E com estas declaraçoões
mandamos que se cumpram e guardem as
ditas Levx pelos ditos Senhores Reyx
meu Avoo e Padre assy feitas, e por nós
declaradas como dito he.» Ibidem, tit. 2,
§20.
Dum filho d'arauha morta !
E maia eu te provarei
Que hum cavallo dElRei
Estercou á minha porta.
Honrado senhor Juez.
Eilo.
Gn. VICEKTE, FARÇAS.
— « E por muyto mao trato, que a
gente tinha recebido, e por os murtos fe-
ridos, que .auia, e também por lho pedi-
rem o Arcebispo de Toledo, e outros se-
nhores, que ahy com elle erào, se foi
com grande triumpho, e vagar, com suas
bandeyras tendidas, e trombetas, e ata-
bales á Cidade de Touro, onde entrou, e
esteue com muyta tristeza até o outro
dia, que soube nouas dei Rey seu pav,
de que ficou muyto ledo, e logo lhe man-
dou muyta gente com que veo a Touro,
onde a Raynha, e o Príncipe estauào.»
Garcia de Rezende, Chronica de D. João
II, cap. 13. — íE sendo ja o senhor dom
Manoel em Freixinal, ViUa do estremo
de Castella, porque as taes terçarias se
destizerào, sua ida nào foy mais necessá-
ria, e se tornou a Corte. E el Rey com
toda a casa que lhe tinha dado o reco-
Iheo, e criou depois em sua cama, mesa,
e nos concelhos, é boas doutrinas com
mostranças, e obras de verdadeiro amor
de filho.» Ibidem, cap. 47. — «Por cer-
to, senhor cavalleiro, já agora pareceria
erro negar o poder á loríuna, pois vemos
ante nós desbaratadas as forças de Braco-
lào e Baleato por vossa uiào, cousa que ao
parecer muito é pêra duvidar. » Francisco
de iloraes, Palmeirim d'Inglaterra, capi-
tulo 108. — « Achando-se tão desconten-
te, que, esquecido da posttu-a, arrancou
da espada, dizendo a Florendos : Senhor
cavalleiro, inda que vos nào pedisse mais
que justa, peço-vos que façamos batalha
das espadas, que em fim, se me vencer-
des, tudo será pêra mais honra.» Ibidem
cap. 109. — « Acabado este cumprimen-
to, fez o mesmo com Polinarua, pondo os
giolhos no chào: e ella o tomou pola mão
dizendo : A tempo estaes, senhor Floria-
no, pêra pagardes a afi"ronta em que hoje
pozestes á senhora Lionarda em lhe de-
fender o caminho, se me nào lembrasse
que em troco desta oftensa lhe fareis ou-
tros serviços com que se tudo satisfaça.»
Ibidem, cap. 112. — « Mas o das donzel-
las lhe disse: Senhor cavalleiro, eu não
mandei pedir licença mais que pêra es-
tes primeiros encontros, deixai-me justar
co'es30utros senhores, que ahi estão (por-
que ja ao tempo que isto passava, eram
no terreiro cinco cavai leiros) e se de suas
mãos ficar pêra poder fazer batalha, cum-
prir-vos-hei a vontade.» Ibidem, cap. 123.
Ah SetUior Amphitriào,
Onde está todo meU bem !
Pois meus olhos vos nào vem.
Paliarei co'o eoraçào,
Que dentro u'alma vos tem.
CAM., AUPHYrHiÕES, act. 1
SC. 1.
Figuradamente :
Pois cá o senhor peccado
não abate o seu quiuliào.
O senhor peccado nào,
que elle me deu, arvorado
em Adam, gentil guião.
ANTOSIO PRESTES, ACTOS, pag. 5Õ.
— Personagem de muita distincçào, e
de alta gerarchia, homem de grande es-
tado, que mantinha mesnadas e dava
soldo; nobre, fidalgo.— «Dom Affonso o
Quinto per graça de DEOS Rey de Por-
tugal, etc. Poeemos por Ley geeral, e
mandamos, que se algum homem ou mo-
Iher viver com algum Senhor ou anio, de
qualquer condiçom e estado que seja, a
bem fazer, sem fazendo avença alguã por
certo preço, ou quantidade, ou alguã ou-
tra cousa, que aja d'aver pelo serviço
que assy fizer.» Ord. Affons., liv. 4, ca-
pitulo 28. — «Xa terra ia hi muitos ho-
mens, que em ella vivem, e naõ ham.
mester algum, nem vivem com Senhores,
e he de presumir que vivem de mal fa-
zer.» Ibidem, tit. 34, § 1. — « Feita ora-
ção tornarão a caualgar, e forão comer,
e dormir a Taueriola, que he dalli três
legoas. Ao dia seguinte se foi el Rei ca-
minho de Guadelupe, pêra ahi ter ha Pás-
coa, no qual caminho ho veo receber ho
Mestre de caualleria da Ordem Dalcan-
tara, e outros senhores, que se logo tor-
narão pêra suas casas, porque sôs aos
Duques de Medina Cidonia, e Dalua era
ordenado, que acompanhassem el Rei, e
ha Rainha ate Toledo.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 1, cap. 27.
— « Foi tanto ho prazer, e aluoroso del-
les, que el Rei dom I''ernando sahio da
camará, e dixe alta voz com muita ale-
gria a todos os senhores, e caualleiros,
que estauão em outra ca.=a de fora, dem
graças a Deos que temos filho baram.»
Ibidem, cap. 32. — « Mas isto lhe apro-
veitou pouco, porque antes que saisse do
turcol, os mais dos Reis, e senhores, que
o ajudaram na guerra (antre os quaes foi
o senhor de Repelim) mandaram pedir
paz a Duarte Pacheco, a qual lhes con-
cedeo per vontade e parecer dei Rei de
Cochim, ficando el Rei de Calecut de fora,
auendo ja quasi cinco mezes, que duraua
a guerra em que o Çamori Rei de Calecut,
como se achou per conta de seus scrivàes,
perdeo dezoito mil homens, os treze mil
denfirmidades, e os cinco mil ras pelejas,
e muitos tiros dartelharia, e fustalha.»
Ibidem, cap. 92. — «Do que sendo el
Kei anisado por cartas do mesmo loam
roiz lhe despachou hum correo, com car-
ta pêra a Rainha Germana, molher dei
Rei dom Fernando, e pêra o Infante dom
Fernando, filho dei Rei dom Phelipe, e
neto do mesmo Rei dom Fernando, e assi
pêra alguns grandes, e senhores de cas-
tella, mandandolhe que os visitasse em
pessoa, estando na corte, e communicas-
se, e tratasse com elles algumas cousas
de seu seruiço.» Ibidem, part. 4, cap. 1.
— « Ao grande senhor de mando gouerna-
dor, grande capitam dos grandes ; e maior
dos maiores capitães deste tempo, Leam
bemauenturado capitam mor, e gouema-
dor das Índias.» Ibidem, cap. 11. — «E
ao outro dia foy o Príncipe dormir á tor-
re dos coelheiros, e a terça feyra vespora
do dia do corpo de Deos foy dormir a Euo-
ra, e com elle ambos os Duques, e muytos
senhores com muyta gente.» Garcia de
Rezende, Chronica de D. João II, cap. 43.
— « De maneira que logo el Rey dom
Affonso ficou como dantes era, e o Prín-
cipe no mesmo dia se tornou a chamar
Principe, de que foy de todos em estremo
muyto louuado, e foy grandissima virtu-
de. Aos senhores, e fidalgos que com el
470
SENII
Roy Hcii pay vinhrio, fez imiytíi Loura, c
gíisalluilo, lí as^i renobnu tola os iiiai.s
coiu muytu amor.» Ibidem, cap. 18. —
«E á inòya imitt} fViy <» corpu «lei Kuy lo-
uado 0111 tmma tumba, cubcrto «le veludo
preto, c o.icima Imiiia Cruz de damasco
branco, juiáto encima do liuiiia azemola
cuberta com hum grande repoatoiro de
veludo preto, com inuytaa tocluis, á Sé
de Sylues com innyta triítcza, e iiiuytos
grandes prantos dos senhores, e fidalgos,
caualleiros c pouos ([ue alli urào, o acoiu-
panhauào.» Ibidem, caji. 214. — «E vie-
ram a Eiiora iiiuytos senhores do Cas-
tella desconheci' los a ver as testas, cm
que entrou hum irmam do Almirante, tio
dei Key, e pessoa luuy principal, que ol
lley desejou de ver, c soube hum dia co-
mo estaiia em casa da Princesa escondi-
damente, o de supito foy dar de noite
com elle, e o dcseinbu^ou, e abraçou com
rauyta honra c agasalhado, e rogou muy-
to que descubertamente viesse ao paço.»
Ibidem, cap. 128.
K lojío foy Cardeal,
c senhor tam principal,
govcniador de Castella,
([uu morreo como Uoy delia
tomou Ouram scudo tal.
lUKU, MlSCHLLA^KA.
E também em Portugal
vimos outro caso tal
era outro luuy grão senhor
de tal poder e valor
que nõ tinha seu ygual.
IBIDEU.
— « Pode se crer que este muro nam
lie continuado se uam que se aníreinetcin
alguns montes ou serras, porque me affir-
mou hum senhor da Pérsia que avia se-
melhantes obras nalgumas partos da pér-
sia, com se antremeterem outeiros ou ser-
ras.» Fr. Gaspiír da Cruz, Tratado das
cousas da China, cap. 4. — «E ao em-
baixador da Cauchenchina, por ser es-
trangevro, conceJoo cpie na sua terra pu-
desse legitimar por novos parentescos os
quo por isso lhe dessem diuheyro, e dar
nomes de titulos honrosos aos senhores
da corte, assi como el Rey o fazia, de
que o triste embaixador se ouve por tào
honrado.» Fernão Mendes Pinto, Pere-
grinações, cap. 127.
— Amo, a respeito dos criados, ou es-
cravos. — (lEstavaõ em seu -campo pouco
mais de três mil e oito centos homens,
dos quaos os quatrocentos ci-aõ escravos
pretos, que fugindo a seus senhores, se
vioraõ ao exercito com esperam^a de li-
berdade, e com ser o número de gente
taõ pouco, era o mais delia trazida de
suas casas por fort;a sem armas, nem dis-
ciplina militar.» Fr. líeraardo de Brito,
Elogios dos reis de Portugal, continua-
dos por D. José Barbosa.
tíENH
Kscovuc ca:ie chupéo
e co;)ao e.sse inuiitco ;
olliai', iião orti-is um dedo.
Uescali;.a alli tuu teiJior :
Senhor, quereis-vos deitar?
AUTOMIU ritKÍTKB, AUTOS, pag. 111.
Infames !
Xào rcapoudea ? — Somproiiio em ferros! Falia,
Semproíiio, cxplica-me ente enigma. Voltai)
Como um escravo a seu senhor: — oscravoa
Sào para Cesar ; n'<4tes pobres muros
Não os lia. •— Immudeces ? — K tu, priucipc,
Tu calladú tambum ? Falia, uào temas :
Teus soldados ahi estáo.
OAintKrT, CATÃO, act. 4, 8C. 4.
— Por antonomásia, applica-se a Deus.
« Ordenou el liei capitulo no couven-
to de Tomar, pêra entender em algu-
mas desordens, que auia nos comnienda-
dores, e freires da ordem de nosso senhor
Jesu Christo.u D.imiào de lioes, Chroni-
ca de D. Manoel, part. 1, cap. 7;>. —
«Por este nosso embaixador Jklatkeus vos
enuiamos huma Cruz do lenho, eui que
foi crucificado nosso Senhor lesu Christo
em llierusalem, do que me foi trazido díi
mesma cidade de llierusalem, de que fiz
duas Cruzes.» Ibidem, part. 'à, cap. ò[).
— <i Mas como digo era isto pella culpa
original, por aquella niascarra e nódoa
que herdam e trazem todos os nascidos
filhos d'aquelle primeiro trcdor Adam.
Aqui vereis irmãos quanto Deos auorre-
ce e estranha, e voos dcueis fugir dum
peccado mortal, pois que o Senhor tanto
abomina e castiga o peccado original dos
nonainente nascidos : o qual he muyto
menos peccado que o mortal, quasi como
huma nódoa e i'aça do peccado mortal
que Adam cometeo.» Fr. Bartholouieu
dos Martyres, Catecismo da doutrina
christã. — «E o Apostolo sam Pedro diz,
Pois o senhor padeceo em carne, armeu-
se os Cm'istàos, com propósito de pade-
cer por elle. E sam Paulo nunca cessa
de nos encomendar isto, dizendo.» Ibi-
dem. — «Nam diga de vos o Senhor o
que disse ue outros: Este poui que e^ta
ouuiudo esta Missa, com os beiyos me
louua, mas seu corai;am esta<i longe de
mim. Ay daquelles que nem com os bei-
ços alli o louuam, alli mesmo dando a
íiugoa ao mundo, e a seus negócios.»
Ibidem. — «Como eu, e meu còpauheyro,
tinliaiiios as licenças largas jiera o lleyno,
e vimos nào ser vontade lio Senhor, le-
namos a elle por inar, achamos que tudo
vinha do sua sancta mào. Pelo que nos
n.ào entristecemos, antes lhe demos gra-
ças por assi o permitir.» Fr. ti aspar da
Cruz, Tratado das cousas da China, wip.
Tl. — ii(*s Portugueses os comprarão, e
tízerào baptizar, e delles vi eu dous nes-
ta Cidade de Lisboa. Com esta mercê
que nosso Senhor nos fez, entendemos
ser-lhe nossa via,i;em aceyta, porque quan-
do delia uào tiráramos môr bem que o
presente, este bastaua pêra a termos por
SENII
boa, e acertada.* Ibidem, cap. 6. —
«.Mas assi como nem os do EgypUj, nem
os Arábios, venerSo a (Jruz por CiiuiSTO
Senhor ikíssu nella morrer, seiíAo mj por
o terem por custumc de hcus antepassa-
dos. Assi também os de Sacatorá, a nam
honrilo, mai.i que no uio lo que ja fica
dito.» Ibidem, cap. U. — «Quando vi sa-
hir tanta gente c soldados, aiiartey-me
de tudos, e virando-me contra clleo, pu8
os olhos no Ceo, e disse Pode Senhor cm
mi 08 de vos.sa misericórdia. A di.'iteyme
de todos, c fuy receber os que vinbàu,
com a angustia, e desejo que nosso Se-
nhor sabe.» Ibidem, cap. 10. — cAnted
o Demónio que o enganaua o indazia a
couimeter erros mais cratssos, e supinos,
sem auer amoestaçòes basUmtes a dissua-
dillo delles. E vendo Deos nosso Senhor
que sua Misericórdia neile, era motino, e
causa de sua insolência, e principio de
mais frraues culpas, c peccados: Mandou
hoje faz coreu ta annos hum tremor de
terra nesta Cidade, com que cahio a
mayor parte delia, de que fuleceo muyta
gente, por ser de noyte, e a deshoras.»
Ibidem, cap. 13. — «De sorte que a lin-
goa Hebrea, ([ue foy a primeira do mun-
do, como afBrma S. Hieronymo se tor-
nou aqui cí^ifusào, que isso quer dizer a
palaura, Babel, por quanto nesta obra a
confundio o Senhor, a todos aquelles que
trabalhauào nella.» Ibidem, cap. 18. —
«No cabo destes dias quiz nosso Senhor
que chegamos á enseada do Nanquim,
que o Similau nos tinlui dito, e com es-
perança que daly a cinco ou seis dias
veríamos o offeito do nosso desejo.» Fer-
não Jlendes Pinto, Peregrinações, cap.
73. — «Nas cousas duuidosas se estiuer-
des incerto, e perplexo, no que aueis de
fazer recorrei a Deos, que vos allumee e
tendo opportuno lugar, consultai a algum
varào espiritual, desejando conhecer o
que mais será conforme a vontade do Se-
nhor, e que esta em todas vo.ssas obras
se cumpra perfeitiimente, e dizei em vos-
so coração.» Fr. Bartholomeu dos ilar-
tyres, Compendio de espiritual doutrina,
cap. 10. — «Senhor Deus, Jesu-Christol
— exclamou o abbade, com um gesto de
terror, que, nào sei porque, nelle tinham
can.sado estas palavras.» A. Herculano,
Monge de Cister, cap. 2.
' — Senhores ilt Jwnras e Muto»; que
tinham o senhorio daã terras honradas o
coutadas, c recebiam dos vassallos e mo-
radores ii'ellas serviços e foragens, e ti-
nham sobre eltes jiu-isdicção e punham
juizes, ete.
— Senhor da hosU ; o general do exer-
cito, o chefe.
— Fazer-se senhor ; apoderar-se, apos-
sar-se, senhorear-se. — «A segunda ve«.,
que .Afonso dalbuquerque ganhou Oca^d
que Pulatecam andaua leuanuulo. e sen
licença do Çabaim daleào viera sobclas 1
nadarias da terra tirme, e entrara a ilb
SENH
de Goa, com tençam de se fazer senhor
de tado, que lhe peiia que o quizesse aju-
dar contra elle, e lançallo da ilha.» Da-
mião de Góes, Chronica de D. Manoel, part.
3, cap. 21. — «E ao mesmo tempo que nós
entramos na Índia, de dezoito capitães
que Mamud ordenou, ja huns se tiuhào
feito senhores do estado dos outros, de
maneira que nào auia mães que estes.»
Barros. Década 2. liv. 5.
L-ap,
2. — «Ao
qual Mouro per nome Hacein Bec a for-
tuna favorecso tanto, que matou em cam-
po a Mirzá Geuuxá, e se foz senhor de
todo seu estado.» Ibidem, liv. 10, cap.
6. — «Porque com toJus argumentava,
e de tudo dava razaò : e entre as cousas
notáveis, que se deixou dizer, foy huma
a mais admirável de todas, que já elle
teria posto de ré a Fé de Ctu'isto, em-
brulhado o género humano, e se teria
feito senhor do mundo absoluto, se Deos
lhe naò prohibira três cousas : a primeira
bulir lia Sagrada Escriptui-a: segunda
falsificar cartórios : terceira dar dinhei-
ro.» Arte de furtar, cap. 64.
— Senhor de, baraço e cut-ello; aquelle
que tinha direito e jurisdicçào para casti-
gar até com pena de morte.
— Senhor ds si; em perfeito juizo,
sem perturbação, sem paixão, que con-
serva sangue-frio no meio lios lances dif-
ticeis e arriscados.
— ■ Grào senhor; grào turco, impera-
dor da Turquia.
— Ficar senhor do campo; vencer a
batalha, tendo afugentado d'elle o ini-
migo.
— Figuradamente : Ficar senhor do
campo; ficar vencedor em qualquer dis-
puta ou contenda.
— Senhor de si, de suas acções; livre,
que liài.i depende de outrem.
— Descançar em o Senhor ; morrer em
boa opinião de virtude.
— Aiit. Pae.
— - Termo de astrologia. O planeta do-
minante em uma casa.
— Adágios:
— Perdi meu senhor, mal fallando,
ouvindo peor.
— Quem a dous senhores ha de ser-
vir, a algum ha de mentir.
— - Quem serve a dous senhores, a al-
gum d'elles ha de aggravar.
— Serve o senhor, saberás que é dôr.
— A quem uizes teu segredo, fázel-o
senhor de ti.
— Baldão de senhor, e de marido.
— Ruim senhor, cria ruim servidor.
— Hospedes jm-auí, senhores, se fa-
rão.
— De leal e bom servidor, virás a ser
senhor.
— Faze o que manda teu senhor, e as-
seiítar-te-lias com elle ao sol.
SENHORA, s. /. (De senhor). Ama ou
do!:a de casa, a respeito de seus criados I
ou escravos.
SEXH
— Termo de cortezia, quando se falia
com alguém ou d'alguem superior, igual
ou inlerior. — «A qual senhora iniante
eu vi, e lhe lallei na mesma cidade de
Cracouia, onde eutaò staua com sua ca-
sa, e estado, em hum fermoso Castello
que na cidade ha, molher muito discre-
ta, e de bom parecer.» Damião de (joes,
Chronica de D. Manoel, part. 1, cap. 101.
— «E com a ssuaora Duquesa ficou huma
tiiaa menina, que auia nome dona Mar-
garida, que nestes Reynos dahy a pou-
cos aunos faleceo.» (j areia de Rezende,
Chronica de D. João II, cap. 44.
Porque moura cada hora
uam in 'acabais de matar,
c por me mais magoar,
quando me mataes, senhora,
nam dais á morte iugar.
A vida vóâ a matais
pois a nam deixais xáver,
asai que nam pe^o mais
que deixar de lá morrer.
CHBISIOvlo FALCÃO, OBRAS, pag. 19.
• — «O cavalieiro, que me dizeis que
entregue, nao está aqui, e se estivesse
de ma vontade Ine fana esse aggravo ;
nem creio que se eiie trouxe a senhora
Targiana, que seria senão por sua vonta-
de e conseiitimento a'eila.» Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Ingiaterra, cap. 9'à.
— «Eniào poudu os oiaos neila, depois
do escudeiro partido, Itie disse : Senhora,
pai"ece-vos que quem á miniia porta, e
cstaudo comvosco me vem defender as
estradas, que o faria melhor sendo em
parte onde vos eu nào tivesse por vaie-
dora.» Ibidem, cap. 111. — «Onegando
ás tendas, a mesma donzella que fizera
partido com o do Salvage, Ine ueu conta
do que estava coucertaao. Senhora, disse
um delles, por vos dar contentamento
tudo se ha de aventurar; mas quem que-
reis que se ponha a risco de vos peider
por ganhar uennuma cousa.» Ibidem, cap.
llti. — «Senhora, uin cavalieiro estra-
nho, em cu_^a cumpaniiia veniio, diz, que
passando pur esta lerra desejoso de ser-
\'ir ai rei, trazia determinado com ne-
nhum de sua casa fazer armas, ainda
que a fortuna ou o tempo oÔerecesse cou-
sa em que lhe fosse necessário.» Ibidem,
cap. l'À'à, — «Parece-me, senhora, que
lhe deveis conceuer o que pede ; assim
por fazer a vontade a elle, como por nào
aggiavardes vossas damas, que todas que-
rerão ver o que tem em quem as serve. »
Ibidem. — «Eu farei o que me mandais,
disse Aibayzar, pois foi postura d'antre
nós, e com tudo alguma hora, se eu vi-
ver, presentarei essa vossa cabeça á se-
nhora Targiana em %'ingança da offensa,
que hoje recebe por minha fraqueza. Des-
ta vez ficareis assim, disse o oas Donzel-
las, que pêra adiante, quando nos virmos
nos entenderemos.» Ibidem, cap. 124.- —
«Por certo, senhora, disse a outra, nào
SENH
477
vejo cousa de que vos devais aggravar,
que o cavalieiro do Salvagem, se vos nega
o que lhe pedis, ou o que delle desejais,
é pêra mais vossa honra; nem creio, que
em homem tão esforçado e de tão real
sangue caiba soltar palavras pêra enga-
nar ninguém com ellas, senão antes creio,
que fará por vós mais do que promette.»
Ibidem. — «Fez o que não devia a seus
irmãos, perdeu o seu património, tudo
de vossa causa, e sobre isso põe sua pes-
soa em vossas mãos e se acha despreza-
da de vós. Senhora, disse o do Salva-
gem, são as noites tão pequenas e ha
tanto que responder, que não bastaria o
espaço que delia" está por passar pêra o
poder fazer.» Ibidem.
Dizei, Senhora, da beUeza idêa,
Para fazerdes esse aureo crino.
Onde fostes buscar esse ouro fino ?
De qucscondida mina ou de que vêa ?
CAM., SOXETOS, n." 27Õ.
Senhora, se me atrevi,
Fiz tudo o que Amor ordena :
E se pouco mereci.
Tudo o que perco por mi,
Mereço por minha pena.
IDF.M, FILODEMO.
— « Dar-lhe-heis esta carta ; e fazei
muito com ella que a dê á Senhora Dio-
nysa; que me vai nisso muito.» Ibidem,
act. 2, SC. 4.
Senhora, não zombo, não.
Vejo eu Amphitrião,
Ou a vista me affigura
O qu'está no coração?
CAM., .tMPHYiBiÕEs, act. 2, SC. 2.
Certidão que não dizeis
coração, mas tudo liugoa ;
juramentos vem e vão,
— senliora, mouro por vós —
6 elles trazem amor na mào
com pios e caparão,
pêra o nosso nas pios.
AliTOXIO PRESTES, AUTOS, pag. 183.
Olhae cá. senhora prima,
cstimae quem vos estima :
se vos quizereui, querei ;
lei com quem vos tiver lei.
iBiDEU, pag. 333.
— « Foi um frade, minha senhora, foi
um frade bento, foi D. fr. João de S. Jo-
seph, cuja biographia filtrou ao cérebro
de V. ex.* essências nieotinas de que o
seu bocejar, como espectáculo de formo-
sos dentes, me está dando, se não lison-
geiro, compensativo jubilo de a ter aca-
lentado para um doce dormir.» Bispo do
Grão Pará, Memorias, publicadas por Ca-
millo Castello Branco, pag. 39.
— Dona de qualquer cousa, que tem
domínio sobre ella. — « E se vos bem pa-
recer, devemos ir la; ao menos repousare-
478
SENH
SEXH
SENH
HUM alfíum esparii, i|'ii! a senhora do em-
tello, a f|iiem o dei, é a própria, quo que-
riam iori.ar, o no-* fanl todo Hcrvi(;o. Va-
mos, disso Fiorcndoa, quo não «into em to-
da esta terra outro povoado mais perto.
Mas eoino aquella casa tivesse já trocado
08 moradores o nilo o» que All)ayzar cui-
dava, ant''.s de ciíefrarem ao pé da Forta-
leza saliiu um escudeiro a clles : traz eiio
algum tanto arredados ficaram quatro ca-
vaíleiros aruiados de fortes e lustrosas ar-
ma».» Francisco do Moraes, Palmeirim
d'Inglaterra, cap. 90.
— Díuiia de distinc^'ào, nobre, fidalga.
— «Esto Duarte sexto foi casado com
donna Plielippa, filha do iloni (luiilierme
conde de llainaut, da qual senhora ouuo
sete fillios, e três fillias, dos quaos foi iuim
o Infante dom loào de (iand. Duque do
Lancastre, e outro mais moço que se cl\a-
niou E Imund de Langlei, Duque Ebo-
rum. Conde de Cambrix, e Duque Dioi--
ça.» Damião do Gocs, Chronica de D.
Manoel, part. 3, cap. 24. — « Este casa-
mento contratou el Hei dom loam ter-
ceiro, com dom Theodosio irmão desta
senhora, sendo Ja seu pai delles ambos
ja talleeido, lio qual dom Theodosio, pelo
grande amor que lhe tinha, e desejo de
a ver casala com hum tam virtuoso Prín-
cipe, entre outras cousas que lhe deu em
casamento, foi a villa de Guimarães, com
o titulo de duque.» Ibidem, cap. 78.
Fomo3 a Vilh.i Oastim,
K t"alloii-uo3 0111 latim :
Vinde ca diiriui a liaiu'hora,
E trazci-mo essa senhora.
Asii que ho tudo nada em fira ?
Kaporac, aguaidac ora.
OIL VICENTK, F.lllÇAS,
— «o imperador, Primalião e Polcn-
doB se foram a uma janella vêr a bata-
lha, a imperatriz e outras senhoras a ou-
tras de seu aposento. Albayzar, assim
fraco como estava, se poz onde os podia
vêr, desejando victoria «aos gigantes, a
qual não duvidava segundo suas disposi-
ções. Nào lembrando-lhe que na batalha
injusta ás vezes monos fori;a tem os ho-
mens que a razào. » Francisco de Moraes,
Palmeirim d'Inglaterra, cap. 05. — aPcra
isto a rainha Oarmelia, sua avo, quiz que
a prineeza viesse a estar em vossa corte
alguns dias, pêra que o mariílo, que lhe
desse Palmeirim, fosse da convei-sayão dos
cavalleiros desta casa ; e ella neste tempo
passasse os dias em companhia de vossa
neta e das princezas e senhoras, que era
vosso paço a'idani ; porque da li fique a
Amizade e costume delias, quo quando
são bons, ê outro património melhor que
03 dos bens temporaes.» Ibidem, cap. 104.
— « Nào vos engane isso, disse Floren-
dos, que já estiva prestes, que essa se-
nhora sii pêra com os seus tem a coudic-
ção áspera e a vontade esquecida. E pois
vossa tcnçUo é just.ir, tomai do campo o
ncccHsario, que em quanto poder voa sa-
tisfarei a vontade.» Ibidem, cap. U)9. —
«Que vi)3 SC o vencerdes a elle, levareÍH
uma daquellas senhoras, que coiiiiiigo
tiaz, qual mais vn.s pedir a vontade. Bem
se parece, respondeu o outro, que meu
amor e o seu silo desiguaes, que elle, d'a8
estimar tão jiouco, lhe vôm não sentir ô
poso de as trazer.» Ibidem, cap. 1215. —
« E-ta.s senhoras .são nove, partamol-as
polo meio, c o quo levar as quatro, leve
antre cilas essa senhora maior de corpo,
dizendo isto por Arlança, que assim me
parece ficará o partido igual.» Ibidem,
cap. 120. — «A Infante D. Joanna, que
casou Com el Kei Henrique o quarto de
Castella, e foi niãi da Exicllente Senho-
ra. Teve mais de huma senhora nobre da
geração dos Maneeis a D. Joaõ, que foi
frade do Carmo, e Bispo de Ceuta, de-
pois da Guarda, e Capellaõ niór dei Rei
D. Aftbnso o quinto, c mui seu valido.»
F^r. Bernardo de Brito, Elogios dos reis
de Portugal, continuados por D. José
Barbnsa.
— Por antonomásia, a Virgem Maria.
Pois porque viestes ora
Ciiiisar A frira de pó ?
Porque nos dizem que hc
l'\'ira d<i Nosâa Heiihora :
E vedes aqui porque.
QII. VICKSTE, ALTO DA FEIRA.
— «E crea V. Senhoria que só das
jóias de Chaul, pode íiizer a guerra dez
annos sem se acabarem de gastar. E a
merc3 que peço a V. Senhoria he, gastar
logo estas minhas na ida do Senhor D.
Álvaro, porque eu espero em Nossa Se-
nhora, que haja elle tamanhas victorias,
quo se escuse a ida, e trabalhos a V. Se-
nhoria.» Jaeintho Freire de Andrade,
Vida de D. João de Castro, liv. 2. — «Ins-
tituio huma Confraria que chamaõ da
Corte á honra Ja Conceição da Virgem
Senhora Nossa, e dos Martyres S. Roque,
e S. Sebastião, a cuja honra fundou na
Villa de Almeirim huma Igreja, e Hospi-
tal.» Fr. Bernardo de Brito. Elogios dos
reis de Portugal, continuados por D. Jo-
sé líarbosa. — « De maneira que dos
Christàos aprouou hum s(') Deos todo po-
deroso, c os milagres do Christo S. nos-
so, e algumas cousas dos Euaugclhos, em
especial as que tocauão a Virgem Maria
N. Senhora, cõfessando em seu Alchorã
sua virgindade pura e limpa, assi no par-
to, como antes, e tlepois delle, obrigado
a todos lhe tiucs^em muita deuação, e
reuoreneia, como na verdade teui.» Fr.
(! aspar da Cruz, Tratado das cousas da
China, cap. 20.
— A miiiJui senhora; diz o marido, fal-
lando de sua esposa.
— AdJ. Figura'!aniento: Dominante,
principal. — Ilha senhora Jas outras.
— Adágios :
— Pelo marido vassoura, o pelo mari-
do senhora.
— c^uein senhora é em casa, senhora é
pela villa eli.iniida.
SENHORAÇA, ». /. Augmentativo de
Senhora. ''raiKli-- 8e:diora.
SENHORAÇO, «. m. Augmentativo de
Senhor, lirande senhor,
SENHOREADO, part. past. de Senho-
rear. — • De quo o Nautaquim fez ham
grande csjianto e disse para os seus qne
estav.^o presentes, que nie matem se nâo
são estes os Chcnehicogis de que está es-
crito cm nossos volume.s, que voando por
cima das agoas tem senhoreado ao longo
delias os habitadores das terra.s onde Deos
criou as riquezas do mundo, pelo quo nos
ca_vr:i cm boa sorte se elles vierem a esta
nossa com titulo de boa amizade.» FemSo
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 13.S.
— « He senhoreada p'lo Sufy, em que cs-
tam estas gentes que chamam Ceides :
que entre elles tem por fidalgos e senho-
res, e trazem ho vestido e trajo como os
de detrás.» Antoi.io Tenreiro, Itinerário,
cap. :")<!.
SENHOREADOR, adj. Que tem dominio
ou senliorio.
SENHOREAGEM, ou SENHOREAGE, s.f.
Direito que se paga em ri?conhecimento
do senhorio, e especialmente se diz, do
que el-rei percebe pela casa da moeda.
SENHOREAL, fidj. 2 gen. Pertencente
ao senhorio, ou ao senhor; ao soberano.
SENHOREAR, r. a. Dominar, mandar
em alguma cousa como senhor ou dono
d'ella.
E porque me parece que te vejo
Vontade de hir auante olha fronteiro,
Onde aqm-Ue vapor fumoso mostra
Hum soberbo c admirauel cdifieio.
AUi está fabricado o graude templo
Da mentira, que o mundo scnhorta.
Muito achar.'ia que ver, m.-is doute auiao
Que nào te engane delle o falso trato.
CÚKTB BEAL, NAl-pEAOlO DB SBITI.VBDA, Cant. 10.
— « Aquelle, a quem a boca do meu
rosto beija coutinuamente o rico quimão
do seu vestido, o qual por poder de gran-
deza senhorea os cetros da terra, e as
ilhas do mar, te màda dizer por mim seu
escravo, quo a tua honi-osa vinda seja t3o
agradável diante da sua presença como a
doce menhan do verão, no qual o banho
das aguas frias mais satisfaz ni>ssa carne,
e que sem nenhuma detença te apresses
a ouvir a sua voz, e que neste cavallo
ajaezado do seu tisonro te leve junto co-
migo.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 120.
— Assenhorear; tomar, dominar como
senhor, apoderar-se de alguma cousa,
conquistal-a, sujeitjil-a ao seu dominio.
— • Destii breve informação que tenho
dado destes Lequios se pôde entender, e
assi o cuydo eu pelo que x\, que com
SENH
SENH
SEXH
479
quaisquer dous mil homena se tomara, e
senhoreara esta ilha com todas as mais
destes arcipelagos, donde resultará muyto
mavor proveito que o que se tira da ín-
dia.» Fernào Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 1-Í3. — « Senhoreão (joa, as-
sento de seus Governadores, e logo o ma-
yitimo do Canará, com Onor, Baticalá,
Braçalor, Bracanor, e Mangalor; e logo
aquella parte principal do Malabar, que
aquentão suas frotas, onde está o Reino
de Cananor, e nelle Catecoulào, Marabia,
Traaiapatào, Maiui, Parepatào.» Jacintho
Freire d'Andrade, Vida de D. João de
Castro, liv. 2. — « E como a paz, e a ty-
rannia o tinhào feito rico, erão-lhe fáceis
as despezas da guerra que havia de mo-
ver quasi dentro em sua mesma casa.
Despachou logo oito mil soldados a se-
jihorear as terras da contenda, em quanto
se dispunlião forças maiores para susten-
tar o que aquellas ganhassem.» Icidem,
liv. 4. — a Suspirando Telemaco, lhe res-
ponde, assim : Antes me acabem os deu-
ses do que eu dê entrada á mollicie. ou
o deleite senhoreie meu coração ! Nào,
não, o filho d'Ulysse3 jamais se deixará
vencer dos attractivos d'uma vida eftemi-
nada e vil : mas que dom do ceo nos de-
parou depois de nosso naufrágio, esta
deusa ou mortal, que tanto nos enche de
beneficies'?» Francisco ]\Ianoel do Nasci-
mento, Aventuras de Telemaco, liv. 1.
— V. n. Dominar. — «Temo que isto
e cobiça de senhorear, que antre os ho-
mens tem gi'am força, juntamente com a
lembrança que terá, de meus aggravos,
o mova a nào tornar, e casar-se com el-
la.B Francisco de Moraes, Palmeirim de
Inglaterra, cap. 95. — «Dalli se espalha-
ram para muitas partes da Europa, que
senhorearam, de que ainda hoje vivem
aquelles que se chamam Tártaros Preço-
penses sobre o mar maior, povoando, e
dando nomes a muitas Províncias.» Dio-
go de Couto, Década 4, liv. 10, cap. 2.
— Estar sobranceiro, a maior altui-a
que outra cousa. — t Deo huma tarde
vista á Cidade de Baroche, cujos edifi-
cios lhe representarão na magestade a
policia da Europa. Estava situada em
huma eminência, cingida de muros de
ladi-ilhos, que mais serviào ao adorno,
que á defensa. Com tudo se deixavào vêr
diversos baluartes, obrados nào sem al-
guma luz de fortificação, guarnecidos de
muita artelhaiia, que senhoreava as en-
tradas do porto.» Jacintho Freire d'An-
drade. Vida de D. João de Castro, liv. 4.
— Senhorear-se, v. refi. Apossar-se, fa-
zer-se senhor, apoderar-se. — «E porque
chegando elle a Ormuz ElRey se queixou
de hmn Raez Hamed, elle AíFonso d'Al-
boquerque o castigara da maneira que
ElRey quiz; porque os tyrauos que com
sua soberba, e maldade se querem senho-
rear das pessoas R'^aes.» Barros, Década
2, liv. 10, cap. 5. — «Tanto que as novas
embarcações chegarão ao lugar onde es-
tava surto o junco, elle foy logo abalroa-
do sem nenhuma detença, e saltando den-
tro vinte soldados se senhorearão delle
sem contradição alguma, e a mór parte
da gente delle se lançou ao mar.» Fer-
não Mendes Pinto, Peregrinações, cap.
42. — <iE assim se senhorearão nossos
inimigos das Malucas, Ormuz, Malaca, e
Mascate. Deste modo ficou o Estado mais
proporcionado t-^udo menos Fortalezas, e
naõ tau desmcmbrailo.» Manoel Severim
de Faria, Noticias de Portugal, Disc. 1,
cap. 3.
SENHORIA, s. /. Governo de algum es-
tado particular, que se rege como repu-
blica. — - Â senhoria de Veneza.
— Ânt. Sen.iorio.
— A qualidade e graduação de ser se-
nhor.
— Tratamento que se dá a certas pes-
soas constituídas em dignidade, acima de
mercê, e inferior a excellencia. — «Que
quanto a confiança que elRey tinha na
verdade dos Portugueses, sua real senho-
ria no anno seguinte veria quanto elRev
de Portugal seu senhor estimaua esta con-
fiança.» Barros, Década 1, liv. õ, cap. 9.
Dona levantac-vos dhi.
E que me quereis vós assi ?
A cadeia.
Senhores homens de bom,
Escutem vossas senhorias.
Deixai essas cortezias.
GIL VICENTE F^UtÇAS.
• — «Bemuiía seja a divina bondade que
tão inteiramente nos livrou d'ello, e a vos-
sa senhoria do extremo sentimento em que
acompanhei c considerei sempre a vossa
senhoria, como quem tão lembrado está do
aâecto cou; que vossa senhoria amava e
adorava a sua alteza, no tempo em que
eu podia ser testemunha d'elle, que não
considero hoje diminuído, senão mui cres-
cido sempre, como o pede a razão.» Pa-
drj António Vieira, Cartas, u.° 23. — «E
diga-me por vida sua, senhor Marquez,
diga-me Vossa Senhoria, ou vossa Excel-
lencia (que já se naò contentaõ com Se-
nhoria) ao depois deste titulo, que he o
que se lhe segue? Segue-se passar huma
velhice muito descançada, e lustrosa.»
Arte de furtar, cap. 70. — «A caso se
achava em Goa huma dona de Chaul,
chamada Catlierina de Sousa, quando
chegou o presente, e juntando em huma
boceta todas as jóias que tinha, as enviou
ao Governador com esta carta: «Senhor,
eu soube como as mulheres de Chaul ti-
nhào ofterecido a V. Senhoria as suas
jóias para a guerra.» Jacint:io Freire de
Andrade, Vida de D. João de Castro, liv.
2. — "Ainda que eu me achasse em Goa,
não quiz perder a parte da honra, que me
dahi cabe. Por Catherina minha -filha
mando as minhas jóias a V. Senhoria.
Não julgue, em quão poucas são ; as que
pôde haver em Chaul, porque lhe certi-
fico, que eu sou a que menos tinha, por-
que as tenho repartido por minhas filhas.»
Ibidem.
E Vossa Senhoria ao Ócio entregue.
Dorme profundamente? Acorde, acorde
Desse moUc Icthargo, que é já tempo ;
Veja o que deve a si, aos seus maiores,
A grande Dignidade, que, brilhando
Com seus rayos, o cerca, magestosa ;
E deixe a ^■il Lisonja, que o arrastra.
Disiz DA CRUZ, HTssorE, eant. 2.
O Padre Guardião, antes das cinco,
Xacj costuma da sesta levantar-se ;
Mas. por servir a Vossa SeiUioria,
A desperta-lo vou : no em tanto pode
Lá na Cerca esperar, tomando o fresco.
IBIDEM, caut. 5.
— Os que furem do senhorio d' alguém;
os que servirem no exercito, debaixo do
mando, e a soldo de algum senhor.
— A dona da casa em que se habita
de aluguer.
— A mulher do senhorio.
SENHORIAGEM. Vil. Senhoreagem.
SENHORIAL, adj. 2 gen. Pertencente ao
senhor, de estados ou de povos, c ao se-
nhorio ou suas deper.dencias.
SENHORIL, adj. 2 gen. Próprio de se-
nhor, pertencente ao senhor.
— Nobre, magestoso, garboso ; próprio
de pessoas de alta gerarchia.
SENHORILMENTE, adv. (De senhoril,
com o suffixo «mente»). De modo senho-
ril, com garbo, e gravidade.
SENHORIO, s. m. Dominio, mando, di-
reito sobre alguma cousa, auctoridade.
— «E Nepociano, cõ a mayor força de
seu exercito, que chegados junto á Cida-
de Lugo-, acharão unidas em hum corpo
as relíquias dos Suevos, que lastimados
de se ver privados da grandeza e senho-
rio que tinhaò cm Hespanha, resistiaij
contra a corrente da prospera ventura
dos Godos, para mayor dano, e destrui-
ção sua.» Monarchia Lusitana, liv. 6,
cap. 7. — «Esforça, esforça coração, não
desfalleças cm cousas de tamanho con-
tentamento, pois tens debaixo de teu se-
nhorio aquelle esforçado Clarimundo,
exemplo de toda a bondade.» Barros,
Clarimundo, liv. 2, cap. 9. — «E pois
este lugar é mais merecedor de vós, que
de outrem, e-vós mais delle, que nin-
guém, nào me negueis o que vos peço,
nem engeiteis este desejo, que me have-
ria por injuriado. Ao menos deve-vos
lembrar, que o melhor desta terra guar-
dou Urganda pêra vós; por isso aceitai
o senhorio delia com a mesma vontade,
que vol-o eu ofieroço.» Francisco de Mo-
raes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 120.
Mas nem por isso eu ja te importimárn.
Soflxèra antes meu mal que importunartc.
480
SENH
SENH
SENH
K(! a nova occaaiAo me nâo iiio»trAra
Moilo (lo mo cu viiifçar, c tu do lioiiiarto ;
]$om rtabcs f(iio o firao Turco lio.jo prepara,
Porque o rtou ciibi(;oso animo farto,
SoldadOíí, Oapitàirt, armas, navio*.
Para coiir|uirttar da índia ort nenhorioK.
r. u'ani>iiadic, j'rimkiiio ceiiou UR mu, cant. 1°2,
est. Hf).
Fica oxtincto o valor nos Lusos peitos,
Dopois (|uo estranha» Leis o Tojo ouvira.
Do Mar o Senhorio ontiio transforc
A mãos Hritana» o Sculior dos Mundos.
J. A. DK MACKDO, VIA(1K.M K,trATIOA, Cant. 4.
— ■ Di{íni(l;iilc, ar, continoacia do se-
nhor, sTaiiilc, c nobre.
— Oi direitos e jurisdicções que ti-
nhiiiu 1)8 seuliores das turras e vas.sallos.
— Império, reino, e.^tados ; territoiio
perteuceute ao senhor. — « Forem nós
vocado, consirando, c esguardando cm
como da dita novidade, fazondo-se os di-
to.s contrautos d'artoraiuontoi!, e emprasa-
mentos, e arrendamoiito.s pela dita fjuiaa
a certo ouro ou prata, ou a todo junta-
mente, 80 sotruem a nna, e aos nos.sos
KciíHDí!, c senhorio, e ao povoo delles os
males, e dapnus, o pardas suso ditas, e
outras niai.s, (pio longa» seriam de con-
tar.» Ord. Affons., liv. 4, tit. 2, § 6. —
€ For quanto nosso desejo foi sempi'e, c
soerá do pensarmos, consirarmos, olhar-
mos, e esgiiarilarmos em como faremos
leixar Constitui^-ooens, o Ilordenayooens,
c outras cousas, pelas quaoc.s os povora-
dores, e abitadores, e todo o jtovoo dos
nossos llep;nos o senhorios.» Ibidem, 4j 2.
— «E quacQsquer dos ditos Mercadores
Estrangeiros, que o contrairo fezerem,
percam os ditos avores, o mercadarias,
que assy comprarem, o venderem contra
a dita Hordonaçom, ou outrem porolles:
e os naturaaos de nosso Senhorio, que o
contrairo fezerem, percam os beens que
ouvcrem, e sejam presos ataa nossa mer-
ece.» Ibidem, tit. 4, § 14. — «E porem
ordenamos, e poemos por Ley geeral em
todos Nossos Regnos e Senhorio, que
nom soja algum taõ ousado, do qualquer
condiçom que seja, quo daqui eu diante
tal apenhamento fa(;a ou receba.» Ibi-
dem, tit. 39. — oE esto poenios por Ley
Ueeral; a qual Mand.inios que se cum-
pra em todos Nossos Kegnos e Senhorio,
assy como dito he, porque achamos \wr
Direito quo assy so devo fazer.» Ibidem,
tit. 43, v? '2. — « E qualquer, que o con-
trairo fezer, Jlamlamos, que se for es-
trangeiro, quo per esse meesmo feito per-
ca to. la essa mercadaria, quo assi levar,
o os liceus (pie ouver em Nossos Reguos
O Senhorio, e tambom soja perdido o na-
vio, em que tor carregada; e se esse
mercador, ou senhor do navio for Nosso
súbdito ou natural, Mandamos, que aalem
da ditív pena da mercadaria perca todolos
bcous que ouver, c sejam pêra a Coroa
de Nossos Reguos.» Ibidem, tit. 03, § 3,
— oE poiquc a n(is convém provoer a
eilo por iio.-tso Hervi(;o, c bem de nossos
Reguos, aconJanios com acordo doa do
nosso (-'onsclho poer por Ley, '|Ue daqui
em diante nom seja nenhum ta("í ousado,
do quakpKír esta'lo e condi(;om <|ue seja,
(pio om todo o nosso Senhorio cmipre,
nem venda alguma mcrcailoria.» Ibidem,
tit. 20, § 1. — «Forem estabelecemos, e
jioeemos por Ley, que quaee8(|uor Fidal-
gos, que cm nossa terra e Senhorio vi-
vem, ou daqui om diante viverem, <pie
sejam nossos Vassailos, ou do Ifante, ou
dos outros nossos Vassallos maiores, que
de mis teem lugar, c estado pêra esto, e
nos ham de servir, o nom som escusados
por hiilado de velhice, ou d'outro embar-
go lidimo sem sua culpa.» Ibidem, tit.
26, S ^- — «Uom Aítonso, etc. A todal-
las Justiças dos meus Reguos faço saber,
que avudo Conselho com os de minha
Corte, porque achei que muitos preitos,
o demandas se faziam nos meus Regnos
por rasom das soldadas dos mancebos e
mancebas, e por(pie achei, e fui certo
pelos do meu Senhorio, que esses man-
cebos e mancebas os de mais delles de-
mandavaõ esses seus amos, com que mo-
rava(") em outro tempo, as soldadas que
ja tinhaõ pagadas.» Ibidem, tit. 27, § 1.
— a No anuo de mil e trinta e cinco moi"-
reu el Rey Dom Sancho de Navarra, o
ficou seu filho Dom Fernando com o se-
nhorio de Castella, gozando jà o titulo
Roal, (pie o jiay lhe dera em sua vida.»
Monarchia Lusitana, liv. 7, cap. 27. —
«Jlas os mouros per nossos peccados, e
castigo permitte Dcos terem ocupada ha
m<ír parte de Ásia, e Africa, e boa de
Europa, onde tem Impérios, Regnos, e
grandes senhorios, nos quaes uiuem mui-
tos Christãos debaixo da seus tributos,
alem dos muitos quo tem captiuos, e a
todos estes fora mui perjudicial toniarem-
se os filhos dos mouros.» Dami.HO de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 1,
cap. 20. — «O que assi concluído os
mantimentos foram entregues naquelie
dia, e noite que alli chegou Afonso dal-
buquerque, e pela manh.n se tez a vela
eaniinho doutra villa, também do senho-
rio dei Rei do Ormuz jior nome Curiate,
e no caminho mandou que se dessem dos
mantimentos (pie ouuera em Calaiate a
rente.» Ibidem, part.
cap.
31.—
«Fera hum feito de guerra poderá ajun-
tar dons mil homens de cauallo, seus su-
geitos, vassalos e criados, tem sempre
em Adem hum governador, homem de
confian(;a, por ser esta huma das milluv
res cidades do todo sen senhorio. ' Ibi-
dem, part. 3, ca]!. 43. — «A este tempo,
que Affonso d'.\lboqueifpie esteve iuver-
nando nesta Ilha ('anuíram, de alguns
Mouros que acudiam Á terra firme soube
como o Xeque de Adem estava junto de
huma ^"illa (.-liamada Zcbit, que he do
seu senhorio, ao qual quiz mandar huma
carta.» Barros, Década 2, liv. 8, cap. 3.
— « E Florendos teu neto case com Ar-
ménia, irmJla do mesmo SoldSo, tilo fer-
mosa antro as ontra.s muliíereí daqueste
tempo, (pio so duvida haver outra mais;
ao (piai dará toda a parte "h; seu senho-
rio, quo confina com o teu ini|.<TÍo.i
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. í(3. — tV(Í8 vais descDCuntar
Lioiiania, que é fernio«a e rica, e sobre-
tudo herdeira de senhorio tJo nobre e
grande ; píVlo ser que o.s seus amores no-
vos vos fa(;am esquecer cuidados relhos;
o entSo nem tereis que esperar de nin-
guém, nem de quem vos queixeis tão
pouco.» Ibidem, cap. 9.'). — •^'(jlambar
depois de e^tar no navio, fazendo sua
paixiio terifio, tornou cm ci; e vendo-se
embarca'la o mettida no mar cm poder
de seus imigos, desterrada de seu senho-
rio, e jiera peior perdida a esperança de
o tornar a cobrar, quiz dar comsigo n'a-
gua e morrer n'ella, tomando aquelle tor-
mento por veniadeiro ílescan<;o.» Ibidem,
cap. 119. — «Assim se partiram da ilha
Fmfunda, correndo a remos ao longo da
costa, pola vèr melhor á sua vontade,
que era povoada de muitas vilias e Ioda-
res grossos; senhorio porá qualquer prín-
cipe se contentar.» Ibidem. — «Esta co-
marca he toda habitada de Christàos Ar-
ménios, e aqui se acaba ho senhorio do
.Sufy, e senhorea o grão Turco : junto
deste mar esta huma vila que se chama
Argiz.» Tenreiro, Itinerário, cap. 22.
— Tomar novo senhorio ; passar como
vassallo a serviço d'outro senhor.
— Senhorio proveitoso; domínio utíl,
contraposto ao direito.
— Senhorio maior; o do soberano, emi-
nente ao dos senhores de terras, das
quaes se recorreu sempre para os sobe-
ranos.
— Senhor, dono, proprietário. — « E
se fosse feito similhante apenhamerito an-
tro outras pessoas, que nom fosse antro o
foreiro da cousa atibrada e o Senhorio,
tal contrauto d'apenhamento assy feito, a
saber, que o credor ouvesse as rendas e
fruitos da cousa apenhada cm salvo, ataa
seer pago de sua divida, seria nsureiro,
e assv o principal, como os dites fruitos
serem perdidos para n(Í8, assy como usu-
ra.» Ord. Affons., liv. (5, tit." 19, § n. —
«E por tanto Dizemos, que se algnma
cousa fosse posta em giiarda ou condesi-
Iho a alguém, e elle despois recusasse de
a entregar ao Senhorio sem ju.«ta, e lií-
dima razom, ou se usasse delia sem voon-
tade expressa do Senhorio, em ta! caso
deve esse depositário seer preso, ataa
que pague da Cadea, e entregue a dita
cousa, c dãpno que em ella fez, por se
delia usar sem voontade de seu dono,
seendo delle querellado em forma de di-
reito.» Ibidem, tit. 07, § n. — «E ficarão
captivos duzentos, em que entravão ijio-
Iheres muito alvas, c fermosas, e estes
SENI
SEXR
SENS
481
todos escolhidos, entre mais de dou3 mil
que captiuarào, porque aos outros deu
dom Francisco liberdade, e entre os ca-
ptivos foram os senhorios de três nãos
de Cambaia que estavam varadas diante
da cidade.» Damião de Góes, Chronica
de D. Manoel, part. 2, cap. 3. — cSendo
esta nao tanto auante, como o cabo de
Comori. gouernou o piloio mouro de noi-
te a tal rumo, que foi ter a antemanhã a
ilha de Candaluz, que he huma das prin-
cipais de Maldiua, onde estauam miútos
Malabares de Calecut, que trataram mui
mal Simam dandrade, com os que com
elle hiam, e os matarão senam ouueram
medo que Afonso Dalbuquerque fezesse o
mesmo ao senhorio da nao, e aos outros
Mouros que recolherão consioro.i» Ibidem,
part. 3, cap. 26. — «Onde Vicente Diaz
mercador senhorio do namo, cujo era
aquelle batel, andaua passeando taõ se-
guro, como se esteuera em Tauilla don-
de elle viuia, tendo somente por arma
hum bicheiro que tomou no batel por aju-
da de bordão. 8 Barros, Década 1, liv. 1,
cap. 13. — «Estes tem bom cabedal, as
suas embarcações tem humas asas largas
feitas de caniçada tam grandes quanto he
ho comprimento delias, nas quaes agasa-
lham dous ou três mil adens, mais ou
menos segundo he ha embarcaçam : algu-
mas destas sam de senhorios e andam
nellas seus criados : apacentam estas
adens da maneira seguinte.» Tenreiro,
Itinerário, cap. 9.
— Adágios :
— O figo cabido para o senhorio, e
o que está quedo, para mim quero.
— Em logar realengo, faze teu assen-
to, e em terra de senhorio, não faças teu
ninho.
SENHORITA, s. f. Filha de senhores
ou grandes ; por cortezia diz-se em Hes-
panha da filha de qualquer outro sujei-
to de representação, e, em Portugal, se-
nhora.
Agora dança, e toca a castanheta,
Celebra os Chichisbeos, e as Senhoritas
De Cupido o carcaz, e ardente sétta.
ABBADE DE JAZESTE, POESIAS, tOm. 2, pSg. 45.
— Termo de zoologia. Senhorita de
Numidia; espécie de aves do género an-
tropoide: é de côr parda azulada, com a
cabeça e parte do collo pretos, e tem em
cada olho um pennacho de pennas bran-
cas compridas e flexíveis, que pendem
para traz.
SENHORITO, s. m. Menino nobre.
— Senhor de pequeno senhorio.
SENHORIZAR, r. a. Fazer senhor, dar
poder e governo.
SENHOS, adj. ant. Vid. Sendos.
SENIL, adj. 2 gen. íDo latim senilis).
Concernente ou relativo á velhice ou aos
velhos.
— Ant. Um dos epithetos que os astro-
■VOL. T. — 61.
logos davam ao quarto quadi-ante do the-
ma celeste.
SENILIDADE, s. f. Velhice.
SEMO, í. m, (Do latim senium). Idade
decrépita.
SÉNIOR, adj. ant. Senhor.
— tí. m. O mais antigo de certa com-
munidade.
— O membro do senado.
— O irmão mais velho, em opposicao
a jiuúor.
SENNE. Vid. Sene.
SENO, s. m. (Do latim sinus). Termo
de mathematica. — Seno recto, ou primei-
ro de tim arco, ou angulo; linha recta
perpendicular, que cáe da extremidade
do arco ou angulo sobre o diâmetro que
passa pela outra extremidade, e por isso
se entende quando absolvitamente se diz
seno.
— Seno segundo ds um arco; o seno
primeiro do complemento do dito arco,
até ao quadrante.
— Termo de cirurgia. Pequena cavi-
dade ou bolsinho de matéria, que se for-
ma ao lado da chaga.
f SENODONIA, s. /. Termo de zoolo-
gia. Género de insectos coleopteros pen-
tameros, da familia dos serricornes.
SENOGA. Vid. Esnoga, e Synagoga.
f SENOGASTROS, s. m. i,lur. Termo
de zoologia. Género de insectos dipteros,
da familia dos brachvstomos.
t SENOM, ou SENON. Vid. Senão. —
lAos quaes vintaneiros Nos mandamos,
que vo-los dem, o nomeem, e os ponham
em vintenas bem, e direitamente sem
nenhum engano, que antre elles aja, se-
nom, se achado for, que os nam dam, e
escusam algum pêra nom seer posto em
vintena, que lho estranharemos, como
nossa mercee for.» Ord. Affons., liv. l,tit.
70, § 2. — oE porem mandamos a todolos
Corregedores, Juizes, e Justiças, e Ofii-
ciaes, e pessoas dos nossos Regnos, que
esta Carta de Hordenaçom virem, que a
façam assy publicar em todalas Cidades,
Villas, e Lugares, e cumprir e guardar pe-
la guisa que dito he, e nom consentam, que
nenhum contra ella vaa, de qualquer es-
tado e condiçom que seja ; senom sejam
bem certos que lho estranharemos grave-
mente, e de mais que pagaram por seus
beens outro tanto, quanto essas rendas
renderem.» Ibidem, liv. 4, tit. 2, § 10.
Vimos também leuantar
aem ninguém, senom por si,
O Xeque Ismael Sophi,
e por amor ajuntar
gente mais que nunca ouui.
a. DE KEZEXDE, MISCELLAHEA .
SENOS. Vid. Senhos.
SENOURA. Vid. Cenoura.
SENRA, í. /. ant. Seara, ou campo pró-
prio para seara.
SENRAZÃO. Vid. Semrazão.
SENREIRA. Wà. Cenreira.
SENSAR... As palavras que principiam
por Sensab..., busquem-se com Semsab...
SENSAÇÃO, í. /. (Do latim stnsatio-
nem). Xome extensivo a toda a impres-
são que a alma recebe dos objectos por
intermédio dos sentidos.
Todo o meu ser em si se rmmerge, e pensa ;
Rompe hum clamor universal silencio,
E me diz que sou corpo organisado,
E hum de infinitos animaes, que a Terra
Mui carinhosa mài produz, e nutre :
Como elles nasço, e vivo, e cresço, e morro •,
Como elles sinto a dor, sinto os prazeres;
São meus iguaes nas sensações corpóreas ;
Em todos vejo idênticos sentidos •,
Existe em todos maquinal instincto,
Que em varias gradações se eleva, ou desce
Desde o vasto Elefante ao vérmc ignoto.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Caut. 1.
— Sensações externas ; as que reconhe-
cem por causa os objectos exteriores, por
órgãos os que estão collocados na parte
exterior do corpo, e por eôeitos as rela-
ções que medeiam entre nós e os seres
que nos rodeiam.
— Sensações internas; as que nascem
pela influencia de estimiúantes interiores,
que obram no seio das cavidades ou nas
profundidades das vísceras.
f SENSATEZ, s. f. Cordura, sisude-
za, prudência, circumspecção, juizo.
SENSATO, adj. (Do latim sensatus).
Cordato, prudente, sisudo, assisado, do-
tado de bom senso.
SENSIBILIDADE, s. f. Propriedade inhe-
rente aos corpos organisados que os faz
aptos para receber as diversas impres-
sões .
— Em sentido mais estricto, é a pro-
priedade que tem os diversos órgãos de
receber impressões com mais ou menos
facilidade.
— Fallando do homem, faculdade, po-
der, efleito, propriedade do nosso ser, em
virtude da qual recebemos impressões de
varias espécies, e temos a consciência
d'ellas.
— Em accepção menos lata, é o sen-
timento que nos faz compadecer das mi-
sérias alheias, e soífrer com mais força as
impressões do amor, da ternura, etc.
— Disposição tema e delicada da al-
ma, que a torna sensível e compadecida.
— «Ficára-lhe molesto o peito, e a olhos
vistos ia demudando; e as esperanças
que os Médicos me dávão, não lhes vi-
nhão do ânimo ; e o meu amado Consor-
te, que se sentia avizinhar da morte, co-
lhia quantas forcas tinha para me escon-
der a sua mágoa, e dissimular os padeci-
mentos, que pela minha sensibilidade lhe
serião mais insupportaveis. » Francisco
Manoel do Nascimento, Successos de ma-
dame de Seneterre.
SENSIENTE, adj. 2 gen. (Part. act. do
Sentir;. Que sente, ou tem sensação.
482
SENS
SENSIFICAR, V. a. — Sensiflcar os mem-
hrax; tornar a fazel-08 senfliveis; restituir
á sonuibiliilaílc.
SENSITERIO, s. m. Sentido, potencia
do sentir.
SENSITIVA, í. /. Tornio do botânica.
Espccio do i)lanta8 do género mimosa,
quo ó iinia das mais nctaveis do reino
vogotal, por cansa da cxeossiva irritabi-
lidade de suas folhas, quo se contrahem
com a simples approximaçito do corpos
cstranlioa.
SENSITIVO, ndj. (Do latim smsitivm).
Dotado da faeuidado do sentir. — «Y, a
conteco o arrebatamento, assim nas po-
tencias, quo conhecera, como na que ap-
petcce, porque alpjumas veses se arreba-
ta, e cnleua a iniaginatiua tanto sobro
as faculdades exteriores, o sensitiuas,
quo estas parecem não attcndcr, c na
verdado não attcndom.» Fr. Bartholo-
mou dos Martyrcs, Compendio de espi-
ritual doutrina, cap. 12.
— Vida sensitiva; a rpio consiste bq-
mente em sentir, o ter sensações.
— Appetite sensitivo ; diz-se das cou-
sas que imprimem nos sentidos.
— Q.ue cau?a sentimento, sensível. —
«Nos outros baluartes não cstavão as ar-
mas ociosas, porque em todos so peleija-
va, para com a diversão facilitar a en-
trada pelo do Sant-IaíTO, ondo havia re-
bentado a mina. Ordenou também Ru-
mecão, que se batesse a Igreja da Foi--
taleza, que podia ser arraza<Ia por estar
eminente, crendo naquelle lugar, seria
mais sensitiva a oíFensa.» Jacintho Frei-
re do Andrade, Vida de D. João de Cas-
tro, liv. 2.
SENSÍVEL, adj. 2 gen. i l)o latim sm-
sihílis). l'ereeptivel pelos sentidos ou que
so imprime n'elles. — «O Pensamento he
huma aijplicação de entender cousas sen-
siueis, tcmporaes sojeita a diuertimento.
Meditação he huma applicação da alma
prudente, e attenta em conhecer, e in-
quirir cousas verdadeiras.» Fr. Rartholo-
meu dos Martyres, Compendio de espiri-
tual doutrina, cap. 12.
Sompro a mão lho. convpm d",igonto citorno,
K tudo iiaaon de fensirel cavisa.
Quantoa objectos lia, que a vista cncantão
Cora tão pnsmoaas variadas cores,
São milagres da hu, o eftcitos delia.
J. A. DE MACEDO, JCEDITAÇÃO, Cant. 2.
Eia nova maravilha, outro prodigio
To vai mostrar o ar. Tu d'harmonia
Sensível sempre ao magico attraotivo
Sentes fcrir-tc o timpano suavo
Ligeiro catrondo, quo uoa vallca forma
Ecoo sentimental, das Musaa filho.
IDEM, A NiTUKEZl, Cant. 2.
— • Doloroso, lamentável, que CAusa ou
movo sentimentos de dòr.
— Compadecido; diz-se da pessoa quo
se dóe, compadece facilmente.
SENS
— Teimo do jjhysica. Diz-so do ins-
trumento, ctc, quo marca a» mais pe-
quenas differenças o variações. — Balan-
ça sensivel.
— Tormo de musica. Nota sensivel;
a que está utn Homitom mais baixa que
a touicn.
SENSIVELMENTE, ndv. (Do sensivel,
com o sudixo a mente»). De um modo sen-
sivel; j)erceptivolmento, visivelmente.
— Dolorosamente, j)ezarosamcnto, com
grande dôr, sentimento, pezar, pena.
— • Por meio de sensação.
SENSIVO, adj. Sensivel.
SENSO, .1. VI. (Do latim semus). Juí-
zo, siso, entendimento.
— Senso communi; o mesmo quo o Juí-
zo natural, que adquire todo o homem
que usa bem das faculdades intellectuaes
sem mais sciencias nem estudos recôndi-
tos.
— A opinião commum dos sensatos ou
sisudos.
SENSÓRIO, adj. Que respeita á facul-
dade do sentir, que serve a receber as
sensações. — Órgãos sensórios.
— Órgão da sensibilidade, parto onde
reside a faculdade do sentir ou sentido
commum.
SENSORIO-COMMDM, s, m. O ponto de
união de todos os nervos onde se cuida
que a alma sente as impressões feitas
nos órgãos externos, segundo o systema
do influxo physico.
SENSUAL, adj. 2 gen. (Do latim sen-
sualis). Concernente aos sentidos, sensi-
tivo.
— Voluptuoso, libidinoso, apegado aos
prazeres dos sentidos.
— L\ixurioso, lúbrico, libidinoso ; re-
lativo ao appetite carnal. — «O Peito nii,
liso, e despido de cabellos, fiiz que seja
timido, e clVeminado, pela exiguidade de
calor natural no coração. As mamillas
pingues, e ilacidas arguem o homem de
sensual, dobil, e eíFeminado. A parte es-
querda do peito pingue, carnoza, e cras-
sa, com hum signal, ou nevo materno
vestido de cabellos indica felicidades,
honras, riquezas. » Braz Luiz d'Abreu,
Portugal medico, pag. 343, § 198.
SENSUALIDADE, s. f. Inclinação, ape-
go aos prazeres sensuaes e corporaes, de-
leitação nos prazeres carnaes.
Na honra mais que ellos, a Sensual idade
Razão a triumphe, captivc, e degrade.
ANTÓNIO PBE3TES, AUTOS, pag. 101.
— Deleito carnal, sensual.
— A qualidade do ser sensual, propen-
são para os prazeres sensuaes.
SENSUALISMO, *. m. Termo de philo-
sophia. Doutrina philosophica opposta ao
idealismo, que faz derivar todas as nossas
idêas dos sentidos, o dá por único tim d
nossa existência os gozos sensuaes; liga-
SENT
ío multo com o materialismo o o athois-
nio.
t SENSUALISTA, ». 2 gen. Partidário
do senaualirimu.
— Adj. — Doutrina, ou synUma sen-
sualista.
SENSUALIZAR, v. a. (Do sensoal).
Fazer Hensual, incitar aos prazeres ften-
suaes.
SENSUALMENTE, a<lv. (Da sensual, e
o sudixo • mente >i. Libidinosamente, vo-
luptuosamente, com sensualidade, com
lascivia.
SENTA, ». f. ant. Cinta, cingidouro.
SENTADO, part. pas$. do Sentar.
Onde and.iatej; at«'gora?
Andei o d<!-mo e bou cunhado,
andei per cA c per IA,
c W per CÁ,
c cÍ9-mc agora aqui sentado.
AKTOmO PBMTEÍ, ACTOS, p»g. 371.
Dizendo isto se enuolue num momento
Cri nquella gente hipócrita nefanda
Fica o Sousa espantado vendo tanta
Cegeira, nos quo tnl maldade aprou&o,
A porta quo parece ser segunda
Ve que por ella a gente ja não ejíbe,
Leuanta os olho» ve tentado encima
Delia, hum varão de dous rostos diversos.
CORTE BEAL, NAUFKAOIO DC SEPCLTKDA, Cant. 11.
Cuidas ver, I.i n'um throno de diamantr,
•Sentado o pae dos numes ; por boub Ubioa
Fulge o louvor da lusitana gente.
Pasmo e terror do mundo. E' seu propósito
De mor gl'iria lhe dar no ignoto Oriento.
GARRETT, CAMUES, Caut. 7, CSp. 15.
Canta a Palmeira, o Onagro alpestre, o o Poço
E Rebecca esposada, e o Perejrrino
Patriarcha, sentado ao réz da Tenda.
r. U. DO NASCIMENTO, OS XABTTRE8, 1ÍV. 2.
Destes Numes he obra, he maravilha
O excelso Cenotafio. Aos pés teTitada
A Virtude admirei «implico, o nna,
Ella servo de base \ M«^le egre^a.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, CAIlt. 3.
Magoada então Mel|iomcne lho afina
A tema Lira d'ebano, c decanta.
Sentado junto \ Lapida inscnsivcl,
Oa duros Fados dos raortacs, que pedem
A dôr ao Corarão, aos olhos pranto.
IDEM, A NATUREZA, Cant. 1.
Quanto me apraz, sentado ao Sol quo nasce,
ViT em bandos vaar palrriras Gralhas;
Do affogucado Sul deixando o clima
Vêm buscjir entre nóa pasto, c guarida !
Negros p'lotõea cm .angulo se formão;
Polo espaço do ãr y\ sõa ao longe
O guincho atroador, que instiga 09 frooxoa.
loiDEM, cant. 3.
SENTAR. Vid. Assentar.
— No sentido de coUocar alguém em
cadeira, etc. — Sente-se neste logar. net-
ta cadeira. — «Assim travadas polas mãoa
se foram com a imperatriz a sua casJ^
SENT
SENT
SENT
483
onde sentaiido-se ambas juntas, cada uin
dos que alli estavam punha os olhos nel-
las por vêr aquelle extrumo da nature-
za. Floriano, depois de beijar as mãos á
imperatriz sua avó, que o abraçou mui-
tas vezes por ser íillio da tilha a que sem-
pre maior bem quiz, se foi a (iridonia
pêra lhe beijar as suas, que o abraçou,
não lh'as querendo dar.» Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 112.
— fPera a baldearem fora não havia
quem já tivesse força nem esforço, se tor-
nou á sua camará com a cor perdida e
mortal: e seutando-se sobre uns coxins
perto das suas douzellas, que postas era
cabello choravam sua lim, começou di-
zer.» Ibidem, cap. llõ. — «Essa fran-
queza de Suzauua me restituio a boa
opinião, que eu delia tinha concebido, e
lhe affirmei que disposta estava, e indul-
gente a ouviria; e que arremessada n'um
mundo que se me assemel liava estraniio,
tomaria a bem que se não forrasse a in-
dividuação alguma. Assim, nos sentámos
uma junto d'outra; e ella começou nesta
substancia.» Francisco Manoel do Nasci-
mento, Successos de madame de Seue-
terre.
Quantas 8'oft''rcccm lúcidas osferas
A meus olhos attóuitoa ! Bom como
Do poiíiifero Outono em dooea tardos,
Quando o Sol já declina, me api-azia
Sentar-me junto do espelhado lago,
Era que travadoa louros se debruçào,
Se 09 nadadores peixes A porfia
Queria ver sahir do fundo escuro.
J. A. DE MACEDO, UEDITAÇÃO, Cant. 2.
Lembrem-te agora, se te assombras tanto,
Do pomifero Outono alegres dias,
Quando ao descer do Sol íe apraz sentar-te
Na horvosa margem do espelhado lago
Qu'os loureiros fatídicos assombrào.
IDEM, A NATUREZA, Cant. 1.
SENTEAL. Vid. Centeal.
SENTENÇA, s. /. (Do latim sententia).
Dito grave e memorável, máxima mui
sabia, discreta, que contém moralidade.
— «As dores recentes, avivando as anti-
gas, começaram a coiwerter pouco a pou-
co os severos princípios do christianismo
em flagello e martyrio daquella alma,
que a um tempo, o muudo repellia e cha-
mava e que nos seus transes d'angustia
sentia escripta na consciência com a pen-
na do destino esta sentença cruel : —
nem a todos dá o tumulo a bonança das
tempestades do espirito.» A. Herculano,
Eurico, cap. 2.
— Sentido, parecer, opinião.
Póde-sc agora dizer?
Sim, se Ignez me dér licença,
Iluma mudança, e sentença;
Contra amor de huma mulher.
Naõ pôde ser que iaso soja.
Nem quero saber de quem •,
Naõ se estranhe de ninguém.
Quando se mudou Tareja.
F. li. LOBO, EGL0OA8.
Tua sentença não é a minha; oppostos
São noaso.s votos ; serão sempre unidos
Nossos principios. — Tu não julgas inda
Necessário escolher entre os dous termos,
De morte ou liberdade. Embora ! oiçamos.
OABEETT, CATÃO, aCt. 2, 90. 2.
— Juízo de Deus contra os peccado-
res.
— Decisão legitima dada pelo juiz, ou
arbitro de tribunal em matéria litigio-
sa.— íE se esse Taballiam, ou Escri-
pvam ftízer Carta de Sentença tirada de
processo, que seja taõ grande, que leve
toda huma pelle de carneiro chea de boa
escriptura, sem malícia escripta, levará
delia cinquenta brancos, e de mea pelle
vinte e cinco ; e do quarto da pelle quin-
ze brancos.» Ord. Affons., liv. 1, tit. 3G.
— «Item. Os beens dos condapnados per
Sentença no caso, houde o condapnado
perde a vida natural, ou o estado, ou a
liberdade da pessoa, e per sua morte, ou
condapnaçom nom iicou alguum seu acen-
dente, ou decendente lydemo ataa o ter-
ceiro graao.» Ibidem, liv. 2, tit. 24, §
15. — «E mandamos que esta nossa Hor-
denaçom aja lugar em todalas demandas
movidas e por mover, e em as que som
tiudas per Sentenças, se ainda per ellas
nom forem feitas as eixecuçooens.» Ibi-
dem, liv. 4, tit. 1, § 22. — «Que logo
seja feita eixecuçom em seus beens, sem
elle seer mais chamado, nem ouvido com
seu direito, tal desatforamento nom va-
Uia cousa alguma, ainda que logo assy
seja julgado per sentença; porque sem
embargo de tal coutrauto, e sentença
mandamos que nom seja feita eixecuçom
per ella, a menos que este condapnado
seja chamado, e ouvido com seu direito
sobre essa eixecuçom : o assy declaramos
o dito artigo seer entendido. » Ibidem,
tit. 7, § 2. — «E no caso honde a mo-
Iher demandasse a possissom vendida pelo
mariflo sem seu outorgamento com Carta
d'ElRey, ou sem Carta, como dito he, e
a veeucesse per Sentença, querendo-a co-
brar aa sua maaõ, deve primeiramente
pagar, ou offerecer o preço, por que foi
vendida, e as berafeítarias, que acerca
delia forom feitas.» Ibidem, tit. 11, § 3,
— «E desprezar essa dignidade da Igre-
ja sobredita, sublimada com o trono de
nosso Império, perturbando a verdade da
ordem Eclesiástica, e usando mal da au-
thoridade daquella Igreja, que tão decla-
rada tem a antiga sentença dos Cânones,
a qual cousa em nenhum modo queremos
que mais se faça desde agora para sem-
pre.» Monarchia Lusitana, liv. G, cap.
20. — « Sam tam charidosos nesta parte,
que compram per dinheiro os bomens
que os Mouros, e Resbutos condemnaõ
por sentença a morte, mas fora deste pre-
cepto nenhuma outra charidade vsam,
porque sam todos onzeneiros, e falsarios
de todo género de pedraria, e mercado-
rias.» Damião de Góes, Chrouica de D'.
Manoel, part. 3, cap. 64. — «Mandando
lhe administrar todo ho necessário muy
abundantemente ate que ha sentença
viesse da corte e se declarasse. Apresen-
tados os papeis na corte, e visto tudo por
el Rey e por todos seus oíBciaes, pronun-
ciou ha sentença da maneira seguinte.»
Tenreiro, Itinerário, cap. 25. — « Ha
primeira he que ha sentença era muito
mais extensa e larga do que aqui esta
referida, e com os Portugueses que ba
tinham em seu poder ha terem encui'ta-
da, eu ha eucurtey mais, tomando soo as
principais forças delia e cortando tudo bo
mais.» Ibidem, cap. 26. — «Acabadas
estas perguntas, o mandou El-Rey levar
outra vez ao Castello, donde se livrou ;
mas a sua sentença nào a achámos neste
Estado, nem quem delia nos soubesse dar
informação: somente o que atrás temos
dito, ser condemuado nos ordenados de
dous annos da governança pêra Pêro
Mascarenhas.» Diogo de Couto, Década
4, liv. 6, cap. 8. — «Acabada de publi-
car esta sentença, estando nós todos nove
sempre em joelhos, e com as mãos levan-
tadas diante do Chaem, e cò outras muy-
tas cerimonias que os ministros nos ensi-
navão, dissemos alto que todos o ouvi-
rão. Confirmada he em nós a sentença
do teu claro juyzo, assi como a limpeza
do teu coração apraz ao tilho do Sol.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações,
cap. 103, — «E chegando a publicação
da nossa sentença, nos fizeraõ a todos
assentar em joelhos com as cabeças incli-
nadas ao chaõ, e as mãos ambas levanta-
das como quem faz oraçaõ, para cõ esta
humildade a ouvirmos publicar, a qual
dezia assi.» Ibidem. — «A qual informa-
ção pode tãto cõ el Rey que o fez tornar
de tudo atrás do que tinha determinado,
e mudado a sentença mãdou que visto o
que novamente lhe tinhão dito de mis,
nos fizessem a todos em quartos, os quais
serião postos nas ruas publicas paraque
publicamente se soubesse quão merece-
dores éramos daquella justiça.» Ibidem,
cap. 140. — «Porque estando ja este per-
ro para dar á execução a sentença que
tinha dada contra mim, lhe foraõ alguns
seus amigos á mão aconselhandoo que o
não fizesse, porque se me matasse, os
Portugueses todos em Pegú se avião de
queixar delle a el Rey.» Ibidem, cap.
153. — «O qual vendo, que tinha huma
sentença contra si sobre a successão; e
que não tinha por si, senaõ alguns ami-
gos, e seus criados, se fez levantar tu-
multuariamente em Santarém, ao tempo,
que jà o Duque de Alva marchava por
Alentejo.» Severim de Faria, Noticias
de Portugal, Disc. 2, cap. 9. — «E disto
hà sentenças em favor dos Cidadãos de
4«4
si<:nt
SENT
SENT
Lisboíi, o do Porto, quo todon tom pri-
vilcfíioH do Infaa(;.oo,us, concodidoa pcloa
Keyii piís^adoH.» Ibidem, Diio. ;í, cup.
22. — «So^^^ juyiso;', c julgadores, saS os
aeiia I Iodamos, que tanto os outiinilo, e
da sentença quo dào, não lia agrauo,
noni a])|irlliii.rio, antes 8o põo logo cm
cxccuvào. Estoá tra/.om por vara, liiuna
Cruz na niào, pouco mayor cie duiis jial-
mos.» i''r. (Jaspar da Crui!, Tratado das
cousas da China, cap. y. — «A ostea
tom-so amor, o aoa outroa medo, depois
do despropósito de Vieira, ou como di/.ia
um inquisidor, mandando a sentença d'es-
to ultimo: uAlii vao essa borraclieira.»
Bispo do (.irào Par;l, Memorias, publica-
das por Camillo Castello liranoo, pag. 'JO.
— Figuradanumte: — «E outra vez.
Os que absolufrdos, soram absoltos, o oa
que nam absolverdes nam seram absoltos:
E por tanto a sentença que o confessor
pronuncia depois de ter ouuida a cõtis-
sam, he coniirmada no Coo. A qual lie,
Eu te absoluo de teus peecados. E estas
palauras sam a forma deste Sacramento :
nssi como a matéria he os peecados con-
fessados.» Fr. liartholonicu dos ilarty-
rc3, Catecismo da doutrina christã, part.
1, cap. &2.
— D(tr sentença ; sentenciar, decidir,
julgar por souton^'a. — «E o que nom
parecesse pessoalmente no dia per Nós
assinado, nem mantlasse por si escuzador,
quo allegasse por cUe o embargue, e ne-
cessidade, que ouve a nom vir, devemo-
lo mandar emprazar outra vez perante
Nós, recontaudo-llie na carta do empra-
zamento toda a cauza como se passou; o
nom vindo o rotado ao prazo, que lhe
for assinado, devemos dar contra cl sen-
tença á sua revelia em esta forma.» Ord.
Affons., liv. 1, tit. 6i, §7. — «Prolii-
bio, que estando a parte ausente, e não
sendo ouvida sua defesa, senão pudesse
dar sentença em acusação alguma quo
lhe fosse feyta, o que depois coulu-màrào
muytos Pòtilicos seus sucessores. Morto
Eleutlierio a quem o Martyrologio dà
nome de Martyr, llie sueedeo Victor, I.
do nome, depois de estar a Sè vagãte
cinco dias.» Monarchia Lusitana, liv. õ,
cap. 24. — «E lio a razaõ, porque Fer-
nando Roy de Nápoles julgou o Reyno a
sua neta do seu tilko mais velho defunto,
excluindo outros tilhos mais moços : e Fi-
lippe Iley de Inglaterra deu sentença
pela sobrinha do Duque do Bretanha, ti-
llia de seu irmão mais velho, excluindo
08 varoens mais moços, irmãos do mesmo
Duque.» Arte de furtar, cap. IG, —
«Uuma hora antes de chegarmos, por
mostrar quanto nosso apayxoiiado ora,
deu sentença do morte contra elles, man-
dando quo logo os onforoiíssem, o que
tudo so fez dentro de huma hora ; som
que nÒ8 soubéssemos parte d'estas cou-
sas, mais que quando checamos, ac;iba-
rem de morrer, com o que o uosso lin-
goa 8c deu por bem vingado, pois via
Bcm vida, quem tanto desejara tirarllia.»
Fr. íi aspar da (Jruz, Tratado das cousas
da China, cap. Ki.
— Fulminar a sentença ; pronuucial-a
quando c prejudicial a alguém.
— Pronunciar a sentença; dictal-a,
pul)lical-a.
— Sentença arbitral; a que dJlo os ár-
bitros em virtude do poder ou compro-
missos das partes.
— Sentença (Ujinitiva; a que o julga-
dor, coiicluido o processo, dá linalmontc
sobre o negocio.
SENTENCIADO, part. yasa. do Senten-
ciar.
SENTENCIADOR, adj. Que sentenceia.
SENTENCIAR, v. a. iDe sentença). Dar
ou prununoiar sentença.
— Figuradamente: Decidir, dar o seu
parecer, juizo ou opinião, úcorca do uma
causa ou contenda.
— Impor qualipier pena por sentença.
SENTENCIOSAMENTE, adv. (De sen-
tencioso, com o suffixo « mente »;• Ue
mo lo sontencioso, judiciosamente.
SENTENCIOSO, adj. (Do latim smtm-
tiosus). (.irave; que contém sentenças,
máximas discretas, moralidades.
— Em (}ue ha sentenças. — Discurso
senteucioso.
SENTIDAMENTE, adv. (De sentido, com
o suíllxo «mente»). Com sentimento, com
dôr, dolorosamente.
SENTIDÍSSIMO, adj. superl. de Sentido.
Muito sentido, ou afTiicto.
SENTIDO, part. pass. de Sentir. — tÇu-
falarim, posto que fosse sentido de Fer-
não perez dandrade, e achasse nelle e
nos outros capitaens que alli estauam re-
sistência, foi desembarcar duas horas ante
manhã, antre a pouoaç;ào do Aguacim e
Benastarim. Miliqui eufgorgi, a mesma
hora chegou a çaucalim, onde estauão as
Cotias de Goa, com as quais veo sobre
Benastarim, e ganhou a estancia, posto
quo com nmita resistência, em que mor-
rerão alguns dos seus, e dos nossos de
que hum foi George do sousa.» Damião
de Góes, Chronica de D. Manoel, part. 'ò,
cap. 5. — «Alguns dias depois disto, sou-
be Nuno fernaudez, como junto Dalme-
dina estauam huns aduares, nos quaes
determinou de ir dar huma antemanhã,
mas por ser sentido, o lhe sair da cidade
muita gente de pe, e de eauallo, se tor-
nou sem fazer nada.» Ibidem, cap. 33.
— a Donde el Rei dom loam terceiro seu
filho mandou depois trosladar seus ossos
pêra ho mosteiro de Bethelem, que el
liei dom Emanuel seu pai (Como fica
apontado) fez do nouo pêra sou jazigo, e
de toJos seus filhos, sua morte foi mui
sentida per todo o regno.» Ibidem, part.
4, Ciip. 19. — «Posto que checara ato o
xerguaõ sem ser sentido, e quam pouco
alli aproueitaua por entaõ, mandou ale-
uantai* o campo, e so foi a Alcácer que-
bir dondo dcapcdio os Alcaidoa, maud&n-
dolhes que eatiueaiicm prestes pêra quan-
do OA mandaiMc chamar, os ({uaoH dexpe-
didoa «e foi pêra Fez, onde o deixaremos
por agora estar, e trataremuH duutros ne-
gócios que nentc tem[)0 pai«i-aruu em
Africa.» Ibidem, cap. 47. — t E, antes
do serem sentidos, tomaram todos oh caa-
tcilos, oshIim o (jue fora de seu iruião,
como 08 ásuf donzolla-t, matando os po-
voadores delles: que, como o duqa« de
Ortão e oa outros senhorea, cuju8 eram,
haviam a terra por at-gura, puseram nel-
ies pouca guarda.» Francisco <le Mora«f,
Palmeirim d'Inglaterra, cap. KMj, — íDLs-
farçou-rttí o bom Rey á guiza deste», e
entre elles passou uma noite, e outra, até
que cliegou a infausta para toilos : dei-
xou-se hir au chamado dos oíBciaes, que
03 levarão todos á Alfandega; e o «eu
mayor cuidado foy dar tesouradas nas ca-
piis de todos sem ser sentido.» Arte de
furtar.
Fareis bem de vos tomar
Porque estou mui mal letUido ;
Não cureis de me fallar,
Qne iiio SC p<Sdc escusar
Ser perdido.
GIL VICENTE, FIBÇAS.
— « E boijandolhe a donzolla por isso
a mão, lha leo como convinha a sua ten-
ção, cie que a Raynha dizem quo ficou
tão sentida, que nrio sendo ainda acabada
de lêr de todo, lhe disse maytas vezes
com as lagrimas nos olhos, nSo mais,
não mais, baste por agora o que tenho
ouvido.» Fernão Mendes Pinto, Peregri-
nações, cap. 142. — « E assi a voltas
de sentidas lagrimas, e amorosos abra-
ços, que amigos, e parentes nos dauão,
dando a boa viagem nos partimos huma
mcnhaã, tão cedo do dia, quam tarde
do tempo.» Fr. Gaspar da Cruz, Tra-
tado das cousas da China, cap. 1. — «Sen-
tido o Grão Turco de tão notauel afron-
ta, mandou outro poder mayor, e porque
seu caminho por onde elles canhão era o
nosso: se ordenou tomássemos outro di-
ferente, e com a ocasião desta volta, a
tiuemos para vermos a torre de Babel.»
Ibidem, cap. 10. — « Treze annoa viue-
rào 08 primos casados, no fim dos qnaes
querendo Hadixa dar a hum filho vida,
os leuou juntos a morte, cujo parto fi>i
tã lamentitdo de todas as Arábias que
Mafoma delle sentido cuydou ficar sem
cila.» Ibidem, cap. 20.
— Jleio podre. Diz-se das cousas co-
mestiveis, que começam a danmar-se, e
ter mau cheiro.-
— <S. »)i. Qualquer das cinco faculda-
des chamadas sentidos, por meio das
quaes tanto o homem, como os irracio-
naes se põem em relaç5o com o mundo
exterior ; taes são o sentido do ouvido,
do tacto, da vista, do olfato, do pala-
dar.
SENT
SEXT
SENT
485
Nestas contendas eu ando comigo,
vejo contra mi moitas sem razões,
per todos os sentidos me entram as paixões.
D. JOASSA DA GAHA, DITOS DA FBKIEA, pag. 103.
Os seus cabellos soltos spiraram
Hum odor, qua nenhuns mortaes seiUidos
Knnca chegou, e assi ua foute entraram,
Qu'he dentão para c;'i delias morada
Jlas dhuma só das outras emprestada.
ASTOXIO FEBBEIRA, EGLOGA 1.
— » Os deleites nesta vida nos cinco
sentidos se cifraí5 todos : e os da vista
com ser dos sentidos o mais nobre, saõ
de qualidade, que a noite os rouba; e
nisso que vemos de dia, ainda que nos
alegre, vemos, que ha mais defeitos para
aborrecer, que perfelçoeus para estimar.»
Arte de furtar, cap. 70.
— O entendimento, ou a razão para
discernir as cousas.
— Appetite. — Deíxar-se arrastar pe-
los seus sentidos.
— Modo particular de entender alguma
cousa, ou juízo que d'ella se forma.
— Intelligencia, ou conhecimento com
que se executam algumas cousas. — Ler
com sentido.
— Significação perfeita de alguma pro-
posição ou clausula, e, n'este caso, diz-
se : Esta jyroposiçào carece ds sentido.
— Accepçào, significado dos termos ou
palavras. — Esta palavra tem dous senti-
dos. — « E por aquy vereis os sentidos
das palauras Et regnabit in domo Jacob.
Porque chamarse o reyno de Christo de
Dauid esta claro, porque esta promessa
fez a Dauid por Natham Profeta : mas se
as promessas da vinda de Christo se fize-
raõ a Abrahào e por isso se chama seu
filho. Líber generationis lESV Christi
jili Dauid, jily AbraJiam. Porque quando
se trata do reyno de Christo se diz. i?e-
gnabit i)i d&mo lacob? Trazey a memoria
a luta que lacob teue co Anjo e o que
diz Oseas.» Paiva d'Andrade, Sermões,
part. 1, pag. 207. — «O nome do tro-
vador não foi privativo dos provençaes,
porque portuguezes e castelhanos os hou-
ve. Toma-se aqui no sentido genuino da
palavra, poeta guerreiro com seu tanto
de cavalleh-o andante, e não no vulgar e
vicioso de hoje, improvisador, verseja-
dor : digo vicioso, porque para isso temos
nós trovista.» Garrett, Camões, nota A
ao cant. 10.
— Uma ou mais interpretações que se
podem dar a uma proposição ou a algum
escripto. — Os diversos sentidos da Sa-
grada Escriptura.
— ilodo de distinguir e separar um
objecto de outro, o qual na pintura se
consegue por meio de certos toques; no
bordado com sedas de diíferentes cores,
nos vestidos com guarnições, enfeites, etc.
— Sentido accommodaticio ; o que se dá
ás palavras da Sagrada Escriptura, ap-
plicando-as ou accommodando-as a outro
sentido differente daquelle em que se di-
zem e entendem, segundo a sua própria
e rigorosa significação.
— Sentido interior; faculdade interior
na qual se recebem e inijjrimem todas as
imagens dos objectos que enviam os sen-
tidos exteriores.
— Abmidar em seu sentido; seguir a
BUã opinião.
— Com todos os seus cinco sentidos ;
com toda a attenção, advertência, cuida-
do, ou grande diligencia.
— Perder os sentidos, Jicar sem senti-
dos ; desmaiar. — « E dom loam polia
muyta vontade que pêra isso lhe viu o
fez, e o tomou polia mão, e correndo as-
si ambos a carreyra na forca do correr
o cauallo do Principe cahio, e o leuou
debaixo de si, onde logo em prouiso fi-
cou como morto, sem faia, e sem senti-
dos.» Garcia de Rezende, Chronica de
D. João II, cap. 132. — «Florendos, que
té então a não vira, esperou um pouco,
e em chegando, que pôz os olhos nella,
ficou tão esquecido de si e da aflronta
em que estava, que, perdido o sentido,
enlevado no que via, ficou sem nenhum
acordo. » Francisco de Moraes, Palmeirim
d'Inglaterra, cap. 110.
— Inttrj. Tomar cuidado; ter conta,
est-ar alerta.
SENTIENTE. Vid. Sensiente.
SENTILHO, s. 7)i. Cintilho.
SENTIMENTAL, adj. Que excita ou ex-
prime sentimentos, affecto pathetico.
Eccos seiífimentaes, que a morte agourão,
Que sahidos dos túmulos parecem,
Nào sei de que prazer meu peito inundào :
Somno da morte, és grato a hum desditoso !
J. A. DE UACEDO, UEDITAçlo, Caut. 3.
— Diz-se da pessoa propensa a afle-
ctos, a impulsos fortes da alma.
■ — Escola sentimental ; a que attribue
a idêa do bom moral a um instincto da
sensibilidade.
SENTIMENTALISMO, í. m. Maneira de
exagerar o sentimento, desnaturalisando-
se, iazendo-o cair no ridículo. Exagera-
ção dos affectos de ternura.
SENTIMENTO, s. m. Percepção da al-
ma nas cousas espirituaes, sensação inti-
ma,— «E sam tam cordiais as consola-
ções, em que a alma per este conheci-
mento, e sentimento toda fica banhada,
porque nenhum caso sente hum homem,
nam digo ja os temores, que passam com
03 perigos, mas nem sentira a me^ma
morte, se nelles acabara.» Lucena, Vida
de S. Francisco Xavier, liv. 4, cap. 7.
— R Cuido se levantaram, por que os
olhos publicavam os sentimentos da al-
ma d'aquelles tristes e pobres desterra-
dos.» Bispo do Grão Pará, Memorias,
publicadas por Camillo Castello Branco,
pag. 182. — «Continuou o Suppico nos
seus desacertos; e introduzindo-se com o
infante D. Francisco, se presumiu que
lhe inspirava sentimentos indignos do
nascimento de infante, com infidelidade
á coroa, desconfiança que se aggravou •
com a retirada d'elle para Inglaterra.»
Ibidem, cap. 110.
— Dôr, pena, pezar; magua, desgosto.
— «Atras fica dito como o Condestabre
dom Afonso casou com donna loanna de
Noronha, filha de dom Pedro de mene-
ses, primeiro Marques de villa Real, o
qual Condestabre estando em Beja, mo-
ço, e na frol de sua idade veo adoecer
de doença de que morreo no mesmo lu-
gar, no mes Doctubro destãno de M. D,
iiij. de cuja morte el Rei mosti-ou gran-
de sentimento, por lhe ser muito affei-
çoado.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 1, cap. 82. — «Por sua
morte mostrarem muito sentimento os
Reis de Calecut, Cananor, e Coulam, e
sobre todos o de Cochim que era muito
seu amigo, e o mesmo se sentio no Ca-
baim dalcão, e em Miliquiaz senhor de
Dio não por lhe estes dous quererem
bem, senam pela grande estima era que
o tinham, mas sobre todos deu mores
mostras Xxirandar Rei de Ormuz, quan-
do lhe deram as nouas de seu falecimen-
to, porque o chorou muitos dias, e se en-
earrou e tomou dó ao seu modo.n Ibidem,
part. 3, cap. 80. — «El Rey por tama-
nha perda, tamanho nojo, e sentimento
se trosquiou. E elle, e a Rainha se ves-
tirão de muyto baixo pano negro. E a
Princesa trosquiou os seus prezados cabe-
los, e se vestio dalmafega, e a cabeça
cuberta negro vaso. E na Corte, e em
todo o Reyno não ficou senhor, nem pes-
soa principal, nem homem conhecido que
se não trosquiasse.» Garcia de Rezende,
Chronica de D. João II, cap. 132. —
«Com este choro, e sentimento foi en-
terrado em huma Capella de N. Senhora,
que elle mandara fazer na porta da Ci-
dade, a que chamam de N. Senhora da
Serra, por causa da vocação da Casa que
fez, pola razão que já dissemos, na qual
tem Missa cotidiana, que hoje se diz por
sua alma, com renda que pêra isso lá or-
denou.» Barros, Década 2, liv. 10, cap.
8. — «E fez outras demonstrações de sen-
timento, dizendo a quem lho estranhava,
que o naõ fazia por perder huma bata-
lha, sendo cousa taõ ordinária entre os
Reis, mas por ser vencido de taõ pouca
gente taõ mal armada, e de quem elle
naõ fazia conta.» Fr. Bernardo de Bri-
to, Elogios dos reis de Portugal, conti-
nuados por D. José Barbosa.
Até quando vos vejo entrar na gloria,
Viverei n"hum continuo feiitimento :
E ainda eutào vereis (sisto ser possa)
Esta minh°alma lá servir a vossa.
CAM., EGLOGA 5.
— «Pelo que lhe parecia que avia mys-
486
SENT
SENT
SENT
ter muyto mor po lor que o que trouxera
para tamanho feito, c que a Deoi toma-
va por tosteiiiuiiliii da grade dôr o senti-
mento que tinha i)elo reccyo cm quo es-
tava do lho acõtceor algum dc8;i.->tre. »
Fornilo Mciidos Pinto, Peregrinações, cap,
9. — fPuli) qual a lua oní nninoria do
sentimento doíta morto, se cobrio do dó,
que eao aquellas nódoas da sombi-a da
torra quo cõmummonto lho vemos, o que
quando acordar, ([uo será dcspois de pas-
sarem tantos annos quantas foraõ as crian-
ças que pario, que saõ, como dis.so 3.'U5i}3,
então tirará a lua aquclla mascara do dó,
o licanl a noito ilaly por diante tão clara
como o dia.» Ibidem, cap, 111. — «E ou-
vcrào tamaiiiio di) das lagrimas o des-
acustumalo sentimento quo virão naquclla
molhor, que detcrminarào todas entre sy
de escreverem huma carta á may dei Rey
em nosso favor, a qual escreverão aly lo-
go, em quo lhe davão cota de toda a ver-
dade de nós, o do quo por dito do povo
tiuhão sabido, e quanto contra justiça se
dera aquclla sentença contra nós, e tam-
bém lho dozlào o que esta Portuguesa ti-
zcra.» Ibidem, cap. 141. — iDe maney-
ra quo todos estes cõ estas taõ varias e
taõ terríveis asperezas de vida saò mar-
tyrcs do demónio, o qual lhes dá por pre-
mio delias o inferno para sempre. Pelo
qual he cousa digna de grãdissima dôr e
sentimento ver o nmyto que estes mise-
ráveis fazem por se perderem, e o pouco
que os mais dos Christaõs fazemos por nos
salvarmos.* Ibidem, cap. 161.
Este acto tão nefando, e indigno tanto
Do que huma o outra bandeira merecia,
Com gravo sentimcnlo c hirgo pranto
Contcmnlado então foi da gente pia.
liem deâCJiVrão todos mostrar quanto
Kata religião os acendia,
So o distante logar não lh'impedira
O elíeito de tão justa, e tão pia ira.
rsANciâCú nv: akdbade, pbimbibo cebco de did,
cant. 14, est. 104.
— «Melhor pareceu ás que ouviao a
cantiga, que a primeira, com que se af-
feiçoáraõ; porque convinha mais a seu
propozito quo ao sentimento, o queixume
de males alheios; derau-lhe os louvores,
que podiaij. D Rodrigues Lobo, Desenga-
nado, cap. 10.
De maneira me alegraste,
Quo me esqueci do tormento:
Com o signal, que mostraste.
Cessem j\ lagrimas, baste
O passado seiUimeiUo.
IDEM, BQLOaÀS.
— Affecto intimo da alma.
— Acção de perceber os objectos po-
ios sentidos.
— Sentido, sentença, parecer, juizo,
opinião.
— Rescntimento, indignação contra al-
guém.
— Rachadura de uma parede, vaso,
etc, estado pouco solido de edifício ou
outra cousa.
— Principio de jtodridào, mau cheiro.
— Ttr òuiis, ou vtaus sentimentos ;
ter bom, ou mau coração.
— 1'er sentimentos noòres, ou baixo»;
ter coração nobre, ou alma vil.
— Iluiiiem sem sentimentos; impruden-
te, disfarçado, desavergonlmdo, etc.
SENTINA, «./. (Do latim stiUinu). Ter-
mo de náutica. Arca da bomba ou parte
baixa do navio onde bo ajunta e corrom-
pe a agua, e se accumulam as immun-
dicias.
— Cair nu sentina ; diz-se, a bordo,
filiando do individuo que uào apparece
por mais que se chame e se procure por
elle.
— Figuradamente : Receptáculo de cou-
sas podres, do immuudicias.
— Cloaca; logar hediondo, receptácu-
lo do cousas torpes, foco de vícios.
SENTINELLA, s. f. Soldado que fica
cm vigia, ou guarda militar em um pos-
to. — tOs que puderão escapar fugindo,
despertarão o arrayal com gemidos, e
vozes, sem saber affirmar cousa certa.
Com a mesma confusão chegou a Rume-
cão a nova; e como os perigos da noite
se fazem jtarecer maiores, entendeo elle,
que o atrevimento dos nossos estribava
em forças maiores traziíàas cm algum soc-
corro, que havia chegado a furto de suas
seutinellas.» Jaciutho Freire d'Andrade,
Vida de D. João de Castro, liv. 2.
— Figuradamente : O que vigia, ou
guarda alguma cousa.
S'ergue contr'cllc o braço o fero in'migo,
Pelo salvar ao forro oppõc seu peito,
lie delle prompta seiíliiidla activa,
Serve-lhe &3 precisões, c ao gosto servo.
Xo espesso mato a caça lhe fareja ;
E na lodosa, túrbida lagoa,
Sentindo a jireza, intrépido se atfunds.
J. A. DE UACEDO, UKDITÀÇÃO, CJint. 3.
— liendei- a sentinella ; tiral-a, mu-
dal-a, pôr outra em seu logar.
— Sentiuellas jjcrdidas; as avançadas,
que ficam muito longe do corpo do exer-
cito, ou dos arraíaes, de maneira que o
inimiiío quasi .«empre as mata, ou prendo.
SENTINODIA, s. f. Herva officinal.
SENTIR, V. a. {\)o latim sentire). Per-
ceber por meio dos sentidos as impres-
sões dos objectos. — Sentir abrir a por-
ta. — Senti um gosto amargo. — Sinto
viati clieiro n'esta sala. — Senti os seus
lábios tocarem os meus. — «O do Salva-
ge se lançou f'>ra do cavallo polo sentir
fraco, e arrancando da espada os aguar-
dou, dizendo : Paroce-me, senhores, que
vos acolheis ao mais seguro, pois ajudai-
vos de toda a vileza que poderdes, que
por derradeii"o as donzellas irão comigo,
e comvosco ficará a magoa de as perder;
o oxalá vos fique só essa perda.» Fran-
cÍBco do Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 110.
Sed libera no» a mato ;
Babeis qui: cá chove lia dias
que uào bastam yi gamclaii?
O que hào bota» com chinctla<iV
porque $entfm as madres frios
todos os qac audam sem cilas.
ílJtckio rsEsTics, ACTOS, pag. 159.
Sc quando vos perdi, minha esperança,
A memoria perdera jantamcnto
Do doce bem passado e mal prcscnto,
Pouco sentira a dúr de tal mudança.
CA.1(., 80SET09, u." 2ó.
— fOs naturacs sentirão os imigos, e
tomando oa armas se puzeraõ cm defen-
são, pelejando muito valerosamentc, go-
vernaudo-os o Tumugaõ, e Handarà, com
muito animo, e esforço.» Diogo de Con-
to, Década G, liv. 9, cap. 6. — f Então
deixando sua sobrinha agasalhada no seu
aposento, abrio huma porta de hum pas-
sadiço de que ella só trazia a chave, o
80 recolheo para a camará onde a Ray-
nha jazia deitada, e dizem que sendo ja
passado meyo quarto da lua acordou a
l^ynha, e sentindoa aos seus peis lhe
disse, que he isto Nhay Meicamur, (por-
que assi se chamava esta sua camareyra
mór) como vos deixastes cá esquecer esta
noite y alguma grande novidade deve isto
de ser.» Fernão Mendes Pinto, Peregri-
nações, cap. 142.
Volta ao imigo a espada c o forte peito
Que agora para a morto o incita c cihorta,
E sendo alli o logar assaz estreito
Faz ao Turco sentir quanto cUa corta ;
Trata os que acha diante de tal geito
Que faz que outra vei entrem poú porta
Que estar no muro velho disse agi'«ra,
Até que cora oUes sabe ao largo f.'.ra.
FKANCISCO d'áKDBXDE, PBIJIEIBO CESSO DB DItT,
cant. 17, est. 82.
O lutco inda que duro vaso quando
A dureza da pedra encontra e seiUe,
Mil pedaços se f;iz. com que mostrando
Sc esteve á miír dureza obediente ;
E d'hum murrão quo o vai acompanhando
Se lhe commuuicou a chainma ardente.
Faz logo o usado effeito a ardente chainma,
Abraza, despedaça, acende, inflamma.
iBiDBU, cant. 19, eat. 105.
— « Não é fácil prender algum por que
não dormem em casa, mas sim no matto ;
e sentindo soldados ou novidade no rio
toc^mi bosinas do sertão ou tabocas que
se ouvem muito, e mais com o éeco do
arvoredo, eacjiutellam-se.» Bispo do Grão
Pará, Memorias, publicadas por Camillo
Castello Branco, pag. 201.
Em Mombaça encontrei duro inimigo,
Astuto engano, c barbara cilada.
Mas senlio logo os golpes do c-istigo,
IVorando o fio á Lusitana espada :
SENT
SENT
SENT
487
D'hum natifragio cm certíssimo perigo,
Errou sem tino a fluctuante Armada,
Mas contrastando um mar tempestuoso,
Vim no teu reino abrigo achar ditoso.
J. À.. DE MACEDO, 0 OHfESTE, CaUt. 7, CSt. 93.
— Soífrer, padecer, supportar. — «De-
pois, tornando a praticar com todas em
cousas de seu gosto, gastava assim o
tempo 6 sentia menos o enfadamento das
jornadas; porem Polifema, que assim se
chamava a donzella d'Arlança com que a
noite d'anteâ estivera, como quem cuida-
va que tiaha nelle maior quinhão, pesa-
va-lhe vel-o praticar com outrem. r> Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 12Õ.
Senhor, de qne se acha mal
O Príncipe, OU que mal sente?
Senhor, sei que está doente;
Mas sua doençA he tal,
QuVntcnder se não consente.
Os Phrsicos vem c vào,
Huns e outros a mcude,
Sem o poderem dar são.
CjLU., el-rei selecco.
— «Nem até o preisente ver minha mu-
lher, que ha sete annos que está viuva
de mim, por eu andar occupado no ser-
viço de V. A. e não a deixarem fallar
comigo, o que eu mais senti que todos os
tormentos outros que me deram.» Diogo
de Couto, Década 4, liv. 6, cap. 7.
Ligeiramente Sousa a fusta afferra,
Que de grandes empresas era amigo.
Pcdr' Alvares d'Almeida lá se encerra,
Segue António Corrêa este perigo.
Salta também na fusta o que na terra
Cambaia, ja sentia o jugo iraigo.
Segue hum Lopo também este caminho,
Que por alcunhas tem Sousa, Coutinho.
FRAKCISCO d'aSDEADK, PKIJIEIBO CEECO DE DIU,
cant. 7, est. 24.
Eu sou Baudur que tanto desejáveis,
Brada, vendo-se em tal necessidade.
Mas se os desventurados miseráveis
Que sentem da fortuna a crueldade,
Xos mais ferinos peitos, o intratáveis
Brandura acharão sempre, e piedade,
Era vós agora, ó nobres Lusitanos,
Não me falte esta a mi, pois sois humanos.
IBIDEM, cant. 7, est. 73.
— Cheirar mal, estar meio podre.
— Figuradamente : Entender, conhe-
cer, perceber. — cYasco da Gama posto
que sentisse que todos estes artilicios
eraS dilações pêra o deter te a vinda das
nãos de Mecha, segundo lhe tinha dito o
Mouro Monçaide.» Barros, Década 1, liv.
4, cap. 10. — «Palmeirim que os vio em
tal estado, pesando-lhe d'Albayzar, qui-
zera apartal-os mas não pôde, que Al-
bayzar lhe pediu que lhe deixasse levar
sua batalha avante, que inda sentia em
si disposição pêra acabar á sua vontade.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 75. — «E sentindo que quem
tanto ti-abalhava por se encobrir seria
escusado mandar por elle, o nào fez. Po-
rém o prazer geral de Floramào ser ven-
cido, fez esquecer o pesar de se não co-
nhecer o vencedor, e não é muito de es-
pantar destas mudanças, que a fortuna
traz, comsigo, pois suas cousas, de gloria
ou miséria andam sempre acompanha-
das.» Ibidem, cap. 2b. — «Antes de che-
gar a elle dez passos, disse em voz alta:
Já sei, senhor cavalleiro, que o bom con-
selho não se ha de dar a quem o nào
sabe sentir: mandei-vos pedir o escudo
por me nào obrigardes a tomal-o; pare-
ce-me que quizestes antes perdel-o á vos-
sa custa, que dal-o com vossa honra, poia
agora estaes a tempo de vèr o que ga-
nhastes n'isso.i) Ibidem, cap. 110. — «E
o cavalleiro do ííalvage o sentiu, assim
na maneira do olhar e no confranger-se,
como em outros accidentes, de que Al-
fernao ia desesperado, que lhe pareceu
que sua negociação se desfazia de todo.»
Ibidem, cap. llò. — «O do Salvage, sen-
tindo o que d antes se andava pêra ren-
der com este novo favor cobrava forças,
avivou os golpes, dizendo : Não me pesa
senão porque destas ajudas vos não hão de
vir muitas, pêra me contentar mais da
victoria.» Ibidem, cap. 116. — «Da-me
alviçaras, disse o do Tigre, que, se mui-
to desejas achar-te com esses homens,
ante ti os tens: todos somos dessa casa,
que perguntas : eu sou filho de D. Dnar-
dos, irmão do cavalleiro do Salvagem,
que te farei sentir o engano e traição,
com que daqui o foram buscar.» Ibidem,
cap. 117. — «Por isso não deis tamanha
victoria de vós a quem a não sabe sen-
tir, que seria consumir o tempo em vai-
dades sem nenhum fructo ; o verdadeiro
treslado, que vos essas representam, n'ou-
tra parte o tendes; essas vamos buscar,
que estoutras cada vez que volo a von-
tade pedir, estão ofFerecidas a logrardes
o seu parecer fantástico sem contradição
de ninguém. Nisto se virou pêra elle o
cavalleiro do Tigre dizendo.» Ibidem,
cap. 120. — «Ao outro dia o cavalleiro
do Salvagem se poz em seu caminho com
as donzellas ; e porque sentiu em Arlan-
ça pejo do que lhe acontecera, e que de
corrida não ousava olhar pêra elle como
sahi, se chegou pêra ella, e praticando
em cousas, que pareciam de sua honra e
proveito, a assocegou e segurou do pen-
samento que tanto a atormentava.» Ibi-
dem, cap. 12Õ.
Eu fallo como quem sente
Em vós esta calidade,
Pelo que vejo presente ;
E se me esta mostra mente,
Mente-me a mesma verdade.
CAM., EL-BEI SELEUCO.
— sDo qual elles por então se escu-
sarão, dizendo que lhe afi&rmavão em
toda a verdade que não sentião em sy
entendimento para se determinarem tão
depressa no que lhes preguntava, mas
que conforme a seus custumes e ritos an-
tigos lançassem sortes como sempre cus-
tumavào fazer em semelhantes apertos, e
que naquelle em quem caisse poder fa-
lar, esse dissesse o que Deos no coração
lhe inspirasse.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 92. — «Juro assim
mesmo, que em qualquer maneira, e em
qualquer tempo, que sentir dano, ou pro-
veito do dito Éey Nosso Senhor, que a
meu officio toque, e pertença, o revela-
rei, e direi à sua própria pessoa, ou a
quem por elle me for mandado, resalvan-
do em guerra, se o dito Rey Nosso Se-
nhor com algum Rey, ou Príncipe a ti-
vesse, ou com qualquer outra pessoa, a
que por meu ofBcio saõ obrigado guardar
segi-edo, assim a meu Senhor, como à
parte contraria.» Manoel Severim de Fa-
ria, Noticias de Portugal, Disc. 3, cap.
19. — «Os negros se lançarão de ar-
remesso ao rio tè onde a agoa lhe deu
pela barba, e tanto que não sentirão re-
médio pêra nos entrarem, começarão
huma gralhada e arreganhar de dentes,
que ao próprio Demónio do Inferno po-
rião temor, e espanto.» Fr. Gaspar da
Cruz, Tratado das cousas da China, cap.
5. — «Vendo-me em tal estado, me veio
á imaginação a queda que antigamente
em mim sentia para a leitura, e agora
minha necessária consolação : logo dese-
jei que se me deparasse algimia desven-
turosa, que me podésse servir de guia, e
vindo depois a ser amiga minha, contri-
buisse para o meu descanso, e me oflfe-
reeesse occasião de lhe enxugar as lagri-
mas.» Francisco Manoel do Nascimento,
Successos de madame de Seneterre.
Nós conhecemos lá, e aqui sentimos
A impressão da bondade eterna, e santa ;
A causa nos occulta, o mostra eôeitos.
Xào pôde haver incrédulos, se os olhos,
E a mente para os Ceos sinceros volvem.
J. A. DE MACEDO, A NAICBEZA, Cant. 1.
Só da triste Estação não sente o peso
Minha alma que em si mesma se concentra.
Qual incêndio abafado em si conserva
Mais viva, mais audaz do Pindo a ehamma.
Nào vês crespas correr do rio as agoas ?
O brando vento com benigno assopro
Taes bens derrama de principio ignoto,
O etfeito sentes só, e a causa ignoras ;
São da Escola as hypotheses obscuras.
IBIDEM, cant. 2.
Errante, e so no bosque, elle não sente
Mais que a cega, e fatal necessidade
Da guerra atroz, que o pasto lhe grangêa :
He livre, ignora as leis, e o jugo ignora ;
Só elle he para si justiça, e freio.
IDEM, MEDITAÇÃO, Cant. 4.
488
SENT
SENT
SENT
La Lnnde a imaginou, La Lnndc n nenle,
Mus fogo, foge ao nuinoro da» cifraii,
A'n (íiiiiíiçõoH aigobricaH ho cHCondo.
IDKM, VI.laKM EXTATIKA, Cilllt. 1.
— Prc«cntii', ftutovôr, conhecer ante-
cipailamento por aJ>;unH sif^naoB ou iiidi-
ciorf o (juo lui-iio Hiiccediír; diz-se osjjc-
cialiiiiinto dos auliiiaea (|Uo conliccem a
a|)[)r(ixiiii;i^'rio dos tcmporao» o oh annun-
ciaiii com alfíuns inovimoiito.s,
— Julgar, conceituar, formar parecer
ou opinião. — «A donzidla se despediu
(lello c de todos em pirai; o porque Po
linarda nào estava ai li, que se rouoliiêra
á Hua camará com Dramaciana pêra po-
sar mais á sua vontade o contentamento
daquellas novas, a donzella foi também
despedir-so d'olla; o veudo-a mais à sua
vontade do que d'antes tizera, como em
tudo fosse discreta, loj^o sentiu que d'al-
li nascia a Palmeirim enfeitar as cousas
prandes: e o aíTirniou muito mais, depois
que viu quão i)articularnicnte lhe per-
guntava )ior suas cousas.» Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, capitulo
104.
— í]ntender cousa que requer prande
e discreto entendimento, o que sabe co-
nhecer o preço, o valor, e ter delia jus-
ta opinião.
— Seutiram-lhe dinJieiro ; souberam
quo o tinha.
— Ter pena, mapua, pczar, ou outro
affecto do animo; lastimar, condoer-se.
— «De que o Príncipe ouuo muyto des-
prazer, o nunca nisso consentio, antes
disse a el Rey seu pay, que pois queria
fazer mercê aos que contra clle so ale-
uantauam, que faria aos que o muyto
bem seruissem. E porque o Príncipe sen-
tio muyto o dito Lopo Vaz se aleuantar
assi sem causa, e nào tiar ja dclle, por
escusar de o poder fazer outra voz, deter-
minou de o mandar matar.» Damião de
Goos, Chronica de D. Manoel, part. 1,
cap. 20. — «E o danno que o Samorij
mães sentio (poro que aqui morressem
todolos capitães, e muitas pessoas nota-
uéis) foi a perdida do lugar, e nãos que
ali cstauão carregadas de muita fazenda,
que alcançou a muitos, jiorque o fogo
tudo consumio.» Barros, Década 2, liv.
1, cap. G. — »E as outras vólas da Ar-
mada, por irem mais a la mar, passaram
avante, c alguns delles foram surgir dian-
te do porto da Cidade Dio, que Afibnso
d'Albuquerquo muito sentio, porque a
foram espertar de sua vinda, e por isso
suspcndeo os Capitães das capitanias por
algum tempo.» Ibidem, liv. 8, cap. õ.
— «A qual noua cl Rey muyto sentio,
porque tinha muyto boa vontade ao dito
dom António, e o tinha cm muyto boa
conta, o assi a Christouão de Mello, e
aos outros, o com muyta diligencia man-
dou logo a dita cidade soccorro, o outro
capitam.» Garcia do Rezende, Chronica
de D. João II, cap. Tf). — «O que an-
tro muitas, (pie lembravam, mais sentia,
era não poder achar na memoria lem-
brança d'algum contentamento, que um
liorji de sua senhora recebesso, achando
mil aggravos pcra sentir, e de que nun-
ca S(! ([ueixiiu.n J''rancÍBco de Moraes,
Palmeirim dlnglaterra, cap. Of). — «As-
sim que nisto passavam tempo, umas
rindo, outras sentindo o desastre de seus
servidores; que assim ó tudo, o que dá
prazer a um, entristecer a outro.» Ibi-
dem, cap. 12IJ.
Com lagrima» ainostriio, quanto Mentem,
E quanto lhe a aiiibon doe sua morte crua.
rOKTK IIEAI., MAlIKRAaiO UK BKrULYKDA , Cant. 4.
— «Em Cochim fui mal aposentado
nas pcioros casas da Cidade, nos esteiros
ontro os monturos, o que nmito senti,
por ser contra a humanidade, e fidalguia,
o em Cidade, onde mo lizeram ÍJoverna-
dor de V. A.» Diogo de Couto, Década
4, liv. tí, cap. 7. — «Madre Maluco foy
logo avisado da destruição da sua Cida-
de, e deixando tudo acodio a cila com
muita pressa, achando-a toda abrazada,
e assolada. ElRey do Cambaya sentio
em estremo aquellas cousas, e assentou
com seus Capitaons de hir em pessoa
com todo o seu poder cercar a fortaleza
de Dio, e nào se hir de sobre ella ate de
todo a destruir, mandando logo fazer
grandes preparamcntos, e chamamento
de vassallos por todos os seus Rcynos.»
Idem, Década (3, liv. 4, cap. 7. — «Dos
mortos conhecidos foraõ hum filho de Pe-
dro Afíbnso de Avelar, Pêro Coelho de
Castro, Balthazar do Amaral, filho do
Doutor Francisco do Amaral, Correge-
dor da Corte, Conçalo de Moraes de Sou-
sa, Francisco Botelho, filho do Meirinho
da Inquisição do Reino, e outros muitos
cavallciros muito hourados. Dom Antaõ
de Noronha acodio àquella parte, e ven-
do a desaventura (posto que por hum
muito pequeno espaço escapíira delia)
sentio o caso tanto, que lhe correrão as
lagrimas pelos olhos. Vendo o assim Mir
Maxet (iuazil do Magostaõ, chegou-se a
elle, e lhe disse.» Ibidem, liv. 9, cap.
14. — «O Rvo Drut, que por bayxo cor-
ria era de agoa salgada, o que todos sen-
timos. Mas dali duas Icgoas, demos com
a Aldeã Cabrestam, ou Caurcstam, que
ja foy dei Rey de Ormus posto que hoje
seja do Sophi. Tanto que ncUa entramos
nos veyo receber a mayor parte do po-
uo.» Fr. Gaspar da Cruz, Tratado das
cousas da China, cap. 12. — «Com o
qual ficou Xcch Vmbarech, tão obriga-
do aos Portugueses, que ya não sabia,
com que modo, o encarecimento podcsse
mostrar, quanto sentia o aggrauo, que
so nos fizera.» Ibidem, cap. 16. — «Aui-
samolo com tudo que não mostrasse gos-
to particular nisto, aos quo lho vinbão
dar a noua, e podir m aluiceras. Ante»
deziamos a todos, que nalma sentíamos
a morte daquellcB homens, e que só nos
pozaua não chegarmos a tempo de pe-
dirmos perdão {Kir elles.i Ibidem. — «E
\ii>r esta causa se lhe ofTerecião todos,
com suas armas, e peHHuoa, pcra a vin-
gança da morte do pay, que elics muyto
bem conhecerão, o tanto sentirão. Èm
quanto Ismael entindeo ser seu tio laca-
po viuo, ja mais se quis moaer de Hir-
cania.» Ibidem, cap. 21. — «V. A. me
prometeo p)r esta noite á Princesa Por-
cia, daquella mesma fornia que se prome-
tem as Marionetas. Ninguém sente maia
do que ou fazer com que V. A. falte
nesta occasião á sua palavra. Diz o Me-
dico que se eu sayo hoje de casa, c so
me tento a cear que será sem duvida
pela ultima vez.» Cavalleiro d'01iveira,
Cartas, liv. 3, n." 30.
— Accommodar as acções exteriores
ás expressões ou palavras, ou dar-lhes o
sentido que lhes corresponde.
— Sentir-se, v. reji. Achar-se, conhe-
cer o que passa em si. — Sentia-se mui-
to doente. — «Sentindose jà mortal, man-
dou quo o levassem á Igreja, onde ele-
geo por primeiro Abade daquelle Mos-
teyro a Dicencio, Mongo de muyta per-
feição que o acompanhara e servira de
menino, e depois de recebidos todos os
Sacramentos da Igreja, e ter dado sua
benção aos Monges e Seculares, que o
viuhaõ visitar.» Monarchia Lusitana, liv.
6, cap. 23.
— Resentir-se, offender-se; mostrar
sentimento ou pezar. — «E antre estes
foy António Freire, quo esta noite fez
obras merecedoras de mayores louvores :
mas a fortuna invejosa delias, ordenou
que lhe dessem uma espingardada de que
cahio logo morto, o que se sentio bem
antre todos os da fortaleza, porque este
era hum dos homens, que mais sustenta-
va o jjezo, e o trabalho daquelle cerco,
com seu esforço, conselho, c com sen di-
nheiro, de que deu muito a muitos.»
Diogo de Couto, Década G, liv. 2, cap. 3.
— Queixar-se, padecer alguma dôr,
sentir algiuna indisposição. — Senlir-se
da caheqa.
— Conhecer o estado em que so está
cm certos casos. — Sentir-se ;)e;Wa.
— Conhocer-se, notar-se, A'êr-8e, per-
ceber-se. — « Pequenos erros, que no
principio naõ se sentem, saõ mais peri-
gosos, que 03 grandes, que se vêm; por-
que o perig<i. quo so entende, obriga a
buscar remédio. » Arte de furtar, cap. 30.
— « Por entre a gente os vimos, e clles
a nus, sendo tanto dambas as partes o
contentamento, que sò creo o sentirá,
quem conhecer que cousas grandes me-,
Ihor se cxplicão com sentilas, do que COB
explicalas se sentem.» Fr. H aspar
Cruz, Tratado das cousas da China, ca
pitulo 6.
SEPA
SEPA
SEPO
489
— Haver sensação na gente. — Sentiu-
se um grande abalo, por causa da explo-
são.
— Achar-se bem, mal, indisposto, tris-
te, alesrre, etc.
— Loc. ADV. : Sem se sentir; inadver-
tidamente, sem conhecimento, sem cui-
dado.
— Adagio:
— Cada um sente suas magoas.
Não lanço eu d'Í5so mão ;
isto é dõr d outra feição,
cada um sente suas magoas ;
quizera eu fazer as agoas,
leval-as á mestra pão,
que isto é praga que me come ;
quero-a morta.
A2)T0SI0 FBESTES, AUTOS, pag. 137.
f SENTO, ant. prés. do indic. do ver-
bo sentir.
Pois bem setito
Que o vosso saber he vento.
Fica a cousa declarada,
Meu parecer ser nada.
C.4.M., EL-BEI SELECCO.
SENZALA, í. /. Termo do Brazil. Ca-
bana, casa rústica, choça onde habitam
escravos. == Usailo por Garção, Poesias.
SEO. Vid. Seu, e Seio. — « Também se
encontrão nos olhos dous pares de ner-
vos. O primeiro par saõ os Ópticos, que
derivaõ o seo nascimento da primeira
conjugação, e saõ destinados para a vi-
são. O segundo, da segunda conjugação ;
e se ordenaõ para o movimento dos mús-
culos; como ja ponderamos na anatomia
do cérebro.» Braz Luiz d Abreu, Portu-
gal medico, pag. l-í, § 97. — «E como a
seccura he principio da desolação da na-
tureza ; porque vivemos do seo contrario,
qual he o húmido radical; fundamento,
que tiveraõ os Estóicos para affirmarera,
que o Universo teve o seo principio da
humidade), bem pode o Medico na pre-
zença da seccura nimia predizer pestes.
Epidemias, febres ardentes, Erysipelas,
e outros males deste género, como tem
Galeno.» Ibidem, pag. 415, § 57.
SEPA. Vid. Cepa.
SEPALA, s. /. Termo de botânica. Ca-
da uma das peças que compõem o calyx
das flores.
SEPARAÇÃO, s. f. (Do latim separatlo-
nem). Acção de separar uma cousa de ou-
tra.
— Divisão, partição.
— Afastamento, distancia.
— Cousa que separa. ■ — Esta porta,
este tahique é a única separação dos dous
quartos.
— Desniembraujento.
SEPARADAMENTE, adv. (De separado,
com o suffixo «mente»;. Com separação,
apartadamente.
voL. V. — 62.
— Apartadamente, á parte, sobre si,
cada nm de per si.
SEPARADAS, s. /. pi. Mercês que D.
Aífonso V fazia do juro dos casamentos,
ou dotes que devia a certas pessoas em
cada anno, até poder pagar o dote.
SEPARADO, jxirt. jjass. de Separar. —
« Escusou de o fazer, pelo que deu a ca-
pitania da mesma armada a dom Vasquo
da Gama, em que entrauam dez velas,
de que eram capitaens dom Luis Couti-
nho, Pedrafonso daguiar, Francisco da
Cunha, loam Lopes perestrelo. Rui da
Castanheda, Gil Matoso, Luis Fernandez,
António do campo, Diogo Pirez, e das
cinco velas que hiauí separadas em capi-
tania per sim era capitam Vicente Sodre,
tio de dom Vasquo da Gama, os outros
capitaens, eram Brás Sodre seu irmam.
Pêro Dataide, Pêro Raphael, e loam róis
badarças.» Damião de Góes, Chronica de
D. Manoel, part. 1, cap. 68. — «Nesta
cidade em ruas separadas por sy de cer-
tos bairros ha humas casas a que elles
chamão Laginampur, que quer dizer in-
sino de pobres, nas quais por ordem da
camará se ensina a todos os moços ocio-
sos a que se não sabe pay, assi a dou-
trina, como o lêr e escrever, e todos os
officios mecânicos, até que por suas mãos
podem ganhar suas vidas, e destas casas
não ha taõ poucas nesta cidade, que não
passem de duzentas, e quiçá de quinhen-
tas.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 112. — «Pobre Suzanna! úni-
co objecto que então me tomavas o ani-
mo ! que escripto o tinha o Fado seres tu
quem decidisse de todas as affeições da
minha alma ! Apenas tomei posto no na-
vio, me entregou o marido de Agostinha
um maço lacrado, que Madama Depréval
lhe encommendára que então m'o desse
quando o mar nos tives e separado uma
da outra.» Francisco ]Manoel do Nasci-
mento, Suocessos de madame de Sene-
terre.
SEPARADOR, s. m. O que separa, ou
aparta.
SEPARAR, 1-. a. (Do latim sepjarare).
Apartar, pôr distante, desunir. — «Infor-
mado el Rei per Pedralurez Cabral do
que passara com el Rei de Calecut, e das
treiçoens que lhe os mouros da terra ar-
maram, determinou de o mandar outra
vez a índia, mas por el Rei querer se-
parar da sua bandeira cinco velas que
também mandaua a índia que tinha dada
a capitania a Vicente sodre, pêra ficar
là, e andar darmada contra os mouros.»
Damião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 1, cap. 68. — « A Deshonra a que
podemos chamar verdadeyra he a que
consiste no interior do homem, formando-
se do crime que nos separa da origem da
honra que he Deos, fora do qual não ha
mais que deshonra e que miséria.» Caval-
leiro de Oliveira, Cartas, liv. 1, n.° 51.
— Divorciar.
— Apartar os novilhos da manada, le-
vando-os para pastos onde não estejam
as mães.
— Separar-se, v. refl. Apartar-se, ces-
sar a união, dividir-se imia cousa da ou-
tra.
— Apartar-se, deixar-se, abster-se de
alguma cousa, renuncial-a, abandonal-a.
— «Casando alguma molher, promettendo
ao marido certo dote em casamento, e dan-
do por fiador alguma outra molher, que se
obrigasse por elía pagar o dito dote, sepa-
rando-se o dito matrimonio; ca em tal
caso ficará essa mulher, que assy foi fia-
dor, obrigada á dita fiadoria sem gouvin-
do do dito benaficio do Valleano.» Ord.
Affons., liv. 4, tit. 18, § 2. — «Ha pou-
cos dias que lhe perguntarão em que ida-
de se achava, ao que elle logo respondeo
que passava muito bem, e sendo certo
que esta pergunta se lhe fez com toda a
civilidade, elle a recebeo como huma
afronta, e para o declarar assim se sepa-
rou desgostoso da companhia em que se
achava.» Cavalleiro de Oliveira, Cartas,
liv. 3, n." 9.
— Termo forense. Apartar-se, desistir
de uma acção juridica.
f SEPARATISTAS, s. m. pi. Termo de
religião. Sectários inglezes do tempo de
Isabel e de Jacob i, que só se distin-
guiam dos reformados pela extraordinária
santidade que affectavam.
SEPARATIVO, adj. Que separa, ou tem
virtude de separar.
SEPARATORIO, 5. m. Termo de chimi-
ca. Vaso de separar os licores; é oblon-
go e tem dous orifícios, wva por onde en-
tra o liquido, e outro muito estreito no
fundo, por onde sáe.
SEPARÁVEL, adj. 2 gen. Que se pôde
separar.
j SEPEDON, s. m. Termo de zoologia.
Género de insectos dipteros, da familia
dos athericeros, tribu dos muscidos.
— Género de reptis saurios, da fami-
lia dos scincoideos, cuja espécie typica
existe na Europa.
f SEPEDONIO, s. m. Termo de botâ-
nica. Género de cogumelos do grupo dos
esporathricheos, cuja espécie typica é no-
tável pela sua linda cGr amarella doiuada.
SEPELIDO. Vid. Sepultado.
f SEPICOLA, adj. Termo de historia
natural. Que vive nas sebes e montas.
-{- SEPIDIO, s. m. Termo de zoologia.
Género de insectos coleopteros heterome-
ros, da familia dos raelasomos.
SEPILHAR. Vid. Cepilhar.
f SEPIOLA, í. /. Termo de zoologia.
Género de raoUuscos cephalopodos, cuja
espécie tvpica se encontra no Mediterrâ-
neo.
-j- SEPIOTETJTO, s. m. Termo de zoo-
lo£ria. fíenero de molluscos cephalopodos.
SEPO. Vid. Cepo, orth. etym.
SEPOSIÇÃO, s. f. ant. Empenho, sup-
plica para obter alguma cousa.
490
SEPT
SEPT
SEPU
SEPOSO, adj. ant. Portseflso, onílorao-
ninli.'iil().
SEPTE. Vi.l. Sete.
E \i Kfplf liornfl do dia
foy outro tremor estranho,
quo pÒ8 medo, o couardiíi ;
o depois do moo dia
outro, porom iiou tamanho.
OABOIÀ DE BKZRNDF:, MI8CELL1MKA .
SEPTEMBRO. Vid. Setembro.— «Feita
aguaila, no qiio cstoiíe dous dias se par-
tio pêra Ormuz, onde chegou aos ti'ezo
do Septembro, o achou a torro que elle
começara ja acabada posta em dous so-
brados, torrada por cima.» DamiJto de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 2,
cap. .^6. — «Dos quacs luis dantas che-
gou priínoiro a Goa, c os tiutros no mos
de Septembro, ondo acliaraõ Aionso dal-
buquLTipic fazcndossc prestes para ir a
Ormuz, dando a entender, como ja dixe,
quo sua <leterminaçam era ir outra voz
ao mar Darabia.» Ibidem, part. 3, cap.
66. — «No quo deu manifesto simxl, de-
pois do desbarato desta gente que foi a
Mamora, porquo sendo lio mes Dagosto,
logo determinou de Septembro do mesmo
anuo mandar dom Vasco coutinho Conde
do Borba com huma armada a fazer esta
fortaleza de Anafe.» Ibidem, cap. 76.
SEPTEMFLUO, a<lj. Termo de poesia.
Que corro jmr sete fontes.
SEPTEMPLICE, adj. (^Do latim septem-
plex). Termo de poesia. Sotidobrado, do-
brado sete vezes; de sete laminas, ou for-
ros de couro, metal, etc.
SEPTEMVIRATO, s. m. (Do latim se-
ptemvirdlns). Dignidade de septemviro.
SEPTEMVIRO, s. m. (Do latim septem-
vir). Termo de Instoria. Titulo de sete
magistrados e pretores romanos, encar-
regados do preparar, e ordenar as solem-
tudados publicas, do dividir e distribuir
as terras aos colonos, e do julgar as cau-
sas relativas a estas divisões ou distribui-
ções.
SEPTENAL, adj. 2 gen. Que succede de
sotc em sete annos.
SEPTENARIO, adj. Diz-se do numero
composto de sete unidades.
— <S. m. Espaço de sete dias.
— O septenario das dOres; os sete dias
consecutivos que dura a devoção das do-
res de Nossa Senhora.
SEPTENNIAL, adj. 2 gcii. (Do latim
sepieni). Que dura ou devo durar um se-
ptennio.
SEPTENNIALIDADE, s. /. A qualidade
de ser de seto annos, ou haver de durar
sete annos.
SEPTENNIO, .t. m. (Do latim septen-
nium). O espaço ou duração de sete an-
nos,
SEPTENO, ndj. Vid. Seteno.
SEPTENTRIÃO, ou SETENTRIÃO, s, m.
(Do latim septentrio) . Norte ; parte da os-
phora dosde o equador ate ao polo ár-
ctico.
SEPTENTRIONAL, adj. (Do latim «e-
ptenlriuniilis,. Do norte, pertencente ou
relativo ao septontrião.
— Parte septreutrional. — « Os bcí»
primeiros estaõ da Liidia equinocial pa-
ra a parte septreutrional, o por isso lhe
ciiamau Scptrentrionaes; anda o Sol nel-
les, desde o equinócio vernal quo hc de
20 de Março atè o equinócio autumnal,
que se da em 2.3 de Septembro. Os seis
últimos, íicaõ da equinocial para a parte
do Sul, e se charaaõ Austrais; anda o Sol
nelles de 23 do Septembro, atè 20 de
Jlarço.» Braz Luiz d'Abrcu, Portugal
medico, pag. íAi.
f SEPTERIOR, s. m. Termo de histo-
ria. Festa celebrada em Delphos, de sete
em sete annos, cm honra do ApoUo, ven-
cedor da serpente Python.
SÉPTICO, adj. Termo de medicina. Pu-
trcfactivo. Que faz apodrecer, quo causa
putrefiíeção nas carnes som muita dôr.
Diz-se particularmente de certos venenos
que determinam aflecções gangrenosas.
SEPTICOLLE, adj. 2 (/en. Que tem sete
collinas ou montes. Epitheto dado &, ci-
dade de Roma, por estar fundada sobre
sete montes.
SEPTICORDE, adj. 2 gen. De sete cor-
das.
f SEPTIDI, .•?. Hl. Sotlmo dia da déca-
da no calendário republicano francez.
SEPTIFORME, adj. 2 gen. Pe sete for-
mas.
Tu, CO 'o Prisma na mão marcaste a fonte
Da septi-forme cor, quo a luz encerra.
Inda a mais progredindo a mente excelsa.
Não se perde no calculo infinito,
Abvsmos, onde nova ignota estrada
Franqueaste aos mortaes, sahindo ovante.
J. À. DK MACEPO, VIAGEM EXTÁTICA, CAUt. 3.
SEPTIMO. Vid. Sétimo. — «Ao quo di-
zem no vicessimo septimo artigo, que em
algnuns lugares dos nossos Regnos aquec-
co que algumas molheres, a que maridos
morrem, casaõ ante do anno e dia, e os
nossos Moordomos, c Rendeiros, e outros
que na nossa terra ham jurdiçom, lhes
demandaõ certas, c desvariadas conthias
de dinheiros.» Ord. Affons., liv. 4, tit.
n, § 1-
SEPTISONO, adj. De sete sons. — Â
lip-n septisona.
SEPTIVOCO, adj. Termo de poesia.
Que tem sete vozes.
-j- SEPTIZONIO, 5. m. Termo de histo-
ria. Edifício rodeado de sete ordens de
columnas, dos quaes houve dous cm Ro-
ma.
SEPTO, í. »i. (Do latim feptum). Ter-
mo de anatomia. Separação de certíis par-
tes do corpo, por uma membrana, etc.
Vid. Diaphragma.
SEPTRO. Vid. Sceptro.
SEPTUAGENÁRIO, adj. fDo latim $e-
ptuagunarium. Diz-s<; da ptsaoa que tem
setenta annoi do idade.
SEPTUAGESIMA, $. /. (Do latim »«-
ptiiageslma). O terceiro domingo ante* da
quaroHma.
SEPTUAGESIMO, adj. (Do latim $e-
ptwiijesiiKH!". Nnmoro que se rcí^c, na
serie ordii ai, ao sexagecimo nono,
f SEPTUNX, «. m. (Do latim êeptunx).
Moeda do peso de «etc onças.
— Medida de nove pollegadaa e um
terço.
SEPTUPLO, adj. (Do latim teptuplxu).
Que contém seto vezes, repetido sete ve-
zes.
f SEPULCHRAL. Vid. Sepulcral.
Sobre estes Globos se sustenta, e firma
A urna frpnUhral mais nobre, c rica.
Que essas, que enccrrão pelo tur^-o Nilo
A» immortaes Pyramides Boberbaí,
Architectada, e rcpulida brilha
De Prisma cm firma, e de matéria ignota,
Mais brilhante quo o lúcido Diamante,
E que o Rubim mais solida, c se^ra.
J. A. PE MACEPO, riAOEM EXTÁTICA, eSIlt. 3.
Envolto de continuo cm manto escuro
De hum, como a noite, espesso nevoeiro,
Da vista nos fugiu brilhante, c puro,
ISaliza cm Polo austral, vivo cruzeiro:
Té que o véo sepiílchral medonho, impuro
Rompe do mundo avivador Luzeiro,
Esta, incógnita a nús, terra tocámos,
E aqui doi homens a p^-g.ada achámos.
IDEM, o OBiEXTE, cant. 5, est. 37.
SEPULCHRO. Vid. Sepulcro.
Quem jaz no grão tepulchro, que descreve
Tão i Ilustres signaes no forte escudo?
Ninguém ; que nisso, em fim se toma tudo :
Mas foi quem tudo pr>de e tudo teve.
Foi Rei ? Fez tudo quanto a Rei se deve :
Poz na guerra c na paz devido estudo.
.Mas quão pezado foi ao Moiu-o rudo,
Tanto lhe seja agora a terra leve.
CAM., S0XE105, n." 59.
Estas bandeiras tão diffcrençadas
Das outras na matéria, c no ornamento.
Dizem que do Caciz forão mandadas
Que tem lá em Medina seu assento.
Onde as barbaras gentes enganadas
Com gràa veneração e acatamento
Sfpiílchro ao seu Mafoma fal.^o derão,
E o:idc inda agora o acatão, c o vencrio.
P. I>'A]rDaAI>E, PRIMEIBO CUCO DE DIU, CAIlt. 19,
est. 75.
Vão C83C5 cabisbaixos sacerdotes?
Que pompa é essa? l'm athaude a fecha.
Orgulho do homem, dás o arranco extremo
Na vaidade da CJímpa. Que grandezas.
Que distinci,'ões queres píeitCAr ainda
Na egualdado terrível do trpuUhrot
Dcsingano da morte, es tu acJiso
Outro sonho dos miseros viventes?
OABKETT, CAMÕES, cant. 2, cap. 1.
AfTortunado em ■vida ; — a morte, fecha-lhc
Sèllo do Eterno os lábios descamados :
São segredos de Deus os do teptUckro.
IBIDEM, cant. 3, cap. 19.
SEPU
SEPU
SEPU
491
Alli vejo Soaiai, a quem Fortuna,
Por vingar-se doâ doas da Natureza,
Pobre na ^ida fez. na morte inglório.
Que até llie nega as honras do sepulchro.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 2.
SEPULCRAL, aJj. 2 gen. (Do latim se-
pulchralis). De sepulcro, que respeita a
sepulcro.
— Que coatém sepulcros. — Capella
sepulcral.
— Figuradamente : Medonho, surdo,
que parece sair do fundo de ura sepul-
cro. — Voz sepulcral. — Ruido sepul-
cral.
— Pallido, triste, sombrio.
— Pedra, lousa sepulcral ; campa.
— S. in. Termo de religião. Membro
de uma seita que sustentava que se de-
via entender por sepulcro a palavra in-
feriios, onde o Credo diz que desceu Je-
sus.
SEPULCRARIO, s. rn. Cemitério ou lo-
gar destinado para enterrar cadáveres.
SEPULCRO, s. m. (Do latim sepulchrum) .
Tumulo, sepultura ornada, monumento
ordinariamente de pedra, que se cons-
truo levantando da terra para n'elle se
metter o cadáver de alguma pessoa, e
honrar, e fazer mais duradotU'a a sua
memoria.
Guerras, armas, Heróes, e o que atégora
Grécia espantada ouvio, e antigo, c novo
Lacio escutou na Lyra alti-sonaute
DEnéaa ao Cantor, e ao Génio eximio,
I Único pode ser.) que armas piedosas
Votara á eternidade, e o Heróe sublime,
«Que o grào sepulcro libertou de Christo»
He nada, ou ponto, no Universo ignoto.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Cant. 1.
Sua alma he fera, he nobre, e alhéa ao trato
Com que o vil lisongeiro incensa os Grandes,
Os Xumcs os suppõe, nunca lembrado.
Que homens uascc.m iguaes, e iguaes espirào ;
Chame-lhe embora escravos a soberba,
Da mesma fonte vêm, e a masma terra,
A todos berço dá, sepulcro a todos.
IBIDEM.
Volves as cinzas dos sepulcros Gregos,
Como pensastes tu, pcnáárào tantos,
Que Athenas escutou ; convergem todos
Ao centro em que fundaste o impio coUosso,
Cuja sombra cs^jantosa enlucta o Mundo :
Diccarco, Xenócrates, Architas,
Quantos a Escola Itálica ennobrécem ;
Quantos ou\lra antiga Academia.
IBIDEM, cant. 4.
Do Joven Macedónio obra que guarda
De Pompêo, de Cleópatra os despojos ;
Calção pés o sepulcro, a ^nsta o ignora,
Quo tempo estragador profana, e gasta
Até ruinas ! Sujeitaste os Astros
A ter por centro de seu giro a Terra.
IDEM, A K.^TLBEZA, Cant. 1.
Cantor da Eternidade, e dos Sepulcros,
Vate excelso da Morte, estera o tempo
Escolíiido por ti, e então vagavas
Por entre escuros Teixos, e Ciprestes
Companheiros dos túmulos, pulsando
A doce Lira d'Ebano, teus hvmnos.
Ultimo esfoiço do poder das Musas,
Mandavas do Immortal ao Throuo augusto.
Chama-se livre, chama-se ditoso ;
Pesa da Corte a momentânea pompa.
Nem vêm seus olhos mentirosas luzes,
Qu'á pallida ambição sepulcros abrem.
— Logar em alguma capella, fechado
com vidros, onde está mettida a imagem
do Senhor morto.
— Santo sepulcro ; a urna em que se
expõe o corpo de Jesus Christo morto.
— Figuradamente : Diz-se do mar re-
lativamente aos marinheiros, de uma ter-
ra onde mon-e muita gente, etc.
SEPULTADO, i^arf- pass. de Sepultar.
— «O que lhe concedeo facilmente, e
dentre todas mandou tirar do mosteiro
de sancta Úrsula da cidade de Colónia
Agripina, onde estam todas estas sepul-
tadas, as da bemauenturada sancta An-
ta, e as mandou a entregar a boa guar-
da a Francisco pessoa, que entam era
feitor dei Rei em Flandres, residente na
villa Danuers, pêra as mandar a Rai-
nha.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 4, cap. 26. — «Foi o cor-
po desta catholica, e virtuosa Rainha se-
pultado no mosteiro Demxobregas da Ma-
dre de Deos, de freiras obseruantes da
ordem de S. Francisco, que a Rainha
donna Leonor irmà dei Rei dom Ema-
nuel fundou de nouo.» Ibidem, cap. 19.
— «Faleceo este Conde Amedeu no an-
no do Senhor de Mil, e setenta, e seis,
foi sepultado na Egreja de sam loam
de moriaua apar de seu pai Humbert, o
qual Amedeu ouue de sua molher donna
loanna entre outros filhos, Humbert, que
foi segundo Conde de Moriana do nome
bom caualleiro, e que tanto por amor
que per armas se fez senhor de Taren-
taise, e ahi faleceo no anno do senhor de
Mil, cento, e noue.» Ibidem, cap. 71. —
«Somente Mahamed Mahadij dizem os
Parseos que ainda nào he morto, e espe-
ram por elle, dizendo que ha de vir mos-
trar-se ás gentes pêra acabar de declarar
a verdade de todalas leis, sectas, e opi-
niões, e converter a si todo o mundo em
cima de hum cavallo, e ha de começar
esta conversão de 3Iasadálle, onde seu
avô AJle jaz sepultado.» João de Barros,
Década 2, liv. 10, cap. 6. — «Diz, que
a confirma porque se augmente a povoa-
ção, e de piquena se venha a fazer gran-
de Cidade, por estar sepultado nella o
corpo da Virgem Santa Eufemea, he a
data desta confirmação aos três dias do
mez de Dezembro, anno de 1165. que
foraõ doze annos depois de ser levado
de Portugal para Galiza.» Monarchia Lu-
sitana, liv. 5, cap. 23. — «Levantouse o
cerco de sobre Viseo, e foy seu corpo
levado à Cidade de Liaõ, que elle nova-
mente mandara povoar, e sepultado em
hum rico sepulchro, onde se lé este epi-
táfio.» Ibidem, liv. 7, cap. 26. — «Foy
logo o corpo do Príncipe depois das exé-
quias feytas concertado, e metido em
hum ataúde, e pollo Marquez de Yilla
Real, e outros senhoi"es, e honrados fi-
dalgos leuado com muita dor, e tristeza
ao mosteiro da Batalha, e foy sepultado
na casa do capitulo junto dei Rey dom
Aâbnso seu auo, onde ainda agora jaz.»
Garcia de Rezende, Chronica de D. João
II, cap. 132.
Senhora Virgem gloriosa,
Que leixastes sepultado
O verbo deificado
Vestido da carne vossa,
Do mundo desamparado.
Gn. VICEKTE, OBEAS VABIAS.
— «Jaz sepultado no Mosteiro de S.
Francisco de Santarém, junto da Infante
D. Cor.stança sua mài. Morreo vestido
no habito de S. Francisco com mestras
de grande arrependimento de suas cul-
pas.» Fr. Bernardo de Brito, Elogios dos
reis de Portugal, continuados por D. Jo-
sé Barbosa.
Não perguntaes d'onde venho ?
Já entra com outra frol !
Venho cançado, esbofado,
vivo, morto, sepultado,
de casa do nosso Priol,
homem é calclicado.
Que foi lá? contae-m'o azinha.
ASTOKIO PBESTES, ACTOS, pag. 267.
Como está?
Senhora, é muito mal disposta.
Será, benza-a Deos! pejada?
Senhora, de nada gosta,
anda em vida sep>dtada.
Como eu !
IBIDEM, pag. 449.
— S. VI. — «Farás tu Senhor milagre
com os mortos, ou os Sepultados se levan-
tarão para te celebrar? Terceyro lugar. Xo
Psalmo 94. v, 16 diz. Se Deos nào fosse
em meu soccorro a minha alma seria logo
alojada naquelle lugar onde se não diz
palavra. Quarto lugar. No Psalu.o 115.
V. 16. diz. Os mortos nào louvarão ao
Senhor, nem aquelles que descem ao lu-
gar onde se não fala.» Cavalleiro de Oli-
veira, Cartas, liv. 3, n." 34.
SEPULTANTE, adj. 2 gen. (Part. act.
de Sepultar!. Que sepulta.
— S. m. yl. Sepultantes. Termo de his-
toria natural. Insectos coleopteros.
SEPULTAR, V. a. (Do latim sepuUum,
supino de sepelire). Enterrar, inhumar.
Dar sepultura ou subterrar: recolher o
cadáver ou os ossos na sepultura. — «Foy
seu corpo metido em huma arca de ouro,
e levado a Còstàtinopla, onde forão tãtas
49:;
SEinj
SKPU
SEFU
113 la^Timas do povo, fiuiltoa forito os bouo-
ficios cò quo elle o ol)rigou vivendo. Se-
pultarãono na í;íi'(!J!i du-t Apóstolos, junto
u flUíi niily S. Klona. » Monarchia Lusita-
na, liv. ;'), wip. 24.
— Fififuradamuute :
Vao onti-Htnr c.o':ií( iiuvpiin, o doacohrom
Ao povo immcnso, o attíiiito, a pusita(;ciii ;
Mna jiiuUiido-HO Hiibito sepidtUo,
Perseguidor cxorcito soberbo.
J. A. DR MACKDO, MEDITAÇÃO, Caut. '1.
— Esconder ou encobrir uma cousa de
modo quo nào se veja ou não se conheça,
ou que so esqueça.
— (Joiífiindir, aniortocer, reduzir a es-
tado alijccto.
— Sepultar-se, v. rejl. Morpulliar-sc,
cnterrar-sc, enj^olíar-se.
— Sepultar-se vivo; deixar o niuiulo,
o tumulto, apartar-se, rctirar-se de todo
o trato mundano.
SEPULTO, pítrt. pass. irreg. de Sepul-
tar.
SEPULTURA, s.f. (Do latim sepuUurn).
Inluimaçào ; acçào e etteito de sepultar.
— Cova, lofíar onde se sepulta o cadá-
ver ; tambcm se applica á cova ou jazij^o
que encerra o cadáver. — « E o Infante
dom Henrique Cardeal de Portugal me
dixe, que no anuo de mil, e quinlientos,
c cinquenta, o cinco, que lie sessenta ân-
uos depois do falecimento dei liei dom
loam, que estando elle no eonuento da
Batalha, mandara abrir ha sepultura des-
te glorio.so Rei, e vira o corpo inteiro do
modo arriba dito, e sentira sair dello hum
suauissimo odor.» Damiiío de Góes, Chro-
nica de D. Manoel, part. 1, cap. 45. —
« O qual Ilojcn ao tempo de sua morte
hia com sua mulher, iilhos, e servidores,
que seriam té setenta pessoas chamados
dos moradores de Cufá pêra o elegerem
por Califa, por a maldade deste; e sendo
em hum campo chamado Carbalá, alli o
alcançou hum Capitão de Yazit, que o
matou ; e porque ticou alli enterrado, de-
pois por memoria de sua sepultura se
fundou huma Cidade chamada Carbalá,
do uome do campo.» Barros, Década 2,
liv. 10, cap. 0. — - «Foi enterrado no
mosteiro do Santa Clara, que elle man-
dilra fazer, em uma sepultura, que orde-
nou elle mesmo. A imperatriz com a rai-
nha de França e Espanha, por serem
viuvas, com a mulher de Polomlos, Bel-
car c imperatriz d'Alemanha tic;iram den-
tro, que como quem queria deixar as
cousas do mundo se eucommeudavam ás
de Doo.-f.» Francisco de Moraes, Palmei-
rim d'Inglaterra, cap. IGl.
Mostrollio o Cardi-.al qup da Komana
Corto, mandado foi ao lícy valeuto,
Com cor defuucta, e alma tra.i^iaâsada
Vendo consigo a morto ja tão certa.
Estaua o Roy colérico brandindo
Com torto bra<;o a tesa, grossa lani;a
R o cauallu foroz abrindo u torra,
Fazendo uo sacro Nuiiciu u sepultura.
COKTU IIKAL, MÁUmAOlO RK SKI-UI.VICDA, Cant. 13.
C) misi-ro amador sobre a funesta
Aniudu tepiUtnrti so debruça,
('um larga voa banha u fria pedra
Di/.cndo alto, ah Lianor, ali Lianor uiinhu
(^iH^ caso auorrccido, (|ui- fortuna
Tão c-iaul te apartou destes meu» olhos,
l^uc feru causa foy, ou sorto aduersa
(^ue nu mundo causou um mal tào grande.
luiDKu, cant. 17.
— a E também jiara dar conta da fun-
daçilo o principio da segunda ciiiadedesto
ffi-ande império que ho a do Nanquim,
como ja disse, o destoutnis duas do l'a-
cào e Nacau, de que atras tenho contailo,
nas quais ambas jazem estes dous seus
fundadores cm templos muyto nobres o
ricos, niias sepulturas de alabastro verde
e branco guarneciílas douro, j)ostas sobre
leões de prata, cum muitas alanipadas ao
redor, e perfumai lorcs de muytas diver-
sidades de cheyro.s.u Fernrio Mendes Pin-
to, Peregrinações, cap. 'J4. — « ilandou
ver todaias sepulturas do Kegno, para
delias se notarem as armas, o insigidas,
o letreiros, que uellas havia, das quaes
armas mandou no Paço de Sintra pintar
todolos Escudos com suas cores, e Tim-
bres em huma formosa Salla, que para
isso mandou fazer: alem do que mandou
fazer hum livro muito bem luminado, cm
(lue estào pintados os mesmos escudos da
liniiagem ila Nobreza destes 1^'gnos, ctc.»
ilanoel Severim de Faria, Noticias de
Portugal, Disc. 3, cap. 18. — «Jaz no
Real Convento de S. Vicente de fora em
huma excellente sepultura debaixo do
Sacrário do Altar nuu".» Fr. Bernardo
de lirito. Elogios dos reis de Portugal,
continuados por D. José Barbosa. — «De
Sintra foi levado o seu Real Cadáver ao
Mosteiro de Belém, onde se depositou em
vinte do dito niez acompanhando-o ainda
até a sepultura a sua antiga felicidade,
pois no mesmo tempo em que caminhava
a pompa funeral entrarão pelo Tejo as Fro-
tas da America com duas nãos da índia.»
Ibidem. — « Nesta Cidade achamos qua-
tro Portugueses, mercadores do Chaul,
com os quaes estiuemos o tempo que ali
nos detiuemos, que forào sete dias; fa-
zendonos nelles muytas festas, o charida-
des. Huma tarde saliimos todos a ver a
Cidade, e horfci dei Rey, Baz:ir, Castel-
lo, e esta sepultura.» Fr. 0;ispar da
Cruz, Tratado das cousas da China, ca-
pitulo 13. — « Se V. M. se encerra na se-
pultura cntào poderá o Contrario facil-
mente, e com toda a segui-ança mormu-
rar do seu valor.» Cavallciro de Olivei-
ra, Cartas, liv. 1, n." 48. — «Creyo que
o monumento mais antigo que temos desta
qualidade he o de Che<>ps, achado na pri-
meyra, e na mais bella Pvramide do
Egypto, o qual sem duvida tinha capaci-
dade bastante para encerrar o corpo de
trto grande pessoa como era aquelU pu»
que fui feito, porem o certo he que toma-
das as medidas a esse ui<-j*mo monumen-
to, ftc acha que ui)eiias excede á grande-
sa das nossas sepulturas.» Ibidem, nu-
mero 50.
(^'antiísto meu Paulino, que loucura '.
|)u:4 lonj^os annos meus lu-mprc leoibrado ;
Ciiutu aguru dos b:us, untes >{uc o Fado
\A correndo comtigo á ê^pullura.
ABBADE DE JAZEIITK, rOKSIAS, tOOI. 1, P*g- 46.
Pois sabes por discreta conjoctora,
(^ue se pertn da morte andõo setenta,
Oi) rpiiuze á borda estio da sepultura.
IBIDEM, pag. 49.
— « Acabo com dizer a Tocemocê que
so mandou enterrar este snr. em uma
casa (lue se chama a (iuU, e o letreiro
que deixou para a sepultura diz assim.»
Bispo do Gr.ào Pará, Memorias, publicadas
por Caniillo Castello Branco, pa^;. 142.—
< Fundou de nouo pêra :^ua sepultara, e da
Rainha dona Maria sua mulher, e de seus
tilhos o mosteiro da invocaçam de nossa
Senhora de Bclem junto da praia, huma
legoa da Cidade de Lisboa, abaixo de
llastello e o dotou e pouoou de religiosos
da ordem de Sam IIieron\Tno.» Damião
de Góes, Chronica de D. Manoel.
— Sepultura tl^jòrwla; entre os judeus
tinLim i>s jazigos camará e recamara ;
cm uma faziam os ufficios da sepultura, e
em outra depositavam o cadáver.
— Terra onde morre muita gente. —
Moçambi<^ue, sepultura dj» portuguezet.
— Levar á sepultura; causar a morte.
— Descer á sepultura ; morrer.
— Dar sepultura ; sepultar, enterrar,
pôr cm jazigo. — «Elrei, vendo sua filha
morta, depois de lhe dar a sepultura,
tomou Leonarda sua neta, que assim lhe
poz nome, e a metteu na mesma torre
onde em conversaçrio de algumas donas e
donzellas se criou té ser de idade de qua-
tro annos : e fazendo um encantamento
meia légua da cidade em um valle a{>a-
relhado pêra isso, a metteu nelle sem
ninguém a poder ver mais.» Francisco
de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap.
itO. — «Isto feito, c curados os cavalle-.-
ros d'Arnalta, e aos mortos dado sepul-
tura, tomou a Fiorondos pola mão, que
vendo-o tJio moço e gentilhomem, houve
por muito ver-lhe acabar tamanho feito.»
Ibidem, cap. 102. — «Como esto inila
estivesse cheio de temor e medo, conce-
deu tudo o que Floriano qniz. Apertan-
do sua ferida, como melhor pôde, se par-
tiu pêra a cGrte, n.ão so detendo mais es-
paço que o que foi necessário para dcir
sepultura a seu companheiro.» Ibidem,
cap. 1'29. — «Acabado de se apartarem
03 capitiies com sua gente, por consenti-
mento d'Albayzar e Primaliilo, se tira-
ram do campo os prineipes miirtos, pêra
lho darem sepultura. A Dragonalte, rei
SEQU
SEQU
SER
493
de Navarra, e Pompides, foi dado carre-
go, que mandassem levar os de sua par-
te, que se fez aates das capitanias serem
recolhidas : e assi, mettidos entre as ban-
deiras, se foram pêra a cidade com sua
ordem.» Ibidem, cap. 1G7. — «O qual
fazendo ao seu modo grandes oraçoens
ao Quiay Patureu deos do mar, que man-
dasse lançar aquelle peixe na prava para
se dar sepultura a aquella donzella con-
forme aos altos quilates da sua geração,
lhe foy respondido pelo mesmo Quiay Pa-
tureu, que convertessem aquellas doze
donzellas seu pranto em musica suave e
agradável a suas orelhas, e que elle man-
daria ao mar que lançasse logo o peixe
fora, e lho entregaria morto em suas
mãos.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 163. — «Os Tigres estauào a
la mira, quebrando as cadeas por chega-
rem, e dando sobre elle, à vista de todo
o pouo, o espedaçarão, e comeram, dan-
dolhe em si mesmos ao miserauel corpo
sepultura, e a alma aos infernos, com a
morte deste motino se acabou aquelle es-
pectáculo, e recolaendose todos, teue fim
a audiência.» Fr. (íaspar da Cruz, Tra-
tado das cousas da China, cap. í-í.
Nem contente com isto aquella impura
Turba cruel, que cm ódio inda ardia.
Dá no rio a estes corpos sepultura
Que inda despedaçados os temia.
Fica a sua bandeira então segura
Depois que lhe faltou quem lh"a abatia.
Com tanto sangue seu, que esta victoria
Mais lhes trouxe de damno, que de gloria.
FBASCISCO DE ASDK.^DE, PBISrEIBO CEBCO DE DIU,
cant. 15, est. 13.
SEPULTDREIRO, s. m. O que enterra
por officiíi, coveiro.
SEQUACE. Vid. Sequaz.
SEQUAZ, adj. 2 gen. (Do latim sequax\
Partidário, partidista, membro de bando,
partido. — «Huus doze que estavào logo
a entrada nas primeyras lapas, tinhào as
vestiduras pretas ao modo dos bonzos de
Japão, e seguiào a ley de hum idolo que
fora hum homem que se chamou Situm-
por micay, que deixou por preceito aos
seus sequazes, que em quanto estivessem
vestidos na podridão destes ossos passas-
sem seus dias em muyta aspereza de vi-
da.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. IGl.
— Que segue, acompanha.
SEQUEIRA, s.'/. Seguidade.
— Appellido.
SEQUEIRO, s. »i. Logar secco, falto de
suecos próprios para a vegetação, sem
regadio ou rego.
— Planta de sequeiro ; que se não
rega, que não está em lenteiros, em ter-
renos frescos.
SEQUELA, ou SEQUELLA, s. f. (Do la-
tim sequela). Consequência, conclusão
que se tira raciocinando.
— O acto de seguir.
— Os da sequela de alguém; os seus
sequazes, os do seu bando.
SEQUENCIA, s. /. Prosa com consoan-
tes a uiodo de versos ieouinos que em al-
gumas festas solemues se reza depois da
epistola na missa.
— Termo de jogo. Cartas seguidas de
um naipe.
SEQUENTE, adj. 2 gen. (Do latim se-
quens . Seguinte.
SEQUER, adv. (De se, e quer^. Ao me-
nos, pelo menos. — - « Elle, o amigo, o
convivente dos Cenáculos e Barbosas,
alli, em meio de sandeus e fanáticos, que
o fugiam como de leproso, a quem o go-
verno, sequer, não concedia defender-
se...» Bispo do Grão Pará, Memorias,
publicadas por Camillo Castello Branco,
pag. 37.
Sei que te amo, conheço que impossível
Me é não te amar ; mas meu amor é crime,
Mas esta cruz...» E a cruz chegou aos lábios,
E os lábios a beijá-la não ousaram.
«Oh I se ao menos sequer tu a adoraras,
Se convertido á fé, commigo eterna
Penitencia fizesses d' este crime
Que ambos, ai de mim! ambos commcttèmos...
GABKETT, D. BB.uiCA, cant. 4, cap. 5.
— • A seu prazer, se quizer.
— Xtm sequer ; nem ao menos.
SEQUESTRAÇÃO, s. /. O acto de se-
questrar.
— Separação.
SEQUESTRADO, part. pass. de Seques-
trar.
SEQUESTRAR, v. a. (Do latim seques-
tra re. PGr bens em sequestro.
— Figuradamente: Privar do uso,
exercício do domínio, ou de nossas facul-
dades.
j SEQUESTRADOR, s. m. O que se-
questra.
t SEQUE3TRAVEL, adj. 2 gen. Que
pode sequestrar-se.
SEQUESTRO, s. m. Termo forense. To-
mada judicial e deposito em mãos de ter-
ceiro, de cousa litigiosa até se averiguar
a quem pertence.
— Bens sequestrados.
— Depositário do sequestro ; pessoa
em cujas màos se faz o deposito ou se-
questro.
— Fazer sequestro ; sequestrar.
— Levantar o sequestro ; desfazel-o,
ficando os bens livres dello, e desembar-
gados por mandado de levantamento do
sequestro.
SEQUIA, s. /. (Do hespanhol sequía,.
Seccura da bocca, da guela, causada pela
sede ou falta de saliva.
SEQUIDADE. A'id. Seccura.
SEQUIDÃO, «. /. Seccura.
— Figuradamente : Desabrimento, des-
apego, sem agasalho, sem carinho ou af-
fabilidade ; seccamente.
— Sequidão de esjpirito; a que soífre
quem é secco de espirito, na mystica;
pouco fervoroso.
SEQUILHOS, s. m. plur. Bolinhos, ros-
quinhas de massa secca de farinha de
vários temperos e feitios. = Empregado
por Garção.
SEQUIM. Vid. Zequim.
SEQUINHOSO, adj. Secco, árido, falto
de luunor.
SEQUIOSAMENTE, adv. (De sequioso,
com o suffixo «mente»). Com sede.
• — Figuradamente : Com ardor, desejo.
SEQUIOSO, adj. Sedento, que tem sede.
— « Terra i echoa confusa vozeria
Da marítima turba : Oh ! voz querida,
Doce aurora de gôso e de esperança
Ao coração do nauta infraquecido.
Do alquebrado sequioso passageiro.
Que a esposa, os filhos, ou talvez a amante,
N'e3sa voz doce e grata lhe alvejaram.
GABBETT, CAMÕES, cant. 1, cap. 4.
■ — Que necessita de rega ou chuva.
— Que embebe, ou sorve muita agua.
— Que tem ardor, grande desejo de
vêr, cumprir, satisfazer alguma curiosi-
dade, appetite.
SEQUÍSSIMO, adj.superl. de Secco.
SÉQUITO, 5. m. Comitiva, acompanha-
mento, gente que acompanha por obse-
quio.— 'iDe que espantados os outros,
nos seguiào mais tímidos, e cautos; as-
sim nos forào picando todo aquelle dia,
humas vezes ati-evidos, e outras cobardes,
e com este séquito desigual, e importu-
no, hião dando aos nossos a carga lenta,
mas nunca interrompida.» Jacintho Frei-
re d'Andi-ade, Vida de D. João de Castro,
liv. 4.
— Figuradamente : Amizade, benevo-
lência, applauso, obsequio, popularidade.
— Doutrina de muito séquito; muito
seguida e approvada.
— Seguimento de inimigo.
1.) SER, s. ?)i. O existir, a existência.
XuncA a pensar cheguei, que em meus vassaUos,
Que do orbe a estimação, e o ser me devem,
Taij louco algum houvesse, e taõ ingrato.
Que combater ousasse meus projectos !
Mas o tempo, que a todos desengana,
Me mostrou quanto errava, e quaõ perdidos
Saõ, com ingratos, grandes benefícios !
DUnZ DA CBUZ, HTSSOPB, Caut. 8.
Grande no Egypto foi, maior na Grécia
Sc descobre o mortal; e aqui mais nobre
Eu contemplo o meu ser.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, C&Ut. 1.
— Ente, cousa que tem existência
real, ou imaginaria.
— Homem de grande ser ; homem de
gi-ande porte, importância, de grande
sorte.
— Ente, cousa que existe, ou se con-
cebe como existente sobre si, ou em ou-
tra cousa.
494
SER
SER
SER
No Orizontc o Monte luvaiitado
Parecia c'o Ciio ficar unido,
Com i|ue do ICntrcllait vaiiai coroado
Sc iiioatra, c dií mil luzcrt guarnecido;
Na to.^ca iiciiodia ciit:\ pnf;'"lo
O verde uuHfCo cm modo compartido,
Que com pi'rfcito 'tr ncUc »b vento
D'c3maltc natural, ouro coloatc.
mULIV DE MOUOA, NOV. DO UOMEU, C*Ut. 2.
— o ser d'algaein, ou de ahjuma cou-
sa; aquillo quo cllo é, pby»ica ou moral-
mente.
— Infinito verbal, que se toma muitas
vozes como um substantivo. — O ser do
hjvicm.
— IHur. Entes. — Estes seres.
Mais nobres seres no seguinte instante
Forma a suprema voz, logo he cortado
Fundo seio do mar pelo nadantc
De mudos peixes esquadrão cerrado :
Vai na frente arrojando alta, espumante
Columna d'agua Leviathan pesado ;
Por morada lhe asáigna ambos os Pólos,
Onde o mar volvo congelados rolos.
J. À. DK MACEDO, O OníB-NTR, Caut. 9, GSt. 54.
O Arbitro immortal desde o começo
Dos tempos, e do Mundo, c ò'ere« todos,
O misturou nas oudas cristalinas.
iDcu, Á. NATURGZ.v, cant. 3.
Immerso todo cm si, e cm sombra involto,
Mystoriosos números medita,
E tira da Unidade os Seres todos.
Ma» Ktorna Unidade he Dcos somente.
Origem perennal dos Heres todos,
DcUe o principio tem, tem dcUe a vida.
IDUU, VIAOEU EXTÁTICA, Caut. 2.
Do Divinal Saber nasce illustrado,
Das cousas conhecendo a própria essência :
Impoz seu próprio nome aos Seres todos.
IBIDUU.
A Terra he conhecida, os Seres vivera
Desde o vasto Elefante á variada
líorboleta gentil, que as flores beija ;
Da gigantesca, colossal BiJèa.
IBIDEM, cant. 4.
Infinita extensão sempre immudavel
Na eterna essência sua, e rXna. em modos,
Vem delia os Seres só, nella se tórnào
Y.m circulo perenno, em moto eterno.
Aos Gregos diz fecundo Anaximandro.
IDEM, MEDir.içÃo, cant. 4.
Do Rei universal dos sereu todos
He núa a habitai;ào, ncnlmma pompa.
Nenhum manto sobi-rbo a enroupa, c vésto.
EUa mesma o produz, o Eterno o manda,
A força vegetal se desenvolve.
Do hum verde peremial se arrèa, o cobre.
IBIDEM.
— Ser; estado moral.
2.) SER, V. íí. (Do latim esse). Exis-
tir. — «E Ouadalajarra hum tiJaliro Cas-
telhano per alcaide mòr, o Lopo Cabrei-
ra feitor, cõ os mães officiaes a ella or-
denados, quo eom a geutc d'arma3 podiaõ
ser cento e cinqiioenta poAsoas, c pêra
í^uarda (ru(|uulla costa c tauor da forta-
leza, ficarão o.-ites dou.i ca[)it3ert, IWlri^çi)
ILubclo em sua nao, c iiornium Diaz Na-
taforea.» hunos, Década 1, ilv. 9, capi-
tulo 4.
Toma tudo a ser pior,
porqui; nos anos tõrnamoa
e de nouo começamos
ter abo mundo mais amor.
GAUCIA DE BKZEKDE, U18CELLAMEÁ.
— «A princeza Lionarda n2o pode ser
desencantada senão por vossa mào, olhai
que nisto inda accrescentaes em vossa
fèima : e, pois em igualdade de pessoa e
fermosura vos não desmerece, podeis ca-
sar com dia e aecrescentar em vosso es-
tado.» Francisco de Moraes, Palmeirim
d'Iuglaterra, cap. 95. — «E então não
haverá padrinhos no meio, que mo estor-
vem a vingança, quo agora podóra to-
mar; porem esquecida esta monenco-
ria, que ficará pêra .«ieu tempo, vos peço
que em nome de alguma mulher, que
muito estimeis, queirais correr uma lança
comigo, porque, quem a sua ha de ofle-
recer em nomo de Targiana, ha de ser
em cousa de mais gosto.» Ibidem, cap.
124.
Se acertarA o juramento
de ser cá pão bolorento.
ASTONIO PBE8TE3, AUTOS, pag. 367.
A mais dama, mui fermosa
quanto a formosura d.l,
de tudo aquiilo em que está
o fermosa ó o ser airosa.
IBIDEM, pag. 42õ.
— «Os nossos foram entrando a Cida-
de, iado-lhe pondo fogo em todas as ca-
sas, que eram de madeira, de que se elle
apossou com sua braveza acostumada.
Vendo ElRey, que cuidava que tudo era
mentira, ser tamanha verdade o que lhe
disseram, não teve mais tempo que pêra
se pôr em hum elefante, e fugir, sem le-
var mais que sua pessoa.» Diogo de Cou-
to, Década 4, liv. 2, cap. 3. — «Ra\-
nuncio também oppositor já era bisneto
na linha do Infante D. Duarte; mas naõ
se fez caso da sua opposiçaõ, por ser de-
funta sua mày, que a devera fazer, e por
naõ constituir linha differente da em que
se achava a Senhora Dona Catharina,
em melhor grão que elle.» Arte de fur-
tar, cap. IG. — «Augusto, Lucullo, An-
tónio, e Pompeo tambtm a souberão ven-
cer, porque a sua heroicidade do animo
se oppoz ao3 principios, que verdadeyra-
montc tiverào para serem ociosos.» Ca-
valleiro d'01iveira, Cartas, liv. 1, n.° 13.
Repara-so também o baluarte
Que o da Yilla dos Rumes ser dizião,
Lá onde wtcnta hir.v.i ■■.' n í>i!tandart«
De Francisco Pac'. ^uiào:
E i>f<r«|uc elle a». -m parto
(•nde, durando o • iião
Socc»rré-lo u miudu, oc lii'; laui,a
Eutuo do que ha inidt<:r grande aba«tançA.
r. u'aiidkadk, pkimeiuo cekco oe Dit, cant. 13,
est. 42.
Ser cidadáo.
EcUo...
OABBETT, CATÃO, HCt. 'i , 80. 3.
— Ser nasciíla de inveja ; ser oripna-
<la d'ella. — «O Suevo que não tomou a
embaixada com a intenção, e bom zelo
que Tlieodorico lhe mandaua, iuia^ioSdo
ser nacida de cnveja de o ver taò gran-
de senhor, lhe respondeu, que se lho pe-
sava das empresas que fazia em Espanha
o esperasse dentro em França na soa Ci-
dade de Tolosa, onde lhe fizesse resia-
titncia, estendendo.-e seu poder, e animo
a tjinto.» Houarchia Lusitana, liv. 6,
cap. 7.
— Estar. — » Dramusiando lhe teve
em mercê e aceitou o offerecimento, ten-
do a victoria por certa ; porque de quan-
tos alii estavam elle só os conhecia. D'e8-
te ficaram descontentes Oraciano, Berol-
do e Pompides, e o Príncipe Floramão e
outros, que cada um por si quizera ser
mcttido no trabalho de Dramusiando.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 93. — «O gram turco man-
dou apousentar dentro no paço a Polen-
dos c toda a sua companha, tão providos
das cousas necessárias como o podiam
ser cm suas próprias casas ; porem como
sua tenção fosse damnada, uma noite,
antes do dia, que determinavam embar-
car-se pêra se partir, os convidou cear
com elle.» Ibidem, cap. 96. — «E despe-
dindo-se d'ellc, disse a .\rlança: Senho-
ra, que mandais que diga a vossa mãi,
se algum hora minha ventura me levar
ante ella? Podeis-lhe dizer, respondeu
ella, que pêra me ter por filha ó neces-
sário perder o ódio a este cavalleiro, e
fazer-se amiga de quem nunca o cuidou
ser ; porque já agora não pôde haver
vingança de seus filhos, senão com -per-
der sua filha. De modo que, se n'is30
não quizer mudar a tenção, cuidando
vingar-se, terá mais pena.» Ibidem, cap.
lUi. — «.\lbayzar mandou logo por el-
las, e cl-rei por um c^ivallo pêra sua pes-
soa, em que veio ao terreiro, pesando-lhe
daquella discórdia, que não queria que a
Albayzar acontecesse algum deísastre na-
quelles dias, primeiro de ser entregue ao
imperador, em cuja mão estavam os pri-
si.ineiros que deram a troco delle.» Ibi-
dem, cap. 123.
Não vi mais pequeno gosto
nem mór falt.i porá o ser.
Entrcgo-vos «'esta arraia.
ASTONIO PKESTES, ACTOS, pag. 331.
1
SER
SER
SER
495
Inda não é despachado ?
A fortuna cm meu estado
até n'is30 me faz cacha ;
só a morte é quo despacha
um corpo ser descançado,
que á ahna lá se receita
por botica mui mais funda.
IBIDEM, pag. 301.
— «E porque ha muitas opiniijes antre
os Portuguezes que nam entraram na
China sobre onde se faz ha porcelana e
acerca do material de que se faz, dizen-
do huns que de cascas de ostras, outros
que de esterco de muito tempo podre,
por nam serem enformados da verdade,
parece me conveniente cousa dizer aqui
ho material de que se faz conforme aa
verdade dita pelos que ho viram.» Frei
Gaspar da Cruz, Tratado das cousas da
China, cap. 11.
— Tornar-se. — «Inda que por nossa
clemência, e intento de piedade, outor-
gamos perdão, e concedemos favorável
indulgência á negligencia passada: e com
ser grave culpa ter errado atégora, a
mayor censura (com tudo) e menos digna
de perdão ficarão obrigados aquelles que
com temerária ousadia se atreverem a
quebrar este nosso edicto, deduzido da
authoridade dos Padres antigos.» Monar-
chia Lusitana, liv. 6, cap. 20. — «Antaõ
Gonçaluez peró que naõ quisera acceptar
a tal honra de cauallaria, negando ser
merecedor delia: por comprazer a todos,
foi armado caualleiro per maõ de Xuno
Tristão com que o lugar segundo lhe to-
dos diziaõ ficou com o nome que oje tem
que he Porto do caualleiro.» Barros, Dé-
cada 1, liv. 1, cap. 6. — iiAo qual por
ser muito bom eavalleiro, e Capitão, elle
Mahamed casou com Fátema sua filha
da sua primeira mulher Adagia.» Idem,
Década 2, liv. 10, cap. 6. — «E prose-
guindo eu nesta matéria per modo de
compendio, escreui no começo da mesma
Chronica, ho que achei ser mais impor-
tante a estas nauegações, ate ho nasci-
mento do dicto Príncipe dom João, que
foi no anno do Senhor de 'M. CCCCLV.»
Damião do Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 1, cap. 23. — <t Navegando ao lon-
go da costa com muito prazer, folias, e
tocar de trombetas, e polo tempo ser bo-
nança, hiaõ taõ junto da terra que viraõ
alem da frescura delia, muitas criações de
gado grosso, e meudo.» Ibidem, cap. 35.
Nào sei SC os fados lhe deram
siimma fasttgia rertim.
Rerum nào sei ; mas cu fio
darcm-lhe suma fastio
e no gia ser hurrertim.
AXTOSIO PRESTES, ACTOS, p3g. 151.
Parece que devo ter
maior quinhão na partilha
jA, que eu levei a manilha
para eíFoito disto ser.
IBIDEM, pag. 275.
ser vossa minha paixão,
ser vossa dôr minha dòr,
de qualquer arte quo fòr
sente homem morrer, 6 um cão.
IBIDEM, pag. 3Õ1.
— • «Chegando a ella viram ao pé de
umas casas nobres e grandes uma gran-
de praça, espaçosa e chãa, cercada toda
de palanques povoados de muita gente,
que alli eram vindos pêra vêr a batalha,
que a seu parecer havia de ser a mais
famosa e grande, que nunca naqueila
terra se fizera.» Francisco de Moraes,
Palmeirim de Inglaterra, cap. 118. —
«Chegando ao terreiro do paço, levando
as armas trocadas, por não ser conheci-
do pola divisa do Salvage, que assim
acostumava esconder nos lugares onde se
queria encobrir, se deteve com o elmo
erdazado, e mandou um escudeiro á rai-
nha e damas, que Arlança e as outras
donzellas que trazia comsigo, lhe pedi-
ram, que naqueila corte quizesse mostrar
alguma cousa do preço de sua pessoa; e
como fosse pouco avarento de suas obras,
quiz-lhe fazer a vontade.» Ibidem, cap.
123.
Parte o Turco feroz, que por vencido
O Chri.stào tendo ja, nada arreceia,
Mas logo o faz ser menos atrevido
D"huma parte o caminho, doutra a areia,
Porque sendo ella solta, elle comprido,
E hum tào grosso canhão mal se meneia,
Por mais força quo põe, por mais que estuda
Pouco ou nada a carreta então se muda.
F. d'anrr.íde, primeibo cerco de DIU, cant. 13,
est. G8.
Só tuas mataduras naõ adoro :
Porém com elias podes felizmente
Ser ágil Burro do Baraõ Theodóro.
ABBADE de JAZESTE, POESIAS, tOm. "2, pag. 6Õ.
— «E por isso a entrada de Deos no
mundo, fov enchendo de consolação as
almas com que aula de conquistar o ceo.
Nolite ad iracundiam prouocare filios
resiros. Quer dizer desconsolados, ser
ásperos para elles, Vt non ijilsUIo anivio
Jiant. porque se vos farão acanhados, e
que não prestem para nada.» Paiva d'An-
drade, Sermões, pag. 105.
Com que tudo qu'esalta antiga Musa
Demonstra ser dos Lusos excedido ;
Xeste trance arriscado esmorecera,
E a tanta força desigual cedera.
j. A. DE MACEDO, 0 OKiESTE, cant. 11, cst. 51.
Pódc a matéria combinada acaso
Ser nestes versos meus de imagens tantas
Potente Creador ? Dize, Epicuro,
As mecânicas leis do movimento,
A ardente agitação da térrea massa
De Estacio á fantasia azas prestarão ?
idem, meditação, cant. 4.
Çhorã-la cm ócio vil é ser covarde,
E não sor cidadão, — não ser Romano.
Mas ouve...
GARRETT, CAXÃO, act. 1, SC. 1.
— Mostrar ser homem curioso ; obrar
segundo o seu caracter. — «Nestas prati-
cas gastou com nosco hum grande espa-
ço, mostrando em todas as suas pregun-
tas ser homem curioso e inclinado a cou-
sas novas, e se despidio de nós e do Ne-
codá Chim, que dos mais nào fez muyto
caso.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 133.
— Ser dado a alguma cousa; entre-
gar-se a ella. — «Tem estas gentes alem
das ignorâncias ja ditas numa torpeza
abominável, que he serem dados de tal
maneira ao pecado nefando da natureza
repugnante, que se nam estranha de ne-
nhuma qualidade antrelles.» Fr. Gaspar
da Cruz, Tratado das cousas da China,
cap. 29.
— Ser faUecido o •pai; ter morrido,
estar defunto. — • «Depois da morto desta
Rainha se tornou a tratar de casarem es-
ta Princesa com o mesmo Principe dom
Phelipe, que ja era Rei de Castella, por
o Emperador dom Carlos seu Pai ser fa-
lecido.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 4, cap. 68.
— Ser parente. d'alguem ; aparentado
com elle, ou por consaguinidade, ou por
aííinidade. — « Este João Machado era
natural da Cidade Braga, homem de boa
linhagem, e sendo mancebo estava em
casa de hum Abbade seu tio, onde se
veio namorar de huma sobrinha deste
Abbade d'outra parte, sem elle ser pa-
rente delia.» Barros, Década 2, liv. 6,
cap. 9.
— Os pães e mães vem a ser os mes-
tres das Jilhas. — «Fora de Hespanha é
tão ordinária esta arte (em Flandres es-
pecialmente) que os galanteios são per-
mittidos, e devidos, e chega a tanto, que
os pais, e mães vem a ser os mestres
das filhas, a quem aconselham os termos
porque se devem haver com os seus aman-
tes até os obrigar a que lhes sejam mari-
dos, s D. Francisco Manoel de Mello,
Carta de guia de casados.
— Depois d'el-rei ser vindo de França ;
depois de ter chegado de França. — «De-
pois dei Rev dom Afl:onso ser vindo de
França no anno de setenta e oito, duran-
do ainda as guerras de Castella, Lopo
Vaz de Castello branco, a que cbamauão
o Torrão, sendo alcayde mor da villa de
Moura, [sem causa alguma se aleuantou
com a dita villa, e fortaleza por el Rey
de Castella, contra el Rey dom Afibnso
que o criara, e chamouse Conde de Mou-
ra.» Garcia de Rezende, Chronica de D.
João II, cap. 20.
— Pôde ser; é possível.
ciprcmentc-o quem quizer
que eu nào quero ; pôde ser
que se ha mais um peccado.
AKTONio PRESTES, AUTOS, pag. 325.
se a isso estaes.
é molher, e pôde $tr
496
SER
SER
SER
t.i... ; o aBsi, fnic bo attcntacB
(: o qiio cu digo, (irtHO i; o ilizur;
ma» HO irtto i'', já iiiollic.r
mo Ciibc tudo no buxo.
luiDKM, pag. .'!H'.I.
Via-80 na Cidiídn jmitiinicuto
Para ao dcfriidm- tainanlio espaço,
E f|iio era alli tão mal d(! corpos d'aço
Que |ic)d(ni:i urr mui InvciiK^nto
I'or muirt furto (|uc tciiliu c duro o bra(;o
(^uc dc^ta diífcnsão causa nascesse
Por onde a fortaleza se perdesse.
V. T>r, ANDIIADK, rRIHEIKO CKIICO DII 1)10, Cint.
11, est. r)2.
— «A Conílcí^a nDío explicou esta couza
cm Frauccz. FihIc ser qiio na Trailu(;ão
Italiana viesse a pedir de boca, o qtio
seja necessária na Lingoa do Traductor:
oh quem to podóra Já ver! oh Tiaduc-
ção!» Cavalleiro d'01iveira, Cartas, liv.
1, n." 10. — «A grandeza da Eloquência
consisto en» que não p('ide ser ilospreza-
da, e taniboni em não poder ser comba-
tida que por cila mesma.» Ibidem, n.° 20.
— «Se me quer mandar o Original que
8C fez em Francez, pcnle ser que eu o re-
duza de outra fi')rma á lingoa Portugue-
za, da qual V. M. com facilidade o com-
porá em Castelhano.» Ibidem, n." 21.
— Passar, suceeder, acontecer.
— Estar em ser; não se haver gasta-
do, diniinuiilo.
— Ser cum alguém; achar-se com elle,
estar com elle.
— Ser exe))iplo á; servir-lhe d'cxem-
plo.
— Ser d'al<]uem, d'al<juma cousa; ser
seu criado, seu parcial.
— Ser i)re><ente ; estar.
— Ser ntaito d'esta casa; ser muito
amigo d'ella.
— Usa-se d'csto verbo para affirmar
ou negar que um attributo existe em um
sujeito.
— Pertencer a alguma classe ou cor-
poração.
— Ser (lo domínio.
— Ser digno; merecer.
— Havia de ser; linguagem começa-
da ou projectada, denotando o futuro. —
n O do Salvage passou aquella noite com
monos repouso d<> que costumava, e as
lembranças ile Lionarda eram pêra tirar
qualquer somno. Ao outro dia, acabado
de ouvir missa, o imperador jantou na
horta de Florida, com a imperatriz, Gri-
donia, e Polinarda, e sua hospeda, dando
o mais nobre banquete que se nunca viu ;
o assim era bem, ]k>Í8 aquello havia de
ser o derradeiro. » Francisco de Moraes,
Palmeirim d'Inglaterra, cap. 112. — «To-
das me parecem a mim tão bem, disse
elle, que quem mais tirar da mão ha de
ser por seu justo preço. Pois eu, disse
um dos outros dous, não quei-o que a mi-
nha fiquo cm vossa escolha; que, depois
que olhei todas, aquella senhora maior de
corpo me namora; porque posto qxio seja
pouco formosa, «ua ilesposicSto me convi-
da a não Haber desejar ai, c minha von-
tade me diz, que alli ficarei de todo con-
t(;ute.» Ibidem, eaj). 12õ.
O (|U0 me pede o desejo:
n(|ui é, n'(!sta ha de nfr;
(picro entretanto batiír,
(|uo sem isso é mau despejo.
Quem 6 V
Filho, dom liraz.
AKTOKIO rnESTES, AUTO», pBg. 101.
E pois fi-mca havia do srr,
entrastes com bom prazer.
JJofá (|ue eu tomara agora
que uma menina fora,
coleirinha do crescer.
niiDKM, pag. 14õ.
— Junta-sc aos participios dos ver-
bos, formando a voz passiva dos mesmos.
— « Por serem infnrmados que não coni-
prião cum o (|ue lhe tinham j)ronietid(), o
que faziam por lhe darem auiamento, e
se lhe nam passar o tempo da nauegaçaõ
para a Imlia, que seu desejo era mostrar-
íhe a vontade que tinham de o favorecer,
c cumprir com que lhe tinliam prometido
per seus contratos.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 3, cap. 2.
Vimos mo(;09 goucrnar,
c velhos dcagouernados,
fracos em armas faltar,
e vimos muytos mandar
que dcuiam fer mandados.
UABCIA DK BEZKNDK, UISCELLANF.A.
— « E inda que comnosco gan
honra, pêra comvosco se não perde, que
claro está que ser vencido do quem nas-
ce pcra o não ser (routrcm, se não devo
ter por injuria. Este homem tão desejoso
de brigas é vosso amigo o priucipo Berol-
do, que não sabe com quem as quer.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 10í>. — « E posto que também
sua valentia o ensinasse a ser confiado,
teve a mesma dita que tivera o primeiro.
Desta maneira aconteceu ao terceiro e
quarto. Parece-me, disso Albayzar, que
o cavalleiro das donzellas não as defeude
tão mal, que lh'as possam ganhar som
trabalho.» Ibidem, cap. 12i5.
— J)i:i)ois da frota ser dentro; depois
d'ella estar dentro. — « Depois da frota
ser dentro, Diogo berrio foi mostrar a
dom António o lugar em que se auia de
fazer a fortaleza, ho qual a juizo de to-
dos pareceo pouco conueniente pêro isso,
pelo que assentarão que se fczcssc em ou-
tro mais perto da foz em que auia fontes
(lagoa, e milhor posto pêra desembarca-
rem.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, p.art. 3, cap. 2.
— l\>r seT já entrado o inverno; por se
entrar já no inverno. — « Pnlatcc,'>o, de-
pois de ter prestes as jangadas, o cotias
que lhe mandara o Xabandar do Goa, te-
mendo que nam podci^se entrar a illia de
"lia sem muito perigo pela grande guarda
que os Portugueses tinhão em t<jdolo8
passos, determinou de o fazer de noite,
e esta auia de f^er de chuua, e tormenta,
a qual nam podia tardar, por ser ja en-
trado ho Inuerno, que naquellas j<urte«
he muito t'!mpestuos<). • iJamião do does,
Chronica de D. Manoel, part. 3, cap. 5.
— A^«o é o que cuidae» ser.
Nâo hei de ir co'ello.
Que ? nào é o que cuidacs
ter.
Já me não fio d'ellc.
Ora hi j.i.
AHTOMIO raKSTES, AUTOS, pAg. 395.
— A minha partida d'e»ta terra não
jióde ser sem vós. — t Senhor Palmeirim,
bem sabeis que minha partida desta terra
não piVle ser sem vtis; poi.s o remédio do
que busco ha tanto tempo cstíl cm vossa
mão: pcço-vos, pois vossa pessoa té ago-
ra senão negou pêra soccorro dos que
houveram mister, vos lembre que este,
que tendes pêra fazer, não é menor em
merecimento que outros que j& fizestes, e
adiante se vos podem offerecer.» Francisco
de Moraes, Palmeirim dlnglaterra, capi-
tulo 95.
— Desejoso de ser o primeiro. — « Mas
deste pensamento o tirou um cavalleiro,
que armado de todas as armas, entrou
no terreiro, desejoso de ser o primeiro,
que a victoria do outro levasse.» Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 123.
— Quem te metteu ser maridof
Não zombareis.
Temeis que cila vos açoute ?
Piidc ser.
Homem perdido,
quem te metteu ser marido ?
AKTOKIO rBESTES, ACTOS, pag. 109.
— Syn. : Ser, estar.
Ao verbo latino e.sse correspondem
dous verbos portuguczcs ser, e estar,
que os nossos grammaticos nào tem sabi-
do distinguir; mas entre os quaes lia mui
notável ditferença. Ser c precisamente o
verbo substantivo sum com toda a sua
força, c a copula da proposição, e indica
que a qualidade que por elle se attribuc
ao sujeito lhe é natural, ou permanente,
ou habitual. Estar c uma espécie do ver-
bo auxiliar, ou pelo monos o verbo sum
modificado de modo, segundo a Índole
da nossa lingua, que designa somente
uma qualidade accidcntiil, transitória, ou
que data de pouco. Quando dizemos qne
um homem <■ doente, «' bobado, etc, que-
remos siginiticar que esto homem tem
doença habitual, ou que o ataca a mindo,
que tem o habito ou costume do embebe-
I
SERÁ
SERÁ
SERÁ
497
dar-se, etc, e quando dizemos que está
doente, que está bêbado, etc, queremos
que se er.tenda que actualuiente se acha
doente, ou tomado do vinho, etc, dando a
entender que não é este um estado perma-
nente, nem sua qualidade habitual, senào
um caso accidental e transitório.
Quando queremos dizer que um homem
nasceu rico, dizemos que é rico : quando
queremos significar que nào nasceu rico,
que houve tempo em que o não foi, ou
que sua riqueza data de pouco, dizemos
que está rico.
-}• SERÁ. Forma do verbo ser na ter-
ceira pessoa do singular do futuro imper-
feito (ío modo indicativo. — « E achando
que havia mais de noite, e dia, que o se-
nhor do prisioneiro ho tinha em seu po-
der, quando lhe fogio, em tal caso será
o prisioneiro daquelle que o achar, e ha-
verá o Marichal por avantagem a dizima
dellc» Ord. Affons., liv. 1, tit. 52, § 21.
— ■ « E se elle dello nom quiser conhecer
possão delle appellar, e aggravar pêra
nós, e elle dê-lhes o aggravo, ou appella-
çom em tal caso : e d'outra guisa contra
direito nom mande penhorar, nem cons-
tranger, porque será theudo a lho coi-
reger.» Ibidem, tit. 81, § 33. — «E fa-
çã-se desta petiçam Artiguos no que for
neguado, e recebam-lhe sua prova até
aquelie termo, que o Juiz vir que será
aguisado; outro sy recebam ao demanda-
do suas excepções, as que forem direitas,
e aguisadas pêra receber.» Ibidem, liv. 3,
tit. 53, § 6. — • « E nom ho provando o
dito creedor, será constrangido de entre-
gar ao devedor a escriptura da obriga-
yom, c fazello livre de seu confesso.»
Ibidem, liv. 4, tit. 55, § 2.
E aconiselho-vos mui bem,
Por que quem bondade tem
Nunca o mundo nerá seu,
E mil canceiras lhe vem.
GIL VICENTE, ACTO DA FEIKA.
— «Ai senhor, disse ella, mal haja quem
tanto mal fez, quem vos eram milhor
empregadas que em nenhum e se isso
muito durar será grande perda pêra mui-
tos, que tem cada dia necessidade de ou-
tras obras como as vossas.» Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 96.
— « Senho]- cavalleiro, o grande Astribor
vos manda dizer que deixadas as armas,
vós e vossa companhia vos vades meter
em sua mao, se nào que será forçado
usar de crueza, cousa fora de sua condi-
ção.» Ibidem. — «O maior repouso ou
descanço que eu pêra sua condição sinto,
disse o escudeiro, será achar com quem
possa correr algumas lanças; e pois vossa
alteza lhe outorgou as justas, agora ve-
jam vossos cavalleiros o que querem fa-
zer, que eu vou-me com essa resposta. E
fazendo seu acatamento, se despediu.»
Ibidem, c-ap. 123.- — «Pois nào vedes,
voL. V. — 63.
senhor Beroldq, disse Platir, o que aquel-
las letras que estão na pia dizem, que
umas convidam a beber d'agua, outras
vol-o defendem ; mas já agora que a de-
feza é fi-aca, bem será que a provemos.
Então se chegaram todos á fonte, e lava-
ram n'ella as mãos e rostos do suor e pó
e provaram d'agua que a seu parecer era
como as outras aguas.» Ibidem, cap. 119.
— « E com as cortezias devidas a tào
boa nova, respõdemos, saõ tamanhas, se-
nhor, as mercês que nos tens feitas, que
querertas agradecer cõ as palavi-as, como
a gente do mundo costuma de fazer no
tempo dagora, entendemos que será mais
ingratidão que verdadeyro e deviílo agra-
decimento, por onde nos parece que o
mais acertado será o silencio metido na
alma que Deos em nós pôs.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 121.
— « Vê agora, alma minha, qual dos dous
será o que erra; se Chiisto, no que es-
colheo ; se o mundo no que te persuade.»
Padre Manoel Bordardes, Exercícios es-
pirituaes, pag. 319.
Pelo que SC lhe fôr isto
será coadjutor de Christo,
atar-se-lia polas orelhas
ao bem de suaa ovcllias.
AHIONIO FRESTES, AUIOS, pag. 143.
D'homem d'essa calidade
tudo se cuida, e será.
poÍ3 por certo tonlio já
não sor crara a verdade
onde crara a cousa está.
IBIDEM, pag. 297.
— «E todos estes bens lhe vem de
naõ ser ladraõ : e naõ o será, se não fal-
tar a si, nem a seus vassallos, nem aos
estranhos, como temos dito.» Arte de
furtar, cap. 15.
Que este nome de Olaia, que amo tanto.
Será de Albano cm verso celebrado.
Feliz assumpto de mais alto canto.
J. X. DE MiTIOS, BULAS, pag. 91.
Ilhas dispersas, marca, promontórios ;
E nào será dhabitador estranho,
Qual este observas, povoado aquelie ?
J. A. DE M.\CED0, A NATDREZA, Caut. 1.
O escasso número
Dos dias meus não será findo cm breve ?
Dcixa-me pois chorar a minha mágoa,
Gemer co'a rainha dor antes que desça,
Para mais nào voltar, á tenebrosa
Terra que a escuridão cobre da morte.
GABEETT, CAMÕES, cant. 2, cap. 5.
— Não sei como isso será ; ignoro co-
mo isso ha-de ser. — aNào sei, disse um
delles, como isso será; mas sei que pri-
meiro que as hajaes, custará tanto, que
vos lembre pêra sempre, e pagueis o
damno que tendes feito. E saltando fora
dos cavallos se vieram a elle, e começa-
ram feril-o por todas partes.» Francisco
de Moraes, Palmeirim dlnglaterra, cap.
116.
— Não será contente ; nào se conten-
tará. — «E posto que seu pai com todo-
los afagos e modos que pode, trabalha
tirar-lhe aquella tenção, jamais o pode
acabar com ella, dizendo, que té ver
restituidos em sua liberdade todos vos-
sos cavalleiros, nào será contente.» Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 112.
— Será de grande proveito ; virá a ser
de grande utilidade. — «E se se continuar
a obra, será de grande proveito para to-
do o Reyno ; porque para armas hà nelle
muita abundância de ferro, e para a pól-
vora temos da nossa maõ a maior quan-
tidade destes materiaes, que hà no mun-
do, que he o salitre do Brasil, e o enxo-
fre das Ilhas.» Severim de Faria, Noti-
cias de Portugal, Disc. 2, cap. 11.
— Será necessário ; será preciso. —
«Hum delles então olhando para ob ou-
tros lhes disse, quiçá que não tem estes
homens tão pouca razão no que agora
apontarão, quão pouca nós tivemos em.
03 escandalizarmos, porque pôde bem ser
que se custume isso entre elles, porque
assi como por serem bárbaros carecem
do perfeito conhecimento da nossa ver-
dade, assi também nào será muyto terem
entre elles tão pouca consciência os mi-
nistros da justiça, que será necessário ás
partes fazerem mais caso da aderência
para com elles, que do direyto que tive-
rem nas suas causas.» Fernão Mendes
Pinto, Peregrinações, cap. 102.
— Quão duro será isto de crer; quão
árduo será iíto de acreditar. — «Bem
vevo, quam duro será isto de crer, a
quem nunca o vio, nem ouuio, mas tam-
bém sey, não faltarem neste Reyno, tes-
temunhas desta verdade.» Fr. Gaspar de
S. Bernardino, Itinerário da índia, ca-
pitulo 11.
— i<ací7 será de entender ; tomuT-íQ-ha.
intelligivel. — «Estando neste perigo três
horas, vendo que o tempo lhes seruia,
derão às velas sem leme, ou cousa que o
podesse ser, tornarão a fazer viagem,
onde cousa fácil será de entender, que
taes todos andarião, vendose no meyo
das ondas, em huma nao sem leme, quan-
do em tempo que o tinhão forão marrar
com ella em terra.» Fr. Gaspar de S.
Bernardino, Itinerário da índia, cap. 4.
— Onde será ido orai onde terá ido
agora?
Onde será ido ora ?
senhora, estaes lá em cima?
Senhor, si.
Mandastes fora
este moço?
ANTOsio PBESTEs, ACTOS, pag. 433.
— Será hom que digamos.
4'J8
SERÁ
SERD
SERE
Que será bom quo diRninoB,
fiuo falloinos, í|iu! cuiilomo» ?
No» iiiijo.4 c) não 1108 dímoB.
N'<!Htii artprllio iioH vnjnmo».
ABTomo rnusTE», Auros, pag.
— Não será dijficnltoso ; sorá fácil.
Agora mni» ((un nunca diíScijoBO
D'huma áspera, cru(!l, durii vingança,
Ja para iato induzir (|u(!r o ongcnlioBO
Cojaçofar, cm (humii tiMii confiança :
Cuida quo mio .terá dillicultoso
Sc do escuro Pliitilo favor alcança.
Logo ante ollo so vai, v com grãa mostra
Do dòr, ante oa »ous pi'» so luunillia o prostra,
r. nu andiude, ritiMiíiiio cmico de diu, cant. I),
est. 92.
— Mal será acudir-lhe. — «Desfalece
a índia com accidontes mortaca, peores,
que do puta coral, e artotica, que mal
será acodirlhc o IJrasil com alffuma su-
bstancia, que a alente, ainda <iuo seja
por modo de empréstimo : nem correrá
nisso o ditado, quo naõ he bom descobrir
hum Santo para cobrir outro, puis tudo
respeita, e serve o mesmo corpo debaixo
de huma Coroa.» Arte de furtar, capi-
tulo ()■;.
SERACOTEAR. Vid. Saracotear.
SERAFINA, .S-. /. Um tecido do lã del-
gada ])aia forros, cortinas, ctc.
f SERAFIN, s. m. Vid. XaraOm. —
«Que se el Rei de Tortugal descjaua a
amizade do xeque Ismael, como lhe to-
mara a cidade de Ormuz, quo cstaua a
Bua obediência, e lho pagaua cadanno
dons mil serafins de parcas que ja nisto
não rospondiào as obras com as palauras,
mas com tudo que cllc ora sou anii^o, e
folpaua muito com a sua :iiiiizado,.» J);i-
mião de Uocs, Chronica de D. Manoel,
part. 4, ca]i. 10.
SERAMAGO, s. m. Vid. Saramago.
SERAMPELO, s. m. Vid. Sarampão.
SERAMUGO, s. m. Vid. Saramugo.
\.) SERÃO, s. ?)i. (Do latim seram). O
traballio que se faz da bocca da noite
ató ás oito, novo ou dez horas. — «Che-
gada a noito foi ao serão, que o havia
em casa da imperatriz, e sentando-se jun-
to com Dramaciana, que era sempre o
seu mais corto lugar, começou praticar
no quo lho mais ia.» Francisco de JIo-
raes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 95.
— O tompi) da bocc4i da noite, sobro
a tarde, dopeis do anoitecer.
— Baile nocturno cm casa nobre, ou
real.
— Hoje díl-se-lhe o nomo de sardo.
Vid. Sarão, o Sarào.
2.) SERÃO. Fiirma do vorbo ser na ter-
ceira pessoa do plural do futuro imperfeito
do modo indicativo. — «E assim polo con-
trario quando s.^o bons os cabos se crê se-
rão molhoros. Depois de partido, ticou a
cidade do Constantinopla tão erma, que
parecia não ser aquella.» Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. f).
— «Agora podeis oscoliíer a outra ])(;ra
nosso jiarceiro, e ir-vos com as (|uo lica-
rom ; o das que duixard(;s, não hajais dn
dídlas, qu(' serão bom agasalhadas. Pois
ou amlo n'outra volta, di«sc ello, o (|iiem
quizor a sua, pa«s(! aquém da agua o
tomc-a com seu encargo.» Ibidem, cap.
12.').
Vive cm mou coraçSo, ou ncllc o encontro ;
Alli Hcm vi''0 »o in/istra, alli fulgura,
Onde tom Natureza império, e tlirono.
Sem a crença d'huin Ocos, que cousa he Mundo?
Fatalidade, labyriíitiio, abyHmo,
Onde accordcs scriío virtude e vicio ;
Onde o Injusto com pA soberbo, iníquo,
Impunemente a fronte esmagaria.
J. A. 1)B MACKDO, MEDITAÇÃO, Caut. 4.
SERAPHICA, s. f. Flor.
SERAPHICAMENTE, adv. (De seraphi-
00, e o sufllxo «mente»). Do um modo
seraphico.
— A semelhança de soraphim.
SERAPHICO, A, adj. Que j)ertenco aos
seraphiu.s. — Ardur seraphico.
— Urdem seraphica ; familia seraphi-
ca; instihito seraphico; nomes dados á
ordem dos religiosos franciscanos.
— Visão seraphica ; diz-so particular-
mente de um extaso de S. Francisco de
Assis.
— O doutor seraphico ; S. Boaven-
tura.
SERAPHIM, s. m. (Do latim saraphim).
Anjo da primeira jerarchia.
— Estremado no amor divino.
— Figuradamente : Pessoa mui bella e
prendada.
SERAPILHEIRA, s. f. (Do francez ser-
pil/iere). 1'anno d'estopa mui gros.sa, e
ralo, do envolver fardos, caixas, ete.
Vid. Serpilheira.
SERAPINO, s. 7)1. Uma gomma medici-
nal.
SERASQUIER, s. m. Eutre os turcos, o
general do exercito.
SERATULA, ou SERRATULA, s. /. Ter-
mo do botânica. Planta cujas folhas são
pareeiílas com as da bctonica.
SERBUNO, A, adj. — CaiaWo serbuno ;
de côr mais carregada que a do cervo.
f SERDES. Forma do verbo ser na
segunda pessoa do plural do futuro do
modo eonjunctivo.
Da doença, em que ora ardeis,
Eu fora vossa mt^ziuha
Si^ com viis serdes a minha.
Ho muito para notar
Qiu» podereis ser curada
Silmonte com me curar.
Se i|uoreÍ9, Dama, trocar.
Ambos temos a mt^zinlia,
Eu a vossa, e vos a minha.
C.VU., BKDONDILUAS.
— o Desta justiça, se entende aquillo
quo diz Christo nosso Redemptor, em
sam Matheiu : Atentay não façais vossa
justiça diante dos iiomenn, pêra serdes
vistos dciles. Querno» líeos ji^segurar
nossas mercadorias : e porá isto nos diz
que as assellemoH cíjm o scUo da tcnçam
posta nella, e não na gloria do mundo,
jior.i quo as nãr» percamos.» Heitor Pin-
to, Dialogo da justiça.
SERÊA, ou SEREIA, ». f. (Do latim «í-
renj. Jloustro fabuloso, da cinta para
cima mulher formosa, e d'ahi j)ara baixo
arremata<lo em cauda de peixe ; fingiram
os {lootas quo cantavam com tal suavida-
de, que 03 navegantes bc esqueciam da
marcação e remos.
Oh Serea das agoas Neptuninas,
Amor, que sempre acabas em rigores,
E em branduras começas, 'pial Sertã,
Pois tens cara formosa, e cauda féa.
jiíuONviiu oAiiiA, roLYrueiio E oalaibéa.
SEREFOLIO, «, TO. Vid. Cerefólio.
f SEREI. F(')rma do verbo ser na pri-
meira pessoa 3o singular do futuro im-
perfeito do modo indicativo.
Sou logo a mesma brandura,
c porém com quem me apura
d'e.sâe geito terei d°clles.
ANTÓNIO raESTES, ACTOS, pOg. 217.
— «Elle tomou as rédeas ao cavallo o
virou o rosto pêra o poder melhor ouvir.
Senhor cavalleiro, disse o outro, eu te-
nho muita necessidade de uma dessas se-
nhoras; e porque não sei qual delias ó
mais pêra contentar um homem, vos peço
que vós, que as conheceis, m'o digais,
porque da que vos mais satisfizer, serei
contonto.» Francisco de Moraes, Palmei-
rim d'Inglaterra, cap. \2b.
Irás, meu bem, irAs lá, onde espero
Que mui cedo também »<'ríí prcacntc,
Mas não iriis sem mi, que o que teu quero
Faz ir comtigo esfaima juntamente :
E em me dando logar o iinigo fero
Irá o cor|K> buscar a alma contente,
Que imncii se apartou hum sf> momento
Do quem hc todo seu contentamento.
FRANCISCO DR ANDRADE, PRIXEIBO CERCO DR DIC,
cant. 3, est. 69.
Quanto inimigo fui, cordoai amigo,
Seu defensor serei. Jamais no f<íro.
No senado se ergueu mou brado austero
Para defender crimes : — e a tal crime
Como o dcUc, Catão será patrono.
OABRF.TT, CATÃO, SCt. 2, SC. õ.
— Phir. Segunda pessoa. — «Peço- vos
que agora, que de todo vos descubro meu
erro, me valhais; quo se assim o não fi-
zerdes, sereis causa de commctter outro
mór. Acabadas estas palavras, cahiu com
a cabeça sobre meus peitos, quasi sem
acordo.» Francisco ile Moraes, Palmeirim
dlnglaterra, cap. 124.
SERE
SERE
SERE
499
Será bom que vos caleis,
E mais sereis avisada
Que nào me respondereis nada,
Emquc ponha fogo a tudo ;
Porque o homem sesudo
Traz a mulher sopeada.
GIL VICENTE, FARÇAS.
Rasão, vós perdoareis
por vos não ficar commercio
outra voz com quem sabeis ;
outra Audromeda sereis
mas não já livre por Pérsio.
ANTÓNIO PKESTES, AUTOS, pag. 77.
Vós sereis,
isso me tem alma morta,
isso BÓ me desbarata ;
vós sois morto, c quem vos mata
vem-vos espirar á porta.
Quem é ?
EUa que vos cata.
IBIDEM, pag. 183.
f SEREMOS. Forma do verbo ser na
primeira pessoa do plural do futuro im-
perfeito do modo indicativo.
E posto que folga temos,
seja cuidarmos agora
O que somos, que seremos.
ANTÓNIO PEESTES, AUTOS, pag. 57.
SERENAMENTE, adv. (De sereno, com
o suffixo «mente")' De um modo se-
reno.
— Com serenidade.
. — Devagar, brandamente.
SERENAR, V. a. (Do latim serenare).
Expor ao sereno.
— Figuradamente : Serenar o semblan-
te; fazel-o parecer sem alteração.
— Serenar o animo; tirar-lhe a per-
turbação, incommodo.
— Dissipar as nuvens, névoas, chu-
veiros, tempestades ; aquietar.
— Serenar-se, v. rejt. Tornar ao esta-
do socegado antigo, desfeita a alteração,
que produzira a commoçào anterior.
— V. n. Ficar sei'eno.
SERENATA, s. m. Musica que se dá de
noite ao sereno, como alvorada, ao alvo-
recer.
— Concerto de vozes e instrumentos
feito á noite, na rua, debaixo das janel-
las de alguma pessoa.
SERENIDADE, s. /. (Do latira sereni-
tas). Estado do tempo, do ar que é se-
reno.
— Figuradamente: O estado d'um es-
pirito tranquillo, de uma alma sem agi-
tação. — « Insto he, que todos demos
graças a nosso tSenlior polia misericórdia,
que nos faz liurandonos de semelhantes
erros. Não falíeis cousa com demasiado
encarecimento, com excessos de affecto,
ou perturbação, nem a desejeis, ou exe-
cuteis, mas em toda a parte guardareis
serenidade, e liberdade do animo, naõ
vos sogeitando a paixaõ.» Fr. Bartholo-
meu dos Martyres, Compendio de espiri-
tual doutrina, cap. 10.
— Paz, tranquiilidade, quietação.
— 8yn. : Serenidade, quietação. Vid.
este ultimo termo.
SERENISSIMAMENTE, adv. (De sere-
níssimo, com o sufiixo «mente»). Mui
serenamente.
SERENÍSSIMO, A, adj. superl. de Se-
reno. Mui sereno.
— Epitheto d'honra dado aos príncipes,
e antigamente aos soberanos. — «O qual
cerco, foi tara apertado, que de nosso
tempo se não sabe que o fosse outro ne-
nhum mais, nem na índia, nem em Afri-
ca, nem em toda a Europa, ao qual a
Rainha com conselho, e ajuda deste se-
reníssimo Príncipe socorreo com tanta
abundância de gente Portuguesa sem ou-
tra nenhuma mestura, e de todalas cou-
sas necessárias, que o Serife depois des-
tar muito tempo sobreste Castello, foi
constrangido daleuautar o cerco.» Da-
mião de Góes, Chroníca de D. Manoel,
part. 3, cap. 27. — «Quem averâ que
sem o ver o crea? Mas testemunha mo
he Deos, que era tudo digo verdade, e
testemunhas saõ também delia quãtos na
nao hiamos, pois por sua misericórdia, e
intercessão da Sereníssima Raynha dos
Anjos, por quem todos chamamos, ne-
nhum de nôs faleceo em todos estes tra-
balhos.» Fr. Gaspar de S. Bernardino,
Itinerário da índia, cap. 2. — «Digni-
dade de Homem Medico, ajuntar o pre-
claro ornamento de Medico Practico-Po-
litico, busca em Lysboa a sereníssima
Aula Regia, e no magestozo concurso da-
quelles Alumnos contempla os secretíssi-
mos arcanos da praxe mais acertada, e
as polidíssimas ideas da Politica mais ti-
na. Olha, e repara; verás huns, adcoza-
dos ApoUos; toparas outros naõ mentidos
Esculápios, c juraras os mais elegantes e
políticos Celsos.» Braz Luiz d'Abreu,
Portugal medico, pag. 45.
SERENIZAR, v. a. Vid. Serenar.
1.) SERENO, s. m. ■ — O sereno da noi-
te; o relento, ar vaporoso, orvalhoso
d'ella.
— Dormir ao sereno ; dormir ao ar,
ao relento. — «Custume he da terra, ao
primeiro de Mayo, leuarem todos suas
camas aos terrados, ou eyrados, das quaes
algumas nam saõ outra cousa, que huns
couros do Sinde molhados em que dor-
mem ao sereno ; mandando os que tem
posso aos seus Negros, que de noite a
quartos os estejão auanando.» Fr. Gas-
par de S. Bernardino, Itinerário da ín-
dia, cap. 11.
— Levavam as cabeças feridas, des-
cobertas ao sol e ao sereno. — «E os
outros Portugueses hiam metidos em ca-
poeiras com as cabeças saydas fora me-
tidos os pescoços pelas tavoas, de ma-
neira que nam podiam recolher as cabe-
ças pêra dentro, mas levandoas alguns
feridas, assi as levavam descubertas ao
sol e ao sereno.» Fr. Gaspar da Cruz,
Tratado das cousas da China, cap. 24.
2.) SERENO, A, adj. (Do latim sere-
nus). Que está sem nuvens, sem névoas,
sem chuveiros; limpo, puro. — O céo es-
tava sereno. — «Corao as quatro damas
tivessem o alojamento, separado das mon-
jas, com janeílas pêra o campo e as noi-
tes naquelle tempo fossem serenas e cla-
ras, podiam vêr alguma parto do valle.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 142.
Não acha r|ucm o impida, ou contradiga
Nesta viagem toda o grande Nuno,
Mo.stra-se-lhc a fortuna branda e amiga.
Sempre sereno o Ceo, sempre opportuuo :
Também agora a fúria se mitiga
Do bravo Eolo, e do húmido Neptuno,
E com tantos favores, tal bonança.
Em bi-evc tempo em Diu ferro lanija.
F. d'aNDRADE, PBIMEIRO CERCO DE DIU, Caut. 4,
est. 79.
— ^ «E fica o salto, que foy invisível
era Lisboa, manifesto álera da Linha;
como Santelmo, que se fáz invisível em
tempo sereno, e na tempestade appare-
ce.» Arte de furtar, cap. Õ4.
Onde B'cspraia o mar, ond' hoje hc terra?
Onde o sereno Ceo s' arqueia aos olhos?
Onde ródão os Orbes, qu' os ethereos
Campos enchem de Luz?
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Cant. 1.
Ora lhe prende a calma a fúria insana.
Mal orvalhosos Zefyros co' as azas
Lhe eucrespão brandamente a auperficie ;
Dos ligeiros baixeis as brancas vélaa
Com bafagem serena apenas inchão.
Dos mudos cidadãos a copia ingente
Da calma se compraz, e a doce chamma
Então sente de amor nas agoas fundas.
IDEM, MEDITARÃO, Cailt. 2.
Cego ! Que apraz cuidar que 03 Sócs, gravados
Por todo o esmalte azul a cento, e cento,
Sirvão só de espargir (mortal soberba!)
Inúteis, som vigor, languidas luzes,
Quando a noite serena os astros mostra
No desdobrado véo, vasto, infinito?
Sc a meta transgredi ; e se me suspendo,
Volver-se-hão para mim serenos dias.
Da vida humana em mar tempestuoso
Só Virtude he fanal, só ella he pólo.
IBIDEM, cant. 1.
Fechou-se para mim... Século infausto.
Em ti berço me deo mesquinha estrella ;
Ah ! Possa inda hum momento, antes que a morto
Nos meus olhos derrame a sombra eterna.
Ver renascer a paz, surgir tranquillo
Aos Tlu-onos, ás Nações sereno hum dia !
luiDEM, cant. 3.
Olha a que mostra os Ceos diurna Estrella
Que as variadas Estações nos marca.
Cujo calor benéfico alimenta
A habitação terreste. Este Planeta
Cujo doce clarão transforma a noite
N'hum quasi dia pállido, e sereno.
IDEM, A NATUREZA, Caut. 1.
500
8EKE
SERI
SEIll
T)a capiicliosa norte inopinado
Golpe não p('ido portuvbnr «eu* diuH,
Correm serenos, do ai ineáino gOiíii.
— Vida serena; vida soccgada, plá-
cida.
E pêra tilo prestes partir,
Audc tilo triatc como ando,
Desejando
A pena nue está por vir.
Quem quizer vida serena
Nunca (moira o ((ue eu queria,
]'orr(uo daH lioras do dia
' A cpu) rai! dá maior pena
Mo traz maior alegria.
OIL VICENTE, KAUgAS.
— Fiffiirailauicnte : Soce^ado, tranquil-
lo, iseuto de perturbação, de agitação.
Vereis, Duque sereno, o cstylo vário,
A nós novo, mas n'outro mar cantado
De hum, que só foi das Musas secretario:
O pescador Sincero, quo amansado
Tem o pego de Procliyta co'o canto
Por as sonoras ondas compassado.
Deste seguindo o som, que pôde tanto,
E misturando o antigo Mantuano,
Façamos novo ostylo, novo espanto.
CAU., EOLOOA G.
Quanto cm copia maior do luz as fontes
Laução mais vivo ardor sereno, c quedo,
Vimos o mar nos vastos horizontes
O ar puriMireo, o Coo traiiqiiillo, e ledo-,
Todo o panno largando, os altos montes
Se descobrem cobertos de arvoredo,
N'arêa meigo escorregando o pego
Dêo-no3 do longo aos ânimos socego.
J. A. DE MACEDO, OBIENTB, caut. 5, CSt. 81.
Olha Safira lúcida, o serena
Em que SC cspallia o (^co ; olha o magoado
Roxo, quVnroupa o Lírio, inda mais doce,
luda mais triste na Ametista brilha.
IDESI, NATUUEZA, Caut. 2.
Detenho a vista na famosa Athenas ;
Em viçoso jardim descubro hum vollio,
Olhos serenos tem, tranquilla a fronte :
Ventura ao lado seu lhe estende os braços.
Ao Templo do prazer lhe marca a estrada,
Não terreno, c brutal, mas puro, ethéreo.
De Horácio, c de, Petronio il nieuto ignoto.
IDKM, UliDITAçÂO, caut. 4.
— Paz serena.
Na limpida caminna do Oceano,
Levão de hum Polo a outro ousados Pinhos
Muitas V07.e^ o bem, e o mal mais vezes,
Sr em perfeito eiuilibrio os ares pousão,
Niio bramo o vonto, niio, mas quem perturba
Esta serena paz, calma suave V
IDEM, VIAOEM EXTÁTICA, C.aut. 2.
— Toriuo de medicina. Gotta serena;
privação da vista causada pela paralysia
da retina.
SERENSINA, s. /. Termo do chimica.
O priueipio iiuiuediato dos oleoá voláteis
de rosas, de anis, etc.
SERGANTANA, ». /. Vid. Lagartixa.
SEKGENTA, x. /. Termo antiquado.
(Jri.ada, muça do Bcrvir. Vid. Sergeute.
SE.^GENTE, «. 711. Vid. Sargente.
— (Jriado, o depois leigo da» ordena do
Malta, Aviz, otc.
SERGUEIRAS, «. /. /A. Tecido do la
e iiiilio de piiuco ))rcço.
SERGUILHA, ». /. Droga de lã mais
rapaiJa, (|ue cilicio; á imitação d'osta se
íaz a de algoilTio, e a de seda.
■}• SERIA. Forma do verbo ser na pri-
meira ou terceira pessoa do singular do
condicional imperfeito. Vid. Ser. — •As-
saz do muita pequice e pouca prudência,
grande ousadia e alta presumçam seria
a minLia .se cuida.sse que ha ninguém de
achar sumo ou sabor ii'estc3 ditos, pois
sam feitos de quem uam sabe; pêra mi
só os iiz por ter fraca memoria.» D. Joan-
na da Gama, Ditos da freira, pag. 21
(ediç. 1872). — «Antes consentiria ver-
vos morrer Juntamente na prisão, que
usar de cousas deshonestas a mim. Essa
differença quero quo haja de mim ao tur-
co, que é a própria que ha dautre os
bons aos mãos. Albayzar não tem culpa
nos erros do turco; por isso não seria ra-
zão pagar- os males, que esso outro faz :
d'uma só cousa me espanto, e é da prin-
cesa Targiaua consentir cousa tão mal-
feita, e não lhe lembrar as honras e ga-
salUailos desta casa.» Francisco de Mo-
raes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. Uti. —
« Em má esperança nos pondes, disse
Polendos; por isso seria melhor morrer
todos como esforçados em poder de tantos
cobardes, que viver em prisão perpetua;
que esse cavalleiro, que pedes, antes o
iuiperador perderia todo seu estado, que
entregar-te o que é um dos melhores do
mundo, e a quem mor ben» quer.» Ibi-
dem.— «E até mo trazerem preso não
as exercitar em ai, crendo que algum
passaria por aqui, que seria de tauto
preço, que o traria ante mim, pêra se
desi)brigar do juramento, ou defenderem
que Miraguarda n.ão é tào fermosa como
eu; porque também a isto me pareceu,
que acu<!iria Floriano, e d'unia maneira
ou d'outra o haveria á mão.» Ibidem,
cap. 102. — d De fazer armas comvosco
lev:u'ia eu pequeno contentamento, di.sse
o do 8alvage : e por isso folgo haver ra-
são quo o escuse ; que onde se gauha tão
pouco como seria veucer-vos, não se de-
ve aventui-ar tanto como é despender
tempo mal em cousas tão pequenas.» Ibi-
dem, cap. 112. — «Dizeis isso, senhor
cíivalleiro, disse o hospede, como quem
não sabe com quem o ha. O gigante é
tào bravo e forte, que nSo haverá por
muito fazer batalha com dez cavalleii"Os:
aventurardús vi')s a vossa moci'lade em
suas mãos não seria esforço, poder-liíe-ia
mos chamar outra cousa. P]lle ihe agra-
deceu o c-.»uselho, mas não pêra o acei-
tar.» Ibidem, cap. 117.
Julgando ja Neptuno que n-ria
Estranho caso aqu<-IIe. lo^ro munda
Trità/) que chame oí d>-oHi-s da .•'i;;ua fria,
(^iii: o mar liabitào d uma i- d outra bauda.
Tritão, i|ue de »<t filho hc prloria
Do ri.-i c de Salacia veneranda,
I''.ra mancebo grande, negro e feio,
Trombeta de seu pac o (Mm correio.
CAU., Lui., cant. 6, est. IC.
— « Posta toda esta gente em terra
que estaua ordenada pêra cõmcttcr a ci-
dade: deu dom Francisco seu filho du-
zentos homens, e elle ticou com o corpo
da mães gente que seriaõ trezentos.*
Harros, Década 1, liv. 8, cap. 5. — «NSo
sei como o po.ssumos evitar; c inda que
se possa fazer (o que eu não crcioj seria
grande erro, porque ordinariamente se-
guimos o que nossos maiores fizera3, de
cujas vidas, e obra» tomamo.'s o exemplo
jicra as nos-sas.» Idem, Clarimundo, liv.
2. — a E se nesta matéria se atentara
só para a linha masculina, o Senhor D.
António ficava de melhor partido, por
ser varaõ, e filho de Infante; ma.s foy es-
cu.so por illigitimo, e indispen.sado; por-
que a dispensaçaõ si) seria licita em de-
feito de oppositor legitimo.» Arte de fur-
tar, cap. 16. — «Com este desconcertado
estrondo nos partimos para a cidade, quo
seria dalv pouco mais de huma legoa,
onde chegamos ja quasi movo dia, e abor-
dados ao primeiro caiz que ae dezia Cam-
palarraja, vimos nelle infinidade de gente
muyto luzida, assi de pé como de cavai-
lo, e muytos elifantes de peleja muyto
bem concertados, c3 cadevras e caatellos
guarnecidos de prata, e suas panouraa de
guerra nos dentes, que os faziào muyto
temerosos.» Fernão Mendes Finto, Pere-
grinações, cap. 1G2. — «Despejada a ci-
liade, poz o (rovcrnador toda a sua gente
no campo, que seriaõ perto de quatro
mil homens, e mandou Francisco de Si-
queira com alguns Capitaens, que fo.ssom
com navios do remo queimar as náos que
estavaij duas léguas pelo rio dentro.»
Diogo de Couto, Década (5, liv. 8, cap. 13.
— «O (Joveruador andava muito ocoupa-
do na preparação da Armada, porque de-
terminava hir buscar o.^ Rumes, e ficou
embaraçado vendo que se lhe ofl"ereciaõ
estoutros trabalhos de novo, que naõ me-
nores, nem de menos obrigaç;iõ pêra aco-
dir que os das galéz, porque estava aqnel-
le Reino arrisc.ido a se perder de toilo, o
que seria destruição do Estado.» Idem,
Década G, liv. 8, cap. 11. — t E dous cm
aspa de canto a canto, fazendo de outro
cercadura, e por todos cUos pendurou
muitos escudos ; posto que quatro, que fi-
caõ dentro no e-scndo, e i>-do chefe da
bordadura, saõ notavelmente maiores; e
feitos a moio de adargas; estes parecem
dos cinco Reys, que alli foraõ vencidos,
e os mais seriaõ de outras pessoas princi-
paes, ou dos que ElRey por sua maõ al-
cançasâe.» Manoel Severim de F;iria, No-
SERI
SERI
SERI
501
ticias de Portugal, Disc. 3, cap. 6. — tO
que feito traballiaria de despachar as nãos
que auião de tornar porá o regno, de que
seriâo capitães, Rui Freire, Fernão Soa-
rez, e Sebastião de Sousa.» Damião de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 2,
cap. 1. — «Feio que o Conde com a gente
de cauallo que trouxera se tornou na
mesma hora pêra Arzilla, donde logo
mandou os Almocadens, Pêro de meneses
mourisco, e George vieira a descobrir, os
quaes vendo muitos tbgos no Xeicaõ, que
he duas legoas, e mea Darzilla, llies pa-
receo que seria gente dei Rei de Fez.»
Ibidem, part. 2, cap. 28.
A males que nam tem cura
espcral-o da ventura
vam esperança seria,
que esperando creçeria
cuidado, desa ventura.
CHUISTOVÃO FALCÃO, OBRAS, pag. 31.
Se 03363 não achassem cá
interpretes
não seriam ellea cacetes.
Somos nós, sempre em nós ha
pôr por pilotos grumetes.
Seilor, que traça, o que lavra
nel castillo?
Uns três portacs.
ANTÓNIO PEESIES, AUTOS, pag. 73.
D'outra parte o não teria
por tão amoroso e dôcc;
nem amor amar seria
se tentasse o que fazia
se amor de rasão fosse
bem acertado menino.
IBIDEM, pag. 173.
Onde amor vir
benzer-me, fazer-lhe obsequias,
comer, folgar e dormir,
touros de palanque, rir,
mandal-o a trinta mil requias ;
amor, ou não seria elle
amor; mas o mór engano.
IBIDEM, pag. 175.
— «ElRey de Pegú esperava cuydado-
go as novas de seu amado filho, (muyto
certo que seriaõ as ordinárias) quando
soube a intelice, posto que honrosa mor-
te, com quQ se havia acabado a gloria, e
o lustre de seus passados triunfos, en-
grandecidos com taS illustres trofeos.»
Conquista do Pegú, cap. 2. — «Não sei
como ao pensamento me veio em Lisboa
se seria este defunto o Suppico; e muito
casualmente perguntando eu ao padi-e D.
Celestino Teguineau da Providencia que
íim tivera, respondeu-me que ouvira mui-
to em voz baixa dizer que o mataram
em Compostslia, intervindo um religioso
na morte.» Bispo do Grão Pará, Memo-
rias, publicadas por Camillo Castello
Branco, pag. 113.
Avisado seria approveitar-vos
Da occasiào. Por bôcca anda de todos
Que do joven monarchã se prepara
Nova jornada ás costas africanas.
Em bem a fade o eco !
GARRETT, CAMÕES, caut. 4, cap. 2.
— • As obras 7ião seriam longe d'eUas;
não estariam longe d'ella3. — «Os vir-
tuosos ficarão contentes e aos máos não
terão de que murmurar. Muito agradeci-
das foram estas palavras de Palmeirim,
crendo quo as obras não seriam longe
d'ella3.» Francisco de Moraes, Palmei-
rim dTnglaterra, cap. 101.
— Seria mojino.
Se ora fosse tão indino
que caso algum estrovasse
que um que um nào topasse,
como seria mofino
se m'o Deus nào deparasse.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pag. 83.
— Não sei como seria. — «As chi-oni-
cas dos Chins reduzem toda a nossa chro-
nologia a cousa nenhuma; e se fossem
verdadeiras, não sei como seria. Confú-
cio não é inferior em bondade de moral
a Sócrates; e quando os amores de Phe-
don fossem tam platónicos como os viu
Mendelsohn, ainda assim não seria o Gre-
go superior ao Chim.» Garrett, Camões,
nota E ao canto 4.
— Obras seriam emuladas ; seriam in-
vejadas. — «Entre estes últimos viveo, ou
vive ainda hum verdadeiro fingidor, cu-
jas obras judiciosas serião justamente
emuladas do mesmo Ovidio. Fallo do il-
lustre Fontaine, de que nào ha por ora
outro exemplo. » Cavalleiro d'01iveira,
Cartas, liv. 1, n." 11.
— Seria verdade. — « Jlas tanto que
cheguey, onde foy a primeyra Babylo-
nia, antigua, e vi os mesmos indicies,
entam me persuadi, a que seria verda-
de, e se os escrupulosos nella, lerem com
atenção Heródoto Author Grego, e Plí-
nio, nelles verão estas palauras.» Fiei
Gaspar de S. Bernardino, Itinerário da
índia, cap. 17.
— Seriam três horas da tarde. — «Três
horas serião da tarde, quando chegamos
ao Cães da Cidade Melinde, e não des-
embarcando em terra, mas sò indo de
vagar com a vela amisurada, fomos ven-
do as casas, que todas nos parecerão al-
tas, e fermosas; Estaua no Porto gran-
díssima Caterua de Mouros cuydando o
tomássemos.» Fr. Gaspar de S. Bernar-
dino, Itinerário da índia, cap. 5.
— Seria licito; seria permittido. —
«Perguntou alguém, algumas vezes, se
seria licito deixar usar a mulher própria
d'aqaellas boas partes de que a dotou a
natureza ; como o cantar, o dançar, e
ainda o fazer versos, e outras semeliian-
tes prerogativas, que em algumas se
acham, e em muitas pudera haver, se o
receio as não supprimisse.» D. Francisco
Manoel de Mello, Carta de guia de casa-
dos.
SERIAMENTE, adv. (De serio, com o
suíBxo o mente d). De um modo serio.
— Com seriedade.
— Sem zombaria, sisudamente.
SERICAIA, s. /. Iguaria muito presa-
da em Malaca por seu exquisito sabor.
SERICEO, A, adj. (Do latim ttriceus).
Assetinado, que tem a figura ou a appa-
rencia da seda.
SERICO, A, adj. (Do latim sericus).
De seda.
SERIE, í. /. (Do latim series). Termo
de mathematica. Ordem de grandezas,
que crescem ou diminuem segundo certa
lei.
— • Continuação ordenada e successiva
de algumas cousas, certo mimero de cou-
sas seguidas.
— Diz-se das divisões em que se clas-
sificam os objectos. — Esta loteria está
dividida em tantas series.
— Termo de marinha. Collecção de
objectos servindo para fazer signaes.
— Termo de chimica. Reunião de cor-
pos homólogos.
— Termo de zoologia. Disposição de
difTerentes animaes.
SERIEDADE, s. f. (Do latim serietas).
Modo, ar, gesto, serio ; aspereza, intei-
reza.
— Sinceridade no trato.
— Diz-se em opposição a graça, zom-
baria.
— Figuradamente : Importância, mo-
mento d'alguma matéria.
SERIFE.^Vid. Xerife.
SERIGA, s. f. Vid. Sesega.
SERILHAR, V. a. Vid. Sarilhar.
SERILHO, s. m. Vid. Sarilho.
SERINGA, ou SIRINGA, s. /. (Do la-
tim si/ringa). Tubo de metal, ou de mar-
fim, com um canudo mais fino em um
dos extremos; corre por ella um êmbolo,
ou cabo, com estopada da grossura do
diâmetro do tal tubo, o qual êmbolo, pu-
xado atraz, leva o ar interior e deixa
um vazio que a agua em que está mer-
gulhado o bico, ou o chupete da seringa,
vem occupar; carregando-se o êmbolo pa-
ra dentro contra a agua, sáe com força e
de salto. Ha seringas de intestinos de
boi, dentro dos quaes se deita o liquido,
que comprimido sáe pelo bico, canudo,
ou chupete; mas estas dizem-se propria-
mente bexigas, e servem para o mesmo
efleito, de botar ajudas, clystéres, injec-
ções por baixo.
SERINGADA, s. /. Agua contida na se-
ringa, e que se expelle com o êmbolo car-
regando para dentro.
SERINGAR, V. a. Deitar o liquido con-
tida na seringa, comprimindo-o com o êm-
bolo, c introduzLl-o em alguma parte.
— Seringar alguém; molhal-o com o li-
quido contido na seringa.
— Termo popular e figuaado. Seringar
i
502
SERM
SERO
SERP
alguém; apoquciitul-o, moralmente fal-
lando.
SERINGATORIO, s. m. Kcmu<lio que se
ha de introduzir seringando nas cliagas
fundas, na un:tlira, ete.
SERIO, A, adj. (Do latim seriíis). Si-
sudo, grave.
Tu, oh Povo miúdo, c Poro grosso,
Que dos Toui-os ao bárbaro combate,
Presidido dos sérios iMiipistiados,
LA na praça assistias galhofeiro,
Tu testemunha foste; c no futuro.
A. DIXIZ D.V CBUZ, JIYSSOPE, Cant. 7.
— Sem riso, sem zombaria, nito de
graça.
— Af?pero, grave no fallar.
— Loc: Fdllar serio; fallar sincero,
sem engano, sem dobrez, sem dissimula-
ção.
■■ — Syn. : Serio, grave. Vid. este ulti-
mo termo.
f SERIOSAMENTE, adv. (De serioso,
com o snffixo «mente»). Vid. Seriamen-
te.— aExaqui, Scuhoi-a, o que entendo
seriosamente da Deshonra, o da Calum-
nia; e se ainda os meus accusadores en-
tenderem que entendo mal, dò-lhes V.
E. licença jiara que entendão o que qui-
serem.» Cavalleiro d'Uliveira, Cartas, liv.
1, n.o 51.
\ SERIOSO, A, adj. Vid. Serio. —
«Credes que esse emprego nos diverte de
outras occupaçoens mais seriosas, e que
o vicio de querer ser eloquente, embara-
ça a virtude de ser Sábio.» Cavalleiro
de Oliveira, Cartas, liv. 1, i\.° 20. —
Agora me lembra que me dissestes que
queríeis huma resposta seriosa, e para
ella he necessário tomar outro caminho.»
Ibidem, n." 29.
SERMÃO, s. m. (Do latim sermo). Dis-
curso, arrazoamento, pratica que se faz
a alguém para aviso, ensino, etc. — «E
ao sermaõ cstoueraõ mui promptos mos-
trando terem contentamento na paciên-
cia, e quietação que tinbaõ, per seguir
o que viaõ fazer aos nossos.» Barros, Dé-
cada 1, liv. 5, cap. 2.
— Figuradamente : ReprehénsSo, avi-
sos, admoestações.
— Alguns dão este nome ás epistolas,
e ás satvras de Horácio, isto é, ás poe-
sias de ostylo fácil, e quasi em uso nas
conversações.
— Discurso doutrinal evangélico, ou
em elogio de vivos, de santos, de mortos.
— «Acabado este sermão, diz Sam loam
"qlie leuantando o Senhor os olhos ao Coo,
íez huma oração ao Padre nesta forma.
Padre chegada he a hora de minha pay-
xam, de minha morte, e resurreiçam, e
por isso glorificay vosso Filho, pêra que
vosso filho vos gíorifiquo.» Fr. Bartholo-
ineu dos Martyres, Catecismo da doutri-
na christã. — «Por isso bradou Pedro
(como se conta nos Actos dos Apóstolos)
dizendo em hum sermão. Todos os Pro-
piíetas dam testemunho do lesu Christo,
que por seu nome ham de alcançar ru-
missain de peccados todos os que nelle
creni.» Ibidem. — «P^ no sermão 31. so-
bre 03 Cantares, diz auer conhecido a
visita do Senhor, na brandura, que sen-
tio no coração, c ternura do affecto apar-
tamento dos vicios, mortiticaçjlo de affe-
ctos carnaes, conhecimento, e displicência
dos defeitos occultos, eninionda dos cos-
tumes.» Idem, Compendio de espiritual
doutrina, cap. l.õ. — «S. Bernardo, sobre
os Cantares sermão 74. com encolhimento
declara o que sente contemplado, a sa-
ber, que naõ conhece a visita do Senhor
quando logo de primeiro entra, ou quan-
do se ausenta.» Ibidem. — «E pois esta-
mos em Sermaõ de contas, e números, se
algum me perguntar curiosamente, que
proporção tem o numero setenta e sete
com os peccados, c perdaõ universal del-
les; Santo Agustinho a descobrio sutil-
lissjiinamente. » Padre António Vieira,
Sermões do Rosário, part. 2, § 320. —
«O sermão mau-mau — mal feito e com-
prido — é péssimo. Em vez de se darem
a Deus, os ouvintes estSo dando ao dia-
bo o pregador, ou já crêem que o pró-
prio demónio lhes falia.» Bispo do GriSo
Pará, Memorias, publicadas por Camillo
Castcllo liranco, pag. 135.
SERMÃOZINHO, «. m. Diminutivo de
Sermão. Pequeno serm.ão.
SERMENHO. = Significação incerta.
SERMONARIO, s. /. Collecção de ser-
mões.
— Author de sermões.
— Adjectivamente : Que convém ao
serniàd. — O género sermonario.
SERMONETÉ. Vid. Salmonete.
SERMONTESIO, A, adj.— Versos ser-
montesios ; versos compostos em lingua-
gem rústica. Alguns dào-lhe o nome de
versos serventesios.
SERNA, s. /. Termo antiquado. Her-
dade que se semêa, e tributo que se pa-
ga para ella ser cultivada.
SERÓ, s. )H. Embarcação de remo, asiá-
tica.
SERÔDIO, A, adj. Tardio, que vem por
fins da estação própria.
— Do tarde, depois da estação das
chuvas.
— Fruta serôdia ; fruta do tarde; de
novembro, de dezembro.
— Figuradamente : Chxtvas serôdias.
-{- SEROM. Frirma antiquada, em vez
de Serão. — «K esto Mandamos que pos-
sam assi fazer per Nossa Autoridade, e
mandado especial ; ca em outra guisa
nom serom relevados da dita pena, posto
que digam que levam as ditas mercado-
rias pêra remiir Chrisptaaõs cativos, se
pêra ello nom mostrarem Xosso Manda-
do especial, como dito he.» Ord. Affous.,
liv. 4. tit. 03, § 4.
SEROSIDADE, s. /. Vid. Sorosidade.
SEROSO, A, adj. Vid. Soroso.
SEROTINO, A, «//;'. rOo latim seroti-
n«*i. ."<>ri)dio.
SERPÃO, «. m. Tennode botânica. Plan-
ta do que ha dua» espécies : iilventre, ca-
jás folhas se parecem com a8 da arruda;
o hortense, com ramos semelhantes aoa
do orégão. Vid. Serpol.
SERPE, «. /. Serpente. — «Feito isto
se foi contra o castello, lançando a ser-
pe pola boca e ventas tSo grande quan-
tidade de fumo negro e espesso, que todo
o ar foi congelado delle, de feição, que
nada se podia ver assim dentro na forta-
leza como fira delia, senão algumas cha-
mas vivas que ás vezes por antre o fumo
sabiam com tamanha fúria, que parecia
que tudo queimavão quanto se lhe punha
diante.» Francisco de Moraes, Palmeirim
d'Inglaterra, cap. 38.
Ah Nymphaa ! não vereis
Que Eurydicc, fugindo dessa sorte,
Fugio do amante, c uào da fera morte ?
Também assi Epcrie foi mordida
Da vibora escondida.
Olhae a serpe occnlta na hcrva vwde.
Quem o rigor não perde, porde a vida.
CAU., EGLOOA 7.
— Figuradamente: — «Não se espera
nesta noyte o Boca da Serpe, por se sa-
ber que estava curando as suas mazellas,
porem elle chegou com o irmão do In-
viado.» Cavalleiro d'01iveira, Cartas, liv.
1, n.° 10.
Nelle he tudo ignorância, c tudo he trtva ;
Do pezo oppresso jaz dos males todos,
Traz cm seu seio os ti'xico3 da morte,
Triste gérmen da dor conserva nelle,
Qual serpe que se enrosca entre as boninas.
J. A. DE MACEDO, ITEDITAÇÂO, Cant. 4.
— Serpes de crystal; aguas que cor-
rem serpejando.
— Serpe do arcabuz, ou mosqueie; o
cão da espingarda, ou peça de metal,
onde se punha o murrão acceso para dar
fogo quando as espingardas ainda não ti-
nham fechos com pederneiras ou fuzis.
— An.\GiO :
— É mais velho qne a serpe.
SERPEADO, i)art. pass. de Serpear.
SERPEAR, ou SERPEIAR, v. n. Diz-se
do modo do se mover, próprio das sei^
pentes.
— Figuradamente : Diz-se dos ribei-
ros que correm, dos rios, fontes, rega-
tos, etc.
Não cede alli Bolonha ao grão Tamisa,
Menos cedo Florença, que se esconde
Kntrc amenos Jardins, serenas aguas
I^ claro Amo, que serpêa. e manso
Oâ campos fertilisa, as flores nutre.
J. A. DE U.VCEDO, TIAGEM EXTÁTICA, Oant. 4.
— Diz-se também das plantas, flores,
SERP
SERR
SERR
503
SERPEJANTE, part. acf. de Serpejar.
Que serpeja. — liio serpejante.
SERPEJAR, i'. '!. Mover-se sinuosa-
mente. Vi'l. Serpear, termo maií em uso.
SERPENTÃO, s. 7íí. Instrumento mu-
sico de sopro, como o baixào, mais longo
e grosso.
SERPENTANTE, adj. 2 gen. Termo de
botânica. Reptante, que corre rasteiro
ou de rojo lançando raizes em diversos
logares, fallando do tronco ou raiz da
planta.
— Part. act. de Serpentar.
SERPENTAR. Vid. Serpentear.
SERPENTÁRIA, s. /. Tid. Serpentina.
l.j SERPENTÁRIO, s. m. Uma cons-
tellaçào do hemisplierio boreal; compòe-
se de 737 estrellas, segundo Képler.
2.) SERPENTÁRIO, s. m. Ave da esta-
tura de um ganço, e de côr cinzenta : ha-
bita nas proximidades do cabo da Boa-
Esperança, onde facilmente a domesti-
cam; alimenta-se de serpentes e de ra-
tos.
SERPENTE, s. f. (Do latim serpens).
Animal reptil, comprehendendo a cobra,
a vibora, o áspide, etc. — • oEntào viran-
do o amor em ira por vêr que tão peque-
no impedimento lhe tolhia nào poder to-
car sua senhora, arrancou da espada e
com o punho d'ella começou dar na ser-
pente, crendo que a força de golpes a
desfaria, todo era em vão, que a compo-
sição d'ella nào era d'essa qualidade.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 154. — «Ha outros que se
chamaõ pitaleus, que trazem em barcaças
muyto grandes, muytas invenções, de
animaes bravos muyto para ver e temer,
em que entraõ cobras, serpentes, lagar-
tos muyto grades, tigres, bichos, e outros
muytos de diversas mane^Ta-s, que tam-
bém cõ tangeres e bailos mostraõ por di-
nhevro.» Fernão Mendes Pinto, Peregri-
nações, cap. 99. — «No meyo deste ter-
reyro estava huma coluna de jaspe de trin-
ta e seis palmos de alto, e toda, ao que
parecia, de huma só pedra, encima da qual
estava hum idolo de prata em vulto de
molher que com ambas as mãos estava
afogando huma serpente muyto bem pin-
tada de verde e preto.» Ibidem, cap.
109.
— A serpente infernal; o diabo. —
«Tentados pela serpente, desobedecerão.
Baixou Deos a residenciar a culpa : e
privando-os de sua graça, e justiça ori-
ginal, os condenou á morte, e a traba-
lhos innumeraveis, em quanto esta naõ
chegasse, e a perpetuo desterro do Pa-
raizo.B Padre Manoel Bernardes, Exer-
cícios espirituaes, part. 1, pag. 157.
— Termo popular. A mulher velha e
feia.
— Serpente de metal; põe-se nos ca-
nhões de artilheria.
— Figuradamente : Serpentes que mor-
dem em silencio. — «Primeiramente aos
que detraem e escurecem a fama do pró-
ximo, chama o Sabedor serpentes que
mordem em silencio. E sam Paulo diz
delles. Se vos mordeis e comeis hums aos
outros, vede nam vos acabeis de consu-
mir. E nam somente he culpado o detrae-
dor e mormurador, mas também aquel-
les que ouuem. Fr. Bartholomeu dos Mar-
tvres. Catecismo da doutrina christã.
' SERPENTEAR. Vid. Serpear.
SERPENTICGLAS, s. m. plur. Os judeus
que adoraram no deserto a serpente de
Movsés.
SERPENTIFERO, A, adj. (Do latim ser-
pentifer.. Termo de poesia. Que gera
serpentes.
— Que contém serpentes.
SERPENTIGENA, adj. 2 gen. (Do latun).
Gerado, rasei lo de serpente.
SERPENTINA, s. /. Termo de botâni-
ca. Planta que nasce nas selvas á som-
bra, era terras quentes, cujas folhas são
\'ulnerarias, e a raiz secca se usa em pó
na medicina.
■ — Termo de historia natural. Espécie
de tartaruga da China, cuja cabeça tem
alguma semelhança com a da serpente.
— Serpentina de alambique ; cano es-
piral pir onde corre a aguardente distil-
lando-se; mette-se no resfriador; é de es-
tanho.
— Castiçal com três braços e trea lu-
mes.
— Nome de certa bombarda ou canhão
antigo.
— Palanquim com cortinas usado no
Brazil; o leito é de rede. Vid. Palan-
quim.
— Vela de três lumes, que se accende
nos officios do sabbado santo.
SERPENTINO, A, adj. (Do latim ser-
pentinus:. De serpente, da forma de ser-
pente.
— Fúria serpentina ; fúria como a da
serpente assanhada.
— Peara serpentina; pedra mármore
verde escura, com listrões tortuosos, co-
mo 03 que se vêem na pelle de algtimas
serpentes.
— Lingua serpentina ; lingua mui de-
pravada, picante, mordaz.
— Figuradamente : Astuto como a ser-
pente, e assim venenoso.
SERPIGO. Vid. Impigem.
SERPILHEIRA, í. /. Vid. Sarapilhei-
ra, ou Serapilheira.
SERPOL, SERPILLO, ou SERPIL, í. m.
(Do latim serpyUuin}. Herva secca. Vid.
Serpão.
SERPULAS, s. m. plur. Termo de his-
toria natural. Género de animaes mari-
nhos, que habitam em tubos de uma sub-
stancia calcarea, pegados aos rochedos.
SERRA, s. f. (Do latim serra). Lami-
na de ferro estreita e longa, que em uma
das bordas tem dentes agudos de base
mais larga; serve para cortar madeiras
e mármores brandos, roçando-a com for-
ça por elles : ha serras de mão, que ser-
vem para um só individuo serrar ; ser-
ras braçaes, para que sào precisos dons
serradores ; e serras d'agua, que serram,
movido o engenho por agua corrente.
— Um peixe.
— No Brazil, é uma espécie de cavai-
la pequena.
— Na antiga milicia, era esquadrão
com muitos ângulos a modo de dentes de
serra.
• — Monte de penedia, com picos, e
quebradas, ou boqueirões.
Lmidate Dominum de terra,
Dracones et omnes ahyssi,
E todas diversidades
De névoas e serra,
Tentos, nuvens et edipsi,
E louvae-o, tempestades.
GIL VlCEinX, AUTO DA HOPIHA MESDES.
Fulgência, que foi causa destes males,
Des que montei e valles deseobrio,
Despois que me não vio em toda a serra,
Deiíou. deixando a terra, mágoa aos pais,
Que delia nunca mais novas souberào.
IDEM, EGLOGA 11.
íluytos se vendem na terra,
se tem huns cõ outros guen-a,
seruemse de bestas deUcs
polias nõ auer entrelles.
a mais terra he chão sem serra.
QABCIA DB REZENDE, MISCELLASEA.
— «Com tudo não sabemos que o Tur-
co passasse a Pérsia, nem por si, nem
por seus Capitães, que de lá nào viesse
perdido, sua gente morta, e elle afronta-
do: não sendo outra a causa, mais que
fugirem-lhe os naturaes para as serras,
leuãdo cõsigo toda a sorte de mantimen-
tos.» Fr. Gaspar de S. Bernardino, Iti-
nerário da índia, cap. 14. — «Passada
esta deueza, que bem teria vinte cinco
legoas, começamos a entrar por humas
serras ásperas, e medonhas, no fim das
quaes em hum vale, ao longo de huma
pequena leuada, nos mostraram os ossos
de hum corpo humano, todos juntos, e
armados metidos entre humas pedras.»
Ibidem, cap. 16. — «Outros, que derre-
tendose a neue delias, que he muyta nas
serras fazem com que creça tãto. Seja o
que for, o rio he o mais notauel de toda
Ásia, Afírica, e Europa, como no Capi-
tolo sete, e oyto fica dito. Delle fez o
Papa lulio Segundo deste nome hum Tra-
tado, em que conta suas grandezas, onde
os curiosos as podem ver.» Ibidem, cap.
21. — «Porem outros mais curiosos que
elle ; dizem ter seu nascimento, em hu-
mas ásperas montanhas chamadas mon-
tes da Lua, tão altos, que imaginào os
naturaes passarem as nuuens, por verem
quantas costeào aquellas serras, deixan-
do os altos delias tão claros, e limpos:
que parece outro Ceo, e nona terra.»
Ibidem. — «Seu assento he na lomba de
504
SERR
SERR
8ERU
liiinia serra, no pis delia, vimos hum
C!t|)i) í,'raii(li.s«iino, o iiiuy fortil, regado
de imiytas lihcinis, que por ollc correm.
Ao presente iiuo tem a Oiila<lo mais quo
huns peilaeos do muros, som trato, gente,
ou casa alguma.» Ibidem, cap. 22.
Poíh fiquei na ferra,
Viiidc-vo!) tio campo ;
(juo quem nina muito
Niio (vípcrfi tanto.
r. noDBiouES i.ono, pnrMVVEE.v.
— «E assi 80 ha do entender que cm
toda esta distancia de terra uilo ha mais
muro que o que toma os espaços que ha
entre serra, e serra, no mais as mesmas
serras servem de muro.» Fernão ]\Icndcs
Pinto, Peregrinações, cap. 95. — « Moo-
naa he huma ci lade quo esta situada
junto da dita serra ao loeste he edifica-
da de taypas francesas, os habitadores
sam mouros gente branca, todos Turqui-
mãis e Persianos vivem per trato e cria-
çiãis de guados c lavoyras porque tem da
banda do oriente muy largos campos e
de mujtas criações.» Tenreiro, Itinerá-
rio, cap. 13. — «He terra nmyto fria om
ho inverno, e de serras muyto altas, que
correm pêra a banda do norte, onde me
disseram, que estava a arca de Noe.»
Ibidem, cap. 21. — «Esta serra ho de
muitas matas de azinhais e bosques, e
tem caminhos per diversas partes, por
onde se estes ladrõis acolhem.» Ibidem,
cap. 65. — «Que de esquailroens, serras
grandes, fundos grandes, frontes, quadra-
dos de gente, e de terreno, dobrétes,
Cruzes, cubos, e prolongados?» Francis-
co Manoel de ]\Iello, Apologos Dialogaes,
pag. 169. — «Quando atravessei a serra
pelos trilhos mais curtos e escusos, co-
nheci que o meu receio fora bem funda-
do. Parando no topo de uma penedia,
donde so divisava ao redor quasi toda a
montanha, vi centenares de fachos que
vacillavam, correndo tortuosamente pe-
las ladeiras, sumindo-sc, tornando a ap-
parecer, retrocedendo.» A. Herculano,
Eurico, cap. 8.
— Ir-se ã serra ; ficar desabrido, es-
quivo, áspero, como a gente serrana.
— O mosteÍ7-o de Nossa Senhora da
Serra, da ordem de S. Domingos. — «Fun-
dou de nouo o mosteiro de nossa Senhora
da serra da ordem de saõ Domingos do
modo que el Rei dom loaij segundo seu
primo deixou encomendado em seu testa-
mento, fundou do nouo o mosteiro de
Sancta Clara dostremos.» Damiíio de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 4,
cap. 85.
— Conventual na Serra do Porto. —
«Lembra-mo um cónego regular de San-
to Agostinho, couve. itual na Serra do
Porto, que úca defronte do convento de
Santa Clara. Alguns companheiros con-
servavam vários conhecimentos de mos-
teiro a mosteiro.» Bispo do Grilo Pará,
Memorias, publicadas por Camillo Cas-
tolio iiraiico, ])ag. 121.
— Figuradamente : Serras d'ugua; ser-
ras no mar, mui levantadas.
Ifir tentar da fortuna o movimento,
K do.s vontoA cruni» a dura guiTra ?
Vi''i- briMihns di! onda»? fcitfi o mar om tfrra
Levantado de lium vento o do outro vento ?
CAM., 80RRTU8, n." 108.
SERRAÇÃO, «. /. Vid. Cerração.
— O acto do serrar.
— Termo popular. A serração da ve-
lha; o meio da quaresma, cm allusSo a
ser a quaresma velha, e ser serrada, di-
vidida cm duas metades.
SERRADIÇO, A, adj. — Madeira ser-
radiça; madeira falqucjada e serrada,
como se compra para obras de marcene-
ria, o car[iintoria.
SERRADO, part. pass. de Serrar. Vid.
Cerrado, que diverge.
SERRADOR, s. m. Official que serra
maili;ira com serra braçal.
SERRADURA, s. /. A acção de serrar.
— O pi'>, ou partículas que caem da
madeira ))or onde se serra.
SERRAFAÇAR, v. a. Termo popular.
Roçar com ferro.
SERRAFICAR. Termo popular. Vid.
Sarrafaçar.
SERRAFILA, s. m. (Do francez serre-fi-
le). ('abo ou pessoa ultima da fila militar
formada.
SERRALHA, s./. Hcrva medicinal.
SERRALHAR, v. a. Lavrar como os ser-
ralheiros.
— V. n. Fazer bulha como os serra-
lheiros.
SERRALHARIA, «./. Officina de serra-
lheiro.
SERRALHEIRO, s. m. Ferreiro, que faz
chaves, fechaduras, etc.
SERRALHO, s. m. Propriamente é o
edificio, ou paço onde o grão senhor mora,
e as casas em que elle tem as mulheres
se chamam harém.
— Figuradamente : Lupanar, prostí-
bulo.
SERRANA, s. /. de Serrano.
SERRANIA, s. f. Multidão, ou cordi-
lheira de serras. — «E parti ndose daly a
trees dias, despois de terem andadas oi-
tenta c seis legoas, em que puserão treze
dias com assaz do traballm, por causa
dalguns montes agros e serranias nniyto
grandes que atravessarão, foraõ ter a
hum aposento grade que se dezia Tarau-
dachit que estava á borda de hum rio,
onde se agasalharão aquella noite.» Fer-
não Mendes Pinto, Peregrinações, cap.
129.
— Figuradamente : As serranias do
mar.
SERRANICA, s. /. Diminutivo de Ser-
rana.
SEKRANICE, s. f. Vivenda naí scr-
ran.
— < )n inorlos e costume» dos serranos.
SERRANO, A, a<lj. Vid. Serrão.
— tí. Pessoa que habita alguma sem
ou raonte.
SERRÃO, A, ÃA, ou AN, adj. Da ser-
ra, serrano.
— E a|>pellido ou alcunha.
SERRAR, V. a. rDo latim terrare). Se-
parar, diviílir cíjm «erra.
— Vid. Cerrar. — « E antes que me
rcspcmdcssc, ella se metteu dentro, e os
cavalleiros serraram a porta tão prestes,
que Primalião iiào leve temp.» pêra nada.
Detondo-so um pouco, ouvia dentro ou-
tra maneira de pranto, que parecia que
todo o aposentamento se assolava. E não
podendo soflFrer a laf^tima, que lhe fez,
virou rédeas ao cavallo tão descontente
como se diante de si vira D. Duardos, do-
brando-se-lhe a vontade de o buscar com
dobrado trabalho do que té li passara.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 6.
Que hajaca dó do author
com terceira tão fcrraoja.
Porí-ra cu por derradeiro
sou Dinheiro, c aqui me tfrro
— por dinheiro baila el perro.
AHT05I0 PHESTBS, ACTOS, pag. 207.
Ninguém
me ouvirá j:l mal nem bem,
já me serro a mil paredes ;
diga, senhora.
IBIDEM, pag. 389.
— Usa-se também figuradamente.
SERRARIA, s. f. Armação de esteios,
travessas, tranqueiros, etc., onde aasenta
o pau lavrado, que se vae abrir em ta-
boas, ou outras peças com serras braçaes.
SERRATIL, adj. 2 gen. Termo de ste-
reometria. Corpo serratil; o que se ter-
mina por cinco superticies, das quaes três
são parallelogrammos, c as oppostas triân-
gulos parallelos, iguaes, e similhantes.
— Termo de medicina. Vid. Serrino.
SERRATULA, *. /. Vid. Seratula.
SERRAZINA, s. /. Termo popular. Im-
portunação que produz o que insta mui-
to, e cança com incommodo repetido.
— /S. 2 gen. Pessoa que pnxluz o in-
conmiodo de instar muito, o cançar im-
portunamente.
SERRAZINAR, v. a. Causticar, incom-
modar.
SERREADO, A, adj. Que tem tem den-
tes imbricados como uma serra.
— Termo de botânica. Diz-se das fo-
lhas.
SERRECOUTAR, v. a. Alguns d3o-lhe a
signitiiavão dl. — tomar antecipadamente,
SERREO, A, adj. Da figura de uma
serra, com seus dentes.
— Formatura, ou evolução serrea; na
tropa.
SERT
SERRETA, s. f. Diminutivo de Serra.
Monte.
SERRIDENTEO, A, adj. Termo de botâ-
nica. Vi !. Serreado.
SERRIL, ou CERRIL, adj. 2 gen. Do
serro; montauhez, agreste, montezinho,
rústico, grosseiro.
— ■ Figuradamente : Bravo, não doma-
do.
SERRILHA, s. /. Um lavor de seda,
para adorno de vestidos, com pontas co-
mo serra.
— Lavor no circulo das moedas para
não serem cerceadas, porque o cerceio
corta e destroe a serrilha, o que dá a
conhecer que é fallida no peso.
— Nos cabsçoes das cavalgaduras, s<ão
pontas quasi tão agudas como as dos den-
tes das serras, para domar os cavallos, e
diz-se urna serrilha.
SERRILHADO, part. pass. de Serrilhar.
Quo tem serrilha, fallaudo da moeda.
SERRILHAR, ou SARRILLAR, v. a. Fa-
zer na moela o f sitio a que se chama
serrilha, para que não possa ser cercea-
da, sem se conhecer.
SERRINHA, s. /. Diminutivo do Serra.
Serra pequena.
SERRINO, adj. — Pulso serrino ; diz-se
quando os dedos appiicados sobro uma
certa extensão de artéria, sentem uma
pulsação em vários pontos ao mesmo tem-
po, e não são tocados em os intervallos
d 'estes pontos.
1.) SERRO, s. m. Serra, moate alto.
Da Escaudinavia os serros orgulhoaos,
Os quo bordão o Euxino, os que rodcão
A barbara Sibéria inculta, c triste,
Onde o Tuvcrno se alberga, e pune o crime •,
Oa que de eterno gêlo o campo assombrão,
Que o Tártaro fugaz cultiva, e deixa,
Easgão-se aos olhos meus, e as bases moatrão.
J. A. DE MACEDO, MEDITAçIo, Cant. 2.
— Outeiro. Vid. Cerro.
2.) SERRO, adj. m. — Achar-se serro de
uma conta; achar-se com ella fechada, e
concluida, balançada.
f SERROTE, s. m. Diminutivo de Serra.
Serra pequena, de uma lamina com ca-
bo, em que ha um olhai, por onde o se-
guram; ou com cabo, d'onde nasce o ar-
co, entre cujos extremos está estirada a
lamina d'elle, de que se servem os cirui--
giões.
SERSIFIM, s. m. Termo de botânica.
Planta hortense da fiimilia das chicorea-
ceas, cuja raiz se come.
— Sersifim èravo ; barba de bode.
SERTAM, s. m. Vid. Sertão. — «E de-
pois de o entrarmos, vão correndo à mão
esquerda, os largos, e espaçosos Reynos do
Emperador Belulgião. (a quem nos erran-
do chamamos Preste loào, e òs naturaes
Negíis), e os do Angaly, Dobas, e outros
que estão bem no seriam da terra; por-
que a que fica ao longo do mar Eoxo, he
sogeyta ao Turco.» Fr. Gaspar de S. Ber-
TOL. V. — 64.
SERT
nardino. Itinerário da índia, cap. 7. —
«As cidades, e lugares que tem de longo
do mar saõ pouoados de mouros, e os do
seriam de gentios. Tem muitas, e mui
diuersas idolatrias, crem muito em feiti-
ços, e agouros.» Damião de Góes, Chro-
nica de D. Manoel, part. 2, cap. 6. —
«Aliem destas sessenta nãos hauia mui-
tos nauios da terra a que chamam terra-
das, que seruem da carretar mantimen-
tos, e aguoa do sertam e das outras ilhas
a Ormuz, nas quaes todas, e nas nãos
dos mercadores, pos muita artelharia, e
gente de guei-ra, de maneira que assi
nesta armada como na cidade teria Co-
jeatar dez mil homens de peleja, que co-
meçara da juntar desno dia que soube
nouas da vinda Dafonso dalbuquerque,
que chegou ao porto de Ormuz, aos xxv
dias de Septembro.» Ibidem, part. 2, ca-
pitulo 32. — «Passada esta de cinda es-
tam as da laoa maior, e menor, que tem
cala huma delias Rei que habitam no
sertam das ilhas, e saõ gentios, assi elles
como seus vassallos, excepto os que vivem
nos portos do mar que sam mouros, saõ
ambas muito fertiles de mantimentos fru-
ctas, caças.» Ibidem, part. 3, cap, 41.
— « Dentro no sertam desta cidade estaa
outra cidade muyto mais nobre que esta,
que se chama Nicosia, toda habitada de
Christãos da Europa, e de gentes nobres,
em que ha Marquez, e conde, e he Ar-
cebispado, onde eu nam fuy.» Tenrei-
ro, Itinerário, cap. õ2.
SERTÃ, ÃA, ou AN. Vid. Sartã, ou
Gertã.
SERTANEJO, A, adj. Que habita no
sertão, ou mattos interiores, e longe da
costa.
— Que se produz no sertão.
— Substantivamente : Costume dos ser-
tanejos.
SERTÃO, ou CERTÃO, s. m. O interior,
o coração das terras, em opposição ao
maritimo. ■ — ■ oDahi a pouco, em que a ida
destes espertou os de dentro do sertão,
ou como quer que foi, veyo huma grande
cáfela de gente a pê toda preta e de ca-
bello retorcido, com muito ouro e marfim
a buscar roupas pêra seu vso.» Barros,
Década 1, liv. 2, cap. 2. — «Finalmente
chegou o negocio a tanto, que Sargol fu-
gio pêra dentro do sertão da terra da
Arábia, onde elle esteue por gouernador,
e foi buscar amparo em el-Rey Soleimão
Bernnabhon, que reinaua naquella parte,
que os Mouros propriamente chamão
Aman.» Idem, Década 2, liv. 2, cap. 2.
— «A qual obra Rodrigo Rabello por en-
tão houve por escusada, por ter outras da
Cidade a que acudir, e mais vendo que
Melrao andava com gente de guerra nas
terras firmes, e que não havia nellas Mou-
ros de que temer a entrada da Ilha, de-
pois que Melique Agrij perdco estas terras
firmes, e o Hidalcão com suas occupações
da guerra que tinha no sertão não acudia
SERT
505
a ellas.» Ibidem, liv. 6, cap. 8. — «E por-
que não achou entrada pêra ir pelo ser-
tão ao Reyno do Preste João, andou per
toda aquella costa, té que se foi em huma
náo a Cambaya, sendo já a este tempo
morto outro seu companheiro, que hou-
vera de entrar com elle ás terras do
Preste João Rey da Abexia.» Ibidem,
cap. 9. — «E ao tempo que Affonso d'Al-
boquerque chegou a esta Cidade, era
senhor delia hum Xeque, a que alguns
chamavam Rey, cujo nome era Hamed,
o qual o mais do tempo estava dentro
no sertão, por ter guerra com hum seu
vizinho, que era Rey do Reyno Sana,
cuja metropoli he huma Cidade assi cha-
mada, de que elle se intitulou, mui anti-
quíssima, a que Ptolomeu chama Sanare-
gea.» Ibidem, liv. 7, cap. 8. — «Depois
que passou primeiro insulto de queimar a
Cidade da parte da habitação delia, de a
querer outra vez conmietter a fogo, e
sangue, com que obrigou a Affonso d'Al-
boquerque, em quanto lá estava, mandar
fazer uma tranqueira no cabo da Cidade
té entestar em hum esteiro, que a vinha
cercando pela parte do sertão.» Ibidem,
liv. 9, cap. 1. — «Foi tamanho o medo
na cidade neste dia, que muitos a despe-
jarão, e os principaes delia se foram a el
Rei requerendolhe que fezesse paz com
03 Portugueses, se nam que se iriam to-
dos pêra o sertão.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 2, cap. 17.
— «E em todas estas trezentas e quinze
legoas não ha mais entradas que sós cin-
co que os rios da Tartaria fazem por es-
tas partes, pelos quais decendo com im-
petuosa corrente, com que cortão por este
sertão espaço de mais de quinhentas le-
goas, se vão meter no mar da China e
da Cauchenchina.» Fernão Mendes Pin-
to, Peregrinações, cap. 95. — «A terra
em sy he quasi do teor do Japaõ, algum
tanto em partes montanhosa, mas no in-
terior do sertão he mais plana, e fértil,
e viçosa de muytos campos regados de
rios dagoa doce com infinidade de manti-
mentos, principalmente de trigo e arroz.»
Ibidem, cap. 143. — « E porque ja neste
tempo tinha atoardas que o Rev do Avaa,
confederado cos Savadijs, e Clialeus dava
entrada ao Siammom (que pelo sertão
destes reynos confina a Loeste e a Loes-
noroeste co Calaminhan Emperador da
força bruta dos elifantes da terra, como
adiante declararey).» Ibidem, cap. 153.
Como ae a bella, e fértil lingua nossa.
Primogénita filha da Latina,
Precisasse de estranhos ata\'io3,
Súbito, certamente ! pcnsariào,
Que nos sertões cstavão de Caconda,
Quilimanc, Sofala, ou Jlcçambique :
Até que já por fim desenganados,
Que crào em Portugal, que os Portuguezes
Erào também, os que costumes, lingua,
Por tào estranhos modos, afrontarão,
Segunda vez de pejo mon-erião.
DralZ DA CBUZ, HYSSOPE, Cant. 5.
506
SERV
SERV
SERV
— «E nilo SI) nilo doscoriain do sertão
a sor cliri.stilíos o vassallos do vosna ma-
gcstiulo as naçSes que se osporain, mas
aiada os cliri^tàos e vassallos antigoa des-
ospurariain tutaliiioiito, e despovoariam
suas aMôas, como outras vezos têm leito,
c 8(t arruinaria por esta via todo o fun-
damento do Estado e das eliristandades
que consisto na conservaçiXo, e facilidade
de ter índios.» Padro António Vieira,
Cartas, n." 15.
E 8(5 menos crunl, que o julgo injusto,
Quo cjâOí, fiu'('llo Ulustrou, cobardes soffrcm.
Peloa vastOii sertõfs som lares gyrào.
Qual Oni;,a insocial ; só pasto buscào.
J. A. DE MACRDO, MEDITAÇÃO, Caut. 1.
— «As arvores são tão grandes, que
no sertão que vao da villa de Ourem pa-
ra o Caité não alcançava o chumbo a
grimpa da arvore, e o? indios que lá so-
bem pelos sipós, eni-olado3 n'ellc3 como
gatos o macacos, parecem saguís, vistos de
baixo.» Bispo do (irão Pani, Memorias,
publicadas por Camillo Castello Branco,
pag. 22.
— O sertão da calma; o legar onde
cila ó mais ardente.
— Toma-se também por matto longo da
costa.
SERTULÁRIA, s. /. Termo de historia
natural. Espécie do zoophyto ou polypei-
ro. Ha varias espécies : a sertularia plu-
viosa, a sertularia espinhosa, ete.
SERTUM, s. «i. Vestidura de homens,
como o colleto ou veste sem mangas.
SERVA, s. f. (Do latim serva). Es-
crava.
— Criada.
— Sou sua serva ; dizem as mulheres
por eortczia.
— Serva de Deus; muUier entregue
a cxercicios piedosos e religiosos. Vid.
Servo.
SERVADOR, s. m. Conservador, sobre-
nome de Júpiter.
SÊRVÃO. Forma antiquada do verbo
servir, na terceira pessoa do plural do
modo conjunetivo, em vez de Sirvão. —
oE em esto noni servirem os lavradores
do nosso Reguengo de Cajosa, e d'Alca-
nhiiaens, por quanto som dello escusados
per privilégios, que tem dos Reyx que
ante nós forom, contírmados por nós; e
03 moradores da Villa nom servaõ em
ello, ca nos praz serem dello escusados
por esta i'aga, que assy haõ de fiizer.»
Ord. Affous., liv. 4, tit. 20, § 6.
SERVAR-SE, i'. refl. Termo antiquado.
Guard.ir-si', conservar-se.
SERVENCIA, s. /. Vid. Serventia.
SERVENTE, «. m. Homem que ajuda
cm trabalho, c dá as achegas aos pedrei-
ros, etc.
— S. 2 gen. Pessoa que serve outra;
soi"vo, criado.
— Plur. — Serventes da peça ; todas
as pessoas que se empregam na manobra
do artilhoria, á excepçilo do chefe; o pri-
meiro da ilireita é o itrinieiro carregador,
o primeiro ila esquerda o segundo, o se-
gundo da direita pega no espeque, o se-
gundo da esquerda no pé de cabra e dá
bala e taco, o terceiro da esquerda bota
fog.i, e o terceiro o penúltimo da direita
na lanada e soquete; os penúltimos des-
bolinam e os últimos colhem as talhas,
servindo a retirada o primeiro e ultimo
da din^ita.
SERVENTESIO, s. m. Vid. Sermonte-
sio.
SERVENTIA, s. /. Uso, préstimo, uti-
lidade. — «Todas as portas nas entradas
tom couraças e as couraças que estam da
banda do arreval que jaz ao longo do
rio tem três portas cada huma, huma em
frente e duas nos lados, que ficam em
serventia das ruas que jazem ao longo
do muro, os muros das couraças sani qua-
si da altura dos do dentro.» Frei (laspar
da Cruz, Tratado das cousas da China,
cap. G.
— O serviço de algum emprego, pes-
soalmente, ou feito por outrem.
— De ordinário diz-se do serviço de
oíBcio, em logar do proprietário.
— Servidão, escravidão, pena de cri-
me.
— Utilidade de passagem ou outra com-
modidade, que uns edificios, ou partes
d'elles, fazem para outros ou para legares
abertos, etc.
— Cousa de serviço, ou útil, feita ao
juiz ou magistrado para o peitar.
— Emprega-se também figuradamente.
— A serventia do coração.
SERVENTUÁRIO, í. »í. O que serve of-
ficio cm vez do proprietário.
1.) SERVIA, s. /. Termo antiquado.
Serviço.
2.) SERVÍA. Forma do verbo servir
na primeira ou terceira pessoa do singu-
lar do pretérito imperfeito do modo indi-
cativo. Vid. Servir.- — «Cada uma, toca-
da da inveja do que diante se via, temia
que o parecer da outra lhe podesse pôr
tacha. Aquella mostra de Lionarda, que
a Poliuarda pareceu tão grande, lhe fez
dobrar o amor no seu Palmeirim, vendo
que a fé com que a servia era tão ver-
dadeira e clara, que com tamaiiho preço,
como tivera em seu poder, ganhado com
tanto trabalho, se não poderá desbara-
tar, o Francisco de ^loraes, Palmeirim de
Inglaterra, cap. 112. — «E na verdade,
Onistalda, a quem Bcroldo servia, era
pêra a terem nesta conta; c se não se
achou antre as outras, foi porque, as que
Urganda pêra aquelle lugar escolheu,
eram tudo extremos da natureza. Acaba-
do de cada um soltar as palavras, que
lhe a fantosia representava, disse Daliar-
te.» Ibidem, cap. 120. — »Aõ armas de
pardo com estremos de prata, no escudo
em campo verde uma Uydra de muitas
cabeças, vinham com elle dous escudei-
ros, um que o servia de lança, outro
lhe trazia uma facha d arma» com o fer-
ro dourado. Chegando perto, disse em
voz alta contra o cavalleiro das Don-
zellas.» Ibidem, cap. 125. — «E enca-
deandose hum no outro paraque a força
lhe ficasse toda junta, no» cometera»? tâo
aceleradamente, que nem vagar tivemos
para nos aparelharmos, pelo qual noe foy
forçado lançar as amarras e a» dríças
assi como estavão ao mar por fazer a ar-
tilharia le^ta, que era o que entSo mais
nos servia. » Fernão Mendes Pinto, Pe-
regrinações, cap. 4*5. — «Tomando ago-
ra a terra firme se tomou cJ5selho, por
quanto os ventos eram mudados em po-
nentes por proa, e muitos o deram que
deuiamos arribar com a nao a Mombaça,
assi porque sò pêra líi seruia, e era pros-
pero, como por ser impossiuel tornarmos
pêra a índia antes de entrar o Inuemo.»
Fr. (iaspar de S. Bernardino, Itinerário
da índia, cap. 3. — «Des que o vi man-
so, quieto, e quasi contente, (que dadi-
uas tudo acabào; llie perguntey, de que
seruia aquella balança, e talha de man-
teyga?» Ibidem, cap. 9. — «Por muros
da noua habitação semia o rio Araxes
que a cercaua toda. Nella viuerào Noè,
e seus filhos, e descendentes cento, e on-
ze annos, como diz Pedro Bauter, em o
qual tempo se nniltiplicarão em tàto nu-
mero, que lhes foy forçado.» Ibidem, cap.
18. — «Diogo Lopez parccendolhe que
era isto assi mandou toiolos bateis a ter-
ra, sem ficar narmada mais que o da ta-
forea por lhe estarem calafetando a cu-
berta, e seruia de ir e vir a terra bus-
car cousas necessárias.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 3, cap. 2.
— « Havendo quatro mezes que estas cou-
sas eram passadas, e ElRey de Campar
servia seu officio, não com nome de Ren-
dara, mas de Maeobume, que acerca del-
les ho como entre nós Viso-Rey, e isto
por honra da dignidade real, que tinha,
a olho começou Malaca de se nobrecer,
tornando-se muitos homens nobres viver
a ella, ijue, por cansa de não quererem
ser (iovernados per Nina Chetu, eram
idos a viver á Jauha, e a outras partes,
cora a vinda dos quaes começaram de vir
mercadores, e a terra se reformar.» Bar-
ros, Década 2, livro 9, capitulo 27. —
«As quaes Affonso d'Alboquerque man-
dou trasladar cm Portugucz per hum Ju-
deo cliamado Samuel natural do Cairo,
do qual se servia nestes negócios de in-
terpretar por saber muitas linguas.» Ibi-
dem, liv. 7, cap. 6.
Sc havia ferro ontào, frrvSa apenas
Para ajudar a fértil NaturM».
Pouca cultura aos Íncolas pedia
A Madre Torra ; sÃbia Providencia
O trabalho mandou ; rouba com illc
Aos braços dos mortacs ócio indolente.
1. A. DB KACCDO, A SATUBSZA, Cant. 2.
SERV
SERV
SERV
507
SERVIÇAL, aJj. 2 gen. Que gosta de
prestar serviços.
— Capaz, em estado de poder servir,
ser útil; fallando das cousas ou pessoas,
que não estào velhas, doentes ou desba-
ratadas.
— Que se põe a servir por soldada.
SERVIÇALMENTE, adv. (De serviçal,
e o suffixo «mente»). De um modo servi-
çal, prestavel.
SERVICIAL, s. m. Homem que ganha
a viJa a servir. Vid. Serviçal.
SERVICIO, A, adj. Termo antiquado.
Serviçal.
SERVIÇO, s. Tíi. (Do latim servitium).
O estado de quem é servo.
— Utilidade, proveito. — «E vista per
Nós a dita Lei, declarando em ella Dize-
mos, que pelos ditos maravidis se enten-
da a couthia, que os ditos Vassallos de
Nós ham, por nos servirem no tempo da
guerra, ou em alguns outros mesteres,
em que nos compre d'aver delles serviço :
e bem assi nas terras da Coroa do Re-
gno, que alguns de Xós teem de juro, e
de herdade.» Ord. Affons., liv. 4, tit.
63 , § 2. — «E por tanto a pessoa que
daqni em diante for de tal presumpoaõ,
que conhecendo os Divinos vasos, e o uso
delles, os mudar a seu próprio serviço,
ou 08 tomar para comer, ou beber nel-
les : será condenado a privação do grão,
ou oflScio que tiver, de tal modo, que
sendo Secular fique sogeito a perpetua
exc(3munhaõ, e sendo Religioso tique de-
posto de seu officio.» Monarchia Lusitana,
liv. 6, cap. 27. — a A que a vós parecer
peior de todas estas, que trago em mi-
nha companhia, disse o das Donzellas,
essa tomo por valadora, e em seu servi-
ço quero fazer esta justa e mostrar-vos,
que pêra mim qualquer favor basta.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 124. — «O cavalleiro pediu
á rainha, pois el-rei os desfavorecia, que
ella os amparasse e mandasse ás damas
lhe nào fizessem tamanho aggravo, que
promettiam d'alli por diante gastar o
tempo e offerecer suas forças em serviço
delias e de todas as donzellas.» Ibidem,
cap. 129.
Estou na pouzada
a meu prol, e a meu servido.
Tomae ora a capa e espada.
Para que?
ASTOsio PBESTES, Arios , pag. 395.
— Fazer serviços; prestal-os a alguém.
— «Que lhes façam serviço os homens
dos Bispos, e das Igrejas Catradaaes, e
das outras, e dos MoesteLros, e dos Clé-
rigos, e esses Clérigos meesmos, nos
quaees nom ham nenhum direito pêra
fazer-lhes serviço, assy como a elles praz;
nem solamente esto nom veda ElRey,
mais sofre, que estas servidoòes a taees
adugam em nas possissões, e em os ho-
mens, das Igrejas, e nom o defende.»
Ord. Affons., liv. 2, tit. 1, art. 24. —
oE pêra mais honrarem a festa estive-
ram alli alguns dias Floriano do Deser-
to e o princiíje Floramào, o gigante Dra-
musiando, Albanis de Frisa, Roramonte,
o príncipe Graeiano, e Beroldo príncipe
d'Hespan:ia, Germào d'Orlians, D. Ro-
snei, Belisarte e Pompides, que todos es-
tes vieram com Vasilia, por fazer servi-
ço ao imperador, que os mais eram idos
em companhia de Polendos e guarda de
Targiana. » Francisco de Moraes, Palmei-
rim d'Inglaterra, cap. 9õ. — «Fez logo
a mim muito serviço, disse o imperador,
pois por elle ganhei sua amizade : e pe-
ço-vos que lhe beijeis por mim as màos;
e dizei-lhe que a minha tenha por certa
pêra sempre nas cousas de seu gosto. O
embaixador disse que assim o faria, e
com isso se despediu mal contente do que
negociara, como quem naquelle trato tra-
zia engano dissimulado. O imperador fi-
cou praticando com os seus no mesmo ca-
so, contente do caminho que se nelle
abria, e muito mais contente de Mira-
guarda, porque de tudo era causa.» Ibi-
dem, cap. 112. — oGanhar-vos a vontade
ou ganhar-vos as vontades, isto é o que
queria; e por isso trabalharei com fazer-
vos mil serviços, e se nào me aproveitar,
tomarei a mim a culpa, pois sou tào mofi-
no, que a quem mereço algum bem, o
nega por galardão.» Ibidem, cap. 116.
— (lEu a acceito, porque sei que nella
vos hei ainda de fazer muito serviço em
cousas, que o tempo descobrirá e que ain-
da estào por vir.» Ibidem, cap. 12. —
«As damas praticavam antre si a razão
porque as donzellas quereriam entregar-
se antes a outro que ao cavalleiro, sendo
tão extremado, e que lhe tanto serviço
fizera.» Ibidem, cap. 129.
me dizei por meu amor,
pcra ver o que aprendeis.
Nào haja n'is30 embaraço
se lhe algum serviço faço.
ASTOKio PRESTES, ACTOS, pag. 327.
Nào SC atenta cá por isso :
fallae embora assentado.
Ora seja eu perdoado,
pois mella faz tal serviço.
iBiBXM, pag. 141.
— «Donde se colhe, que naõ defrauda-
rão a Sua Magestade mais que em oiten-
ta e três mil cruzados, pondo em pés de
verdade, que lhe fizeraõ grande serviço,
para que se naõ perdesse de todo a ar-
rendaçaõ dos dizimes, visto naõ haver
quem desse por elles mais.» Arte de fur-
tar, cap. 10.
— A obra, ministério do servo, ou es-
cravo ; as obras ou exercícios de officiaes
públicos, ministros, etc. — «Que elle dito
Almirante se possa servir delles em suas
merchandias, e enviallos a Frandes, ou
a Genoa, ou a algumas outras partes
com ellas ; e se per ventura acontecesse,
que mandando o dito Almirante a algu-
ma parte, em tanto comprisse ho nosso
serviço delles, que logo o dito Almiran-
te envie por eUes hu quer que sejam, que
venham pêra nos servirem.» Ord. Affons.,
liv. 1, tit. 54, § 12.
Jfas nào to deleitarás
Nas offertas temporaes,
Tu as tiras, tu as dás.
Senhor, nào te alegrarás
Com estes serviços taes.
GIL VICEKTE, OBEAS VABIAS.
E assi pagam dessa ponta
Bom trabalho, Bom cuidado
Bom serviço.
Assi escusaes,
sem petição.
ASTOSIO PRESTES, AUTOS, pag; 75.
lho causa o fraco serviço,
que 50 o cuida apela d'is30
pcra o gosto com que o manda.
IBIDEM, pag. 155.
— «Isto se enxerga mui bem na pouca
lembrança que tendes das obi-as e servi-
ços do snr. Dragonalte, que aqui está;
que sendo tanto pêra lembrar, os pondes
em esquecimento, e não vos lembra que
sendo tal pessoa, tamanho príncipe, tão
singular cavalleiro, e da massa dos mais
famosos e melhores deste tempo, engeita
sua companhia, conversação e amizade
por vos servir, oflerecendo-se a tantos
perigos conformes a vossa tenção.» Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 130. — «A senhora Miragiiarda não
pode ser que com tamanho serviço não
cuide, que vos deve alguma cousa, pois
03 passados lho não fizeram nunca cui-
dar. Florendos tirou o elmo e abraçou a
Armelio com o amor que lhe sempre ti-
vera, e mandou pôr o escudo do vulto de
Miraguarda no lugar onde d'antes soia
estar e o de Targiana ao pé, foi muito
gi-ave de soffrer no coração de Albavzar.»
Ibidem, cap. 108. — «E cõ tudo advirta
cada hum dos Bispos, que não cõsagre
Igi-eja sem primeiro receber património
para o serviço delia, confirmado por doa-
ção em escripto, porque não he culpa le-
ve a temeridade de consagrar huma Igre-
ja sem cera, e sem renda para sustenta-
ção dos que haõ de servir nella, como se
fora huma casa particular.» Monarchia
Lusitana, liv. 6, cap. 15. — Nestas trin-
ta velas mandou el Rei três mU, e qui-
nhentos homens de guerra, em que en-
trauam muitos seus criados, afora mari-
nheiros, e outra gente de seruiço.» Da-
mião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 1, cap. 51. — «Concluido este ne-
gocio, determinou el Rei de mandar por
gouemador a índia Diogo lopez de se-
508
SERV
SERV
SERV
queira lioiucin d(i ([uo muito uontiaua, o
que ocupara ja cm muitas cousas lii; hcu
seruiço, ile (|uc alf^uman licam aiqjontadíis
ne.sta (Jlirouica, pcra a qual viaí,'um man-
dou aparolliar dc.x uuob f^ro.sHas com que
partiu dl! Lisljoa aos vinte, o Beis dias
do Mai-(;o destauuo do uiil, o quinhentos,
c dozoito.» Ibidem, part. 4, cap. 31. —
«E foy Holto fazendo a olRey concerto, o
capitulayjío de Boinpro sor a sou serui-
ço, p(u-quo ao tal tempo ello cstaua mal,
o (ira imif,'0 de Moleyxeque Key de Fez,
o tinlia com ello f^uora, o Babia que el
Rey continuadamente lha mandaria fazer
como fazia." (lareia do Rezende, Chro-
nica de D. João II, cap. 68. — «Porque
o mesmo he entrar hum homem Eccle-
siastlco, ou secular no serviço do Tribu-
nal da Santa Inquisi(;aõ, quo vestir-sc
logo de huma composi(,'aõ do acyocns,
palaviMS, c costumes, (juo fazemos pou-
co, os que 03 vemos, quando naõ lhes
falíamos do joelhos.» Arte de furtar, ca-
pitulo 40.
Com isto quo oste Turco aqui tem feito,
(Ularo âignal do seu feroz esprito)
T;iiito 90 iicreditou, o tão accoito
Sc fez auto Uaudur, que do inliuito
Seu exercito foi (lor ello eleito
(Como u'outro lofíar vos snril dito)
Por Capitão Roral, c bum lio (pie ande
Traz o grande serviço a mercê grande.
Fll.VNClSCO n'A.!)DRADK, PKIMEIRO CEUCO DE DIU,
caut. 2, est. 42.
— «Pelo que em quanto viverdes não
deveis de temer cousa alguma, mas an-
tes esporai em Nosso Senhor, que vos
ajudará, como agoi"a fez na defonsaõ, e
batalha de Diu, em cuja victoria vós ten-
des muito quo lhe louvar, puis vos fez
instrumento do tanto serviço sou, e dcl
Rei meu Senhor, e de tanta honra vossa,
o do todos os Portuguezes, assim dos que
se acharão comvosco, como dos que csti-
vórão ausentes.» Jacintho Freire d'An-
drade, Vida de D. João de Castro, liv.
4. — « Mostrem-se-lhes por experiência
os fruotos de sua condi(;ào, faltando-lhes
talvez com o serviço necessário; porque
se com esto garrote não tornam om si,
são por outro modo do diflicultoso remé-
dio.» Francisco Jlanool do Mello, Carta
de guia de casados, cap. 7.
— Bom offlcio, aci,'ão útil que se faz o
pratica. — «Florendos caminhou alguns
dias em conversação do Albayzar e Flo-
ramão, que levava em sua vontade che-
gar té o castello d'Almourol por vòr a
maneira, com quo Miraguarda recebia os
serviços do Florondos. » Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Iuglaterra, cap, 103.
— «O Infante vendo suas boas vontades,
o conhecendo delles serem homens para
qualquer honrado feito pella experiência
que tinlia de seus serviços, mandoulhe
armar hum navio, a que chamava Bar-
cha naquelle tempo.» Barros, Década 1,
liv. 1, cap. 2. — «Por baixo ao longo da
aba do forro deste tecto ostaò escritos
ostCB quatro versos nos quatro lados das
paredes da Casa com letras palmares de
ouro :
Pois com esforço, n leacB
Servir/» forào canhados
Com estes, e outros tacs
Devem do Bor conaurvadoB.»
8KVKU1H Di; KAOIA, KOXICIAH DU l'ÚBrUOAI.,
Disc. 3, cap. 18.
Tinha liuro cm quo screuia
Keruiçns, mcre.^ci mentos,
e nunca distribuhia
B(Mn ver a <piein mais dcuia,
e os mais justos, o isentos ;
niuytas vezes deu ollicios,
comeuJas, e beiíeficios
a homens muy descuidados,
e dellc bem alongados,
por serem bons o seruicios.
QABCIA DE UBZENDK, UISCBLLIHBA.
— aE nesta ordem entrou na sala, e
foy assi ate chegar ao estrado onde csta-
ua el Rey, o depois de feytas suas mesu-
ras 03 officiaes tizerão calar a casa, e ca-
lada o chançarel mor loam Teixeyra fez
huma arenga cm lingoagcm dos louuores
dei Rey, e dos grandes merecimentos do
iMar([uez, e seus nniyto assinalados, e
Icaiis serviços». Idem, Chronica de D.
João II, cap. 7'J.
Tantas constellaçòes d'Estrella3 tantas.
Ou deo-Ihe nome fabuloso Egipto,
Ou deo-Ihe fama a fírecia aduladora.
Eternizando os ínclitos «erriVos
Do Touro agricultor, Capro fecundo.
J. A. Di: MACEDO, A NATUREZA, Cant. 1.
— Os vasos, os apparelhos que ser-
vem. — oFez a ponte noua de coimbrã
sobclo rio mondego com quo ennobreceo
muito a cidade. Fez de nouo os paços da
ribeira de Muja pnr alli auor muita caça,
e montaria que a naquella comarca, nos
quais mandou poer todo o seruiço neces-
sário de mesa, cozinha, camas, leitos,
roupa de linho para os que consigo leua-
ua.» Damião do Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 4, cap. 85. — «Em azeite,
e cera pêra alumiar, e serviço da casa,
seis leques, e quarenta e dous azares; e
outros seis, e trcs azares em cinco tochas,
que ardem no Paço, c mantimento de ou-
tros tantos escravos, que as tom na mão.»
Barros, Década 2, liv. 10, cap. 7.
— O acto de servir. — «Em que an-
daõ gastando o que ham, o leixam por
oUo d'aproveitar seus beens, o quo nom
ho nosso serviço, e a nós compro fazer-
mos em oUas alguãs Hordenaçoões, per
quo taiios demandas se possaõ refrear, e
as partes saibam o que ham de deman-
dar, o defender, e os Julgadores como
em tal caso ham de julgar: Porem nós
Dom Joham pela graçft do DEDS Rey
do i'ortugal, etc, com acordo do nosso
Conselho, e da nossa Corte £azemoB cer-
tos (Japitulos com suas dÍHtiuçooei:B adian-
te oscriptas, quo taacs boiii.» Ord. Af-
fons., liv. 4, tit. 1, § 1. — «E maiidedes
que ajaõ os Bergcnte» dos Cleriguos pêra
vosso serviço, e assi os ajaõ dos mestei-
raes, que vivem per «eus mcstcre»; que
lia hy tal Lavrador, quo naS tem mais
de bum iilho, c tomam-lho, c na5 pode
lavrar, nem criar, o que nSo he Teaw
serviço, o he dapno do povo.» Ibidem,
tit. 2'J, § 17. — fl)'esta maneira Flo-
riano ficou por algum temjK» na corte
do gram turco em serviço de Targiana,
a quem elle não j)arecia mal, nem ella a
elle tão pouco: e dizem que onde a« von-
tades b3o conformes etc.» Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Inglaterra. cap. 80,
— «E para seu engano havt-r melhor fim,
levou comsigo Arlança tiUia da nieama
Colambar, donzella de poucos dias e
bons costumes, acompanhada de outras
donzellas pêra seu serviço, e segundo o
modo que se isto ordenou e a confiança
que Colambar tem neste Alfemao, afir-
mam qu'i o cavalleiro do Salvagem Hera
aqui trazido.» Ibidem, cap. 117. — «Nas
cousas particulares vos não Calo, porque
El Rey meu Senhor vos escreve o que ha
p(U' seu serviço, em reposta da carta ge-
ral que lhe escrevestes, que vinha em
muito bom estylo, e em muito boa or-
dem. Escrita em Lisboa a 22. de Outu-
bro de 1547.» Diogo de Couto, Década
6, liv. 6, cap. 8. — «Os grandes lhe
mandàraèi dizer que elles tinhaS Rey, e
Principe herdeiro de direito, a quem jà
tinhão dado obediência, e quo em seu
serviço,, e em defensão de eeu Reino ha-
viaõ todos de morrer. Com esta resposta
se foy o Madunc chegando mais à Cida-
de, e assentou seu exercito à vista delia,
ticandolho no meyo huma alagoa.» Ibi-
dem, liv. 9, cap. 16. — «E disto t»ido
ho tanta a abundância quo se o banque-
te he de molheres, como muytas vezes se
acontece, também o serviço pela mesma
maneyra he de molheres, « de moças vir-
gens muyto fermosas, e muyto ric;imente
vestidas, cm tanto que por serem ellas
estas, se c.asaõ aquy com ellaa muytas
vezes muytos homens nobres.» Fernão
MeTides Pinto, Peregrinações, cap. 106.
— Serventia.
— Tributo.
— Donativo do vassallo, dom gratui-
to, grado.
— Espécie de tributo, ou ónus de ser-
vir pessoalmente, ou coui dinheiro para
remir-se do pessoal.
— OflSciosidade, obsequio aos amigos.
— Ftça de serviço. — «E como era
homem grato, tanto que soube que Af-
fonso d'Alboquerque era vindo de Mal.i-
ca, l.\6 mandou algum;w peças do serui-
ço: era que entrou hum .assento forrado
de ouro ao moio de tripeça, que lhe el-
Rey de Xarsinga deu, quando so delle
SERV
SERV
SERV
509
espediu por vir herdar, e sempre foi gran-
de amigo de Fortiigueses emqaanto vi-
uoo.» Barros, Década 2, liv. 5, cap. 8.
— • Feito serviço de din/ieiro. — «E
neste mesmo tempo fez o Príncipe Cor-
tes na villa de Montemor o nouo, onde
pollos pouoá pêra estas necessidades da
guerra lhe foy feito seruiço de diniiey-
ro.» Garcia de Rezende, Chronica de D.
João II, cap. 16.
— Presente, mimo.
— Serviço de villão; o que se faz por
mero intei-esse, e não com generosidade.
— Serviço militar. — «Aqui veiu a
mãe das duas moças em que fallei, tra-
zendo-as em sua companhia. Fallei-lhes
na capella, disse-lhes o que devia, e des-
pedi-as com brevidade e contentes, por-
que Uies prometti que seria soldado um
irmão de quem justamente viviam aggra-
vadas, e com effeito está no serviço mi-
litar.» Bispo do Grão Pará, Memorias,
publicadas por Camillo Castello Branco,
pag. 195.
— Serviço de Deus; o seu culto, a
pratica da lei moral christã. — «Porem
por serviço de DEOS, e prol, e honra
nossa, e dos nossos Regnos e senhorio, e
de todo o povoo delles, e por bem e pro-
veito comunal, que creemos e pensamos
que desto se segue, avudo nosso Conse-
lho e deliberaçam comprida com os do
nosso Conselho e Desembargo, statuimos,
e estabelecemos, e hordenamos, e por Ley
e Hordenaçom poemos, e mandamos, e
defendemos.» Ord. Affons., liv. 4, tit. 2,
cap. 6. — «Aqui acabaram de morrer
em serviço de Deos, e d'ElRey quatro
filhos de Duarte Galvão, Jorge Galvão,
Manoel Galvão, Ruy Galvão, e este es-
forçado Cavalleiro Simão de Sousa Gal-
vão, que veio ter o fira tão peculiar a
elle.» Diogo de Couto, Década 4, liv. 4,
cap. 7. — «Depois destas cousas assi fey-
tas, e acabadas com muyto seruiço de
Deos, e muyta honra, e grande louuor
dei Rey, ordenou o dito Dom Manoel
com o Capitam, que os Frades, e a ou-
tra gente fossem com a embaixada a el
Rey seu senhor, os quaes se fizeram logo
prestes com muyta diligencia.» Garcia
de Rezende, Chronica de D. João II, cap.
157. — «Exercitando as obras de Miseri-
córdia com alegria : solícitos, e seruentes
no espirito em todo seruiço de Deos, per-
sistindo em oraçam com muyta instan-
cia : pacientes nas tribulações : alegres
com a esperança da coroa, bendizendo a
quem vos mal diz, e persegue : e a nin-
guém dando mal por mal, nem vos vin-
gando. » Frei Bartholomeu dos Martyres,
Catecismo da doutrina christã. — «Este
breue coroUario pus a qui de sua vida,
pêra que has molheres, que andaõ meti-
das nas vaidades, e dilicias deste mun-
do, trabalhem pola imitarem, e acaba-
rem no seruiço de Deos, quomo ella fez,
ha qual foi a Castella com dom Emanuel,
por ser ainda de idade, que requeria cria-
ção de ama, quando ho la mandarão em
lugixr de seu irmão dom Diogo Duque de
Viseu.» Damião de Góes, Chronica de
D. Manoel, part. 1, cap. 5. — «E cada
hum folgue do emprestar aquillo que boa-
mente lhe couber à sua parte, pois he
pêra tanto serviço de Deos, e de S. A.
e pêra segurança desta terra, e de vos-
sas mulheres, e filhos : pêra o que espe-
ro que vos não falte o favor, e ajuda de
nosso Senhor em que todos cremos, e de-
vemos confiar, que nos dará vitoria pêra
gloria, e louvor de seu santo Nome. » Dio-
go de Couto, Década 6, liv. 10, cap. 5. —
«Os officiaes da nao, e Capitão começa-
rão a entender nella pêra em Septembro
tornarem pêra a índia, como fizerào, e
nosso Senhor os leuou em paz ; e nos por
hora a deyxaremos : concluyndo sò com
dizer, que quando lá chegou foy era es-
tado, que não seruio mais pêra cousa al-
guma : nem era muyto, pois em fim o
auía ter, como tem as mais cousas da vi-
da, tirando aquellas que vão fundadas no
amor, e seruiço do Senhor Deos.» Fr.
Gaspar de S. Bernardino, Itinerário da
índia, cap. 4. — «Este Senhor nos con-
ceda perseverãça fiel em seu santo ser-
viço até a morte, para que despois nos
conceda a coroa da vida eterna, pois elle
mesmo a promete, aos que persevera-
rem.» Padre Manoel Bernardes, Exercí-
cios espirituaes, pag. 19. — ^ «Pregai con-
tinuamente, e todas quantas vezes poder
ser : porque o fruyto das pregações de
hum bem vniuersal de grande seruiço
de Deos, e proueito das almas e guardai-
uos muyto de pregar cousas duuidosas,
nem difficuldades de doutores : seja a
vossa doutrina clara, recebida e moral.»
Lucena, Vida de S. Francisco Xavier,
liv. 6, cap. 14. — «Em summa, digo,
que estes dois annos e meio se tem obra-
do muito em serviço de Deus, e de sua
magestade, e se têm lançado fundamen-
tos a muito maiores obras, e tudo se de-
ve á disposição e execução de D, Pedro,
sem a qual nenhuma coisa se pudera con-
seguir, o muito menos tantas e tão diffi-
cultosas e de tanta importância.» Padre
António Vieira, Cartas, n.° 19.
— Estar ao serviço d'alguem.
Aqui.
Co 'a noiva?
Si,
esta é a porta •, vós vos hi,
que eu me vou, e porque cllc
uào estava a vosso serviço,
outro dia o vereis vêr
quando estiver
co'a vontade mais deviso.
ANTÓNIO PKESTEs, Auros, pag. 369.
— A serviço d'el-rei. — • «D'outra par-
te contendia quanto importava ao servi-
ço d'ElRey tomar aquella Cidade, e qua-
manho descrédito era do nome que os
Portuguezes tinham uaquellas partes, lei-
xar aquclle t\'ranno sem castigo dos dam-
nos que delle tinham recebido.» João de
Barros, Década 2, liv. 6, cap. 5. — «E
per estos catures mandou Affonso d'Al-
boquerque Provisão, em que havia por
serviço d'ElRey que Manoel de la Cer-
da servisse de Capilão da fortaleza, e
Manuel de Sousa de Alcaide mór, e Dio-
ho Fernandes de Beja ficasse por Capi-
tão da Armada que Manuel de la Cerda
servia.» Ibidem, liv. 7, cap. 1. — «As
velas eraõ as seguintes, se. seis nãos gros-
sas em que hiam por capitaens, João da
noua, esta era a capitaina por o Vicerei
ir nella, das outras o eram George de
Mello Pereira, Nuno Vaz pereira, que
hauia pouco que chegara de Zciland, on-
de o mandara o Vicerei, a cousas que
cumpriam a seruiço dei Rei.» Damião de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 2,
cap. 38. — «Eu acompanhei os embaixa-
dores, como he costume da corte Roma-
na, e depois os fui visitar, e lhes oíFereci
toda minha ajuda, em nome de vossa Ma-
gestade, ao serviço de seu sereníssimo Rei,
em todo o que elles ouuessem mister de
vossa Magestade, a qual cousa lhe foi mui-
to agradável e entre outras cousas que di-
xerão de aeu Rei, de nenhuma cousa fol-
gaua tanto como de ser conjunto per li-
nha de parentesco a vossa Magestade.»
Ibidem, part. 3, cap. 57. — «De como
esto dom Aurrique veo ter a estas par-
tes de Hispanha contam os historiadores
per muitas maneiras, mas a verdade he
que passando elle em huma armada que
hia de Holanda, e Zeilanda a conquista
de ultramar veo ter a Crunha, e ficou
no seruiço dei Rei dom Afonso.» Ibi-
dem, part. 4, cap. 72. — «Os quaes to-
dos escaparam milagrosamente, hos de-
mais foram mortos ou captiuos, e um fi-
lho de Sidehieabentafuf, se saluou nas
ancas de hum cavallo dos caualeiros de
seu pai, e assi acabou o esforçado caua-
leiro Sidehieabentatuf seus dias em ser-
uiço dei Rei dom Emanuel, com tanta
lealdade, quanta se de um tal caualleiro
podia esperar.» Ibidem, part. 4, cap. 64.
— «E sendo elles na dita Villa da Gra-
ciosa, veyo sobre elles Moleyxeque Rey
de Fez com todo seu poder, e elles pare-
cendolhe que poUo que cumpria a suas
honras, e a seruiço dei Rey não deuiam
de deixar o dito cerco, ficaram lá, e res-
ponderam a* el Rey por escripto. » Gar-
cia de Rezende, Chronica de D. João II,
cap. 81. — «E porque Pêro de Faria
quando piarty de Malaca me dera huma
carta pai-a elle, em que lhe pedia que se
lá me fosse necessário o seu favor para
o negocio a que me mandava mo não ne-
gasse, assi por ser serviço dei Rey, co-
mo por lhe fazer a elle mercê, tanto que
cheguey a martavão, onde o achey de
morada, lhe dey a carta.» Fernão Men-
des Pinto, Peregrinações, cap, 153. —
510
SERV
Sf:HV
SERV
tO quo sabemos, i)i>r hum estromento
publico, que hii na (Jiilado ílocliiin lic,
que amíaudo bum Capitil na ribeira, lan-
çando Naiiios aij mar, yitkIo que o Elc-
pbantc quo o-i Ijotaua, amiaua ya cauHa-
clo, se fov a ello; o llie ilisne, irmão quos
me lançar jior seruiço dei lioy de l^or-
tugal, liuma Galoota ao mar?» Fr. Gas-
par de S. Bernardino, Itinerário da ín-
dia, cap. 15. — «Eu o conhecia pouco
mais que de vista e fama : é tant ) para
tudo o demais, como para soldado: mui-
to chriatão, muito executivo, muito ami-
go da justiça e da razão, muito zeloso do
serviço do vossa magestade, e observa-
dor das suas rcaes ordens, o sobre tudo
muito dosintcressailo, e quo entende mui
bem toda-í as matérias, posto que não fal-
le em verso.» Padre António Vieira, Car-
tas, n." 1-1.
— Pagar serviços. — «A outra querer
pagar seruiços com officios do mar a
quem nunca entrou nello, e peccados, e
furtos públicos, cometidos sem pejo dos
homens, nora temor de Deos. Porem por-
que nossa historia, se não faça, odiosa tor-
no a primeira.» Fr. tlaspar de S. Ber-
nardino, Itinerário da índia, cap. 7.
— Serviços sanhonneíros ; serviços por
S. João, ou em cada anuo. Vid. Sanhoa-
neiro.
— Vaso para nVlle se evacuarem os
excrementos.
— No Jogo da pella, é o ultimo dos
pai'ceiros que terve a polia.
— Adagio :
— Não ha maior serviço, quo o bom
serviço.
SERVIDÃO, s. /. (Do latim servitudo).
Captiveiro, escravidão, cm opposição á
libenlado. — «Ficou Daliarte no navio, e
Platir e Boroldo se tornaram a terra on-
de acharam o cavalleiro do Tigre cerca-
do de todo o povo, que como a reparador
de suas vidas e liberdade o vinham vêr
e servir, contentando-se no tim de tantos
trabalhos, tão dura tyraunia e servidão, al-
cauçal-o por senhor ; havendo que aquoUe
era assaz galardão da fortuna e trabalho,
em que d'anted viviam : não crendo que
no cabo de tantos malles lhe estivesse
guardado tamanho bom.» Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 119.
— «Aqui um povo de irmãos se uniu pa-
ra expulsar o domínio africano; de um
para uutro não havia servidão nem se-
nhorio, nem mister de castoUos o pontes
levadiças.» Gari-ott, Camões, nota A.
— Serviço civil, militar.
— Termo de jurisprudência. O direito
quo alguma herdade tem de que se lhe dè
serventia por prédio, terras alheias, bem
como de usar do algumas cousas alheias,
e de que o dono softVa esse uso, e não use
de seu direito, de que outr'ora usaiúa se
nSo devesse essa servidão.
— Servidão urbana; a quo prestam as
herdades, ou prédios urbanos.
— Servidão rui,lii:u; a que fazem o»
prédios rústicos, campos, granjas.
— Emprega-se também iiguradamenlc:
A servidão da yenlilidade,
SERVIDO, iiarticip. yaia. de Servir. A
quem se fez serviço. — « Neste tempo
vendo Diogo mendez de vascogoncellos
como Afonso dalbuquerque dossimulaua
com cUe sem lhe dar auiamento pêra a
viagem de Malaca lhe fallou lembrando-
ihc quam bem o tiuha seruido na tomada
de Goa, em que clle com toda a sua gen-
te, alem da muita parte que tinhaõ em
todo o trabalho lhe íezera sem outra ne-
nhuma ajuda.» Damião de Góes, Chroni-
ca de D. Manoel, part. 3, cap. Ití. —
«(^■eorge butelho o fez assi, mas em che-
gando foi bom seruido de hum camello
que os imigos tomaram ua barcaça, que
estaua assentado na poita da tranqueira
e em guarda delia, e da porta obra de
cem mouriis, com tudo não deixou de aeom-
mcter. » Ibidem, cap. 28. — «Nos envia-
mos a vos Simam da sylva ridalgo da
nossa casa pessoa de que muito confia-
mos, e a quem, por nos ter muito bem, e
fielmente seruido temos boa vontade, o
qual escolhemos para vos enviar, por o
termos conhecido por esforçado, e de
muita fidelidade, e que vos dará de si
boa conta.» Ibidem, cap. 37. — «E o se-
nhor dom lorge com muyta gente da dei
lley por seu mandado se foy a Villa no-
na de Portimam, onde foy de dom Mar-
tinho senhor da Villa, que depois foy
Conde delia, seruido com muytos gran-
des banquetes, e el Rey esteue em Àluor
alguns dias, que se leuantaua, e vinha de
huma camará onde jazia a huma casa de-
baixo.» (iarcia de Rezende, Chronica de
D. João II, cap. 210.
— Merecido, ganhado por serviço.
Haa outros como prelados,
que sam muy obiidescidos ,
e sam Brâmanes chamados,
muy seruidos. c louuadoâ,
por homcus sanctos auidoa.
GABCIA ■DY. REZr.N-DE, UISCKLLASEl .
— Sídc servido; havei por bem.
— Mesa servida; mesa bom provida,
ou mal provida de iguarias, apparelhos e
serventes.
— *Se Drtt5 /wr servido d' isso; se Deus
lhe agradar. — «E mandando levar em
carros huma pia de bautizar ao alto do
monte Corduba, se fez o carro em peda-
ços chegando às portas da Igreja de Saõ
Miguel, quasi mostrando ser Deos servi-
do que se exercitasse alli aquelle sacra-
mento.» Monarchia Lusitana, liv. 7, cjip.
24. — «Via por segura, houve batalha
com o gigante Calfurnio, na qual por ser
assim Deos servido, o venci e matei : fi-
cando tão maltratado do sua mão, e ci>m
tantas e tào perigosas feridas, que verda-
deiramente eilas deram fim a meus dias,
HO não fQra Boccorrido por três filhas do
marqucz Beltamor, que vossa alteza des-
terrou de seu senhorio, e o gigante aquelle
mesmo dia trouxera pre.-as.» Francisco
de Moraes, Palmeirim dlnglaterra, cap.
G5.
— St u iatUo fôr servido. — « Daua-
80 dom loam de Castro por muy obriga-
do no Sauto Apostolo, porque entrando
elle no Gouerno da índia fora o Santo
seruido do discobrir na sua cidade a mys-
teriosa cruz, que foy o altar do seu sa-
crificio, c martyrio do que ja escreufimos
largamente, o que o Gouernador tomou
por celestial pronostico das grandes vito-
rias, que Deus lho auia de dar por hon-
ra, e gloria da me^ma cruz.» Lucena,
Vida de S. Francisco Xavier, liv. C,
cap. 4.
— jSe fôr servido ; locução de que usa-
mos polida e cortezmente em logar de
— se quizir.
SERVIDOR, A, «. (Do francez servi-
teurj. Sorvo, ou serva. — «Que ha hy tal
pessoa, que por merecer hum servidor,
demanda per vossas Cartas, e saõ-ihe jul-
guados quatro, ou cinquo, e poem-nos ao
gnainho, e os que liaõ de lavrar, e man-
ter estado fieaõ desfeitos : e esto se enten-
da em todo Regno.i Ord. Âffons., liv. 4,
tit. 29, § 17.
Abel he pastor
Amigo de Doos e bom tervidor,
Por isso lhe crcccm a olho seus gados.
ou. VICENTE, Ai;io djl uistobia de DEL'S.
— «Queria que me dissésseis onde vos
mereci, sendo tanto vosso amigo e servi-
dor, consentirdes que os esquecimentos
da senhora Polinarda me matem : ao me-
nos, visse-a lembrar de mim e fosse pêra
me fazer mal, se acha que outro bem
lhe não mereço.» Francisco do Moraes,
Palmeirim d'Iuglaterra, cap. 95.
Veyo Fauno outro paalor.
Que pcra ai vinha buscallo,
Seu criado, c sfmidor,
Comeijou a consolallo,
O conselho era pcor.
BEBXABOIV BIBEIBO, EOLOOA 1.
O vosso negro ping*o-lo
se cumpre, coieil-o, aasao-lo;
mas moço mslo seri-idor
é senhor de sou senhor
c o seu serviço comprael-o.
ÁXTú><io rnESTES, actos, p»g. 196.
Scntac-vos, senhor dontor,
nâo sabeis que tervtdor
tendei em mi ; pois sabei
que sabe a Kaiuha c cl-Rci.
IBIDEM, pag. 161.
Vós, mais dama e livre que ell*,
PU, mais Temistocles que elle.
Não, que es3 'outro rfrt-idor
muito mais uo amor at<51a.
iBiDBM, pag. 363.
SERV
SERV
vSERV
511
Assim diz minha senhora
muitas vezes quo ha d>5 d'ella ;
por certo que d'alma a chora.
Sou eu sua servidora.
IBIDEM, pag. 449.
— «Os quae.s por saberem que elle era
seu seruidor, o auiam de destroir. Pelo
que lho pedia que pêra se defender, e po-
der ter suas terras por el Rei de Portu-
gal, lhe mandasse alguma gente, porque
se o nam fezesse, se tinha por perdido.»
Damicão de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 3, cap. 4.
— Criado, criada.
— Servidor ih damas; chichisbeu.
— Servidores do azul; moços da Mise-
ricórdia, que andam de túnica azul.
— Serviço, vaso para os excrementos.
— Pessoa que serve em obras, ser-
vente.
— O amigo, quo sendo mui affectuoso,
deseja servir e obsequiar em tudo o seu
amigo. — «Outro sy, Senhor, os morado-
res dos vossos Regnos som mui dapnifi-
cados per mingua de servidores, que nom
podem aver, e estom em ponto de se per-
derem a maior parte de seus bens ; e por-
que esses servidores pedem, e levaõ ta-
manhos jornaes, e tamanhas soldadas,
que os homens não podem aver prol de
seus novos, pelos grandes jornaes e sol-
dadas que assy levaõ, de que se ellos
tanto aproveitaõ, e o? que lhes daõ, ficaõ
dapnificados.» Ord. Affons., liv. 4, tit.
29, § 8. — «Querendo em esto dar lugar
como ajam mais servidores, e que esses
que os nom ham os possaõ melhor aver,
e que outro sy em poder desses que ham
de servir nom seja theudo morar, senom
com aquelles, a que he dado lugar, que
possaõ aver servidores.» Ibidem, § 10.
— «Pêro porque se aggravaõ os Conce-
lhos, e dizem que lhes minguam os ser-
vidores, e que esses que hy ha, que mo-
ram com aquelles, que os nam ham tan-
to mester, e os boõ.s, e grandes ficam sem
elles, e nom teem quem nos serva.» Ibi-
dem. — « E esto que suso dito he dos
mesteiraaes, que nom ajaõ mancebos, e
servidores, entende ElRey, com tanto
que esses servidores nom vivaõ com elles
por aprenderem mesteres delles ; porque
era este caso, se com elles viverem, e
seus mesteres de feito aprenderem, man-
da que lhes nom sejaõ tirados.» Ibidem,
§ 11. — «E porque outro sy por aazo da
dita Ley, que fez o dito Senhor Rey,
nom podiaõ seer costrangidos os filhos,
que quisessem viver com seus Padres e
Madres, e assy minguam os servidores,
e som mais poucos, manda que sem em-
bargo dessa Ley, todolos filhos daquoUes,
que podem ser costrangidos pêra morar
per soldada.» Ibidem, § 12. — «O que
pedem é que nenhum impedimento haja
pêra o poderem fazer, e da maneira que
estão, esperaram hoje todo o dia, e fa-
rão armas com os servidores daquellas
que os quizercm acceitar.» Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 129.
perguntar como aqui está,
se por amo ou por criado,
que isto é jugo no pescoço :
quero ver este destroço
que me faz meu servidor.
ANTÓNIO PBESTES, AUTOS, pag. 131.
\"imo9 muyto mais valer,
mais medrar, mais rico ser,
ho3 niuy importunadores,
quo hos grandes senadores,
que acertam vergonha ter.
G. DE KEZESDE, SnSCELLANEA.
— «Os quaes todos como bons, e leaes
seruidores olhando o tempo, e importân-
cia do caso, com grande amor e diligen-
cia cjuiprirão em tudo os mandados dei
Rey. Porque como chegarão, logo sem
aluoroço, perigo, nem contradição as ou-
uerào todas a mam, em que poserão al-
cavdes, e pessoas que sobre as suas me-
najens as tiuessem sempre fielmente a
seriiiço dei Rey.» Idem, Chronica de D.
João II, cap. 44. — «Esta obra começou
com grande pressa : porque faltavào ser-
vidores por serem mortos alguns, e ou-
tr<js estarem doentes, acodirão as mulhe-
res da fortaleza, assim cazadas como viu-
vas a acarretar os materiaes, como já fi-
zeraõ outras no outro cerco passado.»
Diogo de Couto, Década 6, liv. 2, cap. 6.
— Adagio e provérbio :
— Anda a teu amo a sabor, se queres
ser bom servidor.
SERVIDORA, s. /. Serva por obsequio.
Vid. Serva.
SERVIL, adj. 2 gen. (Do latim servi-
lis). De servo. — Obras servis.
— Próprio da baixeza e vileza do ser-
vo ou escravo. — «Acabe ultimamente de
dczenganarse a Arte Fabril de que he
mechanica, servil, e mercenária ; ut pro-
bat text. in l. maximarum Cod. de exc.
mun, lib. 10. et in l. i. Cod, de perfect.
dign. lib. 12. Acursius in § quod au-
tem, verbo Mechanicis, in Authent. de
non aliin. reb. eccies. Lvcianus in fugi-
tivo; et Ecclesiast. cap. 38, ibi: Sic cm-
nis faber, et architectus, qui noctem tan-
quam diem transigit. » Braz Luiz de
Abreu, Portugal medico, pag. 268, §
134.
SERVILHA, s. /. Sapato de couro fun-
do, com sola corrida.
— Embarcação sardinheira.
SERVILHEIRO, s. m. Homem que pes-
ca em servilha, sardinheiro.
SERVILHETA, s. /'. Moça de servir em
casa, ou lie jiortn afi'>ra.
SERVILHETEIRO, s. m. Entregue a
amores, e conversação de servilhetas.
SERVILIDADE, s. f. Tid. Servilismo.
SERVILISMO, s. m. Estado, condição
de servo.
— Figuradamente : Génio, espirito ser-
vil, illiberal.
SERVILMENTE, adv. (De servil, e o
suffixo «mente»). De um modo servil.
— Com animo servil.
— Imitar servilmente ; sem pôr nada
de seu, copiar sem alterar o que se tomou
por modelo, com variação boa, ou melho-
rada.
SERVINTE, part. act. de Servir.
— Substantivamente: Vid. Servente.
SERVIOLA, s. /. Termo de marinha.
Pau que afasta a amarra do costado do
navio.
SERVIR, V. a. (Do latim servire). Fa-
zer serviços, obras de servo. — «Se do
dia da provicaçom desta nossa Ley a doos
meses nom vierem a nós, pêra fazerem
de sy vassallagem pêra nos servirem co-
mo Fidalgos e nossos Vassallos, ou daquel-
les que teem estado, ou lugar pêra esto,
e nos ham de servir como nossos Vassal-
los, d'hy em diante percaõ, e nom hajaõ
honra, nem privilégios de Fidalgos.»
Ord. Affons., liv. A, tit. 26, § 8. — «E
nós dês entom os privamos de toda hon-
ra, e privilegio de Fidalguia; e manda-
mos que d'hy era dianto sejaõ costrangi-
dos pêra servir com os dos Concelhos em
todolos encarregos das Villas, e Lugares,
em que viverem, assy pelos corpos, como
pelos averes, como cada hum daquelles
que nom som Fidalgos.» Ibidem. — «A
saber, que se alguns tiverem filhos e fi-
lhas, quantos quer que sejaõ, que taaes
filhos e filhas em mentre morarem com
seus Padres e Madres, e os servirem,
que nom sejaõ obrigados a morar com ou-
tros.» Ibidem, tit. 29, § 5.
Pois que me mandados ir,
(Dise-lh'eu) senhor, ir-m'ci ;
Mas já vos ei de servir
Sempre por vosa 'andarei.
Ca V033'amor inc forçou ;
Assi que por vosso vou
Cujo sempr'ou já serei.
CANC. DE TBOVAS ANTIGAS, D." 1.
Pois, senhor, que vos parece?
Desejo de vos servir,
E não quero que venha á cidade
Hum quem não parece esquece.
Paguei soma de dinheiro
A hum ourives agora,
De prata que me lavrou,
E paguei a hum recoveiro,
Que he a dar dinheiros fora
A quem não sei como os ganhou.
OIL VICENTE, FABÇAS.
— « Luiz Figueira querendo servir
naquelle negocio, mandou cinco, ou seis
navios pêra hirem dar no porto dos Nau-
t.nques, e destruillos. Estes navios foraõ
áquelle negocio com o olho nas prezas
que se esperavaõ, e andàraõ pelas costas
dos Nautaques dandolhe em alguns por-
tos, e povoaçoens em que fizeraõ algum
dano.» Diogo de Couto, Década 6, liv. 8,
§ 12. — «As novas se espalharão logo pela
512
SERV
SERV
SERV
Cidade, a que acodira5 todos, velhos, o
moços a fio offcrcccrcm ao Vinorcv, smido
dos primeiros os Cidaililo'», que í^eiiipio
nas seincliiantes noce.-ísidades servirão
El Roy com as fazendas, e pessoas.» Ibi-
dem, liv. 10, § 5. — «E ja que por t_v,
por seres hum só, iiSo posso sor ajudado,
te rogo senhor que me leves comtigo,
porque nilo perca esta alma que Deus em
mini pôs, o eu te prometo de to servir
como cativo em quanto viver, e tudo isto
que disse foy acompanhado sempre de
tantas lagrimas que era cousa piadosa de
ver.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap, 145. — «Do dia que a minha
cabeça so apartou dos peis de vossa al-
teza para esto pequeno feito em que mos-
trou gosto que o cu servisse, a nove dias,
cheguey a Tanauçarini.» Ibidem, cap.
146. — a Consenti que me vá ver com
elle c que como vosso mo combata, e en-
tão vereis a quem deveis mais, ou quem
vos merece niellior servir. Estou tào de-
terminada em fiizer uma cousa, disse Tar-
giana, que cuido que por fiTç^i a hei de
cumprir.» Francisco de ^loracs, Palmei-
rim d'Inglaterra, cap. 86. — * Esteve
muitos dias Floriano do deserto na corte
do gram turco, servindo Targiaua em
cousas de seu gosto, mostrando o preço de
sua pessoa em todas as empresas, que
naquollc tempo aconteceram, sahindo tan-
to a sua honra e com tanta gloria e ía-
ma, que antre os mouros por cousa divina
era estimado.» Ibidem. — «Albayzar se
tó agora venceu tantos teve raz.no de os
vencer tolos, que Targiana he mais fer-
niosa, que quantas aqui tè seus escudos :
mas contra viis que rasão pode haver para
quem vos serve n.^o vencer o mundo to-
do? Ibidem, cap. 89. — «Passado o dia do
casamento, ao outro dia pola manhãa,
Targiana se despediu da imperatriz, Gri-
donia e Vasilia, mostrando muito desejo
de lhe sempre servir, e ser em conheci-
mento das sinaladas e grandes mercês
que delias recebeu.» Ibidem, cap. 05.
— «Eu comigo vos tenho buscado marido
tal, qual me parece que mereceis; e
guardo pêra isso o estado, que ficou de
vosso pai, que vos cu farei dar, e o mais
que poder juntar pêra vos servir.» Ibi-
dem, cap. 124. — «Mas que farei, que
toda a occupação de meu cuidado é a tim
d'a servir, e ella não lhe lembra que
o faço, por me negar algum agradeci-
mento so m'o d'alli fica devendo? Olhai
com quão pouca me contento, que não
quero cm pago de tantos ti-abal!ios outra
satisfação, senão cuidar que algum hora
sente, que os passo: e não me tire del-
les, que na hora, que mos ordenou, logo
perdi essa esperança.» Ibidem, cap. Oõ.
— «A emprcza, que dizeis que jure, que-
ria que me disscis, que tal c ; porque se
n'essa a eu servir a ella, e fizer o que
devo a mim, podo ser que a não cngci-
te.o Ibidem, cap. 102. — «Porque os le-
vavam a suas casas o comiam e bo\nam
com elles, e quando clles so escusa vauí, ou
nam nos achavam levavam os kcub moços,
(pie avendo sido cativos com elles e sondo
soltos nam os desamparavam, antes acom-
jianhandoos os serviam: e aos moços fa-
ziam tanta honra como aos senhores, i- í^r.
fiaspar da Cruz, Tratado das cousas da
China, cap. 8. — «Semjrc é bom, por isso,
servir ao tribunal do santo officio e estar
bem entabolado com a ordem. Nunca vi
sair em Portugal jesuitas, nem dominicos
em auto de lê.» Bispo do Grão Pará,
Memorias, publicadas por Camiilo Castcl-
lo Branco, jiag. 90. ■ — «O Mello era cccle-
siastico; mas viu que em França o em-
baixador Saldanha não quiz ir cortejar
madame do Pompadour, de que se origi-
nou servir o seu amo sem fortuna.» Ibi-
dem, pag. 161.
— Servir d 7nesa ; aguardar, assistir e
ministrar a comida e iguarias, tirar pra-
tos, talheres, etc. — «O servir á meza
com os criados, cousa ó costumada ; mas
em verdade que estes nossos portuguezea
servem com tal descuido, ou confusão,
que tinha por não grande perda o servir
com as criadas.» D. Francisco Manoel de
Mello, Carta de guia de casados.
— Servir de; aproveitar. — «Este foi
o fim do huma negociação, em quo se
considerarão os interessei mais importan-
tes para esta Monai-quia, porém Deos que
tinha decretado o contrario, dispGz, que
só servisse de mostrar o Duque D. Nuno
a grande capacidade do seu talento i.a
fingida benevolência dos Ministros de Sa-
boya, e de se vêr, que contra as deter-
minações Divinas não valem as politicas,
nem as industrias humanas. r> Fr. Bernar-
do de Brito, Elogios dos reis de Portu-
gal, continuados por D. José Barbosa,
— «Havendo umas muy doces, e outras
muy violentas, nos podemos servir delias
frequentemente porque as podemos va-
riar de muitos modos." Cavalleiro d'01i-
veira, Cartas, liv. 1, n.° 39. — «Sào des-
tros em furtar, e ha celebres factos de
que daremos um ou outro, poilendo servir
esta diversSo ao leitor de desenfastial-o
da leitura c acautelar-se se encontrar os
braguezes.» Bispo do Grão Pará, Memo-
rias, publicadas por Camiilo Castello
Branco, pag. 201.
— Servir de exemplo; ficar, aprovei-
tar para tomar exemplo, cautela, ou
cousa que depois se siga, ou que dò fun-
damento a se requerer o mesmo.
— Servir a Deus; render-lhe o culto
que lhe ó devido, occupar-se em obras
religiosas. — «E o que mais he que tu-
do, peleijamos com inimigos de nossa fé,
e não nos pódc faltar favor para tão jus-
ta crtusa, pois servimos ao Deos das vi-
ctorias.» .lacintho Freire d'Ar.dradc, Vi-
da de D. João de Castro, liv. 2. — «O
meyo de conseguir nome eterno, saõ as
virtudes, e naõ as vaidades ; he servir-
des a Deos conforme a Ley de Deos, e
naò servirvos o mundo conforme as Levs
do mundo.» Padre Manoel Bernardes,
Eiercicios espirituaes, pag. 474.
— Imjjortar, aproveitar, ser ntil, —
«Vimos tanibem muitas embarcações car-
regadas de cascas de laranjas secas, que
servem paru nas tavernas se cozerem c3
a carne do caõ, para 1/ie tirar o mao cbev-
ro que de sy tem, o secarlhe a humida-
de, o fazela mais tesa.» FcrnSo Mendes
Pinto, Peregrinações, cap. 98. — «Ej*
que a lingoa nos nSo serve para isto,
pois não pôde formar palavras que sejão
capazes de satisfazer a tamanha obriga-
ção como esta cm que todos te estamos,
servirnosha do pedirmts ctjntinuamente
com niuytas lagrimas e gemidos a aqucl-
le Senhor que fez os ecos o a terra.» Ibi-
dem, cap. 121.
De tudo me firri- avèftv),
senhora ; cmquanto mart<'llo
com 9CU cabo e seu comdço
tem alguma hora pião
que mo gabo CJitc cagtcUo.
A rai m'o perguntou? Já.
ASTOSIO PBESTES, ACTOS, pag. 17.
— «Oyto legoas antes da Cidade topa-
mos com huma agoa, que na corrente era
muy boa, e nas poças onde nSo corria
era sal refinado, e dolle nos semimos por
vezes na mesa.» Fr. (jaspar <le S. Bicr-
nardino, Itinerário da índia, cap. 16. —
«Não onde a primeira esteue, que neste
lugar, como diz o Propheta Isayas, nào
se leuantou mais ca^a, nem se leuanta-
rá : mas só serue pêra pastarem os Ca-
melos, e Caualos, e mais gado dos Pas-
tores Arábios que em Babylonia morSo. >
Ibidem, cap. 18. — «E se essas naõ bas-
tarem por poucas para tantas unhas, ou
naò vos contentarem por ásperas, porque
nem toda aspereza serve para medica-
mento, tenho três desenganos officacissi-
mos para as emendar suavemente, fazen-
do-lhes entender, e abraçar a verdade,
que he o melhor modo, que ha de correi-
ção.» Arte de furtar, cap. 70. — «E co-
mo estes tempo.i-aes do anno n.^o serviam
tanto a proveito dos navegantes quando
Cingápura prosperava, de doas faziam
huuia, e esta era a mais commum ; todo-
los que navegavam da parte do Ponente,
liiam per fora da Ilha Çamatra entrando
per o canal que se faz entre ella, e a
Jauha, ou entravam por entre ella, e a
terra de ^lalaca. > Barros, Década 2, liv.
6, cap. 1. — «Jo-lo Gomes chegado a Ca-
lancea, onde nào achou cousa alguma,
por os ventos lhe nào servirem pêra tor-
nar onde Aflonso d'Alboqu rque estava,
começou andar ás voltas ao mar, e á ter-
ra, nas quaes foi dar com huma não de
Chaul, que hia pêra o estreito, que to-
mou, o sérvio muito naquelta viagem a
Alfonso d'Alboqaerque.» Ibidem, liv. 7,
1
SERV
SERV
SEsa
Õ13
cap. 7. — «Do que se Pedrakirez excu-
sou, dizendo, que quando em Cochim não
achasse a carga, que auia mister, que
então ha iria tomar ha sua terra delles,
que a boa vontade, que lhe mostrauào,
lhes serueria quando comprisse.» Damiào
de Góes, Chronica de D. Manoel, part.
1, cap. 60. — «Da qual victoria mouido,
determinou, posto, que estiuesse ferido,
de o ir abalrooar por lhe ja seruir o ven-
to e maré mas per conselho dos outros
capitaens deixou de o fazer, porque ti-
nha muita gente ferida em toda írota e
a outra cansada, dizendolhe, que o mi-
Ihor conselho era meterlhe as nãos no
fundo, porque deste modo os desbarata-
riam, com menos perigo.» Ibidem, part.
2, cap. 25. — • «As velas da nossa frota
eram a gale de Pêro de faria em que hia
Rui de Brito Patalim ficando por capitam
da fortaleza, o Alcaide mor, Aires perei-
ra de barredo, Fernam peres dandrade,
com quem hiào Simào afonso bisagudo,
por a sua nao de podre, e velha ja nam
seruir pêra nada.» Ibidem, part. 3, cap.
41. — «Mas Deos o ordenou de maneira,
que em lugar da presa que cuidauào fa-
zer lhes seruirão os barcos pêra leua-
rem os corpos dos geus que recolheram
com muita tristeza, por antrelles auer
alguns homens nobres, e de authoridade.»
Ibidem, cap. 52. — «Em algumas cida-
des se usa yrem estas sellas cubertas por
nam dar nojo : serve-Lhe este esterco pê-
ra estercarem as hortas, e dizem que
com elle crece ha hortaliça a olho, mes-
toram no com terra e curam no ao sol,
6 assi se servem delle, usam em tudo
mais de engenho que de força polo que
com hum boy lavram fazendo ho arado
de tal engenho que corta bem a terra,
ainda que nam sam os regos tamanhos
como antre nos.» Frei Oaspar da Cruz,
Tratado das cousas da China, cap. 10.
Que importa, que do Euripo ignore o fluxo
O Sábio de Estagira, se dos mares
A sempre fixa alternativa serve
A"8 mortaes precisões '?
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Cant. 2.
— «De mim não tenho que dizer a
vossa excellencia, porque o mesmo que
tenho dito serve para todos os tempos,
pois sou, e hei-de ser o mesmo em to-
dos.» Padre António Vieira, Cartas, nu-
mero 21.
Tam quebrados, sem forças, de que serve
Esta lucta de poucos moribundos
A pelejar por mais uma hora escassa
De vida incerta ! — Ingano, ingano cego!
Á pátria agonizante e quasi extincta
Que podemos fazer ?
GABRETT, CATÃO, act. 1, SC. 1.
— Fazer serviço pessoal ao rei. —
«Grandemente foi criado com muito gran-
TOL. T. — 6õ.
de cuvdado, e tanto que teue entender
lhe ordenou logo el Rey seu pay pessoas
virtuosas, prudentes, e muy examinadas,
que delle tiuessem cuydado, e que fos-
sem taes de que podesse tomar boa dou-
trina, e lhe deu bons mestres, que o en-
sinassem a ler, rezar, e latim, e escre-
uer, e assi moços bem ensinados, pêra se
criarem com elle, e o seruirem, tudo fei-
to como tal pay ordenaua, e tal íilho me-
recia.» Garcia de Rezende, Chronica de
D. João II, cap. 3. — «Ora me beijay ha
mào por tudo, e seruime muyto bem, que
eu tenho cuydado de vos honrar, e fazer
merco, e logo elle e o tio lhe beijarão a
mào, e dahy por diante seruio milhor, e
el Rey o casou, e lhe fez honra e mercê. »
Ibidem, cap. 198. — «Quando el Rei deu
casa ao Príncipe dom Affonso seu filho
antes das festas me passou a elle, e eu
pezandome muyto lhe pedi por mercê
com algumas lagrimas, que me não desse
ao Príncipe, porque nenhuma pessoa de-
sejaua seruir senão a sua Alteza, e mais
que era muyto moço, e me agasalhaua
com meu tio, e passandome ao Príncipe
ficaua desagasalhado, e el Rev me disse.»
Ibidem, cap. 201. — «Neste tempo acon-
teceo o desastre da morte de Nuno fer-
nandez dataide, capitam de çatim como
se logo dirá pelo que el Rei escreueo a
dom Nuno mascareuhas, que o fosse la
seruir em lugar do morto, e assi escre-
ueo a Rui diaz de sousa eide, que se fos-
se a Alcácer ceguer, seruillo de capitão, o
que logo ambos fizeram, e Diogo lopez co-
mo leuara por regimento despedio toda a
armada, excepto sete carauellas com que
andou aquelle veram em guarda destrei-
to.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 4, cap. 5. — «Bem se po-
de crer que pêra negocio tam moderno,
e que se escreueo em tempo em que ain-
da vivião muitos dos que seruiam a el
Rei dom loam primeiro, na guerra, e na
paz, nam auia muita necessidade de se
verem todolos cartoreos do regno, nem
de mandar fazer a mesma diligencia a
Castella, senaõ fora pêra se também apu-
rarem, e acabarem na verdade as Chro-
nicas dos outros Reis atras, de que a no-
ticia era mais remota.» Ibidem, cap. 38.
— Prestar serviços. — « Ja vos dei con-
ta da pouca que tenho com toda a outra
cousa que não he servir a .Senhora Dio-
nysa; e postoque a desigualdade dos es-
tados o não consinta, eu não pretendo
delia mais que o não pretender delia
nada, porque o que lhe quero, com sigo
mesmo se paga ; que este meu amor
he como a ave Phenix, que de si só nas-
ce, e não de outro nenhum interesse.»
Camões, Filodemo. — «A todas estas pa-
lavras a fermosa Lionarda esteve calada
e corrida, por ser ainda tão nova naquel-
la casa; e, respondendo a Polinarda, dis-
se: Senhora, eu não sei que cousa me
possaes mandar, não sendo contra minha
honra, que não faça e receba n'isso mer-
cê. Esse cavalleiro pêra o haver por
meu, baste ser irmão de Palmeirim, a
quem tanto devo, e primo de vossa alte-
za a quem desejo servir. Se elle acha
que este nome lhe pode prestar pêra al-
guma cousa, eu consinto que lhe fique :
mas quem taes obras tem, não tem ne-
cessidade de ajuda tão pequena pêra de-
pois lhe attribuir a honra de seus fei-
tos.» Francisco de Moraes, Palmeirim de
Inglaterra, cap. 112. — «O qual por mor-
te de D. Álvaro Pires deu este cargo ao
Grande D. Nunalves Pereira, que o sér-
vio com grande valor, e boa fortuna.»
Severim de Faria, Noticias de Portugal,
Disc. 2, cap. 2. — «Porem aos Fidalgos,
que naõ serviaõ mais que com sua pró-
pria lança, lhes dava ElRey por ella 75.
livras, que era a contia ordinária.» Ibi-
dem, cap. 7. — «Passou a servir a Tanger,
onde deo de seu valor as primeiras, mas
não vulgares provas, bem que destas al-
cançamos mais fama, que noticia. Tor-
nou á Corte, chamado por el Rei D. João
o terceiro, e como já seus brios não ca-
bião no Reino, passou á índia com D.
Garcia de Noronha.» Jacintho Freire de
Andrade, Vida de D. João de Castro,
liv. 4.
SÊS. Forma antiquada do verbo ser
na segunda pessoa do plural do presente
do modo conjunctivo ,• hoje substitue-se
por seja.
j- SESAMEAS, s. f. plur. Pequena fa-
mília de plantas dieotyledoneas.
-j- SÉSAMO, 5. 7)!. (Do latim sesamum).
Género da familia das sesameas. A espé-
cie principal é o sésamo indico^ planta
oleaginosa, sendo uma das variedades
descriptas sob o nome de sésamo oriental,
cultivada no Oriente, e fazendo o objecto
de um CHinniercio considerável.
7 SESAMOIDE, adj. 2 gen. Termo de
anatomia. Que se assemelha á semente
do sésamo.
— Ossos sesamoides ; pequenos ossos
curtos, redondos, que apresentam uma
organisação fibrosa, análoga á da rotula,
que se desenvolvem na espessura dos
tendões, na proximidade de certas arti-
culações.
f 'SESAMOIDIANO, A, adj. Termo de
anatomia. Que pertence aos sesamoides
do carpo e do tarso nos cavaUos. — Zí-
gamentos sesamoidianos.
SESÃO, í. /. Vid. Sezão, e Sasão.
— Vid. Cesão, que é differente.
SESEGA, s. /. Termo antiquado. O so-
lo, o clião onde está edifício, arvore.
Vid. Sessega.
SESELI, s. m. Género da familia das
umbelliferas, espécie de funcho, de que
ha varias e^pecies.^
SESERIGO, s. m. Termo antiquado.
Assento, planície. Vid. Sessega, e Sesega,
SESGO, A, adj. Torcido, obliquo.
— Sereno, socegado, quieto.
514
SESQ
SESS
SEST
— Torcido, Rcrpcauto. — Corrente ses-
ga.
SESIA, *. ./'. Tormo de historia natu-
ral. (Icnoro do insectos iepidoptcro».
SESMA. Vid. Sexma, ou Seisma.
SESMAR, i'. a. Partir, demarcar, di-
vidir as terras e iierUades, como fazem
08 scsmoiro» e juizes de tombos de ter-
ras, ou deniarcai;rSe8.
— Absolutamente, diz-so do que se
aparta, e retira desconfiado.
SESMARIAS, e. /. j)l. Dá-se este nomo
iVs dadas das torras, casaes ou pardiei-
ros, que foram de alpuns donos ou lie-
roes, e se lavravam em outro tempo, e
estão incultos ao tempo da dada; ou tam-
bém das maninhas, como as mattas in-
cultas do Brazil.
— Emprcija-se também no sinfjular na
seguinte locução: Dar sesmaria; dar
como terra inculta, herdade desaprovei-
tada; maninho, pardieiro dado para se
aproveitar cultivando o povoando.
— AhaiK^ar uma sesmaria ; alcançar
uma daila tal.
SESMEIRO, s. 1)1. Homem encarregado
das sesmarias, e que as à-X.
SESMO, s. m. Vid. Sexmo, ou Seismo.
— Logar onde ha sesmarias ; ou a per-
tença que fui scsmada a alguém, e limi-
tada na sesmaria.
SESQUI. Palavra derivada do latim
sesque, contracção de semisqitc, do semts,
que se antepõe a difterentes termos scien-
tificos, e que significa um e meio.
SESQUIALTERA, adj. f. (Do latim ses-
quialttír, do sestjui, e alter). Termo de
mathematicji. Diz-se de duas quantida-
des das quaes uma contém a outra uma
vez e meia.
f SESQUIAMMONIACO, adj. Termo de
chimica. 1 )iz-se de um sal animoniaco
couteuilo uma vez e meia outras tantas
bases como o sal neutro. Diz-se do mes-
mo modo sestjuiargentico, sesijuibarytico,
etc.
t SESQUIARSENIATO, «. m. Termo de
chimica. Arseniato contendo uma vez e
meia tanto acido como o sal neutro. Diz-
se do mesmo modo sesquicaròutiatOf etc.
j- SESQUIBASICO, adj. m. Termo de
chimica. Diz-se de imi sal contendo uma
vez e meia tantas bases como o sal neu-
tro corrcs]H>ndente.
t SESQUIFERROSO, aJj. vi. Termo de
chiniiua. Diz-se de um sal ferroso con-
tendo uma vez e meia tanta base como o
sal neutro. Diz-se do mesmo modo Sfsyit í-
mangnyioso.
f ' SESQUIFLOR, adj. Termo de botâ-
nica, (.^ue contém uma tlôr completa e
outra abortada.
t SESQUIHYDRICO, adj. m. Diz-se de
um composto contendo uma vez e meio
tanto iivdrogeneo como o outro corpo.
t SESQUioXYDO, s. m. Termo de chi-
mica. Oxyilo contendo uma vez e meia
a quantidade de oxygeneo que contém o
protoxydo ou o monoxydo, isto é, um
átomo o moio para um átomo do corpo
unido ao oxygeneo, ou trcs atonius para
douH átomos (Feste mesmo corpo, etc.
SESQUIPEDAL, adj. 2 gen. (Do latim
KfHijiiij/edaHs). C^ue tem pé e meio de
longoi-.
f SESQUIPHOSPHURETO, «. m. Termo
do chimica. Pliosjthurbti) que contém uma
vez c meia tanto plio»j)horo como metal.
Diz-se <lo mesmo modo sesquichlorureto,
gesqilisillfini In, i'tc.
f SESQUIQUADRATO, adj. e s. m. Ter-
mo de astronomia. Aspecto de dous pla-
netas afastados um do outro quatro si-
gnos o. meio, ou 135°.
t SESQUISAL, .«. m. Termo de chimica.
Sal contcndíj unia vez e meia tanta base
ou acido, como o eal neutro correspon-
dente.
f SESQUITIERCE, a^lj. Termo de ma-
thematica. Diz-se de dous números, ou
de duas linhas, contendo uma a outra, e
um terço a mais.
SESSÃO, s. /. (Do latim sessio). O es-
paço (lo tempo que dura cada assembleia
de alguma corporação. — A sessão </o
parlamento. \\à. Secção, que diverge.
— Dá-se também este nome a cada
uma das reuniões que tem qualquer cor-
po deliberante, quer seja cm publico,
quer em particular.
— Diz-se do tempo que ficam as cama-
rás legislativas abertas cada anno, desde
a aliertura até ao encerramento.
SESSAR, V. a. Termo usado em Per-
nambuco, província do império do Bra-
zil. Joeirar pela urupema. Vid. Sas-
sar.
SESSEGA, s. f. Termo antiquado. As-
sento, logar ou solo em que alguma cou-
sa se edifica, como casa, moinho, lagar,
tanaria, etc.
— Vid. Socego.
SESSEGAR, V. a. Vid. Socegar.
SESSEGO, s. m. Vid. Socego.
SESSENTA, adj. 2 gen. num. Numero
composto de seis dezenas. — Ests livro
não contém mais de sessenta paginas.
— tí. m. U producto de seis multipli-
cado por dez. Diz-se do mesmo modo o
numero sessenta.
SESSENTESIMO, A, adj. num. ord. Que
segue ao quinquagcsimo nono.
SESSIL, ailj. 2 gen. (^Do latim sessilis,
de sedere\. Termo de botânica. Diz-se de
uma parte qualquer que não tem supporte
particular, que descíinça immediatamente
sobre um outro. — Flores sesseis. — Fo-
lhas sesseis.
— Alfaces sesseis ; aquoUas que uão
86 elevam.
— Em pathologia: Tumor sessil; que
não tom piJiculo.
-}- SESSILIFLOR, adj. 2 gtn. Que tem
tlores sesseis.
SESSO, s. m. (Do latim scssnin, eupino
de sedcre). O anus, ou o orificio posterior
por onde saem as matérias excromenti-
cias.
SESTA, ». /. A hora do meio dia, cal-
mosa no estio, em que ordinariamente se
dorme sobro comer.
— Dormir a sesta ; dormir depoia do
jantar.
— A sesta hatida; dormir a eoat* á
hora do moio dia.
— Ftcrever sesta por òalfvMa ; eng»-
nar-80 grosseiramente. V^id. Balbesta.
— ItefendKr das sestas ; defender do
calor do meio dia.
SESTADO, A, adj. Termo antiquado.
iSextavado, de seis faces ou lado*.
SESTARIA, s. f. = Significação incerU.
SESTEAR, >'. n. Dormir ou paliar a
BCAta, fallando da.i pesRoas ({uo so abri-
gam da calma; di&^e também dos ga-
dos.
— V. a. — Sestear o gado; condozil-o
para um local fresco, e abrigado do ca-
lor do moio dia.
SESTEIRO, s. m. Na província da Bei-
ra, ú uma medida de três ou quatro al-
queires.
— Alguns dizem que é peeo de arrá-
tel c meio.
SESTÉRCIO, «. m. (Do latim tesUr-
tius, de semis, o tertius). Termo de an-
tiguidade romana. Moeda de prata, que
fazia a quarta parte de um dinheiro, e
valia dous asses e meio : era do sestér-
cio que os romanos se serviam para soas
contas.
— Grande sestércio ; mooda fictícia
que valia mil pequenos eestercios, equi-
valendo cada um d'e3ted pequenos a um
vintém.
— Figuradamente: Pouco dinheiro.
1.) SESTO, s. m. Tormo antiquado. Si-
gnifica compasso ou outra qualquer me-
dida; d'aqui assestar, ou pôr por medida,
borncar, fiizer pontaria. E d'aqai vae
a sesto, por voe a compasso, à corda,
vara, ou medida.
2.) SESTO, adv. usado na seguinte lo-
cução a sesto, porem é err"» mui frequen-
te nos manuscriptos, passado para os im-
pressos ; deve ser a festo, ou em festo.
Vid. Festo.
1.) SESTRO, í. m. Pandeiro usado doe
foliões, sistro.
— Loc. : Tomar sestTOS; tomar más
resoluções, os peores partidos.
— Manha de besta.
— Mau parecer, mau conselho.
— Figurada e popularmente : Má ma-
nha, mau habito.
2.^ SESTRO, A, adj. Esquerdo. — iá
sestra "ião,
— Sinistro. — O sestro agouro.
SESTROSO, A, oaíj. ^De sestro, com o
suffixo <oso>\ Que tem sestro, manha,
que toma más resoluções, opiniões, con-
selhos, pareceres, contra a prudência e
honra.
— Cavallo sestroso; cavallo manhoso.
SETE
SETH
SETT
515
SESTRDOSO, A, adj. Vid. Sestroso.
SESUDO, A, adj. Vid. Sisudo.
"t" SESUS. Termo antiqnado. O mesmo
que Jesus.
SETA, ou SETTA, s. /. Frecha de ati-
rar com arco ; algumas eram armadas
de fogo. — S. Sebastião, soldado do im-
perador Diocleciano, foi morto ás settas.
— Setta do relógio; o ponteiro, ou
mào.
— Figuradamente : Cousa ou palavra
que fere, ou penetra a alma.
— Settas dos olhos ; olhos mui vivos.
— Settas de inspirações; inspirações
que impressionam muito na alma, e a
penetram.
— Termo de astronomia. Uma cous-
tellaçào, que confina com a via láctea, e
fica perto da águia; tent quatro ou cinco
estrellas, das quaes a da ponta se reputa
da quarta magnitude.
— Diz-se também: As settas do amor,
do adio, da inveja, etc.
SETACEO, A, adj. (Do latim seta). Ter-
mo de historia natural. Que é da natu-
reza das sedas, das cerdas.
— Que é provido de sedas, ou de cer-
das, fallando de um grande numero de
orgàos.
SETADA, ». /. Frechada, golpe com
setta.
1.1 SETE, adj. num. card. O numero
posterior a seis, e anterior a oito. Vid.
Sette.
2.) SETE, s. m. — O sete é ponto; um
jogo de dados.
— Aventurar sua pessoa a qualquer
sete; arriscar-se levemente.
— Os três setes ; jogo de cartas.
— Sete de levar; no jogo da banca, é
parada, que se faz do parolim vencido;
se o ponto a ganha, paga-lhe sete vezes
tanto como a primeira parada.
— Os setes ; as cartas de sete pontos,
08 pontos que pintam 7, como G e az, 5
e 2, 4 e 3 nos dados.
— Seie setes.
SETE EM RAMA. Vid. Tormentila.
SETEAR, ou SETTEAR, v. a. Ferir,
golpear co'u setta.
SETE-CASAS, s. f. plur. Casas e offi-
ciaes recebedores de impostos sobre gé-
neros, para consumo de Lisboa e seu ter-
mo, que segundo o seu regimento devem
ir despachar-se, e dar entrada n'ellas,
Dá-se-lhe hoje o nome de alfandega mu-
nicipal.
SETECENTOS, AS, adj. num. (Compos-
to de sete, e centos). Sete centenas,
700.
SETEESTRELLO, s, m. Termo popular.
Vid. Plêiades.
SETEIRA, ou SETTEIRA, s./. Nas for-
tificações antigas e naus, era aberta es-
treita por onde se enfiavam as settas dis-
paradas contra o inimigo. Usa-se nos edi-
ficios; é mais longa, e estreita que a
fresta.
SETEIRO, ou SETTEIRO, s. m. Solda-
do armado de settas.
— Homem que arremessa settas, que
as atira, homem que setteia.
SETELERAU, ou SETELERÁO, s. m.
Panno grosseiro de encapar fardos.
SETELEVAR, s. m. Vid. Sete (subst.)
f SETEMBRAL, adj. 2 gen. Que per-
tence a setembro.
SETEMBRO, ou SEPTEMBRO, s. m. (Do
latim september), O nono mez do anno,
anterior ao mez de outubro, e posterior
ao de agosto. — O mez de seteinhro e o
mez das vindimas.
— O dia 3 de setembro de 714 da
era vulgar; commemora a batalha do Xe-
rez, dada sobre o rio Guadelete, em que
Rodrigo foi vencido pelos mouros.
— O dia 28 de setembro ; anniversa-
rio do príncipe real de Portugal D. Car-
los.
— O dia 27 de setembro de 1863 ; a
celebração por procuração, em Turim, do
casamento de D. Luiz, rei de Portugal.
- — O dia 16 de setembro de 1837 ; o
nascimento de D. Pedro v, rei de Portu-
gal.
— Em setembro de 1857; a invasão
da febre amarella em Lisboa no reinado
de D. Pedro v.
— O dia 9 de setembro de 1836 ; a
resolução que teve logar a fim de resta-
belecer a constituição de 1820 em Por-
tugal.
— O dia 24 de setembro de 1834; a
morte de D. Pedro iv em Queluz.
— O dia 27 de setembro de 1810; a
batalha do Bussaco, dada pelo marechal
Massena por ordem de Napoleão.
— O dia 8 de setembro de 1750; ac-
clamaçào de el-rei D. José i.
— O dia 3 de setembro de 17õ8;
conspiração contra a vida de D. José i.
— O dia 2 de setembro de 1850; ac-
clamação de 1). Filippe I de Portugal.
SETEMEZINHO, A, adj. Diz-se de uma
creança, que nasceu aos sete mezes, an-
tes das nove luas.
SETEMPLICE. Vid. Septemplice.
SETENADO, uu SETTENADO, A, adj.
Termo de botânica. Folhas seteuadas ;
folhas de sete em rama; cada uma d'el-
las é composta de sete foliolos, adheren-
tes ao topo de um peciolo commum.
SETENTÍIO, s. m. Vid. Septeunio.
SETENO, ou SEPTENO, A, adj. Se-
ptimo.
— O seteno ; os sete annos de edade.
— Termo de medicina. O dia septimo,
critico. Vid. Septimo.
SETENTA, ou SETTENTA, adj. num.
card. 2 gen. Sete dezenas, ou sete vezes
dez, ou 7(.*.
SETENTRIÃG. Vid. Septentrião.
SETENTRIONAL, adj. 2 gtn. Vid. Se-
ptentrional.
7 SETHEANO, SETHIANO, ou SETHI-
TO, s. m. Membro de uma seita de gnós-
ticos que prestavam culto a Seth no sé-
culo II.
SETIA, *. /. Termo de náutica. Em-
barcação pequena da Ásia.
— Cano de madeira que leva a agua
aos cubos da roda dos engenhos; é mais
estreito para a ponta, para sair a agua
com maior impeto.
SETIAL, s. m. Termo de armador. As-
sento ornado, que se põe nas egrejas.
7 SETICADDA, adj. (Do latim 'seta, e
cauda'. Termo de zoologia. Que tem a
cauda terminada por uma seda.
SETIDOBRADO. Vid. Septemplice.
SETIFERO, A, adj. Termo de poesia.
Que tem sedas.
— Que produz a seda.
— Que diz respeito á seda. — Indus-
tria setifera.
-{- SETIFORME, adj. 2 gen. (Do latim
seta, e forma). Termo* de historia natu-
ral. Que tem a forma de sedas.
SETIGERO, A, adj. (Do latim setiger).
Vid. Setifero.
SETIM, s. m. (Do francez satin). Se-
da com a superfície mui lisa, e lustrosa.
— Adj. Diz-se de uma madeira do
Brazil, conhecida outr'ora pelo nome de
pequiá, pau setim.
SÉTIMA, ou SEPTIMA, s. f. — Uma
sétima; no jogo dos centos, são sete car-
tas do me»mo metal.
— Termo de musica. Sétima maior;
contém cinco tons, e um semitom maior ;
sétima menor; contém quatro tons, e
dous semitons maiores.
SÉTIMO, ou SEPTIMO, A, adj. num.
ord, 2 gen. Diz-se do numero posterior
ao sexto, e anterior ao oitavo. — No sé-
timo dia da creaçào do mundo Deus des-
cansou.
■ — A sétima parte.
SETINADO, A, adj. Que tem a super-
fície mui lisa, e lustrosa como o setim.
SETINOSO, A, adj. Vid. Setinado.
SETO, s. í/i. ^ Significação incerta.
7 SETOPHAGO, s. w. Género de inse-
ctivoros, em que se distingue o setopha-
go vermelho de Swainson.
SETOURA, s. /, Fouce de segar sea-
ras, ou feno.
SETRA, s. f. Termo usado na seguinte
locução : Fazer uma setra ao nome; fa-
zer um lavor com a penna, que aliás se
diz guarda, para se não roubar a firma
com facilidade.
SETRINA, s. f. Teima, pertinácia, ses-
tro, vaidade.
SETRO, s. m. Vid. Sceptro, orthogra-
phia preferível e mais em uso.
SETROSSOS, s. m. plur. Termo de
marinha. Cavilha de uma carreta na ar-
tilheria.
SETTA, s. f. Vid. Seta.
SETTE, adj. num. card. 2 gen. Vid.
Septe, orthographia mais em harmonia
com a etymologia latina septem, e pre-
ferida a sete.
516
HEU
SEU
SEU
SETUAL. Vi.l, Setial.
SEU, ou SEO, SUA, adj. jioss. Sifçiii-
fica d')!lli:, <l'<lln, Wellim, d'ellas. — O
seu Jilh'> í pouco cstwlioso, e applica-
(lo, — A sua cimn está be.ni mobilada. —
«Polo <[ii'J tolo o tempo, dcpoi.s que ar-
ribou de rulopuar até ont2[o, gastou cm
aporcohiinciitos porá a jornada. Disto foi
\o"() ElKov do IJintiio avisado, c niaadou
pedir Boccorro a Ellley de Pilo, que era
seu gcuro, e cl lo se preparou pêra espe-
rar Pêro Álasearenhas, que sabia que Uie
havia <lo dar muito trabalho pela expe-
rieacia que tiulia de seu saber, e esfor-
ço.» Barro.s, Década 4, liv. 2, cap. 1.
— «03 captiuos foram quarenta, e bum,
em quo entrou hum primo do mesmo al-
caide Laroz homem do muita estima en-
tro os mouros, o dous Xeques, e o adail
de Moleinacer, o o alcaide Dalcacerqui-
bir, com os mais *os seus caualleiros, no
despojo entrarão uoucnta, o três caual-
los muito bcni ajaezados, por a geuto
desta companhia sor toda nobre, e mui
bem atauia.la.» Damião do (Joes, Chro-
nica de D. Manoel, part. 3, cap. 70. —
«Mas o principal que se ha de procurar,
quo por amor intellectual, e vontade
promptissima sejamos vnidos sempre a
Deos, posto que desacompanhados de sa-
bor, c secos, c sem fumo de sensiuel de-
iiação padecendo, e leuando puramente a
inten<,'aõ em Deos, o quo seu sancto bene-
plácito se cumpra em nos inteiramente.»
Fr. Bartholomeu dos Martyres, Compendio
de espiritual doutrina, cap. 10. — « Por
tanto despois da alma estar bem purifi-
cada, e pacifica, sem respeito a seu mes-
mo iutorosse, nem ansiada por seu parti-
cular sallario do prazer sensiuel, ou de
paga de gosto, o consolo temporal, satis-
feita da suauidade, e brandura do Se-
nhor, sem presumir delle dureza, ou as-
pereza alguma, antes posta, e estribada
com toda a confiança uelle, quo sô, e todo
he amauel, doce, e brando, e dignissimo
de ser desejado.» Ibidem, cap. 13. — oE
he muito pêra espantar, que sendo nos a
mesma podridão, c bichos nos habilitou
cm seu amor taõ liberal, e graciosamen-
te, que primeiro nos amou, que pudesse
de nos ser anuído, com aduertencia, que
se naõ satisfizermos a este amor agrade-
cidos com outro amor, seremos mais mi-
scraueis, que se naõ ouueramos recebido
bem algum, nem o próprio ser natural.»
Ibidem, cap. 14. — «E aqui a scrua de
Deos, soja fevto em mi segundo tua pala-
ura. Acabando a Sonhora de pronunciar
estas palauras de pei-feyta fè e humildade,
logo foy celebrado e\n seu sagrado ventre
osto mysterio de infinita humildade e cha-
ridade, ajuntandose o Verbo diuino (como
disse) ;\ humanidade formada por virtude
do Spirito Sancto de seu puríssimo san-
gue.» Idem, Catecismo da doutrina chris-
tã. — «Também contra este mau<lamento
peccam todos os que tem companhia e
comercio com o demónio, ou o chamam,
c vsam do seu j)odcrio, como sam todoí
03 fcytieeiros, o feyticeirui», benzedeiros,
e benzedeiras, aduinluidorcs, agoureyro<,
lan(;adores do Bortes, c assi todos aquel-
les que vam buscar a qualquer destes
])era lhe administrar alguma cousa, ou
lho pedirem quiilquer outra ajuda.» Ibi-
dem. — a(Jra vendo a Sancta Madre Igre-
ja muytos dos seus filhos estarem nosla
ceguoyra, e mudeza s])iritual, presos nos
laços do diabo, por cada hum dcllos, o
em pessoa de cada hum dellcs, com ma-
ternal affeyto, começa no principio dcsUi
Missa bradar, e gemer ao Senhor dizen-
do. Os meus olhos sempre cstam aleuan-
tados ao Senhor, porque clle liurarà meus
peos do laço. O Senhor, olhay pêra mi,
e auey misericórdia de mi, porque pobre,
o desemparado sou.» Ibidem. — «De man-
so se tornou cruel, mandando fazer hum
injustíssimo homicídio. Seu filho Sala-
niam, o peccado da luxuria o trouxe a
ydolatrias, e grandíssimos desatinos, sen-
do dantes sapientissimo, e fauorecido de
Deos. Nam ha peccado que mais cegue a
alma, c a faça quasi carne, e mate uella
todo o lume da contemplaçam, toda do-
çura, e consolaçam spiritual.» Ibidem. —
«A estes bens do Ceo se seguem também
os do século, no Leuitico prometeo Deos
aos que guardassem os sabbados, que
lhes daria chuua a seus tempos, que a
terra criaria as searas, que as arunres
se encheriaõ de fructos, que ás colheitas
se seguiriaõ as vindimas, que às vindi-
mas se seguiriaõ as searas, que comerião
o pão em abundância, que habitariaõ nas
casas sem receyo.» I^acerda, Carta pas-
toral, pag. 248. — «Poucas horas depois,
frei João de S. Joseph recebia do gover-
no oi"dem de se recolher como desterrado
ao convento de S. João do Pendurada,
Eutre-Douro-e-Minho. Ordem urgente e
de cumprimento immediato, ordem como
as dava o conde de Oeiras, o seu velho
amigo Sebastião José de Carvalho. S.
João de Pendurada I u Bispo do Gr.ão Pa-
rá, Memorias, publicadas por Camillo
Castello Bi'anco.
— De seu; por si, de seu natural.
— A seu junta-se também d'elle, d'tl-
la, para tirar o equivoco, quanda ha mais
terceiras pessoas de diversos sexos. — O
seu pai d'ella tratou-a asperamente.
— liender-se a seus pés; prostrar-so
aos pés d'elle.
Posto nic tem fortiuiii em Uú estado,
K tanta n seus pós me tom rendido !
Não tonho que perder, ja do perdido,
Nem tenho quo mudar, ja de mudado.
Todo bem para mim hc acabado :
Daqui dou o viver ja por vivido ;
Que aonde o mal he tão couliecido.
Também o viver mais serA "scusado.
c\M., soxBroa, n.» 286.
— Deus lavou os pés dos seus discí-
pulos; Deus lavou os pés dos discípulos
que elle cluunou para bi. — iPoifl diz o
Euangclista que se aleuantou o Senhor
da cea dospoix de comido o Cordeyro, c
tirando a vestidura de cima, cingiove c3
Imnia toalha, e elle por hí lançou a agoa
em hunia bacia, e começou de lauar os
pccs de seus discípulos, c alimpalos com
a toalhíi que tiidia cingida.» Fr. Bartho-
lomeu dos Martyres, Catecismo da dou-
trina christâ.
— Afervora e imprime Deus em nosêoM
cora(;Zeg o seu anior; grava em noMas
almas o amor d'ellc. — «Com estas e com
outras muiuis sagradas cerimonias traba-
lha a sancta Igreja continuamente de re-
frescar, c auiuentar em nossas almas a
memoria e lembrança de lESV Christo
crucificado, e aferuorar e imprimir em
nossos corações seu amor.» Fr. Bartho-
lomeu dos Martyres, Catecismo da dou-
trina christã.
— Vòr 8. Pedro o seu Deus a seus
pés; vêl-o prostrado aos pés d'elle S. Pe-
dro.— «Ouuindo isto, qual he o vilissi-
mo bicho da terra que ainda se atreua
ser soberbo, e pertinaz em ódio, duro em
perdoar as injurias, difficultoso pêra fa-
lar a quem o agrauouV se este exemplo
de infinita humildade, e mansidam nam
bastar pcra arrombar hum tal coração,
bem poilcmos descõfiar de sua saluaçã.
Diz o Euãgelista que chegado o Senhor
a S. Pedro pêra lhe lanar os pês, pasma-
do Pedro de ver seu Jlestre, e seu Deos
a seus pés, e pêra tal officio, deu hum
brado. Senhor vos me aueis de lanar os
pés? Respondeo, Pedro o que eu faço
ainda que agt>ra não entendas porque o
taco, despois o entenderas.» Fr. Bartho-
lomeu dos Martyres, Catecismo da dou-
trina christã.
— Satisfazer aos seus appetites; satis-
fazer ás próprias paixões. — «E ja aqui
começaras a entender teu desatino, igno-
rância, e cegueyra, que deuendo tu de te
prezar somente da nobreza, e alteza de
tua alma, e assi empregar todos teus cuy-
dados, e diligencias em affermosear, e
ornar, e negocear sua saluaçam, nam o
fazes assi, mas todo teu estudo he, re-
crear, o trazer contente tua torpe carne,
satisfazendo a seus appetites, daudolhe
seus deleytes, esforçandoa contra o espi-
ritu, pêra quo o empeçonhente, pêra que
o destrua, e lanço em perdiçam |)erpe-
tua.» Fr. Bartholomeu dos MartjTes, Ca-
tecismo da doutrina christã.
— Mertcer com a graça de Deus o seu
amor; merecer o amor de Deus com a
sua graça. — «Fora de que hai poucos
taõ cõformes no humor, opinião, e costu- M
me, que naõ discrepem algumas vezes, e ■
se desaueniiaõ quebrado o vinculo de
amizade fraterna. Por tanto entregamos
sò a Deos, tratai de cuntentar-lhe, e me-
recer com sua graç.a seu amor.» Frei
Bartholomeu dos ilartyres, Compendio
de espiritual doutrina.
SEVE
SEXA
SEXT
517
— De seu (entendendo-se vagar) ; des-
cançado, com descanço.
— De seu se está; é claro, bem con-
cluído, visto, palpável, inquestionável,
obvio.
— Substantivamente : O seu ; aquillo
de que elle é senhor proprietário. — Dar
o seu a cada um.
— Pron. poss. quando não tem claro
o substantivo com quem concorda. — O
livro a que me reporto é seu. — A casa
em que fallo é sua.
SEVADEIRA, s. f. (Do francez siva-
dière). Vid. Cevadeira.
SEVANDIJA, s. f. Vid. Cevandija, e
Cevandilha.
SEVANDIJAR, v. a. Termo popular.
Tratar com falta de decência, tratar in-
decorosamente.
— Sevandijar-se, r. rejl. Portar-se in-
decorosamente, praticando actos, que aba-
tem, e que fazem descer da dignidade do
homem.
SEVANDUHA, s. /. Vid. Cevandilha.
SEVADO, part. pass. de Sevar.
SEVAR, r. a. Vid. Cevar.
SEVE, s. f. Vid. Sebe, e Seiva.
— 6'. m. — O seve ; jogo de dados;
outr'ora o sette é ponto (oriundo do in-
glez sevem.
SEVERAMENTE, adv. (De severo, com
o sufSso ementei'. De um modo severo.
— Punir, castigar severamente. — A po-
litica romaria, que defendia tão severa-
mente as religiões estrangeirai.
— Com gosto severo. — Isso é escripto
severamente.
— Com severidade, com rigor.
SEVERIDADE, s. f. (Do latim severitas,
de sei-e;-íís;. Qualidade do que é severo.
— A severidade produz a obediência.
— Grande regularidade. — A severi-
dade dos costumes, e do caracter de um
individuo.
— A severidade das mulheres; o cui-
dado com que elles repellem as tentações
amorosas.
— Diz-se do gosto das composições lit-
terarias ou artísticas. — A severidade do
gosto.
— Diz-se dos climas.
— Seriedade grave de quem educa,
governa; própria dos velhos, Vid. Se-
vero.
— Syn. : Severidade, rigor.
A severidade encontra-se principal-
mente no modo de pensar e de julgar.
O rigor acha-se no modo de castigar.
A severidade condemna facilmente sem
admittir escusa; o rigor nem suavisa a
pena, nem perdoa cousa alguma.
Diz-se o rigor do tempo, do inverno,
etc, e nâo se pôde dizer severidade, por-
que não é cousa que exista no animo,
senão que so experimenta no corpo.
A severidade oppõe-se a equidade oti
a indulgência; ao rigor oppõe-se a bran-
dura, e nos príncipes a clemência.
SEVERÍSSIMO, A, adj. superl. de Se-
vero. Mui severo. — Leis severíssimas.
SEVERO, A, adj. (Do latim severus .
Que impõe rigorosamente as cousas, que
não tem indulgência. — É mais severo
para os outros que para si mesmo. —
Um pae severo pt'^'''^ com seus jilhos.
— Diz-se das cousas em um sentido
análogo. — Uma puniçõj} severa.
— /6'orte severa, destino severo ; sorte,
destino que trata o homem sem indul-
gência. — Eu o exponhj aos rigores da
sort^ a mais severa.
— Clima severo ; clima frio e duro.
— Que exige uma exactidão rigorosa.
— Que indica, que annuncia que se é
severo. — Uma fronte severa. — Ar som-
brio e severo.
— Muito regular, conforme á regra.
— Uma virtude, uma moral severa.
— Termo de litteratura e d'artes. No-
bre e regular, sem elegância affectada,
sem ornatos affectados. — Um estylo se-
vero.
— Diz-se também de uma figura que
tem mais regularidade que attractivo. —
Uma belleza severa.
— ■ Leis severas ; leis que impõe penas
rigorosas.
SEVÍCIA, s. /. (Do latim scevitia).
Termo de jurisprudência. O mau trata-
mento que o marido dá á mulher, o pae
ao filho, o senhor ao escravo, quando ex-
cede os termos da correcção domestica,
etc.
— Dar sevícias ; no foro, dar sentença
de separação por sevícias, entre marido
e mulher,
— Figuradamente : Crueldade ferina,
de fera.
SEVICIAR, V. a. Fazer sevícias, mal-
tratar cruelmente castigando, a mulher,
filhos, escravos, ou pessoas subordinadas
a quem as pôde castigar com modera-
ção.
SEVISSIMO, A, adj. superl. de Sevo.
Mui sevo.
1.) SEVO, s. »n. (Do latim sevum). Vid.
Sebo, ou Cebo.
2.) SEVO, A, adj. (Do latim scevus .
Cruel, sanguinário, deshumano, cruento.
— Que faz sevícias, que castiga sevi-
ciando.
SEVOSO, A, adj. Vid. Seboso.
SEXAGENÁRIO, A, adj. (Do latim se-
xagenarius, de sexaginta). Que tem ses-
senta annos. — Um homem, uma mulher
sexagenária.
— Divisão sexagenária; divisão que
se faz de um todo em sessenta partes, os
minutos em sessenta segundos, um segun-
do em sessenta terceiros, etc.
SEXAGÉSIMA, *. /. (Do latim sexagé-
sima, subentendendo-se dies, de sexa-
ginta). O domingo que precede quinze
dias o primeiro domingo da quaresma, —
O domingo da sexagésima.
f SEXAGESIMAL, adj. 2 gen. Termo
de matbematica. Que se refere ao nume-
ro sessenta.
— • Fracções sexagesimaes ; aquellas
cujo denominador é uma potencia de ses-
senta.
— Divisão sexagesimal ; a divisão do
circulo em 360 graus, subdivididos cada
um em 60 minutos, e estes em 60 segun-
dos, e estes em 60 terceiros, etc. —
Graus sexagesimaes.
SEXAGÉSIMO, A, adj. (Do latim sexa-
gesimusi. Que fica depois do quinquage-
simo nono.
t SEXANGULAR, adj. 2 gen. Termo
didáctico. Que tem seis ângulos.
SEXANGULO, s. m. Vid. Hexágono.
SEXCENTESIMO, A, adj. (Do latim sex-
centesimus). Correspondente ao numero
de seiscentos. Diz-so talvez melhor seís-
centesimo.
f SEXDECIMAL, adj. 2 gen. (Do latim
sex, e decimal). Termo de mineralogia.
Que tem a forma de crystaes terminados
por dezeseís faces.
f SEXDIGITAL, adj. 2 gen. (Do latim
sex, e digitus). Diz-se de uma mão e de
um pé que tem seis dedos.
i SEXDIGITARIO, A, adj. (Do latim
sex, e digitus). Que nasceu com seis de-
dos.
— Substantivamente : Um sexdigíta-
rio.
f SEXDIGITISMO, s. m. A producçào
de seis dedos n'uma ou mais extremida-
des.
7 SEXENNAL, adj. 2 gen. (Do latim
sexennis, de sex, e annus). Que tem lo-
gar todos os seis annos.
SEXENNIO, s. m. (Do latim sexennium).
Espaço de seis annos.
7 SEXIFERO, A, adj. (Do latim sexus,
e ferre). Termo de historia natural. Que
é munido de órgãos sexuaes.
SEXMA, s. /., ou SEXMO, s. m. A sex-
ta parte de uma vara ou corado.
SEXO, í. m. (Do latim sexus). DifFe-
rença constitutiva do macho e da fêmea
nos animaes e nas plantas. — O sexo
masculino. — O sexo feminino. — Mui-
tas plantas reúnem os dous sexos nas
suas Jiôres.
— NòU) ter sexo ; estar privado, por
accidente ou por velhice, das faculdades
sexuaes .
— Collectivamente : Os homens, ou as
mulheres.
— O bello sexo ; o sexo amável, as
mulheres. — Amar o bello sexo.
— O sexo fraco; as mulheres.
— O sexo devoto; as mulheres.
SEXQUIALTERA. Vid. Sesquialtera.
SEXTA, s. /. Termo de antiguidade.
A terceira das quatro partes do dia en-
tre os romanos.
— Termo de liturgia canónica. Hora
canónica entre a terça e a nôa,
— No jogo dos centos, são seis cartas
seguidas do mesmo metal.
518
SEXT
SI
SIAK
— Tonuo de uiu.iica. A sexta 6 ou
maior, (iiiamlo contúiu 'juatio tuna c uui
Bcmitoin maior, ou viewn-, <|uaiido coii-
t6rn tro.s tou.s o douH seiíiitoiís niaioruu.
SEXTA-FEIRA, .'. /. <-> «i^xto dia da se-
mana, anterior ao Habbado, e posterior ;l
quinta feira, entre quiuta-feira o o sab-
bado.
— Sexta-feira da Paixão, ou sexta-fei-
ra santa; sexta-fcira da Hcmana de cn-
doen<,'a8, dôrea ou paixões do tíeahor, dia
de »ua morte.
SEXTANTE, s. m. (Do latim 8ej:laniiím,
de *«J). Itistrumonto de reflexão, tendo
um limbo dividido em sessenta ^raus, que
serve para uiodir os anf^ulos; esto inatru-
mento njlo tom necessidade do estar li-
xo, conserva-se na mào durante a obser-
vaçílo, o que o torna particularmente útil
aoa marinheiros.
— Termo de geometria. A sexta parte
de um circulo, arco de sessenta graus.
— i*equena constellaySo boreal.
SEXTARIO, s. m. (Do latim sextariua).
Medida romana para liquides e seccos, a
sexta parte do congio o doze cyathos.
SEXTAVADO, A, adj. Que tem seis ía.-
ces e seis ângulos.
SEXTEIRO, s. ni. (Do latim sextarius).
A sexta parto de um moio, segundo toda
a dittercn(;a ou numero de medidas do
que cUo constava; por exemplo, so cons-
tava do doze alqueires, era o sexteiro de
dous; 86 de trinta, era de cinco alquei-
res ; e sendo de sessenta, constava de
dez.
SEXTERCIO, s. m. Vid. Sestércio.
SEXTIL, adj. 2 gm. (Do latim sexti-
lis). Termo do astrologia. Asi)ecto sex-
til ; o aspecto de dous planetas que estão
afastados entro si sessenta graus ou dous
signos inteiros, que fazem a sexta parte
do zodiaeo.
SEXTILHA, s. f. Vid. Sextina.
SEXTINA, s. /. Estancia de seis ver-
sos em que as ultimas palavras vem para
o fim dos versos das sextinas seguintes,
sempre por esta ordem : o ultimo, o pri-
meiro, o penúltimo, o segundo, o quarto,
o terceiro.
SEXTO, A, adj. (Do latim sextas). Diz-
se do numero que fica entre o quinto e
o sétimo; que é posterior ao quinto e an-
terior ao sétimo. ■ — O sexto dia lectivo.
— Substantivamente: O sexto. — «Que
o primeiro giro fora para impropério da
extenção dos brat,'os de Ohristo, o segun-
do em ilesprezo da sua mysteriosa coroa,
o terceiro em ludibrio de seu precioso
pranto, o quarto cm afronta de seu diui-
no rosto, o quinto cm otfensa de seu amo-
roso lado, o sexto em detraci;ào de sua
inefauel diuindade.» Lacerda, Carta pas-
toral, paiT. liU.
SEXTOGENITO, A, adj. O sexto geni-
to, o sexto filho.
-j- SEXTULO, s. Vi. (,Do latim aextuk,
de »ex). Termo de pharmacia. Peso de
quatro cscropuios, equivaleato a b gram-
mas e 10 (•iMitiírniuiinas.
SEXTUMVIRATO, *. m. Tribunal de seis
magi Tirados.
— (Cilicio de sextumviro.
SEXTUMVIRO, «. ni. Magistrado do
uni tribunal ou junta composta do seis.
SEXTUPLO, A, adj. (Du latim sextu-
plos, de ítx). Quo vale seis vezes tanto.
— 12 c sextuplo de 2.
— ti. 111. Numero sextuplo. — O sex-
tuplo de 12 t 2.
SEXUAL, adj. 2 ijen. (Do latim texua-
lia, de sexus), Quo diz respeito ao sexo,
quo o caracterisa nos animaes o nas plan-
tas. — Partas sexuaes.
— tíystema sexual ; theoria que reco-
nhece 03 dous sexos nas plantas. — Lin-
neo para estabelecer o systema sexual
das plantas, fez vêr os pistilios o os es-
tames em todas as tlôres e em todos os
vegetaes.
— Órgãos sexuaes ; nos animaes, as
partes geuitaes externas ; nas plantas,
os estamcs e os pistilios.
— Quo diz respeito ao sexo. — Irutin-
cto sexual.
SEXUALISMO, ou SEXUALIDADE, s. f.
O que forma o sexo, qualidade, modo de
ser do que ó sexual.— .á sexualidade
dus animais, das plantas.
— Modo de divisão das partes genitaes
sobre um mesmo individuo ou em indivi-
dues differentos.
— Doutrina dos botânicos sexualistas,
que admittem nos vegetaes sexos análo-
gos aos dos animaes.
SEXUALISTA, s. 2 gen. BoUnico que
segue o scxualismo.
SEYAMENTO, s. «i. Termo antiquado.
Exe(|uias, funeral.
SEYAR, V. a. Vid. Seiar.
SEYAVOGA. Vid. Seiavoga, e Seiar.
SEYFIA. Vid. Seifia.
SEYO. Vid. Seio.
SEZÃO. Vid. Sesão, Sasão, ou Sazão.
SEZENO, A, adj. Termo de tecelão.
Pa II no sezeno; panno de IGOO tios de
ordidura.
SEZIRÃO. Vid. Cezirão, ou Cizirão.
SEZONATICO, A, adj. Diz-se do lugar
onde ha sezões.
— Sujeito a sezões. — Sitio sezona-
tico.
— Maleitoso, sujeito a maleitas.
SEZÕES, *. /. plur. Termo de medici-
na. Vid. Sezão.
SEZUDO, A, adj. Vid. Sisudo.
— Serio. — Homem sezudo.
SHILLING, s. J/l. (Do inglez shilliiig).
Moeda de prata ingleza que vale 180
reis ao par da nossa moeda; vinte d'elles
fazem uma libra esterlina, vinte o um fa-
zem um guinéo.
SI, pron. pess. sing. da terceira pes-
soa, que se emprega com aa preposições
a, de, para. Vid. Sigo.
— Diz-se das pessoas o das cousas.
Quando se diz daa pessoas, refer&4e em
geral a um individuo que deep<;rta uma
idêa vafía, e indeterminada. — Cada um
só pensa em si.
— Pijde tautbcm tomar-se como am
nomo de pOA.soa, n'um sentido determina-
do, quando se trato de evitar um equi-
voco. — Um mancebo, obeiitcendo a atxí
pae, traballia para si.
— Emprega-.io também quando a ter-
ceira pessoa vem em relaçio comaigo
mesmo.
— Fazer as coxisas de si memo ; fa-
zei-as por seu moto próprio, sem mando,
ou pcrsuasilu.
— Exceder-se, ou levantar-se sobre si;
fazer obra» maior.es que as do coetumc.
— Homem sobre si; homem que u2o
conversa outros, e tem ar do esquivo e
soberbo.
— Estar em si; muito em si; senhor
d* si; o que nSo está turbado de paixÃo,
mas em seu accordo e valor.
— Nascer por si ; sem ser semeado,
nem cultivado.
— Tomar sobre si ; fazer volta do erro,
imprudência que ia a fazer, considerar
no que cumpre.
— Este homem não está em si ; está
como alienado, distrahido, desattento.
— Cair em si ; conhecer o erro em que
tinha caído, advertir no descuido, ou
erro.
— Também se diz : Maior que si mes-
mo.
— De si mesmo; de si próprio.
— Diz-se também outro elle quando é
idêntico de uma terceira pessoa do que
falíamos.
— Vid. Sim.
— Adagio e provérbio:
— Nào dar já por si, nem pela al-
barda.
SIA. Forma variável antiquada de
seer. Estava.
SIADES. Forma antiquada. Estejaes.
SIAHGOUSCH, s. m. Termo de zoolo-
gia. Quadrúpede do tamanho de um gato,
que dizem ser na c;i<;a o guia do leSo.
SIALAGOGO, A, a^ij. (Do grego *iaZt>n,
e agúi. Termo de medicina. Que excita a
salivar. — Medicamento sialagogo.
— Emprega-se também como substan-
tivo. — O sialagogo.
SIALISHO, s. m. Termo de medicina.
Salivaç.^o.
SIALOLOGIA, *. /. Do grego siahn, e
loqos). Termo de medicina. Discurso so-
bre a .«aliva, tratado sobre a saliva.
f SIALOLOGICO, A, adj. Termo de
medicina. Que tem relação com a aiaio-
logia.
SIAR, v. a. Termo de volateria. Siar
a ave as azas; cerral-as, dejx>is de afer-
rar a ralé, para cair com cila mais de-
pressa.
— Termo de náutica. Vid. Ciar, e
Seiar.
SICA
SIDE
SIDE
519
SIATICA, s. f. Vid. Sciatica.
SIAVOGA, s. /. Vid. Ciavoga.
1.. SIBA, s. f. (Do latim sepia^. Ter-
mo de zoologia. Peixe vulçar.
2.1 SIBA, ou GIBA, s. /.' Vid. Moldar,
e Molde.
SIBALA, «. /. Nome dado em Solor a
certo cenero do palmeiras bravas.
SIBANA, s. f. Termo antiquado. Bar-
raca, choupana, tenda de campo, palho-
ça, cabana.
SEBAR, s. m. Termo da Ásia. Embar-
cação maior que o irarangue.
SIBILANTE, part. act. de Sibilar. Que
sibila. — Vento sibilante.
Bem como quando a flamma, quo ateada
Foi nos áridos campos, (assoprando
O sibilante Bóreas) animada
Co'o vento, o secoo mato vae queimando :
A pastoral companha, que deitada
Co'o doce sorano estava, despertando
Ao estridor do fogo, que se ateia,
Eecolhe o fato e foge para a aldeia.
CAM., tus., cant. 3, est. 49.
SIBILAR, V. n. (Do latim sibil<ire).
Assoprar com um zunido agudo.
— Assobiar, como a cobra, a serpente.
SIBILARIO, aãj. Vid. Sibillico.
SIBELLA, ou SYBILLA, s. f. Çòo latim
sybilla), Xome dado a muitas mulheres
que se consideravam como inspiradas dos
deuses, e que appareciam em diversas
partes do mundo. Todos os auctores va-
riam sobre o numero, e nome das sybil-
las; a mais notável de todas é a sybilla
de Climas, na Itália. — Predicções da sy-
billa. — Os furores du sybilla. — Os li-
vros da sybilla.
— Figuradamente : Diz-se de uma mu-
lher de edade que é má.
SIBILLICO, ou SIBILLINO, A, adj. (Do
latim si/biUinus]i. Quo pertence a uma
sybilla. — O século sybillino. — Os li-
vros sybillinos.
— Livros sybillinos ; livros que conti-
nham as pretendidas predicções das sv-
billas.
— Estylo sybillino ; estylo inintelligi-
vel, como é o das taes prophetizas.
■}• SIBILLISMO, s. 7/1. Crença nos li-
vros sybillinos.
— Raciocinio, opinião sobre os livros
sybilUnos.
" SIBILLISTA, s. m. Livro das sybillas,
composto por ellas.
SIBILO, s. m. (Do latim sibilus). Ter-
mo pouco em uso. Assobio agudo, silvo.
f SIBITAR, V. a. Termo de náutica.
Assobiar, fazer zunido agudo.
SICARIATO, a. m. Morte praticada com
faca. ou adaga.
SICÁRIO, s. m. (Do latim sicarius).
Assassino, armado de faca de ponta, ada-
ga, e similhantes armas occultas e alei-
vosas. — Pagar a sicários.
— Diz-se sobretudo dos judeus, que,
durante o cerco de Jerusalém, matavam
os que não eram do seu partido com es-
padas curvas á. maneira de punhae.s, que
03 romanos denominavam sica.
SICCATIVO, A, adj. (Do francez sicca-
tif). Que tem a propriedade de fazer
seccar.
— Substancias siccativas ; diz-se par-
ticularmente das substancias que fazem
seccar em pouco tempo as cores com que
se misturam.
— Substantivamente : Um siccativo.
SICERA, a. /. Todo o licor que pôde
embebedar, excluindo o vinho.
-}■ SICILIANNA, s. /. Espécie de dança.
— Avia que se executa, a-|-, em mo-
vimento moderado ; cada medida d'esta
ária começa por três colcheias, sendo a
primeira um ponto após uma nota.
SICINNIS, s. m. (Do latim sicinnium).
Espécie de baile ou dança, de que usa-
ram os antigos.
SICINNO, A, adj. Próprio dos sicinnis-
tas, que dançavam cantando nas exéquias
sons tristes, e melancólicos.
SIGLA, s. /. Vid. Sigla, pois Sicla é
talvez erro.
SICLO, s. m. (Do latim siclus). Moeda
dos judeus, de prata pura, valendo qua-
tro drachmas, igual a 800 reis.
— Grande siclo ; oito drachmas ou
lâ>600 reis.
— Siclo árabe; moeda da Per.sia que
valia sete óbolos atticos e meio, segundo
a opinião mais geral, e oito óbolos se-
gundo alguns auctores.
— Havia também siclos de cobre.
SIGOMGRO, s. m. Vid. Sycomoro.
SICOPIRA, s.f. Madeira muito rijado
Brazil, multo boa para empregar na cons-
trucção. Vid. Sipipira.
— Sicopira merí, sioopira açu; menos
forte de fevera e mais entremeada de
branco,
SICRANO, A, s. Nome usado para de-
signar pessoa incerta; corresponde a Fu-
lano.
SICROCIO, A, adj. — Unguento sicro-
cio ; unguento usado na pharmacia,
— Cousa que significa mais do que sôa.
SIDERAÇÃO, s. /. (Do latim sidera-
tio). Termo de astrologia. Influencia sú-
bita attribuida a um astro, sobre a vida
ou saúde d'uma p&ssoa.
— Termo de medicina. Estado de ani-
quilação siibita, produzida por certas doen-
ças, que parecem atacar os órgãos com a
rapidez do raio, ou do relâmpago, como
a apoplexia.
SIDERAL, adj. 2 gen. (Do latim side-
ralis, de sidus\. Termo de astronomia.
Que tem relação com os astros. — In-
Jluencia sideral.
— Astronomia sideral; estudo das es-
trellas,
— Revolução sideral ; o tempo que gas-
tam os planetas em fazer o seu gvro em
roda do sol.
— Dia sideral ; tempo que corre en-
tre dous gyros consecutivos de uma mes-
ma estrella ao meridiano de um logar. O
dia sideral ó um pouco menor que o dia
ordinário; differe d'elle pouco mais ou
menos quatro minutos.
— Hiyra sideral ; hora determinada di-
vidindo o dia sideral em 24 horas,
— Pêndulo sideral ; aquelle que mar-
ca o tempo sideral,
— Anno sideral ; tempo comprehendi-
do entre duas coincidências successivas
do centro do sol com uma mesma estrel-
la; é de 265 dias, 6 horas, 9 minutos e
12 segundos, um pouco maior que o anno
trópico ou solar, e um pouco menor que
o anno anomalistico. O anno sideral co-
meça quando o sol parece estar no ponto
equinoxial da primavera, e termina no
gyro apparente do astro no mesmo pon-
to. O anno sideral excede o anno trópi-
co médio de 20' 20", em consequência da
precessão dos equinoxios. O anno side-
ral ó o anno trópico augmentado do tem-
po necessário ao sol para descrever um
arco egual ao movimento dos equino-
xios.
— Bevolução sideral da lua ; tempo
empregado pela lua para tornar a occu-
par a mesma posição em relação ás es-
trellas.
— Observações sideraes ; observações
supersticiosas que os árabes introduziram
na medicina.
f SIDERANTE, adj. 2 gen. Que é pro-
duzido pela sideração.
SIDÉREO, A, adj. (Do latim sidereu-s).
Termo de poesia. De astro, de estrel-
las.
f SIDERIDES, s, /, p?wr. Termo de mi-
neralogia, Faniilia mineral que contém o
ferro.
f 1.) SIDERITE, s. /. (Do latim sideri-
tis). Substancia metallica que se encon-
tra combinada com certas espécies de
ferro.
2.) SIDERITE, s. f. (Do latim sideri-
tis). Certa planta de que faz menção Plí-
nio, e de que ha varias espécies.
SIDEROGRAPHIA, s. f. (Do grego si-
deras, e graphó'. Arte de gravar em aço.
"1- SIDEROLITHICO, ar/J. Termo de geo-
logia. Que tem rochas ferruginosas. — As
bacias siderolithicas.
SIDEROMANCIA, s. /. (Do grego side-
ras, e vuinteia). Arte de predizer o fu-
turo por meio do ferro em braza, sobre
o qual se deitava palha, para observar,
pelas figuras resultantes de suas faiscas
ou cinzas, o que se devia temer ou espe-
rar do futuro.
f SIDEROPLESITE, s. f. Ferro carbo-
natado magnesiano crvstallisado.
SIDEROSE, s. /. Mineral que é um car-
bonato de ferro. E muito variado nas suas
formas.
7 SIDEROSTATO, s.f. Instrmnento in-
ventado por Forcault, e que permitte á
astronomia estudar a luz dos astros exa-
520
SIGA
SION
8IGN
ctamcnto como o phyeico estuda a luz do
sol na oamarn oscura.
SIDEROTECHNIA, *. /. (Do prepo «t-
dero», o tiirknr). Arte fio tratar das mi-
na.^ (Ic. fcmi |>aia i'Xlrahir o metal.
f SIDEROTECHNICO, A, adj. Que diz
respeito á siileiíiteehiiia.
f SIDEROXYDO, .«. »«• Género quo en-
cerra (IS (ix\ii<>H (Ic. ferro.
f SIDERURGIA, s. f. Fabrico do fer-
ro; art(^ lie trabalhar o ferro.
f SIDERÚRGICO, A, adj. Quo diz res-
peito il siderurgia. — A industria side-
rúrgica.
SIDO, part. pass. de Ser. Emprega-so
com os auxiliares do possessão.
SIEDA, s. f. Assento, cadeira, sede,
ou tribunal do juiz. Vid. Seeda, ou Seda.
SIEIRO, s. m. Vid. Cieiro.
SIENCIA, s. /. Vid. Sciencia.
SIESTRA, s. /. Termo antiquado. Ses-
tra.
— Mão siestra ; mão sestra, esquerda.
SIFAC, s. ni. Termo do cirurgia. O
peritoneu.
SIFÃO, s. m. Vid. Bomba, c Siphão.
SIFRA, í. /. Vid. Cifra.
f SIGAES, ou SIGAIS. Forma irregu-
lar do verbo seguir na segunda pessoa
do plural do modo imperativo ou conjun-
ctivo. — tDe lhe esquecer do que vos de-
ve não TOS espanteis, que essas cousas
tanto que as passa logo lhe não lembram.
Os cavalleiros, que defendem vossa for-
mosura, tem muita raz.ão de fazer mara-
vilhas, e pêra obrigardes os homens a is-
so as mostras de vosso parecer bastam,
ainda que este costume não sigaes : oa
que estão presos vos peço que mo man-
deis dar, pois agora já melhor vos servi-
rão soltos, que não em parte onde tão
pouco podem aproveitar.» Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 102.
— «E vós senhora, disse o outro contra
Polifcma, que me mandais que faça. Que
sigais o mesmo caminho de vosso compa-
nheiro, respondeu ella, e também de mi-
nha parte digais ás damas, que ainda que
o conselho da senhora seja bom, melhor
é não se fiar de ninguém, i Ibidem, cap.
125.
SIGALHO, s. ni. Termo popular. Bo-
cadinlio.
SIGANARIA, s. /. Vid. Ciganaria.
SIGANICE, f. f. Acto de ciganos, gyro
d'elles. Vid. Ciganice.
— Emproga-s6 também figuradamente.
SIGANO. Vid. Cigano.
SIGARRA. Vid. Cigarra.
SIGARRAR, ou CIGARRAR, v. a. To-
mar na bocca fumo do cigarro. Vid. Si-
garro.
SIGARRILHA, s. /. Diminutivo do Si-
garro.
SIGARRINHO, s. »i. Diminutivo de Si-
garro.
SIGARRITA, s. /. Diminutivo do Si-
garro.
SIGARRO, ê. m. Tabaco de fumo, pi-
cado, o enrolado em papel, que se sorve
por uma ponta, depois de acceso pela oa-
tra.
SIGILLAÇAO, «. f. Impressão, marca,
sifíiial.
— Termo de antiguidade. AcçSo de
marcar, ou notar o sacerdote as victi-
mas.
SIGILLADA (TERRA s s. f. Termo de
piíarinacia. Substancia arpjillosa, <le que
se formam grandes pastillias no Egypto,
d'oiulo vinha antigamente, sellada com o
sêllo do grão senhor, d'ondc tivera o no-
me: alli é usada como adstringente, e na
Europa sem uso.
SIGILLADO, part. pass. de Sigillar.
Sellado, fechado com sêllo, ou sinete.
— Usa-se também no sentido figurado.
SIGILLAR, V. a. (Do latim sigillare),
Sellar, pôr o séllo em alguma cousa.
— Ant. Penhorar, tomar alguma cou-
sa para penhor de alguma divida ou
crime, porque d'este acto de penhora se
passava instrumento, em que se punha a
tirma, sif^nal, ou sêllo do juiz.
SIGILLARIAS, s. /. pi. (Do latim sigil-
lar iw). Festas que se faziam em Roma
depois das saturnaes.
SIGILLATA (TERRAL. Vid. Sigillada.
SIGILLO, s. 7». (Do latim siyilhim).
Termo antiquado. Sêllo, sinete de sellar.
— Figuradamente: Sinete mysterioso.
2.) SIGILLO, s. VI. Segredo.
— O sigillo natural; segredo fiado á
probidade d'outrem.
— Sigillo da confissão ; não revelar o
confessar os peccados do penitente que
confessou.
SIGLA, s. f. iDo latim siglia), Diz-se
das letras iniciaes empregadas como si-
gnaes abreviativos nos monumentos, me-
dalhas, e manuseriptos antigos. Ha siglos
em que uma mesma letra é dupla.
SIGNA, s. /. Vid. Sina.
SIGNACULO, s. m. Vid. Sêllo.
SIGNAL, s. m. Vid. Sinal. -—« Pede-
vos se quereis escusar isto por onde os
outros passam tanto contra sua vontade,
que de duas cousas façaes uma, ou vos
torneis por onde viestes, ou promettaes
de sempre viver no conto dos tristes, e
pêra signal d'isto, deixeis vosso escudo,
c o nome de vossa pessoa escripto cm o
brocal delle; porque assim o quer a se-
nhora a quem serve.» Francisco de Mo-
raes, Palmeirim de Inglaterra, cap. 21.
— «E lá soube como já venceu o guar-
dador c defensor do CAstello d'Almourol,
e por força d'armas ganhou o escudo do
vulto de Miraguarda, e o traz comsigo
pcra vos prcsentar de mistura com totlo-
íos dos sinalados homens, que na corte do
imperador Palmeirim, pêra ondo agora
cUe vai, se com elle quizercm combater
om signal de serdes a mais fermosa do
unindo : de cuja lembrança tira torças pcra
tamanhas cousas, e lhe nasce ousadia pê-
ra perder o medo a commettal-as.t Eli-
dem, cap. 80. — • Bem vejo, disAe Dra-
inusiaudo, que dizeis verdade, que os si-
gnaes de vossa viria o manifestam : porém
com toda vossa paixão, pois \)<ir esta terra
andaes, saber-me-heis dizer onde acharei
um cavalieiro, que traz comsigo uni es-
cudo, em que vai tirada polo natural a
mais fermosa cousa, que iiatureza criou
com letras ao pé que diz«-m .Mira^íiiarda?»
Ibidem, cap. Hl. — «Tanto a apertaram
aquellas mudançaa nov;i8, que nlo se
podendo soflrrer, se recolheu á sua ca-
mará com Dramaciana, e a portas cer-
radas começou torcer as mãos, c fazer
outros signaes conformes ao (]ue sentia,
lançando lagrimas por suas faces abaixo;
de que Dramaciana houve gram dó.»
Ibidem, cap. 0.'?. — t Porém sendo caso
(jue sua confiança o engane, que veja a
peça que a<}ui ha de deixar em signal de
vencido; que o escudo, que pede, quer
sempre que lhe fiquem testemunhas de
sua victoria.» Ibidem, cap. 110. — «Se-
nhor cavalieiro, se o teni[)o e o lugar mo
não impediram a vontade, eu vos mostrara
a que tenho pêra vos servir ; e pois agora
não posso tirar daqui roais que a magoa,
com que fico de vos não podor acompa-
nhar, peço-vos, que em signal do que vos
quero, tomeis do mim este anel, que é
jóia, que muito estimo, e fique por pe-
nhor d'outra que vos eu desejo dar de
muito maior preço.» Ibidem, cap. 113.
— «<J imperador se mandou leuar a uma
torre, onde tudo se via; e vendo cousa
tão notável e espantosa, não o houve por
bom signal, que bem lhe pareceo, que já
pcra lançar os contrários dos termos de
seu império, seria forçado fazer-se por
força e com despesa de muito sangue de
seus amigos e vassalos.» Ibidem, cap.
160.
Casarás pelo natal
Com mulher som toa perda ;
Sou corpo como cristal,
E achir-lhc-has hum »ignal,
No mrio da coxa es<)uerda.
ou. VICEKTS, FÀBÇAS.
Sois VÍ8 e o nosso Fernando ;
Vi53 negaça o que mostraes,
c cUe aiida-o mais mostrando ;
que hei de crer destes ngnaeaf
Eêcute-me.
uiTOiíio ra£STK9, Acrroa, pag. 307.
— «Terceyro homem se offereceo para
descer, porem com condição que o reti-
rassem ao primeyro signal que elle des-
se.» Cavalieiro de Oliveira, Cartas, liv.
1, n." 15.
Triumphador do mundo a ti me envia.
Suiiá hostes em frente d'e3tes moioa
(1 ííyriíi/ 9o apuard.ini da peleja...
.\ntos o da victoria. Mas tal preço
Tem Catão a seus olhos, tanto adora
SIGN
SIGN
SIGN
521
O dictador magnânimo as virtudca
De seu grande iuimigo, que estremece
Pela primcií-a vez, — c mal se atreve
A seguir a fortuna que o precede.
OABBETx, CATÃO, act. 2, SC. 5.
— «A descul}3a é tão extravagante
como a de um mouro em Coimbra, que
estava no collegio de S. Bento; e vindo
de fijra com siguaes cie não ter bebido
agua, desculpa-se ao abbade que bcher vi-
nho porque já 7ião estar vioro. Dizia o
abbade ironicamente: «Estar bom catho-
lica ás direitas...» Bispo do Grão Pará,
Memorias, publicadas por Camillo Cas-
tello Branco, pag. 145. — «Quando não,
fallem por signaes de exercitatorio, in-
clinando a orelha a modo de quem appro-
va, cabeceando a uma e outra parte co-
mo cónego que entra em coro, ou acolito
que incensa o povo.» Ibidem, pag. 57.
— «O dicto por não dicto. Acompanha-
me sem tugir nem mugir, e e.=gueira-te
apenas eu te der signal.» Alexandre
Herculano, Monge de Cister, cap. 18.
f ■ SIGNALADO, part. pass. de Signalar.
Vid. Sinalado.
E de adargas, e espadas,
e assi aas cutiUadas
pellejam atee morrer,
sem se deixarem veuccr,
fazem cousas signaladas.
a. DE BEZESDB. MISCELLijrE A .
SIGNALAR, V. a. Vid. Sinalar, e Assi-
nalar.— «O primeyro hc tido do Livro
de Job onde diz, Deos signala a mãe de
todos os homens a fim que cada hum del-
les conheça as suas obras.» Cavalleiro de
Oliveira, Cartas, Hv. 1, n." 44.
SIGNATljRÂ, s. /. Vid. Assignatura.
— «Gomtudo também algumas vezes (sem
fazer offensa ao livre arbítrio da vontade
humana) a signatura externa do corpo,
he lingua que manifesta os occultos aíFe-
ctos do animo ; porque como dis Adaman-
cio, 4. o mesmo silencio da boca, saõ vo-
zes com que a natureza se explica.» Braz
Luiz d'Abreu, Portugal medico, pag. 319,
§ 43.
SIGNIFERO, s. m. (Do latim signife-
Tus). Entre os romanos antigos, o mesmo
que entre nós alferes.
SIGNIFICAÇÃO, s. /. (Do latim signi-
jicatio). O que significa uma cousa. — A
significação de um quadro, de um sym-
holo. — (iNa cabeça tinha huma cousa
como barrete redondo de vergas douro,
esmaltadas todas de verde e roxo, e en-
cima no cucuruto tinha hum leão peque-
no douro posto com as mãos e peis sobre
huma bolia redõda também douro, de
que o leão cornado como ja algumas ve-
zes tenho dito, significa el Rey, e a bolla
o mundo, e pela significação destas insí-
gnias se declara ser el Rey leão coroado
sobre o trono do mundo, e tinha na mão
VOL. T. — 66.
huma vara de marfim muyto alva a ma-
neyra de cetro, de três palmos de cum-
prido somente.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 103.
— Ex]ires?ão, signal.
SIGNIFICADO, s. m. Significação. —
«Não me duvide V. S. de que Pceta
queyra dizer vesga, veja bem no que se
mete, porque achará Pwtits em Horácio
com o significado de olhos de Bode, e fa-
rá hum grande mal aos de Vénus, se que-
rendo livrala do defeito que padece em
hum lho pozer em ambos de dous.» Ca-
valleiro d'01iveira, Cartas, liv. 1, n.° 33.
— Tirar significados ; buscar nos vo-
cabulários, ou diccionarios as significa-
ções das palavras.
— Ptirf. paf-s. de Significar.
SIGNIFICADOR, A, adj. Vid. Significa-
tivo.
SIGNIFICANTE, part. act. de Signifi-
car. Que significa.
SIGNIFICAR, V. a. (Do latim signiji-
care). Ter esta, ou outra significação.
— Termo de grammatica. Exprime o
que se entende por uma palavra, por uma
plirase. — A palavra latina LÚPUS signi-
fica LOBO em ■portuguez. — «Os que se-
guem a secta de Mafoma tem o Alcorão,
que saõ huns liuros que a Instancia de
Moauia se compuserão em Damasco, sen-
do elle Halifa, ou Califa, que (como diz
Theatro de Príncipes) significa Reytor,
ou Emperador.» Fr. Gaspar de S. Ber-
nardino, Itinerário da índia, cap. 12.—
«Nenhum homem natural, ou estrangey-
ro, pode entrar com armas na Cidade,
mais que aquelles que a guardam que saõ
soldados a quem elles chamão, Curqui,
que na lingoa significa soldado de pè.
Não tem a Cidade muros, nem as casas
que saõ todas de taypa, ou ladrilhos, te-
lhados, mas somente terrados como as de
Grmus.» Ibidem, cap. 13. — «Lembrado
estou que Francisco do Couto na quarta
Década, diz ser elle natural da Vilia
Quex junto de Camoreante : cujos natu-
raes antiguamante se dezião os Massage-
tas, ou Chacatayos, e nòs hoje na índia
chamamos os Mogores, e que seu primey-
ro nome foy Themurcutlu, que quer di-
zer ferro ditoso, e dejjois se chamou Tha-
murlangue, que significa terror do mun-
do, ou ira de Deos.» Ibidem, cap. 14. —
«Mas depois os Gregos lho mudarão em
Mesopotâmia, por estar entre os dous rios
Tigris, e Eufrates. O Mestre das histo-
rias dà a razão desta mudança, e diz,
que a palaura, Meso, em Grego significa
mero; e Potamia, agoas; e assi como a
terra dentre Douro, e Minho tem este
nome, por estar entre estes dous rios.»
Ibidem, cap. 18. — «Dali por diãte se
coutarão pela de Hixara, que significa
peregrinação, ou fugida, a qual fov em
dezaseys de lulho de seyscentos e treze,
do Nascimento de ChriSTO, sendo Mafo-
ma de ciucoenta, e quatro de idade.»
Ibidem, cap. 20. — «Neste monte se or-
denhauão as ouelhas do Sancto Patriar-
cha, e porque o leyte que delias se colhia
era muyto, se chamou o lugar Aleppo,
que significa monte de leyte, e delle o
tomou a Cidade, como hora vemos.» Ibi-
dem, cap. 22. — «Duque se derivou da
palavra Dux, que em latim significa
guia, e Capitão. Sendo este nome gené-
rico, se foi fazendo especial em tempo
dos Emperadores Romanos.» Manoel Se-
verim de Faria, Noticias de Portugal,
Disc. 3, cap. 23. — «Quanto porem a di-
zer este Autor, que a palavra Eex não si-
gnifica outra couza que Senhor grande, he
na minha fraca opinião hum valente des-
propósito.» Cavalleiro d'01iveira, Cartas,
liv. 7, n.° 19.
— Denotar alguma cousa, ser signal
de alguma cousa. — «D. João Mascare-
nhas, depois de ordenar o enterro dos
mortos, e cura dos feridos, em que não
faltou com o cuidado, e menos com a fa-
zenda, que despendeo sem conta, avisou
por hum catur ao Governador do estado
das cousas, significando-lhe a falta que
tinha de gente, munições e armamentos.»
Jacintho Freire d'Andrade, Vida de D.
João de Castro, liv. 2. — «He nota de
alguns Escriturários, que nunca Deos
provéo dous oíficios juntos em hum só su-
geito : e para significar a importância
disto mandava, que ninguém semeasse
dous legumes na mesma terra : e quan-
do occupava algum servo seu em huma
empreza, dava-lhe logo com ella os ta-
lent'js recessarios, e forças convenien-
tes.» Arte de furtar, cap. 38. — «E fi-
nalmente pêra consolação dos mesmos pe-
nitentes se canta neste Domingo hum
Euangelho muy fesíiual e alegre, em que
se conta aquelle magnifico e milagroso
cõuite que o Senhor fez fartando em hum
dia cinco mil homens, afora molheres, e
miuiuos, com cinco pães de ceuada e
dous peixes : e isto pêra significar o cõ-
uite das celestiaes cõsolações que Deos
dà aos vei'dadeyros penitentes.» Fr. Bar-
tholomeu dos Martyres, Catecismo da dou-
trina christã.*-« Também significaõ com
especialidade males cauzados da adustaõ,
efl'ervescencía e ebulliçaõ nimia do san-
gue; como febres ardentes, e sinochais,
erisypelas, difluxos, tabardilhos, paroti-
das, pleurizes, etc. Como com toda a tor-
rente dos AA. Médicos affirma o nosso
Francisco Roxo ; porque da influencia
cálida, e secca do Cometa se altera o àr,
e consequutlvamente padecem os corpos;
de cujos influxos, e successos fallou dis-
cretamente íilanílio.» Braz Luiz d'Abreu,
Portugal medico, pag. 439, § 119.
— Dar a entender, querer dizer. — «E
por que a gente vulgar faz o signal da
Cruz, sem entender os mysterios que si-
gnifica fazendoo, será bom declararmolo
logo aqui, pêra que entendendo a gran-
deza dos mysterios que estam escondidos
522
SKIN
SILE
SILE
nesta cercmonia mais a miúdo so ben-
zam, o com iiiaÍH dciiaoam.» Frei Bartlio-
loiíicu (Irw Martvrcs, Catecismo da dou-
trina christã. — "No cnhu deste Credo
pronuiieiaiiios aquollii palaiira, Aiiien, [jor
duas rezòes, A primeira pêra significar
quo lirincmento creemos, coiifossainos, o
testomunlianios, todas as verdades quo
nellc 8C contem. Por isso dizonio.s, Amen,
quo significa, assi lio certamente. n Ibi-
dem. — »L();ío que V. S. mo perguntou
o que significava vá bugiar, o os usos
que so dava a este termo, recorri a el-
les, ou para melhor dizer aos meus Dic-
cionarios, o aos meus Vocabulários, e to-
dos me derão por única resposta que fos-
se bugiar.» Cavalleii"o d'Oliveira, Car-
tas, liv. .3, n.° 2.
— Exprimir verbalmente ou por es-
cripto 08 nossos pensamentos, do sorte
quo os outros fiquem conhecendo o que
pensamos ou queremos. — Significar suas
intenções.
— Jsso nada significa ; diz-so das pa-
lavras d'ondo se n.ão p(')do tirar conclusão
alguma.
j- SIGNIFICATIVAMENTE, adv. (Do si-
gnificativo, c o sufíixo «mente»). De um
modo significativo.
SIGNIFICATIVO, A, adj. (Do latim si-
gnijicativui:). Que exprime um grande sen-
tido.— Este termo é bem significativo. —
ServÍ7--se de 2>alavra$ significativas.
— Quo exprime sensivclmcnto o pen-
samento, a vontade. — Um gesto, um tom,
um olhar significativo.
— Termo de arithmctica. Algarismo
significativo ; diz-se cm opposição ao si-
gnal O, 08 algarismos do que so compõe
imi numero.
— Substantivamente : Significação.
SIGNO, «. m. (Do latim signum). Ter-
mo de astronomia. Constellação ou ajun-
tamento de algumas estrellas fixas, que
so suppõo formarem alguma figura, o só
se diz das dozo constoUações do zodiaco.
Amor, e dMsto só nasce
qucmquo o signo se acabasse
amor, não se acaba o si^o.
ANTÓNIO PBESTES, AUTOS, pag. 177.
Ora cstíl assi muito bem,
quo purgatório c sentir.
Em quo siijno casou com clle?
Não sei, da mofina miuha.
Pois não vem cUc tão azinha
que d'aqui o vejo eu n'clle,
o esta mão m'o adeviuha.
iBiDRu, pag. 313.
Não no direi por escrito,
mas ha desastres no mundo :
eu sei se vossa mercê
serã ova tão mofino
que acertou a nascer no signo
d'ol-rci Nida V jã so o ^
não fia de r?
iBiDKM, pixg. lis.
— «A outava esphci^a demais destoa
dous movimentos, quo tem por razaò da
decima, o nona osphora, movcndosc do
misccnto para o poente com o da duclmu
sobre os l'olo.s do Mundo, o do poente
para o nasconto com a nona espUora so-
lire 08 Poios do Zodiaco; tem outro mo-
vimento particular sobro huns l'olos, quo
80 conBÍderaõ no principio do signo do
Aries, c no de Libra.» Braz Luiz do
Abrou, Portugal medico, pag. 318, § 03.
Mas bom dojirossa do Planeta nosso
O compuHSudo giro uos ollios mostra
O Sol no Signo do animal do Colcos.
J. A. DK UACUDO, A NATUBBZA, Cant. 1.
— Os astrólogos attribuem a influen-
cia dos astros na sorte da gente confor-
mo os signos, e mil circumstanciaa o re-
lações em que se achão os astros á hora
do nascimento.
— Nome das linhas da escala musi-
cal.
— Signo samão. Vid. Samão.
— Adagio :
— Em tal signo nasci, quo mais que-
ro para mim, quo para si.
L) SIGO. O mesmo que comsigo (do
latim secxnn). — • «Defendia mais no mes-
mo casal duas mulheres, que tinham sigo
dous filhos lavradores.» Elucid. do Vi-
terbo.
2.) SIGO. Forma irregular do verbo
seguir na primeira pessoa do singular do
presente do modo indicativo. Vid. Seguir.
E pois qnc esta primeira porta viste,
Nas trcs veras também de que te espantes,
E ncllas acharas diuorsas vias,
E modos cora que o mundo viue agora.
Folgara acompanliarte, mas não posso
O caminho deixar que agora «igo,
Pois espero por clle alcançar cousa
Que por nobreza c esforço se me nega.
COBTB BEAL, NAUFBAOIO DE SEfULVEDA, Cant. 11.
Ribeiros, e Farias que no antigo
Tempo, ja forão tanto bcllioosos
E 03 fortes Corte Keaos quo no perigo
Mayor, se mostrào mais sempre animosos,
Para quo a narração infausta sigo*
Eu para (jue vos mostro os valorosos
Peitos, onde cAtA tanta fortaleza,
Pois tudo ha de sor dor, tudo tristeza.
iBiDEU, cant. 14.
SIGRALHA, s. /. Termo do historia na-
tural. Ave semelhante á gralha, de côr
mais negra e algum tanto mais pequena.
j- SIGRO, s. m. ant. Século.
SIGUENSIA, ou SIGUENCIA, s. /. Ter-
mo antiquá-lo. Soqueiicia, continuaç.ão.
f SIGUIMENTOS, í. m. plw- Termo
antiquado, ("iladas, traições.
SIGURELHA, s. /. Vid. Segurelha.
SILADA, .«. /. Vid. Cilada.
SILENCIADO, part. puss. do Silenciar.
SILENCIAR, r. a. Impôr silencio.
f SILENCIARIO, s. m. i^Do latuu »»7«i»-
tiarius, do silentium). Termo do anti-
guidade romana. OfTicial que fasÍA obser-
var o silencio aos escravos.
— Diz-se do alguns roligioBOB que guar-
dam um grande silencio.
— Por extensão : Pessoas que guardam
silencio.
SILENCIO, *. m. íDo latim tileiUium).
Pastado de uma pessoa que bc abstém de
fallar.
O fllenrio lhe apraz, c as mudas balsas,
Onde não cliega estrépito profano.
J. A. Oa MACKDO, A MATCBEZA. «int. .
— Ha três espécies de silencio : o si-
lencio do zelo, o silencio '/'/ prudência
na» co7iversarJ)es, c o silencio da pacuin-
cia nas contradicçues. — Sócrates acon-
selhava aos seus discipulos trea cousas,
a saber : prudência no animo, vergonha
no rosto c silencio na lingua.
— Por analogia, diz-se da linguagem
escripta. — O silencio dos jvmaeê toòre
est^ facto.
— Passar uma cousa em silencio ; não
fallar n'ella.
— O silencio da lei; diz-se de um ca-
so que a lei não preveu.
— Interrupç.lo n'um commercio de le-
tras. — Não posso explicar vosso longo
silencio.
— Segredo.
— Esquecimento. — Lançar-te no abis-
mo do silencio.
— Figuradamente : Socego, ausência
de ruido. — O silencio eterno d'esttt es-
paços injinilús me aterra. — • Maquina
que espantou aos nossos, pelo silencio,
o bi-evidado com que se havia obrado;
mostrando bem, que não era esta fabrica
desenho de multidão barbara, e confusa;
porque em todo o conflicto mostrilrão igual
o valor á disciplina.» Jacintho Freire de
Andrade, Vida de D. João de Castro,
liv. 2.
— Figuradamente : Ausência de agita-
ção moral. — Impor silencio ao» nosso»
sentidos.
— O silencio das paixões; o tempo
em que ellas deixam a alma livre e so-
ccgada.
— Impôr silencio ás paixões; repri-
mil-as, obstar que ellas perturbem o ea-
pirito.
— Interrupçito n'um ruido, n'um ba-
rulho. — Alto silencio.
Já a tiro os Francos stão dos levo-annados ;
Uma h.''Ste, c outra hoste pára. Alto silencio!
(Vi;ir manda á Christan L<^gião, que arvoro
^Sinal do preliOí a roxa Cotta de armas.
F. M. no NASCIMEXTO, OS XABTTBES, 1ÍV. 5.
— Diz-se, na declamação, das suspen-
sões que faz aquelle que falia.
— A calada de todos os sons.
— Silencio profundo; silencio alto.
SILE
SILH
SILI
523
Em silencio profundo em sombra envolto,
Os passos guia ao pcristylo augusto
Do Templo coUossal da Natureza.
Voou co' a mente acceza em vácuo eterno,
Interminável, infinito, e nelle
Infinitos corpúsculos de\n3a.
J. í. Dl MACEDO, MEDITAÇÃO, Caut. 4.
— Falta de replica, de resposta.
— Silencio mal-soffrido ; silencio cons-
trangido ; estado da alma em que o indi-
viduo deixa de fallar talvez por cons-
trangimento e convicção.
Murmurava em silencio mal-sofiErido
Da natureza leal o escasso resto
Que do antigo despejo lusitano
Os francos sentimentos conservava,
Impera o fanatismo, a hypocrisia.
GABBETT, CAMÕES, Caut. 6, Cap. 2.
— Os desinquietadores do silencio da
santa justiça ; individues encarregados
de impor silencio pelos chaens do impé-
rio da China. — «E dando então quatro
pancadas num sino muyto depressa, hum
dos dous conchalys se levantou em pé, e
despois de fazer seu acatamento ao Chaem,
disse em voz alta que todos ouvissem, ca-
lar e ouvir com prontidão humilde so pe-
na do castigo que pelos Chaens do gover-
no está determinado aos desinquietado-
res do silencio da santa justiça.» Fer-
não Mendes Pinto, Peregrinações, cap.
103.
SILENCIOSAMENTE, adv. (De silencio-
so, com o suffixo «mente»). De um mo-
do silencioso, em silencio.
SILENCIOSO, A, adj. (Do latim silen-
tiosus). Que guarda silencio. — Filippe
V, nascido com um senso recto, mas pou-
co enérgico, era silencioso, reservado,
desconfiado de si próprio.
— ■ Onde se não ouve ruido, nem baru-
lho. - — Uma retirada silenciosa.
— Que não faz barulho. — Os ])assos
silenciosos.
— Silenciosas complacências ; em guar-
dar silencio no que devem dizer, ou cen-
surar.
— Stn. : Silencioso, taciturno.
Silencioso é o que falia pouco e com
moderação. Taciturno é o que falia pou-
co e com repugnância. Aqueile pude sel-o
contra seu génio, por prudência, por in-
teresse, por modéstia, por obrigação ; es-
te é-o sempre por caracter, por hypochon-
dria, ou por natural inclinação ao silen-
cio.
O silencioso tem unicamente um ar
serio; o taciturno um ar severo e carre-
gado. O primeiro é inútil n'uma socieda-
de de gente divertida, porque contribuo
pouco a tornal-a agradável ; o segundo é
mais que inútil, é pesado, porque inspira
desconfiança, ou contribuo com sua hv-
poL-hondria a diminuir o gosto, e a jovia-
lidade dos demais.
1.) SILENO, s. m. Semideus, filho de
Pan e d'uma nympha; companheiro de
Baccho. — Os satyros e Sileno.
— Os silenos ; os companheiros de
Baccho.
— Termo de antiguidade romana. Fi-
gurinha de mármore i-epresentando um
sileno.
— íS'. /. Género de plantas da família
das dianthaceas, de que se distinguem
varias espécies.
— Adjectivamente : Vir tão silena.
nem mocidade fingisse
o que a condcmna,
vir de tora tào silena
e que dentro em si admittisso
mais gloria, que por ti pena.
AXTONIO PKESTES, AUTOS, pag. 51.
2.) SILENO, s. m. Termo de historia
natural. Quadrúpede de orelhas curtas, e
redondas como o macaco ; é o ijreguiçoso
de Ceylão.
SILER, s. VI. (Do latim siler). Arbusto
similhante de alguma maneira ao sal-
gueiro e amieiro.
SILEX, s. 771, Termo de mineralogia.
Género de pedras comprehendendo as
duas espécies quartz e opalo, constituí-
das pelo acido silícíco.
— Pederneira, pedra de ferir lume;
seixo.
SILHA, s. f. Termo pouco em uso. Ca-
deira.
— Vid. Cilha. — «Nenhum errou seu
encontro, antes foram dados com tal for-
ça, que, falsados os escudos, Draniusían-
do, e Barrocante, vieram ao chão com
as sellas antre as pernas e as silhas ar-
rebentadas por algumas partes.» Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 94.
— Silha jiontificia ; cadeira, sede pon-
tificia.
— Silha de abelhas. Vid. Silhar (subst.)
SILHÃO, s. m. Espécie de sella gran-
de, para n'ella cavalgarem as mulheres ;
tem um estribo por um lado, e um arção
semicircular, contra o qual se encostam.
— Termo de fortificação. Obra eleva-
da, de terra, feita no meio do fosso de
redor de toda a praça.
— Silha forte e larga.
1.) SILHAR, V. a. Apparelhar a caval-
gadura, pondo-lhe a sella ou a albarda.
Vid. Cilhar.
2.) SILHAR, s. m. Termo de canteiro.
Pedra lavrada em quadro para assentar
na parede, ou edificio de silharia.
— Particularmente, diz-se a pedra que
na parede é assentada ao alto, tendo só-
meuto ametade da grossura, e se distin-
gue n'isto da juntoura, que é pedra que
alcança toda a grossiu-a da parede, e do
liadouro, que vai, não posta ao alto, mas
deitada.
— Silhar de colmeias; base, apoio de
cortiço de abelhas.
— Vid. Arraial, e Cilha.
SILHARIA, s. /. — Obra de silharia ;
obra de silhares, ou lousas, e chapas de
pedra lavrada quadrada, pouco grossa, ■
para vestir paredes que o mar toca.
— • Alguns dizem enxilharia, e enxe-
laria, mas estes termos são plebeísmos,
e até erros.
SILHARINHO, s. m. Diminutivo de Si-
lhar (de colmeias). Vid. Armentinho.
SÍLICA, ou SILICIA, ou SÍLICE, í. /.
Substancia que forma a base do sílex,
dos quartz, etc, e que no estado de areia
se combina com a cal, e forma com ella
uma argamassa resistente; é o oxydo de
silício, considerado em geral como um
acido, e ])or conseguinte chamado acido
silícíco. Õ silício, uma das terras mais
abundantes, forma a base das pedras mais
duras, que parecem constituir o nó do
globo.
f SILICATADO, A, adj. Termo de chi-
mica. Diz-se de uma base que é conver-
tida ao estado de sal pelo acido silícíco.
SILICATO, ou SILICIATO, s. m. Termo
de chimica. Sal produzido pela combina-
ção do acido silícíco com uma base.
SILICICO, A, adj. Termo de chimica.
Acido silicico ; o mesmo que silicia.
— Etheres silicicos ; etheres que se
obtém deitando álcool no chlorureto de
silício.
t SILICICO-ALUMINICO, adj. vu Ter-
mo de chimica. Diz->e de um sal silicico
unido a um sal alumínico.
— ■ Diz-se do mesmo modo : silicico-ar-
gentico, silicico-cobaltico, etc.
t SILICICO-CUIVROSO, adj. m. Termo
de chimica. Diz-se de um sal silicico uni-
do a um sal cuívroso.
— Díz-se do mesmo modo : silicico-
mercuroso, etc.
f SILICICOLA, adj. Termo de botâni-
ca. Díz-se das plantas que só crescem
nos terrenos sílícosos.
f SILICIDAS, s. m. jjlur. Termo de
mineralogia. Família que comprehende a
sílica e suas combinações.
f SILICIFERO, A, adj. Termo de mi-
neralogia. Que contém sílica.
SILÍCIO, s. m. Vid. Cilicio.
SILICIOSO. Vid. Silicoso.
SILIGIUM, ou SILÍCIO, s. m. Metal que
produz a sílica combínando-se com o oxy-
geneo.
t SILICIURETO, s. m. Termo de chi-
mica. Combinação do silício com um ou-
tro corpo simples.
SILICOSO, A, adj. Que é da natureza
do sílex.
— Que contém sílica.
— Termo de agricultura. Terrenos si-
licosos ; terrenos que fornecem pelo me-
nos 0,55 de sílica livre. Vid. Siliquoso,
que diverge.
SILICDLA, s. /. Termo de botânica.
Siliqua cuja altura não excede quatro ve-
zes a largura.
524
SILV
SILV
SUI
f SILICULOSO, A, adj. Toirno de bo-
tânica, (^iio proiluz ou tuiii Miliculae. —
Plantas siliculosas.
— ò'. /. p/ur. 'VrUm dú, família das
crucitcniM.
SILINGORNIO, A, mlj. Termo popular.
(.lui: t.iiíji inauHamonto para ongaiuir.
SILIQUA, a. f. Termo do bot.iiiica.
Fructo aceco, alongado, bivalve, cuja.s
sementes ontílo ligada» a dous tropliospur-
mas Huturaes, ordinariamente 3e])ara(l()s
tíi dous loculos por uma falsa (iivisào,
que niio 6 senào un» prolongamento dos
tropliospornias, o que persisto muitas vo-
zes após a queda das válvulas. — A sili-
qua e a silieula caracteriaam particular-
mente a família das cruciferas.
— Vagem.
— Pequeno povo dos romanos.
— ■ rSenoro de eouehas bivalves.
f SILIQUIFORME, adj. 2 ijan. Termo
de botânica, (^ue tem a forma de uma
siliqua; diz-se de alguns fructos capsula-
res, differindo da verdadeira siliqua, em
quo as placentas .são alternas, e niío op-
postas aos lóbulos do stigma.
SILIQUOSO, A, adj. (Do latim siliquo-
sus). <^iio tem siliquas, ou que se asse-
melha a uma siliqiui. — Plantas siliquo-
sas.
— S. f. plur. Tribu da familia das
crueifiTas.
, SILLABA, s. /. Vid. Syllaba.
SILLAGE, s. /. Vid. Singradura.
SILLOGISMO, s. m. Vid. Syllogismo.
SILLOGRAPHO, s. m. (Do grego sillos,
c (jraij/iô). Escriptor satyrico e mor-
daz.
SILPHA, s. /. Termo de historia natu-
ral. Insecto colooptero, de que se apon-
tam as espécies seguintes : sepuUadora ;
verdadeira, ou hrvqucleira ; de (luatro
pontinhos; lisa; denegrida.
f SILURIANO, A, adj. Termo do geo-
logia. Terreno siluriano; serie de cama-
das fossiliferas collocadas sobre a velha
pedra do cantaria rubra. — Formação si-
luriana.
SILURO, ou BAGRE DA EUROPA, s. m.
Género do peixes abdominaes, o maior
de agua doce, pesando ás vezes até tre-
zentas libras.
SILVA, s. /. (Do latim silva). Arbus-
to silvostro, que lança variniia-i verdes,
flexíveis, armadas do puas, ou espinhos
agudos; d'ellas so fazem tapumes de vi-
nhas, c hortas.
— Toma-se tambom por selva.
— Poema como a canção, cujos con-
soantes vão rimados de dous em dous,
como os últimos dous versos das oitavas ;
havendo porém n'isto alguma variedade.
— Figurailamente : Silva ile doutrinas,
de conclusões ; multid.uo intrincada, sem
ordem, nom methodo.
— Silva framboezeira : arbusto como a
silva, que d;í umas amoras brancas, a
que hoje dão o nome de framòoezas. Ao
mesmo goncro pertence a amoreira ta-
taiba.
— Silva de agua; ]jlanta brazilica, hcr-
va viva, ospecio de sensitiva.
— Termo de alvoitaria. São dous ou
três dedos de pollo branco .ao longo da
testa, ou fronte, do cavalh) para as ven-
tas.
— Silva armada ; espessura, grande
nunu:io de gente de armas.
— Silva í/a praia; planta com espi-
nhas, e varas dobradiças, que nasce uos
areaes.
— Silva niar.ha; outro arbusto silvestre
espinhoso; tem folhas de roseira, e llôr
como unia rosa, do cinco pétalas ou fo-
lhas.
— Cilicio de arame.
SILVADO, s. í)í. Sitio povoado do sil-
vas espessas; a sarça. — «Meya legoa
delle pêra a parto do (Jriente jaz hum
sapal muy grande cuberto do siluado,
em quo andam mnytos Leões, donde vie-
ram a dizer alguns, que aqui fora o lago
dellos, em que foi metido o Propheta Da-
niel, como isto não contradiz a Escriptu-
ra, possiuel seria que fosse.» Fr. Gasiiar
do S. Bernardino, Itinerário da índia,
cap. 19.
— Figuradamente: Perigo, difficul-
dade.
— Fart. pass. de Silvar.
SILVANO, «. «i. (Do latim silvanus).
Termo de mythologia. Deus dos bosques,
tiorestas, e campos.
— Figuradamente: Homem agreste,
rústico.
SILVÃO, $. m. Silva macha.
SILVAR, V. n. Assobiar.
— V. a. Produzir som agudo.
De armas, golpes, c vida deg-scntido.
Km salv.^r Sogona.t Si'i íévo o intento :
Com custo o arranco da Romana faria.
Dou-lho a.-iLlo, no concavo dum líóbre. —
Kis vem perdida flecha, no ar, silraiulo.
Que, ao Vellio, era acu asilo o peito rompe.
F. M. DO N.VSCIMENTO, OS UAHTT8E3, 1ÍV. 10.
SILVATICO, A, adj. (Do latim silvati-
cus). Silvestre.
SILVEDO, s. m. Vid. Silvado.
SILVEIRA, s. /. Silva, arbusto, sarça.
SILVESTRE, adj. 2 gen. (Do latim .<!j7-
vestris). Da selva, montezinho, do matto.
— • Agreste, rude.
— Arte silvestre; nomo dado por Ca-
mões ii medicina, por curar muito com
vegetaes.
— Homem silvestre ; homem creado
nos mattos, ;l similhança dos brutos, ou
feras; selvagem.
— Figuradamente : Entendimentos sil-
vestres.
— Vida silvestre; vida agreste.
SILVIA, .•!. /. Pintarôxo, ara.
SILVÍCOLA,'."!. 2 gen. (Do latuu siVl-í-
cola). Habitador de selva.
SILVÍCOLAS, «. m. plur. fDo latim «»7-
va, c colere). Termo de entomologia. Gé-
nero de insectos coleopteroa, que habi-
tam no tronco «las arvores.
SILVICULTURA, *. /. dJo latim tilva,
c cuttiiriij. .Sciencia que diz respeito á
cultura 'hn mattas o suas plantações,
f SILVINA, «. /. Termo de mineralo-
gia, ('hhjrureto do pota^io.
SILVINHA, s. f. Diminutivo de Silva.
SILVO, ". m. (J assobio, ou uom a^utlo
das cobras c serpentes.
Ag orientaf» costas africanas
Kodcámos de Jalofu c de .Mandinga,
Uondc O curvo fíiimbt-a ao Tejo manda
As rica.4 páreas do caudal luzente.
As Dorcadas passámos, que dos »i7fO«
Das víboras na arei^i imla retinem.
OÀRiKTT, CAMÕES, cant. 4, cap. 6.
SILVOSO, A, adj. (Do latim tihonu).
Em|)eçado, travado com silvas.
SIM, adv. Designa o consentimento, a
approvação, em oppoaiçilo a não. — • Bo-
touse cm breue tempo pesquiza por toda
a Cidade, andando meu companheyro, e
ou Cu os Portugueses que nos tinlião aui-
sado sabendo de todos onde estau.^, te
que finalmente os achamos fechados em
huma casa, tristes, e chorosos, e pergun-
tandoliies so queriào ser Cliristãos, disse-
ram todos que sim.» Fr. (jasiiar de S.
Bernardino, Itinerário da índia, cap. G.
— oE dito que sim, lhe fazia huma pra-
tica explicando-lhe as novas obrigaçoeiu-,
em que entrava; e como em todas as
acçoens de armas devia favorecer, e aju-
dar a justiça.» ilanoel Severim de Faria,
Noticias de Portugal, Disc. 3, cap. 28.
Descasa casados hão
embora, senhora irmã.
Minha senhora irmã, sim,
sou assi tào cortezã.
ÁXTúNio rsESTEs, ÁUT03, pag. 2*29.
Justificar papeia vem :
quando o liomora tem
assi posto em conclusão,
ficji a concrusào de quem
que d'áqucm e mais d'álem
o mais sim elle é mais não.
isiuKu, pag. 391.
— «Os vassallos d'Ace8tes, animados
com o exemplo e palavras de Mentor, c»)-
brarara brios, do que se niio criam capa-
zes. Eu mesmo, d'um bote de lança, dei
por terra com o tilho do rei inimigo : sim
tinha a minha edadc, mas era muito mais
agigantado e membrudo que eu; por
quanto esto povo descende d 'uma raça de
gigantes, que toem a mesma origem «loa
Cyclopes.B Telemaco, traducçào de Ma-
noel de Sousa, e Francisco ilanoel do
Nascimento, liv. 2. — «C^5mo que sim
(clamilrão todos â uma) que Madama ha
de lá fazer éjx)ca. — Esse barrete fê-lo
Le lloy, ou Mademoiselle Despeaux?
SIM
SIMI
SIMO
525
(acudio um d'es3e3 vélhoa peti-métres,
que mais impudentes que os mucos care-
cem da graça, ou de azoamento que os
desculpa).» Idem, Successos de madame
de Seneterre. — (iD'ahi prosegulmos e de
camitilio vimos o engenho de moer cana
de assucar, nào com cavallos ou bois como
03 outros, mas sim com agua, tendo por
fora uma azenha ou moinho de cubo ex-
cellente. O dono é N... natural das Cal-
das da Rainha.» Bispo do Grão Pará,
Memorias, publicadas por Camillo Cas-
tello Branco, pag. 205.
É morta Roma, sim, morta de todo :
Aoa filhos or|ihams, salve-ao-lhe ao monos
Um retalho siquer da pátria herança.
GABUETT, CATÃO, act. 2, 8C. 1.
Pae !... Não ; outro,
Deuses, deuses cruéis ! não podeis dar-mo.
Sim, sim; eu sou teu pae: de tem-a infância
Como a filho (c que filho !) to amei sempre.
IBIDEM, act. 3, SC. 3.
Sim tu, meu Manlio,
E Juba vai comtigo. — E Marco-Bruto
Irá tambiíra : vou-lho mandar que cesse
O combate, e que as portas abra a César.
iBiD£u, act. 5, SC 7.
Sim, e guarnecido
Com cem freixeiros meus : o passo é estreito.
Fácil de defender ; nem o descobrem
Tam cedo.
IBIDEM, act. 5, SC. 8.
— Antigamente tomava-se sim por si,
variação do pronome da terceira pessoa.
Si, pelo aparentado
aquclla é nossa cunhada.
Feito, feito.
ANTÓNIO PUESTES, ACTOS, pag. 1G9.
Pastel
amor de favo de mel.
Pastel alma.
Amor guarida ?
O mais amor d'ouropel.
Busoaes amor ?
Si, buscámos.
IBIDEM, pag. 225.
Moço !
Senhor !
Logo e33'hora
me cscovae essa capa azinha.
E vossa mercê vaa fora ?
Si senhora.
Agora ?
Agora.
IBIDEM, pag. 289.
— Talvez alterado de assim, affirman-
do sim, por assim é.
— Responder de sim; dizer, ou respon-
der sim.
— Emprega-se também substantiva-
mente :Z)ar u sim a alguém.
SIMA. Vid. Cima. — «E de quando em
quando nos davaõ muytas gritas, e apu-
padas, e capeaudonos com biideyras, e
toucas, nos mostravaõ de sima, do capi-
tel de poupa muytos traçados niia, esgri-
mindo cõ elles no ár, para que nos che-
gássemos a elles, Cõ a primeyra vista
destas suas fanfarrices ficámos nós algum
tanto embaraçados.» Fernão Mendes Fin-
to, Peregrinações, cap. 161.
SIMARUBA, ou SIMARRUBIA, s. f.
Termo de botânica. Planta da Guiana, e
outras regiões da America, cuja casca ó
empregada em medicina.
t SIMARUBAGEAS, s. f. plur. Termo
de botânica. Tribu das rotaceas que se
separam para formar d'ellas uma famiiia á
parte, e que tem por typo a simaruba.
SÍMBOLO, s. m. Vid. Symbolo.
Assim nasceo, brilhou primeira Idade •,
A Primavera he símbolo dos dias,
Qu'o Sol na ereação marcou primeiro.
J. A. DE MACEDO, A NATCBEZA, Oaut. 1.
SIMETRIA, s. f. Vid. Symetria.
SIMIA, s. /. (Do latim simia). Termo
pouco em uso. Bugio, macaco, animal
mui similhante ao homem.
— ■ Figuradamente : O que arremeda.
SÍMIL, s. m. Simile.
SIMILAR, adj. 2 gen. (Do latim simi-
laris). Que é da mesma natureza.
O Latino Cantor com versos d'ouro
Similares particulas nos mostra
Primeira causa sor do.s ci5rpos todos.
Seguindo de Anaxágoras a estrada.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Caut. 4.
— Termo de geometria. Diz-se dos re-
ctângulos, ou parallelipipedos formados
pela multiplicação dos números propor-
ciouaes entre si.
— Termo d'optica. Raios similares;
raios igualmente refrangiveis.
— Termo de anatomia. — -Partes simi-
lares, ou órgãos primários ; as partes
fundamentaes que constituem os syste-
mas, e que se reúnem para formar os ór-
gãos propriamente ditos.
f SIMILARIDADE, s. /. Termo didá-
ctico. Qualidade do que é similar.
SIMILDÕO, s. f. Termo antiquado. Si-
milhauça.
SÍMILE, s. m. (Do latim similis). Si-
milhança, comparação que se faz de uma
cousa com outra, que se lhe assimilha.
t SIMILIFLOR, adj. 2 gen. Termo de
botânica. Que tem flores todas similhan-
tes.
SIMILHANÇA, s. f. Vid. Semelhança.
f SIMILHANTE, adj. 2 gen. Vid. Se-
melhante. — «Por certo, senhores, disse
o das Donzellas, em pessoas dessa marca
havia de haver obras similhantes a elles
e não ás que são conformes a outros quaes-
quer; mas donzellas é a vianda tão co-
mesinha, que fazem todo o mundo ser de
seu natural ; o por i.s.so mereceis menos
culpa, e pêra mim, que muitas vezes sou
tentado destes accidentes, eu a hei por
pequena.» Francisco de Moraes, Palmei-
rim de Inglaterra, cap. 125.
Acabou de fali ar ; e confirmando
Todo o sábio Congresso o seu dietame,
Um sussurro no Conclave se espalha.
Ao do Zcphyro em tudo similhante,
Quando nas frescas tardes suspirando,
A bella Flora segue, que travessa
Cá, c lá, entre as flores, se lho furta.
DIKIZ DA CBUZ, HYSSOrK, Caut. 1.
Ora que em cocho argênteo as sombras corta.
Tal do lá me mostrara o térreo globo.
Se hum momento ao satéllite voara !
EUe errante também, e ao Sol opposto,
Ora todo illustrado, e logo em parte.
De igual figura, e similhante marcha.
J. A. DE M.\CEDO, MEDITAÇÃO, Caut. 2.
Da esfera, em que os lançara a mão do Etomo,
Jamais tcntSo sahir, nunca se apaga
O cunho, que lhe imprime a Natureza.
O homem sii da liberdade abusa.
Escravo das paixões, c ao Ceo não serve ;
Até da Natureza a voz nào ouve.
Tão dóceis sendo a olla os brutos todos ;
Coos similhantes seus a paz cousorvão.
IBIDEM, cant. 3.
— «Mas emfim não concluiu com dis-
parate, similhante ao de um poeta que
fechava um soneto de boas festas; e fal-
lando de uma moça doente e nada ga-
lante, e menos enfeitada ou discreta, con-
cluía.» Bispo do Grão Pará, Memorias,
publicadas por Camillo Castello Branco,
pag. 70. — «Não se explica o horror que
similhante facto causou, por ser coisa
muito rara o homicídio em Galliza.» Ibi-
dem, pag. 112.
SIMILITUDINARIO, A, adj. Em que ha
semelhança.
SIMIO, s. m. (Do latim sÍ7nius). Ter-
mo pouco em uso. Bugio, macaco, mono,
fallando do macho.
SIMITAS, s. f. plur. Termo antiqua-
do. Remates, por exemplo dos leitos.
SIMO, s. m. Vid. Cimo.
SIMONEA, *. /. Talvez erro por esca-
monea.
SIMONIA, s, /. (Do latim simonia).
Convenção illicita pela qual se recebe
uma recompensa temporal, uma retribui-
ção pecuniária por alguma cousa de san-
to o espiritual, tal como os sacramentos,
as orações da ecreia, os benefícios, etc.
SIMONIACAMENTE, adv. Com simonia.
SIMONIACO, A, adj. Onde entra, onde
ha simonia. — Contracto simoniaco.
— Que commette uma simonia, fallan-
do das pessoas.
— Emprega-se também como substan-
tivo.
SIMONTE, adj. m. — Tabaco simonte ;
da primeira folha do tabaco. Vid. Somen-
te, termo mais próprio.
526
SIMP
SIMP
SIMP
— U«a-se t!inil)cm Hiibstuntivanicnte.
SIMOTRACF.A, wlj. f. — Pedra simo-
tracea ; invlra analofca ao azoviche.
SIMOUN, s. VI. Vento abrazador que
sopra fio iiitiTior da yMVica.
SIMPATHIA, í>. f. Vid. Sympathia.
SIMPLACHEIRÃÒ, ONA, wlj. e s. Tor-
mo popular. Mui sliiiplo», atoleimado,
parvo.
SIMPLACHO, A, adj. c s. Vid. Sim-
placheirão.
SIMPLALHÃO, ONA, adj. o ». Termo
popular u aufíinentativo de Simples. Vid.
Simplacheirão.
SIMPLE, adj. 2 (jaii. Vid. Simples, ter-
mo niai-< Híiado.
SIMPLEIRÃO, ONA, adj. e s. Termo
popular. Vid. Simplalhão.
1.) SIMPLES, (tdj. 2 gen. Que nSo ó
composto. — Deus, a alma são seres sim-
ples. — IdSas simples. — Movimentos sim-
ples.
E nada maia, liacôu, Tullio, Archimídea ?
Que (!in Viviani, em Galili^o profundo
Não lia maia que Imm subtil, térreo composto
De delicadas tuuicaa, o fibra»?
Srtmeiito o simples movimento peido
Fazer que julgue, que combino o corpo V
Dar-lhe ethereo poder, força, energia
Do transpor, do correr do eapaço 03 pontoa ?
j. A. riE UACBDO, UEorfAçÃo, cant. 4.
Da antiga Rliocia vejo o alto ornamento
Bornouilli immortal. Na margem fria
Do diaoordante IJaltico diviao
O grande .\uotor daa Munadaa, quo encontra
No comiioato mortal maga harmonia
Entro a corpórea, e sim2>les substancia.
J. A. DE MACEDO, VIAUKM EITATICA, Cant. 2.
Pois cu co'a luz da simples Natureza
Levo os mortaca :l cren(;a de Mysterios,
Quo il Razão não 8'oppõe, mas são mais altoa •,
Tom por baao acgura Omnipotência.
IBIDEM, cant. 2.
— Termo de chimica. Corpos simples;
corpos que até ao presente tem sido im-
posaivel decompor, chamados também ele-
mentos.
— íS'íies simples ; saes em quo o peso
atómico do acido é igual ao peso atómico
da base.
— Termo do grammatica. Diz-se de
uma palavra que não ó composta.
— Termo do poética antiga. Pés sim-
ples ; pés do duas ou três syllabas, por-
que niío podem doeompôr-se em duas ou-
tras.
. — Quo não é duplo ou múltiplo. —
Sapatos de simples 'palmilhas.
— Echo simples ; eclio que repete ca-
da som uma s6 vez.
— Termo do botânica. Haste simples;
baste quo não é ramiticada.
— Cali/.v simples ; calyx que n.no é
cercado do um segundo ealyx exterior.
— Flor simples ; aquella cuja corolla
não tom duplas potalas.
— MiJr simples ; <liz-se também cm
OppOHÍ(;ão a Jlôr annposta,
— Termo do zoologia. Antenna sim-
ples ; antenna <\w, não offcreco prolon-
gamento algum, nem ramilii-ação.
— Nervura simples ; nervura termi-
nada unicamente jior um [lonto redondo.
— Aniniaes simples ; aquellcs que não
resultam da aggi'egac;2o de um certo nu-
mero de indivíduos.
— Copula simples ; aquella que tem
logar entre dous indivíduos pertencentes
a espécies entro as quaes os sexos são
scparailos.
— Tei-mo do marinha. Ordem, ou li-
nha simples ; disposição de navios de guer-
ra Sobre uma única linha.
— Que tem poucas luzes, poucos co-
nhecimentos.— uMuitas vezes acontece,
a Imni cego, por ter ouuido fallar em co-
res disputar sobre cilas aguda, e douta-
mente, posto, que naõ tenha conceito,
nem representação própria delias na me-
moria, esta leuantada sciencia mystica
costuma comniunicarsc aos humildes, pos-
to, que gento simples, e sem letras, e
encobrirse aos eruditos, que as tem apren-
didas, o com ellas saõ soberbos, e car-
nais; porque as cousas altas c sagradas
não se concedem dcsperdiçadamonte aos
animais innnundos.» Frei Bartholomeu
dos Martyrcs, Compendio de espiritual
doutrina, cap. í'2.
— Engenho simples ; engenho ingénuo,
singelo, sem dobrez. — aPera isto mais
se aclarar vsaromos de hum exemplo. Se
hum pay excellente em muitas virtudes
tiuera dous filhos, dos quaes hum tratara
do inquirir, c esquadrinhar curiosamente
os desenhos, palauras e obras de seu pay,
pêra se assemelhar a clle em tudo, mas naõ
o amara, nem puzera o affocto nclle, mas
o outro iilho de engenho simples c sem
esquadrinhar, nem perguntar pcUas ex-
celleneias, e acções do pay, sô se empre-
gara em saber, como contentallo, c obe-
deccllo cm tudo.» Frei Bartholomeu dos
Martyrcs, Compendio de espiritual dou-
trina, cap. 12.
— Simples vista. — «Conheça pois o
enteudimeuto o quo lho for permittido cò
simples vista, abaixando os olhos dili-
gente, humilde, e sossegadamente, sem
próprio esquadrinhar, antes prudentemen-
te recuse impulso violento por não se de-
bilitar, c opiirimir a natureza demasia-
damente, mas com tudo se naõ poder
deixar do afligirsc, nem por isso se per-
turbe nem desconfie, mas sofra com hu-
mildade, e paciência.» Frei Rartliolomeu
dos ]Martyres, Compendio de espiritual
doutrina, cap. 11.
— Medica7nentos simples ; aquellcs que
não soílrem alguma preparação pharma-
ceutica, ou aquclles que não contém se-
não uma única substancia.
— -Plantas simples; diz-se no sentido
de plantas medicinaes.
— Termo do liturgia. Festa simples;
ojicio simples; diz-se em opposição a
feula, oti oj/icio duplo.
— V'ito simples ; voto que não é feito
em face da egreja, nem acompanhado das
formalidades requeridas.
— Multiplicação, divisão simples; em
que só entram grandcsas da menor espé-
cie.
— Termo de mineralogia. Forma» sim-
ples; formas terminadas por faces idên-
ticas.
— Que não tem outra qualidade, nem
outro caracter.
— Simples clérigo; que não tem a ton-
sura clericiíl.
— Simples soldado ; soldado que nSo
tem posto, nem graduação; soldado raso.
— Simples particular ; homem que não
tem emprego publica, que não exerce
funcções publicas.
— Doação pura e simples ; doaçKo fei-
ta sem condição.
— Que não é complicado, que é fácil
de empregar, de comprehender, de exe-
cutar.— Muito simples.
— Sem ornato, sem fasto, sem affecta-
ção. — Moveis simples e commodos. —
Ter gostos simples. — Vida simples.
— Diz-se das pessoas : Ser simples nos
seus trajos, nos seus moveis.
— Sem disfarce, nem malícia. — Ser
simples como uma pomba.
— Que se deixa lacihnente enganar.
— Diz-se também das cousas. — Sim-
ples obediíncia.
— Comida simples ; comida sem mui-
tos adubos.
— Juiz simples; não letrado, juiz or-
dinário.
— Renuncia simples ; a que se faz
plenariamente, som reserva de titnlos.
— Benejicio simples ; sem cura d'al-
mas, sem obrigação de coro. Vid. Bene-
ficio.
— Sem circumstancias aggravantes.
— Um simples dito; asserção sem pro-
va.
— Furto simples ; furto sem arromba-
mento, sem violência.
— Vestidos simples; vestidos sem luxo.
— Promessa simples ; promessa quo
se não confirma com juramento.
2.) SIMPLES, s. 2 gen. Pessoa ingé-
nua, sem dobrez, singela, espirito sim-
ples.
— Termo de rhctorica. Um doe três
géneros de eloquência: O simples, o tem-
pcrado, o sublime.
— Pessoa de pouco engenho, pessoa
parva.
3.) SIMPLES, s. m. plur. Vid. Simpli-
ces. Arcos do madeira, sobre os quaes se
formam paulatinamente os do edifício.
Vid. Gambota, on Cambota, de camba.
SIMPLESMENTE, adv. ^De simples, e
o suflixo a mente»}. Sem complicação.
— Somente.
SIMP
SIMP
SIMU
527
— Sem reserva, e sem condição.
— De um modo simples, sem ornato.
— Naturalmente, sem rodeio.
SIMPLEZA, s. /. Simplicidade, falta de
arte, de adorno, de enfeite.
— Dito singelo, de alma simples, sem
refolho. Vid. Simplicidade.
— Singeleza de animo, innocencia e
talvez ignorância. — A simpleza do co-
ração d' este homem é apreciável. — ■ «Que,
na simpleza do seu coração, correram ao
baile pomposamente annunciado, crendo
que essa grande bençãu de Deus na ter-
ra, a franca e intima alegria, podia pe-
netrar no recinto consagrado ao egoismo
das pequeninas vanglorias, ás pontuali-
dades parvoas e á semsaboria de con-
vencional contentamento.» A. Hercula-
no, Monge de Cister, cap. 25.
1.) SIMPLICES, s. m. plur. As drogas
de que se compõe os remédios, de que se
fazem as operações cliimicas, e de tintu-
raria, o? ingredientes.
2.) SIMpLiCES, adj. Vid. Simples. —
«Este artigo e confissam de huma igreja
Catholica (como he declarado) he a prin-
cipal columna a que estamos encostados,
e firmados, pêra escapar de todalas here-
sias, e erros, e nelle consiste toda verda-
deira e sancta Theologia das pessoas sim-
plices, porque em quanto firmemente cre-
rem o que cree a sancta Madre igreja
Catholica estam seguros de lhe nam em-
pecerem as ignorâncias em as quaes po-
dem cayr por não alcançarem a alteza,
e subtileza dos mysterios da fee.» Frei
Bartholomeu dos Martyres, Catecismo da
doutrina christã. — « D'alli voltaram a
Caljpso, que os esperava. As nymphas,
com os cabellos entrançados, e cândidos
vestidos, ministraram umas iguarias sim-
pleces, mas exquisitas no gosto e no
aceio. Não havia outros guisados mais
que das aves, por ellas preadas nas re-
des, ou das feras, que tinham assetteado
na caça. Grandes e argênteas vasilhas,
despejavam em áureas taças vinho mais
saboroso que o néctar ; e em aceiadas
bandejas traziam quantos fructos promet-
te a primavera, e liberaliza o outono.»
Francisco Manoel do Nascimento, Tele-
maco, liv. 1.
As Leis então verá da Natureza,
Constantes sempre, simplices, e grandes,
E se a verdade a nós sobre inaccesso
Aéreo cume d'a3pcra montanha
Por entre densa névoa apenas raia.
J. A. DE aiACEDO, A NATUREZA, Cant. 1.
Não existe hum lugar no Ceo, na Terra,
Onde homogéneo, simpUce. só, puro,
Assento firme tenha, e reino o fogo.
IBIDEM, cant. 2.
SIMPLICIDADE, s. f. (Do latim sim-
plicitas). Qualidade do que é simples, e
não composto, em opposição a multipli-
cidade, coinposição. — A simplicidade do
ente divino.
— Caracter de innocencia sem disfar-
ce, sem malícia.
Tu choras cousas que hão
de ter fim ; simplicidade
maior do quantas o são.
Disso e d'Athenas me rio.
ANTOKIO PRESTES, AUTOS, pag. 43.
— Qualidade do que não é complicado.
— Qualidade do estylo simples.
— Qualidade do que é sem fasto, sem
ostentação, sem apparato.
— Qualidade das pessoas que não pro-
curam nem o fasto, nem o apparato.
■ — • Falta de luz, de conhecimentos.
— Syx. : Simplicidade, simpleza.
Simplicidade é a qualidade de ser sim-
ples, tanto no sentido physico como no
moral. Simpleza somente se diz do ho-
mem no sentido moral.
Simplicidade toma-se sempre cm boa
parte, como negação de dobrez, de refo-
lho. Simpleza parece referir-se ao adje-
ctivo simples na accepção de néscio, de
pouco engenho, pelo que muito se parece
com ignorância ou parvoíce.
A simpleza de Sancho II era certa-
mente d'esta espécie, e mui differente
da simplicidade, que excluindo a do-
brez, o dolo, a astúcia, o refolho, sabe
unir-se com a discrição e o juizo. A
simpjleza é singela, mas tola ; a simpli-
cidade é singela, porém avisada.
SIMPLICÍSSIMO, A, adj. superl. de
Simples. Mui simples.
SIMPLICISTA, adj. 2 gen. — Medico
simplicista ; medico que cura com as
drogas simples ou receitas que não cons-
tam de muitos ingredientes.
• — • Que se occupa dos simples medici-
naes.
SIMPLIFICAÇÃO, *. /. Acção de sim-
plificar, resultado d'esta acção,
SIMPLIFICADO, imrt. i^ass. do Simpli-
ficar. — Um methodo simplificado.
f SIMPLIFICADOR, s. m. Homem que
simplifica.
SIMPLIFICAR, i'. a. Tornar simples,
menos composto, menos complicado. —
Simplificar as causas e generalisar os ef-
feitos deve ser o fim do physico.
— Simplificar um quebrado; reduzil-o
á expressão mais simples ; convertel-o em
outro, que lhe seja equivalente, e cujos
termos sejam primos entre si.
SIMPLÍSSIMO, A, adj. superl. de Sim-
ples. Vid. Simplicissimo.
SIMPLO, s. m. A simples quantia, ou
capital de que se trata, sem juros, cus-
tas ou outros accrescimos.
SIMPLÓRIO, A, adj. Termo popular.
Vid. Simplalhão.
SIMPRES, ndj. 2 gen. Vid. Simples.
-j- SIMPRESMENTE, adv. (De simpres,
com o suífixo «mente»). Vid. Simples-
mente. — «Item. Se alguum emprestou
ouro ou prata a outrem em modo e con-
diçom de emprestido simpresmente, ou
pêra se usar delle a certo tempo, pague
esse ouro, ou prata pela guisa suso dita.»
Ord. Affons., liv. 4, tit. 1, § 44. — «A
este artigo diz ElRey, que pois tanto da-
pno vem delles, que os nom aja hy da-
qui em diante, e manda que os nom fa-
çam ; e se os alguém fezer, que nom va-
lham mais que outro prazo feito simpres-
mente.» Ibidem, tit. 7, § 1. — «E se as
partes fezessem alguã conveença, a qual
firmassem antre si, e despols que assi
antre elles fosse firmada simpresmente,
dissessem que fossem fazer Escriptura,
em tal caso Dizemos, que se as partes
huma vez fezerom, e firmárom sua con-
veença, nom se podem mais afastar a
fora per razom desta Lei, se lhe outro
algum remédio de direito nom valesse.»
Ibidem, tit. 56, § 5.
t SIMPREZA, s. /. Vid. Simpleza. —
«Porque poderia o comprador despois da
dita compra fazer na cousa alguãs bem-
feitorias, por que a dita cousa seria mui-
to melhorada, ou poderia o dito vende-
dor por sua simpreza seer enganado na
primeira compra, que fez.» Ord. Affons.,
liv. 4, tit. 45, § 5.
SIMPTOMA, s. /. Vid. Symptoma.
SIMUL, adv. lat. Termo pouco em uso.
Juntamente, simultaneamente, ao mesmo
tempo.
SIMULAÇÃO, s. f. (Do latim simula-
tio). Termo de jurisprudência. Acção de
simular. — Ha muita simulação n'este
contracto.
— Diz-se também : A simulação de uma
doença.
— Disfarce, fingimento, dissimulação.
SIMULACRO, s. m. (Do latim simula-
crum). Estatua, idolo, imagem.
E o pertinaz Athèo cego, insensível
Poderia dizer í|ue o raéro Acaso
Arrancara de bruta penedia
Desfarte atFeiçoado aquelle apuro
Da mão do Miguel Angelo, ou Bornini ?
E que outro acaso sobre a base firme
O portentoso simulacro alçara?
J. A. DE MACEDO, JTEDITAçÂO, Caut. 4.
SIMULADAMENTE, adv. (De simulado,
com o suífixo «mente»). De um modo si-
mídado.
— Com disfarce, com fingimento, com
dissimulação.
SIMULADO, jmrt. pass. de Simular.
Que se faz parecer como real, ainda que
o não seja.
— Doenças simuladas ; doenças de que
se determina em si os symptomas por
meios artificiaes, e que parece ter, a fim
de se isentar assim de preencher os de-
veres impostos pela sociedade, ou pelas
leis.
— Que quer parecer o que não é.
— Feito á imitação d'outro.
528
SINA
SINA
SINA
— Fingido, em f|nn ha simulaçi\o.
— Contracto simulado ; contnicto que
6 fingido, ou fundado ciu couna falua,
para frau<Iar os credores, ou illudir a lei.
SIMULADOR, A, a<lj. e s. (Do latim
Simulator}. l't)snoa (|ue aabe simular.
— Particularmente : Aquelle que si-
mula unia doença.
— Qiio u>a de wimulações.
SIMULAMENTO, s. m. Termo pouco em
liso. Vid. Simulação.
SIMULAR, ('. a. (Do latim siinnlare).
Termo de jurispnidcncia. Fazer parecer
como real o que o não c.
— Disfarçar com algum dito, ou acçílo
o verdadeiro intento, ou propósito que
temos, dando-llio apparencias, que indu-
zem 08 outros eiu erro.
— Disfarçar, oocultar com côr.
— Syx. : Simular, dissimnlar. Vid.
este ultimo tivnio.
SIMULCADENCIA, s. f. (Do latim ni-
mulcadentia). Fipjura do rlietorica, quo
consisto em acabar as clausulas com ter-
mos similhantes.
— Algun-; auetores dizem que ó quan-
do a mesma figura consta de dous perio-
dos com igualdade nos casos.
SIMULCADENTE, adj. 2 gtn. Vid. Si-
mulcadencia.
SIMULDESINENCIA, «. /. (Do latim si-
muldesinentia). Figura de rhetorica, que
consisto em acabar as clausulas com pa-
lavras lunnonvnias.
SIMULDESÍNENTE, adj. 2 gen. Vid.
Simuldesinencia.
SIMULTANEAMENTE, adv. Ao mesmo
tempo oui que outros fazem, ou um só
faz diversas cousas. — Estudar simulta-
neamente a matkemafica e direito.
— Juntiinicnte.
SIMULTANEIDADE, s. f. Termo didá-
ctico. Existência de duas ou mais cousas
ao mesmo tempo.
SIMULTÂNEO, A, adj. Que se faz, que
tom logar ao mesmo tempo.
— Contracto simultâneo das cores.
— Diz-se de um modo do ensino cm
quo o professor se dirige coustantemeute
á mesa dos discipulos da classe, ou de
uma divisão da classe, e lhes faz fazer
ao mesmo tempo os mesmos exercícios.
SINA, s. /. (Do latira signum). Termo
antiquado. Estandarte, bandeira, insígnia
militar, que os soldados deviam seguir.
Consorva-se hoje o nomo de sina nos bo-
dos, cavalhadas, ou sejam romarias, que
algumas camarás do reino costumam fa-
zer em algum dia do anno, levando o
juiz, ou algum outro official a bandeira
real a certa ermida, ou templo, para me-
moria, e agradecimento de algum benefi-
cio em feito de armas, que do céo te-
nham recebido.
— Moilornamcnte, ha as bandeiras do
regimento com as cores d'elle, e a real
com as armas rcaes.
— A sorte ou destino que cada um ha
de ter, segundo os decretos etemoB da
Providencia. — «Eu ignoro absolutamen-
te a minha sina, o ainda quo estou ho-
goito, e obediente a t(jdafl, o quaesquer
disposiçoons da Providencia, teria horror
do quo 03 velhos mo transmutassem em
Caranguejo, principalmente neste século
em que nílo ha hum Ovidio, que dósso
noticias minhas ao publico jjerpctuando a
minha memoria cm Imma Jletamorpho-
80.» (Javalleiro de Oliveira, Cartas, liv.
3, n.o 9. — «O pensamento verdadeiro e
dondnanto d'esto poema é ligar a vida e
feitoa todos de Camijes como a um fado,
a uma sina com que nasceu — a de im-
mortalizar o nome portuguez com o seu
poema.» darrett, Camões.
SINABAFO, s. VI. Termo antiquado.
Género de tecido mui tino, sem outra cór
mais dl) t\ui: a natural.
SINADAMENTE, adv. Assinadamente.
SINADO. Vil. Assinado.
SINAGOGA, .'. /. Vid. Synagoga.
SINAL, ou SIGNAL, s. m. (Oo latim
signum). Indicio, qualquer cousa da qual
vimos em conhecimento de outra com que
ella tem ligação natural como o fumo é o
signal do fogo. Pivle ser natural ou con-
vencional, conforme provém da natureza,
ou é filho da convenção.
Sou contento do mostrar
Poloa sinats que vos dou.
Que são estes sem faltar.
Que siuacâ podeis vós dar.
Para que sejais quem sou?
CAII., AMPHYTHIÕES, act. 5, SC. 1.
— aE pelas nouas que lhe Antão Gon-
çaluez deu das cousas da terra segumlo
o tinha sabido dos Alarues, e principal-
mente pela quãtidade douro que ouue que
era sinal de muito que ao diante se po-
dia descubrir : despachou logo a Nuno
Tristão quo como atras fica, foi o que
chegou ao cabo Branco.» Barros, Dé-
cada 1, liv. 1, cap. 7. — «Mandou ar-
vorar hunia Cruz feita em hum masto, o
qual sinal era tão notável por sua altura
sobre o canal da parte da Aralúa, que se
via de huma légua.» Idem, Década "2,
liv. 8, cap, 3. — € Acompanhou este voto
com perpetua oraçam, c assistência ao
enfermo, nam se appartando mais d'ello
ate que espirou com todos os bons sinaes.»
Lucena, Vida de S. Francisco Xavier, liv.
6, cap. 13. — «E quanto ao negocio do
cerco, e guerra da Fortaleza de Diu, foi
mui grande mercê de Nosso Senhor a vi-
ctoria, que vos alli deo contra tamanho
poder, e número de inimigos do sua Santa
Fó Catholica, que de tão diversas partes
alli erão juntos, e mui claro sinal de elle
ter do sua mão o Estado ile essas partes,
e lhe dou por tudo tantos louvores, como
he razão, e lho devo.» Jaciíitho Freire
d'Antlrade, Vida de D. João de Castro,
liv. 4. — «Observo que sendo a Cabeley-
ra do Chapelain hum dos sinaes da sua
Villania, ii3o fez mai-í do que emporca-lo
a cllc mesmo, porem a Peruca de V. M.
com admiração extraordinária, sendo hum
dos argumentos do seu acevíi, não faz me-
nos do que sujar a todos.» ÍJavalleiro de
Oliveira, Cartas, liv. 3, n." 24.
Terra, exclama lium riacroiro, nig terra á proa:
Já nos parceiít da CoHta o mur quebrada,
Alvait ospuman luvautaiulo, «'ja,
Ao Ijordo coiTc o Luso alvoraçado :
No ar o bando aquático rcvôa
Sinai dos nautjis tanto doscjado.
Quando á Coiita mai« próximos corriio.
Palmas uoB moDtos ondeando viio.
1. A. DK MACEDO, o ORIERTK, Caut. 3, Mt. 8-3.
— Termo antiquado. Peça, tnutc mo-
vei ou semovente, jóia.
— Signal <lo juiz; o seu nome e firma.
— () nome com mie alguém se assigna,
e firma quo é do seu punho e letra. —
«E após aquelle papel outro, grudado tu-
do logo. E após aquelle outro. E no ter-
ceiro pos ho Ponchassi lio seu sinal de
letra vermelha, e ho que se continha den-
tro.» Fr. Gaspar da Cruz, Tratado das
cousas da China, cap. 19. — tE manda-
ram a todos que pusessem seu sinal em
hum papel, pêra que em quanto elles hiam
aa corte e se despachavam soas feitos,
manhosamente nam fizessem faltar al-
gum.» Ibidem, cap. 25.
— Marca, vestígio. — tFelo Idacio, ou
Ursacio assi, com tanto zelo, e efficacia,
que a demasia dei lo poz o negocio em
termos, que conveyo ajuntar Concilio na
Cidade de Caragoça, e convocar os Bis-
pos de toda Espaníia, e alguns de Fran-
ça, onde também ficàraõ sioaes desta
desaventura, semeados por Marcos em
sua primeira chegada, e nelle.» Monar-
chia Lusitana, liv. 5, cap. 28. — «Aa
quaes segundo parece, se enchiam da
agua do Nilo no tempo de geu crescimen-
to per huma aberta á maneira de larga
levada, que vinha delle té esta Cidade,
a qual o tempo, e os Bárbaros atopírara,
segundo a opinião da gente do Cairo, da
qual ainda em algumas partes apparecem
os sinaes.» Barros, Década 2, liv. 8, cap.
1. — «El Rei dom Afonso de Castella ho
da batalha do Salado, onzeno do nome,
que no anno do Senhor de M. CC. XXXXJ,
fez ha ordem da Banda em Castella, cujo
sinal era huma faxa do seda cramisim,
com uma banda douro pelo meo, na qual
Regra não podia entrar homem, que naõ
fosse vassaílo dei Rei, ou de seu filho
primogénito herdeiro, em humas cortea
que fez em Alcala de Henares determi-
nou de poer modo em huma antigua di-
ferença, que hauia entre has cidades de
Burgos, e Toledo.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 1. cap. 29.
— «E quando vem ao sayr dosfcis por-
tas, vem todos cos braços em que trazem
os sinaea arregaçados, paraque os mesmos
SINA
SIXA
SINA
529
Chanipatões, que saõ os porteyros, e mi-
nistros daquelle negocio, os conheção e
03 deixem passar, e o que por algum caso
foy taõ mofino, que acertou de se lhe
apagar o sinal, bem pode ter paciência,
e ficarse cos outros presos, porque ne-
nhum remédio ha para o deixarem sa^T
de dentro, pois nào traz o sinal que se
lhe pòs ao entrar da porta.» Fernão Men-
des Pinto, Peregrinações, cap. 108. —
<0 lado esquerdo desta figura se vê aber-
to, e na face direyta se vê também o si-
nal da bofetada que deo o criado de Cai-
phas em Jesus Ciiristo.» Cavalleiro de
Oliveira, Cartas, liv. 1, n.° 24.
— Firma aberta em metal para man-
dar assignar.
— Dar signal de si ; dar mostra de si.
Pois nào vos entendeo.
Ora eu ja cheguei a ler
Petrarca, c crede de mi
Que mmca tal cousa vi.
Onde mora o bom saber,
Logo dá tinal de si.
Onde casada puzestes,
Dizei, porque não dissestes
La que yo vi por mi mal.
CAM., AMPHTTBIÕES, ECt. 1, SC. G.
— Marca posta na roupa, gado, escra-
vos, para distinguir-se, e conhecer de
outros.
— Prognostico, aviso. — «E hum del-
les a quem os Cafres chamão Quilimane,
dizemos nôs o dos bons sinaes, por quan-
to Vasco da Gama, na primeyra Armada
em que foy à índia, os achou aqui con-
formes aos que elle desejaua.» Fr. Gas-
par de S. Bernardino, Itinerário da ín-
dia, cap. 7.
— Dar signal de si; dar indicio de vi-
da espontânea, que dá o que parecia
morto.
— Qualquer marca, mancha, ou ex-
crescência, que as creanças trazem do
ventre materno, no corpo, ou que os adul-
tos mesmo tem, quer por uma causa na-
tural, quer accidental, como cicatriz de
golpe, cabellos crescidos, etc.
— Signal em branco; o nome de alguém
escripto em um papel, antes do qual no-
me se ha de escrever cousa, em cuja ap-
provação se requer o tal signal.
— Fazer signal a aJguem; fazer-lhe
aviso, avisal-o. — «A Armada tanto que
vio o sinal que lhe fizeraõ da fortaleza,
estando jà prestes, e negociada, porque
Nicolao Gonçalves ia quem aquelle ne-
gocio estava encomendado) tinha arvora-
das muitas lanças por todos os navios,
que estavaõ fermosamente embandeira-
dos, e tinha cortados muitos murroens em
pedaços, e acesos os repartio pelos moços,
e marinheiros pêra que os imigos cuidas-
sem que eraõ espingardas.» Diogo de
Couto, Década 6. liv. 4, cap. 1. — «Os nos-
sos vendo tanta gente, julgaram hirmos
captiuos, e sô hirem pedir o resgate, Re-
TOL. v. — 67.
meterão com fúria as armas, e com èllas
chegando mais perto, lhes fiz sinal se
aquietassem, porque todos eram amigos.
Abraçaram-se huns aos outros, e os Ca-
fres a seu modo, também festejarão o Ca-
pitam, que nào cabia de prazer em ver
tanta humanidade.» Fr. (raspar de S.
Bernardino, Itinerário da índia, cap. 10.
— » E porque do dito baluarte se viram
as brigas, atiraram e fizeram sinal pêra
as gales virem após nos, e por ho bom
vento que tínhamos lhe fugimos, e esca-
pamos com victoria. E navegando por ho
dito mar cinco dias com suas noytes, che-
gamos aa Ilha de Chipre a hum porto
que se chama Alamizom.» Tenreiro, Iti-
nerário, cap. 49.
— Dar signal ; mostrar, manifestar.
— «Dom Afonso de Noronha, que hia
diante, teue tempo para mais a sua von-
tade lhe poder chegar, mas o esforço de
dom Afonso de Noronha nem espantou o
capitam Coje Abrahem porque com o
mesmo se achegou pêra elle, e com igual
vontade se começaram a ferir, mas como
os fartaques fossem de vencida, ficou o
seu capitam so com os oito que com elle
fezeram rosto, cercados da nossa gente,
onde todos morrerão como mui esforçados
caualleiros de que deraõ sinal no sangue
que derramarão dos nossos, posto que
naquelle recontro nam morresse nenhum.»
Damião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 2, cap. 23.
— Figuradamente : Dar signal em
branco; approvar tudo o que fizer, con-
tractar, ou negociar esse, a quem se en-
trega a carta branca, ou signal em bran-
co para encher o branco do que n'elle
quizer lançar, ou escrever.
— Marca de tafetá preto, com varias
figuras, que as mulheres punham no rosto
como enfeite, e adorno.
— Porção de dinheiro que se dá ao
alugador ou vendedor, para os obriga-
rem a cumprir o contracto, de sorte que
quem o dá, perde-o se não satisfaz a el-
le. — Dar signal do aluguer de uma
casa.
— Marca que deixam no corpo os açou-
tes, as feridas, vergões e cicatrizes.
— Dar signal ; avisar, dar aviso. —
«A nào Sam lacinto conheceo as Ilhas, e
assi se foy cozendo com ellas, quanto po-
de, de sorte, que sem perigo as passou;
e sabendo a gente delia que nos hiamos
perder, ja mais nos quiserão dar sinal,
ou auiso, com alguma peça de artelharia
dando por escusa sem empacao, que le-
uauão o conuès muy empachado.» Frei
Gaspar de S. Bernardino, Itinerário da
índia, cap. 1.
— Fazer o signal da cruz ; persignar-
se, benzer-se.
— Figuradamente: Amigos do meu si-
gnal ; amigos que eu marquei, e appro-
vei por bons para meus amigos.
— Termo de marinha. São as bandei-
ras ou lanternas, que se içam nos navios
ou fortalezas, e também os tiros de pe-
ça que methodicamente se dão para in-
telligencia do que se quer explicar, ou
da manobra que se deve pôr em pratica.
— Loc. ADV. : Por signal ; em prova
de ser verdade o que se diz.
— Adágios e provérbios :
— Signal mortal, não desejar sarar.
— Signal é de má besta, suar detraz
da orelha.
— Virtudes vencem signaes.
— Quem signal tem sobre os dentes,
é honra dos seus parentes.
— Lingua longa, é signal de mão curta.
— Grande calma, é signal de agua.
— Muitas vezes a cadêa é signal de
forca.
— Sts.: Signal, indicio, mostra.
Signal, em linguagem philosophica, é
tudo aquillo que, quando se percebe, dá
noticia de outra cousa com que tem re-
lação natural ou convencional. Indicio é
tudo aquillo que indica, aponta alguma
cousa, ou leva ao conhecimento d'ella.
Mostra é a manifestação ou apparencia
de uma cousa presente, ainda que não na
totalidade.
As palavras, o gesto, a escriptura são
signaes das idêas. As nuvens grossas e
carregadas são iivlicio de chuva. As la-
grimas são mostras de sentimento.
O signal tem relação com a cousa si-
gnificada ; o indicio não tem a mesma
ligação com o objecto indicado, e só ser-
ve de abrir caminho para elle; a mostra
pôde ser verdadeira ou apparente, pois
se as lagrimas são ordinariamente mos-
tras, 03 sentimentos também ás vezes o
são de grande alegria.
SINALADO, part. pass. de Sinalar. Vid.
Assinalado. — -«Este encontro tão sinala-
do pôz tamanho espanto em muitos, que
fez perder a memoria de todalas outras
cousas passadas, ainda que de outra par-
te ninguém tivera de que se espantar, se
soubera em cujo nome se elle deu. » Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim dlnglaterra,
cap. 25. — «E esteve contando muitos
feitos sinalados do c-avalleiro do Salva-
gem, que mais acendiam o da Fortuna e
lhe faziam desejar o dia para achar o
que tanto desejava. Com este cuidado se
foi deitar e com elle se levantou antes
que a manhãa esclarecesse.» Ibidem, cap.
35. — «N'isto andaram muito tempo, por-
que Auderramete naquelle dia, que foi o
fim de todolos seus, quiz também mostrar
o fim de sua valentia, pelejando com mais
esforço do que nunca fizera, mostrando
mór alento do que n'elle havia, dando
golpes tão sinalados e grandes, que as
armas de Floriano andavam assignadas
d'elles, e as suas carnes os sentiam em
si. Os que de fora viam a batalha, teme-
rosos da braveza delia, não sabiam que
dissesem.» Ibidem, cap. 80. — «A mim
me parece muito bem esse conselho. Do
Õ30
SINíJ
SINC
SIND
iinporalor vos sei dizer, qiu; aloui de
•folgar com isso muito, cuid.inl ilio fazein
mcrcj sinalada, quo esta ú sua condiySío,
o logo sonhora o doveis pôr eui obra ;
.quo a» cousas bem .'iccrtada.s hào de ter
execução breve.» Ibidem, cap. 101.—
«A donzella se lançou a seus pós com
muito acatamento, o o imperador a le-
vantou dando-llie a mão; cousa que a uo-
niium estranho fazia, senão quando era
com alp:uuia niercô sinalada. » Ibidem,
cap. 104. — aO do Salvagem, Icndjrau-
do-llie que dar a vida a niáos ó pcra dam-
no do.3 boas, sem outra nculuuua detença
lhe cortou a cabeça, dando graças a Deus
por tào sinalada victoria. O ermitão sa-
hin a elle, dando-!ho sua benção espan-
tado de vôr um tão monstruoso corpo
morto: a donzella, que j:l trazia outra
côr c era gentil mulher so lhe lançou aos
pós, dizemk).» Ibidem, cap. 10(3. — «Pri-
maliào se aflastou com o do Salvago, e
assim praticando cada um do qno mais
lhe a vontade podia, cliogaram á cidade,
oado foram bem recebidos do povo com
algumas festas e invenções, por lhe pa-
recer que n'Í8ío apraziam ao imperador :
alegria, qno alguns estranharam polo pe-
sar geral, que então havia, pola prisão
d'cl-rei Foleiídos, Bolear, Onistaldo e os
outros sinalados cavallciros, que o tnrco
tinha em sou poder.» Ibidem, cap. 112.
— «Não .sei como isso será, disse ellc :
com o pesar que tc-iho de se mo encobrir
homem tão sinalado não so púdo perdoar
tão levemente : agora, que vejo os signaes
de suas mãos nas vossas armas, o estimo
muito mais.» Ibidem, cap. 126.
SINALAR, v. a. Vid. Assinalar.
SINALEPHA, s. /. Vid. Synalepha.
SINALPENDE, s. m. Termo antiquado.
SIcdida aLrraria de 120 pé.s em quadro.
f SINAPICO, nlj. Que diz respeito á
mo-starda e seus produetos, si sinapina e
seus compostos.
— Ácido sinapico ; acido que 6 o pro-
duuto do desdobramento da sinapina.
f SINAPINA, .<t. /. Termo de cldmica.
Base não sulfurada que existe no estado
■de sulfocvanhvdrato na mostarda branca.
SINAPI3AR, t'. a. Applicar sinapismos.
t SINAPI3INA, .t. /. Termo de chimi-
ca. Jlateria branca sulfurada, crvstallisa-
vel, cxtrahida da somente da mostarda
branca.
SINAPISMO, s. m. (Do latim stnapi,
mostarda^i. Termo de medicina. Cataplas-
ma, que tem por base a mostarda, e que
se applica para determinar a riibolacção
da parte, o produzir uma excitação ge-
ral, ou tuna revulsão.
t SINAPOLINA, .>.•. /. Termo de chimi-
ca. Base crystallisada obtida pela acção
do oxydo de chumbo hydratado húmido
na essência da mostarda.
SINAR, V. a. Termo antiquado. Bali-
zar, marcar com pendões.
SINCA. Vid. Cinca.
SINCADA, ». f. Sinca.
SINCAIJILHA,' í. /. Vid. Sancadilha.
SINCAR, r. a. Dar cincos. Vi<l. Cinca.
SINCEIRAL, ». VI. Floresta, matto de
cinc(!Íros. ,
SINCEIRO, s. 111. Termo antiquado. Sal-
guei rn.
SINCEL, s. m. Vid. Sínzel.
SINGELOS, s. m. Terma da província
da Beira. Os caramelos de chuva gelada,
que iicani pendendo dos telhados e arvo-
ri.'s.
SINCERAMENTE, adv. (De sincero, e
o suílixo «mente»). De uma maneira sin-
cera.
— Com sinceridade, com singeleza.
SINCERIDADE, s.f. (Do latim sinceri-
fas). Qualidade do homem sincero.
— Diz-sc também das cousas.
— Lhaneza, lisura no fallar, no proce-
der.
— Falta de mistura, que corrompe, o
altera.
SINCERÍSSIMO, A, wfj. superl. de Sin-
cero. Mui sincero.
— Figuradamente : Sinceríssima casti-
dale,; castidade mui pura.
SINCERO, A, adj. {Do latim sinceras).
Que exprinie com verdade o que sente, o
que pensa.
Sim, hasdc. — Marco
Iladc tarabcin obcdccor-mc. Ardente,
Arrebatado é o jovcn, mas sincero,
Probo, leal. — Pcrdoa-lhe, cu te vigo.
OAliRKTT, C.VTÃO, ilCt. 5, SC. 7.
— Puro, sem mistura de cousa hetero-
génea, fallando das cousas. — Razves sin-
ceras.— Prazer 2>wo e sincero.
Niun consistório oti consellio
.liiiceras razões vereis ;
são alli velhos espelho,
o íls vezes não achaes mira velho
o que num moço achareis.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pag. 423.
• — «Acho que tem expressoens que em
Plinio parccerião muito bem, e que em
V. M. parecerão muito mal. Este hc o
meu parecer, c he sincero. Remeto ontra
vez o j\[emorial, o tome V. M. a sua re-
zolução.» Cavalleiro d'01iveira. Cartas,
liv. 1, n." 21.
Vejo no porto Epicuro, o vulgo insano
NeLlc descobre hum impio, cu vejo hum Sábio,
Frugal, modesto, taciturno, humilde,
Que no moral prazer, puro, c .tincfro.
Suprema quiz constituir ventura.
J. A. DE MACKDO, TIAOEM EXTÁTICA, CUnt. 2.
— Lhano, sem dobrez, nem refolho.
— Aniino sincero. — Corac'f^ sincero.
As inclinações varias que mostramos
Não 8i»õ firmes cm nós, nem saõ forçosas,
lluus 11 matérias vis nos abnixamoâ.
Outros a empresas altsia, c famosas.
Outros 08 latroeiuiog inai« amamon,
Qui) uii ubrao dign.-M de honra virtuoMs,
ftutro) «eguimoí Marte hórrido, e fero,
Outro.< o coraçào rnanso c intirfro.
COSTK BKAl,, XACrSAOIO DC SKPCLVEDA, Cailt. 14.
Depois qac vezes mil na ertranha, c grando
.MijIc titfi maravilhadoit olhos,
l'or lo.igo t<!iMpo ab^to.-t/i coiitcmnlAndo
Aquella dalto i iii^i-nlio obra entupciída,
Ao IJritanno imuiortil sagrei coai votos
Sincero o coraçào, miriiralina ingi-nas.
J. A. DK HACKOO, VIAOKM KXrATICA, Cant. 2.
Soldado fui tambf-m : 8';r-me-ha ventara
Em mcuB quartéis d'hynvemo reccbcr-vos.
— «A cortezia é de ânimo niicero;
Kcm sou homem, senhor, que a dcsvalio.
OAKRBTT, CAtÃo, act. 1, SC. 21.
— Palavras sinceras ; palavras dima-
nadas do fundo do coração, ingénuas.
— Dom, ojferecimtntu sincero ; dom,
oíTerecimento de sã vontade e pura.
Mas se huma alma, que tcubo.
Agora, ta não der, para quo a quero?
Eu oifrccer-ta venho,
Recebe, Olaia, o dom, vê que ho rincero.
J. X. DE MATTOS, BIMAS, pag. 13)).
I SINCO. Vid. Cinco. — « Este, ven-
do 6c levantando por Rey, a primeyra
cousa que foz foy com aquelle Ímpeto, c
fervor do povo, dar nas casas do Rey
Brama, aonde ostavaõ sinco mil Bramító,
e 03 matou a todos à espada, sem a ne-
nhum delles se dar a vida ; e o mesmo
fez depois a todos os outros, que estavaõ
alojados pelos lugares importantes do
Reyuo, e com isto houve também à maõ
o thesoiu'o delRey, que naõ era peque-
no.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 190. — «A qu.al Ai^mada dan-
do huma manhã nesta de^aventurada po-
voação dos Portuguezes, a cousa foy <le
maneyra, que certifico na verdade que
não acho em mim cabedal, nem de enge-
nho, nem de palavras para cotar por ex-
tenso o quo alli passou imagine-o o bom
entendimento; somente direy como teste-
munha de vista que em menos de sinco
horas quo durou e->te horrendo, e espan-
toso castigo da mão de Dcos.> Ibidem,
cap. 221.
SINCOPA. Vid. Syncopa.
SINCOS, s. "I. plur. Certos direitos
que se pagavam em Lisboa, de quaes-
quer fazen-ias que n.ào tinham entrado
pela barra.
SINDEIRO. 5. 1)1. Vid. Sendeiro.
SINDERESIS. \id. Synderesis.
f SYNDEYRO, s. m. Vid. Sendeiro. —
«Continuando nosso caminiio por este rio
acima, chegamos ao outro dia ja quasi
véspera a hum.as grandes campinas em
quo avia muvta quantidade de g.ado va-
cum, o de sindeyros e cgcas, aos quais
guardavão muytos homens a cavallo para
08 venderem aos merchantes que os cor-
SING
SINO
SING
531
tão 1103 açougues coaio a outra carne.»
Fernào Mendes Pinto, Peregrinações,
cap. W.
SINDICANTE, arij. 2 (jen. Vid. Syndi-
cante. — iSalii em ilm indo-me detendo
quanto pude, como avisei a vossa alteza,
mas na praia soube, que o procurador do
Brazil tinha recebido um escripto de Sal-
vador Corrêa no qual lhe dizia, que elle
fallára com sua magestade, que eu não
ia para o Maranhão, e que o sindicante
tinha ordem de m'o notiticar assim, quan-
do eu fosse embarcar-me.» Padre Antó-
nio Vieira. Cartas, n." 7.
SINDICAR, V. a. Yid. Syndicar.
SINDO, s. ?-!. Termo da Ásia. Vid.
Bandarim.
SINEIRA, s. f. A mulher do sineiro.
SINEIRO, s. »i. Homem qae faz sinos.
— ■ Homem encarregado de tocar os si-
nos.
SINERESIS, s. /. Vid. Syneresis.
SINESTPiO, A, adj. Esquerdo. — Bra-
ço sinestro.
SINETA, s. f. Pequeno sino; é inter-
médio á campainha, e ao sino.
SINETE, «. m. Firma, chaucella, sello
de armas, ou divisa própria de que se
usa para seliar, ou sigiilar cartas ou pa-
peis, que, conforme o estylo, ou lei, de-
vem ser sellados. — «E pax-aque tanta
multidão de gente se possa toda sinalar,
estaò a estas portas de numa banda e da
outra huma grande somma de chanipa-
toens, que com huns sinetes de chumbo
molhados naquelle bitume a cada hum
dos que chega lhe põem logo aquelle si-
nal, e o deixa entrar. E isto se faz aos
homens somente, e nào ás molheres, por-
que estas não estaõ obrigadas ao degre-
do do mure.» Fernão Mendes Pinto, Pe-
regrinações, cap. 108.
SINFONIA, s. f. Vid. Symphonia.
SIN&EL, s. m. Uma junta de bois.
— Um singel de ijerdizes; um par
d'ella8,
SINGELADA, í. /. Vid. Singel.
SINGELAMENTE, adv. (De singelo, com
o suffixo «mente «)• De um modo singelo.
— Com singeleza.
SINGELEIRA, s. /. Espécie de rede de
pescar.
SINGELEIRO, s. m. O lavrador que la-
vra com um singel.
— O ganhão, que lavra com um sin-
gel para outrem ; o que acarreta com sin-
gel.
SINGELEZ, s. /. Termo de poesia. Vid.
Singeleza.
SINGELEZA, s. /. Sinceridade, inge-
nuidade, falta de concerto, ornato, dis-
farce. — Fallar com singeleza. — «Mas
destas cinzas, se leuantou aquelle rayo de
fogo contra a ca^a Othomana, Xà Abay-
bàs, que hoje viue, cuyo amor pêra com
os Christàos, aqui nào digo, assi por ser
muy conhecido, como porque a singeleza,
que elle professa, terá minha verdade por
lisonya.» Fr. Gaspar de S. Bernardino,
Itinerário da índia, cap. 40. — « Com
que amabilidade condescendia com as
vontades de seu Esposo, cujas erào sem-
pre contradictorias com as délla. Qiianto
mais se lhe ia espraiando o ingenho, mais
ella se entranhava no desejo da singele-
za, que nos homens só cabe em ânimos
grandes, e nas mulheres só nessas que
lógrão delicadas sensações. s Francisco
Manoel do Nascimento, Successos de ma-
dame de Senaterre.
— Singeleza de animo.
SINGELÍSSIMO, A, adj. Mui singelo.
SIN&ELLO, A, adj. Vid. Singelo (me-
lhor orthographia).
«
Esereve-lhe por ella, não palavras
De artificio aôVitixdas, c alto estillo :
Naõ cura do ornamento imaginado.
Xeai se cansa cm mostrar sotil engenho,
Mas com frasi singelía. mil verdades
Lhe diz la dentro d'alma ollerccidas
Xo canto que se segue as vereis, (luc este
Mais do que ser deuia ja se alarga.
COKTK KEAL, HXVFRXaiO DE SEPÚLVEDA, COnt. 1.
SINGELO, A, adj. Sincero, lhano, sem
dobrez nem refolho ; ingénuo. — «Occu-
pado de taes imaginações, que versavam
no meu espií-iíu, embreuhei-me n'um fe-
chado bosque, onde de repente me saiu
ao encontro um velho, que trazia um li-
vro na mão. Tinha elle unia grande cal-
va; a testa um pouco enrugada; a barba
branca lhe descia até a cintura; o talhe
era alto e magestoso ; a tez inda fresca e
corada ; os olhos espertos e vivos ; a voz
suave; as palavi-as singelas e doces.»
Teiemaco, traducção de Mauoel de Sou-
sa, e Francisco Manoel do Nascimento,
liv. 2.
Catão, esse... esse perfi..o inganou-me:
Meu natural singdo c poucos ânuos
Ganiram fácil no inredado laço
Que de vagar e ha muito anda tecendo.
GAEBETT, CATÃO, act. 4, SC. 4.
— Partida singela ; no jogo, a que
conta só por um.
— Estar singelo de navios; ter pou-
cos.
— Andar singelo ; andar sem túnica,
ou vestido interior.
— Pagar qualquer i^ena pecuniária
singela; pagal-a nào em dobro, ou tres-
dobro, ou anoveada, mas uma s.ò porção,
qual a lei ordena.
— Fraco.
— Ter cavallo singelo ; por ónus, sem
obrigação de ter besta ou outras armas.
— Único..
— Puro, sem mescla de cou.sas hetero-
géneas. — Pudcn' singelo.
Que pudor tíim singelo, c que ú Innocente
Virge' acerésce rubores, quando escuta
De Boma e Bayas des-virtuósos gostos !
Que mortal pallidez lhas não descora.
Quando o fu;-or lhe troa dos Combates,
As lançadas, as mortes, os Captivos !
F. JI. DO NASCIJCESTO, OS MABTYBES, 1ÍV. 8.
— Canhão singelo ; canhão que não é
reforçado, mas tem o metal necessário.
■ — Ao singelo ; singelamente.
— Loc. ADY. : As singelas ; só, sem
companhia.
7 SINGIBO, i^art. pass. de Singir. Vid.
Cingido. — «Na cabeça si:a touca singi-
da, cõ hum rabo dè seda, que lhe decia
pelas costas como tivinçado, e sobre cada
oreiha huma ponta do turbante que em
alguma maneira demonstrauSo trazer toa-
lha, cõ huma feyção desengraçada, e pou-
co ayrosa. í Fr. Gaspar de S. Bernardi-
no, Itinerário da índia, cap. 17.
f SINGIR, r. cr.. Vid. Cingir.
SINGRABljRA, ou SEKGRABURA, s. /.
Termo de i:p.utica. A derrota de um na-
vio á vela em um dia; o caminho que
eile faz no espaço de um dia natural ; o
espaço que elle anda.
SINGRANTE, part. act. de Singrar.
Prompto a dar á vela.
. — ■ Veiíder qualipier effeiio singrante ;
vendel-o por certo preço, posto a bordo,
livre.de impostos e despezas ao compra-
dor; prompto pai-a se navegar para fora,
e esportar-se. . : .
SINGRAR, V. à. Termo de náutica. Na-
vegar íi vela, velejar, surdir avante.
SIÍ-JGTJLAR, adj. 1' (jen. (Do latim dn-
gularis). Que }• um só, indivi-
dual.
— Figuradamente : iíaro. extraoidina-
rio. — «A dona, que também nSo dor-
mia, se ergueu, e tomando licença do
hospede, sè partiram caicinho da gram
cidade de Londres, onde chegaram a tem-
po que o sol sabia, e os seus raios- ba-
tiam nas altas torres e singulares edefi-
cios de que est.nva nobrecida.» Francisco
de Moraes, Palmeirim d'íaglaíerra, cap.
35. — «No meio do rio em um ilheo, que
a agoa fazia, estavam uns edeficios gran-
des i;e muitos corucheos, ameias e outras
mostras singulares de uma cor negi-a cu-
bertos. Não se via cousa alegre, tudo era
a modo de tristeza.» Ibidem, cap. 6. —
«Disse mais que se algum fosse tào sin-
gular namorado, que nào devesse nada
ao que desencantasse a copa, que este
também tomando-a na mão a faria tão
clara a ella e as lagrimas, como ante
eram, porem que deixando-a, e toman-
do-a outro menos namorado faria logo
outra mudança, segundo quem a toma-
va.» Ibidem, cap. 90. — «Como Floramào
do seu natural fosse mnzico, parcceu-lhe
também aquelle vilancete, que o julgou
por a melhor cousa, que nunca vira ; por-
que, alem das falias serem singulares e
cantarem concertadamente, a manhãa era
pêra isso muito graciosa, e juntamente
por baixo das ramas das arvores vinha o
532
SING
SlNl
SINO
tom soando com uma saudailo contoinpla-
tiva G namorada.» Ibidem, cap. 109. —
«Km lu;,'aros convoniciitiM om caixados
nas paredes havia vidraças singulares,
qiio (lavam clariíladc á casa, taiiihom oc-
cupada» do htutorias antif^as, que oram
diííiias de AO f^astar ncllas algum espa-
ço.» Ibidem, cap. 120. — «A qual se-
nhora doiia isabol mollici- do Duquo do
Bragança, ao tenqio da prisam do Duque
estaua cm Vilhiviçosa, e tanto que do
caso foy anisada, mandou logo tros iillios
Bcus a Castolla, c com elles fidalgos de
sua casa, s. dom Felipe o mayur, que sen-
do moço lá faleceo, c dom (lemes o se-
gundo, (pio ora lio Duquo de Bragança,
e de (luimarãcs, o o mor senhor Despa-
nha, sangue, teri-as, c vassallos, e pes-
soa singular que tomou a cidade de Aza-
mor aos mouros, depois de tornado a es-
tes Reynos por el Rey dom Manoel seu
tio, que sancta gloria aja, e dom Dcnis
lio terceiro, que cm Gastella casou com
huma filha do Conde do Lemos herdeira
da casa.n Garcia de Rezende, Chrouica
de D. João II, cap. 44. — «Além das
mais partes que teve, foy excelente Poe-
ta (como diz Saõ Jerouymo) c compoz
singulares versos om diferentes matérias,
particularmente, epitáfios que mandava
esculpir nos scpulchros c memorias dos
Martyres.i) Monarchia Lusitana, liv. 5,
cap. 27.
Á fó que por tal o enfronho ;
Rabou-nuí tanto o casar,
do (loco c do siiif/iUar,
que estou já maravilhado
não vos cheirar a cagado,
segundo m'o quiz pegar.
ANTÓNIO PUIiSTES, ACTOS, pag. 119.
— » Conquistou Santarém soccorrido
das oraçijes de nosso Padre S. Bernardo,
a quem deo por este favor os Coutos de
Alcobaça, e fundou com singular ma-
gnificência aquella grande Abbadia.» Fr.
Bernardo de Brito, Elogios dos reis de
Portugal, continuados por D. José Bar-
bosa. — « Parcce-me (|ue estes aconteci-
mentos tão singulares, farão mais effeito
cm favor das scicucias Pronosticantes,
que as demoustraçoeus, o as contrarieda-
des em que me ouvis sempre falar, lho
farão de danno. » Cavalleiro d'01iveira.
Cartas, liv. 1, n." 40.
A ti, o aoa tilhos teus no Ethereo Templo,
Eut\'e 03 Sábios do Mundo, adoro, c vejo :
Em tudo siiiijidar, tu grande em tudo,
Das letras na cultura o Mundo illustras ;
Até do iuimenso mar cortando as ondas,
Descobrem teua Horoes hum Mundo ignoto.
J. A. DG MACEDO, VtAOGU KXTATICA, Cant. 4.
— Que aíFecta distinguir-se por cousas
quo oUo siS faz, possue, etc.
— Celebre, oxquisito. — «Estavam pre-
sas pelos pescoços com cadeias de metal,
que ficaram das pasisadas, e cilas com-
postas também de metal, por mão do tão
singular artífice, comofijra Urganda; que
pcra um feito tão notável se nã(j g.astar
cum o tempo, ]jrovendo do longe as (ir-
denou, c compôz ao próprio das que Pal-
meirim naqucile mesmo lugar vencera.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 119.
— Combate singular ; combate d'homem
a homem.
— Termo de grammatica. Numero sin-
gular ; numei-o que indica sò uma pessoa
ou cousa.
— Que se não assemelha aos outros.
— De uma excellcncia rara.
— O singular dos adjectivos, o do»
verbos.
— Syn. : Singular, extraordinário. Vid.
este ultimo termo.
— Syn. : Singular, único. Vid. esto
ultimo termo.
SINGULARIDADE, s. /. (Do latim sin-
(jularitaí^). Qualidade (Jo que pertence a
um si) individuo.
— O que torna uma cousa singular.
— Modo extraordinário, bizarro, ex-
travagante de fallar, de pensar, de pro-
ceder.
— Piar. Acções extraordinárias, des-
usadas, que alguma pessoa faz para se
singularizar.
— Propriedade de um e não da com-
munidade ; diz-se á má parte.
SINGULARISSIMO, A, adj. superl. de
Singular. Mui .-íiiigular.
SINGULARIZADO, ;>«»•<. pass. de Sin-
gularizar.
SINGULARIZAR, ou SINGULARISAR, v.
a. Tornar singular, extraordinário.
— Particularizar, referir, narrar minu-
ciosamente.
— Fazer que seja raro, extraordiná-
rio c distincto com a vantagem de todos ;
estremar.
— Singularizar-se, v. refl. Tornar-se
singular.
— Distinguir-se, fazor-se saliente por
alguma cousa de extraordinário, e de or-
dinário por alguma cousa que nada tem
de louvável.
SINGULARMENTE, adv. (De singular,
e o suffixo «mente»). De um modo sin-
gular, especial, individual.
— De um modo singular, extraordiná-
rio.
— De um modo aftcctado, extravagan-
te ; diz-se á má parte.
SINGULTO, s. m. [Do latim singultus).
Soluço.
t SINGULTUOSO, A, adj. Termo de
medicina. Que tem o caracter do soluço.
— Respiração siugultuosa ; respiração
incommoda, quo pai-ece entrecortada de
soluços.
SINIFICAÇÃO, s. /. Vid. Significação.
SINIFICADO. Vid. Significado.
SINIFICAR, V, a. Vid. Significar.
SINISTRAMENTE, adv. CDe sinistro, o
o Kufiixo umeate^j. De um modo sinis-
tro.
— A má parte, mal.
— t^iuccedeii-lhe sinistramente ; acon-
teceu-llie avessamente, mal.
SINISTRAR, V. a. Tenno om uso nos
contractos de seguro. Perecer, Boffrcr des-
astre a cousa segurada.
SINISTRO, A, adj. (Do latim tinitUr).
Que faz t(;mi;r desgraças.
— Diz-si-, (la aiqjarcncia sombria e má
das acç(~e.(, dos olhares.
— Diz-se m(;smo n;i astrologia : O a»-
pecto sinistro do» astros.
— Pernicioso, perig(j80, funesto.
Km vaõ o Thesoureiro, era vaõ o Chantre,
Homens austeros, que adular nào sabem,
Soppõcm ttoi VCZC8 ao siniêtro Acordou.
A. DINIZ DA CBOZ, BYSSÚPB, Cant. 3.
— Substantivamente : O desastre quo
sobrevem ao navio, ou cousa segurada.
— Desastre, infortúnio, mau caso.
— Perigo, damno, perda, ruina.
1.) SINO, *. m. (Do latim signum).
Instrumento de bronze, ou aço, concavo,
que vem alargando para as bordas; n'el-
las fere interiormente o badalo, para dar
som : usa-se nas egrejas para convocar
os fieis, e fazer outros signaea.
Afíonso d 'Albuquerque, irmio
Que foi ao Imperador,
Que sino tem por senhor,
E por(|uc a sua condi(;ão
Nào pudera ser melhor?
OIL VICENTE, FABÇAS.
— «Adiãte destas terecenas obra do
hmna legoa junto co rio, num terreyro
muyto grande fechado com três ordens
de grades de ferro, vimos trinta casas
postíis em cinco ordens, seis em cada or-
dem, as quais também erão muyto com-
pridas e muito bem acabadas, com gran-
des torres de sinos de metal e de ferro
coado, e muytos lavores de obra de ta-
lha, e com colunas douradas, e seus fron-
tespicios de pedraria lavrados de muytas
invenções.» Fernão Mendes Pinto, Pere-
grinações, cap. 06. — «Porque os mais
(lelles erão sinos, bacias, tambores, ata-
bales, sestros, cornetas, e búzios, e so-
bre tudo a grita da chuzma que parecia
cousa de encantamento, ou para dizer
milhor, musica do inferno.» Ibidem, cap.
102. — ((Tem mais duas casas em quo fa-
zem poluora, o sessenta peças grossas do
art Iharia de bronze, sete baluartes, c
outros tantos sinos de vigia a qual fa-
zem de noyte a quartos os Portugueses.
He toda cercada pela hjida da terra, com j
huma cana larga, e funda cõ sua ponte j
lova.liça.» Fr. (ia.*par de S. Bernardi-
no, Itinerário da índia, cap. 11. — «Em
SINO
SINT
SINT
533
este caminho passey junto de hiima vila,
cercada de muro, e desabitada, onde vi
ygrojas com torres, e campanairos de si-
nos. E per este caminho, que he todo
povoado daldeas e lugares, chegamos aa
cidade de Calepe, em que avia ja estado
per duas vezes, de que tenho ja contado
em este tratado a capitullos xxxiii.» Ten-
reiro, Itinerário, cap. 63.
— Termo antiquado. Signal, assigna-
tura.
— Sino da oração; o que toca ás trin-
dades ou Ave-Marias.
— Sino de colhei-, ou de correr ; depois
do sino de colher, até a manhã clara
deviam estar fechadas as tabernas; é o
derradeiro sino, que se tange depois do
sino da oração.
— Sino samão. Vid. Salmão.
— Vid. Signo.
2.) SINO, s. m. (Do latim sijius). En-
seada, seio. — ■ «E cheguey em aquelle
dia a Bácora, por se também atalhar mais
por terra que polo dito rio. Este rio cor-
re do noroeste pêra o sudueste, e metese
em ho dito mar, e sino pérsico, como ja
disse.» Tenreiro, Itinerário, cap. 60.
3.) SINO. Forma do verbo sinar na
primeira pessoa do singular do presente
do modo indicativo.
é cantar pêra mór choro
c o mór gosto mo espantas?
Sino á fé que me torne moro.
Senhor, que criado é este?
Contentamento imperfeito.
Contentamento terresto ?
Sim.
ANTÓNIO PEESTES, AUTOS, pag. 16.
fcso insano
de amaros como Cupido,
desalmado amor villano
sino como soberano.
IBIDEM, pag. 399.
SINOBLE, s. VI. Termo de brazão, A
cor negra.
SINOCHA, s. f. Vid. Synocha.
SÍNODO. Vid. Synodo.
SINOGA, s. f. Vid. Synagoga.
f SINOLOGIA, s. f. Estudo da lingua
e da escriptura dos chinezes ; conheci-
mento dos costumes, e da historia d'estes
povos.
f SINOLOGICO, A, adj. Que diz res-
peito á sinologia.
-j- SINOLOGO, s. 7)1. Homem que tem
conhecimento da lingua chineza; que se
applica ao estudo d'esta lingua, ou da
historia da China.
SINONIMO. Vid. Synonymo.
SINOPERA, ou SINOPLA, s. f. A côr
verde, que se representa na graviu-a por
traços diagonaos da direita á esquerda.
— Uma tinta aniarella de que se usa
para pintar a óleo.
SINO-SAMÃO, s. m. Termo da Arábia.
Vid. Samão.
SINPTOMA. Vid. Symptoma.
SINQUINHO. Vid. Cinquinho.
■j- SINTA. Forma irregidar do verbo sen-
tir na terceira ou primeira pessoa do sin-
gular do presente do modo conjunctivo. —
« De me ellas metterem em algitma maior
que esta e que eu mais sinta, me guarde
Deus, respondeu elle, que de me tirarem
do temor, em que agora vou, nem o es-
pero de nenhuma nem quero seu favor,
por não ter que lhe dever nem cuidarem
que lho devo.» Francisco de Moraes,
Palmeirim d'Inglaterra, cap. 93.
Jíl, se vos vira contente
deste mal e outro maior,
sei que m'en8inára o amor,
a passal-o levcmcuto :
mas pois vossa ooudici;ão
quer que em tudo sinta pena,
quero eu que o qu' ella ordena
me fique por gahirdão.
IBIDEM, cap. 109.
— «Possue Bemficahum particular con-
dão do Ceo, que ninguém euti'a por estes
claustros, que se não sinta abalar, de
hum certo affecto de devoção.» Fr. Luiz
de Sousa, Histoiúa de S. Domingos, part.
2, foi. Õ5, col. 1, em Bluteau.
Não.
Sangalhos ?
Não.
Ançã ?
Nem anceira.
Espada-á-Cinta ?
Nem sinta nem espada são.
ANTÓNIO PBESTÍS, ADIOS, pag. 3G1.
SINTAGMA. Vid. Syntagma.
SINTE. — J. sinte. Vid. Acinte, ter-
mo mais em uso.
SINTEL, s. VI. Instrumento que serve
em logar de compasso para descrever os
circulos mui grandes.
SINTILLAR, V. a. Vid. Scintillar.
SINTINELLA, s. f. Vid. Sentiuella.
SINTIR, V. a. Vid. Sentir.
-}■ SINTIRA. Forma irregular do verbo
sentir na primeira ou terceira pessoa do
singular do pretérito mais que perfeito
do modo indicativo. — «Cõ esta resposta
tornou o Mitaquer para sua casa, onde o
ja estávamos esperado, e nos disse isto
que el Rey lhe respondera, e que síntira
nelle desejo de nos fazer esmola para o
caminho.» Fernão Mendes Pinto, Pere-
grinações, cap. 125.
f 1.) SINTO. Forma irregular do vez-bo
sentir na primeira pessoa do singular do
presente do modo indicativo. — «O que
aqui mais sinto não é a perda da vitoria,
que pêra com elle não acho que perdi na-
da ; doe-me a perda da esperança, em que
té agora me sustive.» Francisco de Mo-
raes, Palmeirim de Inglaterra, cap. 103.
— «Nisto se chegou a elle o primeiro co'a
espada nua, dizendo : Tenho, senhor ca-
valleiro, tamanha vontade de me expe-
rimentar comvosco, que receberia muita
magoa não ser assim ; peço-vos que me
não negueis este desejo, que eu sinto em
vós, que poucas cousas vos podem pôr re^
ceio. Tão bem mo sabeis pedir, disse Flo-
reados, que seria máo ensino não fazer o
que quereis.» Ibidem, cap. 109.
He tudo quanto sinto hum desconcerto :
Da alma hum fogo me sahc, da vista hum rio ;
Agora espero, agora desconfio ;
Agora desvario, agora acerto.
CAM., SONETOS, n." 9.
Eu não sinto onde consista
A cura desta doença,
Que ha tão pouca differença,
Que aquelle em que ponho a vista,
Por esse dou a sentença.
IDEM, AMPIIYTBIÕES, act. 5, SC. 1.
— «Nas mais cousas viuem como os de
Bagdat, nem eu sinto alguma de que pos-
sa fazer particular menção. Aos quatro
de Feuereiro partimos pêra Escandarona
trinta pessoas.» Fr. Gaspar de S. Ber-
nardino, Itinerário da índia, cap. 22.
Mas eu não sinto a que fim.
Sou eu mesmo assi sentido.
Sentis muito.
Oh ! pesasão
sinto tão demasiado
que cu e o senhor orelhado
imos forros cada mão,
que é doa mais ao senhor dado.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pag. 185.
— « Ninguém em todo o mundo con-
cebeo em seu peito amor tão avultado;
porque ninguém concebeo tanto, o mui-
to que tu mereces : e de compassiva
morreria eu, se capaz te imaginasse de
firmar o teu amor em outra Dama. Ha-
bituado á maneira com que eu amo, não
aceitarias com quem tão ditoso te fizesse,
como o és comigo. Por mim julgo as ou-
tras Damas, e sinto dentro de mim, que
só eu para ti nasci.» Francisco Manoel
do Nascimento, Successos de madame
de Seneterre.
Empresa digna de espantar, por certo,
A rica fantasia, o fogo, a força
De Tintoreto, ou do Jordão pintando !
Ah ! Não sei que ardimcnto interno ou sinto '■
Irresistível violência aos Versos
Mc leva todo ; da memoria cu tiro
Thesouros, cuja posse eu mesmo ignoro!
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 4.
Ondo só sinto o estrcpido da guerra,
Qu'cntre si fazem, qa'ontre si conservâo
Daquelle mar tumultuosas ondas.
Eu vejo a luz, que a Terra a Newton deve :
De antigos evos Óptica ignorada.
líu afteito a velar no horror profundo
Da noite, que meus êxtases inflamma,
Inda siato pavor se OB ais escuto,
534
SIPI
Quando 109 ermo» do cspiiço 08 olhoH voIto,
K acccza fantasia oí astro.-» corre.
iDKM, MKniTAçÃo, cant. 3.
Man oli ! quo lur. taininanlia que abrir .nulo !
Lux 6 do foí^o c das luzentes annaa
Com qnn Albuquerque vciíci! o altivo Torda.
Rendu-to Ormuz, G(U-uni, Mascate o Goa.
oinnnrr, oAMÕna, caut. 8, oap. 18.
2.) SINTO, s. m. Vid. Cinto. — «A ca-
misa era ilc seda brãea iiua, cu listras
(la mesma azul, o vermelha, e por sinto
liuina íiuella do coyro, larga oyto dedos.
Alfange largo, c grosso, com huma ada-
ga do mesmo Jaós, com suas bainhas de
prata mui perfeitas, c acabadas.» Fr.
(iaspar do S. Bernardino, Itinerário da
índia, cap. 17.
SINUADO, s. m. (Do latim simiatos).
Termo do botânica. Diz-so das partes
quo sSo decompostas em lóbulos salientes
e arredondados, separados por serros
egualmento arredondados.
SINUOSIDADE, s. f. Qualidade do quo
ó sinuoso. — /wí« rio faz muitas sinuo-
sidades.
SINUOSO, A, adj. (Do latim sinuosus).
Quo descreve, quo segue uiua linha on-
dulada.
— Figuradamente: Á sinuosa lógica.
Qual do3ej»ste, 6 f;n\o 1'olieiano,
A aiimona I..ogic:i dictando
A assombrada Florença, A Itália, ao Mundo
A Moral co'a Politica (;iilai;a3te,
Immortal Fociào, aos Reis dizendo,
Que ái5 tom bases na Juâtii,a o Throuo.
' J. X. DE UlCEDO, MEDITAÇÃO, Cant. 1.
— Termo do cirurgia. Ulcera sinuo-
sa; ulcera estreita o profunda.
— Tortuoso, curvo.
SINXÒ, *. VI. Madeira de que so fazem
fachos, que ardem como tochas; é da ser-
ra de Asseri, na Índia.
SINZEL, s. wi. Instrumento de crava-
dor, de ferro, que serve de bater o ouro
sobre a pedra. Vid. Cinzel.
— Instrumento dos estatuários em ima-
gens de pau ou de pedi-a.
— Instrumento agudo de lavrar pedra,
prata ou ouro.
SINZELADO, part. pass. de Sinzelar.
SINZELADOR, í. m. Otlicial quo sin-
zela.
SINZELAR, i'. a. Termo do ourivesa-
ria. Levantar do moio relevo. Vid. Cin-
zelar.
SIO, s. m. A voz, ou som com que se
costuma chamar por alguém, sem se pro-
nunciar o nome.
SIOBA, s. /. Termo de historia natu-
ral. Peixe gi-ande e delicado do Pirazil.
SIPHÃO, s. m. (Do grego slphon). Vid.
Sifão, e Bomba.
SIPHILIS. Vid. Syphilis.
SIPIPIRA, s. /. O mesmo que sicopira.
Vid. Sicopira.
SIRa
SIPÓ, a. m. Espccio de vara flexível c
trepadeira, ile riuo abundam n.s mattas do
Braz li ; sej've para atar. Vid, Cipó.
— Sipó de chamou; sipitsinho mui mu-
cilagiuoso, do (pie se dá o cozimento por
solda; ú tfcpador pelos arbustos.
— Termo de pharmacia. Por antono-
másia, é um sipó liinetico.
— Sipó do reino; vide branca, arbus-
to.
SIPOADA, .1. f. (iolpo com sipi».
SIPOAL, .1. f. Balsa, l(jg;ir emmaranha-
do de ramas do sip(3s, onde se nilo dá
passo.
— Loc. FIG. usada no Brazll : Met-
ter alguém em um sipoal ; mettel-o em
negocio embaraçoso, difficil de dar pas-
sos n'Glle, ou de saír-se d'cllc a 1-impo.
— liJetter alguém em um sipoal ; met-
tel-o em passo.
SIRA, s. /. Vid. Xira.
SIRAGE, a. m. Óleo de gergelim.
SIRANDA, 8. /. Vid. Ciranda.
SIRE, s. in. (Do fraueez sire). Senhor;
titulo dado por excellencia aos reis, fal-
lando-so-lhes em fraueez.
SIRENA, s. f. Vid. Serèa.
Cantem, louvem o escrevam sempre extremos
D'ossc3 8CU3 scmidco.scs e encareçam.
Fingindo magas Circes, Polypliemos,
Si renas, que coo canto 03 adormC(;am.
c.vM., Lus., cant. 5, est. 88.
SIRENICO, A, adj, (Do latim sireiíi-
cusi. Termo de poesia. De seriJa.
f SIRENOMALO, s. m. Termo de tera-
tologia. Monstro que tem os dous mem-
bros abdomiuaes mui incompletos, termi-
nados em pontas, sem pé distincto.
SIRGA, s. /. Termo de náutica. Cor-
da de puxar a embarca^'ão á tôa, leval-a
para onde queremos; cabo que serve de
alar as embarcuíjões miúdas por terra ou
por sitio onde se encontra pé, quando o
remo ou a vela u3o vencem a corrente.
— Andar alguém á sirga de outrem;
andar com elle, acompanhando-o como
dependente.
— Trazer alguém á sirga; trazer apijs
de si, por onde se quer.
SIRGADO, s. m. Termo de historia na-
tui-al. Peixe grande o bom do Brazil.
— Fart, pass. de Sirgar. Puxado á
sirga, levado a reboque.
SIRGAR, i'. a. Alar, puxar com sirga,
dar reboque, prover de sirgas.
— Levar á sirga.
1.) SIRGIDEIRAS, s. /. plur. Termo
de náutica. Cabos ([ue servem para car-
regar as velas das gáveas.
2.) SIRGIDEIRAS, s. /. plur. Cabos
presos a cada testa das gáveas e oa seus
chicotes passam por moitões cosidos na
verga, por ant'avantc ao pé da cruz, que
servem para a vela ticiír bem abafada na
mezena.
SIRGIR, 1-. a. Vid. Serzir.
.smv
SIRGO, 9. VI. Termo antiquado. Seda.
— Na província da Beira, bicho da
8«}da.
SIRGUEIRO, «. m. Homem que faz obra
de lio o c(jrdões de 8(;da ou lii.
SIRI, s. m. Termo do Brazil. Mariaco
do pernas de que ha muitas espécies. O
siri candeia ó pernilongo e sáe á borda
do mar onde se pesca com candeios.
SIRIBOA, s. f. Termo du botânica. Es-
pécie de pimenta.
SIRICAIA, «. /. — Leite em siricaia ;
leite cnzid(j com ovos e assacar, com fa-
rinha ou sem cila, em meia consistência.
SIRIGAITA, s. f. Avesinlia da côr da
carriça, com bico longo ; trepa pelas ar-
vores.
— Figuradamente: Mulher e cspecial-
meutc menina inquieta, turbulenta.
— Requebrada, com modos attractivos.
SIRIGUEIRO, s. m. Vid. Sirgueiro.
SIRINGA, s. f. Vid. Seringa.
1.) sírio, .1. in. (Do latim tíirius). Ter-
mo de astronomia. Constellaçào austral,
chamada vulgarmente canicula, mas é o
cão maior.
Outra lísfcra, c Planetas, c outro Pilo
Eu vejo, c perto do abrazado tiirio
Oui.o o latido, sinto as enroladas
Cliiuiimas das fauces hórridas rompendo.
J. A. im UACEDO, A HATLBEZA, CaUt. 1.
— A canicula.
2.1 sírio, *-. m. Festa de algum ora-
go, fira da terra.
— Termo do Brazil. Espécie de sacco
ou fardo de palha com que se tran-sporta
farinha de mandiocsa, cylindrieo na fei-
ção.
— Vid. Cirio, que é differente.
SIRIOURA, s. /. Termo de botânica.
Planta semelhante ao cedro nas folhas,
que produz flores brancas com algum
encarnado no meio; sua raiz é meòici-
nal.
SIROLICO-TICO. As creanças formam
um jogo em que vào beliscando os dedos
ás outras, e dizem : sirolico-tico, yuet;i
te deu taman/u) òico; será por ventura
nome fingido de alguma avesinha? Vid.
Bico.
SIRRO, s. Hl. Vid. Schirro.
SIRTES, s. m. plur. Vid. Sjrrtes.
SIRVO. Forma do verbo servir na pri-
meira pjssoa do singular do presente do
modo indicativo. Vid. Servir. — «O escu-
do, disso Albayzar, eu o ganhei por força
d'armas, vencendo em batalha igual o
cavalleiro que o guardava; e não tio so-
mente espero levar este ante a senhora
Targiaua, a quem siiTO, mas inda todo-
los d'outros homens, que quizerem de-
fender que Targiana não é a mais fermo-
sa dama do mundo : com este propósito
me vou á córtc do imperador Palmeirim,
ondo melhor que em outi*a parte cuido
que satisfarei meu desejo.» Francisco de
SISB
SISO
SIST
535
Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 76.
— «Dizei-lhe, que uma senhora a que
sirvo, não me dá tanto poder de si, que
a possa aventurar com ninguém ; que ve-
nho aqui lhe fazer conhecer, que seu me-
recimento e fermosura é maior, que de
nenhuma das que traz comsigo, nem quan-
tas conhece.» Ibidem, cap. 123.
SIRZINO, s. wi. Termo de liistoria na-
tural. Passarinho como o canário, entre
pardinho e amarello.
SIRZIR, V. a. Vid. Serzir.
SISA, ou SIZA, s. f. Tributo que se
paga das compras e vendas das victua-
Ihas, bestas, bens de raiz ou proprieda-
des, etc, e se arrecada na alfiiudega das
sete casas. As sisas foram imposições
temporárias, que o povo em cortes se im-
punha e cobrava, para -servir a el-rei com
ellas, e acabavam cessando a necessidade
a que haviam de supprir ou preenchida
a norma requerida. — O direito da sisa.
Vid. Cisa. — «Nem querem pagar sisa
como 03 outros, que assy compram, e ven-
dem, e se 03 querem penhorar, allegam
que som priviligiados, e o Bispo, e seus
Vigários os fazem escomungar; o que he
muito sem razom, ca pois per direito lhes
esto he defeso, d'aguisada razom nom de-
vem gouvir de seu privilegio, pois delle
usam como uom devem.» Ord. Affons.,
liv. 4, tit. 47, § 1.
Isto é estalagem,
casa de sí.?a, ou portagem
que scrVe do vae e vem ?
Quem é, moça?
ANTOKIO PRESTES, AUTOS, pag. 135.
— Adagio :
— O mentir não paga sisa.
SISADO, j)art. pass. de Sisar.
— Figuradamente : Tempos sisados ;
tempos furtados a outros negócios, ou tal-
vez quando ó necessário : a propósito.
SISALHA, s. /. Termo de batefolha. O
que sobra ao pão de ouro ou prata em
quanto não chega ao estado em que ha
de ficai'.
— Fragmentos ou aparas das chapas
que se redondeiam, para se cunharem
em moedas.
— Alguns escrevem cisalha.
SISANIA, s. f. Vid. Zizania.
SISÃO, s. m. Termo de historia natu-
ral. Ave do tamanho da adem, entre
branco e pardo, com cordão negro no
pescoço.
SISAR, ou SIZAR, v. n. Arrecadar a
sisa.
— Figuradamente : Furtar cousa pou-
ca em contas, compras, trastes velhos,
etc, costume mau de servos e criados
infiéis e seus slmilhantes. Vid. Sisado.
SISARO, s. m. Herva; espécie de chi-
rivia ; produz fiôres brancas,
SISBORDO, .s. m. Termo de náutica.
Resbordo, diz-se sobrecarregada a em-
barcação até a mottcrem quasi debaixo
da agua.
SISEIRO, ou SIZEIRO, í. m. Cobrador
de sisas, que arrecada sisas.
— Termo figurado e popvilar. Pessoa
que furta arteiramente alguma- parte do
que lhe confiaram.
SI3G0LA, s. /. Uma das peças do ar-
reio (hl cavallo.
SISMA, í. /. Vid. Scisma.
SISO, s. m. Juízo, prudência, sabedo-
ria .
Mãe, dos homoiis hc fallar,
E das mulheres ouvir,
E do bom siso calar,
E da prudência sentir
O que não prtdc damnar ;
Cuidacs que me ha de comer?
Eu não te posw softVir ;
Nesta dor hei de morrer.
GIL VICENTE, PARCAS.
Eu morria, c alem disso
Eu não tinha então mais siso
Do que aquella porta tom.
Não f aliei:» em querer bom,
Que rapa todo o aviso.
Andando assi como digo
Escravo da servidora,
Soccorri-rae a osta senhora.
E quem de riba d' Avia for
Fazè-lhe por meu amor
Como SC fosse \-iziuho.
Assi que por me salvar
Fiz esto meu testamento,
Com mais siso e entendimento
Que nunca me soi estar.
IDEM, OBRAS VARIAS.
Esta deucmos do ter
deste mundo tam mudado,
para disso recolher
qucra teuer siso. e saber,
que o por vir he o passado.
GARCIA DS REZENDB, MI3CELLANEA.
— Da qual foy logo mandado a Frau-
des, e foi logo auida em grande preço, e
estima, e el Rey de Beni mandou logo a
el Rey por Embaixador hum seu capitão
de hum lugar porto de mar, que se cha-
maua Hugato, homem do bom saber, e
bom siso, e forãolhe feytas muytas fes-
tas.» Idem, Chronica de D. João II, ca-
pitulo 65.
Siso, juizo, virtudes, Potencias
que tanto o déstrasscm cUes e ellaa,
que passeasse por céos, por estrellas,
com ter pós na terra. Ha mais execllcncias,
mais mimos, afagos nem mais charamelas
a estes verdores,
a estas potencias e mordomos mores
que incorporou n'este organisado?
ANTÓNIO rUESTES, AUTOS, pag. 7.
Com tanta discrição, tal siso c manha
Esta partida ja tinha ordenada.
Que sendo elle senhor de huma tamanha
Eiqueza, que á de Creso era igualada,
Quando agora se vai toda o acompanha
Sem ficar na Cidade delia nada.
Porque isto communica com tal gente
Que nem huma suspeita d.á somente.
F. D'ANDRADr., PRIMEIRO CERCO DE DIU, Cant. 10-,
est. 4.
— «Que DEOS do Ceo se posera a
olhar o considerar sobre todos os filhos
de Adam a ver se aula algum que tiues-
se siso, e entendimento pêra buscar a
Deos : e que vira que todos rcbelauam
contra elle, todos eram corruptos e abo-
minaueis em seus cuydados e obras : nem
auia quem fizesse virtude, nem escassa-
mente hum.» Frei Bartholomeu dos Mar-
tyres, Catecismo da doutrina christã.
— Loc. PROV. : Veiider siso a Catão'
querer dar juizo a quem elle sobeja, e
ensinar sabedoria ao sabedor.
— Fazer siso d'aJguma cousa; dal-a,
tel-a por obra de prudência, em que mos-
tra saber.
— Dentes de siso ; são os últimos quei-
laes que nascem aos adultos.
— Fazej- mau siso ; fazer uma impru-
dência.
— Discriçiiíes, máximas prudenciaos.
Que visitações lhe taxo?
não na vou vèr cada ora?
Se vos não levar agora
dará com as casas em baixo,
sairá de mil sisos fora :
que é do senhor vosso irmão ?
onde é?
Foi-so por hi,
6 pouco caseiro.
ASTOKIO PRESTES, AUTOS, pag. 193.
— Loc. ADV. : De siso; deveras, se-
riamente, com força.
— Adágios e provérbios :
— Não percas o siso pelo doudo do teu
visinho.
— Não tem homem siso, mais que que-
rem os meninos.
— O bom coração soflro, e o bom siso
ouve.
— Bebo vinho, não bebas o siso.
— Quem com doudo ha de entender,
muito siso ha mister.
— A scieucia é loucura, se o bom siso
não a cura.
— Quem diz que a pobreza é vileza,
não tem siso na cabeça.
— Leve é a dôr que o siso encobre.
• — Qual cabeça, tal siso.
— Que siso de alveitar ! mula morta
manda-a sangrar!
— Quem a trinta não tem siso, a qua-
renta não é rico.
— Castigo faz o doudo ter siso.
— Zombaria de siso, mette os homens
em perigo.
— É raro na prosperidade o siso.
SISOO, s. 711. Vid. Siso.
SISORIO, s. m. Termo usado na locu-
ção cómica: De sisorio; muito do siso.
SISTEMA, «. m. Vid. Systema.
536
SITI
8ITI
sm
SISTRADO, A, aâj. Com BÍ8tro.
SISTRO, s. III. (])o líitim sisfrtim). Ter-
mo (lo autifíUiilado. Imtruiiiunto do iiiu-
eica til) Ejíypto, |i;ir;i mo dos sacerdotes
tl'l8Í», que ora um pequeno arco de me-
tal, atravessado do muitas baqueta», que
produziam BOin quando so afeitavam.
— Uma o»]iecie do pandeiro com soa-
lhas d.' iaiHio. Viíl. Sestro.
SISUDEZA, .s. /. Seriedade.
— Sisii, jtrudcncia.
— Alpuus escrevem também sisudez.
SISUDO, ou SESUDO, A, a/j. Sensato,
dotado de siso, j)rudento, serio, de siso,
que tem prudência. — «E abrindo-lhe o
porteiro toda a porta, que polo postig;o
não cabia, disso contra o do Salvajo. ViVs,
D. cavalloiro, mais ousado, que sisudo,
cntrofíai-vos em minhas míJos, senào eu
vingarei nossas vussas carnes, a morte
dos meu^ com tanta maneira do crueza,
que me t^nha jjor bem satisfeito da offen-
ça, que me tizcstes.» Francisco do Mo-
raes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 27.
— Que aftecta siso, prudência.
— Usa-so também substantivamente:
Os sisudos.
— Adágios e provérbios:
— Quando o sandeu se perdeu, o si-
sudo aviso colheu.
— O que faz o doudo á derradeira, faz
o sisudo á jirimeií-a.
— O sisudo, e o doudo se descobre no
jogo-
— Boas palavras, e maus feitos enga-
nam sisudos, e néscios.
— Oâ doudos fazem a festa, e os sisu-
dos gostam d'clla.
— O sisudo não ata o saber :l es-
taca.
SITAR, V. a. Vid. Situar.
I SISYMBRO, s. m. Termo do botâni-
ca, (ienero da família das cruciferas.
•l" SISYPHO, s. m. Personagem mytho-
logico condmnnado a levar para o alto
de uma montanha um rochedo enorme,
que rolava por ella assim que o colloca-
va no cume.
— Fignradamcnte : Um trabalho de Si-
sypho ; um trabalho quo se desfaz, e que
6 mister incessantemente recomeçar.
SITIADOR, A, adj. e s. Que sitia uma
praça.
SITIAL, s. "i. Banco ou genuflexório
com seu paramento, o almofada, onde as
pessoas reaes se encostam, quando ajoe-
lham .
— Entre os armadores, ó o apparato
do tafetás, ou velludos para adornar al-
guma capolla com duas cortinas, o uma
sanofíi.
SITIANTE, part. acf. de Sitiar. Vil.
Sitiador.
— Substantivamente : Vid. Sitiador.
SITIAR, V. 11. Coroar, asssodiar, pôr
assedio. )iòr sitio.
SITIBUNDO, A, adj. (Do latim sitibun-
dus). Termo de poesia. Sequioso, sedento.
AlgunH vilo maldizendo c blaHphcmando
Do primeiro qm: ffii'^rra fiv. no mundo ;
Outro.H u Hrdu durii vào culpando
Do peito cobiçoso e filihundo,
(^uu, por tomar o alheio, o minerando
Povo aventura dii pcnau do profundo-.
Deixando tantas m&<;B, tantas esposas
Sem filhos, sem maridos, desditosas.
CAM., LU8., cant. -1, est. 44.
1.) SITIM, s. m. Pau, ou madeira para
edifícios, ou outras obras mui preciosas.
Vid. Selim.
2.) SITIM. Vid. Selim.
Mas panno fino o delgado,
Qual a raxa e outros assi.
Dura, aqueuta, c he callado.
Amoroso, c dá de si
Maia que sitim, nem brocado.
CAU., REDONDILIIAS.
SITIO, s. m. (Do liitim hUus). Espaço
de terra descoberto, o chão apto jiara
n'ellc se levantarem edificios. — « Das
quaes palavras fica a duvida bem decla-
rada, pois hoje dura este Templo funda-
do junto a Braga, inda que despojado de
sua primeira grandeza, todavia com mos-
tras de antiguidade, e posto em silio cm
que as muytas parreyras do valle, nos
escusarão as que Ambrósio de Morales
acha sò em Ourense.» Monarchia Lusita-
na, liv. 6, cap. 11. — «Esta cõsidera-
çaõ fez, cõ que por entaõ a deixasse na-
quelle sitio do próprio modo que estava,
e posto que depois a visitasse as vezes
que vinha por aquellas partos cõ a oca-
sião da caça, nào tratou nunca de me-
lhorar a pobre ermida em que estava,
nem o tizera se a Virgem o não salvara
de hum notório perigo ile morte, que
Deos por ventura, permitio, em castigo
de seu descuido.» Ibidem, liv. 7, cap. 4.
— « E para os caminhos ordenava, que
houvesse guias, com os quaes se deter-
minasse o dia dantes para onde se havia
de caminhar ; e quo se escolhesse sitio
para se assentar o arrayal, onde ficasse
fortalecido, e provido de agua, herva,
lenha, e outras cousas necessárias.» Se-
verim de Faria, Noticias de Portugal,
Disc. 2, cap. 8. — aAflFonso d'Aibo-
querque chegado ás portas do estreito,
porque á entrada não tinha notado o si-
tio da terra, principalmente a Ilha Me-
hum, onde ElRcy D. Manuel era infor-
mado que se podia f:izer huma fortaleza,
foi-se a ella.» Barros, Década 2, liv. 8,
cap. 3. — «Ser esta huma d.as mais no-
taueis do mundo, se tem por cousa cer-
tíssima ; seu sitio he nos términos de Af-
frioa, huma d.is quatro partes do mundo,
distando da terra firmo, que he na Costa
da .-Ethvopia menos de nouenta legoas.
Começa om altura de doze grãos, e aca-
ba om vinte seys e movo; tem em cir-
cuyto mil legoas.» Fr. Gaspar de S. Ber-
nardino, Itinerário da índia, cap. 2.
— Figuradamente : Aptidio, diapoai-
Vão.
— Logar, aasento. — «Seu sitio he en-
tre 08 dois EHtreytos de Mecha, c Báco-
ra, ficando entre clle» a parte do 3Icyo
Dia, ostu mar \)0T quem ora Limos nauo-
gando. Cliamase Fclice, porque das trea
Arábias, ella ho amelhor mai» pouoadft
de Cidades, e no comercio, c trato roais
abundSte, c rica.» Fr. Oaspar de S. Ber-
nardino, Itinerário da índia, cap. 10. —
«Inda que da Ilha r)rmus aja muitos quo
escreuesscm, os quaes contlo o sitio,
modo, e assento da Cidade: com tudo não
deyxarei de dizer, o que nella particu-
larmente notey, e vi : pirquc se c5 o
tempo (como dizem) se muda tudo, ja
pode ser esteja hoje tâo difforente do que
foy, como at* cousas todas saò do qaem
antes erão.» Ibidem, cap. 11.
Vcm-se ArraiAes Romanos derelietoa ;
¥., cm filio» vários da-íscs va.-(to<i Campos,
Do Cavallo, c do Dwno os esqueletos,
Mal-9cpult03, entre hcrs-as. Vi legumes
Do cultivo, e sustento dessas hostes.
r. U. DO llASCIME!fTO, OS MABTniCS, 1ÍT. 10.
Caseiros vcget-ica de origem Grega,
Que eu, sem saudade interna ver não pude.
Qual do seu Chão traziào o nso ;
Dobru(;ados da encosta, a várzea cnfcitio.
Assim usão Famílias desterradas,
Pouzar, cm filiot, que lhe a Pátria avivem.
IBIDEM, liv. 16.
— «Pelas três da tarde, cheguei á Ca-
sa-Forte, tu villa d'Ourem, onde fechei
a visita e dei as providencias que me pa-
receram necessárias; e, embarcando em
um bote com André Corsino, chegamos
ao sitio de Padre Gabriel e ahi ficamos.»
Bispo do Grão Pará, Memorias, publica-
das por Camillo Castello Branco. —
«Muitos motivos haveria para se impor Á
primeira egreja o nome do Salvador ; mas
deve-se advertir que na parte de Mato-
zinhos que chamam de Bouças, em cujo
sitio esteve a imagem do Senhor, é gran-
de a devoç."io e a festa com o titulo de
Salvador.» Ibidem, pag. 74. — «A mu-
lher Constança Rodrigues, quando foi
com seu marido, levantou uma egreja a
Santa Catharina, santa que se celebra no
mesmo sitio de I^N^sa junto ao mar.»
Ibidem. — «M.""* de Montagnac, mulher
do cônsul de França, jogava no sitio da
Luz, na quinta do Reiçand com o mar-
quez de Louriçal D. Luiz, sendo elle
ainda conde do Ericeira; e querendo
apodar madame lhe disse, tendo cada um
sua carta na mSo.» Ibidem, pag. 153. —
«Na manhã de 20 alvejou-nos o dia na
igreja de Garaparú, onde dissemos missa,
e por falta de maré ahi pernoitamos. No
dia 21 fomos com a maré para o sitio da
Mocijuba, que fica em agradável local.»
Ibidem, p.'»g. 172. — «A falta de maré{
nos fez deter uma noite n'este sitio, onde \
SITT
SITU
SIZA
537
a praga de morcegos podia converter o
Pharaó e castigar o Egypto.» Ibidem,
pag. 173. — «Chegamos ao sitio de Santa
Cruz, de Francisco da Costa onde se jan-
tou. N'este sitio vimos defronte das casas
uma arvore chamada urucuzeiro, de que
se faz a tinta do urucú.» Ibidem, pag.
179.
— Uma iiabitação rústica, e pequena
granja de frutas, hortaliças, legumes.
Em Pernambuco dão-lhe este nome; na
Bahia o nome de roça; no Rio de Janei-
ro o de chácara.
— Assedio, cerco de praça. — Começar
o sitio da cidade. — «Nisto se desceram
da sala acompanhados de muitos caval-
leiros da corte que os não deixaram té
onde estava o sitio das batalhas, onde
cavalgaram todos seis. Os cavallos dos
gigantes eram tão grandes e forçosos
quanto parecia myster para a grandeza e
peso delles.» Francisco de Moraes, Pal-
meirim de Inglaterra, cap. 95. — «Des-
embarcarão quatro mil homens, que co-
meçarão o sitio da Cidade á ordem do
General D. Fradique, e ficou D. Manoel
de Menezes no mar formando huma meia
lua para impedir a fugida dos inimigos.»
Fr. Bernardo de Brito, Elogios dos reis
de Portugal, continuados por D. José
Barbosa. — «E ao outro dia passando á
vista da cidade de Caixiloo, a não quiz
cometer, por ser grande e forte, assi por
sitio e fortificação, como por ter sabido
que estavão dentro nella cincoenta mil
homens, em que entravão dez mil Mogo-
res, e Cauchins, e Champaas, gente mais
determinada e pratica na guerra que a
da China.» Fernão Mendes Pinto, Pere-
grinações, cap. 123. — «Defronte do ba-
luarte S. Thomé, que pela matéria, e dis-
posição do sitio, estava mais aberto, de-
terminou levantar outro, que lhe ficasse
igual, ou eminente, para que batido pelo
alto derribasse as ameyas, tolhendo pelei-
jar aos defensores, e ainda de noite, po-
der fazer reparos, ficando as peças para
aquella parte assestadas de dia, com pon-
taria certa.» Jacintho Freire d'Andrade,
Vida de D. João de Castro, liv. 2. —
«Era já entrado o mez de Agosto, e o
Governador, como antevendo as occasiões
futuras, não perdia momento em muni-
cionar, e bastecer a armada, quando apor-
tou na barra de Goa Francisco de Mo-
raes Capitão de hum catur, com cartas
de D. João Mascarenhas, em que o avi-
sava, que o Soltão de Cambava juntava
todas as forças de seus Reinos com voz
de por setrundo sitio áquella Fortaleza.»
Ibidem, liv. 4.
1.) SITO, A, adj. (Do latim sitiis). Si-
tuado.
2.' SITO, í. w. (Do latim sitos). Mo-
fo, bafio.
SITOPHAGO, A, adj. (Do grego sitos,
c phngí)). Que vive de trigo.
SITTÀ, s. /. Termo de historia natu-
YM,. T.— 68.
ral. Picanço, ave da família das trepado-
ras.
SITUAÇÃO, s. /. O assento da casa,
logar, praça, ediócio, posição. — «E por-
que com todo este temor elles não vieram
a conclusão pêra Aff'onso d'Aiboquerqae
leixar de a commetter, primeiro que es-
crevamos o modo que nisso teve, convém
descrevermos a situação, e força delia.»
João de Barros, Década 2, liv. 3, cap. 7.
— «Per a qual parte podemos dizer ser
este graõ lago mães vizinho ao nosso mar
Oceano occidental que ao Oriente segun-
do a situação de Ptholomeo, ca do mes-
mo Revno de Congo se metem nelles es-
tes seis rios, Bancàre, Vàba, Cuylu, Bi-
bi, Maria maria, Zaúculo, que saõ mui
poderosos em agoa.» Idem, Becada 1,
liv. 10, cap. 1. — «Adem he huma Ci-
dade situada na costa do Ai'abia feliz em
altura do pólo Artico de doze gráos e
hum quarto, e segundo a situação da ta-
boa de Ptolomeu, parece ser aquella, a
que elle chama jModócan, e a serra que
está sobre ella Cabubarra, a que ora os
Mouros chamam Darriza, a qual he toda
de huma pedra viva sem arvore, nem
herva verde.» Idem, Década 2, liv. 7,
cap. 8.
— Modo como imi objecto está coUo-
cado.
— Posição, postura dos homens, dos
animaes.
— Figuradamente : Disposição do espi-
rito.
— Estado de uma pessoa em relação á
sua condição, ás suas paixões, aos seus
interesses.
■ — Figuradamente: O estado das cou-
sas.
SITUADO, ]mrt. pass. de Situar. Sito,
assentado, edificado. — «Deste estilo que
os Reys de Portugal vsarão, escolhendo
para Esmoleres mores os Abbades de Al-
cobaça na forma que dizemos, entendo
eu que ordenarão também os Reys de
Aragão fossem seus Esmoleres mores os
Abbades do insigne Conuento de Poblet
da nossa Ordem, situado no Principado
da Catalunha.» Monarchia Lusitana, liv.
5, cap. 17.
Os soberbos Gueldreses vio, que as agoas
Do cristalliuo Rim bebem contino,
Holanda, e a Brauantc vio na boca
Deste famoso rio situadas,
E vio a rica Frandes. . .
COBTE BEAL, NAUFRÁGIO DE SEPÚLVEDA, Cant. 2.
— «Pois o cavalleiro do Tigre, diz a
historia que apartado de Selvião andou
tanto que chegou a uma vilJa pequena
situada na costa do mar, onde fretou uma
galé de Venezianos, que estava esperan-
do frete havia dias.» Francisco de Mo-
raes, Palmeirim de Inglaterra, cap. 115.
— oE pelo mesmo modo outro rio peque-
no que verte do Gate pêra o Ponente, ao
qual chamão Aliga onde está situada a
furtaleza Sintacora que sae defronte da
ilha Anchediua em altura de quatorze
grãos e três quartos.» Barros, Deca- .
da 1, liv. 9, cap. 1. — «Esta nossa de
Malaca parece que houve este epitheto
de Áurea por razão do muito ouro que se
traz de Monancíibo, e Barros, que são
duas Comarcas onde se elle tira na Ilha
Çamatra, que he a própria a que os anti-
gos chamam Chersonezo, cuidando ser
contínua a outra terra firme, em que
ora está situada Malaca.» Idem, Dé-
cada 2, liv. 6, cap. 1. — «Senão década
cousa destas por sy ha duzentas tre-
zentas embarcações, principalmente nos
chandeus e feyras que se fazem nos dias
dos seus pagodes, em que tudo he franco
pelo grande concurso de gente que nellas
se ajunta, e as casas destes pagodes todas
ou a mayor parte delias estão situadas á
borda do rio paraque o carreto das cou-
sas fique menos trabalhoso, e ellas fiquem
mais nobres e mais abastadas.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 98.
— «E após isso pelo muyto proveito que
dahy pode tirar, queyra intentar a cõ-
quista desta ilha, saiba por onde ha de
pôr os peis, e o muyto que pôde ganhar
no descobrimento delia, e qHão fácil lhe
será conquistala. Esta ilha Lequia jaz si-
tuada em vinte e nove grãos, tem duzen-
tas legoas em roda, sessenta de cõprido,
e trinta de largo.» Ibidem, cap. 143. —
«Com tudo posto que pêra o fazer esti-
vesse mui debilitado, determinou despe-
rar el Rei de Calecut, e lhe dar batalha,
naqual foi desbaratado, do que constran-
gido se passou a huma ilha que se cha-
ma Vaipim, situada defronte de Cochim,
leuando consigo todollos Portuguezes com
a fazenda que tinha na cidade, sem nun-
ca os de sim querer apartar, nem entre-
gar a el Rei de Calecut.» Damião de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 1,
cap. 73. — «Está a villa situada em uma
eminência cercada de campinas dilatadas,
abundantíssimas d'agua, sem que até aqui
se resolvessem a comprar os da villa uma
dúzia de vaccas e três bois, nem a expe-
rimentar a fertilidade d'aquelles largos
campos.» Bispo do Grão Pará, Memo-
rias, publicadas por Camillo Castello
Branco, pag. 191.
-{- SITTUAR, V. a. Vid. Situar. — «Na
parte mais ellevada se sittua a sua nobi-
líssima fortalesa ; aonde servem de vigias
os sentidos; de atalayas os olhos; de ban-
deiras os cabellos; de porta a boca; e de
soldados do corpo da guarda, os dentes ;
por onde se introdusem todos os soccor-
ros, e viveres, como preciso alimento da-
quella vivente Cidade.» Braz Luiz de
Abreu, Portugal medico, pag. 5.
SITUAR, V. a. Assentar, edificar.
— DispCu", arrumar geographicamente.
SIZA, s. /. Vid. Sisa.
SIZÃO, s. 7)1. Vid, Sisão.
L_.
538
SÓ
SÓ
SÓ
SIZIRÃO, s. m. Termo rio botânica,
riíuita, espécie de crvilliaca.
SIZO, s. m. Vid. Siso.
Ah! gonhor, quo ouso (: o sizo;
todo o ai
i"' fortuna tom poríil
r(uo gc acaba nm fumo c rizo.
Pretendamos principal.
ANTÓNIO PBESTEH, AUTOS, pag. 12.
pois põem «ízo om garridice
o saber em parvoice,
e tamanho (mu tamanino,
tanto iMn tanta meniuico.
IDIDK.M, pag. 17.3.
Olha, 80 sizo tivera
que ))or ti se niio perdera,
de.safiara-o do gizo.
IBIDEM, pag. 446.
1.) SÒ. Abreviatura da prepo3Íç.~io Sob.
— SÔ pena; sob pena, debaixo d'oUa.
2.) SO, (idv. Por baixo.
— A SO ; a baixo.
— De SO ; do baixo, cm graduação.
3.) SÔ. Em vez de senhor. — Ah sô
■patife ! —Sò malcreado!
4.) SÓ, (idj. inv. (Do latim solus).
Desacompanhado, sem outra cousa, ou
pessoa. — 8 Conta a historia, que tanto
andou o cavalleiro do Tigre sem acliar
os outros, que passou gram parte do dia.
Neste tempo Filistor, que estava em sua
cilada, teve novas da espia, que n'isso
trazia, como a dona e sua filha vinham
acompanhadas de sós quatro cavai leiros.»
Francisco de Jloraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 10.õ. — «O principe Boroldo
o riatir lhe tiveram em mero a que fez
a Daliarte, dizendo que fora a mais justa
e melhor empregada, que nunca viram;
porque a habitação da iliia so pêra elle
parecia aparelhada." Ibidem, cap. 120. —
«O cavalleiro do Tigre se embarcou cora
Arjcntao na sua fusta, com tenção de ir
tomar terra firme, onde mais perto po-
desse, c dalli bo tornar Arjentao ;l sua
governança; c pêra ir assim só, pediu
licença a Beroldo e Platir, dando por
escusa, que tinha uma aventura porá
passar, que de necessidade havir de ir
só, o parecer a prazo sinalado.» Ibidem.
— «EÍroi SO pôz a uma janella, e vendo
o cavalleiro jií no campo, cercado de tan-
tas donzellas, chamou a rainha, dizendo :
Vinde, senhora, vêr a maior novidade e
a mais estranha aventura do mundo, que
nunca vi quem com a companhia d'uma
só mulher, que costuma muitos dias, não
affroutc logo, o aquelle cavalleiro parece-
me que o que aos outros enfastia, a elle
contenta.» Ibidem, cap. 123. — « Esta
foi a mais nova cousa do mundo, disse
olrei, quo o natural de todos é fugirem
d'uma só mulher, se a tratam muitos
dias, e pêra sua condição p.arece aquel-
las são poucas. E dando licença aos seus
cavallciros se foi cada um A sua pousa-
da, contentos d.'i.s novas que acharam na
corte d:i valentia do cavalleiro das don-
zellas; porque quanto suas obríw maiores
pareciam, tanto mono^ injuriados fica-
vam do Hcr vencido.s delle.» Ibidem, cap.
120.
Km hum mal outro comera.
Que nunca vem nó nenhum;
K o triste que tem hum,
A solTrer outro se otVroça ;
K 8(5 polo ter conheça,
Que basta hum s'i que tenha.
Para que outro lhe veuha.
CAM., CARTA 2.
nestes dias, quo reyuou,
tudo mandou, gouernou
dom loam manoel soo,
que se desfez como poo,
no que era se tornou.
GARCIA nr, RRZF.NDE, HISCELLAICEA.
Ilura ."O mao official,
que ha em huma cidade,
de.^tnie ha comunidade :
vede bem se faram mal
muytos doâta qualidade.
IBIDEM.
— « Onde acabou de carregar a em-
barcação da mercadaria em que tratava,
quo como ja disse, craõ ovas de sáveis,
os quais nestes rios saõ tantos cm tanta
quantidade, que lhe não aproveitão mais
que sós as ovas das fêmeas, de que car-
regai) todos 03 annos passante de duas
mil embarcações, e cada embarcação le-
va cento e cinquenta, duzentas jarras, e
cada jarra hum milheyro, por ser impos-
sivel podersc aproveitar o mais.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 25.
— «Em quo averia duzentas e vinte e
cinco vellas, do que sós as oitenta e trcs
erão de alto bordo entre nãos o G aleijes
e Caravellas, e as mais eraõ Galés, e
bargantins e fustas, em que se affirmava
que irião dez mil homens limpos, e trin-
ta mil de chusma, e do serviço da ma-
rcação, c escravaria Christam.» Ibidem,
cap. 12. — «E como ao outro dia foy me-
nham se partirão para huma villa que so
dezia Lindau panoo, onde forão bem aga-
salhados do Capitão delia que era paren-
te do embaixador da Cauchenchina, o
qual avia sós cinco dias que chegara de
Fanaugrem onde el Rey ficava, que era
ainda daly quinze legoas.» Ibidem, cap.
120. — «Éstc (íonçalo Falcão quiçá pa-
reccndolhe que por aquy se eontirmaria
na graça do Rey do Bramaa, jmra quem
no cerco se tinha passado, deixando o
Chaubainhaa a quem antes servia, pas-
sados sós três dias depois da partida dei
Rey SC foy a este seu Governador, e lhe
disse que era cu aly vindo com huma
embaixada do Capitão de Malaca para o
Chaubainhaa.» Ibidem, cap. 153. — «Sur-
tas has nãos vieraõ cem homens em huma
grande almadia a bordo da capitania, tob-
tidoH á turqcHqua, com terça/los, o eecu-
dfiH, entre o» quaes vinhaij quatro quo
))areciars ho.H pri;:cipao.s, que cm chegan-
do quiseraõ subir á nao, assi armados
quomo estauaõ, com alguns da compa-
nhia, ho que lhes Vasquo da í!ama nai5
consentio, se naò que elles sós, e «em
armas entnissem na nao.» I)aiiii3o de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 1,
cap. 37. — «E assi se acaijou de todo a
execuçam desta batallia, que durou des-
no meo dia ate noite, cm que raorrerai)
dos imigos mais de três mil afora os Ma-
maluquos que de oitocento.s que eram,
SOS xxij escaparam de serem mortos, ou
captiuos, e Mirhocem com ' medo que o
entregasse Miliquiaz ao Vice-rci, se aco-
Ihco logo pela i)oste a corte dei Rei de
Cambaia.» Ibidem, part. 2, cap. 39.
Flíbil scena magoa, ao pZ-rto, c ao longe.
Nadando, os líois, c'o susto, os Carros tirão:
Sós, (i'tT& da água, os corno» lhe apparcccm.
Semelhão Rios, que o tribuno undo.ío
Emb'5rcão no alto pego. Arrojão Sálios,
Ao Mar batéis ; cspancâo-nos c'o« remos.
F. li. DO NASCIMENTO. OS HARTIIES, lÍT. 6.
— «As orelhas saõ pequenas, rodõdas,
e querem parecer cortadas : o naris bay-
xo como de Gato em tanto que apenas
se farta de fôlego. A boca larga o gran-
de, e o queyxo decima cortado pelo meyo,
e nelle sós quatro dentes, que saõ aa
prezas, e no debayxo todos sem lhe fal-
tar nenhum.» Fr. Gaspar de S. Bernar-
dino, Itinerário da índia, cap. 17.
— Achar-se um só com sÓ ; achar -se
sem outrem na casa.
— Estai- só cValgium, ou str só d'al-
guem ; estar desíicompanhado, ser como
orphão e viuvo.
— Logarcs sós ; legares solitarioe, er-
mos, desertos.
— Único.
Mas porque a execução desta vontade
Hum só momento mais não se dilate,
Posembarcar mandou com brevidade
Pous basiliscos ja para o combate,
Cuja horrenda c mortal ferocidade
Tudo abraza, destruo, asíwla. e abate,
Nom são 3('s estes dous, que nesta guerra
Pi'ide quantos quizer lançar cm torra.
r. D'ANnRADE, FBIMCIBO CEICO DB DID, CSIlt. 15,
est. 30.
— «Valho-me sempre das cousas natu-
racs, e assombro-me corto n'e8te caso,
considerando que uma só gota de tinta
que caia cm um.i redoma de agua claris-
sima, b.ista, e sobeja para a tornar tur-
va: e que para aclarar, e deixar limj
uma redoma de tinta, não basta uma pw
pa do agua clara.» D. Francisco Mano
de jNIelh'. Carta de guia de casados.
5.) SÓ, s. m. I Do latim folum). Te
mo antiquado. Solo, chão, terra.
só
só
SOAL
539
6.) SÓ, adv. (Do latim solum). Somen-
te, unicamente. — «Porque só a face das
paredes de fora estava composta de tan-
tas galanterias e subtilezas, esculpidas
em um mármore alvo o duro, que em ce-
ra mui branda parecia difficil poderem-se
fazer.» Francisco de Moraes, Palmeirim
d'Inglaterra, cap. 120.
Soiilior, V(5s só o fizestes?
Si, que niuguom uic ajudou.
Sc vós só o conipuzcstcs,
Crede, quo cxtremoís dissestes.
Nunca Orlando tal fallou.
Senhor, fizestes-lhc pé?
CAM., AMriiTTBiuES, act. 1, SC 6.
— «E mandou assentar em huma ca-
deira a mesa, e comeo com elle so pe-
rante muytos grandes e nobres que hy
estauão em pe, soo por ser bom caval-
leiro.» Garcia de Rezende, Chronica de
D. João II, cap. 144.
Eis logo o marinheiro diligente
Qu'isto esperava só, isto o detinha.
Levantando do mar o férreo douto,
Faz a vella cahir, que presa tinha !
Ja o vento amigo a fere bi-andamcnte,
Ja corta a proa aguda a onda marinha,
Ar, agua o terra os dous hoje apartava,
Que o fogo apesar delles ajuntava.
F. d'andrade, primeiro ckeco db DIU, cant. 3,
est. 105.
E se de ajuda são necessitados
(Culpa do peso so, não dos meus peitos)
l)c quem devem melhor ser ajudados
Que daqucllas a quem elles são sujeitos ?
Tendo os seus mesmos peitos esfori^ados
Lhes forão qui(;á sempre pouco acceito.s,
E 30 agora a ajuda-los so moverão
He pela honra quiçá que disso esperào.
iDiDEU, cant. 16, est. 60.
— «Sò na ordem de trazer as Annas
poseraò maior cuidado, ordenando que só
os Chefes tragaõ as Ai-mas direitas, que
he o mesmo, que sem differença ; e a to-
dos os outros íillios segundos se lhes põem
alguma poça no Escudo para ditfcrença.»
Severira de Faria, Noticias de Portugal,
Disc. 3, cap, 18.
Eis hi que me chusa : eu duque no oéo,
que um anjo é la duquo, e só por na mente
a prima quebrar no anjo luzente,
a pena perpetua caiu o deceu ;
o homem vilão que v:l penitente
só isto me emperra.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pag. 4.
Abramos o pranteemos
depois.
Só acho um martelo
e mano d'arêa.
IBIDEM, pag. 285.
E porque? porque sabia
por mui certo calandario
que este amor iutorsario
só nos homens rezcdia.
iBiDEU, pag. 333.
— «Qual é pois o meu desejo? Não o
sei. Desejo toda a minha vida amar-te,
e até adorar-te. Desejo, a ser possível,
que me ames tu, como eu te amo. Dese-
jos táes só loucas como eu os podem ter.
Não te enoje de mim o vêr-me em tal
loucura : que a não ser por ti, por ne-
nhum outro em mim coubera.» Francis-
co Manoel do Nascimento, Successos de
madame de Seueterre.
Em quanto os brutos animaes só fitão
Debruçados na Terra os olhos nella,
Contem pladora vista aos Ccos levantào
Só por mandado do Immortai os homens.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Caut. 1.
Em tão doce Estação, Cantor divino,
Do Tamisa brazão, do Mundo assombro,
Qu'hc só menos qu'fl-jtacio, c mais que todos,
Prescntia cahir na mente excelsa
Apolineo calor impetuoso.
Só deu luxo o cubica o preço ao ouro ;
Em si mesma he frugal a Natureza.
IBIDEM, caut. 2.
Hum César, só no vicio, inda fulmina
Injusta guerra; bárbaros triunfos.
Que a perfídia lhe dá, de lucto cobrem
Triste mãi, triste esposa, e filhos tristes.
IDEM, MEDITAÇÃO, CaUt. 2.
O' Vato harmonioso, ó A^ate egrégio.
Eis da assombrosa maquina do Mundo
Essa, que chamas mento agitadora
Que á Lua incerta, ao luminar do dia.
Ao largo campo, ao mar, á mólo immcnsa
Dá vida, e movimento. A activa força
Só tem daquoUe que creára o fogo.
Tudo cm ti tinha o Mundo ; as doutas Musas
Tiuhào firmado cm ti seu Templo, e Throno.
D'huui Vate acccita o pranto, acceita os votos.
Pois o Tejo te adora, e te conhece :
Entre as cultas Nações, tu só me illustras.
Nada grande sem ti no Mundo encontro.
IDEM, VIAGEM EXTÁTICA, Caut. 4.
— «SÓ Hermengarda abaixou os olhos,
e ajoelhou com as mãos erguidas no
meio delles, murmurando: — «Não pos-
so ! Abaudonae-me ! » Alexandi-e Hercu-
lano, Eurico, cap. 16.
Bera está.- — Ide, meus filhos ;
Ide, que Manlio so por vós espera
Para levantar ánchora. Adeus! — Marco
Respeita o honrado ancião. — Juba. . . estremeces?
Medo não é. — Tu coras. Marco, o inflas
Ao mesmo tempo ? — Filhos !...
GARRETT, CATÃO, aCt. 5, SC. 9.
— A^rto SÓ; correlativo a Mias. — «Por-
que no mesmo tempo Dauid Coloyanes
Emperador Christào da Trapizonda, teue
da Emperatriz sua molher a Princeza
Despina fermosissima donzela, não só em
feyções, e excelentes partes naturaes,
mais ainda em todo género de primores,
e virtudes.» Fr. TJaspar do vS. Bernardi-
no, Itinerário da índia, cap. 21. — «Não
só he verdade quo sou Portuguez pela
graça de Deos, porem que tenho a fortu-
na de ser filho de Lisboa, e neto de hum
Cano chamado por Antonomásia, ou não
sey o que, o Cano real.» Cavai leiro de
Oliveira, Cartas, liv. 3, n.° 31. — «Ar-
mas, guerra, victorias, pôr bandeiras ini-
migas, e coroas aos pés, são de hoje por
diante as obrigações de vossa alteza, e
estas as minhas esperanças. Oh como aa
estou já vendo não só desempenhadas
mas gloriosamente excedidas ! » Padre An-
tónio Vieira, Cartas, n.° 5.
— Só iVelle; d'ell3 único.
— Adágios e provérbios :
— Bem venhas, se vieres só.
— O marido, antes com um só olho,
que com um filho.
— Melhor é estar só, quo mal acom-
panhado.
— Só me aconselhei, só me chorei.
— Sou só como espargo no monte.
— Em o que podes só, não esperes a
outro.
SOÃA, ou SOÃ, s. /. Entrecosto do
porco da parte do espinhaço.
SOABRIR, V. a. Abrir um pouco.
SOAÇAR, V. a. Termo antiquado. Co-
zer, assar lentamente.
SOADA, s. /. Vid. Toada ria cantiga.
— ■ «Todos juntamente vinham cantando
a três vozes, c'os elmos tirados, um vi-
lancete tão entoado e duma soada mui
galante e bem composta.» Francisco de
Moraes, Palmeirim de Inglaterra, cap.
109.
— Figuradamente: Rumor, fama, bu-
lha, estrondo.
SOADO, ijurt. imss. de Soar. Que soou.
■ — Figuradamente : De que se falia mui-
to, fallado, que faz grande ruido.
SOAGEM, s. f. = Significação incerta.
— Vulgarmente dá-se este nome a uma
herva, análoga á leituga ou alface brava,
que comem os bois e os porcos : pertence
ao género echium de Linneo e de que ha
varias espécies.
SOALHA, s. /. Chapinha de latão en-
fiada horisontalmente nos arames do pan-
deiro, a qual ferindo em outra se faz o
som agudo, vibrando o pandeiro.
— Põr soalhas a alguma cousa; fa-
zer que se saiba, publique e assoalhe.
— ■ Termo de náutica. Os braços da
cruz na balestilha.
SOALHADO, [tart. ijass. de Soalhar.
— Substantivamente : Sobrado de as-
soalhar 08 navios.
SOALHAR, V. a. Vid. Assoalhar.
— Fazer soar como as soalhas.
• — Soalhar as casas. Vid. Solhar.
1.) SOALHEIRO, s. m. Sitio onde so
vae tomar o sol, e abrigar-se ao seu ca-
lor. — «E diz quem se delia não conten-
tar, querendo outros novos acontecimen-
540
SOAR
SOAR
SOBA
to3, que 80 Vil aos soalheiros dos E3cu-
deiroj da Oastanholra, ou ilc AIIioj Vc-
dro3 o li iri-ijiro, ou oonvoi'.40 na Rua No-
va cm casa do líoticario; o iiDío lhe falta-
rá quo conte, roróm diz o Autor que
U30U nesta obt-a da maneira de Isopete.
Ora quauto á obra, ao nHo parecer bom
a todo.H, o Autor diz quo entende delia
menos ([uo tolos os c|uc lha |nidercni
emendar.» Cauiries, Seleuco.
2.) SOALHEIRO, A, alj. Exposto ao
Boi.
SOALHO, s. m. Vid. Solho.
SOANTE, part. act. do Soar. Que sôa.
— «U vós c franccz, que com um vous,
recebeiTim a mesma rainha Sabá, se cá,
tornara. Teuho-o por demasiado vulgar.
O clle, e dia, um — • ouve senhor ? Que
diz senhora? ó termo bem portuguez, as-
Sils honesto, e bem soante.» Francisco
Manoel de Mello, Carta de guia de casa-
dos.
— Assoante.
SOÃO, s. 7)1. Vento muito calmoso e
abafado, sem viração; vem da parte on-
de nasce o sol.
— Termo antiquado. O nascente, pon-
to do céo opposto ao poente. = Querem
alguns que seja o vento do norte.
1.) SOAR, s. m. Termo antiquado. So-
lar, não cm quanto é logar ou edifício,
ou terra ou castollo, em que teve o seu
principio alguma família nobre e bem
conhecida, mas sim em quanto nos mos-
tra algum território, couto ou concelho,
onde alguém executa a jurisdicção ou po-
der que o soberano lho concede sobro os
que vivem u'aqucllo districto com leis,
costumes e respectivos foraes.
2.) SOAR, V. n. iDo latim sonare). Dar
som, produzil-o. — 'E porque de noite
qualquer cousa sôa muito, ouviu aparta-
do donde elle estava queixar um homem
com palavras tão magoadas e tristes, que
era multo pêra ter dii delle. Desejando
ouvil-o de mais perto, foi-so contra aquel-
la parte onde o outro estava.» Francisco
de Moraes, Palmeirim d'Iaglaterra, ca-
pitulo 76.
— Retumbar.
Mavioso nomo quo tam meigo soas
Noa lusitanos lábios, não sabido
Uas ovgulUosas biiccaa dos Syeambros
I)'C3tas allunas torras — Oh Saudade !
QABllETl', CAMÕES, Caut. 1, Cap. 1.
- — «Era a primeira vez que a sua voz
soava no meio da batalha, e a única pa-
lavra que lhe saiu da boca foi o nome de
Thcodemiro. Esse brado devia chegar
longe, reboando como o trovão.» A. Her-
culano, Eurico, cap. 11.
— Ter o som somente.
— Divulgar-se, cspalhar-se, correr no-
ticia.— «Senhor, disse ella, eu sou na-
tural de3ta terra, c teuho algum paren-
tesco com a senhora Miraguarda, bc Já a
ouvistes numoar. Sôa tã) luiigo o nome
d'essa senhora, disso o das donzelias, que
não sei onde possa ser occulto.» Francis-
co de Moraes, Palmeirim d'Iaglaterra,
cap. 128.
— Cantar.
— Soar dentro n'alma ; ponetral-a.
— • Soar nos ouvidos, nas oreUiaa d'al-
(jaeiíi; caegar-lhe aos ouvidos. — «Nào
foram estas palavras tào baixas, que dei-
xassem do soar nos ouvidos de Miraguar-
da e do seu cavalleiro; e posto que a
ella parecessem de homem sem amor e
sem fé, a elle pareceram do pessoa livre,
e em quem o amor teria pouca parte pêra
lhe fazei- bem nem mal.» Francisco de
Moraos, Palmeirim d'Iuglaterra, cap. 127.
— «Ni)3, soaadonos isto bem nas orelhas,
lhe dissemos, senhores irmãos, ja que cm
tudo usais virtude em vosso ofiicio, vos
pedimos muyto que nos digais, qual foy
a causa porque vos escãdalizastes tanto
de vos pedirmos huma cousa que uos a
nós parecia ser tão justa e tão necessá-
ria ao nosso desemparo, quanto vós es-
tays vendo?» Fernão Jlendes Pinto, Pe-
regrinações, cap. 102. — d Em quanto
estas cousas passauão, não estaua Ismael
ocioso, antes com hum animo inuoiiciuel
andaua arrazando Cidades, vencendo cò-
trarios, ganhando bãdeyras, e fazendo
outros feitos dignos de seu generoso ani-
mo, cujas victorias soãdo nas orelhas de
Thechel; propôs verse comelle.» Frei
(raspar de S. Bernardino, Itinerário da
ludia, cap. 21. — «E donde mereci eu
que a mãy de meu Senhor me viesse a
visitar? Ex aqui verJadeyramente tãto
que a voz de tua saluação soou em mi-
nhas orelhas, logo o minino que no ven-
tre trago deu saltos cij prazer. E ben
auentiu'ada os tu que creste a embaixada
qu3 tè o Anjo trouxe da parte de Deos:
porque tolallas cousas que por elle te fo-
rão ditas, em ti serão compridas.» Frei
Bartholomeu dos Martyres, Catecismo da
doutrina christã.
— Representar algum som.
— Dar a entender, e de alguma ma-
neira .significar.
— V. a. Tocar.
FeadiMido as ondas vai a aguda proa
Ufania mostrando em tudo, e gosto,
O estandarte de varia seda voa
Com ordom cm legares varioa posto,
O tambor, e o clarão guerreiro soa
Com mais horrendo som que bem composto,
Xa popa o rico toldo roçagante
Do que o mar he também partccipantc.
FRANCISCO d'aNDR\DE, FRISIEIKO CBKCO DB DIU,
caut. 14, est. '2'2.
Hora acerba, hora terrível
Que nenhum antevê, a todos chega,
E .«0(1 como a tuba derradeira.
Q.Liiii&rr, D. uuaxoa, cant. 10, cap. 17.
— Dar signal, jirovas evidentes e ob-
vias.
— Cantar, celebrar.
— Soar caridwle; prégal-a.
— Soar-se, v. rejl. Haver novas.
— Dizer-se, divulgar-se, contar-nc, re-
ferir-se.
— AdAOIO-S E PBOVEUIilOS:
— A panella em soar, e o homem em
iallar.
— A mulher boa, prata he, que muito
sôa.
— Na aldeia, que nSo he boa, maÍ8
mal ha, que sôa.
— Não ha agua maia perigosa, que a
que não sôa.
— O bem sôa, e o mal vóa.
— Casar, casar, sôa bem, e uab'; mal.
SOB, prep. (Do latim sub). Debaixo.
— <iAs Quaees Leyx vistas per nós, con-
sirando á cerca delias como ElRey Dom
Joliam meu Avoo de gloriosa memoria em
a dita sua Ley hordenou, e mandou, que
os contrautos dos afforamentos, e arren-
damentos nõ fossem feitos per ouro, nem
per prata, sob certa pena em ella con-
theuda.» Ord. Affons., liv. 4, tit. 2,
§ 18.
E pois minha vontade, ordeno, e mando,
iS'oÍ pena de incorrer no desagrado
Do meu Rc:il Favor, de abrir os olhos
Do mundo fascinado, c de mostrar-lhc
Que nada tem de real vossaa Pessoas.
Dixiz DA cacz, uTssoPE, caut. 8.
— Christo nasceu sob o império de
Octaviano César Augusto; nAâceu quan-
do elle imperava.
— Christo padeceu sob o poder de Pon-
do Pilatos; padeceu debaixo do governo
de Poncio Pilatos.
— Usa-se também na composição de
alguns termos, taes como sobceáer, sob-
color, etc.
— Vid. Sub.
— Ad.VGIO K PUOVERBIO :
— Sob a sombra da nogueira, não te
deites a dormir.
SOBACO, s. m. A cova debaixo do
braço, onde elle se une ao hombro. —
«Porque huma das cegueyras que estes
miseráveis tem, he terem pêra si, que de
cada cousa por sy ha hum Deos particu-
lar que a fez, e lhe cõserva seu ser na-
tural, mas que este Bigay potim os pario
a todos pelos sobacos, e dcllc, como do
pay recebem o ser por hnraa união filial
a que cllcs ch.imão Bijaporentesav. »
Feriiiio Mendes Pinto, Peregrinações,
cap. IH).
SOBALÇAR, r. a. Alçar, acclamar.
SOBARBA, s. /. Termo antiquado. Pe-
ça do chapéo, ou toucado, que ata por
baixo da barba.
SOBARBADA, .«. /. Termo antiquado.
Pancada uu golpe debaixo da barba.
— Termo de cavallaria. Barbella de
SOBE
SOBE
SOBE
541
corda, ou atilho, que se coUoca na bar-
ba do cavallo.
SOBARRENDAR, v. a. Arrendar a ou-
tro o que já se tomou de renda a al-
guém.
SOBCEDER, V. n. Vid. Succeder. —
«Acabadas esta? guerras veo a falecer el
Rei Rodolpho sem deixar herdeiro que
direitamente podesse sobceder no regiio,
e assi ficou o reguo de Borgonha devolu-
to ao Império, viuendo ainda Ottho Eni-
perador tio de Beraklo que lhe contirmou
a gouernauça da terra de Vienois que lhe
el Rei Ro lolpho dera. » Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 4, cap. 71.
— «Morto el Rei Bozom, por nam ter fi-
lhos sobcedeo no regno seu irmam Rodol-
pho, 03 Genoeses sabendo que Bozom era
morto entraram pellas terras de Moriana,
que eram dos Reis de Borgonha, com
muita gente sua, e do Conde de Piamen-
te, e do Marques de Sus, e dos de Salu-
ce.» Ibidem. — «Ouue este Conde Hum-
bert de sua molher donna Laurença filha
do Conde de Veniça hum filho per nome
Amedeu, que lhe sobcedeo, e foi segundo
do nome, e quarto dos condes de moria-
na que depois da morte de seu pai casou
com donna Guigone.» Ibidem.
SOBCALCO, s. m. Vid. Socalco.
SOBCOIXA, s. f. = Termo usado por
Soropita.
SOBCOLOR, ou SOBCOR, loc. adv. De-'
baixo de côr, de pretexto; apparencia.
— «El Rei dom Emanuel, pelas causas
que atras appontei determinou de se ca-
sar, pelo que sobcor de visitaçam, man-
dou Àluaro da costa seu camareiro, pes-
soa de que muito confiaua, a dar a bem
vinda a dom Carlos seu primo, Rei de
Castella, Archeduque Daustria, e senhor
dos estados de Flandres, que então che-
gara daquellas partes a Hispanha.» Da-
mião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 4, cap. 33.
SOBCRESTAR, v. a. Vid. Sequestrar.
SOBEGIDÃO, s. f. Demasia, nimieda-
de, excesso, abundância supérflua.
— Insolência, excesso do atrevimento.
— «A este tempo o cavalleiro do Dra-
gão, estava tão envolto em ira, que a
gram sobegidão delia lhe tornou a falia
por não responder como quizera, cousa
que ás vezes acontece a quem a teme
d'alguma, que muito sentem, e por esta
razão alguns cavalleiros se levantaram
pêra aceitar a batalha. Porem o gigante
Dramusiando primeiro que todos começou
dizer.» Francisco de Moraes, Palmeirim
d'Inglaterra, cap. 93.
— Falta de moderação prudencial.
— Razões excessivas, de reprehcnsão,
6 descompostura, que diz quem não tem
direito, ou auctoridade para as dizer.
- — Atrevimento.
— Figuradamente : Demasia, excesso
de quem não se contém nos justos ter-
mos.
f SOBEGIDOM, s. vi. Vid. Sobegidão.
SOBEGISSIMO, A, adj. superl. de So-
bejo.
SOBEIRA, s. /. Outra ordem de telha,
debaixo da beira do telhado, para suster
a superior.
SOBEJADAMENTE, adv. (De sobejado,
com o suffixo «mente»). Sobejameute ;
em excesso, demasiadamente.
SOBEJADO, part. pass. de Sobejar.
SOBEJAMENTE, adv. (De sobejo, com
o suffixo « mente !))• De modo que excede
o sufficiente; nimiamente, em demasia,
excessivamente.
— Syn. : Sobejamente, muito. Vid.
Muito.
SOBEJAR, V. n. Sobrar, ser de mais
do necessário em numero, ou quantidade
qualquer. — «Ou seja descontado o valor
da dita cousa, que assy foi emprestada
ou comprada, segundo o valor que valia
a prata ou ouro ao tempo do dito ape-
nhamento, qual antes o Senhor do pe-
nhor mais quiser; e o mais ouro ou pra-
ta, que sobejar, lhe seja entregue, se-
gundo o modo que suso dito he.» Ord.
Affons., liv. 4, tit. 1, § 4. — «Quanto
he o jireço que foi emprestado, nom aven-
do por ello outra pena, posto que em cila
encorresse ; e que o mais ouro ou prata,
que assy sobejar, seja costrangido o que
tem o penhor, que o entregue aaquelle,
que o apenhou.» Ibidem, § 39. — «Agu-
ça-se o desejo, e acrescenta-se para o que
lhe coutam; somos amigos do que nos de-
fendem, e quanto nos falta de poder, nos
sobeja a vontade.» D. Joauna da Gama,
Ditos da freira, pag. 20. — « E toda a
gente da Corte, e da Cidade, que estaua
em pe antre as grades, que era muyta,
todos comiam do que se tirana das me-
sas, que era em tanta abondança, que
muyto mais era o que sobejaua, que o
que se comia, e por isso não auia pessoa
que deitasse mão de cousa alguma, nem
fizesse mao ensino, e também poios muy-
tos officiaes que nisso traziam tento, e
poUo castigo que sabiam que auiam de
auer se o fizessem, e mais sobejando tu-
do a todos. » Garcia de Rezende, Chro-
nica de D. João II, cap. 123.
Quo a Fortuna, que agora te sobeja,
Te dè por algum meio não cuidado
Qualquer mal, por pequeno que ellc seja.
J. X. DE MATTOS, EIMAS.
— «Mudemos de estancia; vamo-nos
para os Armazéns delRey, onde naõ ha
gatos, e sobejaõ bastimento, biscouto ar-
redo, queijos a fartar, chacinas de toda
a sorte : e onde muitos homens de bem
achaõ seu remédio, sem lhes custar mais
que tomallo; também nós o acharemos,
que nos contentamos com menos.» Arte
de furtar, cap. 29.
— ■ O que sobejar da dita quantia;
o que sobrar d'ella.
— Superar, exceder.
Não foi a falta cntâo do peito ousado.
Que cm todos a ousadia então sobeja,
Mas como menos vai acautelado
Do quo em tão árduo feito se deseja.
Não vai tão encubtírto, e tão calado
Que não o sinta o imigo, e não o veja,
E quando dellc foi accommettido
Ja sobre aviso estava, e prevenido.
r. d'andrade, pbimeibo oekco de Diu,cant. 17,
cít. 27.
— Quando a fortuna determinou ano-
jar-me, foi para que a vida sobejasse «
dor; foi para quo não me restassem dias
de vida depois da dôr passada.
— Adágios e provérbios :
— As mulheres onde estão, sobejam,
e onde não estão, faltam.
— A quem não sobeja pão, não crie
cão.
— Quando o gosto é sobejo, mais cus-
ta a mecha, que o sebo.
— Mais vai que sobeje, que não falte.
SOBEJIDÃO, s.f. Vid. Sobegidão.
SOBEJISSIMO, A, adj. superl. de So-
bejo.
1.) SOBEJO, A, adj. Nimio, demasia-
do, em excesso, que excede ao necessá-
rio; excessivo. — «Postos nestas angus-
tias o vento que como touro bramaua,
dando com impetu cruel pelo traquete
nos leuou ambas as velas, e juntamente
a ceuadeyra, tudo feyto em pedaços, dos
quaes muytos se arrestrauão pelo mar,
outros leuantados nas nuuens estralando,
foram causa de se formarem tam gran-
des alaridos, como era sobeja a rasão
pêra fazellos.» Fr. Gaspar de S. Bernar-
dino, Itinerário da índia, cap. 3. — «Po-
rem ao nono dia, andando com aquelles
enfadamentos, tam sobejos que o mar
tem consigo, mandamos vigiar ao Gajey-
ro da gauea, e depois de auer hum largo
espaço, que nella estaua, começa a gri-
tar, terra, terra de Arábia, por proa.
Festejamos todos esta noua, porque com
ella nos veo entrando o terrenho, com
que chegamos bem perto delia.» Ibidem,
cap. 10. — «E como andava com sobeja
desconfiança do negocio das galez (que
03 soldados lhe não perdoarão em matra-
cas que de noite lhe davaõ) acabou aquel-
la desgraça, ou desastre de o desconfiar
de todo.» Diogo de Couto, Década 6, liv.
8, cap. 12.
Sei tudo — ■ e tudo ouvi sobejas vezes ;
Nem posso ouvi-lo mais. O cou, que a Roma
Nos pôs columna extrema cm seus desastres.
Não quer prantos de nós. Valor, constância,
Virtude são os únicos remédios.
GAERETT, CATÃO, act. 1, SC 1.
— Atrevido, audaz, demasiado. — «E
certo que em fazer pergunta.? acerca del-
les, trazia ya a gente enfadada; e posto
que os de milhor juyzo louuauão a cu-
542
SOBE
SOBE
SOBE
riosidado, com tuJo outros achauâona so-
beja.» Fr. <!;i.-<par <lo S. JJernanliuo, Iti-
nerário da índia, eap. 22. — «NSio tonlio
([ue dizor luaiá, o antm cuido que fui so-
bejo. Salvo se aL-rcsciíiitar uni aviso do
cousa, com quo lia muito teuho azar; a
qual 6 ver a uuias mullicres andar sem-
pre fazendo fcsta.s, pedindo-as, proniet-
tendo-as, o acccitando-as com o pretexto
que oilas querem.» D. Francisco Manoel
de Mello, Carta de guia de casados.
— FifíuraJanieiito: A sobeja </<>. —
iNem mo crimines de que amo vcr-te a
bra(;oa com a de.->espera(;ào ; ([uc nào tens
tu do verter uma só lagrima, que eu nào
auceie do enxugá-la ; e licide sempre a
primeira ser, em te pedir quo briosamen-
te supportes o transe que, por sobeja
dôr, me arrancará a vida. Que nào hou-
vera alii para mim consolação, se eu cre-
ra, que vim ai> mundo, para que fosse
tua desconsolação a niiniia ausência. »
Francisco ]\Iauuel «lo Nascimento, Suc-
cessos de madame de Seneterre.
— Figuradamente: Amur sobejo.
Menos arde o Vesúvio que o seu peito,
Menos tem quo os açus olhos agua o Tojo,
Porém em fogo o em agua asâi desfeito
Não torna atraz, mas cresce o seu desejo •,
Vc-so agova do novo mais sujiito
Áqucllc seu antigo amor sobejo.
Porque o que cm sua esposa agora entendo
O que lho sempre teve mais acende.
FUANCISCO d'aNDK1DK, rKIUKIRO CCBSO DE DIU,
cant. 9, est. 57.
— Sobejo no andar, no fallar, na ani-
mosidade, etc; que excede o justo valor.
2.) SOBEJO, s. m. O que resta, o que
sobra.
— Aproveitar os sobejos d'outrem; o
quo elle já nào quer, os restos, as so-
bras.
— Loc. ADV. : Dá sobejo ; de mais.
— Emproga-so também tiguradamente.
f SOBELÁ, uu SOBELLA. Turase adver-
bial, poi subre a. — «Alem disto mandou,
que sobella mesma casa se posesse huma
bandeira com as Armas Reaes de Portugal,
pêra se saber que a tinha dado aos Por-
tugueses.» Dan\ião de (íoes, Chronica de
D. Manoel, part. 1, cap. bS. — «Mas em
todo este tempo nam quis dom loam de
Meneses sair a estes, sperando que deces-
sem mais das aldeãs, a qual hora acerta-
ram de vir dous caçadores dar sobella ci-
lada, pello que lhe foi forçado descobrirse,
e correr aos que ja andauam pello cam-
po, de que os nossos mataram muitos, e
captiuaram sessenta almas, e trouxeram
muito gado gi-osso.» Ibidem, cap. 84.
— «Pelo que no mesmo instante man-
dou sobella fortiileza Danchediua, huma
armada ilo obra de sessentji nauios de re-
mo, da qual ora capitam hum Português
arrenegado, por nomo António Fernan-
dez carpinteiro de uaos, que se entaõ cha-
maua Abedella, que foi hum dos degra-
dados quo Icuara a Pcdralurez cabral, u
deixara cm Qurloa, ilondo viera ter a es-
tas jjartes, per cujo couscllío o Cabalo fez
esta armada, prometendoiiic que se to-
masse a furtaleza Danchediua, lhe daria
a (Jintacurà.v Ibidem, part. 2, ca[i. 12.
— «Acabadas estas cousiis ouue algumas
diferenças entre (iarcia de Mello, e Dio-
go Dazambuja, sobela ordem que se po-
ria no gouurno da cidade: no que se nau
podendo concertar, (i areia de Mello se
veo pêra o rcgno, ficíindo ahi (ionçalo
Mendez Çacoto com os seus quatro na-
uios.» Ibidem, cap. 18. — «E foi tama-
nha a desordem, o medo dos imigos, que
em fogindo tirauam tam sem tento com
as frechas que se matauaò muitos huiis
aos outros, do3 quaes corpos morto.s, que
per espaço de três dias andaram sobela
agoa, recolherão os nossos hum grande
despojo.» Ibidem, cap. 33. — «Esta pe-
leja durou ate horas de meio dia, andan-
do ja os nossos tào cansados, que deter-
minou Afonso dalbuquerque de se reco-
lher a frota, pêra depois tornar sobela
cidade, milhor apercebido do que entam
uiera.i> Ibidem, part. 3, cap. 18.
f SOBELO. Phrase adverbial, em vez
de !oòre o.
— Sobelo mar. — «Andando assi occu-
pado lhe dixerani que os mouros tinhào
dito a el Rei de Calecut que elle nam
podia estar muito no passo do vao, pelo
que pêra el Rei saber quam de vagar es-
taua, mandou em huma ponta sobelo rio
fazer liumas casas, e ao redor delias abrir
huma grande cana chea dagoa, com que
ticaua como illia.» Damião de Góes, Chro-
nica de D. Manoel, part. 1, cap. 90. —
uCom tudo Lopo suarez mandou a dom
Afonso de ineneses, e a Deaiz Feriiandez
de melo que fossem sondar o canal, ate
o surgidouro, e acharam que posto que
as gales poJessem entrar, que o canal ja-
zia de sorte que auiam sempre de ficar
com o costado no rosto da artelharia dos
imigos, sem se poderem ajudar da sua so-
belo que ouue conselho.» Ibidem, part. 4,
cap. 13. — II Que regnou vinte, e seis ân-
uos, o teue grandes guerras com o Em-
perador Anrrique terceiro, as quaes aca-
badas, casou huma sua filha única her-
deira, per nome Idaim com Eustacio Con-
de Bolonha sobelo mar ein França, e lhes
deu logo em casamento o Condado de Bu-
lhou.» Ibidem, cap. 72. — «Teuo gran-
des inteligências sobelo modo "que po-
deria ter pcra tomar Tetuam, e fazer
nolle huma fortaleza, no que alem das
diligencias que mandou fazer per dom
Pedro mascarcnhas.» Ibidem, cap. 85.
f SOBEMENDA, loc. a<lr. Salvo o vos-
so dictame, a vossa satisfaçiio, sem pre-
juízo de quem melhor sentir.
SOBENTENDER. Vid. Subentender.
SOBERANAMENTE, <i./i-. (Do soberano,
e o sutlixo omentei'1. De um modo sobe-
rano, com soberania.
SOBERANIA, *. /. O caracter do que
é soberatio, c os direitos anuexos a ella.
— lm|ierio.>iidade, altivez.
— Figuradamente : Excellencia, supe-
rioridade.
— Syn.: Soberania, tuperiurid/uie. Vid.
este ultiiiii) Vocábulo.
SOBERANISSIMO, A, aJj. $uperl. de
Soberano. -Mui soberano.
SOBEKANIZADO, pari. pasi. de Sobe-
ranizar. Tornado soberano, elevado á so-
beraiiia.
SOBERANIZAR, ou SOBERANISAR, v. a.
Tornar soberano.
— Portar-se como soberano, e mand&r
como tal.
— Figuradamente: Exaltar, engrande-
cer.
SOBERANO, A, adj. Independente de
outra potencia humana.
— Excelso, supremo. — «Compunha-se
de oito grandes náos, cuja Capitania era
S. Francisco de Assis chamada por anto-
nomazia o Monte de ouro, digna verda-
deiramente de taô soberano hospede,
porque nella competia a grandeza com o
primor.» Fr. Bernardo de Brito, Elogios
dos reis de Portugal, continuados ]>or
D. José Barbosa. — «E ja nào sou deata
mal afortunada e cativa cidade, te faço
saber por palavras dit-is da minha boca
na firmeza fiel de minha verdade, que eu
me rendo desta hora para sempre por
vassallo e súbdito do grande Kev Portu-
guez, senhor soberano de meus filhos e
meu, com reconhecença de parias, e de
tributo rico qual ordenar a sua vontade.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações,
cap. 148. — «Dizendo em vozes muvto
altas, oução e vejào as gentes do mundo
a criminosa justiça que manda fazer o
Deos vivo Senhor da verdade Rey sobera-
no das nossas cabeças, que quer e lhe praz
que morrão todas cstiis cento e quarenta
mulheres entregues ao elemento do ar,
porque por seu conselho seus maridos e
pavs se levãtarai) cõ esta cidade, e mata-
rão por vezes nella doze mil Bramaas do
reyno Tanguu.» Ibidem, cap. 151.
Aquella ardente machina batida
Dos Cielopas na fragoa de Vulcano,
Com grãa forga na terra despedida
L.4 do Celeste Assento Soitfrtmo.
De fort;a humana nunca resistida
Antes traz onde chega o ultimo dano,
Nada a dotem de quanto acha diante
O mármore, o a<;o, a rocha, o diamante.
r. DB AXDRADK, rUKKIBO CEBCO DE DIC, CAOt.
9, oât. 20.
— «Dous olhos tem V. Mngestade co-
mo duas Estrellas; e se tivera dons mil
cada hum como o Sol, todos teriào bem
que ver, e que vigiar em seu Império;
taõ grande na exten.<aõ. que se mede com
a do mundo; e taõ alto. e soberano na
grandeza, que se levjinta até o Ceo.»
Arte de furtar, cap. 67.
SOBE
SOBE
SOBE
543
Uns a brilhante escolha lhe louvarão
Dos Synodacs Theologos, do Arronches,
Exímio Prógador, que leo inteiro
O Livi-o dos Conceitos predicáveis,
O Zodíaco mVrano. e outros muitos.
Que na Eschola Capucha estão em praça,
Do Guardião dos Capuchos, do Roquete,
Thomista petulante, e confiado,
msiz DA cBCz, HTssoPE, caut. 7.
Oh Alusa, vis aonde o ser humano
Se fez de eterna graça ^^va fonte,
Vós, que não s<5 Estrella do Oceano,
E vord? Plauta sois dExcelso monte;
Mas lá no eterno Empyrio soberano
Donde não ha quem as grandezas conte.
De Estrellas coroada, e Sol vestida,
Sois dos Coros Angélicos servida.
ROL. DE MOCHA, NOV. DO HOM,, CaUt. 1, CSt. 2.
Firma o Gama seus pés na ardente arêa
(Cego acaso não foi ; mas Soberano,
Eterno aceno) a terra balancèa,
Sem vento se entumece o vasto Oceano :
De nuvens n"hum momento o ar se arrêa.
Portentosos signaes de eterno arcano,
Com que patente fez Motor Divino,
D'A8Ía a queda fatal, d'Asia o destino,
j. A. DP! MACEDO, O ORIENTE, cant. 9, est. 28.
Eis só de hum Vate extático o sublimo,
O soberano estudo, se levado
Vai nas azas do aceezo enthusiasmo.
Para que era sentir n'alma entranhado
Dos vates do Jordão sagrado fogo.
Se dos Entes á fonte iramcnsa, eterna,
Ao som d Harpa celeste cu não subira?
IDEM, MEDITAÇÃO, Caut. 4.
— Excellente.
Nymphas, por quem Castella so abre c corra ;
Vós que fazeis á morto mil enganos,
Concedei-me ja alentos soberanos
Para que diga o mal que Amor encerra.
CAM., S0SET03, n." 178.
Vedes ahi vosso engano
de los mas lindos q>ie yo vi ;
não tendes por soberano
matar-vos Valenciano
chapim do Valhadoli.
ASTOHIO PRESTES, AUTOS, pag. 113.
Bem soberanos
lavraste os italianos.
Dir-vos-hei á puridade
o por que, por gentis canos,
Portuguez soj'a a ser
que sua rodo
de linguagem essa parede
fallava por oras, ayer,
que mais, por sabei, sabede.
iBrDEM, pag. 53.^
— Altivo.
— O Soberano Artífice; Deuí?, a su-
prema magestade.
Do Soberano Artifico foi esto
Corpo de Luz a mais formosa, o bella
Que visíveis nos são, das obras suas.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, CaUt. 3.
Tu, Soberano Artifico, só podes
Suster, dar moto ao barro organisado
Som que o ligeiro assopro da existência
Nascendo se dissipe, o desvaneça !
Mas a estructura, a força, o officio, o termo.
Nesta, que eu vejo, máquina corpórea.
Quando se forma, e vive, e quando acaba,
He nos soros orgânicos o mesmo.
IDEM, MEDITAÇÃO, Cant. 1.
— O Soberano Architector de tudo;
Deus, a Omnipotência divina.
Eu consagro meu Canto a ti somente,
Oh Soberano Architector de Tudo ;
São tuas as Canções, que tu me inspiras,
Scjào dignas de ti, e eternas scjào.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Caut. 1.
— Usa-se também substantivamente :
O meu soberano; o meu rei.
— Um soberano; uma libra.
— • Syx. : Soberano, summo. Vid. este
ultimo termo.
SOBERBA, s. /. (Do latim superhia).
Elevação, altura da cousa que fica supe-
rior a outra.
— Figuradamente : Orgulho, arrogân-
cia, altivez, presumpção, ufania.
La no Thvrreno mar, hum sitio estéril :
Espantoso se ve, de ondas cercado.
Onde a fera Eaunusia vingadora
Tem sua habitação, e assento esquiuo.
Que desde aquelle tempo em que a soberba
Dos que guerra ao grão lupitcr mouorào
Ficou cora tal castigo, qual oonuinha
Ao intento atreuido e temerário.
nOBTK REAL, NAUFRÁGIO DE SEPÚLVEDA, Cant. 2.
o mancebo animoso que do illustrc
Antigo, e nobre sangue descendia
Dos generosos Sás, vendo hum daquelles
Que mais soberba inostrào, e ousadia.
Que dobi-ando cõ força immensa hum arco
Ncrnoso, grosso, e forte despendido
Tinlia luim mote de agudas mortaes frechas
Causando muito mal aos desarmados.
IBIDEM, cant. 9.
— <iDe sorte que com estas vitorias
crescia sua soberba e ufania mui alta-
mente : e tanto o favoreceu a fortuna e
a dita pêra mais sua honra, que todos
estes homens foram derribados de um só
encontro.» Francisco de Moraes, Palmei-
rim d'Inglaterra, cap. 83. — «Que estes
sejam os tempos, em que vo.5 mais dese-
jo servir ou parecer bem; n'outros que-
ria que vos lembrásseis de mim, que pêra
vencer monstros da natureza, basta o
merecimento de sua soberba e a fraca
razão de sua empreza.» Ibidem, cap. 94.
— «Os gigantes se pozeram a uma parte
do campo, Dramusiando com seus com-
panheiros a outra. Barrocante, que se
viu a si e aos seus tão chegados ao fim
e a esperança perdida, occupado de ira
e soberba, começou dizer.» Ibidem.
«A donzella eu ta defenderei, e quebrarei
essa soberba, pêra que nunca empeças
a outra ; e pêra que com melhor vontade
te combatas comigo; sabe-te que eu sou
o que matei a Calfurnio teu irmào, e hon-
tem a Bracolão, e agora matarei a ti ;
que nem tuas forças e esforço te salva-
rão, nem menos a potencia de teus deó-
ses.» Ibidem, cap. 107. — «E inda não
creio que sua força só bastasse pêra tan-
to, senão que o quizeram assim os deoses
pêra castigar suas soberbas e tyrannias;
e por isso lhe ficava menos culpa.» Ibi-
dem, cap. 115. — «Bem vejo, disse o gi-
gante, que do acerto do encontro te nas-
ce essa soberba ; porém folgo que esta-
mos em lugar, que com minha espada
satisfarei meu desejo á custa do teu san-
gue, rompendo com os fios delia tuas
carnes.» Ibidem, cap. 118. — «Primalião
ficou contente do que seu pai respondeu,
porque n'elle nenhuma moderação nem
temperança havia, vendo a soberba com
que as palavras destes embaixadores do
Turco vinham sempre misturadas.» Ibi-
dem, cap. 122. — «Bem sei, disse o ou-
tro, que a soberba com que vosso senhor
aqui entrou, o ensina a ter tão pouco
cumprimento com quem o teve com elle,
pois agora quero vêr se Ih 'a quebrarei
deste encontro.» Ibidem, cap. 123. —
«Almoiu'ol, que viu a presumpção do ca-
valleiro estranho, a soberba com que al-
li chegara, e sentia a vontade de Míra-
guarda, que era ver alguma contenda,
lhe disse: Senhor Florendos, olhai quem
tendes diante ; fazei o que haveis de fa-
zer, que a senhora Miraguarda vos olha,
e por isso se detém.» Ibidem, cap. 126.
— «Poude-vos senhor a cavallo e em
tanto deixai-me a mim provar se as obras
deste cavalleiro dizem com a soberba : e
ferindo das esporas ao seu remetteu a el-
le.» Ibidem, cap. 127. — -«Porque além
daquelles que morreram a ferro, começou
a terra de os apalpar, e morriam alguns
dos muitos que adoeciam : e pêra mais
confirmação de sua soberba per vezes
que Aâ'onso d'Alboquerque o mandou
chamar, elle, nem o filho nunca quize-
ram vir, simulando doença, e outras cou-
sas.» Barros, Década 2, liv. 6, cap. 7.
— «E disseraõ que eu o fazia por sober-
ba, e por desprezo da justiça, pelo qual
logo aly em publico me derão muytoa
açoutes e pingos de fogo cõ canudos de
lacre, de que aly fiquey quasi morto de
todo, e assi estive espaço de mais vinte
dias em que ninguém me julgou a vida.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações, cap.
153. — «Os Pilotos tenhão muy notauel
vigia não vão marrar nella como acon-
tesceo à nao Madre de Deos, no anno de
1595, da qual senão saluarão mais que
dezaseys pessoas, perecendo as demais,
que a verdade duas cousas saõ, as que
lanção nestes nossos calamitosos tempos
as nãos a perder; huma sobeja cõfiança,
por lhe não chamar soberba de Piloto-,
o Mestres ignorantes, tam amarrados em
suas teymas, e opiniões, que não ha ra-
544
SOBE
SOBE
SOBE
zíJoH l)a-itaMtcs pci-ca tiraloi ilfrlla-<.» Frei
fiaspar rio S. IJcrnanlino, Itinerário da
índia, cap. 7.
Ma» nilo Um tardou muito o dcBcngíino
Com quo n Bobníba o juHto Ci-o castiga ;
Cliogado ao baluarte Lusitano
Eis do lá fliílta luiin ber(;o a fúria imiga,
A Mahaiuud liiioontra, o com grão dano
Lhe abato a natural unhnrfia antiga,
E faz c\\ti: alli vencido apparocesífo
Onde cuidou (|uo tudo elle voncesse.
PBANOIHCO na ANnKADF., l-RIMKiaO CRBCO I>E DIU,
cant. 18, eat. i2.
— «A Doosa Venu8, iniiiha Senhora,
he muy ociosa, e imiy inalip:na. O seu
mayor rlivertimento hc hiimilbar a sober-
ba (las ferinosas, eaptivando iniiitaH ve-
803 a beilesa jI (li^forraidado.ti Oavalloiro
d'01iveira, Cartas, liv. 3, n." 10.
Oh ! soherha mortal ! oh cego orgulho !
Hum coração corrupto oiTusca a monte.
Indócil ao clamor da Natureza,
Da verdade ao clarão dcjvia oâ olho3 !
J. A. DE MACKDO, MEDITAÇÃO, Caut. 4.
Oh soberba mortal, oh mãi dos crimes,
Oa olhos de Demócrito vendaste,
Quo vio correr os Átomos no vácuo,
E uiio vio seu delírio, ou vio seu erro !
IBIDEM.
— Fazer soberba a alguém ; assober-
bal-o.
— Figuradamoute: Força superior.
Crcscem-lho as ondas, crescc-lhc a soberba,
Ho já rio caudal, tom nome, e fama.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Cant. 2.
— Sys. : Soberba, orgulho. Vid. este
ultimo termo.
SOBERBAÇO, A, s. c a^lj. Augmcnta-
tivo de Soberbo.
SOBERBAMENTE, adv. (De soberbo,
com o siiíBxo omente»). Do um modo so-
berbo.
— Com soberi)a natural.
SOBERBÃO, ONA, wlj. o s. Augmen-
tativo de Soberbo. (!rande soberbo.
SOBERBAR, r. a. Vid. Assoberbar.
SOBERBETE, adj. 2 gen. Termo popu-
lar. Al^-inn tanto soberbo.
SOBERBIA, .V-. /. (Irando soberba.
SOBERBINHO, A, adj. c s. Dlmimiti-
vo d(í Soberbo. Pcípiono soberbo.
SOBERBISSIMO, A, adj. superl. de So-
berbo. Muito soberbo.
Islândia, os mares teus são tronco, o roino
Da enorme, soberbissima Halca ;
Rasga, afronta, revolve, opprimc as ondas,
PcUi espantosa bocca o mar sorvendo.
J. A. HE M.^CKDO, A NATUREZA, Cant. 3.
— Figura lamente : O soberbissimo
Ptv/íí. — II Sentiu eoin extremo o sober-
bissimo Pegú aquolla rebolliíío, e conhe-
cendo as forsas de seu contrario, convo-
cou tanta gente, elefantes, o artelharia,
quanta era neccísaria para huinilliar taõ
[loderoRO inimigo. l'or (Jeneral do exer-
cito fque assolava os campos, c esgotta-
va o.H i-ioH, por ondo passava) mandou a
seu filho mais vcil o, de cujo valor conce-
bera grande opiniaí', acompanhado do
Reis, o servido rios melhores ('apitPles de
seus Estados.» Conquista do Pegú, cap. 2.
SOBERBO, A, adj. (D.j latim eupir-
(just. Altivo, prosumpçoso, arrogante, or-
gulhoso.
Vão toda» attestada» ãt: tobe.rbna,
Valentes e animosas companias.
Da bellicosa Armada hc Capitaina
Iluma vclo.x galle Real, c insigno,
De lustrosos mancebos arrayada.
De feros corações c galhardia.
Hum coio de bollis.sinia» Niircydas
A leuauão polia via mais segura.
CORTE BEÁLjNAUFBAOIO DE SEPÚLVEDA, Cant. 13.
E tu, mui soberbo lobo podoro.íO
Que trazes as unhas cruéis, c tingida»
No sangue dovclhas de pouco paridas.
Aprende de Christo, cordeiro amoroso:
E vós, pomba brava,
(^ue voais isenta, soberba, alterada.
Em essas montanhas viveis branda vida,
Tomac por espelho a pompa escolhida •,
A pomba mui mansa, a pomba calçada.
De sol hc vestida.
OIL VICENTE, AUTO DA III3T0IIIA DE DEUS.
— «Floriano, quando de todo conheceu
que era mouro, e o viu com palavras tão
soberbas, algum tanto mencncorio, disse:
Má emproza mo parece que trazeis, que
n'essa corte ha tantas damas mais iermo-
sas que Targiana e tantos cavalleiros,
que vol-o combaterão, que hei medo que
fiqueis com maior quebra do que vosso
coraç.ào vos diz.» Francisco de Moraes,
Palmeirim de Inglaterra, cap. 7tí. —
«Como Albayzar do sua condiyào fosse
altivo e soberbo, e estivesse enojado de
lhe cngeitar sua cortezia, vendo-o tão
perto de si, o tomou por um braço, di-
zendo.» Ibidem, cap. 123. — oMas como
o cavalleiro de sua própria condição fos-
se soberbo e se prezasse disso, rompeu
por antre todos té chegar junto do estra-
do da rainha, e fazendo primeiro algum
acatamento ai rei, se virou contra ella,
dizendo: Senhora, eu houve batalha com
um cavalleiro, que nesta vossa corte es-
teve e justou com Albayzar, que leva em
sua companhia nove donzellas.» Ibidem,
cap. 12G. — «Pois o cavalleiro vendo-se
derribado e tratado com taman!-.o despre-
zo, como de seu natural fosse soberbo c
esforçado, c naquclla parte mais que em
outra o quizesse mostrar, por ser sobre
cousa que tanto estimava, sem tornar a
cavalgar, arrancando da ospa^la o acom-
panhado do sua ira se veio ao das Don-
zellas cuborto de seu escudo sem dizer
palavra, que a paix.ào lh'a3 impedia; po-
rem o outro companheiro so poz no meio
dizendo. ^ Ibidem, cap. 127. — íNo qtul
negocio oiiue tanto desconcerto, que os
imigos feriram iauití>.s (lelioB, entre ob
quacH foram Fcrnam perez, e Poro de
faria o mataram i'ozc, de que os conheci-
dos foram Rui daraujo, Christouam pa-
chcco, C iristouani mascarenlia», Oeorge
garccfl, c António dazeucdo, e alguna ma-
labares, e Malaios que com cUch foram
rio qur; Patccatir ficou mui soberbo aui-
sando logo desta victriria o Principe.t
Damião rio (loes, Chronica de D. Manoel,
part, 3, cap. 28.
os grandes desbaratados,
o» lidalgos iion ousarem
do pariocr, m-m falarem,
os villãos victoriosos,
aoherhof, c podoroíos,
cm bu.sca delles andarem.
o. DE BRZEHDC, MISCELLAICA.
O soberbo Sultão treme o arrcctia,
E a gente quo cUc mauda, c Ih 'obedece,
De tal temor fica então cheia
Que do ro3to a côr dcâiipparcce :
E como onde o temor se senhoreia
Sempre as imigas cousas i-ngrandcco.
Este fez parecer que o Mogor Wnha
Com muito mór poder do que então tinha.
FRANCISCO DE ARDSAOK, PBIMBIRO CBBCO DB DIV,
oant. 3, C8t. 22.
Ordena que hum cruel, soberbo imigo.
Em perseguir-mc t^into, dure c insista,
Que nos meus Reinos ja não tenho abrigo,
Nem forças, ou poder i|ue lhe resista :
E ]ior cu não vêr posta em tal perigo
A quem vida me d4 s<4 com a vista.
Ordeno esta mortal, oruel partida,
D"oude espero melhor gosto e melhor vida.
iDiDEM, cant. 3, cat. 68.
Não vai, qual soe, honrada e nobremente,
Mas deixa os apparatos seus primeiros,
O soberbo c;ivallo, c juntamente
A guarda dos sessenta alabardeiros. .
IBIDEM, cant. t?, est. 47.
O soberbo Deaõ, que sempre attcnto
Ao meu alto dee<^ro, o santo Hyssopc
Vinha trazcr-me A porta do Cabido,
Hoje iiaõ só deixou de vir rcndcr-me
(Ah ! que uaõ sei, de nojo, como o conte !)
DiBiz DÁ cBCz, HTSsopK, cant. 3.
Que dique se lhe oppõe, que laço o prende?
Ind' atégora arcano impenetrável
Ao soberbo mortal. Dentro cm teu seio,
O ar que forma o compassado arquejo.
Onde encantada a vista se demora,
Podo manter justíssimo equilíbrio.
J. A. DK MACEDO, A SATCBEZA, COnt. 2.
Quebrado escudo de Cambaia, oh mnro«.
Oh baluarte da soberba Diu,
Timbres do extincto Lusitano esforço.
Sentirão vezes mil tão duro estrago
Do» altos muros nos fumantes roítos
Entro nuvens do fumo, c pó sulfúreo.
Oh soberlny morta! ! jamais te abastas
De grandona, de titulos, de gloriai
Choguo teu nomo embora ao tardo Arcturo,
Ondo o gelado habitador divide
SOBE
SOBE
SOBF
545
Grosseiro pasto com medonhos Ursos,
Da tua gloria, dize-me, que sabem
Da Lybia adusta as tórridas ai-éas?
IDEM, MEDITAÇÃO, CaUt. 2.
Da aterrada Cambaya antigo escudo,
O baluartes da soberba Dio,
Tymbres do antigo Lusitano esforço.
Que hoje pezado sente o Gallo infido,
Sentistes vezes mil tão duro estrago.
Tólda-se o ar co' a sórdida poeira :
O duro golpe sôa, e o sangue espuma.
Ao longe, de assustada, o pasto esquiva
A timorata cândida Novilha,
Do vencedor soberbo o premio, a palma.
IBIDEM, cant. 3.
Imperceptível turbilhão de corpos
Fez cm Tasso chorar magoada Erminia,
E encheo de Fúrias o soberbo Avgante,
Que morre, qual vivco, c e.xangue, e frio
luda ameaça intrépido Tancredo?
IBIDEM, cant. 4.
Em seus Escriptos, quo a ignorância altera,
(Ignorância dos Árabes soberba)
Saber cncyclopedico descubro.
Dos brutos animaes, que a Terra, os Ares,
E o Mar no fundo abysmo encerrão, nutrem,
(A immcusa turba, as variantes classes)
Plinio, e Bution nos representa o Quadi-o.
IDEM, VIAGEM EXTÁTICA, Caut. 2.
— Que fica superior, mais alto que ou-
tra cousa, de que está junto, quo a so-
breleva, e sobeja por cima cFella. —
«Porque Patê Quetir tinha feito huma
cerca de madeira mui forte com entulho
de terra per dentro, e cava per fora, e
ficava esta parte de dentro tão soberba
sobre a cava com o entulho que sobia
té o meio da madeira, que lhe servia em
lugar de hum forte muro com muita ar-
tilheria assestada onde convinha.» Bar-
ros, Década 2, liv. 9, cap. 1.
— O soberbo Lúcifer; o orgulho do
chefe dos demónios.
Entrará primeiro o muito soberbo
Lúcifer, anjo que foi dos maiores,
E Belial e Satanaz, senhores
De muita maldade de verbo a verbo.
GIL VICENTE, AUTO DA HISTORIA DE DEUS.
— Magnifico, grandioso. — « E he o
que Isayas promettera do mundo todo,
nam de lerusalem sò, e ludéa, que os pés
dos pobres, e dos mansos passeariam, e
pisariam nelle as cidades mais soberbas,
e mai,s fortes, onde nam podêram chegar
campos armados.» Lucena, Vida de S.
Francisco Xavier, liv, 5, cap. 24. —
oSam quadrada.s e tem quatro portas
pêra quatro ruas principaes muv sober-
bas e muy bem feitas, com torres altas
encima das portas, feitas em varandas
muy galantes, » Fr. Gaspar da Cruz,
Tratado das cousas da China, cap. 8,
VOL. V. — 69.
— kA D, Fernando de Castro deposita-
rão em separado enterro por se o Gover-
nador seu Pai quizesse trasladar-lhe os
ossos a lugar diflerente : lavrar-lhe-hia
tumulo mais soberbo, porém não mais
iliustre.» Jacintho Freire d'Andrade, Vi-
da de D. João de Castro, liv, 2.
Já vão perto da terra, entre os copados
Frescos palmares, c jardins viçosos.
Vêem soberbos palácios levantados,
E quaes na Eui-opa, muros alterosos:
D'e3tranhas sccuas taes como espantados
Cortào com todo o panno os espumosos
Rolos do turvo mar, e quando api-õão
A barra, os ares co'os canhões atrôào.
j. A. DE M.ÍCED0, o ORiEsiE, cant. 7, est. 76.
Volúveis grãos de ttírridas arêas
De Amasis, Meris, e Sesostris cobrem
Am-eos Palácios, e soberbas torres.
IDEM, MEDITAÇÃO, Cant. 1.
Desção 03 raios ás soberbas Torres,
Qu' o fasto levantou, o o fasto abrazem
De prepotentes monstros. Que valia
Tem arcos tnunfaes, pórticos vastos.
Marmóreos tectos, alizares d'ouro?
IDEM, A NATUREZA, Caut. 2.
E no meio da luz brilhante, e pui-a
Soberbo alçar-so Monumento vejo ;
Nelle gravado estava o nome iliustre
Do tão profundo, e portento.-;o Newton,
N'hum Pórlido immortal, que nem de Augusto.
IDEM, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 2.
De huma composta côr listões 3'estendem,
Que outros compostos gradativos formão,
E adornos são do Mausoleo soberbo.
IBIDEM, cant. '•}.
O soberbo ananás cresce nos campos,
Que vio primeiro o intrépido Colombo.
A variedade, extático, descubro.
Com que todos produz a Natureza !
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, CaUt. 2.
— Figuradamente : Soberbas arvores.
Menos soberbas arvores se cobrem
Entre flores gentis do opímos fructos.
Que prestes colherão Seres mais nobres.
Eis a Terra fecunda, eis os thesouros.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, CaUt. 4.
— o soberbo jjavão.
o soberbo Pavão desprega aos olhos.
De Rubins, de Safiras recamadas,
Da fluctuantc cauda as penas d'ouro,
Mas triste, c rouca voz o abate, e avilta.
J. A. DE MACEDO, A NATCKEZA, CaUt. 1.
— Honrar as cinzas do soberbo Jú-
lio com luto universal da natureza.
Ou foi insipiência, ou foi lisonja
Ilom-ar as cinzas do Soberbo Júlio
Com luto universal da Natureza.
J. A. DE MACEDO, A HATUBBZA, cant. 1.
— Soberbas enchentes ; enchentes gran-
des, arrogantes.
Assim destes depósitos correndo,
Vêm soberbas enchentes, que se lançâo
Das escarpadas rochas, c que formão
Cascatas naturaes dignas da vista.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, CaUt. 2.
— Soberbo de si mesmo; vaidoso, cheio
de vaidade.
— Substantivamente : Um soberbo. —
"No qual espero fazer conhecer a Barro-
cante a parvoíce de sua embaixada e o
pouco que ganha o soberbo e descortês :
e se alguém quizer a batalha com seus
companheiros. » Francisco de Moraes,
Palmeirim d'ínglaterra, cap. 93. — «Po-
rem o do Tigre ia já tào alongado, que o
não ouviu ; e que o ouvira não voltara,
que os corações nobres com pequenas cou-
sas não se movem, e os soberbos com
quaesqvier fazem desmancho. » Ibidem,
cap. 104. — ■ (iQual he o soberbo (diz elle)
que andando em hum adro, e cuydando
na podridam e fedor de quantos alli ja-
zem, nam torne humilde pêra casa, sen-
do certo que antes de muyto tempo tal
ha de ser? Por isso dezia sam leronymo,
que com difficuldade peccaria o que ca-
da dia cuydasse que auia de morrei*. E
sam Bernardo dezia, que a summa Phi-
losophia he a admiração da morte.» Fr,
Bartholomeu dos Martyres, Catecismo da
doutrina christã.
SOBERBOSAMENTE, aãv. (De soberbo-
so, com o suffixu «mente»). Tei-mo anti-
quado. Com tom e ar de soberba, com ar-
rogância e presumpção.
SOBERBOSO, A, ádj. Termo antiqua-
do. Vid. Soberbo.
SOBERDIO, A, adj. Termo antiquado.
Supérfluo, superabundante, que sobeja.
SOBEREIRAL, s. m. Vid. Sovereiral.
SOBEREIRO, s. m. Vid. Sovereiro.
SOBERNAÇÃO, s. f. Vid. Subornação.
SOBERVA, s. f. Vid. Soberba.
f SOBESCREPVER, i-. «. Vid. Subscre-
ver. — «E se todas assy as partes, como
as testemunhas escrepver nam souberem,
emtam huu dos Tabaliãees, que hi este-
verem, a fora aquelle, que a dita nota
íezer, sobescrepva por estas partes, fa-
zendo mençam como sobescrepve por el-
las, porque ellas nom podem sobescre-
pver pola dita rezam.» Ord. Affons., liv.
3, tit. 64, S •'?■
SOBESCREVER. Vid. Subscrever.
SOBESCRITO, jjart. ikiss. de Sobescre-
ver.
— S. m. Vid. Sobrescripto.
SOBESPECIE, s. f. I.)iz-se do que é de-
rivado, ou tem analogia com a espécie de
que SC trata.
SOBFREAR, v. a. Vid. Sofrear.
SOBFRETAR, v. a. Termo de náutica.
Fretar a outro o navio, barco, etc, que
se^tinha fretado.
546
SOIU
80BI
SOBJ
f SOBGEITO. Vid. Sujeito. — «Todo-
lo8 Koyx, o outro» 1'riiicipcs CkriHptaa?!.!
dovom fiizor niiiito, o tnibalhar como a
todo sou poilcr HOiiipro cui todos kou.s Su-
nhorios sojaõ fíuiirdíidoH oa Maiulado.s do
DEOS, o da Santa Iffreja, o l)UHear to-
dolos caminhou, ])or que o serviço de
DEOS soja per olles accroccntado, o os
seus sobgeitos bom revidou cm as cousan
tomporaoM, c muito mais em uqufíllo (|ti".
tani;c :í Halvaoào das almas.» Ord. Af-
foiís., liv. 4, tit. 19, ij 1.
SOBGRAVE, adj. m. Termo d(s musica.
TcrtiiJ) sobgrave ; teruio abaixo dn f^rave.
f SOBIDO, part. jjuss. do Sobir. Vid.
Subido.
E vós bolla companha que. nohiiln
Por altos nioiitos, liis exercitando
A dura ca(;a com velloz corrida.
Driades r(un as montanhas habitando
Km danças scmpro andais todas vnidas
Com tal vista os ares alegrando.
oonTE itEAL, NAUKB.vdio i)K sEPULVKnA, caut. 9.
— «Maa tornando a Afonso dalbuquer-
que, dci)0Í3 dellc ter sobido a ladeira, e
ouuir o estrondo que liia na cidadií, de
artelharia pritas, e brados, mandou a Si-
ntam Mavtlnz que chegasse a porta de
sancta Catherina pêra saber o que passa-
ua, e ver que guarda aula na porta pêra
a ir eommetcr.i) Dami.io de Góes, Chro-
nica de D. Manoel, part. 3, eap. 11.
cousa é crida
no homem amor maia snhido;
que vemos tem uma com|)03tura,
outra o moi,o, o grão senhor,
porque da molher é pôr
arte, gra(;a e formosura,
e do homem amar amor.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, p!»g. 293.
frequentado é mais sobido ;
porém leva mais efeito
por cima d'esses espritos
frequentar com o dito o feito.
IBIDEM, pag. 311.
SOBIMENTO, s. m. Alça, subida.
— Sobimeuto de sangue á garganta; ó
subir a cila.
SOBINTE, part. act. de Subir.; Ascen-
dente.
SOBIR, V. a. Vid. Subir. — «Outro sy
por aazo doa ditos arrendamentos, aflora-
mentos, o emprazamentos feitos a certo
ouro, ou a certos marcos de prata, ou a
todo juntamente, he per força sobir mui-
to o valor do dito ouro o prata.» Ord.
Affous., liv. 4, tit. 2, § 4.
Ambos SC tornam logo da cidade
Para a Frota, quo o mouro bom conhece ;
Sobem il Capitaina, o toda a gente
Monçaide recebeu benignamente.
CAM., LOS., caut. 7, est. 28.
— «O qual foy sobir daquelle deserto
cm corpo, c alma ao Ceo, por liuma obra
de charidade, que com hum cJlo vuara, a
qual ello depois contou c m voz humana,
a g(!nte do huma (Jatilla quu j)a«'<ou pelo
lugar onde esto caso acòteeeo. Bem mo
lembra lôr esta mesma Historia cm Vi-
cente Uocca, na «ua Turquezcu.» Fiei
(iaspar de S. Bernardino, Itinerário da
índia, cap. 11. — «Os muros iliz Saò <.'v-
rillo, <|ue os mandou fazer a Ilíiyidia Se-
niiramis, e que eram tani largos, e espa-
çosos, que três carros juntos andau.lo por
elles, sem se encontrarem tinliào em alto
com pês, e nnl e ([uinhentas torres, que
nelles auia sobião acima outros cem pfcs.»
Ibidem, eap. 17. — «E scntandose este,
SC levantou outro, e com as mesmas ce-
rimonias de cortesia se sobio em cima na
tribuna onde estava o Chaem, c tomado
03 feitos da mão de hum ministro que os
trazia, os publicou cm alta voz hum e
hum, com humas cerimonias tfio prolon-
gadas quo gastou nisto mais de huma
hora.» Ferníío Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 103. — «E arremetendo huma
hora antemanlíã (que foy aos dezanove
de .Junho do mesmo anno de l.")48,) com
todo este poder aos muros, lhe arvorfiraò
mais de mil escadas, o sobindo por ollas
asima, os de dentro lhe resistirão com
tanto e.íforso que cm menos de mea hora
de huns, e outros morrerão mais de des
mil.» Ibidem, cap. 18G.
Todos 03 officiacs
nunca deixam seus ofiScioa,
nem ham de sobir ja mais
que seus anos, e seus pães,
nem ter moeres bencficios.
GARCIA DE REZENDE, MI8CELLANEA.
— «Deceose então o Príncipe pêra ca-
ualgar na mula quo mandara trazer, o
em sobindo nella lhe quebrou o loro do
estribo, por onde tornou a caualgar no
e.uiallo, e apertou então com dom loam
que toda via corressem.» Idem, Chronica
de D. João II, cjip. 132.
Não, que esses são mais matreiros,
esses querem
sobir cã, e ao morrerem
as honras a6 nos letreiros,
as almas onde estiveram.
AHTONIO PRESTES, AUTOS, pag. 59.
Oh ! quem vira de sobir
monte grande, e offbrecor
quo tem homens, porá vêr
80 O sobiam no comprir
como o sobem no dircr !
I1IIDV.U, pag. 291.
quero sobir prestamente :
ou lã, ha cã quo cousoar?
Senhor pae !
I Ia cã em quo me sente ?
Senhor sogro, para aqui.
iDiDEM, pag. 371.
Ergueu-ae assim tomcroza ;
Vio-n08, não foz diaso estima ;
I''oi tohin/lo o vallo assima,
Da miidaiK^a mais forinoza..
p. tODaiavr.» lobo, FuiUAmn.
Nesta mesma manhia quo ost'' famoso
Falcáíj »óbe á Celeste Moiuirquia,
(> Turc<j pertinaz, nunca ocíov>,
(^111' o dainiio do-t fhriíttàos i*'j perteudia.
Assalta o baliiarti; i\uo. o animoso
Sousa coa sua boa companhia.
Com grand'' louvor sou, com grSo perigo,
Mil vezes defendera deste imigo.
rRANCisco d'aíiobadk, puihkibo cebco de rir,
cant. 16, est. 105.
— «A ti ja sobirão grande» exércitos
de sanctos pêra em ti perpetuamente des-
cansarem c louuarem o Senhor : estej» nam
os exércitos do que falia sam loam Euan-
gelista na Epistola que ouuistes à MÍHsa :
onde diz que lhe foy em visam mostrado
grande numero de sanctos i; bemauentu-
rados, asai dos doze Tribus de Israel,
como de todas as naçòes do pouo Gentí-
lico.» Fr. Bartliolomcu dos ^lartyres,
Catecismo da doutrina christâ, liv. 2. —
«Desperta, desperta dessa modorra em
que viucs, e ao menos como escraua do
DEOS Começa temer os açoutes eternos,
c vay sobindo mais, o medrando, e a«-
cenderseão em ti ardentes desejos de glo-
ria, e bemauenturança prometida aos fi-
lhos de Deo8.» Ibidem. — <0s Navios
que estavão neste Porto, sem lhes apro-
veytar o seguro das amarras, huns vara-
rão em terra, outros levados do Ímpeto
do vento sobirão dua.s legoas pelo Rio
Tejo. Sobre as ancoras sii dous fic;lrilo
destroçando-so todos os outros. • Cavalleí-
ro d'01iveira. Cartas, liv. 1, n." 23.
Dentre os gelos Sarmaticos hum Sábio
Volve 03 olhos aos Ccos, co' a mente «<í6e,
Encara os penetraes da Natureza,
Salva d'opprobrio a alampada do dia.
J. a. DE MACEDO, A RATCHCZA, Cant. 1.
E do grande fenómeno espantoso.
Exposto sempre á vista, e scmpro ignoto.
Com que ora sobem nas desertas praias.
Descem outrora as ondas inciuietas,
Mais chegada á verdade, a causa apontas.
IDEM, VIAQEX EXTÁTICA, CAUt. 3.
Abrio-se o poijo do profundo Abysmo,
E do fundo infernal aos ares robe
Grossa columna de medonho fumo.
IBIDEM, cant. 4,
SOBJEITAR, r. a. Vid. Sujeitar.
SOBJUGADO, jiart. pa^s. de Sobjugar.
Viil. Subjugado.
SOBJUGAR, ou SUBJUGAR, v. a. (Do
latim suòjugare; de sub, sob, debaixo, e
jugum, jugot. Sujeitar, submetter.
Tomando revnos, o terras
por muy guerreadas guerras,
ganhando toda a riqueza
do Soldan\ e de Veneza,
sobjiijtvido marrs, serras.
OABCIA DE BEZE>-DE, XtSCELLAXBA.
SOBP
SOBR
SOBR
547
— Figurcadcamente : Sobjugar os appe-
tites.
— Sobjugar os bois ; jungil-os, niet-
tel-os ao jugo.
— Sobjugar-se, v. rejl. Submetter-se.
— Sobjugar-se a outrem; governar-se
por elle.
SOBLEVANTAR, v. a. Erguer, levan-
tar sobre outra cousa.
SOBLEVAR, i'. a. Vid. Sublevar.
f SOBLIGAÇÃO, s. f. Debaixo de obri-
gação.
SOBLINHAR, v. a. Passar por debai-
xo uma linha com a penna. — Soblinhar
um vocábulo na escripta.
— Termo de marceneria. Lavrar a ma-
deira por debaixo da linha, por onde de-
vera lavrar-se, com defeito.
SOBMERGER, v. a. Vid. Submergir.
SOBMETTER, v. n. Vid. Someter.
SOBNE&AR, V. a. Vid. Sonegar.
SOBOLA. Termo antiquado, em vez
de Sobie a. ■ — Sobola tarde. — «Os dous
juncos que escapamos milagrosamente,
seguimos por nossa derrota, e ambos em
hunia conserva fomos até tanto avante
como a ilha dos Lequios, e aly com a
conjuneção da Lua nos deu tamanho con-
traste de vento Nordeste, que nunca nos
mais vimos hum ao outro, c lá quasi so-
bola tarde nos saltou o vento ao Oesno-
roeste, com que os mares ficarão tão ca-
vados, e com escarceo e vagas taõ altas
que era cousa espantosissima de ver.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações,
cap. 137.
SOBOLE, s. 7;í. Tei'mo de botânica.
Gommos, bolbilhos.
— Termo de poesia. Descendência, ge-
ração.
SOBOLO. Termo antiquado, em vez de
Sobre o. — Sobolos rios.
SOBORAL, s. m. Bosque ou matta de
soboros. Vid. Sobereiro.
SOBORDENADO. Vid. Subordinado, e
Subordenado.
SOBORNAÇAO, s. f. Vid. Subornação.
SOBORNAR, V. a. Vid. Subornar.
SOBORO, s. m. Sobro, sovereiro.
SOBORPALHADOURO, s. m. Vid. Varre-
douro do forno.
SOBORRALHAR, v. a. Pôr debaixo do
borralho para cozer.
SOBORRALHO, s. m. — Bolo de sobor-
ralho; cozido debaixo do borralho e não
em forno.
— Pães de soborralho ; pães cozidos
debaixo da cinza.
SOBPÉ, s. m. Pé, raiz. — O sobpé de
um monte.
SOBPENA, adv. Debaixo de pena. —
«Na esteira dos quaes Affonso d'Albo-
querque logo mandou hum batel, e nelle
Bastião Rodriguez, que ora serue de juiz
da balança da moeda cõ huma carta a
Diogo Mendez, e assi recado a duas ga-
lés, capitães Duarte da Silua, é lemes
Teixeira, as quaes andauão na barra que
lhe requeressem que se tomassem sobpe-
na do caso mayor. Chegado Bastião Roiz
a Diogo Mendez, fezlhc crer que Affon-
so d'Aiboquerque estaua em uma das ga-
lés.» Barros, Década 2, liv. 5. — «Nes-
ses regnos tenho hum filho, peçolhe que
mo faça grande como meus seruiços me-
recem, os quaes lhe eu fiz com minha
seruiçal condiçam, pelo que a elle man-
do que sobpena de minha bençam volo
requeira, e quanto as cousas da Lídia el-
las fallaram por si, e por mim.» Damião
de Góes, Chronica de D. Manoel, part.
3, cap. 80. — «Pelo que eu e os que co-
migo estavam auer hum mes que estáva-
mos em Cantão, puseram taboas pelas
ruas escritas, que ninguém nos tivesse
nem recolhesse em sua casa sobpena do
tanto, ate que ouvemos por nosso barato
do nos hir pêra as nãos.» Fr. Gaspar da
Cruz, Tratado das cousas da China, ca-
pitulo 28.
SOBPODER, adv. Debaixo do poder. —
Padeceu sobpoder de Poncio Pilatos.
SOBQUEIXADO. Vid. Soqueixado.
SOBRA, s. f. Vid. Sobras.
— De sobra ; de sobejo, superabun-
dantemente.
SOBRAÇADO, part. pass. de Sobraçar.
Encostado em alguma pessoa, e firmado
nos braços sobre ella. • — «Todas estas pa-
decentes, ou a mayor parte delias eraõ
de idade de dezassete até 25 annos, e to-
das muyto alvas, e muyto formosas, cos
cabellos como madeixas douro, as quais
hião tão fracas e tao fora de sy que a
caca pregão que ouvião cahião esmoreci-
das em terra, a que outras molheres que
as levavâo sobraçadas acudião com es-
forços de cousas doces, de que as tristes
fazião bem pouco caso.» Fernão Mendes
Pinto, Peregrinações, cap. 151. — «En-
tre os quais foy hum muyto mais nobre
e sumptuoso que todos os outros da ci-
dade, por nome Quiay Pimpocau, deos
dos enfermos, em que avia huma grande
soma do sacerdotes com hábitos pardos,
e suas altirnas de damasco roxo, sobra-
çadas, como ja disse algumas vezes, a
modo de estolas, os quais por serem mais
sábios que todos os outros das vinte e
quatro seitas deste império, trazem huma
certa divisa de cordões amarellos, com
que andaõ cingidos.» Ibidem, cap. 163.
SOBRAÇAR, V. a. Metter debaixo do
braço para ahi segurar.
— Sobraçar alguém; trazel-o de bra-
ço ; segurar por debaixo dos braços ao
que não pôde suster-se e andar em pé.
— - Emprega-se também no sentido fi-
gurado.
— Sobraçar-se, v. rejl. Andar de bra-
ço dado.
SOBRADADO, ;;arf. pass. de Sobradar.
Em que ha um ou mais sobrados.
■ — Que tem pavimento de taboas. —
«Foram me hum dia huns Portugueses
nobres mostrar em Cantam hum banque-
te que fazia hum mercador rico e honra-
do, ho qual foy pêra folgar de ver. Ha
casa em que se dava era sobradada e
muito linda com muito galantes janelas e
adufas, e toda era hum brinco.» Frei
Gaspar da Cruz, Tratado das cousas da
China, cap. 13.
SOBRADAR, v. a. Fazer sobrados.
— Pôr pavimento de taboas, ou arga-
massar.
— Sobradar um edifício; fazer-lhe um
ou mais sobrados.
SOBRADO, s. m. O solho ou pavimen-
to do andar da casa, por cima, e mais
alto que o pavimento térreo; andar. —
«A Cidade do sitio, e parecer de fora be
cousa mui formosa, porque além da par-
te que jaz ao longo da ribeira, ter bons
muros, torres, e muitos edifícios, e casa-
rias altas de sobrados e eirados, toda
aquella chapa de serra que jaz na vista
do mar té o seu cume he huma pintura
delia obra da Natureza, e o mais da in-
dustria dos homens.» Barros, Década 2,
liv. 7, cap. 8. — «A Cidade he rasa, nem
tem outra Fortaleza f^enão as casas del-
Rey, he de muytas e muy formosas casas
de pedra, e cal de gesso, e do dous, e
três sobrados, cubertas de terrado, por-
que he muyto quente no veraõ, tem as
casas huns cataventos, que saõ como
chaminees claras, e passam arriba dos
ditos terrados, fazem-nos no meyo de
huma casa, e por elles lhes entra o ven-
to no verão.» Tenreiro, Itinerário, ca-
pitulo 1.
— Medico de sobrado ; medico dos mais
acreditados que se vae consultar, e que
não visita doentes, ou visita somente pes-
soas gravemente doentes.
— Mercadores de sobrado ; que tem
as lojas em sobrados.
— Meretrizes de sobrado.
■ — Part. pass. de Sobrar. Sobejo, de
mais do necessário.
— Homem sobrado ; o que tem de so-
bejo com que viva o se trate ; mais que
abastado.
SOBRAL, s. TO. Soveral.
SOBRANÇARIA, s. f. Vid. Sobrance-
ria.
SOBRANCEIRO, A, adj. Que fica sober-
bo sobre outro mais alto; que sobrepuja.
Pitaco .á morte sobranceiro vejo ;
O impotente Tyranno insulta, quando
Em seu peito embebêo ferro homicida !
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, CRnt. 2.
— Olhar sobranceiro d desgraça; o
que não se abate, e é superior a ella.
— Sobranceiro á terra.
Mas suspenso, indeciso os olhos volve
As sendas da Moral ; só digno estudo
Dos homens o julgou, com eUa aos Numes
Pode o mortal equiparar-sc, quando
A ten'a sohranceiro, hum férreo jugo
Sabe impor áa paixões tumultuosas.
548
HOim
SOBR
SOBR
S com Horriao atnrrador olhando
Ou cuidados dos lieis, dii Corto o faiisto.
J. A. DK MACUnO, VIAOKM KXTATICA, Callt. 2.
— Quo tiiz HubriinccriJi, Hujic;ri(jr,
Vojo ii'liuin Tlii'oiio sohraiice.irn n Tiuitos
Iiidii nciíiia dn Aniobio, (! do Mimicio,
K do tli)i|ii(!MtR l''irinico Materno,
f) nia^;c,stiiíio vulto aui'i-i'S|)loii(li:nto
Do lianiioiiioso, iluiJo l^aetancio.
j. A. iiK MACi;i>o, VIAOKM F.xrATicA, cant. 2.
Com ollc surjo sohraiuieiro ao Mundo,
Kuavissiinos oxtasos me uUioiào
Da tcrrona nioiada, o absorto vojo
A Cadeia imuiortal quo os Sores une,
Desde o Euto principio, ao Vórme ignoto.
iDKM, MKDirAçÀo, caut. 4.
— Olhar sobranceiro a ahjuem, ou «
algum objecto; olliíir como superiores, eo-
luo iibiiixíiudo 03 olhos a pessoa ou cousa
infcrioi-.
SOBRANCELHA, s. /. (Do latim sup^r-
ciliuiu). Os caljollos quo ticam na parte in-
ferior (la testa, acima das pestanas. — «E
como filho quo deseja ajjradar a seu pay,
fazoy que me alegre cõ sua vista, e que
me cumpra oste desejo, e o mais que nesta
deixo do vos dizer, vos dirá Fingeando-
no, ])elo qual vos poyo que liberalmente
partais comifjo de boas novas de vossa
pessoa e de minlia filha, pois sabeis que
he eUa sobraucelha do meu olho dircy-
to, com cuja vista se alej^ra meu rosto.
Da casa de Fucheo, aos sete mamocos da
Luua.» Fernão Mendes Pinto, Peregri-
nações, cap. i;55. — • «Tinirem as sobran-
celhas, fazendo, que o meyo que fica en-
tro ambos os olhos pareça também sobran-
celha, o que lhe dâ muy pouca graça, sara
aluissimas quasi todas. No naris costumào
trazer hum briuco de ouro, muyto laura-
do, do comprimento do mesmo naris, e
pêra que lhe não caya, furão a venta, e
por hum ganchlnho a modo de alfancte
trocido, o tra/.cm jiegado.» Fr. (!aspar
de S. Bernardino, Itinerário da índia,
cap. 13. — «A cabeça se quer parecer
muyto cõ a do caualo, excepto ter a tes-
ta mais cstreyta, c as sobrancelhas tã
pouoadas, que cscaçamcnte lhe deyx.io
ver os olhos que saõ malenconizados c
tristes.» Ibidem, cap. 17. — «As sobran-
celhas miúdas, pouco arqueadas, e unidíw
íis pálpebras : supercilia noii suiit, iiec
lata, fere capillis similia, arcte<jue super
incumbunt palpebris.a Braz Luiz d'AbrL'U,
Portugal medico, pag. i;53, § 15-i.
— Fazer a sobrancelha ; concertal-a
para que fique bem delgada, e arqueada
arraneando os cabellos.
SOBRANCERIA, s. /. Acto de pessoa
sobranceira, que mostra altivez, orgulho,
animo, etc.
— Fazer sobrancerias a alguém ; asso-
borbal-o, tratal-o de menor; provocal-o.
irrital-o com palavras, de quem o tem
por somenos, c cm pouco. ViJ. SobraD'
caria.
SOBRAR, V. 11. (Do latim superare).
Ficar mais alto.
— Sobejar, sor do mais, haver de mais.
Assas, príncipe, assii» nos «oljram uiusas
De dor e de atiliC(,'iio, Ai ! todo o esforço,
Toda a virtude de (Jatào nái> bastam
Tara suster o poso do infortúnio.
OAUUKTT, CArÃu, act. 1, SC. 6.
SOBRARCO, s. m. Vid. Sobrearco.
SOBRAS, s. III. plur. Os sobejos, os
restos; o (pie tica depois de tirado o ne-
cessário.
Nilo me contes aiuios : conta
minhas c.\cellcntes obras ;
obras são cans ; nestas aohras
contas d'ainios se desconta.
BISPO DO uuÂo TAitÁ, MCMoniAS, pag.
SOBRE, prep. (Do latim super). Era
cima de, acima de. — «E posto que desta
antiga Cidade nào haja em nosso tempo
mais quo os .soberbos vestigios de sua
grãdeza, que vemos no alto de hum mon-
te sobre a corrente do rio Ave, era igual
distancia da Cidade de Braga e Villa de
Cuimaràes.» Monarchia Lusitana, liv. õ,
cap. 5.
Zurra sobre mal tamanho,
Asno ; pois quiz teu i)eccado
Que liava tào triste estado
Viesses a dono estranho.
FEBNÃO SOROriTA, POKSIAS K PB0SA8 I.X-
EDiTAs, pag. 133.
— «Não porera que hum só gigante o
lançasse fora do defendido; mas ambos
juntamente se vieram a eíle, que uma
imagem d'ouro, que sobre o arco da por-
ta estava, a mudo de velha, vestida de
trajo antigo, lhe bradou que acudissem
ambos, e nào deixassem violar o seu the-
souro a homem indigno dclle.» Francis-
co de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 120. — «E estivessem jwstos sobre
estantes d'ouro mui lavradas, o as mes-
mas estantes assentadas sobre alimárias
e aves do próprio metal, ao parecer vi-
vas e mortas no assocego, e as guarnições
dos livros fossem do mesmo toque, eram
cravadas de pedraria poios cantos, e as
brochas de pedras de muito preço.» Ibi-
dem.— «Sei vos dizer, que sobre uma
capella daquellas, quo leva cada uma des-
sas seulioras, morrerei pola defender,
quanto mais sendo polas guardas a cilas
mesmas. Vi'>s, disse o outro, parcce-me
que vireis atTeiçoado a alguma ; e d"ahi vos
vem mostrar animo.» Ibidem, cap. 12Õ.
— «E fazendo capelbis de flores, as po-
zeram sobre os toucados e seguiram sua
via, folgando e motejando uma da outra
Bobro qual era mais feia e menos airosa,
ou tinha menos graça: de sorte (jue com
estes pas.satuiiipos de seu coiiUiritamento
se sentia menos o caminho.» Ibidem. —
« E mães lic propriudado tão pacitíca,
mansa, e obediente, que sem termos hu-
ma m.^o cm o murraò aceso sobre a es-
corua da bombarda, ts a lança na outra,
nos dá ouro, marfim, çeru, cxjurama, açú-
car, pimenta, malagueta : e daria mães
cousas, 80 tanto quiséssemos delia desco-
brir como descobrimos alem dos pouos
lapões, que passaõ a corça do nós por
Antípodes e Antichthoncs. • Barros, Dé-
cada 1, liv. 3, cap. 12. — «E foi tanta a
pedrada e frechada sobre o batei, que
quando Vasco da Oàma chegou poios apa-
ziguar, foi frechailo por huma perna, e
íioiíçalo Alvarez mestre do nauio saS
flabriel, e dons marinheiros leuara<3 qua-
da hum sua.» Ibidem, liv. 4, cap. 3. —
«E este modo e lugar, foi em hum Ce-
rame que estaua sobre o mar, que como
hum eirado cuberto, armado sobre ma-
neira muito bem laurada: onde os Keys
por seu passatempo, e recreação ás vezes
vinhào dar huma vista ao mar.» Ibidem,
liv. .0, cap. 4. — «Os dons pólos, sobre
que se movem todas as cousas do mun-
do, saõ honra, e proveito; e se por al-
cançar a qualquer destas vaò os Portu-
guezes ao fim do mundo, com quanta
mais facilidade se empregara? nesta obra,
os que tiverem para isso commodidade,
que saõ muitos, com se lhes dar a juris-
dicção do lugar, que fizerem.» Manoel
Sevorim de Faria, Noticias de Portugal,
Disc. 1, cap. 5. — 'O que confessarão eu
o não .-ey, mas só dou fe que os leuarão
arrastrando, por terem os pês pellados do
fogo. Depois destes entrou hum desastra-
do, carregado de ferros, o qual fora acha-
do com o fui'to nas mãos. Este diante do
Gouernador foy estirado no chão, e cha-
mado o Elephante pi« sobre elle oa pês,
e mãos por tanto espaço, ate que o ma-
tou.» Fr. Caspar de S. Bernardino, Iti-
nerário da índia, cap. 14. — «Os mesmos
calos tem nos cotouellos das mSos, e pês,
sobre os quaes dorme com tal arte, que
do grande marauilha toca com o corpo na
terra : e deytados os carregão, p5do-lhe
tanta carga, como elles com ella se podem
leuantar, sera ajuda doutrem, que de ordi-
nário saõ viute quatro arrobas de pezo,
as quaes Icvào por meses de caminho.»
Ibidem, cap. 17. — «E tantos se arrisca-
rão, e trabalharão, que a pezar dos nos-
sos cobrirão as pontes de terra, e rama
por causa do fogo, ordcnandolhes pare-
des pelas ilhargas, e outras pelo meyo
que se cobrirão por cima de outras vi-
gas, sobre que se armou huu» forte ter-
rado porá os debaixo ficarem seguros, o
que tuilo se fez à custa das vi. Ias de mui-
tos.» Diogo de Couto, Década O, liv. 2,
cap. 3. — «Os de dentro acodiraò àquella
parte com muitos artificioe de fogo, que
SOBR
SOBR
SOBR
549
lançarão sobre as mantas, e se consu-
miau elles sem fazerem nenhum nojo aos
que trabalhavaõ. » Ibidem, liv. 7, cap. 9.
• — -«O Einperailor se veio ás casas do
Embaixador de Portugal Álvaro Mendes
de Vasconcellos, que por estarem sobre
o mar, erão mais aptas para honrar, e
festejar a entrada.» Jacintho Freire de
Andrade, Vida de D. João de Castro,
liv. 1,
Sobre a moldura superior s'e3tendem
Aa azas fulgeutissiinas do Génio,
Da tào diflicil Óptica pasmosa.
Com septcmplice luz se cspaudem bellas,
Que as cores todas primitivas guarda.
J. X. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Caut. 3.
Nào falléce o Volcào de fogo ondeante,
Que sobre o eixo sem cessar se agita
Do grão astro central ; matéria immensa
Alii produz continuo a mão do Eterno.
IDEM, MEDITAÇÃO, Cant. 2.
E, entre nós, sobre a. neve alvi-rigente,
EUa, era bronca linguagem, proferia,
A brados, a que Deos nos ensinara
Proveitosa Oração. Oh Fé Celeste,
Qual te avistei, no Franco Povo, entrada !
F. X. DO MASCIMEKIO, OS MABTTBES, 1ÍV. 7.
Com que mandar gravaste sobre a. porta.
Que tem de Esquina o nome, em negra pedra.
Por que ninguém a lé-la se atrevesse,
A famosa inscripçaõ, em negras letras?
A. D. DA CBCZ, HTSSOPE, Caut. 7.
— « Também aconselha com muytos
DD. o uzo de cáusticos atráz das ore-
lhas, ou na nuca; e ainda hum cáustico
sobre, ou junto da commissura coronal ;
ainda que naS trás deste ultimo remé-
dio, observação, ou experiência própria. »
Braz Luiz d' Abreu, Portugal medico,
pag. 220, § õ.
.Quanto inda folgo de vos ver unidos,
De contemplar em vós esses Conscriptos
Que de sobre o tremendo Capitólio
Repartiram os fados do universo,
E aos reis vencidos, ás nações prostradas
Deram co a espada leis, co'a3 leis wtudes !
GABBETT, CATÃO, act. 2, SC. 1.
Corri sobre elle ; — e fomos longo espaço
No arriscado impênho os cavalleiros
Todos : porém valia a pena e o p'rigo.
IBIDEM, act. 4, SC. 4.
— «Durante muitas horas, no meio do
denso nevoeiro acamado sobre as encos-
tas, pelas sendas tortuosas das monta-
nhas, os cavalleiros que seguiam o du-
que de Cantábria não ousaram quebrar-
Ihe o doloroso silencio. Apenas, pela ca-
lada da noite negra e fria, soava lá ao
longe o ruido do Sallia, de cujas mar-
gens por vezes se approximavam.» Ale-
xandre Hercidano, Eurico, cap, 13. —
«Nas telas, porém, que dividiam o apo-
sento do logar d'onde pouco antes saíi-a
o eunucho e que ficavam fronteiras á
entrada principal da tenda, uma figura
humana se estampou negra sobre o chào
hrilhaute da tapeçaria. » Ibidem, cap.
14. — «Ao oriente, e na borda do des-
penhadeiro que se pendurava sobre Val-
verde e sobre o antigo arrabalde da Lis-
boa mourisca, principiavam a alteiar-se
os alicerces do mosteiro de Sancta Maria
do Vencimento, editicio histórico, que
completava uma equação, em que D.
João I era para o mosteiro de Sancta
Maria da Victoria ou da Batalha, como
o Condestavel para este seu monumen-
to.» Idem, Monge de Cister, cap. 19.
— Acerca. — Dar uma explicação so-
bre isso. — «E nam sendo ElRey a esse
tempo em esse lugar, devem-se as par-
tees louvar em Juiz, ou Juizes, que ajam
de conhecer da dita Excepçam, e darem
sobre ello detreminaçam como acharem
per Direito, dando Appellaçaij, e aggra-
vo nos casos, honde se c m Direito deve
dar.» Ord. Affons., liv. 3, tit. Õ6, § õ. —
«E depois desto o dito Senhor Rey Dom
Joham de gloriosa memoria sobre a dita
Hordenaçom fez huma declaraçom em
esta forma, que se segue.» Ibidem, liv.
4, tit. 2, § 28, — «Uma das cousas, que
tem dado mais cuidado aos Priucipes, e
Respublicas, he o desamparo dos Uríâos,
e assim em todas as Províncias hà sobre
estas matérias multas leys, e ordenaçoens,
porque se mandaò crear, e acodir a suas
fazendas. » Manoel Severim de Faria,
Noticias de Portugal, Disc, 1, cap, 6. —
«Sobre o nome, e qualidade de Infan-
çoens naõ hà menor alteração entre os
Aut :ores affirmando muitos, que se da-
va somente este titulo àquelles, que dos
Infantes descendiaõ, e que por isso eraõ
assim chamados,» Ibidem, Disc. 3, cap,
22. — «Duarte Pacheco nam contente des-
te desbarato, foi ainda seguindo os imigos
hum bom pedaço ás bombardadas, e sobre
isso saltou em terra, onde queimou dous
lugares sem aehar nenhuma resistência,
o que feito se tornou ao passo jà as qua-
tro horas depois de meo dia, que tanto
durou este negocio, começando pella me-
nhãa. » Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 1, cap. 87. — «De manei-
ra que o turco vendo a sua filha já no
derradeiro extremo da vida, e que a tris-
teza que a tal estado a fez vir, nào se
pode curar senão com o que lhe pede,
concedeu-liie de os dar a troco d'Albav-
zar seu genro soldão de Babylonia, por-
que também seus vassallos apertam por
isso : e sobre isto vos manda embaixador
que será aqui hoje té manhàa.» Francis-
co de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 112. — «Parece-me, disse el-rei á
rainha, que a máo tempo acertaram oi
cavalleiros pêra sua empreza, que o das
Donzellas não dará as suas tào de bara-
to que as levem sem seu preço, Artisia
com suas companheiras se desviaram da
companhia das outras d'Arlança, pêra
que se enxergasse, que sobre ellas ha-
via de ser a diflerença.» Ibidem, cap.
129. — «Sobre isto debaterão ambos, e
começou a haver alvoroço, a que ElRey
acodio, e os apazigou, e por fim de to-
das as pretençoens se louvàraiã ambos
em ElRey, do que o Ouvidor fez lium
termo assinado por elles. Acabado isto
fez ElRey a todos os Portuguezes esta
breve fala.» Diogo de Couto, Década 6,
liv. 10, cap, 11.
Xào hei de ir fora, senhora ?
ora grão púcaro dagoa
me maudae dar sobre isso agora.
ANTÓNIO PBEsxEs, AUTOS, pag. 337.
Gentil graça a do meu moço !
casa sú e porta aberta !
moço põe isto no osso ;
se elle nào caio no poço
dorme sobre cousa certa.
IBIDEM, pag. 433.
— «Porem Christo a quem pertencia
declarar a ley, como notou Ruberto, so-
bre aquellas palauras do Génesis, aonde
diz a Escriptura, que lacob tirou a pe-
dra do bocal do poço, de que bebiào os
gados dos Palestinos.» Fr. Thomaz da
Veiga, Sermões, part. 1, col, 1, — «E
ha outras tantas, em que também por
ordem da cidade estão muytas molheres
pobres que saõ amas, e dão de mamar a
todos os engeitados a que de certo se não
sabe pay nem mày, porem antes que es-
tes se aceitem nestas casas, faz a justiça
sobre isso grandes exames, e se se vem
a saber qual foy o pay ou a mãy do en-
geitado, 03 castigào gravemente, e os
degi-adão para certos lugares que elles
tem por mais esteriles e doentios.» Fer-
não Mendes Pinto, Peregrinações, cap.
112.
Avante passo, attonito contemplo
Xas paredes do Aicaçar esculpido.
Quanto a vetusta Fysica ignorava
Sobre a essência do ar : nua a verdade
Se me descobre, c manifesta aos olhos.
J. A. DE MACEDO, VTAGEM EXTÁTICA, Caut. 4.
E este mesmo senado inda duvida.
Pausado agita, frio delibera
Sobre a causa da pátria... Ah, não, ó Padres,
Xào vale em lances d'e3tes a prudência,
So produz enthusiasmo as acções grandes.
GABBETT, CATÃO, aCt. 2, SC. 1.
— Superior, acima de. — « E ainda
que de huuma parte fosse hum soo Cre-
dor, e da outra fossem muitos, se àquel-
le huum soo fosse mais devido, que a to-
dollos outros, aquelle soo pervaleceria
sobre todollos outros, em tal guisa que
se naõ esguarde acerqua desto o conto
dos Credores, mas somente a soma e
quantidade da divida, como dito he.»
Ord, Affons., liv, 3, tit, 131, § 3. —
550
mim
SOBR
SOBR
«Tem charamelliis, orgEos, c outros ins-
trumentos, sam muito musicoa assi no
canto (lorji^ain, como no tanger dos ins-
trumentos, lia na terra Hiuito ouro, c
prata, a fira o que vem doutras jironin-
cias, o sobre toilas, o em mor cantidade
da terra dos Loquoos, (jiuo-i, c lapan-
í»03.i> Damirio de does, Chronica de D.
Manoel, part. 4, cap. 25. — «Porque o
teu estado nestes dias sobre os outros
florescente, no fim da tua idade fiquo
mais abatido, e com monos fi^loria e lou-
vor do quo té aflora to i)ozeram tuas
obras. Ouve minha embaixada, acceita
as coudiyues dolla, e não tão somente se-
nis senhor do que quizores, mas inda
nem a fortuna terá cm que te empecer,
nem tu de que lhe haver medo.» Fran-
cisco do Moraes, Palmeirim dTnglaterra,
cap. 93. — «E posto que a liberdade de
Albayzar seu marido, ella sobre todas
as pessoas do mundo a deseja, avisa vos-
sa alteza, que primeiro que o entregueis,
estejam postos os vossos em inteira segu-
ridade; porque depois, se alguma cousa
Bucceder, ella se haja por sem culpa. Com
isto se desobriga de toda a suspeita, que
ao diante neste caso so possa ter delia.»
Ibidem, cap. 112. — «E no intróito del-
le, logo nos primcyros três capitolos tra-
ta dos banquetes com que Deos se ha de
convidar, e que preço tem. E daly por
decondoncia vem logo ter ao Rcy da Chi-
na, que na terra e no governo delia di-
zem que assiste por especial graça do
Ceo, por presidente sobre todos os Reys
que ha nella.» Fernão Mendes Pinto, Pe-
regrinações, cap. 105. — «E fazéndolhe
huma grossa mercê de dinhejTo, o fez
general da costa deste mar com provisões
de Rey absoluto sobre todos os Oyaas,
que saõ como duques, para desafrõtar es-
tos povos das avexaçòes que os nossos
lhe fazião, e lhe prometeo de o fazer du-
que de Banchaa, que he hum estado muy-
to grande, se lhe trouxesse as cabeças
dos quatro capitães Portugueses.» Ibidem,
cap. 1-46. — aCovsa lic manifesta, que
a excellencia, e preenuacncia que o ho-
mem tem sobre os animaes, e criatu-
ras corporaes, eõsiste, em que sò elle
pode conhecer, Lõrar, e amar a Deos.
Porque no que pertence aas abilidades
corporaes, muytos animaes nos excedem.»
Fr. Bartholomeu dos Martyros, Catecis-
mo da doutrina christã.
Sohre esto Sólio fulgurante existe
O Ci-endor Supremo, c a ai se forma
Com sua Eternidade, ;i gloria sua.
J. A. DE MACEDO, A NATUBEZA, Oailt. 1.
— Sobre gue; pelo que, pelo qual mo-
tivo.— «E se o demandador vencer a
cousa, sobre que he a contenda, julgue-
Iha o Juiz por sua, c faça-o delia catre-
guar, e defenda-o na entregua.» Ord. Af-
fons., liv. 4, tit. 54, § 1. — «No qual
caminho antes d; chegar a Dio tomou
duas nãos de mouros huma que se ren-
deo, c outra sobre que, por se os delia
defenderem mui esfoiTadauiente, morre-
rão muitos, assi d(;lli!S como dos no-sos,
por se nella atear fogo de que ardeo.»
Damião de Ooe.«, Chronica de D. Manoel,
part. 4, cap. 4.5. — «E temendo o (Jliim
quo não se lhe pudesse defender, veyo
c3 ello em côccrto de paz, cõ algumas
cSdiyocns cm quo o Chim desistio do di-
reyto sobre que era o litigio, e lhe deu
mais dous mil picos de prata para i»aga
da gente forasteyra que trazia comsigo,
o com isto ficou o negocio pacifico e quie-
to por espaço de cinquenta e dous annos,
porque assi o diz a mesma historia.» Fer-
não Mendes Pinto, Peregrinações, cap.
95.
— Figuradamente : Estar sobre al-
guém; estar superior a elle, serdhe supe-
rior.
— Estar sobre ; ficar por padrasto ; a
cavalloiro.
— Estar o inimigo sobre a cidade ; es-
tar assediando-a, e combatendo-a,
— Diz-se que um navio está sobre,
quando o vento sopra por ante avante do
panno, fazendo-o cair sobro o apparelho,
e por consequência o navio para a ré ;
diz-se: Iraceou sobre, tem o vento so-
bre, 2^ôz-se sobre.
— Sobre jialavra, sobre seguro; dada
palavra, dado seguro, com confiança do
quem est;l seguro.
— Ser sobre aJguem; ser superior a
elle em ordem, jurisdicção, graduação,
etc.
— Algum tanto mais de.
— Além, demais. — «Mas dizem 1:1
que :i cadca nem por coima de figos, c se
me deixo hir, liey de gastar mais de dez
mil cruzados no livramento, e no cabo
naõ ficarey bem limado de tudo, sobre
bem aflligido. Leve S. Pedro o trancc-
lini, que taõ caro me custa.» Arte de
furtar, cap. 9.
— Tomar sobre mim toda a carga de
uma mercc; obrigar-me por ella. — «A
senhora Lionarda ganha tanto n'isso polo
preço de vossa pessoa, disse Polinarda,
que haverá pouco que rogar ; porém se
pêra sua condição isto não basta, eu tomo
sobre mim toda a cai-ga d'essa mercê, e
lhe beijarei as mãos fazer-nol-a a ambos,
ficando cu só na obrigação de a pagar.»
Francisco de Jloraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 112.
— Sobre tudo; mormente, principal-
mente, acima de tudo. — «E sobre tudo
em lugares convenientes fontes d'agua
clara, que sabida delias se sumia por ca-
nos secretos, e logo tornava a salúr por
esguichos apertados com tamanha fúria,
como lhe fazia trazer a força, com que
sahia, cahinuo em pias da mesma pedra
grandes e lavradas do lavor dos tanques.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'lngla-
terra, cap. 1 20. — » E sobre tudo, qae a
Cidade de Toledo, cabeça de Castella, e
de toda a sua Monarquia taõ rica, e po-
jiulosa, que àlèm da grande multidlto da
Nobreza, Clero, Mercadores, c Povo, b6
de Oflfieiaes de Seda, e I.a.1 titdia em
tempo dos Reys Catholicos mais de lOfS.
Teceloens; agora confessa o dito Chro-
nista, que naTS passaS de &r). todofl Beoa
moradores.» Manoel Sevcrim de Faria,
Noticias de Portugal, Disc. 2, cap. 9. —
íAbundão cm gado notauelmente, e em
Pauões, e Bogios, e sobre tudo cm gali-
nhas, do que ha tai:ta cantidadc, quo dão
cincoenta por hum cruzado. Vcrda<le seja
que a falta do dinheiro, he aqui mayor,
que nas outras partes, e assi tem mais
valia.» Fr. (iaspar de S. Bernardino,
Itinerário da índia, cap. 4.
Nem bastava privar das doces vidaa
r»â infolicc3 corpos, não culpados,
K roubar-llies as fazendas adquiridas
Ou por si, ou por wiiis antepassados;
Mas fohre tudo ainda de fingidas
Maldades, os fazia ser notados,
Porque ficassem obras tão dumnadas
Co'a infâmia dos mortos desculpadas.
FUANCISCO d'aHDRAT)B, PBIMCIBO CSBOO DB DIV,
cant. 1, est. 12.
— «Porem não declarando se era, ou
dcixaua de ser cul|iado no caso por que
morria. Falando nmytas cousas, e fazen-
do em tal tempo alguma.s perguntas como
de homem muy acordailo, e de grande
esforço, e sobre tudo catholico, e bom
Christão.» Garcia de Rezende, Cbronica
de D. João II, cap. 46. — «O nosso lhe
tornou a preguntar, se despois deste cas-
tigo dera Deos outro algum, e respondeo,
que geral nenhum outro que fosse seme-
lhante a este, mas que era particular cas-
tigava continuamente a todos, assi aos
reynos c aos povos com guerras e fomes,
como aos homens com afliçoens, traba-
lhos, e doenças, e sobre tudo com pobre-
za, quo era o remate de todos os males.»
Fernão Alendes Pinto, Peregrinações, ca-
pitulo ih:3.
— Sobre si; distinctamente, separada-
mente. — «D'alli se repartia aquella agua
por lugares diversos, uma pcra uma par-
te, outra por outra, toda por canos de
metal postos por ordem, com que se re-
gava geralmente todo o jardim e cada
cousa sobre si. Isto n.ão por mão de nin-
guém; mas a mesma ordenança dos ca-
nos hia visitando e correndo tudo.» Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim d'InglateiTa,
cap. 120.
— Fechados sobre si. — «Correndo o
negocio por ordem de alguns captivos ve-
lhos, e dos Christãos mercadores da Adua-
na, que he irm lugar onde vivem em li-
bordade fechados sobre si.p Jeronymo de
Jlendonça, Jornada de Africa, liv. 2,
cap. 20.
— Parecer vtr sobre *í uma etcuris-
SOBR
SOBR
SOBR
551
sivia noite. — «Muito mais temeroso lhe
pareceo verem sobre si huma escuríssima
noite que a negriclão do tempo derramou
sobre aquella região do ar, de maneira
que huns aos outros não se podiào ver, e
cõ o asoprar do vento muito menos ou-
uir.» Barros, Década 1, liv. 5, cap, 2.
— Estai-, andar sobre si; estar sem
dependência, com isenção.
— Tomar sobre si o peso da família;
tornar-se responsável.
— Estar, andar sobre si; estar sepa-
rado de outrem.
— Andar sobre st; vigiar-se.
— Sobre o dito caso. — «E depois de
sobre o dito caso ter conselho, mandou
logo por embayxador Duarte Galuão do
seu conselho com cartas ao Emperador,
e a el Rev de França, e pêra outras cou-
sas que compriani, e com poder de des-
afiar e romper guerra com os inimigos
do dito Rey dos Romãos, e com quaes-
quer que pêra sua soltura lhe parecesse
necessário.» Garcia de Rezende, Chroni-
ca de D. João II, cap. 72.
— -Divisar sobre a campina liquida
ledo espectáculo.
Mas que ledo espectáculo devisas
Sobre a campina liquida, qu' apenas
Encrespa o meigo Zéfiro co' as azas?
J. A. DE MACEDO, A NATUBEZA, Caut. 3.
— Amor sobre tenção.
O caso he : Sobre meus dias,
Em tempo contra rezào,
Veio Amor sobre tenção,
E fez de mi outro Maneias,
Tào penado,
Que de muito namorado
Creio que me culpareis
Porque tomei tal cuidado ;
E do velho destampado
Zombareis.
GIL VICENTE, FABÇAS.
— Chegar sobre a cidade; chegar a
ella. — «Outra jornada conta o bispo D.
Pelayo de Oviedo, que fez este Rey pe-
las terras a dentro de Portugal, que ago-
ra se chamão Estremadura, e chegando
sobre a Cidade de Merida, entre outros
despojos de preço, que alcançou nella,
foy o corpo da Virgem e Martyr Santa
Eulália, e grande parte do berço em que
foy criada, tudo o qual meteu em huma
arca de prata, que poz na Igreja de S.
Joaõ Evãgelista.t Monarchia Lusitana,
liv. 7, cap. 9.
. — Paz assegurada sobre tantas victo-
rias. — «Chamou o Bispo D. João de Al-
buquerque, D. Diogo de Almeida Freire,
ao Doutor Francisco Toscano, Chanceller
Mór do Estado, a Sebastião Lopes Lo-
batto, seu Ouvidor Geral, e a Rodrigo
Gonçalves Caminha, Veador da Fazenda,
aos quaes entregou o Estado com a Paz
dos Principes visinhos, assegurada so-
bre tantas victorias.» Jacintho Freire de
Andrade, Vida de D. João de Castro,
liv. -4.
— Dar juramento sobre as maças. —
«Aquy detiveraõ o Mitaquer hum pouco,
fazeiulolhe com muytas cerimonias algu-
mas preguntas, e dandoihe juramento so-
bre as maças que os quatro moços leva-
vão, o qual eile tomou em joelhos, bei-
jando o chaõ por três vezes.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 122.
— A respeito de, relativamente. —
«Finalmente acabando de apresentar to-
das estas peças, sobre as quaes elle fez
muitas perguntas, e assi sobie as que lhe
elRey maudaua pêra sua pessoa.» Bar-
ros, Década 1, liv. 3, cap. 9. — «E
quem lhe fazia ter maior escândalo del-
Rey, e o mães indignaua sobre este caso
eraõ paixues, e còpetencias que entre si
traziaõ dous Mouros que se mostrauaõ
grandes amigos delle Aires Corrêa, e o
caso era este.» Ibidem, liv. õ, cap. 5.
— Actos uns sobre os outros; actos re-
petidos sem grande intervallo.
— Depois de, em cima de.
— Ir, vir sobre; ir contra. — «lun-
tandoselhe cada dia innumeraueis gentes
com que foy segunda vez sobre Meca,
da qual alcançou huma grade vlctoria,
metendo a Cidade a xaque ; com que en-
riqueceo os soldados, ficando todos prós-
peros, e elle cheyo de noua fama.» Frei
Gaspar de S. Bernardino, Itinerário da
índia, cap. 20. — «Feita, e outras caual-
gadas de que nam faço mençaõ por se-
rem de pouca importância, el Rei de Fez
veo sobre Arzilla ja no fim do mes de
Abril do mesmo anno de M.D.xvi. com
mais de cem mil homens, em que dizem
que auia trinta mil de cauallo.» Damiào
de Góes, Ghronica de D. Manoel, part.
4, cap. 5.
— Em cima de. — «Depois desta en-
trada sahio dom Aluaro da cidade aos
XXV dias do mes de Março, pêra ir sobre
huns Aduares da Enxouuia, questão dal-
li outras doze legoas, mas antes que la
chegasse achou alguns mouros dos mes-
mos Aduares que andauam espalhados
pelo campo apanhar frueta, dos quaes
captiuou cincoenta.» Ibidem, part. 4,
cap. 39.
— Ter dmninio sobre toda a creação ;
dominar em toda ella, governar em tudo,
porque tudo foi creado.
Este Deoa he muito amado
E adorado,
Porque ti'm dominação
Sobre toda a creação.
GIL ^TCCESTE, FARÇAS .
— Em. — Posto sobre cousa. — «Se
preito for piosto sobre cousa, que nom
pudesse seer, porque he defeso per direi-
to que se nom faça, e he hi posta pena
pêra comprillo, nom se pode defender
que nom peite a pena, como quer que se
nom deva teer o preito principal.» Ord.
Affons., liv. 4, tit. 62, § 3.
— As casas cahiam sobre a vista d' um
logar. — «ElRey de Ormuz a este tempo,
com seus Governadores, e Mires, que são
08 nobres do Reyno, poz-se ás janellas
de suas casas, que cahiam sobre a vista
deste lugar, per onde entrava o Embai-
xador, o qual era acompanhado de D.
Garcia de Korouha, como pessoa princi-
pal, e de muitos Fidalgos, e Cavalleiros,
trazendo o Embaixador o presente ante
si nesta ordem.» Barros, Década 2, liv.
10, cap. 4.
— Ir ter sobre a barra de Goa. —
(lE de todas estas náos Francisco Noguei-
ra perdeo a sua, e Jorge da Silveií-a pas-
sou á índia per fora da Ilha de S. Lou-
renço, e foi ter sobre a barra de Goa a
oito de Julho ; e por o tempo ser muito
verde, não ousando de entrar, passou
adiante a Anchediva, onde esperou perto
de dous mezes té se ir a Cochij, onde
achou AíFonso d'Alboquerque.» Barros,
Década 9, liv. 2, cap. 2.
— Descer a nebrina sobre a serra.
Alfim no oceano se mergulha a lâmpada
Do firmamento máxima. Descia,
Como um veo, a nebrina sobre a serra •,
Ja lho toucava a frente, e ia ligeira
Pela espalda, inscnsivl devolvendo,
Té lhe pousar as orlas na planicie.
GAKKETT, CAMÕES, cant. 9, cap. 1.
— Encostar
do amigo.
peito sobre o peito lea
Poisa no hombro fiel, o peito incosta
Sôhre o peito leal do amigo... — Amigo
Direi, amigo sim: peja-te o nome,
Orgulho do homem vão, por dado ao escravo?
GAEKBTI, CAMÕES, CaUt. 10, Cap. 11.
— Lançar o fogo sobre alguém; quei-
mal-o, vingando-se assim. — «Ao mesmo
tempo chegou D. Jeronymo de Castel-
branco, e atravessouse antre as Galês,
pondo a Caravela em seco no mevo de
duas delias, sobre quem lançou tanto
fogo, que as abrazou.» Diogo de Couto,
Década 6, liv. 10, cap. 20.
— Tirar int^tiirição sobre alguém; in-
dagar d 'elle. — «E pêro que os Direitos
estabelecerom, que esta insinuaçom fosse
feita pelos Juizes das terras, a usança
geeral destes Regnos, e estillo da Corte,
foi e he usado per tam longo tempo, que
a memoria dos homeens nom he em con-
ti-airo, que taaes doaçuoes sejam per Nós
insinuadas, mandando primeiramente so-
bre ello tirar enquiriçom.» Ord. Affons.,
liv. 4, tit. 68.
— Sobre a tarde; já entrando a tarde.
— Sobre a noite; pela noite.
— Ad.vgios e provérbios :
— Sobre comer, dormir.
— Sobre cear, passos dar.
552
SORR
SOBR
SOBR
— Sobre pcraií vinho bebas, e Bcja tan-
to, que ii;ul(!iii elliiH.
— Sobre mim li((uo.
— Sobre vossa iiello se trata.
— Sobre ncííi-cífura nilio ha tintura.
— Sobre ilinlieiro nilo ha companiiciro.
— Aj^iiii sobre nixnn num suja, nem
lava.
SOBPEABUNDANTE, ffIJ. Vu\. Super-
abundante.
SOBREABUNDAR, i'. n. Vid. Super-
abundar.
SOBREAGUADO, A, wlj. Cheio tUafíua,
coberto d'clla, anef^aijo.
— Campos, (up-vs sobreaguados ; cam-
pos alauadds.
SOBREALCUNHA, s. f. Sobrea^pcllido.
SOBREANCA, .s. /. Vid. Xarel.
SOBREAPPELLIDÒ, .í. m. Aleunha ou
solirciiomr, addidi) a autru appcUiiio.
SOBREARCO, s. w. — Sobrearco '/oywr-
tal ; a vci;:a.
SOBREAVISO, s. m. Aviso antecipado,
prévio.
— Estar de sobreaviso ; prevenido com
aviso.
SOBREAVONDAVEL, adj. Termo anti-
quado. Su]H'r;iliuiidante.
SOBREAXILLAR, adj. 2 gen. Termo
de botânica. .Sobretblheaceo. — Pedúncu-
lo sobreaxillar.
— Vid. Subaxillar, (|uo é difforcnte.
SOBREBAILÉO, ou SOBREBAILEU, s. m.
Baiico collocailo sobre outro.
SOBREBAINHA, s. /. Forro exterior da
bainha.
SOBREBICO, íí. m. A parto superior
do bico.
SOBRECABADO, A, adj. Alto, na maior
eminência.
SOBRECANA, ou SOBRECANNA, s. /.
Tumor duro, scni dôr, ([uc se taz no ter-
ço da caniia <Io braço do cavallo.
1.) SOBRECARGA, s. /. A pessoa que
leva instrucçòos sobre necrociações da
carita do navio, representando o proprie-
tário, como seu feitor.
2.) SOBRECARGA, s. f. A carpra de
mais que nào sotlrc o porte do navio ou
besta.
— Fif^uradamcnte : Cousa que aggra-
va o incommodo (jue já se sentia.
3.) SOBRECARGA, s. /. Espécie de ci-
Iha de lã ou estopa com correia ou lá-
tego, com que se aperta a carga depois
de po^ta sobre a l)ôsta.
SOBRECARREGADO, -part. pass. de So-
brecarregar.
— Navio sobrecarregado ; navio c;vr-
regado ile mais.
— Figuradamente : Uma cidade so-
brecarregada dt' habitantes.
SOBRECARREGAR, v. a. Carregar com
mais peso ou car^^a do que aquella que
peide levar. — Sobrecarregar ama caval-
gadura.
— Sobrecarregar o povo com impostos,
tributos, etc.
— Carregar excossivamento o navio,
o ([Uc lhe faz perder as suas boas quali-
• iade^.
SOBRECARTA, s. f. Segunda carta ou
carta pa.^sada depois ila primeira, ou <|ue
conlirma c accrescenta :í primeira.
SOBRECASACA, a. f. Vid. Redingote,
apesar de ser termo menos em uso do
(pie aqitr.lie.
SOBHECELESTE, adj. 2 gen. Do céo,
celestial.
SOBRECELESTIAL, adj. 2 gen. Acima
de ceh^stc, mais (|uo celestial.
SOBRECELLENTE. Vid. Sobresalente.
SOBRECENHO, s. m. Carranca (jue se
faz franzindo as sobrancellias e ccrran-
do-as.
— Sendilante, earregailo.
SOBRECÉO, ou SOBRECEU, *. m. Ouar-
da-pi'>, que liça por cima.
-— ravilh.ào, es|iaravel.
SOBRECEVADEIRA, .<<. /. Termo de
náutica. \'ela pequena que tica sobre a
c evade ira.
SOBRECHEGAR, r. n. Sobrevir,
SOBRECHEIO, ou SOBRECHÈO, A, adj.
Accuninlado, aeui^ulado.
SOBRECLAUSTRA, s. f. Claustra supe-
rior.
SOBRECOBERTA, «. /. Segunda cober-
tura, ou coberta.
SOBRECOPA, s. f. Copa, tampa, cober-
tura do vaso.
SOBRECU, s. m. O niamniillo que algu-
mas aves tem no rabo, d'ondc saem as
pennas que o compije.
SOBRECURVA, .<;. /. Tumor carnoso so-
bre a Junta da besta.
SOBREDENTAL, adj. 2 gen. Que está
por cima dos dentes.
SOBREDENTE, s. m. Dente cavalgado
sobre outro.
SOBREDITO, ou SOBREDICTO, A, adj.
Dito, roferiílo, nomeado antes, ou acima.
— «Este cerco se acabou de poer de mar
a mar aos xxiij do mes sobredito, com
muitos bastiliioens, tranqueiras, e baluar-
tes, em (|ue assentaram alguma artelba-
ria de ferro, e metal.» Damiào de (iões,
Chronica de D. Manoel, part. 'ò, cap. 11.
— «E posto que a-si Xerquia apartamos
na maneira sobredita, e com Alcaide
apartado, quanto aos alimentos da terra,
e termo que ha de ficar com Azamor, e
com çaiim, nos o assentaremos como nos
jiarcccr que seja cousa justa, o honesta
pêra cada p;u-te, e enuiaremos disso nossa
determinaram, e teremos lembrança do
que acerca disto nos tendes scripto. » Ibi-
dem, cap. 53. — «O author principal que
fez vir este casamento em effecto, foi o
sobredito (iuilhelme de Crui senhor de
xeures, que absolutamente gouornaua el
Rei dom Carlos. i> Ibidem, part. 4, cap.
o!5. — «Dahy en> diante u!ío vestissem
mais cousa alguma das sobreditas, somen-
te os homens poderl,"io trazer gibões, ca-
rapuças, e pantufos de seda, e as molhe-
rea Baynho*, e cinta», e bordaduras de
seus vostidoB. E por se miihor comprir,
el llcy, e a Raynlia, e o I-'rincipe, e o
Duque nunca mais vestir.lo seila», scnSo
nas cousas sobreditas.» ííarcia do Re-
zende, Chronica de D. Joào II, cap. 04.
— «Ajunta t*u ao sobredito lia gente com-
mum temer grandemente os lynithias poU
lo ipie ninguém ho ousaria de fazer chriíi-
tilo sem licença delles, ou ao menoH nauí
ousariam nmitos defazello. • Frei íi aspar
da Cruz, Tratado das cousas da China,
cap. 2X. — € Tanto que «1 Rei foy enfor-
mado de todo bo sobredito, logo despa-
chou de sua corte hum Quinchay, de que
dissemos acima que quer dizer chapa dnn-
ro, e que nam bc mandam semelhantes
homens se nam a negócios muy impor-
tantes.» Ibidem, caji. 2.0,
SOBREDIVINO, A, adj. Mais que di-
vino.
SOBREDOURADO, part. patt. de Sobre-
dourar.
SOBREDOURAR, v. a. Dourar por cima,
— Figuradamente: Sobredourarem-se
os periqns.
SOBREELEVAR, v. a. Vid, Sobrelevar.
SOBREEMINENTE, a^lj. 2 g<:n. Maia
que cnui <Mite.
SOBREENTENDER, r. a. Vid. Superin-
tender.
SOBREERGDER, v. a. Erguer mais al-
to que outra cousa.
SOBREERGUIDO, part. pass. de Sobre-
erguer.
SOBREERROGAÇÃO, s. f. Obras de so-
breerrogação ; por maior merecimento de
saivavào.
SOBREESCREVER, r. a. Escrever por
cima.
SOBREESCRITO, ou SOBRESCRIPTO, ou
SOBRESCRITO, s. m. (» nome de pessoa
ou dignidade, com o logar da habitaçilo
que se escreve sobre a capa da carta,
para se saber a quem é dirigida; vista da
Ciirta. — «Estes Capitaens se foraõ logo
embarcar, e o Capitão D. Pedro da Silva
lhes deu hum regimento serraílo, e no
sobreescripto de fiira lhes dizia «que
abrissem aqucUe tanto que fossem fora
dos Estreitos, e que fizessem o que nelle
lhes mandava:» e embarcados todos de-
raè as velas.» Diogo do Couto, Década 6,
liv. 9, cap. 9.
— Figuradamente: Rotulo, signal ex-
terno.
— J^art. pass. de Sobreescrever.
SOBREESPERAR, v. a. Esperar muito,
continuar por longo tempo na esperança.
SOBREESTADO, part. pass. de Sobre-
estar.
SOBREESTANCIA, s. f. Seperintenden-
cia, vigilância, ou cuidado de vig^iar, e
dirieir cfficiae.-' inferiores de obra.
SOBREESTANTE, s. m. Superintenden-
te, o que dirige, vigia.
— Adj. 2 gen. Que esfcl sobre,
SOBREESTÀR, v. n. Vid. Sobrestar, e
SOBR
SOBR
SOBR
553
Sobstar. — «E como nesta conjunção se
lhe levantassem alguns Capitães Mouros
com as Cidades que tinhaõ a seu cargo,
sobreesteve Abderramen na jornada con-
tra Christãos, atè pacificar estas difiicul-
dades, dando tempo a Dom Ramiro para
fazer neste meyo tempo, algumas con-
quistas importantes nas terras de Portu-
gal.» Monarchia Lusitana, liv. 7, cap.
13.
SOBREEXALTAR, v. a. Engrandecer
em alto grau, louvar muito.
SOBREEXCEDENTE, ijcu-t. act. de So-
breexceder. Que sobreexcede.
— S. m. O muito que sobeja, ou exce-
de sobre outro.
SOBREEXCEDER, v. a. Passar por ci-
ma, transmontar, sobreelevar-se.
— V. n. Levar vantagem a alguma
cousa, exceder sobre ella.
SOBREEXCELLENCIA, s.f. Excesso que
põe a cousa acima do excellente.
SOBPEEXCELLENTE, adj. 2 gen. Mui
excellente. Vid. Sobrexcellente.
SOBREEXCELLENTISSIMO, A, adj. su-
perl. de Sobreexcellente. Mui sobreex-
cellente.
SOBREEXCELLER, v. n. Termo de poe-
sia. Exceder muito, levar muita vanta-
gem.
SOBREFACE, s. /. Termo de fortifica-
ção. A distancia eutre o angulo exterior
do baluarte, e o flanco prolongado.
— Termo antiquado. Superfície.
SOBREFOLHEACEO, A, adj. Termo de
botânica. Pedúnculo sobrefolheaceo ; pe-
dúnculo existente sobre a folba.
SOBREGATA, s. /. Termo do náutica.
A segunda vela redonda do mastro da
gata ou mezena, que caça por cima da
gata, e na verga d'e3te nome.
t SOBREGATINHA, s. /. Termo de ma-
rinha. A terceira vela redonda do mas-
tro da gata ou mezena que caça na ver-
ga da sobregata.
SOBREGAVEA, s. f. Peça que está
acima da gávea.
SOBREHUMANO, A, adj. Superior ás
cousas humanas.
Porque aqui tal matéria s'ofFerccc
A hum rudo engenho, baixo entendimento,
Qu'engenho3 sobrehumanof! bem merece
O sobrchumano aeu merecimento.
Porém se a meu intento não fallece
O que nunca faltou a hum bom intento,
Heróicos varões, eu direi tanto
De vóa, que ao mundo seja inveja e espanto.
F. d'andr.íde, primeiro cerco de DIU, cant. 1,
est. 3.
Começo ja a temer que me ordenasse
Amor este tal bem, tão sobrehumano,
E que dentro nesfalma mo arreigasse
Com a continuação dhum e doutro auo,
Para que d 'entro as mão.s mo arrebatasse
Com muito maior dôr, muito múr dano,
E a33i me fique o mal firme o dobrado
Qu'em memoria de bens está fundado.
iBiDBM, cant. 4, est. 58.
VOL. T.— 70.
No Peristilo magestoso e vasto.
Eu não distingo s'he mortal, se hc Nume
Então descubro feminil aspeito
De luz banhado, o portamcnto, ag vozes
Hum snhre-humano Ser me descobria.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 1.
Ah ! Nunca de meu lado hum ponto afasto
O volume suavíssimo, e celeste
Do immortal Vanier, que as Leis promulga.
Em sohre-huinano Canto, á Agricultura.
IBIDEM, cant. 2.
Sobre.-humano prazer se apossa d'alma
Quando desfarte cu só sustento o Tubo
Que me aproxima o Cco, que medo o espaço.
IDEM, A NATUREZA, Catlt. 1.
— Que excede o saber, e faculdades
do cf)rpo, e alma humana.
SOBREHUMERAL, s. m. O ephod, faxa,
ou estola própria do summo sacerdote dos
hebreus.
SOBREINTENDENTE, s. m. Vid. Super-
intendente.
SOBREIRA, s.f. Vid. Sobreiro.
t SOBREIRAL, s. m. Vid. Soverei-
ral.
SOBREIRO, s. m. Vid. Sovereiro.
t SOBREJOANNETES, s. m. p/wr. Ter-
mo de náutica. Duas velas, uma que se
larga por cima do joanuete grande, que se
chama sobrejoannete grande, e outra que
se la)-ga por cima do joannete da proa,
que se chama sobrejoannete da proa.
f SOBREJOANNETINHOS, s. m. plur.
Termo de náutica. Duas velas, uma que
se larga por cima do sobrejoannete
grande, que se chama sobrejoannetinho
grande, e outra que se larga por cima
do sobrejoannete da proa, que se cha-
ma sobrejoannetinho da proa.
SOBREJUIZ, s. 7/1. Magistrado antigo
em Portugal, para quem se recorria dos
juizes inferiores ; iam com alçada ás pro-
víncias; e nas casas de Relação corres-
pondiam aos aggravistas. Aos sobrejuizes
succederam os corregedores e desembar-
gadores dos aggravos.
SOBREJUSTIÇA, s. m. Sobrejuiz, cor-
regedor.
— Juiz da alçada sobre outros.
SOBRELANÇO, s. m. Lanço sobre ou-
tro ; maior lanço.
f SOBRELE. Termo antiquado, em vez
de Sobre elle. — «Com a qual ençarraua
huma parte dos arabaldes, em que tinha
muita gente de guerra artelharia, e ou-
tras munições onde staua a mor parte do
tempo com suas guardas, e vegias mui
fora de alargar o regno, posto que ja de
muitos dias tevesse recado que o gouer-
nador da índia auia de mandar sobrele. »
Damião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 4, cap. 66.
SOBRELEVADO, pari. pass. de Sobre-
levar. Mais alto que outro.
— O preço sobrelevado ; o preço mui
alto.
SOBRELEVAR, v. a. Vencer, exceder
em altura, passar por cima.
■ — SofFrer, supportar.
— Vencer, exceder.
— Sobrelevar-se, v. refl. Levantar-so
mui alto, exceder-se, subíimar-se.
— Exceder, vencer.
— Passar por alto.
SOBRELHAS. Termo antiquado, em vez
de Sobre as.
SOBRELIMINAR, «. m. Termo de forti-
ficação. A viga que se atravessa sobre os
esteios perpendiculares da ponte levadi-
ça, formando com elles um portal de ma-
deira por cima do liminar da porta, da
soleira.
■f SOBRELLA. Termo antiquado, em
vez de Sobre ella. — «(íanhada esta al-
deã, e tirado o despojo, que se nella
achou, lhe mandaram poer o fogo de que
ardeo toda. E quanto a outra aldeã de
Tafuf, dom João mandou do caminho, an-
tes de chegar a Benaçafíz dom Bernardo
Emanuel, camareiro mor dei Rei, e loam
da sylua sobrella, por estar mais abai-
xo.» Damião de (joes, Chronica de D. Ma-
noel, part. 3, cap. 48.
Estando so ha cidade,
por morrerem muyto nella,
so fez esta crueldade ;
mas el Rey mandou sobrella
com muy grande brouidade,
mnytos foram justiçados,
quantos acharam culpados,
homens baixos e bragantes.
o. DE REZENDE, MISCELLANEÀ.
f SOBRELLE. Termo antiquado, em
vez de Sobre elle. — « Por coifa vsão de
hum barrete, a que chamão Araxim, que
muytas vezes he de tella douro, segundo
a posse de cada huma, e sobrelle hum
modo de fonil de prata, porque se vay
estreytando pêra sima, e sobre este fonil
põem a toalha.» Fr. Haspar de S. Ber-
nardino, Itinerário da índia, cap. 13. —
«Lhes rogou que nam fezessem mais mal
do que ja tinham feito, que elle se daua
por vingado de seus imigos, o que nam
abastou pêra os nossos deixarem de fazer
outra entrada pelas terras dei Rei de Ca-
lecut, e imigos delrei de Cochim da qual
Afonso Dalbuquerquc, e Francisco Dal-
buquerque, depois de terem feito assaz
de mal nos lugares sobre que foram dar,
se recolheram cora muito trabalho, por
virem sobrelle seis mil Naires, entre os
quaes auia alguns espingardciros.» Da-
mião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 1, cap. 78. — «Elle mandou tomar
hum nauio, a que chamam chãpana, que
estaua surto no porto carregado de Ar-
roz, donde se azou vir o Lascar com mais
de cinco mil homens sobrelle, com quem
ouue huma trauada peleja, cm que os
imigos forão desbaratados, por caso dos
muitos tiros de fogo, e bombardadas. » Ibi-
dem, part. 4, cap. 27. — «Mas em che-
554
SOBK
SOBR
SOBE
gando aos Aduares, como virara que com
03 Abidcs cstauam ctiristSo!», parocendo-
Ihes que seria dom Nuno, kc começaram
de recolbíir do que nam contoiítes o.s Da-
bida lhes foraõ na» costas tanto, att; (|un
constraiipidos fozcram volta sobrelles,
cm quo mataram quatro destes Ahides, c
mataram muitos mais se ILes naõ acodir.a
çaide com al<;uiis christàos, que lhes ho
Àdail soltou, o assi se apartarão jior esta
vez.» Ibidem, cap. 42. — «Do que sen-
do anisado dom Nuno por isto nam vir
em creeimonto determinou ir sobrelles, e
pêra so assef^urar dostei Árabes dabiiia,
o Garabia (pic estiuiam allojados, junto
da cidade, por conselho, e parecer dal-
pumas pessoas, a que disso deu conta. »
Ibidem, oap. 4.
SOBRELOGE, SOBRELOGEA, ou SOBRE-
LOJA, s. _/". Sobrado (jne tica immediata-
mcnto sobre a loja, ou casa térrea, e por
baixo do primeiro andar; entresoliio.
SOBRELOTAÇÃO, s. /. O que excedo
da lotarão, ou do numero certo.
— O que se carrerja em uma embarca-
ção, além da sua lotação ordinária.
SOBREMANEIRA, alv. Sem modo, além
da ju>ta medida.
— Excfsisiv.i, extraordinariamente.
SOBREMÃO, s. m. Termo de alveita-
ria. Tumor quo vem sobre a mão da
besta.
— Cautelas de sobremão ; cautelas ex-
traordinárias.
— Eiicommenãar alguém de sobremão;
encommendar alguém com muitos gabos.
— Loc. ADV. : De sobremão; com
toda a arte e vagar de quem está com
uma mão sobre outra ; de assento, com
descanç.i> e curiosidade para bem obrar.
SOBREMARAVILHAR-SE, v. reji. Admi-
rar-se demasiadamente.
SOBREMESA, s. /. Os postres, a fru-
ta dòee, ctc, que se servem depois dos
cozidos, massas, assados, etc, para con-
cluir a comida.
SOBREMISTICO, ou SOBREMYSTICO, A,
adj. ilystieo por excollencia, ou (jue leva
vantagem ao ser mystico.
SOBREMODO, adv. Excessivamente,
muito.
SOBREMUNHONEIRAS, s. f. plur. Ter-
mo de artilhcria. i'cças do ferro que se
atravessam sobre as munhonoiras dos ca-
nhões, para segurar os munhõos dentro
d'ellas.
SOBRENADAR, v. n. Nadar em cima,
boiar.
SOBRENATURAL, adj. 2 gen. Superior
lis forç.is da natureza ; ou de modo ao
parecer contrario As suas leis e ordem.
— «Ficamos (como dizem os sanctos) pel-
la culpa mortal despojados dos bens e
does sobrenaturaes, c aleyjados e cluiga-
dos no^ natur.ies.» Fr. Rartholommi dos
Martvres, Catecismo da doutrina christã.
SOBRENATURALIDADE, *. /. Caracter
do que é sobrenatural.
— Superioridade ás força» da natu-
reza.
SOBRENATURALMENTE, <idv. (De so-
brenatural, cuiii I) rtiitlixo «meate»). I-)e
um modo subrisnatural.
SOBKENERVO, «. m. Termo de alvei-
taria. Tumor sidjre o nervo.
SOBKENOME, *. m. i) nome, appollido,
ou alcunha aci;iescentado ao nome do ba-
ptismo. — «Diz a historia, que pêra sa-
ber quem era este Dramorantc, que P^i-
ti-opa tia eh; Dramusiando ti;ve um irmão
chamado Dramorantc, que om seu tempo
foi um dos mais temidos gigantes do mun-
do. Sendo mancebo se namorou d'uma
donzella filha d'uma dona viuva, da «piai
não podendo alcançar nada ])or amorei
nem promes,-as, a tirou por força de i)0-
der a sua mãi, c houve nella aquelle fi-
lho, a que também [lòz nome Dramoran-
tc, que depois teve i)or sobrenome o
Cruel, derivado de suas obras ; c a mài
morreu de |iarto. » Francisco de Moraes,
Palmeirim d'Iuglaterra, cap. 76. — «Esta
fov eleita por capitoa de todas, forman-
do-se hum esquadrão delias, de que as
prineipaes erào (iracia Rodrigues mulher
de Ruv Freire, Isabel Dias casada com
o Feitor d* ElRcy, Catharina Lopes mu-
lher de António (^il, e Isabel Fernandes,
que depois se chamou a velha de Dio,
digna do sobre-nome que lhe derào.»
Diogo de Couto, Década (5, liv. 2, cap.
2. — »E a boa velha Isabel Fernandes,
que teve aquelle honrado sobrenome da
velha de Dio, que jà pêra aquelle tempo
trazia muitos bolos de açúcar, e bocados
doces, con-ia os baluartes, e aos que via
mais cançados, e fracos, lhes metia nas
bocas alguma daquellas cousas, dizendo-
Ihes: esforçay filhos, peleiay cavalleiros,
que a Virgem nossa vSenhora esta com-
vosco. » Ibidem, cap. 4.
Aqu''llc valoroso cavalleiro
A quiMíi deu nome António, c fcimbcm dera
Do* Dobreiíomes Mendes o primeiro,
E Víiseoncellos o outro apoz este era.
Pelejando então todo o espaço inteiro
Que ha que dura a batalha horrenda e fera,
,Ia na çr.irfranta o pique mortal sente.
Também solta do rosto o sangue quente.
F. n'ANDKADB, PBIMKIRO tEBCO DE DIU, CSOt. 19,
est. 9'.t.
— Por antonomásia : Titulo que dá a co-
nhecer a pessoa.
— Adagio e provérbio:
— Não ha hnmem sem nome, nem no-
me sem sobrenome.
— Syx. : Sobrenome, appeUido. Vid.
este ultimo t -nno.
SOBRENOMEADO. part. puss. de So-
brenomear.
SOBRENOMEAR, v. a. Dat por sobre-
nome, aiipelliilo. alcunha.
SOBRENUMERAVEL, adj. 2 gen. Que
excede to los os números, o por isso iu-
numeravel.
SOBREOLHAR, r. a. Olhar por cima
do liDiiiliro. olhar com d>-*prL-zo,
SOBREOLHO, «. wi. Sobrancelha.
SOBREOSSO, ». m. Termo de alveitaria.
Doenças que vem án bestas de golpe, oo
ferida mibre o oseo, ou cauna doa péa.
Vid. Sobrosso.
— Fi^'u^adaroente : Cousa que im:om-
moda, I' nioli.ita embaraçando.
SOBREPAGA, *. /. Augmcnto de paga,
salário.
— Addição á paga estipulada ou ajus-
te-la.
SOBREPARTO, adv. Deiiois do parto.
— Adijfjcu sobreparto.
— Substantivamente: Doença que so-
breveio ao fiarto.
SOBREPELLIZ, s. m. (De mperpclli-
ciumt. Vestidura ecclesiastica branca, que
Si' enfia ]ielo pescoço, e cobre em roda o
corpo até ao meio.
SOBREPENSADO, adv. De propósito,
do caso jiensado, acinte, com delibera-
ção.
— P'irt. jias». de Sobrepeasar.
S0BREPEN3AR, t- . a. i'ensar outra, e
outras vi/íe-:.
SOBREPESO, *. m. Sobrecarga, peso,
carga excessiva das forças do que car-
rega .
SOBREPOJAR, V. a. Vid. Sobrepujar.
SOBREPOR, V. a. (Do latim superpo-
nerc iVir em cima de outra cousa.
— Dobrar por cima.
— Eniprega-se tambom figuradamente.
SOBREPOSSE, adv. Além, mais do que
se 1 ''ie. — <'c)ti>r sobreposse.
SOBREPOSTO, part. pasí. de Sobrepor.
Posto em cima d'outro, accumulado.
A braços d'? p(rante tohrtporto
Monte a monto parece ; arrebatada
Por anjos infemacs a roca antiga
Que a prumo a deío--íhir.am — e fixada
No incantrdo equilíbrio, desafia
Fiirças da natureza c arte dos homens.
OABRKTT. CAXUES, caut. 9, cap. 5.
— Figuradamente : Amontoado, accu-
mulado.
— Terra sobreposta ; terra que acar-
retam as alluviòes, e crescentes dos rios,
e se depõe como rateiros em alguma par-
te; diz-se em opposiçào á terra própria
e nafira.
SOBREPOSTOS, s. m. plur. Os ador-
nos de galíjes, passamanes, fitas, tudo o
que se põe sobre as peças, ou folhas ex-
teriores, e bordas dos vestidos, jaezes,
clc.
SOBREPRATEAR, v. a. Cobrir com fo-
lha, la:i:iu:i. ou obra -lelicada de prata.
SOBREPUJAMENTO, s. m. Excesso.
SOBREPUJANÇA, í. /. Excesso.
SOBREPUJANTE. part. act. de Sobre-
pujar. Quo sobrepuja.
Quero declarar-mc: Eu, Sorafim.
quo cá chamaes Anjo, e participante
I
SOBR
SOBR
SOBR
de mais céo que o homem, mais sóbrepujante,
tanto que o homem, á conta de mim
ficava saphira, e eu, diamante.
AKTomo PKESTES, AUTOS, pag. 3.
SOBREPUJANTEMENTE, adv. (De só-
brepujante, com o suíBxo mnente»). De
xmi inuào sóbrepujante.
SOBREPUJAR, r. a. Exceder em altu-
ra, em forças, etc. — «Por detrás destas
casas estava huma serra de ossos tào alta
que sobrepujava por cima dos telhados
delias, a qual era de comprimento dum
cabo e do outro da mesma meya legoa, e
muyto larga em grande quantidade. »
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações, cap.
109.
— Exceder, ser superior.
— T". u. Ficar superior, exceder.
SOBREPUXAR, v. a. Yid. Sobrepujar.
SOBREQUILHA, s. /. Termo de náuti-
ca. Peça ou aggregado de madeií-os, que
assenta e corre de popa á proa sobre as
cavernas para tornar mais íirme a situa-
ção d'ella5.
SOBRERODELLA, ou SOBRERODELA,
s. /. Termo de alveitaria. Tumor sobre
a rodella do joelho das cavalgaduras, to-
mando parte da junta.
SOBREROLDA,"ou SOBRERONDA, s. f.
O que ou os que ricam para observar se
a guarnição de uma praça, se a ronda
faz as suas obi-igações, se está nos seus
postos e estancias.
SOBREROLDAR, v. a. Vigiar como so-
brend-la.
SOBRERONDA, s. f. Vid. Sobrerolda.
SOBFJIRONDAR, v. a. Vid. Sobrerol-
dar.
SOBRESAIR, ou SOBRESAHIR, v. n.
Realçar-se, apparecer mais, lustrar mais
que outrem.
— Dar mais na vista, exceder em ta-
manho, etc.
SOBRESALENTE, ou SOBRESELLENTE,
adj. 2 gen. Mais que o necessário, des-
tinado a supprir as faltas extraordinárias
na viagem do navio, como são cabos, ve-
las, moitões, vergas, mastareus, pregadu-
ras, etc, que estão nas antennas e paioes.
— Loc. ADV.: i)e sobresalente ; em re-
serva, de mais do que é necessário para
Servir nas faltas.
— Substantivamente : O sobresalen-
te ; o supprimento de mais para suppor-
tar faltas extraordinárias, mais que o ne-
cessário para supprir as faltas na viagem
de um navio.
SOBRESALTADO, parf. pass. de Sobre-
saltar. Tomado de improviso em guerra.
— «Mas quando o das donzellas a viu
de tào perto e de maneira que pode bem
segurar os olhos n'ella, não pode sua li-
berdade isenta ficjir tão em si, que se nào
achasse sobresaltado de todo; senão que
tinha um bem, que estas cousas, ainda que
o muito atormentassem, não lhe duravam
mais que emquanto as via: e virando-se
pêra suas donzellas, disse: Que vos pa-
rece, senhoras, que me aconselhaes que
faça ■? Não hajaes medo, disse Polifema,
que n(js o nào temos de nada que veja-
nKis.i) Francisco de iloraes, Palmeirim
dlnglaterra, cap. 126.
— Cavallo sobresaltado; diz-se d'aquel-
le em que a silva pára, e interpola com a
cGr do seu pello, e ao depois torna a con-
tinuar.
— Surprehendido.
Em breve espaço foi disto avisado
O grào f^ilveira lá na fortaleza,
Que com tal nova assaz sobresaltado
Não perde o seu esprito e fortaleza:
Deixa tudo alli posto a bom recado,
E CO "a mor brevidade, mor presteza,
E mais gente que pôde d'^!^ parte
A favor dos que estào no baluarte.
FKAKCISCO d'aXDBADB, PKIMEIEO CEECO DE DIU,
caut. 10, est. B2.
— Salteado.
— Sobresaltada a historia; interrom-
pido o lim d'ella.
— Cheio de sobresalto, de inquietação,
de desassocego, de susto.
Aqui, suando pois como um Cavallo,
Chega o Deão a tempo que o Porteiro
A porta da Clausura prompto abria,
E vendo do Ueào a gram fadiga.
Desta sorte lhe diz sobre/Kilfado.
• Que é isto, meu Seuhor"? Que estranho caso
Aconteceo a Vossa Senhoria;
Que por baixo da calma tào intensa,
A nossa caèa o traz tào afrontado ?
Matou acaso algum dos seus CoUegas ?
Roubou a Sacristia ? »
AXTOsio Dixiz DA CBCZ, HYssoPE, cant. õ.
SOBRESALTAR, r. a. Dar de salto,
de rebate sobre alguém.
— Tomar de improviso, surprehender.
saltear.
— Sobresaltar os j)ostos, cargos, gra-
duações; nào seguir de uns immediatos a
outros, saltar algum de entremeio; não
seguir a escala, a ordem estabelecida re-
gularmente.
— • Figuradamente : Sobresaltar a his-
toria; interromper o fio.
— Interprender, saltear.
— Sem sobresaltar ; sem passar o que
se segue na serie o logar a outrem.
— Sobresaltar-se, v. refi. Encber-se
de sobresaltos, de inquietação, de desas-
socego.— o Porem para que vos não en-
ganeis comigo, e para que vos não so-
bresalteis quando me vires tendo talvez
imaginado outra cousa, vos farey pouco
mais ou menos o meu retrato.» Cavallei-
ro d'01iveira, Cartas, liv. 1, n." 47.
SOBRESALTEADO, part. pass. de So-
bresaltear.
— Figuradamente : Sobresalteado de
prazer, de alegria, etc,
SOBRESALTÉAR, v. a. Assaltar, in-
terprender, accommetter de repente. j
— Sobresaltear-se, v. ref. Ficar ata-
lhado, assustado com damno inesperado.
SOBRESALTO, s. m. Salto súbito, ac-
commettimento imprevisto.
— Susto, desassocego, inquietação.
Não longe deste espesso c fresco bosque
Estaua o Capitão e sua companha
Quando o rústico Pão, no liure peito
Sente hum'altcração com que se afflige:
O coração cuberto de huma sombra
Escura sente o triste, a causa ignora :
Dalhe de quando em quando hum sobresalto
Que reuolto sem sangue o deixa, e frio.
COBTE SEAI., NAUFRÁGIO DE SEPÚLVEDA, Cant. 9.
Não presto ;
com sohrefalto qualquer
o animoso da mulher
nunca o verás manifesto
senão no que comottor.
AaTOKio PRESTES, AUTOS, pag. 133.
— Dar, accommetter de sobresalto ;
dar, accommetter de surpreza.
-^ Loc. ADV,: De sobresalto; de re-
pente, de improviso. — «Dalli íbraõ ter
a Cananor donde per conselho de Lou-
renço de Brito, por naõ tomarem todos
de sobresalto o Vice-rei. lhe mandarão
o recado per Pêro Danhaia.» Damião de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 2,
cap. 27.
— A turba em sobresalto ; a turba so-
bresaltada.
A turba em sobresalto então desperta.
Foge, e nas ondas súbito mergulha,
E sobr"ella se aplaina o mar fechado.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Cant. 3.
SOBRESARAR, v. a. Sarar superficial-
mente e iiàu jieia raiz.
SOBRESCREVER, r. a. Vid. Sobescre-
ver.
SOBRESCRIPTO, s. m. Vid. Sobescrito.
SOBRESEER, ou SOBRESER, v. n. (Do
latim suptrsedere). Sobreestar, esperar,
deter-se. parar.
SOBRESEJA. Forma do verbo sobreseer,
-na primeira ou terceira pessoa do singu-
lar do modo coujunctivo. Sobresteja.
SOBRESELLENTE, adj. 2 gen. Vid, So-
bresaleute.
SOBRESEMEAR, i-. a. Semear sobre o
semeado.
SOBRESENHO, s. m. Vid. Senho, e So-
brecenho.
SOBRESEVER, v. a. Vid. Sobreseer.
SOBRESIIMENTO, s. m. Vid. Sobressi-
mento.
SOBRESINAL, ou SOBRESIGNAL, s. m.
Signal sobre o vestido, exterior, á simi-
Ihança da cruz que traziào os cruzados
para a gueria do ultramar.
SOBEilSOLEIRA, s. /. Peça que fica
sobre a soleira do coche, das portas, etc.
SOBRESSALENTE. Vid. Sobresaíente.
556
SOBR
SOBR
SOBR
SOBRESSIMENTO, «. m. Tormo anti-
quíidi). l']<|K;r,'i, (Icuiora, oapai,'o.
SOBRESTANTE, ». m. (^lliciro, apouta-
dor, vif^ia ilo-i <|iio trabalham.
— Pari. (tcl. (Ic Sobrestar.
SOBRESTAR, ou SOBRESTAR, v. n.
Parar, doscoiitinuar, iiilo ir avante.
— Tdiua-sij tauibum como verbo activo.
Viil. Sobreestar, o Sobstar.
f SOBRESTE, A, cm vez do Sobre es-
te, a. — «1*013 tenho dito da grande
preparaçam que el Rei fez pêra man-
dar sobresta nobre cidade, parece ra-
zam trato alí^uma cousa do sitio, e an-
tiguidade tlclla, a qual, segundo dizem
03 escriptores Arábios, foi oditicada pe-
los Africanos, uuquella parte, o Prouin-
cia quo se chama Aduecala, na co8ta do
mar Oceano Athalantico a par da boca
de hum rio nauegavcl, a quo os mouros
chamam Ommirabih.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 3, cap. 47.
SOBRESUBSTANCIAL, adj. 2 gen. Mais
quo substancial.
SOBRETAL, adv. Termo antiquado. Fi-
nalmente, em conclusão.
SOBRETEIMA, adv. Com teima, perti-
nazmente.
— Obstinadamente.
SOBRETERRESTRE, adj. 2 gen. Que
está acima ou sobro a terra.
SOBRETOALHA, s. f. Toalha que se
coUoca sobro outra para resguardo da
primeira.
— Véo ou baetilha collocada sobre a
primeira toalha que cobre a cabeça.
1.) SOBRETUDO, s. m. Casacão, espé-
cie de capa que se veste sobre outra.
2.1 SOBRETUDO, adv. Vid. Sobre. —
— «Senlior, disso ella, quando vos des-
cobri a verdade destes enganos, já não
foi senão com determinação de estar a
toda vossa ordenança ; por isso peço-vos
que vos lembre que com isto perco mi-
nha mãi, meu património, e sobretudo
poder-se dizer por mim, que vendi o san-
gue de meus irmãos, pondo a vontade no
matador delles, e que por ventura tenl
a sua em outra parte.» Francisco de Mo-
raes, Palmeirim d'Inglaterra, c^p. llõ.
— íE sobretudo haviam por certo, que
suas lagrimas os remiram; e que á cus-
ta delhis foram comprados e tirados da
prisão.» Ibidem, cap. 123.
SOBREVENÇA, s. /. A acção de sobre-
vir, sobrcsalto, vinda inesperada.
SOBREVENTA. Termo antiquado. Vid.
Sobrevença.
SOBREVENTO, s. m. Cousa que cres-
ce, que sobrevem, o muda sendo impre-
vista a ordem das cousas; bem como os
ventos impetuosos que sobrevem e per-
turbam a navegação.
SOBREVESTE, s. /. Vestidura que se
traz sobro ontra.
SOBREVESTIDO, part. pass.de Sobre-
vestir.
SOBREVESTIR, v. a. Vestir por cima.
— Figuradamente : Vestir-se dos ex-
teri(jn;H.
SOBREVINDO, jjart. acl. do Sobrevir.
SOBREVIR, v. n. Vir, occorrer, acon-
tecer logo depois do outro auccesso, ou
(juando ainda dura. — «A qual mordendo
o beiço debaixo, a olhandoo com tcrribel
vista, parecia amcaçalo, ou pedir dellc
vingãça, e tão estraubu foy o temor, u
sobrcsalto que rccebeo, que dahi a pou-
cas horas lhe sobreveyo bum acidoutc de
ai)oplexia, de que morrco.» Monarchia
Lusitana, liv. CJ, cap. 11. — oO que aca-
ijado SC fez a vela aos xxv. dias do mes
de iVbril, e semlo ja quasi junto da linha
E(juinocial lhe sobrevierào calmarias que
duraram catorze dias.» Damião de (,!oes,
Chronica de D. Manoel, part. 2, cap. 2.
Ncsto tempo cm que ja maia de verdade
O imigo inoâtra a sua alta braveza,
tSnhreieio geral ouferinidado
Em quasi quantos ha na fortaleza :
Na boca ho todo o damno c adversidade.
Que a muitos trata então com tal crueza
Quo com dores iinmensas c excessivas
Orfàas o sós lhes ficào as gcngivaa.
F. DE AMDEADE, ruiMElBO OEBCO DE DIU, Oaut. 15,
est. 87.
— o Adverte porem este A. que isto se
deve obrar só nos termos em que o Phre-
nesi he essencial, e naij no que sobreveyo,
e se seguio a outra febre, como vg. ma-
ligna, ou ardente; porque neste caso ain-
da que acudamos â cabeça, ainda nos liça
por occurcr ao perigo que se diriva da
febre.» Braz Luiz d'Abreu, Portugal me-
dico, pag. 380, § 82.
— Acontecer. — aE pode-se dizer, que
se as partes acordassem antre si, que da
venda fosso feita Esoriptura pruvica, e
ante que fosse feita e acabada a nota do
estormento da venda, perecesse a cousa
vendida, pcrteeneeria toda a perda delia
ao vendedor, e despois da carta feita, to-
do o caso, que sobreviesse a cousa, pcr-
teeneeria ao comprador, ainda que lhe a
cousa naõ fosse entregue sem culpa do
vendedor : e semelhante se pode dizer em
quaaesquer contrautos, quo segundo di-
reito requerem notoriamente escriptura
pruvica.» Ord. Affons., liv. 4, tit. 46, § 4.
— «Ao qual negocio mandou estes Capi-
tães: Manuel de la Cerda, Simão d'An-
drade, Fero d'Aftbnseca de Castro, e Si-
mão Velho, todos em bateis com gente, e
apercebimento pêra qualquer cousa que
sobreviesse.» Barros, Década 2, liv. 8,
cap. 4.
— Vir depois de ter vindo uma vez.
— «Senão digo que ficando eu em tal des-
posição da sua delle, que possa entrar em
outra, que um por um a aceito com todos
três o com dez vezes três se tantos so-
brevierem e a mim a força o alento não
desempavar : e nenhum julgue cstas pa-
lavras por desnecessárias e mal ditas,
contra soberbos tudo se soffre e cabe nel-
les.» Francisco de Moraeí, Palmeirim de
Inglaterra, cap. 93. — € Finalmente elle»
iioiivcram todos de enpirar, Hen.*io sobre-
vieram osoutriLS Capitães, que lhes deram
a vida com o mantiiiicnt<j que traziam, e
ainda com assas trabalho chetráram aonde
Aflonso d'Alboquerque estava.» Barros,
Década 2, liv. ^, cap. 4.
— Vir do repeiite, sem ícr cftperado.
— Vir, dar sobro. — iD. João de
Attayde, como levava melhor navio, fiui
mettendo de ló tudo o que pôde, vendo-
se muitas vezes perdido, até que sobre-
veio a noite, com que se fez na volta do
Abexim, cm cuja costa espalmou o navio
no llheo de Meto, que faz froiite ás Ci-
ilades de Barbara, •• Zi;ila.t Jacintho
Freire de Andrade, Vida de D. Joào de
Castro, liv. 4.
SOBREVIRTUDE, «. /. Vio, usado por
certas fnirm sobre a toalhitdia.
SOBREVISTA, ». f. Prancha de ferro,
que se une á borda, que fazem os mor-
riõcs no ôco que está da parto do rosto,
a qual c como meia lua.
SOBREVIVÊNCIA, s. /. Vid. Supervi-
vencia.
SOBREVIVENTE, part. act. de Sobre-
viver. Que sobrevive a outro.
— Substantivamente : Um sobreviven-
te.
SOBREVIVER, v. «. — Sobrevivera ou-
trum ; veucel-o em dias, viver mais do que
elle, e por tempo depois da sua morte.
Eu não temo, — temer t de covardes;
Mas desanimo. Roma est-A perdida ;
E mou pae... e Catão não aobrevht
A republica. — Sou Romano, Juba;
E vejo, satisfeito, alçar-sc o golpe
Que uo altar da pátria badc immolar-me.
OAEBETT, CATÃO, act. 3, 8C. 8.
SOBREXCEDENTE, s. /. O que fica do
excesso sobre certa quantia determinada.
Vid. Sobreeicedente.
— Parf. act. de Sobreeiceder.
SOBREXCEDER. Vid. Sobreexceder.
SOBREXCELLENTE, part. act. de So-
brexceller. Vid. Sobresalente.
— Que é de superior excellencia. Vid.
Sobreexcellente.
SOBREXCELLER, v. n. Vid. Sobreexcel-
ler.
SOBRIAMENTE, adv. (De sóbrio, e o
sufiixo < mente» '. De uma maneira sóbria.
— Com sobriedade.
SOBRIEDADE, s. /. (Do latim sobrie-
tas). Temperança, mormente na bebida e
comida.
— Figuradamente : Saber com sobrie-
dade ; saber com modo, temperança, e
usar bem do bom saber.
— Syn. : Sobriedade, frugalidadt. Vid.
este ultimo termo.
SOBRINHA, s. /. (,Do latim sobrina),
A filha do irmào, ou irmã, com respeito a
tios, oa tias. — «A Raynha sua mãj lhe
SOBR
SOBR
SOBR
557
deu por isto as graças, e mãdou á cania-
reyra múr e a sua sobrinha que lhe bei-
jassem ambas por isso os pois, as quais o
lizerão assi, e cõ isto se recollieo a Ray-
nha para o seu aposento.» Fernào Men-
des Pinto, Peregrinações, cap. 142.
Porque, senhora sobrinha?
Por uada, senhor, que mente.
Tão luá sois de aor contente?
Que mente, por vida minha.
AUTONIO PRESTES, AUTOS, pag. 305.
SOBRINHO, s. m. (Do latim soòrinus).
O filho do irmào, ou irmã, com respeito
a tios, ou tias. — «Eu na verdade, disse
o do Tigre, quizera que a minha e a tua
se fizera primeiro, que pêra essoutro tem-
po fica, se o tu assim has por bem, senão
seja como tu quizeres. Senhor Palmeirim,
disseram Platir e Daliarte, não nos façais
esse agravo : lembre- vos que se vencer-
des Pavoroso, que ao outro dia não que-
rerão seus sobrinhos entrar em campo e
teremos de que noa temer. » Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 117.
— «N'isto trabalhou o gigante tanto que
lhe conveio deter-se um pouco por cobrar
alento, de que a do Tigre não pesou, por
ter espaço de vêr o ponto em que seus
companheiros iam : e viu que os sobri-
nhos do gigante andavam quasi desbara-
tados e tão fracos, que trabalhavam mais
por se amparar que por ofFender. » Ibidem,
cap. 118, — «E então baixando a lança
com toda a fúria, que os cavallos poJeram
levar, arrancaram elle e seus sobrinhos,
fazendo tamanho estrondo, que parecia
que a terra se fundia com elles.» Ibidem.
— «O cavalleiro do Tigre, vendo o gi-
gante no chão, se desceu com temor de
lhe matar o cavallo, dizendo : Aparta-te,
cousa torpe de teus sobrinhos, deixa a
elles, que bem tem em que entender em
si, façamos eu e tu nossa batalha, que
agora verás quão perto estou de te pedir
mercê.» Ibidem. — «Do qual Albaner te-
ve tempo de dar sua embaixada ao impe-
rador e lhe contar tudo o que na ilha
Profunda passara; a morte do gigante, a
cruel batalha que o cavalleiro do Tigre
houvera com elle, a de seus sobrinhos
com Beroldo, Platir e Daliarte; de que
Primalião e Gridonia estavam bem conten-
tes, vendo as altas cavallarias de seu filho. »
Ibidem, cap. 121. — «Este moto da diuisa
da do Infante, Talant de Bien faire : o qual
sinal leixou Aluaro Fernandez sobrinho
de loaõ (xonçaluez, capitão da parte do
Funchal na ilha da Madeira, que veo ali
ter, e pelejou cõ seis almadias de negros.»
Barros, Década 1, liv. 1, cap. 13. — «Dom
Affonso de Noronha seu sobrinho como
quem desejaua ver a noiua com que o
auião de desposar pola prouisaõ que le-
uaua d'ElRei de capitão da fortaleza que
se ali fezesse, com huns poucos de bes-
teiros, e espingardeiros que leuou em o
seu batel, e alguns homens que pêra isso
escolheo: tomou primeiro a terra, e come-
çou de encaminhar pêra a fortaleza.»
Idem, Década 2, liv. ] , cap. 3. — • «E em
outro junco vinha hum seu sobrinho, que
por ser homem de sua pessoa era temido
naquellas partes, e assi outros Jáos prin-
cipaes, trazendo todos voz que nos vinham
lançar da terra.» Ibidem, liv. 9, cap. 4.
— «Porém pêra ir lançar do castello Be-
nestarij hum tal imigo como nelle estava,
artilhado, e defendido com baluarte, tor-
res, e grande número do gente, que, se-
gundo tinham sabido, passavam de vinte
mil homens, não se podia fazer com tão
pouca gente, como então estava na ín-
dia : que prazeria a Deos que traria a seu
sobrinho D. Garcia de Noronha.» Ibi-
dem, liv. 7, cap. 1. — «Dizemme, que
alguns criados do Duque vosso irmão fal-
lão em el Rei meu senhor, que Deos ha-
ja, quomo não deuem, encomendouos que
sejão todos bem anisados, per vos, e meu
sobrinho, porque me pesara muito disso,
e certo se alguns ho fezerem receberião
de mi grão castigo, porque assi he razão.
Haja meu sobrinho esta carta também
por sua por ser mais em breue esse des-
pachado de minha mão, em Setuual a xxvj.
dias Dabril, El Rei.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 1, cap. 13.
— «Nesta armada do mar auia mais de
doze mil homens de guerra, de que era
capitam o Príncipe Naubeadarim, sobri-
nho, e herdeiro dei Rei de Calecut, e
por sota capitam Elancol Naubeadarim
senhor de Repelim, de modo que a gente
que nestes dous exércitos do mar, e terra
andaua em seruiço dei Rei de Calecut,
passaria de setenta mil homens de pele-
ja.» Ibidem, part. 1, cap. 86. — «Pêra o
que se fazendo prestes lhe deu hum mou-
ro, sobrinho doutro que tinha captiuo,
auiso de como a huma legoa a traues Dal-
medina estauão cinco de-tes aduares em
que poderia dar, sem o sentirem, offere-
cendosse por guia ate o poer sobrelles.»
Ibidem, part. 3, cap. 13. — «No mesmo
tempo que dom Goterre despachou dom
Fernando seu irmam pêra as ilhas de
Maldiua, mandou também dom loão de
nionrroi seu sobrinho correr a costa ate
Chaul.» Ibidem, part. 4, cap. 15. — «Ga-
nhada a cidade de Babarem Xeque ha-
met sobrinho de Mocri mandou pedir se-
guro ha António correa pêra lhe vir fal-
lar, sobre o qual se viram ambos, e lhe
entregou a ilha de Babarem, e a cidade
de que Catifa Raix xarapho logo tomou
posse em nome dei Rei de Ormuz, como
vassalo dei Rei dom Emanuel.» Ibidem,
cap. 63. — «Ministro antigo e estimado
da nobreza sem ódio do vulgo, cujas
boas partes no sobrinho se contragula-
vão.» Francisco Manoel de Mello, Epana-
phoras, pag. 21.
SOBRINO, s. VI. Termo antiquado. So-
brinho.
SÓBRIO, A, adj. (Do latim sobrius).
Temperado no comer e beber.
Os valentes pincéis, a fantesia
Qu' empregara Butíon, pintando ao vivo
O ginete fugaz, ou sóbrio, e forte
Pelo Deserto Arábico o camello,
Podem trai;ar o quadro portentoso
Dos pequenos reptis, qu' o domicilio
Trazem sempre comsigo.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Caut. 3.
— Figuradamente : Sóbrio nas pala-
vras.
f SOBRISSO. Em vez de Sobre isso,
— «Ao que acodindo Aluaro da costa,
que la andaua sobelo negocio do casa-
mento da Infante donna Leanor: de que
ja tratei, falou sobrisso a el Rei dom
Carlos, trazendolhe a memoria as alian-
ças, e parentesco delle com os Reis de
Portugal, e scbre tudo o do casamento
da Infante sua irmã com el Rei dom
Emanuel, e outras razões que moueram
el Rei a querer desistir desta empresa.»
Damião de Góes, Chronica de D. Ma-
noel, part. 4, cap. 37. — «Mas como este
negocio depois passou, e a sentença que
se sobrisso deu, eu nam pude alcançar,
nem saber das pessoas que la estavaõ
neste tempo, e depois estiueram ate que
os moiu-os depois do falecimento dei Rei
dom Emanuel tomaram esta villa do cabo
de guer per combate.» Ibidem, cap. 51.
SOBRO, s. m. Vid. Sovereiro, e Sobe-
reiro.
SOBROÇADO, lyart. pass. Vid. Sobra-
çado.
SOBROÇO, s. m. Vid. Sobreosso.
SOBROGAR, V. a. Vid. Subrogar.
■\ SOBROLHO, s. m. Vid. Sobreolho,
Também da antiga Escola o docto orgulho
Ficou confuso, no sobrolho austero
Em vão llie chammejou desgosto, inveja.
Debalde quiz cora tétricos clamores
Oppor-30 á prova esplendida, e sublime.
J. A. DE MACEDO, A XATDBEZA, Caut. 1.
Que depressa fugis, dourados dias !
Veio depois Filosofia austera.
Carregado o sobrolho, a tez sombria;
Desdenha flores, fábulas desdenha.
IDEM, MEDITAÇÃO, CaUt. 2.
D'Aguia volante ao paludoso Insecto,
Tudo consegue movimento, e ^ida.
Ou tudo 30 confunde, acaba, e perde :
Se Elle hum aceno faz, se a fronte inclina.
Se o sobrolho carrega, os montes fumão,
Inflaramão-se os Voleões, vacilla a Terra.
E, se a face serena ao Mundo amostra,
A pintura dos Ceoa se aviva, e brilha.
IBIDEM, oant. 4.
Ind' agora immortáes em ti descubro !
De caindo sobrolho, austero aspecto
Quantos sábios extáticos deviso,
Todos no grande pensamento envoltos
De encararem do Slundo o Author, e causa !
Este he só da scioncia augusto objecto,
He este dos mortaes só digno estudo !
IBIDEM.
558
SOCA
SOCO
SOCC
SOBROSADO, A, <idj. Tirante a lo-
8;i(li>.
SOBROSSO, í. m. SobrcosHO.
— IJh.isií tainbíMii 110 senti-lo titrunulo.
SOBSCREVER, c <i Vid. Subscrever.
— «E 011 Luiz TrciuessJío Escrivilu da
Caincra o iiiaiuloi escrever, o sobscrevi
por liceii\;!i ([ue para ella tenlio. Tcro
(.íodinbo. João lloilrifruos Paca. Ruy (lon-
çalvoH. Ruy ]>ias. .Iorf,'e Ribeiro. Mar-
tlioloiiiou l)i-i|io.» Jaciutlid Froiro d'An-
dra'U;, Vida de D. João de Castro, liv. ;].
SOBSTABELECER, c a. Vi.l. Substabe-
lecer.
S0B3TAR, i'. lí. Erro por Sobreestar.
Vicl. f<to termo.
SOBTERRAR. Vid. Soterrar.
SOBTHESOUREIRO, s. m. Vid. Sothe-
soureiro.
SOBTILHA, s. f. Vid. Sotilha.
S0BVER3Ã0, s. f. Vid. Subversão.
SOCA, .v. /. No Brazil j)laiita-se a can-
na do assacar, e a primeira producçào
diz-se /jlíinta, ou caiiiia de regos; corta-
da ella, do.-í pés que ticam ein turra bro-
ta outra iiovidaile, <|ue se chama soca, e
d'esta cortada torua a brotar a resoca.
— Não ter nem soca ; uào tor nem um
ccitd.
SOCADO, jxirt. pass. de Socar.
— Hiiiiiiin socado; liomem dubiado, re-
feito, bem conservado.
SOCAIRO, s. m. Termo de náutica.
Amai ra do popa.
— //• no socairo de alguém; seguin-
do-o.
— Ao socairo ; á ré, por detraz da
popa do navio.
— Figuradamente: /)• ao socairo dn
forSalf.za; amparado com ella, por detraz
d'ella.
SOCALCO, í. m. Porção de terra susti-
da, talhaudo-se a pii[ue, ou em talud
para fazer no alto peipieuas planícies, em
terras utontaosas, ou naa encostas, de ma-
neira que vae ticaudo como em degraus.
Vid. Surriba.
SOCAPA, i)u SOBCAPA, adv. Com capa,
côr, j)retexto.
— Furtivamente.
SOCAR, V. a. Sovar, amassar muito al-
guma cousa, de modo que tique endure-
cida.
— Dar mui'ro3. — »Tu és quem nos ha
de informar de quem e quem n.ão anda
amancebado.» Escusou-se o criado. Tei-
maram. Até quo o socarão, lingindo-se
simples, lhes arrumou com esta.» Bispo
do (irão Fará, Memorias, publicadas por
Camillo (^astello Branco, pag. 118.
f SOCARIO, s. «I. Termo de náutica.
Aman-a com arganóo, ou espias de amar-
ra (la iiõpa.
SOCARRÃO, ONA, adj. Velhaco, enga-
nador, astucioso.
— Substantivamente: Í7íií socarrão.
SOCAVA, s. /. Cava subterrânea por
baixo de monte, ou em profundeza.
SOCAVADO, i>nrt. 2>uss. do Socavar.
C'avado piir baixo.
— Extraliido da» minas, de excava-
(;õ(!->, c.tc.
SOCAVÃO, s. 7/f. Augiiioutativo de So-
cava.
SOCAVAR, V. a. Cavar por baixo.
— l'!xtialiir de excavações da terra.
f SOCCEDER, V. n. Vid. Soceder. —
«E se nestes ilias Floiendos e Palmeirim,
nem Dramusiando nilo eram alli vindos,
foi por muitas e mui grandes aventuras,
(pio llie soccederam; que a virtude de ne-
cesáiilade os obrigava seguir: que isto é
natural de coraçòus nobres, polas aflron-
tas allieias esquecerem as cou.-as de seu
gosto.» Francisco de Moraes, Palmeirim
d'Inglaterra, cap. S.').
SOCCESSIVAMENTE, adv. Vid. Succes-
sivaiueute.
SOCCO, «. IH. (Do latim soccus). Cal-
çado vulgar e baixo, em opposiçào ao co-
thurno trágico.
— Membro do pedestal das columnas,
o qual é como uma base (Pelle.
— Base de cruzes, relicários, etc.
— Dá-se este nome também em algu-
mas cidades do Douro aos tamancos. Vid.
este ultinio termo.
— An.vGios E PRGVEiimos:
— Viu-se o demónio em soccos, e quiz
pizar (18 outros.
— Não é bom fugir em soccos.
— Pés tortos não hào mister soccos.
SOCCORREDOR, A, adj. e s. Que soc-
corre, que dá auxilio, ajuda. — Deus
soccorredor d't humanidade.
SOCCORRER, ou SOCORRER, v. a. (Do
latim iííccíí)-)-c)-tM. Ajudar, acudir, dar
soccorro, auxilio. — «Vendoso Jlaxencio
obedecido em Roma, e morto o Einpera-
dor (-ialerio, se deu a tantos vicios, e
aboiniiiaçoens, que Coustãtino compade-
cido das (jueixas que cada dia lhe che-
garão de Roma, determinou socorrela,
e tirar do Mundo aquelle novo monstro,
que o começava a tyranizar.» Monarchia
Lusitana, liv. 5, cap. 24.
Polo livrar
As VirgLMiâ qiiei-o chíimar.
Que Uic qufirào soecorrer,
Ajudar e consolar.
Que Cdt.-i ja para acabar
De morrer.
QIL VICENTK, FABÇAS.
— «Traz estas palavras lançou tantas
lagrimas quantas lhe pareceram necessá-
rias pêra dar côr ao que dizia, dizendo
mais. Peço a vossa A. que com o animo
real, com (|ue sempre favoreceu os tris-
tes, me soccorra na maior sem razão o
aggravo, que se nunca fez a homem.»
Francisco do Moraes, Palmeirim d'In-
glaterra, cap. 113. — «Xestc tempo, ven-
do o gigante que os seus eram destroça-
dos de todo, se começou concertar na
sella com tenção do ob soecorrer, e sa-
tisfazer Bua ira. O cavalleiro do Tigre,
que tê entãu estivera vendo as obraa de
seu» amigos, que a «eu parecer eram
muito pêra is»o, quando viu que o gi-
gante He fazia prcKtes, temendo que com
sua checada ti/.es.se al:;am damno, lhe
Bahíu diante, dizeudo.» Ibidem, cap. 117.
— «Tornando em seu acordo, lhe pergun-
tou quem era, e elle respondeu : Senhor,
a mim me chamam R<Jcamor; sou amigo
daquelles cavalleiros que vencestes da
outra banda do rio ; e porque vi que lho
não podia soecorrer, quiz catar remédio
pêra voa fizi-r al(rum j>esar, e este dese-
jo me fez lançar mão desta doiizeila pêra
a levar.» Ibidem, cap. 128. — • Passan-
do por baixo do apouseiito da imperatriz,
viu sua senhora, de que teve tamanho
Bobresalto, que algum espaço Hcoa fora
de si, mas o esforço que nestes tempos
soccorreu, o tornou em seu acordo. »
Ibidem, cap. li>4. — «Florendos, seu fi-
lho, foi o primeiro, que se deceo acom-
panhado, e logo Palmeirim, que antre
todos os christãos foi o que maior estra-
go fez nos imigos, que i»or sua mão ma-
tou dois gigantes e outros cavalieiros fa-
mosos, soccorrendo seus amigos e salTan-
do-03 das graniles pressas com assaz der-
ramamento de seu sangue.» Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 169.
— «Mas encaminhando pêra o palmar,
vio a gente que bia nos bateis de Afon-
so Dalbuipierque andar em terra, do que
])osto em duuida a qual das j^artes so-
correria, determinou fazello aquella, on-
de foi cometer os nossos sem nenhum
medo, com hum esquadrão de fartaques,
bom armados, e elle vestido, de hum lau-
rel de laminas cuberto de cetim creme-
íiin, com huma ceilada dourada na ca-
beça, e no braço huma muito boa adar-
ga, com huma espada cengida. laurada
de tauxia douro, e prata, e na mão hu-
ma azagaia.» Damião de Ooes, Chronica
de D. Manoel, part. 2, cap. 23. — «E
deu-lhe conta da noua que lhe viera, e
como tinha determinado de com todo sen
puder socorrer aos cercados, e como to-
dos os que presentes estauão por murtas
razões lhe aconselhauào, que em nenhu-
ma manerra passasse em pessoa.» Gar-
cia de Rezende, Chronica de D. João 11,
cap. 'è2. — «Rumecão, cumo este era o
primeiro favor que lhe derào as armas
nesta guerra, com louvores, e promessas
accendia o orgulho dos Turcos. Entre os
nossos se derramou huma voz, que o ba-
luarte era ganhado, e esta fama, ou fos-
se ardil, ou caso, pudera perder a For-
taleza, porque os quo nas outras estan-
cias peleijavão, quasi tinhão desampara-
do os postos por soecorrer o baluarte,
que hariào perdido.» Jaeintho Freire de
Andrade, Vida de D. João de Castro,
lir. 2. — «Quiz a Rainha D. Berongei-
ra de Castella como tia sua, irmã de soa
socc
socc
socc
559
mài, soccorrello com amoestações, e con-
selhos, e dar-lhe mulher, nobreza, e go-
verno conveniente ao estado, e conàiçaõ
de suas cousas.» Fr. Bernardo de Brito,
Elogios dos reis de portugal, continua-
dos por D. José Barbosa.
Vai-se-mc o dia som vêr
meus pobres, proriraos meus;
quom podesse nào perder
ponto de lhes soccnrrer,
pois 03 bens nossos são seus.
AKTONIO PRESTES, AUTOS, pag. 83.
De continuo, o dietame do meu Bispo
Ante olhos tinha ; instava-mc o Desejo
Do soccorrer, com pia dextra, os miscros ;
E pedia, em mercê, lance opportuno
Mc deparasse Deos ; interessando
Com Christo, ao bom Diniz, seu tam valido.
F. M. DO NASCIStEXIO, OS MAKTTKES, 1ÍV. ~i .
— Soccorrer o seu escudo. — «E como
Dramusiando se partira em busca delle,
maltratado de muitas feridas, sem con-
sentir que o curassem delias, affirmando-
Ihe mais polo alvoroçar que Miraguarda
não esperava que ninguém soccorresse
o seu escudo senào elle, mandando-lhe
que o fosse catar, e que por seu manda-
do o fazia.» Francisco de Moraes, Pal-
meirim d'Inglaterra, cap. 72.
— Soccorrer-se, v. rejl. Recorrer pe-
dindo auxilio, remédio, valer-se de al-
guém. — «Floriano, que não achava a
quem em tal passo se soccorresse, en-
commendava suas cousas á fortuna, co-
mo a quem de todos é senhora.» Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 94. — «Por certo, inda que Barro-
cante e seus companheiros em tal extre-
mo se vissem, nem por isso os da outra
parte deixavam de cuidar o mesmo, que
o cavalleiro do Dragão naquella hora se
soccorria a sua senhora, e desconfiado
de se ella lembrar delle, consolava-se,
havendo por cousa leve soífrer morte
quem com trabalhos passou a vida.» Ibi-
dem.
— Soccorrer-se dos cotos, dos braços;
valer-se, ajudar-se.
— Soccorrer-se ás lagrimas; valer-se
d'ellas, ajudar-se.
— Soccorrer-se dos dentes; para de-
fender-se.
SOCGORRIDO, part. pass. de Soccorrer.
A quem se deu soccorro, auxilio. — «Suc-
cedeo Rumeeão ao Pai no ódio, e cargo,
continuando a guerra com a obrigação de
General, e sentimento de filho, tão em-
penhado pela dor, como pelo officio. Man-
dou continuar por seis partes o entulho
da cava, sendo por horas soccorrido o
exercito de gastadores, bastimentos, mu-
nições, e soldados, crescendo por toda a
parte a obra que Rumeeão esforçava, co-
mo disposição para nos dar o assalto.»
Jacintho Freire d'Andrade, Vida de D.
João de Castro, liv. 2.
Cumpre, Senhor, que seja em breve espaço
De Diu a fortaleza soccorrida,
Porque a arente que tinha, ou do Turco aço
Ou do trabalho he muito consumida ;
Tal que ja o Lusitano invicto braço,
Ja a força Lusitana hc constrangida,
Para ter di_'fenãào a fortaleza,
Tomar favor da feminil fraqueza.
F. D'ASDItADE, TRIMEinO CKECO DE DIU, Cant. IG.
est. 75.
— «Parou o móbil; e, dando ella um
passeio para uma das janellas, e abrindo
as vidraças de cristal que em frisos de
oiro cabiam para uma galeria de pintu-
ras originaes, appareceu-ltie o príncipe
regente a explicar-liie as suas intençOes,
com a energia diabólica de que era soc-
corrido ; porém a dama, fumegante d'ira,
accLidiu.» Bispo do Grão Pará, Memo-
rias, publicadas por Camillo Castello
Bra'.!ci', pag. 9o.
SOCCORRIMENTO, s. m. Yid. Soccorro.
SOCCORRO, ou SOCORRO, s. w. O adju-
torio dado a alguém, d'aquillo cuja fal-
ta lhe causa detrimento, e pôde ser-lhe
causa de grande mal, e ruina. — < Por
esperar socorro do Galiza, e de outras
partes, com quo os foy demandar a hum
lugar que o Arcebispo chama Lucos, que
em latim quer dizer bosques, e os três
Prelados lutos, que quer dizer lamas.»
Monarchia Lusitana, liv. 7, cap. 11. —
«Por esta ra-ào os houveram sem nenhum
impedimento; e havia só dez dias, que os
acabaram de ganhar : e porque na corte
de Inglaterra naquelle tempo estavam
poucos cavalleiros, não lhe viera té en-
tão nenhum soccorro.» Francisco de Mo-
raes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 106.
— (tPor certo, senhora, respondeu elle,
se tirar-vos a vi')s delia havia de ser pêra
me vêr a mim n'outra mór, melhor me
fora ter por fazer este soccorro, inda que
d'outra parte o contcntanievito que tenho,
de o ter feito, quero que me fique por
satisfação de minha pena.» Ibidem, cap.
128. — «E parece que ordenou Deos que
este caso fosse mães leve, do que era na
opinião dos nossos com hum socorro que
o Hidalcào mandaua aquella noite de
muito mães gente, cuidando elle que assi
estaua a fortaleza mães segura, que os
dias passados.» Barros, Década 2, liv.
5, cap. 6. — «Haveria neste tempo den-
tro na Cidade Goa té ndl duzentos e
cincoenta homens de peleja, os quatro-
centos e cincoenta Portuguezes, em que
entravam trinta, que logo com o novo
cerco de Pulate Can Diogo Corrêa Capi-
tão de Cananor mandou em soccorro, de
que vinha por Capitão Francisco Pereira
de Berredo, e todolos mais eram Cana-
rijs da terra.» Ibidem, liv. 6, cap. 9.
— «Christovão de Brito leisando alli a
gente darmas que levava ordenada pêra
andar na índia, com a necessária á sua
navegação se partio pêra Cochij a tomar
carga de especiaria já em Novembro, e
na paragem de Baticalá achou D. Aires
da Gama, que com a nova que teve do
estado de Goa, também hia ao socorro
delia.» Ibidem, cap. 10. — «Em este es-
tado o tomou a entrada dei Rei de Sevi-
lha que veio assolando quanto os dous
males deixarão vivo, e ganhando muitas
forças a que senaõ pode dar soccorro,
pelo que lhe conveio assentar tregoas por
cinco annos com os inimigos, e dar nes-
te meio tempo algum allivio a seus vas-
sallos.» Brito, Elogios dos reis de Por-
tugal, continuados por D. José Barbosa.
— «Assentado que se desse aos Venezea-
nos o soccorro que pediam mandou el
Rei que tomassem da armada que tinha
prestes pêra sua passagem trinta nãos,
nauios, e carauellas dos melhor esquipa-
dos, e artilhados, de que deu ha capita-
nia a Dom loam de Menezes, filho de
dom Duarte de Meneses Conde de Vian-
na, capitão que fora Dalcacer, e alfei ez
mór dei Rei Dom Afonso quiitn.» Da-
mião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 1, cap. 51. — «Mas vendo Iheabon-
tafuf o pouco socorro que lhe mand.aua
Nuno fernandez, se foi de huma sua vil-
la, per nome Cernu, de que lhe el Rei
dom Emanuel fezera mercê, pêra Cafim,
com toda sua casa, e gente de guerra
bem ordenada, deixando todolos poços do
termo, a duas, e três legoas eritupidos, e
outros clieos de trigo, bestas moitas, e
outras çugidades, no que se detene tan-
to.» Ibidem, part. 3, cap. 5. — «Assen-
tou que o mais certo caminho era aliar-
ssc com Afonso Dalbuquerque, pêra lan-
ç-ir da cidade a el Rei, parecendolhe que
o mesmo faria depois a Afonso Dalbu-
querque, por ser estrangeiro, e lhe nam
poder vir soccorro se nam da índia.»
Ibidem, cap. 24. — «Sabendo dom loão
o propósito com que uinha Moleinacer
Rei de Mequinez, e que a mor parte da
sua gente era ja passada anisou el Rei
dom Emanuel per suas cartas, pedindo-
Ihe soccorro, que lhe logo mandou, mas
delle não ouue necessidade, por Moleina-
cer se nam atreuer a uir poer o cerco.»
Ibidem, cap. 51. — «Depois de dom Pe-
dro ter feita esta entrada, vieraõ nouas
per via dos mouros de pazes, que el Rei
de Fez determinaua vir em pessoa sobre
çafim, do que dom Nuno avisou el Rei
dom Emanuel pedindolhe socorro.» Ibi-
dem, part. 4, cap. 23. — «Embarcado o
Governador, achou-se com treze fustas,
porque áquella hora lhe chegaram três de
Cananor, cheias de muita, e boa gente,
cujos Capitães eram Francisco Mendes
de Braga, Martim da Silva, e Jorge Vaz,
que D. João Deça lhe mandava de soc-
corro; porque tanto que teve vista da
Armada do (iovernador, e vendo arran-
car a do inimigo da terra, despedio os
navios.» Diogo de Couto, Década 4, liv.
õ, cap. 3. — «O Ciovernailor ficou nego-
ciando o mais soccorro com muita prés-
560
SOCC
socc
SOCE
Ba, e três dias depois de D. Francisco do
Menezes foy fazer à V(!la seu íilho, que
sahio pela barra do (loa a velha, despe-
dindo-o com inuitas bi!n^'oens, escreven-
do por elle a I). .Toaõ Mascarenhas, e do
novo a 1). Fraiicisco de Monezos (sem
embarpi do Itio jà tor podido) ()ue alli
lho mandava D. Álvaro de Castro seu fi-
lho ])cra nSo fazer maia fiiic o que ellos
lho mandassem, e assim lho dou a ello
por rcfjimento.» Idom, Década (i, liv. 2,
cap. 7. — «Os nossos ficarão muito alvo-
roçados com esto soccorro, porque al-
guns mantimentos lhes levàraõ as n;Vis
c5 que se romeiloàraiS. 1). Fedro da Sil-
va vondo que a falta dídles hia por tlian-
to, e que não tinlia esiieranças de lhe vi-
rem da Jaoà, deu busca nas casas, e re-
colheo tudo o que achou, e o ineteo em
almazons.» Ibidem, liv. 9, cap. 8. — «E
foi tcão incansável a dili<íoncia com que
80 aprestava, que em brevíssimo tempo
so poz do verfía (Taito tola a armada, e
8Ó lhe faltavão os soccorros do Cananor,
e Cochini para levar-sc; porque era tal o
amor, o obediência com que lhe assistião,
que as Donas, o Cavai loiros de Goa lhe
vinhão oflerecer os filhos, e a fazenda;
levando esta armada tantas beiíçàos do
Povo, como outras soem levar la<rrlmas,
e queixumes.» Jacintho Freire d'Andra-
dc, Vida de D. João de Castro, liv. 2.
— tMoJatecSo, que tinha vindo ao exer-
cito cora hum soccorro prrosso, e do va-
lor dos Fortu^uezes fallava com despre-
zo, formando diflforontc juizo com as ex-
porioncias doste dia, dizia, que crão di-
gnos de que os servissem as gentes. » Ibi-
dem, liv. 2. — (iQue senão querião tomar
a fiar da vibora, que huma vez os morde-
ra; porque se os quizéra matar quando
obrigado de hum grato soccorro, que fa-
ria quando offcndido na injúria de sou
exercito affrontado?» Ibidem, liv. 4.
— Ir de soccorro a ali/uma pessoa, ou
cousa; auxilial-a, correr cm seu auxilio.
— « Causou em Ba^aim grande alvoroyo a
nova dos Turcos, e se começíiraõ a fazer
algumas pessoas prestes pêra hirem de
soccorro a Ormuz, c primeiro que todos
foy António de S;\ o Rume (iium Fidalgo
em quo muitas vezes temos falado nestas
nossas Décadas).» Diogo de Couto, Déca-
da (5, liv. 10, cap. 5.
— Mtuu\ões de soccorro. — «Este dia,
crescendo o tempo, começou a eassear o
caravclão, o trincou duas amarras ; e
como era baixel tào importante, por tra-
zer as munições do soccorro, tentou D.
Álvaro acodir-lhc ; o por mais quo traba-
lharão os marinheiros, não pudérâo chc-
gar-lho com a força do tempo.» Jacintho
Freire d'Andrade, Vida de D. João de
Castro, liv. 2.
— ■ Auxilio, adjutorio, recurso. — «Se-
nhora, este soccorro agraílccei ao se-
nhor Florendos que ahi cstà, pois o fez,
que eu por minha desventura jil o não
faço a ninguém, nem posso trazer armas.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 90. — «Senhor, disso elle,
com voz tão fraca o cansada quo quasi se
não ouvia; pois cm vossa casa esteve
sempre certo o soccorro pcra aquellcs
quo o hão mister, não creio que a mim,
que disso tiuilu' maior necessidade, nie
faleça.» Ibidem, cap. 113. — «Com esta
tíMição se saiiir.am desta terra, c obrando
segiiixlo o«)stnnio do seus passados, adia-
ram o mesmo que buscavam, que era o
mesmo cavallciro do Salvarem, que os
matou em batalhas iguaes como esforça-
do: j)arece que o criou Deus pêra soccor-
ro de muitos e amparo destes povos, que
tanto tem)»! viveram mal aventurada-
mento.» Ibidem, cap. 117.
Se o .inci-nrrn dliiim tubo, c hum frapil vidro
I.he aproxiiiKisso o Cco, í|Uí»iito9 prodígios
Aos absortos raortíics manifestara!
J. A. DE MACBnO, VIAOEH KITATICA, Ctint. 2.
— Vir ao soccorro ; diz-se de alguma
empreza particular.
— O que se dá a soldados, o mari-
nheiros do real serviço, quando ostão nos
hospitacs, c se lhes abate nos soldos dos
que o ))orcebem doentes mesmo.
SOCEDER, V. a. Vid. Succeder. — «De
quo a principal causa, segundo se disse,
foy, a inveja de seis ou sete homens que
querião presumir de fidalgos que se acha-
rão aly presentes, os quais tendo para sy
que se Deos permittisse que este negocio
socedesse como se esperava, o João Cayey-
ro si) (a quem os mais não tinhão boa
võtade) ficaria daquy eõ tíimanho nome e
tanta honra, quo seria pouco.» Fernão
Mendes Finto, Peregrinações, cap. 148.
— «E como hum erro seja inuite doutros,
socedeo que ao outro dia, fomos sempre
caminhando à vista destas Ilhas das quacs
estauamos afastados seis legoas, sem nun-
ca as conhc^.'cnnos.í Fr. tlaspar de S.
Bernardino, Itinerário da índia, cap. 1.
— «Forão socedendo por morte de Moa-
uia outros muytos no Halifado, como fo-
rão (^eizid, Abdalã, Abdimelech, Zula-
mo, Aomar, (íeizid sejíundo deste nomo,
Euclide, e Ocizid terceiro, loès, Ma-
ruam, Abubalà, Abc<lel;i, Abdalà, Maha-
ineth, Madis, Moyscs, Arão, Mahamet
segundo, Abdalà segundo deste nome ; e
Mahamad, e outros que vão socedendo
que não digo por não ser molesto. • Ibi-
dem, cap. 20. — « Deixando toda a Fer-
sia tam desaliuada. couio ficou Roma cõ
a morte do cruel Nero. Socedeulhe seu
irmão !Mahanieth Cudabende, ta amigo
'le damas, como imigo das armas, por
cuja floxidade, se pordeo Tauris com ou-
tras niuvtas Cidades: tè que finalmente
vcyo a morrer de sua doença. » Ibidem,
c^p. 21. — «Neste tempo .andauaõ os nos-
sos, por fazer grande calma, todos nus
nadaudo, e pescando aos cagados e outro
peixe, o era tamanha ha grita, e matina-
da que faziam por lhes a pesca soceder
bem quo a ouuio Hamclix, sem o clles
verem, c os tomara todos as mãos, se da
villa nam repicaram, c tiraram com bur
ma bombarda (grossa. ■ Damião de Goefl,
Chronica de O. Manoel, part. 4, cap. 47.
— «Escrevo, porem s<juunto para dizer a
V. S. quo nesta occasião so enganou co-
migo, c que isso ra'-«mo lhe ha de soce-
der em outras nmitas, se se nlo emmcn-
dar do fascr promessas sobre a minha
jialavra antcA de lha eu dar com a mes-
ma segurança com que difro que sou Ami-
f;o e Servidor de V. S. » Cavalleiro d'0-
liveira, Cartas, liv. 3, n." 31. — «Diseia
que faço grande profusão dos meiu elo-
gios. Creyo quo considcraes a minha po-
bresa, e não o vosso merecimento). For
pouco que despenda hum homem de pou-
cos bens, socede muitas visses ser accu-
sado de pródigo.» Ibidem, n.* 59. — «E
em aqucUe tempo que nesta villa estive,
socederam em elle dous hirmãos per mor-
te do rcy, o ambos estavam desavindo*,
e tinham grande guerra hum contra o ou-
tro.» António Tenreiro, Itinerário, capi-
tulo 26.
SOCEGA, *. /. Uma porção de vinho
que se toma para conciliar o aomno ; era
um dos agasalhos da antiga hospitalida-
de, de que se diz que ha vestigios ainda
agora em al)ruma« casas religiosas.
SOCEGADAMENTE, adv. (De socegado,
e o sufHxo «mente»). De um modo soce-
gado, trai;quillo.
— *. Quietamente, tranquillamente.
SOCEGADO, paH. pas$. de Socegar.
— Descanç-ado, que tem socego. —
<Cnmeçou-se a atear a nossa com o ca-
minho que ora socegado ; e, como o es-
tudante me conhecia de muito tempo,
não me faltou credito com os companhei-
ros.» Fernão Soropita, Poesias e prosas
inéditas, pag. 24. — «Apagado o fo^o
em que Florendos ardia, e elle tomado
em seu acordo e força como antes, e to-
da a gente socegada, o imperador e im-
peratriz com os outros príncipes e prin-
cezaa se tornaram a sentar, praticando
no inedo e temor que Ihea pozera aquel-
la aventura. » Francisco de Moraes, Pal-
meirim dlnglaterra, cap. 93.
SOCEGADOR, A, adj. e *. Que socega.
— tíomnit socegador d« cuidado» roedij-
res: que ílescança, aliivia, aquieta.
SOCEGAR, V. a. Aquietar, de*cânçar.
— < Forem o cavalleiro que a levava, pê-
ra que lho não podesse dar, mandou-lhe
cortar as pernas ao cavallo, que o achou
pascendo no campo, de maneira que sen-
do-lbe forçado seguil-o assim a pé, quiz
sua ventura o alcançou antes de meia lé-
gua, que como Arlança fosse forçosa e
irrande. não jnxlia o escudeiro tanto so-
cegal-a, que não se deitaíise muitas vezes
do jialafrem ; e antes que a tornassem
subir, fazia alguma detença.» Francisco
SOCE
SOCI
SOCI
561
de Moraes, Palmeirim dlnglaterra, cap.
128.
— V. n. Ter socego.
Já na cidade Beja vae tomar
Vingança do Trancoso deatruida
Aôbnso, que não aabo socegar,
Por estender co'a fama c curta vida.
cAM., Lus., cant. 3, est. <54.
Deixa Paulino, deixa a travessura^
Do jogo, a que te arrasta o gonio inquieto :
Socega hum pouco mais, c circunspecto
A orgulhosa paixaõ vencer procura.
ABB.4.DE DE JAZESTE, POESIAS, tOm. 2, pag. 85.
Coração que não socega
á fó que tem quem o chama.
Ah ! desconfiada dama !
cora quem por tão seu se emprega
daes do mim muito m;l fama.
AKTOSIO FRUSTES, ADTOS, pag. 290.
Mas em quanto o canhão profano e horrendo
Nos logarcs que digo a fúria emprega,
O Turco o baluarte combatendo
Que combateu mil vozes, não socega ;
E com quanto o Christão sempre vencendo
De seu desejo ao Turco o efeito nega,
A victoria porém sempre lhe vinha
Com perda da melhor gente que tinha.
r. d'andrade, FBiJiEiBO CERCO DE DIU, caut. 7,
est. 57.
A minh'alma socfga. Hum Deos conheço
Que 8(5 pode os desejos infinitos
De meu peito abastar. A Natureza
Mc leva, me conduz ao Thvono augusto,
E nesta vasta máquina deviso
Da vista do Immortal gravado hum raio.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Cant. 4.
— Deixar modo de vida irregular; dei-
xar-se de desordens, turbulências.
— Deixar de ter dores, desassocego
da doença.
SOCEGO, s. m. Quietação, descanço,
tranquillidade do espirito, e do corpo
adormecido. — «E vendo um temor tão
geral em todos, temia algum desastre a
seu senhor; isto porque lhe lembrava o
pouco socego que a fortuna tem.» Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 98.
Também longe éra Eudóro, de socego,
Na ára da Cruz depunha a interna augustia :
A Deos, que encobre os seus desígnios, preces,
Austeridades d(')bra. Mas, vislumbrão-lhc,
Por entre pranto amargo, c penitencias,
Alabastrinos braços, tranças de évano.
Meneio airoso, graças, que de Homero
Ornão a Filha.
F. M. DO NASCIMENTO, OS MABTTKES, llV. 8.
— Stn. : Socego, quietação. Vid. este
ultimo termo.
f SOCESSAM, s. /. Vid. Secessão. —
«E porque el Rey hia a casar a Castel-
la, determinou logo ahi, e o deixou assi
assentado, que sendo caso que elle ouues-
VOL. V, — 71.
se filhos da Raynha, e o Príncipe fale-
cesse primeiro que elle, que a socessam
do Reyno ficasse ao Infante dom Aftbn-
so seu neto, e logo ahy o declarou por
seu herdeiro, e deixou ordenado que o
jurassem, como logo dahi a pouco com
muyta solemnidade todos jurarão por her-
deiro dos Reynos de Portugal, e dos AI-
garnes.» Garcia de Rezende, Chronica
de D. João II, cap. 8.
SOCESSÃO, s. /. Vid. Sucoessão. —
«E então lhe deu ElRey por divisa a
Espera, cousa que parece de mistério, e
profecia : porque lhe deu a Esperança de
sua Real secessão, como ao diante se
seguio, auendo entào muytas pessoas vi-
vas, que antes delle eraõ herdeyros : 03
quaes todos depois falecerão, para elle
vir henlar.» Garcia de Rezende, Chroni-
ca de D. João II, cap. 46. — «E con-
certou-se também o casamento do Prín-
cipe, que com a Infanta dona Isabel fi-
caua desatado de se fazer com a Infanta
dona loana, e que se lhe daria mayor
dote, por hum grão que mais era alonga-
da na secessão de Castella, que a In-
fanta dona Isabel.» Ibidem, cap. 35.
SOCESSOR, s. m. Vid. Successor. —
«Porque os matrimónios devem seer li-
vres, e 03 que som per prema nom ham
boa cima, porem estabelecemos que nós
nem nossos Secessores nom costranguam
nenhum pêra fazer matrimonio.» Ord.
Affons., liv. 4, tlt. 10, § 1.
SOCHANTRADO, s. m. A dignidade de
sochantre.
SOCHANTRARIA, s. /. Officio de so-
chantre.
SOCHANTRE, s. wí. Official ecclesiasti-
co que entoa no coro nas fixltas do chan-
tre; preside ao canto.
SOCHANTREAR, v. n. Exercer o officio
de sochantre.
SOCHIAR, V. a. Vid. Esconder.
SÓCIA, s. f. Vid. Sócio.
SOCIABILIDADE, s. f. Disposição inna-
ta que tem os homens e muitos outros
animaes a viver em sociedade.
— Modo próprio ao homem de viver
em sociedade. — Os grandes j)rincipios
da sociabilidade.
— Qualidade do homem social.
SOCIAL, adj. 2 çjen. (Do latim socia-
lis). Que diz respeito á sociedade. — Um
dos vícios do corpo social.
Tanto estender o circulo das luzes
No estado social o génio ]5(5de !
Foi correndo da rústica choupana,
Por gradações sem numero, ás soberbas
Muralhas do Babel, de Tyro ao fasto,
E gigantescos Pórticos.
J. A. DE M.ÍCEDO, MEDITAÇÃO, CaDt. 1.
Oh portentoso Eg3-pto ! em ti contemplo.
Em ti de^^30, c estudo a espécie liumaua,
E me sei conhecer na origem minha.
No primitivo, o social estado !
Destas imagens do terror desvio
Para objecto mais grato a mento ; c a vista.
Menos ferozes, menos esquecidos
Da antiga sujeição, do império antigo.
Vejo mansos quadrúpedes, que aos homens
Na vida social serviços prestão.
IBIDEM, cant. 3.
— Que convém, que é próprio á socie-
dade.
— Próprio de sócios. — Social coimnu-
nicaqão.
— Termo de historia romana. Guerra
social; famosa guerra que começou no
anno de Roma 661, e que teve por fonte
o desejo que os alliados de Roma tinham
de se tornar cidadãos romanos.
— Syn. : Social, sociável. Vid. este id-
timo termo.
f SOCIALISMO, s. m. Systema, que
subordinando as reformas politicas, oífe-
rece um plano de reformas sociaes.
f SOCIALISTA, s. Partidário de um
systema de reformas sociaes.
— Adj. Que diz respeito ao socialismo.
— OjiiniZcs socialistas.
SOCIALMENTE, adv. (De social, e o
suffixo «meute»). Em sociedade.
— Relativamente á sociedade, á scien-
cia social.
— Na ordem social.
SOCIAR, i:. a. Vid. Associar.
f SOCIATIVO, A, adj. Termo de gram-
matlca. Que indica a associação de dous
objectos. — Um caso seciativo.
SOCIÁVEL, adj. 2 adj. (Do latim so-
ciabilis). Que é próprio a viver em socie-
dade.
— Diz-se também dos animaes. — A
abelha é um animal sociável.
— Feito para viver em consorcio e con-
versação dos seus similhantes.
— Compatível.
• — Syn. : Sociável, social.
A difterença entre sociável e social
provém da terminação de cada um d'es-
tes vocábulos. A terminação avel denota
disposição, força, propensão; a termina-
ção ai exprime meramente união, liga-
ção ou dependência, etc.
Sociável quer dizer inclinado, propen-
so á sociedade; social o que effectiva-
mente pertence á sociedade, d'ella faz
parte, a ella se refere.
Sociável só se diz do homem ; social
diz-se das relações e deveres, que resul-
tam aos homens em consequência da sua
sociabilidade, e do estado de sociedade.
SOCIEDADE, s. /. (Do latim societas).
Reunião de indivíduos, tendo a mesma
origem, os mesmos usos, as mesmas leis.
— Reunião d'animaes, que tendem a
um mesmo fim, que tem um interesse
commum. — As formigas vivem em so-
ciedade.
— Communícação, relação.
— Associação, participação.
— Reunião de pessoas que se ajuntam
para viver segundo as regras de um ins-
562
SOCI
tituto relif^ioso, ou p;ira conferir «obrn
cortas sciencias. — Sociedade '/<; iwirnl
chrisiã.
— A sociedade humana.
AUi (Vlíoblxn ilf-íciíbro n. imapjom triste,
Quo no |)c(lali'i) laliyrintlio ciitriivii,
Em i\w involvida luimaiia Sni-ii:ilade.,
Noin toda m- nos mostra, ou toda «scondc,
Julça qiio o nosso primitivo estado
Ao nonicm natural fora o da pucrra.
j. A. hk mackdo, viagkm KxrATicA, cant. 2.
Da humana fofíiedarh a paz he baee :
Convorgoin nesto ponto os Surcs todos :
Fora dollc sií tom tormento o pena.
O rio busca o mar, e a pedra o centro ;
Busca o fogo inquieto a etheroa parte,
Sua esfera natal ; todos anciosos
Com sempiterna hú repouso auhelào.
IDF.M, MK.niTAçÃo, caut. 3.
— Sociedade secreta ; associação do
conspirailoros.
— Relações que tem entre si os habi-
tantes do lun paiz, de uma cidade.
— Companhia de pessoas que se reú-
nem de ordinário imias em casa d'outras.
— A òoa sociedade. — A vid sociedade.
— Sociedade sabia; reunião de pessoas
que se aggregara para cultivar as seien-
cias.
— Acto de sociedade ; assim cliamaram
á junta de pessoas da nobreza, governo,
justiça em cujo nome se fez uma repre-
sentaçito a el-rei D. Affonso vi, que se
tinha alguma legalidade foi a convocação
d'ellas ser feita peia rainha regente.
SOCINADO, A, adj. Termo antiquado.
Inspirado, eontado em voz baixa.
f SOCINIAUISMO, s. m. Heresia que
rejeita a Trindade e a divindade de Je-
sus Christo.
f SOCINIANO, A, s. Nome dos heréti-
cos que professam o socinianismo.
SÓCIO, A, s. (Do latim socius). O com-
panlioiro de outro, ou mais, que se con-
certaram para do mSo commum alcança-
rem algum iim.
Oh mudos sócÀoí meus, quanto sois bellos !
Fostes empregos do mortal primeiro,
D'Eva a formosa mão vos doo cultura •,
K voluntariamente então curvados,
Lhe otVorccostcs a flor, lhe dóstes fructos ;
A iunoccncia findou, e cm vós não finda
Riqueza, profusão, matiz, e g;ra(,-a.
J. A. DE MACEDO, MKDITAÇÃO, Caut. G.
l'ordoa-mc, Scmpronio : essa virtude
Não se finije : venceste, couvcnccste-me.
Ku diwidava — não de ti, amigo.
Mas de teus sociof. Porcio ! — tu bom sabes
Que alma é a de Porcio ! ■ — não confia u'cllo3,
E om aeu zelo não crê de liberdade.
OAKRBTT, CATÃO, act. 7, SC. 7.
— Membro de uma associação.
— Figuradamente : Cúmplice.
— Adjoctivamente : Homens sócios.
SOCO
Do» homens Mriof são, porém vussallo» ;
Nu e.sfura liuinildi-s são, na essência brutos,
Ma?4 inquieto o pensamento, nunca
As incessantes azas equilibra.
Solta a espaços inc<'ipnitos seu» vAo».
Qual t^ueiroz pertinaz, (Joolt atrevido,
Quo, inda mais de huma vez gyrando o Globo
líuHca as plagas Austraes, nunca socéga,
Anlicla o que não 'ê, despreza o visto,
j. A. iiy, HACKDO, MKi>iTAç\o, caut. 4.
SOCO, s. m. Vid. Socco.
SOCO, s. m. Termo popular. Murro.
— Figuradamente: Dá-so também esto
nomo ils mossas, que o peão com que ati-
ram faz na carniça ou no peão que está no
meio da roda como alvo para lhe acerta-
rem .
SOCOLHEDOR, ou SOBCOLLEITOR, ». m.
Termo antiqu.ido. <• substituto ou aju-
dante do ciilleitor.
SOCOLIPE, s. Hl. Termo da província
da Heira. \'iil. Póspello.
SOCOLOR. Vid. Sobcolor.
SOCORDIA, s. /. (Do latim socordia).
Cobardia, preguiça.
SOCORRER, V. a. Vid. Soccorrer. —
«Pelo que vos requeyro que ponliais co-
bro em vossas pessoas, porque se diz que
tem jurado de como fòr menham nos ma-
tarem a todos, c por isso ou ftigy, ou
chamay quem vos socorra, pois por serdes
religiosos vos não he dado tomardes na
mão cousa que tire sangue, a cujas vozes
toda a gente acordou, e acodindo rijo á
porta, o acharão quasi morto deitado no
eiiaõ de tristeza e cansaço por ser ja
muyto velho, p Fernão Mendes Pinto, Pe-
regrinações, cap. 78. — «Vendo entaõ o
Capitão e toda a mais gente o triste es-
tado em que nossos peccados nos tinhaõ
posto, nos socorremos a huma imagem de
nossa Senhora, á qual pedimos com muy-
tas lagrimas e muytas gritas que nos al-
cançasse do seu bento tílho perdão de
nossos peccados, porque da vida não avia
ja quem fizesse conta.» Ibidem, capitulo
'Vòl.
SOCORRIDO, part. pass. de Socorrer.
Vid. Soccorrido. — tO qual depois que a
leo, e entendeo por ella que não podia
ser socorrido pelos nossos, como sempre
lho parecera que fosso, dizem que ficou
tão fora de sy, que com a grande dôr e
tristeza cahio em terra como morto, onde
despois de jazer algum espaço, tornando
om sy se deu por vezes muvtas bofeta-
das no rosto, lamentando sua triste sor-
te.» Fernão Mondes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 14Í). — «Das nossas Colónias
das lllias Terceiras, e Madeira foi socor-
rido deste Reyno por vezes com gente, e
com c^avallos, e com muito trigo, i Se-
verim de Faria, Noticias de Portugal,
Disc. 1, eap. 1).
t SOCORRO, í. m. Vid. Soccorro. —
«E mandandovos agora pedir [ue lhe va-
lhais nesta afronta, como verdadeyros
amigos, vos escusais de o fazerdes com
SOCO
roziíes do muyto pouca força, não mon-
tando mais o cabedal deste socorro todo,
para satisfação de nosso (icfrjo, e segu-
rança de nos estes inimigos não tomaram
o reyno. » Fernão Mendes Pinto, Peregri-
nações, cap. 21. — «Para o que lhe logo
deu cento c trinta mil homens, os trinta
mil do socorro que o Hraniaa tinha mor-
to no Meleitay, e 09 vinte mil que aqnv
estavão nesta cidade, e o» oitenta mil
porque se esperava, de que o mesmo Rey
do Avaa vinha por general.» Ibidem,
cap. 1.57. — «Dizendo mais, que se a
justiça, e socorro que lhe pedia, per
ventura contradezia nSo ser clle Chris-
tão, como outras vezes por e-scusa dou-
tro semelhante requerimento lhe manda-
ra dizer, que isso não fizesse duuida,
nem agora o contradissesse, por que el-
Ic, e todolos seus que presentes erão, a
que não falecião nobres, e reaes naci-
mentos, aconselhados cm outros tempos
de suas .santas amoestações vinhâo i)ara
em seus Reynos, e de 8ua.s mãos o serem
logo.» fiarcia de Rezende, Chronica de
D. João II, eap. 78. — «E não foy alli
acabado douuir, e porque estando para o
despacharem veo a el Rey recado, como
a villa Dalfama no Reyno de Granada
era tomada, pollo Marquez de Cadiz,
que lhe mandou pedir socorro com muy-
to grande pressa, e muyta necessidade.
E el Rey tanto que a nona lhe derão
partio aftorrado a grande pressa a lhe fa-
zer yr o socorro, que pedia.* Ibidem,
cap. 35. — -E em se leuantando do con-
selho lhe disseram, que a porta estaua
dom loam de Branches, que entam che-
gaua de Lisboa pêra o seruir no dito so-
corro. E porque era muyto valente ca-
ualleiro, e sabia muyto na guerra, o man-
dou logo entrar, e fez tomar a -sentar to-
dos, e pos dom loam junto do si.» Ibi-
dem, cap. 82. — «E posto que elle mos-
tra isto mais propriamente dos Castelha-
nos, e Navarros, como seja certo, que de
Portugal mandou ElRcy D. Afon.so II.
grande socorro a ElRey seu primo D.
Afonso IX. de Castella, consta que mui-
tos Fidalgos Portugueses se acharão ncl-
la.» Severim de Faria, Noticias de Por-
tugal, Di.«c. 3, cap. 6. — «Sendo a muyta
Y&7. dos annos passados, a que Ihe-s fazia
a guerra mais trabalhosa, e menos pt>ssi-
uel o socorro. Mas o animo incansauel,
que Deos nosso Senhor dera a ambos
pode com tudo. » Lucena, Vida de S.
Francisco Xavier, cap. til .
SOCOTORINO, A, rvíj De Socotoni.
SOCO. ^'l■!. Ensoço, e Sosso.
SOÇOBRADO, i-nrt. }>,us. de Soçobrar.
Vid. Sossobrado. — «Assim for.^io nave-
gando com tempos escassos, até que lhe
entrarão os geraes n.a costa de Guiné,
onde a não do (íovornador tocando, es-
teve soçobrada, sendo, na opini.ão dos
mareantes, aquelles mares limpos, c onde
a Carta não sinalava baixos.» Jacintho
SOEI
SOFÁ
SOFP
563
Freire d'An(lrade, Vida de D. João de
Castro, liv. 1.
Entve cavados Jlarcs soçohrada
Iluma affligida Náo se estava vendo,
E logo envolta nelles levantada
No concavo do Ceo vai parecendo ;
Da enxaicia no bordo pendurada
As velas vão co'as arvores pendendo,
Cujos golpes cruéis mores lisérào
Oa perigos, se mores ser poderão.
BOLIM DE MOUKA, NOVÍSSIMOS DO HOMEM, Caut. 2,
est. 58.
f SOCRÁTICO, A, adj. De Sócrates.
— Methudu socrático ; methodo usado
uas argumentaçòes, consistindo em con-
tinuas insistências de perguntas e res-
postas.
SOCRESTAÇOM, s. /. Termo antiqua-
do. Vid. Sequestro.
SOCRESTAR, v. a. Vid. Sequestrar.
1.) SODA, s. f. (Do francez souda).
Termo de ciiimica. Alcali mineral.
— Modernamente: Oxydo de sódio.
2.) SODA, s. /. Termo de historia na-
tural. Planta annual.
3.) SODA, s. /. Dôr de cabeça, a que
03 médicos chamam cephalalgia.
SODALICIO, s. m. (Do latim sodali-
tium\. Sociedade de pessoas conviventes.
SODIAGO, s. m. Tei-mo antiquado. Sub-
diacono.
f SODICO, adj. Termo de chimica.
Que diz respeito á soda e seus compos-
tos. — Saes sódicos.
f SODICO-AMMONICO, adj. Termo de
chimica. Diz-se de um sal sodico combi-
nado com um sal ammonico.
— Diz-se do mesmo modo sodico-ar-
gentico.
SÓDIO, .«. wi. Termo de chimica. Cor-
po simples, metallico, que 1'órma o radi-
cal, ou o elemento electro-positivo da so-
da, descoberto em 1807 por Davj*.
SODOMIA, s. /. (De Soduma, antiga
cidade da Palestina, em que se pratica-
va toda a espécie de luxuria). Peccado
contra a natm-eza.
j SODOMIAR, V. a. Commetter o pec-
cado de soi'omia.
SODOMITA, s. m. O que commette o
peccado de sodomia.
SODOMITICO, A, adj. Que diz respei-
to á sodomia. — Âs torpezas sodomiticas.
Vid. Sudomitico.
SODRA, s. /. Rego que alguns cavai-
los tem nas coxas, o que é bom signal.
SOEDADE, s. f. Vid. Soledade.
— Solidão.
— O sentimento de quem está só, e
separado da pessoa amada.
— Logar solitário.
SOEIRAS, s. /. j)lur. Termo antiquado.
O mesmo que costumes, ou costumeiras.
Em alguns prazos se declara em que es-
tas soeiras deviam consistir, que era uma
cabaça de vinho e um pão alvo, ou fo-
gaça.
SOER, V. n. (Do latim solere). Termo
antiquado. Costumar, ter por costume. —
«Pegados com eile quatro cavalleiros de
mármore armados das próprias armas e
devisas, que os verdadtr-iros guardadores
daquelles escudos sohiam trazer ; que
como fossem grandes, de apparencia es-
pantosa e membros disformes, davam
mais honra ao vencedor. Nos brocaes dos
escudos estava escripto o nome de cada
um, segundo o que guardava. E posto
que todas estas cousas em todos fizesse
admiração, o cavalleiro do Tigre nào es-
tava sem ella, que via as cousas porque
passara, e parecia-lhe que inda as tinha
presentes.» Francisco de Moraes, Pal-
meirim d'Inglaterra, cap. 119.
Os Portugueses sohiam
ser nas armas mu}' destrados,
animosos ser sohiam,
Os homens muy delicados
por homens fracos auiam.
GARCIA DE BEZBNDK, MISCELLAmiA.
— «Feita a fortaleza, os da terra ano-
jados das sem razões que lhe os nossos
faziam e sobre tudo de lhe tolherem seus
tractos com os niercailores mouros, e gen-
tios que sohiam de vir aquelle porto, co-
meçarão de tratar mal alguns daquelles
que hiam a terra, nem traziam manti-
mentos á fortaleza como sohião fazer.»
Damião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 4, cap. 62.
— Syx. : Soer, costumar, estar ajfeito.
Soer é um termo hoje quasi em des-
uso ; faz synonymia com costumar, porém
distingue-se em que soer denota conti-
nuação da mesma cousa, ou do mesmo
modo de ser ou estar, e isto desde muito
tempo : costumar exprime propriamente
a satisfação dos mesmos actos, que pude
ser recente.
Em rigor, costumar só se diz das pes-
soas, sendo que soer diz-se das pessoas
e das cousas. Estar ciffeito é o mesmo
que estar acostumado ou habituado a fa-
zer uma cousa; suppõe facilidade ad-
quirida pela repetição de actos, e sem-
pre se diz das pessoas.
SOERGUER, V. a. Levantar algum tan-
to de baixo.
— Soerguer-se, i'. refl. Solevantar-se.
SOESCREVER. Vid. Subscrever.
SOESTABELEÇUDO. Vid. Substabele-
cido.
SOESTAMENTO, s. m. Termo antiqua-
do. Sequestro.
SOESTRO, A, adj. (Do latim sinistKr).
Termo antiquado. Esquei"do.
SOEZ, adj. Termo antiquado. Baixo,
vil, de pouco valor.
SOFÁ, ou SOPHÀ, s. m. Estrado muito
elevado e coberto com tapete.
— Espécie de canapé, ou marqueza com
costas, ilhargas, e assento estofado; ser-
ve para se sentar, ou para se deitar.
SOFFREDOR, A, aãj. Que soffre.
— Capaz de soffrer, de resistir.
Porém antes que as vellas no ar despregue,
E com aguda proa as ondas fenda,
Deixa a Baram Baxá a Cidade entregue
(O que Janizaro era) que a defenda ;
E porque mais ousado se encarregue
Daquella defensão que lhe cncommenda,
Lhe deixa alli duzentos defensores
De trabalho e perigos soffredores.
FBAKCISCO DE ANDRADE, PBtMEIBO CEBCO DE DIU,
cant. 13, est. 21.
— Soffredor de injurias; que as leva
em paciência, sem ira, desafogo, vin-
gança.
SÓFFRENÇA, s. /. Termo antiquado.
Soffriniento, aftliçào, desgosto, angustia.
SOFFRENTE, adj. e s. 2 gen. Soffre-
dor, que soffre.
— Fart. act. de Soffrer.
SOFFRER, ou SOFRER, i-. a. Aturar tra-
balhos, dures, afilicções, fomes, injurias,
etc. — «Não podendo soffrer em si os
mimos e boa vida que passava, quiz par-
tir-se, e tornar o escudo do vulto de Mi-
raguarda ao próprio logar, onde antes es«
tava, e a ella presentar preso Albayzar,
pêra que delle tomasse a vingança que
bem lhe parecesse, segundo a postura de
sua batalha.» Francisco de Moraes, Pal-
meirim d'Inglaterra, cap. 95. - — «E pos-
to que Miraguarda naquelle tempo com
nenhuma cousa poderá ser mais alegre,
assim soube dissimular este contentamen-
to, como se não o tivera, de que Almou-
rol ficou tão descontente, que, não o po-
dendo soffrer, lho estranhou com as me-
lhores pahavras, que soube ; que na ver-
dade o agradecimento devido não se ha
denegar.» Ibidem, cap. 108. — «O do
Salvagem ficou algum tanto contente,
vendo quam moderadamente soffrera suas
palavras, crendo que, sofiVendo assim ou-
tras e outras, poderia seu desejo ter effei-
to ; porque inda que a donzella não fosse
gentil mulher, a disposição de sua pes-
soa, a composição dos membros, a gran-
deza do corpo, a singular gTaça e ar, lha
fazia desejar, crendo, que se delia podes-
se haver fructo, seria digno de grandes
obras.» Ibidem, cap. 113. — «Mas como
Alfernao lhe quizesse fazer esta arenga,
Colambar não podendo soffrer nem ouvir
taes palavras, determinou fazer um feito
novo e nunca visto, que posta na derra-
deira determinação de sua vida, tocada
de desesperação e do favor do diabo, se
levantou em pé, dizendo.» Ibidem, cap.
121. — «Disse a rainha depois que o viu,
não se pôde negar que ellas lhe devem
assas, pois por umas não engeita outras;
e crera, que pois as soffre todas, que
eram muito suas parentas, se entr'ellas
não vira uma, que a meu parecer é gi-
ganta.» Ibidem, cap. 123. — «E ao pas-
sar um polo outro se encontraram com
03 corpos dos cavallos ; e como o do ca-
5G4
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SOFF
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valloiro do V;illo fonso m.-iin forte c o do
outro fraco o cansado do cainiiilio, nSo
podoiido soffrer o encontro caliiii iio cliilo,
e poderá fazer al^íuni mal a seu senlior,
se se |)rimeii'o não lanrára fira delle, de
quo Arlanra e todas suas amigas íicarani
pouco contentos, temendo a fortaleza do
sou contrario.» Ibidem, cap. 125. — «Nis-
to vos determinai lofío, que cu do muito
colérico não posso soffrer detenças. Vós,
amigo, respondeu elle, »o cuidais que oní
mira aciíareis menos dofisa, que no outro
de que vindes descontente, estais euf^^ana-
do; que ando tão costumado a não temer
palavras ásperas, nem Liavcr medo a cor-
pos gigantes, quo não sei fazer caso dis-
so.» Ibidem. — a Por que esta cousa de
novas, se vão assim cozidas na agua tal,
som uma laranja e pimenta como sável
fresco em Torto de llugem, não ha ahi
estômago que as soffra, mormente as que
eu trazia, que ainda então acabavam de
sahir da tarrafa, e não houve tonipo ])ara
lhes deitar umas pedrinhas de sal.» Fer-
não Soropita, Poesias e prosas inéditas,
pag. 15. — «Uma senhora de alta ascen-
dência não soffria nmito a pureza dos
Alegretes e disse: «Sim, senhores... com
vinte e cinco linhas de mouros.» Bispo
do Grão Pará, Memorias, publicadas por
Camillo Castello Branco, pag. (ÍU.
Não percas por hum vão contcutamcnto
A vista f(uc te faz viver couteute ;
Modera cm teu favor o pensamento.
Porque menos mal hc, tendo-a presente,
Soffrer sua crueza, e teil tormento,
Que sentir aua ausência otornaracute.
CAM., soNEios, n." 2-49.
— « Ao qual logo Aftonso d'Alboquer-
quo acudiu, mandando Diniz Fernando
de Mello, ([ue como especial cavalleiro
que era, soffreo esto trabalho nove dias
continues com suas noites.» Barros, De-
eada 2, liv. 6, cap. 5. — «E naõ poden-
do Clarinuindo soffrer esta desliom-a,
disse ao Cavalleiro da Graça : Senlior, ou
creio quo cm quanto nossa batalha naõ
for d'espada, naõ na podemos acabar,
pois com as lanças tégora o naõ fizemos :
por tanto poço-vos, que venhamos a ellas
por dar iim a nossa contenda.» Barros,
Clarimundo, liv. 2, cap. 7.
Pois he melhor morrer, que 03 desfavores
Soffrer de huma cruel, o do huma ingrata,
Quo bellos ollioa tem, mas saõ traidores.
ADOADE DK JAZKNTE, l>Úi:3IAS, tOUl. 2,
pag. 127 (cdiç. 1787).
Pois, qual ha de Vils outros tão amigo
D'huma vida tão vil, tão vergonhosa.
Que queira antes soffrer o jugo imigo
U'huma gente ci-uel, despiedosa,
Quo passar por qualquer grande perigo,
Por huma morte honrada o gloriosa,
Qu'ao mundo vos firA tào conhecidos
Quauto o jugo vis, bai.xos, e abatidos !
FRANCISCO DK ANDRADE, rKlMEIBO CEBCO DE DIU,
caut. 1, eat. 65.
De novo ante Plutio se proetra o csprito
l'ola nova mercê que lho fi/.cra,
E miMio.4 triste já, menos ulHito
I'ori|ue vingiir-so largiimcnte espera ;
Náo lhe êoffreiíilo o «eu ódio iuKiiito
A menor dilai^-ào, pede u .Megera
(^ue ao que munda l'lutà« logo obcdc^A
lí nisto com a prcs.sa o favorei^a.
iDiuEM, caut. 12, CBt. 89.
Vós ciac3-me das cstrcUag,
ou sofro-vos como peco.
AHTONIQ PBIUTES, AUTOS, pag. 291.
Como ao marido sofria
bafo tào contagioso...
Oli ! caso niaravillioso
espelho de cada dia!
isiDKM, pag. y09.
Senhor, cstaes-Ilio Boff rendo
põr vo.ssa casa em miséria.
Fale, digii, cate dizendo,
([ue eu, senhora, perteudo
de cedo fazermos feria.
IBIDEM, pag. 43õ.
Sois nata de quanto tenho,
iiào snffro o que outras excedem.
Que farei a meu desmaio?
Vedo-me.
IBIDEM, pag. 441.
— «A honra de cada um, e a cons-
ciência sejam n'e.ste triste ca.^o os conse-
lheiros. Com agudeza definiu este ponto
em poucas palavras um discreto : Soffra
o marido d mulher tudo, senão otfensas ;
c a mulher ao marido oflensas, e tudo.»
I). Francisco Jlanoel do Mello, Carta de
guia de casados. — «Então Mentor, com
tom grave e severo, lhe diz : Acaso, ó
Tolemaco ! são estes os cuidados que me-
recem occupar o coração do filho d'Ulys-
ses? Tracta antes de sustentar o credito
de teu pae, e vencer a fortuna quo te
persegue. Um mancebo que gosta de se
ataviar com vaidade, qual uma mulher é
indigno da sabedoria, e da gloria ; bem
merecida so daquolle quo sabe soffrer o
trabalho, e calcar o appetite.» Teiemaco,
traducção de Manoel de Sousa, e Fran-
cisco Manoel do Nascimento, liv. 1.
Tenho íé, que a estação dessa aspVa vida,
Que, na Familia de meu Amo, cu snffro.
Será como esta Hor, (luando a miuha alma
Ao conspecto do Dcos for offrecer-ae.
F. M. DO MASCIMENXO, OS M.VBrVBE3, 1ÍV. 7.
— Diz-se tambom dos animaes. — O
boi não soffre o jugo.
— l)iz-se das cousas inanimadas. — O
rio iião soffre a ponte,
— Não admittir, nik» consentir. —
«Aquella noite passou Palmeirim em cui-
dados vivos, qu' o n.ão deixaram dormir,
esperando pola claridade do dia pêra dar
fim ao que viesse, se a fortuna lho não
estorvasse, e não se deter mais naquella
terra, que lho parecia que com qualquer
detença, que nella tizesse, otfendia a aua
senhora, a quem tanto amava, e por ne-
nhuma via lhe soffria a condição ouvir
palavras contrarias ao que trazia na von-
tade.» Francisco de Moraes, Palmeirim
dlnglaterra, cap. 'J7. — «Alfernao pro-
mcttcu de o fazer assim : e, nãu lhe gof-
frendo o coração poder alli estar maia,
se partiu. O cavalleiro do Salvage se de-
teve cm quanto lhe concertavam armas ;
o passando alguns dias, despediu o piloto
e marinheiros, quo sua tenção era andar
j)Or aquella terra mais devagar, c mos-
trar as cousas delia a Arlança c suas
donzelia"».» Ibidem, cap. 110. — «Senhor
Platir, disse o do Tigre, o que vos pare-
cer isso se faça, e não mo nicttaes n'ÍBBO
que a mim não me soffre a condição vêr
o r<isto a pessoa que tantos mallcs tem.*
Ibidem, cap. 118.
Oh ! não sfiffro, que do Orbe me dcutérrcm !
Tyro, Amiithunta, Paphos, Ileliópolia
Me estão chamando ; c a minha Estrclla brilha
Sobro o Libano ; Templos de alto esmero
Tenho inda, c tenho Festas tam donõsas !...
F. M. DO NASCIMENTO, OS MASTrBF.S, liv. 8.
Cioso
será agora ? ,
É agora cspoao.
Esposo de pão de calo ;
c por que vos uào falaca?
Por lhe não poder sofrer
Icixar-voi, sua molhcr
lhe ha de fazer mimo.» tacfl :
pois ai, tem bem que comer.
ANTOXIO PBESTES, ACTOS, pttg. 213.
— Poder resistir.
— Dissimular.
— Soffrer mal; tolerar com trabalho,
e repugnância. — «Aqui se conta, que
perguntando as vigias, quem er.ío? Rcs-
pomlêra hum soldado, que fJarcia líoilri-
gues de Távora; o que António Moniz
soffrendo mal, disse : que elle era o que
alli vinha.» Jacintlio Freire d'Andrade,
Vida de D. João de Castro, liv. 2.
— Soffrer o ctisto de algum artigo;
poder com a despeza, que n'elle se em-
prega. Vid. Abastar.
— Emprcga-so também no sentido ab-
soluto.
Tenho um feito seu d'abrâmo,
já concruso em meu poder,
não me deixa arTefocer,
como caldo é paraaismo,
mata-me.
Haveis de soffrer.
ANTÓNIO FRESTES, AUTOS, pSg. 195.
Que vac?
Foi IA meu padrinho?
Deshonrou-me.
Ora o bom »ofrt.
IBIDEM, pag. 283.
Não é muita dcscriçio
mas podor-3c-lhe-ha loffrtr.
IBIDEM, pag. 421.
SOFF
SOFF
SOFO
565
— Soffrer-se, v. rejl. Sapportar-se, to-
lerar-se. — fMas elle agradeceu-me tào
mal estas palavras, oii coaselbo ; que foi
forçado desafiartno-nos ambos pêra esta
corte, e vós serdes juiz da batalha. Fio-
riano, que de o ver tão soberbo, estava
não pouco maneacorio e da moura namo-
rado, não podendo já soffrer-se, se le-
vantou em pé, dizendo : Em tempo estás,
Auderramete, que o que te disse cumpri-
rei, o Francisco de Moraes, Palmeirim
d'Inglaterra, cap. 80. — » Porem olhadas
de longe soffria-se melhor, umas davam
graça ás outras, com que as ajudavam;
e todas juntamente pareciam um cíitasol:
isto era o mais que se nellas podia deter-
minar.» Ibidem, cap. 120.
— Consentir-se, admittir-se, tolerar-se.
Estado c poder lhe falta,
a lei d'eâte hei por espúria.
Soffrer-se-ha piedosamente
que a um rico lhe est« bem
ser soberbo, pois se tem
o que tem, por rei, por gente,
6 o pobre por ninguém.
AKTOMIO PBE3IKS, ACTOS , pag. 61.
— Soffrer-se de fazei- alguma cousa ;
conter-se, abster-se constrangido, e com
mau grado seu.
— Soffrer-se com alguma cousa incom-
moda; accommodar-se a seu pezar.
— Soffra-se ; tenha paciência.
— Tolerar-se, aturar-se.
Levando — até que emfim ja se uào soffre:
Arrojá-lo quizesto: nào te culpo,
Os vínculos do alliado te prendiam...
eAjuE-iT, catIo, act. 4, se. 4.
— Adágios e provérbios :
— Quem não sabe soffrer não sabe re-
ger.
— Quando fores bigorna soffre, e quan-
do malho, malha.
— Quem soffreu, venceu.
— O bom coração soffre, e o bom siso
ouve.
— Soffra quem penas tem, que traz
tempo, tempo vem.
— No soffrer e abster, está todo o
vencer.
— O bom soffre, que o mau não pôde.
— De grande coração é soffrer, de
grande senhor é ouvir.
— Quem bom e mau não pode soffrer,
a grande honra não pode vir ter.
— Morrer por ter, e soffrer por va-
ler.
— Soffrer rasgadura, por ter formo-
sura.
— Soffrer por ser formosa.
— Duas mortes soffre quem por mão
alheia morre.
— Soffre por saber, e trabalha por
ter.
— O que não pode ai ser, deves sof-
frer.
— O bom pae ama-se, o mau soffre-se.
— Quem dá o seu antes de morrer,
apparelhe-se a bem soffrer.
— Alguma cousa se ha de soffrer pa-
ra embranquecer.
— Si'N. ; Soffrer, aturar, supjiortar,
tolerar.
Soffrer exprime a idêa geral e absolu-
ta de tolerar o mal que nos acontece, ou
nos fazem. Aturar é soffrer com repu-
gnância e de mau grado. Supportar é
soffrer com paciência e conformidade. To-
lerar é também soffrer por effeito de pru-
dência ou de boa educação, porém é sof-
frer em sdencio.
O que tem desgostos domésticos, en-
fermidades, se vê em pobreza, ou inju-
riado, soffre ; o filho submisso atura mui-
to ao pae velho e rabugento; o homem
caridoso supporta com bom semblante os
defeitos e fraquezas do próximo ; o rei
prudente tolera alguns abusos contra sua
authoridade para evitar maiores males.
SOFFRIDAMENTE, adv. (De soffrido,
e o suffixo «mente»). Com soffrimento.
SOFFRIDO, part. pass. de Soffrer. To-
lerado, supportado, aturado. — «Passan-
do depois á Historia achou nella por des-
graça a noticia de alguns vaticínios jus-
tificados, e querendo por-se em estado
de saber se o seu horóscopo lhe prometia
da parte do amor algum bem, que des-
truísse o mal que até então tinha sofrido
da parte do despreso, determinou dar-se
ao estudo da Astrologia.» Cavalleiro de
Oliveira, Cartas, liv. 1, n.° 40.
— Paciente, resignado.
— Dotado de soffrimento,
— il/a/-soffrido ; que não tem paciên-
cia, não dá falhas nem descontos aos de-
feitos e desmanchos alheios.
— 3/aZ-soffrido ; impaciente, descome-
dido. — cFloriano do Deserto, que nes-
tes tempos costumava ser mal soffrido,
tomou Albuzarco polo braço, dizendo :
Cousa fora de medida e de compasso,
nào queiras com abastanças nascidas de
tua soberba escusar a batalha, que eu,
que aqui menos valho e menos posso, te
cortarei hoje essa cabeça e darei a fim,
que mereces. » Francisco de Moraes, Pal-
meirim d'Inglaterra, cap. 93.
Hum cuidado bem nascido,
Que amor n'alma me tem posto.
No peito o trago escondido ;
Mas elle, de mal soffrido,
Logo se mostra no rosto :
Que farei para escondeUo ?
Se encobrillo me nau vai,
Que por mais que me desvello.
Sem ventallo, e sem dizello.
Todos conhecem meu mal.
P. BODBIGUES LOBO, PBISÍAVEBA.
— Vid. Insoffrido.
SOFFRIMENTO, s. m. Tolerância, pa-
ciência.
Oh bem-aventurado seja o dia
Em que tomei tão doce pensamento.
Que do todos 03 outros me desvia !
E bem-aventudo o soffrimento
Que soube ser capaz de tanta pena,
Vendo que o foi da causa o euteudimento !
Faça-me quem me mata, o mal que ordena,
Trate-me com enganos, desamores:
Qu'entào me salva, quando me coudena.
CAM., ELEOIA 5.
— «E indo visitar Dragonalte, segun-
do algumas vezes costumava, o achou
lá, e como nas palavras tivesse o soffri-
mento igual ao repouso e á condição,
lhe disse que se determinasse no que lhe
havia de pedir.» Francisco de Moraes,
Palmeirim d'Inglaterra, cap. 130.
Eenovo o meu sentimento :
Pois para a morte naõ vai :
E em gloria deste tormento
vou cevando o soffrimento,
Porque dure sempre o mal.
F. BODBIGUES LOBO, PBIILATEBA.
— «E no soffrimento que mostrastes
na morte de D. Fernando de Castro vos-
so filho, se confirma bem esta opinião ; e
certo que eu o senti por mim, e por vós,
e houve por mui grande perda, por qnão
certos sinaes nelle via de seu grande es-
forço, e creio, que nisso lho quiz Deos
pagar, com o tirar de vida tào trabalho-
sa por meios tão honrados, e de tanta
gloria sua, que deve ser grande causa de
vossa consolação.» Jacintho Freire d'An-
drade, Vida de D. João de Castro, liv. 4.
Voraz incêndio, horrível instrumento
de estrago, nào me aíBijas ! determino,
tolerando a inclemência do destino,
disputar-lhe o poder ao'soff'rimetito.
BISPO DO gbIo pabá, memorias, pag. 152.
— Tolerância de abusos, crimes, mes-
mo na religião.
SOFFRIVEL, adj. 2 gen. Que é possí-
vel supportar-se.
— Tolerável.
— Em sentido figurado : Medianamen-
te bom.
SOFFRIVELMENTE, adv. (De soffrivel,
e o sufiixo «mente»;. Não mal, mediana-
mente bem ; toleravelmente.
SOFI. Vid. Sophi.
SOFISMA, s. «i. Vid. Sophisma.
Xa escura tez Protigoras conheço.
Entre sofismas se revolve, e nega,
Oh ! Sacrílega audácia ! Hum Deos ao Sfundo !
Nem vê na immensa gradação dos Seres
Reguladora mão, que rege o Todo,
Os effeitos apalpa, e a causa nega.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, COnt. 2.
SOFISMAR, V. a. Vid. Sophismar.
SOFOCAÇÃO, s. f. Vid. Sufocação.
SOFOCABO, part. pass. de Sofocar. Vid.
Suffocado.
566
HOFIl
SOFR
SOGE
SOFOGAR, V. a. Vid. SuíTocar.
SOFOLIÉ, s. m. Um tucido do ul{,'odao
ralo, do varias córcu.
SOFORAR, V. a. = Tcrniu pouco em
uso. \"\<l. Furar por òai.co.
SOFRAGANHO, A, wlj. Vid. Suffraga-
ueo.
SOFRAGAYO, A, mlj. Termo antiqua-
do. SiiliVaííaiuio.
SOFRALDAR, v. a. Erf,'uer, levantar
a fralda, ou cauda da roupa.
SOFREADA, s. /. A ac^So de puxar e
recolher a* rédeas de repente, para reter
e molestar o eavallo desboecailo.
— Fij^uradamoiite : As sofreadas dos
remorsos.
SOFREADO, port. ]>ass. de Sofrear.
SOFREADURA, .-. /. Vid. Sofreada.
SOFREAR, ou SOFREIAR, i-. «. Tomar
a rédea ao eavallo, e dar-lho sofreada.
— Fif^uradamonte : Sofrear vs appeti-
tes.
SOFREGAMENTE, adv. (De sôfrego, e
o .sufTixo «mente»). De um modo sôfrego.
— ■ (,'om .sofreguidão.
SÔFREGO, A, adj. Que come com tan-
ta pressa, que mais engole do que mas-
tiga.
— Olhos, ouvidos sôfregos; de ver,
de ouvir alguma cousa.
— Sôfrego de amor.
— InsottVido nos intentos, desejos e
preten(;nes.
— Figuradamente : Ávido, desejoso
com impaciência.
Sôfrego attendo, o volvo aoa Ceos a vista,
Desdcnlio idòus do pi-ofauo ^•ulgo.
J. A. DU UA.CEDO, A MATUKKZ\, Cant. 1.
SOFREGUICE, *-. /. Vid. Sofreguidão,
SOFREGUIDÃO, s. /. A ac^ào de co-
mer sofregamente.
— Figuradamente : O desejo impacien-
te de acabar, do alcançar alguma cousa.
— O ser sôfrego.
SOFRER, V. a. Vid. Soffrer. — «Foy
este golpe nmy duro de sofrer a Osio,
porque faltando nelle a cõstancia, pesa-
vallie eutranliavelniente de ver que ou-
trem a tivesse, e mostrando as provisoens
de Constâncio a Clenientino, que era Vi-
gairo do Império em Espanha, lhe reque-
reo que niTidasse aparecer em Córdova
ao Bispo lliberitano, para ser julgado de
certas culpas que cometera contra a es-
sência da Fé, e lo}-» de sua dignidade.»
Monarchia Lusitana, liv. õ, cap, -2b. —
«E depois de algumas jn-aticas espiri-
tuacs oní que a Santa o animou a sofrer
com paciência os trabalhos da enfermi-
dade, que iDeos costuma dar para exer-
cício da paciência, vendoo desacompanha-
do de gente, e cS humas angustias, «aci-
das de ver que se faziaõ horas do o dev-
xar, chegada mais ao perto, lho disso es-
tas palavras.» Ibidem, liv. 6, cap. 24. —
«Corno se dissera, escusada preguuta, a
onde a estranha o nunca vi^ta paciência
d<! (JhrÍHto cstaua mostrando quo u.1<» \»>-
dia ser puro homem, quem t^tnto calaua
e sofria: o ])or<|uc (Jhristo por esta via
se rjuis declarar por iilho do Deos, por
esta mesma (|uer que o sejanio.'* no.'».» Fr.
Thomaz da Veiga, Sermões, part. 1, pag.
12, verão, col. 2.
E |)ori|U<' tamanho.') casoa
iiin liituraiii tur cm poucu,
((uaiito o iiuLudo agora podu,
i: ((uaiito pod'! poder,
dctcriiMiH-_v d(! fiiff.r,
de ouuir ante» glosadores,
(|uc deixar oiicuncido
o (|uc dcuia ser claro.
GlUCIA UU lli:ZKNDE, U1SCEL1.A!(I<:A.
— oE 03 mercadores da catila muito
agastados, porque nam hiam caminho di-
reito pêra IJacora, e nam ousavam de lue
dizer nada, e ho sofriam com pasciencia.
E vendo (|ue tinham pouco euvdado de
se dali partir." Tenreiro, Itinerário, cap.
54. — «O que neste passo estranho o
mais que tudo, he sofrerem-se neste Key-
no Letrados procuradores, os qnaea se ga-
bai"!, que farão dilatar huma demanda
vinte aunod, se lhe pagai-em. O premio,
que taes letras mereciaõ, era o de duas
letras: L. e F. impressas nas costas, e
naò lhe esperarem mais, para o que ellas
signiticão.» Arte de furtar, cap. 48. —
«A idade não serve de abrigo contra esta
doença. Vio-se huma velha que a sofreo
tendo setenta annos, huma menina que
tinha doze, e o que he mais para adud-
rar huma criança que foi molestada da
mesma doença ua idade de três annos.»
Cavalleiro d'01iveira, Cartas, liv. 1, n.°
iíO. — u Cuidará agora a Princesa que
digo tudo isto porque ella me tem enga-
nado algumas veses; engana-se, ninguém
sabe melhor do que eu conhecer, e discul-
par os naturaes, e não ha quem saiba me-
lhor do que eu sofrer com paciência as
fraquesas do seu próximo. O que digo
tudo he a bem de Sua Altesa, o se isto
fosse diser mal não dissera a seu mari-
do.» Ibidem, liv. i5, n.° 15. — «Por isso
neste cazo he mais seguro com tjenner-
to, e outros administrar medicamento
purgante, especialmente se o humor tiver
a natureza de turgeute ; porque certa-
mente se daríi perigo grave se esperarmos
para purgar a cocção, e preparação dos
humores : donde, attenuados de alguma
sorte 03 mesmos humores, quanto o so-
frer a estreiteza do tempo, purgaremos
logo, antes que o humor se tirme no Cé-
rebro.» Braz Luiz d'Abreu, Portugal me-
dico, pag. 4l)õ, § 56.
SOFRIMENTO, *. m. Vid. Soffrimeuto.
— «Quem vos parece que se saluàra/
Pois que misericórdia pode ser deste So-
nhor que por caminho do Ceo em sofri-
mento, de que todos saõ tão ricosV e ser
a moeda e os merecimentos cõ que se
compra o Ceo a<juella de que cada bum
tem tanto maÍ8, '|uanto tem menos de
tíxlas as outiaH cousas.» Paiva de Andra-
de, Sermões, ]>ag. 247.
SOFRÍVEL, udj. 2 ,jtn. Vid. Soffrivel.
— «Hcin Mcv que Baroniu aco.-taao a so-
fríveis fundameiítoM tem |>or incerta esta
perdição de Osio, mas como he diminuin-
do a fé do que S. Isidoro escreve, ha
poucos que o sigãu nente particular. » Mo-
narchia Lusitana, liv. ó, cap. 2õ. — tDeos
nos livre de ladroeiís f)or natureza, porque
imnca tem emmenda; os que furtaò por
desgraça, mais sofríveis .-aò, porque naó
saõ taõ continuo.'*. Í3e lia Kevs ladroens,
he questão muito arriscada.» Arte de
furtar, cap. 14.
SOGÂ, «. /. Corda grossa de esparto
cerado, ou de outra matéria. — cE em
certo dia da Quaresma vem os moradores
do Conselho de Vieira cingidos com so-
gas e descalços, visitar a Sepultura do
Santo, como em penitencia do pecado de
seus antecessores.» Monarchia Lusitana,
liv. 5, cap. 5.
— Senhor de soga e cutelo; que tinha
poder de impor pena ultima com baraço,
e cortamento de membi-os.
SOGEIÇÃO, s. f. Vid. Sujeiçào.
SOGEITAR, V. a. Vid. SujeiUr. —
«Vendo.se Kemismundo senhor absoluto
do Revno dos Suevos, assentou pazes com
os Caíegos naturaes que viviào inda em
siuis terras sogeytoe às leys d6 Império
Romano, sem se deixarem sogeitar das na-
çoens barbaras, que desde o tempo de Her-
menerico pretendiaõ sogeitalos.» Monar-
chia Lusitana, liv, G, cap. 9. — tTanto
((ue fazião isto, logo se os visinhos enso-
berbeeiaõ. e entendiaõ que lhes auiaò
medo, e dauaõ sobre eiles, o como os acha-
uaõ desemparados do fauor do Deos, quo
lielejaua por elles, sogeitavaõ-nos e tra-
tauaõ-nos mnyto mal : tornauão a chamar
por Deos, e faziaõ lhe rosto, tornauaõ a
ticar decima. I Paiva d'Andrade, Sermões,
pag. 84.
1.) SOGEFTO, s. /. Vid. Sujeito.
Cujo marauilboso estranho effeito
Pausa hum 'admiração, hum nouo e^anto
Mostrando mil contrários num togfito,
Viude formosas Naiades um quanto
A matutina luz está escondida,
Kappas vinde agora ouvir meu canto.
coETi: BKAL, NAiTBAoio PS sKPCuvnjA , cant. 9.
Essa coutrairo e togrito
tom amor n'c3ta ccrteia,
não no lova gontilcza :
sabris quo achar um g^tú
que i' de sua naturcia :
desse modo me cmborulha
esto meu tão feiticeiro,
que o mar cuido que i^ barbeiro.
ANTosio rassiEs, actos, pag. 175.
— «O calouiniado nSo pôde ser cate
sogeito, porque como será possirel qae
SOGI
SOGR
SOHI
567
este mal toque a hum morto na sepultu-
ra, nem menos a hum vivo na Innocen-
cia?» Cavalleiro d'01iveira, Cartas, liv.
1, n." õl.
2.1 SOGEITO, part. pass. irreg. de
Sogeitar. Vid. Sujeito. — «Esta animosa,
e resoluta pratica del-Rey, poz tanto ani-
mo nos seus, que fazendo entrada por
Navarra, a domou em sete dias, obrigan-
do os naturaes da terra a lhe pedirem
misericórdia, e darem reféns de viverem
dahi em diante sogeitos à Coroa de Es-
panha.» Monarchia Lusitana, liv. 6, cap.
2Õ. — «E que ouvindo a Bazagom mo-
Iher do Adaa isto que lhe dezia o Lupan-
too, cubicando essa excellencia que lhe
elle punha diante, comera da fruita, e fi-
zera também comer seu marido, e que
pelo gosto do triste bocado ficarão logo
ambos sogeitos a pena de morte, e dor,
e pobreza.» Fernào Mendes Pinto, Pere-
grinações, cap. 163. — «Vivem os mais
de trato e mercadorias, e os outros per
eriaçõis de gado e lavoyras: e todavia
sam sogeitos a hum senhor Curdi, que
mora em a dita vila em hum boõ castelo
he ysento, e nam da obediência ao gram
Turco se nam vohintariamente. porque a
terra he muyto muntuosa e de serras,
onde nam tem caminhos nem estradas por
onde em ella possam entrar exércitos.»
Fr. Gaspar da Cruz, Tratado das cousas
da China, cap. 26.
SOGEYTAR, v. a. Vid. Sogeitar. —
«Denunciada a noua secta, e elie de todos
aclamado por Rey, mandou seus genros a
conquistar as terras veziuhas, e prècar o
Alchorào àquella canalha, que sem lhe
porem tacha, ou glosa, se sogeytarão a
elle, obrigandose a guardalo, na maneira
que nelle se continha.» Fr. (Taspar de S.
Bernardino, Itinerário da índia, cap. 20.
1.) SOGEYTO, part. pass. de Sogeytar.
Vid. Sujeito. — «As serras? saõ altíssi-
mas, e huma delias atrauessa toda a Ilha,
a qual sempre está cuberta de neuoa.
Com tudo he sogeyta a grandíssimos or-
ualhos, e furiosos ventos que aqui sem-
pre reynào.» Fr. Gaspar de S. Bernar-
dino, Itinerário da índia, cap. 9. — «Sa(5
muy sogeytos à chuua, porque tanto que
escorregão, e caem indo carregados, nun-
ca mais se leuantào, e por esta causa em
chouendii logo párào. As fêmeas saõ mais
pequenas de corpo, que os machos.» Ibi-
dem, cap. 17.
2.) SOGEYTO, s. m. Vid. Sujeito.—
«Nào posso levar, que se algum destos
sogeytos, que considero divertidos (se ha
algum que o esteja) fizesse alguma escri-
tura de contrato a seu vizinho, lha havia
de guardar pontualmente.» D. Francisco
Manoel de Mello, Apol. Dial., pag. 175.
SOGIGADO, part. pass. de Sogigar.
Vid. Subjugado. — «A segunda, que tà-
bem lhe tinhào certificado que tinha o
nosso Rey sogigado por conquista de mar
a mayor parte do mundo, a que também
dissemos que era verdade.» Fernão Men-
des Pinto, Peregrinações, cap. 133. —
«Neste tempo chegou Diogo Dazambuja
a Çafim, e com elle Haliadux (que assi
o nomeaõ os Scriptores Arábios, e naõ
Haiisiam, como lhe os nossos chamam) e
assi 03 outros três mouros que com elle
foram, e porque Garcia de Mello, e Dio-
go Dazambuja viraõ que Haliadux, e
Iheabentafuf consentiam nas desauenças
que auia na cidade, como homens que
queriaò antes ter ante si discórdias que
serem sogigados de estrangeiros.» Da-
mião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 2, cap. 18.
SOGIGAR, V. a. Vid. Subjugar.
SOGILHA, s. /. Vid. Soguilha.
1. SOGRA, s. /. (Do latim socrus). A
mãe do marido ou da mulher; diz-se so-
gra do genro, ou marido de sua filha, e
da mulher do filho, ou nora. — «E tanto
que o Príncipe o soube acudío logo em
pessoa, e toda a corte após elle, e segu-
rou a villa, e fortaleza, e entregou ha in-
fanta Dona Beatriz sua sogra, e mãy do
Duque dom Diogo, cuja era a villa, e for-
taleza. O que o Príncipe assi fez por se
outros indiuidamente, e sem causa se nam
leuantarem.n Garcia de Rezende, Chro-
nica de D. João 11, cap. 20. — «Pateca-
tir fugio com sua molher, sogra, e cria-
dos para hum lugar em que tinha alguns
nauios, em que se foi pêra laca, do que
o Príncipe que se dezia de Malaca foi
mui triste, e com medo se foi pêra ilha
de Bíntaõ.» Damião de Góes, Chronica
de D. Manoel, part. 3, cap. 28.
2. 1 SOGRA, s. /. Coxim, que punham
sobre a cabeça os que levavam cousa pe-
sada n'ella.
SOGRO, s. 77). (Do latim socer). O pae
da mulher a respeito do genro; ou o pae
do marido a respeito da nora. — «Peró
sabendo elle o que se dizia como afogara
seu filho, determinou de se vir logo pêra
Malaca, temendo a maldade do sogro, e
pêra isso não fez mais que como homem
seguro sem cautela alguma metter-se com
Pêro de Faria, que com huma Armada
andava no estreito de Sabam.» Ban-os, Dé-
cada 2, liv. 9, cap. 6. — «Bubac sogro
delle Mahomed, porque elle lhe morreo em
casa, levantou-se contra Alie acerca da
successão do estado, e religião, dizendo
que Mahamed tudo o que ganhou, e ad-
quirio foi com seu favor.» Ibidem, liv.
10, cap. 6.
Vimos dom Philippe entrar
em UastcUa, grande, forte,
seu soc/ro fora lançar,
bem pouco o vimos durar,
e acabar de ma rnort*.
GABCIA DE REZENDE, inSCELLANEA .
— «Com o qual por ser tamanho se-
nhor casou el-Rei dom Afonso sexto, don-
na Orraca sua filha legitima, e quanto ao
Conde dom Raimom de Tolosa que casca
com donna Eluira filha bastarda deste
Rei dom Afonso elle naõ ouue o Condado
per herança, mas com o dinheiro do dote
que lhe o dito Rei seu sogro deu em ca-
samento, o comprou a Hugo Aimom filho
de Guilhelme Duque de Aquítania quarto
do nome, e de huma irmam de dom E ai-
mom de sam giles, que era condessa de
Tolosa.» Damião de Góes, Chronica de
D. Manoel, part. 4, cap. 72. — «E vendo
que seus emulos tomavaõ a maõ com el
Rei para o tirarem da grandeza, e pri-
vança devida a tio, e sogro, quiz fazer
voluntariamente o que receava se viesse
a fazer por necessidade, e ausentando-se
da Corte esteve em suas terras retirado
da vista dei Rei, com o qual o acabarão
seus inimigos de odiar em forma, que o
Infante entendeo convir á sua honra,
mostrar-se ao mundo sem culpa. » Fr.
Bernardo de Brito, Elogios dos reis de
Portugal, continuados por D. José Bar-
Senhor sogro, senhor meu,
ninguém poderá tirar
a cada um o que é seu,
que o que natureza deu
até morte ha de durar.
A5T0SI0 PRESTES, AUTOS, pag. 169.
Olhe, senhor,
sou muito seu servidor ;
fizera-3e aqui Coimbra,
erguera-me por doutor,
o senhor seu fogro fora
meu padrinho, eu vira o feito
com óculos, tenho geito
da juiz, fora a senhora
douda por mim todo a eito.
IBIDE5I, pag. 211.
Sorvo?
Co 'o sogro.
ora isso lhe deu querena
de li- tão perinho d'alvena.
Vac bonito.
IBIDEM, pag. 213.
Em casa de seu sogro é ?
Veio buscal-o.
IBIDEM, pag. 219.
SOGUILHA, í. /. Torçal de adornar 03
vestidos.
SOHIA, ou SOÍA. Forma do verbo an-
tiquado soer na terceira pessoa do singu-
lar do pretérito imperfeito do modo indi-
cativo. Vid. Soer. — «Daliagào foi logo
sobre elle, per estorvar que o não ma-
tasse, armado das armas que sohia, e
posto que Polendos estava maltratado,
defendeu-se tão valentemente, que nesta
batalha mostrou pêra quanto era; porém
havia-o com forte imigo.» Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 15.
— «Algumas pessoas, olhando de longe,
vêem contra aquella parte umas torres e
edifícios grandes, e chegando perto as
perdem logo de vista: e tomando a copa
em que sua filha chorou, que é esta, e
668
SOIS
SOIS
SOL
fazendo-lhe perder ;i côr natural, f|ue an-
tes sohia tor por nua arte, conf^cloii as
laf^riíiiaM dentro, da maneira (pio aqui
vodo.H.» Ibidem, cap. Oo.
SOIÇA, SOICIA, SUIÇA, ou SUÍCIA, .s./.
Exorciíio militar r(!K>dar, ([U'; o8 suirtsos
introduziram.
— Entro a plebe, multidão do í,'onte
quo vozoia o apupa; asHuada.
— Fazer soiças ; fazer evoluções e
exercieioa do armas.
— Na provincia da Estremadura diz-
86 soicia unia oncamisada de moços a
cavallo, e rapazes com cordas breadas o
accosas.
SOIDADE, s. /. Termo antiquado. Sau-
dado.
— Sididão. Vid. Soedade, Soledade, o
Soidoso.
SOIDÃO, s. f. Termo antiipiado. So-
li.ir.o.
Longe, por osse azul dos vastos marca,
Na soidão raclaucliolica da» aguas
Ouvi gemer a lameutosa Alcyono,
E com cila gemeu minha saudade.
OAimKTI, CAMÕBS, c*nt. 5, c»p. 3.
SOIDO, s. 7)1. Sonido.
SOIDOSO, A, ailj. Termo antiquado.
Saudoso, (pie inspira saudado.
SOIEIRA, s. /. Vid. Matricaria.
— Tíjrmo auti(piado. Offieio, trabalho,
occupação do caçador de coellios, a quo
chamamos hojo espera.
SOIS. F(Srma irregular do verbo ser
na segunda pessoa do plural do tempo
presente do modo indicativo. — «E pois
o sois, não seria mal, que em pago ou
satisííKj^ão do quo vos quero e vos mere-
ço, trocásseis alguma hora a vontade po-
rá comigo.» Francisco do Moraes, Pal-
meirim d'Inglalerra, cap. 120. — «Não
sei cousa (pio não faça por viver, disso
o outro. Pois convém, que primeiro me
digais, quem sois, e depois disso, que
no palafroin do um de vossos escudeiros
vais ;l corto de ol-rei Rccindos, que do
cavallo mo quero cu servir polo que mo
matastes.» Ibidem, cap. 12õ. — ((Agora,
que sei, que sois V(')s, tenho em muita
mais conta o cavalleiro das donzellas e
me fica mais desejo do o conhecer : pe-
ço-vos me digais se lhe vistes o rosto, de
que idade será, e se o conheceis não mo
encubrais, quo receberei nisso grani pe-
sar.» Ibidem, cap. 120. — ((Pcço-vos, se-
nlior cavalloiro, disse Florondos, que me
digais quem sois ; quo quanto mais vejo
vossas obras, maior desejo tonho de vos
saber o nome : ao menos saberei a quem
devo tamanha morcô. Senhor Florendos,
disse elle, não quero de mim vos fique
esse desgosto.» Ibidem, cap. 127. — «Ve-
des acpii duzentos xaraíins, dar-vos-hão
cavallos, o companliia quo vos leve a
vossa madre, parentes, o criados tendes,
elles vos darão modo de vida, pois eu
não sou poderoso pêra mais : e liuma 8í'>
cousa vos peço polo amor com que vou
salvei, o criei estes dias que em minlia
casa CHtiv(!Htea, que vos loinbrcis do meuí
HIlioH, ponpio filhos, netos, o bisnetos
sois, o ambos pe-isoa, o animo tondíjs
pêra adquirir e^tado.» Harros, Década
10, cap. 6. — «A máxima das conve-
niências he ter maõ cada hum no que ho
sou até morrer, o naõ largar a mãos La-
vadas, o que outrem nos ganhou com ci-
las ensanguentadas. Sois muito bacharel :
naõ mo sejacs Pelras iii cunctis ; olliay
que vos farei Joannes in vinculis. Ide-
V03 logo por aquella porta f(')ra.» Arte
de furtar, cap. 29.
Qual V1I3 soii
110 seu (|ual jaz vosso tal
tcrlado do original,
clle antes, vi''3 despois,
principio do principal.
ANTÓNIO rUESTES, AUTOS, pag. 55.
KcA
o sonlior doutor? soi.': d'clle?
O doutor nào, está cUc.
Quem ?
Meu senhor.
IBIDEM, pag. 203.
Sois um favo
de musica ! não no ha mais ;
querci-vos ensinar ao cravo ?
O.rto (^uc mo maravilho
d'c39as musicas cstrosas.
iBinEM, pag. 247.
E 30 cu quero !
Pagar-lhe-hcis
cs.ia injuria.
Sois sua Hcro?
é mui bom quo o desculpeis.
iBiDBM, pag. 2G5.
Sabei de certo quo são
irmãs n'Í3so, dc3can<;ae.
Cantemos outorga, i>ac,
sois limão de vosso irmão.
iDiDEM, pag. 267.
Porque lia tanto que sois ido
d'csta casa, c esta inolher
não V nad.i de sofrer
tão descuidado marido ;
fazeir» aqui padecer.
IBIDEM, pag. 335.
BofA que o nAo vos engelhe
segnn(io estaes no não levado :
dizei, sois de Sernacelhe?
Nem telha que me lã telhe.
iniDBM, pag. 361.
Sois de Santa Comba-Dão ?
Nem como se ainda pinta.
De Cauas de Senhorim ?
Não.
Chão-de-Coucc, Monção,
Boinvivcr ?
Não,
nem do viver bem.
Não n'o está,
vac ji no« (|uin2C degraos
essa junta.
Vá ou nio vá,
«01* parente; c a qu<? sois cá?
iniDRM, pag. 363.
Jchub! yin que arrccflacB?
Não me pariste, e mais
do que cu cuido v/is vfrrci».
Senhor, lá m'o puardac ora
por quftin sois, d'algum cajfto.
IBIDP.M, pag. .397.
SOJEITAR, r. a. Vid. SujeiUr. — «E
que vendo o grande Lupantoo, Her[)c tra-
gadora da concava funda da cana do fu-
mo, esto preceito a que Deoa sojeitara o
homem por lhe dar merecimento no f'oo,
se f(jra a sua molher, o lhe dissera que
comesse e convidasse sou mariílo, porque
lhe afirmava que em comendo ticariào
ambos na sabeduria muyto mais excel-
lente.s do que De(js os criara, c livres da-
quclla natureza pesada de que os compu-
sera, com que num sii momento seus cor-
pos cntrari.iõ no Coo.» Fernão Mendes
Pinto, Peregrinações, cap. 16.3.
SOJEITO, pari. 2>ass. de Sojeitar. Vid.
Sujeito. — «Pitau iJicalor novo Chaem
neste santo auditório da gente estrangey-
ra por vontade do lilho do Sol leaõ co-
roado no trono do mundo, ao qual todos
03 cetros e coroas ile todos os Reys que
govcrnão a terra .saõ soj eitos, e postos
debaixo dos .seus peia, por graça e vonta-
de do mais alto doa Ceos.t Fernão Men-
des Pinto, Peregrinações, cap. 103. —
íEspccul.ado bem este negocio por alguns
dos nos.«ios que eraõ mais curiosos, se af-
firma, segundo o dito deste grepo, e pelo
que aly nos jurou em sua verdade, que
sobre a libertação destes idolos que aquy
vimos presos, saõ mortos por algumas ve-
zes mais de três contos de homens, a
f('pra 08 das batalhas passadas, donde se
pf')de ver claramente quanto o den.onio
tem sojeitos estes miseráveis.» Ibidem,
cap. lti"2. — «Porque huns despiam suas
vestiduras e as lançauam no cham, por
onde o Senhor auia de p.assar: outros su-
biam nas amores osgalhando-as, e cor-
tandoas.» Fr. Bartholomeu dos Martvres,
Catecismo da doutrina christâ.
SOJORNO, .«. m. Casa, habitaçXo, mo-
rada.
SOJUGADO, part. pas$. de Sojugar.
SOJUGAR, 1-. a. Vid. Subjugar.
l.) SOL, a^r. StSmente, ainda só, tão
siSmente, ao menos.
2.^1 SOL, .1. m. (Do latim sol). O as-
tro, cuja luz faz a claridade do dia.
A luz do sol pura
Só a vós se negue ;
Seja noite escura,
Nunc..a a manhã chegue.
CAU., BEDONDILUAS.
Dos olhos, com que o trj escurecia.
Levando a luz em lagrimas banhada,
(
SOL
SOL
SOL
569
De si, do fado, e tempo magoada,
Pondo 03 olhos no Coo, asai dizia...
IDEM, SONETOS, U.° 99.
— «Que em uns havia arvoredos de
troncos mui grandes, as ramas tão alta.?,
que parecia tocar as nuvens e tão bastas,
que apenas se podia andar antr'ellas, de
qualidade e natureza, que na maior força
da calma se meneavam com vento, e o
sol por antre as suas folhas não tinha
força pêra impedir a sombra.» Francisco
de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap.
120. — «Em outra parte Hores continuas
de todo o armo de tantas diversidades de
cores, quantas a primavera traz comsi-
go, quando se mais jefiaa. Em algum
destes campos verdes sem nenhuma ou-
tra mistura d'uma erva baixa quasi tosa-
da, pêra alli lograr o sol, quando a huma-
nidade o desejasse.» Ibidem. — «Então,
porque isto era no mez de dezembro, e
por falta do sol, que andava n'aquelle3
dias embuçado, lhe era necessário valer-
se do fogareiro, e acertaram em casa de
descuidar-se e deixaram o mantéo sobre
uma cana a enxugar.» Fernão Soropita,
Poesias e prosas inéditas, pag. 120. —
«Em o qual tempo dizem estar a Lua
fraca, e infortunada com a combustão do
Sol.» André de Avellar, Repertório dos
tempos, foi. 278.
Hontem poz-se o sol, c a noute
cobriu de sombra esta torra,
agora he jaa outro dia
tudo torna, torna o sol,
si foi a minha vontade
para nam tornar eo tempo.
CHKISTOVÂO FALCÃO, OBRAS, pag. 30.
— «Sabey que esta invenção não he
dos Mysticos Portuguezes, antes pelo
contrario temos no nosso Paiz huma Vil-
la, cujos moradores pagão hum Carneyro
em todos os Sabbados em que se não vê
o Sol.» Cavalleiro d'01iveira, Cartas, liv.
1, n.o 24.
Pouco espaço depois que o passo volta
Faleiro para os seus, não vagaroso,
A bella Aurora em nova luz envolta
Deixa a conversação do velho esposo,
E ante o Sol os cabello.s de ovu-o solta
Não sem graã mágoa de Titon cioso,
A quem a ausência desta chara amiga
A suspiros, e a lagrimas obnga.
FRAMCISCO dVnDHADE, PRIMEIRO CERCO DE DID,
cant. l-i, est. 100.
Pallido agora cabo, esto que agora
Fazer cahir mil pallidos cuidava,
E inda que não vio logo a ultima hora
Comtudo ja mui perto delia estava.
Porque quando de novo a nova Aurora
As estradas ao Sol apparelhava,
A sua alma infiel com grão tormento
Foi a beber o eterno esquecimento.
rBiDEsi, cant. 18, est. 43.
Com sua voz omnipotente o Nada
De tudo se tornou berço fecundo :
Com sua voz na cúpula azulada
Ficou fixo, esplcndente o Sol jooundo ;
E traz co'o moto da Celeste Esfera
O Estio, o Outono, o Inverno, a Primavera.
J. A. DH MACEDO, O ORIENTE, CaUt. 10, CSt. 20.
Só deixa o Sol que os olhos lho fitemos.
Quando opnco no eclipse o disco mostra.
Tal he da humana Natureza a sorte.
Depois da perda de innocencia antiga !
IDEM, MEDITAÇÃO, Cant. 1.
Obra do grão Copérnico descubro
N'outro Globo esculpida immensa esfera ;
Delia he Sol luminoso iinmobil centro,
Que tão próximo a si Jlercurio observa,
Que immerso cm sua luz se mostra á vista.
IDEM, VL\GEM EXTÁTICA, CaUt. 3.
São milhões, e milhões, conta-as se pódea
Distantes entre si quanto he distante
De Sirio o nosso Sol ; e tu conheces
Qu'immoveis centi-os são d'opaco3 globos.
IDEM, A NATUREZA, CaUt. 1.
Do claro Sol o rosto afogueado
Começa d'esparg!r mais fròxos raios,
O frio duvidoso, a calma incerta
Conservâo na Estação doce equilíbrio.
— De sol a sol ; desde que elle nasce
até que se põe.
— Partir o sol nos duellos ; dividir o
campo dos duellistas, e postarem-se n'el-
le, ou as fileiras dos exércitos, de ma-
neira que não dê o sol no rosto de ne-
nhuns, para não ficar de peor condição
que os outros.
— Tomar o sol ; aquecer-se a elle.
— O sol fulgurante ; ô sol brilhante.
Oh fulgurante Sol, figura, emblema
Do immortal esplendor ! Nelle se mostra
Sou immonso Poder, Bondade Eterna.
J. A. DE MACEDO, A NATDEEZA, Caut. 1.
— Sol de inverno; as mostras de ami-
zade e boa conversação, que tem bons
princípios, mas duram pouco.
— Adorar o sol que nasce ; adular,
servir aos novos potentados, poderosos.
— Ardente sol estivo ; o calmoso sol
do estio.
Recolhe assi do livre c do captivo
Coleimão do ouro e prata buma grãa copia.
Mas mór a recollieo d'um ódio \\xo
Co'a gente natural, e co'a sua própria;
Que debaixo do ardente Sol estivo
Não ferve tanto a areia da Ethiopia,
Quanto huns c outros em ódio estão fervendo
Todos porque roubados se estão vendo.
P. DE ANDRADE, PRIMEIRO CERCO DE Dltl, Cant.
19, est. 18.
— Tomar o sol ; tomar a altura, a la-
titude geographica.
— Não deixar alguém a sol nem a
sombra; perseguil-o a toda a hora.
I — Pesar o sol ; tomal-o.
— Mentir de sol a sol ; mentir todo
o dia, sempre.
— Sol posto; diz-se quando desappa-
rece do nosso horisonte.
Se inda, Alcipo, te lembras, que a meu lado
Cansada do fervor d.árido Agosto,
Já quando posto o Sol, bafagem doce
Humedecia, amaciava os ares.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Cant. 1.
— Casa do sol. — «Esforçado e leal
capitão dos Portugueses por mercê do
grande Key do cabo do mundo, leão for-
te, e de bramido espantoso, com coroa de
magestade na casa do Sol, eu o malafor-
tunado Chaubainhaa príncipe que fuy.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações, ca-
pitulo 148.
— A Jilha do SOL
Sabeis, mãe, em que me fundo?
Eu sam a filha do Sol,
E se o mundo teve flor.
Eu sam as flores do mundo,
E da presunção maior.
Que som tão fantesiosa
E tão cheia de grandeza.
Que não prezo sor formosa.
Nem prezo a quem me preza,
E prezo-me de generosa.
GIL VICENTE, FARÇAS.
— o sol sepultado ; sol posto, mergu-
lhado no oceano.
O sol jil sepultado só por vél-a,
sem poder de Neptuno ser detido,
colloca o plaustro d'ouro junto d'clla.
BISPO DO GRÃO P.«Á, MEMORIAS, pag. 71.
— Sol; os seus amores. — «O Conde Pe-
dro C-p-i não he Portuguez, V. S. mes-
mo me tem afirmado que he sevi Compa-
triota. Chama Sol, e Estrella aos seus
amores.» Cavalleiro d'01iveira, Cartas,
liv. 1, n.° 33.
— Plur. Termo de poesia. Estrellas.
Immensas Legiões de Soes observo
Que o Firmamento azul bordão, povoâo;
Se huma Estrella se mostra, outra se eclipga.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Cant. 1.
Se a Terra, dizes tu, se outros Planetas
Por centro de seu giro o Sol conhecem ;
Talvez que os Soes. que fixos, que engastados
Parecem ser na abobada azulada,
Tenho centro commum n'hum Sol mais piu"0,
Mais vasto, e luminoso, e que dcscrcvão
Em roda delle essa Orbita assombrosa.
IDEM, VIAGEM EXTÁTICA, CaUt. 4.
Cego ! Que apraz cuidar , que os «Soei gravados
Por todo o esmalte azul a cento e cento
Sirvào só d'c3pargir (mortal soberba!)
Inúteis, sem ^"igor, languidas luzes.
Quando a noite sereno os Astros mostra
No de-sdobrado véo, vasto, infinito?
IDEM, A NATUREZA, Cant. 1.
— Figurada e poeticamente : Dias.
570
SOL
SOLA
SOLA
Porém jil cinco »oeê eram possadoH
Que d'alli no» partiramoa, cortando
Os marc» nunca doutrem navegados,
Prosperamente os ventos assoprando.
CAM., LU8., cant. 5, est. 37.
— Figuradamontc : Calores do sol.
— Termo do poesia. Os olhos.
— Termo popular. Sol cris ; eclipse do
sol.
— Adágios k puovEumos :
— Sol quo muito madrup;a, pouco dura.
— Sol roxo, agua ao olho.
— Sol posto, obreiro solto.
— Sol na eira, chuva no nabal.
— Sol o boa terra fazem bom gado,
que nJlo pastor afamado.
— Sol dabril, abre a mão, deixa-o ir.
— Sol de janeiro, sáe tarde, e põe-so
cedo.
— Sol do inverno sempre anda detraz
do outeiro.
— Sol de março pega como pegamaço,
e fere como maço.
— Nem sabbado sem sol, nem moça
sem amor.
— Com agua e com sol Deus ó crea-
dor.
— Pastor descuidado, ao sol posto bus-
ca o gado.
— Fazo o que manda o senhor, assen-
tar-te-has com ello ao sol.
— Quando chove e faz sol, alegre es-
tá o pastor.
— Ha chuva que secca, e sol que
rega.
— Por sol que faça, não deixes a ca-
pa em casa.
— Amizade de genro, sol de inverno.
— Hospede com sol ao lavor.
— Para quem ganhas, ganhador? para
quem está dormindo ao sol.
— Quem não anda por frio, e por sol,
não faz seu prol.
— Se queres boa fama, não te tomo o
sol na cama.
— Visita de quem não tiveres dôr, á,
tarde, e sem sol.
— Sai-me ao sol, disse mal o ouvi
peor.
— O alcaide e o sol, por onde quer
entram.
— A donzella e o açor com a espalda
ao sol.
— Em janeiro um pouco ao sol, outro
ao fumeiro.
— Por Natal sol, e pela Paschoa car-
vão.
— A mulher e a gallinha com sol re-
colhida.
— Agua que deres a teu senhor, não
a olhes ao sol.
— Abala pastor com as espaldas ao
sol.
— Com bom sol se estendo o cara-
col.
— Dous soes não cabem no mundo.
3.) SOL, s. m. Termo de musica. A
quinta voz do hexacordo, quatro pontos
acima do dtí.
4.) SOL, .1. m. (Do francez sol). Ter-
mo antiquailo. Solo, chão, terreno.
SOLA, s. f. (Do latim solum). O cou-
ro (h; boi, cortido, e preparado.
— A sola do sapato; a parte inferior
c a mais dura do calçado.
So cu nntflo a escudeirar,
ah ! bofi'', que encrespadas
me fiquem as sola»!
ASTOMio i-BESTEs, AUTOS, pag. 459.
— Pôr solas ; vid. Solar sapatos.
— Sola do pó; a parte inferior d'elle,
opposta ao peito.
SOLAÇOSO, A, adj. (Do latim sola-
tium). Termo antiquado. Aprazivel, delei-
tavel.
SOLAIRO. Termo antiquado. Vid. Sa-
lário. — «Por se melhor declarar, e en-
tender como se ham de contar estes so-
lairos, quanto pertence ao veencer, e
defender, averaõ de ver aquello, que ao
autor he julgado do principal da senten-
ça, sem csguardar aqucUo, que he pedi-
do.» Ord. Affons., liv. 1, tit. 4õ, § 12.
— «E as que daqui em diante cscrepve-
rem, por quanto cada hum Escripvaõ da
Camará as podo logo escrepver com pou-
co trabalho, mandamos que as escrepvaõ
sem outro solairo.» Ibidem, liv. 4, tit.
24, í? :i.
SOLAM, s. m. Prazer, allivio, consola-
ção. Vid. Soláo.
SOLAMENTE, adv. Termo antiquado.
Sr>mente, unicamente, tão somente. —
«E outro sy aquelle, que d'outro nosso
Vassallo receber cavallo, e armas, se
antes dos três annos compridos, ou se
tam solamente recobco cavallo sem ar-
mas, ante do anno e meio, e se armas
sem cavallo recebeo, ante do anno com-
prido.. Ord. Affons., liv. 4, tit. 26, § G.
SOLANEAS, s. /. plur. Familia de plan-
tas. Vid. Estramonio.
1.) SOLANO, s. tn. (Do latim solanum).
A herva moura.
2.) SOLANO, s. m. (Do latim solanus).
O vento sul.
SOLÃO, s. VI. Vid. Solào.
SOLÁO, í. m. Romance ou cantiga com
toada musica, ou que affecta esse estylo,
commuramente triste, ou para allivir me-
lancolias.
SOLAPA, s. f. Cova por baixo, e ta-
pada, que se não vê.
Um pintor tal não entrapa ;
sendo de tudo orphãozinho,
muito inho,
sem ter lapa nem fn!ajxi,
eira, nem beira, nem uinho.
ASTOHIO riISTES, AUTOS, pag. 347.
— Figuradamente : Astúcias, vicioa
occultos.
O atnor tem
mil tolajxu, mil barrancos,
fraudes com to<los seus bancos,
nâo basta a dizcl-o bem.
A5T0.M0 PKESTKS, AUTO», pag. 221.
SOLAPADAMENTE, adv. Ab escondidu,
com di>laicc.
SOLAPADO, part. pais. de Solapar. En-
covado |/or liuixo.
— Figuradamente : Que cobre damno,
ruina, como a pedra 8rd>re a lapa.
— Animo solapado ; aquello de quem
encobre niahiade.
— Ferida solapada ; com buraco fun-
do e encoberto.
— Cheio de solapas, nSo solido, nlo
seguro, que tem ruindade occulta.
— Caõelladura solapada; cabello crea-
cido, solto.
— Figuradamente : Minado.
SOLAPAMENTO, s. m. O vão da cousa
solapada, socavada.
— Figuradamente : Engano, mina oo-
culta. Vid. Solapa.
SOLAPAR, V. a. Escavar por baixo.
— Figuradamente : A vaidade solapou
a virtude; tirou-lhe o fundamento e deu
com ella em terra.
— Figuradamente : As formigas sola-
pam as casas, a terra.
1.) SOLAR, adj. 2 gen. (Do latim *o-
laris). Concernente ao sol. — Eclipse so-
lar.
— Anno solar. Vid. Anno.
— Systema solar ; systeraa de Copér-
nico, aperfeiçoado.
Ao mesmo fim v.ío indo os Entes todos,
A causa, que os produz, mantém, conserva,
Do Systcma iSolar também foi causa.
1. A. DE HACEDO, MEDITAÇÃO, CAUt. 4.
— Espliera solar.
Mas á Esfera .«o/iir já volto as azas ;
A frente recolhida, immoveis olhos
Bradão que volves pelo contro dalma
Dúbias idéas, vastos pensamentos.
Debalde intentas pcrguntar-me... eterno
Silencio, escuridão, no seio esconde
Tudo qu'alcm do espaço a mente anhda.
J. A. DE MACEDO, A SATCKSZA, Cant. 1.
2.) SOLAR, adj. 2 gen. Termo de ana-
tomia. Que diz respeito á sola ou planta
do pé.
3.) SOLAR, s. m. O chSo da casa an-
tiga de alguma familia nobre.
— Solar conhecido ; o solar de nobres,
e fidalgos de avós a netos, de nobreia e
fidalguia conhecida e indubitável.
— Maldizentes de solar ; pessoas gra-
duadas que tem esse vicio.
— Herdade, ou terra onde ha solar ;
isto ò, onde ha casas fortes, castellos,
onde a nobreza vivia, c dahi defendia
as cidades, rillas, etc. Hoje se diz, e
SOLD
SOLD
SOLD
571
chama solar grande a terra ou o senho-
rio dos grandes e titulares.
— Solar com jurisdicção ; senhorio dos
que nas suas terras, e n'elles exercem
jurisdicçào por seus juizea.
— O solar das boas letras.
4.) SOLAR, V. a. Cobrir com sola, pôr
solas.
SOLAREGO. Vid. Solariego.
SOLARENGO, A, adj. e ». Os que mo-
ravam em terra de alçrum fidalgo de so-
lar, eram como vassallos, e pagavam cer-
tos direitos aos senhores do solar.
SOLARES, s. m. plur. Homens adora-
dores do sol.
SOLARIEGO, A, adj. Que pertence ao
solar de nobreza.
— Figuradamente : Nobre, de solar.
Vid. Solarengo.
SOLÁRIO, s. m. Vid. Soalheiro.
SOLAROSO, A, adj. Termo antiquado.
Que consola.
SOLAS, s. m. Termo antiquado. Vid.
Soláo.
— Adj. 2 gen. Que consola o próximo.
SOLAS. — Estar a solas ; estar só, sem
companhia.
SALAVANGO, s. m. Salto, pendor que
faz carroça, sege ou coche em más estra-
das.
SOLDA, s. f. A matéria de que se faz
nso para soldar metaes, pedras. Vid.
Consolda, e Momia.
SOLDADA, s. f. Quantidade de soldos
que se dão aos que os recebem, e por isso
se chamam soldados; o mesmo que mo-
dernamente se chama soldo militar, e sol-
dada de certos serviços. — «Cá nom pa-
rece menos razom aver lugar no serviço
feito a bem fazer, que no serviço feito
por soldada. Pêro nom he nossa teençom,
que a dita Ley com sua declaraçom aja
lugar no meor de vinte e cinco annos; e
porem mandamos, que os ditos três annos
comecem a correr tanto que esse meor
chegar á hidade de vinte e cinco annos,
e ataa esse tempo nom corraõ contra elle. »
Ord. Affons., liv. 4, tit. 27, § 3. — tOu-
tro sy alguuas homeens braceiros, que
sooem andar aos jornaaes, teem filhos, e
filhas, e por lhos nom demandarem por
soldada, poem-nos a mesteres, e tanto
que passaõ alguuns tempos, tiraõ-nos del-
les, e quando os demandaõ pêra mora-
rem por soldada, pooem escusa que som
postos a mesteres : seja vossa mercee,
que aquelles, que seus filhos nom tive-
rem continuadamente a mesteres, que se-
jaõ costrangidos de morarem por solda-
das.» Ibidem, tit. 30, § 1. _ «Se al-
guém lançar mancebo, ou manceba fora,
que colheo por soldada, de sua casa,
ante que o prazo chegue, dar-lhe-ha toda
a soldada, pois que o lançou fora de sua
casa sem sua culpa, dizendo que nom
quer que o serva.» Ibidem, tit. 32, § 1.
— «E se o mancebo, ou manceba leixar
seu Senhor, ante que acabe o tempo da
soldada, sem culpa do Senhor, deve-lhe
tornar a soldada, que ja delle recebeo,
dobrada, e servir todo o tempo da solda-
da : ergo se for a prazimento do amo, e
do mancebo.» Ibidem. — «Pêro querendo
ante o dito amo logo pagar a dita soldada,
e que lhe fique lugar pêra despois deman-
dar o dito dampno, podel-o-á bem fazer,
e averá lugar pêra o provar, segundo for
razom, e ao Juiz bem parecer.» Ibidem,
tit. 33, § 3. — «As guerras de Flandres
estiveram muitos annos de quedo, susten-
tando exércitos grossíssimos com immen-
sos gastos, e soldadas de Cabos, que os
comiaõ com huma mão sobre outra, pon-
do em pés de verdade, que tudo era ne-
cessário, porque dalli viviaõ.» Arte de
furtar, cap. 44.
— ííamem c/e soldada; ganhão, que por
ella se aluga a outros, mercenário.
— Foro pago em soldos.
— Uma soldada de pimenta; a porção
d'ella que se devia dar por um soldo,
como dinheirada, a que se dava por di-
nheiro.
— Figuradamente : Recompensa, pre-
mio.
— Estar á soldada com alguém.
SOLDADEIRO, A, s. Pessoa que recebe
soldo, soldado.
— S. m. O soldado.
SOLDADESCA, s. /. A gente de guerra.
— iSer da soldadesca de algum gene-
ral; ser do seu exercito.
SOLDADESCO, A, adj. De soldado. —
Vida soldadesca.
SOLDADINHO, s. m. Diminutivo de Sol-
dado.
1.) SOLDADO, s. m. (De soldo). Ho-
mem alistado para serviço militar, exer-
citado n'elle, e que por isso recebe sol-
do ; na graduação é a ultima classe, abai-
xo dos anspeçadas. — «Dom João ^lasca-
renhas os mandou soccorrer por mais sol-
dados, que sahiaõ pelo postigo fora, e
travavaõ com os Mouros, ateando-se de
parte a parte hum fermoso jogo de arca-
buzaria, de que todos receberão assas de
dano, acodindo a mur parte dos Fidalgos,
e cavalleiros ;\quelle negocio, que era de
importância.» Diogo de Couto, Década 6,
liv. 2, cap. 3. — «Mas os soldados se
desempulhavaõ, dizendolhes «que faiavaõ
elle^, porque o seu Capitão lhes não dava
licença pêra os hirem là buscar, porque
se lha a elles deraõ houveraõ de achar
leões, e não galinhas : mas que tempo vi-
ria em que lho mostrariaõ.» Idem, Déca-
da 6, liv. 10, cap. 3. — «D. Diogo de
Noronha chegou ao galeão de Gonçalo
Pereira Marramaque, que se não via del-
le mais que o casco, e metendo-se no ba-
tel fov a elle : Gonçalo Pereira o esperou
a bordo com todos os seus soldados, ba-
nhados em seu próprio sangue, e cheyos
de pólvora, e suor, e empenados de mui-
tas frechas por todas as partes.» Ibidem,
cap. 13. — a Os que hauiam de dar as-
salto ordenou que fossem Emanuel de la-
cerda, Sebastião de miranda, e Nuno vaz
de castel branco per huma banda, e pela
outra junto delles dom Hieronymo de li-
ma, Aires da silua, George fogaça, dom
loão de lima, Fernam perez dandrade, e
outros capitaens e soldados, dos milhorea
que auia na frota.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 3, cap. 6.
— «E com o mesmo recado despachou
hum nauio a ilha da madeira, dondelhe
acudio muita gente nobre, e lhe mandou
a molher de Simam Gonçalvez da cama-
rá capitão, e gouernador desta ilha, por
elle então andar na corte, huma grande
companhia de soldados a sua custa, de
que hia por capitão Emanuel de Noro-
nha, irmão de Simaõ Gonçaluez ho qual
Simam Gonçaluez, foi homem mui ma-
gnifico, e liberal.» Ibidem, cap. 11. — ■
«El Rei sabendo como a tranqueira da
banda da mesquita era entrada, veo so-
bre hum Elephante acudir aos seus, mas
vendoos vir desbaratados se tornou pêra
os paços, com mais de três mil soldados
que consigo trazia.» Ibidem, cap. 19.
— «Mas tornando a esta armada de que
era capitam geral dom António de noro-
nha, hião nella mais doito mil soldados
afora officiaes que auiaõ de fazer a forta-
leza, marinheiros, e moradores pêra la
ficarem com suas molheres, e filhos, na
frota aueria duzentas velas, entre nãos,
nauios, gales, e fustas.» Ibidem, cap. 76.
— «Depois de despachados António de
Saldanha, Emanuel de lacerda, Lopo soa-
rez se tornou de Goa a cochim, donde
mandou dom Aleixo de meneses a Mala-
ca com trezentos soldados Portugueses,
em três nãos de que elle era capitam de
huma, e das outras.» Ibidem, part. 4,
cap. 28. — «Alguns dos inimigos que erão
de mais animo, despois de tornarem em
sy, quiseraõ fazer rosto aos nossos, po-
rem António de Faria se lançou logo den-
tro muyto depressa com mais outi'03 vin-
te soldados que tinha consigo, e dando
Santiago nelles, lhes deiTubou mais de
trinta, e os que ficarão vivos que se ti-
nhão lançado ao mar, mandou que os to-
massem, porque lhe eraõ necessários para
a esquipaçaõ.» Fernão Mendes Pinto, Pe-
regrinações, cap. 42. — «Diante da nos-
sa Fortalesa havia hum pequeno braço,
por onde subia a maré, junto ao qual es-
tava alojado Banha Lao ; perto deste si-
tio mandou o nosso Capitão aos quatro
feridos que se pusessem a certa hora da
noyte, e que vendo sair da parte do ar-
rayal inimigo hum foguete, desparassem
as escopetas, e fizessem tocar os tambo-
res com toda a fúria, e o Capitão levan-
do em sua companhia os vinte e seis sol-
dados que ficavam, ja noyte fechada par-
tio em busca do arrayal inimigo.» Con-
quista do Pegú, cap. õ. — «Alem disto os
mesmos soldados saõ de ordinário bizo-
nhos, e naõ quaes convém à milicia ; por-
572
SOLD
SOLD
.SOLD
quo 03 soldados, que em Lisboa se asson-
ta3 nas nossas Nilos, saõ o.í luais dolles
moços de quinze, c dezcseia aunoa, que
vem a ser liuina infantaria pueril : e por
isso vindo a pelejar com us inimi^ío.s de
Europa.» Severim de Faria, Noticias de
Portugal, Dise. 1, cap. ii. — «Esto des-
amparo dos soldados na Índia, posto, que
sempre se experimentou, atègora so naõ
tem remediado, e em quanto so naõ ata-
lhar, liaveudo naquelle Estado huma nii-
licia com numero certo de CompanLiias
com seus Capitaeus, c paf^as assinaladas,
naõ pôde deixar de se sefjiiir este danno
gravíssimo.)) Ibidem. — «E o que se en-
tão gastava com 300. lan^-as, montara
agora nas Armadas em dobrado numero
de Soldados.» Ibidem, Disc. 2, cap. IG.
— «Acabada a pratica, lho calça vaõ as
esporas dous Cavallciros, e outro lhe cin-
gia a Espada, cm que .signiiieava o antigo
baltheo, insígnia própria dos Soldados ; da
cinta lhe arrancava o Padrinho a espada,
e dando-lhe com ella três vezes ])or cima
do Capacete dizia, o armava Cavalleiro,
em nome do Padre, o do Filho, e do Es-
pirito Santo.» Ibidem, Disc. 3, cap. 2S.
: — iHum, e outro General satisfez va-
lorosamente ás obrigações do sangue, e
dos lugares porque D. Manoel de huma
plataforma lhe metia a pique as embar-
cações, e lho matava os Soldados, que
para as defenderem assistiaò na mari-
nha; e D, Fradique obrigou os sitiados a
lhe entregarem a Cidade ao primeiro de
Maio de mil seiscentos e vinte e cinco
annos.» Fr. Bernardo de Brito, Elogios
dos reis de Portugal, continuados por
D. José Barbosa. — iiA qualijuer hora
que se escalar o Corpo do Príncipe Rul-
phodo, sendo em tempo que haja cerejas,
se lhe achará muito mayor numero de
Carossos do que ao Soldado de Metz.»
Cavalleiro de Oliveira, Cartas, liv. 1,
jx." 23.
— Do bom soldado se faz o bom capi-
tão. — aNem acpii vai tanto o que dizem,
que do bom soldado se faz o bom Capi-
tam ; antes he uecessíirio que nunca lar-
gue o oíTicio do pelejar, quem ouuer de
fazer o de mandar como conuem, e co-
mo o encomendaua o Apostolo a Tlmo-
theo depois de Bispo.» Lucena, Vida de
S. Francisco Xavier, liv. 4, cap. 4.
— Pobre velho soldado ; pobre vete-
rano.
Pasaon por alli um velho,
Um iwbre velho soldado.
As barbas brancas da neve,
Em sua espada abordoado.
UOMASCEIBO OER-U., pUg. 2tí.
— Soldados ile espitigarda. — «O Go-
vernador lho eoncedeo, e andando D.
Jorge ajuntíindo os soldados de espin-
gardas, passou por hum que estjiva ar-
mado com a sua às costas, muito bem
posto no chUo, e do muita pessoa.* Dio-
go de (Jouto, Década O, liv. 5, caj). 7.
— Soldado '/« (jiawle valor; soldado
animoso, corajoso. — « Ao seguinte dia
despedio D. JoSo Mascarenhas em hum
catur a António Corroa, coui vinte com-
panheiros, soldado de grande valor, a
quem nilo sabemos o nascimeato, se bem
suas obras o merecido ou suppunhjlo il-
lustre.» Jaeintho Freire d'Andrade, Vi-
da de D. João de Castro, liv. 2.
— Soldados de puga. — « No remate
delia liça a porta da Fortaleza chamada
le.svs cie Mombaça, na qual morâo sem-
pre soldados de i)aga, que continuamen-
te a vigião : e officiaos bastantes a go-
uernar duas ordens de artelharia grossa
que em -i tem : huma bem ao lume da-
goa, e a outra na praça de cima.» Fr.
(iaspar de S. Bernardino, Itinerário da
índia, cíip. õ.
— Figuradamente : Homem de valor,
e saber militar.
— Os soldados da fortaleza; os que
a guardam e defendem. — «Pregaua o
padre na Matriz das nove pêra as dez
horas, que foram as da peleja, era pre-
sente o capitam Simam de Melo, os sol-
dados da fortaleza, os casados da cidade,
a terra toda, que todos os ajuntou cntani
o Senhor pêra serem testimunhas de sua
gloria.» Lucena, Vida de S. Francisco
Xavier, liv. 5, cap. 17.
— Pobre soldado. — -«Não terei, Se-
nhores, pejo de vos dizer, que ao Viso-
Rei da índia faltrio nesta doença as com-
modidades, que acha nos hospitaes o mais
pobre soldado.» Jiieintho Freire d'Au-
drade, Vida de D. João de Castro, liv. 4.
— Soldados janizaros.
Xas cabeças liuns feltros vão mostrando
(lusigaia dos Jauiziiros Soldados
Com que se cscào dos outros di\"Í3ando)
Que em todos sào de fino ouro bordados ;
Dos quacs ao Ceo se vào alcvantando
DilTerentcs plumagens, que tocados
Dhum brando ventosinho, então lhes davão
Grão lustro aos atavios que levavào.
F. d'a!(dr\de, fbuieuio ckbco de Dic, ciint. 13,
est. 45.
— Soldado forte ; valente, animoso.
O cruel inTonção, ao muudo dada
Li onde Lúcifer para sempre arde,
A valentia fora hoje estimada
Se acertaras de vir annos mais tarde.
Ja não vai braço forte, ou dura espada.
Esta iguala o animoso, c o que hc covarde,
Toma ja o arcabuz forte soldoiJo.
Que sem cUc serás pouco estimado.
FBXNCisco d'a.ndradk, pbuieiro cebco de dic,
cant. 2, est. 4^.
E i>orque sendo assaz exercitados
Nos ofiicios navaes, o os entendiào,
E se cumpria ter peitos ousados
Também a espada o a lança rovolviào,
Ora servem do bons, fortes soldados
Ora iís cousas uavacs se couvcrtíào,
Amí quando ae o duro imigo oScnda
Como quando no mar se a vella . <f.iid<-
luioEM, cant. 12, est. 111.
— Soldados humilde». — «António Mo-
niz, vendo brios tilo honrados em solda-
dos humildex, Ília entregou coulia<lo, di-
zendo, fiava delles o cre<lito, c a escada,
a qual logo que levantarão com deflgra-
çado valor, hum tiro cego lhos estroncou
as cabeç;i.s.» Jaeintho Freire d'Andrade,
Vida de D. João de Castro, liv. 3.
— Ii,ii-l„u-' soldado; s>)lda<lo cruel.
Cuido que *> (]•■ '■'. 'ira
Para c-astigo no-- 'lo
Que fique cno* ' l -ventara
E fique vencedor o T.uco uunado,
Que poderá ser «'SSíi formosura
Entregue cm màos do bárbaro toldado :
E.sta lembrança já táo mal me trati
Que sAmentc o tvmor disso me mmta.
y. dV.ndbade, raiXEiBO cebco de Dic,c.int. lu.
— Soldados portuguezes. — «Ha nestas
Dhas alguns soldados Portugueses, e prou-
uera a Deos que foram menoa, porque
custumào ellca viuer nestas partes, tanto
à sua vontade, como coatra a diuina :
que muytjis vezes a liberdade, he causa
de grandes atrevimentos.» Fr. (iaspar
de S. Bernardino, Itinerário da índia,
cap. 4. — «Neste tempo chegou o solda-
do Português, que em me veudo beyjou
o habito com muyta cortesia, o que to-
dos os Mouros notarão, e lhes pareceo
muy bem, e a mi muyto melhor, que os
homens anisados, em semelhantes passos,
nada lhes deue passar por alto.» Ibidem,
cap. 10.
— Soldados de guarda. — «Em quan-
to comemos mandou o Capitão aparelhar
algum refresco, e com elle, e alguns sol-
dados de guarda, nos partimos todos jun-
tos pêra a nossa embarcação. Depois de
darmos vista a quasi toda a Aldeã, em
que nào achamos cousa de notar, mais
que a Fortaleza que era de taypa.» Fr.
Gaspar de S. Bernardino, Itinerário da
índia, cap. 10.
— Peixe brazileiro, aliás camboatá, ou
iamboaté.
2.' SOLDADO, part. pa»s. de Soldar.
— Coixta soldada ; vid. Soldar 2).
— Figuradamente : AmizacU mal sol-
dada.
SOLDADOR, A, adj. e s. Que solda
meta es.
SOLDADURA, *. /. Uniio de metaes
por meio «ia solda.
f SOLDAM, s. m. Vid. Soldão.
Ho gram poder do Soldam
c do grande Tamorlam
vijmos tomar para si
ho Turcti o ho Sophi
com poder e sem auçam.
aABCL\ DE BE2E!n>E, maCET.I.i HE > .
I
SOLD
SOLD
SOLE
Õ73
E vimos por eleiçam
como Papa se eleger
por vezes o gram Soldam,
de Renegado Christam
se auia de fazer.
SOLDANELLA, í. /. A couve do mar.
SOLDÃO, L.u SOLTÃO, s. m. O impera-
dor dos turcos. — «Mayortes o gran-cam,
e Pridos, por quem elrei d'Iuglaterra fez
grandes estremos, quando o achou menos
em suas necessidades, e Belcar, Vernao,
Ditrec. o duque de Drapos de Norman-
dia, e o soldão Belagriz, com quem a
amizade de D. Duardos pude tanto, que
o fez deixar seu senhorio, e tornar a se-
guir o trabalho das armas de que já es-
tava descansado.» Francisco de Moraes,
Palmeirim dlnglaterra, cap. 14. — «Pal-
meirim, que tinha muito ódio a este sol-
dão polo casamento, que comettera com
sua senhora Polinarda, encontrando-o com
a lança, deu com elle no cuào. E a esta
causa aqui se juntou todo o peso da ba-
talha, que os turcos por fazer subir o
soldào a cavallo, e Primalião a Floranião,
que também fora derribado, concorreram
de ambas partes.» Ibidem, cap. 1G9.
1.) SOLDAR, V. a. (Do latim solidare).
Unir pecas de metal por meio da solda, e
do fogo, que funde o metal, que as une.
— Soldar uma ferida ; fazer unir os
lábios.
— Soldar o vidro com betume, ou po-
limento.
— Tornar a unir, concertar. — «Espa-
dana aguda pisada, e mistui-ada nas me-
zinhas para fendas da cabeça, ou pa-
ra soldar os ossos quebrados. » Gabriel
Grisley, Desengano, pag. loõ, em Blu-
teau.
— Soldar quebra de palavras proferi-
das contra alguém; a má vontade oífen-
dida com ellas.
— • Soldar a quebrada amizade.
— T'. n. Unir-se, pegar-se.
— Soldar-se, v. refl. Reconciliar-se em
amizade.
— Unir-se, pegar-se.
2.- SOLDAR, 1-. a. (Do francez solder).
Em commercio, quando dous correspon-
dentes tem contas e as ajustam, o que
deve paga a diíferença, e isto se chama
soldar a conta. Vid. Saldar.
— Soldar o damno; iudemnisar.
3.) SOLDAR, e SOLDADEIRO. Teem par-
ticular aceepçào no foral de Coimbra :
talvez seja servir, ou merecer soldada.
SOLDARES. Erro por Sondareza? Tal-
vez um cabo de navio.
SOLDO, s. m. (Do latim soldus). A
paga do soldado, e official militar ; o pré
dos soldados ; o que o rei ou o publico
dá aos sacerdotes, e quaesquer que ser-
vem o publico. — o Tem muitas vezes
guerra com os Reis seus vezinhos, pelo
que continuadamente pagào soldo a gran-
de multidam de gente, assi de pe, como
de caualo. » Damião de Góes, Chronica
de D. Manoel, part. 2, cap. 6. — «To-
dos estes Fidalgos forão servir á sua cus-
ta, levando criados, e soldados, sem re-
ceberem soldo, com galas, librés, de-
monstradoras do gosto com que seguião a
guerra. Tomou a armada o porto de Bar-
celona, e saluando a Capitania Imperial,
deo de si huma mostra bellicosa, e ale-
gre.» Jacintho Freire d'Andrade, Vida
de D. João de Castro, liv. 1. — «A fil-
ma, que Deos dera aos poucos Soldados
em Siriaò, acodií-am nações de todas as
partes de manejra, que chegou o nume-
ro a oytocentas escopetas Portuguezas
sem soldo, nem ordem de algum Minis-
tro u'ElRey, entre os quaes Sebastião
Serraõ, Capitão, e senhor de huma ga-
leota, desejando fazer alguma boa acção,
em que ganhasse nome.» Conquista do
Pegú, cap. 8.
— • Soldar a quebrada amizade.
— Moeda antiga que havia antes de
139Õ : 20 soldos faziam uma livra; os
soldos tiveram diversos valores intrínse-
cos, e extrínsecos, segundo a bondade
das livras. Houve soldos que valiam um
real, 4 ceitis, e 4-; outros valeram 4- reis.
— «Os devedores de cada huum delles,
que ainda nom pagarom, mandamos que
paguem o que devem, dèz a feitura des-
ta Hordenaçom em diante, per moeda
antigua, ou nova, que se fez ataa o dito
dia e Era suso dita, ou per esta moeda
de soldo de três libras e meia, e cincoen-
ta dinheiros por huum, ou cinquoenta
soldos por huum, ou cinquoenta libras
por huã, mais, ou me;ios, segujido for a
divida.» Ord. Affous., liv. 4, tit. 1, § 2.
— oE vem esta paga em hordenada ma-
neira, a saber, vinte brancos por huma
libra, e huum branco por huum soldo, e
huum preto por huum dinheiro, valendo
dez pretos huum real branco, como ora
valem.» Ibidem, tit. 2, § 63. — «Em tal
caso terá defalido tanto da dita Doaçom,
e bem assy da dita terça soldo por li-\Ta,
atee que a dita litlima seja primeiramen-
te supprida; e feito assy o dito dpfalca-
mento, se alguma cousa ficar da dita ter-
ça, e Doaçom, o que sobejar da Doaçom
havelo-ha o Donatário, e o que sobejar
da terça será destribuido segundo a for-
ma do testamento.» Ibidem, tit. 14, § 6.
Quem do pae, compadre amigo,
perde bençào, é filho esquerdo,
c'os que dous soldos nem um figo
possam herdar do que herdo -,
seu comsigo e meu comigo.
AXTONIO PKESTE3, AUTOS, pag. 251.
— Soldo á livra; proporcionadamente
ao principio.
— Contribua cada um soldo á livra;
á proporção do que tiver.
— Alguns escriptores dizem que o sol-
do é estipendio de soldado, e o soldo
moeda.
SOLECISMO, s. J/i. (Do latim solcecis-
mus). Erro de grammatica na concordân-
cia, ou no modo de declarar as relações
das cousas.
SOLEDADE, *. /. Solidão, logar solitá-
rio.
— O estado de quem está só, e a sau-
dade que o acompanha da pessoa de quem
está só, e desejoso.
SOLEDÃO, s. f. Vid. Solidão.
SOLEIRA, s. f. Um ferro que anda de-
baixo das tesoui-as do coche.
— A pedra de baixo do portal.
— Termo de marinha. Taboão que
chega desde a taleira até á dianteira da
carreta de qualquer peça.
— Soleira da espora ; a correia, que
nas esporas seguras por correias, passa
por baixo da sola. Vid. Grade da es-
pora.
— A parte da estribeira onde assenta
o pé.
— Pedra, ou peça, que assenta no
chão, por differença das ombreiras, e do
arco ou peça superior da portada, aliás
verga, quando é direita, sem volta de
arco.
— Plur. Termo de náutica. Abas so-
bre que assentam os pés dos esbirros.
SOLEMNE, adj. 2 gen. (Do latim so-
lemnis). Celebrado todos os annos com
ceremonias publicas e extraordinárias de
religião. — Sacrijicio solemne. — « Ao
outro dia se fez huma mui solemne Pro-
cissão em que o Governador foy vestido
de escarlata por encobrir sua tristeza,
e por alegrar o povo, que andava assom-
brado das ruins novas que os Mouros
espalharão.» Diogo de Couto, Década 6,
liv. 3, cap. 7.
— Acto solemne ; acto authentico, re-
vestido das formalidades requeridas. —
«E por elle Diogo Mendes ficar prezo no
castello pelo caso que atrás fica, Fran-
cisco Corvinel Feitor, e os OfBciaes da
Camará da Cidade, e outras pessoas prin-
cipaes lhe foram com acto solemne le-
vantar a menage de prezo, e lhe entre-
garam o governo da Cidade com nome de
Capitão delia.» Barros, Década 2, liv. 6,
cap. 8.
— Pomposo, magnifico, acompanhado
de ceremonias. — «Que o mesmo faça o
prelado da Religião, o homem douto, e
virtuoso delia; assista-lhes o marido, dê
auctoridade a suas visitações, que então
fica a pratica mais universal, e a visita
mais solemne.» D. Francisco Manoel de
Mello, Carta de guia de casados.
— «E como ao ouvido
Chegou à"elrei meu ignorado nome?»
— «Sabereis tudo! dae-vos pressa; é tempo
De prcparar-vos á solemne audiência
Que havereis do monarcha.»
Gi-EBETT, CA3IÕES, caut. 5, cap. 14.
— Em que ha ceremonias.
574
SOLE
SOLE
SOLF
l'ac mo chama»toa? — Kicutao a ortrCma
Vontado, o último rogo o maiidiiincnto
Do uiii pae... o proinottui-nio ai|iii iruBta hora
Solenine, — n'i!8tc instanti! dcrruílciro
Da despedida — proinottoi cuinpri-hi :
Juraí^-nro, lilho^!
oÀBucrr, catIo, aet. 5, se. 5.
— Gesto solemne. — «O frado compri-
miu a fronte com uma das mãos, como
buscando conter o tumulto das paixòes
que o afeitavam o estendeu a outra para
sua irman com fjesto solemne.» A. Her-
culano, Monge de Cister, cap. 22.
— Voto solemne ; voto feito em face
da igreja com as formalidades requeridas
pelos cânones ; em opposii^iío ao voto siin-
pks.
— Acompanliado de formalidades re-
queridas, authontico.
— Gosto solemne.
São bona uma hora
tol-09, dão jiòsto sotemtte.
Não noa tenho, essa lanijada
fòrija é que tambom a peuc.
ÀNtO.NIO PBK3TE3, AUTOS, pag. 439.
— Syn. : Solemne, atithentico.
Tudo o que se faz com solomnida-
de, com appavato de ccremonias publi-
cas, rolijíiosas ou civis, ó solemne. .í4íí-
thentico é siS aquillo que tem auctoridade
e fé publica, quo é juridicamente legali-
sado, sem idêa nenhuma de solemnidade
ou apparato.
Solemne refere-se As formalidades ex-
teriores, com que se faz um acto publi-
co; e autheiítico ás qualidades intrínse-
cas do in.strumento que fica fazendo fé e
tendo validade.
SOLEMNEMENTE, adv. (De solemne,
com o suffix>> «mente»). De um modo
solemne. — Este casamento fez-se sole-
mnemente.
— Com solemnidade, authenticamente.
SOLEMNIDADE, s. f. iDo latim solemni-
tas). Festa celebrada todos os annos com
pompa o brilho.
— Ceremonia publica, que toma uma
cousa solemne. — «Fez-se no mesmo cas-
tello, porque o cavalleiro do Salvage, de-
sejoso de seguir seu caminho, não quiz
esperar o espa^'o que os governadores pe-
diam pêra ordenar as festas; antes dan-
do pressa ao recebimento, se celebrou
com toda a solemnidade, que se podia
fazer em t.ú lugar.» Francisco de Mo-
raes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 130.
— «Deste modo ordenados entramos na
Igreja e Conuonto de Sancto António,
que assi se chama o que ali tem, a or-
dem Augustiniaua. Cantouse a Missa com
solemnidade, e ouuo nella Sermão, o qual
foz o padro Frov Jliguel do Sam Boa-
uentura : ncllo relatou ao pouo toda nos-
sa viagem, onde as lagrimas de douação
forXo tantas, que a gràJe copia delias,
poderá ser eterna testemunha desta ver-
dade, quo em fim só lagrimas sabem ser
ai vcrdadcj-raa das angustias paHHadas.»
Fr. (iaspar de S. Ilcrnardiíio, Itinerário
da índia, cap. 4. — «E foy enterrado na
Igreja mayor, onde jouuo com esperança
do milagres quo uombo Senhor por olle fa-
zia, e daliy foy depoin leuado ao mosteiro
da Batallia por cl Key dom Manoisl, quo
santa gloria uja, com muyta infinda honra,
e acatamento, c solemnidade, onde ora
jaz seu corjjo, onde tem iiiuytos quo tem
feytos muytos milagres, e em seu corpo
por huma buraca quo tem na sepultura «e
tocão luuytas cousas, e se louão por relí-
quias de santo.» (iarcia de Rezende,
Chronica de D. João II, cap. 214.
— Formalidades que tornam um acto
authentico. — A solemnidade de um tet-
tamento, de uiti jurciiiioito.
SOLEMNISAÇÃO, ou SOLEMNIZÃÇÃO,
s. /. Acto pelo qual se solcmnisa. — A
solemnisação de uma fista.
SOLEMNISADO, ou SOLEMNIZADO, i>art.
pafs. lio Solemnisar. — Anniversario so-
lemnisado cimi pi/m-pa.
SOLEMNISADOR, ou SOLEMNIZADOR,
A, 4. i^essoa que solcmnisa, celebra, fes-
teja.
SOLEMNISAR, ou SOLEMNIZAR, v. a.
Celebrar com ceremonia. — tQue novo
martyr amanhece á companhia para so-
lemnisar a sua memoria no necrológio do
padre António José, do padre Guignard
e outros varões, que serão eterno borrão
e escândalo da historia para a posterida-
de.» Bispo do Grão Pará, Memorias, pu-
blicadas por Camillo Castello Branco,
pag. 217.
— Tornar solemne.
— Festejar com solemnidade.
f SOLEMNISSIMAMENTE, adv. Com
muita soleninidailo.
SOLEMNISSIMO, A, adj. superl. de So-
lemne. Mui solemne.
f SOLENNE, adj. 2 gea. Vid. Solemne.
— «Aos sete dias de Nouembro el Rey o
fez caualleiro, e deulhe por armas huma
Cruz dourada em campo vermelho, e as
quinas de Portugal na bordadura. E no
mesmo dia em auto solenne, e com pala-
uras de muy grande senhor deu a obe-
diência, e fez menajeni a el Rey.» Gar-
cia de Rezende, Chronica de D. João II,
cap. 7H.
t SOLENNIDADE, s. /. Vid. Solemni-
dade.
Caualgar pcUa cid.ade
com muyta solenniti<MÍe,
vor correr, saltar, luctar,
daiii^ar, caçar, montear
cm 3CUS tempos o hidadc.
OABCU DE KF.ZKNDE, 1IISCELLA!<EA .
j SOLENNIZAR, v. a. Vid. Solemni-
Com dain;a3, c iuueníões aluoroçadas
O falso nacimonto soleuniião,
Moatralhc a toniarrio da encantadora
Falsa Magica rjuuudu a uoua ouuira.
COITE REAL, «ACniAUIU DE SErLXTZDA , Caut. 13.
SOLEO, ». m. CliSo. Vid. Solo.
SOLER, V. a. (Do latim tolere:. Termo
antiqiiadcj. Acostumar.
SOLERCIA, «. /. (Do latim ioUrtia).
Industria, habilidade, astúcia para fazer,
ou tratar al(.'Uma cousa.
SOLERTE, (ulj. 2 yen. i\)o latim ãoUn).
Diligentt), prudente, sábio, industrioso.
SOLES, «. m. Uma pe^ de pau, em
quo 80 tomam os buis, quando o arado, oa
o carro leva mais de uma junta: no Br»-
zil dá-se-lue o nome de camòão.
SOLETA, I. f. Sola cortaiia para cobrir
8apat(js. botas, etc.
SOLETRADO, part. pa*$. de Soletrar.
Mal li. lo.
SOLETRAR, v. a. Dar o som parcial
que cada letra representa em uma pala-
vra, como fazem os meninos, quo apren-
dem a ler.
Esta conta demo é,
cu a acho c não na acerto;
bdsta é o homem
que não lè
nem êoUtra um ceitil, que
ora o vi, a Deo3 me offcrto.
ASTONIÚ PRESTES, ACTOS, pag. 3Ô9.
— Figuradamente: I^er mal.
j- SOLETTRAR. Vid. Soletrar.
Não vos verei eu mais, delicias d'alma ?
Troncos onde eu cortei queridos nomea
D'amizade e damor, uào heido um dia
Perguntar-vos por elles? Oolettrando
Não irei pelas Árvores crescidas
Os characteres que, cm tenrinhas plantas,
Pelas verdes cortiças Ihiutalhára?
OABSETT, CAMÕES, cant. 5, Cap. II.
SOLEVANTAR, v. a. Erguer um pou-
co, suerguer.
SOLEVAR, i'. a. (Do francez souUver).
Erguer de baixo.
— Supportar.
— Levantar, soerguer.
— Solevar-se, v. refi. Solevantar-se,
soerguer-se.
SOLFA, s. /. As notas da musica. —
«Aquelle celebre Portuguez a que tu
chamas Camones, e de quem ouvistes tan-
tas maravilhas em Itália, não sabemos
em Portugal que cantasse solfa.» Caval-
leiro d'Gliveira, Cartas, liv. 1, n." 4õ.
SOLF AR, r. a. Termo de encaderna-
dor. Grudar uma folha singela com outra
para se poderem coser.
— Unir grudando algum pedaço á folha
rota ra margem, ou corpo, para a £azer
igual á outra.
— Usa-se também figuradamente.
Ah, meu Josquim, meu Moralos,
quantos males
SOLI
SOLI
SOLI
575
solfaes a me querer mal !
Não SC tocam atabales,
nem se enchem montes Xales
se não d'e33e mal mortal.
ANTÓNIO PKEsiES, ACTOS, pag. 353.
SOLFEAR. Vid. Solfejar.
SOLFEIO, ou SOLFEJO, s, m. A musica
que se dá aos principiantes para estuda-
rem solfeiando.
SOLFEJAR, V. a. Cantar as notas de
musica sem palavras, por ensaio, ou como
fazem os principiantes.
SOLFISTA, s. 2 gen. Pessoa que canta
por solfa ; que põe em solfa a cantoria.
— Musica ou musico.
1.) SOLHA, s. /. Peixe do rio, aliás
patruqa.
2.) SOLHA, s. /. Armadura usada ou-
tr'ora ; espécie de cota guarnecida com
laminas d'aço, ou ferro, quasi da feição
das solhas, que no mar se pescam.
Pois juro a mi que este camoez
fizera solhas assi por pandeiro.
Que determinacs com Deus, Cavalleiro?
Archanjo Miguel, que estou a esses pés,
pois me inhoraram
descuidos tão grandes que por mi passaram.
ASTOSIO PIESTES, AUTOS, pag. 99.
1.) SOLHADO, part. pass. de Solhar.
Solhado por cima; forrado de solho de
taboaí.
— Leito solhado ; leito com suas ta-
boas ou solhos.
— Figuradamente : Estrado solhado de
amor.
2.) SOLHADO, s. m. Pavimento de ta-
boas.
— Tablado, cadafalso, sobrado. Yid.
Alcantilada.
SOLHADURA, f?. /. A acção de solhar,
SOLHAR, V. a. — Solhar as casas ; pôr-
Ihe, assentar-lhe o solho, pavimento ou
forro de taboas, de madeiras, ou de la-
geas, etc. Vid. Assoalhar, e Solhar.
— Solhar o estrado, a cama, o leito;
pôr-lhe as taboas, os solhos, onde as pes-
soas se assentam, onde se estende o col-
chão.
SOLHEIRO, A, adj. Vid. Soalheiro.
1.) SOLHO, *. 77!. Termo de historia
natural. Peixe marinho que busca os rios;
tem focinho agudo, olhos e bocca pequena,
é desdentado, e de corpo chato.
2.) SOLHO, s. m. O pavimento da casa.
— Madeira de soalhar camas, estrados,
sobrados, taboas de assoalhado. Vid. Soa-
lho.
— Plur. Termo antiquado. Solha.
1.) SOLIA, s.f. Certo panno ou droga
de que pelos annos de 1300 se vestiam
em Portugal senhoras nobres e distinctas.
— Figuradamente: Escudeiro de so-
lia; escudeiro de baixa sorte, não fidal-
go-
— Plur. Solas, sapatos, qualquer cal-
çado dos pés.
2.) SOLIA. Forma do verbo soler na
terceira pessoa do singular do pretérito
imperfeito do modo indicativo. Vid. So-
ler.
SoUa de ser assi.
Almotacés da limpeza
andaram já por ahi.
ASTOKIO PEESTIS, ACTOS, pag. 339.
SOLICITAÇÃO, s. /. A acção de solici-
tar, instigação, conselho, impulso, dili-
gencia.
SOLICITADO, part. pa^s. de Solicitar.
Buscado, indagado com diligencia, re-
questado.
— Mulher solicitada.
1.) SOLICITADOR, s. m. Um official pu-
blico que requer as cousas da justiça nos
tribunaes, de que ha numero certo. Vid.
Procurador.
2.) SOLICITADOR, A, *. Pessoa que so-
licita a fazer mal.
— Agente, diligenciador.
SOLICITAMENTE, adv. (De solicito, e
o suffixo amente»). De um modo soli-
cito.
— Com primorosa diligencia.
SOLICITANTE, part. act. de Solicitar.
Que solicita.
— S. 2 gen. Pessoa que solicita.
— O sacerdote que na contíssão induz
o penitente para fazer mal.
SOLICITAR, ou SOLLICITAR, v. a. (Do
latim solicitarei. Agenciar, diligenciar o
despacho, e conclusão de algum negocio
com cuidado e actividade.
— Inquietar, induzir com razões. —
«Esta he huma tentação muy geeral cõ
que traz este tentador enganados a muv-
tos, solicitandoos, e induzindoos a tra-
balhar muyto pello mantimento, e trata-
mento do corpo. Não se escusa comer,
mas escusanse tam demasiadas diligen-
cias como os homens fazem, pêra tratar
bem e regalar seu corpo. Daqui viera
tantas inuenções de iguarias, inuentadas
nam pêra conseruaçam do corpo, mas
pêra distruvçào.» Fr. Bartholomeu dos
Martvres, Catecismo da doutrina christã.
— Solicitar alguém; dar-ihe trabalho,
cuidado.
— Solicitar a paz.
— V. ref. — Solicitar-se de alguma
cousa; ter cuidados, dar-se trabalhos acer-
ca d'ella.
— Syx. : Solicitar, aspirar. Vid. este
ultimo termo.
SOLICITIDÃO, s. /. Vid. Silicitude.
SOLICITO, A, adj. (Do latim solicitus).
Cuidadoso, diligente. — oMartha Martha
andays muv solicita, e atiadigada, dis-
traindouos por muy tas cousas: como quer
que seja verdade que soo huma cousa he
necessária. Sabcy certo que a occupaçao
e parte que escolheo vossa irmaã, essa
he a milhor : e nunca lhe será tirada.»
Fr. Bartholomeu dos Martyres, Catecis-
mo da doutrina christã.
O delirio amoroso então se augmenta :
Deixa hum momento o ninho, os ares coiia,
O sustento solícita procura ;
Contento ao ninho volta, alli do peito
Nos mal abertos pequeninos bicos
O grão, que traz, amante deposita.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Caut. 3.
E bem como ás solicitas Abelhas,
A terra só lhe apraz, que as flores vestem
De que os suecos melifluos delibem,
N'harmoniosa Poesia, e muda
Não se conhece o calculo, mas cores.
IDEM, ^^AGEM EXTÁTICA, CaUt. 3.
A natureza pródiga derrama
Seus dons, e farta as longas esperanças
Do Lavrador solicito, o cansado.
IDEM, A NATUREZA, Caut. 1.
— Syn. : Solicito, cuidadoso, Vid. es-
te ultimo termo.
SOLICITUDE, s. /. Ancioso cuidado, e
diligencia em negociar, alcançar, conse-
guir alçrum iim.
SOLIDADE, s. /. Solidez.
SOLIDADO, part. pass. de Solidar.
SOLIDAMENTE, adv. (De solido, e o
sufBxo «mente»). De um modo solido,
com solidez, iixidez.
— Com boas e solidas razões.
— Com attenção, reflexão, prudência.
SOLIDÃO, s. /. (Do latim solitude).
Retiro, logar solitário. Vid. Soledade. —
«O mesmo Autor aponta três meios pel-
los quaes se chega certissimamente a
contemplação. O primeiro intima contri-
ção, e dor das culpas passadas : o segun-
do, solidão, 6 retiramento de conuersa-
ções seculares; o terceiro, forte, e cons-
tante perseuerança no bem.» Fr. Bar-
tholomeu dos Martyres, Compendio de
espiritual doutrina, cap. lõ.
Em quanto vai nas solidões do espaço
Té no Infinito se perder, Cleanthes
DA mais úteis lições, virtude inspira ;
(Respeito o Varão justo, admiro o Sábio)
Doutos forma Platão, Sócrates probos,
E julga hum crime a preferencia dada
A frágil vida sobre o pejo, e honra ;
Da virtude foi victima, e colloca,
Nos mores bens da Natureza, a morte.
J. A. Dl MACEDO, MKDITAÇÂO, Caut. 1.
Nem todos nos produz a Terra toda :
Aquelles gostão do Hiperborco clima ;
Outros vicejào pelas férteis margens,
Unde 3"espraia o turbidento Ganges :
Outros forào buscar pátria, e morada.
Nas tristes solidões d Africa adusta.
IBIDEM, cant. 2.
Tanto amor maternal nas aves brillia !
Sympáthica affeição, profundo impulso
De quem só se desvia, e só se esquiva
Estúpido Avestruz, surdo aos gemidos,
Que exhala amor, a natureza, o sangue !
Sobre as arêas tórridas da Libya,
570
SOLT
SOM
SOLI
E solidUe» da Amorica abandona
Oh ovoh Hom cuidado, c dulluit fógc.
iniDEM, cant. 3.
Do taciturno ponnador asylo !
(Accoiidijo sornpre a iiuiK<!HtoHa Hombra,
E a doco nolitlão doutro om ininba aUna,
Ua Naturisza o porfiado crttndo.)
As cm-aiiindiis arvorca uic dizcui,
Que o ('rcadoí' Suproiiio cHcuta, acolho
Daa noHua» precisões o grito, o bi-ado.
Chepairt ao cimo — quo incontrais? — deserta,
Desabrigada solidão do roclms,
Scin unia tlor, um vordt-jar do relva,
Nem um pallido musgo, (|uc dê vida
A eumiada ostoril !
aAKRBTT, CATÃO, «Ct. 3.
Que to fica na torra? — quo perdeste?
Um mundo indigno, baldo do virtudes.
Farto do criuKíS — soUdòcs juncadas
Do mortos, moribundos — e assassinos.
IBIDEM, act. 4, SC. 5.
SOLIDAR, V. a. (Do latim solidare).
Tornar .siilido, fortalecer.
— Dar consistência soliJa aos liqui-
des. .
— Figuradamente : Fundar, corrobo-
rar, assentar, confirmar, estabelecer com
razões solidas.
SOLIDARIAMENTE, adv. (De solidário,
e o .sufTixo «mente»). Termo de jurispru-
cia. Em solido, por inteiro, sem divis3o
de divida, obrigados todos juntos, o um
por todos.
SOLIDARIEDADE, «. /. Termo de ju-
risprudência. Diz-sc a respeito de mui-
tos devedores, da obrigação que lhes é
imposta de pagar um por todos a somma
que devem em commum ; e relativamen-
te a muitos credores de uma cousa, o
direito quo tem cada um d'elles do fazer
pagar-se \wv inteiro.
SOLIDÁRIO, A, ailj. (Do latim solida-
re). Termo de jurisprudência. Diz-sc de
tudo o que constituo obrigação de pagar
por inteiro uma quantia a que ha mais
co-obrigados, sendo um por todos, e to-
dos ]ior um.
SOLIDEO, s. w. (Do latim soU Deo).
Barretinho redondo e lizo, que os ecele-
siasticos doutores, e outros dignitários
trazem sobre a coroa para a cobrir.
SOLIDEZ, í. /. (Do latim soliditas). O
caracter do que é solido.
— Figuradamente : Firmeza, seguran-
ça.
SOLIDEZA, s. f. Vid. Solidez.
SOLIDIFICAÇÃO, s. /. Termo de chi-
niioa. Faoulilado, acção de se solidificar.
SOLIDIFICADO, part. pass. de Solidifi-
car.
SOLIDIFICAR, r. a. (Do latim solidas,
c /<i((';vt. Toriiio de chimiea. Tornar so-
lido um litpúdo, congelar.
— Solidificar-se, r. rejl. Tomar-so so-
lido.
SOLIDISSIMO, A, a<IJ. snperl. do Soli-
do. .^'ui solido.
I.i SOLIDO, K. m. Soldo.
•J.) SOLIDO, A, udj. (Do latim «oZiV/u/»).
Que t ;m con.^i^^telleia, cujan partículas fi-
cam naturalmente na mc.Hina situaçilo,
em relaç.lo umai ás outras; ojjpòe-se a
li(juitl.i) e a (jazoso. — «Nem obsta que
.lob chame aos Coos solidissimos, duro-t,
e re.tistentes h maneira do bronze : 'lii
forsilaii. cuvi eo fdbricatus es Culn»,
qui Kolidissiini ijuasi irre fugi sunt. Por-
(pic. Eliíi (quo ho o que falia naquello ca-
pitulo) naò quis dizer que o.s (Joos eraò
solides por duros, o densos; mas sólidos
por permanentes, e duráveis ; da mesma
sorte, que hc durável, e permanente o
l)roiize.» Braz Luiz d'Abreu, Portugal
medico, pag. 508, § 38.
Se as leia dos Corpos solidof se mostrâo
Em manifesta luz, quanto escondida
Guardava a Natiu-eza a Lei constante.
Que pez desde o começo ao Rio undoso,
Que oUc no curso accelerado observa !
Mil oquaçõos algobricas a escondem ;
líasgão-so em fim mysteriosas sombras.
J. A. r>B MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 4.
Derreto, abranda no inflammado seio
O nolido metal, que na Bigorna,
Obedecendo ils Leis do sábio Artista,
Sc alonga, c veste de feições diversas.
IDEM, A NATUREZA, Cant. 2.
— «As thiuphadias godas olhavam-se
pela maior parte na campina onde se de-
viam resolver os de.stinos da Ilespanha,
e bem que a este tempo todo o exercito
do Islam estivesse já cm ordem de pele-
jar, a noite dava grande vantagem aos
godos, cuja cavaliaria, cuberta do armas
defensivas mais solidas que as dos ára-
bes, resistia fiicilmente aos cavalleiros do
deserto, para quem a maior ligeireza e
o mais destro modo de acommetter eram
baldados no meio das trevas.» Alexan-
dre Herculano, Eurico, cap. 0.
— Termo de geometria. Angulo soli-
do ; figura formada por muitos planos
que se cortam no mesmo ponto.
— Figuradamente: Real, eftcctivo, du-
rável, que tem força, que é bem fundado.
Ah! DcUes não procede anciã contínua
De huma infinita sólida ventura ;
A sempre ardente, interminável sede.
Que pede, busca um Dcos que a farte, estanque!
Tudo anuuncia hum Crcador supremo ;
A Natureza o diz, minha alma o scute ;
A virtude o precisa, cila o dcol:W-a,
FicAra para sempre o crimo impune.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, «iUt. 4.
— Alimento solido ; diz-se em opposi-
ç.lo ao alimento Injiiido. — O medico lhe
prohiòiu todos os alimentos sólidos.
— Que tem uma eonsistonci k capaz de
resistir ao peso, ao choque, ao tempo ;
diz-s< cm opposiçào a frogil, e pouco
durável. — Edificar em fundamento» só-
lidos.
— Km termos de architoctara. Diz-se
algumas vezes por maciço, cheio.
— Terreno solido ; terreno consistente,
no qual se pôde edificar com toda a se-
gurança.
— Tenno de mineralogia. liocha soli-
da ; rocha, uuja.t partes b2o lif^adas firme-
mente entre si.
— Termo de zoologia. ArUennas soli-
das; aquella^ cujos artigos sito sólidos de
sorte a nào ajjresi-ntar algum intcrvallo.
— Diz-se díis cores de boa tinta. —
Còr solida.
— Globos sólidos.
.lulgavào e.ida Kstr<-lla huin Mundo errante
Fluctunndo no ar, vasto iiiiinito,
Ondi' hum Astro Cfutral preside a muitos
Rotantes (Ilobos sólidos, opacos,
Revcrbcrante luz dollo recebera.
J. A. DE MACEDO, VIAOEM EXTÁTICA, tOXlt. 2
— Numero solido. Vid. Cobiço.
— S. m. Termo de mathematica. O
corpo quo tem as três dimensões de lar-
gura, altura e comprimento, em opposi-
çào á linha.
— Figuradamente : O solido dos ali-
cerces.— «He certo desta firma qm; hou-
ve hum tempo em que o fundamento da
Astrologia estava no ar, e se isso he
certo, da onde lhe veyo o solido dos ali-
cerces em que depois se estabcleceo? »
Cavallciro de Oliveira, Cartas, liv. 1,
n.» 43.
— Figuradamente : O solido das his-
torias. — «Tudo o que se acha na rai-
dade das Fabulas, se encoiitra no soli-
do das historias mais verdadeyras.» ("a-
valleiro d"(>liveira. Cartas, liv. 1, n." 11.
— Em solido. Vid. Solidum. — «E
mandamos que essa niolher seja recebida
a demandar a dita cousa em Juizo sem
authoridade e procuraçom do marido,
quer a esse tempo seja em poder do ma-
rido, quer apartada delle; e essa cousa,
que elia assy demandar, e vingar, man-
damos que seja sua própria em solido, sem
o dito seu marido em cila aver parte, e
que possa delia fazer todo o que a ella
aprouver, assy e tam perfeitamente, co-
mo se cacada nom fosse.» Ord. Affons.,
liv. 4, tit. 12, § 2. — «E da praUí, e
ouro, e pedraria se niio pôde saber a cer-
teza, por sor cousa que geralment'' se
encobre e se nega, somente o que esto
Rey Bnimaa tomou para sy em solido
do tisouro do ChaubainJaa se affirmou
que passara- de cem contos douro, dos
quais, como ja fica dito atnis, el Rey
nosso Senhor perdoo a metade por nos-
sos peccados, e quiçá pela fraqueza ou
inveja clc aniuuvs mal intencionados.»
Fern.MO Mendes Pinto, Peregrinações, cap.
1,M.
SOLIDUM, .••. »<i. Termo de jurispru-
dência. In solidum ; por inteiro.
SOLI
SOLI
SOLT
577
— Este abonador ajiançou-se in soli-
dum; obrie:ou-se por toda a divida, ain-
da que haja outros fiadores.
SOLIFUGO, A, culj. Que foge á luz do
sol, do dia ; nocturno.
— Lucifugo.
SOLILÓQUIO, s. m. (Do latim solilo-
quium . Razoes que alguém diz fallando
comsigo mesmo.
SOLIMÃO, s. m. Vid. Sublimado cor-
rosívi'.
SOLINHADEIRâ, s. f. Uma espécie de
martello, com que os cavoqueiros cortam
a pedra nas pedreiras, por baixo da li-
nha traçada, para ficar superficie, que se
alize, sem gastar a grossura, e outras di-
mensões da peça.
SOLINHADO,'s. m. Termo de marinha.
E a face do madeiro parallela á altura,
ou á face que tem este nome.
— ■ Part. jmss. de Solinhar.
SOLINHAR, V. n. Lavrar pedra ou pau
por baixo da linha marcada, o que tal-
vez é defeito do official, e outras vezes
se faz para a peça ficar desbastada, e se
lavrar á enxó, etc, menos trabalhosa-
mente.
SÓLIO, s. 771. (Do latim solimn). Thro-
no.
Pois aos olhos do hum Deos omnipotente
Nada ignoto ao mostra, c nada escuro ;
Ante seu Sólio existe o que he presente,
O que hc passado, o que será futuro;
EUe te mostra, em luz resplendeeente,
O Templo da Memoria eterno, e puro ;
Onde a tantos Hcriíes se guarda assento,
Que vença a lei de Estygio esquecimento.
1. X. DR MACKDO, O ORIEMTE, Caut. 12, eSt. 87.
Jovo não ■i-inga o bárbaro attentado
De caminhar por montes de ruiuas,
E por ferros, que á Pátria o jugo aggravão.
Ao Sólio encantador, onde orgulhoso
Ao Mundo avassallado as Leis promulgue.
J. A. DE MACEDO, A NAICREZA, Caut. 1.
Das Musas me lembrei, deixando hum pouco
O Compasso, que mede o Mar, e a Terra,
E que o Templo, que vejo, enche de tantos
Sábios, que alli tem sólio, alli morada.
IDEM, VIAGEM EXI.VTICA, Cant. 4.
— «Porque todas as vezes que hiamos
a sua casa, que foram menos do que sua
deuaçào merecia, nos beijauão os pès,
que muitas vezes hiào suados, ou empoa-
dos, tendose por indignos de porem sua
boca no habito : qual outra Dona lacoba
de sete Sólios, Matrona Romana, se ou-
ue na morte do Seraphico Padre Sam
Francisco; tal aqui toda esta casa pare-
cia.» Fr. Gaspar de S. Bernardino, Iti-
nerário da índia, cap. 11.
Trasborda em júbilo a alma generosa
Do honrado Menezes. Mas não faltam
Ao pé do sólio nunca — iuda mal ! nunca -
Peitos vis, corações á glória alheios.
OABRETT, CAMÕES, cant. 9, cap. 1.
VOL. T. — 73.
— Termo de poesia. O sólio puro; o
ceu, o ethereo assento.
SOLIPEDE, adj. es. 2 gm. — Animal
solipede ; animal com um só casco, ou
unha em cada pé, como o cavallo.
SOLITÁRIA, s. /. Vid. Solitário (ver-
me).
SOLITARIAMENTE, adv. (De solitário,
com o sufRxu «mente»)- Em solidão, des-
povoadamente.
1.) SOLITÁRIO, A, adj. (Do latim so-
lhar ius). Desliabitado, despovoado, onde
nào ha gente.
Nas entranhas d'um monte solitário,
Que entre as nuvens esconde a calva fronte,
Assiste Abracadabro, a quem patentes
Os profundos mysterios da Cabala,
E todas as leis sào da Onomania.
Jfil Globos, mil Compassos, mil Quadrantes
Confusos jazem no sombrio alvergue.
A. DIXIZ DA CRUZ, HTSSOPE, Caut. 8.
Solitária Região ! sempre embuçada
Em névoas ; tempestucísa, entristecida,
Foreira a ventanias clamorosas.
F. M. DO NASCUIEIJTO, 03 MAETYBES, 1ÍV. 9.
Mas entre tantas, e diversas Gentes,
Que o ferro tem nas mãos, no aspeito as iras,
Eu via estar em solitário alvergue
Pensativos mortaes ; longe, c mui longe,
Em doce paz, do estrépito, e tumulto.
J. A. DK M.4.CED0, A NATUREZA, CaUt. 1.
Nem parco Agricultor volvendo a terra
Solitário entre montes e arvoredos,
A quem nenhuma culpa, e nenhum crime.
Torna pálido o rosto, o peito ancioso.
Que a Ambição desconhece, o Mundo ignora.
Espectáculo solitário.
Julgar inliabitado c solitário,
O pomposo espectáculo que avista,
E povoado o mísero Tugúrio
Onde do Inverno inoperosos dias
Xo seio passa da Família inerte ?
J. A. DE M.VCEDO, A KATCREZA, CaUt. 1.
— Verme solitário ; uma lombriga cha-
ta mui longa, que quando se quebra, e
não sáe de todo, torna a crear cabeça.
— Tempos solitários ; occasiões em que
alguém está só.
— Que não convive, não conversa os
seus similhantes, que vive em despovoado.
Branca era longo i triste e solitária
Pelos vergéis sosinha passciava,
E pelo mais umbroso da espessura
Suas maguaa entre as flores escondia.
GARRETT, D. BEAXCA, Caut. 10, Cap. 12.
— Passai-0 solitário ; pássaro que cos-
tuma andar só pelos telhados das casas,
pelos edificios antigos.
— Stn. : Solitário, deserto. Vid. este
ultimo termo.
— Termo de contractador de jóias. Um
solitário; um annel, ou jóia, onde não
ha senão uma pedra engastada.
SOLITAURILIAS, s. f. plur. (Do latim
solitaurilia) . Sacrificios dos romanos em
que immolavam três aniniaes : um car-
neiro, um porco, e um touro.
SOLITO, A, adj. (Do latim solitus).
Acostumado.
SOLITUDE, s. f, Vid. Soledade, e So-
lidão.
SOLLEMNE. Vid. Solemne.
SOLLEVAR, L-. a, Vid. Solevar.
SOLLICITAR, V. a. Vid. Solicitar.
Vencido o Cabo seu a Tropa o matta,
E c:n mim depôz Constâncio, o applauso, c a gloria.
Mandou laureada a minha Carta, a Augusto.
Solliciton e obteve ergucr-mc Statuas ;
Honra egrégia, que iguala c'o triumpho.
F. M. DO NASCIMENTO, OS MAETYBES, lív. 10.
f SOLLICITO, A, adj. Vid. Solicito.
Platão, Newton, Montagne, Erasmo, ou Milton
São d'Atomos subtis simples composto?
Oh pejo, oh confusão do orgulho humano!
Iuda engenlios sollicitos descubro
Em degradar, envilecer os homens !
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Caut. 4.
1.) SOLO, s. m. (Do latim soltis). A
musica para se cantar por uma só pessoa,
ou se tocar por um só instrumento.
— A dança em que dança um só.
2.) SOLO, s. m. (Do latim solum). Ter-
mo de jurisprudência. Chão.
SOLÓGISAR, V. a. Vid. Syllogisar.
SOLOMIL, s. m. Vid. Selamim.
SOLORGIA, s. /. Vid. Cirurgia.
SOLORGIAM, s. m. Vid. Cirurgião.
SOLPOSTO, s. 7?». O occaso do sol.
SOLSTICIAL, adj. 2 gen. Concernente
ao solsticio.
— Que vem no solsticio.
SOLSTICIO, s. m. (Do latim solstiiium).
Termo de astronomia. Tempo em que o
sol, sendo o mais afastado do equador,
parece estacionário durante alguns dias.
— O solsticio do inverno vem, quando o
sol está no trópico de Capricórnio, o que
faz o dia mais curto do inverno; o sols-
ticio do estio, quando está no trópico de
Câncer, o que dá o mais longo dia do es-
tio.
EUe primeiro do Solsticio o ponto
Sobre a Terra marcou ; e eUe primeiro
O Eclipse assustador predisse aos homens,
A marcha calculando a ethereos orbes.
J. A. DE M.4.CED0, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 2.
1.) SOLTA, s. f. Maniota de pelar bes-
tas.
— Figuradamente : Prisão, vinculo.
— Quebrar as soltas; desprezar todos
os vincules moraes, e termos de modera-
ção.
678
SOLT
SOLT
SOLT
— Passo de soltas ; o que se ensina aos
eavallos, andando com as Holtas travadas.
2.) SOLTA, «. /. A acçilo de soltar,
fallando dos gados.
— As soltas; Boltamento, em liberda-
de.
— Fazfr soltas de fiados; para os refa-
zer e «Miponlar.
SOLTADO, i>(irt. pass. de Soltar. Vid.
Solto.
SOLTADOR, A, adj. o s. Que solta.
-j- SOLTAM, *. ni. Vid. Soltâo. — «Da-
qui hum tcr\'o de legoa pelo rio arriba, es-
tá a Corto dei Rey de Melinde, chamado
ao presente Soltam Jlahainet: homem de
moya idade, bayo na còr, mas no aspe-
cto aj)ni7,iuel, e agradaucl, e não menos
em sua pratica, o conuersaçam.» Fr. Gas-
par de S. Bernardino, Itinerário da ín-
dia, cap. ó.
SOLTAMENTE, aãv. (Do solto, e o suf-
fixo «meute»). Livremente, desembara-
çadamente.
— Figuradamente: Licenciosamente,
sem vergonha, nem pejo; dissolutamente.
SOLTANIM, s. m. Moeda d'ouro do va-
lor do 400 reis.
SOLTÃO, s. m. Soldão. Vid. Sultão.—
«Fallava no poder dos Christãos com
ódio, e desprezo, como ensinando a Soltão
a conhecer suas mesmas forças. Com es-
tes artificios veio o Soltão a pôr os olhos
no escravo para cousas maiores ; começou
a ouvillo, ao principio por curiosidade,
logo por affeição.p Jacintho Freire d'An-
drade. Vida de D. João de Castro, liv. 2.
— «Injuria, que o Soltão tiderava como
amigo, e não podia sotYrer como Monar-
cha. Pedio mais, que as náos de mercado-
res não fossem obrigadas tomar aquelle
porto; liberdaile que devia outorgar cm
beneficio do commcrcio.» Ibidem.
SOLTAR, i'. a. Largar o que estava
atado, encolhido ou preso. — «E o que
pior ho, quando os mandam soltar, levam-
llies grandes carccragcns, e muito maio-
res, que se fossem presos pellas vossas
Justiças; e estendem-se aalera do que
pertcence a seus OfBcios, e outras muitas
cousas fora de razam ; em que os vossos
povoos recebera grandes aggravamentos. »
Ord. Affons., liv. 5, tit. 68, § 1. — «E
dando logo hum daquelles ministros que
chamão upos trcs pancadas num sino, os
dous Chumbius da execução que nos trou-
xeraij presos, nos soltarão da corrente
em que vinhiimos metidos.» Fernão Men-
des Pinto, Peregrinações, cap. 103. —
«E porque viera de contra o castello d'Al-
mourol, achei-o tão namorado, que alóm
de engeitar minha vontade, teve em muito
pouco minhas pala\Tas : por esta razão o
mandei prender, com tençSo de o não
soltar; cousa, que se fez levemente, por-
que estíiva desarmado.» Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 102.
— «E V','is, dom cavullciro, entrogai-vos
a mim, se não convém que sintaos minha
força. Quom em taes obras as despende,
disso o do .Salvagi;m, nSo me partíce quo
o deve temor ninguém : e soltando a don-
zella, que occupada do modo bc recolheu
A cela do ermitão, teve tempo d'enlazar
o elmo, jtorque IJracdão fazia outro tanto
ao seu.» Ibidem, cap. lUO. — «E j)ois isto
não tem cura (é se Haber a verdade do
quo de mim 6 feito, não vos soltarei se-
não ])era que vades l;í de miidia parte a
vos presentar ante o imperador, e lho dl-
gaes tudo o que passou desd'o dia que da
corte me tirastes, té agora.» Ibidem, cap.
lUi. — «Alguns cavalleiros, que no cas-
tello fiaivam, deixaram as armas, vendo
seu senhor morto ; e parecendo-lhe melhor
conselho vieram receber Florendos á por-
ta entregando-lhe as chaves da fortaleza;
e, antes que so curasse das feridas man-
dou que soltassem a donzella, que estava
presa.» Ibidem, cap. 96. — «Polendos,
respondeu o grain turco, tu deves crer
que por ti e polo imperador faria toda
cousa, que em mim fosse; mas estou tão
escandalisado de mo não querer maniiar
entregar um cavalleiro ehristão, que em
sua corte fica, que me daqui furtou mi-
nha filha, que té que o não faça, daqui
vos não hei de soltar a vos.» Ibidem. —
«Targiana em todo o tempo, que ahi esti-
veram, nunca vestiu se não xerga, e viveu
em continua tristeza. O turco mandou to-
mar as galés e soltar Mulcyxeque, e ao
outro dia fez cartas ao soldão de Pérsia e
a outros príncipes pagãos, fazendo-lhe sa-
ber da prisão daquelles homens e sua de-
terminação, que era fazer nelles cruezas
dinas de memoria, em vingança do furto
de sua filiia, e da morte de Barrocante e
seus companheiros; que vissem se queriam
ser a isso presentes, que esperaria o tem-
po que ordenassem.» Ibidem.
De mais lustrosas pcnuas se ntaviâo
Nas regiões, que a prumo o Sol visita ;
Se a Natureza prclndii Ibos nega
O c^nto, Uio compensa cm formosíira:
Pelos bosques da America opulenta
São como flores nítidas, que voão,
Quando os ventos das arvores as soltão.
1. A. DK MACEDO, JTEDITAÇÃO, Cant. 3.
— Soltar a voz ; fallar.
Não tarda Çolcimão em dar effcito
A este engano quo trai imaginado,
Aceso da esperança do proveito
E d'animo cruel, nunc;i domado.
Mas sinto ja tào fraco e rouco o peito
(Jue em vào toltar a voz tenho tentado.
Descansemos hum (lOuco, c tudo quanto
Fez o RaiA, direi ncss 'outro Canto.
r. nr. andiiaob, rumíBO ciBco db dio, cant.
12, est. 139.
E tanto ao \-ivo estA, tal arte a forma,
Que, SC a xHstA acredito, cu cuido ainda,
Que sólfa a doce voz, que os lábios move.
J. A. DK MACEDO, VIAOKM KXTAriCA, Cant. 3.
— Soltar palai-ras; proferil-as. — <E
porque com nenhumas razitos, que bllc8
rliMeswm nem alegassem, poderam fazer
com Palmeirim que soltasse ul^-iima pa-
lavra, de que pode-sseni lançar mio, e
dando a resposta a Carmeiio, vieram ao
d(!rradeiro remédio, que era pedir-lhe que
da nua mão ilesse marido á princeza se-
gundo a forma do tf^tamcnto de elrei.i
Francisco de Moraes, Palmeirim d'lDgla-
terra, cap. 101.
— Soltcir as rédeas a<js eavallos.
Vendo a gente Cambaia tal fraqueza
Na que coo no:iii; foi rictoríona,
Agora cobra céprito e fortaleza
O fraco imigo a faz ser animo«a.
As rMeas aos cavalloii e k crueza
S6lta contra oí que fogem furiosa,
Tira daquell'M c/)ri>o« o* espritos
Que ja dos seus tirarão iniinit')«.
FnAXCISCO DF. AUDBADE, rBlMBIBO CBBOO DB DIO,
cant. 9, est. 27.
— Proferir, dizer. — tE antre algu-
mas cousas, que o imperador soltava em
seu louvor, mostrava desejar vêl-a em
sua corte pêra lhe fazer mil honras e
acabar de descansar seu neto Florendos,
que, vendo que sua senhora nem pêra lhe
agradecer seus trabalhos mostrava vonta-
de, determinou acabar no que primeiro
começara, que era guardar o escudo no-
vamente: e se alli viesse alguém, a quo
não podesso vencer, nunca mais trazer
armas e experimentar sua dita, inda quo
era máo conselho provar muitas vezes
fortuna.» Francisco de Moraes, Palmei-
rim d'Inglaterra, cap. 108.
— Ilurrenda esjjera solta a rninadora
fúria.
Posto entre os seus canhòoa então estava
Em logar assaz cego, e sem abrigo,
Lá d'oadc a sua gcnt« cUc animava
Para não duxHdar este perigo.
Quando huma horrrnda espera lólta a brava
lluinadora fúria dVntrc o imigo,
Salic o feno que dentro estava preso
Direito ao Falcão vai cm fogo accâO.
FRUiClSCO d'aNDBADE, rBIMEIBO CBBOO OB DIC,
cant. 16, est. 100.
— Soltar as velas ao vento. — lE em-
barcando-se Targiana na capitana, Po-
lendos com vinte e cinco cavalleiros os
mais principacs se metteu nella, e os ou-
tros repartiu em as outras galés, vinte e
cinco em cada uma, e soltando as velas
ao vento, que então eram prospero, cui-
daram atravos.sar o mar de Turquia mui
pre.st'-'s.» Francisco de Moraes, Palmei-
rim dlnglaterra, cap. 96.
— Soltar voz de oráculo.
Voz de Orac'lo Dodòna, c Daphnc soltem,
Parta-sc o Orbe, entre Atheos, entre FanátioM:
Fervâo Paiiõc» feroics, dè Volnpia
Envenenados philtros; quanto larra
Maldade no Orbe. :u) Cbristo, aos «eus Coltoros
Atríz Perseguiçào componha, c assalte-o.
r. M. DO SASCiMXirro, 06 mabttbbí, liv. 8.
SOLT
SOLT
SOLT
579
Delle aprendo a constância, o honcâto, o justo.
Seus passos seguem Séneca, Epictéto,
E vão de seus oráculos pendentes,
E na esfera moral faz grande o homem ;
Mas quando fora delia as azas .vjlía.
Quando busca do Mundo o Author supremo,
He pequeno, he mortal, he sombra, hc nada.
J. A.. DE UACEDO, IfEDITAçXo, Caut. 4.
— Soltar O escudo. — «Nem menos sol-
tar o eâcuJo, vendo que o de seu con-
trario estava desfeito: antes batendo as
pernas ao cavallo com toda a força que
pode levar, o encontrou de feição, que a
elle e ao seu lançou em terra.» Francis-
co de Moraes, Palmeirim dlnglaterra,
eap. 96.
— Soltar suspiros; suspirar.
— Soltar os diques; abril-os para que
entre ou saia agua.
— Soltar o cavallo ao pasto; deitar
solto.
— Soltar uma ancora ; deital-a ao mar.
— Soltcir as velas.
Lá vai duro mortal soltando as velas
Xo elemento nào seu d'Eólo ás fúrias :
Mortal té agora ingénuo, c que outras praias
Não tinha visto mais que as do tranquiUo
Ribeiro, que lhe corta os pati-ios campos.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, CaUt. 1.
O tempo 3c aproxima, avante passa
Nauta, que has de mandar, forte, e ditoso ;
Olha o Cabo vencido, olha Mombaça,
Que ao braço ha de ceder ■s-ictorioso :
Vê Melindo, olha o Rei, que ingénuo abraça
O domador do pélago espumoso.
Daqui, no mar ignoto as velas solta,
Quasi assim dando ao Globo inteira volta.
IDEM, o OBIENTE, Caut. 1.
o qual no fim do mcz que o Sol recolhe
E no animal de Frixo lhe dá entrada,
Solta a vcUa, o do fundo o forro colhe
E para Goa corta a onda salgada :
E para Capitão da terra escolhe
Da animosa gente iUustre e honrada
Que comsigo trouxera companheira
O valeroso António da Silveira.
». d'andrade, pbimeibo cebco de Dio,cant. f
est. 92.
— Solta das galés a horrenda fúria.
O infelice mancebo, que no muro
Acaso estava então d^armas ornado,
Lá onde o seu feroz esprito duro
Para seu damno o tinha então guiado,
Quiçá na hora que estava mais seguro,
E d'hum tão grave mal mais descuidado,
Eis solta das galés a horrenda e fera
Mortal fúria, huma grossa, brava espera.
FBAhXISCO d'a1ÍDEADE, PBIMEIBO CEBSO DE DIC,
cant. 14, est. 28.
— Quitar.
— Desfazer. — Soltar amizades.
— Deixar, abandonar.
— Termo antiquado. Permittir, dar li-
cença.
— Soltar as terras; largar a posse, ou
o domiuio d'ellas.
— Soltar o cão, ou a ave caçadora;
para fazer presa, morder, aferrar.
— Figuradamente : Soltar as rédeas ás
paixões; obedecer a todo o seu impulso.
— Deixar correr abrindo.
— Figuradamente: Soltar a língua;
dizer tudo quanto vem á bocca sem res-
peito de comedimento, nem de modéstia.
— Soltar o ventre; causar curso.
— Soltar o registro, ou as presas ; para
correr o liquido.
— • Soltar p)'^^^^ 'i'^^ tributos; isentar
d'elles, dispensal-03.
— Abrir mão, levantar mão.
— Soltar uma terra que trazia de
renda.
— Explicar, dissolver, desatar, des-
obrigar.
— Soltar os bois do jugo, do curral.
— • Soltar a outra parte contractante ;
desobrigal-a do que estava obrigada.
— Soltar-se, v. ref. Escoar-se, des-
embaraçar-se das garras, prisões, etc. —
«O almuinheiro deu um empuxão e sol-
tou-se das mãos dos agarrantes.» A. Her-
culano, Monge de Cister, cap. 18.
— Soltar-se em doestos, injurias; em
dizer affrontas.
— Soltar-se o sangue das veias; es-
coar-se.
— Soltar-se em sangue; esvair-se.
— Soltar-se em palavras; fallar com
desafogo, sem modéstia, sem comedi-
mento.
— Figuradamente : Desfazer-se.
— Soltar-se em palavras deshonestas ;
proferil-as.
— Dizer-se soltamente, sem segredo,
nem pejo.
SOLTEIRAMENTE, adv. (De solteiro,
com o suffixo o mente»). Termo antiqua-
do. Livremente, desembaraçadamente.
SOLTEIRÃO, ONA, s. Teimo popular.
Pessoa já idosa que nunca casou.
SOLTEIRO, A, adj. Não casado. — «E
deste chamamento e constrangimento nom
queremos que sejam escusados, salvo Ca-
valleiros, ou Escudeiros de linhagem, ou
de bemfeitoria, ou nossos Vassallos sol-
teiros, e casados, que nom ham outra
vida, salvo per seus corpos, e per suas
armas ; porque a estes damos licença,
que possam viver honde lhes aprouver, e
bonde mais entenderem por sua prol, fora
de nossos Regnos, e sejam escusados de
perderem seus bens.» Ord. Affons., liv.
õ, tit. 61, § 4.
Assi que as tacs feitiçarias
São, Senhor, obras mui pias,
E não ha mais na verdade.
Saiba Vossa Magestade
Quem he Genebra Pereira,
Que sempre quiz ser solteira,
Por mais estado de graça.
GIL VICENTE, FABÇAS.
Já espero uma criadinha
como o ouro fermosinha.
Antes me quero solteira
que cuidados tão azinha.
ANTOXIO PBESTES, AUTOS, pag. 145.
— Meladura solteira ; nos engenhos
do assucar, é a primeira que se faz na
tarefa, e elia só encho a caldeira, sem
levar escumas da meladura antecedente
que se alimpou ; a primeira que se faz
depois que o engenho pejou por um dia,
ou por horas.
— Mulher solteira ; sem marido. —
«Os piães sam sem conto, porque facil-
mente se ajuntam em hum exercito mais
de nouecentos mil. Acostumam estes Reis
de trazer em seus arraiaes, ate quatro
mil molheres solteiras a que pagam sol-
do primeiro que a nenhuma outra gente,
e dizem que com ellas fazem mais guer-
ra que com seis tantos homens porque
por sua causa pelejam com mais esforço.»
Damião de Goe.'^, Chronica de D. Manoel,
part. 2, cap. 6. — «Vimos outra rua do
mesmo modo de mais de huma grade le-
goa de cuprimento, onde pousavão qua-
torze mil taverneyros que saõ os da cor-
te, e outra rua pela mesma maneyra,
onde avia infinidade de molheres soltei-
ras, privilegiadas do tributo que pagaõ
as da cidade, por serem tãbem da corte,
muytas das quais fugirão a seus maridos
por andarem nesta desaventura.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 105.
— Mulheres solteiras ; mulheres mal
procedidas.
— O tempo de solteiro. — « Andava
um noivo sempre entre dous cunhados
seus, que nem largava, nem o largavam.
Passava ás vezes por um seu amigo do
tempo de solteiro, a quem tratava com
estranheza.» Francisco Manoel de Mello,
Carta de guia de casados.
— Em solteira ; em quanto solteira,
como solteira.
Assaz de fèa e engelhada
é a dama que em solteira
ou da egreja ou da feira
não leva pêra a pouzada
dois dedos de quem lhe queira.
ANTÓNIO PBESTES, AUTOS, pag. 325.
Minha molher se alguma ora
em solteira amantes tinha,
era então sua e não minha ;
se ella está sezuda agora
quem me mete ora
dar-lhe ventos de doudinha ?
— Substantivamente : Um solteiro.
Má cã e má lã me venha
se assi é.
Juraes falsidade,
um solteiro lá se avenha.
AUTomo PBEBiES, AUTOS, pag. 139.
f SOLTEIRO, A, adj. Vid. Solteiro.
ÕHO
KOLT
S(JLT
SOLU
— «lluiiifi mollier tainhom solteyra, co-
mia todos </.s dias quaiitidadc <lc f^ifcini-
bre, c huma mollior j)ejada comeo doun
ari-atus do liuina vez, sciii Huntir na gar-
ganta o iniiiiiiio ardor.» Cavalleiro d'Uii-
vcira, Cartas, liv. 1, n." Hi.
SOLTO, ]>ait. jxiss. irreíj. de Soltar.
Livre do j)rirt;"lo, de cadeia. — «Manda-
mos, quo todolos Alvaraacs, per quo os
presos sojauí soltos, Hojam eacriptos polo
Escripvani da Alcaidaria, o leve por fa-
zer cada huuni AlvarA quatro reis, o
mais noin ; e em Hm de cada Imum dolies
ponha a pafjua, quo o preso ouver do pu-
puar do carccras'cni, jior tal, que pela
dita jia^ua venham a>* ditUfí carcerajíuns
a boa reca<laçom.i) Ord. Affons., liv. 1,
tit. 'M, § 4. — «E por evitar mores
uniões, que claramente se ordiam, em
que não podia deixar de haver muitas
mortes se andiram soltos, os prendi.»
Diogo de Couto, Década 4, liv. O, cap.
8. — «E porque, como disse, os trezen-
tos mil iiomcus que estão em deposito
nesta jirisaõ audão toilos soltos, como a
pro))ria gente quo vom de íV)ra, tem esta
maneyra jiara não aver impedimento na
sayda.» Fernão ^lendes 1'into, Peregri-
nações, cap. 108. — «E Duarte lialuão
depois de ser chegado a Flandres apio-
uoitou muyto ao Key dos Komãos, posto
que fosse solto, assi em virtude de di-
nheiro, quo per virtude de seus poderes
lhe deu, couio em vir por medianeiro,
e requeredor de sua paz, e segurança,
com muytos senhores em terras que o
dito Key requerco, de que tinha muita
necessidade; o que tudo acabou a muyto
contentamento seu.» Garcia de Rezende,
Chronica de D. João 11, cap. 72. — «De-
])oiâ ([ue 03 Chãs tomam ha residência
aos Louthias, visitam os troncos e fazem
audiência aos presos, e soltam os (|ue
merecem soltos, e castigam os que me-
recem castigados.» Fr. (íaspar da Cruz,
Tratado das cousas da China, cap. 17.
— Linyua solta; diz-se do que falia
sem pejo, nem modéstia, nem respei-
tos devidos aos pacs, superiores, etc. —
«Figiu-ava-se-me na fantasia, que mas
dissera com fúria, e pêra o mais affirmar,
parocei'a-me que a vira com o rosto aco-
zo, 03 olhos envoltos em ira, a lingua
mais solta, e cruel do que tinha do cos-
tume, o falia, e as palavras embaraça-
das, como que o aceleramento, com quo
as dizia, causava torvação uellas.» Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 70.
— Dormir a somno solto ; dormir re-
pousadanionte.
— Palduras soltas; palavras sem co-
medimento, nem respeitos ; licenciosas. —
«Auderrauioto n3o podendo soflrer pala-
vras tão soltas de um homem seu capti-
vo, deu com o olmo tal pancada no chão
que o abulou, dizendo : o Mafamede co-
mo consentes quo diante mim um sober-
bo cliristão tenha tal ousadia Vi Francis-
co de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 80.
— Vida solta ; vida livre, dissoluta,
independente.
— Ligeiro.
— VeiUo solto; desfeito.
AntoB que no nolto vento o levi- panno
DcsãraB outra vez n'azul o.strada,
K vá» scj^uro achar pelo Occiíno
A toi-ra Oriuiital tó aqui buscada:
Se. 0111 inomoria a reténs, do I^íUsitano
lícino mo conta a origem sublimada ;
(Jiiaes teiiliào sido os lieis da iliugtrc Rontc,
tju' avasaalia destarte o mar fremente.
J. A. DK MACEDO, O OllIKNTK, Cailt. H, CSt. 3.
— Solta víKja; desfeita.
Pizando o leito ao mar Moysés erfçuia
Com mão segura a vara portentosa ;
D aqui, dalli suspenso o mar sentia
Do Ser Eterno a voz imperiosa :
K contra as leis universacs subia
Pelo estranhado espaço onda espumosa ;
Da »<'ilta vaga os Ímpetos recéa
O Povo, e pilra na espraiada arca.
j. A. DK MACKDO, O ORIENTE, cant. 9, cst. 98.
— Solto da escravidão ; livre d'clla.
Por onde o povo as onda:< ICrythvcas,
Solto da cscr:ividào, passou triunfante
A pés enxutos húmidas aréas,
Vendo suípeu.ío o pélago espumante :
Sahio dis altas Nãos co' as velas clièas,
Correndo a Costa d'Africa c.stuante :
E de lil pouco a pouco o mar abrindo
Co' as mercês retornou do Idaspe, ou Indo.
j. A. DK M.icEuo, o oBiENiE, caut. 13, cst. G9.
— Ventre solto ; ventre que obra facil-
mente, desembaraçado.
— Vida solta ; vida dissoluta, licen-
ciosa.
— Navios soltos; navios que não tem
estancia, pairo, ou guarda limitada, iin
logar certo, mas cruzam por onde cum-
pre, em espaço, e tracto de mar mais
largo.
— Termo de poesia. Vtrso solto; sem
consoantes.
— Fallar solto ; tallar prosaicamente,
sem medida de verso, em opposiçào & fal-
lar rimando.
— Almas soltas ; almas que andam á
rédea solta, dissolutas. — «Primeiro im-
porta diz S. Isidoro, purgarse a alma das
atftúções da terra, das fezes dos vicios, do
que pertenda chegar simples, o puramen-
te a Deos: porque assim como he próprio
do fogo afastados os impedimentos subir
acima, o naturalmente buscivr o seu cen-
tro na parte superior, assim as almas
soltas, e descarregadas do pezo das af-
feições inferiores costumao leuantarse, e
aspirar ao seu lugar próprio, que he
Deos.» Fr. Bartholomeu dos ^[artyres.
Compendio de espiritual doutrina, capi-
tulo 15.
cidu.
Sida solta; séila frouxa, nào tor-
' Solto jjanwj; panno frouxo.
Ao duro Nauta, que vifpa ok árcH,
Sc mostra no liorizonti; a negra mancha,
ííermcn da fma, súbita prucolU ;
Inda (|uc hum meigo Zetiro cnganoito
AlVague o nolto panoo, c ncUo briiu|uc,
Súbito ferra.
J. AGUSTIXnO DK lUCKOO, M BOITÁÇÃO, CAOt. 2.
— Solto o trançcuio.
Vem, do8 C'oníinii do pluino, o Páe buMando,
Solto o trauteado, c nos Corc"'íi» pcud<:iido,
Daiido-lhe azas, co' ui,'Outc, em Carro a Druida,
fluvío rumor, que i-m desaggravo da honra
Da Virgem d« Sayna, Aldft<V'S armara.
Toda a amplidão do error w lhe aúif^urn.
r. MA.tUKL DO NASCIUEXTO, OS MABTTBES, 1ÍV. lO.
— Livre, quito, desobrigado de contra-
cto, Haiiça, abonaçâo, garantia.
SOLTURA, s. /. Acção do soltor da
prisão, da cadeia. — «E que elle, e ou-
tros oito homens houveram á mão huma
lanchara, e se passaram áqucila Ilha com
esperança de se salvar; a qual soltura,
c fugida sua fora per industria de huuia
filha do senhor, em cujo poder elles esta-
vam, que trouxera comsigo. » IJarro-:,
Década 2, liv. (i, cap. 1. — «A que hum
que parecia de mais autoridade respo.n-
(leo, muyta razão he que nos façais lem-
brança nesta cousa em que tauto vos
vay, porque nos apliqueis a fazermos a<
diligencias necessárias em menos temp^.
para que se conclua mais brevement
vossa soltura. » Fernão Mendes Pinto, Pe-
regrinações, cap. 102.
— Despejo, desembaraço em qualquer
exercício corporal.
— Licenciosidade, dissolução, desco-
medimento. — «Esta soltnra de ]>ala-
vras nunca a eu tive té agora ; mas,
agora nem o tempo, nem o soffrimentu
me dão lugar, que as encubra; e mais a
vós, a quem sei que faço erro não as
descobrir mais cedo.» Francisco de Mo-
raes, Palmeirim dlnglaterra, cap. 95.
— «O gigante se deteve por ver quem
com tamanha soltura de palavras o amea-
çava, e vendo-lhe no escudo o Tigre dou-
rado, que naquelle tempo tão venerado
era polo mundo, bem lhe pareceu que
não sem muita confiança de suas obras
o ousava desafiar, e vendo que os seus
de todo eram vencidos e desbaratados, c
alguns, que escaparam, iiiam fugindo por
guarecer a vida, levantando a voz, dis-
se.» Ibidem, cap. 117.
— Soltura de vicios.
— Desembaraço, facilidade; fallando
á boa parte.
— Expliciíç.ào, interpretação, solução.
— Dizer o soriho, e a soltara ; dizer tu-
do o que vem á bocca, som respeito do
comedinionto. nem da mo<^lestia.
SOLUBILIDADE, «. /. Propriedade em
SOLU
SOM
SOM
581
virtude da qual um corpo pôde dissolver-
se n'um liquido. — • A solubilidade nas
aguas não é uma propriedade iuherente e
essencial ás suòstancias salinas.
SOLUÇADO, part. pass. de Soluçar.
SOLUÇÃO, s. /. (Do latim solatio).
Termo de chimica. Acção de um liquido
sobre um solido, cujo resultado é que
este ultimo toma por si mesmo a forma
liquida.
— O liquido resultante d'esta acção.
— Afjinidade de solução ; faculdade
que possuem certos líquidos de dissolver
um no outro.
— Divisão, separação das partes.
— Solução de continuidade; nome col-
lectlvo da lo em cirurgia ás chagas, ás
fracturas, e em geral a todas as divisões
das partes antes continuas.
— Explicação d'uma difficuldade.
— Resolução. — A solução de um pro-
blema.
SOLUÇAR, 1-. 7t. Dar soluços.
— Termo de náutica. Soluçar a nau ;
jogar de sorte, que levanta e mergulha
a popa, e prOa alternativamente.
— V. a. — Soluçar versos.
SOLUÇO, s. «i. Suspiro redobrado com
uma voz ou som interrompido. — «E cer-
caraõ-no todos a pé, de maneira que naò
podendo o cavallo de Clarimundo soÔrer
os soluços chorosos, espaiitaudo-se de tão
miserável, e triste cousa, apeouse deile,
e foi-se com aquella companhia a huma
Fonte que estava antre as arvores, onde
achou o Emperador, e toda a flor de sua
casa lançados a borda delia, traspassados
deste mundo sem darem sinal de vida,
se naõ com a cor com que a triste morte
cobre aos seus convidados.» Barros, Cla-
rimundo, liv. 2.
Vim gastando teus sobiços
da Easào
derribada assi no chào,
que verás beber de bruços
03 que cuidas que c'o a mão.
ANTÓNIO PBBSTES, AUTOS, pag. 51.
— Termo de náutica. O arfar do na-
vio; o movimento que elle faz, mettendo
de proa ou arfando.
SOLUÇOSO, A, adj. Acompanhado de
soluços.
— Que está soluçando.
— O soluçoso alento; o respirar com
soluços.
SOLUTIVO, A, adj. Termo de medici-
na. Que tem a virtude de dissolver.
— Medicamento solutivo ; que resolve
e adelgaça os humores, de maneira que
saiam pela transpiração, ou se evacuem
para outras partes.
1.) SOLUTO, A, adj. (Do latim solutas,
de solvere). Solto, desatado do vinculo,
lei, prisão.
— Oração soluta ; oração solta, sem
rhythmo ou harmonia poética, nem con-
soantes ou rimas.
— Part. pass. de Solver.
2.) SOLUTO, s. VI. {Dola.úmsolutuvi).
Termo de chimica. O producto de uma
solução ou dissolução.
SOLÚVEL, adj. 2 gtn. (Do latim solu-
òilis). Termo de chimica. Susceptível de
se dissolver com algum menstruo ; em
opposição a insolúvel.
— Quá pôde resoiver-se. — Problema
solúvel.
— Corpos solúveis; aquelles cuja for-
ça de cohesão não é assaz poderosa para
resistir' á acção dissolvente dos fluidos
com os quaes os põe em contacto.
SOLVABILIDADE, s. f. Estado de uma
pessoa solvavel.
SOLVAVEL, adj. Que tem com que pa-
gar. — Pessoas solvaveis.
SOLVÊNCIA, s. /. Vid. Solvabilidade.
SOLVENTE, part. act. de Solver. Que
pagou as suas dividas.
— Solvavel.
SOLVER, 1'. a. (Do latim solvere). Dis-
solver, resolver.
— Solver duvidas; explical-as.
— Termo de pintura. Solver as cores ;
il-as desfazendo e applicando cum um
pincel secco.
SOLVIDO, jmrt. pass. de Solver. Vid.
Soluto.
1.1 SOM, s. m. (Do latim sonus). O
que impressiona o ouvido por eífeito de
movimentos vibratarios, em opposição ao
ruido, em que os movimeatos se contun-
dem, duram e são de uma intensidade
desigual.
A VOZ, que aí&-oisa,
lutei-rompcram sons descoaliecidos
De voz de estranho que na estancia humilde
Entra do vate : — «Perdoae se ousado
Entrei, senhor, mas... »
GABBETT, CAMÕES, Caut. 10, Cap. 21.
— o som considerado no ponto de vis-
ta musical.
— Sons harmónicos. Vid. Harmonia.
— A lingua dos sons ; a musica.
— Diz-se das articulações de uma lin-
gua.
— Termo de medicina. Som intesti-
nal; aqucUe que produz o intestino con-
tendo gazes.
— Cantar ao som dos instrumentos ;
cantar acompanhando e accommodando a
voz au som d'clles.
— Figuradamente: Cantar ao som do
<^ue embolsa.
E que dom açougue é tal
que lhe vem por natural
cantar ao som do que embolsa ;
grande bem quero ala bolsa
da banda do meu punhal.
ANTÓNIO PKESTES, AUTOS, pag. 129.
— Sons cadentes.
O' grande, unico genio ! Oh ! Quem podéra
Aproximar-se a ti nos sois cadentes,
Com que do mar ao Vencedor consagro
Nào inglório Troféo, que aos Evoa mostra
Talvez do humano o-íforço a mór façanha,
Destinada do Ceo somente aos Lusos.
J. A. DB MACEDO, VIAQEU EXTÁTICA, Caut. 2.
— Ao som da vontade, da natureza;
conforme a vontade, a natureza.
— Ao som da razão; como ella or-
dena.
— Estar em som de guerra ; de resis-
tir, etc. ; em humor, em resolução, esta-
do, figura, para isso.
— C/iegar á praça em som de paz;
chegar como quem vae de paz.
— Em som de sair; em disposição e
attitude de sair-.
— Navegar ao som dos mares; nave-
gar a arbítrio d'elles.
— Loc. FIG. : Ao som do paladar; ao
gosto.
— Ao som da sua paixão; segundo o
que ella quer e inspira.
— Estar cm som de guerra; estar em
ar, apparencia d'isso.
— la-me ao som por onde os mais iam ;
seguia o fio da gente, fazia como os mais.
— Dizer alto e de bom. som ; dizer sem
receio, com despejo, e dissolutamente.
— Botar d'elle esse som.
Desmanchar este castello
fazer outro mais devoto,
que este é bello e não é bello.
Tu botas d'elle esse somf
ANTÓNIO PHESIES, AUTOS, pag. 32.
— Sons melodiosos ; sons cheios de me-
lodia.
Ah! Que se esquiva aos sons melodiosos
Da Lusa Poesia o aceeuto agreste
Da Lingua do Tamisa, e do Danúbio !
Foge ao compasso, e magica harmonia!
De Cumberlande, e Coduvorth, e do Hume
Alli descubro os magestosos Vultos.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, CaUt. 2.
— -Andar o mundo de outro som; se-
guir outros estylos.
— Syn. : Som, tom.
Som é a impressão que faz no ouvido
o ar vibrado, como o som da voz, da
trombeta, do sino, dos tiros d'artilheria.
2'om é som determinado apreciável, como
o dos instrumentos músicos.
O som da voz está determinado pela
constituição physica do órgão vocal ; é
suave ou áspero, agradável ou desagra-
dável, fraco ou forte. O tom da voz é
uma inflexão determinada pelas afteições
interiores de que uma pessoa se acha pos-
suído, e quer dar a conhecer. Segundo as
occasiões, é elevado ou baixo, imperioso
ou subnússo, triste ou alegre.
2.) SOM. Fimna antiquada do verbo
ser, em vez de sou ou savi.
582
SOMA
SOMB
SOMB
3.) SOM. Forma antiquad/i Ao verbo
ler na terceira pessoa do plural do pre-
sente do nioJo indicativo. Vid. Ser. —
«O nono arti^^o iic. Que dizem que som
afçravaJos, p(jr quanto pousam com elies
eiu suas casas, especialmente os Bciieíi-
ciados das Ifcrojas Catbadraaes, o que be
contra Direito Comum, t Ord. Affons.,
liv. 2, cap. 6. — «E vistos per Nós os
ditos estabelicimentos, declarando :lcerca
delle-i, quanto a Nós bem cabe fazer com
justiça, Mandamos, e Poomos por Lei,
que quanto he aa primeira parte, honde
faliam dos que levam armas, ferro, ma-
deira, etc, que som cousas mais estrei-
tamente, 6 com maior pena defesas. >
Ibidem, liv. 4, tit. 63, § 2.
1.) SOMA, ou SOMMA, s. /. Termo de
matlicmatica. Kosultailo das quantidades
addicionailas. — A somma das unidades.
— A somma dos termos de uma ei^uação.
— Quantidade. — «1'assa ao longo de
muitas terras incultas e despovoadas de
grandes matos e arvoredos, onde ha innu-
meraveis Alifantes e muitas Bufaras, de
que eu vi por aquella terra muita soma del-
ias bravas, e nierus, que sam como boas
muUas, e humas .alimárias que chamam
naquollas partes Badas.» Fr. (uíspar da
Cruz, Tratado das cousas da China, cap.
3. — «Tem el Rey ([uantas molhores quer:
e das portas a lentro quasi todo ho serviço
he de molheres: pollo que tem multa mul-
tidam delias e assi tem soma de capados
e nam ha outra gente das portas aden-
tro, o Ibidem, cap. 22. — «Ha também
outras embarcações em que vem grande
soma de molheres velhas que servem de
parteyras, e daij mezinhas para botarem
as crianças, e fazerem parir ou n.ão pa-
rir.» Ibidem. — «E passada esta casa, em
que não ouve detença de cerimonia ne-
nhuma, chegamos a outra que se chamava
Tigihipau, na qual também avia outra
grande soma do gente, porem esta estava
armaila, c toda em pé, a qual posta em
cinco flleyras tomava todo o comprimento
da casa, o tola o>ta gente tinha seus tro-
çados guarnecidos de chujiaria douro pos-
tos ás costas.» Ibidem, cap. 122. — Afas-
tados desta mesa dez ou doze passos es-
tavào dous apparadores, em que avia bai-
xellíia muyto ricas, com grande soma de
peças de prata de toda sorte feitas ao tor-
no.» Ibidem, cap. 124. — «Naij avia in-
da bem duas horas que estávamos surtos
nesta calheta de Miaygimaa, quando o
Nautoquim príncipe desta ilha de Tani-
xumaa se veo ao nosso junco acompanha-
do de muytos mercadores e de gente no-
bre, cõ grande soma de caixões eheos de
prata para fazer fazenda.» Ibidem, cap.
133.
— Abundância. — «Pelo qual vendose
Pêro de Faria muyto desabcrcebido de
tudo o necessário para este cerco, e com
rauvta falta de gente, quiz tentar valerse
destes cem homens, assi por estarem mais
perto, o poderem acudir mais depressa,
como também jior terem, como quem an-
dava iia'|uullo (ifTiciu, muyto grUdc soma de
nmniçrie» nccus-^arias a esto cerco que es-
perava.» Ididem, cap. 144. — «K man-
dando surgir o junco junto da ilha, se fez
prestos com todos os seus em três embar-
cações de remo, com lium falcHo e cinco
berços, e sessenta homens Jaós e Lusõea
com muyto boas armas, em que avia
trinta com espingardas, e os mais com
lanças e frechas, e muyta soma de pa-
nellas de pólvora, e outros artifícios de
fogo convenientes a nosso propósito.» Ibi-
dem, cap. 145. — «Que lançavaõ muito
pêra fora pêra dalli descobrirem bem os
imigos, donde os começarão a fustigar
com soma de arcabuzaria, e com alguns
falcoons, com que lhe lizeraõ bem de da-
no : não desistindo cõ tudo os Mouros da
obra, nem os nossos de os escandalizar.»
Diogo de Couto, Década 6, liv. 2, capi-
tulo 9,
— Conclusão, a substancia, e resumo.
— Vid. Summa.
2.) SOMA, s. /. (Do latim suminum).
Altura, logar levantado, que domina a sua
circumvisinliança.
o.) SOMA, adv. ant. Em summa, em
conclusão, tinalmente.
4.) SOMA, s. f. Embarcação pequena
usada no Chincheo.
SOMADA, s. /. Assomada, altura, lo-
gar levantado.
SOMADO, part. pass. de Somar. Addi-
cionado.
E milhor não contar nada
de torra que mais uào monta
contada, que uào contada ;
cstíl per hi tão somada
que pei-dc quem d'ella conta.
ANTONio PBEsrEs, AUTOS, pag. 373.
— Resumido.
SOMANA, s. /. Vid. Semana. — cOs
quaes todos debaixo da c;ipitania de Pê-
ro Barreto, se partirão de Quiloa, perà
índia, na somana sancta do anno de
M. D. vj, e chegaram a Anchediua a xviij.
de ilayo, omle todas inuernarào, saluo
Lucas Dafonseca que passou. » Damião de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 2,
cap. 9.
SOMAR, V. a. Averiguar, achar a quan-
tia resultante de inuiUis parcellas, ou por-
ções de grandeza da mesma espécie.
— Figuradamente: Resumir, dizer em
resumo. Vid. Assomar.
— Somar-se, v. rcjl. Resumir-se.
SOMARIO, s. í?), Vid. Summario.
SOMATOLOGIA, s. f. (Do grego soma-
toSf c logos). Termo de medicina. Trata-
do das partes solidas do corpo humano.
SOMBRA, s. /, (Do latim umòra). A
falta de luz, produzida pela interposição
de um corpo, que não dá passagem aos
raios.
Se vae porto do Sol, mais luz derrama,
Sc dello longe va«, maia tombra o cobro.
J. A. DK MACEDO, A KATUKEZA, CaOt. 1.
Nem o doce crepúsculo se vira,
(tn quando o cUro Sol no mar se .itufa,
Nem todo lie dia, nem hu noite o Mundo,
Kutro purpura, c êomhra a vista inc«rta !
IDEM, VIAOEM EXTÁTICA, CaOt. 1.
Enthusiaamo, que cm minha alma fervo,
Te contrmpla, te admira, i; quasi adora.
Km teu ciaro, vastíssimo horiaontc-
As grada(;õc8 da Luz, da iomira vejo.
IBIDEM, cant. 4.
— Diz-se que a vida dos homens passa
como sombra.
— A sombra ; ao amparo, ao abrigo.
— «Ao primeiro dia, que começaram a
caminhar, a horas de véspera chegaram
a um valle gracioso e grande, cheio d'ar-
voredos, c muitas boninas por baixo, que
era tempo delias. No cabo delle estavam
duas tendas armadas junto do uma fonte
de muita agua; e á sombra de uns ale-
mos altos, arredor da fonte, andavam qua-
tro donzellas brincando umas com outras.»
Francisco de Moraes, Palmeirim dlngla-
terra, cap. 110. — «Ha nestas Ilhas moi-
tas monstruosidades, de que não falíamos,
e entre ellas huma arvore, que quem se
põe á sombra do Ponente, mata logo, se-
não vam buscar a sombra do Levante,
que ho seu antídoto.» Diogo de Couto,
Década 4, liv. 7, cap. 8. — «E ponco
desviados do caminho virão que sobre
huns penedos á sombra de humas altas
amendoeiras cantavão duas pastoras de
arrazoado parecer ao som de uma &auta,
que hum velho tangia, o qual a tocava
com muita graça; e dous pastores com as
mãos na face encostados sobre a do pene-
do as ouvião.» Francisco Rodrigues Lo-
bo, Primavera.
Minha inimiga bella,
Gloria da minha dor, c a cansa dolla,
Em cuja mão Amor depositado
Tem a minha Fortuna, c o meu cuidado:
Tu honras estes bosques, c estas praias,
Ora encostada k sombra de altas faias.
Ora pizando, quando aqui passêaa,
Com branco pé as húmidas arêas.
j. X DE MATTOS, BiMAS, pag. 252.
— As sombras da morU. — «Qual é o
homem i,diz o Real Profeta) que chegou
a ver a luz da vida, e se escusasse de
ver as sombras da morte?» Padre Ma-
noel Bernardes, Exercicios espirituaes,
pag. 399.
— Arvores de sombra; arvores que se
plantam para a darem, e estarmos ao fres-
co debaixo d'ellas. — « Bem é, senhor
Palmeirim, disse Bercldo, que as tenhaes
em pouco ; pois pêra vós nenhuma pôde
ser muito ; mas nem por isso as tenhaes
em pouco, que na verdade não sâo pêra
isso. Satiafor os levou a ama saia gran-
SOMB
SOMB
SOMB
583
de, singular de ver a obra d'ella, e tér-
rea, corria-lhe um tanque d'agua pola
porta, de que se regava um jardim po-
voado de muitas arvores delias pêra fru-
eta, outras pêra sombra, posto tudo por
sua ordem e em seu lucrar.» Francisco de
Andrade, Palmeirim d'Inglaterra, cap.
119.
— Termo de poesia. Os manes, as al-
mas dos mortos, as regiões dos mortos.
— Descer ás sombras t- às e escuras.
Imagiuae tamanhas aventuras,
Quaoõ Eurystheo a Alcides inventava ;
O leão Clconeo, Harpias duras,
O porco de Ervmantho, a Hydra brava :
Descer emfim ás sombras vàs e escuras,
Onde os campos de Dit« a Estyge lava ;
Porque o maior perigo, a mor at&-onta,
Por vós. oh Rei, o esprito, e carne é pronta.
CAM., Lns., cant. 4, est. 80.
— .ás sombras do sepulchrO; do infer-
no; as trevas.
— Estar á sombra; estar no logar on-
de não dardejam os raios do sol.
— Terra habitada pelas sombras da
morte.
Terra do mingua e trevas, habitada
Pelas sombras da morte — onde mais ordem
Que o sempiterno horror ha hi nenhuma.
OAEBETT, CAMÕES, caut. 2, cap. 5.
— A sombra do diadema.
Kão se acoitam
Mollemente na purpura paterna
Os filhos de João, nem se crem grandes
Em torpe ociosidade vegetando
A sombra do diadema que em suas frentes
Descuidadas não pesa : — Henrique o grande,
O sábio Henrique, o protector philosopho.
eASBETT, CAMÕES, cant. 8, cap. 8.
— As sombras da ment-e humana.
Da ment« humana as sombras afugenta.
Rompe com luz recônditos arcanos,
Com sapiência próvida alimenta,
Dados ao erro, os míseros humanos :
O fado extremo de Israel lamenta.
De perto vendo aproximar-se os annos,
Queterna assolação, total ruina.
Devem trazer á escrava Palestina.
j. A. DE M.\cEDO, o OBiESTE, caut. 10, est. 24.
— Mudas sombras.
Sobre as bases das Íngremes muralhas
Que cem canhões horrisonos defendem.
Por entre mudas sombras vão cavando.
J. A. DE MACEDO, A HATCBEZA, Cant. 2.
— A tinta com que se pintam as som-
bras.
— Diz-se de um individuo que sempre
acompanha outro, que é a sua sombra.
— Receber alguém com boa sombra ; re-
cebel-o com bom ar, boa cara, mostras e
— .íl sombra dos séculos.
Quem pódc agora a Natureza toda
Contemplar dhum só golpe ? A Poesia
Que rompe os duros cárceres da morte
Que na sombra dos séculos penetra,
Que fiada em si mesma, as ígneas azas
Deáfcre alem dos Ceos, alem doa astros.
J. A. DE MACEDO, A SATUBEZA, Caut. 3.
Taes tem sido teus dons, nobre Elemento,
A tal preço compraste Altar, Incenso,
Que nos antigos séculos de sombras
O Persa adorador te consagraTa.
IBIDEM, cant. 2.
— Visào, espectro, phantasma.
Vào após esta sombra : e acaso he sombra
Quanto na Terra se chamou Ventura,
Doce bem dos mortaes que busc^o todos?
Dos prazeres na posse acaso a encontra
Entre os jardins frugaes paico Epicuro ?
Das paixões na victoria acaso existe"?
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Caut. 1.
— Cobrir a terra de palpáveis som-
bras.
Espande-se, dilata-sc, cobrindo
A Terra toda de palpáveis sombras,
Por onde Insectos denegridos gírão •,
Tudo corrompem, coutaminào tudo
Onde chegão co' as azas pestilentes.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 4.
— Xegras sombras.
Cesse ja a tempestade, e o duro inuemo,
Passe, c leue consigo sombras negras
Rompase o manto escuro tenebroso
Que as amorosas almas tem sombrias.
Desfaçase o Bulcão, da ncuoa espessa,
E o infelice vapor molesto, e triste,
Venha ja o resplandor do louro Apollo
Aclare destes dous o mal oeeulto.
COBTE REAL, HAUFBAGIODE SEPÚLVEDA, Oaut. 4.
O forte Capitão dissimulando
A dor que o coração e a alma lhe passa
Esforça a frac^ gente com palauras
Que vida lhe vào dando ao fraco sprito.
A marítima costa chegão, quando
O louro ApoUo ao mar ja se entregaua,
Estendcndose la huma negra sombra
Por donde Aurora mostra a luz do dia.
IBIDEM, cant. IG.
— A sombra; com pretexto.
— Defeito leve.
— Fazer sombra; servir de amparo.
— Sombras espessas.
Quando envolto em tormenta, e sombra espessa
Passou, sem medo á morte, a Austral baliza
Vergonha, e confusão da audácia humana
Desde que em curvo lenho a frágil vida
Ao capricho entregou do vento, c mares.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Cant. 2.
De todo Urânio a hypothcse não prova ;
luda envolta a deixou na espessa sombra.
IBIDEM, cant. 3.
— Cimereas sombras d' alongada noite.
Do Pólo o Cidadão dcstróo com ello
Cimereas sombras dalongada noite,
Que abafa as regiões do frio, e moiie.
J. A. DH MACEDO, MEDITAÇÃO, Cant. 3.
— As sombras da magestosa natureza.
Com seu exemplo mostra, c nos descobre
Que o melhor era ignoto, e que podemos
Com porfiado estudo dentre as sombras
Da magestosa Natureza hum dia,
Despedaçado o véo, á luz traze-lo,
(Elle o caminho mostra, e o vai ti'ílhando)
E assim tocarmos da verdade o termo.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Caut. 2.
— A sombra escura.
Olha acceso Rubim, na sombra escura
Da noite em si conserva a luz, c o dia.
J. A. DE MACEDO, A NAICBEZA. Caut. 2.
— Penetrar as sombras do nada.
Que vista pôde penetrar as sombras
Do nada cm que o Senhor continha o Mundo ?
Eis onde pára absorto o Entendimento,
E a sciencia mortal se cála humilde.
J. A. DE M.ÍCED0, A K.'Í.TCBEZA, Caut. 1.
— Logar de má sombra ; logar triste,
melancólico.
— Figura, representação, ou imagem,
typos significativos do que ha de reali-
sar-se.
— As sombras ynetaphi/sicas.
Dêo-te o trabalho pão, nunca a lisonja,
Nunca o bater servil de hum Grande á porta.
Reprovo em ti doutrina, e louvo o homem.
Nas sombras Metaphisicas te perdei,
Conservando a virtude intacta, e pura.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, CaUt. 2.
Apparencias, cousas sem ser.
Quasí perdem seu tom da Lira as cordas.
Quando destarte o labvrintho encaro
Da linguagem dos Cálculos, que he sombra,
Que estrema imniensamente, e que divide
O frio Euclides do fervente Milton.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 4.
— Figuradamente : Metter na escuri-
dade, nào deixar figurar.
— Não querer nem por sombras; não
querer de forma alguma.
— A sombra do amor.
Um plátano frondoso que hi crescia,
Em cujo liso tronco tantas vezes
Se incostou. aguardando a hora tardia,
— Prazo dado d'amor, que é tardo sempre!
Cuja sombra, em luar pouco propicio
A amantes, o occultou de agudas vistas
De curiosos-piofauos e ininii^os...
G.ABSETT, CAMÕES, Caut. 10, Cap. 13.
— Cançado de luctar com as sombras.
584
SOMB
SOMB
SOMB
Eia cangado do lutar co'a8 nomhra»
l'cIo diííco do Sol donfiro o» voo»,
I>o novo c<irto as orbita» nos Antros,
Atrai! di'ixo Saturno, c .lovo, c Marte,
Improviso clarão meus olhos fore.
J. A. PE MACKDO, A HAriar.ZA, cant. 1.
— A iJenaa sombra.
Do século, cm que vivo, a »omhra donsa
ICu rasgarei com vivo cnthusiasmo :
Açaimnda deixando a negra Inveja,
Ao menos (|uando o corpo cm cova humilde
A morte me esconder.
J. A. DE MACr.DO, VIAOEM EXTÁTICA, Caut. 1.
— Ver a verãade envolta em sombras
igiiaes.
Debalde inquiro os sábios que primeiro
Kntre os mortaes Filósofos se acchimào!...
Que apertados conlins prescriptos forão
Do humano entendimento A forija, aos voos !
Se outros grandes oráculos c>!cnto,
Vejo em sombras iguaes verdade envolta.
J. A. DK MACEDO, URDITAÇÂO, Cant. 4.
— Vèr as sombras na brilhante alam-
pada do inundo.
Buscào O Sol no Sol, o alli descobrem
As nno cuidadas niAculas ; ou foste,
Immortal Galileo, tu, (cujos olhos
Do luz mais viva enchera a Natureza)
O primeiro talvez, que a» .?om'ir<is \'ira,
Nessa brilhante alampada do Mundo.
J. A. DE MACEDO, VIAOEM EXTÁTICA, Caut. 2.
— Vestígios, leves noções e tinturas
ou descri pções.
— Ar, apparencia.
— Imagem apagada, cxtincta.
— Dar sombras; assombrar, não pro-
duzir luz.
Alem se abria, e se encurvava o porto
Do famoso Pyrôo ! No mato espesso,
Que entro pedras além se enlAça, e cresce,
As lizas Faias, PlAfcinos viçosos
DEpicurio aos Jardins jA derào .lombras.
1. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Caut. 2.
— Lcva-me a calma á sombra amena.
Leva-me a sede adusta á fonte fria,
A calma ;i sombra amena ; e á mole cama
Assim que a noite a escuridão derrama,
O doce somno pela maõ me guia.
ABBIDK DE JAZESTE, POESIAS, pag. 729.
— Diz-se também ila pessoa que facil-
mente se assusta c perde o animo.
— Termo do historia natural. Peixe
maritinui ; o mesmo que ombrina.
SOMBRAÇ.^DO, part. pass. de Sonibra-
çar.
SOMBRAÇAR, v. a. Yid. Sobraçar.
SOMBREADO, part. pass. de Sombrear.
Coberto do sombras, que está á^ sombra
de arvores, edifícios, etc.
— ÍJoa-se também substantivamente,
como terriiii de pintura.
SOMBREAR, v. a. Assombrar, cobrir,
encídirir com sombra.
— Termo de pintura. Pôr as sombras,
o escuros.
SOMBREIRA, f. f. Termo de botânica.
Planta qu'' tem Ibihas largas e redonda-s,
e produz flGre.s azuos com a íigura do
jasiiiin-*.
SOMBREir.EIRO, s. m. Homem que faz
soinlirciro.-i, an chapi'!03.
SOMBREIRINHO, í. m. Diminutivo de
Sombreiro. Ciiaiiolinlio.
— - Sombreirinho de mão; chapéo de
sol j)equeno.
— Plur. — Sombreirinhos do telhado;
liorva, aliá.s cuncilhas, ou concelhos. Vid.
Orelha de monge.
SOMBREIRO, s. m. Chapéo.
Toma 1:1 osso sombreiro ;
F.u sam ja acrecentado
Kscudciro encavalgado,
Depois serei cavalleiro.
Que o anno for acabado.
Ando ja quasi privado
(^omo quem no melhor anda,
Agora Tcr-mo om demanda,
Acho-rae tiio salteado
Como o gato na varanda.
OII- VICENTE, FABÇAS.
— «Ila nesta terra duas maneiras de
sacerdotes, huiis que trazem as cabeças
de todo rapadas, trazem estes nas cabe-
ças huns barretes grossos, como de pano
de sombreiro, e detrás sam altos e chàos,
diante mais altos que detrás quasi hiima
mão travessa, mas feitos cm ameas : os
seus trajos sam pelotes brancos feitos
ao moio dos seculares.» Fr. Tíaspar da
Cruz, Tratado das cousas da China, ca-
pitulo 27.
— A cousa que faz sombra ou assom-
bra.
— Guarda-sol na índia portugueza.
— Sombreiro de sol; sombreiro de pé
alto; o que se chama hoje chapéo de sol.
— Peixe monstruoso que deteve o na-
vio de Rui Vaz Pereira, além do cabo
da Boa Esperança, sustendo com a cau-
da o leme, e abarcando com as barbata-
nas os dous costados; a cabeça era gran-
de como pipa, e tinha resfolegadouros ou
tromba por onde lançava maior espadana
de agua que a baleia.
— Ad.vgio :
— Em janeiro sete espelhos e um som-
breiro.
SOMBRELLA, s. /. Termo de botâni-
ca. Vaso de barro, uma grande choca de
lata, ou um cesto cvlindrico de vime,
abertos de ilharga ; servem para fazer
sombra, ou abrigar as plantas dos ven-
tos.
SOMBRERETE, s. m. Diminutivo de
Sombreiro.
SOMBRIA, s. f. Termo de historia na-
tural. Ave bcirense. Tem a forma da
cotovia.
SOMBRIO, A, <vlj. Diz-Bc dos Jogares
onde exi-te sombra.
Ao longo do BíTcno
Tejo, suave e brando,
N'hum vallc daltas arvores ãombrio
Estava o triste Almcno
Suspiros cspalliando
Ao vento, e does lagrimas ao rio.
CAU., EOIX>GA 2.
— A sombria noite.
Do mar nas frias, cspumant^^s ondas
Vej.i estendido o Bra<;o omnipotente ;
Os vifntos chama, ajunta, esparge, c B<jlta',
.■V seu império entrega o vasto Ctcosno ;
Faz-lhc um .aceno, Jis iras lho (mcadvia.
Km toda a parte cst.d presente, em toda;
At«'' nos vt'o5 tristonhos, e peaidos.
Com que a sombria noite os Coos nos tolda.
J. A. DB MACEDO, MEDlTAÇÃO, Cant. 4.
— Arvores sombrias; ar\-orc8 que fa-
zem sombra.
A quem depois dêo Ciccro mais luzes
Nas Questões Académicas, que em Baias
Entre Oradores Coii.sules ventila,
E nas alas das arvores sombria»
Do fresco, c ameno Tusculo resolve.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cailt. 2.
— Homem sombrio ; homem triste, tris-
tonho.
— Homem sombrio ; homem carrancu-
do, severo.
— A lua envolta em vto sombrio.
A congerie dos Ccos, dos Soes, do Todo,
Hum ponto se me antolha, c brilha apenas.
Qual Acronautji vè d'alem das nuvens,
As-!om.ar iihorizonto a argêntea Lua
Toda envolta do eclipse cm vco sombrio.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, CaOt. 1.
— Feito :l sombra, como os mimosos
gostam, sem trabalho, e com molleza.
— A Groelandia sombria.
Na Groelandia barbara, c sombria.
Deserto onde esmorece o fogo, a vida.
Por entre montes cternacá de golo,
Qu' aboião pelo mar fervido, c grosso,
Seu triste alvergue tem, próprio he s<'>mcnt<3
Tão vasto campo do Cardume immenso.
J. A. DE MACEDO, A SATUBEZA, Cant. 3.
— A tt:rra sombria e triste.
Corre a Terra tambrm .sombria, o triste.
Dos Globos sogue a Lei, sou m.ito he vario,
E nmrca as I-^taçucs. Tu fosto, oh Terra,
Das vistas iraiuortaes objecto, c termo.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Cant. 1.
— Vio sombrio.
SOME
Immortal Galileo, ao dia, ás Luzes,
Que teu saber profuudo aos homens trouxe.
Se oppoz a cega audaz insipiência ;
Inda agora ae opp5e, q'lium véo sombrio
Tentou no Sena despregar-te cm cima.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 2.
— Adagio e provérbio:
— Nào farás horta em sombrio, nem
edifiques a par do rio.
— Syx. : Sombrio, opaco. Vid. este ul-
timo termo.
SOMBROSO, A, a<1j. (De sombra, com
o siiffixo «oso»). Que faz sombra.
— Que pioiluz sombra.
SOMEIRÒS, s. m. plur. Dous paus que
susteem a furça do movimento da im-
prensa.
— Someiros dos órgãos; espécie de
caixas on'le existem os folies.
SOMENOS, aiJj. 2 gen. Inferior na bon-
dade, qualidade, graduação. — «Avendo
de tratar da cidade de Cantão, dou pri-
meiro lium aviso aos leitores, que antie
as cidades nobres, cantão lie huma antre
muitas menos nobre da China, e muito
somenos em edifícios que outras muitas:
inda que he mais populosa que muitas,
isto dito por todos os que ha viram e an-
daram pella terra dentro, onde viram
outras muitas.» Fr. Oaspar da Cruz,
Tratado das cousas da China, cap. 6.
— Assucar somenos; assucar inferior
ao branco, e melhor que o mascavado; o
branco baixo inferior.
SOMENTE, adv. Só, unicamente, não
mais.
Pêra que he paronvelar?
Que queira ser peecador
O lavrador;
Nào tem tempo nem logar
Xera somente d'alimpar
Ag gotas do seu suor.
niL VICEXTE,ALTO DA BABCA DO PCBGA-
TOBIO.
Colherei alguma couainha,
Somente por ir asinha
E nào tardar.
Coihei, rosa, dessas rosas.
IDEM, FABÇAS.
Vós nào haveis de fallar
Com homem, nem mulher que seja;
Somente ir á Igreja
Não vos quero eu leixar.
— ■ «Pede de mercê a vossa alteza haja
por bem mandar aos seus justar, porque
a todos 08 desafia um por um; reservan-
do somente o príncipe Primalião vosso fi-
lho, porque contra elle não tomará lança.
Muito folgou o imperador daquelle acon-
tecimento por ser cousa, que podia dar
contentamento a Lionarda, e nobreza á
sua corte, parecendo-lhe que o cavalleiro,
que tal feito co;nmettia, confiava em suas
obras; e respondeu ao escudeiro com um
semblante alegre e risonho.» Francisco
TOL. V. — 74.
SOME
de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap.
111. — «E humas letras que dizem isto
desta própria maneyra, estão inda oje
esculpidas num escudo de prata que está
pendurado encima na volta do arco de
huma porta da cidade que agora se cha-
ma Pommicotay, que he a principal de
todas as portas, na qual estào continua-
mente por honra e memoria desta profe-
cia, quarenta alabardejros com seu ca-
pitão. E em cada huma das outras estào
quatro somente para darem razão do que
cada dia pur ellas entra e sae.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 94.
• — «O que entendenilo o Monvagaruu,
por quem aly se governava tudo, acenou
ao Queitor, que vinha um pouco detrás
delle, que fizesse entrar os estrangevros
somente, e abrindose outra vez as portas
para este efteito, começarão de entrar os
Bramaas, e nós os Portugueses, e de vol-
ta com nosco fov tanta a gente que co-
meteo a entrada.» Ibidem, cap. 162. —
«E os oitenta somente, que erão os majo-
res, estavào em pé, presos todos por ca-
deas de ferro, e cõ colares grossos do
mesmo aos pescoços, e alguns cõ algemas
nas mãos, e os pequenos que jazião no
chão como filhos destes mayores, estavão
cingidos pelas cintas de seis cm seis com
outras cadeas mais delgadas, e por fora
das grades em duas outras file^-ras de
três em três a fileyra, estavão duzentos e
quarenta e quatro gigantes de bronze,
de vinte e cinco palmos cada hum, com
suas alabardas e maças ás costas.» Ibi-
dem. — « A qual estaua assentada em hum
pedaço de terra torneado d'agua salgada
com que fica em ilha, tudo terra baixa e
alagadiça, dõde se causa ser ella mui
doentia: cujas casas eraõ palhaças, so-
mente huma mesquita, e as do Xeque
que eraõ de taipa co eirados per cima.»
Barros, Década 1, liv. 4, cap. 4. —
«Acabado este feito, que durou espaço de
três oras, e custou a vida do pajem de
Tristão d'Acunha, e de seis ou sete que
falecerão despois dos cincoenta e tantos
feridos que ali ouue: acharão que dos
Mouros morrerão passante de oitenta, e
captivos hum somente chamado Homar
que era mui bom piloto da costa da Ará-
bia, e despois aproueitou muito a Affonso
d'Alboquerque, em quanto ali andou.»
Idem, Década 2, liv. 1, cap. 3. — «Tam-
bém em as nãos não havia tantas muni-
ções, e somente com huma forja, que todo
dia estava occupada em repaii-ar as armas
dos homens, não se podia fazer tanta
obra como havia mister huma fortaleza
de madeira, e mais a terra era tão pes-
tífera, que não poderiam os homens atu-
rar hum trabalho tão apressado como
convinha no fazer daquella fortaleza, e
adoecendo-lhe no meio da obra, ficava
sem gente, e sem fortaleza.» Barros, Dé-
cada 2, liv
SOME
585
que nauios redondos não podiam tomar
da Mina por caso das grandes correntes,
somente nauios latinos, e isto porque em
nenhuma parte da Christandade os ha
senão as carauellas de Portugal, e do AÍ-
garue, e os galeões de Roma, que não
são pêra nauegar tam longe.» óarcia de
Rezende, Chronica de D. João II, cap.
lõO. — «Porque usando somente de cer-
tos livrinhos estrangeiros, que trataõ das
cores, e metaes dos Escudos, todo seu
intento poseraõ em explicar estas cores.»
Severim de Faria, Noticias de Portugal,
Disc. 3, § 18. ^- «Também se diz san-
eia, porque dado caso que nam sejam
sanctos e spirituaes todos os que nella
estam, antes mais tenha de peccadores e
amadores deste mundo, que de sanctos e
spirituaes, toda via somente nella se po-
dem achar sanctos, e fora delia nam pode
auer sanctidade. E por tanto, por rezam
da milhor e mais principal parte da Igre-
ja que sam os sanctos, se chama a igre-
ja sancta.» Fr. Bartholomeu dos Marty-
res. Catecismo da doutrina christã.
Que a mi's6 presteis somente.
Uesherdo irraàos e parentes
d"um ceitil, nenhum se conte
por meu sangue, nem me alíronte.
ASTomo PEESTEs, AUTOS, pag. 87.
Somente sei te vejo convertido,
Do cisne mais armonico de Apollo,
No Cuco mais nojento de Cupido.
ABBADE DE JAZENTE, POESIAS, tOm. 2, pag. 77.
— «He tudo o que posso dizer a V. S.
nesta matéria, na qual seria grande in-
justiça culpar somente as molheres ordi-
nárias.» Cavalleiro d'01iveira, Cartas,
liv. 1, n.° 3õ.
De meus versos cantado eternamente
Foras, illustre Mouro, se meu canto
Xào tivera outro objecto aqui presente.
Do que eu m ensoberbeço e me hom-o tanto;
Que com imaginar n'elle somente
Até ás claras estrellas m'alevanto,
Jlas a falta da minha, ou doutra historia,
Nào poderá tirar-te a tua gloria.
FBAXCISCO DK ANDBADE, PBIMKIBO CEBCO DE DIU,
cant. 2, est. 12.
Huma sômeiúe a minha historia conta,
Porque todas nào podem ser contadas.
Se alguém me der para ella attento ou%ndo
Não se arrependerá de ter-me ouvido.
F. d'asDH.ÍDE, PBIMEIBO CEBCO DE DIU, Caut. 6,
est. 31.
Abre a porta, que a ti do alto c temido
Plutão mandado sou, bem se conhece.
Treme Pluto somente em ter ouvido
O nome de quem só teme e obedece,
Cerra o postigo, o lá por escondido
Logar sahe fora. e ante clles apparece :
Espanta-se o Sultão do que então via,
Porém a fúria nào, que o conhecia.
iBiDEu, cant. 12, est. 96.
w>.„„ ^, .... 6, cap. 5 «El Rey por a i ■ i^
+OV a AtiiTi miarrlQrl.1 fa„ «-™ • j '^ P'^"" ''° ™J^ altura, c massa, e bosques,
tei a 3iina guardada íez crer em sua vida, | Sombras pequenas são, ou nada, aqucUes
586
SOME
SOME
SOMI
InutniA propugnÃciilo!) da HcBporía
IIojc c ii'liuni tempo da Hobnrbíi Uomn,
Escudo imponcfvavcl, que fómrntr.
Annibal dividio, quando a viiipança
TrouxR do Dido a Trnsiinéiio, t: (_'anna«.
j. A. nu MAcr.DO, MrniTAçÃo, cant. 2.
Ao tenebroso Drspota da E'«!hrtla
Nào foi d:ido corror circulo immcnso ;
A ti, lliilVon, pnrinitto a Natureza,
Quo o véo levantes, quo do sous niystoriog
bojas tdmentc interprete Bubliino.
iniDEM, cant. 3.
— Excepto, monos, scnito.
— Tão somente.
Do Filosofo a vista em grandes quadros
Tilo somente se apraz, as leis indaga,
l'or quo em torno do Sol rápido corra
Em movimento elliptico o Planeta.
J. A. I)F. MACEDO, A NATUREZA, Caut. 1.
— Não Ião somente. — « Lembramlo-
Ihe tainbcm as mortos d'algiins principes
seus antopa.«sado8 diante dos muros da-
quolla famosa Constantinopla; e que es-
tas cousas não tão somente liaviam de
fazer magoa nos corações daquelles a que
tanto tocJivam, mas aeeniler sempre o
desejo porá a vingança dollos.» Francis-
co de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 59. — «E não tão somente aconte-
ceu isto á donzclla mas ainda a sua des-
cripção, que era grande, ficou tão torva-
da, que por ura espaço não soube que
lho dizer; cousa que muitas vozes acon-
tece a quem vê alguma de que recebe
espanto : porém, depois de tornar em si,
corrida do seu descuido e do que lhe
acontecera, disse: Senhora, Arnalta, priu-
ceza de Navarra, minha senhora, vos
manda beijar as mãos com o amor e von-
tade que tem pêra vos servir e conver-
sar.» Ibidem, cap. 110. — «Mas assi hum
como o outro se descuidarão tanto do ne-
gocio, sendo do tanta importância, que
nam t.im somente nam proueraõ nisso,
mas nem nas cousas necessárias pêra de-
fenderem a fortaleza, se lha viessem cer-
car, porque ncUa naõ auia mantimentos,
nem agoa que lhe polesse abastar quin-
ze dias, e os baluartes cstauam de cali-
dade que se naõ poderam despejar cm
três dias pêra se assentar a artelliaria.»
Damião de (loes, Chronica de D. Ma-
noel, part. 4. cap. 79.
— Não somente ; diz-se em opposição
a mas, mas também.
Não somente quem o crca:
Nem sentem as crcaturas
Quo ba do morrer som candea
E espirar As escuras,
C3omo triste em terra alhca.
On. VICENTE, FARÇAS.
— «E outros ficarão enterrados ao p6
da aruore onde se disse a primeira mis-
sa que ficou em adro da Igreja doucçaS
do S. lorge, em quo hoje Deos lie lou-
uado o glorificado, naõ somente do-i no.s-
808 que vaí5 liquuila cidaic, mas ainda
dos Ethiopa.s da sua comarqua, que per
baptismo naõ contados em o numero dos
fieis.» Barros, Década 1, liv. 3, cap. 2.
— »E de|)ois qu«- foz algumas entradas
nos piívos (lorgijs, de quo houve victo-
ria, c começou ter nome de cavallciro,
não somente so ajuntou a ellc nuiito po-
vo da(|uella gente que seu avó Xeque
Juué pcdio a Tanor Langue, (como dis-
semos,) mas ainda se veio ajuntar com
elle hum Capitão das Comarcas chama-
das Diarbec com té quatrocentos de ca-
vallo, o <|ual iiavia nome Abedi Bec.»
Idom, Década 2, liv. 10, cap. 6. — «O
que sei que v<')s fizestes, mostrando ain-
da no esquecimento da morte do filho, a
lembrança do que cumpria a meu servi-
ço; das quaes cousas a^sim .serei sempre
lembra<lo, que não somente vo-las coidie-
cerei com grande contentamento delias,
mas ainda com muita mercê.» Jacintho
Freire d'Andrade, Vida de D. João de
Castro, liv. 4. — «Nam sam isto etteitos
d'amor próprio, nem curiosidade natural,
he o poder da diuina graça, que como
encomenda a obra, assi inclina, e ch.i-
ma os obreiros; nam do Portugal somen-
te, mas também da.s outras prouincias tle
Hospanha, e Itália, e torlas as mais, a
que a necessidade de conseruar, e defen-
der a fè nas próprias terras nam prohibe
irem-na a dilatar )iela>: allieas.» Lucena,
Vida de S. Francisco Xavier, liv. 6, cap.
19. — «Ordenou também hum Collegio
de frades de S. Bernardo em a Vniuer-
sidaile de Coimbra, donde scspora que
sahiaij homens, que não somente ajiro-
ueitem muito na ordem mas também dem
muita doctrina onde quer quo cstiuerom.»
Damião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 3, cap. 72. — "E não somente fov
isto nos paços Deuora, mas em todo o
Reyno, tanto que a noua fov sabida, sem
mandalo dei Rcy, senão de suas próprias
vontades, faziam todas as fest-as que po-
diam.» tí areia <le Rezende. Chronica de
D. João II, cap. 115. — «E assim naõ
somente ileste tempo por diante naõ cres-
ceo a gei;te neste Reyno, como era con-
veniente para as muit.-is povoaçoetis, que
nelle havia, e para se poder defender, e
olfonder aos inimigos, mas alem disto se
foi despovoando com as muitas armadas
cheias de gente, que c^da anno partem
de Portugal para estas Conquistas; c com
as muitas Colónias, que so tiraõ para es-
tas povoaçoens.» Manoel Sovorim de Fa-
ria, Noticias de Portugal, Disc. 1, cap.
2. — 1 E o peor he, que confessa hum
Contratador dos nossos num livro, que
apresentou ao Conselho, que todas as
amarras, e cordoalhas, que nos manda-
rão de Flande.*, naõ somente eraõ as
peoros, mas de propósito, o por industria
falsificadas, e fallidas, para qao naZ pa-
ilosscm 8r;rvir, ««i naò com a apparoncia.»
Ibidem, cap. 3. — «Poríin com mais li-
bi-rlade, que oh Reys L<jngobardofl, por-
que não somente Ihcí deu estes Senhorios
em sua vida, como cntaò muitos tinbaS;
mas para seus descendont»-», com condi-
ção que lhe guardassem fiiielidaílo, e ro-
conhecessem vassalagem.» Ibidem, Diiic.
3, cap. 23.
Nem sómenfe % jornada lhe concede
Cunha, inag r|uaMto p<'>d<' ih 'a agradece,
Niida llic nega entào áo que lhe jxíde.
Que muito m.nis cuida inda que merece.
Com isto o ajuntamento se despede,
E ja por toda a parte »e engrandece.
Deste Illustre Varào o enfon,o raro
Que nesta obra, c em mil outras se vio claro.
FBAKCIBCO DF. ANDBAOr , PRIMF.IIO CKmOO 0« DÍU,
eant. 5, est. 76.
Vcndo-a agora cm poder da iraiga gente,
E não sAmenie em vão ir seu conceito
Mas que faz que aos imigos se accrcsccnte
O poder, e que o seu tenha defeito.
Menos medroso assaz que descontento
I)'huma grãa confusão se lhe enche o peito.
Mil cousas ditterentes imagina
Mas cm nonhuina cmfim se determina.
IBIDEM, cant. 11, est. 45.
SOMEOS. Vid. Somenos.
SOMERGER, o SOMERGIR. Vid. Sumer-
gir, e Submergir.
SOMETER, "u SOMETTER, ou SUBMET-
TER, r. a. Sujeitar, reduzir debaixo do
poder.
— Someter os sentidos d razão ; crer
antes o que cila dita, do que o que os
sentidos mostram.
— .Subjugar, sujeitar.
— Someter-se, v. rejl. Sujeitar-se, ren-
der-se, obedecer ás ordens, á vontade de
alguém.
— Humilhar-se. — «Porque ainda que
muito nos alegremos no dia de seu nas-
cimento, todauia iiquella nam pode dey-
xar de si-r mesturada cõ alguma pay-
xam, e dor, cõ ideràdo as necessidades,
e pobrezas em que naceo, o frio que pa-
deceo, e outras misérias humanas, a que
nascendo se someteo, e finalmente con-
siderando a morte e paixão pêra que na-
ceo, c como do presépio auia de passar
à cruz.» Fr. Bartholomeu dos Martyres,
Catecismo da doutrina christã.
SOMETIDO, "u SOMETTIDO, part. jyass.
de Someter. Sujeito, subjugado, mettido
debaixo.
— Usa— se no sentido figrurado.
SOMETIMENTO, s. m. Sujeiçio, acto
de sr.bníottor.
SOMICHAS. Vid. Semichas.
SOMICHO, A, a'lj. Vid. Submisso,
baixo.
SOMIDEIRO, s. m. Vil. Somidoaro.
SOMIR, 1-. a. Vid. Sumir.
Não ha por onde vos tomem,
sois daa muito eostumaxes ;
SOMM
SOMN
SOMN
587
desconfianças vos somem;
parece que onde ha homem
uào dovcm vogar rapazes :
falo verdade, senliora,
quem vos agrave nào tenho.
AiíTONio PRESTES, ACTOS, pag. 295.
tão ciosa vos não gaho,
que nem todo anno ha nabos.
Senhor tio, quero muito,
desconfianças me somem,
e quem quer não dá mais frui to.
iBrDBM, pag. 311.
— «Perdem-se petiçoens, somem-se pro-
visoens, faltaõ os Oráculos, respondem
sesta por balhésta, fazem-vos do Ceo ce-
bola, metem-se no escuro dos segredos,
com mysterios que nau ha : e Deos nos
dé boas noites.» Arte de furtar, cap. 38.
Desce ao fundo do mar Marsigli, indaga
Quantos thesouros no seu seio encerra ;
Tào vasto, e tão veloz, qual o Danúbio
Desde a larga vertente á foz immensa,
Por onde ao negro mar se lança, e some.
3. À.. DE UACEDO, VIAGEU EXTÁTICA, Caut. 4.
SOMISSÃO, i. /. Vid. Submissão.
SOMITEGARIA, s. /. Termo popular.
Mesquiutiez, avareza.
— Termo antiquado. Sodomia.
SOMITEGO, cu somítico. Termo an-
tiquado. Vid. Sodomita.
— Vulgarmente diz-se do que é nimia-
mente parco, mesquiniio, tacanho.
SOMITIMENTO, s. m. Termo antiqua-
do. Somitimento do inimigo; suggestào do
demónio.
— Inspiração malvada, astúcia perni-
ciosa, perverso conselho, que dolosamen-
te, e como ás escondidas, se introduz nos
corações damnados.
SOMMA, s. f. Vid. Soma. — «E per
nom caírem nas penas, que teem promet-
tidas nom pagando aos ditos termos as
ditas sommas d'ouro ou prata, em que
som obrigados, dam mais da dita nossa
moeda por o dito ouro ou prata, do que
he o seu verdadeiro valor per respeito da
prata, que teem, e assy íica a nossa moe-
da viltada, e despreçada, e abaixada : a
qual cousa he grande perda, e dapno a
nós, e aos nossos Regnos, e senhorio, e a
todo nosso povoo.» Òrd. AfFons., liv. 4,
tit. 21, § 3. — «Almourol, que a isto
presente estava, vendo-os sem lanças,
mandou trazer somiaa delias de dentro
do castello, e os escudeiros serviram a
cada um de seus senhores com a sua.u
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 109.
Muitos lhe vejo, mas um
lhe nào vi : ■
muitos sem um, somma em si
unidade de nenhum.
Pois Athenas que é de ti !
AJilOSIO PKESIE3, AUTOS, pag. 41.
E depois disto em Roma,
soo com três dias chouer
cm octubro, o Tibrc toma
agoa tanta, em tanta somma,
que foi espanto de ver.
GABCIA DSt BEZEXDE, lUSCELLASEA.
Vem grã somma a Portugal
cadàuo, também aas ilhas,
he cousa que sempre vai,
e tresdobra ho cabedal
em Castella, e nas Antilhas.
— «E ao longo das paredes de huma
parte e da outra, muyta somma de ído-
los grandes e pequenos em diversas figu-
ras todos dourados, os quais postos em
prateleyros por muyto boa ordem, toma-
vào toda a largura e comprimento das pa-
redes, e á vista dos olhos parecia que
eraõ todos de ouro.» Fernào Mendes Pin-
to, Peregrinações, cap. 110.- — «Na qual
aruore, e outras cousas de Uuminiu-a, e
nas Chronicas despendi per sua couta hu-
ma grào somma de dinheiro.» Damião de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 2,
cap. 19.
SOMNAMBULISMO, í. m. Termo de me-
dicina. Affecçào das funcções cerebraes
caracterisada por uma espécie de aptidão
para repetir durante o somno as acções de
que se contrahiu o habito, ou para execu-
tar diversos movimentos, mas sem que
depois de acordar, alguma lembrança ti-
que do que se passou.
— Somnambulismo magnético; estado
nervoso particular em que se pode lan-
çar por uma espécie de influencia moral,
os indivíduos de uma grande susceptibili-
dade, e mormente as mulheres hysteri-
cas.
SOMNAMBULO, A, aJJ. (Do latim som-
nus, e ambulo). Que dormindo anda em
pé, como se estivesse acordado.
— >S'. Pessoa que se levanta, obra, e
falia estando a dormir.
SOMNIFERO, A, adj. Termo de poesia.
Que traz ou causa somno.
Quando do elaro Sol ferventes luzes
Do brumoso Leão mais vivos raios
Começão d'e8pargir, se embota o viço.
Foge o matiz das melindrosas flores,
Somiiifero vapor encurva as plantas,
Desfoiha-se a Cocem, desmaia a Eosa.
J. A. DE SLACEDO, A SAIUKEZA, CaUt. 1.
SOMNIFICO, A, adj. Vid. Somnifero.
SOMNIGERO, A, adj. Vid. Somnifero.
SOMNO, ou SONO, s. m. (Do latim som-
nus). O descanço do animal cançado
pelo adormecimento natural de todos os
sentidos. — «Aconteceu que neste tempo
Arlança, a quem o seu amor mais ator-
mentava, vendo que as outras donzellas,
vencidas de somno ou de trabalho, ador-
meceram, tendo o seu cuidado esperto, já
desesperada de o ver esquecido delia.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 124.
Como é mole o meu dinheiro !
folga-me a cabeça nelle ;
aqueste é o travesseiro
de meu bem -, sus somno inteiro.
ANTÓNIO PltESTKS, AUTOS, pag. 87.
E assi se nomeavam ?
D'este modo assi, que alli
veviam pelo si , si ;
era seu comer e somno
darem o seu a seu donno.
IBIDEM, pag. 141.
— «Quando a intenção he infrigidar
mais, e provocar o somno, podemos uzar
dos remédios, que commummente se pro-
põem no capitulo do Phrenesi dirigidos a
consiliar somno, e a temperar o estuante
calor da Cabeça.» Braz Luiz d'Abreu,
Portugal medico, § 119.
Depois, dormindo docemente a sesta,
Se lhe figura, no melhor do somno,
Que andando de passeio pela Quinta,
Com passos lentos a ellc se chegava
Da nora o velho Burro, e alçando o rabo,
Dous couces lhe pregava no vazio.
DINIZ DA CRUZ, urssoPE, caut. 7.
Do mago somno o bálsamo gostoso
Os trabalhados membros me prendia.
Dando á minha alma momentânea tregoa
A herança minha, lúgubre amargura.
J. A. DE JIACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 1.
— Somno profundo. — «O remédio
mais efficax que tenho achado para exci-
tar o doente de qualquer somno profun-
do, ou outro qualquer affecto capital em
que seja necessário coiToborar a Cabeça,
e excitar os espíritos animais torpicos ; e
nebulozos, he ajuntar a huma onça de
agoa da RainLa de Ungria verdadeira,
outo, ou des gottas do espirito da vida,
cuja receita vay a trás no sintagma da
dor de Cabeça, introduzindo pelos nari-
zes repetidas vezes torcidas de algodão
molhadas na dita mixtura.» Braz Luiz de
Abreu, Portugal medico, pag. 493, § 86,
— Somno cheio; somno nào interrom-
pido.
— O somno da morte; o somno per»
petuo.
— O estado de quem está dormindo.
— O somno eterno; o somno da morte,
— iQue pretendes de mim ?» disse a voz ouça
Do squelcto : «a que vens? Porque vieste
De meu eterno somno despertar-me ?
Pésa-te a paz dos mortos, homem vivo?»
GAKBETT, CAMÕES.
— Tomar somno ; dormir, adormecer.
— Dormir o somno do ijeccado; estar
no lethargo d'elle.
588
SO.MO
SOND
aONE
— Dormir o somao 'io esquecimento.
— Fifçiirailamoiito : O ropouHO do espi-
rito.
— Entregar-se ao somno; <leitar-8e a
dormir.
«Adôrnoa de veatiil, não mais voa mancho. •
Co'Sacro gume, o nivco oAllo invéato,
E o aangiui, vm\ capajana, Hiio de rojo.
Vollôda vórga, e cáe. Aaaim no.í aulcoa,
Quo Iiil Hcgado, a Coifeira o cúlo inclina,
E, pesada de afun, ho ontn'ga ao somno.
P. M. no NASCIMKNIO, 08 MAliiVUKS, 1ÍV. 10.
SOMNOLENCIA, s. f. Termo do modi-
cina. <'i-aii'l(í Ictliar^^^o ou modorra.
SOMNOLENTO, A, w^lj. Termo de me-
dicina. Quo tom rcla(;rio ooni a soinuoleu-
cia. — Um estado somnoleiíto.
— Quo se movo tardamente, o como
que vai ehoio de somno.
Que eu deixe vossos nomes envolvidos
Entre a treva, que cs;)alha somnnle.nta
A agua estofa do sombrio Lethcs.
DINIZ DA CRUZ, uYssorE, oant. 7.
— Que apenas se levantou do dormir.
SOMNORENTO, A, a<lj. Vid. Somno-
lento.
SOMONTE, (i'lj. — Tabaco somonte ; é
do pi') fino mai.-í inferior.
— AigLius dizem simonte. Vid. este
vocábulo.
-}• SOMOS. Forma do verbo ser na pri-
meira pessoa do plural do presente do mo-
do indicativo. Vid. Ser. — «Ou a outras
quaaesquer pessoas: nom embargando que
esses contrautos sejam desaftbrados, e se
obriguem a yjagar ouro, ou prata, ou seu
direito, e intrinsieo valor, ou como vales-
sem aos tempos das pagas, ou que logo se
obriguem a dar certo dinheiro por marco
de prata, ou moeda d'ouro; porque soomos
corto quo esto he mais que o seu direito
valor.» Ord. Affons., liv. 4, tit. 2, 14.
. — «Nam ha quem se defenda de onvc-
jas: de meninos a começamos a ter; so
somos pro<pero3 somos euvejados, se po-
bres e abatidos, temos cnveja doutros.»
D. Joanna da Cíaraa, Ditos da freira,
pag. 23-24 (ediç. 1872). — «Soniior, res-
pondeu elle, ambos somos naturaes deste
reino : a mim chamam Brandamor, e a
meu companheiro Sigeral; e porque ha
muitos dias que juntamente seguimos as
aventuras quizemos vir provar-nos nesta
do escudo do vulto de Miraguai-da, onde
antes quo víssemos o guardador delle, ti-
zeraos batalha com aquellc cavalleiro das
donzellas, que se d'aqui partiu, da qual
saímos tão maltratados, como nos vedes.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Iiigla-
terra, cap. 120.
Que do pessoa a pessoa
80 falam desbarretados •,
maa porquanto somos machos
levemos uns dcaempachoi
que não paguomoa doíiiraa.
ANTÓNIO rnKsTKB, AUToH, pag, 1
Senlior primo, aomoa nía.
(^uanfeu hei-no.í de abraçar,
l'j (;u liei ni(! d 'esfregar,
meu Huulior, primo por vóa.
iiiiDKu, pag. 167.
I)eo-noa o volbo uo cofre
dez mil dobras em dinheiro,
tiio peguciro :
somos irinãoa, não ao aoIVre
«êrdea cm maia que ou herdeiro,
pois não aoia maia Dom Inofrc.
iKiDKsi, pag. 27.5.
— " Somos obrigados a guardar seis
preceptiis do sancto Euangclho quo nos-
so Senhor Icsu Christo oncommeudou per
sua boca, de darmos de comer aos famin-
tos, do bebitr aos que haõ sede, agasa-
lhar os peregrinos, vestir os nus, visitar
os enfermos, consolar os presos. » Damião
de Lioes, Chronica de D. Manoel, part.
3, cap. (Jl.
SONAJAS. Vid. Soalhas, Pandeiro.
SONANCIA, 6. /. Termo de musica.
tíom simples, tom.
SONANTE, adj. 2 gen. Vid. Soante.
— Sonoro.
SONATA, s. /. Termo de musica. Peça
de musica instrumental, comjjosta de qua-
tro ou cinco pedaços de caracteres diver-
sos.
SONDA, s. /. Prumo cora que os náu-
ticos examinam a altura do mar.
— Altura do mar, rio.
— O fundo em que a sondareza toca,
e pára; a matéria d'elle.
— Tenta de cirurgião; algumas são elás-
ticas de gomma de borracha, solidas ou
Ocas, ou vasadas com uma fenda junto
da ponta para extrahir a ouriua da bexi-
ga, ou injectar por doutro da sonda al-
gum liquido n'olla, pela via da ourina,
ou urcthra onde ella entra, e se conserva
querendo.
SONDADO, part. pass. de Sondar.
SONDAR, V. a. Examinar a altura do
mar, rio, lançando a sonda. — «Pelo quo
logo Vasqu > da Gama mandou a Nicoiao
Coelho, por ha sua nao ser pequena, que
fosse diante sondando ate aquella ilha
donde lios barcos sairão.» Damião de
Gojs, Chronica de I>. Manoel, part. 1,
cap. 36. — «O que lhe elle muito agra-
deceo, elegendo logo porá isso Nuno vaz
pereira, dizenlolhe, que tiraua esta hon-
ra de si pêra lhe dar, como seu amigo
que era, e porque a sua nao era grande,
c demaudaua muita agoa, mandou com
elle Diogo pirez. pêra na galo ir sondan-
do diante.» Ibidem, part. 2, cap. 39. —
«Passando assi Nuno vaz adiante pêra
aferrar a nao de ilirhoccm lho fez Dio-
go Pirez, que liia diante sondando, sinal
quo amainasse por achar pouca agua.
Mirhocem vendoo «urto alargou a amar-
ra, c sem nenhum medo o veo a f-r-
rar jicr hum bordo, o que também fez
Nuno vaz.» Ibidem. — «A couna que el
liei sobro todas mais dc<cjaua era ter
na costa do mar da Harbaria muita» vii-
la.s, c lugares, e porque ja tinha manda-
do sondar ho rio da Mamora, c inforraa-
çam per espias do lugar maia seguro, em
que na boca d elle hu podia fazer uma
fcjrtaleza.» Ibidem, part. 3, cap. 7G. —
«Mandou o (Japitão }ilnr sondar o rio, e
ajjalisar com ramas o canal para fugir
dos bancos: e i^abendo pela sondii, que
tiiihão as caravelas fundo, coinetteo a
entrada a tempo que o inimigo vinha
com duas galés, e uutro.s navios bu«car
a nossa armada, jjorque pebis espias en-
tendeo, que crào navios mercantis, em
razão de haverem visto da terra doua
caravclòes simiente, por estarem os fus-
tas, c galeotas cubertaa com a sombra
de huma ponta torcida em voltas que alli
faz o rio.» .lacintho Freire d'Andrade,
Vida de D. João de Castro, liv. 4. —
«Pas.sada a tormenta, ao quinto dia co-
meçou o vento cm no=so fauor, com o
qual nos sahimos das Ilhas, indo a bar-
quinha do Mestre diante, e neila Frar.-
ci>co Lobato com o prumo na mão, son-
dando o mar do canal temendo ouuessc
algum bayxo, por andar o mar niuy in-
quieto por causa dos grades cardumes do
peyxe, que entre aqucllas Ilhas se cria,
e sabida a verdade nos sahimos dclle se-
guindo no-^so c;íminho.» Fr. Gaspar de
8. Bernardino, Itinerário da índia, cap.
3. — «Andaua a este tempo o batel son-
dando o mar, pcra lançarmos ferro em
se tomado fundo, o qual não se pode
achar, por sar uiuyto.» Ibidem.
Pódc acaao Epicuro eipor-me, como
Possa sor movimento cm corpo inerte
Arquitcctor de leis, sotvlando o ptgo
Do humano coração V Sii movimento
Hum Tácito produz? S«5 ellc o firma
Escrutador dos Íntimos segredos.
Que o tortuoso Cortezão sepalta ?
J. A. DU UACEOO, UXDITAÇÃO, CSnt. 4.
— Sondar o negocio; sondar a cons-
ciência; examin.ar o fundo interior, oc-
culto, encoberto, dissimulado.
— Sondar um homem ; procurar conhe-
cer o seu caracter, principio. Índole, etc.
— Figuraiiamente : Sondar o animo,
o coração; tentar descobrir o que está
occulto n'clles.
SONDAREZA, s. f. Termo de nauticsa.
O cabinho que se agarra ao prumo com
que se averigua a altura e qualidade do
fundo; é marcado ou graduado conve-
nientemente.
SONDES. Termo antiquado, pi^r sois.
SONEdAÇÃO, .<. ./'. Vid. Sonegamento.
SONEGADAMENTE, adv. De um modo
occulto, occultamente.
SONE
SONEGADO, part. pass. de Sonegar.
Furtado, ileseucarainhado. — «Ha tam-
bém outros homeus mais gi-aves a que
chamão mongllotos, que comprão deman-
das de cousas civis e crimes, e compraõ
também escrituras e posses antigas, e co-
nhecimentos de cousas sonegadas por
aquillo em que se concertao cõ as par-
tes. Ha outros que vem noutras embar-
cações que curão de boubas com darem
suadouros, e curam também chagas e fis-
tulas incuráveis.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 99.
— S. ijlur. Os objectos que se furta-
ram ao inventario, rol, estado.
SONEGADOR, A, s. Pessoa que sonega.
SONEGAMENTO, s. m. A acção de so-
negar.
— A acção de occultar, de não dar a
rol, ou ao manifesto, o que se devia ma-
nifestar.
SONEGAR, V. a. Não dar ao rol, ao
censo, ao inventario para se empadroar,
aquillo que quem sonega devia manifes-
tar.
— Sonegar homens ; não o^ dar a rol
para serviço publico ou contribuição, etc.
— Furtar, descaminhar.
Que me sonegou um boi
que lavrava, que cva ousão:
era um boi almoxarife.
Pagava ?
Era um pino d"ouro,
boi de nata.
AMTONIO PRESTES, AUTOS, pag. 197.
— • Sonegar serviços ; negar aquelle a
quem foram feitos, que se lhes fizessem ;
não querer recouhecel-os por nào ser
obrigado a galardoal-os.
SÒNETEAR, 1-. a. Fazer sonetos.
f SONETEIRO, A, s. Pessoa que faz
sonetos. — «Maria, por exemplo, é mui-
to mais bonito e poético do que Mareia
GU Marilia com que nos seccavam os poe-
tas e soneteiros da eschola que ultima-
mente morreu, apunhalada e invenenada
pelos Antonys de aguda pêra e longas
melenas. Até aqui, e muito mais alem,
vou eu com a revolução. Mas n'este lo-
gar conservei o anagramma em respeito
ao meu heroe e mestre.» Garrett, D.
Branca, Notas.
SONETINHO, s. m. Diminutivo de So-
neto. Pequeno soneto.
S0NETI3TA, s. 2 gen. Pessoa que com-
põe sonetos.
SONETO, s. m. Poema de quatorze ver-
sos hexanietros : dous quartetos e dous
tercetos rimados entre si, segundo as leis
da metrificação. — «Não ha ahi mais que
dizer senão que o soneto, que com esta
vai, me custou a cravejar, o que Deus
sabe ; e porque não ficasse cá entre o re-
traço da manjadoura, pareceu-me melhor
envial-o nesia maré, em que não seja
para mais que para se ver n'elle mais
SONH
de vagar, como em selha d'agua, um
pouco do muito que passo cá.» Fernão
Soropita, Poesias e prosas inéditas, pa-
gina 10.
Mais torto o mai3 direito que um espeto,
Encerra-.ie .a trovar um mcz arrêo,
E, no fim delle, sahe com um soneto.
Fostes discreto em armar-vos
d'arma3 de christão discreto ;
temporaes são um soneto
que cá canta o mundo a parvos,
nào a um Sara João quieto.
ANTÓNIO PBESTES, ACTOS, pag. 12.
Como ?
Que digo um notório preto.
Jeau ! sedo ora di.screto,
e vós pareceis um momo.
Este cst.á gentil soneto !
quem buscaes ?
IBIDEM, pag. 167.
— ■ «Eu, meu Amigo, para dizer a V.
M. a verdade, sou hum daquelles que
não entendem o Soneto, e isso he o mes-
mo que socedeo ao seu Critico.» Caval-
leiro d'01iveira, Cartas, liv. 1, n.° 7.
SONHADO, part. 2Jass. de Sonhar.
De turbilhões, de vórtices so}^hados.
Noa jardins de Epicuro se assentava,
Ecnovador dos átomos errantes
Pensativo Gassendi, c em treva involto
Corpuscular Filosofia ensina,
Onde engenho só brilha, c nunca hum passo
A' aó profícua experiência avança.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, CaUt. 4.
Tantas constelações de estrellaa vejo,
Que, da terra distante, iuda confusas
Xos sonliados confins do espaço existem.
IDEM, MEDITAÇÃO, Caut. 2.
SONH
589
— Figui-adamente : Que não é real;
imaginado.
SONHADOR, A, s. Pessoa que costuma
sonhar.
— Pessoa que sonha a miude.
SONHAR, V. a. (Do latim somniare).
Ter um sonho.
Durmo, sonho, desperto, e a luz do dia
Do mundo ao espectáculo me chama ;
E aqueUc objecto entaõ, que mais m'inflama
A mover aa paixoens me principia.
ABBADE DE JAZENTE, POESIAS, tOm. 2,
pag. 129 (ediç. 1787j.
— Ter cuidado, ou receio, ou qualquer
atfeição forte a respeito d'alguma cousa
ou pessoa, que a obriga a sonhar com
ella em bem ou mal.
Quereis-me fazer cuidar
Que poderia sonhar
O que pelos olhos vi ?
Xunca voa eu moieci
Quererdea-me exprimeutar.
cAu., AUPBYiaiuEs, act. 3, SC 4.
— «E el Rey mandou logo chamar o
Chumbim que fora no dar da sentença, e
lhe deu cota de tudo o que passava, assi
do que elle sonhara, como do que sua
mãy lhe pedira, e lhe elle concedera,
pelo qual todos lhe beijarão a maõ, e lhe
louvarão muyto o que tinha feito, e mã-
daudo logo revogar a sentença que era
dada, e dar outra em que nos perdoava,
escreveo huma carta ao Broquem da ci-
dade que dezia desta maneyra.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 142.
Soia tão jóia !
Eu, que?
Pesar do meu pao
dizeis a um homem — esperac,
c em vóa o vir não sonha.
Voaaa mercê nào me ponha
tanto a chuaa.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pag. 117.
— «He a maldade destas unhas mali-
ciosas mais detestável, quando toca no
bem comum, e da Coroa, que nos con-
serva, e sustenta a todos. Naõ sey se o
sonhey, ou se mo contou pessoa fidedi-
gna: caso he que me assombra! Valha o
que valer: se naõ succedeo, servira de
documento, para que naõ aconteça, li Arte
de furtar, cap. 27. — «Vós sonhastes o
mesmo que verieis com muito contenta-
mento, sem embargo da compavxào ap-
parente que me mostraes. Eu farey de
sorte que vos não dé semelhante alivio
nem hoje, nem outro dia.» Cavalleiro
d'01iveira, Cartas, liv. 1, n.° 52.
Em seu lugar as gárrulas escolas
Sonharão nome occulto, occulta força:
D"odio, e de amor combate, e guerra eterna ;
Horror do vácuo, e qualidade ignota.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Caut. 3.
— Sonhar em alguma cousa; andar
sempre cuidando n'ella.
— Sonhar com alguém, ou alguma cou-
sa; ter sonho a respeito d'es8a pessoa,
ou cousa.
— Dá-se o poder de sonhar ás quali-
dades por as pessoas que as teem.
SONHO, s. in. (Do latim somnium). Re-
presentação de alguma cousa ou succes-
80, que se faz á nossa alma, em quanto
dormimos.
Tremendo fico todo, e alienado,
Nào sei se foi ficção, se foi verdade
Se foi sonho, ou se foi imaginado.
Tirandome com tanta breuidadc
O bem porque sospiro, e me iutristeço.
Torna com noua e estranha crueldade.
COBIE REAL, NAUFRÁGIO DE SEPÚLVEDA, CaUt. 2.
Alli. deapois d'acordado.
Coo rosto banhado cm ágoa,
Deste sonho imagmado,
Vi que todo o bem passado
Não he gôato, mas he mágoa.
CAU,, BEDONDILHAS ,
590
SONI
tíONO
SOOM
Doco sonho, suave o soberano,
So por mais loiíRO tempo me diuái-a !
Ah quem de «o/i/io tal nuiicii iieonhiiii,
Poiíi havia de \èv tal descn(;aiio!
IDKM, SONBrOH.
Do teu Priíioipe alli ti: iiMiiuiidiíui
As leinbraii(;aii (|ue na alma lhe inoravão ;
Que 8cmpi'0 ante seus ollioí te trazião.
Quando do» tiius formoaos HO apartavão ;
Do noite cm doces sonlios (pie nieutião.
De di.1 em iKMKsamcntos ipie voavão ;
E i|UHiito cm fim cuidava, c (pianto via,
ICrào tudo memoria» do alegria.
iDBu., LU3., cant. 3, est. 121.
Oh cego engano de um mortal cuidado,
Limitada prisào do pensamento,
tSonho mas ainda sonho abreviado
Julg:indo-3e com livre entendimento ;
Olha se tudo aciuillo fosse dado
N'hum mando .sú, a cujo moviuicuto
Até o mesmo Fado se movesse
A quão pouco o (|uc pude s'cstende3sc.
kOL. UE aouiiA, Nov. DO uoM., caut. -1, est. 24.
Sonho, sonho não foi, que mil confusas
Na fantasia imagens atropoUa :
Extasis foi somente, e conduzido
De hum Génio habitador do excelso Olympo
(Eu a meu lado o vi), que me frau((uêa
Ferrolhados umbraes de eterno arcano,
E n'hum centro de luz me amostra o Quadro
Da varia Natureza, e sempre a mesma.
J. A. DE MACEDO, VIAGKU EXTÁTICA, Cant. 1.
— Dizer o sonho, e a sultura. Vid.
Soltura.
— Os sonhos doD philosoij/ws ; as opi-
niões iTelles seui fuialauiento.
— Figiiradaineuto: Cousa iujagiuada,
sem ser, nem realidade.
Pátria, oh pátria! — dizia — é pois um sonho
Kssa visão, que por celeste a tive '?
Teu nome eternizar, dar biado á fama.
Que de ti digno, digno de Natércia
As gerações pasmadas me aeclamasscm '....
oAHRErr, CAMÕES, caut. 4, cap. 14.
— «Mas islo é um sonho, venerável
abbade ! — prosoguiu o moyo cisterciense
com voz afogada. — Q.uo posso eu fazer!
Appellar para a justli^a d'ol-rei, com a
esperança da qual o bom Fr. Loiírcnyo
pensou que me confortava!» A. Hercula-
no, Monge de Cister, cap. 9.
— riur. Massa leve de fariulia, e
ovos, frita ás boletas em manteiga (ou
azeito\ e ])assada por calda de assucar.
SONICEPHALO, s. 7». (Do latim sonus,
e do grogo ktpkulê). Kome vulgar dado
a alguns insectos coleopteros que produ-
zem um zunido .«ingular.
SONIDO, s. m. (Do latim sonitus). Som,
cstroiLdo, ruido.
SONIL. Titulo honorifico dos jiersas a
respeito da religiito, e que significa sks-
tentador, e seguidor da verdade.
SONIPEDE, adj. 2 gen. (Do latim so-
7iipes). Termo de Poesia. Que faz som ca-
minhando.
— Usa-se também substantivamente.
SONO, «. m, Vid. Somno. — «E em ou-
tra carta deftcnde aos Ciiristilos que nam
se entristeciam, nem chorem demasiada-
mente seus defuntos, como fazem os (jen-
tios que nam esperilo resurreiyilo, mas se
consolem, crendo que a morte do bS
Christilo, pêra a alma he certa beinauen-
turança, e pcra o corpo he hum sono de
que ha de acordar resurgindo em carne
immortal.B Fr. 15artholomcu dos Marty-
res, Catecismo da doutrina christâ.
C!ontinua successão de luz, c sombra,
(,!ue aos mortaes o tr.abalho, o «0/10 intima
A' infatigável Terra, e sempre varia
Nas suas producijõcs. Eternas fontes
Que borbulhão do Centro, ao Centro voltào.
J. A. DF. UACKDO, A KATUBEZA, Caut, 1.
Onde debalde o Potentado chama
Fagueiro nono, que o punhal embote
Da inquieta ambi(^ão, do insano orgulho.
Kluctua-lhe a madeixa ondada, c loura
Pelo marmóreo collo, c niveoa hombros ;
Aviva-lhe o carmim das brandas faces
O mesmo sono, que lhe jirende os olhos
(Sono avaro e cruel, ao Edem tu roubas
Dons Astros, ou dous Sócs 8'Eva repousa).
A miserável presa immovel fica,
E tenta cm vão dos la(,-09 dcsprcnder-so,
E do robusto pescador, qu' assombro !
iBiDKM, caut. 3.
SONOLÊNCIA, s. /. Vid. Soumolencia.
SONOLENTO, A, adj. Vid. Somnolento.
f SONOMETRIA, s. f. Arte de medir
as rel;u;"ics linrnionieas dos sons.
-;- SONOMETRICO, A, adj. Q.ue diz res-
peito á sonometria. — Insti^umentus sono-
metricos.
SONOMETRO, «. m. (Do latim sonus, e
metron]. Termo de physica. Instnnuento
próprio para medir as relaçòes harmóni-
cas dos so:is.
SONORAMENTE, adv. De um modo so-
noro.
— Com mn som cheio, sonoro.
SONORENTO, A, adj. Vid. Somnolento.
SONORIDADE, *. /. (Do hitim suiiori-
tas . Qualidade, caracter do que é sonoro.
SONORO, A, adj. (^Do latim sonorus).
Que produz som alto e claro.
Afastai, afastJii : deixai passa-lo;
Que é o grande Salgado, cujo nomo
Por todo o Alem-tejo, em suas trompas,
Com sonoro louvor publica a Fama.
A. D. DA CBUZ, UYS30PK, COUt. 7.
Guadiana, tuas aguas, de assustadas,
Vcjo-as atrás volver. — Que anjo do morto
E esse que discorre dala rra ala
Co^i fulminante espada? .lorra o sangao,
Treme a terra debaixo dos pés duros
Dos ardentes cavallos. soa o valle,
Lan(;as escallam, os broqueis sonoros
Estalando rotíuom. — i láauTiago ! »
OAHBsrr, CAUÕBS, cant. 8, cap. G.
— Terra da minha pátria ! abro-me o seio
Na morte ao menos, lirevu ejiua^-o occupa
(> cadáver d'iim filho Eu eu fui teu filho...
ICm que Ut liei dciiinercido, <j pátria minha?
Nà') foi meu bra^o sio caiii|>o das batalliaa
Sogar-te louros V Meus êoiuiro» liymuoii
Nao voaram por ti á eternidade V
E tu, mãe dcscaroavcl, me ingeitajite!
iBiDBH, caut. 10, cap. 16.
— EstrondoBO.
SONOROSO, A, adj. .Sonoro.
— Harmonioso, cheio de lianuonia.
Ao sonoroso pranto.
Que as águas enfreava
Rcspoudi; o valle umbroso.
De tanta voz o acecnto t<-meroao
Na outra parte do rio retumbava ;
Quando, da phantasia
O silencio rompendo, assi dizia.
CAM., EGU.iGA 2.
SONOUTE, ou SONOITE, *. /. O cre-
púsculo da noute, ou pouco depois da
noute.
SONSA, s. f. Sagacidade com disfarce,
dissimulu^rio.
— Loc. ADV.: Pela sonsa; com saga-
cidade coberta, e disfarçada com sim-
pleza.
S0N3ICE, s. f. Vid. Sonsa.
SONSO, A, adj. Astuto, e fino, que
cobi'e a sua esperteza com ar, e mostras
de simpleza e tolice.
SONSONETE, s. m. O accento oratório,
com que .-^e profere alguma ironia, ou re-
tlexào maliciosa.
SONTO, adj. m. Diz-se de uma espé-
cie de chá mui estimado na China.
SOO. Termo antiquado, por Sob.
— Algumas vezes substitue Só.
— Termo antiquado, por Sou.
SOODES. Termo antiquado, por Sois.
7 SOOMENTE. Termo antiquado. Vid.
Somente. — «E se as partes fezessem al-
guma conveença, a qual firmassem antro
si, e despois que assi antre elles fosse fir-
mado simpresmente, dissessem que fos-
sem fazer Escriptura, em tal caso Dize-
mos, (|ue se as partes hunia vez fezerom,
e firmárom sua conveenç^i, nom se po-
dem mais afastar a fora per razom desta
IjCÍ, se lhe outro algum remédio de di-
reito nom valesse ; porque em tal caso a
Escriptura nom he da essência do con-
trauto, mais soomente he pêra provar
como css;is partes contrataram.» Ord. Af-
foDS., liv. 3, tit. 57, V? 5. — «E s<
devedor de cada hum dos casos do
gundo Oajútulo oflerect^^o soomente o que
devia da moeda antigua, ou nova que se
fez at:ia o primeiro dia de Janeiro da
Era de mil quatrocentos e vinte c qua-
tro annos, a cinco libras por huma da ,
moeda feita nos tempos suso devisados, »
saber, dês Janeiro da Era de mil quatro- I
centos e trinta annos, ataa Janeiro £mj
de mil quatrocentos c trinta e sois annoe.» i
Idem, liv. 4, tit, 1, § 10. — tMaisaind»!
SOOM
SOPÉ
SOPH
591
ha de pensar, e seu dezeio lia de seer, que
as Leyx, e Constituiçoões, e horclenaçoòes,
que assy fezer, sejam feitas, e hordena-
das, e estabelecidas pêra boa hordenança
da terra, o governança sua, e pêra o di-
to povoo viver em boa e direita policia,
das quaees o principal fundamento e en-
tençom ha de seer em proveito, e em
bem comunal ; ca segando os Direitos, a
prol comunal primeiramente ha de seer
de todos em geeral oolhada, vista, e e^-
guardada, e preposta ao bem, e prol de
algumas pessoas tà soomente.» Ibidem,
tit. 2, § 1. — «Logo he per direito va-
liosa, em tal caáo nom podendo os her-
deiros aver toda sua lidema pela heran-
ça do finado sem a dita terça e Doaçom,
entom desfalcar-se-ha soomente da dita
terça tanto, per qae a dita lidema seja
supprida de todo.» Ibidem, tit. 14, § 4.
— «A qual Ley vista per nós, manda-
mos que se guarde em a dita Cidade de
Évora soomente, segundo em ella he con-
theudo, porque poios moradores delia foi
soomente assy requerido ; e quanto he
aas outras Cidades, e Villas do Regno,
mandamos que se guarde o Direito Co-
mum.» Ibidem, tit. 21, § 6. — «E esto,
que dito he, mandamos que aja lugar
nom soomente na venda do foro volun-
tária, que se faz pnr vontade do foreiro,
mais ainda queremos que aja lugar na
venda necessária, que se faz por manda-
do e autoridade de Justiça contra vonta-
de do vendedor.» Ibidem, tit. 37, § 4.
— n Disserom os Sabedores antigos, que
compilarom as Leix Imperiaaes, que se
alguum homem vendeo alguma cousa mo-
vei, ou de raiz por preço certo, ainda
que o contrauto seja de todo perfeito, e
a cousa entregue, e o preço paguado, se
for achado que o vendedor foi enganado
em a dita venda aallem da meetade do
justo preço, pode-a desfazer per bem do
dito engano, ainda que o engano nom
procedesse do comprador, mas soomente
se cauzasse da simpreza do vendedor.»
Ibidem, tit. 45. — «Como querees, disse
hum daquelles Castelhanos, que a possa
cometer tal cousa ; caa em este mesmo
lugar foi ja desbaratado o escol d'EIRev
nosso Senhor, onde forom mortos muitos
homens, e muitas armas perdidas, que
soomente naquellas, que acharom pelos
caminhos fezerom os Mouros bem três
mil floris.» Inéditos de historia portu-
gueza, tom. 2, pag. 508. — «Mas pode
ser que pergunteys, donde procede que
hum homem venha a tanta cegueyra e
desatino, que blasfeme das cousas diui-
nas como estes faziam, e como ainda
agora alguns fazem, cortando com sua
lingoa não soomente pella honrra dos
homens, mas pi-llas de Deos e dos san-
ctos : Como he possiuel desenfrearense
ern blasfémias, donde não tirão nem de-
leyte de sua carne, nem proueito de sua
bolsa? Do fim do presente Euangelho se
pode colher a resposta.» Fr. Bartholo-
meu dos Martyres, Catecismo da doutri-
na christã. — «Esta vila he rasa e sem
cerca, soomente cm o alto delia estaa
hum castelo com cerca, por muitas par-
tes derribado. Aqui estaa hum capitão
polo grão Turco com pouca gente.» An-
tónio Tenreiro, Itinerário, cap. 36.
SOOPÉ. Vid. Sopé.
SOPA, s. /. (Dl) francez soti^pe). Pão
embebido em caldo, leite, etc.
— Estar á sopa d' outrem ; comer da
sua panella ou mesa, por mercê.
— Bêbado como uma sopa ; embebe-
dado de vinho, licores, etc.
— Estar feito imia sopa ; estar muito
molhado.
— Plur. Refeição commum e ordiná-
ria no refeitório das conimunidades reli-
giosas, comida frugal, moderado ban-
quete.
— Adágios e provérbios :
— Cahiu-lhe a sopa no mel.
— Não ficou sopa por molhar.
— Da mão á bocca se perde a sopa.
— Deitar sopas, e ferver, não pôde
tudo ser.
— Sopa de mel não se fez para a boc-
ca do asno.
— As sopas e os amores os primeiros
são os melhiires.
— A uma bocca uma sopa.
SOPADA, í?. /. Quantidade de sopas.
SOPÃO, ONA, adj. e s. Termo popu-
lar. ]k'berrão, beberrona.
SOPAPO, s. 711. Pancada com a mão
gafa nas bochechas de quem os apara, e
enchendo-as de vento, para dar som sain-
do o ar comprimido.
— Figuradamente : Dar pancadas.
SOPÉ, s. m. Sobpó.
— Cambapé na lucta.
— Loc. ADV.: Ao sopé; para baixo, ao
fundo.
SOPEADO, part. j^ass. de Sopear.
— Figuradamente: Privado do seu al-
vidrid.
SOPEADOR, A, s. e adj. Que sopeia.
SOPEAMENTO, s. m. A acção de so-
pear.
— O estado da pessoa ou cousa sopeada.
SOPEAR, V. a. Metter ou trazer de-
baixo dos pés. — «Saõ officios, que vos
daõ po<ler para sopear, e ficar superior a
todos : e se bem considerardes tudo, nada
disto tendes de vijs; tudo vos vem dos
outros, quo volo pódcm tirar com vos ne-
gar h uma cortezia.» Arte de furtar, cap.
70.
— Trazer em temor e obediência.
— Embaraçar o movimento, a acção,
reprimir.
SOPEE. Termo antiquado. Vid. Sopé.
SOPEIRA, .?. /'. Tigela para sopas; pra-
to para cilas. Viil. Terrina.
SOPEIRO, A, ou SOPISTA, s. 2 gen.
Pessoa que está ás sopas em alguma casa,
communidade, etc.
— Amigo de sopas, que gosta d'ellas.
SOPENA, adv. Sobpena.
Que lli'a estou esparregando
como alfaça, c que ai nào faça,
snpeiia do quo faltaudo
descair de minha graça.
ANTÓNIO PRKSTKS, AUTOS, Jiag. 557.
SOPENDO, A, adj. Termo antiquado.
Supprido, saneado, remediado.
SOPEREROGAÇÃO, s. m. Vid. Superar...
SOPESADO, part. pass. de Sopesar.
— Figuradamente: Dado com regra.
— Calculado, nào liberal.
SOPESAR, V. a. Tomar o peso, para
medir e proporcionar a força necessária
para arrojar.
A^edca-mo aqui Rei vosso c companheiro
Que entro as hmcas e sottas, c os aruezcs
Dos inimigos corro c vou primeiro :
Polejae verdadeiros Portuguczcs. —
Isto disso o magnânimo guerreiro ;
E sopesando a lança quatro vezes,
Com força tira ; o d'cste único tiro
Muitos lançaram o ultimo suspiro.
oAM., Lus., cant. 4, est. .38.
— Soffrer.
— Equilibrar, contrapesar.
— Figuradamente : Dar com regra, e
parcimonia.
— Sopesar-se, v. refl. Ficar em equi-
líbrio, equilibrar-se.
- — Termo de volateria. Fugir a ave
com a ralé, ou dar com ella dous pulos
diante do caçador.
SOPESO, s. m. Acção de tomar o peso
á lança jjava a despedir.
SOPETEAR, V. a. Molhar, embeber a
miude o pão em algum caldo.
SOPHÁ, s. m. Vid. Sofá.
SOPHETIM, ou SOTERIM, s. m. Juizes
d'cntre os judeus.
SOPHI, s. m. Titulo dos reis da Pérsia.
SOPHISMA, ou SOFISMA, s. m. (Do gre-
go sophisma). Argumento falso, engano-
so, que não conclue bem, porque pecca
em termos e cm fn-ma.
— Syií. : Sophisma, ijarallogísmo. Vid.
este ultimo termo.
SOPHISMADO, part. pass. de Sophis-
ma r.
SOPHISMAR, V. a. Usar de sophisma,
argumentar como um sophista.
— Encfdjrir com razões falsas.
SOPHISTA, s. 2 gen. e adj. (Do grego
sophistês). Primitivamente entre os gre-
gos, uma pessoa hábil, experimentada nos
negócios da vida particular ou publica.
— Pessoa que usa de sophismas.
SOPHISTARIA, .->. f. Vid. Sophisteria.
SOPHISTERIA, s. /. Cousa, ou razão
sophistica, faisa, com côrcs ou apparencia
de verdade.
SOPHISTICAÇÃO, s. f. Acção de des-
naturar uma substancia medicamentosa
592
SOPO
SOPR
SOPR
pelív mistura frauduloca fio substancias
inortos, ou de uma qnaliiladií inferior.
— Couwa H()|)liistifa.
— En^';iMO, ciivill!i(,írio, lofíro.
SOPHISTICADO, part. pass. do Sophis-
ticar.
SOPHISTICAMENTE, futv. (De sophis-
ticn, (• (1 Hiiflixi; «meute»). De um modo
POJilustico.
— Oavillosamente, com sophismas.
SOPHISTICAR, i'. a. Falsificar drogas,
mctacs, «te.
— Sophisticar o entendimento, a cons-
ciência; corromper para cair cm erro,
desconhecer a verdade, o os deveres, en-
ganar com sophismas a prudência, o co-
raçSo.
— V. n. Argumentar cavillosamonte,
como sophista, servindo-se de raciociuios
cavillosos.
SOPHISTICO, A, aJj. Próprio do so-
2)liist;i.
— Falso, com apparencia de verdade,
SOPHOCLEO, A, a'Jj. De Sophoclcs,
pertencente a Sophocíes, celebro poeta
grego.
SOPHOMANIA, s. f. (Do grego sophos,
e iiKDna). Allcctaçào da philosophia.
— Mania da sabedoria.
SOPINHA, K. f. Diminutivo de Sopa.
SOPISTA, s. 2 gen. Vid. Sopeiro.
SOPITADO, part. pass. de Sopitar.
SOPITAR, i'. a. Fazer adormecer, cair
em sonino.
— Sopitar a dor, as paixMs; fazel-as
cessar.
SOPITO, A, adj. (Do latim sopHus).
Adormeeiílo, adormentado.
— Kinpre'jra-sc tambom liguradamento.
SOPONTADURA, .s. /. Pontinhos que se
collocam por baixo de algumas letras,
ou palavras, para sigiial que estão de
mais.
SOPONTAR, V. a. Pôr pontos por bai-
xo de jialavras, etc. Vid. Sopontadura.
1.) SOPOR, s. m. (Do latim sopor\.
Modorra, soninoleneia, pesadelo.
2.) SOPOR. Vid. Sotopor.
3.) SOPOR, c. (í. Vid. Suppôr. — «Con-
tarcy agora hnma liistoria a V. A. Houve
na minlia terra hum Duque que falando
Latim como qualquer, se sopunha homem
douto em todas as matérias.» Cavalleiro
d'(Hiveira, Cartas, liv. 1, n." 38.
SOPORADO, A, adj.— Massa soporada ;
massa eoin virtude de produzir somno.
SOPORAL, ndj. 2 gen. e s. Termo de
anatomia. .Mguns auctores querem dar-
Iho a mesma siffnifieação que carótida.
SOPORARIA, s. /. Vid. Soporal.
SOPORATIVO, A, adj. (Do latim sopo-
rativHn). Que tem a virtude do fazer
adormecer. — O ópio é um soporativo.
— Figuradamente: Que enfada, que
aborreee.
SOPORIFERO, A, adj. (Do latim sopo-
rifcrits). Que tem a virtude de fazer
adormecer. — iSubstaiicia soporifera.
— Figuradamente : Enfadonho, monó-
tono.
SOPORIFICO, A, ndj. Vid. Sopori-
fero.
SOPORISAR, oti SOPORIZAR, v. a. Ter-
mo pouco om uso. Fazer cair em sonino
mui profundo.
— FiguradamoFite : Soporisar a c/ns-
ciencin, i<s remursos.
SOPOROSO, A, adj. Termo de medici-
na. Que teui sopor, que tom relação com
o sopor.
— Doenças soporosas ; aquellas que
a.ào acompanhadas, ou caractcrisadas por
um adormecimento profundo, por um es-
tado ciimatii-o. Vid. Comatoso.
SOPORTADOR, A, *■. Pessoa que so-
porta.
SOPORTAL, .f . m. A parte de baixo do
portal.
SOPORTAMENTO, s. m. Entretenimen-
to, senti:n(;a, conservae.ào.
SOPORTAR, ou SUPPORTAR, v. a. (Do
latim suppovtare, de sub, n portara). Sus-
ter o peso d'alguma cousa.
— Soflrer com paciência. — «Item.
Ainda lia mester que seja esforçado, por-
que nom duvide de soportar os perigoos,
que ao Castello vierem ; e sabedor con-
vém que seja, porque saiba fazer, c agui-
sar as cousas, que conveem aa guarda, e
defendimento delle.» Ord. Affons., liv. 1,
tit. 62. — «E sam Peiiro na primeira
Epistola diz, alaridos tratay vossas mo-
Ihercs, conuersay com ellas com toda a
prudência e cortesia, fazendolhes honra
como a vaso mais fraco, e sabendo sopor-
tar com descriçam suas fraquezas, e pas-
sar por ella>.i> Fr. Bartholomeu dos Mar-
tyres. Catecismo da doutrina christã.
— Supportar tributos; soffrer pagan-
do-os.
— Figuradamente: Suster.
— Supportar despezas; fazel-as com
gravame.
— Sustentar, manter. Vid. Soporta-
mento.
— Svx. : Supportar, soffrer. Vid. Sof-
frer.
SOPORTAVEL, adj. 2 gen. Que é possí-
vel supportar-se, soffrivel.
SOPORTAVELMENTE, adv. iDe sopor-
tavel, com o suíTixo «mente»). De um
modo supportavel.
— Tolcravclmente, soffrivelmente.
SOPOSTO. Vifl. Supposto. — «Donde
nasce, andarem nellcs, gramlissimos ban-
dos de Imns passares, a que chamào Tur-
rins, que por onde passam, fazem som-
bra como nuucns, que pode omparar do
Sol. !Muyto saõ pcra ver neste campo sua
gràdeza, porque neiles começa a entrar a
Arábia: soposto que inda aqui senão te-
nha por tal.i> Fr. (!aspar de S. Rcrn.ar-
dino. Itinerário da índia, eap. 10.
SOPRADO, part. pass. de Soprar. Re-
fi-eseado com o ar.
SOPRADOR, A. Vid. Assoprador.
SOPRANO, ». m. Tiple, a voz mais alta
da munica.
- - K voz de mulher.
SOPRAR, V. a. Vid. Assoprar.
K Hf! a tomar liçjiõ Vciiu» t<: anima
l)a frautii, c iiiairt da lira, f|uc t'.- aquenta,
Sopra ao canudo t';u, o. af-Ki a prima.
ABBADf: DK JAZKJÍTr, I-OCKtAU, pag. 57.
Pousa MOA lábios tomondo tubo,
Sdpra-lhv. o ar, n harmónico rc-!<oa,
Ora cm prito guorrciro !icc«iidi? an ira«,
Ora n hum (Jora^ão, d°nuior vaaaallo.
Doces dcIir|uioH de ternura excita.
J. A. DK M-VCKW), A XATLHKZA, Cant. 2.
— Figuradamente : Sopra-lhe a ven/u-
ra; favorece-o, auxilia-o.
— Usa-so também substantivamente.
Oa vordcncpros tcÍTO» corpolontOB
Cruzão daqui, dalli, troncos annosos;
Cedro», quií ondrào coo toprar dos vontos,
AUi dihitão ramos pavoroeoit :
Melancólicos timbres, c ornamontOB
Do sepulchro os cyprcstoB luctuosoa
Tanta tristi-za dao na selva escura,
Qu°inda lic menor o horror da aepultnra.
J. A. DB MACEDO, o OKIBDTB, Cant. 11, CSt. 19.
SOPRESADO, part. pass. de Sopresar.
SOPRESAR, V. a. Fazer presa, apre-
sar.
SOPRICAÇÃO, .o. /. Vid. Snpplicação.
SOPRICAR, V. a. Termo antiquado.
Vid. Supplicar.
SOPRILHO, .•'. m. Seda muito rala, o
leve.
SOPRIOR, í. m. Religioso que snppre
nas faltas do prior.
SOPRIORA, s.f. Vid. Soprioreza.
SOPRIOREZA, 5. /. Religiosa que faz
as vezes da prioreza.
SOPRIR, c. a. Vid. Supprir.
SOPRO, s. m. Assopro.
E com tfu nnpro o espirito crcaatc
No mortal penâixdor, meu trcnio inflammn :
Tu scí i>odi'9 vencer co' a luz que csnargDs,
Tu dissipar do entendimento a sombra.
Em que tu mesmo a magcstade escondes
De teu Sólio immortal, daa obras tuas.
J. A. r>B MACEDO, MEDITAÇÃO, Caot. 1.
Da Natureja escuta a voz suave,
E sopro avivador, que atêa o fogo,
Tão grato ao coração, que hc dcUe a vida.
IDEM, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 2.
Artificiaes virtudes são aa vossas,
Não as que o .«>)/>rí) dos eternos dcusca
Influiu n"»lma do homem. Marco, Marco,
A ^•irtude é m.ais bell», mais formosa
Do que teus vàos philosophoâ a pintam.
Não é esse esqueleto dcscaniado
ApAs o qual subis estéreis montes
Por eAniinho de fragas, prooipicios...
GABBETT, CATÃO, SCt. 3, SC. 1.
O sopro da rida.
SORD
SORR
SORR
593
Com elle se mantém da vida o sopro,
Sem ellc se desfaz, e foge, acaba.
Poi-ím se algum vapor pútrido infesta
Este corpo subtil, qu' envolve os corpos.
J. A. DE MACEDO, A NATCKEZA, Cant. 2.
— o doce sopro vital.
Do envenenado seio da Ethiopia,
Onde montões dinsectos corrompidos
Mandào aos ares pútridos miasmas,
S'eucorpora no ar, se lhe corrompe
Doce sopro vital, de quantos males
Horrenda alluviào tiagella o Mundo !
J. A. PE M.VCEDO, A XATUBEZA, Cant. 2.
SOQUEIRA, s. /. Raizaine das cannas,
que iica rente da terra depois de corta-
das.
SOQUEIXADO, A, culj. Atado por baixo
do queixo.
SOQUEIXO, s. m. A volta que se dá
por baixo do queixo com qualquer panno.
SOQUETE, s. 771. Termo de marinha.
Espécie de maço roliço com que se cal-
ca a pólvora, a bala e o taco, dentro da
peça ; o seu diâmetro é igrual ao da bala
respectiva, e o seu comprimento excede
dezoito pollegadas ao da alma da peça
em que serve.
SOQUETEAR, v. a. Carregar a pólvora
com o soquete.
SOQUIR, V. a. Termo popular. Co-
mer ás escondidas.
SOR. Abreviatura de Soror. Irma, ti-
tulo de freiras.
SORAR, V. a. Converter em soro.
SORAVALKADA, s. f. Multidão de fru-
ta espalhada sem ordem.
— • Alguns dizem sorvalhada, das sor-
vas caídiças, que se recolhem quando
íimollecem no mesmo pomar.
SORÇA, s. f. Vid. Capoeira.
SORDA, s. /. Vid. Açorda.
SÓRDES, s. /. A matéria grossa e pe-
gaiosa das chagas.
'SORDICIA, s. f. Vid. Sórdes.
SORDICIE, s. y. Vid. Sordicia.
SORDIDAMENTE, adv. (De sórdido, e
o suffixo «mente»). De um modo sór-
dido.
— Com sordidez.
SORDIDEZ, ou SORDIDEZA, s. f. O es-
tado do que é sórdido.
— Torpeza, inimundicie.
SÓRDIDO, A, adj. (Do latim sordidus).
Sujo.
— Homem sórdido ; homem que faz
porcarias, e mormente o venal no cargo,
posto, offieio.
— Baixo, e com o pouco aceio d'esta
classe.
— Que se adquire por meios torpes,
baixos, indecentes.
Já de antigos delírios despojada,
So oUa aualysa os simplices, nào busca,
Lisongeando sórdida avareza.
As pedras converter (que insânia!) em ouro!
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 4.
voL. V. — 75.
De Tarenio a fadiga illustra hum Newton •,
Correm iJretoens o Mar, e o Globo cercão ;
Vão, levados de sórdido, o terreno,
Insaciável interesso de ouro,
Yào illustrar com tudo, e dar grandeza
A' vasta esfera das Sciencias todas.
SORDINA, í. /. Vid. Surdina.
SORDIR, ou SURDIR, v. a. Sair fora
da agua, de baixo para cima.
— 8aír tora do logar onde estava oc-
culto.
— Ir avante navegando.
— Vir acima.
SORIA, s. /. Espécie de biirel.
S0RITE3, s. m. (Do grego sôreitês).
Termo de lógica. Argumento, ou racio-
ciuio, que consta de uma serie de pro-
posições, das quaes a seguinte explica o
attributo da sua antecedente.
SORNA, s.f. Grande preguiça, e inér-
cia.
— Uma soma ; muito vagar, com que
se falia, obra, anda.
SORNAR, V. a. Fazer as cousas com
sor na.
SORNEIRO, A, adj. Que faz as cousas
de vagar, e como que dormindo, por pre-
guiça, ou por malicia,
SORO, s. m. (Do latim sorus). Humor
aqueo, que se separa do leite, deitando-
Ihe algum acido, ou cousa que o coalhe.
— Humor aqueo, lymphatico, que an-
da mi.sturado no sangue, etc.
SORODEO. Vid. Serôdio.
SOROMENHO, s. m. Pereira brava.
SOROR, .«. /. (Do latim soroo-). Titulo
dado ás freiras. Vid. Sor.
SOROSIDADE, s. f. Humor seroso ou
aqueo, que se mistura no sangue e nos
outroí humores.
SOROSO, ou SEROSO, A, adj. Da na-
tureza do soro, que tem soro.
— Termo de medicina. Aqueo.
SORPRENDER, v. a. Vid. Surprender.
— Tomar de súbito.
— Enganar por falta de consideração,
e com apnarencia que deslumbra.
SORPRÉSA, ou SURPREZA, s. /. So-
bresalto, enleio por falta de considera-
ção, que acompanha os casos súbitos, que
deslumbram, enleiam o entendimento.
— Tomar a praça por sorpreza. Vid.
Interpresa.
SORPRESO, part. pass. de Sorprender.
Espantado, admirado, enleado com cousa
súbita.
SORRAEAR, v. a. — Sorrabar aíí/item;
andar atraz d'elle, fazendo-lhe cortezias,
obséquios. Vid. Rabear.
SORRATE. Termo usado adverbialmen-
te : A furto, sorrateiramente.
SORRATEIRAMENTE, adi. (De sorra-
teiro, com o suffixo «mente»). De um
modo sorrateiro.
— De soirate.
SORRATEIRO, A, adj. Que faz as cou-
sas com mansa sagacidade, ratoneiro.
— Que faz as cousas a furto, mansa-
mente, com ardis, e artimanhas.
Vem sorrateira.
Yá-se encostar.
Acho a cama
isca da doença acinte.
AKToxio PBESTEs, AUTOS, pag. 233.
— Olhar sorrateiro como de porco;
olhar a furto, por baixo das pestanas,
sem levantar a cara.
— Figuradamente : Doenças sorratei-
ras ; doenças que se manifestam quan-
do tem produzido grande estrago.
— Morder o cào sorrateiro ; vir ca-
lado ferrar a sua dentada.
SORREIÇOM. Vid. Subrepção.
SORRELFA, s. /. Termo popular. Dis-
simulação mansa para iliudir, para enga-
nar.
— Emprega-se também adverbialmen-
te : A sorrelfa.
SORRELFO, A, adj. Que se serve de
branda dissimulação para enganar.
— Termo popular. Avarento.
— Substantivamente : Um sorrelfo.
SORRETICIO, A, adj. Termo antiqua-
do. Vid. Sobrepticio.
SORRIDENTE, part. act. de Sorrir.
Q.ue se sorri.
SORRIDO, pjart. pass. de Sorrir. Para
quem outrem se sorri por agasalho, etc.
SORRINTE, part. act. de 'Sorrir. Vid.
Sorridente.
SORRIR, V. a. (Do latim subridere).
Abrir a bocca um pouco, rindo-se com
modéstia.
— Dar sorriso a qualquer gesto de ale-
gria.
— Diz-se também por zombaria.
— Sorrir-se, v. rejí. Sorrir, abrir a
bocca rindo-se modestamente. — «Ao que
António de Faria se sorrio algum tanto
secamente, porque entendeo que ja elles
atinavão que erão furtadas, e lhes disse
que elles fazião aquillo como homens
mancebos, e filhos de mercadores ricos,
que por serem moços estimavão as cou-
sas em menos do que valião; a que elles
dissimulando o que ja entendião, respon-
derão, assi parece que deve ser como di-
zes.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 44. — «A que o Mitaquer, e
nós todos com elle. levantando as mãos
em sinal de lho darmos graças, beijamos
o chaõ três vezes dizendo, hipausinafapó
lagaõ companoo ducure viday hurpane
marcutó valem, que quer dizer, sobre mil
gerações descasem teus peis, porque fi-
ques senhor dos que habitão a terra, ao
que se elle sorrio, e disse para hum prín-
cipe que estava junto com elle, falão co-
mo gente que se criou entre nós.»' Ibi-
dem, cap. 12Õ.
— Figuradamente : Sorrir-se na terra
a primavera.
— Sorrir-se o mez das Jlôres.
594
SOIIT
SORT
SORT
SORRISO, s. m. Um principio de riso,
do (jui! rto sorri.
— Mostra do hoiievoloncia, do favor.
— Figiiradaiaunto : O sorriso dos gran-
des.
Paradoxo, (|UC! iirrastii, c f|Uo deslumbra
O Gonobriíio, fliictiiniitci Siibio,
Quo o.s boinoiM aborroci!, o^ lioinons busca •,
f) catado iiirtocinl dn.n biutos louva,
E inondi/ía Ilo.^ auveoá alizarca
O pão dos GraiKb;», o norrim doUcs;
Amargo como o iol, \il como o lodo.
J. k. DK MACEDO, \TAOEM EXTÁTICA, Cant. 2.
— Fipcuradaniento : Os sorrisos d' ou-
trem .
SORROBOLHADOURO, .«. m. Termo an-
tiiiuadu. () varredouro, oh vasculho do
forno.
SORTE, s. /. (Do latira sor$). Acaso,
accidento.
O crime d d'cllc.
Do tyranno, c não nosso... ou ó da sorte.
Sc Deua Óptimo Máximo o pci-mitte,
O homem fraco...
GARRETT, CATÃO, act. 5, SC 3.
— Classe, espécie, casta. — a Acabado
o comer, que durou bom espaço, e as me-
zas levantadas, entrou pola porta da iior-
ta lima donzella vestida de nej>T0, os tou-
cados da mesma sorte do vestido, acom-
panhada de dous escudeiros; e primeiro
que f.iUasse ao imperador beijou as mãos
á imperatriz, a Gridonia, o Polinarda, a
qual abraçou porque conheceu ser uma
das quo Targiaiia trouxera comsigo : d'al-
11 se foi ao imperador pêra lhe beijar as
mãos ; ello nem Primalião lh'as não de-
ram, antes o imperador a recebeu com
ècu costumado gasalhado, pcrguntando-
Ihe por pua senhora.» Francisco de Mo-
raes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 112.
— «Antre algumas cousas notáveis que
aquy vimos foy huma rua de mais de
com embarcações carregadas de idolos de
jiao dourados de muytas sortes qtie se
vendião para se offerecercm nos pagodes,
e a fi')ra isto, peis, e pernas, e braços, e
cabeças, que homens doentes eõpravão
para offcrecerem por sua devaçalj.» Fer-
não Slendcs Pinto, Peregrinações, cap.
98. — «E porquo as cousas desta quali-
dade são de monos preço, se permite aos
que tratão uellas tratarem em muvtas
sortes delias, porque a tudo se tem res-
peito ; com tuilo se fazem certas fran-
quezas mais numas cousas que em outras,
porque não falte quem venda tudo.» Ibi-
dem. — «E acertando hum dia de yr ter
a hum paul onde avia grande soma de
aves de toda a sorte, matou nelle com a
munição humas vinte o seis marrecas.»
Ibidem, cap. UU. — «Arvoredos de toda
a sorte como em l">panlia: tudo aruado
o posto ao cordel. Aeiju-ostiis muyto gran-
des c muyto juntos postos cm duas or-
dena com caminho por antro elles qne
ao meo dia parece noytc e tam noyte quo
areceey dontrar dentro, colhem em esta
orta tanta» toM» em ho teiiipu delias que
cada clia passava do doze mil aratiMs.i
Fr. (laspar da Cruz, Tratado das cou-
sas da China, cap. G.
NAo, do Uniapate
Oitava cila maÍM pintada.
(Juo «oWe dl! ca«;a ipicr ?
1'orco-f moiitc!/.!'.-), voados.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pag. 451.
— O Da segunda casca fazem toda a
sorte do louça, e va^os muy coriosos de
beber, dos quaos se seruem os pobres, e
muy bom caruão porá os ouriues. Do
fniyto vários mantimentos, como saíj la-
nhas, cocos, copra, iagra, azeyte, vinho,
agoa, vinagre, assacar, agoa ardente,
maçans, e outra fruyta.» Fr. Gaspar de
S. Bernardino, Itinerário da índia, ca-
pitulo o.
E que tudo o que achar hi lh'encommcnda
Nestas casas, ou n'outras da Cidiule,
Ou seja de dinheiro, ou de fazenda
11c qualquer outra sortit ou qualidade,
t.'uc pertencer ao morto Roi, entenda,
Por tudo lance mào, tudo arrecade,
V. dá-lhe juntamente por preceito
(i>uc dos armazéns seja o mesmo feito.
F. D'ANnRADE, PBrUEIRO CERCO DE DIO, Cant. 8,
est. 51.
— Maneira, modo, geito, arte.— «Tra-
zia as armas de pardo com manchas
amarellas por ellas, o elmo da mesma
sorte, e tinha-o tirado, c encostada a ca-
Jjcça sobre elle, com o rosto no clião.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 87. — «Mas seja nossa bata-
lha, disse Albayzar, pois tanto te pre-
zas, de ti, desta sorte : que, se mo ven-
ceres, alem de ganhares esse escudo com
todolos outros, me leves ante Miraguar-
da c ella determine de minha vida o que
quizer; e sendo tu vencido, que a senho-
ra Targiana po.ssa fazer de ti o mesmo.»
Ibidem, cap. 89. — «Ao outro dia, de-
pois do dcsencantaincnto de Lionarda,
começou do acodir gente de toda a co-
marca a ver sua natural senhora. As fes-
tas se começaram de sorte, que o prin-
cipio delias, segundo o fundamento que
levaram, parecia feito a fim de não ter
tim. Que isto tem as cousas grandes pa-
recer que SC não podem acabar. » Ibidem,
cap. 101. — «Florendos, ainda que cui-
dou desviar-se, não pode tanto que um
delles o nào encontrasse com os peitos
do cavallo, de sorte que o derribou ;
caindo porem sobre as mãos, sem Flo-
rendos poder fazer damno a nenhum nas
pessoas nom nos eavallos. » Ibidem, cap.
102. — «Niis somos aqui <]uatro. temos
(]uatro guardadores, (pic não podem tar-
dar muito, justai com ellos uni e um, e
o que de vós fOr vencido podeis levar a
Hiia : de maneira quo, se vencerdes to-
dos, levar- no8-heis toda» quatro, que pou-
co maior pejo serãu nove que cinco, e
se vos venoorcm a v.!».'?, p rdorei* outraa
quatro, e ficar-vo»-ha uma : de sorte que,
de qualquer sorte que vos nesta justa
aconteça, ficareis sempre com ganho
Ibidem, cap. 116. — iMuito folgou el-
rei e a rainha <le vèr em sua caiui aven-
tura <laquella sorte, polo pouco oostnnte
que alli havia della.s; que tudo »e guar-
dava pêra a corto do imperador, onde
todos cavalleiroH famosos queriam ir dar
toque a suas obras : e se algumas se acon-
teciam em Ilespanha, eram no castcllo
d'Almourol ; e por isso a corte carecia
delias. El-rei vendo a rainha embaraça-
da na resposta, e que punha o* olhos
n'elle pêra ver o que mandava, lhe dis-
6-.« Ibidem, eap. 12.3. — tDesta sorte
passaram á terceira carreira, e nesta fo-
ram 03 enconti-os de mais força, ou o
causou, que andavam jamais fracos, que
o das Donzellas perdeu um dos estribos
e quazi se encostou ao arç.ão trazeiro, o
Albayzar perdeu ambos e se abraçou ao
collo do cavallo. Corrido cada um de lhe
acontecer aquelle desar, tomaram outras
lanças. Albayzar disse ao das Donzellas:
Peço-vos, senhor cavalleiro, qne haja an-
tre nós algum concerto e seja este.» Ibi-
dem, cap. 124.
Da BÓrte que acontece
Ao inisero docnto,
Da cura despedido,
Quo o Medico advertido
Tudo quanto doseja lhe concede ;
O Amor me oonsontia
Espcran(;ns, desejos e ousadia.
CAH., CASÇÂO 6.
De que sorte, a outra pedra
mui sem calma ?
Pedra da 3ah'aç&o d°alina
das sete obi-as com quo medra
o que n"cllas não encalma.
ANrONIO PRESTES, APTOS, pSg. 27.
— cDa mesma sorte venceo aos Cas-
telhanos na famosa batalha do Amexial,
sendo Governador das Armas D. Sancho
Manoel, Conde do Villa-Flor. Havia en-
trado pela Província do Alom-Téjo D.
Joaõ da Áustria, nlho natural do Filippe
IV. com hum exercito digno de taõ gran-
de (General.» Fr. P.er: ardo de Brito. Elo-
gios dos reis de Portugal, continuados
por D. .Tose Barbosa. — «ImaginárSo nos-
sos Avós hum erro, cujas partes temTjhe-
gado aos nossos dias, e crvrào que havia
mcvos seguros para obrigar huma pessoa
a que amasse. Estes meyos empregarXo-
se de duas sortes, e tinhão dous nomes.»
Cavalleiro d'Olivcira, Cartas, liv. 1, nu-
mero 29.
Para as náo-i di'?:a .--■■(■'(■ ok..; rr.iHU
Com a possível pressa c brevidade,
SORT
SORT
SORT
59Õ
Em mil partes alH vai encontrando
De vários auimacs gràa quantidade,
Que o verde prado viio atravessando
Som temor de ninguém, com liberdade,
Porque a cada hum falta o duro imigo
De que mil vezes tem morte, ou perigo.
FRAUCISCO dVsDRADE, PRiaEIKO CEKCO DE DIU,
cant. 4, est. 70.
Aqui, 03 tui-vos olli03 esfregando,
O Deaõ abre a boca, estende o.s braços,
A cabeça levanta, e desta sorte
Ao Monstro enganador irado falia :
Que frenezi é este, velha tonta ?
ASTONIO DIMZ D.\ CBUZ, HYSSOPE, Caut. 2.
— uO primeiro acaba na po.<se do que
se desejou; o segundo começa n'ella: mas
de tal sorte, que nem sempre o primeiro
engendra o segundo, nem sempre o se-
gundo procede do primeiro.» D. Fran-
cisco Manoel de Mello, Carta de guia de
casados.
— Figuradamente : Fazer boas sortes ;
diz-se em analogia com os enganos que
o toureador ou capinha faz ao boi com
destreza, e sem damno seu. — tSe elie
a toireára, faria boas sortes ; mas ordi-
nariamente estas assim fazem toiros os
maridos. Suppòem-se Cornelios Tácitos
com toga os que não fazem exemplo por
sua casa.» Bispo do Grào Pará, Memo-
rias, publicadas por Camillo Castello
Branco, pag. 123.
— Porção, quinhão que se dá na par-
tilha.
— Homem de sorte ; homem de gra-
duação.
— O destino, fado, aquillo que a Pro-
videncia nos quer conceder.
Ah fermosa Lianor, tanto fermosa.
Quanto iufolice triste, e sem ventura,
Ah, graciosa Lianor, tanto graciosa
Quanto desengraçada em sorte escura.
Desditosa Lianor tão desditosa
Quam perfeita, e acabada em fermosura,
Que lastima nos faz ó Lianor bella
Ver como á morte vas sem mereceUa.
COETE BEAL, NAUFBAGIO DE SEPÚLVEDA, CaUt. 15.
Vós, Portuguezes poucos, quanto fortes.
Que o fraco poder vosso nào pezaes ;
Vós, que á custa de vossas varias mortes
A Lei da vida eterna dilatacs :
Assi do Ceo deitadas sào as sortes,
Que vós, por muito poucos que sejaes,
Muito façaes na sancta christandadc :
Que tanto, oh Christo, exaltas a humildade !
CAu., Lcs., cant. 7, est. 3.
Tiverão perfeição no Egypto as Ai-tes,
Declinarão por fim , por fim morrerão ;
Que u sorte em tudo dos mortaes hc esta !
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, CaUt. 1.
— « Se é crime » continuou «ter aJma e vista.
Foi essa a única offensa que lhe hei feito
Ao vingativo conde. Por má sorte.
Laços fataes de sangue lhe prendiam
De meus suspii'os o adorado objecto.
GABBETI, CAMÕES, CaUt. 3, CEp. 13.
— Incerteza de fortuna, ou desgraça,
perda ou ganlio.
Ora he pêra ver :
Tome Vossa Alteza qualquer que quizcr.
Que todo ho verdade as fortes que sào,
Tomac desses sete planetas que lii vào
A que vos vier.
GIL VICE.N-TE, FAKÇAS.
— «Em todas as cousas que ham de
cometer, ou caniinKos por mar ou por
terra, usam de sortes e lançam nas dian-
te dos seus Ídolos. As sortes sam dous
paos feitos ao modo de mea noz, chãos
de huma banda, e roliços da outra.» Frei
Gaspar da Cruz, Tratado das cousas da
China, cap. 27. — oE porque disto ve-
nho mal contente, quero-me vingar no
que me pôde dar menos contentamento,
por isso lançai sortes de duas cou.sas qual
vos vem melhor, fazerdes batalha comi-
go e esperardes a fortuna delia e no fim
perderdes a vós e vossas donzellas, ou
largarm'a3 por vossa vontade.» Francis-
co de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 125. — «Por isso, seahoras, lançai
sortes, em cujo nome e com cujo favor
hei de justar, oa fazer batalha ; que ago-
ra quero ver a quem levo comigo, ou
quão bem despendi meu tempo em vos
servir e acompanhar. Como o natural das
mulheres é, que inda que algumas de si
con^ieçam que devem pouco á natureza,
são tão vãas, que a mais feia não con-
fessa, que outra alguma em fermosura
lhe faz vantagem; esta vaidade natural
as fazia tão confiadas, que não havia ne-
nhuma na companhia, que não cresse de
si, que em seu nome se podia desbaratar
todo o mundo.» Ibidem, cap. 126.
— Cair em sorte; saír-lhe em sorte,
tocar-Ihe pela repartição. — «Me não pe-
sa de vos cair primeiro a sorte, por me
não ver n'esse trabalho : folgo que me
saiu melhor o partido do que cuidava,
pois a afi'ronta é só vos.sa, e o gosto de
lograr essa senhora será d'ambos.» Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 128. — «No qual tempo ElRej' D.
Manuel mandando Pedralvares Cabral
pêra a índia, lhe deo este, e outros de-
gredados pei'a os lançar nas terras, per-
que fossem pêra descubridores ; e acon-
teceo a sorte a João Machado ficar em
Melinde, como escrevemos.» Barros, Dé-
cada 2, liv. 6, cap. 9.
— Boa fortuna, ventiu-a possível, e
esperada.
— Põr-se em sorte ; pôr-se a risco, em
perigo.
— Ter sorte.
Do sol peitada foste, cruel morte.
Para o livrar de quem o escurecia ;
E da lua, que ante ella luz não tinlia.
Como de tal poder tiveste sorte?
E se a tiveste, como tão asinha
Tornaste a luz do mundo em terra fria ?
CAM., SOKETOS, U." 230.
— No jogo, ponto de ganhar.
— O papel em branco ou com o nu-
mero e declaração do premio, que se tira
das rodas da loteria, e outras.
— Estar lançada a sorte; o dado, di-
ta, ou feita cousa de acontecimento certo
o arri.scado, dado o passo perigoso.
— O destino, fado.
Já que hc taõ infeliz a humana sorte,
Que para claro abono da verdade
Naò basta a vida, ho necessária a nioi'te.
ABBADE DE JAZF.NTE, POESIAS, pag. 99.
— « Hum dos notaueis castigos que lhe
podem dar, he dizcrlhes palauras injurio-
sas. Gillio diz que de noyte chorão, ge-
mem, e lamentão sua pouca sorte, pois
fo}' tal que os chegou a seruirem em offi-'
ci 3 bayxos, e de pouca honra.» Fr. Gas-
par de S. Bernardino, Itinerário da ín-
dia, cap. 15.
O Ceo, que para varia sorte o chama,
A hum calafate Portuguez o entrega,
Grão sabor, discrição nelle derrama,
Grande engenho e agudeza lhe nào nega ;
Grandemente por isto o senhor o ama :
E depois acontece que navega
Lá para o Oriental Reino o mar bravo,
E leva em companhia o seu esci-avo.
P. DE ANDBADE, PRIMEIRO CERCO DE DIU, CaUt.
2, est. 66.
Foi-lhe então contra as ondas concedida
Maior força da sua imiga sorte.
Xão para lh"outorgar mais longa vida
Senão para lhe dar mais triste morte.
IBIDEM, cant. 8, est. 15.
Ja te fui importuno, eu o conheço.
Sê-lo agora de novo não devera.
Do ti recebi mais do que mereço,
jVIas foi como quem és, nào como eu era :
E se não foi o fim qual o começo.
Se inda agora consente a minha fera
Sorfe, que' o meu imigo o meu possua.
Fraqueza foi dos meus, nào falta tua.
IBIDEM, cant. 12, est. 83.
Este ousado Mogor, depois que o forte
Braço seu, e da sna companhia,
Com tanta perda, estrago, e tanta morto
De Cambaio esquadrão que o defendia,
E com tanto favor da imiga sorte
Que sempre he favorável á ousadia.
Por entre tanto imigo abrio a estrada.
Para o Eio Indo faz sua jornada.
IBIDEM, cant. 9, est. 76.
E ás descobertas plagas do oriente
Ir demandar essa escondida sorte,
Esse feito, essa glória promettida
De ingrandecer o ninho meu paterno.
GABBETT, CAMÕES, cant. 3, cap. 22.
— Homem de ■pouca sorte ; homem dos
vulgares, dos communs.
— O damno, ou o engano que o tou-
reador faz ao boi destramente, e sem pre-
juízo seu.
— Dar sorte de terra de sesmaria;
vir por heiança sorte de terra.
— Adágios e proveebios :
596
mniT
soitv
KOSP
— Oiido nao lia iiiortu, não li;i mil
sorte.
— • A má sorte inviíLir forte.
— t^iioiii !i sorte iilliuia oHtiinii, a huíi
dijaustiiiiii.
— Syx.: Sorte, fortuna. Vid. e.sto ul-
timo V()iill)lll>).
SORTEAÇÃO, .S-. /. Vi.l. Sorteio.
SORTEADAMENTJE, adu. (Do sorteado,
o o Mnfllxo iiuente"!. L\tr sorto.
SORTEADO, part. yass. do Sortear.
Tiradi> \MV sorte, escolhido por sorte.
— Fiirneeido do varias espeoios de cou-
sas. Vid. Sortido.
— Misturado com varias sortes.
— Figuradauioutc : Vida sorteada de
crimes c peccados,
— Fazundu sorteada ; fazenda que tem
as poças inolliores, o inferiores, do diver-
sas cores, otc.
— Dnnzella sorteada; donzclla esco-
lhida .-i SOl't0.
SORTEADOR, A, s. Pessoa quo sorteia.
— Pessoa que lança sortes para adivi-
nhar.
SORTEAMENTO, s. m. Vid. Sorteio.
SORTEAR, V. a. Repartir por sorte.
— Kiieolher, eleger por sorte.
— Entrar eui sorte de loteria, as cou-
sas que so haviam do sortear.
— Rifar.
— Dividir entro si por sortes.
— Sortear o murcador as fazendas;
compor a bala, ou caixas de peças do
varias côrcs o bondade.
— Figuradamente : Sortear a vida mes-
clada de prazeres, gostos, ctc.
— Sortear-se, v. reji. Dividir-sc por
sorteio, quinhões, partilhas.
SORTEGAMENTO, s. m. O resultado
das sortes i]ui'. se lançaram, o sorteamento.
SORTEGAR, v. a. Termo antiquado.
Deitar sortes, sortear.
SORTEIO, s. m. A acção de sortear,
de tirar as sortes a vèr a quem cabo a
sorte, ou a obrigaçíio de fazer alguma
cousa.
— O compor de varias sortes, qualida-
des, sortiniento.
SORTE IRO, *-. m. Vid. Sorteador.
SORTEIAS, s. /. plur. Termo anti-
quado. Anileis quo sorviam de adornar
os (lodos. Os nossos maiores disseram sor-
tellias, o ainda depois so chamou tíortclha
uma villa na comarca do Castello Branco,
sem duvida por quo um annel s-lo as suas
armas presentes, havendo sido antigamen-
te uma meia lua.
— Sorteias das virtudes ; anneis em
cujas pedras so julgava consistir alguma
virtude natural, ou supersticiosa, para
curar algumas enfermidades, ou livrar do
alguma doença, ou nialelieio.
SORTEO, s. m. Vid. Sorteio.
SORTIDA, *•. /. (Do francez sortie).
Saída de uma parte dos cercados contra
os corcadores na guerra.
— Passo para sair ao inimigo.
— Porta pequena, ou postigo, quo nas
fortifieaçõos se faz por baixo do terraple-
no ao fosHO para haver commuuicaçilo
com a ])raça abrigada do fogo do ini-
migo.
SORTIDO, pnrt. pass. de Sortir. — ylr-
iiiazem, Inja sortida; armazém, loja que
tom bom sortimento.
— Caixa, fardo de fazendas sortidas ;
caixa, fardo do varias sortes c qualida-
des, projiria.í para a venda.
— Produzido, causado, obtido.
— Adiado, tirailo om sorte.
SORTIJA, ». /. Termo antiquado. Sorti-
Iha, annel, e jóias de homem e niuilier.
— Joijiis lie sortijas. Vid. Candieiro.
SORTILÉGIO, s. m. Maleiicio do que
so servem aquelles que a plebe cousidora
feiticeiros.
— Sorteio.
SORTILEGO, A, a<lj. e s. Que faz sor-
tile^rios.
SORTILHA, *■. /. Annel.
— Argolinha.
SORTIMENTO, s. m. Provisão do mer-
cadorias, drogas, etc, de varias sortes.
— Sorteio.
SORTIR, V. a. (Do latim sortire). Pro-
duzir, alcançar.
• — Tirar por sorte.
— Sortir a loja de mercadorias ; pro-
vêl-a de variedade d'ella3.
— Fazer sortimento.
— Sortir-se, v. reJl. Prover-so de fa-
zenda de toda a espécie.
■ — Fazer o seu sortimento.
SORUMBÁTICO, A, adj. e s. Termo
popular. Sombrio, triste, carrancudo, hy-
poeoiidrieo, melancólico.
SORVA, .f. _/'. O fructo da sorveira.
SORVAL, adj. 2 gen. Que se sorve., —
l'era sorvai.
SORVAR, V. a. Fazer aniolleeer a carne
da fruta, e ter principio de fermentaçrio.
SORVEDOURO, s. m. Termo de mari-
nha. \'^oragem do rio, ou mar, onde a
agua faz redemoinho, e ferve, levando
ao fundo o (|ue alli cáe.
SORVEDURA, s. /. Vid. Sorvo.
SORVEIRA, s.f. (Do latim sorbus). Ar-
vore quo produz as sorvas, fructo peque-
no, redondo, côr de pomo, o qual para
se comer é mister quo amolleça em pa-
lhas, e so sorve.
SORVER, V. a. (Do latim sorbere). Be-
ber aos poUcos, inspirando ou recoUieudo
a respiração, atraz da qual entra o liqui-
do que se sorve. — Sorver um ovo.
Vc3 aqucllo ?
Aqiicllo sanguo ó quo ó o raeu, escravo.
iS'orrí-o, fíotta a frotta, coV-stes hibios ;
K entrou no oorai;ào, todo; — aqui todo
Mo doixou a vingani;a inthcsourado.
QARBKTr, CATÃO, act. Õ, 8C. 11.
— Figuradamente : Levar para o fun-
do, submergir.
PclaB cntrauhu lobrcgax «c afunda,
Sorrr.-lhr a turra Oí muros, o» palmeio*,
N<!iii (tVíciíta clamor, tii-m vo/, nem pranto
\h>6 luirturavciít axn^uWàoi ueiiu.
j. A. im MACEDO, A SATUBKZA, cant. 2.
— Chupar, embeber. — O pão sorve o
cluí. — A esponja sorve a (ujua ou outro
ijualrjuer liijuido.
— Soffrer sem dar a entender a bua
dór, i)u iucommodo. Vid. EnguUr.
— Sorver-se, v. reJl. .Sumir-»e, sub-
mc!rgir-se.
SORVETE, «. VI. OonfeiçSo do sumo
de frutas com ciilda de oAHUcur oui ])on-
to mui alto, a qual se guar<Xa para hg
desfazer em agua, e beber, uiuuo a limo-
nada de calda para guardar-âe. — Um
sorvete de luve.
— Limonada ambreada usada muito
jielos turcos.
— Toma-sc também pelo sumo de qu;il-
quer fruta, ou qualquer creme, gela-
dos.
— Composiçiio feita de limSo, assacar,
âmbar, etc.
SORVETEIRA, «. /. Vaso, espécie de
balde 'If gelar sorvetes, bcbid.ns, etc.
SORVIDO, part. pass. de Sorver. En-
gulido.
— Bebido aos poucos, inspirando oa
recolhendo a rcsplraçriy.
— Levado para o fundo, submergido.
— Figuradamente: Absorto, enleva<Jo.
— -Figuradamente: Naus sorvidas do
mar.
SORVINHO, s. «). Diminutivo de Sor-
vo. Sorvo pequeno.
SORVO, s. m. A acção de sorver be-
bendo. — Beber a sorvos.
— A porção que uma vez se sorve.
SOSANO, í. m. Termo antiquado. Des-
eml)aiaço, resolução,
SOSLAIO, s. m. Termo nstado na se-
guinte locução: Ao soslaio, em soslaio;
não em cheio, de esguelha, por um lado.
— «Tornado a seu posto viu que Gracia-
no com toda a força que o uavallo podia
trazer, vinha pêra clle; e pondo as ptar-
nas ao cavallo, o encontrou no meio do
escudo com tanta força, que falsando o
com todas as outras armas, deu com elle
no chão, e de feito o mateira se o encon-
tro não fura algum tanto em soslaio; elle
ticou em salvo porque o outro errou o
seu.» Francisco de Moraes, Palmeirim
d'Inglaterra, cap. 111.
SOSO, aJv. Termo antiquado. Acima,
sobre.
— Em soso. Vid. Sossa.
— Outrora era Suso.
SOSOBRAR, V. a. Vid. Sossobrar.
SOSPEIÇÃO, í. /. Vid. Suspeição.
SOSPEITA, tf. f. Vid. Suspeita.
Era largo circuito lnl^c;^o. toUi'?
I.usranvs ouJe i>ode auor fo*peita.
K voudo aâàoàscgado tudo auisau
I
SOSP
Ao capitão, dizendo que se embarque.
A dona Liauor, o aos doua miuinos
Nos braçoâ, no melhor batel oâ passa,
A outi-a gouto o aogue como em sorte
Lhe coube a embarcação mais oportuna.
COETE BEAL, NAUFRJIGIO DE SEPULVED.l, Caut. 14.
— «E que na ora que el Rey visse o
Príncipe seria tam alegre, e contente,
que lhe esqueceriam quaesquer sospeitas,
ou mas vontades que nntre elles ouuesse.
Do que o Duque mostrou ser satisfeito, e
muy alegre, e na deligencia, que logo
pos pêra se aperceber, e no desejo que
amostrou pêra em tudo seruir el Rev, e
o Príncipe, mais parecia entam aw-v nel-
le amor, e lealdade, que o coatravru.»
Garcia de Rezende, Chronica de D. João
II, cap. 41. — «Dom Aluaro de Souto
mayor filho de dom Pedro Aluarez de
Souto mayor, que foy Conde de Cami-
nha, e era Galego, neste anno de qua-
trocentos e oitenta e seis ioy preso em
Lisboa per mandado dei Rey com sos-
peita de traycào.» Ibidem, cap. 63. —
«Este conhecimento induz a alma ao erro,
e he o que a faz entrar na desconfiança
por meyo das sospeitas, das conjecturas,
e das duvidas que vay formando.» Ca-
valleiro d'(Jiiveira, Cartas, liv. 1, n.° 13.
SOSPEITAR, V. a. Vid. Suspeitar. —
« E com quàto sospeitamos o que isto
podia ser polias atoarda.s que ja trazía-
mos de mais lõge, não deixamos de vel-
lejar até dentro do porto, onde surgimos
com muyto recado, e fazendo por cirimo-
nia de paz nossa salva custuinada.» Fer-
não Mendes Pinto, Peregrinações, cap.
148. — Côfesso que me enfadey e senti
algum tanto agastado, por ver que o nos-
so Malemo se daua cõ hum vagar, que
sospeitey hirem forros a partir. Meu cS-
pauiíeyro tomaua o Ceo cò as mãos por
ver que nlo daua á vela.» Fr. Gaspar
de S. Bernardino, Itinerário da índia,
cap. 5. — ■ «Dom Francisco vendo que el
Rei lhe nao vinha falar como lhe manda-
ra dizer per cinco mouros, que com re-
ceo do que ja sospeitaua não quis deixar
tornar a terra, ao outro dia pela menhà
vinta três dias de lulho.» Damião de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 2,
cap. 2.
— Sospeitar-se, i-. i-efi. Vid. Suspei-
tar.
Olha esto coração sogeito a tanta
Pena, que a sospeitarse erro seria,
Olha esfaima por ti, e cm ti mudada:
Que outra cousa não quer mais que ser tua.
O do30 vida minha olha que morro
No meyo de mil males arrastado,
Ollia esta liugua muda, olha o trabalho
Do meu cansado, c triste pensamento.
CORTE REAL, NAUFRÁGIO DE SEPÚLVEDA, Cailt. G.
— «De maneira que das dez vellas da
armada, ficarão aos nossos a (4alé, duas
Galeotas, e quatro fustas, e dos outros
três navios as duas Galeotas deraõ á cos-
SOSS
ta na ilha de Tobasoy, como ja disse, e
da outra fusta .se não soube nenhuma
noua; mas sospeitouse que a comera o
mar, ou dera á custa em alguma das ou-
tras ilhas.» Fernão Mendes Pinto, Pere-
grinações, cap. 146.
t SOSPEÍTA, s. f. Vid. Sospeita, e
Suspeita. — «Em quàto estas cousas se
fasiam mandaram dentro em huma coua
como sepultura por fogo a huma foguey-
ra, em que tízerão meter os pès a três
homens, por auer sospeytas que erão la-
drões. Gò estes tratos dauão os tristes
tam grandes gritos, que nam auia pessoa
que delles senam doesse.» Fr. Gaspar de
lá. Bernardino, Itinei-ario da índia, capi-
tulo 14.
f SOSPEYTAR, V. a. Vid. Sospeitar, e
Suspeitar. — «Fique na lembrança, este
dito, porque he muy necessário pêra o
adiante. A mesma noticia se tem da mais
terra de Asiria, Arábia, e Palestina, sem
que aya lugar, ou parte, junto a estas
em que se possa sospeytar estivesse em
algum tenipu.» Ibidem, cap. 22.
t SOSPIRO, s. m. Vid. Suspiro.
Que se voa bem esguardays
VOS (vós) sosjjiros nunca vistes.
cAKc. DE KEZEXDE, tom. 1 , pag. 13.
SOSQUINADO, 2^a>-t- pass. de Sosqui-
nar.
SOSQUINAR, V. a. Termo pouco em
uso. Fazer propender.
— Sosquinar-se, v. reji. Inclinar-se a
favor de alguém.
SOSSA. Termo usado adverbialmente :
Pedra em sossa; pedra sem cal, sem ou-
tro liame. Vid. Ensosso.
j SOSSEGADO, part. j^iass. de Sosse-
gar. Vid. Socegado. — «Estando nós en-
tre tanto quietos, e sossegados, ouuindo
cada hora suas mortes, e desastres : que
na verdade se as duas casas andarão lia-
das em parentesco, custaranos muvto,
vermonos liures de tantos infiéis, quâtos
uellas ha.» Fr. Gaspar de S. Bernardi-
no, Itinerário da índia, cap. 20. — «Es-
tes amigos, e seruos de Deos, particula-
res de sua casa liuremente gozaõ de hu-
ma saucta e sossegada liberdade, qual
couuem a filhos adoptiuos, e mimosos de
Deos, fora de todo cuidado, fora de toda
a pertLu-baçào, e medo da morte, e do
Pui-gatorio, e do Inferno, e de todas as
cousas, que podem fazer mal de pena a
alma, ou ao corjjo aqui, e na outra vida,
por mais duraueis, que sejào.» Fr. Bar-
tholomou dos Martyres, Compendio de
espiritual doutrina, cap. 10.
SOSSEGAR, V. a. Vid. Socegar. — «E
desejando sossegar a vontade ao Duque
de Bragança, e fazelia conforme as cou-
sas de seu seruiço, o apartou hum dia
na capella dos paços dentro na cortina,
perante dom Fernam Qonçaluez de Mi-
randa, Bispo de Lamego, e seu capellào
SOST
597
mor, e lhe fez hum;i faia nesta maneira.»
Garcia de Rezende, Chronica de D. João
II, cap. 36. — oE muy secretamente por
meo Dantào de Faria se vio com el Rey,.
a quem meudamente tudo descubrio, e
que o que tinuào determinado era mata-
remno a ferro, e recolherem o Príncipe
por mar a Cezimbra, e que por logo com
elle sossegarem o Reyno o leuantariào
por Rey, e que o seria em quanto o Du-
que quisesse, o que ficaria em sua mão,
e vontade.» Ibidem, cap. 58.
SOSSEGO, s. rn. Vid. Socego.
S0S30. Vid. Sossa.
— Calhaus era sosso ; calhaus soltos.
SOSSOBRA, s. /. Vid. Sossobro.
SOSSOBRADO, part. pass. de Sosso-
brar. Revolvido de baixo para cima, e ao
contrario.
— Mettido para dentro.
SOSSOBRAR, V. a. Revolver de baixo
para cima, e vice-versa.
— Jletter por dentro de outra cousa.
— Figuiadamente : Sossobrar o ani-
mo; perturbal-o muito, mettel-o para
dentro, abatel-o, submei-gil-o, submet-
tel-o.
— Sossobrar a nau; voltal-a de bai-
xo para cima, e ir a pique.
— Sossobrar-se, v. reji. Revolver-se
de baixo para cima.
— • Figuradamente : Sossobrar-se o ani-
mo; perturbar-se, agitar-se, abater-se.
— V. n. Subverte]--se, abysmar-se,
afundar-se.
— Ficar perdido.
SOSSOBRETA, s. f. O mau agouro,
que o jogador toma de quem se lhe põe
ao pé. — Tomar sossobreta co-m alguém.
— Hoje c!iama-se-lhe zanga, grima.
SOSSOBRO, s. m. A acção de sosso-
brar-se o navio, e o efieito d 'esta acção.
— Perigo, caso sinistro, adversidade.
— Figuradamente: Sossobro do ani-
mo; grande agitação.
SOSTENTAR^ v' a. Vid. Sustentar. —
«Attirmào os uaturaes, que quando não
achão què dar de comer aos filhos, se fe-
rem no peyto, e como os Pilicanos cõ
seu próprio sangue os sostentão : con-
corda com isto a Mouarchia Mística. E
Pierio diz que mais andão a pè do que
corre hum caualo.» Fr. Gaspar de S.
Bernardino, Itinerário da índia, cap. 9.
— «Por a grande nmltidão de Camelos,
carneiros de cinco quartos sem armação ;
caualos de gentil rassa, ligeyros, fortes,
bem talhados, e que melhor sostentam a
fome, e sede, que todos os outros, tem
inuyto encenso, myrrha, e as melhores
fruytas daquellas partes.» Ibidem, cap.
10. — «O negocio he, que o Camelinho
vem metido em Imm folie (assi como os
pintos nos uuos) do qual não pode sahir
antes de passarem três dias, nem tardar
mais que ate os noue, nos quaes a mãy
o sostenta sò com o lamber, bafo, e
quentura, e quantos dias se detém den-
598
SOST
tro nesta licxi^ía, fioiíi naliir <lill.i, tantofl
depois Bondo fçniiKlu, podo eaiiiiiiliar seiu
bebor. n Ibidem, eap. 17.
SOSTER, ou SUSTER, u. a.. (iJo latim
susIiiiKre). .Soj,'urar alf^uiua cousa, para
quo não possa cair.
— Fifíurailainoiíto : Sustentar, conser-
var, fazer quo se uíío porca, acabe.
Quiz apontoiíi- a vida,
ttn-imcy me á, oBporau(;a
por ma eoder :
aohcy ((uo ora perdida ;
também a sua lembrança
fny perder.
D. JOANKA DA GAMA, DITOS DA FRF.IBi,
pag. 88 (odiv- do 1872).
Vida foi pozada c crua
A saúdo qu'ou snslinha;
Qu'cin qnauto, Sculior, a tinha,
Tomor perigo na sua,
Mo fez doaeuidar da minba.
CAM., AMi'uynuõi:s, aot. 2, 80. 2.
— oComunmentc os bomens tem huma
molher, ha qual compram por sou di-
nheiro mais ou meuo.í, segundo ellas sam,
a seus pays e mays. Poile toda via cada
hum ter tantas niolherc.-i quantas podo
soster : mas huma he ha principal com
quo vivem, c tom as outras apousontadas
cm dlver.-<as casas.» Fr. daspar da Cruz,
Tratado das cousas da China, cap. 15.
— oNoste mesmo anno de M. D. V. por
consentimento, e vontade dei Rey fez
loam Lopes de Sequeira huma fortaleza
em Guadauabar do cabo de Guer pêra
dentro, contra Aguiló, a que pos nome
de Saucta Cruz, a qual fortaleza ello
dopois soltou a El liei pola nào poder
soster, e cl Rei lhe fez por isso mercê.»
Damião de tíoes, Chroiiica de D. Ma-
noel, part. 1, cap. 94. — «Também na
Epistola grandemente aluoro^<a a Igreja
os fieis o penitentes, trazendolhes á me-
moria 8ua grande nobreza e dignidade,
6 dizoudolhes que se lembrem que nam
sam filhos de escraua, como eram os lu-
deos filhos da loy velha, (jue com temor
do penas sostinha seus súbditos cm obe-
diência: mas quo sam filhos da verda-
deyramonte liuro, e senhora, s. da sau-
cta Cidade de lerusalem celestial, que
ho a companhia dos bemauenturados, em
a qual ja estamos com as esperan(;as, e
Bftudadès, o amor, ainda que quanto ao
corpo mortal peregrinemos na terra.» Fr.
Bartholomeu dos Martyres, Catecismo da
doutrina christã.
— Soster o credito, a reputação. Vid,
Conservar, Mauter.
— Soster a fc ; defendel-a.
— Soster CS' gastos; supprir a ellefí.
— Soster (IS penas ; supportal-as, sof-
frol-as.
— Soster uma casa; fazer com que
se não arruino om credito, o bens.
— Soster a lei; observal-a.
SOTA
— Soster-se, i.-. ifjl. Conscrvar-so se-
guro, lixo, iminovel.
SOSTIDO, part. paus. do Soster. Su.s-
tentado.
— Conservado, mantido.
— Defendido.
— Soflrido, bupportado.
— Ob.Horvado, cuaijirido á risca.
SOSTIMEKTO, «. ;;i. A acção de bub-
tor, do conservar, de defender, do man-
ter.
— Fundo, cabedal, supportamento,
soccorro preciso, o indi.spensavel para al-
guma cousa KC manter, o lc\ar ao preten-
dido fim. — O sostimento da guerra.
SOSTRA, s, f. Termo autiíjuado. Vid.
Costra.
1.) SOTA, s. «1. JIoço da estrebaria.
2.) SOTA, s. f. Figura de mulher nas
cartas de jogar, aliás dama. — Sota t/e
paus, de cupus, etc.
Sc matador ergue quem
a que é sota, morta tem,
que ganho de lá. se nota.
ANTÓNIO i-itKSTEs, Auros, pag. 377.
Oh ! como 1830 é bom ! porém,
gentil desdém,
não estaca vós ahi, que sois sota?
Oh ! bem sei que levacs
mais abundância que a sota,
mas é toni!ir-mo da lua
falarem-ine i mão de fóra.
IBIDEM, pag. 37'J.
— S. in, — Um sota ; cocheiro inferior,
ou segundo, o que vai a cavallo nos coches
de vários tiros, ou juntas, e o cocheiro, na
almofada; postilhão.
— Chefe, capataz de algumas compa-
nhias de otlicios o servidores públicos.
— Cliofo de airuadoiros.
SOTAALMIRANTE, s. m. Vid. Soto-
almirante.
SOTACAPITAINA, ou SOTACAPITANEA,
s. /. Nau (hi guerra que serve de capi-
tania.
SOTACAPITÃO, s. m. Segundo capitão,
imnicHato.
SOTACOCHEIRO, s. m. O cocheiro subs-
tituto, (jue supju-e o primeiro.
SOTACOMITRE, s. j». Termo de mari-
nha. Segunilo comitre, quo faz as vezes
de comitre.
SOTAEMBAIXADOR, ,■!. m. Segundo em-
baixador na grailuai.ã.) a respeito do pri-
meiro. Vil!. Sotoembaixador.
SOTAESTRIBEIRO, s. m. Segundo cs-
trilu-iro, que substituo o primeiro.
SOTAINA, A. /. Vestidura uiais longa
que a casaca, talar, aberta por diante,
tomada com botòcs, como a trazem al-
guns moços de conventos. Vid. Sotana.
— !S. m. Dá-se este nome aos padres,
fallando em mau sentido. — Um sotaina.
SOTE
SOTAL, loe. prep. Com tanto, debaixo
de tal, sob tal condier.o.
SOTANA. Vid. Sotaina.
SÓTÃO, «. til. Caia tcj rea por baixo do
sobrado, o do primeiro andar que está ao
olivel, ou no andar da roa.
— (Jova, adega, abobada no baixo do
edifício.
— Dão-llie alguns o nome de logea.
SOTAPILOTO, ou SOTAPILLOTO, «. m.
Vid. Sotopiloto. — «O Sotapilloto Mit-
noel Rodrigues, que andaua enfermo, me
cliamou a parte, dizendo. Padre men, a
nào da Imlia como se encosta, nSo Be Ba-
bo mais virar, por tanto auiiie ao Capitilo
Mór, ponha cobro nos bateis, pêra quo
assi nod possamos todos saiuar. Desta ma-
neira se passou aquella noyte, que por
me parcacer huma Imagem do luyzo, creo
sempre me lembrará, e là [«ela niailruga-
da a nào com a cnchento da maré, se
foy pouco, e pouco leuantando. » Fr. Gas-
par lie S. Ben.ardino, Itinerário da ín-
dia, cap. 2.
SOTAQUE, s. m. Dito, apodo do vul-
go, com allusão reprehensiv.a, picante.
SOTAVENTADO, adj. Vid. Sotaventea-
do.
SOTAVENTEADO, A, adj. Termo de
náutica. Diz-.>e 'lo navio que fica a so-
tavento.
SOTAVENTEAR, v. a. DesgauLar o
barlavento, fazer ficar a sotavento.
— Sotaventear-se, v. rejl. Perder o
navio o barlavento, cair a sotavento.
SOTAVENTO, ou SOTOVENTO, s. ni. A
borda do navio opposta áquella d'onde so-
pra o vento; oppijo-se a barlavento, ficar
sotaventeado do lado opposto d'õnile ven-
ta, com desvantagem para o jogo d'arti-
Iheria, e manobras.
SOTEA, s. /. Varanda no alto da caaa
para tomar o sol. Vid. Sótão.
— Casa baixa para o fresco, sotSo.
— Alguns parece quererem dar-lhe a si-
gnificação de arca descoberta, que fica no
meio <!as ca.^as, c no mais baixo d'ella8.
SOTERIA, s. /. (Do progo sOtêria).
Connio.-iiçào em verso cm louvor.
SOTEKIM, s. )». Vid. Sophetim.
SOTERNOCAMENTE, adv. Termo anti-
quado. Sorrateiramente, por artimaubaa
occultas.
SOTERRAÇOM, s. /. Termo antiquado.
Funeral, enterro, acto de metter debaixo
da terra.
SOTERRADO, part. pass. de Soterrar.
SOTERRAMENTO, s. m. O acto de en-
terrar, si>tiTras,'ào.
SOTERRANEAMENTE, adv.^ Por baixo.
SOTERRANEO, ou SUBTERRÂNEO, A,
adj. il)o latim subterrauiuí'^. Que mora
por baixo da terra, quo existe por baixo
dVlla. — Estrada subterrânea.
SOBTERRANHO, A, «dj. Termo anti-
qua.io. Vi.l. Subterrâneo.
SOTERRAR, ou SUBTERRAR, r. o.
Metter debaixo da terra.
SOTT
SOU
sou
599
— Enterrar, sepultar.
— Esconder, occultar.
— Soterrar-se, v. refl. Metter-se por
baixo da terra, esconder-se, occultar-se.
— Srx. : Soterrar, enterrar. Vid. este
ultimo V(icabulo.
SOTERRENHO. Vil. Soterranho.
SOTERREO. Virl. SuMerreo.
SOTHESODREIRO, s. ni. Ministro ec-
clesiastico que faz as vezes do thesou-
reiro.
SOTICAPA, adv. Termo antiquado. .De-
baixo da capa.
f SOTIL, adj. 2 gen. Vid. Sutil, e Su-
btil.
Pinctores, luminadorea
agora no cume estem,
ouriuizes, esculptores
sam mais sotis, c melhores,
que quantos passados sam.
GAKCIA DE BEZESDE, 1USCELLAÍT.A.
— iHe senhoria de Veneza, e nella
tem hum governador, que chamam Po-
testade, e assi gente de guarniçam e boa
artelhafia, e no veram algumas galees
sotis, que arrodeam e guardào toda a
Ilha de Turcos cossayros.» Tenreiro, Iti-
nerário, eap. 52.
SOTILICAIRO, s. «i. Ave como o pato.
— Ha outra espécie que uào vôa, por-
que nào tem pennas nas azas, e berram
como os burros.
SOTILIZAR, V. a. Vid, Subtilizar.
1.) SOTO, prep. ant. Debaixo.
2.) SOTO. Vid. Souto.
SOTOALMIRANTE, s. m. Segundo al-
mirante.
SOTOAR, s. m. (Do francez sautoir).
Termo de brazào. O mesmo que santoVj
aspa.
SOTOCAPITÃO, s. m. Official do na-
vio, inferior ao capitão, e que suppre em
sua falta, seu tenente, ou segundo em
commando.
SOTOCOCHEIRO. Vid. Sotacocheiro.
SOTOEMBAIXADOR, s. m. Homem que
vae com o embaixador para o aconselhar
e fazer as suas vezes nas faltas.
SOTOMESTRE, s. m. Official do navio,
inferior ao mestre, e que faz as vezes
d'elle na sua ausência.
SOTOMINISTO, s. m. Substituto, que
faz as vezes do ministro.
SOTOPILOTO, s. m. Vid. Sotapiloto.
SOTOPOR, V. a. Pôr debaixo.'
SOTOPOSTO, A, part. pass. de Soto-
por. Collocado por baixo, posto pela par-
te de baixo.
SOTRANCÃO, ONA, adj. Dissimulado,
com cara triste e severa, que encobre
animo ufiino e mau.
SOTRANCAR, i;. a. Abarcar ou tomar
no meio.
SOTTERRADO, ou SOTERRADO, part.
pass. de Soterrar, ou Sotterrar. Vid. So-
terrado. — «Esteue assi o corpo do Du-
que publicamente no cadafalso á vista
de todos por espaço de uma ora, e de
allv sem dobrarem sinos, nem auer cho-
ro, o cabido da Sé com a Clerezia da ci-
dade, com suas Cruzes, e mujtas tochas
acesas o leuarão honradamente ao Mos-
teiro de S. Domingos, onde foy soterra-
do na Capella mayor. » Oarcia de Re-
zende, Chronica de D. João II, cap. 46.
Que, afim que a Alma desfira o vigor todo.
Jazer deve alguns tempos sotíerrada,
Xos desabridos gelos da Fortuna.
F. M. DO XASCIMEKTO, OS StASTTBES, 1ÍV. 7.
7 SOTTERRAR, v. a. Vid. Soterrar.
— «E estes que vivem de criar estas
adens tem junto das casas em que morào
huns charcos dagoa em que trazem dez
doze mil adinhos huns mayores e outros
mais pequenos : e para tirarem os ovos
tem em humas casas como terecenas muv-
to cõpridas vinte trinta fornalhas cheyas
de esterco, e nelle sotterrão duzentos,
trezentos e quinhentos ovos juntos, e ta-
pando as bocas das fornalhas paraque o
esterco esteja quente, os deixào assi es-
tar até o tempo que lhes parece que po-
dem ja ser para sayrem.» Ferrão Men-
des Pinto. Peregrinações, cap. 97.
SOTURNO, A, arij. Termo popular.
^Corrupção de Saturno, planeta que in-
ilue melancolia). Triste, taciturno, hypo-
condrico.
Xào sei que te persevera.
Sou muito soturno.
És?
Sou Koroega ;
do dia nào se me pega.
AliTONIO PKESTES, ACTOS, pag. 17.
Que tem?
Soturnas em si
de vivenda muito amara,
e mais nào sei que anda aqui.
IBIDEM, pag. 355.
— Casas soturnas ; ca=as sombrias, que
inspiram tristeza e melancolia.
— Figuradamente : Dia soturno ; dia
escuro, triste e quieto.
SOU. Forma do verbo ser na primeira
pessoa (lo singular do presente do modo
indicativo. Vid. Ser. — «O do Tigre o
alevantou e abraçou, dizendo : A hon-
ra e cortezia que de vós recebi em ter-
ra, onde se não consentia fazer a nin-
guém, eu sou bem em conhecimento del-
ia; e quanto mais era defeso fazer-se a
ninhuma pessoa, tanto maior é a obriga-
ção em que vos tico. u Francisco de Mo-
raes, Palmeirim dTnglaterra, cap. 119.
— • «Não sou tão de bom contentar, dis-
se el-rei, que com tão pequeno compri-
mento me satisfaça; mais pois vossa von-
tade é não vos conhecer, peço-vos que
aiguma hora passeis por minha casa me-
nos encuberto, que só pelo que vi de
vossas obras, se vos fará toda a honra,
ainda que de vós mais não saiba.» Ibi-
dem, cap. 124. — «Endereçando as pa-
lavras al-rei, me dê licença, que tenho
muito que fazer n'outra parte; e perdoe-'
me nào lhe dizer quem sou, que por ago-
ra não é em mim : baste que estou a seu
sei-viço aqui e em todo lugar, b Ibidem.
Eu sou aqueUe occulto e grande Cabo,
A quem chamaes vós outros Tormentório ;
Que nunca a Ptolomeo, Pompomo, Estrabo,
Pliuio. e quantos passaram, fui notório ;
Aqui toda a Africana Costa acabo
Neste meu nunca visto promontório,
Quo para o polo Antárctico se estende :
A quem vossa ousadia tanto offende.
cAii., Lcs., cant. 5, est. 50.
Já Tol-os qnizera vêr
começados ; so't perdida
por nas obras da outra vida
termos fazer, com dizer
nào prolongarmos ferida.
ASTOXIO PKESTES, ACTOS, pag. 14.
D'Í330 me corro.
Ha de ser.
Sou muito de me dizer
o physico de que morro,
primeiro o hei de saber.
IBIDEM, pag. 37.
Soíi Lúcio Yitruvio,
quando quero nào me passa.
Se perdi celestial
nào perdi meu entender
que foi meu angelical.
IBIDEM, pag. 49.
De Fernão Dacunha sou.
Folgará pois, vos mandou
ver-vos mais crioUio em passo.
Que me falta ?
IBIDEM, pag. 127.
Fará-, que é toda aparada
de limpeza, eu sou caqueiro.
EUc chama-vos...
míDEM, pag. 213.
Nào, eu hei-o de estripar ;
a mi carvão ! sou eu lar
para carvão a mi ? bem !
dae ao demo fantasmas, nora,
deixao aa casas, nào moreis
mais aqui, chimpae-vos fora.
IBIDEM, pag. 409.
Se eu esse lhe pareço,
do direito e do avesso
sou outro.
IBIDEM, pag. 417.
De que?
Chis,
á fé que tudo entendemos,
o csti-emos
não quero no que eu mal fiz ;
sou mais diabo que os demos.
IBIDEM, p;ig. 121.
Tu cuidas que sou de ourela
dims certos nymfos Cupidos,
qne por nào favorecidos
600
SOUB
SOUB
SOUB
logo lho cAn a ospiíiholii?
cu nrio, (Ml bi^lio K<'i"i<'o'*-
iDiDKM, pag. t-lf).
— o A que olle rospontloo, valhame
Deo8, coino? tau luau liomuiii sou cuque
isso fatiai' não ajas niotlo do cousa iie-
nluiina, assentate o dcacansarás, (|uo bem
vejo qiio estás afrontado, c dcspoús que
estiveres mais em ty te dircy o porquo
mildey matar esse Mouro que trouxeste
coratig:o, porque se fora Fortuguez, ou
Cliristão, eu te juro em minha loy que o
niío fizera, inda que me matara hum fi-
lho.» Fernão Mendes Finto, Peregrina-
ções, cap. 19. — «Eu te esconjuro da
parte de nosso Senhor Jesu Chri.sto que
me dip;a.s quem és, a que elle cõ muytas
mais laj^rimas rospõdoo, sou, irni.ão meu,
hum poijro Christaõ Portuf^uez, por nome
Vasco Calvo, irmão de Diogo Calvo que
foy Capitão da nao de dom Nuno Ma-
noel, natural do Alcouchete, que agora
faz vinte e sete annos que n'csta terra
fuy cativo com Tomo Pircz, que Lopo
Soarez mandou por embaixador a este
Rey Chim, que despois acabou dcsestra-
damcnte por hum d(!.<arranjo de hum Ca-
pitão Portuguez.» Ibidem, cap. 1H5. —
«A mim chamam Floriano do Deserto,
sou filho do D. Duardos, príncipe de
Inglaterra, e da infanta Flerida, neto do
imperador Palmeirim.» Francisco de Mo-
raes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. VM.
— «Se não fôi-a a moléstia de meu Ir-
mão, que })retexta os meus devaneios,
todos os de casa assei. tarião que sou lou-
ca rematada. Pouco falha, que o eu não
seja; e pelo desconcerto desta Carta po-
des tirar o desmancho do meu juizo; e
delia tirarás os motivos de arguir-me.»
Francisco Manoel do Nascimento, Suc-
cessos de madame de Seneterre.
IIc esto, he esto o domicilio augusto,
Quo o Divino Arohitocto aos homens dóra ;
Eu (lelle foii iion;ào, eu nelle existo ;
Em quanto os brutos aniraaes a6 fitào
Na torni os olhos, foi ao homem dado
A vista apascentai' no cthéreo assento,
Descortinando a abAbada azulada,
Em cujo o3pa(;o immcuso astros vaguêão.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Caut. 2.
f SOUBE. Fitrma do verbo irregular
saber na ]irinu>ira ou terceira pessoa do
singular do pretérito perfeito do modo
indicativo. Vid. Saber. — «Então soube
delle como depois que o derribaram, se
viera a pó da arvore, on<le o Palmeirim
achou, a esperar Floramão e Platir por
um concerto que antr'elles havia, e achau-
do-os já alli, lhe deu conta como aquclles
cavalleiros levavam as donzellas, e o que
passara com olles, por onde os seguiram
té os alcançar." Francisco do Jlcraes,
Palmeirim dlnglaterra, cap. 55. — «Al-
bayzar foi á prizào por sua própria pes-
soa, que era no baixo tFuma torre, onde
a achou sem outro nenhum, com uns fer-
ros pequenos o delgados no8 pes; e per-
guntando se havia outra prisam no cas-
tollo soube que não, então a trouve ondo
Floreados estava tam denacordada e per-
dirla, que Albayzar a não conhecia.»
Ibidem, cap. !)(>. — o Mas clle, que o viu
lanradu ante eila, o cila |)erdida a eór,
fyryando n'Í8to a condição pola contentar,
lho disse rindo : Heni soube Alfernao, se-
nhora, onde punha sua esperança, tendo
todalas outras perdidas ; e ])0Í8 asHini so
soube .salvar, valha-lhe sua rlescrição c
acordo.» Ibidem, cap. l]b. — «E como
Nunalvrez soube que el Rey de castella
so partya do an-ayal, c porque lhe foy
dito que leuaua consigo niuytos mortas,
e doentes, e entendeo que hyrya a alõga
per o caminho, pos era sua vontade de
liie hir atalhar ao caminho, e cõ ajuda de
Deos o dosbaiatar. » Chronica do condes-
tabre de Portugal Dom Nuuo Aivrez Pe-
reyra, cap. 3G.
Asai mo querem.
As3Í, quem ?
Quem melhor mo soube ver.
Quem ha de ser?
sois vós, riue sois o seu bera.
AKroNio PRESTES, ACTOS, pag. 385.
— «ElRey de Cananor tanto que sou-
be parte destas obras que elle andaua fa-
zendo taõ vizinhas ao seu porto o man-
dou visitar e assi lhe escreueraõ os nos-
sos que j:\ estauaõ com elle, dandolhe no-
uas do estado da terra: aos quaes elle
i-espoiídeo e a elRey de Cananor dando-
lhe agradecimento pelo bom tratamento
delles.» Barr.is, Década 1, liv. 6, cap. 'ò.
— «ElRey ilahamed como soube que es-
tes navios eram alli chegados, raandou-
Ihe muito refresco, mostrando estar á
obediência d'ElRey como escravo que era
seu.» Idem, Década 2, liv. 6, cap. 1. —
«Do qual Portuguez, que se chamava João
Viegas, Aflonso d'Alboquerque soube ser
elle hum dos vinto e quatro homens, que
ficaram cativos em ilaiaca do tempo de
Diogo Lopes de Sequeira.» Ibidem. — «E
posto que Aflbuso d'Alboquerque mandou
fazer diligencia em sua busca, nunca o
puderam achar : o depois se soube ser
ido pêra ElRey Jlahamed, que fora de
Malaca por tratos que andaram entre el-
Ics, onde esteve alguns annos, té que per
seu favor veio cobrar o Royiio do Pacem,
em que durou pouco, como veremos em
seu tempo.» Ibidem, ciip. 7. — «E se-
gundo se depois soube, era mercador da
linhagem dos Mouros, homem que a Rai-
nha llena madi-e do Preste chamado Da-
vid, trazia em negócios de o mandar a
diversas partes, por seu filho David nes-
te tempo ser pouco mais de doze annos
de idatU', e ella governava o Reyno.»
Ibidem, liv. 7, cap. G. — «Aííbnso d'Al-
boquurque como soube estes lugares onde
estavam, determinou que de caminho,
indo correndo a costa, a» levaria comsi-
go; e partido de Chaul, lhe foi entregue
«m Danda huma carregada de pimenta.»
Ibidem, liv. 8, cap, tí, — «Eu «ou filho
lio líronay, sujeito, e vassalo dei Rei do
Ungria : depois que tomei urniHH gastei o
tempo em busca do «eu filho Claríniun-
do, nesta demanda assi conm tenho an-
dado por muitiw partes, assi vim a e«ta
vossa R: ai Corte onde soube que estava,
e porque mais o conheyo por .suas famo-
sas obras, que por vista, beijarei as vos-
sas Reacs mãos por mandarmo mostrar,
se premente na? he.» Idem, Clarimundo,
liv. 2, cap. 4. — «E porque soube que
Diogo da Silveira estava com to la sua
Armada na ponta de Dio, o mandou ctia-
niar pêra que o fosse e^^pcrar em Baçaim,
e liie mandou o Alvará tTEIRey, porque
o fazia Capitão mór do mar 'la índia.
Com este recado se fez Diogo da Silveira
á vela, e atravessou a Baçaim, e surgio
sobre aquella barra, aonde já estava Ma-
noel de -Vlboquorque.» Diogo de Couto,
Década 4, liv. 8, cap. 3. — lO Visorey
chegou a Coulaõ, e alli soube do ajunta-
mento dos Príncipe i Malavares em Bar-
dela, pelo que despedio aquella eml)arca-
ção com as cartas que atraz dissemos no
derradeiro Capitulo do oitavo livro. »
Idem, Década 6, liv. 9, cap. 1. — «D.
Álvaro lha deu, e elle se foy a nào, e
levaria a ancora, c soltas as velas sahi-
raõ 03 soldados da camera, e tomàraõ o
criado de D. Álvaro nos braços, e deraõ
com elle em hum balaõ, e o mandarão
pêra Malaca. D. Álvaro ccrmo soul)e o
caso ficou taõ apaixonado, que esteve
pêra hir atò a Sunda apoz a nào: mas
( lonçalo Vaz de Carvalho foy fazer sua
viagem.» Ibidem, liv. 10, cap. 7.
Deste grande ao primeiro
cincoeuta dias ouue,
nos quais todos per inteiro
tremendo deu tal m.irtciro,
(|ual tegora se uon foube.
OABCIA DE BEZEXDE, MI5CEIXAHKA.
— «Em que com temor do ódio dei
Rey, que contra si maginauam, consulta-
uam a maneira que teriam para contra
elle se valerem. Em que claramente so
soube, que o voto, e teaçam do Marquez
cada vez era mais aceso com desamor, e
deslealdade contra el Rey, e que per to-
dalas maneiras precuraua desobediência,
e rompimento.» Idem, Chrooica de D.
João II, cap. oO. — Neste tempo estando
el Rey em Lisboa lhe tomaram os Fran-
ceses huma carauella da Mina com muy-
to ouro, tendo paz com França. Tanto
que o soube teue sobre isso conselho com
08 principaes que na corte estauào, e to-
dos lhe aconselharam que mandasse so-
bre isso huma pe-soa a el Rey de Fran-
ça.» Ibidem, cap. 146. — «Professou a
Musicj», o estimou a caça, c foi excellen-
te cm huma, e outra : naõ teve valido,
SOUB
SOUB
SOUB
601
mas soube eleger Ministros para o aju-
darem IV) «governo.» Fr. Bernardo de
Brito, Elogias dos reis de Portugal, con-
tinuados por D. José Barbosa.
— Não se soube de certeza. — «Ha ou-
tra província se chama Quichio. Tem
esta provinda onze cidades. Ha outra se
chama Fuquom. Ha outra Quinsi. Ha
outra Vinara. Ha outra Siquam. Ha ou-
tra se chama Siensi, ho numero das ci-
dades destas ultimas províncias nam se
soube de certeza.» Tenreiro, Itinerário,
cap. 5.
— Como depois se soube.
E para que de todo os persuadisse
A esta guerra que eutào lhes propuzera,
{Como depois se soube) também disse
Que elle tinha por certo, e que certo era
Que tanto que de nova flor vestisse
O valle e o monte a fresca primavera
Alli viriào ter com grossa armada
Os Turcos, bem provida e apparelhada.
FBANCISCO dVnDRADE, PBIMEIUO CEBCO de DIU,
cant. 10, est. 34.
— Ha mui pouco tempo que soube
que... — «Ha muy pouco tempo que sou-
be que era hum académico da Academia
Francesa, e Icmbra-me que encontrando
as suas obras antes de saber esta Lín-
gua, as tinha por obras de hum Carpin-
teyro de oÉBclo, e não de hum Académi-
co de nome.» Cavalleiro d'01iveira, Car-
tas, liv. 1, n." 37.
— Soube mais de sua mulher. — «Sou-
be mais de sua mulher que andando este
fidalgo inquieto nas visínhanças do mos-
teiro de Chellas, zeloso por vGr em o si-
tio certo rebuçado, mettera m.ão á espa-
da, em que era destro e valente soldado.»
Bispo do Gr.^o Pará, Memorias, publica-
das por Camillo Castello Branco, pag.
133.
— Soube; teve conhecimento. — «A
gente de guerra que el Rei de Calecut
deixara nas tranqueiras que mandara fa-
zer em Cochim, no dia qUe a nossa ar-
mada chegou, se acoUieo pêra Cranga-
nor, por lho assi ter mandado dizer el
Rei de Calecut, como soube que a nos-
sa frota era Chegada a Cananor.» Da-
mião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 1, cap. 77. — «Mas loam homem,
nem Lopo Chanoca nam achou, porque
eram idos por terra a Melinde buscar
mantimentos, c dos que achou nas cara-
uellas soube que com tormenta se apar-
taraij da outra armada, e que loaõ ho-
mem descobrira antes de chegar ao cabo
de boa Sperança três Ilhas, dez legoas
huma da outra.» Ibidem, part. 2, cap.
3. — « Depois deste desconcerto a oito
dias, soube Nuno fernandez que estaua
este arraial dei Rei de Marrocos assen-
tado acerca da costa, no cabo de Cantim,
sobello qnal foi dar a boca da noite, es-
tando ellcs ceando, de que tomou dous
aduares.» Ibidem, part. 3, cap. 34. —
•voL. V. — 76.
« Estando ainda Afonso dalbuquerque em
Onor, veo ter com elle Melrrao, de quem
soube que mandaua a Çabaim delcam
XX mil homens em socorro de Benasta-
rím, aconselhandoo que se apressasse por
chegar a Goa antes que esta gente vies-
se porque depois teria grande trabalho
em guardar a Ilha, como em tomar a
villa.» Ibidem, cap. 28. — «Mas antes
de chegarem a Campar soube George
Botelho como el Rei de Língua gen-
rro dei Rei de Bintam, tinha cercado o
Rei de Campar, cujos capitães ímigos
eram por elle ser nosso amigo, e porque
a gente do cerco era muita, e a nossa
pouca despachou George botelho huma
lanchara a George dalbuquerque, a pe-
dírllie gente, e nauios pêra ir socorrer a
este nosso amigo.» Ibidem, cap. 63. —
«Raíx Nordim como a pessoa a que toca-
ua o cargo, por ser Guazíl da cidade,
mandou também perà praia a gente dei
Rei, e alguma da cidade, toda armada,
em que entrauaõ duzentos soldados de
Raiz hamed, que trazião saias de malha,
capacetes, e ailargas, o qual como soube
que Afonso dalbuquerque estaua no Ma-
draçal, ordenou que el Rei se fosse logo
pêra la, e adiantandosse de toda a com-
panhia entrou onde elle estaua mui des-
envolto, sem dar sinal do que determina-
ua fazer, que era matalo.» Ibidem, cap.
68. — -«Belo que determinou Nuno fer-
nandez de os ir buscar, como soube per
seus espias, que a isso mandou, que es-
tauam certos ao pe dos montes Claros
para onde partio ao dia seguinte, que fo-
ram dezanoue de Maio, do anno do se-
nhor de M. D. xvi, com quatro centas,
e trinta lanças de Christai^s, e alguns
homens de pe besteiros, e espingardeiros,
dizendo que hia comer as cruas com os
Alarues.» Ibidem, part. 4, cap. 6. —
«Morreram dos mouros assi homens co-
mo niolhcres, contando os que mataram
na caualgada mais de cento, e ciucoenta
dos de cauallo, dous na peleja, e outros
dous no passo as cspingardadas, foram
muitos feridos como se depois -soube.»
Ibidem, cap. 44. — «Onde tendo a ja
começada chegou dom Aleixo de mene-
ses por quem soube a certeza da nona
que lhe mandara Meliquiaz tornando Dor-
muz, de ser chegado a índia dom Duar-
te de meneses por gouernador, depois de
cuja vinda chegou diante da barra de
Chaul Hagamahamed com as mais das
fustas do Meliquiaz.» Ibidem, cap. 60.
-{- SOUBEMOS. Forma do verbo irre-
gular saber na primeira pessoa do plural
do pretérito perfeito do modo indicativo.
Vid. Saber. — «A segunda jornada vindo
por huns campos grandes, achamos hum
curuchco de boa altura, que era todo
feyto de cabeças, e caveyras de vea-
dos assim como parede : e do Mouro
que hia em nossa companhia soubemos
que o Sufi, a mandara fazer no tempo
que na dita terra, fizera huma caça com
todo o seu arrayal, de que elle muyto
gostava. » Tenreiro, Itinerário, cap. 9.
— «A qual laçou a auoar, com hum es-,
cripto ao pescoço, em que breuemente
se contaua quanto passamos cos Arábios ;
e tanto que alargarão o amor delles,
aguiou pêra a Cidade, onde ella os ti-
nha, e no mesmo dia chegou cõ a noiTa,
como nôs depois soubemos.» Fr. Gaspar
de S. Bernardino, Itinerário da índia,
cap. 22.
f SOUBER. Forma do verbo irregular
saber na primeira ou terceira pessoa do
singular do futuro do modo conjunctivo.
Vid. Saber. — «Outro sy dará Cartas,
per que mandem correger os bens dos
Concelhos, e Orfoõs, e Espritaaes, e Al-
bergarias, se achar, ou souber, que an-
dam dapnificados, como vir, que seja
mais seu proveito.» Ord. Affons., liv. 1,
tit. õ, § 11. — «E se acontecesse que no
começo do Feito as partes, ou cada huma
delias nam fossem casados, e depois do
preito começado alguma delias, ou ambas
casarem, tanto que o Juiz esto souber,
assine-lhes termo a que traguam as Pro-
curações das molheros, e vam per o Fei-
to em diante, como dito lie ; e se o Juiz
esto nom fezer, aja a pena suso dita.»
Idem, liv. 3, foi. 45.
Filha, dae por acabada
vossa guerra, descançac,
que jiigora sois casada ;
não vos dê nada de nada,
ride-vos dç vosso pae,
segundo o souler mostrar,
que tem nisso muita dôr ;
tons tal marido e senhor
que não te ha de desherdar.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pag. 489.
f SOUBERA. Forma do verbo irregu-
lar saber na primeira ou terceira pessoa
do singular do pretérito mais que perfei-
to do modo indicativo. Vid. Saber. —
«Com este recado foi Affouso muito le-
do, e mandou logo visitar Sultão zeinal,
per Fernam perez dandrade, fazendo-
Ihes muitos ofFerccimcntos, desculpandos-
se, que se soubera que elle vinha naquel-
le junco que o nam mandara commeter.»
Damião de Góes, Chronica de D. Ma-
noel, part. 3, cap. 112.
Naquelle mesmo dia que apresenta
Ko Cco O seu esprito o Sousa ousado.
Entre os Christàos hum novo ardil se inventa
Quiçá nunca antes visto, nem usado :
Descubrir delle o author mil vezes tenta
Meu canto, mas foi sempre cm vào tentado.
Pois nem a fama disse quem elle era,
Que bem o sonhtra cu se cila o dissera.
F. dVkdkade, primeiro cerco de DIU, cant. 17,
est. 98.
f SOUBERAM. Forma do verbo irre-
gular saJ>er na terceira pessoa do plural
do pretérito mais que perfeito do modo
602
SOUB
SOUB
SOVE
indicativo. Vid Saber. — «Os outros ar-
renegados quando souberam o concerto
da oiitrcf,';i, c quo haviam do ir ter an-
te Aflfonso d'Albuqiicr(juc (luizeram es-
capulir; ma» como os Capitães do Roz-
tomocan viram que a salvação de suas
vidas estava na entruf2fa dcllc.s, tive-
ram mito e ontreg^ilram-us a Jiastião Ro-
drigues, que os sc^íurou, e consolou no
que temiam de Attbnso d'Alboqu6rque.í
Barros, Década 2, liv. 7, capitulo 5. —
«E o Duquo, e a Duquesa, irmãos da
Raynlia, tanto que a noua souberam
acudiram logo de Beja, onde estauara, e
foram ora sua cura, e visitações muy con-
tínuos e diligentes, c a Raynlia esteuo
do todo a morte com seu testamento foy-
to, confessada, comungada, o vngida, tu-
do como muy Oatholica Princesa.» 0 ar-
eia de Rezende, Chronica de D. João II,
cap. 180. — «Ao outro dia quo isto pas-
sou chegilram áquella barra duas fustas
da companhia de Martim Affonso, de
que eram Capitães Duarte Mendes de
Vasconcellos, e João Coolho, que soube-
ram de huns pescadores como alli tinham
chegado huns poucos de Portuguezes que
estavam na Cidade.» Diogo de Couto,
Década 4, liv. 4, cap. 10. — «Mais ar-
dilosos se portarão outros taes na mes-
ma praça: souberaõ que vinha do cele-
bre Lorvaõ, por occasiaõ de Natal, hu-
nia valente consoada para o Bispo.» Ar-
te de furtar, cap. 66.
f SOUBERAS. Forma do verbo irregu-
lar saber na segunda pessoa do singular
do pretérito mais que perfeito do modo
indicativo. Yid. Saber.
Nem fovas, Magalhães, n'hum fi-agil pinho
Buscar ii'luim mar ignito, a gloria, a morto,
luda existiras, Mexicano Irapeiio !
Souberas. Indostão, que liavia o Tojo,
Sem dclle vcv o fcvro, e Ilcrócs da guerra.
J. A. DE MACKDO, .MKDITAÇÃO.
■[ SOUBERDES. Forma do verbo irre-
gular saber na segunda pessoa do plural
do futuro do modo subjunctivo. Vid. Sa-
ber. — «Bem sei, senhor cavalleiro, que
o costume desta mlnl>a fortaleza vos pa-
recera cousa contra razão : porém como
a ira á? vezes tem esto mal, que faz usar
e commctter cousas contrarias de quem
as faz, não vos espantareis depois que
souberdes a causa, que pêra isto tcvo.n
Francisco do Jloracs, Palmeirim d'In-
glaterra, cap. 102.
f SOUBESSE. Fórraa do verbo irregu-
lar saber na primeira ou terceira pessoa
do singular do pretérito mais que perfei-
to do modo subjunctivo. Yid. Saber. —
«Salvo sendo essa molher achada por
tam desasisa la, que se podesse mover a
ello sem justa razom, ou nom soubesse
governar a dita demanda pêra a trazer
a boa perfeiçam.i' Ord. Affons., liv. 4,
tit. 11, § 2. — «O terceiro mildoa pela
marinha com a ordem de se ir fcmpre
marchando pela terras marítimas, e W.1-
ba Be ficou a trás cõ a melhor o mais
luzida gente do exercito, para acudir àa
partes onde soubesse que relevava sua
presença.» Mouarchia Lusitana, liv. 6,
cap. 2b. — «Na qual arma-la auia sete-
centos Mamahicos, trezentos Turcos, mil
mouros dos regnoa de Tunez, e de (ira-
da, cspingardeiros, e bombarrleiros, de
que algui:3 eraõ mestres de fundir arte-
Iharia, ha mais gonte eraõ frecheiros de
lanças, e espadas, todos bem armados,
entre os quacs hauia mais de sesenta
Christàos leuantiscos, soubesse de cer-
to.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 4, cap. 12. — «Vindo este
dia em que se a nao osperaua, mandou
Pedraluarez ter vigia no mar: parecen-
dolhc que se cila soubesse estarem ali,
per ventura passaria tanto ao mar da
nossa armada que naõ fosse vista.» Bar-
ros, Década 1, liv. 5, cap. 6. — «E por-
que ellas vinham em lingua Chaldea po-
dia-as luandar trasladar per pessoa tícl :
cá por ventura no Reyno de Portugal
não haveria quem as soubesse interpre-
tar, e per ellas veria a tenção iTElRev
seu Senhor, e a causa da vinda delle
Mattheus.» Idem, Década 2, liv. 7, cap.
6. — «E bem era, que pois Dcos me li-
urara, dandome por tantas vezes vida,
em tempo que eu não fazia ya caso del-
ia; agora a soubesse arriscar, por seu
amor, oíForecendome a perdella, que en-
tão seria ella bem ganhada, quando sò
pelo seruir fosse perlida.» Fr. Gaspar
de S. Bernardino, Itinerário da índia,
cap. õ. — «A qual verdade neguão com
as obras, ainda que com a boca confes-
sem aquelles de tal maneira viuem como
se Deos não tiuesse com as obras, e cou-
sas dos homens, como se não soubesse
nossos pcccados, ou nam tivesse zelo de
justiça, pêra os castigar.» Fr. Bartholo-
meu dos Martyres, Catecismo da doutri-
na christã, liv. 1, cap. 7.— -E tingin-
do sor i*crca<lor ostrãgeyro soubesse miu-
damente a verdade da nossa vin^ia áquel-
le lugar, porque segundo a informação
que este lhe desse, dctenninaria ello nis-
to o que lho parecesse justiça.» Fernão
INIendes Pinto, Peregrinações, cap. 140.
— «Fazia mui áspera penitencia, e nun-
ca o viaõ apartado da oraçaõ, nem se
ouvia em sua conversação, e palavras
cousa que soubesse a impaciência, e
queixume do aggravo, posto que os ti-
vesse de algumas pessoas, que ousilraS
tratar sou nome com menos decência do
que se lhe devia.» Fr. Bernardo de Bri-
to, Elogios dos reis de Portugal, con-
tinuados por D. .losó líarbosa.
f SOUBESTE. F,u-ma do verbo irregu-
lar saber na segunda pessoa do singular
do pretérito perfeito do modo iudicntivo.
Vid. Saber.
Da muda habitação do eRquccimento
Ab foubaite cxtrahir, o, alfortuuaUo
I»gra com dia» o florente Kstado
N'liiuaas dcfcza, c noutia» ornamento.
ADBADE DE JÀZRKTE, POKSUg, tOm. 2, p*g. 113.
Tanto, oli Hallcr, tens cxtanis puderSo,
Tu que do< Alpc» a» nlvosa» frcnt<'B
Soubeste descrever: «e tu correra»
O Caucuso gelado, o Tauro, o Gate.
J. Ã.. DB UACCDO, Â. SATUBEZA, Cant. 2.
I SOUBESTES. F.ii-ma do verbo irre-
gular saber na segunda pessoa do plural
do pretérito perfeito do modo indicativo.
Vid. Saber.
D"Í930 é.
Agora êouhettetf
ponctra-vo* cem mil peitos
verdes peneira ou joeira,
ou trcpeu, ou gato preto.
AKTONIO PBESrCS, ACTOS, psg. 3Õ3.
SOUTO, s. m. Matta, bosqae espesso,
denso, junto do rio, alameda para passeio
sombrio.
— Matta que dá lenha, capoeira de ar-
bustos, que se cortam, e nlo dão madeira
de rojo, ou para obra.
— E talvez de castanheiros e de arvo-
res similhantes.
SOUTRO. Abreviatura antiquada de
£ss'outro.
1.) SOVA, s. f. Pisa de pancadas.
— Levar, dar uma sova de pancadas;
tirada a traslação de sova, pisada, cal-
cada de animacs que andam, e da amas-
sadura do pão que se sova.
2.) SOVA, ?. m. Termo da Africa. Go-
vernador <le província, em diversos rei-
nos da Africa.
SOVACO, í. m. Vid. Sobaco.
SOVADO, part. pass. de Sovar.
— -Areia sovada <le animaes; areia pi-
sada, calcada das pégalas d'elles.
— Bolos sovados ; bolos amassados com
ovos, maiito-.ga, etc.
SOVADURA, s. /. A acçSo do moer.
SOVAQUETE, s. m. Termo de jogo. O
tirar a jiolla da casa quando BÁe- apert.ida.
SOVAR, V. <í. — Sovar o pão; amass.ir,
revolvendo a farinha com agua, a fim de
ficar bem amassada.
— Figuradamente : Os animaes sovam
a ferra moUe ; correndo por ella muitas
vezes, espojando-se.
— Figuradamente : Pisar. — Sovar coni
pauradaf.
SOVARO, .<!. m. Vid. Sobro.
SOVELA, í. /. Instrumento de ferro,
ou aço, como agulha grossa, c talves com
quinas vivas com que os sapateiros e cor-
reeiros furam a sola para entrar pelo ba- Ai
raeo a soda com o fio. II
SOVELADA, s.f. Golpe com sovela. on
sovel."ii>.
SOVELÃO, s. Hl. Angmcntativo de So-
vela. Orando sovela.
SPAR
SPEI
SPER
603
SOVELEIRO, ?. m. Homem que faz so-
velas.
SOVERAL, s. m. ilatta de sovereiros.
SOVEREIRO, s. m. Termo de botâni-
ca. Sobro, arvore bem conliecida.
— Figuradamente: Homem mui alto.
— Yid. Sobereiro, orthograpliia prefe-
rível.
SOVERO, s. wi. Vid. Sovereiro.
SOVERSÃO, s. f. Viu. Subversão.
SOVERSIMENTO, s. m. Vid. Subversi-
mento.
SOVERSIVO. Vid. Subversivo.
S0VER30R. Vid. Subversor.
SOVERTER, V. a. Vid. Subverter.
Vimos também soirerfer
em Grada muvtos lugares,
e muyta gente morrer,
e tal terremoto ser,
que serras foram algares.
GABCIA DE EEZE3ÍDE, MISCEIXAXEA.
SOVINA, s. f. Torno de pau, ou toiure-
jão, ou torno bifurcado.
— S. m. Termo popular e figurado:
Homem mesquinho, misero, somitego.-^
Toma-se n'este sentido no feminino.
SOVINADA, s. f. Golpe, picada de ins-
trumento ponteagudo.
— Figuradamente : Dicto picante, ex-
pressão pungente.
SOVINAR, V. a. Metter cousa aguda,
que vai entrando difficilmente.
— Figuradamente : Molestar, afliigii",
incommodar.
— Picar.
SOVINARIA, s. m. Mesquinheza.
SOVREIRO, s. m. Vid. Sovereiro.
SOZIKHO, ou SOSINHO, A, adj. Dimi-
nutivo de SÓ ; significando a tristeza, a
compaixão de quem está só.
SPADA, s. /. Vid. Espada.
SPADOA, s. /. Vid. Espadoa.
SPAGIRIÇO. Vid. Espagirico.
SPAEI, ou SIPAHI, s. m. Cavalleiro
turco.
— Soldado de cavallaria do exercito
francez em Argel.
1 SPAKTAR, V. a. Vid. Espantar. —
«Estando pêra partir deste porto lhe veo
fallar Timoja em hima ilheo que esta ao
mar de Onor, e lhe dixe, que se span-
taua muito de se ir naquelle tempo, e com
huma tal armada ao mar Darabia fazer
fortalezas, segundo se dezia, tendo a ilha,
e cidade de Goa tào vezinhas, onde esta-
uam fazendo por mandado do Çabaini dal-
cào senhor delia vinte nãos de castellos,
como as nossas.» Damião de Góes, Chro-
nica de D. Manoel, part. 3, cap. 3. —
«No qual tempo Eaix soleimam Jhe man-
dou uma carta scripta em Castelhano,
aqueixandosse, como per graça, que se
spantaua de nam hir ser seu hospede,
pois Q estaua esperando, pêra o festejar.»
Ibidem, part. 4, cap. 13.
SPARADRAPO, s. m. (Do francez spa-
radrap). Panno untado de remédio que
se applica ás chagas e feridas para as co-
brir.
SPARGELAR. Vid. Espargelar.
SPARGIMEÍÍTO, s. vi. Vid. Espargi-
mento.
SPARGIR, f. a. Vid. Espargir.
SPAROS, ou PARGOS, ou SARGOS, s. m.
Termo de historia natural. Género de
peixes ósseos, ou tUoracicos.
SPARSILE, adj. 2 gen. (Do latim spar-
silis). Termo de astronomia. Estrellas
sparsiles ; as estrellas errantes, que estão
espalhadas por uma e outra parte no ceu,
e que não formam consteliaçào.
7 SPARSO, A, aJj. Vid. Esparso.
Nào desce. d'onde orou, Tribuna fúnebre.
Desalinhada a veste, sparsa a coma.
Em brônzeo trigono assentada a Druida,
Tocha ardente a soua pés, punhal na destra...
r. M. no NASCULESTO, os MABTYKES, 1ÍV. 3.
SPATANGO, s. 771. Termo de zoologia.
Género de vermes echinordermes, ou que
tem espinhos na pelle.
SPATHIGO, A, adj. Termo de chimica.
Que participa da natureza do spatho.
— Acidu spathico ; acido conhecido mo-
dernamente pelo nome de acido jiuorico.
Vid. Fluor.
— Ferro spathico ; mina de ferro fino
que com facilidade se converte em aço.
SPATHO, s. m. Tei"mo de mineralogia.
Diz-se de todos os mineraes folheados,
que se encontram unidos ás miuas.
— Spatho calcareo; carbonato de cal.
— Spatho jiuor; fluato calnativo.
— i-éAispatho. Vid. Kaolim.
f SPECIARIA, í. /. Vid. Especiaria.
— ecEntrestas nãos foi huma a do Mouro
Cogecem Micidi de Calecut sobre que se
armou esta briga, na qual se nào achou
nenhuma speciaria, donde manifestamen-
te se vio que ou os Mouros enganarão el
Rei de Calecut, dandolhe a entender que
estaua carregada, ou que el Rei movido
per conselho dos seus (que pela môr par-
te favoreciam aos Mouros) cons^ntio na
mesma treiçào.» Damião de Góes, Chrc-
nica de D. Manoel, part. 1, cíip. 59.
SPECTACULO, s. m. Vid. Espectáculo.
Ninguém toda to abrange, oh Natureza !
Hum só pequeno insecto ab.sorve hum Sábio,
Seja hum novo Linneo, hum Plinio seja
Da Natureza interprete fecundo.
Que nela inteira Creaçào vagando
Do Verme humilde aos asti'0s se levanta.
Inda meus olhos sôfregos nào posso
Apartar do spectaculo dos mares,
J. A. DE MACEDO, A NATCEEZA, Caut. 3.
SPECTAR, V. a. Vid. Despeitar, e Es-
peitar.
SPECULAR. Vid. Especular.
SPECULARIA, s. /'. Vid. Especularia.
SPEITAMENTO, s. m. Vid. Espeita-
mento.
SPEITANTE. Vid. Espectante.
SPEITAR. Vid. Bespetlar, e Espeitar.
7 SPERAR, V. a. Vid. Esperar. — «De
Pandaraue, que he cinco legoas de Cale-
cut, foraõ jentar a huma pouoaçaõ que
se chama Capotati, ho Catual em huma
casa, e Vasquo da Gama em outra, aca-
bado ho jentar sembarcaraõ todos em al-
madias, e foraõ obra de hum.a legoa per
hum rio arriba, em que estauaõ muitas
nãos grossas varadas em terra, cubertas
com folhas de palma, onde desembarca-
rão, e tornarão a sobir em outros dous
andores, que hos alli estauão sperando.»
Damião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 1, cap. 40. — «El Rei de Calecut
vendo quanto ao contrario do que spera-
ua lhe succederào os dous combates, co-
mo de sua condicam era vario, quisera
desistir desta guerra, e a mesma vonta-
de achou em muitos dos seus.» Ibidem,
cap.. 87. — «Estando ainda alli veo ter
com elle, per dentro dos rios. Rui darau-
jo scrivão.da feitoria de Coulào com^ car-
tas do feitor António de Sà, per que o
auisaua, como os mouros da terra, con-
fiados na victoria que sperauam que el
Rei de Calecut ouresse delle, os cerca-
rão, e matarão hum homem.» Ibidem,
cap. 92. — «O mouro se lhe lançou aos
pès, e dixe que el Rei de Mombaça, co-
mo soubera as nouas da tomada de Qui-
loa, se começara de aperceber, e que
pêra isso tinha Ja na cidade quatro mil
soldados, e muita artelharia assentada no
muro, e torres, e que alem desta gente
speraua ainda dous mil homens.» Ibidem,
part.
cap. 3. — «Chegada toda esta
frota a barra de Chaul, as gales, e fus-
tas vinham de longo da costa, a sombra
da terra, e o galeam, e quatro nãos de
largo, a vista dos que estauaõ na cida-
de, pelo que cuidaram os nossos que era
Afonso Dalbuquerque, que cada dia spe-
ravam na Índia, Dormuz, onde andaua
darmada, como se ao diante dirá. i Ibi-
dem, cap. 2õ. — «O que dito começaram
os de pe a caminhar peras casas as quais
acharam vazias, e Pêro de Menezes dixe
a dom Francisco que lhe jjedia que spe-
rasse com toda a gente que queria subir
hum pouco pella serra a descobrir as ou-
tras casas e ver o que la hia.» Ibidem,
part. 3, cap. 9. — «Depois deste cerco
alguns dos Bárbaros, e Arábios se fezerào
vassallos, e tributários a el Rei dom Ema-
nuel, e os que ficarão de guerra por an-
darem juntos em cabildas com seus adua-
res, não foi logo Nuno Fernandez buscar,
sperando tempo conueniente pêra O fa-
zer.» Ibidem, cap. 13. — «Depois que en-
trou mais em idade se deu a liçaõ de li-
uros sagrados de que recebeo muito frn-
cío. He de sua condição encolhido, e
vergonhoso, o que he causa muitas vezes
de não contentar muito os homens no
bom acolhimento que elles dos Príncipes
speraõ nem tratar o que entende, com
604
SWIl
SPLA
STAD
tanta Holtura como algumas vezes ho ne-
cessário.» Ibidem, cap. 21. — «i^clo que
8cm mais sperar, partio tlalli porá (ioa,
ondo em cliegariclo per coiiseilio, c pare-
cer, assi dos i{ue eoii8Í;,'o icuaua, como
dos que cstauaõ na cidade, mandou logo
cercar lienastai-im pela baiiila do mar,
no que ouue grande resistência." Ibidem,
cap. 'JH. — «Ma» os Mouros nau spera-
raõ tanto, jjoríjuo auto^í do conselho ser
acabado, os que roldauiio mandarão dizer
a dom Duarte que ja eram eliegados, e
tiniião )J03to fogo as eiras que cstauâo
junto da cidade, o qual se ateou tanto,
c tam de súbito, que dos muitos se en-
xergaua qut! era gente de pe a que o pu-
nha.» Ibidem, cap. 31. — «O que feito
dom Duarte tomou .seu caminho ao outro
dia pêra tanger pelo porto dalleixe, mas
achando nouas que audauão mouros na-
quelle campo sperando por elle, se tor-
nou Arzilla, com a cavalgada, n Ibidem,
part. 4, cap. '2'2.
SPERGUNTAR. Termo antiípiado. Vitl.
Perguntar.
SPERMACETI. Vid. Espermacete.
SPERMATINA, ou ESPERMATINA, .'•■. /.
Termo de ehiniica. Matoiia animal parti-
cular, que entra na fíirmaí^ào do esperma,
que tem muita analogia com a albumina
e com a fibrlna.
SPHACELO, s. m. (Do grego sphnka-
los). Termo de medicina. Vid. Esphacelo.
SPHENOIDE, aãj. o s. (Do grego sphhi,
e eidos). Termo de anatomia. Diz-se do
osso basilar do eraneo.
SPHERA, s. /'. ^'id. Esphera.
SPHERAL. Vid. Espheral.
SPHERICO, A, adj. Vid. Espherico.
SPHESPA, s. /. Vespa solitária de di-
versas espécies.
SPHINCTER, s. m. (Do grego sphig-
ktêr). Termo de anatomia. Certo musculo
que serve de fechar o apertar as carnes.
— O sphincter do anus.
SPHINX, ou SPHINGE, s. m. Monstro
fabuloso.
— Termo de zoologia. Borboletas de
que ha três genex'03.
— (leueto de insectos coleopteros.
SPICANARDO, s. m. Termo de phar-
macia. i^lanta, espécie do nardo da Ín-
dia.
SPIRACULO, s. VI. Vid. Espiraculo.
f SPIRITO, ií. m. Vid. Espirito.
De grnue dor o rpirífo do coiitino
Trás atfliííido, inquieto, c som ropouso,
Iluma mortal anguátiu ao peito enfermo
Trás dernib;ulo, triste, enfraquecido.
Das entranlias ardidas mil sospiros
Claro m03trào intrínseca agonia,
Cuberto o ooraij.ào do negra nuue,
De modos, de temores, o roceyoa.
COKTR B£AL, N\UPRAG10 DE SEPUL^TIBA, CiUlt. 2.
— «A primeira he. que assi como elle
foy concebido \nAo spirito sancto, assi nos
procuremos a regeneraram e eoucebimen-
to spiritual, o que de carnaes sejamos
feitos spirituaes e íiliio» de DEO.S, sem
o qual concebimeuto neidiuma cousa va-
lemos, e millior nos fora nunca ser nas-
cidos neste mundo, u Frei Ijartliolomeu
dos Martyros, Catecismo da doutrina
christã. — «E respondendo o pouo, Essit
mesmo Senhor seja com teu spirito. J'^
eutam torna a dizer o sacerdote, Sursum
corda, que quer dizer, Aleuantay os co-
rações, e responde o pouo, Ilubenm i ad
Dominum, ia temos aleuautados os cora-
ções a Doos, quasi dizendo, Assi o faze-
mos. E respondido isto, diz o sacerdote,
(Iraeias agamos domino Deo nostro.» Ibi-
dem. — «O espirito do vinho quando
sahe do EoUi/ilo acende-se da mesma fir-
ma á luz de huma vella, o em quanto
dura o spirito dura a chamma, que arde
somente no vapor.» <Javalleiro d'01ivei-
ra. Cartas, liv. 1, n.° 15. — oSem mor-
rer estiio as suas almas separadas dos
seus corpos. Estes são compostos de ma-
téria, porem vivem como se somente de
spirito fossem formados.» Ibidem, n.° 28.
— «He necessário diser-vos que este Ca-
valheiro sendo sobrinho do Senhor Con-
de do Tarouca he hum dos spiritos, e
ao mesmo tempo hum dos corpos mais
delicados que se conhecem, e que a sua
estatura sendo das mais bem formadas
he medíocre." Ibidem, n." õO. — «Acha-
sc em hunia agitação continuada tanto
de corpo como de spirito, e jamais se
observa tranquilla em hum lugar, se con-
sidera que em outi'o se aciía huma As-
semblea mais numerosa.» Ibidem, liv. 3,
n." 44.
1 SPIRITU, s. nu Vid. Espirito. —
«Privança alevauta os spiritus e atina
as graças, e muda condições, dá animo,
o esforça o coração. « D. Joanna da Ga-
ma, Ditos da freira, pag. Õ3 (ediçào de
1872). — «Por isso irmãos procuray com
toda diligencia de orar em spiritu, puis
o senhor diz, que os verdadeiros orado-
res, o adotadores, oraram, e adoraram o
Padre Celestial em siiiritu, e em verda-
de. Pellíkqual o Senhor diz. Filho daaie
teu coraçam.B Frei Barthulomcu dus Mai'-
tvres. Catecismo da doutrina christã.
■ f SPIRITUAL, adj. 2 yen. ViJ. Espi-
ritual. — «A terceyra, que amemos o
próximo spiritual, c sanctamente, assi
cumo nos auemos de amar a nos, e nam
carnalmente, s. que amemos o próximo
por amor de Deos, cuja feytura hc, de-
sejandolhe a graça de Deos, e os outros
bens dalma, e de tal maneyra o amemos
que lhe nam façamos a vontade, nem
consintamos com elle cm algum peccado,
porque agrauai-, ou otfender a l>eos por
amor do pi'oximo, nem he ciiaridade, mas
destruvçani ilolla.» Fr. líartaulonicu dos
Martvros. Catecismo da doutrina christã.
SPLANGHNOGRAPHIA, .v. /. Do grego
sphi<icJinou. e tjraidiò). Descripçào anató-
mica das entranhas.
SPLANCHNOLOGIA, «. /. Parte da ana-
tomia "|ui- tr.ita 'i.ii i-iiliiiiilias.
SPLANGHNOTOMIA, *./. Dissecção ana-
tómica lios iiitc-tiiiu*.
SPLEEN, *. m. iDo grego npUn). Ter-
mo iuglez que designa tristeza, hypocou-
dria.
SPLENALGIA, «. /. <;Do grego «^tón, c
ahjiix:. iJór do baço. '
SPLENARGIA, «. /'. Vid. Splenalgia.
SPLENETICO, A, 'adj. Termo .le medi-
cina. Diz-se dos que est.no accommettíd/M
das opilaçõe-) e obstrucções no baço.
— Diz-sc também dos medicamentos
próprios para as opilaçòes e obstrucçSes
do b.i.,u.
SPLENICO, A, adj. (^ue diz reajieito ao
baçu.
SPLENITE, s. /. Termo de medicina.
Intianniiaçào do baço.
SPLENOLOGIA, s. f. Tratado sobre a
spleniti-.
SPONDIL, SPONDILO, ou SPONDYLO.
Vid. Espoudyl.
SPONDYLIDA, s. m. Termo de historia
natural. Insecto de cór pret;i, que habita
na madeira.
SPONTANEO, A, adj. Vúl. Espontâneo.
SPONTAR, f. a. Termo do barbeiru.
Spontar as melenas ; cortar as pontas
d'eMas.
SPORADE, adj. 2 gen. íDo grego ipo-
ras). Termo de astronomia. ViJ. Spar-
sile.
SPORADICO, A, ctAj. Termo de medi-
cina. Disiierso.
— Moléstias sporadicas ; moléstias que
atacam um só inuividuo, ou alguns isola-
damente; que apparecem em qualquer
tempo e logar, e independentes de in-
fluencia cpidemica.
SPREMUNTAR, v. a. Termo antiquado.
Experimentar, averiguar, inquirir, requi-
sitar.
7 SPRITO, s. m. Vid. Espirito.
No forte cora(,-ão ciusaua fpritos,
A retaguarda leua com duzentos
Esforijados varões, dos quais setenta
Tem nomo Portuges, mas os que tício
(Ainda que animosos) saò catiuos.
COETK BSAL, XACFBAOIO TtT. 3EPl"L\"EDA, Cant. 8.
SPUMA, s. /. Vid. Escuma.
SPURCICIA, í. /. Vid. Espurcicia.
SPURCU, A, adj. (Do latim s^urciwi.
Immundo, sujo.
— Fiffuradamente : Torpe.
SQUENANTO, ou ESQUENANTO, «. »ii.
Termo de botânica, llc.va medicinal da
Índia e Arábia, parecida com a grama.
SQDINA, s. /. Vid. Esquina.
— Raiz medicinal.
SSA. adj. ant. Sua.
STA. Vid. Esta.
STADA. Termo antiquado. Vid. Es-
tada.
STADO. Vid. Estado.
STER
STRA
STYM
605
- STALA, s. /. Termo antiquado. Pre-
sépio, ou presepe.
STALAGTITE, s. f. (Do grego stala^
ktos). Concreção ritrea ou pedregosa for-
mada pelas aguas que filtram por fendas
nas grutas, e nos subterrâneos.
STALLO, s. m. (Do latim stallus). Ter-
mo antiquado. U mesmo que stada.
STANÇA, s. /. Vid. Estanca.
— Termo antiquado. Estancia.
STAPHIL, s. m. Termo pouco em uso.
Açoute, ou azorrague de correias.
STAPHILINO, s. m. Coleoptero de di-
versas espécies.
STAPHISAC-RIA, s. f. Vid. Estaphisa-
gria.
f ST AR, V. n. Vid. Estar.
«Quem bem tem e mal escolhe,
Por mal que lhe venha nào se anoje.»
Renego da descrição,
Comiuendo ú demo o aviso,
Que sempre cuidei que nisso
Stava a boa condição.
GIL VICEÍTTE, FABÇAS.
STASE, s. f. (Do grego staô). Termo
de medicina. Immobilidade do sangue
noa vasos capillares,
STATARIO, A, adj. — Comedia stata-
ria; comedia em que ha pouca acçào,
poucos aftectos ; diz-se em opposiçào á
motor ia.
STATICA. Vid. Estática.
STALHOUDER, s. m. Nome do jiriíuei-
ro magistrado da republica hoUandeza :
era hereditário.
STAVY. Termo antiquado, por estável,
firme, seguro.
STEARINA, s. /. (Do grego stear). Ter-
mo de chimica. Substancia extrahida do
sebo, gordura do carneiro ou do boi, e
que junta com a elaína forma o mesmo
sebo : também se encontra em a rnyrica
cerifera, e no óleo coucretado de mus-
cada.
STE ATITE, s. f. Espécie de gTeda em
folhas, que dLssolvida em agua faz es-
cuma á similhança do sabão.
STEDE. Vid. Esteve.
STEGANOGRAPHIA, s. f. Vid. Estega-
nographia.
STELLARIA, s. /. Certa herva.
STELLIONATO, s. m. Vid. Estellio-
nato.
STENOGRAPHIA, s. /. Vid. Estenogra-
phia.
ESTERCORARIA, ou ESTERCORARIA,
adj. f. — Cadeira estercoraria ; cadeira
em que o summo pontilice se senta no dia
da sua sagraçào.
STEREOCEROS, s. m. plur. Termo de
bistona natural. Familia de insectos. Vid.
Histerelhos.
STEREOGRAPHIA, s. /. (Do grego ste-
reos, li ijriiphòi. Representação dos corpos
sólidos.
STEREOGRAPHICO, A, adj. Concer-
nente á stereogi-aphia.
— Edição stereographica ; edição de
letras abertas, e nào em typos ou formas
movediças.
STEREOLOGIA, s. /. (Do grego stereos,
e lotjosi. Estudo dos sólidos orgânicos.
STEKEOMETRIA, s. f. (Do grego ste-
reos, e rnetron). A sciencia que se occu-
pa dos sólidos geométricos.
STEREOSCOPO, ou ESTEREOSCOPO,
s. TO. {\)o gTego stereos, e o skopeô). Ins-
trumento de í\')rma de óculo, que tem na
extremidade uma fenda, em que se colio-
cam objectos de pintura, etc, para aug-
mentarem em perspectiva.
STEREOTOMIA, s.f. (Do grego síereos,
e teinnO). Sciencia que ensina a secção
dos corpos sólidos, como nos portis da
architectura dos muros, abobadas, pe-
dras, etc.
STERNON, s. m. (Do grego sternoii).
Termo de anatomia. Parte óssea, que vem
do alto do peito ao extremo, e rim d.'elie,
na qual as costellas e as claviculas estào
articuladas.
STERNUDAÇÃO, s. f. Vid. Esternuda-
ção.
STERNUTATORIO, s. m. Vid. Esternu-
tatorio.
STETHOSCOPO, s. m. (Do grego ste-
thôs, o shopeô). Termo de medicina. Ins-
trumento em forma de tubo que trans-
mitte ao ouvido do medico todo o estron-
do que se faz ouvir no peito do doente.
STEVADAME, s. m. Termo antiquado.
Estiva.
STEVADAMENTE, adv. Termo antiqua-
do. Estivai lamente, por medida certa.
STHENIA, s. f. (Do grego sthenos).
Termo de medicina. Excesso de força,
exaltação da acçào orgânica ; diz-se em
opposiçào á asthenia.
STHENICO, A, adj. O contrario de as-
thenico. Vid. Stheuia, e Asthenia.
STIGMATISADO, part. pass. de Stigma-
tisar. Vid. Estigmatisado.
STIGMATISAR, v. a. Vid. Estigmati-
sar.
STIGMATOGRAPHIA, ou ESTIGMATO-
GRAPHIA, s. f. iDo grego stigma, e gra-
phôi. Arte de escrever com pontos.
STO. Termo antiquado. Isto.
STOICO, A, adj. Vid. Estóico.
Ah!... Catão. — Esperas d'elle
Que attenda ao bem commum, que deixe os sonlios
De sua sfoica. van philosophia,
Que sacrilique o orgulho de um systema?...
GAKBETT, CAtIo, aCt. 1, SC. 3.
STOLIDO, A, adj. Vid. Estólido.
STRABISMO, s. m. (Do grego strabis-
mos). Termo de cirurgia. Má posição do
olho dentro da sua orbita.
STRANGEOMANIA, s. /. Admiração
exagerada das cousas das nações estran-
geiras.
STRANGURIA, s. f. (Do grego straggu-
riá). Desejo frequente e involuntário de
urinar, mas acompanhado, de difBculdade,
de maneira que com dores se urina ás
gottas.
STRANHAR, v. a. Vid. Estranhar.
• — Termo antiquado. Alhear a estra-
nhos, fora da avoenga, ou familia, algu-
ma herdade.
STREPIDAR, V. a. Vid. Estrepitar.
STRIA. Vid. Estria.
STRIGTO, A, adj. Vid. Estricto.
STRIGE, s. f. (Do latim síria;). Termo
de zoologia. Avo iioctui'na, e maléfica.
-j- STRONDO, s. m. Vid. Estrondo. —
Strondo de trombetas. — «O lugar onde
se todos ajuntarão, foi a par do ribeiro
de Sever, que demarca estes dous regnos,
ficando os Castelhanos de huma banda
dellcj e os Portugueses da outra, sem se
mouerem. Stando assi todos, sem auer
outra mais fala, que muito strondo de
trombetas, atabales, e charamellas, de
huma, e da outra parte o Conde de villa
Houa passou o ribeiro, e foi beijar a mão
a Rainha, que estaua entre o Duque
Dalua.» Damião de Góes, Chronica de
D. Manoel, jiart. 4, cap. 34.
STROPHE, s. /. Vid. Estrophe.
STRUCTURA, *. /. Viil. Estructura.
STUDO, s. ;■«. Vid. Estudo.
STULTILOQUIO, s. /,/. Vid. Estultilo-
quio.
STULTO, A, adj. Vid. Estulto.
STYGE. Vid. Estige.
STYGIO, A, adj. Vid. Estigio.
A fúria, que de longe ja a conliece,
Ch(gaudo-se para ella, os ares corta,
E diz : Manda-te o Rei a que obedeço
Quanto cerra a iirofunda Htiiyia porta
Que a este esprito que elle ama e favorece
Ajudes, nhum negocio que Ihimporta.
Xao di.isc mais, e atraz o passo volta,
Logo o esprito desta arte a lingoa solta.
F. DE AXnaADE, PKIMEIUO CEBCO DE DIU, CSut. 9
est. lOtJ.
STYGMA, s. f. Termo de historia natu-
ral. Abertura pela qual entra o ar no
corpo dos insectos.
STYGMATIZAR, i: a. Vid. Estigmati-
zar.
STYL. Vid. Hastim, e Estim.
STYLITA, adj. 2 gen. (Do grego stylos).
Que vive em pé sobre uma columna. —
tí. Simão stylita.
STYLLO, s. m. Vid. Estylo.
7 STYLO, s. m. Vid. Estylo.
De eternidade e fama : louva o stylo
Xobrc c terso, de pompa ou singeleza,
Qual o pede a matéria ; o sacro fogo
Do pátrio amor, de glória, de heroísmo.
Que, dum por um, nos versos lhe scintiUa.
GARRETT, camões, caut. 9, cap. 1.
STYLOBATO, s. m. (Do grego styloba-
fes). Termo de architectura. Pedestal de
uma columna.
STYMPHALIDES. Vid. o Diccionario de
mythologia.
SUAV
SUBC
SUBD
STYPTICIDADE, s. f. Vid. Estypticida-
de.
STYPTICO, oti ESTYPTICO, A, adj.
(Do Jatiiii Hlj/plicus). Aii.striii,r,'i!iite.
— Siilj.itaiiLiv.inioiito: O styptico dus
vitriuli)s. Viil. Estitico.
STYS. Vi'l. Eslim, o Hastim.
SUA. l'\iriua v:iri;ivel leiuiuiiia de Seu.
Vid. Seu.
SUADIR, V. a. Vid. Persuadir.
SUADO, purt. pass. do Suar. Banhado
em suor.
— Fin^uradamentc: Adquirido com tra-
balho.
SUADOR, A, ailj. c s. Que súa.
SUADOURO, s. Jit. Rcniodio sudorífico.
— Tomar um suadouro.
— Suadouro das scllas; dous coxius de
lã, ([lio asariitam sobre o corpo do cavai-
lo j)ara não o molestar, pegados na ar-
marão da sella, ))or baixo d'ella.
SUÃO. Vid. Soão.
SUAR, V. n. (Do latim siidare). Lan-
çar suor pelos poros. — Suar dos pés.
— Sair em gottas.
— Figuradamente: Matar-se com tra-
balho.
-—Suarem as estatuas dos deuses; en-
cherem-se do humidailc como suor.
— V. a. Soltar pi.-loc3 poros algum li-
quido. — Chrldi) suou sanijue no horto.
— Suar camisas em louvar outrem;
cançar n'iãso.
— Adquirir com grande trabalho; pa-
gar com elle alguma cousa.
— Humedecer a roupa com suor.
— Expellir por suor.
SDARDA, s. f. Nódoa de lã suja de
suor, ou azeitada de mais antes de car-
dar-se.
— Iinmumlicia dos pannos, que largam
no pisão, pi-ocedida do azeite, com que
são fabricados,
SUARENTO, A, adj. Húmido com
suor.
SUASÃO, s. /. (Do latim suasio). Vid.
Persuasão, e luduzimento.
SUASIVO, A, adj. Vid. Suasório.
SUASÓRIO, A, adj. Que serve de per-
suailir. — Kazòcs suasórias.
SUAVE, adj. 2 jeií. (Do latim siiavis).
Brando, aprazivd aos sentidos.
— Figuradamente: Agradável, leve,
brando.
SUAVEMENTE, adv. (De suave, o o
suflixo «mente»). De um modo suave,
com suavidade.
- — • Cmii melodia.
SUAVIDADE, s. /. (Do latim suavitas).
O caracter do que é suave, c aprazível
aos sentidos.
• — Emproga-se também no sentido fi-
gurailo.
suavíssimo, a, adj. superl. do Sua-
ve. Mui suave. — Vocábulos suavíssi-
mos.
suavizar, ou SUAVISAR, v. a. Tor-
nar suave.
— ■ Figuradamente: Abrandar, miti-
gar, iiiodciar. — Suavisar " castujo.
SUAZORIO. Vid. Suasório.
1.^ SUB. Termo antiquado. O mc-ímo
que sob.
— U.'<a-se ra composi^^iio.
2.) SUB. Prefixo que entra na composi-
i;ã<) <!(! nniito.i termo.s de botânica e de
chimica; 6 partícula diminutiva, e eigni-
lica um lauto, quasi, um pouco.
-}- SUBA. Fiirma do verbo subir na ter-
ceira ou primeira pessoa do singular do
presente do modo conjuuctivo. Vid. Subir.
Eterno Iici, beuigno o jjicdoBO,
(^uc com a tusi remiste a uosíia morte,
Porque o ea]irito anto.^ cego c tenebroso
Receba luz, c sutia a mclíior itortc,
Recebe uo teu seio glorioso
Este teu íiel servo, ousado c forte,
Cy)ue dofrndoudo o teu nome infinito
Kendoo o valuroso, invicto esprito.
F. dV.NDHADF., flIIMKIBO CKBCO DE DIU, Caot. 2,
est. 55.
SUBACIDO, adj. Acido om menor grau.
SUBALAR, adj. e «. Vid. Subalares.
SUBALARES, s. /. plur. (Do latim sub-
alarisK Poniias sob as azas.
— Cousa que está debaixo do abrigo,
ou protecção d'outra.
SUBALTERNAÇÃO, s. f. Dependência
que a cousa subalternada tem da supe-
rior.
SUBALTERNADO, port. pass. de SuL-
alteniar-se. Vi 1. Subalterno.
SUBALTERNAMENTE, adv. Em qua-
lidade de subalterno, subordinado a ou-
trem .
SUBALTERNAR, l-, a. Alternar, reve-
zar.
— Subalternar-se, v. rejl. Revezar-se,
alternar-.«o.
SUBALTERNO, A, adj. (Do latim sub,
o alter). Do interior graduação. — «Del-
ia foi por Almirante Lobo Furtado de
Mendonça, Conde, do Rio, e por Cabos
subalternos Manoel Carlos de Távora
Conde de S. Vicente, e Sargento Mór de
Batalhas, e Pedro de Sousa de Castello
Branco, Coronel do Regimento da Ar-
mada Real.» Frei Bernai-do de Brito,
Elogios dos reis de Portugal, continua-
dos por D. Jcsé Barbosa.
SUBARBUSTO, s. m. Termo de botâni-
ca. i*huita er.tre o arbusto o a hcrva.
SUBAXILLAR, adj. 2 geií. Termo do
botânica. Que sáe por baixo da axilla.
SUBBASSI, í. m. Offieial de justiça en-
tre os tuixos, como entro nós meiri-
nho.
SUBCARBONATO, s. m. Termo de chi-
mica. Ndino genérico dos sãos, em que
o acido carbónico se encontra com exces-
so de baf>e.
SUBCEDER, V. a. e n. Vid. Succeder.
— a No anno do Senhor de mil. e deza-
noue faloceo Geofroi Duque de Lorraina,
e por nam deixar tilbos subcedeo uo du-
cado Hou irraito (JozoUon Condo de Bu-
Ihom, a esto fíozidlon !;ubccd60 Oodefroi
o brioso, ou barbuio t-r-.ii lilio.» Damião
de ( locM, Chronica de D. Manoel, part.
4, cap. 72.
SUBCESSIVO, A, adj. (Do latim sub-
ceísicuni. Que é de sobejo ou de rcwto.
— Horas subcessivas; hora» de de»-
canço. \'i(l. Subcessivo.
SUBCINERICIO, A, (uJj. (Do latim «uó-
ciiieriliusi. Cozido de Buborralbo. Vid.
Soborralho.
— Cõr subcinericia ; cór cinzenta.
SUBCLÁVIO, A, adj. (Do latim *u6cZ<*-
vius). Teimo de anatomia. Veiat subclá-
vias; qui; i^-tào debaixo das clavículas.
SUBCUTÂNEO, A, adj. (Do latixa tntb-
cutanvus . Termo de medicina. Que está
por baixo da cuti.s ou da pelle.
SUBDELEGAÇÃO, «. /. A aoçAo <le sub-
debígar. ^
SUBDELEGADO, pari. pass. de Subde-
legar.
— Juiz subdelegado; juiz a quem se
subdelegou a jurisdicção.
— Substantivamente : Uvi subdelega-
do. Vid. Delegado.
SUBDELEGANTE, part. act. de Subde-
legar. C^uc suli.lelega.
SUBDELEGAR, v. a. (Do latim »nW&-
leyave). Substituir o delegado por um
outro que o sn]']ira.
SUBDELEGAVEL, adj. 2 ge». Que é
ó possível snbdelci:ar.
SUBDIACONATO, s. m. O estado do
que tem ordens de subdiacono.
SUBDIACONO, í. VI. Clérigo da ordem
da epistola, que ó a primeira das maio-
res.
SÚBDITO, A, adj. (Do latim aubditus).
Sujeito, submottido. — o A Só de Astor-
ga tenha a própria Cidade de Astorga, e
Leão, que eatà .sobre o Rio Urbico, Be-
riso, Pedj-a esperar.te, Antirebrc, Calde-
ias, Marellos de cima, e Marellos debai-
xo, Senure, Frogelons, e. Pericoa: onze
súbditas a huma só Igreja.» Monarchia
Lusitana, liv. 6, cap. 14.
Ó que era, o que existia, quando os Seres
N:\o tinliào acodido á voz Suprema
Do Eterno, que os chamou ! Bradou-lbes, logo
Ante seus olhos tubditof se mostrio,
Nada sendo até alli : mas quo existia
Onde ora alpestre moutt> a espádua eleva ?
J. X. DE MACEDO, A XATCBKZ.I, C-aUt. 1.
— íS. Pessoa sujeita a superior,^ quer
seja pae, quer rei, quer mestre, etc. —
«Satiafor não ticára meu súbdito, mas
como companheiro igual será tractado de
mim, assim polo merecimento de sua poa-
soa, como polo mandamento vosso» que
de necessidade bei do cumprir, como se
fosse divino preceito, p Francisco de Mo-
raes, Palmeirim d'Iuglaterra, cap. 120.
— tDom Eduarte, etc. Fazemos saber
que a nos be dito, que uú estremo dessa
SUBE
SUBI
SUBI
607
Comarca a nosaa moeda he posta em mui
pequena valia per respeito da moeda de
Castella, ca geeralmente he costume de
dar por três brancas de Castella dous
reaes brancos, do que os nossos súbditos,
e natiiraes recebem gram dapuo e per-
da.» Ord. Affons., liv, 4, tit. 70, § 1.—
«Andando neste trabalho ate a entrada
do Inuerno, e logo no anno seguinte tor-
nou a fazer o mesmo, e esercitaua pes-
soalmente todolos officios de Prelado que
podia, baptizando algiunas crianças, e
na visitaçam examinaua, e inqueria por
si as vidas de seus súbditos, principal-
mente Ecclesiasticos.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 3, cap. 27.
— • it Quando em conselho,
Franco ouvireis o meu ; mas fora delle,
Eeal senhor, respeito e obediência
Sào os deveres únicos dum súbdito. »
— «O homem que sois, Menezes, bem conheço :
Amei-vo3 desde a infância, e inda vos amo.
Sois meu amigo, sei-o, c tam sincero,
Tam leal o nào tenho. »
SÀREETT, CAMÕES, cant. 6, cap. 7.
SUBDIVIDIR, V. a. Fazer divisão de
divisão. — Subdividir um género em espé-
cies.
- — Subdividir-se, v. refl. Tornar-se em
snbdivisòeí o que já era dividido. Vid.
Dividir-se.
SUBDIVISÃO, s.f. Divisão de um mem-
bro de outra divisão.
SUBDUPLO, A, adj. Que é metade de
outro.
SUBEMPHITEOSIS, s. /. Termo de ju-
risprudência. Contracto que faz o em-
phyteuta ou foreiro de um prazo, de o
emprazar a outro com authoriJade e li-
cença do direito senhorio, a que os pra-
gmáticos dào o nomo de prazo de prazo,
Vid. o vocábulo Emphyteosis.
SUBEMPHITEOTA, ou SUBEMPHYTEU-
TA, s. 2 gen. Pessoa que toma de em-
prazamento um prazo da mão do foreiro
ou emphvteuta d'el!e.
SUBEMPHITEUTICAR, v. a. Termo de
jurisprudência. Emprazar segunda vez,
fazendo prazo a prazo, que se faz dan-
do o foreiro de ura prazo, de um em-
prazamento a outro esse mesmo prazo
■por uma certa pensão, precedendo con-
sentimento do senhorio.
SUBENTENDER, v. a. Supprir com o
entendimento o que não vae expresso.
-;- SUBERATO, s. m. Termo de chimi-
ca. Nome genérico dos saes formados
pela combinação do acido suberico com
as differentes bases.
SUBERBA, s.f. Vid. Soberba.
Do longo navegar alfim ao termo
Desojado chegámos : da sube.rba
Cidade d'Albuquevque os muros entro.
GARRETT, CAMÕES, cant. 4, cap . 0.
t SUBERBO, A, adj. Vid. Soberbo.
Do castellão suberbo. Xas ameias
Se me antolhavam hórridas cabeças
Hirta a grenha, co'as carnes laceradas
Do corvo — certo amigo dos tyraunos.
Que i-egalado o trazem. Tristes victimas !
GARRETT, camões, caut. 7, cap. 3.
f SUBERICO, A, adj. Termo de chimi-
ca. Acido suberico ; acido que se obtém
decompondo a cortiça pelo acido azotico.
t SUBERINA, s. f. Termo de chimica.
Tecido da cortiça purificado considerado
como um principio immediato, tendo por
caracter fornecer o acido suberico pelo
acido azotico.
-{- SUBERONA, s. f. Termo de chimi-
ca. Producto da distillação do suberato
de cal.
f SUBEROSO, A, adj. Termo de botâ-
nica. Que tem a consistência da cortiça.
— As rellulas suberosas.
— Parte suberosa; a parte anterior
da casca, que toma uma cór mais escu-
ra, cessa de communicar á actividade vi-
tal, e muitas vezes secca completamente.
SUBFEUDATARIO, s. m. Feudatario de
outrem.
SUBFEUDO, s. m. Termo em uso. Terra
que o vassallo feudatario dava a alguém
com a natureza do feudo, e obrigações, e
encargos feuilae.s.
f SUBFUSIFORME, adj. 2 gen. Que tem
quasi a firma de um fuso.
SUBFRAGANHO, ou SUBFREGANHO.
Termo antiquado. Vid. Suffraganeo.
f SUBGEITO. Vid. Subjeito, e Sujeito.
— «Que o xeque Ismael defendesse a seus
subgeitos, que nam andassem com o ça-
baim dalção nem o seruissem na guerra
que contra ei Rei tinha. Isto, e tudo o
demais que ho cmbaixailor dixe cscreuia
bum secretairo do xeque Ismael, dos quaes
apontamentos o gouernador lhe trouxe
dahi a três dias a repusta seguinte.» Da-
mião de Góes, Chroaica de D. Manoel,
part. 4, cap. 10.
j- SUBGLOBULOSO, A, adj. Que tem
uma fiu-nia qu;i>i globulosa.
SUBHASTAÇÃO, s. /. (Do latim suhhas-
tatio). Termo do jurisprudência. Arrema-
tação, venda que se faz dos bens do de-
vedor, na praça publica, por auctoridade
de justiça.
f SUBHASTAR, v. a. Termo de juris-
prudência. Vender por subhastação.
SUBIDA, s. /. A acção de subir. —
«Então Ihõ contou miudamente o que pas-
sara ; e quando veio a aquelles passos do
lago que cercava a ilha, e a maneii'a do
batel com que se navegava, e depois a
subida do cesto, a imperatriz e suas da-
mas haviam aquelle perigo por tamanho,
que perdiam a eôr.» Francisco de Mo-
raes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 104.
— «N"a qual pertia de querer trepar, e
subir. Pêro Mascarenhas se mostrou mais
desejoso, que outro algum, commettendo
a subida per os piques da gente de Or-
denança, o qual trabalho lhe não fun-
dio a seu propósito.» Barros, Década 2,
liv. 7, cap. 4. — «Assentado isto deu
D. Álvaro de Castro a vela pêra Xael,
aonde chegou na entrada de Abril, e
entrou dentro com todos os navios, sem
da fortaleza lhe atirarem bombardada al-
guma, e logo desembarcou em terra, com
toda a gente, e mandou ordenar algumas
escadas dos destures dos navios, pêra co-
meterem a subida.» Idem, Década 6, liv.
G, cap. 6.
Mas uem por isso as outras detiveríXo
O curso, ou perde a gente a confiança,
Antes á praia todos se vierào
Com mór pressa e desejo do vingança;
Saltando logo cm terra os que couberão
Xo desembarcadouro, sem tardança,
Nenhum subir acima entào duvida,
Que era toda a parte vê fácil subida.
F. d'aNDRADI-., PRIMEIRO CERCO DE DIU, Caut. 18,
est. 18.
— A ladeira por onde se sobe, a en-
costa.
— Figuradamente: A subida da alma
a Deus; a sua elevação.
— Ad.\gio e provérbio :
— De grande subida, grande cahida.
SUBIDISSIMO, A, adj. superl. de Su-
bido, ilui subido.
SUBIDO, j;iaí-í. pass. de Subir. Alto,
elevado.
Vento é cuidar ninguém
que em si vive t.ào subido
que uão pode ser caído
e que d'altivo lhe vem.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pag. 61.
De estatura commnm se me antolhava,
Mas logo a vi subida atr co'a frente
Ir topetar ua abobada do Templo.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Caut. 2.
De mais subido premio outra esperança
Me alentava. . . Ai de mim ! um longo sonho
Minha existência ha sido. — E pois que nada,
Nada ja'gora me ficou na terra...
GARRETT, CAMÕES, caut. 4, cap. 17.
As m'rapha3_ invoquei do Tejo ameno.
Que em mim orçassem novo ingenho ardente
Que a tam subida imprésa se elevasse.
— Subido a rei; elevado.
— Estijlo subido ; sublime, levantado.
— Havendo subido uvi piouco do monte.
— «Portanto achareis poucos que che-
guem ao cume da contemplação, porque
auendo subido hum pouco do monte pe-
dragoso, e asperoso, sintindo a difficulda-
de, e moléstia delle descorçoão, nem pro-
curão ir auante, donde rasulta, que mui-
tas vezes tornaõ atras, e caem embaixo :
e se intentão outra vez a subida, come-
cem de nouo, sendo necessário neste ca-
minho espiritual não parar, se não pas-
sar, sempre adiante, e melhorarse.» Fr.
608
SUBI
SUBI
SUBI
Bartholomeu dos Martyre», Compendio de
espiritual doutrina, cap. l'>.
— Kiii/rii/i') subido; /ini;ii subido; vir-
tude subida.
— Excollontc, precioso, eminente.
Sancta Dona A'iolniito
Do f Jiiiii, de tinindo nstima,
Aíiil niihiila. limito acima
D'o»timai-, iionhum palauto ;
l'(((;o-V09 ou,
K a Dona Ittabp.l (VAbriMi,
Qiio liajnis di^llo |)ic(l:idc.
Co siso quo Deoit voí dou,
Qiio não moura do sniideu
Em tal idade.
OII, VICENTE, FARÇA8.
Õ portentoso Esfcicio, c to niorcccm
Do mais subião ^■atc• o tyinbre, a filoria :
Jamais te volvo as paginas divinas,
Quo cm tnim não sinta dorvamar-so o fogo
De impetuoso, audaz ontlnisiasmo,
Quo me faz coidiccor, palpar absorto,
Oude •couKfCO luimaua linguagem
A ser por oxccUoncia a voz das Musas !
j. A. nE M\cF.no, MEDITAÇÃO, caut. 1.
SUBIMENTO, s. m. Orcscimento, aug-
mento. acccsso. ^'icl. Sobimento.
SUBINTELLECTO. Via. Sobentendido.
SUBINTENDER. Vi-l. Sobentender.
SDBIR, i. (t. (Uo latim sulnve). Ir de
baixo para cima. — Subir os degraus. —
«Quando Palmeirim viu que pêra subir
aquella altura não havia outro caminho,
guiado ainda das lembranças de quem
servia, cuidou por algumas vezes se dei-
xaria as armas, crendo que l!ie podiam
fazer pejo, c desarmando-as pêra Ucar
mais leve, se quiz só co'a espada metter
no cesto.» Francisco de Moraes, Palmei-
rim d'Inglaterra, cap. 99. — «Os da com-
panhia t!c I). Álvaro de^astro, que pe-
lejavaõ encurralados ao muro, Hzcraõ to-
dos cousas dignas de muito maior escri-
tura, porque alli carregou Rumecan com
o seu esquadrai"), apertando tanto com el-
les, quo encravarão nas paredes Ruv
Freire, Francisco (Uiilherme, e outros, os
mais ajudando-se huns aos outros o me-
lhor que pu<lciaò subirão o muro.» Dio-
go de Couto, Década ti, liv. 3, cap. 6.
Subindo a escada,
porque é muito ci^rto n'clla
ou dcseol-a cntranibolhada,
ou nicdil-a atravessada,
ompei;o nisto ao pé d'eUa.
ANTÓNIO PBESTKS, AnTOS, pag. il3.
— Figuradamente: Subir a corda;
exagerar, dizer mais.
— Subir a ■phantasia; levantar a sua
prcsum])i;ão c persamentos.
— Subir aljinem a honras, e dignida-
des; elcval-o a cilas.
— Levar, lazer chegar alguém, ou al-
guma cousa ao alto.
— Levantar.
— Elevar.
— Subir II jihautagia; aspirar a mais.
— Fi;íaradiniicutc: Subir de ijontu;
elevar, levantar.
— V, n. Passar para lugar maiu alto
d'a(|uellc em que se estava. — «E assim
praticando com ullas ontraram no pateo
do castello, quo estava lageado de umas
jicdras negras: e dahi subiram a unia
sala grande e mal oi)rada, feita ao mo lo
antigo, onde o veio reC'd)(T uma donzella
ncompanliada d'outras donas o don/dlas. k
Francisco de Moraes, Palmeirim dlngla-
terra, cap. 11 ;5.
Sc liV no assento Etherco, onde subiste,
Memoria desta vida se consente,
Não to esi|iiei;as de iiquello amor ardente,
yuc ja nos olhos ineus tão puro viste.
CAM., SONETOS, n." 19.
Alma gentil, qnc á firme otcrnidadu
Subiste clara c Talerosamonto,
Cá durará de ti perpetuamente
A fama, a gloria, o nome c a saudade.
IBIDEM, n." 229.
— «Alem disto como as cousas exterio-
res saõ mudaueis, c perecedeiras, foi en-
caminhado o homem a passar das cousas
exteriores á consideração das interiores,
nem parar ahi, senaõ passar, e subir das
interiores as celestiaes : por tanto bai da
miserauel alma, que deleitandose nos
bens temporaos exteriores parou, sem
tratar de subir mais alto.» Fr. Bartholo-
meu dos Martyres, Compendio de espiri-
tual doutrina, cap. 14.
Entaõ de Senhorias toda a Casa,
Qual dura picante enxame de mosquitos,
Azoinada se vio : umas da bocca
Em borbotões lho sahcin, outras lhe outraõ
Pelas grandes orelhas lisongeiras,
E e>ihindo-\\\e ao cérebro, a cabeça
De illustrissimos flatos lhe enchem toda.
ASTOKIO Dl.NUS DA CRCZ, HYSSOPE, Caut. 7.
Que da escura prizão doo hu ao Mundo,
Talvez não longe da verdade as azas
Desfira eu Vate extático, que xnbn
Inda além dos confins, onde não chegão,
O' sábio Hallcy, teus cálculos, teus vidros.
J. A. r>« MACEDO, MKDITAÇÃO, Caut. 2.
— Subir rffl est>/lo; escrever ou fallar
em estvlo levantado.
— Figuradamente: Subir á jxrfeiciio.
— «Estes, que dizem isto, e se disculpào
assim, se hão de reputíir por couanles de
pouco animo, não so pcrsuaclindo os taes,
que he grande sinal de imperfeição, não
procurar a pessoa ser perfeita, e não per-
tender com t<ido o cuidado, e diligencia
subir :l perfeição.» Frei Bartholomeu dos
Martyres, Compendio de espiritual dou-
trina, cap. i;'>.
— Subir acima. — «E dado que aos
debaixo CMneçaraõ lenar diante si a boto
de lança, o os espingardciros e besteiros
despejauai) as janelae dos outros de qae
recebia^ damno: toda via (;ra taiito o que
lhe tuziaõ dos eirados que coriueo aos
nusso-i entrarem )>claK casas e subirem
acima onde o8 Mouros estauaò.i Barros,
Década 1, liv. ><, cap. ;>.
— Subir ao ar em um glubo aerottatí-
co; olevar-se.
— Subir de )/re<;o; tomar-so mais caro.
— Subir na virtude; crescer n'clla.
— • Subir a alguma dignidade; ser elft-
vado, ser promovido a ella.
— Subir alguma cousa ao pensamento^
vir, occorrcr.
— Subir a uma gramU santidade ; ele-
var-se a ella.
— Subir a consulta; é ir ás mSos dos
ministros, que dcs|iacliam com el-rei.
— Subir sobre ; elevar-se mais.
— O vinho sobe á cal^eça; pcrtnrba-a.
— Subir d': pensamento ; «-nsoberbeccr-
se, tornar-se orgulhoso, aspirar a cousas
mais elevadas.
— Trepar. — i EntSo mandando aoa
scudciros que os levaísem pola rédea,
assim a fio, um diante d'outro, começa-
ram a subir. E primeiro (jue chegassem
ao escampado, onde Palmeirim achou o
padrão com as ktras, que diziam : «XSo
passes mais avante» gastaram grande es-
paço.» Francisco de Mora'^s. Palmeirim
d'Inglaterra, cap. 119.
Disse então a Velloso ham companheiro
ÍComcçando-30 todos a sorrir i:
OiJá, Velloso amigo, aqui-Ue out;"iro
lie melhor do descer, que de mbir.
CAM., Lus., cant. 5, est. 3õ.
Com mír pressa nas barcas vão entrando
Da com que ao baluarte antes ^/iifrio,
E ja as ondas comeeão de ir cartando
Para tornar-se la donde partirão;
Mas como entre si vão arrczoando
De quão pouca gente era a quem fugirão.
Em todos tal vergonha sobreveio
Qnc pMc então mais nelles que o recoio.
F. D'\NnRADB, PRIVEISO CEBCO DE I>ID,eailt. 18,
est. 25.
— «E quando com o j)Czo, e alvoroço
de subir tornou a quebrar, n.^o somente
dos alabardciros, que estavam debaixo,
defiram esmagados, e mal feridos, mas
ainda muitos dos cabidos se vieram espe-
tar nas alabardas, que foi consa piedosa
de ver.» Barros, Década 2, liv. 7. cap.
0. — «O primeiro que subio na f )rtaloza
foi Emanuel de Lacerda, c após elle Sc-
bastiam do miranda, e Nuno vax pereira,
os outros nos lagares que lhe forâo enco-
mendados, der.^o todos naquclle dia mo»-
tras de mui esforç.ad()s caualleiros.» Da-
mião de Góes. Chronica de O. Manoel,
part, 3. cap. G. — «Neste tempo Garcia
de sousa com os que cora elle estaua que
nam quisoraõ decer ptdas cordas jxilo te-
rem ]>or afronta, .«e defondiam com mui-
to esforço, sem nenlium tios mouros ou-
sar de subir ao cubelo, no qual debate
SUBI
SUBI
SL^BI
609
deram huma pe(ira']a no3 narizes a Dio-
go estaco tio de Diogo estaco, qxie com o
guião de Dom loam i!e lima na mam ma-
tai"ão sobelo muro.» Ibidem, cap. 43. —
«Mas Rumecão, crendo, que tão continua
resistência nos teria consumidos, como o
ferro que cortando se gasta, ajuizando
nossa fraqueza de seu mesmo estrago,
bradou aos seus, que subissem a tomar
posse da Fortaleza, que já não havia
quem se llies oppuzesse.» Jacintho Frei-
re d'Andrade, Vida de D, João de Cas-
tro, liv. 2.
ATÍ3Ínhar-sc Filis quiz ao Céo,
Para mais o illustrar : que fez "? subio :
E porque o Claustro as luzes lhe encobrio,
Fez nova h.ibitaçaõ no corucheo.
ABB&DS DE JAZESTE, POESIAS, pag. 105.
E como 03 Portuguczes que o meneio
Da Alfaudcga da Tília a cavgo tinhào
Nell.1 estarão cutâo, coino lhes veio
A nova dos imigos que alli vinhão,
Com grande espanto assaz, não sem receio
D'hum mal que ellos então mal advinhão,
Logo todos n hum corpo se ajuntarão
Subir ao baluarte trabalharão.
FR.VNCISCO d'A!ÍDBADE. PRIMEinO CEKCO DX DIC,
eant. 10, est. 58.
— «Assi a alma que tem aferrada a
anchora de sua esperança, na pátria ce-
lestial, pêra que onde ÍESV CHRISTO
subio, ainda que nam viua neste mundo
sem ventos e ondas de tentações, e fra-
quezas veniaes, toda via nam se alaga,
nam se quebra por peccado mortal, em
quanto a esperança viua, e fundada em
amor estaa pegada no Ceo.» Fr. Bartho-
lomeu dos Martvres, Catecismo da dou-
trina christã.
Se-lo-ha : por eile subirei aos Rostros,
E heide pedir, rogar, supplice, humilde,
Impeubar quanto sou e valho em Roma,
E aleançar-lhe o perdão, volvê-la á pátria.
Mas ve que...
GAKBETT, CATÃO, act. 2, BC 5.
— Subir ao throno do Immortal; ele-
var-se até elle, chegar até elle.
Em sua alma assomou da gloria um raio,
OuWo-se a vez primeira a voz das Musas,
Elle o Vate primeiro : cm almos hvmnos
Subio ao Throno do Immortal seu brado.
J. A. DE MACEDO, MEDrrAçlo, Caot. 4.
— Nao subir de ; não exceder.
— Subir-se, u . rejl. Elevar-se, levan-
tar-se. — a Chegado com esta pompa ao
cadafalso, onde era quasi toda a Cidade
ver aquelle acto, de que ainda não en-
tendiam o fim. subio-se a elle, e come-
çou em mui alta voz dizer as cousas que
per nós fizera, e os perigos que por isso
elle passara, por méritos das quaes cou-
sas Aôonso d'Alboquerque lhe dera o of-
ficio que tinha de Bendára, que elle té
aquella hora servira, o qual, (segundo
TOL. Y.— 77.
lhe era dito.) elle mandava que elle nun-
ca o servisse mais, e fosse dado o ofiicio
a outra pessoa » Barros, Década 2, liv.
9, cap. 6.
Vendo a gente infiel que a Portugucza
Do logar em que está não passa avante.
Como tanto então vem em ódio aeeza.
Quanto brava, feroz, quanto arrogante.
Querendo ja dar fim áquclla empreza
A que cuidava d,í-lo nhum instante,
Alguns delles snbindo-se aos telhados
D"alli vào commetter os baptisados.
F. d'.ixi>r.\.de, peisteibo cebco de DIU, cant. 12,
est. 7.
— Subir-se em um cavallo; montar.
SUBITAMENTE, adv. (De súbito, com
o suffixo «mente»). De um modo súbito,
de repente. — «Però primeiro que elle
chegasse a esse efteito lhe succedeo outro
não esperado delle, e foi que eIRey de
Tanor subitamente em hum passo lhe
saio e o desbaratou.» BaiTos, Década 1,
liv. 7, cap. 10. — «Assi morreo subita-
mente outro pouco depois, que arreme-
teo com a espada feita a hum irmam da
Companhia, por nam consentir que se
aleuantasse hum pagode.» Lucer.a, Vida
de S. Francisco Xavier, liv. 6, cap. 6.
— «A sua primeira acção, he deter o ar,
pára que alli se attempere a sua frialda-
de, e naõ entre subitamente ao bofe, a
quem poderia offender, sendo muyto frio;
por isso 03 que estaõ destituhidos desta
partícula, segundo o Philosopho, morrem
Ptlivsicos; e a razaõ he; porque aquellas
viaí5 sem a defensa de Vuvla, e os seos
espíritos se refrigeraS; e desta sorte fa-
zendo-se os excrementos mais crassos
com o ar, se tornaõ mais acres pella de-
mora, que nellas tem ; de que se segue
exulceraçaõ no bofe.» Braz Luiz d'A-
breu, Portugal medico, pag. 83, § 1Õ3.
As ondas se arrojou; como espantadas
Do eõcavado penedo se afastarão ;
Como em montanhas liquidas formadas
A tão triste espectáculo pararão :
Subitamente as nuvens carregadas.
Como em negra tormenta fuzilarão ;
Do mar tragado o corpo ao fundo desce,
E da vista dos Ceos dcsapparece.
j. A. DE MACEDO, O OHiEXTE, cant. 2, cst. 74.
SUBITANEAMENTE, adv. (De subita-
neo, com o suffixo emente»). Vid. Subi-
tamente.
SDBITANEO, A, adj. (Do latim subita-
neiís). Apressado, de repente, de impro-
viso. — Morte subitanea.
1.) SÚBITO, í. m. Repente, cousa que
sobrevem sem se e.'perar.
— Empreza de armas, ataque repenti-
no, de arrebate.
— O primeio ímpeto, ou movimento
das paixões.
— Feito, acção impremeditada.
— Surpreza, sobresalto.
— Loc. ADV. : Be súbito ; de repen-
te, improvisadamente, subitamente. —
«Partido Pedralurez Cabral desta terra
de Sancta Cruz a hum Domingo xxiiij.
de Maio se armou himi bulcaõ, e trás el-
le huma trouoada com tanta força de
vento, e taõ de súbito, que a vista huns
dos outros çoçobraraõ quatro nãos, sem
delias escapar cousa viua.» Damião de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 1,
cap. Õ7.
— Glosar de súbito ; glosar de impro-
viso.
• — Plur. Ditos repentinos, e discretos.
— SvN'. : De súbito, de repente.
Os clássicos servem-se indifferentemen-
te d'estes dons termos ; todavia é mui
racional que se e-stabeleçam entre elles
distincções. De súbito exprime o que
acontece ou se faz sem pensar, nem obrar, _
e n'um fechar de olhos. De repente indi-
ca que a cousa se faz, ou acontece, sem
demo7a, em continente.
O salteador assalta de súbito, o raio fe-
re de súbito, o pregador falia de repente.
De súbito exprime mais rapidez que
de repente, e accrescenta-lhe a idêa de
imprevisão.
2.) SÚBITO, A, adj. íTio latim subi-
tus). Repentino, improviso.
Olha a torra de Ulcinde fertilissima,
E de Jaquete a íntima enseada ;
Do mar a enchejite súbita grandíssima,
E a vasante que foge apressurada.
CAM., Lus., eant. 10, est. 106.
Do Marinheiro audaz se mostra aos olhos
Ao longe u "Horizonte a negra mancha.
Gérmen da feia, súbita proc?lla.
J. A. DE MACEDO, Á. NATCKEZA, CSnt. 2.
— Toma-se também adverbialmente :
/)• súbito; Lr de repente, de improviso.
Xão me era honesto (bem julgáesi ir súbito
Despedir Segenax do meu Castello,
(Tam débil inda a vi) mas, pouco a pouco.
Forças cobrou ; e em mim crescendo o prigo,
Fingi Carta, em que os manda o César soltos.
Antes que partào, quiz faUar-me a Filha :
Cortei ázo a recíprocos pesares.
F. M. DO NASCDIESTO, OS MAHTTBES, !ÍV. IO.
Súbito hum denso véo d'horror profimdo
Cobre dos Ceos a cúpula azulada ;
Rouba-?e á vista dos mortaes o Jlnndo,
Sem astros fica a noite carregada :
Mostra súbita luz raio iracundo,
Mas logo fica escuridão pezada ;
Fere o Jogue espantado : a altiva Cort«
Ficou coberta do terror da morte.
J. A. DE MACEDO, O ORIENTE, Cast. 11, CSt. 80,
Delle den-ama a peste, a fome, a guerra.
Juncados de cadáveres os campos,
Estranha vista ! súbito ficarão.
IDEM, A SATUBEZA, Caut. 1.
Nasce súbito o Sol, mas não deslumbra,
Xem fere co' a luz súbita teus olhos,
Xem eahe na Terra de repente a noite.
IBIDEM, cant. 2.
610
SUBJ
SUBJ
SUBL
Do todo di»»olvoo : dÍHcordia, c. guerra
AmotiiiadoH ontro n\ conscrviVi ;
D'oiipo»tOi) poiítort nnhilo voando,
Ainoiítoão 110 ilr pnzadas mivoíio.
ii)i;m, MKinrAçÃo, cant. 2.
Suhiln o Trjo aiu-iforo, os|n-aii'ido,
E largo, (! fundo, o proOpUorto, o turvo,
Como aHHombriulo vú : vo1v«iti-8R ondoadaH
Nos altoB tópoH flâmulas ligeiras
Das volivola-i uAoa : mais doiiso hum boaiui; '
Já ví de perto ; na forrada proa
Jaz mal si^guro o doscovado medo
IJo mercador avaro.
SUBJACENTE, adj. 2 geií. (Do latim
siiOjttcnis). (^>uc c.itá, ([lio Jiiz por baixo.
SUBJECÇÃO, s. f. Termo clc littoratu-
r.a. Figura ilc rliotorica, que consiste em
interrogar o adversário, c cm suppôr
sua resposta, ou cin prever o que poi le-
ria ilizer, e cm prepai-ar íranto-inào a
rejilica.
SUBJECTAR, V. a. Vid. Sujeitar.
-j- SUBJECTIVAMENTE, adv. (Do sub-
jectivo, com (I suflixii «mente»). Termo
de philosopliia. Do uma maneira subje-
ctiva.
1 SUBJECTIVAR, v. a. Termo de phi-
losophia. Tomar subjectivo, considerar
como tal, lazer dopiuider do subjectivo.
f SUBJECTIVIDADE, s. /. Termo de
philosopliia. Qualidade do que é subje-
ctivo.
— Conjuiicto do que é subjectivo.
SUBJECTIVO, A, adj. Termo do philo-
sopliia. (Juo diz respeito ao sujeito.
— Diz-so, cm opjiosição ao objectivo^
do que se passa no interior do espirito.
— Mcthudo subjectivo ; metiiodo em
que o ponto de parti<la c uma concepçrio
ào espirito, que suppõe a priori um cer-
to principio metaphysieo d'ondc tira as
deducções.
— Conce/jçõe.s subjectivas; aquclias que
dimanam directamente do espirito, sem
mistura notável das concepções objecti-
vas.
— Termo de grammatica. Voz subje-
ctiva ; diz-se da voz activa, em opposi-
ção á voz objectiva, ou passiva.
— Caso subjectivo; diz-se do nomina-
tivo.
— Substantivamente : O subjectivo.
-}■ SUBJECTO. Vid. Sujeito, e Subjei-
to. — «E ho primeiro reyno que com ci-
la confine da banda do mar da india, he
hum que se eliama Cauchim cliina quo
terá cem legoas pouco mais ou monos ao
longo da costa do mar, fazendo ho mar
huma grande entrada por antre elle e ha
ilha Dainão, que he de cincoenta legoas
de comprido, e he ja de Chinas : e no
cabo desta enti-ada entesta este reyno
com ho reyno da China, e ho subjecto ao
rey da ciiina.» Fr. I '.aspar da Cruz, Tra-
tado das cousas da China, cap. 3. — «El
Rey teue lugar de se acolher a hum do
tros castcllos, que nella auia, onde com
alguns dos HoiH escaiiou. E como os te-
mores nos mãos, nani durem mais, que
em quilto está viua a causa ilcllos, pas-
sada a presente tornou a sor quem d.^tes
era, senilo se fez outro pior que os iiiaos
custumcs, como diz o i'hilosopho aiw> lia-
liitos que com diíTiculdado, se mudào do
s(!us subjectos.» Vr. (iaspar de S. Ber-
nanlino, Itinerário da índia, cap. 13.
SUBJEITAR, ca. Vid. Sujeitar.— «E
IHjrijUii el lioy tem tanto ciiydado do go-
verno do seu royno e lio traz tam bem
regido, com ser tam grande como he ho
sostenta e conserva unido em paz ha
muito numero de annos sem nenhuns
rey nos entrarem a possuyr nada na Chi-
na, antes ha China subjeitou e teve
muitos reyuos e muitas gentes subjcltas
po!lo seu singular governo.» Fr. (uíspar
da Cruz, Tratado das cousas da China,
cap. 22.
SUBJEITO. Vid. Sujeito. — «E esguar-
dando mis que tanto que compre ao nos-
so Estado, c ao bem publico dos nossos
subj eitos serem ricos, e abastados, tanto
mais devemos, e somos theudo de olhar
por prol dos nossos Regnos, e naturaaes,
que dos l'"strangeiros, e tolher, e arredar
aqiicllo, per que lhes pode seor emlnvrga-
do de lazer sua prol, e accreccntar em
seus algos.» Ord. Affons., liv. 4, tit. 4,
§ 2.
SUBJUGAÇÃO, s. /. Acto de subjugar,
c cíTcito d 'esta acção.
f SUBJUGADO, 'part. pass. de Subju-
gar. Viil. Sobjugado, Sojugado, e Sogi-
gado.
Ormiu, Qiiiloa, SFombaça,
Sofala, Cocliim, Mcliiide,
Como cm espoUios daliiido,
TJuluze quanta lie sua graça.
E chegareis
A Goa o perguntareis
Se he ainda aubjiigada
Por peita, rogo, ou espada?
Veremos se pasmareis.
OIL VICENTR, PAJtÇAS.
— «Foy esto reyr.o dos I.aos, ou Siões
màos subjugado poios Bramas (dos quaes
logo diremos) no ."vnno de cincoenta e
scys : e antre alguns que trouxeram a
l*eguu cativos trouxeram alguns Chinas
que os Laos tinham cativos, como me
afirmou hum Jorge de I\Iello, que foy por
capitam da viajem de Peguu.» Fr. (ias-
par da Cruz, Tratado das cousas da Chi-
na, cap. ;>.
SUBJUGADOR, s. »i. O que subjuga,
mette debaixo do jugo.
SUBJUGAR, i: a. Vid. Sobjugar, So-
jugar, o Sogigar.
Dosque cu quebrei desse Tiranno o jugo.
Tratei desempenhar, com digno clVoito,
O Poder, que por vós, me foi confiado.
O Orbe vos subjuguei. Daqui os prantos
Do» Filho» deiMC Adam, qucha\iiU>
I)c occiípar vomos thronos vcnturtíso».
y. M. 1)0 MAHCIMEIITO, O» MARTYBE», 1ÍV. 8.
— «Misera de mim! que delle receia-
va intcirar-nic cu nicsuia, c que agora
avcrigúo (|ue lia impulsos do ánim« im-
possiveis de subjugar, e de os esconder
dos olhos du aiiiiz.L le.» Idem, SuccessoB
de madame de Sencterre.
SUBJUNCÇÃO, ». /. Ajuntamento im-
raediato i!(í unia cousa á outra.
SUBJUNCTIVO, A. adj. Que pertence
ao subjunctivo. — Conjtincçòet Bubjuncti-
vas.
— Oração subjunctiva; oraçilo n3o
principal.
— O modo subjunctivo.
— 16. m. Termo de grammatica. Modo
do verbo que exprime a existência, esta-
do ou a acção em uma rclaçilo de depen-
dência com um outro verbo ao qual elle
está submettido. — Ou tempos do sub-
junctivo. — O subjunctivo exprime a
acçào de um modo dependente, subordi-
nado, incerto, condicional, em summa,
de um modo não absoluto, e que suppòe
sempre um indicativo.
SUBLEVAÇÃO, ít. /. A acção de sub-
levar-so.
SUBLEVADO, part. pass. de Sublevar.
SUBLEVADOR, s. m. Homem que sus-
cita a sublevaçrio.
1.1 SUBLEVAR, V. a. (Do latim siible-
vare). Levantar de baixo para cima.
— Fazer que os súbditos se rebellcm,
e se levantem contra o seu legitimo se-
nhor, superior ou rei.
— Sublevar-se, v. reji. Rebellar-se.
— Revoltar-sc, amotinar-se.
2.) SUBLEVAR, v. n. = Termo pouco
em liso. Soceorrer alguém.
SUBLIMAÇÃO, s. f. (Do latim subli-
matio. de sublimare). Termo de chimica.
Operação pela qual um corpo solido, vo-
latilisado pelo calor n'um vaso fechado,
chega junto da parede superior d'este
vaso. onde passa ao estado solido e ahi
se fixa.
SUBLIMADO, part. pass. de Sublimar.
Levantado, exaltado, elevado.
Da nebulosa HoUanda os Sábios rejo
Do Templo augusto omntns i!itK'imrutnf.
Que os brilhantes faróos do Tibre arrancão
l)"cntre as sombras, e p.'' de antigos evos,
K com douto trabalho esclarecidos
Ignorado thcsouro ao Mundo offcrtào,
Àos olhos perfeiçAo, lures A Mente.
J. A. DK MACCPO, VIAeejí EXTÁTICA, CAIlt. 4.
EUa pode encantar Génios sublimes.
Cuja imagem feliz n'hum bronze ctcmo
Em si conserva o siiíjlimculo Alcaç-ar.
iBinEsi, caut. 1.
O Indo, que dá nome á terra, fende
Do antigo Poro os Tíeinos fiihlhiwios.
Os vítótôs c-JimiHís do Delly defende
Dos Povos do Mogol contrclle armados :
SUBL
SUBL
SUBL
611
Seu curso ao Reino de Cambaia estende,
E aUi, rasgando os mares empolados,
Com tanta força vem ua crjuorea vêa,
Que o fluxo do Oceano ao longe eufrêa.
IDEM, o ORIENTE, Caut. 6, Oãt. 47.
— Termo de cliimica. Que é producto
da sublimação. — Metaes sublimados.
— tí. m. Termo de chimica. O produ-
cto da sublimação.
— Diz-se sobretudo de certas prepara-
ções de mercuuo.
— Sublimado corrosivo; o solimuo, ou
o azougue com acido muriatico subli-
mado.
SUBLIMAR, V. a. Termo de chimica.
Elevar u'um espaço livre, por meio do
calor, as partes voláteis da sua substan-
cia secca, e recolliel-as. — Todos os me-
taes são susceptiveis de se sublimarem
pela acção do fogo.
— - Toma-se algumas vezes também por
vaporisar.
— Levantar á altura mui elevada de
dignidade, lionra, etc.
-T- Termo de chimica. Fazer sublima-
ção.
— Figuradamente : Sublimar o homem.
— dEliano sublima tanto suas cousas,
que affirma hum delles escreuer versos
em Latim, o que eu tenho por fabula.»
Fr. Gaspar de S. Bernardino, Itinerário
da índia, cap. 15.
Nem tanto aquelle grão perigo estima
Que deixo cllo de ser o dianteiro,
Nem o ofEcio que tem tanto o sublima
Que nào seja ao que cumpre elle o primeiro ;
E com SC aventurar esfoi^-a e anima
Para o seguir o amigo c companheiro,
A que o pelouro imigo tanto enfreia
Que descubrir-se então muito arreceia.
PKANCISCO d'aNDR,VDE, PBIMEIBO cerco de DIU,
cant. 16, est. 98.
— Sublimar-se, v. rifl. Elevar-se em
altura, levantar-se.
SUBLIMATORIO, A, adj. Termo de chi-
mica. Que respeita ás sublimações, e ser-
ve n'essas operações.
— xS'. m. Termo de Chimica. Vaso que
serve para as sublimações.
— Termo de alchimia. Sublimatorio dos
philosophos ; o ovo dos sábios, em que a
pedra se coze.
SUBLIMAVEL, adj. 2 gen. Susceptível
de se sublimar chimicamente.
SUBLIME, adj. 2 gen. (Do latim su-
blimis). Alto, elevado, levantado. — oE
como foi aquelle, em que o Reino chegou
a ponto sublime, que todos tem antes de
sua declinação, nada intentou, que dei-
xasse de levar ao lim com prospero suc-
cesso.» Fr. Bernardo de Brito, Elogios
dos reis de Portugal, continuados por D.
José Barbosa.
Co'a3 mais vivas Paixíjes, iusig-ne Ingenbo ;
Nimio, no estudo, c nos prazeres nimio.
Néga-lhc a Impulsos, a índole, repouso ;
Irascivcl, siihlime, inquieto, bárbaro,
Xo perdão implacável, se oftendido.
F. M. DO NASCIMEXTO, OS MAKTTBE3, 1ÍV. 4.
Meditação profunda, alem dos Astros,
Nas azas da osoaldnda fantasia,
Do Palácio immortal mostrou-me ao longe
O magesto.so Pórtico, c mais nada.
Sublime Alcaçar destinado ao Justo.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, CaUt. 1.
Eis meus sublimes êxtases pararão :
Meditação profunda além dos Astros
Jle fez voar na abóbada soberba,
Que a habitação mortal cobrir parece.
O magestoso jjavimento agora
Eu devo contemplar ; prodígios novos
Era larga copia aos olhos se otYerecoin
Neste terreno globo, alvorguc humano.
IDEM, MEDITAÇÃO, Caut. 2.
Dos ares cidadãos, vinde a meus versos.
Da Providencia paternacs cuidados
Do taciturno Athêo aos olhos brilhão,
!ío alguma ]voz no ar contempla as aves.
Que pandas azas arrogante bate
Com vôo magestoso Águia sublime!
IBIDEM, oaut. 3.
E somente o mortal soberbo, c duro.
Do sublime dever se affi-onta, c cora
A que, innocentc, a voz da Providencia,
Já destinado o tinha, e julga officio
Apoquentado, e vil d'aluia3 liumildcs
A Terra dividir com lizo arado :
E julga s6 de gloria emprego digno,
Alastrar de cadáveres a Terra !
Daqui. não vem do Espirito siMime
O sublime poder, que só n'hura ponto
Vôa, siibe, ipcnctra esto Universo.
Que prodígio inaudito! Então seria
O etfeito inda maior, que a própria causa !
IBIDEM, cant. 4.
Contemplação sublime ! EUa me accende
Impetuoso Enthusiasrao n"alma ;
He este único Livro, onde medito.
Onde estudo , ondc'sei ; elle a meu Canto
Dá força, dá vigor, pompa, harmonia;
Elle ao consorcio do supremo Nume
Neste desterro a estrada me frauquêa.
Tivorão tal idúa antigos Sábios,
Que tão sublime opinião vestirão
Das cores da Razão, qual tu fizeste
Na, que eu to imito, extática viagem,
Em que. profundo Kcpler, te lançaste
Da Creação aos términos não vistos.
Nem da humana Razão jamais marcados.
IDEM, VIAGEM EXTÁTICA, CaUt. 2.
E 03 votos são suhlimes pensamentos,
São Oftercndas extasis ardentes,
V(5os da Mente, que se guinda aos Astros,
Correndo immenso espaço. Aquclla Dcosa.
Que o berço tem nos ceos, que é dom dos Numes
Que das artes hc Aíãi.- dollas hc premio.
De magestade, e de bel!o.za cheia,
Taes holocaustos com prazer acolhe.
Podem, meu filho, etcmisar i o Mundo
O mesquinho mortal meus dons sublimes,
E as idêas altíssimas, e claras.
Oh ! Sublime doutrina ! Ah ! Tu podcste,
Dentro da Escola de Florença outr'ora,
O eloquente escutar Policiano ;
Ficine he teu interprete, e te iguala.
IBIDEM.
Hum erro foi da fraca intelligenoia,
Não passa ao coração trauquillo, e puro.
Ama a wtude. O' Séneca, foi este
Teu pensamento nas lições sublimes,
Com que a Lucilio instrucs no honesto, e justo.
IBIDEM.
Mas eu duros metaes deixo nas sombras.
Distem pouco do Inferno, eu busco o Quadro,
Que tão visível mostra a Natureza,
Só digno dos mortaes, sublime estudo!
D 'alma Sciciicia fonte exuberaute !
IBIDEM, cant. 4.
De meus sublimes extasis desperto,
E me vejo na Terra escura, e triste.
Habitação do crime, e da desgraça,
E mo ijarcoe que chegara o tempo,
Promcttido no extático Profeta !
— íÈ phrase mui commum entre nós,
mas que não deixa por isso de ser poéti-
ca e nobre, como são grande parte dos
modos de dizer familiares. Convém mui-
to distinguir o que é familiar n'uma lín-
gua, do que so é vulgar: aquelle é quasi
sempre figurado e sublime, este rasteiro
e muitas vezes vicioso. » Garrett, Camões,
nota D ao carto 9.
No largo oceano, em próspera bonança
As atrc^ndas naus vão navegando.
Dos ceos o alto poder stiUime e dino
A consellio as menores potestades
Sobre tamanha iniprêsa convocava.
IBIDEM, cant. 7, cap. 15.
— Figuradamente: Dons sublimes.
— Termo de anatomia. Respiração su-
blime ; respiração acompanhada do movi-
mento das azas do nariz e da elevação
do thorax durar.te a inspiração.
— Que se eleva a uma grande altura
intellectual ou moral, fallando das pes-
soas. — Génio sublime.
Attcnta escuta : a luz que aos olhos mostra
Quanto em quadros ostenta o Ceo, c a Terra,
Brilhava, e nào sabida, em fim do excelso
Astro natal desceo génio sublime.
J. A. DE MACEDO, A SATOBEZA, Cant. 1.
Pensamento foi teu, sublime engenho,
Quando de ignoto Mundo a Mundo ignoto
Levaste a passear Matrona imbelle.
Do prazer filosófico em ligeiras
Azas de acceso, vivo enthusiasmo.
IDEM, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 2.
A teu sublime engenho a Natureza
Sem véos se mostra, e desabrocha o seio ;
Tiveste Bustos, Inscripçõcs, c Templos,
G12
SUBL
SUBM
SUBN
Cidades Hcto o Berço te disputão ;
Poi- ((UB és .suii fillio ii Greciíi iii<riioje lio ;;nitíde
Dou-tu inaioi- bra/.ào, verteo-tc lunii Popi; !
IDF.M, Mh;Dii'Ar;Âo, caiit. 1.
— Geometra sublime.
Euti-u (^rtti!,^ ambos Maupertuirt doviso,
K sobro liuin Globo estendo aiiroo compasso
Involto 0111 coi-raçõos do algente Pólo,
Geóiiuítra sahliine, os gnlou lho mede.
IDKM, VUUKM KXTAllCA, Cailt. 3.
— o sublime pintor da natureza.
No Cadafali;o infamo expira o filho
Do sahliine Pintor da Natiirrza,
Sobi-e-hiimano iSulíou, que alli fulgura.
J. A. I>K MACEDO, VIAGKM EITAIIOA, Cant. 2.
— Exceliente, iiiagaiíico.
Quo mageatosos, que sublimes quadros
Afamái-ào teu Uaiito ; se tu viras
Alem das Nuvens ásperas montanhas,
Onde o mortal quo sobo, observa, o uota
Brilhar por cima o Coo sereno e claro.
J. A. DE MAOKUO, A NATUREZA, Cant. 2.
SUBLIMEÃO, adj. Termo antiquado.
Eiiiiiuuitc, grande, sublimo como por ex-
cellcncla.
SUBLIMEMENTE, adv. (Do sublime, c
o .-íuffixo umeuteu). Oo um modo subli-
me. — FiiUuu sublimemeute.
SUBLIMIDADE, s. /. (,Uo latim suUi-
mitds). Qualidade do que é sublime. — A
sublimidade '/"S jiensamcntos, da lingua-
gem. — .1 sublimidade de uma sciencia.
— Exaltação na (.spiritualidadc.
— O ser superior á compi-ehensão.
— Figuradamente: O alto ponto de
fortuna, do honra.
SUBLIMISSIMO, A, adj. suj)erl. de Su-
blime. Mui sublimo.
SUBLINGUAL, adj. Termo de anatomia.
Que estií situado sob a língua.
— Glândula sublingual ; glândula sa-
livar que está situada na espessura da
parede inferior da bocca, abaixo da par-
te anterior da lingua.
SUBLOCAÇÃO, s. /. Termo de juris-
prudência. O acto de dar de aluguer a
outrem, o que já se tem pelo mesmo ti-
tulo.
— O contracto do locai,'ão, que o con-
ductor celebra com outrem.
SUBLOCAR, V. a. Termo de jurispru-
dência. Dar de aluguel a outrem o que
se tinha já alugado.
— Fazer sublocação.
SUBLUNAR, adj. 2 gcn. (Do latim sub-
lunaris). Quo está entre a terra e a or-
bita da lua. — Ka me julgo o mais drs-
graqado dvs individuos sublunares. — ■
«CUama-se Zodíaco toma lo o nome da
palavra Grega Zoi, que quer dizer vida;
por quauto o Sol, e os Planetas, que dis-
correm por aquolles sígnoa influem na
vida do todos os sublunares. Os nomes
dos doze MÍgnos .silo : Aijuarii, Aries,
'lauro, Geininis, Câncer, Leo, Virg/j, Li-
bra, E.^icurpio, Sagitário, Capricórnio, e
Pisces.v Braz Luiz d' Abreu, Portugal
medico, pag. .õl4. § õl.
— O globo, o mundo sublunar; a ter-
ra, c a atinosphcra.
SUBMARINO, A, adj. (Du latim sub, o
maré). Pur ijaixo do mar.
— Alguns dizem submarinho.
f SUBMENTAL, adj. 2 gen. (Do latim
sub, e nientum). Termo do anatomia. De-
baixo da barba. — Artéria submeatal.
SUBMERGIDO, part. pas.s. de Submer-
gir. (\ili.rtii pelas aguas, subvertido pc;lo
mar, [leias ondas, merguliiado pela agua.
— Navios submergidos.
— Termo de botânica. Díz-se das plan-
tas quo, de ordinário submergidas, elevam
suas llôres íijra da agua no momento da
fecundação, e descem para a agua logo
depois.
SUBMERGIR, v. a. (Do latim submerge-
re). (Jubrir d'agua, metter debaixo da
agua.
EneapoUad.is furiosas vagas
Tudo vão nub/nergir, húmidas praias
Já limiti/s nào são... porém não temas.
J, A. DE MACEDO, A KATUBHZA, CaUt. .3.
— Submergir os cuidados em vinho;
afogar.
— Submergir o animo, o espirito em
trabalhos; subverter, opprimir, mergu-
lhar, afogar.
SUBMERSÃO, s, /. A acção de submer-
gir n'am liquido. — A submersão de um
navio.
— (íraude e furto inundação.
— ■ Termo de cirurgia. Submersão do
casco; abater-se o casco com a pancada.
f SUBMERSÍVEL, adj. 2 gen. Que pôde
submcrgir-.-^o.
— Termo do botânica. Diz-se de uma
planta aquática que se mergulha na agua
depois da florescência.
SUBMERSO, jjarí. pass. irreg. de Sub-
mergir.
Segurando aos mortíie», que nunca a terra
Submersa ficaril nas turvas ondas
De hum mar universal, onde aboiAra
O Iculio guardador da espécie humana.
No seio, o superfície inda descubro
Sinaos eternos do funesto abalo.
Na face irregular do Globo os vejo.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Caut. 1.
SUBMETTER, v. a. Vid. Sometter. —
oE poi-que de todo n.To sejais perfeito,
fostes nestes casos submetter a raz.^o á
vontade; e então ticaes mandado por ella
e assim trazeis o cuidado occupado em
parte, onde por ventura se não lembrara
de vós, o que vos fazem esquecer do que
vos mais deve leinbiar.» Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 101.
— «Mas elle, inda qui a sua liberdade
isenta té então fosse má de submetter a
cuidados namorados, n.aquella hora não
polc tanto sua iseiiçio, que em alguma
parte se nào achasse combatida dellcs;
rpie o parecer do Liunarda ora poderoso
de fazer estes «streuios. O imperador
Vendo o caminho desembaraçado, disse
contra a priuceza: Senhora, quem antes
nos defendia a estrada por força, agora
nol-a deixa por vontade; vamo-nos antes
que achemos (|ucm nol-a torne a impe-
dir, inda que já agora, tendo tal defen-
sor do nossa parte, não sei de quem se
possa ter melo.» Ibidem, cip. 111. —
«Entretidos em submetter e pôr a sacco as
opulentas cidades do nicio-dia, contentes
com as veigas feracissimas da Betiea, da
Lusitânia e da Carthaginense e com o sol
quasi africano que as aquecia, que vi-
riam elles buscar nas brenlias intracta-
veis e frias da íiallecia e da Cantábria ?•
Alexandre Herculano, Eurico, cap. 12.
SUBMETTIDO, part. pass. de Submet-
ter. Vid. Somettido.
Aos séculos cu mostro o mar vencido,
(Vasto Império do vento tormentoso)
Descoberto o Oriente, e nclle erguido
Lusitano Pendão victorioso :
En mo3ti"o d'Asia o colo suhmellido
Dos Roiâ de Lysia ao Thro;io poderoso ;
E acclamo neste memorando feito
Unidos Povos mil com laço estreito.
J. A. DE MACEDO, O OBIESTK, Caut. 1, CSt. 3.
SUBMINISTRAÇÃO, s. /. A acção de
submi:.i>trar.
SUBMINISTRADO, part. pass. de Sub-
ministrar.
SUBMINISTRADOR, A, s. Pessoa que
subndnistí a.
SUBMINISTRAR, v. a. (Do latim *u6-
viinistrarei. Acudir com o necessário,
dar.
— Fornecer, prover, d;ir. — Submiuis-
Irar pão.
SUBMISSÃO, s. /. ^Do latim submis-
sio). Diz-so ein opposição á elevação.
— Obsequio, obediência.
— Figuradamente: O contrario da al-
tivez, humildade, humiliação espontânea.
— Syn. : Submissão, obediência. Vid.
este ultimo vocábulo.
SUBMISSO, jiart. pass. irreg. de Sub-
metter. Haixo, nào alto.
— Humilde.
Do Sol, da Lua, a paraUaie; nada
Ha mister Magalhacus : honra, e \-ingtui<;a,
Eis todo O Globo ciround:ido, e os M«rc3
-Vos pés de hum Portugue/. submi^foi £cào,
Ac<;ão talvez maior do esforço humano I
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 4.
SUBNEGAR, v. a. Vid. Sonegar.
SUBR
SUBS
SUBS
613
SUBORDENADO. Vil. Subordinado.
SUBORDINAÇÃO, s. /. {Do latim subor-
dinatio, de sub, e ordinare). Certa ordem
estabelecida entre as pessoas, e que faz
que umas dependam das outras. — A su-
bordinação mantém a disciplina no exer-
cito. — O espirito de subordinação.
— Particularmente : Dependência de
uma pessoa a re-<peito de outra.
— Dependência em qua certas cousas
estão a respeito de algumas outras.
— Termo de grammatica. A dejDendeii-
cia de um verbo em relação a outra pa-
lavra da uieania plirase. — Si/ntaxe de
subordinação.
SUBORDINADAMENTE, adv. (De subor-
dinado, e o i^uffixo «mente»). Com sabor-
diaaeào, coui sujeição. — Viver subordi-
nadamente,
SUBORDINADO, j}art. pass. de Subor-
dinar. Que é mandado estar ás ordeus, e
dependente d'outrem.
— Pnqjosição subordinada ; proposição
cujo sentido depende da principal.
— Sujeito ao arbitrio.
— S. Pessoa que está sob as ordens,
e dependência d'outrem.
SUBORDINADOR, A, adj. es. Que põe
em subordinação, que a produz, e ins-
pira.
SUBORDINAR, v. a. Prescrever subor-
dinação.
— Sujeitar, fazer dependência.
— Subordinar-se, v. reji. Submetter-
se, sujeitar-se.
SUBORNAÇÃO, s.f. Vid. Soborno.
SUBORNADO, [jart. pass. de Subornar.
Peitail". Vid. Sobornar.
SUBORNADOR, s. m. Homem que su-
borna as teítemuukas, os juizes, etc.
SUB ORNAMENTO, s. m'. Acção de su-
bornar.
— Suborno, subornação.
SUBORNAR, V. a. (Do latim suhornare).
Corromper o animo de alguém para o in-
duzir a proceder mal.
— Subornar officios, cargos; adquiril-os
com suborno.
— Subornar os soldados de um capitão ;
para deixp.rem o seu lado, partido, ser-
viço; corrompel-os, seduzil-os,
SUBORNO, ou SOBORNO, s. vi. A acção
de subornar.
SUBPEDANEO, A, adj. Vid. Supedaneo.
SUBREGANO, s. m. Termo antiquado.
Casal, ou prazo, que pagava leitão, mar-
rão, ou espádua de porco.
SUBREPÇÃO, s.f. (Do latim subreptio).
O acto de diligenciar alguma ordem, de-
creto, lei, bulia subrepticia, calando cou-
sa ou circumstancias, que sendo expres-
sas, não se concederia o pedido ou graça.
SUBREPTICIAMENTE, adv. (De subre-
pticio, e o íuffixo '< mente í). De um mo-
do subrepticio, a furto.
SUBREPTICIO, A, adj. (Do latim sub-
repticins). Alcançado por surpreza, com
engano, embuste, e falsa informação que
se dá a quem conce le. — Bulia subre-
pticia.
SUBRIGIO, s. m. Termo antiquado. Fi-
dalgo de primeira nobreza, não titular,
immediata abaixo de rico-homem.
SUBROGAÇÃO, s. /. (Do latim subro-
gatio, de subrogare) . Termo de jurispru-
dência. Acto pelo qual se subroga. —
Segurar uma hypotheca por subrogação.
— Subrogação de pessoas. — Subrogação
cZe cousas.
SUBROGADO, part. jyass. de Subrogar.
Passado por herança, successão.
SUBROGADDR, A, s. Pessoa que sub-
roga, que substitue.
— Adj. — Acto subrogador; acto que
subroga um tutor a outro.
SUBROGANTE, part. act. de Subrogar.
Que subroga, que substitue.
SUBROGAR, V. a. (Do latim subrogare).
Teimo de jurisprudência. Substituir al-
guém .
— Subrogar u ma cousa a outra ; pol-a
em logar d'ella.
— Subrogar-se, v. rejl. Tomar para si,
assumir o que era d'outrem, o de que ou-
trem tinha o exercício.
f SUBROGATORIO, A, adj. Que subro-
ga.— Acti' subrogatorio.
SUBSCES3IV0, A, adj. — Horas subs-
cessivas ; horas que sobram do trabalho, e.
que reservamos para recreações honestas,
e ócio.
SUBSCREVER, v. a. (Do latim subscri-
bere). Escrever debaixo de outros vocá-
bulos.
SUBSCREVIMENTO, s. m. Termo anti-
quado. Assignatura, subscripção.
SUB3CRIPÇÃ0, s. m. (Do' latim suh-
scriptio). O assignado abaixo de algum
coutexto de palavras.
— Summario do substancial das cartas
que el-rei ha de vêr, e subscrever.
— Lista dos nomes de pessoas que as-
signam promessa de dar, ou contribuir
para alguma obra, ou pessoas dinheiro,
ou qualquer ajuda.
— Fechar-se a subscripção ; preencher-
se o limite da sua conta.
— Abrir uma subscripção ; assignar
n'ella.
SUBSCRITO, ouSUBSCRIPTO, part.pass.
de Subscrever.
— ò'. Vid. Sobescrito.
SUBSCRITOR, ou SUB3CRIPT0R, A, adj.
e s. Pessoa que subscreve o seu nome
obrigando-se a entrar com certa somma
para alguma compra, despeza, empreza,
tracto ; e particularmente se diz para a
edição d'a]gum livro.
SUBSECIVO. Vid. Successivo.
SUB3EGUTIVAMENTE, adv. (De sub-
secutivo, com o suffixo «mente»). Segui-
damente.
SUBSEGUIR-SE, v. rejl. (Do latim sub-
sequi). Seguir-se imniediatamente, sem
metliar tempo ou intervallo.
SUBSEQUENTE, adj. 2 gen. (Do latim
subsequens). Que segue, que vem depois.
— Um testamento subsequente anmilla o
primeira.
SUBSERVIENTE, adj. 2 gen. Condes-,
cendente, fácil em acceder ao voto, ou
vontade de outrem.
— Que serve com diligencia, e se ac-
commoda servilmente á vontade dalguem.
SUBSIDENGIA, s. /. Termo de phar-
macia. Separação espontânea das partes
ou fezes, que turvam um liquido, sim-
plesmente em consequência do repouso,
ou quietação.
SUBSIDIAR, V. a. (Do latim subsidia-
re). Ajudar, dar auxilio, auxiliar.
SUBSIDIARIAMENTE, adv. (De subsi-
diário, com o suffixo «mente»). De um
modo subsidiário, em auxilio, adjutorio.
SUBSIDIÁRIO, A, adj. Que vem em -
auxilio a alguma cousa de principal.
— Termo de jurisprudência. Que ser-
ve para fortificar um meio principal. —
líeios subsidiários.
— Figuradamente : Estudos subsidiá-
rios ; os que facilitam a intelligencia, e
o uso de outros.
— Acção subsidiaria ; a que se dá aos
pupillos contra os juizes, que lhe. deram
maus tutores, que não tem por onde in-
demnisem os seus pupillos.
SUBSIDIO, s. »)!. (Do latim subsidium).
Soccorro de dinheiro que os vassallos dão
a seu soberano.
— Soccorro de dinheiro que um estado
dá a uma potencia alliada, em consequên-
cia dos tratados anteriores.
— Levantamento de dinheiros feito pa-
ra as necessidades do estado.
— • Figuradamente : Subsidio da do-
minação; o que concorre para a sua ins-
tituição, ou conservação. - — Subsidio dos
mortos.
— O subsidio litterario; o tributo que
se paga para a sustentação dos professo-
res de letras.
— Auxilio, soccorro, adjutorio. — «E
finalmente Sotira, Salpe, Lais, Olym-
pias, Thebana, citadas por Plinio, 8. nes-
tes últimos séculos Margareta, e Mada-
ma Fouqueth, como consta dos seos es-
criptos; e outras muytas, que passo em
silencio, porque lhes basta, que andem
na boca da Fama; todas diligentes inda-
gadoras dos preceitos desta preclarissima
Arte, para credito do sexo, e subsidio
da Natur.za. I) Braz Luiz d'Abreu, Por-
tugal medico, pac 249, § 77.
SUBSISTENCIA,"^ s. f. (Do latim sub-
sisteniia). Nutrição e mantença.
— Permanência, estabilidade, e con-
servação das cousas.
— Existência individual, o acto pelo
qual uma subsistência se torna incommu-
nicavel a outra, como o supposto, e indi-
viduo.
SUBSISTENTE, part. act. de Subsis-
tir. Que subsiste. — Religião subsistente.
SUBSISTIR, u. a. (Do latim subsiste-
614
SUHS
SU15tí
SUIiS
ra, (lo Hiib, c t^i^turit, íi-oqiUMititivo ilo
estava). Turmo do pLilo.sdpliia. Exintir iia
8UÍI «ubrttancia, c sor imlividual, du ma-
neira (iu(! HO iiilo podo coinniunicar a ou-
tra ccmua como o siijiposto uu individuo.
— Fi;;iiradanionto: l)iz-sc de toda» as
cousas (pio suljsistein na idi^a.
— Faliaado das pessoas, viver e eii-
trctcr-80.
— Continuar a existir, a sor. — «Sc o
mal não subsiste no calmnidador, nem
no ealumniaio onde ko iof;o (lue cu aclia-
rcy a sua oxistonciaV» Cavaliuiro d'Oii-
veira. Cartas, liv. 1, n." õl. — «Verda-
dcyraiuoutc tonlio para mim c|ue lic lium
mui em tal íVjruia imaginário, (luo me
lio (^uasi impossivol aehar o sogcito cm
(juo subsiste.» Ibidem.
E o grão podor porf(UC tiithsifte o Mundo
NíViuillo cxistivÁ, í|uc obviga o lioiiicm
A siiapiMid(M--si^ (íxtíitico, o confuso?
Do.scouc.rto f:it:il do Enteudimento,
Quci' tudo dcxidir, c iguoi-a tudo!
Quor em tudo rciuav, c arrasta fiTros !
O circuMifutío Nada o aporta, o iV.cha,
O inliuito lliii fogo, e ousa avrostalloV
J. A. DB MAUKUO, HBDITAÇÃO, Callt. 4.
Dco Leia íl Natureza, u as Leis xubsintem ;
Matoria, Kapa(;o, Movimento, e Tempo
Pende do aceno seu. t'o' a voz s/pmeute
Tirou do Nada a niaiiuina do Mundo ;
Invisível, presente, abrange o Todo.
IDKM, A NATUltE/.A, Caut. 1.
Quaos pelo fértil campo ao vento ondeào
As pállidas lispigas, tacs os Mundos,
A voz do Eterno Ser sn avan(;.ào promptos,
Parào a ouvir-lhc a Lei, cscutíio, voào,
E uas prescriptas orbitas se movem
IC sempre moverão, ((ue a Lei siihulste
Té ((uc á Voz do Innnortal suspenda o Temi;
As nuuca froxas, incansáveis azas.
SUBSOLANO, s. m. Vento do levanto,
em (ipp()s'u;.-i() .-i favunio.
SUBSTABELECER, v. a. Estabelecer
outrem doljaixo de um, em sua falta.
■ — Sul.)rup;ar.
— Substituir.
SUBSTABELECIDO, part. jmss. de Sub-
stabelecer.
SUBSTABELECIMENTO, s. m. A ac^ao
de substabelecer, as palavras com quo se
substabelece.
SUBSTANCIA, ou SUSTANCIA, s.f. (Do
latim su/>í:l(tiili(i, de t:nò, e atitrc). Termo
do pliilosophia. O que subsiste por si mes-
mo, ditVcriailo do aceideute que S(j subsis-
te no individuo.
— Aqui Ho ([ue é como base das proprie-
dades, qualidades, attributos e accidentos
das cousas corporaes, e espirituacs.
— O quo luv de essencial, e importan-
te n'iun cscripto, n'um acto, n'um nego-
cio, etc. — «A substaucia da qual em-
baixada orjio oftbrccimentos do sua pes-
soa e do seu Koyno, o quauto desejaua
Hua aiiii/.ad(! e commorcio das couBas que
cm l/ortii^íal auia ]n:r ci>mmuta(;?to da«
quo tiiilia o Hcu reyiio.» liarros, Década
1, liv. .'), cap. i». — «F(;rquc a substan-
cia da carta que cUes e8crcueia(">, era
cripaiit.ircmiie como cllo tractaua mal as
cousas de (Jalecut, o qual estaua com
grande dosojo do o receber pêra assen-
tar paz, amizade c commcreio da manei-
ra que ello ({uisesso, por terem sentido
que o Camorij ncrdiuma cousa matis de-
sejaua.» Ibidem, liv. 6, cap. 3. — cA
substancia da qual vinda era pedirem
paz, e qiio clRey se queria fazer tribu-
tário (relRoy do Portugal (|ue pcra o
passado, bastasse por satisfaçai"» d'alguma
culpa se a tiniiaí") em defender sua terra,
a morte de seu fillio e do nmitos que o
aconqjauharão ncUa. « Ibidem, liv. 7,
cap. 4. — «Fez lei no anuo de M. D.
XV. em Lisboa, perque declarou que
qualquer cscriuriu da fazenda ou da ca-
mará, que no sumario dos aluaras dis-
crei)assc da substancia do original fosse
degradado peia Ilha de S. Thome, e
perdesse o officio, e toda sua fazenda
amctade pcra quem o acusasse, e a ou-
tra amotade pêra sua camará, e que os
aluaras nam tiucssem vif;or.» Damião de
Gocs, Chronica de D. Manoel, part. 4,
cap. 8(5. — nE hum dia estando elle es-
creuendo pcra el lley de Castella, o eu
so com elle no escritório, por eu ver ser
cousa de muyta substancia estaua com
o rosto virado pcra outra parte, e elle
querendo a pena, quando me vio estar
virado disse.» Cíarcia de Rezende, Chro-
nica de D. João II, cap. 201. — a Mas
poniue (is verdadeyros descubridores de
suas fontes foram os nossos Portugueses,
pcra quem Doos tinha guardado seu des-
cobrimento, com outros de mais substan-
cia, a cuja conta ricou dar a vcrdadcyra,
e mais certa rclayào delias.» Fr. (i aspar
de S. Bornardino, Itinerário da índia,
cap. 21.
— Jlateria de que um corpo ò forma-
do, e em virtude da qual tom proprieda-
des iiarticulares. — «No mcyo da sub-
stancia do cérebro se observa certa par-
ticula mais dura, e cândida, a qual, se
chama Medida do Cérebro ; e por razaõ
da dureza se denomina também Corpo
culluzo: no meyo deste corpo se desco-
brem dous ventrículos chamados anterio-
res, superiores, dextro, e siiiist7-o, ou la-
teraes e estes dous saíS os mais amplos, e
dillatados ventrículos do cérebro.» Hraz
Luiz d'Abreu, Portugal medico, pag. 64,
§ :«.
— Termo de anatomia gorai. Substan-
cias ortianicas, ou principies iinmedia-
tos; corpos líquidos ou sólidos, quo nào
s.MÍo nem crystallisaveis, nem voláteis em
decomposii,'ào.
— Diz-se dos seres espirituacs, em op-
posiçrio aos seres inaleriaes.
— Aquillo que subsiste por si.
Ttaiigilo da {ngil vida a infltuvnl tí^n ;
C^uuiido «u acaba a pjiz, c o lai;o cst&lA
])|)^ eii-iii',Mito» na iniirtal imbflnncin.
Abre o grcinio outra vez, o o.i deuprczado»
Trofeofl da crua morte c»cond<!, c fecha.
J. A. UL MACKIJO, A NATCKKZA, Caut. 2.
Ob fogo activo, inc/ignita imljflaitcia!
Ilapidiítsimo fluido, >|uc abraiigi^g
A Natur(;za inbiira, a mão do Eterno
'l'o imprime o vivo, accelcrado ui<jto ;
Ella no-i corpoií te concentra, e guarda,
niiucu.
E «nrá.í sempre occulta á tnciito liuinana,
Siihnlatvin <;lem(!ntarV Qual atrevido
Proiiictlico de.íin-egou, desliro as azas
A devassar da Natureza o seio :
Agriís vereda.'», íngreme caminho !
Mil conductorea me oílerecc a Kiioila ;
Maa entre bintoa dirídído fica,
Su»i)Cn80 o vôo do fervente engenho.
IBIDIUl.
No 'l'odo descoljrío principio activo,
Agitador espírito entranhado
Pela infinita (sorporal HLhstanria ;
Movimento lhe dá, calor, c vida.
iDiDEU, caut. 4.
E que outra cousa he Deu», clama o sublime
Profundo preceptor do ingrato Nero,
Mais do que a eterna, imaicoda Natureza,
De (pie attributos sào snljslannia cxtenaa,
E pura intellec(;ào, foríja dirina,
Que todas as por(;õc3 do corpo anima !
Applaude o erro do Romano Vate,
Qm; Imma milinlaneia a6 n'Orbc conhece
líizendo afouto em Verso alti-nonante
• Tudo o que vês, o o que nào vê» he Jovc.»
IDFM, \°IAGF.M KXTATICA, Cant. 2.
Abrem primeiro ao Panteísmo a porta ;
Á idéa tua, <5 Luso lãraclita.
Quando encaraste a única »>ih»tanexa
(,)ue vária, e só, modificíida existe.
Ilum véo sobro este pi'lago lancemoa,
Colhe só no Parnaso amenas flores.
Com cUc huma substancia oní Dooâ aò vira :
Infinita c.\tensào, e os modos vários.
Membros de hum corpo sõ. mas infinito.
Do Preceptor de Nero este o deiirio !
Tem limite o vastíssimo Oceano,
Intr.ansgrcdiveiâ a Kazão tem marcos.
Nem pode, al<!'m dos qnacs, dar maisbam passo.
IBIDEM.
Piza-so a immensa fluida siibsianeia,
E yX sridior do Afar n'hum curvo Lenho.
Nao lhe basta ao mortal da Terra o Sceptro.
IBIDEM, cant. 4.
Ethoreo assopro a maquina dirige.
Assopro animador, simples, activo,
(^•uha de sempre existir, siibsiancia pura,
Pcnaa, prevê, rccorda-ac, rcfloctc,
N'um ponto sobe ao Coo, n'hum ponto deacc.
IDKM, A NATUaEZA, COnt. í.
Mas incógnita a nós julgas. quTio casa
Substancia elementar ? Qual atrevido
Promethco despregou, desfiro as axas
SUBS
SUBS
SUBT
615
A dovasaax" da Natureza o seio,
Agras Veredas, iiigreme caminho !
IBIDEM, caiit. 2.
He substancia subtil, ligeira, e viva,
A quem luz, e calor continuo seguem,
E o mais ignoto ás gárrulas Escolas.
— Figurarlamente : O qixe nutre o es-
pirito como a substancia nutre o corpo.
— A principal furça, poder, riqueza da
terra, do estado.
— Naus cie 'pouca substancia ; naus de
pouca carga.
— Caldo substancioso,
— A parte nutritiva e alimentosa. —
«Dà hum ladrão destes tímidos em huraa
Alfandega, tira o miolo a duas caixas de
açúcar, e naõ repara em derreter huma
dúzia delias com agua que lhes botou por
cima, para que se cuide, que o mesmo
caminlio levarão as duas, cuja substancia
elle encaminhou para sua casa, e que as
humidades do mar, e do sitio obrarão
aqueUe mào recado.» Arte de furtar,
cap. 24.
— Loc. ADv. : Em substancia; sum-
mariamente, em resumo.
SUBSTANCIADO, pari. ^^ass. de Sub-
stanciar.
SUBSTANCIAL, aàj. 2 gen. (Do latim
substantíalig, de substantia). Termo de
philosophia. Que pertence á substancia
de alguma cousa. — A santidade sub-
stancial e incarnada.
— Alimentoso, cheio de substancia nu-
tritiva. — «Sermão bem feito mas grande
é como banquete esplemlido de iguarias
delicadas e substanciaes ; come a gente
com gosto, mas em meio do banquete
está saciada e talvez com fastio; e, se o
tempero ou falta de sal desagrada, mais
cedo chega a naiizea. » Bispo do Gríio
Pará, Memorias, publicadas por Camillo
Castello Bianco, pag. 135.
— Figuradamente: Essencial, impor-
tante.
— Diz-se das obras do espirito. — ■
Dir-vos-hei o que ha de substancial neste
livro,
■ — Que contém cousas importantes.
— Substantivamente : O substancial
de uma cousa. — «O mais substancial
de sua embaixada era tratar casamento
do Archeduque Daustria dom Carlos com
a Infante donna Isabel sua iilha, e do
Principc dom loão seu filho com a Infante
donna Leanor irmãa do mesnio dom Car-
los.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 4, cap. 1.
SUBSTANCIALMENTE, adv. (De sub-
stancial, e o suffixo «mente»). Quanto á
substancia. — No Sacramento da Eucha-
ristia recebe-se o corpo de Ckristo real e
substancialmente.
— Em substancia.
— Importante, e mui utilmente.
f SUBSTANCIALIDADE, s. /. Natureza
substancial.
t SUB3TANCIALISAR, v. a. Conside-
rar como substancia.
SUBSTANCIAR, v. a. Termo de medi-
cina. Dar comeres substanciaes para da-
reuí força o vigor.
— Expor em substancia, summaria-
mente.
— Vigorar, dar forças.
SUBSTANCIOSO, A, adj. Que dá sub-
stancia, que nutre, vlíjora.
SUBSTANTIFICO, A,^adj. Termo de mo-
dina. Que nutre, substancial, de sub-
stancia.
SUBSTANTIVADAMENTE, adv. (De
substantivado, e o suffixo «mente»).
Usando do adjectivo como se fora sub-
stantivo.
SUBSTANTIVADO, part. pass. de Sub-
stantivar.— Adjectivo substantivado; ad-
jectivo que se usa como se tora substan-
tivo. — (_) aqradavel, o útil.
SUBSTANTIVAMENTE, adv. Á maneira
de substantivo. — Muitos adjectivos se
tomam substantivamente.
SUBSTANTIVAR, v. a. — Substantivar os
adjectivos; usar d'elies substantivados.
SUBSTANTIVO, A, adj. Diz-se todo o
nome d'ente designado pela idêa de sua
natureza, ou de sua svibstancia.
— Final substantivo ; tinal que per-
tence aos substantivos.
— O verbo substantivo ; o verbo ser,
que expiúme a existência por si mesmo.
— Termo de chimica. (JOres substan-
tivas ; cores que se combinam com os
estofos em virtude da sua affinidade pró-
pria.
— Substantivamente : O substantivo e
o adjectivo.
SUBSTAR, V. n. Vid. Sobrestar.
SUBSTATORIO, A, adj. — Mandado
substatorio ; que ordena sobrestar na exe-
cução de alguma ordem, sentença.
SUBSTITUIÇÃO, s. f. A acção de sub-
stituir, ou ser substituído.
— Substituição pupillar; aquella em
que o pae se nomeia herdeiro em falta de
filho seu, menor de quatorze annos, por
morte d'esse filho, ou por elle não fazer
testamento, ain.da que herdasse o pae.
— Substituição vulgar; a de um her-
deiro em falta de outro.
SUBSTITUÍDO, part. pass. de Substi-
tuir. Posto eui logar d'outrem.
— Bens substituídos ; bens transmit-
tidos por substituição.
— S. m. Aquelle que c herdeiro por
substituição. — O substituído.
SUBSTITUIR, V. a. (Do latim substi-
tuere, de sub, e statuere). Pôr uma pes-
soa, uma cousa no logar d'outra.
— Termo de jurisprudência. Appellar
alguém para uma successão depois de um
outro herdeiro, ou na sua falta.
— Diz-se do mesmo modo das heran-
ças que se deixam por substituição.
— Substituir tíwrt cadeira ; fazer as li-
ções, ou prelecções d'ella em vez do len-
te proprietário.
SUBSTITUTO, A, í. Pessoa que exerce
as funcçòes de uma outra. — «Em Cas- '
tella com o Rey D, Pedro, em Finança
com Gilperio, em Suécia com Christier-
no, em Dinamarca com Herico, em Por-
tugal com D. Sancho Capello, que foy
excluído do governo por sua frouxidão, e
teve a seu irmaõ o Conde de Bolonha
por seu substituto.» Arte de furtar, ca-
pitulo 16.
SUBSTRACÇÃO, s. f. Penitencia canó-
nica do tei-ceiro grau, que se impunha na
primitiva egreja.
SUBSTRACTÒ, A, adj. Prostrado, liga-
do pelas carnes peuitenciaes á pena de
substraeção.
7 SUBSTRATUM, s. m. (Do latim sub-
stratiim, de sub, e strcdum). Termo de
philosophia. O que existe nos seres inde-
pendentemente de suas qualidades, e o
que serve de base a elles.
SUBSTRUCÇÃO, s. /. (Do latim sub-
stnictio). (J fundamento de um edifício,
construcção subterrânea.
— Diz-se particularmente dos edifícios
antigos, nas ruínas dos quaes se levanta-
ram modernos.
SUBSULTAR, v. n. (Dn latim subsulta-
re). Termo de poesia. Saltar muitas ve-
zes.
SUBTENDER, i;. n.— Linha que sub-
tende o arco; linha que lhe fica sub-
te''sa.
SUBTENSA, .9. /. Termo de geometria.
Linha tirada dos extremos de dous lados
que furmam um angulo opposto a ella;
fica por baixo do arco descripto de um
extremo ao outro dos mesmos lados.
— Adjectivamente : Linha subtensa.
SUBTERFÚGIO, s. m. (Do latim subter-
fugium). Jlcio artificioso para se livrar
de um embaraço.
SUBTERFUGÍR, v. n. (Do latim suòter-
f}igere). Fugir, escapulir com algum sub-
teidugio.
SUBTERRÂNEO. Vid. Soterraneo. —
«Assim precedeo também à batalha de
Canas huma profusíssima expiração de
fogos subterrâneos no Monte Mongibelo,
como Icndira Silio ; e semelhante succes-
so se anticipou também ao roubo de Pro-
sérpina, como Claudiano nota e o des-
crevo Appiano.» Braz Luiz d Abreu, Por-
tugal medico, pag. 414, § 55.
Pelas gargantas de oscilantes montes
Este fogo central se arroja, e sobe ;
Torrentes subterrâneas, donde uascem
Sulfúreas agoas férvidas, que torna
Úteis á ^^da a mão da Mediciua.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Cant. 2.
o crime a perturbou, ficaste mudo
Na triste noite, que ao fatal delicto
Primeira se seguio : roncos medonhos
616
SUBT
SUBT
SUBT
Do embravecido» mares »o oitciitilrAo,
éliiblr.rraiieoi trovõor), ir<'«;i;ii;() il mii.ii;o.
IIIIUKM, Cilllt. 3.
SUBTERRAR. Vi^l. Soterrar.
SUBTERREO, A, nJj. (Do latim snb-
terretis). Suliturruiico, (juo cstii debaixo
da turra.
SUBTHESOUREIRO. Vid. Sobthesou-
reiro.
SUBTIL, afij. 2'gcn. (Do latim suhti-
lis). Delgado, tino, tonuo.
Manda vir das cstancinH o qiio inteiro
E o que ncUiiii c.-itó inullioi- armjido,
Manda t[w lá iio iiiiigo o csjjiiifíardeiro
Súltii o cluiinbo siihlil arjcbatado,
Que iin|)Oriâivc>l 8CiA não ser certeiro,
Tauto dos Turcos he tudo occupado.
Ma» o inie agora quer dii^er meu canto
Ku sei que dará a todos fíosto e espanto.
FBA!l(!ISCO DANDRinK, 1'UI.MKIItO CURCO DB BIO,
caut. 19, est. 88.
Porque o chumbo nubtil também lho clioga
Que d'outra parte s Uta outra espingarda ;
Cahe morto este também, e aqucUc honrado
Entra de dous no inferno acompanhado.
iniDi-.M, caut. li), est. Oi.
Do agudas lan(;as esquadrão cerrado
A já vingada espiga, escuda, c fecha :
Com seu pezo opulenta inclina a fronte,
Assim da tempestade esquiva os golpes.
A pragana subtil o assalto veda
A' mui voraz sofreguidão das aves.
j. A. DK sucKno, MKnirAÇÃo, caut. 3.
O subtil instrumento he obra sua.
Que desde a Torra ao Ceo modo a distancia ;
Do maior dos mortaes nas màos o entrega
O Nauta rortugnez, Senhor dos Mares,
Que he ser dcUcs Senhor dar volta ao Globo,
Som outra guia mais que csfor(;o, o honra,
E a vingani;a também, mas d'huma afronta.
IDEM, VIAGEM EXTÁTICA, CaUt. 2.
Ab roscas faces, a nevada fronte,
As douradas madeixas, que fluctuão
Como cm ondas subtis no ebúrneo coUo,
A"8 Letras dão mais luz, brilho ás Scicncias :
Talvez 30 illuda o nosso entendimento :
Mas ditosa illiísào, ditoso engano !
No rovolto Oceano, onde hoje as ondas
Furiosas mugindo aos ares sobem,
Quaes montanhas dVispuma onde hoje os Ventos,
Como implacáveis Drspotas pelcjào,
A paz então reinou, Zetiros meigos
Pelos aros subtis equilibrados
Da liquida plauicic a face incrcspào.
IDEM, A NATUREZA, Cant. 1.
Elástico, subtil, presente, occulto,
Que pelo espaijo imnienso abrange os Corpos,
Sempre agitado, c fluido se miíve.
Se a for(;a o comprimio, mais for(;a adquiro.
IBIDEM, caut. 2.
Não tom n'aljftva amor setta mais doce !
Mas com que força o braijo omnipotente
Do ar subtil a maquina sustenta !
Qu' exacta proporijào, qu" oxacto acorde
Vejo entro o ar, c os corpos luminosos !
DcBto fogo guLlil, parto do Inferno,
Eléctricas uor(;ricrt, (\n' etieito» obruo
No Bisio maternal, licu ubra/ado
Sem vér do dia a luz mimoso Infante ;
Quasi autos do viver, já BoHro a morto.
Canta as can(;ues los tempos que jiaBsaram
Ao som da harpa invisivcl i|uc lhe tangem
Os domados espiritoa que a servem.
Como o subtil Aricl, por invcucivel,
Incantado feiti(;o...
GAHBKTr, CAMÕES, caut. 7, cap. 1.
— Que é da natureza de penetrar. —
Um vaneno subtil.
— Diz-se dos Hentidos fjuo tem agude-
za. — Ttr u ouvido subtil.
— Euibarcui^ão subtil; eniljarca^rio levo
e pequena.
— Jnlerpretaçno subtil.
— Subtil enyenhn.
Matérias dignas são, que cm toda a parte
Delias cante o subtil engenho agudo
A virtude, a sciuncia, o governo, a arte.
Dote hum da natureza, outro do estudo ;
Ma.s as obras do fero, horrendo .Marte
Como em honra e louvor passào por tudo,
Assi também matéria são mais dina
Do quo mais gastou d'agua Cabalina.
P. d'aNDRADE, PltlUEIBO CEBCO DE DIU, Caut. 17,
est. 2.
— Diz-se também das peíssoas. —
((Nào!? Parece impossível, meu excellen-
tc amigo, que nào alcanceis de golpe o
que quero dizer; vr)s, que sois t3io subtil.
Ôlhac! Contar-vos-hei uma historia.» A.
Herculano, Monge de Cister, eap. 16.
— Subtil imitido.
Tal manha buscou ja, para que aquelle
Que de Auchises pario, bem recebido
Fosse no campo, que a bovina pello
Tomou de espaço, por subtil partido.
Seu filho vai buscar, porque só nelle
Teem todo seu poder, fero Cupido ;
Que assi como nar|uella empresa antiga
A ajudou ja, nesfoutra a ajude c siga.
OAM., Lus., cant. 9, est. 23.
— Matéria subtil ; matéria mais del-
gada que o ar.
— Fino, engenhoso ; fallando das cou-
sas.
SUBTILEZA, í. /. (Do latim ntbtilitau).
Qualiilaik; do que é subtil. — .á subtile-
za (/" veneno. — A subtileza do esi)irito.
— «No pé da rocha tolas aqucllas aguas
se recoluiam em tanques cercados de uma
pedra cristalina lavrada do maçonaria
d'obra romana, cheia de tanta subtileza
c galanteria pêra dar contentamento aos
olhos quanto ao juízo humano seria tra-
balhoso eomprehendor. » Francisco de ilo-
raes, Palmeirim d'lnglaterra, c.np. \'20.
— «E prouvera a Doos, que uaõ tivera
tanto do nobro, naõ s.) peio que llie con-
cedemos do suas subtilezas, senaõ tam-
bém, pelo que lho negai5 outros da ma-
téria, em quo se occupa, o sugeitos, em
que Ko aclia.» Arte de furtar, cap. 2.
— Termo de tlieol<.;.'ia. O dote sobre-
natural en)anado da alma ;.'loriosa, pelo
qual o corpo «e torna capaz do penetrar,
<; couip<!n«ítiar-»e cohj outro corpo.
— Subtileza de mãos; a de.ítrcaa com
que Hc faz com fila» alfruma couca «cm
BC entender, ou «cntir o como.
— Figuradamente : Subtileza de enge-
nho; delicadeza; que percebe, e inverte
cousa», e razões delicadas, abstractas.
— Sy\. : Subtileza, aslucia, ardil, ar-
teiricc, tarjacidade.
Em sentido material bc chama subtile-
za a tenuidade de um corpo dcl^^a lo o
tonue. Em Bcntido metaphorico, subtile-
za é jjerspicacia de engenho. Em nentido
morai, subtileza ó a qualidade de um
talento perspicaz, o qual examina::do miu-
damente a» cousas, ob.servafjdo a.s diffc-
rente.s partes entre si e as suas relações
ou com o todo e com as circumstancias
e objectos exteriores, chega a conhcccl-os
de um modo mais claro e positivo que
aquelles que não p;ozam d'e.^ta qualirla-
dc ; tendo sobre elles o que é dotado de
engenho subtil a vantagem de poder di-
rigir-se melhor em todos os seus pensa-
mentos e acções. A subtileza c uma qua-
lidade boa em si, útil e apreciável, raaa
detestável quando se faz aso d'ella para
maus fins.
A astúcia 6 uma subtileza manhosa,
que ordinariamente se emprega em fazer
damno e fraudar. Alguma"! vezes toma-
se também á boa parto.
O ardil é astúcia com que se quer lo-
grar algum intento, e se verifica deslem-
brando e enganando, e sobretudo enco-
brindo com fingidas apparencias o mal
que se quer fazer. A astúcia occulta m.-ls
intenções ; o ardil seus passos e meios :
a astúcia adianta, mettendo-se na sul)ti-
leza; o ardil no disfarce com que pro-
cede,
A arteiricc c palavra antiquada que
significa astúcia má, enganosa, fraudu-
lenta: toma-se sempre cm má parte. A
arteirice consiste especialmente no artifi-
cio e mentira com quo procede o arteiro.
A sagacidade è a penetração do espi-
rito que consiste em descobrir o que é
mais difficil e occulto nos negócios, etc. :
também significa o, astúcia, com que se
inventam e traçam os meios de alcançar
alguma cousa, e se presentem os embara-
ços, e di'=cobrcm os meios de os ata-
lhar.
SUBTILIDADE, .«. /. Del.eadeza, gran-
de tcnui i.ado do c^rpo cu de SU.1S partes.
SUBTILISAÇAO, ou SUBTILIZAÇÃO,»./.
Termo de cliimica. AcçSto de snbtilisar
certos líquidos polo calor do fo^o.
-}■ SUBTILISADO. ouSUBTILIZADO.part.
pii.<:s. do Subtilisar. T. rrad.i subtil.
SUBTILISADOR, oa SUBTILIZADOR, A,
s. Inventor de subtilezas.
SUBU
succ
succ
617
SUBTILISAR, ou SUBTILIZAR, v. a.
Tornar subtil, delicado, penetrante.
— Adelsayar.
— Keiiuzir a pó subtil.
— Discorrer com subtileza, disputar
subtilmente.
— Inventar com delicadeza.
SUBTILIS3IM0, A, adj. superl. de Su-
btil. Mui subtil. — «Ceo racional, ou Mar
animado o descreve o subtilissimo Ca-
raffa i. Como Ceo, saõ nelle estrellas,
os olhos; Sol, o entendimento; espheras,
os sentidos. Tem por Lua, a vontade ;
por signos, as delineações: por Planetas,
os membros; por Zenith, a cabeça; por
Nadir, os pòs; por Oriente, as vig-iiias;
por Occaso o somno.» Braz Lviiz d' Abreu,
Portugal medico, pag. 4, § 7.
Do Priisao Lidador, Monareha, c Sábio,
O Amigo, o Mcsti-o, a Lnz, a Gloria, e tudo,
Mendeliíon subtiiissimo apparcce !
Nào subio mais Platão, quando do BoUo
Ptírfeito no Ideal co'os Sábios dava
Na douta Athenas o exemplar sublime.
J. Jl. de SU.OEDO, VIAGEÍl EXTÁTICA, CaUt. 2.
Do fios subtílissimos tecidas,
Mas do matéria indissolúvel, crào
As vestes, que cila traja, c que formadas
Porão por ella mesma obra pasmosa,
Que do cândido pé ao collo ebúrneo
Forma diversos gráos.
SUBTILMENTE, adv. (De subtil, e o
suffixo «mente»). De um modo subtil,
com subtileza.
Este interpreta mais que subtilmente
Os textos : este faz o desfaz leis :
Este causa os perjúrios entre a gente,
E mil vezes tyrannos torna os reis.
CAji., Lus., caut. 8, est. 99.
— Em partes muito ténues.
— Discorrer subtilmente ; discorrer
agudamente.
SUBTiLISSMAMEKTE, adv. (Do sub-
tilissimo, e o suíBxo «mente»). Mui sub-
tilmenti^
SUBTRACÇÃO, s. /. Termo de arith-
metica. (Viu. Diminuição). Operação que
consiste em deduzir um numero de outro
para lhe achar a difFerença.
— A acção de privar, privação. —
Subtracção da firaça.
SUBTRACTIVO, A, adj. Que se ha de
subtrahir, e deduzir de outro. — Numero
subtractivo.
SUBTR.4HID0, part. pass. de Subtra-
hir.
SUBTRAHIR, v. a. Tirar, privar, re-
tirar.
— Subtrahir-se, v. refl. Fugir, eva-
dir-ao, retirar-se.
SUBURBANO, A, adj. (Do latim suòur-
lianiin). Próximo á cidade, visinho dos
arrabaldes da cidade.
•voL. V. — 78.
SUBURBICARIO, A, adj. Dizia-se das
cidades sulmiettidas ao governo do pre-
feito de Roma.
— Diz-se das províncias de Itália que
compõe a diocese de Roma, e das egre-
jas estabelecidas n'estas províncias. —
Provindas suburbicarias. — Bispos su-
burbicarios.
SUBÚRBIO, s. m. Os arrabaldes de al-
guma cidade. — Os subúrbios de Coim-
bra são luiviosos e decantados.
SUBVASSALLO, s. m. Vassallo de ou-
tro vassallo, dependente de senhor feu-
dal.
SUBVENÇÃO, s. f. (Do latim subvin-
tio). Auxilio, soecorro, allivio.
SUBVEKTANEO, A, adj. — Ovo sub-
ventaneo ; ovo infccumlo.
SUBVERSÃO, s. /. (Do latim subver-
sio). Ruina, destruição, caída.
— Termo de medicina. Subversão do
estômago; desordem da força concretiva.
— Perversão moral.
SUBVEaSIVO, A, adj. (Do latim sub-
versum, de subvertere). Que destroe, que
tende a subverter.
— • Figuradamente : Doutrinas subver-
sivas.
SUBVERSOR, A, s. Pessoa que sub-
verte.
SUBVERTEBOR, A, adj. e s. Que sub-
verte.
SUBVERTER, ou SOVERTER, v. a. (Do
latim subvertere). Derribar, destruir, ar-
ruinar, transtornar, sossobrar.
— Subverter os costumes; estragal-os,
perdel-os.
— Subverter-se, v. reji. Arruinar-se,
destruii--se, derribar-se.
— Subverter-se o navio no mar; sub-
morgir-ise, ser comido das ondas.
SUBVERTIDO, ou SOVERTIDO, part.
pass. de Subverter. Sossobrado, subuicr-
gido, destruiiio, arruinado.
SUBVERTIMENTO, s. m. A acção de
subverkT-so, ue subverter.
SUGAR, V. a. Termo da Beira. Vid.
Chuchar.
SUCÇÃO, s. f. Termo de medicina.
Acto de chupar.
— Termo de phvsica. Acto pelo qual
se eleva uui liquido a certa altura.
SUCCEDENHO, s. m. Termo da Beira.
Vid. Successo, e Incidente.
GUCCEDER, V. n. (Do latim succedere).
Vir posterior em ordem, em tempo.
— ■ Seguir-se. — • «E porque quada hum
nai3 perca seu trabalho, também escreueo
a chronica deste Rey dom Affonso, to a
morte do Infante dom Pedro, e a chroni-
ca delRey dom Duarte seu padre, as quaes
Rui de Pina que o succedeo no officio
fez suas, pelo que emendou e accrescen-
tou nellas.» Barros, Década 1, liv. 2,
cap. 2. — «E por elle Soldão neste tem-
po ter morto três grandes Capitães da-
quclles, que per ordenança do Reyr.o o
podiam succeder nelle, e hum que tinha
por Governador da Cidade Damasco, com
temor de lhe fazer outro tanto, não quiz
ir a seu chamado, e estava levantado com
favor do Xeque Ismael, eram para elle
todas estas cousas huma grande confu-
são, porque em nenhuma confiava. » Idem,
Década 2, liv. 8, cap. 3. — aDepois El-
Roy D. Felippe Prudente, deixando por
Governador deste Reyno ao Archiduque
Alberto, lhe deixou Guarda Tudesca, e
por Capitão delia D. Francisco de Sou-
sa, a qual se foi continuando com os Go-
vernadores, e VisoReys, que lho suoce-
deraõ, atè Sua Magestade, que Deos
guarde, que admittio os Tudescos, que
ainda achou com os outros Alabardeiros
da sua Guarda, que dantes tinha.» Se-
verim de Faria, Noticias de Portugal,
Disc. 2, cap. 4. — «Os documentos e Or-
denaçoens, que alléga, naõ se entendem
assim. O primeiro lugar da Ordenação,
que aponta, procede nos bens da Coroa,
que saõ havidos por Concessão dominica
do Rey, e conforme a Ley Mental, por-
que se deu ordem de succeder nos bens
da Coroa, naõ se differem Jura ha'redi-
tario.n Arte de furtar, cap. 16. — «M(k-
mente que de tal devido, como o dito D.
Joaõ Henriques havia com o dito D. Fer-
nando, he da parte das mulheres; que
segando costume, e ley de Espanha, dos
filhos a fora naõ podem succeder em tal
dignidade.» Ibidem, cap. 16.
A côr mudando,
Um tempo immovcl fica ; mas a raiva
Siiccedeiião ao desmaio, entra escumando
Na grande sacristia, c d'alli passa
Para o Altar mór, aonde se reveste,
Onde, como costuma, em contrabaixo,
Sem saber o que diz, a Missa cauta.
DINIZ DA CKUZ, HYSSOPE, Oaut. 3.
— ■ Entrar na vagante, ou em logar de
outi'o. — «Em a qual Cidade como foi
conhecido lhe fezeram os gouernadores,
e todalas outras pessoas nobres que nella
viuiam, muita cortesia, e dahi se tornou
ao regno, e fez vida com sua molher, de
que ouue dom Theodosio que o sucedeo,
e donna Isabel, que casou com o Infante
dom Duarte filho dei Rei dom Emanuel.»
Damião de Góes, Chronica de D. Ma-
noel, part. 1, cap. 21. — «Casou el Rei
D. Duarte com D. Leonor, filha dei Rei
D. Fernando o primeiro de Aragaõ, e Si-
cília, de quem houve D. Affonso, que
lhe succedeo no Reino, e o primeiro,
que em Portugal se chamcu Príncipe em
vida do Pai. O Infante D. Fernando
Duque do Viseu, Mestre das Ordens de
Christo, o Sant'Iago, que casou com D.
Britis, filha do Infante D. Joaõ, de que
nascerão a Rainha D. Leonor, e el Rei
D. Manoel.» Fr. Bernardo de Brito, Elo-
gios dos reis de Portugal, continuados
por D. .losé Barbo.^a. — «Houve el Rei
da Rainha D. Britis o Infante D. Afibn-
so, que morreo menino em Penella, e jaz
618
SUCC
SUCO
SUCC
em Santarém no Mosteiro tio S. Domin-
gos; o Infantes D, Diniz, quo morrco me-
nino, jaz cm Alcobaça ; o Infante D.
Joaõ, que morrco moço, jaz cm Oilivclas
junto do seu avô : a Infante D. Maria,
que canou com ol Rei ilc CastcUa; o In-
fante D. I'u'lro, que llu; succedeo no
Reino; a Infaiito D. Leonor niulber dei
Rei D. Pedro o quarto de Arafíaò.» Ibi-
dem. — «Teve ol Rei da Rainha D. Bri-
tis sua mulher o Infante D. Diniz, quo
lhe succedeo no Reino: O Infante D.
Affonso Hcnhor de Portalofíro, e outras
Villas : O Infante D. Fernando que jaz
em Alcobaça, o morrco moço: A Infanta
D. Branca, Abbadcça quo fui do Lorvuõ,
o depois das Elgaa do Burfíos: A Infan-
ta D. Constança que morreo em Castol-
la, indo visitar seu avô, c jaz em Alco-
baça.» Ibidem. — «Casou el Rei D. Af-
fonso cora D, Urraca Hlha dei Rei D.
Affonso oitavo do CastcUa, e do D. Leo-
nor fdha dcl Rei Joaõ de Inglaterra, de
que liouvc o Infante D. Sancho que lhe
succedeo no Reino; D. Aflbuso, que foi
Conde de Bolonha em França, e depois
Rei de Portugal.» Ibidem. — «A Lan-
çaróta Paçanha seu filho Manoel Paça-
nha, a quem por naõ deixar filho macho,
succedeo seu Irniaõ segundo Carlos Pa-
çauiia; o qual teve duas filhas, Dona lic-
nebra, que casou com o Comlc D. Pedro
de Meneses primeiro Capitão de Ceita,
com quem houve o Almirantado.» Ma-
noel Sevorim de Faria, Noticias de Por-
tugal, Dise. 2, eap. 13. — «E na Batalha
do Montijo houve quasi a mesma gente:
e com tudo nestas occasioens naõ junta-
rão 03 Castelhanos mais gente, que a
nossa em numero considerável, e o mes-
mo succedeo na batalha das Linlias de
Elvas, em ipie os Castelhanos tinhaõ 14:>
Infantes, e õ;). cavallos, nòs 8,). Infan-
tes, e 2;>õ00. cavallos, na do Amexial,
ou Canal, nos excedião em mais trez mil
cavallos, ainda que a Infantaria era pou-
co menos que a nossa.» Ibidem, eap. í).
— «E por naõ ter delia filhos succedeo no
cargo Ruy do Mello, Senhor de ]\Iello,
casailo com a segunda filha de Carlos
Paçanha.» Ibidem, cap. li). — «E por naõ
ter delia filhos, suceodeo Nuno Vaz de
Castelbrauco, por ser filho de Catharina
Paçanha, neta do Almirante LançanUe
Paçanha, e a este succedeo seu sobrinho
Lopo Vaz de Azevedo filho de sua Ir-
mãa Isabel Vaz Paçanha, e de Gonçalo
Gomes de Azevedo Alcaide Mòr de Alen-
quer, o qual teve a António de Azevedo,
que foi Almirante, o esto, a D. Lopo de
Azevedo, em cuja linha se conservou es-
ta dignidade.» Ibidem.
— Sair bem ou mal. — «Posto Ruy
Lourenço cn\ caminho a dar esta vista a
Mombaça, succedeo lhe também o nego-
cio que tomou per vezes duas n.aos e
três zan\bueos : nos quaes viuhaõ doze
Mouros homens mui priueipaes da cida-
de da Hraua que está abaixo do Melinde
com legoas.o Barros, Década 1, liv. 7,
cap. 4.
— Succeder nlr/uma cousa a alrjuem;
sortir, sair-lhe como traçara, aproveitar.
— Succeder na kcrum^a; vir a ser se-
nhor d'ella por inorte do instituidor.
— Tomar o logar, as vezes que o ou-
tro tinha.
— Sujeitar, obedecer. — cA Deus e a
vossa niagestade pedimos todos os reli-
giosos (Postas missões, lhe mande vossa
niagestade succeder, quando vossa nia-
gestade assim o tenha ordenado, pessoa
de tal talento e christandade, quo leve
jjor diante o que elle tem começado.»
Padre António Vieira, Cartas, n." 18.
— Acontecer. — «No fim dos três an-
nos e meyo, enti-ando já o Santo nos
quatorze de sua idade, succedeo visitar-
so a prisaõ por alguns Mouros nobres do
serviço dei Rey Abderramcii, ou fosse
para darem liberdade a cativos, ou para
outro fim que não sabemos.» Monarchia
Lusitana, liv. 7, cap. 19. — «O anno da
I lixara que aqui aponta, de quatrocentos
e dez, disse eu escrevendo a Chronica de
Cister, que naõ condizia com a era de
César, quo alli aponta, crendo que esta-
va demasiada em dez annos, porque a
peregrinação de Mafoma, (como jà to-
quey em sou lugar, e se collige das his-
torias Árabes) succedeo no anno de Chris-
to, seiscentos e treze, por onde ouuera
de ficar nesta doaçaõ assinado anno de
quatrocentos e hum, e não quatrocentos
e dez.» Ibidem, cap. 26. — «Porem quan-
to haver batalha com este cavallciro, não
o hei de consentir, que não sei o que
succederá, e o imperador teria de que
se queixar de mini.» Francisco de jMo-
raes, Palmeirim d'Iuglaterra, caj). 12-4.
— «Acabado isto, chegou-lhe desejo ile
as perder a ellas, que esta era sua con-
dição. Pois tornamlo ao mais que naquel-
Ic caminho succedeu, oscreve-se, que ao
quint > dia, depois que partiu da corte
do llespanha, caminhando uma tarde por
um campo raso cuberto de flores alegres
e cores diversas, fez descer todas.» Ibi-
dem, cap. Í25. — «Mas viis que o não
tendes com ninguém, nem ninguém 6
bem quo vol-o tenha polo desamor, com
que as ti'ataes, eneommendai-vos a vós
mesmo, quando em alguma affronta vos
virdes ; e se vos succeder mal, dai a vi'>s
a culpa, e não a guardeis pêra quem es-
tá fora delia: que visto está, que nenhu-
ma destas senhoras, que aqui vem, ò pê-
ra tão pouco, que om seu nome não pos-
saes entrar em campo contra quem qui-
zerdes, se o desamor com que as eon-
versaes, vol-o não estorvar. » Ibidem,
cap. 12(5. — «Florendos ficou algum tan-
to descontente de ver a fortab^za de seu
contrario, temendo succeder-lho algum
desastre com que sua senhora tornasse
fazer algum extremo com elle.» Ibidem,
cap. 127. — « AíToíiso d'Alboquerque,
posto quo estes moradores o apertavam
muito, quasi imputando a cilo o mal que
ao diante succedesse com «ua breve par-
tida, todavia este zelo que vio naquellas
pessoas tão princij)aes, do quem depen-
dia a governança, e uAsocego da terra, o
segurou mais em sua ida; e dando-lhe
por isso muitas graças, e as razões quo
obrigavam acudir ao csta/lo da índia, os
espedio, e dahi a três, ou quatro dia» se
partio com quatro velas.» Barro», Déca-
da 2, liv. 6, cap. 7. — «Mas como pelo
tempo adiante succedesse o contario, D.
Branca Rainha de França irmã de eua
mãi o casou com Matliildc, Condcça de
Bolonha, que havia pouco que viuvara de
Filippe o Crespo, filho do Filippe Au-
gusto Rei de França.» Fr. Bernardo do
Brito, Elogios dos reis de Portugal, con-
tinuados por D. José Barbosa. — «Em
castigo desta culpa succedeu que entre
os alheios, que contava, descobrio o buc-
cesso de hum amante, a quem não sabia
a dama, que acertou a ser a mesma a
quem elle queria : a qual sabendo o con-
to, e tendo por manifesto o seu primeiro
amor, de envergonhada delle próprio o
deixou, oeeupando-se em outros pensa-
mentos. » Francisco Rodrigues Lobo,
Desenganado, pag. 172.
Essa líivro Bom Trabalho,
porf|UC .1 elle aconteceu
não entender n'outro atalho.
Qual das portas succetleu !
Ascroxio PHiíSTES, ACTOS, pag. 27.
— «Posto que em algumas partes a
Ilha seja fresca, e apraziuel, cõ tudo pela
mayor parte, he sccji, deserta, e escalua-
da, o que nasce do pouco que nella cho-
ue, que muytas vezes succede passar
quasi todo o anno, sem nella chouer;
clõde vem ter poucos rios, pois nào pas-
são de quatro, e muy pequenos.» Fr. Gas-
par de S. Bernardino, Itinerário da ín-
dia, cap. 9. — «Aa ]>rim;i noyte fiz dar
hum rebate falso, pêra ver o csonio se
auiam em tomalas, c os despertar pêra o
que sucedesse. ^las em toda ella nâo
sentimos cousa alguma. Tanto que a cs-
trella dalua sahio, se deu por toda a Ca-
filla, o leua, leua, cõ que partimos, dese-
josos de chegar a Cidade Romus, que da-
qui nos ficaua catorze legoas, por nos
acharmos em huma feyra, que no dia se-
guinte se fazia.» Ibidem, cap. 16. —
«Assi que dest.as duas vezes, como dou-
tras que 03 de Calecut cometeram o pas-
so do vao, e sespalharam pella terra porá
destruir alguns lugares de Cochim. sem-
pre foram desbaratados, sucedendo-lhe
tudo ao contrario do que sperauani.» Da-
mião de Góes, Chrouica de O. Manoel,
part. 1. cap. 73. — «(íraças quo lhe suc-
cedèraõ, por ser cousa do Infante IXmi
Luiz, e que lhe elle encomendava muito.
succ
succ
succ
619
Este Fidalgo sabendo dos navios que se
faziaõ prestes pêra o Estreito, como an-
dava muito desconfiado da jornada pas-
sada, desejando de llie succeder cousa
em que...» Diogo de Couto, Década 6, liv.
9, cap. 2. — «Succedeu em Lisboa, que
fazendo huma Confraria em certa Igreja
a festa do seu Orago muito solemue,
ajuntou para isso muita prata de casti-
çaes, alampadas, peviteiros, e caçoulas,
que pedio por empréstimo a outras Igre-
jas, Mosteiros, e Irmandades : e como o
thesouro era de muitos, tinbaõ direito to-
dos para virem buscar, e levar as suas
pessas.» Arte de furtar. — «Melhor suc-
cedeo a hum, que vi em Évora (Caste-
lhano era) fez hum theatro na praça, poz
nelle dous caixoens de canudos de un-
guento milagroso, que servia para todos
os males : bailou sua mulher, e huma fi-
lha, que volteava por cima de huma
mesa.» Ibidem, cap. 31.
O nome Portuguez por si sáraentc
Com tào alto temor nellc se assenta
Qu'e3ta forte Cidade, e forte gente,
Nem tudo o mais que forte se apresenta,
Não podem segura-lo no presente
Naufrágio, que lhe mostra esta tormenta.
E dizem que a Cidade elle deixara
Se o que succedeo não Ih 'o estorvara.
r. DK ANDRADE, FKIU£ISO CEECO DE DIU, Cilnt.
2, est. 36.
E se o Senhor Eterno e Soberano
Com cousas que succedem cá na terra
Costuma a descubrir ao povo humano
O que o futuro tempo esconde e encerra,
Bem mostra isto que canto ao Lusitano
Povo, o ditoso fim que nesta guerra
Que se lhe vai agora apparelhando
Lhe teoni guardado o Coo amigo e brando.
IBIDEM, cant. 10, est. 9.
— «A uns parece que se deve recolher
o casado sempre a uma hora ; e tal, que
possa muito bem antes d'ella haver ne-
gociado o que LiC pôde succeder, sem dar
sobresalto na tardança.» Francisco Ma-
noel de Mello, Carta de guia de casados.
— «Pouco mais remédio sóhem ter estas
taes condições, que uma grande prudên-
cia com que se atalhem. Aconselharia a
aquelle a quem tal succedesse, se apar-
tasse o possível de viver nas cortes, e
grandes lugares. Quem grita no despo-
voado, é menos ouvido. » Ibidem.
— V. a. — Termo pouco em uso. Her-
dar, adquirir por success.ão.
— Ceder, obedecer.
SUCCEOIDO, j»a?-f. pass, do Succeder.
Acontecido. — • «E daqui procedeo o erro
de alguns escriptores, em contarem as
cousas succedidas na Arábia, por aconte-
cidas na Per.sia; a conta de hum Eev as
senhorear ambas, deferindo huma da" ou-
tra tanto, como França, de nossa Espa-
nha.» Fr. Gaspar de 8. Bernardino, Iti-
nerário da índia, cap. IG.
— Substantivamente^ O successo, o
que tem succedido.
SUCCEDIMENTO, s. m. Termo antiqua-
do. (J successo.
— Succes,-;ao.
SUCCENSO, A, aJj. Acceso, incendia-
do.
SUCCESSÃO, s.f. (Do latim successiu).
O acto de succeder.
— Serie do pessoas ou de cousas que
se seguem sem interrupção. — «Forque o
nosso ilahamede Auconij era morto, e so-
bre a successaõ do Reyno estaua a ter-
ra posta em bandos assi entre os Mom"Os,
como acerca do capitão Pêro Ferreira, e
oííiciaes: e posto que Cyde Barbudo em
aquelle negocio fez pouco por não poder
mães, fez muito com sua chegada h ín-
dia.» Barros, Década 1, liv. 10, cap. 6.
— «Na hora que el Rei faleceo lios se-
nhores, e pessoas principaes, que ahi eraõ
presentes, cujos nomes em sua Chronica
saõ declarados, abriram ho testamento, e
ho fezeraõ ler per Rui de Piuna Chronis-
ta, e ho mandarão logo per três do con-
selho a dom Emanuel Duque de Beja,
ho qual ja sabia da successaõ do Regno,
por lho el Rei ter mandado dizer, antes
que morresse, per Aires da Sylua seu ca-
mareiro mòr e per dom x\luaro de Cas-
tro.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 1, cap. 1. — • «E que se
por via de casamento, ou successaõ de
parente mais chegado acontecer, que se
venhaõ unir duas Casas, e Morgados de
differentes instituidores, e geraçoeus em
hum só particular, o filho mais velho des-
te ultimo possuidor, succeda somente em
hum destes Morgados, qual elle quizer
escolher, e o filho segundo fique succe-
deiido no outro.» Severim de Faria, Noti-
cias de Portugal, Disc. 1, cap. 7. — «Por
morte do Marquez foi Condestable ElRey
D. Manoel, sendo ainda Duque de Beja,
e depois que entrou na successaõ do
Reyno, deu este oíficio a D. Afonso filho
natural do Duque de Viseu seu Irmaõ.»
Ibidem, Disc. 2, cap. 2.
— Morrer sem successaõ ; morrer sem
herdeiros. — «O Infante D. Henrique,
que foi Cardeal, Arcebispo de Lisboa, de
Braga, e de Évora, e Abbade de Alco-
baça, e finalmente Rei de Portugal : O
Infante D. Duarte, que casou com D. Isa-
bel filha de D. Jaimes Duque de Bragan-
ça, de que nasceo o senhor D. Duarte,
que morreo sem successaõ; a senhora D.
Maria que casou com Alexandre Fariie-
sio Príncipe de Pai-ma, e Placencia.» Fr.
Bernardo de Brito, Elogios dos reis de
Portugal, continuados por D. José Bar-
bosa.
— O direito de successaõ. — «A maior
parte da gente foi, que a capitania delle
se desse a Diogo Mendes de Vasconcel-
los, em que concorriam as qualidades que
convinham pêra isso, visto também como
Francisco Pantiya Alcaide mór quasi de-
sistio do direito da successaõ.» Barros,
Década 2, liv. 6, cap. 8.
— Por successaõ do temido; por uma
longa serie de tempo.
— Herança, os bens que uma pessoa
deixa morrendo. — A partilha da suc-
cessaõ.
— Diz-se também do modo de trans-
missão das heranças. — Successaõ dire-
cta. — Successaõ collateral. — Successaõ
sol) beneficio de inventario.
— A vinda d'alguma cousa posterior
em tempo.
— Termo antiquado : Morgado, ou ca-
pella.
— A successaõ na índia; no governo
da índia, era patente que designava o
successor do vice-rei no caso d'elle mor-
rer, antes d'el-rei lhe dar successor.
— Figuradamente : A cousa em que se
succede por morte, vagante de quem a
tinha.
SUCCESSIVAMENTE, adv. (De succes-
sivo, com o suffixo «mente»). Um após
outro, não simultaneamente. — «Tiveraõ
sucessivamente o Pontificado, Saõ Sisto
Segundo do nome, natural de Athenas,
dous annos, dez meses, e vinte e ires
dias, e Diomsio que governou seis an-
nos, dous meses, e quatro dias, o primei-
ro dos quaes padeceo martyrio, e o se-
gundo morreo em paz ; e foraõ ambos se-
pultados no Cemeterio de Calisto.» Mo-
narchia Lusitana, liv. 5, cap. 24. — «E
que tanto que ho dicto Sprital fosse aca-
bado, mandaua que se tirassem cada
anno dous captiuos pobres Portugueses,
que servissem no dicto Sprital aos Offi-
cios Divinos, por tempo de hum anno, e
no lugar destes enti-assem hos que se ti-
rassem trás elles, e assi pêra sempre suc-
cessivamente.» Damião de Góes, Chro-
nica de D. Manoel, part. 1, cap. 1.
SUCCESSIVEL, adj. 2 gen. Susceptível
de succeder como herdeiro, ou de outro
modo.
SUCGESSIVO, A, adj. (Do latim succes-
sii-iis, de successwm, supino de succedere) .
Diz-se de certas cou.sas cujas partes se
seguem umas ás outras seminterrupção.
— Movimento, pj-o^/cesso successivo. —
A ordem successiva das noites e dos
dias.
— Diz-se de certas cousas que aconte-
cem com pouco intervallo umas das ou-
tras. — Descobertas successivas. — Per-
das successivas.
- — Termo de jurisprudência. Direitos
successivos ; direitos que se tem n'uma
successaõ.
— Horas successivas. Yid. Subscessi-
vo.
SUCCESSO, s. íH. (Do latim successus,
de succedere). O que aconteceu em con-
sequência d 'alguma ordem, lei previa.
— Acontecimento, acaso.
AUi Candalo estA Eey dos Lideres
A Giges amostrando neciamentc
O bellissimo corpo, a lisa carne
620
HUCC
sucl;
succ
Da')U'?lla qni! nxcedia a branca ncuo.
MaH a iiinlInH' nabiiiido o baixo iiitoiito
]).) inarido iiidiuiJo a tal bidic.a,
AfroMtada, o corrida do minvim,
Satisfeita co a inortc dolla liça.
OOUTK BEAL, NAUFHAOIO I>K HErULVKDA, Caut. 3.
CroscRiido CO 'os sumesMs bons primeiros
No poitQ as ousadias, descobriram
Pouco c iioiico caminhos estrangeiros,
yuo uns siiocudcndo aos outros proseguiram.
D(! Africa os moradores dcrraílciros
Austraes, que nunca as 8('te (laminas viram,
Koram vistos de nús, atraz deixando
Quantos estão os Trópicos queimando.
CAM. Lus., cant. 8, est. 72.
— «Contar os successos «lesta Ciilade;
as prophecias, e visòcs quo iiella aconte-
cerão, seria encher grandes linros, e quasi
tresladar a líiblia orn Portugucs.» Fr.
(laspar de tí. líernardiMo, Itinerário da
índia, cap. 18. — «Vendo hiiii.s que quan-
do podião terra, Ihe.s traziao outros be-
tumo, o quando betumo terra: conhece-
ram o successo ser marauilhoso, e que
lhes conuinha parar com seus intentos,
como fizerão.» Ibidem. — «De todo e.ste
successo, foy logo pela Pomba, anisado
o Bax;\ de liabylonia, que vindo com
mão armada sobro o Burlxa, que eutani
©•■ítaua cm Anua CMade da Arábia, bem
doscuydado, deu sobr'elle, a quem com
todo o mais pouo, pôs a fio de e.?pada,
leuando tudo quanto achou na Ciilade
sem perdoar a cousa alguma.» Ibidem
cap.
lAs novas deste successo
chegaram a Chaul entrada de Setembro
por algumas náos de Moca, que áquelle
porto foram, com que Chrlstovão de Sou-
sa ficou desalivado, e logo as enviou ii
Lopo Vaz; Pouco depois chegou áquella
fortaleza Francisco Mendes de Vascon-
cellos com as cartas de Pêro !Mascaro-
nhas, D. Simão, autos, e mais papeis que
levava, porque soube ficar Pêro Masca-
renhas obedecido por Governador em Ca-
nanor, aprescntando-lhe.» Diogo de Cou-
to, Década 4, liv. ;3, cap. 6. — «E logo
dahi a alguns dias despachou este embai-
xador, em cuja companhia mandou com
embaixada ào Xeque Ismael, Fernão go-
mez de lemos com trinta ile eauallo, e por
acessor loão de Sousa, e por Secretario
(lil Simoens, o por lingoa (iaspar Xirez
boticairo por fallar muito bem a Persia-
na, das quais, que partiram Dormuz a
cinco dias de Jlaio, deste anno, de Jl.D.xv,
o do sucesso de sua viagem, e embaixa-
da, tratarei na quarta parte desta Chro-
niea.» Dannão do Cíoes, Chronica de D.
Manoel, part. 3, cap. (J8. — «Affirma
também esta historia, que cu nuiytas ve-
zes ouvi lòr, que jiassados cinco dias des-
pois deste successo, viraõ huma menham
vir pelo rio abaixo a armada das trinta
jangiis nuiyto bem concertadas, e sem
gente nenhunui.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 93. — «E dito isto
assi por estas próprias palavras, diz a his-
toria quo logo naquoilo instante o menino
caliio morto cm tei-ra, do qual successo
(se as^i foyi a Naneai coiti c<j.Ioí os seus
ticarilo assaz u <pauta<Io8. ■> Ibidem. —
<i Despidiudose com isto os quatro Tani-
goros nos derão para todos quatro tacis,
e nos disserSo, n.ão vos esque^-ais do agra-
decerdes a Deos o bò successo que tives-
tes no vosso negocio, porque peccareis
gravemente se lho desconhecerdes tama-
nha mercê.» Ibidem, cap. 104. — «E
muyto coutcnte do bom successo que
neila tivera, o outras particulariílados que
folgarão muyto de saber, prineipalmonte
quando lhes disse que el Kei despois de
despidida toda a gente que trouxera coni-
sigo, se passara aforrado a Fanaugrem,
onde avia ja quasi um mes que estava
occupado em cayas e pescarias, e com
tenção de yr invernar a lluzamguee, que
hu a metropoli ileste império Cauchim.»
Ibidem, cap. 12'J. — «E as.si mo deixey
aly ficar em companhia do João Cayeyro
com fundamento de me yr no junco como
fosse tempo, e continuey com elle no tra-
balho deste Cerco por espaço de quarenta
e seis dias, que foy o tempo que esto Rey
Bramaa aquy mais se deteve, do qual
aquy brevemente direy hum pouco, por-
que me paieee ipio os curio.sos folgarão de
saber o successo que teve nesta guerra
o Ohaubainhaa líey de Martavão.o Ibi-
dem, cap. 148. — «Em tempo deste feli-
ci.ssimo liei se acabou de descobrir a Ín-
dia Oriental, por D. Vasco da Gama, a
quem el Kei por esta viagem, o por ou-
tra que tornou a fazer áquellas partes,
ambas com prospero successo, fez Conde
tia Vidigueira, e Almirante do mar da
índia, para elle, e seus descendentes.»
Fr. Bernardo do Brito, Elogios dos reis
de Portugal, continuados por D. José
Barbosa. — «Coneluio-se em fim a jorna-
da com taõ pouca oi"dera, e taõ grandes
despezas, que as pessoas experimentadas
na guerra adevinhavaõ destes principies
o successo que veio a ter. » Ibidem. —
«Logo que o Ciovernador chegou a Cioa,
dando os primeiros dias ao gosto dos suc-
cessos passados, não querendo dar outros
ao descanço, como homem que tinha a
paz por vicio, a guerra por costume, pas-
sou a Agaçaim, donde despedio a D. Dio-
go de Almeyda Freire, com novecentos
homens, para que desalojasse o inimigo
que estava com quatro mil soldados nas
aldeãs visiuhas.» Jaciutho Freire d'Ai\-
drade. Vida de D. João de Castro, liv. 4.
— « E nos rios de Kaeol ordenou, que fi-
cassi'm alguns navios para defensa das
Aldeãs visinhas; cujos lavradores desam-
paravão as terras, vendo o dondnio del-
ia^í, incerto, o contingente peia instabili-
dade dos successos da guerra.» Ibidem.
As uovas desta armada, o o seu iutcnto
Tor alguns que a \*ida então dcixilrào
Vão ao ccutro da torra, o lá uo aâscuto
Avorno, cm breve capavo so ospalh&rio :
K dliuTM iroutroA correndo, ii'lmm momento
Ao C.itnbaio Itaudur taiiib<.Mn clicg.lráo,
t^i' e-itava triste awaz, po.- quão are8M
Tivera [lola Inveja o bcu tiixfjmo.
PBlXelHCO DK AXDBADK, PKIMKIBIJ CCKCO VK DIU,
cant. 12, cat. 77.
Deu causa a csti! nicnuno miserável
Applicar-B(! ao si-riiço d.i bombarda,
I'or erro mal s-abido, o desculpável,
Ct negro p<>, ijue serve na eíjúngarda.
Mas num feito aisais raro, as ia/, notável,
K de memoria digno, U me aguarda
No baluart)! da Vill.i, ir-ine lá quero,
Onde causar cspauto c gosto ciipcro.
luiDEM, cant. 14, oit. 45.
— «Vestiu-se Mar;;arida, c foi aíâiítir
ao parto de sua criada, que tilo mal a
si-rvia; tratou de bcu regalo, e o que é
mais, <lc bua honra; mandando a todas
aquelias de quem se ajudou, que sob pena
lie sua de^;íl•al;a, nenhuma degcobrinse
este successo. i- D. Frauciico Manoel de
Mello, Carta de guia de casados.
— Successo de momenlo ; successo pas-
sageiro.
— Conclusão, bom êxito do negocio. —
«Naõ deixa o conselho de ser bom, por
sahir o successo mào; nem o mào con.se-
Iho deixa de o ser, por ter bom successo;
porque o3 successos .saõ da fortuna, e de-
pendem (las execuçoens; que muitas ve-
zes por serem màs, damnaõ a bondade
dos conselhos; e também por serem boas,
emendaij ás vezes o erro do conselho.»
Arte de furtar, cap. 30.
Este, ou que o iiicc«j>so deste feito
A ncvoa do temor lhe desfizesse
De que notado foi sempre o seu peito,
Ou que a morte chamii-lo ja quizesae
Animado hoje assaz e satisfeito.
Importuna o Silveira que lhe dosso
Licença, c companhia com que possa
Tomar aquella po«,'a forte c grossa.
r. DE ANDBADE, raUtXlBO CUBCO DR DID, CAUt.
20, est. ii-2.
— O mau successo. — «Mas certos fi-
dalgos, (lu leva los do inveja do accres-
centamento, e grandeza que os parentes
de D. Ignez teriaõ no Reino por sua cau-
sa, ou de outras a quo naò sabemos mais,
que o máo successo, tratarão com el Rei
D. Aftbn.^io, que para evitar inconvenien-
tes em seus estadt>3 seria bom matar a
D. Ignez de Castro.» Fr. Bernardo de
l)rito, Elogios dos reis de Portugal, con-
tinuados por D. Josó Barbosa.
— Progresso do que se desenvolve.
— Successo de enfhiuiasmo; successo
louco, nuiito forte, e acompanhado de ma-
nifestações apaixonailas do publico.
— Cvm pouco successo; iniVuctuoaa-
nientc.
— Não ter um grande successo; n.^o
ser bem succedido.
— Resultado, êxito. — Esjurai o suc-
cesso yiie terá e^ta aventura. — Quero
it-V o successo d'isso.
i
succ
suco
SUDO
621
— Syíí. : Successo, cafasfrophe. Vid,
este ultimo termo.
SUCCE3S0R, A, s. Pessoa que succede
em herança, em officio, posto, governo,
vagatura. — «iNa qual posse como pru-
dente barào e animoso Príncipe, por naõ
leisar duuidas a seus successores com os
Príncipes da chi-istandaile, logo se deter-
minou com clRei dom Fernando de Cas-
tella.i) Barros, Década 1, liv. 3, cap. 12.
— ^ «A falta do successor varaõ fez com
que o Condado de Castella viesse por di-
reita successào a el Rey Dom Sancho de
Navarra, como marido da Ravnha Dona
Elvira, irmãa mais velha do mal logi-ado
Conde Dom Garcia.» Monarchia Lusita-
na, liv. 7, cap. 27. — «Na conquista das
terras coube a Ale Arábia, a Odmào
Egypto, e muyta parte da Affrica, a Bu-
bequer a Palestina, e a Ornar a Pérsia.
Em quanto estes quatro Capitães anda-
uão nestas cõquistas, viueo Mafoma em
Almedina, e sendo ja velho, e cheo de
dias, fez seus apontamentos, em que no-
meou por seu immediato successor no
Halifado, a seu genro Ale.» Fr. Gaspar
de S. Bernardino, Itinerário da índia,
cap. 20. — f E porque tao bom Chronista
senam ha de contradizer, seuam com mui
certas, e viuas razoens, he necessário
que com ellas declare o erro que teue na
conta dos Reis Dinglaterra, dos quaes o
primeiro que se chamou Duarte, foi tilho
do grande rei Alured, o segundo Duarte
foi o que teue titulo de martyr, porque
por treiçam da Rainha Alfreda sua ma-
drasta foi morto, o terceiro Duarte foi
referido no Gathalogo dos Sanctos confes-
sores, o quarto Duarte foi sucessor dei
Rei dom Henrrique, terceiro que faleceo
no anno do Senhor de M.CClsxi].» Da-
mião de Ooes, Chronica de D. Manoel,
part. .3, cap. 24. — «Pela morte do Car-
deal Rei D. Henrique cujo ódio para com
a Casa de Bragança lhe fez mais obsti-
nada a sua natural irresoluçaõ, ficou a
grande Monarquia de Portugal sem suc-
cessor declarado.» Fr. Bernardo de Bri-
to, Elogios dos reis de Portugal, conti-
nuados poi D. José Barbosa.
— Syn. : Successor, herdeiro. Vid. es-
te ultimo vocábulo.
SUGCESSORIO, A, adj. Que trata da
successào.
— Lei successoria, pacto successorio;
sobre heranças futuias, que as regula.
SUCCINO. Vid. Âmbar.
SUCCINTAMENTE, adv. (De succinto,
com o suffixo «mente»). De uma manei-
ra succinta.
— Em poucas palavras.
SUCCINTO, A, adj. (Do latim succinc-
tus, de suòj e cinctus). Que tem poucos
termos, em opposiçâo a prolixo. — Um
discurso succinto. — Uma relação suc-
cinta.
— Sy\. : Succinto, preciso. Vid. este
ultimo vocábulo.
sueco, s. m. (Do latim succus). A
parto Immida das plantas e do corpo ani-
mal, e que contém o que n'ella3 é mais
substaucial, e as nutre, repara, humede-
ce, etc. ; sumo.
Quanto espontânea dá ! Quanto obrigada !
Que perfumes exhála ! Quantos suecos
Rica transfere, ás arvores, ás plantas !
E, sempre liberal, mais amplo volta
O pequeno dopúaito. que ao seio
Esperançoso Lavrador lhe lança !
1. A. DF. MACEDO, MEDITAÇÃO, CaUt. 2.
SUCCOLENTO, A, adj. Vid. Succulento.
SUCCOSO, A, adj. Que tem ííucco, nào
árido.
SUCCULENTO, A, adj. (Do latim suc-
eiilentus). Toj-mo de poesia. Succoso, não
árido, que tem sueco.
■ — Cheio de sueco, de chorume.
SUGCUMBIR, V. a. (Do latim succum-
bere). Cair debaixo, abater.
— Diz-se de uma mulher que cede á
seducçào.
— Nào resistir, deixar-se ir.
— Figuradamente : Ser acabrunhado
pelo peso dalguma cousa comparado a
um fardo.
— Absolutamente: Morrer, perecer, fe-
necer.
— Figuradamente : Ceder a forca maior
physica ou moral ; a medos, ameaças, pei-
ta, etc.
f SUCESSÃO, s. f. Vid. Successào.—
«Na morte de Caiiguia, e nova suces-
são de Cláudio seu tio, irmão de seu pay
Germânico, mostrou a ventura suas mu-
danças ordinárias, porque sendo o novo
sucessor (inda que tào parente da casa
Imperial) muy pouco favorecido e esti-
mado dos Emperadores, e achando-se no
paço ao tempo que os conjui-ailos tiràraò
a vida ao sobrinho.» Monarchia Lusita-
na, liv. õ, cap. 4.
Continua sucessão da noite, e dia
Publica sabias Leis, a Natureza
Reconhece a impulsão, a voz escuta
De seu Supremo Auctor, o Sol lha entende.
J. A. DE MACEDO, A NATCBEZA , Caut. 1.
— «Ordenou neste anno de M. D. xv,
mandar a este negocio dom António de
Noronha seu scriuam da puridade, que
depois foi Conde de Linhares, irmào de
dom Fernando Marques de viila real, e
a successào se dom António falecesse
nesta viagem.» Damião de Góes, Chroni-
ca de D. Manoel, part. 4, cap. 74.
SUCIA, s. /. Termo popular. Socieda-
de, companhia, convivência, fallando dos
vadios, tafues, e até ladrões.
■j- SUCO, s. m. Vid. Sueco.
Dentro era seu seio precioso suco
Forma hum tecido de brilhantes globos.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Cant. 3.
SUCRIOSO, A, alj. Termo antiquado.
Fino, ténue, delgado.
SUCU30, ou SUCCUBO, A, adj. (Do la-
tim succubus, de succubare, de sub, e
cubare). Que liça por debaixo no acto da
copula carnal.
— Diabos succubos ; os que fazem as
vezes de mulheres em taes actos. Vid.
Incubo.
SUCULAS. Vid. Hyadas.
SUGURIJÚ, ou SUGURUYÚBA, s.f. Ter-
mo de historia natural. Cobra do Brazil
conhecida pelo nome de cobra de veado.
— Cobra monstruosa que engole um
veado inteiro, quebrando-lhe o corpo com
as voltas, ou roscas do seu corpo com que
o aperta : anda nos rios, e veua prear em
terra, quando ás margens dos rios não
vão animaes, em que se ceve; diz-se
também que se enrola nos homens para
os engulir, c despedaçar. Alguns dizem
que mata os animaes mettendo-lhes a eól-
ia pelo anus; outros dizem que enrola o
rabo em algum tronco para segurar me-
lhor a sua ralé, que lhe não escape com
esforços. Talvez será a giboya aç?<, gran-
de cobra aquática. Diz-se que as ha no
dique da cidade da Bahia.
f SUDAÇÃO, 5. /. (Do latim sudatio,
de stidare). Termo de medicina. Acto de
suar ou fazer suar para um fim therapeu-
tico.
SUDÁRIO, s. 7n. (Do latim sudarius).
O panuo de alimpar o suor.
Ja no sudário in volto, ja nas andas
Os doridos amigos o conduzem
A morada dos findos. . . Repentino,
Do coração começa o calor vivo
A dovolver-se. manso e manso, ás veias.
GARKETT, CAMÕES, caut. 3, cap. 4.
— O santo sudário ; aquelle panno em
que se representa a figura de Christo fe-
rido, e atormentado, e se mostra nos ser-
mões de sexta-feira de Paixão. Vid. Ve-
rónica.
SUDATORIO, adj. e s. (Do latim su-
daforiusi. Vid. Sudorífico.
SUDEIRO, s. m. Toalha ou lenço de
alimjiar o suor.
SUDOMITICO, A, adj. Diz-se do sodo-
mita, que usa do peccado contra a natu-
reza. Vid. Sudomitíco.
f SUDORATO, s. m. Termo de chimí-
ca. Saes formados pelo acido sudoríco.
t SUDORÍCO, A, adj. Termo de chí-
mica. Acido sudoríco ; acido tirado do
suor.
SUDORIFERO, A, adj. Vid. Sudorífico.
SUDORÍFICO, A, adj. Termo de medi-
cina. Que provoca o suor. — Eemedios
sudoríficos.
— Substantivamente : Tomar sudorí-
ficos.
t SUDORÍPARO, A, adj. Termo de
anatomia. Que produz o suor. — As (jlan-
dulas sudoríparas.
622
SUFF
6UFF
SUFF
SDDRO, ». m. Ti;rino da Afiia, O qtio
tini ;i siini das paliiníiivirt.
— ( Imit.d incclianica.
SUDUESTE, ou SUDOESTE, «. w. Pon-
to do liorisontc ou ilo compasso collocado
a igual dirttaiicia do oustc, e do Bul.
— Vento quo tem o meio ontre o sul c
o oeste. — «A primeira a quem nos cha-
mamos do Comaro, o os nnfíro.H Anpa-
ziya, que he de todas a mais alta pela
bamla do Sul, se corre Nordeste Sudues-
te. A outra quo ao Sul desta tica, a quem
os da terra cliamào Maòto, se corre a
Lessueste, e a Loesnoroeste. » Fr. (!as-
par de 8. Bernardino, Itinerário da ín-
dia. — «A terceyra, quo be Mulale, se
anda a Leste, e a quarta do Sudueste.
A outra que cliamào Anzuanc fica em o
meyo destas. Entre ellas vay hum canal
de dez legoas, todo limpo, e de muyto
fundo ate poer o fjaroupes em terra, sem
tocar nelie.» Ibidem.
SUEIRAS, s. /. plur. Termo antiqua-
do. Certas pedras preciosas, talvez safi-
ras, com ([ue .se ornavam as sellas.
SUESTE, s. m. Vento entre o sul e o
leste.
SUETO, s. 7)1. (Do latim assuctus). Dia
feriado extraordimxrio nas escolas.
SUEVOS, s. m. plur. Nome dado, pe-
los romanos, desde Júlio César até Se-
ptimio Severo, aos povos da Grande-
Germania.
— Oo suevos, assim como os vândalos
e godos, indadiram a península. — «Tam-
bém vemos como os Suevos tiverão de-
pois de 03 Vândalos serem partidos para
Africa o mesmo senhorio, pois dividindo
a diocese de Leão, a estendem até os
moutes Pireneos, e dizem que este dis-
trito lhe dorão os Reis Suevos, e nomean-
do alguns, nos descobre outro, de que
nossos Authores fazem pouca lembrança."
Mouarchia Lusitana, liv. G, cap. 14. — «E
por urio iicar cousa dos Suevos, que n.uo
conquistasse, mandou Theodorico a Ceu-
rila 8 'u Capitão com hum bom terço de
gente, a ganhar as terras, que elles pos-
suhiaõ em Andaluzia e contra os que se
retirar.ão ao interior de (ializa, mandou
03 outros dous Capitães, chamados Neri-
eo.» Ibidem, eap. 7.
SUFFICIENCIA, *. /. (Do latim sujfi-
cientia). Abastança physica, ou de habi-
lidade, destro, etc.
— Confiado em ^ua sufficiencia; con-
fiado em que tem o saber, prudência, ou
authoridade adequada.
— Toma-se também por capacidade,
aptidão, habilidade.
SUFFICIENTE, adj. 2 gen. Que basta,
basUiute. — Estes homeiís são sufficientes
para dffcuder a praça. — oE nom pro-
veendo a ello, como devo, se achado for,
que a dita exciçom he sufficiente pêra
embarguar a dita prueuraçoni, nom seja
mais recebido o dito Procurador, c pro-
codaõ pelo feito em dianto, como for
achado per direito. • Ord. Affons., liv.
1, tit. 1;>, 4} 11. — «E por<|Ue n;i casa
do ciuel houuesse milho:' expediȒntc no
despacho da justiça, ordenou neila maÍ4
sobre juizes, dos que dantes hauia, c aa-
8Í aos desembargadores desta casa, quo-
mo aos da casa da Supplicaçaõ acrecen-
tou noa ordenados, porque hos que dan-
tes tinliaõ naõ eraõ sufficientes porá se
dcUcs podctrem manter, u Dainiilo de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 1, cap. 9.
— n^'asco Fi-niahdez césar foi homem
do quem se cl Rei dom Emanuel seruio
em muitas cousas por o achar pêra Í8>o
mui sufficiente assi nas da guerra, como
em outros negoceos, e o mesmo fez el
Rei dom Toam terceiro, seu filho, o qual
depois de ter seruido dous annos de
Adail em Azamor, e ter feito as entra-
das de que fiz mençam.» Ibidem, part.
4, cap. í)7. — «E vendo quam pouco a
indu.stria de todos aproueytaua, ordena-
mos correr em popa, pêra onde nos le-
vassem 08 ventos, e ondas, pois a em-
barcação nào era sufficiente, pêra mos-
trar o rostro aos trabalhos, que a triste
ventura cada hora nos reprosentaua.» Fr.
Gaspar de S. Bernardino, Itinerário da
índia, cap. 10.
— Hábil, apto, capaz.
— Graça sufficiente ; graça quo basta
para converter o peccador. — •£ logo
ajuntaua que pois Deos nosso Senhor a
todos dera sempre graça sufficiente para
o seruirem, csperaua em sua díuina mi-
sericórdia, e noâ merecimentos de sua
esposa a Igreja santa, e nos da Compa-
nhia de JESV muy particularmente, lha
daria a elle com muytas forças ; pêra
que vsaudo bem da mesma graça o nam
otfendesse, antes o seruisse como preten-
dia.» Lucena, Vida de S. Francisco Xa-
vier, liv. G, cap. 12.
— Syx. : Sufficiente, bastante. Vid. es-
te ultimo vocábulo.
SUFFICIENTEMENTE, adv. (De suffi-
ciente, e o sufrixo «mentei»). Bastante,
tanto q\i,anto é preciso.
SUFFICIENTI3SIM0, adj. superl. de
Sufficiente. Jlui suiHciente.
SUFFIXO, s. m. Termo de grammati-
ca. Diz-se das syllabas ou letras que se
ajuntam depois das raizes, para determi-
nar a sua idêa geral, e fazer-lhe repre-
sentar um papel como partes do discur-
so. — Suffixos primários. — Suffizos se-
cundários.
— Adj. — Letra suffizã. — Particula
snífixa.
SUFFOCAÇÃO, *. /. (Do latim suffoca-
tiu). Perda de respiração ou extrema dif-
culdade de respirar.
— Asphyxia produzida pela presença
de um corpo estranho que obstrue a pha-
rynge. c intercepta a passagem do ar.
— Termo de medicina legal. Caso em
que um obstáculo é levado violentamente
á entrada do ar nos órgãos respiratórios,
taes como a conipreoMão das parcles do
peito e o tapamento directo daa narioad
e dii bocca.
— Termo do medicina. Suffocação da
madre; ataque de hvKteria.
SUFFOCADO, part. pa**. de Suffocar.
Que pcrdo a re«piraçâo. — SutFocado por
um ar ardente.
— Interceptado, cortado, detido.
— Por extensão: O nio suffocado dt
soluços; qiiasi inanirua<io.
— (^ue morre por »uffocaç3o.
SUFFOCADOR, A, adj. Que aaffoca. —
Calma sufTocadora.
— Usa-s(! t:imbi;m substantivamente.
SUFFOCANTE, p'iri. act. de Suffocar.
Vid. Suffocador, e Suffocativo.
SUFFOCAR, V. a. (Do latim suffocare).
Fazi-r jieriler a respiração, fallando de
algum vapor mcphitico.
— Matíir por Buflocação.
— SufTocar a voz, o a^nto; supprimir.
— SufTocar os clamores da justiça, o$
boatos da calumnia; reprimir, fazer ca-
lar, supprimir.
— SufTocar o valor, o* talentos ; obs-
tar a que cUea se exercitem e manifes-
tem.
— Suffocar a justiça dos requennUi;
não lhes deferindo.
— Privar da vida, suffocando.
— Suffocar-se, v. rtjl. — Suffocar-se
cc'm alguma cousa; perder a rcspiraçEo
com ella. — «Apenas chegou ao meyo
delle levando huma luz na mão, começou
a gritar que o tirassem outra vez porque
se sufocava.» Cavalleiro d'Uliveira, Car-
tas, liv. 1, n." 15. — «Nào deve suffo-
car-se e abafar com o peso de gravissi-
mos negócios; divirta-se em boa hora e
embora, nem isto é contra a virtude, an-
tes é exercício de eutrapélia, na doutri-
na de S. Thomaz.i Bispo do Grão Pari,
Memorias, publicadas por Camillo Cas-
tello líraneo, pag. 184.
SUFFOCATIVO, A, a.]j. Que suffoca.
— Vapí/r suffocativo.
— Figuradamciite: A pobreza suffoca-
tiva da justiça ; faz calar ou baldar 03
juítos requerimentos do pobre.
SUFFRAGANEO, A, adj. (Do latim suf-
fraga]ieus). Sujeito, subordinado. — Bi*'
pados suffraganeos.
— Usa-sc também substantivamente.
SUFFRAGAR, i-. a. (Do latim sufra-
garei. Apoiar com seu voto, spprovar,
favorecer.
— Rogar por alguém com sufiEragioe,
ajudal-o com elles.
— Suffragar as mortos; orar por el-
les.
SUFFPAGIO, í. m. (Do latim sufra-
gium^. Declaração que de um modo qual-
quer se faz de sua vontade n'nnia elei-
ção, n uma deliberação. — TVmar os sof-
fragios.
— Por extensão : AdhesSo, approva-
çilo.
SUGE
suaG
SUJE
623
— Termo de liturgia catholica. Ora-
ções que se fazem em certos dias do aa-
no no tim de laudes e de vésperas para
a commemoraçào dos santos.
— SufFragios dos santos: as orações que
os santos fazem a Deus em favor dos que
o invocam.
SUFFRAGANHO, A, adj. Vid. Suffraga-
neo.
f SUFFRIMENTO, s, m. Vid. Soffri-
mento. — «Todas suas cousas temos por
tamanha bemaventurança, que somente
darem-nos presumpçaõ que sentem o que
ellas ordemnau, estimamos em tanto, que
nos fica suffrimento pêra quantas dores
nos cataõ.» Barros, Clarimundo, liv. 2,
cap. 6.
SUFFRUTESCENTE, adj. 2 gen. Que é
da natureza e tamanho do subarbusto.
SUFFUMIGAÇÃO, s. /. (Do latim suf-
fuviigatio, de sub, e fumigatió). Vid.
Suffumigio.
SUFFUMIGIO, s. m. Termo de medici-
na. Vapor que se applica a alguma parte
para a curar. — Suffumigio de enxofre.
SUFFDSÃO, s. .?'. (Do latim sufiísio,
de suffundere, de sub, e fundere). Ter-
mo de medicina. Acto pelo qual um hu-
mor se derrama sob a pelle, e ahi se tor-
na visivel em consequência da sua accu-
nmlacào.
-j- SUFICIÊNCIA, s. f. Vid. Sufficien-
cia. — «Sam destribuydos os ofticios por
el Rey com conselho dos capados, segun-
do os merecimentos e suficiência de cada
hum. As capitanias dam-se segundo ha
cavalaria e feitos de cada hum na guer-
ra.» Fr. Gaspar da Cruz, Tratado das
cousas da China, cap. 17.
SUFISTARIA, s. f. Vid. Sofistaria.
SUFOLIE, s. m. Certo estofo d'algo-
dào.
SUFRAGANTE. — Dclicto sufragante ;
erro por flagrante.
f SUFRIVEL, adj. 2 gen. Vid. Soffri-
vel. — oMuytas vezes, corre nella hum
vento, cujo nome he Sui'im, que quanto
elle he mayor, t<àto sua quentura menos
sufriuel, e se vos enroupaes e cobris
bem, ficaes frio: e se vos descobris porá
desabafardes, morreis cõ calma. E com
ter esta propriedade a agoa no cântaro,
ou pote, fala tam fria, que de muito pa-
rece não se poder beber.» Fr. fíaspar
de S. Bernardino, Itinerário da índia,
cap. 11.
SUFUF, s. VI. Termo de pharmacia.
Qualquer medicamento que se toma em
pó.
SUGADO, fart. pass. de Sugar. Vid.
Chupado.
SUGADOR, adj. e s. Vid. Chupador.
SUGAR, V. a. Vid. Chupar.
SUGEITAR, V. a. Vid. Sujeitar. —«E
se algum dia houve bruto que se sugei-
tasse a outro de differente espécie, foy,
naõ porque a natureza o inclinasse a isso,
mas por alguma conveniência útil para a
conservação da vida. Ha entre os ho-
mens estados taõ diversos, que se dis-
tinguem entre si mais, que as espécies
dos brutos.» Arte de furtar, cap. 58. —
«Faça muito por sustentar a reputação,
e credito de sua pessoa, pra-que terá quem
o sirva, e todos se lhe sugeitaráõ. Ale-
sanrlre Magno divulgou, que era rilho de
Júpiter, para ser respeitado, o obedeci-
do; justifique a causa que tem para fa-
zer guerra, e divulgue-a com Manifes-
tos ; porque dá animo aos soldados, que
o servem, e acovarda os contrários.» Ibi-
dem, cap. 22.
SUGEITO. Vid. Sujeito. — «Donde se
infere, que quando ha uniaõ de amor en-
tre taes sugeitos, naõ he, porque a natu-
reza os incline a isso, he a conveniência
do interesse ; e como esta vay diante
sempre, sempre vay fazendo seu ofíicio,
aproveitando-se do amor para suas conve-
niências.» Arte de furtar, cap. 58.
SUGERIDO, part. pass. de Sugerir.
Lembrado, inspirado.
SUGERIR, ou SUGGERIR, v. a. (Do la-
tim suggerere). Lembrar, fazer vir ao
pensamento. — «Eram condições que en-
tão maravilharam os coevos e hoje sug-
gerem desejos de aquilatar o valor in-
trínseco de tamanho sujeito.» Bispo do
Grão Pará, Memorias, publicadas por
Camillo Castello Branco, pag. 5.
— Inspirar, advertir.
SUGESTÃO, s. f. Insinuação má.
— A acção de suggerir, de fazer lem-
brar, de apontar, aconselhar.
— Syn. : Sugestão, insinuação. Vid.
este ultimo vocábulo.
SUGESTIVO, A, adj. Que contem sug-
gestào, que se dirige a suggerir noticia,
resposta.
— Que suggere, inspira, encaminha de
comnium o mal.
SUGESTO, ou SUGGESTO, s. m. (Do
latim suggestus). Tribuna ou púlpito d'on-
de os oradores fallavam ao povo romano.
SUGIDADE, s.f. Vid. Sujidade.
SUGIGADO, part. pass. de Sugigar.
Vid. Subjugado.
SUGIGAR, V. a. Vid. Subjugar.
SUGILLAÇAO, s. /. (Do latim sugiUa-
tio). Termo de medicina. Ligeira echy-
mose cutânea, de causa espontânea, ou
de causa exterior.
— Lividez cadavérica.
SUGINHO, A, adj. Diminutivo de
Sujo.
SUGIR. Termo da província da Beira.
Vid. Chupar.
SUGISTORIO, ou SUGITORIO, s. m.
Homem que ia na procissão do Corpo de
Deus em Coimbra, vestido ridiculamente,
que com espada e rodella andava diante
da serpe procurando cortar-lhe a lingua,
e depois batalhava com ella. Vid. Segito-
rio.
SUGO, s. m. Vid. Sueco.
-{■ SUGGAR, V. a. Vid. Sugar. — «Ou
pode também ser ; porque se capacitaõ
por suggestaõ do Demónio, (isto se en-
tende com mayor fundamento das que
saõ ja velhas) que beben'lo, e suggando
o sangue dos meninos, haò de tornar a'
renovar a mocidade, que ja tem perdido;
por supporem, que o sangue dos lactan-
tes restaura, e vigGra o húmido radical ;
como adverte Marsilio Ficiuo.» Braz
Luiz d'Abreu, Portugal medico, pag.
623, § 143.
SUIÇA, s. /. Companhia fingida de pai-
sanos vestidos, e marchando como os sol-
dados para brinco e festa. Vid. Soiça.
SUICIDA, s. 2 gen. Pessoa que dá a
morte a si mesmo.
SUICIDAR-SE, V. refl. Matar-se.
SUICÍDIO, s. in. (Do latim sui, e ccb-
des). Acção d'aquelle que se mata a si
mesmo.
SUIDADE, s. /. Termo de jurisprudên-
cia. O estado d'aquelle que era herdeiro
necessário de algum testador, como o fi-
lho que estava debaixo do pátrio poder
ao tempo da morte do pae, o qual se cha-
ma herdeiro seu, e necessário.
SUÍNO, A, adj. (Do latim sui?ms, de
suis). De porco, ou coucernente ao por-
co. — Carne suina.
SUISSA, s. f. Vil. Soiça.
— Flur. Termo popular. Os cabellos
que se deixam crescer na cara desde as
orelhas até perto da bocca.
SUJAMENTE, adv. (De sujo, e o suffi-
xo ímeuíe»). De um modo porco, sujo.
— Sordidamente, no physico e no mo-
ral.
SUJAR, V. a. Tornar sujo. — Sujar os
vestidos.
— Figuradamente : O peccado suja a
alma.
— Sujar-se, v. rejl. Tornar-se sujo,
porco, emporcalhar-se.
— Figuradamente : Macular-se, fazer
acto torpe, indecoroso, feio.
— Adagio e provérbio :
— Quem mal falia, sua lingua suja.
SUJEIÇÃO, s. /. (Do latim subjectio).
O Bstadu da pessoa ou cousa sujeita, su-
bordinada e dependente.
— As muUieres íem sujeição dos mari-
dos.
— O pejo, o encolhimento que temos a
re=:peito de alguma pessoa.
SUJEITA, s. /. Mulher que se não no-
meia.
SUJEITADO, part. pass. de Sujeitar.
Submettido, sujeito.
SUJEITADOR, A, adj. e s. Que sujei-
ta, que subjuga, que avassalla.
SUJEITAR, V. a. (Do latim suhjedum,
de subjicere). Tornar sujeito o que era
livre e independente por meio de armas.
Terrestres animaes o Author Supremo
Aos homens mjeitou ; nelles doraiuão,
Drtdoá ás precisões, mas nunca ao criuie.
J. A. DK MACEDO, ItEDITAçlo, Caut. 1.
624
SUJE
SUJO
SULA
— Ter sujeito, Bub jugarlo, e sem livre
acçHo.
— Figuradamuiite : Sujeitar ci/in ra-
ziks,
— Fipuraflamento : Fazer obedecer, —
Sujeitar a vontade á ratão, á lei.
— Sujeitar-se, v. rejl. Limitar a sua
liberiLado a alffiim respeito, reinJer-se,
por exemplo, an amor, A K'i, ao supei-ior,
ctc. — oK cl Rei (lo Jíalabar, Coroman-
del, e Paiifli, c outros do diveríias Na-
ç3es, o Seitas, se sujeitarão voiuntaria-
niento á Lei de S. Tiiomc. Veio tempo
em que o Santo foi morto por miloa do
hum Jiramene, e coni seu sangue fez esta
Cruz.n .laointliD Freire d'Andrade, Vida
de D. João de Castro, liv. 1.
SUJEITISSIMO, A, adj. superl. de Su-
jeito.
1.) SUJEITO, 7í«)-/. paus. irreg. de Su-
jeitar. Que fica por baixo.
— Dócil, obediente, obsequioso.
— Reduzido à suiei(,'iío, subjupríido, re-
duzido ao senhorio, dominio, mando, obe-
diência. — «Porém primeiro esteve olhan-
do o vulto do Miraffuarda, que lhe pare-
ceu a mais formosa cousa do mundo, e se
então não tivera a vontade em outra par-
te tão sujeita, soubera mal determinar
quem fazia vantage uma á outra, Poli-
narda a ella, ou oUa a Polinarda.» Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 61.
Fiado iifi promessa, c consciência
Do Ef;íis >roniz : maâ não consente o peito
Do moço illuatre a outrem ser sujeito.
CAM., i.us., cant. 3, est. .36.
A origem das mudanças do seus peitos ;
Estas letras aqui por longos anos
Digão a coraçõíâ a amar xiijcitos
Em peito varonil, que do ventura.
IDEM, OITAVAS.
Mas porque ja bastantcnicnto agora
Teom dado execução a seu conceito,
Çoineçào cm tornando a nova Aurora
A cruel bateria dar eftcito :
E vendo o baluarte cA de f>ra
Que era a Gas;)ar de Sousa então xitjettn
Cora menos defensões fpio os outros tinhâo,
O sou furor prinieií-o a elle encaminhão.
fka;«cisco d'.vndb.<de, priui:ibo ckrco de did,
cant. 15, est. 55.
Ella alli tinha hum filho, a quem devido
Por seu grande valor, grão louvor era,
Aroço, a quem dera Mendes o apellido,
E o grão Santo d'As3Ís o nome dera ;
r)a velha mãe com tal amor querido
Qual o filho da que honra a alta Cythora
Nunca soube imprimir naquelle poito
Que elle fazer a si quiz mais sujeito.
IBIDEM, cant. IG, est. 30.
Que dèo primeiro impulso ã massa inerte,
Quando os Ente.s chamou do nada A vida.
O moto desigual da argêntea Lna
A teus profundos c.!>lculo9 siijeita-i.
J. A. OE HACEDO, VIAUKM EXTÁTICA, Caitt. O.
Só na matoria encontra hum fogo nctÍTO,
Que o corpo iiiiriien.-«i abrange, e ncUo existe,
Principio anunador dn^ Kuteii todoA,
Ao Pado Eterno, c inc<ignito «iijeUoi.
IDEU, MKDiTAçÃo, cant. 4.
— «Fiiippe II de.iejava deixar em Lis-
boa um lillio, que uascidn o creado entre
portuguezo.-f, fizesse menos pecado o gri-
liiãí» com i|ue gemiam .^^^i(ritos a Castclla.»
Bispo do (iràu l'arii, Memorias, publica-
das por Camillo Castello liranco, pag. 28.
— Exposto a aiguuia cousa.
Qualquer que nnsoor sujeito
A' maldita conjunção,
Sem nenhuma appellação.
Nem cstylo de direito,
Pi'rtence A nossa prisão,
Assim como quem nascer
Na conjunção desastrada
Em que peccou Lúcifer.
OIL ^^CESTE, AUTO DA CAKAKÊA.
— Domado.
— A matéria sujeita; que é sujeito,
assumpto do discurso, de que se trata.
— E sujeito; é captivo, escravo.
2.1 SUJEITO, s. m. Homem que se não
nomeia.
— Súbdito, vassallo.
— índole, capacidade.
— O objecto, assumpto de que se tra-
ta, em algum discurso, arte, poema, e
historia.
— Sujeito da proposição; o termo ou
termos com que signiticamos a pe.ssua ou
cousa de quem o verbo affirma alguma
propriedade ou attril)uto. Ha sujeitos di-
versos e outros cognatos do verbo, ou
nascidos da mesma idêa, e raize.s, por
exonipli), o comer come-se, ctc.
f SUJEYÇÃO, s. /. Vid. Sujeição. —
«Disseraõ mais que negauaõ cpie Deos
como poderoso creára todas as cousas
quantas havia no Mundo para serviço do
homem, mas que as que destas, depois
procederão, iicâraõ peia sujeyçaõ que tem
ao pcccíido, taõ imperfeytas em sua na-
turcsa, que de serem amargosas, duras,
e bravas, não tinhão em si substancia
nenhuma pelo que foy necessário para se
elias redusirem â perfevção do seu pri-
meiro ser, nascer Amida de todas ellas,»
Paiva d'Andra de, Sermões, part. 1, pag.
213.
SUJIDADE, s. /. Falta de limpeza, de
aceio.
— Os excrementos do corpo humano.
— Immundicia.
— Plur. Termo popular. Termos inde-
centes e deshonestos.
SUJO, A, atij. Porco, sórdido, não lim-
po, não aceiado.
Vè-3C-lhe huma presença veneranda.
Digna assaz de real sceptro e coroa.
Com velhos traji^s, vis, e sujo.' anda.
Mal ornado, o composto na pessoa;
Mofltrando-M vem coxo dlmina banda,
Doutra w lhe vêem iuluh tom que voa.
Cego hc de todo, c quem jiôi- nellc o tffnto
Vé que i» vczcB lhe fnltji o entendimento.
r. o'axdbadr, pbimbibo cr«io dk diu, cant. 12,
est. 07.
— Figuradamente : Sórdido, torpe, in-
decente.
— Impediílo, pejado, entrcnieiado.
— Deshone-ito, impudico, indeooroao.
— C/iaga suja ; a que tem súrdee.
— Luro sujo; livro cheio de erroe,
incorrecto, sem correc\-3o.
SUL, «. m. A parte do umndo oppos-
ta ao noi°te; o meio dia. — ■£ &»ni cami-
nhamos te os nouc do mes, em que noa
achamos em doze grãos, da baiii.'a do Sul,
vendo esta taide auibai* as nãos, qne sem-
pre juntas ai>-qui viemos, .-is Ilhas cio Co-
maro, das quaes tízerilo terra firme, e
costa de Moçambique.» Fr. 'iasparde
S. Bernardino, Itinerário da índia, cap.
1. — «Ficaudo Araxa, e seu marido c<)
outros (|ue se c^itentarào da terra, ajiar-
tareuise os mais a buscar outra cm quo
msÀi comodamente podessem pasar a vi-
da ; e tomando o caminho do Sul, ou
Jleyo dia, vierão parar em hum campo
largo, e apraziuel, apto, e couueniente a
seu intento, a que poserão nome Senaar,
que quer dizer, leuante.se o que dorme.»
Ibidem, cap. 18. — t Estas palanras re-
petem quatro vezes, virados pêra o Orien-
te, Ponente, Norte, e Sul: as quaes di-
zem quatro veze.-} cada dia. A primeira,
duas horas ante manhiiã. A segunda, ao
uieyo dia. A terceira, ao pôr do Sol.»
Ibidem, cap. 19. — «Da banda do Norte
tem o í>gipto, e do Sul os montes da
Lua, dos quaes saem rios de que se fa-
zem grandes alagoas, donde nasce o Ni-
lo que corre toda esta terra, e a do Egi-
pto ate sair no mar medeterranio, junto
da cidade Dalexandria, fronteira da ilha
de Chipre.» Damià*> de (loes, Chronica
de D. Manoel, part. 5, cap. 62.
De nebuloso Sid prescrutadores :
A gloria de busc4ir no Mundo hum Mundo,
Se ao pensativo Batavo i>ertencc,
A pertinaz navegador Uritano,
No Tejo as bases tem, no Tejo a fonte;
Mais aJéra de Queiroz nenhum se avança.
J. A. DE MACEDO, VIAOEM EXTÁTICA, Cant. 4.
— Termo de náutica. O ponto canli-
nal, opposto ao norte, ou a constellaçilo da
rosa menor; o vento que sopra d'aquelle
ponto.
— A America do sul; o sul do sul.
— O vento é sul; sopra da re^So do
sul.
— Absolutamente: O vento do sul.
— Adj. — O polo sul ; o polo antár-
ctico ou austral.
— (rratis de latitude sul; aquelles quo
vào 110 cquaiKir para e^tc i'iilo.
SULANO, .«. m. Vul. Solano.
SULA-PATOLA, s. /. Termo de historia
SÚLF
SULF
SULF
625
natural. Ganso patão, de bico comprido,
agudo, levemente denteado, e de cauda
igual, que nào excede as azas.
" SULAVENTEAR, v. n. Termo de náu-
tica. I)e'caíi- para sulavento.
SULAVENTO, í. m. Vid. Julavento, e
Sotavento.
SULCAR, r. a. (Do latim sulcare). Fa-
zer regos com o arado na terra.
— Termo de náutica. Cortar as ondas.
— Os navios sulcando os mares. — i Po-
rem em quàto a nao vay de vagar, sul-
cando as ondas do largo Occeano, e o
tempo nos dà lugar perà bõ dizer da Ilha
vS. Lourenço, o que Faque Volay hia co-
tando, ajudàdonos dos Authores, que me-
lhor delia sentirão.» Fr. Gaspar de S.
Bernardino, Itinerário da índia, cap. 2.
XSo hia o ferro da fatal biponne
As Faias profanar nos altos montes
Para s'ilcar o mar de ignotos climas ;
ííem laigos muros, nem profundos fossos
Das Cidades o circulo fecha vão.
J. A. DE MACEDO, A SATUBEZA, Caut. 2.
Para sulcar o mar de ignotos climas.
O medonho fragor de Mareia tuba
Nunca assustava os tímidos ouvidos ;
Nem desvelada mài, á voz da guen-a.
Ao peito os filhos enfiada unia.
IDEM, MEDITAÇÃO, Cant. 2.
SULCO, s. VI. (Do latim siihits). Rego
do arado.
Orçács amjos viris? Morrer vo.s mandão
Em dofcadoT Tyrannos, nas fronteiras.
Ou a sulcos rasgar, que os alimentem.
r. U. DO KASCIMEKTO, OS M.4RTTBES, 1ÍV. 9.
Útil á vida, e péssimo instrumento:
Feito em severo arado os su/cos abre,
E a Madre Terra lhe agradece os golpes :
Ditosa usura, que sustenta os homens!
EUe os mármores fende, cUc os aliza -,
Ao mortal dá sustento, e dá guarida ;
Nos montes da Livonia o pinho abát«.
Em que ás ondas s'eutrega o n.iuta ousado,
E vai n"hum laço só ligar dois Mundos.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Caut. 2.
t SULFACETICO, A, adj. Termo de
chimica. Acido sulfacetico; corpo que se
forma pela acção do acido sulfúrico anhy-
dro sobre o acido acético puro.
f SUIFACIDO, s. m. Termo de chimi-
ca. Xonie dado aos sulfuretos, que nas
suas combinações com outros corpos, re-
presentam o papel d'acido, ou do corpo
electro-negati vo .
f SULFARSENICO, adj. Termo de chi-
mica. ^4f i(/o sulfarsenico ; composto de
acido de enxofre e arsénico corresponden-
te ao acido arsénico.
7 SULFARSENIOSO, adj. Termo de chi-
mica. Acido sulfarsenioso; combinação
de acido de enxofre e arsénico corres-
pondente ao acido arsenioso.
•TOL. Y. —79.
SULFATADO, A, adj. Termo de chimi-
ca. Comljiuado com mn sulfato.
— - Da natureza do sulfato, em que
entra sulfato.
— Aguas mineraes sulfatadas; aguas
que contém sulfato de ferro, posto que
este epitheto seja applicavel a todas as
que contém quaesquer sulfatos.
SULFATE, SULFATO, ou SULPHATO, s.
?)i. Termo de chimica. Xome dos saes pro-
duzidos pela combinação do acido sulfú-
rico com as bases salificaveis.
7 SULFATICO, adj. Termo de chimi-
ca. Ether sulfatico ; ether composto que
se obtém fazendo chegar vapores d'acido
sulfúrico anhydro a um balão contendo
ether completamente livre d'agua.
7 SULFATIZAÇÃO, s. f. Termo de chi-
mica. Traiisformaçào em sulfato.
SULFATIZAR, v. a. Termo de chimica.
Reduzir a sulfato, ou saturar de sulfa-
to outra substancia.
SULFATIZAVEL, adj. 2 gen. Que se
pôde reduzir ou converter em sulfato.
f SULFAZOTITO, s. m. Grupo de saes
de base potassa que se obtém fazendo
deitar acido sulfuroso gazoso n'uma so-
lução concentrada de potassa.
SULFERINO. Vid. Sulfúreo.
7 SULFHYDRATO, ,>!. m. Termo de chi-
mica. Xome genérico dos saes produzi-
dos pela combinação de certos sulfuretos
com o acido sulfnvdrico.
t SULFHYDRIGO, adj. Termo de chi-
mica. Acido sulfhydrico ; combinação do
hydrogeneo e do enxofre, mui espalhado
na natureza. E' um gaz incolor, de nm
cheiro fétido de ovos podres, mui solúvel
na agua.
7 SULFHYDROMETRO, s. m. Pequeno
tubo graduado, de vidro, destinado a de-
terminar a proporção de enxofre contido
nas aguas sulfurosas uaturaes ou artifi-
ciaes, enchendo-o d'uma solução extrahi-
da do iodo. Este instrumento é fundado
na propriedade que possue o iodo de des-
locar o enxofre, e de subsíituir-se n'elle
equivalente por equivalente.
7 SULFISATINA, s. /. Termo de chi-
mica. Prodncto da acção do gaz sulfhy-
drico na solução de isatina.
7 SULFITO, s. m. Termo de chimica.
Xome genérico dos saes formados pela
combinação do acido sulfuroso com as
bases.
-}- SULFOANTIMONIATO, *. m. Termo
de chimica. Xome dos saes formados pe-
lo acido sulinantimonico e pelas bases.
I SULFOANTIMONICO, adj. Termo de
chimica. Acido sulfoantimonico ; sulfure-
to d'antimonio acido, correspondente ao
acido antimonico.
1 SULFOBASE, s. f. Termo de chi-
mica. Sulfureto que representa o papel
de base, chamado também sulfitreto bá-
sico.
f SULFOCARBONATO, s. m. Termo de
chimica. Sal obtido pela combinação de
um sulfureto básico com o sulfureto de
carbono.
f SULFOCARBONICO, adj. Termo de
chimica. Acido sulfocarbonico, ou sulfu-
reto de carbone ; combinação do carbone
e do enxofi"e.
7 SULFOCHLORURETO, s. m. Termo
de chimica. Combinação do enxofre com
o chlornreto.
-}• SULFOCYANOGENO, s. 77?. Sulfureto
de cvanogeno.
t'SULFOGLYCERICO, A, adj. Termo
de chimica. Acido suifoglycerico ; produ-
cto da acção do acido sulfúrico sobre a
glycerina.
' "l SULFOLEICO, adj. Termo de chimi-
ca. Producto da acção do acido sulfúrico
sobre a oleína.
t SULFOPURPURICO, adj. Termo de
chimica. Acido sulfopurpurico ; acido ob-
tido dissolvendo o Índigo pelo acido sul-
fúrico fumegante.
f SULFOSAL, s. m. Termo de chimi-
ca. vSal formado pela combinação de um
enxofre metallico electro-negativo ou sul-
facido com um sulfureto electro-positivo
ou sulfobase.
f SULFOVINATO, y. vi. Termo de chi-
mica. Sal formado pelo acido sxxlfovinico
e pelas bases.
7 SULFOVmiCO, adj. Termo de chimi-
ca. Acido sulfovinico; acido que se obtém
aquecendo o acido sulfúrico com o álcool.
SULFUR, ou SULPHUR, s. m. (Do la-
tim sulphur). Vid. Enxofre.
f SULFURABILIDADE, 5. /. Termo de
chimica. Qualidade do que é sulfuravel.
— A suliurabilidade dos metaes.
SULFURADO, i^art. i)ass. de Sulfurar.
Enxofrado, preparado com enxofre.
SULFURAR, ou SULPHURAR, i-.«. Ter-
mo de chimica. Fazer entrar o enxofre
em combinações.
— Enxofrar, saturar, preparar com en-
xofre.
f SULFURAVEL, adj. Termo de chimi-
ca. Que pôde ser sulfurado.
SULFÚREO, A, adj. Da natureza do
enxofre.
— Em que ha partículas de enxofre,
Lanção lá nos Christãos mil differentes
Artcficios de fogo, cora que cspalhão
Sulfúreas o mortacs chammas ardentes
Nos que naqucUa parte se agasalhão ;
Traz i,sto confiados e contentes
Os imigos entrar dentro trabalhão,
Havendo que a taos chammas, e ao seu braço
Durará a resistência pouco espaço.
F. d'ahdradk, pkimeiro cerco d» DIU, cant. 17,
est. 112.
Vêem-ae logo nos ares levantados
Mais de vinte que o pó sulfúreo afFen-a,
E coos corpos de lá, despedaçados
E feitos em carvões descera á terra ;
Outros tantos ficarão maltratados
Desta ardente, apressada, mortal guerra.
Os Christãos, que esta ajuda bera conhecem.
Quão bem podem então a favorecem -
reiDEM, cant. 19, est. 106.
626
SULF
SULT
SUME
Do»t'nrt« niii iioHflaA inão» he raio nrdnnto
Esao »idfure.o pí, qu'o Mmulo !ihhoI:i.
J. A. DB MACEDO, A NATUBKZA, Olllt. 2.
Poios f^Ai-f^antas do abrnzado» montou
Ertto incêndio ciMitral nu iirrojii, o iMíbo,
TorrontoH siibtcrr.inoíiB donde naricoin
Snlfurca-1 n^çoas forvida^í, rnio torna
Utois ii vida a mão da Mi^dicina,
Tildo no triíitR cavcniono «cio
Da Turra inoiítra o fogo agrilhoado.
ininicM.
Apagada a sulfúrea labareda
Kodobra a noito a triste obscuridade ;
De novo fuzilou, da» nuvens rompo
Com berro estrepitoso o fogo, a morto.
inlDEU.
Em quanto aíisim da recurvada proa
Fi.tas pendem as ancoras n'area,
O ar do e9pai;o a espaço o bronze atroa,
Quando n mi/furea massa arde, o se atoa ;
Como de hum lucto sepulehral Lisboa
Se mostra envolta de pezarcs chêa ;
Correndo o feito vai do boca cm boca,
A todos interessa, o a todos toca.
IDEM, o ORIENTE, Caut. 2, CSt. 11.
— Panellas sulfúreas ; pancllas cheias
do enxofre o outra; drogas inflanimaveis
para a tcuerra.
— Intlammavcl como o enxofro.
Repentino relâmpago me assusta,
Ou(;o horrendo trovão, vojo espantoso
Trilho abrazado do sulfúreo raio.
Arma nas mãos do Eterno, arma espantosa,
Que sempre aterra o máo, e humillia o justo.
Onde 80 forja, c se prepara a sota.
Que tão rápida vem, quo as nuvens rasga !
J. A. DE MACEDO, VIAOEM EXTÁTICA, Cant. 1.
Toucado horrendo da empestada grenha,
Quo na sulfúrea linfa as fauces molhem.
Ergueu a frente, os Áspides silvarão.
Quando rasgadas as Tartarcas sombras
Das fauces íi'hum volcão so lança ao Mundo.
IDEM, A NATUREZA, Cant. 1.
l>hir. Enxofres.
!. Termo do cbimiai.
SULFURES, í
SULFURETO,
Combiuaçào do enxofre com os corpos
metalloiílcs ou com os metacs.
SULFÚRICO, adj. m. Termo de chimi-
ca. Que diz respeito ao cnxoire.
— Acido sulfúrico; acido liquido, de
consistência oleaginosa, que no seu maior
estado de coucentraçào conserva ainda o
quinto do seu peso (Fagua.
— Acido sulfúrico anhydro; ò solido,
crystallisavel em aguUias brancas, e bri-
lhantes, e niagnetisadas.
— Acido sulfúrico monohi/d ratado ; ó
o acido sulfúrico or.linario, e incolor.
— Acido sulfúrico alcoolisado ; c um
adstringente.
f SULFURIFERO, A, adj. Que contóm
enxofro.
SULFURINO, A, adj. Sulfúreo.
SULFUROSO, A, adj. [Do latim sulphu-
rotUK, áasu/phnr). Que «'i da natureza do
enxofre. — fíjiha/ui-õeii sulfurosas e mi-
Hcrnes.
— ■ Aijiia sulfurosa ; agua que coutóin
em dis-folufj-ão sues de enxofro, o que des-
envolve aeiílo Hulfliyilrieo.
— Tormo de chiiniea. Acido sulfuro-
so ; acido formado j)ela coinbustilo do en-
xofro no ar; i; uin gaz sulfocantc.
— Diz-so tamli^.m dos sues em que en-
tra o acido sulfuroso, ou que Uics corres-
pomliMii pela composição. — /bVie» sulfu-
rosos.
SULIA, .s'. f. Vid. Solia.
SULPIIATIZAR, V. a. Vid. Sulfatizar.
3ULPHAT0, .«. «1. Viil. Sulfato.
SULPHUREO, A, adj. Vi.l. Sulfúreo. —
«Nas de Itália, onde ha muitas matérias
sulphureas, seriSo os exemplos dc.-ítas in-
llammaçoens muy ordinários, so se de-<-
ces.se frequentemente com in/,e« ao< Po-
ços.» Cavalleiro d'Oliveira, Cartas, liv. 1,
n.» 15.
SULTAM, s. w. Vid. Sultão. — ffHuma
tarde vimos pas.sar pela ponte o Sultam
Mahameth, homem louro, olhos verdes, as
feyçõcs delgadas, idade corenta annos, e
no gesto mais afidalgado de quantos c3
cllc Inani.» Fr. Claspar de S. Bernardino,
Itinerário da índia, cap. 19.
SULTANA, s. /. Titulo das mulheres
do grào senhor.
— Sultana favorita; aquclla, que é da
parte do sultão, o objecto de um favor
particular.
SULTANIM, s. 7)1. Moeda douro quo
corro cm Turquia, no Egypto o nos esta-
dos barliarescos.
SULTÃO, 5. »i. Vid. Soldão.
Ferreira o companheiro não engoita,
r>eva-o por seu Faraute na viagem,
Fi cm entrando cm Cambaia se aproveita
Do seu esporto engenho, o da linguagem:
I.,ogo CO 'o 6WAto tovo tào estreita
Amizade, que a todos foz vantagem,
Tal era o sou saber e habilidade
Quo bastava a ganhar qualquer voubidc.
KR.^NCISCO dVnDBADE, PRIMEIRO CERCO DE DIU,
cant. 2, est. 83.
Aclião iiplle riquezas escondidas.
De que huma quantidade tal havia.
Que com ellas o insaciável Midas
Engeitára o que Haccho ortorccia.
Porque além do Sultão alli mettidas
Ter todas quantas possuia.
Tinha muitos despojos quo tomara
Em Reinos qu« adquirira, o saqueara.
míDEM, caut. 3, est. -10.
A gente do Snlfin. c a que foi dada
Ao inundo, liV na terra do Ponento,
Tanto que o Sol a nova luz dourada
Veio mostrando IA polo Oriento,
Vondo de todo ja desampar.ada
A fortaleza, desta imig-i gente,
Se tornào a embarcar, e o mar navegSo
10 oom prospero tempo a Diu ohogão.
IBIDEM, cant. 5, est. lUí.
Cliogados ao Sull^io, os agasalha
Com mostras d'amor graude o verdadeiro,
Polo Reino d'alli logo se ctpaUia
Que ous.ido faz o iiuvo Cjiiipaiilieiro.
D'hunia parte para outra tv trabalha
íírâo toin|>o H«m parar hum dia iiití'iro,
Maa do imigo Mogor iiào liouvc vista
Nnin outra cousa acliou que lho rcitiata.
IBIOKM, C6t. 79.
Soguc tu, Sonsa, a ElRei tSo aprcMado
Que ou do (iovomudor Imin pouoo canto,
O qunl do:K)is que á toldu foi tornado,
Entendendo bem toda u gente <|uaiito
Cumpria da infiel vida privado
Sor o imipo Sultão, com grande cupanto
Os olho» nelle i>'ie, (• inda duvida
8c das mãos se lhe foi são o com vida.
loiDEM, cant. 7, est. 12.
Parto-se cora veloz curso ligeiro
A fúria tnmbcm nisto diligente',
O esprifo do Sultão por c<>iiq)anheiro
Leva também a^ora juntaineiitc ;
O qual agor.a mais f|UC de primeiro
Alvoroçado vai, ledo o contento.
Porque leva huma grande oontiança
Que ao sou ódio igual tcni a vinçaiiça.
ininEM, cant. 12. est. IlO.
SULVENTO, s. m. O vento sul, do moio
dia.
SUM, adv. Termo antiquado. Acha-so
precedido das jirepo.^ições de, eni, de a/m.
— Viver em sum, de sum, de com sum.
Vid. Súu.
SUMA. Vi-l. Summa.
SUMACA, s. /. Embarcação pequena,
rasa, de dous mastros.
— Barco de navegaçjlo commercial cos-
teira r.o Brazil.
— <!enero de embarcaçSo ligeira que
servo para transporte.
SUMAGRADO, part. pass. de Suma-
grar.
— • Tormo de tinturaria. Embebido no
sumagre.
SUMAGRAR, v. a. Tingir ou embeber
a lã ou panno em um banho de sumagre,
para que tome mais facilmente a côr
preta.
SUMAGRE, í. Vi. Termo de botânica.
Planta, com cuja folha, c casca do tronco
60 curtem couros, o pelles.
— Serve na tinturaria.
SUMARENTO, A, adj. Que tem sumo,
sucoi>.
SUMBAIA. Vil. Zumbaia.
SUMEAS, s. /. plur. Termo de náuti-
ca. T:il>o,i-i o:nu que se refaz o repara o
leme.
f SUMERGIDO, part. pasa. de Sumergir.
Vid. Submergido. — «^las se algum ho-
mem estranho perturbar as dita.s herda-
des usurpãdoas para si, seja sumergido
com Dataõ, o Abiraõ, e vã para .*empre
ao Inferno cõ Judas o tròdor. Foy feita
o.sta carta de testamento, na era de oito-
centos e oito (que he aiino de Christo, se-
teoontos e sot-nta'i no mez de Abril.»
Monarchia Lusitana, liv. 7, o.ap. S.
SUMERGIR, r. <i. Vid. Submergir.
I
SUMI
SUMM
SUMM
627
/. Termo popular. Vid.
SUMIÇAO,
Sumiço.
SUMIÇO, s. VI. — Levar sumiço ; per-
der-sc de vista, nào se achar, nào se sa-
ber da eimsa que levou sumiço.
SUMIDIÇO, A, adj. Que desapparece,
e SC some com facilidade.
SUMIDO, pari. pass. de Sumir, iletti-
do para baixo do olivel, escondido.
— Homem sumido do rosto; que é mui
magro.
— Sumido alguém em si mesmo de hor-
ror.
SUMIDOURO, s. m. Abertura profunda,
ou cousa analuga, por onde escoa, e por
onde se some a agua.
— Figuradamente : O sumidouro de,
vícios.
SUMIDURA, s. /. Desapparecimento,
SUMILHER, s. m. — Sumilheres da cor-
tina; ecclesiasticos fidalgos, que correm a
cortina da tribuna d'el-rei na capella
real, e fazem outras cousas do serviço
d'ella.
— Houve também sumilheres, offieiaes
mores de diversos serviços da pessoa, e
casa dos reis.
— Sumilher da camisa ; que a vestia
ao rei.
SUMIR, ou SOMIR, v. a. Submergir,
metter a pique, afundar.
Ti que em Lixboa cahio
da C503ta gram cantidadc
duas ruas destruhio,
duzentas casas sumio.
foy gram temor na cidade.
G. DE EEZEXDB, MISCELLASKA.
f. (Do latim summus)
— Figuradamente : Occultar, esconder,
encobrir, nào dar a perceber.
— Sumir-se, v. rejl. Submergir-se,
afundar-se.
— Desapparecer da vista.
Cousa branca, may cõnrida,
directa com gram medida,
bem ((uiuze uoutea se vio,
pouco e pouco se sumio,
te aer desaparecida.
o. DE KEZESDE, MISCELLASEA .
Muyta gente se sumio :
foy muy gram destruição,
ha mor que ae nunca vio
desta 3ort«, nem ouuio
do Tibre tal perdição.
IBIDEU.
(O Pejo, e o Furor llie dobra as forças!)
Berra, salta, esconjura, põe preceitos.
Sem descansar, talhando os subtis ventos:
Mas tudo em vão ; que leves e seguros.
Nadando pelos ares se sumirão
Oa novos Antropógriphos uaa nuvena.
A. Ddiz n.v cBuz, HTS30PE, cant. 8.
— Sumir-se a voz; não poder soar de
modo que se ouça.
SUMISSÃO, s'. f. Vid. Submissão.
SUMMA,
Somma.
— A substancia resumida.
— O máximo grau.
— Resumo, epitome do mais principal.
— Loc. ADV. Em summa; resumida-
mente, em uma palavra, em substancia.
— «Baste saber era summa, que assi se
haviam os nossos poucos navios entre
aquelle grande número de velas, como
se hão 03 lobos em hum pegulhar de ove-
lhas. >' Barros. Década 2. liv. 9, cap. õ.
SUMMAMENTE, adv. (De summo, e o
suffixo ameutes). Muito, em extremo. —
« Agardecemos meu cõpanheyi-o, e eu
muvto este auiso, e vendonos cij el Rev
lhe estranhamos summamente consentir
nesta venda, pois a vontade dei Rev de
Espanha, de quem elle era vassalo, nào
era outra que saluar aimas, e tiralas das
vnhas do inimigo de nossa saluaçào.»
Fr. Gaspar de S. Bernardino, Itinerário
da índia, cap. G. — «Summamente dese-
jey trazer a este Reyno, huma pequena
Cruz do Mochamo, por me parecer que
o Apostolo Sam Thomè a faria por suas
màos : Mas nem a diligencia cõ que a
procurey, nem dadiuas que por ella pro-
meti, bastaram pêra a poder auer.» Ibi-
dem, cap. 10.
— Em supremo grau.
SUMMAR, i!. a. Vid. Sommar, termo
mais em uso.
SUMMARIAMENTE, adv. (De summa-
rio, com o suffixo «mente»). Eui summa,
brevemente, de uma maneira summaria,
resxmiida, em anacephaleose, em substan-
cia.— «Atras fica dito o que Duarte de
lemos fez ate chegar a Ormuz, depois de
por falecimento de seu tio George da-
guiar ser elegido, em Moçambique, por
capitam darmada que auia dandar no ca-
bo de Guardafum, e porque ainda nam
sahi da ordem acostumada, que he fazer
juntamente inençam do que os capitaens
passaram em suas viajens, trattarei sum-
mariamente neste anno de M. D. si, o
que lhe aconteceo depois de ser em Or-
muz ate tornar a Lisboa.» Damião de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 3,
cap. 15.
— Proceder summariamente ; proceder
sem figura, sem as formalidades usuaes,
sem as demoras do processo ordinário.
SUMMARIAR, v, a. Reduzir a summa,
ou summario.
— Termo do foro. Tratar em resumo a
causa, proeessal-a sem as delongas ordi-
nárias.
— Summai'iar um reu; fazer-lhe um
processo ordinário, em certos casos e cri-
mes, fazendo-se autos de accusação, ou
denuncia, instituídos com os ditos das
testemunhas.
— Resumir, recopilar em summa, ou
em breve.
1.) SUMMARIO, s. m. (Do latim sum-
marium). Compendio de pontos princi-
paes, e mais substanciaes de um livro,
discurso, etc; epitome, resumo, epilo-
go, ai.acephaleose.
— O processo summario.
— Emprega-se também no sentido fi-
gurado.
2.1 SUM5IARI0, A, adj. — Processo
summario ; em que se procede summaria-
mente.
SUMMARISSIMO, A, adj. superl. de
Summario. Mui summario.
— Eniprega-se também no sentido fi-
gurado. — I^rocesso summarissimo.
SUMMIDADE, s. f. (Do latim summi-
tas). A ponta e extremo mais alto.
— A summidade dos ramos; as fran-
ças.
SUMISSÃO, s. f. Vid. Submissão.
SUMMISSO, ou SUMISSO, adj. Vid.
Submisso.
— Termo de cirurgia. Veias summis-
sas; veias ténues, e quasi sumidas.
SUMMISTA, s. m. Escriptor do summa,
de doutrina moral, epitomista.
SUMMO, A, adj. (Do latim summus).
O mais alto, supremo, ultimo. — O sum-
mo amor.
Deus, cui proprium est miserere,
Porque o seu próprio he perdoar.
De todo a sanha nào quer executar,
E a summa bondade assim Ih 'o requeve.
GIL VIGESTE, ACTO DA HISTOBIA DE DELS.
Para o summo Poder, que a etherea côrtc
Sustenta só co'a vista veneranda
Implorámos favor que nos guiasse,
E que nossos começos aspirasse.
CAM., Lcs., cant. 4, eat. 86.
— ■ Máximo, maior, extremo.
— O Summo Deus; o supremo Senhor
de tudo.
Em nenhuma outra cousa confiado.
Senão no summo Dcos que o cio regia •
Que tào pouco era o povo baptizado,
Que para um só cem Mouros haveria.
CAM., Lus., cant. 3, eat. 43.
Bem que tudo se guie a ser cumpridos
De Deos summo os Decretes.
F. M. DO NASCIMENTO, OS SIAKiyRES, liv. 8.
o supremo Deus, o
— O Summo Be
Omnipotente.
Pelas margens do Indo, e iramenso Ganges
Meditadorcs Brâmenes deviso.
Que em sombra muito espessa a luz involvcm
E a verdade com Symbolos ensinão. '
Confúcio, o grão Filosofo, descubro,
Que da luz natural levado apenas.
Achara o Summo Bem só na virtude.
Kuuca he feliz o criminoso, nunca !
J. A. DE JIACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, CZUt. 2.
Summamente. —
— Adverbialmente
Deus é Summo sábio.
— Substantivamente: Cimo, cume.
628
8UMP
Tenho o mesmo principio, a incarna causa,
(Jiie ti-m fliiaiito no o^;)a^;o imincnso oiijto.
Ku profiiiidn liarinoiíia nm tudo ailmiio,
Vojo 0111 tiidi) o ficomctrico oompartSO,
Vejo uiiifdiiiii; lei, ordein, oadóa.
No miuinio lium amiol, o outro uo siimmo.
j. A. DE MACEDO, UKDirA<;lo, caiit. 4.
Fijíuradiímuntc : O summo da la-
droice. — «Taça siiõ 03 homcu.s ladroeií.s,
que 80 ajudaS de iDãus alhoyas : sayem-
80 de sua esfera, o vau mcudifíar nas
alheyas modos, e instrumentos, com que
mais furtem. Naõ se contentar hum la-
drão coiu duas mãos, que lhe deu a na-
tureza, o com cinco dedos que lhe poz
cm cada hunia, armados com muito for-
mosas unhas, e hir buscar mãos alheyas,
o emprestadas, para mais fartar, e pou-
par as suas para outros lanços, he o sum-
mo da lailroíce.» Arte de furtar, cap. i>7.
— Vid. Cimo, e Cume.
— Syx. : Summo, nupremo, soberano.
Summo é o latim sumiuus, e significa o
mais alto c elevado, o que mais sobresáe
em seu geuero. Diz-se summo pontijlce,
summo amor, em summo çirau, ete.
Supremo designa o ultimo, o maior na
graduação, de mor excellcucia no sou gé-
nero. Diz-se o dia supremo, o supremo
mando, ete.
Soberano designa o que é supremo cm
auctoridade ou poder, e usa-se como sub-
stantivo para designar o senhor absolu-
to no domínio o governo dos seus vassal-
los.
SUMMULA, s. /. (Do latim sivmmula).
Suunnasinha, o\i breve epitome doutri-
nal ; chauia-se assim por antonomásia a
Summula dn dialéctica.
SUMMULISTA, s. m. Homem versado
na sumnmla escholastico-pcripathetica.
1.) SUMO, s. m. O sueco que se extra-
hiu, e espreme. — O sumo de laranja,
de limão, ete. — «Por bebida ordinária
se usaríi de agoa puríssima cosida com
cevada ou azedas, ou sumo de romaãs,
ou de lima3, ou de cidra, ou cosida sim-
plexmciTte, ou juutandolhe hum pouco de
xarope rosa<lo, acetoso, de romaãs, ou
violado.» Braz Luiz d'Abreu, Portugal
medico, pag. 384, § 103.
— O sueco nutritivo vegetal, ou ani-
mal.
-:- Sueco da carne, o chorume.
2.) SUMO, A, adj. Vid. Summo.
— O Sumo Bem; o supremo Deus, o
Omnipotente. Vid. Summo.
ello ho toda bondade,
clle ho. toda verdade,
cUe he o sumo bom,
cUo d:\ sor, o aoatera
nossa fraca humanidade.
OAKCIA DK KEZEXDE, MISCELL.VSKi.
SUMOSO, A, adJ. Que tem sumo, sue-
coso.
SUMPÇÃO, s. /. Acto de engulir, con
sumpção.
bUMP
SUMPTO, .s. w». (Do latim aumptus).
Termo pouco em uso. Vid. Custo de des-
peza.
SUMPTUÁRIO, A, adj. (Do latii» sum-
■plaarius). Quo diz respeito a dcapezas, a
gastos.
— Lein sumptuárias ; leis que pijc mo-
do aos gastos, e Uespezas dos cidadãos.
SUMPTUOSAMENTE, adv. (De sumptuo-
so, com o suílixo « mente "j. De um modo
sumptuoso, magiiilieeiíte.
— Ciisto^amoate, preciosameutc.
SUMPTUOSIDADE, «. /. (Do latim 8um-
ptuositas). Custosa magniliceucia, precio-
sidade.
Syn.: Sumptuosidade, uij^o. vid.
este ultioio termo.
SUMPTUOSÍSSIMO, A, adj. superl. de
Sumptuoso. Mui sumptuoso, mui magui-
tlco. — « U templo deste idoio he hum
sumptuosíssimo eiliticio que está uo meyo
deste campo em hum outeyro redoudo
(pie tem mais de meya legoa cm roda,
chàfrado toilo ao picão em altura de
quinze braças, e delias acima esta hum
muro de cantaria muyto alva de três
braças com seus baluartes, o cubellos, e
torres ao nosso modo.» Feruào Aieudes
Pinto, Peregrinações, cap. lòU.
SUMPTUOSO, A, adj. (Do latim aum-
ptnnsus). De grande custo, adornado, ap-
parelhado á custa de grandes despezas,
maguilieeute. — «E sobretudo Braeuiào,
que pêra vingança delles deixou sua ama-
da pátria e natureza, fazendo sacritieios
sumptuosos e graudes, crendo que uo
merecimento delles estava o galardiW cer-
to com vletoria de muito louvor e espan-
to!» Francisco de Moraes, Palmeirim de
Inglaterra, cap. 107. — «Despois de ser
morta toda esta gente, a cidade abrasa-
da, e os edihelos de casas particulares, e
teinploa sumptuosos, e tuuo o mais que
uella avia posto por terra, sem aver cou-
sa que tieasse em pé, se detiveraò aly
sete dias, e no iim delles se tornarão pa-
ra a cidade do Pequim onde então o seu
Rey estava, e doudo os maudai-a a aquel-
le feyto, os quaes levarão comsigo inliui-
daJe* douro e de prata sem outra tazeu-
da nenhuma, por não terem em que a
levassem, porem a toda pusoraõ o togo
antes que se partissem, para que os Chins
a não lograssem.» Feruão Mendeá Piuto,
Peregrinações, cap. 117. — «Na Villa de
Mafra está cilitieaudo Imm Templo taò
magnifico, e sumptuoso, que sem duvida
será o melhor de todo o Keiuo.» Fr. Ber-
nardo de Brito, Elogios dos reis de Portu-
gal, continuados por D. José Barbosa.
>( lios Kei3, e Rainhas foraò visiUr o Du-
que a sua cíisa, e jazendo na Ciuiia jui-ou
hos i'rincipes, o lhes deu sua meuajem.
Dcguadalajara foraò a Calataude primei-
ra ddade ilo regno Daragão onde solhes
fez luim sumptuoso recebimento, e hos
viorâo receber muitos dos senhores, e no-
bres do regno.» Damião do Coes, Chro-
SUOR
nica de D. Manoel, part. 1. cap. 30. —
«(J que sempre se fez, e faz d>-poÍB que
esta capella su conuertco no sumptuoso
mosteiro, quo no incitmo lugar fundou cl
rei dom Emanuel depois que V;i/^quo da
(iaiiia tornou da índia.» Ibidem, |)art. 3,
cap. 03. — o Tem muitos, c mui sumptuo-
sos templos, a que chamam Varelas, e
mosteiros de frades, o freiras editica*lo8
ao modo do ca. A liogoagem em quo re-
zam, e fazem estes oíTieios, naiii eutendo
seitam quem na estuda, que he como en-
tre nos, o I./atiin.» Ibidem, part. 4, cap.
25. — «Acabou a obra da agiioa de la-
gos, mandou abrir o paul de muja: de-
pois ([ue começou de conquistar a índia
mandou de uouo fazer os magníficos, e
sumptuosos paços da ribeira «le Ijsboa,
jicia onde se fui dos daicaçoua sem mais
tornar a viuer nelles.» Ibidem, cap. 85.
— «Dez legoas do Alejjpo eucòtramos,
em huma serra, c<) hum sumptuoso edi-
ficio, mas miiy arruynado; dcziam al-
guns qus Cothofredo de Bulham, o man-
dara e<]ificar; defronte delle está hum
Castello, que deuia seruir de guarda do
Templo, que isso representa aquella obra
por algumas sepulturas que nella vimos.»
Fr. Gaspar de S. Bernardino, Itinerário
da índia, cap. 22.
Dá-mc isso contentamento.
Ora c4
dcst 'outra banda estará
muito bem o Entendimento,
que Deos pcra Dcos me dá.
E ]ior'|ue se não comexja
obra jà tão sumptuosa ?
AMTOKIO PBKSTES, ACTOS, pag
14.
— Que dispende em preciosidades e
raagiiitíeoneias com mão liberal, e franca.
SUNTUOSO, A, adj. Vid. Sumptuoso.
SUOR, s. m. (Do latim sudur). O hu-
mor excremeiíticlo, que se separa pelos
poros do corpo, ordinariamente em gotas
visíveis. — »Disse-lhe Manoel Jo.ào, que
era bom tomar hum suor frio feito com
agoa de pacoulas, e que na Cidade de
Rapa vira curar hum homoni a sua Po-
lãca com a agoa destinada da flor da Ro-
manceyra.í) Cavalleiro d'01iveira, Cartas,
liv. 1, n.» 25.
Tremi confuso, o vaoillantc o passo
Entre contrários pensamentos movo.
Quasi lium frio suor me banha a fronte ;
Quasi de voa era vòa agudo frio
O curso ao sangue fervido entorpeço.
J. A. DK MACliDO, VIAGEM KITATICA, Oaot. 1.
— Fructo de grande trabalho.
— Figuradamente: Estar em suores
frios; est.ar em apertos, aftroutas, traba-
lho extremo.
— Trabalho. — Viver em suor.
Mas porcjue nenhum graúdo bem se alcanç*
Sem grkudes oppresâõcs, o em todo o feito
SUPE
SUPE
SUPE
629
Segue o temor os passoa da caperança,
Que cm siíór vivo sempre de seu peito ;
Me moritras tu tão pouca confiança
D'c3ta minha verdade, scin respeito
Das rasõea em contrario, que acharias
Se não cresses a quem não crer devias.
CAM., Lus., cant. 8, est. 67.
Mas vosso bom discurso nada ignora:
Diverti-voa embora ;
E lá do grande Mcnalo vizinho
Achareis de caminho
A comnmnicaçào dos seus cultores,
Que com tantos suores
As terras fabricando.
Úteis, e novos troncos enxertando
Mostrão a prcgni(;.oao3 descuidados
Mil saudosos frutos sazonados.
J. X. DE MATTOS, RIMAS, pag. 222.
Impaciente Empédocles ji vejo,
Que julga (ó vào discurso, ó vãs idéas !)
Suor do Térreo Globo o vasto Oceano.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Caut. 2.
A espada não guardou do invicto Cosar,
Nem dos dous Scipiões o escudo, c a lança :
Do naufrágio salvou de TuUlo as obras ;
O tão douto suor de ambos os Plinios.
IBIDEM, cant. 4.
— a Já tlizeiíl que virá outro governa-
dor, e então tudo será como d'aiites era;
o eu em parte assim o temo, porque to-
dos os que cá costumaram vir atégora
traziam os ollios só no interesse, e todos
03 interesses d'esta terra consistem só no
sangue e suor dos Índios.» Padre Antó-
nio Vieira, Cartas, n." 14.
— Syn. : Suor, transpiração. Vid. este
ultimo termo.
f SUOVETAURILIO, s. m. (Do latim
suovetaurilia, de sus, ovis, e taurus).
Sacrificio de um porco, de uma ovelha, e
de um touro.
SUPEDANEO, s. m. Banco que se col-
loca debaixo dus pés; escabello, peanka.
Vid. Suppedaueo.
— Estrado de madeira, próximo ao al-
tar, onde o sacerdote tem postos os pés.
SUPENHORAR, v. a. Dar em penhor.
SUPERABUNDÂNCIA, «. /. Mais que
abundância de viveres, provisões, etc.
— Figuradamente : Superabundância
de merecimentos ; para ser digno e bene-
mérito de pi'eniios, de honras, etc.
SUPERABUNDANTE, part. act. de Su-
perabuudar. Mais que bastante.
SUPERABUNDANTEMENTE, adv. (De
superabundante, com o suffixo «mente»).
Com superabundância.
SUPERABUNDAR, v. a. Dar mais que
bastante.
— V. n. Haver mais do que ó bas-
tante.
SUPERADDITO, A, adj. (Do latim su-
jjeradditus). Termo pouco em uso. Accros-
centado, ajuntado, posto por de mais.
SUPERADO, imrt. pass. de Superar.
Vencido.
Alli 03 Chvistâos Arménios, e outros muitos
lacobitas. Cismáticos, distinctos
Dos outros Morauitas, superados
São, dos que a aaera fè Christaã confcssaõ.
Alli a tórrida Zona tem tal força.
Que aos soua habitadores os abrasa,
E para mitigar tal ardor, vsaõ
Os Cataucntos tanto celebrados.
CORTK RE.VL, NAUFRÁGIO DB SEPÚLVEDA , Caut. 6.
Olha csfoutra bandeira, c vê pintado
O grão progenitor do3 Reis primeiros:
Ni5s Húngaro o fazemos, porem nado
Creui ser em Lotharingia os catraugoiros :
Depois de ter, co'os Mouros, superado
Crallegos c Leoaezes cavalleiros,
A' casa saneta passa o sancto Henrique •,
Porque o tronco do3 Reis se sanctilique.
CAM., LUS., cant. 8, est. 9.
SUPER-ALTARE, ou SOBRE-ALTAR,
s. IH. Termo antiquado. Pedra d'ara, ou
altar portátil.
— Docel, pallio, ou sobreceu com que
algum altar se cobria, e ornava.
SUPERAR, V. a. (Do latim superare).
Vencer, levar de vencida.
— Figuradamente : Levar vantagem,
exceder.
— Superar o passo difficil ; passal-o,
transpGl-o.
SUPERA VEL, adj. 2 gen. (Do latim su-
perahilis). Que se pôde superar, vencí-
vel.
Depois do quanto affan, do quanto estudo
Tu, Saladini, a theoria expunhas.
Que escúllio da Mecânica se chama,
Xào saperavel quasi a eugenho humano !
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Caut. 4.
— ■ Figuradamente : Paixões superá-
veis.
SUPERBISSIMO, A, adj. Vid. Soberbis-
simo.
SUPERCHERIA, s. /. Fraude feita com
astúcia, embuste.
— Dulo, engano, má fé.
— Velhacaria, trapaça, astúcia fraudu-
lenta.
SUPERCILIO, s. m. (Do latim superci-
liwiii). Termo pouco em uso. Sobrance-
lha.
— Figuradamente : Soberba, sobera-
nia.
SUPEREMINENCIA, s. /. (Do latim su-
pereminentia). Elevação, grau d'excellen-
cia, em que vima pessoa ou cousa se acha
constituída a respeito de outra.
SUPEREMINENTE, adj. 2 gen. Sobre-
levado, sobroerguido.
SUPEREMINENTISSIMO, A, adj. superl.
de Supererainente. Mui supereminente.
SUPERENTENDER, v. a. Vid. Superin-
tender, termo hoje em uso.
SUPEREROGAÇÀO, *./. Acto que trans-
cende, e pas.ía os termos da obrigação,
não nece.^isaria para a salvação. — Obra
de supererogação.
SUPEREVANGELIA, s. /. Termo an-
tiquado. Capa preciosa, com que os sa-
grados evangelhos, ou melhor o códice,
em que elles estavam escriptos, e a que
hoje se chama missal, se compunha, e
ornava ; em veneração, e honra do sagra-
do texto. Não só de custosas telas, até
mesmo de laminas de ouro, ou prata, e
algumas vezes gravadas de finas pedras,
se cobriam as pastas. d'estes sagrados li-
vros, testificando com demonstrações de
tanto preço o respeito que se consagrava
ao seu auctor.
SUPERFETAÇÃO, s. f. (Do latim super,
c fwtus). Termo de physiologia. Conce-
pção dtí um feto quando outro existe já
na madre.
f SUPERFICE, s. f. Vid. Superfície.
A' super fice torna o Corpo exangue,
O marinheiro audaz da preza ufano
Leva o despojo enorme á praia nua.
Toda a cobre co' o corpo, e toda a assombra.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Caut. 3.
SUPERFICIAL, adj. 2 gen. (Do latim
super jicialis, de superjicies). Que é rela-
tivo á superfície.
— Que só existe á superfície. — Â le-
são é superficial. — Uma (^ueimadella su-
perficial.
— ■ Termo de botânica. Parasitas su-
períiciaes; plantas que vivem á superfí-
cie dos vegetaes, sem lhes tirar o sus-
tento.
— Figui-adamente : Que não é profun-
do, que não vae ao interior.
— Que não é solido, e bem fundado.
SUPEUFICIALIDADE, s. f. Estado do
que é superfícial.
SUPERFICIALMENTE, adv. (De super-
ficial, com o suffixo «meute»). A' super-
fície.
— De um modo superficial.
— Não profundamente.
superfície, s. f. (Do latim superji-
cies). Termo de geometria. A longura, e
largura, sem altura, nem profundidade.
— A lai-gura exterior do corpo, a ex-
tensão. — « Esta terra toda he de pedra
hume, como tal cinzenta, o cheiro he de
enxofre, e logo abaixo da superfície de
pedra hume, he tudo pedraria dura.»
António Cordeiro, Historia Insulana, liv.
5, cap. 9.
Com ello vai, correndo ao fundo algoso,
Eecha-ae o mar, tremendo, e a superficie
Da tempestade atroz conserva a imagem ;
Esvaindo-ae em aangue, urrando espira,
E logo aboia o corpo montanhoso.
J. A. DF. M.ICEDO, MEDITAÇÃO, Caut. 3.
Mal orvalhosos Zéfiros co' as aaaa
I>he oncrespào brandamente a superfieie,
Dos Tirauno3 dos ares a cohorte
Brame encerrada nas Eólias grutas.
Dos mudos Cidadãos a copia ingente
Da calma se compraz, gira brincando.
IDEM, A NATUREZA, Cant. 3.
— O exterior, a flor do corpo.
630
SUPE
SUPERFINO, A, 'í/j. Finisáiino. — Pa-
l)el superfino.
SUPERFLUAMENTE. adv. (De supér-
fluo, com o 8uffii:o a mente»). De um
inodo supérfluo.
Do sol)oici, (Icsnuceísariaiuente.
SUPERFLUIDADE, «. /. (Do latim au-
jterjluitas). Excesso, sobejidào, e dema-
sia.
Ha mal igual no iiiartoiro
do a(,-oiigc, o do terreiro
dii inollier feita cm voatadcs
fiuc for(;am siipei-Jluiiludes,
que lierdom voíâo dinlipíro ?
A.NTomo ruESTKa, altos, pag. 113.
— Cousa .supcrtlua.
— Particulaiuiento : Cousa de luxo.
— l'lur.: Od cxeremeutos.
SUPÉRFLUO, A, a,lj. (Do latim super-
Jliins). Muis ipic bastante, Jesneccsíario,
inútil por excesso, demasiado. — «O que
eu tenlio por mui certo, que vós fareis
sempre inteiramente, quanto humana-
meute se puder fazer. Do modo que es-
crevestes a Sua Alteza nSo estou menos
contente, porque vierão vossas Cartas nmi
bem ordenadas, e nellas todas as cousas
necessárias, e nenhumas supérfluas ; e
bem se vè nellas o mesmo, quo acima
digo, e que entendeis as cousas, e que
tendes zelo, e desejo do as fazer sem res-
peito tcmjioral de amor, nem interesse.»
Jacintlio Freire d'Andrade, Vida de D.
João de Castro, liv. 3. — «Vorèm para
nenliuuia cousa he mais necessária a nuil-
tidaõ de gente, que para a Milieia; por-
que como os soldados sai5 ordinariamente
a gcMite supérflua na R;publiea, naõ ha-
vendo destes muitos, naõ pôde liaver exér-
citos grandes, com os quaes somente se
fundarão as quatro Monarquias.» Severim
de Faria, Noticias de Portugal, Disc. 1,
cap. 1.
— Substantivamente: O supérfluo. —
«Já o sev, sem que me digam: houve-
ram-se como a rapoza uo galinheiro, em
que entraram : cevaraõ-se uào si'i no neces-
sário, senaõ também no supérfluo. Naõ se
contentaõ com se verem fartos, e chcyos,
como esponjas, querem engordar com aci-
plpes.» Arte de furtar, cap. 42.
— Syn. : Supérfluo, escusado. Vid. este
ultimo vocábulo.
SUPERHUMERAL, adj. 2 gen. e s. Vid.
Sobrehumeral.
SUPERITENDENCIA, s. /. Inspecção,
direito, ou cuidado ile vigiar, e dirigir aos
quo entendem em alguma obra, trabalho,
provisões de bocca, o guerra, etc. — «E
concedia-se aos Consehieiros ; e àqiielles,
que no Paço tiuhaõ superiutendeucia cm
algum particular ministério; e preccdiaõ
a outros Ministros inferiores, chamando-os
Condes daquclle ofl'uio.» Sevei'im de Fa-
ria, Noticias de Portugal, Disc. 3, cap.
25.
SUPERINTENDENTE, s, m. Sobreestau-
SUPE
to, o que tem a superintendência cm al-
guma olira.
SUPERINTENDER, v. n. Ter a super-
intendência.
1.) SUPERIOR, ndj. 2 gen. (Do latim
suijerus). Que e.>tá mais alto. — «Os scri-
ptores antigos j)artem a Ethio[iia em su-
perior, o inferior, no qual superior Orien-
tal estil o lugar, c terra do Çofala, na
costa do mar a quo chauiaõ Pra^sodum.
Estas duas Ethiopias tomarão nomo de
Ethiopo, filho de Vulcano, que foy Rei,
c senhor delias.» Damiào de Coes, Cbro-
nica de D. Manoel, part. 2, cap. 10. —
oE com este trabalho tenho outro igual,
ou superior a elle, aldcmenos para mim
muito mais iiicomportavel de todos, que
são as grandes oppressõcs, e continues
achaques, que me dào os L.i8qucrins por
paga, de que lhes eu dou muita certeza,
porque doutra maneira se me iriilo todos,
e ficarei só nesta Fortaleza.» .laeintlio
Freire d'Andrade, Vida de D. João de
Castro, liv. 3. — «Trazia o inimigo, ao
parecer, hum corpo de oito mil homens
regidos por seus Cabos, a que chamào
Modeliares, destros naquelle modo bár-
baro de cometter, e retirar, superiores
aos nossos no número, e na agilidade, e
sem dúvida hum, e hum nos forào derri-
bando a todos, se os não fizera afastar a
nossa espingardaria, de que receberão
damno, e temor grande, vendo cahir al-
guns subitamente mortos.» Ibidem, liv. 4.
Do ti, Filosofia, ávido amautt',
E lembrado do Tejo, em teu Palácio
Os filhos teiiâ, do Tejo habitadores.
Nlium throno igual, ou superior a muitos.
Vi collocido o portentoso Nunca.
Astros, Astros do Ceo prondc-voa este.
J. A. DB UACEDO, VIAGEM KITATICA, Caot. 2
— Emanado do superior.
— Extremado com vantagem.
— Que tem jurisdicção ou direcção so-
bre os súbditos.
— Figur.adamente : Que estil em maior
graduação, dignidade. — «Na de Castel
Rodiigo ora maior o numero da sua gen-
te do que o nosso, e na de Montes Cla-
ros se era inferior em mil Infantes, era
superior cm mais de mil, e seis centos
cavallos.» Manoel Severim de Faria, No-
ticias de Portugal, Disc. 2, c^»p. 9. —
«A quem em certo modo podemos chamar
máxima ; pois iw valor, c lealdade he su-
perior n todos; c em pioder he tamanha,
que Reinando ElRey D. Afonso III. guer-
reou Portugal juntamente contra todos
os Reynos do Espanha, o BiU-baría.» Ibi-
dem.
2.) SUPERIOR, A, *. Que tem jurisdic-
ção sobre os súbdita* num convento. —
"E este fov o espirito e cstylo do P. M.
Francisco que jiolo guardar, em todo o
tempo quo foy superior da nossa Compa-
nhia na índia, nunca deixou de fazer por
.SUPE
bí mesmo todos (^s trabalhoa.» Lucena,
Vida de S. Francisco Xavier, liv. 4, ca-
pitulo 4.
— Religioha, que governa algum con-
vento; abbadessa, prioreza, regente.
— Pe8.'4oa feminina superiora a outras.
SUPERIORATO, *. rn. (JflTicio, dignidade
de superior, ou nupohora.
— Figuradamente: O superiorato dtt
repuòlicu das Itltrai.
SUPERIORIDADE. *. /. (Do latim *u^
rioritat). Preeminência, auctoridadu, ex-
cellencia.
— Cargo de superior n'um convento.
— Syn. : Superioridade, auctoridade,
poder, soberania, stulnjrio.
Superioridade é a preeminência de
uma jiessoa sobre outra, em qualquer do-
te ou qualidade. Auctoridade é a supe-
rioridade que provém da lei natural ou
[lositiva, com direito de se fazer obede-
cer. Soberania é a auctoridade do sobe-
rano com poder absoluto e independente
sobre 03 vassallos. Senhor é a auctoridade
com império e dominiu.
Superioridade denota preemiocncia
comparativa, e encerra idêa do compara-
ção, o que não acontece com os vocábu-
los auctoridade, poder, soberania o domi-
nio, ou senhorio.
Poder c a auctoridade com força de se
fazer re.sp.-itar. e obedecer.
I SUPERIORMENTE, adv. (De supe-
rior, com o suffixo «mente»). De uma
maneira superior.
— De um modo excellente, perfeita-
mente.
SUPERLATIVAMENTE, adv. (De super-
lativo, c o suffixo «mente»). Em grau
superlativo.
— Extremamente, em extremo.
SUPERLATIVO, A, adj. (Do latim su-
perlativus). Termo de granimatica. Que
exprime a qualidade boa ou má elevada
ao mais alto grau. — Adjectivo superla-
tivo. — ^Is terminaçZes superlativas na
lingua latina.
— Por extensão : Quo tem um cara-
cter excellente.
— Substantivamente : Um superlativo.
Uma. de exalçado
no muito que era, ser nada tomado ;
a outra de vOr, o não como elle
no superliUivo, que só era d'clio.
ASTOKio rBKSTES, ACTOS, pag. 3.
— Superlativo absoluto; aquellc que ex-
prime uma qua' idade elevada a um grau
muito alto sem relação a outra coosa ou
pessoa ; )ior exemplo : mui sábio.
— Superlativo relativo; aqnoUe que
exprime a qualidade com relação a outra
pessoa ou a outra cousa ; por exemplo : o
Ilidis íabiii.
SUPERNAL, adj. 2 gen. Superior, su-
perno. — Gi-a^a supernal.
SUPE
SUPE
SUPI
631
SUPERNO, A, adj. (Do latim supernus).
Superior.
— Excellente, soberano.
DeLxa de seu terceiro orbe o governo
E o caminlio lá faz soberbii ft irada
Direita ao Ceo Empirio, onde o superno
Júpiter tem a sua alta morada ;
E tocada n'hum ódio novo e interno
Yai no amor de seu pae mui confiada
Que a vingari da Portugueza geuto
A quem disto ella culpa põe somente.
T. dUndrade, pbqip.ieo ckbco de Diu,cant. 16,
est. 46.
— A luz superna; a luz do mundo,
em opposiçíio ;ls trevas do inferno,
SUPERNUMERARIO, A, adj. (Do latim
supernumerarius) . Que excede ou se ajun-
ta ao justo numero, af 'a-a o numero es-
tabelecido, decretado, convencionado.
— Alguns dizem supranumerário.
— S. m. O official ou empregado além
do numero legal.
SUPERO, A, arlj. (Do latira superas).
Superior ou de cima; diz-se em opposi-
ção a'i infero. Vid. Infero.
-J- SUPÉROXYDAÇÃO, s. /. Termo de
cliimica. Oxydação com excesso doxvda-
çào.
SUPERPARTIGULARIS, adj. Termo de
aritíimetica, e de musica. Género super-
particularis ; é o segundo género de pro-
porção desigual, quando a quantidade
maior contém a menor uma vez, e mais
uma parte do mesmo numero.
SUPER? ARTIENS, adj. 2 gen. Termo
de arithmetica, e de geometria. Género^ ou
razão superpartiens ; é a que tem um nu-
mero com o outro a que elle contem uma
vez, e mais algumas partes d 'esse nume-
ro ; por exemplo : 2 terços, ou 2 quin-
tos, etc.
SUPERPOSIÇÃO, s. f. Termo didácti-
co. O acto de pôr uma linha, uma super-
fície, um corpo sobre outro.
SUPERPURGAÇÃO, s. f. Purgação im-
moderada ou excessiva, produzida por
substancias mui irritantes.
SUPERROGAÇÃO, s. /. Vid. Superero-
gação.
SUPERSÃO, s. f. Termo de chimica.
Fogo de supersão ; faz-se quando, para
se distillar por descenso, se applica fogo
por cima da matéria.
7 SUPERSECREÇÃO, s. /. Termo de
medicina. Secreçiio excessiva.
•}- SUPERSENSÍVEL, a^lj. Termo de phi-
losopliia. Que escapa aos sentidos.
SUPERSTE, adj. 2 gen. (Do latim su-
persfes). Que sobrevive a outri.
SUPERSTIÇÃO, s. /. (Do latim super-
sfitio). Sentimento de veneração religio-
sa, fundado no temor ou ignorância, pelo
qual muitas vezes somos levados a falsos
deveres, a chimeras, e a pôr confiança
cm cousas imp tentes. — A piedade é
differente da superstição.
— Particularmente : Và observância
religiosa praticada pelos antigos e defen-
dida pela egreja.
— Và presagio que se tira d'acciden-
tes puramente fortuitos.
— Praúca supersticiosa; crença su-
persticiosa. — «Que aqaellas tenras flo-
res, que começavào a abrir no jardim da
Igreja, não as quizesse deixar desabriga-
das ás injurias do ardor da idolatria ;
que pois viei'ão com armas limpar aquel-
le mato de superstições gentílicas, não
se espantasse de saliir lastimado das es-
pinhas e cardos da infidelidade.» Jaciu-
tlio Freire d'Andrade, Vida de D. João
de Castro, liv. 4. — «Aclia-se contudo
entre os mesmos Romanos hum grande
numero de pessoas rasonaveis, que con-
demuárão as ditas superstiçoens. Kào se
pôde ler cousa mais judiciosa nesta ma-
téria, que o que se acha escrito ua Puar-
salia de Lucauo.» Cavalleiro de Oliveira,
Cartas, liv. 3, n." 11.
Se o meu ha-de nomear, — tu ci-uél o sabes. —
« Quiz-lho ás luperstirões dar pleno córtc
Mas (nem que impio fosse eu, em pertendõ-lo)
A Druida me atalhou. »
r. M. DO HASciMExro, os H.VRTrRES, liv. 10.
— Figuradamente : Todo o excesso de
cuidado em qualquer matéria que seja.
— A superstição Utieraria.
SUPEI.STIGIOSAMENTE, adv. (De su-
persticioso, e o sufiixo «mente»). De um
modo supersticioso.
■ — ■ Figuradamente : Levado o escrúpu-
lo até ao excesso.
t SUPERSTICIOSIDADE, í. /. Tendên-
cia paru a superstição.
SUPERSTICIOSO, A, adj. (Do latim su-
ptrsticiosus). Que tem superstição. — O
povo o vienos supersticioso c sempre o
viais tolerante «iíuitos Autores anti-
gos, que forào muito mais supersticiosos
do que nós, conciderárão r.atural a for-
mação desta figura, não atribuhindo este
sucesso a mdagre, nem também o se-
guinte.» Cavalleiro d'Oiiveira, Cartas,
liv. 1, n.° 24.
— Onde ha superstição. — Uma devo-
ção supersticiosa.
— Figuradamente : Que peeca por ex-
cesso de escrúpulo.
— Homem supersticioso ; homem en-
tregue á superstição.
— Observante com escrúpulo.
— Que faz religião, dever sagrado
dalgunia cousa.
SUPERSUB3TANCIAL, adj. 2 gen. Mui-
to substancial, por extremo substancial.
SUPERTUNICAL, s. vi. Vestidura, que
se lançava sobre a túnica.
SUPERVACANEO, A, adj . (Do latim su-
pervaraneus). Inútil, baldado, supérfluo.
SUPERVACUO, A, adj. (Do latim super-
vacuus). Supérfluo, vão, inútil, superva-
canoo.
SUPERVENÇÃO, s. f. (Do latim super,
e veiiere). A acção de sobrevir, de sobre-
chegar.
SUPERVENIENTE, adj. 2 gen. (Do la-
tim supervi niens). Que sobrevem.
SUPERVIVENGIA, s. f. A acção de so-
breviver, i!e vencer em dias a outrem.
— Dar a alguém a supervivencia do
officio ; dar-lhe o direito de o servir pelo
tempo, que o doado vencer em dias de
vida ao seu antecessor.
— Certidão de supervivencia ; de que
sobrevivi á doença.
SUPERVIVENTE, part. acf. de Super-
viver. Que sobrevive a outrem.
— Substantivamente: Um supervi-
vente.
SUPERVIVER, V. n. Vid. Sobreviver.
SOPETÃO, s. m. O mesmo que Súbito.
— Loc. ADV.: De sopetão ; mui subi-
tamente.
3UPET0. Vid. Supito.
SUPILIPÉ. Vid. Póspello.
SUPINAÇÃO, s. f. (Do latim supinatio,
àe supinus). Termo de physiologia. Acção
de virar para traz, ou o movimento que
os músculos supinadores fazem executar
ao aute-braço e á mão.
— Termo de pathologia. Posição de
um doente deitado de costas. — O doen-
te está em supinação.
SUPINABOR, adj. e s. vi. Termo de
anatomia. Nome dado aos músculos que
seguram o ante-braeo e a mão pela parte
exterior, de sorte que a face anterior da
mão se torna superior.
1.) SUPINO, í. wi. (Do latim supinus).
Termo de grammatica latina. Parte do
infinito latino que serve para formar mui-
tos tempos, e que na essência só existe
sem. nome verbal.
— Supino activo ; forma nominativa ou
accusativa.
— Supino passivo; forma ablativa.
— Os nossos clássicos servem-se fre-
quentes vezes do participio pelo supino.
— ■ O supino serve para declarar o
complemento ou acabamento da acção do
verbo, d'onde se deriva.
— Xa nossa lingua, o supino é inde-
clinável.
2.) SUPINO, A, adj. Alto, elevado.
— Que está de barriga para o ar.
— -Ignorância supina; a ignorância vo-
luntária, de que nos não tiramos por de-
masialo desleixo.
SUPITAMENTE, adv. (De supito, e o
suffixo «mente»). Vid. Subitamente. —
«Albayzar, que havia grande pedaço que
se sostinha na presença de Targiana,
afrontado das armas, cançado do espiri-
to, desfallecido das forças, supitamente
sem nenhum acordo, caiu no chão, de que
o cavalleiro negro deu graças a sua se-
nhora, como quem andava já pêra fazer
o mesmo.» Francisco de Moraes, Palmei-
rim d'Jnglalerra, cap. 89. — «Os muros
fortíssimos da cidade de Hierico, cayram
supitamente a som de trombeta. O sol se
832
8UPP
SUPP
SUPP
flotouc no Oco por hum pramle espaço
sciiii HG iriDUcr, \>cyii quo o jiouo ilo UKíJS,
quo pcilojíiua coiilni mnn <ni«iiiiíí08, aca-
baHsu (lo o.s (lostniyr. K.stau o outras ma-
rauillias viram, mns iiaiii llios foy dado a
verdadoyra luz «'terna, culxirta com a nn-
ucmicinha de carno da incniao, o posta
em hum pro.sopio por amor do nos.» Fr.
Hartholoinou dos Martyres, Cathecismo
da doutrina christã.
SUPITANEO, A, w/j. Vid. Subitaneo.
1.) SUPITO, A, 'ulj. Vid. Súbito.
— Irado, accolerado cm colura, as.so-
niado. — «Esta fortuna cousa ó de cada
hora, assim como veio supita, assim se
passará codo: saí (Fessa camará, vejani-
vos 03 marinheiros, pêra quo tomem ani-
mo porá trabalharem como devem. Assim
Boccorria o velho a toda a parte com a
])rovidcncia necessária.» Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 115.
— o Porém (dia lhe toi á m.ào, pesando-
Iho do tamanha e supita mudança, bus-
cando palavras, com quo a mais arrei-
gasse na primeira tendão, dizendo : Se-
nhora, credes v<^s que o que Floriano
usou com Tarf^iana se possa usar comvos-
co?» Ibidem, cap. 122.
— Arrebatada. — Supita tormenta. —
«Porque sendo muitas vezes seus exérci-
tos prestes e concertados, ou o mar, com
supita tormenta, anefrou suas náos, o des-
truiu suas grossas frotas, ou antro os
príncipes delias se levantaram discórdias,
e dissensões, que com morte de muitos
atalhou o fim de sou propósito, n Francisco
do Moraes, Palmeirim d'Inglatera, cap. 30.
• — TjOC. adv. : De supito; suliitamcnte.
— «Romctteudo a ellc do supito, posto
que jA o tomaram apercebido, cneoutra-
ram-no com tanta força, que arrebentando
a cilha, deram com elle no chão.» Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 102.
2.) SUPITO, s. m. ímpeto, pensamento
súbito, vontade.
SUPOR, V. a. Vid. Suppor, e Presup-
por. — f Consiste em certos eaboUos a quo
chamamos cans ou caens, que nos fasom tào
velhos como suponho qne er.ào os mesmos
Antigos. Lá virá tempo cm que o sejamos
para outros, assim como os outros o siio
agora para nós.» Cavalleiro d'01iveira,
Cartas, Hv. 3, n.° 10.
SUPORAR, i'. a. Vid. Supurar.
SUPOSITA, s. /. Termo antiquado.
Traiiaça, enredo, maquinação.
SUPPEDANEO, .«. m. (Do latira guppe-
daneiim). ^'id. Supedaneo.
SUPPEDITAR, r. a. (Do latim sitpiie-
ditltn'^. Subníinistrar, fornecer.
SUPPLANTAÇÃO, .s. /. Acto de supplan-
tar.
— Figuradamente : Engano, fraude,
trapaça, traição.
SUPPLANTADO, part. i)ass. de Supplan-
tar. Mottido debaixo dos pés, pisado, tri-
lhado.
— Figuradamente: Derribado, prostra-
do.
SUPPLANTADOR, A, s. Pessoa que sup-
j)bmta.
SUPPLANTAR, v. a. Cl>o latim siipplanta-
re). Mífttor d(d>aixo dos pés, trilhar, calcar.
— Figuradaiiiento : Derribar, prostrar
aos pés o vencido.
— Alguns dSo-llie a significação de ar-
mar cambapé, dar traça com que alguém
so arruino; usar fio sancadilhas para der-
ribar alguém; fazer piTdor a alguém o
credito, o favor, a afleiç.^o quo tinha para
com uMia jicssoa, ete.
SUPPLEMENTAR, adj. 2 (jen. Que serve
de Bn])ploniento, do auxilio. — Um cre-
dito snpplementar.
— Termo do geometria. Anrjulos sup-
plementares; aquelleseuja somma é egual
a dons ângulos rectos.
— Cordds supplementares ; aqnellas
que na ellipse, partindo de um mesmo
ponto, tendem ás extremidades de um
mesmo diâmetro,
SUPPLEMENTÁRIO, adj. Vid. Supple-
mentar.
SUPPLEMENTO, s. m. (Do latim sirpple-
)iientii>ii). () que se dá para supprir. —
J)eu-se.-lhe tunto cm dinheiro para sup-
plemento da divisão.
■ — O supplemento de um livro; o que
se junta a um livro i>ara supprir o que
falta n'elle. — Puòlicou-se mn supple-
mento a esta obra.
— Termo de geometria. O supplemen-
to de um angulo; o que é mister ajuntar
a um angulo para formar dous ângulos
rectos.
— Supplemento da edadc; a acçSo de
dar por enchido o tempo, ou idade, que
a lei requer para o menor poder fazer va-
lidamente alguns actos.
SUPPLETORIO, A, adj. Que suppre.
— Jurainiiniit suppletorio ; juramento
que se dá quando falta inteira prova nos
casos da prova semiplena, por mandado
do juiz.
SUPPLICA, s. f. Rogativa, preces hu-
mihles.
— As palavras, ou cscriptura em que
ella so faz.
SUPPLICAÇÃO, s. /. (Do latim suppli-
catio). Acçào de supplicar.
— Casa da supplicação ; tribunal da
corte d'osto reino, onde se recorria por
aggravo, ou appellação de certos juizes,
e das Relações em certos casos. Vid.
Paaço, c Desembargador.
■ — ( h-açrio feita com instancia c submis-
são, preces, supplica.
— ■ Tr o feito por supplicação ; ir o feito
por aggravo, ou appellação.
SUPPLICADO, part. pass. de Suppli-
car. Pedido com humildade, e submissa-
mente.
— Substantivamente: O supplicado;
no foro, pessoa contra quem o supplicante
requer.
SUPPLICANTE, part. acl. de Supplicar.
— tí. '^ <jen. 1'eKsoa quo HUjjpiica, qao
requer, que pede em juizo. — *K os sup-
piicantes (-So todos geralmente façudos e
de umas carau muis largais que cscarpea-
das, de maneira que ee lhes jHjgerdes um
avental diante, jurarei que hão cosinhei-
ros de sua alteza, e que aguardam pelo
leite para o manjar branco.» Fernão Ro-
drigues Lobo iSoropita, Poesias e prosas
inéditas, pag- 62.
SUPPLICAR, V. a. (Do latim tupplka-
rt, <lc sup^ por luh, e plicare). Rogar,
pedir submissaniente, e com humildado,
— «Pêra que exhortawie os Rei» Chris-
tãos a fazerem guerra a hum tam pode-
roso imigo de nosm Hancta Fé, o que
aproueitou tant*') quanto o fez das outras
vezes, supplicou no mesmo tempo ao Pa-
jia ({w, a ladrões, nem falsairos valessem
ordens.» Dau)iào de <loes, Chronica de
D. Manoel, part. 4, cap. 20.
— Supplicar alguém; pedir-lhe Buppli-
cando.
— Pedir de joelhos.
— Absolutamente : Rogar, pedir.
Minha extrema vontade, hadc o meu filho
Desprczíir de BCu pac! O último rogo
,)A ffiitf) flóbrc a margem do sepidchro,
Hasdn esriupcél-o t«V Catão tupjÀíra,
Pude Catão, e Uruto uào o attcnde!
OABBBTT, CÀTÂO, SCt. 5, BC.' 9.
SUPPLICATORIO, A, ndj. Quo tem o ca-
racter da supplicação.
— Carta supplicatoria ; rogativa de
supplica.
SUPPLICE, adj. 2 gen. (Do latim tup-
pleri. (^ue supplica. — Mãos snpplices.
SUPPLICIAR, V. a. Castigar com pena
afílietiva.
■ — Dar pena de morte.
SUPPLICIO, «. ni. (Do latim suppli-
cium). Punição corpórea ordenada por
sentença da justiçai ; c-aetigo, pena affli-
ctiva.
— Pena de morte.
— Figuradamente: Grande e longo tor-
mento, atHicçào.
— Os supplicios eternos ; os castigos
eternos, a.s penas do inferno. — íQuc lú-
gubre lhe choraria tudo em volta d'elle!
Uns frades suspeitosos, cuidando qne o
consolarem o desterrado lhes acarrearia
lenha e betume para os supplicios eter-
nos. Uma casa e=eura, silenciosa, cheia da
toada gemente do vento a sibillar noe vo-
Ihos vigamentos!» Bispo do Grão Pará,
Memorias, publicadas por Camillo Cas-
tello Branco, pag. 37.
— Por extensão, tudo o qne produz
uma forte dôr do corpo, e que dura al-
gum tempo.
— Figuradamente : Grande sotfrimento
mora!.
SUPPOER, f. n. Termo antiquado. Vid.
Suppor.
SUPP
SUPP
SUPP
633
SUPPONENDO, A, adj. Presupposto,
dado.
SUPPOR, V. a. (Do latim suppon&re).
Pôr como certo, por hypothese.
— Siippôr culija a alguém; iiiipôr-lh'a,
ou cuidar que a teru.
— Conjecturar, imaginar. — «Conside-
ra primeiramente, como o peccador, em
certo modo não tem a Deos por Deos.
Isto parece que dá a entender o Senhor,
quando diz: Se eu sou Pay, se eu sou Se-
nhor: Si Pater ego sum: si Dominus ego
sum: como suppondo, que o peccador nào
assenta bem nestas verdades, porque com
as suas obras contradiz a sua fó.» Padre
Manoel Bernardes, Exercícios espiriíuaes,
pag. 83. — «Suppoem agora, que além de
bemfeitor era seu pay, além de pay era
Rey, e naõ só Rey, mas pessoa sagrada :
oh como se agravaria mais, e mais este
delicto!» Ibidem, pag. 8õ. — «E se ten-
des entendimento, como suppomos, sois
obrigado a crer, que em vicios naíj pcxle
haver gloria, nem descanço ; assim o al-
cançarão, e escreverão até os mayores ido-
latras do mundo.» Arte de furtar, cap.
70. — «E vendo com profunda observa-
ção tanta diversidade de particulas, tanta
differença de instrumentos, tanta abun-
dância de operaçoens em huma fabrica de
taõ pouco vulto; e tudo com tanta ordem,
tal disposição, tal armonia, nos sittos, nos
movimentos, e nos productos admiráveis
daquella parte; que ha dizer, ou que ha de
suppor, senaõ que a Cabeça he o mais no-
bre, o mais singular, e o mais elevado com-
posto do corpo humano?!) Braz Luiz de
Abreu, Portugal medico, pag. 87, § 171.
— «Tinha-se depois deixado conduzir sem
opposição até ao pé do cadáver de Beatriz,
não aó porque no estado de demência em
que suppunha e, até certo ponto, estava
Fr. Vasco, a resistência somente serviria
de lhe excitar as fúrias, mas também por-
que o bom do prelado trazia o espirito tão
arrobado de doçura o placidez, que, se o
porteiro Fr. Julião ou outro súbdito seu
ainda mais somenos, quizesse alevantar-
Ihe a grimpa, elle o teria tolerado com
inteira equanimidade philosophica, ou an-
tes com perfeita abnegação evangélica.»
A. Herculano, Monge de Cister, capitu-
lo 3o.
- — Pôr uma cousa falsificada em vez da
verdadeira, ou dal-a por verdadeira.
SUPPORTADO, part. pass. de Suppor-
tar.
SUPPORTAR, V. a. Vid. Soportar.
SUPPORTE, s. m. Termo de botânica.
A parte que sustenta outra.
SUPPOSIÇÃO, s. /. (Do latim snpposi-
tio, de fupponere). Acto de suppór.
— Conjectura, opinião que não é apoia-
da em provas positivas. — Uma suppo-
sição atrevida.
— Producção de uma peça falsa. —
Supposição de testamento.
— Supposição de nome, de pessoa; a
acção de pôr um nome, uma pessoa em
logar d 'outra.
— Supposição de filho; acção fraudu-
losa, tendo por fim fazer reconhecer uma
creança por li lho ou filha d'aquelles de
quem nasceu.
— Attribuição de uma obra a tempos,
ou a um auctor, ao qual não pertence.
— Homem de supposição ; homem há-
bil, capaz de qualquer enipreza.
— Supposição de authvridade ; res-
peito.
— Partes, talentos, requisitos para al-
gum emjirego.
— Syk. : Supposição, hypothese. Vid.
ejte ultimo vocaluilo.
SUPPCSITAÇÃO, s.f. Termo de theo-
logia. Uniào de duas naturezas em um
só supposto.
SUPPOSITADO, part. pass. de Suppo-
sitar.
SUPPOSITAR, V. a. Termo de theolo-
gia. Unir duas naturezas em um só sup-
posto. — Suppositar a divindade.
SUPPOSITICIO, A, adj. (Do latim sup-
posititius). Supposto, attribuido falsa-
mente a alguém.
SUPPOSITIVO, A, adj. Vid. Suppositi-
cio.
SUPPOSITORIO, s. m. Termo de me-
dicina. Substancia medicamentosa solida,
em fijrma de cone longo, que se intro-
duz no auus, já para provocar as eva-
cuações intestinas, já para actuar como
lenitivo.
1.) SUPPOSTO, part. jmss. de Suppôr.
— Posto por hypothese. — Este facto
supposto verdadeiro.
— Allegado como verdadeiro, fallando
de alguma cousa falsa. — Í7?íi testamento
supposto.
— Que se faz passar por filho ou filha
d'aquelles que lhe não são nada.
— Imaginado e não real.
— Attribuido fal-^amente.
— Syn. : Supposto, apocrypho .
Supposto é a palavra latina supposi-
tus, e significa o que se põe falsamente
em logar do verdadeiro; diz-se particu-
larmente do livro ou obra que falsamen-
te se attribue a quem não é seu auctor.
Ápocrypho é palavra grega que signi-
fica cousa secreta, não conhecida antes,
cujo auctor não é conhecido. Em lingua-
gem ecclesiastica dá-se este nome a todo
o livro duvidoso, de auctor incerto, e de
pouca ou nenhuma fé, que a egreja ca-
tholica não incluiu no numero dos escri-
ptores authenticos e divinamente inspira-
dos.
Ainda que a auctoridade do livro sup-
posto se repute suspeitosa, pôde comtu-
do conter doutrina boa e verdadeira, pois
por erro se tem attribuido a auctores
obras que não escreveram ; dos livros
apocryphos não permitte a egi-eja que
se tirem Pi-gumentos para provar as ver-
dades theologicas.
2.) SUPPOSTO, s. m. Termo de philo-
sophia. A individualidade da substancia
completa e incommunicavel.
— O que pôde subsistir por si, sem
dependência da substancia que lhe está
unida.
— Cousa supposta, attribuida falsa-
mente a alguém.
— Loc. conjunctiva: Supposto que; ca-
so que, na supposição. — «Porque sup-
posto, que algumas das authoridades so-
breditas só fallaõ da Oraçaõ em com-
mum, e por tanto se podem também en-
tender da Vocal, he certo, que tudo, o
que se diz da excellencia, e utilidade da
Oração Vocal, muito melhor qviadra á
Mental.» Padre Manoel Bernardes, Exer-
cícios espirituaes, part. 1, pag. 2. — «Mas
supposto que a boa morte fosse custosa
para os Justos, em razaõ do seu traba-
lho, todavia lhe sahio mui barata em ra-
zaõ do seu premio.» Ibidem, pag. 453.
— «E supposto que huma pessoa diga
com a boca (o lhe pareça que também o
diz com o coração) que de si naõ pôde
nada, e só confia na ajuda de Deos : as
mais vezes se engana, por falta de co-
nhecimento próprio : e a prova disso he,
que quando cae, e falta a seus propósi-
tos, se desalenta, e entristece : o que naõ
fora, se só em Deos confiara. s Ibidem,
pag. 61.
SUPPRESSÃO, s. f. (Do latim supjjres-
sio). Acto de supprimir. — A suppressão
de um emprego.
— Termo de medicina. Suspensão de
uma evacuação habitual. — Suppressão
da transpiração. — Suppressão da mens-
truação, das hemorrhoidas.
— Diz-se também de uma affecção cu-
tânea cuja erupção tinha já principiado.
— • Suppressão da escarlatina.
— Absolutamente: A suppressão do
jluxo menstrual.
— Antigo termo de chimica. Fogo de
suppressão; fogo que se faz cobrindo
um navio, e o que contem de areia, no
qual se põe carvões accesos, a fim de que
a matéria receba calor por cima e por
baixo.
SUPPRES30, part. pass. irreg. de Sup-
primir. Vid. Supprimido.
SUPPRESSORIO', A, adj. Que supprime.
SUPPRICAÇOM, s. /. Termo antiquado.
Vid. Supplicação.
SUPPRIDOR, A, í. Pessoa que sui^pre.
SUPPRIMENTO, s. ?«. A acção de sup-
prir.
— Addição para remediar ou acudir ao
que falta. Vid. Supplemento da edade.
SUPPRIMIDO, part. pass. de Suppri-
mir.
— Figuradamente : Jlodcradc, repri-
mido.
— Calado.
— Mandado recolher.
— Exfincto, ai.nullndo.
SUPPRIMIR, ou SUPRIMIR, v. a. (Do
634
SUPP
latim supprtmere). Atalhar o passo, cor-
rente, etc.
— Impor silencio.
— Extinguir, cassar, aiinullar.
— Calar, iiílo inoncioiiar.
— Reprimir.
— Supprimir ctin/o; extinguir.
SUPPRIR, ou SUPRIR, v. a. Comple-
tar o ((uo falta.
— Substituir.
No gyro melancólico o Planeta,
Quo no lucto dos Coo;) nos «nppre o dia
Primeiro mostra as pontas prateadas,
Qual arco donde salic setta estridente",
ProRrossivo clarão cresce, e lhe deixa
Cheio o disco de luz suave, e branda.
J. A. DR MACEDO, MKDITAçÃO, Cant. 2.
— Encher, satisfazer.
— Supprir rt alguém; dar-lhc o noces
sario por assistência graciosa.
— Supprir a estatura; do baixo.
— Supprir o alcance da vista; ao quo
a tem curta.
— Supprir as vezes de outrem em sua
falta; fazer as suas vezes.
— Dar o que falta, e é o necessário.
— V. n. Substituir-se, subrogar-se em
falta de outra cousa ou pessoa, e encher
as suas vezes.
— Supprir o justo pi-eço ; dar o que
faltava i>ara o completar, refazel-o.
SUPPRIVEL, adj. 2 gen. Que ó possí-
vel supprir-se por outra cousa ou pessoa.
— Erro supprivel du processo; que
nEo o annuUa, seudo a falta, ou defeito
supprido ])clo juiz a tempo, o antes da
soutcn(;a iinal.
SUPPURAÇÃO, s. /. (Do latim supjm-
ratio). Termo <le pathoiogia. A formação,
a cvacua(,'?io do pús. — A chaga vem d
suppuração.
SUPPURADO, pnrt. pass. do Suppurar.
Que rntiou em suppnraçào. — í7?íí tumor
suppurado.
f SUPPURANTE, part. act. de Suppu-
rar. Que cst;l u'um estado de sujipura-
ção. — Uma chaga suppurante.
SUPPURAR, i\ n. (Do latim suppura-
re). Trausformar-so em pús, ou matéria
cozida, a que eompunlia algum tumor.
— V. a. — Suppurar matéria; cozel-a,
lançal-a.
SUPPURATIVO, A, adj. Termo do me-
dicina. Que facilita a suppuração. — Un-
guento suppurativo.
— S. m. Os suppurativos são do ordi-
nário vesicantes extensos n'um corpo
gordo.
— Diz-se algumas vezes da inflamraa-
ção que 6 susceptível de conduzir á sup-
puração. — - Lijlamma^ão suppurativa das
ami/qilidas.
SUPPURATORIO, A, adj. Que cstA sup-
purando.
— Que acompanha a suppuração. —
Febre suppuratoria.
SUPR
SUPPUTAÇÃO, s. /. Acção de suppu- 1
tar.
— <!onta, computação.
SUPPUTADO, part. pass. «le Suppu-
tar.
SUPPUTAR, i». a. (Do latim supputa-
re). Calcular, contar, computar, fazer
conta.
SUPRA, prep. lat. Acima.
— Tem uso na composição das pala^
vras. — No tratado su^Tà-muncionado.
— Sargento supra ; sargento quo não
é o do numero ordenado á companhia,
como ha nos terços milieianus. Diz-se do
mesmo modo ajudante supra.
f SUPRA-AXILLAR, adj. 2 gen. Ter-
mo de botânica. Que estií situado acima
da axilla de, uma folha.
SUPRACITADO, A, adj. Citado acima,
citado antes.
f SUPRAJURASSICO, A, adj. Termo
de geoloí;'ia. Diz se dos terrenos superio-
res ao calearco jurássico.
f SUPRA-LAPSARIO, s. m. (Do latim
supra, o lapsus). Membro de uma seita
calvinista que ensina quo Deus, sem ter
respeito :ls boas ou más obras dos ho-
mens, resolveu, por um decreto eterno, e
por conseguinte antcrioi' ;l queda de Adão,
salvar uns, e condemnar outros.
f SUPRAMUNDANO, A, adj. Termo de
philosophia. Que está acima do mundo,
que está n'um mundo superior.
1 SUPRANATURALISMO, s. m. Termo
de philosophia. O que existe f('>ra e aci-
ma do curso ordinário das cousas.
— Doutrina quo admitte uma inter-
venção sobrenatural no numdo.
t SUPR ANATUR ALISTA, s. m. Homem
que a^lmitte cousas sobrcnaturaes, que
pensa que acima da onlcm natural exis-
te uma ordem sobrenatural.
SUPRANO, s. m. Termo do musica.
Yid. Soprano.
SUPRANUMERADO, A, adj. Numerado
antes, aciíu.i.
SUPRANUMERÁRIO, A, adj. Vid. Su-
peruumerario.
7 SUPRASEN3IVEL, adj. 2 gen. Que
está acima dns scntiiios.
f SUPRATHORACICO, A, adj. Que está
colloca lo acima do thorax.
SUPREMACIA, s. /. Superioridade aci-
ma de todos os outros. — Roma obteve a
supremacia na guerra.
— Supremacia anglicana; soberania
que o rei ou a rainha exercem em toda a
extensão da jurisdicção espiritual.
— Juramento de supremacia ; juramen-
to pelo qual os inglezes reconhecem seu
rei c(nno chefe da egreja.
SUPREMAMENTE, adv. (De supremo,
com o sufHxo iimeutei). De um modo su-
premo.
— Em grau supremo.
— Em ultima grau.
SUPREMAZIA, í. /. Vid. Suprema-
cia.
SUPR
8UPREMISSIM0, A, adj. superl. de Su-
premo. -Mm nii|jrcnio.
SUPREMO, A, adj. (Do latim supre-
iiiHn, firma superlativa do siiperi. Quo
está acima de tudo. — Attesto os supre-
mos podi^res dos grawlet deuses.
— O principal, o primeiro. — «E »o
elles por isso lhe fizerem algum mal tem
muyto grande pena, porque ellas tem aly
seguro do Tutão da corte, que he o su-
premo em tolas as cousas que tocHo i
casa do Itey.» Fernão Mendes Pinto, Pe-
regrinações, eap. 10.').
— O poder supremo; a auctori'lade do
monarcha.
— Deus supremo ; <> nummo Deus.
Que cousa he Natureza? ímpio Svgtem»,
Quo com cila confunde hum Deofi êupremo!
A viaivcl, eterna Intclli^encia,
Não hc da Natureza cffeito, he causa,
j. Á. Dl XÁcr.DO, MKDiTAçXo, caot. 4.
— O ser supremo; Deus.
Scntc-to a força a gfve amortecida,
Plantas, arbustos, arvores nbr/dhào.
Tal o supremo Ser, de si principio,
De si mesmo se nutre, e se sustenta,
j. Á. DF. MAcr.DO, MEDITAÇÃO, cant. 2.
O supremo bem; o suramo bom,
Deus.
Com tacs liçõc« hc grande hum Monedémo ;
Não conhece outro bem mais que a Virtude.
Esta o mipremo bom. que eterno dura :
Nelle não tem poder Fortuna, ou Fado.
Tudo dentro em si mesmo o homem conserva ;
Quando escuta a Razão, despreza o Fasto,
E discordantes appetitcs dilma.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, CaOt. 2.
— O ente supremo ;
que nos douiina; Deus.
o ser super lor
Crcou Deos no principio os Ceos, o a Terra.
Que és, Knte Supremo, e como existes?
Onde morada tens V Onde achar posso
Quem sA possa os desejos infinitos
De minha alma abastar? -V Natureza
Pude a seu Throno conduzir-me acaao?
J. A. DE MACEDO, A HATCBKZA, Caot. 1.
— O mais alto, o mais elevado. — «O
qual entre esta gentilidade toda se inti-
tula por grão mais supremo, senhor do
elifaute branco, outro era o Rcy dos Mo-
goros, cujo reyno e senhorio jaz por den-
tro do sertão entro o Coraçone que he
junto da Pérsia; e o reyno de Dely e ■
Chitor, e hum Emperador que se chama- M
va o Carão, cujo senhorio, segundo aquy *
soubemos, contina por dentro dos montes
de (í onc.ilid.au em sessenta grãos .avante,
com huma gente a que os naturae-s da
terra ehamão Moscoby.i Fernão Mendes
Pinto, Peregrinações, eap. 124.
SUPR
SURD
SURD
635
Tu domas as paixões, tu me aproximas
Da suprema veutura ao gráo supremo;
Em ti consiste o mérito, a nobreza ;
Se tu nào formas os brazõcs, são crimes.
J. A. DE MACEDO, ItEDITAÇÃO, Caut. 1.
— Preço supremo ; preço summo, o
máximo.
— Cousa suprema ; cousa a melhor do
seu género, ou a mais bem feita.
— Ter o supremo mando; governar
sem ser subalterno a outrem.
— Celeste, divino. — A suprema ma-
gestade.
Quem pôde assignalar limite, ou termo
A's producções do Artífice Supremo f
Eterno Crcador dimmeusos Corpos,
O espaço povoou, torna mais bello
Destarte o claro Ceo, e eterno Campo.
J. A. DE ILACEDO, A SATUKEZA, Caut. 1.
Estes os bons qu 'Artífice Supremo
Com mào paterna, e pródiga nos manda
Dos immensos depósitos dos mares.
IBIDEM, cant. 3.
Este Supremo Artífice derrama
No grande corpo do Universo a chamma ;
Com ella a força eléctrica penetra
Quantos seres abraage a Natureza ;
Se as dimensões do corpo observo nelles,
Forças tira de si, forças augmcnta.
IDEM, MEDITAÇÃO, cant. 2.
Quem poderá marcar limite, ou termo
A's producções do Aitifice supremo !
O Eterno creador de immensos corpos.
O espaço povoou, toma mais boUa
Destarte a etherea cúpula, que cobre
Este, onde existo, domicilio augusto.
Na estrema pequenez de hum Deos a gloria
Lésser, profundo indagador, descobre ;
Do amargurado Atheo confunde os erros,
Quando a suprenia intelligencia mostra
Nas leis, na consti-ucçào, no instincto, e moto
Que nestes Seres impalpáveis brilhão.
IBIDEM, caut. 3.
— Que pertence aos últimos momentos
da vida; extremo. — O momento supre-
mo. — Às vontades supremas de um mo-
ribundo. — A suprema ajonla. — «Era
a oração d'alma, férvida, procello.sa, que
oâ agitava : era essa oração que todos
nós sabemos no momehto de suprema
agonia e que nenhumas palavra.s, nenhu-
ma escriptura poderiam representar ; ora-
ção que é um mysterio entre Deus e o
homem e que nem os anjos comprehen-
dem.i) A. Herculano, Eurico, cap. 18.
— Dia supremo ; o estremo da vida.
— Lagrimas supremas ; lagrimas pelo
morto.
— As honras supremas ; as honras fú-
nebres, as exéquias.
— Usa-se também substantivamente.
Eu dizia que as Potencias
em quanto lavram os portaes
SC pozessem por figura,
c veremos
o que debuxado temos,
que taes ficam na postiu'a
e que mostram seus supremos.
AMTONIO PRESTES, AUTOS, pag. 33.
— Syx. : Supremo, suvimo. Vid. este
ultimo termo.
SUPRESITO, s. m. Termo antiquado.
Tudo o que são pertenças de uma he-
rança .
SUPRICAÇÃO, s. f. Termo antiquado.
Vid. Suppiicação.
SUPRICAÇOM, s. /. Termo antiquado.
Vid. Supricação.
f SUPRICAR, V. a. Vid. Supplicar. —
«E pêro que essa Ley nom fo.sse escripta
no Livro da Chancellaria, passarom po-
rem Cartas na forma delia a algumas
Villas.de seus Regnos, que lhe por ello
enviarem supricar, e bem assy a alguns
lugares dos ditos coutos, segundo somos
dello informado.» Ord. Affons., liv. 1,
tit. 118.
SUPRILHO, s. m. Vid. Soprilho.
SUPRIMENTO, s. vi. Vid. Supprimen-
to.
SUPRIMIR, V. a. Vid. Supprimir.
SUPRIR, V. a. Vid. Supprir. — «Pêra
suprir a qual necessidade, parecendolhe
que per as pouoações que estauão pelo
rio acima, se achariào alguns, mandou
as galés, bargàtim, e alguns bateis das
nãos com gente, que o fossem buscar e
quando o não podessem auer per dinhei-
ro, que fosse á ponta da espada.» Bar-
ros, Década 2, liv. 3, cap. 4.
-f SUPURAÇÃO, s. /. Vid. Suppura-
ção.
SUPURAR, V. a. Vid. Suppurar.
I SUPURATIVO, A, adj. Vid. Suppu-
rativo.
f SUPURATORIO, A, adj. Vid. Sup-
puratorio.
f SUQUERICANO, A, a-7j. = Significa-
ção incerta. Palavra talvez forjada por
António Prestes, para significar : (/we se
deseja, que se quer por seu.
Dinheiro vida, cm alora,
dinheiro suquericano,
mangericào todo auno,
melhor amigo d 'agora.
AKTOKIO PKESTES, AUTOS, pSg. 201.
SURA, s. /. O sumo extrahido da bai-
nha do cacho da palmeira, do qual de-
pois de distillado se faz a nipa, ou a
fula.
SURCAR, Í-. a. Vid. Sulcar.
SURDAMENNTE, adv. iDe surdo, e o
suffixu «meuteij). De um modo siu-do, de
uma maneira que íe não ouve.
— A surda, caladamente, á surdina.
SURDEAR, V. n. Fingir-se sui-do.
SURDEZ, s. /. Vid. Surdeza.
SURDEZA, s. /. Doença que obsta a
que se ouça.
— Mau estado do sentido da audição.
SURDIDO, part. pass. de Surdir.
— ^4. caicavel surdido; á surda, sem
fazer barulho.
SURDINHO, A, adj. e s. Diminutivo
de Surdo. Algum tanto surdo, imi pouco
surdo.
SURDIR, V. a. Termo de náutica. Vid.
Sordir. — «Este homem se chamaua Fer-
nam loureuço, que como cahio da nao,
em surdindo arriba dagoa, alevantou hum
braço pêra que o vissem, e dixe a alta
voz, que mandassem ter tento nelle ate
pela manhã, porque ate entam se atreuia
nadar, o que o capitão fez, e foi ao ou-
tro dia tomado.» Damião de Góes, Chro-
nica de D. Manoel, part. 2, cap. 2.
Entre tanto, surdindo a Noite escura
Do Bosphoro Cimmerio, c despregando
As estellautes azas, envolvia
Todo o nosso Emisphorio em densa treva ;
Quando na Casa do Deaõ triumphante,
Ajuutando-se vaõ os Convidados.
ASIOSIO DIKIZ DA CBUZ, HYSSOPB, Oaut. 7.
Co peso, c apenas surdem á flor da água.
No cortar esse Estreito, (affan d'úm dia)
Menos d'uma hora, cmpenhào na viagem.
F. U. DO NASCLMESTO, OS MAETTKBS, 1ÍV. 10.
Alli... alli jamais pé de homem vivo
Depois do pôr do sol entrar nào ousa •,
E so do alto da serra o pegureiro
Viu luzinhas — signal certo de bruxas —
A surdir e a esconder-se a um lado c outro.
Saltando como estrellas namoradas
Que via o grego antojador de favas.
GABBETT, CAMÕES, caut. 6, cap. 22.
SURDO, A, adj. (Do latim surdus).
Diz-se d'aqueUe a quem falta o sentido
da audição. — «Mas com quem fallo, ou
que presta o que digo, pois pêra me ou-
vir sois surda, pêra me fallar muda, tu-
do o com que me podeis dar vida tendes
morto, o que me dá peca, esse acho vi-
vo pêra mais meu damno?» Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 120.
— Que nào produz barulho nem es-
trondo. — Surdos açoutes.
■ — Que se nào ouve nem sente. — Vo-
zes surdas.
— Marchar ás surdas; marchar pela
calada, em silencio, para não ser sen-
tido.
— Que não ouve, que não presta at-
tenção. — Homem surdo ás j^alavras de
Deus.
— Que não obedece, que não se sujei-
ta. — Nau surda ao leme.
— Remo surdo ; de maneira que se não
ouça o bater dVlle nas aguas.
— Lima surda ; que se não ouve,
— Substantivamente : Pessoa que não
tem o sentido da audição.
Olhac cá, senhor Dinheiro,
a isso porei o ferro ;
sois. Dinheiro, surdo e mudo.
630
SURG
SURG
SUBO
cu molhcr, <amor o dama,
rjil'} a'iior i'; o f|iii) AC, ilin:i,
]»o'm amor não voiicn ttulo
oomo tudo u hí cliuma ?
ANTÓNIO ruKsrBj, Auroi, pag. i!07.
— Quo (U).siittoiulo, posaoii que não
presta attunyiHo.
— Á surda ; jiola calaila,, para iiilo ser
sentido, iim siloucio.
— Al)A(!10S K IMtOVERUlOS :
— Nuo ba pcor surdo, que o quo nuo
quer ouvir.
— Dize ao iloiido, mas não ao surdo.
— Nciu barbeiro mudo, nom eautor
surdo.
— L'or domais lio a citoia no moinlio,
quaudo o moleiro ó surdo.
— Tão surdo é aquelle quo ouve, e
não entendo, como aquelle que uão ouve.
— Des que mo não paj^fam, surdo me
faço.
SUPiDO-MUDO, A, (fij. e *. (Termo
composto de surdo, o mudo). Pessoa que
ésurda e muda eoiijuuctauiento.
— Pessoa que não tem o sentido da
audição, nem o dom da palavra conjuu-
ctaniente.
SURELO, s. m. Vid. Carapào (peixe).
1.) SURGIA, s. f. Vid. Cirurgia.
2.) SURGIA. F.íruia do verbo surgir
na primeira ou terceira pessoa do singu-
lar do pretérito imperfeito do modo indi-
cativo.
•}- SURGIAM, s. ,n. Vid. Cirurgião. —
«Mestre António, Surgiam mor destes
Reynos, foy ludeu, e quando se tornou
Christão el Roy folgou miiyto, c lhe fez
muyta honra, porque lhe tinha boa von-
tade, e era bom letrado.» Garcia de Re-
zende, Chronica de D. João II, capitu-
lo 91.
SURGIDOURO, s. m. Termo de náuti-
ca. Lojíar onde os navios surgem, e estão
ancorados; ancoradouro. — c Porque era
taõ amaçado, e sem a comum semelhança
da outra gente que tiuhaõ visto, que se
tornarão logo os do batel a dar razaõ do
que viraõ, e que o porto lho parecia bom
surgidouro.» Barros, Década 1, liv. ã,
cap. 2. — «Dalli se partio para outro lu-
gai" dei Rei de Ormuz dez legoas deste,
mais rico, e mais pouoado, e de mor tra-
to, per nome Masquate, situailo entre
duas serras, em quo se faz huma baia de
muito bom surgidouro, e posto que fosse
raso como Curiate, era à seruintia delle
pêra a baia cerrada de serra a serra,
com huma tranqueira de maileira de duas
faces entulhada de terra, com alguma ar-
telharia, o sos duas portas muito estrei-
tas porá a seruintia do mar, ao qual lu-
gar chegou Afonso Dalbuquerque aos
dous dias de Septembro.» Damião de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 2,
cap. 31. — i'0 capitão doUa duuiloso se
era aquella frota do amigos se do imigos,
veudo chegar has uaos pêra o surgidou-
ro, 80 voo com alguns frjclieiros a huma
moíquila que oUà junto da praia, domle
vendo que os iiossds vinhaò de gucjrra,
sairão a Mm determinados de lhe defen-
der, ({ue aam saisse cm torra, o que uam
podendo fazer se recolherão a mesma
mo^(luita, sendo ja o seu capitão acollii-
do porá cidade com parte dos seaí, o que
estoutros foraõ também constrangidos fa-
zer.» Ibidem, cap. 3(1. — t A arte, e a
natureza a íizerão defensável por terra,
assegurando-so da ambição dos Régulos
visiiihos, o incursões doi Alarves Ará-
bios, que com importunas correrias mo-
lestão a campanha. Está no porto huma
pequena ilha medianamente fortitica'la, a
que os naturaes chamão Cirá; defronte
liça outro surgidouro, abrigado de mui-
tos ventos, onde costumão dar fundo mios
quo navegão a iMeua.» .lacintuo Freire
d'An(lrade, Vida de D. João de Castro,
liv. 4. — «Assi que lie melhor nauegar
pelo meyo do canal em que podem lan-
çar ferro cada hora, do que ao longo da
terra. Se quiserem tomar porto na Ilha
lebel Zocòr, ou na outra mais abayxo, a
que chamão Fertão, bem o podem fazer,
porque ambas tem os surgidouros quie-
tos, e seguros ; com tãto tpie não aja des-
cuydo na vigia dos imigos que Ja mais
aqui faltão.» Fr. íta-ipar de S. iJernar-
diiiu, Itinerário da índia, cap. 8.
SURGIR, V. n. {Do latim surf/ere). Ter-
mo de marinha. Aportar, lançar ferro no
porto, ancorar, vir do fundo, do mergu-
liio, lançar duas amarras, e dar fundo
com ellas. — Surgir a bom porto. — «En-
trou com todalas nãos cheias de badeiras
e o-tendartos: e por mostrar n'esta pri-
meira vista quo era costumado a ver
mães populosas cidades, e maior numero
do nãos, e que todalas daquelle porto es-
timaua em pouca, foi surgir em meyo de
cinco, que erão as macs poderosas, prin-
cipalmente a d'elRci de Càbaya chamada
Jlerij, o tão vizinlio delia, que ticarão as
bovas d'ambas cntrccambadas.» Barros,
Dccada 2, liv. 2, cap. 3. — «Peró por
líste recado de Tiinoja tardar mães do
que Afionso d'Alboqucrque queria, dete-
uese pouco em Anchediua, e foi surgir
no rio de Goa a vinte dias de Nouembro
do anno de quinhentos e dez.» idem. Dé-
cada õ, liv, 2, cap. 8. — «E temendo não
ser limpo pêra surgir com tamanha fro-
ta, e também não darem humas náos per
outras, mandou amainar todalas velas
com fundamento de pairar aquella noite.»
liem. Década 2, liv. 7, cap. 7. — «E
ch"ga!ulo a hum rio que ao pôr do sol
vimos ao rumo de Leste, mandou surgir
huma legoa ao mar delle, porque o junco
em que vinha era grade, e demandava
nuiyto fun.lo, e se temia ilos muytos bai-
xos que todo .aquelle dia tínhamos visto,
e mandou a Cbjistovào Borralho que fos-
se na lorcha cos seus quatorze soldados
por dentro do rio, e visão que fogoa erio
os que defronte aparecião. t Fernão Men-
des Pinto, Peregrinações, cap. 42. —
«Neste tempo começando ja a ventar a
viração, bo fez á vella cjm muyta festa
e regozijo, o as gáveas tol<la<ias do seda,
e com Bua bandeyra de veniaga á Chara-
china; paraque os (|ue aasi o vissem, en-
tendessem que ora ello mercador, e nSo
gente da outra maneyra, e dalv a huma
hora surgio no porto defronto do caiz da
cidade.» Ibidem, cap. 48. — «E seguin-
do pela mesma derrota por espaço do
mais de nove dias, quo era aos vinte e
três da nossa viagem, surgimos cm huma
ilha pequena que se dczia Pisamluree, na
qual foy necessário ao NecoJá, que era o
Mouro capitão do junco, fazer huma
amarra, o tomar agoa c leuha.» Ibidem,
cap. 144. — iCom esta armada, e outros
iiauios da terra, em quo ida gente do
Malabar a soldo foi Afonso dalbuquerque
surgir diante de Mascate.» Dami<V) de
Gocs, Chronica de D. Manoel, part. 3,
cap. 66. — "Despedida a terrada, segulo
sua viajem, e sendo a vista do Goa sen-
tindo em sua disposiçilo se lhe chegar a
hora da morte, mandou a hum seu cria-
do que no bargantim se adiantasse, o lho
fosse chamar Fr. Domingos, vigário go-
rai seu confessor, que veo ter com elle
sábado a noite, a mesma hora em que
surgio na barra.» Ibidem, part. 3, cap.
80. — íE aju:itando-se tudos, trataram
de fazer dar o navio á costa : e pêra isso
buscaram muitos ardiz até lhe irem cor-
tar as amarras de noite, e de margidho;
mas foram sentidos pela grande vigia quo
03 nossos tinham, c logo surgiram com
outra amarra, mandando-a guarnecer, c
forrar com cadeias de ferro.» Diogo de
Couto, Década 4, liv. 2, cap. 3. — «D.
Rodrigo partio pêra Maluco com o seu
galeão, e o de D. João Coutinho, e a nào
de Bernaldim de Sousa, e chegou aquel-
la fortaleza este Outubro passado, e sur-
girão em Talanganie, aonde Bernaldim
de Sousa estava com a sua nào.» Idem,
Década 6, liv. 9, cap. 10. — «Christo-
vaõ de Sà, soube-se o seu Piloto marear
melhor, porque tanto que tomou fundo
na costa da índia, foi metendo de lò
pêra se pôr abalravento de Goa, como
fez, e foy haver vista da terra por Cara-
pataõ, e dalli fov demandar a barra de
Goa, aonde surgio quasi no mesmo tem-
po quo Martim Corroa da Silva tomou
Angoiiiva.» Ibidem, liv. (>, cap. 7. —
«Sendo dez deste mez, surgirão na bar-
ra de (Soa cinco náos, de oito que tinhaS
partido do Reino, de que era Capitão
mòr Diogo Lopes de Sonsa. Os mais Ca-
pitaens eraõ Francisco Lopes de Sousa,
quo trazia a Capitania de Maluco, Jaco-
me de ilello, L.>po de Sousa, e Mioer
Bernanlo.» Ibidem, liv. 9, cap. 16.
— Levantar-sc, crescer em altura, er-
guer-se de baixo, apparecer, crescer para
fora.
i
SURG
SURP
SURR
637
Hebe é filha de Juno ; e surge a Cypria
Da uudoaa spuraa, o são sua prole aa graças.
Logo, na Lyra outôo a humana 0;-lgem,
Que animou Promotheo, com luz roubada.
F. MAXOKL DO NASCIMENTO, 03 MARTYRES, 1ÍV. 2.
D'um acaso a Opúiião surge a raiudo ;
E sempre a Opinião é quem dá a voga.
Podéra em gentes eu de todas classes
Meu prólogo fundar ; que neste Mundo
E tudo prevenção, porfia, cAbala:
Justiça? pouca, ou nada ;
Tal foi, tal será sempre :
Pois vai, como enxurrada, abrào-lhe passo.
IDEM, FABULAS DE L.iFONTAINE, 1ÍV. 3, n." 14.
Tu, Soberano Auctor, a cujo aceno
Snryio do Nada a machina do Mundo,
Com teu sopro imuiortal meu génio inflamma ;
Qual outr'ora iuflammou Vates sublimes
Cele.ste inspiração, e as obras tuas
Em Canções divinaes aos Ceos alçarão.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Caut. 1.
E uesta vasta maquina, hum sò raio
Da Vista Divinal ficou gravado ?
Eia, surge, oh minha alma, as azas toma
E vôa alem do Sol, pergunta aos Astros
Onde se eleva o Throuo Magestoso
DaquoUe a cujo assopro ellcs girarão ?
Porém dos Povos, que as Romanas armas
Mettèrão a grilhões, surge brilhante
Da Sapiência a Luz. Vê na Germânia
O grande Sábio, que no Sol descobre
A sombra que te eucheo de luto, e magoa.
Da escura noite, do brilhante dia
Igual a duração, se pesa e marca
Na celeste balança : assim d'Outouo
Surge a frente de pâmpanos cercada.
De fructos suavíssimos Pomona
Forma grinaldas mil, constante as mostra
O indagador da Natureza surge
Do sono cm que jazeo, rompe as Cadeias
Da ser^nl ignorância, as azas solta
Apoz o grande explorador Britano,
Ao fulgor da verdade antigos erros,
Antiga opinião, qual sombra, fogem.
Que pomposo espectáculo! Descubro
Astro, que vibra luz, que fornia o dia,
Estrella immobil, que menores globos
Prende em seu Turbilhão, e a Luz lhes manda.
Inextinguível Formosura ! A Terra,
Quando tu surges, vive; e se te esooudes,
Então da triste noite os véos sombrios
De luto melancólico a circundão.
Mas progressiva escuridão 3'avança.
O ar forma os crepúsculos do dia
Quando surge do Ganges, quando pousa
Da occidua Thetis nos cerúleos braços.
iBiDEji, cant. 2.
Deste humilde principio, e tão pequeno,
Surgio da antiga Roma o férreo Throno,
Que do Globo aos confins mandou cadêas ;
N'huma cabana humilde origem teve,
N'ella Rómulo, e Numa as Leis dictavào,
Ao novo asilo universal chamando
Do Lacio antigo indígenas incultos.
IDEM, VIAGEM EXTÁTICA, Oant. 1.
Virá talvez hum tempo... (ah ! Se na Terra
Não tornar a surgir Waudalo Império!)
Em que nos mostrem Lentes mais polidas,
E d"outra sorte architectados tubos.
Que foi verdade, e luz tão vasta idéa !
IBIDEM, cant. 4.
Quasi vejo surgir Numes na Terra,
A cujo aceno os corpos obedecem ;
Mas são disposições, são leis profundas.
Que as sombras arrancou da Natureza
O estudo da Mecânica profundo.
Quem fez surgir do bárathro dos mares
Tão dispersas porções do térreo Globo ?
Acaso o vasto incêndio, que remuge
Nas lôbregas entranhas oscilantes
Da humana habitação, com força immensa
Fez erguer do Oceano o leito escuro ?
IDEM, MEDITAÇÃO, Caut. 2.
O temerário ardor, produz, e cria
A cada instante hum Mundo imaginário.
Tal he dos erros seus a origem triste,
E o Cahos filosófico foi este.
Surgem delle, Epicuro, os tons fantasmas ;
Perde-se aqui Demócrito, e Leucippo.
IBIDEM, cant. 4.
Sobre as azas da Fé minha alma surge,
E nova luz á Natureza outorga.
Moysés, Moysés fallou, e hum Deos o inspira.
IBIDEM.
Necessidade eterna, immóvel ordem,
Os seres faz nascer, e acaba os seres ;
Em constantes períodos eternos
Sempre descobre a maquina do Mundo ;
Ora ao Nada tornando, ora surgindo,
Vai sentido a impulsão da Lei do Fado ;
E, SC a substancia eterna intacta fica.
Morrem, renascem de continuo as formas.
— <i Depois é que surgiu o homem e a
podridão, a arvore e o verme, a bonina
e o emnmrchecer.» A. Herculano, Euri-
co, cap. 4.
— Figuradamente: Elevar-se, alçar-
se.
^Surgir á mente; subir, occorrer-
llie.
— Proseguir navegando.
— Surgir d mente; nascer, levantar-se
n'ella.
— V. a. — Surgir duas ou ires ancoras ;
dar fundo com duas ou trea ancoras.
SURILHO, A, adj. Diminutivo de Suro.
SURIRPANO, s. m. Certa insígnia usa-
da na Índia portugueza.
-j- SURIRRITAÇÃO, s. /. Termo de Me-
dicina. Irritação mórbida.
SURO, A, adj. Derrabado naturalmen-
te, sem rabo, sem cauda.
— Galliiiha sura; tem-se por mais ami-
gas dos gallos; poedeiras e criadeiras.
— Frade suro, monge suro; monge que
tem Corda, mas nào diz missa.
SURPAGI, s. m. Soldado de presidio
entre os turcos.
1 SURPREHENDENTE, adj. 2 gen. Yid.
Surprendeute.
t SURPREHENDER, v. a. Vid. Sur-
prender. — «Finalmente tem pouca reli-
gião; porque, lendo maus livros, falta-lhé
tempo e sciencia para examinar os agu-
dos sophismas com que os seus detestáveis
authores quizeram surpreheuder os que o
lessem com similhante espirito.» Bispo do
Grão Pai-á, Memorias, publicadas por Ca-
millo Castollo Branco, pag. 78.
SURPRENDENTE, adj. 2 gen. Que sur-
prehende, que toma de improviso.
— Que produz surpreza.
SURPRENDER, v. a. Tomar uma cousa
de improviso.
— Chegar ao pé de alguém sem ser es-
perado.
— Induzir em erro, engano.
— Obter fraudulentamente, por artificio.
— Tomar por surpreza.
— Fazer uma surpreza.
— Espantar, admirar.
— Saltear, interprender, assaltear. Vid,
Sorprender.
SURPRENDIDO, part. pass. de Sur-
prender. Tomado de improviso.
— Induzido em erro, enganado.
— Espantado, admirado.
— A.ssalteado, salteado, interprendido.
SURPRESA, ou SURPREZA, s. f. Vid.
Sorpresa.
Tu, jocosa Thalia, agora dize
Qual seu espanto foi, sua sur2)resa,
Quando á porta chegando costumada,
Nclla o Deaõ naõ vio, uaõ vio o Hyssope.
DINIZ DA cBuz, HYssofE , cant. 3.
SURPRESO, A, adj. Surprehendido, to-
mado de repente.
— Espantado, admirado.
— Induzido em erro, enganado.
SURRA, s. /. Grande somma, grande
quantidade. — O menino leva uma surra
de açoutes; metapiíora tirada do surra-
dor dos couros, e golpes, com que os alim-
pa surrando-os.
— Coça, tunda, sova.
SURRADOR, s. m. Homem que surra.
SURRAFAÇAR, v. a. Vid. Sorrafaçar.
SURRAMENTO, s. m. O beneficio que
o surraJor faz aos couros no carnaz, e
tinta.
SURRÃO, s. m. Bolsa de couro usada
pelos pa.9tores, em que levam o comer e
outras cousas do seu uso.
— Sacco de couro que cobre da chuva
o que vai encerrado n'elle. — Um surrão
de trigo.
SURRAPA, s. f. Vinho que se damnou.
— Vinho mau.
SURRAR, V. a. Tirar o pêllo das pel-
les, e alimpar-lhes o carnaz.
— Açoutar, fustigar, dar surra de açou-
tes.
— Gastar a superfície com o uso, fa-
zel-a escabrosa.
638
SURT
SURT
SUSC
— Surrar-se, t>. rejl. Termo jiopular.
Ir-so a fiirti).
SURRATE. Termo popular usado adver-
bialmeiíto, anti^pondo-llio a prcposiçilo de.
— Dl' surratc ; ás escondidas.
SURRATEIRO, A, adj. Vid. Sorrateiro.
SURREIÇÃO, s. /. Vid. Resurreição.
SURRELFO, A, adj. Vid. Sorrelfo.
f SURRENAL, adj. 2 gen. (Do iiitiin
ren, o snr). Termo de anatomia. Que está
collocado acima dos rius.
— C'u]>su?a.i, ou glandulaíi surrenaes ;
glândulas vasculares sem vesículas fecha-
das, o som canaos excretores, situadas
acima dos rins.
SURREPTICIO. Vid. Subrepticio.
SURRIADA, «. /. Termo de artilhcria.
Descarga de tiros de artilhcria.
— Figuradamente : Uma surriada de
alleluias.
— Loc. POP.: Dar surriada; dar apu-
pada.
SURRIBA, s. f. Termo de agricultura.
A excavaçào feita na terra para que fi-
que fofa, e lancem dente com mais faci-
lidade as arvores, que se dispõe.
— Nos outeiros e encostas onde se
planta fazem surribas, com paredões, que
sustendo a terra dão lugar a fazer se uma
planura, o por cima de uma outra encos-
tada a outro paredão, ctc. Vid. Socalco.
SURRIBAR, V. a. Fazer surribas.
f SURRIOLA, s. f. Termo de náutica.
Dá-so este nome áquelles paus que se
costumam deitar pelos lados do castello
de proa, para ;is embarcações miúdas se
amarrarem.
SURRIPIAR, V. a. (Do latim surripe-
re). Termo popular. Furtar ás escondi-
das, ás oeeultas.
SURRIR, V. n. Vid. Sorrir, termo mais
usailo. — «Surriose o Piloto, e tomado
cinco cocos 03 lançou ao mar, cõ os quaes
lançarão a fugir aquellea que os toma-
rão : os outros que também os prctendiào
Ike forão no alcance, e encoutrandose tó-
rios cm terra, foy tanta a pancaila, gri-
ta, e peleija, sobre quem os leuaria, que
nos demos por bem vingados.» Fr. Gas-
par de S. Bernardino, Itinerário da ín-
dia, cap. 5.
Afcu rosto de vergonha, e aasiin mo iir{;úo :
E eu fóite, e eu moijo, chúio, <iuaiulo um viMho,
Curvado pelos auiios, vom gui-riíulo
Sob ciirga, tanto li miuha dosconforme!
r. M. DO NASCIMKNrO, 03 MAUTYUES, 1ÍV. 7.
SURTIR, i'. n. Voar alto, remoutar-se
mui altaneiro voando. Vid. Surto.
1.1 SURTO, part. pass. do Surgir.
Fundeado, aportado, ancorado, seguro no
fundo. — «Ao outro dia seguinte chega-
rão estes nossos navios ao rio de Calan-
tSo, e vendo que estavào surtos nelle os
três Juncos de ijue tivoíaõ novas, os co-
meterão muyto esforçadamente, e com
quanto os de dentro trabalharão quanto
pudera!) pelos defenderem.» Fernão Men-
des i'into. Peregrinações, cap. :55. — «E
porque neste iiilvu tenjpo lhe falecerão a
nioiher o a lilha, elle como dosespoiado
se lançara huma noite ao mar na barra
de Diu, com aquello moço «eu filiio, don-
de por terra fora ter a yurrate, o dahy
se viera ter a ^lalaea cm huma nao du
Clareia de tíaa Capitão de Baçaim, don-
de por mandado ile dõ Estevão da Gama
fora á China com Christovão Sardinha,
(pie fora feitor do Maluco, o qual estan-
do huma noite surto em Cincaapura, o
Quiay Taijão senhor daquelle junco ma-
lara com mais vinte e seis Tortugueses,
e que a elle por ser bombardcyro dera a
vida, e o trazia comsigo por seu Cõdes-
tabre.i) Ibidem, cap. 43. — «E despois
de fazer dar a morte ao Similau e aos
outros seus cõpanheyros, que foy cõ lhes
mantiar lançar os miolos fora com huma
trauea, assi como elle íizera cm Liampoo
a Gaspar de Mello e aos outros Portu-
gueses, se embarcou logo cõ trinta solda-
dos no batel e nas raãchuas em quo os
inimigos vierão, e com conjunção de ma-
ré e de bom veuto, em menos do huma
hora chegou ao junco que estava surto
dentro no rio huma legoa adiante donde
nós estávamos.» Ibidem, cap. 40. — »A
qual o Similau disse cjue se chamava
Fanjus, e chegandouos bem a ella entra-
mos em huma muyto formosa angra de
quarenta braças de fundo que a manev-
ra de meya lua tíeava abrigada de todos
os ventos, na qual podião muyto bem es-
tar surtas duas mil nãos, por muyto
grades que fossem.» Ibidem, cap. 71. —
oE que por aquelle rio, em cuja boca es-
távamos surtos, que se dezia Paatebe-
uam, aviamos co nome do Senhor do ceo
de yr cõ a proa a Leste, e a Lessueste
demandar outra vez a enseada do Nã-
quim que atrás tínhamos deixado duzen-
tas e sessenta legoas, porque toda esta
distancia de caminho tínhamos multipli-
cado em mór altura do que era onde nos
demorava a ilha (jue hiamos buscar.» Ibi-
dem, cap. 72.- — -«Estando huma noyte
surta num lugar que se dezia Catebesoy,
se criara sobre ella huma nuvem preta,
a qual lançando de sy muytos fuzis e
euriscos, chovera delia huma agoa muy-
to grossa, de gotas tão quentes em tanto
estremo, que dando na gente quo neste
tempo estava ainda acordada, a fez lan-
çar toda ao rio.» Ibidem, cap. 93.
Quo cousa é ver um parvo namorado !
Harto a um canto aonde enxerga a dama,
Coubecc-o toda a rua, c anda embui;ado.
f. R. LOUO 30110FITA, 1\>ESIJIS E PBOSAS UiEDITAS,
pag. 48.
— sStandn assi António corroa surto
acabo de seis dias se ajuntou com elle
ha frota dei Kei Dormuz, o as outras ve-
las da sua armada, saluo os fustas de
que huma arribou a Ormuz, e a outra
cliogon tendo ja acabado o negocio a que
fora.» Damião de Gocs, Cbrouica de O.
Mauoel, part. 4, cap. 03.
2.) SURTO, 8. VI. O vôo arrebatado
que a ave toma para o alto, eui quo ae
remonta muito.
— Emprega-se também no eontido fi-
gurado.
SURTÚ, «. m. (Do francez êurUjut, de
sur, e t<nit). Sobrecasaca, cosadlo que
KC veste ])or cima do casaco.
SURTUM, ». m. Veste, que nSo fecha
pelo meio do ventre, mas passa a abo-
toar-se a um lado do corpo, com duas
ordens de botões.
SURZIDO, purt. paus. de Surzir. Vid.
Zurzido.
SURZIR. Vid. Zurzir.
SUS, iitterj. (do latim »í/«, acima» que
vale tanto como acima, tende coragem,
erguei os espiritos.
Ora voiísa meroê qncira
dcâc-obrir-mc aqui por que
anda assi d°es3a manoira ;
e diga-m'o de cadeira,
faça-rac hoje esta mcroí-.
Ora fut!
ANTÓNIO PBESTES, ACTOS, pag. 195.
Stiit, crguoi-vo3, irmãos, que esta é a bora,
Esta 6 a bora tremenda e sagrada :
Vinde, vinde fazer penitencia,
Lcvantai-vos, que a liora ó chegada.
0A11KF.TT, D. BBAXCA, CBDt. 6.
SUSANO, ou SUSÃO, ÃA, adj. Termo
antiquado. Diz-se em opposição a jií$ão,
jusano, e significa superior, do alto, de
cima.
— Veia susana; veia da testa, do al-
to da cabeça.
■J- SUSCARPIANO, A, adj. Termo de
anatomia. Que está situado sobre o carpo.
SUSCEPTILIDADE, *. /. Termo de me-
dicina. Disposição a resentir as influen-
cias, e a contrahir as doenças.
— Termo do philosophia. Capacidade
de receber. — A susceptibilidade dos
contrários.
— Exaltação da sensibilidade physica
e moial que se observa particularmente
nas atfecções nervosas.
— Disposição a chocar-sc mui facil-
mente. — Ferir, offender a susceptibili-
dade de aJgiu-m. — tíer de uma susce-
ptibilidade ridícula.
SUSCEPTÍVEL, adj. 2 gen. (Do latim
susceptibilis, de susceptum, supino de
suscipere). Que pode receber certas qua-
lidades, cortas modificações. — Nós so-
mos susceptíveis de amizade, de justiça,
e de humanidade.
— Esta passagem, esta proposição i
susceptível de muitus sentidos, de inter-
pretaqiM.s differenies; é possível dar-lhe
muitos sentidos e diversas interpretações.
— Fácil de offender. — Um espirito,
SUSM
SUSO
SUSP
639
um caracter susceptível. — Minha tia é
orgulhosa e susceptível como todos os dia-
bos.
SUSCEPTIVO, A, adj. Susceptível.
SUSCITAÇÃO, s. /. (Do latim suscita-
tioi. A acçào de suscitar.
SUSCITADO, part. pass. de Suscitar.
Excitado, acceso. — A perseguição sus-
citada aos christãos nas ilhas do Ja-
pão.
SUSCITADOR, A, s. Pessoa que sus-
cita.
SUSCITAR, r. a. (Do latim suscitare).
Fazer nascer, fazer apparecer n'um cer-
to tempo, fallaiido dos homens extraor-
dinários que Deus envia. — A impieda-
de augraenta, e Deus suscita no Orien-
te um rei mais soberbo e mais formidá-
vel do que todos os que tinham appare-
cido até entào : é Nabucodonosor. — A
experiência ensiiia-nos ainda que Deus
suscita de tempos a tempos mulheres
fortes que elle eleva acima das fraquezas
ordinárias da natureza.
— Diz-se também das cousas.
Clara c brilhante a lua. Oh ! que. memorias
N'alma do vato, esse aatro, a hora, o sitio
Não suscitam amargas ?
GABBETT, camões, cant. 10, cap. 13.
— Em um sentido desfavorável, fazer
nascer o que podo prejudicar, perturbar,
6 acabrunhar. — Os amigos de Péricles
o accusaram de elle ter suscitado a guer-
ra do Peloponeso.
— Excitar, accender. — Suscitar /ogro.
— Em termos da Escriptura : Suscitar
a prole do irmão ; fazer reviver o nome
do irmão morto sem posteridade, despo-
sando a viuva, o que era usado entre os
judeus.
f SUS-COCCYGIANO, A, adj. Que está
defronte ou acima do coccvx.
f SUS-HEPATICO, A, àdj. Termo de
anatomia. Que está situado acima do li-
gado.
— Veias sus-hepaticas ; veias próprias
do fígado; abrem-se na veia cava abdo-
minal.
t SUS-HYOIDEO, A, adj. Termo de
anatomia. Que está situado acima do osso
hyoide.
" -j- SUS-JACENTE, adj. 2 gen. Termo
de geologia. Formações sus-jacentes ; no-
me dado ás formações volcanicas, porque
nào somente penetram as outras rochas,
mas ainda as excedem.
f SUS-MAXILLAR, adj. 2 gen. Que está
situado na raaxilla superior.
— O osso sus-maxillar ; o osso da ma-
xilla superior.
t SUS-MAXILLO-LABIAL, adj. 2 gen.
Termo de anatomia. Diz-se do musculo
próprio do beiço superior.
7 SUS-MAXÍLLO-NASAL, adj. 2 gen.
Termo de anatomia. Diz-se do musculo
transverso do nariz.
f SUS-METATARSIANO, A, adj. Ter-
mo de anatomia. Que está situado sobre
o metatar.so.
f SUS-NASAL, adj. 2 gen. Termo de
anatomia. Situado acima do nariz.
— Osso sus-nasal, ou osso próprio do
nariz; osso par, achatado, formando a
parte superior da cavidade nasal, e apre-
sentando, unido ao seu congénere, a fi-
gura de um coração da carta de jogar.
f SUS-NASO-LABIAL, adj. 2 gen. Ter-
mo de anatomia. Diz-se de um musculo
achatado, tendo sua origem na superfície
do osso sus-nasal.
SUSO, adv. Termo antiquado. Acima,
d'antes. — OrdenaçZes suso escriptas. —
«E mandamos que esta nossa Hordena-
çom aja lugar em todolos casos suso di-
tos, e em cada huum dellcs, e em todo-
los direitos, e tributos : salvo nas vizita-
çooens dos Arcebispos, e bispos, e Prela-
dos, que as ham daver.» Ord. Affons.,
liv. 4, tit. 1, § 24. — «Foi publicada
esta Hordenaçom suso escripta a novo
dias do mez de Fevereiro da Era de mil
quatrocentos e quarenta annos per Joha-
ne Meendes Corregedor em a Corte d'El-
Kev, que sya em audiência ouvindo os
feitos, em Monte Mór o Novo. E eu
Joham Martins esto escrepvi.» Ibidem,
tit. 2, § 11. — «Forom publicadas na
Cidade de Líxboa per mim Filippe Affon-
so nos Paaços d'ElRey, perante Diego
Affonso Ouvidor em sua Corte, que sya
em audiência, as ditas declaraçooens, e
Hordenaçom suso escripta aos vinte e
dous dias do dito mez, e Era sobre-
dita.» Ibidem, § õ9. — «Que pêra esto
forom chamados, e juntos no alpende-
re do Moeesteiro de Sau Domingos, fo-
rom poblicadas, e lendas per mim Gon-
çalo Pires Escripvào da Chancellaria es-
tas Hordenaçooens suso escriptas. E logo
polo dito Affonso Domingues foi manda-
do da parte do dito Senhor com acordo
dos Vereadores, e homeens boõs da dita
Villa, que poze.?sem homens boõs, e eixe-
cutores certos pêra fazerem cumprir es-
tas cousas.» Ibidem, tit. 4, § 8. — lE se
estes todos quatro hy nom poderem seer,
que os doos, que hy poderem seer, façam
nas cou.sas suso ditas, se cumprir, e man-
dem fretar as Naaos pela Costa, se cum-
prir, aa custa daquelles, que as quiserem
carregar.» Ibidem, tit. õ, § 11. — «E o
Tabelliam, que hy poser seu signal, ou o
que hy poser seello autentico aja a pena
suso dita: e desto aja ElRey as duas
partes, e o accusador aja a terça parte,
assy como suso dito he.» Ibidem, tit. 6,
§ 3. — «E dizemos que ainda que as di-
tas cousas nam possam pollos suso ditos
ser obrigadas, poro ficarom esses devedo-
res obrigados a pagar as dividas, por que
essas cousas forem apenhadas, e poderom
por ellas seer demandados ; e quando fo-
rem condapnados, far-se-á a eixecuçom
nos outros seus beens, assi como nos
beens de qualquer outro do povoo conda-
pnado.» Ibidem, tit. 53, § 2.
Chamava lá «uso — acima,
e cá baxo, aca juso :
cursou depois, fez o buzo,
veio a cada voz mais prima.
ASTOmo PRESTES, AUTOS, pag. 5o.
— A suso ; acima.
SUSOBDICTO. Vhl. Sobredicto.
SUSODITG. Vid. Susobdicto.
f SUS-ORBITARIO, A, adj. Termo de
anatomia. Que está situado acima da or-
bita.
— Abertura sus-orbitaria ; nome dado
a uma abertura completada por um liga-
mento que apresenta a arcaila orbitaria
no seu terço interno.
SUSPECfo. Vid. Suspeito.
SUSPEIÇAM, 5. /. Vid. Suspeição. —
oE se lhe ouver alguma suspeiçam, por-
que o queira recusar por sospeito, ponha
a suspeiçam em forma, e esse Juiz da
execuçam cometa a dita recusaçam a hum
homem boom, em que se as partes lou-
vem, pêra desembarguar, como achar que
he direito; e quando as partes se nam
quizerem louvar em o dito homem boom,
o Juiz recusado de seu OfBcio escolha
esse homem bom, a que os cometa sem
malicia, o mais a pr;\zer das partes que
o bem fazer possa.» Ord. Affons., liv. 1,
tit. 101, § 3.
SUSPEIÇÃO, s. f. (Do latim suspicio).
Desconfiança da probidade do juiz, ou de
outra causa por que se receie, que haja de
julgar mal, auctorisada pela lei que se
diz de direito, ou por facto da parte ad-
versaria, ou do juiz, que é suspeição do
homem, ou do facto.
— Toma-se também por suspeita do ca-
racter ou malfeitoria de alguém.
SUSPEITA, s. f. Desconfiança pouco
fundada. — «Saindo-lhe ao encontro, co-
mo os tomasse sem suspeita, levemente
os desbarataram, e a ellas tomaram pre-
sas, e nos mesmos palafrens as fizeram
tornar polo caminho que trouxeram.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 105. — «E ao longo do mar
nos lugares de suspeita poz outros Capi-
tães com artilheria necessária, e o Prín-
cipe seu filho, e o genro, cada hum com
seu corpo de gente haviam de acudir on-
de vissem maior pressa, e elle ficava pêra
quando o mal fosse muito acudir f>om ou-
tro corpo de gente, que havia de estar
com elle em guarda de sua pessoa com os
Elefantes de seu estado.» Barros, Déca-
da 2, liv. 6, cap. 3. — ■ «Espedidos estes
Capit.ães, foram ferindo, e recebendo fe-
ridas por o caminho que hiam a tomar a
mesquita, a qual lhe os Mouros despeja-
ram como gente que os queria metter em
cilada, e nella houvei-a Diniz Fernandes
de cahir com toda a gente de sua capita-
nia que o acompanhava, e somente huma
640
SUSP
SUSP
SUSP
cousa lhe doo a suspeita il<lla.» Ibidem,
cap. f). — «Porque como as cou.sas da ín-
dia cstavauí fracas jior a nova 'iiiu se ti-
nha do estado cm que ficava, c per via
do Levanto tinha p]liicy nova que o Sol-
drio mandava novamente fazer outra Ar-
mada pei-a enviar 1:1, por razilo da outra
que lhe desbaratou o Viso-Rey D. Fran-
cisco, havia suspeita que podiam também
haver Rumes na Índia.» Ibidem, liv. 7,
cap. 2. — «E alli em Moçambique acliou
hum criado de D. Aires da (!ama, que
da torna viac^cm da Índia ficou doente,
por o qual soube todalas novas da índia,
assi do estalo do cerco de Ctna, como da
Ida de Affonso d'Alboquerque a Malaca,
e a m:l suspeita que havia dello ser par-
tido, as quaes novas puzeram a D. Gar-
cia em muita confusíto.» Ibidem. — «A
chefiada dos quaes cativos a Cocliij com
toda a frota do I). ÍJarcia; e Jorge de
Mello, foi hum dns maiores prazeres que
Affonso d'Alboquerque vio, e que mais
contentamento lhe deo que quantas A'ito-
rias teve : cá esta grossa Ai-mada cm sou
animo acabou de as confirmar, o tirar de
muitas suspeitas que clle tinha, como
adiante veremos.» Ibidem, cap. 3. —
«E aos Ouazis, e Capitães que esta-
vam da mão de Raez llamed om as Vil-
las, e fortalezas do Rc.vno do Ormuz, foz
também Aftonso d'Alboqucrque tirar del-
ias, e entregar a homens sem suspeita da
Cidade, e ainda com fiança, c escrituras
em modo de menagem.» Ibidem; liv. 10,
cap. 5. — «Mas o que nesta viajem pas-
sou SC nam sabe, porque nunca mais
apareceo, nem se soube delle noua, a tar-
dança do qual, o m;\ suspeita que se co-
mcçaua a ter de sua viajem causaram o
mesmo infortúnio a Miguel corte Real,
porteiro nvW dei Rei, que polo grande
amor que tinha a seu irmam determinou
do o ir buscar, e partio de Lisboa aos
dez dias de Maio de M. D. ii. com duas
nãos sem nunca dello se mais haucr
noua.» Damião de Ooes, Chronica de D.
Manoel, part. 1, cap. 67. — «Esta repos-
ta foi com tantas outras abstauças, que
logo so tomou suspeita que tudo auiào
de ser enganos, como se achou por expe-
riência, porque cl Rei nam sporaua mais
que o dia cm quo auia dcntrar o seu al-
mirante.» Ibidem, part. 3, cap. 18. —
«Eate concerto foi feito om tanto segre-
do, quo sete ou oito annos que Pàteonuz
gastou cm fazer huma armada pêra a
conclusam do que tinha determinado se
nam descobrio, nem se teve delle suspei-
ta, no qual tempo mandaua dessiniidaila-
monte pessoas de que se fiaua a Malaca
sob spccia do mercadores.» Ibidem, cap.
41. — «Para te castigar. Ingrato, das
suspeitas que concebeste, essas te deixo ;
o o teu tormento fora duvidar do que te
devera ser suave, se me creras leal e ter-
na. Fácil me fora dcsmaginar-tc; quando
mormente, para socêgo próprio, me é ve-
dada a liberdade de offonder-te. Mas
quero dcixar-te nc^so engano para vin-
gança minha; e se crédito díls ao meu
.ânimo ilissaboreado, dá por justas as tuas
conjecturas todas, e ilá-me a mim pela
mais infiól de todas as" mulheres. » Fran-
cisco Manoel do Nascimento, Successos
de madame de Seneterre.
Quê ! inti^rpretasto
O snu dizer assim? — Nilo di''», amigo,
A viins KHipnlim nttcnçiio funosta.
OABRICTT, CATÃO, act. 1, SC. 6.
O bárbaro sou cu: o n'áneia d'alma
Harbaro me chamei, traidor, infame,
(^uc assim to c.xpuz a pérfidas simpeilat .
iniDEM, act. 3, .SC. 7.
— <i Começavam a alevantar-sc algumas
suspeitas de que Alie .se havia tornado
christão; mas ninguém ousava affirmá-lo
com certeza; poi-quc, habitando clle n'um
sitio ermo, não havia quem o podesso ob-
servar.» Alexandre Herculano, Monge de
Cister, cap. 4.
— Conjectura.
— Syn. : Suspeita, desconfiança. Vid.
este ultimo termo.
SUSPEITADO, part, 2>css. de Suspei-
tar. Conjectura'Io, desconfiado.
Tu noa dcacobrc que paiz é este,
Nem fumpeitarlo de Euvopea gente,
Quo torra é cata, que se enfeita, o reste
De alegre Primavera cm Ceo clemente?
Se ha ucUa lium povo, que soccorroa preste
A quem )ierdido vai no mar fervente,
Quem sejas tu, que machina prestante
He cata, que se eleva ao Ceo brilhante ?
J. A. I>E MACEDO, o OIltENTE, ClVnt. 5, C3t. 38.
— Substantivamente : O suspeitado.
— «Fui ciosa: mas onde ha grande amor
lavra o ciúme. Ciosa sim, mas sem bru-
teza; que entre os vislumbres dos zelos,
e os assomos do despeito, distingui sem-
pre que eras tu o suspeitado. Mas que
falhas não encontro no teu modo de amar;
e quão mal o entendes ! Como vem claro
o pouco amor que te jaz no peito ; e o
que, quando o não estudas, te escapa do
coração, tão pouco digno é do anu)r.»
Francisco Manoel do Nascimento, Suces-
sos de madame de Seneterre.
SUSPEITADOR, A, y. Pessoa que sus-
peita, que tem por costume suspeitar.
SUSPEITAR, V. a. (Do latim suspicta-
re). Conjecturar, desconfiar. — «O caval-
loiro da Fortuna teve cm muito ouvir-se
nomear cm terra tão estranha, c desvia-
da de sua crcação: e suspeitando que
aqucUe podia ser Daliarte do Valle Es-
curo, duvidava polo ver tão mancebo, que
de tão poucos dias não se esperava tama-
nhas obras. Daliarte, que entendeu sua
suspeita, lhe disse : Senhor Palmeirim, de-
sejo tanto servir-vos, que vos quero tirar
da duvida om que vos vejo.» Francisco
do Moraes, Palmeirim dlnglatenra, cap.
33. — «Arniciio, itula que por vezes po-
zesse 08 olhos em Floreiídos, nunca o co-
idieceu pola differonça das armas, porem,
vendo Florani.ào, logo suspeitou qnem
podia ser, e veudo-lhe o encudo do vulto
de Miraguarda se c-rtificdu, e logo se foi
pêra elle, dizendo: Senhor, já agora vos
podeis descobrir a quem tHo pouca razão
tendes de vos encobrir, e mais vindo com
o preço ganhado, que de principio vos fez
perder.» Ibidem, cap. 108. — «Quando
Colainbar, que té li occupára a vista no
imperador e naqucllas senhoras, se virou
contra Alfernao c o conheceu, suspeitan-
do quo lhe fizera alguma traiçSo, polo
vêr tão dassocego, deu um grito tio fira
do costume das outras mulheres, que pa-
recia que a sala se fundia.» Ibidem, cap.
121.
O I'ac anda om sacrificios
Aos deoscs, que lha dem
A Siiudc que convém ;
Dizendo que por seus \'icios
O mal a seu filho vem.
Eu fispeilo quisto são
Alguns novos amorínbos.
Que tcrA no corarão.
CAX., SF.LECCO.
— «Neste tempo vio Tlonçalo vaz hum
mouro de cauallo que vinha muito seguro
faldrcjanilo a serra de Bcnamares, do que
suspeitando que aueria gente Dalcacer,
ou de outras partes, espalhada pello cam-
po, determinou de o ir sperar com Infarte
dalmeida em hum passo estreito.» Damião
de Góes, Chronica de D. Manoel, part. 3,
cap. 3õ.
— T''. n. Ter desconfiança, desconfiar.
Bofo. segundo vou vendo,
Se esta postem a vier.
Como PU mmpfito. a creacor,
Muito ha que delia entendo
O fim que piJde vir ter.
CAM., FILODEMO, aCt. 2, SC. 3.
— «Não pude entrar dentro, que achei
a porta occupada de dous gigantes teme-
i-osos e grandes, que a guardam. Agora,
senhor, a podeis ir ver, que, segundo
suspeito, naquella casa deve estar algum
gram thesouro guardado de muito tempo
pêra galardão dos outros trabalhos, que
nesta terra passast<"s.i> Francisco de Mo-
raes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 120.
— «Roztomocan quantio o vio tão indina-
do, c solto em j^alavras, confirmou o que
se dcllc suspeitava, estar meio alevanta-
do, e como homem prudente c manhoso
fez a esto ni^gocio dous rostos, que lhe
muito aproveitaram ]>cra tudo lhe ficar na
mão.» líarros. Década 2. liv. l>. cap. 9.
— «C.ostella SC suspeita, que tem a culpa
do que Portugal pai!ccc nesta parte; por
que alargou a maõ para seus intentos; ou
porque a tinha entaS mais cheja, qnt
1
SUSP
SUSP
SUSP
641
hoje som as encteiites de ouro, e prata,
que lhe vinhaõ do mundo novo.» Arte de
furtar, cap. 56.
SUSPEITO, A, ad.j. (Do latim sitspectiis).
De quem se suspeita, se desconfia.
Este jugo cruel, d'homem alheio,
Com que trata ao que he estranho, e o que sujeito
O poz em tal cuidado, em tal receio,
Que se velava mais do mais acoeito •,
O que tem do mercês c honras mais cheio.
Lhe vem depois a ser o mais suspeito,
Porque a mortífera honra e a dignidade
Motivo he dodio, mais que d"amizade.
F. d'a5drade, pbimeiko CERCO DE DIU, cant. 1,
est. 19.
— A que se pôz suspeita.
— De fé duvidosa, de probidade, inte-
gridade duvidosa.
— Em que se nâo deve fazer confian-
ça.
— Palavra suspeita; pala^Ta que nào
é clássica, nem conhecidamente dalingua
a que se attribue.
— De quem se pode com razào descon-
fiar.
— Dar-se o juiz por suspeito ; decla-
rar que tem razoes para não julgar n'a-
quelle caso, por haver circumstancias,
que façam duvidosa a sua probidade, e
rectidão.
— Auctor suspeito ; auctor cuja fé his-
tórica não é sem duvidas, auctor cuja dou-
trina pôde conter erros.
— And<ir suspeito ; andar com receio
de ser enganado.
— Homem suspeito de phthysica; ho-
mem tocado d'ella. Diz-se do mesmo mo-
do : homem suspeito de tratante, de ma-
roto, de velhaco.
SUSPEIT0S.4MENTE, adv. [De suspei-
toso, e o suíSxo «mente»). De um modo
suspeitoso.
— Com suspeita, cora desconfiança.
SUSPEITOSO, A, adj. De que se pôde
ter suspeita, desconfiança e receio.
— Que produz má suspeita, descon-
fiança.
— Logar suspeitoso ; logar que não
está bem seguro, e defendido. — ^ «A pon-
te do rio, que divide a Cidade em duas
partes, por ser lugar mais suspeitoso,
onde os nossos podiam desembarcar, fez
ElRey nella liuma força de madeira com
muita artilheria em lugar de fortaleza, a
capitania da qual deo a Tuam Bandam,
que era o Mouro que andava nos recados
entre elle, e Afibnso d'Alb()querquc, por
ser pessoa principal.» Barros, Década 2,
liv. 6, cap. 3.
— Dado a suspeitar, receoso, descon-
fiado.
— Homem suspeitoso ; homem de fé
suspeitosa.
— Que causa receio, temor, e descon-
fiança.
'■^— Suspeito, cuja verdade é incerta e
receosa.
Voi. V. — 81.
SUSPENDER, V. a. (Do latim suspende-
re). Sustentar um corpo no ar, de sorte
que fique pendente. — Ligaram-lhe os pés,
e suspenderam-no.
— Suspende-se uvi cavalloj sustenta-se
no ar, em cei-tas operações, já para o fer-
rar, já também em certas doenças, para
o impedir de ficar deitado.
— Figuradamente : Interromper, não
continuar. — Uma morte súbita e surpre-
hendeiite que suspendeu o curso de nos-
sas victorias. — O frio excessivo dos in-
vernos suspendia o curso dos rios.
Mas O Luso, a quem n"alma se alevantam
Ideas que as da pátria suspenderam,
Desfarte diz: — Amigo, um dever triste
Mo chama, a quê uào sei : cobrc-o mysterio
Cora veo impenetrável. Minha vida
Toda ha sido de estranhas aventuras.
G.vBEEiT, CAMÕES, cant. 4, cap. 2.
— Suspender um trabalho; interrom-
pei-©.
— Suspender seus pagamentos ; diz-se
de uma casa de commercio que não pode
pagar, pelo menos momentaneamente, o
que deve.
— Diz-se de uma lei que se interrom-
pe por um certo tempo.
— Parar por algum tempo. — As tro-
2}as suspenderam a marcha.
Deste abysmo, na sombra augusta, eterna,
Profundo explorador, seus olfios fita ;
Jlas deslumbrado, attóuito suspende
Ka margem deste mar seu passo ousado.
J. A. DE MACEDO, MEDITAçlo, Cant. 1.
Sigo co'a vista os Lenhos atrevidos,
Que vão da Aurora devassar o Império •,
Ferventes mares, soltas tempestades,
Mais do que he dado á humana valentia.
Tem contrastado indómitos ; mas chegão
Ao padrào tormentcso, onde indignada
Da ousadia mortal a Natureza,
Fazia suspender denodo humano.
Vai Cooke, vai Byron cercando a Terra
Por inda não tentada, incerta via ;
Então suspendem denodada marcha,
Quando em gelado n)ar, gelada terra
Da Natureza no Decreto attentão.
IDEM, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 2.
— Figuradamente: Prohibir, impedir
alguém do exercício de suas funcções,
sem lhe tirar o caracter de que está re-
vestido. — Suspender um ecclesiastico das
funcç(ks sagradas.
— Pasmar, enlear, admirar. — Suspen-
der os sentidos.
— Figuradamente : Suspender o jui-
2c; não julgar, não decidir.
— Termo de musica. Fazer uma sus-
pensão.
— Entreter com esperanças, medos,
etc. — Suspendera vida com a esperança.
— Termo de náutica. Pendurar, pren-
der ao alto, aprestar-se para velejar, ar-
rancando a ancora do fundo.
• — Suspender uma ancora; arrancal-a
do fundo, virando fortemente ao cabres-
tante sobre a sua amarra, até se tornar
a pôr no logar do navio em que estava
antes de ser fundeado.
— Suspender as laricas; nas justas, é
levantai-a do hombro ou coxa, cousa de
um dedo, para que vá quieta.
— Suspender um espasmo a outro; fa-
zer que se nào sinta, ou soôra, interrom-
per, paral-o.
— Suspender-se, v. rejl. Elevar-se, al-
cantilar-se, encapellar-se. — Suspende-
ram-se as ondas no Atlântico.
SUSPENDIDO, part. pass. de Suspen-
der. Vi(i. Suspenso, termo mais em uso.
SUSPSNDIO, s. m. (Do latim suspen-
diu7n]. Forca, garrote.
SUSPENSÃO, 5. /. (Do latim suspensio,
de suspensum, supino de suspendere).
Acção de suspender, estado do que está
suspenso. — O ponto de suspensão de
uma balança.
■ — Modo de suspender.
— Termo de veterinária. A suspensão
de um cavallo que se quer impedir de fi-
car constantamente deitado, durante cer-
tas doenças dos órgãos locomotores, pôde
ser praticada por diíFerentes meios.
— Termo de chimica. Estado de uma
substancia existente n'um liquido sem se
precipitar.
— Notne dado a um phenomeno ópti-
co, em que os objectos afastados, vistos
no horisonte, parecem simplesmente sus-
pensos no ar, pela differença de mira-
gem onde ha de mais uma imagem in-
vertida ; o facto é que na suspensão a
segunda imagem existe, mas é extrema-
mente achatada, e reduzida a uma di-
mensão infinitamente pequena, o que im-
pede de a vêr.
— Intermissão temporária. — A sus-
pensão da febre.
— Suspensão de armas; a intermissão
momentânea dos actos de hostilidade.
— Estado de um _ homem em incerte-
za, na duvida. • — «E verso agudo, accin-
temente agudo para marcar mais a sus-
pensão, e quebra de ideas que a accom-
panha.» Garrett, Camões, nota L ao can-
to 3.
— Acção de impedir, de prohibir um
funccionario de suas funcções por um
certo tempo.
— Termo de grammatica. Sentido in-
terrompido. — A suspensão marca-se por
uma serie de pontos,
— Figura de estylo que consiste em
ter os ouvintes em admiração e pasmo.
— Grande attenção.
— Arrebatamento, enlevo, enleio, ex-
tasis. — «He com tudo de aduertir, que
amar a Deos com suspensão, e sem cõ-
curso dos sentidos naõ he sinal euidentis-
simo da vniaõ passiua, porque a tal sus-
642
SUSP
SUSP
SUSP
pensa5 dos sentidos parados também so
acha na vnlDio actiiia.» Fr. n.irtlioloincii
dos Martyres, Compendio de espiritual
doutrina, cap. 11. — «11» tamboin tio sa-
bor, que assim como a còpungào, ou de-
uaçaõ 30 se^^uo despois da mc(iitaçai5 as-
sim o amor, c suspensão extática se se-
gue depois da contoiii])lai;aõ, o qual arre-
bata, e puxa polia alma pêra o Cco.s
Ibidem, cap. 12.
— Termo de musica. Ponto de sus-
pensão ; siçnal jiara fazer pausa.
— Suspensão de mãos; no manejo, con-
siste em o cavai lo erguei -as ao ar, e fi-
car a=!sim por algum tempo.
SUSPENSIVO, A, adj. (Do latim siis-
pensum, supino de suspendere). Termo
de jurispru lencia. Que suspende, que im-
pede de continuar.
— Termo de grammatica. Que suspen-
do o scntiilo. — O genitivo, sendo um ca-
to suspensivo, !he fez esperar todas as
id^MS (jue o orador lhes não podia apre-
sentar ao v}esmo tempo.
— Pontos suspensivos ; pontos collo-
cados em seguida uns dos outros quando
o sentido est;l suspenso e incompleto.
SUSPENSO, part. pass. irreg. do Sus-
pender. Que c.st;í ligado e sustido no ar,
de sorte que fique pendente. — Tumulo
suspenso na abobada do templo. — «En-
tre dous grandc-i penedos, cada hum dos
quaes sac com sua ponta ao mar, e ficaõ
suspensos no alto da roclia, em forma,
que parecem ameaçar ruina a quem os
contempla da prava.» Monarchia Lusita-
na, liv. 7, cap. 3.
— Impedido do exercício de suas func-
ções. — «Feita esta prisão, com que os
capitííes ficarão suspensos de suas capi-
tanias, que olle Atfonso d'Alboquerque
dou a outros fidalgns : mandou tirar o
culpado donde o tinhão, e foi leuado em
hum batel per bordo de todalas nãos cõ
pregoes que denunciavão o seu crime,
té que per derradeiro o enforcarão.» Bar-
ros, Década 2, liv. 5, cap. 7.
— Interrompido, descontinuado.
Mil oonduotoros mo offoi-ocp a Escola,
Mas entro tantos dividido fica,
Su^ptnso o vòo do forvontc engenho.
J. A. DF. MACEDO, A NATUREZA, Cant. 2.
— «o raanuscripto foi começado em
S. Thvrso, talvez ahi pelos vinte o pou-
cos mais annos do frade, continuado em
Lisboa e no Pard cora apontamentos de
viagens, e suspenso no derradeiro anno
de vida do author.» Bispo do Grão Pa-
rá, Memorias, publicadas por Caraillo
Castcllo Branco, pag. 42.
— Por extensão: Diz-se das cousas em
oquilibrio.
— Phrase suspensa; phrasc cujo sen-
tido está incompleto.
— Carruagem suspensa ; carruagem
sustida sobre molas.
— Enlevado, enleado. — «Extasi per-
tence somente ao entendimento, o dasse
quando o entendimento de tal maneira
he suspenso em seu próprio acto, o ces-
são de sorte, que tambom as potencias
inferiores jtella mesma razão suspendas
cossaõ totalmente de suas acções.» Frei
Bartholomeu dos Martvres, Compendio
de espiritual doutrina, cap. 12.
— Em suspensão, hesitante, perplexo,
incerto.
— Batalha suspensa; batallia sem ser
deciílida contra algum dos partidos.
— Ficar suspenso de sxa empreza ;
não lhe ser licito começal-a ou conti-
nual-a.
— Attonito, admirado, pasmado.
D<! fantásticos bons se rcpresentào
('om alvovogos fnlsos e finfados
listando as.si enganado está contente
Isouta du tristezas a nicii:oria
Snupfiino liça c tristo quando abertos
Os olhos, da ticijào se desengana.
COBTE BKAL, NAUFRÁGIO DE SEPÚLVEDA , CSUt. 14.
— «E declarando-lhe então a razão
disto pelas meltiores c melhor enfeitadas
palavras que ent.ão occorrerão, esteve
hum pouco suspenso, e btdindo três ou
quatro vezes com a cabeça disse, para
hum homem velho que estava junto del-
le, conquistar esta gente terra tào alon-
gada da sua pátria, dá claramente a en-
tender que deve de aver entro oUes muy-
ta cubica e pouca justiça.» Fernão Men-
des Pinto, Peregrinações, cap. 122.
Pedra emsosao,
é gente d'agricultara !
Ilomcus, vindes mui siiapensos !
Dizem que é Liccnceado.
E\n qne arte c agraduadoY
ANTOSIO PRESTES, AUTOS, pag. IGl.
Com tanta luz attonito, suspenso,
Volvo os olhos de hum l.ado, e bem no meio
Do Templo augusto hum Monumento estava ;
Por argênteos degrAos 3'avança, e sobe,
Mas com trabalho, a base alabastrina.
J. A. DE M.VCEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 2.
1.) SUSPENSÓRIO, s. m. (Do francez
suspetisdire). Termo ilo cirurgia. Ligadu-
ra destinada a sustentar o escroto nos
individues afFiictados de alguma doença
nos órgãos genitaes.
— Plur. São duas fitas, ou tecidos
compridos de seda, linho, etc, ordinari.a-
mente com elásticos, e casas nas pontas,
que pendendo de um o outro lado dos
hombros vão abotoar nos ci'»ses da calça,
ou calção, liara o tor suspendido.
2.) SUSPENSÓRIO, A, adj. Termo de
medicina. Que suspende o curso do ura
humor.
SUSPIRADO, part. pass. de Suspirar.
Que su-ipinui.
— Diz-se da cousa pela qual se sus-
pira.
— Mui desejado.
Infatigável segador menea
O braço armado de encurvada fouco,
Sôfrego abate da risonha Ceres
Oa miMpirivlof dons, moiit'>es d'c.4pigag
O Campo que as gerou d'outr'art'; cnfeitio.
J. A. DE MACEDO, A lATDKBZA, Caat. 1.
SUSPIRADOR, A, s. Pessoa que sus-
pira.
SUSPIRAR, V. a. (Do latim suspirare).
Dar suspiros.
Olha por outras partes a pintara.
Que as estrcllas fulgentes vâo fazendo :
Olha a Carrctta, attenta a Cyno^ura,
Andromcda, e seu pai, c o Drago horrendo:
V(3 de Caítsiopéa a formosura,
E do Orionte o gesto mctuondo,
Olha o Cysnc morrendo, que niuipira,
A Lebro, os Cães, a Nao, c a doce Lyra.
CAM., Lus., cant. 10, est. 88.
— «Nesta gãbiduria mvBtica se ha de
proceder com ordem. Porque primeira-
mente deuemos ser taõ entrados do te-
mor do luiz seuero Christo Senhor nosso,
a quem hetnos do dar conta, que do inti-
mo (lo coração clamemos, dizendo : sus-
piraua com gemido do coração.» Frei
Bartholomeu dos Jlartyrea, Compendio
de espiritual doutrina, cap. 13.
Eis o soberbo Turco aceso em ira
Que aquella injuria tem om grande estima.
De novo abato a Cruz, do cima a tira,
Ergue a sua bandeira, e põe-na em cima.
Pires arde outra vez, geme c tiupira,
E a sua companhia acende e anima.
Tenta outra vez co'oa seus este combate
Ergue o pendão Christào, o Turco abate.
F. dVkdr.vde, primeiro cerco de DIU, cant. 15,
est. 6.
Acabou do fallar ; e confirmando
Todo o sabio Congresso o sou dictame.
Um sussurro no Conclave se espalha,
.\o do Zephyro cm tudo similhante.
Quando nas fre«5a3 tardes ximpirando,
.\ bella Flora segue, que travessa
Cá, c lá, entre as flores, se lhe furta.
AKTOSIO DINIZ DA CRUZ, HISSOPE, C.aut. 1.
Põem de lado o teu Deos. Dize, se ouviste,
Ka noite de Hontem. xii*pirar. no Bisque?
Carpir-se uma Aura ? Estar gemendo a Fonto ?
Nessa Fonte, nessa Aura, nas, que eréscem.
Flautas nos teus balcões, diva eu gemidos.
P. M. DO NASCIMENTO, 03 MABTTRBS, 1ÍV. 10.
Suxpirava cu, nessa Aura, c nessa Fonte,
Mal que te sube grato o rcmurmurio.
Que a Fonte faz manando, a Aura correndo.
Vio Vellêda, em meu r-sto, que apiedado
Fiquei do seu fallar falto de sizo.
Deteve a vista o Déspota do Inferno,
E siifpirou. c extático hum momento
(> Coo lhe não lembrou, fez pausa o Ódio,
Mas a Inveja gritou, vingança, e crimas
De novo aos ígneos olhos lhe assomarão ;
Contra o iimocento par medita estragos :
Trausforma-se em Serpente, e tenta, e vence.
J. Á. DB MACEDO, A NATCBEZA, CAnt. 1.
SUSP
SUSP
suss
643
— Exprimir com gemidos, com suspi- I
ros.
— Desejar muito. • — « Ellea cuidam
que vivem seguros, porque os filhos de
D. Duardos estão mui louge d'ella ; e
d'outra parte dizem que não suspiram
por outrem, que contra estes tem deter-
minado pelejar té morrer ou vingar a
morte de seus irmãos.» Francisco de Mo-
raes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 106.
— «Tal he o peccador, que perdeo o di-
reito á pátria, que he o Ceo, perdeo a
commuuicaçaõ, e familiaridade dos An-
jos, e Santos, que saõ os amigos ; naõ
tem a consolaçaS' do Espirito Santo: tudo
nello saõ misérias; e o que mais he, que
nem suspirar sabe pela pátria, como os
desterrados suspiraõ.» Padre Manoel Ber-
nardes, Exercícios espirituaes, pag. 181.
— «Naquelle espantoso dia todos o vere-
mos em forma humana, huns com gran-
de alegria, e consolaçam, s. os bons que
neste mundo viuendo o amaram e suspi-
raram por esta segunda vinda, e perfeita
manifestaçam de seu Reyno, dizendo de
corayam. Venha o teu Reyno.» Fr. Bar-
tkolomeu dos Martyres, Catecismo da
doutrina christã.
Pelas costas raaritimas em baudoa
As vê do largo mar o nauta allbuto,
Que, já cançado do lidar co' as ondas,
Suspira pela terra; cilas lha mostrào,
Inda que á vista occulta, no horizonte.
J. A. DK MACEDO, MEDITAÇÃO, Caut. 3.
— d Suspiram pelo meu antecessor...
Mas que suspiros ! de sorte elles são, que
me é preciso mandal-os suffocar na ca-
deia, por serem explicados em verso sa-
tyrico ou libello famoso. Ninguém suspi-
re por mim com tantn que não caia sobre
mim o suspiro de Isaias : Ve mihi quia
tacui!» Bispo do Grão Pará, Memorias,
publicadas por Camillo Castello Branco,
pag. 26.
— V. a. Exprimir com suspiros e ge-
midos.
D'e3pritos gloriosos via o Sousa
O ar naquella parte ornado, e cheo,
E na celeste luz vio almas sanotaa,
Alegres hir voando ao ceo Impireo.
Os olhos após ellas leuantando,
Attouito iicaua, einmudocido,
Suspirando, e dizendo, ah quem se fora
Entre tal, e tão sancta companhia.
COBTB BB AL, NAUFRÁGIO DE SEPÚLVEDA, Caut. 10.
— Lamentar suspirando.
— Desejar com grande anciã.
Tal, na Cidade eterna, insigne mármor
Nos affigura Endymião, que dorme.
Da trinomina Déa, creu Cymódoce
O amante vêr, e suspirar Diana
No sussurro, que faz, no bosque, o Zéphyro.
Toma um clarão, qvie escapa entre os arbustos
Pela, do alvo brial, ondeante falda
Da Deosa, que se occulta.
F. M. DO NASCIMENTO, 03 MAKTYEES, 1ÍV. 1.
— Usa-se também svxbstantivamente :
O suspirar á pregação. — « Também
o suspirar á pregação, fazer gestos com
a cabeça, como que lhe contenta o que
se disse, rezar desentoado, compassar a
musica, são cousas que não houveram de
ser.» Francisco Manoel de Mello, Carta
de guia de casados.
SUSPIRO, s. wi. A respiração mais
prolongada, que de ordinário é produzi-
da por alguma paixão, como amor, tris-
teza, etc. — Soltar suspiros.
Entanto, em vão, suspiros vãos espalha;
E qualquer bem, que possa descançal-a.
Sempre amor Ih 'o atalhou, sempre Ih 'o atalha.
FEKNÃO SOROPITA, POESIAS B PKOSAS INÉDITAS,
pag. 112.
Caem as nymphas, lançam das secretas
Entranhas ardentissimo.-í sus2nros :
Cabe qualquer, sem vêr o vulto que ama,
Que tanto como a vista pôde a fama.
oAM., LOS., cant. O, est. 47.
Só de quantas idéas tenho feito,
Útil pôde sor esta
Desse teu coração, desse teu poito
llum suspiro me empresta.
J. X. DE MATTOS, IÍI.MA3, pag. 137.
— «E se lá o outro prizioneiro em hum
castello, se contentava com atirar settas
para aquella parte onde ficava a sua pá-
tria : muyto mais razaõ he, que os mor-
taes, que estamos prizioneiros neste mun-
do arremessemos settas de desejos, e sus-
piros para a nossa pátria bemaventura-
da, que he o Ceo.» Padre Manoel Ber-
nardes, Exercícios espirituaes, pag. 67.
— «Porem o tempo eiu que o Senhor se
ausentaua, diz, auer bem conhecido, por-
que assim como huma panella que serue
ao lume, tirada delle se esfria assim pel-
la ausência do Senhor, começaõ a esque-
cer, e afrouxar as cousas interiores, de
modo, que a alma se entristeça te o es-
poso tornar pêra ella, e outra vez o af-
fecto tomar calor: por onde a alma de-
nota deue com suspiros deue clamar ao
Senhor, dizendo.» Fr. Bartholomeu dos
Martyres, Compendio de espiritual doutri-
na, cap. lõ. — d Acabemos esta pratica
com aquelle suspiro que hum sancto deu
sobre este passo dizendo : O Senhor apra-
zauos que assi como o Verbo diuino se
vestio do carne, assi meu coração de pe-
dra se torno de carne, se faça molle, pê-
ra que o penetrem as setas de vossas ins-
pirações.» Idem, Catecismo da doutrina
christã. — «Que suspiros, vozes, e la-
grimas aqui seriam V Huus maldezião ao
))rímeiro que tentou nauegar o brauo
mar ; outi-os com huma mal formada voz,
pediam confissão, e a Deos perdão ; e ou-
tros a quem o frio suor hia cobrindo, nem
animo, nem forças tinhão pêra pedilo.»
Fr. Gaspar de S. Bernardino, Itinerário
da índia, cap. 1.
Ferve a cólera, espuma, assoma aos olhos
O qucute sangue, se o furor mo ins])ira3.
Mas fogo o sangue, as lagrimas borbulbào
Se hum piedoso suspiro amante cxhalas.
J. A. DE MACEDO, A NATUEEZA, Caut. 2.
Foi pouco o que passou, nada o que resta :
As pulsações do coração ae afrôxão :
Dos lábios vai fugir susjnro extremo.
Foi-me a Terra madrasta, ingrato o homem.
IDEM, VIAGEM EXTÁTICA, Caut. 3.
Suspiros da viuva, aia do orpham triste,
Lagrymas, sangue c morto offereeendo...
aAHKETT, CAMÕES, caiit. 4, cap. 11.
— Figuradamente : Nuvens de suspi-
ros.
Vinde em marés de pranto aos olhos turvos,
Espalhao-vos em navens do suspiros,
Desatfogae-lhe o peito comprimido;
Para um so coração é muita migua.
GAEUETT, D. BRANCA, Caut. 2.
— Figuradamente : Os suspiros d'uma
avena.
Para a passar contente : e que vai pouco
(Sendo tam curta !) haver atroado o Mundo
Co clangôr dos Clarins, ou ameigado
Os bosques, c'os suspiros d'uma Avena.
F. M. DO NASCIMENTO, OS MARTYRES, 1ÍV. 9.
— Figuradamente: Desejo vehemente,
e forte.
t SUS-PUBIANO, A, aJj. Termo de
anatomia. Que está acima do púbis.
— Cordoes sus-puLianos ; ligamentos
redondos da madre.
f SUS-PUBIO-FEMURAL, adj. 2 gen.
Termo de anatomia. Que é relativo ao
púbis e ao fémur. — Musculo sus-pubio-
femural.
SUSQUINAR. Vid. Sosquinar.
f SUS-SCAPULAR, adj. 2 gen. Termo
de anatomia. Que está acima da omoplata.
— -8. — O sus-scapular inferior ; o
musculo sub-espinhoso : o sus-scapular
superior; o musculo sus-espinhoso.
f SUS-SPHENOIDAL, adj. 2 gen. Ter-
mo de anatomia. Que está acima do sphe-
noide.
— Canal sus-sphenoidal ; canal par-
tindo da face superior ou interna do sphe-
noide, e terminando no hiato orbitario.
SUSSO. Vid. Suso.
f SUSSURRANTE, part. act. de Sus-
surrar. Que sussurra. Vid. Susurrante.
— A sussurrante abelha.
Oftorecendo il sussurante Abelha
No cálice mimoso o nectai puro.
Quasi o limbo do disco auri-spiendente
No purpúreo Horisonto apparecia.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, cant. 1.
SUSSURRAR, V. a. Vid, Susurrar.
f SUSSURRO, í. m. Vid. Susurro.
6U
SUST
o arco afírouxando a raeio, o ouvido á cacuta
Do sit<iiiiirrO do I'iXi':rcito inimií^o,
Do bulicio daa oiidau, ou do.í |)io.í
De Avi!í) braviart, r|uo, no oHcuro, voão ;
Do innurf l''adoj volvendo o.^ devaiirio-ij
Disso outro mim : -Vai iieiejai- por líárljaros,
Por tyrauuoi da minha am;ida (írfcia,^
Com iiarbaros, i[uo nunca me olVcndí-rio !
P. H. UO NASaiJIBNTO, 09 MAKTTUKg, 1ÍV. ''< ■
Quo a cilas Vallonguciras,
Que andaõ mentindo formas do arrieiras,
Km vcriio chulo, em métrico desgarro
Dinis Iiunia vez xó, outra vc;! arre ;
K BC a voz dos ornrios no siassnrro
Sc perder, podtirás cui voz de burro
Tamijom metrilicar,
Que vem a ser o mesmo, que zurrar.
abbauf: Dií jAZB.NrE, roEsiAB, tom. 2, pag. 33.
As espraiadas ondas sobre a arêa.
Com ligeiro sumtiirro, a branca espuma
Erguem, batendo. A Fabula diria
Que volvem ledos Alcionios dias.
J. A. DE IIACEDO, A KATUIIEZA, Cant. 3.
D'oiidc consoladora se exlialava.
Como um cHssiirro de viçosas folhas,
A alma brisa da nouto, refrescando
Os corpos então áridos das chammas
Com que o touro celeste em fúria ardia.
OAUBETT, CAMÕES, CiUt. 1, Cap. IG.
SUSTANCIA, s.f. Vid. Substancia, or-
thographia niaÍ3 correcta. — «E não me
detenho cm dar relação do que me elles
preguutavào, e eu respõdia, porque co-
mo tudo erào cousas de pouca sustãcia,
parccome que nào servirá de mai.s que
de encher papel cõ cousas que dem uiais
fastio que ííosto.» Fcruào i\Itínde3 Pinto,
Peregrinações, cap. 130. — «Consistindo
pois toda a sustancia da thcologia mys-
tica em amor, pede a matéria, que diga-
mos das propriedades delle alguma cou-
sa. Certamente o amor arrebata, vne,
satisfaz. O rapto he hum vehomente en-
leuameuto, e huma efficaz operação actua-
da na parte superior da potencia racio-
nal, com que cessaõ as operações das po-
tencias inferiores, ou pello menos de tal
maneira se enfraquecem, e dobilitão, que
de nenhum modo impedem, ou detém as
acções da potencia superior.» Fr. Bartho-
lomeu dos Martyres, Compendio de es-
piritual doutrina, cap. 12.
f SUSTANCIAL, uJj. 2 gen. Vid. Suh-
staucial. — «Us outros artiguos nam di-
go por estes serem os mais substanciaes.
Aos quaes respoudeo Vtetimutaraja, que
quanto as cartas quo cscreucra ao Prín-
cipe tilho do Hei quo fora de Malaca, quo
era verdade o ter feito.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 3, cap. 25.
SUSTAR, V. n. E erro frequente no
foro jíor Sobrestar, ou Sobreestar. Vid.
Sobreestar.
■{■ SUS-TAHSIANO, A, aJj. Termo de
anatomia. <.^uc está situado sobre o tarso.
SUSTATORIO, A, adj. Vid. Substato-
rio.
SUST
SUSTENIDO, ». w». Termo de musica.
Nota musical, quo serve de mostrar quo
a iiguru ({UO está na linha, ou intcrvallo,
onde so assignoii, lia de subir meio ponto.
SUSTENTAÇÃO, s. /. A acção de sus-
tentar.
— 8ustento. — f Para sustentação da
mesa dos pobre.), que se dá aquy pelo
amor do Duos a todo o género do pessoa
quo se quiser assentar a ella, o so lhe
dá casa e cama muyto limpa o bem cõ-
certada por tempo de três dias somente,
salvo 8c hc molher prenhe, ou enfermo
que não possa caminhar, aos quais se dá
gasalhado mais tempo, porque a tudo se
tem respeito, ci>nforme á nece.ísidade quo
se oflereco.u Fernão Mende.s Piuto, Pe-
regrinações, cap. lOU. — -uEde toda a
mais massa das rendas do reyno, que
he huma nmyto grande quantidade de
picos de prata, se fazem três partes, das
quais huma he para a sustentação do es-
tado real, e do governo do reyno, outra
para a defensão das terras, e provimento
dos almazcns, e das armadas, e a outra
se põem cm tisouro aquy nesta ciilade
do Pequim.» Ibidem, cap. 113. — «A se-
gunda causa porque falta a gente deste
Reyno, he por naõ terem oflScios, com
que ganhem de comer por sua industria,
que he o meio, que Deos deo para a sus-
tentação do cada hum.» Severim de Fa-
ria, Noticias de Portugal, Disc. 1, capi-
tulo 2.
SUSTENTÁCULO, í. w. (Do latim sus-
tentaculuni). Cousa que sustém outra.
— Figuradamente: tíupporte, apoio,
amparo; pessoa que ampara, protege.
SUSTENTADO, part. j^ass. de Susten-
tar. Alimentado.
— Defendido de hostilidades na guer-
ra. — «Deste lugar forão descendo ao
nmro até á Igreja do Apostolo 6aut-Ia-
go, que íicava encostada ao mesmo ba-
luarte, mettendo-se nos altos da casa ;
com o que ticou o baluarte, e a Igreja,
a metade sustentado dos Mouros, e a
outra dos nossos.» Jacintho Freire d'An-
dradc. Vida de D. Castro, liv. 2. — «Se
quando se sei-viiio as Commendas em
Africa em tempo delRey D. Manoel, e
D. Joaõ 111. luivia mais de 300. lanças
sustentadas pelos Fronteiros (porque to-
do o homem nobre hia cingir a primeira
espada daquellas partes) como naõ suc-
cederia agora o mesmo havendo certeza
de serem providos V» Severim de Faria,
Noticias de Portugal, Disc. 2, capitu-
lo 10.
— Apoiado em base, parede, pilar.
— Emproga-se também liguradamente :
lioina sustentada na juí^tiça.
SUSTENTADOR, A, s. Pessoa que sus-
tenta.
— Pessoa que defende, protege, e am-
para. Vid. Sustentante.
— Pessoa que alimenta», que nutre, que
I mantém. Vid. Sustentar.
SUST
SDSTENT AMENTO, «. m. Cousa que
8ustc'-m, faz existir, i- coiLservar-se outra.
SUSTENTAÇÃO. \'i'!. Supportamenlo,
Manutenção, Entretenimento, e Suppri-
mento.
SUSTENTANTE, part. act. de Susten-
tar. C^ue HiLitunta, que alimenta.
— Que defende, que protege.
— Sub.stantivamente : Pusitoa que sus-
tenta theses, ou conclusões magnas.
— Sustentar.
SUSTENTAR, ou SOSTENTAR, v. a.
(Do latim iasttittare). Su.-ter, supportar.
Vendo Phebo perdida ja a esperança,
E o fundamento vão que o ninlfiitana.
Vendo o golpe cruel com quo a fortuna.
Deu fim cruel, c amargo a seus amores
Coui lagrimas o rosto, e o peito banha
Lamenta, chora, c gcrac o caso acerbo.
Sobesse ao quarto Cf:o, mas numa [todra
Estes versos deixou primeiro escriptoa.
COBTE BRAL, NACFBAOIÚ DE SEPÚLVEDA, Cant. 17.
— «Sustentou o cerco de Coimbra con-
tra el Rei Eujuni que trazia trezentos mil
homens de guerra. Ganhou Leiria duas
vezes, Torres Novas, e outros muitos lu-
gares.» Fr. Bernardo de Brito, Elogios
dos reis de Portugal, continuados por
D. José Barbosa.
Nem tanto nesta pia obra se assenta
Que nella só consuma a noite c o dia.
Mas quando o Sol nas ondas se aposeuta
E a noite polas terras se estendia,
Arrimada a hum bordão, em que tuttenía
O seu pesado corpo, se sahia
Ella de casa então, a dar etfeito
Ao que lhe pede o forte, viril peito.
F. d'asdbaob, pbimeibo cbbco dk DIU, cant. 16,
est. 34.
— (E nesta tamanha disformidade era
muyto bem proporcionado em todos os
membros, salvo na cabeça, que era huin
pouco pequena para tamanho corpo, o
qual monstro sustentava em ambas as
mãos hum pilouro do mesmo ferro coado
de trinta e seis palmos em roJa.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 126.
Çc transparente talco fabricado
É o largo edifício, que siigtentau
Cem delgadas columnas de missanga.
A. DISIZ DA CBUZ, HVSSOPE, Cant. 1.
o corpo fermosissimo se cobre
De hum sondai claro azul, qu^catrellas bordão.
Na dextra mão sustenta huma grinalda.
Do pedraria Oriental composta,
E acena de cingir com ella a frente.
J. A. DK MACEDO, riAOEM EXTÁTICA, Cant. 3.
C\TO siistfiita na invencível dextra
O piofieuo alvião. Da antiga Roma,
Do antigo Mundo os árbitros invictos,
Curiós, Fabricios, Scipiòes, e Fabios,
Da frente augustii o loiro desataudo.
Da charrua o timão com elle eufcitào.
IDEM, MEDrTAçÃo, cant. 2.
SUST
SUST
SUST
645
EUe sustenta das ligeiras Aves
Oâ VÔ03 rapidÍ33Ímo3, com elle
As animadas maquinas se movem.
IDEM, A NATUREZA, Cant. 2.
Inunda, fertiliza o eampo extenso,
Sou leito lie largo, c fiiudo, c sobre a espádua
Do grào peso orgulhosa as Xáos sustenta,
E fatigado da carreira immensa
Do nunca cxliausto mar pousa no seio.
Té ciue do mar sahindo cm giro eterno
Venha rio outra vez, girar na terra.
IBIDEM.
— Sustentar a conservação dos bons ;
seguil-o.s, conserval-os.
— Conservar, manter. — «Foy seu in-
tento, que como aquella era a primeira
occasião, em que se avistava com o ini-
migo, importava-lhe muyto mostrarse va-
loroso, para que os bárbaros entendessem
que eram estimados em pouco, e os Por-
tuguezes sendo acometedores, pelejaram
com brio, e generoso valor para susten-
tarem a opinião, que tinhaõ em todo o
Oriente.» Conquista do Pegu, cap. 4.
— Sustentar a venda ; ilemorar a ex-
tracção para obter grande.5 preços, al-
çal-os, e encarecel-os nos mercados.
— Sustentar a verdade contra os ini-
migos d'ella.
— Sustentar o bando, o partido, as
partes, e a causa de alguém; defendel-o,
protegel-o.
— Termo de náutica. Diz-se também
da nau que supporta a fúria das ondas,
e o fogo nos combates navaes.
— • Defender.
Ah ! quem voz fez que os Ímpetos da guerra
Nào susteittassets com valor ousado,
Despresando o temor que a vida encerra ?
A vida por a Pátria e por o Estado
Pondo nossos avós, a nós deixarão,
Em terra e mar, exemplo sublimado.
CAM., ELEGIA 10.
Tinha o castello em guarda na cidade
Onde agora as irmaàs sabias estão.
Hum varão, forte, e leal de qualidade:
De iUustre sangue e antiga geração,
íso serabrante mostraua grauidade
No peito honrada e alta opinião,
Dom Martinho de Freitas se chamaua,
Que a parte do Eey Sancho sasteutaua.
COBTE BEAI,, KAOFKAGIO DE SEPÚLVEDA, Caut. 13.
— «E que fora disto, quantas mais
Fortalezas sustentássemos, tanto mais
fracos ficaríamos. Deste parecer foraõ
muitos Conselheiros d'El-Rey D. Manoel,
demaneira, que chegou a dizer o Gover-
nador Afonso de Albuquerque, que mais
merecia a ElRey, por lhe defender Goa
dos Portuguezes, que pela tomar duas
vezes aos ilourds.» Severim de Faria,
Noticias de Portugal, Disc. 1, cap. o.
— «E no d'ElRey D. Joaõ III, susten-
tou a índia, lazendo-lhe guerra no mes-
mo tempo três Emperadores, que foraõ
Carlos V. Emperador de Alemanha nas
Malucas, o Graõ Turco Emperador de
Constantinopla em Cambaia, e o Samo-
rim, qua também tem a suprema dignida-
de, ou Império dos Naii-es no Malavar, e
de todos elles alcançou gloriosas vitorias.»
Ibidem, Disc,- 2, %d.
Da Gothica invasão, naufrágio horrendo.
Os thesouros salvou, que o Jlundo eapantâo.
Que mais que as armas sastentárào Roma,
E no seio da Gloria iuda a sus teutão.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, CaUt. 4.
— Suster, resistir.
Sustentando, contendo o marte adverso...
— E a mim de tanto prigo e tanta glória
Xão me hade caber nada !
GABRETT, CATAO, act. 5, SC 6.
— Defender com razões.
Que não tem nisso razão.
Mal o podeis sustentar, pois
cego o vedes pintar,
menino, e arco na mão.
ANTOíiio PRESTES, Auros, pag. 423.
— «Como se dissera, não podia ser
mayor erro, que estando Adão condenado
à morto, então como quem de propósito
trataua da vida, chamar a sua molher
Eua : este mesmo erro sustentamos ainda
oje, que sendo tão certa e ordinária a
morte de cada hum, assi tratamos da vi-
da, como se não ouuera de ter fim, e a
este nosso erro acode a Igreja Sâta lera-
brandonos oje em estas palauras o que
somos, e auemos de ser.» Fr, Thomaz
da Veiga, Sermões, part. 1, pag. 3, ver-
so, col. 2. — «Se eu quizesse, ou me ati'e-
vesse a argumentar comvosco nesta, ou
em alguma outra matéria, seria agora a
occasião de sustentar o contraino do que
escrevi, ciiseudo-vos abertamente que
creyo nas propriedades da dita Vara.»
Cavalleiro d'01iveira, Cartas, liv. 3, n.°
38.
— Segurar, suster, supportar. — oFer-
não Peres foi o primeiro, que começou a
subir por huma escada, levando o seu
guião diante, que arvorou, e sustentou
no muro. Quasi ao mesmo tempo subiu
Pêro Botelho com o mesmo risco, e for-
tuna que o primeiro. Estes franquearão
aos mais a subida.» Jacintho Freire de
Andrade, Vida de D. João de Castro,
liv. 4.
— Suster, manter.
Sustenta meu viver huma esperança
Derivada de hum bem tão desejado.
Que quando nelia estou mais confiado,
Mór dúvida me põe qualquer mudança.
CAM., SONETOS, n.° 270.
— «Porem se de tractardes-me assim,
sois satisfeita, não tenho de que me aggra-
var, que em fim o que quereis isso que-
ro, e do mal que me fazeis vivo conten-
te, cuidando que o sereis vós, que na con-
fiança disto me sustento, e pode ser que
nào acerto.» Francisco de Moraes, Pal-
meirim d'Inglaterra, cap. 120.
— Sustentar o seu caracter, a sua di-
gnidade; defender, não se desmentir,
portar-se em harmonia com elles.
— Sustentar o campo, a batalha; não
recuar, resistir ao inimigo, defender-se
d'elle,
— Segurar o quo vai a cair, segurar a
cousa que está encostada.
— Alimentar, manter, dar o necessá-
rio para viver, prover de viveres. — «Ha
também certos bairros em que se agasa-
Ihaõ homens pobres e de bom viver, que
a cidade também sustenta á custa dos
procuradores que sustentãu demandas in-
justas em que as partes nào tem justiça,
e de julgadores que por aceitação de pes-
soas, ou por peitas não correm cos feytos
conforme a justiça, de manej-ra que em
tudo se governa esta gente com nmita
ordem.» Fei-não Mendes Pinto, Peregri-
nações, cap. 112. — «A que o Mitaquer
respondeo em uos.ío favor o que algumas
vezes lhe tínhamos dito, que éramos ca-
sados na nossa terra, e com muytos filhi-
nhos, e tão pobres que nào tínhamos mais
que o que lhe grangeavamos por nossa
industria e trabalho com que pobremente
os sustentávamos.» Ibidem, cap. 125. —
oSustentando-se delia, naõ só o que a
cria, mas os que a cardaõ, fiaõ, urdem,
tecem, tingem, cortaõ, cozem, e a for-
mão em mil matérias, e a levaõ de hum
lugar a outro.» Severim de Faria, Noti-
cias de Portugal, Disc. 1, cap. 4. — «E
quando os acontiàdos, ou por velhice, ou
por impedimento algum, naõ podiao hir
à guerra, eraõ obrigados a dar armas aos
que em seu lugar hiaõ, e para que os
acontiàdos em cavallos os sustentassem
com menos despeza, mandou ElRey D.
F'ernando applicar o dizimo do seu quinto,
e hum dia de soldo, dos que com licença
se ausentavaõ do campo.» Ibidem, Disc. 2,
cap. 11. — «Podem casar quantas vezes,
e com quantas molheres quiserem, e tanto
que tem qualquer desgosto, ou enfada-
mento cõ ella, logo que lhe dão Talaca,
que he o mesmo que licença pêra hir em-
bora, e logo tomào outra; Sò o primeiro
filho sustentão, e tem por seu, os mais
dão a criar, a quem lhes parece que os
poderá sustentar.» Fr. Gaspar de S. Ber-
nardino, Itinerário da índia, cap. 9.
Em nossa habitação, nosso dominio,
Que formosura antiga, o sempre nova!
Que multidão sem numero de seres,
Qu'cm três Reinos divide a Natureza,
Ko seio maternal sustenta, e guarda.
J. A. DE MACEDO, A N.ITUEEZA, CaUt. 2.
— Sustentar alguém em alguma espe-
rança; couserval-o, entretel-o u'ella.
646
SUST
SUST
SUST
— Sustentar theses, conclusTtes magnas ;
dofcndol-arf coiu razões o aifíunientos.
— Tcniio de jurispruílciiciu. Sustentar
os embargos; il;ir razòcu porque ollus so
hão do roccibor.
— Sustentar o cerco; dofcudor-so con-
tra os ccrcadoros.
— Sustentar uma amiga; niantel-a.
— Sustentar-se, «>. rejl. Alimentar-se,
viver; uianter-so. — «lia taiiibcni oiitias
casas como uiosteyros, em ([uo se sus-
tentão uiuyta soma de moças órfãs, as
quais a ciilado provce, e casa á custa
das fazendas que perdem aquollas que
seus maridos accusaraõ por adultérios, e
dão a isto por razão, que Já que aqueila
se quiz perder por sua dealionestidade, que
se empare co seu liuma oriatn, ])ois he
virtuosa, porque assi se castiguem humas,
e se euiparem outras.» Fernão Mendes
Pinto, Peregrinações, eap. 112.
— «Mantor-se, couservar-se. — «V. M.
pôde diser o que quiser, e entender o que
ílie parecer, porem se o Amor não tem
mais alimentos que o dos favores como
V. M. julga para sustentar-se, também
creyo que não tem outro alicerce quo o
da diíTiculdade jiara sostcr-so.» CavuUei-
ro d'Ulivelra, Cartas, liv. 2, u." 22.
Tal o Supremo Ser, aó do ai moaino
Se nutre, se .itistenta independente,
No Throiio eterno triumphanto sempre,
Do tempo afronta a sanha, c quebra a fouoc.
J. A. IlE MACF.DO, A NATUllKZA, OaUt. 1.
É mais bella, mais pui-a e digna do homom
A do carvalho civico. Vai, Juba :
Salva erfseâ cidadãos. Eu também tenho
Amor á minha glória, e aqui estou. —Quanto
Pude iuda Bruto snstentar-se ?
QABBEXT, CATÃO, ftOt. 5, 8C. G.
— Ter-se, resistir. — Sustentar-se con-
tra o Ímpeto (las ondas.
— Syn. : Sustentar, nutrir. Vid. este
ultimo termo.
— Syn. : Sustentar, defender. Vid. es-
te ultimo vtKabulo.
SUSTENTÁVEL, adj. 2 gen. Que 6 po.s-
sivel sustentar-se, defender-se, ou seguir-
se, fallando de uma opinião, doutrina,
etc.
SUSTENTO, s. »i. Alimento, mantimen-
to.— «Oh amante dulcíssimo de minha
alma, que para sinal de que naõ taltareis
á vossa palavra, naõ só me dais a niaõ, se-
não a vós todo ! Oh sustento divino, com
quo fortalecida minha fé, e espei-ança,
podem andar até o monte de Deos, ([ue
ke vossa gloria ! » Padre Manoel Bernar-
des, Exercícios espirituaes, pag. 333.
Hum sopro forma a vida, hum 80j)ro a finda
A boca, igual prodígio ! orgào primeiro,
Onde recebe a uiáquina o sustento.
Onde se forma a voz,(pie exalta o homom,
Cauul pasmoao dos conceitos d'alma !
J. A. DU MACKDO, MEDITAÇÃO, Caut. 1.
Do acaso produc<;ão, do acaso cffoito :
Kis nova maravilha, eis novo arcano
Neata estancia mortal de.^cubro, c vejo :
He flua formo.íura, hc seu «uftfjito
Trincipio avivador nos cutcd todoa.
iuii>i:ii, OAUt. '2.
Ella o muttnto Ihet procura, o prompta
A' cilada Oè esquiva, ao damuo, á morto:
Da prole o doce amor sustenta, c nutre;
Ella lhes firma as leis, c o pacto escreve
De hum divorcio eternal entro contrários.
Na IloUanda aunuviada o Sábio occulto
Oa considero autúiiiatoa inertes :
Errou noa turbilhões, errou nos brutos.
luiDKu, caut. 3.
— Figuradamente : Amparo, arrimo,
encosto, abrigo.
— Manutenção, conservação.
— Cousa que sustém outra.
SUSTENTOR, s. m. Vid. Sustentador.
SUSTER, V. a. Vid. Soster. — t Pal-
meirim se contentara de casar comvosco,
e eu sei delle que esta esperança o sus-
tém, e que se lha alguém negasse, mor-
reria: favoreeei-o e olhai-o; sinta em vós
algum agradecimento do que vos mere-
ce, que isso o trará tão contento que o
fará tornar mais prestes, ■ que vós que-
reis.» Francisco de Moraes, Palmeirim de
Inglaterra, cap. 9õ. — «Peço jior mercê
que a troco deste serviço me queiraes
dizer qual é a razão, que vos move a sus-
ter este custume. Senhor, respondeu Ar-
nalta, porque qualquer detença pôde fa-
zer damno a essas feridas, vos peço vos
recolhais ao castello, que depois de ser-
des curados delias, e também os meus
das suas, vos responderei.» Ibidem, cap.
102. — «Ao outro dia, depois do embai-
xador partido, acabando o imperador de
comer na sala, acompanhado d'alguns
grandes, entrou pola porta um homem
velho, tão arrugacio e fraco da muita ida-
de, que parecia que quasi se não podia
suster nos pés. Como tivesse a pessoa
grande e authorisada, juntamente co'a
alvura da cabeça e barba, fazia nelle
credito pêra se não duvidar cousa que
dissesse.» Ibidem, cap. 113. — «Levarei
saudade do meus malles, que me traziam
contente, e com a lembrança de os per-
der sentirei muito mais mal ; porem se
na outra vida ha memoria do que nesta
iica, u'essa me sustentarei té que a veja ;
que nenhum descanço perfeito me pode
ticar em quanto miulia alma na contem-
plação de sua essência se não estiver
sustendo.» Ibidem, cap. 115. — «Não
sem mistério se regava de contino, que
esta agua era de tanta excelência ou a
propriedade da terra o causava, que na
virtude delia se sustinha cada cousa sem
corromper. Tanto tiveram que ver os
cavalleiros em algumas destas cousas,
que se fez hora de comer, no qual se de-
tiveram pouco, que quizeram tornal-as a
ver mais de vagar.» Ibidem, cap. 120.
— «E eu acerca das mercês fui tão re-
gistado, que em quatro annos poderia dar
por mandado de V. A. trinta e dous mil
cruzados, (como se verá pelo livro do
Secretario,) e do meu caixão fiz mercê
de mais de quatro mil e quinhentos cru-
zados, por suster homens que muito maia
mereciam.» Diogo de Couto, Década 4,
liv. G, cap. 8.
Logo naquella noite, aquclla parte
Da Tftlla que á munhàa he muiii visinha,
('oube ílqueLlcs que seguem o estandarte
Do Souaa que por nome Ixipo tiulia ;
Ertte forte varào, no baluarte
Que os assaltos cruei.-; então ruglinha
Foi vigiar, no tempo que atraz digo,
E grãa parte dos seus leva eomsigo.
FBANXISCO u'ANriBADE, PtíHUlliO CEBCO DB DIU,
caut. 17, est. 33.
— «O marido dessa excellonte criada
corria diante da nossa carruagem. De-
préval sustinha só a oonversaçiio, por-
quanto o que sua mulher e mais eu po-
diamos fazer, era olharmo-nos, encobrir
as lágrimas, e fazer votos porque nos
consentissem os succéssos tomarmos a
viver unidos. Por fim me embarquei com
o marido de Agostinlia.» Francisco Ma-
noel de Na.<cimento, Successos de mada-
me de Seneterre.
Descubro Prometheo. c o yelho Atlante,
Que a Poesia co'oâ pincéis Divinos
Xaa expressivas fabulas nos pinta.
Hum com fogo doa Ceoa dá vida ao barro.
Outro o pczo sustém do excelso Olimpo.
J. A. DE UACEDO, TIAOEM IIXTATICA, Caut. 2.
E tal Libertador Deos lhe prepara.
Que he quasi hum Deos noa Divinaes portentos ;
Sustem nas mãos prodigiosa vara.
Com que domiua os mesmos clementoa ;
Com ella o raio estrepitoso pira,
Solta com cila oa sibilantes ventos ;
Com ella o Sol aponta, o Sol reverte,
Sc o Nilo toca em aauguc se converte.
iDEu, o OBieHTB, cant. 9, est. 86.
Vejo 03 milagres do aaaombroso Atlante,
Que parece que oa Ceoa sustem na capádoa,
Descubro as fundas, hórridas cavennis.
Que o coração da Lybia era torno abrasão.
iDKM, MEDITAÇÃO, cant. 2.
EUo d'hura CAoa tal arranca os Mundos,
Novo Atlauto dos Ceoa sustem seu pedO,
E oa faz hum doutro ser o apoio, a regra.
IDEM, A NATCBEZA, Cailt. 1.
— «Quando, portanto, Mossem Natha-
nael viu entrar os dous farçolas mestei-
raes, e o alnminheiro, custou-lho a sus-
ter uma lagrvma de terna conpuncçSo,
e n'um arrebatamento de euthusiasmo
espichou uma pipa ainda atestada, en-
cheu um cangirào de canada e meia e
pô-lo, rodeiado de três malgas novas de
barro vermelho, diante dos freguezes re-
cemviudos, assentados já a este tempo
susu
SUXA
SY
647
n'um poial de pedra que corria ao redor
do aposento.» A. Herculano, Monge de
Cister, cap. 18.
SUSTINENGIA, s. /. Sustenção, acção
de sustentar.
SUSTINENTE, s. m. Empregam alguns
escriptores esta palavra na siguificaçào
de perna, em virtude de serem a3 per-
nas as que supportam e servem de apoio
e supporte ao corpo hiamano.
SUSTITUIR, V. a. Vid. Substituir, or-
thograpliia mais correcta.
SUSTITUTO, s. m. Vid. Substituto,
orthographia preferível.
SUSTO, s. 7)1. Medo de perigo impre-
visto e de sobresalto.
O sutto deixa pois, que brevemente
Tu mo verás tornai- sem frio, ou febre,
A gozar de teus mimos, teus favores.
A. D. DA CHUZ, HYSSOPE, CaUt. 6.
Oh funebre ânsia !
Que a mim, que a todo instante, dos Ccos desces,
E que a alma, inda hoje, embebes-me de siistos!
Disso .Eud<5ro, e ficou, c'os cílhos fitos.
F. M. DO NASCIMEXTO, 03 MABTYBES, 1ÍV. 4.
— i Não experimentei aquelle susto
que erriça os cabellos, e gela o sangue
nas veia.?, quando os deuses se commu-
nicam aos mortaes : levantei-me senhor
de mim; e ajoelhando, com as mãos er-
guidas ao ceo, adorei Minerva, a cujo
favor intendi dever este oráculo.» Tele-
maco, traducção de Manoel de Sousa, e
Francisco Manoel do Nascimento, liv. 2.
Do centro escuro da pesada Terra
Eu deixo a escuridão, fique esoondida
Eternamente alli triste Avareza
Do thesouro, de susto acompanhada.
J. A. DB MACEDO, A KATUREZX, Cant. 2.
— «O conde de Tarouca João Gomes
da Silva foi da casa de Alegretes, a qual
presume ser puritana; ainda que o ge-
nealógico Josó Freire dizem se arriscara
intentando provar que não existia famí-
lia puritar.a, e de puro susto emniude-
ceu.» Bispo do Grão Pará, Memorias,
publicadas por Camillo Castello Branco,
pag. 66.
SUSUESTE, s. VI. Vento de sul para
sueste.
SUSURRADO, part. iJass. de Susurrar.
— Noticia susurrada.
SUSURRADOR, A, adj. Que susurra,
que faz susurro, que zune.
SUSURRANTE, part. act. de Susurrar.
Que produz susurro, e zunido.
SUSURRAR, V. n. (Do latim snsurra
re). Causar susurro, fazer zunido, zunir
A branda viraçJo, que entre arvoredos
Co' a love pluma snsurrando brinca,
O fulgurante Sol que nalta cima
Dos Ceos, ardendo, anima este Universo,
Me clamão, que no fogo ethereo, o puro
Brilha do Sol, que sobre os roucos ventos.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Caut. 4.
— V. a. Mexericar, levantar mexeri-
cos para produzir inimizades.
SUSURRO, s. m. (Do latim sitsurrus).
Zumbido, fallando do som que fazem as
abelhas.
— O susurro dos ventos, das folhas
das arvores. Vid. Ciciar, termo mais
próprio.
— Ruido leve de uma pessoa que falia
em voz baixa, em segredo.
SUTIL, adj. 2 geri. Vid. Subtil, ortho-
graphia mais correcta.
De cristal transparente loua a espada,
D'esmaltados lauores guarnecida,
Luuas de suauc cheiro, e a camisa
Das obras mais sutis de Lusitânia.
Soberbo de alcançar por tal tormento
Tào alto gualardào, e que a ventura
Não tem mais que lhe dar, pois lhe da todo
Quanto preço, e valor no mundo auia.
CORTE BEAL, NAOFBAGIO DE SEPCLVEDA, Cant. 4.
SUTREFUGIO, s. m. Vid. Subterfú-
gio.
SUTURA, s. /. (Do latim sutura, de
suere). Termo de cirurgia. (Jperaçào que
consiste em cozer as extremidades de
uma chaga para obter a sua ligação e
união. — Sutura de pontos separados.
— Termo de botânica. Nome dado ás
linhas geralmente pouco salientes que in-
dicam 03 pontos onde as rupturas devem
ter logar.
— Termo de anatomia. Juntura de
dous ossos do craneo, ou da face, reuni-
dos por dentilhões.
— Sutura fronto-parietal ; sutura do
frontal com os dous parietaes.
— Sutura frontal; aquella que une
conjunctamente as duas peças ósseas de
que o frontal .se compõe na origem.
— (ienero de conchas bivalves.
f SUTURADO, part. pass. de Sutu-
rar. Que oflerece uma sutura, que tem
uma sutura saliente.
SUTURAL, adj. 2 gen. Que diz res-
peito ás suturas.
— Termo de botânica. Dehiscencia su-
turai de um pericarpo; aquella que se
faz por uma sutura marginal.
f SUTURAR, V. a. Termo de cirurgia.
Praticar uma sutura. — Suturar uma fe-
rida.
SyU. Significa o mesmo que Siiu, Sum.
SUU, adv. Termo antiquado. De siiu;
juntamente. Diz-se do mesmo para a lo-
cução em siiu.
— De SUU equivale a en sembra, que
quer dizer juntamente com outro, ou ou-
tros. Vid. Sum.
SUXAR, V. a. Largar, soltar afrou-
xando.
— Tormo antiquado. Dispensar, abran-
dar, remittir.
SUXO, A, adj. Solto, alargado, desen-
tesado.
— Termo antiquado. Dispensado, re-
mittido, abrandado.
— Cinta suxa ; cinta que não é aper-
tada ao corpo.
— Curda suxa ; corda bamba.
SUZ. Vid. Sus.
1.) SY. Variação do pronome da ter-
ceira pessoa que se emprega com as pre-
posições. Vid. Si. — «Se as aqui freta-
rem pêra Lixboa os vizinhos da Villa
pêra aver de peso, que sejam fretadas
per quatro homens boõs da Cidade, os
quaees homens boõs sejam daquelles, que
pêra Frandes carregarem em as Naaos e
Navios, e enlegerem antre sy.» Ord. Af-
fons., liv. 4, tit. 5, § 3. — «E teem por
bem, que aquelles homens boõs, que en-
legerem antre sy, jurem aos Santos Avan-
gelhos, que bem, e direitamente fretem
as Naaos per aquella guisa, que elles en-
tenderem, e virem que he bem, e pro-
veito da Cidade, e bem dos Mercadores,
e razom também convinhavel pêra os
Mercadores, como pêra os Navios e Naaos,
e cada huma Naao ou Navio, como se
avierem com os Mercadores.» Ibidem,
§ 4. — «E os ditos Tetores, e Curado-
res, e Executores, etc. nom ajam, nem
os possam aver ja mais per sy, nem per
outrem os ditos beens; e avendo-os per
alguma guisa qualquer que seja, percam
o preço, que por elles derem, e seja pêra
nos.» Ibidem, tit. 41, § 1. — «António
de Faria mandou CÍiristovão Borralho
em companhia dos dous a visitar o Quiay
Panjão, e lhe escreveo huma carta de
muytos comprimentos, e lhe fez grandes
oftVu-ecimentos de sua amizade, de que o
cossayro Panjão se mostrou tão cõtentc
e ufar.o, que não cabia em sy de vaida-
de.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. Õ6. — «Então nos fez aly tra-
zer de comer perãte sy, e nos mãdou
que comêssemos, o que nós fizemos de
muyto boa vutade, e elle, por ser doente
e enfastiado mostrou que folgava de nos
ver comer.» Ibidem, cap. 8.3. — • «E man-
dandonos chegar para junto de sy, nos
preguntou muytas cousas, a que respon-
demos como era razão, o que ella, e to-
das as mais que estavão presentes folga-
rão muyto de ouvir.» Ibidem, cap. 128.
— «Nos quais levou setenta mil homens,
com determinação de yr em pessoa espiar
o reyno do Avaa, e dar de sy huma mos-
tra á cidade, para ver cos olhos as forças
delia, e que poder averia myster para a
tomar, e a cabo de vinte e oito dias des-
te caminho.» Ibidem, cap. Iõ7. — «Por-
que lhes aíBrmava quo só no castigo da
carne estava o merecimento do ceo muy-
to mais que em outra cousa nenhuma, o
que quanto mais sem piedade se matas-
sem por sy, tanto mais largamente lhe
avia Deos de dar todos os bens que sem-
pre lhe pedissem.» Ibidem, cap. 161.
Ô48
SYCO
SYLL
SYLL
2.) SY, por Sim. — « O Cl aspar de
Meirelez lhe preguntou ciitao, hc des-
pois que Deos criara todas aquellas cou-
saa do (jue tinha tratado, obrara mais
na terra algumas obras de justiça ou de
misericórdia, o ollo disso que sy, porque
claro estava que nntica no homem dei-
xara de avor culpas para eo castigarem,
nem em Deos faltara vontade para llius
perdoar.» Ibidem, cap. ]63.
— Outro sy ; por outro sim. — «Por
as grandes dcferonças, que oa dos nossos
Regno^, asai Clérigos, como Leigos fezo-
roín, e fazem antro as moedas dos nossos
Antecessores, e outro sy antre aa nossas,
forom, e som causa de se moverem, co-
mo se cm cada iuim dia movem, antre
elles muitas demandiía, o contendas.»
Ord. Affons., liv, 4, tit. 1, § l. — «Ou-
tro sy possam comprar per sy, ou per
seus homens, e mancebos, que com elles
viverem, avor de peso pêra carregar, e
levar per outras partes fora da terra : e
estas vendas, o compras possam fazer em
Tavira, o em Faarom, e em Silvos.» Ibi-
dem, tit. 4, § 15. — «Outro sy dizemos,
que se pode fazer a venda, aiuda que
nom estevesse a cousa comprada diante
do comprador, e vendedor, consentindo
ambos na vemla, como dito he.» Ibidem,
tit. o5, § 1. — «Fero se o vendessem a
seu filho, e este seu tilho o vender fora
da avoenga, seu Irmaaõ, ou sa Irmaam,
se os ouver, podem-no demandar, e aver
de tanto por tanto. Outro sy os netos,
ou bisuetos dos suso ditos o podem de-
mandar, e aver de tanto por tanto.» Ibi-
dem, tit. 38, § 3. — «Outro sy nom po-
do nenhum demandar herdamento, que
foi dado a foro, de tanto por tanto, e po-
derá aver tercerdia de prazo, e mostrar
sobro a demanda de tanto por tanto.»
Ibidem, § 7.
SYBARITA, s. e aJj. 2 gen. Habitan-
te de Sybaris. — D'este numero era tímia-
dijoides, o mais rico e o 7nais voluptuoso
dos sybaritas.
— Figuradamente : Pessoa que leva
uma vida niolle, e voluptuosa, e cheia de
prazeres.
f SYBARITICO, A, adj. Que pertence
aos svbaritas, qm^ lhes diz respeito.
I SYBARITISMO, s. m. Requinte vo-
luptuoso.
SYBILLA, s. f. Vid. Sibilla.
f SYCEPHALÍANO, A, <i'lj. Termo de te-
ratologia. Uroiisfrus sycephalianos; mons-
tros onde ha fusão de duas cabeças.
SYCOMORO, s. »). Arvore grande, nnii
ramosa, dura, e forte, que se assemelha
il figueira pelo seu fructo, e A amoreira
pelas suas folhas; figueira douda.
-}• SYCONE, y. w. Termo de botânica.
O onero de fructo composto, contendo um
grande numero de drnpasinhas, prove-
nientes de tlòvos femininas.
SYCOPHAGO, A, adj. (Do grego ai/kon,
e phagô). Que vivo de figos.
SYCOPHANTA, «. m. (Do grego ti/co-
phantèx). (Jalumniador, impostor, falso
accusador.
— Termo pouco cm uso. Malsim, dela-
tor do culpas leves em si, a que a lei iid-
qua pòe grande pena.
— Figurailamentc : O iiypocrita estra-
nhador de faltas leves.
— tS. /. Uma das maiores espécies do
carochas.
SYCOSE, «. /. (Do grego sykôsis). Ter-
mo de medicina. Doença dos folliculos
pilosos caracterisada pela erupç3o sucees-
siva de pustulasinhas acuminadas, simi-
Ihantes ás da cuperose, espalhadas ou dis-
postas em grupo pela barba, lábio supe-
rior, regiões sub-maxillares, e as partes
lateraes da face.
-j- SYENITA, s. /. Espécie de rocha
granítica.
f SYENITICO, A, adj. Que contém a
syenita. ,
' SYHA, ou SSYHA. Termo antiquado.
Terceira pessoa do singular do pretérito
imperfeito do modo indicativo do verbo
seer; toma-so por eslava. Vid. Sia.
SYLLA. Vid. Scilla.
SYLLABA, s. /. (Do grego syllabê).
Som produzido por uma só emissão de
voz, e que se compõe, jil de uma vogal
só, já de vogaes e consoantes.
Item, que As do meu baivro Xymplias bcllas
Farás versos; poriin com tacs caiitellas,
Que de todo haõ do oucher auaa medidas,
E aa Hyllabas tcraõ bem allbridas.
ABBADE DE JAZEMTE, POESIAS, tOm. 2, pOg. 33.
— Syllaba longa; aquella cm que a
voz se prolonga.
— Syllaba breve ; aquella em que a voz
passa rapicla.
— Syllaba pura; aquella que contém
só uma vogal.
— Syllaba composta ; aquella que con-
tém um diphthongo.
SYLLABADA, .«./. Termo popular. Erro
no acci-nto, ou quantidade da syllaba. —
Dar uma syllabada.
SYLLABAR, v. n. Juntar as letras por
syllabas.
— Soletrar.
SYLLABARIO, A, adj. — Menino sylla-
bario ; menino que sabe syllabar.
— iS. M. Livrinho por onde os meni-
nos aprendem a lêr.
— Parte d'este livro em que as letras
se reúnem, e firmam svllabas.
f SYLLABICAMENTE,' adv. (De sylla-
bico, com o suflixo «mente»). Por sylla-
bas, de mna maneira svllabica.
SYLLABICO, A, adj.\Do latim sylla-
èicusl. Q.ue diz respeito ás syllabas.
— Valor syllabico ; proporção da du-
raçilo de uma syllaba á d'outra syllaba.
— Escriptunt syllabica; escriplura em
que cada syllaba é representada por um
só caracter.
— iJipIdhrnigo syllabíco ; aquelle quo
faz ouvir cm uma só syllaba as duas vozea
consecutivas que formam o «lip.ithongo.
— Vertos syllaiiicoE; diz-se cm oppo-
sição aos VI rsos vielricog, grego» ou lati-
nos, cm que aa syllabas tinham o valor
de um tempo, ou de duus teui(>os.
— Termo de umsica. Canto syllabico ,'
canto om que cada nota corre«poude a
uma syllaba.
f SYLLABISMO, *. m. Systema de es-
crijitui.i (MM que se representa por um
único si^nal a syllaba.
SYLLEPSE, s.'f. (Do grego »yllepti$).
Termo de grammatica. Figura pela qual
se faz concordar uma palavra com aquel-
la a que correspoudo no pensamento, e
nSto com aquella a (jue corresponde na
plirase. A syllepse, rara na prosa, ó fre-
quente ua poesia. Ha três espécies de syl-
lepse, a saber: syllepse de numero, do
género, e da pessoa.
— Syllepse de numero; aquella em quo
as palavras estcão na relaçSo de numero.
— Syllepse do género; aquella em que
as palavras correspondentes não slo do
mesmo género,
— Syllepse da pessoa; aquella em que
as palavras correspondeatea nào estão na
mesma pessoa.
— Termo de oratória. Figtira pela qual j
uma mesma palavra é tomada em dous I
sentidos diversos na mesma phrase. ■
t SYLLEPTICO, A, adj. Termo de
grammatica. Que diz respeito á syllepse.
— tíentido sylleptico. — Emprego sylle-
ptico.
SYLLOGISAR, ou SYLLOGIZAR, v. a.
(Do grego syllogizomai). Raciocinar por
syllogismo.
— Arguniertar.
SYLLOGISMO, s. m. (Do grego syllo-
gismos). Termo de lógica. Argumento
composto de três proposições, a maior, a
menor, e a consequência deduzida neces-
sariamente das outras duas. O syllogismo
é a firma real da demonstração lógica.
Seu fim é desenvolver uma proposiçào
duvidosa ou controversa de uma proposi-
ção mais geral tida por certa ; exemjdo :
Um assassino merece a morte; ora MilSo
é um assassino, logo Milào merece a mor-
te. A maior e a menor chamam-se premis-
sas. — ■ Fi/rmular as regras do syllogis-
mo. — Fazer um syllogismo. — (.'o»w«-
i^uencia do syllogismo. — «A consequên-
cia he legitima : c o syllogismo está i>a
figura Darij. Dos í^criptercs Politics,
mostraõ. que as Scieneias nobilitaõ, Aris-
tóteles, 10. Aulo Gellio, 11. Cornei io Tá-
cito, 12. Plinios, e Cassiodoro, 13. qne A
em huma das suas epistolas dis assim : ^
Doctrina facile exurnat, generosumque
et iam e.r ignóbil i nobihm facit.* Braz
Luiz dWbreu. Portugal medico, pag. 249.
SYLLOGISTICAR, v. a. Termo de lógi-
ca. Aigiuiit iitar i!e um modo syllogistico.
SYliiOGISTICO, A, adj. Que pertence
SYIIB
SYMB
SYIMB
649
ao syllogismo. — A tkeoria syilogistica.
— A forma syilogistica.
— Cadeia syilogistica ; diz-se algumas
vezes do sorites.
SYLPHO, ou SYLPHIDE, s. /. Nome
dado ao5 pretendidos génios elementares
do ar.
SYLVA, s. f. Vid. Silva.
SYLVANO, s. e adj. Vid. Silvano.
SYLVESTRE, adj. 2 gen. Vid. Silves-
tre.
E quando seja amor, será forçado ;
E se forçado fôr, serA teu dano.
Hum parecer nào queiras mais que humano
Em hum sylvestre adorno ver tornado.
CAM., SONETOS.
SYMBOLICAMENTE, adv. (De symboli"
CO, com o suffiso «mente»). De um modo
symbolico: por symbolos.
' SYMBOLICO, À, adj. (Do latim symbo-
licus). Que tem o caracter de symbolo.
— Que serve de symbolo. — Lingua-
gem synjbolica. — • As ceremonias symbo-
licas.
— Diz-se de uma espécie de escri-
ptura hieroglyphica.
— Termo do architectura. Columna
symbolica ; columna que por attributos
designa uma nação, ou qualquer acção
memorável.
— Livros symbolicos, ou authenticos ;
nome dado pelos lutheranos aos livros
que dizem respeito á confissão de fé, isto
é, á confissão de Augsbourg, aos artigos
de Smalcalde, e á pequena confissão de
Luthero,
— Geometria symbolica ; aquella que
estuda as equações das linhas e superfí-
cies, na sua máxima generalidade, sem
se preoccupar de saber se suas represen-
tações geométricas se acham serem reaes
ou imaginarias.
SYMBOLISâÇAO, ou SYMBOLIZAÇÃO,
s. f. Acção de symbolisar, de represen-
tar por s;N-mbolos.
• — ■ Similhança, sympathia, congruência
de uma cousa com outra, que é svmboli-
sada pelo symbolo.
SYMBOLÍSADO, part. pass. de Symbo-
lisar. Representado por symbolo, emble-
mado.
Destes accessos êxtases me arranca
A Fadiga outra vez. Conserva, ó filho,
Dentro d'alma gravado isto que observas,
E quando em voos rápidos desceres
A tão mesquinha habitação terrena,
Aos transportados homens o annuncía :
Vai declarar insólitos prodígios.
Na Mole sepulchral íymholisados.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 3.
SYMBOLISADOR, s. m. Inventor, insti-
tuidor de symbolos.
— ' Adjectivamente : Os symbolisadores
moralistas.
tot. V. — 82.
SYMBOLISAR, ou SYMBOLIZAR, v. a.
Representar por um symbolo.
— Imitar, representar, parecer.
— V. n. Ter reciproca conformidade,
frisar bem. — O sol symbolisa com o
ouro.
— Fallar por symbolos.
— Symbolisar wna cousa de outra; de-
clarar, explicar uma com outra que lhe
seja similhante.
'SYMBOLISMO, s. m. Termo de philo-
sophia. Estado do pensamento e da lín-
gua em que os dogmas são somente ex-
pressos por symbolos.
— O ser symbolo, ter relação de sym-
bolo.
— Symbolismo natural; o das religiões
do Oriente.
— Symbolismo nnthropomorphico ; o
das reliLiiòes mais esclarecidas da Gré-
cia, em que a arte e a personalidade hu-
mana tem um caracter fixo.
1.) SYMBOLO, s. m. (Do latim symbo-
luvi). Figura ou imagem que serve para
designar alguma cousa, quer por meio da
pintura ou da esculptura, quer por dis-"
curso. — O cão é o symbolo da Jidelida-
de. — O leão é o syTnbolo do valor. — O
cynismo forma um contraste revoltante
com os cabellos brancos, symbolo da sa-
bedoria e da pureza.
O cavallo mal pensado
pela m;i vida que passa,
julgarão a do creado
symbolo .
ANTOXIO PBESTES, AUTOS, pSg. 231.
Cada Tribu a seu symbolo, se aduna.
Abelhas tem, por symbolo, a mais nobre,
Ou três choupas de lança. Pharamundo
Eége (idoso) a Sicambra, ao Neto dando
Algum terço a reger.
P. M. DO NASCIMENTO, OS JIABTTRES, 1ÍV. 6.
Não tem na base fulgida esculpidos
Outros symbolos mais da gloria sua.
Que nào seja o seu nome, ellc só basta ;
Diz mais que a Historia, e mais que a Poesia.
De longe erguendo o braço, o Busto mostrào
Yalisneri, Ai-istotcles, e Plinio.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 2.
De huma matéria original extractos,
Dous pedestaes estão, que no encendrado
Ouro conservào symbolos diversos ;
Servem de base a lúcidas columnas.
IBIDEM, cant. 3.
Não folhagens de Acantho, e de Cypreste
Alli poz Escidtura ; cm vez de enfeite.
Em vez de tristes symbolos da Morte,
Só gravou ilathematico Instrumento,
Com que medir dos Ccos a immensa estrada
Usa Idéa Astronómica sublime.
Pelas ^Margens do Indo, c immenso Ganges
Meditadores Bràmencs deviso.
Que em sombra muito espessa a luz involvem,
E a verdade com Symbolos ensiuão.
Confúcio o grão Filosofo descubro,
Que da luz natural levado apenas.
Achara o Summo Bem sõ na virtude.
Nunca hc feliz o criminoso, nunca !
IBIDEM, cant. 2.
O fulgurante Sol ! Figura, emblema
De esplendor immortal ! E's dello a copia ;
Vate inspirado cm ti seu throno observa ;
Symbolo és ^^vo da bondade eterna !
Com chamma ardente, e pura, o Mundo aclaras,
O cáhos foge, se lhe a face amostras ;
Os entes todos teu fulgor aviva,
E purifica os Elementos todos.
IDEM, MEDITAÇÃO, Cant. 2.
— Entre os gregos, dava-se este nome
ás palavras, aos signaes pelos quaes os
iniciados nos mysterios de Ceres, de Cy-
beles, de Mithra, se reconheciam.
— Particularmente: Signal, indicio, fi-
gura representada nas medalhas, e serve
para designar, quer homens, quer di-
vindades, quer paizes, províncias, cida-
des. — Coimbra tem por symbolo uvi bra-
zão. — Os symbolos da cidade de Lis-
boa.
— Termo de lithurgia catholica. Sym-
bolos sagrados; os signaes exteriores dos
sacramentos. — Jesus Christo deu-nos seu
corpo e seu, sangue na Eucharistia, sob o
symbolo do pão e do vinho.
— Formulário que contém os princi-
paes artigos da fé. — O symbolo dos ar-
tigos, — O symbolo de Nicua.
— Symbolo dos apóstolos ; aquelle que
foi estabelecido pelos apóstolos, e que co-
meça por estes termos: Creio em Deus
Padre, Todo-Poderoso, Creado^' do cêo e
da terra, etc.
— Symbolo ckimico; nome dado pelos
chimicos ás lettras iniciaes pelas quaes,
para abreviar, designam os corpos ele-
mentares. — O e S são os symbolos do
oxygeneo e do enxofre.
— Syíí. : Symbolo, emblema, divisa,
empreza, tenção.
Symbolo é uma figura ou imagem sen-
sível, que, pela representação, nos dá a
conhecer outra cousa. O symbolo, por isso
que é uma espécie de signal, deve ter al-
guma relação natural, ou convencional,
com o objecto representado. — ■ O trian-
gulo é o symbolo convencional da Trin-
dade. Na mythologia havia grande nume-
ro de symbolos, taes eram o thyrso, o
tridente, o raio, o caduceo, etc, que re-
presentavam Baccho, Neptuno, Júpiter,
Mercixrio, e seus diversos poderes segundo
a fabula.
Emblema é uma figura symbolica, que
allude a alguma moralidade, ou jjensa-
mento, que ordinariamente se declara por
alguma letra, mote, ou rotulo á figura.
O emblema é uma allegoria pintada ou es-
culpida, que falia aos olhos e á imagina-
ção.— Uma figura esbelta com azas, e
tendo na bocca uma trombeta, é o emble-
ma da fama.
Divisa é propriamente uma figiu-a sym-
650
SYME
SYJIP
SYilP
bolica quo alf^uom usa para diatiiiccuir-so
(los outros, at-oiupanhaila (l'alífuina lotra
ou mote, quo exprimo os projectos ou in-
tentos (lo (|uom a traz.
Eiiipir.za ora a divisa quo os cavalioi-
ros mandavam pintar ou pravar nos es-
cudos, quo indicava a quo iam emprelica-
dor, ou imaiíem relativa á nmpreza que
tomavam; dopeis foi também a pintura
ou osculptura synibolica de fayaidias illiís-
tros que as pessoas nobres trazem nos es-
cudos acompanhadas de alguma letra ou
moto.
Tenção ó a figura no escudo allusiva
ao pensamento ou desenlio do dono d'elie.
2.) SYMBOLO, A, aJj. — Partes sym-
bolas; os respectivos escotes.
SYMBOLOLOGIA, s. /. (Do grego si/m-
bolds, e /o(/<(.«). Termo de medicina. Parte
da modicina, que trata dos signaes ou
dos svmptomas das doenyas.
-[• SYMBOLOLOÍjICO, a, adj. Termo de
medicina. Que diz respeito á symbololo-
gia.
SIMETRIA, ou SYMMETRIA, s. /. (Do
grego sj/n>i't)-ia). Rf.lai;ão de grandeza e
de figura que as partes de um corpo tem
entre ai e com o todo.
— Tormo de botânica. Symetria Jlo-
ral; a disposiçilo relativa dos differentcs
verticiilos da fior.
— Plano de symetria; todo o plano
quo divido a flor cm duas metades syme-
tricas.
— Eixo de symetria ; a recta geomé-
trica segundo a qual os planos de syme-
tria múltiplos se cortam no centro da
flor.
— Termo de anatomia. A regularidade
de fórma que apresenta a maior parte dos
órgãos impares da economia animal, ór-
gãos, de que uma das metades lateraes se
assemelha quasi sempre exactamente a
outra metade.
— Simiiliança perfeita que apresentam
ontre si os orgiios pares situados um á di-
reita, outro á esquerda da linha media.
— Em zoologia, a symetria binaria
pertence aos vertebrados e aos articula-
dos; a symetrfa radiada aos echinodei'-
mcs.
— Toda a espécie do arranjo segundo
uma corta ordem, uma certa proporção.
— F(7S')s arranjados com symetria. — A
symetria de uma 2)iantação.
— Ordem, disposição, economia de uma
obra d'espirito. — A symetria de um dis-
curso.
— Symetria de estylo; correspondência
que tom entre si as palavras e os mem-
bros de uma phrase.
— Termo de geometria. Estado das fi-
guras <iuo são svnictricas.
SIMETRICAMENTE, adv. (Do syme-
trico, o o suffixo «mente»). Do um modo
symetrii'0.
— ("'om symetria.
SIMÉTRICO, A, adj. Que tem syme-
tria. — Disposição symetrica. — Phrate»
symetricas.
— Termo de inineraiogla. Diz-so de
uma variedade cuja fúrmu attinge um
certo limite que lhe d;l a sviiietria.
— Ternu) de zo.jlogia. Quo é susceptí-
vel de ser dividido cm doas lados eguaes
por um plano.
— Termo do anatomia. Parles syme-
tricas; |)artcs qiu! .sitiiada.s na linha me-
dia, sàu divididas por esta linha om duas
metades simillianlos, <m ([uc situadas iJos
dous lados d^^Mta linha, teiun uma simi-
Ihaiiça porloita.
— Tormo do geometria. Figuras syme-
tricas ; figuras cujos elementos são reci-
procamontc eguaes, mas invorsamonte
ilispostus, do maniMr.i que a subrtíposiçào
ó impossivel. — Ângulos sólidos symetri-
cos. — Polyedros symetricos.
— Termo do alirebra. Funcção sy-
metrica; funcção que se conserva a mes-
nui (piando se muda mutuamente ou umas
nas outras as letras quo cila contém.
— i'"allando das pessoas : Homem sy-
metrico; aquollo que faz tudo por com-
passo e ]ior medida.
SIMETRISADO, part. pass. de Syme-
trisar.
SYMETRISAR, ou SIMETRIZAR, v. a.
Tornar symetrico, dispor em symetria.
— V, n. Tornar symetrico cora outra
cousa.
SIMIO. Vid. Simio.
SIMODIO LISTRADO DA AMERICA,
s. m. Termo de historia natural. Espé-
cie de peixe agulha do Brazil do género
dos búzios.
\ SIMPATHETICO, A, adj. Sympathi-
co. = Desusado.
— Tormo de pharmacia antiga. Un-
guento sympathetico. — « Nas compozi-
çoes officinaes entra a Jlumia no pcNs
contra casum, na Athanasia Magna no
Unguento sympathetico, no emplastro
Apostolorum e no negro, no Ceroto pro-
herniosis, no Laudano opiado etc. A tin-
ctura, ou extracto da Múmia de Quorco-
tano he alexipharmaca rcsistre grande-
mente ;\ podridão; tem grande uzo nos
affoctos do peito, na asthma, na ptliisica
ete.» Braz Luiz d' Abreu, Portugal me-
dico, pag. 40, i? 141.
SIMPATHIA, s. /. (Do grego s;ptipa-
fkeia). llciação que existe entre dous ou
mais órgãos mais ou menoa afastados uns
dos outros, e quo faz com quo um d'eUos
participe das sensações descobertas, «ui
das acções executadas por outro. — Ha
sympathia entre as partes de um mesmo
órgão, e entre os órgãos diversos de um
mesmo apparelho.
— Termo de pathologia. Influencia
morbiila que um órgão lesado exerce so-
bro certos outros, que não são directa-
mente atacados.
— Inclinação instinctiva quo attrahc
duas pessoas uma para a outra.
— Tormo do philosophia. A faculdade
que temos de participar dai i)ena» e do»
prazeres do.s outros. — A sympathia «er-
ve lie contrapeso ao egolumo,
— Espécie de iiicliiiaçrio suppoAta pe-
los antigos entre oa differontc» corpo»;
tendência a unirem-se. — Ab sympathias
entre certos animaet. — O viercario une-
se ao ouro por sympathia.
— Relação, conveniência que oortas
cousas tem entre td. — Jía uma certa
sympathia natural entre certos sons e a*
einoçòf.s dl nossa alma.
— Vid. Amor.
1 SYMPATHICAMENTE, adv. (De sym-
pathico, com o sufRxo «mente»). De um
moio Hvmiiathico; com svmpathia.
SIMPATHICO, A,^ adj.' Termo de phi-
sioli));ia. Que depende de sympathia.
— Tormo do pathologia. Afiecçues sym-
pathicas d'um órgão; phenumenos mórbi-
dos <[ue sobrevem n'esse órgão sem que
algiuna causa morbifica actue directamen-
te sobre elle, mas pela reacção de um ór-
gão primitivamente lesado.
— Termo de anatomia. Nervo grande
sympathico ; conjuncto do systema ner-
voso ganglionario considerado como nào
formando senão um duplo cordão nert-oso
situado no interior das cavidades splan-
chnieas, um á direita, outro á esquerda
da colurana vertebral.
— Que opera por sympathia.
Ao fixo Luminar no immobil Polo
Manda que os passos lhe dirija iuccrtoe
Pela ciMipiíia azul, que st- coiifuudc
Co' a extrema linha dliorisontc escuro,
Que sempre vai fugindo, c quando a nuvem
Com densos véos lhe esconde o brilho eterno,
Manda A Tevra que abrindo o seio escuro
A s)/inpathica pedra lhe oacrcça.
J. A. DE MACEDO, >1AGEII EXTÁTICA, CUlt. é.
Tanto amor maternal nas aves brilha !
Sympáthica atTei<;ão, profundo iuipuLio
De quem ai se desvia, e sõ se esquiva
Estúpido Avestruz, surdo aos gemidos,
Que cxliala amor, a natureza, o sangue I
Sobro as arèas t>5rridaâ da Libya,
E solidões da America abandona
Os ovos sem cuidado, c delles íige.
IBIDEM, cant. 3.
Antes que vissem, que incessante o P<51o
A sympafhira pedra Ihe^s marcava
A nào banhada ostrella n'Oecano,
Ella inunovel fanal, que a novos Mundoe
A vereda aclarou. De Grccia, e Roma
Foi muito froxa a Luz.
IDEU, A NATCBErA, CAItt. 1
Fic-a escondida, portentosa causa ;
Conhecer teu author basta il minb« alma.
S;/mp<Uhica attrac^ão Newton descobre
No Globo melancólico da Lua.
IDEU, MEDITAÇÃO, Cailt. 2.
— Que pertenço á sympathia. — Qua
lidades sympathicas.
— Diz-sc das pessoas que experimen-
tam sympathia, ou que conciliam entre si
à
SYMP
SYN
SYNA
6Õ1
sympathia. — Este homem é mui sympa-
thico.
SYMPATHI3ANTE, part. ad. do Sym-
pathisar. Qae tem sympataia. — Almas
sympathisaiites.
SYMPATHISAR, ou SYMPATHIZAR, v. a.
Ter sympathia. — Sympatliisar j)ouco
com alguém.
— Ter relações de conformidade, de
conveniência. — A virtude não sympa-
thisa tanto com a paixão que produz o
vicio.
f SYMPETALICO, A, adj. Termo de bo-
tânica. Diz-se dos estames, quando, pela
reunião das pétalas, fozem com que uma
corolia polypetala pareça nionopetala.
SYMPHONIA, s. /. Reuniào de vozes,
conjuncto de sons.
— Symphonia característica ; aquella
que tem por fim pintar qualquer caracter
moral, ou qualquer plienomeno physico.
— Instrumentos de musica que acom-
panham as vozes. — Musica vocal com
symphonia, sem symphonia.
-{- 3YMPH0NISTA, s. m. Homem que
compõe musica.
— Homem que compõe svmphonias.
-{- SYMPHYSANDRIA, s. /. Termo de
botânica. Vigésima classe no systema de
Linneu, comprehendendo as plantas de
flores simples, cujos estames são soldados
conjunctamente pelas antheras e pelos fi-
letes; corresponde á syngenesia monogâ-
mica.
f SYMPHYSANDRICO, A, adj. Que diz
respeito á symphysandria.
— Estames symphysandricos ; aquelles
que são reunidos pelas antheras e pelos
filetes.
t SYMPHYSEOTOMIA, s. /. Termo de
cirurgia. Operação que consiste em pra-
ticar a secção da fibro-cartilagem, unin-
do conjunctamente os dous ossos do pú-
bis.
f SYMPHYSIANO, A, adj. Termo de
anatomia. Que diz respeito a uma sym-
physis.
— Cutelo symphysiano; instrumento
cortante, com o qual se põe em pratica
a svmphvsedtomia.
4 SYMPHYSIOGYNA, adj. Termo de
botânica. Plantas symphysiogynas ; plan-
tas em que os órgãos femininos estão sol-
dados entre si.
SYMPHYSIS, s. f. (Do grego symphy-
sis). Termo de anatomia. Conjuncto dos
meios pelos quaes se asseguram as rela-
ções mutuas dos ossos entre si.
— Particularmente : Articulação immo-
vel dos dous ossos, e mormente dos ossos
da bacia. — Symphysis pubiana. — Sym-
physis sacro-iliuca.
SYMPHYTO, í. m. Vid. Consolida
maior (horvai.
I SYMPIEZOMETRO, s. m. Barómetro
de reservatório d 'ar, gozando de uma sen-
sibilidade maior que o barómetro de mer-
cúrio.
f SYMPLEGIIGO, A, adj. Termo de
historia natural. Que está entrelaçado
com um outro ci^rpo.
— S. m. Uma das peças ósseas da ca-
beça dos peixes.
f SYMPLOSE, s. /. Termo de rhctori-
ca. Figura de palavras, sendo uma repe-
tição, que consiste em começar muitos
membros de phrases, e acabal-os pela
mesma pnrase.
j- SYMPODE, s. m. Termo de anato-
mia. Entre os ascidios, pimpolho compos-
to do eixos de gerações diversas, simu-
lando um eixo de uma só peça.
f SYMPODICO, A, adj. Que apresenta
os caracteres do sympode, que se refere
a elle.
f SYMPTHOMA, s.f. Vid. Symptoma.
— «Por isso Avicena Fen. i. 3. tract. 5.
cap. I. definimlo a Vertigem rompe nes-
tas palav]'as : Vertigo est, ut habenti ipsam
imagineiur, quod res super ipsum volvau-
tur, et quod ejus cerebrum, et corpus ipsius
revolvantur, quare non regit se, ita ut
Jirmetur, immo cadit. Tomou este acha-
que a sua denominação da parte affecta,
e do sympíhoma ; por que Vertigo vale
0 mesmo que affectus vertíeis ; porque pa-
rece que se vira a cabeça de sima para
baixo.» Braz Luiz d'Abreu, pag. 286,
§ 14.
SYMPTOMA, s. m. (Do grego sympto-
ma). Phenomeno insólito na constituição
material dos órgãos, ou nas funcções, que
se acha ligado á existência de uma doen-
ça, e que se pode determinar durante a
vida dos doentes, — Os symptomas da
pleuresia. — Os symptomas da peste. —
«Advirta que, em mulheres, as queixas
uterinas são complicadas por certo modo
com convulsões e outros symptomas ex-
traordinários que ainda médicos muito
doutos se costumam enganar, entendendo
são coisas sobrenaturaes.» Bispo do Grão
Pará, Memorias, publicadas por Camillo
Castello Branco, pag. 13.
— Figuradamente : Indicio, presagio.
SYMPTOMATICO, A, adj. Termo de
medicina. Que é o efteito ou o sympto-
ma de alguma outra aflecção. — Febre
symptomatica.
— Doença symptomatica ; doença que
não é senão um symptoma, e que, quan-
do esta outra aífecção termina, cessa im-
mediatamente, condição sem a qual ella
constituiria uma deuteropathia.
— Medicina symptomatica, ou medi-
cina dos symptomas ; methodo de trata-
mento que consiste em atacar os sympto-
mas dominantes de uma doença, e não a
própria doença.
t SYMPTOMATOLOGIA, s. /. Parte da
medicina que trata dos symptomas das
doenças.
SYMPTOSE, s. /. (Do grego sympfô-
sis). Termo de pathoiogia. iíagreza, atro-
phia de todo o corpo ou parte d'elle.
1 SYN. Preposição grega que vale com,
6 entra na composição de diversos ter-
mos, como synagoga, sjnodo, etc. Esta
preposição grega transfornia-se em sym,
antes de b, p, e m, como acontece em.
symbolo. sympathia, etc.
SYNA, s. /. Termo antiquado. Bandei-
ra. Vid. Sina.
t SYNABELPHIA, s. /. Estado dos
monstros sviiailelplios.
t SYNADELPEO, adj. Termo de te-
ratologia. Montros synadelphos ; mons-
tros quo tem um tronco único, mas du-
plo em todas as suas regiões, e oito mem-
bros, entre os quaes quatro parecem ser
dorsaes, e dirigidos superiormente.
SYNADO, A, adj. (Do latim signatus).
Termo antiquado. Vid. Assinado.
SYNAGOGA, s. f. Assemblêa dos fieis
na antiga lei. — «Para Hollanda fugiu
um capucho com a abbadessa de Santa
Anna, chamada Laureana. Deu elle o
nome á synagoga; mas foi modo de vi-
ver segundo affirmaram ao cónego D,
Joaquim Bernardes em Hollanda.» Bispo
do <írão Pará, Memorias, publicadas por
Camillo Castello Branco, pag. 88.
— Depois do estabelecimento do chris-
tianismo, a synagoga diz-se em opposição
á egreja christã.
■ — Logar em que os judeus se reuniam
fora do templo, para fazer as suas ora-
ções.
— Logar onde presentemente os judeus
se reúnem para o exercício de sua reli-
gião.
SYNALEPKA, s. f. Termo de gram-
matica. Reunião de duas syllabas em uma
só, quer por synerese, quer por crase,
quer ]ior elisão.
SYNALLAGMATICO, A, adj. (Do grego
synallagma). Termo de jurisprudência.
Diz-se dos contractos que contém obriga-
ções reciprocas entro as partes. O con-
tracto é synaliagmatico ou bilateral, quan-
do os pactuantes se obrigam reciproca-
mente uns para com os outros.
f SYNANCEA, s. f. Género de peixes
acantao}itL-rv£;'ios.
t SYNANTHEREO, A, adj. Termo de
botânica. Diz-se dos estames que são sol-
dados pelas antheras.
— S. f. plur. Familia das plantas que
tem por caracter cinco estames de file-
tes distinctos, sendo as antheras soldadas
entre si, e formam um tubo atravessado
por um estylo simples que excede um sty-
gma bífido.
f SYNANTHIA, s. f. Termo de botâ-
nica. Monstruosidade que consiste na sol-
dadura anormal das flores vísinhas pelos
invólucros ou pelo supporte.
f SYNAPTOSE, s. f. Termo de chimi-
ca. Espécie de fermei to, chamado tam-
bém emulífina, que se desenvolve nas
amêndoas amargas sob a influencia da
agua, e que actuando sobre a amygdali-
na, produz o acido cvanhvdrico.
I SYNARTHROIDÀL, àdj. 2 gen. Ter-
652
SYNC
ino <le anatomia. Qiio tem logur por »y-
iiiirthroHo.
SYNARTHROSE, «. /. (l>o grego syn-
nart/irosis). Tornio da anatuiiiia. Articu-
layito (jiio nào i)C!rmitte o movimento doa
OSB03 quu filia uno.
f SYNATHROISMO, s. wi. Figura de
rhetoriea, pola qual so acuumula n'uiiia
phrasc muitos termos, cuja significação ú
correlativa, muitos adjectivos, muitos ver-
bos, ou muitas proposições complcmenta-
SYNAXE, ou SYNAXIS, s. f. Nome
dado ás roíuiiucs dos cliriatilos primitivos,
e íi santa communUão.
— Os santos niystorios, o sacrifício da
missa, nos antigos monumentos.
-]■ SYNCARPO, s. m. Termo de botâ-
nica. Fructo composto proveniente de
muitos ovários tornados carnudos, e sol-
dados entre si.
SYNCATEGOREMATIGO, A, Termo do
lógica. Qui! pi')do conter potencialmente
uma iiiflnidado fio paites. Vid. Catego-
rematico.
f SYNCHONDROSE, s.f. Termo do ci-
rurgia. União de dous ossos por uma car-
tila!;cin .
f SYNCHONDROTOMIA, s. /. Termo
de cirur-ia. Seerão de uma syiichondro-
se, ou do uma cartilagem iiiteraríicular.
f SYNCHRONICO, A, adj. Que é do
mesmo tempo.
— Quadro synchrouico; quadro onde
estão unidos os íactos acontecidos om
diversos legares na mesma epocha.
— Diz-se dos phenomenos que se eflfe-
ctuam ao mesmo tempo, como a contrac-
ção dos dous veutriculos do coração, ctc.
f SYNCHRONISAR, v. a. Estabelecer
um sviiclironismo.
SYNCHR0NI3M0, s. m. Relação de cou-
sas acontecidas no mesmo tempo. — O
synchrouismo de, dous acoutecinteiitos.
— Simultaneidade de dous plienome-
nos, como a das pulsações cardíacas e ar-
teriacs.
SYNCHRONISTA, adj. e s. 2 gen. Con-
temporâneo.
SYNCHRONO, A, adj. (Do grego syn,
o chroiwíi). Que se faz ao mesmo tempo,
no mesmo momento. Quando dous corpos
cahem ao mesmo tempo no chão, diz-se
que suas quedas são synuhrouas.
f SYNCHRONOLOGIA, s. /. Tratado
dos svnchronismos.
f SYNCHY3E, s. /. Termo de gram-
matica. Figura de construeção, ou antes
vicio de estylo pelo qual, destruindo-se a
ordem natural das palavras, se torna a
pkrase difiu-il de comprclicuder.
f SYNGHY3I3, s. m. Termo de medi-
cina. Syuchysis brilhante; affecção chro-
nica não dolorosa do ollio, caracterisada
por pontinhos brilhantes, similhantes a
pequenas faiseas mui numerosas, sem ces-
sar renascentes, o que se tornam visíveis,
cada uma d'ella3 durante muitos segundos.
SYND
f SYNGLINAL, adj. 2 gen. Termo de
geologia. Líit/tu uyaclinal ; em quo as ca-
mailas <jue se cuivam cm direcçijcs oppos-
tas teniiuiu a rcunii'ciii-se.
SYNGOPA, fi. /. (Do grego si/gliojjê).
Termo de grammatica. DiminuiçSo de
uma iutra ou de uma ayllaba no meio de
uma palavra.
SYNGOPADO, part. pass. de Syncopar.
SYNGUPAL, adj. 2 gtn. Termo de lue-
dicina. Que se retcre á syncope.
— FvOre syncopal; febre iatermittente
perniciosa, caracterisada por syiicopes rei-
teradas.
SYNGOPAR, V. a. Fazer uma syncopa
u'uma palavra.
— Elidir uma syllaba ixo meio da dic-
ção.
— rroaunciar, escrever fazendo syn-
copa.
— F-guradamente : Reduzir, diminuir.
SYKGOPE, *■. /. Termo de medicina.
Diminuição súbita e momentânea da aeçào
do coração, com interrupção da respira-
ção, das sensações e movimentos voluntá-
rios.
SYNCOPISAR, ou SYNCOPIZAR, v. a.
Termo de meuiciua. i'roduzir syucope.
— V. n. Ter syucope, cair em syn-
cope.
-[■ SYNGRANEANO, A, adj. Termo de
anatomia. Diz-su da uiaxlUa superior.
SYNGRETISMO, s. in. íjystema de phi-
sopliia grega que consiste em fundir con-
junctamente os diversos systemas. — As
disputas que se levantaram continuamen-
te entre tantas seitas deram logar ao syu-
cretismo, isto é, a um systeina pelo qual
se cmprehendia conciliar todas as opi-
niões, e mormente as dos priucipaes phi-
iosophos.
— Confusão de opiniões.
f SYNGRETISTA, *. /. Partidário do
syucretismo.
' -[• SYNGRISE, s. /. Termo antiquado de
chimica. fassagem do um corpo liquido
ao estado solido.
f SYNDAGTYLO, adj. Termo de zoolo-
gia. Que tem os dedos reunidos.
SYNDERESIS, ou SYNUERE3E, s. f.
(Do grego .^/jnteresig). Termo de devoção.
Remoi'so3 de consciência.
— O instiucto moral, e o conhecimento
natural do bem e i!o mal.
SYNDESMOliRAPHIA, 6'. /. (Do grego
syndcsmvs, e grap/tê). Termo de anato-
mia. Descripção dos ligamentos.
SYNDESiflOLOGIA, s. /. Termo de ana-
tomia. Tratado dos ligameuios.
I SYNDEoMO-PHARYNGIANO, A, adj.
Termo de anatomia. Fascicuio syudesmo-
pharyngiauo ; fascicuio carnudo que taz
parte do constrictor superior da pharyu-
f SYNDESMOSE, s. /. Termo de ana-
tomia. União do< ossos por ligamentos.
f SYNDESMOTOMIA, *. /. Dissecção
dos ligamentos.
SYNIl
SYNDIGAÇÃO, «. /. Acto de sj-ndicar.
— liili)iinarão ju licial.
SYNDICANTE, pari. act. de Syndicar.
Que vai syniiicar.
— íSulj>lautivamente: Um syudicante.
SYNDICAR, V. n. Tomar informação
judicial do procedimento de algum juiz,
ou magistrado, ou qualquer pessoa que
teve oilicio, mando, ou governo por el-
rei, a quem se tira reside. icia; ou tirar
devassa sobre algum caso.
— Figuiadamenle : Censurar, repre-
hendcr, criticar.
SYNUICATURA, t. /. (J offieio do syn-
dicante.
— A acção de syndicaj".
— Figuradamente: CeiíBura, critica,
reprclunsão.
SYNDICO, «. /. (Do grego tyndikos).
Deputado, procurador de cortes, commu-
nidiídes, coliegiadas, universidades, ca-
marás.
SYNECDOCHE, s. f. (Do grego syTiekdo-
cliéj. Figura pela qual se toma o género
pela espécie ou a espécie pelo género, o
todo pela parte ou a parte peio todo;
exemplo : as i/ndaa pelo mar, as velas pe-
los navios, etc.
-{• SYNECHIA, «. /. Termo de medici-
na. Adherencia do iris com a córnea, ou
com a capsula crvstallina.
SYNEDERIM, /. m. ViJ. Synhedrim.
SYNEDRIO, s. m. Vi 1. Synhedrim.
SYNERE3I3, ou SYNERESE. s. f. (Do
grego synairesis, de syn, c hairêo). Ter-
mo de grammatica. U ajuntamento, ou
contracção de duas vogaes cm uma só.
SYNERGIA, s. f. Termo do physiolo-
gia. Cuncurso d'acção, de esforço entre
diversos órgãos e diversos músculos.
— Associação de muitos órgãos para o
cumprimento d'uma fuucção.
7 SYNERGICO, A, adj. Que diz respei-
to á syuergia. — As contracções synergi-
cas de vtuitos músculos.
I SYNESTHETICO, A, a.lj. Termo de
physiologia. Que experimenta uma sensa-
ção simultaneamente com um outro ór-
gão. — As partes synestheticas da retina
>i'uin e n'oufro olho.
SYNEVROSIS, «. /. iDo grego syn, e
nevron'*. Svmphv is ligamentosa.
SYNFONIA, s. f. Vid. Symphonia.
SYNGENESIA, 5. /. Termo de boUnica.
Classe lio systema de Linneu, que com-
prehcnde as plantas, cujas flores tem seus
estames reunidos pelas antheras.
SYNGRAPHO, í. /. ^Do grego «;/n. c
graphò'. Tonno de jurisprudência. Escri-
' pto particular, que não só é assignado
I pelo devedor, mas tjkmbem conjmicta-
, mente pelo credor, ou por outras pessoas
I para maior se-irurawça.
I SYNHEDRLrl, SINEDRIM, SANHEDRIM,
' SENHEDRIM, ou SYNHEDRIO, *. m. No-
me que ni> temi>o de Je-us Cliristo tiulia
o supremo conselho dos judeus, cujos
I membros succederam aos 70 escolhidos
SYXO
SYNT
SYNT
653
por Moysés sob outra denominação : n'e3-
te tribu:ial eram rleculidos o? negocies do
estado, e da rôligiào.
f SYNIZESIS, s. /. Termo de cirm-gia.
Occlusão da pupilla produzida por uma
inflammação espontânea, ou que sobrevem
em segai'.'.a á operação da cataracta.
SYNOCHO, ou SYNOCHA, s. (Do latim
aynochuá). Termo de medicina. Febre
continua, sem augmento nem diminui-
ção; diz-se mui particularmente da febre
inflammatoria, porque de todas as conti-
nuas, esta é a que tem um curso mais
uniforme, mas os antigos também davam
esto nome á febre pútrida, ou gastro-en-
terite mui intensa.
SYNODAL, adj 2 gen. Que pertence ao
synodo. — Regulamentos synodaes.
Uns a brilhante escolha lhe louvarão
Dos Synodaes Thcologos, do Arronches,
Exímio Pregador, que Ico inteiro
O Livro dos Conceitos predicáveis,
O Zodíaco sob'rano c outros muitos,
Que na Esohola Capucha estào em praça.
Do Guardião dos Capuchos, do Roquete,
Thomista petulante, e confiado.
DiMiz DA canz, HYssoPE, cant. 7.
SYNODATICO, s. m. Tributo, que se
paga em Braga durante algum synodo;
são oitocentos reis por cada pia ou egreja
onde se baptisa.
SYNODICO, A, adj. Termo de astrono-
mia, lievolução synodica da lua, ou mez
synodico ; tempo empregado pela lua para
tornar a oecupar a mesma posição em
relação á terra e ao sol ; é o tempo de-
corrido entre duas luas consecutivas. —
O mez synodico da lua é de 29 dias, 12
horas, 44 minutos, e 2 segundos ; esta ex-
pressão emprega-se somente em opposi-
ção ao mez periódico ou mez sideral da
lua, que é de 27 dias, 7 horas, 43 minu-
tos, e 11 segundos, tempo que o satellite
gasta em fazer sua revolução em volta da
terra.
— Anno synodico; aquelle que conduz
a terra a uma mesma longitude com um
planeta : ha pois tantos annos synodi-
C08 differentos quantos planetas ha circu-
lando como a terra em volta do sol.
SYNODO, s. m. (Do grego si/nodos).
Concilio universal, ou ecuménico, ou par-
ticular, nacional, ou provincial.
— Termo de astronomia. A conjuncção
de dous planetas no mesmo grau da ecli-
ptica, ou no mesmo circulo de posição,
onde unem as suas influencias.
SYNONYMIA, s. /. Figura de rhetorica,
que consiste em ajuntar synonymos, ou
antes termos de significação aproximada,
que pareçam synonymos.
— Em historia natural, concordância
de diversos nomes que se tem dado a
um mesmo animal, a uma mesma planta.
SYNONYMICO, A, adj. Que pertence
á synouymia. — As discussões syaoaymi-
cas.
— De synonymo.
SYNONYMO, A, adj. (Do grego st/n, e
onyma). Diz-se cie uma palavra que tem,-
pouco mais ou menos, o mesmo sentido
que uma outra, como: fugir e safar-se;
morrer e ferecer, etc.
— Em historia natural, diz-se dos no-
mes dilFerentes que servem para designar
o mesmo ser.
— S. m. De signilicação idêntica ou
similhante.
— Plur. Titulo de certas obras, em
fúrma de diccionario, no qual vem ex-
plicadas as diÔereuças das palavras sy-
nonvmas.
SYNOPSE, ou SYNOPSIS, s. f. (Do gre-
go synupsis), Summario, resumo, epito-
mo, compendio.
SYNOPTICO, A, adj. Que diz respeito
á svnopse. — Methodo synoptico.
SYN03TE0L0GIA, s. f. (Do grego syn,
osteon, e logos). Termo de anatomia. Tra-
tado das articulações e dos seus meios de
união.
7 SYNOSTOSE, ». /. Termo de anato-
mia. Soldadura dos ossos.
— Syuostose craneana; soldadura das
differeutes peças que formam o craneo.
SYNOVIA, I. f. (Do grego *yn, e ôon).
Termo de> anatomia. Humor exbalado pe-
las membranas syuoviaes que forram a
superficie das cavidades articulares.
f SYNOVIAL, adj. 2 gen. Termo de
anatomia. Que diz respeito á synovia. —
Os saccos synoviaes.
— Membranas synoviaes ; membranas
análogas ás serosas por sua disposição,
mas que diíFerem d'ellas em que o fluido
que ellas segregam c espesso, viscoso, e
habita no sacco membranoso em quanti-
dade iiotavel.
— Capsulas synoviaes ; saquinhos mem-
branosos sem abertura, esbranquiçados,
semi-transparentes, delgados e moUes,
formados de uma única folhinha que se
desprega sobre as superficles das cavida-
des articulares diarthroides, e nos si-
ties onde existem muitos tendões.
t SYNOVINA, s. f. Termo de chimlca.
Substancia orgânica coagulavel própria
á synovia, e diíferente da albumina.
f SYNOVITE, s. f. Termo de medici-
na. Inflammação das membranas syno-
viaes.
SYNTAGTICO, A, adj. Concernente á
svntaxe.
' SYNTAGMA, s. m. (Do grego synta-
gma). Termo didáctico. Tratado de al-
gum assumpto dividido em classes e nú-
meros.
— CoUecção, pecúlio de direito, ou ou-
tro assumpto doutrinal.
SYNTAXE, s. /. (Do grego syntaxis).
Termo de grammatica. Modo de unir en-
tre si as palavras de uma phrase, e as
phrases entre si.
— Parte da grammatica que trata do
arranjo das palavras, da construcção das
orações, das relações lógicas das pHrases
entre si, e das leis geraes e particulares
que se devem observar para tornar iima
linguagem e seu estyio correctos, puros
e elegantes.
SYNTELGLGGIA, s. f. (Do grego syn,
telos, e logot). Termo de economia poli-
tica. Sciencia que ensina os meios de
prover ás necessidades do estado politico
com os recursos do estado social ; conhe-
cida vulgarmente pelo nome de sciencia
da fazenda, ou finanças.
SYNTERESIS, s. /. Vid. Synderesis.
SYNTHESE, ou SYNTHESIS, s. f. (Do
grego synthèsis). Methodo de composição.
— Termo de chimica. Operação pela
qual se reúnem os corpos simples para
formar os compostos, ou os corpos com-
pestos para formar outros d'uma compo-
sição mais complexa.
— Acção de recompor um corpo com
seus elementos separados pela analyse.
— Termo de pharmacia. Composição
dos remédios.
— Termo de cirurgia. Reunião de par-
tes divididas.
— Termo de lógica. Processo lógico,
que opposto á analyse, desce dos princí-
pios ás consequências, e das causas aos
effeitos.
— Termo de philosophia. Operação
mental pela qual se construe um svs-
tema.
— Termo de mathematica. Demons-
tração das proposições pela única deduc-
ção d'aquellas que já estão provadas.
— Termo de grammatica. Figura que
consiste em reunir em uma só duas pala-
vras primitivamente separadas.
SYNTHETICAMENTE, adv. (De synthe-
tico, e o suffixo «mente»). De um modo
synthetico. — Demonstrar syntheticamen-
te uma proposií^ão.
— Conforme o methodo synthetico, de-
duzindo das definições consequências ti-
radas da natureza da cousa pihysica, ou
moral, ou metaphysica, que comprehende
a mathematica, e seus theoremas, ou con-
clusuts : diz-se em opposição ao methodo
analytico.
SYNTHETICO, A, adj. Termo de chi-
mica. Que ajuda a formar uma synthe-
se, a reproduzir por synthese. — Expe-
riências syntheticas relativas aos meteo-
rites.
■ — Que pertence á synthese. — Metho-
do synthetico. — Demonstração synthe-
tica.
— Que é hábil para a synthese. — Es-
pirito synthetico.
t SYNTHRONE, adj. Termo do poly-
theismo. ■ — Divindades synthrones ; di-
vindades representadas assentadas egual-
mente em thronos.
SYNTONIA, s. ,?'. Termo de musica.
Continuação do mesmo som.
t SYNT ONINA, s. /. Fibrina muscu-
lar.
654
SYSS
■[ SYNTROPHICO, A, adj. Tcnno de
botiinica. Ciiit; vivo em uui outro corpo
vivo, Hcm SC luiti-ir «rd lo.
-[- SYPHILIDE, 8. /. 'Icniio de medici-
na. Nnuic .lalo :is adccrnos cuUucaH qiio
estão debaixo da doijoiídeacia da sypbi-
lis.
f SYPHILIGRAPHIA, ». /. DescripçHo
da sypliilis.
f SYPHILIGRAPHICO, A, aJj. Quo diz
respeito á dcscriíiv-io da sypliilis.
f SYPHILIGRAPHO, s. m. Auctor quo
descrevo, a svj)hiiÍ8.
SYPHILIS," s. /. (Do latim syphilis).
Toniio de modicina. Doença espccitíca
transniittida polo contacto, e pela he-
rança, caracterisada cm seus dillerontes
períodos por certos accidentcs, cuja evo-
lução é subordinada á acçào do virus sy-
philitico, o cuja marcha é ordinariamen-
te determinada; distincta das allVcçõcs
venéreas, quo se ganham pelo contacto,
mas que se não tornam próprias da cons-
trucção.
— Termo po]iular. Gallico.
f SYPHILISAÇÃO s. /. Termo de me-
dicina. Espécie de saturação dos órgãos
vivos pelo virus ayphilitico.
SYPHILITICO, À, adj. Que pertence á
svjihilis. — l'i)ií.s syphilitico. — xlcci-
dentas syphiliticos.
— Substantivamente: Os syphiticos ;
os doentes atVectados da syi)hilis. — Um
hospital lie syphiliticos.
f SYPHILOIDE, adj. 2 yen. Que tem
a fiUMua lia svphilis.
f SYPHILÒMANIA, .s. /. Termo do me-
dicina. Monomania ([uc consiste em Julgar
que se está com aftecção syphilitica; cn-
■contra-se não só entre os syphiliticos cu-
rados, mas também entro aiiuelles que
não tem nem aecidentes syphiliticos, nem
accidontes venéreos.
SYRENICO. Vid. Sirenico.
SYRIACO, A, £«/;'. Diz-se da língua que
fallavam os antigos povos da Syrla.
— Que está eseripto em lingua syria-
■ca. — As tmducções syriacas dos aucto-
res gregos.
— Substantivamente: O syriaco; a
-a lingua svriaea.
. f SYRINGOTOMIA, s. f. Termo de ci-
rurgia. < )])eraçrio da fistula ]ior incisão.
f SYRINGOTOMO, s. m. Termo de ci-
rurgia. Instrumento quo servia outrora
para a operação da fistula no anus.
SYRIO, s. m. Vid. Sirio.
SYRONES, s. 7)1. 7;/ií>-. Lombrigas pe-
quenas ((uo nascem entre a pelle e a car-
ne, e produzem anciãs e choros.
SYRPHOS, s. m. plur. (Do grego si/r-
2)kos). Termo de historia natural. Géne-
ro de insectos dipteros.
SYRTES, s. m., ou f.phn: (Do grego
si/rtis). Bancos mui perigosos pai"a os na-
vios, onde exi tem pienhascos.
f SYSSARCOSE, s. /. Termo de ana-
tomia. União doa ossos por meio das car-
SYST
nc8 e dos músculos ; tal é a uniilo das
omoplatas com as costas.
-j- SYSSIDERO, «.7/1. Meleorite conten-
do fenci com graus pedregoso».
I SYSTALTICO, A, adj. Termo de phy-
sioliigia. Que tem o caracter da systole.
— Moviíiiciitij systaltico das urUriua.
SYSTEMA, «. 111. (Do grego systilma).
Um composto de partes coordenadas eu-
tre 8Í. Descartes 6 propriamente o pri-
meiro que tratou do systema do mundo
com algum cuidado e alguma extensão.
— Systema do mundo; dá-se este no-
me á reunião e disposição dos corpos ce-
lestes, o á ordem pela qual estes corpos
estão situados relativamente uns aos ou-
tros, e segundo o qual elles se movem.
— Termo de anatomia. Conjuncto das
partes similares.
— Constituição politica, e social dos
estados. — O systema feudal. — O sys-
tema representativo.
— Em historia natural, toda a classifi-
cação methodica dos entes naturaes.
— O systema métrico; o conjuncto
das medidas deduzidas do metro como
base fundamental.
— Systema. òiòliographico; ordem quo
se segue na classificação dos livros.
— Termo de geologia. Synonymo de
terreno.
— Plano que se forma, meios que se
propõem para acertar em alguma cousa. —
Systema de condticta. — Systema de go-
lerno. — «Quando a semelhança se não
descobria, disia-se para salvar o syste-
ma, que o modelo era o de algum ani-
mal desconhecido.» Cavalleiro d'Ollvei-
ra, Cartas, liv. 2, u.° 44.
— Systema solar; systema de Copér-
nico mais ai>erfeiçoado, cm que se e<ta-
belece que o sol está fixo no centro do
universo, e a torra e os outros planetas
gvrando em volta d'elle.
Do S;istema Solar como aberríiutcs,
Em torno doutro centro, cu vejo a torva
Ijíuoa face de excêntricos Cometas,
Tardios em iiiostrar-ae, infaustos sempre
Ao vulgo iudouto, aos piiUidos Tyranos.
Em cujas màoi vacilla o Sceptro, c uuuca
Fixo na frente o Diadema existe.
J. A. DE MACEDO, VIAOBSI EXTÁTICA, CaUt. 1.
Ilhas descubro, altíssimas inoutanhas,
De cuja aérea frente se derrama
A luz reflexa, que na Terra bate;
Luz, que Uie en\-ia, c lhe diffunde o Astro,
Que no centro do circulo pnsmoso
O ÍStjstema Solar ao diz, o chama.
lUIDKU.
Mas eonhecer-Uie as Leia, nuis sujeitnr-lho
O mo\-imeiifo ao CJílculo jirofundo,
E na dúplice opposta, iminenaa força.
Com que lio levado ao centro, o dcUe fogo
No Siistema Solar fechado o corpo.
Como dest'arto o circulo descreva.
E 3C mova maia rápido, ou maia tardo.
Na raxào da distancia ao centro imniobil,
SYST
Tu »/> podRSte, Newton portentoso,
Tai,'H inysterios eipór com luz raaio clara.
iiuiiKU, cant. 3.
— Doutrina, por meio da qual se dis-
põe e coordenam todas as noções parti-
culares.
Sobre as ruínas de *v»í<mcu tantos
()uc;o a voz da Vi;rdude augusta, e simples.
J. A. OK UACK.UO, A KATLBIZA , CAUt. 1.
Viios nyftemwi, que as girrulaa Escolas
Em fantásticos tbronos collocário,
Vào no abyitmo caliir, donde sahirio.
A (!.tiioriencia b/) corrige, emenda,
Quanto á t<-imosa obaervaçilo so oppanha.
IDKM, TIAOEM KXTATICA, Cant. 4.
Entre raios de luz maia fulpurantcs
Vejo o profundo Sócrates, o Justo,
(Quanto sor pode impura Natureza,
Calva, c ru{ro:<a a frenti', a tez sombria:
Ao» movimentos d alma attcnto sempre,
Do coração no» pcnetraca entrando,
{'om sorriso Socrático escarnece
f)a vãos »i/rf<ma' físicos do Mundo,
Que á mente dos mortacs ignotos deixa.
No seio immeraoa do M^itor Supremo.
iBiDBU, cant. 2.
Vejo Aristipo, Anthistftues descubro;
Hum busca o aummo bem no inerte, c baixo
Prazer, que encanta os corporaes sentidos;
O lisonjeiro do 8.ig:iz Augusto,
Teu it/ftema tal foi ; teus auroos Vcrsoa
Si'imentc o ("ortezão, c Amor rcspirào
Entre as infames libações de Baccho.
IRIDEU.
Esta no Mundo profícua, ignota fonja.
De teu continuo meditar foi obra,
Ó Génio do Tamisa, <-âte prodiçio :
EUe, (í Oenio profundo, a teu Svftema
A base foi lançar, e abrio caminho.
IBIDEM, Ciint. 3.
Ab!... Catão. — E3i>er«9 d'clle
Que attenda ao bera coramum . que deixo os sonhos
De sua stoica, van pliilosophia,
Que sacrifique o orgulho de um tyitemaf...
OABBETT, CATÃO, act. 1, SC. 3.
— Systema do universo; o aggregado
de corpos de que elle consta, suas rela-
ções, leis, conforme as varias hypotheses
dos philosophos.
— Systema ; um dos elementos da scien-
cia, a dispo.«iição dos factos, de modo que
forme um corpo unieo.
— Termo de musica. Systema musico;
o seguimento de dous ou mais intorval-
los, que fazem duas ou mais consonan-
cias.
— Syx. : Systema, thtoria.
Systema significa em geral enlace de
principies, máximas c conclusões relati-
vas a uma matéria. Tlteoria é o conheci-
mento especulativo da essência e quali-
dade das cousas.
Systema 6 mais exteuso que theoria,
em linguagem scientifica, e refere-ee á
SYST
SYST
SYZI
655
coordenação do? factos ou princípios ge-
raes, mais que á relação entre as causas
e os cfFeitos. Tkeoria é ordinariamente a
exposição das relações entre os pheno-
menos naturaes, fundada em observações,
experiências ou cálculos.
Usa-se também da palavra systema
para designar doutrina hvpothetica, e na
accepção de norma de proceder de pes-
soas ou governos. Os inglezes tem por
systema reduzir na paz a marinha mili-
tar eífectiva ; em nenhum d'estes casos
se usa a palavra tkeoria.
SYSTEMAR, r. a. Pôr em systema,
reiuzir a svstenia.
SYSTEMATICAMENTE, aãv. (De sys-
tematico, com o suffixo «mente»). De
um modo systematico.
— Por svstema, seíjuindo um svstema.
SYSTEMATICO, A, ^adj. Que sè refere
a um systema.
— Em que ha systema.
— Diz-se das pesseas que formara um
systema, que adoptam, e seguem um sys-
tema.
— Diz-se, na linguagem geral, das
opiniões, dos sentimentos aos quaes se
entestam como a um systema.
— Substantivamente : Um systemati-
co. — Alguns systematicos.
t SYSTEMATISAR, v. a. Reunir fa-
ctos a opiniões em um só corpo de dou-
trina. — Systematisar uma sciencia.
f SYSTEMATOLOGIA, s. f. Historia dos
systemas.
t SYSTEMATOLOGICO, A, adj. Que
diz respeito á systematologia.
SYSTOLE, s. /. (Do grego systoU, de
systellS). Termo de physiologia. O esta-
do do coração em que as fibras muscula-
res d'e3te órgão estão em contracção; o
que determina a compressão das partes
contraliidas, isto é, a diminuição do seu
volume, e de suas cavidades em todos os
diâmetros simultaneamente.
— Systole arterial; compressão das
artérias, devida á sua elasticidade, que
faz que ellas voltem sobre si mesmas
depois de terem sido distendidas pelo
sangue que expelle a systole ventricu-
lar. — A systole arterial coincide com
a diástole cardíaca.
— Licença poética pela qual se em-
prega como breve uma svllaba longa.
f SYSTOLICO, A, adj'. Que tem rela-
ção com a systole. — Movimento systq-
lico.
f SYZETESE, s. f. Figura de rheto-
rica pela qual se começa, e se estabelece
uma discussão.
■j- SYZETETE, s. m. Diz-se de certos
doutores judeus, que buscam os sentidos
allegoricos e mythicos da Escriptura.
SYZIGIO, s. 77i. (Do grego syzigiO, de
syn, eztíiguyô). Termo de astronomia. Po-
sições do sol e da lua, quando estes as-
tros estão em conjuncção ou em opposi-
ção, isto é, á lua nova, ou á lua cheia.
— Diz-se também dos planetas.
— Termo de poesia antiga. Reunião
de muitos pés em um só. — O latim li-
bertale é um epitrite formado pelo syzi-
gio de um espundeo e de um trocheo.
— Syzigios valentinianos ; no gnosti-
cismo, determinações e pessoas da essên-
cia divina, desenvolvendo-se, dous a dous,
cada ionio masculino, tendo a seu lado
um ionio feminino.
IWR
*. j)i. Vigésima letra do al-
phabeto portuguez, decima
sexta consoante.
- v.í-BMi — No alphabcto physiolo-
FíJ^jSÍ gico o t é a momentânea
dental dura; a branda ou sonante em
que elle muitas vezes degenera é o d,
no respectivo órgão; o t degenera tam-
bém em muitas linguas em s, principal-
mente diante d'outro t ou d.
— Na passagem do latim ao portuguez
o t foi muitas vezes abrandado cm d : me-
ta deu meda, moiieta deu moeda, etc. ;
n'alguns casos esse d nascido de t foi de-
pois syncopado: impigem de imjjedifjem
do latim impetiginovi ; amaes de amades
do latim amatis.
— Um T gi-ande, um t pequeno. Um
T de caixA alta; um t de caixa baixa.
— Como abreviatura o t designava
160 e com um traço horisontal por cima
160000.
— T designa tolo. — Ter um t na tes-
ta; ser tolo. — Pôr a alguém um t Tia
testa; logral-o como tolo.
— O t em portuguez tem sempre a
mesma pronuncia forte e dura; nunca se
pronuncia senão isolado como as outras
consoantes, isto é, não dobrado. No final
d'algiins nomes estrangeiros não se pro-
nuncia, como Mahomet, pron. Mahomé,
Murat, etc. Deve porém pronunciar-se
nos nomes allemãcs, inglezes e de todas
aquellas linguas em que ello se pronun-
cia n'es3e caso, como em Mozart, etc.
— Vejamos alguns testemunhos dos
grammaticos portuguezes acerca do t. —
«T dobrão attento, attencção, attentado,
attonito, attrahaer, attribuir, attrição, e
os nomes próprios Atteio, Attico, Attica,
Attilio. Item gaito, gotta, gotto, mctter,
arremetter, permiftir, prometter, Scotto,
Scottia, scetta. Item os diminutivos em
.te. ou .ta. como, verdetfe, pequenette,
peqxienetta, mocetfs, mocetta, etc.» Duar-
te Nunes de Leão, Orthographia da lin-
voL. V. — 83.
gua portngueza. — «A Letra T he uma
das mudas, c tê muyto parentesco com
o d, (como diz Quintiliano), se nam que
o t se forma com mays espirito, ain-
da que no mesmo logar, e com a lín-
gua mays levantada para o pádar, do
que o d, que se forma com ella entre os
dentes ; e por esta semelhança os antigos
escreviam muytas palavras, em que en-
trava d por t, como set, por sed; atven-
tus por adventus ; como diz Vitoriuo ; c
Alexanter, (Jnssantra, por Alexandre,
Cassandra, segundo Quintiliano; e ou-
tros pelo contrario escreviam d, por t,
como amavid, por amavit.s, João Franco
Barreti), Orthographia da lingua portu-
gueza, pag. 163. — «A Letra T, que he
muta, pronuncia-se, applicando mais for-
te, e altamente, de que na Letta D a
parte anterior da lingua aos dentes de
cima. Us Gregos, e Hebreus chamam Tan,
ou Than, a esta Letra, a qual com sua
figura representa a Cruz, em que mor-
reu N. Senhor Jesu Christo, Redemptor,
e Salvador do Mundo. Por esta repre-
sentaçam foi sempre a mesma Letra húa
feliz Nota, ou Signal de redempçam, gra-
ça e vida.» Fr. Luiz do Monte Carmelo,
Compendio de orthographia, pag, 418.
TÁ. Interjeição equivalente a tende
mão, parai.
Ó já díil-a
fora om mi acompanhal-a.
Quero d'aqui... tá, não quero,
essa honra qucvo cscu9Ml-a,
porque hei medo de achar cA
minhas primas dona Hilária,
dona Bernalda : se vá,
João Antão abastará.
Hei de ir.
AXTONIO PRESTES, AUTOS, pag.
TÃ, por Tam. — «E quasi no meyo
delle a mayor lagvja que os homens des-
cobrirão, chamada Cafa, ou Bethe no co-
raçam da qual está a Ilha Meroè onde a
Raynha Sabà fundou huma Cidade, cha-
niâdoa de seu próprio nome, a qual affir-
ma Paulo louio ser tã grande que con-
tém trcs Raynos.i) Fr. Gaspar de S. Ber-
nardino, Itinerário da índia, cap. 8.
TAA, s. Assim denominavam os mou-
ros cada uma das cabildas ou almolcellas,
compostas de nmitos aduares, em que di-
viiiiam algumas porções de terra. Tal foi
em Hespauha a divisão que elles fizeram
das montanhas das Alpuxarras, que re-
partiram em onze taas, que eram como
cabeças de partido, julgados, ou conce-
lhos, governados por um chefe, e todos
sujeitos a um só rei, a quem pagavam os
devidos direitos, e tributos.
— Termo antiquado. Até, atá.
TAAES, plur. ant. de Tal. Vid. Tal.
— «E porem os Adays, e os Almoca-
deens devem muito catar, que levem
comsigo piaaens nas cavalguadas, e em
outros feitos de guerra taaes, que sejam
usados da terra, e destas cousas que su-
so dito havemos.» Ord. Affons., liv. 1,
tit. 67. — «E dizemos, que se algum ho-
mem ouvesse alguma cousa per titolo de
compra, escaimbo, ou doaçom, ou qual-
quer outro titolo semelhante, e em cada
hum dos ditos contrautos lhe fosse dado
poder per aquelle, de que a dita cousa
ouve, pêra filhar e aver a posse delia, di-
mitindo e desemparando a dita posse de
si, em taaes casos e cada hum delles
Mandamos, qiie aquelle, que assi a dita
cousa ouve, possa per sua autoridade aver
e cobrar a posse delia.» Idem, liv. 4, tit,
64, § 7.
TABACAL, s. m. Logar plantado de ta-
baco, herva.
f TABACICO, A, adj. Que diz respei-
to ao tabaco.
— Acido tabacico ; mistura de ácidos
malico e citrico, extrahido do tabaco.
TABACO, s. m. Planta que se cultiva,
e se prepara de diversos modos, que se
658
TABE
TABE
TABI
masca, que se fuma o que se aorve em
pó pelas ventas.
— Dá-so também esto nomo ou ;i plan-
ta mesmo, ou ao ])(') feito d'olla, o qual
80 toma pelas ventas, o do <iuo ha mui-
tas espécies, como o simonte, rapé, prin-
ceza, esturro, reserva do mestre, maçaro-
ca, kentucki, vírginia, Jlêr jjicada, im-
perial, jlôr escolhida, ctc, ou ils folhas
inteiras soccas ao sol.
— Tabaco de fumo; o que ao usa nos
cachimbos, sorvendo-se o fumo da hcrva
queimada n'ollcs.
— Tabaco de fumo; o cigarro, o clia-
ruto.
f TABACOLOGIA, s. f. Tratado sobre
o tabaco.
TABALHIOM, s. m. Termo antiquado.
Vid. Taballião.
TABALINHO, s. m. Vid. Atabalinho.
TABALLIADEGO, s. m. Termo antliiua-
do. OfTicii) fie tabellião.
TABALLIADO, s. »«. Vid. Tabelliado.
TABALLIÃO, .t. m. Vid. Tabellião.
TABANCA, s. f. Termo da Ásia. i'or-
tagom, mesa }iara airecadaí^ãu de direito.
TABANEZ. Vid. Tavanez.
\ TABANIANOS, s. m. plur. Familia
de insectos dipteros, á qual pertence o
moscardo.
TABÃO, .•!. m. Vid. Tavão.
TABAQUE, s. m. Viil. Atabaque.
TABAQUEAR, u. a. Dar tabaco.
— Tomar tabaco.
— Termo popular. Lograr, pctear.
TABAQUEIRA, s. /. Vid. Tabaqueiro.
— Tonia-sc por caixa de tabaco; bo-
ceta de tabaco.
TABAQUEIRO, A, s. Tessoa que faz ta-
baco.
— Pessoa que vende tabaco.
— Vid. Tabaquista.
TABAQUISTA, í. 2 gen. Tcasoa que
toma tabaco, que faz uso d'elle.
TABARDILHA, *. f. Diminutivo de Ta-
bardo.
TABARDILHO, s. m. Febre podre, que
arroja ;l pello umas pintas como picadas
de pulgas ou gr.àosinhos de varias cores.
TABARDO, ou TABARRO, s. m. Termo
antiquado. Uma capa, um casacão, ou
um capote com capuz o mangas.
— Adagio k mtovEuuio :
— Tabardo o botas cobrem as costas.
TABAREO, ou TABARÉU, «. »!. Solda-
do de orilcuanc;a ; mal cxereitadn.
TABARRO, s. m. Vid. Tabardo.
TABARZET, íí. ;)i. Espécie de assuear
branco e duro, quo se faz de umas can-
nas como as do iirazil.
TABAXIR, s. m. Termo da Arábia. As-
suear de bambii.
— Tabaxir dos alfaiates; espécie de
giz branco de que os alfaiates se costu-
mam servir.
TABAZ, s. m. Lobo.
TABEFE, s. m. Leito engrossado ao
lume com assuear e ovos.
— Termo do Alemtejo. A agua quo
fiea dl) leit(! coalhado para se qucijar.
TABELLA, s. f. (Do latim tabeliã). Ta-
boasinha cm <]uc ostào registrados os no-
mes do algumas ])essoas; pautas.
— Tc.iino lio jjharmacia. Electuario so-
lido feito cm tal.iadaa.
TABELLIADO, «. m. Officio do tabel-
liXo. Vid. Taballiado.
— Imposto ou tributo antigo. — «O
jirimeiro capitulo he: Que os contrautos
de compras o vendas, locayoòcs, enpres-
tidos, cstipulacoões, o permis.soòes antro
vivos, ou causa mortia, e Icguadoa lei-
xados em testamentos, ou abintestado, e
afloramentos, e arrondamcntos, censos, e
tributos, como som portagcena, açouga-
gens, ehanccllarias, portarias, taballia-
dos.» Ord. Affons., liv. 4, tit. 1,^2.
TABELLIÃO, s. m. (Do latim tabellio).
Oflicial pulilico quo faz as escripturas c
instrumentos em que se requer autlieiiti-
cidaile legal, e conserva os traslados d'el-
las nas notas, reconhece os siguacs, ctc.
Vid. Taballião. — «De qualquer termo
em que for escripta rcvellia, e fczor
meonyom do como a parte foi apregoa-
da, levani o Taballiam, ou Esci-ipvaõ
desse termo da parte, em cujo favor he
o termo, dous brancos.» Ord. Affons.,
liv. 1, tit. 3."i, § 5. — - «A qual Cédula
porleúda, o dito Concelho pedio a mim
dito Tabellião, (juc a tornasse em publi-
ca forma sob meu signal ; o de mais man-
darem todos em hum acordo a Vasco íiil
Chanceller do Concelho, que scellasse es-
te Estormcnto do Seello pendente do Con-
celho por maior firmeza nas ditas cousas,
o esto foi feito no dito Logo, no dito
dia, e na Era suso dita.» Ibidem, liv. 4,
tit. ;"), § 12. — «E mando a todolos Ta-
belliaães dos meus Regnos, que registem
esta minha Caita, e a leam hunia vez na
domaã em Concelho nas Villas, o Luga-
res do meu Senhorio. Dante em Lixboa
dezoito dias de Mayo. Ellley o mandou
com Conselho da sua Corte. Domingue
Auncs a fez Era de mil e trezentos e
cincoenta e dous annos.» Ibidem, tit. G,
§ 4. — oE Jlando a touoios Taballiaães,
(]ue esta Carta virem, que a registem.
Dada em Coimbra a cinquo dias de Ja-
neiro Era de mil o trezentos o trinta c
dous anims.» Ibidem, tit. 64, § 3. — «E
nom veendo elles as ditas Cartas, ou ou-
tro alguum justo titulo, per i(ue lhes pcr-
ten^'a a cousa, de que assi querem filhar
a posse, assi como testiimcuto, ou code-
eilio, ou Carta de foro feita polo senhor
da cousa, em tal caso Mand.imos, que
esses Taballiãaes lhes nom dem estor-
mentos de taae.> posses.» Ibidem, § 7.
— • «E 03 Nossos Tabaliaães lhe possam
dar, e de feito dem Estormentos públi-
cos de como assi filharom a dita posse
sem outro mandado de Justi«;a, veendo
esscá Taballiaães primeiramente as Car-
tiis das compras, escaimbo, ou doaçoões
feitas sobro as ditas Cousas, de que assi
os ditos compradores, escainibadores, ou
Donatários quiserem filliar a dita posse.»
Ibidem.
— Escriytura lavrada nas notas do ta-
bellião ; (-,sei-iptura lançada u'ellas.
TABELLIAR, i-. a. Fazer as vczca ou
o officio ilc tabelliito.
TABELLIO A, adj. f. — Letra tabel-
liõa ; letra larga, mal feita o encadeada.
— Palavras tabelliõas; palavras que
80 dizem por formalidade, sem intento do
se cuni['rircm, Kcni olhar nem fazer caso
daquillo a (pic cilas obrigam.
TABERNA, s. f. (Do latim taberna).
Vid. Taverna. — «Desde o jialacio até a
taberna e o j)rostibulo ; desde o mais es-
plendido viver até o vegetar do valgacho
mais rude, todos os logares e todas as
condições tem tido o seu romancista.» A.
Herculano, Eurico, Prol.
TABERNÁCULO, e. m. íDo latim taber-
naculum). Uma capella portátil da arca
entro os hebreus. — «Xa Carpentcria foi
Caim o primeiro quo edificou casas, o
edificios do madeira, como adverte Fr.
Bernardino de Busto. Também o lllostre,
e Saucto Varaõ Noo a ennobrecoo no ce-
lebrado artefacto da sua Arca ; cuja hon-
ra se adiantou na obra do tabernáculo
do Templo, e na da Arca do testamento,
alem de muytas outras ol)ra8 em ambas
as Leis.» Braz Luiz d'Abreu, Portugal
medico, pag. 128, § 88.
Coino que a humanas cousas retirados,
Sc iiicovarain nns facss drg<:abiJa.4
Os olhos, oudc a luz quasi assemelha
A lâmpada que avdou no taherntwulo
Inteira a noutc, c ao arraiar do dia
Fallccc á mingua d"oleo.
QARKRTT, cAuuES, cant. 1, cap. 13.
— Uma divisilo do templo dos judeus
onde estava o altar com os pàes, etc, e
onde aó ora permittido eatrarem os sa-
cerdotes, e 03 ministros do templo.
— O tabernáculo da Virgem; o úte-
ro, ou ventre cm que Curisto andou.
— No Novo Testamento : Os taberua-
culos eternos; a morada celeste, a liabi-
taçrio dos bemavcnturados.
TABERNARIO, A, adj. (Do latim ta-
bernarius). De taverna ou loja.
— Figuradamente : Do gente de ta-
verna .
TABI, s. m. (Do francez tabis). Tafe-
tá grosso ondado.
TABICA, s. /. Termo de marinha. A
peça da borda de um navio, que cobre o
alcatrato, c é a ultima da borda; peça
quo se embute nas cabeças das taboas
para n.^o racharem quando se serram.
— Termo tio Brazil. Um sipó forte c
grosso, de trazer na mão como chibata.
TABICAR, V. a. Termo de náutica,
iletter tabicas nas cabeças das taboaa
pai'a ii."io racharem quando se serram.
TABIOO, A, adj. (Do latim tabidus).
TABO
TABO
TABU
659
Termo de medicina. Consumido pela po-
dridão, pela corrupção.
— Poilre, corrupto, ethico.
f TABIFICO, A, adj. Termo de medi-
cina. Que produz a corrupção, a podri-
dão.
TABIQUE, s. m. Parede, ou repartimen-
to feito de taboas e arcoâ de pipas, ou
fasquias serradas, para depois de tudo
pregado se encher de cal, e se rebocar.
— Parede de tabique ; parede delgada
feita de tijolos.
— Vid. Frontal, que é differente.
TABLA, adj. m. — Diamante tabla.
Vid. Chapa.
TABLADO, s. m. A parte do theatro,
onde 03 actores recitam, onde os dança-
dores dançam, etc.
— Cadafalso.
TABLILHA, s. /. No truque do taco, ó
a taboa ao redor da banda de dentro.
— Fazer as cousas por tablilha ; fazer
as cousas não por si, indirectamente, por
medianeiros, com rodeios, geitos, e meios.
— Loc. : Dar na bola por tablilha;
dar-lhe nào directamente, mas por movi-
mento reUexo.
TABO, s. 77!. Uma embarcação da Ásia.
TABOA, ou TÁBUA, s. f. (Do latim ta-
bula). Peça de madeira plana, de vario
longor, grossura, e largura; d'ella se fa-
zem portas, mesas, cadeiras, bancos, etc.
— «E Diógenes vendo que hum Astró-
logo explicava as estrellas pintadas em
huma taboa, e que chamava a algumas.
Errantes; disse com equivoca graciosida-
de : Nad mintais, bom homem, que as es-
trellas naõ erraõ; mas estes; apontando
para os ouvintes : 6. Ne mentiaris, bane
vir, stellce. nequid errant, sed hi.í> Braz
Luiz d'Abreu, Portugal medico, pag. 561,
§ 187.
No naufrágio geral, uma so tábua
Que 36 posaa atFerrar, conduz ás vezes
(Embora moribundo) á praia o uauta.
OABBETT, CATÃO, act. 2, SC. 1.
— aLeiam, que ó melhor isto que em
o mosteiro de Santarém gastar o tempo
do silencio em dar com o pé na taboa da
janella e com a chave na mesma, che-
gando pela continuação a fazer um bu-
raco. Se um d'estes martellasse na cabe-
ça com o triste Larraga, sabia definições
moraes ao menos.» Bispo do Grão Pará,
Memorias, publicadas por Camillo Cas-
tello Branco, pag. 51.
— Mesa de comer.
— Mesa de jogo.
— Cartaz, folha, ou prancha, em que
as matérias de uma sciencia estão diges-
tas, e recopiladas methodicamente, e em
resumo para se verem mais facilmente, e
com uma só vista d'olhos.
— Termo de anatomia. Lamina óssea
larga.
— Figuradamente: Taboa rasa; o en-
tendimento sem noções, sem idéas, como
a ignorância natural ao homem.
— Quadro do pintor.
— A taboa do pescoço do cavallo;
aquella face plana de cada lado.
— Mappa, estampa, ou qualquer folha
com pintura.
— Plur. Termo de náutica. Taboa de
canto quebrado; pranchões que assentam
no canto de cima da cinta do grosso, da
popa á proa, menos grossos que os d'el-
ías.
— Taboas do rebordo; as que enxo-
vam, ou entalham na quina.
— Taboas dos trincanizes; pranchões
mais grossos que os do assoalhado das
cobertas, e que ficam unidos aos trinca-
nizes pelo lado inferior d'elles.
— Dá-se também este nome a todas e
quaesquer escripturas exaradas em pau,
metaes, pedras, pannos, pergaminhos,
palmas, juncos, papyros, e toda a matéria
bem disposta para n'ella se imprimir,
gravar, ou escrever alguma escriptura.
— Termo de mathematica. Seguimento
de cálculos, dos quaes se precisa para va-
rias operações. — j4s taboas loganjthni-
cas de Callet.
TABOADA, «. /. índice de livro. —
«Podemos chamar a hum homem destes,
o Índex de todos os bons livros, a Taboa-
da de todas as sentenças, e o Calendário
de todas as discriçoens.» Cavalleiro de
Oliveira, Cartas, liv. 1, n.° 17.
— Quadrado arithmetico, em que se
ensina a multiplicação dos números, e ou-
tras noções elementares de arithmetica.
TABOADO, s. m. Reunião de taboas.
TABOÃO, s. m. Augmentativo de Ta-
boa. Taboa grande e grossa, pranchão de
taboa.
f TABOAZINHA, s. /. Diminutivo de
Taboa. Pequena taboa. Vid. Taboinha. —
«Estes presos, tãto que pela justiça saõ
entregues nesta prisaõ, de que se passa
certidão a quem os leva, os soltão logo
das prisões em que vieraõ, e andSo todos
soltos sem terem mais que huma taboa-
zinha pequena de quasi hum palmo de
comprido, e quatro dedos de largo, muvto
delgada, na qual está escrito, Foão de tal
lugar, condenado ao degredo geral por
tal caso, entrou em tal dia de tal mez e
de tal anno.» Fernão Mendes Pinto, Pe-
regrinações, cap. 108.
TABOCA, s. /. Canna brava do Brazil,
cercada de puas mui solidas e agudas.
TABOCAL, s. m. Local onde ha tabo-
cas, niatta d'ellas.
TABOINHA, s. /. Diminutivo de Ta-
boa. Taboa pequena. — «E os que com-
praõ isto andSo pelas ruas tangendo em
humas taboinhas como quem pede para
Saõ Lazaro, e assi declaraõ o que querem
comprar porque naõ deixão de entender
quão cujo he o seu nome próprio, e quão
mao para se apregoar pe^as ruas.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 98.
TABOLA, ou TABULA, s. /. (Do latim
tabula). Peça redonda de osso ou marfim,
de que se usa para jogar o gamão, as da-
mas, etc.
— Figuradamente : Pessoa que não tra-
balha.
— Termo antiquado. Mesa.
— Loc: Entrar a alguém tabola de
fazer alguma cousa; vir a occasião, che-
gar-lhe a vez.
— Tabula rasa. Vid. Taboa.
— A real tabola, ou tabola de Setúbal;
onde se percebem impostos de pescados,
e outros; mesa de publicanos.
— -Ser tabola que não joga; diz-se
d'aquelle que não faz, nem influe em na-
da, que não tem acção, nem modo.
— Adagio e provérbio :
— Fulano é tabola que não joga.
TABOLADO, s. m. (Do latim tabula-
tum). Bastida de taboas.
— Pavimento levantado do chão, feito
d'ellas.
— Anteparo de taboas.
— Tirar o tabolado; exercício militar
antigo. Vid. Tavolado.
TABOLAGEM, s. f. — Dar tabolagem ;
dar casa de jogo de tabelas.
TABOLÃO, s. 771. Taboa de buxo, em
que trabalha o ourives.
TAEOLEIRINHO, s. f. Diminutivo de
Taboleiro. Pequeno taboleiro.
TABOLEIRO, s. m. (Do latim tabula).
Peça do serviço usual; é uma taboa de
madeira com bordas levantadas sobre
ella, para que não caia para fora o que
vai n'elle.
— Nas escadas, depois de alguns de-
graus ha, talvez, uma pequena planície,
d'onde nasce uma outra escada, e esta
planície se diz taboleiro.
— Taboleiro de gamão ; é peça no mes-
mo estylo, com casas para as tabelas.
— Também é taboleiro toda a planí-
cie sobre degraus, que fica em redor das
egrejas, ou outros edificios.
"tÁBOLETA, s. /. Diminutivo de Tabo-
la. Taboinha pintada, ou cousa similhan-
te, pendurada em signal de que se vende
alguma cousa; n'ella se indica o que se
vende na loja, andar, etc.
— Termo antiquado. Lamina, pasta.
— Taboleta d' ourives d'ouro; espécie
de caixa com vidros, onde elles põem as
peças já feitas, para serem vistas. Vid.
Taceira.
TAB0RD0, s. m. Certa vestidura anti-
ga. Vid. Tabardo, e Atabarda.
TABORITA, s. m. Hereje da seita de
João IIuss.
TABU, s. m. O assucar, que não coa-
lhou bem na forma, nem entesta para se
lhe botar barro, e purgai- o, por ser quei-
mado ao apurar, ou mal limpo.
— Locução do Brazil : Fazer tabu ;
diz-so dos engenhos.
TÁBUA, í. /. (Do latim tabula). Vid.
Taboa.
660
TAÇA
TACÍI
TACO
TABÚA, s. f. Pallia, que survo par.a
fazer estoiras {írosaa'*, ctc.
— Loc. l'Oi'. : Mandar alguém á tá-
bua; uiaiuliil-o bugiar, uu cousa sinii-
Ihante, como a tolo e inepto, e bom jjara
esteirciro de tabúas.
TABUAL, a. m. Chão de tabúas.
TABULA, a. f. Vid. Tabola.
f TABULAR, adj. 2 gtn. — Logary-
thmos tabulares ; os logarytbmos das ta-
bo.is.
■ TABULARIO, s. m. (Do latim tahida-
riuin). Taboa, ou cartaz, onde se escre-
viam os actos públicos, que os gregos de-
nominavam tjramiuatophilacia.
— Adj. f. — Iiupresaão tabularia. Vid.
Xylographico.
TABULATO, s. m. Tabla>lo, cadafalso,
bailéo, obra feita do madeira para ii'ella
80 fazor algiun acto solomne, representa-
ção.
TABULEIRO, s. m. Vid. Taboleiro. —
«Mandou fazer de nouo o cães da pedra
do Lisboa, o tabuleiros de longo da
praia, c chafarises da cidade tudo de pc-
di-a canto. Mandou fazer o terrcií-o que
esta diante dos paços da ribeira de Lis-
bti.\ que era tudo praia, o que se fez com
gram trabalha, e despesa ate se ganhar
ao mar, como agora esta. Começou a casa
dalfandega de Lisboa a qual acabou el
Rei dom .Toam seu filUo.» Damião de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 4,
cap. 85. — «Seis mulheres a traziaõ em
outros tantos tabuleiros, fraca tropa, ain-
da que copiosa, para taõ alentados com-
batentes, quo lhe cortarão o passo, antes
de chegarem & Cidade; e aliviando-as da
carga, as lizeraõ voltar de vasio, enehcn-
do-ae do doces para a festa, e carregan-
do-se de amargozes para a Quaresma.»
Arte de furtar, cap. t3l5.
TABULISTA, s. m. Homem que faz ta-
bolas geométricas, ou astronómicas.
TABURNO, s. m. Degrau, estrado.
TAÇA, s. /. Vaso do beber, de bocca
larga, c pouco alto, de vidro, ou de bar-
ro, ou de metal.
— Figura'lamente : Htmiem amigo da
taça; homem amigo de vinho.
TAÇALHO, s. m. Vid. Tassalho.
TACAMACA, ou TACAMAHACA, s. /.
Gomma, ou resina de uma arvore da ín-
dia.
TACAMAQUEIRO, s. in. Termo de bo-
tânica. Arvore também chamada ckotipo
balsâmico, que d;l a gomma tacamaca.
TACANHAMENTE, adv. (De tacanho, e
o suffixo «mente»). De um modo taca-
nho.
— Com taoanhoza, mesquinhamente.
TACANHARIA, s. f. Vid. Tacanheza.
TACANHEAR, v. a'. Alcançar com as-
tiicia. ciim f aude, c arte de tacanho.
TACANHEZA, s. /. Acto, obra, condi-
ção de t.ioauUo.
. TAGANHICE, s. /. Tacai^heza.
— Illiberalidade avara.
TACANHO, A, adj. Fraudulento, astu-
to para o mal, volhaco, trapaceiro, quo
eugaiia com más artes, e embustes.
— Mesquinho, misero, pobre, escaco.
TACANIÇA, *. /. Termo de pedreiro.
A agua, ou lanço do telhado, que cobre
03 lados do edifieio, chamados cabeceiras,
isto ó, 08 que não sSo da frontaria, o tra-
zeira.
TACÃO, i. 771. Sola do salto do sapato,
da bnta, do botim, etc.
TACEIRA, s. /. Termo de ourives. O
balcào ou mostra<lor, onde elleá tem as
taças á mostra. Hoje usam taboletas, lou-
ceiras.
— Alguns escriptores dizem que é uma
espécie de pequeno armário com lios de
arame na parte dianteira, entre os quaea
SC vêem as peças de prata, e dizem que
03 ourives do ouro lhe chamam tabuleta.
TACHA, s. /. (Do francez tache). Man-
cha, macula, nódoa, defeito, falta quo se
põe em alguém.
— Figuradamente : Prego de cabeça
dourada, ou prateada.
— Espécie de tacho grande.
— Censura do defeito. Vid. Taxa.
TACHADA, s. /. Um tacho cheio de
cousa que n'olle se coze. — Uma tacha-
da de jiapas.
TACHADO, part. pass. de Tachar.
— Maculado, manchado.
— Censurado, notado. Vid. Taxado.
TACHADOR, A, s. e adj. (De tacha, e
o suffixo «dõr»). Que pòe tacha, nota,
que diz os defeitos, que os põe em publi-
co, o faz advertir u'elles.
— Censurador.
TACHÃO, s. m. Tacha grande, prego
de cabeça dourada, de ornar arreios, ca-
pas de livros gi andes, etc.
TACHAR, i'. a. Notar, censurar. Vid.
Taxar.
TACHIM, s. t/l. Bolsa ou capa de cou-
ro para resguardar um livro que está ri-
camente encadernado.
TACHINHA, s. /. Diminutivo de Tacha.
Tac.a pequena.
TACHO, í. m. Vaso de cobre, ou ara-
me, com azas nas bordas, no qual vaso
se aquece agua, e outros usos: serve tam-
bém para vários misteres a biirdo.
TACHONADO, A, adj. Cravado de te-
chões.
TACHONAR, v. a. Cravar de tachões;
guarnecer com tachões.
TACHOSINHO, ». jh. Diminutivo de
Tacho. Pequeno tacho.
TACHYGRAPHIA, .'. /. Arte do escre-
ver mui rapidamente por abreviaturas, ou
signaes, que representam as letras, ou
muitas -svllabas, de sorte que se escreve
o que o orador mais rápido diz : esta arte,
restaurada em nossos dias, estava em
grande nso entro os jiovos romanos.
i TACHYGRAPHICAMENTE, idv. (De
tachygraphico, com o suãixo «mente»).
Por meio da tachygraphia.
TACHYGRAPHICO, A, adj. Qoc ijerten-
ce :i t:ic!ivgra|i!íia, que lhe diz rejipcito.
TACHYGHAPHO, ». m. rI)o grego ta-
chas, t: grapfuj,. Homem que se occupa
da tachygraphia.
— Homem que escreve por abreviatu-
ras rapidamente com letras, e aigoaes
que encurtam a escriptura ao longo, e
ordinário.
f TACHYMETRO, «. m. Instrumento
que serve j>ara medir a velocidade do
movimento de uma machina.
TACINHA, ». /. Diminutivo de Taça.
Taça pequena.
TACITAMENTE, ate. MJe Ucito, com
o sufíixo «mente»;. De um modo tácito.
— Sem palavras, expresaCeis, sem con-
venção, ou ajuste expresso.
TÁCITO, Á, adj. íDo latim taeitvt).
Calado, sem palavras.
— Que não faz rumor.
— Que se entemle, e deduz d'alguma
acção, desacompanhado de palavras.
f TACITURNAMENTE, adv. (De taci-
turno, com o snffixo «mente •). De um
modo taciturno.
TACITURNIDADE, *. /. (Do latim taci-
tunulas). Humor de uma pessoa taci-
turna.
— Termo de pathoiogia. Silencio mór-
bido e prolongado, no symptoma das af-
focções nervosas, e mormente da melan-
colia.
— Silencio que se guarda.
TACITURNO, A, adj. (Do latim taci-
turnus). Que é de humor de fallar pou-
co, silencioso, que falia pouco.
Vejo o frio Danúbio, o grão BruclLei«
Nascido foi para illuãtrar o Mundo :
Dèo-lho 03 Annacs da Sapiência humana.
Mais do que o Sab'0 da Kstagira escuro,
Mais do que fura Lvcofroiite o Vate,
Vejo a Kant taciturno, ou vejo o Euigma
Não dccifravel, não, a Édipo em Thebas.
J. A. DE UÀCEDO, VIAOEli KXTÁIICA., CSnt. 2.
ns-
— Sombra taciturna ; sombra que i
pira silencio.
As mãos apalpão sombra taciturna.
Não ?urgc, não se vê no Egypto o dia,
lirilha ao reato do Mundo a luz diurna,
Tudo hc noite no Egyto espessa e fria :
Dentro as trevas então da eterna fuma
A dura movto horrifie* Bahia,
Nas mãos a fouce traz, que o Muodo asaola,
Milbocuâ de primogénitos degola.
j. Â. DB UAOEDO, o oBiuiTB, cant. 9, est. 90.
— Diz-se também : Um espirito taci-
turno, am caracter taciturno.
— Que se torna taciturno.
— Syn.: Taciturno, silencioso. Vid.
este ultimo termo.
TACO, 5. m. Hastca de pau torneada,
de que se usa para dar impulso ás bolas
no jogo do bir.:ar, e outros.
— Termo de náutica. Piar. Buchas
TACT
TAES
TAFI
661
das peças de artilheria ; são feitas de fio
de carreta.
— As bucbas de madeira, destinadas
a encher os rombos, que fez no costado
do navio a artilheria inimiga.
— Peça da atafona, em que assenta o
carrete.
TACTEAR, V. a. (Do latim tactus).
Apalpar, tomar conhecimento pelo tacto
das mãos.
Nada posso som ti. Se teus prodígios,
Ua ebúrnea Lira tiKteando as cordas,
Em almos hiinnos celebrar portendo,
Em circulo mortal fechado existo,
Onde da humana insipiência a nuvem
Me rouba objectos mil, que os que me cercão
Quasi infinitos Horizontes guardào.
J. A. DE MACBDO, A NATUBKZA, Caut. 1.
Té màos Imporiaes viste, ó Florença,
Depoudo o Soeptro, tactear Cadinhos,
Tanto pode o prazer, podo o prestigio !
Mas se dellcs a Purpura nào foge,
Fogem por certo as Musas dVspantadas.
IDEM, VIAQEM EXTÁTICA, Cant. 4.
— Figuradamente : Tactear os espíri-
tos, o negocio.
TÁCTICA, *. /. (Do grego taktos). A
arte de combater, e empregar as três ar-
mas principaes, de infanteria, de caval-
laria, e de artilheria, nos terrenos e po-
sições que lhe são favoráveis. A táctica
executa os movimentos que sSo ordena-
dos pela estratégia. A táctica consiste
em ordenar as tropas em batalha, e fa-
zer as evoluções com esquadras e exér-
citos.
TÁCTICO, s. m. Homem que entende
bem a táctica, que é hábil n'tílla.
TACTICOGRAPHIA, s. /. (Do grego ta-
ktikS, e graphú). Delineação das mano-
bras militares; representação graphica
das evoluções bellicas.
TÁCTIL, aòj. 2 gen. (Do latim iacti-
lis, de tactus). Termo didáctico. Que é
ou pude ser objecto do tacto. — A vista
descobre a luz e as cores; o ouvido é
afFectado pelos sons ; o gosto pelos sabo-
res; o olfaío pelos cheiros, e o tacto pe-
las diíFerentes qualidades tactis dos ob-
jectos.
— Que diz respeito ao tacto, ao to-
que.
t TACTILMENTE, adv. (De táctil, e
o suffixo «mente»). De um modo táctil.
TACTO, s. m. (Do latim tactus). Um
dos cinco sentidos que pertence ao órgão
cutâneo, e que faz julgar de certas qua-
lidades dos corpos, de sua solidez, ou de
sua tluidez, de sua humidade, ou de sua
seccura, de sua temperatura, etc. — O
exemplo d'este illustre cego prova que o
tacto póJe tornar-se mais delicado e fino
que a vista, quando é aperfeiçoado pelo
exercício. — O tacto é o primeiro senti-
do que se desenvolve e o ultimo que se
extingue.
Como impalpáveis átomos s'esquivão
Do indagador profundo ao tacto, á \'Í3ta ;
Esconde-se a figura, e muitas vezes
A existência também : miuimos seres.
Em que toda se mostra a Omuipotencia.
J. A. DK MACEDO, A NATLBEZA, Cant. 3.
— Figuradamente : Juizo tino e segu-
ro em matéria de gosto, de conveniência,
e do uso do mundo. — Este homem tem
tacto. — Finura de tacto.
— Pelo tacto ; ás apalpadellas.
— O toque de um corpo em outro.
— Vid. Toque, e Contacto.
TACTURA, s. /. A acção de tocar, e
de ferir os instrumentos.
TADEGA, s. f. Uma herva, ou arbus-
to, que tem o tronco felpudo.
TAEL, í. m. Moeda do Oriente. O tael
divide-se em dez más, cada más em dez
condorinos, e este em dez cackes. — «E
que a fora estes lhe rendia mais esta
cidade outros cem mil taeis dos teares
da seda, da cânfora, do açúcar, da por-
celana, do vei-melhão, e do azougue, das
quais cousas nos disserão que avia aquy
grandíssima quantidade.» Fernão Men-
des Piato, Peregrinações, cap. 96.
1.) TAES, s. VI. Peça de ferro, espé-
cie do bigorna cravada em cepo, usada
pelos ourives; sobre elle batem os me-
taes.
2.) TAES, plur. de Tal. Vid. Tal. —
«Estas e outras cousas passou o caval-
lelro Triste comsigo só, por onde Prima-
liào acabou de conhecer que era seu fi-
lho Florendos, e, como quem já passara
polo fio d'outras taes imaginações no
tempo da sua Gridonia, doiam-lhe as suas
como se nl>so fora a principal. u Francis-
co de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. õl. — «Deixa a historia de fallar
nelles, por fallar da partida d'Albayzar,
de cujas obras é bem que se faça memo-
ria, pois não eram taes que mereçam es-
quecimento.» Ibidem, cap. 130.
Se acazo algum dos taes diligcnceia
Saber astuto em que me ocupo agora.
Pelo naõ precizar a vir cá fora.
Eu lhe digo o que faço nesta aldeia.
ADBADE DE JAZENTE, POESIAS, tOm. 2, pag. 101.
Ha também costumes tats
em Pegu, que homens cupetem,
a qual delles terá mais
em seus membros genitais
cascaueis, onde os metem,
ha sua carne cortando.
a. DB KEZENDB, UI3CELLANBA.
Vimos taes cousas passar
em nosso tempo e idade,
que, se se ouuiram contar,
por mentira e vaidade
se ouueram de julgar.
IBIDEM.
ou VÚ3, molhor, alguma ora
com dinheiro vos achastes,
e o emprestastes
á escada, c o p.iga agora,
ou não entendo taes contrastes.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pag. 413.
sem o hospede, armastes
muitas contas, taes euleios
que tudo em carvão achastes.
iBiDBH, pag. 409.
• — «Senhores dos taes lugares, e tem
assento nas Cortes depois do.s Fidalgos
do Conselho.» Severim de Faria, Noti-
cias de Portugal, Disc. 3, cap. 27.
-Mli, só, (mais soffrido, que cm vêr Bárbaros
Entrar na Chuça) eu sobre murchas folhas,
^Icdiava o dia; aUi, desamparado,
Me sutibeava o faino das unturas.
Com que de Freixos amassavão cinzas,
(Pommada de táes grenhas) c o ruin cheiro
Das carnes que grclhavão ; e o ar captivo
Da Choça, em fumo pcremial densada...
F. M. DO NASCIMENTO, OS MABTYBES, 1ÍV. 7.
Da frstmea, as vozes iaes, a ponta afliada
Furioso, ao Gallo, Chloderico alonga,
Dizendo (bem que a voz lhe atalhe a Cólera)
Nem olhos pòr-lhe ousaras.
Se cm taes indagações, se em taes estudos
Mui longe do confuso Labyrintho
Das humanas paixões, de infaustos erros.
Aprende a conhecer, e amar o Eterno,
Só de bens larga Fonte, immenso Oceano.
J. A. DE MACiíDO, VIAGEM EXTÁTICA, CaUt. 1.
Taes so observão Exércitos contrários
Nos campos teus, e frigidas montanhas.
Oh Germânia infeliz, e Hesperia afllicta,
Aeomctter-se em fervida peleja.
rOEM, A NATUEEZA, Cailt. 2.
Taet as eternas Leis, qu' a Natui-ez»
Submissa, e muda observa, quando a terra
Do seio entorna as liquidas correntes.
TAFACEIRA. s. ./''. Vid. TaCcira.
TAFÁCIRA, s. /. Vid. Taficira.
TAFETÁ, s. wi. Estofo de seda brilhan-
te. — Vestido de tafetá.
Não se ha cá por fidalguia
de noite como de dia
sem calção de tafetá,
que roçando um n 'outro vá
rebuço de fantasia.
ASTOHIO PBE3TE3, AUTOS, pag. 1Õ9.
— fAs Gentias nam curão destas cou-
sas, mais que nas orelhas, as quaes furão
tanto que a muytas cõ o pezo do ouro,
ou prata, lhe chegam ao pescosso, gar-
ganta, e ainda aos ombros. As camisas
das Persianas, e Turcas, saõ muy finas
de tafetá de cores, lauradas no cabeção,
e magas." Fr. Gaspar de S. Bernardino,
Itinerário da índia, cap. 13.
TAFIA, s. /. Aguardente que se faz do
melaço do assucar.
GG2
TAFU
TAIP
TAL
TAFICIRA, s. f. (lenoro <lo tocMo da
Indi.-i, ]iint;ilo de côni.s cm li.stnH, o ra-
mo» HÍiiiilliaiit(;.i ás chitas.
f TAFONA, 5. /. Vid. Atafona.
Traz-voi ci por ailuriMitc V
í^oiilioni, si, quií o doinandam.
K dinlieiío tão corrente
adclaDciuH uiitrc a ^unto
([ue por tafonaa anduin.
iiroxio puams, autos, pag. 141.
TAFONEIRO, s. m. Vid. Atafoneiro.
TAFOREA, .'. /. EinlKircavão asiática
do guorra, ou de transporto. — «Dado o
recado, Feniain do magalhacns so tornou
para taforea por llio assi dizor Garcia de
Sousa ([uc íicaua ncUa com inuito pouca
gente, o coatramcàtre cm chegando a ga-
uoa vio estar hum dos Malaios que era o
filho do Vtetimutaraja, detrás de Diogo lo-
pez eom hum eris nico arrineado, c (juc ou-
tro Malaio ([ue estaua defronte deste lhe
acenaua que o não fezesse, como quo lhe
dezia ([ue não ora ainda tempo, por não ve-
rem o sinal da fumaça.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 3, cap. 2.
— fl^jllo qual a mais da dita armada se
desarmou, e mandou el Rey ontam o dito
Fernam Martinz Mascarenlias eom trinta
carau(dlas, e taforeas, e com elle cento
o cincoonta de cauallo, homens fidalgos,
e caualloiro.s de sua guarda.» (! areia de
Rezende, Chronica de D. João II, cap. 76.
TAFUL, adj. e s. 2 gtn. Quo é joga-
dor por oflRcio, ou por habito. — «Aqui
podem entrar os tafues, que jogaõ com
dados falsos, e cartas marcadas, cujas
unhas oecultas com taes disfarces se ma-
nifestaõ, e fazem sua pi'eza com mãos
continuadas em ganhos, para quem vay
senhor do jogo, e sabedor da maranha.
E nisto naõ ha opinião, quo os escuse de
furto mais aleivoso, que o do ladraõ, que
saltoa nas estradas.» Arte de furtar, cap.
55.
— Figuradamente : Taful no seu ofi-
cio; o quo o sabe muito, e o executa bem
por muita pratica.
— Figuradamente : Que vive alegre-
mente, e se entrega a toda a espécie de
divertimentos.
— Modernamente emprega-se também
no sentido de casquilho, peralta, pintale-
gretc, etc.
TAFULAO, ONA, s. m. Augraentativo
de Taful.
TAFULAR, i'. )i. Fazer vida de taful.
TAFULARIA, s. f. A vida do taful, o
porte delle. — Entregar-se á tafularia.
— Direito real antigo que se pagava a
ol-i-ei: talvez fosse das casas de jogo. Vid.
Voz.
— Ajuntamouto do tafues.
— Por tafularia; por funcçào, diverti-
mento cm sucia do similhantes gentes es-
túrdias.
— Casa de tafularia ; c^vsa do jogo.
TAFULHAR, r. a. Termo popul:.r. Ta-
par embutindo, ou embebendo alguma
cousa, que tapo a abertura.
TAFULHO, s. m. O qua se embebe para
t'ifalliar, ou tapar.
TAFULICE, í. /. Vid. Tafularia.
TAFUR, f. o adj. Vid. Taful.
TAGANA, «. /. Vid. Tainha, e Fataça.
TAGANTAR. Vid. Ataganlar.
TAGANTE, «. m. Termo antiquado.
(iolpu de Jiçoutc, ou azorrague, quo corta
c n^talha a carne.
— Fart. ucl. do Tagantar, e do Tagar
TAGAR, i'. a. Teruio antiquado. (Jor-
tar, ferir.
1 .) TAGARELLA, .?. 2 gen. Pessoa que
falia muito, c dcscntoadamente. — EsU
homem é um lagarella.
2.) TAGARELLA, TAGARELLADA, s. f.
Gritaria, motim.
TAGARELLAR, r. n. Termo popular.
Dar á taramela, fallar muito do cousas
frivolas, ou que cumpria calar.
TAGARELLICE, «. /. O vicio de fallar
muito.
— Cousa de pouca importância dieta,
ou escripta.
— Indiscrição.
TAGAROTE, s. vi. Espécie de falcão
africano, o qual é tido por bafari.
— Figurada c popularmente : O homem
pobre, que vai onde lho dão de comer, e
devora quanto pôde; de ventre aventu-
reiro e voraz.
TAGE, .«. 7H. Termo da Arábia. Coroa.
TAGECIA, s. /. Termo de botânica.
Cravo (lo defuneto.
TAGEDA, s. /. Vid. Tagueda.
TAGICO, A, iidj. De Tejo, rio do Lis-
boa. — A tagica lyra.
TÁGIDE, s. /. Termo de poesia e my-
thologia. Nympha do Tejo.
— Figuradamente: Damas lisbonenaes.
TAGRA, «. /. Medida de vinho, seis
das quaes faziam meio almude coimbrão,
que 6 um cautaro de vinte e quatro quar-
tilhos. Era pois a tagra uma ta(;a que
levava uma canada de vinho; o era esta
a raçào d'elle que D. Aíionso Sanches
mandava dar diariamente ás religiosas de
Villa do Conde, de que era o fundador,
e dotador magnifico.
TAGUEDA, s. /. Herva.
TAIEO. = Palavra de significação in-
certa, cn\pregada por Camões no Rei Se-
leuco. Parece querer dizer se;n saòor, »;»-
discreta.
f TAIFA, s. f. Termo de náutica. A
porção de soldados e marinheiros que na
occasiào de combate guarnecem a tolda e
o castello de proa, designando-so taifa da
jiôpn, e taifa da proa.
TAIMADO, A, adj. Fino, repassado,
velha, o ca limo c muito astuto, malicioso.
TAIMBO, .S-. VI. Vid. Tambo.
TAINHA, s. /. Termo do historia natu-
ral. Peixe vulgar do rio; aliáa fataça,
ou tagana.
TAIPA, s. /. Parede feita de terra, ou
barro calcado entre dous taboJSes paralle-
lo», ou taipaes, a cuja 'listancia 6 pro-
porcionada a grossura da jiarede; esta é
taipa de pilão, ou <1* foriiiigão. V^id.
Pilão, e Formigão.
Sfliihora, qup laipa I: «Ma ?
tapacK o que bcin parpccT
ora L-Ane rojto ap^iaroça.
AVTOiío Pisaras, Auroa, pag. 183.
— Taipa real; rebocada de mistura de
cal, c barro.
— Taipa efe ttie; 6 do esteios gradados
com ripas, ou vara», e cheios os víos de
barro mollo, com que depois se cmboça o
alisa a parede d'c«ta taipa. Vid. Sebe.
— Plur. Termo de náutica. I^cciuss
das jtrras írartiilicria, tapa.
TAIPADO, part. pasi. de Taipar. Fe-
chado, atalliado com parcdoa de taipa.
Vid. Taipal.
TAIPAL, s. m. Termo usado no plu-
ral. As taboas entro as quaes se calca o
barro, quando se faz a parede de taipa.
— Parapeitos de terra taipada em tor-
no dos arraiaes; ontrincheiramento de
taipas.
— Adj. 2 gen. — Carro taipal; o que
tem bordas altas de taboas, no leito, para
levar cousas niiudaa, entre os taipacs; o
com m um dos carros tem fueiros petos
lados, que contém a carga no leito de
grade com c.ideias de taboas.
— Parapeitos taipaes; parapeitos fei-
tos de taipa.
TAIPAR, V. a. Socar a taipa, oa fazol-a
de terra.
TAIPEIRO, í. Til. OflBcial que faz Uipa.
TAIREL, s. m. Pareço ser erro por ba-
tel, ou taurel, de taurim.
TAITÁ, *. /. Vid. Tatá.
TAIXA, s. f. Vid. Taxa, e Tacha, que
diflercm entre si.
TAIXAR, V. a. Vid. Taxar.— «E tira-
dos estes casos, a iii'>s praz, que os que
assy forem taaes pessoas, que sejaò pêra
servir outrem, que sejaõ pêra ello cos-
trangidos pelas Justiças da terra, pela
guisa que se usava nos tempos dos outros
Reyx, taiiando-lhes as soldadas pela gui-
sa, que nós acordamos em nosso Senho-
rio, p Ord. AffoQS., liv. 2, tit. 29, § 6.
TAJAÇÚ, s. «1. Termo de historia ua-
tural. Javali ou porco dos mattos da Ame-
rica, conhecido em Cayenna pelo nome
de porco dos bostjues,
TAL, adj. 2 gen. (Do latim talit).
Igual, similhante a outra cousa doscripta.
— «E porque elles fazem mui mal dea-
pensarem com a Ley, e fazem todo con-
tra nosso mandado, nom avendo tal po-
der; com acordo dos do Nosso Conselho
peemos por Ley, e Mandamos, que ne-
nhum Alquaide maior nom dê licença,
nem mande trazer armas nenhumas a ne-
nhuns, que com elle vivào, nem a outras
nenhumas pessoas daquellas, a que per
TAL
TAL
TAL
663
Nós he, ou for defeso.» Ord. Affons., liv,
1, tit. 23, § 53. — «E esto uoiii aja lu-
gar nas casas da morada, que alugarem
pêra morar, em quanto andarem nos di-
tos Officlos; porque tal aluguer e arren-
damento polerom licitamente fazer sem
embargo d'esta Lei.» Ibidem, liv. 4, tit.
61, § 1. — «Ou antre algum delles, e
aquelle, de cuja herança se trautava, per
que nom herdasse em sua herança, ou
outro semelhante; porque ainda que tal
contrauto em alguns casos nom valha per
direito, pode-se pêro confirmar per jura-
mento segundo Direito Canónico, por
nom seer tao reprovado como os outros. »
Ibidem, tit. 62, § 6. — « E se algum
Chrisptaaõ fosse achado a fazer o cou-
trairo, fosse feito servo daquelle, que o
achasse tal cousa fazendo ; e aalem desto
todos seus beens fossem confiscados pêra
a Coroa dos Regnos daquelle Rei, ou
Princepi, cujos sobditos fossem aquelles,
que 03 assi achassem levar as ditas cou-
sas vedadas.» Ibidem, tit. 63. — «Aca-
bando de lho metter na mão, antes de es-
perar resposta, se foi traz as outras : o
do Salvagem contente daquellas palavras,
depois de deitar-se na cama, metteu o
anel em um dedo da mão esquerda; mas
como este anel fosse forjado pcra aquelle
fim, acabado de o metter, ficou sem ne-
nhum acordo, porque uma pedra, que
nelle vinha, era de tal composição e qua-
lidade, que em quanto lho não tirasse
fiíra não acoi-daria.» Francisco de Mo-
raes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 113.
— «Eu sou esse, que perguntas, disse o
do Tigre, e folgo muito de a quereres em
tal lugar, pêra que em publico se veja
como Deus castiga teus erros. Ora pois
assim te praz, disse o gigante, fique pêra
amanhã, que hoje é já tarde, e em tanto
mandarei concertar o campo, onde se ha
de fazer batalha.» Ibidem, cap. 117.
Ja vos pregnoi as janellas,
Porquo não vos ponhais ncUas ;
Estareis aqui encerrada
Nesta caga tão fechada,
Como freira d'OudiveLlas.
Que poccado foi o meu ?
Porque me dais tal prizão ?
SIL TICBXTE, FABÇAS.
So nunca fora outra tal,
Disséramos que era mal
Por serdes vós a primeira ;
Somos eira de cangrejos.
inEM, COMEDIA DE BCBENA.
Vi que em Africa aqueceo
ser morte, e fome muy forte :
cauallos, e gado morrco,
muy ta geuto percsceo,
nunca foy tal fome e morte.
o. DE P.EZEXDB, MISCELLANBA.
— «Todavia Aífonso d'Alboquerque,
por ser de tal Príncipe, e elle Embaixa-
dor o visitar de sua parte, lhe fez muita
honra, e gazalhado. E depois quando este
Embaixador se foi pêra Ormuz, havendo
embarcação em Goa, per ordenança de
Aftonso d'Alboquerque, mandou com elle
hum Miguel Ferreira, homem honrado, e
de bom saber natural de Beja com reca-
do seu ao Xeque Ismael Rey da Pérsia. »
Barros, Década 2, liv. 7, cap. 3. — «O
qual, posto que fez muita honra a Diogo
Fernandes, não lhe concodeo a fortaleza
em Dio, dizendo, que se Melique Gupi
escrevera a AíFonso d'Alboquerque que
elle a dava, tal não era, casa de feitoria
si, e a fortaleza em Çuri^ate que o mes-
mo Melique Gupi tinha, ou em cada hum
destoutros dous lugares, Maim, e Bom-
baim.» Ibidem, liv. 10, cap. 1.
Sou d 'escrúpulos mui f6ra,
nem com almofada tcd
cm que lavraes tão louçã,
não faleis, nem com didal.
AKTOXIO PRESTES, AUTOS, pSg. 2i3.
Olhae cá, senhor, minha filha
não é quem cuidas, é vento
atrcvcr-30 pensamento
querer correr tal manilha ;
tem lo.ige o merecimento
minha filha.
iBiDPiM, pag. 485.
— «Confesso que o amor da honra,
pôde bem ser que excessivo, arruine a
minha fortuna. Comtudo não me posso
arrepender de hum tal amor vendo que
a elle devo o favor, e toda a honra que
V. S. me faz.» Cavalleiro d'01iveira.
Cartas, liv. 2, n.° 16. — • algnis perpen-
diciãaris : He certa exhalaçaõ chamada
assim, porque trás a fonna de huma figu-
ra piramidal de tal sorte direita, como se
fora medida pello perpendiculo geométri-
co, a que o vulgo dos officiais chama pru-
mo.» Braz Luiz d'Abreu, Portugal me-
dico, pag. -423, § 7õ.
Colhêr-me veio, em tal aíTògo, o Dia ;
E, co' elle, vozes: — -Sus, Romano Escravo.
Pélle de Javali, com que me cubra,
Corno de Boi me dão, por onde beba,
E um seceo peixe, para o meu repasto.
F. M. DO SASClmEXTO, OS MABTTBES, 1ÍV. 7.
Queres ouvil-o ?
E porque não ?
Discorda
Condescendência tal de teus princípios.
GABBETT, CATÃO, aCt. 2, SO. 4.
— «Certo é que o tal duque fazia diá-
rio da.s indecencias e misérias de muitas
pessoa.s illustros; vendo o mundo o casti-
go em sua casa sem passar a terceira ge-
ração. Aprendamos, e tenhamos compai-
xão das misérias do mundo, e ate daj do
duque e sua casa.» Bispo do Grão Pará,
Memorias, publicadas por Camillo Cas-
tello Branco, pag. 160.
— Algum.
— Refere-se ao attributo.
— Emprega-se também nas compara-
ções e exagerações.
— Agua tal; agua sem mistura, agua
pura.
— Emproga-se como palavra correla-
tiva.
que do qne príga aconselha
não do que elle é peccador ;
mas cu sou do qual pastor
tal a cabra, tal a ovelha.
ASTONIO PBÍSTES, AUTOS, pag. 31Õ.
— Em tal extremo; muito, a tal pon-
to. — «Que na verdade é tanto pêra lou-
var, que parece que hi se esmerou em
tal extremo a natureza, que a fez pêra
mostra de toda sua perfeição ; e não é de
erêr senão que Palmeirim tem a razão
cega, a vontade penhorada em outra par-
te.» Francisco de Moraes, Palmeirim
dlnglaterra, cap. 104.
— De tal maneira; de tal sorte. —
«Porque dizem que na carne onde toca-
va qualquer daquellas gotas, a queimava
de tal maneyra, que com huma dôr in-
comportável lhe penetrava até o mais in-
trínseco dos ossos, sem aver vestido nem
outra cousa alguma que sobre sy puses-
sem que lhe pudesse fazer resistência.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações,
cap. 93.
— Em tal guisa; em tal modo, de tal
maneira, de tal sorte. — «E quanto he aa
Lei d'ElRey Dom AfFonso o Quarto, que
falia na pena posta e prometida no con-
trauto illicito e reprovado per Direito,
Dizemos que nom aja lugar nos contrau-
tos torpes, ou que segundo razom natu-
ral nom podem seer compridos de feito,
ou som reprovados per direito em tal
guisa, que nom podem seer confirmados
per juramento.» Ord. Affons., liv. 4, tit.
62, § 6. — «Os quaaes contrautos som
contra Direito Comuum, e reprovados per
elle em tal guisa, que nom podem seer
confirmados per juramento ; ca seendo
taes contratos, que ainda que fossem con-
tra Direito, pudessem ser confirmados per
juramento, em taaes casos Mandamos que
haja lugar a dita Lei.» Ibidem.
— Em tal caso. — «E esto que dito he
averá lugar no caso, quando o devedor
principal for presente, a saber, na Afilia,
hoade for morador, ou em seu termo ; e
seendo elle ausente do termo, ou da Vil-
lo, hu for morador, era tal caso poderá
seer demandado, e condapnado sem o pri-
meiramente seer o principal devedor.»
Ord. Affons., liv. 4, tit. 54, § 3.-— «E
quando algum fosse preso per autoridade
de Justiça, e aprisoado em carcer pruvi-
co, em tal caso, se elle quiser fazer obri-
gaçom, ou algum outro contrauto a aquel-
le, per cujo requerimento foi preso, ]\Ian-
damos que nom valha, salvo seendo hi
presente o Juiz, que o mandou prender.»
664
TAL
TALA
TALA
Ibidem, tit. 57, § 3. — «Se essa Senten-
ça (l'appellaçom fosse dada contra ello
injiiHtainonte o contra direito, ])0.r igno-
rância lios Juizes, ou por fazer injuria a
esse reco (leiíiiiiiiiailo, ou grn^a ao de-
mandante, oin tal caso nom soja aquelie,
que foi nomeado c chamado por autor,
theudo a correfrer e compoer essa de-
manda assi vonciíla ao reoo principal-
mente demandado, porque a injuria ou
gra^^a feita pelos Juizes ao demandado,
ou ao domamiador nom deve em tal caso
cmpeeccr ao que foi nomeado por autor.»
Ibidem, tit. .''lO, v> G. — «E se a divida
descender (ra!fi;num nialeficio, ou casi ma-
lefício, em que alp;uom fosse condapnado,
em tal caso deve esse devedor geeral-
raente seer proso, ataa que pague da ca-
dea.» Ibidem, tit. 67, § 5.
— Sub tal condição ; debaixo de simi-
Ihante condição. — «Diz o Direito, que
se algum homem vender a outro alguma
cousa, quer movei, quer raiz, sob tal
condiçom, que se o comprador nom fozer
a pagua ataa hum dia assinado, que a
venda seja nenhuma, se a pagua nom
fezer ata aquelie dia. a venda será ne-
nhuma, segundo a condiçom.» Ord. Af-
fons., liv. 4, tit. .57, § 3.
— Substantivamente : O tal. — «Quem
ateegora esteuo em sua dureza, e nam
quis mimendar sua vida e fazer peni-
tencia por suas grandes culpas, se hoje
esconjurado pella morte o payxam do
DEOS ainda fica duro o surdo, que re-
médio se podcraa achar pêra sua conuer-
sam? Bem podemos dizer que o tal he
hum daquellcs a que Sam Paulo cliama-
ua filhos de desconfiança, que quer dizer
homem de cuja saluaeam se pode descon-
fiar.» Frei Barthdlomcu dos Martyres,
Catecismo da doutrina christã.
— Que tal ê?
Quéa entrar n'um certo engano
comigo de parceria ?
Que tal è."}
A!«TO!(I0 PBKSTK5, ACTOS, pag. 219.
— Com tal que; comtanto que.
— Pov tal ; comtanto.
— Tal ^jor tal ; condiç.Tlo, ou retorno
igual ao outro.
— Adágios e provérbios :
— Quem faz mal, espere outro tal.
— Taes somos nós, taes sereis vós.
— Taes como taes. Tal por tal.
— Taes alfaces para taes beiços.
— Tal vae de guerra.
— Tal ó o servo, como o senhor.
— Qual o rei, tal a grei.
— Tal te vejas entre inimigos, como
pássaro na m?lo de meninos.
— Tal genro como o sol de inverno,
— Tal é o dado, como seu dono.
— Tal & a casa da dona sem escudei-
ro, como fogo sem trasfogueiro.
— Qual o pne, tal u filho; qual o fi-
lho, tal o pae.
— Tal grado liaja, quem o asno pon-
toa.
— Qual cabeça, tal siso.
— Tal ó o rábilo pela manhJI, como a
laranja A tarde.
— Qual 6 Maria, tal filha cria.
— Tal 6 o demo, como sua mao.
— Tal virá, que tal queira.
— Qual é o cão, tal 6 o «lono.
— A tal posta, tal talho.
— Com taes me acho, tal me faço.
— Emprc^sta^ife c n3o cobraste, e se
cobraste não tanto, o se tar.to não tal,
e se tal inimigo mortal.
— O ladrão cuida que todos taes são.
TALA, s. /. Peça plana do madeira,
que se põe com outras em redor de algu-
ma cousa, que se quer apertar, a qual cm
meio d'ellas so diz entalada; em redor
da perna ou braço quebrado põe-se talas,
para o ter seguro e direito, encanado.
— Estar, metter-se, vèr-se em talas ;
metter-se em angustias, apertos,' casos
difficeis para todos os lados.
— O acto de talar os campos.
— Ficar entre duas talas.
— Plur. São também linlias com an-
zoes aboiados.
TALABARTE, s. m. Talim, boldrié, cin-
tuião.
TALACA, s. f. Termo da índia. Repu-
dio, ou liltollo de repudio.
TALADOR, s. 7/1. Homem, que tala, de-
vastador.
TALAGA, .«. /. Uma arvore da índia.
TALAGARÇA,' ou TALAGARSA, «. /.
Panno grosso e ralo, sobre o qual se faz
a tapeçaria.
TALÂGAXA, s. f. Espécie de tecido
de linho. Vid. Talagarça.
TALAGREPO, í. /. Termo da Ásia. Um
sacerdote ou religioso da Ásia. — tE
perguntando nós aos Chins, se tinha aquil-
lo conto, responderão que sy, porque tu-
do estava escrito por matricolas das três
mil casas que os talagrepos tinhaõ cm
seu poiler, o que não avia casa daqnel-
las que uão rendesse cada anno de dous
mil tacis para cima, de propriedades que
defuntos lhe tinhaõ deixado por descargo
de suas almas.» Fernão Jlendes Piuto,
Peregrinações, cap. 100. — «Avendo ja
cinco dias que este Rey Bramaa aquy
era chegado, a Riiynlua cercada, que era
a que governava por seu marido, o mã-
dou visitar com hum rico presente de pe-
ças douro o pedraria por hum talagrepo
religioso de mais de cem annos, 6 tido
entre ellcs por homem santo, pelo qual
lhe escrcveo huma carta que dizia assi.»
Ibidem, cap. 154. — t Huma das quais
foy aos cinco da lua em que se publica-
rão os jubileus, huma procissaS que te-
ria de cumprimento, segundo o esmo dos
nossos, mais de três legoas, na qual se
affirmou pelo dito de toda a gente, que
hião quarenta mil sacerdotes das vinte e
quatro seitas que ha nesto império, dos
quais muytos tinhaõ differentes dignida-
des, como eraõ grepos, talagrepos, roo-
lin», neepois, bicos, sacureun, c chanfa-
rauhos.» Ibidem, cap. KiO.
TALAMBOR, «. T)i. A fecha^lura de tar
lambor não é como as ordinárias, mofl
tem na parte interior uma peça que mo-
vo a lingueta ou a levanta, a cliave é fê-
mea, e o buraco ordinariamente do tret
ou quatro cantos para preniler e fazerem
volver a peça quo inovo a lingueta, pe-
gada pela parto detraz da fechadura,
além da que está dentro, segura mais a
porta caindo em uma peça fixa nn om-
breira mesma onde e«t;i o buraco para a
lingurta inti^rior.
TALAMENTO, t. m. Acto de talar, de
devastur.
TÁLAMO, «. m. Vid. Thalamo.
TALAN, í. m. Termo antiquado. Vid.
Talante.
TALANHO, í. m. Género de sacrifi-
cio gentílico usado entre os povos do
Pogú.
TALANTE, ou TALENTE, ». m. Termo
antiquado. Ciosto, desejo, prazer, von-
tade.
TALÃO, í. 771. A parta do cooro do sa-
pato, quo se levanta para cobrir o calca-
nhar.
— Termo de alvcitaria. O casco das _
bestas, onde as pontas da ferradura as- m
sentam atraz. ^
— Termo de náutica. Talão da cai-
xa ; a peça que fica no extremo da qui-
lha, onda encaixa o pé da roda.
— Termo de agricultiira. Uma vara de
vinha mais curta que a guarda; deixa-se
ao fazer da poda, o fica janto á teira.
Vid. Fiel.
TALAPÃO, «. m. Sacerdote siame, ou
do Pi'gi'i.
f TALAPOY, ». m. Nomo dado aos sa-
cerdotes buddhistas de Siam pelos euro-
peus, quo são uma espécie de monges
mendicantes ou pregadores. Os talapoys
são no Pegú o mesmo que os bonzos são
na China, e na Tartíiria os lauiils. — Os
talapoys de Siam fazem cortar o cabello
e as sobrancelhas aos meninos, cuja edu-
cação lhes é confiada. — O tanto grtpo
talapoy. — «Este santo grepo talapoy
mavor da casa dourada do santo Quiay,
que por sua autoridade e austera vida
leva poder de minha pessoa, relatará au-
to seus pais tudo o mais que nesta lhe
pudera dizer do que c^invem á minha en-
trega, porque seguro eu na realidade da
sua palavra, se quietem as alterações
que continuamente combatem minha al-
ma.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 149.
\:< TALAR, f. a. DevastJir, destruir,
estragar, arruinar, quein:ar as cidades,
casas, ctc, como faz o inimigo.
— Termo de poesia. Sulcar, fender.
TALE
TALH
TALH
665
— Talar os campos; retalhal-os, abrll-os
para os desalagar.
— Figm-adamente : Talar um homem;
derribal-o.
Já sei por onde caminho.
Esse homem não mo falei-í.
deneaeá-mo com a thcsoura.
Asiosio PBESTES, Anros, pag. 341.
— Talar as arvores ; deital-as por ter-
ra, derribalas.
2.) TALAR, culj. 2 gen. (Do latim fa-
laris^. — Habito talar; habito que chega
até ao calcanhar, como o dos clérigos,
dos frades, etc.
TALAREJO, s. rn. Uma peça do fi-eio
dos cavallos.
TALARES, s. m. plur. — Os talares
de Mercúrio; são duas azas que lhe pin-
tam nos calcanhares para ir com mais
pressa.
TALAZIA, s. /. Termo antiquado. Ta-
lha, em que estava o vinho que se ven-
dia aquartilhauo.
TALCO, s. m. Silicato de magnesia
anhydra, substancia esverdeada, esbran-
quiçada ou pardacenta, susceptível de se
dividir em laminas finas mais ou menos
transparentes, que oôerecem dous eixos
de dupla refracção. De todos os talcos
o branco é o melhor.
TALEIGA, s. f. Sacco pequeno.
— Uma taleiga de trigo; são quatro
alqueires.
— Sacco de levar mantimento em
acção de guerra. Vid. Argãa, e Argáo.
— Taleiga de azeite; sào dous cântaros
da medida de Lisboa.
— Adagio e provérbio:
— Fazenda em duas aldeias, pão em
duas taleigas.
TALEIGADA, s.f. A porção que se leva
em uma taleiga.
TALEIGO, s. m. Sacco estreito, e com-
prido, que leva dois alqueires de trigo.
— Adágios e provérbios :
— O taleigo de sal quer cabedal.
— O fidalgo, e o galgo, e o taleigo do
sal junto do fogo os hão de achar.
TALEIRÃO, s. m. Vid. Taleiras.
TALEIRAS, s. /. plur. Termo de náu-
tica. Travessas que unem as laicas das
carretas, ou reparos de artilheria; a pri-
meira taleira mais próxima da bocca da
peça se chama dianteira, a segunda bai-
xa, a terceira alta ou da mira, e a quar-
ta taleirão, ou taleira da conteira.
TALENDANCIA, s. f. Termo antiqua-
do. Talendancia de razões; talvez avon-
dança.
TÁLENTÃO, s. m. Augmentativo de
Talento. *írande talento, fallando da apti-
dão de um individuo para o estudo das
scieueias. — Este homem é um talentão.
T ALENTE, í. m. Vid. Talento.
TALENTO, s. m. (Do latim talentum).
Certo peso d'ouro, ou de prata, de diver-
TOL. T. — 84.
803 valores, conforme os diversos paizes
em que se usava.
Nos documentos de Hespanha e Portu-
gal até os fins do século xii se fazia men-
ção frequente do talento d 'ouro, que o
infractor da escriptura devia pagar ao
que fielmente a cumprisse, e talvez ou-
tro tanto ao senhor da terra. Quasi to-
das as nações antigas tiveram o seu ta-
lento d'ouro e prata, já como peso, já
como moeda. E prescindindo agora de
talentos grandes ou pequenos, o talento
d'ouro constava de 60 minas, e cada
mina de 100 drachmas, que sendo em
umas partes maiores e em outi-as meno-
res, por força devia alterar o valor das
minas, e, portanto o talento. A drachma
valia 3 soldos e meio de tornezes. Te-
mos, portanto, que o talento d'ouro se
compunha de 60 minas, e de 6:000
draciímas, e 21:000 soldos tornezes, ou
de França, que outr'ora ainda valiam
alguma cousa menos que o real portu-
guez de 6 ceitis. Da nossa moeda houve
talento de 3Ó600, de láSOO, e também de
36 reis : se, porém, foi do valor da mar-
cha que em Portugal se usou, e que hoje
pelo valor do om-o vale lláOOO reis, te-
mos averiguado o preço que davam ao
nosso talento. Viterbo, Elucidário.
— Enterrar os talentos; não os cidti-
var.
— Habilidade, aptidão, tendência na-
tural para o estudo das sciencias e das
artes. — «Não ha cousa como ser discre-
to, porem na companhia em que vos
achaes de que vos pôde servir o talen-
to?» Cavalleiro d'01iveira. Cartas, iiv. 1,
n.» 31.
Quanto, quanto em Parthénòpe te exaltas !
Alli mais SC cultiva, e mais se apura
Do Maquinista Siculo o talento,
Que atalha os voos das Eomanas Águias.
A força em tudo cede ás Artes sabias !
J. A. DB .\LVCEDO, TIAGEM EXTÁTICA, Cant. 4.
— Este homem é um grande talento ;
é sujeito de muita habilidade, muito apto.
TALENTOSO, A, adj. Hábil, apto para
o estudo das sciencias, das artes.
— Termo antiquado. Alegre, desejoso,
satisfeito, contente.
TALER, s. m. Moeda da Allemanha,
Polónia, etc, do valor de 480 reis appro-
ximadauiente.
1.) TALHA, s. /. Vaso de barro de
grande bojo, bocca estreita, e fundo có-
nico; serve para guardar azeite nas ade-
gas, etc. ; modernamente fazem também
talhas de folha de flandres para guardar
azeite, porém sào menos bojudas.
— Dá-se também este nome a vasos de
barro muito mais pequenos, com os quaes
até as mulheres iam buscar agua á fonte.
2.) TALHA, s. /. Termo "de náutica.
Apparelho composto de moitào, e cader-
nal, com cabo gornido, ora em um, ora
em outro, consecutivamente.
— Talha de rabicho; aquella que na
alça do sen moitão leva o rabicho, para
poder ser applicado onde convier.
— Talha do leme ; com que se tem mão
n'elle em tormenta.
— Talha do laiz; cabo fixo na testa
de qualquer gávea, dous palmos de ordi-
nário abaixo da ultima fírra de rizes,
e que passando pelo reclamo do laiz da
verga, serve de alliviar o panno, para fa-
cilitar a manobra de metter nos rizes.
3.) TALHA, s. /. Contribuição, impos-
to, colleeta, exacção que se lança por
cabeça, e na qual todos sào contados, con-
forme os seus respectivos cabedaes, e ha-
veres. Taes são as talhas, ou fintas de
uma certa e determinada somma, que se
láneam, e repartem a um povo, conce-
lho, cidade, província ou reino.
■ — Soldada, jornal, porção.
— Preço certo. Vid. Talhado.
4.) TALHA, s. /. Termo de jogo. No
jogo da banca, dá-se esta denominação a
cada uma das vezes que o banqueiro aca-
ba de virar todas as cartas do baralho.
— Ganhar na primeira talha, e perder
na segunda.
ò.) TALHA, s. /. Termo da Ásia, Em-
barcação de pequeno porte do mar de Ma-
luco.
6.) TALHA, s. /. Termo de ourivesa-
ria. O fragmento de metal que se tira ao
lavrar com a ponta do buril. Ha talha de
entalhador de buril em metal, e laihinas
que servem de estampar pinturas.
— Obra de talha ; obra de relevo que
fazem os entalhadores, e escuiptores ima-
ginários.
7.) TALHA, s. f. Certo numero de
achas, ou feixes de lenha, de tojo, de car-
radas; porém o numero varia segundo os
logares, e o mesmo era, e é nas marinhas,
onde se marcam os alqueires, dando-se
em uma vara um talho para marcar o
numero dos que se embarcam : e o que
dá os alqueires, quando chegam ao nu-
mero de 10, ou 12 por exemplo, grita ao
marcador talha, isto. é, que dê um ta-
lho, que vale os tanto alqueires do cos-
tume.
— Talha de fuste; pedaço de pau, taboi-
nha, cavaco, ou ramo, no qual diagonal-
mente cortado em duas partes, em cada
uma d'ellas se escreviam, ou imprimiam al-
gumas letras, ou siguaes, que declaravam
a divida, ou a sua paga; ficando uma em
poder do credor, e outra em poder do
devedor, que lhes serviam, ou de obriga-
ção de divida, ou de quitação d'el]a.
— O pau em que se marca o numero
das talhas, com certos golpes, como fa-
zem os rústicos.
TALHADA, s. /. Porção cortada de ou-
tra cousa. — Uma talhada de melancia.
— O caldo em talhada ; o caldo mui
grosso.
TALHADEIRA, s. /. Instrumento de
talhar, cortar, fender, de diversas gran-
668
TALH
TALH
TALH
dezas, o para vários usos; 6 cunha do
ferro, c talvez tallia ilo ferro frio.
TALHADINHA, s. /. Diminutivo de Ta-
lhada. T.ilhada pequena.
TALHADO, i)art. pass. de Talhar. Cor-
tado.
— Retalhado, cortado.
— Temjju talhado ; tempo convenciona-
do, aju.stado.
— Lavrado de talha.
— Alcantilado.
— Cortado a pique.
— Renda talhada ; renda certa por
ajuste, detorniiuada.
— Que tem certo talho, ou feiçílo.
— Letras talhadas ao buril.
— Pedra talhada.
— Figuradamente : Disposto, hábil,
moldado.
1.) TALHADOR, s. m. Homem que cor-
ta a carne.
— Carniceiro, cortador de açougue.
2.) TALHADOR, s. m. Cutelo, faca de
talhar carne.
— Prato grande, aliás trincho.
TALHADURA, s. f. Vid. Tolhedura.
— Talhadura d' agua ; porção d'agua,
talho; medida rústica das aguas, pela
■qual se entende uma vèa d'agua, bastan-
te a. regar, ou limar um prado, campo,
ou lameiro.
TALHAFRIO, s. m. Um instrumento
de lavrar dos marceneiros.
TALHAMAR, s. vi. Uma peça solida e
angular, que se oppõc á Ibrça da agua,
para que não dê em cheio na superticie
plana; põe-sc nas proas dos navios sobre
a roda, e talvez ó de aço cortante para
talhar as con-cntes, com que se atraves-
sam as barras estreitas : nos arcos das
pontes os talhamares são de pedra.
— Termo de náutica. O ajuntamento
dos madeiros, que unidos ;l roíla da proa,
no sentido do vante, formam a parto mais
saliento d'ella, bcque.
— Obra angular para dividir nos rios
a vèa, o ])cso da .agua.
TALHAMENTO, s. m. Talha, repartição.
— Pagar, ou dar de talhamento ; se-
gunda a talha dos cabe.çõi-s, ou outros
impostos, ou fintas como foram talhadas
á pessoa obrigada a ella ; pagar de ta-
lha tanto.
TALHANTE, }>art. aci. de Talhar. Cor-
tante. — Vròu talhante.
— íS. m. Vid. Talante.
TALHÃO, «. m. — Um talhão de, hor-
ta; 6 o espaço do chão ontre dous regos,
a modo de alfobre, e maior que elle, on-
de 30 põe hortaliça.
TALHAR, i'. a. (Do francez tailler).
Cortar. — ^.i.Mi sesmalhauam fortes lori-
gas c britauam o espeçauam e talhauam
escudos capilinas bacinetes.» Livros de
Linhagens, t. ií, pag. 186, em Portugal.
Mou. Hist., Scriptores, tom. 1.
— Talhar evi cortezias, dfspezas, etc. ;
cortar, arbitrar, ou distribuir.
— Fazer o ofHcio de cortador nos ta-
lhos dos açougues.
— Talar, devastar, destruir.
— Talhar um vestido; cortal-o á fei-
ção do corpo (lo seu dono.
— Aquinhoar a quantia que se ha de
pagar. — Talhar vddadxi. — «Os Verea-
dores haõ de fazer avcenças poios Jor-
naaes, o empreitadas com os que feze-
rcm as obras, c as outras cousas, que
comprem ao Concelho, e talhar soldadas
com os Porteiros, e com os outros, que
liam de servir o Concelho, o por seus
mandados hani de seer pagados, e d'ou-
tra guisa nom.» Ord. Affons., liv. 1, tit.
2«, S 21.
— Talhar a empreitada cam os offi-
ciaes ; aju^tal-a.
— Talhar preitos das carnes com os
carniceiros ; convencionar.
— Figuradamente : Talhar urna cousa
por outra; fazel-a á imitação.
— Relatar, contar. — " Porque nam
soomente tem muita multidam de ilhas
ao longo da costa, mas muito grande
costa pela qual se navega: c alem disto
toda ha China por dentro se navega e
toda se cori'e por rios que ha talham to-
da e regam, que sam muitos e muito
grandes.» Fr. Gaspar da Cruz, Tratado
das cousas da China, cap. 9.
— Entalhar, esculpir em madeira, pe-
dra.
— Dar talho, fender, sulcar.
DcUc o pobre se apraz, ditoso estado !
Ditosa condi(,'ão, basta-lhc hum nada,
E cora cllo a Fortuna alegre aftVouta !
Outros mil l;'i devisas, qu' em cardume
De gosto ditícreute as ondas talh^to.
J. Á.. DH MACEDO, A SATURrZA, COIlt. 3.
TALHARIM, i-. m. Certa massa em pe-
dacinhos de varias feições, vinda de Itá-
lia, e se coze em caldo adubado com
queijo raspado, ou manteiga.
TALHE, í. m. (Do francez taille). A
estatura e feição do corpo.
— Figuradamente : A forma do vesti-
do, o corto afeiçoado. — E um bom ta-
lhe de vestido.
— 8yn. : Talhe, estatura. Vid. este
ultimo termo.
TALHER, í. m. Dú-se este nome á fii-
ca, Colher c garfo, que se põe na mesa
a cada pessoa.
— Mesa de vinte talheres ; mesa de
vinte pessoas, com serviço para ellas.
— Peça de mesa, com repartimentos
para galhetaíi, saleiros, pimenteiros, etc.
TALHINHA, s. /. Diminutivo de Ta-
lha. Talha pequena.
— Termo de marinha. ^lachina para
levantar pesos pequenos.
TALHO, s. Hl. (iolpe com o fio ou gu-
me de faca, ou instrumento de cortar em
geral.
— O copo, em que ca^la cortador cor-
ta, e d'onde distribue a carne no açou-
gue. — « Aflírniaraõnos tàbeni estes Chins
que tem esta cida<lo oento e sessenta ca-
sas de açougues ordinários, em cada hu-
ma das quais avia cem talhos do todas
as carnes quãtas se crião na terra, por-
que de todas enta gente cjme.i Fern2o
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 107.
— «E da carne que se comprar de ta-
lho, ou cnxerqua, não se pagará nenhum
direito.» Doo. de 1.t12, cm Viterbo, Elu-
cidário.
— Talho do peixe; o mesmo que o ta-
lho da carne; o cepo, ou banco, ou bar-
raca, onde o peixe se vendia, ou fosse
inteiro, ou fosse em posta. De cada nm
d'este-! talhos se pagava de foro ao direi-
to senhorio um moio do p3o, que era de
trinta c dous alqueires, á excepção com-
tudo da venda dos peixes atuns, que
aqui se clianiam tuphos, por quanto es-
tes não se vendiam nos talhos, sendo re-
servados ao real fisco.
— Talho do sal; nas marinhas, é a di-
visão (rdlas onde o sal se faz, cortadas
cm tabolciros, onde a agua do mar so
ovapora, e o sal se cr^-stallisa, e d'ahi se
distribuo.
— Talho de matto ; porção que se com-
pra para tirar lenha; ou de capoeiras pa-
ra se derribarem, e apodrecerem para es- J
trumes. I
— Figuradamente: Trazer alguém ao
talho ; tra/,ol-o a fazer cousa que lhe pe-
za, ou que lhe repugna.
— O cepo sobre que põe a cabeça o
que ha de ser degollado.
— Corte total da arvore, tilhaniento.
— Dar talho em alguma negociação,
duvida, ou embaraço; o corte, o meio do
a resolver, de a decidir.
— Entrar a alguém talho de fazer al-
guma cousa; chegar-lhc a sua vez, o seu
gyro, turno. Vid. Talhadura de agua.
— Forma, feição.
A princiíial fresta que tem seu cruzeiro,
a meia laranja de sua capoUa,
8CU miraõlho, e que seu craveiro
Di'03 organisou
o homem que vemos, c como entalhou
seuâ membros propincuoa ; no ta!ho, na tela
influiu-lhf a alma, c dou-lhc pêra cUa
tacs vcadorcâ qual casa lhe ornou.
A>-rosio rar.sTBs, actos, pag- 7.
— Trabalhar luis vúnas metallicas a
talho aberto; trabalhar sem fazer poços,
nem galerias, mas abrindo a terra, por
onde se segue a vêa, que fica descober-
ta ao ar, e na direcção horisontal.
— Talho bom, ou mau de letra ; a for-
ma que lhe dá quem escreve bem, ou
mal.
— Tomar talho de vida; tomar modo
de vida.
— Talho do corpo ; a feiç.ão do todo.
— Figuradamente: Talho de lingua;
maledicência, censura de linguas ociosas.
TALO
TALV
TAM
667
— Plur. Tabolcii-03 do brejo, ou ar-
rozaes cortados por valias mestras, ou
sargentas, para os desalagar, e conser-
var húmidos, quaes requer este grão.
TALI. Vid. Talim.
TALIÃO, s. m. (Do latim talio). Puni-
ção que consiste em tratar um criminoso
do mesmo modo como elle tratou os ou-
tros. — Pena de talião. — Lei de ta-
lião.
TALIGA, s. /. Taleiga, d'onde vem
teiga, que é uma medida de quatro al-
queires rasados, que talvez variava se-
gundo as terras e ibraes, e moios.
TALIM, ou TALY, s. »«. Correia a ti-
racoUo, d'onde pende a espada.
TALÍNGA, s. /. Termo de marinha.
Cabo que termina em varias pernas.
-j- TALINGADO, pai-t. pass. de Talin-
gar. Atado, liado. — Arpéos talingados.
TALINGADURA, s. /. Termo de mari-
nha. Acto de taliugar, a acção de pren-
der o cabo da amarra á argola da an-
cora.
TALINGAR, v. a. Termo de marinha.
Atar, ligar arpéos em cadêas de ferro;
fazer a amarra fixa ao anete da ancora,
ou qualquer ostaxa, ou virador noa ane-
tes das ancoretas, ancoretes, etc.
TALINTOSO, A, adj. Vid. Talentoso.
TALIONAR, V. a. Termo pouco em
uso. Punir, castigar com pena egual, e
similhante.
— Vindicar do mesmo modo.
TALIONETE, s. m. Castigo, vingança
de outro tanto mal, pena, como faz o ag-
gressor.
TALISCA, s. /. Fenda, gineta, resquí-
cio.
TALISMAN, ou TALISMÃO, í. m. Kome
dado a certas figuras, ou caracteres gra-
vados em pcilra, ou metal, aos quaes se
attribuem as relações com os astros, e
virtudes extraordinárias, conforme a con-
Btellação sobre que estão gravadas.
TALISMANICO, A, adj. Que pertence
ao tali.sman. — Caracteres talismanicos.
TALITRE, s. m. Piparote.
TALITRO, s. m. Vid. Talitre.
TALLAR, V. a. Vid. Talar.
TALMUD, ou THALMUD, s. m. (Do he-
breu talmude do verbo lamaJ). Antiga
collecção das leis, dos costumes, tradi-
ções e opiniões dos judeus, compiladas pe-
los seus doutores. — O Talmud de Jeru-
salém.-~ O Talmud da Babylonia, que é
o mais estimado.
t TALMUDICO, A, adj. Que pertence
ao Talmud. — ■ Decisões talmudicas. —
Dmdor talmudico.
TALMUDISTA, s. 2 gen. Pessoa que é
sectária das doutrinas do Talmud ; diz-
se em opposiçào ao karaifa.
TALMDDISTICO, A, adj. Vid. Talmu-
dico.
TALO, s. m. (Do grego tkalos^i. Termo
de botânica. Nas folhas das plantas, e
arvores, é uma fibra grossa, e de ordiná-
rio visivel, que corre pelo meio d'ellas, e
se vae ramificando, e de ordinário se
continua, ou forma a mesma peça com o
pésinho, que as une ao ramo. — Um talo
de couve.
— Talo das palmeiras ; o miolo bran-
co, que talvez chamam palmito.
TALON, s. m. Termo de architectura.
Um dos membros dos capiteis, aliás pru-
mos, ou pesons.
TALOSO, A, adj. Concernente ao talo ;
que tem talo.
TALPARIA, s.f. (Do latim íaZpa). Ter-
mo de cirurgia. Abcesso produzido no
pericianeo, ou entre elle, e o craneo.
I TALPIFORME, adj. 2 gen. Que tem
a forma de toupeira.
-}■ TALPOIDE, s. m. Género de mam-
miferos roedores.
TALUD, s. m. (Do francez talus). In-
clinação, que se dá á superficie exterior,
e lateral de um muro, de modo que d'al-
to a baixo vá engrossando. Vid. Alam-
bor.
TALUDO, A, adj. Que lançou, e tem
talo rijo. — Couve taluda.
— Figuradamente : Homem taludo ; ho-
mem crescido.
TALVEZ, adv. Por ventura. — «Mui-
tas podem ser as causas. I. Porque tal
vez naõ ha quem lho persuada, e ensine :
e aqui se pode applicar aquillo de 8. Pau-
lo.» Padre Jlanoel Bernardes, Exercícios
espirituaes, pag. 3. — «A mesma auto-
ridade com que V. P. intitula erro hum
descuido que achou na minha carta, faria
talvez mortaes as venialidades que en-
contrasse na minha consciência ; não sou
escrupuloso, nem sou amigo de escrupu-
losos.» Cavalleiro d'01iveira, Cartas, liv.
1, n." 14.- — "ApoUo também aposto que
não acha huma só figa sobre o seu furor,
e para pagar a Domieiano estou temendo
que seja necessário dar-se o Cavallo Pé-
gaso talvez por dous réis de cominhos.»
Ibidem, n.° 33.
Valente marafona foi por certo
A tal Madama Helena ! E quem foi esta ?
Diz a letra Madama Pena-Lopes,
íProscauia o Deaõ) talvez seria
Taõ boa, como essoutra? — Essa (respondo
O douto Jubilado) é doutra laia.
A. Di^'iz DA. cBcz, HTSSOPE, caut. 5.
S' em Athcnas, Alcipe, então viveras
Talvez Electra só nào fora aos Astros.
J. A. D£ ILACZSO, A NATUSEZA, Cant. 1.
Ella nas mãos do Fundador de Eoma
Erguco primeiro o ferro fratricida ;
Ella, ta},vc,z na rígida Bigorna
Bateo primeiro refulgente espada,
E nào soflrendo o mérito, e virtude.
Da terra afugentou justiça e pejo.
IDEM, A NATUREZA, Cant. 2.
Juba, Sei pião cahiram por seu ferro...
Inda fumma talvez a areia ardente
Da Numidia, insopada em sangue fresco;
E no vasto silencio do deserto
Inda arquejam talvez corpos romanos.
G.IKKETT, CATÃO, act. 2, SC. 1.
Que por meu zelo — -indiscreto, cego,
Demaziado talvez — puz em perigo
A tua glória, a não-mancbada fama
Do mais iliustre príncipe da terra.
vBiDKM, act. 3, SC. 7.
D"alli, quando seguras avançarem
Aa legiões de César, repentino
A retaguarda súbito lhe cortas ;
Emtaiito nús á frente os commettêmos :
E a que julgam victoria indisputável,
Ser-lhe-ha talvez misérrima mina.
— Pôde ser que, quiçá, acaso.
— Alguma vez.
TALY, s. m. Vid. Talim.
TAM, adv. Vid. Tão.
Porque não te abrandava
Este amor que me tu tam maJ pagaste.
CAII., EGLOGA 4.
E 03 outros que isto vem
muy pouca enmenda tem ;
antes andam tam mundanos,
como se fossem seus annos
como de Matusalom.
GABCIA DE BEZENDE, MISCELLAÍOIA .
Por sua gram formosura
fiiy no mundo nomeado
angélica criatura,
nimca foy tal desuentura,
nem Príncipe tam amado.
IBIDEM.
— «São tam compassiuos de condição,
que se o mar anda brauo, botamlhe cou-
sas de comer sô a fim de que se abran-
de, e amanse.» Fr. Gaspar de S. Ber-
nardino, Itinerário da índia, cap. 12.
Como é que Diocleciano, tam agudo
Xo discernir os Homens, quiz tal César?
Decretos são, dessa alta Providencia,
Que esvaece os projectos vãos dos Princepes,
E 03 Conselhos do3 Povos desbarata.
F. M. DO SASCIMENTO , os MABTTBES, 1ÍV. 4.
Seu nome so é como um sêllo augusto
Que, a despeito dos numes, sanctifica
A causa que elle abraça ; — é força, ingente,
Antemural onde o Ímpeto se quebra
De tantos, tam vaido.sos inimigos.
GAKBEIT, CATÃO, aCt. 1, 8C. 5.
Juba,
Que tens, que tam severo respondeste
Ao senador ? Tam triste e pensativo
Fitas no chão os olhos carregados ;
Em que meditas ?
IBIDEM, SC. 6.
Tu púd 3 inda ser o amparo, o abrigo
Da abandonada pátria. A liljerdade
Acabou : mas seus filhos desherdados.
Foragidos, caçados como feras
De sei-ra a serra, e do povoado ao monte,
Hasde desempará-los, quando podes
Alli^ar-lhe as penas, protegê-los,
(JtàH
TAMA
Sfir-lliM piíd?... Oh! nilo posso mai». . . Huccmnhe
O corarão Iam volho á iniij^oa, ao...
iiiiDuu, act. 2, HC. 2.
(» lioiiicin '|uu iis.iim obrou foi hoincíiii Uc honra,
Cumpriu sua obrif,';i<,!lo. — Man outroa mcio.í
'l'(!in de iinijrcgar iiiain ecrton, maiit seguros,
Quem ne abalaiii,'a a itnpn'-Ma tatn diflicil,
So baldo,4 não ■puT vor cuidado o riscoa.
luiuuii, act. 4, dC. ■'!.
.la vacillanto raâo abro o ataliudc...
Amortalliavam candido.4 vcMtidort
O coipo iiiiida airO:«) d'uma dama
Nào morta no botão d"anuOíl vii,o:<05.
Mas na dcsabrocliada flor da vida,
Tiim dfilicada não, porõm mais bella.
Velada a face tinha; ma.4 conhece-a...
QueniV o jjuerrciru... quem V o seu uuiautc.
iDiiM, CAMÕES, caut. 2, cap. 1-1.
-j- TAMALANES, culj. Desasai.iado, ini-
priuloate, iitolciíiuido, revoltoso.
TAM-A-LA VEZ, adv. Torino antiquado.
Aljíiuu tiiuto, alguma cousa, de algum
modo.
Quo V03 praz ? errei ?
pois quanfoutro nào no sei
se me esqueceu de o mamar :
sabeis vós o que eu diria
sem errar litmíUavez
muito bem V
AUrONIO TRESTES, AUTOS, pag,
1G5.
— Raras vezes.
TAMANCAS, s. /. plur. Vid. Taman-
cos.
TAMANCOS, s. m. j^lur. Cal(;ado rústi-
co, quo oui voz da sola tom uuia peça de
cortiça, ou outra madeií-a, alta; usa-se
para audar pela lama.
TAMANDUÁ, s. m. Termo de historia
uatural. Vid. Tamendoà.
TAMANHÃO, ONA, a<lj. Termo popu-
lar. Augmciitativo de Tamanho. = Hoje
usa-se com desprezo, fallaudo-se de uui
komeui, mui graúdo de corpo, e peque-
no de espirito.
— Tamanhão já grande; diz-se do me-
ço e do muito alto.
— láubstautivamcute : Um tamanhão.
1.) TAMANHO, ii. m. Grandeza, altu-
ra. — [íiiKi crcnn^u d'esle tamanho.
2.) TAMANHO, A, ulj. lYio grande.
Zurra sobro mal tamanho.
Asno •, pois quÍ2 teu poccado
Quo para tão triste estado
Viesses a dono estranho !
F. SOKOPITA, POESIAS K PU03AS INÉDITAS,
pag. 133.
— «Pois desta luta foi tamanha a que-
da quo meu bem deu entro uuias pedras,
que quebrou os fociukos; e por dcarom
tão esfarrapados que lhe não podiào bo-
tar pedaço; por conselho dos Pnysicos
lhos cortarão por lhe uelles não saltarem
erpes.» Cam., Seleuco, Prol.
TAMA
Porque lí lamanhas pena» no ollbrecc
l'or o pec.c»do .ilheio, e erro iunano,
O Trino iJi-os? Porque o augrito humano
Nio pôde CO o ca.ítigo que merece.
CAM., SO.fETO», n." 200.
— «Acabado de lho beijar aa mios o
lizeram (irid(jnia e \'a.~iilia. Palmeirim,
que só cm sua senhora Poliiiarda levava
o coraç.Hi), tanto que a viu, postos os
olhas em terra para lhe beijar as mios,
sentiu tamanha fraqueza nello, 'lue sem
neuluim sciítido, quasi desmaiado, caiu
no chào.D Francisco de Moraes, Palmei-
rim dJnglaterra, cap. 94. — «E que vos-
sas obras j)or ventura vos pnuliauí em
tama!i:.a alteraçrio, que vos eisiiicm a
engeitar as cousas de tamanho preço,
lombre-vos quo ás vezes em os priaci-
pios da idade promotte a fortuna e3])e-
runças, que <lepois se tornam v-^as.» Ibi-
dem, cap, 101. — «E lançando-so ans
pés do cavalleiro do Tigre, com palavras
e oftereeimeaios mostrava agradecer-lhe
tamanha mercê, petiimlo-lhe que, pois já
com tantos trabalhos a livrái-a de seus
contrários, a ajuda.s.se a cobiar sua tilha;
que sem isto o vencimento doUes pêra
cila seria de pouco contentamento.» Ibi-
dem, cap. 105. — «E entrando dentro
no de sua mài, vendo tamanho destroço
darmas e sangue, pareceu-lhe que ainda
naquella lugar não estava segura, tíua
mài a tirou d 'este receio com leval-a nos
braços, os olhos cheios de lagrimas, ge-
raJas no ainor com que a criara, man-
dando-lhe que rendesse as graças de ta-
manho beneficio a quem tanta mercê lhe
lizcra.» Ibidem. — tE um delles vendo
tamcuiha ousadia, começou a dizer : Cer-
to, estremada doudice é a vossa, pois
ainda por vós mesmo vindes buscar o
castigo ([ue mereceis por vossa nescida-
dc.B Ibidem. — «Eu nào sei com que vos
[lague tamanha mercê senão com vos lou-
var vossas obras em a corte do impera-
dor Vcrnao pêra onde vou; que na ver-
dade ellas sào taes, que pareceria erro
estarem caladas em nenhuma parte.» Ibi-
dem, cap. lOG. — «E ponjne já a este
tempo era saida a lua e a batalha se via
claramente, vendo a donzella tamanho
mal, catregou-se logo á perda, que natu-
ral cousa é onde o medo abrange a des-
espei'ação vir ti-az elle, e mais se ó an-
tro mulheres, onde o esforço é mais fra-
co; que pêra tudo lhe fallece conselho,
tirando nas cousas do appetite, que n'is-
to o seu tomado de prestes é meluor, que
o do mais discreto sábio do mundo bus-
cado por muitos dias.» Ibidem, cap. 107.
— «Albayzar lho quizera beijar as màos
por tamanha mercê, que na verdade era
grande pêra o receio que levava, segun-
do o que de sua condioção lhe conta-
vam.» Ibidem, cap. 108. — «Acabado
d'o determinarem, se foram á ermida,
onde o acharam algum tanto fraco e mal
TAMA
disposto, o vendo-« tão moço, pareccndo-
llic cousa fora do ra.^íão, quem em IaI ida-
de houvc-sse tamanhas obras, um dellw,
que antre os outros era havido por mais
eloquente;.» Ibidem. — «Porém era ontre
clles tamanha a fome, que ant^sx queriam
aventurar o cor[>o ao ferro dos nossos
por vir furtar hum pouco de arroz á Ci-
dade pelas ca.sas onde sabiam (juc fica-
va, que penlcr a vida por não comer.»
IJarros, Década 2, liv. H, cap. 8. — «A
este tempo chegou o Duque «eu tio, qo«
de Tomar acudio á triste noua, o qual
cm e.-itremo ao Princi|ie amaua, porque
Keiii]ire se criarão au)bo8 em iiunia nie-a,
c huiii.i cama, o fazi.i tamanho pranto
com tão grande sentimento, e tristeza,
quo Cíjm quanto elle ticaua então por
herdeiro do-ntes Reynos deixara na<)uclla
hora outra mayor secessão polia vida e
saudc do Principc.» (iarcia de Rezende,
Chronica de D. João II, cap. 132. —
«Com a noua de tamanha vitoria foi el
Rei de Gochim mui ledo, pelo que man-
dou ao Príncipe de (Jociíiin que fosse lo-
go visitar Duarte Pacheco, disculfiando-
sc de o não fazer elle em pessoa, por fi-
car em guarda da cidade.» Damilo de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 1,
cap. 67. — «Com tudo per conselho, e
parecer de todos foi socorrer a nao com
a carauclla de Diogo Pirez, e batel de
Ciiriítouão jusarte, a qual achou em ta-
manho ajierto que so mais tardara dili-
cilmente se poderá defender.» Ibidem. —
<E achandoo ja na lauchnra dei Rei de
Lingua que tinha destroçada, entrou per
ella, e de hnma em outra, elle, e o mes-
mo George botelho as fezerão despejar
todas, e foi tamanho o medo dei Bei de
Lingua, e dos seus.» Ibidem, part. 3,
cap. 63. — «Nós, espantados de uma
cousa taõ nova, iiie respondemos que lhe
peuiamos que nos dicesse que homem era
aquelle, ou porque dizia que nos queria
tamanho mal a que ella disse, que do
porque uaõ sabia mais que dizer elle que
hum nos.so grande Capitão por nome Hey-
tor da Sylveyra lhe matiira seu pay, e
dons irmãos em hnma nao que lhe toma-
ra no estreyto de Meca, vindo de Judâ
[tara Dabul.» Fernão Mendes Pinto, Pe-
regrinações, cap. 37. — «E despoia de
paridas, ou lançadas pelos sobacus estas
crianç.as, as quais atBrmão que foraõ trin-
ta e três mil e trezentas e trinta e três,
as duas partes de fêmeas e hnma de ma-
chos, porque dizem que asai avia sempre
de aver no mundo, tic^ira tão debilitada
daqnelle parto, por nào ter quem a pro-
vesse do necessário, que lhe deu hum v.i-
gado de fraqueza tamanho, que cayra
morta cm terra, sem nunca mais se le-
vantar ategora.» Ibidem, cap. 111. — «O
qual pur sua iutiidta bondade e miseri-
córdia quiz tomar a seu cargo pagar pe-
k>s pobres aquillo a que suas fracas for-
ças não podem chegar, que a ty e a teua
TAMA
TAMB
TAMB
669
filhos dê tamanho conhecimeuto da sua
verdade que por elle mereças ter parte
nas suas promessas despois que nesta vi-
da viveres muyto largos aunos.» Ibidem,
cap. 121. — cO que elle ouvio com mos-
tras de ter cõpaixào de nós, que nos de-
raõ algumas esperanças de o acharmos
favorável ao nosso propósito, e disso pa-
ra o Mitaquer, folgo de saber que tem
lá tamanho penhor como esse que di-
zem, para lhes cumprir com mais gosto
o que em meu nome lhe prometeste.»
Ibidem, cap. 125. — «Os desta terra,
para quem este modo de tiro de fogo foy
cousa tào nova como para os de Tanixu-
maa, vendo huma cousa que até entaõ
naõ tinhaõ visto, foy tamaiiho o caso que
fizeraõ disso, que o naõ sey encarecer.»
Ibidem, cap. 136. — «Em que o Chau-
bainhaa lhe dissera que estava o tisouro
que fora do Bresagueào passado Rei de
Peguu, e que da quantidade do ouro lhe
disse que eraõ cento e trinta mil bicas,
de quinhentos cruzados cada bica, que
ao todo vinhaõ a ser sessenta e cinco cou-
tos douro, e que dos pães de prata que
também vira na bralla do Quiay Ado-
caa Deos dos trovões não sabia a quan-
tidade certa, mas que com seus olhos vi-
ra tamanha copia delia, que quatro boas
nãos a nào esgotariau. » Ibidem, cap. 148.
— «O dedo niemiiiho se deue euydar ser
hum rio, quasi tamauho como o Tigris,
a quem os Turcos chamào Diala. Este
se mete três legoas abayxo de Babylonia
no rio Tigris, onde se acaba, e perde o
nome. Ho dedo que fi^ca junto ao memi-
nho se deue fingir que he o Tigris, e
entre estes dous rios está hoje Babylo-
nia, ou Bagdat, que tudo he huma cou-
sa.» Frei Gaspar de S. Bernardino, Iti-
nerário da índia, cap. 18.
Toraae-mc, fei-rae-me aqui,
SC fugir, lanijae-mc braga.
Quem ha de vcncer-rae irmauho
e com direito tamanho.
tào docicado. tào tenro.
a me nao pagar com genro,
todo a! me íica estranho.
ANTOSIO PRESTES, AUTOS, pag.
1G3.
TAMANINO, A, aJj. Pequenino.
— Ficar tamanino de alguma cousa ;
ficar com grande medo d'ella, encolher-
se, metter-se por dentro de pavor.
TÂMARA, s. /. Termo de botânica.
Fructo dOce de cei-ta espécie de palmei-
ra. — Ha uvas ferraes tâmaras, nào pre-
tas.— «O mantimento dos naturaes he
miiho, tâmaras de toda sorte, e geralmen-
te leite que lhe serue de comer e beber, n
Barros, Década 2, liv. 1, cap. 3. — • «O
mantimento ordinário da gente desta ter-
ra, saò cabras, màteyga, leyte, peixe,
algumas tâmaras, e eruas, sem outra cou-
sa, e cõ esta pouquidade, viuem tam con-
tentes, como 86 viuerào em algum Pa-
rayso, tam boa he nossa natureza de
contentar, senam que nòs a custumamos
mal, e a pomos em mao foro.» Fr. Gas-
par de 6. BeruarJino, Itinerário da ín-
dia, cap. 9.
TAMAREIRA, s. f. A palmeira que dá
as tâmaras.
TAMAREZ, adj. f. — Uva tamarez ;
uma espécie de uva vulgar.
TAMARGAL, s. m. Logar onde ha mui-
tas tamargueiras.
TAMARGUEIRA, s. /. Arbusto.
TâMARINDãL, s. VI. Matta, bosque ou
plantio ue tamarindos.
TAMARINDOS, s. m. plur. Uma va-
gem parda com caroços polposos agrido-
ces, que se comem, e usam na medicina.
TAMARINHEIRO, s. m. Termo de botâ-
nica. A arvore que produz os tamarin-
dos.
TAMARINHO, s. m. Vid. Tamarinhei-
ro. — (iPois, se quiser fallar particular-
mente de todas as mais cousas de ferro,
aço, chumbo, cobre, estanho, latào, co-
ral, aiaqueca, cristal, pedra de fogo,
azougue, vermelhão, marfim, cravo, noz,
maça, gengivre, canelia, pimenta, tama-
rinho, cardamomo, tincal, anil, mel, ce-
ra, sândalo, açúcar, conservas, manti-
mento de fruitas, farinhas, arrozes, car-
nes, caças, pescados, e ortaliças, disto
tudo avia tanto, que parece que faltào
palavras para o encarecer.» Fernão ileu-
des Pinto, Peregrinações, cap. 107.
TAMARIS, s. /. Vid. Tamargueira.
TAMARU, s. m. Lagostim mante, ou tâ-
mara do Brazil; pertence ao género das
lagostas.
TAMATIA, s. /. Termo de historia na-
tural. Ave gallinacea dos paizes quentes;
tem o bico grosso, pontudo, comprimido
pelos lados, rasgado até aos olhos, chan-
frado nas extremidades, e guarnecido de
grandes cerdas, ou pennas delgadas.
— Tamatia aquática do Pará; tem o
bico mui largo da direita íi esquerda, for-
mado como duas colheres appiicadas uma
á outra do lado concavo; é cinzento, e o
macho tem um martinete mui comprido
na cabeça; vive sobre as arvores que bor-
dam os rios, d'onde se lança sobre os pei-
xes, de que se alimenta ordinariamente.
— Tamatia do Brazil; é de um ruivo
alaa'anjado, e esbranquiçado por baixo,
com um collar negro.
TAMBACA, s. /."Termo de chimica. Es-
pécie de cobre muito fino que vem da
China.
TAMBARANE, s. m. Uma pedra bran-
ca como um ovo, que trazem ao pescoço
certos sacerdotes da Ásia, e é o seu idolo.
— Figuradamente: O tambarane das
meretrizes ; o seu idolo, ou o que as pas-
sa no commercio, como os índios passam
por alto, ou descaminham fazendas, e
ninguém entende com o tiirto a respeito
e reverencia do tambarane.
TAMBEIRA, s. f. Termo da provinda
da Beira. A madi-iaha dos esposados no
dia das suas bodas.
TAMBÉM, adv. Igualmente bem. —
«Largtívme neste particular, porque an- ■
dey, e vi todos estes mares, que ja pode
ser não terem vistos, os que saõ de con-
traria opinião da minha, e quem quiser
ver Fr. Diogo Phelippe Bei-goinate, acha-
ra ser tsmíbem deste meu parecer; e dei-
xado agora gastar o tempo em argumen-
tos, a quem o tem mais largo do que eu
tenho.» Fr. Gaspar de S. Bernarilino,
Itinerário da índia, cap. 11. — «E tam-
bém desta manqueira vi eu sangrar já
muita gente de capa preta, principalmen-
te aos que pagam páreas ao snr. cupido
que nesta conjuncção fazem grandes alar-
dos.» Fernão Rodrigues Lobo Soropita,
Poesias e prosas inéditas, pag. 32.
E do priol disse algorrem '?
Não fallou nem mal nem bem.
Também elle he bom piloto.
GIL VICENTE, AUTO PASTORIL POBTUGUEZ.
— «Porque este, tanto que da floresta
da Fonte Clara se apartou de Palmeirim
e de Trofolante e os outros que.se ahi
acharam, correu muitas partes passando
por muitas aventuras, e fazendo por onde
ia cousas de notável fama, lembrando-lhe
que só seus feitos o podiam fazer fiimo-
so; pois 03 de seus passados não sabia
quaes foram: e também o que se ganha
por seu dono é melhor, que o que fica dos
antigos.» Francisco de Moraes, Palmei-
rim d'Inglaterra, cap. 20. — «Quiz sua
dita que nos mesmos dias veio ahi ter
outro cavalleiro, que chamam Floriano do
Deserto, que se parece muito comvosco;
nào sei se lhe sois alguma cousa ; e, além
de suas palavras poderem tanto comigo,
que me fez soltar o preso, de mim fez
também o que quiz, promettendo-me de
tornar a me ver, e dando-me alguma es-
perança de casar comigo.» Ibidem, cap.
102. — <E pediu conselho a Palmeirim,
que alem de lhe louvar seu propósito, quiz
que também de sua parte vos pedisse
esta mercê. A rainha Carmelia vos man-
da dizer que vos lembre que té agora não
negastes a ninguém nenhuma cou a que
parecesse justa.» Ibidem, cap. 104. —
«Se estais descontente de me nào derri-
bardes a vosso salvo, também eu poderia
ter o mesmo descontentamento de o não
fazer a vós, se não respeitasse mais que
o desejo da victoria.» Ibidem, cap. 127.
— dToda via d'uma cousa estou descon-
tente, que se depois do vencer vos lem-
brar tão pouco como agora, nào ser essa
a primeira ingratidão, que vos vi usar,
que nelle mesmo tomei a experiência : se
me vencer não me deve doer muito, pois
suas obras nào costumam ser vencidas
d'outrem; e também porque vou achan-
do, que vencido ou vencedor pêra com
vossa condição isenta tudo me será um.»
670
TAMli
Ibidem, cap. 144. — «Rui «lo Sousa clie-
fCado íi ell(i ii-.z ho a witcsia ao modo floí-
te nosso reyiio, e cllíuy também a sua
segundo o seu: pondo a mà» direita no
chão como quo tomuua pó dellc, e corroo
osta mito pelos peitos do Rui do Sousa, o
depois poios seus, que ora a maior corto-
sia quo entro ellcs se podia fazer.» J5ar-
ros, Década 1, Hv. 15, cap. <.).—«(> qual
rco lhe 1'odraiuaroz coucudeo ])olo com-
prazer, e também porquo na pratica (luo
Airos Corroa com cUo tcucssc jxjÍs auia
de sor comprida, o contirmasso macs no
amor e loaldado que niostraua ter ao sor-
uiço dolHcy sou senhor, e asai foi.»
Ibidem, iiv.' õ, cap. .'J.— «D. Álvaro do
Noronha depois de prover nas n:íos, o loz
também na defensão da fortaleza por esta
maneira. No baluarte Santo André poz
por (Capitão 1). Francisco ile Almeida, h-
iho do D. l*edro do Almeida de Évora,
e lho deu duzentos o quarenta homens.»
Idem, Década G, liv. 10, cap. 2.— «E re-
colhendo então desordenadamente os que
pelejavão, clle se veyo retirado para o seu
arraval, onde aqueílc dia esteve quieto,
entendendo somente no enterramento dos
mortos, e na cura dos feridos, de qae
também ouve hum grande numero, de que
a mayor parte dospois morroo, por serem
as setas com que os Ohius lhes tiravão
ervado3 cõ huma peçonha taõ forte que
nenhum remédio lho aproveitava.» Fer-
não Mendes l'into, Peregrinações, cap.
118.
E innia
beiços do lobo.
Também
iaso ouvi.
Fel de pardaos.
laso ouvi o outros uictaea.
JUITONIO PRESTKS, AUTOS, p.ag. 217.
Também rao cu acho mal d'ellc,
que não vi quinliào nenhum
ncin para jurar por cllc.
iRiDEM, pag. 2.33.
Ajudar manilha rae.
Também raou cunhado tenho
por contrario?
iBiDKM, pag. 2G7.
«Também ordenou outra Officina de
pólvora na Cidade de Lisboa, que durou
ato nossos tempos ; e governando D. Dio-
go da Sylva iMarquez de Alcnipier, so
tornou a refazer a mesma Casa antiga.»
Soverim do Faria, Noticias de Portugal,
DÍ8C. 2, cap. 11. — «i^or isso também
antes do prologo não pedimos licença aos
ociosos para lhes dedicar a obra, que
também é da mola: fique uma por lUitra
e sempre coherontes.» Bispo do Cr.^o l^a-
rá, Memorias, publicadas por Camillo
Castello Branco.
Dietaudo as condi(;õe3 de faz, da Guerra,
A Oliveira pacifica eula^audo
TAMB
Da victoria alcaiit,-adji eterno» louro»,
A Krouto enramará sua, e do Vate,
(^le o MOine do Moiiarclia no» Coos i-rgufndo,
O seu tamhf.ni na Terra inimortali«a.
J. i, 1)K MACKIIO, VIAOKH KXrATICA, Cailt. 4.
— Tanto, a>-siin. — «E se o dito meu
Almoxarife, e Kscripvam noni quiserem
demandar a dita pona nos ditos «liuheiros,
entom os demande outro qualquer do l'o-
voo, também da Cidade, como do fora.»
Ord. Affons-, liv. 4, tit. 5, 8 16.
— Juntamente com. — ulrraoey eu tà-
bem para consolar minhas ovelhas, c para
pailecer juntamente com cilas trabalhos,
e perscguii;õos polo amor de Jesv (Uiris-
to; porque não recebia a dignidade do
Bispo 8.'( para o tempo da prosperidade,
mas antes para o dos trabalhos.» Monar-
chia Lusitana, liv. (J, cap. 2.— «Quo
ocupou também a Lisboa por lha entre-
gar seu cidadão o morador Lusi.lio, qnc
tinha o governo delia.» Ibidem, cap. 9.
Emfim tu, que estás aqui,
Estavas ja li primeiro ?
Seíior, crca que oa ansi.
Eu nunca (mtendi do ti, _
yu'cra8 também chocarrciro.
CAM., AMriiYTBiuEs, act. 3, SC. -.
E máo.
La causa que mo condcmna.
Ou do casa !
Quem ú ?
Helena.
Pois vem iamheni MeualAo V
Menahlo noui 1'olicena.
Pergunta que quer.
ASTOído PRKSTEa, AUTOS, pag. 4õ3.
Mas quc!...Ta,Manlio! — tu íomicm com ellca!
UABBETT, CATÃO, aCt. 4, 8C. 2.
— Do mesmo modo, assim mesmo. —
«O Cafar também ticou ferido do hu-
ma ruim espiíigardada por hum braço,
e perdeo mais de ((uarenta dos seus. Os
outros navios da cõpanhia de Luiz Fi-
gueira, tanto que yiraõ o seu Capitaõ
mòr rendido, e morto, se foraõ afastando,
e deraõ ;\ vela com o Toncnte rijo, o fo-
raõ fugindo pêra f.ira do Estreito.» Dio-
go de Couto, Década H, liv. U, cíip. 3.
— «Joaõ da Fonseca Capitão de Còchim
com a gente de sua companhia desem-
barcarão pela parte do Norto, e entra-
rão naquellcs esteiros, quo estavaõ tam-
bém entupidos com estacadas, o depois
de as desfazerem, e arrancarem saltivraõ
em terra, e metèraõ tudo a torro, e a
foío, matando, e cativando muita geu-
te";» Ibidem, liv. 10, cap. lõ. — «Vimos
também ^eomo ja disse) por este no aci-
ma muytos vancõcs, lanteaas, e barcaças
carregadas de quãtos mantimentos a ter-
ra e o mar podem produzir, e isto em
tanta abundância, que realmente affirmo
que nai3 sey como nem cõ que palavras
TAMB
o i)os«a contar, porque n3o «e ha de ima-
ginar que lia desta-t coiuaa a quiltidado
que ha nestas terras que por cá ne sa-
bem.» Fernão Mendes l'int/j, Peregrina-
ções, cap. íffi. — fMa» que a exccUeiicia
dessa falia que tens hc dos liabiladorea
da casa do fumo, cuja proprio<lade e na-
tureza priaicyra foy tábem catar cò vo-
zes suaves, inda que agora chorem e ge-
mão no lago da noite como cie» esfaima-
dos, que rangem os dentea, e ensopado*
na baba do ódio dos homenfl, se lhe en-
xerga a escuma de suas maldades nae
offeiisas quo fazem ao que vive no mais
alto dos Ccos.» Ibidem, cap. 1K5. — cFa-
ra as mollieres publicas que na velhice
vieraõ a adoecer de algumas doenças in-
curáveis, h.i também outras casas da
me.sma inaneyra, cm que saS curadas e
providas muvto abastadamente á custa
das outras mollieres publicas do mesmo
officio, para a qual obra cada huma des-
ta.s paga de foro hum tanto cada mes,
porque tàbem cada huma destas pi'>de vir
dcspois a cayr na mesma infirmidade, e
então as outras ([ue forem sãs pagario
para cila o que cila agora em eam paga
para aa outras doentes.» Ibidem, cap.
112. — tE outra causa da minha ida nÍo
menos importante que esta era yr tam-
bém chamar hum Lançarote (iuerreyro
que então andava na costa de Tanauça-
rim com cem homens em quatro fustas
com nome do alevantado, paraque acu-
disse á fortaleza, porque se tinha por
nova certa que vinha o Rey do Achem
sobre cila.» Ibidem, cap. 144. — e Vi-
mos também outros da seita de hum que
se chamava Codomem, que acabaõ seus
dias por andarem gritando continuamen-
te, e batendo com a maõ na bijca, pelos
montes de dia e de noite em vozes mur-
to altas, dizen>lo sem descançarem flo-
diimem, Godomem, até que cjiem mortos
no chaõ por naõ poderem tomar fôlego.»
Ibidem, cap. 161.
Porque oomo lá então huma e outra espada
Não esteja hum momento *5 ociosa,
K elle qui/, em fazendo lá a entrada
Que a au.i aos infiéis fosse damnosa,
A primeira ferida acompauliada
Eoi logo doutra, grande e perigosa,
Que na e^íbe^a fea seu duro offeito.
Lá onde a outra lamltm o tiuha feito.
VRASCisco d'asdbai>k, PBiJiiiao ciaoo oa pio,
caut. IS, cat. Gl.
iDe hum enfermo que arde em fe-
bre. De hum impetuoso que tem muito
fofo. De um obstinado, lambem dizemos
que se queyma na defeza das suas opi-
ni ens.» Cavalleiro d'01iveira, Cartas,
liv. 1, n.° 15. — tEstas palavras na bo-
ca de hum Provinciano, ou também na
de hum Provincial, faícm-so celebres, e
memoráveis, porem na de hum Cortesão,
e na de hum Cavalheiro são somente ri-
síveis, e celebradas.» Ibidem, liv. 3, n.°
TAMB
TAME
TANA
671
6. — aQaeria também este aver de nos
ho Ambre antes que viesse ho Louthia
daquella cadeira, que se esperava cada
dia por elle para entrar de novo : por-
que este era soomentes Locotente.» Fr.
Gaspar da Cruz, Tratado das cousas da
China, cap. 19.
Boa consonância dá
dai- a Dc03 o que Dcos deu ;
mas d 'aqui vos digo eu
que esto Cezar que aqui está
quer também dardes-lhe o seu.
ANTouio PBKSTEs, ACTOS, pag. 93.
em que cu fora um gargantão,
mais me erguera estes espritos
um só queijinho, um lacão :
aabei que não tem perdão
se manda também cabritos.
míDEM, pag. 155.
Nem d'Í330 me não affasto:
será escusado gasto
palavras pêra comnosco ;
casar-mc-hei também comvosco
se com a filha não abasto.
IBIDEM, pag. 16-3.
— «O segundo o Conde D. Pedro, na
historia do qual Rey se nomeaõ também
o Conde D. Ramiro, e D. Pedro das As-
túrias, que se acharão com o Infante D.
Sancho na batalha, em que venceo a El-
Rev de Sevilha.» Severim de Faria, No-
ticias de Portugal, Disc. 3, cap. 2õ.
Até que já por fim desenganados,
Que eraõ em Portugal, que os Portuguezes
Eraõ também, os que costumes, língua,
Por taõ estranhos modos, afrontarão,
Segunda vez de pejo morreriaõ.
AHTOSIO DINIZ DA CBUZ, HISSOPE, Oant. 5.
Se O foco do Sabor, a Itália culta
Ao portentoso Galilco nào dera
O berço, e também cárceres c fen-os.
De louros immortaes, por certo a frente
Nào cingira Britannia, e a Gália menos.
J. Á. DB MACEDO, VIAGEM EIT.VTICA, Caut. 2.
— De tal sorte bem, ou bem a tal
ponto.
— ■ Mas também ; diz-se como correla-
tivo a não só. — «A segunda espécie cha-
mase Thenaculum, ou, como lhe chamaõ
outras, Columna; que tem a cauda com-
prida, e larga ; e he de natureza de Jú-
piter; e significa que haverá pureza no
ar, e chuvas oportunas ; especialmente se
o cometa aparecer em algum dos signos
aquáticos; mas também promette graves
doenças, como saõ febres synochais, pleu-
rizes, afFectos da Cabeça, e outras mais.»
Braz Luiz d'Abreu, Portugal medico,
pag. 437, § 107.
1.) TAMBO, ou TAIMBO, ouTAMO, s. m.
Termo antiquado. O thalamo, ou leito de
casados.
— Solemnidades e festas da voda; o
acto de casar, e talvez assento distincto
para os noivos, ou estrado na egreja.
2.1 TAMBO, s. m. Banco, mesa baixa,
escabello.
— Comer em tambo ; o mesmo que co-
mer em terra, ou debaixo da me<a: ce-
remonia, que nas solemnidades religio-
sas já desde a sua origem se praticou.
TAMBOEIRA, s. f. Termo do Brazil.
A mamlioca pequena, e mal grada, e as-
sim a canna que cresceu mal, de go-
minhos mui curtos, e muitos nós.
TAMBOR, s. m. Cylindro, ou cano de
madeira elástica, ou metal, que tem nas
boccas um couro ou pelle de carneiro,
que ferido com as baquetas dá som; usa-
se na milieia para fazer signaes, e regu-
lar a marcha ; caixa de guerra. — «E ao
sõ de muytos tãbores tocados ao seu mo-
do, se vieraõ chegando para hum pagode
de grandes ofBcinas chamado Petiiau Xa-
mejoo, que estava hum pouco afastado
dos muros, e trazião na diàteyra muytos
corredores em cavallos ligeyros, que te-
cendo huns pelos outros com suas lanças
terçadas, roldavSo todas as sete batalhas,
e toda a mais fardagem que vinha na
vanguardia.» Fernão Mendes Pinto, Pe-
regrinações, cap. 117.
— ^ Homem que toca tambor.
— Peça do freio de que se formam os
assentos.
— Tambor-7)ioV; o chefe dos tambores
do regimento.
— Tambor do relógio; o cylindro aber-
to por uma cabeça, onde está mettida a
mola real.
— Nus engenhos d'as?uear, forram-se
os eixos de moer a canna com argolas
de ferro, ou com tambores; (stes são cy-
lindros de ferro coado, inteiriços.
TAMBORETE, s. m. Cadeira rasa sem
braços; tem espaldar, á differença dos
mochos, que são rasos de braços, e es-
paldares.
— Termo de marinha. Pranchões com
que se fortificam as enoras pela parte
de cima das cobertas; os linguetes tam-
bém tem tamboretes.
— Tamboretes, ou mesas dos lingue-
tes ; são uns pedaços de pranchas, que se
pregam sobre as cobertas, unidos aos lin-
guetes pela parte onde estão encavilha-
dos, para os conter mais firmes.
TAMBORIL, s. m. Um tambor pequeno
que se toca por festa nas aldeias.
— Certo peixe.
TAMBOR!LEIRA, s. /. A mulher rústi-
ca, que t'K-a tamboril.
TAMBORILEIRO, s. m. Homem que
toca tamboril.
TAMBORILETE, s. m. Diminutivo de
Tamboril.
TAMBORIM, s. m. Tamboril.
TAMEIRA, s. f. Termo antiquado. Vid.
Tambeira.
TAMENDUÁ, s. m. Termo de zoologia.
Animal do Brazil, que tem a lingua lon-
ga, e crlindrica, a qual mettendo-a onde
ha formigas, recolhe coberta d'ellas, que
lhe servem de pasto.
TAMIÇA, s. f. Cordel delgado de es-
parto, para diversos usos.
TAMICEIRO, 5. TO. Homem que faz ta-
miças, e as vende, e trata n'isso.
TAMINA, s. /. Vaso que no império
do Brazil serve de medir a pitança, a
ração diária da farinha, que se dá aos
escravos.
— Figuradamente : A ração de fari-
nha diária.
TAMIS, s. m. (Do francez tamis). Ins-
trumento que serve para passar as maté-
rias pulverisadas ou liquidas espessas. —
Tamis fino.
— Panno de lã inglez.
— Peneira de seda delgada, fechada
por cima, e por baixo com tampos de
couro, para receber o que se peneira em
baixo, e não voar pela bocca acima o
pó.
TAMO, s. m. Vid. Tambo.
TAMOEIRO, s. m. Peça de couro crú,
ou madeira, que prende na chavelha da
carga, ou canzis, quando os bois puxam
o carro, ou arado.
— A peça de pau que vai como tiran-
te entre Juiita e junta de bois, ou de uma
junta ao cabeçalho do carro ou do arado,
ou á peça <\q madeira de rojo nos arras-
tos da grande.
TAMPA, s. f. Peça com que se tapa,
e cobre a bocca de um vaso, caixa, esto-
jo, etc. _
TAMPÃO, s. m. Tampa grande.
— Qualquer tampa, capa, tapadoura
ainda pequena.
TAMPELO, ant. Vid. Templário.
TAMPO, s. 771. Vid. Tampa.
TAMPOR, s. m. Vinho artificial de
Borneo.
TAMPOS, s. m. A peça de madeira,
que compõe o lado superior, ou infe-
rior.
— Tampos da rebeca, da viola, da gui-
tarra ; o que cobre o vão.
TAMPOUCO, adv. iieg. Também não.
TAMSOMENTE, adv. (composto de tam,
e somente). Unicamente.
TAMUGE, ou TAMUJO, s. m. Uma plan-
ta, que SC dá por terras estéreis.
TAMUNGO, s. m. Em Malaca, signifi-
ca o nii^snio que patrão da ribeira.
TANADAR, *. m. Termo da Ásia. Ofi-
cial que arrecada para as fazendas as
rendas das gançarias. — «Depois da par-
tida destes embaixadores veo recado a
Afonso dalbuquerque de hum embaixador
do Empcrador da Ethiopia Rei do Abe-
xi, de como o tinha preso o tanadar de
Dabul, pedindolhe que o fezesse soltar,
por quanto vinha pêra com sua embaixa-
da ir a el Rei de Portugal, a quem o
Emperador do Abexi o mandaua.» Da-
mião de (iões, Chronica de D. Manoel,
part. 3, cap. 30.
672
TANG
TANADARIA, s. /. O ofliclo <1" tana-
dar.
— O t"rritori(i, ou dintricto sujeito a
um tanadnr. — «E jiosto (pie com n fron-
te dii f,ni(!rra qut! cllo tra/.ia ordenada
porá dofonuao daquoUas tanadarias, ás
vezes fazia a arrecadaí;íIo delias com tra-
balho, limito maior o teve tanto quo com
força de pente veio sobre oUe hum (Jiij)i-
tilo do Ilidalcíío chamado Tulate í'aii, tó
que per dorr.idiiiro vimlo este l*ulate Can
a lhe dar hunia batalha, Melrao lhe sá-
bio, o o desbaratou com quatro mil pcães,
e quarenta de eavallo que tinha, tendo
Pulate Can muito maior número do pen-
te.» Baríos, Década 2, liv. G, cap. 8. —
(tAs rendas que tem nas terias ila Ará-
bia, o Pérsia são de Villas, e Lugares
nos portos de mar, e alpuns dentro pola
terra; e os prliicipaes são como cabeya
de Almoxarifado, (fallaudo pelo nosso
uso,) aos quaes acodem todolos outros da
sua Comarca, (como dissemos das tana-
darias do (joa,) o aos (íovernadores des-
tas prlncipaes cabeças chamam elles (Uia-
zil, e ao ofEcio Cuazilado.» Ibidem, liv,
10, ca].. 7.
TANADO, A, fvlj. (Do francez tanné).
Termo antiquado. Côr de castanha.
TANAJURA, s. /. Formiga de azas,
mui gramle, o barriguda, que comem
torrada alguns matutos de Pernambuco.
TANAZ.Vid. Tenaz.
TANCHA, s. /. Instrumento de pes-
car.
TANCHAGEM, -•<. /. Ilerva vulgar.
TANCHÃO, t. "1. Estaca, ramo que se
dispije para vir a ser arvore.
— Estaca com que se cscostam as par-
reiras.
TANCHAR, V. a. Enterrar, cravar,
pregar.
TANCHOAL, s. »i. Campo de tanchoei-
ras.
TANCHOEIRA, *. /. Tanchão, estaca,
ou ramo limpo da rama, que so planta
para se fa/.cr arvore.
TANGA, s. /. Moeda asiática portu-
gucza que vale três vinténs: As tangas
brancas em Salsote c Bai'dez valem 150
reis, e cm Goa valem 96. — «As rique-
zas, que grangeou na Ásia, forão suas
heróicas obras, que neste papel virão a
ler 08 futuros com saudosa memoria. No
seu escritório se acharão trcs tangas la-
rins, e humas disciplinas, com sinaes de
usar muito delias, e a guedelha da bar-
ba, que havia empenhado.» .Tacintho Frei-
re d'Andrívie, Vida de D. João de S«s-
tro, liv. 4.
— No Brazil e Ásia portugucza, ó a
peça do pauno, que é longor de vara o
meia, ou duas varas sem feitio, que enro-
lada na cintura, o pendendo como uma
fralda, é aquillo com que os índios se
oncacham, e cobrem as ]iartcâ vergonho-
sas da cintura até ao joelho.
— As tangas de vanti de foro cor-
TANG
rente; Hão palmares repartido» do mes-
mo modo que aH tangas de cunto.
— Tangas de cunln ; na AKÍn, não cen-
sos encabeçados em terras <|ue HoLejain
das várzea-;, incertos, e repartidos, pelos
que os arrematam proporcionaliiieiite.
TANGADO, part. pass. de Tangar. En-
cachado em tanga.
TANGANHÃO, s. m. O que vonde e
trata < iii eseravaria.
■ - llwmcni que eufi-ita as mercadoria»
para as r píitar mellior. Vid. Tangomão.
TANGANHEIRA, adj. f. Termo usado
110 commereio ilc escravos. Ne<jra tan-
ganheira; de peitos caídos, e uào do pé,
ou ataeado.s, e valem monos.
TANGAR, V. a. Encachar com tanga.
— Tangar-se, v. rejl, Cobrir-sc á roda
da cintura com tanga.
TANGARA, s. /. Termo de historia na-
tural. Avo do Brazil, de que ha varias
espécies.
TANGARÚ, s. »i. Espécie de tangara
ruiva da l Uivana.
TANGEDOR, A, s. Pessoa quo toca, to-
cador. — Taugedor de instrumentos.
Tanf/edor quizcni ser,
mns miiic:i jiiidc tanger
soiiào viola de sonuio,
o poiti lioi do esporar passo.
ANTÓNIO rnKSTF.3, AUTOS, pilg. 329.
— «Foi mui musico de vontade, tanto
que as mais das vezes que estaua em des-
pacho, e sempre pela sesta, e depois que
se lançaua na cama, era com ter musica,
e assi para esta musica de camará, como
paia sua capoUa tinlia estremados canto-
res, e tangedores, que lhe vuihaõ de to-
dalas partes Dcaropa.u Damião de G oca,
Chronica de D. Manoel, part. 4, cap.
84.
— Tangedor de bestas; que as tange
nos engeulios de assucar.
TANGEDOUROS, s. m. plur. Dous paus
roliços usa' los no folie dos ferreiros.
TANGEFOLLES, s. m. Ilomcni que tan-
ge os folies do ferreiro, ou dos órgãos
músicos.
— Pessoa que dá conversa, e mantém
pratica a um fallador de vaidades, e de-
vaneios, que o faz fallar, o lhe puxa pela
lingua.
TANGENCIAL, adj. 2 gcn. Termo de
geometria. Que é tangente, que se refere
ás tangentes.
— Coordenadas tangenciacs; systema
de geometria aualytica no qual as super-
iicies e as curvas são detinidas pelas suas
tangentes, e seus planos tangentes.
— Termo de mecânica. Força tangen-
cial; jirojecçào, na trajectória d'um mo-
vei, da torça que actua sobre cUe.
1.) TANGENTE, s. /. Termo de geome-
tria. Linha recta tangente.
— rrtdiUinu das tuugentes; problema
danalyso, om quo so propõe detea-miuar
TAKG
a» tangentes a uma curva, cuja oquação
6 conhecida.
— MelJmdo das tangentes ; rcuniSo dos
processos de calculo eoui <> auxilio dos
quacd so resolve oHtc j^roblema.
— Eru geometria. Tangente de um ar-
co de circulo; linha levada a uma dat
extremidades do arco de circulo, o pro-
longada até ao ponto em que ella encon-
tra o raio pausando pela outra extremi-
dade do arco.
— No calculo trigonométrico, a tangen-
te de um arco é o nunicro positivo ou
negativo que, tendo-»e tomado jior uni-
dade o comprimento do raio, medo o com-
primento d'e8ta tangent'1. Em todo o
triangulo eopherico rectângulo, a tangen-
te d'nm lado é cgual ao producto Ha téin-
gente do lado opposto pelo seno do ou-
tro lado.
2.1 TANGENTE, part. act. de Tanger.
Termo de geometria. Que toca uma linha
ou uma superfície em um só ponto.
— Duas curvas sJo chamadas tangen-
tes cm um ponto, quando uma mesma li-
nha recta lhes ó tangente a ambas n'e8.se
ponto.
— Um plano é chamado tangente a
uma supcrticie em um ponto, seguindo
uma linha, quando cortam as rectis tan-
gentes a todas as curvas que -e podem
traçar sobro esta superficie por este ponto
ou por todos 03 pontos d'esta liniia. Do
mesmo modo, a superfície é tangente ao
plano.
— Tocante.
1.) TANGER, V. a. (Do latim tangere).
Tocar. — Tanger viola, guitarra. — «Este
Chaem, por ser mais honrailo que todos
os outros, traz hum estado tão grandioso
como qualquer Tutão, porque traz trezen-
tos Jlogorcs de guarda, e vinte e quatro
porteyros de maça.s, e trinta e seis ino-
Iheres cm facas brancas com jaezes de
prata, e gualdrapas de seda, tangendo
em estromentos suaves e cantando a el-
les, com que fazem musica a seu modo
niuvto bem concertada.» FemSo Mendes
Pinto, Peregrinações, cap. lOti. — «Apoa
isto pegarão dez ou doze no (íaspar de
Jleirelcz, e o fizoraõ quasi por força tan-
ger, o o levarão comsigo até o lugar on'le
avião de queymar o defunto, conforme ao
uso de suas gentílicas seitas.» Ibidem,
cap. 116. — «E como esto Gaspar de
!Meirelez era musico, e tangia numa vio-
la, e canUiva uiuyto ;irrazoad;iiuente, que
são partes muyto ;ig-radaveis a esta gen-
te, porquo o mais do tempo gastão em
banquetes e delicias da carne, gostavao
aly muyto dclle, c era muytas vezes cha-
mado piu'a estas cousas, das quais sempre
trazia huma csm<da com que o mais do
tempo «os remediávamos.» Ibidem. — «E
ao longo delia hum pouco mais afastadas
estavào trint;i e duas molheres muyti^
fcrmosas, que tangendo em ditVercutcs es-
tromentos, fazião huma musica muyto
TANG
TANG
TANQ
673
para folgar de ouvir.» Ibidem, cap. 122.
— <iE tocando então as moiheres os es-
tromer.tos que ant -s tangião el Eey por
entào uào íiiilou mais, somente ao reco-
lher lhe disse, eu verey a carta do Xina-
rau meu irmcào, e responderey a ella con-
forme ao teu desejo paraque te partas
alegre diante de mira : a que o embaixa-
dor sem responder nada se tornou a pros-
trar ao pé da tribuna pondo por três ve-
zes a cabeça no degrao em que estava
assentado.» Ibidem, cap. 130. — «E tan-
gendo as palmas a modo de alegria, en-
trarão dentro no junco, e hum delles que
no aspeito parecia de mais autoridade me
disse, antes, senhor, que peça licença
para falar, te rogo que vejas essa carta
para por ella me dares credito ao que
disser, e saibas que sou esse que ella diz :
e com isto me meteo huma carta na mão
emburilhada num trapo bem cujo.» Ibi-
dem, cap. 145.
Mercúrio tangendo foles,
castollos que matam brasa
e a guerra morta;
cmfim que as armas á porta
c 03 mouros entram em casa
epa isto é que mo a mi corta.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pag. 33.
Qual Petrarclia ! inda m'agravo
do Pctraroha, mui mais bravo
que dez mil Petrarchas foi,
boi que tangeria cravo.
IBIDEM, pag. 197.
Eis á porta está tangeiulo ;
todo o mal que te constrange,
Leonarda, é aquelle que taiige.
IBIDEM, pag. 181.
— «E porque eu começaua de tanger
bem me mandaua ensinar, e me ouuia
muytas vezes na festa, e de noite na ca-
ma, e me gabaua tanto, e tantas vezes,
que eu não cuydava em outra cousa se-
não em seruir, e aprender. » Garcia de
Rezende, Chronica de D. João II, cap.
205. — • «Usam de huma maneira de cra-
vos que tem muitas cordas de fio de La-
lam, tangemnos com as unhas, que pêra
isto criam, soam muito e fazem muy boa
armonia: tangem muitas vezes muitos
instrumentos juntos concertados em qua-
tro vozes que fazem muito boa consonân-
cia.» Fr. Gaspar da Cruz, Tratado das
cousas da China, cap. 14.
Nào sem pungente magoa os Lusos vião
Hum tão novo espectáculo tristonho,
Desafinados Anafins tsnyfiào
Os negros á porfia em som medonho :
Era rudes cançoeus barbaras carpião
Da humana vida o passageiro sonho •,
Do nuvens cobre o Ceo pesado manto,
Qu'hum tom maia triste dèo da morte ao canto.
J. A. DE M.1CKD0, o ORIENTE, caut. 4, CSt. 43.
— Tanger trombetas para vários signaes
voi.. V. — 85.
de guerra ; accommetter, recolher, montar
a cavallo para sair ao inimigo com os
fronteiros da praça, fazer sign ai de irem
a cavalgada.
— Termo antiquado. Tocar, pertencer,
dizer respeito.
— Celebrar em musica de instrumento.
— Tanger as bestas ; afanal-as, ou aos
bois com aguilhão, dar-lhes golpes para
que espertem, e se apressem, ou andem.
— Adágios e provérbios:
— Aprende alto e baixo, e como te
tangerem assim dança, ; ou : Como me tan-
gerem, assim bailarei.
— Genro pelo papo me vai tangendo.
— Já morreu por quem tangiam.
— Asno por lama o demo tange, e pelo
pó o demo haja d'elle dó.
— A besta que muito anda, nunca
falta quem a tanja.
2.) TANGER, s. m. Vid. Toque.
Tu qués
que t'o faça aqui vir ter ?
Ah ! que tanger tão francez !
Passava amor su arco desarmado...
Ah ! meu bem se tu pas.sáras
passara amor tão ladrão ;
passou um com outro então
tào amor, tão esfólaoiáras.
ANTÓNIO PEESTES, AUIOS, pag. ISl.
— Plur. Termo em desuso. Tocatas,
soadas, ou sonatas de instrumentos mú-
sicos.
TANGERINA, s. /. Vid. Laranja.
— Diz-se que é laranja oriunda de
Tanger.
TANGIDO, pari. pass. de Tanger.
TAKGIMENTO, s. m. Termo antiquado.
Toque, co-itacto, tocamento.
TANGÍVEL, aJj. 2 geií. Sensível ao ta-
cto.
TANGOMÃO, s. m. Homem que na costa
d'Africa vai ao sertão resgatar e comprar
escravos. Vid. Sertanejo. D'esta palavra,
de que usam as Ord. Affons., iiv. 1,
tit. 16, § 6, tem sido a interpretação mui
vária e discordante. Os que dizem que
tangomão é o que foge, e deixa a sua
patiia, e morre fora d'ella, ou por suas
culpas, ou por seus particulares interes-
ses, tocaram sem duvida no verdadeiro
espirito da lei; pois se a sentença pro-
nunciada contra os bens do tangomão ha
de subir á presença d'el-rei, para decidir
se elles pertencem ou não ao real fisco,
fica manifesto que o dono morreu ausente
e fugitivo. Xào negaremos comtudo, que
havendo pas.5ado esta palavra de Guiné
a Portugal, se entenda particularmente
dos que fugcm e morrem por toda a Gui-
né c Cafraria.
TANGUEIRO, s. m. — Uns tangueiros
de latão mourisco.
— AJj. — Pannos tangueiros ; pannos
de encachar.
TANGUL, s. «i. Cobre da Barbaria.
Assento baixo feito de
, Amigo de se poupar ao
Tangefol-
Vid. Tan-
toque de
TANHO, s.
taboa.
TANJÃO, s.
trabalho.
TANJASNO, s. m. Termo de historia
natural. Ave que tem antipathia com os
jumentos.
TAKJEFOLLES, s. m. Vid.
les.
TANJUDO. Termo antiquado,
gido. — Campa tanjuda;
campa.
TANNANTE, adj. 2 gen. Termo de chi-
mica. Que participa do tannino.
— Que participa da casca do carvalho,
empregada no cortume dos couros.
TANNATOS, s. m. plur. Termo de chi-
mica. Compostos salinos produzidos pela
combinação do tannino, ou do acido tan-
nico com as bases.
TANNICO, A, adj. Termo de chimica.
Que diz respeito ao tannino.
— Licor tannico ; solução d'acido tan-
nlco.
— Injecção tannica ; injecção emprega?
da contra a hemorrhagia.
— ÂciJj) tannico ; o que se extrahe do
tártaro.
TANNINO, s. 7íi. Termo de chimica.
Substancia que se encontra na casca do
carvalho, e em outros vegetaes, e que
torna estas substancias próprias para cor-
tir as pelles.
\ TANNOGELATINA, s. f. Termo de
chimica. Substancia flocosa, insolúvel, e
quasi indestructivel, composta de tanni-
r:0, e» gelatina, e formando a base do
couro.
t TANNOKELANIGO, A, adj. Termo
de chimica. Acido tannomelanico ; cor-
po que se produz expondo ao ar, n'um
vaso chato, uma solução de tannino n'uma
dissolução enérgica de potassa.
TANOA, s. /. A fabrica de pipas, e
toneis, para agua, vinhos, azeites, etc.
TANOAR, V. a. Exercer o officio de
tanoeiro.
— Figuradamente : Espancar alguém,
dar-lhe pancadas.
TANOARIA, ou TANOEIRIA, s. f. Bair-
ro de tanoeiros.
— Officio de tanoeiro.
TANOEIRO, s. 7n. Homem que faz pi-
pas, toneis, barris, etc.
TANQUE, s. m. Eeservatorio onde se
ajunta agua, e que se considera como es-
tagnada. — «Junto a estas capellas tem
aposentos muyto grandes, com jardins e
bosques espessos de grande arvoredo, e
muytas invenções de tanques, e fontes,
e bicas dagoa. E as paredes das cercas
saõ forradas por dentro de azulejos de
porcelana muyto fina,' e por cima pelos
espigoens tem muytos leoens cõ bandey-
ras douradas, e nos cãtos das quadras cu-
rucheos muyto altos de diversas pintu-
ras.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 105.
674
TANT
TANT
TANT
— Termo do marinha. Reservatório
feito do ferro para conduzir a agua nos
navios.
— Reservatório, onde se conduzem as
aguadas dos navios, feitos segundo as di-
mensões que ellea tom no porJlo.
— Tanques ilas polés ; logares próxi-
mos aos cscovcns, o separados do resto
das cobertas, ou do convcz, por um ma-
deiro que se prega de bombordo a esti-
bordo, e dentro dos quaes estào as tinas
da baldeação; tem embornaes sobre si
para escoar a agua que aili se derrama,
servindo do preservar que ella molhe o
resto do navio.
— Nos engenhos d'assucar serve de re-
colher o melaço que purga das formas.
TANQUIA, s. f. Medicamento feito de
ouropiníonto, c cal.
f TANTALATO, s. m. Termo de chi-
mlca. S;il ]iro(luzido pela combinação do
acido tantalico com uma base.
f TANTALICO, adj. m. Termo de chi-
mica. Acido tantalico ; o peroxydo de tân-
talo.
f TANTALICO-AMMONICO, adj. Ter-
mo de cliimica. Diz-se de um sal tantali-
co combinado com um sal ammoniaco.
Diz-sc do mesmo modo : taiitalico-calcico,
tanfalico-potassico, etc.
f TANTALITE, s. m. Termo de chimi-
ca. Sal fonnatlo pela combinação do aci-
do tantaloso omn uma base.
1.) TÂNTALO, *•. m. Termo de chiml-
ca. Metal novo, descoberto em ISOl na
America do Norte, a que se deu também
o nome de columbium. '
2.) TÂNTALO, s. m. Personagem da
mythdlogia.
\ TANTALOSO, adj. m. Termo de clii-
mica. Acido tantaloso; diz-se do oxydo
tantalico.
TANTEAR, r. n. Vid. Tentear.
TANTITO, A, adj. Termo popular. Pe-
quenino, pequena porção.
TANTO, A, adj. (Do latim taiitus).
TSo grande. — « E vendo-o tão gentil-ho-
mem, e o desejo com que lhe buscava
descanço, lembrando-lhe juntamente com
isto o engano que com clle usara, o fim
pêra que o fizera, não tovc aqui tanta
força a morte do seus irmãos, que não
virasse o ódio em amor. » Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Iuglaterra, cap. ILõ.
— «Tornando a enrcstar as lanças corre-
ram a terceira carreira com toda a fúria
que os cavallos poderam levar, o encon-
trando-se em cheio dos corpos e escudos,
foi de tanta força o encontro que os ca-
vallos não se podendo suster, topando
tambcni um com o outro, vieram ao
chão com seus senhores.» Ibidem, cap.
127.
Puro Amor ! se p.ifcava s<5 tal vista
Todo o mal qiiP por ti rac fez meu fado,
Porque quizoate que a levasâo o tempo?
£ se o asai quizeato, porquo a vida
Me deixas para vfr Innia crueza,
Quando cm nilo vi-la »■< vejo o rcmi-dio?
CAU., ar.XTILBA 3.
Comprou-me o amor,
Sem lhe fazer preço:
Eu não lhe mereço
I)ar-mc desfavor.
Oá-rae tanta dor,
Que ando apoz elle
Pelo que mo deve.
IDKM, BEDONDILUAS.
Nunca vi tal esperar,
Nuuca vi tal a vantagem,
Nem tal modo de agradar.
Nossa eonta ho tão pequena,
E ha tanto que hc devida,
Que morre de promettida,
E i)i'ço-a ja com tanta pena.
Que depcnno a minha vida.
GIL VICRKTE, F.mçAS.
— « Assentadas estas e outras cousas
que auia pêra fazer en Quiloa, em que
Nuno Vaz mostrou ter tanta parte de
prudência como tinha de caualleiro: lei-
xando'aU por official a Luis Mendez de
Vasconcelos que viera em sua companhia,
partiose pêra Çofala.» Barros, Década 1,
liv. 10, cap. 6. — «Vista esta carta pulo
Ivoy Braniaa, lhe respondco logo com ou-
tra cheya de muytas promessas e jura-
mentos que tudo o pas.^ado poria em es-
quecimento, e que a ello proveria com
hum estado de tantas terras e rendas que
ficasse bem contente, o que despois lhe
cumprio bem mal como adiante direy.D
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações,
cap. 149.
Pouco traz isto oâ três que g;overnavão
Juntamente co'o moço aqueila terra,
Vendo chegado o tempo em que espcravào
Descubrir o que seu esprito encerra.
Com tanta pressa o exercito ajuntavão
Para darem effeito .-'iquella guena.
Que dez mil de cavallo juntos tinhão
E quinze mil dos outros que a pé vinhão.
F. d'akdr\de, rnixEiRO ceeco de Dii:,cant. 8,
est. Ui.
— «Nelles andamos trcs dias, leuando-
nos o tempo à parte do Sinde, e posto
que o vento aqui se mudou, não se virou
com tudo a fúria dclle, que nunca os ma-
les facilmente se mudão. Estando de ta-
tás angustias cercados, leuanta o Piloto
hum grande brado dizendo.» Frei <! as-
par de S. Bernardino, Itinerário da ín-
dia, cap. 10. — «Sorrirãosc tolos, fost'^-
jando muyto a afcyção que neste parti-
cular niostrauamos. E depois de estarmos
aqui cou.-sa de meya hora, nos louarão ao
jogo da choca, onde Ochaã com os mais
a jugaram a caualo, com muita desenuol-
tura, e graça, inda que com tantas gri-
tas, como elles costumão fazer em qual-
quer pequeno excesso.» Ibidem, cap. 15.
— «Pois em nenhuma parte da Europa
se dà a seda com tanta perfeição como
cm Portugal, como nota'' os autborea Ita-
lianos, e só falta occuparem-se mais nes-
te arteficio.» Severim de Faria, Noticias
de Portugal, Disc. 1, cap. 4. — «E as
cinco estrellas significai? o Cruzeiro do
Polo Antartico, por o Brasil ficar no outro
Emispherio: o Lea<5, o valor, c-m que se
houve na Conquista daquella Capitania,
por serem próprios dos Coelhos os cinco
castellos por outras tantas povoaçoens,
que na Capitania fiz-ra.» Ibidem, Disc.
3, cap. 10. — tQuer dizer, que de nJSo se
pejarem de Deos, num do mundo, vieraiS
á tanta dissolução, que naõ perdoaraS a
nenhum género de maldade, e assi pedia
o mesmo Rey Santo a Deos, que còfun-
disse, e enuergonhasse a seus inimigos,
auendo que esse era o mais certo meio
de sua emmenda.» Fr. Thomaz da Vei-
ga, Sermões, part. 1, foi. 72, col. 2. —
«Por morte de Nero (que com tanta ale-
gria foy ouvida do Senado e povo Roma-
no) aclamarafJ, e obedecerão por Empe-
rador a Sérgio Oalba, sendo o primeiro
que sem adopção nem parentesco algum
com a casa dos Césares, entrou tia JIo-
narchia só pelo direito das armas.» Mo-
narchia Lusitana, liv. 5, cap. 8.
Ásia de tanta-' mara\nlha9 cliêa
Das marceus do Mecôn, do Ganpcs, do Indo
Grinaldas te prepara, c ta» cnastra.
Tão bellaa, quaes as pinti o China astuto.
J. a. I>E MACEDO, TIAOEM EXTÁTICA, Cant. 2.
— Esses nossos honrados companh<uros
De tanta cicatriz innobrecidos.
Que a espada fcintas vezes impuiiharam,
Tanto sansrue verteram por scfruir-nos.
Por defender da pátria a sancta causa,
De suas vidas acaso a mesma pátria
Não nos confiou a nós cuidado e guarda V
GABBBTT, CATÃO, aCt. 3, BC. 1.
— Outro tanto ; igual porção, a mes-
ma cousa ou cousa idêntica. — «Se algu-
ma molher se obriguasse a outrem por
cousa, que a ella perteencia ; assy como
se ella comprasse a herança d'algum de-
funto, e se obriguasse a algum creedor
do dito defunto por alguma divida, em
que ellc fosse obrigado; ou se alguma
molher obrigada a algum seu creedor, ao
qual ouvesse dado certo fiador, ella de-
pois se obrigasse a aquelle seu fiador, que
a fiara por outra tanta quantidade, como
fosse a da primeira obrigaçom, em que a
ello primeiramente fiara.» Ord. Affons.,
liv. 4, tit. 18, § 7.— «Se ella tanto de-
seja servir-se delias, re.sjx)ndeu o do Sal-
vage, mal and.istes era n.^ío bnscíirdes-me
mais cedo, que trazia outras tantas, e
fora o serviço mainr : comtudo nem estas
a servirão, nem eu confessarei o que que-
reis, que seria confessar mentira.» Fran-
TAXT
TAlíT
TANT
675
cisco de Morae?. Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 130.
— Tão grande espaço. — «E também
em modo de premio do trabalho de tãto
caminho, era dada ao embaixador huma
cruz pequena da feição da que leuaua
pêra elRey que lhe lançauào ao coUo :
com a qual elle ticaua liure e isento de
toda seruidào, e preuilegiado na terra
donde era natural, ao modo que entre
nóa são os commendadores.» Barros, Dé-
cada 1, liv. 3, cap. 4.
— Tào grande quantidade, tão grande
porção. — «A Seniiora Condeça Fabricia
merece encontrar o Lobo, pois que vay
tantas veses ao Bosque contra o conse-
lho de seu marido.» Cavalleiro de Oli-
veira, Cartas, liv. 1, n.° Ò2.
Do privado iuteresse ignora a meta,
E nem se muda, nem se altera, como
Tantas vezes no Mundo amor se muda.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 1.
- — Emprega -se como correlativo a quan-
to. — «E se ouverem officios mais peque-
nos, assy como Taballiaàes, Escrivaães,
ou outros Officios, per que gaanhem de
comer, pague cada huuin pola primeira
vez tanta conthia, quanta ha de pagar
o que ouver conthia de cinquo mil libras:
e sua barregaà a meetade da dita con-
thia: e com estes andem os Celorgiaàes,
6 suas barregaàs. » Ord. Affons., liv. õ,
tit. 18.
— Tanto, pedindo que, significa tal. —
«Estaudo Affonso d'Alboquerque nesta
prática, foi tanta a faria da nossa gen-
te, havendo por injuria aquella sultura
dos Mouros em sua face, que com ímpe-
to de vingança começou a correr huma
voz per todos : A elles, a elles. » Barros,
Década 2, liv. 7, cap. 4. — «A qual era
tanta que todos os cãpos eraõ cheyos del-
ia, sem aver cousa que pudesse romper
por nenhum caminho, e chegados assi
com esta ordem, ou antes desordem, ao
castello de Lautir, que era o primeyro
forte do nove espias que tinha o campo,
em que avia huma grande força de sol-
dados, achamos ja nelle hum príncipe fi-
lho dei Rey da Pérsia chamado Guijay
Paraõ, o qual el Rey aly tinha mandado
para levar o Mitaquer consigo. » Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 120.
— *Foy, e prendeo muytos homens, e
outros degradou da cidade, e eraprazou
pêra a Corte, e pos nisso tanta força, e
diligencia, que pacificou tudo. E porque
alguns homens ficarão escandalizados del-
le, mandarão a el Rey huns grandes ca-
pitules de cousas que la fizera.» (íarcia
de Rezende. Chronica de D. João II, cap.
151. — uElRey D. Afonso V. armou a
seu irmaõ o Infante D. Fernando Caval-
leiro com tanta solennidade, que quasi
o menor apparato desta pompa foi prece-
derem diante deste magnifico acto mil
tochas, quatrocentas levavaõ Cavalleiros,
e as seiscentas Escudeiros dos mais luzi-
dos da Corte, todos vestidos de hum tra-
go, e libre.» Severim de Faria, Noti-
cias de Portugal, Dlsc. 3, cap. 28.
— De tal graduação,
— Tanto elh como os mais ; assim elle
como os outros.
— Com tanto que; com tal condição
que. — aK dizemos, que se ao tempo da
venda e compra o comprador pensava
seer a cousa do vendedor, ainda que es-
se vendedor lhe nom prometesse a com-
poer a dita cousa, no caso que lhe fosse
veencida, esto nom embargante será theu-
do a lha compoer, seendo-lhe vencida,
com tanto que seja per elle nomeado, e
chamado por autor aa demanda ao tem-
po que deve, como suso dito he.» Ord.
Affons., liv. 4, tit. Õ7, § 12.
— Loc. ADV. : Por tanto. Vid. Por-
tanto. — «E por tanto Dizemos, que se
alguma das partes dissesse, que a outra
lhe ficou a fazer Escriptura desse con-
trauto, e despois lha nom quiz fazer, e
por tanto ho nom pode provar per escri-
ptura.» Ord. Affons., liv. 3, tit. 57, § 6.
— uE por tanto em todos estes casos e
outros semelhantes essa conveença nom
-tem fijmidão, nem pôde valer, senam des
que a Escriptura he feita, e leuda, e as-
sinada pelas partes; e por esta razom,
segundo direito, cada huma das partes
se pode afastar afora, ante que firme
essa conveença per seu nascimento.»
Ibidem, liv. 4, tit. 56, § 4. — «E se
despois que a dita venda fosse de todo
acabada, o comprador vendesse, desse,
ou escambasse a cousa comprada a al-
gum outro, nom leixaria por tanto o ven-
dedor de poder demandar o dito compra-
dor polo beneficio d'esta Lei.» Ibidem,
tit. 45, § 7. — Por tanto hum dos maio-
res castigos, com que Deos ameaçava
antigamente seu povo, era dizeudo-lhe,
que deixaria aquella Republica sem Ca-
pitaens, e soldados.» Severim de Faria,
Noticias de Portugal, Disc. 2, cap. 1. —
«E por tanto volio mando outra vez pê-
ra que vos diga algumas cousas que lhe
dixe, e vos peço que o que vos o dito
Coiealeam pedir o façaes, e o nam dete-
nhaes, e o despacheis ceio, e me enuieis
alguns mestres de fundir artelharia, e
bombardeiros, c eu os contentarei como
elles quiserem.» Damião de C4oes, Chro-
nica de D. Manoel, part. 4, cap. 11. —
« E por tanto o sétimo grão he dos pací-
ficos, dos quaes diz o Senhor, Bemaven-
turados os pacíficos, ou negoceadores de
paz, porque elles seram chamados filhos
de Deos, que he Deos de paz, e amor.
Os dous derradeyros degraus desta celes-
tial escada, sam dos que padecem perse-
guições por amor de Deos.» Frei Bar-
tholomeu dos Martyres, Catecismo da
doutrina christã. — «E porque o primei-
ro peccado (que foy a rajz do peccado
original em que nascemos) começou em
a molher porquato ella foy a que induzio
Adam a peccar: por tanto dobrou Deos
a pena na molher que paria filha : esta-
belecendo que a que paria filho ficasse
euitada da entrada do templo por espa-
ço de quarenta dias: e a que paria filha
por espaço de oitenta.» Ibidem. — aE
por tanto, di%-iuo he o conselho do mes-
mo S. Paulo, quando diz : Nemo se sedu-
cat: si quis viJ^tur inter vos sapiens in
hoc sceculOf stultus jiat, ut sit sapiens.
Sapientia enim hujus mundi, siultitia est
apud Deum. Xaõ nos enganemos huns
com outros, e cada hum consigo. Se al-
gum de nós, naõ digo he na realidade,
mas, parece sábio, saiba, que para na
verdade o ser, he necessário fazerse nés-
cio.» Padj-e Manoel Bernardes, Exercí-
cios espirituaes, pag. 315.
— Entre tanto. Vid. Entretanto.
Entre tanto o Deaõ confuso, afflicto
Passava as horas, na memoria tendo
Do lavdeado Gallo o infausto annuncio.
A. DLSIZ DA CBCZ, HYSSOPE, CEUt. 8.
— Tanto 2^^'' tanto; preço igual, ou
recompensa igual ao que se nos deu, ou
fez. — «E querendo-a aver tanto por tan-
to, a elle deve seer vendida, e quando a
assy nom quizesse aver, poderá esse fo-
reiro vendella a quem lhe prouver, com
tanto que nom seja das pessoas defesas
em Direito.» Ord. Affons., liv. 4, tit.
37, § 4. — «Despois que naceo esse me-
nino, vinha, casa, ou herdamento, que
seja d'avoenga deste menino, ou menina,
bem poderem demandar, e aver esse her-
damento tanto por tanto, despois que fo-
rem de revora comprida, se a venda fe-
zerom depois que forom nados.» Ibidem,
tit. 38, § 2.
— AIgu7n tanto ; pouco. — « Chegan-
do-se mais a elles, conheceu que eram
Franciào e Onistaldo, de que algum tan-
to ficou contente, crendo que dando-lhe
conta do que a Palmeirim acontecera,
estimariam pouco o trabalho de o ir bus-
car, que este é um bem que a amizade
tem, 08 grandes perigos estimal-os pouco
nas cousas onde se ella ha de mostrar.»
Fi-ancisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 55. — « E tornando algum
tanto em seu acordo, pondo os olhos
nella, começou dizer : Senhora, agora ve-
jo o que não cuidava e já me não espan-
to fazer tamanhos extremos este vosso
cavalleiro, pois por tamanho extremo se
combate.» Ibidem, cap. 60. — «E lem-
brevos o que lhe vistes fazer em Quan-
sy, e por ahy julgareis o que vos podem
fazer a vós. Os Tártaros ficarão algum
tanto espantados de nos verem altercar
huns cos outros, e falarmos alto, que he
cousa que elles entre sy não custumão,
676
TANT
TANT
TÃO
è no» roprcndcrão com bo;is ]);il.ivr;iK,
(lizonilo, fjU(j iiiiiirt ])n)|)rii> i!)';i il.'i« t\w-
lliorc.s ialliu-ciu alto o doíiíni toado, ])0Íh
iiíto tom trovo ii;i linpjoa.» Foriiílo Men-
diga finto, Peregrinações, caji. 118. —
«A quo uUc rospoiídeo alf^uin tanto agas-
tado, bofú senhore.i, qiio quanto il mi-
nha, cu a estimo agora tilo pouco, quo se
algum destes bárbaros ma quiscsso Jugar
il primeyra, vos certifico que c3 quais-
quer duas sota» a mctosse logo no pri-
nioyro invito, porque bem entendido est:i
que nào hc esta a gonto quo nos lia de
dar a vida pelo resgate que jjrctcnda do
nós, como fazem o^ Mouros do Africa, e
ja qu'e ushí lie tanto monta ojc como a
nienham.» Ibidem.
— Tanto <2iu: ; logo que. — «E dize-
mos ainda, (pie tanto que a venda e
compra he Hrmada per conscnfinionto
das partes, deve logo primeiramente o
vendedor d'entrergar a- cousa vendida ao
comprador, o dos y o comprador deve
logo pagar o preço ao von<lodor, por que
assi foi vendida.» Ord. Affons., liv. 4,
tit. GO, § 2. — fiíi tauto que foy manhàa,
querondo Jorge Cabral passar em busca
dos Amoucos, não o consentirão os Ve-
readores, e sobre isso lho tizeraõ grandes
requerimentos, com o que sobreestove.»
Diogo de Couto, Década ti, liv. *J, cap.
2. — « Os [lOucos que escapamos deste
miserável naufrágio, que naõ foríío mais
quo vinte o quatro, a fora algumas mo-
Iheres, tanto que a nienham foy clara
conhecemos quo a terra em que estáva-
mos era do Lequio grande, pelas mostras
da ilha do fogo e a serra de Tavclacão.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações,
cap. 188.
Tanto quo estus louvores !icab;Vião
Ein damuo àoi Christíloâ logo pntpiiderâo,
(íiití osto acto por tão pio então julgilrào
Como esfoutro que (louco untes lizei'ào.
Logo iilgumiis bombardas asáentánio
]')aqucllii3 que os Cliristrios nntes perderão,
.Tunto d'hum cnoá que estava cditicado
Lá onde o Maudouiin lie nomeado.
K. r>'ANnuAr>E, riiiMKiuo ckeco de diu, caut. 11,
est. 70.
— Um tanto; uma quantia. — «Estan-
do na qual jirosporidado do fortuna fale-
ceo, leixando hum iilho per nome Mamud
Xá, ao qual elRoy do DeliJ confirmou
naquello estado que tinha seu pao : com
lho poer encargo do jiagar cada hum an-
no mães hum tanto do que o pao paga-
ua.» Barros, Década 5, liv. 2, cap. 2.
Sabè-la, c tua franqueza — tam uotavcl !
Mo auima, é dilVorento, opposta t\ d'ctle.
K logo no senado licido impnguil-la,
Abertil o nnainento. Em vivas cores
Heido pintar o estado miserável
])a pátria, o nosso ; o abysmo a quo a arrastámos
Se, para imo quebrar, nossa virtude
Não dobra um tanto ao peso da fortuna.
o.uiRKTr, c.vrÃo, uot. 1, se. 3.
— Nãi> tanto. — "Senhor All)anis, di»-
sc FloreiídoH, quem as armas exercita
não HO ha de oscandalisar de qual(|uer
mudança, que nellas ache. Arnalta me-
rece muito, jioróm não tanto, que com
isso «c deva escurecer o merecimento <lo
outras, que lhe a elia nSo devem nada :
folgai deste ilosastro vos acontecer antre
vossos servidores o amigos, que se era
outra parte fora, tivéreis mais que Bcn-
tir.» Francisco de Moraes, Palmeirim
dTnglaterra, cap. 1();5. — «K pois quai-
(pu;r destes modos (pio elle commettesse,
por causa do grande apparato que tra-
zia, de3cspei'ava os nosso.s, com que lhe
dava dobrado animo do que tinham ; de-
via elle Pato Unuz commetter este nego-
cio não tanto ;'i força de braço, mas com
parte de prudência, e do vagar, e não
tão apressado como viuha.u Barros, Dé-
cada 2, liv. 9, cap. õ.
— iVeni tanto.
Uma liora
Breve, escassa...
Nem tanto porventura !
Oh, Catão, approveita-a, que...
uAuunTT, CATÃO, act. 5, 8C. 0.
— Tanto mais. — «As damas, que mui-
to afFeiçoadas eram ás cousas de Flora-
mão, d'alli por diante o foram tanto
mais, que nenhuma sua lhe podia pare-
cer mal. A donzella, que viu que o im-
perador e todos davam a aventura por
acabada, disse em voz alta.» Francisco
de Moraes, Palmeirim d'Iuglaterra, ca-
pitulo !)1.
— Não jíicreço tanto ; nào sou digno
de tanto.
A mi não me fizeste
Alguma scmrazào ; que bem couhe<;o
Que tauto não mcrei;o :
l'"izcstc-a jVqucUo bem firme c sincoro
Que sabes que te quoro,
Em lhe tirar a gloria merecida.
Perca, <iucm te perdoo, tambcui a vida.
CAMÕES, EQLOUA 4.
— Dizemos multiplicando, dons tan-
tos, o dobro; ires tantos, o triplo, otc.
— Tantos por tantos ; em igual nume-
ro de ambas as bandas, ou partidas.
— Comprei por tanto ; comprei por tal
preço.
— Em tanto ; om tanto modo, a tal
ponto, em tào grande maneira.
— Tauto é \-erdade; ó tào verdade.
— Diz-so fallando com incerteza do
que excedo ao numero tixo de dezenas,
centenas, o não entra na casa seguinte.
— tíessi nta e tantos.
— tiinto tanto os Uus males, como o
sentia se fusseni i^roprios ; com o mesmo
gx"au do dôr.
— Tomado adverbialmcnte: Tanto; tan-
tos mezes, por tão largo tempo.
Mando, no t« oonhccj^moB,
1'orquc tnrilo desejaiiKH
'J"eui» ciigitnos ?
E *« asHi te qucrcmoi),
Mui Rcm catuvi no» quciíainoH
de tcuB dunoa.
CAU., i;AiirA 2.
— «Essa pergunta, senhor cavalleiro,
disse o ermitão, vos não qui/.era ouvir,
que me |iareco quo naiice de desejardes
haver batalha com qualquer delles; e
porque cada um ó pêra tanto, que nSo
sei HC bastarão porá o vencer os melho-
res três cavalieiro.s desta terra, tirai-vos
d'e8se pensamento.» Francisco do Mo-
raes, Palmeirim dlaglaterra, cap, 106.
— «Isto o fez a])ertar tanto com os ou-
tros, quo a um derrilx>u uni braçu com
a espada, o quarto deu comsigo no mar,
onde com o peso das armos foi afogado, t
Ibidem, cap. ll.õ. — «Que posto que
n'ella8 o desamor seja de mais dura que
o amor, vêl-o perseverar tanto em seu
serviço e fazer obra.s muito pêra estimar,
e além d'isso ser mancebo e gentil ho-
mem, que ante eíla tinha muito preço,
lho voltou algum tanto a vontade, e fa-
vorecia suas cousas com alguma mais af-
feição do que sohia.» Ibidem, cap, 130.
— «E estando elHey em Almeirim, vin-
do iiuin dia da caça foy assy de caminho
a casa da llaynha, e teue com ella ajun-
tamento : a llaynha tinha em hum Anel
huma esmeralda de inuy preço, que muy
estimaua, a qual por esquecimento não
tirou do dedo, e se lhe quebrou em pe-
daços. E quando assi a vio pesandolhe
niuyto disse a el Rey : Senhor, a minha
esmeralda com quo tanto folgaua he
quebrada.» Garcia de Rezende, Chroni-
ca de O. João II, cap. 1,
Da Geometria portentosas Linhas,
Em que tunto s'e.xalta o engeuho humano!
J. A. DK IHCF-DO, VIAOEM EXTÁTICA, C*nt. 1.
TÃO, adv. Vid. Tanto. — «Cada um
pGz os olhos em si e vendo suas armas
rotas, e tão forte inimigo diante, n3o
sabiam que esperassem, senào aqueile
dia ser o derradeiro dos que tinham de
vida. Pouco 80 detiveram que nào tor-
nassem a sua porfia, não podendo soffrer
tamanho repouso.» Francisco do Moraes,
Palmeirim dlnglaterra, cjip. 3l). — «Eu
estou tão espantado, disso Primaliào,
que todalas cousas, que d"anted sohia ter
em muito, se devem estimar pouco om
comparação desta. • Ibidem, cap. 'ò6. —
«Eu vos digo, disse o outro, que tão of-
ferecido estou a me perder por ellae, que
nào partirei daqui sem levar o escudo
comigo; e folgiira que fora por batalha,
pcra mais meu gosto: porem, pois nào
acho com quem a taça, leval-o-hei sem
cila ; ao monos por onde lôr, se a ima-
gem delle me der algum caidado, pondo
TAO
TAO
TAO
677
os olhos nella ficarei logo contente.)) Ibi-
dem, cap. 127.
Estava a Ilha á. terra tão chegada,
Que um estreito pequeno a di\'idia :
Uma cidade n'f'lla situada,
Que na fronte do mar apparecia.
oiM., LU3., cant. 4, est. 103.
— «Todos os naturaes da terra acudi-
ram á praia, e vendo fazer aquillo a hum
homem, que hia com nome de Governa-
dor, estavam pasmados de cousa tão
feia.» Diogo de Couto, Década 4, liv. 2,
cap. 5. — «Soltaõ Maliamude Kev de
Cambava era tão mào, e tão cruel, que
aborrecia a todos os vassallos. E de mui-
tas brutalidades, que delle se.contaõ, só
duas diremos pêra prova bastante de sua
maldade. > Idem, Década 6, liv. 10, cap.
16. — «E eram tão contentes do modo
deste ganho, que partidos alguns juncos
delles pêra sua terra, se leixou alli ficar
hum filho de hum Piloto em modo de Ca-
pitão de tó cera delles a ganhar sua vida
naquellas obras, por ser mancebo que com
a oommunieaçào dos nossos tomou a lín-
gua, e folgava com a conversação del-
les.» Barros, Década 2, liv. 6, cap. 6. —
«E para notarmos bem a causa deste tão
desacustumado estrondo, nos pusemos a
olhar o donde procedia, e vimos que era
de aver em cada huma destas casas qua-
renta fornalhas, a razão de vinte por ban-
da, com quarenta bigornas muyto grades,
em cada huma das quais malhavão oito ho-
mens a cõpasso tão apressadamente, que
quasi não davão lugar aos olhos para o en-
xergarem.» Fernão Mendes Finto, Pere-
grinações, cap. 96. — «E voltandose para
nós nos disse, vós outros idevos muyto
embora, e a menham a estas horas estay
prestes para quando vos eu mandar cha-
mar, e com isto nos fomos todos tão con-
tentes quãto era razão.» Ibidem, cáp.
121. — «E dalli foy logo para sua casa,
aonde com grande alvoroço, e contenta-
mento deu conta do que passava a sua
mulher, a seus filhos, e parentes, de que
todos ficarão muyto alegres, e se deraõ
por isso muytas ai vi caras huns aos ou-
tios, como entre elles se costuma em des-
posorios tão honrados como estes.» Ibi-
dem, cap. 199. — «E por mais leys, que
se façaõ contra esta gente taõ perniciosa
à Republica, naõ hà executallas, ainda
que sobre isto se fizeraõ muitos discui--
sos, e livros, que andaõ impressos pc)r
muitas partes de He^spanha. » Sevei-im de
Faria, Noticias de Portugal, Disc. 1, cap.
6. — «Pelo que em corroboraçaõ deste
taõ importante intento se poderiaõ orde-
nar os meios seguintes, com que se aca-
bariaõ mais casamentos convenientes para
as mulheres nobres, e fidalgas.» Ibidem,
cap. 7. — «Nem conti-a isto se pôde di-
zer, que se assim for, naõ quererão os
homens casar com taõ pequenos dotes,
porque como todos forem desta sorte, for-
çosamente os haò de aceitar, como ve-
mos, que acontece hoje a todos os Mor-
gados.» Ibidem. — «He taõ necessária a
conservação das cousas, que igualmente
as produzio a natureza com os meios con-
venientes para sua defensão.» Ibidem,
Disc. 2, cap. 1.
De meus avás que apresento
atados nestes cordões.
Ora deixe-mc co'o cargo,
cu estudarei t^io largo
que no estudo faça calo.
AsroNio PEESTES, ACTOS, pag. 151.
Mais vos digo
que é tão diabo comsigo
este mal, quo, mal poccado !
maia se tira ao mal cuidado
que ao bem que é mais nosso amigo.
IBIDEM, pag. 307.
— «As quatro filhas de Esculápio, Hi/-
gea, Panacea, Aegle, e Jaso, forão taõ
adeosadas na Medicina, que o Oráculo
delia Hippocrates tomou as primeiras duas
por testemunhas da sua doutrina. Appol-
linem medicum, et ^sculaplum, Hygcuam-
que, ac Panaceam juro. De Aegle e Jaso
fas memoria Hermippo; e de todas qua-
tro, Pliiiio.» Braz Luiz d'Abreu, Portu-
gal medico, pag. 248, § 74.
Ei-lo que cita Ciceros, Yirgilios,
Sobrados rasgos de eruditas plumas.
Tão longa elle estirou sua parlenda.
Que a maldita relê teve azo, o folga.
De o vergel cm mil partes destruírem.
FEANCISCO MANOEL DO NASCIJIENTO, FABULAS DK
LAFOSTAiNE, lív. 3, n.f 40.
Do fogo que despede a copia ingente
Não lhe enfraquece a força igual, eterna,
Tão luminoso lírilha, c ferve agora
Como ardeo, fulgurou no instante, e dia
Em que acodio do Xada á voz do Eterno.
J. A. DE MACEDO, A NATUKEZA, Cant. 1.
— Tão grande; graade a tal ponto. —
«Em todo Alentejo he taõ grande o nu-
mero de homens, que desejaõ aforar ti-
tulo para huma casa; que na Freguesia
da Caridade termo de Monçaràs tem o
Cabido de Évora huma Aldeã de muitos
moradores numa herdade sua deste nome,
e cada hum destes moradores afoi-ou ao
Cabido somente o sitio para fazer a casa,
dando cada anno do foro hum cruzado
por elle.» Severim de Faria, Noticias de
Portugal, Disc. 1, cap. õ. — «Foi dei
E,ei D. Sebastião particular acceito, tian-
do-lhe os maiores negócios, e lugares do
Reino ; fez diversas embaixadas a Castel-
la, França, Roma, e Saboya. Foi do Con-
selho do Estado, e único Veador da Fa-
zenda : e entre cargos tão grandes, aca-
bando valido, moiTeo pobre. » Jacintho
Freire d'Andrade, Vida de D. João de
Castro, liv. 4.
— A tal ponto, em tanto modo. —
« Hum homem honrado disse hum dia a el
Rey mal doutro, dizendo, que sendo ca-
sado com huma muyto honrada, e muvto
boa molher, era tão mao que tinha vinte
mancebas. » Garcia de Rezende, Chronica
de D. João II, cap. 103. — «Mas dirmeis
que ainda que a Cruz de Christo prometa
todos esses bens, que he tão espantoso o
nome delia por quão significador he de
trabalho, que he para espantar auer pou-
cos que a sigão. Ao que vos responde S.
Basílio por mym, dizendo que, Tristium
fost Cnicem Domini vnitata est natura
rerum.y» Paiva de Andrade, Sermões,
pag. 246.
Para moço d'esta clima,
porque em tão máo não se alague,
do pão fazer-lhe azorraguc.
ANTÓNIO PBESTES, AUTOS, pag. 435.
E mais
ha de ir tão das ai-riladaa,
tão preites...
IBIDEM, pag. 459.
— «Vemos maridos tão industriosos,
que neste mesmo accidente desgraçado,
achão os meyos de fazer fortuna, mudan-
do os cornos imaginários em Cornucopias
do verdadeyra abundância.» Cavalleiro
de Oliveira, Cartas, liv. 1, n.° 12.
— Tão apressadamente ; com tanta pres-
sa. — «Alem disto achamos a El Rey ca-
sado outra vez com a Infàta Dona Te-
resa Florentina, filha de Dom Sacho
Abarca Rey de Navarra, tão apressada-
mente, que ou Artiga viveo pouco casada
com El Rey, ou naò foy mais amiga sua;
quo a meu ver he o mays certo.» Monar-
chia Lusitana, liv. 7, caji. 21.
— Tão louco; louco a tal ponto.
Folguei d'espreitar aquelle compadre,
mas nào tão louco
que descubra mais ser elle.
ANTÓNIO PBESTES, AUTOS, pag. 253.
— Tão particularmente; com tanta
particularidade. — «Dom Francisco de
Almeida posto que naõ teuesse sabido taõ
particulamente a successaõ destes Reys
como ora contamos : todavia per Maha-
med Anconij soube como o pouo não es-
taua muito satisfeito deste Habi-aemo, e
quanto todos desejauaò aleuantar Rey
íjue fosse mães chegado a linhagem ver-
dadeira delles, e a causa porque o so-
friaõ.» Barros, Década 1, liv. 8, cap, 6.
• — Tão pouco. — «E disseraõ para o Mi-
taquer, inda, senhor, que os não manda-
ras vir ante t}' para mais que para lhe
matares a fome, por não morrerem á min-
goa, como parece que ouvera de ser, não
fizeste tão pouco que não fosse ganhares
esses nove escravos, que para te servirem
em Lãçame te hão de ser muyto bõs, e
G78
TAPA
TAPA
TAPE
f|iiii;á (|uo taiiilxiu para os venderes por
mais de mil tacis, du (|iial dito Imiis e os
outros estivera^ entro sy írraucjíído Imm
prando espaço. « F(!rn?lo Mondes 1'iuto,
Peregrinações, eap. 11!).
— Tão jjrct:les ; tão [)roinpto. — «E o
capitão com a mais frente que pode, por-
que nílío poderiílo táo prustes desembar-
car, foy dar sobre elles, com os quaes
pelejou, o sendo os Mouros muyto mais
08 desbaratou todos, e matarito nouccen-
tos Mouros, e forilo niuvtos feridos, c ca-
ptiuariío quatrocentas almas, iiomuns, c
molherc^, (]ue trouxerJln a esto? Revnos
com muytos cauallos, o outro nuivto des-
pojo, c isto sem nenhum perij^o dos (Jhi-is-
t.^os.» Garcia de Rezende, Cnronica de
D. João lí, t-ap. G7.
— Tão cedo.
Nâo leva cila a nomeada
ião cedo ; uão digo iTida,
caio-mc, que inorrem muito.
ANTÓNIO PBKSTES, AUTOS, pjlg. 389.
— Tão alto; alto a tal ponto. — «De
agradecimento, por se dij^nar este Senhor
do o admittir em sua presença, e de o
chamar para exercício taõ alto, e que he
próprio dos Anjos.» Padre Manoel Ber-
nardes, Exercícios espirituaes, pag. 21.
TÃOBEiVI, <^/i', Vid. Também, ortho-
grapliia mais om uso.
TÃOSOMENTE Vid. Tamsomenle.
1.) TAP4. A-. /. Tcjmo de alvcitaria.
A primoira das quatro paries, de que
consta o casco das bestas.
— Te/mo de artilheria. Espécie de
taco á feiçào da bocca da peça, com en-
feites torneados e tiul, que se liga á man-
gueira da mesma peça; serve de a tapar,
a Hm de que não ent.-e humidade que
inutilise a carga.
2.) TAPA, s. ,.i., ou /. (Do franocz
tape). — Um, ou uma tapa; uma bofeta-
da, golpe; d'aqui vem tapa-6t»cca, tapa-
olhis, etc.
TAPA-BOCA, ou TAPA-BOCCA, s. f.
Pancada para fazer calar.
— Figuradamente : Cousa que impõe
silencio.
TAPADA, s. /. Cerca de arvoredo, e
matta onde se cria caça, tapada com muro,
ou parapeito. Vid. Parque, Coutada, e
Cerrado.
TAPADEIRO, s. iu. Tampa.
TAPADO, [nirt. pass. de Tapar. Co-
berto com tampa. — «Outros vimos tajii-
bem de outra seita que se chamarão Ta-
xilacoens, que morrem inda muyto mais
bestialmente que todos estoutros, porque
se metem em lapas uuiyto pequenas, e
muyto tapadas que ja para isso tem fei-
tas ao propósito de sua tenção, o fazendo
dentro grandes fumaças de cardos e ra-
mos do trovisco verde se deisaõ assi afo-
gar.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 161.
— Mídhtr tapada ; mulher incapaz ])ara
o coito, tendo tapada a entrada da natu-
reza.
— Embuçado, com o rosto coberto.
— Fechado.
Ilu/.ilo, rica tella
parccu-tc bum asai n'csta sela ?
c tua-H Tot 'iicias ii \w.a de pnccados,
ali! baixos descuido.^, ali ! olhoj lunwlot
cheioi de nuvuiis, de cal, do remela.
AVrOMIO riESTEg, AUTOS, pag. 09.
— <iNo Levitico se mandava, que o
lionic.n leproso tivesse a cabeça de.scu-
berta, e os vestidos descozidos, e a boca
tapada com os mesmos vestidos : Habebit
Vtistimc^.ita disauta, caput nudum, os ves-
ti: coutectum. Toda a virtude imperfeita
tem suas noilaa de leprosa: e para estas
se curarem, devem descobrir-oc, tapando
juntamente a bocca para a desculpa de'-
las.» Padre Manoel Bernardes, Flores-
ta, pag. 22.
— Tecido bem fechado. — Panno ta-
pado.
— Amor tapado.
Anioi topado parece
([ue é filho d'atafoneiro,
e que traz algum argueiro.
ANTÓNIO i-iiESTEs, AUTOS, pag. 425.
— S. f. pluv. As embuçadas, meretri-
zes.
TAPADOR, s. ;«., ou TAPADOURA, s. f.
Peça do tapar.
— Tapador da caldeira.
— Ce<ta, paiicUa, testo.
TAPADOORO, s. m. Peça do coche,
que está na ponta do eixo, e sáe fora da
ruda .
TAPADUR4, í. /. Vallado, tapigo, ta-
pume, sebe, qualque.- cerca de quinta.
TAPAEMBORNAES, s. m. plur. Termo
de náutica. Peças de couro que tapam os
emboru:'es por fora, para não entrarem
por elle-; as ondas.
TAPAGEM, s. /. Tapigo, tapume, cer-
ca de agro, ou quinta. Vid. Tapume.
— Cerca de defensão militar.
— No Brazil chamam tapagem a quo
se faz com varinhas nos rios, onde se
lançou coca, ou tinguí para metter nos
vãos, covos, ou giquis, onde o peixe vem
cair.
TAPAMENTO, s. m. Tapigo, tapume,
cerca de sebes.
— Parede de tapamento ; parede que
divide os quartos, e camarás umas das
outras, e tapam cm redor a sua capaci-
dade.
— Tijolo de tapamento ; tijolo propor-
cionado para as paredes de t:ipamento, e
uso-i, pouco largo. Vid. Tabique.
TAPAOLHO, i. »i. Termo popular. Bo-
fetão pe'os olhos.
TAPAR. V. a. Cobrir com tampa, ou
tapadoura.
— Encí)brir, occultar, fechar. — *A
bocca do peccador tapa a «ua maldade,
quando a pertondc escu-iar: e a maldade
tapa a bocca do peccador, quando peU
mesma escusa o acabou de convencer.
(Jom que o seu cscudo se torna em lan-
ça, e a desculpa om nova culf>a.> Padre
Manoel Bernardes, Floresta, j<ag. 2H.
— Tapar a bocca a alguém ; fazel-o
calar, com peita ou razão convinc«ntf,
fazer que «e não queixe, ou quo nâo r
prehenda aquelle a quem se tapa a bocca.
.Movo, (|ucr«:8-rae matar?
Quf dciculpa pos.io cu dar
Melhor qu'iMtc meu cuidado?
E iiào ha mais que fawrV
Com ÍA8o a boca me tjpa
Para mais onda dizer V
cAH., AMPavraiôes, act. ã, ac. 4.
— Encobrir, fechar, escurecer.
Não as rirão Timi^carea, e Hiparco,
De Pitheas os cálculos falharão.
A vista lhes tapou ncvoa sombria
Qu' em séculos depois rompeo o acaso.
J. A. ca MACEDO, A RATCBEZA, Cant. 1.
^fas SC O frio he maior, cândidos víllos
Couduzidos do vento os campoé cobrem,
Quando o Inverno di-sprcg:i inertuj azas,
Com triste escuridão tapando os ares.
ID£U, VIAOEU EXTÁTICA, Cant. 1.
— Tapar a bocca a alguém; iazel-o ca-
lar com medo.
— Cerear com sebe, grades, muros,
paredes.
— Tapar a casa de taipa de sebe com
barro nos vãos da grade.
— Figuradamente : Tapar o* olhos d
consideyai;ão do perigo; desattender, nSo
querer reflectir, fechar os olhos.
TAPEÇARIA, s. f. Os panuos da arma-
ção, e concerto das casaé, colgaduras,
tapizus, usados de commum pelo inver-
no. Vid. Tapeceria.
— Figuradamente : A relva, e flores
do prado. — • Entrados na cova estes ca-
valleiros e outros muitos, acharam-na tão
grande em si, que parecia um labyrin-
tho, e da uma e da outra parto estava
toldada de tapeçaria, em que aquelles
tão preçadod inlantes Palmeirim e Flo-
riano tanto tempo se criaram, que eram
pelles d.alimaria.'*, que o Salvage e seus
íeiJes tinham mortas yor espaço de mui-
tos dias, que nella viveram.» Francisco
de Moraes Palmeirim d'Inglaterra, cap.
40. — «E polas tori-es, e muros, e luga-
res mais altos da Cidade, e Villas aoia
muytas bandeyras de suas cores e armas,
e muyt03 tiros do fogo, que em chegando
todos juntamente tirauào, e muytas feòtas
e folias de homens e moças muyto bem
vestidas, e as ruas armadas de tapeça-
rias, enramad.as, e espadanas.» Garcia
de Rezende, Cbronica de D. João II,
cap. 121.
TAPI
TARA
TARD
679
TAPECEIRO, í. m. O que faz tapece-
rias.
TAPECERIA, s. f. Yid. Tapeçaria.
TAPERA, s. /. Termo do Brazil. Quin-
ta, ou fazenda, que algum tempo se
grangeou, e que depois se abandona, e
deixa fazer matto, ou sapezal, por can-
çada.
TAPETADO, pai-í. pass. de Tapetar.
Vid. Tapizado.
TAPETAR, V. a. Vid. Tapizar.
TAPETE, s. m. Alcatifa de cobrir o
solho da casa, bancos, escadas, etc. To-
ma-se po/ peça com que se faz e co-
bre a cama, á maneira dos gregos e ro-
manos. — «E em toda a mais largura da
casa estavão assentadas em alcatifas e
tapetes ricos murtas molheres moças
muvto alvas e muvto fermosas, qre se-
gundo o esmo dos nossos, seriào mais de
duzentas. Esta casa, assi na maravilhosa
fabrica delia, como na grande ordem e
concerto de tudo o que nella avia, affir-
mo em verdade que representava huma
tão rica, tào horosa, e tão extraordinária
magestade.» Fernão Mendes Pinto, Pere-
grinações, cap. 162.
TAPIA, 5. f. Taipa.
TAPIA DO "brazil, ou PÉ DE MORTO,
s. Ml. Termo de botânica. Arvore da
America. O fructo d'esta arvore é pare-
cido com a laranja.
TAPIGO, s. m. Sebe de matto travado,
tapagem. Vid. Tapume.
— ■ Tomadia que se faz nas terras dos
concelhos.
— Pôde ser também pejamentos de
baldios, ou tomadas, e usurpações com
cercas, dos pascigos, e logradouros ge-
laes, e do commum, ou concelheiro.
— Tapigos de boccas de ruas, para as
i^efender ao inimigo; tranqueira, tran-
quia, atalho, cortadura que veda a en-
trada como os das lavouras as vedam do
gado, que as destrua.
TAPIOCA, s. /. Bolo feito da gomma
de mandioca meio secca, cozido no forno
de cozer a farinha.
— Bolo de tapioca, farinha de tapio-
ca ; bolo, farinha da dita massa, ou gom-
ma que assenta na manipueira espremida
da mandioca ralala, ou moida.
TAPIRETE, ou ANTA DO BRAZIL, s. »i.
Termo de historia natural. Animal da
America meridional.
TAPIZ, *. m. Vid. Colgadura, e Tape-
çaria.
TAPIZADO, part. pass. de Tapizar.
Ornado, coberto com tapiz.
— Figuradamente : A terra tapisada
de boninas.
Na Terra tapizada de boninas,
Surgem Seres orgânicos, e nova
Xo local movimento a vida mostrào ;
A fórina he varia, o numero infinito,
A formosura, o talhe, o gesto assombra.
J. À.. DE JIACEDO, i. KATUBEZA, Cant. 1.
TAPIZAR, V. a. Ornar, cobrir com ta-
piz.
— Figuradamente : Tapizar a terra de
boninas,
TAPONA, s. /. Termo popular. Panca-
da forte, que se dá para causar dor.
TAPULHO, s. ?/». Peça com que se ta-
pa, ou r.Ulia.
TAPUME, s, m. O mesmo que tapa-
gem,
põe tapume a fonte limpa,
nada a tudo, tudo a nada,
são emfim estes perfiz.
AHTOKIO PRESTES, ACTOS, pag. 303.
TAPUYA, s. 2 gen. Gentio do Brazil.
TAQUARA, s. /. Canna brava do Bra-
zil, taboca, mais grosseira que as da Eu-
ropa.
— Taquara açú; mui grande em altu-
ra de muitas varas, gi-ossa e solida, em
cujo Oco os Índios guizam comer, e d'el-
las se fazem escadas seguras, e mui le-
ves para armar egrejas, e edifícios mui
elevados.
TAQUARAÇÚ, s. m. No Brazil dá-se
esta denominação á bambueira.
TAQUARAL, s. m. Selva de taquaras,
tabocal.
taquígrafo, í. m. Vid. Tachigra-
pho, orthographia mais correcta.
TARA, s. /. O abatimento, que se dá
pela estimativa ao peso de algum género
em razão da caixa, sacco, ou outra capa
em que vem guardado, e incluso, e den-
tro do qual se pesa a tara das caixas,
ou caixões d'assucar, dos saccos de café,
etc. Em certos volumes, fardos, e caixas
a tara vai marcada, indicando o que a
capa, sacca, ou caixão pesou antes de se
enfardarem, ensaccarem, encaixarem os
effeitos.
— Figuradamente: Falha, quebra.
TARABELHO, s. ?íí. A peça de madei-
ra, que tem a cabeça embebida no cairo,
ou corda da serra, e serve de a arrochar,
e apertar. Vid. Trebelho, que é diôe-
rente.
TARACENA, s. f, Vid. Tercena, termo
mais em uso.
TARALKÃO, s. m. Termo de historia
natiu'al. Nome de uma ave vulgar.
— Loc. POP. : Metter-se a taralhão;
tornar-se faceto, engraçado, entremetter-
se a dar regras, onde não deve fazer,
TARAMBOLA, s. /. Termo de historia
natural. Nome de uma ave.
TARAMBOTE, s. m. Termo popular.
Musica lie vozes e instrumentos.
TARAMELA, ou TRAMELA, í. /. Peça
de pau, que gyra sobre um prego, e ser-
ve de fechar armários, etc,
— Termo de náutica. Pedaço de ma-
deira que se prega pela parte superior
da retranca, e lhe serve de cunho, para
que ella se conserve na situação devida ;
é também um pedaço de prancha, que
assenta sobre a retranca, para qtie elle
não mude a sua devida situação; é pre-
gada no pródigo, e passando pelos chas-
sos, vai terminar no costado do navio.
— Nos moinhos, é taboa pendente so^
bre a roda, e produz som, em quanto el-
la se move. Vid. Citola.
— Soltar a taramela; começar a fal-
lar.
— Loc. POP.: Dar á taramela; fallar
muito.
TARAMELAR, v. a. Vid. Taramelear.
TARAMELEADO, part. pass. de Tara-
melear.
— Visita tarameleada ; visita em que
se deu muito á taramela.
TARAMELEAR, v. n. Fallar muito,
— - Dar á taramela.
TARAMP ANTÃO, s, m. Voz feita por
onomatopeia, para imitar o som de um
tambor.
TARANTA, s. /. Um bicho.
— Insecto volátil comprido, e negro.
TARANTELLA, s. f. Termo de medici-
na. Composição musica de som violento,
para dança, com que antigamente se ti-
nha por certo curarem-se os mordidos
da taiantula.
TARÂNTULA, s. /. (Do latim tarântu-
la). Termo de historia natural. Aranha
ve-ienosa, cuja mordedura produz effei-
tos extraordinários ; dizem que se cui-a
com certos sons musicaes,
TARAR, V. a. (De tara, com a termi-
nação verbal «ar»). Pesar o caixão, sac-
ca, ou capa do género que se encaixa e
vende a pes', para abater a tara no peso
do que se contém, que deve ir marcada
na cabeça da caixa, no fardo, sacca, etc,
TARAS ANA> s, /. Vid. Taracena.
TARASCA, s. /. Mulher feia, e de má
condição.
— Termo popiilar. Espada velha.
TARCÊNA, s. f. Armazém. Vid. Ter-
cena.
TARDADA, s. /. Tardança, detença,
demora.
TARDADOR, A, adj. Que tarda, que
faz tudo com delongas.
— Vagaroso, moroso, procrastinador,
passeiro. Vid. Tardão.
TARDAMENTE, adv. (De tardo, com
o suffixo «mente»). De um modo tardo.
— Com vagar, vagarosamente, com
tardança.
N, TARDAMENTO, s. m. Delonga, deten-
ça, demora.
TARDANÇA, s. f. Delonga, vagar, tar-
aança, demora. — «E se em pendendo a
condiçom a cousa vendida fosse peiorada,
ou dapnificada em alguma parte, e des-
pois fosse a condiçom comprida, todo o
dapnificamento e peioria perteenceria ao
comprador : salvo se o vendedor fosse em
mora e tardança d'entregar a cousa ao
comprador.» Ord. Affons., liv. 4, tit.
4G, § 3. — -«Ca em tal caso pola culpa
da tardança, em que o dito vendedor foi,
680
TARD
TARD
TARD
encosta-so a elle com o (lapnificiímonto,
que fleapois aconteceo aa cousa voinlitla
ante «la condiçom coiupri'la.» Ibidem. —
«Ao que tlizois que coiiHiiita qui; Liuiiar-
da venha estar em iniulia cana, e (|ue
ii'ella, case, eu n2o faço nenlium serviço
a ella nem á raiulia Carnuilia ; autos re-
cebo a maior mercê c honra que nunca
foi feita; e quanto maior fôr .sua tardan-
ça, mas afípravo so mo faz.» Kiancisco
de Jloracs, Palmeirim d'Inglaterra, cap.
104.
Bom 6 pormos cá lembrança
ond« logo 03 olhos firain ;
alcmbrjir, fazermos lan(,'a
a dc:<ciiiclos da tardatu^a
que cA do carnaz nos viram.
ANTÓNIO PUBSTES, AUTOS, pag. 14.
A gravoza da dôr então o obriga
A doixar algum tompo o quo pprtcndo,
Do novo estimulada a fúria antiga
Se lho alevanta cm dobro, se lhe acende,
E asai tanto que a dôr se lho mitiga
E o mal quo antes sontia pouco otteudo,
Nào faz hum só momento de tardança
Para tomar do novo mal vingança.
FRANCISCO DE ANDRADK, mi.MEIRO CERCO DB niC,
caut. 10, est. 8a.
— A acção lio tarilar.
TARDÃO, ONA, ou ÔA, s. ou adj. Vid.
Tardador.
TARDAR, V. 11. (Do latim tardare).
Kào chegar, não succeder dentro do tem-
po dado, ou cm quo se esperava, e é suf-
liciente. — «O gigaute Almourol espan-
tado da braveza da batalha, como aqucl-
le que nunca vira ontra tal, e levamlo
as novas delia a Jliraguarda, nào tardou
muito que a uma janclla se poz um pano
de seda broslado de troços d'ouro, pcra
dalli a estar vendo, acompanhada de suas
donas e donzcllas.n Francisco do Moraes,
Palmeirim d'Inglaterra, cap. 60. — o Não
tardou muito que ;i porta do cerco che-
gou Bclisarte, filho de Belcar, armado
de armas de pardo e branco, no escudo
em campo branco um Sagitário com um
arco nas mãos.» Ibidem, cap. 83.
Não piíde muito tardar
Nova SC ha de toruar
Nos3'amo pêra a pousada.
Asinha.
Três annos ha
Que partio Tristão da Cunha.
OIL VICENTE, FARCAS.
— «E que segundo nova elle u.ão po-
deria tardar, porque ilanl Rcc seu imi-
go que lá andava, o apressava muito com
a nova que tinha do elle querer jiassar a
Tartaria.n Barros, Década 1', liv. 10,
cap. li.
— Vir tardo.
— Haver-so com tardança.
— Domorar-se, dilatar-se.
!'oia tanto tarda o prajicr,
K tunto dura o pczar,
iíouvoni Dtxjs do fazer
Que o pezar pudera sor
1'razor p«ra «o lograr.
OIL VICE.NrH, rAUi,A».
.Muito tarda o meu volhcte ;
amisad>'fl Invauí dia ;
coino lua já dormia ;
é corto que ha cá banquete
hoje á minha levcria.
ANTÓNIO rBESTEs, AUTOS, pag. 273.
— «Meu Deos, Ucão tardeis tanto : ac-
celeray-vos, e tiray-mo desta terra de
misérias : morra eu para vos ver, e vcja-
vos para viver eternamente. Oh vida
morta acaba de morrer, para quo eu co-
mece a viver a vida viva.» Tadre ^la-
nocl Bernardes, Exercícios espirituaes,
pag. bb.
— V. a. Espaçar, procrastinar, demo-
rar, retardar.
1.) TARDE, í. /. O espaço do dia, des-
de o meio dia até á noite. — «Comtudo,
cilas o dctivei-am alguns dias, no tiui dos
quaes se diz, que uma tarde chegou ao
valle, onde o castello dArnalta no reino
de Navarra estava assentado, e foi a tem-
po que a mesma Ai-nalta com .suas da-
mas saíra á caça d'esmerilhõe3, o estive-
ra presente a uma batalha em que Dra-
goualte filho do duque Drapos, vencera
um cavalleiro, que nào quizera conceder
nas condições, com quo elle guardava o
valle. p Francisco de Moraes, Palmeirim
d'Ingiaterra, cap. 130. — «Peró como
Lourenço de Brito a tudo estaua proui-
do, posto que o dia foi do grande traba-
liio, e o combate durou atè a tarde :
aprouue a Deos que todo aquellc grande
ajiparato e estrondo que os Mouros tra-
ziào se tornou cm seu danno; por que
pella parte da terra ainda que vieraõ pe-
lejar com os nossos a mão tenente que-
rendo subir per as tranqueiras, foi tanta
a mão decepada delles que ali ficou e
tantos 03 corpos espedaçados da artelha-
ria, que fez arredar os traseiros.» Bar-
ros, Década 2, liv. 1, cap. 5. — «Du-
rando assi o combate, ja sobela tarde
anilando eido Mançor, capitam da cida-
de, que alli tinha Moleizeam, como seu
soldado, animando os seus sobelo muro
lhe derào do nosso campo com hum tiro
de bombarda pelos peitos.» Dami.ào i!e
Góes, Chronica de D. Manoel, })art. 3,
cap. 47. — «As cinco hoias da tarde des-
amarramos da lUui, e tanto que a per-
demos do vista, indo demandar a Arábia
nos acalmou o vento de tal modo, que
não andamos em oyto dias corenta le-
goas, nos «luacs os marinheyros, porque
o Bangayo andaua pouco, o assoytauào
com cabos de corda-s, dcshonrando com
palauras injiu-iosas, o mal cõpostaa, por
80 fazer zorreiro, e perguiço»o, como fa-
zem os N.iyres na Índia aos Elephan-
te.-i.» Frei (lasfiar de S. iV-rnardiíio, Iti-
nerário da índia, cap. 10. — tMaie abay-
xo, estaua a ossada de huma Cidade sem
huuia casa inteira, nem gcfito uella. Ao
outru dia a tarde di;suobriraos do bum
alto a Cidade Autiochia, da qual foy na-
tural Sam lo.ào Chry.«ist(>mo, o o Euan-
gclista Sara Luca.s.« Ibidem, cap. 2'À,
Amo d Outono os dia.3 duvidoso-t ;
A pallidcz mistura a luz, e a sombra
Quando na tardf. languida «'embuça
O claro Cco de acastelladiis nuvens
J. A. DR UACEDO, A NXTCBKZA, CADt. 1.
2.) TARDE. Substantivo ujsado adver-
bialmente. Fora do tempo em que devia
vir, fazer-se, acontecer; diz-so ciu opposi-
çào a cedo, — «Andando Francisco Dalbu-
querque occjpado nesta obra quatro dias
(iepois de ser começada, chegou Afuoso
Dalbuquerque a Cochim, com as suas trea
iiaos, c a gente asaz bem disposta, posto
que na viajem passa.^sem muitas tormen-
tas, e tempos contrairos, quo lhe estua-
ram chegar tão tarde, com cuja vin ia
.so acabou a fortaleza com môr brcuida-
de. » Damião de Gocs, Chronica de D.
Manoel, part. 3, cap. 47. — t A fortiti-
caçiaõ doa lugares maritimos começou
ncsto Rcyno mais tarde ; porque como
naquelle tempo havia poucas mercancias,
e comércios com os Estrangeiros, naò ti-
nhaõ 03 Cossarios em que fizessem suas
prezas.» Severim de Faria, Noticias de
Portugal, Disc. 2, cap. 12.
— De tarde em tarde ; de longe a lon-
ge, com iutervallo de tempo em meio.
— Fazer uma cousa só de tarde em tar-
de. — «Ho mesmo acontece também nas
revistas antes desta derradeira. Quando
querem executar esta justiça, como seja
cousa que se nam faz se mim de tarde
em tarde ahi grande terror em todos os
da cidade, e andam atemorizados. Fe-
cham-se todas as tendas nam se vende
nada, nem trabalha uinguem.» Frei Gas-
par da Cruz, Tratado das cousas da Chi-
na, cap. 20.
— Fi')ra do tempo preficripto, ou pró-
prio, por ser depois d'elle. — «O que os
nossos vendo se foram perà cidade ja a
oras de meio dia e com quanto Ticssem
tarde, ciiegarào a tempo, porque os que
el Rei do Bintam mandara, per terra,
com outros que auia na cidade, que eram
nesta conjuraçam, deram de madrugada
na fortaleza com tauto ímpeto, que a po-
soram em aperto.» Damião do Góes,
Chrouica de D. Manoel, part. 4, cap. 35.
Embora !
Minha mensagem dei. Cos-ir perdoa,
Mas não a ingratos. Chora-lo-hei# }\ tarde.
GABBETT, CATÃO, aCt. 2, 8C. Õ.
TARD
TARE
TARP
681
Manlio, meu amigo,
Baste este adeus. Nào mais : sejamos homens :
Adeus ! — Parte, que é tarde. — Adeus !
IBIDEM, act. 5, SC. 7.
— Diz-.se em opposição a em breve, de-
pois de largo tempo.
— Emprega-se também adverbiado com
os adic-etivo.^ e verbo.s : "YaTàe prudente.
TARDEIRO, A, ad^. Vid. Tardio.
TARDEZA, s. f. Falta de diligencia,
presteza, alacridade para fazer as cou-
sas; preguiça.
TARDIAM, ou TARDIÃO, s. m. Nome
de certa dança antiga.
TARDIAMENTE, adv. (De tardio, e o
suffixo «mente»). Passado o tempo, e en-
sejo opportuno.
— De iim modo tardio.
TARDIGRADO, A, adj. (Do latim tar-
digraihis). Termo de poesia. Que anda
devagar.
— Termo de zoologia. Que caminha
com lentidão.
— Vid. Bradypo.
— - S. VI, plur. Familia dos mammife-
ros anguiculados, que não tem dentes
incisivos, e cujos dedos sao reunidos até
ás unhas, de ordinário mui alongados.
— Nome de um género de vermes mu-
nidos de quatro pares de tubérculos lo-
coniotores armados de ganchos, e gozan-
do da propriedade de voltar á vida pelo
contacto da acua como os rotiferos.
TARDIJUMENTO, s. m. Termo de poe-
sia. Jumento que anda devagar, com
lentidão.
TARDINHA, s. f. Diminutivo de Tar-
de. Próximo ao anoitecer.
— Loc: A tardinha; á bocca da
noite.
TARDINHEIRAMENTE, adv. (De tardi-
nheiro, e o suffixo amente»). De um mo-
do tardinheiro.
— Vagarosamente, tardamente, com
preguiça.
TARDINHEIRO, A, adj. Remisso, frou-
xo, vagaroso, tardonho.
TARDIO, A, adj. Que vem ou succede
além, e depois do justo tempo, e do tem-
po conveniente.
Ah ! que me alongo mais ! Deseubi-o ao perto
Froxamente movendo-ae a tardia
Do frigido Saturno ingente mólc.
í. A. DE MACEDO, A M.V.TnKKZA, CSnt. 1.
— Serôdio.
— Detençoso, vagaroso, remisso, pre-
guiçoso.
— Que vem junto ao tim, ou termo
de algum periodo.
— Tardio em resolver-se, em executar,
cumprir, pagar.
— Que se move devagar.
O Boi tardio as trilha , c dócil leva
Sobre os sonoros eixos ao Celleiro
. voL. V. — 86.
Do próvido Cultor ; tudo se alegra
Colhendo a plenas mãos fartos thesouros,
Qu'o Ceo benigno reproduz continuo.
J. A. DE MACEDO, A NATCBEZA, Cant. 1.
— Que sáe tarde. — A longa e tardia
doença.
TARDÍSSIMO, A, adj. superl. de Tar-
do. 3Ini tardo.
TARDO, A, adj. (Do latim tardus). Va-
garo.so, preguiçoso.
Porque tardo se mova o frio Arcturo,
E porque tanto com fulminea espada
Ameace Orion.
J. A. DE MACEDO, A KATUHEZA , Cant. 1.
Ao golpe dão signal ; cinzentas manchas
Entre sulfúrea eôr vagão no rosto,
O sangue perde a purpura nas veias,
Ora tardo, ora rápido se agita.
IBIDEM, cant. 2.
— Pigro, inerte, pouco activo.
— • Que percebe diíEcilmente.
— Que não anda, ou falia expedito,
desembaraçado.
TARDONHO, A, adj. Vid. Tardo.
— Tardio, tardinheii'o.
TARDOZ, s. /. A face da pedra de can-
taria, que se deixa tosca por ficar para
dentro da parede. Vid. Lioz.
TARECENA. Vid. Tarcena, ou Tercena.
TARECO, A, s. Termo popular. Pessoa
sem assento, de nenhum senso, idiota pre-
sumido; que falia a torto e a direito.
— Plur. Termo popular. Trastes ve-
lhos, de pouco valor.
TAREFA, s. f. A porçã) de trabalho,
e obra que se deve acabar dentro de
certo tempo; empreitada.
— Figuradamente : O trabalho rural,
litterario, magistratico, de obrigação, ou
tomado por vontade.
— Nos engenhos de assucar é a por-
ção de cauna que se moe em um dia:
na Bahia chamam uma tarefa de canna
á planta que occupa terra de trinta bra-
ças em quadro, e são ordinariamente cin-
co carros de semente plantados á enxa-
da, ou seis de arado; tem tantas tarefas
de regos, ou de socas; são 900 braças de
supei-iicie, cujas cannas um engenho de
agua bom moedor pode moer em 24 ho-
ras.
— Tarefa redonda; tarefa em que se
não perde meladura; as tarefas dos en-
genhos tirados, ou postos em movimento
pelos bois, ou cavalgaduras fazem regu-
larmente oito meladuras, ou mais nos en-
genhos d'agua.
— Tarefa d' azeite; o vaso para onde
corre o azeite, e a agua ruça das ceiras,
onde ella se separa do azeite.
TAREGA, s. rn. Negociador de tarecos,
contractador d'elles.
TAREGICAGEM, s. /, Emprego, exer-
cício de contractar em tarecos.
TAREIRA, s. /. Peixe brazileiro, de
que ha duas espécies : lareira do alto, e
do rio.
TARELO, s. m. Termo popular. Falla^
dor impertinente, que presume de muito
saber, e que pouco sabe solidamente.
— Superficial em suas idêas.
TARGANA, s. /. Tainha, fataça.
— Peixe da forma do arenque, de côr
de cinza, riscado de preto.
TARGETA, s. /. Vid. Tarjeta.
TARGO, ou TARGUM, «. m. Antigo
comnientario chaldaico, chamado também
paraphrase chaldaica do Velho Testamen-
to, que se fez depois do captiveiro de
Babvlouia, para auxiliar a ignorância dos
judeus que tinham esquecido o hebraico.
f TARGUMICO, A, adj. Que diz res-
peito ao targum.
■{- TARGUMISTA, s. m. Classe de escri-
ptores hebraicos paraphrastos da Biblia.
TARIFA, s. /. Quadro da indicação
temporária ou permanente dos direitos a
pagar pela navegação, passagem dos rios,
exportação e importação de mercadorias.
— A tarifa da alfandega.
— Termo de jurisprudência. Estado
dos direitos ou emolumentos, passados
em conta aos funccionarios públicos, e
aos ofiiciaes ministeriaes, para os difi"e-
rentes actos do seu ministério.
— Papel, quadro do preço de certas
mercadorias.
— -Tarifa das moedas; quadro indican-
do o valor corrente das moedas.
f TARIFADO, part. pass. de Tarifar.
Reduzido a tarifa. — Mtrcadorius tarifa-
das.
TARIFAR, 1-. a. Reduzir a tarifa.
TARIG, s. 7?!. Livro das vidas dos ca-
lifas successores de Mahomet.
TARIMA, s. /. Estrado que se alcati-
fa, e põe debaixo do docel.
— Estrado alto, em que os soldados
dormem nos quartéis, e corpos de guar-
da. Vid. Tarimba.
TARIMBA, s. f. Vid. Tarima.
TARJA, s. /. (Do francez targe). Peça
de pintura, ou escnlptura com talha, de
ordinário em ramos, flores, festões, que
cercam um claro, onde vai um escudo
d'armas, alguma inscripção, ou cousa si-
milhante.
Uma tarja aqui queria
muito bella.
esculpido letras n'ella
que digam Ave Maria,
por não me esquecer dizel-a.
AMTONIO PRB3TBS, ACTOS, pag. 14.
— Escudo.
— Vid. Escudete.
TARJETA, í. /. Diminutivo de Tarja.
f TARPEIA, adj. f. — Rocha Tarpeia ;
em Roma, parte do monte Capitolino,
d'onde se precipitavam os condemnados
á morte.
682
TARS
TART
TART
^ TARPEIRA, í,. f. Vid. Trapeira.
TARRAÇADA, s. /. Termo popiiUr.
Oraiuli- iiorrMo, imiita (juantiiladc.
■j- TARRACENA, «. m. Aiiti{,'ii Wrma
do Tercena. — «E pêra (|ii(j cstiucssern
imiyto l)(!iii tíuariladaH foz cm aif^uma»
comarca.i iiouíim tarraceuas, em que ca-
tauain niuyto bom concertadas, o poucr-
nadaH. Jí nosto mesmo armo mandou co-
moçar a caua, e {^riUo torre do Oliuenya,
do ([uo aod Rcv8 de f 'a.stella pesou, o com
muytoa rofío.s lhe maiidai-ão dizor, o pe-
dir, que em tempo de tanta paz, tanta
amizade como antro eilos aula, nào se de-
uiara de luinia parte, nem da outra fazer
cousas, de que so podosse presumir, nom
Bospoitar.» (4nrcia de Rezende, Chronica
de D. João II, cap. 70.
TARRACHA, $. f. Prego roli(;o, cuja
parte ati': ao meio 6 lavrada com uma
quina viva e^^piral, a qual se embebo no
vilo espiral da porea, o prende n'ella.
— Parafuso de tarracha ; que tem a
ponta lavrada espiralmcnte.
TARRACHADO, part. pass. do Tarra-
char. ^'id. Atarrachado.
TARRACHAR, v. a. Vid. Atarrachar.
TARRACINE, s. /. Vid. Tercena.
TARRAFA, .«. /. Rede com que pesca
um homem si) ; é redonda, com pesoâ á
borda, lança-so de pancada, o các aber-
ta; tem no centro uma corda por onde
se tira, e các fechada com o pcixo den-
tro.
— Termo ligurado c popular. Capa ro-
ta, e velha, d'ouile vem atarrafada.
TARRAFADO, part. pass. de Tarrafar.
TARRAFAR, ou TARRAFEAR, r. n.
Pescar com tarrafii.
TARRAMAQUE, s. m. Ornato, ou or.fci-
tc de vestido usado outr'ora.
TARRANQUIM, s. m. Embarcação da
Ásia.
•TARRANTEZ, s. m. Vid. Terrantez.
TARRATAM, s. /. Ave aquática, vul-
gar.
— Espécie de adem real.
TARRAXA, s. f. Vid. Tarracha.
TARRAXAR, v'. a. Vid. Tarrachar.
TARRAZBORRAZ, adv. Termo popular.
Sem i^rdeni, em confusito.
- TARREIRA, s. /. Vid. Tareira.
TARRENTORIO, s. »i. Vid. Território.
TARRO, s. m. (Do grego tarrus). Vaso
em que os pastores recolhem o leite, em
quanto o vão ordenhando.
— Tarro de cortiça ; vaso para se be-
ber por etle.
\ TARSALGIA, s. /. Termo de medi-
cina. Anthralgia do tarso.
TARSEIRO, s. w. Espécie do Icmure.
I TARSIANO, A, aãj. Termo de anato-
nomia. (.^.ue pertence ao tarso, que lhe
diz respeito.
— Ossos tarsianos ; nome dado algu-
mas vezes coUeetivamonte aos ossos do
tarso.
— Articulaiiiks tarsianas ; compreken-
de-8c, Hob o»to nome, a do aotragalo com
o calcanhar, a das duas fileiras do tarso
cntrt! si, o as dos ossos da segunda filei-
ra t;ntre si.
TARSO, «. m. Termo do anatomia. A
parte posterior do pó, composta dos sete
ossos, eucravadoH uns nos outros.
— (J terceiro artigo do pé das aves.
— Nos crustáceos, u sexta |)ci;a da»
patas simples.
— A ultima parto das patas dos inse-
ctos.
t TARSO -METATARSIANO, A, adj.
Termo do anatomia. Quo diz respeito ao
tarso e ao metatarso.
— ArticulaqTtes tarso-metatarsianas ;
as dos ossos da seguinla ))halango do tar-
so com os ossos metatiivianos.
f TARSO-PHALANGIANO, A, adj. Ter-
mo de anatomia. Que diz respeito ao tar-
so o ás phalangcs.
— Liíjamento tarso-phalangiano ; nome
dado ao ligamento sesamoideo superior do
meml)ro posterior.
f TARSORRAPHIA, s. /. Termo de ci-
rurgia. Sutura (las cartilagens tarsianas.
TARTADA, .v. /. Espécie de barco na
Índia. Vid. Tartana.
TARTÁGO, .«.. )/f. Vid. Catapucia menor.
TARTAMELEAR, v. 7i. Balbuciar, fal-
lar nuil de me lo.
TARTAMELO, A, a,Jj. Termo antiqua-
do. Tartaniu 1(1, tardo em fallar.
TARTAMUDEAR, v. n. Gaguejar, bal-
buciar.— ^ «E as línguas lhes tartamu-
deiavam, c as pálpebras lhes vendavam e
ilcs vendavam successivamente o iris, e os
estômagos proniincntes lhes arfavam com
um movimento peristaltico dennisiado sen-
sivel.B A. Herculano, Monge de Cister,
cap. 23.
— Syx. : Tartamudear, balbuciar. Vid.
este ultimo termo.
TARTAMUDO, A, adj. e s. (íago, tarta-
melo.
TARTANA, s. /. Termo de marinha.
Nome de um pequeno navio do Mediter-
râneo, cuja fiiriua alongada é análoga á
dos chebeks; anda a remo, ou com vela
latina.
TARTARANETO, A, .•?. Vid. Tataraneto.
TARTARANHA, .■;. /. Termo de historia
natural. Ave d': eai;ar, c rapina, que bas-
tardeia, c degenera das phenas.
— Barco i\í'. pescar r.o rio Tejo.
TARTARANHAO, í. vi. O macho da tár-
tara nUa.
TARTAREAR, v. >i. Termo popular. Ta-
ramelar.
— Fallar tataro, ou tártaro, linguagem
que se uTio percebo.
1.) TARTAREO, A, adj. (Do latim tar-
tareus). Termo de poesia. Infernal.
2.) TARTAREO, A, adj. (Do latim tar-
tarumã. Da i atureza do tártaro (sarro).
l.) TARTARICO, A, adj. TarUreo,
pertencente ao tartai"o.
2.) TARTARICO, A, adj. Termo de chi-
mica. Que diz reH]jeito ao tártaro o seus
compostos.
— Acido tartarico; acido qao bc en-
contra cm muitos fructos acidou, raírmen-
te na uva, e que <• o elcnjonto couistitu-
tivo do tártaro, onde eotá cuiii binado com
a potassa.
— Liminuida tartarica ; limonada feita
com o acido turtarico.
— Xarvpc tartarico; xarojic foito com o
acido tartarico unido ao xaropo aaiaca-
rado.
t TARTARIMETRIA, *./. Em chimica,
metbodo aualytico que consiste cm Bub-
metter ao alcalimctro o carbonato de po>
tassa proveniente da substancia do tár-
taro.
TARTARISADO, ou ZADO, j>art. patê.
de Tartarisar, ou Tartarizar.
TARTARISAR, ou TARTARIZAR, r. a.
(Do francez tartarivnri. Termo de chi-
mica. 1'rej'arar com tártaro, purificar por
meio do sal Uirtaro.
1.1 TÁRTARO, s. m. Vid. Tataro.
2.) TÁRTARO, o. m. (Do grego tárta-
ros). Termo tlc poesia. O inferno.
3.» TÁRTARO, s. m. Nome d'um povo
originário do Turkestan; deu-se vagamen-
te este nome a todos os pov >s da Ásia
niodia, depois ao mar Caspio, até ás co.*-
tas orientacs. — •£ subindo logo nas cos-
tas destes três Portugueses todos os Tár-
taros qi\,e cstavão ao pé das escadas, o
que também fizcraõ com muyto esforço,
assi por terem seu Capitão diante, como
por serem de sua natureza quasi tSo de-
terminados como Japões, em muyto bre-
ve cspa(;o foraõ encima do moro roai.s de
cinco mil dos da nossa parte, os quais
com o Ímpeto que levav.^o fizeraõ retirar
os Chins.» Fernão Mendes Pinto, Pere-
grinações, cap. 119.
4.^ TÁRTARO, s. m. iDo latim tartti-
rtinil. JNIatei .a térrea, e salitrosa, que ee
pega na parede dos toneis de vinho; d'e3-
ta se tira o sal tártaro, puriticando-a, la-
vando-a, e calcinando-a a fogo de rercr-
l)ero, que se diz também cryòtal tártaro.
Vid. Sarro.
TARTAROSO, A, adj. Termo de chimi-
ca. Que tem as qualidades do tártaro. —
Sedimento tartaroso.
— Aciilo tartaroso ; nome antiquado do
acido tartarico.
TARTARUGA, .«. /. Termo de historia
natural. Amphibiode cov.cha; tem quatro
pés; da concha se fazem pentes.
— Termo popular. Pessoa velha e feia.
-{■ TARTARUGO, s. m. Nome popular
do diabo, dado por causa da matéria cór-
nea dos seus pés, etc.
Piero-to, pastor minitro.
Quo foâto inn £rr:in noccador.
Sonhor tnrturujo, digo
(juo montfs como bcstígo,
Salvanor.
o. VICEHTK, ACTO OÁ. BA<CA DO PUBOATO-
BIO.
TASC
TAUM
TAUT
683
I TARTRALICO, A, adj. Termo de chl-
mica. ^ei(/ci tartralico; producto da acção
do calor a 200° sobro o acido tartrico
hydratado durante um cui-to espaço de
tempo.
f TARTRANICO, A, adj. Termo de cliL-
mica. Acido tcirtranico ; producto da de-
composição do otker tartrico pelos alca-
lis.
-{• TARTRANIDE, s. f. Termo de chimi-
ca. Producto da acçào do ammouiaco so-
bre o ether tartrico.
TARTRATO, s. m. Termo de chimica.
Nome genérico dos saes formados pela
combinação do acido tartrico com as ba-
ses.
— Tartrato acidulo de potassa; bitar-
trato de potassa, sal que existe todo for-
mado em muitas matérias vegetaes, e
mormente na uva.
TRATRICO, A, adj. Termo de ctdmica.
Vid. Taríarico, e Tannico.
j TARTRIMETRO, s. ni. Instrumento
análogo ao alcalimetro, que serve para
estabelecer o valor commercial da sub-
stancia do tártaro, ou do bitartrato de po-
tassa.
f TARTRITE, s. /. Termo de chimica.
Antigo synonymo de tartrato.
f TARTRORORETO, s. m. Termo de
chimica. Nome dado aos compostos em
que o acido bórico entra como uma base
alcalina na composição de certos tartra-
tos duplos.
f TARTROGLYCERICO, A, alj. Termo
de chimica. Acido tartroglycerico ; corpo
obtido pela combinação da glycerina com
o acido tartrico.
f TARTROSO, A, adj. Que tem a qua-
lidade do tártaro. Vid. Tartaroso.
-}■ TARTROVINICO, A, adj. Termo de
chimica. Producto da combinação do aci-
do tartrico com o álcool ordinário.
TARTUFO, s. m. Personagem de uma
celebre comedia de Molière.
— -Falso devoto, hvpocrita.
TARUGA, s. /. Termo de historia na-
tural. Animal do Peru, que participa da-
feições do carneií-o, o do bode, cuja lã
serve para chapéus.
TARUGAR, V. a. Termo de carpinte-
ria. Segurar e prender com tarugo.
TARUGO, s. m. Torno, ou prego de
pau, que se embebe para segurar duas
taboas borda com borda, embebido em
ambas as peças; mecha.
TASCA, s. f. Taverna mui ordinária,
onde vai comer e beber a gente de baixa
classe.
TASCANTE, part. act. de Tascar.
TASCAR, 1-. 71. Vid. Tasquinhar.
• — ^ Tascar o cavallo o freio; mordel-o
entre os dentes.
— Tascar o javali escuma ; lançal-a
da bocca, rangendo os dentes.
TASCO, s. «i. Estopa grossa, ou to-
mentos, que se separam do linho, quando
o tascam.
TASNA, ou TASNEIRA, s. /. Planta
perenne, herva medicinal.
TASQUINHA, á. /. Diminutivo de Tas-
ca.
— Diminutivo de Tasco.
■ — Cutelo de pau, com que se usa tas-
car o linho.
TASQUINHAR, i-. a. Termo popular.
Separar o tosco do linho com a tasqui-
nha.
— Comer.
TASSALHAR, c. a. Vid. Atassalhar.
TASSALHO, s. m. Termo popular. Tira
larga. — Um tassalho de carne.
TATÁ, s. m. Voz onomatopaica com
que as creauças chamam pae.
TA TÁ. Interjeição de quem se ad-
mira.
TATAIBA, s. f. Vid. Amoreira tataiba.
TATAJUBA, s. /. Termo de botânica.
Arvore do Brazil, que tem maileira ama-
rella de que se extrahe tinta, como do
pau Brazil a vermelha.
TATAME, s. m. Geuex-o de estrado, ou
coberta do pavimento.
TATARAMUDO. Vid. Tartamudo.
TATARANETO, A, s. Termo popular.
Neto ou neta em terceiro logar ; terceiro
neto.
— Plur. Os derradeiros netos que lia
de produzir, e haver, ou houve na gera-
ção.
TATARANHA. Vid. Tartaranha.
TATARAVÕ, s. m., e TATARAVÓ, s. f.
O avG ou a avó mais remota dos antigos
da familia.
TATARO, A, s. e adj. Que pronuncia
mudando defeituosamente o c em t.
— ÍT-ago.
TATAURANA, s. /. Termo de historia
natural. Lagarta cabelluda do Brazil ;
algumas tocando-lhe os cabellos, ou pel-
los queimam, ou produzem dor como quei-
madura, que dura ás vezes 24 horas, e
tocada com o dedo doem as articulações,
a munheca, e juntas do braço até ao so-
baco.
TATIBITATE, ou TATIBITATI, s. e
adj. 2 geií. Vid. Tartamudo.
— Que não sabe o que quer, que he-
sita em tudo, e nada decide.
TATIBITATIBI, adj. e /. 2 gen. Termo
popular, (iago, tataro, tartamudo, tata-
ranuido. Vid. Tatibitate.
TATU DO BRAZIL, s. m. Termo de
historia natural. (4euero de mammiferos,
que só possue dentes molares ; seu corpo
é defendido por duas escudellas escamo-
sas, uma anterior sobre as espáduas, ou-
tra posterior sobro a garupa, e entre es-
tas um certo numero de bandas, ou meias
cintas. Ha varias espécies que se distin-
guem pelo numero das cintas. Vid. En-
cobertado.
TATUA, A\ /. A vespa da America; é
toda negra.
TAUMATURGO, s. m. Vid. Thauma-
turgo.
TAUPLA, s. /. Traste antigo.
TAUREO, A, adj. (Do latira taureus).
De touro. Vid. Taurino.
TAURIFERO, A, adj. Com grande abun-
dância de touros.
TAURIFORME, adj. 2 gen. Termo de
poesia. Que tem a fSrma de um touro.
TAURIM, s. m. Uma espécie de em-
barcação da Ásia.
-}- TAURINA, s. /. Termo do chimica.
jMateria crystallisavel que se encontra na
bilis do boi.
TAURINO, Á, adj. (Do latim taurinus)^
De touro, taui-eo.
— Escudo taurino ; escudo de pelles
de touro.
TAURO, s. m. (Do latim taurus). Um
dos signos do zodiaco; entra o sol n'elle
em abril; compõe-se de cincoenta estrel-
las.
f TAUROBOLICO, A, adj. Que diz res-
peito a um taurobolio. — Altar taurobo-
lico.
TAUROBOLIO, s. m. Termo d'antigui-
dade. Sacrifício d'expiaç2o, mui commum
ao terceiro e quarto séculos da era chris-
tã; degolava-se um touro sobre uma
grande pedra cravada, e atravessada de
muitos buracos; sobre esta pedra existia
um fosso, no qual o ente de expiação re-
cebia em seu corpo, e no seu rosto o
sangue do animal.
— Altar que os sacerdotes faziam ele-
var para perpetrar um serviço solemne,
quasi sempre em honra de Cybele.
j TAUROCHOLATO, s. m. Termo de
chimica. Taurocholato de soda; principio
encontrado na bilis de todos os mammi-
feros, á excepção do porco.
7 TAUROCHOLICO, A, adj. Termo de
chimica. Acido taurocholico ; acido obti-
do pela decomposição do choleato de soda,
um 1103 principies constituintes da bilis.
TAUROMACHIA, s. /. (Do grego tau-
ros, e macJiê). Arte de combater os tou-
ros.
— Combate dos touros.
7 TAUROMACHICO, A, adj. Que diz
respeito á tauromachia.
TAUSA, s. f. Termo de antiguidade.
Talha, ou taxa do que alguém devia pa-
gar de imposto.
TAUSACOM, «. jii. Termo antiquado.
Taxação, ou taxa.
TAUSAR, ou TAUSSAR, v. a. Termo
antiquado. Taxar, limitar preço.
— Figuradamente : Pôr limites.
TAUTO, s. in. Vid. Tacto.
-}• TAUTOCHRONISMO, s. m. Egualda-
de dos termos durante os quaes certos
effeitos se produzem.
— Termo de mechanica. Propriedade
dos movimentos, ou das oscillações de
um pêndulo.
TAUTOCHRONO, A, adj. (Do grego
tauto, e chronos). Que tem logar em tem-
pos eguaes.
— Curva tautocbrona ; curva tal, que
684
TAVK
TAXA
TAYO
se se deixa cnir um corpo posado ;io lon-
go de sua concavidade, chefíari Bcniprc
ao ponto mais baixo ao nicímo tempo,
de qualquer jionto (|uc o l'iii;a partir.
TAUTOGHAMMA, s. m. (Do },Tt--o (au-
to, e (iraminu). Terá áo vorso em quo 80
empregam «iiuieiite palavras quo come-
^m todas pela muisuia letra.
— Adjectivaiiieiito : Versvs tautogram-
mas; vensos cujas palavras couioi,'ani pe-
las inesinas letras.
TAUTOLOGIA, 5. /. (Do prego tauto,
o hxjus). Termo didáctico. Kepetiyào de
uma mesma idèa por dittereiUcd termos.
f TAUTOLÓGICO, A, adj. Que tem o
caracter da tautologia. — Estytu tautoló-
gico.
— Echo tautológico ; ocho que repete
muitas vezes os mesmos sons.
TAUTOMETRIA, s. /. (Do prcfío iauto,
e vietroii). Termo didáctico. Ilepetiçào de
uma mesma modiíia.
f TAUTOPHONIA, *■. /. Ropetivào ex-
cessiva do mesmo som.
TAUXIA, s. f. Embutido do ouro, ou
prata em obra de ferro ou a^o.
• — Figuradamente: Utn rostinhô de
tauxia; de côr alva e rosada.
— Figuradamente : Embutido, marche-
taria de madeira.
TAUXIADO, pdvt. pass. de Tauxiar. La-
vrado de tauxia.
TAUXIAR, V. a. Lavrar de tauxia.
— ^Matizar de coros qualquer fundo
com embutidos do metaes, pedras, madei-
ras, madrepérolas, etc.
— Usa-se também figuradamente.
TAVANEZ, adj. 2 gen. Inquieto, trefo.
TAVÃO, s. Hl. (Do latim taòanus). Ata-
biío, mosca que moi-ile e chupa o sangue.
TAVEDA, s. /. Termo de botânica.
Planta de follias similhantcs ás da olivei-
ra; produ/. tlôres de eheiro grave.
TAVERNA, ou TABERNA, s. f. (Do la-
tim taberna). Casa onde se vende por
miúdo o vinho, azeite, e alguma cousa
de comer.
Ó taveritax da Ribeira,
Nào vos verá a vila uinguem
Mosquitos, o verão que vciu,
Por(\ue sereis aroeira.
Triste que scr.á de mi !
Que ma ora vos ou vi !
Que uia ora me v>ís vistes !
Que ma ora me paristes,
Klàú da Hllia do ruim !
OIL VICEKrS, OBBAS VABIAS.
— Adágios e provérbios :
— Se nào bebo na taverna, folgo
ii'ella.
— A tu por tu, como em taverna.
— Meu dinheiro, teu dinheiro, vamoa
á taverna.
TAVERNAL, adj. 2 ,jti». De taverna.
TAVEKNARIO. Vid. Tabernario.
TAVERNEIRA, s. /. Mulher que tem
tíiverna.
— AuAoio li imíovkuhkj:
— No inverno forneira, no verilo ta-
verneira.
TAVERNEIRO, s. m. Homem que tem
taverna.
— Adjoc ti vãmente: De taverna, que
se vende atavoriuido. Vid. Atavernado,
do ramo.
TAVERNINHA, «. /. Diminutivo do Ta-
verna. iN-quena taverna.
TAVOA, i. /. Vid. Taboa. — «Ksta ta-
uoa (dizem os sanctosj he a sagrada eon-
lissam, feyta ao próprio sacerdote que
tem cura de almas, ao qual o Seuiior dou
poder pêra em jtossoa dello jicrdoar e ab-
soluer dos peecados que lhe fossem con-
fessados, dizendolhe, A quem quer que
perdoares seus peecados, serlheam per-
doados : a quem nlto perdoares n;im liie
seram pordoarios.» Frei Hartliok)meu dos
Martyres, Catecismo da doutrina chris-
tà. — «E na tavoa leva escritas as cul-
pas porque anda aa vergouha. E anda
assi três ou quatro di:iâ segundo as cul-
pas ho mereeeni.u Fr. (laspar da Cruz,
Tratado das cousas da China, cap. 21.
— tíello dou tavoas ; o sello commum
das cartas regias, o redondo que se im-
prime nas cartas. Vid. Taboa.
TAVOADA, *. /. Vid. Taboada.
TAVOADO, s. m. Vid. Taboado.
TAVOINHA, s. f. Diminutivo de Ta-
voa. Vid. Taboinha.
TAVOLA, í. /. Vid. Tabola.
— Mesa <le Jogo.
— Tavola redunda; mesa de officiaes
onde se paga algum tributo, imposto.
TAVOLADO, s. m. Termo usado na se-
guinte hieuçTio : Lam;ar a tavolado ; era
jogo de exercicio militar antigo, ipie con-
sistia om lançar por terra um castello de
madeira com tiros de arremesso.
TAVOLAGEIRO, A, adj . — Jogador Xa-
volageiro ; que joga em casa de jogo.
TAVOLAGEM, á. /. Termo antiquado.
Todo e quahpier jogo de sorte.
— Dar, ter tavolagem; ter casa de
jogo, do tavolas, dados ou cartas.
TAVOLEIRO, s. m. Vid. Taboleiro. —
«Entrando por esta porta, se faz um pa-
teo muy grande e quasi quadrado, que
será quasi do carreira dum ea.vallo e no
meo faz hum corredor pouco menos da
largura da porta, que corro dereito da
porta ate hum tauoieiro umy grande que
esta no cabo do pateo, ho qual he tudo
lageado de pedras quadradas ciun om-
breiras que daram pola cinta a hum ho-
mem e vay alto na altura da entrada do
portal, que ticii soo hum degrao no cabo
delle ao tavoloiro, e ho pateo nos lados
deste corredor he baixo que deeem a oUe
por degraos.» Tenreiro, Itinerário, ca-
pitulo (5.
TAVOLETA, í. /. Vid. Taboleta.
1.1 TAXA. ou TAIXA, *■. /. (Do fran-
cez tax<i\. Preço leito legalmente para as
cousas de venda.
— Figuradamente : Modo, termo, li-
mite.
— Tributo, imposto.
— Pôr taxa. Vid. Taxar.
— Fiiruradamente : l'òr taxa; limi-
tar, dei-larar até onde se {«ide chegar.
2., TAXA, í. /. Vid. Tacha.
TAXAÇÀO, ». f. (Do latim taxatio).
Acç-rio de taxar.
— Tributo qne pagavam aos recebedo-
res das r(;ndaé del-rei, as pe«sua« qae as
deviam.
TAXADAMENTE, adv. (De taxado, e o
sufíixo «mente»). Limitadamente, Km
demasia ou quebi-a.
TAXADO, jiart. patu. de Taxar. 1'osto
o preço ás cousas, almota4;ado.
— lieprehendido por deftsitos.
— Dado com taxa, regradamentu.
— Taxado em ijuvír, emrt»j)<mdtr; (^xíq
dá audiências e respostas curtaa.
TAXADOR, A, «. e adj. Que taxa.
TAXAR, r. a. (Do latim taxart). Pôr
em virtude do legitimo poder o preço áa
cousas de venda. — Taxar at mercado-
rias.
— Taxar as mercês ; dal-as sem libera-
lidade.
— Censurar, notar, reprehender. Vid.
Tachar.
— Figuradamente : Regrar, limitar,
moderar.
— Assig^ar certa porçSo.
— Taxar as palavras de louvor ; nJlo
ser amplo e liberal d'ellas.
— Adagio :
— Jornada de mar náo se pôde ta-
xar.
TAXATIVO, A, adj. Que taxa, qne li-
mita, restringe.
f TAXIARCO, s. in. Termo de antigui-
dade, (.ifficial superior nos exércitos gre-
gos.
f TAXIDERMIA, s. /. Arte de prepa-
rar a pelle e o esqueleto dos aniniaes
mortos, de sorte a conservar-lhes todas
as suas fiu-nuus.
•{- TAXIDERMICO, A, adj. Que diz res-
peito á taxiiiermia.
f TAXILOGIA, í. /. 8ciencia das das-
siti cações.
I TAXINOMIA, ou TAXIONOMU, *./.
Parte da botânica que trata das classiti-
cações das plantas, das leis e das regras
que devem determinar o estabelecimento
dos methodos e svstemas.
f TAXINOMICÒ, A, uJj. Que diz res-
peito á Uixiuomia.
TAXIS, ^•. "i. Do grego taxis^. Ter-
mo de cirurgia. Pressfio methodica quo
se exeice com a mào sobre um tumor
heruiario para o reiiuzir.
TAXO, í. .. Vid. Tacho.
TAXOLOGIA, *. /. Vid. Taxilogia.
TAXONOMIA, s. f. Vid. Taxinomia.
TAYATAYA, .«. /. Termo de historia
natural. l';ií*;»ro palmipede.
TAYOBA, í. /. Termo de botânica.
TE
Planta do Brazil, de foliia larga, que se
come cozida : tem mangará como inhame.
TAYOCA, s. /. Termo do Brazil. For-
miga grande e negra, cuja mordedura
dóe e queima.
TE. Pronome da segunda pessoa, e que
completa directa ou indirectamente a
acção do verbo.
Se a uão vires esquecer
do que dizes, que te quer,
c aceitar o presente,
eu quero e sou reeonteute
que nem só me queiras ver.
ANTÓNIO PBESTES, ACTOS, pag. 323.
— Equivale a a ti, conforme as diffe-
renças com que usamos de me, e a mim.
Eu digo ?
falo isto aqui comtigo,
nó mais, que a modo te conto.
E que negro encobridor,
encobridor do máo pezar !
UiTONIO PEESXES, ACTOS, pag. iríT .
— «Oh ^perança bemaventurada, que
já te vás trocando em posse ! Oh fé, co-
mo estás perto da vista I Oh amor que
por toda a eternidade has de ser perfeito
amor ! « Pajlre Manoel Bernardes, Exer-
cícios espirituaes, pag. 450.
Bruto não cede assim, nem te abandona.
E hcide fazê-lo eu ?
GABBETT, CATÃO, ECt. Õ, SC. 7.
— Fallando a pessoas com quem se
não tem familiaridade, usa-se de lhe por
civilidade, em vez de te.
— Indica relação de possessão, do que
é da segunda pessoa, e usa-se por teu,
tua.
TÉ. Preposição antiquada. Vid. Até.
— iiAlíernao durou té outro dia. Ao im-
perador pesou muito disto e a Primaliào
também; mas a imperatriz e outras priu-
cezas folgaram por se ver desabafadas
de Colambar, que andavam assombradas
delia.» Francisco de Moraes, Palmeirim
d'lnglaterra, cap. 39. — ■ «Do Toro pêra
baixo, que lie já na costa da Arábia, on-
de ella vizinha com a de Egypto, ajun-
tam-se aqui ambas estas duas costas com
dous cabos que se oppõe hum defronte
de outro, que não haverá entre elles mais
distancia que de três léguas : passados os
quaes cabos, torna-se logo a terra encur-
var com enseadas, e pontas té chegar á
povoação de Suez ultimo seio deste mar
Roxo.» Barros, Década 2, liv. 8, cap. 1.
— «Começarão todos três com essas que
tinhào, despejar a praça do cães de mui-
tos Mouros e (íentios que acodirão, e tan-
to se chegarão ao cães, té se fazerem
senhores d'algumas nãos que estauão com
a proa em terra primeiro que dom Lou-
TEAD
TECE
685
renço chegasse a força de remo chamado
pela artelharia.í Ibidem, liv. 1, cap. 4.
Não te lembre.
3uer's-te ir?
Vou.
Té. porta vos quero ir vèr.
ASIOIIO PBFSTES, ACTOS, pig. 227.
— Té li; por até alli. — aPolinarda,
que té li com a força da paixão tivera os
espíritos mortos e a lingua muda, algum
tanto consolada das palavras de Drama-
ciana, começou dizer.» Francisco de Mo-
raes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 95. —
«Ficando da outra parte em contrario, a
desditosa Ai'abia lelice, na qual toda a
terra que jaz té a Ilha Gamaram he do
Xeque de Adem; e daqui tè ludà do Xa-
rife de lazem ; onde se acaba esta Ará-
bia, e entra a Pétrea.» Frei Gaspar de
S. Bernai-dino, Itinerário da índia, ca-
pitulo 7.
1.,, TÊA, ou TEIA, s. /. .^Do latim te-
la). Todo o panno tecido do comprimen-
to da ordidura.
— Teia de aranha ; o tecido de fios,
onde ella está e habita.
— Caiiellada da teia; a parte desigual
ao outro pauno.
— Loc. FiG.: Dar os jios á teia; aca-
bar, fenecer, perecer.
— Obra de madeira ou pedra com que
em varias egrejas ficam os homens sepa-
rados das mulheres.
— Teia das jicstas; o circulo ou o cer-
co, outr'ora liça, dentro da qual se fa-
ziam as justas e torneios.
— Figuradamente : Tuviar alguém nas
teias ; nos enredos e nas tramas que te-
ceu.
— Figuradamente : Teia de enganos, de
imijostiiras, de mentiras.
— Manttr a teia; justar como o prin-
cipal auctor das justas, ou toi'neios.
— Twnar a teia ; occupal-a para jus-
tar como mautedor.
— Figuradamente: A teia da vida,
— Termo de anatomia. Tecido reticu-
lar. — As teias do coração.
— Adágios e provérbios :
— Muitas maçarocas fazem a teia, que
não uma cheia.
— O trigo, e a teia á candeia.
— A teia bem tecida ao curar mais
embebida.
— A mulher parida, e a teia ordida
nunca lhe falta guarida.
— A mulher que não vela, não faz
grande teia.
2. TÉA, ou TEIA, s. /. (Do latim
tieda). Facho, ou tocha.
— Teias yiupciaes; tochas accesas que
os antigos levavam adiante dos noivos.
— Figuradamente: Teiis nu pciaes ; nú-
pcias. Vid. Teda.
TEADA, s. /. Teia de panno.
— Lençaria.
TEAGEM, s. /. Tela, tecido, membra-
na reticular, pellicular, folie.
— A membrana cellular com gordura.
TEAR, s. ;/i. Machina ou engenho que-
serve de tecer pannos.
— Tear do relógio; toda a rodagem
d'elle.
— Instrumento de que os encaderna-
dores se servem pai-a coser livi-os.
— Adágios e provérbios :
— Um só pollegar tarde vai ao tear.
— Mais vai magro no tear, do que gor-
do no monturo.
TE ARA, s. /. Vid. Tiara.
TEATRO, í. m. Yid. Theatro.
TECA, s. y. Madeira da índia, própria
para naus.
TECEDEIRA, s. /. Mulher que tece
panno, etc.
Houvéreis de ser casado
co'e3ta dama tecedeira
aqui fronteira ;
vinheis-llie dito e pintado.
ANTÓNIO PBESTES, ACTOS, pag. 387.
TECEDOR, s. m. Tecelão. —- Tecedor
de paiiiios, de sSda$, etc.
— Figuradamente: Tecedor de enre-
dos, d£ mentiras, etc.
TECEDURA, s. f. A acção de tecer.
— Os fios que atravessam a ordidura.
— Figuradamente : Trama.
TECELAGEM, «. /. O trabalho, o offi-
cio de tecelão, ou de tecelCa.
— Tecedura, tecimento.
TECELÃO, s. m. Homem que tece pan-
nos, sedas; tecedor.
Forte combate !
um tecelão mais uào tece
do que eu hoje.
ANTÓNIO PBESTES, ACTOS, pag. 135.
TECELÔA, í. /. Vid. Tecedeira.
TECER, i'. a. (Do latim fexere). Pas-
sar os tios por entre o ordume, e formar
a teia de linho, là, ou seda. — «Ha tam-
bém na terra muito algodão, que as mo-
Iheres fiaõ, de que fazem cordas, e re-
des, que usam por camas, penduradas no
ar, em paos, ou aruores, mas delle naõ
fazem pannos, porque naõ sabem tecer.
Saõ muito dados a agouros, feitiços, e
deste ofiScio ha entrelles homens, e mo-
Iheres, a que chamaõ pagès, aos quaes
crem tudo o que dizem, e os tem em
muita estima, e acatamento.» Damião de
Ooes, Chronica de D. Manoel, part. 1.
cap. 56. — oElla fui a que por credito
desta Arte famosa, pendeuceou entre as
mais custosas competências com a cele-
brada Arachnes taò experta naqueUe
tempo na arte de tecer, e bordar, que
presumio roubar a Minerva a primasia,
por suppor sem semelhante a sua subti-
leza.» Braz Luiz d'Abreu, Portugal me-
dico, pag. 110, § 44.
G8(J
TECI
TEED
TEIAI
— Andur ein idas o vindas.
— Tecer uma iieijuciai;uo ; entabolar.
— Tecer desí/mças; sur auctor, o no-
gociíidor d'olla!).
A seu Babor cu paiittod llio ontorprcc,
E BC em paz m: mantcm, rto ei|UÍlibr«(lo
O fogo vire, liberal no;» munda
Mil venturas, mil boua ; mait it'ollo perda
Eatc equilibrio, quo deacrm;»» tece!
Tu éa da Natureza, oh fogo activo.
j. 1. iiu uici:i>o, k X1TUUK2A, caut. '2.
— Travar, liar.
— Figuradaiucnte: Tecer teia; tecer
enredo, intrifia.
— Coiiipôi-. — O tempo tudo tece.
Ksto tcMipo tildo tece.
Uo caao ii ((uc veiu me dô
cadii um d'cllea rasão,
a (|uc tim c a que, porquo.
ANTOXIO PBESTE3, ACTTOS, pAg- 205.
— Tecer um discurso; compul-o.
— Tecer ver.ini ,• fazel-os, coinpCl-OB.
f TECHNIGAMENTE, adv. (Uo techni-
co, com o suffixo «mente»). Í)e um mo-
do tecliuieo, segundo Oâ processos techni-
cos,
TECHNICO, A, adj. (Do grego techni-
kos, de technè). Próprio a uma arte, que
pertence a uma arte. — Processos techni-
cos.
— Termos technicos ; termos privati-
vos de tal sciencia, de tal arte.
— Fersos technicos ; versos que con-
tém a expressão de qualquer regra, de-
finição ou jirincipio.
TECHNOGRAPHIA, s. /. (Do grego te-
chnè, c graphosi. Dcscripção das artes e
seus proces.^oâ.
t TECHNOLITHA, s. /. Termo de mi-
neralogia. Pedra que representa desenhos
d'obJectos particulares ;is artes.
TÈCHNOLOGIA, s. /. (Do grego techiiê,
e loyus). Tratado das artes em geral. —
Uma technolcgia cumplefa.
— Explicaçrio dos termos próprios ás
differeutes artes e misteres.
I TECHNOLOGICO, A, adj. Que per-
tence ás artes em geral. — Nomenclatura
technologica.
7 TECHNOLOGO, adj. — Os escriptores
technologos ; aquelles que escrevem em
artes o misteres.
f TECHNOMORPHITA, s. /. Termo de
mineralogia. l*edra que tom a forma dos
objectos particulares ás artes.
1.) TECIDO, part. pass. de Tecer. Or-
dido.
— Figuradamente: Fabula òcin teci-
da; vida òem tecida.
— Figuradamente: Tecido cm paren-
tesco ; alliauçado.
2.) TECIDO, s. m. Panuo tecido.—
Os tecidos de lã, de sida, etc.
TECIMENTO, «. m. Vid. Tecedura, Te-
celagem.
TECLA, s. /. Peça do orgUo, do piano
ou do cravo, em que o tocador carrega
com o.^ dedos para tirar sons do instru-
mento.
— Armaililha de caçar aves.
— Figuradamente : Tocar em abjuma
tecla ; fallar em alguma matéria, a pro-
pósito para o tini que se intenta, ou eon-
tbruio ao geuio daquelle a (luem se falia.
— Figuradamente : O orgào, cravo,
piano forte.
TECLADO, a. vu Todas as teclas de
um urgào, piano ou cravo. — Teclado dt
mu r/í III.
f TECOLITHA, «. /. Pedra quo se en-
contra nas esponjas, o que se julgava
própria para dissolver os cálculos uriná-
rios.
TECTO, s. m. (Do lathn tectum). A
cobertura da casa, pola parte superior
d ella, com telhas sobre o madeiramento,
se não é coberto de terrado, ou argamas-
sado.
Outro mio menos assombroso vive
Sob argi-ntados tecto», c seus Paços
Com profusão lhe enfeita a Natureza.
J. A. DE UACKDO, A KATCUEZA, Cant. 3.
— «O que havia d'odio nesta burla
atroz só plenamente o comprehendia um
individuo dos que aili estavam. Era o
Abbade de Alcobaça, o qual, collocado
atraz do gi'upo dos cortezàos, depois de
dizer o que quer que foi ao ouvido do
Chanceller, punha os ollios no tecto, er-
guia as màos, persignava-se, deixava
peuder resignadamente a cabeça, e sus-
pirava possuído de cntranhavel magua,
murmurando : Desgraçado mancebo I »
Alexandre Herculano, Monge de Cister,
cap. 21.
TEÇUME, s. m. Vid. Tecido.
1.) TEDA, 5. /. [Do latim teda). To-
cha, teia de alumiar.
2.) TEDA, s. f. Certa arvore resinosa,
que parece ser variedade do pinheiro.
TE-DEUM, *-. m. Termo latiuo signi-
ficando o cântico da egroja que se diz
ordinariamente no tim das matinas, o se
canta extraordinariamente, com pompa e
ceremouia, para dar graças a Deus por
uma victoria, ou por outro qualquer acon-
tecimento feliz.
— Caremonia que acompanha esta ac-
ç.no de graças. — Assistir ao Te-Deimi.
TEDIFERO, A, adj. (Do latim ta:difer).
Quo traz teia, ou tocha.
TÉDIO, s. «1. (Do latim tivdium). Fas-
tio, nojo, moléstia.
TEDIOSO, A, (>.(/. Que produz tédio.
TEDO, pur Teúdo. Vid. esta palavra.
TEEDOR, s. e adj. 2 gen. Termo an-
tiquado. Que tem, oceupa, o dá estorro.
— (.' que tem, possue.
— Teedor de estradas e caminhos; o
ladrilo publitMJ, que com mSo armada, e
violuutaniente, oceupa, tom e embarga
coitei legares, roubaiwlo os passageiros :
este uilo goza da iminunidade da egr«jaf
a.ssim como nem o incendiário das searaii,
nem o que insidiutamcate, e de propósi-
to, c só a fim de injuriar, commette ai-.
gum delieto.
TEEIGA, *. /. Vid. Teiga de Abrahão.
TEEIRO, «. ni. =r Significação incerta.
TEENÇA, «. /. Termo antiquado. De-
tença, d'doiiga, posse corporal.
TEENTE. Vid. Tenente.
TEEYA. Fcirma do verbo tetr na ter-
ceira pessoa do singular do pretérito im-
perleito do modcj indicativo, em vez de
Tinha. Vid. Ter.
TEF, «. m. Uma semente da Ethio-
pia.
TEFILIM, ou TEPHILIM, ». m. «ama-
mento lia hvpocrisia judaica.
TEGELADA, s. f. Vid. Tigelada.
TEGELO, í. m. Vid. Tijoulo.
TEGEREMO, A, adj. Termo antiquado.
Deeniio terceiro.
TEGESÚ, s. m. Termo de historia na-
tural. Ave do Brazii, maior que o peni.
TEGICO, A, adj. Do Tejo, ou perten-
centií ao Tejo.
TÉGORA, pur Até agora.
TEGUMENTO, s. m. iDo latim t^jumen-
tum . Termo de historia natural. Tudo o
que serve para encobrir, para envolver.
..1 pelle é o tegumento do corpo do ho-
mem.
— Termo de botânica. Tegxmiento ^ro-
prio; invólucro imniediato da amêndoa
de uma semente, ou spermoderma.
— Tegumentos jiorae»; o calyx e a
coroUa, os invólucros immediatos dos or-
gjios sexuaos.
TEGURIO, í. m. Vid. Tagnrio.
TEIA. Vid. Tèa.
TEIADA, s. /. Vid. Teada.
TEIGA, s. /. (Do latim tegis\. Va^ de
palha como cesta, tecida em roletes.
— Teiga de Abra/tão ; medida quo no
Alemteio leva dous modios.
TEIGULA,
Teiira.
TEIMA, i.
contuiiiacia.
TEIMADO, part. pass. de Teimar.
Acompanhado de teima.
TEIMAR, V. n. Insistir, estar pertinaz
em alguma cousa.
TEIMOSAMENTE, adv. (De teimoso, o
o sufiixo • mente» . De um modo tei-
moso.
— Com teima.
— Arincadamente, tenazmente.
TEIMOSO, A, adj. Qae teima, que in-
siste, que porfia.'
— Obstinado, pertinaz, porâoso.
O bom casado
n.<lo tom essa calidade.
Muito bom, gentil comento ;
/. Termo antiquado.
Pertinácia, obstinaçlo,
TELE
TELH
TELH
687
acho-vos agoas, fcrmoza,
quo segundo sois teimosa
mandareis em testamento
que vos enterrem ciosa.
AJfTONIO PEESTES, ACTOS, pSg. 289.
Teimoso indagador lhe mostra a fronte ;
Estes 03 passos são da Xatnreza
Magestosos, e simplices : debalde
Estrepitosa Escola lhe assignála
Outro principio ás liquidas correntes.
J. A. DB MACEDO, A XATCBEZA, Oant. 2.
TEIOR, s. m. Yid. Theor.
1.) TEIRA, s. f. Vid. Talão.
2.) TEIRA, s. f. Tfcrmo de historia na-
tural. Peixe do género do3 chetodon-
tes.
TEIRÓ, s. m. (Do grego teirõ). A peça
da rabiça do arado, que tem mão no
dente.
— Tomar teiró com alguém; pegar
sempre ás razões com elle, engar com
elle por má vontade que se lhe tem, ter
tenção com elle.
— Figurada e popularmente : Pegui-
lho, teima.
TEIROGA, s. /. Vid. Teiró.
TEITO. Termo antiquado. Vid. Tecto.
TEIXE, 5. m. Peça., brinco ou dixe de
ouro, ou prata, de que outr'ora se usava,
e cujo feitio hoje se iscnora.
TEIXO, s. m. (Do latim taxus). Arvo-
re funesta, fúnebre, melancólica. E ve-
nenosa.
TEIXUGO, s. 7H. Termo de zoologia.
Ar.inialejo como a rapo.?a, muito gordo.
TEJADILHO, í. m. O tecto da sege, ou
coche, ou cadeirinha de braços de arruar.
TEJOILA, s. f. Termo de alveitaria.
Um osso do casco do cavallo.
TELA, s. /. (Do latim tela). Teia.
— Armadilha de três laços de tomar
perdigões.
— Loc. : Pôr as telas a alguvi nego-
cio; dar-lhe principio, armar a effeitual-o,
e a conseguil-o.
— Tecido de seda, prata, ou ouro. —
n Huns cobrem de telas as paredes : ou-
tros tomáraõ cobrir seu corpo de panno
grosseiro. » Padre Manoel Bernardes,
Exercícios espiriíuaes.
— Teia de justas, e torneios; e, d'aqui,
tela de juizo, por se fazerem em taes le-
gares as provas por combates, e duellos,
que era uma espécie de provas judicia-
rias.
-j- TELANGIESTASIA, s. /. Termo de
medicina. Dilatação dos vasos afistados
do coraçào, ou dos vasos capillares.
TELARIA, s. /. Multidão de telas.
TELCHINOS, s. 771. plur. Mágicos a
que se attribuia a invenção de diversas
artes.
t TELEGRAMMA, s. m. Despacho tele-
graphico.
TELEGRAPHIA, s. f. Arte de empre-
gar os telegraphos.
■ — Tratado sobre esta arte.
— Arte de corresponder-se prompta-
mente, e a grandes distancias.
TELEGRAPHICO, A, adj. Que diz res-
peito ao telegrapho. — Signaes telegra-
phicos.
— Noticia, despacho telegraphico ; no-
ticia, despacho chesrado pelo telegrapho.
j TELEGRAPHIGAMENTE, adv. (De te-
legraphico, com o suiBso «mente»). Por
meio do telegrapho.
7 TELEGRAPHISTA, s. m. O empre-
gado que transmitte os despachos tele-
graphicos.
f TELEGRAPHAR, v. a. Transmittir
um despacho com o auxilio dos signaes
telegraphicos; corresponder pelo telegra-
pho.
TELEGRAPHO, s. m. (Do grego tele, e
graphos). Machina collocada sobre um lo-
gar elevado, que serve para transmittir
ao longe noticias, etc.
— Telegrapho náutico; instrumento
destinado a transmittir os signaes pelo
mar.
• — Telegrapho eléctrico ; que se com-
munica por iios d'arame.
f TELEMETRIA, s. f. Arte de medir
as di.^tancias.
f TELEMETRICO, A, adj. Pertencente
á telemetria.
7 TELÉMETRO, s. m. Instrumento des-
tinado a avaliar rapidamente as distancias.
TELEOLOGIA, s. /. (Do grego teh, e
logos). Termo de philosophia. Doutrina
das causas finaes, isto é, a que explica
os seres pelo iim apparente ao qual elles
sào destinados.
7 TELEOLÓGICO, A, adj. Que diz res-
peito á teleologia.
TELEOLOGO, s. m. lusti-umento para
conversar a grandes distancias.
TELEPHONIA, *. /. (Do grego tele, e
phonè). Termo de phvsica. Arte, meio de
fazer chegar ao longe os sons.
— Arte de corresponder a grandes dis-
tancias por meio do som, ou telegraphia
acústica.
t TELEPHONICO, A, adj. Que diz res-
peito á telephonia.
7 TELESCÓPICO, A, adj. Que se faz
com o telescópico. — Observações teles-
cópicas.
— Que se vê só com o auxilio do te-
lescópio. — Estrellas telescópicas.
— Planetas telescópicos ; planetas si-
tuados entre Marte e Júpiter.
TELESCÓPIO, s. m. (Do grego tek', e
skopeô). Nome genérico dos instrumentos
d'optica destinados a observar os objectos
afastados ; a imagem d'estea objectos é
formada pela reflexão dos raios lumino-
sos sobre espelhos, e amplificada em se-
guida por vidros de augmento.
— Pequena consteliação meridional.
1.) TELHA, s. f. (Do latim tegula).
Peças de barro de certa grossiu-a, cozidas
em fornos, que servem de cobrir os tectos
das casas, sobre ripas, ou taboas.
— De telhas a baixo; cá na terra.
— Casa de telha vã; a que não tem
forro por baixo da telha.
— Adágios e provérbios :
— Fallar das telhas abaixo.
— Quebrar telhas.
— Telha de egreja sempre goteja.
2.) TELHA, s. /. Termo antiquado.
Chapéu usado no toucado das mulheres,
com as abas de um lado e outro dobradas
para as faces, armação que lhe dava a
figura de telha.
8.1 TELHA, s. /. Vid. Til, e Tilia.
TELHADINHO, s. m. Diminutivo de
Telhado. Pequeno telhado.
1.) TELHADO, s. m. A obra de telhas,
que cobre a casa. — «Os nossos tanto que
souberaõ estarem Mouros nas casas, se
foraõ huns poucos a elles, e sobindo-se em
cima dos telhados os destelhàra<5, e com
as espingardas naõ faziaõ senaõ derribar
nelles.» Diogo de Couto, Década 6, liv.
9, cap. 9. — íEUe que logo conheceo, o
que eu delle pretendia, (que muvtas ve-
zes saõ fáceis de conhecer certas vonta-
des), nos leuou a sua Igreja, que na lin-
goa da teiTa se diz Mochamo, a qual era
pequena, e bayxa com três portas iguaes
a sua grandeza, cuberta de argamaça,
sem telhado, mas com terrado falando ao
castume daquellas partes, p Fr. Gaspar
de S. Bernardino, Itinerário da índia,
cap. 9.
- — • A agua do telhado ; é um ponto
d'elle, com seu pendor particular.
— Telhado de levadio; de telhas so-
brepostas sem cal. Vid. Levadio.
■ — • Loc. : Assim vos pondes no telha-
do ; assim me negais obrigações e servi-
ços com esquivança, e vos haveis por des-
obrigado.
— Figuradamente : Ter telhados de vi-
dro; ter defeitos, faltas.
— Adágios e proa'ekbios :
— Assim é o marido amarellado, como
casa sem telhado.
— Quem tem telhado de vidro, nào
atire pedras ao do visinho.
— Horta sem agua, casa sem telhado,
marido sem cuidado, de graça é caro.
— A moça no telhado nào anda a bom
recado.
2.) TELHADO, parf. pass. de Telhar.
Coberto de telha, ou cousa que cobre
como telha. — Casas telhadas de tijolo.
— -Figuradamente: As casas telhadas
de gente; occupando a gente os telhados
por não caber nas janellas.
TELHADOR, *. v\. Homem que faz te-
lhados.
— O que tapa a tigela de barro.
TELHADURA, s. /. A acção de telhar.
TELHAL, s. m. Fabrica de telhas, te-
Iheira.
TELHÃO, .«. m. Tellia grande.
TELHAR, V. a. Cobrir com telha.
TELHEIRA, s. f. Olaria de fazer te-
lhas.
688
TEMA
TEME
TEME
— Tdhal.
TELHEIRO, «. m. Tocto do uraa ou
duas íipruíis do telha vil, onde traballiani
abriffiido.i os canteiros, ctc.
— líomora que taz tullias.
TELHINHA, «. /. Diminutivo do Telha.
— 1'hir, Dou8 |)eda^'08 do louça, quo
08 rapazes coatumani tocar ferindo ura no
outro, entre os dous dedos da milo di-
reita.
TELHO, s. VI. Testinho de telha, can-
tara ou ii)U(;a do barro.
TELILHA, s. /. Tela <lolf;ada.
TELIZ, s, f. Panno que serve para co-
brir a. seila do cavallo era quanto o ca-
valleiro está apeado; do ordinário traz bor-
dadas as suas arinns e insifínia-s.
TELLA, s. /. Vid. Tela.
f TELLINA, s. /. tíenero de conchas
bival vtM.
f TELLURATO, s. w. Terrao de chimi-
ca. Sal produzido pela corabina(;ào do
acido tcllurico com unia base.
TELLURITO, «. m. Termo de chiniica.
Conibinaç3o do telluro com os metaes ele-
ctro-positivos.
TELLURO, s. >n. (Do latira tellus). Ter-
mo de chiniicA. Metal solido, descoberto
nas minas d'ouro da Tranaylvania; 6 de
côr branca azulada, brilhante, luminoso,
fundivcl e mui volátil.
f TELLURICO, A, adj. Que diz res-
peito á terra, pela sua intluencia sobre os
corpos organisados. — As forças telluri-
cas.
f TELLURIDE, s. m. Termo de chinii-
ca. Corabinaçfio do telluro e de um corpo
simples.
f TELLURISAL, s. m. Termo de chi-
micií. iSal produzido pela combinação dos
tellururatos entre si.
■]■ TELLURISMO, s. m. Nome pelo qual
se de<ii:na to lo o macrnetismo terrestre.
t TELLURHYDRICO, A, oflj. Termo de
chimica. Aci'di> tellurhydrico ; acido hy-
drotellurico, sraz incolor, de cheiro des-
agradável a ovos em putrefacção.
t TELLUROSO, A, <"lj. Termo de chi-
mica. Acido telluroso ; acido o raenos
oxygenado formado de telluro e de oxy-
gcneo.
t TELLURURATO, .-\ vi. Termo de chi-
mica. Conibinaçrui do telluro e de ura
corpo simplii».
t TELODYNAMICO, A, adj. Que exer-
ce, que transuiitttí unia potencia ao longe.
TELONARIO, s. m. O administrador do
telonio.
TELONIO, s. w. (Do grego tehnton).
Casa ou raosa onde estavam os rendeiros
das rendas publicas, e arrecadadores d'el-
1»8.
— Na universidade, é a junta dos op-
positores que suggeriam a matéria aos
que uTio estavam promptos para disserta-
rem nclla. — /■"fizer telonio.
TEMA, i. J7I. Vid. Thema.
TEMÃO, s. m. Vid. Timão.
TEMBLAR, v. a. Termo de niu«ica
pouco era u»o. Pôr accordes os instrumen-
tos, Hogundu a porpor<;IU> barinonica.
— Emproga-se Uimbeni no hcutido de
combinar os i'cgií<tros dos órgãos com o
toque ou o Hom do acto religiono.
TEMEROSO, A, (ulj. Termo antiquado.
MedroM), iemcri'80, quo treme de susto.
TEMENTE, />arl. ad. de Temer. Que
terae. H^mem temente « Jji:u». — «E
tomarão logo trazendo conirtigo sois da-
quellos de pé que pareciaõ ser ministros
de Justiça, ou ao menos ijaquella que en-
tão cuydavaraos que Deos queria que se
fizesse de nós, e estes, por mildado dos
de cavallo, no i ataraõ a todos de três em
três, c cora mostras de piedade nos dis-
seraò que nai3 ouvesscmos medo, porque
el Rey dos Lequios era homem muyto
temente a Dcos, e inclinado por natureza
aos pobres.» Fern.^o Mendes Pinto, Pe-
regrinações, cap. 138.
TEMER, V. a. (Do latim temere). Ter
temor, recear. — «O cavalleiro do Dra-
gão e Floriano ajudavani-sc tanto de sua
presteza e manha, temendo os golpes de
seus contrários, que os mais dellcs lhes
faziam dar era v.~io ; e por cí^ta razRo an-
davam menos feriílos e traziam os gigan-
tes inaltratailos.). Francisco de Moraes,
Palmeirim d'Inglaterra, cap. 94. — «O
c-avalleiro do Dragik» se desviou trio des-
contente pola ferida que lhe dera, temen-
do que o podesse pôr em perigo, que an-
tes não quizera victoria d'Albarroco, se
com cst'outro desgosto se havia de apa-
gar.» Ibidem. — >iNào andou muito quan-
do contra a mão esquerda viu atravessar
dous eavalleiros, a quem conheceu polas
armas, um ser Beroldo e outro Platir, e
bradou lhe que o esperassem : elles o co-
nheceram, o veudo-o daquella sorte, ba-
nhado em lagrimas, temendo os desastres
da fortuna, lhe perguntaram que causa o
fazia assim vir.» Ibidem, cap. 115.
Não teme. não espcr.i.
Não pende da fortuna ou vãos cuidndos
A consciência pura.
ANTÓNIO FERKKIRA, OPES, 1ÍV. 1, H.* 3.
— «E virandose entào para nós, que a
este tempo estávamos todos prostrados no
chão, e com as mãos levantadas, como
quem adora a Deos, nos disse, ey tama-
nha piedade da vossa miséria, e tenho
tamanha dôr da vossa pobreza, quo vos
certifico em boa verdade, o assi me elia
valha diante dei Rey, que mais quisera
agora sor cada hum de vós outros, com
ter em mira o que vejo cm vós, que este
cargo que por meus peccados agora te-
nho, porque temo niuyto eseaudalizar-
vos.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. i;V.». — «Mandou quo nenirauí
andasse pela cidade, proueudosse j>or via
dalgrins seus amigos gentios das cousas
necessárias pêra o iuueruo, temendo qne
então o cometoMom os mouros, o que sa-
bendo os gouernadorcH da (.'idade por lho
assi ter nian<lado a Rainha, lhe offerece-
rara toda a ajuda, e faiior que lhe foMso
nec^s^ario.» Damião de 0(.>cs, Chronica de
D. Manoel, part. 4, cap. 15.
Certo f|ue Iic do fjucm ftmo;
Quç 08 diton que nella aohci
São todos di> Fil'jdi-mo.
K^te homem, rjne atrenmcnto
Hí c»t/> ')ue foi tomar?
(^iial scri seu fundamento?
cAji., rtLODFiio, act "_' -- •'
— f E ilaqui por diante começou de se
afastar algura tanto da terra cõ que de
noite passou o cabo a que ora chamamoa
das correntes : porque começa a ooeta on-
curuarsc tanto i)era dentro passado ellc,
que sentindo \'a''co da (>.ãma que as
agoas o apanhauSo pêra dentro, temeo
ser alguma enseada penetrante donde na5
pudesse sair.» Barros, Década 1, liv. 4,
cap. 3. — cTemendo que commanicando
este negocio com elle fossem logo oê
Mouros auisados, por não se guardar
muito .vjgredo entre elles principalmente
como tocaua cm cousas nossas.» Ibidem,
liv. 7, cap. 11. — «Porque como os con-
selhos d'elRey, era3 logo postos nos ouui-
dos do Çamorij quis prouer no que auia3
de fazer sem o comunicar cõ eIRey, te-
mendo o dano que lhe podia sobre vir to-
mando o Çamorij na sna industria ardil
de os offender.» Ibidem, cap. 7. — tCom
isto ao longo do mar cm [lartes que ellos
temiam poder desembarcar pente, tudo
era fazer paliçadas, e repairos, assestan-
do nelles artilheria, como quem mostrava
querer-se defender vindo o ca.so pêra isso,
e também a fim de temorizar os nossos
nestes apercebimentos.» Idem, Década 2,
liv. 6, cap. 3. — «E ainda chegon o te-
mor a tanto, que temendo que os nossos
juntamente Com ellcs entr.issem, cimo
aconteceo na tomada de Goa, fechÁram a
porta hum pouco c«do, com qne muitos
ficaram de fora.» Ibidem, liv. 7, cap. 4.
Morte dura !
é receio vida escura,
quo não piKÍc mi'ir mal acr
do que ante mão temer
o que \-Í9ta não segura.
jLSTOMio paKsrKS. actos, pag. 297.
É inimigo,
nâo teme. vive comsigo.
vae-90 faiendo men amo.
larpEii, pag. 4S3.
O nobre enthusiasmo, o patríotísino
Quo, audaz mas firme, ardido mas prudente.
P'rigos não basca — mas uõo Umt os p'rigoa,
K.tíos nfio troa — maí não tomo os raios,
Kstc valor. <• Marco, esta oii»;ulia
Foi a dos Sei piões, ora a dos Fabios,
Ksta ó so da razão — e so romana.
CAaKETT, CATÃO, SCt. 2, 9C. 1.
TEME
TEME
TEMO
689
— Temer alguém ; ter-lhe medo.
— Temer a alguém de outrem, ou de
algum mal; recear que lhe venha.
— Temer alguma cousa; ter receio
cVella causado por medo.
— Temer-se, v. rejl. Recear-se. — •
«Cufahu-im, vendo entrar estes, temen-
dosse (jue as.-i o fiiriam todolos que vi-
nhào no batel, se lançou fora da fusta,
com todolos que com elle hiam, sem nella
ficar pessoa nenhuma, na qual querendo
entrar dom António após estes cinco, em
pondo o pe na fusta lhe derào do muro
hunia frechada no lagarto da perna es-
querda.» Damião de Góes, Chronica de
D. Mauoel, part. 3, cap. 7. — «E ElRcy
D. i'edro 11 para a guerra de 1704. em
que se temia alguma iuvasaõ marítima,
jnandou guarnecer de grande numero de
Fortes toda a Marinha de Lisboa desde a
Torro do Bugio ate Casilhas, e da Forta-
lesa do S. Giaõ ate o Grillo.» Severiui de
Faria, Noticias de Portugal, Disc. 2, ca-
pitulo 12.
— Temer-se de alguém; recear mal a
si por via dclle. — «Disto se escusou El
Rey, assim por se temer do outro, como
por ser seu genro, seu parente, e Mouro
como elle. Mas depois tendo alguns agra-
vos dello, disse a Bernaldim de Sousa,
que naquella matéria podia fazer tudo o
que lhe bem parecesse, que elle o ajuda-
ria com tudo que pudesse.» Diogo de
Couto, Década 6, iiv. 8, cap. 10. — «Che-
gados elle, o Bernaldim de Sousa a Ma-
laca, sempre se ficou Bernaldim de Sousa
temendo delle, porque se iiouve elle por
muito aflrontado do modo com que pro-
cedeo com elle. E ficando assim em Ma-
laca sem se encontrarem, vej^o D. Rodri-
go a adoecer de humas febres, e o dia
que tomou a purga, foy ella tal, que co-
meçou a arder por dentro, e a gritar por
agua, dizendo que se lhe abrazavão as
entranhas, e com esta angustia morreo
logo.Ji Ibidem, Iiv. 10, cap. 7.
— Temer-se de si, de sua fraqueza,
paixões, erros, etc.
— Toma-se substantivamente :
Ah ! quantos homous tem gastados
esta Índia !
Como o mar ;
á bofe, molher senhora,
se não fora
o temer, c o arrecear
de enviuvardes alguma hora,
na índia andara eu agora.
AUTOKIO PRESTES, AUTOS, pig. 387.
— Adágios e provérbios :
— Quem não deve, nào teme.
— Quem pouco sabe, pouco teme.
— Rei se nomeio, quem não teme.
— Ninguém é fiel a quem foe temer.
TEMERARIAMENTE, adv. (De temerá-
rio, e o suffixo «mente»). Do um modu
temerário. — Lançar-se temerariamente
no perigo.
TOfc. V. — 87.
— Ao acaso, inconsideradamente,
TEMERÁRIO, A, adj. (Do latim temera-
rius). Arriscado, arrojado, sem o pru-
dente receio, e temor.
E se afiigeuta indagador ousado
Que o temerário passo alli dirige,
O magcstoso aspecto então de perto
A mostrará aem nuvens, e sem sombras.
J. A. DB M.\CEn0, A NATDBEZA, Caut. 1.
Jlas a quaes fins o temerário vòo
Tu lhe quizestc dar, oh Natureza ?
Tào estanho favor, tal beneficio
Da Providencia he prova, ho delia hum brado,
Contra as vorazes fúrias do inimigo
O corpo lhos defende, a vida escuda.
iniDEM, oaut. 3.
Que nos convém fazer ? Como devemos
Traetar esse homem temerário, ardido,
Ambicioso, insaciável? — A fortuna
Tem coroado seus crimes com victorias.
OABKETr, CATÃO, act. 2, SC 1.
— Que annuncia temeridade, que tem
o caracter da temeridade.
— Jaizo temerário; juizo sem funda-
mento.
— Termo de theologia. Proposição te-
merária ; proposição que leva a inducções
contrarias á verdadeira doutrina.
— Substantivamente; Um temerário.
TEMERIDADE, s. f. (Do latim temeri-
tas). f^aita de ordem providencial.
— Excessivo atrevimento, audácia im-
prudente, arrojamento.
TEMEROSAMENTE, adv. (De temeroso,
e o suffixo «mente»). De um modo teme-
roso.
— Com temor.
temerosíssimo, a, adj. superl. de
Temeroso. Mui temeroso.
temeroso, ou TEM0R0S0, A, adj.
Que produz temor. — «Dramuslando,
confiando era sua força e valentia, pele-
java menos como cavallciro destro, que
como gigante temeroso; e isto fez que a
batalha antre elle e Barrocante andou mais
brava e perigosa que nos outros.» Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 94. — «Mas como as cousas daquelle
dia fossem diftereutes dos passados em
que alguns provaram aquella aventura,
a cidade se cubriu de névoa tão espessa
e negra e um tom tão temeroso e triste,
que ninguém tinha o juizo tào livre, nem
animo tão esforçado, que se sentisse isen-
to do medo, que aquelles temores repre-
sentavam.» Ibidem, cap. 98. — «Caval-
gava em um cavallo murzello e estava en-
costado sobre a lança posto o conto no
chão, tão temeroso e feroz, que só com
aquella mostra criava temor a quem o
via.» Ibidem, cap. H7.
Examine inrolou, cahiu por terra
O temeroso Drago que amparara
As Quinas tanto sec'lo : então primeiro
O leão do Pyrenc o olhou sem medo.
OARRETT, CATÃO, act. G, SC. 4.
— Que tem medo.
Estavam pelos muros temerosas,
E de um alegre medo quasi frias,
Eezando as mães, irmãs, damas c esposas,
Promettendo jejuns e romarias.
CAM., Lus., cant. 4, est. 26.
— «Com a qual cousa elle hia temero-
so parecendolhe ter nisso oíFendido a el-
Rcy de Cochi j : e tomado estoutras acha-
lo Ília mães em termos de guerra que de
paz.» Barros, Década 1, Iiv. 5, cap. 8.
TEMIDO, part. j)ass. de Temer. Que
temo. — «E esta gloriosa vitoria que nosso
Senhor deu aos nossos foy no mcz de
Setembro do anno de 1.Õ44 na véspera e
dia do Arcanjo Saõ Miguel, com a qual
o nome Portuguez ficou tão celebrado e
tão temido por toda esta costa que em
mais de três annos se não falou noutra
cousa.» Fernão Mendes Pinto, Peregri-
nações, cap. 146.
Como foy obedecido
de tantos, e tam sobido,
tam temido, e acatado,
em brcue tempo acabado
foy, e ja nào he sabido.
GARCIA DE REZENDE, MISCELLAMEA.
— Temente, temeroso.
TEMÍVEL, adj. 2 gen. Que se deve te-
mer, que c para temer.
— Syn. : Temível, formidável. Vid. es-
te ultimo vocábulo.
TEMOEIRO. Vid. Tamoeiro.
TEMONEIRO, s. m. Termo de marinha.
Piloto, o .que rege o temão ou o leme da
embarcação.
TEMOR, s. m. (Do latim timor). Pai-
xão do animo que faz fugir dos riscos,
perigos, e cousas que se receiam por dam-
nosas. — «Quem neste tempo pozera os
olhos na formosa Polinarda, bem lhe sen-
tira nas mudanças do rosto os temores,
em que o seu coração estava; que natu-
ral é quem vive com receio perdel-o com
poucas cousas.» Francisco de Jloraes,
Palmeirim de Inglaterra, cap. 104. —
«Duarte Pacheco sentindo esta descõfian-
ça e temor que elRey trazia, o esforçou
promettendolhe que por saluaçaõ de sua
pessoa e estado elle cõ quantos eraõ em
sua companhia tinhaõ offerecido as vi-
das : e que com este propósito aceptado
ficar em .sua ajuda como elle sabia, e
taÍ3 longe de sua pátria que naõ tinha
outro amparo se não as armas.» Barros,
Década 1, Iiv. 7, cap. 5.
No primciro3medo estão
os temores c os receios ;
d'este não passam nem vão,
690
TE1\I0
TEMP
TEMP
que ao ha maia, mais nilo silo
qiio iif;iiraR do bons idaíoh.
ANTÓNIO PBR8TK8, AOTOÍ, pllg. 40fl.
— Figuradamente : Pessoa ou couf<a
que causa temor.
Já na agii» ci-giiendo vilo com grniido prfsna
Com as argoiitea» cmidii» branca cícmna ;
Doto CO 'o i)nito corta, c ntravoHna
("oin mai» furor o mar do que c^istuma ;
Salta NÍ8(i, Ncrinc se arremessa
Por cima da agua crespa, cm fori;a Humma ;
Abrom caminlin as ondas cncurvadaB,
Do temor das Neníidas apressadas.
CAM., Lcs., cant. 2, est. 20.
— Receio fundado de darano futuro.
E mo culpas sem concerto,
Pois f]uc viste no deserto
O podor quo Cln-isto tem,
Que atéfcora foi cubcrto ?
Porém quom adivinhara
Que no mundo visse cu
Ncnbuin homem que ousara,
E som temor mo lançara
Por fõrija fc5ra do n\ou V
OIL VICKNTK, AUrO DA CANANÉA.
— «E no porto com favor de jMouros
de Calecut que alli estavam, trataram
mal os nossos, tomandu-lhes o que leva-
vam, sem ousarem de lhos fazor mais
damno, com temor do que poderiam re-
ceber em suas pessoas os mercadores que
levava AfFonso d'Alboquerquc couisigo.»
Barros, Década 2, liv. 7, cap. 1.
80 poder não hei do ser
d'uns que cuidam que no ir
sem temor estA o ferir,
c vem co'o quo vão fazer.
AHTOSIO PRESTES, AUTOS, pag. 411.
— Medo respeitoso.
Entrada do temor religioso,
Portento lho era um ruido, \\m rumor lévc ;
A vaga, que se empiUa, e remurmura,
Crê, ser Leões, que rugem, quando desce
('ybiMe ao Monte CEchalio; c o raro arrulho.
Do Troca?., córneos crê, sons de Diana,
Que anda a csiçar, no pedregoso Thuria.
riU^MCISUO MANOEL PO NASCIMENTO, OS HARrTKES,
liv. 1.
Com taoâ filtros o peito se Ihca torna
Impenetrável ao temor da morte ;
D'huma cobiça vil seu peito escravo
Afronta A escuridão, sopèa o susto.
Eu lhos chamara Ueróos, s'outro tivera
Motivo a intrepidez, motivo a fúria.
J. A. DB MACP.DO, A NATOREZA, CaUt. 2.
— Syn. : Temor, medo. Yid. esto ulti-
mo vocábulo.
— An.xoios K puovF.nmos:
— l\')de liavcr sotfrimcnto na dôr, e
não no temor.
— Por temor não percas honor.
— O temor lie uma mortal dôr.
— O temor nompro «ufipeita o peor.
TEMORISADO, ou TEMORIZADO, parf.
pritig. lie Temorisar. \'il. Alemorisado. —
« ('om<e(»u de bralar de uma jaueila c'os
que ficavam, animaiido-os, que houvessem
vergonlia de tamanha fraqueza, o que tc-
vo tanta furça, '[un lha dobraram a ellcs
pêra cometter a Florcndos com muita
maior soltura do (|ne, cm todo o ília mo.s-
traram : mas clle, temorizado de seu dam-
no, confiado na lasào com (|ue jjclejava,
fazia taes maravilha.s, quo em pouco cs-
ynrn matou um dos três que ficavam.»
Fiaiicisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 74.
TEMORISAR, -m TEMORIZAR, v. n.
Vi I. Atemorizar.
TEMOROSO, A, a'lj. Vid. Temeroso.
TEMPAM. Termo antiquado, por Tem-
po.
TEMPE, s. /. (Do grego tempê). Ter-
mo de poesia. Jardim, legar deleitavel,
e .'uneno.
TEMPERA, s. f. A consistência, que
se dá ao ferro ou aço, com certos artifí-
cios.
— Termo de volateria. A disposiç,'ío
que so dá á ave, antes de entrar a caçar
no outro dia.
— Uma das peças do arado.
— Cunha usada nas moendas dos en-
genhos, entre as chumaceiras, e cabeças
da ponto; e para chegar os bronzes, os
niancaos de cima aos eixos, ou cabeças
dos aguilhijes, e ter os eixos concheg.ados
em boa proporção, para espremerem as
cannas.
— Figuradamente: Modo, gosto, usan-
ça, estvlo.
— lima cunha do carro dos bois.
— O banho cm que se dá a tempera
do ferro, ou do aço.
— Pintura á tempera; cujas tintas fo-
ram desfeitas com colla, ou agua.
— Termo pouco em uso. Temperatu-
ra. — A tempera do ar.
TEMPERADAMENTE, adv. (De tempe-
rado, com o sufRxo fl mente »^. Do uiu
modo temperado.
— Com moderação, com mo lo, com
temperança. — Comer temperadamente.
— L"oni parcinionia razoada.
TEMPERADÍSSIMO, adj. snp. de Tem-
perado. Mui temperado.
TEMPERADO, pnrt. pass. de Temperar.
Adubado.
— Ar temperado; ar que n.no é muito
frio, nem muito quente.
— Em que se guarda a temperança.
— Instrumento temperado; instrumen-
to preimrado para dar sons regulares.
— Moderado.
— Temperado homem; homem comedi-
do, moderado.
TEMPERADOR, A, .1. Pes.soa quo tem-
pera.
— Fiunr.elamento: Moderador.
TEMPERAMENTO, s. m. (Do latim Um-
peramentum). CompluiçAo, constitaiçSo do
corpo animal, a mÍHtura dos humores
nVdle.
— Temperança, moderaç.lo, modéstia.
— -Figuradamente: .\ índole, génio.
— Qualquer cousa, que abranda, o cor-
rige a iortiililo, acrinionia, e dusubrimen-
lo da« cou.sa» piíysicaí, ou moracs.
— Temperamento doar; a qualidAde
de ser qu'nte, ou frio, secco, ou hamido,
etc. ; tciii|ierie, temperatura.
TEMPERANÇA, «. /. (Do latim ttmpe-
rantiui. Moileração. — tO imperador fi-
cou com Argolante ouvindo maiu por cs-
tonso tudo o que passara : logrando aquel-
le prazer tão moderadamente, quo nin-
guém podia conhecer nelle nenhum aba-
lo, ante.s j)erguntava e ouvia tudo com
tanta temperança, como se a pratica fo-
ra sobre cou.-as i!e cuda dia.» Francisco
de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap.
4.5. — « Em aquella terni muytaa vezea
se acontece sete, e oyto annos naõ cho-
ver nella. He muyto temperada em o in-
verno, e veralí, e por cau.sa desta tempe-
rança que tem, se criaõ, e augmcnta em
tanta abastança, os homerw, que (segun-
do me dis.seraõ) as mais das vezes pariaõ
as molhercs iluas, e três crianças. t Ten-
reiro, Itinerário, cap. 43.
— Modéstia.
— Temperatura.
— Virtude moral que regula, e mode-
ra os desejos, e paixões desordenadas,
mormente os appetites sensimes.
— Temperança em ceder dos »eu$ di-
reitns ; não usar d'elle3 por respeito.
— Moderação no comer e no bel>er.
— Syx. : Temperança, moderaqno, fru-
galidnde. Vid. estes dous ultimoe ter-
mos.
TEMPERANTE, paH. act. de Tempe-
rar. Que tem a virtude da temperança.
— Termo de medicina. Que tem a vir-
tude de temperar, de moderar a activida-
de mui grande da circulaçiio. — Uma be-
bida temperante.
TEMPERAR, v. a. (Do latim tempera-
rei. Adubar a comida para lhe dar bom
sabor.
— Moderar, modificar. — lAo que di-
zem no quinquagesimo quinto artigo, quo
alguns scrviçaaes nom querem servir, se
lhes nom derem quanto demanda?, e aas
vezes demandaõ pelo serviço, que ham de
fazer, mais do que vai a couía, que ham
de fazer: e que fosse nossa merece que
o temperássemos per guisa, que elles
possaõ aver mantimento, e os Lavradores
possaõ aver quem nos serva.» Ord. Aí-
fons., liv. 4, tit. 20, § 1. — «Quem se
presa do emendar o mundo, vem-lhe de
cuidar que entende tudo. em tudo que-
rem entender, e casados com seus pró-
prios p;iroceros, querem t»vloe temperar
a seu ponto, o tal mandar chamo cu des-
mandar.* D. Joanna da Gama, Ditos da
freira, pag. 55.
j
TEMP
TEMP
TE3IP
691
Pois v<Js isso temperar.
que isto ha de custar lançadas.
Qual <iuerei3"? que pelejamos
ou enganadas ?
XSTOSIO PBE3TKS, ACTOS, pag. í
— Diminuir o excesso de uma qualida-
de physica.
— Socegar, calmar, moderar.
— Diminuir a intensidade de uma qua-
lidade moral.
— Refrescar, fallando dos calores do
corpo, mórbidos ou não.
— Temperar o acido com agua, ou
doce.
— Fazer abrandar o génio forte com
algum artiticio e meio suave.
— Figuradamente : Temperar o estylo
coin o seu sal.
— Temperar a língua; não offender
com ella ninguém.
— Concertar cousas desordenadas.
— Temperar o ferro ; dar-lhe a tem-
pera, subil-o de ponto, tornal-o mais ri-
jo e consistente.
— Temperar o relógio; dar-lhe corda
e regulal-o.
— Loc. AXT. : Temperar alguém de
algum aggravo, ou paixão; fazer com
que se desagaste.
— Temperar a língua alheia com a
orelha própria; não fazendo caso, ou fa-
zendo-se surdo ás injurias.
— Termo de medicina. Abrandar, mo-
derar, mitigar.
— Temperar o instrumento musico ;ía-
zer-lhe o concerto necessário para que dê
sons regulares; atinal-o.
— Temperar desavindos; compôl-os.
— Termo de volateria. Temperar o
falcão; dar-lhe a tempera.
— Temperar os affectos; moJeral-os.
— Temperar a paz com a guerra.
— Temperar as leis; moderal-as, mo-
difical-as.
— Termo de náutica. Temperar as ve-
las; mareal-as segundo o vento, e pru-
dentemente.
— V. n. Fazer alguém boa harmonia.
— Temperar-se, v. reji. Moderar-se no
trabalho, despeza, paixões, etc.
— Conciliar-se.
— Temperar-se nas palavras; não as
dizer offensivas, mas sim com mansidão.
— Temperar-se no comer, beber, f al-
iar, etc; moderar-se em tudo isto.
TEMPERATURA, s. f. (Do latim tem-
peratura. Disposição do ser vivente, tem-
peramento.
— Estado sensivel do ar, que aífecta
nossos orgàos, conforme é frio ou quen-
te, secco ou húmido.
— Grau apreciável de calor que reina
em um logar ou em um 'corpo.
TEMPEREIRO, s. m. Nome do ferro
que as tecedeiras pregam em as duas ou-
relas do panno que vão tecendo, para
que elle nào encolha.
— Phir. Quatro paus que se pregam
da nora para o eixo.
TEMPERIE, s. /. (Do latim temperies).
Termo puuco em uso. Vid. Tempera-
mento.
TEMPERILHA, s. /. Cousa com que se
tempera o calor, o frio, os sabores.
— Figuradamente : Cousa com que
temperamos as condições de outros a nos-
so geito.
TEMPERILHO, s. m. O modo e destre-
za da re lea de que usa o cavalleiro.
— Figuradamente : Temperilho dos ne-
gócios. Vid. Tempero.
• — Plur. Adubos gulosos.
TEMPERO, s. m. O sal e adubos da
paiiella.
— Figuradamente : Geito ou meio com
que se ajusta e concluo o negocio ; com
que se modera ao queixoso, agastado.
— Termo de medicina. O effeito do re-
médio temperante.
TEMPESTADE, s. f. (Do latim tempes-
tas . Temporal de vento, tormenta, mar
alterado. — «Porque como andavam qua-
si de guerra os Chinas com os Portugue-
ses, quando vinham as armadas sobre
elles, alevantavam se e sayam se ao mar
e estavam em lugares mal emparados dos
tempos : poUo que vindo as tempestades
perdiams'? muitos dando aa costa, ou em
alguns baixos.» Frei Gaspar da Cruz,
Tratado das cousas da China, cap. 23.
— «As exhaiaçoens Castor, e Pollux se
apparecem no fundo da Xao, ou ao lume
da agoa predizem tempestades; porque
mostraõ, que a perturbação do àr supe-
rior as naõ deixa subir ; e se se divizaõ
nos mastos, ou velas indicaõ serenidade,
porque se vê, que os ventos as naõ po-
dem dissipar; como dis o Plinio.» Braz
Luiz d'Abreu. Portugal medico, pag.
430.
He sua duração ã Eternidade,
Deste circulo eterno, o Centro he tudo,
E 03 limitjis se escondem no infinito.
Produz a seu sabor a tempestade.
O mar amotinado acalma, e enfreia,
E seus Decretos immudaveis guião
Do raio estragador, rodeio, e golpe.
J. A. DE MACEDO, A XATURE2A, Caut. 1.
Oh ne^ra tempestade, oh filha horrenda
Do Estio abrazador n'Africa ardente,
Nas azas do Tufão ealiginosas
Do Occidental Xereo no império voas.
IBIDEM, cant. 2.
O raio assustador da tempestade,
Medonha producção : se rasga as nuvens,
Enfia o crime, o incrédulo desmaia.
E tu. frondoso Libano, qu'os Cedros
Expões á tempestade, expões ao raio.
Figuradamente : Tempestade de ar.
— Figuradamente: Tempestade de des-
gostos, de trabalhos. — «Levanta-te, al-
ma, e date pressa, que já passou o in-
verno, e tempestade dos trabalhos, e he
chegada a primavera do descanço : vem
do deserto, vem, e serás coroada : como
me alegrara, aindaque sou indiguo de
tanto bem!» Padre Manoel Bernardes,
Exercícios espirituaes, pag. 5õ.
— Tempestade de tempestades.
TEMPESTEAR, v. a. Excitar, fazer
tempe^■tade.
— Maltratar e destruir com grandes
e repetidos golpes.
— V. n. Mover-se com a perturba-
ção em que andam os elementos nas tem-
pestades.
— Tempestear com alguma cousa; ex-
pGl-a ás tempestades e temporaes com
que se consuma.
TEMPESTIVAMENTE, adv. (De tem-
pestivo, e o suíExo «mente»). De um mo-
do tempestivo.
— A propósito, a tempo, opportuna-
mente.
TEMPESTIVO, A, adj. (Do latim tem-
pestivus). Opportuno, que vem a tempo
e a propósito.
TEMPESTUOSIDADE, s. /. O ser tem-
pestuoso. — • A tempestuosidade dos ma-
res.
TEMPESTUOSO, A, adj. (Do latim tem-
pestuosos). Qutí está sujeito ás tempesta-
des, ou que produz as tempestades.
Longe do Mundo, ou mar tempestuoso
O tranquillo Filosofo só busca
Silencio, e solidão, verdade, e estudo.
J. A. DE KACEDO, A NATUBEZA, Caut. 1.
— Procelloso.
— Também se diz da pessoa ou cousa
que devasta, que estraga como a tem-
pestade.
— Figuradamente : Hora tempestuosa
da morte.
— Que produz tormentas e tempesta-
des.
TEMPINHO, .<. m. Diminutivo de Tem-
po.
TEMPLÁRIO, *. m. Cavalleiro da ex-
tincta ordem do templo. Dá-se-lhe este
nome por primeiramente se estabelecer
no logar onde em outro tempo esteve o
templo de Salomão.
1.^ TEMPLE, s. m. Vid, Tempero, e
Moderação.
2.) TEMPLE, ou TEMPRE, s. m. No-
mes pelos quaes se designa a ordem do
templo creada em Jerusalém pelo anno
de 1118 e estincta por Clemente v em
1311, sobre cujas minas se fundou em
Portugal a ordem militar de Christo.
TEMPLO, s. m. (Do latim templum).
Edifício publico consagrado á Divindade
nos povos que tem um culto. — «E por
me não deter ja mais nas cousas desta
grande cerca, deixarey de contar outras
092
TEMP
TEMP
TEMP
muytas qiii> nella viinoH, a«HÍ do ciUlieios
nobres e ricos, como do templos ilu seus
pagode.'), e pCtos arraadiis sobro coliiiias
de podra iiiiiyto groasas, a ciuninliofl to-
doa calçados do liif^eas muyto primas, e
todos muyto iarpo-i o bom acabado.-', e
muyto conipi-ido.-í, o ([UO do iiuina banda
c da outia tem aua.s "cratlcs <!(■. torro muy-
to bem foita.H, jiorquc das cou.saa quo jo
tenho ilito se poderá collof;ir quais saõ as
que doixo por dizer, pcjis todas so jjarc-
com liumas com as outras.» Feruilo Men-
des Pinto, Peregrinações, cap. 10(5.
OvelliiiÁ iinmolar, no Templo vainort
A Ci'tc9, quo lis Lnis dA, ao Srtl, que aventa
Og Uaíoá, que liào de vir. líojiiiido iia ciUidatt,
Na de.\ti-n as libações, rodeemos o ândito
Da Ara, a que borrifou sangue da.í victiinas:
Pio farro se enipóline, e averiguemo»
Qual Gínio ignoto a Eudóro patrocina.
F. U. DO NASCIMENTO, 08 M1BTYBE3, 1ÍV. 8.
Neste Templo hc guardado o grande arcano.
Disso, o brônzeo ferrolho » bum cofre abria ;
Dcllc hum lenço extrahio, que ao Lusitano
Kstranhiiidimo quadro otVorcoia :
Quando, o Velho llics diz, fôr do Oceano
Cortada a parte austral profunda, o fri*
Por mui fortes líaroens de ferro armados,
Mudar-sc-hão d'A8Ía do reponte os Fados.
J. A. DK UACBUO, O OBIEXTK, Caut. 5, CSt. GO.
o Génio a voz erguendo ao Throuo aponta,
E com celeste accnnto assim rac exclama :
Mortal, a quem foi dado entrar no Templo,
Onde alvergue quiz ter Sabedoria,
Olha o Monarcha teu, coutia, exulta.
IDEU, VIAQEU EXTÁTICA, CaUt. 4.
Legislador Americano, os Evos
Teu nome guardarão, Nollet, t^'U nome
Do Templo nas abobadas gravado
Eternamente vivirii, se as Artes
Barbaridade, que estcrmina tudo,
Quizer poupar d'alluvião de ultrajes.
Que ás Leis, A Natureza, aos Ceos tem feito.
IBIDEU.
Ilida te presta culto, iuda te acata
O que bebo uo Ilidaspe, iuda te adora
Deutro do Templo o morador do Ganges.
iDEU, A NATUREZA, cant. 2.
— Absolutamente e por exceiiencia : O
templo que Salomão edificou em Jerusa-
lém por ordem de Deus, o que foi des-
truído por Ilerodes.
— Figuradamente: O templo; o con-
juacto das idèas christris.
— O iMVo templo; a egreja clirlstà.
— Egreja consagrada ao culto catUo-
lico.
— Diz-se, entre os protestantes, do edi-
fício onde se fazem as ceremouiaa do
culto.
— Â ordem do templo ; a ordem dos
templários, religiosos militares, boje ex-
tincta.
— Templo títerno.
Depois quo o Trace bárbaro, e que o Seita
Do Eurota», e Hypocreno os margens pizào.
De líollaudn n cerração, de ilollanda o clima
Não deixãu de briliiar mo Tr.tiipln eterno.
J. A. 1»: MACEDO, VIAOKIl KXTATICA, CaDt. 4.
— Syn. : Templo, egreja. Vid. este
tiltimo termo.
TEMPO, s. m. (Do latim tempum. A
medida da duraçilo das cousas.
— Espaço.
Como por tempo eterno to apartaste
De quoiii tão longe andava de perder-tc '■
Puderão es.sa8 águas dcfender-te
Que não visses rjuem tanto magoaste?
CAM., 80SET0S, n.* 170.
— «O tempo he de tantas mentiras
que nam ouso dizer algumas verdades;
mas elio as vay mostrando, que he gran-
de estragador de tudo, e descobre o en-
coberto.» D. Joanna da Gama, Oitos da
freira, pag. 64 (edição de li<l'2i.
O tempo não dá alegria
verdadeyra ;
tirado pola iieira
sai vasia ;
ninguém tem o que queira
uem se conhece ;
cada hum pena padece
cada dia.
IBIDEU, pag. 99.
— «Avi-sanos o tempo que he ligeiro,
corre depressa o prestes, passa e passâ-
mo nos nós, abreviamse os dias, nam os
podemos alargar : mas podemo-los apro-
veytar, curando com diligencia da alma.»
Ibidem, pag. (35. — «O tempo de seu Im-
pério, foy de pouco mais de dous ânuos :
morreo em idade de 70. e tiitos ânuos,
e seu filho eutr.àdo por 20: no de Chris-
to, duzentos e trinta e nove: 4197. da
(Jreaçaõ do Jlundo.» Monarchia Lusita-
na, liv. 5, cap. 16. — «Levautouse Eli-
pãdo Bispo de Coimbra, e disse. Naõ po-
deremos todos comprir isto da mesma ma-
neyra, mas pareccndovos bem, taçao cada
hum conforme lho permitir o tempo.»
Ibidem, liv. 6, cap. 2. — •Durou o tem-
po do Império de mày, e filho dezanove
aunos, o nuiis durara se concluirá a pra-
tica de casamento que iiouve entre ella e
Carlos Magno.» Ibidem, liv. 7, cap. 1.
— «Porem se Palmeirim em tempo al-
gum mostrou sua alta proeza, foi neste,
que nenhum goijie dava, que n.^io derri-
basse cavalleiro morto ou tcrido, sem ne-
nhuma arma poder resistir sua força.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 78. — «No uio.-mo tempo c. le-
garam Platir e Beroldo, que com o mes-
mo cuidado dos outros faziam sua via-
gem. E, vendo que o desejo do cavallei-
ro do Tigre era nào ir ninguém com elle,
so metteram no navio de Daliarte.» Ibi-
dem, cap. 115.
Ji neste Irmpo a vista m: encandoa,
K o rosto cobre um (laUido suave.
HÁ Uy. tlCVEZeil, MALACA COXlJ., Iiv. 12, Mt. 33.
— «Porque por espias, que trasia na
campanha, foy avisado que El-Kev de
.langoinii ajunt-iva gente, e em breve
tempo estaria i<obre a Fortaleza, cubriíi'
do os c-impos de homens, e elefantes de
peleja.» Conquista do Pegú, cap. 7.
Vi-iidii jn iiiKii- ('■uijtit o i 1111 .uiiindu
imigo pertinaz, que de tal geito
Do mar o baluarte he ja batido
(^ue liLim caminho assaz largo hc nellc feito
Por onde po<lc ja ser comincttido.
De novo se lhe ac«itd<> o ac^so peito,
Toma novo furor e uontiau^'a
De tomar neste du outro grãa Wngança.
rUAMCISCO D'AXbaAOE, 1'KIIIÍIH ■ ' 1 «' " '■«■ '
cant. 18, est. 21.
— «Ilum mercador rico de os mogores
no tempo que com os Chinas contrata-
vam veo a ter nmita conversaçam c muy
familiar amizade com hum I»uthia prin-
cipal da cidade onde contratavam, ao
que servia com grandes dadivas de cou-
sas que de sua terra lu<! trazia.» Frei
riaspar da Cruz, Tratado das cousas da
China, cap. 28. — «E mandando passar
disso hum padraõ geral por todas as ci-
dades (jue eraõ cabeças doa anchacilados
das comarcas, diz a chronica, que trazen-
dolho jiaraquo o assinasse com hum sine-
te douro que trazia uo braço, com que,
por ser cego, o custuniava de fazer, logo
em o assirando lho dera Deos vista per-
feita, a qual sempre tivera todo o tempo
que despois viveo, que foraíi quatorze
annos.» Fernão Meudi-s Pinto, Peregri-
nações, Ciip. 113. — «Bemdito e louvado
seja o dulcissimo nome de nosso Ser.hor
Jesu Ciiristo, pois a cabo de tanto tem-
po e em tamanho desterro permitiu ve-
rem meus olhos homem Cáriatâo, que
professasse a ley de meu Deos posto na
Cruz. Qu.^do eu ouvy huma cousa ta3
nova, e tão lõge do que eu esperava, fi-
quoy tào sobressaltado, que afastandome
rijo atrás mais que pasmado, lhe disse
alto.» Ibidem, cap. 116. — «E partindo-
nos daqui assàa enfada<los, e maltratados,
e sobre tudo muyto faltos do necessário,
navegámos por conselho doa pilotos por
outro rio muyto mais largo que o estey-
ro que tínhamos deba^•xo, por tempo de
nove dias, no fim dos quaes prouve a
Deos ijue cliegàmus a huma boa povoa-
ção, que se dizia Tarem, cujo senhor era
súbdito do Cauchim.» Ibidem, cap. 128.
Todos vimos fallescer,
cm breue temjvy morrer,
e nenhum durou três aunos.
Portugueses. CastcUanos
ja ho9 quer Deos juntos vex.
0.U1CLA DK BEZEaOS, MtSCEUJLSKA.
TEMP
TEMP
TEMP
693
Neste estado da simples Natureza
Eiiatio lougo ieinpo a cspeeie humana,
Ah ! Foi Cata por certo a Idade douro !
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cailt. 1.
— «A fiiria crescia ao passo que os
fugitivos se embrenhavam na maior es-
pessura da floresta. Durante algum tem-
po, elles tinham podido descortinar os
pincaros das montanhas e, lá muito ao
longe, 03 mais altos cabeços do Vinnio,
que reflectiam o luar no sen manto pra-
teiado de neve. » Alexandre Herculano,
Eurico, cap. lò.
— Occasião, vagar, logar.
— Passar o tempo ; passal-o occapa-
do ou divertido. — «Eram nioç-os, e muita
a liberdade das grades d'aquelle miserá-
vel tempo. Emqaaiito durava a missão
não se fechavam palratorios, como hoje
se usa. Por alli, pois, se passava o tem-
po.» Bispo do Grão Pará, Memorias, pu-
blicadas por Camillo Castello Branco,
pag. 96.
— JVi/jrt tempo.
Que de si nada tem : delia procede
O magestoâo Meteoro, ornato
Das nuvens, c do Cco, que o docto Coro,
Da Natureza interprete, e dasMusas,
Cliamou n'um tempo a Filha de Thaumanto.
í. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Caut. 1.
— De pouco tempo ; de pequeno espaço
de tempo. — «E neste pouco tempo que
esteue, grande numero daquelle pouo pa-
gão recebeo o baptismo. Depois para fauo-
recer estes Christãos contra aquelles que
naõ queriaõ vir a fè: mandou o Infante
alguma gente, e por capitão delia Antaõ
(jonyaluez seu guardaroupa.» Barros,
Década 1, liv. 1, cap. 12. — aAinda que
o officio de Capitão dos Ginetes parece
deve ser mais antigo neste Reyno, toda-
via naõ se faz delle menção nas historias,
senaõ de pouco tempo a esta parte.» Se-
verim de Faria, Noticias de Portugal,
Disc. 2, cap. -i. — «Pelo que estando
huma Família Titulada, aiada que seja
conhecida de pouco tempo, rica preferida
à outra mais antiga, se ate entaõ não al-
cançou semelhante dignidade.» Ibidem,
Disc. 3, cap. 1.
— Estado da atmosphera.
Naquclle tempo brando
Em que SC vê do mundo a formosura.
Que Thetis descansando
De seu trabalho está, formosa c pura.
Causava Amor o peito
Do mancebo Poleo d'hum duro efieito.
CAM., ODE 11.
— «Partida a armada com mui bom
tempo chegou dom Francisco ao portai
Dale, na costa de (juine, onde se deteue
nouc dias, fazendo augoada, e foi alli bem
festejado do Rei da terra.» Damião de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 2,
cap. 2.
— Em tempo de alguém, ou do tempo
de alguém; na epocha em que elle viveu
ou existiu. — «Todos estes montes deste
couto a dentro som coutados de porcos,
e porcas, bácoros, e bácoras montezes, e
de fogos, e armadilhas; e qualquer que
errasse em cada huma destas cousas, que
pagasse quinhentas libras da moeda an-
tiga; e esto em tempo d'ElRev Dom Jo-
ham.» Ord. Affons., liv. 1, tit". 67, § l.õ.
• — ■ «Vos mandamos, que ponhaaes nas di-
tas vintenas todolos homens do mar, e
do rio, e todolos outros, qite andarem em
barcas de carreto, e de passagem, e an-
darem na enxavegua, e aa sardinha, e
sempre acustumarom de poer em vintena
em tempo dos outros Reix que ante Nós
forom ; tazendo a dita declaraçom aaquel-
les, que do novo poserdes, e o dia, e era
em que se poserem na vintena do vin-
taneiro, que o pooem.» Ibidem, tit. 70,
§ 2. — «A qual Ley vista per nós man-
damos que se guarde, segundo em ella
he contheudo, porque nos parece seer
justa, e sempre assy foi usada, e guarda-
da nos tempos dos outros Reyx, que ante
nos forom ata ao presente.» Ibidem, liv.
4, tit. 6, § õ. — dAs cousas do tempo
delRey dom Aflbnso como elle prometteo,
nào as achamos, parece que teria a von-
tade e naõ o tempo : ou se as escreueo se-
rão perdidas como outras escripturas que
o tempo cousummio.» Barros, Década 1,
liv. 2, cap. 1. — «Pelo que se estas mer-
cadorias se introduzirão em nosso tempo
só pela industria dos particulares; com
quanto mòr facilidade, e felicidade se po-
derão introdusir as outras, que aponta-
mos, pelo poder, e authoridade dos Prín-
cipes?» Severim de Faria, Noticias de
Portugal, Disc. 1, cap. 4. — «Naõ havia
delles numero certo, mas em tempo d'El-
Rey D. Sabastiaõ o foraõ somente doze.»
Ibidem, Disc. 2, cap. 2. — «Estes Caval-
leiros da guarda no tempo da guerra an-
davaõ no Exercito com o seu Guarda
Mòr armados, e a cavallo, seguindo a
Pessoa d'ElRey, seguraudo-o; alem do
qual teve também depois o Oapitaò dos
Ginetes parte deste cuidado, como adian-
te veremos.» Ibidem. — «Na batalha de
Aljubarrota levava a bandeira Real Lopo
Vaz da Cunha por seu irmaõ Gil Vaz da
Cunha: e nas mais empresas d'£lRey D.
Joaõ I. exercitou o ofticio Joaõ Gomes da
Silva, e por sua morte, o deu ElRev ao
Conde de Viana D. Pedro de àlenèzes,
que o teve em todo o tempo d'ElRev D.
Duarte, cujo ^Uferes Mòr era sendo In-
fante.» Ibidem, cap. 4. — «Este numero
de gente cuidaò alguns, que foi diminuin-
do, porque crescendo grandemente as
nossas Conquistas, foi necessário dividir-
se a gente Portugueza por eilas : de ma-
neira, que em tempo de Damiaõ de Góes
pagava ElRey 20:000 soldados fora da
Barra; e assim riaò lie muito, que iizes-
scm estes no Reyno falta. » Ibidem, cap.
7. — «Entrarão depois algumas Famílias
de Castella no tempo do nos?o Rev. D.
Pedro, e muitas mais nos d'ElRev D.
Fernando pela pretençaõ, que teve de se
fazer Senhor daquelle Reyno a servir El
Rey D. Joaò I. assim nas guerras de
Castella, como na tomada de Ceita, vie-
raõ muitos Fidalgos de França, e Ingla-
terra.» Ibidem, Disc. 3, cap.' 1. — «De-
pois da e:itra']a dos Árabes em Hespanha
se começou a usar das insígnias nos Es-
cudos mais ordinariamente em tempo do
nosso primeiro Rey D, Afonso Henri-
riques, e de seu primo ElRoy D. Afonso
VII de Castella, como o mostra douta-
mente o Chroiusta Ambrósio de Morales,
e o Arcebispo D. António Agostinho.»
Ibidem, cap. 6. — «Começarão estes Offi-
cios em tempo d'ElRey D. Joaõ I, por-
que atè entaõ, pelas poucas mudanças,
que houve em Portugal, eraõ todo.s os
Nobres conhecidos; e paciricamente pos-
suhia cada hum as heranças, e honras,
que de seus passados alcançara.» Ibidem,
cap. 18.
— Ao tempo; na occasião. — «E en-
tende-se o engano da parte do vendedor
aalem da meetade do justo preço, honde
se a cousa vendida valia per verdadeira
e cumunal estimaçom ao tempo do con-
trauto dez libras, foi vendida algum tanto
por menos de cinco libras ; e da parte do
comprador, se a cousa comprada valia
per cumunal.» Ord. Affons., liv, 4, tit.
•i^») § 1- — «O qual penitenciado foi en-
tregue àquelle honrado e catholico barão
dõ Gõçalo que muito ajudou a este Rey
nas cousas da fé ; e porque ao tempo que
se baptizou este capitão tomou o nome
delle dõ Gonçalo, elle o fez capitão d 'al-
guma parte das suas terras cm o reco-
lhimento de suas rendas.» Barros, Dé-
cada 1, liv. 3, cap. 10.
— A tempo; em occasião. — «George
dalbuquerque inuernou em Moçambique
com noue nãos, porque as quatro de que
eram capitães Lopo de brito, Pêro da syl-
ua, loam roiz dalmada, e Francisco da
cunha passaram a índia, e forão ter a
Cochim a tempo que se andana Diogo lo-
pez de sequeira fazendo prestes pêra ir
ao mar Darabia.» Damião de Góes, Chro-
nica de D. Manoel, part. 4, cap. 36.
— Em seu tempo ; na epocha em que
elle viveu ou existiu. — «ElRey Dom Do-
nis de grande e louvada memoria em seu
tempo fez Lei em esta foima, que se se-
gue. >• Ord. Affons., liv. 4, tit. õ6. —
«ElRey Dom Donis da famosa e esclare-
cida memoria em seu tempo fez Lei em
esta forma, que se segue.» Ibidem, tit.
57. — «E despois desto o muito virtuoso,
e de grande fama ElRey Dom Affonso o
Quarto em seu tempo acerca deste passo
fez outra Lei em esta forma, que se se-
gue.» Ibidem, tit. 62, § 2. — «Disto se
694
TEMP
TEMF
TEMF
queixava Pliiiio cm seu tempo ilizendo,
Latifandia jjerdidere Itatiaiu; (jue a
grandoza das berdadc» tinha feito a Itulia
cstoril; c quo havia ]m>s;iiio o»ta coblva
tanto avante, que atè AtViea, que ora a
mili da aljuiidaiicia, iioeedsitaua de tri-
go.» Severiíii <lo Faria, Noticias de Por-
tugal, Disc. 1, cap. 5.
— Tempo ccrtu; tempo determinado. —
«E j)ur tanto disserom os Direitos, que
BB o eomprador o o vendedor na eompra
o venda aeordasseni, que tornando o ven-
dedor ao comprador o prcyu, que ouve
pola cousa vendida, ataa corto tempo, a
venda fosse desfeita, e a cousa vendida
tornada ao dito vendedor, tal avoen^-a e
condiçom assy acordada pelas ditas par-
tes vai, e he aprovada por direito.» Ord.
Affons., liv. 4, tit. 40. — «E porque mui-
tas vezes acontece aquelle, ou aquelles,
a que a dita cousa a-si foi apenhada, de-
uiandareni o comprador deliu, dizendo
contra clle que lho pague a divida, por
que a cousa foi apenhada, ou lhe dê a
dita cousa, que assi comprou, pêra have-
rem per ella sua divida, o que achámos
per direito, que vindo ao tempo certo po-
dom-Bo justamente fazer.» Ibidem, tit.
52.
— Loc. : Ao viesmo tempo; simultanea-
mente. — «Confessemos aiiula que ver-
gonhosamente a sua gloria. Nós somos
ao mesmo tempo bons, e igualmente
mãos.» Cavalleiro d'01iveira, Cartas, liv.
1, n.o 2S.
— Epocha.
Dar-voa-hei quanto tiver,
Para taes tempos como cates.
Quem tivera voz dos Cooâ,
Pois escutar me quizcstes !
Assi paroc,a cu a IVoa,
Como lho viís parecoatcs.
OAM., FILODKMO, UCt. 1, SC. 15.
— trarecendolho que a nossa guerra
seria ao modo das armadas passadas, de
ir e vil" com carga da especiaria nos tem-
pos de nossa mõi;ão : e de camir.lio fazer
algum dauino se achássemos tlisposiy.^io
pêra isto.» Barros, Década 1, liv. 10,
cap. 4.
Folgo do a tal tempo virdes
que por mais uào seja agora
que vèr-voi cata aonliora
que sei que folgais servirdes.
ÀKTONIO PKESl-ES, AUTOS, pag. 24.
Onde lia cases dcacngauoa
tão assi considerados
ja/.cin tempoD bom gastadoa
e aprovcitjidos annoa
pêra dias dcdcani,-ado3.
IDIDF.U.
— «De modo, que na virtude da Tem-
perança 80 poderá comparar esta nossa
llepublica até o tempo do Jiossoa Avós
com a taò celebrada dos Lacedemonio8.i
Severim de Faria, Noticias de Portugal,
Disc. 2, cap. 1. — «ElUey D. Afiouso
V. lez novas leys de quantias das fazeu-
da<, c|ue se guardarão atè o tempo d'Kl-
Itoy IJ. Manoel, as quaes renovou El-
Key D. Joaõ 111. e ultimamente Ellley
D. Seba.-itiaõ, que «aõ as (jue hoje so
guardaõ.» Ibidem, cap. II. — «QueixSo-
80 hoje que nào tem para pagar as deci-
mas, com que Elliey lhos defende as vi-
das ; e niJs vemos, que lhes sobeja para
gastarem, no que lhes n.Mlo lie necessário
para a vida. Apod.ào este tempo com o
antigo : chamJio ao passado idade de ou-
ro, e ao presente século de ferro: e nós
sabemos, que quem entik» tiniia hum anel
de ouro com hum par de colheres, e gar-
fos de prata, achava que possuia muito.»
Arte de furtar, cap. 44. — «Prosegui-
mos este santo tempo da guerra spiritual
porque Quaresma nà he outra cousa sc-
nam hum tempo especialmente depurado
pêra pelejar contra os iniuugos de nossa
alma, è particularmente cõtra nòs mes-
mos : porque o homem não tem muyor
enemigo de sua saluaçã que a si mesmo.»
Frei IJartholomeu dos Martyres, Catecis-
mo da doutrina christã. — «Em fim, o
Urego conimentador Fernando Nuno Glo-
ria dos Académicos em Salamanca; e o
Joco-serio Francisco de Quese, que os
professores desta Arte saõ fabula ao Fo-
vo, Corrt-olas do tempo, gyras do lucro,
pestes da bolça. Carcomas da vida, phan-
tasmas das letras, e oráculos da ignorân-
cia.» Braz Luiz d'Abreu, Portugal me-
dico, pag. ir>i5, § VÒ2.
Estca oa lidos, Alcyoneos dias,
Tào bem, tão bem na Fabula pintixdos ;
Eu verdade a julguei! Ditoso tempo,
Ditosa condii;ào da idade tenra !
Era meu nome Ovidio, e ils doutaa artes
Miulia alma, entào novel, sou grémio abria.
J. À. DE I1.VCED0, liEDITAçÃO, Caut. 2.
— Á este tempo ; a esta occasião, n'es-
ta occasião. — «O qual cuidando que hia
bem aviatlo, foi-se mettcr em lugar com
que se houvera de perder, e vinte e tan-
tos homens que levava: cá a esto tempo
Fernão Peres tinha entrada a primeira
cerca, e ás lançadas hia encurrelaudo
pêra a segunda hum grande número de
^Mouros, ao encontro dos quaes poloa en-
treter Pato Quetir sahia donde estava.»
Barros, Década 2, liv. í», cnp. 1. — fEu
entào tornando mais em mym, me deter-
miney yr saber o que era, ou o que que-
ria, e encaminhando para onde clle esta-
va, CO meu pao na mào, o fuy seguindo
para dentro da azinhaga onde elle ja a
este tempo mo estava esperando, e che-
gando a clle, sem até entào cuydar del-
le outra cousa senão que era Ciiim, se
me lançou aos peis, e com grandes solu-
ços e muy tas lagrimas começou a dizer, t
FernSo Mendes Pinto, Peregrinações, ca-
pitulo 116. — t Desta inaneyra chegamos
á ca-ia da audiência em que estava a
guarda do» inítdstros ila justiça, onde
nos detivcrão hum grande es|;aço, por-
que ainda a este tempo naõ eraò ho-
ra» de fazer negocio, mas chegada a ho-
ra SC derão três pScadas num aino, e se
abrio outra porta que estava defronte.»
Ibidem, cap. 15^.
— iJar tempo; ilar occasião, dar azo.
— *K crecendo com isto a cólera aos sol-
dados, lhe disseraõ, que poi« tinha assen-
tado de sayr em terra, nilo esperiisse
mais, jiorque seria dar tempo aos inimi-
gos para ajuntarem muyta gente.» Fer-
não Mondes Pinto, Peregrinações, capi-
tulo Gò.
— Loc. : Ganhar tempo; por meUer
tempo em ineio, ou yoirar tempo ; dila-
tar a conclusão do negocio, prolougal-a,
demoral-a, e-spaçal-a, teinporizal-a, delon-
gal-a; porém esta pkrase é considerada
como gallicismo.
Faz mui bera
ganhar te.mpo em quanto o tem.
Reza mil Ave-Mariaa.
D'amigo de Deus lhe vem.
ASIOXIO riESTES, ACTOS, p^. Gl.
— OccasiSlo, conjunctura.
Outra vez os aperta com estreito
Kogo ja contumaz, c eiicarecido,
yuc do aUi não se vão, até que ordena
Dcoa tempo c coujuni,'ào pêra partirac.
COBTK KEAt.,NAL'FKAOI0 DK SBPCLYEDA, CAIlt. 14.
— O A que o Cbircâ respondeu : Naõ
he isto tempo de te lembrar isso, pois
es discreto, e entendes qual he a condi-
ção do povo desconcertado, que sempre
segue o mal, a que naturalmente se in-
clina.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 192.
Que me qnés, Jão dos cmprsstos ?
(^ue, senhora, que de gastos !
haveis de ser ciosa
ipio uào O tempo de fastoa:
pcra que era agora cA,
jantar seu tio?
ANTOMO FBKSTES, ADTOS, pag- 313.
IIa\-ia muito que era ido?
Tempo ha e bem comprido.
Sc deixou, é mcnoa dõr.
iBiDEu, pag. 3S9.
Deus lhe dê benção de fmito.
Pois, comadre, tempo é j4.
Kào quero eu tal eanseir*.
iBirr.», pag. Xib.
— Km tempo ; outr 'ora, antigamente.
— «Assi que com este padraõ que foi o
derradeiro em tempo, leixou Vasco da
Giuuma nesta viagem postos cinquo pa-
TEMP
TEMP
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drões : Saõ Raphael no rio dos bons si-
naes, Saõ lorge em Moçambique, Sancto
Spirito em Melinde, Sancta Maria nestes
ilheos, e o vitimo per sitio em Calecut
chamado Saõ Gabriel.» Barros, Década
1, liv, 4, cap. 10.
— Estação. — «O qual perde.o a maior
parte delias cu a variação dos tempos, e
principalmente despois que tomamos Ma-
laca : porque lançados os Mouros Malaios
daquella cidade buscarão nouas pouoa-
ções ao longo daquella costa.» Barros,
Década 1, liv. 9, cap. 1.
— As marés no tempo d'aguas vivas;
na occasião d'aguas vivas. — «E a razão
deve ser por causa daquelle sal, e enxo-
fre, e vieyros em certas conjuncções de
Lua crecerem e mingoarem, como as ma-
res no tempo dagoas viuas. Depois de
notadas as cousas, que eram dignas de o
serem.» Fr. Gaspar de S. Bernardino,
Itinerário da índia, cap. 11.
— • No tempo presente ; na occasião pre-
sente, na actualidade. — aPara que no
tempo presente possamos constituir hum
varão sábio, e hum talento útil.» Fran-
cisco Manoel de Mello, Apologos dialo-
gaes. — «Esta ventagem tem posto no
tempo presente a casa Othomana em tão
miserauel estado, que não sabemos quan-
do se vio em outro semelhante, e per-
mittirà Deos sedo a vejamos de todo aca-
bada, e destruyda.» Frei Gaspar de S.
Bernardino, Itinerário da índia, capitu-
lo 14.
— Figuradamente : O temporal, a tor-
menta. — «Essa foi a razão, porque a
outra fermosa fazia concerto com a mor-
te, prometendo de se lhe entregar cada
vez que a chamasse, com tanto que a
defenderia do tempo, que a não envelhe-
cesse.» Francisco Manoel de Mello, Apo-
logos dialogaes, pag. 36.
— N'este tempo ; n'esta epocha. ^«El-
Rey de Cochij neste tempo não se tinha
visto ainda com o Almirante, e porque
soube que audaua pêra entrar em seu
porto huma nao de Calecut que vinha de
Ceilão, a qual era de hum Mouro de Ca-
lecut chamado Nine Mercar, temendo que
em Vicente Sodrè saindo a tomasse.» Bar-
ros, Década 1, liv. 6, cap. 6. — «Sem
neste tempo sair da cidade cousa que os
fizesse aluoroço, que lhe dana suspeita,
não quererem sair os Mouros ao largo
por os acolher nas ruas, que por serem
estreitas se poderiaõ melhor ajudar.)' Ibi-
dem, liv. 8, cap. õ. — ■ «Neste tempo os
Mouros estavam já necessitados de mui-
tas cousas, principalmente de mantimen-
tos, tí assi de pólvora, e pelouros, porque
todas estas os nossos navios, que davam
á bateria por mar, lhe impediam a não
virem da terra firme.» Idem, Década 2,
liv. 7, cap. 5. — «A primeira Armada,
que neste tempo de Lisboa sahio, foi de
(jalés, com as quaes D. Fuás Roupinho
desbaratou nove Galês de Mouros no Ca-
bo de Espichel, e depois desta yitoria
teve outras na Costa do Algarve, e no
estreito do Gibraltar.» Severim de Fa-
ria, Noticias de Portugal, Disc. 2, cap.
13. — «Deste tempo ficarão em Itália
os Marquesados de Mantua, e Ferrara,
e as Províncias ditas Marca de Ancona,
e Trivizana.» Ibidem, Disc. 3, capitu-
lo 24.
— Metter tempo em meio; esquecer
com o andar do tempo; delongar a con-
clusão do negocio.
— Termo de musica. Uma das trea
partes da medida, e proporção, que con-
siste em levantar, e abaixar a voz um
certo numero de vezes, em quanto se can-
ta e faz o compasso.
— A tempos; de quando em quando.
— O tempo é para twh) ; o estado po-
litico das cousas, os costumes soffrem
tudo.
— Tomar o tempo a alguém ; estor-
val-o, entretelo.
— Termo de grammatica. A epocha, a
que se refere o attributo, significado pelo
verbo, designado pelas variações ou ter-
minações d'elle.
— • Ganhar tempo ; apressar-se para al-
cançar outrem, que saiu, ou principiou a
fazer alguma cousa primeiro.
— Termo de dança e manejo de armas.
Dizem-se as occasiões memoradas, em
que se fazem certos movimentos, e acções.
— Roda do tempo. Vid. Roda.
— Sem tempo; fura do tempo.
— Loc. ADv. : A tempo, ou a seu tem-
po ; em boa, ou própria occasião.
— Tomar tempo para fazer alguma
cousa; tomar espaço dentro do qual a
possa fazer.
— De tempo em tempo ; de quando em
quando.
— ^4 tempos e tempos, ou de tempos
a tempos; passando tempos entre uma ida
e outra.
— Ganhar tempo; abreviar, fazer al-
guma cousa em breve tempo.
— Andar com o tempo; mudar o seu
modo de proceder, e adoptal-o aos gover-
nos, usos e costumes, e estylos que se
vão succedendo, e alterando.
— ■ Diz-se a duração limitada, relativa-
mente á eternidade.
■ — Tei-mo de astronomia. Tempo so-
lar; tempo regulado no movimento do
sol.
— Tempo sideral; tempo regulado no
movimento da esphera celeste.
— Tempo astronómico; tempo subdivi-
dido cm 24 horas que se conta de um
meio dia a outro.
— Tempo civil; tempo dividido em
dous períodos de 12 horas cada um, cujo
começo ó á meia noute.
— Tempo periódico; tempo que um
corpo celeste emprega em fazer uma re-
volução completa em volta de um ponto.
— Divindade pagã que se representa
sob a figura de um velho com azas, ten-
do uma fouce na mão.
Berço c Campa da Morte, dirás plagas!
Não as compassa o Tempo: c durar devem,
Depois que este Universo fôr desfeito,
Qual Tenda, que se armou, para um só dia.
F. M. DO NASCIMENTO, OS MARTTKF.S, líV. 8.
A dextra poderosa o TemjM alçando.
Na cinza o deixará, ficando apenas
No Mundo as maldições na campa sua.
J. X. DE MACEDO, A RATDBEZA, Cant. 1.
— Particularmente: Successão dos dias,
das horas, dos momentos, considerada em
relação aos trabalhos, ás occupações. —
O tempo «' mais precioso que o ouro.
— Os séculos, as differentes edades, as
difterentes epochas. — Os tempos histó-
ricos. — Os tempos fabulosos.
— O abi/smo dos tempos ; os séculos
remotos, em que tudo se perde, tudo es-
quece.
— Até á consummação dos tempos ; até
ao fim dos séculos.
— O bom tempo ; o tempo de nossos
pacs.
— Diz-sc por ironia : Ainda és de bom
tempo 1
— Diz-se das differentes edades da
vida.
— Uma grande epocha prevista.
— • Os signaes do tempo; certos signaes
que annunciam a gravidade dos aconte-
cimentos.
— Os últimos tempos ; os tempos mais
próximos do juizo universal.
— O' tempos, 6 costumes! locução ex-
clamativa para se queixar e lamentarem
os tempos e os costumes.
— A estação própria a cada cousa. —
O tempo fias colheitas, das vindimas.
— O tempo da Paschoa ; o tempo pas-
chal; 03 dias durante os quaes as festas
da Paschoa se celebram.
— Figuradamente: A côr do tempo;
a natureza das circumstancias,
— Adágios e provérbios :
— A seu tempo vem as uvas, e as ma-
çãs maduras.
— Vae-se o tempo, como o vento.
— O tempo anda e desanda.
— Quem tempo tem, e por tempo es-
pera, tempo é que o demo lhe leva.
— Perdendo tempo, não se ganha di-
nheiro.
— Soffra-se quem penas tem, que atraz
de tempo tempo vem.
— Alto mar, e não de vento, não pro-
mette seguro tempo.
— O tempo cura o enfermo, que não o
unguento.
— No tempo em que se come, não se
envelhece.
— Tempo de guerra, mentiras por mar,
c por terra.
— Tempo, e hora não se ata com sega.
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TEMP
TEMP
TEMP
— N<1o p(5e Doiis tempo cm huiiIhi-
tempo.
— Distirifívic o tempo, i! concordaráH o
direito.
— O tempo do íiiiior <• nilo tol-o.
— O tempo é j-clof,'io (Ju vida.
— O tempo ií mestre de tudo.
— N't!»tf. tempo oii todoí são umus, ou
80 diz iiiiii do todoH 0-1 IxinH.
— Mudado o tempo, mudado o coiiHo-
Iho.
— Mudíi-íto o tempo, mudado o ponsa-
raento.
— Tempo tom a choca, o tempo tem
quem a jot,'a.
— Qual o tempo, tal o tento.
— O tempo ilá remédio, oudo falta
conselho.
— Nilo ha tão mau tempo, «luo o tom-
po nílo allivio ticu tormento.
— Bom saber é calar, ató sor tempo
de fallar.
— Ao porijío com tonto, ao remédio
com tempo.
— Boa é a nove, que a sou tempo
vem.
— Horta para passatempo, posta com
tempo.
— Lavra com tempo, e vá por ambos.
— Tempo traz tempo, o chuva traz
vento.
— A boa ceia ante tempo se enxertia.
— Tempo á choca, e tempo a quem a
joga. ^
— Syn. : Tempo, duru<;ão. Vid. oste
ultimo termo.
TÊMPORA, ou TÊMPORAS, s. /. ;j?u)-.
(Do latim tenipus). Termo de anatomia.
Fonttís da cubeija.
TEMPORADA, s. /. ( iramlo espado de
tom])o, tempo largo c dilatado.
1.) TEMPORAL, s. m. Tempestade, tor-
menta (jue dura e passa em tempo limi-
tado.— íE dahi em diaute posto que ti-
ueraõ algums temporaes que se achaõ
em tão comprida viagem, quando veo a
vinte cinquo de lullv surgio em Mo(;am-
biquo.» Barros, Década 1, liv. 7, cap. 9.
— «E posto que esto novo estado do Ma-
laca desfez o outro tào antigo de Cingá-
pura, a principal causa foram o curso doa
temporaes, com que totalmente a Cida-
de se desj)ovoou, porque do muz de Se-
tembro em diante té entrada i.le Dezem-
bro cursam os ventos Ponentes, e No-
roestes, que entram per este canal que
faz a Ilha Oamatra, e a costa da terra
firme de ]\Ialaca.» Idem, Década 2, liv. 15,
cap. 1. — «Mas, se lhes homem pòe aâ
pernas, é tão fácil do enxergar a diffrreu-
ça que não ha mister óculos de encaches
para vèl-a; mas. sen> embargo d'isto, por
que estes temporaes a não alterassem,
determinei de lhe fazer amainar toda a
sobei-ba passada.» Fernão Soropita, Poe-
sias e prosas inéditas, |)ag. 19.
— ■ Figuradamente : Temporal d\irti-
Ihtria.
2.) TEMPORAL, adj. 2 qen. Quedara,
o {jassa diMitro do uni limitado tumpo;
que nào ó eterno, iiiu« traiiHi tório. —
aPurque ci5 OHtu isca do bon» temporaes
quo dcmpre ali uuiaO de achar, recebe»-
sem OA da fé niudiuute u doctrina dos
nossos, u qual affecto era o aeu |iriiici-
|ial intento.» Harroa, Década 1, liv. '■'>,
ca|>. 1. — «E peio ijue as clitas Leix
Imperiaaes defendessem as <lit»lH merca-
dorias serom as.-d lovailas, iioni poserom
pena certa temporal a aquelles, (|uo o
contrairo fezesseui, leixando-as em alvi-
dro dos líoix, e Princcpes das terras, a
quo esto porteoncer.» Ord. Affons., liv.
4, tit. GH, s} 1. — «Esta tal ainda, que
soja excrcita<la com grandissimos, e nio-
lestisrtimos negócios, nem por isso fica
desaproueitada no espirito, porque tudo
deixa ]iassar, nem se detém nas cousas
temporaes pello habito, e costum» do
chegarso presto a Deu3, e porse firme em
sua presença diuina com fen'oroso alVe-
cto, e intenyão.» Froi liartliolomcu dos
Martyrcs, Compendio de espiritual dou-
trina, eap. 10. • — «Que di;,'-o de males
temporaes? pois (]ue uem os males Hpiri-
tuaos e peccados grauissimos podem tirar
este prazer à ahua contrita e confijida oin
DEUS. Antes diz sancto Agostinho, En-
tiústeçaso o peccador do peccado que fez:
e tendo tal tristeza alegroso niuyto por-
(jue a tem. Cò muyta rezam logo o glo-
rioso Apostolo nos poom tão doce manda-
mento ili/.endo.» Idem, Catecismo da dou-
trina christã.
— Profano ; não sagrado, não espiritual.
— Termo de anatomia. Coinmissurti
temporal; das fontes da cabeia. Vicl.
Têmpora.
— Homens temporaes ; que andam com
os tempos, e se aeconimodam a elles, e
suas vicissitudes, sem ordem, ou systema
de proceder, e governo razoado, e inva-
riável.
— 05 ossos temporaes ; um direito, e
outro esquerdo, situados nas partes late-
raes o inferiores da cabeça.
— ApoMVfuse temporal ; larga expan-
são tíbrasa fixa cm toda a linha cui-va
temporal e na arcada zygomatiea.
— Musculo temporal; nmseulo cujas
fibras nascem dii fossa e da apone\Tose
temporaes; liga-se :l apophvse coronoidc
da maxilla inferior.
— O poder temporaf; ontende-se o po-
der temporal do papa.
— Secular, em opposiçilo a ecclesias-
tico.
— Diz-se em opposição a espiritual.
TEMPORALIDADE, *■. /. ^Do latim tem-
por<ililns, de lemporalis). O caracter ue
ser temporal.
— Poder temporal.
— As cousas, e bons do mundo, e vi'la
presente.
— Plur. Fructos, benesses dos eccle-
siasticos, ganhos, proveitos, lucros.
— Fi(^uradamonte: Am temporalidades
(l'eita vida.
— l'rniicar com o* tr.cUtiaitieo* ae
temporalidades; executar as peiuut, que
art leiíi iiiipòem aua juizcit ecctei«ia«tioos,
que nJlo execuUim o» uiaudadort, ou car*
tun )'ogatorittri iÍok juizei) em ca«08 du re-
curHOs il curótt, etc.
TEMPORALIZAR, u. a. Tornar tempo-
ral.
TEMPORALMENTE, adv. (De temporal,
o o HUÍIixo «meate»). Por algum tempo,
em ojijjosieão a eternanieiUe.
— Polafl cousa* teiii|Kira<:«.
— Humatiameiite, não ej4pirituaimeiito
nas eouf-.us teinpiiraes.
TEMPORANEO, A, adj. Que dura tem-
po liiiiiuido, o iiu de turniinar em certa
epoclm, ou espaço.
— Teinpiirario.
TEMPORÃO, Ã, ou ÃA, ou AH, adj. —
Fructij temporão ; que vem maÍ0 cedo
quo a maior parto doa outros, e ao prin-
cipio, ou antes do outomno, ou da sazão
dos serôdios.
— (Jfw-gar, começar temporão; mais
cedo que os outros, antecipadamente.
— Antes do tempo, prematurameute.
— Chuva têmpora; «iiz-se jm opposi-
çào á serôdia.
— Casar temporão; com cedo.
— Homem temporão para o oficio; ho-
mem muito moro, n."»o maduro para elle.
— Com cedo, aiio tarde, e fór* do
tempo.
— Substantivamente : tíer doa tempo-
rãos ; ser dos que vem, ou £azem oa cou-
sas cedo, e dos primeiros.
TEMPORARIAMENTE, wlc De tempo-
rário, o o sufiixo «mente»). De um modo
temporário.
— Por algum tempo, nilo perpetua-
mente.
TEMPORÁRIO, A, adj. (Do latim t*m-
pornrlus . Temporaueo. uão perpetuo.
TÊMPORAS, s. ./■. plur. Sào três dias
de jejum, quarUt, sexta e siibbado,
que ha em cada huma das quatro esta-
ções do auno em uma semana. — As têm-
poras de 6. Mtitheus.
TEMPORISAÇÃO, ou TEMPORIZAÇÃO,
í. /. Acção lio temporisar. — A tempori-
sação íni cirurgia.
— Temporisamento.
TEMPORISADOR, ou TEMPORIZADOR,
A, s. e ttdj. Que temporisa. — .Actj tem-
porisador.
TEMPORISAMENTO, ou TEMPORIZA-
MENTO, s. m. A acç.ào de temjwrisar,
e-om que se ganha tempo para melhorar-se.
— Tempori.<açào.
TEMPORISANTE, ou TEMPORIZANTE,
part. (ic?. de Temporisar. Que temjKiriâa.
— Ilxiiieiis lemporisautes.
TEMPORISAR, ou TEMPORIZAR, i-. «.
(^Do francez t«wpori'«tri. Ganhar, pairar
tempo, metter tempo em meio quando
convém eapa<^r, niio vir á conclusão.
TENA
TENA
TÈNÇ
697
— Passar tempo.
— Accommodar-se ao tempo, ceder ás
circumstancias.
— Temporisar com alguém ; haver-se
por seu respeito de maneira, que não
quebremos com elle, ou nos inimizemos.
Vid. Contemporisar, Pairar.
— Esperar que alguém, ou as cousas
venham a meliior, ou a geito, e ensejo
de acabarmos os negócios por bem.
— V. a. Delongar, espaçar, dilatar,
prolongar.
f TEMPORO-AURICULAR, aãj. 2 gen.
Termo de anatomia. Que pertence á re-
gião temporal e ao ouvido.
— Musculo temporo-auricular ; o mus-
culo superior do ouvido.
f TEMPORO-CONCHINIANO, A, adj.
Termo de anatomia. Nome dado ao mus-
culo inferior do ouviílo.
t TEMPORO-MAXILLAR, adj. 2 gen.
Termo de anatomia. Que pertence á fon-
te da cabeça, e á maxilla.
— Articiãação temporo-maxillar ; arti-
culação que tem logar entre o condylo da
maxilla, de uma parte, a porção anterior
da cavidade glenoide, e a apophyse trans-
versa do temporal, da outra parte.
f TEMPORO-SUPERFICIAL, adj. »,. Ter-
mo de anatomia. Xervo temporo-superfi-
cial ; ramo collateral do nervo maxillar
inferior.
TEBIPRAMENTO, s. m. Vid. Tempera-
mento.
TEMPRAR, V. a. Vid. Temperar.
TEMPREIRO, s. m. Vid. Templário.
TEMPTAÇÃO, s. /. Termo antiquado.
Vid. Tentação.
TEMULENCIA, s. f. (Do latim temu-
Icntia). Bebedice, embriaguez.
TEMULENTO, A, adj. (Do latim tevm-
lentus). Termo pouco usado. Embriagado,
bêbado.
TENAÇA, s./. Vid. Tenaz 1).
TENACIDADE, s. /. (Do latim tenaci-
tas). Qualidade do que é tenaz.
— Resistência que os corpos oppõem
aos esforços que tendem a rompel-os,
quer por choque, quer por pressão, ou
tracção.
— Propriedade que tem os metaes du-
ctis, reduzidos a fio de um pequeno diâ-
metro, de supportar um certo peso sem
se quebrar. ■ — Toda a liga destroe ou di-
minuo a tenacidade dos metaes ; a do ouro
é tão forte como um fio d'este metal. — ■
A tenacidade é a resistência que as mo-
léculas de um metal dúctil offerecem á
sua desunião; avalia-se pelo peso que
pôde ter, sem se romper, um fio metallico
de um diâmetro determinado.
— Ligação e encadeamento das partes
de que são compostos os diô'orentes terre-
nos.
— Resistência de certos animaes de
serviço á fadiga, ás privações.
— Figuradamente: Ligação invai"iavel
a uma idêa, a um projecto.
TOL. T. — 88.
— Sua memoria é c?e uma grande te-
nacidade; retém, sem se esquecer, aquillo
que uma vez decorou.
— Aferro, avareza, apego.
tenacíssimo, a, alj. superl. de Te-
naz. Mui tenaz.
— Abraços tenacissimos ; abraços mui
apertados.
TENALHA, s. f. (Do francez tenaille).
Instrumento de ferro, composto de duas
espécies de maxillas que se abrem e se
apertam para agarrar.
— Instrumento de que se servem para
cortar as cartilagens.
— Termo de fortificação. Tenalha sim-
ples ; obra que tem na frente dous ân-
gulos salientes e um reintrante; compõe-
se de duas faces.
— A tenalha dobre, ou jlanqueada, tem
na frente quatro faces qiie se flanqueiam
reciprocamente cada duas, e formam dous
ângulos reintrantes e três salientes.
TENALHÃO, s. m. Augmentativo de
Tenalha. Termo de fortificação. Luneta
que se faz defronte das faces da meia
lua.
TENANTO, t. m. Termo de anatomia.
Vid. Corda.
TENARIA, s. f. Vid. Tanaria, ou Pel-
lame.
1.) TENAZ, a. f. Instrumento de me-
tal, que consiste em duas peças unidas
por um eixo; com duas extremidades
d'elle se agarra, e afferra com força nas
cousas ; é empregado pelos ourives, fer-
reiros, etc.
— Na milicia romana, era esquadrão
disposto n'esta figura : ,\i.
— Plur. Tenazes dos caranguejos; as
unhas com que se pegam, e agarram ás
cousas.
— Vid. Tenalha.
2.) TENAZ, a'lj. 2 gen. (Do latim U-
nax). Termo de botânica. Diz-se das
plantas que se aferram, que se agarram.
— Urna haste, uma folha tenaz.
— Que se apega, que se agarra a al-
guma cousa para apertar.
— Diz-se de um corpo cujas partes
adherem fortemente umas ás outras.
— Metal tenaz ; metal que suppor-
ta uma pressão considerável, sem que-
brar.
— Rocha tenaz ; rocha que com diffi-
culdade se quebra.
— De que se não pôde desfazer, que
se não pôde desviar, fallando das pes-
soas.
— Aferrado, obstinado, immudavel. —
Homem tenaz.
— Diz-se também das cousas : Prejuí-
zo tenaz.
— Ter a memoria tenaz ; não se es-
quecer do que aprendeu.
— Escaco, avaro, illiberal.
— Gente tenaz ; gente seccante, ma-
tante, pegajosa, que nunca acaba o que
tem para dizer.
TENAZINHA, 5. /. Diminutivo de Te-
naz. Pequena tenaz.
— Instrumento de que se servem as
mulheres para arrancar os cabellinhos
da t^^sta, cara, etc.
TENAZMENTE, adv. (De tenaz, com o
sufiixo «mente»). De uma maneira te-
naz.
— Com tenacidade.
TENÇA, s. /. Termo de historia natu-
ral. Peixe que vive em tanques, lagoas,
e rios.
TENÇA, s. /. A quantia que el-rei dá
para sustento em razão dos serviços, e
vulgarmente aos cavalleiros, durante a
vida do tencionario. Outr'ora era uma
porção igual aos juros do casamento, es-
posouro, ajudouro, que se davam ás don-
zellas do paço, etc, em quanto lh'o3 não
pagavam, e das moradias, e assentamen-
tos, e mercês a fidalgos, que estavam por
embolsar. A tença é temporária, e ríía-
licia, o juro para os herdeiros, de a quem
se deram. — «E porque as outras penas
de morte, e desterros, e privação dos
bens, teenças, e couthias avemos por
muj graves nos casos, em. que taaes pe-
nas som postas em esta Ley, fique a nos
guardado pêra lhe dar-mos aquellas pe-
nas, que nos bem parecer, e que se re-
querer aa grandeza, e graveza dos er-
ros que fezerem.» Ord. Affons., liv. 2,
tit. 60, § 20. — «Em premio do poema
Alfonso deram habito de Christo a Bote-
lho; porém, como lhe não pagaram a ten-
ça, largou o habito. Perguntado por el-
rei D. João V: «não trazeis o habito?»
Respondeu : — Não senhor : não sou ce-
rineu da cruz sem me pagarem...» Bispo
do C4rão Pará, Memorias, publicadas por
Camillo Castello Branco.
— Termo antiquado. O acto de ter,
possuir.
— Vir á nossa tença ; vir ao que nos
importa.
— Termo antiquado. Sustentamento,
defeza, conservação.
— Surgidouro de Jirme tença ; onde a
ancora prende bera, e não esgarra.
— Ter-se ás tenças d' outrem; fiar-se,
e fazer depender d'elle o que nos é ne-
cessário.
— Certo peixe. Vid. Tença.
f TENÇAM, s. m. Vid. Tenção.
E por nam ir adiante
om tam errada tençam,
por buscar a pcrfeiçam
acolhi me a osto palanque
da santa religião.
D. JOANJfA DA GAMA, DITOS DA FREIRA,
pag. 90.
TENÇÃO, s. /. Intento, propósito, von-
tade. — «E porque lhe pareceu que pas-
sando perto poderia ter algum embaraço,
que lhe estorvasse o caminho, desviou o
cavallo por outra parte; por sua tenção
TENÇ
TENÇ
TEND
ji2Io Hcr occiípar-sc om cousas que o po-
flcas(írn dut^r. » Franci«c,o do Morao»,
Palmeirim d'Inglaterra, e;ij). 7H. — o Vos-
sa tenção, diAM: o do Salvaf(om, ó tanto
do af,'raflecor, que o maÍH que mo daqui
póaa 6, que o pouco qu(! tenho, nào iiic
dá lugar a paf^ar-vos o muito que mcro-
coÍ8 : mas já que pêra isto minhas forças
nJlo l)a8tani, a clrci d'lngh»torra, niou
senhor, pedirei o galardito de tamanho
serviço, ccnui lho fazei*.» Ibidem, cap.
108. — <(I)'ahi por diunto o cavallciro
do Salvago a tratou com mais cortesia c
amor, tendo conheciuicnto do que lhe de-
via, mudando a tenção com que d'ante3
a olhava : oxtromo pêra louvar muito ;
porque sua inclinação era tão dada aos
apetite^» da carne, que a poder forçar
era muito pêra acíradocar.» Ibidem, cap.
115. — «O cavallciro da Torre mancn-
corio deste desastre, arraneí>u da espada
com tenção de haver hat/iiiia. Senhor
cavallciro, disse o outro, nau queria que
tantas vezes experimentásseis um vosso
amigo, que vos tanto deseja servir.» Ibi-
dem, cap. 127. — «Dizendo isto, se che-
gou A arvore com tenção de o tirar:
mas o cavallciro das Donzellas, como se
disso, estava já a cavallo, e vendo que
Florendos estaria occupado na cura do
gigante, o não via o que pas^^ava, não
quiz que em sua presença se lho íizcsse
tamanha oflcpsa.» Ibidem. — «A Arlan-
j;a fez a rainha algumas mercês, e dou
peças do muito preço, quando o cavallci-
ro do Salvago se despediu, que esta o
suas criadas levava comsigo com a ten-
ção que se já disso.» Ibidem, cap. 120.
— «r)'aHi por diante sentiu meuos as fe-
ridas, quo eram curadas por mão d'Ar-
nalta. Trcs dias depois d'isto chamaram
os governadores do r^ino, que sabendo a
tenção delia, c tendo conhocimeuto das
obras o virtudes de Dragonalte, appro-
varam o casamento por l)om e convenien-
te ao estado e anthoridadc de sua senho-
ra.» Ibidem, cap. 130. — 'O amor ó po-
deroso, o onde ello quer não lia ahi ra-
zão, quo tenha força, ordenou que entre
estes pensamentos podesse vèr quem nic
faz passar por clle^, pos os olhos em mira
não sei om quo tenção, mas o erro, em
que cahi, a traição, que commetti, mos
fez parecer irosos, quo isto é natural de
culpados, desde ali tomei aborrecimento
a quantas razões meu entendimento me
tinha representadas, se minha atíeição
me parece bom, esta me mate, esta quo-
Tri seguir.» Ibidem. — «Dous dias depois
de serem partidos, chegarão a lium cas-
tcllo que se dezia Nixiamoco, no qual o
Natitlcor de Lançame general dosta bar-
bara gente assentou sou campo, e se
atrincheyrou pur todas as partes com
tenção do o assaltar ao outro dia. por
se dizer quo quando por ahy passara pa-
ra Quansy, lhe matavaõ os Chins aly com
homens em huma cilada que lhe fizeraiJ
do que estava muvto magoado, i Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 117.
A teiuylo
Dco3 a sabe. Agora ar)ui
jaroia «'■crota o mcttida.
ANTÓNIO PRKSTF.H, AUTOS, pag. 2.^7.
Nào í- mal, mii» descrição.
l'oÍ8 esta ò minha teiiçÃo
nVstfi diisafio em quo entro.
Nào 8cril H(!m alf^iin cuoiitro
ou fèvera do coiidii;ão.
iniDKM, pag. 307.
— itLouváraij os amigos a tençaS, c o-t
vensos, e muito mais as partes de quem
a mandara, que o pastor sabia gabar ex-
tremadamente; e porque vio nellos tam
boa a tençaõ para seus cuidados (que he
o que mais estima quem dcllos vivo) Ihea
raoitrou a resposta, que mandava ao en-
ganozo favor, que recebera.» Fi'ancisco
Rodrigues Lobn, Desenganado. — «ElRey
como sua tençaõ nesta armada que fazia
era por lhe parecer que no doscuberto ti-
nha justiça : por cõprazcr a elRcy dom
Fernando mamlou cessar delia to primeiro
se detcrmi;iar. » Barros, Década 1, liv. 'P>,
cap. 11. — «Com :vs quaes ])alauras per
que ellc mostraua ordenar tu'lo a bem de
paz, em obras negaualhc o necessário
quo auiaõ mister, em quo Vasco da (ià-
ma entendia parte da sua tençaõ : c co-
meçou logo requerer sen despacho sem
outra carga de especcaria. » Ibidem, liv.
4, cap. 8. — «E caladamente veio-so com
toda sua frota pelo rio a baixo, e ello
diante todos, por tor huma forte, e for-
mosa lanchara do comprimento de huma
galé, mui armada, o guerreira com té
duzentos o tantos homens, com tenção de
abalroar com o Capitão niór da nossa
frota.» Idem, Década 2, liv. 9, cap. 7.
Eis logo a diligente mensageira,
Co'a cabeça de cobras toda ornada,
Com aspeito feroz, voa ligeira
I>o cíprito do Sultão acompanhada,
Accvescentando mais noUe a primeira
Furibunda íf/içm, fera, e damnada,
F. tudo o que visita ontão do mundo
Deixa também damnado e furibundo.
F. r>K AsnRiriK, i'bimkiko cf.boo dk piu,cant. !),
est. 99.
Niio receio
Onde estiver Catão, violência alguma
Contra quem livremente, c como 6 d'homom,
Dd sou voto o tençfto.
OARRKTT, CATÃO, act. 1, SC. 3.
— Termo antiquado. Briga, rixa, vol-
ta, má vontade.
— O significado, o symbolo do alguma
cousa.
— Intento, assumpto.
— l'areeer cpie se dá por cscripto nos
autos pelos desembargadores.
— Modo de pensar, intenção.
— O que alguém demanda, ou se pro-
p5o conseguir em juizo.
— Dize.v Tiiisga /jor tenção ; applicar
o.H merecimentos do riacriticio por alguma
pessoa, ou negocio.
— Nos escudos, a figura que dá a en-
tonder os intentos c. euiprezas, que tinlui
tomado o dono d'clle.
— Pela mesma tenção ; com o mesmo
fim, respeito, intuito.
— Figuradamente: A tenção da Ui;
a sua mente, o «o:itido verdadeiro, obje-
cto que o leL'islador BC pr"põe ncíla.
TENCEIRO, «. VI. Termo antiquado.
Rtíc-id)e lor lia-i rendas do concelho.
TENCIONADO, jjurt. pcus. de Tencio-
nar. J'ii'iij tencionado; em quo o desem-
bargalor já rlcu ou escreveu sua tenção
nas appcilaçõcs, etc.
— Intr.nt.i !o, projectado.
TENCIONAR, r. a. Dar o desembarga-
dor o seu voto na causa por cscripto, em
latim, para verem depois aquillo cm que
se hão de acordar, nos factos appellados,
etc.
— V. n. Termo usaílo no sentido de
int-ntar, ter intento^ fazer tenção. Vid.
Teacoar.
TÉNCIONARIO, A, aJj. o ». Qne rece-
be ten(.a.
TENÇOAR, V. n. É mais analógico que
Tencionar, todavia está obsoleto. Vid.
Tencionar.
TENÇOEIRO, A, a^lj. Que traz má von-
tade a alguém, c rixa com elie.
— ObstiPiado, pertinaz, teimoso, reiíi-
tente, rixoso. — <> rillno é tençoeiro.
TENÇOM, ou TEENÇOJI, «. /. Termo
antiquado. Vil. Tenção, orthographia
mais correcta. — «E achamos per Direi-
to que aquelle, quo vende huma cousa a
dous em desvairados tempos, merece pena
de falso; a qual pena queramos que tique
em ai vidro do .Tulgador, segundo a culpa
em que for achado o dito vendedor, e a
teençom que ouve em vender huma cou-
sa a dons.» Ord. Affons., liv. 4, tit. 42,
í? -'■
TENDA, s. /. Casa de vender viveres,
vinho, licores, etc.
— Levantar as tendas; arnial-as para
pousar, abarracar-se.
— Tenda inteira ; tenda armada.
— Tenda de mi/rtos, de Jasmins.
— Barraca de campanha. — «E a cllc
lhe parcceo isto bem, para o que mandou
logo chamar a mayor parte dos nobres, e
os fez ajuntar no campo em que estavão
as tendas, on lo em voz alta do cima de
hum cavallo, llics foz huma falia, em que
Ihe^ declarou a razão par.aque aly foraõ
juntos, e sobre cila se altercou hum gran-
de espaço, com tanta variedade de pare-
ceres, que por ontão .«c não pôde tomar
conclusão em oou^a alguma.» Fernão
Mendes Pinto. Peregrinações, «»p. 118.
— Levantar as tendas o ejxrcifo; para
pelejar, ou marchar.
TEND
TENE
TENO
699
TENDAL, s. ni. Espécie de tolda íixa
sobre a primeira coberta do navio.
— Nos engenhos d'assucar, o espaço,
onde se assentam as formas do assucar
nas casas da caldeira ; nas casas de pur-
ga assentam-se em furos, ou taboas fu-
radas postas sobre andainas, e purgam-
_se: nos tendaes esfriam e coalham.
— O logar onde se tosquiam as ove-
lhas.
TENDÃO, s. m. (Do latim tendo, ouis).
Termo de anatomia. Cordão ou fascículo
iibroso mais ou menos longo, algumas ve-
zes redondo, mas o mais das vezes acha-
tado, de um branco luzidio, distincto do
musculo pela natureza de suas fibras, e
por não ser contractil.
— Tendão de Achilles; grande tendão
chato, foruuido na parte anterior e poste-
rior da perna, pela reunião dos teudões
dos músculos gémeos, e ligando-se á par-
te inferior da face posterior do calcanhar :
é assim chamado por ser n'este sitio que
Paris feriu Achilles.
TENDEDEIRA, s. /. A taboa, sobre que
se dá ao pão a ligura ordinária.
TENDEIRO, A, s. Pessoa que tem ten-
da, e vende n'ella.
Hum de meus Bisavós foi mercador,
Outro foi de Alfaiate oflicial,
Outro tendeíro foi sem cabedal,
E outro, que Juiz foi, foi lavrador.
AUBADB DH JAZENTE, POESIAS, tum. 2, pag. 93.
— Adagio e provérbio:
— Moço guloso não é bom para ten-
deiro.
TENDÊNCIA, s. f. (Do latim tendere).
Inclinação, propensão, direcção natural,
pendor.
TENDENTE, part. act. de Tender. Que
se encaminha, e dirige a algum lito, alvo,
ou lim.
— Que propende, e que se encami-
nha.
— Ventos, ou monção tendente ; que le-
vam ao ponto destinado, e são tesos ou
continues.
TENDER, V. a. (Do latim tendere). —
Tender o 2'uo; dividir a massa em pães.
— -Tender « mão; estendel-a.
— Eucaminhar-se, dirigir-se.
— Tender a massa; estendel-a sobre
uma taboa com um rolo de pau, para a
tornar delgada o em folhas.
— Tender o vento as velas; enchel-as
bem.
— Tender as velas; desfraldal-as.
— V. n. Tocar de alguma cousa, ir
chegando a certo estado.
— Inclinar.
— Ter pendor, ou direcção.
— Tender em alguma cousa. Vid. En-
tender iiella.
— Tender-se, i'. refl. Estender-se,
alargar-se.
TENDIDO, iiart. pass. de Tender. —
Bandeiras tendidas; bandeiras desprega-
das.
— Velas tendidas com o vento; velas
inchadas, tesas, enfunadas.
— Tendida lança; em pé.
— Ver a olhos tendidos ; vêr a olhos
longos, esforçando a vista para vêr os
objectos remotos.
"TENDILHA, s.f. Diminutivo de Tenda.
TENDILHÃO, s. m. Tenda de campa-
nha, pavilhão.
— Uma ave. Vid. Tentilhão.
TENDINOSO, A, adj. (Do latim tendi-
nosus). Termo de anatomia. Que diz res-
peito aos tendões, que é da natureza dos
tenilijes. — Tecido tendinoso. — Inserções
tendiuosos.
— Diz-se das carnes que tem muitas
fibras tendinosas.
TENEBRA, s.f. Termo antiquado. Tre-
vas, escuridão.
TENEBRARIG, s. m. Candieiro que se
accende durante o officio das trevas no
tempo da semana santa.
^^TENEBRIA, s.f. Termo antiquado.
Trovas, escuridão.
TENEBRICOSIDADE, s.f. Escuridão da
vista, etc. Vid. Teuebricoso.
TENEBRICOSO, A, adj. (Do latim te-
neòricosus). Acompanhado de escuridão,
ou perturbação da vista e do entendi-
mento.
TENEBRIDADE, s. /. Trevas, escuri-
ilao.
TENEBROSAMENTE, adv. (De tenebro-
so, com o sufíixo «mente»). De um modo
tenebroso.
— Mui obscuramente.
TENEBROSIDADE, s. /. O caracter do
que é tenebroso.
— Figuradamente : 'A tenebrosidade
de pensamentos escuros.
TENEBROSO, A, adj. (Do latim tene-
òrosusi. Unde ha trevas, escuridão. — «O
escuro também tem seus grandes na mi-
nha terra. Quanto mayar he menos se vê,
he o enigma com que defiiãmos em Por-
tugal, aquellcs escuros tenebrosos que
aqui tenho visto muy raramente.» Caval-
leiro d'01iveira, Cartas, liv. 3, n." 3.
Nem a vontade da raaão decente
Neage caminho escuro e tenebroso,
Man eu sou tal... aqui lhe não consente
Que diga mais o Filho piedc^o,
Onde lhe replicou : Sogui-amente
Pódca seguir o paaao duvidoso,
Poia a suguirmoa a rasào inclina
O que o Grande Decreto determina.
UOL. DE aOUKA, NÓV. DO HOM., CEut. 3, OSt. 20.
o Vate pensador ; digna-te as portas
Franquear-me huma vez, possa abrazado
Na luz do facho teu romper doa montca
0 tenebroso seio, abjamo escuro.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Cant.2.
E CampaueUa, e Bruno, c a uós maia perto
Quem ^uer que foate tu, que ao Mundo déatc
A tenebrosa producçâo, que chamas
Da Natureza enfático Syatema.
IDE.M, VIAGEM EXT.VTICA, Cant. 2.
— Idêas tenebrosas ; idêas da c(3r das
regiões infernaes, dcscriptas pela poe-
sia.
— Figuradamente : Matéria tenebro-
sa; matéria obscura, diíTicil de enten-
der-se.
— Syn.: Tenebroso, escuro. Vid. este
idtimo termo.
TENENCIA, s. f. O cargo do tenente,
do que tem algum posto por outrem.
— OfHcio, administração da repartição
do tenente general de artilheria, o offi-
eiaes que servem na dita repartição.
— Á casa em que habita o que tem a
teuencia.
— Nos armazéns da tenencia estavam
todos os depósitos de armas, e ahi ço fa-
ziam as de toda a sorte.
TENENTE, s. m. (Do latim tenens). O
que tíuppre o logar de outrem que o en-
carregou de fazer as suas vezes, oflicial
immediato e inferior ao capitão.
— Tenente general; posto superior ao
do marechal de campo.
— Posto militar, superior ao alferes,
inferior ao capitão.
— Tenente coronel; po-to inferior ao
coronel.
— Termo antiquado. Governador de
cidade por el-rei.
— Tenente dos Césares; os que por
elles governavam, e em seu logar e ve-
zes.
— lia tenentes de marinha, ha capi-
tães tenentes, inferiores aos capitães do
mar e de guerra.
— • Loc. : Pelejar á mão tenente ; pe-
lejar mui perto, e travados o> combaten-
tes.
— Tenente rei; governador por el-rei
de fortaleza, praça de armas.
TENESMO, s. m, (Da grego tênesmos).
Termo de cirurgia. O puxo que toma
quem tem o ventre embaraçado para
obrar.
TENESMODICO, A, adj. Acompanhado
de tenesmo.
TENETA, ou TENETE. Vid. Tineta.
TENIA, s. /. (Do latim twnia). Ter-
mo de zoologia. Verme solitário, lombri-
ga chata e de muitos pós de longor ás
vezes, cuja expulsão se obtém, segundo
dizem, com cozimento de raiz ou casca
de romeira em maior ou menor dose; se
quebra não morre, mas reforma-se em
outra inteira. Vid. Solitária.
TENIFUGO, A, adj. Termo de medici-
na. Que afugenta a tenia.
TENIR. Vid. Tinir.
1.) TENOR, s. m. Voz de homem en-
tre contralto e contrabaixo.
E que lhe leva o tenor
de garganta todo o anno
700
TENS
TENT
TENT
tcrroiroslnho mou mano
com trabaja o marcador.
ANTOmo PBKsriíS, Auroa, pag. l-".l
— Ilomoin quo canta n'esta voz.
2.) TENOR, s. III. Nu índia, ospocic
do vaso.
3.) TENOR, í. m. Vid. Theor, o Es-
tylo.
TENRAMENTE, adv. (De tenro, o o
Biiffixo tmenteu). Do um modo tuuro.
— Até ficar tenro.
— Viil. Ternamente.
TENREIRA, a. /. Termo antiquado. Vi-
tolla.
TENREIRO, A, adj. Teuro.
TENRILHO, ou TENRINHO, A, adj. Di-
minutivo do. Tenro. Um puuco tonro.
TENRÍSSIMO, A, adj. superl. do Ten-
ro. Mui tenro.
— Emprega-3o taml>em no sentido fi-
gura Jo.
TENRO, A, adj. Molle, brando.
Nii8 eutriuihas da Terra ignota fori;»
Os escondidos gcrmca desenvolve,
Nod boâiiuua, verdes jil, canoras avos,
E 05 rebanhos pacilicos nos Valles,
De amor suguem a lei, e a voz cscutão.
Matutino vapor deixa aljofradas
As tenras plantas, iiue nos prados crescem.
No diamantino orvalho as azas niolhão
Os inconstantes Zéfiros quo voão.
J. A. DE MACUnO, A NATDREZA, Caut. 1.
Sc^ cUe esmalta nos viçosos pr.idos
A teiini flor, encurva, o doura as mossea,
EUo no rico Outono aos doces fructos
Perfeita madurez, sabor reparte.
Abasta, aformosea a Natureza.
IBIDEM, cant. 1.
— Figiu-adameuto : Christão tenro nu
fé; novo converso, não firme.
— Delicado.
— Idade tenra; a do menino ou do
moço.
— Engenho tenro ; cultivado do novo,
níto formado.
— Sloilo, por novo o recente.
— Tenro, por temo.
TENRURA, í. /. O caracter do que é
tonro.
— Vid. Ternura.
TENSA, s. f. Vid. Tença.
TENSÃO, s. f. (Do latim tensio). O es-
tado dos corpos estirados, e não bambos.
— A tensão dos corpos.
— Vid. Tenção, que differc.
TENSIVO, A, adj. Termo de medici-
na. Puxado, tirado, teso, acompanhado
de tensão.
— Dor tensiva ; dOr acompanhada do
um aeatiineuto de distensão em a parte
paciento, como a da formação de um
abscesso, o a que se sente na reducção de
um mombro deslocado.
TENSO, A, adj. Termo de medicina.
Vid. Tensivo.
TENSOEIRO. Vid. Tençoeiro.
Tio naufrágio teni;oeiro
que uilo tenha um eordcal :
esse senhor seja tal
(|uo oori queira ouvir primeiro.
ANTÓNIO PHBSTH», AUTOH, pag. 97.
TENTA, *. /. Instrumento cirúrgico do
tentar o fundo das feridas penetrantes, e
outras.
— Tcnno do anatomia. Tenta do cere-
UlLo.
TENTAÇÃO, s. f. (Do latim tentalio).
liiduiiÍMieuto a obrar alguma cousa, e
mi'irmeutc o mal. Vid. Rédea. — tNam
pedimos ao Senhor que .se uam alleuan-
tem contra nos tentações, que tal cousa
nam pode yer, e ainda que pudesse ser,
nam nos vinha bem nunca ser tentados,
porque quem uam he tentado, nem pro-
uado, luim scra coroado: Onde uam hay
batalha, nam ha victoria nem coroa. U
Saneto Dauid dezia: tíenhor tentaymc, c
prouayme.ii Frei Bartholomeu dos Mar-
tyrc.s, Catecismo da doutrina christã. —
«A curiosidade lie grandis.simo impedi-
mento pêra a contemplação, se o homem
procura esta por causa, ou por vontade
de a experimentar, ou mostrar aos outros
sua excellencia e naõ por se conhecer, e
se ter por mais vil, o baixo, conhecida,
e deseuberta niais profundamente sua in-
sufliciencia, e reconhecida, e venerada a
perfeição de Deos, pêra assim se esfor-
çar mais contra as tentações, e habilitar
com mais promptidão pêra a guarda dos
uumdamentos diuinos.» Idem, Compendio
d'espiritual doutrina, cap. 13. — «Uu-
tios, ouuiudo o rumor, e ladrido dos cães
infernacs se atemorizão, e offereeida qual-
quer tentação descaem, sendo antes con-
ueaiente desprczalos, e passar briosamen-
te auante.» Ibidem, cap. 15. — nA ten-
tação nos apressa no caminho da virtu-
de, como a espora ao bruto ; a tentação
nos dá a conhecer nossas faltas, como as
perguntas do exame descobrem a igno-
rância : e torna o nosso coração compas-
sivo para com os próximos, como o que
foy enfermo, sabe ser enfermeiro. « Padre
Manoel Bernardes, Exercícios espirituaes,
pag. 3l5l).
— O tentar, começar qualquer obra,
querer obrar alguma cousa. Vid. Tenta-
tiva.
— Cair em tentação ; consentir em obrar
mal.
— Tentações diabólicas ; tentações in-
sinuadas polo diabo. — aLembrc-te que
são tentações diabólicas, que arma o dia-
bo com laços aprasiveis, em que a fra-
queza da carne cada dia eae. Padre disse
o do tjalvagem, isto são obras da huma-
nidade, a que se não pode fugir, e o de-
sejo ó tão delicado, que lança mão da
cousa a que se o coração atleiçoa. » Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. lOli.
TENTACULOS, s. m. plur. Termo do
historia mitural. Membranas, ou espécie
do braços moveis, liexivei», ou alonga-
dos, privativos dos peixe.-* do género dos
nioUuscos, quo lhes ijorveii), bstendcn-
do-os, ou oacoliiondo-o», a apalpar os ob-
jectos, ou a a;,'arrareui a sua presa.
TENTADO, pari. pai», de Tentar. Ex-
perimentado, apalpado.
— Induzido a obrar mal. — tMaa ai al-
guuii de taS fraco sojcito pella fraquoza
do espirito, e pouca consistência, que 1©-
uaQ pesadauicutc estar sem companhia,
ou persistir eiii hum lugar aturadamente,
e se intentaõ aturar, saõ teatados de
diuersos vicios, cntristcccuise, afroxSo,
agastaõssc, os quais haõ de ser mudadus
pêra cxercicioa ila vida actiua.» Fr. IJar-
tholomeu dos Martyres, Compendio de
espiritual doutrina, cap. 15.
— Tentado, i>or Atteutado.
TENTADOR, A, «. (De tentar, e o suf-
fixo dôr). Pcriãoa que tenta.
— U demónio.
— Adjectivamente: Que tenta, que se-
duz.— Espirito tentador.
TENTAME, ou TENTAMEN, s. m. (Do
latim tentanieii). Ensaio, tentativa.
TENTAMENTO, *. m. Intento, desejo
eviíleute de tazer alguma cousa.
TENTANTE, part. act. de Tentar. Que
tenta, tentador.
TENTAR, V. a. (Do latira UnUirej. In-
duzir a obrar mal. — «Disse-me que sa-
Inndo hum dia pida porta da Carestia se
tentou a achetar na Feyra huma Caatoila
para trazer a -ua molher, c que fora caso
muito Celde achar-se sem o Cotncõhioa
para a pagar depois ile a ter ajustado.»
Cavalleiro d'01iveira, Cartas, liv. 1, n.°
25.
— Commetter.
Os que mostrarão aos mortacs a estrada
D alma justiça alli rcâplaudeciào ;
Os que co'a mente accesa, :ls Musaa dada,
Sobre as azas do canto aos Ceos subião :
Os que primeiro á terra fecundada
Com provideute arado o sulco abriào.
Os quousilrào primeiro cm frágil pinho
Tentar do mar o liquido caminho,
j. A. Dr. MACEDO, o ORiExrB, out. G, est. G4.
— Tentar a fé; procurar corrompel-«.
— Tentar o vau; experimentar se se
pôde vadear.
— Tentar a acqão, a demanda; inten-
tar, propor, começar.
— Expòr-se aos perigos.
— Procurar, fazer diligencia para ob-
ter alguma cousa.
— Induzir a obrar qualquer cousa.
— Experimentar, apidpar, provar.
Tentemoi
Este velho. — Scíuir os teus conselhos
Moderados, prudentes.
OAESETT, CATÃO, aCt. 1, SC. 3.
— Tentar a Deus; querer fazer prova
do seu saber, e poder infinitos.
TENT
TENT
TEOR
701
— Intentar, commetter.
— Tentar a sorte ; experimentar a sorte.
— Tentar a pra<^a; aecoinmetter para
vèr se se pode levar de sobresalto, por
mal vifíiada.
TENTATIVA, s. /. Acto com que se
tenta, e experimenta alguma cousa de
acontecimento incerto, ou desconhecido.
— Prova, ensaio, experiência.
— Acto de prova de capacidade, que
se faz nas universidades.
— Teutamen, ensaio escripto.
TENTATIVO, A, adj. Que tenta, ins-
tiga.
TENTE, part. act. de Ter.
— A mão tente. Vid. Teeute, e Te-
nente.
TENTEADO, part. pass. de Tentear.
Examinado profundamente.
— Disposto.
— Calculado, lançadas as contas. —
aElRey ainda que era homem prudente,
e tinha tenteado quanto proueito podia
receber, neste nouo caminho que os nos-
sos abrirão pêra dar maior saida às suas
especearias.B Barros, Década 1, liv. 4,
cap. 9.
TENTEADOR, A, adj. e s. 2 gen. Que
tenteia, examina.
TENTEAR, i:. a. Examinar com a tenta
o fundo da ferida.
— -Sondar, examinar. — t Finalmente
por esta razaõ e outras de paixões e diííe-
renças que entre elle e o Camorij auia,
o principalmente por causas do seu pro-
ueito que elle tenteou. » Barros, Década
1, liv. 5, cap. 8.
Ganhae embora,
tenteae, que tendes uma :
vós as daea ?
Eu sou contente.
ASI05II0 PEEsxEa, AUTOS, pag. 379.
— Conduzir, dirigir as cousas aos seus
fins com tento e prudência.
— Proporcionar.
— Calcular com tentos.
— Lançar contas.
— Figuiadamente : Tentear o fundo do
rio.
— Tentear com a espada; ir apalpando
com ella.
— Figuradamente: Tentear a vida.
— Dar tento, reparar, observar, atten-
der.
— Tentear as eonprezas, a natureza do
negocio.
TENTELOGO, s. m. Termo antiquado.
Substituto, logar-tenente, que exerce o
cai'go nas faltas do proprietário.
TENTILHÃO, s. m. Termo de zoologia.
Ave vulgar, do feitio do verdelhão nos
cotos das aziís, e tendo na cauda umas
peunas brancas.
TENTIM, s. m. — Tentim p<yr tentim ;
com toda a minudência e exactidão, como
quem conta e calcula por tentos, como
ainda no jogo se couta por peças de mar-
fim, ou madrepérola, ou tentos, uns maio-
res de que cada um valo 5, ou 10, ou 20
á convenção, outros menores, talvez os
tentins, pai-a unidades, e talvez para
fracções d'ella3.
1.) TENTO, s. m. Sentido, attônçào,
cuidado. — Dar tento ás cousas.
Agora, quoro eu fallar
Neatc caso com maia tento ;
Quero agora perguntar:
E do siso his vús tomar
IIiiui tão alto pcuaameuto V
Certo hc minha maravilha,
Se vós iãto nào sentis
Bem.
cAM., FiLODEMO, act. 1, SC. 5.
Mal cuidado
são os amantes destapados,
tão enlevados em si
o tão promptos nos encargos
que fica o tento por hi,
e o mundo como c Argua
vê daqui e vê d'alli.
AHT05I0 PRESTES, AUTOS, pSg. 295.
Quanto o máo peito ao odio mais ae entrega
Menos pôde cubrir o seu intento,
Quanto a crueza o maia dosasaoccga
Tanto maia o sentido perdo, e o tento:
Donde acontece humas vezes que lhe cega
Eate odio de tal sorte o entendimento,
Que o que faz para mal de seu imigo
Sc lhe torna em cruel, duro castigo.
rKANCISCO d'aNDBADE, PRIMEIBO CEBCO D«! DIU,
cant. 7, est. 2.
— «E de Cantão ate onde esta el Rey
dizem eomunmente que sam seys meses
de caminho: pelo que me parece que os
Portugueses nani tomaram bem os tentos
aa grandura da província de Sanxi.» Fr.
Cl aspar da Cruz, Tratado das cousas da
China, cap. 29.
— Sem tento ; sem cuidado, sem at-
tenção.
— Fazer o tento em alguma cousa;
ter o sentido attento.
— Trazer tentos na vida; calcular,
lançar-lhe contas, olhar a evitar erros e
males.
— Trazer alguma cousa no tento ; tra-
zel-a no sentido, attentar por ella.
— Figuradamente: Projecto, calculo
para se governar na vida, medrar, me-
Ihorar-se.
— Loc. ADV.: Á tento; com attenção.
— A tento; apalpando. Vid, Tentear.
— Matar a tento ; pouco a pouco, pau-
latinamente.
— Dizer a tento ; dizer devagar.
— Fallar a tento ; fallar ao certo, co-
mo sobre cousas certas.
— Adagio e pkoverbio :
— O homem ande com tento, e a mu-
lher não lhe toque o vento.
2.) TENTO, s. 7)1. Grão, ou pedrinha,
de que se usava para fazer contas, e com
que hoje se aponta o que se ganha no
jogo.
— Termo de pintura. Vara delgad;i,
em que o pintor encosta a mão direita
para correr, e lavrar mais firme.
— Envite no jogo da pella; vale 4.
multi])lieado3 por lõ ganhos.
TENTORIO, s. m. (Do latim tentorius).
Termo pouco em uso. Vid. Tenda, e Bar-
raca.
TÉNUE, adj. 2 gen. (Do latim tenuis).
Que é de pouca substancia, não succoso.
— Fraco, débil. — «O quinto Osso he
ténue, duro, solido, e quadrangular ; o
qual com o seo companheiro constituhe a
parte do naris mais eminente, e 8U[ierior.
A estes des ossos accrescentão Columbo,
e Luurencio o undécimo ; o qvial se acha
coUocado sobre o palato intimo ; e serve
de dividir, à maneira de hum muro, a
parte mais inferior do naris. A sua for-
ma he semelhante ao ferro do hum ara-
do.» Braz Luiz d'Abreu, Portugal medi-
co, pag. 77, § 115. — lAs Pidpebras te-
nues, hum pouco carnozas, e arrugadas:
Pálpebra: sunt ténues, attameu aliquan-
tulum carnosa}, et magna, et profundarum
sugarum, et versus oculi angulus multa-
rum subtilium plicarum. » Ibidem, pag.
333, § 153.
— Que é mui delicado, que ó pouco
compacto. — Um frio ténue.
— De pouca importância, de pequeno
valor, estima. — * Mas o conceito, que
disso fazemos he taõ escuro, e ténue, que
até os Santos Padres, fiiUando em outras
matérias copiosamente, nesta se achaõ
muy diminutos.» Padre Manoel Bernar-
des, Exercícios espirituaes, pag, 308.
Padres, viemos
A este conselho por mais alto impenho,
Para maior objecto. Desviaram
Prevenções generosas de amizade,
De mui cega amizade ■ — para um ténue,
Incou3Íd'raveI, minimo interesse.
GAKRETT, CATÃO, aCt. 2, SC. 2.
— Delgado.
— Esmola ténue ; esmola pequena.
TENUIDADE, s. f. (Do latim tenuifas).
Qualidade do que é ténue.
— A delgadeza, pouco corpo dos sóli-
dos, ou líquidos.
TENUISSIMO, A, adj. superl. de Té-
nue. Mui ténue.
TEOLOGIA, s. f. Vid. Theologia, ter-
mo mais usado e em harmonia com a ety-
mologia.
TEÓLOGO, s. m. Vid. Theologo, termo
mais em uso, e mais conforme á etymo-
logia.
TEOR, s. m. Vid. Theor, termo mais
usado, o mais em harmonia com a ortho-
graphia etymologica. — « Quero-vos dar
conta de hum Soneto sem pernas, que se
fez a hum certo recontro que se teve com
este destruidor de bons propósitos, e não
se acabou, porque se teve por mal em-
pregada a obra, cujo teor é o seguinte.»
Camões, Carta 2.
702
TKU
TEB
ti:k
TEOREMA, i. //i. Viil. Theoreina.
TEORIA, s. /. Viil. Theoria.
TEÓRICA, «. /. Vi.l. Theorica.
TEPE, n.f. Termo di- foitilica(;ilo, Tor-
rilo lio li^^ura do cimliíi, ou in-i-iiiiu ilc trc-i
facoí, do torra f^orda, o travado com raí-
zes do griíiun, <iu(í ntí usa na fortifica-
i^Tw. Vld. Céspedes.
•{• TEPELO, *". "i. Termo de botânica.
Cada uma das pe^wia de uu> perigouo, ou
iuvoluero Uoral.
TEPEZ, aJj. 2 jcn. Termo popular.
Coutumaz, jicrtinaz.
f TEPHROMANCIA, ». /. Espocic do
adiviiiliai;riu, cm ijue so serviam da.s cia-
z«s dl<^ i^acrilicios.
TEPIDAMENTE, adv. (De tépido, com
o suílixo «meute"). Do um nmdo tépido.
— Com pouco calor.
— Jlornamouto.
TEPIDEZ, s. f. Estado do corpo tépi-
do, monio.
— Tepor.
TÉPIDO, A, adj. \\)o latiui itpidus).
Pouco iiuonte, moruo. — «Também diz
que as Androlhinlius trazem a fama de
Muurdmia a todos 03 paizes Europisti-
cos. Quau-U) tem alj^uni catarro cura-so
com agoa tépida, a que oUe chama agua
Eáclaiidecídti: para aquouta-la deyta liu-
ina braza doutro do copi- quo está clieyo,
e a isto lio quo cliama nsclundecêr a sua
afjjoa medicinal.» Cavallciro d'Oliveira,
Cartas, 11 v, 1, n.° 25.
— Fijíuradamento : Tibio, frouxo, ne-
gliííoute.
TEPOR, s. m. (Do latim tepor). O es-
tado do corpo tépido, da agua do fonte
não gélida, das aguas therniaos, etc.
TÉQUE, por Até que.
TÉQUI, por Até aqui.
1.) TER, i'. ('. Possuir, conservar em
seu poder aquillo do que c senhor. —
«Item. Que nenhum nom braado armas,
armas em ua hoste, por o grande priguo,
quo poderá acontecer, o que DEOS de-
fenda; e esto sob per.a de perder o me-
lhor cavallo, que tever, se fur liomem de
armas, ou bcesteiro de cavallo ; e se for
beesteiro a pee, ou page perderá a oi-e-
Iha direita; e so for fidalgo, ou cavallci-
ro, seja cscamiieutado segundo o caso for,
o a calidado de sou estado.» Ord. AHons.,
liv. 1, tit. 51, § 47. — «E se ao dito
termo do seis dias vierom o concorrerem
muitos creodores, ou^'a-os o Juiz, e fai;a-
Ihes direito, entregando o dito preito, o
quantidade, &c. a aquelle, que melhor
direito tever, segundo a llordonai;om do
ElRey Dom Donis sobre tal caso feita;
e nom vindo algum crcedor ao dito ter-
mo, faça o Juiz entregar o dito preço c
quantidade ao dito vendedor, pois nom
vom quem lho embíu-gue.» Ibidem, liv.
4, tit. 53, v? '2. — «O que minha miseri-
córdia foz com a alma do Salamaõ, que-
ro telo eucuberto aos homens, para que
03 peccados da incontinência sejaõ mais
evitado» do todos.» Honarchia Lusitana,
liv. 5, cap. l'J. — «Teve crsto Princlpo
(a qim vulgarmente chainilo Uoy, as mo-
moiias (|Uo íaluò dello) huuia tiiha clia-
madii Eucratis, ou Eugiaeia, que alóm
das outnu perfoyçoens naturacs, teve a
do ser Christãu, o particular zeladora da
honra o Fi dt Josv Ciiristo.» Ibidem,
cap. 21. — «Va-8e um por outro, que
para passar meu uial basto o coutenta-
mento de Aabcr por quem o passo; mas
servir sem esperança, o viver com ella
perdida, nllo sei se a vida o jiodcrá sof-
frcr, que os males continuados desfavo-
recidos do algumas mostras alegres, ou
enganos, que os sustenham; prestes des-
baratam quem os tem.» Francisco de
Moraes, Desengano.
tciie dons Aiccbispudos,
Abadias, o Bispados,
fez dous irmãos Arcebispos,
])arciitos, aiiiipott ISinpos,
u criados miiy houriidos.
OAUOI^ PB BCZKXD», UISCELLÁXaA.
He loiígft V
a^iui inui perto.
Esfon;ae, não desmaieis;
e audciiios,
Qu'alli lia todo concerto
Mui certo :
Quantas cousas querereis
Tudo teiules.
OIL VICENTE, ACTO DA ALUA.
— «Pois tendo o Infante esta minha
informação approuada per muitos que
concorrião em huuia mesma cousa, come-
çou a poer cm execução esta obra (jue
tãto desejaua : mandando cada a-.ino dous
e trea nauios que lhe fossem descobrindo
a costa alem do cabo de Nam, que he
adiante do cabo da tiuilo obra de doze
legoa-.» Barros, Década 1, liv. 1, cap.
2. — «Donde se vo clai'o o favor de Dcos,
que temos da nossa parte; pois naõ so-
mente nos conserva, mas ainda nos faz
superiores a c.stes contrários, dandonos
delles gloriosas vitorias.» Sevcrim de Fa-
ria, Noticias de Portugal, Disc. 2, capi-
tulo 9.
Bem cotthe<;o que uão posso
Ter tão alto pensamento ;
Mas disto só me contento.
Que se paga com ser vosso
O mór mal do meu tormento.
CAM., SELEUCO.
Sc teiu! de Maioral a dignidade,
Com Cabana abundante, o largo aprisco ;
Porque acuriís dos Doures a impiedade?
AJIHADE DK JAZBNTK, POESIAS, tom. "2, pag. ST.
Se Franco cíintava bem,
Kra por i*so estimado :
K hoje qtiii,'ais que lie culpado
Por essa piwto que tem.
r. BÚDBIOCES LOBO, SCLOOXS.
— «Nos maloi da c<Mta tem muvto
brasil, u pao preto, do quu tudos o« ân-
uos «•; carr<;gaò muit de c^-m juacj» para
a (Jhioa, AynSu, Lc«]uios, (.'aml>oja, e
Ciiamp.'i: o tem mais iiiuvta cora, mel,
o açúcar.» Fcruilo Meud';* Pinto, Pere-
grinações, cap. 1^'J. — «Num coui oe
e grimldores, os quacs tem a« espadas
grossas c as pcruao deigadaii.» Va«oon-
ccilos. Arte militar, pag. 28. — «A cu-
j:i contii ticou terem muyt-i, cm fazerem
guardar inteiramente a interprutaçlo que
elle, e ueu amigo Thechel eiuinaulo, que
cm tudo era a mesma de Al>.-.» Fr-i Gas-
par de S. Ikrnar lino, Itinerário da ín-
dia, cap. 21. — «E-ita ilha de Moçambi-
que tem nmito bom ]>ort<j, jaz em terra
baixa alaga<li<;a, u doentia, hos piinci-
pacs ilella eraõ mouro< baços de diuersaa
naçõc.-", que tratauào dalii pêra muitas
]iartes, hos naturaes saS negros, aasi Itos
da ilha, quomo da t'-rra fírme, viucm em
casas de taipa eubertas de paliia.» Da-
mião do <i<ics, Chronica de D. Manoel,
part. 1, cap. 'à6.
Viva o bom Cordial ! viva a Tisana,
Quo me veio a VcTsaUies, empalhada.
Como o boui Hedemptor, nos veio ao Muixlo
Teixdo, por bcryo, palhas
r. u. DO SAíciMciíio, oBBAS, tom. 11, pag. 27i.i.
— Ter por òem ; approvar. — «O Con-
celho, e homens bous da dita Cidade
veendo e consirando o dapno, que se lhes
eude seguia, e poderia seguir hindu este
feito adiante, ouverom conâelho, e teve-
rom por bem, arredando seu dapno, e
chegando seu proveito, que as Naaos c
Navios quo se ouverem de fretar no Por-
to pêra averem de c;irregar d'aver de
peso, o outro sy algumas Naaos.» Ord.
Affons., liv. 4, tit. 5, § 3. — «E se ou-
ver dellc a meetado, nom se possa delle
partir, ataa que o serva meo anuo. £ se
alguns contra esto forem, teemos por bem
que sejaõ presos hu quer que forem acha-
dos, e nom sej.\o soltos, ataa que paguem
em dobro o que levarem, e as custas
que sobre esto fezerem.» Ibidem, tit. 2G,
— Ter tempo ; ter vagar, occasiSo. —
«Estivemos em Pemba 5. dias, nos quaes
cm quanto temos tempo será bom contar
das ilhas, que ja nos ticlio atras, ainda
que de passagem, pois lo.^o de Barros,
Damuio de líoea, Feruiio Lopes de Cas-
tanheda, Diogo do Couto, Frey António
de Sam Romão, Pêro de Maris, e em
particular Frey loão dos Sanctos na sua
Ethvopia Oriental nellas fulào.» Frei
Gaspar de S. Bernardino, Itinerário da
índia, cap. 4.
— Ter propt^Uo de fazer alguma cou-
sa ; ter intento de a fazer. — «N«i8 te-
mos ordenado em nossa fazenda, que hos
casamentos que agora se desembargaõ,
se paguem a dinheiro, sem poer de nouo
TER
tenças, por elles, e alguns que ficarão
do tempo passado, temos propósito de
hos mandar pagar ho mais cedo, que se
possa fazer, e assi do tempo dei Rei meu
senhor, e primo, que Deos haja, tal or-
denança ficou em nossa fazenda.» Da-
mião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 1, cap. 26.
— Ter principio; principiar, começar.
— «Pelo que pois por este meio das Co-
lónias teve a povoação do Reyno princi-
pio, naõ se lhe pôde buscar outro mais
próprio, nem mais fácil, para se povoar,
principalmente Alentejo; que c -m ser
quasi tanta terra, como o restante de
Portugal, esta quasi deserta, e com mui
poucas Villas, e Lugares.» Severim de
Faria, Noticias de Portugal, Disc. 1, ca-
pitulo 5.
Neste estado infeliz de hum Mundo occulto
Teve principio a humana Sociedade,
Fonte de tantos bens, fonte dos males,
Que do combate das paixões, sào obras.
J. A. DB MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Caut. 1.
— Ter em si ; conter dentro de si. —
f A Cidade de Damasco he muvto gran-
de e muvto notável Cidade, e muvto gros-
so povo como cabeça de Reino. Tem em
si muytas cercas, e divisões de edificios,
e paredes, huns chegados aos outros, e
de muitos pumares entremetidos pela Ci-
dade.» Tenreiro, Itinerário, cap. 33.
— Ter o titulo; intitular-se. — «E em
quanto elle esteve prezo em Castella, te-
ve o titulo de Almirante D. Joaõ Tello
irmaõ da Rainha Dona Leonor.» Severira
de Faria, Noticias de Portugal, Disc. 2,
cap. 13.
— Ter em mais; avaliar, estimar. —
iBrandamor lhe foi beijar a mão pola
humanidade que n'e!le achava. Chegan-
do-se mais perto el-rei o conheceu, e teve
em mais o caso, por ser tido por valen-
te cavalleiro; e logo o mandou curar,
havendo dó de o vêr em tal estado, nào
fallando em ai senão maravilhas de quem
o pozera n'elle.9 Francisco de Moraes,
Palmeirim d'Inglaterra, cap. 129.
— Ter vida; viver. — «E Pêro dal-
poem, para nelle ficarem em seu lugar o
que elle naõ quis consentir dizendo que
ainda tinha pes pêra andar, e mãos pêra
pelejar, e lingoa porá fallar, e siso para
reger, e esforço pêra mandar ainda, que
fosse de cama, que em quanto teuesse
vida não hauia ninguém de mandar no
jungo.» Damião de Góes, Chronica de
D. Manoel, part. 3, cap. 19.
— Ter a esperança perdida.
O menos que IhVntrejmei,
Foi esta cansada vida :
Caído que nisto acertei.
Porque de quanto esperei
Tenho a. esperança perdida.
C.IM., BEDONniLHAS.
TER
— iVao ter espaço para alguma cou-
sa; não ter tempo para ella. — «Nom
terrey espaço pêra te confessar o que
per avareza contra ti pequey.» Fr. João
Claro. Opúsculos, pag. 198, em Inéditos
d' Alcobaça, tmi. 1.
— Ter ]}or certo; crer, julgar, enten-
der. — (iQue determinaram quebrar a
instrucção que lhes fora dada; e sair a
elle. tendo a vingança e a victoria por
certa : e depois de o castigar, tornar a
sua guarda.» Francisco de iloraes, Pal-
meirim d'Iaglaterra, cap. 105. — aMui
contente ficou o Emperador com estas
palavras, crendo que menos bastavaõ pê-
ra o ter por certo : mas como as cousas
que o hovnem muito daseja, sempre tem
hum receio de as naõ alcançar.» Barros,
Clarimundo, liv. 2, cap. 4.
— Consei-var em seu poder aquillo de
que é senhor. — «Outro sy que mandem
da Nossa parte aos Arrabys dos Judeos,
e aos Alquaides dos Mouros, que ouver
nos ditos lugares, que esta meesma ma-
neira tenham com os Judeos e ilouros,
de que teem carrego, a que acharem
alguns privilégios, o o façam assy com-
prir, como dito he.» Ord. Affons., liv.
2, tit. 39, § 5,
Sabe, senhor, que girão
tem aqui o meu jantar
de boa constelação?
que por elle nào dirão
— estou porá arrebentar?
AKTOxio PBESTF.s, .vcTos, pag. 189.
E a corte gentil fragoa,
tem-me tão ensaboado
que de limpo e esperneado
me beberií o boi na agoa.
Minha Grimanoza Fróes,
ah ! senhora.
IBIDEM, pag. 349.
— «Porque tendo as Famílias Nobres
de Roma nos pateos das casas por insí-
gnias as imagens de seus antepassados
de páo, ou cera, com as cores, e propor-
çoens de cada hnma a mais natural, que
podia ser.» Severim de Faria, Noticias
de Portugal, Disc. 3, cap. 17. — «O
mestre cellestial daynos algum sinal por-
que possamos conhecer se temos vosso
spirito e amor, se somos perfilhados em
filhos vossos. Respondenos o Senhor com
as ditas palauras, dizendo: Quem he
de Deos, gosta de ouuir as palauras de
Deos, e doutrina celestial.» Fr. Bartho-
lomeu dos ]Martyres, Catecismo da dou-
trina christã.
— Ter nova ; ter noticia. — «Entrado
o Turco nella, não se deteve mais que
vinte dias, por ser chamado pelo Gover-
nador de Constantinopla com nova que
teve, que na Christandade se fazia huma
grossa Armada pêra vir sobre ella.» Bar-
ros, Década 2, liv. 10, cap. 6.
TER
703
— Ter por si alguém; tel-o em seu
abono, favor.
Teutates tens por ti : que por minha arte,
Dos Céos conseguirei que te prosperem.
Farei sahir, das brenhas, nossos Druidas
E eu própria, um ramo Carvalhal brandindo,
Na dextra, irei diante, nas batalhas.
F. M. DO SASCIMESTO, OS UABTTBES, lIV. 10.
— Ter conselhos ; recebel-os. — «Ante
da partida do qual teue elRey muitos
con-elhos, porque como a sua ida a.ssi po-
derosamente se causou por razão dos tra-
balhos do mar, e perigos da terra que
Pedraluarez Cabral passou, e por outras
cousas que vio e experimentou na com-
municaçào que teue com os Príncipes da-
quellas partes.» Barros, Década 1, liv. 6,
cap. 1.
— Ter em terra; receber em terra. —
»Però tanto que os Mouros o teuerão em
terra á vista dos nossos, como quem lhe
queria mostrar o gasalhado que farião a
quem saisse em terra, derãolhe tanta
pancada que o ouuerão de matar, se lhe
os nossos nãn socorrerão tirando cõ algu-
mas espingardas aos Mouros, que os fe-
zerão apartar da praya.» Barros, Década
2, liv. 1, cap. 1.
— Ter poder de fazer alguma cousa.
— «Pois o amor teve poder de o fazer
engeitar, e ter em pouco, a fermosura e
património de Lionarda, que são duas
cousas que poxacas vezes em uma pessoa
se ajuntam, engeitando-a de casamento,
que pelos naturaes do reino lhe foi com-
mcttido.í Francisco de Moraes, Palmei-
rim dTuglaterra, cap. 104.
Esta formosa donzella
Em mi teve tal poder.
Que folguei de me perder ;
rois,emfim, vim achar nella
O que não cuidei de ser.
CAM., FILODEMO, act. 4, SC. 6.
— Ir ter a alguma parte. — «D'alli
foram ter a mosteiro de frades, que com
muita diligencia os curaram, que na casa
havia quem o sabia bem fazer. Dramu-
siando se despediu com propósito de cum-
prir o que prommetêra a Floriano.» Fran-
cisco de Moraes. Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 87. — «Com o qual depois de che-
gado a ilha de Diuarri veo ter aos sxiij
dias Dabril hum Canarim natural de
Goa, que lhe dixe como as terras de Ban-
da, e do senhor de Conda! eram chega-
dos dons capitaens do Çabaim dalcão,
com muita gente, pêra entrarem a ilha
de Goa.» Damião de Góes, Chronica de
D. Manoel, part. 3, cap. 4.
— Ter clareza sobre alguma coxtsa ;
esclarecer-se sobre ella. — «Tem a cla-
reza sobre a aiitiguidade, segundo Sci-
piaõ Amirato, que ainda que seja moder-
na, vai mais, que a antiguidade sem
704
TER
TER
TER
ella.i Severim de Paria, Noticias de Por-
tugal, Diftc. 3, cap. 1 .
— ^ Ter absolvição; V-r iicrilJto.
Ora quorois f|uo faltjinos
vordudo, como lioiiiom dizV
oiidi! teiJin aH!íolvi(;iio
nunca cOBtiinia batnr,
nào Boi 80 tonlio tslí&o.
ANTÓNIO niESTEg, AUTOS, pag. 421.
— Ter amor a a/jiiein; amal-o, tor-llic
affeiçílo.
O doco fii)! aiitrc oapiíihas.
Credo o amor «cm mudanira
Quo vos tf.nhn c quo vou digo.
Asa! húmus primas minhas
K toda esta vizinhança
Todos tom amor comigo :
Dom Isagalia liar.iband
E Jlabi Abram Zaciito,
O Doncgal coroui;!.
QII, VIOKNTK, FAUVAS.
— Ter com alguém, ou um navio com
outro; íicompanhal-o, nílo ficar atraz.
— Fiííurailamoato: Valer.
— Ter ulfjnma cousa, ou dever com al-
ffuem ; ter negocio, rola^'ão com elle.
— Termo aiUlíjuado. Defender.
— Deter, demorar.
— /»• ter com ahiuem; ir bii?eal-o, cii-
contral-o a alp;an) logar.
— Ter em nenhuma conta alguma cou-
sa de alguém; não lho ligar importância.
— «Mas atentay irmãos, que se quereis
ser conuidadoa no conuite das consola-
ções da alma, lia mister que imiteis os
conuidado.s neste conuite, em vos assen-
tar sobro o feno dr.s consolai;ues carnacs
o térreas, pisando-as aos pecs: tendoãs
cm nenhuma conta : porque impoasiuel lie
gozar do humas e de outras.» Fr. Bar-
tliolomeu dos Martyres, Catecismo da
doutrina christã.
— • Ter jtisfir^a. — « E se dizeis que
tendes Justi(;a paraquo se vos olhe por
olla, isso se ha ile ver no feito per onde
a causa se ha de Julgar, e n.ào pelo quo
outrem de fi')ra possa lembrar, porque as
controvérsias e differenças sobre quo se
armão as demandas catre os litigàtes,
nunca se averiguão bem com replicas e
treplicas desnecessárias, nem com libei-
los c contrariedades fora de ordem, ar-
guidas mais para escurecer o entreter a
justiça a qtu'm a tem, que i>ara aclarar o
darlho oxceuçUo.» Fernão Mendes i'into,
Peregrinações, cap. 102.
— Ter armas para se defender, —
«Floriano vendo a viveza de Auderramc-
te, a craoza de seus golpes o o esforço
com quo se combatia, ns-ando do que ha-
via ncUo, começou líc o ferir com outra
brave/.a de golpes tanto por cima dos
sous, que em pouco espaço nem o mouro
teve armas pêra delendcr as carnes, nem
escudo pêra se cobrir, nem forças peia
pelejar, tão dcsfallocido OBtara de tudo.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, ca]). W>.
— Ter raiva a alguém: fi-r-lhi- ulio,
odialo.
Oh, qun raiva lho cu lenho! Alma rnbcldf,
Til mo oppvimnB o o piso nbhorrecido
DVssHS tiins virtiidi;*. (^uaiiU) cu dera
K to poduMU vor um criíiio ualmu !
oAuuKiT, cArÂu, act. 1, RO. 4.
— Ter por iliviaa uma pomba. — cO
mosmo conta Luis Ariosto, o António
Tonroyro, que as vio lançar, como eu vi :
o outros muytos ; o porque 08 AssirioB,
como diz Frey i^odro da Veyga, foram os
primeiros inuontorcs destes eorreos, orde-
naram terem suas armas por diuisa iiuma
Pomba, como in(ia agora tem.» Fr. (ias-
par de 8. Bernardino, Itinerário da ín-
dia, cap. 22.
— Ter pouca necessidade de saber uma
cousa; necessitar pouco de a saber. — «O
do Tigre se chegou a elle, dizendo: Saber-
me-heis, senhor, dizer quem são uns ca-
valleiros, que c;i. diante vão, ou que aíFron-
ta 03 faz ir com tanta pressa? De o sa-
bor tendes pouca neeossiilade, disse o ou-
tro ; porém porque n'isso não se perde
nada, nem vi')s lho podeis fazer peccado,
nem mercê, dir-vol-o-hei.» Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Inglalerra, cap. 104.
— Ter uma cousa por incrível ; jul-
gal-a, crêl-a como tal. — «E outras va-
rias cousas ha no mundo, mais nuvraui-
Ihosas que estas, as quacs não cspantão
;\quol!cs que anilando por elle; virão ou-
tras tanto, e mais notaueis, mas sò creo,
as terão por incrediuois, todos aquelles,
cuja incredulidade nasce mais da fi-aque-
za de seu animo, e pouca curiosidade de
as ver, e saber; que da falta delias.»
Frei Gaspar de S. Bernardino, Itinerá-
rio da índia, cap. 1 1 .
— Ter melhor cuidado; cuidar com
aiinoo. — «E se ja foram outra vez açou-
tados e nam se emendaram, maudaos me-
ter algun.s dias no tronco, alem de os
açoutar, pcra que com estes castigos dal-
li por diante tenham milhor cuydado. Se
acha que nem aprendem, nem tem abili-
dade, lançaos das escolas.» Frei (iaspar
da Cruz, Tratado das cousas da China,
cap. 17.
— Considerar, julgar, entender.
Pois ha alii tantos enganos
Qiio condomniio minha sorte ;
Kiio o tenho já por forte,
Se A volt.1 de tantos danos
Viesse também a morto.
CAM., SKLKUrO.
Senhor
antes eo' engano licàmos,
qnc por engano nào tfmos
ouganar-uos por amor.
ASTOMio rsssTEs, AUTOS, pag.
Tcnho-a por boUa du bellM,
Ir.tn-tM a mi por suinDUi bom,
cia-nio de mil novellai) ;
cinfim, que Ovidio me tom
IA no e/'0 fcitíi oétrella».
IBIDEM, pag. .321.
<!hovcm «ím v/m d'altanaría,
terdfã isso oin fant>'itia
iiic fazciít d<>r de cliaquoea.
Lidar comvoíco /: morrer.
iBiDKM, pag. 307.
— «JIou companheiro ciT os main, qnc
com elle ficarão, an<lauão ]iela prava,
qua.Ȓ ilesesperadoH, de eu po<lcr tomar,
tendome ju |>or captiao, porque auia mais
de seis horas, quo eu, e o soldado, dellet
nos apartáramos, nem os nosMM Arábios
que trouxeram a agoa, souberam dar de
níis mais nonas, que ficarmos na Aldeã,
onde elles não entrarão. iVstoa nestua
duuidas, nòâ que appareciamoa.i Frei
(Iaspar do >S. Bernardino, Itinerário da
índia, cap. 10.
Qnasi de a tor por Mày, por domicilio:
A cultura despreza altivo, e louco,
Uo arado o liso ferro alonga cm lança,
Converto a curva fouce cm dura OBpada,
K contra a própria espécie a cinge, empunha.
Nascendo agricaltor, morre guerreiro.
J. A. DP. MArifDO, A HATOBZA, Cant. 2.
— Não ter mais que escodrinhar.
Não tcru mais que c.^ícodrinhar,
que essa agoa a ha do cegar
quando quer que o ordenares,
c um quanto lhe falares
que és o outro ha de cuidar.
ANTO.NIO rBEtTBS, AITTOS, p*g- ^3.
— Julgar, crer. — tOs Boticários de-
duzem o principio da sua Arte donde a
Medicina confessa a sua origem; tendo
por hum dos principais argumentjs da
sua honra, o ser recommendada pello
mesmo Deos ao mundo para se conserva-
rem perduráveis, e eternas nelle as obras,
e exercicios dos ' seos Alumnos; como
affirmaõ estas palavras do Eccle.-ia«tico.»
Braz Luiz d'Abreu, Portugal medico,
pag. 116, ^ 64.
— Valer, ser egual.
— Ter negocio com alguém. Vid. Ha-
ver.
— Deter, demorar.
— Passar. — Ter hoa viagevi.
— Ter "1(10 ; suster quo n3o caia.
— Ter para si; ser d'opiniSo.
— Ter a prome!>sa; cumpril-a.
— Possuir qualidades da alma, o mo-
raes.
— Ter de encontro; resistir ao choque,
embate.
— Ter iiiyij'i. Vid. Invejar.
— Ter-vos-hão isso â cubica ; attriboi-
rJio, julgarão que ó cubica.
— Dizer, aftirmar.
TER
TER
TERÇ
705
— Que tendes com isso? que vos im-
porta V
— Figuradamente : Ter mão ; apoiar,
patroL-i.iar que se nào perca, arruine.
— Ter em pouco, ou em muito; ava-
liar, estimar.
— Emprega-se também como verbo
auxiliar, junto dos participios passivos.
— «Pois n<ào lie cousa crivei que tendo
contado a morte de Ermigario, e o modo
com que foy afogado no Rio Guadiana,
dissesse na mesma pagina poucas regras
abaixo, que Hermenerico morrera de sua
doença de a padecer sete annos contí-
nuos, se 03 não tivera por pessoas diver-
sas.» Monarchia Lusitana, liv. 6, cap. 6.
Essa está gontil desculpa
Para hojo dar a Alemcna !
Tem-no mandado chamar,
E cilc cstA tào descuidado !
CAM., AMPiivTsiÕES, act. õ, SC. 4.
— «Era a outra consideraçam, que
tendo o Rey tomado a mulher, e morto o
marido, e sendo o liomicidio tam diíFe-
rente crime do adultério, todavia na pa-
rábola somente se faz caso da represen-
taçam d'e3te dizendo, que mandou o rico
buscar liuma só ouilhinha que o pobre ti-
nha cm sua casa pêra banquetear o hos-
pede, sem chegar a dizer que sobro o
roubar o mandara matar.» Lucena, Vida
de S. Francisco Xavier, liv. 6, cap. 10.
— «Exemplo do que temos dito, seja o
que vemos nas Vendas-Novas, onde a
charneca he de área mais solta, e que pa-
recia mais infructifera.» Severim de Fa-
ria, Noticias de Portugal, Dlsc. 1, capi-
tulo 5.
Se vèa que ando enlevado
n'e3ta obra, até vêr n'clla
seu último fim lavrado,
por que tens negociado
tào mal o seu mestre d"clla ?
Não, o mestre, ellc virá
como vier.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pag. 17.
O desenho
do que começado tenho
já mo afronta, nào no quero;
o que quero, esta arte, engenho.
Mestre, nós façamos conta
vós o cu ; por escusado
hei-o até qui começado.
IBIDEM, pag. 75.
Os vossos maus presupostos
terão isso a mau fim posto ;
ponde isso a mtilhor encosto,
t[ue quem não passou desgostos
não pôde conhecer gosto.
iBiDBM, pag. 113.
Partes, amor?
Si , convém ;
isto é feito.
Tens sabido?
Dae-me boa nova.
voL. V. — 89.
Sabeis
que é amor?
iBiDK.M, pag. 225.
com quem tenho dado n<5,
nó que só morte desata,
esta só d 'amor me mata,
esta mo ha de matar scí.
IBIDEM, pag. 321.
Meus prejectos têem falhado
Com a estúpida plebe : vis ! adoram
O homem que eu abhorreço, que detesto,
Esse Catão, esse ídolo de néscios!
GARRETT, CATÃO, aCt. 1, SC. 4.
— «Arraya-raiuda! tendes vós já ele-
gido, entre vós outros, cidadãos bem fa-
lantes e avizados para propor vossos em-
bargos e rascados contra este maldicto e
descommunal ca.-^amento d'elrei com a mu-
lher de Joào Lourenço da Cunha?» Ale-
xandre Herculano, Arrhas por foro de
Hespanha, cup. 1.
— Pôr, metter, guardar em algum le-
gar. — • Ter dinheiro na gaveta.
— Ter-se, v.reji. Conter-se, reprimir-
se.
— Reputar-se, julgar, crêr-se. — «Assi
que e.stas como ha dos Pigmeus se deve
ter por cousa fabulosa, liça em todo ho
dito coiijeitura bastante pêra poder se
conjeiturar quam grande rey seja ho-da
China e quam estendida seja em suas ter-
ras ha me.^nia China.» Fr. Gaspar da
Cruz, Tratado das cousas da China,
cap. 4.
— Ter-se em pé ; suster-se.
— Fazer fundamento de alguma cousa
para obter outra.
— Ter-se dito; designa tempo compor-
to pretérito. — «Nem obsta o terse dito,
que a Medicina emmenda as queixas do
corpo, e a Ethica os vicies da alma, e
que quanto he menos que a alma pres-
tante o corpo, tanto deve ser mais que a
Medicina preclara a Ethica.» Braz Luiz
d'Abreu, Portugal medico, pag. 116, S
149.
— Ter-se colhido fructo; ter-se apro-
veitado, ter-se tirado fructo. — «Este foy
o principio da residência do Maluco, que
depois do collegio de S. Paulo de Goa, e
residência do cabo de Comorij, parece
precede em tempo ás mais casas da nossa
Companhia nas partes da índia: o uo
trabalho dos sugeitos, e fruyto, que se
tem colhido, também se deue contar en-
tre as primeiras.» Lucena, Vida de S.
Francisco Xavier, liv. 4, cap. 14.
— Ter-se alguma cousa; estar contente
e seguro com ella.
— Ter-se com alguma cousa; comba-
ter-se, resistir-se.
— Adágios e provérbios :
— Faze por ter, vir-te-hão vêr.
— Não tem real, nem ceitil.
— Não tem eira, nem beira, nem ramo
de iiírucira.
— Não tem nada, quem nada lhe bas-
ta.
— Mais tem o rico quando empobrece,
do que o pobre quando enriquece.
— Quem muito mel ou azeite tem, nas
versas o deite.
— Tem^ ífazenda, e olha bem d'onde
venha.
• — Tanto vai cada um na praça, quan-
to vai o que tem na caixa.
— Quem a muitos ha de manter, muito
ha de ter.
— Quem muito tem, muito gasta; quem
pouco tem, pouco lhe basta ; e quem nada
tem, Deus o mantém.
— Quem deve cento, e tem cento e
um, não deve a nenhum.
2.) TER, s. m., ou TERES, s. m. pi. Ha-
veres, bens, cabedaes.
TERCANAL, .«. m. Certo estofo antigo
e próprio para vestimentas e ornatos de
egrejas.
TERÇA, s. f. Uma parte do todo que
se divi^liu em três partes.
— Peça de madeira, que se lança por
baixo dos caibros para não dobrarem ou
sellarem.
— A terça parte da herança, ou patri-
mónio de que cada qual pôde dispGr,
mesmo que tenha herdeiros forçados, como
bem quizer. — «E nom abastando a dita
terça pêra ello, entom será defalcada da
dita Doaçom, e nom se fará defalcamento
da dita Doaçom ateo que toda a terça
seja desfalcada.» Ord. Affons., liv. 4,
tit. 14, § 9. — «E que isto se observe
com as mesmas condiçoens, com que hoje
naõ pôde o pai dotar mais, que a terça a
huma filha.» Severim de Faria, Noticias
de Portugal, Disc. 1, cap. 7. — «O pri-
meiro he fazer-se outra ley, que nenhum
pai, ou mài possa dotar a huma filha,
mais, que a legitima da filha, e da sua
terça a parte, que pro rata lhe couber.»
Ibidem.
— Uma das horas canónicas depois da
prima, ás nove horas da manhS.
— Plur. A terça parte das rendas dos
concelhos applicadas pelos povos para
fortificações e praças do reino.
— AD.A.GIO E PROVÉRBIO :
— Para ir á mesa, mais se requer,
que ser hora de terça.
TERÇÃ, ou TERÇÃA, ou TERÇAN, adj. e
s. — Febre terçã ; febre periódica de trea
em três dias. — o António Barboza de No-
vais morador na sua quinta de Arada jun-
to de Aveyro padeceo no Agosto de 1723
huma terçãa doble continua acompanha-
da de hum symptoma taõ pernicioso, que
ao passo que hia subindo a acessão, se
hia lastimo.saraente innanindo do sangue
com huma formidável dyscnteria.» Braz
Luiz d'Abreu, Portugal medico, pag. 208,
§ 204.
1.) TERÇADO, s. m. Espada curta, cur-
va e larga. — «O Mitaquer chegado a
elle, que o estava esperando á entrada do
706
TERC
TERC
TERC
castollo, 8C doceo do cavíillo em que liia,
e tirou da cinta o terçado que levava, e
lho offerecco em joellio.s, bcijandb pri-
moyro a terra cinco vezes, (|ue lie ceri-
monia de cort(!.<ia usada entro elles.»
í^crnão Mendes l'into, Peregrinações,
cap. 1L>0.
2.) TERÇADO, j>art. i>n8a. de Terçar.
— A lança terçada pur cima do pescoço
do cavallo. Vid. Terçar.
- — Pão terçado ; trigo, centeio, e mi-
lho de cuila um '/j.
TERÇADOR, A, adj. Torcoiro, media-
neiro, intercessor.
TERÇA-FEIRA, s. /. O terceiro dia da
semana, posterior á sogunda-feira, e an-
terior ;í quarta-feira.
Que dia c hoje ? terça-feira ;
vide quando vos erguestes
SC po.snstcs
os olhos n'alguma peneira.
ANTÓNIO PBESTES, AUTOS, pag. 353.
TERÇAO, s. ?)i. Ramo do vide, que
nasce da cepa, o que o podador devo dei-
xar quamlo osladroa a cepa. Vid. Tor-
sào, ou Torção, quo divergem.
TERÇAR, V. a. Jli.sturar trc3 cousas,
de que se faz um composto; d'ondc se de-
riva pão terçado ; cal terçada ; amassa-
da com agua c areia.
— Terçar a lança, espada, cajado ;
pegando n'ello atravessado diagonalmen-
te, e de maneira quo fique firme para re-
bater o golpe, e aparal-o no firme, e em-
pregal-o com força. A^^id. Terçado.
— Vid. Traçar.
nó mais que a terçar do fora.
Que 6, senhor?
O quo fòr.
ANTÓNIO ritKSTHS, AUTOS, pag. 437.
Jíl vós, villão, cscu.sacs?
quero de vós que terceis
como Uie eu fingir, nó mais.
— Terçar a capa. Vid. Traçar.
— V. n. Ser terceiro, intercessor por
alguém.
— Favorecer, servir, auxiliar, ajudar.
— ■ Dividir em três poryijes.
TERÇARIA, s. /. Deposito de terceiro,
que nào é nenhum dos litigantes e inte-
4'ossados.
TERÇAS, s. /. phir. — As terças do
unno; os quartéis de três em três mezes.
— Terças pontijicaes : as torças partes
das rendas, ou oblações feitas ás cgrejas,
que pertencem :í mantcnça dos bispos,
ficando as outras para o clero, c fabrica.
— As terças dos conccllios. Vid. Ter-
ça.
TERCEIRA, .S-. /. :Mediaueira, interces-
sora.
— Termo de musica. Consonância, que
comprehende o intervallo de dous tons o
meio,
— Alcoviteira.
— Kinpreira-se também liguradamente.
TERCEIRAMENTE, adr. Em terceiro Jo-
gar
1.) TERCEIRO, A, adj. Quo está logo
depois do .segundo, que está entre o se-
gundo e o quarto.
Do Herodes em Ucthlein, <;ÍH do Oriente
Vem 0S.1OS Magos lieis nlto dizendo,
Onde cstà o i|uc nacco Key dos Hebraicos?
Erttaua na terceira outro, que hum touro
Ferocissimo, e forte acompanhaua,
físte cscreue também, e na escritura
Estas palauras tae» bem ae cntcndiào.
iMandado de Gabriel (as U-tras dizem).
COBTF. RF.AL, NACFHAO10 I)R SEPUI-VEDA, CaHt. 10.
— «E p:Ta esta guarda seer feita com-
pridamente, devem seer esguardadas cin-
quo cousas : a primeira, que sejam os Al-
quaides taacs, como convém pcra guar-
darem 08 Castellos : a segunda, que os
Alquaidcs meesmos façam o que devem:
a terceira, que tenham lii comprimento
de homens: a quarta, de mantimento: e
a quinta, (Tarmas.» Ord. Aifons., liv. 1,
tit. (52, § 1. — «Yj se contra esto algum
homem nobre, ou algum outro quiser hir,
soja penado em quinhentos soldos; e se
ataa terceira pena se nom quiser corre-
ger, perderá quanto tiver, e será lança-
do fora da terra.» Ibidem, liv. 4, tit. 25,
§ 1 . — « E qualquer que as trouver, pas-
sado o dito tempo, se for Conde, Mees-
tre, ou Priol do Espital, ou outros Caval-
leiros, ou Escudeiros de grande condi-
çom, que pola primeira vez pague cin-
quo mil libras, o pola segunda dez mil,
c pola terceira porca as terras, c a con-
thia, que de nós houver.» Ibidem, liv.
õ, tit. 93, § 3. — «O terceiro era For-
nam Soares, debaixo d- cuja capitania
hiiio Rui da Cunha, fíonçalo Carneiro, e
loaõ Colaço, os quaes três capitães em se
acabando da perceber, cada hum deles
partio logo de maneira que antes de mea-
do Abril, estas três armad.is quo eram
todas de nãos grossas partiram perà Ín-
dia.» Damião de fiocs, Chronica de D.
Manoel, part. 2, eap. 13. — «Eexuiplo
disto seja Quinto, Fábio, Máximo, Ovi-
cula. O primeiro jiodemos hoje chamar
nome próprio, o segundo sobrenome na
Familia, o terceiro Appellido, c o quar-
to também Alcunha.» Severim do Faria,
Noticias de Portugal, Disc. 3, cap. 2. —
"Terceira. Porque dizer: ^Ví tjuehramos
amòos o jijinii, era derivar a falta pró-
pria da do seu mostro, e sócio, o allegal-
lo por complico e exemplar. Assim fez
nosso pae .Vdam, quamlo perguntado por-
(jue comera contra o preceito, mcteo con-
sigo a Eva, e ao mesmo Deos; a Eva que
lhe deu o pomo, c a Deos que lhe dera a
Eva.» Padre Manoel Bernardes, Flores-
ta, cap. 23. — «Terceira: procede tam-
bém de propor-mos cousa», que no pre-
sente estado nos naD conv<'-in ; ou por de-
masiadas para aa poucas forçaii de nosso
espirito; ou por o.-cisionadas á vanglo-
ria.» Idem, Exercícios espirituaes, jtag.
Gl. — «Ali-io (Jadamu.-to onfeK^a que a
vio algumas vezes. E no terceyro liuro
da historia Turquozca, se trati algumas
vezes nella. Da cayxa nHo tenho ea du-
uida, ma.- da ossada Dco.t sabe o qae foy
delia.» Frei ílaspar de S. Bernardino,
Itinerário da índia, cap. 8. — cSeja o
que for, eu de.sejey em extremo yr vela;
mas nom Mouro, nem ludeu ache}' quo
se atreuesse a outro tUto. Esta magoa ti-
ue, ate que ao terceiro dia, a horas de
véspera iios |iartim'is; e a boca da noy-
te, chegamos ao rio (!opal.> Ibidem, cap.
IG. — «A terceyra h« esta deserta, por-
que hora caminho, na qual nSo ha mon-
tes, nem vales, nem pedra, nem arca,
nem cou.sa que impida a vista em tanto
que se pode ver huma pessoa oyto e no-
ne legoas do espaço, tS direyta, e play-
na ho toda a terra que parece hum mar
em calma.» Ibidem, cap. 17.
— Terceira ordem de marcha ; o mes-
mo que ordem da retirada.
— Ordem terceira; ordem derivada
das ordens religio.sa.s, em quo entram pes-
soas leigas ; tem alpruns dos estatutos re-
ligiosos, ou ate uso.í c costumes e prati-
ca de devoção. Ha também religioso* ter-
ceiros, ou da terceira ordem de S. Fran-
cisco, etc.
— Jlhas terceiras; nome de uma das
ilhas, pos.3essòes de Portugal. — tPrinci-
palmente âqnelle, que eraõ oflSciaes des-
te mister da Coographia, por a pouca
distancia que aula das ilhas terceiras a
estas que descobrira Coiom, sobre o qual
negocio teue muitos conselhos: em que
assentou de mandar logo a dom Francis-
co d'Almeida filho do conde de Abrantes
dom Lopo, cõ huma armada a esta par-
te.» Barros, Década 1, liv. 3, cap. 11.
2.) TERCEIRO, s. m. Medianeiro, inter-
cessor do paz, de perdSo. — *E n.ào se
descuidando nesta matéria, foi-se ver com
ElRey de Tanor, e lhe pcdio que fosse
terceiro entre elle, e o (.rovernador, e
os concertasse, o qne elle prometteo de
fazer. E logo se foi a Chalé ver com o
(Governador, quo o recebeo com grande
apparato, c lhe doo huma cspaila de ou-
ro esmaltada, com outroa pclras curio-
sas.» Diogo de Couto. Oecada 4, liv. 7,
cap. 12.
— Que faz ofBcios por alguém.
— Figuradamente : .Alcoviteiro.
TERCENA, í. /. Annazem. — tFez de
nouo as casas da contrataçam de Guine,
e da índia, debaixo do aposento destes
paços da ribeira, começou as tercenas
da porta da Cruz, as quaes mandou fa-
zer pcra se nella guardar, e fundir arte-
Iharia, o assi as de cata que fara^, e a
casa da poluora cm Lisboa, e a casa da
TERÇ
TERE
TERM
707
armadia em Sanetarem.» Damião de
Cioes, Chronica de D. Manoel, part. 4,
eap. 95.
— Dá-se hoje em Lisboa este nomo á
fileira de casas eguaes, abaixo da fre-
guezia de Santos, sobre o rio, que ser-
vem de celleiros.
TERCENARIO, s. m. Beneficiado em
terça parte dos benesses.
TERCENEIRO, s. m. Homem que tra-
balha nas tercenas.
TERCER. Termo antiquado. Terceiro.
TERCERDIA, s. f. O prazo de três an-
nos, três mezes, três semanas e três dias,
que a lei concedia para se cobrar alguma
cousa cobravel, e exigivel segunda a Jei
da avoenga, ou preferencia na acquisi-
ção de tanto por tanto.
TERCESIMO. Vid. Trigésimo.
TERCETAR, v. n. Fazer tercetos.
TERCETO, s. m. Ramo de poema; com-
pue-se de três versos, dos quaes o pri-
meiro e o terceiro são consoantes, ou
os três versos do primeiro terceto são
consoantes com os do outro ; nos terce-
tos ordinários rimam o primeiro e ter-
ceiro versos com o segundo do terceto
antecedente, e o segundo verso com o
primeiro e ultimo do terceto subsequen-
te.
TERCIA, s. f. Vid. Terça. Uma das
horas canónicas menores.
TERCIAR, V. a. Vid. Terçar.
TERCIÁRIO, A, (tf^j. De terceira gran-
deza.
— Formado em terceiro log>ar.
— • Termo de geometria. Terreno ter-
ciário.
TERCIENA. Vid. Tercena.
TERCINELA, ou TERCIONELA, s. f.
Uma droga de seda de Itália, mais forte
que o tafetá.
f TERCIO. Vid. Terceiro. — «Porque
doze foraõ escolhidos à honra dos doze
Apóstolos, e o decimo tercio era o mes-
mo Rey Artur. Depois o Emperador Car-
los Magno fez outra companhia de doze
Cavalleiros, a que chamou Pares, que
quer dizer iguaes; e por isso também
comiaõ em mesa redonda, onde naõ ha
cabeceira.!) Severim de Faria, Noticias
de Portugal, Disc. 3, cap. 11.
TERCIODECIMO, A, at^j. O mesmo que
decimotercio ; um decimo terceiro.
TERCIONARIO, A, adj. e s. Pessoa que
soífre febre terçã.
TERCIOPELLÓ, adj. — Velludn tercio-
pello ; de ti-es pêllos.
l.;i TERÇO, s. m. — Um terço; a ter-
ça parte. — «E quãdo estas embarcações
se ajuntào nestas feyras, se ordena del-
ias hunia cidade muyto grade e muvto
nobre, que ao longo da terra toma com-
primento de mais de huma legoa, e qua-
si de hum terço de largo, em que ha mais
de vinte mil embarcações, a fora balões,
e guedees, e manchuas que não tem con-
to, por serem embarcações muyto peque-
nas, e em que a gente negocea. » Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 98.
— A terça parte da carreira das jus-
tas.
— Ser terço de alguma cousa; ser bom
meio de a obter.
— Figuradamente: Terço de navios;
como divisão.
— Terço, e quinto; eram porções de
património, de que podiam dispor os tes-
tadores, ainda tendo herdeiros forçados;
o terço dos bens adquiridos, o quinto
dos herdados; hoje só dispomos livre-
mente da terça, tendo herdeiros forca-
dos.
— Porção de soldados, que tem varia-
do no numero das companhias, quasi um
regimento: os terços auxiliares tinham
por chefes os mestres de campo, e agora
coronéis.
— Terços da abobada, da columna, da
espada; a terça parte da sua largura,
omle estas cousas são mais fortes.
TERÇO, s. m. O macho de uma espé-
cie de ave de rapina. Açor, falcão, ga-
vião terço, são inferiores aos primas das
suas espécies. Vid. Treçó.
TERÇO, A, alj. Termo antiquado. Tei-
moso, contumaz, pertinaz.
TERÇOL, s. m. Empola que nasce na
capella do olho, e suppura.
— Vid. Hordeole.
f TEREBENTHINA, s. f. Nome colle-
ctivo das resinas liquidas, que são sue-
cos odoríferos, semi-liquidos e glutinosos
d'arvores da familia das coníferas e das
terebinthaceas.
TEREBINTHACEAS, s. f. plur. Termo
de botânica. Faniilia de plantas que tem
por tvpo o terebintho.
TEREBINTIA, ou TEREBINTINA, «. /.
Vid. Terebenthina.
TEREBINTINADO, A, adj. Que parti-
cipa da terebintina.
TEREBINTINO, adj. Vid. Terebinti-
nado.
TEREBINTO, ou TEREBINTHO, s. m.
(Do grego ttrebinfhos}. Termo de botâ-
nica. Arvore resinosa de altura mediana,
cujo fructo vem apinhado ; do tronco se
tira por incisão a terebintina.
TEREBRA, s. f. (Do latim terebra).
Uma machina de guerra antiga.
TEREBRAR, v. a. (Do lathn terebrare) .
Furar com verruma.
TEREBRATULA, s. /. Termo de zoolo-
gia. (Jenero de conchas bivalves, de que
ha varias espécies.
TERECENA, s. /. Vid. Tercena. —«Es-
tes quatro moços e o Mitaquer que era
o que nos guiava, passarão daquv por
hum corredor armado sobre vinte e seis
colunas de bronzo, e delle entramos em
huma grande sala de madeyra como te-
recena, na qual estava muvta gente no-
bre, em que avia alguns estrangeyros
Mogores e Pérsios, Berdios, Calaminhãs,
e Bramaas do Sornau Rev de Sião.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações, ca-
pitulo 122.
TEREBEM, s. f. Termo de historia na-
tural. Verme que róe a madeira. — A
teredem aclavada.
TERES, s. m. plur. Vid. Ter (substan-
tivo) .
TERGEMINADO, A, adj. (Do latim íer-
geminatus). Termo de botânica. Que fúr-
ma três dobras. Diz-se de uma folha
composta, cujo peciolo commum termina
por dous peciolos secundários, tendo ca-
da um um par de foliolos na parte supe-
rior, em quanto que o peciolo commum
tem um terceiro par na origem dos dous
peciolos secundários.
TERGEMINO, A, adj. (Do latim terg&.
vtinus). Termo de poesia. Triplo, tresdo-
brado, porque eram três em um corpo.
TERGIVERSAÇÃO, s. f. (Do latim ter-
giversatio). Variação de razões, ou meios
para fugir, evadir-se, e escapar-se de
executar alguma cousa.
TERGIVERSADOR, A, s. e adj. Que
usa de tergiversações.
TERGIVERSANTE, part. act. de Ter-
giversar. Vid. Tergiversador.
TERGIVERSAR, r. a. iDo latim tergi-
versare). Dar as costas.
— Figuradamente: Variar de razões,
e meios para escapar, fugir, escusar, ou
defender alguma cousa com meios e ra-
zões alheias do assumpto.
TERGO, s. m. (Do latim tergus). To-
ma-se por Costas. = Desusado.
TERICIA, í. /. Termo popular. Vid.
Icterícia, e Atericía.
TERIÓ DE GOA, s. wi. Termo de his-
toria natural. Animal do género dos for-
migueiros; vive na Africa.
TERISTRO, s. m. Vid. Theristro.
TERJURAR, V. a. Vid. Tresjurar, ter-
mo mais em uso.
TERME, s. m. Termo de historia natu-
ral. Insecto destruidor da Africa e Ame-
rica e até da índia, de que ha varias es-
pécies, a saber: o terme fatal, o terme
mordaz, etc.
TERMENTINA, íj. /. Vid. Terebíntía.
TERMINAÇÃO, s. /. (Do latim termi-
natio). Termo de grammatica. Desinên-
cia.
— Conclusão, remate, fira d'alguma
cousa.
TERMINADO, part. j^ass. de Terminar.
Acabado, limitado.
TERMINAL, adj. 2 gen. (Do latim ter^
minalis). Termo de historia natural. Díz-
se do que termina uma parte, do que
fóiMua a extremidade d'ella.
— Termo de anatomia. Fio, ou jilett
terminal; filamento concavo que termina
a dura-mater rachidiana.
— Termo de botânica. Diz-se de todo
o órgão que nasce no vértice de um ou-
tro. — Gomos terminaes.
— Termo de antiguidade romana. Que
diz respeito aos limites. — Lei terminal.
708
TERM
TER»!
TERM
— Final, ultimo, derrarleiro, termi-
nante
TERMINANTE, pnrf. art. ile Terminar.
Que termina.
— Razões terminantes ; razões que de-
cidem c fazem neabar a questão.
— I^is terminantes; leis que provam
bem.
— SiN. : Terminante, decisiva. Vid.
este ultimo termo.
TERMINANTISSIMO, A, adj. superl.
do Terminante. Mui terminante.
TERMINAR, v. u. [Do latim termina-
)•(', de turmiaus), Vôr termo, limitar. —
«.\ objurííação com que terminei o poe-
nui, a moilo do enini/ do ])rovoii<;al, ou
com mais cxacção de acre sirventc que
fustiga um crime público — em todo o
caso era merecida; porque é certo que
Nação, Rei e (lovòrno, todos peccaram
do culposa incúria em não ter feito a
a minima diligencia pai'a descubrir o
monumento de sua maior gliiria.» Gar-
rett, Camões, nota E ao cant. 10.
— Dar demarcaçíjes, e termos de es-
tancia, o de vivenda arrumando, gra-
duando, descrevendo geographicamente.
• — V. n. Acabar, perecer.
— Concluir.
— Terminar-se, v. rejl. Acabar-se, li-
mitar-se, eoiK'luir-so.
TERMINATIVAMENTE, adv. (De termi-
nativo, e o suíTixo «mente»). De um modo
termi nativo.
— Relativamente ao termo, ao obje-
cto.
TERMINATIVO, A, adj. Termo de gram-
matica. Que forma a terminação.
— Que diz respeito ao termo, ao obje-
cto de unu\ acção, otc.
TERMINO, s. ;)í. (Do latim terminus).
Termo, raia, limite, contim.
Ku descubro estes Ccos, cu vejo os Astros,
Do brai;o omuipotento obra primeira.
Portentosa extensão, continuo vòo
Pelo tio de séculos iinmcnsoa
Nào te cliog-.íra aos termino!', que a meute
Mal to assignalii uos confins do Xada.
J. A. Di: MACEDO, A NATUBHZA, CiUt. 1.
Tal ho d'alniii a illusiio, inda «"estendem
A moid, c mais os términos do Globo.
IBIDEM.
E o pensamento em fim profundo, c forte
Do mundo alem dos términos se lança.
TERMINOLOGIA, s. /. (Do latim termi-
nas, e do grego logos). Reunião dos ter-
mos teehnicos duma sciencia, ou de uma
arte. — .á terminologia chimica.
— Sciencia dos t>.'rmos teehnicos, ou
das idèa; que oUes representam.
TERMO, s. in. (Do latim tenninus). Li-
mite, marco, signal posto nos confins da
terra.
— Fazer termo ; fazer fim, ces.iar. —
«Porque aqui tí/.eraõ o primeiro termo,
e de maior esperança do seu dusc')bri-
mento pêra que conuinlia dir.sporen.sc com
as consciências em estado, que suas pre-
zes fossem accejjtas a Dco.s, e mães por
sor tempo de quaresma cm que a Igreja
obriga a i.sso.» Uarros, Década 1, liv. 4,
cap. 4.
— • Tempo fixo para n'ellc se fazer al-
guma cousíi; espaço, prazo.
— Assiijnar termo ; obrigaç.lo de fa-
zer, ou deixar de fazer certa cousa den-
tro de certo tempo.
— O espaço do tempo concedido aos
litigantes no foro; c, iraqui, a termos
largo.v; de longo a longo tempo.
— i*Víst;r termos de murte; estar expi-
rando.
— Estado conveniente. — «O VisoRey
por que tinha muito que fazer no despa-
cho das nãos, c o tempo era mui breue
pêra a partida delhis, naò se pode ali
mais deter que outo, ou dez dias em
quanto acabou de cortar bem aquella
ponta de terra em que estaua elegida a
fortaleza, o começou de a poer em ter-
mos que ficaua pêra se a gente poder
bem defender.» Barros, Década 1, liv.
9, cap. 4.
— -Modo, geito que se leva nos negócios,
com que se fazem as cousas. — «E j)or-
que pêra leixarcm estas cousas do esta-
do da guerra postas em termos que po-
dessem auer carga da cspecearia, era
necessário fazer alguma demora, ordena-
rão de carregar a António do Capo pêra
vir diante dar noua a ElRey da perdição
de Vicente Sodré e das victorias que ti-
nhao auido do Camorij de Calecut.» Bar-
ros, Década 1, liv. tí, cap. 2.
— Comarca, terras de lavor. — «Estes
começarão a esciíraniuçar de huma parte
para outi"a, e o fizeraõ taõ bem, e tão
dcspejadamente, que as mais das vezes
se cneijtravão huns com os outros, e
muytas delias caiiião três quatro no chaõ,
por onde se eutendeo que devia de ser
gente do termo que era aly ^^nda mais
por força que por sua vontade.» Fernão
Mendes Tinto, Peregrinações, cap. (J5.
— As locuçijes particulares ás artes,
sciencias, etc. — «Cheyo Ciida hum dos
termos da Arte que mais exercita, nào
pódc evita-los nos discursos por mais que
quevra, empregando-os a toda a hora, c
usando delles em toda a occasião.» Ca-
valleiro d'01iveira. Cartas, liv. 1, n.° 39.
— Obrigação por escripto :l ordem do
juiz, de fazer ou deixar de fazei- certa
cousa dentro de certo tempo.
— Ser alguma cousa termo de morte a
alguém ; ser de sunuua perda c do maior
desgosto.
— No calculo, é um membro de pro-
porção.
— Fim em que pára alguma cousa.
— Em termos ?iaòeis; sendo factivel,
sem inconveniente, ou prejuízo de ter-
ceiro.
— Fim, limite plivaico ou moral. —
«Mas o Tnao termo de Severo fez com
que os Soididos l'retorianos eleges.sem a
Maxeucio em seu despeito, o os seus pró-
prio» lhe cortíissem a cabeça: e a fíale-
rio que vinha com as Legioena de Orien-
te a castigar este insulto, acabou a vida
huma postema pelos annos de Christo, de
."511. e 4'Jt!H. .la Creaçlo do Mundo.»
Monarchia Lusitana, liv. ú, cap. 24. —
«E que aos procuradores do desemparo
dos pobres se desse também vista, para
que no termo dos cinco dias que lhe fo-
rão assinados, allegassem por nossa can-
sa o que fosse direyto.» Fernão Mendes
Pinto, Peregrinações, cap. 101.
De hum Dcos Omnipotente as Dbraa canto,
Elias são prova da ciistcncia aua.
De meus versos serão matéria, c termo.
]. A. DE MACEDO, A NATCSEZA, Oant. 1.
— Espaço que abrange a jurísdicçSo dos
seus juizes. — «E vindo a esse termo al-
guuni seu creedor, que amostre sua divi-
da claramente per Escriptura pruvica,
que lhe nom for embargada, ou tolhida
pelo dito vendedor, faç.i-lhe o dito Juiz
])agar sua divida jielo preço, e quantida-
de, que assi for consinada; e se alguma
cousa ficar, faça-a entregar ao dito ven-
dedor.» Ord. Affons., liv. 4, tit. 53, § 2.
— Termos rt partidos ; terras, herda-
des demarcadas entre os differentcs se-
nhores, e heroes.
— Dicção, vocábulo, palavra. — « E o
Satyrico significa pelo mesmo termo ter
sabido da idade juvenil, dizendo: Per-
misit sparsisse óculos jam canJidus um-
bo.t Severim de Faria, Noticias de Por-
tugal, Disc. 3, cap. 3. — «Este nome .õt-
nhor, se derivou do latino: Stnior, que
quer dizer o mais velho; e conforme a
Seipiaõ Amirato se começou a nsar deste
termo, pelo de Dominus. depois da en-
trada dos Longobardos em Itália, t Ibi-
dem, cap. 27.
Sabeis que proouratorios
são uns termos porcntoriOB
pêra íi» hoc siito vincei,
parmcno nào ni'o distriuccs.
AXTOMO FHESTES, AUTOS, pag. 121.
— Meio termo ; temperamento para
compor, concertar alguma t-ousa em bem.
— Modo de portar-sc em cousas de
cortesia, urbanidade, maneira, modo de-
licado, e cortez.
— Meios termos ; modos de escapar,
tergiversações do que n.ào quer obrar,
executar, cumprir; rodeios, ambagens.
— Levar a cousa por seus termos;
leval-a ordenadamente, conforme o uso,
e meios próprios.
TERO
TERR
TERR
ro9
— Syn. : Termo, fim, palavra. Vid. es-
tes dous últimos vocábulos.
-j- TERMOS. Inlinito pessoal do verbo
ter. — aUeípois de termos cumprido cõ
Deos, e com os padres, assi carnaes co-
mo spirituaes (que em alguma maneira
nos saij em lugar de Deos) tica cumpri-
mos com os mais próximos, não os dani-
ticando, nem agrauaudo em cousa algu-
ma. Y, porque entre as cousas corporaes,
a vida he a mais principal, e deue ser
mais estimada, por tãto o mayor dano
que podemos fozer a hum próximo, he
tirarlho a vida.» Fr. Bartaolomeu dos
Martyres, Cateoismo da doutrina chris-
tã.
TERNADO, A, adj. Termo de botâni-
ca. Três em rama, fallando das folhas.
— Fixado três a três.
TERNAL. Termo antiquado. Vid. Ter-
nário.
TERNAMENTE, adv. (De terno, com
o suffiso «mente»). De um modo terno.
— Com ternui'a.
TERNÁRIO, A, adj. (Do latim ferna-
rius'.. De três.
— Termo de musica. Compasso em
três tempos eguaes. de ti-es partes.
TERNAS. Vid, Ternos, nos dados.
TERNATEZ, adj. 2 yen. Natural, ou
pertencente a Ternate.
TERNEIRA, 5. /. Noviliia, de carnes
tenras.
— Vitella. Vid. Tenreira.
TERNEZA, s. /. Vid. Ternura.
TERNISSIMAMENTE, adv. superl. Mui
ternamente.
TERNÍSSIMO, A, adj. superl. de Terno.
Muito terno. — O terníssimo amur.
1.) TERNO, s. f. Qualquer apparelho
que para ser completo precisa de três
cousas similhantes.
— Três pessoas.
— Ternos ; nos dados de jogar, designa
os três pontos, quando os pintam ambos
de um lanço.
2.) TERNO, A, adj. De coração bran-
do, mavioso, compassivo.
— Figm-adamente : O terno grilhão.
Férreo, c terno grilhão ao mar bramoso
Lançou na moUe arêa a 5Iào do Eterno,
Sempiterno decreto alli presente.
J. A. DF. MACEDO, A NATCBEZA, Caut. 3.
— Figuradamente: Que indica a ter-
nura do animo.
TERNURA, s. /. O caracter do que é
terno.
— Brandura maviosa.
TEROLERO, s. /". Um som a que se
dançava, e a dança feita a esse som.
Mas de todo teroUro.
Vão filhas de atafoneiros,
e mil ^"illueò ruins,
com barras e carmezins,
debrús e demos inteiros,
todo Valença em chapins ;
e minha filha, que é cume
do cume, dos cumes d'ella3 ?
AKioxio PRESTES, Auros, pag. ibl.
TERRA, s. f. (Do latim terra). O mais
pesado dos quatro elementos, que ordina-
riamente cria 03 vegetaes. — iPelo que
nos postos, onde a terra naò for boa, se i
naõ de charneca, pôde servil' do que di- 1
zemos ; ou assim mesmo de escellentes \
colmeares, como se vè na Serra de Ser- j
pa, na de Portel, e no termo de i^almel- ,
la.» Severim de Faria, Noticias de Por- ^
tugal, Disc. 1, cap. õ.
Oh ! minha Rasão, que fruito
pode a terra
produzir, pois te desterra
onde o muito do mais muito
que nelle vive, se encerra.
AXTOsio PBESiEs, Auros, pag. 40.
— O mundo, os homens. — a Por gran-
de louvor he contado ao Rev, ou a qual-
quer outro Princepy da terra, seer fran-
co, e liberal, usando com seu povoo de
franquezas e liberdades, e dWtras eixen-
çooens; e muito mais deve seer louvado
quando he avudo por justo.» Ord. Affons.,
liv. õ, tit. 1.
Este planeta escolhido
Escolheo, porque he profundo,
O mais alto bom do mundo.
Muitos bens deu Deos na terra,
Porém se este não ^-icra,
Nunca nos amanhecera.
GIL VICE5IE, I-ABÇAS.
Leda serenidade deleitosa.
Que rejiresenta em terra um paraíso ;
Entre rubis e perlas doce riso,
Debaixo de ouro e neve côr de rosa.
CAM., SOSEIO u." 78.
Essa eterna Eazào por mim conhece,
Quo 30 descobre, que fulgura em tudo,
Quanto descobre o Coo, quanto na Terra
Kosâos olhos attonitos contemplào.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EIT.VTICA, Caut. 2.
Distancia, que confunde a mente humana,
E que a luz nhum momento abrange, e corre.
Sábio traçou Meridiana Linha,
E por ella nos mostra o variante
Moto veloz da Terra ao Sol em torno.
IBIDEM, cant. 4.
Ali ! meu pae como hade
Resistir so por si á conjurada
1'òrça de homens e fados ? E so elle
Na terra, — e a terra toda é ja de César.
OABBETT, CATÃO, act. 1, SC. Õ.
— Regiào. — oE aquelle, que ouver
de dar a dita gaança, perca outro tanto,
como for o principal que recebeo, e seja
todo pêra a Coroa dos nossos Regnos : e
per aqui entendemos, que poderá o con-
trauto usureiro tam iniicito da nossa ter-
ra, e Senhorio seer esquivado.» Ord.
Affons., liv. 4, tit. 19. § 1. — «Porque
como viraõ hir os primeiros em desbara-
to, logo todos se passarão da outra banda,
do Estreito, que eraõ terras de Bisme
Naique, hum vassallo do Rev de Canarà.
Manoel Rodrigues Coutinho mandou tam-
bém passar sua mulher, e filhos, e elle
com os que o seguirão também o tizeraõ.»
Diogo de Couto, Década 6, liv. 10, cap.
9. — «Feito isto cometeo o Camereiro
mòr com os Portuguezes as terras do Ma-
dnne por huma parte, o Príncipe das Ger-
ias pela outra, e o Tríbuly Pandar pela
outra de Pelande. Pela parte por onde o
Camereiro mòr entrou lhe sahio ao en-
contro o Capitão geral do Madune com
quem tiveraõ os nossos alguns recontros,
em que o desbaratarão.» Ibidem, cap. 12.
— «A estas terras chamavaõ Solares, de-
rivando o nomo da palavra latina soluni,
que quer dizer terra, e assento, donde o
homem está.» Severim de Faria, Noticias
de Portugal, Disc. 3, cap. 2.
Magnificência, c lei de verdade :
dae-lhe vós, gentes de todas as terras,
a honi'a dorida, armae vossas guerras
em só veneral-o de toda a vontade.
ASTOXIO PBESTES, AUTOS, pag. 95.
Não lhe faz o alho febre,
tem perdiz, coelho, lebre,
criação, todo o bem mero ;
é terra de como quero
uào do como me requebre.
IBIDEM, pag. 159.
Alguidar.
Nào lhe quiz ella fallar.
Panella.
Bem se pode alimpar d'eUa.
Que gente esta para os nabos
da inha terra !
IBIDEM, pag. 461.
— «Pelo que eu, como quem vay de
caminho, nào farey mais que apontar as
mais celebres, e principaes, assi ^^or não
ser molesto, como por não an-iscar o
credito a que estão ofierecidos os que
tratão muitas cousas das terras, donde
nào saõ naturaes.» Fr. Gaspar de S.
Bernardino, Itinerário da índia, cap. 8.
— «Os que quiserem facilmente enten-
der a onde esta ao presente a Cidade es-
tendào pêra o Oriente a mão esquerda vi-
rado a palma pêra bayxo: tudo o que fi-
car bem junto ao dedo meminho he Ará-
bia deserta, em cujo destricto cae pro-
priamente a terra a que chamào Sjria.»
Ibidem, cap. 18. — «Que he ja cento, e
cincoenta legoas de Malaca na parte da
mesma costa chamada Queda frol da pi-
menta de toda aquella terra : e sentindo
passar de noite cosido com ella hum pa-
raó de pescadores, mandaram logo a elle
por saber da agoada (que dos Achens ja
nam auia pensamento) querendo pêra si
710
TERK
TERU
TERK
nesta einproaa D.ios iioaso Senhor a f,'lo-
ria toda, iiaiii hó de caiiitam |K;lejaiido,
mas do piloto fíuiaudo.u Lueeua, Vida de
S. Francisco Xavier, liv. f), cap. l."». —
iEiii esta terra vi lainhiiui cm cila Mou-
roa casados cò Cliiistau« : o guanlavuõ
sua Icv. DisHoraô <|ue o seu Mafainedc
deyxara aiiuolle Privilcfíio. Esta Cidade
tem quatro portas por oude se sorve para
fíira sobre que estaõ fermosas torre», em
quo pousai) Turcos os ([uaos guardào de
continuo estas portas com suas armas e
o.spiufíardas : e as fecliai5 to^laa as noytes,
e tem por ordenança ucnliuma pcissoa es-
tran^'cvra, nem mercador saliir jiara fora
sem iuim sinal, ou selio do (íovornador,
c 15axà dulla, e ao que o naõ acliaõ jiren-
deniuo ato saber que homem hc.» Ten-
reiro, Itinerário, cap. 28.
— O planeta que habitamos ; compõe
se de terra, mares, rios, lagos, ctc.
O souliov Embaixador
Do Ccsar Imperador
Creio <\nc iiacoo no ceo •,
Maí se ua terra naceo,
(iual planeta cm seu favor
Foi a (luc lhe aconteceo ?
ou. VICENTK, KARÇAS.
— «Acabadas as palavras, como já es-
tivessem prestes, embrac-ados os oseudos,
as lanças baixas, i)artiram com tamanho
estrondo, que parecia fundir a terra.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'lngla-
terra, cap. 94. — «Mas porque a guerra
se divide cm terrestre, e marítima, fal-
laremos primeiro da terra, como mais
principal, discorrendo pelos maiores offi-
cios do exercito, dando particular noticia
de cada hum, com tudo o que pertence à
Milicia antiga. » Soverim de F; ria, Noti-
cias de Portugal, Disc. 2, cap. 1.
Um quer ser Rei, e mais Deos,
outros dominam por guerra,
um iiuer terra, outro quer céos,
e para tão vãos aleos
nào ha tantos céos ucm terra.
Ora c:l iV judicatura
jA tiz jura,
preito, homonagc c mais loi
dessem chamado de líci
aer acordo uem pintura.
AsiTosio PBKSTES, Auros, pag. 301.
Cahe a prumo do lá, c hum pouco as azas
No ar equilibrou próximo A Terra.
J. A. DE MACKPO, A NATUREZA, Cant. 1.
Kis súbito 80 enrola a névoa osíicssa,
Súbito á vista, ao longe, estranhos montes
So iiiostrào n'horizonte, cmmaranhadas
lUouli;i3 que o brai;o humano, o ferro diuo
Inda não tinhào profanado. A ternt
Do centro, e lados encurvada, acolhe
Em largo bolso o mar, o os combatidos
Lenhos convida a repousar seguros.
A 3Vrr(i nossa Mãy, qu' em seu regaço
Nos recebo u.isoeudo, c nos sustenta,
I 1'. quando as justas mãos da Knturcxa
llasgão da frágil vida a iiistavi-1 Teu.
iniuKU, caiit. 2.
— Terra chã; não cercada, sem mu-
ros. — tNcHta ordem aballaram toilos per
huuia terra ehau' de moutas, c mato raro,
tendo J:l Nuno fernandes nian<lando iJio-
go Lopes almocadem com dous mouros a
descobrir, e nas costas delles fornati Do-
minguez, com alguns besteiros, c esjún-
gardeiros.i Dami.^io de (iões, Chronica de
D. Manoel, part. 3, axy. 75.
— ]>i/.-sc a co.sta, em opposiçSo ao
mar. — «Henrique de Sousa Cliichorro
CapitaíJ do Còchim fortificou nmito bem
a Cidade, e ElRcy do Còchim .ijuntou
perto de quarenta mil homens pêra de-
fender seu Reino. Disto avisárSo por ter-
ra ao Governador por muitos Patam.ares,
que chegarão logo apoz Fernaij Rodri-
gues de Mariz.» Diogo do Couto, Dé-
cadas.
O mar, a terra, os ares estendidos
Em si contém partículas diversas.
J. A. DE UACCDO, .A NATUUKZA, Caut. 2.
Qu' os incansáveis Batavos lhe punhào,
Cobro as Cidades, c confunde os Campos ;
Onde era lloUanda ho mar, onde era terra
Husca debalde o navegante absorto.
Ditoso ilanoel forçar podéra,
Dando a vèr ;is Nações mais largo o JFundo,
Dando nomes ao Mar, limite ã Terra.
IDEU, VIAGEM EXTÁTICA, Caut. 4.
— Sair a terra; desembarcar. — «So-
bre estes pregoens nào deixarão de sahLr
a terra alguns soldados. E dizendo ao
Capitaij que andavaõ alguns na praya,
se mctco em huma embarcaçaíj pequena
com grande paixrio, e chegando à prava
vio nella Dom Rodrigo de Menezes, e
chegando perto delle lhe disse alto.» Dio-
go de Couto, Década G, liv. 9, cap. 20.
— Entregar á terra o corpo; sepul-
tal-o, enterral-o. — «ilanda dobrar os
sinos, acender círios, preceder o estan-
darte da Cruz, cantar os seus Ministros,
ordcnarse huma procissão : ultimamente
entrega aquelle corpo â terra como hum
deposito precioso, mostrando nas muitas,
e misteriosas ceremonias, de que uza, o
caso que faz delle.» Padre Manoel Ber-
nardes, Exercícios espirituaes, pag. 483.
— Deí:eMbarcar cm terra; saltar cm
terra. — «.\onde ainda estavaõ os navios
de D. Joaõ Coutinho, e os mais quo ti-
nhão partido de Ternate, e embarcouse
na caravela cõ Manoel Roto, aonde este-
ve atò ser monç.ão, sem desembarcar om
terra, por se niío encontrar com D. Ro-
drigo de Menezes, piu-quo se ficou te-
mendo delle.» Diogo de Couto, Década 6,
liv. 9, cap. 20.
— Terra firme ; o continente. — tCon-
clue-Ho primo, que nem as Uuas do ()coa«-
no forSo alguma hora part<'s da terra fir-
nie, uem no Oceano houve a fabulosa
lUui Atlanta.» António ("ordeiro, Histo-
ria Insulana, liv. 1, cap. D».
— A fria terra; a M;pultura.
— JJcir em terra; derribar, deitar ao
cbSo.
De que ? d'um iiadit :
molheres naturalniontc
dão logo cm terra eoo facho
8<j douvirem us.ida. quente
as assombra uin accidente.
A.VTOSIO PUE8TE», ACTOU, pag. 365.
— Terra fria ; terra fresca, terra pou-
co quente. — «Est^t terra e comarqua he
bem liabitada e de muytas aldeoa e lufa-
res de lavradores mouros e TurqnimSis :
he muy fria terra hc estava toda cubcrta
de neve com que tevemos niuyto tra-
balho por nos c.ayrcm aa bestaa com as
carregas.» Tenreiro, Itinerário, capitu-
lo 14.
— Coni os Joelhos postos em terra; com
os joelhos no chiio. — «A que os grepos de
cima do carro acudiâo logo com muyta
pressa, e cortandolhe a cabeça a niostra-
viio ao povo, o qual também cos joelhos
postos em terra, e as màos alevantadas,
dezia cÍj huma grande grita, cheganos
Senhor a tempo que por te servir faça-
mos o mesmo.» Fern.ão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 160.
— Frustrar os rostos em terra ; incli-
nar-ic para o chão. — «E chegando ao
R'')lim, que os recebeu affavelmcnte, se
lhe prostrarão com os rostos em terra, e
depois de estarem assim hum pouco, hum
delles que parecia ser o mayoral de to-
dos, pondo 03 olhos no Ròlim, lhe disse.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações,
cap. 169.
— Senhor de terras ; senhor de pro-
priedades. — « Donos, os antigos, que era
o mesmo que Domínios, e Senhores ; cora
tudo o nome de Senhor de terras se veio
a usar tanto, que os que as pussuiraõ
com jurisdicçalj, deixarão por elle o nome
de Vassallos ; e principalmente des do
tcmj)o d'ElRey D. Afonso V. para cá,
chaniando-os ElRey em suas Provisoens,
e Alvarás.» Severim «lo Faria, Noticias
de Portugal, Diac. 3, cap. 27. — «As lan-
ça-i, e mais gentes, com que os Senhores
de terras serviaõ os Reys na guerra, el-
le.s tinhaõ mesmo obrigação de os arma-
rem, como so lo na Chronica d'ElRey D.
Fernando.» Ibidem, Di.sc. 2, cap. 11.
— Metter terra «;«i meio ; fugir, ausen-
tar-se para longe.
— Terra das verdadts; o ceu, o Em-
pyreo, o paraíso.
— Gatjtar o inimigo terra; ir entran*
do pelo campo, ou território do contra-
rio.
I
TERR
TERR
TERR
711
— Terra gallega; terra de má qualida-
de, infructifera, e de charneca.
— Terra virgem; a que nunca foi ca-
vada.
— A minha terra ; a minha pátria.
— Caíi- em terra; nascer.
— Ganhar terra com alguém; alcan-
çar a sua graça, favor, com lisonja, adu-
lações, serviços, etc.
— Ser terra ; ser mortal.
— Navegar terra a terra, ou cosido
com a terra ; navegar mui chegado á
costa.
— Panno da terra ; panno fabricado
no paiz, e não estrangeiro.
— Terra ponderosa. Vid. Barytes.
— Ir morar a terra secca ; fora das
marinhas, ou costa do mar.
— Pôr em terra ; derribar, derruir, ar-
razar.
— Termo antiquado. Terra calva; dá-
se este nome áquella terra que está lim-
pa de matto, e afructada. Hoje dá-se este
nome áquella terra que pela sua má qua-
lidade não dá matto, nem hervas.
— • Adágios e provérbios :
— A terra, posto que fértil, se não
descança, faz-se estéril.
— A agua salobre na terra secca ó
doce.
— A terra lavrada em agosto á ester-
cada dá de rosto.
— A terra que não cobre a si, mal
cobrirá a mira.
— Os erros dos médicos a terra os co-
bre.
— Deita terra sobre terra, saberás o
pão que leva.
— Quem em terra boa semeia, cada
dia tem boa esti-eia.
— Deita esterco ao pão, que as terras
t'o pagarão.
— Cunhados, e ferros d'arado debaixo
da terra prestam.
— Toda a terra é uma, e a gente qua-
si quasi.
— Em terra de senhorio, não faças
teu ninho.
— Nem tanto ao mar, nem tanto á
terra.
— Cada terra com seu costume; ou:
Em cada terra seu uso.
— Cada terra com seu uso, cada roca
com seu fuso.
— O boi bravo, mudando a terra, é
mudado.
— O boi bravo na terra alheia se faz
manso.
— Vê o mar, e sê na terra.
— Com má gente é remédio muita
terra em meio.
TERRAÇA, s. f. Vid. Terrado.
TERRACENA, s. /. Vid. Tercena.
7 TERRAÇO, «. m. Vid. Terraça.
Ingratisáimo ai vergue, oude passea
Sobre terraços lúcidos a Pompa,
A Soberba incivil, o insano Luxo,
Onde em sofás de purpura adormece.
Ministra do Prazer, a vil MoUeza,
Que perfumes Arábicos respira
Da rica veste, e mórbidos Oabellos.
J. A. DE MACEDO, A XATUBEZA, Cant.
TERRADA, s. /. Navio pequeno de
guerra c^a Ásia. — «E ainda que os Mou-
ros andauão já escarmentados da faria
da nossa artelharia, tanto fez com as ter-
radas, que tornarão outra vez ás nossas
nãos a lhe lançar dentro áquella chuua
de settas; no qual cometimento como os
nossos tinhão ja mães tento nellas, mete-
rão no funuo quinse ou vinte. i Barros,
Década 2, liv. 2, cap, 3. — «E alem
desta prouimento per todalas ilhas e lu-
gares de ambas aquellas costas de seu
estado : tinha Coge Atar ordenado huns
barcos pequenos chamados terradas re-
partidas em tal ordem, que de cada lu-
gar seu dia trouxessem aguoa e manti-
mentos pêra a cidade.» Idem, Década 3,
liv. 2, cap. 2.
TERRADEGO, s. m. A quadragésima
parte do valor do prédio aforado, que o
foreiro paga ao seuhor directo, com lau-
demio, quando elle lhe concede que alie-
ne o prélio. Vid. Quarentena.
TERRADEGUEIRO, s. m. O cónego da
sé de Coimbra, que cobra os terradegos,
ou laudemios pertencentes ao cabido. Vid.
Terrado.
TERRADIGO, s. m. Termo antiquado.
Renda que se paga pela terra alheia que
se cultiva.
TERRADINHA, í. /. Diminutivo de
Terrada.
1. TERRADO, s. m. Espaço de terra
que uma tenda occupa na feira, ou o que
toda a feira occupa, e de que se pao-a
certa porção ao senhorio d'ella.
— O pavimento do edifício. — «Cer-
tefico de verdade, que era a gente a nos
ver tanta que foy forçado com paos, e
pancadas arredalos, porque as ruas, ja-
nellas, e terrados, tudo estaua cheo, sem
auer huma pessua que nos fizesse descor-
tesia, ou mal algum : antes andauão to-
dos pasmados, e marauilhados do nosso
modo de viuer, que o lingoa, e os Por-
tugueses hiâo declarando aos principaes.»
Fr. Gaspar de S. Bernardino, Itinerário
da índia, cap. 13.
— Área descoberta, argamassada, so-
bre a casa, onde se passeia, e que a co-
bre em vez de telhado. — • «As casas de
denti-o sara feytas dos mesmos edifícios
de barro, e terrados : he de grande ajun-
tamento d.e mouros Arábios que aqui en-
cerrem do deserto pêra tratarem suas
mercadorias.» Tenreiro, Itinerário, ca-
pitulo 61.
— Foro das propriedades que se ven-
dem em Coimbra, e seu território, que se
paga aos bispos condes.
2.) TERRADO, A, adj. Coberto com
tecto argamassado. — Casa terrada.
TERRAL, adj. 2 gen. De terra, oppos-
to a do mar.
— Substantivamente : Vento que sopra
da parte da terra,
TERRANQUIM, s. m. Uma espécie de
embarcaçàu da índia.
TERRÁNTEZ, adj. 2 gen. Natural da
terra d'onde se diz que alguém, ou algu-
ma cousa é terrantez.
— Uva terrantez ; filhote do paiz.
TERRÃO, s. m. Vid. Torrão, termo
mais em uso.
TERRAPLENADO, part. pass. de Terra-
plenar.
TERRAPLENAR, v. a. Encher algum
vão, e atacal-o de terra para o tornar ma-
ciço.
TERRAPLENO, s. ?ji. — Terrapleno de
reparo; a superfície horisontal do repa-
ro, por onde andam os soldados, e labora
a artilheria nas fortificações.
— Qualquer terra com que se enche
algum vão para o aplanar, sustendo-a com
miu'0, cerca. etc.
TERRÁQUEO, A, adj. Da terra como
planeta. — Globo terráqueo. — '' Outros
finalmente entenderão, que nas terras oc-
cidentais se acabava o mundo terráqueo,
a quem terminavaõ as agoas do Occeano ;
como tiveraõ para sy Pomponio Mela, 1.
Pindaro, 2. e Plinio, 3. donde veyo a di-
zer Virgilio: 4.» Braz Luiz d'Abreu,
Portugal medico, pag. 511, § 42.
TERRASSO, s. m.\\à. Terraço.
TERRASTÃO, Ã, ÃA, ou AN, adj. Ter-
mo antiquado. Da mesma terra, nào es-
tranho, terrantez.
TERRATORIO, *. m. Vid. Território.
TERREAL, adj. 2 gen. Da terra, ter-
restre, mundano.
— Paraíso terreal; paraíso em que o
primeiro homem foi coUocado depois que
foi creado, e onde achava tudo quanto
fosse necessário para si, sem ser mister
trabalhar.
TERREAR, v. n. Apparecer a terra des-
coberta.
— Haver claros em um campo semeado.
— Adagio e provérbio:
— Em janeiro põe-te no outeiro, e se
vires verdear põe-te a chorar, e se vi-
res terrear põe-te a cantar.
TERREIRO, s. th. Pedaço de plano es-
paçoso, e despejado. — «A roda, pêra liie
deixar terreiro, o. que tudo fez a poder
de peitas, comprando a seus donos os
chãos muito bem. E tendo tudo feito á
sua vontade, provêo a fortaleza de Capi-
tão ; pêra o que elegeo Diogo Pereira
muito honrado.» Diogo de Couto, Déca-
da 4, liv. 7, cap. 13.
Mas tem maõ... j;l lá vem pelo ferreiro
Quem te alegre : Joaõ prepara a faca ;
Que lie chegado o soccon-o do rendeiro.
AJIBADB DE JAZESTE, POESIAS, pag. 89.
— «E com isto lhe deraò entrada por
712
TERR
TERR
TERR
outra que estava defronto, o chef^íimofl a
liiiin f^ranilc terreyro ícyto cm quadra
como crasta do coiiv(3nto, no qual csta-
vjto ((uatro íile\ ra.s ilc o.statuas do bron-
ze em ii^'ura do homens a modo do bcI-
vapons com niaça.s, o coroas do mesmo,
poroin tudo cozid" om ouro. d Fernão
Mondes l'iuto. Peregrinações, cap. 122.
— <i Sobro hum toso que a terra fazia pa-
ra a banda do Sul, estava feito iium ter-
reyro alto fociíado todo com nove ordens
do eirados de forro pai'a o (piai se sobia
por i|uatro entradas.» Ibidem, caj). 12tj.
— fvogar onde os pastores se ajuntam
a cantar o a bailar.
— Lograr onde se oxercitam a tirar a
besta, o outros tiros ao tito, ou alvo. —
«EUa lha nílo deu, antes levantando-se
do estrado se i'oeolheu a uma casa, que
saia ao terreyro, onde so faziam as l)a-
talhas, se po/, a uma janolla sobre um
panno do seila a esperar os cavalleiros,
que não tardaram muito, armados das
próprias armas, com que estiveram ante
cila.» Francisco do Moraes, Palmeirim
d'lnglaterra, cap. 80. — «Em quanto al-
li esteve praticando com cila, chegaram
ao terreiro dez liomens de servi^'o com
armas ás costas, o um gigante com elles,
quo as preseutou aos quatro companhei-
ros, dizendo.» Ibidem, cap. 118. — «D'a-
hi postos a uma ]iartc do terreiro, com
03 contos das lan^^as no ehào, e cUos en-
costados a ellas, despediram uni escudei-
ro com recado al-rei.» Ibidem, cap. 129.
— Logar com eJiticio cm Ijisboa, onde
80 leva o trigo a vender.
— Fazer terreiros de ■patacão; fazer
grandes bazotias, promessas.
— Uuitar e bailar de terreiro; can-
tar o bailar de chusma, todos ao mesmo
tempo.
— Tirar a terreiro ; desafiar, provo-
car.
— Fazer sair do logar seguro, o cer-
rado a descoberto.
— Fazer terreiro ; logar, praya, des-
pejando o ([ue estava occupado, afugen-
tando talvez o inimigo.
— Ser terreiro dn aburrecimento de al-
gum; ser o objecto publico, do geral.
— Adjectivamonte : ('asas terreiras ;
casas térreas.
TERREMOTO, «. m. Tremor de terra.
— «Desta notaucl mudani^a procedeo cha-
mar-se a Cidade Babvlonia, quo he o
mesmo que dizer de eonfusílo. A historia
Escliolastica diz, que mandou Deos, hum
terremoto graudissimo, e huma fúria de
ventos tà fortes, que toda a derribfirão,
e arrazarào.í Frei li aspar de 8. Bernar-
dino, Itinerário da índia, cap. 18.
— Figuradamente : Estrondo, abalo,
ruína. — «Aqui foy o retinir das armas,
os gritos, o estrondos de liuns, e outros,
os instrumentos que se não deixavaõ de
tocar, a artelharia que fazia seu terre-
moto, de sorte que tudo fazia taõ grande
confusaií, que parecia que toda a maqui-
na do mundo se sovertia.» Diogo de Cou-
to, Década <i, iiv. 2, cap. .').
TERRENAL, adj. 2 ijen. Termo do poe-
sia. 1 >.i ti-rja.
TERRENAMENTE, adv. (Do terreno, o
o suffixo omenteoy. De um modo terre-
no, s(!cuadariamente.
TERRLNHO, A, adj. Terreno.
— Substautivaniento : Vento que aopra
da terra.
1.) TERRENO, *. jii. (Do latim terre-
niuií). A terra jiara agricultura, ou solo
para cliticios.
2.) TERRENO, A, ailj. Do terra, ter-
restre, mundano.
Entre os Seroa orgânicos, qiie tom&o
Lugar, que a Lei na crciu^íio lhes dera,
Jnda aos Coes não levanta a fronte altiva
Humana Crcatura, inda debalde
Pelo terreno alvergue os Ceos fitávão
Ávidas vistas, (|ue o Monarcha buscão.
J. A. VT. MACEDO, A NATUBEZA, Caut. 1.
Rio-nic d'isso c d'AthcnB8 :
uma causa ha tão 91'iiiicnte
oude liào-dc ter fim vidente
todas as cousas terrenctn :
nisto vive muito crente,
não te enganes, isto sabe.
A!(T0!«I0 PKH3TK3, ACTOS, pag. 18L
— «o coração aberto, as cousas terre-
nas derranui o affecto, que conuinha re-
colher, e dedicar sO a Deos. Este he hum
torpe visco com que temos prezas as
asas, e derribadas pêra naij poder voar
ao alto.» Fr. Bartholomeu dos Martyres,
Compendio de espiritual doutrina, capi-
tulo 13.
— Ventij terreno ; terreal. Vid. Terre-
nho.
TERRENTO, A, adj. Que tem mistura
de terra.
TERRENTORIO, ant. Vid. Território.
1.) TÉRREO, A, adj. (Do latim terreus).
Da natureza da terra.
— Terrestre, terra(iueo. — O térreo
globo.
Alma do térreo Globo, oh Sol brilhante,
Se teus raios os corpos onfrariueccm,
Tu penetras os frutos saborosos,
Teu Calor salutifcvo os sasona !
J. A. DK MACRDO, A HATUBEZA, Cant. 1.
Tu não ignoras, te diss' ou, que o mesmo
(Juadro, que a Lua aos olhos te otYercce,
Ora que em coche argênteo as sombras corta,
Tal delia te mostrara o íerreo globo.
Tempo vinV, qu' os séculos não párão,
Em qu' até no Equador se extinga o fogo
Qu' ora ferve no seio ao Icrreo Globo,
Qual nos Tolos j;\ vês amoitecido,
Onde a vida aeabou, e a morte habita.
lUGM, A NATfKKZA, caUt. '2.
A portentosa Náutica! Descubro
NcUa a prova maior do engenho humano !
Noila D laço communi dos Povo» todos !
Fora estranho a si mesmo o tirreo Globo,
Ignoto o v.iHto Mar, c a Ti:rra ignofci,
8c a tal ponto de audácia, ou d'- virtude
O humano corarào não «c cleTira I
lOr.H, TIAOeiI EXTÁTICA, Caot. 4.
— Lin/ui térrea, ou h'iri$imlal ; na
pintura, a que se imagina tirada pela bu-
perticie dos pés da figura.
— Côr térrea; côr da terra.
— Cams térreas ; íu» que uJh) slo de
sobrado, r(!i:tes ao clijlo.
— Enletidtr terreo ; entendimento raa-
toiro.
TERRESTRE, adj. 2 gen. (Do latim
lerrrulrigi. l'ertcncente á torra.
TERRIBEL, ndj. 2 gen. Vid. Terrível.
TERRIBILIDADE, n. f. Qualidade do
que c tiii ivci.
TERRIBILISSIMO, A, adj. superl. de
Terrível. Mui terrível. — O terribilissi-
mo dia du juízo.
TERRICOLA, .1. 2. gen. (Do latim ter-
ra, e adere I. Habitador da terra, pessoa
que a habita.
— Pessoa que vive sobre a terra.
TERRICULAMENTO, s. m. Medo, aa-
snndjj'aiiii-nto.
TERRIFICANTE, yart. act. de Terrifi-
car. 'ÍU" pr»; terror, que causa medo.
TERRIFICAR, i-. a. ( Do latim terrijica-
re). ('au-ar ti-rror, produzir, pôr medo.
TERRÍFICO, A, adj. Que produz ter-
ror.
TERRIGENO, A, adj. |E)o latim Uni-
genusi. Termo de poesia, (icrado da ter-
i-a, filho d'elia.
TERRINA, a. /. V.iso de barro, porce-
lana ou prata, de f<>rma redonda, ou
oblonga, que serve de levar ás mesas sopa
com caldo.
TERRIPLENAR, r. a. Vid. Terraple-
nar.
TERRIPLENO. Vid. Terrapleno.
TERRISONO, A, adj. De som terrível.
TERRITORIAL, adj. 2 gen. Quo é re-
lativo ao território. — Justiça territo-
rial.— Imposto territorial.
— liarantido pelo território. — Man-
datos territoriaes.
— ^[ar territorial Je um paiz; espa-
ço limiUido por uma espécie de fronteira
maritima.
TERRITÓRIO, s. m. (Do latim territo-
rius, «lo terra'. Extensão de terra depen-
dente do um império, d'uma provi iicia,
de uma cidade, de uma jiu-isdicçào, etc.
— « Alòm destes Condes, que serviaõ no
Taco aos Reys Ooilos, havia outros nas
Cidades principaes das Províncias que as
governavaõ, e seus territórios, como ago-
ra os Corregedores.» Sevcrim de Faria,
Noticias de Portugal, Disc. 3, cap. 25.
— O circuito a que abrange o gover-
no e jurisdicçào do juiz ou prelado terri-
torial ; comarca.
TERRÍVEL, adj. 2 gen. (Do latim ter-
ribitis). Que produz terror.
TERR
TESA
TESO
713
E o terrível deus do Capitólio,
O Génio de Qiiirino que está u"elle,
E deante do qual o próprio César,
César á frente de hostes invenciveis.
QABBETT, CATÃO, act. 1, SC. 5.
— Que se faz sentir fortemente, fal-
lando das cousas. — Vento terrível. —
Tempo terrível.
Qaando os terríveis Aquilões usurpão
Dos Ares estensissimos o império,
Do triste Inverno o manto luctuoso
Se estende pelos Ceos, e á vista os rouba.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Cant. 1.
— Estranho, extraordinário.
TERRIVELMENTE, adv. (De terrível,
com o suffixo «mente»). De um modo
terrível.
— ■ Extremamente, excessivamente.
— Com terror.
TERROADA, s. /. Arremesso, tiro com
terrào. — «O qual esteiro como era es-
treito profundo, e com ribas tão altas que
ficava em partes a terra sobre agua per-
to de duas lanças, tornáram-se os nossos
abaixo ao rio largo; porque como nâo sa-
biam a terra, temeram que vies.sem os
imigos, e de cima ás terroadas, quando
não tivessem outra cousa, os metteriam
no fundo, fazendo fundamento de os ter
allí encerrados, e em ttào estreito cerco
como elle? tinham ElRey Abedelá.» Bar-
ros, Década 2, liv. 9, cap. 7.
TERROR, s. m. (Do latim terror). Medo
violentJ que se sente, produzido de ma-
les, ou perigo que ameaça.
Contra o terror da Morte estriba, atJouto
Em que o adorem por Deos, — por Deus eterno.
F. M. DO NASCIMENTO, OS MAKTYBES, 1ÍV. 4.
— «Mas por outra parte nào porey
também muyta culpa a quem me nào
der muvto credito, ou duvidar do que eu
digo, porque realment'3 affii-rao que eu
mesmo que vi tudo por meus olhos, fico
muytas vezes confuso quando imagino
nas grandezas desta cidade de Pequim,
no admirável estado cõ que se serve este
Rey Gentio, no aparato dos Chaens da
justiça, e dos Anchacys do governo, no
terror e espàto que em todos causaõ os
seus ministros, e na sumptuosidade das
casas e templos dos seus Ídolos, e de tu-
do o mais que ha nella.» Ferncão Mendes
Pinto, Peregrinações, cap. 114.
Não forma os Numes o terror, não forma,
Mas quando toca o Ceo, conhece o Eterno
O vicio qu"o negou ; sui-gc o remorso,
Do erro a voz, e da illusào se cala.
J. A. DE MACEDO, A NATUKEZA, Cant. 2.
Quem pode ou\-i-lo. vé-lo ao, c n'alma
Nâo sente um religioso terror sancto,
• VOL. V.— 90.
Que opprime e eleva, humilha e exalta o ânimo
Como o aspecto de um nume ?
GAEKETT, CAiSo, act. 1, SC. 5.
— Figuradamente: Objecto de espanto.
— Entrar no porto com terror ; cau-
sando-o.
— Causar terror; produzíl-o.
TERRORISMO, s. m. O systema de go-
vernar ou maquinar novidades no estado
incutindo terror.
TERRORISTA, s. 2 gen. Pessoa que se-
gue o svstema do ten-orismo.
— Amedrontador.
— Homem que obriga com terrores,
espantos.
TERRORIZAR, v. a. Inspirar terror.
— Territicar.
TERROSO, A, aflj. Térreo, cheio de
terra.
TERRULENTO, A, adj. Termo de poe-
sia. Terroso, cheio de terra, de pó, de
lama.
— Figuradamente : Vil, baixo, ras-
teiro.
TERSÃO. Vid. Torsão.
TERSAROLA, s. /. Género de arma de
fogo, arcabuz.
TER3ISSIM0, A, adj. superl. de Terso.
TERSO, A, adj. (Do latim íe)-sus^. Lim-
po, lustro.so, polido. — Metal terso.
— Estylo terso ; estrio puro, corre-
cto, sem affectaçào, limado.
— Estylo terso e valente. — «A phra-
se sempre-cheia, elevada, e culta; valen-
te o stylo, e terso ; bem-guardado ás pes-
soas, e aos lugares, o deciíro; e (o qae
bem assinaladamente compete conside-
rar) erudição vastíssima e recôndita, não
colhida em óbvios florilégios, antes be-
bida em meditada, variissima leitura.»
Francisco Manoel do Nascimento, Os
Martyres, nota ao liv. 10.
TERSO. Víd. Terçol.
TERSOL, s. m. Termo antiquado. Toa-
lha do altar, em que o sacerdote enxuga
03 dedos ao lavabo.
TERZO, s. m. Vid. Terso.
TÊS. Vid. Tez.
TESAMENTE, adv. (De teso, e o suf-
fixo «mente»)-
xar.
l.j TESÃO, í.
so, e estirado.
— Tesão dM
temente forte.
— Pervicacia
Rijamente, sem afrou-
A força do corpo te-
; da que é constan-
rande constância.
— Tesão do monte; ingremidade diffi-
cil de subir-se.
— Figuradamente : O tesão da agua.
— O tesão das pernas; a força d'el-
las.
— Diz-se ordinariamente da tesura de
uma parte obscena do homem.
2. 1 TESÃO, s. ii). Uma rede de pesca
vulgar.
TESAR, i'. «. Termo de marinha. En-
tesar ou atesar.
— Tesar os ovens, ou estaes; é estirar,
fazer tesos os cabos, ou cordas.
TESCÃO, adj. Termo popular. Vid.
Vadio.
TESIDÃO, s. f. Caracter do que é
teso.
1.) TESO, A, adj. Estirado, nào suxo,
não bambo, não frouxo.
— Com força, ímpeto. — «Ao qual lu-
gar os moradores chamaõ Huaba, e per
ellas corre tão teso, e assi está cortada
a pique a penedia sobre a terra onde el-
le cae com aquella furía, que podem pas-
sar per baixo a pê enxuto ao longo des-
ta agrura da penedia.» Barros, Década
1, liv. 3, cap. 3.
— O chão teso ; o chão duro.
— O mais teso do exercito; a tropa
mais forte, animosa, valente.
— Áspero.
— Homem teso ; homem que não se
deixa dobrar facilmente.
— Immovel.
— Inteiriçado.
— Monte teso ; monte alcantilado, du-
ro de subir, íngreme.
— Tornar teso ; tornar depressa.
— Ter teso em alguma cousa; snster-
se com vigor.
— O chão teso; o chão duro.
— Figuradamente : Vento teso ; vento
rijo, forte.
— Olhar teso ; fitando a vista com o
rosto levantado; encarar sem pejo nem
vergonha.
— Testo, constante, não tímido em di-
zer o seu parecer, em resistir a preten-
ções, a injurias, etc.
— A agua corria tesa ; a agua corria
com ímpeto.
— Chuva tesa; chuva forte, rija.
— Forte, robusto, valente.
— Com grande ímpeto.
— Adverbialmente : Rijamente.
— Ter teso ; suster, levantar com to-
da a força, estirando os músculos.
— Estar, jicar teso ; díz-se no jogo de
parar d'aquelle que, depois de ter jogado
e perdido tudo, fica sem dinheiro nenhum
do que trazia.
2.) TESO, s. m. O alto monte íngre-
me, e difficil de subir. — «Mas não an-
daram muito, quando contra a banda es-
querda, onde estavam umas arvores al-
tas, virão sobre um teso um castello for-
te e bem obrado ; ao pé delle em parte,
que os olhos não podiam descobrir, ouvi-
ram gram ruído de armas, com tamanho
estrondo, que por todo, ou a mór parte
daquelle valle retombava.B Francisco de
Jloracs, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 75.
— ffC) qual pela maneira dos outros, co-
mo se sentio ferido, também fez volta
per hum teso de huma rua assima, que
os nossos não quizeram seguir, porque
tinham o sentido na ponte que lhe Af-
fonso d'Alboquerque mandou que tomas-
sem.» Barros, Década 2, liv. 6, cap. 4.
714
TEST
TEST
TEST
— Ter algum negocio em teso ; hus-
tol-o firmemente, sem afrouxar ou ce-
der.
— • Com as lanças em teso ; com ellas
tesas. ■<
TESOURA, s. /. Instrumento de cortar
panno, couro, mctaos; ó do duas peças
unidas por um eixo, afiadas, e usa-so d'el-
las aportando uma contra a outra.
V('dc9-me aqui som a. Moura,
Trosfiiiiado snm teKoura,
Vcdoa-me aqui snm cavalln,
Sem solla, som manpodoura,
E som gallinha nem guUo.
OIL VICKNTK, FAnÇAS.
— Peça de dous paus em aspa, cm
que se serra a madeira antes de se ra-
char oní lenha; c também é de carpinte-
ria, e sobro ellas se sustém a cumieira
dos odificios.
— Nas avos, dizem-se as primeiras pen-
nas da ponta da aza, menores que as pen-
nas reaes.
— Termo de cavallaria. Fazer tesou-
ra; diz-se do cavallo mal emboccado, quo
dil com a cabeça para uma o outra parte.
— Tesouras de couro do cocha; ser-
vem de su-ttentar dotraz o balanço.
TESOURADA, .t. /. ('mlpc com tesoura.
TESOUREIRO, .-.')/i. Vil. Thesoureiro.
TESOURO, .?. m. Vid. Thesouro. — « E
elle Juntou per esta guisa ante dhuum
anno naquellcs castellos tam grande te-
souro, que era estranha cousa de veer,
e este foi o começo do muy gram tesou-
ro que clRei Dom Pedro depois tove jun-
to, segundo adcante contaremos.» Fer-
não Lopes, Chronica de D. Pedro I, ca-
pitulo \'ò.
TESOURINHA, s. ./'. Diminutivo de Te-
soura.
— Figuradamente: Fazer tesourinha
com os dedos; porfiar, ateimar, não ce-
der da porfia nem no ultimo extremo.
— Tesourinha das vides. Vid. Elo.
TESSERA, í. /. Peça de osso ou de
marfim como os dados, com pintura nas
faces; d'ellas usavam os romanos na guer-
ra para senha, ou eomo de boletins para
o pagamento de soldo e viveres.
TESSUM, s. H). Tela repassada do ou-
ro ou prata. Vid. Tissii, ortiiographia
mais plausível.
TESTA, s. /. A parte do rosto desde as
BobranceJhas atò il raiz do cabello. — «E
quando chegou a ver o que tanto dese-
java, pondo os olhos com attenção no
Apostolo, vio quo tinlia humas letras de
ouro na testa quo diziaõ, PAVLO PRE-
GADOR DE OMRISTO, o quo visto,
com o mais que ouviria ao Santo, foy di-
vinamente alumiada, e prostrãdosc aos
pós do Apostolo, lhe pedio a bautizasse,
e assi ella, como seu marido Probo, e a
gente do sua casa c outros muitos da-
quella terra foraõ bautizados.» Mouarchia
Lusitana, liv. .5, cap. 7. — «E tornando
o Nuno (Joeliio a replicar, que llic rogava
(pie tomasse tmlo cm paciência, porque
assi o mãda^■a Deo» cm sua santa ley, o
ormitSo pondo a mão na testa a modo de
espanto, e bulindo cinco ou sois vezes
com a cabeça, sorrindose do que lhe ti-
nha ouvido, lho respondeo. Certo que
agora vejo o que nunca cuidey que visse
nem ouvisse, maldade por natureza, c
virtude fingida, (|uc iio furtar e pi-cgar. »
Fernão Mondes Pinto, Peregrinações, ca-
pitulo 77.
Ahi jA vem, já rac sua a testa,
não sei ao mo. ouvio aqui ;
dou a vida por mamada
c csborracliada.
ANTÓNIO PBI8TB8, AUTOS, pftg. 419.
— «Entramos nelle, e a primeira cousa
que vi, foy a figura de hum Elephante,
posta em hum altar, com trcz olhos de
prata, dous em seu lugar, e o outro no
meyo da testa. Perguntey a causa de
adorarem hum animal tam feo, e nam ao
Deos que o criara?» Fr. (Jaspar de S.
Bernardino, Itinerário da índia, cap. 12.
— Figuradamente : Cabeça.
— Fazer testa; tazer frente.
— -Testa coroada; um rei, um soberano.
— Fazer testa ao inimigo; resistir-lhc
de frente a frente.
— ^l testa da ala, do exercito; na fren-
te d'elle.
— Testa 'la vela; o espaço comprehen-
dido entre o impunidouro das velas e o
punho das escotas ou amuras, no qual se
fixam as bolinas, sergideiras, apagape-
noes, e garrunchos.
— Plur. Nas galeotas, os vãos entre
banco e banco, onde se faziam beliches,
ou ranchos dos criados d'el-rci. Vid. Forte.
TESTACEO, A, adj. (Do latim testa-
ceus). Termo de liistoria natural. Que tem
conchas como as ostras, bribigòes, lagos-
tas, etc. — Os animaes testaceos.
— Substantivamente : 0.< testaceos ;
03 mollusco-; cujo corpo é coberto de um
involuero soliilo de uma ou mais peças.
TESTAÇOM, s. 7)i. Termo antiquado.
Pôr testações ; fazer sequestro, embar-
gar, talvez 03 scUos nas portas açambar-
cadas; coima, ou communicação de pagar
encontros.
TESTAÇUDO, A, adj. Cabeçudo, con-
tumaz.
TESTADA, s. /. O espaço de estrada,
rua, onde terunna, (< que acompanha o
longor da casa, ou quinta, ou tapigo.
— Figuradamente : Alimpe cada qual
sua testada ; emende cada qual os seus
defeitos.
TESTADOR, A, .•;. Pessoa que fez tes-
tamento. — «Que naõ fossem nomeadas
pelo testador, se gastasse tudo nestes ca-
samentos. E assim se poderiaõ ordenar
outras cousas somolhautes, para quo este
intento pudc«8C ter effeito.i Sererim de
Faria, Noticias de Portugal, Disc. 1,
cap. ti.
TESTAMENTÁRIA, *. /. O officio de
testamenteiro.
— O que pertence ao» bons do {alle-
cido.
— Dar conta da testamentária; dar
conta da admiiústraç^o dos bens de al-
gum testador.
TESTAMENTARIO, A, adj. (Do latim
testameutarius, do t^istamentum). Qut diz
respeito ao testamiMito.
— Disposição testamentária ; disposi-
çíío contida n'um testamento.
— Herdeiro testamentario ; herdeiro
por testamento.
— Tutor testamentario; tutor dado
em testamento; tutor que nilo ó legitimo,
nem dado jiclo niatri-trado.
1.) TESTAMENTEIRO, A, *. Pessoa en-
carregada pelo te>tador da execução do
testamento. — «Enformad'i per Leterados
dos Nossos Regnos, achamos per Direito,
que 03 Testamenteiros, Tetores, e Cura-
dores dos meores podem comprar as cou-
sas dos finados, e dos meores, cujos Tes-
tamenteiros, e Tetores, e Curadores fo-
rem, com tanto que aa comprem publica-
mente, andando em pergom publico, ces-
sante toda arte, o qualquer outro engano, t
Ord. Affon., liv. 4, tit. 41. — «E se o tes-
tamenteiro ouver alguum embargo lidomo
necessário per que nom possa coniprir a
voontade do dito testador no tempo do dito
anno, ou naquelle que polo testador for
assinado, coum dito he, soprique a nóe so-
bre ello, e ni)3 lhe proveeromos, segundo
acharmos per direito que se bem pode, e
deve fazer com serviço de DEUS. e prol
da alma do finado.» Ibidem, tit. 104, § 3.
— Os dativos são testamenteiros no-
meados pelo juiz A testamentária deserta
por ser o fallecido o testamenteiro, ou
lançado <lo enearíro por dispensado.
2.) TESTAMENTEIRO, A, adj. — Tutor
testamenteiro ; tutor testamentario.
TESTAMENTO, s. m. ^Do latira t«tta-
mndum. de testari). Acto authentico pelo
qual se declaram as ultimas vontades. —
«O terceiro caso he, se o Padre, ou Madre
deffendeo, ou embargou a seu filho, ou
filha, que nom faça testamento livremen-
te segundo sua verdadeira vontade, que-
rendo esse filho, ou filha fazer seu.» Ord.
Affon., liv. 4, tit. UK). § 2.— «O qual
hoje em dia he neste império da China,
na Ilha do Japaõ na (.'hauchenchina, em
Camboja, e em Siaõ, do qual nestas ter-
ras eu vi muy tas casas; e declarando no
seu testamento que era esta sua ultima
vontade a l\aynha sua mãy, quo naquel-
le tempo, era viuva, e de idade de cin-
coenta annos, o não consentio. dizendo
que já que seu lilho qu^-ria morrer na Re-
ligião que tinha pri>fe,-:sado, e deyx.ir o
Reyno scui legitimo hcrdeyro, ella que-
ria dar remédio a este dano, e logo se
TEST
TEST
TEST
715
casou com hum seu sacerdote por nome
Silau, de idade de vinte seis annos, e o
fos a pejar de niuytos jurar por Rey.»
Fernào Mendes Pinto, Peregrinações,
cap. 92.
Abramol-o, e vêr-se-ha
se fez testamento ou uào,
e tomarão
para o dó.
A!<•To^^o PBE3TES, ACTOS, pag. 28Õ.
— «Quem naõ ve que tam bem era
effeito do mesmo licor da planta de Noe,
dispôs esta verba em testamento, o qual
se naõ havia de abrir, senam despois
delle morto"? Mas em fim a agua apaga o
fogo, e o vinho a razão (disse S. Basilioj :
Quem admúdum aqua contraria est igni,
sic immodestia vini rationem extinguit.o
Padre Manoel Bernardes, Floresta, pag.
12.
— Testamento militar; testamento fei-
to na guerra, sem as formalidades usadas
nos outros testamentos.
— Testamento de morte; escripto ou
discurso que attesta os últimos sentimen-
tos de uma pessoa.
— O Velho TestEimento ; os livros sa-
grados que precederam o nascimento de
Jesus Christo. — oMas em seu lugar vsào
03 Hebreos do Testamento Velho, e Ley
que Deos deu a Muyses, inda que muyta
parte delia entemlida, como elles querem,
e uào como deuem.» Fr. (iaspar de S.
Bernardino, Itinerário da índia, cap. 12.
— O Xovo Testamento; os 1í%tos sagra-
dos posteriores ao nascimento de Jesus
Chi-isto.
— Morrer com testamento ; morrer dei-
xando testamento. — «E no caso que o
dito finado morresse com testamento, ou
com alguma outra postumeira voontade.
Mandamos que possa leixar esses bens
assi comprados a quem lhe aprouver, com
tanto que os nom leixe a cada huma das
pessoas defesas, segundo suso avemos dito
e declarado.» Ord. Affons., liv. 4, tit. 48,
§3.
— Testamento olographo; é o que o
testador tem escripto todo por sua pró-
pria màO; e assignado.
— Testamento nuncupativo ; testamento
feito de palavra, de viva voz.
— Cartas de doações e títulos authen-
ticos, como testemunho das vontades dos
pactuantes.
— Testamentos eram as casas religio-
sas, solares, e casaes fundados por fidal-
gos e senhores, de que os herdeiros e suc-
cessores tinham algum emolumento, ou o
total das rendas, ou pitanças, cavallarias,
pousadas, casamentos, etc, que lhes vi-
nham por avoengo. Vid. Herdeiros, e Na-
luraes.
— Adágios e provérbios:
— Se queres testamento, faze-o, es-
tando são.
— Boa mesa, mau testamento.
TESTÃO, s. m. Vid. Tostão, termo
mais em uso.
do quinze testões tirar
quautas, Atfouào ? dezoito ?
aqui é Tasco co'o folar !
era dezoito, e tomar oito
e dez serra o biscoito.
ASIONIO PBESIES, AUTOS, pEg
359.
TESTAR, V. a. Declarar por acto o que
se quer que seja executado depois da
morte. — «Apraz, e cõvem à voluntária
serenidade de nossa gloria de vos dar-
mos, e testarmos duas partes da Villa
de Alvalat, e a serra do mesmo Alvalat,
ou atè onde parte com a fonte dourada,
ou aiuda ametade da Pedrulha.» Monar-
chia Lusitana, liv. 7, cap. 21.
— • Termo antiquado. Attestar, encher
algum vaso.
— Dispor em testamento.
f TESTEFICAR, v. a. Vid. Testificar.
— «Ha cabeça de seu reyno se chama ho
gram Samarcam, que nos Mappas se cha-
ma cabeça de Tartaria : estes sam conta-
dos aatre os Scythas, como testefica Jo-
sepho no livro primeiro das antiguidades,
os quaes segundo elle descendem de Ja-
pha filho de Xoe pur Magog.» Fr. (jas-
par da Cruz, Tratado das cousas da Chi-
na, cap. 4.
TESTEIRA, s. /. A parte dianteira.
— Armadura da testa dos cavalios aco-
bertados.
— Testeiras da serra. Vid. Testicos.
— Testeira da mesa; as peças em que
se pegam as ilhargas, mais curta que el-
las; e do mesmo modo as testeiras dos
caixões.
— Testadas de terras collimi tares.
TESTEIRO, s. m. Termo antiquado. O
mesmo que testeira, por testada. Vid.
Testeira.
TESTEMOIO, ou TESTEMOYO, ou TES-
TEMONIO, s. y/i. Termo antiquado. Tes-
temunho, documento.
TESTEMUNHA, s. /, Pessoa que dá tes-
temunho d'alguma cousa. A testemunha
jura perante a parte adversa do que a
dá, produz ou nomeia, que dirá a verda-
de dos factos, usos e costumes, ou esty-
los, e retirada dá o seu testemunho em
segredo ao juiz, e ao escrivão, que o es-
creve, excepto nos casos de acareação.
Modernamente dá o seu testemunho em
audiência pitblica, em presença da par-
te, etc. — «Testemunhas, que a esto pre-
sentes forom Vicente Esteves, e Francis-
co Annes, e Esteve Annes Tabelliàes, e
Joham Gordo Almoxarife do Ifante, e
Martim Paes Juiz da dita Cidade, e Ctou-
çalo Nogueira Cavalleiro, e Joham Du-
raães, e íiíartim Pires Alvarinho, e Vas-
co Gil, Miguel e Joham Vicente, e Go-
mes de Freitas, e Estevom de Freitas, e
outros muitos.» Ord. Affons., liv. 4, tit.
õ, § 12. — aPero se os accusadores mos-
trarem perante as Justiças da terra, hu
essas accusaçoòes forem feitas, que nom
podem seguir essas accusaçoòes, por pro-
veza que ham, se desto as Justiças fo-
rem certas, e jurarem esses accusadores,
que nom fezerom essas accusaçoòes ma-
liciosamente, digam-lhes os nomes das
testemimhas, per que entenderem que se
provaróm essas accusaçoòes, e entom nom
sejam presos, nem lhes façam alguimi
mal por esta razom ; e os Concelhos pa-
guem essas custas, como dito he.» Idem,
liv. õ, tit. 30, § 5. — «E assi ferido es-
tive no muro sem nunca me ir á pousa-
da, alli me curaram, e fiquei até os Mou-
ros alevantarem o cerco. E além dos que
nomeei, será boa testemunha Luiz da
Silveira, que nos vio neste auto.» Diogo
de Couto, Década 4, liv. 6, cap. 7.
— Figiu-adamente : Cousa que serve
de prova de algum facto.
— Testemunha de vista; testemunha
ocular, que presenciou o facto. — a E
Christouão da Costa se dâ por testemu-
nha de vista do tal ofFerecimento. Fr.
loào de S. Geminiano, e Eliano nam
acabão de encarecer sua continência, e
como aborrecem o adultério, e que ja
mais tem coyto que com huma só fêmea,
e isto em parte que não possa ser visto
de algum viuente.» Fr. Gaspar de S.
Bernardino, Itinerário da índia, cap. lõ.
— Tirar testemunhas ; inquiril-as.
— Não vale testemunha ; a consciên-
cia não é testemunha que valha credito.
— Duas pedras que se fixam ou en-
terram de um lado e outro dos marcos,
e talvez duas arvores, que assim mesmo
estão, e teem no meio a arvore testemu-
nha, marco ou divisão.
— Toma-se também na forma mascu-
lina.
TESTEMUNHADO, j^art. jmss. de Tes-
temunhar. Affirmado por testemunhas,
assignado e autheuticado com ellas. —
Escriptura testemunhada. — Casamento
testemunhado. — « Que em quanto elle
naõ praticasse com a própria pessoa de
Coje Biquij pêro que recados lhe fossem
dados de sua parte testemunhados per
aquelle moço que ali estaua, naõ os auia
por seus.» Barros, Década 1, liv. 7, ca-
pitulo 9.
TESTEMUNHADOR, A, adj. Que dá tes-
temunho, que comprova, que afiirma.
TESTEMUNHAR, v. a. Testificar, di-
zer como testemunha d'aquillo que diz.
— «E por testemunhar fitlsamente, e em
tal caso, foy por justiça degolado, e es-
quartejado na praça de Santarém. E ao
dito dom Aluaro fez el Rey muyta mer-
cê, como por sua innocencia merecia, e
elle fora de moço criado dei Rev.» Gar-
cia de Rezende, Chronica de D. João II,
cap. 63.
— Figuradamente: Attestar, fallando
de cousas insensíveis. — As feridas tes-
temimham o serviço militar.
716
TEST
TEST
TETA
TESTEMUNHAVEL, adj. 2 ynu. Quo dá
tcstuiiiiiulii>, que (iá i'ó.
— Diz-.Ho (lo qualquer carta autlienti-
Ca lio llÍsp()tíÍ(,'ÍÍO )H!^'Í.l.
— Carta testeinuuhavel d') ai/ç/ruvo,
ou appellaiiilo ; ò oh|>ccÍo do atteata(;So,
que dá o oáoriv.lo quo eacrcvo poraiitis •>
juia de quo ao .'i^íf^r.iva, do como do fautu
80 at;jírav<iu, ou iippollou d'cllo, o o juiz
o uao ,'iiliiilltiu.
TESTEMUNHO, «. m. (Do latim tesíL-
moniuia). \ ik-po.si<,'ão da to.stomuulia.
— aCorro.spomle a tudo o mais o teste-
munho (loHto Concilio, quo dis manda-
rão 03 Tadros de Africa, o Urioiite, que
saõ oa dous lumes da Jf^reja Santo Apos-
tinlio, o Saõ Jorouviiio, constituiyocns
contra os erros de Prisciliano por mão
do hum venerável Sacerdote.» Monarchia
Lusitana, liv. 6, cap. 27. — «Uostas
grandezas quo so achào em cidados par-
ticulares deste imiiorio da China, so pô-
de bom coUif^ir qual será a f^rridoza del-
ia todo junto, mas para quo ella tique
inda mais clara, não deixarey de dizer
(ao o meu testemunho he dipno do fé)
quo nos vinte e hum annos que durarão
os meus infortúnios, cm que por vários
accidentes do trabalhos que me socce-
dião.» Fornãi) ^lêndea Pinto, Peregrina-
ções, cap. 'J9. — «Aqui como diz Da-
niel foy a onde os três moços Sidrach,
Misa,h, o Abdonago forão metidos na for-
nalha por mandado de Nabiichdonosor, e
o lago dos Leões em que Daniel Propho-
ta foy lançado. O testemunho do Sãcta
Susana.» Fr. (raspar de S. Bernardino,
Itinerário da índia, cap. 18.
— Levantar, asnacar testemunho ; im-
putar, o attribuir falsamente alguma ac-
ção má a alguém ; calumniar.
— Figuradamoute: Fé, prova. — «E
eu Aôbuso Romaea Tabeliiam de suso di-
to, a rogo e a mandado do dito Conce-
lho, este Estormento com minha maaõ
própria eseropvi, o mou signal hy puge
em testemunho «lo verdade, que tal he.»
Ord. Affons., liv. 4, tit. õ, § 12.
Testemunhos,
Sii porque não voiu á luz
nossas cruzes, nossos cunhos.
À.NT0NI0 PBESItlS, AUTOS, pag. 81.
Muna, nào lho levanteis
testcmiíiiho assi tào féro,
que (!U não quero.
IBIDEM, pag. 205.
— «Quem conhoceo o poder da diuina
justiça? Se apurardes Senhor as culpas,
quem aturara V e outi*os testemunhos da
iufalliucl verdade do castigo, e juizo,
quo Dcos tara sobro os pecadores.» Fr.
Bartholomeu dos Martyres, Compendio
de espiritual doutrina, cap. 13.
— CoiiSil que la/, te.
— Não vaUr testemunho. Vid. Teste-
munha.
— Dar testemunho ; tcatomunhar. —
«Eu não te nogo, Albayzar, ser mui oh-
forçado cavalleirij, tpie lhe vi fazer tíiC«
obras, que dão testemunho iTisso. Porém
tão pouco te confea.so quo o tticudo de
Miraguarda clle o ganhasse por força,
porque nem eu o aci, ueni creio i«so de
quem o guardava, o parecer o formo.iura
da senhora Targiana dino é do mui gran-
des obras.» Francisco de Moraes, Palmei-
rim d'Inglaterra, cap. 80. — «liemlitto,
e louvado soja aquolle Sen'ior, quo com
verdade so deve conhecer do todo-i jior
scuhor, de cujas obraa santas feytaa })or
.suas <livina8 mãos nos ostaõ dando teste-
munho a claridade do dia, e a pintura
na noyte c3 todas as mais magnifieenciaH
da sua misericórdia obradas em him.»
Fernão llondca Pinto, Peregrinações,
cap. 19;'). — «Esto ao presente he o que
diuide a Pérsia ila Arábia deserta, c por
còaeguinte Romus he a vitima Cidade;
ao menos por esta parte, pertencente a
Coroa Persiana. Verdade seja, que anti-
guamente, não foy esta Monarchia tani
limitada, como a vemos agora, poia Ar-
taxerses, Alexandre Magno, Dário, o ou-
tros tambom erão senhores dos liabylo-
nios, como dão testemunho, as historias
diuinas e humanas.» Frei <!aspar de S.
Bernardino, Itinerário da índia, cap. 16.
— Adagio k proveuuio :
— De arruidos guartc, nâo aeráa tes-
temunho, nem jiarte.
— Syn. : Testemunho de amizade, e
mostras de amizade.
Não pôde existir amizade sem que se
manifeate exteriormente. Se esta mani-
festação nào passa de maneiras agradá-
veis, palavras obsequiosas e lisonjeiras,
ou acolhimento benévolo, etc., damos-
Ihe o nome de mostras de amizade. Se
por ventura se attender a bons officios, a
serviços úteis, a conselhos acertados, a
auxilio e soccorro na necessidade ou na
desgraça, são testemunhos de amizade.
N'um amigo tingido póde-so achar tal-
vez mostras de amizade, que realmente
não existe : aó o veriladeiro amigo nos
dará testemimhos de que c sincera sua
amizade.
— SvN. : Testemunhos
demoitstra(;ões de amiz<ide.
mo vocábulo.
TESTICOS, s. Vi. pitu:
da serra do carpinieiroi sào aa duas tes-
teiras, ou cabeceiras ondo so oncaixii o
alfeisar, e se prende a folha, e o caLi'o.
f TESTICULAR, adj. 2 <jeii. Tei-mo de
anatomia. Que perteuce aoa testículos. —
.1 l/ols<i testicular.
TESTÍCULO, .V. m. (Do latim testicu-
lum). Termo de anatomia. Corpo glandu-
loso que serve no macho para preparai- a
matéria destinada á geração.
— Diz-se também o ovário.
— Testículo de cão. Vid. Bexiga de
cão.
(/« amizade, e
Vid. este ulti-
Os testicos
— Testículo </e fttvU. Vid. Agnocasto.
TESTICULOSO, A, adj. Quo ó C4.nc«r-
iicnto aos toHticidos.
— Tormo de botânica. Que 6 bilo-
bado.
— Ca/ifula testiculosa; que se asse-
melha ao «•siToto.
TESTIFICAÇAO, ». f. A acção de te»-
titicar, t< -teiiiiinho.
TESTIFICADO, /^art. pai», de Testifi-
car. Te.neni unhado.
TESTIFICADOR, A, adj. o $. Que tes-
tifica, que teUemunha.
TESTIFICAR, v. a. (Do latim Uttifica-
re). Testemunhar, 'lar testemunho.
— Figurad/imento : Comprovar, de-
monstrar com testemunho.
TESTILHO, s. m. Testeira da caixa, ou
caixãii.
TESTIMUNHO, *. m. Vid. Testemu-
nho.
TESTINHO, «. m. Diminutivo de Testo.
Testo pequeno.
— Cacosinho.
TESTO, *. m. rDo latim tettam). A
tampa de barro da panella que vac ao
lume, bem como a dos cântaros e outros
vasos.
— Testo de barro; pedaço de bar-
ro amassado com que se barra alguma
cousa.
— Testo do boi, touro ; o casco da ca-
beça.
— Vaso de barro que contém a cal
para se caiar.
— Testos d4 telha : peílaços d'ella.
— ^'id. Texto, que é differente.
TESTO, A, adj. Figuradamente: Tes-^,
animoso em fazer cousas de esforço e pe-
rigo, cabeçudo.
TESTUDAÇO, A, adj. Augmentativo de
Testudo.
— Villào testndaço ; villão mui con-
tumaz.
TESTUDEM. Vid. Testudo (aubsun-
tivo) .
1.1 TESTUDO, A, adj. Testo, teso, tes-
tndaço.
2.) TESTUDO, s. m. (Do latim testu-
do). Defeza que oa soldados romanos fa-
ziam cobrindo as cabeças com os escu-
dos, quando iam á ass;iltada, ficando o
esquadrão com apparencia de uma tarta-
ruga em suas conchas. Vid. Favelada. j
TESURA, s. /. A força que tem qual-
quer cor|io teso.
— Rispidez altiva com elaçXo.
— Figuradamente : De condição, rigi-
deza.
TETA, s. /. vDo grego titihoi). Mama,
peito.
No pico de C!>cj»rpa(i:i penodia
A potiilanto Cubra se poiíJura ;
Nào tomo o procipicio, c busca anciosa
-Vmargíis frtlli;»s do poudouto arbusto ;
Píis apojadas tfltu' \v>s derrama
(Innocente alimento !' bum néctar doce.
J. JL. DB MACEDO. UCDITAÇXO, CAnt. 3.
TETO
TETR
TETR
717
— Espada á teta ; modo de a trazer
antigo.
— Figuradamente : Uma teta de terra.
— Modernamente diz-se das fêmeas
dos animaes.
— Um tetas; diz-se, por injuria e des-
prezo, a um homem molle e que para
nada serve.
f TETÂNICO, A, adj (Do latim teta-
nicus). Termo de medicina. Que tem te-
tanos. — Accidardes tetânicos.
— Que é aíFectado de tetanos.
f TETANOIDE, í. /. Termo de medi-
cina. Diz-se dos pheuomenos convulsivos
produzidos pela str\-ch.niaa e semeliiantes
aos do tetanos.
TETANOS, s. m. (;Do grego tetanos).
Termo de medicina. Doença caracterisa-
da pela rigidez e tensào convulsiva de
um maior ou menor numero de múscu-
los, e algumas vezes de todos os múscu-
los submettidos ao império da vontade:
produz uma immobilidade absoluta, que
nem a vontade do doente, nem os esforços
d'outrem saberiam vencer.
— Tetanos intermitt-eyites ; espécie de
nevrose sem gravidade, observada sobre-
tudo nas mulheres.
TETERRIMO, A, adj. (Do latim Ut^r-
rimus). Termo de poesia, iiuito escuro,
hediondo, feíssimo. — Espelunca teter-
rima.
TETEYA, s. f. Termo da provincia
do Brazii. Brinco de meninos.
TETIM, s. m. Argamassa de pó de ti-
jolo, com cal e azeite.
TETOR, s. m. Vid. Tutor, orthogra-
phia mais em uso. — «O segundo Capitulo
he: Que os depósitos, e guardas, e con-
decilhos, e recebimentos feitos per a moe-
da antigua, ou nova, que se fez ataa
postumeiro dia de Dezembro da Era de
mil e quatrocentos vinte e três aunos,
per Almoxarifes, Tetores, ou Cui-ado-
res.» Ord. Affons., liv. -4, tit. 1, § 3. — •
oE como tal cousa era sabuda, todolos
que voontade tinham para lançar em as
ditas cousas, afastavam-se de lançar em
ellas, sabendo que por em ellas lança-
rem nom as aviam d'aver, pois que os
ditos Testamenteiros, Tetores, ou Cura-
dores as queriaò aver tanto por tanto.»
Ibidem, tit. 41. — «E foi-nos dito per al-
guàs pessoas d'autoridade, que muitas
vezes acontecia em taaes compras e ven-
das fazerem-se grandes conluios e enga-
nos, porque quando se aviam de fazer as
ditas compras e vendas, os ditos Testa-
menteiros, Tetores, ou Curadores lança-
vaõ fama pela Cidade, ou Villa, honde
se as ditas vendas aviam de fazer, que
elles queriam comprar as ditas cousas,
que se de vender aviam, e avellas tanto
por tant >, como as outrem ouvesse d'a-
ver.i) Ibidem. — «E aalem de todo esto
mandamos, que se ao despois for achado,
que 03 ditos beens forom rematailos aos
ditos Testamenteiros, Tetores, ou Cuida-
dores por menos a quarta parte do justo
preço, possa a dita venda, e remataçom
seer revogada, e desfeita per todos aquel-
les, a que tal cousa, o negocio possa per-
teencer per alguã guisa, em tal maneira,
que os ditos compradores nom recebam
proveito alguum ou gaança de sua malí-
cia ou negrigencia, honde devem seer
verdadeiros, e em todo bem diligentes.»
Ibidem, § 2. — «E porque ha deferença
antre elles tetores, ou curadores, enten-
demos a fallar de cada huum delles apar-
tadamente, primeiramente d'aquelle, que
estabelece o Padre a seus filhos, e dos
outros, que decendem delles.» Ibidem,
tit. 83. — iSerá escusado de ser Tetor,
ou Curador em todo caso aquelle, que for
Fidalgo de linhagem, ou Cavalleiro de
Espora dourada, ou Doutor em Leix, ou
em Degrataaes, ou em Fisica; e ainda
que cada huum dos sobreditos queira seer
Tetor, ou Curador, nom deve seer a ello
recebido.» Ibidem, tit. 88, § 10.
TETRA. Prefixo grego, que empregado
na linguagem scientifica sisrnifica quatro,
j TETRACENTIGRADO, adj.m.— Ther-
viametro tetracentigrado ; thermometro
dividido em 400 graus entre o mercúrio
fundente e o fervente, inventado com
o fim de evitar as temperaturas negati-
vas nas observações meteorológicas.
t TETRACERÓ, A, adj. Termo de zoo-
logia. Que teui quatro antennas.
■j- TETRACHEIRO, adj. Termo de zoo-
logia. Diz-se dos quatro membros que
terminam por mãos.
TETRACORDIO, ou TETRACHORDIO, s.
m. (Do gi'ego tetra, e chordc). Termo de
musica. Serie de quatro sons difterentes
distantes uns dos outros por três inter-
vallos.
TETRACORDO, s. m. Lyra de quatro
cordas.
j TETRAGTICO, A, adj. Que só admit-
te quati-õ números, quatro algarismos. —
Arirhmetica tetractica.
f TETRADACTYLO, A, adj. Termo de
zoologia. Que tem quatro dedos em ca-
da pé.
•}■ TETRADA, s. f. Termo de philoso-
phia antiga. Reunião dos quatro primei-
ros números naturaes : 1, 2, 3, 4.
•}- TETRADRACHMA, s. /. iloeda grega
de prata.
TETRADYNAMIA, s. /. Nome dado, no
systema de Liuneu, a uma classe com-
preheudenJo plantas munidas de seis es-
tames, sendo quatro mais longos que os
outros.
7 TETRAEDRAL, adj. 2 gen. Que tem
a f jrma de um tetraedi'o. — • Superjicíe
tetraedral.
TETRAEDRO, s. m. (Do grego tetra,
e hedra). Termo de geometria. Solido
comprehendido sob quatro faces.
t TETRAFIDO, A, adj. Termo de his-
toria natural. Dividido em quatro lóbu-
los separados por senos profundos.
t TETRAGONAL, adj. 2 gen. Que se
refere ao tetragono.
TETRAGONO, adj. (Do grego tctrago-
nos). Termo de historia natural. Diz-se
de tudo o que oíferece quatro ângulos e'
quatro lados. — Capsula tetragona. —
Anthera tetragona.
— Termo de astrologia. Aspecto tetra-
gono ; aspecto de dous planetas que es-
tão a distancia de 90 graus.
— S. m. A superfície de quatro lados.
TETRAGRAMMATON, s. vi. (Do grego
tetragrammaton). Nome de quatro letras,
e, por excellencia, o nome de Deus, que
na lingua grega e latina se escreve com
quatro letras.
TETRAGYNIA, s. /. (Do grego tetra,
e gynt:). Termo de botânica. Quarta or-
dem das treze piimeiras classes do sys-
tema sexual, que comprehende as plan-
tas cujas tíôres tem quatro pistillos.
f TETRAHYDRICO, adj. Termo de chi-
mica. Composto tetrahydrico ; composto
que tem quatro proporções de hydroge-
neo para uma proporção de outro com-
ponente.
I TETRALOGIA, s. /. (Do grego tetra,
e logos). Termo de antiguidade grega.
Reunião das quatro peças de theatro que
os poetas apresentam ao publico; as trea
pi-imeiras eram tragedias e a quarta era
um drama satyrico.
TETRAMERÒS, s. m. plwr. (Do grego
tetra, e meros). Termo de entomologia.
Classe de insectos coleopteros, que tem
quatro articulações em todos os tarsos.
-{- TETRAMETRIGO, A, adj. Termo de
mineralogia. Diz-se das substancias cu-
jos crystaes se referem a um systema de
quatro eixos.
TETRAMETRO, s. m. (Do grego tetra,
e metron). Diz-se de um verso grego ou
latino composto de quatro pés no género
dactylico, e de oito pés no género jam-
bico.
TETRANDRIA, s. /. Termo de botâ-
nica. Nome dado, no systema de Linneu,
a uma classe e duas ordens abrangendo
as plantas munidas de quatro estames.
t TETRANDRO, A, adj. Termo de bo-
tânica. Que tem quatro estames. — Flor
tetrandra.
-;- TETRAPETALA, adj. f. Termo de
botânica. Que tem quatro pétalas. — Co-
rolla tetrapetala.
TETRAPHALANGARCHIA, s.f. (Do gre-
go tetra, phalagx, e archS). Capitania de
quatro phalanges.
f TETRAPHILLO, A, adj. Termo de bo-
tânica. Que se compõe de quatro folhas
ou filiolos. — Invólucro tetraphillo.
TETRAPLO. Vid. Quadruplicado.
7 TETRAPODO, A, adj. Termo de zoo-
logia. Que tem quatro pés.
TETRAPODOLOGIA, s. f. (Do grego
tetra, podos, e logos). Termo didáctico.
Parte da historia natural que trata dos
animaes quadrúpedes.
718
TEU
TEUT
TEZO
f TETRAPTERO, A, adj. Toruio de
liintoii:i natural. (^110 tom (juíitro azan.
TETRARCHA, «. /. (Do ricíío ittrar-
chês, (lo letni, e arc/ic\. 1'riiiciiie dojion-
donto do um podor superior, cujuá o.sta-
dos oram pouco mais ou ujoao:^ a quarta
parto (li) reino.
TETRARCHIA, s. f. A qualidade, o
districti) lio titnirclia.
TETRASTICHO, «. m. (Do greRO tetra,
e stichií). 1'ooma do ((uatro vcr.sos.
f TETRASEPALO, A, a,lj. Termo de
botânica. Quo U'in quatro divisiles no
calvx.
-j- TETRASPERMO, A, adj. Termo de
botânica. Qiu^ tom quatro .sementes.
TETRASYLLABO, A, adj. Termo do
grammaticií. Composto do quatro sylla-
bas.
f TETRATOMICO, A, adj. Termo de
chimlca. Diz-se do um átomo que tom
quatro pontos (Taltrac^-rio, e dos corpos
que não s.ào saturados senão por quatro
átomos de um outn) corpo. — O carbone
(s um elemento telratomico, porque um
átomo de carbone lixa invariavelmente
quatro átomos de um elemento inonoato-
uiico, ou dous átomos de um elemento
diatoniico.
TETRAZ, s. m. Termo de historia na-
tural. Oi^ucro de aves gallinaceas; divi-
dciu-.^^c i-ni trcs familias.
TÉTRICO, A, adj. (Do latim tetricus).
Carregado, tristemente grave, melancó-
lico.
— Áspero, triste, rigoroso, severo.
TETRO, A, adj. Negro, maculado, man-
chado.
— Figuradamente : Nonie tetro e fe-
dorento
TETUBAR, V. n. Titubear.
TETUDO, A, adj. Mamudo, peitudo. —
Mitl/itr tetuda.
TEU, TUA, adj. poss. Que pertence a
ti, do que teus o dominio. ■ — • Teu livro.
— «Dize se começíis-ses a fallar com hum
homem, e deixaudoo com a palavra na
boca te posesses a fallar com teu escra-
uo, nam lhe farias grande injuria':' Esta
fazes a Deos, distraindote por vontade,
ou por negligencia. » Fr. Bartholonieu
dos Jlartyres, Catecismo da doutrina
christã, iiv. 1, cap. 37.
O vilào,
como cstiV teit cora(;ão
tão fora do riue esto estil?
teu soulior (wiiio não voin?
Perderia 1;\ o vir
o acliaril i\\iem uo detém.
ANvoNio PKESXES, Auros, pag. 313.
Quem lhe ora vira esta diir !
Se SC vio (lueiu maia padei;» !
quoiii y\ aeu giro acabasso !
quo (!■ de teu seiílior, Fernando V
Sonliora, cstHva esporando
que por ello porguntasae.
IBIDEM, pag. 3"27.
Hei dp morrcjr muito cedo,
para quo >' curar de inaii) prática !
Olliac-inc i|U(! ru^&o csiui ?
(|iio /• do teu aoiihor ?
('orno mu dúo a cabeça!
Enzagoala
o púcaro dú leu seulior,
eiicho-o hi á porta.
IBIDEM, pag. 337.
Muitos na antiga idado, o na pruacnto,
Teit erro assoberbou ! No PeripAto
Eu Vejo o PanteisMio, « o vejo nesse,
Que a verdiid(? indagou.
J. A. DE MACEDO, VIAOEM EXTÁTICA, Cant. 4.
Oli alma Natureza, oh >Iày dos Entes,
Olha íi morte o que faz, piza teiix foros,
Tuas Leis descouhccc, lai^s quebra.
IDEM, A NATUBEZA, Caut. 2.
Oh mimoso Cantor, qu'entre os gelados
E bellicosos Sannatas ferozes
Não te podias esquecer do Tibrc,
S'o teu engenho divinal, teu ostro
Pôde dos mudos habitantes d'agoa
Expor a Natureza, expor o instincto.
iDiDEM, caut. 4.
Porém cllo .s.ibe
De 3edi(;õe9 cm que entram, são cabeíjas
Muitos de teus mais intimes amigos,
Fallou-mc em Decio, e occultas conferencias...
OARBETT, CATÃO, act. 3, 80. 7.
Pae, nSo to deixo.
Não eu ! >íaldizo embora o lilho.
Filho !
Es cruel com teu pae.
ímpio me chama.
IBIDEM, act. 5, SC 8.
— Relativo a ti. — Por teu respeito
procedi d'este modo.
TEUCRO, A, adj. Troiano, ou concer-
nente a Tróia.
TEÚDO, ou THEUDO, part. pass. anti-
quado (lo verbo Ter. Tido, obrigado.
f TEUGUAUXÉS. s. m. pi. Certas tro-
pas asiáticas. — «E ao outro dia uma
hora auto nionhã, tocando niuytos tàbo-
res e pifares, e outras nuiytas diversida-
des de instrumentos guerreiros ao seu
modo, o campo foy posto na ordenan(;a
que lhe era dada, mandando diante seus
atalavas, e corredores, e ordcnaniio capi-
tacns da vanguardia, e teuguauxés, que
he outro modo de for<,'a que ellos costu-
m.to Icuar detrás de toda a bagage. e
gente de serviíjo, com que o campo cami-
nha muvto mais seguro do que se custu-
ma entre m^s.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 12o.
t TEUTATES, .«. »i. Divindade a quem
os {raulezes ofFereciam vietimas humanas.
Vellèda, débil Druida, que oierça
Os vossos sacritiuios, restou uflica.
Oh Virgens de Sayna, (Ilha sagrada 1 !
Das servas da Ara tua, Virgens uóve,
Uniu eu vivo. Náo tur/ui, TeuUftet,
Nem Temploii, neta .Ministrou K pois morta
T()da a Esperam;* cm núsV Dii-meas alviçaraa:
Sei, que livrar-no* vem i>otiiitc .\lliado.
r. M. DO XASciMCiro, oa masttbeí, Iiv ít
TEUTONICO, A, adj. o «. Germânico,
ou de Allcmunha.
— Diz-se d'uma espécie de escriptora
gothica. — Letra» teutoaicas.
TEX, «, /. Vid. Tez.
TEXO, I. m. Vid. Teixo.
TEXTO, ». m. (Do latim («xíuí . As
propriíi.s palavras de algum auctor, do
um livro, consideradas relativamente aos
commentarios, ás glos.sa.H.
— Passagem da Escriptura Sagrada,
que fiirma de ordinário o assumpto do
sermão, e por onde o priigador começa.
— Caracter ou letra typopraphica.
— Flur. As coUecções do direito ro-
mano, ou canónico.
TEXTUAL, adj. 2 gen. Que é do texto.
— Citado coi.formemente a um texto.
— Uma citiirilo textual.
TEXTUALMENTE, adv. (De textual, e
o suffixo tmente>;. L>e uma maueira tex-
tual.
— Conforme o texto, com aa próprias
palavras do texto,
f TEXTUARIO, *. m. Livro onde nlo
ha senão o texto, sem commentarios, sem
notas. — Um textuario da ISiòiia.
TEXTURA, 8. /. (Do latim Uxtura). O
tecido.
— A disposição daa partes internas que
compi3em um corpo. — A textura dvt
tendões, ou músculos, das metnOranas se-
rosas.— .á textura das fibras. Vid. Grã.
TEXUGO, s. m. Vid. Teixugo.
TEYA, í. /. Vid. Teia, ou Tèa. —
«Eíte grauue Autor, e não eu foi o que
chamou a Chapelain Conservador viór das
Aranhas, diseudo que depois de estar dez
annos sem o visitar por causa de certaa
diferenças que tlverão, hindo depois desse
tempo a sua cosa o achou em uma came-
ra, ondo observou as mesmas teyas de
Aranha quo passavão de huma porte á
outi-a, e que ellc tinha visto outras vezes
antes de se desgostjir com elle. que he o
mesmo que diser que as tinha conservado
da mesma forma em dez annos.» Caval-
leiro d'01iveira. Cartas, Iiv. 3, n.' 24.
TEYO. Termo antiquado. Vid. Tio.
TEYOR. Vid. Theor.
TEZ, s. /. A pcUe mais externa, e del-
gada. — A tez do rosto.
— A epiderme.
TEZO. Vid. Teso. — «Da banda do
Sul estão os Paços de ElRey sobre
hum tezo, que são feitos a modo do
huma fermosíi fortaleza, com seus mu-
r(^s muito grossos.» Diogo de Couto. Dé-
cada (5, Iiv. S, cap. 7. — tE lembrame
([ue os muros erSo todos de taypa, bay-
xos, e pouco gr.ssos, e em partes que-
brados. Delles perto de meya legoa em
THEA
THEI
THEO
719
hum tezo vi o castello com onze torres
tà fracas como elle?, e certo que me per-
suadi o castello, e muros estarem mais
por se dizer que os tiulia : do que pêra
defensão da terra.» Fr. Gaspar de S.
Bernardino. Itinerário da índia, cap. 14.
I TEZODRA, 5. /. Vid. Tesoura.
Tezoura de sobre pentem
foi a freclia em meu desmaio.
Que fim deste ?
ASTOSIO PKE3TES. AUTO!, pag. 175.
THALAMO, s. m. (Do grego thalamos).
Leito conjugal.
Porque o vendeste, rei : não foi cegueira
Perdoável de amor, senão cubica,
Fria crueza de ambição a tua...
Se do vendido thcdamo as saudades
Vingadouras talvez vêem perseguir-te ?
GARRETT, D. BBASCA, Caut. 9.
— Termo de poesia. Núpcias, vodas.
Nelles expira a eandida innooencia,
O pejo agonizante, o amor da Pátria :
A sacra fé dos thalamos expira.
3. A. DE MACEDO, A NAJUBEZA, CaUt. 2.
— Os thalamos da aurora, do sol; o
ponto d'on']e nascem.
THALASSOCRACIA, s. /. (Do grego
thaíassa. e kratos). Império do mar.
7 THAMNOPHILO, s. m. Género de in-
sectos crdeopteros.
7 THANATOLOGIA, s. /. Tratado da
morte, theoria da morte.
7 THANOMETRO, s. /. Thermometro
destinado a ser introduzido no estômago
ou no recto, cuja temperatura desce ra-
pidamente a 20' depois da morte real, a
que nào tem logar a morte apparents.
THÀO, s. m. Me^lida itinerária do Pe-
gú, egual a uma légua portugueza.
THÁD, «. m. A ultima letra do alpha-
beto hebraico.
THAUMATURGO, adj. e s. (Do grego
thaumatns, e ergon). Que faz milagres.
— São G-rfqorio. Thaumaturgo.
THAUMATURGIA, s. /. Obra dos thau-
maturgos.
-{- THÉ, í. m. (Do francez thé). Pala-
vra franceza, comtudo adoptada pelo
Cavalleiro d'01iveira nas suas Cartas,
significando uma bebida mui vulgar, que
é o chá. — Beber o thé. — «A rasào que
teve para executar esta loucura, foi por-
que huma molher a quem elle amava, e
que vendia Café, intentou lavar a tassa
por onde tinha bebido o Thé ; nào que-
rendo consentir ao amante que bebes-
se por ella antes de estar limpa.» Caval-
leiro d'01iveira. Cartas, liv. 1, n." 41.
THEAME, í. /. Pedra que se forma nos
montes da Ethiopia, que lançíi de si o
ferro com propriedade opposta á pedra
iman.
THEANDRICO, A, adj. (Do grego theos,
e androí . Que respeita a Deus feito ho-
mem .
THEANTHROPIA, s. /. (Do grego t/w.os,
e anthropos). Attribuição a Deus das qua-
lidades humanas.
THEATINO, A, adj. — Clérigo theatino ;
regular de S. Caetano.
THEATRAL, adj. 2 gen. Que pertence
ao theatro. — Costumes theatraes.
— Voz theatral; voz forte, em opposi-
ção ás brandas, que se ouvem só nas sa-
las.
THEATRALMENTE, adv. (De theatral,
e o snffiso mente ■ . A modo de theatro.
THEATRISTA, adj. 2 gen. Pessoa que
representa em theatro.
— Adjectivainente : Sócios theatristas.
THEATRO, í. 7ÍÍ. (Do grego ilieatron).
Logar onde se representam dramas, onde
se dão espectáculos.
Já se vai ao Theatro, ao jogo, á dança,
Já se conversa, e nào se desconfia;
Pois de hum, e do outro sexo a companhia.
Em logar de inquietar-nos, nos descança.
ABBADE DE JAZENTE , POESIAS, pag. 103.
— Figuras de theatro ; os que repre-
sentam o que nào são.
— As \egras do theatro ; do que res-
peita aos dramas, representadores e de-
corações do theatro.
— Este actor nasceu para o theatro ;
tem disposições naturaes para represen-
tar bem.
— Figuradamente: A publicidade. —
O theatro das desgraças.
Mas o mortal dos Elementos todos
Sem acordo e razão, s'escuda, e arma
Para extei-minio seu: da mesma Terra
Forma o theatro daa desgraças suas :
Elle a desdenha, ultraja, e 3'envergonha.
J. A. DH MACEDO, A NATUBEZA, Cant. 9.
— Logar onde se passa algum aconte-
cimento. — O Porto foi o theatro da
guerra entre os dous irmãos, D. Pedro
IV e D. Miguel.
— Figuradamente : Diz-se do que se
passa no corpo, no espirito. — O pulmão
é o theatro dos pketiomenos da respira-
ção.
7 THEBAIDA, s. f. Logar deserto no
Egypto, aonde se retiravam piedosos
chiústão? ; assim chamado por estar pró-
ximo da cidade de Thebas.
THEBANO, A, adj. e s. Natural de The-
bas, ou pertencente a Thebas.
THEIFORME, adj. 2 gen. Termo de
pharmacia. Em forma de chá.
— Infusão theiforme ; infusão que se
prepai-a como a do chá.
7 THEINA, s. f. Termo de chimica.
Principio activo do chá, análogo ao do
café.
THEISMO, s. m. Tid. Deismo.
THEISTA, s. 2 gen. Yid. Deista.
THELALGIA, s. /. (Do grego thelê, e
algos'-. Termo de medicina. Dôr nas ma-
mas.
THELESIOGNOSIA, s. /. (Do grego
thelêsis, e gnõsis). Termo didáctico. Co-
nhecimento profundo dos eíFeitos da von-
tade.
THELESIOGRAPHIA, s. /. (Do grego
theltsis, e graphos). Descripçào dos phe-
nomenos da vontade.
f THELITE, s. /. Termo de medicina.
Inflammaçào das mamas.
THEMA, s. m. (Do gi'ego thema). O tex-
to, ou palavras breves de que o pregador
tira o assumpto do seu sermão, e que no
começo d'elle dão a conhecer a matéria
de que vai a tratar.
— Figuradamente : Propósito, presup-
posto.
— Assumpto, sujeito.
— Contexto de palavras.
— Matéria de obrigação que se dá aos
estudantes para traduzir de uma lingua
para a que elles estudam. — Um thema
latino. — Um thema grego.
THEMIAMA. Vid. Thymiama.
THEOCRACIA, s. f. iDo grego theos, e
kratos). Governo em que os chefes da na-
ção são considerados como os ministros de
Deus, ou dos deuses, ou pertencentes a
uma raça sacerdotal.
THEOCRATICO, A, adj. Que pertence
á theocraeia, que tem o caracter da theo-
cracia. — Governo theocratico,
f THEOCRATICAMENTE, adv. (De theo-
cratico, e o suffixo «mente»). De uma
maneira theocratica.
f THEDIOGÊA, s. f. Justiça de Deus.
— Parte da theologia natural que se
occupa da justiça divina, e que tem por
fim justificar uma providencia, refutando
as objecções tiradas da existência do mal.
THEODOLITO, s. m. (Do francez theo-
dolite). Instrumento de astronomia e de
geodesia, que serve para medir directa-
mente os ângulos reduzidos ao horisonte,
e as distâncias genitaes.
f THEODOSIANO, A, adj. Que perten-
ce a Theodosio o magno.
— Código theodosiano ; código publi-
cado em 458, sob Theodosio o moço.
THEOFORIO, ou THEOPHORIO, Á, adj.
(Do grego t/ieophoros). Divino, inspirado
por Deus.
THEOGONIA, s. /. (Do grego theos, e
gonos). Geração dos deuses.
— Todo o systema religioso no paga-
nismo nas relações dos deuses entre si e
com o mundo.
THEOLOGAL, adj. 2 gen. Que diz res-
peito á theologia.
— Diz-sc das virtudes que tem prin-
cipalmente. Deus por objecto, e sào as
mais necessárias para a salvação eterna.
— As três ri>'ínrfes theologaes; a fé, a
esperança e a caridade.
120
TIÍEO
THEO
THER
— Prebendado theologal; com obriga-
ç?ln '1(1 iPr tlieologiív nas ciitliodrnes.
THEOLOGIA, s. f. (Do írro^ío t/ieos, o
hxjds). Sci(3iicia (te J)('U.s o da* coiisaf)
divinas, acerca do que se devo cròr a esso
respeito, e so diz dogmática; ou acerca
do que se devo ohrar, e se diz moral. —
«Ja Luís Bi baldo a collocou a primeira
entre as Scienciaa; por prcsuadirso nad
podoalf^unia alcansarso sem ílramniatica;
c com muita espocialidado a saijrada
Theologia, para a qual se roquere ( Iram-
matica Latina, (rroíía, Ilobrayca, e Cal-
dea.» Braz Luiz d'Abrcu, Portugal me-
dico, pag. 127, § 98.
— Doutrina das consa-i ilivinas. — A
theologia pagã. — A theologia dos ma-
hometaiio», dos índios.
— Doutrina da rcligiSío cbristil. — A
theologia catfwlira. — A theologia pro-
teatanti'. — • Bachard, licenciado, doutor
em theologia. — A faculdade de theolo-
gia.
— Theologia canónica; legislação da
egreja.
— Theologia litúrgica; ensino das cc-
rcmonia^i Ao culto.
— Theologia nu/stica ; a contemplação.
— «Alijumas vozes resulta disto hum
prazer inostimauel, que naõ se podo de-
clarar, que so chama Jubilo, dondo dizem
alguns, e com rezão, que sem amor não
se pode chamar contemplação. Porem
perguntares, que cousa he Theologia mys-
tica? ao que se respondo, quo lio huma
noticia do Deos, alcançada por experiên-
cia, quando a parte superior da votado
SC vne com olle por amor, ao quo ninguém
podcr.â chojjar jamais, sonaõ for purifica-
do dos afVectos impuros, e terrenos, assim
como 03 lenhos verdes, e húmido? naõ
daij matéria ao fogo prender nellcs tò es-
tarem secos, e dispostos.» Fr. liartholo-
meii dos Martyres, Compendio de espiri-
tual doutrina, cap. 12. — jSo perguntar-
des, porque razão os taes theologos não
sentem a suauidade, e doçura da contem-
plação, rospondcroi om huma palaura, qne
não cutrão noHa polia porta, quo mostrou
o Apostolo S. Paulo, quamlo disso: se al-
gum entre vos pároco sábio, façasse igno-
rante, pêra vir a saber, humilhesse, ten-
dose por tal, e de nenhuma sufficiencia
em respeito da theologia mystica, que he
a contemplação.» Ibidem, cap. 15.
— Theologia positiva ; parte da theolo-
gia que comprohende a Escriptura Sa-
grada, a historia occlcsiastica, as decisões
dos SS. Padres, dos papas e dos conci-
lies.
— Theologia dogmática; exposição das
crenças.
— Theologia moral; ensino das regras
do proceder.
— Theologia natural; noções sobre
Deus, o bom, i> o mal.
— Doutrina thoologica. — A theologia
dos Padrts.
— Diz-se da» opiniSes particulares,
mais ou menos roeobidas entro as eocri-
pturas occhísiasticas. — Grtijs pontos da
theologia de Santo Atpjstinho.
THEOLOGICAMENTÉ, adv. (Da theolo-
gico, o II suíTixo «mente»!. (Jonformo os
princípios da theologia.
— Como theologo.
— D(! um modo thoologico.
1.) THEOLOGICO, A, a'dj. Que diz res-
peito A tliO(do;íia. — As inateriat theolo-
gicas.
2.) THEOLOGICO, s. m. Homem quo
sabe theologia, que escreve sobro theolo-
gia.
— Por extensão, estudante em theolo-
gia.
THEOLOGISAR, ou THEOLOGIZAR, v. n.
Disciirrta' throlo.i,'icamonti'.
THEOLOGO, 8. VI. Vid. Theologico
(suli-tnntivc).
THEOMANCIA, s. /. (Do grego theos,
e manteia). Adivinhação pelo nomo do
Deus, ou pela inspiração supposta de uma
divindade.
I THEOPESCHITO, í. m. Hereges quo
affirmavam que a natureza divina tinha
soffrido sobro a cruz.
THEOPHANIA, s. f. (Do grego theos,
o phainosi. Entre os gregos, appariçào
ou revelação da Divindade.
— Man ifes tacão divina.
THEOPHOBIA, s. f. (Do grego theos, e
phobos). Grande temor de Deus, que t;il-
vez faz endoudecer, como o hydrophobo
aborrece tudo o que é ou lhe parece
agua, a quo tem horror.
' I THEOPNUSTIA, s. f. Termo didá-
ctico. Inspiração divina.
THEOR, s. in. (Do latim tenor). O con-
texto da oscriptui'a. — « E depois desto
ElRey Dom Affonso o Terceiro acerca
deste passo fez outra Ley, de que o
theor tal he.» Ord. Affons., liv. 4, tit.
10, §2.
— Theor de vida; carreira, procedi-
mento, conducta.
— A lança guarda o theor ; segue o
mesmo caminho, c direcção.
— Figuradamente : Jlodo, m.aneira, es-
tylo. — « Chegado Diogo lopez de se-
queií-a a Cochim da viagem que fezera
ao mar Darabia, alem das cartas que lhe
Gaspar da sylua deu el Rei em Diu,
achou outras do mesmo theor em Cochim
que lhe trazia (teorgo de brito, nas quaes
lhe mandaua que se el Rei de Cambaia
nam quisesse dar a fortaleza em Diu, lhe
fczesso guerra, e trabalhasse por tomar
aquella cidade, e ha poer a seu man-
do.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 4, cap. 60. — «E por sete
bandeiras que lhe tomou das mesmas co-
res, e feição, e doulho hum Elmo de prata
aberto guarnecido douro, o o Paquife «lou-
ro, e vermelho, e por Timbro huma ban-
deira vermelha de ponta.» Ibidem, part.
1, cap. 100.
Os Francos tem, quo Meroreo é frueto
Da S[>o«a de Clodiuii, c um Mooistro Oceânico
I'or occulto theor miraculoso.
r. M. DO »A«'.uii!»ro, o» MÁBirirs, liv. 6.
— duardeir o theor ; fazer pelo mes-
mo nioilo.
THEORBA, 8. f. Vid. Tiorba.
THEOREMA, *. m. (Do grego theôrê-
ma). To la a pro{KMÍç3o que precisa d'uma
demonstração para se conhecer, e tomar-
se evidente.
— Termo de geometria. Proposição e
demontitração de qualquer verdade espe-
culativa.
THEORETICAMENTE, adv. /Do theore-
tico, com o .iiiíTixo 1 mente >>. iJe um
modo t :(!<niiico. eipeenlativamento.
THEORETICO, ou THEORICO, A, adj.
Qiie pi.rtjncc :i theoria, especulativo, em
oji]io-tii;ào a pratico.
THEORIA, ou THEORICA, *. /. (Do
grego t/ieOriaj. Cimhecimento especula-
lativo, c que nSo passa á pratica dks cou-
sas conhecidas.
— A theoria dos planeta» ; a sciencia
dos movimentos, distancia, e grandeza
d'elles.
— Syn. : Theoria, systema. Vid. esto
ultimo termo.
THEORICO, A, adj. Pertencente a uma
theoria. Vid. Theoretico.
— Substantivamente : Pessoa versada
nos princípios c nos elementos de uma
arte, mesmo sem a exercer.
— Auctor de uma theoria. Vid. Theo-
rista, que é differente.
THE0RI3TA, s. 2 gen. Pessoa que en-
sina, propõe, excogita theorias, doutrinas
thcoricas. em opposição a praxitta.
THEOSEBIA, s. f. (Do grego theosé-
heia). ( 'ulto. ou veneração devida a Deus.
THEOSOPHIA, s. f. (Do grego theos, e
sophos<. Especulação de certos illumina-
dos que pretendem pôr-se em communi-
çSo com a Divin<lade, em receber dons
particulares, em dirigir, ou combater a
sua intluencia ou intervenção, quer por
intermédio dos demónios em certos phe-
nomenos que se suppõe contrários ás leis
naturaes, quer por intermédio dos as-
tros, ou dos Huidos.
f THEOSOPHICO, A, adj. Que perten-
ce í\ tlieosopliia.
I THEOSOPHISMO, ••f. m. Caracter das
especulações thcosophicas.
— Nome dado por Kant ao systema
dos philosophos, que, como Mallebranche,
crêem vèr tudo em Deus.
I THEOSOPHO, *. "I. Homem que en-
sina ou ]iratiea a theosophia.
THERAPEUTICA, í. /. (Do grego th«-
rapeutiki'). Parto da medicina que tem
por objecto o tratamento das doenças,
quo d:Í os preceitos sobre a escolha c
aviministração dos seus meios curativos,
c sobre a natureza dos medicamentos. —
Ctirao de therapeutica.
THER
THES
THES
721
f THERAPEUTICO, A, adj. Que diz
respeito ao tratamento das doenças. —
Meios therapeuticos.
THEREBENTINA, THEREBINTINA, THE-
REBINTO, ftc. Vid. Terebintia, etc.
THERIACOI.OGIA, ou TiiERIOCOLOGIA,
s. /. (Do grego tMrion, e logos). Trata-
do dos aniniaes venenosos.
THERIAGA, s. /. (Do grego tMrion).
Vid. Triaga.
THERIOTOMIA, s. f. (Do grego tM-
rion, e tome). Anatomia dos auimaes.
THERISTRO, s. m. (Do grego tlieros).
Género de veu, ou vestido leve, de que
outr'ora usavam as mulheres no tempo
do verão.
THERMA, s. f. (Do grego thermé). Ca-
sa de banlio de agua quente.
THERMAL, adj. 2 gen. — Aguas ther-
maes ; aguas quentes naturalmente, de
que se usa para banhos medicinaes; de
com muni sào impregnadas de partes sul-
phureas, etc.
j THERMICO, A, adj. Que diz res-
peito ao calor. — Os caracteres thermi-
cos das doenças.
— • Machinas thermicas ; machinas des-
tinadas a refrescar ou a aquecer o ar das
habitações, e a fabricar gelo.
f THERMOBAROMETRO, s. m. Instru-
mento que reuuc as propriedades do ba-
rómetro ás do thermometro.
f THERMOCHIMICA, s. f. Theoria dos
phenoiuenos caloriticos que acompanham
os pheuomenos ehinucos.
THERMOCO, .s. m. Vid. Tremoço.
f THERMODYNAMICA, s. f. A scieu-
cia da força produzida pelo calor. — A
thermodynamica molecular.
-j- THERMOELEGTRICIDADE, s. f. Ele-
ctricidade desenvolvida por imia mudan-
ça de temperatura.
— Parte da phvsica que trata dos phe-
nomenos d 'esta ordem.
f THERMOELECTRICO, A, adj. Que
diz respeito á thermoelectricidade, ou ao
calor e á electricidade.
— Diz-se dos phenomenos resultantes
das correntes eléctricas que se podem ex-
citar uos metaes pelo uuico facto das va-
riacõe=; da t -mperatura.
THERMOLOGIA, .?. /. (Do grego ther-
niê, o logos). Termo didáctico. Tratado
do calor.
— Doutrina do calor.
t THERMOMAGNETISMO, s. m. Ter-
mo de phvsica. Magnetismo desenvolvido
pelo cahir.
-{- THERMOMETRICO, A, adj. Que diz
respeito A tliermometria. — Medida ther-
mometrica.
THERMOMETRO, s. vi. (Do grego ther-
mê, e metron). Instrumento que dá a co-
nhecer a temperatura da atmosphera; ó
um tubo de vidro, no qual está encerra-
do espirito de vinho ou azougue que, ra-
refeito pelo calor atmospherico sobe no
tubo, condensado baixa, e se recolhe no
VOL. V. — 91.
globosinho; põe-se encostado a uma pe-
quena taboa graduada, para se conhecer
o estado do calor ou frio.
— ^ Thermometro de Reaumur ; aquelle
cuja escala é dividida em 80 graus en-
tre o gelo fundente e a agua fervente.
— Thermometro centígrado; aquelle cu-
ja escala está divida em 100 graus entre
o gelo fundente e a agua fervente.
— Termómetro de Fahrenheit ; aqueWe
que está dividido em 212 graus, a par-
tir da congelação do mercúrio até á agua
fervente. O termo do gelo fundente e o
zero do thermometro centigi'ado e de
Reaumur corresponde a 32° de Fahre-
nheit, e fica 180° para corresponder aos
100 e aos 80 graus do thermometro cen-
tígrado e de Reaumur.
— 4 graus de Reaunnir valem b centi-
grados, e 9 de Fahrenheit.
— Thermometro differencial ; instru-
mento próprio para medir as differenças
de temperatura.
— Thermometro eléctrico ; circuito fe-
chado, composto de um fio de ferro ou
de cobre, soldados a seus pontos de união,
no qual se encontra um galvanometro
guardando perfeitamente zero.
f THERMOMULTIPLICADOR, s. m. Ap-
parerfto thermometrico mui sensível for-
mado pela reunião da pilha thermoelc-
ctrica de Nobili com o galvanometro.
f THERMOPHYSIOLOGIA, s. /. Theo-
ria dos phenomenos caloroficos que se
produzem durante as acções physiologi-
cas.
f THERMOSCOPIO, s. m. Instrumento
destinado a descobrir mui pequenas mu-
danças de temperatura.
THESBITINO, A, adj. e s. De Thes-
bis, ou pertencente a Tliesbis.
THESE, .s. /. (Do grego thesis). Pro-
posição que se expõe para a controvér-
sia, e que alguém defende ; conclusão ;
asserção em geral ; differe de hi/pothese.
■ — • Proposição de philosophia, de theo-
logia, de direito, de medicina, que se
sustenta publicamente.
— O aggregado de proposições que o
estudante sustenta para ser recebido co-
mo licenciado, ou doutor.
— A disputa menor das theses. — As-
sistir a uma these.
— As conclusões magnas no acto gran-
de. — Defender theses.
THE30URAD0, s. /.'Officio de thcsou-
reiro.
THESOURARIA, .t. /. Logar onde se
guardam os thesouros do estado.
— Thesourado, emprego do thesou-
reiro.
— A repartição, ou casa onde estão os
cofres de alguma arrecadação do estado,
e onde trabalham o thesoureiro, e seus
subalterno-;.
THESOUREIRO, s. m. O guarda do
thcsouro, ou dos cofres d'alguma arreca-
dação .
— O que tem a seu cargo a arrecada-
ção das receitas, e distribuição da despe-
za de uma corporação, irmandade, etc.
Nas casas e companhias commerciaes diz--
se o caixa.
— O thesoureiro d' urna egreja; o que
guarda as alfaias.
THESOURO, s. m. (Do grego thZsau-
ros). Casa, ou arca onde está o dinheiro,
jóias e preciosidades.
De iguarias suaves o diyinag,
A quem não chega a egypcia antigua fama,
Sc accuniulam os pratos de fulvo ouro,
Trazidos lá do Atlântico thenouro.
CAM., Lus., cant. 10, est. 3.
— «Herdou o Reino sendo de trinta e
dons annos, em que achou boa cópia de
thesouro assim em dinheiro amoedado,
como em barras, e achara muito mais,
senaõ foraõ as guerras, que el Rei D.
Joaõ seu pai teve com Castella, e as
conquistas que fez em Africa, e sobre
tudo os gastos com que el Rei D. Fer-
nando desbaratou os thesouros do Reino,
e deixou seus vassallos perdidos.» Frei
Bernardo de Brito, Elogios dos reis de
Portugal, continuados por D. José Bar-
bosa.— «Jà que lhes nam dá do que
dirá a gente, nam me diram, onde acha-
rão estes thesouros, sem hirem á índia;
ou que arte tiveram, para medrarem
tanto em tam pouco tempo, para que os
desculpemos ao menos com a visinhan-
ça?» Arte de furtar, cap. 42.
— Thesouro d'el-rei; thesouro do rei,
erário publico. — «E tirada esta despe-
za, o mais que sobejava se mettia no
thesouro delRey; e senão foram algumas
liberdades, que antigamente eram conce-
didas aos vizinhos, tivera este Reyuo do-
brada renda. » Barros, Década 2, liv. 10,
cap. 7.
— Figuradamente: Multidão de di-
nheiro, barra.
Com mercês feitas, c outras que offerece,
O seu charo thesouro lh't'ncommenda.
Porque o peito leal, que bem couheee.
Era maior lealdade asai o acenda:
Mas porque isto inda pouco lhe parece.
Para que Acefarcào melhor entenda
Que cousa esta hc que só delle fiava.
Também estas palavras lh'ajuiitava.
F. d'aNDRADÍ?, PRIMEinO CERCO DF. DIU, Cailt. 3,
est. 03.
Hum fecundo calor excita os Entes,
Seus thesouros os Ceos então dcrramão,
Ao regaço da Terra as agoas descem.
Entorpecidas molas lhe vigorào,
Reanimão-se as Arvores, e a seve
Deixa o frio torpor, gira nos troncos.
J. A. DE MACEDO, A N.VTDREZA, Caut. 1.
He seu calor a fonte minca exhausta
Dos fhesonros. dos dons que a Terra ostenta;
Mil dadivas lhe envia, c não recebe
Da Terra galardão. Renasce c vive
722
THEU
THEZ
THOR
A Natureza amortecida, fumndo
A'8 cavorna» do Polo o iiivorno foge.
Embora triste horror boub olho» vejic,
Somente o cora(;ào busca tlifuonron.
iniDKM, cant. '2.
Nunca farto A>: inipi^rioH, do tlimonrnn,
O mar ai*rtob(M"bou, o as Lcíh severa»
Com que bnn;o immortal huiiH Tovos d'outro.s
Portendeo aoparur, quiz pôr distantes!
A voz da Poesia, o mais seguro
Orgào por ondis a Natureza falia.
Seus milagres, seus dons nunca de todo
] íado chegar a expor •, de maravilhas
Nunca se estanca o poi-ennal thfsouro,
Delias todas corri pequena parte.
iDiDKu, cant. 3.
— Pôr cm thesouro ; entlicsourar.
— Fazer thesouro da amizade de al-
guém; gr.iiig'cnl-;i, obtel-iv, conscrval-a
como um thesouro.
— Os thesouros da gelo, e da chuvei-
ros.
— Thesouro publico. Vid. Erário.
— Thesouro de virtudes, de 2>aciencia,
ãe 'i^rudentes avisos.
— O oclilicio, oníle trabalham es em-
pregados (lo thesouro.
— Ou thesouros da mundo.
Os thesouros do mundo. Não a aoccito.
Marco, dil-nic attcn(;ão — ao teu amigo...
Amigo tu !
Outr"ora m'o chamavas.
O.VBHK.TT, CATÃO, act. 3, SC. 1.
THESSALICO, A, adj. o s. Natural da
Thossalia, concenieutc à Tlicssalia. —
Moiile thessalico.
THESSALONICENSE, adj. e s. 2 yen.
Natural uu portonucnte il The.^ísalia.
THETICO, ou THETIO, A, adj. De Thc-
tis, ou fonccrneutc a Thctis.
THETIS, s. /. Termo de mythologia.
Uma das deusas do mar, que foi lu.ãe do
Achilles.
— O mar.
— Género de conchas bivalves.
— Planeta telescópico, descoberto eiu
1852.
THEÚDO. Vid. Teúdo. — «Poro se al-
guuui dos dito-í homoeus adoecer, ou en-
velhecer cm nosso serviço, que nom pos-
sa servir, que o dito Almirante nom seja
theudo de mandar por outros cm lugar
dellcs, em quanto estes homens forem vi-
vos, o nom poderem servir; e o dito Al-
mirante pcra sempre devo de mantccr os
ditos vinte horaoens de (Icnoa pêra nos-
so serviço.» Ord. Affons., liv. 1, tit. 54,
§ 14. — «Eui tal caso mandamos que o
devedor seja theudo de tornar o que re-
cebeo, ou cincoenta libras por huma des-
ta moeda, som embargo da consinaçoni,
o deposiçom, o o devedor possa aver a
moeda, qu(! cunsinou, o depóse.» Idem,
liv. 4, tit. 1, § 9. — «E posto que eiu
alguuns destes contrautos susy ditos, fei-
tos c cíilobradoH em cada huum destes
trcs tempos, fosso dito que o devedor pa-
gasto das moerias, que corressem aos
tempos das ));igas, mandamos que o dito
devedor seja theudo a [)agar da moei ia,
quo coi'ria no tempo, que se fez o dito
coiitrauto : o 8C foi feito no aano da Era
do mil c quatroc';i.tos c vinte c quatro
annos, pague da dita moeda, ou dez li-
bras por Jiuma desta do real do três li-
bras e meia.» Ibidem, § 17. — «E nas
que des entom a ca forom feitas nom aja
lugar, e os devedores sejam theudos de
pagar esso (|ue doverom, como se c.^sas
obraçooens, c consinaçooens nom fossem
feitas, como per nós he hordonado.» Ibi-
dem, § 23. — «Em tal caso como este
nom será a jjarto theuda de pagar nc-
nhuã cousa por corrogimento das ditas
casas, e malfeitorias, salvo so de seis me-
zes ante da publieaçom desta Ilonlena-
çom foK cintemente essas malfeitorias.»
Ibidem, § 'ò'i. — «E se o assy nom fize-
rem, e achado for depois quo esses, que
assy viviam, som theudos d'entrcgar al-
guã rem a esses, de que se assy parti-
rem, que outro tanto entreguem a n<')S
do seu esses, que os assy partir nom qui-
serem quando lhes foi fronta !o.o Ibidem,
tit. 26, § 2. — <iE se o denumdado dis-
ser ao autor, a que se chamou, que o de-
fenda, e esse autor nom quiser vir a
dcfendello, ou se vier, o o nom quiser
defender, se o demandado defendendo a
cousa, sobre que he a contenda, for del-
ia vencido, o autor soja theudo de a dar
dobrada a aquelle, a que a cousa foi ven-
dida, ou escaimbada, ou a seu iierel, se
esta cousa foi vendida, ou escaimbada
per elle, ou por aquelle, cujo hcrel he.»
Ibidem, tit. òO, § 1.
THEURGIA, s. f. (Do grego theos, e
ergon). Seiencia de fazer maravilhas em
nome e virtude de Deus, e das potesta-
des celestiacs, ou deuses celestes.
— Theurgia medicai; cura das doen-
ças por intervenção dos deuses.
f THEURGICO, A, adj. Que pertence,
que tem rclaeào eum a theurgia.
f THEZOURO, .•'. »). Vid. Thesouro.
Sabei, senhora,
que nesta fé nào vivo, mouro ;
se perto nascera o ouro
quesaís tão ouro uào fòrn
no estimar de. seu thezoiiro.
AXTONio PRKSTEs, ACTOS, pag. 485.
E por fazor vaõ thezoiiro,
Também seu fim descobriste,
Que ati' o inferno abriste
Minas de inferno, o de ouro.
F. BODKtOUES LOBO, ECLOQAS.
— «No mesmo Thezouro do Impera-
dor, 80 conserva a figura do Christo Se-
nhor Crucificado, nasci lu cm hum talJo
de couve. Este tallo coberto de casca hc
da grandeza do hum covado, e de côr
verde escuro.» Cavalleiro d'()liveir»,
Cartas, liv. I, n.° 24.
THIMIANA. Vi I. Thymiana.
THIO. \'i i. Tio, terui" cm uso.
f THIONATO, 9. m. Termo do chimi-
Cíi. Noiíi'! p-Dorico diis sacs quo os áci-
dos das seriei tliionicLS formam com as
ba:c«.
f THIONICO, A, ofJj. Termo de chinu-
ca. (^uc; <iiz respeitíj ao euNofre e aeuu
comj)o-tos.
■; THIONIDES, «. rn. plur. Tormo de
chindea. Família dos corpos que encer-
ram o enxofre.
THLASIS, ou THLASMA, *./, (Do gre-
go t/Uasis, ou tldasinu). Termo de cirur-
gia. Contusão, ou fractura do» ossos cha-
tos.
THLIP3IA, s. /. (Do grego thlípeia).
Termo de uie>ticina. Compressílo das pa-
redes moveis de um vaso por alguma
causa externa.
I THOMARISTA, s. m. Que segue ou
exiiue as iloutritiiis de S. Thomaz. —
"Approvaram as universidades de Coim-
bra e Évora, o julgou a causa o bispo
de Ijiiuiego, aquelle insigne thcologo e
thomarista frei Feliciano de N. Senho-
ra.. Jíispo do íir.ào Pará, Memorias, pu-
blicadas por Caniillo Casteilo Ikanco,
pag. 101.
t THOMISMO, s. m. Doutrina de S.
Thomai: d'Aquino, particularmente sobre
a prcde^stinaçào c a graça.
f THOMISTA, «. ni. Partidário do tho-
mismo.
— Adj. Qnc pertence ao thomismo.
THONNEA. Vid. Thymiea.
THORACETE. \'U. Cossolete.
THORACICO, A, alj. Tei-mo de medi-
cina. Do peito.
— Quo pertence ao thorax. — Capaci-
dade thoracica.
— Membros thoracicos ; os membros
superi res, porque estão articulados com
as partes lateracs e superiores do tho-
rax.
— Regiões thoracicas ilo tronco; dis-
tingue-se de cada lado a regi.ào thoracica
anterior, que corresponde aos muacnioa
peitoraes, c a regiSo thoracica lateral,
(juo eorrcspoiide ao grande dentado.
— Vísceras thoracicas; os pnlmSes c
o coraçíio contidos no thorax.
— Ciinal thoracico ; grande tronco
lymphatico formado pela reuni.ão succes-
siva de todos os vasos lymphaticos doa
membros inferiores, do abdómen, e do
membro superior esquerdo, e do lado es- H
quvrdo da cabeça, ilo pescoço c do tho- f
rax.
-^ THORACIDE, s. m. Termo de zoo-
logia. Parte anterior do corpo de um
crustáceo.
THRO
THUR
THYR
723
f THORACOCENTHESE, s. /. Operação
cirúrgica quo consiste em atravessar a
parede do thorax, a fim de dar saída ao
liquido amontoado na pleura.
f THORACODIDYMO, s. m. Termo de
teratologia. Diz-se dos monstros soldados
a partir do tliornx, .Valto a baixo.
t THORACOSCOPIA, í. /. Termo de
medicina. Arte de examinar o peito.
j- THORACOZOARIO, adj. Diz-se dos
animaes em que predominam os órgãos
do peito.
t THORADELPHO, s. m. Termo de te-
ratologia. Género de monstros duplos mo-
nocephalicos, em que os troncos se reú-
nem acima do umbigo com dous mem-
bros thoracicos, e separados em baixo
sem partes supernumerarias.
THORAX, s. 71). (Do gi-ego í/íoroa.'). Ter-
mo de anatomia. O peito que encerra os
bofes e o coração.
— Primeiros anneis que seguiram a
cabeça, nos crustáceos e nos articula-
dos.
— Nos insectos, segmento intermediá-
rio do corpo, que tem patas.
THORINA, s. /. Termo de chimica.
Terra mineral, cujo radical é o thorio,
metal modernamente descoberto.
— Oxydo de tliorio.
THORÍNIO, s. m. Termo de cbimica.
Metal descoberto por Berzeliiis, produzi-
do do mineral thorina. Vid. Thorina.
THORIO, s. m. Termo de chimica. O
radical metallico da thorina.
— ^letal terroso.
THORITE, s. m. Termo de chimica.
Mineral raro da Norwega; terra branca
em que se encontra a thorina.
THORO, í. m. O leito conjugal.
THRACIA, s. /. Regi«ào da Ásia.
— Certa pedra que, segundo alguns,
se accende com agua e se apaga com
azeite.
THRACIO, A, ar]j. Da Thracia, ou per-
tencente á Thracia.
THRACONICO, Â, wlj. Traidor, enga-
nador, que nào guarda fé, como os povos
da Thracia, qive eram tidos por engana-
dores e falsos.
THRASONISMO, s. m. Insolência, te-
meridade.
THREICIO, s. m. Vid. Thracia.
THRENOS, s. m. plur. (Do grego ikre-
nos). As lamentações de Jeremias.
— Figuradamente : Lamentações, las-
timas, maguas.
THREPSIOLOGIA, s. f. (Do grego tre-
psis, e logos). Termo didáctico. Sciencia
que se occupa dos meios de alimentar os
animaes domésticos, e de cuidar n'elles.
THRONO, s. m. (Do grego thronos).
8olio, assento elevado onde os reis, im-
peradores e principes soberanos se sen-
tam em funccòes solemnes.
Carta sou de l:i estarem,
n'esae throno,
não Estio, mas Outono
pcra lá fortificarem
em mais gloria de seu donno.
.vNiosio pjiESTEs, AUTOS, pag. 93.
Da Croação da Natureza toda
Alem do iramerLso Circtdo, seu TJtrono
Quiz erguer o Iramortal. De perto o vejo,
Que a luminosa Fé raeua passos guia,
I)o tanta luz nos raios se esvaece
O Mundo aos olhos meus : pequena Estrella
Assim foge, assim vôa, se no extremo
Limite oriental desponta o dia.
J. X. DE JUCICDO, A KAIUKEZA, Caut. 1.
No meio do clarão vejo no Throno
Cercado de esplendor MIGUEL Primeiro.
O Génio a voz erguendo ao Throno aponta,
E com celeste acceuto assim mo exclama.
IDEM, ■^^AGEU EXTÁTICA, Cant. 4.
A que mora no germe, occulta força,
A que a tudo dá forma, e dá figura.
Por mim vai conhecer a origem d'alma,
Qual tenha em corpo humano assento, o throiio.
IBIDEM, cant. 2.
A luz, que a França vio brilhar mais pura.
Quando o Grande Luiz subira ao Throno,
Que eterna Fama, eternos monumentos
A' grào roda dos séculos deixara.
IBIDEM, cant. 4.
Do Jlar a agitação, do Vento a fúria
Com frágil lenho voador se enibrida.
Sentado cm ligneo throno. e fluctuante
Appavece o mortal Eei do Universo;
A seu arbítrio o Mar divide, c rasga.
Lysia cm mais de ura Monarca, um Pai conhece.
No throno muitos vio lembrados sempre
Da condição mortal, que iguala a todos.
IDEM, MEDITAÇÃO, CaUt. 1.
Jíui ravo este espectáculo gozarão
Os miseros mortaes, quando no throno
Triste Roma hum só vio : ao ^lundo escravo
Dictava o crime us leia, lançava os forros.
— Figuradamente: O poder soberano
dos reis, a potencia soberana.
— Plur. Anjos de terceira ordem da
primeira jerarchia.
THURIBULARIO, s. m. O ministro que
incensa com o thuribulo.
»THURIBULO, s. 7n. (Do latim thurihu-
lum). O vaso onde se queima incenso,
preso por cadêas para se poder pôr em
movimento.
Ceilão entre seus bálsamos as tece,
E o suave vapor, que Aiu-ora exhala
Lá no berço onde nasce, e espalha rosas.
Em dourados tlinribulos te envia.
Nào tiverão os líeis tributos destes;
Ao Poder se negou, déo-sc á Sciencia.
J. A. DE MACEDO, VIAOEM EXTÁTICA, Caut. 2.
THURICREMO, A, arlj. (Do latim thu-
ricremus). Termo de poesia. Altares thu-
ricremos ; altares onde se queima in-
censo.
THURIFERARIO, A, adj. O que minis-
tra o thuribulo.
— tí. m. Homem que nas ceremonias-
da egreja tem o thuribulo e a naveta
com o incenso.
THURIFERO, A, adj. (Do grego thuri-
fer). Que produz incenso.
THURIFICAÇÃO, s. /. A acção de in-
censar.
THURIFICADOR, s. m. Homem que in-
censa a Deus, uu aos falsos deuses.
THURIFICANTE, ;jrtrí. act. de Thurifi-
car. Vid. Thuriflcador.
THURIFICAR, v.a. Incensar.
THUSCO. Viii. Toscano.
THYESTEO, A, adj. De Thyestes.
— Figuradamente: Cruel, atroz.
— Substantivamente : Um thyesteo.
THYMBRA, ou THYMBREIRA, s. f.
Planta odorífera que se assimilha ao
thvmo.
THYMELE, s. /. (Do grego thymelê).
Espécie de púlpito levantado na orchestra
grega. -
THYMIAMA, ou THIMIAMA, s. f. (Do
grego thjraiaiaa). Perfumes aromáticos,
que se queimam nos altares. Vid. Timiama.
THYMIATECHNIA, s. f. (Do gi-ego fhy-
miama, e techiiêj. Termo didáctico. Arte
de compor pei^fumes.
f THYMIGO, A, adj. Termo do anato-
mia. Que diz respeito ao thymo. — Ar-
térias thymicas.
— Termo de medicina. Asthma thy-
mica ; doença das creanças, que sobrevem
por accesso mui cui-to, sobretudo de noi-
te, e produz subitamente a morte.
THYMO, s. m. Tomilho.
— Termo de anatomia. Corpo oblongo,
glandifornie, situado deti*az do sterno.
THYNNEA, s. /. (Do grego thynnos).
Sacrifício que os pescadores faziam a Ne-
ptuno, matando um atum para ter aquelle
deus propicio a fazer boa pesca.
THYROIDE, adj. 2 gen. (Do grego %-
rus, e eidos). Termo de anatomia. Car-
tilagem thyroide ; a maior das da laryn-
ge, de que ella occupa a parte anterior
superior.
— Glândula thyroide ; corpo situado
na parte anterior inferior da larynge e
nos primeiros anneis da tracchêa artéria,
e que parece muitas vezes composto de
dous lóbulos ovóides, seguros um ao ou-
tro por uma espécie de tubérculo trans-
versal .
f THYROIDITE, s. f. Inflammacão do
corpo thvroide.
THYRSIGERO, A, adj. (Do latim %r-
siger). Termo de poesia. Que traz, e usa
de thyrso.
THYRSO, s. m. (Do grego thyrsos).
Termo de poesia. Um dardo ornado de
hera, e pampilhos, de que andavam ador-
nadas as bacchantes : é insignia de Bac-
cho, e das Evias.
r24
TI
Tllil
TIDO
— Termo de botânica. Modo do iiiHo-
rescencia pelo qual as ilorcs estiUo iIíuijoh-
1 13 0111 caclios coiuj)()8tort di; |)e(liculo8 ra-
mosos, sendo os do meio mais largos quo
os interiores o os superiores.
THYRSOSO, A, aJj. Termo de botani-
c:i. <i'ue il;i as tloros em tliyrso.
THYSICO, A, a,lj. Vid. fisico.
TI. Forma variável do pronome da se-
gunda pessoa tu, que se usa com as pro-
j)08Í^õus u, de, ou pui-, ou suOre, sem,
2>ara.
C 90 (lo ti OS aparta, logo toi-nas
A essa primoira mínima estatuía.
Miiy justo tom tal nome pois Antlicros,
Olhandote se chama Rospoiídnncia.
Esto a si'ii cargo tem vinj^ar agrauoa
E as injurias do Amor satlsfazclas,
A este oontanU tu, c davas parte
Do teus trabalhos, penas, o dos^oJtos.
roarr. heil, naukragio de ski-clviída, caut. 2.
Vossa merco não m'a dò.
Mas autos n ti a dou.
Por que, senhor?
ANTÓNIO PKK3TE3, AUTOS, pag. 125.
Está muito bem assi ;
ora mais quero do ti
quo (piem quer a burla bula
ha de buscar a cscíipula
com Ivigir quo a põe de si.
luiDF.u, pag. 323.,
Meus ais
caíam sobre fi, não mais
quo te esborrachem.
iDiDF.M, pag. 445.
Soceorre Eterno Pao, Senhor Supremo,
Porque eu om mar tào larjío desatino,
<)ud'hum naufrágio certo espero e temo
Se mo faltar o teu favor divino :
Nem m'atrevo chegar a tanto estremo
D'alto verso, sem ti. tpie o fa(;a dino
Daquelles quo por ti com peitos fortes
Derão, c receberão cruois mortos.
P. n'ANDRAnE, PBIMEIBO CEBCO DE DIU, Caut. 1,
est. -2.
Obrigou-o a fazer isto que digo
Vêr quo os passados Reis isto fizerào.
Pois perdoo esta terra o seu antigo
Rei, o os fados a ti t'a concederão,
Nào sejas a esta idade tu só iuiigo,
Da-rae o que os outros Reis sempre mo derão
A tào causada idade sempre humanos,
Valha-mo nisto a posse do com anos.
luiDEU, caut. 8, est. CS.
Eu sempre para ti só cjuiz a vida,
O que desejei sempre tinha agora,
Mas n'hum gravo tormento, convertida
Vejo esta gloria estando tu do fora :
Não queiras que por ti veja cu perdida
A vida, o bom, e o gosto sA n'huma hora,
Fogo, foge, amor meu, do msil presente
Porque vivendo tu, moura eu contento.
IBIDEM, caut. 9, est. 03.
Por largo espado o deixa o Nigromante
Repousar em descíiuijo, até que ao vè-lo
De todo do desmaio recobrado.
Com mofa, v compaixão a.ssiin lhe falia :
— Não cuidei, (jue tão pouco csfori;o tiuluiS,
Preguii;oso Deão, iuibelle, e fraco;
t^ue uma Hontença contra ti vibrada
Te lizesso perder de todo o alento :
Mas és Cónego cm fim, e tauto banta !
DINIZ DA CBUZ, HY880PE, CUUt. tí.
Por ti me é fácil tudo. Nós, da purpura
Muito, já (como o sabes) dispozemos.
Em segredo, armarei nossos Soldados.
r. M. 1)0 N.VSCIMENTO, 09 SIAUTVnt.B, 1ÍV. 10.
— Diz-so também te por a ti, que vale
o mesmo.
— Ti, antepondo-se-lho a preposiçilo
com, dir-so-ba melhor cam tigo, e nSo
com ti.
1.1 TIA, s. /. A irniri do pae ou da
mãe, avi) ou avô, a respeito do sobrinbo
ou sobrinha. — «Como luc acho inuy dis-
posto para zombar das loucuras, e daa
extravagâncias que exeeutuo os humanos,
nSo faço mais do que rir-me dos seus ter-
rores pânicos, e dos seus presagios des-
propositados. A idade, e o costume tem
eontirmado em tal tornia esta doença na
Senhora de que vos falo e em vossas
Tias, que temo que para nenhuma delias
possa haver remédio. » Cavalleiro de Oli-
veira, Cartas, liv. 3, n.° 11.
2. i TIA. Termo antiquado, por tinha,
do verbo ter.
TIARA, s. f. (Do latim tiara }. Ur nato
da cabeça usado ofitr'ora entre os persas,
os arménios e os judeus.
— Mitra poutitícal do papa.
— Figuradamente: Ter a tiara; ser
papa.
— Pôr a tiara na cabeia de alguém;
fazel-o papa.
— Figuradamente : A dignidade pa-
pal. — Mostrou-se digno da tiara.
TIBEZA, s. /. Vid. Tibieza.
TÍBIA, *. /. (Do latim tibia). Termo
de anatomia. O osso mais grosso da per-
na, situado na pai'te anterior e interna
d'este membro.
— Tei'ceira ai'ticulação das patas dos
insectos.
— Trombeta fraiitada.
TIBIAL, (í(//. 2 çien. (Do latim tibia-
lis, de tibiai. Termo de anatomia. Que
pertence, que tem relação á tibia. — Ar-
téria tibial. — Nervos tibiaes.
— Penuas tibiaes ; aqucUas que guar-
necem a perua da ave.
— Substantivamente : O tibial ante-
rior; musculo. — O tibial pusteriur.
TIBIAMENTE, adv. ^De tibio, e o suf-
tixo umeute»'. De um modo tibio.
— Com tibieza, com Irouxidão, frou-
xamente.
Quando a Fernando marchaates
asâi ipie a moija tic^isse
eu vos vi a prima face
que tibiamente a tomastes.
AMOiaO FBESTCS, ACro», pftg. M'»
— Pelejar tibiamente ; pelejar, com-
bater sein calor.
TIBIEZA, o. j. Touco calor, do corpo
murno.
— Figuradamente : Pouca actividade,
frieza, trouxidSo.
— Tepidez,
TIBIO, A, ndj. Tépido, morno.
— Xào férviílo, ii3o fervoroso.
— líemisso, frouxo, sem eiiergia.
— Substantivamente: O» tíbios; o8 re-
missos.— «E 03 que se sintiilo culpados
na .sensualidade, se pesavlo a algodio, o
frouxel, e paulia, e roujm, e vinho, e
cheyros, porque deziào que e8ta« erau as
cousaíi que serviào para este peccado. Us
tibios e froxos no amor de Deus, e ava-
rentos no dar das esmolas ee pe.sav?lo a
dinheyro amoedado de cobre, estanho, e
prata, ou a pet.arf douro,» Fernão Men-
des Pinto. Peregrinações, cap. 161.
I TIBIO-MALLEOLAR, adj. 2 gen. Ter-
mo de anatomia. Veia tibio-malleoUr ;
a grande veia sapheiía, que corresponde
á tibia e ao malleolo interno.
7 TIBIO-TARSIANO, A, aJj. Termo de
anatomia. Diz-se da articulação e doa li-
gamentos que unem a tibia com o astra-
galo, um dos ossos do tarso.
— Termo de cirurgia. Amputação tibio-
tarsiana ; amput<içllo praticada na arti-
cularão lia perna com o jx'.
TIBORNA, s. f. Pào quente embebido
em azeite novo para se comer. — Fazir
tibornas.
TICO, s. VI. Termo de medicina. Tico
doloroso; convulsão com dor ou nevral-
gia,
— Tico convulsivo.
TIC-TAC, s. ni. Onomatopeia exprimin-
do um ruído secco resultante de om mo-
vimento regulado. — tíem cessar o cora-
ção me faz junto de vós tic-tac.
TIÇÃO, s. :íi. (Do latim titio,. Acha
de lenha accesa ou meia queimada.
— Tiriuo de pedreiro. Assentar o tijo-
lo de tição ; com o lougor para o fundo,
ticando a testa ou o mais estreito á face
da p>arede.
— Figuradamente: Tição do inferno;
o que induz a peccar.
— .\DAGI0.'< E PKOVKRlilOS :
— Xem estopa com tições, nem mu-
lher com varões.
— Dous ruins e dous tições nunca
bem os compões.
TIÇOADA, í. /. Pancada com tiçào.
TIÇOEIRO, s. m. Instrumento de ati-
çar o fogo; ê de ferro nas chaminés de
carvào.
TIDO, parf. pass. do verbo Ter. Vid,
Havido. — «Tem tido diversas pelejas
com outra qualidade ile Gigantes mari-
nhos que intentiirào entrar no seu domí-
nio, mas sem ctTeito, tendo elle mostrado
em todas as occasioens que he o mais
forte.» Cavalleiro d'01íveíra. Cartas, liv.
1, n.» 69.
TIGR
TIL
TIMB
TIFEO, A, adj. Pertencente ao gigan-
te Tii.jo. — Armas tifeas.
TIGELA, s. f. Vaso covo de barro para
sopas.
Jlestre, parece psta .iquella
de molher que é luzidia,
eis ixir aqui lhe corria
o emprasto da tigela;
vedes, Mestre"?
Bom estaria,
parece-lhe inda isso aM?
AJÍTOKIO PRESTES, ACTOS, pag. 57.
— A tigela ãa casa; vaso de barro,
onde se ajuntam as aguas da cozinha,
etc, para depois se despejarem.
— Fidalgo de meia tigela ; o que não
é dos mais illustres, e que apenas tem o
foro. Os fidalgos moradores da casa d'el-
rei andavam alistados nos livi-os da cozi-
nha d'el-rei, e recebiam raçào, e talvez
guisada, que aos menos classificados se
daria menor. Yid. Morador, Livros da
cozinha, e Cozinha.
— Adágios e provérbios :
— Fidalgo de meia tigela.
— Fidalgo de quarto de tigela.
TIGELÃSA, s. f. Uma tigela cheia.
— Figuradamente : Geute que está tias
estalagens eiu tigelada; gente que está
promiscuamente, sem distincções deco-
rosas, com as familiaridades do com-
nium.
— Camarões, sardinhas de tigelada;
guisados em tigelas com certos adu-
bos.
— Ter vento de tigelada; ter nada
para comer.
— Tigelada de frigir; caço.
TIGELINHA, s. /. Diminutivo de Ti-
gela.
— Tigeliuha de cor; em que vem a
cOr para os arrebiques do rosto.
TIGELO, s. m. Termo antiquado. Yid.
Tijolo.
TIGRE, s. 2 gen. (Do grego tigris).
Animal feroz, da feição do gato. — «E
assi huns se occupavão em caças, de que
ha infinidade nesta terra, principalmente
de veados e porcos monteses ; outros em
montear tigres, badas, onças, zevras,
iiões, bufaras, vacas bravas, e outras
muytas diversidades de alimárias nunca
vistas nem nomeadas cá na Europa, de
maneyra que os mais fragueyros sempre
andavào no mato.» Fernão Mendes Pin-
to, Peregrinações, cap. Iõ8. — «Daqui
se foy pêra hum canto, onde sempre e<-
teue baylando. Após elle sahirão três Ti-
gres, hiuD delles branco, e de corpo dis-
forme, os dous melados, e mais peque-
nos, presos por cadeas de ferro, os quaes
apresentou a seu senhor, quem os trazia ;
Fizerào-lhe sinal que se afastasse; e aos
porteyros de maça, ordenassem a gente
que era infinita.» Fr. Gaspar de S. Ber-
nardino, Itinerário da ludia, cap. 14.
Virão teus olhos, denodado Almagro,
Incorruptos cadáveres daquelles
Tigres, qu' ao lado teu sangue anhelavão.
J. À.. DE ILLCtVO, i. NATCRXZA, Caut. 2.
TIGRESINHO, ou TIGREZINHO, s. m.
Diminutivo de Tigre. Tigre pequeno.
TIGRINO, A, adj. De tigre, de côr de
tigre.
TIIMENTO, s. m. Termo antiquado.
Acto de ter. de deter o caminhante.
TIJEGNACÚ DO BRAZIL, s. m. Termo
de historia natural. Ave da Ameiúca, de
um bello preto, com o dorso azul celeste,
e uma poupa de um vermelho pui'o.
TIJOLEIRO, s. m. Homem que faz ti-
jolo.
TIJOLO, s. m. Pedaço de barro com
feição regular, cozido ao fogo para edifi-
car; ladrilho. — «As quais eraõ povoa-
das de lugares pequenos de duzentos até
quinhentos vezinhos, alguns dos quaes
eraõ cercados de tijolo, mas não que bas-
tasse para os defender de quaisquer bõs
trinta soldados, por ser a gente toda
muyto fraca, e sem armas nenhumas,
mais que sós paos tostados, e alguns tre-
çados curtos, com huns paveses de ta-
boas de pinho pintados de vermelho e
preto.» Fernão Mendes Pinto, Peregri-
nações, cap. 52. — «Passadas estas cam-
pinas, que podião ser de dez ou doze le-
goas, cliegamos a huma villa, que se cha-
mava Juuquileu, cercada de tijoilo, com
cspigoeus por cima do muro, sem ameya
nenhuma, nem baluarte, nem torre, como
os outros de que tenho contado.» Ibidem,
cap. 90. — «Nesta cidade nos affirmaraô
que tinha el Rey de renda todos os an-
iios S(') das minas de prata dous mil e
quinhentos picos, que saõ quatro mil
quintais, e a fora esta renda tem outras
muytas de muytas cousas differeutes.
Esta cidade não tem mais força para sua
defensão que sij hum fraco muro de tijo-.
lo de oito palmos dos meus de largo, e
huma cava de cinco bi'aças de largo, e
sete palmos de fundo.» Ibidem, capitu-
lo 132.
— Doce de tijolo, ou tijolo de guaia-
lada; doce feito de guaiabas, da figura de
tijolo. Diz-se também tijolo de limão, e
de arasá.
l.i TIL, s. m. Signal orthographico
equivalente ao m e ao n, coUocado sobre
as vogaes nasaes.
■ — • Sobrancelhas de til ; sobrancelhas
mui delgadas, que é belleza.
— Figuradamente : Um til ; cousa mí-
nima.
2.) TIL, s. m. Vid. Tilia.
— Pranchas de escuro til.
Pranchas de eâcu<o tiL rudo lavradas.
Do apposento as paredes guarneciam.
Sobre uma banca de egual custo e obra
Poisava antiga cruz d"onde pendia
Agonizante o Chriato : lavor fino
Que no iudico dente u ísiào devota
Dum neophyto dAsia executara.
GAKBEiT, CÀUÕES, cant. 3, cap. 1.
TILÃO, í. m. Vid. Til.
TILASY, s. /. Planta.
TILDE, s. /. Vid. Til.
TILHA, .<. /. Termo de marinha. Co-
berta, coxia do navio.
— Em terra, é platafiiraia.
1.) TILHADO, í. m. Termo antiquado.
Vid. Tiihá.
2.) TILHADO, A, adj. Que tem tilhá
ou coberta. — Embarcações tilhadas.
TILIA, *. /. (Do latim tilia). Til, te-
lha ; arvore.
TIMÃO, ou TEMÃO, s. m. (Do latim
terão}. Leme.
— Temão do arado, ou do carro ; o ca-
beçalho onde se jungem os bois que o
tiram.
— Uma das peças de que se compõe o
trabuco.
— Moeda da Pérsia.
— Toma-se por queimão, ou roupão
grande aberto por diante; diz-se na pro-
víncia do Brazil.
TIMB AL, s. m. Instrimiento de musi-
ca usado pela milicia na cavallaria.
— Pastelão de frangos ou pombos gui-
sados.
^ Plur. Espécie de tambores de co-
bre, usados nas orchestras.
TIMBALEIRO, *. m. Homem que toca
timbales.
TIMBÓ, s. m. Cipcj trepador de muita
gro5siu-a, que no Brazil se malha nos
rios para embarbascar o peixe, que vae
fugindo da agua inficionada com o sueco
do timbó cair nos giquis, que estão en-
fiados nas cercas com boqueirões, ou ta-
pagens, que a espaços atravessam o rio
onde se bota a tinguijada; ou em cur-
raes que tomam a largura dos rios.
TIMBRADO, part. pass. de Timbrar.
Que tem timbre.
TIMBRAR, V. a. Termo de brazão.
PGr por timbre alguma peça de armaria.
— Timbrar o escudo.
TIMBRE, s. m. (Do francez timbre).
Insígnia que se põe sobre o escudo de
armas, para distinguir os graus da no-
breza.
Agora sim (se acaso naõ receias
Desperdiçar os timbrei, que ainda guardas,
Dos edifícios teus sobre as ameias).
ABBADE DK J.\ZIXTE, POESIAS, pag. 118.
Eu digo Urânio, de Albion soberba
Timbre, iJlustre brazão. Pôde primeiro
Mostrar d"alta verdade a estrada ignota
Co 'o vôo rapidíssimo do génio,
Da cor a estancia incógnita penetra,
He froxa, he sem vigor, Pieria chamma
Fará seguir-lhe os extasis divinos !
J. A. DE itACEDO, A SATTJHEZA, CaUt. 1.
Do árduo Pindo, e d'Hypocrene os timbres,
Se inda a frauta de Titiro escutamos.
726
TIMO
TI Ni}
TIXII
E o Mavclo Hom dii }Io:n('i-icíi 'JVoínbctn
l)t: Diilo 110 tlcrttiiio, o 110 du<'Oo
I)(! Tufiio iiiuliiz, (lo |)iedo,*i Kuíii».
IDKU, VliLllKM EXTÁTICA, CUllt. 4.
— «Vinilo iv 110:130 primeiro intento oh
Gentios, os ]5aneuatííi, silo gcnto mais
aconnnoiia'la uom -a razílo, e «lo mc-
llior natural, quo to;las as outras nações
infiéis; inaneos do comliyíto; f^randes cha-
tins, ou mercadores, em cuyo trato tom
por timbre, falar sempre verdade, cousa
de quo mnyto se prczilo.» Frei Gaspar
do 8. Bernardino, Itinerário da índia,
cap. 12.
— Vestidura anti<ra de mulher.
— tíer o timbre dun oradores ; ser o
mais exeel lente, o cumulo, o remate, o
extremo, o aupjc, a f^"inipa, a coroa.
— Figuradamonte: Acção gloriosa que
exalta e onnoliroce.
— Fazer timbre de alguma cousa; ía-
zer matéria do gloria, d'honra.
— Som que produz o timbre.
— Qualidade sonora de uma voz, de
um instrumento. — Esle violão tem mui-
to timbre.
TIMIAMA, s. /'. Drogas ou hervas aro-
máticas. Vid. Thymiama.
TIMIDADE, s. /. Vid. Timidez.
TIMIDAMENTE, adv. (De timido, e o
sufBxo n mente»). De \\m modo timido.
— (^om temor, acanhadamente.
TIMIDEZ, s. f. A qualidade de ser ti-
mido.
TIMIDISSIMO, A, «'//. superl. de Ti-
mido. Mui timido.
TIMIDO, A, adj. (Do latim timidus).
Que tom temor, acanlia'lo, sem desemba-
raço, não ousado, eucolhido, sem bom
despejo.
Sou^^ meigos olhos, timidoií, crav.ados
Ncllo, Eiidiro... Feiíj.ijos?... fci(;i"'C3 donosas,
Ondo transUi/.cm, quantos, lavi-ào, na alma.
Movimentos, c os que a alma mslis escondo.
F. M. DO NASCiaENlO, os MAETYUES, 1ÍV. 8.
Eis d'outra sorte as ondas enroladas
Comei;ào de bramir, o estalo, os roncos
Terra aos timnlos nautas anuuuciào.
J. A. DK MACKUO, A NAILBEZA, CaUt. 1.
— Não valente, medroso.
— Diz-se das acções, do discurso, do
caracter, etc.
— Substautlvameute : Um timido.
Voltào rosto 08 Tíomauos, que fugião ;
No poito do uiAis frouxo, do msUs timido
De golpe entra a esperauça. Tal, no Eòo,
Se assoma matutino, na tormenfcx,
O Sol ; o o Lavrador, que alentos cobra
Admira o como, om toda a Natureza.
F. M. DO NASCIMENTO, OS MARrVKliS, llv. G.
TIMOCRACIA, s. /. Governo om que
as tuncções, c as houras são reservadas
para os mais ricos.
TIMON, K. tu. Termo antiquado. Vid.
Timão.
TI;íIONEIRA, .V. f. Tormo do marinha.
íjogar ou vão no jiavio, onde anda o pin-
eoto do leme.
TIMONEIRO, s. m. (Do francez limo-
7ii(:r). Termo de n)arinlm. Marinheiro quo
vao ao If-mc o o maneja.
TIMORATAMENTE, adv. (Do timorato,
e o suífixo «mente»). Do um modo timo-
rato.
TIMORATO, A, adj. Cheio de temor
de obrar mal. — ('iinaricnria timorata.
TIMORISAR, ou TIMORIZAR, v. a. Vid.
Atemorisar.
TIMPANITIS. Vid. Tympanitis.
TÍMPANO, ou TIMPANILHO. Vid. Tym-
pano.
TIMUCO, s. m. Termo de historia na-
tural. 1'eixe agulha do Brazil ; tem o
queixo superior mui curto, e o inferior
prolongado om uma ponta estreita mais
conijirida que a cabeça.
TINA, s. /. (Do latim tina). Vasilha
de aduella como uma pipa cerrada pelo
meio, para agua e outros liquides.
— Vasilha de madeira, folha de flan-
dres, ctc, para banhos, com feitio pró-
prio.
TINADA, s. /. Uma tina cheia.
TINALHA, s. /. Tina, dorna ou pe-
quena cuba, que sorve para recolher e
pisar a; uvas e ainda o vinlio.
TINCA, s. f. Termo de historia natu-
ral. Feixe de alagôa. Vid. Tença.
TINCAL, s. m. O bórax, ou sal que
ajuda a derreter o ouro.
Âmbar, almizcre, tincal,
lenheloes, cordial,
licorne, ruybarbo tem,
cássia, sândalos tauibom,
cansar, aguila, o isto tal.
OAIICIA DK UEZKNDIf, MISCELLAXBA.
TINCALEIRA, .s. /. Vaso onde está o
tincal, (jue se usa na fundição do ouro,
e para soldar peças d'olle.
TINCTO, part. pass. irreg. de Tingir.
Vi.i. Tinto.
TINDO, por Tido, part. pass. de Ter.
TINEA, s. /. (Do latim tinea). Traça,
caruncho.
1.) TINELLEIRO, s. m. Homem que
provê o tinello.
•2.) TINELLEIRO, A, adj. Que come
em tinello de algum senhor, que dá me-
sa ou tinello commum A família do cria-
dos, ctc.
TINELLO, s. »i. Casa onde comem os
cria'lo< e fâmulos todos om mesa redonda.
TINETA, s. /., ouTINETE, s. m. Ter-
mo iHijiul.ir. Dogma, opinião errónea.
TINGIDO, part. juiss. do Tingir.
TINGIDOR, A. Viil. Tintureiro.
TINGIDURA, í. /. Acto de tingir.
TINGIR, r. a. (Do latim tiiujere). Dar
côr a panuos, eèdas, etc, mettendo-as
cm tinta liquid.i. — «O mesmo se pôde
dizer do p^o do Brasil, e pastel das Ilha«,
que sendo qnaoi ineroadoria;» estanques,
nò< as damos om matéria simples a todas
as Naçoens da Kuropa para com cilas
tingirem os seus paiinos, podendo nus
usar dos mesmos tratos, e ser os vende-
df)r08 dos pannos, e naõ og comprado-
res.» Severim de Faria, Noticias de Por-
tugal, Disc, 1, cap. 4.
— Figuradamente : Tingir o ro$lv.
Então te déatca ver no ardente rosto
Do Luminar diurno; iMitiio lani,'aste
No Campo azul dos ('eo^ rotante» Astroa :
Tu da nunciada pax tin/fiAtf o ronto
Da multifonne côr, listÀo soberbo !
J. A. DK UACKDtj, A NATIKKZA, CUIlt. 1.
— Figuradamente : Tingir as mitog.
E quando isto tarobem lhe fallocia
No sangue fraternal as mãos litigia.
FRANCISCO d'a>-DBADE, I-KIUEIBO CKBCO DK DIl',
cant. 1, est. 10.
— Tingir-se, v. r-fl. Tomar côr.
TINGITANO, A, o-Vj. e *. (Do latim
tinfjitnavs). De Tanger, concernente á
cidade de Tanger.
TINGUEIRO, adj. m. — Bote tingnei-
ro ; espécie de embarcaçilo pequena usa-
da no Tejo.
— Substantivamente: Um tingueiro.
TINGUI, .«. m. Cip/i qne se massa nos
rios c é venenoso para os peixes, que os
faz ombarbascar, e ir cair aos curraes e
tapagens. Vid. Timbó.
— Herva que mata gado vaccum no
Brazil, e talvez doença maligna que lhes
causa o calor, e marchas corridas.
TINGUIJADA, s. /. Termo do Brazil.
Pescaria com tingui; troviscadas com
tingui, timbó e outros venenos paia o-
peixes.
TINGUIJADO, part. pass. de Tinguijar.
Herva' lo, e doente do tingui. — Gado
tinguijado.
TINGUIJAR, V. a. Termo do Brazil.
— Tinguijar os rios; lançar u'elle3 o tin-
gui.
— Tinguijar o gado ; morrer o gado
de tingui ou herva venenosa, e assim o
peixe com a tinguijada.
1.) TINHA. s. /. Do latim ÍÍM«a). Es-
pécie de lepra quo dá na cabeça, e faz
cair o eabello.
— Figuradamente : Defeito.
— Termo antiquado. Tina para fabri-
co do vinho.
•}- 2.1 TINHA. Forma do verbo Ur na
primeira ou terceira pessoa do singular
do pretérito imperfeito do modo indica-
tivo.
O insigne varão vendo desfeito
Co a morte do Falcào, o que intentaua
4
TINH
TINH
TINH
727
Consente o casamento, e dissimula
A magoa, o grande dor que tviha n'alma.
COnTE REAL, NAUFRÁGIO DF. SEPULVP.DA, Caut . 3.
— íiE o outro quando vio em hum tem-
plo esculpidas algumas façanhas de Ale-
xandre, entristeceo-se, por se ver em
idade em que o outro conquistou o Mun-
do, e elle nào tinha feito nada.» Barros,
Clarimundo, Epistola. — «E assi hia em
outro nauio Aluaro de Freitas comenda-
dor de Aljazur, homem bem fidalgo, e
que nos Mouros de Granada, e Bellama-
rini íinlia feito grades prezas. « Idem,
Dscada 1, liv. 1, cap. 11. — «Porque
alem das paixões antigas que por nossa
causa tinha com o Rev dcUa, se desta
feita nào ficara destruído totalmente, el-
le Rey de Meliude padecera muito mal,
e a causa era esta.» Ibidem, liv. 8, cap.
8. — «P. Porque deixastes ir de Ormuz
três Mouros, que Rax Xarrafo degradou?
R. Porque R:ix Xarrafo tinha alçada de
V. A. pêra matar, quanto mais pêra de-
gradar.» Diogo de Couto, Década 4, liv.
6, cap. 8. — ■ «O macho he tão cioso, que
em quanto a fêmea está, no ninho, nào
deixa passar alguém por perto, e logo
arremette a morder, principalmente mu-
lheres prenhes que perseguem mais. Ha
tamanhos morcegos, que diz Gabriel Re-
bello, que médio hum, que tinha sete
palmos de huma ponta da aza á outra.»
Ibidem, liv. 7, cap. 10. — «O pano do
muro que corria na face era mayor, e
mais grosso que os das outras atraz. Em
cada ponta tinha dous baluartes muy
grades, e pelo muro muitas guaritas mui-
to bem proviías de gente, e muniçoens.»
Idem, Década 6, liv. 8, cap. 7. — «Era
este homeai hum muito bom cavalleiro,
e na companhia de Manoel Boto tinha
pelejado muito bem, e do dia que o fe-
rirão a hum mez morreo, estando jà são
da espingardada.» Ibidem, liv. 9, cap.
11. — oE assi por estas pregimtas como
por outras qne llie fez António de Faria,
entendemos que não tinha esta gente ate
agora noticia nenhuma da nossa verdade,
mais que somente confessarem de boca o
que seus olhos lhe mostrão na pintura do
Ceo, e na formosura do dia, a que con-
tinuamente por suas çumbayas alevantão
as mãos dizendo, por tuas obras, Senhor,
confessamos tua grandeza. Com isto os
mandou Antoião de Faria pôr livremente
em teiTa, candolhe primeyro algumas pe-
ças, de que foraõ muy to contentes.» Fer-
não Mendes Pinto, Peregrinações, cap.
48. — «O qual no meyo de hum circulo
tinha pintado hum homem quasi da fei-
ção de hum cágado cos peis para cima e
a cabeça para baixo, com huma letra
que dczia Ingualec finguau, potim aqua-
rau, que quer dizer, tudo o que ha em
mym hc assi.» Ibidem, cap. 83. — íÁs-
sim forão encalhar Junto a Surrate, onde
forão cativos, e levados a Soltão Maha-
miid, que os mandou aprisionar, e met-
ter na masmorra, onde tinha Simão Feio
com outros Portuguezes.» Jacintho Frei-
re d'Andrade, Vida de D. João de Cas-
tro, liv. 2.
Eolo naquella hora solta tinha
A Iwm grào vento a prisào que cm si o encerra,
Que com gràa força entào ferindo vinha
AqucUe líio, c toda aquella terra.
Também a imiga estancia, que visinha
Estava ao Rio, faz áspera guerra
Aos que por elle viuliào navegando,
Co 'o ferro que o canhão está lançando.
FHASCISCO DE AKDKADE , PRIMEIRO CERCO DB DIU,
cant. 5, est. 4õ.
— «Tinha este Abdear Rahmaõ huma
filha muito gentil molher com quem per
consentimeiito da mài, conucrsaua, hum
mouro mancebo, e de bom parecer, per
nome Alia^lux filho de Guisimem.» Da-
mião de Góes, Chronica de D. Manoel, part.
2, cap. IS. — «Por este embaixador reee-
beo Afibnso dalbuquerque iiunia carta de
cinci.ienta Portuguezes que el Rei de
Cambaia tinha em seu poder, que foram
dar a costa em huma nao em que dom
Afonso de noronha partira de çocotora
onde se elle afogara, e outros que come-
terão o mar em taboas.» Ibidem, part.
3, cap. 10. — «E ferirem muitos, entre
03 quaes foi Cojequi tanadar, de huma
espingardada de que depois morreo, di-
zendo, como esforçado caualleiro, que
lho nam daua nada morrer, se não por
ser em sua cama, e leito, que se fora às
lançadas, e cutiladas com os Turcos, a
que tinha por capitães imigos, que sua
alma fora descançada desta vida.» Ibi-
dem, part. 3, cap. 21. — «Finalmente
mouido dom Goterre da ma vontade que
tinha a Ferna,m caldeira, e da boa que
tinha a sua molher, determinou de o
mandar matar, de que deu o cargo a
hum loam gomez escriuam da feitoria de
Goa, homem esforçado.» Ibidem, part.
4, cap. 17. — «Auia tãbem no mesmo
porto outra nao Francesa, que hia pêra
Marcelha com cujo Patrão meu cõpa-
nheyro se auiou, sem eu saber nada, e
depois de ter tudo ordenado me disse ti-
nha escrúpulo de passar a terra Sancta,
pois ficaua desuiada do caminho, mais de
duzentas legoas, e nossas licença-, não
no la darem mais que pêra fazermos no.s-
sa viagem direita. « Fr. Gaspar de S.
Bernardino, Itinerário da índia, cap. 22.
— ^ «E se alguns políticos cuidavaõ, que
melhoraria Portugal de forças contra ini-
migos, nao foy assim ; e a experiência
mostrou o contrario ; porque Portugal
conserva-se com a paz, que tinha com
todos os Príncipes ; e Castella com guer-
ra, que mantêm a todos.» Arte de fur-
tar, cap. 16. — «E naõ sem causa tinha
o coo atòagora estes thesouros em si es-
condidos, e fechados, e oje tauí magnifi-
camente os abrio ao género humano, por-
que também ate o presente nã tinha a
terra enuiado ao ceo algum fruyto seu
digno de se nelle receber.» Fr. Bartho-
lomeu dos Martyres, Catecismo da dou-
trina christã. — «E que o que derru-
basse o inimigo, e o naõ prendesse, par-
tiria ametade do preço, com o que de
novo o prendesse, e o que sobreviesse a
hum soldado, que tinha outro preso, e
matasse o prisioneiro sobre a partilha,
perdia armas, e cavallo, para o Condes-
table. « Severim de Faria, Noticias de
Portugal, Disc. 2, cap. 8.- — - «E para is-
so tinha seus Ouvidores, Alcaides, e Mei-
rinhos, Carcereiros, e mais officiaes de
Justiça, e dos Alcaides se appellava para
o Almirante, e do Almirante para ElRey :
e esta jurisdicçaõ começava do dia, que
sahia do Porto cora a Armada, até que
se desembarcava.» Ibidem, cap. lo. —
«Fernão Gomes natural de Lisboa, se
obrigou a EiRey D. Aâbnso V. a conti-
nuar o descobrimento da Costa de Afri-
ca, que tinha começado o Infante D.
Henrique.» Ibidem, Disc. 3, cap. 16. —
«Porque cada hum por si naõ tinha for-
ças bastantes para o fazer ; e unÍ2-em-se
todos, era qiiasi impossível, pela grande
multidão delles.» Ibidem, cap. 2õ.
Prégou-me paz de ab inicio
contra vicio,
coutra ódio, e quem no tinha ;
achei n'ellc frontespicio
d'alma, que tal fosse a minha.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pag. 267.
tinha n'clla a honr.a um marco
e o marido, nào sei como,
bafejava mal.
IBIDEM, pag. 309.
— «Hum dia que ella se tinha aparta-
do da companhia, c que se achava lendo
dentro em hum Bosque, Amoldo não só
a seguio mas lhe disse impertinentemen-
te, que por força ou por vontade lhe de-
clarasse o seu horóscopo.» Cavalleiro de
Oliveira, Cartas, liv. 1, n.° 40.
Ja lhe tinha perdoado.
GARRETT, CATÃO, act. 4, 8C. 3,
f TINHAM. Forma do verbo te}- na ter-
ceira pessoa do plural do pretérito im-
perfeito do modo indicativo. Vid. Ter.
— ■ «E certo que tinham elles nisto ra-
zão ; porque como todolos nossos pêra
aquelle acto de acoinpanhar ElRey iissi
a pé se armái-am das melhores, e mais
frescas armas que tinham, era cousa
muito pêra ver, e louvar.» Barros, Dé-
cada 2, liv. 10, cap. õ. — «O que aca-
bado o Yicerei mandou logo recolher to-
da a artelhaiia que os imigos tinham
nas estancias, e no mesmo dia se embar-
cou, e se veo a Cananor, pêra despedir
Tristão da Cunha, com as cinco nãos, a
que so faltaua a carga do gengiure, don-
728
TINH
TI NT
TINT
de se partio aos seto dias do mes do De-
zembro do mil, o quinlioiítos, c suto, e
voo ter a Moyaiiil)i(|iie a nono do la-
neiro do mil, e (|iiiniioiito-<, c oito.» \)ti-
miSlo do (jioes, Chroiiica de D. Manoel,
part. 2, cap. 21.
f tínhamos. Fiirma do verbo fer na
prinioira jicsnoa do plural do pi"etorito
imperfoito do modo indicativo. Vid. Ter.
— alí pO'lindo nótt todos do joellios ao
Cliifuii (|uo nos deixasse yr a torra a vcr
a(|uillo quo ai|uellos homens nos doziào,
o pcrri» (l<5iitio so csousou dizendo, que
tínhamos louf^-o o Ilibar onde aviamos do
yr dormir, do ((uo ficamos assaz descon-
solados.» Fernào Mendes Pinto, Peregri-
nações, cap. 9(5. — «Este nosso nojifocio
SC pôs lof^o na mão do prometer da Jus-
tiça, o qual veyo lopo com libello contra
nós, e num dos artigos delle, o qual pro-
vou com dezasseis tostomunlias, veyo di-
zendo quo nós oramos ffento som temor
nem conhecimento do Deos, nem tínha-
mos mais quo conlcssalo com a boca,
como podia fazer qualipicr uniuuil bruto
se soubesse fallar. » Ibidem, cap. llõ.
— « Avendo ja oito meses o meyo que
estávamos neste cativeyro om que passa-
mos assaz de trabalhos e necessidades,
porque nào tínhamos de que nos susten-
tássemos, se não do alf^umas fracas es-
mollas que tirávamos pela cidade. u Ibi-
dem, cap. 117. — <iE mandandonos logo
tirar a todos novo a parte das prisões
quo ainda tínhamos, que craõ as ferro-
pcas dos peis, e as cadeas dos pescoços,
nos jurou pelo arroz que comia, do tanto
que chegasse ao Pequim, nos apresentar
a el Rey, e cumprir quãto nos tinha pro-
metido, sem falta nenhuma, e do nos
passar logo disso hum formão assinado
com letras douro, porque pudéssemos
descauçar na verdade da sua ])alavra.»
Ibidem, cap. 119. — «O Capitão cossay-
ro lho respoudeo que éramos de huma
terra que se chamava Malaca, a onde
avia niuytos ânuos que tínhamos vindo
de outra quo se dezia Portugal, cujo
Rey, segundo nos tinha ouvido algumas
vezes, habitava no cabo da grandeza do
mundo.» Ibidem, cap. 133.
TINHÃO, .S-. m. Augmentativo de Ti-
nha.
f tínheis. Forma do verbo ter na se-
gunda pessoa do plural do pretérito im-
perfeito cio modo indicativo. Vid. Ter.
com essa snidaes feito Papa ;
mus se haveis mister pousada
osta liitheis vos a^ui.
ANTOMO PHESTrS, AUTOS, pSg. í^Oí*.
TINHOSO, A, aJj. Quo tem tinha. -
Cíiòeça tinhosa.
— AuAiiios K ruovKKiuos:
— Um tinhoso queria (pie todos o fos
som.
— Nunca lavei cabeça que me nâo I
saísse tinhosa.
TINIDO, ou TINNIDO, «. m. O som
agudo dos luetaes, campainhas e vidros.
— Tinido do» ouvido» (por doença).
Vid. Tinir.
TINIDOR, A, uilj. Termo de poesia.
Diz-so dos metaes que dão um som
agudo.
TINILHO, «. VI. Especio de louro bravo.
TININTE, adj. 2 tfen. Que tino.
TINIR, ou TINNIR, o. n. (Do latim
liiiiiirii. Dar som agudo, fallando dos
nic^taos.
— lia occasiões nm que os ouvidos tin-
nem, ou sentem como de si mesmos um
som agudo.
1.) TINO, í. m. Instincto natural. —
oOuvo tàbem outros defuntos quo deixa-
rão rendas paraque nos despovoados e
nas charnecas aja casas em quo se tc-
nhão grades luminárias de noite, paraquo
os que caminhão não percão o tino oe
suas jornadas,* e aja tàbem vasilha-í cõ
agoa para clles beberem, o casas para
doscançarcm.» Fernão ]\Iendes Pinto, Pe-
regrinações, cap. 99.
— A memoria local, que conservamos
de noite, e que nos guia andando, ou
fazendo alguma cousa ás escuras, ou per-
didos, e desencaminhados, e marchamos
a acertar.
— O juízo natural.
Em Mombaça ciicont/ei duvo inimigo.
Astuto e.nginio, o. bnibara cilada,
M.as sentio logo os golpes do castigo,
Provando o fio á Lusitana ("spada:
Dlium naufrágio cm ccrtissirao perijo,
EiTOii sem tino a fliictuanto Armada,
Mas contrastando um mar tempestuoso.
Vim no teu reino abrigo achar ditoso.
J. A. DB MiCKnO, o OlllKNTK, Caut. 7, CSt. 03.
— O senso commum.
— Sagacidade natural, que faz desco-
brir as cousas ignoradas.
— Atirar a artil/ieria pelo tino ; para
a parto d'onde se sente o rumor.
2.) TINO, .«. m. Tormo antiquado.
Tina, vaso jiara oloo, vinho, otc.
TINOTE, .V. m. O cérebro.
TINTA, s. /. Liquido corado para tin-
gir.
— Figuradamente : Cores, sombrris de
perdidos costumes.
— Loc. POl'. : Tomar muita tinta;
toruar-se mais familiar do que a cortezia
solfre, tomar ctuifiança.
— Còr, representação, idòa.
— Meia tinta; é a que rica entre ob
claros ou altos, e os escuros ou sombras;
a tinta geral que so dá antes de la-
vral-os.
— íJncommemlar alijnem de boa tinta;
recommendal-o com louvor.
— Fazer-sr de melhor tinta ; toruar-sc
, mais polido, culto.
— Sombra desfeita em óleo, agua, eól-
ia, ou gomma para pintar.
— Tomar tinta de afijnma couta; ad-
quirir al'/un]a qualidadi^ o'<dla.
— Vi I. Tinto.
TINTE, «. /. Termo antiquado. Vid.
Tinturaria.
TINTEIRO, 8. wi. Vaso onde so tem a
tinta com que so escreve.
Nessa posse de goiítos soberanos,
Ksi|uccido da penna, e do tint^ro,
Sú te lembrei) di; mim, iia<j dos mcoB iidiioh.
ABBADK DE JAZEXTB, P0KBIA8, pag. 75.
— ÍjOC. I Ficar no tinteiro; omittir-sc
o que se havia do escrever, ou dizer.
— Vid. Tinto.
TINTIM. Vid. Tentim.
TINTINI, s. VI. Um jogo probibi<lo.
TINTO, jiart. poês. irreg. de Tingir.
— Tinto d^ verdade; representado com
as cores da verdade.
— Maculado, manchado.
— Figuradamente : Tinto em tamju^.
Assim tialn» em sangue, assim banhados
De piedoso orvalho, noute c dia.
Sempre tristes scrcLs, sempre acatados.
FF.HNÂO ROROPirA, POESIAS B flOSAS HIEDITAS,
pag. 2;).
— tO qual insulto tanto que o elle
soube, andamlo já os .láos com as mãos
tintas do sangue dos mortos, mandou al-
guns Capitães que acudissem a isso, os
quaes fizeram recolher a Patê Quetir na
Povoação Upi.» Harro^, Década 2, liv. O,
cap. 7. — «E numa geneila da me-sma
torro estavào dous mininos e huma mo-
Iher ja de dias chorando, e embaixo ao
pé delia estava hum homem feito em
quartos nmyto ao natural, que dez ou
dozo Castelhanos estavão matiindo, todos
armados, e com suas chuças e alabardas
tintas em sangue, p Fernão Mendes Pin-
to, Peregrinações, cap. 68.
— • O i''Sto tinto da cor da morte; o
rosto iini.aroUo.
— Penna tinta em fel, calumnia, ódio.
— Tinto de ira ; com semblante iroso.
— Figuradamente: O ronto tinto de
pudor vir(iinal; o rosto vermelho por. ver-
gonha.
TINTOR, y. m. Tintureiro.
TINTOREIRA, *. /. Peixe do mar mui
grande da firma da oorvina, que se en-
contra na cosUi de Cambava.
TINTURA, .-!. /. <Do latim titictura). A
acç.ão de tingir.
— Cu»i-*r,<!tiç3M sSo a tintura dot cos-
tumes; taes s5o os costumes como os d.as
peíisoas com quem tratamos.
— CÔr.
— Agua ei'irada pelas parte» separadas
do corpi>, quo esteve infundido n'clla.
— Figura<lamente: Noticia boa, ou
leve c superficial.
TIQU
TIRA
TIRA
729
TINTURARIA, s. f. Officiaa de tingir.
— O exercício ou a arte de tingir.
— Drogas de tinturaria ; drogas que
servem para tiogir lãs, sodas, linhos,
etc.
TINTUREIRA, s. f. Vid. Tintoreira.
1.) TINTUixEIRO, A, s. Pessoa que tin-
ge lãs, sedas, |)annos, etc.
2.) TINTUREIRO, A, adj. — Uva tin-
tureira; espécie de uva negra.
— Plantas tintureiras ; plantas que
dão féculas que tingem.
TIO, s. ?)í. (Do grego iheios). O irmão
do pae ou da mãe, a respeito dos iilhos
de sua irmã ou irmão, e sobrinhos. —
«Ao qual ello esforçou muito com a ar-
mada de seu tio Vicente Sodrè, que fi-
caua pêra o mães do tempo do veraõ an-
dar naijuella costa em fauor seu e des-
truição do Caraori j : a que elle mandaua
que fosse feito tanto damno, que em se
defender teria assaz trabalho.» Barros,
Década 1, liv. 7, cap. 1. — «Porque Dio-
go de Mello era primo com irmão de mi-
nha mãi, e íicava-me em lugar de tio, o
mesmo era de minha mulher irmão de
sua mài, e Capitão daquelia fortaleza, o
mais era de oitenta aunos.» Diogo de
Couto, Década 4, liv. 6, cap, 8. — «E
despois que cõ outra nova ceremonia to-
dos fizerão suas cortesias, se forão assi a
pé até a entrada do paço, onde acharão
hum homem velho, que dezião que era
tio dei Re.y, por nome Vuemmiserau, de
mais de oitenta annos de idade, acompa-
nhado de muytos senhores e gente no-
bre, ao qual os embaixadores ambos por
outra nova cerimonia, beijarão o treçado
que tinha na cinta.» Fernão Mendes Pin-
to, Peregrinações, cap. 130.
TIORBA. s. f. Alaiule maior, e de
mais cordas.
TIPITI, s. m. Termo do Brazil. Teci-
do cyllndrio de palhas, dentro do qual
se mette a massa da mandioca moída na
roda paia se espremer a manipueira ; pòe-
se em um cabo do tipiti peso de pedra,
com que elle se alonga, e aperta a mas-
sa, e a espreme, pendurado de outro
cabo por uma azelha, em que termina, o
que se usa em falta de prensas de pau.
TIPLE, s. 7)1. A voz mais alta na con-
sonância musica, e a mais alta das ti'es,
que são tenor, baixo o contralto.
— Um tiple; individuo que cauta a di-
ta voz.
TIPOYA, s. /. Termo do Angola e Bra-
zil. Serj)entina, palanquim de rèdo.
f TIPRE, s. m. Vid. Tiple.
Esporão, virá Leonor
para tipre?
E diz lôa?
Muito bem.
AKTONio rKESTES, AUTOS, pag. 463.
TIQUETAQUE, .-^. /. (Do francez tric-
trac). Um jogo de tabolas; gamão.
, voL. V. — 92.
TIRA, s. /. Retalho de panno, ou
seda.
— Expedição, pressa. — Ir á tira.
. TIRA-BKAGAL, s. f. o m. Talvez fun-
da de potroso.
TIRA-BRAGUEL, s. f. Vid. Tira-ver-
gal, e Tira-bragal.
TIRAGOLLO, s. m. (composto de tira,
e colio). Correia atravessada do lado do
pescoço para o lado do corpo opposto por
baixo do braço, no qual se lova algu-
ma cousa suspensa. — «Do elmo descem
penduradas duas corroas, que parece ti-
veraõ principio do Baltheo, ou tíracollo,
insignia própria da Milícia Romana.» tíe-
verim de Faria, Noticias de Portugal,
Dísc. 3, cap. 17. — «E passando pelo
meyo de toda esta gente, chegamos a
hum grade pátio do recebimento das ca-
sas, onde estava hum Mandarim tio dei
Rey, por nome Monvagaruu, homem de
mais de setenta annos, acompanhado de
gente muyto nobre, com muitos capitães,
e senhores do reyno, e em torno delle es-
tavão doze mininos ricamente vestidos,
com cadeyas douro grossas a tiracolo, e
maças de prata aos ombros.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 162.
— O tiracoUo dn terçado; talabarte.
TIRADA, s. f. Extracção, saca, expor-
tação, levada de géneros de commercio.
— De tirada. Vid. Frecha.
■ — -Vulgarmente diz-se estirada por ti-
rada, audar apres.sado, ou de longo ca-
minho.
— Espaço largo de caminho, andadu-
ra, e de tempo.
— Tirada do preso á justiça ; tiral-o,
libertal-o.
TIRADEIRAS, s. /. j^lur. Nos engenhos
do Brazil, coixlas entre as quaes vão pre-
sas as bestas que puxam as almanjarras;
pegam nos peitoraes, e atraz nos cambões
presas ás almanjarras.
TIRADO, yari.pass. de Tirar. Puxado.
— Excepto. — «Foi homem de boa es-
tatura de corpo, tirado o cabello, e bar-
ba castanha tirante mais a loura que
preta, os olhos negros, o rosto cheio e
bem corado, cheio mais de Magestade
que de fermosura.» Fr. Bernardo de Bri-
to, Elogios dos reis de Portugal, conti-
nuados por D. José Barbosa.
— Privado. — «Pêro se taaes bens, ter-
ras, ou feudos forem obrigados aa moiher
pelo marido, ou ao marido pula moiher
per consentimento, o authoridade do Se-
nhorio, em tal caso o que assy ficar vivo
este em posso de taaes beens, e nom seja
delles tirado ataa a dita obrigaçom seer
pagada, ou per direito determinado que
nom deve teor tal posse.» Ord. Affons.,
liv. 4, tit. 12, § 2.
— Letra tirada; letra feita á pres.sa,
e má, ou letra de mão; diz-se em oppo-
sieão ;i redonda, de imprensa.
— -Tirado «o natural; reti-atado fiel-
mente.
• — Carta tirada do latim; carta tra-
duzida do latim.
— Que diz respeito e allusão.
— Garo tirado ; pela fieira, em fio.
TIRADOR, A, s. Pessoa que tira.
— Pessoa que tira fio douro pela
fieira.
— Pessoa que puxa.
— Termo de imprensa. O quo tira a
folha impressa; o official quo imprime.
— Termo de marinha. O chicote do
cabo de qualquer apparelho, talha, colhe-
dor, etc, pelo qual se ala.
TIRADURA, s. /. O acto de tirar.
-[- TI.^AES. Forma do verbo tirar na se-
gunda pessoa do plural do presente do mo-
do indicativo. Vid. Tirar. — «Hide porem
pregar este Evangelho aos Cambayos, e
ás Naçoens azedas que não gostão dos
doces, o vede o fructo quo tiraes do
vosso sermão.» Cavalleiro de Oliveira,
Cartas, liv. 1, n." 16.
TIRAFUNDO, s. m. Sacafundo, espécie
de verruma u.sada dos tanoeii'os, c bom-
bardeiros ; o cabo tem um aro de ferro.
TIRAGEM, s. ,/■. Tirada.
— Termo de impressão. Acto de se
metterem as folhas no prelo para se im-
primirem, e o efteito d'e3te acto. Diz-se
também das chapas para estampas, da 11-
thographia, etc.
— Uma tiragem de 800 exemplares;
uma folha, ou obra de que se imprimem
800 exemplares a seguir.
TIRALINHAS, s. f. Instrumento metal-
lico para traçar linhas com tinta.
TIRÂMENTO, s. m. Saca, levada para
fora, exportação.
— Termo antiquado. Cobrança, arre-
cadação.
— O tirar, isenção.
f TIRAMOLLA, s. /. Termo de marinha.
Diz-se do acto de tocar qualquer appa-
relho; d'este mesmo termo se servem
quando tocam o virador do cabrestante,
com o fim do emendar o apparelho para
tornar a viral-o.
TIRAMOLLAR, v. a. Termo de marinha.
— TiramoUar uma talha; amainar, ar-
riar.
t TIRANIA, s. /. Vid. Tyrannia. —
«Q,uiz sua ventura que acabou nestas
obras pêra na outra vida alcançar galar-
dão delias : teve quatro filhos conformes
a elle: os dous que eram mais homens,
que chamavam Calfurnio e Camboldão,
não lhe soffrendo o animo viver em tão
pequena terra, habitavam em outras par-
tes, onde, não consentindo Deus suas ti-
ranias, foram mortos por mão d'um só
cavalleiro, que se chama o do Salvagam,
que cá não lhe sabemos outro nome.»
Francisco de Moraes, Palmeirim dlngla-
terra, cap. 117.
Inspirado das Miizas doutamente ;
E ferido de Amor com tirannia,
730
TIRA
Juntaste, isiibio amigo, a melodia
Ao violoiito estridor da chirnu ardonto.
ADRADK UR JÀZKNTI'., POESIAS, P^g. 77.
TIRANO, s. m. Vi'l. Tyranno.
1.) TIRANTE, s. m. Oordii, ou correia
de puxar por alí,'iiiiia cousa ata-la a clie.
— «Ao rdlor desta figura estava Imiiia
grande soma do Ídolos pequenos todos
dourados, postos em joellios com as mitos
levantadas para cllo como r|uc o adora-
vão, e em quatro tirantes do ferro que
estavão por derredor, ostavilo conto e ses-
senta e dous candioyroM de prata, com
seis, sete e dez toi-cliias cada huni.» Fer-
não Mendes Pinto, Peregrinações, cap.
109.
— Os tirantes do andor; as varas que
levam sobre os liombros quem os carre-
gara.
— Termo antiquado. Caibro, pequena
viga.
— Barra de ferro atravessada do uma
a outra parede do editicio; linha; sorve
de n'ella se pendurarem os candieiros,
etc.
— Braços de cadeiras de an-uar, ou-
tr'ora de braços, varaes.
2.) TIRANTE, ijart. act. de Tirar.
- — Cúr tirante a vermelho; cOr que se
approxima a olla.
TIRÃO, 6-. m. Puxão.
— Estirào, camitihõ longo.
TÍRÃO. Fóriua variável do verbo tirar
na terceira pessoa do plural do presente
do modo indicativo. Vid. Tirar.
No canto atras passado (se vos lembra)
No batel vistos ja quasi allagados
Esto bom capitão com quanta gente
NaqucUa cmbavca(;ão primeiro viuha.
Com afronta o trabalho clicga o grande
Batel (das bvauas ondas constrangido)
Em brcue espaço a terra onde saltando
Estes fortes varões a Lianor tirão.
CORTR REAL, JIAUFRAOIO DE SEPÚLVEDA, Cant. 8.
Isto dizendo (ira com presteza
Os olhos donde \-ia tanto estrago,
Tantos ardis, e motlos contrafeitos.
Tanta mintira, tanta falsidade.
iBiDiu, cant. 2.
Pelo que nella imprimira
A força da mesma dor,
Mas naõ sabondo que amor
Nem se aparta, uom se tira.
K. RODRIGUES LODO, PR1.MATEBA.
— «Mas dlríl alguém, que tudo isto
saõ ninhorias, que naõ tiraõ honra, nem
dosmandaõ casamentos. Seja assim. Va-
mos avante: Paulo inaiora cnnamits. Le-
vantemos do ponto, e venha a Juizo gen-
te mais granada, o os que provóm as ar-
madas, o frotas di'lR >v nosso Soahor, se-
jam os primeiros.» Arte de furtar, cap.
5-1. — «Isto uàio tira dar sua magestade
as Commendaa a quem Ibe parecer j porque
TIRA
alem das de graça, que aaS livres, pôde
dar a» outras j)ara filhos, c netos, acoi-
tar ronunciaçoens, como se ordena na-
quollo ultimo capitulo acima referido.»
Severim de Faria, Noticias de Portugal,
Díbc. 2, cap. 16.
Nevados Cyanes, que o mi-u carro tirão,
MiinosaH Dansas, namoradas S<'Ivag
KestivAos Sacrifioiori jubilosos...
K esse leve desconto das Olcgtcg
Alegrias, viraõ Christàos roubar-m'oV
F. H. DO NASCIMENTO, 03 MABTrBKS, 1ÍV. 8.
Do Epicureo Lucrécio ontiio descubro
O pensativo descarnado aspeito.
< » centro tira ao ^lundo, o finge Mundos,
Que intínito.j lançou no eterno espaço.
J. A. DK MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 2.
— «Escrúpulos da reza çi/i ni'o3 tira o
breviário.» Pedro da Motta prohibiu-lho
a liçào d'outro livro, excepto os Exercí-
cios de perfeição do padre Affonso Ro-
drigues.» Bis|>o do Grão Pará, Memo-
rias, publicadas por Camillo Castello
Branco, )iag. 88.
TIRAPÉ, s. ni. Correia estreita, e fe-
chada de maneira qne faz um circulo,
quo 08 sapateiros mettem por um cabo
deb:iixo da sola do pé, e com o outro se-
guram a obra no banco, ou sobre a for-
ma no joelho.
TIRAR, V. a. e »». (Do francez tirer).
Tjcvar, fazer sair de algum logar. — Ti-
rar alyuem da cadeia.
Além de lho tirar o regimento
Da Cidade, c que ncUa não mandassem,
Quiz doa nossos também coasentimcnto
Que as suas nãos os mares navegassem
Sem na viagem ter impedimento,
Nem nas mercadorias que levassem,
E que estas nãos por onde quer que iriâo
Seguros se os quizcssem, Icvariào.
FRANCISCO d'aNDRADE, PRIMEIBO CERCO DU DID,
cant. 5, est. 39.
— «Porque na verdade he grande afrõ-
ta para elles, e sobre que tem feito voto
de em quanto os naõ tirarem daquy naõ
celebrarem festa nenhuma em que se en-
xergue alegria, nem nas suas brallas e
casas de oraçAÕ se accendeo mais fogo
ató o dia de oje, nem se acenderá em
quanto aquy estiverem cativos.» Fernào
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 1G2.
— Tirar informaçies; informar-se. —
"Mandava ElRey por doze Adaiz tirar
informaçoens com juramento do Adail,
que estava para se fazer, e afíirmando
oUes, que tinha as quatro qualidades re-
quisitas, lie dava ElRey espada, cavai-
lo.» Severim de Faria, Noticias de Por-
tugal, Diíc. 2, o^ip. G.
— Puxar, mexer. — «A donzella, a
quo O medo do vèr lhe fez esquecer o ou-
tro cuid.ido em que d'antos estava, ti-
rando polo cavalleiro do Salvago, o fez
acordar, dizendo lho quo junto delle ea-
TIRA
tava outro BracolBo.» Frandíco de Mo-
raes, Palmeirim dluglaterra, cap. 107.
— Dexpir.
Capuz lhe chamo eu, «ciihor.
Tirat-o.
ASTOXIO PRBXTM, ACTO», pftg. ■'J41 .
— Deduzir, colligir. — tO» nouos com
desestimação da vida divertido o horror
do tantos apparatos, animando-oe com
discursos conforiiiC» ao tempo, tirando
da necessidade concelho para m couiias
f)rosontc«.» .lacintlio Freire d'Andrado,
Vida de 0. João de Castro, liv. 2.
— Arrancar. — • Ha em Ormus huma
pedra, que iie a própria de qae se fazem
as casas, chamada pedra pcyxe, a qual
ja mais na apoa se vay ao fundo, e sem-
pre anda sobre ella ; e pelo contrario
hum pao a quo chamilo Horrà, que na»-
cc dcbayxo dagoa, e deytSdoo nella se
vay ao fundo, e tirandoo delle, e pondoo
ao fogo, arde logo como se fosse de Oli-
ue>Ta: nem as cozinhas gast^ outro
mais que este; donde na Indi.a corre hum
adagio que diz.» Frei f raspar de S. Ber-
nardino, Itinerário da índia, cap. 11.
— Tirar juizos; informar. — tFoi mui-
to dado ha Astrologia judiciaria, em tan-
to que no partir das nãos pcra a Índia
ou no tempo que as esperaua mandaua
tirar juizis por hum grande Astrólogo
português, morador em Lisboa, per nome
Dioguo mendez vezinho.» Damião de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 1,
cap. 8.
— Tirar vantagens de alguma couta;
colher vantagens d'ella. — «He impossí-
vel que eu dcyxe de tirar sempre venta-
gens da companhia de V. A. A qae hon-
tem consegui tiio grande que nSo só me
fez Imperador, porem Augusto; imagi-
nando-me como elle mesmo no lugar que
V. A. me destinou na sua mesa, íksen-
do-rao sentar entre huma viuva que cho-
ra por quem Deos tem.* Cavalleiro d'0-
liveira. Cartas, liv. 3, n.* 17. — •£
quem não possue em si assaz melindro
para tirar vantujens d'um Amante satia-
feito do seu amor, pécca pelo coração,
nào pela ventura. Vem, e vem logo ra-
titicar-me esta verdade, que pouca fine-
za a minha fora, se atniz<asse cu esse
instante com o prolixo desta Carta. Bem
ícl que ils Uoras que eu te escrevo to é
verdade vires vèr-mc : e dado que em
conversar comtigo por cscripta me dê
gosto, outro gCsto maior l!:o preferira eu,
que é o da tua presença.» Francisco Ma-
noel do X.osciraento, Successos de mada-
me de Seneterre.
— Tirar a vida ao j>ae; matal-o. —
«Era ja nascido ne.*tc tempo hum filho
termosissimo a Martha, e Arduel, a quem
cliamaram Ismael, em cujo nascimento,
se pronosticar.^io muytas cousa», e quan-
do pareceo aos pays poderiSo gozar o
TIRA
TIRA
TIRA
731
fructo, que tantas esperanças ao mundo
prometia, entào os criados de laeupo lhas
cortarão, tirando a vida ao pay cõ tanta
crueldade, e dureza.» Frei Gaspar de S.
Bernardino, Itinerário da índia, cap. 21.
— Livrar, pôr em salvo. — «Cõquis-
tou depois disto as terras de Biscava, ti-
randoas da mào de Romanos, que possu-
liiaõ inda algumas e ganhando por com-
bate a Cidade de Amava, ouve delias
gi-àdes riquezas, daqui passou aos montes
chamados Aregenscs, que conforme ao
discurso da historia que leva o Abade
Joào de Valclara, deviaõ de sor contra a
Província de Galiza, e sayndolhe ao en-
contro Aspidio, que era senhor daquellas
ficou
vencido, e cativo com
montanha
sua mulher e filhos, deixando a terra .so-
geita ao Império dos Godos.» Monarchia
Lusitana, liv. 6, cap. 16. — «Afonso dal-
buquerque lhe respondeo, que hia buscar
ao mar de Arábia hiima armada de Ru-
mes que tinha per noua certa estar pres-
tes para partir perà índia, e que poios
tirar daquelle trabalho os vinha buscar,
e que quanto a cidade de Adem, que
queria com ella paz, com tanto que se
fszessem vassallos, e trebutarios a el Rei
dom Emanuel seu senhor o que fazendo-
Ihes daria todalas liberdades, e priuile-
gios que fossem honestos.» Damião de
Góes, Chronica de D. Manoel, cap. 43.
Tem meu pae já outro ^caso
eoutra mim.
Agrave e apélle.
Casei-voa a furto d'elle,
foi tírar-me maid um praao
c pôr dous agravo3 n'ellc.
ANTÓNIO PBESTEs, Í.BTOS, pag. 237.
— Tirar as magnas e peccados do mun-
do.— «O Senhor enuiay cedo aas terras
aquelle Cordeyro que se ha de eusenlio-
rear delias, aquelle Cordeyro sem magoa
que ha de tirar as magoas, e peccados
do mundo, e tirados ha de ter bemauen-
tm-ado senhorio sobre os corações dos ho-
mens. Também aquclloutras que com os
mesmos desejos auia dito Dauid. Mos-
traynos Senhor vossa Misericórdia, day-
uoã o Saliiador que n(js prometestes.»
Frei Barthulomeu dos Martyres, Catecis-
mo da doutrina christã.
— Fazer sair. — «Por festa da qual
entrada mandou Aftbnso d'Alboquerque
embandeirar a frota, e tirar toda a arti-
Iheria.» Barros, Década 2, liv. 7, cap.
10. — «E chegando àquella Cidade lhe
poz taõ estreito cerco, que lhe mandou
aquelle Rey cometer todos os partidos
que quizesse, tirando q Alifante branco
que elle havia por cousa religiosa, aíSr-
mandolhe que sobre elle havia de perder
seus Reinos.» Diogo de Couto, Década 6,
liv. 7, cap. 8. — «Estes irmãos, tirando
os cintos, e atados huns nos outros, os
lançarão a huma ameya, e sobindo por
elles acima, levantai-aô huma bandeií-a, e
por alli foi entrada a Mesquita, e mortos
03 Mouros.» Severim de Faria, Noticias
de Portugal, Disc. 3, cap. 16. — «O ma-
rido se empregou inutilmente na diligen-
cia de lhe tirar este costume, e hum dia
zombando delia lhe trouxe de presente
hum pedaço tão grande de Alabastro que
mal podia com eíle.» Cavalleiro d'01ivei-
ra. Cartas, liv. 1, n.° 16. — «Tendo dous
anéis de ouro, e prata, meíendo-os em
hum ninho de Andorinhas, devxando-os
estar nelle nove dias, tirando depois am-
bos, ficando com hum, e dando outro ;l
pessoa amada, dizem também muitos que
ella amará por força, e eu também não
deyxo de entender que ella amará se
quizer.» Ibidem, n.° 30.
— Privar, fazer perder.
Meu dinheiro uão é meu;
de meus dinheiros
são 03 pobrca dcspenaciros :
tirar a. pobres o seu
d';u3 clamarão esses outeiros.
ANTÓNIO PUESTES, ADT03 , pag. 85.
Tirar-lhe ar[uella gotiuha
que Avareza a bôoa empola
grande otfeusa o desconsola;
qual sem folha fica a vinha
fica o pobre sem a esmola.
Siuto-me muito aborrida
de só vèr mear um gato ;
assi me mato,
comer é /ira)--me a vida,
a perdiz me cheira a pato.
IBIDEM, pag. 2i5.
Parte o misero logo com gràa pressa
Na palavra d'ElRei mui confiado,
Dia o noite, de caminhar nào cessa,
Ja para vèr a pátria alvoroçado.
Espera, Mouro, espera, que a promessa
De seres brevemente despachado
Não he dar-te a mercê que teus pedida.
Mas tirar-ta a fazenda, e mais a vida.
p. d'andeade, puimeiko cebco de DIU, cant. 6,
est. 7.
— Mandou tirar palavras na edição
romana. — «N'este memorial, pois, mos-
tra a ascendência de muita gente da gran-
deza hespanhola maculada, principiando
pelos descendentes de Ruy Capam, ju-
deu, de quem o nosso conde D. Pedro, no
Livro das Linhagens, diz que fora bapti-
sado em pé, dando a entender que fora
neophito ou christào novo; palavras que
mandou tirar na edição romana o mar-
quez de Castel RocLrigo estando em Ro-
ma.» Bispo tio Grão Pará, Memorias, pu-
blicadas por Camillo Castello Branco,
pag. 65.
— Tirar os olhos; arraucal-os. — «Na
qual uizem todos os Autores, que fazem
menção desta historia, que ouve El Rey
às mãos o Mouro, que matara a ElRev
Dom Aâonso seu sogro (por seu mal taõ
conhecido de todos) a quem fez tirar os
olhos, e cortarlhe ambas as mãos, e hum
pè, como instrumentos principavs do cri-
me que cometera.» Monarchia Lusitana,
liv. 7, cap. 28.
— Tirar o chapéu a alguém; descobrir-
se, em signal de delicadeza, e respeito.
— « Pelo contrario, segundo as memorias
de Egnacio, certo Varaõ por nome Pe-
di-o, e Pay de Laurencio Celso, Duque de
Veneza foi pertinaz em naõ descobrir a
Cabeça na prezença do filho, que nunca
que o encontrava, foi possível tirarlhe o
chapeo, por mais que a isso o persuadirão
03 amigos, e familiares.» Braz Luiz de
Abreu, Portugal medico, pag. 283, § 12.
— Exceptuar. — «Dizem os Parseos,
que 03 filhos de Alie, e Fatama, e seus
doze netos, tirando Mahamed, tem pre-
minencia sobre todolos Profetas : respon-
dem os Arábios, que esta premineucia he
sobre todolos homens, mas não sobre os
Profetas.» João de Barros, Década 10,
cap. 6. — «As molheres coniunmente, ti-
rando as do longo do mar e as dos mon-
tes, sam muito alvas e gentis molheres,
tendo algumas os narizes e olhos bem fei-
tos.» Fr. Gaspar da Cruz, Tratado das
cousas da China, cap. 15. — «Em cada
casa de cada hum destes tirando ho Lu-
thissi, que he dos cinco ho menor, ha dez
que sam como assistentes, que sam tam-
bém de muy grande autoridade.» Ibidem,
cap. 16. — • «Em Puchio cavo a casa dum
p-irente dei Rey e matou quantos avia na
casa, tirando hum menino de sete ou oito
annos sou filho, ho qual foy levado a el
Rey, e dia e noite se ouvia na terra roy-
do como de sinos.» Ibidem, cap. 29. —
«Ninguém sendo Chefe pcjdo trazer as
Armas com outra mistura, tirando se o
for de muitas geraçoens; porque entaõ as
poderá trazer juntas.» Severim de Faria,
Noticias de Portugal, Disc. 3, cap. 18.
— Imitar, arremedar, faliando de co-
res.
— Tirar u»)a linha; descrevel-a.
— Privar por força, ariebatar.
— Tolher, impedir, obstar.
— Diminuir, deduzir parte de outra
cousa.
— Termo de impressão. Vid. Tiragem.
— Apartar, desviar.
— Copiar, retratar.
— Trazer alguém, fazer sair.
— Dissuadir.
— "lirar as brigas. Vid. Briga.
— Attrahir.
— Fazer vir, chamar.
— Extrahir, exportar, transportar.
— Tirar alguém do seu sentido; pri-
val-o do juizo, e advertência para com-
metter erro, ou culpa.
— Figuradamente : Obrigações que ti-
ram por mim.
— Cor que tira a outra; approximar-
se, declinar, achegar-se a ella, ter visos
d'ella.
— Tirar esíHo/as; pedil-as.
732
TIRA
TUIA
TIKA
— Atirar.
— Tirar urros; abolir di^ <iualrjuor mo-
do com razões, leis, piiwn.
— Tirar al<juma cousa do sentido a ai'
giiem; fazor csfiuecor, abandonar.
— Tirar òal/ta; promover, desafiar.
Vid. Bulhento.
— Fii,Miiailara6iito : Tirar òarro á pa-
rede; fa/A-r diligencia a vôr no se obtom.
— Tirar dividas ; cobrar jiidicialniouto.
— Tirar forças da fraqueza; fazer a-
forçoa extraordinários, e para que nPio ha
forças.
— Tirar ouro, prata ; fazel-o em fio.
— Tirar o bocado da òocca; privar-se
do necessário alimento.
— Tirar os foros; cobral-oa, exigi l-os,
arrecadai -09.
— Figuradamente : Tirar alguém a ter-
reno; fazer com que alguém se mostre
em qualíjuer gonoro de feitos, e acções.
— Tirar de uma lingua em outra; tra-
duzir.
— Tirar /^aZaura d' alguém; fazel-o fal-
lar.
— Tirar á luz; publicar.
— Tirar palavra d'elle; tirar a pro-
messa, obrigação.
— Figuradamente : Tirar algucm a ter-
reno; desafiar, provocar.
— Tirar tença, mercê, graça, casamen-
to; obter despacho, mandado, desembar-
go para os receber das thesourarias, al-
moxarifados, e dos respectivos pagadores,
6 consignações.
— Tirar a ave os pintos dos ovos; fa-
zel-03 sair d'elle3, cobrando-os e fonien-
tandoos com o seu calor. Vid. Empoihar,
e Incubar.
— Loc. POP. : Tirar os olhos a alguém
por alguma cousa; perseguil-o, incommo-
dal-o com affinco j)or ella.
— Figuradamente : Ter por alvo.
— Tirar sangue ; sangrar.
— Tirar por alguma cousa; exigir a
satisfacjào d'el!a.
— Tirar um vestido; botal-o novo.
— Feios domiiujos se tiram os dias san-
tos; de umas cousas se deduzem as ou-
tras similhantes.
— Tirar a siía verdade, ou honra a lim-
po; averigual-a, e fazel-a appareeer,
apural-a de más suspeitas, ou calumnias.
— Tirar para alguma parte; caminhar
para lá á pressa, ou velejar.
— Tirar alguma cousa; sair com ella.
— Loc. POP.: Tirar a sardinha do
fo(jo com a mão do gato ; servir-se de ou-
trem em seu proveito e com risco de quem
serve.
— Loc. PIO. : Tirar o veu dos olhos
de alguém ; alumiar a cegueira do seu
ontenilimento.
— Tirar uma estocada. Vid. Atirar.
— Tirar-se, i'. rejl. Sair, afastar-se do
logar onde está.
— Des(Mnbaraçar-se, livrar-se.
— Tirar-se alguém d« cuidados, e fa-
zer alguma cousa; diz-se do que accom-
mctte sum consideraçilo, e dciiattcutada-
mente.
— Substantivamente: Ao tirar do hra-
ço. — € Floreados ao tirar do braço, tor-
nou em si, o tirando os olhos donde os
guiava o coração, corriíJo de sou e-iquo-
cimeiito, disso: Senhor cavalleiro, peza-
mo haver batalha couivosco, que mo to-
maes em tempo c hora, que estou com
armas d'avantage.» Francisco de Moraes,
Palmeirim d'Inglaterra, cap. 110.
— Adágios k puíjveuiuos :
— Tirar a castanha do fogo com a mSo
do gato.
— Tirar com barro á parede ató que
pegue.
— Tirar forças da fraqueza.
— Tirar o bocado da bocca, dal-o a ou-
trem.
— Tirar á cega lagarta.
— Tirte lá ganho, não uie dês perda.
— I)\inde tiram e n.ào põem, cedo che-
gam ao lundo.
— Manda, e faze-o, tirar-te-ha do cui-
dado.
— Peso, o medida, tiram o homem de
fugida.
— Cria o corvo, tirar-te-ha o olho.
— Jantar tarde, o cear cedo, tiram a
merenda de permeio.
— Ouçào de palma, não o tira toda a
barba.
— Se queres agua limpa, tira-a da
fonte viva.
j TIRARA. Forma variável do verbo ti-
rar na primeira ou terceira pessoa do sin-
gular do presente do modo inilicativo. Vid.
Tirar. — «E poudose uelle o matador,
depois de caminhar toda a noyte a mòr
pressa, quando viera o outro dia, se acha-
ra no próprio em que tirara a vida, a
seu amigo, e conipanheyi-o: donde foy
achado, e morto por justiça, e deste era
a ossada que hora vianios.» Fr. (!as]>ar
de S. Bernardino, Itinerário da índia,
cap. 12. — «Luimrio de Borgonha, Cla-
ribalti d'Ungria tiraram armas brancas :
no escudo em campo verde medronhos
d'ouro. Flamiano, Esmeraldo o fermoso,
sahiram com outras de morado e roxo e
pintasirgos de nuiitas cores, e nos escu-
dos era campo bi-anco umas nuvens cer-
ra las.» Francisco de Moraes, Palmeirim
d'Iuglaterra, cap. 38. — «Chegados a
(íeilolo o Capitão mamlou acabar de der-
ribar a fortaleza, e achíiraõ nella muitas
covas abertas, de que tiràraõ muita fa-
zenda. Catabruno, que já se chama San-
gage, des aquelle dia quo sahio da forta-
leza com as mulheres, nunca mais tornou
a ella em quanto os nossos alli cstivoraõ,
e fez huma povoaç^no naquelle lugar aon-
de se deixou ficar.» Diogo de Couto, Dé-
cada 6, liv. O, cap. 13. — «A este cle-
mentíssimo Príncipe (cujas cinzas venero
como de Senhor, choro como de Pai\ de
baixo do sagrado da paz, tirarão os Por-
tuguezoR a vida com escândalo de todos
o8 Reirt, o nSí> menor injúria de «eus vas-
salloH, indignos de o iiavt-runj* nido de
Principe tAo grande, pois insensiveis, e
ingratos, ortUtDos alimentando os homici-
das do nosso Motiarcha em nossa mesma
casa, gozamlo como herança a Praça, que
assegurarão com tJo atroz delictí».» ja-
cintlio Freire d 'Andrade, Vida de D. João
de Castro, liv. 2.
Do frigido Saturno o ingentp plobo,
Seu aniiul. seus s.itnUitCi», recebem
Dcllc o c:ilnr, a fori^ attraidom.
Qual gciitirào uo iustaiito, cm <|uc do inerte
Nada o tirara o lJrai,o fliniiipoteiit».'.
J. A. DE MACEDO, A SATCIUA, Caut. 1.
Enlão das cultas pampinotas vides
So iirárílo primeiro 03 dona de liromio ;
Rntào luxo cnáinou tinpr por fasto
Co'a preciosa purpura do Tyro
Do verme industrioso a tcnuo baba.
IDEM, VIAOEM EXTÁTICA, Cant. 1.
f TIRAREMOS. Forma variável do ver-
bo tirar na primeira pessoa do plural
dn futuro imperfeito do modo indicativo.
Vid. Tirar.
Fica nos bum rcracdio mal seguro,
I Mas eu n.io vejo aporá outro ao presente (
Que o darmos nossas anuas a estes Cafres:
('crtiticandolhc assi sermos amigos.
Tumbtnn lhe tiraremos a sospeita,
E o modo que de nós tem coucebido,
K vendo a nossa fácil amizade
Damos hão facilmente, o que iiedirmos.
COBrS BEAL, MACFBAOIODB SErCLTCDA, CAnt. 15.
•}• TIRAS. FArma do verbo tirar na se-
gunda pe.ssoa do singular do presente do
modo indicativo. Vid. Tirar.
Quem a mudou tam azinha ?
Iluma si razau, que tínha
Por si, que cm ser mulher.
Esse engano he mui geral :
Nem todas, Fernando, o saõ,
Mas tu tiras a razaò
Do sou erro, o do teu mal.
FBASCISCÚ BODBiaUES LOBO, BCUMAS.
•}■ TIRASSE. Forma variável do verbo
tirar na primeira ou terceira pessoa do
singular do pretérito mais que perfeito
lio modo conjunctivo. Vid. Tirar. — «E
porque com esta determinação de pele-
jar, 03 mercadores viram suas fazendas
postai em ventura de as perder, posto
que El-líey mandou lançar pregões, qne
ninguém tirasse cousa alguma da Cida-
de. • Barros, Década 2, liv. 6, cap. 3,
E pedir que me tirasMm
Este mal do âus;H'itar
Que mo vejo atormentar,
Indaque mo cotifesiiassciu
Quanto mo pvkle matar
cAM., aEooin>ii.aAS.
TIRA
TIRI
TIRO
733
— o Pelo qual era razão que ja que a
morte lhes tinha tirado o premio que me-
recerão por suas obras, Uie uão tirasse
o ruundo a memoria que se Ihea devia,
o qual aos bõs e animosos faria inveja
com que se lhes acrecentasse o animo.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações,
cap. 1Ó2. — «Praza a Deus que nos nào
hajamos cansado debalde; como seria, se
no cabo de v. m. haver ouvido muito, e
de haver eu dito muito, d 'aqui nào tirás-
semos algum proveito.» D. Francisco
Manoel de Mello, Carta de guia de ca-
sados.
TIRA-TEIMA, s. /. Termo popular.
Pau forte e geitoso para dar pancadas, e
assim obrigar o teimoso a ceder.
TIRATESTA, s. f. Género de arreio
de guarnecer a testeira do cavallo.
•j- TIRÀVÃO. Forma variável do verbo
tirar na terceira pessoa do plural do
pretérito imperfeito do moio indicativo.
Vid. Tirar. — «Donde trouxeram trinta
e sete bombardas de ferro, em que en-
travam peças, que lançavam pelouros
quasi de palmo em diâmetro, ficando o
baluarte em nosso poder sem muito tra-
balho, por uão haver nelle quem o de-
fendesse, senào alguns Mouros que tira-
vam com a artilheria.» Barros, Década
2, liv. 7, cap. 10. — «E começando a
encaminhar com nosco para sua casa, os
upos, que erào os beleguins que nos tra-
ziào, o nào querião consentir, o nos de-
ziào que fossemos pedir esmolla pela ci-
dade como nos era mandado pelo Chifuu,
senào que nos levariào á embarcação, e
isto dezião pelo interesse que disso lhes
cabia, que, como já disse era a metade
de toda a esmolla que tirávamos.» Fer-
não Mendes Pinto, Peregrinações, cap.
91. — «E tiravão com elles para o Ceo,
dizendo que os mandavào a Deos de
presente pela alma de seu pay, ou filho,
ou molher, ou pela da pessua por quem
aquillo fazião, e no lugar onde cahia
qualquer destes pedaços, era tanta a gen-
te sobre elles para os tomarem, que ás
vezes se afogavào huns cos outros.» Ibi-
dem, cap. 160. — «Passado o inverno
se fez a vella perá índia, com tenção de
outra vez dar em Adem, em cujo porto
achou algumas nãos, e geluas, varadas
em terra, junto com o muro das quaes
tirauão a frota mui a meude, com bom-
bardas, e o mesmo faziam da ilha de Gi-
ra, e do alto da serra com hum trabu-
co.» Damiào de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 3, cap. 44. — • «E mandou
cercar de mar a mar com mui altos vai-
los e profundos fossados, e bastilhoens,
em que fez assentar muita artelharia,
delia mui grossa de ferro, e metal, com
que, e com a spingardaria, e besteiros
que tirauaõ dos vallos, que estauão a
tiro de besta do muro da villa, fazião
dentro muito danno.» Ibidem, part. 4,
cap. 5. — cA todas estas palavras Ar-
lança nào tirava os olhos delle, e inda
que conhecesse de si que sua . fermosura
nào era merecedora delias, folgava com
aquelles enganos, que é natural de mu-
Iheies. » Francisco de Moraes, Palmeirim
d'Inglaterra, cap. llõ.
TIRAVERGAL, s. m. Couro como man-
gote, que firma ou prende os machos á li-
teira.
TIRAZ, s. m. Certo panno de linho
com alguns ramos, ou feitios como as ta-
lagaxas: deu-se-lhe este nome talvez em
allusào ao tirio, ou purpura em que os
taes ramos se usavam.
•{- TIRE. Forma variável do verbo tirar
na primeira ou terceira pessoa do singu-
lar do modo conjunctivo. Vid. Tirar. —
oEssa (disse a pastora) he tal, que nem
quero que a suspeita do lugar me tire
de ouvir : e para que essa razão te nào
escuze, saiamos ao prado, que o publico
nos dará mais liberdade.» Francisco Ro-
drigues Lobo, Primavera. — «Ainda que
eu creio que quem ruins obras gastou
todo seu tempo, no porvir fará algumas,
de que tire o galardão de todas. Arlan-
ça lhe agradeceu sua vontade, e Alfer-
nao por seu mandado foi preso, temen-
do-se que por sua arte fizesse algum en-
gano.» Francisco de Moraes, Palmeirim
d'Inglaterra, cap. 115. — «Eu quando
dey casa a meu filho, deylhe os meus
iiuros da cosinha, para que elle á sua
vontade escolhesse nelles os moradores
que quisesse, antre os quaes elle escolheo
a ti. Ora como queres tu que lhe tire eu
nenhum daquelles que elle por meu man-
dado escolheo-?» Garcia de Rezende,
Chronica de D. João II, cap. 201.
•{- TIREIS. Forma do verbo íiVa?' na se-
gunda pessoa do plural do presente do mo-
do conjunctivo. Vid. Tirar. — «E pois a
ella doe mais a perda de seus filhos, nào
lhe tireis o gosto da vingança de suas
mortes: embarquemo-nos pêra a ilha, en-
treguemos-! ho assim vivo e ella determi-
ne o modo e fim de sua morte, como lhe
melhor parecer e lho ensinar a dor e
paixão, que comsigo tem.» Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Iuglaterra, cap.
113. — «Sobrinha o que vos mais reve-
la, he que tireis desse tronco algum en-
xerto, que fique preso, por isso não vos
descuydeis, e quando não puder ser de
Carvalhal, seja de Coruicabra.» Francis-
co Rodrigues Lobo, Corte na Aldêa, Dia-
logo G.
TIRICIA, s. /. Vid. Iclericia.
TIRICIADO, A, adj. Da côr de quem
tem tiricia.
TIRINHA, s. /. Diminutivo de Tira.
Pequena tira.
TIRINTIMTIM, s. m. Som imitativo de
trombeta por onomatopeia, como taranta-
ra, com que Ennio entre os romanos
quiz significar o som bellico.
TIRITANA, s. /. Vid. Parietaria.
— Manteu de serguilha, de que se ser-
vem as rústicas, trazendo-o por cima d 'ou-
tro manteu. Vid. Tricana.
TIRITAR, y. n. Tremer com frio.
TIRO, s. m. Acto de atirar.
— Errar o tiro; errar a pontaria, o
alvo; desacertar.
Sóltão logo o mortal chumbo damnoso
Só naquelle que a longa escada afferra,
Qualquer do que soltou fica gostoso
Porque então iienlium dellcs o tiro erra.
Tal, que quantos estão (easo espantoso)
Ferrados nas escadas vem a terra,
Qual manda a alma ao profundo senhorio.
Qual vivo solta o sangue cm grosso fio.
F. n'AXDEADE, PBIMEIBO CEBCO DE DIO,Cant. 19,
est. 33.
— Distancia onde alcança o tiro. —
«E estado pouco mais de tiro de espin-
garda afastados dos muros, arremeterão
a elles com huma grita taõ espantosa
que parecia que se ajuntava o Ceo com
a terra, e arvorando mais de duas mil
escadas que pai-a isso traziào, lhe deraõ
o assalto a toda em roda, por todas as
partes que puderaõ, subindo pelas esca-
das acima muyto determinadamente, e
sem nenhum medo.» Fernão Mendes Pin-
to, Peregrinações, cap. 117. — «Nesta
pressa veo a memoria a Lourenço de
Brito, que estaua na fortaleza hum tiro
mais grosso, e mais furioso que as Sphe-
ras, e camellos, a que chamaõ Serpe,
pela qual mandou logo, e em tão boa
hora lhe pos o condestabre Rutgerte Gel-
dres o fogo, que leuou huma das sacas
em pedaços no ar ao que os nossos de-
ram liuma grande grita.» Damiào de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 2, cap. 16.
— A pólvora de uma carga, e a car-
ga disparada.
— Figuradamente: Os tiros da calutn-
nia, da sensualidade.
— Tiro cego; tiro sem pontaria certa.
— Um par de tiros. — «E vendo es-
tar a espingarda |iindurada, nào me quiz
acordar, com propósito de tirar primeyro
hum piar de tiros, parecendolhe, como
elle despois dezia, que naquelles que elle
tomava não se entenderião os que lhe eu
prometera, e mandando a um dos moços
fidalgos que fosse muito caladamente ac-
cender o murraõ, tirou a espingarda dõ-
de estava. » Fernão Mendes Pinto, Pere-
grinações, cap. 136.
— Arma d'onde se dispara o pellouro,
dardo. — Muitos tiros c/e artilheria gros-
sa. — «Ja serião duas horas da noyte
quando chegamos á bocca do rio, e an-
coramos nella com tenção de pela me-
nham yrnios surgir á cidade. E despois
de estarmos quietos, ouvimos por vezes
muytos tiros de artelharia grossa, com
que algum tanto ficamos embaraçados e
duvidosos no que fariamos.» Fernão Men-
des Pinto, Peregrinações, cap. 148.
— Distancia a um tiro de pedra. —
«Despois de vistas todas estas cousas cõ
734
TIRO
TlSl
TISD
assaz esjunito «Ics toilo.s, nos partimos des-
te pagodo <ic TiuafíOOffoo, o continuamos
uoá.so cauiiulio pur osp.iyu de mais trezu
dias om quo clie^^auios a duas nmjtu í^rau-
des oidadwj, situadas :l Ijorda do rio de-
frõto liuma da outra isiii distancia de pou-
co mais do um tiro do podra,» Fornào
!Mcudcí riuto, Peregrinações, cap. 1G2.
— «Poucos dias depois deste encontro,
tiucmos outro, pêra todos do grande ad-
miraram ; quo foy darmos com quatro
fontes, apartadas huma da outra lium
tiro do pcilra. i*era mi foy o mayor ex-
tremo, que vi da Índia atò este Reyno.u
Frei (iaspar do S. Jiurnardiuo, Itinera-
rio da índia, cap. 22.
— A ci)usa com que se atira.
— Estar a tiro ; estar cm pontaria, por
alvo.
— Figuradamente: Aliusão, remoque.
— Figuradamente : Errar o tiro ; nào
fazer cÔeito a allusSo, remoque.
— Ve tiro; rapidamente. Vid. Fre-
cha.
— Intento mau, o que se faz para ob-
ter.
— O calabre com que se ajunta mais
um boi ou besta ao arado, ou eocbo.
— Um tiro de bastas ; uma parelha de
quatro ou seis éguas, que tiram pelo co-
che,
— Animaes de tiro ; animaes de puxar
todo o género de carruagens; bois, bês-
taó, mulas, ete., em opposição a animaes
de carga.
— Um, dous, ou três tiros ; juntas,
ou parelhas de bois ou bestas de puxar
carros, carretas, etc. ; ás vezes os tiros
Silo singelos, entiadoa um atraz o outro,
e cada tiro ó um animal, como nos gran-
des carros inglczes.
tirocínio, s. m. (Do latim tiroci-
niuin<. O ousiao, e estudos do princi-
piante ou bisonho nas artes litteraria,
militar ou mechanica, c algum modo de
vida.
TIROLICO-TICO. Vid. Sirolico-tico, e
Bico.
TIROTEIO, s. m. Termo de núlicia.
Fogo do espingarda em encontro com o
inimigo, nrio em descarga ceiTada, mas
em tiros disparados succesaivamente, ou
do cspayo em espaço,
■}• TIROU. Forma variável do verbo ít-
rar na terceira pessoa do singular do
pretérito perfeito do modo indic-iitivo.
Vid. Tirar. — «A fazenda desta não se
tirou, e vcudeo, dando-se as partes aos
soldados, o ticárom a ElRey forros mais
de sessenta mil pardáos, a tora o ouro, e
prata quo aia no batel, (pio montava
mais.» Diogo do Couto, Década 4, liv.
4, cap. 9. — «Foram juntamente tào des-
fallecidos delias, qvie Dramusiando caiu
no cliao, o o cíivalloiro da Fortuna se
sentou junto dcUe, que nem pêra lhe ti-
rar o elmo se ati"eveu estar em pé. Logo
desceram todos os prisioneiros, e D.
Duardos o tirou a Dramusiando pcra que
lltu desse o ar, pedindo ao da Foi-tuna,
pois a vi'jtoria claramente era suii, nSo
qiiizoriSe mais vingança o do feito se con-
tentasse.» Francisco do Moraes, Palmei-
rim d'Inglaterra, cap. 41. — «E como
as mais delias toai por natural acabado
de se determinarem em alguma cousa
quererem logo a execuçilo delia, quiz
sem mais detença mandar-lhe cortar a
cabeça; mas a este tempo chegou o ca-
valleiro velho, que a tirou desta tençrio
dizendo.» Ibidem, cajj. Ili5. — «Foi tan-
ta a gente, ipie se tirou das Províncias,
(|Uo tem em llespanlui, que se achaõ os
Ueynos de Castella quasi todos despovoa-
dos.» tícverim de Faria, Noticias de Por-
tugal, Disc. 2, cap. y. — «E em a Prin-
cesa sahindu el lley se foy a ella, e com
muyto grande cortesia se pos á mào es-
quei'da, e assi vieram caminho da Cida-
de, o a Princesa ainda (|ue a el Key nào
leuaua polia mào, porque era muy pru-
dente, e muy cortes, tirou a luua da
mão daquella parte donde el Rey hia, e
sempre leuou a mào descuberta, que lo-
go se julgou por molher de muyto pri-
mor, e de grande acatamento, e assi vie-
ram.» Uarcia de Rezende, Chrooica de
D. João II, cap. l'2'ò. — «Levava doze
fustas de remo, de que tirou cento e
vinte soldados escolhidos, e com elles foi
caminhando com a segurança de quem
hia buscar hum Príncipe amigo, e obri-
gado, e sobre tudo, senào liei ainda, ao
menos grato já, e benévolo ás verdades
da Lei que lhe pregávamos.» Jaeintho
Freire d'Andrade, Vida de D. João de
Castro, liv. 4. — «Para o conseguir ti-
rou a vida á mesma molher que amava.
He acção barbara, porem he verdadeyra,
e foi executada por hum Monarca.» Ca-
vallciro il'01iveíra. Cartas, liv. 1, n."
37. — «E cahiudo seo iilho uaquelle pec-
cado; sem faltar as beaevolencias de Pay,
nem despir as rcctidoens do Juiz, tirou
hum dos Olhos ao filho, e outro asy pró-
prio; para que o iilho visso a sua Ce-
gueira nas atlliçoens do Pay ; e o Pay
mostrasse a sua piedade nos mesmos cas-
tigos do iilho; a que alludio eruditamen-
te Camerario.» Braz Luiz d'Abrou, Por-
tugal medico, pag. Ibl.
TIR-TE. Abreviatura de Tira-te.
TIRUDO. Termo antiquado, porTeúdo.
TIRUELA, s. /. Estofo de seda, oriun-
do lie Castella.
TISANA, s. /. (Do latim ptisana). Be-
bida que não contém na dissolução senão
uma pequena quantiiiadc de substancias
medicamentosas, e que se administra nas
doenças para auxiliar a acçÃo dos medi-
camentos mais activos.
tísica, s. /. Doença produzida de
chagas no bofe. Vid. Phthisica.
Tísico, A, adj. e í. Que tem tisica.
— Frango, gallinha tisica; mui ma-
gros.
— Plur. Dá-se e*te nomo também aos
leques delgados, que vem da China, de
papei r; varetinhaí de pau.
T TISIPHONE, *. /. Uma da« três fu-
fiuias.
TiSIQUIDADE. «. /. Vid. Ethiguidade.
TISNA, ji. f. A niancha preta que in-
fecciona o corpo, e com que alguém tal-
vez por desattentíi se suja. V^id. Tisnar,
e Tisne.
TISNADDRA, «. /. A mancha do cou-
sa tisi u>la.
TISNAR, V. a, Ennegrecer com car-
vão, fumo.
— Figuradamente : Tisnar a reputa-
ção, a J anui, etc.
— Tisnar-se, v. rejl. Sujar-se com fu-
mo, com carvão, felug'-ui, niancbar-ac.
— Figuradamente : Tisuar-se a repu-
tarás, a fama, etc.
TISNE, s. vt. A côr que o fumo pro-
duz na tez.
TISOURA, «. /'. Vid. Tesoura.
t TI30UREYR0. Vid. Thesoureiro. —
«Este Ídolo era o da invocaç-aõ de todo
este edifício, e se chamava Muchiparom,
o qual deziào os Chins que era tisourey-
ro de todos os ossos dos mortos, e que
vindo aquella serpe que tinhamoa visto
para os roubar, clle lhe tirav.a com aquel-
Ic pilouro que tinha nas maõs, por onde
ella logo com medo fugia para a conca-
va funda da casa do fumo, onde Deos
a tinha lançado por ser muyto má. »
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações,
cap. 109. — «Pelo que sendo este tyran-
no avisado de todas estas cousas, temen-
do poder ser esta a mais certa occasiào
de se perder que todas as outras de quo
se poiia arrecear, se tornou logo a forti-
ficar o Prom com muyto mayor instancia
do que até então tinha feito, porem antes
que so partisse daquellc rio onde estava
surto, que seria huma legoa deíta cidade
do Avaa, mandou o Branima sen tisou-
reyro por nome Diosoray (em cujo poder
eu atras ja disse que estávamos os oito
i^ortugueses cativos) por embaixador ao
Calantluhan.» Ibidem, cap. Iõ7.
j TISOURO, s. III. Vid. Tesouro. — «A
isto respondeo o Mitaquor, aíTirmovos a
todos quo por nenhum caso o faça el Rey,
aiuua que por isso lhe dem o tisouro da
China, porque se o fizesse, seria quebrar
a verdade de sua palavra, com que se
^>erderia toda a reputação da sua gran-
deza, pelo <)ual he escusado tratar de
cousas que nào podem ser. nem he bom
quo sejão.» Fernão Mendes Pinto, Pere-
grinações, «ip. 121. — «A tercevra, que
era tão rico o nosso Rey de ooro e de
prata, que se ailirmava que tinha mais
de duas mil casas cheyas até o telhado,
e a isto respondemos, que no numero de
duas mil casas nos nào certidcavamos,
por ser a terra e o rey no em sy tamanho,
e ter tantos tisouros e povos, que era
impossível poderseihe dizer a certeza dis-
TITE
TITU
TlTU
735
so.» Ibidem, cap. 133. — sE eu pela
grande obrigação que por isto lhe tenho,
vos certifico que estou tSo desejoso de
lhe fazer a vontade, que dera agora gran-
de parte da minha terra porque Deos me
fizera hum de vós outros, assi para o yr
ver, como para lhe dar este gosto que eu
entendo, pelo muyto que sey da sua con-
dição, que elle estimará mais que todo o
tisouro da China.» Ibidem, cap. 135. —
«Pareceiídoihe que por seu meyo poderia
ser salvo do perigo em que se via, e
mandou cometer a Joaò Cayeyro que se
embarcasse de noite nas quatro iiaos que
alv tiidia, para que o salvasse com sua
molher e seus filhos, e lhe daria por isso
a metade do seu tisouro.» Ibidem, cap.
148. — «E com muytas lagrima^ e sus-
piros disse, ah Portugueses Portugueses,
quào mal pagastes ao desaventui-ado de
mim o muyto que por muytas vezes te-
nho feito por vós, parecendome que em
o fazer assi fazia tisouro de vossa ami-
zade, paraque como leais me valêsseis
numa tamanha necessidade como esta em
que agora me vejo, da qual cousa eu
nào queria nem pretendia mais que vida
para meus filhos, e enriquecer o vosso
Rev, e tervos comigo em minha terra.»
Ibidem, cap. 149. — «Mas esta sua dili-
gencia nào foy tanto por este respeito
que elle dezia, quanto por salvar pri-
meyro o tisouro do Chaubainhaa. E por
esta causa esteve dous dias sem tratar
do negocio dos cativos que tinha em seu
poder, que foy o tempo que bastou para
elle pôr em cobro todo o tisouro.» Ibi-
dem, cap. 151.
TISSIEROGRAPHIA, s. f. Gravura em
relevo sobre pedra, nova iuvençào de
Tissier.
TISSÚ, s. m. (Do francez tissu). Tela
forte bordada de ouro.
f TITANATO, í. m. Termo de chimica.
Sal produzido pela combinação do acido
titânico com uma base.
t TITÂNICO, A, adj. Tei-mo de chi-
mica. Diz-se de um acido e de um oxydo
de titano.
— Diz-se dos saes produzidos por este
acido.
— Que pertence ao titano. — Sulfureto
titânico.
f TÍTANICO-AMMONIACO, A, adj. Diz-
se de um sal titânico combinado com um
sal ammoniaco.
f TITANIDE3, s. f. plur. Familia de
substancias mineraes que se compõe de
titano e suas combinações.
f TITANIFERO, k,' adj. Que contém
titano.
TITANO, s. m. Vid. Menachanite.
TITÃO, ou TITAN, *. m. Termo de
poesia. O sol.
TITELA, s. /. O peito carnudo da ave.
- — Ttr titela ; ser peitudo, animoso,
corajoso.
— O lado das aves, que se cobre com
as azas, e por onde se examina se estão
gordas.
— Figuradamente: Era o nosso reino
a titela da Europa; a parte mais esti-
mada d'ella.
— Adagio e provérbio :
— Do capão a perna, da gallinha a ti-
tela.
TiTEREAR, r. n. Manejar os títeres.
TITEREIRO, s. m. Homem que maneja
os títeres.
TÍTERE, s. m. Boneco, ou figura mo-
vida por engonços, a que se faz repre-
sentar certas farças para o vulgo.
TITHONIA, s. f. Termo de poesia. A
aurora.
TITHYMALO, s. m. (Do grego tifhyma-
los). Termo de botânica. Herva maleitei-
ra maior. Viu. Euphorbia.
TITULAÇÃO, s. /. (Do latim titillatio).
Impressão produzida pelas cócegas bran-
das, o pnu-ito.
TITULADO, part. pass. de Titillar.
Pruido.
— Figuradamente: A vaidade titillada
pela lisonjaria.
1.) TITULAR, adj. 2gen.~ Veias ti-
tillar es ; veias que estão debaixo dos so-
bacos.
2.) TITILLAR, v. a. (Do latim titilla-
re). Pruir, causar prurido.
— Figuradamente : ■ Lisonjear agrada-
velmente, e excitar com prazer. Vid.
Pruir.
TITIM, s. m. Termo do Brazil. Espé-
cie de coca para matar peixe : parece de-
ver ser antes tingui? Vid. Tingui.
TITINA, s. f. Termo de historia natu-
ral. Avesinha que tem as penuas cinzen-
tas, salpicadas de branco; frequenta as
terras de lavoura.
TITIRE, s. í/i. Vid. Titere.
TITIREIRO. Vid. Titereiro.
j TITOLO, s. m. Vid. Titulo. — «Como
fizeram a hum moço China, porque es-
tando os Portugueses presos lhes servia
de lingLia, per onde os Louthias lhe de-
ram titolo 6 insígnias de Louthia, por
saber falar Português.» Fr. Gaspar da
Cruz, Tratado das cousas da China, ca-
pitulo 17.
TITOR, í. m. Vid. Tutor.
TITUBANTE, part. act. de Titubar.
— Figuradamente : Incerto, vacillante
em contrarias razões, nos juizos, nas re-
soluções, e no obrar.
TITDBAR, V. n. (Do latim titubare).
Perder a estabilidade, firmeza, ir cain-
do; nào se ter bem em pé.
— Estar incerto.
— Figuradamente: Titubar a língua;
não fallando ordenadamente, perturban-
do-se.
TITUBEAÇÃO, ou TITUBIAÇÃO, s. /.
Ind(.t -rminaçào, irresoluçào, vacillaçào.
TITUBEADO, ;jrtrf. //«s.v. de Titubeai'.
TITDBEAR, ou TITUBIAR, v. n. Vid.
Titubar.
TITULADO, part pass de Titular. Fun-
dado em titulo.
— Que tem titulo.
— Ca?as tituladas. Vid. Titular.
1.) TITULAR, adj. 2 gen. Que tem ti-'
tulo de graduação.
— Bispo titular ; bispo em exercicio
da diocese de que se intitula.
— Ahbade titular; aquelle que tem o
beneficio com suceessão no eargo ou não
em commendã.
— Substantivamente : Um titular.
2.) TITULAR, V. a. Dar titulo, intitu-
lar.
— Escrever em livro de padrões e ti-
tules authenticos, d'onde constem as
acções e direitos ; explical-os, dar titulo
authentico aos credores do capital, e seus
juros.
TITULEIRO, s. 7?j, Termo antiquado.
Inscripção sepulchral, ou epitaphio
TITULO, s. m. (Do latim titulus). Ro-
tulo, inscripção.
— Pretexto. — A titulo de commercio.
— «Donde se causou assentar elle, que na
cidade de Quiloa se fizesse huma forta-
leza : porque com ella e outra em Moçam-
bique, e amizade que tínhamos com el
Rey de Melinde, ficaua toda aquella cos-
ta Zanguebar debaixo do titulo de seu
commercio, pêra mães facilmente se subs-
tentar huma fortaleza em Çofala.» Bar-
ros, Década 1, liv. 9, cap. 6. — «E por-
que Alie se escusou disso, dizendo que
não podia matar tanto número de gente
como se acharam na morte de Otthoman,
Mauhya começou de lhe fazer guerra com
titulo que elle Alie mandara matar Ottho-
man.» Idem, Década 2, liv. 18, cap. 6.
— «Ofterece cada qual os vinte, e os trin-
ta cruzados, que naõ tem, e para os fa-
zer vende até a capa dos hombros : e tanto
que os dá por baixo da capa, logo esca-
pa, e livra o filho a titulo de manco,
sendo mais escorreito, que hum veado.»
Arte de furtar, cítp. 8.
— Denominação de dignidade. — Deu-
Ifie o titulo de conde, de duque, etc. —
«O qual Príncipe dom João, que foi Rei
destes regnos, segundo do nome, neto do
Infante dom Pedro sendo Príncipe, e ca-
sado com a Princesa donna Leanor, ouue
hum filho de donna Anna de mendonça,
dama que andaua em casa da Rainha,
donna loanna de Castella, e de Leam,
esposa dei Rei dom Afonso, pai do dito
Príncipe, a qual desempossada dos seus
regnos pelos Reis, dom Fernando, e Rai-
nha dona Isabel viuia em Portugal com
tittilo de Excellente senhora.» Damião de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 1,
cap. 45. — nNeste mesmo anno despois
dei Rei ser casado acrecentou ao titulo
que tinha do Rei de Portugal e dos Al-
garues, daquem, e dalém. Mar em Afri-
ca, senhor de Guiné, o titulo da conquis-
ta, navegaçam, e comercio de Ethiopia,
Arábia, Pérsia, e da índia, títvdo tão hon-
736
TITU
TITU
TIVE
roso quanto o ho a mesma conquista.»
Ibidem, cap. -Ki. — «Auto.-» (juc dom
lonin (lo M()n()s(!rt partisse <le Lirtlxia cl
Koi por lho í^ratiticar os muito» Horiii(,'().s
que dello tinha reoohiilo, lhe deu titulo
do Conde da Villa do Tarouqua, na co-
marqua da Hiiii^a.» Ibidem, cap. bl. —
«Pelo (|U(i lhe pedia jior auior de Nosso
Senhor IKSU 0111ílST(J quo de tudo fi-
zesse uiereo a seu iriiuim lioiíi JJinis, com
o iiiosiiio titulo do Duípic, no que faria
Rcnii<,'() a JJcos, o a ello assinada mercê.»
Ibidem, cap. (íl. — «Dos quaes este dom
Martinho do (^astclhranco ora o mais ve-
lho, a quem ol Rei dom Emanuel deu titulo
de Conde do viUa miva do porlimam, e ban-
deira quadrada, c f )i também veadur da fa-
zenda ilel liei dom loam sejíundo, e dei Rei
dom Emanuel, c camareiro mor ih) i'riu-
cipe dom loam seu filho.» Ibidem, part. 4,
cap. 70. — «E porijiic cuni a sua entrada
desta cidade ello tomou o titulo do Viso-
Roy, de que elRoy dom Jlanuol mandaua
que se intitulasse segundo forma da pro-
uisaõ que leuaua, e cm quanto esteue na
Índia descubrio e conquistou muitos lu-
gares da costa delia.» Barros, Década 1,
liv. 8, cap. U). — «O primeiro, que esto
cargo teve em Portugal, foi 1). Álvaro
Pires de Castro Conde do Arraiolos, e
atò entaõ fazia neste Royno o oflicio de
Condestable o Alferes Mòr; e de entaõ
atègo)'a tivoraõ sompro o título de Con-
destable, ou Infantes, ou os mais princi-
paes Senhores do Royno.» Sevei'im de
Faria, Noticias de Portugal, Disc. 2,
cap. 2. — «Atè o tmnpo d'EiRcy D. Fer-
nando, o Alferes Mòr irEIRey era o Ge-
neral do Exercito, como jà apontamos, e
fazia o ofiíeio de Condestable, e Marichal,
como consta do seu titulo no Regimento
da guerra.» Ibidem, cap. 4. — «p] assim
quando qualquer destas cousas he insigne,
não illustra menos a família, quo muitos
Titules.» Ibidem, Disc. ò, cap. 1. — «O
qual deu Titulo tlc Duque de Coimbra ao
Senhor D. Jorge filho bastardo do mesm >
Rcy D. Joaõ II. o ao Infante D. Luiz
seu filho, o fez Dmiuo de Boja. » Ibidem,
cap. 23. — «El-Rey D. Jlauoel coacedeo
aos primogénitos dos duques de Aveiro o
Titulo de Jlarquez de Torres Novas; e
D. Joaõ 111 fez Marquez de Ferreira a
D. Rodrigo do Jlello Condo de Tentú-
gal.» Ibidem, cap. 24. — «E assim ncsie
Reyno iio Titulo particular, e so diz tem
obrigação de sahir em lugar d'ElRey a
desafio, cm caso que seja chamado a cam-
po. ElRey D. Afonso VI. fez Baraõ da
Ilha Grande a Luiz de Sousa de Mace-
do.» Ibidem, cap. 26. — «Disso vemos
hoje assaz de exemplos cm Espaniia, on-
de os mais dos primogénitos dos Duques
tem Titulo de Duques, ou de Jlarqueses,
c os dos Marqueses de Condes.» Ibidem.
— «Eu as tive seuípro por virtuosas, e
sinto que V. S. me fai;a oateuder ago-
ra o contrario, uào só porque cilas per-
dem o credito, mas também porque V.
S. destroe o sou, «juaudo assim prejudi-
ca ao lio duas Damas, por todos os ti-
tules senhoras, e por todos os princípios
veneraiias.» Cavalleiro do Oliveira, Car-
tas, liv. I.
Pouco tempo a lograste, o so te engana
Inda o titulo novo do (Jidado,
liicoida o nomo antigo do Arrifana.
AIIBADU DK JAZK.STE, funSIAS, pag. IIG.
Os tUidon faust/igos, quo prediga
Illuso o Src lo, u Slóitos, lá famosos,
NosHij baratino as Alinad, sáo Uirnicnto,
Sao Vingauija v Voidadií. Vur prididas
'iVi-uas [)n'c(!á, i|ue ao Cio manda a Amizade,
Na uiasnioiTU infernal, lhe avcxa os uuiuios.
F. M. DCJ NA8CIUKNT0, 08 liAHTYUES, 1ÍV. 8.
— «Escrevc-se d'este homem quo foi
ello o primeiro que montou peidas do ar-
telharia a bordo de naus ; o ó certo que
merecendo, por suas proesas, ser conde
da Ribeii'a, com o titule de Camará do
Lobos, faz honra á sua pátria, maior-
mente sendo tantas as casas illustres que
d'clle tem origem ou alliani;a.» Bispo do
Grào i'ar;i, Memorias, publicadas por Ca-
millo Castello liranco, pag. 72.
— Frontispício, rosto dos livros.
— Em direito, o principio, ou causa
por que se adquire.
— Adquiro-so a titulo oneroso, dando-se
ou fazendo-se alguma cousa jior aquillo
que se dá ao adquiridor; a titulo gratui-
to, quando quem adquire nào se obriga
a prestar, ou a fizer nada ao que lhe dá.
— Figuradamente : As escripturas dos
contractos em ([ue so funda o direito das
partes, e que o attestam. — «Nem outro
sou aver per nenhuum titulo, ou figura
de nenhuum contrauto, nem per outra
maneira d'engano pcra mercarem, ou
venderem fora da dita Cidade, e luga-
res, quo lhes per nós he outorgado, as
ditas mercadarias, nem façaõ com elles,
nem com outros de fora de nossa torra
companhia.» Ord. Affons., liv. 4, tit. 4,
ij 14. — «E vista per Nós a dita Lei,
adendo e declarando em eila Dizemos,
que se aquclle, que he demandado em
Juizo por alguiiui cousa, que houve d'al-
guem por titulo de compra, ou escaimbo,
ou qualquer outro titulo, o recea, e teme
de lhe seer veencida, deve nomear e cha-
mar aipiello, de que a ouve, que lho ve-
nha seer autor aa demanda, (juo lhe por
cila he feiui.» Ibidem, tit. òí), § 2. —
«Em todo C41S0, lionde o comprador d'al-
guma cousa, ou qualquer outro possui-
dor, que a ouve per algum outro titulo,
foi delia esbulhado, ou roubado, ou lhe
foi furtada, ou ella pcrocco per algum
caso f>rtuito.» Ibidem, >; 7.
— l'iu titulo; um fidalgo titular.
— Ir de bom titulo a tilgunu parti';
ir com bons intentos, com propósitos ho-
nestos.
— Mulher de ruim titulo; maihc-r de
má nota, de má rcputai,i<1o, de porto Jeo-
honesto.
— líoviem fie mau titulo; suspeito.
— Moeda de ruim titulo; moeda íalli-
da no valor intrinsoco.
— Nnvio lie mau titolo; de corsário.
— IxjC. adv. : A titulo; com pretex-
to, cór.
TITYMALO. Vid. Tithymalo.
j TIVE. FiMina variável do verbo ter
na primeira |>csHoa do singular do preté-
rito perfeito do modo indicatiro. Vid.
Ter. — «Senhor, quatorze annos ha que
sam pre<<(>, e em quanto tiue fazenda pê-
ra peitar sempre me alongar.^o meu fev-
to, e agora que ja nilo tenho cousa algu-
ma me julgaram á uiorte, e se ent.lo me
matiirilo eu soo padecera, o á minha mo-
Iher e tíllios ficaraliio fazenda pêra se
manterem, e agora, senhor, matam todos
pois tudo gastei por alongar a vida, olhe
vossa alteza isto com olhos de pie<ladc, e
de tam virtuoso Rcy como he.» fiarcia
de Rezende, Chronica de D. João II, ca-
pitulo Ít8.
f TIVER. Forma variável do verbo ter
na ])rimeira ou terceira pessoa do singular
do futuro dl) modo conjunctivo. Vi^i. Ter.
— «Em iguaes Títulos de dignidaiJe se-
rá mais clara a f-imilia, que tiver maior
numero, e a maior dignidade (aimla que
menos em numero) vence a multidão das
menores.» Severim de Faria, Noticias
de Portugal, Disc. 3, cap. 1. — «Con-
vém a saber, se tiver duas filhaa, ame-
tade da ter^^a. e se tiver trez filhas, a
terça part'- da terça, e assim das mais.»
Ibidem, Disc. 1, cap. 7.
7 TIVERA. Fitrma variável do verbo ter
na primeira ou terceira pessoa do singu-
lar do pretérito mais que perfeito do mo-
do indicativo. Vid. Ter.
Acabar de me perder
F.ira ja muito melhor ;
Tire.ra fim esta dor,
Que nào podendo m6r ser,
Cada vez a sinto mor.
Po vós desejo esconder-mc,
E do mi principalmente.
Onde ninguém possa ver-me ;
Que pois me ganho cm pcrdor-me,
Ando perdido entre a gcnto.
CAM. KF.POSPILllAS .
— «O imperador lhe fez nmito gasa-
Ihado, pedindo-lhe perd.io se o dia d'an-
tes tivera algum descuido cerca de sua
pessoa. Senhor, disse elle, bem sei que
a cousa que se mais estima, faz esquecer
as outras de menos valia : vossa alteza
nào tem de que pedir perdão, nem eu
de que me aggravar. • Francisco de Mo-
raes, Palmeirim dlnglaterra, cap. 122.
— «E se a agoíi do rio tiuera po<ler nas
cousas iizas, e vidradas, até estas for.^io
ya acabadas, e consumidas. Aqui foy
onde pregou o Prophcta lonas, depois
TIVE
TIVE
TIVE
737
que a Balea o vomitou no Ponto Euxi-
no, alem de Constantinopla, como diz
losepho em '^uas antiguidades.» Frei (jas-
pai" de S. Bernardino, Itinerário da ín-
dia, cap. 17. — «Ho que dicto maudou
tirar às bombardadas às almadias que
com medo se acolherão, ho que el Rei de
Calecut sentio muito, e se tiuera sua ar-
mada no mar, mandara commeter has
nossas nãos, mas tinha ha varada em
terra, por ser inuerno, e naquellas par-
tes naõ navegarem se naõ no veram,
que là he no tempo do nosso inuerno.»
Damirio de C4oes, Chronica de D. Manoel,
part. 1, cap. 43.
Tal determinação, e tal braveza,
Faz o Goveruador maia animoso,
E logo ordena alli com gràa presteza,
Que commctta o prudente, o valoroso.
Com gente pela porta, a fortaleza.
Grande Heitor da Silveira, que famoso
Tanto pudera ser, quanto o Troiano,
Se tirera outro Homero, ou Mantuauo.
FRANCISCO DK ANDRADE, PRIMEIRO CERCO DE DIU,
cant. 1, est. 79.
Maa tal era o temor que o Turco e o Persa
Ja desta imiga gente concebera,
E ella era nisto doUes tão diversa
Que por mais que hoje o imigo a combatera.
Se mostrAra a fortuna emfira adversa
A gente do Baudiir que a is.so viera,
So iiào tivera então por defensores
Os Lusitanos braços vencedores.
IBIDEM, cant. 5, est. 60.
— «Se tiuera em minha maõ, todo o
poder, e gloria, o Senhorio dos Ceos, e
terra, o rendera ao pé de vosso real tro-
no : porque só vós sois Senhor, só vós
sois digno, só vós sois o Altíssimo, que
vive, e reyna som principio, sem fim, e
sem mudança.» Padre Manoel Bernardes,
Exercicios espirituaes, pag. 51.
f TIVE SÃO. Forma variável do verbo
tej- na terceira pessoa do plural do pre-
tei-ito perfeito do modo indicativo. Vid.
Ter. — «O Príncipe o e.^timou muito, e
assim elle, e Manoel Pereira fizeraõ em
quanto durou o cerco cousas muito notá-
veis, e dignas de mayor galardão, do
que ambos tiveraõ.» Diogo de Couto,
Década 6, liv. 6, cap. 5. — «Assim que
estas vontades conformes praticadas mui-
tas vezes, tiveram tanto poder que vie-
ram ao effeito delias, onde Floriano che-
gou ao fim do que esperava e entrou no
começo do aborrecer ou enfastiar, cousa
que alguns homens tem por natural, e
Targiana perdeu o que se deve muito
estimar e se depois não cobra.» Francis-
co de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 86. — «El Rei dom Fernando, e
ha Rainha dona Isabel, quomo tiverão
certeza do tempo em que el Rei dom
Emanuel, e ha Rainha dona Isabel ha-
uiào de partir de Portugal, ordenarão
cortes cm Toledo, pêra ho tempo em que
lhes pareceo que poderiaõ ahi ser, pêra
. voL. V.— 93.
03 logo fazerem jurar por príncipes her-
deiros, e se irem ha Aragão fazer ho mes-
mo.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 1, cap. 29. — ■ «Mas estes
Etiiiopes a meu Juizo deuem de ser os
da terra do Abexi, por ser gente, que a
nniito tempo que tem lei, e delia era a
Rainha Sabà, que veo visitar a Salamaij,
e daquelle tempo pêra ca tiueram conhe-
cimento da lei que Deus deu aos ludeus
per mão de Moysem, e não os que jazem
do mar Darabia, ate o cabo de boa Spe-
rança, o o sinal disso, he serem taõ in-
cultos e bárbaros como sam.» Ibidem,
part. 2, cap. 10. — «Tendo os mouros
por noua que el Rei dom Emanuel que-
ria passar em Africa, tiueram inteligên-
cias per hum Pêro arraez Português que
estaua captiuo na mesma villa.> Ibidem,
part. 3, cap. 52. — «O Reyno dos Per-
sas tiveraõ successivamente depois de
Sapor, Varanaues, Cermasat, e Isdiger-
des, a quem sucedeo Isdigertes tutor do
minino Theodosio, filho de Archadio; de
quem ja falamos acima: e porque as guer-
ras, e pazes, que tinh.ào com os Empera-
dores, vão brevemente tocadas em seu
lugar, as nào torno a repitir neste.» Mo-
narchia Lusitana, liv. .5, cap. 30. — «E
assi desviando da communicação da gen-
te, se foy desenfadando em muyta caça
daltenaria, a que se dezia que fora sem-
pre muyto affeiçoado, e nestes passatem-
pos, e em outros de mõtarias e de outras
caças que os povos lhe tinhão apparelha-
do,3, passou a mayor parte deste cami-
nho, dormindo as mais das noites, por
fragueyrice, no mais espesso dos matos
em tendas que para isso levava.» Fernão
Mondes Pinto, Peregrinações, cap. 131.
— «Os quais todos pelas vestiduras de
que hião ornados, e pelas divisas e insí-
gnias que levavão nas maõs, se conheciaõ
quais erão huns e quais erão outros, e
conforme á dignidade que tinhão assi
eraò reverenciados do povo, porem estes
naõ hiaõ a pé, como os outros sacerdotes
communs.» Ibidem, cap. 161. — «Fun-
dou-lhe as primeiras casas, que tiveraõ
no Reino, e favoreceo tanto seu instituto
(vendo quaõ proveitosa era para as al-
mas) que em seu tempo, e dei Rei D.
Sebastião seu neto, chegarão á grandeza
de muitas casas, e Collcgios que vemos
no Reino, e nas conquistas delle fizei'aõ
sempre, e fazem hoje grande fruto na
conver.-iaõ dos infiéis.» Frei Bernardo de
Brito, Elogios dos reis de Portugal, con-
tinuados por D. José Barbosa. — «E as-
sim até os Gentios tiveraõ o morrer pela
pátria, e defensão delia pela mais glo-
riosa acçaõ da vida, donde pelas leys de
Licurgo se mandava, que em nenhum
sepulchro se posesse epitaphio.» Severira
de Faria, Noticias de Portugal, Disc. 2,
cap. 1. — «Tinhaõ os Reys hum Arma-
dor Mòr, cujo ]jriiicipal cargo era guar-
dar as armas da Pessoa Real : também
alguns Moços Fidalgos serviaõ de Pa-
gens da lança.» Ibidem, cap. 2. — «Os
que atégora tiveraõ esta dignidade, fo-
raõ Gonçalo Vasques do Azevedo, seu
genro Gonçalo Vaz Coutinho Senhor de'
Leomil, Vasco Fernandes Coutinho pri-
meiro Conde de Marialva, D. Fernando
Coutinho seu segundo filho, D. Álvaro
Coutinho, D. Fernando Coutinho o que
morreu em Calecut, D, Aluaro Coutinho,
D. Fernando Coutinho, D. Fernando
Mascarenhas filho de D. Jorge Mascare-
nhas Marquez de Montalvão.» Ibidem,
cap. 3. — «Pelo que naõ perderão o Rey-
no pela força dos Castelhanos, senão pe-
la divisão, que entre si tiveraõ, levan-
tamlo três Reys juntos dous irmãos ; o
mais velho dos quaes era pay do Rey
Chico.» Ibidem, cap. 9. — «E assim naõ
merece nome de batalha a pequena bri-
ga, que tiveraõ em Alcântara, como diz
Justo Lypsio na sua Politica cap. 3. Si
prcelium dixerim veterani Exercitus cum
seminermi, et urbana turba congressio-
jiem.» Ibidem. — «O mesmo estilo tive-
raõ os Godos, e as outras Naçoens do
Norte, que senhorearão Espanha.» Ibi-
dem, cap. 12. — ■ «E além destes direi-
tos, em muitas partes tinhaõ grossas ren-
das de herdades, e próprios applicados
às Alcaidarias.» Ibidem. — «Pelo que
para evitar confusão, acrescentarão os
sobrenomes, ajuntando o nome dos pais
aos seus, e por isso se chamarão patroní-
micos; destes usaraõ mais os Gregos,
que os Romanos ; mas nem por isso ti-
veraõ os Latinos menor numero de no-
mes ; porque muitas vezes tinha hum ho-
mem quatro nomes, que eraõ pronome,
nome, cognome, e agnome.» Ibidem,
Disc. 3, cap. 2. — «As Barras, Faxas,
Bandas, e Escaques, tiveraõ origem dos
Alemaens, que como aflBrmaõ alguns Au-
thores, costumavaõ trazer listrados os
Escudos de cores, c se prezavão mui dis-
to. E senhoreando-se estes das Provin-
das do Império, introduzirão seus costu-
mes nos povos, que sojeitaraõ.» Ibidem,
cap. õ.
Em ti fireriío berço Lockc, e Torapson,
Boile, Dorhan, que a Natureza indaga,
E lhe arranca do seio altos mysterios !
J. A. DE MACKDO, VIAGEM KITATICA, Caut. 2.
f TIVEREM. F''>rma variável do verbo
ter na terceira pessoa do futuro do modo
conjunctivo. Vid. Ter. — «Porque se man-
da; que 03 que tiverem 2ÕO.-5000. reis
de fazenda, tenhaõ cavallos, e os de
100f>000 reis, arcabuz, e os moradores
dos lugares chãos, meias lanças.» Seve-
rim de Faria, Noticias de Portugal, Disc.
2, cap. 11.
-j- TIVESSE. F.írma variável do verbo
ter na primeira ou terceira pessoa do sin-
gular do pretérito mais que perfeito do
modo indicativo. Vid. Ter. — «Porque o
738
TIVE
TOAL
TOAR
verdadeiro desencantar nHo pertencia se-
não a quem ambas qualidades tivesse :
e inda que outro algum, Boudo especial
cavalleiro, a tivesse na niilo nilo sendo
namorado, a copa nào faria nHulan(;a.i)
Francisco de Moraes, Palmeirim dlugla-
terra, cap. 00. — «E porque Já lhe de-
ram novas da prisilo d'elrci Tolendos,
Belcar e os outros seus conipanhoiros,
niandou-lhe que em quanto o turco os ti-
vesse presos se fosse á corte de Recin-
dos rei do Ilespanba, e nella estivesse
sob sua obediência e mandado todo o
tempo, que os cavalleiros do niiperador
estivessem cm prisão.» Ibidem, cap. 108.
— «O do Tigre poz os olhos nelle o viu
que todo envolto em ira bradava com os
dez, que matassem aos outros, e tives-
sem pejo do ter necessidade de aventu-
rar sua pessoa em tão pequena ompreza.
Mas 03 três esforçados cavalleiros, que
lhes lembrava que vencidos aqucUes, que
tinham diante, lhe ficava maior trago
por passar, faziam maravilhas.» Ibidem,
cap. 117. — «Sem a nenhum que tivesse
nome de Christaõ se dar a vida, e come-
teo ;l molher que se fizesse íjeutia, e ado-
rasse hum Ídolo que o seu Tucào mestre
do junco levava numa arca, c que assi
desatada da ley Christam a aisaria com
elle. » Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 46. — «Muyto tempo estive
sem me detarminar so iria a lapam, pos-
to que de lá ja tivesse todas as boas in-
formações. Mas depois que Deos nosso
Senhor me deu a sentir dentro de miniia
alma que fosse, que se queria lá seruir
de mim, parcceome, que se o deixara do
fazer, fora peyor que os próprios iulieis
do lapain.» Lucena, Vida de S. Francis-
co Xavier, liv. 6, cap. 12.
Os doua bons Capitães antes que desaom
O assalto, aos Lusitanos Jofeusores,
Maudiíião ((lie as bombardas dispcndcssem
HÁ nas partes os seus bravos furores
Por onde bào de assaltar, porque tivesxcm
Entradas mais capazes, o maiores.
Nào ha nisto doton(;a, mas ja sòa
O grosso estrondo, e o ferro mortal vòa.
PRAMCISCO d'aNDRADE, miJIEIBO CKRCO I>E DIC,
cant. 19, est. 28.
— «O se tivéssemos os olhos da alma
abertos, o alumiados pêra enxergar os
dannos e desbarato que hum peccado
mortal faz em huma alma quo cst<iua cm
graça com Dcos.» Frei Dartholomcu ilos
Martyres, Catecismo da doutrina christã.
f TIVESTE. Forma variável do verbo
ter na segunda pessoa do singular do
pretérito perfeito do modo indicativo.
Vid. Ter.
Essa de ti tão amada
molhcr rica, antes que fosse
autos comtigo casada,
quo mào tiveste dada
do tomares d"ella posse,
tinha um certo servidor
amante, que se queriam
corno 0.4 ollios com i(UO viam.
ASTONIO I-IIH8TKS, AUTOS, pBg. 321.
TIVOLI, s. m. Cidade dos estados ro-
manos, de um aspecto mui pittoresco e
agradável.
— Jardim publico, onde ha muitas es-
pécies de divertimento», jogos, ctc.
TIZOURA, «. /. \i.i. tesoura.
TMESE, ou TME3IS, k. f. (Do grego
tmesiu). Termo de gi-anunatica. Figura
quo consiste em dividir uma palavra com-
posta, mettendo outra, ou (jutras em meio;
como far-te-kei, por te farei.
TO. D caso pronominal te elidido com
o artigo o, por te o, oa t'o. — Por isso
t'o (ligo.
TÓ. Jlonosyllabo de que nos servimos
para chamar os cães.
TOA, s. f. Termo de marinha. A sir-
ga, cabo, ou corda, que a' embarcação
maior dá á menor para a levar a rebo-
que; cabo, corda atada da proa ou popa
do navio a um ponto tixo, ou a outra em-
barcação, para se alarem por ella os de
dentro, do navio.
— A toa ; a esmo, sem leme, nem go-
verno. — o Que 30 não fezesse á vela por
o el Rei de Calecut assi mandar, do que
não fazendo caso, mandou aos mestres
da frota, que cada hum em seu batel ar-
mados lhe fossem meter aquella nao ha
toa dentro no porto, o que fezerão sem
contradição.» Damião de Ooes, Cbronica
de D. Manoel, part. 1, cap. 5'j.
— Figuradamente : Andar á toa ; an-
dar sem conselho, sem governo.
— Passar os cavallus á toa; tirados
por uma corda para atravessar o rio.
— Andar d toa de alguém, ou ser le-
vado á toa d' elle, ou de alguma cousa;
seguir as suas direcções, o andar como
preso a ellas, e aos seus conselhos, pro-
ceder por arbítrio alheio.
TOADA, s. /. Tom.
— Fallar pela mesma toada; fallar na
mesma substancia, o confoi'midado.
— A musica com que a letra se acom-
panha. Vid. Soada.
— Tomar as palavras pela toada ; no
sentido do som.
TOADO, part. j^css. de Toar. Que
toou.
— Harmonioso.
TOALHA, s. /. Peça de panno de li-
nho ou de algodão, que serve de enxu-
gar as mãos, etc. — «Aciíbado o jura-
mento traz o Copeiro Mor huma copa
dourada sem cobertura com agoa, e o
Veador a toalha ; c ElRey na forma jà
dita lança a agoa pela cabeça ao Arauto,
o lhe põem o nome da princij^al Cidade,
que ha por bem, c tomando ElRey a toa-
lha na fiunia já dita, o Rey do Armas
vira a cota ao novo Ai-auto, o l.io põem
o Bra/aõ à maõ direita.» Sevcrim de Fa-
ria, Noticias de Portugal, Disc. 3, cap.
19. — t Feito o juramento, o Copeiro
M<jr traz outra copa dourada com eua
cobertura, e o Veailor huma toalha, e
tomando EiUoy a copa, lança ao novo
Rey de Armas a a^joa pela cabeça, e lhe
põem o nomu da Província, que ha por
bem.» Ibidem.
Irem alli erpier toalha
e Bcliar taboa, haver nisso
muitos Zeuiis, qac dêem falhs.
AHTOXIO rSESTEa, ACTOS, psg. 43.
Tcna grande, vé» ;
uma toalha atoalhada
lii jaz lavada,
dagna A* mãos; traz<fi-m'a chia.
De que, velho?
iBiDEH, pag. 279.
Mestre, qnc toalha» trazeis?
Todo venho cn.saboado ;
singulares, milagrosjis,
I'oiide-lh'a8 limpas, mimosas,
que as sinta eu em mim macias.
iBtDEii, pag. 341.
— Peça de panno de linho ou de algo-
dão do tiajo antigo, que as mulheres cos-
tumavam trazer na cabeça.
— Toalha de mesa ; toalha de cobrir a
mesa.
TOALHETE, s. m. Termo antiquado.
Guardanapo.
TOALHINHA, s. f. Diminutivo de Toa-
lha. Toalha jicquena.
TOANTE, part. act. de Toar. Vid.
Toar.
Eia, entorna esta luz, que eleva, acccnde.
Os íilmoâ sons da Cithara toante.
Que aó de Gregos, e Komanos Vates
Tógora ousou seguir caui^õcs humildes.
J. A. DK 1Í.VCED0, UEDITAÇÃO, CAnt. 1.
Quazi das negras ondas engolido
Com lastimos;^ voz seu Fado accusa,
Aos sons magoados da toante Lira
Do mais fundo do mar súbito ao^ide,
E sobre a espadoa lhe prepara hum throno.
IDEU, A NATCBEZA, COnt. 3.
— Termo de poesia. Palavras toan-
tes ; palavras que terminam em duas
syllabas similhantes pelas vogacs.
— »S. ífí. Nome dado a Júpiter, por
fazer trovões.
TOAR, V. a. (Do latim tonart). Produ-
zir, dar som forte, soar.
Da narração do Eud.^ro «'.cançou pouco
Dcmiidoco, que .> ouvio de Encantos nua,
De Naufrágios, de Circcs, Poliphemos.
Só cie n'un3 sons, que toTio vir de lloméro.
F. M. VO NASCIITEXTO, 03 HASTVBKS, iív. 5.
— Figuradamente : Trovoj;ir.
— Toar alguma cousa bem. ou mal;
agradar, parecer bem ou mal, verdadei-
TOCA
ra, ou falsa, como o tom, ou tom musico
bem sonante.
Muito tarda este Toar ;
o diabo quào mal toa.
quão mal tiue no chegar :
é um moiulio esperar,
não ha cousa que mais moa.
Axroxio PBEsrts, ACros, pag. 117.
TOARDAS. Vid. Atoardas.
j TOBAJÁRAS, s. m. plur. Nome (i'uma
tribu in .igena do Brazil. — «O mesmo
entenderam a respeito dos indios tobajà-
ras da sen-a de Ibiapaba, todos os capi-
tjies mais antigos e experimentados d"e3ta
conquista, os quaes o anno passado sendo
chamados a conselho peio governa lor so-
bre as prevenções que se deviam fazer
para a guerra que se temia dos hollande-
zes, responderam todos uniformemente,
que nào havia outra prevenção mais que
procurar por amigos os indios tobajáras
da sen-a; porque quem os tivesse da sua
parte seria senhor do Maranhão.» Padj-e
António Vieira, Cartas, n," 17.
TOCA, s. f. Buraco no tronco da ar-
vore, rocha ou terra onde o coelho, e al-
guns animaes se recolhem.
— Termo figuratio e popular : Casebre.
TOCADILHO, s. w. Um dos jogos de ta-
belas.
TOCADO, part. pass. de Tocar.
— Tocado de vinho; meio embriagado.
— Tocado da mão, da ira do Senh/r ;
aquelle a quem elle enviou doenças, tra-
balhos.
— Chegado, attingido.
Se cruzaras a foz, viras a immensa
Perdida u"horizonte azul nlanicie ;
E na vasta exteusào, perdida, absorta
Julgaras ter tocado o termo ao Mundo.
J. A. DE XACEDO, A XATUBEZA, CaUt. 1.
— Figuradamente : Tocado o animo de
algum vicio, de vaidade, de compaixão;
encetado, eivado.
— Fruta tocada ; fruta que começa a
apodrecer.
— Encetado, principiado, começado.
— Tocado o cor pi) de mal contagioso ;
eivado, encetado, infeccionado, ferido.
TOCADOR, A, s. Pessoa que toca ins-
trumentos músicos.
TOCADURA, s. /. Vid. Toque, Conta-
cto, e Encontro.
TOCAMENTO, í. m. Acção de tocar.
— Tocamentos torpes; na mulher, entre
08 deus sexos.
— Toque, contacto.
TOCANO, *. m. Vid. Tucano.
TOCANTE, part. act. de Tocar. Que é
relativo, concernente.
— Affectuoso, pathetico, impressivo,
mavioso, piedoso, lastimoso.
— Commovente. — Sermão tocante.
TOCAR, 1-. a. e n. Chegar algum corpo
a outro, applical-o junto, e talvez dar-
TOCA
lhe um impulso, fazer abalo, impressão.
— «E não lhe respondendo ninguém a to-
das as cinco vezes os dous moços que re-
preseatavão a justiça, e a misericoi'dia se
tocarão ambos com as insígnias que ti-
nhào nas maõs, e disseraõ com huma voz
entoada, sejão li-\Tes e soltos, conforme á
sentença que justamente se deu.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 103.
— Chegar mui perto.
Dalhe hum pesado golpe, e nas enxárcias
Hum zunido espantoso se leuanta.
A seca arvore brada, e ja rendida
Deixase vir abaixo feita em rachas.
A gauca e mastareo que toca as nuues
Olhando com desprezo os de ca baixo :
A siia presunção, antes altiva
Humilda está debaixo ja das ondas.
COBTE BEAI,, HAUF&AGIO DE SEPULTEDA, Cant. 7.
Com a água que lhe toca brandamente ;
Abranda o ferro forte a fortaleza.
Se lhe toca também o fogo ardente :
Em ti só desconheço a nativreza ;
Que, a ser de pedra ou ferro totalmente,
Ja teu peito cruel fôra-desfeito
Das águas e das chammas do meu peito.
CAII., ÉCLOGA õ.
— «Bastou isto pêra entrai-mos no pa-
teo, onde el Rey nos recebeo aeompa-
nhandoo alguns Arábios velhos, os quaes
nos auiíarào, que não chegássemos a elle,
nem lhe tocássemos com as mãos, iuda
que fosse cõ tenção de lhe querermos bey-
jar as suas.» Fr. Gaspar de S. Bernar-
dino, Itinerário da índia, cap. 17.
Do So! o império deixo, e toco ousado
Alem d"Urano os términos da Esfera.
J. A. DE HACEDO, A SATUBEZA, Cant. 1.
Inda assim mesmo o termino nào toca
Do Palácio, que hum Deos fundara ao homem !
IDEM, MEDITAÇÃO, Cant. 1.
— aA tão honrados Turcos, e valentes
Janizaros, como estais presentes, toca acu-
dir pela honra de vossa gente, e de vosso
Império, como causa mais justa da guer-
ra, que fazemos; que ainda que Cambava
tem exércitos, e soldados, não conuem á
reputação do Grão-Senhor vingar suas in-
júrias com as armas alheias.» Jacintho
Freire d'Audrade, Vida de D. João de
Castro, liv. 2.
— Tirar sons de instrumentos músi-
cos, para fazer signaes.
Leuantàose no mar por todas partes
Os estranhos sequases de Xeptuno,
Huns foc'o conchas vãs, outios mil saltos
Com alesrria dào nas claras ondas.
Com cardumes espessos de olebea
Fraca gente fervendo o mar se mostra.
COBTE BEAL, SACFBAGIO DE SEPÚLVEDA, Cant. 6.
- — «As molheres então tocarão de novo
seus inátrumentos como antes faziào, e
TOCA
739
seis delias dançarão com seys mininos
pequenos por espaço de três ou quatro
credos, e após estes, dançarão sejs mini-
nas muyto pequenas com sevs homens
dos mais velhos que estavão na casa, que
a todos nos pareceo muyto bem.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 163.
— «Elle depois de todos serem em terra
mandando tocar as trombetas com gran-
des gritas começou de subir a ladeira que
vai ter aquella porta dos Bacharéis, e
com elle Francisco pereira coutinho, Pêro
dafonseca de castro António de sa Bal-
thesar da silua. Pêro coresma, George
nunez de Leam, George da sylua, Hiero-
nymo Cerniche, Rui Galuam, George Bo-
telho, António de Matos, Sabastiam de
miranda. Simão martins, e outros homens
nobres.» Damião de Góes, Chronica de
D. Manoel, part. 3, cap. 11.
E que entenda este Lucano.
E que nào toco de puas,
que piquem pedir-lhe á face,
maa vindo-me mercês suas
com uma mào, ir-lhe-hei com duas.
ASTOsio PBESTEs, ACTOS, pag. 129.
Até agora
não deitou palavra fura
que nào falasse o devido ;
o que cUe desconfiou
desconfiara eu também,
e andou bem
em tocar o que tocou.
IBIDEM, pag. 417.
— «E como se os males por aqui se
acabassem, nos abraçamos todos dizendo
com voz alta: boa viagem. Tocarãose as
charamelas, e assi contentes, e prazen-
teyros, entramos na Baya Chique Chaque,
onde em bom fundo, lançado ancora des-
cansamos;» Fr. Gaspar de S. Bernardi-
no, Itinerário da índia, cap. 3.
— Estar contíguo, estar mui perto. —
«Ainda estas palavras não eram acaba-
das quando elle, e Libusante da Grécia
se encontraram com tanta força, que Li-
busante veio a terra polas ancas do eaval-
lo, ficando Palmeirim tão inteiro na sella
como se o não tocara, de que o impera-
dor foi tào contente como espantado : por-
que este Libusante era então o melhor
cavalleiro de toda a Grécia: de casta de
gigantes, posto que elle o não fosse. E
assim passou por elle com sua espada na
mão fazendo maravilhas em armas. O
príncipe Florendos se encontrou com Tro-
folante o medroso : e ambos passaram um
polo outro.» Francisco de Moraes, Pal-
meirim dlnglaterra, cap. 12. — «Toman-
do outra lança, que lhe deu um escudei-
ro d'algumas que el-rei sempre mandava
ter pêra taes tempos, derribou da mesma
maneira Arpiâo, que foi o segundo que
saiu ; ficando tão inteiro na selía como se
o não tocaram, de que os três compa-
nheiros ficaram bem descontentes, que
740
TOCA
TOCA
TODA
nilo erain costumados a aer dorribados tilo
Icvoíuonto.u Ibidem, oii[>. 12'J.
(.'o'a dcflmodida iiltisaimii Coliimnii,
iln'ií oxtroiiia pai-to dAtinoífoi^a Inca,
Quer opprimir-tH oiii vão, ([ua fori;a ojiposta
Lho tolho o pcBO, Ofl impetcs doaanua.
J. X. DB MAOEDO, A NATOUBZA, Oaut. 2.
Dizor rospóito, ser couccrnonto, ser
relativo. — « E quanto ao quo tocaua a
cllíj Almirantu, pudião ser curtos quo dcs-
pois quo Dco.s o loua^sc a Portu^^al : clli!
runrosciitaria auas cousas a ulUuy sou so-
nlior, do uianuira que ua priuioira armada
prouosso como elles fossem consulados.»
Jkrros, Década 1, liv. 6, cap. 6. — «O
quo vos poço é que mo dois licença, quo
mo armo o determine de todos o quo tòr
minha vontade ; e no que toca a vós, con-
tiai, (jue em quanto m'a vida durar, serei
em coulioeimento do que vos dovo, porá
vol-o pagar o servir no quo mais a vossa
honra o f^osto tocar.» Francisco de i\Io-
raes, Palmeirim d'Iiiglaterra, cap. 11;').
pois, HÓ pelo que mo toca,
do teus gnicioáOd risos
por osses olhos uarcizoa
perderei sizo de roca,
quanto mais desfoutros sizos.
ANTÓNIO PRBSTKS, ADTOa, pag. 445.
— «No que tocava às velas, e causas
judiciaes, que uas mais preminencias do
cargo corriaõ com o Uuque de Guima-
raens seu Irmaõ.» Severim de Faria,
Noticias de Portugal, Disc. 2, cap. 2.
— Mencionar, fallar. — uFezlhe a pra-
tica D. Rodrigo Frojaz, lilho do Conde
Dom Frojaz Vcrmuiz, o que cegou sobre
Oviedo, como jâ tocamos acima, que por
senhor do muitas terras em Tortugal, e
Galliza, e valeroso Cavaileyro por sua
pessoa, crèraõ todos fosse melhor ouvido
delRev, o suas razoeus melhor adnútti-
das, que de nenhum outro.» Mouarchia
Lusitana, liv. 7, cap. 2í).
— Tocar niuna matéria ; íaWnT n'ella.
— <íE Onuphi-lo Pauuino, sem nomear
nem excluir a Espanha, diz que andou
S. Pedro pregando por todas as Froviu-
cias do Occidente : toca nesta matéria
Morales e Pineda, e eu com referir o
que achei, a deixo com sua duvida, pos-
to quô nào vejo impossível.» Monarchia
Lusitana, liv. 5, cap. 7.
— Pertencer, competir om ofiBcio, ou
por direito.
Toca-vo3 escolher. Voto quo a César
So iuvio legação, paz se proponha :
Vejamos se um tractado pôde ainda
As relíquias salvar da liberdade •,
Ou antes — iiubotar ;V tyraunia,
Pouco que seja, o guino assacalado.
OASBNTT, CATÃO, act. 2, 30. 1.
Ia (|uo no mcyo viu) do caudaloso :
l'rofuiido, largo Rio, o» quo gouemào
O iiauio sotil em r|uc váo juntos
O Sou^a eoiii lyiaiior, e os seus meninos
l'or nao tonar hum bai.xo o batei torcem,
Daquella via o rasto que atras deixào,
Os i|UO nos outros trcs bateis us ondas,
Rompendo vão com fori;a na dianteira.
coaTK BKAL,NAUPKAuio DK gRFui.vaDÁ, cant. 15.
— Inspirar, mover.
— Tocar de passarjam uma matéria;
fallar levemente nella, por «e dirigir a
fallar em outra, cm quo havenl demo-
tel.
Não tocar um baixo ; torcer o ba-
— Tocar onde ahjixeia lhe doe ; fallar-
llie em cousa do que elle se sente, c que
lhe despraz.
— Caber em sorte, ou porção.
— Tocar os bois ; taiigel-os com o açou-
te, vara, aguilhào.
— Cau.-sar impressão sensivel, mavio-
sa, de compaixão.
— Tocar na honra, reputação ; dizer-
Ihe respeito.
— Produzir vicio.
— Tocar de alijama cousa; ter perto
a mistura delia; approximar-se na na-
tureza, Índole.
— Tocar a nau no fundo; dar n'elle.
— Censurar, notar, picar.
— Instigar, estimular. Vid. Eivar, o
Encetar.
— Figuradamente : Tocar o ceu com o
dedo; fazer impossíveis.
— Graças que toquem; graças que fi-
ram, offeniiam, mordam.
— Tocar os jiyos ; pôr na figueira uns
taes insectos, de cuja entrada em certos
figos se causa um grande crescimento
dcUes.
— Tocar o jiainel; dar-lhe os toques,
com que tique bem acabado.
— Tocar o navio algum porto; ir a
elle de passagem. Vid. Arribar.
— Tocar o ouro, ou a prata; passal-o
pela pedra, para ahi avaliar os seus qui-
lates, comparando o toque ou côr que
deixa com o das pontas já quilataU:is
do ensaiador. D'aqui se origina a pedra
de tocar.
— Tocar á bomba; extrahir por meio
d'ella a agua depositada no fundo inte-
rior do navio.
— Tocar o apparelho, ou talha; alli-
viar-lhe as voltas.
— Tocar em vento; o acto de paneja-
rem as testas das velas, a barlavento.
— Tocar-se, v. rejl. EsUir chegada
uma pessoa ou cousa á outra, em parte
ou no todo do corpo, o mais possível e
sem intervallo algum de permeio.
— Tocar-se a besta ; tocar com o cas-
co nas pernas, e ferir-se.
— Figuradamente : Vossa mercê não
se toca de jíar ; ntio faz mal á sua fa-
zentla fiando-a de quem talvez lhe não
pague.
— Figuradamente: Pedra de tocar;
a(|UÍllo de que usamos para averiguar a
bondade da^í cousas.
— Tocar arma falsa; termo u^ado na
milícia para significar dar rebate falso, to-
car a n:bate sem «e realizar perigo.
TOCATA, s. f. Termo popular. Peça
do musica instrumental.
TOCE, s. f. Vid. Tosse.
TOCHA, «. /. Vela grande do cera,
branilAo. — «Ao qual leixou esta.i duas
j)e(;as de que elle vsaua : hum candeeiro
que serue ao presente diante da» pessoas
notaiiois, como cà entre nus a tocha, c
por isso (IS nosBOK lhe deraS esto nome :
per a qual peça que dà luz, CHte.s jirin-
eipes antiguaniente cntendiaij a luz e
claridade do intendimento que tinhaS so-
bre os outros hoinems, e a outra peça foi
huma espada per que siguiticaua o poder
real.» Barros, Década 1. liv. 9, cap. 3.
— « E toda a gente da Cidade foy posta
com muyta breuidadc em danças, e fo-
lias, com infindas tochas na praça, o no
terreiro dos paço-, e por todas as ruaa
principacs, e tanta gente honrada, e no-
bre, e assi a do pouo, que n3o cabia,
nem so vio nunca tanto aluoroço, e ale-
gria, c muytos velhos, e velhas honra-
das com o .sobejo prazer foram juntos
cantar, o bailar diante dei Rey, o a liay-
nha, cousa de <]ue suas idades os bem
escusauam.» tiarcia de Rezende, Chro-
nica de D. João II, cap. 115.
— Velador, douzelia sobre a qual so
põe o candieiro.
— Figui-adamente: A negra tocha de
execráveis crimes.
No refalsado coração lhe ardia
A uegi-a tocha de execráveis crimes.
GARBKTI, CATÃO, aCt. 3, SC. 3.
e Facho.
/. Castiçal grande de
— Vid. Tea,
TOCHEIRA, í
tocha.-*.
TOCHEIRO, s. 111. Vid. Tocheira.
TOCHO, s. 7íi. Termo antiquado. Pau,
cacete.
TOGO, í. "1. Tronco de arvore, cepo
que ficou na terra, cortada a arvore ou
arbusto.
TODA, s. f. Termo de historia natu-
ral. Ave conhecida por este nome.
TODALAS, por Todas as. — Todalas
naçZes do mundo. — «item. Que todalas
teri-as, casaaes, herdades, viuluis, oli-
vaaes, pumares, e quaeesquer outras her-
dades, que logo no começo noa temj>03
passados forom dadas a certas medi-
çoões, a saber a mèo, ou a terço, ou
a quarto, ou a quinto, ou alugadas, e
depois fezerom aveenças, e contraatos,
ou artbrameiítos de novo.» Ord. Affons.,
liv. 4, tit. 1, § 34. — « Barj-ocante,
que nos taes tempos costumava ter ac-
eordo sobejo e o temor penlido, vendo
Albarroco tào desacordado, com a espa-
da na mào se chegou a elle com ten-
TODA
TODA
TODA
741
çâo de o deíFender, e começou sua bata-
lha com Dramusiando tauto pêra ver
que com ella parecia escurecer todalas
outras, que naquella corte se viram. >
Francisco de Moraes, Palmeirim dlngla-
terra, cap. 94. — «Nesta própria ora
aconteceo outro caso de mais lastima ;
que alguns, que por fraca disposição ain-
da ficaram na cidade assolada, antes de
se partirem, segundo Primalião ordenara,
vendo o campo coalhado de mortos e os
vivos tão aborrecidos da vida, que tam-
bém queriam acabar, por que, se alguns
imigos ficassem, nào achassem com que
satisfazer sua perda, metteram a roubo
todalas cousas da cidade, e trazidas á,
praça principal delia, as consumiram com
fogo.» Ibidem, cap. 169. — «Traz Poli-
fema todalas outras afirmaram por bom
o que a primeira dissera; que o natural
de cada uma era vèr discórdia e perigo
em todo género de pessoa.» Ibidem, cap.
127. — ■ «Esse possiuil, e dereytamente
conuem todalas cousas a despoer. » Regra
de S. Beuto, cap, 2, em Inéditos d'Al-
cobaça, tom. 1. — «E dito por el Rey
naquella hora emprenhou do Príncipe
dum loam seu fillio, que sobre todalas
cousas muyto estimarão, o qual pario na
muyto nobre e sempre leal cidade de
Lisboa, nos paços Dalcaceua.» Garcia
de Rezende, Chronica de D. João II, cap.
1. — «E elle lhe respondeo : Senhora,
tomayo em mu>'to boa estrea, que pra-
zerá a nosso Senhor que agora concebe-
reis hum filho, que estimareis mais que
todalas esmeraldas do nuindo.» Ibidem.
— «O qual baptismo, se elle Caramança
aceptasse, e recebesse, elle Diogo d'Azã-
buja em nome delRey seu senhor lhe
pi'omettia dali em diante de o auer por
amigo e irmão nesta fé de Christo que
professaua, e de o ajudar em todalas
cousas que delle teuesse necessidade.»
Barros, Década 1, liv. 3, cap. 1. — «Ai-
res Corrêa como todalas palauras del-
Rey eraõ desculpas, e a somma e con-
clusão delias acabaua dizendo que se
naõ podia mães fazer : desta, e d'outras
vezes que lá foi sobre o mesmo caso naõ
vinha contente delle.» Ibidem, liv. õ,
cap. 5. — íE que quanto a commetter
as náos, nisso se aventurava morrer al-
guma gente, e hum homem que fosse,
importava mais que todalas náos, a qual
contradição nào aprouve muito a Affonso
d'Alboquerque.» Idem, Década 2, liv. 8,
cap. 4. — ^ «Nesta peleja perdeo el Rei
muita mais gente, que em todalas ou-
tras, sem dos nossos morrer nenhum,
cousas que euidentemente se pode crer
ser milagrosa.» Damião de Góes, Chro-
nica de D. Manoel, part. 1, cap. 89. —
« Os quaes pareceres fezerão tamanha mu-
dança em el Rei, que nam tam somente
lhe quis conceder o que pedia mas antes
assentou de o fazer vir pêra o regno, e
mandar por gouernador Lopo soarez dal-
uarenga, parecendolhe que na execuçam
de fazer embarcar Afonso dalbuquerque
faria todalas diligencias necessárias, por
saber que nam era muito seu amigo, as-
sentado isso se deu pressa a armada que
aquelle anno auia de ir perà Lídia, que
era de treze nãos, na qual alem dos ma-
reantes foram mil, e quinhentos soldados,
em que entraua muita gente nobre.» Ibi-
dem, part. 3, cap. 17. — «O que tudo
posto em ordem correndo todalas azes,
animaua cada hum com sua acostumada
prudência, e grande esforço, dizendolhes
o que auiào de fazer mandando logo abal-
lar o exercito.» Ibidem, cap. 50. — • «Que
descobrindo mais de seis ilhas, que el
Rei escolheria para sim as seis, e elles
duas das quaes lhe fazia mercê da quin-
zena parte de todalas rendas, e direitos
Reaes que coubessem a Coroa de Castel-
la, e isto rebatidos os custos.» Ibidem,
part. 4, cap. 37. — aQuanto mais nos
que esperamos c roa eterna, nos auemos
de refrear de todalas carnalidades e vay-
dades que impedem nosso curso"? e de mi
podes tomar exemplo : porque eu nam
prego as verdades do Éuàgelho e vida
Christaã, como quem açouta o ar, mas
castigo meu corpo e o faço andar sojeyto
ao spirito, porque nam aconteça, que pre-
gando aos outros me condemne a mim.»
Fr. Bartliolomeu dos Martyres, Catecis-
mo da doutrina christã.
TODAVIA, adv. Ainda assim, comtudo,
não obstante, apesar de.
Prcgoae quem tem demanda,
Que venha aqui a terreiro
E diga em que termos anda.
E venha o bauco todavia
Muito bom, muito direito.
Quem quizer hoje esto dia
Ver mao pezar de seu feito,
Não tardo huma ave-maria.
GIL VICENTK, FABÇAS.
— lO das Donzellas os satisfez com
palavras muito de agradecer, pedindo-lhe
todavia que polo que cumpria a elles
mesmos, deixassem aquella demanda, e
não houvessem por injuria o que suas da-
mas fizeram com elles, que n'ellas nun-
ca o anmr é tão firme, que com qualquer
cousa não se desbarate.» Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 129.
— «Não sei como isso será, disso elle,
mas sei que todavia o hei de matar, se
se não desdisser do que disse, ou vós me
prometterdes um dom qual eu vos pe-
dir.» Ibidem, cap. 130. — «O qual se-
não morreo cego, acabou todavia preso,
mantendose desmolas, que algumas pes-
soas nobres lhe mandavão, deixando aos
Portugueses exemplo de virtude invencí-
vel, aos Estrangeiros de invejoso espan-
to, aos Reys de satisfação injusta, e ao
Mundo todo, das inconstancias da refor-
ma.» Monarchia Lusitana, liv. 6, cap.
11. — «Todavia, isto he para praguon-
tos : aos quaes diz que responde com hum
dito de hum Philosopho, que diz : Vós
outros estudastes para jjratfuejar, e eu
para desprezar praguentos. Eu com tudo'
quero saber da Farça, em que ponto vai.»
Camões, Seleuco.
Poâtoque ho para pasmar
Vèr hum caso tão estranho,
Toãaria hei de attentar,
So poderei concertar
Hum desconcerto tamanho.
iDSM, AUPHTTEiÕEs, act. 3, SC. 4.
— «Dom Lourenço como tem este recado
de seu pae, peró que era tão incerta nona,
como a elle tinha: todauia mandou reca-
do ás nãos de Cochij que se auiassem o
mães cedo que podessem pêra estarem
prestes, se alguma cousa sobreuiesse.»
Barros, Década 2, liv. 2, cap. 7. — «O
Chaumigrem ainda que ficou assas sobre-
saltado com aquella nova, todavia a dis-
simulou por entaõ com tanto esforso, e
prudência, que ninguém enxergou nelle
turbação alguma, mas vestindo-se de
humas vestiduras ricas de setim carme-
sim, brosladas de ouro, e com hum col-
lar de pedraria ao pescoço, mandou cha-
mar todos os Capitães, e senhores daquel-
le exercito, e com semblante alegre lhes
disse.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 190. — «Nobre e esforçado
senhor Capitão, peçovos muyto peia rea-
lidade da vossa progénie, que me não
cerreis as orelhas com este pequeno es-
paço que vos quero faliar, e que olheis
que ainda que sou Moura, e cega por
meus peccados no claro conhecimento
da vossa santa ley, todavia por ser mo-
Iher, e porque ja fuy Raynha, me de-
veis de ter algum respeito, pondo piado-
samente os olhos de homem christão em
meu desemparo.» Ibidem, cap. 29. — «E
que o que daly por diante fizesse união nos
bazares, ou tii-asse sangue a qualquer pes-
soa, fosse morto a açoutes no mesmo dia.
Esta sentença nos foy logo publicada, e
ainda que a ouvimos coui assaz do lagri-
mas, por vermos o miserável estado a que
éramos chegados, todavia a ouvemos por
menos má que a primeyra.» Ibidem, cap,
115. — lE apertando el Rey todauia mui-
to nisso, e per muytas vezes, o Príncipe
lhe pedio muyto por mercê, que tal lhe
não mandasse, porque em nenhuma ma-
neira o avia de fazer, ainda que nisso
lhe fosse desobediente, e que soubesse
certo que muyto mais estimaua por ser
seu filho, que ser Rey de muvtos Rev-
nos.» (larcia de Rezende, Chronica de
D. João II, cap. 18. — «E inda que al-
gumas provindas sam muito distantes da
corte, que não podem vir os correos aa
corte dentro de hum mes : todavia de tal
maneira se concertam que cada lua ha
de ter el Rey ha relaçam de cada pro-
742
TODE
TODO
TODO
viiicia, inda quo lumiíi seja Jo mais tom-
])(> ([iiií outra [)t!r hiima jirovincia Ciítar
)ii;rl() I' (.iitia li)iií,'o." Vn;\ 1 ^-Hpar ila
• íriíz, Tratado das cousas da China, ca-
jiitulo -22.
Só mo quero oo'o9 mous dontcd
como cHiiárago no monto.
Toihinn cu vou causado,
o Hol inc curto,
fiiz qui! a calma mais 8u encurte.
ANio.Nio i-nEsrias, Auros, pag. '61.
Todaria não zombemos,
nem n'i,í»o tempo rjastcmos :
c.stou jil n'o„.a demanda
a levar n'olla por banda
o» meus vinte cinco remos.
TniDEM, pag. 121.
Senhor, todavia Pataca
em levar vossa molher?
iDiDEM, pag
227.
Todaria é fallceido seu marido
que Dcoa haja ?
luiDKM, pag. 38'J.
— «Saiba, todavia, a mulher sisuda,
que deve honrar a quem seu marido
honra; o o homem honrado, que a nin-
gueui deve dar azo quo a sua mulher
perca o respeito.» Frauci^^co Manoel de
Mello, Carta de guia de casados, cap.
9. — «Quando (dipo) mo comparava com
suaa roupas tào finas, e tão ricamente
bordailas, c'os diamantes, que únicos lhe
cobrião o seio inteiramente nú, e lhes
adornavão os braços arremangados até
aos hombros, c'os cabellos com muita ar-
te e iiticados, que todavia desmentiíto ex-
traordinariamente com as sobrancelhas;
porque umas os tinhão louros com so-
branoôllias pretas ; outras as tinhão lou-
ras, e 03 cabeilo.s pretos: o por certo que
bonitas as nilo achava.» Francisco Ma-
noel do Nascimento, Successos de mada-
me de Seneterre. — « Deixando outros
d(! menor monta e nota, Volt:iirc, que to-
davia sabia o seu pouco de Iripjlez e em
luf^laterra havia demorado, diz blasfé-
mias quasi incríveis quando se mette a
traduzir as sublimidados de Milton ou as
oriçinaes c enérgicas altivezas de Shaks-
peare. Epjuaes barbaridades eommetteu
pretendendo revelar o^ mysterios de Dan-
te.» (larrett, Gamões, liv. .3, nota yl. —
«Todavia, as armas polidas, ordenadas
cm feixes, e as stalactitos seculares, pen-
duradas do tecto, reverberando o clariío
da fuíijueira, davam ao topo da lapa um
aspecto esplendido, que de algam modo
assemelhava esta habitação de feras a
luua sala d 'armas de paços afortaleza-
dos.» Alexandre Herculano, Eurico, ca-
pitulo v^.
— Ainda.
TODEIRO, s. »i. Termo do historia na-
tural, íicnero de aves, Bimilhantes aoa
tordos marinlin.'4.
TODIHOJE, u<lj. Termo popular. líoje
toijo o dÍ!l.
].l TODO, A, (iflj. nrl. (do latim to-
las) (juc iiiilica a totalidade do.s indi-
víduos. — «(J.s lleix, que anto N/w fo-
rem, hordenaroni e estabeleceram por
Ley, que se hum homem obripou todos
seus bens, ou alj^uma certa cousa cm es-
jiocial a outrem, o despois vendido, ou
enallu^ou al;,'uma da.s cousas assi obriga-
das, sempre essa cousa assi vendida, ou
enalheada passe com seu encarrego a
aquelle, a que assi foi vendida, ou ena-
lheada.» Ord. Affons., liv. 4, tit. .ó2. —
«Assi como se ali^iini prometesse a outro,
que o faria herdeiro em parte, ou em torlo
sob certa pena; ou lho fezosse doaçom
antre vivos valedora do todos seus bens
moviis o de raiz, avudos e por aver, sob
certa pena; ou fosse fdto algum contrau-
to sobre herança d'algum vivente, per
que aquelle, que nom devia ser seu her-
deiro, o seja sob certa pena.» Ibidem,
tit. 62, § 6. — « Lii acharam a min* par-
te da gente da cidade, porque todos as-
sim príncipes e senhores, como de toda
qualidade, acudiram áquella parte com
(Icsejo de ver os prisioneiros. Já a este
tempo Folendos estava em terra desem-
barcado com Belcar, Onistaldo e outros
muitos.» Francisco do Moraes, Palmei-
rim dTnglaterra, cap. 122. — «Portan-
to que mandasse lançar pregão, que nin-
guém fos.se, nem viesse senão nestas ter-
radas : e mais lhe pedia que na Cidade
houvesse todo assocego sem alvoroço al-
gum, por quanto elle era vindo pêra bem
de tolo .seu Reyno.» Barros, Desada 2,
liv. 10, cap. 3. — «E porque com todo
este temor elles não vieram a conclusão
pêra Aífonso d'Alboquerque leixar de a
commetter, primeiro quo escrevauu)s o
modo que nisso teve, convém descrever-
mos a situação, e força delia.» Ibidem,
liv. 7, cap. 7. — «O Bramíi que havia
muitos mezes que estava naquelle cerco,
e se esperava pelas enchentes daquelle
rio que alagaõ todos aquelles campos,
fez com elle pazes com estas coudiçoens.»
Diogo de Couto, Década G, liv. 7, cap.
8. — «Fez Syuodo, e Constituições, as
milhores que pode, e todo dinheiro do
8ynodatico ordenou que se gastasse em
casamento do orphans, o na fabrica de
humas mui boas scholas que se fizeram
e poz nellas mui lums mestres.» Damião
de Góes, Chronica de D. Manoel, part.
3, cap. 27. — «E após cllcs vinhão dous
granules e altos cadaíalsos com ro las per
dentro, que homens faziam andar, sem
vers.i como audauão, os quaos erão rica-
mente pintados douro, e muyto bem fey-
tos, e ord.onados com nuivtas e ricas ban-
deiras, todos cheos databaleyros com os
atabales polias bordas dos cadafalsos da
parte de fora, que faziilo tamanho roido
por serem tantos, qm; se n8o ouuia nin-
guém, e os atabaleyros vinhilo UAo» sem
tííriírai de homens. • 'íarcia (le Uezendo,
Chronica de D. João II, cap. 12X.
Ifos poiio-1 da .\l''m:iiiha
vimoH Indo» leiíantados,
contra o» graiidoa adjiintado»,
c cntrolleii guerra citCrauba.
— «Para o que foi el liei a Taraçona
em Aragaò, o os compoz em sua» pre-
tonçòos, compondo de volta outras dis-
córdias que havia entre o Castelhano, e
Aragonez, deixando hum, e outro obri-
gados com dadivas, o empréstimos do
diidieiro, e todos os fidalgos de ambos
08 Reinos admirados de sua liberalida-
de.» Fr. Bernardo de Brito, Elogios dos
reis de Portugal, continuados por D.
José Barbosa. — «Der.1o os Mouros fogo
á mina em dez de Outubro, a qual re-
bentou sem damno pela face de fSra, re-
troceilendo o fogo por achar resistência
nos repuxos, e virão os Mouros por den-
tro outra parede levantada, espantados
de que antevíamos os fins de todos seus
desenhos, não lhes valendo a força nem
a industria contra tão valcrosos, c pre-
venidos inimigos.» Jacintho Freire d'An-
drade, Vida de D. João de Castro, liv.
2. — «Feito isto, o abraçava o Padri-
nho, e lhe dava paz, e elle fazia o mes-
mo a todos os outros Cavalleiros, que
alli ,so achavaõ. Estas ceremi.nias se usaõ
ainda hoje com os que saõ admittidos nas
C>rdens Militares.» Severim de Faria,
Noticias de Portugal, Disc. 3, cap. 28.
— oE com as armas nas mãos estivemos
todo aquelle tempo atee que amanheceo
com grande arrecco de ladrões. E como
amanheceo, logo fomos dar huma carta
que traziamo-; dei rcy de Bácora ao Xe-
que da dit.a vila: e por cila nos fez muy-
to gasalhado : e mandou logo fazer muy-
to bom de comer.» Tenreiro, Itinerário,
cap. 63.
Não acha quem o impida, ou contradiga
N"*3ta viagem toda o grande Xuno,
Mostra-íO-lhe a fortuna branda o amiga.
Sempre sereno o t'oo, sempre opportuno :
Também agora a fúria se mitiga
Do bravo Eolo, e do húmido Neptuno,
E com tiiutos favores, t.-vl bonança,
Em breve tempo inn Diu forro lan(,-a.
F. DB AXOSADE, PUMBIBO CEBOO DB DIO, Okltt.
4, est. 70.
— «E diz bem; porque em duvida de
todos os Reys se ha de presumir bem :
mas quando as couzas saõ evi'lente^, naõ
ha escusa, que as livre. A evidencia das
injustiças, que Castella usou com Port i-
gal sessenta annos, que o teve suíreito.
mostrará o Capitulo seguinte.» Arte de
furtar, cap. 16. — «Depois de dar to-
dos os seus beus aos pobres entrou em
TODO
TODO.
TODO
743
hum Boaque, onrle edificou uma Cabana,
e onde subsistia das charidades, e esmol-
la< dos seus Amigos.» Cavalleiro d'OU-
voira, Cartas, liv. 3, n." 36. — sProcu-
rai, (j alma minha, pareceruos também
com os prezos, que por culpas estam na
cadea, os quaes nenhuma cousa desejam,
mais, que a liberdade, sò n'esta cuidam,
isto mostram desejar por sinais, e pala-
uras diãto do juiz, dos auogados e de to-
dos aquelles, que hão mister lhe dem fa-
uor : em quanto dura a prisaõ não tem
uontade de rir, e zombar, ou conversar
ociosamente com os companheiros encar-
cerados, mas humilhandose sò fallào de
suas misérias, e de que modo poderão
liurarsse delias.» Frei Bartholomeu dos
Martyres, Compendio de espiritual dou-
trina, cap. 15. — «Quantas, em vez de
agradarem aos que as vêem, por essa
própria diligencia escandalisam, e vão
como convidando o riso, e a mofa da
gente que pretendiam admirar, e aífei-
çoar, pôde ser! Este abuso é digno de
que o marido, logo que o conhecer o ata-
lhe por todos os meios; porque a idade o
não emenda, antes o accrescenta. » Fran-
cisco Manoel de Mello, Carta de guia de
casados.
Dependo
Todo o êxito d'aqui. Dá-me a tua deitva:
Ninguém...
GABSETT, CATÃO, act. 3, SC. 7.
— Todos os hoviens ; toda a humanida-
de, toda a gente. — «E como o natural
de todos 03 homens he nestes semelhan-
tes tempos trabalharem por conservar a
vida, sem lembrança de outra cousa ne-
nhuma, era tamanho o desejo que todos
tinhão da salvação, que não prociu-avão
por mais qiie pelos meyos que para isso
podião ter, pelo qual esquecida de todo a
cubica, se entendeo logo com toda a pres-
teza em alijar a fazenda ao mar.» Fer-
não Mendes Pinto, Peregrinações, cap.
61. — íAchiles que servia de terror ao
mundo vestido de armas brancas, foi o
riso de todos os homens que o virão, e
que o considérão ornando-se com justi-
llios, e com sayas.» Cavalleiro d'01ivei-
ra, Cartas, liv. 1, n.° 29.
— Todas as feições de mulher ; todas
as formas de mulher. — «Lhes appare-
cem de contino as gengiuas, nam tem
queyxo debayxo em modo que pareça
ter barba, porque se lhe escoa junto dos
dentes como a raya. Nam tem braços,
mas em seu lugar humas barbatanas lar-
gas, 6 compridas. Daqui ate o fim do
corpo tem todas as feyções de molher.»
Frei Gaspar de S. Bernardino, Itinerá-
rio da índia, cap. 6.
— Empregar todas as razões para al-
guma cousa. — «Empregou ella todas as
rasoens para o despersuadir do intento,
fasendolhe entender que apesar da incer-
tesa das suas prediçoens, ellas seriam
bastantemente capases do lhe faserem
impressão que se efleituasse fatal, quan-
do não fossem favoráveis.» Cavalleiro de
Oliveira, Cartas, liv. 1, n." 40.
— Sahir por voto de todos. — «Che-
garão os motins de Flandres hum dia a
estado, que se haviaõ de concluir com
huraa batalha, em que meterão os levan-
tado.s o resto. Entrarão em conselhos os
Castelhanos, e sahio por voto de todos,
que pelejassem, porque estavaõ de me-
lhor, e mayor partido. Advertio-os o Pre-
sidente, que ficavai5 todos sem rendas, e
sem remédio de vida, se as guerras se
acabavaò.s Arte de furtar, cap. 44.
— Todas as linhagens do reino; todas
as descendências. — «Para isto ordena-
rão os Reys de Armas, em cujos livros
mandarão pintar as insignias de todas
as Linhagens do Reyno.» Severim de
Faria, Noticias de Portugal, Disc. 3,
cap. 18.
— Absolver a todos; perdoar a todos.
— « E preguntado se vinhaõ os Reys da
China a aquelle lugar algum anuo, ou
em que tempo, respondeo que não, por-
que o Rey, por ser filho do Sol, elle po-
dia absolver a todos, e ninguém o podia
condenar a elle.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 77.
— Os frades eram todos doentes; es-
tavam totalmente doentes. — « E re-
ceando de os Frades morrerem, e dese-
jando jaa da Raynha ser Christãa, por-
que os Frades eram ja todos doentes,
preguntou a Frey António, a quem o
carrego ficou sobre os outros, se com toda
sua doença poderia soomente fazer a Ray-
nha Christãa, porque elle estaua de ca-
minho para a guerra, e folgaria mu^-to
de deyxar a Rainha Christãa, e sem isso
lhe pareceria que não seria vencedor,
nem tornaria dela.» Garcia de Rezende,
Chronica de D. João II, cap. 161.
— Em toda a parte; em todo o logar.
— «Estes na guerra o acompanha vaõ em
toda a parte, e na paz assistiaõ no Paço,
e dormiaõ juntos à Camará Real. Po-
rem depois usaraõ os Reys do Fidalgos
em lugar destes Cavalleiros, e tinhaõ as
entradas livres, como os Gentis homens
da Camará na Casa de Borgonha.» Se-
verim de Faria, Noticias de Portugal,
Di
cap.
< Exaqui hum enca-
recimento que me faz chorar o coração,
vendo correr as aflitas Deosas por toda
a parte, buscando, e pedindo dinheyro
emprestado sobre os seus enfeites, e so-
bre o^ seus ornatos.» Cavalleiro de Oli-
veira, Cartas, liv. 1, n.° 33.
Matérias dignas são, que em toda a parto
Delias cante o subtil engenho agudo
A virtude, a seiencia, o governo, a arte,
Dote hum da natureza, outro do estudo ;
Mas as obras do fero, horrendo Jlarte
Como em hom-a e louvor passão por tudo,
Assi também matéria são maia dina
Do que mais gastou d'agua Cabalina.
FK.uicisco d'andbadb, pbimeiro cebco de mu,
cant. 17, eat. 2.
— Para toda a hora ; para todo o tem-
po. — «E sendo obrigados a tello a pon-
to para toda a hora, que lho pedirem,
aproveitando-se da confiança, que se faz
delles, metem o dito dinheiro em seus
tratos de compras, e vendas, com que
vem a ganliar no cabo do anno muitos
mil cruzados.» Arte de furtar, capitu-
lo 61.
— Levar a todos presos a alguma par-
te. — «O Capitão Pêro de Faria, que es-
tava pegado com o Governador, ouvindo
aquillo, lhe pedio que se recolhesse, que
elle levaria a todos prezos á fortaleza :
fello o Governador assi, e Pêro de Faria
subio assima, e disse aquelles Fidalgos o
multo grande serviço que naquelle nego-
cio tinham feito a ElRey, que lhe fizes-
sem mercê de se irem com elle pêra a
fortaleza, onde elle pousava, até se quie-
tarem aquellas cousas.» Diogo de Couto,
Década 4, liv, 2, cap. 11,
— Todos os religiosos; todos aquelles
que se entregam á vida do espirito. —
«Procurei u'este Estado, que todos os re-
ligiosos nos conformássemos na doutrina ;
e porque o não pude conseguir, passei ao
reino : pedi a junta que vossa magestade
mandou fazer dos maiores letrados de to-
das as profissões ; procurei que na mes-
ma junta se achassem os provinciaes das
religiões d'e3te Estado, para que sendo
testimunhas de tudo, e dando também
seu voto, ordenassem a seus súbditos o
que deviam guardar, e também esta dili-
gencia não aproveitou.» Padre António
Vieira, Cartas, n.° 16.
— Ter- conselho com todos os do seu
conselho. — «Estando el Rey em Almada
no mes de Agosto deste anno de mil e
quatrocentos e oitenta e oito teue conse-
lho com todos os do seu conselho, que
presentes erão, sobre . o casamento do
Príncipe seu filho.» Garcia de Rezende,
Chronica de D. João II, cap. 73.
— Em todo o tempo; em toda a occa-
sião, em todas as epochas, — «Porque
polia enformação que ja a este tempo ti-
nha do lugar, e terra ser naturalmente
doentia, e o rio não se poder em todos
os tempos nauegar até a dita fortaleza,
ja tinha assentado, que em caso que o
dito lugar fora feyto, e não cercado, de o
mandar despouoar, e derribar.» Garcia
de Rezende, Chronica de D. João II, cap.
81. — «E posto que vossa magestade
chame a D. Pedro de Mello para mais
perto da real pessoa de vossa magestade,
por concorrerem n'este fidalgo as quali-
dades mais necessárias para o tempo pre-
sente, como n'elle tenho conhecido em
todo o tempo que o tratei, entendo, e
assim o peço a vossa magestade, que na
744
TODO
TODO
TODO
mesma possoa do D. Peflro.» Padro An-
tónio Vieira, Cartas, n." 18.
— Todas fts (InmuH <ln corte; toda» as
senhoras da corto. — «Conconlarílo am-
bos que com o pretexto dt; divertir ao
Príncipe, viriào siiecessivaniente á sua
camará todas -m Datna.s da Corte.» Ca-
valleiro d'(Jliv(íira, Cartas, liv. 1, n." i50.
— Todas estas três.
Todnn catas três, b5o as qun a bnlloza
E a f^ra(;a do Ijianor mais auoviecRiii :
Todas tros saõ tocadas mas não (tanto
('oino a princesa Ampliitrito) da cnutíja.
Dizoin riun entrou soberba isenta, e liure
No 9CU luuncdo Reino com desprezo,
K cõ vaà pr(iHump(;.ão, tratando as Nim))lias,
A ipicin da fe.rinosura, a honra lio deuida.
COBTi; RKAL,, NAUl-RAUIO DK SE1-L'LVEI)A , Cant. 7.
— De toda d sorte; du todo o modo,
do toda a maneira.
Ipocrcsia sou a Dcos odiosa
Sancta vida professo, o mundo abraço.
Do ignorantes prezada co estes cumpro
E faço quanto quero, inda que injusto.
Vio entrar por aqui dn toda sorte,
Do gcntu tanta copia qim não cabe,
Iluns em tristes sembrantes escondidas
Dissoluçõíís secretas o outros males.
COBTIÍ EKAI,,NAUrBAQIO DE SKPUT.VKDA , Cant. 11.
— Entre todos to escolho; de prefe-
rencia a todos te elejo.
«Maguato principal da minha Corto,
Eu, para executar este projecto,
Entre todon te escolho : diligente
Parte a cumpril-o ; pois de tuas artes,
E de ti só confio a grande empreza.»
DINIZ DA cBuz, HYssopR, cant. 1.
— Alma cheia de toda a sabedoria, e
graça ;íúmix repleta d'ella, completamente
sábia. — «De maneira que licou huma pes-
soa, verdadeiro Dcos o vei"dadeiro ho-
mem : tendo duas naturezas perfeitas,
humana e diuina em huma soo pessoa. E
no mesmo momento de sua Encarnaí^ão
foy sua sacratissima alma chea de toda a
sabeduria e ijraça infinitamente.» Frei
Barthi>lomcu dos Martyres, Catecismo da
doutrina christã.
— -Todos juntos; juntando-se, reunin-
do-se todos. — «Os quaes todos juntos se
fez a vela, e o primeiro lu!?ar que viram
Dafrica foi Larache, que os da frota qui-
aorào cometer se lho dom António con-
sentira, que por euitar o aluoro(,'o que so-
bre isso se ja fazia mandou correr do
longo da costa, o aos xxiii dias do lanho
véspera de S. loam baptista chcíjou a bar-
ra do rio da Mamora, huma hora ante sol
posto.» Damião de lioes, Chronica de D.
Manoel, part. ?>, cap. 76. — «E prepara-
dos nòs IH) modo coavoniento a tào bom
propósito, Autoaio do Earia fez o sinal
que disse, c arromoteo logo correndo, o
nAs todos Juntos cõ olle, e chegando á
lanteaa, nos apoderamos logo delia som
contradição alguma, e largando os proi-
zes com que ostava atracada, nos afasta-
mos ao mar obra de hum tiro de besta.»
Feru.^ii Alendcs 1'iuto, Peregrinações, ca-
pitulo 04.
— Todo o pruser da ininhri vida; a
completa salisfayrio, alegria da vida. —
«Sim. Que o teu contentamento o prezo
eu em muito; e por to ver contente, me
dera eu por bem venturosa, se todo o pra-
zer lia minlia vi<la o sacrificasse a um ins-
tante de tmi gosto. <Jh! como, sem hesi-
tar eu o faria ! Porque n.^o ós tu como
(Hl? Sc quanto cu te amo, me amaras tu,
que ventura i)ara mis ambos ! A tua Dita,
a minha fora, e mais completa ainda fora
a tua.» Francisco Manoel do Nascimento,
Sucessos de madame de Seneterre.
— tíenhor de todos os bens; que se
aporlorou de todos olles. — «E daqui vem
o direito, que faz aos vencedores senho-
res do todos os bens rios vencidos : c
tudo se devo regular pela oftensa preté-
rita, e paz futura. Se entre os bens dos
inimigos SC acharem alguns de amigos,
dovomse-lhes restituir. Se os damnos fei-
tos aos inimigos bastarem para a satisfa-
ção, nai") se piídeni extender aos innocen-
tes.» Arte de furtar, cap. 21.
— Eijrojas e.vpostas a todas as incle-
mências do tempo; ogrcjas corruptas e es-
tra'gadas em raz.no do mau tempo. — «Da
mesma maneira sabemos, que as Igrejas
do Cochim, e Coulão, que de novo se co-
meçarão, estão por acabar, descubertas,
e expostas a todas as inclemências do
tempo, o que não si') parece mal, mas
ainda he em prejuízo do edificio; pelo que
mandareis que se continuem até se aca-
bar, sem reparar no custo ; o isto por
uiãos, e traça dos melhores Architectos,
o Offieiaes.» Jacintho Freire d'Andrade,
Vida de D. João de Castro, liv. 1.
— Todos CS mosteiros c egrejas. — «E
per mandado dei Rey forão feitos em to-
dos os Slosteíros, e Ygrejas, grandes e
deuotas exéquias, em que muy deuota-
mente eneommendauão sua alma a Dcos.»
( tareia do Rezende, Chronica de João II,
cap. 22.
— Todos professainos a fé de Christo ;
todos somos chi-istãos.
Cõ bâdeira aruorada, e em som de guerra,
Dizeinos se a quereis? ou paz segura?
O Sonsa inda que fraco lhe responde
Com seuera presença, o graue aspecto,
Christiios somos, a fé sacra, e diuina
Do lESV Christo todos profoss:unos.
COUTE BEAL, NAVFBAGIO DE SEPÚLVEDA, «VUt. 15.
— Com toda a sua frota ; com toda a
sua esquadra. — «Chegado Aftonso d'.\l-
boqucrque ;i barra de Goa com toda sua
frota, loixou em baixo as uãos grandes
da ciirga, o levou acima ao porto de Goa
as de pequeno porte, que podiam leve-
monte ir pelo rio.» Harros, Década 2,
liv. 7, ca|). 4.
— Todo o mundo; tola a humanidade,
to la a gente, todos os homens, — Uesa/iar
todo o mundo. — - Estar em paz com todo
o mundo.
Quando hum novo jumento principia
A saltar, norque tem a Mài presente,
E com brincos, c coice* ignaliaento
A rizo lodo o mundo d>jsatia.
AiiuADi: DE JAZE.xrE, poEsiAfi, pag. 67.
— «O qual capitão por assegurar a
gente da terra, e lhe terem boa vontade,
determinou do mandar ao Rey <la terra,
que estaua longo polio «ertilo, hum pre-
sente, o qual lhe logo mandou per cer-
ta} Christãos de muytas cousas, dcsua-
riadas as humas das outras, e lhe mandou
dizer como ha dita armada era dcl Rey
de Portugal, que com todo o mundo tinha
paz, e amizarle.» (jarcia de Rezende,
Chronica de D. João II, cap. 1Õ5.
— Todos os moradores de Cochim ; to-
dos os habitantes de Cochim. — «Surtos
os navios, chamou o (Tovernador os Ca-
pitacns, c lhes di-sse que ao outro dia ha-
via de dar em terra, que se fizessem pres-
tes: mandoulhes que fizessem alardo da
gente que havia pelas embarcaçocns, o
que olles foraõ fazer, e acbãraõ seis mil
homens Portuguezes, com todos os mora-
dores de Còcliim que alli foraij logo em
Tones, e outras embarcaçoens.» Diogo de
Couto, Década 6. liv. 8, cap. 13.
— Todos vel/utcos da primeira plana.
«Que inércia é esta? Quo preguiça, oh Lara,
Que os membros, c sentidos te adormenta.
Quando por inimigos tens em Campo
O gordo Bispo, o Abreu, o Ramalhete,
Velhacos todos da primeira plana ?•
ASTOSIO DINIZ DA CBUZ, HT3S0PB, Oailt. 5.
— Todos os circumstantes ; todos os es-
pectadores, todos os quo o cercavam.
Piega um grande escarro,
Com que assustou os Circunstantes lodo*,
E de novo começa : Oh ! so cu lograsse
A grande dita de nascer cm Roma,
E alli, na tenra idíide, me tivessem
Qual miscro, e novel frangão castrado,
Que ontào s6 dignamente, em tino tiple,
Qual Ac.hillcs, nas Operas d°ltalia.
Do teu gravo Senado cjuitiria
A acçào maior, que \"irão as Idades !
Asrosio pisu DA CBCz, BTssoPB, cant. 7.
— Todas (IS cousas do reino ; tudo o
que dizia respeito ao reino, tudo o que
lhe pertencia. — «Despedi ias todas aa
cousas do Reino, ficou o tíovernador fa-
zendo prestes toda a Armaila jvira se em-
barcar, e acodir às cousas de Cambava,
porque catavaõ prenhes, e podiaõ parir
TODO
TODO
TODO
745
novos trabalhos.» Diogo de Couto, Déca-
da 6, liv. 7, cap. 3.
— Todas as cousas tocantes ao meneio
das aniladas; tudo o que lhe diz respeito,
que lhe é concernente. — «Distante obra
de hum quarto de legoa da cidade Pa-
naajú, onde então o Rey dos Batas se es-
tava fazendo prestes para yr sobre o
Achem, o qual tanto que soube do pre-
sente e carta que lhe eu levava do Capi-
tão de Malaca, me mandou receber pelo
Xabandar, que he o que governa com
mando supremo todas as cousas tocantes
ao meneyo das ai-niadas.» Fernão Mendes
Pinto, Peregrinações, cap. 14.
— Os deleites d'esta vida cifram-se to-
dos nos cinco sentidos; resumem-se n'el-
les. — íOs deleites nesta vida nos cinco
sentidos se cifrão todos: e os da vista
com ser dos sentidos o mais nobre, saõ
de qualidade, que a noite os rouba; e
nisso que vemos de dia, ainda que nos
alegre, remos, que ha mais defeitos para
aborrecer, que perfeiçoens para estimar.»
Arte de furtar, cap. 70.
— Todos os homens de sangue ; toda a
gente nobre, de nobreza. — eOs quaes
mortos foraõ loão Corrêa, Duarte d'Olan-
da, Esteuaõ d'Alrneida, Diogo Machado :
todos homems de sangue e que de moços
se criarão na camará do Infante, e assi
outros escudeiros e homems de pé de sua
criação que com os mareantes podião ser
dezanoue pessoas.» Barros, Década 1,
liv. 1, cap. 14.
— Todos presentes; em opposição a to-
dos ausentes. — «E presentes todos, abrio
o Veador da fazenda hum cofre, em que
estavam guardadas as successòes da go-
vernança da índia, que eram três, que
trouxe comsigo o Conde Almirante D.
Vasco da Gama quando veio por Viso-
Rey, que foram as primeiras que á índia
vieram.» Diogo de Couto, Década 4, liv.
1, cap, 1.
— Dar embarcação a todos ; embarcar
a toda gente. — ■ «Mandou lançar pregões,
que ninguém fugisse sob pena de morte,
por quanto ello queria dar embarcação a
todos pêra passarem sem perigo, e jíode-
rem levar suas fazendas, segundo tinha
concedido nos seus apontamentos ; e que
em quanto não fossem passados á terra
firme, qualquer Portuguez, ou pessoa que
fizesse algum damno a algum Mouro, que
morresse por isso.» Barros, Década 2,
liv. 6, cap. 5.
— Todos em geral; toda a gente, ge-
nericamente fallando. — «E assi lhe fo-
rão feitas outras mu^-tas honras, e fauo-
res de honrados aposentamentos, presen-
tes, e visitações, em que claro se via o
muyto prazer, e contentamento, que to-
dos em geral, e especial com sua hida
tinhào.B fi areia de Rezende, Chronica de
D. João II, cap. 114.
— Todos os portuguezes ; toda a nação
portugueza. — « O Viso-Rey lhe entregou
yoL. V. — 94.
Dom Rodrigo de Lima, e o Embaixador
Zagazabo, e todos os Portuguezes, e os
presentes que levavavam assi pêra o Go-
vernador, o Rey de Portugal, como pêra
o Sumnio, e Santo Pontífice.» Diogo de
Couto, Década 4, liv. 1, cap. 4. — «O
qual Arcebispo na sua Chronica que es-
creueo em liuguoa Latina diz que el Rei
dom Afonso Anrriques primeiro Rei de
Portugal foi casado com dunna Maphalda,
filha do Conde de moriana, pelo que sam
muito de reprender nossos Ctironistas, e
os que composeram os liuros das linha-
gens, sendo todos Portugueses de terem
dada tam ma conta da verdadeira proge-
nia da Rainha donna Maphalda primeira
Rainha destes reguos.» Damião de Góes,
Ciironica de D. Manoel, part. 4, cap. 71.
— Em todos os reinos e estados da
Europa. — lE pois neste Reyno naS ha
ley, que as prohiba, claro está, que po-
dem ser admittidas, assim como o saõ
em todos os Reynos, e Estados da Eu-
ropa, de que ha innuraeraveis exemplos,
que traz Tira<£uel. tom. 1. i^. 10. á n.
4. e assim est;l declarado em Portugal, e
se colhe da doaçaõ feita ao Conde D.
Henrique, e sua nmlher Dona Theresa,
que dizia: Para elle, e seus successores.»
Arte de furtar, cap. 16.
— Todos quatro. — a Com estas viti-
mas palauras (que nam ha quem com o
Rey, não deseje ter valia) ficou tão con-
tente, que chegando a ellas nos mandou
assentar, e aquelle dia jantamos todos
quatro na sua Forta'eza. E porque tem
no comer differente modo do nosso, di-
rey o que lhe notey.» Fr. Gaspar de S.
Bernardino, Itinerário da índia, cap. 12.
— Todos os mais; todos os outros. —
«E querendo logo com muyta pressa pro-
ver no remédio da soltura delles, pelo
perigo que entendia que podia aver na
tardança, lhes mandou huma carta por
hum destes Chins, ficando por elle em
reféns todos os mais.» Fernão Mendes
Pinto, Peregrinações, cap. 63. — «E lo-
go após ellcs os Arménios, o logo os Ja-
niçaros e os Turcos, e todos os mais nos
lugares que lhe a elle bem pareceo, e
com esta ordem chegava esta gente es-
trangeyra, como ja disse até o dopo dei
Rey, onde estava a gente Bramaa da
guarda do campo.» Ibidem, cap. 149.
— Contar todo o caso; contal-o com-
pleto, inteiro. — «E assi enuiou outra ao
Papa escripta em Latim, em que contou
todo seu caso, e conuersam á Fe, com
palauras de muyta deuaçao, e grandes
louuores dei Rey : e dos outros seus fo-
rão feytos Christãos vinte quatro na ca-
sa dos contos da dita Villa, muyto hon-
radamente.» Garcia de Rezende, Chroni-
ca de D. João II, cap. 78.
— Descer todos do cadafalso. — « E
acabada esta grande ceremonia de justi-
ça, que durou muyto, se decerão todos
do cadafalso, e logo foy posto fogo nel-
le, 6 a estatua, e o cadafalso todo assi
como estaua foy queymado, cousa que
pareceo espantosa. E o Marquez sendo
disto sabedor foy muy enojado, e triste,
e dahy a pouco tempo se finou em Cas-
tella, bonde elle estaua.» Garcia de Re-
zende, Chronica de D. João II, cap. 49.
— Todo o honiicidio ; todo o acto de
um homem matar outro. — « Peccado
grauissinio, que ainda agora nam falta
entre Christãos : mais graue de sua na-
tureza que todo o homicídio, e que todo
outro peccado em que se faz damno ao
próximo.» Fr. Bartholomeu dos Marty-
res. Catecismo da doutrina christã.
— Todas as cousas terrestres; todas as
cousas da terra, do mundo. — • «Não cui-
dando preteritamente que em satisfazer
aos desejos dos sentidos hoje se vê for-
çado a renuncia-los. Poderá hum homem
destes ter a mínima idea da satisfação
sublime, e durável, que resulta da con-
templação, e do exercício das faculdades
da sua alma immortal? He possível que
conheça os celestes êxtases de hum spi-
rito desembaraçado de todas as cousas
terrestes"? Creyo que não.» Cavalleiro de
Oliveira, Cartas, liv. 3, n.° 9.
— Todos os christãos; toda a chris-
tandade, todo o mundo chrístão. — «E
ainda que todos os Christãos nam che-
guem a ter ygual deuaçam, ygual fer-
uor, e promptidam nas cousas do Senhor,
baste que cada hum trabalhe de fazer
este vnguento o mais perfeyto, e fino
que poder, nam confiando em suas for-
ças, e diligencia, mas na graça, e ajuda
do senhor, pola qual ha de chamar ins-
tante, e continuamente, dizendo.» Frei
Bartholomeu dos Martyres, Catecismo da
doutrina christã.
— Todos os inimigos da fé; todos os
contrários e inimigos da religião. — Des-
ajiar todos os inimigos da religião. —
«Eu foaõ desafio todos os inimigos da
Fé, e de meu Senhor ElRey, e da terra,
e o mesmo fazia para as outras três par-
tes do Mundo.» Severim de Faria, No-
ticias de Portugal, Disc. 2, cap. 6.
— Todo o povo ; toda a gente popu-
lar. — «El Rei por mostrar a todo o po-
uo o rico presente que recebera, mandou
poer hum jaez douro da gineta, que com
as outras peças do presente vinha, em
hum cauallo muito formoso, no qual ca-
ualgim, e nelle veo ate se meter na al-
madia, em que foi fallar a Pedralurez,
que o jà estaua sperando com todolos ca-
pitaens da frota, cada hum em seu batel,
todos de festa.» Damião de Góes, Chro-
nica de D. Manoel, part. 1, cap. Õ7.
Seu governo se escara, no Monárchico,
Partido cm vários Reis. Sc urprentc é o prigo,
Se uno em um só. Blazona a Tribu Salia
De mais nobre : e em tal couta a tem os Francos.
Pharamundo 6 seu Rei. Todo esse Povo.
F. M. no NASCIMEKTO, OS MABITBES, 1ÍV. 7.
746
TODO
TODO
TODO
— Todas as armas de guerra; todas
a,i arma» bellicas. — «Aqui havia pran-
do numero do acubortado.i, cossoleten,
arcabuzLs, lanças, cHcudiw, c todas as
mais anuas di! ícut^rra.» .Sevorim de Fa-
ria, Noticias de Portugal, Diac. 2, ca-
pitulo 1 1 .
— Toda a (jante chrisfã ; todo o mundo
cliristjlo.
Ma» a fjontP iiifiol, (\no dpnatina
K doutro no consumo, o dosospórn,
Voudo quo |)odciii dou:» o quo iinapiua
Qui; Ioda a Christàa gcutc não pudúra,
Com dobrado fiuor, so determina
Vencer aquella invicta c<^pia fera,
Meneia com iinÍ£;o, duro braço
Hum a comprida lancj.a, outro o curto aço.
F. d'aNDR\DE, PHIMKIRO CERCO DF. DIU,Cant. 11,
C8t. 63.
— Toda a gente ; todo o povo. — «Des-
pedindo entaõ ElRey toda a ^onte, que
o acõpanhàra, ceou recolhido cõ sua mu-
lher, o seus filhos, e naií quis quo ho-
mem alí^uui por entaõ o servisse, porque
o banquete ora à cota da Rainha.» Fer-
não Mondes Pinto, Peregrinações, cap.
223.
— Toda a gente do termo. — «E que
cada anno se fizessem dous alardos ge-
raes, hum pelas Oitavas da Páscoa, o
outro por dia do S. Miguel ; e que so
ajuntasse toda a gente do tjrmo na ca-
beça da Capitania; onde polo Capitão
Mòr, Sargento Mòr fossem ordenados, o
se exercitasse, assim a gente de cavallo,
como de pé.» Severim de Faria, Noti-
cias de Portugal, Disc. 2, cap. 10.
— Todas as diversidades de névoas;
todas as variedades d'ellas.
Landate Dominum de terra.
Dracones et omnei^ abys.i;/,
E todiif diversidades
De névoas c serra,
Ventos, nuvens et edipsi,
K louvao-o, tempestades.
OIL TICESTB, AUTO DA .VOFINA MENDES.
— Todo O filho de fidalgo vassallo. —
• E a todo o filho de Fidalgo Vassallo,
que nascia, se mandava logo huma carta
da contia de seu pai, com que cresceo
este numero do Vassallos aconti:\ilos cm
grande maneira atò o tempo d'ElRey D.
Fernando.» Severim do Faria, Noticias
de Portugal, Disc. 2, cap. 7.
— Estar proinpto a toda a adversida-
de; estar disposto, preparado para ella.
E sendo aasi que o nó desta amizade
Entre vís firmemente permaneça.
Estará prompto a toda advor.sidade,
Que por guerra a tou reino se ollereça,
Com gente, armas, e náos...
CAM., Lus., caut. 7, est. tio.
— Todo a<iuelle dia; aquelle dia in-
teiro. — « E caminhando todo aquelle
dia, fomos aquella noyte dormir a iuima
alde.i de Cliristrios Arábios, e .Jacobitas.
E ao outro dia caminlianilo per terra
habitada <ie niuytas aldeãs desta comar-
ca, fomos dormir a huma cai^vancara que
estava herma, o desabitada.» Tenreiro,
Itinerário, cap. 64.
— Morramos todos ; deixemos de vi-
ver, de existir.
Tu ! — nnnca.
A ti é que ollcs buscam.
So com cllca !...
Nào to obedeço. — Amigos, companhciroB,
Defendamos Catão; morramos todnn...
Soldados, cu governo ainda em Utica.
OAHRKTT, CATÃO, aCt. 4, 80. 3.
E mulheres.
Que não podemos defender a pátria,
A liberdade.
Mas queremos todo»
Morrer por seu magnânimo caudilho.
Queremos : — • por Catão ! — morrer I
iDiDEM, act. 5, SC. 6.
— Todo o necessário; tudo o preciso. —
«Chegado dom Pedro a Portugal, el Rei
dom Emanuel mandou fazer prestes toda-
las cousas que cumjjriam pêra dom Hen-
rique filho dcl Rei doui Afonso de Maui-
congo, e dom Pedro com sua companhia
irem a Roma, maudandolhes dar para o
caminho todo o que lhes foi necessário,
asâi de dinheiro como em caualgaduras,
e gente que com elles mandou.» Damião
de Góes, Chrouica de D. Manoel, part.
3, cap. 39.
— O trabalho de todas estas machi-
nas. — «E estas saõ as verdadeiras unhas
rediculas: c a graça melhor do todas he,
que o trabalho de todas estas maquinas,
que consiste em cathequizar, e bautizar
os Neophitoa, fica todo ás costas dos Pa-
dres da Companhia do S. Roque, sem
terem por isso próes, nem procalços mais,
que 03 do muito que merecem para com
Deos, que lho pagará no outro mundo, i
Arte de furtar, cap. G6.
— Em i>iiga de todos estes serviços ;
em reumuoraçào de todos elles. — «Em
paga de todos estes serviços me pren-
doo Nuno da Cunha em Cananor pela
maneira que se sabe, mandando lançar
pregões infames contra mim.» Diogo de
Couto, Década 4, liv. 6, cap. 7.
— Toma-se também isoladamente sem
ter claro o substantivo a que so refira.
— «E scndo-lhe proposta a humilde peti-
ção dos Suevos, e alegadas as rezoens
que avia j)ara se conceder, foy tal a effi-
cacia das palavras com que Idacio Bispo
de Lamego propoz a embaixada, em no-
me tio todos, o o abalo que fez no animo
delRev a presença de tantos Prelados ve-
neráveis, que prostrados a seus pés lhe
pediaõ misericórdia, p Monarchia Lusita-
na, liv. G, cap. 7.
Mas com intento honrado, c virtuoso
Na.s inãnn do FrcitJiu lodo» promet«írio
I)í> o aromj>anliar na leda ou triste sortc
Inda '[ue passem todo» polia morte.
roBTr. BEAL, NACFKAaiO DK BKPLXYKDA, CHOt. 13.
Inchando a» bocca* cnchom do gros»c-ira«
Dortcoiic<!rtada'» V07.c» o ar sereno,
Se a cjisfi algum rumor bc mouo, ou passa
lunto delias a rti's. que o prado busca,
O ronco canto doixão saltão lod/u
No lainoso, rouolto, turno charco,
Empiuando cos pés as aguas, fogem,
Sí pretendendo cm tal medo saluarse.
IBIDEM, cant. 15.
Acode o Sousa alli, deixa o perigo
Geral em todo», »6 esto rccca,
Por huma parte vo pcrdersc a ponto,
Por outra vo morrer a por quem viue,
Entre eiítes dous extremos pede o trlstís
A Deos fauor, c em tal pressa remédio :
Manda que o batel grande ao mar va logo
Que esperanças da nuo ja as tom pordidM.
IBIDEM, cant. 7.
— «Ao qual requerimento respondeo
ElRoy, que hum, o hum lhe parecia qae
aqucUes Portuguezes per bom modo se
queriam todos acolher: peró como Meli-
que Gupi era homem mui acceito a El-
Rey, e desejava nossa amizade por lhe
importar á navegação de suas náos, tan-
to tral)alhou n'isso, que aprouve a ElRoy
dar licença a Fr. António do Loureiro
por ser Religioso.» Barros, Década 2,
liv. 7, cap. 3. — (Dada e.sta ordem como
haviam de aahir, quando veio pela ma-
nhã, todos estavam tào prestes, qtie era
breve tomaram terra sem liaver quem
lha defendesse, p a-que a tenção dos Mou-
ros foi esperar o Ímpeto dos nossos de-
trás dos muros, e nào fora delles, por
duas causas.» Ibidem, cap. 9. — «Geral-
mente os Mouros chamào a este mar, Ba-
bar Corzum, que quer dizer mar cerrado,
pêro que este nome dão elles mães pro-
priamente ao mar Caspio, por nào ter
entrada alguma : e outros lhe chamào
mar de Mecha, por a casa que ali tem
da abominação do seu ^laiiamed, e todos
se espantão de lhe chamarmi>s mar Roxo.»
Ibidem, liv. 8, cap. 1. — «O qual juizo
se havia de fazer em Meca, e Alie se ha-
via de ir pêra a Cidade Cufá, donde ello
viera aquelle caso, a qual he nas corren-
tes do Eufrates abaixo de Bapadad, e
Mauhya fieasse onde catava, por todos
estarem apartados assi os juizes, como os
contendores.» Ibidem, cap. 6. — «Tenieo
a disposição que via, jvira algum motim,
a que atalhava, encarecendo o miserável
estado dos nossos, e a infallibilidade que
tinha da victoria. Fez pagas aos solda-
dos, e mandou pregar pelos Cacizea a
certeza da gloria para todos os que mor-
ressem nesta guerra, e as mercês com
que o Soltão ha\-ia de remunerar aos li-
bertadores da Pátria, não ?e esquecendo
do temporal á volta do Diviío.» Jacin-
tho Freire de Andrade, Viaa de D. Joào
de Castro, liv. 2.
TODO
TODO
TODO
747
Aqui n'hnma profunda cova escara
Oâ inquietos Tentos encerrados
Júpiter pòz, e com bem forte e dura
Prisào, a todos tem presos c atados :
E para que inda possa mais segura
Mente alli seus furores ser domados,
Lhe pôz também hum grande monte em cima,
E hum Eei lhes deu que os mande e os reprima.
FBA>XI3C0 d'aKDEADB, PRIUEIBO CXBCO DE DIU,
eant. 4, est. 10.
— «ííaõ sey Senhor se vo3 vem bem
provardes tantas vezes vossa fortuna com
03 Portuguezes : porque pela experiência
que todos temos delles, bem se sabe, que
ninguém pôde levar delles a melhor, s
Diogo de Couto, Década 6, liv. 9, cap.
5. — «O mesmo fez el Rey de Ormus, e
os irmãos da Misericórdia, e todos os
Portugueses, e o Capitam dos Gentios.
Mas de todos o que mais se auentejou,
foi o irmào de S. Fraxcisco António Dal-
caceua, e soa molher, e familia. » Frei
Gaspar de S. Bernardino, Itinerário da
índia, cap. 11. — tE chegando ao cha-
fariz nos chamou que nos chegássemos
para elle, o que nós logo fizemos com
nossas cortesias devidas, de que elle fez
pouco caso por nos ver pobres, elle la-
çando logo na agoa as espigas que tinha
na mão, nos disse que puséssemos as
mãos nellas, e nós o fizemos logo todos
por nos parecer que era assi necessário
para a paz e cõformidade que pretendia-
mos ter cõ elles.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 82. — «Aly desem-
barcamos 08 nove que ficamos vivos,
todos presos em huma corrente, e cõ-
nosco também o Bisix> Abexim, o qual
hia tão ferido que ao outro dia falle-
eeo com mostras de muvto bom Chris-
tão, o que a todos nos animou, e nos con-
solou muyto.» Ibidem, cap. 5. — €Va-
mos á segunda couza. Que presidio po-
remos nas fronteiras? Vinte mil Portu-
guezes, diz o primeiro voto^ e he o de
todos. E de donde havemos nós de tirar
vinte mil Portuguezes? Vem cá máo ho-
mem, não vés que se fizermos isso duas,
ou três vezea, que ficará o Reyno despo-
voado, e ermo?» Arte de furtar, capitu-
lo 29.
— Todos ^ralmente; todos em geral.
— «O que a todos geralmente pareceo
muyto bem, assi pelo concerto grande da
musica com que foy feito, como pela
muyta devação que causou em toda a
gente, com que em toda a igreja se der-
ramarão mnytas lagrimas.» Fernão Men-
des Pinto, Peregrinações, cap. 69.
— Todos entre si faziam guerra cruel;
todos se guerreavam cruelmente uns aos
outros. — tFaziaõ estes todos entre si
taõ cruel guerra, que elles per si se con-
sumirão; e por isso sendo cativo o Rev
Chico pelos Castelhanos duas vezes, os
Reys Catholicos o tornarão logo a pôr em
sua liberdade, para que tornasse a sus-
tentar o seu bando, o que foi de tanto |
effeito, que morto seu pay pelo tio, elle
entrou em Granada.» Severim de Faria,
Noticias de Portugal, Discurso 2. capi-
tulo 9.
— Todos os annos; annualmente, cada
anno. — «Disto pode servir de exemplo
a Cidade de Milaõ, que ue das mais po-
pulosas de Europa; e huma das causas
de seu crescimento he dotarem-se todos
os ânuos nella mais de 800. Órfãs.»
Ibidem, Disc. 1, cap. 6.
— Todo o necessário; tudo o que é
mister. — «Para o qual el Rey mandou
dom Fernando de Meneses, filho mavor,
e herdeiro do Marquez de Villa Real,
pessoa de muyto merecimento, que de-
pois foy Marquez. E depois de el Rey
com elle estar, e tomar coacrusão do que
ania de fazer, partio pêra Cevta com
cincoenta velas, que no Algar ue com
muyta breuidade forào armadas, e apa-
relhadas de todo o necessário, e nellas
muyta, e boa gente, e assi chegou a Gi-
braltar.» Garcia de Rezende, Chronica de
D. João II, cap. 111.
— Jazerem todos mortos ; estarem todos
sem vida. - — «António de Faria com to-
dos os mais que com elle estavão, correo
logo á proa com muyta pressa, e quando
vio os moços jazer todos mortos huns so-
bre os outros, ficou tào cortado, que não
podendo ter as lagrimas, pondo os olhos
no Ceo.» Fernão Mendes Pinto, Peregri-
nações, cap. 51.
— Dar á alma todo o contentamento;
dar-lhe completa satisfação, inteiro gosto
e prazer. — «Á que prestào estas ausên-
cias arrufadas? faltào-nos ellas inevitá-
veis? Vem dar á minha alma todo o con-
tentamento, nesse curto praso de nos ver-
mos sem constrangimento. Escréves-me
que me desejas vêr para me pedir per-
dão; vem, vem, quando para mais não
fora, que para me dizer injúrias. Vem,
que te requeiro que venhas : porque que-
ro antes vêr-te esses olhos agastados, que
privar-me de vê-los.» Francisco Manoel
do Nascimento, Successos de madame de
Seneterre.
— Todos encommendassem a alma de
alguém a Deus; todos orassem a Deus
por elle. — «Veyo o primeiro dia de fes-
ta depois da chegada do P. Francisco,
começou de pregar ao pouo, e estando no
meyo do Sermam disse subitamente que
todos encommendassem a Deos a alma
de loam Galuam, porque era fallecido.»
Lucena, Vida de S. Francisco Xavier,
liv. 4. cap. 5.
— Todos os soccorros; todos os auxi-
lios. — iXa parte mais ellevada se sittua
a sua nobilissima fortalesa ; aonde ser-
vem de vigias os sentidos; de atalavas
os olhos; de bandeiras os cabellos; de
porta a boca: e de soldados do corpo da
guarda, os dentes; por onde se introdu-
sem todos os soccon-os, e viveres, como
preciso alimento daquella vivente Cida-
de.» Braz Luiz d Abreu, Portugal medi-
co, pag. 5.
— Todos mui agastados; todos mui
afflictos, e agoniados. — «Partidos esteg
quatro nauios de Lisboa em que hiam
afora pessoas nobres duzentos besteiros,
e espingardeiros, chegaram com bom
tempo a Çafim, onde Gonçalo Mendez
achou Diogo Dazambuja, e Garcia de
Mello, e com elles Diogo de Miranda, e
Emanuel da Sylveira netos de Diogo Da-
zambuja, e Francisco Dalmeida, e Fran-
cisco Dabreu seus sobrinhos, dom Garcia
de Sá, e Lionel Dabreu, Simaõ da Syl-
va, e George da Maia, todos mui agasta-
dos pela pouca verdade que lhes os mou-
ros tratauam. » Damião de Góes, Chro-
nica de D. Manoel, part. 2, cap. 18.
— Todos foram mui alegres ; todos ca-
minharam com muita satisfação. — ilsto
assentado Afonso dalbuquerque se foi de
noite a terra ver com os capitães que la
estauam, aos quaes dixe em conselho,
que sua determinaçam era matar Raix
hamed do que todos foram mui alegres,
assentando logo o modo que se nisso auia
de ter, e que fossem armados secreta-
mente 03 que o auiaõ de matar, porque
se arreceaaam que fezesse o mesmo Raix
hamed com sua valia, como de feito fez.»
Damião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 3, cap. 68.
-■ — Toda esta noite ; a noite completa,
inteira. — «A donzella, a que ficara mais
que sentir, e menos de que se contentar,
esta maginação, e vêr o esquecimento do
cavalleiro, a fez estar toda a noite acor-
dada, descontente de si mesma, e arre-
pendida de seu erro; cousa que pouco
lembra antes de caírem n'elle.» Francis-
co de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 107. — aEl Rey dizem que olhan-
do para sua mãe, lhe respondeu: Certo
senhora, que toda esta noyte sonhey que
me via preso diante de hum Juis muyto
irado, o qual me dizia, pondo três vezes
a mão no seu rosto, como que me amea-
çava.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 142.
— Todos os doutores; todos os homens
graduados em alguma universidade. —
«Finalmente ao que diz da prescripçaõ,
e posse, respondemos, que a naõ pude
haver em Reynos ; e he de todos os dou-
tores, que não se pode dar em nenhuma
matéria sem boa fé, titulo, e consenti-
mento das partes tácito, ou expresso.»
Arte de furtar, cap. 16.
— Todo o maldizer; toda a maledicên-
cia que prejudica. — «Quem he solto de
lingoa he de o ser da consciência ; todo
o maldizer que prejudica se ha devtar da
memoria como peçonha, que a quem nam
tendes boa vontade hum mosquito vos pa-
rece hum alifante, e hum arguevro de
mal seu huma trave.» D. Joanna da Ga-
ma, Ditos da freira, pag. 33.
— Todos vivos; todos com vida.
748
TODO
TODO
TODO
Das lj!irc;ift quo iirrombou ii iirtilluiría
Al^uin a Hiilfíada oiula agora iiiollia,
iliM como outao o mar ao mar corria
Kaz com r|uc a barca Hàa 04 nio rocolha.
Manda logo o Silveira liuma almadia,
Pois quo não ha ninguiMn ja quo 111 'o tolha,
E uuila doui quii doutro OA rccollicsacm
Para que vivos toilo« \h'06 troujGMom.
r. n'jLHi)ukae, i-uiuKiuo cebco de diu, cant. 18,
eat. 47.
2.) TODO, «. wt. — Um todo; qualquer
cousa com todaa aa suaa partes integran-
tes.
— O todo; a maior parte, ou o maior
bumoro do partes o membros. Vid. Tudo.
Qu'adoroin como nó.s, o incousos quoiuicm
Ao Sompitonio Auctor que rege o todo...
J. A. Dn MACEDO, A NATUUEZ.V, Cailt. 1.
— Ao todo ; contendo tudo.
— Tou\a-so taniboai advorbialmente
Enxovalhar-sc todo.
Noutra parto vio outro, também desta
Catholica, e sagrada companhia:
Aguardando com ledo rojto a morto,
(^uo ja por Duoj lhe (ístaua rouelada.
De-! Mouros arrastando o corpo louào
Oheyo todo de sprito almo, e diuino
Num profundo, c veloz rio SíipultíLo,
Os membros ([uebrautados, o desfeitos.
C. UEAL, NAUrUAOIO DE SEPÚLVEDA, Cailt. 10.
Nio quero mais comparar-vos ;
^^stos já pião do filhos ?
assim este em seus cadilhos
ó todo pião de parvos.
ANTÓNIO fRESTES, AUT03, pag. 119.
Aquello boi mo apanhou
o todo me cnsovalhou ;
estou da cabeça aberto.
IBIDEM, pag. 199.
Por oudo iroraos, senhora ?
Por mais perto : mou marido
todo é parola.
iBiDEji, pag. 417.
Que a terra é todo viço,
não ha mais ouro mociço ;
é ondo diz a cantiga
111 de Traz dos Montes
uascem meus amores.
IBIDEM, pag. 303.
— (Zela, o nau perde a paz ; dá, e
naõ perde o dominio; castiga, o naò per-
de o amor. Todo lie olhos para coiilieccr,
todo màoâ para obrar : aeuhum lugar o
cinge, e com todos os lugares se pene-
tra: nenhuma duração o mede, o todas
as duraçocus possuo em bum s^') iudivi-
sivei sem principio, sem tim, sem suc-
cessaõ, ou nuilum^a.» Padre Manoel
Bei'nardes, Exercicios espirituaes, pag.
53. — «Marcial o.-ít;l todo choyo de se-
melhantes exemplos, porem he necessá-
rio que o Autor faça rcHexilo, em que ho-
meiítu por zombaria, c para se critica-
rem íi-i bayxezas dos pretendentes, ho
dava em Roma o titulo de liey áquolie.i
a (juem os me.smos pretendentes faziito a
corte.» Cavalleiro d'01iveira. Cartas, liv.
1, n.» 17.
No meditar profundo embevecido,
O guerreiro, que aguarda ha muito a hora
í.enfa da noite, nào deu fc da névoa
Que húmida todo em derredor o fecha.
UAuBKTr, CAMÕES, caut. 9, cap. 12.
— Loc. AUV. : De todo ; totalmente.
— «Com esta deterniinaçào armados e
postos a eavallo, mandaram abrir a por-
ta, o lançar uma ponte, quo atravessava
a cava porá sair ao campo : mas o caval-
leiro do Tigre, nào querendo esperar fi')-
ra, ainda a ponte nrio foi de todo lançada,
quando se lançou dentro, o achou já no
pateo os quatro, todo» a eavallo, que, que-
riam sair.» Francisco de Jloraes, Palmei-
rim d'Inglaterra, cap. 10.'). — «Que a
culpa de cUe alli vir fora dos.se nie.smo
1'ulate Can n.ão escrever ao llidalcão o
que tinha feito, o liavia mister pêra aca-
bar de levar de todo aquella empreza na
mão.» Barros, Década 2, liv. 6, cap. 9.
— «Do moio que para concluir Ja o que
destas estalagens quiz dizer assi em so-
ma, do todo o dinheyro que se gasta
nestes banquetes se tira a quatro por cen-
to, de quo o Xipatom, dá os dons, c os
que dào os bantiuetes os outros dous. »
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações, cap.
106. — «Passado assim aquelle pequeno
espaço, em que a noyte se cerrou de to-
do : que podia ser de pouco mais de mea
hora, mãdou o Padre por hum menino
chamar o piloto, e lhe disse, que louvas-
se a Deos nosso Senhor, cuj;is eraõ aquel-
las obi'as, o màdasse logo fazer a nao
prestes, porque aquelle contraste nào du-
raria muyto.» Ibidem, cap. 214.
Dos cruéis é a crueza,
e dos brutos
delictos desassolutos ;
dos magnânimos franqueza,
dos de todo o mal corruptos.
Nào vos hão do ouvir agora.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pag. 97.
— «E para que naõ tiquem de todo em
esquecimento, apontaremos aqui algum:is
brevemente.» 8evcrim cie Faria, Noticias
de Portugal, Disc. 2, cap. 8. — «Porém
acudirão a esta obrigação alguns parti-
culares, movidos do zelo do bem com-
mum, por naõ se acabar a memoria da
Nobreza do todo.» Ibidem, Disc. 3, ca-
pitulo 18.
A gente do Sultão, o a que foi dada
Ao mundo, IA na terra do Ponente,
Tanto que o !^1 a nova luz dourada
Veio mostrando hl polo Oriento,
Vendo do Ío/U) j& dosam purada
A fortaleza, deiita iiiiiga g"-nto,
Sc t/irnào a embarcar, c o mar navcgão
K c/im prospero tempo a Diu chegio.
r. D^ANDIUDB, PRIMEIRO CERCO DE DIC, Cint. 5,
est. Ct;.
Vendo o Silveira o grilo fervor que havia
Km quem he natural miulo e fra<|ac<a,
Kspantado, mus ledo, jwrquc via
.Mudada em seu favor a natureza,
Lhe disse, que pois elU umí o i|ueria
Que file os nào soltar.'!, t^Miha Cí:rtcza,
(^'onteute cila com tal resposta fica
E de todo»!', applaca c pacifica.
uiiDEM, cant. 18, c«t. 90
Por<'-m nio sei se fora mais ditoiu
Km se render de todo ao mar e ao vento
Ficando assaz contente e gloriosa.
K CO 'o ganho dhum tão h^-roico intento,
Que a[)Oz via tào larga c trabalhosa
Chegar ao fim ao porto a salvamento
Ondo eu sei que ha Ac ter (e não me cn^no)
Outro naufrágio már c de mór dano.
IBIDEM, cant. 20, est. 3.
Sendo esta noite à Lua cnt£o negada,
Por interposii,ão da opaca terra,
A partecipaçào da luz usada
Que o Sol de natureza em si encerra,
De todo SC mostrou quasi eclipsada
Com que mais se escurece a noite c cerra,
E quiçfl que este inAo c u3:ido agouro
A partida appressar fez maia ao Mouro.
IBIDEM, est. 87.
— «Seja esta a primeira tezoura, que
aguentará muitos furtos, ainda que naS
diminua muito os ladroens; porque os
que o saõ por natureza : Naturam expel-
lunt furca'. Mas para extinguir estes,
ou nioderallos de todo, he de grande im-
portância a segunda tezoura, que so cha-
ma Milicid ; de que já digo grandes prés-
timos.» Arte de furtar, cap. 67. — «Da-
uid vendo o pouo adigido, e quo nSo ti-
nha que allegar )íor cUo senão males, al-
legalhe cõ ò cõcerto que tinha feito cí5 o
pouo de Israel, que nunca cm nenhum
tempo os auia de destruir de todo. E pa-
receme que allude a hum lugar do Leui-
tieo, no qual antre outras cousas que diz
deste concerto de Deos diz estas pala-
vras.» Paiva d'Andrade, Sormões, part.
1, pag. 223.
Hoje me deixa a frauta ; hoje discttrde
De todo eurouqueceo : que sortilégio
Di/.ei-me, S Musa, lhe embaraça agora
A doce melodia dos seus Ocos ?
ABBADE DC JAZEKTK, POESIAS, tOm. 2, pSg. 14.
De sorte que em qu.alquer pcitD,
Sem esperançíi, ou favor
Do seu dczejado objeito,
Naò s«5 falta Amor perfeito;
Mas falta do todo Amor.
EBAKCISCO BODBiaLES LOBO, PRIMAVERA.
— iVendo que era contra a critica de
hum Soneto, vi que u2o podia ser contr»
TODO
TODO
TODO
749
mira, e comecey a deácançav ; e veado
qiij o S.ineto era de V. M. de.scaucey do
todo.» Cavalleiro d'01iveira, Cartas, liv.
1, n.° 7.
Por largo csjiíiço o (loisa o Nigromante
Kepousar era doaeauíjo, até que ao vê-lo
Ue todo do desmaio recobrado,
Com mofa, c compaixão asâim lho falia:
— Não cuidei, que tão pouco esforço tinhas,
Preguiçoso Deào, imbellc, e fraco:
Que uma sentença contra ti vibrada
Te tizesse perder de todo o aleuto :
Mas Í8 Cónego em fim, e tanto basta !
A. D. DA CRUZ, HYSSOPE, Cant. 8.
— «Já de primeiro a distancia em que
te visse de mim ; logo alguns assomos de
devoção; tambeui o receio de estragar de
todo a minha saúdo com tanta falta de
dormir, tanto desassocêgo; e a pouca es-
perança de que voltes : a frieza d'e8se
teu amor, e da tua de^5pedida; o parti-
res de Portugal com tão ruins pretex-
tos; e outras mil razões tão inúteis, e
que bem valem as dittas, parecião pro-
metter-me seguridade de soccôrro, em
caso de precisálo.» Francisco Manoel do
Nascimento, Successos de madame de
Seneterre. — «Com que ficará de todo
perdendo-se a missão, e o fructo que
d'ella se espera. E com a justificação da
residência a que nos ofterecemos (que ora
o ponto em que reparava o conselho) fica
o negocio sem inconveniente algum.»
Padre António Vieira, Cartas, u.° tj.
— «Uma palavrinha aqui somente: Li-
cenças antes da dedicatória e prologo í
Sim senhores. Então que tem? queriam-
naa no rabo do livro, como fazem os fran-
cezes? Não estamos de todo á frauceza;
nem Cicero escrevia sempre more attico,
isto é, á grega.» Bispo do tirão Pará,
Memorias, publicadas por Gamillo Cas-
tello Branco, pag. 47.
— Adágios e provérbios :
— Quem faz bem ao astroSo, não per-
de parte, senão todo.
— Quem segue alguma cousa, ou al-
cança parte, ou toda.
— Toda a cousa tem logar, a quem
abençoar.
— Nem de todo o pau se faz mercúrio.
— Toda a terra ó uma, e a gente
quasi quasi.
— Todos 03 caminhos vão ter á ponte,
quando o rio vae de monte a monte.
— Estorninhos e pardaes, todos somos
eguaes.
TODOLOS, por Todos os. — Todolos ho-
mens.— «Outro sy manda ElKey a todo-
los Taballiaães e escripvàaes, que daqui
em diante em todalas escripturas, que fa-
zerem, ponham Era do Nascimento de
Nosso Senhor Jesus Christo de mil e
quatrocentos e vinte e dous ânuos, sob
pena de privaçom dos oíBcios.» Ord.
Affons., liv. 4, tit. 1, § 58. — «E man-
damos a todolos Corregedores, Juizes, e
Justiças que assy o julguem, e d'outra
guisa nom, posto que esses contrautos,
obrigações, prazos, foros, e arrendamen-
tos sejam feitos a nós, ou aa Raynha mi-
nha molher, e a nossos filhos, e Irmãos,
ou a Igrejas, e Moesteiros.» Ibidem, tit.
2, § 14. — «A qual Ley vista per nós,
declarando em ella dizemos, que per Di-
reito, assy Canónico, como Civil, he lici-
ta, e permissa em alguns casos a usura,
a saber; se fosse por algum promettido
algo em casamento com alguma molher,
e lhe nom fosse logo pago aquello, que
lhe assy fosse promettido, seendo-lhe
apenhada por ello alguma cousa, em
tal guisa que o que casasse podesse aver
todolos fruitos, e novos daquella cousa
apenhada, atee lhe seer compridamente
pago todo o principal.» Ibidem, tit. 19,
§ 2. — «E se esses Juizes, ou cada
hum delles ouverem per certa enforma-
çom, que todolos ditos creedores som
presentes em esse lugar, ou hi morado-
res, façam-nos citar j)er Porteiro, que
a seis dias peremptoriamente venham pe-
rante elles mostrar, e allegar de seu di-
reito sobre o dito preço, dinheiro, ou
quantidade assi consinada, pêra lhe seer
feito comprimento de direito e justiça.»
Ibidem.
A benç3,o de Deos
Caiu na caldeira
De Kuuo Alvres Pereira,
Que abondo cresceu
E todolo deu.
cANc. POPUL., pag. 10.
— «E enr esto chegou Álvaro Mendes
por accorrer a seu filho, e remessou o
i\Iouro, e não pôde acertar, e aos brados
deste Mouro, que eram grandes, e de
grande sentimento volverem todolos ou-
tros Mouros, que hiaoi juntos com animo
forte, e ardido, no que mostraram sua
bondade, começando huma nova peleja
com os nossos, onde de huma parte, e da
outra os golpes não hião em vão.» Inédi-
tos de historia portugueza, tom. 2, pag.
i3õ8. — «E pêra evitar estes inconvenien-
tes que alguma ora ha : quando alguns
sam presos por graves negócios, ou os
presos tem grandes adversários escrevem
todolos sinais dos presos, e fazem nos as-
sinar ao pee da escritura, pêra que assi
nam pos.sam usar dalguma das malícias
sobreditas.» Tenreii'o, Itinerário, cap. 20.
Porque por astrolomia
Conheço 03 seus nascimentos,
í> pola tílosomia
Sei todolos pensamentos
Que trazem na fantesia.
GIL VICENTE, PAKÇA3.
— «E porém saberá V. A. que este
auto foi de tanto seu serviço, que nunca
cuidei que se offerecesse caso em que tão
bem empregasse o desejo que tenho de o
servir, assi visinho da morte como estou :
porque, á primeira pregação, os christãos
novos desapparecêrão e andavão morren-
do de temor da gente, e eu fiz esta dili-
gencia e logo ao sábado seguinte segui-
rão todolos pregadores esta minha ten-
ção.» Gil Vicente, Obras varias. — «E
porque geralmente todolos que navega-
vam per fora da Ilha, por ser viagem
mais segura ainda que comprida, estavam
seguros de invernar, como indo por den-
tro, ao modo que ora vemos os nossos
navegantes daqui pêra a índia, que quan-
do partem tarde, vam per fora da Ilha
de S. Lourenço por terem os tempos
mais largos.» Barros, Década 2, liv. 6,
cap. 1. — «O qual todolos do catur hou-
veram por morto, porque o vento do pe-
louro o sombrou com que cahio, e assi
assinalado daquella ousadia chegou aos
navios, onde logo mandou lançar hum
pregão, que qualquer bombardeiro que lhe
quebrasse aquelle basalisco, lhe dava cem
cruzados.» Ibidem, cap. ò. — «E sobre
tudo todolos escravos que podia haver á
mão, como entravam na sua povoação,
nunca dalli sahiam, os quaes logo mandava
metter no serviço da obra que fazia, que
era fortalecer-se.» Ibidem, cap. 7. — «E
não somente em as náos, que Aífonso d'Al-
boquerque despachou com carga {)era este
Reyno, veio o Embaixador do Çamorij
com grandes presentes pêra ElRey D.
Manuel; mas ainda elle lhe mandou ou-
tros, que todolos Príncipes daquellas par-
tes lhe tinham enviado.» Ibidem, liv. 8,
cap. 6, — «A qual peleja acabada, em
que Cide Iheabentafuf fez feitos de taõ
estremado caualleiro, que pos espanto a
todolos que o vii-ã, elle seguio seu cami-
nho pêra Çafim, onde per consentimento
de Nuno fernandez, assentou suas ten-
das, e arraial pegado com os muros da
cidade.» Damião de Góes, Chronica de
D. Manoel, part. 3, cap, 51. — «Este
aucto ordenou que se tizesse na Egreja
de Sam Giam da cidade de Lisboa, ao
qual foram presentes todolos senhores
que andauam na Corte, e muitos fidal-
gos, e caualleiros dos quaes o que lhes
calçou as esporas.» Ibidem, part. 4, cap.
4. — «Pelo que vendo que ja tinha por
imigos todolos daquella comarca, se foi
caminho de Zeiland, em busca de Lopo
soarez, que quando o despachou se fícaua
fazendo prestes pêra naquella ilha per
mandado dei Rei dom Emanuel, fazer
huma fortaleza.» Ibidem, cap. 27.
— Todolos dias, por tudus os dias. —
«Os Chijs, que Atíbnso d'Alboquerque
tinha por vizinhos, como todolos dias o
vinham visitar, vendo sua determinação
em querer entrar na Cidade, como ho-
mens escandalizados d'ElRey, otferecê-
rani-se a elle pêra sahir em terra em sua
companhia, o que lhe elle agradeceo, e não
I acceitou. » Barros, Década 2, liv. 6, cap.
750
TOFO
TOLD
TOLD
4. — «Do manoini (|iie hon scns flespan-
tJU), o nos oiitroH muito inai« de mia vir-
tude, e fe ((iic tom Coui n(l■^^lO Senhor, o
isto faz todolos dias, e [irefca como dito
tenho a vos-ia alteza.» iJaiiiiito de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 4, capitu-
lo 3.
— Todolos rasos, por todos os casos, —
«E aja lu^ar eiu todolos casoa cm ella
conthoudos antro (]uaaes([uor pessoaa, de
qualquer estado e coudi<;om que sejílo,
posto que foHacm ante da feitura, e pu-
blicaçom delia, salvo noâ casos, que jA
forem por senttnira julpados, e determina-
dos, e as partes ontrejíue^.» Ord. Affons.,
liv. 4, tit. 1, § 4ii. — íMan<iauius, que
em todolos casos, em que pela dita Hor-
deuaçom niandilmos pagar duzentas e cin-
coenta libras por huma paguem daqui em
diante quinhentas libras por huma.i Ibi-
dem, § 12.
— Todolos df/mingos, por fodoí os do-
mingos.— (Jontinnadamente todolos do-
mingos, e dias sanctos, e alguns de fazer
cm quanto foi casado dana seraõ as da-
mas, e galantes, em qne to los dançauaò,
e bailauam, e elles algumas vezes.» Da-
mião de Uoes, Chronica de O. Manoel,
part. 4, c.ap. «4.
— Todolos annos, por todos os annos.
— «O que tinha sabido daqnellas partes,
depois que de lá vieram, era o que geral-
mente audava todolos annos per boca de
Mouros, que vinham Kunies, o que elle
havia por fabula.» Barros, Década 2, liv.
10, cap. 2.
— Todolos meses, por todos os mezes.
— «Alem disto hum Emperador do Abe-
xi, per nome iSemeute de lacob, ordenou
em louuor, e honra da mesma Senhora
Saneta Maria xxxin. dias de guarda,
pelo discurso de todo o anno, o em lem-
brança da nascença de nosso Senhor lesu
Christo, ordenou que aos XXV. dias de
todolos meses do anno t^e fezesse festa, e
se guardasse aquelle dia.» Damiào de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 3,
cap. (51.
TODOLHOS, por Todos, mudado o s
final em 1 por euphonia, e hos, artigo,
em os. Todos os. Vid. Lho.
TODOPODEROSO, A, adj. Que podo tu-
do, omnipotente.
— Substantivamente: O Todopodero-
so ; Deus.
TOESA, s. /. (Do francez toise). Medi-
da franceza de seis pés de rei.
TOFACEO, ou TOPHACEO, A, adj. Ter-
mo de medicina. Concernente ao tofo.
— Concreçtio tofacea. Vid. Tofo.
— «li. m. Termo de mineralogia. Pe-
dra branda chamada pelos naturalistas
tufo, ou ti'f,i.
— Vid. Tophaceo.
TOFEL, s. m. Instrumento de musica,
como pandeiro, ou adufe.
TOFO, ou TOPHO, s. m. Termo de ci-
rurgia. Deposito d« substancia dura, co-
mo OHsca, qne bo fji ma já no interior doa
orgiloH, já cm volta das articulaçSes.
— Vid. Tufo ípedia\
TOGA, *. /. (Do latim toga). Vestidu-
ra romana, talar, com mangas; era de
homens, de escravo» e meretrizes, que
não podiam usar da estola matronal.
— Entro nós indica vestidura do ma-
gistrado.
IJrcve a audiência foi ; nio sobra o tempo
Para as saiicta-t fuiici;'"os de iiia^istrudo
A militares róis : is armas cedo
A toya mal prezada. — Audicucia é fiada.
oABBtin, CAM., caut. 7, cap. H.
— Figuradamente : A magistratura.
TOGADO, ou TOGATO, A, adj. (Do la-
latiui toijntns). Que traz toga.
— Que tem emprego em que é mister
usar de toga.
— tí. m. Magistrado.
TOICINHO, s. m. Vid. Toucinho.
TOIÇA, s. f. Vid. Touca.
TOISON, 3. m. O tasão da ordem de
cavallaria de Hespanha.
TOJADILHO, s. m. Vid. Tejadilho, me-
lhor orthographia.
TOJAL, s. m. Matta de tojo.
— Possuir dous tojaes ; possuir quaei
nada, cousa de pouco valor, de pouca
importância.
•j- TOJALINHO, s. m. Diminutivo de To-
jal. — «Ilamelix veo per oncubcrtas atte
ho toj alinho, e nam hos voudo encami-
nhou pêra o rio doce, o que nam pode
fazer sem o verem da villa, ao que se
loguo deu reiíique.» Damiào de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 4, capitu-
lo 47.
TOJEIRA, s.f. Vid. Tojo.
TOJEIRO, s. m. Homem que acarreta
lenha para os fornos de pão.
TOJO, s. Til. Termo de botânica. Ar-
busto que é todo espinhoso sem folhas;
serve «le accendalhaa para o fogo.
TOLA, s. /. Termo popular. A cabeça.
— Loc. : Dar na tola; dizem as amas
aos meninos.
TOLAMENTE, adv. (De tolo, com o
suffixo «mente»}. De um modo tolo.
— Ineptamente. sem juizo.
TOLAN, s. /. Termo popular. Logra-
ç3o a tolo.
— Comer de tolan ; comer gratuito, á
custa do logrado. Vid. Tolina.
TOLANOS, s. m. phir. Termo de al-
veitaria. Os regos que tem o cavallo no
pa;ar.
TOLÃO. Augmentativo de Tolo. Vid.
Toleirão,
TOLDA, .«. /. Primeira coberta exte-
rior dos navios ou barcos, sobre que a
gente anda. — Tolda da proa.
— Tolda do viuho; a côr escura que
clle toma perdendo a transparência, a
Cor viva, e a limpeza apirrada.
— O logar mais publico do navio, on-
do «o devo appar<,-cer com decência : de-
signa também o logar onde so deve fazer
todo o castigo eiceniplar, lêr á guarniçSo
o regimento provisioiuil, e artigo* de
guerra, etc. ; nas embarcaçriea de guerra
é aonde existe a guarda, oudo se dá o
santo, e «c distribuem as ordens; é o lo-
gar do commandanto na occasiSo do com-
bate, ou manobras.
— Obra do panno, que cobre oa bar-
cos e navios, para abrigar do sol, e chu-
va, e que vai sobre a coberta; toldo.
TOLDADO, jjart. pass. do Toldar. Co-
berto com toldo. — «E porque quando
elle tornou com ellcs, entrou com a fus-
ta toldada, e embanileírada mostrando
muito prazer, houveram o^ Mouros que
aquclla festa nlo era por mantimentos,
mas que levava nova que náoe do Rotbo
eram chegadas a algum porto dnqaclla
costa, que os desconsolou muito, vendo
ser passado todo o inverno sem ter leva-
do nas mãos a Cidade como cuidaram no
principio da entrada da Ilha.» Barros,
Década 2, liv. 6, cap. 10. — «Ha tàbem
outras embarcações toldadas do sela, em
que se fazem muytas farças, e muvtos
jogos de diversas manevras, a que mny-
ta gente do povo concorre para seu pas-
satempo.» Fernão Mendes Pinto, Pere-
grinações, cap. 98.
— Luz toldada ; luz que nio é clara,
como os dias de nevoeiro, a que existe
nos loirares húmidos, e cheios de vapor,
nos paúes, mattas, nos dias chuvosos, etc.
— O ar toldado ; o ar nublado, an-
nuviado, escurecido com nuvens.
D°a^a huma serra n'outra embate, catála,
Ao longe sôa horrisouo bramido,
Fuzila o ar toldado, pstcnde a noit«
Fechada, e tristo as aias pavorosas,
j. A. DE iLiCEDO, A KATmuuA, cant. 3.
— Vinho toldado; vinho nSo transpa-
rente, que fica escuro.
— Dia toldado de muita nebrina ; dia
turvo, escuro.
TOLDAR, i'. a. Cobrir com toldos. —
«E por causa do ardor do Sol, qne assa-
va os homens, frechas, e zervatanas her-
vad.as, que os Mouros tiravam de alguns
eirados das casas mais vizinhas á ponte,
mandou-a Affor.so d'Alboquerque toldar
com Velas das náos, que deo a vida a to-
dos.» Barros, Década 2, liv. 6, cap. 5.
— Offuscar, nublar, annuviar, escure-
cer.
Salvo, torra innocii.t.-. iiif'-t v nuvem
.tAmais tnld( toua Iíntos horiwntos.
Nem solta tompestado as ondas turre
Do rio, que teus Campos fcrtiliia.
1. A. DB KACBDO, A KATCIEZA, CUlt. 9-
mento.
Figuradamente: Toldar o tntendi-
0.
Toldar-se, c. re/í. — Toldarem-se
TOLE
TOLH
TOLH
751
os céus; offuscarem-se, encherem-se de
nuvens.
Toldào-se 03 claros Ceo3, súbito fogom
Doa assustados olhos : repentina
Parece surge a noite, escura, e feia,
Rompe o triste clarão dhum pólo a outro,
Easgão-se as nuvens, súbito chammeja
O rápido relâmpago medonho.
J. A. DH MACEDO, A NATUREZA, Cant. 2.
— Toldar-se o vinho; tornar-se escu-
ro, e turvo.
TOLDO, í. m. Tulda do barco, o que
serre para abrigar do sol.
— Plur. Aggregado de pannos de brim,
CUJ03 lados teui a configuração dos bor-
dos do navio, e no prolongamento dos
quaes ha paus, introduzidos em castanhas
pregadas no costado ou borda, para no
topo superior d'elles se amarrarem os fieis
dos ditos toldos ; nas embarcações miú-
das 03 fieis prendem para a borda.
— Os do navio, quo tem no seu meio
umas aranhas com muitas pernadas, pre-
sas por cabos que se chamam prlgalhos,
para os levantar, ou abaixar quando fôr
preciso; o tombadilho, tolda, convez, e
castello do proa tem cada um o seu tol-
do para evitar o sol, c o sereno em cer-
tos climas.
TOLEDANO, A, adj. e s. Natural de To-
ledo.
TOLEIMA, s. f. Termo popular. To-
lice.
TOLEIRÃO, ONA, adj. Augmentativo
de Tolo. Grraude tolo.
TOLEJAR, V. 11. Dizer, ou fazer toli-
ces.
TOLER. Termo antiquado. Vid. To-
lher.
TOLERADAMENTE, adv. (De tolera-
do, com o suffixo «mente»). De uma
maneira tolerada.
— Com tolerância.
TOLERADO, part. pass. de Tolerar.
Permittido, consentido.
— Exeommungadu tolerado ; aquelle
com quem os fieis podem communicar;
differe muito do vitando.
TOLERÂNCIA, s. f. (Do latim tohran-
tia). A acçào de tolerar, sofFrer.
— Em matéria de religião : Tolerân-
cia theologica, ou catholica, ou religio-
sa; a condescendência que tem uns para
com 03 outros, tocando certos pontos que
não são considerados como essenciaes á
religião.
— Tolerância civil; a permissão que
um governo concede de praticar outros
cultos como o culto reconhecido pelo es-
tado.
— Debaixo do ponto de vista philoso-
phico, admissão de principio que obriga
a não perseguir os que não pensam como
uóà em matéria de religião.
— Disposição d'aquelles que suppor-
tam com paciência opiniões oppostas ás
suas.
— Dissimulação com cousas prohibi-
das.
— Casas de tolerância; casas de pros-
tituição.
— Termo de medicina. Faculdade que
tem 03 doentes de supportar certos remé-
dios.
— Syn. : Tolerância, indulgência.
A tolerância consiste em sofí^rer o mal,
ou o abuso, fazendo que se ignore sua
existência, ou sua malieia; porém ella
não o consente, nem o permitte, e não
renuncia a castigal-o.
A indulgência ou dissimula as culpas,
ou as perdoa facilmente. Esta pôde vir
da bondade, ou da fi-aqueza ; aquella vem
da prudência.
TOLERANTE, part. acf. de Tolerar.
Que tolera, soíFre; que permitte.
— Diz-se principalmente era matéria
de religião. — Utn zelo tolerante. — A
religião catholica é a mais severa, e a
menos tolerante de todas as religiões,
— Indulgente.
i TOLERANTISMO, s. m. Termo de
theologia. Opinião d'aquelle3 que levam
mui longe a tolerância theologica.
— Nome dado por dissimulação ao sys-
tema d'aquelles que crêem que se devem
tolerar n'um estado todas as espécies de
religião.
TOLERAR, V. a. (Do latim tolerare).
Permittir tacitamente, dissimular com a
cousa digna de castigo, censura.
— Exercer a tolerância religiosa.
— Diz-se também fallando das pessoas.
— Tolerar alguém.
— Levar com paciência.
— Não perseguir por opiniões politi-
cas, por discm-sos, etc.
— Permittir por lei cultos dissidentes
da religião do estado, e da maioria da
nação.
— Vid. Soffrer, e Approvar, que dif-
ferem .
TOLERÁVEL, adj. 2 gen. (Do latim
tolerahilis, de tolerare). Que se pôde sup-
portar, tolerar. — • Isso não é tolerável.
— Que admitte perdão, não rigoroso,
indulgente.
— Nào muito defeituoso.
TOLERAVELMENTE, adv. (De tolerá-
vel, com o suffixo «mente»). De um mo-
do tolerável.
— Softrivelmente.
1.) TOLETE, 5. m. (Do francez tolet).
Termo de marinha. Cavilha á borda do
barco, ou embarcações miúdas, em que
se fixa o remo, por meio de uma corda
entrançada, que se chama estrepo, que
serve de peia ao remo.
2.) TOLETE, adj. 2 gen. Algum tanto
tolo, um pouco tolo.
TOLETEIRA, s. /. (Do francez íc-/i'è-
?tí). Termo de marinha. Pequena eleva-
ção na borda dos barcos, botes, onde se
mettem os toletes.
TOLHEDURA, s. f. Termo de volatc-
ria. O excremento das aves da caça. Vid.
Talhadura.
TOLHEITO, í. m. Termo antiquado.
Vid. Tolhido, e Tolhimento.
TOLHER, V. a. (Do latim tollere). Pro-
hibir, vedar. — «Isto, pêra nos degraos
vazios antre huma grade e a outra se re-
colher, e estar muyta gente sem pejar a
saia, e verem todos muyto bem, sem to-
lherem vista huns aos outros, os quaes
eram pessoas lionradas, cortesãos e ci-
dadãos, que ally eutrauam per mandado
dos mestres salas ; e da grade de cima
estauam as mesas, e os • seruidores que
delias estauam ordenados, os que eram
necessários, e mais não.» Garcia de Re-
zende, Chrouica de D. João II, cap. 118.
— I?rohibir, evitar, defender, obstar.
— «E per esta Ley nom tolhemos a pe-
na, que he posta per ElRey Dom Donis
em sua Ley aos forçadores, a qual ho
encorporada no Titulo, Dos que forçosa-
mente filhaõ posse da cou^a, que outrem
possue, que he no Quarto Livro da nos-
sa reformaçom.» Ord. Affons., liv. 5, tit.
27, § 1.5. — «Pêro naõ tolhemos aas par-
tes poderem dar, e oferecer em pagua-
mento do dito preço ouro, ou prata em
Marco, á valia daquello, que per nos he
Ordenado, segundo se acerqua dello am-
bos acordarem.» Idem, liv. -4, tit. 1, § 2.
Porque vou
mil vezes pêra nioel-o
c tu, filha, vens tolhel-o,
que isso é o que o damnou.
Se o quero lançar fora
tu veus-me rogar por elle.
ANTÓNIO PRESTES, ACTOS, pag. 125.
Olhae, senhora,
cu nào vos folho vestirdes,
calçardes ; janela, ir fora
é todo me destruirdes.
IBIDEM, pag. 243.
Jlostra o Governador alegre rosto
Ao presente, e responde, que nesta hora
Ir vêr ElEci lhe fora hum grande gosto
Mas que a indisposição lhe tolhe ir fura ;
Porém como se achar melhor disposto
A falta supprirá que teve agora.
Torna-se o Jfouro logo satifeito,
A dar conta ao Sultão do que tem feito.
T. d'andb.4.de, primeiro cebco de Din, cant. 6,
est. 60.
— Tolher a citação; embargar com al-
legações.
— Tolher o penhor ao porteiro; impe-
dir a penhora.
— Privar.
— Toma-se também por talhar.
— Obstar, estorvar.
— Tolher os membros; baldal-os, tor-
nando-os tolhidos.
— Tolher-se, i-. rejl. — Tolher-se dos
membros; perder o uso d'elles por se en-
colherem com doença; baldar-se d'elle3,
— Ficar paralytico,
752
TOM
TOMA
TOMA
TOLHIDO, part. jms». de Tolher.
— i';irul\tico.
— Ficar, ou andar de falias tolhidas
com ahjuein; uZo so fallar por iiiiuiii5a.(le
cum cllo.
— Tolhido l/e membros; baliliulo d'()l-
loH.
TOLHIMENTO, «. m. A ac^ào do to-
lher.
— Tolhimento de penhor; nSo consen-
tindo ijouhorur, ou tomando por força o
penlior,
— Tonia-se tanibom por talhamento.
— Paralysia.
TOLHO, *•. m. Poixo da íif,'ura do par-
go, quo so j)esca no Al^íarve.
TOLICE, s. /. Tolcinia, a qualidade do
que ó tolo.
— Parvoice.
— Dito, ou acto do tolo.
— Estupidez.
TOLINA, «. /. Termo popular. Logra-
çíío do que come, e leva as cousas gra-
tuitamente a algum tolo.
TOLINAR, V. a. e n. Termo popular.
Lovar á tolina, chupar, fazendo tolo a
qu'>ni s(í dt^ixa comer assim.
TOLINEIRO, A, adj. o s. O guilhote
que gosta do comer, e gozar do alheio
COMI lahia, boa feiyao c taes artes.
TOLINHO, A, adj. Diminutivo do To-
lo. Algum tanto tolo, tolete.
Item, que A scrvilheta do viainho,
Por qupin andaste sempre mui toliiiho,
E sem Júpiter ser, nem cila Europa,
Transformado te vi por cila em 'stopa,
Teus versos fa(;as sempre, que hc preciso,
Inda andando confuzo, andar com cizo.
ABB\DB DE JAZENTE, POESIAS, pag. 33.
TOLLE, s, m. (Do latim tolle, impera-
tivo de tullere). Termo usado na seguin-
te locução: Tomar o tolle; ir-se, despe-
di r-s o.
TOLLETE, adj. Yiá. Tolete.
TOLO, A, adj. Insensato, sem bom jui-
zo, inepto.
E mais, quando por consoquoneia justa
Mo vens a chamar fôlo ; pois sabida
A maior, do naõ sor eu bom Poeta,
A conclusão qualquer rapaz a tira.
ABBADK DE JAZKNTE, POESIAS, pag. 23.
— Esfar tolo de alguma cousa ; estar
muito admirado d'ella.
TOLONA, s. /. de Tolão. Toleirona.
TOLONTRO, s. »í. Tubcra, caroço.
— • Tumor produzido por golpe na ca-
beça.
1.) TOM, s. m. Certa inflexão da voz.
Chum tom do voz noa falia horrendo c grosso,
(}ue jiareceo saliir do mar profundo :
Arrepião-ae as carnes e o cjd)ollo
A mi o a todos, só de ouvi-lo e vo-lo.
CAM., Lus., cant. 5, est. -kl.
; ser o auctor a
Vid. este ultimo
,-uI-
— Certo grau de elevação da voz, ou o
abatimento d'ella, ou de outro nom. —
oJlas tanto que ou imigos o viram larga-
ram a iiao fugindo poià banda de Hopc-
lim, Duarte Pacheco os não quis seguir,
nem mcno.s entrar na nao, porque ja ouuia
tom do boinljardas o (juc lhe parceeo que
seria no vao de Camlialam, jielo que logo
voltou.» Dami.no do (joes, Chronica de
D. Manoel, part. 1, cap. Hl.
■ — Figuraiiamento : O tom do tstylo.
— Figuradamente : O brado.
Que nilusca que mo faz ostc mancebo !
Ambos, ambos d,e dous. — E como attcctam
Do pae o tom sentencio.*» c grave,
A pomposa virtude, o olhar austero !
OARREXT, CATÃO, aCt. 1, BC. 4.
— Dar o tom nos coros; ferir o som
em quo so ha do cantar.
— Loc. : Dar tom ás fibras; restituir
a cilas tensão, o força natural.
— A este tom me disse outras cousas;
conformes a esta.
— Loc. ror. : Sem tom nem som; des-
propositadamente, sem jjroposito.
— Figuradamente : Dar o tom nas
sociedades, modas, etc
quem os mais imitam.
— Vid. Tono.
— Syn. : Tom, som.
vocábulo.
2.) TOM, s. m. Herva oíEcinal,
garnientc pencedano.
3.) TOM, s. IH. Na Ásia, editicio como
alcorão.
-[ TOMA. Forma do verbo tomar na
terceira pessoa do singular do presente
do modo indicativo. Vid. Tomar.
Eis-me toma o quo lhe dou,
assi nestoutro fingido
que maneira ou que sentido
liei-de ter do em que estou
a tornar-uie em seu marido ?
ANTÓNIO PKESTES, AOTOS, pag. 323.
Senhor, não me faleis, Mcrida
quando toma? isto m'importa ;
aqui não me pranteis horta
com Dom Duardos o Fiérida,
porque isso não me conforta.
IBIDEM, pag. 485.
— «Ha primeira que esta da banda da
Índia he ha pruvincia de Cantaõ, ha ca-
beça desta provinda he ha cidade de
Cantaõ, da qual toma dcnomiuaçam ha
província.» Fr. Gaspar da Cruz, Tratado
das cousas da China, cap. 5.
Tens cheio o coração de ignoto fogo,
A quem mortacs no .Mundo amor ohamilrão,
\ quem puro prsizer nos Ceos se chama.
Este puro prazer do gozo alheio
Toma foi\a, c calor, e tudo a todos
ISe apraz de ser, c se derrama inteiro.
J. A. DE M.VCEnO, VI.iaGM EXTÁTICA, C4nt. 1.
TOMADA, e. /. A acção do tomar.
— Presa, expiígnação. — <E a outra
daria cauxa a que cilas acudissem áquel-
la parte, o entretanto teria ello tempo
pêra fazer Pua fortaleza hcui estar Hem-
pre com a lauça na mão, e também po-
dia dar lium salto om Malaca, como ee
fez na tomada da barcaça com a artilhe-
ria, Bcndo a nonsa Armada no rio do
Muar.» ParroH, Década 2, liv. 9, cap. 2.
— t(J qual anno fui nc.^íte licyno hum
dos mais prosiicros, e do maior prazer
que ellc vio |)or cau.«a da índia: «já não
somente vieram muitii« náo.'<, o bem car-
regadas de especiaria, mas aimla novas
da tomada do Malaca, e do feito de Be-
nestarij, esta embaixada do Preste, ou-
tra (PEIRey do Ormuz, ('como já disse-
mos,) muitas cartas, e presentes de ou-
tro.s Principes ilo todo aquelle Oriento.»
Ibidem, iiv. 7, cap. 6. — «Ciiegou logo
dalii a poucos dias a < >oa huma nao que
^liliquiaz mandaua carregada do manti-
mentos a Afonso Dalbuquerquc, o nella
hum messageiro per quem o mandaua vi-
sitar, e dar o prolfaça da tomada do Ma-
laca.» Dannào de (joes, Chronica de D.
McUioel, part. 3, cap. 'óO. — cCom estas
nonas abrandou Duarte de Jjomoe, e fi-
cou iVfouso Dalbuquerque desa8.-iombrado
delle, fazendolhe com tudo muita corto-
sia, mas nem isto abastou pêra lhe Duar-
te de lemos manter a palaura que lhe
dera de o acompanhar na tomada de
(!oa.» Ibidem, cap. 15. — f Sabida pelos
moradores das cidades de Tite, e Alme-
dina a tomada Dazamor as despejarão de
todo, do que certificado o Duque, man-
dou tomar posse da de Tite, e Nuno fer-
nandez dataide capitam, e gouernador
do çafim a foi tomar de Almedina.» Ibi-
dem, cap. 47. — «O qual liomezeanes
do zurara (que também foi Chronista, e
guarda mor da mesma torre) na Chroni-
ca que fez da tomada de Septa no capi-
tulo iii, diz (pie compôs por mandado dei
Kei dom Duarte, sendo Infante, a Chro-
nica do dito Rei dom loam seu pai, com
que nam poilc chegar que ate a tomada
de Scpta.» Ibidem, part. 4, cap. 38.
— Acção de prender. — Pagar tanto
de tomada.
— Acção de tomar cobrando o que se
nos deve por foro, ou direito.
TOMADETE, adj. 2 pen. Diminutivo de
Tomado, usado na seguinte Kicuç.ão : To-
madete do vinJi/j; qnasi bêbado, quasi
embriagado, tocado do vinho.
TOMADIA, s. f. A acção de tomar
conquistando, captivando.
— Termo antiquado. Direito de tomar
mantimentos, e roupas entre os senhores,
vassallos e mallados.
TOMADIÇO, A, adj. Agastadiço, enfa-
dadiço, accelerado, assomado, desconfia-
do, viilronto.
TOMADO, 1'art. /«k-í. de Tomar. Oa-
rdiado por armas, ctmquista^lo. captiva-
do. — «Os quacs lhe não quizeram abrir
TOMA
TOMA
TOMA
753
nem dar entrada, de que a dona ficou
muito triste, lemlarando-lhe, que além de
vêr sua filha perdida, achava sua fazen-
da e casa tomada de imipo?.» Francisco
de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap.
105. — «A villaziuha tomada assim pela
rédia, sem lhe mandarem ver os cascos
nem a desalbardarem, quer-se parecer a
Lisboa, principalmente os picões d'alts-
naria que se querem também inbridar
á íjuisa dos lisbonenses. s Fernão So-
ropita. Poesias e prosas inéditas, cap.
19. — «E verdadeiramente que na espe-
rança, se a elle teve de galardão, não se
enganou comnosco, porque tomada a Ci-
dade, Aífonso d'Alboquerquo lhe pagou
esta sua obra com honra, e mercê que
lhe fez, a qual foi causa de sua morte
voluntária, (como adiante veremos em
seu lugar).! Barros, Década 2, liv. tí,
cap. 3. — «Bernaldim de Sousa, como D.
Álvaro tinha tomados os lemes a todas
as embarcaçoens, e estavão quebrados o
Capitão, e elle, manilou dissimuladamen-
te embarcar o seu fato, e o dia em que
esperava de se fazer à vela, tendo pres-
tes de noite huma embarcação ligeira.»
Diogo de Couto, Década 6, liv. 10, cap.
7. — «E a briga se travou entre huns e
08 outros tão brava, e tanto sem pieda-
de, que em pouco mais de meya hora o
negocio ficou logo concluydo, e o castel-
lo tomado cõ morte de dons mil Chins e
Mogores que estavão dentro nelle, e dos
Tártaros não mais que até cento e vin-
te.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 119. — íAvendo ja quasi oito
meses que estes nossos cem homens an-
davão nesta costa embarcados em quatro
fustas muyto bem concertadas, em que
tinhão tomadas vinte e três nãos de pre-
sas muyto ricas, e outros muytos navios
pequenos.» Ibidem, cap. 146. — «Após
isto provendo cõ muyta pressa na fortifi-
cação das duas fustas e da Galé que ti-
nhaõ tomado, as abalroarão com a riban-
ceyra da parte do Sul, e lhe assestarão
cinco peças grossas que defendião a en-
trada da angra.» Ibidem. — «E porque
os Franceses com os Venezeanos se não
concertarão, os Franceses recolherão as
mercadorias a seus nauios, e vendei-ão as
gales que el Rey comprou, e mandou le-
uar a ribatejo, ate ver o que a Senhoria
de Veneza ordenaua delias. E assi defen-
deo que ninhumas cousas, que das ditas
gales forão tomadas, em seus Reynos não
fossem compradas, o que assi se com-
prio.s Garcia de Rezende, Chronica de
D. João II, cap. 58. — «De maneira que
antes de Afonso dalbuquerque ter acaba-
do o conselho, Aluaro marreiro tinha ga-
nhado o baluarte, com que se a gente
começou daluoroçar, dizendo que comba-
tessem a cidade, pois aquelle baluarte
era tomado.» Damião de Góes, Chronica
de D. Manoel, part. 3, cap. 43.
— Apanhado, agarrado. — «E muito
TOL. V. — 95.
mães quando lhe contarão dons Jlouros
Guzarates captiuos que foraõ tomados em
Momljaça o que viraò fazer aos nossos
naquella cidade, e ouuiraõ do que leixa-
uaò feito em Qniloa.» BaiTos, Década 1,
liv. 8, cap. 9. — «Dentro deste terreyro
estava posto em pé, encostado a hum cu-
bello de cantaria muyto forte e alto, o
mais disforme e espantoso mostro de fer-
ro coado que os homens podem imaginar,
o qual tomado assi a esmo, se julgava
que seria de mais de trinta braças em
alto, e seis de largo, n Fernão Mendes
Pinto, Peregrinações, cap. 126. — «E a
serra foy tomada com as oitenta peças de
artilharia, e el Rey ferido, as tranquey-
ras queimadas, os vallos derrubados, e o
Xemim Brum general do campo morto,
com mais de quinze mil homens, em que
entrarão seiscentos Turcos, e foraò toma-
dos quarenta elifantes, e outros muytos
mortos, e oitocentos Bramaas cativos.»
Ibidem, cap. 155. — tNào quero deixar
de dar novas minhas a v. m. porque sei
que V. m. as estimará, sendo melhores
do que a falta d'ellas, e a tardança da
minha viagem haverão lá prognosticado.
C;l se cuidou que éramos tomados ou per-
didos, e para tudo houve occasiào, por-
que lidamos com inimigos, com tempes-
tades, com outros infinitos géneros de
trabalhos e perigos, de todos os quaes foi
Deus servido livrar-me o trazer-me ao
cabo de 59 dias a Paris, onde fico ao
serviço de v. m., de saúde, que nào é
pouco, havendo padecido tanto.» Padre
António Vieira, Cartas, n.° 2.
— Tomada a benção: recebida. — o Elle
senhor studa o sãcto Fuaiigelio, e tanto
que o sacerdote acaba de dizer Missa lhe
pede a bençam, a qual tomada se põem
a pregar ao pouo com muito amor, e com
muita caridade, rogando-lhe, e pedindo-
Ihe pelo amor de nosso Senhor que se
conuertào, e tornem pêra Deos.» Damião
de Góes, Chronica de D. Manoel.
— LiçZes tomadas; lições dadas, rece-
bidas. — «Achava-se redusida a tratar os
mesmos conhecimentos antigos de Mes-
tres; e pessoas sabias de quem tinha to-
mado muitas liçoens, porem desta parte
nào havia esperança de faser progressos
no amor, nem na galantaria.» Cavalleiro
d'01iveira, Cartas, liv. 1, n.° 40.
— Adoptado, recebido, usado, usurpa-
do.
Toda a tua glória, victorioso AfiFonso,
Esgc appellido insigne que haa (ornado
Ao destruidor da desleal Carthago,
Nódoa tam negra á fama te nào lavam.
OAKBETT, CAMÕES, cant. 8, cap. 9.
mada.
Figuradamente: Passara alma to-
uào digo nada
Eu, cunliada,
Nào, vós sois todo fradênho
alma passara tomada.
ANTÓNIO PRESTES, ACTOS, pag. 267.
— Tomado de medo; medroso, cheio de
medo.
— Diz-se também do animal de tiro,
ou de carga por inchado, ou ferido da
sella, albarda, e arreios.
— Tomada a cadella, ou outra fêmea
do animal que anda em brama.
— ^ Agastado, aggravado, escandalisado.
— Tomado do vinho; bêbado, tocado
d'elle.
— Tomado á fome, á sede, ao frio,
etc; apanhado d'elles.
— Tomado de sornno, de ciúmes; pos-
suído delles.
— Picado, oífendido, resentido.
— - Cousa tomada ás mãos; cousa co-
nhecida, apalpada, averiguada, concluída.
— Mentira tomada ás mãos; mentira
palpável.
— Tomado de amor; ferido, ou pos-
suído d'elle.
— Tomado de pobreza.
— Tomado do demónio ; possesso d'elle.
— Tomada a besta; maguada, ferida,
molestada.
1.) TOMADOR, s. m. Homem que to-
mou alguma praça, ou presa náutica.
2.) TOMADOR, A, s. Pessoa que toma
alguma cousa.
TOMADOURO, ou TOMADOR, s. m. Ter-
mo de náutica. Pedaço de gaxeta, que
disseminado e pregado pelas vergas, ser-
ve para ferrar o panno, amarrando-o con-
tra ellas, ou um cabinho delgado que ser-
ve para o mesmo fim. Vid. Gaichete.
TOMADURA, s. /. Matadui-a, ferida de
besta que se tomou da sella, ou albarda
mal cheia, ou carga mal posta, nas cos-
tellas, ou na cernelha, etc.
7 TOMAE. Forma do verbo tomar na
segunda pessoa do plural do modo impe-
rativo. Vid. Tomar.
Deus cm nós Ih 'os tem doado
e elles são
os seus cofres, que nós não ;
de lh'o3 darem é Deus o dado,
nós — tomae ; elles, a mão.
AKTOXIO PRESTES, ACTOS, pag. 83.
Eil-o, tomae-o, senhora.
Mana, casei com partido
de cial-o dcãd'agora.
Emfim que fazeis de mim?
IBIDEM, pag. 229.
Mande-me cobrir primeiro.
Não, que vindes encalmado ;
tomae ar, pobre barbeiro,
que pintado
T03 está desbarretado,
até nisso sois inteiro.
IBIDEM, pag. 339.
E morrer
ir CO 'isto ! tomae, vamos ;
754
TOMA
TOMA
TOMA
pároco i»to já. graça ; quo?
I)'aqui logo ondo tomilmo»?
Qhím (|Uo 110» iião dotculiamort V
Vá, Hobi'o vosHa incroÍ!
Vindo cedo.
iniDEu, pag. .397.
Poso a sSo Poto,
tomae IA.
Não mo está bom,
nom mo convom
tom.ar isso.
iniDEM, pag. 403.
f TOMAES. Forma do vorbo tomar na
segunda pessoa do plural do tempo pre-
sente do modo indicativo. Vid. Tomar.
— «Albayzar não pôde soffrer taes j)ala-
vras por tocarem em sua senhora; dis.se
contra Floriano : V(')3, cavalleiro, sabeis
bem o tompo, em quo me tomaes ; porém
se vos atreverdes ir a essa corte no tem-
po em quo ou ahi estiver, quo senl cedo,
1:1 vos mostrarei quão differentc 6 o me-
recimento de Targiana do das outras mu-
lheres, se sobre isso vós ousardes comba-
ter comigo.» Francisco de Moraes, Pal-
meirim d'Inglaterra, eap. 76.
E VÓ8 vos soguracs ?
EUo é o preso, o o que el-rci
diz : per bom hei
que se solto solto. Tomaes f
JjA jil tomo, c cl-roi, dixci,
por isso ó preso T
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pag. 367.
TOMAMENTO, s. m. Termo antiquado.
A acção do tomar. — O tomamento de
armas.
-}- TOMAMOS. F(5rma do verbo toinar na
primeira pessoa do ])laral dn tem]io pre-
sente do modo indicativo. Vid. Tomar.
— «Com o estômago em paz, tomamos
cavalgaduras que nos acompanhassem até
Santarém, para onde foi o caminho Já
monos trabalhoso, posto que a calma
nos encontrasse.» Fernão Soropita, Poe-
sias e prosas inéditas, pag. 26. — «Mas
dali pouco mais de meya legoa, vimos
outra pouoação, ci5 sua fortaleza porá
a qual tomamos nosso caminho; nelle to-
pamos com dous Persianos, aos quaes os
nossos perguntarão onde acharíamos agoa.
ilostraramnos ao longe humas Palmey-
ras, dizendo, que ao pè delias nascia
huma fonte, o que não sabiào doutr.-i, que
mais porto estiuesse.» Frei (íaspar de S.
Bernardino, Itinerário da índia, cap. 10.
— (ilvntas as cousas quo nos eoiiuinh.uo
tomamos lingoa, a quem todos se entre-
garão, com pacto, c cõeerto, de nos poer
cm a Cidade Aleppo em Turquia, prouen-
donos ã sua custa de todo o necessário
atè botica, que siS porá este effeyto leuou
consigo, na maneira possiuel.» Ibidem,
cap. 12.
TOMAR, V. a. Receber o que se d;i. —
«E por que o croedor nom quiz tomar a
pagua, o devedor reteve cm sy a moeda,
que offereceo; em este caso mandamos
que pague pela dita moeda antigua, ou
nova, que foi feita iles o primeiro dia de
Janeiro Era de mil e quatrocentos o vin-
te e três annos, ou a settetita libra.s, por
um d'osta moeda de tros libras e meia.»
Ord. Affons., liv. 4, tit. 1, § 10.
— Ganhar por armas, conquistar, ca-
ptivar. — «A onde logo per hum degre-
dado em companhia de hum dos Mouros
mandou dizer a clRey quem era c o ca-
minho que fazia e a necessidade que ti-
nha de piloto : e que esta fora a causa de
tomar aquellos homems, pedindo que lhe
mandasse dar hum.» Barros, Década 1,
liv. 4, cap. 6. — «Por a qual razão, posto
que o tempo era mui perigoso pêra nave-
gar, e agente vinha mui anojada do mar,
o outra enforma, provido o melhor que
pode, cspedio a Pêro Mascarenhas que
fosse tomar qualquer porto das nossas
fortalezas da Índia pêra esforçar a gente,
sabendo ser elle vivo: Cil pelas novas que
D. Aires, c Christovão de Brito l;l deram
também o haviam por perdido. Idem, Dé-
cada 2, liv. 7, cap. 2. — «Porém não lhe
foi assi leue de tomar, porque ante de
chegarem ;l estancia em que tinham asses-
tada sua artilharia, acharão hum mamillo
de terra que se torneaua de aguoa com
preamar, a maneira de ilheo, e de maré
vazia ião do lugar a elle a pè enxuto:
em o qual por ser soberbo sobre a praya,
fezerão hum mò lo de baluarte onde es-
tauão obra de cincoenta homens, gente es-
colhida em guarda de certas peçis de ar-
telharia.» Ibidem, liv. 2, cap. 2.
ITo Duque vimos chegar
n Azainor, logo tomalo,
vimos aobrello leuar
mais de dous mil de cauallo
tantas legoas sobro mar.
QARCIA DR REZENDE, MISCELLANBA.
Mas vimoslho tanto dar,
o tanto deixar tomar
hos grandes toda CastcUa,
que elles erão 03 Eeya delia.
— «Primeiramente. Quanto ao primeiro
artigo, que se ate o presente tempo esti-
uera el Rei de Ormuz a seruiço dei Rei
dom Emanuel, e em quanto assi estiuesse
lhe quitaua sete mil, c quinhentos xcra-
tins cadanno, que hc ametade das parcas
e isto dando lugar quo se fezosso fortjv-
leza na cidaile Dormus, e que se lhe apro-
uesse de tomar a ilha de Babarem para
si que entíiõ lhe quitaria os xv mil xera-
tins.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 3, cap. 66. — « Despejados
os paços, el Rei se tornou parellos, acom-
panhado de todolos portugueses que esta-
uaõ om terra, e de numero infenito dos
da cidade c por o lugar ser o mais forte
delia, Afonso dalbuquerque os entregou
perante os principaes ípie nili estauam a
el Rei, e a Raix nor<lim tomando-lhes a
menagem que teriam aquelia fortaleza por
el Rei dom Emanuel seu senhor.» Ibidem,
cap. 68. — oTinha ordenado de tomar
Terter, que he hum castello muito forte,
cinco legoas Dalniedina, o quatro da casa
do caualeiro, pêra nelle fazer outra for-
taleza.» Ibidem, part. 4, cap. 85. — «Se
o senhor Mitaquer, Nauticar de T^ançaroe
nos der hum assinado seu em nome dei
Rey de nos mãdar pôr seguros nas agoas
do mar da ilha do Ainão, donde nos pos-
samos yr livremente para nossa terra,
quiçá que lho faroy eu tomar o castello
cõ muyto pouco trabalho.» Fcrn3o Men-
des Pinto, Peregrinações, cap. 118, —
«Despois que tivemos comido tratou co
Joríje ^Mendez pela informação que lhe
tinhão dado, do modo que se teria no to-
mar do castello, e lhe fez muytas pro-
messas de grandes honras, e rendas, e va-
lia com ol Rey.» Ibidem, cap. 119. —
«Espantou a Rumecào a ira, aos Turcos
o desprezo, e por não ter D. Álvaro em-
bainhada a espada dos seus, em quanto
não chegava a batalha, mandou alguns
navios de Baçaim, e Chaul tomar a^ Goi-
vas que b.osteeião o inimigo. » Jacintho
Freire d'Andrade, Vida de D. João de
Castro, liv. 2. — «Sobre ha qual estando
eu em Ormuz fuy enformado por gente
que daquellas partes veo a contratar a
Ormuz, quo vinha ho Rey de Rusia com
muito exercito pêra lha tomar tendo lhe
Ja tomadas das outras duas cidades que ho
turco lhe tinha em suas terras.» Frei < ías-
par da Cruz, Tratado das cousas da China,
cap. 3. — «Ao Pontitice lho fica o Turco
seu ailuersario, e emulo capital, com quem
continuamente anda em guerra : e posto
que este em numero de gente e artelha-
ria, ponha muytas vezes o Persa em con-
fusão, tomémdo-lhe as íVaças, Cidades,
Fortalezas, e Castelos.» Frei Gaspar de
S. Bernardino, Itinerário da índia, cap.
14. — «O qual quando ElRey o queria
tomar, era obrigado a dar cem livras
Portuguesas, e delias tinha o Almirante
a quinta parte.» Severim de Faria, Noti-
cias de Portugal, Disc. 2, cap. 13. —
«Quando ElUey D. Afonso V. passou a
Africa a tomar Arzilla, o acompanhar.aõ
cinco Irm.ãos ila Familia dos Pimentcis
naturaes de Villa Real.» Ibidem, Disc.
3, cap. 16.
— Receber, acceitar, ouvir. — «E eo
n'isto não quizcrdes fazer seu rogo, será
forçailo sair fora e tomar-vol-0 por for-
ça, cousa que n.ão queria, por nSo ter
diiferença com cavalleiros desta terra.
Fermosa donzella, disse Florendos, bem
se parece que esse cavalleiro sabe mal
o muito que o escmlo custa a quem si»
com os olhos o logra, quai.to mais lev.ol-o
tão Icvomente.» Francisco de Moraes,
Palmeirim d'Inglaterra, cap. 110. — «E
TOMA
TOMA
TOMA
755
todos me perdoay por não tomar vossos
pareceres, que autes que dom loam vies-
se o tinha assi assentado, e se perigos
passar, era muyto mayor perigo estào
muytos fidalgos, o cavalleiros por me
seruirem, os quaes eu muyto estimo, e
também Nosso Senhor dará sua ajuda,
pois que he por seu seruiço, è contra os
inimigos da sua Sancta Fé Catholica: c
com isto se leuantou, e como Príncipe
muy esforçado, virtuoso, e piadoso por
saluar os seus, determinou logo o mais
em breue que podesse lhe soccorrer em
pessoa. D Garcia de Rezende, Chronica
de D. João II, cap. 82. — • «Do que por
suas cartas deu conta a el Rei dom Ema-
nuel, mandandoho visitar por Monsieur
de la Chaulx seu camareiro, e do seu
conselho que depois de o el Rei despedir
foi tomar el Rei dom Carlos na Crunha,
onde se hauia de embarcar.» Damião de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 4,
cap. 48.
— Tomar posse; recebel-a, apossar-se.
— «Assi que por esta razaõ como pêra
ir tomando maior posse daquelle grade
estado que lhe Deos tinha descuberto,
ordenou de mandfv este anno de qui-
nhentos e quatro huma grossa armada a
capitania mòr da qual deu a Lopo Soa-
res filho de Rui Gomez d'Aluarenga
chanceler mor que fora destes Reynos
em tempo d'elRey dom Afí'onso o quin-
to.» Barros, Década 1, liv. 7, cap. 9.
— «O que feito, Roçalcão confiado na
muita gente que ja tinha, não tam so-
mente nam quis entregar os Portugue-
ses como fora assentado nas pazes mas
antes mandou dizer a Diogo mendez que
lhe largasse a cidade, senão que faria
sobre isso guerra, ao que respondeo que
viesse elle tomar a posse, que pêra lha
dar tinha ja prestes as testemunhas, mas
estas erão as armas com que lha auia de
defender.» Damião de Góes, Chronica
de D. Manoel, part. 3, cap. 21. — «Des-
pedido dom Aleixo dom Duarte se foi a
Goa, e dahi a Cochim, e sem usar ne-
nhum comprimento dos que Diogo lopez
usara com Lopo soarez, se foi da nao
aposentar na fortaleza, tomando logo pos-
se da gouernança da índia.» Ibidem,
part, 4, cap. 65.
— Agarrar, apanhar, recolher. — «Nes-
te mesmo tempo que Affonso d'ArDoquer-
que espedio Pêro d'Alboquerque com es-
ta Armada, mandou Diogo Fernandes de
Beja a ElRey de Cambaya assentar as
cousas da fortaleza, que lhe tinha conce-
dido em Dio, o qual Diogo Fernandes
hia bem acompanhado com té vinte ca-
valgaduras, que havia de tomar na Ci-
dade de Çurrate, de que era senhor Me-
lique Gupi nosso amigo.» Barros, Déca-
da 2, liv. 10, cap. 1. — «As outras duas
laiiteas sintindo a revolta, largarão as
amarras por mão, e fugirão a remo e a
vella com tanta pressa, que parecia que
o diabo hia nellas, mas nem isso bastou
para deixarmos de tomar ainda huma
delias, assi que das quatro nos ficarão as
três.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 47. — «Apontarão da banda
de fora com huma espingarda nelle, e
tomando-0 pela cabeça, deraõ com elle
morto no chaõ, e acodindo os seus aos
gritos do menino, achàraõ jà o Capitão
morto, e correndo a voz pela fortaleza,
acodirão todos a sua casa, sem saberem
donde aquillo podia vir, e alli de com-
mum consentimento elegerão por Capi-
tão hum Fidalgo pobre, acanhado, mas
bom homem, e bom Christaõ, chamado
D. Artur de Castro.» Diogo de Couto,
Década 6, liv. 7, cap. 2. — «E quando
chegaõ os navios para tomar a carga,
entregalhos cozidos por outro tanto mais
do que lhe custaram, como se o manda-
rão negociar só para si, e nam para toda
a companhia, cujo era o cabedal, com
que efteituou o primeiro lanço.» Arte de
furtar, cap. 6. — «Assi o fez três dias,
e noytes, sem a nao nelles atrauessar
nunca, nem tomar de luua, ou por da-
uante, o que certo foy euidentlssima ma-
rauilha.» Frei Gaspar da Cruz, Itinerá-
rio da índia, cap. 4. — «E inquerindo
dos Cameleyros a causa daquella noui-
dade, contaram, que no próprio lugar
vindo dous companheyros, hum delles
matara ao outro, por lhe tomar hum pou-
co de dinheiro, e o caualo em que vi-
nha.» Ibidem, cap. 10.
Aqui vendo que em vão tomar pretendem
O Sultão, que com azas lhe fugia,
A roubar polo Eeino então se estendem.
Onde nada este intento lh'inipedia.
Depois que com cubica não se aecendem.
Porque jí o roubo e apresa os enfastia,
Usào então d"estranha8 crueldades,
Sem respeitar a sexos, nem a idades.
F. D'ANnBADE, PBI5IEIE0 CEHCO DE DIU, Caut. 3,
est. 53.
Este, ou que o bom sacceeso deste feito
A névoa do temor lhe desfizesse
De que notado foi sempre o sou peito,
Ou que a morte cUama-lo ja quizessc
Animado boje assaz e satisfeito,
Importuna o Silveira que lhe desse
Liceuça, e companhia com que possa
Tomar aquella pe(;a forte o grossa.
IBIDEM, cant. 20, est. 62.
— «Nesta cidade foram os Turcos que
me levavão preso pedir alvaraa ao Baxaa
delia, pêra pola sua jurdiçam poderem
tomar bestas e o necessário sem dinhei-
ro, e elle nolo deu.» Tenreiro, Itinerá-
rio, cap. 33.
— Emprega-se também na significação
de comer.
Fazem-me dôr de cabeça ;
mas por seus, emque não queira
me força cm toda a maneira
que a tomar-lh'os obedeça.
E' certo que vem marras?
Não pecas c pouco sãs.
ANTÓNIO PBESTF.S, AUTOS, pag. 155.
Basta que o ouro é bem louro ;
eu determino tomar
esta maçã, e fundil-a,
e depois de a enfuudiçar
o ouro que se tirar
martelal-o, dal-a lila.
iBiDEU, pag. 407.
— Tomar repouso; repousar, descan-
çar. — «Mas Dom João Mascarenhas
não tomando repouso, mandou com muita
pressa carretar muitas traves, tavoas, e
portas, que tudo foy levado por aquellas
valorosas matronas.» Diogo de Couto,
Década 6, liv. 2, cap. 3.
— Tomar o sacramento da eucharis-
tia; recebel-o, commungar. — «O qual
nam se ha de pedir nem esperar se nam
cõdicionalmeute, conuem a saber de ser
pêra mais seruir a nosso Senhor. E por
isso todos os doentes que estam em pe-
rigo, com gram deuaçam deuem tomar
este Sacramento, se estimam a saluaçam
de sua alma.» Frei Bartholomeu dos Mar-
tyres, Catecismo da doutrina christã.
• — Tomar por força uma ãonzella;
desposal-a impreterivelmente. — «Felis-
tor, sabendo que ámanhãa a hão de le-
var a outro castello, onde determinam
fazer o casamento, se vai lançar esta
noite em um bosque junto do caminho
por onde hão de passar, pêra a tomar
por força e casar-se com ella, e matar os
que lha quizerem defender : e porque não
seja sentido vai tanto depres.sa metter-se
em sua cilada, que é d'aqui gram peça.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap, 104.
— Tomar conta de mim; cuidar, pen-
sar em mim.
Ora quero praticar
Si5 comigo hum pouco aqui ;
Que despois que me perdi,
desejo de me tomar
Estreita conta de mi.
CAM., FILODEUO, aot. 1, SC. 1.
— Reputar, haver como tal, conside-
rar. — «Não é lanço de ânimos grossei-
ros deixar-se penetrar de saudades e to-
mar por alivio a continuação d'ellas.»
Fernão Soropita, Poesias e prosas inédi-
tas, pag. 37.
— Tomar a companhia de alguém;
acompanhal-o, ir com elle. — «Que eUes
levavão propósito de passar pelas ilhas
Canateas, e fazer hum salto na ilha da
Palma, onde esperauaõ fazer alguma pre-
za de proueito, que elle diuia tomar sua
companhia, pois vinha taõ tarde pêra ir
âs partes de Guiné.» Barros, Década 1,
liv. 1, cap. 11.
— Tomar 2^a(/9-í'«Ãos; apadrinhar-se,
ter protecções. — «Pêra o quietar, me
auenturey a abraçalo, no que me lan-
756
TOMA
TOMA
TOMA
ç.aua a perrlor ho Ioí^o llie não acudira
(M JUT03, cocoH, C! milho, (|uo forão os inc-
llioros j)ailrinluj:H qiio um sunidllianto ca-
so ou poilcra tomar, pois com cllcs ho
aplacou do sua fiiij2;iiia cólera.» Fn-.i
Oaspar do S. Hoi-nardino, Itinerário da
índia, cap. 1 .
— Tomar md suspeita d'alfjuiivt ; dcs-
coniiar em mal d'cllo, suspeitar mal d'cl-
Ic. — «V.asco da Oamma por llio esto
(Janà ter dito quào pcquoua distiicia auia
da cidado aos jiaços didRoy, vendo que
iiaõ vinha aquellc dia, c quo ora passa-
do a maior parto do outro, começou to-
mar má suspeita dello.» liarros, Década
1, liv. 4, cap. H.
— Tomar caminho para alguma parte;
Bcfíuir a direcção para essa parto. —
«Nuno fernandez, depois de ser cm Al-
medina deixou alli Cido Iheabcntafuf o
tomando seu caminho porá Çafim, che-
fiou a cidado terça feira cm so poendo o
Sol, onde foi recebido com muita ale.f^ria,
c o mesnKj se fez a dom loào em Aza-
mor, ])orque as nouas que se logo espa-
lharam antes de cho.n;ar(!m foraõ, que
eram os mais delles mortos, o captiuos.»
-Damião do («oes, Chronica de D. Manoel,
part. 1^, cap. 50.
— Tomar o partido d'alguem ; ser par-
tidário d'elle, seguir as suas opiniões,
idêas, etc. — «Não foi conviílado o car-
deal Accinoli, sondo núncio actual, por
estar a corto mal satisfeita do seu proce-
der, polo que respeita aos Jesuítas, to-
mando o partido do cardeal llezzonico
que os fauorece e ó nepote do papa rei-
nante elemento Xil.» Bispo do (-irão Pa-
rá, Memorias, publicadas por Camillo
Castollo Branco, pag. 104.
— Ap])rehouder com a mão, pegar com
ella em alguma cousa. — «E tomando
huma espingarda me fuy com ello a ter-
ra, onde metendo-nos pela espessura do
mato, não caminhariamos por clle pouco
mais de com passos, quando descubrimos
num escampado huma grande bãda do
porcos monteses que andavão foçando
junto do hum charco dagua.» Fernão
Mondes Pinto, Peregrinações, cap. 144.
— Tomar o mu; agarral-o, pegar-lhe
nas rédeas, leval-o & reata.
Nunca cu vi bufalinhoiro
Tão prestes tornar o mii.
15rauc'Anui',9 luaiia, ere tu
Quo, como Jo3U hl) Jcsu.
OIL VICENTE, AUro DA FEIUA.
— Tomar empreza.
Sc me isto o Côo concedo, o o voéso peito
Digna oui preza tomar do sor cantada,
Como a prosaga monte vaticina.
Olhando a vossa inclinação divina.
cAu., Lus., caut. 10, oat. 155.
— Tomar forças ; roforçar-se, tornar-
86 forte, recuperal-aí. — «Sabesso de al-
guns contemplatiuos mui adiantados nes-
ta viiiào amonjsa, que n.uitas vezes eu-
fraquicirio, o i)adociào achaque», quo os
obrigaua a estar cm cama por occasião
deste continuo, o aferuoradisnimo exercí-
cio, por onde sai^ forçados afroixar algu-
ma cousa, e abrandar na applicaçào,
vsar do milhoros mautimeutos pura to-
mar mais forças, pêra quo assim as cor-
poraes não se dauillquem, e desbaratem
euidentemonte, o so faça tudo com pru-
dência, e moderação.» Frei Bartliolomeu
dos Martyroi, Compendio de espiritual
doutrina, caji. 1 1 .
— Tomar armas; pegar em armas,
servir militarmente. — «Os gigantes Al-
buzarco o Albarroco companheiros de
Barrocanto não queriam acoitar a bata-
lha, dizendo, que, pois já não entravam
em campo com gigantes, que lhe dessem
mais cavíilleiros, que pêra um jjor um
não (]ueriani tomar armas.» Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap, 93.
— Tomar informat^ãu d' alguma cousa;
informar-se d'ella, inquirir. — «Chega-
dos nós a este porto, surgimos no meyo
de huma angra que faz a terra junto de
hum pequeno ilhoo, que demora ao sul
da entratla da barra, onde nos deixamos
estar sem salvarmos o porto nem fazer-
mos estrondo nenhum, com dcturnunaçaõ
de tanto que fosse noite mandarmos son-
dar o rio, o tomar informação do que se
pretendia saber.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 48.
— Fazer tomar a alguém i>ensaiiieiitos
contrários; fazel-o pensar de um modo
diverso do que até alli tinha pensado. —
«A muytos comete a yra, mas os discre-
tos saom-lhe ao encontro com a resam
que a amansa, e lhe faz tomar pensa-
mentos eontrayros, e com calar-so dam
paz a si e aos outros.» D. Joanna da
O ama. Ditos da freira, pag. 32.
— Tomar um remédio; ou pela bocea
como alimento, recebendo-o no estômago,
ou recebeudo-o por baixo nos intestinos.
— «Curam-se facilmente as mordeduras,
se o mordido não ó delicíido, tomando
inuuediatamento o próprio excreto huma-
no, que, como esto abunda de muito sal
volátil, com mais algumas partes que de-
posita a natureza, fazem admirável effei-
to, lavando e curtando a parte ferida
com azeite do Portugal.» Bispo do (írào
Pará, Memorias, publicadas por Camillo
Castello Branco, pag. 190.
— Tomado á face.
Isto está tomado & faço
qual Bo nssi determinou
quem cuidando se acertou
u'alguma cousa não crrasso
nem ai n'ello começou.
ANTÓNIO ruKSTES, AUTOS, pag. 1G9.
Tomar na e^parrella.
Ponho a^ora j)or c^iutclla
que CHtavu ou om C;fta donzclla
falando-ihc dulecs franças •,
quiim voí dotou confiaiiçaA
de mo tomar iia csparrnia ?
ANfoíio i-aBsrza, autos, pag. 127.
— Tomar alyuem d'as8uadn ; rcccbol-o
com algazarra, gritaria, c tumulto.
Goiítil profia !
Vcm-me tomar d'asmiada ?
Vamos, quo csti onfsulada
a noiva, j4 de saudosa.
A.NrONIO ruKSTKB, ALTOS, pag. 193.
— Tolher, atalhar.
— Usurpar.
— Tomar um tilulu fjualijuer; nsar, fa-
zer uso d'elle legitimamento.
— Tomar as armut ; voBtil-as o levar
as de ferir.
— Tomar alguém pela mão; leval-o e
guial-o.
— Tomar as fralda» do vestido ; apa-
nhal-as.
— Tomar o caminho de Roma; metter-
sc a clle, pôr-se em marcha para lá.
— Tomar a cOr ; tingir -se, receber a
tinta.
— Tomar cOr; corar.
— Tomar o alheio; fartar, roubar.
— Eniender, julgar, interpretar.
— Considerar.
— Occupar.
— Achar, encontrar.
— Imitar, adoptar.
— Desejar.
— Tomar a morte por anos mãos; ma-
tar-se, ou fazer com que morra.
— Tomar a occasiào; usar, aprovei-
tar-se delia.
— Tomar « luz; tolher, tirar pondo-se
diante do corpo luminoso.
— Tomar gosto tm alguma cousa; re-
ceber e tel-o com ella depois de a tratar,
conversar.
— Tomar alguém fogo; irar-se, eaquen-
tar-se.
— Tomar eiisino; aprender, seguir do-
cilmente os preceitos dados.
— Tomar aves, peixes; caçivl-os, pes-
cal-os.
— Tomar assento; resolver por assen-
to cm accordo de consulta, deliberação,
etc.
— Figuradamente : Tomar-vos a morte
de suliito.
— Tomar a bem, a mal ; receber em
bem, em mal.
— Sobrevir, alcançar, apanhar.
— Tomar assento; sentar-se.
— Tomar casa ; alugal-a, pôr casa.
— Tomar a alguém depoimento; pôr
por escripío o escrivão o que alguém em
Juizo depòe.
— Tomar conselho ; aconselhar-se.
— Tomar amizade, ou ódio a alguém;
vir a ter-lhe amizade, ou ódio.
TOMA
TOMA
TOMA
757
— Tomar o fresco; expôr-se a elle.
— Tomar o gosto; provar.
— Fiejuradamente : Tomar o gosto;
examinar, experimentar.
— Figuradamente: Tomar a mão; met-
ter-se adiante, fazendo-se o primeiro em
algum negocio.
— Tomar ordens; ordenar-se de pres-
bytero.
— Tomar oi-dens dt, alguém; recebcl-as
d'elle.
— Tomar a noute a alguém em conver-
sas; detel-o toda a noute; nâo o deixar
repousar.
— Tomar o tempo. Vid. Tempo.
— Tomar sentido ; attender, prestar
attençào.
— Tomar o tempo a alguém; interrom-
per-lh'o, occupar-lli'o.
— Tomar as dores por alguém, ou por
parte d' alguém; mostrar-se sensível aos
seus males, ou desgostos, como se fossem
próprios.
— Locução de marinha: Tomar a cos-
ta na mão; navegar segundo a direcção
da costa.
— Tomar somno; descançar, dormir.
— Tomar o navio terra; aportar.
— Tomar paixão; apaixonar-se.
— Tomar a figura de hão ; transfor-
«lar-áe n'elle.
— - Tomar fôlego, alento ; respirar.
— Tomar o animal a fêmea; ajuntar-
se para a fecundar.
— Tomou-me o somno; adormeci.
— Tomar fogo a lenha, a j^olvora ; av-
der.
— Tomar a palavra; diz-se para dar
a. entender o que se adianta a fallar pri-
meiro que 03 outros em algum ajunta-
mento, e sobre algum negocio de que
n'elle se trata.
— - Emprega-se também com preposi-
■Çcão : Tomar de outro bem.
Ouço, vejo, e sofro, escuito,
sou de vidro ueste horaem ;
e vidro sabe que tem ?
tem perigo estalar logo
com qualquer bafo de fogo,
pois tomar de outro bom
veja qual será meu jogo.
ANTÓNIO PKESTES, AUI03, pag. 311.
— Tomar a mal; levar a mal, lançar
á má parte, escandaiisar-se.
— Tomar « sua conta alguma cousa;
encarregar-se d'ella, tel-a a seu cuidado.
— Tomar ás mãos; apanhar, agarrar,
prender.
— Tomar covi alguém ; pegar com el-
le, ter razões, dar-lhe culpas de alguma
cousa.
— Tomar alguém em palavras ; fazel-o
dizer ou confessar cousa a elle damnosa,
com razoes capciosas.
— Tomar por amigo, juiz, arbitro ;re-
cebor o que se lhe dá, ou por escolha.
— Tomar em coche; receber n'elle a
pessoa que vai no coche.
— Tomar alguma cousa a peito ; olhar
para cila como importante, fazer conta
de a concluir.
— Este homem tomou-me á sua conta ;
engou commigo para me perseguir.
— Tomar ás inàos ; convencer, colher
evidentemente.
— Ora tomai-vos lá com elle; havel-
vos com ello, cmbaraçai-vos com elle.
— Tomar em caso de honra ; julgar,
ter o caso em conta de cousa que toca
á honra.
— Tomar em consideração alguma cou-
sa; ter-se conta com ella, olhar ao seu
mérito, ou demérito.
— Tomar por escripAo alguma cousa ;
escrevel-a, para que nào esqueça.
— Tomar alguma cousa sobre si ; en-
carregar-se d 'ella.
— Tomar-se e?» auto alguma cousa;
fazer auto d'e]la o escrivão, ou o notário
competente, para que depois a todo o
tempo conste.
— Tomar por si algum dito; julgar
que o di.sseram pela pessoa que o toma
por si.
— Tomar a bem; receber approvando.
— Tomar por perdido; apprehenden-
do, coutiscando o que pelas leis perde a
pessoa a quem se toma.
— Tomar sobre si alguma divida, obri-
gação; toruar-se responsável pelo cum-
primento d'ella.
— Tomar-se, v. reji. Agastar-se, oíFen-
der-se.
— Engar-se, pegai'-se entre si, ter
razões. — « ChamaÕ-se Nereidas de seu
pay Xereo, Deus antiquissimo, o qual se
convertia em varias formas, foy filho de
Ponto, e da Deosa Thetis, tomando-se es-
tes consortes por todo o mar, conforme
o diz Hesiodo.» Vasconcellos, Artefactos
symetricos e geométricos, liv. 2, cap. 35.
— • Deixar-se preoceupar, imbuir-se. —
« O promotor arrezoou contra nós em
quatro artigos tão difamatorios, e por pa-
lavras tào descorteses, que o Chaem se
afrontou de as ver. E tomando-se muyto
do mao insino e desconcerto delias Thas
mandou logo riscar todas e sahio com
hum despacho que dezia.i) Fernão Men-
des Pinto, Peregrinações, cap. 101.
— Tomar-se de ira, vaidade, cólera ;
deixar-se vencer, perder o uso da ra-
zão.
— Adágios e pkovekbios :
— ye queres ter boa fama, não te to-
me o sol na cama.
— Mais vale um toma, que dous te
darei.
— Uma figa ha em toma, para quem
lhe dão, e não toma.
— Toma casa com lar, e mulher, que
saiba fiar.
■ — Tomai lá o que vos vem da bocca.
— A pouco pão tomar primeiro.
— Penhor, que corre, ninguém o to-
me.
— Ao villão, dá-lhe o pé, o toma a
mã.
— Cousa de dar, e tomar.
— Tomar o ceu com as mãos.
— Tomar o freio nos dentes.
— Tomar experiência em cabeça alheia.
— Tomar as de villa Diogo.
— Toma a garça no ar.
— Tomaes sesta por balhesta.
— Arrenego das senhoras, que são de
aqui o tomam, alli o deixam.
— Se te dá o pobre, é para que mais
te tome.
— Quem sabe dar, sabe tomar.
— A quem o demo toma uma vez,
sempre lhe fica um geito.
— Cança quem dá, e não cança quem
toma.
— O rei, que não toma, quando do
seu não ha, a vós do seu dá.
— Quem pássaro lia de tomar, não o
ha de enxotor.
— Mãe e filhos, por dar e tomar são
amigos.
— Ao villão dá-lhe o dedo, tomar-te-
ha a mão.
— O prudente tudo ha de tomar, an-
tes de armas tomar.
— O que reparte, toma a melhor parte.
— Syx. : Tomar, receber, acceitar.
Tomar é a acção material com que
nos apoderamos de uma cousa. Receber
é a acção formal com que acceitamos ou
havemos o que se nos dá.
Eecebe-se do amigo um presente que
nos manda, e toma-se materialmente da
mão do criado que o traz.
Receber exclue simplesmente a nega-
tiva ou acto de recusar. Acceitar parece
indicar um consentimento ou uma appro-
vação mais expressa.
Para tomar basta a vontade e acção
do que toma; porém para receber não
basta a vontade e acção do que recebe,
porque se necessita também que concor-
ra a vontade e acção do que dá. Não
posso receber o que não me dão, porém
posso tomal-o ; assim que o que furta to-
ma, e não recebe.
Recebem-se graças, acceitam-se servi-
ços, obséquios. Recebe/mos de bom ou mau
grado ; acceitamos com agi-ado e boa som-
bra.
Deve o homem mostrar-se agradecido
aos benefícios que recebeu. Não se deve
desprezar nunca o que se acceitou.
Tomamos as armas para ir á guerra, e
não as recebemos, nem acceitamos.
1.) TOMARA, s. /. Arma cruel.
f 2.) TOMARA. Forma do verbo tomar
na primeira ou terceira pessoa do singu-
lar do pretérito perfeito do modo indica-
tivo. Vid. Tomar. — • «E perguntado quan-
to tempo avia que se levantara, e que
navios de Portugueses tinha tomado, e
quantos homens mortos, e que fazenda
758
TOMA
roubada; disse que de seto annoa a esta
jiartc, o primoyro navio quo tomara fo-
ra o juiicu <lo íjiiys (lo Pavia no rio de
Liainpoo, cuin quatrociMito.s bai'03 do pi-
meuta Hciii dro^a iioiihuiiia, ondo matara
dezoito PortuguosoH, a f.ira 08 seus es-
cravos, de quu uilo fazia caso, por não
serem gente (|uc o satisfizesse no quo ti-
nha jurado.» FcrnSo Mendes Pinto, Pe-
regrinações, cap. 51.
Eata noite também aquella gonto
Que do Coja(;ofar scruc o cutandarto,
Fazendo quo a Cidiidc a chiiiniiia ardente
Sinta primeiro nMuinia e n'outra parte,
Tanib(Mn damniticada e descontento
Antod do 8«r nianhàa, dalli se parto,
E o loj^ar com grão medo dosampAra
Que coin grau conliani;a antes tomara.
rUANCISCO UK ANDK/kDE, PEIHEIBO OEBCO DK DIU,
caut. 20, est. 88.
— «As de S. frei Gil tomara também
ver, e me lembra que as tinha antiga-
mente um esparteiro da» portas da Mou-
raria, em um de quatro livros d'estas cu-
riosidades, que elle emprestou, agora faz
vinte ânuos, ao padre Joào de Vascon-
cellos, quando compunha o livro da Res-
tauraçSo do Portugal, que imprimiu com
nome do doutor Gregório de Almeida.»
Padre António Vieira, Cartas, n." 23.
Ou boa lagem calijada
autre os tens tomara cu penca
não de cardo, de juvenca
que ergue o pé pêra aguilhada.
ASTONIO PEESTK3, AUTOS, pag. 25.
Pois bofé, quo andastes bem,
tomara antes cnganar-vos
quo ha homem de matar parvos
d'aqui té Jerusalém •,
pois querem, quero leixar-vos.
IBIDEM, pag. 227.
Aqui ?
Aqui, quo cu o vi,
c por isso outras tomara.
luiDEu, pag. 3õ5.
mostro o tempo o quo quizcr,
que se me dessem a escolher
tomársí agora capucho.
IBIDEM, pag. 389.
— o Item. Jlandou que se pagasse ame-
tade da prata, que el Ri'i dom Afonso
seu pai tomara das Egrejas peras guer-
ras de Castella. porquo ha outra metixde
dera ho Papa ao dicto Roi dom Afonso,
e assi ho quo faltava por pagar do di-
nheiro, que se tomou dos orphaos perá
mesma guerra, o também do dinheiro
emprestado.» Damião de Góes, Chronica
de D. Manoel, part. 1, cap. 1. — «Em
quo forma se podem oxorcitar os sobre-
ditos atíectos? Tomara alguns exemplos
práticos por onde me governasse.» Padre
TOMA
Manoel Bernardes, Exercícios espirituaes,
pag. :u.
-(• TOMARÁ. F<»rnia do verbo twiar na
terceira pessoa do singular do futuro ini-
perfoito do modo indicativo. Vid. Tomar.
Co' o lavor pôde passar.
Diz minlin !-enliora quo
llie fará grande mercê
mandal-a desenganar
antes quo o dinheiro dé ',
se é tal, 80 a tomará.
ÁMTONIO rUESTEB, AUIOS, pag. 4Ó1 .
— • Imaginará que ás niinlias lágrimas
deve a vossa approvação; tomará em brio
renunciar á felicidade; prolongará no.ssa
incerteza, e seus tormentos. Por mais
desamparada que no mundo se veja uma
mulher tão scusivel como Suzanua, gran-
de tem de ser o esforço que ella faca an-
tes que se resolva a vir ter com um noi-
vo, se na carta lhe apontáes tal nome.»
Francisco ^(anocl do Nascimento, Suc-
cessos de madame de Seneterre.
f TOMAHÃO. Forma do verbo tomar
na terceira pessoa do plural do futuro
imperfeito do modo indicativo. Vid. To-
mar.
•f TOMARÃO. Forma do verbo toviar na
terceira pessoa do plural do pretérito per-
feito do modo indicativo. Vid. Tomar. —
«Como se dissera, que na era de 1077. que
he anno de Christo, 1039. se tomarão
muitos Povos nos estremes do Douro, assi
alem, como a quem de sua corrente, por
Villar, Turpim, Almeida, a Idanha ate
Riba Tcjo.u Mouarchia Lusitana, liv. 7,
cap. 28. — «Kisto tomaram outras, c pos-
to que o cavalleiro negro fosso destro e
esforçado, Albayzar lho fazia taiuta van-
tagem, que nesta segunda carreira o der-
ribou por cima das ancas do cavallo, per-
dendo elle ambos estribos, e eo'a força
do encontro quo recebeu, lhe foi forçado
abraçar-se ao colo do seu.» Francisco de
Moraes, Palmeirim dlnglaterra, cap. 84.
E hij mataram Christãos,
armas, ancoras tomarátn,
cadeas douro deixaram,
e auees nos dedos sàos.
a. DE BEZEKDE, UISCELLAMEA.
— «Partido Vasco da Gama daquelle
lugar de perigo, ao seguinte dia achou
douâ zambucos que vinhaõ porá aquella
cidade, de que tomarão hum com treze
Mouros, porque os macs se lançarão ao
mar.» Barros, Década 1, liv. 4, cap. õ.
— «D. João de Lima, e os outros Capi-
tães também andavam em outro trabalho,
e maior do que tiveram os (luc tomaram
a ponte; e esta foi a causa do logo não
acudirem a cila, como lhe Aflbnso d'Al-
boquorque tinha mandado.» Idem, Déca-
da 2, liv. 6, cap. 4. — «O qual dia pa-
rece que aprouue a nosso Senhor que fos-
se todo por nós : porquo mandado Affonso
TOMA
d'Alboquerqae a Garcia de Soasa, e a
lorge d'AcunLa naqui-lla própria noite á
outra parte da terra lirnie, onde chamSo
BanJes, dciilo no baluarte que os Mouros
lá tinhão, o qual tomarão, e toda a ar te-
lharia que netie auia.» Ibidem, cap. õ.
— «E a causa deste damno foi, que sa-
bendo 08 !&Iouros que navegavam o mar
Roxo, pêra onde cilas hiam carregadas,
como elle Affonso d'Alboquerque era den-
tro, temendo de o encontrar, partiram
dos portos da índia, onde tomaram carga
quasi no iim da monç3o do tempo, pare-
ccndo-lhes que a este seria elle sabido do
estreito.» Ibidem, liv. 8, cap. 6. — «E
porque hum tilho seu, chorando se lhes
<|U'ixou deste grande mal, lho lançara?
vivo ao mar, atado de pees e mãos, e a
elle meterão em ferros, e lhe liavào todos
03 dias muytos açoutes, e lhe tomairão sua
fazenda, que erào mais de seis mil cru-
zados, dizendo, que não era licito lograr
bens de Deos, senão os MassolevmCea,
justos e santos asi como ellea.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 43.
— «Ávido conselho sobre o que nisto se
faria, se assentou por parecer dos mais
que os dous Mouros que se tomarão se
não inquirissem com tratos como eètava
determinado, assi por nào os escandali-
zarem, como por não ser necessário.» Ibi-
dem, cap. 48. — «E fo se receber elRei
dom Fernando, ao qual chegarão quasi
em saindo da cidade, e em ho vendo se
dtícerào, e por ha pressa da gente ser
muita, ho mordomo niór, e ho capitão dos
genetes tomarão dom George nos braços,
por ser moço, e baixo do coipo, pêra po-
der.» Damião do Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 1, cap. 2è. — «Neste auno
de M. D. xvi. estando Diogo lopez de
sequeira em Arzilla tendo as sete cara-
uellas que lhe ticarão ancoradas no are-
tice, tomarão duas fustas de L..rache bu-
ma carauella que vinha do algarue sem
lhe estoutras poderem valer, posto que
fosse bem perto da villa, por ser maré
vazia, com que não podiâo sair.» Ibidem,
part. 4, cap. 8. — «Os do batel, que to-
maram o caminho de Chaul, quiz Deos
j)agar-lhes sua desbumanidade, (porque
não cuidem que ha quem possa fugir a
seus castigos,^ e assi foram dar com a
Armada de Dio, que já andava fora, que
seriam trinta e treJ galeotas mui bem pe-
trechadas, de que era Capitão mór bum
valente Mouro cluimado Alixá.» Diogo
de Couto, Década 4, liv. 4, cap. 9. —
«Sabia pela Cidade às vezes, para ver as
cordas delia: e entre algumas que vi em
huma praça, vi enforcado' três, ou qua-
tro carapuções do Sufi que tomarão, e ca-
tivarão os donos delles, por se quererem
muyto grande mal huns aos outros: pe-
las gentes do Reyuo do Sufi mal dizerem
em publico dos seus Profetas, a que hum
chamào Otumaõ, e outro o mar Bubaca.»
I António Tenreiro, Itinerário, cap. 28.
TOMA
TOMA
TOMA
759
Ora aquelles que passaram
escarraram
e detiverara-se alli ;
folgara que me tomaram
n'outro tempo, não já assi.
ANTÓNIO PRE3TKS, AUTOS, pag. 263.
— oE sendo certo, que em Castella, e
em outras partes de Espanha se tomarão
as Cruzes, Aspas, Luas, e Estrellas pela
occasiaõ da guerra, que naquellas Pro-
víncias ouve com os Mouros.» Severim
de Faria, Noticias de Portugal, Disc. 3,
cap. 6. — «Os Vasconsellos descendem dos
de Ribeira, os quaes tomarão por armas
as ondas, alludindo à Ribeira. E como
03 Vasconcellos suceederaõ no Senhorio
grande dos Ribeiros, e seu iilustre san-
gue, trouxeraõ também suas armas.»
Ibidem, cap. 15. — «Muitas Familias to-
marão por armas daquella Casa, e Fa-
milia donde tiveraõ seu tronco, de que
podem ser exemplo as que descendem
dos Revs. » Ibidem. — «E por se preza-
rem de semelhante invenção, tomarão
por divisa das suas armas huma Lua no-
va, a que chamavaõ Mynoides. O Mez
dividise em Lunar, e Solar. O Mez Lu-
nar he o movimento, ou curso synodico,
que fòs a Lua desde que se aparta do
Sol, c torna a recorrer com elle, despois
das suas phases, ou apparencias costuma-
das de Lua nova, quarto crescente, etc.
Gasta este Cvclo 29 dias, 12 horas, 44
minutos, e 3 segundos.» Braz Luiz de
Abreu, Portugal medico, pag. 529, §
129.
f TOMARDES. Forma do verbo tomar
na segunda pessoa do plural do futuro do
modo conjunctivo. Vid. Tomar. — «Mas
porem arreceamos que os mouros per on-
de auia de passar ho tomarem, e se vos
ouuerdes por bem, do qu3 nos teremos
muito contentamento quererdes casar vos-
sas filhas com nossos filhos, e enuiarde-
las cá, 6 tomardes nossas filhas para vos-
sos filhos, volas enviaremos la, com seus
dotes do mirita somnia douro, o prata.»
Damião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 3, cap. 59.
j TOMAREIS. Forma do verbo tomar na
segunda pessoa do plural do futuro im-
perfeito do modo indicativo. Vid. Tomar.
— «A peça, que pedis qiie oôereça, nào
tenho; vencei-me, que depois tomareis a
satisfação á vossa vontade. Parece-rae
também, disse Florendos, que não tenho
que dizer. N'isto se concertou uma ja-
nella pêra Miraguarda vêr a batalha.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 110.
f TOMAREM. Fíirma do verbo tomar na
terceira pessoa do plural do futuro do
modo conjunctivo. Vid. Tomar. — «Fov
o Concilio que fez celebrar em Lugo, a.
que concorrerão os Prelados e Sacerdotes,
da mavor parte de Galiza, para efeito
(segundo parece de huma antiga escri-
ptura que ha na mesma Cidade, cujo
principio já referimos acima) de se darem
á execução as cousas determinadas no
Concilio de Braga, e tomarem determi-
nação final na divisão dos Bispados, que
inda naõ estava bem liquidada, onde atri-
bue só ao Bispado de Lugo, os onze Con-
dados repartidos por suas demarcações.»
Monarchia Lusitana, liv. 6, cap. 16. —
«Ha causa foi porque de tomarem hos
filhos aos ludeus senão podia recrecer
ninhum dano aos Christãos, que andaõ
espalhados pelo mundo, no qual os ludeus
por seus peocados nam tem regnos, nem
senhorios, cidades, nem villas, mas antes
em toda parte onde viuem sam peregri-
nos, e tributários, sem terem poder, nem
authoridade pêra executar suas vontades
contra has injurias, e males que lhes fa-
zem.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 1, cap. 20.
1.) TOMARES, s, m.jilur. — Ter dares
e tomares com alguém; ter conversações,
tractos, disputas.
f 2.) TOMARES. Forma do verbo tomar
na segunda pessoa do singular do futuro
do modo conjunctivo. Vid. Tomar.
-{- TOMARMOS. Forma do verbo tomar
na primeira pessoa do plural do futuro do
modo conjunctivo. Vid. Tomar. — "Adiã-
te descobrimos o Bande.l velho, e o cabo
Dofar, os Beduins, e o Bandel dagoa, e
outras terras de Mouros sem tomarmos
porto em alguma delias. Atè que chega-
mos ao cabo de Guarda Fuy, onde se
acaba a vitima parte da segunda do mun-
do.» Frei Gaspar de S. Bernardino, Iti-
nerário da índia, cap. 7.
f TOMASSEM. Forma do verbo toviar
na terceira pessoa do plural do pretérito
mais que perfeito do modo conjunctivo.
Vid. Tomar. — «No mar (posto que os
Cossarios Olandezes, e Inglezes tomassem
duas Náos da índia Oriental, huma na
Ilha de Santa Elena, e outra á vista do
Reino, que por arribar vinha mui destro-
çada, e com a gente toda, ou morta, ou
mui enferma) alcançou por seus Capitães
vietoria de muitos baxeis iuimigos, em
alguns dos quaes se ganhou uma preza
mui rica, e enfreou sua ouzadia de ma-
neira, que se pode navegar no Oceano
com mais quietação, e menos perigo.»
Frei Bernardo de Brito, Elogios dos reis
de Portugal, continuados por D. José
Barbosa. — «El Rey lhes respondeo que
bem via quanta razão tinhão no que lhe
dezião, pelo que lhes rogava que lhe
aconselhassem o que então devia de fa-
zer, a que elles disseraõ que esperasse
pelo bonzo Teixe andono, e não tomasse
outro conselho, porque por elle ser mais
santo que todos lhe affirmavão que só com
lhe pôr a mão lhe daria saúde, como ja
fizera a outros nmytos, de que elles eraõ
testemunhas.» Fernão Mendes Pinto, Pe-
regrinações, cap. 137. — aE com outros
duzentos de cauallo mandou Martinho
Helche, tio de Molei Abrahem, irmam de
sua mãi, que fosse pola varzia sair aho
valle de George Vieira, pêra que tomasse
estes almogaures no meo.» Damião de
<Toes, Chronica de D. Manoel, part. 4,
cap. 47. — «Dom loam coutinho antes de
chegar Arzilla escreueo per hum barco de
pescadores, de que era Araez Lopo afilha-
do, a dom Duarte, avisandoho dalgumas
cousas necessárias ao tempo, e sazom
delle, mandando aos pescadores que a
força de remo tomassem Tanger, » Ibi-
dem, cap. 5. — «O Visorey se aposentou
na feitoria, e.logo despedio seu filho D.
Fernando de Menezes cÕ quinhentos ho-
mens pêra se hir meter na Cidade da Co-
ta, pêra que tomasse os passos delia, por-
que ninguém sahisse pêra fora : o que D.
Fernando fez, pondo hum Capitão com
cem homens em guarda das casas de El-
Rey, pêra que se não bulisse em cousa
alguma, fazendo-se estas prevençoens,
que escandalizarão a muitos.» Diogo de
Couto, Década 6, liv. 9, cap. 17. — lE
que para isso tomassem três dias de es-
paço, em que por jejuns, lagrimas, e bra-
dos pedissem todos a huma voz remédio
e socorro ao alto Senhor das misericór-
dias, em cuja mão estava muyto certo
este remédio que pretendião. » Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 92. —
«Todavia logo mandou vir diante si qua-
tro ou sinco escravos brancos com boas
espingardas que mas amostrassem se eraõ
boas, e que as tomasse na maõ, o eu lhe
disse que eraõ muyto boas, tornando-me
a dizer outra vez que estivesse alli com
elle alguns dias, e que veria a guerra
que elle tinha com aquellas gentes.» An-
tónio Tenreiro, Itinerário, cap. 26.
!Manda o Capitão a este que tomasse
A b.ircaça que em companhia andava
IA de Lopo de Sousn, e a presentasse
Ao baluarte que o Falciío mandava ;
E que a recolher ncUa lhe ajudasse
Quando no baluarte entào estava
Que para a guerra sirva ou lhe convenha,
Artilharia, ou gente, ou mais que tenha.
p. d'andrade, priueibo cerco de Dio,cant. 10,
est. 105.
t TOMASTES. Forma variável do ver-
bo tomar na segunda pessoa do plural
do pretérito perfiito do modo indicativo.
Vid. Tomar. — Tomastes bom conselho,
— «Bom conselho me parece que tomas-
tes, disse o escudeiro do gigante, que,
pois está claro serdes vencido, será com
menos vossa deshonra. Essa certeza, dis-
se Platir, tereis vós, e os que o muito
desejarem, que a nós outra esperança
nos fica.» Francisco de Moraes, Palmei-
rim d'Inglaterra, cap. 118.
TOMATE, í. m. Termo de botânica.
Hortaliça vulgar, espécie de fructo que
nasce de uma planta pequena com talos
felpudos, cheiro forte, para guisar mo-
lhos; c de côr vermelha em maduro, e
tem florinhas amarellas d'onde nasce o
*760
TOMA
TOMB
TOME
fructo que ó roclonflo, ou clivi(li'lo, antos
marcado, como alguns niolõo.s com regos
a espaços, otc.
TOMATEIRO, s. m. 1'lanta hortense
que ])1'ihIuz ih tomates,
f TOMÁVÃO. F<')i-ina variável <lo vit1)0
tomar na terc<!Íra pessoa do plural do
pretcrito inípcrtoito do modo indicativo.
Vid. Tomar. — «No movo desta nossa
ociosidade, hum dos três que éramos, por
nomo Diogo Zoimoto, tomava algumas
vezos por passatempo tirar com huma
espingarda ipio tinha do seu, a que ora
niuvto inclinado, e na qual era assaz des-
tro.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 134. — • «E por tV)ra ipiauto
•tomava toila grandesa do terroyro esta-
rão p^issante de mil arcabuzeyros, o qua-
trocentos homens em bons cavallos acu-
bertados, e a fora estos a gente do povo,
que, como digo, não tinha couto.» Ibi-
dem, cap. 224.
Cora grando cn^onho a faz, o com gi-andc arte,
Ccroa-a de forto imiro, o larga cava,
Quo toma da Ilha muito maior parte
Do que a povoa(;ão antes tomara;
Põe aqvii a torre, alli o baluarte,
Onde a ncceaaid idn o demandava,
Do grossa artilharia lhe põe tanto
Quo nada tomo, cm tudo causo espanto.
r. D'ANnii\DE, rm.MKiRO cunco dk diu, cant. 6,
est. 23.
— «PedraUiarez por nào Icixar à el-
Rei com esta prosumjiçaõ que a mingua
do cabedal naõ tomaua mais carga, man-
dou mostrar aos seus officiaes quo anda-
uaõ neste negocio dous ou três cofres
cheos de dinheiro em ouro : dizendo que
elle tinha ainda tanto dinheiro que bem
poderá carregar cinco ou seis nãos que
lhe o mar comera, porque pêra todas le-
uaua cabedal, mas c<nno aquellas que ali
trazia hiaij ja abarrotadas com a carga
que lhe dera olKcy de Cochij uaõ podia
leuar raaes, nem sua vinda àquello porto
fora por razaõ de carga, somente por
seruir elRey.» Barros, Década 1, llv. 5,
cap. 9. — f Duarte pacheco como soube
da chegada dei Hei de Calecut, e da fro-
ta que vinha sobrclle, mandou dar cabos
da carauella a hum dos bateis, o daquel-
le ao outro guarnecidos com cadeas de
ferro gi-ossas, com que tomauam todo o
passo, na qual ordem, com muitas bom-
bardadas, receberam esta armada dol Rei
de Calecut, de que em chegando arrom-
baram alguns paraos, o mataram muita
gente, sem dos nossos perigar nenhum.»
Damião de Coes, Chronica de D. Manoel,
part. 1, cap. 86. — cDos homnes do mar
pescadores, e barqueiros, para o que es-
tavaõ todos alistados, e quando sahiaij as
Calos, tomavaõ a vintena desta gente,
que ora hum do vinte, para os pòr ao
remo, e o Anadel ílòr tinha cargo de os
mandar assentar nestes livros, que cha-
niavari de Armaçafí, e ob constrangia a
virem por moio do sous Officiaes, a quem
chamavaò Vintoiíeiros.» rtevcrim de Fa-
ria, Noticias de Portugal, Disc. 2, cap.
14. — íD'osso modo esse desconsiderado
mancebo quo so computava com a sua
aflei<;rio, quando menos prezava a nobre-
za que punha atalho ao cumprimento de
seus desejos; a tomava agora por guia,
quando ella sous ilosignios apadriídiava ;
sacrificando unicamente ao amor em uma
e em outra circumstancia. » Francisco
I\Ianoel do Nascimento, Successos de ma-
dame de Seneterre.
TOMBA, ». /. Itomondo no rosto do
sapato on bota.
TOMBADILHO, «. »i. Termo de mari-
nha. Meia coberta sobro o castollo da
popa.
TOMBADOR, n. m. Homem quo faz tom-
bo, ou atondja terras, etc.
— Homom quo d;l tombos, lançando
do alto a baixo, ou levantando, o dei-
xando cair, — Tombador de, feArag.
TOMBAMENTO, s. m. Termo pouco em
uso. Acçru) de tombar, e etlcito d'esta
acç.MO.
TOMBAR, i'. n. Cair.
— Retumbar.
— V. a. Dar tombo, derribar, botar
de alto para baixo.
— Figuradamente : Tombar o inundo
de leste a oeste.
— Tombar terras; dar, tombo, derri-
bar, fazer tombo, lançar em tombo, ou
por assento as terras o propriedades com
suas confrontações, medidas e todas as
clarezas necessárias para constar o nu-
mero, e qualidades de quaesquer proprie-
dades e rendas de alguém.
TOMBO, s. m. Queda, ou golpes que
dil a cousa caindo, volvendo-se, e saltan-
do. — Os tombos do dado.
— Inventario authentico dos bens e
terras de alguém com suas confrontações,
rendas e direitos, encargos, demarcações,
etc.
— Figuradamente : Dlz-so do homem
muito noticioso e erudito.
— Rede de tombo ; espécie de rede
do caçar aves,
— Figuradamente : Diz-so do homem
que sabe as noticias e anecdotas da ter-
ra onde vivo, conhece tudo, e dá infor-
mações de todos.
— Julgar a justiça aos tombos do da-
do; incertamente, sem conselho certo c
determinado, como acontece a sorte aos
litigantes sob juizes maus.
— Torre do tombo ; a casa em que se
conservam os livr.'S, registros ou origi-
naes das leis, cscripturas publicas, con-
tractos e ti'atad(is com as nações estran-
geiras, etc, e outros papeis authenticos
do reino. — «Jlandou logo screver os
tombos autênticos de todas as propriada-
dcs, foros, rendas, c obrigações, quo se
tinhSo a estas casas, e capellas, de que
mandou fazer do cada hnm dous liuros,
hum pêra ficar nos cartorcos das mesmas
casas, c outro pêra se lauçiir na Torro
do tombo do regiio, mas deites mui pou-
cos se trouxeram a oUa, o (jue seria per
negligencia, o culjia das po.^soas a quo
elle encomendou, o encarregou que o
fozossetn.» Dami.lo do Coes, Cbroaica de
D. Manoel, caji. 04.
TOMBORO, «. m. Termo antiquado.
Em Ura;.'ança tomava-.io por Onni/ro,
f TOME. Fi»rma do verbo tfjmar na
primeira ou terceira pessoa do singular
lio presente do modo conjunctivo. N\>\.
Tomar. — «D EscripvSo, que os ouver
de fazer, tome huma doljra de papel, e
através delia ponha o dia, e mez, e era,
o lugar, ent que se livra, o desembargua,
e logo a fundo dous iledos comece poer
as petiçoões, como buso ho declarado, com
suas perguntas, e entre petiçom, e pe-
tiçom icixe espaço do dou» dedos.» Ord,
AffoDS., liv. 1, tit. 4, § 16.
Mas Ja quo foi minha cstrclla
Ser diabo, e ter tal nomo,
Guardae-vos, que vos não tomt.
CÁM., BF.DOMDlLnAS.
E quem .nlcançsdo tem
Tamanho contentamento ;
Por con8crv!Í-lo convém
Que tome, por mantimento
A fome de tanto bem.
iPEu, AMFaiTBiÚEs, act. 3, SC. 1.
Nome t muito á maneira
de minha filha, que tomt
castelo, arvoro c bandeira :
va-se : olhe quo o esporo
á meia noute.
i.NTo:<io PBESTES, ACTOS, pag. 487.
7 TOMEI. Forma do verbo tomar na
primeira pessoa do singular do i>reterito
perfeito do modo indicativo, Vid. Tomar.
Enganosas esporíinças
Pois sem rC3.'«m vos tomei
com ellas vos deixarei.
CRISTÓVÃO FALCÃO, OBRAS, pAg. 34 (cdiç.
do 1S7U.
-J- TOMEIS. Forma do verbo tomar na
segunda pessoa
modo conjunctiv
UiUUlO. 1. Ill 111.* tn-í 1 v-1 k^v wit.^' *i«
tia pessoa do plural do presente do
conjunctivo. Vid. Tomar.
Filha Inez, assi vivais
Que tomeis esse senhor
Escudeiro cantador
E caçador de pardnes,
Sabedor, rovol vedor,
Fallador, gracejador,
Afteitado pola mão,
E sabe do gavião :
Tomnc-o por num amor.
on. \1CEXTF., r.VBs-AS.
Emque não queira.
nSo tomeis uisso eanceira.
TOMO
TOMO
TOMO
761
Comprein'a, por vida miaha,
é bonita, é de meu geito,
está-me bem, como que.
AjíTONio PBESTES, AUTOS, pag. 383.
-j- TOMEM. Fijrma do verbo tomar na
tei'ceira pessoa do plural do presente do
modo coujunctivo. Vid. Tomar.
A virtndo ha mor bem que esse?
notem isso, e isso tomem,
ter uma no sentido.
AKTOXIO PRESTES, AUTOS, pag. 309.
-{- TOMEMOS. Forma do verbo fojnarna
primeira pessoa do plural do presente do
modo conjunctivo. Vid. Tomar.
Cortemos palavras d"obra,
ó cabo d'ellas tomemos
Sancta Helena, e arranquemos.
Eu quero-as, quero obra
que o farei, torna faremos.
ANIOXIO PRESTES, AUTOS, pag. 37.
Isso é bom mote !
tomae chocos que vos dom ;
olhae que este abexim xem,
tom-emol-o por guilhotc.
iBiDEa, pag. 408.
TOMENGIO, s. m. Termo de historia
natural. Pequeno pássaro do Brazil, de
grandeza superior á de uma cigarra, de
pennas de diversas cores, e de suave
canto : tem virtude medicinal.
TOMENTELLO, s. m. Vid. Tomento.
TCMENTINA, s. /. Herva.
TOMENTO, s. m. (Do latim tomentum).
Parte librosa áspera do linho, que se tira
ao assedado, e é a ultima escoria ou alim-
padura para o afinamento d'elle.
TOMENTOSO, A, adj. Termo de botâ-
nica. Diz-se das superficies cobertas de
cotanilho com pellos compridos.
TOMILHO, s. m. .\rbusto de diíFeren-
tes espécies, odorífero. E das suas flores
que as abelhas extrahem o melhor mel.
TOMIM, ?. m. Termo antiquado. Peso
inferior á oitava.
TOMO, s. m. (Do latim tamus). Volume
que faz parte de uma obra impressa ou
mannscripta.
— Emprega-se algumas vezes simples-
mente por volume. — Mandou imprimir
todas as suas obras era um tomo.
— Figuradamente : Fazer o segundo
tomo de alguém ; assimilhar-se-ihe em al-
guma cousa. — Sois um segundo tomo.
— Figuradamente : Importância, sub-
stancia, momento, que tem corpo, ser e
realidade. — Cousa de pouco tomo. —
«Fingir grande negoceo em cousa de
pouco tomo.» Jorge Ferreira de Vas-
concellos, Eufrosina, act. 1, se. 1.
— Homem de tomo e de lombo; ho-
mem bem fornido de membros e lombo.
— Figuradamente: Homem de tomo e
voL. V. — 96.
de lombo; homem de merecimento, e va-
lor.
— Syx. : Tomo, volume.
Tomo é termo de litteratura, e designa
as differentes partes em que um author
divide a sua obra. Volume é termo de
livreiro ou de encadernador, e designa
um livro impresso, encadernado ou bro-
chado.
O volume pôde conter muitos tomos,
e o tomo pôde fazer muitos volumes.
A encadernação separa os volumes; a
divisão da obra distingue os tomos.
Uma obra p:')de formar um só volume;
mas não se dirá um só tomo, e nunca
pôde ter menos de dous tomos.
N.ào se deve julgar da sciencia de um
author pela grandeza do volume. Ha bas-
tantes obras em muitos tomos que seria
melhor que se reduzissem a um só.
\ TOMO. Forma do verbo tomar na
primeira pessoa do singidar do presente
do modo indicativo. Vid. Tomar.
acerca lá d'um morgado
que pola linha lhe vem,
afora outro que tem
cm que estii encabeçado,
e muitos casaes ; também
muito dinheiro : ora emfim
cu o tomo sobre mim;
vós n'isto, lilha, assignae.
ANTOHIO PRESTES, ABIOS, pag. 153.
Já tomo,
escreve d'ella Plutarco;
era uma matrona honrada
e com um Hieron casada
também grego, homem notável,
tinha o bafo insuportável,
e cila um dia perguntada...
Essa é, que por ahi ia.
IBIDEM, pag. 309.
TOMORO, s. m. por Cômoro. Vid. Tom-
boro.
-}■ TOMOU. Forma do verbo tomar na
terceira pessoa do singular do pretérito
perfeito do modo indicativo. Vid. Tomar.
— «Um dia tomou el-rei seu avô no apou-
sento de Flerida, e sendo presente D.
Duardos, lhe propoz estas palavras : Por-
que sempre, senhor, ouvi dizer que a boa
obra com outra melhor se deve satisfa-
zer, e que a ingratidão nos príncipes
mais que nos outros homens se ha de es-
tranhar, lembrando-me ser vosso neto,
em quem este erro nunca coube, me pa-
receu que seria digno de muita culpa n.ào
o remedar nesse costume como em ou-
tros, que inda que pola fama sejam mui-
to de estimar antre virtuosos, este se de-
ve ter em mais.» Francisco de Moraes,
Palmeirim d'Inglaterra, cap. 66. — «Se-
nhor, respondeu elle, em bom tempo vos
tomou esse desejo, que se em outro vié-
reis, essa vossa mocidade fora posta no
derradeiro extremo da vida: que nos dias
passados foi senhor delia um gigante por
nome Bravorante, cruel e cheio de toda
malicia e engano, costumava ter espias
em todos seus portos pêra o informarem
se nelles entravam algum cavalleiro ou
donzella.B Ibidem, cap. 117. — c Antão
Gonçaluez, tornando se pêra este Reyno
veo pelo cabo branco : onde em huma en-
trada que fez em huma aldeã tomou cin-
coenta e cinco almas, a fora outras quo
perecerão em seu defendimento. » Barros,
Década 1, liv. 1, cap. 10. — < No qual
acto foy tanta a lagryma de todos, que
neste dia tomou aquella praia posse das
muitas quo nella se derramaõ na partida
das armadas que quada anno vão a estas
partes que Vasco da Gamma hia desco-
brir: donde com razão lhe podemos cha-
mar praia de lagrymas pêra os que vão,
e terra de prazer aos que vem.» Ibidem,
liv. 4, cap. 2. — • «E se leixou estas, mães
adiãte na paragem de Grp.nganor tomou
duas que vinhaõ cõ màtimentos pêra Ca-
lecut: e por saber per os Mouros que as
nauegauaõ serem d'outros da mesma ci-
dade, cõ a qual ficauaõ em ódio as quei-
mou.» Ibidem, liv. õ, cap. 8. — «AfFon-
80 d'Alboquerque em quanto Abrahem
Bec, e o Embaixador do Xeque Ismael
estiveram na Cidade, e elle ordenou es^
tas, e outras cousas, por segurança da-
quelle Reyno de Ormuz, nunca os tomou
por parte nisso, ante por medianeiros, co-
mo a homens nobres tão acceitos ao Xe-
que Ismael, e sempre em todos aquelles
negócios qualquer causa que lhe elles re-
queriam, folgava de fazer.» Idem, Déca-
da 2, liv. 10, cap. 5. — «Elle em huma,
e nas três vinham Jorge Nunes de Leão,
Pêro d'Alpoem, que era nas em que fo-
ram da índia, e Simão Martins em hum
junco, que tomou naquelle caminho, to-
do amarinhado de Jáos, em que entra-
vam muitos carpinteiros, calafates, e offi-
ciaes mecânicos.» Ibidem, liv. 6, cap.
7. — «Dom alvar perez porque o uyo
desarmado nom lhe quis dar com o ferro
da lança, e tomou o conto e deulhi com
ele no escudo.» Livros de linhagens, t. 3,
pag. 199, cm Portugal. Monumenta His-
tórica. — «Aqui derribarão o Alferes da
bandeira do Gil Fernandes de Carvalho,
e hum Jorge Borges acodio com muita
pressa, e a tomou, e se poz em cima da
tranqueira com ella.» Diogo de Couto,
Década 6, liv. 9, cap. 9.
Tomou assi esta impressa
por vontade, ou dcuaçam,
de modo que em cõclusam,
foy assi fecta Duquesa,
sem sabermos ha razam.
G.VSCIA DE REZEKDE, MISCELLAKEA.
— «E desta determinação que el Rey
tomou de em toda maneira socorrer em
pessoa, e descercar seus fidalgos, cria-
dos, e caualleiros, foy logo el Key de
Fez anisado. » Idem, Chronica de D.
João II, cap. 82. — «E logo com os
762
TOMO
TOMO
TONE
Bispos, e capollâos qiio erSo presentes,
com muyta dcuaçâo e loinljran<;a do Deus
tomou a dcrraileira vnc^rio, tuo inteiro na
Fe, o com tanta acusa^ào de si mesmo,
quo a todos fazia iiuioja.» Ibidem, cap.
212. — «Pois saiba o Senhor Mestre do
Oanipo, quem quer que be, que iica sen-
do cm coiiaeiencia taõ grande ladra(5, co-
mo 08 seus Capitaens. Respondcme nc-
gandomo a consequência; porque nada
tomou para si.» Arte de furtar, cap. 7.
— «Neste cainiiilio tomou liuui zanibu-
quo com quatorze mouros, entre os quaes
hum delles parecia ho senhor do todos,
homem j)rudent6, natural da mesma ci-
dade, de quem se informou dos negócios
da Índia, o daquella costa, c cm special
do regao, c cidade de Moliule.» Damião
do Góes, Chronica de D. Manoel, part.
1, cap. 37. — «D^rpois desta eaualguda
entrou dom Aluaro aos vinte de !Maryo
pela Enxouuia pêra ir dar em huus Adua-
rcs, quo eâtauaõ doze legoa:i da cidade
Dazamor, e no caminho a trcs iegoas
delia em amanhecendo encontrou huma
cáfila, quo atrauessaua pêra Duquala,
que guiauam vinte mouros dos quaes to-
mou 03 dozanoue com toda a cáfila.»
Ibidem, ynu-t. 4, cap. 39. — «Passados
poròm alguns dias, que Loreno vivia em
A conversação dos pastores daquelle lu-
gar, onde tomou sua cabana, hum dia
antes quo amanhecesse, acordando de
hum doeo sonho, eni: que a imaginação o
tinha enlevado, ouVio huma suave voz,
quo cantava do pé. de hum castanheii'o,
que cora sua rama cobria a porta da ca-
bana de Egerio ; e por nau perturbar a
gloria que na alma lhe eauzava aquella
eaudade, até o fôlego reprimia por naõ
•«uapirar, e ouvir a cantiga, que oraõ es-
tas endechas.» Francisco Rodrigues Lo-
.bo, Primavera.
Assim ao quo tomou Rolado spasmo
Toda a apparcnto vida, os membros rijos,
Som cõr os lábios, pròiio o sanfíus... é morto:
Ergue-se o carpir d'orp!iami, da viuva.
OIBBETT, CASIUK3, Caut. 3, Cap. 4.
— Tomou Chriato a pessoa dos pobres;
rocebeu-a. — «Santo Agostinho diz, que
tomou Christo a pessoa dos pobres, e
quiz que ouuisaemos a elle em qualquer
(lellos para tirar todas as escusas, a dei-
xar do fazer esmola, c vsar de ehari la-
de : porque que escusa pode dar aquelle,
a quem seu Senhor, c seu Deos podo hum
pedaço de pam?» Paiva de Andrade,
Sermões, pag. 117.
— Tomou a vingant;a; vingou-se.
Vimos flou filho, quo hordou,
que foy Duque Galeai;o,
que loam Audré dcsliom-ou,
do que Toam Aiidró tomou
a vingança om brouo espaço.
alBCU DE REZEMOS, MiaCBLL^!(BA .
— Tomou terra; ganhou-a, conquis-
tou-a.
Matou ho Duíjue de Gandia,
senhores de senhoria,
quautiiB torras que tomou,
como tam cedo accabou
preso e morto som valia.
U. UB IIKZeNUB, MISCELLANEA.
— Tomou as insignias reaes; apodo-
rou-so d'ellas, veUiu-as, collocou-as s(j-
bro os houibros. — «Este como era muito
j)rudento, o prevenido, dando-lhe o reca-
do da parte de ElRey a desoras, cousa
nilo costumada, parocendolhc mal aquelle
negocio, 80 sahio logo fora da Cidade, e
foy-se meter em huma mesquita. Boran-
dim tanto que amanhcceo, tomou as insi-
gnias reaes, e se poz na cadeira, c man-
dou chamar Mostafá Carman, e iiearcan,
c llie fez grandes pi-omessas pêra que lhe
fizessem a veneração como a seu Rey, o
que fez Bcarcaii Abexim: mas Mostafá
Carman dissimulando com o negocio, sa-
hindo-se pêra fura se poz cm hum cavai-
lo muito ligeiro, o se partio pela posta
pêra Barochc a ilar rebato a Madre Jla-
luco, genro do Coge Çofar, que era hum
dos rege lorcs do Keyno.» Diogo do Cou-
to, Década 6, liv. 10, cap. IG.
— • Tomou a costa de Moçambique, —
oE com este desengano se fez á vela ca-
minho da índia, o com hum temporal
que lhe deu, Payo de Sà tomou a cesta
de Moçambique, e dahi foi ter ;l Imlia
em companhia da armada quo partio des-
te Reyno aquelle anno, c loão Serrão
tomou rioa (como ora dissemos).» Bar-
ros, Década 2, liv. G, cap. 10.
— Tomou o caminho mais apressado ;
seguiu uma direcção com mais pressa do
que imaginava. — «Onde achou nonas
que Moloi Mafiimedc Rei de Fez, e Mo-
loinacer Rei de Maquincz, vinhiío cercar
Azamor, com graõ podor de gente, pelo
que dom loaõ tomou o caminho mais
aprcjsa lo do quo cuidava, e por o rio de
Aguz ir cheo so deteue trcs dias em o
passar, onde roceboo cartas do Rui bar-
roto, e da mulher do Nuno fornaudez
que estaua cm çafim, e de Cide Alimei-
main alcaide de Almedina, jierquc lhe
afirmarão tcrâsc por certo esta noua. »
Damião de Ooes, Chronica de D. Manoel,
part. 3, cap. 49.
— Tomou posse do governo; assenho-
reou-se d'ellc. — «E para que se veja,
como as cousas vaõ muitas vezes nesta
parte, contarey o quo succedeo ha pou-
cos annos em huma praçA, onde foy pro-
vido por Capitai) mor certo cavalheiro,
que presumia de grande soldado: o no
primeiro dia, em que tomou posso do seu
feliz governo, lhe foraõ pedir o nome
para as rondas daquella noite.» Arte de
furtar, cap. 38.
— Tomou Lisboa ; conquistou-a, capti-
vou-a, ganhou-a á forçíi de armas. —
«Conieçou-8e a exercitar a Milicia Portu-
guesa no mar, depois, que EIRey D.
•Afonso Ileni-iques tomou Lisboa, assim
pela grandeza e capacidade do Porto,
coino pela abundância, que nelle hà de
madeira; o mais nmteriaes, que para ar-
mar Navios saò necessários.» .Sevcrim de
Faria, Noticias de Portugal, Disc. 2,
cap. 13.
— Tomou o porto de CalaiaU; apor-
tou a Caiaiate. — «O» quaea despedidos,
mandou Diogo iojtcz queimar a ilha de
Dalaça, que os mouros com medo da sua
frota tinhaí) despejada, acolhendosso a
terra firme, o quò feito se foz a vela pêra
Ormuz, e de caminho tomou o porto de
Caiaiate, onde achou fícorge dalbuquer-
que, que de Moçambique, o. ide inuerna-
ra com as nãos de sua capitania ho fora
buscar ao cabo de Ouardafum, como lho
mandara dizer a Moçambique por Gon-
çalo lie loulct Dami.ío de Goe», Chroni-
ca de D. Manoel, part. 4, cap. 4b.
— Tomou por annas uma cruz, —
«Destes foi hum o Conde D. Rodrigo
Frojaz Pereira; e assim tomou por armas
esta Cruz.» Severiín de Faria, Noticias
de Portugal, Disc. 3, cap. 6.
TONA, s. f, Pelle, casca ile i)ouca
grossura, suporficie. — A tona da cebola.
— Uma tona de terra, ou areia; uma
camada de pouca grossura.
— Loc. : A tona da agua; quasi á su-
perficie.
TONADILHA, s. /. Termo popular.
Cantiga rústica, o própria da gente cam-
pestre.
TONANTE, adj. e s. m. Epitheto poé-
tico dado a Júpiter.
— Termo popular. Vadio, pessoa de
más jialavras e acções.
TONDINHO, s. m, (Do francez tondin).
Termo de architoctura. Pequeno toro,
moldura redonda da grossura de uma va-
rinha, que serve para adornar a base
das columnas. Vid. Astragalo.
TONE, s. m. Uma espécie de embar-
cação da Ásia, conhecida outr'ora pelo
nome de almadia.
TONEL, í. 7)1. Vaso de aduella que
comporta cincoenta até setenta e cinco
e mais almude.s, ou duas pipas.
— Plur. Toma-se por toncladat, medi-
da do buço do navio. — «A capitaina em
que Ília a Infante ora huma nao que ae
chamaua Sancta Catherina de monte si-
nal de mil toneis, que se fez na índia,
o geral darmada era dom Martinho de
Castelbranco, Conde de villa noua de
portimam, filho uc dom Gonçalo de Cas-
telbranco, o que rompeo primeiro a bata-
llia do Castro queimado que el Rei dom
Afonso desbaratou.» Damião de Góes,
Chronica de D. Mauoel, part. 4, cap. 70.
TONELADA, s. /. Medida pela qual se
calcula o porte e frete dos navios, acer-
ca da carga, c se avalia pelo peso; dous
mil arráteis formam uma tonelada.
TONO
TOPA
TOPA
763
— Figuradamente : Porte do navio.
— Fijíuradamente : Peitos de mais to-
neladas de valor, de hi-ios, etc.
TONELARIA, s. /. Vid. Tanoaria.
TONELEIRO, s. m. O tanoeiro, que faz
toneis.
TONELETES, s. m. (Do francez tmme-
let). — Toneletes das armaduras, ou lei-
tos d'armas; são uma como fralda, ou
fraldixo, ou peças que descem da cintura
talvez até aos joelhos, como pernas sepa-
radas unias das outras.
TONIA, s. /. Termo de medicina. Vi-
gor; diz-se em opposição a atonia. Vid.
Tonicidade.
TONICIDADE, s. /. Termo de medici-
na. Estado do que é tónico, consistindo
Já n'uma manifestação particular da elas-
ticidade inlierente a certas partes, já nos
modos de contracção muscular das fibras
estriadas sob certas influencias nervosas.
TÓNICO, A, adj. (Do grego tonos). Ter-
mo de medicina. Que offerece resistência
e elasticidade, fallando de um tecido or-
gânico. — Força tónica.
— Termo de pathologia. Espasmos tó-
nicos ; diz-se das crispações regulares
ainda submettidas á vontade, em opposi-
ção a espasmos chronicos.
— Diz-se dos medicamentos que tem
o poder do excitar lentamente e por
graus insensíveis a acção orgânica dos
differentes systemas da economia animal,
e de liies augmentar a força de um modo
prolongado.
— Termo de musica. A nota tónica;
o som principal.
— Echo tónico ; aquelle que só repete
certos sons, ou que modifica aqueJles que
transmitte, de modo a alterar-íhes sensi-
velmente a natureza.
— Substantivamente : Um t onico.
TONIDO, s. Mi. Vid. Sonido.
TONILHO, s. m. Toad^ musica, acom-
panhada de instrumento, ou voz.
TONINHA, s. /. Atum fêmea novo.
TONINHO, s. m. Atum pequeno novo.
TONIONEIA, s. /. Termo de zoologia.
Ave do Brazil, mui pequena, e que se
diz ser a mais pequena ave do mundo.
TONITRUOSO, A, adj. Exposto a tro-
voadas, sujeito a ellas, infestado d'ellas.
1.) TONO, s. m. (Do latim tonus).
Tono musico, ou modo; uma idêa, e de-
terminada disposição de harmonia; moda,
ária, musica de alegrar e recrear, pro-
fana.
— LOC. : Pôr-se em tono de fazer al-
guma cousa; pôr-se em som, e modo, e
disposição, act ).
— Tom de voz de quem falia.
2.) TONO, s. TO. Titulo de grande no
Japão.
s. /. O concerto que se faz á
adega, toneis, pipas, e outros
TONOA,
louça da
vasos.
— Loc
tal louça.
Fazer a tonoa; concertar a
TONOEIRO, s. m. Vid. Tanoeiro, or-
thographia preferivel, e termo hoje mais
em USD.
TONOTEGHNIA, s. /. (Do grego tonos,
e technc). Termo de musica. Arte de no-
tar as árias em geral, fallando mais pro-
priamente dos órgãos portáteis, etc.
TONSAR, V. a. Tosquiar, cortar ca-
bello ou lã.
TONSURA, s. /. (Do latim tonsura).
Ceremonia da egreja catholica, pela qual
o bispo, entrando um individuo no esta-
do ecclesiastico, lho dá o primeiro grau
da clericatura cortando-lhe uma parte do
cabello. — Receber a tonsura.
—r. Tomar a tonsura ; entrar no estado
ecclesiastico.
— Coroa que se faz na cabeça aos. clé-
rigos, subdiaconos, diáconos, etc, cor-
tando-lhes os cabellos.
— ■ A acção de tosquiar, ou aparar o
cabello da cabeça, ou da barba longa,
ou de outro qualquer cabello.
TONSURADO, part. pass. de Tonsurar.
TONSURAR, V. a. Dar a tonsura.
— Abrir, ou fazer a tonsura.
TONTAS. Termo usado na seguinte lo-
cução : As tontas, ou a tontas ; sem
tento, em confusão, desordenadamente,
á desfilada.
TONTEAR, V. n. Fazer, dizer tolices.
— Estar, ficar tonto, ter tonturas.
TONTEIRA, s. f. Lesão do juizo cau-
sada pela senectude.
— Dito ou acto de quem tem simi-
Ihante lesão.
— Lesão do juizo produzida pelo som-
no, vinho, etc. Vid. Tonto.
TONTICE, s. /. Vid. Tonteira.
TONTINHO, À, adj. e s. Diminutivo
de Tonto. Algum tanto tonto, um pouco
tonto.
TONTO, A, adj. De juizo leso com os
annos.
Naõ sei a que respeito
Me subio estn. imnge.m ao conceito.
Sou velho, c aobrc velho tambom tonto:
Porém tu, que és rapaz, e que és maia pronto.
Em quanto lhe penetras a medula,
Pé ante pé irei na tua mula
Entrando pelo centro do Parnazo,
Porque me naõ prcsinta o Grau Pegázo.
ABBADE DK JAZESTE, POESIAS, pag. 29.
Ama (diz o Deaõ) para que é tonta?
Por ventura naõ sabe o graõ litigio,
Que trago com o Bispo ; em que meu brio,
O meu ser, minha gloria se intcrcsaaõ ?
DINIZ DA CBUZ, IIYSSOPE, Caut. 8.
— Substantivamente: Um tonto, uma
tonta.
TONTURA, s. f. Tonteira de cabeça
por fraqueza. Vid. Tontice, quo diflere.
TOPA, jí. /. Um jogo infantil, que se
joga com um osso de quatro faces.
TOPADA, s. f. Golpe de encontro com
o pó.
— Loc. POP. : Dar uma topada; obrar
mal por fi-agilidade, fraqueza inconside-
rada.
TOPADO, part. pass. de Topar.
e a coitada, c o coitado
topados de máo calçado
de ir a pé com lama e chuva.
ANTÓNIO PRF.STES, AUTOS, pag. 391.
TOPAR, V. n. e a. (Do grego topazein).
Encontrar com alguém, ou com alguma
cousa imprevistamente, por acaso, de pro-
pósito. — « Agardeceo esta lerabrãça:
mas que ao presente não auia causa pêra
o fazer, e largandose em cõprimentos,
como elles custumão sem passarem del-
les, escreueo por sua mão em quatro de-
dos de papel, estas palauras em Arábi-
go. Se topardes estes Cacises Frãgues,
hòrayos, que tambom eu vos honrai-ey.»
Fr. C4aspar de S. Bernardino, Itinerário
da índia, cap. 17.
não é mouta bofageu,
dava a marmeluta já.
O Senhor, passac-mc ao sul
d'aquelle outeiro,
e no mais, que o meu dinheiro
não queira hoje Berzabul
que tojye algum dizimeiro.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pag. 89.
— «Sendo ellas taõ queridas e vene-
radas delles, que qualquer molher que
for per hum caminho, se com ella topar
o filho do Rey hâ lhe de dar lugar por
onde passe e elle estar quedo.» Barros,
Década 1, liv. 10, cap. 1 . — «Assi que
ao tempo que elle estava nesta obra che-
gou Bairim Bonari seu Embaixader, e
folgou de o topar alli, por lhe não dar
trabalho de passar o mar, e ir buscallo
á índia, e assi folgava de estar tão vizi-
nho da Pérsia, por cada dia ter novas
de sua Real pessoa, e as mandar a El-
Rey seu Senhor.» Idem, Década 2, liv.
10, cap. 5.
Topou me, e disso : Essa sede,
Floricio, naõ vem da calma.
Naõ (disse eu) quo nasceu d'alma ;
Que agua dos olhos me pede.
FEANCI3C0 RODBIQDES LOBO, PRIMAVERA.
— «Antes, disse o preso, desejo muito
de ouuir. Disse então o amigo. Embar-
cado eu em Barcelona cõ outros passa-
geiros, tanto nauegamos pelas duuidosae
ondas do mar mediterrano atrauessando
o golfaõ de Lião, que em poucos dias vi-
mos terra de Itália : o indo ferindo clj os
duros remos as salgadas agoas do pego
Ligustico a par de Genoua, fomos topar
cõ hum nauio, de que eu soube taes no-
nas, qne me foy necessário deixar a com-
panhia, o que fiz cõ assaz soydade. »
Heitor Pinto, Dialogo da tribulação, ca-
pitulo 7.
784
TOPE
TOJ'í
TOQU
— Loc. POP. : Homem que topa tudo;
diz-sc (lo qiic acccita todos os negócios
bou8 c mau*; o frascario, que ii3o esco-
lhe os objectos fias suas torpezas, e so
mistura com boas e iiuls mulheres; que
bebe o come do tudo.
— Figuradamente : Topar a/m o amor.
Mas panv íjuo {• gastar mais papelada?
Quem topar co'amor, beiíza-sc dcUe,
P éinprcguo antes o seu om piuboada. ''.
IfHRNÃO HOHOPITA, rOUSIA» E I'B0SA8 INBDITAB,
pag. f)õ.
— Figuradamente : Dar.
— Topar com ou olhos ; roHectir, repa-
rar.
— Termo de jogo. Topar a banca ;
na parada, ó tel-a, ou acceital-a.
— Topar-se, v. rcfl. Enc(mtrar-sc.
1.) TOPAZ, s. m. "Vid. Topázio.
2.) TOPAZ, f. m. Termo da Ásia. Chris-
tão mcsti(,'o de Jlalaca.
— Alguns authores dão-llio a signili-
çào de Uiiijua, ou interprete.
TOPÁZIO, s. m. (Do grego topazion).
Pedra preciosa transparente o brilhante,
de côr amarella.
Deixão, sem magoa, ingemios habitantes
Nas iiiãoa do voiicodov ricos tbcsouros ;
Rubiuá aeeczas, pálidos topázios,
São pediaâ no Peru, na Europa Numes.
J. A. DE MALKDO, MBDUAçÃo, Oaut. 1.
o pallido Topázio onde hc mais bella
A pallidez do Goivo, e da Giesta.
IDKU, A NATUHEZA, CUnt. 2.
TOPE, s. m. Ohoque, encontro de duas
cousas que se topam, — O tope das bo-
las no jogo.
Pharamundo, rodeando olhos medonhos,
Bparsas aa càus aos ventos matutinos,
Assentado no tópc da fogueira,
A vista debruçava ao Filho, ao Noto.
V. U. DO MASCIMGNIO, 03 MARTYSES, 1ÍV. 6.
— Termo de marinha. Extremo supe-
rior dos mastros. — Tope da proa.
— Layo de íita que se põe no vestido,
calçado ou chapéu.
— Óbice, obstáculo.
— Golpe de martello nas ferrarias.
— Tope da gávea; a mais alta sum-
midade d'ella, onde a vela içada topa, c
não pódu ir mais acima.
— Tope da mesa. Vid. Topo, e Cabe-
ceira.
TOPETADA, s.f. Cabeçada, encontrão.
— Marrada de touro, carneiro.
TOPETAR, V. n. Jlarrar.
— Figuradamente : Chegar, alcançar
uma altura.
TOPETE, s. m. (Do francez toupet).
O cabello de diante da ciibeça, que so
rica, e penteia. — «O nono artigo he tal.
Dík qae mote ElRcy cm Offlcáos pruvi-
cos os .íudouB, c leixa-lhes trazer tope-
tes, como a (Jhrisptailos, e nom quer >*<>•
frer, que os eostrangam polas dizimas de
suas possissoiJes, contra os seus artigos
vicenimo sétimo, e tricesiino sétimo.» Ord.
Affons., liv. 2, tit. 4. -r-iEm entrildo
pela porta da Fortaleza, a primeira cou-
sa que vemos, he a ymagcm, e figura de
Afonso de Albuquerque que Deos tenha
em gloria, com huiiia barba que lhe dá
pela cinta, como cllo a trazia bem diffo-
rento das do agora, em que os homens as
mudarão pcra o topete da cabeça, e com
razão, porque a que he tam leue, bem he
que lho ponh3o algum pezo.n Fr. Gaspar
do S. Bernardino, Itinerário da índia,
cap. 11.
Descobre, ó Deur.a cega, muito embora
O escondido topi;te \ loucii gente,
Que 8usponder-te intenta, e diligente
Da passagem feliz te observa a liora.
AJia.u>E DB JAZKNTE, POESIAS, tom. 2, pag. 119.
Espcrae,
levacs O topete á vela !
vós vedes isto ?
ANTÓNIO puKSTKS, AUTOS, pag. 417.
— Topete dos cavallos; o cabello que
ellcs tem sobre a testa.
TOPETEIRA, s. /. Peça de arreio, ar-
madura que se colloca na testa do cavai-
lo. Vid. Testeira.
TOPETADO, A, adj. Que traz topete.
TOPHO, 8. m. Vid. Tofo.
TOPIARIA, s. /. (Do latim topiaria).
A arte de fazer figuras de murta, e ou-
tros arbustos nos jardins.
TÓPICA, s. /. A arte de achar argu-
mentos.
— A doutrina dos lugares tópicos.
1.) TÓPICO, A, adj. (Do latim topi-
cus). Que diz respeito aos lugares.
— Divindade tópica; divindade que
preside a um lugar.
— Febres tópicas, ou locaes; varieda-
de de febres intermittontes anómalas.
— Termo de medicina. Diz-se doa me-
dicamentos que se empregam no exte-
rior.
— Termo de rhetorica. Lugares tópi-
cos ; synonyrao de lugares communs.
— Figuradamente : Que so refere exa-
ctamente áquillo de que se trata. — Lin-
guagem substancial e tópica.
2.) TÓPICO, s. m. Tratado sobre os
lugares communs. — Os tópicos de Aris-
tóteles. — Os tópicos de Cicero.
TOPINAMBA, s. /. Xome pelo qual se
designavam os indígenas d;v America me-
ridional.
TOPINAMBOR, «. m. Termo de botâ-
nica. l'la;ita vivaz da America; tem tu-
bérculos ])arecidos com as batatas, os
quaes se comem.
TOPINHO, s. m. Termo de alveitaria.
O cavallo, ca basta, que pouAa xímente
110 chilo a parte anti:rior do pó.
1 .1 TOPO, s. m. O remate, a ultima
parte onde termina alguma cousa. —
«Dons estrados, di.stinctos pela diversa
elevaçilo, occupavam um dos topos do
espaçoso aposento.» Alexandre Hercula-
no, Ifonge de Cister, cap. 25.
— Plur. (J« extremos das vigas, ou
barrotes.
2.) TOPO, í. m. Choque, encontro.
TOPOGRAPHIA, s. f. /Do grego topoi,
e graphnh). DeHcripçâo minuciosa de um
lugar particular.
— Arte do representar sobre um pa-
pel a configuraçSo de uma porçHo de
terreno com todoa os objectos que ostSo
;'i Bua miperfieie.
TOPOGRAPHICAMENTE, oflv. (De to-
pographico, e o .suffixo «mente»). Segun-
do a topoerrapiíia.
TOPOGRAPHICO, A, adj. Que perten-
ce á topographia. — Descrip^ão topogra-
phica.
TOPOGRAPHO, s. m. Homem que se
occapa da tiqjographia.
■f TOPOLOGICO, A, adj. Que diz res-
peito ao conhecimento dos lugares.
I TOPONYMIA, s. f. A designação das
localidades por seus nomes.
TOQUE, s. m. Tocamento, contacto.
Vid. Tacto.
S'hum toque sA de fogo o enxofro accendc,
Se dilatado o ar quebra as cadeias,
E nas Cavernas hórridas gespandc.
Eis J!Í rcborabào nos profundos vaUea.
J. A. DIÍ MACEDO, A SATOEEZA, Cant. 2.
— Figuradamente : Leve impulso. —
«Aos deste toque, porque com habilida-
des alheias quizeram mercadejar, condem-
na o tempo a cornos perpétuos que é o
castigo que melhor calça ao seu erro.»
Fernriu Rodrigues Lobo Soropita, Poesias
e prosas inéditas, pag. 109.
Qu'o3 duros Nautas (c tão broncos erão,
Qu'o milagroso ioqiie d'harmouia
Não poderão sentir) no mar lançarão.
J. A. DK MACEI>0, A HATUREZA, Cant. 3.
— Toque a postos ; designa-se tocan-
do a chamada na c;iixa de guerra.
— Pedra do toque ; aquella em que se
roça o ouro, ou prat;i para da còr que
n'ella deixam so esmar o quilate.
— Demonstração da bondade ou mal-
dade da cousa.
— Golpe, pancada.
— Prova, ensino, experiência.
— Som do instrumento soante.
— Dar toque; tocar, topar.
— Figuradamente : Quilate.
— Golpe no sino, á porta para abri-
rem.
— Toques da mão de Detit.
TOEC
TORC
TORE
765
— Toques de pincel ; os rasgos d'elle
nas sombras e luzes, da maneira dos
quaes se indica e deixa sentir o caracter
do objecto representado.
— Dar um toque na murmuração j
murmurar sem ferir, sem escaudalisar,
TOQUE EMBOQUE, s. m. Jogo de bola
com aro, etc.
TOQUEIRO, s. m. Termo antiquado.
Vid. Toqueixo.
TOQUEIXO, s. m. Termo antiquado.
Toucado antigo de mulher.
TORAL, s. m. O cabeção da camisa
das mulheres, separado da fralda, como
algumas mulheres do vulgo usam fazel-as,
de lençaria mais grossa.
— O toral da lança ; o terço mais
forte d'ella.
TORANJA, s. /. Vid. Toronja.
TORÃO, s. m. Bolo de nozes, amên-
doas e mel.
TORAR, V. a. Cortar com a serra a
arvore, dividil-a em toros.
TORCAZ, adj. 2 gen. Vid. Pombo.
TORÇAL, s. m. Cordão de diversos
fios de seda, ouro, etc. ; servia de orna-
to nos vestidos antigos.
— Hoje serve para casear vestidos.
TORÇÀLADO, í. m. Vid. Torcelado.
TORÇÃO, s. m. Vid. Terçol.
— Termo de alveitaria. Torcilhào.
— Torção do ventre ; dor aguda nos
intestinos produzida de cólica bili sa.
TORCEDELLA, s. f. Vid. Torcedura.
TORCEDOR, s. vi. Pessoa que torce e
aperta com moléstia, e tortura.
— Figuradamente : Homem que dá
tractos.
— Torcedor dos seus méritos.
— Figuradamente : O amor profano é
torcedor dos corações humanos.
— Cousa com que molestamos alguém,
para o dobrarmos a nosso intento.
TORCEDURA, «. /. O acto de torcer.
— Volta que dá, por exemplo, o rio
tortuoso.
— Alteração feita na cousa torcida.
— Torção.
— Justiça sem torcedura; sem violên-
cia d'ella, sem se desviar do recto cami-
nho.
TORCELADO, ou TORÇÀLADO, A, adj.
Ornado de torçal.
TORCER, V. a. (Do latim torquere).
Fazer volver qualquer cousa sobre si,
de maneira que se desarranjem as fibras.
• — Torcer um braço.
— Torcer a verdade da historia; afas-
tar-se d'ella.
— Torcer o caminho ; ir com rodeio,
e não via recta.
— Torcer o rosto ao inimigo ; retirar-
se d'elle.
— Torcer o passo ; voltar atraz, ou
afastar-se do caminho que se tomara.
— Torcer as leis; dar-lhe sentido for-
çado e mal applicado.
— Torcer alguém; mudal-o violenta-
mente, com força do seu systema, in-
tento, conselho, ou presupposto.
— Torcer a vinha; amanho que se
faz á vinha, para que a vara do vinho
fique logo nos primeiros olhos da vide.
— Torcer a cara; dar as costas, em
opposição a fazer resto.
— Desviar, afastar.
— Tirar a direcção, ou posição recta.
— Torcer os olhos, a bocca.
— Torcer as rédeas; viral-as para mu-
dar o caminho.
— Torcer urna sentença ; dar-lhe sen-
tido não recto.
— Torcer os textos, oráculos; accom-
modal-08 a outros propósitos.
— Torcer-se, v. rejl. Dobrar-se.
— Torcer-se a peitas; fazendo sem-
justiça, ou cousa deshonesta por ellas.
-^ Torcer-se a lisonjas ; dobrar-se a
dizel-as.
— Figuradamente: Torcemo-nos para
onde nos inclina a vista do principe ;
imitamos ainda fazendo violência ao nos-
so natural.
— Torcer-se a abatimentos ; reduzir-
se a fazel-os, e a sofFrel-os violenta-
mente.
— Torcer-se o alfange; ficar com os
fios dobrados, torcidos, não cortar.
— V. n. Não seguir a direcção recta.
— Torce a planta.
— Hi/inem de antes quebrar que tor-
cer ; de antes quebrar que ceder violen-
tamente do que é razão e honesto.
TORCHADO. Vid. Trochado.
TORCIA, s. /. Violência, torcedura.
— Interpretação forçada.
1.) TORCICOLLO, s. m. Volta tortuosa.
— Gyro, rodeio.
— Termo de historia natural. Uma ave
vulgar.
— Figuradamente : Ambiguidade de
palavras. — «E lançadas vossas contas,
acliaes na vossa opinião, que nada ficaes
a dever, e que se vos deve muito, pelo
muito que ganhastes.' Muito tinha eu
aqui que discorrer : mas fiquem estes tor-
cicollos de reserva para o capitulo 20. >
Arte de furtar, cap. 12.
2.) TORCICOLLO, A, adj. (Do latim
tortumcollum) . Que deita a cabeça á ban-
da, e tem o pescoço torto.
— jS'. 7)1. Espécie de rheumatismo pas-
sageiro, que prende o pescoço com do-
res.
-^ Figuradamente : Hypocrita, coilo,
pescoço torcido.
TORCIDA, s. /. Fios de linha ou de
algodão torcidos para mecha das can-
deias e velas, matuUa.
TORCIDAMENTE, adv. (De torcido, e
o suffixo "mente). De um modo forçado.
— Entender torcidamente as palavras.
TORCIDO, part. pass. de Torcer.
— Figuradamente : Estrada torcida ;
estrada tortuosa, não direita.
— Olhos torcidos; olhos de invejoso.
— ^ Juízo torcido ; juizo errado.
— Levado com violência.
— Caminho não torcido ; caminho re-
cto, não tortuoso.
— Sentido torcido ; interpretação tor-
cida; sentido, interpretação violenta das
leis; palavras mal interpretadas.
— Figuradamente: Caminhos torci-
dos ; mau methodo, má ordem que atraza
nos estudos.
— Rosto torcido ; rosto d'aquelle que
desapprovou.
— Vista torcida ; vista do que mette
um olho pelo outro.
— Ferros torcidos ; ferros que pren-
dem na caixa da liteira, e no varal.
— Com lançamento tortuoso.
— Escada torcida ; escada de caracol.
— Coração torcido; coração de quem
segue os caminhos torcidos, e desviados
da verdade, da caridade.
— Substantivamente : Tirar o torcido
do coração; endireitar os caminhos tor-
cidos da má vida, etc.
TORCILHÃO, s. m. Torção, cólica que
dá nas bestas.
TORCIMENTO, s. m. Vid. Torcedura.
TORCIONARIO, A, adj. Acompanhado
de torção ou torsão.
TORCULO, s. m. (Do latim torculum).
Machina de lapidar.
— Pequena prensa.
TORDA, s. f. Termo de historia natu-
ral. Ave aquática do mar do norte, que
vive quasi sempre sobre a agua.
— A torda mergulheira do norte; é ne-
gra pela parte superior, e branca pela
parte inferior.
■}- TORDIÃO, s. m. = Significação in-
certa.
Que farão co'ella na mão !
Bem digo cu.
Ora no mais...
Beijae agora o tordião.
Já este mal é iii eterno ;
tempos ha que está em deposito.
A.NT0NI0 PRESTES, ACTOS, pag. 76.
TORDILHO, A, adj. — Cavallo tordilho ;
côr de tordo, com pello mesclado branco
e preto.
1.) TORDO, s. m. Termo de historia
natural. Peixe do género dos labros; é
grande e verde malhado de araarello.
2.) TORDO, s. m. (Do latim turdus).
Uma ave vulgar branca e preta, de que
ha varias espécies. E do género do mel-
ro, e similhante a elle.
— Tordo dos remedos ; pássaro ameri-
cano, notável pela facilidade com que
imita o gorgeio de todas as aves, motivo
por que os selvagens o denominam pássaro
das cem linguas ; o seu próprio canto é
mui agradável, e soprepuja ao do rouxi-
nol, segundo dizem os viajantes.
TOREUMATOGRAPHIA, s. /. (Do grego
toreumatos, e graphos). Descripção doa
766
TORM
TOllM
TOUM
bíiixos-relevos, ou niuiu-rtílovoi tloB tem-
pos aiiti^oM.
TORGA, s. f. Urzo.
TORGÃA, s. f. Torfí.i.
TORI, s. TO. Tunuo da Ásia. Um legu-
me tio i(uo KC faz a oraa.
TORIBIOS, *■. m. i/lar. Coutas do crys-
tal qiii! vem da Índia.
TORIONDO, adj. Vid. Touriondo.
TORMA, s. /. Vid. Turma.
TORMENTA, s. /. (Jraiulo agitaçilo do
mar com vento rijo; borrasca, tcmpea-
D'ar|ui fomos cortando muitos dia»,
ICntrc tormentas tristoé O b(«i;nn;ii*.
No liiifío iiiai- fazoiíJo iiov:irf v\a^,
Sií couduzidrtj do iirdaart cápoi-am;a9 :
Co 'o iniir um tciniio aivd:Vmoí cm porfias,
Quo, como tudo n'clli! 3ilo mudança»,
C(nTeiito u'ello aoliilmos tão posBanto,
Quo passar não deixava por diauto.
CÁM., LOS., caut. 5, est. 06.
— «E crecendo com tudo a tormenta
cada vez mais, uos deixamos yr, com as-
saz de trabalho, ao som do mar atò quasi
o Sol posto, cm quo o Junco acabou de
se abrir do todo.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 137. — «Dos quaeí»
alguns foraõ ter a Imlia, e dahi a Portu-
gal, porque a sua nao depois do mea des-
carregada cora tormenta deu a costa na
mesma ilh.t de Teruato, a qual oUes che-
garam aos XXVI. dias do luuho, tendo
naucgadas, pola conta que faziam mil, o
quinhentas legoas, do dia que partirão da
ilha de Tidoro ate tornarem a Ternate. »
Dami.ão de (?toe.s, Chronica de D. Manoel,
part. 4, cap. 7. — «Vasco da Cunha, se-
guindo a instrucção que levava, foi reco-
lhendo os navios que achou naquoUas en-
seadas desaparelliados da tormenta, e
com elles entrou cm Raçaim, onde achou
o Capit.^o Mór D. Jcronymo de Menezes
com quinze navios aprestados para soc-
correr Diu, empenhado de novo com o
sentimento da morte de seu irmão D.
Francisco, que temos referido.» Jacintho
Freire d'Andrado, Vida de D. João de
Castro, liv. 2.
IvOpo do Sousa aqui so mo aprcsonta,
Uello quero cantar, a ollo quero irmo,
E nisto quo dizer meu canto intenta
Hem soi quo fol^anw todos dourimio.
l'nrte-30 esto tarabcm, o a gràa tormenta
Lil da parto o lançou da torra firmo,
E como ja a maré então vazasse
Forçado fui que em torra alli ficasse.
F. D'ANnR\DP., PUlMKlllO CEBCO DK DIU, Caut. 11,
est. 2G.
Do nãos grãa companhia navegando
Vai com favor do vouto o da ventura.
Que d'hum porto sahirão juntas, quando
As espallia a tormenta brava o dum :
Esta hum porto, aquolla outro vai buscando
Ondo cuida que pode ostav segura.
Tal osta gonto so mo i-oprosonta
Quo ospalha do Mogor a gtàa torraouta.
iBiDKM, oaut. 5, ost. 45.
Nom pára uiitto a liorronda batoria
Porque odio tudo prova, tudo intenta,
ITuma parte também da frontaria
Do baluart« nonte esta tormentn ;
Também lhe ctigào toda a artilharia,
De (|U0 so alegra as^az, c Be contenta
O iinigo, que lia que; toom, com grande gloria,
Pois subida ja toem, corta a victoria.
iDiPKki, caut. 14, cBt. 52.
Tal na imaginação so me apresenta
O nobre Sousa, o qual inda ([uo forto
Sem temor nilo entrou nesta tormenta
Porquo o esforço não tira o medo k morte.
iDiDF.u, caut. G, est. 52.
— aE embarcado hum dia á noyte lo-
go, demos il vela com bõ vento saimus
do dito porto, cinco ou seis legoas, nos
veyo vento contrario, o tormenta, que
aquella noyto tivemos toda muyto gran-
de, e o dia seguinte chegamos a horas de
véspera ao porto, o Cidade do Famagos-
ta, primeyro porto, que daquella banda
cst;l para a Ilha de Chipre, ondo logo dcs-
embarquey as.^^az enjoado, e maltratado
da dita tormenta que passara era esta
travessa do mar.» António Tenjeiro, Iti-
nerário, cap. 64.
D 'hum mal em apparoncia, os Ccos costumão
Muitos bens derivar, e huma tormenta
Imporio aos Lusos dco, ã Europa hum Mundo.
J. A. DE MACEDO, A SATUEEZA, Caut. 1.
— o cabo das tormentas; hoje é o
cabo da Boa Esperança, posto esto nome
por D. Joào II, para animar assim os
portuguezes á navcgayào para as índias.
Éramos cêrca do famoso cabo,
A quo mudou boa esperança o nomo
Que primeiro lhe dêmos, das tormeiUas.
aABBETT, CAiiÕES, caut. 4, csp. 8.
— Figuradamente : Trabalho perigoso.
— Tormentas <lu es/ac/y ; as revoluções
e perturba(,-ões grandes d'elle.
— Agitayào, tumulto. — a Se o tempo
tégora com seus ameaços vos tirou do
vosso natui-al, lá vos ácarào outros espa-
ços mais largos, com qiie vos vingueis
destes dias com outros dias de vosso con-
tentamento: a tormenta é menos, e cjida
voz será menos ; por isso, senhora, per-
ilei o receio ; limpai essas lagrimas, que
n.ão são esses olhos taes que os devais
aggravar com ellas : lançal-as outrem por
vós isto mo parece justo; chorardes vós,
por nenhuma cousa o posso consentir. »
Francisco do Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 115.
— Tormenta da fortuna, de cuidados,
de trabalhos; trabalhos, desgostos.
— Correr tormenta ; padecer, soffrer
a tormenta, atural-a, sotfrel-a sobre amar-
ra, e n,-\o .i vela.
TORMENTAR, v. a. Vid. Atormentar.
TORBtENTATIVO, A, adj. Atormenta-
dor, qui- jiroduz loiin<-nto.
TORMENTILLA, ». /. iíerva.
— Planta ro.--acea quo lança talos del-
gados, tirantes a venuelho, com foUias
que sácm de sete cm Aetc no mesmo pé.
TORMENTO, «. m. (Do latim t<jrmen-
tum). Acto de atormentar.
— A pena, a dór, afliicçao, angustia
corporal .
Horas, pontos n momentos.
Os cursos da natureza
Mc desf-jão dar tormmto» ;
O» mais ledos cleuieiitos
Mc presontão mais tristeza.
OIL VICEXTK, ODBAS TAMAI.
Sc tomo a minha pena em penitencia
Do error em que cahio o pensamento,
NÃO abrando, mas d.'bro mea tormrnio.
Que a tanto, e mais, obriga a paciência.
CA»., soxno n." 94.
N'cstc pasío .icordci ou
c o meu content.tmcuto
que eu cuidava que era meu,
deu-mo depois tal tormento
qual nunca cousa me deu :
Nam sei eo que a dita custava
porque n.atn me outorgava
que n'esta gloria ficara,
ou pois jaa que ac<irdava
que d'isto n.am acordara.
CUEISTOTÂO FALCÃO, OnBAS, pSg. 13.
Sc meus cuidados perdesse
meus tormentos pordcria,
se jaa dclles mVsquecesao
de mim lembrança teria.
Oh quem d"e'lcs se esquecera,
0 1 esquecer esperara
ditoòo quem os perdera
pois perdcodo-os se cobrara.
iBioBu, pag. 22.
NcUc verás (so tu do esquecimento
As agoas naõ levaste ao Céo comtígo)
A grandeza cruel do meu tormento.
ABBADE DE J.VZEmX, POESIAS, pag. 131.
— «Assi comiam e beviam e alli fa-
ziam seus feitos, ho que lhes nam era
pequeno tormento e pena : e hiam assen-
tados dentro nas capoeiras, e eram leva-
dos aas costas de homens.» Frei (Taspar
da Cruz, Tratado das cousas da China,
cap. 24. — iNem outro sy podem, nem
devem passar ao n.«o de tormentos em
causas criminais, ainda na prezença dos
maiores indicies; jurtal. ^fíh'tes cod. de
qua-stionibus, ubí Cyn. et Bart. Paris,
de Puteo tract. de Si/ndicatu, verbo, do-
ctor, cap. 2 à num. I. 3, et 6 se bem
que a nossa Ordenação exceptua certos
cazos, em que os Nobres, e Doutores po-
dem ser atormentados.» Braz Luiz de
Abreu, Portugal medico, pag. 255, § 97.
Seu moto desigual vejo, c contemplo.
Donde procede o variado aspecto.
Com quo sempre nos Coos so mostra aos olhos,
TORN
TORN
TORN
767
No eixo obliquo de seu giro errante,
Do pensador Astrónomo tormento,
Poia jAmaÍ3 a seus cálculos se ajusta.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EITATIOA, Catlt. 1.
Tractos, torturas.
Tanto maiores tormentos
Forào sempre os que softi,
Daquillo que cabe cm mi,
Que não sei que pensamentos
São 08 para que uasei.
CAM., BEDONDlX-IiAS.
Estando socegado já o tumulto
Doa deoaes e de seus recebimentos,
Começa a descobrir do peito occulto
A causa o Thyoneo de seus tormentos.
CAM., ms., cant. 6, est. 26.
— «E se por aqui nam acabam de
compreliender ha verdade, lhe dam mui-
to açoute e tormentos pêra que por huma
via ou outra acabem de saber ha verda-
de do negocio de que inquirem ou devas-
sam : nam usam de juramento porque
nhum de seus deoses estimam.» Fr. Gas-
par da Cruz, Tratado das cousas da Chi-
na, cap. 20. — «Vasco, Vasco! Desgra-
çado! Aquelle fez mais do que isso : amou
e abençoou os que lhe cuspiram nas fa-
ces e lhe tiraram a vida nos tormentos
da cruz.í A. Herculano, Monge de Cis-
ter, cap. 3.
— Figuradamente: Tormento do ani-
mo; animo apaixonado, com alguma pai-
xão.
TORMENTÓRIO, A, adj. — O cabo tor-
mentório; o cabo onde ha muitas tor-
mentas, o cabo da Boa Esperança.
TORMENTOSO, A, adj. Onde ha tor-
mentas, tempestuoso, procelloso. — O
calo tormentoso.
— Figuradamente : Que produz tor-
mentas. — Cuidados tormentosos.
-}- TORMINAL, adj. 2 gen. Vid. Tor-
minoso.
TORMINOS, s. m. Termo de medicina.
Djsenteria com dor e puxos.
— Dores que sobrevem depois do
parto.
f TORMINOSO, A, adj. Termo de me-
dicina. Que está sujeito á dysenteria com
dores e puxos.
1.) TORNA, í. /. O dinheiro que se dá
a quem trocou comnosco alguma cousa
dando-nos outra de mais valor, e quem a
recebe dá a torna para ficar egual.
— O que o herdeiro melhorado na par-
tilha, que levou cousa de mais valor que
o seu ju.sto quinhão, dá aos co-herdeiros
para ficarem egualados todos.
t 2.) TORNA. Forma do verbo tornar
na terceira pessoa do singular do pre-
sente do modo indicativo. Vid. Tornar.
Onde chegando os dous algum espaço
Em se darem esforço ambos gastarão,
ifas com t.al dôr, e amor, que oa peitos d'aço,
E 03 mais duros penedos abrandarão :
Dando-se ambos cmíim o ultimo abraço,
Co'os olhos aomprc hum no outro so apartarão,
Ella na ornada camará se encerra,
Elle outra vez se tonui para a torra.
FKAXCISCO DE AUDEADE, PBIMEIRO CEKCO DE DIO,
caut. 3, est. 101.
A falta dos Eemciros, e a grãa pressa
Com que a maré vasava neste instante
Faz com que a leve fusta se atravessa
Que hia ja dos Christàos assaz distante.
Comtudo do remar ElRei nào cessa,
Porém mais torna atraz, que vai avante,
Que contra a gràa corrente arrebatada
Nào basta pouca gente e ja cansada.
IBIDEM, cant. 7, est. 65.
— «Lopo Soares por Capitão mór á
índia 1 este he, e não podia ser outro; e
Diogo Mendes, e Diogo Pereira, que eu
mandei prezos ao Reyno por culpas que
tinham, JilRey Nosso Senhor os torna cá
mandar, hum por Capitão, e Feitor de
Cochij, e outro por Secretario! tempo he
de acolher á Igreja, e assi fico eu mal
com ElRey por amor dos homens, e mal
com 03 homens por amor d'ElRey.» Bar-
ros, Década 2, liv. 10, cap. 8. — «Ha
também outros muitos animaes bravos.
Ha algumas arvores despiaho como li-
mões e laranjas e muitas balsas dubas
por aquelles matos. Quando tornam estes
Laos pêra sua terra por yrem contra
corrente vam em três meses. Faz este
rio huma maravilha na terra de Cambo-
ja digna de se contar.» Frei Gaspar da
Cruz, Tratado das cousas da China, cap,
3. — «Ora torna ja em teu acordo, e co-
nhece tua insensibilidade: e ao menos
instantemente, ora, e pede ao Senhor,
que assi como elle fez que o minino S.
loão (o qual ainda a si mesmo nam sen-
tia) sentisse, e alegrasse com sua visita-
ção, e no ventre da mãy desse saltos
com prazer: assi faça que tu sintas as
cousas de tua saluaçam, e te alegres cõ
ellas, e abras logo a porta ao Saluador
quando te vier visitar com suas sanctas
inspirações, pêra que elle na hora da
morte te abra a porta da vida eterna.»
Frei Bartholomeu dos Martyres, Catecis-
mo da doutrina christã.
Se ja cantei amor, se amor não canto,
Culpas do tempo são, que vai mudando
O meu cantar alegre em triste pranto.
O tempo, que tão leve vai voando,
Delio, não torna mais ; e assi fugindo,
Mil claros desenganos nos vai dando.
CAM., EGLOGA 12.
— «D. Manoel de Lima se oflferece a
ficar nella. Toma António Moniz algu-
mas nãos. Vingança barbara dei Rei do
Cambava. Avisos de Ormuz. Descripção
de Baçorá. Os Turcos se fortificâo nella.
Vai D. Manoel de Lima para Ormuz; e
D. João Mascarenhas torna a ficar em
Diu.» Jacintho Freire d' Andrade, Vida
de D. João de Castro, liv. 3.
Ora arrotando, para dentro torna.
Ardia cntaõ em calma toda a terra,
E o calor, que as goelas lho scccava.
Lho faz bradar por agua, c caramelos.
DIKIZ DA CEUZ, HTSSOPE, CaUt. 1.
TORNABODA, s. f. Vid. Tornavoda.
TORNADA, s. f. A acção de tornar, de
voltar para aquella parte d'onde se saiu.
— A porção de liquido que sáe de al-
gum vaso a que se tira o batoque, ou
que se abre por esse modo, tirando-lhe o
torno.
TORNADIÇO, A, adj. Que muda de re-
ligião, e passa a professar outros dogmas :
dava-se este nome aos mouros, e judeus
conversos.
— Que deixou o amo, ou senhor com
quem vivia, e foi servir a outrem.
— Desertor.
— Usa-se também substantivamente.
TORNADO, -part. -pass. de Tornar. —
«Porem avendo Eu conselho com os da
Minha Corte, estabeleço e ponho por Lei
pêra todo sempre, que se algum per sua
força esbulhar outro de sua casa, ou her-
dade, ou d'outra possissom, de que este
em posse, nom seendo ante chamado,
nem ouvido com seu direito como o di-
reito quer, que o forçador perca o direi-
to, que ha na cousa forçada que esbu-
lhou, e o esbulhado seja logo tornado aa
posse da cousa de que o esbulharem.»
Ord. Affons., liv. 4, tit. 64, § 3.
Corre hum medo improuiso pollos ossos
Destes Cafres que tal não presumião,
Esfriase lhe o sangue nas entranhas.
Da espada vendo a luz, do Souaa a ira.
Tornados so arremessão, qual primeiro
Pode e no rnanso Kio se mergulhão,
Mas logo em pouco espaço sobre as ondas
Outra vez deamayados forão vistos.
CORTE HEAL, NAurnAQio DE SEPÚLVEDA, cant. 15.
— « Tornado elRsy pêra sua casa a
prouer em as cousas desta pratica, ficou
Duarte Pacheco em outra cõ os capitães
e principaes pessoas que cõ elle andauaõ
naquelles trabalhos.» Barros, Década 1,
liv. 7, cap. 7,
Pia que viuuou primeiro
he ^nua por derradeiro :
vi três mortas antes d'ella,
outra tornada a Cagtella
com jovas o com dinheiro.
GARCIA DE REZENDE, ÍUSCELLAKEA.
— «Este virado pêra o Oriente, podo
as mãos nas orelhas, começa a gritar com
huma voz mny alta, sentida, e vagarosa,
estas palauras. Ala, híc, Bar, Axahel,
Alà helíj e leJa, J\Iahameth, Rasid Ala.
As quaes tornadas do Arábio em Portu-
guês, querem dizer Deos grande não tem
outro Deos, Mafamede he Embayxador
768
TOIIN
TORN
TORN
dò Dcos.p Fi'ei fiaupar de 8. Bernardi-
no, Itinerário da índia, cap. li).
liarbeiraA
nos ucharAs jil lornadai :
onde íb, pagem ?
Vou comprar
de cear porá meu amo ;
senhora, quer-mc fallar?
Com tisoura c pcntem?
ANTÓNIO PBE8TK6, ADTOS, pag. 177.
Tens esses eabellos já,
de negros, corvos tornadot
que oram os me.^moí cruzados:
Ija maia sarro cm casa ?
iDiDuif, pag. 481.
— Tornado a mim ; a meu siso, pru-
dência.
— Voltado, convertido; o converso de
sua lei, ou cronça a outra diversa.
— Figuradamente: Tornado o coração
humn)ii) hrnfdl.
TORNADOR, s. m. Vid. Torneador.
TORNADOURA, s. /. Instrumento de
torcer e dobrar arcos para tauoa de to-
nel, pipa, etc.
TORNADURA, s. /. Vid. Tomadoura.
f TORNAE. Forma do verbo tornar na
acfíunda pessoa do plural do imperativo
futuro. Vid, Tornar.
Pois é assi.
TTjrnne-mc, tio, a chamar,
tornao, tornae-mo a provar.
ANTÓNIO PHBSTB8, AUTOS, piVg. 165.
Bem vinda scaos, senhora,
mas se dacs c.<'a c vestido
tiil <jual dá vosrto marido
íor/iac-voâ vós muito embora.
iBinsM, pag. 231.
A tal ora mariseca ?
que é isto? boa seja a vinda :
dizei-me, é isto vir vêr
se dou jii fios A tèa ?
for/iíie-voâ, i-llie dixer
que ainda tora que tecer
mais vinte ânuos vHa mea.
iBiDEu, pag. 255.
Eu Ih 'o darei ; não í tanto.
Se m'o não d;l, não no quero.
Pois, moija, íor;iae-o a levar.
E cu não lh'o irei tomar;
traze.
Nâo trigas !
Que foro !
Eu tambom quero mandar.
iBiDKii, paig. 337.
Tpdavia me tornae
a minha capa.
iBiDKM, pag. 397.
TORNAISE, ou TORNESE, aJj. 2 jen.
o ». m. — tiohios toruaises.
1^ Torneses de prata, de D. Fedro I;
valiam 7 soldos, 2 ceitis mais */s) ^ dá
moela do agora 40 reis.
— Ao.s torneses peliten d'el-rei D. Fer-
nando n.~io HO aclia valor certo.
TORNAMENTO, «. m. Termo antiqua-
do. Tornada.
f TORNAMOS. Fcirma do verbo tomar
na priíiifira ])es,-<ia ilo plural do tempo pre-
Hcnti! do moilo indicativo. Vid. Tomar.
— «E isto feito no.s tornamos a bordo, o
jior<iuo Ja a este tempo era ^^ua^>i meia
noite se nilo fez eiitRo mais que recollier-
se toda a presa no junco, e a frente que
se tomou foy toda metida debaixo da cu-
bertii, onde esteve até pela meiíliam, que
vendo António de Faria que era gente
triste, e a mais delia mollieres velhas que
nào j)restavào para nada.» Fern.^ío Men-
des i'into. Peregrinações, cap. 47.
TORNAR, V. n. Voltar ao logar d'onde
saiu aquelle que torna; voltar de jorna-
da.— «Acabando elRey sua conclusão
sobro o fazer da casa, sem responder ao
mães do baptismo que lhe foi^amoestado,
espediose do capitão tornando na ordem
era que veo, c elio licou com os mestres
da obra entendendo no eleger donde se
fundaria a fortaleza. • Ban-os, Década 1,
:},
cap.
«Ua quaes tanto que se
apartarão da praia, o fizeraõ tornar,
quasi como que o queriaõ ter nella por
anagaça pêra quando o fossem recolher
cometterem alguma maldade, da maneira
Tjue mostrarão.» Ibidem, iiv. 4, cap. 3.
— «Tornando a .seu cíiminho e sendo já
mui perto da costa do Melinde, saltou
ooni elle hum tempo traucssão que deu com
a nao de Senhor de Toar em hum baixo
onde se perdeo, .«alnandose porem toda a
gente.» Ibidem, Iiv. 5, cap. 9. — «Affonso
d'Alboquerque tornando a seu caminho,
não tardou muito que nào tomaram dous
juncos: o primeiro tomou D. Joào de Li-
ma, Simão de Miranda, e Simào Aâbnso,
por lhe cahirem ra esteira em que elle
hia pêra Malaca, onde se houve muito
grossa preza.» Liem, Década 2, Iiv. 6,
cap. 2. — «E tinha cUc nisso razào, por-
que Patê Quotir era cavallciro, e homem
astucioso, costumado a sotFrer nossaa ar-
mas; e sem duvida se elle não fora ido,
ou Patê Onuz o topara no caminho, tor-
nando com elle, muito mal nos houvera
de fazer.» Ibidem, Iiv. 9, c;ip. 5. —
«Neste tempo, seudo eu avisado por cartas
do.s dous Portugueses que ticaraõ em Ta-
uixumaa, que o cossa}TO Chim com quem
aly viéramos, se fazia prestes para se
partir para a China, dey conta disso a el
Rey, e lho pedy licença para me tornar,
a qual me elle deu muyto levemente, e
com palavras de muytos agradecimentos
pela cura do seu filho.» Fernão Mendes
Pinto, Peregrinações, cap. 137. — tE
tornando a loani (iomez Dabreu, passada
a tormenta se embarcou no batel, cui-
dando que acharia a nao, posto que a na3
visse no lugar onde ticara, e nisto andou
alguns dias de longo da co«ta, eom alma-
dia^í que el Rei mandara com ellc.» Da-
mião do Góes, Cbronica de D. Manoel,
part. 2, cap. 21. — «Naiu achando loam
pirez nenhum recado deste negocio, naue-
gou dalli a çofalla, e de çofalta toriioa a
Adem, e de Adem ao Cairo, pêra se dalli
tomar ao regno wm Afonso de paiua,
onde assentarão de se ajuntar, pêra lo-
uarem nonas u el Kei do r|ue cada hum
fezera, onde achou loam pirez de CouilhS
dous ludeus Portugueses qnc lhe derSo
cartas dei Rei, dos quaes soube como Afon-
so de paiua morrera alli.i Ibidem, part.
.3, cap. 58.
Fiandeiro me tortuir ;
e outro rei do» líircanos
Artnbano, cujos aiinog
não recreava em mais tratos
que armar cm casa a ratos ;
irei pelos mesmos canos.
ANTOKIO FRESTItS, AUTOS, pag. 291.
Vendo O governador qnc com sapcrao
Favor, tinha acabado seu intento,
E quo era isto ja em Março, quando o inverno
13atc .13 portas do oriental assento ;
Qucrcndo-.se tornar ao seu governo
Ivevanta o ferro. aMUi a vclla ao vento,
Volta a popa i Cidade, ao mar a proa,
£ torua-so a Isveruar na nobre Gos.
Y. d'a.vdrai>e, pkihkibo cesco D> DIC, CMtt. 5,
est. 90.
— «E pois es cõpanheiro e parente do
Deos em a natureza, não degeneres de
taõ .alto parente, tornado às antiguas vi-
lezas c carnalidades. Diz mais o glorioso
Euàgelista que entrado o Anjo S. Oa-
qriel na camará dõde a senhora estaua
recolhida, a saudou, dizendo, Deos te
salue chea de graça, o Senhor he cBtígo
benta es tu em as molheres.» Frei Bar-
tholonieu dos Martyres, Cathecismo da
doutrina enrista.
— Tornar etn, ou a si; recobrar os sen-
tidos, o abimo.
— Fazer outra vez o mesmo, £uel-o
de novo, segunda vez, — i Grande eípaço
se sustiveram uns o outros na batalha,
sem se sentir fraqueza em nenham, mas
o trabalho de sua porfia foi tamanho, que,
começando já desfalecer os alentos, se ar-
redaram pêra os tornar criar de novo.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 94. — «Mas como o cavalleiro
do Tigre tivesse pouco, ainda o dia não
era de todo claro, quando mandou tomar
a enfrear, e guiou contra onde lhe pare-
cia que os outros caminhavam. E de ver
que os niio ach.ava, e o dia era mui alto,
queria estalar com pesar : quo isto ó n.a-
tural do animo grande em cousa que
muito deseja não ter paciência.» Ibidem,
cap. 104. — «Depois, tomando a mudar
o propósito eom tenção do o manilar ás
damas da rainha de Hespanha, que dese-
java pareccr-lhe bem, o mandou desar-
mar ao seu escudeiro delie mesmo, que
TORN
TORN
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769
com lagrimas lhe pedia que o Bão ma-
tas>e.» Ibidem, cap. 128. — «Espedidos
estes Mouros com mercê que lhe fez, fi-
cou só cora Diogo Fernandes, e Pêro d'Al-
poom ; e tornando ler a carta de Cide
Alie, quando veio a dizer que vinha Lopo
Soares por Capitão mór.» Barros, Década
2, liv. 10, cap. 8. — • «E varejando a mo-
nição da roca por cima deu no convés dou-
tra lorcha que vinha hum pouco mais
atrás, e lhe matou o Capitão, e seis ou
sete que etavão junto delle, do que as
outras duas ficarão tào assombradas que
querendo tornar a voltar para terra, se
embaraçarão ambas nos guardins das ve-
las de maneyra que nenhuma delias se
pôde mais desembaraçar, e assi presas
huma na outra e-tiveraõ ambas estacadas
sem poderem yr para trás nem para dian-
te.» Fernão Mendes Pinto, Peregrinações,
cap. 59. — «Ha outros doutra seita que
se chama Trimechau, que tem por opi-
nião que quanto tempo hum homem vive
nesta vida, tanto ha de esta'' morto de-
baixo da terra, e despois por rogos des-
tes seus sacerdotes se ha de tornar a sua
alma a meter numa criãça de sete dias,
para de novo viver naquelle corpo, até
tomar forças para tornar em busca do
corpo velho que deixou na cova, para o
levar ao Ceo da Lua, onde dizem que
dormirá huma grande soma de annos, até
se converter em estrclla, e que aly ficará
fixo para sempre.» Ibidem, cap. 114. —
«E tornando de novo a nos mandar tra-
zer mais arroz, e feijões cozidos com brin-
gellas, nos rogou que comêssemos, porque
folgava muvto de nolo ver fazer, o quf 1
gosto lhe nÓ3 então demos de muvto boa
vontade.» Ibidem, cap. 119.
Oh ! quando cila outra vez n'aqucl)c3 braços
O tornar a apertar, quando... Armas soam
De cavallciroa, c coraeis nitrindo
No3 átrios do palácio... escuta... E ellc,
O seu Pedro, ob ventura! «Eipôso, espô o!»
G.iEBíTT, CAMÕES, caut. 7, cap. 23.
— Pôr-se no estado de que se saiu. —
«Tornando ao propósito, Albayzar, depois
que fez o acatamento que devia, tornou
a cavalgar tão solto e airoso como quem
de novo criara forças, e tornando a pôr
o elmo, disse ao cavalleiro Negro.» Fran-
cisco de Jloraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 89. — «Mas tornando ao que toca
aos negócios da guerra, que Afonso Dal-
buquerque, e Francisco Dalbuquerque fa-
ziâo a el Rei de Calecut foi em tanto
crecimento. » Damião de Góes, Chronica
de D. Manoel, part. 1, cap. 79.
— Tornar em damno, proveito; con-
verter-se n'elle.
— Tornar por si; acudir pelas suas
cousas.
— Termo antiquado. Tornar a ahjuoii
culpa, erro, abuso; atalhar, providenciar,
vindical-o castigando.
voL. V. — 97.
— Tornar sobre si; reconhecer a culpa.
— Tornar por alguma cousa ; vir atraz
buscal-a.
— Tornar atraz ; recuar, retroceder.
— Tornar em si; diz-se do que ia a
dizer, ou fazer; ou estava dizendo, ou
fazendo inadvertidamente alguma cousa,
que quizera occultar, e se avisa e corri-
ge do seu descuido, ou inadvertência.
— Tornar pelo credito, pela hovra de
alguém ; acudir por ella como defensor.
— Figuradamente : Tornar á religião
abjurada.
— V. a. Restituir. — «E sendo ja ar-
mada prestes chegou a el Rey hum men-
sageyro dei Rey e da Raynha de Castel-
la, os quaes por serem certificados que a
dita armada hia contra outra sua que lo-
go la auia de tornar, man(Lirão reque-
rer a el Rey que a não mandas.:e, ate se
ver per direyto, em cujos mares e con-
quistas o dito descubrimento cabia.» Gar-
cia de Rezende, Chronica de D. João II,
cap. 16õ. — «E assi mandou outro tanto
a cidade do Porto, e Aueyro. E 03 do-
nos todos delias se forão a el Rey de
França clamar, e pedir que lhes fizesse
tornar o seu.» Ibidem, cap. 140.
— Fazer de novo, segunda vez.
Ob ! mão peito.
Só este basta tornal-a
magriuh.., triste, farnotioa.
AMIONIO PRESTES, AUTOS, pag. 440.
— Tornar a culpa a alguém; imputar-
Ih'a.
— Retribuir.
— Dar dinheiro ou equivalente áquel-
le com quem trocamos uma cousa pela
outra, ficando com a de maior valor
aquelle que dá as tornas.
— Tornar mào ; resistir.
— Jludar, transformar, transfigurar.
— • Entre tanoeiros, dar volta ao arco
com a tornadoura.
— Dar em troco de dinheiro maior, o
que restamos, a quem nos pagou o que
devia, dando somma de mais.
— Rejponder ao que se diz ou per-
gunta.
— Dar ao coherdeiro cousa que com-
pense a maioria, que vale a nossa sorte
ou quinhão.
— Traduzir. — Tornar palavras lati-
nas cm portuguez.
— Tornar-se, v. refl. Pa£ -ar do estado
em que está, physico ou moral, a outro
differento.
— Voltar, ir-se. — «E virando-se con-
tra o velho não o viu, nem soube pêra
onde lôra. Então teve por certo que sras
lagrimas eram nascidas de engano, e não
de cousa que lhe doesse; e não sabendo
determinar-sc, depois de cuidar mil vai-
dades, poz em sua vontade correr toda
aquella terj-a, e se não achasse novas,
tornar-se a casa do imperador com aquel-
las da perda de seu senhor, pêra que com
ellas seus amigos quizecsem buscal-o,
querendo que da diligencia de muitos,
algum fructo se tiraria.» Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 113.'
— Tornar-se a alguém quem vevi en-
fastiado; pegar com esse, e desafogar
com elle a paixão.
— Converter-se a outra seita, religião,
credo, reduzir-se a outra crença.
— Transformar-se, tomar a figura, fa-
zer-'e.
— Adágios e provérbios :
— Tornar á vacca fria.
— Tornar a engatinhar.
— Tornar para traz como caranguejo.
— Tornará o maio de lagos.
— Não sou rio, por não tornar para
traz.
— Em abril vae onde has de ir, e tor-
na a teu covil.
f TORNARAM, ou TORNARÃO. Forma
do verbo tornar na terceira pessoa do
plural do pretérito mais que perfeito do
modo indicativo. Vid. Tornar. — «Nisto
se tornaram arredar e Floramão, que
naturalmente era de condicção nobre,
sentindo a fraqueza do outro, quiz vêr
SC com menos da vida o faria deixar a
batalha, dizendo : Senhor cavalleiro, já
vedes que a verdade de vos.sa porfia não
está tão clara como dizeis ; confessai que,
iuda que a senhora Arnalta seja o que
vós dizeis, outras ha no mundo que são
mais formosas que ella.» Francisco de Mo-
raes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 103. —
«E cavalgando r.o cavallo do gigante, que
o seu estava com uma perna quebrada da
peleja, que houveram com elle, so tor-
naram á ermida. Os escudeiros de Ba-
leato fugiram pêra um dos castellos levar
novas aos seus.» Ibidem, cap. 107. —
«;E1 Rei de Aarú, animando então os
seus com palavras, e promessas, quais
naquelle tempo se requerião, ellos com
Ímpeto determinado derão nos inimigos,
e se tornarão a senhorear do baluarte,
com morte do Capitão Abexim, e de to-
do.? os mais que já estavão dentro. » Fer-
não Mendes Pinto, Peregrinações, cap.
26. — «Passados os nove dias que aquy
estivemos pregos nos tornarão a embar-
car, e navegando por hum muvto grande
rio acima, em sete dias chegamos á cida-
de de Nanquim, que alem de ser a de
toda esta Monarchia, he também metro-
puli dos trcs rcynos de Liampoo, Fanjús,
e Sumbor.» Ibidem, cap. 85. — «Allu-
dindo isto a Pêro Dayala que era manco
de hum pé, e a dõ Garcia por ser homem
hum pouco enleuado e vão: e sem outra
conclusão se tornarão pêra Castella. »
Barros, Década 1, liv. 3, cap. 11. —
« Mas como eraõ muitos logo tornarão a
encher os lugarcj, recrescendo a crueza,
c fúria da batalha por todas as partes,
tanto que parecia que se desfazia o mun-
do em gritos, e bramidos.» Diogo de
770
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Couto, Década 6, liv. 2, cap. 8. — «Das
Colónias, quo jiassaraõ o Oalio, pa<lece-
mos ituiiios ])roiuiz(); ])or(|uo cuiiio estars
mais perto, o iiolias naij intentamos guer-
ras com Príncipes confinantes, naõ nos
occuparaõ tanta pente, o os que a ellas
foraõ, tornarão a vir com mais faciliiia-
do ao iniísnio Ueyno.» Soverim do Fa-
ria, Noticias de Portugal, Disc, 1, cap.
3. — « l);u|ai HO partiràd perà índia
Dion;o do MoUo, e Martini Coelho aos
xviij dias do mes d(! Nouonihi-o, e por
acharem ventos contrairos se tornarão das
ilhas de Maluane a Moçambique, onde
arribarão aos .seis dias do mes do No-
uembro, sem ato entilo serem chefiadas
outras nenliumaa nãos das que partirão
do regno, que as que ja dixe.» Damião
de Góes, Chronica de D. Manoel, part.
2, cap. 14. — «Com tudo elles se torna-
rão sem ne,!?ociar nada do quo leuauaõ a
cargo, e assi ficaram ello, o o Oabaim
dalcam som auerom entrada destes caual-
los em suas torras, quo era cousa que
muito descjauam, e Afonso dalbuquerque
sem alcançar cousa nenhuma das quo lhe
a elles mandara pedir.» Ibidem, part. 'ò,
cap. 66. — -«Ouvi diser que esto (íigante
se fisera em i)cdaço3 algumas vezes, e
que so tornara a formar, porem lie cou-
za que nunca vi, c se a crcyo he porque
assim me foi dita por muitos homens ver-
dadeyros, c dignos de fé que presencia-
rão o caso.» Cavalleiro d'(Jlivclra, Cartas,
liv. 1, n.» 49.
Pedras om que 03 Romanoa se tornaram,
Vossas imagens scntlr.ão a aftVonta
Quando a minha — levada em pompa infame
Dcante do vonccdoí-...
QARRKir, CATÃO, act. 3, SC. 2.
— Modernamente escrevc-se tornaram
para o pretérito perfeito e mais que per-
feito do modo indicativo, e tornarão para
o futuro imperfeito do mesmo modo; dis-
tinguindo d'esta forma um tempo do ou-
tro.
■\- TORNAREI. F(>rma do verbo tornar
na primeira pessoa do singular do futuro
imperfeito do modo indicativo. Vid. Tor-
nar.
Esse Conde e outros assi
Por agora hão do ficar,
P'outrcm podeis perguntar:
Mas eu tornarei aqui,
E Viís me ouvireis f.iUar.
OIL VICKNTR, KAUÇAS.
f TORNAREM. F(')rma do verbo tornar
na terceira pessoa do plural do futuro do
modo conjunctivo. Vid. Tornar.
Tornarfm-te tào esquerda !
grande descuido adquiriram
ca quo do ti desistiram.
ANTÓNIO PBESTBS, AUTOS, pag. 40.
•|- TORNAREMOS. Forma do verbo tor-
nar na jirinieira pessoa do plural do futu-
ro inij)eif(;ito do modo indicativo. Vid.
Tornar.
Com tanta graça cantacs
que nos poilii» bem tornar
dinheiro em cima ond<5 ostae».
riem embargo», neui demandas
loriuiremoí de bom griído,
flc o dinheiro fôr cunhado
com coiiccH de maclio d andas,
depois da mosca picado.
ANTÓNIO PUKSTES, ALTOS, pag. 47.
-|- TORNARIA. Forma do verbo tornar
na primeira ou terceira pessoa do singu-
lar do modo condicional. Vid. Tornar. —
«Porque se lhe dessem logo o premio,
naõ lho ficava cil qiio esperar, e naõ ser-
viria taõ diligent.', nem tornaria taõ ce-
do, deixaiHÍo-sc engodar lá com outros
lucros, e que porderiaõ hum sujeito de
grandíssimo }i)estimo.i) Arte de furtar,
cap. 13. — «Quanto és cruel comigo!
Nào me escreves, nem me posso atalhar
de t'o dizer; o tornaria a cíuneçar, se o
Official nào instasse por partir. Parta em-
biu-a : que mais por mim escrevo do que
por ti mesmo; consiUo-me. Bem sei que
ha de assustar-te o prolixo d'esta minha
Carta, e que a niio hás-de lêr. Em que
te offendi, para tanto me maltratares?
Quem te instigou a vires cnvenenar-me a
vida?» Francisco Manoel do Nascimento,
Successos de madame de Seneterre.
-j- TORNARMOS. Forma do vorbo tor-
nar na primeira pessoa do plural do fu-
turo do modo conjunctivo. Vid. Tor-
nar.
— Usa-se também no infinito pessoal,
— «Dalli fez toda a guerra que pode ao
Camorim, maudandolhe dar om muitas
povoaçoens que lhe os nossos abrazàraõ,
e queimíiraõ; e deixallo-hemos assim ago-
ra por tornarmos a continuar com o Vi-
sorev, que jà ileixàmos em Columbo.»
Diogo de Couto, Década 6, liv. H, c;ip. 18.
-{- TORNASSE. Fiirma do verbo tornar
no pretérito mais (jue perfeito do modo
conjunctivo. Vid. Tornar. — lE antes que
tornasse receber outro, levantando-se de
pressa, so encostou a uma arvore, que ti-
nha o pé grosso, esperando sua fortuna,
tão quebrantado da queda e encontro do
cavallo, que lho parecia que os ossos lhe
dcix:'n;i moiílos.» Francisco de Moraes,
Palmeirim d'Inglaterra, cap. 102. — «Es-
tas jialavras me entendco mal, mas pare-
ce, que lhe soaram bom, que me mandou
duas ou três vezes que Ih.as tornasse a
dizer, e porque no poríugnez mas enten-
dia peior, quiz quo as dissesse em caste-
lhano, e virando o rosto para uma dama,
quo estava da outra parte, mo deixou, o
praticou com cila, parece me a mim, (jue
á minha custa.» Idem, Desculpa de uns
amores. — « E foi t;imanho o seu conten-
tamento despois quo ieo a carta que lhe
elRey escreuia (a qual era em Arauigo)
que naõ conoeutio que Aires Corrêa se
tornasse à na<j : o mandou dizer a Pe-
"Iraluarez que lhe pedia ouue^.fe por bem
que Aires Corrêa HcaHi<e lá uquella noite,
e ao dia seguinte, pêra praticar na« cou-
sas d'elRoy de Portugal.» 1'arro», Deca-
da I, liv. f), cap. 3. — «Acabado isto
tudo por serem ja mais de trus heras des-
pois da meya noite, nos tomamOB para a
nossa pousada, taõ espantados do que vi-
ramos quanto da mesma coupa «o pôde
entender que era razilo.» Feriiâo Mendes
Pinto, Peregrinações, cap. 116. — «E
por ser muyto tanlo, e aver no capo
muytoB feridos, a que necessariamente se
avia de acudir, se ai>8entou que o outro
dia seguinte se tomassem todos a ajun-
tar no mesmo luiíar, para fo tomar reso-
lução no que so tinha altercado, e com
isto se recolherão cada bum para a sua
estancia.» Ibidem, cap. 118. — «E le-
vantandose entào da cadeyra em que ja
estava assentado, man'lou aos Peretandaa
que nos tornassem á prisaS, da qual se-
riamos ouvidos confonne A piedade que
cl Key quisesse ter de nós, com que to-
dos ficamos bem tristes e desconsolados,
e sem nenhuma esperança de vidií.» Ibi-
dem, cap. 140, - — «A isto dixe hum dos
presos. Senhores nam ajays medo que
nam pode açoutar esse moço. E na ver-
dade soubemos que era assi, porque se-
gundo suas leys nam avia culpa porque
ho pudesse mandar açoutar, e tinha pena
se ho fizesse. Ouvindo ho lyuthia a voz
do preso, mandou com presteza que ho
tornassem ao tronco.» Tenreiro, Itinerá-
rio, caj). 19. — «O que dom lyiurenço
nam quis fazer, dizendolhe, que nam pa-
recia bom conselho meter taõ boas nãos
no fundo que o milhor era leualas a seu
pai pêra com ellas fazer guerra aos mes-
mos Rumes, se outra vez tornassem a
índia.» Damião de Coes, Chronica de D.
Manoel, part. 2, cap. 2.'i. — «A qual
como Diogo lopez tornasse de Ormuz
queria assentar com clle, e que pêra isso
lhe mandaria seus embaixadores, como
soubesse que era vindo, com estas nouas
foi Rui de melo mui alegro, e todolos
que morauam em (íoa e lho agradeceo
mu'to per messageiros, que mandou cora
os dei Rei, ha que fez taes presentes,
quaes mereciam semelhantes noua.«.» Ibi-
dem, part. 4, cap. 61. — «Certo que <?stA
obra de fazer que hos ludeus se tornas-
sem Christãos, foi digna de muito lou-
nor, posto quo se delia podessem seguir
hos inconueniontes, que no conselho dei
Rei forão apontados, e muitos outros que
se depois virão em que se entaõ poderá
mal cair, porque r.inhuma perda podia
vir ao Regno pela conneríaõ desta gen-
te, que se poiiesse estimar perda, cm
compaiaçam do que se ganhou em conhe-
cerem lia verdade do ipie hauiaõ de crer.»
Ibidem.
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771
Seu proveito : oia outro bate ;
se tornasse ora a ser esse ?
já isto acinte parece :
toma a vêr.
ANTOXIO PEESTES, ACTOS, pag. 135.
TORNASOL, s. m. Gyrasol,
— Vid. Tornesol.
-{■ TORNAVA. Forma do verbo tornar na
primeira ou terceira pessoa do singular
do pretérito imperfeito do modo indicati-
vo. Vid. Tornar. — «Em quanto o escu-
deiro tornava, se desarmou por enxugar
as armas e vestido, que dagoa llie iicára
maltratado; perguntando á donzella que
desastre a trouxera contra aquella parte,
ou porque causa aquelles cavalleiros a
queriam forçar. » Francisco de Moraes,
Palmeirim d'Inglaterra, cap. 128. — «E
se agora vissem que estas promessas e es-
peranças desarmavam em vão, e torna-
vam as coisas a correr pelo estylo que
d'antes, nenhum credito se daria mais
entre os indios ás leis e ordens de vossa
magestade, e nem ás palavras dos gover-
nadores; e 03 missionários perderiam toda
a opinião e auctoridade que têm com
elles.» Padre António Vieira, Cartas,
n.» 15.
TORNAVIAGEM, s. /. Volta ao porto
d'on<lo se tinha antes partido.
TORNAVODA, s. /. Segunda voda fei-
ta em casa de cada um dos sogros dos
noivos.
— Adagio e provérbio :
— Nào ha voda sem tornavoda.
TORNEADO, part. pass. de Tornear.
Lavrado ao torno, roliço, redondo.
— Figuradamente : Feito com traba-
lho, e sem escabrosidades.
— Cercado. — Ilha bem torneada de
agua.
— Figuradamente : Braços, p)^i'n(i^ tor-
neadas ; braços, pernas roliças, feitas sem
feições angulosas.
— Figuradamente : Composição tornea-
da ; de bom contorno, fácil, sonora, sem
escabrosidades.
TORNEADOR, s. m. Homem que lavra
ao torno.
— Instrumento dos espingardeiroa.
— Banco de quatro pés dos segeiros,
sobre que elles trabalham certas cousas
das rodas grandes.
TORNEAR, ou TORNEJAR, v. a. La-
vrar ao torno, dando uma forma redon-
da, roliça, sem escabrosidades.
— Dar volta, ir, andar em torno, ou
cercar em torno. — «No qual tempo cada
hum dos nossos Capitães trabalhava por
fazer alguma entrada torneando a cerca,
por os Mouros acudirem todos ao lugar
onde Fernão Peres commettia querelios
entrar.» Barros, Década 2, liv. 9, capitu-
lo 1.
— Tornear os braços, o pescoço; dar-
Ihes uma feição roliça, sem feições angu-
losas.
— Cingir, circumdar, rodar, circular.
Gargantilha que tornêa o collo.
— No seutido de justar, vid. Tor-
neiar.
— V. n. Gyrar, dar volta, ir, andar
em torno.
Do fantástico império despojada
A Terra, já Planeta, e Globo errante
Gira, foriièa o Sol, e igual aos outros
Tristes Globos sem luz no espaça ondêa.
J. A. DE MACEDO, A KATUBEZA, Caut. 1.
TORNEARIA, s. /. Rua onde ha tor-
neiros de lavrar obra de madeira.
-j- TORNEI. Forma do verbo tornar na
primeira pessoa do singular do pretérito
perfeito do modo indicativo. Vid. Tor-
nar.
Não sei eu o que passou
em quanto isto passey,
mas junto commigo achei
quem este mal causou
depois jaa que em mim torney.
caaiSTOvlo falcão, obras, pag. 12.
TORNEIADOR, s. m. Homem que en-
trava nos tiirneios, justador.
TORNEIAR, V. a." Fazer o jogo do tor-
neio, exercitar-se n'elle. Vid. Tornear.
— Emprega-se também no sentido de
lavrar ao torno. Vid. Tornear.
TORNEIO, s. 7)i. Espécie de jogo imi-
tando as escaramuças na guerra, feito
por cavalleiros em quadrilhas. Vid. Justa.
— No sentido de feitio dado ao torno,
vid. Tornêo.
— Syx. : Torneio, jusía. Vid. este ul-
timo vocábulo.
TORNEIRA, s. /. Torno de pipa ou
barril.
TORNEIRO, s. m. Homem que lavra
obras de coco, de pau, marfim ou metal
ao torno, e pule a elle as de prata de
martello, das maiores desigualdades que
esto deixou.
f TORNEIS. Forma do verb > tornar na
segunda pessoa do plural do presente do
modo conjunctivo. Vid. Tornar. — «Ou
vos torneis por onde viestes, ou jureis
que ella é a mais fermosa do mundo, e
assim o combataes toda vossa vida a
quantos o contradisserem, ou promettaes
de nunca exercitar armas senão em uma
empreza, que vos ella mandar. » Fran-
cisco de Sloraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 102.
TORNEJA, s. /. O calço de pedra, col-
locado debaixo da roda do carro ou se-
ge, quando estão em ladeira.
TORNEL, s. «i. Uma argola cravada
em uma hastea de metal, sobre a qual
se revolve para todos os lados.
f TORNEM. Finma do verbo tornar
na terceira pessoa do plural do presente
do modo conjunctivo. Vid. Tornar. —
«A este artigo responde ElRey que tal 1
artigo como este, nom deveerom de poer,
porque elles sabem bem, que he artigo
de Corte de Roma antre elle, e os Pre-
lados, e a Clerizia, que nenhumas pes--
soas Ecclcsiasticas, nem Igrejas nom pos-
saõ gaanhar nenhuns bens, nem póssis-
soões nos seus Reguengos, ca o Direito
Cõmuum as.-5Í manda; e tal defesa lhe
poserom os Reyx, ainda que nom fosse
feito artigo ; e posto que alguns beens se-
jam dados a alguns, ainda he esperança,
que se tornem aa Coroa do Regno, o que
nom seria despois que os a Igreja ouves-
se.» Ord. Affons., liv. 2, tit. 7, § 30.
Essas novas lhe levarei
A Alcmena, que torne em si,
Porque cila tem maior guerra
Co "os temores de perdello,
Qu'elle CO 'o Rei dessa terra.
CIM., AMPUYTBIÕES, aCt. 1, SC. 6.
— «Elle senhor studa o sãcto Euange-
lio, e tanto que o sacerdote acaba de di-
zer Missa lhe pede a bençam, a qual to-
mada se põem a pregar ao pouo com
muito amor, e com muita caridade, ro-
gando-lhe, e pedindolhe pelo amor de
nosso Senhor que se conuertao, e tornem
pêra Deos.» Damião de Oocs, Chronica
de D. Manoel, part. 4, cap. 3.
f TORNEMOS. Forma do verbo tornar
na primeira pessoa do plural do presente
do moio conjunctivo. Vid. Tornar. —
Tornemos a foliar no mesmo assu7npto.
Hufá ! amores pardeos !
Agora tornemos niís
Fallar na morte do meu pae.
Ficou hum asno da gcneta,
E somos quatro irmãos...
GTL YIOENTE, PABÇAS.
— «Bem vejo, disse Dragonalte, que
esse partido não me vinha mal, se esti-
masse a vida mais que outra cousa ; mas
porque ella é a que agora menos me lem-
bra, perca-se muito embora, e tornemos
a nossa batalha, que não a quero depois
das outras esperanças perdidas.» Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim dlnglater-
ra, cap. 130.
TORNENSE. Vid. Tornaise.
TORNÊO, s. m. O feitio que dá o tor-
neiro, arredondando, e tirando os ângu-
los e escabrosidades.
— Figuradamente: O contorno. — O
tornêo dos braços, das pernas, do pes-
coço.
— No sentido de justa, vid. Torneio.
TORNESE, ou TORNEZ, A, a<lj. e s.
Vid. Tornaise.
TORNESOL, s. m. Termo de botânica.
Planta annual que dizem seguir o curso
do sol, e de que ha varias espécies.
— Termo de tinturaria. Massa azul,
772
TORN
TíJKN
TORN
usada na tinturaria, conhccifla também
pelo nomo do tornesol di: Itollunda, ou
em yasias.
— Em cliimica aerve para conhecer a
presenya dos ácidos.
TORNEYAR, v. a. Vid. Tornear, e
Torneiar.
TORNILHEIRO, mlj. e s. O soldado quo
deserta do rej^imento para sua casa ou
para outro rof^jiuierito, c diíTere do deser-
tor cjuo vac para o inimigo. Vid. Torna-
diço.
TORNILHO, s. m. Castigo militar quo
se dá atravessando uma arma sobro o
pescoço do homem, e outra peia curva
das pernas, e apcrtando-as com correias,
de maneira que façam curvar e dobrar o
corpo, com pena, c nmlcstia.
— Torno pequeno. Vid. Tominho.
TORNINHO, s. m. Diminutivo de Tor-
no. Turno pc(jueno, com que os ferreiros
apertam as peças que querem limar para
as ter fixas.
TORNIQUETE, s. m. Termo de cirur-
gia. Instrumento de cirurgia, que servo
para suspender, por meio da compressíio,
a saída do sangue na principal artéria de
um membro, cm que se quer executar
alguma operação.
1.) TORNO, s. m. (Do latim tornus).
Engenho de toi'nciro, quo consta de dous
cepos oude estão cravados dons eixos de
ferro agudos, nos quaes se prende a pe-
ça que se revolve n'elles por meio da
corda de um arco.
— Canudo, com seu batoque ou rolha,
o qual se embebe em um buraco da pi-
pa, e dá saída ao liquido contido ii'eUa.
— Instrumento de ferro fixo em um
banco, com parafuso, que ajunta as boc-
cas, em que os ferreiros prendem a peça
que querem limar.
— Figuradamente : Torno de agua ;
qualquer bica d'onde sáe espadana forte.
— Espécie de prego quadrado ou ro-
liço, do pau, maior ou menor, para pre-
gar, como os de pinho com que os sapa-
teiros costumam pregar os tacões.
2.) TORNO, s. w. Volta.
— Certo exercício de manejo, que dif-
fere do cm-acol e voltas.
— Besta de torno. Vid. Besta.
— Loc. : Em torno ; em ruda, em vol-
ta, ao redor, em gvro. — «Em torno da
qual tinha huma eaua, e com a terra que
tirarão delia, entulhou os paos da madei-
ra entre hum e o outro a maneira de
talpacs em altura que fosse amparo ;ios
que andassem por dentro.» liarros, Dé-
cada 1, liv. 10, cap. 2. — «Vendo Ru-
niociío os muitos mortos que cstavrio em
torno dos baluartes, e que os sous aco-
diaõ já con\ obediência mais remissa,
mandou tocar a recolher ; retirando com
pressa os mortos, o feridos, como para
cobrir aos seus o damno, aos nossos a
victoria.» Jacintho Freire d'Andrade, Vi-
da de D. João de Castro, liv. 2.
A» Ioíh, a i)ropor(;5o, o o iiioto vário,
Cotn (jiio o |)rc.-)(:iipto circulo descrevem,
Uc um coriio, rjiie In; ciTitral, girando em torno.
J. ±. Di: MACKDO, VIAOKM KXTATICA, Caut. 2.
Dobiiixo dellc lia onda:) enroladas
Como presas d'amoi- quedas ficárào,
Os Tritões, u8 Nereidas Bcut'"ão
O fo;(0 seu nas húmidas mor.adas,
Em torno os brandos Zoiiros adejio,
Do cândido r('jía(;o entornão flores
No ebúrneo seio da mimosa Ueosa.
IDCM, A NATOUEZA, Cant. 3.
Cobrcm-se cm lòrno Ort campo.í dilatados
De falanffes armigeras, valentes ;
Hispanos esquadrocns marcham formados,
De inulti-formcs Povos dirtereutcs :
Dcixào, passando, os montes aplainados,
Soccào, bebendo, as rápidas correntes :
E jA chegava o estrago, e vinha a guci/a
Ao coração da Lusitana terra.
iDEu, o ORiBNTH, caut. 8, cst. 30.
— Pôr a vela em torno da espada;
manobra de mareaçíto aTitiga.
■}• TORNO. Forma do verbo tomar na
primeira pessoa do singular do presente
do modo indicativo. Vid. Tornar.
Mis SC cu torno out,.'0 camir'io,
Kào ha ella assi de ser.
Porém quereis-mc dizer
Hum responso ou huma aquesta,
Que m'aparc Deos a cesta,
E dar-vos-hei do que tiver?
GIL VICF.NTK, FAUÇAS.
f TORNOU. Forma do verbo tornar na
terceira pessoa do singular do pretérito
perfeito do modo indicativo. Vid. Tornar.
— «Mas Paudaro, que o achou tào perto
e nào era pouco acordado, o levou nos
braços, e o apertou tanto comsigo, que
lhe parecia que o espcdaçava, e assim
deu com elle a seus pés sem acordo, e
d'alli foi levado acima. Logo tornou abrir
a porta ; mas Belcar e Polendos foram
tão prestes com elle, que lhe não deram
lugar para a cerrar sem entrarem am-
bos.» Francisco de Moraes, Palmeirim
d'Inglaterra, cap. 15. — « Ciiegando a
ellas, se desceu dando o cavalio a Sel-
viiio, e dcitando-se ao pé de uma da-
quclias arvores, esteve tanto espaço cui-
dando cm sua senhora, té que o mesmo
cuid.ado o adormeceu, e lá contra meia
noite tornou a acordar, que nem o som-
no consentia algum repouso.» Ibidem,
cap. 76. — « Depois de curados, Sol-
viam tornou á cidade por andas, e nel-
las os levaram a casa de um cavallei-
ro nobre e r'L'ij, que ahi perto vivia, on-
de sem nenhum acordo estiveram os pri-
meiros dias.» Ibidem, c;ip. 81. — «Pois
vendo que pêra tamanho mal outro esfor-
ço era mister, tornou em si e mandou
Selviani, que a gram pi-essa fosse a uma
cidade, que estava ahi perto, a fazer vir
quem o curasse, posto que a seu parecer
isto era trabalho cBcusado.» Ibidem. —
• O cavallciro mostrou (jut; recebia n'Í8so
mercê; e fallaado só com a donzclla, ella
tornou fira, e chegando onde estava Flo-
rendos e FloramTio, disse: Senhores, aquel-
le cavalleiro do batel vos pede lhe man-
deis o escudo do vulto de Miraguarda
pêra sua senhora determinar dello o que
mcliior lhe parecesse.» Ibidem, cap. 110.
— «El-rei o acompanhou íúia da cidade
grande espaço, d'alli encommendando-lhe
seus iilho.s, e pedindo-lhe que beijasse as
màuB ao imperador, e desse encomnien-
das a seus amigos, se tornou pcra a ci-
dade, onde lhi3 jiarecou (jue tuii> achava
HÚ ; que no paço e cm ca.sa da rainha,
onde os dias passados havia tanto pra-
zer, estava toda pessoa tâo desviada de
o ter, como se houvera alguma cousa, de
que aquelle desgosto nascesse.» Ibidem,
cap. 129. — (Destas vaidades achei cheio
o pensamento, c aconselhava-mc que aa
composesse, mas lomou-me a parecer
maior vaidade mandar-lbas; basta que
tenha em pouco quem as passa, o não
veja as palavras, com que se dizem, pa-
ra que também as dezestimu. » Idem,
Desculpa de uns amores. — «Ante quan-
do tornou á terra firme defronte da Ilha
Cainaram, mandou dizer a Affonso d'Al-
boquerque, que pão podia vir a elle, jtor-
que o Xeque o mandava vir alli em po-
der de certos homens que o traziam pre-
zo, não pêra lhe trazer recaído, siimente
pe)-a ver se com elle podia resgatar sua
mulher, e filhos.» Barros, Década 2, liv.
8, cap. 3. — «E naõ podendo Gonçalo
Vaz de Távora alcançar mais, se tomou
com algumas prezas que tomou, e nave-
gando de longo da costa da Arábia, foy
tomar o porto de Caxèm, e se viu com
aquelle Rey, que lhe fez muitos gasalha-
dos.» Diogo de Couto, Década 6, liv. 8,
cap. 5. — «Franqueada a desembarcaç.^io
chegou o Visorey a terra, e desembarcou
com todo o poder, e começou a assolar,
e destruir, e pôr a ferro, e a fogo todas
aquellas Ilhas daquella parte, matando, e
cativando muita gcute, e depois de nào
haver cousa alguma em pê, se tornou a
embarcar, e se foy pcra a Armada.» Ibi-
dem, liv. 10, cap. 15. — «E com tanta
pressa tornou logo a repavrar o que ca-
hira, com estacadas, e entulhos de pedra
em sossa, em que a mayor parte da gen-
te trabalhava, que em doze dias tornou
a Fortalosa a ficiir no estado primeyro, c
com ilous baluartes mais da ventigem.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações,
cap. 32. — "E cõ isto me deu hum gi*ã-
de couce para que espertiísse, e me tor-
nou a dizer, falia, còfessa de quem fuste
piitado, e quàto to dcrão, o como se cha-
uuio, e onde vivera.» Ibidem, cap. 136.
— «Pois sabe, lhe tornou o Chiscâ, que
este iic o pago, que elles, e o Mundo cos-
tumaS dar aos que na vida foraõ taõ e»-
TORN
TORO
TORQ
773
quecidos do temor da justiça Divina, co-
mo tu foste, e praza a Deos que te de
graça para que ueste pequeno espaço de
vida te arrependas do que fizeste.» Ibi-
dem, cap. 192. — «O Fucaraiidono ag-
gravado delRey porque lhe nau fizera o
que lhe pedira, se tornou para sua casa
com 03 seus parentes, e assentou com el-
les de por si só fazer tudo o que ueste
caso lhe parecesse, que ora sua honra :
porque de gente fraca, e que podia pou-
co era requerer por justiça o que por si
naõ podia efieytuar.» Ibidem, cap. 200.
— «E recebido ho recado, logo assi co-
mo veo correndo se tornou correndo com
ho caixão a embarcar pêra levar ho Am-
bre como lhe mandavam ao Tutão pêra
delle ser mandado a el Rey.» Fr. Gaspar
da Cruz, Tratado das cousas da China, cap.
19. — «Com esta uoua foi Afonso Dalbu-
querque mui triste, mandando logo fazer
aparelhos para se defender das balsas sem
dizer pêra que, mas ellas não vieram e
assi lho tornou a mandar dizer loam ma-
chado, que estivesse prestes, porque os
inimigos o auiào de ir cometer por már
com huma grossa armada e muita gente. >
Damião de Góes, Chronica de D. Ma-
noel, part. 3, cap. 6. — « E porque el
Rei lhes inandaua nestas cartas que se-
não viessem sem irem a Ormuz, e sabe-
rem certeza deste preste loão das ín-
dias, loão pirez se tornou a Adem, e
Dadem nauegou a Ormuz, e Dormuz
tornou a Meca, e dahi foi ao monte Si-
nai, ver a casa da bemauentuvada sancta
Catharina, donde tornou ao Thor do qual
lugar veo ter a Zeila.» Ibidem, cap. 30.
— «O qual Gaspar chanoca foraja outra
vez a Narsinga como fica dito, e tornou
sendo Afonso dalbuquerque em Malaca,
e hum embaixailor que el Rei de Narsin-
ga mandaua com hum presente a el Rei
dom Emanuel, por não achar Afonso dal-
buquerque se tornou pêra Narsinga, pelo
qual respeito de auer a cidade de Bati-
çala tornou a mamlar la outra vez Gas-
par chanoca. » Ibidem. • — « No mesmo
anuo veo a este regno hum fidalgo in-
glês, per nome loam valope oôerecer-
sse a el Rei pêra o ir seruir a Africa,
onde esteue dous annos na cidade de
Tanger, em que despendeo muito do seu,
pelo que el Rei lhe deu o habito da Or-
dem de Christus, e lhe fez outras mercês
com que se tornou mui contente pêra
sua terra. Ibidem, part. 4, cap. 20. —
«E porem nas festas do casamento do
Príncipe dom Affonso com a Princesa
Dona Isabel se despensou em todo a di-
ta ley, e acabadas se tornou logo muy
inteiramente a comprir.» Garcia de Re-
zende, Chronica de D. João II, cap. 64.
— Tornar-se em pó ; reduzir-se, con-
verter-se em nada.
ncstea dias, que rcynou
tudo mandou, gouernou
dom loam manoel soo,
qun se desfez como poo,
no que era se tornou.
GAUCIA DK REZUNDE, MlSCKLLANEi,
— Tornou-se j^ara casa ; voltou para
ella, foi para ella. — «E acabado de o
assi degolar se tornou pêra a casa, don-
de o Duque sayra, por o mesmo corre-
dor, sem ninguém saber quem era, e o
pregão dizia assi : lustiça que manda fa-
zer el Rey nosso senlior, manda degolar
dom Fernando, duque que foy de Bra-
gança, por cometer e tratar trayção, e
perdição de seus Reynos, e sua pessoa
Real.» (.Tareia de Rezende, Chronica de
D. João II, cap. 46.
— Tornou-se para a cidade; voltou,
foi segunda vez para ella. — «Acordou
de 0.S cometer, dos quaes tomou dous que
lhe dixeram que os Aduares andauam
muitos afastados dalli, pelo que se tor-
nou perá cidade sem ir mais adiante.»
Damião de Góes, Chronica de D. Ma-
noel, part. 4, cap. 30.
— Tornou atraz ; recuou, retrocedeu.
Vio-o, tomou logo atraz
Com termo contente, e brando ;
Fogio triste de Fernando,
Foi couteute ás maõs de Braz.
KBA.SCI3C0 BODEIQUES LOBO, ÉCLOGAS.
— Tornou- vos dona; converteu- vos,
fez-vo3 senhora.
Fui-me embora.
Andáveis douua c senhora,
este homem toniou-vos donua,
dcu-vo3 co'a senhora fora.
Que tal veio a meu poder,
Deus me ha de fazer justiça.
Fará, fará.
ANTÓNIO PBESIES, AUTOS, pag. 215.
TORNOZELO, s. m. Cabeça do osso re-
saltada da perna, de um e outro lado
d'ella, junto ao pé.
— Homem de três tornozelos ; homem
rijo.
— Figurada e popularmente : Prezar-
se de não ter tornozelos; prezar-se de
bem feito, t delicado.
1.) TORO, s. »t. O tronco da arvore,
limpo da rama.
— Figura amente : O corpo, destron-
cados os membros.
— Yid. Thoro.
2.) TORO, s. 111. Termo de architectu-
ra. Argolão, circulo grande, moldura re-
donda, e grossa das bases das columuas.
TORONJA, s. /. Arvore e fruta de es-
pécie media entre o limão e a laranja,
maior e mais carnuda.
TOROSO, A, adj. (Do latim torosus).
Carnudo, que tem polpa, e grossura de
carne.
— Alguns escrlptorea latinos dão este
nome ao pescoço dos bois.
TORPE, adj. 2 gen. (Do latim turpís).
Que produz torpor, ou acompanhado de
entorpecimento.
— Ignominioso, indecoroso, infame.
— Deshonesto, impudico, indecente.
TORPECER, V. n. (Do latim tvrpesce-
re). Tornar-se trôpego, ou ficar sem po-
der andar, ou agitar-se com entorpeci-
mento, ficar dormente.
TORPEÇO. Vid. Tropeço.
TORPEÇQDO, A, adj. Termo popular.
Que torpeça por velho, ou fraqueza nas
pernas.
TORPEDO, s. /, Termo de historia na-
tural. Peixe eléctrico. Vid. Tremelga.
TORPEMENTE, adv. (De torpe, com o
sufiixo «mente o). De um modo torpe.
— Com torpeza. — «Estes sam os scy-
thas muy celebrados nos historiadores, a
que autre os mais scythas chamam Masa-
getas, dos quaes afirmam nam averem
sido senhoreados de nhumas outras na-
ções : estes sam os de quem se escreve
averem afugentado muy torpemente a
Vejoim Rey dos egípcios, e ho mesmo fi-
zeram a dario Rey dos persas.» Fr. Gas-
par da Cruz, Tratado das cousas da
China, cap. 4.
TORPEZA, s. /. Deshonestidade. —
«Fora as ilesquitas pequenas que sa3
muytas, tem a Cidade catorze muy sum-
ptuosas, das quaes três saõ de estranha
grandeza, com seus Alchorães tam altos
nas paredes (que saõ lauradas a modo de
enxadres muy curiosas) como baixos pe-
las torpezas, que delles cada dia se pre-
goão, e ensinão.» Frei Gaspar de S. Ber-
nardino, Itinerário da índia, cap. 14.
— Cousa que está mal ao homem, e
que lhe é indecorosa.
— Fealdade,
— Figurada e popularmente: As par-
tes pudendas, as vergonhas.
— Rtcdar a torpeza; ver as partes
pudendas.
— Revelar a torpeza; na mulher, usar
d'ella, ter copula carnal com ella.
TORPIDADE, *. /. Torpeza.
TORPÍSSIMO, A, adj. swi>erl. de Tor-
pe. Mui torpe.
TORPOR, s. m. (Do latim torpor). O
estado d'aquelle que tem membro insen-
sível, adormecido como a quem tocou a
tremelga. — «Se porem sem febre algu-
ma houver dor vehemente, e continua de
cabeça promette torpor, lethargo, epile-
psia, parlesia, distençaò dos nervos, ou
algum aftecto dos olhos ; especialmente
se naõ ceder aos remédios ; porque estas
queixas procedem de abundância de pi-
tuita crassa cumulada no cérebro. d Braz
Luiz d'Abreu, Portugal medico, pag.
173, § 68.
— Tibieza, desleixamento, acidia.
— Figuradamente : Torpor nas cousas
da vida, nas de Deus.
TORQUEZ, s. /. Espécie de tenaz, de
que usam os sapateiros, etc.
774
TORE
TORR
TOUR
E»!i3. & a riuc 04 meus gabam,
Jioa torqtítz do gomoiitcH.
ANTÓNIO PKESTES, AUlO», pilg. 25.
Hoas frieira» javaria
que lhe eu víhmo,
o cada uma o* «nnolissc
com l.orqiir.i peloH periiij,
ou (laldart das ([uo eu pudiaJC.
iBiDKM, pag. 41.
TORQUEZA, ou TORQUESA, ». /. Po;
dfii procio.síi, (Irt cOr azul tonetc, mui
Una e trinisparuiite.
TORQUEZADA, ». /. Fciida, golpe,
pancaila de turquez.
TORRA, «,/. — Torra ile pão. Vid.
Torrada.
TORRADA, s. /. Fatia do pão tonado.
TORRADO, pai-t. jjuss. do Torrar. See-
co ao sol, ou au lume.
— Tostado.
Se raaÍ3 câtreito circulo formasse,
D'oppo-!to esccsso de calor torrada,
Da vida habita(;ào talvez uão fora.
i. A. DG UACUDO, A NATDREZA, Cailt. 1.
O ar qu' o peito cxliala immundo, c gro»ao
Os já corruptos are» mais agjjrava ;
As torradíis uiitranhaa ulcerosas
Jámaia ae abaatão da corrcute liufa.
iBiDF.H, caut. 2.
— «Estes que aquy vimos nos disseraõ
que naõ comião ordinariamente mais que
sós ervas cozidas com feijocus torrados,
o alguma fruyta silvestre, que por hum
buraco da furna lho botavào outros Sa-
cerdotes como craustais que tinhão euy-
dado de proverem estes penitentes con-
forme ao que mandava a ley que cada
hum doUes seguia.» FernSo Mendes Tin-
to, Peregrinações, cap. lljl.
— Vid. Tórrido.
TORRANTEZ, aJj. /. — Uca torran-
tez; uva branca de tez muito delgada,
multo sujeita a apodrecer.
— Alguns dizem tcrrantez.
TORRÃO, s. III. Um pedayo de terra
presa e separada da outra.
— Figuradamente : Taiz, região, terra.
— Torrão de alicant<i; corto bolo com
amêndoas.
— Torrão iievado; espécie do bolo.
— Figuradamente : Um pedaço. — Um
torrão de assucar.
TORRAR, V. a. (Do latim torrere), Sec-
car muito ao aol, ou ao lumo. — Torrar
café, pão, etc.
TORRE, s. VI. (Do latim tin-ris). Editi-
cio forte fabriwido em aljíuma parte para
se acolherem u'ello do inimigo, o de lá o
ofienderom ; hoje as que restam servem
de prisões, casas de armas, etc, e as que
se fazem, são para se pôrom sinos junto
com as egrejaa ; nas fortalezas, a princi-
pal era a torre da meiuiíjtim, onde o go-
vernador, alcaide-mór fazia juramento de
defendel-a, a todo o «eu poder, a qual
nilo se entregava senlto a quem tivesse
direito do levantar a menagem da forta-
leza ao capitão d'ella.
Do Conde atrei(;oado alli bo mostra
A merecida morte, o da maia alta
Torre, do priíicipitl tiMoplo deitado
1'ello ditigudo ar, o lleapaiihul iiiapo,
Moatrallie na ribeira grilo reuolta
De gallcs Castelhanas que acometem
('om for(;ji as Portuguesas, deste aasalto
Tão repentino, pouco pruucnidaa.
UORTE BKAW, NAUiraAOIO OK SEI-DLVCDA, Cailt. 13.
— «A Cidade do sitio, e parecer de
fora ho couaa nmi formosa, porque além
da parte que jaz ao longo da riheira, ter
bons ujuros, torres, o muitos editicios, c
casarias altas de sobrados, e eirados, toda
aquella chapa de serra quo jaz na vista
do mar té o seu cume he huma pintura
delia obra da Natureza, e o mais da in-
dustria dos homens.» Barros, Década 2,
liv. 7, cap, 8. — «Dalli ate a Alcaç.oua,
cm que a doze torres, e duzentas, e qua-
tro braças de nmro, deu Nuno Fernan-
dez a guarda a dom Rodrigo de noronha,
debaixo de cuja capitania estauam os lu-
deus da cidade, de que eram capitaens
isac benzamerro, e Ismael, da primeira
torre Dalcaçoua ate a torre grande era a
estancia de loaõ do freitas, e de seu ir-
mão Antão de Freitas da ilha da madei-
ra.» Damião de (iões, Chronica de D.
Manoel, part. o, cap. 12. — «Acima del-
les estaua Luis Datouguia, tilho de Fran-
ciscaluercz prouedor da mesma ilha, em
cuja capitania caiam noue torres, com
cento o três braças de muro.» Ibidem.
— a Muitas serras da banda dos Bramas
c dos Laos sam cortad;i3 em degraos muy
bem feitos c no alto da serra so faz hum
baixo muy bem cortado, no qual esta
huma torre muy alta, que se yjíuala en-
cima como ho niilis alto da sorra, ha qual
he muy forte, midio se ha parede de
huma torre aas entradas da porta e era
de grossura de seys braças e mea.» Fr.
liaspar da Cruz, Tratado das cousas da
China, cap. 7. — «Que posta sobre anco-
ra no meyo do rio, ella s.) o defendera,
quanto mais a fortaleza e torre, porque
era a niayor, e mais forte, e armada nao
(]uu se nunca vio.» (iarcia de Rezende,
Chronica de D. João II, cap. 181. — «Da
mesma forma se arruinarão muitos Cam-
panários e Torres ; e disserSo muitos avi-
zos daquellas partes, que era impossível
explicar a desolação que este funesto ac-
cidonto tinha causado.» Cavalleiro á'0-
livcira, Cartas, liv. 1, n." 23.
D'uma Torre appontava certo Bardo
Propheticíi, Cathólicos jaxigos,
Quo algum dia, o lugar fariuo céJebre.
F. H. DO MASClilENTO, 03 MABTVBES, hT. 10.
— «Destes Solares, e torres há ainda
mnitoB neste Reyno, como Ra5 os de
Abreu, Ataíde, Bayai», Britto, (.-'arvalho,
Ciitdia, Faria, Góes, Lima, Nobreza, Pe-
reira, Samj^ayo, Souza, Sylva, Vascon-
cell(j8, e outros nmitus, donde estes Aj>-
pcllidos tiveraiT hcu principiei Severim
du Faria, Noticias de Portugal, Disc. 8,
cap, 2.
— A torre do tombo. Vid, Tombo.
— «Das plantas, e montéas deste» luga-
res 86 fizeraij dou» livros, que mandou
ElKey pòr na Torre do Tombo, onde
ainda cstatl, para todo o tempo e»tar pre-
sente no que convinha aos ditos lugares,
para o soccorro dclies; além dos quaes
hà no Reyno mais de 400. povos cerca-
dos, e acasttílladwH, po-to que ao antigo.»
Severim de Faria, Noticias de Portugéil,
Disc. 2, cap. 12. — «E^te Rui de pina
foi nestes regnos guarda mor da torre do
Tombo, e Chronista, o qual começou a
chronica dol Rei dom Emanael, em que
continuou ate a tomada Dazamor, e mor-
te do Dom Toam de menoze» que foi no
anno de M.D.xiiii. sem fazer mençam
de muitas cousa*. • Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 4, cap. 37.
— As torres de vosso anir to ; a sua
fortaleza.
— Termo de poesia. Velivolm torres ;
naus de guerra.
TORREADO, jmrt. pass. de Torrear.
Munido, fortificado com torres.
Teua tristes Paia oa torreado» muros
Da cativa Lisboa assim no abvsmo
Virão entrar, e sepultar-se : tõdoa
As ondas virão do cerúleo Tejo
Àa metas mttiiraes transpor furiosas.
J. A. Dli HACEDO, A KATCBEZA, CaUt. 2.
— As paredes torreadas ; altas e fortes
como as torres.
— FAephante torreado ; com torres de
madeira, d'onde vai a gente fasendo ti-
ros aos inimigos na guerra.
TORREANTE, part. act. de Torrear.
Que se eleva em altura e cume como a
soberba torre,
— Termo de poesia. O torreante cume
ás nuvens ergue.
TORREÃO, s. "1. Torre grande.
— Figuradamente : Torreão de nuvétu ;
nuvens amontoadas.
— A parte mais elevada de algnm edi-
fício.
TORREAR, V. a. Fortificar, munir com
torre, ou torres.
— Figuradamente : Torrear os campo».
— V. «. Termo de poesia. Apparecer,
mostrar-se alto, levantado á estatura de
torre.
TORREÃO. Parece dever ser Torteau.
Vid. Tortão.
TORREFACÇÃO, s. /. (Do latim iorre-
factio). Termo de chimica e de pharraa-
cla. Exposição á. acção do fogo de uma
substancia solida, secca, mineral ou ve-
TORT
TORT
TORV
776
getal, quer para separar-lhe algrms prin-
cípios voláteis ou para desenvolver-Ihe
mil principio novo, quer para determi-
nar-lhe a oxydação.
TORREFACTO,' A, adj. (Do latim torre-
factus). Termo de pharmacia. Bem tor-
rado .
TORREIRA, s.f. — A torreira do sol; o
lopar, a hora em que elle é niaií ardente.
TORREJADO, ou TORREYADO, part.
pass. de Torrejar. Vid. Torreado.
TORREJAR, V. a. Vid. Torrear.
TORRELHA, s. /. Um Jogo antigo as-
sim denominado, e prohibido.
TORRENTE, s. m. (Do latim torrcns).
Agua passageira, que cáe e corre tesa,
sem canal certo.
— Figuradamente : Torrentes d'har-
monia ; muitas harmonias.
Oh tu, por quem s'explica a Natui'eza
Em mágicos acceutos, Catalani,
Quando do ebuinco peito ao3 ares mandaa
Celestiais torrentes d'harraonia.
J. A. DE MACEDO, A NATURKZA, Cant. 2.
Sombrios Pireneos donde em torrentes
Dizem correra o ídolo do Mundo,
O pálido metal. Vês levantadas
Jlontanhas, com qu'ao Ceo a Arménia acena.
IBIDEM.
— A torrente de um povo inteiro ; a
multidão, o maior numero d'elle.
E que píde elle so contra a torrente
D"um povo inteuo, uma nação d'escravog
Que liumildea correm a accurvar-se ao jugo !
GAEKETI, CATÃO, act. 1, SC 6.
TORRESMO, s. m. A parte membranosa
e torrada, que fica da banha frita do porco.
TÓRRIDO, A, adj. (Do latim tórridas).
Queimado, mui ardente, torrado.
— Zona tórrida ; zona que fica no meio
das temperadas.
TORRIJAS, s. /. plur. Fatias torradas,
embebidas em vinho, e cobertas d'ovos.
TORRINHA, s. f. Diminutivo de Torre.
Torre pequena.
TORRO, í. m. Vid. Tarro.
TORROADA, s.f. Multidão de torrões.
— Golpe com torrão.
TORSÃO, s. m. Vid. Torção.
TORSOL. Vid. Hordeole.
TORTA, s. /. Pastel de massa grossa,
dentro da qual estão pombos, carne, fru-
ta, guisados dentro d'elle.
TORTÃO, ou TORTEAU, s. vi. (Do fran-
cez torteau). Termo de brazão. Arruella,
ou peça mui similhante a ella, ou do fei-
tio da torta.
TORTEIRA, s. /. Vaso de cobre, em
que a torta se põe a cozer.
TORTELOS, AS, adj. plur. Termo po-
pular. Que tem os olhos tortos.
TORTILHA, s. f. Torta pequena.
1.) TORTO, A, adj. (Do latim tortus).
Não direito.
Senhor, não, nenhum meroça
ser torto doantc d'os3c.
Xào ha quem se tenha a vêr-vo8
quem sois, porque me sostcnha.
Sou um siso, que Deos tenha
não se perca.
AxroNio PRESTES, AUTOS, pag. 183.
Sc me vedes vós quando ontro
cu sou torto ou aleijado,
se engelhado?
pois, pesar de Siio Coentro,
como vou nem como entro.
IBIDEM, pag. 241.
Deus Ih 'a ponha :
com quem falia o ^nllào perro?
Oh ! péz'ó meu avô torto,
fala com quem mo tem morto,
que nào ha pedir socorro,
nem podemos tomar porto.
Pezar de meu pao, senhora,
tirae d'ahi esse \'iUào.
IBIDEM, pag. 461.
— - Que olha de travez.
— De torto em travez; diz-se do que
não olha direito a quem está anojado.
— Figuradamente : Não recto moral-
mente.
— Retorcido.
Também estão aquellcs que nas fortes
Bocas, e agudas vnhas estribando
Fazem torto caminho, estauão outros
Em varia forma, e em género diuersos.
Todos com tal silencio que parece
Xào auer em tal parte cousa viua.
Mas fique Protheo aqui com .seus amores
Que me sinto chamar do Sousa insigne.
CORTE REAL, NAUFRÁGIO DE SEPÚLVEDA, Cant. 14.
2.) TORTO, s. m. Injuria, semrazao.
— A torto ; sem razão.
• — Plur. Dores de barriga que sobre-
vem talvez ás paridas.
— ADAGIO.S E PROVÉRBIOS :
— Melhor é ser torto, que cego de
todo.
— Levantou-se a torta, e poz-se no
espelho.
— Na terra dos cegos o torto é rei.
— Não ha cego que se veja, nem torto
que se conheça.
— Quem torto nasce, tarde ou nunca
se endireita.
— Besteiro torto atb-a aos pés e dá no
rosto.
— Rio torto dez vezes se passa.
— Quem mal enforca, tira o pé da
torta.
— Pés tortos não hão mister sócco.
— A torto e a direito.
TORTUAL, s. m. Barra de madeira que
se mette no olho do fuso do lagar para o
fazer volver.
TORTULHO, s. m. Gogumelo de comer,
ou dos bravos e venenosos.
— Molho de tripas atadas para ven-
der.
— Figuradamente : Pessoa baixa e gor-
da com defeito.
TORTUOSIDADE, s. /. Estado do que é
tortuoso.
— A tortura, o lançamento tortuoso.
TORTUOSO, A, adj. (Do latim tortuo-
sus). Que não leva curso direito, mas em
voltas. — «A maior parte do qual corre
tortuoso em voltas meudas, principal-
mente do resgate pêra baixo, te se me-
ter no mar em altura de treze grãos e
meio, ao sueste do cabo a que chamamos
Verde.» Barros, Década 1, liv. 3, cap. 8.
— «Nesta parte do assuear o abbade fora
um monstro de eloquência, e houvera um
momento em que pelo tortuoso e estreito
espiraculo que as trouxas d'ovos deixa-
vam nas fauces dos seus dous companhei-
ros perfeitamente accordes com elle em
opiniões austeras, os applausos tinham
prorompido impetuosos.» Alexandre Her-
culano, Monge de Cister, cap. 23.
— Meios e vias tortuosas para alcan-
çar alguma cousa; meios não rectos: to-
ma-se á má parte.
TORTURA, s. f. Inflexão, dobra, volta
do que não é direito, nem tem o lança-
mento de uma linha recta.
— Termo popular. Grande embaraço,
desarranjo. Vid. Tormento, Tracto.
— Figuradamente : Diz-se era opposi-
ção á rectidão prudencial, e á moral.
— Tortura da bocca, e dos olhos torci-
dos.
TORUDO, A, adj. Vid. Toroso.
TORULO, s. ííi. Termo de botânica.
Elevação bojuda e circular, que ha em
algumas vagens,
TORVA, s. f. Termo de antiguidade.
Impedimento, estorvo, obstáculo.
— Opposição, perturbação.
I TORVAÇAM, s. /. Perturbação. Vid.
Torvação. — «E deyxada a toruaçam que
desta noua teue o maldito Hcrodes, e to-
dolos mãos que viuiam em lerusalem,
todauia alli pellos Doutores da ley fo-
ram informados que se era nascido, nam
podia ser senão em Belem porque assi
estaua Prophetizado.» Frei Bartholomeu
dos Martyres, Catecismo da doutrina
christã.
TORVAÇÃO, s. f. (Do latim turbatio).
Desordem do animo com paixões, de me-
do ou ira. — tE mesturandosse aueria tor-
uações, e escândalos, e assentamos nis-
so, com outras cousas que com nosco
mais assentarão, assi do que nos paga-
ram de tributo, como em outras cousas,
de que leuam assento, e capitules que
enuiainos a dom Pedro de sousa nosso
capitam Dazamor, porque alli hão de
acudir segundo forma dos ditos poderes
e assentos.» Damião de Góes, Chronica
de D. Manoel, part. 3, cap. 53.
— Susto, que produz o receio do ini-
migo.
— ^1 torvação do bem publico ; a. i>eT-
turbaçào d'tílle.
TORVADO, part. pass, de Torvar. Per-
turbado,
776
TOSA
TOSC
TOST
Ai r|uo farúi dVmpaohuda !
0I\ vorgonlio.ia do mi,
Como vou .ibragindn,
Amara, corrida n tnrmdn !
Mft» prnsna mis traz aqui,
Oiido nio vejo lo),Mr,
Emfiuo homem i|iiuira mijar.
Nem ouso cupirrar Homimto,
Por ulfiuiHii uilo «o Boltar
Antrc (íeiíte.
nil, ViruNTB, r*BÇAB.
TORVAMENTE, adv. (Do torvo, c o
sufíixii «meiíle»). (Join olhos torvou.
TORV AMENTO, s. m. Dosassocego, tor-
va<,-ilo, iii()uiotaçào.
TORVAR, i). a. (Do latim turbare).
Perturbar.
— Fazer torvo.
— Fifturailaiiiente : Torvar o animo;
perturbal-o, escurecer a razào com pai-
xão.
— Perturbar os sentidos.
— Vi'l. Turbar.
TORVELINHO, s. m. O redemoinho que
resulta, por cxcuipln, dos ventos cacon-
traJcií», o das chuvas.
TORVELLIM, TORVELLIN, ou TORVEL-
LINO. Vid. Torvelinho.
Calla : r|uo prrsto
Ilas-de avistar uui torfrlHn flainmívomo,
Quo a paasajjom das ahnas to denoto.
Não ouves jA gritar ? Kis que VellOda
Emmudecc ; o a escutar o ouvido atHa.
F. M. no NASCIMKNTO, 08 KARTVUKS, 1ÍV. 10.
TORVISCO. Vid. Trovisco.
. 1.) TORVO, A, arij. (Do latim fwuiis).
Terrível, que manifesta ira, o produz ter-
ror. — O semblante torvo. — ^1 torva ca-
tadura.
Melhor dirias reacção dos hábitos
Quo mn iiístautc vergou a natureza.
— -«Avante!» chima o 'orço mestre «Avante!»
Como quo invergouhado do inomeuto
Que involuntário ao cora<;;io cedera.
OABBETT, cAMÕKs, cant. 1, cap. 11.
2.) TORVO, .<. m. Termo antiquado.
Impedimento, obstáculo, estorvo.
TORVOLINHO, s. m. Vid. Torvelinho.
TOSA, s. /. Termo popular, usado n'e3-
ta l()cui;ão : Dar ama tosa de jiaii ; dar
pancadas, dar pauladas.
TOSADO, part. jjasf. de Tosar.
— Figuradamente: iíaròa tosada ; bar-
ba tosquiada.
TOSADOR, 5. m. ITomem quo to,«a es-
tofos de lã. — «E modo de falar. Se ou-
visse as historias daquelle estavanado
que andam om praçA, isso é que é do
fíizcr arrepiar. Não acabava, se come-
çasse a ontiá-las. Quer saber uma fres-
quinha (]ue mo contou hontom a minha
fregueza de pescado, que mora na rua
das Esteiras, na c^^quina do terreiro de
S. Juliào por baixo da ermida da Oli-
veira, defronto de um tosador?» cBem
8oi; bem sei: do mestre Inoire, que tem
uma iilha já (!Hpiga<la...» «F >i com CBca
mesma o caa(í...» Alexandre Ilerculano,
Monge de Cister, cap. 14.
TOSADURA, .•*. /. A acção de tosar, o
trabalho feito polo touador.
l.j TOSAO, ou TOZAO, «, m. (Do fran-
cez tiii.inni. l) véllo do carneiro.
— Figuradamente : O véllo do carnei-
ro em metal, iii.signia da ordem do tosão
d 'ouro.
2.) TOSÃO, (i<'j. IH. A maneira do to-
são.
TOSAR, V. a. Cortar o vóllo aos ani-
macs lanígeros, tosquiar.
— Tosar a murta; aparar por egual.
— Fi.;íuradamente : Roer.
— Tosar o punno ; aparar-Ihc e egua-
lar a felpa, antes de so lhe dar a gomma.
Eu isro rão vo-lo nego.
E logo dahi a lium auno,
1'era ajuda de casar
Ilua oi-fan, mandastes dar
Meio covado de pai lo
D'Alcobai;a por tnsar.
OIL VICKNTB, FARÇÀS.
TOSCAMENTE, adv. (De tosco, e o
suffixo «mente"). De um modo tosco.
— ( 'irosseiramente.
— Sem adorno, simple.^mente.
— No estado de tosco, sem lavor, nem
feitio.
TOSCANEJAR, u. n. Estar dormindo,
abrindo e cerrando os olhos com somno.
Vid. Vanguejar.
— l'i'ndiT, «piebrar com somno.
TOSCANO, A, adj. Natural da Tos-
cai...
— O céo toscano cheio d'astros.
Dcsie globo da Terra, c quasi ignoto
No3 espaços Bcm fim, c onde espalhados
Por mão dOmnipotc.ite os Mundos girão ;
E se o Toscano Ce3 d'Astros hc cheio.
Que ao t'irono Mcdioêó dócil forroArão.
J. A. DK MACEDO, VIAGF.M EXTÁTICA, Cant. 2.
TOSCO, A, aàj. Som trabalho de artí-
fice, e como sáe das mãos da natureza.
— Ilude.
Vojsa mercê csti zombando ?
Pardios, se is-ío não é jogo,
não ando eu mór bem buscando !
Vilão, vós não scj.icâ tòfco.
ANTOSIO PRF.STF.S, AUTOS, pag. 343.
Novo Alcide% Senhor, meu tosro verso
Amparai ; que hc mais anlua resistência
Vencer aa forças de lium Destino adverso.
J. X. r>K MATT03, SIMAS.
— Sem cultura.
— Obra tosca ; obra mal feita.
— Tosca Ufra.
Tu iiS podes vencer co'a luí que pargos
De meu Entendimento a sombra espessa :
iàò etla diviniia, ellii lovanta
Inculto, dcbil canto, c tofn Lira.
1. X. t>E MACEDO, X «ÁTCHKZA, CaUt. 1 .
— Loc. PUOV. : Ainda que seja tosca,
bem vejo a mouca.
TOSQUENEJAR, i'. a. Vid. Toscane-
jar.
TOSQUIA, t. f. A acçlo, traUlho, e
tempo de tosquiar.
— Loc. figurada o popular : Fazer a
tosquia a nm rifão; criticar, ceusurar.
TOSQUIADO, ifirt. pojii,. de Tosquiar.
TOSQUIADOR, ». m. Homem que tos-
quia.
TOSQUIADURA, «. /. Vid. Tosquia.
TOSQUIAR, V. a. Aparar rente a iS
da.s ovi lha».
— Figuradamente : Tirar por meios
illicitos.
— Tosquiar o yovo; tirar d'elle senri-
ços, presentes, peitas, ete.
— Figuradamente : Tosquiar o$ cabei-
los; cortal-os, aparal-os.
— Adágios e pkoveruio.s :
— Depois de rapar não ha que tos-
quiar.
— Moça é Maria, quando so tosquia.
— Ir por 15, e vir tosquiado.
1.) TOSSE, s. /. (Do latim tussis). Mo-
vimento ou esforço do bofe irritado, para
lançar do peito com a respiraçJU) aqoillo
que incommoda e molesta.
— Tosse secca ; tosse em que nada se
lança fira.
— Loc. PROV. FIO. : D'alli vem a
tosse ao gato; cousa que molesta al-
guém, e lhe é occa.sião de queixa.
2 ) TOSSE, ou TOSE, *. /. Disfarce,
illusão, dis.simulação.
TOSSEGOSO, ou TOSSIGOSO, A. adj.
Doente de tosse.
T03SEZINHA, ou TOSSESINHA, ». >.
Diminutivo de Tosse. Ta^se branda.
T033IDELA, í /. O tossir, tosíe.
TOSSIDO, «. "i. Indicio de querer di-
zer ou fazer alguma cousa com signal de
tosse.
TOSSIGOSO, A, adj. Vid. Tossegoso.
TOSSINHA, s.f. Diminutivo de Tosse.
TOSSIR, ou TOSSIR, v. n. í;Do latim
tussire). Soffrer a tosse, ou o movimento
que faz o bofe irritado.
— Figuradamente : lançar f«\ra de si.
TOSTA, í. /. Fatia de pão torrado. —
Uma tosta.
TOSTADO, part. pass. de Tostar.
— De cor .adusta. — Leitão tostado.
— Paus tostados ; eram uns paus com-
pridos agudos na ponta e queimados no
fogo, de que outr'ora usavam os portu-
puezes dando-lhe tal tempera, que os en-
dureciam como ferro. — «O qual como
tem acostumado per» aquclle mister da
peleja, começarão de lhe a^souiar, e fa-
zer outras noticias jvr que o mandauão :
de maneira que metidas entre elle oemo
cm cjquadrão de seu amparo, dali era
TOTA
TOTA
TOUC
777
tanto o pao tostado sobro os nossos, que
começarão log-o de cair alguns feridos e
trilhadds do gado.» Barros, Década 2,
liv. 3, cap. 10.
— Emprega-se também substantiva-
mente : Um tostado.
TOSTADURA, s. /. A acção de tos-
tar.
TOSTÃO, s. m. (Do francez testou).
Moeda de prata que vale 100 reis na
nossa moeda portugueza. No reinado de
cl-rei D. Manoel havia tostões d' ouro,
que tinham o preço do quarto dos portu-
guezes, segundo parece, e tostões de pra-
ta que valiam cem reis.
meus palmitos dix enchuga,
são esses Nuno madruga ;
cuidaram, é certo, que eram
03 mcu3 toifõcst castelhanos,
mantonga Dios a mia manos.
Não é por vós.
Que seja por meus avás.
tMTONio PRESTES, AUTOS, pag. 369.
— Era o lavrador de boa tempera, que
naõ se acanhava a medos, nem ameaças ;
deu comsigo na Corte, lançou-se aos pés
delRey, coiitou-lhe o caso : mandou-o El-
Rey agasalhar cem hum tostaõ por dia,
e hum cruzado para sua mulher, e filhos
á custa do fidalgo, que mandou logo cha-
mar à Beira.» Arte de furtar, cap. 23.
— «O Duque lhe respondeo que muito
mal, porque moedas nonas faziam sempre
mudança, c carestia no preço de todalas
cousas, e que com esta que fezera, por
humas luuas que se vendião por trinta
reis pediam ja meo tostão, dito pêra os
Reis lançarem delle mam.» Damião de
Góes, Chronica de D, Manoel, part. 4,
cap. 20.
T03TÃ0ZINH0, s. m. Diminutivo de
Tostão.
TOSTAR, V. a. (Do latim fostum). Met-
ter no fogo, seccar muito até quasi quei-
mar.
— Dar cor escura.
— Tostar-se, v. rejl, Queimar-se.
— V. 11. Ficar bebendo depois de le-
vantada a mesa, e fazendo saúdes que
dão os do convite.
1.) TOSTE, adv. (Do francez toste).
Termo antiquado. Cedo, logo.
— Fazer toste ; fozer depressa.
2.) TOSTE, ndj. 2 gnn. Breve.
TOSTEMENTE, adv. (De toste, com o
suffixo <i mente»). Termo antiquado. De-
pressa.
1.) TOSTO. Vid. Toste (adverbio),
2.) TOSTO, A, adj. (Do latim tostnm).
Termo de poesia. Tostado, torrado, as-
sado.
TOTAL, adj. 2 gen. De todas as par-
tes integrantes.
— Total perdição. — a O Capitão ven-
do-o assim o tomou por hum braço, e o
arremeçou por diante delle, dizendolhe
que fosse trazer liuma panella de polvo-
wl". V. — 98.
ra, e ao passar por diante delle lhe de-
raõ huma espingardada de cima de hum
eirado da Igreja, onde jà estavaò alguns
Turcos, do que o Abexim cahio morto
aos pès do Capitão, que quiz Deos polo
por seu amparo, porque se não executas-
se uelle a cruel espingardada, porque fo-
ra total perdição daquella fortaleza. »
Diogo de Couto, Década 6, liv. 2, capi-
tulo 6.
— Completo. — «Faltou-so á Real Ca-
sa de Bragança com algumas prehemi-
nencias, e cortezias devidas á sua gran-
deza, e concedidas por Reys passados.
Entregarão o menêo deste Reyno, e seu
total governo a dous Ministros, cunhado,
e genro, que correspondendo-se hum em
Madrid, e outro em Lisboa, com intelll-
geucias diabólicas, nos tyrannizavaõ. »
Arte de furtar, cap. 17. — «Esta Carta
me lançou n'um aniquilamento total :
vinte vezes a li, sem me poder capaci-
tar do conteúdo delia. Meu filho fugiti-
vo ! meu filho afastando-se de mim, en-
tregue á mais escura dese-peração! Que
terrível golpe no peito d'uma Jilãe, que
em vèz d'esse golpe aguardava agradeci-
cimentos!» Francisco Manoel do Nasci-
mento, Successos de madame de Sene-
terre.
TOTALIDADE, s. f. O todo em nume-
ro, ou das ]iartes do uma cousa.
TOTALISSIMAMENTE, adv. superl. de
Totalmente.
T0TALIS3IM0, A, adj. superl. de To-
tal. — Jlíilagre totalissimo.
TOTALMENTE, adv. (De, total, com o
suffixo «mente»). Inteiramente, de todo.
— «As cousas da gentilidade hião muy
de cayda, a.ssy com a diligencia do Em-
perador Theodosio, ci:>mo por huma nova
ley que os dous irmãos Archadio e Ho-
nório fizeraõ em que totalmente se pro-
hibia com penas, o culto, e veneração
dos ídolos.» Monarchia Lusitana, liv. 5,
cap. 30. — «Nem hai que espantar des-
tes fauores da alma sancta, porque o en-
tregar.se liure, e totalmente a Deos com
semelhante vnião, dispõem a tanto quan-
to o Senhor costuma larga, e magnifica-
mente outorgar neste estado, e obrar, ao
qual a razão do entendimento deue humi-
Iharse sem contradição.» Fr. Bartholomeu
dos Martyrcs, Compendio de espiritual
doutrina, cap. 10. — «Contemplação, he
huma applicação, c vista da alma mui des-
perta, e liure de outros cuidados, e sò in-
tenta, e entregue ao conhecimento de cou-
sas espirituaes totalmente.» Ibidem, cap.
12. — «No mesmo tratado em o capitulo
69. e 70. diz o Sancto Doutor. Entendei
que tanto mais tendes de amor de Deos,
quanto menos tiuerdes de amor das cria-
turas. Pello que sentindo em vosso peito
alguma grande recreação, ou impulso de
affeição, que não ajais experimentado, at-
tentai com diligencia, se he alguma cousa
que vos alegre, e console fora de Deos, e
d'ysso conhecereis o grão, porque se algu-
ma criatura vos deleita, he sinal, que ainda
não estais penetrada de amor diuino total-
mente.» Ibidem, cap. 11. — «Por graúdo
que seja o absurdo deste costume não
deyxa de ser muy commum. O vulto
ignorante, os meninos innocentes, e vós
outras as molheres. Senhoras molheres,
não são 03 únicos culpados desta mania,
pois que também reina entre os homens
da primeyra qualidade, e de grande su-
posição. Os mesmos sábios não são exem-
ptos totalmente.» Cavalleiro d'01iveira,
Cartas, liv. 3, n." 11. — «Muytos nega-
rão esta ditferença de verdadeiros homens
na esphera da nossa natureza ; porque
Aristóteles, e Alberto Magno, ainda que
admittem Pygmeos, tem-nos por hum
certo género de bogios. Ulysses Aldro-
vando, e Escaligero totalmente os ne-
gão. » Braz Luiz d'Abreu, Portugal medi-
co, pag. 9, § 26.
TÒTO, s. 7)i. Nome pelo qual as crian-
ças costumam chamar o cão pequeno.
TOUCA, s. /. Adorno de lençaria, que
as freiras e viuvas trazem na cabeça, e
parte da testa. — «A força d'estes, mor-
reu uma filha do conde, talvez profun-
damente sentida da injusta presumpção
de seu concui-so. Foi a criada para San-
ta Clara; e o conde se vestiu de manto
e toucas ])ara fallar A manceba. Quanto
não riria Omphale vendo Hercules de
roca, se a fabula fosse verdadeira? De-
veria chorar.» Bispo do Círão Pará, Me-
morias, publicadas por Camillo Branco,
pag. ne.
— Espécie de rebuço usado dos homens
antigamente para se cobrirem, e não se-
rem conhecidos.
— Trunfi, que traziam os antigos sa-
cerdotes, e trazem hoje os asiáticos e
mouros; é uma faxa de lenço longa,
como um ramo de lençol, e servia tal-
vez para se alarem por ellas aos muros,
e similhantes necessidades.
TOUCADO, s. m. Ornato da cabeça das
mulheres.
Pois vejo o que nam via
trarei bastos os toucados,
que 03 que no mundo trazia
tinham 03 fios delgados,
cortam toda a alegria.
D. JOANN.t DA GAMA, DITOS DA FBEIRA,
pag. 91.
Anda Tejo A Fragucira.
E dir.As a ta mãe mais,
Que me guarde os corporaes,
Que me ficão na cantareira.
E o caloí achará
No almáreo de ca
Atado cos seus toucados,
E os aniitos pendurados
Onde a rainha espada cstil.
GIL VICEMTE, FARÇAS.
Sem Castclla, castelhanos:
de modo que não abastados
778
TOUF
TOUR
TOUT
do o fallarom, mas perdidos
por italiano3 vontido»,
c Vonoza no» toiícadoK
dulf.e. França nos ouvido».
AUTONio riiESrpi», AUTOS, pag. f)'!.
2.) TOUCADO, pari. pass. do Toucar.
TOUCADOR, n. m. Banca com ou appa-
rolhos do toucar.
— A casa onde alguom touca a cabeça.
— Fanno <lc atar a cabo(;a para con-
servar os cabellos com algum concerto
quando no dornio.
TOUCAN, ou TUCANA. Vid. Tucano.
— Nome lio uma constellayào austral
situada entre a que chamam Indo o a
rhenix.
TOUCAR, V. a. Concertar o caboUo.
— rôr o toucado, usar por toucado.
— V. n. Pôr o toucado.
Olhão osto liyro que 6 o Evangolho
qno a ogroja hoje canta, o como o cspoUio
n'ollo vos ví'do, vesti c toiírae.
Doixao vàs folias.
ANTOKIO PRESTK.g, AUTOS, pag. 101.
TOUCA, s. f. o pó do castanheiro d'on-
de .saem as varas do quo se fazem arcos.
— Das cannas d'assucar o pé, d'ondo
ellas nascem lilhada.^.
TOUCEIRA, .■?. f. (Irando touca, ou pé
filhailo lie, muitas vergouteas, ou cannas.
TOUCINHEIRO, A, s. Pessoa quo vendo
toucinho.
TOUCINHO, s. m. A gordura grossa que
occupa 03 lombos do porco, pegada ás
pelles.
— Termo de fortificaç.ão. São os mu-
ros cheios de torra para cobrir subita-
mente nas baterias.
— Toucinho do eco; uma cspecio de
doce delicado.
— Dizer de ahjiiem o que Mafwna não
disse do toucinho; dizer muito mal de al-
guma pessoa, ou cousa.
— Adágios e puovkrhios:
— Oalado como toucinho cm sacco.
— N.íío ha sermão sem Santo Agosti-
nho, nom panoUa som toucinho.
— Saramago com toucinho 6 manjar
de homem mesquinho.
— No queijo, o pernil do toucinho, co-
nhecerás a teu amigo.
— Disso do vós o que não disso Ma-
foma do toucinho.
TOUGA, s. /. Tormo antiquado. Vid.
Touca.
TOUGUE, a. m. Espocio do bandeira,
ou estandarte, lovada por um alferes
dianto do grSo-turco quando sáe a ca-
vai lo.
TOUPEIRA, s.f. (Do latim taipa). Ter-
mo de zoologia. Animalejo de quatro pés,
cujos olhos mal se distinguem ; vive por
baixo da terra, que fossa com uma faci-
lidade exti-ema.
— Figuradamente : O homem cego do
entendimento.
— AlJAOIO E PROVÉRBIO:
— Não lia couHa encoberta, senão aos
olhos da toupeira.
f TOUQUA, «. /. Vid. Touca. — «Vi-
nha a.ssentado em Imma cadeira despaldas
darame, e no assento delia huma almo-
fada de veludo, e aos pôs outra : trazia
vestida huma cabaia de damas(|uo crami-
sim, forraila do cetim verde, o imma tou-
qua futcada.» Damião do (íocb, Chronica
de D.Manoel, part. I, ca[). 'M.
TOUQUINHA, s.f. Diminutivo do Tou-
ca.
TOURA, s. /. (Do latim taura). Vacca
est(!ril.
— Os judeus e mouros diante da pom-
pa e cavalgada do rei e da rainha. Vid.
Tourinhas.
Vimos f, andes judarias,
judens, giiinola», c linra»,
também mouras, mourarias,
seu» bailos, galantavias
de muyta:* fiM-moaas mouras.
OABCIA DE REZENDE, MISCELLAREA.
— O pentatcuco hebraico sobre o qual
se tomava o juramento dos judeus tole-
rados n'osto reino.
— Em Uespauha, familia judenga,
certo tributo judcngo.
TOURADA, s. /. Manada do touros.
— Toureada.
TOURAL, s. m. O sitio onde o coelho
do matto costuma estercar, e onde se lhe
faz espera.
TOURÃO, s. m. O sacarrabo, bicho que
devora as galliuhas.
— lonvão fétido. Vid. Foetta.
TOURARIAS, .f. /. plur. Tormo popu-
lar. Desordens, estrondos, estraladas.
— Fazer tourarias ; fazer cousas do es-
trondo.
TOUREADA, s.f. Termo popular. Com-
bate de touros, tauromaehia.
— Figuradamente : Apupada.
TOUREADOR, s. m. Homem quo corre
os touros, e os agarroeha, ou metto no
corro ])or jogo. Viil. Tauromaehia.
TOUREADO, part. pass. de Tourear.
Esperado o ferido no corro o touro.
TOUREAR, V. n. Esperar, o ferir o touro
no corro, e fazer sortes com ellc.
— Endoudecer, enlouquecer, praticar
acções do homem insensato.
— V. a. Termo figurado e popular.
Investir, apupar.
TOUREIRO, *. VI. Homem que traz o
tange os touros.
— Homem que toureia. Vid. Tourea-
dor.
TOUREJÃO, s. m. Torno de pau da roda
da carri'ta.
TOUREJAR, 1-. (í. o í). Vid. Tourear.
TOURÍL, .«. Hl. Curral do gado vaceum.
TOURINHAS, a. /. piíir. Jogo, espectá-
culo onde RO tourêam norilhas mansas, e
talvez arremedo d'ella«, fingindo-»e tou-
ro.H do cana'4tra<i com cabeias fingiflas; oe
judeu.s costumavam dar i;Htc» divertimen-
tos aos reis, quando iam á« terras onde
haviam judiarias : cítes recebimentos eram
com jogoH, dança», o festa».
— Oedula.s, Htas ou listòes do perga-
minho em que ettuvam escriptos os man-
dainentoK da lei ou parte do |ientateuco,
e que principalmente eram as Philacté-
rins, que os saduceus e phariscus traziam,
como coroas, na cabeça, o pendentes
diatite dos olhos, ou atadas nos pulsos,
como braceletes; entendendo material-
mente o preceito divino que lhes man-
dava trazer sempre a lei diante dos olhos,
c nos dedos das mãos, isto ó, que os seus
pensamentos e obras sempre a elle se
conformassem. Do mesmo modo se deno-
minavam 08 livrinhos quadrados, de illu-
minação, e preciosamente cobertos, e nos
quaos algum ou alguns capítulos dos cinco
livros de Movsés so achavam exarados.
Nas mesmas occasiõcs quo das tourat,
usavam alguns judeus das tourinhas, por
serem mais vaiclosas, c portáteis.
— Adagio e provérbio:
— E como as tourinhas, sempre cáe
em pé.
TOURINHO, a. m. Diminutivo do Ton-
ro. Pii|U(!io touro.
TOURIONDA, adj. f.— Vacca, novilha
tourionda; vacca quo anda com os tou-
ros no cio ou na brama. Vid. Turíondo.
TOURO, a. m. (Do latim taunui). Boi
novo, não capado.
— Figuradamente : Laru^ar a capa ao
touro; deixar tudo para so salvar.
— Vèr-se iu>3 comos do touro ; vêr-se
em perigo, em grande aperto.
— Plur. Espectáculo em qne am ca-
valleiro com capinhas açulam, e inves-
tem, o ferem o touro no corro, e se li-
vram das suas pontas e ataques.
— AO.VGIOS E PROVÉRBIOS:
— Metto o touro no laço, que asinha
vem o prazo.
— Pelejam os touros, mal pelos ra-
mos.
— Fechar as portas, que soltam oa
touros.
— Doixou-me nas pontas do toaro.
— Cuarda da volta do touro.
— Touro, galgo, barbo, todos tem se-
zão em maio.
— Ao doudo c ao touro, dá-lhe o corro.
— Faze-tc morto, deixar-te-ha o touro.
— Certos sào os touros.
— Deitar a capa ao touro.
— Ter-se visto nos cornos do tenro.
— Quando o trigo ò louro, é o barbo
como touro.
TOUSAR, r. a. Termo antiquado. Vid.
Taixar.
TOUTA, .<. f. Vid. Toutiço.
TOUTEADOR, A, aJJ. e a. Que faz
douilicea, que as diz.
TRAB
TRAB
TRAB
779
TOUTEAR, V. n. Dizer, ou fazer dou-
dieiís, (loiídejar.
TOUTIÇADA, s. /. Pancada, golpe no
toutiço.
TOUTIÇO, s. m. A parte trazeira e in-
ferior da cabeça.
Entrei alli tão gentil peça,
tão paralítico, tão mosto,
tão desgosto,
que chamava aos pés cabeça,
e ao meu toutiço rosto.
ANTÓNIO PEESTE3, ADTOS, pag. 347.
TOUTINAS, s. /. plur. Vid, Toutiva-
nas.
TOUTINEGRA, s. f. Termo de historia
natural. Ave maior que o pintasirgo; tem
a cabeça negra no alto, o pescoço cin-
zento, e o corpo pardo com pennas ne-
gras.
TOUTIVANAS, s. f. Vid. Doudivanas.
TOXICO, s. «i. (Do grego toxikon). Ve-
neno, peçouba.
A sórdida Cubica, que deTúra
A substancia do misei-o pupilo,
Que a terra profanando até lhe rasga.
Faminta d'ouro, as lobregas entranhas;
A sombria Calumnia envolta em nuvens
Dalli seus negros tóxicos vomita.
J. A. DE UACEDO, MKDITAçIo, Caut. 1.
— Ad jectivamente : Substancia toxi-
ca ; sub.stancia que tem a propriedade de
envenenar.
TOXIGODENDRON, s. m. (Do grego to-
xikon, e dendrun). Termo de botânica.
Arvore do verniz, espécie de sumagre mui
veneno-so.
TOXICOGRAPHIA, s.f. (Do grego toxi-
kon, e (jraphus). Termo didáctico. Des-
cripçào doíi venenos.
TOXICOLOGIA, s. /. (Do grego toxi-
kon, e logos). Sciencia que trata dos ve-
nenos e dos tóxicos.
— Tratailo sobre os venenos.
TOXICOLÓGICO, A, adj. Que pertence
á toxicologia.
TOXICOLOGO, s. m. Homem que se
applica á toxicologia.
— Auctor de uma toxicologia.
TOXOLOGIA, s. f. (Do grego toxus, e
logos). Tratado sobre os partos.
TRAAER, V. a. Termo antiquado. Vid.
Traer.
TRABAL, adj. 2 gen. Termo de poesia.
Prego trabal; prego grande de pregar
traves.
f TRABALHA. Forma do verbo traba-
lhar na terceira pessoa do singular do
presente do modo indicativo. Vid. Tra-
balhar.
Em vão o Capitão sua, e trabalha,
Porque todos ao medo obedociào ;
Polo campo o Mogor hoje se espalha
Fugindo aos que ja delle antes fugião :
Hoje o chegão á, morte o arnoz e a malha
Que antes da mesma morte o defendião.
Hoje se faz Mogor o que he Cambaio
E em quem o desmaiava põe desmaio.
FRANCISCO d'anDRADE, PRIMKIBO CEBCO DH DIU,
cant. 9, est. 26.
Levanta quanto púdc a voz, o brada
O triste velho, aos seus, que inda vivia,
E com a fraca, e ja debilitada
Força, trabalha então quanto podia
Por se livrar dos pés da sua irada
Ardente c impetuosa companhia.
Que entre estes teve agora mór perigo
Que entre o maior furor do ferro imigo.
IBIDEM, cant. 19, est. 69.
Estas embarcações Silveira espalha
Polas partos que na Ilha tem fraqueza.
Porque a cisterna em si não agasalha
Inda agua, e outra não ha na fortaleza ;
Porque com quanto nella se trabalha
Com mui grãa diligencia, grãa presteza,
Inda estava então mal sutScieute
Para dar de beber áquella gente.
iniDEU, cant. 10, est. 82.
TRABALHADAMENTE, adv. (De traba-
lhado, com o suffixo «mente»). Com tra-
balho, laboriosamente.
TRABALHADEIRA, «. ou adj. f. Mu-
lher entregue ao trabalho.
TRABALHADO, pari. pass. de Traba-
lhar. Cançado de trabalho, peleja, tor-
menta.
— Afadigado.
— Posto em trabalho.
— Obrado com arte.
— Trabalhado das 'perseguições, das
doenças; perseguido por ellas.
— Lasso, fatigado.
1.) TRABALHADOR, s. m. Obreiro, ga-
nhão que dá achegas á obra; que traba-
lha em lavouras, e navios. — «Assi que
em cada huma destas casas trabalhavão
continuamente trezentos e vinte homens,
que a esta razão em todas as doze casas
se vinbão a montar três mil oitocentos e
quarenta trabalhadores, a fura outra
muyta gente que trabalhava noutro ser-
viço.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 96.
E casou co'azeitona.
Senhor, ha trabalhadores
vilões ruins que são bellos
pêra fazerem castellos.
ANTomo PRESTES, AUTOS, pag. G5.
— «Julgai se o desgraçado que estava
dentro gritaria ainda mais do que o ou-
tro Trabalhador que tinha sabido.» Ca-
valleiro d'01iveira. Cartas, Uv. 1, n."
15. — «la um trabalhador dormir junto
ao convento de 8anta Clara e levava em
uma condecinha fechada uma andorinha,
a qual creava os íilhos em ninho, junto
á janella do frade; e entregue a andori-
nha a uma certa freira, escrevia ella pe-
las cinco horas, por exemplo.» Bispo do
Grão Pará, Memorias, publicadas por
Camillo Castello Branco, pag. 121.
2.) TRABALHADOR, A, adj. (De traba-
lhar, com o suffixo «dôr»). Entregue ao
trabalho, que não passa a vida ociosa,
que pensa no trabalho.
— ■ Syn. : Trabalhador, laborioso. Vid.
este ultimo termo.
f TRABALHÃO. Forma do verbo traba-
lhar na terceira pessoa do plural do pre-
sente do modo indicativo. Vid. Traba-
lhar. — «Que trabalhão de dia, e de noi-
te com as suas mortificações, e austeri-
dades para domarem o orgulho, e a inso-
lência da Naturesa. » Cavalleiro d'01ivei-
ra, Cartas, liv. 1, n." 28.
Deixa o Carpathio velho o antigo assento,
fílauco, Nereo, Tritão, vão a busca-los.
Vão também neste alegre ajuntamento
As formo.sas Nereidas visita-los,
Que cora brando e suave movimento
Trabalhão quanto podem festeja-los.
As cabeças com perlas enlaçadas
De corais, ou de conchas coroadas.
P. D 'ANDRADE, PRIMEIRO CBBCO DE DIU, CaUt. 7,
est. 43.
Com grande Ímpeto aos Turcos se arremeasão
Que alli mais de duzentos se agasalhão,
Artcficios de fogo então não cessão,
Que huma grãa cópia então no imigo espalhão,
Co'as lanças apoz isto os atravessào,
E tanto os tratão mal, tanto trabalhão,
Que com morto do muitos lhe he forçado
Perder o Turco quanto tem ganhado.
IBIDEM, cant. 19, est. 46.
TRABALHAR, v. n. Usar das forças e
engenho para praticar alguma obra rús-
tica, de architectura, de intelligencia, ou
de mechanica. — «E chamando os povos
todos a cortes, lhes deu conta desta sua
determinação, a qual a todos pareceo
muyto bem. e muyto necessária, e para
ajuda desta obra taõ importante, lhe de-
rão dez mil picos de prata; que por nos-
sa conta saõ quinze cotos douro, a rezão
de mil e quinhentos cruzados cada pico,
e a fora isto se diz que lhe derão mais
duzentos e cinquenta mil homens para
trabalharem nesta obra em quãto ella du-
rasse, de que os trinta mil dizem que
eraõ officiais examinados, o os mais gen-
te de serviço.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 95.
Ver ouriuez trabalhar
hum dia por hum \'intem ?
e fazem tudo tam bem,
quo nam ha que milhorar.
GABCIA DE BEZEKDE, MISCELLANEA.
— «Em fim chegarão a igualar a cava;
e pelo baluarte de Gil Coutinho, que se-
não podia entulhar, atravessarão gran-
des mastos com taboas pregadas, que
lhes servião de ponte, para picar o muro,
o que se lhes não pode defender cora a
artelharia, por trabalhar cubertos.» Ja-
cintho Freire d'Andrade, Vida de D. João
de Castro, liv. 2.
780
TRAB
TUAIJ
TKAB
Irinão!) deixao iaso agora,
outra vez {■■ dadii a hora
do traballio ; traUdliae.
ANTOJIIO PRK8TEB, AUTOS, pag. Cl.
— Fazer esforços, praudes diligen-
cias.— «E esto por inuitivs razoocns, a
sabur, porque os que tecin os ditos alVo-
ranionto.s, e arrondaineutos peia dita frui-
sa a certo ouro ou prata, ou a ouro e
prata, convcin-ilíca do trabalhar por lia-
vcroin o ilito ouro ou prata, o dar por el-
los mais do que aguisadaiucnte valoin,
pcra avereiu de pagar o dito ouro ou
jjrata aos tempos que som obrigados.»
Ord. Affons., liv. 4, tit. 2, § 3. — «E
porque tinha suas cousas por tão certas,
coino a oxpcrieucia dalgumas lho fazia
crer, vivia com tjintú cuidado, que elle o
fez usar de maiores cautellas, do que té
alli iizera; porque o temor faz espertar
a providencia; trabalhando do haver pêra
sua guarda taes ajudadorcs, que não so-
mente com elles podesse viver sogui-o dos
grandes receios, que aquellas palavras
lhe poseram, mas antes metesse em sua
prisão todos os famosos cavalleiros do
mundo, pêra ncUes vingar a morte de
Franarque seu pai.» Francisco de Mo-
raes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 10.
— Trabalhar o navio mt tormenta; sof-
frer os incommodos que cila d;i, que ella
causa.
— Procurar, lidar para conseguir, di-
ligenciar. — o O estado Eolesiastico de
Espanha (posto que os Godos e Suevos
fossem Arriauos) não deixava de perse-
verar na pureza da ley Evangélica, tra-
balhando os Bispos de sustentar sua in-
teireza, no meyo dos trabalhos e perse-
guições, que de força aviaõ de padecer
por esta c^usa.» Monarchia Lusitana,
liv, 6, cap. 10.
— Figuradamente : Trabalhar o nosso
calor sobre a nossa humidade. — «Os
Elementos que nos fazem incessantemen-
te a guerra sem que nós a percebamos
são as duas causas do tim ao qual todos
corremos precipitadamente. O nosso ca-
lor trabalhando sempre sobre a nossa
humidade pouco a pouco a consome, e
a destroe.» Cavalleiro d'01iveira, Cartas,
liv. 19, n.» 2.
— V. a. Dar trabalho, fadiga.
— Trabalhar o cavallo; fazel-o traba-
lhar.
— Procurar, diligenciar, negociar, afa-
nar para obter.
— Figuradamente : Trabalhar alguém ;
dar-lhe em que entender.
— Trabalhar-se, i". rejl. Dar-se tra-
balho por alcançar alguma cousa. — «Tra-
balhem-se de saber parte dos malfeito-
res, e os prender; e se na terra nom
forem, saboram hondo. som, e enviar re-
cado aos Juizes, o Justivas, ()ue os pren-
dam, e lhos enviem.» Ord. Affons., liv.
1, tit, 2G, § 22.
— Adágios e pkovkkuios :
— Mais (juero c.itar trabalhando, que
ciiorauilo.
— Quem trabalha, tem alfaia.
— Trabalhar com todo o corpo.
— Quem não trabalha, não come.
— Madruga c verás, trabalha e te-
rás.
— Moço de frade, mandae-o comer o
não que trabalhe.
— liula <pie entres na villa, e soltos
o gabão, se uão trabalhares, não te da-
r;io pão.
— Não do ollioj quo choram, senão de
mãos que trabalham.
— Quem uão trabalha, não mantém
casa farta.
— Sotfrer por saber, e trabalhar por
ter.
— Mais vale bom folgar, que mau tra-
balhar.
f TRABALHARAM, ou TRABALHARÃO.
Forma do verbo traòulhar na terceira
pessoa do plural do pretérito perleito do
modo indicativo. Vid. Trabalhar. — «E
tendo executado uclla as eruoldades or-
dinárias, achando a terra fértil, e acomo-
dada para viver, trabalharão na uivlsaõ
quo se fez «iepois desta conquista, e des-
truição primeira, que lhe ticasse para a
cultivarem e fazerem nella assento, como
iremos vendo no discui'so da historia. »
Monarchia Lusitana, liv. (5, cap. 2. —
sE como a náo era grande, poderosa, e
com tanta gente, por muito que os nos-
sos trabalharam, a uão puderam entrar,
licaudo assi ab ii-dados todo aqueile dia,
e noite, pelejando de ambas as partes
sem tomarem descanço.» Diogo de Cou-
to, Década -1, liv. 1, cap. G. — «Ao ou-
tro dia, posto que os nossos estavam can-
sados, e a mór parte feridos, tanto tra-
balharam, tào altas proezas lizeram, que
com grande damno dos inimigos entra-
ram a náo, e mettòram todos os delia á
espada, sem lhe ticiír algum.» Ibidem.
7 TRABALHASSE. Forma do verbo
traballuir na primeira ou terceira pessoa
do siugular do pretérito mais que perfei-
to do modo conjunetivo. Vid. Trabalhar.
— a Espantado Àutonio de Faria do muy-
to que disto e doutras cousas o íSimiiau
lhe dezia, e muvto mais destes Gigauhos,
e da desformidade dos seus corpos, e
membros, lhe rogou que trabalhasse to-
do o possivel por lues mostrar algum
delles, porque llie affirmava que o Pre-
zaria mais quo se lhe desse todo o ti-
soui'o da Chiua, a que elle respondeo.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações, cap.
73. — »Os bateis quo estavào no passo
lio vao, de hum dos quaes era capitam
Christouào jusarte, o do outro Simão dan-
di'ade, com os paraos, e c^itures de Co-
euim, em que andaua Lourenço moreno,
e o iVincipo de Ooeuim com mil Naires,
com que guardaua a estacada, tiueram o
passo a ol Kei de Calecut com tauto es-
forço, quo nunca o a sua gento, por mui-
to que idsso trabalhasse, j»ode passar,
no que estiueram ate que a maré Ibes
fez tomar a couclusam dusta peleja, que
foi mais braua, c mais cruel, do que o
foram todalas outras, na qual el Rei de
Calecut perdoo muita gento. • Damião de
Coes, Chronica de D. Manoel, part. 1,
cap. íll.
f TRABALHAVA. F.)rma do verbo ira-
ballvir na i)rnneira ou terceira pessoa do
singular do jireterito imperfeito do modo
indicativo. Vid. Trabalhar. — »E sentin-
do que quem tanto trabalhava por se
encobrir seria csensailo luuudar por elle,
o uão fez. Porém o prazer geral de Flo-
ramão ser vencido, fez esquecer o pezar
de se não conhecer o vencedor, e não ó
muito de espantar destas mudanças, que
a fortuna traz comsigo, pois suas cousaa,
de gloria ou miséria andam sempre .acom-
panhadas.* Francisco de Moraes, Palmei-
rim dTnglaterra, cap. 25. — «Cada um
veado a fortaleza de seu inimigo, traba-
lhava por mostrar o fim de seu esforço :
os golpes eram dados sem piedade, as
armas não os soffriam de maneira que
por força as carnes padeciam. Quem vi-
ra esta batalha bem poderá dizer ser a
mais brava que vira.p Ibidem, cap. 87.
— fE porque o cavalleiro das armas ne-
gras naquella terra era mui conhecido,
trabalhava por se encobrir a todos : ao
outro dia em amanhecendo ouviu missa,
armado de todas armas, em uma ermida,
que estava fjra da cidade.» Ibidem, cap.
89. — «Adiante desta cidade obra de
duas legoas estavão doze casas muyto
compridas a modo de terecenas, em que
trabalhava muyta copia de gente em fun-
dir e apurar pastas de cobre, onde o tu-
multo e o estrondo que os martellos fja-
zião era tamanho, que se ahy ha cousa
na terra que se possa parecer co inferno
não deve ser outra se não esta.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 96.
— «Não evde dar isso a esse homem,
porque não sabe ter huma lança na mSo,
nem trazer huma espada na ciuta. Que
não ei-a contente de lazer honra e mercê
aos valentes homens, e bons caaalleiros,
mas ainda dava a entender que a não
auia de fazer aos que taes iiào fossem.
Por onde todos trabalhauam de o ser,
ou ao menos de o parecer.» Garcia de
Rezende, Chronica de D. João II, cap.
190.
f TRABALHEI, ou TRABALHEI. Forma
do verbo trabaUuir na primeira pessoa
do pretérito perfeito do modo indicativo.
Vid. Trabalhar. — «Na própria tarde
trcibalhey por nos hirmos, porque enten-
ili, se este.ideriam os desgostos a outroe
mavores se ali dormíssemos. O Capitão
da Cadlla se pós ao caminho, e ao outro
dia chegamos ja bem de noyte ao rio
Carca, junto dello descansamos, bem pe-
sarosos de o não podermos passar da ou-
TEAB
TRAB
TRAB
781
ira banda.» Fr. Gaspar de S. Bernardi-
no, Itinerário da índia, cap. 16.
TRABALHO, s. m. Exercício corpóreo,
rústico ou meclianico. — • «Logo os man-
daram apousentar pêra repousar do tra-
balho passado. Os príncipes foram aga-
salhados dentro na casa do imperador,
segundo sempre costumava, quando cue-
gavam de simílliantes lugares ; mas an-
tes que acabassem de se despedir, entrou
pola sala um escudeiro Turco, que che-
gando ao imperador em presença de to-
dos, lhe disse. » Francisco de Moraes, Pal-
meirim d'Inglaterra, cap. 122. — (tAcha-
rào os dias mui pequenos, com tantos
frios, e neues que as pas a lançavam
fora das nãos, com o qual trabalho do-
brou o cabo aos xxvi dias do mes de
lunho, cento, e setenta, e cinco legoas
a la mar, e chegandosse o mais que po-
de a terra, lhe deo aos dons dias de Ju-
lho huma tão forte trovoada, que rom-
peo as velas da sua nao.» Damião de
Goss, Chronica de D. Manoel, part. 2,
cap. 2. — «Nem elle quer dizer outra
cousa nas palauras com que vai prose-
guindo assi na mesma carta. Muytas ve-
zes me tem Deos nosso Senhor dado a sen-
tir dentro em minha alma de quantos pe-
rigos, e trabalhos corporais, e espirituais
me guardou pelos deuotos, e contínuos
sacrifícios, e orações de todos os que mi-
litam debaixo da bemdita Companhia de
lESV, e dos que depois que nella mili-
taram estam ja na gloria com graude
triumfo.í Lucena, Vida de S. Francisco
Xavier, lív. õ, cap. 20.
Commetti, persevVei no ousado intento ;
Trabalho d'anno3 foi : e emfim completo
Com elle k doce pátria me voltava
Xo beuigno favor esperançado
De meus concidadõos, no de um monarcha
Prezador das viitudes, do heroísmo
Que em meua versos cantei.
GABBETT, CAMÕES, Caut. 4, Cap. 17.
— «Pois 03 índios, que conhecem a li-
berdade, e são de natureza preguiçosos
não ha quem os metta a caminho; fo-
gem do trabalho para a ociosidade ; não
param em casas particulares, excepto
emquanto andam divertidos com as ín-
dias e malucas, por cuja causa oá casam
os senhores.» Bispo do (írào Fará, Me-
morias, publicadas por Camillo Castello
Branco, pag. 184.
— Cousa que íncommoda, afflíge o cor-
po ou o espirito, incoramodo afflictivo. —
«Por quanto eu depois de muitos traba-
lhos, e perigos que padeci, contra os
Mouros no castelo de Monte-Mór, que
elles queriaõ destruir, e cativar minha
pessoa, e os venci pela Divina miseri-
córdia, e matey no rio e alcança setenta
mil pouco mais ou menos.» Monarchia
Lusitana, liv. 7, cap. 14. — «Vosso vul-
to posto no escudo d'Albayzar por uma
parte, e vosso parecer por outra, nin-
guém 03 pode ver que de mui grandes
trabalhos fique livre : assim é que seja,
que a quem a natureza tào estremada
fez pêra algum estremo a havia de fa-
zer.» Francisco de Moraes, Palmeirim
d'Inglaterra, cap. 87. — «A quem este
receio chegava mais era a Selviao, sen-
tindo não estar presente aos trabalhos
de seu senhor, e passar por elles com
verdadeiro amor como os leues ci-iados
tem, o que os senhores mui bem sentem
e mal agradecem.» Ibidem, cap. 99.
Porém a deosa Cypria, que ordenada
Era para favor dos Lusitanos,
Do padre eterno, e por bom génio dada,
Quo sempre os guia já de longos annos,
A gloria por trabalhos alcançada,
Satisfação de bem sotfridos danos,
Llie andava já ordenando e pretendia
Dar-lhe nos mares tristes alegria.
cAJí., Lcs., cant. 9, est. 18.
— «Sofrem immensos trabalhos os no-
bres corações com duas grandes compe-
tidoras, que sam necessidade e vergo-
nha; se esta se perde, tudo he perdido :
bem caro se compra o que com rogos se
acquire.» D. Joanna da Gama, Ditos da
freira, pag. 43. — «Grande consolaçam
he ter companhia nos trabalhos.» Ibidem,
pag. 62. — «E depois de acabado com
grande custo, e trabalho, o fez chegar ao
muro com os Alifantes, pêra por elle o
entrar, levamlo dentro muitos homens de
espingardas, e algumas peças de artelba-
ria, e muitas panelas de pólvora, e ou-
tros artifícios de fogo.» Diogo de Couto,
Década 6, liv. 7, cap. 9. — «E tornan-
do à nossa ordem, a guerra ficou du-
rado todo o inverno com muitos traba-
lhos, gastos e despezas, com que tam-
bém os imigos ficàraò bem quebrantados.»
Ibidem, liv. 8, cap. 9. — «Nós então
vendo o em que o Jorge Mendez se que-
ria meter, e da maneyra que se penho-
i-ava no que prometia, e que os Tártaros
lançavão mão disso, o reprendemos todos
dizendo, que se não metesse em cousa
que nos desse trabalho, e nos pusesse em
risco de perdermos as vidas.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 118.
— «A gente nobre anda vestida de seda,
em cavallos bem ajaezados, e as molhe-
res saõ muyto alvas e fermosas. Estes
dous esteyros e o rio de Ventinau de que
atrás fiz menção, passamos com muvto
trabalho e perigo, por causa dos muytos
cossayros que avia nelles, e chegamos á
cidade de Manaquileu, que está situada
ao pé dos montes de Comhay na arrava
dos revnos da China e do Cauchim, na
qual estes embaixa<Iores ambos forao bem
recebidos do Capitão delia.» Ibidem, cap.
129. — -oE desta maneyra caminhamos
cinco dias cõtinuos com tanto trabalho
quanto a mesma cousa dá a entender,
sem em todos elles acharmos cousa que
comêssemos senào alguns limos do mar,
e no fim destes dias prouve a nosso Se-
nhor que chegamos a terra. » Ibidem,
cap. 138. — «E respondeu que geral ne-
nhum outro, que fosse semelhante a es-
se, mas que em particular castigava con-
tinuamente a todos, assim aos Reynos, e
aos povos com guerras, e fomes, como
aos homens com afflicçues, trabalhos, e
doenças, e sobre tudo com pobresa, que
era o remate de todos os males.» Ibidem,
cap. 164. — «Eu, disse o amigo, não hia
tam alto como isso, falava daquelle des-
canso, que comummente te dizemos que
tem os que tem menos trabalhos. Nem
esse, disse o preso, me parece a mim que
eu nunca terey: porque meus nojos e
grandes desauenturas me tem tam fistu-
lado o coração, 3 tã atalhadas todas as
vias, per onde lhe pode vir esse descan-
so, que por esta razão a nà terey eu, se
tiuer pêra mim que será, o que não tem
caminho pêra poder ser.» Heitor Pinto,
Diálogos, cap. 1.
Em trabalhos tam suaves
Gastei doces Primaveras,
Hora cativando as feras,
Hora perseguindo as aves.
FRANXISCO BODOIGITES LOBO, rBUÍAN^EBA.
Não bastavâo trabalhos, com que vivo •,
Mil milhões de suecessos não cuidados.
Que me trazem da geute fugitivo.
J. X. DE MATTOS, BIMAS, pag. 231.
— «o que concluído entrelles ambos,
e alguns outros que os queriam compra-
zer, sem nenhuma fornia, nem ordem de
justiça mandou a George botelho que fos-
se a sua casa, e lho trouxesse preso, do
que se elle excusou, porque era seu ami-
go, e o conhecia por bom homem, e leal
aos Portugueses, dizendo a George dal-
buquerque que nam acertaua em fazer o
que fazia, porque alem dei Rei de Cam-
par ser inuocente do que lhe punham na
cidade per sua moite auia dauer mais
reuoltas, e trabalhos dos que ouuera pe-
la morte de Vtetimutaraja que Afonso
dalbuquerque mandara justiçar. » Damião
de Góes, Chronica de D. Manoel, part. 3,
cap. 29. — «Mas aqui se offerece, ó Ca-
tholico, hum efficaz motivo para teres
paciência com os trabalhos. Porque se
todos universalmente padecem, tu por-
que mavor razaõ naõ padecerás? Se naõ
podes eximir-te de homem, como queres
eximir-te de miserável?» Padi-e Manoel
Bernardes, Exercícios espirituaes, pag.
132. — oE para Mesti-es se poderáõ man-
dar buscar os Teceloens da índia, que
saõ os melhores do mundo, e fazer em
Lisboa 03 canequins, e bofet.às. que là
himos buscar com tanto trabalho, e pe-
rigo. » Severim de Faria, Noticias de
Portugal, Disc. 1, cap. 4.
782
TRAB
TIIAU
TRAB
Alikn d'iiiflo, Apulcio nu-i informa,
C^uo por tnalicia d 'uma certa Kotifi,
F.m aiiio, ii'iiin iimtaiit'!, HO f<)riii;ir:i
E corno asno paaíilra mil trahulho».
A. Di.Niz vt\ ciiuz, nrs
— Loc. : Não pcrdijtí a trabalho ; iiHo
o poupei, isto c, trabuliioi.
— Kiitrar nus trabalhos, c perigos do
parto; estar com ilòrc:i ;i parir.
— Fifíuriidaiiicntc : Trabalho do en-
tendimento ; em composições.
— A diíficuldailc o iiicouimodo do tra-
balhar. — «E SC prostiiõ dullcs em mon-
tes, e em caças, e em outroa trabalhos,
o llios dapniticaõ, e vom-lhos oiifjcitar, c
fazer demandas que llios filhem, dizendo
que som maaos, e fracos, c doentes, o
maliciosos, e outras tachas muitas que
lhes pooem, <lo que lhes recrecem deman-
das, e trabalhos, o occupaçuões cm ella
mais que em suas lavoiras, e em aprovei-
tamento do seus beeus.» Ord. Affons.,
liv. 4, tit. 21, § 2.
Do RrauJo rspanto o medo dcâmayda
Quebrantada, aem força, e ijuasi morta :
Os seus meninos ambos desombarcào,
Não como em tal idade lhes couninlia
Mas com trabalho c pressa arrebatados
Por dous robuíítos homens, destes brai^os
As orneis, c soberbas ondas pondo
Grande força, tiraloS pretendiào.
C. UKAL, NAUFK.laiO DF. SBrULVEDA, Caut. 8.
Despois que os Portugueses do trabalho
Do caminlio se mostrào descansados,
Assentào de buscar aquolle líio
Que de Lourenço Marquez tiuha o nome.
iBiDUM, cnnt. 14.
— «O qual sobrosalto lhe deu muito
trabalho, porque naõ se api-oueitauaõ da
artilhcria, ca lho ficaua taõ alta que naò
podia pescar os zambucos c barcos que
estauuò pegados no costado do nao, e so-
lueuto lhe seruiaõ beatas, espingardas, e
pedradas.» Barros, Década 1, liv. O, cap.
7. — «O Jesu Ohristo, amores de minha
alma, pelaâ dores da vossa sagrada Pav-
xão que nos não desampareis : e a este
modo outras muytas palavras, de quito
estou bem lembrado no fim das quaes in-
clinado a cabeça sobre o púlpito como
que deseàçava daquelle trabalho, esteve
quedo obra do dous, ou trcs Credos, e
toruandoa a levantar, com rosto alegre,
c bem assombrado disse aos que estavaõ
presente.» Fernrio Mendes Pinto, Pere-
grinações, cap. 207.
era boi que rac diziam
quo lá no alto onde estava
a sua carno cantava,
trabalhos dcscauçariam.
ANTOxio PEEsrEs, AUTOS, pag. 187.
— fE pois ja dixe díus seitas, idola-
trias, e costumes do ilalabar em geral
razão he quo om particalar diga da ci-
dade do Calecut, pois tanto trabalho non
deu dcscobrilia, e tantos ha commuuica-
çaò delia, como se aiio diante vera.i iM-
miilo dti Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 1, cap. 42. — tAlguus dos hos.sos
que andauilo apar dcllc o leuaram logo a
nao pêra que o curassem, aos quauri an-
dando neste trabalho, som vencerem,
nom serem vencidos, acudio Francisaj
de tauora, que com a sua nao veo afer-
rar a de Mirhocem pela outra banda, na
qual se lançou com hum golpe de gente.»
Ibidem, part. 2, cap. 3'J. — cisto he do
notar que a abertura que o Elephante
fez entre o.s dous barões de ferro per on-
de passou foi tam pequena, que com tra-
balho podia iiuni homem de comum esta-
tura, vestido em pelote passar por olla,
mas o medo, e industria do natureza lhe
deraõ ho gelto pêra poder .^^air per hum
tam pequeno lugar.» Ibidem, part. 4,
cap. 18. — «Pois ja tenho dito a quem
coube o trabalho desta Chronica dei Rei
dom Emanuel razam he que declare o que
jiassa acerca das dos outros Reis destes
regnos, o que uam alcancei tam facil-
mente que me nam pareça serem-me os
que louam gosto de lerem taes liuros em
nmita obrigaçam por lhes dar a entender
neste brcue discurso, o que elles p r ven-
tura nam poderam aleanç;ir senam com
muitos annos destudo.» Ibidem, cap. 38.
Do Rliodus o ^audi-uiiiko uiiiárm^o,
I>ait agua4 eupaiitallio,
de dilatado» aiioos foi trabalho.
uiniHj vo oBÃo i-AaÁ, McMumAd, pag. 80.
Nem Porcio, nem Cat&o, uinguctn o saiba ;
Ou baldámod trabalho.
oAiuETT, CATÃO, act. 3, ic. 7.
— Este fez explorar d'aurora os berços
Com baldados trabalhos, — que essa dita
Ao feliz Manoel o ceo guardava.
QARRKTT, camõls, caut. 8, cap. 9.
— A mechanica, lavoura que se exerce.
— Figuradamente : O effeito, fructo do
trabalho. — «Por cujo trabalho, e aluguel
de casas em que os sete Christàos mora-
mos, que erào meu companheiro, eu, o
nosso lingoa Diogo Fernandez, e os mo-
ços que nos seruiam, se pagar."io doze la-
rins, e estes forào todos os direitos, pa-
gas, c peytas, que o nosso Faraute fez,
em toda a Pérsia de todo seu fato, e fa-
zenda que nào era pouca.» Frei Gaspar
de S. Bernardino, Itinerário da índia,
cap. It). — tNella vimos hum Turco de
nouenta annos, que passnua do cincoenta
que aqui moraua, e nella determinaua
acabar seus dias. Considerando estiue o
espirito daquella cansada idade, e a paga
que de seu trabalho auia ter no fim, que
era pena o inferno sem fim : e o pouco quo
em mi auia, esperando a gloria sem me-
recela. » Ibidem, cap. 20.
Empenou, o trabalho
não corro.
Como ?
Encalhou.
Não lho achaes uma regra ?
Não.
A-NTOSio PRKsrKS, ALTOS, pag. 187.
TRABALHOSAMENTE, adv. (De traba-
lhoso, e o sullixo emente*). De um modo
trabalhoso.
— (Juni difliculdad'', com trabalho.
TRABALHOSÍSSIMO, A, adj. tujKrl. de
Trabalhoso. Mui trabalhoso.
TRABALHOSO, A, adj. Que moleaU, que
dá trabaiiio. — «Primeiramente, costuma
offreccrse nio pequena difficuldade, por-
que assim como he mui trabalhosa cousa
arrancar de raiz huma aruore plantada
de muito tempo, o que esta mui arraiga-
da, pêra a trasplantar, assim he difficul-
tosissima cousa reduzir a vida espiritual o
animo acostumado a vida mundana.» Frei
Bartholomeu dos Martyres, Compendio de
espiritual doutrina, cap. 15.
— Parto trabalhoso ; parto difficil, com
perigo de vida.
— Homem trabalhoso di condirão ; ho-
mem forte, diflieil.
— Tempos trabalhosos ; tcmpoa em que
ha trabalhos.
— O lUitino trabalhoso.
f TRABALHOU. F.jrma do verbo traba-
lhar na terceira pessoa do singular do
pretérito perfeito do modo indicativo.
Vid. Trabalhar. — «Da maneira que ello
o cuidou foi, que o cavalleiro, querendo
vingar o desgosto que recebera na que-
bra do escudo, trabalhou tinto, deu tan-
tos golpes, que no fim delles ficou pêra
se n.ào bolir: e ainda que FlorenJos oe
mais lhe fize.^se dar em tío, d'outro8, de
que se nào polia guanl.ar, andava algum
pouco ferido.» Francisco de Moraes, Pal-
meirim d'Inglaterra, cap. 110. — «Mas
como o demónio cõ estas obras de se ba-
ptizar quada dia muita gente, elle perdia
grade jurisdição, trabalhou por lhe ficar
em penhor alguma pessoa real per a qual
pudesse cobrar o perdido.» Barros, Dé-
cada 1. liv. 3, cap. 10.
TRABEA, s. /., ou TRABEO, t. m. Toga
dos romanos.
TRABOLHAR, v. a. Termo antiquado.
Vid. Trabalhar.
TRABUCADA, s. f. O estrondo produ-
zido pelos carros quando rodam pelas cal-
çadas.
TRABUCADO, part. pass. de Trabucar.
TRABUCADOR, í. m. Termo popular.
Negocia.ior <;a viila, trabalhador.
— Adjoctivamente : Que trabuca.
TRABUCAR, ou TREBDCAR, r. a. Em-
bater com o trabuco.
— Trabucar uma anbarcaçào; £uel-a
voltar.
TRAÇ
TRAC
TRAC
783
— Figuradamente : Trabalhar muito,
e com barulho.
— V. n. Emborcar-se a embarcação,
voltar-se sobre iim lado, e alagar-se.
— Trabucar-se, v. refl. Usa-se na si-
guificaçào do verbo neutro.
TRABUCO, s. m. Machina bellica an-
tiga com que se atiravam grandes pedras
dentro das praças.
— Arcabuz de grosso calibre.
— Phtr. Chari'.tos assim denominados.
TRABUQUETE, s. m. Diminutivo de
Trabuco.
— Talvez fosse casa da moeda, ou de
cambio de moedas, de Coimbra; onde ain-
da hoje se conserva a rua da moeda. Em
Titerijo, Elucidário.
TRABUZANA, s.f. Termo popular. Tor-
menta.
TRACA-ARTERIA, ou TRACHA-ARTE-
RIA, s. /. 'Do grego tracJieia, e de arté-
ria). Termo de anatomia. Canal composto
de argolas cartilaginosas, que se estende
desde a base da larynge até os bron-
chios, e serve de communicar o ar ex-
terno com o bofe; é juntamente orgào
da respiração e da voz.
TRACALHAZ, s. m. Yid. Tracanaz.
TRACANAZ, s. m. Termo popular.
Grande pedaço. — Um tracanaz de quei-
jo, de pào. etc.
1.1 TRAÇA, s. /. (Do grego trôx). Bi-
cho que róe a roupa ; anda em um casu-
losinho, e depois se transforma em uma
pequena borboleta : rúe também livros e
papeis.
2.) TRAÇA, ?. /. (De traçar). A plan-
ta, rascunho, ou desenho feito pelo artí-
fice a respeito da obra que se ha de rea-
lisar.
— Rastc, vestígio.
— Mestre da traça; architecto.
— Figuradamente: Meio, industria de
se alcançar alguma cousa. — tEntendi
então que sua magestade tinha mudado
de traça, e com esta noticia e supposição
me fui mais desassustado para a caravel-
la, onde achei o sindicante, mas elle não
me disse cousa alguma.» Padre António
Vieira, Cartas, n." 7.
— A esta traça; d'e8t6 modo, n'este
gosto, estylo.
— O plano.
1.) TRAÇADO, #. m. Vid. Terçado,
termo mais em uso. — «Porque fizestes
com Diogo de Mello, que emprestasse di-
nheiro a ElRey de Ormuz pêra pagar as
parcas sobre hum traçado? E porque
mandastes tomar a Diogo de Mello o tra-
çado que tinha d'ElRe_v em penhor do
dinheiro?» Diogo de Couto, Década 4,
liv. 6, cap. 8.
2.) TRAÇADO, part. pass. de Traçar.
Debuxado, delineado, prefigurado.
Alto sus, PQi or.T. benta
seja esta obra começada ;
não dilatemos mais nada
cada um tome a ferramenta
da traça que lhe é traçada.
AXTOKIO PHESTKS, ACTOS, pag. 29.
— Roído da traça.
— Projectado, delineado no conc?ito.
— Substantivamente: Plano de uma
estrada em projecto.
— Vid. Traçamento.
TRAÇADOR, A, s. Pessoa que traça al-
guma cou^a.
— U^a-se também adjectivamente.
TRAÇAMENTO, s. m. Risco, traç^a, pri-
meira? linhas.
TRAÇÃO, s. /. — A tração do seu ros-
to; a forma, traça, perfil.
— • S. m. Pedaço, estilhaço, traço.
1.) TRAÇAR, v'. a. Dar a traça, dese-
nhar.
Mestre, traçastes mui bem,
mui perfeito :
virem os portaes d"e3se geito
com estes três versos, tom
isío primor, cu o aoceito.
AXTOsio PEESTEs, AUTOS, pag. .32.
Se poetas, oradores,
philosophos, quem quizerdcs,
me disserdes
que o traçaram pintores,
por pouco que me aqui derdes
vos direi eu, olhos verdes,
que nem todos tratam amores.
iBroEM, pag. -423.
— Dar traça, meio de obter alguma
cousa.
— Descrever alguma figura.
— Delinear, meditar um plano, proja-
cto, etc.
— Traçar a capa; tomar-lhe as pontas
debaixo do braço, ou dobrar a capa, e
cobrir o braço, e peito com ella. Vid.
Terçar.
2.) TRAÇAR, V. a. Roer a traça a
roupa.
— Figuradamente : Desgostos qu-e tra-
çam o espirito surdamente.
— Traçar-se, v. refl. Picar-se ou roer-
se da traça.
TRACÇÃO, s. f. (Do francez traction).
Termo de mechanica. Acção de uma for-
ça, que coUocada na parte anterior da
resistência, puxa por um corpo movei
por meio de um fio, de uma corda, ou de
outro qualquer intermediário.
— Linha de tracção ; linha tirada pelo
movei, ou corpo resistente no plano inci-
dente.
TRACEJAR, V. a. Fazer traços. Vid.
Galivar.
TRACHEA, s. f. O canal da respira-
ção. Vid. Traca-arteria.
— Nos insectos, são canaes numerosos
e delicados que tem a sua origem nos
estigmas collocados nos lados do abdó-
men, e levam o ar a todas as partes do
corpo. As tracheas dos insectos assi-
milham-se perfeitamente ás das plan-
tas.
TRACHEAL, adj. 2 gen. Termo de ana-
tomia. Que diz respeito á trachea-artc-
ria. — Artéria tracheal. — Nervos tra-'
cheaes.
-f TRACHEANO, A, adj. Termo de en-
tomologia. Que tem tracheas.
f TRACHEÍTE, s. /. Termo de medici-
na. Inflammaçào na trachea.
TRACHELIANO, A, adj. 2 gen. (Do gre-
go trachelos). Termo de anatomia. Vid.
Dorso.
— Apophyses trachelianas ; apophyses
transversaes das veriebras cervicaes.
— Nervos trachelianos ; nome dado aos
nervos cervicaes.
— Aberturas trachelianas ; canaes atra-
vessados na base das apophyses trache-
lianas, e dando passagem á artéria verte-
bral, ou traehelo-oceipital.
f TRACHELIPODO, adj. Que tem os
pés no pescoço. — Molluscos trachelipo-
dos.
f TRACHELISMO, s. m. Termo de me-
dicina. Contracçà 1 espasmódica dos mús-
culos do pescoço pela acção reflexa ou
diastaltica, durante a epilepsia, etc, pro-
duzindo a impressão das veias do pesco-
ço, a occlusào da glotte, e por tanto a
mordcvlura da linírua.
f TRACHELO-DIAPHRAGMATICO, A,
adj. Termo de anatomia. Que pertence
ao pescoço e ao diaphi-agnia.
f TRACHELO-DORSAL, adj. 2 gen. Ter-
mo de anatomia. Que pertence á região
tracheliana, e ao dorso.
— Nervo trachelo-dorsal ; nervo do
undécimo par encephalico.
7 TRACHELO-OCCIPITAL, adj. Que
pertence ao pescoço e ao occipital. —
Artéria trachelo-occipital.
f TRACHEOCELE, *. m. Termo de me-
dicina. Tumor 'ia ti-achea.
f TRACHEOSTENOSE, s. f. Termo de
medicina. Contracção da trachea.
TRACHEOTOMIA' s. /. (Do grego íra-
cheia, e temaôK Termo de cirurgia. Ope-
ração cirúrgica em que se estabelece uma
communicação entre a trachea e O exte-
rior por baixo da larvnge.
TRACHINO, *. m. Termo de historia na-
tural. Peixe pertencente á ordem dos ju-
gulares, de cabeça comprida pelos la-
dos, e olhos situados na parte superior.
TRACHOMA, s. f. Termo de medicina.
Ophthalmia acompanhada de aspereza da
superfieie int'^rna das pálpebras.
I TRAGHYTICO, A, adj. Que tem o
caracter do trachvto.
f TRACHYTISMO, s. m. Termo de geo-
logia. Tendência á formação do trachvto.
-}- TRACHYTO, s. m. Termo de geolo-
gia. Clas.<e feldspathica de rochas vulcâ-
nicas de massa grosseira, cellulosa, áspe-
ra no toque.
TRACILHADO. Vid. Entrezilhado.
TRÁCIO. Vid. Thracio.
784
TRAO
TRAD
TRAF
TRACISTA, 8. 2 <jen. Pessoa í|uc dX
traças.
— Macliinailor, inventor de planou, al-
alvitres c moios <lc obtor a» cousas : to-
ma-so ;l má paite.
— Alvitrciro.
TRAÇO, 8. m. Uso, costume, moda.
— i'(;i|;u;o, ostilhaço.
— Linha (|U('. tnarua o desenho primei-
ro na pintara. Vid. Tração.
TRAÇOM, s. f. Vid. Tração.
TRAÇOO; talvw. por Treçô.
TRACTADO, part. pass. ilo Tractar.
Vid. Tratado.
— S. m. Vid. Tratado.
Que trartadnK maiitoi- fiuom lois despreza !
Roma nilo tinh^ leis (|iiaii(lo T;irf|uinio
Do cidadãos romanos fez escravos ?
OARBKTT, CATÃO, ftct. 2, 8C. 2.
TRACTAMENTO, $. m. Vid. Tratamen-
to.— «E com esto dcscng;ano se retirou
outra vez para Tarrafjona o exercito cas-
telhano, desmantelando sAmente as forti-
ficações do alfruns loirares pequenos que
estilo junto ;i marinha; sem executarem
hostilidaile alguma, nem nas pessoas,
nem nas fazendas, porque o seu intento
era ganhar com bom tractamento os âni-
mos dos catalães, e a este iini quasi to-
dos os cabos do exercito eram naturaos
da Catalunha.» Padre António Vieira,
Cartas, n." 4.
TRACTAR, V. a. (Do latim tractare).
Vid. Tratar. — «E dclle a corte do Rei
do Abcxi desejoso dachar modo de poder
comunicar este príncipe per suas cartas,
c raessageiros mais ameude do que o po-
dia fazer per via da índia pêra quem lhe
deu cartas do credito, e instrucçõcs pêra
com cUe tractar sobela guerra contra o
Turco, e fortalezas que tinha presoposto
fazer na costa do mar Darabia, c da
Ethiopia.» Damiiío de Góes, Chronica de
D. Manoel, part. 4, cap. h-^.
Tractam ricas pedrarias,
sam muy grados mercadores,
tem ricas mercadorias,
drogas, especiarias,
sam nisso muy sabedores.
OABCIA DE REZEXDK, MISCECLASEA,
— «TIe ha China terra quasi toda muy
bem aproveitada : porque como ha terra
seja muito povoada, a gente muita em
demasia, e os homens gastadores, e Ira-
ctando se muito bem no comer e beber o
vestir e no demais serviço de suas casas,
principalmente que sam muito comedo-
res, cada hum tr.ibalha de buscar vida e
todos buscam diversos modos e maneiras
do ganhar de comer e como sustentarem
seus grandes gastos.» Fr. Oaspar da
Cruz, Tractadn das cousas da China,
cap. 10. — «A estes, o a outros nniitos
Epithotos, que a cada passo se encontrão
noB oscriptos dos maiores engenhos, dc-
rão a mayor occasiilo as senhoras Molhe-
res, pcllo desvelado ai)reço com que sem-
pre tractarão esta prenda ria natureza,
como o mais priniorozo realce da fermo-
siira; prosua liudo-so com Apuleio, 0.
que a mesma Vonus sondo imagem da
i)(!llcza, se fosso calva, seria hum ospan-
taliio lio ludibrio.» Hraz Luiz d'Abreu,
Portugal medico, pag. 089.
Ma», Sompronio,
Tu que gompro no foro, no senado.
No campo, em toda a parto declamaste
Coutra mim, contra a fácil indulgência
Dos que julgam prudente, necessário
TroKtar c'o vencedor, ceder um pouco
Para não perdor tudo, — tu da plebe
ídolo, oráculo, orador, — '(ue ante cila
Uruto accusas de tímido: e suspeitas.
oAURErr, CATÃO, act. 1, 8C. 3.
TRACTO, s. ni. (Do latim tractm). Re-
gião, espaço de terra,
— O tracto da missa ; uma parte d'el-
la, depois do gradual.
— O tracto do tempo; o espaço do que
vac passando, continuação,
— Tractos aéreos.
— Aeto de tractar. Vid. Trato.
TRACTORIO, A, adj. Termo do mccha-
nica. Que diz respeito á tracção.
— Linha tractoria; linha de tracção.
— S. f. Termo de geometria. Diz-se
de uma curva cuja tangente é egual a
uma linha constante.
TRADEAR, v. a. Furar com o trado.
TRADIÇÃO, s. /. (Do latim fraditio).
Noticia que passa successivamentc uns
aos outros, conservada em memoria, ou
por cseripto.
— Transmissão de factos históricos, de
doutrina religiosa, legendas, etc, de tem-
pos em tempos por via oral, e sem pro-
vas autheuticas o cscriptas.
— Os próprios factos transmittidos.
— Tradições judaicas; as interpre-
tações que os doutores judaicos deram á
lei de Moysés, e as addições que lhe fi-
zeram.
— Na egreja catholica, transmissão de
século cm século do conhecimento das
cousas que dizem respeito á religião, e
que não existe na Escriptura Sagrada,
A religião catholica é fundada na Escri-
ptura Sagrai la e na tradição.
— Tudo o que se sabe ou pratica por
tradição, isto 6, por uma transmissão de
geração cm geração com o auxilio da pa-
lavra ou do exemplo,
— Figuradamente : Entrega.
TRADICIONAL, adj. 2 gen. Fundado
na tradição.
— Que é concernente A tradição.
f TRADICIONALISMO, .*, m. Ligação
:ls tradições, aos usos antigos.
— Opinião d'aquelles que na egreja
catholica pensam (pie a idêa do infinito
não é uma idòa inuata, mas que o pri-
meiro homem foi avisado por Detu da
presença c do objecto d'c<ta idêa, e que
a.«8Ím informado, Ad.lo traiismittiu a »eua
descendentes a posfe o a intelligenci»
dV;lln, A corte do Roma rejeitou o tra-
dicionalismo.
t TRADICIONALISTA, #. m. Partidá-
rio do tradicionalismo.
— Na jjhilosophia catholica, dá-se Mte
nome áquellen que fazem depender o
pensamento absoluta o unicamente do
ensino e da jialavra que constituem a
tradição.
i TRADICIONARIO, *. m. Diz-se dos
judeus quo explicam a í^íscriptura pelaa
tradições do Talmud.
— Por exteu-ão: Aquellc que negue o
passado, os preeedente-i e as tra/liçõe».
I TRADICIONALMENTE, adv. (De tra-
dicional, 6 O sufiixo ementei). Segando
a tradição.
TRADITIVO, A, adj. Termo didáctico.
Que vem por tradição.
TRADO, s. 771. Verrumão grande de
carpi líteii".
TRADUCÇÃO, $.f. (Do latim traductio).
Ver.-iào de uma linguagem em outra, tras-
ladação ou trasl::ção. — tE pira o bom
governo do Reino fez leis mui proveito-
sas, e ordenou a tradução em lingua vul-
gar do Código de Justiniano. Fez Me-
tropolitana a Sé de Lisboa por conceesaõ
do Papa Bonifácio IX., e ornou com edi-
fícios Reaes os lugares do Reino.» Frei
Bernardo de Brito, Elogios dos reis de
Portugal, continuados por D. José Bar-
bosa.
— <^bra traduzida.
TRADDCTOR, A, s. Pessoa que tradnz
d'uma liiigua para outra.
— Trasia.lador.
TRADUZIDO, part. pass. de Traduzir.
Verti io '!'nma lingua para outra.
TRADUZIDOR, s. m. Vi<l. Traductor.
TRADUZIR, f. a. iDo latim traducere).
Fazer passar uma obra d'uma lingua
para outra. — Traduzir urTia passagem,
etc.
— Por extensão : Explicar, interpre-
tar.
— Manifestar, patentear.
— Traduzir um author; traduzir suas
obras.
— Figuradamente : Transferir, trans-
f irmar.
TRADUZIVEL, adj. 2 gen. Que é pos-
sível traduzir-se.
TRAER, I-. a. Do latim íra<f«re, omit-
tido o d\ Vid. Trair.
TRAFAGO, í. 7)1. Vid, Trafego,
TRAFEGAR, v. a. Trasfegar, lidar, ne-
gociar.
TRAFEGO, s. Ȓi. Negocio, tr^to mer-
cantil, do que leva e traz effeitos com-
mereiaes c retornos iTelles, e de suas
permutjições ou vendas e compras,
— Figuradamente : Trato, conversação
dos homens da corte.
TRAG
TRACt
TRAI
785
TRAFEGUEAR, v. n. Negociar com mui-
to trf.fepi.
TRAFEGUEIRO, s. m. Tiçcào grande
collocado no lar por detraz dos outros
que a elle se arrimam. Vid. Trafoguei-
ro, e Trasfogueiro.
TRAFICANCIA, s.f. Trato do traficante.
— Falta de iizura, traição, fraude, en-
gano.
TRAFICANTE, i^art. act. de Traflcar.
— • tí. 2 gen. Pessoa que trafica, que
trata em commercio, e vivo de indus-
tria.
— Pessoa fraudulenta, falta de Iizura,
ou traiçoeira.
— Syx. : Traficante, commerciante. Vid.
este ultimo termo.
TRAFICAR, V. n. Chatinar, exercer o
trafego ou o trafico.
— Negociar com girias, ardis, sem Ii-
zura, e fraudulentamente; illiçar.
TRAFICO, s. m. Trato, trafego.
TRAFOGUEIRO, ou TRAFUGUEIRO, s.
m. Viil. Trafegueiro, termo mais em uso.
TRAFGLIM, s. m. Fruta das palmeiras
agrestes.
-j- TRAGA. Forma do verbo trazer na
primeira ou terceira pessoa do singular
do presente do modo conjunctivo. Vid.
Trazer. — «E se per ventura estes, que
se assy partirem destes, com que assy
viverem, e se forem pêra outros pêra vi-
verem com elles, e frontado for a esses,
que 03 assy acolherem, per aquelles com
que antes viviaõ, ou outrem per seu
mandado em como se partirom delles le-
vando-lhcs o seu, que os nom tragam
mais comsigo.» Ord. Affons., liv. 4, tit.
26, § 2. — «Outro sy teemos por bem,
que se alguns se partirem daquelles, com
que assy viverem na nossa mercee, ou
da Rainha minha molher, ou dos Ifantes,
sejào presos ku quer que os acharem, o
tragaõ-nos aa nossa prisom, o d'hy pa-
guem o que suso dito he.» Ibidem.
Não soi quem me isso a mi fraga.
Eu irei ii'um pé voando :
poia vós por que uão pagaes ?
ASTONIO PSESTEII, AUT08, pag. 223.
Pois, senhor, a traga já ;
lá batem, vedo se é ella.
Eu vou o capuz tirar,
que carrega o mais que vi.
IBIDEM, pag. 383.
— «Succedelhe mal a empreza; e ain-
da que lhe succeda bem, perde em ar-
mas, cavalios, e infantes mais de outro
tanto, e recolhe-se dizendo : bella maré
levávamos, se naõ se virara o barco. E
dado que nada perca, e que traga huma
grande preza, está bem esmada, c mal
baratada.» Arte de furtar, eap. 5G.
TRAGACANTHO, s. m. Vid. Alquitira.
TRAGADEIRO, s. m. Vid. Esophago.
voL. V. — 99.
TRAGADO, part. pass. de Tragar. Vid.
Sorvido.
TRAGADOR, A, s. Devorador.
— • A'ljectivamente : O tempo tragador
de tu. lo.'
— Fngo tragador; fogo devorador.
TRAGÀDOURO, «. m. Sorvedouro, si-
tio que traga, e devora alguma cousa.
TRAGAMALHO, s. m. Imposto pago
pelos pescailores de Lisboa.
f TRAGAES. Forma irregular do ver-
bo trazer na segunda pessoa do plural ilo
presente do modo conjunctivo, Vid. Tra-
zer.
Eis Bolem !
senhora, e a sua alvura
vos encomendo em dotes
nem arrhas voa peço ;
que esta filha me tragacs
um pino d'om-0.
ANTÓNIO PRESTES, AOT03, pSlg. 483.
TRAGAMENTO, s. m. Acto de tragar.
TRAGAR, V. a. (Do grego trôgô). En-
golir sem mastigar, devorar, consumir.
— Figuradamente : Acquiescer a, le-
var em paciência, soffrer. — Tragar a
morte.
— Devorar, consumir. — O incêndio
traga.
TRAGE, s. ííi. Vid. Trajo.
TRAGEDIA, *. /. (Do grego tragõdia).
Peça de theatro em verso, em que figu-
ram pessoas illustres, cujo fim é excitar
o terror ou a piedade, e que termina de
ordinário por um acontecimento funesto.
— A tragedia de D. Ignez de Castro.
— Figuradamente : ilusa trágica.
— ■ Arte de compor tragedias ; o género
trágico.
' — Figuradamente: Successo funesto.
TRAGER, nnt. Vid. Trazer.
TRAGICAMENTE, adv. (De trágico, e
o suíBxo «mente»). De um modo confor-
me á tragedia.
— Figuradamente : De um modo trá-
gico, funesto. — Foi morto tragicamente.
TRÁGICO, A, adj. Que pertence ú. tra-
gedia. — Um actor trágico.
— Figuradamente : Funesto.
Eu que já me sentara c'o Propheta
Nos destroços da trágica Gomorrha,
Rabylouia avistei desde Corintho.
Que Cidades, outrora tam florentes !
Hoje estrago, e ruina ! Magoa, aos olhas
Do Passageiro, ou Nauta, ao pôr-lho a vista !
Os, que, em bandos, á tolda, ávidos sobem,
Vem Templos derrocado», c cmraudecem.
F. M. DO NASCIMENTO, OS MABTTRES, 1ÍV. 4.
— Alma trágica; alma, homem occu-
pado de negros dcsignios.
— Caso trágico; caso triste, funesto.
— aS'. m. O género trágico.
— Auctor de tragedias.
TRAGICOMEDIA, s, /. Peça de theatro
que tem a tragedia por assumpto e per-
sonagens, e a comedia por incidentes.
— Miscellanea dramática moderna de
gosto ridículo e monstruoso.
TRAGICOMICO, A, adj. Que ó concer^
nente á tragicomedia.
TRAGIDO', <int. Vid. Trazido.
TRAGIMENTO, s. m. ant. A acção de
trazer.
— Feito, que traz algumas consequên-
cias ao estado politico, bom ou mau.
— Condueta, procedimento, porte.
TRAGO, s. m. O que se bebe de um
só golpe.
— Figuradamente : O trago da angus-
tia, da morte; o soffrimento, o acto de a
padecer.
— Beber a tragos; beber aos goles.
— No trago da morte; ao espirar.
TRAGUAR. Termo antiquado. Vid. Tra-
gar.
TRAGUINHO, s. m. Diminutivo de
Trago.
TRAGUITO, s. m. Vid. Traguinho.
TRAGUS, s. ?)i. Termo de anatomia. O
pequeno tubérculo situado na parte exte-
rior e adiante do orifício do canal auiú-
cular, o que se cobre do pellos ao passo
que os annos vão decorixudo.
TRAHIR, L-. a. Vid. Trair, e Traer.
Eu (rahir!
Digo,
Não declares...
GABEETT, CATÃO, aCt. 1, SC. 3.
1 ' ) I- "Tl Ah príncipe,
Trahir ! Traição 6 crime que se roce
Por corações como esse ! E tu fizeste
Tal injustiça ao teu amigo ! — Bárbaro !
Imaginaste que te chamei bárbaro !
IBIDEM, act. 3, ac. 7.
TRAIÇÃO, .". f. (Do francez trahison).
Acto d'aquelie que trahe, acto de uma
maldade pérfida.
— Perfídia, entrega da fé, quebra da
fidelidade prpmettida e empenhada.
Carregado, auorrecido o pastor chama
Infelico, e cruel a sua cstreUa,
Que ainda que não ve causa do seu dano.
Os accidentcs dclle ja o assombrâo.
Ia presume que Amor no liure peito
Trau;ão pérfida, e falsa lhe ordenaua,
Atfirmo o que suspeita e ja se entrega
De todo ao grauc mal deste recovo.
COBTF. BEAL, NAUFRÁGIO DE SEPÚLVEDA, CaUt. 9.
A pérfida nação bruta e maluada
Te loua para triste sacrificio,
La tens morto cruel aparelhada
Cuberta com fingido beneficio.
Torna, tomate atras desuenturada.
Que tens certa a traiçUo em tal hospieio
Segue, segue Lianor conselhos sãos,
Quo por hi á morte vas cair nas mãos.
IBIDEM, cant. 15.
— « Por isso, guarde-vos Deus de suas
786
TRAI
TRAJ
TRAM
mitos, que vos vejo mancebo o seria mal
empregado cm vó^ qualqiinr ilcsastre, e
Deus livro ao do Salvagi^m do traição e
engano, d Francisco do Moiacs, Palmeirim
d'Inglaterra, cap. 117. — «A causado
qual escândalo que EIKey tinliadelle, era,
porque havia pouco tempo que mandara
matar o sou (iovcrnador líendára, por se
dizer que andava copilaiido liunia traiçflo
pêra o matar, o se levantar com o Rcyno,
o que este Neliodá era na traição ; c ;l
for^-a de remo veio fugindo d,i fúria d'EI-
Rey, e se acollieo a esto do 1'odir, por
ser grande seu amigo, o Barros, Década 2,
liv. G, cap. 2. — *E disse, que a succes-
sjlo que 80 abrira era falsa, e que nito es-
tava assinada por ElRey D. Jo.^o, e que
ello estava do posso da governança, como
80 via por hum auto que elle mesmo Aífon-
80 Mexia lho mandara a Malaca; o por-
que o seu Ouvidor geral lho disse que nílo
dissimulasse com aqmdl.is cousas, que
eram caso do traição, mandou logo Pêro
do Mascarenhas fazer hum auto, cm que
ouve 03 Juizes por suspensos, o prezos os
mandou pêra suas casas, e a Duarte Tei-
xeira, e Manoel Lobato mandou logo lan-
çar griiliões, c 03 deixou ficar prezos no
galeno.» Diogo de Couto, Década 4, liv. 2,
cap. h. — «Proposta de (,"ot'ar ao Capit.Tlo
do Diu. Reposta do Capitão. Avisa ao
Governador, o qual .-ioccorrc Diu com
gente e munições. Traição intentada por
Çofar. Prevenções de D. Joào Mascare-
nhas. Chega Çofar com gente de guerra.
Descripçiio de Diu. Prática de Coge Çofar
aos seus. Insta de novo o Capitão de Diu.
Reposta do Capitão. O Governador man-
da a Diu a seu filho D. Fernando.» .la-
cintho Freire d'Andradc, Vida de D. João
de Castro, liv. 2.
Occupão seu luprar a intriga, c fraudo,
Apu(;ào as trai;òes pimhacs occultos ;
Ousado Navofjaiite as velas larfia
Aos ainda ignotos ventos ; vciu dos montes
Para insultar o Mar cavados Pinhos.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Cant. 2.
— A traição o matou ; matou-o por de-
traz, sem defeza do morto, e não de rosto
a rosto; aleivosamente.
— Syn.: Traição, nieivosia. Vid. oste
ultimo termo.
TRAIÇOEIRO, A, adj. Pérfido, que com-
mette aleivosia com mostras d'amizade ;
que atraiçoa.
— Que traz damno.
— Substantivamente : Um traiçoeiro.
TRAÍDO, part. })ass. de Trair. Entre-
gue por traição, ou á traição, por quem
deve lealdade ou amizade.
— Diz-se d'aquelle a quem se fez trai-
ção.
TRAIDOR, A, s. Pessoa que faz, ou fez
traição.
— Adjectivamonte: Coração traidor.
O qao vai por Miia nlma, A rei?... Memoria*
Po Bolonha «erftoV í.agryina a lagrynia,
KM» sentindo as da infeliz Matbilde
No corai;ilo traltlnr caliir-tcr agora ?
Sn do vi'ndido thalaino... vendido!
oARRETr, D. nRAXCA, cant. 0.
— ADArMos r. ruovKumos :
— Para um traidor dous aleivoBOfl,
— Não vivo mais o leal, que quanto
quer o traidor.
— Paga-se o rei da traição, do traidor
não.
— Barba de três côree, barba de trai-
dores.
— Do traidor farás leal com bom fal-
lar.
TRAÍMENTO, s. m. A acção do trair,
o fazer traição.
— Traição.
TRAIR, ou TRAHIR, ou TRAER, r. a.
(Do latim traiUre). Fazer traição, entre-
gar :l traição.
— Faltar á fé, atraiçoar, proceder com
aleivosia.
TRAITA, 8. f. Termo da província da
Beira. — A traita da caça; a abalada.
Vid. Abalada.
TRAITE, í!. m. Golpes do cardar lã,
ou ]>ani:o na pcrclic.
TRAJADO, ;K/rí. jmss. do Trajar. Ves-
tido de certa forma. — Trajado á fran-
ceza.
TRAJAR, V, a. Vestir, usar no vestido
do certas drogas. — Trajar sedas.
— Trajar-se, i'. re.jL Vestir-se em tra-
jos. — Trajar-se bem.
— V. n. Vestir-se. — Flste homem traja
á ingleza.
TRAJE, .«. m. Vid. Trajo. — «Achou
por suas inculcas, que tinha a senhora
luim Confessor Religioso, a quem dava
credito, e obediência por sua virtude, e
letras. Pregava este certa fi-sta do con-
curso, vestiose o ladraõ do traje humilde,
o rosto penitente, e fez-se encontradiço
com elle hindo para o púlpito.» Arte de
furtar, cap. 1.
TRAJECTO, s. m. (Do latim trajectus).
Passagem ou travessa de porto, ou costa
a costa. — Este facto aconteceu durante
o trajecto.
TRAJEITADOR, s. m. Vid, Tregeitador.
TRAJO, .«. m. () vestido de que al-
guém se servo acc anmodado ao seu es-
tado, ou a alguma moda. — Trajos do-
mésticos. — a O Condo Flavinio escapou
em trajos muilados, para vir a pagar
sua culpa mais afrontosamente, como ve-
remos a seu tempo. • Monarcbia Lusita-
na, liv. 7, cap. 27. — «Os quaes como
saõ mestiços no sangue assi o saõ na
crença, e logo saõ conhecidos nos custu-
mes, no trajo e na pessoa, de que ha taõ
grande numero que he a quarta parte da
gente.» Barros, Década 1, liv. 9, cap. 3.
— «E fez sua salva com pouco estrondo
de artilharia, ao que logo de terra vie-
raõ dez ou doze almadias com mujto re-
fresco, e comtndo e«tranhando-niM, e ven-
do no nosso trajo e a«j)oito ouo nío era-
moH Simos, nem Jao«, nem Malavo», nem
outras nações que ja tinhSo ^-ÍHtaí, dÍ8se-
rão, tSo proveitoca nos peja a toilon a al-
vorada da fresra manliam, quão bem as-
sombrada parece CJita tarde na presença
do que temos diante do* olhou. • Femio
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 48.
— «E porque naõ se atrevia a viver en-
tre Cbristaõs, cõtinuava naquella de»-
avoíitura ató que Dbos a lova-se a terra
onde acabasse seus dias cõ fazer peniten-
cia da vida passada. Mao que ainda que
a vissemo» aly daquella mano_\Ta, e na-
quclles trajos do diabo, nunra deixara
de ser verdadcyra CliristS.» Ibidem, c-ap.
lt)2. — «E he taõ grande o numero d<.'8-
tas alimárias que mataõ, que carregaS
dalli todos os annos muitos juncos de
seus pellames, e os levaõ a Japaõ, aonde
fazem muito proveito, porque daqucllas
pelles fazem muitos trajos, qaímoens, e
outras cousas muito lavrada«, como cada
dia vemos trazer h índia, de <^e faxem
formosos caparazoens, bastardas, coars«,
e outras curiosidades, porque 8ai5 as pel-
les fermosissimamente lavradas. • ]>iogo
de Couto, Década 6, liv. 7, cap. í). —
«Com grando estrond») de artelharia que
tiraua, e trombetas, atabnles, e mcids-
tres alt')s que tangião, o ci>m muytas gri-
tas, e aluoroços de muytos apitos de mev
três, contramestres, e marinheiros, vesti-
dos de brocados, e seJas com trajos da-
lemães, e os bateis cheyos de tochas, e
muytas vellas dourada.^ acesas, com tol-
dos de brocado, e muytas e ricA-s ban-
deyras.» Damião de Ooes, Chronica de
D. Manoel, cap. 127.
— Syx. : Trajo, veste. Vid. este ultimo
vocábulo.
TRALHA, .'. /. Talvez o mesmo que
malha .
— Tralha da rede ; o espaço entre a
borda d'ella e a corda d'onde pendem
os chumbos, ou pesos e cortiças.
— Escapou pela tralha da rtde ; es-
capou difficilmente.
— Uma rede de pescar com que pesca
um 8('> homem.
TRALHADO, part. pats. de Tralhar.
-- .'^. m. Termo antiquado. Traslado.
TR.\LHÂO, í. m. Vid. Taralhão.
TRALHAR, v. a. Pôr a tralha á rede,
ou a corda que faz a tralha.
TRALHO, s. V). Rede pequena de pes-
car.
TRALLAÇAO, .«. /. Vid. Trasladação
dos n.tfiis. ou c^dnrer.
TRÃ. Abreviatura de Terra.
1.' TRAMA, .«. /. Do latim trama). O
fio com que se tece o panno, e anda na
lançadeira, por entre os fios do ordnme.
— Soda mais grosseira, que os fiabri-
cantes de meias de soda misturam com a
melhor, ou com o cí>tarabre.
— Figuradamente: O tecido, textura.
TRAM
TRAN
TRAN
787
— ■ Tramóia, enredo.
2.' TRAMA, «. /. Inchaço; doença.
TRAMADOR, A, s. Pessoa que trama,
que tece.
TRAMAGUEIRA, s. f. ViJ. Tamar-
gueira.
TRAMAR, V. a. Tecer a ordidura. Vid.
Trama.
Que me diz, Padre Mestre? Está zombando!
(O Dcaõ aturdido lhe replica)
Em urdir e tramar uma só tea
Dez aunos consumia a tal Madama ;
E diz-me que foi grande Tecedeira ?
A. n. DA CBCZ, HTSSOPR, cant. 5.
— Figuradamente : Tramar enganos.
— Syx. : Tramar, ordiv, Yid. este ul-
timo vocábulo.
TRAMAZEIRA, ou CORNOGODINHO,
s. m. Termo de botânica. Arvore media-
na, que se encontra nas nossas serras do
Gerez e da Estrella.
TRAMBOLHADA, s. /. Trambolho.
TRAMBOLHÃO, s. m. Grande trambo-
lho.
— Termo popular. Tombo do que vae
rolando.
— Loc. : ÂwJar aos trambolhões ; an-
dar aos tombos, rolando ás quedas.
TRAMB0L3AR, i-. n. Embaraçar-se
fal lande.
TRAMBOLHO, s. m. Cepo que se põe
aos animaes domésticos, para nào se des-
viarem para longe.
— Figuradamente : Trambolho de cha-
ves; grande ramal d'ella3, que se trazem
eutiadas á cinta.
— Enfiada, ramal de cousas.
TRAMBULHO, «. m. Vid. Trambolho.
TRAMELA, s. f. Vid. Taramela, ter-
mo mais usado e mais correcto.
TRAMELAGA, s. /. Vid. Tremelga.
TRAMITE, í. m. 'O caminho com di-
recção para certos pont.'S.
— Plur. Figuradamente : Os meios, e
03 termos determinados.
— Tramite da lei; a ordem, os actos
marcados pela lei.
TRAMOÇADA, s. f. Grande quantida-
de de tramoços.
— Figuradamente : Multidão de cou-
sas taes como tramoços.
TRAMOÇO, s. f. Vid. Tremoço.
TRAMÓIA, ou TRAMOYA, s. f. Enre-
do, ardil, engano.
— Machinarias de theatro.
— Uma certa renda de pontos lar-
gos.
TRAMOLHADA, s. f. Terra lenteira, ou
moUe.
TRAMONTANA, s. f. O vento do
norte.
— Figuradamente : O rumo do norte.
— Figuradamente : Perder a tramon-
tana ; perder o norte, o governo, o modo
de reger-se bem, desnortear-se, desorien-
tar.
TRAMONTANO, A, adj. e s. De Traz-
os-Montcs.
— Ultraniontanos.
TRAMONTAR, i;. n. PGr-se o sol atraz
dos miiuttís. Vi.l. Trasmontar.
TRAMOCEIRO, s. ra. Vid. Tremoceiro.
TRAMPA, s. /. Termo indecoroso. Ex-
cremento grosso, fétido.
Esse escudeirinho trampa
acolhido e não por lampa,
todo fidalgo, em dom nada,
gabou-voâ \-ida casada ?
Jesu ! tra-la por estampa.
ASTOSIO PUESTES, ADTOS, pag. 119.
— Outr'ora significava fraude, engano
doloso, enredo, burla. — « Armou suas
trampas, e galazias aos pobres Ciiristãos,
como elles sempre costumào, confiscou-
Ihe as fazendas, sem razam, e justiça, e
porque a quiserão defiender, os mandou
matar a todos.» Fr. Gaspar de S. Ber-
nardino, Itinerário da índia, cap. 13.
TRAMPÃO, ONA, adj. Que usa de tram-
pas, enredos, dolos, fraudes.
— Doloso, frauduloso, fraudador.
— Substantivamente : Um trampão.
TRAMPEADOR, A, adj. e s. Vid. Tram-
pão.
TRAMPEAR, i-. a. Usar de trampas
com alguém.
— V. n. Enganar como o trampão.
TRAMPISTA, adj. 2 gen. Trampão, fal-
lando dos maus advogados.
— Fraudador, burlão, caloteiro, illiça-
dor.
— Substantivamente : Um trampista.
TRAMPOLINA, s. f. Termo popular.
Engano, velhacada, treta.
— Taboa de volatins.
TRAMPOLINEIRO, A, «. Termo popu-
lar. Pessoa que usa de trampolinas; tra-
paceiro.
TRAMP O SÃMENTE, adv. (De trampo-
so, com o suíBxo ameníe»). De um modo
tramposo.
— Com trampas.
TRAMPOSO, A, adj. e s. Trampista,
enredador no foro.
— Enganador, velhaco.
— Substantivamente: Um tramposo.
— «Porque tudo isso saõ invençoens de
alguns trãposos a que as tristes das par-
tes chamào procuradores, mas averiguào-
se com provas claras, e de testemunhas
tementes a Deos, nas quaes o julgador
se funda, se faz o que deve, e por ellas
julga o que com razão se deve julgar. »
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações,
cap. 102.
TRANAR, 1-. a. (Do latim tranare).
Nadar além, passar nadando de uma par-
te á outra.
TRANCA, s. /. Travessa de pau, com
que se fecha a porta por dentro.
— Loc. POP.: Dar ás trancas; fugir,
correr.
— Cousa que impede atravessando-se.
TRANCADO, part. pass. de Trancar.
— Portas trancadas.
TRANCAFIAR, i-. a. Termo de mari-
nha. Amarrar com trancafio.
— Figurada e popularmente : Encar-
cerar.
TRANCAFIO, s. m. Termo de marinha.
Cordinha de dous fios ; guita ou cordel
com que se ligam as pontas de uma cor-
da de duas pernas para se não desfazer
ou destorcer.
TRANCAR, V. a. Fechar com tranca.
— «Em minha casa estou eu trancado,
porque quem naõ se tranca no dia de
hoje, não vive seguro : e estou tirando
devaças, que taes as soubera tirar a jus-
tiça delRey, que deve de andar dormin-
do, pois nào dá fé do que olhos fechados,
e trancados vem.» Arte de furtar, capi-
tulo Õ3.
— Atravessar, dar com força.
TRANCARRUAS, s. m. O valentão ar-
mador.
— - Homem que vae atravessando a rua
de uma calçada para outra.
— Cavalío guiuador, que dá guinadas.
— Cavallo trancarruas ; cavallo que
nào segue direita estrada.
TRANÇA, s. /. (Do francez trasse).
Cousa trançada. — A trança do cabello.
Ninfas destes vizinhos arredores.
Que tão altivas presumis de belas,
Cubrindo os vultos de custosas telas,
Ornando as tranças de festões de flores.
1. X. DB XATTOS, SIMAS.
Cinge a cândida veste, e deixa ao vento
Que nos horabros fencrespe as áureas tranças
Sem arte bellas mais ; que a Natureza
Em ti só basta, que no Edem foi tudo
A mui credida Mày : eia observemos
Liquido campo azul, qu'a vista illusa
Co "os arqueados Ceos confunde e pega.
J. A. DE MACEDO, A SATCEEZA, Cant. 3.
TRANÇADEIRA, s. f. Fita de trançar
o cabello.
1.) TRANÇADO, ^jarí. pass. de Tran-
çar. Entrelaçado. Vid. Arnez trançado.
•2.) TRANÇADO, s. m. O cabello feito
em trança. — «Cavalgadas em elles co-
mo homens, e em o vestido nao tem dif-
ferença delia, somente na cabeça trazem
huns gravins com trançados por detrás,
e no rosto rebuço. E diante entre ellas,
e o arçaõ humas almofadinhas de cetim
sobre que se vaõ debruçando por gentile-
za.» António Tenreiro, Itinerário, capi-
tulo 17.
— A fita de trançar o cabello.
TRANÇAR, v. a. Dispor, ou entrelaçar
três ou quatro porções de cabello, ou
pernas de qualquer seda, linha, etc, de
maneira que fiquem travadas entre si, e
talvez com fitas, entrelaçando umas por
outras. — Trançar obras de metal.
1.) TRANCE, ou TRANSE, s. m. (Do
788
TRAN
TRA?r
TRAK
francoz nntrnnce). Aperto, prdHSana guer-
ra, e fac(;rio arriscai la.
— Apertado contlicto.
— Li)Cu^'ílo de cavallariíi andante : Cont-
bater-se a todo o trance ; coinbatur-so
até á morte, ou 03 extremos da vida, e
com todo o género do armas, lança, es-
pada, etc.
— Dava-se também este nome ao duel-
lo quo SC fazia por ostentação de valor.
2.) TRANCE, on TRANSE, s. m. Tra-
balho com modo, o aiifíustia. — «De ma-
neira quo antes que Amire de Vaseon-
cellos chcjíassc passou seu irmam Mifjuel
da sylua todo este trance, em que o fez
úovao mui esforçado cauallciro, achousse
neste negocio hum André Pircz natural
de Coimbra que saUio delle muito uial
ferido, o Matheus sanches, 03 mortos fo-
ram 03 que dixe. » Damião de Gocs,
Chronica de D. Manoel, part. 4, eap. 46.
— Angustia, aperto, afflicç.MO. — « E
estando assi todos neste trabalhoso tran-
ce, chegarão a nós seis de cavallo, c
vciulonos assi nús, e sem armas, e cos
joelhos em terra, e duas molheres mor-
tas diante de nós, ouverão tamanha pie-
dade, que voltando os quatro delles i)ara
a geato do pé que vinha atrás, os fizcraõ
ter a todos, sem consentirem que nenhnm
nos lizesse mal.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 138.
— Ultimo trance da vida; termos
à'ella, 03 iiltimos dias do agonisante. Do
mesmo modo se diz supremo trance.
— Trance da fortuna ; adversidade.
TRANCELIM, s. m. Trançado estreito
de tios de soda, ou metal, para prender
bentinhos, para lavores sobrepostos, etc.
TRANCINHA, s.f. Diminutivo de Tran-
ça. Pequena trança.
TRANCO, í. "i. Salto largo que o ca-
vallo dá, e pára logo.
— .fios trancos ; depressa, mas não se-
guidamente.
TRANGOLA, s. m. Homem de longo
corpo, feio, macilento, descorado.
TRANGULA, s. /'. Vid. Adorno.
TRANQUA, s. /. Vid. Tranca. — «Os
quaes junto3 deram nos mouros com tan-
to Ímpeto, que teuerão os outros tempo
pêra se recolher na cidade, foi isto tam
trauado quo nara ouue mais tempo, por
nam poderem fechar ha porta, que cor-
rerem ha tranqua ate meo, o que fez Rui
Martinz, que foi o derradeiro que entrou,
e isto com tanto esforço, que dizendo lhe
Fero Leitam, o Diogo Banha, que corres-
se ha tranqua toda.» Damião de Ooes,
Chronica de D. Manoel, part. 1, cap. 49.
TRANQUEraA, s. /. Cerca de madeira,
estacada, paliçada para fortificar, e tor-
nar defensável algum posto, ou para car-
ro. -^«El Rei sabendo como a tranquei-
ra da banda da mesquita era entrada, veo
sobro hum Elephautc acudir aos seus, mas
vendooâ vir desbaratados se tornou pêra
03 paçO^, com mais de três mil soldados
que cònuigo traria. «Damiflo de G0C8, Ohro-
nica de D. Manoel, |<art. ."), cap. 11. —
«E hell;i luinia seiuintia pcra o poço com
ponte ievailiç;i, na qual ícruintia, e per
toda a tranqueira mani|.)ti lazer basti-
lliòes de tfítra e nelle» poer artilheria,
do quo el Rei de Cananor vio, e conhe-
ceo bem que Lourenço de Rrito era ja
anisado de sua determinação.» Ibidem,
part. 2, cap. IG. — «Vondoase Louien-
ço de 15rito nesto trabalho determinou de
mandar hum seu »obrinh<i fora da tran-
queira, jjera tomar lingoa, ou algum man-
tinieiito, se per desastre o podesse auer,
e com elle entre outras pessoas, que se-
riam ate trinta, foram Fi^rnam Tcrez
Dandrade, Pêro Fernandez Tinoco, Fran-
cisco Serram, (Jonçalo Vaz de (toes.»
Ibidem, cap. 17. — «O que Afonso dal-
buipierquc passara em Calaiate, arre-
ceandoso que quisesse também delle auer
mantimentos, ou alfifum outro tributo se
fez forte com tranqueiras, cauas, o gen-
te.» Ibidem, cap. 81. — «A guanla de
Benastarira deu a (larcia de sousa onde
se fez outra tranqueira como a do passo
do vao, e no mar pos pcra segurança do
passo, Aires da aviva no seu nauio.» Ibi-
dem, part. 3, cap. 5. — • t A primeira
tranqueira que se ganhou fui pela banda
da puuoação grande da cidade por Afon-
so Dalbuquerque leuar mais companhia
que 03 que combatiam da banda da mes-
quita, que logo, posto que com muito tra-
balho fez recolher os imigos pêra boca
de huma das ruas principaes, onde se
tiueram aos botes, defendeudosse mui es-
forçadamente.» Ibidem, cap. 18. — «Após
o que mandou naquella noite fazer huma
tranqueira na ponta da enseada, que era
o mesmo lugar onde Lopo soarez deter-
minaua fazer a fortaleza, a qual tran-
queira amenheceo acabada com bom qui-
nhani de bombardas de ferro, e espingar-
d3a», e muita gente que a guardaua.»
Ibidem, part. 4, cap. 32. — «Antes que
António correa chegasse a esta tranquei-
ra a mandou espiar em hum barqueto
per George mesurado, que lhe trouxe no-
nas que nella auia muita gente, e que
lhe3 ouuira dizer que cstiuessem alerta,
porque os Portugueses auiam de ir so-
brelles.» Ibidem, cap. Õ2. — «O que sa-
bido mais 03 delles o foram ver a nao en-
cubertamente, com medo do Tyrano que
se emposara do regno, dandolhe logo
obediência como ha seu verdadeiro Rei,
o senhor, destes soube Ueorge dalbuquer-
que como o Tirano geinal fezera huma
tranqueira, com sua caua muito forte,
junto da pouoaçam grande huma legoa
pelo rio acima.» Ibidem, cap. 66. — «Na
qual detença quando dom Lourenço che-
gou á tranqueira, já achou muito3 ho-
mens ante si ás lançadas com os Mou-
ros, onde onuo huma mui crua contenda,
huns por subir, e mitros por defender a
subida: e entre o sangue e fúria de que
todos andauSo cubertos, era tamanha a
fumaça da artelharia, que »e nlo vilo
huns aos outros ; no qual tempo andauSo
ja todos de enuolta, haú os que vinhio
com o Viso-Rey o Trista» d'Acunha, co-
mo 08 que furão diante com hcus lilliof.»
Barros, Década 2, liv. 1, cap. 6. —
«(Jarcia de Sou^a também no pusHo onde
elle cstiua, por ser o macs principal, ti-
nha feito Luoia groti>a tranqueira, de
que defendia aquelle lu^ar: e puiito quo
corressem ali muitos iiourof, tãto ob Can-
sou que tomarã^j jior remédio pôr fogo á
tranqueira. A qual couio começou arder,
e não o podendo a pente sofrer, rccollico-
se já com seu irm.uo Pêro de .Sousa morto,
c muita gente ferida.» Ibidem, liv. õ, cap.
15.—^ «Porque como a pente despoís que
se esfriou da furia de pelejar, nSo se che-
gaua bem A obra daquella^ tranqueiras
que queria fazer, assi por razão do tra-
balho ser mui grande, como o ardor do
sol cò que os que andauão em pê erSo
já no espirito tão decepado» c mortos
como aquelles que o forão naquella pe-
leja, e sobretudo neniium tiniia comido
aquelle dia.» Ibidem, liv. 6, cap. 4. —
« Patc Quetir porque quandu a sua gen-
te vinha commetter a tranqueira rece-
bia mais damno do camelo, e peça? dee-
ta barcaça, por varejarem ao longo del-
ia, que dos fsjiingari!eiro3 de Affonso
Pessoa.» Ibidem, liv. 9, cap. 1. — «Vis-
ta a fortaleza, que já estava despejada
de todo, e tornado ás náos, ao outro dia
começou-se de pôr mãos á obra com tan-
ta diligencia, que quando veio quarta
feira de Trevas, estava feita huma tran-
queira, que os da Cidade não podiam
entrar por aquella porta, e os nossos fita-
vam com a serventia do mar, sem pode-
rem ser impedidos, porque a tranqueira
era forte e defensável com a artilheria,
que tinha.» Ibidem, liv. 10, cap. 3. —
«03 nossos os foram seguindo até darem
com as tranqueiras das bocas das ruas,
e com aquella furia com que hiam, pon-
do-lhe 03 peitos, abalroaram por tudo
até a3 cavalgarem, e entrarem a Cidade,
em que fizeram grandes estragos.» Dio-
go de Couto, Década 4, liv. 6, cap. 9.
— «D. Rodrigo mandou diíer ao Capi-
tão que a tranqueira ficava ta5 descu-
berta ao muro, que lhe tinhaõ ferido os
mais dos companheiros sem lhes elle po-
der valer. O Capitão o mandou recolher,
do que o Rev de Geilolo mostrou gran-
de alvoroço, c fez grandes algazarras dos
nniros.» Idem, Década 6, livro 9, capitu-
lo 11.
— FaUar de tranqueira ; fallar f^ra
do perigo, em salvo, roncar em salvo.
— Tranqueira de pedra.
TRANQUEIRO, s. m. Pau que sustém
no meio o pau lavra-lo. que se vae abrir
em taboas com serra braçal : no tran-
qufiro SC arrocha c segura na serraria.
TRANQUETA, s. f. Ferro chato, que
I
1
TRÀN
TRAN
ÍRAN
789
coWido, levantando-se, ou abrindo-se abre
e fecha a porta ou a ianella.
f TRANQUEYRA, s.'f. Yid. Tranqueira.
— dE querendo el Rsy aproveitarse da
boa fortuna deste suecesso, como homem
desejoso da vitoria, mandou abrir logo
com rauvta presteza aa portas da tran-
queyra, e sayndo ao campo com alguma
parte dos seus, pelejou cos inimigos tão
esforçadamente, que os pús a todos em
desbarato.» Fernão Mendes Pinto, Pere-
grinações, cap. 26.
TRANQUIA, s. /. Cerca de paus om
distancia uns dos outros, e atravessados
para atalliar a um passo.
TRANQUIBERNIA, «./. Termo popular.
Esperteza, ti-ampolina, fraude.
TRANQUILHA, s. f. No jogo dos paus,
é o que em uma das fileiras não faz au-"
guio, e com o qual se derribam poucos.
— Peça do manejo com que se aperta
o cavai lo.
— Levar as cousas por tranquilha ;
por meios indirectos e talvez illegitimos.
TRANQUILLAMENTE, adv. (De tran-
quillo, e o suffiso «mente»). De um mo-
do tranquillo.
— Com tranquillidade.
— Dormir tranquillamente ; dormir
sem alteração, sem turbação do animo
repousado.
TRANQUILLAR, v.a. Termo pouco em
uso. Socegar, fazer quietfU", pôr em des-
canço.
TRANQUILLIDADE, s. /. (Do latim tran-
quillitas). Quietação, repouso.
— Inacção do corpo, repouso do espi-
rito não alterado.
— Syn. : Tranquillidade, (-[inetação.
Vid. este ultimo termo.
TRANQUILLISAR, ou TRANQUILLIZAR,
V. a. Aquietar, socegar, pacitiear.
TRANQUILLO, A, adj. (Do latim tran-
qiiillus). Quieto, socegado.
Vinha a morto, qual vem tranquillo somuo,
E cortava sem dor da vida o fio,
Antea que o duro cataclrsmo, ou golpo
Do bra(,o vingador cobrisse a Terra
De hum sem limites túrbido Oceano.
J. A. DE iu.ci:do, ugdixação, caut. 1.
Do espectador tranquillo á mente, aos olhos
Gom toda a pompa a Natureza falia ;
Eutào, daa Musas dom, se aviva o Estro.
IDEM, A. KXXUKEZA, Caut. 1.
Tal to succede, Alcipe, quando deixas
O aaylo eucautador, oude do Estio
Passas tranquilla os fatigantoa dias
Vendo correr o Tejo.
IBIDEM.
Ho de tristes catástrofes origem ;
Sorve os baixeis, quha pouco aos pátrios lares
Sobre a espádua traiiquUla a estrada abrirão :
Terrivol Sceua, que o Cantor de Mantua
Com pincéis immortaes foz vêr ao Mundo.
iBiosH, cant. 2.
Corra a admirar-to o Idolatra do Luio ;
Eu tranquillo Filosofo só posso
Do Capitólio nos dispersos membros
Lêr a triste Inscripção d"orgulho humano,
E sepultada nas caladas cinzas,
Da immensa mole nos dispersos restoa,
A imagem descobrir da Idade de Ouro.
Assim dos fructos se ápaseontào ledos
Qu'a terra a todos mãy, produz a todos •,
Na tranquilla familia as Leis promulga
Império p.atornal, de Impérios norma
{yu'hum Rei ho Pai oommum, fumilia o Povo).
IBIDEU.
Do fértil Campo habitador tranquillo,
Era justo sem Leis, recto sem medo ;
Era a iunoceucia escudo impenetrável.
Nas duras costas dos baixeis 3'cncrava,
Donde tirada o Gabinete enfeita
Do tranquillo amador da Natureza.
Ah! não te assombres da cruenta guerra.
Que ferve accesa nos equoreos monstros.
IBIDEM, cant. 3.
— Animo tranquillo ; animo repousado,
socegado, não agitado.
— Vida tranquilla ; vida sem trafego,
sem trabalhos, fadiga.
— Coraqão tranquillo; sem aíFectos.
t TRANQUITANA. Vid. Traquitana.
Oh nâo praza ó cordavâo,
Nem á puta da bad.ina,
She esta boa tranquitana,
Em que se ve Jan'Autào.
QIL VICENTE, AUTO DA BAHCA DO INFEBSO.
TRANS. Preposição latina, que signi-
fica além; d'ella se compõem diversas pa-
lavras, que tem mui differente sentido
das que se compõem de trás. Vid. Trás.
TRANSACÇÃO, s. f. (Do latim trans-
actio). Contracto pelo qual se transige.
— Contracto pelo qual os litigantes
puem termo á sua demanda incerta, con-
vindo e aecordando-se em qualquer pres-
tação certa.
— Transacção commercial; contracto,
ajuste, ou reali.sação da compra e venda.
TRANSACTOR, s. m. (Do latim (rans-
actor). Homem que faz a transacção.
TRANSATLÂNTICO, A, adj. Além do
mar atlântico.
TRANSBORDAR. Vid. Trasbordar.
TRANSCENDÊNCIA, s. f. A acção, ou a
qualidade de transcender.
— Supereminencia, realce, excellencia.
— Importância que a um objecto re-
sulta da propriedade de ir influir em ou-
tro.
— Qualidade de exceder os limites da
classe própria, para se generalisar e com-
municar a outra.
TRANSCENDENTAL, adj. 2 gen. Trans-
cendente, ou pertencente a objectos trans-
cendentes.
— Termo de philosophia. Que se apoia
em dados superiores ás impressões sensí-
veis e li observação. Poder-so-hia dizer
que a philosophia transcandente é o es-,
tudo do objectivo, considerado como exis-
tente abs(jlutamente e em si mesmo, o a
philosophia transcendental o estucío do
subjectivo; porém somente tanto quanto
este deve concorrer para a formação dos
objectos : o processo de Kant é critico,
isto é, examinador ; sua doutrina é trans-
cendental.
— Dialéctica transcendental ; segun-
do Kant, discussão das idêas da razão
ou da sciencia quo se forma por virtu-
de própria, e cujos objectos eSo a alma,
o mundo. Deus.
— Esthetica transcendental ; segundo
a philosophia de Kaat, são as formas ge-
raes da sensibilidade.
— Termo de geometria. Curva trans-
cendental; cuiva, no calculo da qual se
faz entrar o infinito.
t TRANSCENDENTALISMO, s. vi. Ter-
mo de philosophia. Diz-se de todos os sj^s-
temas, cujos pontos de partida não são
a observação e a analyse.
— Estudo .«ubjectivo. — O transcen-
dentalismo de K<tnt.
t TRANSCENDENTALISTA, s. 2 geií.
Partidário do transcendentalismo.
TRANSCENDENTE, adj. 2 gen. Que so-
be, que se eleva acima do resto.
— Diz-se em geral da parte mais ele-
vada d'iima sciencia.
— Analyse transcendente ; o calculo
difí"erencial e integral.
— Geometria transcendente ; aquella
que depende do calculo intíidtesimal.
— Quantidades transcendentes ; aquel-
las cuja geração theorica implica o infi-
nito, e cujo valor theorico só se pode
obter por approximação.
— E^^uações transcendentes; aquellas
que contém quantidailes transcendentes.
— Curva transcendente ; curva cuja
equação é transcendente.
— Anatomia transcendente ; aquella
que pela observação, experiência e com-
paração das disposições anatómicas con-
cretas, se eleva á concepção abstracta das
leis da organisação mantida em seus dif-
ferentes graus.
— Que é susceptível de uma grande
generalidade.
— Philosophia transcendente ; parte
da metaphvsica, que busca a auctoridade
de nossas faculdades, o valor das noções,
a certeza dos conhecimentos, etc.
— Idêas transcendentes ; todas as idêas
emanadas directamente da razão.
TRANSCENDER, v. a. (Do latim trans-
cendo, de trans, e scando). Exceder, so-
brepujar traspassando os limites que ca-
racterisam a ciasse do agente, ou a do
objecto que se menciona.
— V, n. Sair dos limites próprios para
ir influir em objecto differente.
790
TRAN
TRAN
TRAN
TRANSCOAÇÃO, ». /. Vid. Transcola-
ção.
TRANSCOAR. Vid. Transcolar.
TRANSCOLAÇAO, s. /. Termo de cbi-
niica c du liliiiriiiiaiii. A acçilo de coar
atr;ivcz dtn i»)n>s, filtraç.^o.
TRANSCOLAR, v. h. (Do latim tratis,
e colarc). i'urcjar, sair liuiuur pelos po-
ros.
TRANSCREVEDOR, *. «t. Vid. Trans-
criptor.
TRANSCREVER, v. a. (Do latim tran$-
criòcre, do trans, o scribu). Copiar um
cscrijito.
TRAN3CRIPÇÃ0, «. /. Acto de trans-
crever e erteito d'este acto. — A trans-
cripção de um manuscriíAo.
— Copiii do um cscripto, traslado.
TRANSCRIPTO, ou TRANSCRITO, part.
jjass. de Transcrever. — Contracto trans-
cripto no registo <ias hi/^otliticas.
TRANSCRÍPTOR, ou transcritor, a,
s. l'ess(ia que transcreve.
TRANSCURAR, i'. a. Não curar, ou tra-
tar de alguma cousa; pôr no esqueci-
mento.
TRANSCURSAR, V. a. (Do latim trans,
e cursarei. Passar correndo além de al-
gum tcrnin ou extremo, deixal-o atraz.
TRANSCURSO, s. m. Lapso do tempo,
decurso do tempo.
TRANSE, s. m. Vid. Trance.
TRANSEFFUSÃO. Vid. Transfusão.
TRANSEUNTE, adj. 2 gen. (Do latim
transiens). Termo do pliilosopliia. Acção,
ou paixíio transeunte ; que passa fora do
sujeito agente, ou paciente.
— Paixões transeuntes ; paixões que
vem e vão.
— Substantivamente: Os transeuntes.
TRANSFER, ou TRANSFERT, *■. w. U
acto pelo qual a propriedade de rendas,
ou de outros direitos se transfere a outro
nome ou pessoa.
TRANSFERENCIA, s. /. Acto de trans-
ferir ou de si-r transferido do um logar
a outro ; passagem.
— Mudança a outro logar, pessoa, fi-
gura, feitio, etc.
TRANSFERIDOR, «. m. Instrumento
geométrico, representando um semi-cir-
culo, dividido em 180 graus.
TRANSFERIDO, part. pass. de Trans-
ferir. Levado Je um logar para outro.
— Passado, ou traspassado a outro.
— «Infamado, ou transferido para mais
pingue prelasia ? Logo saberemos. Con-
sideremol-o primeiro como padre illus-
trado que lia livros proliibidos e os man-
dava ao convento da Estrella, desde o
Pará, sob clausula de estarem a bom re-
cato e defesa dos frades incapazes de os
impugnarem.» Bispo do (írào Pará, Me-
morias, publicadas por Camillo Castello
Branco. });ig. \'2.
TRANSFERIR, v. a. (Do latim trans-
fere). Levar de um sitio para outro.
— Passar, traspassar a outro, ou de
pessoa a pesAoa. — «E a e«to escolhido
pela communidadij dá Deo» o poder, por-
que o deu à coniniUiiidade, e transferin-
do-0 esta em iium, de Deos iica sendo.
K neste sentido se verilicaõ as Escritu-
ras, que dizem, qu<! Deos faz os Reys, e
ILes dá o poder.» Arte de furtar, cap. òO.
K ucaso julgas i|uc o Cometa errautu
Vv. cstra^^os percursor su mostn; ao inuudo 7
Quo dcstu ái|iii.'lla mão tratufini oa RcIuobV
Que de de liabilouia u Scúptru a Ciro V
1. Á. DR MACICDO, k HATUaKZA, CHut. 1.
Que perfumes oxhala, quantos sucoa
Hiea traiís/cre ás arvores. As plantas !
De que cores gentis bo onfuita, c veste !
luiDF.M, cant. 2.
— Dilatar, espaçar para outro tempo.
— Trauisferir as palavras; trasladadas
a tropos e tiguraa.
— Syx. : Transferir, transportar, Vid.
este ultimo termo.
TRANSFERÍVEL, adj. 2 gen. Quo é
possivel transferir-se.
TRANSFIGURAÇÃO, «. /. (Do latim
traiuijiguralio). Mudança que alguém ou
alguma cousa solfre na tigura, tomando
outra dilferonte. — A transfiguração pro-
duzida pela doença.
— A transfiguração de Nosso iSenhor ;
o estado glorioso em que Christo appare-
ceu no Tuabor.
— O quadro da transfiguração de Ra-
phael ; quadro representautlo a transfigu-
ração de Jesus Christo.
— Syn. : Transfiguração, transforma-
ção.
Sendo a transfiguração a mudança de
uma figura em outra, e a transformação
a mudança de uma forma em outra, ha-
verá portanto entre estes dous termos
uma difterença idêntica á que ha entre
forma e figura. A transfiguração encer-
ra mudança na figura, no aspecto, na
apparencia externa do objecto transfigu-
rado, mas é de ordinário transitória ; a
transfirmaçào é mudança na forma, na
construcção, na organisação do objecto
transformado, e como tal permanente e
durável .
Trausfigurou-se Christo no Thabor, e
nfio parou a transfiguração na sagrada
humanidade, mas d'ella trasbordou e re-
dundou nas roupas ile que estava vesti-
do. As transformações fabulosas imagi-
nadas pelos poetas suppõem egualmente
mudança de natureza e forma; taes são
as de Júpiter em águia, em cvsne, em
touro, a de Daphne em loureiro, etc.
TRANSFIGURADO, part. pass. de Trans-
figurar. Que mudou a figura, que trans-
formou.
TRANSFIGURAR, v. a. [Do latim trans-
Jigurare. Mudar a feição de alguma cou-
sa, transformar.
— Trausfigurar-se, i'. reji. Mudar de
figura.
— Figuradamente : Variar, não con-
formar coiimigo,
TRANSFIXÃO, I. f. A ac^io do ferir
penetniiidu, traspassando com instrumen-
to como e-^|>ada e outros similhautcs.
TRANSFORMAÇÃO, *. f. (Do latim
tratmfoniuttio). Acção de transformar.
— Mudança de uma forma em uutra.
— Termo de anatomia patbologica.
Transformação gordurosa dos epilfulioê
e dos Uucocytot ; nome dado ás granula-
ções gordurentas que se depositam nas
cellulas epitholiaes c nos leucocytos.
— Termo de lógica. Transformação
das pru posições ; diz-«e das varia» traduc-
çõea que se po<leni fazer soffrer a uma
proposição sem lho mudar o sentido.
— Termo de al^^ebra. Dij^-ae daa di-
versas operações que se fazem soffrer a
uma equação, a uma formula, a uma ex-
pressão algébrica, sem lhes mudar o va-
lor.
— Particularmente: Transformação da»
equações; meio de solução ]>cla qual se
introduz uma incógnita auxiliar.
— Termo de geometria. Reducção de
uma figura ou de um solido em um ou-
tro da mesma superficie ou do mesmo
volume. J
— Transformação do» tixo» da» coorde- I
nadas; mudança dos eixos d'ellas. '
— o<;/frer algutiu transformações ; pas-
sar por ellas, ou fazerem-lb'aõ, o vir a
ficar mu(iado, modificado, etc.
— Syx. : Transformação, tranajigura-
raçà'1. Vid. este ultimo termo.
TRANSFORMADO, part.pas». de Trans-
formar. — «U bemauenturada Cidade,
ja com os pees de nossos desejos o afiei-
tos estamos em ti. Tu soo es digna do
de ser chamada Cidade, porque em ti
soo ha vnidade e concórdia di Cidadões,
porque toda est;ia chea de Deos, toda
transformada em aquelle que he a ver-
dadeira paz, e charidadc.» Fr. Bartholo-
meu dos Jlartyres, Catecismo da doutri-
na christã. — «Quando o pistillo e os
estames são transformados em pétalas,
a rior é denominada eunucha.» Félix
Avellar Brotem. Compendio de botânica.
TRANSFORMADOR, A, s. e a.ij. Que
transf rma.
TRANSFORMANTE, part. act. de Trans-
formar. Que transforma, transformador.
TRANSFORMAR, v. a. < Do latim traM-
formare). Produzir transformação em al-
guma cousa, transfigurar.
E o diurno clario traiuforma em noite,
E aquellii ohamma, que coiidux estrkf^tM,
(Foi dostea o maior de Pliiiio a morte I
Aqui descobre o Sábio Eleotricismo...
1. Á. DR KACEDO, VIAOEU BXTATICA, Cant. 4.
— Transformar alguém em chrittão ;
tornal-o cbristão.
— Figuradamente : Transformar ai-
TRAN
TRAN
TRAN
791
guem uvta alma na szia; fazel-o adoptar
09 mesmos sentimentos, costumes, etc.
— Transformar-se, v. refi. TransUgu-
rar-se, mmlar de tigura.
— Transformar-se o amador na cousa
amada; revestir-se dos seus sentimen-
tos.
— Figuradamente: Mudar do termo
de proceder, ou de sentimentos.
TRANSFORMATIVO, A, adj. Que tem
virtude e efficacia para transformar.
TRANSFRETANO, A, adj. (Do latim
ti-ansfretanus). D'além do mar.
TRANSFUGA, s. m. (Do latim trans-
fuga). O desertor.
— Figuradamente : O transfuga do
culto, das leis da sua iiatria, etc.
— Figuradamente : Aquelle que aban-
dona o seu partido para passar ao par-
tido contrario.
— Stn. : Transfuga, desertor, Vid. es-
te ultimo vocábulo.
TRANSFUGUEIRO, s. m. Vid, Trasfo-
gueiro.
TRANSFUNDIR, v. a. (Do latim trans-
fundere). Derramar o liquido de um va-
so em outro.
— Figuradamente : Passar uma cousa
de um sujeito para outro.
— Transfundir-se, v. refl. Figurada-
mente : Traspassar-se em outro sujeito.
TRANSFUSÃO, s. /. (Do latim "f j-oíís-
fusio']. Acto de tranefandir.
— Transfusão de sangue ; operação pe-
la qual se faz passar o sangue arterial
do corpo de um animal para o corpo de
outro.
TRANSGREDIR, v. a. (Do latim trans-
gredere). Passar fora dos termos, metas ou
balizas.
Luta comsigo, e tímido 80 afasta
Sem transgredir 03 terminoa prescriptos.
J. A. DV. MÁCKDO, À. NATCÍEZA, Cant. 3.
— Figuradamente: Transgredir as leis;
não as observar, quebrantar, ir contra
ellas.
— Stn. : Transgredir, contrariar. Vid.
este ultimo termo.
TRANSGRESSÃO, *. /. (Do latim frans-
gressio). Acção de transgredir.
— Quebrantamento. — Transgressão
da lei.
TRANSGRESSOR, A, s. Pessoa que trans-
gride. — - «E não só deixe de tratar com
mulher&s estranhas, mas com suas pró-
prias irmãas, e parentas, porque liberta-
do elle com a licença das irmãs, e pa-
rentas, senaõ faça mais entremetido para
cometer a maldade; e o transgressor des-
te preceito sayba que ficará sogeito às
leys da penitencia por espaço de seis
meses.» Monarchia Lusitana, liv. 6, cap.
27. — «Gomo por estas e outras taes
obras não vemos nòs os pouos que acima
apontamos, e assi os Georgeanos, Men-
gralianos, Charqueses, Roixos e outros
daquellas partes captiuos e escrauos de
Tártaros e do Turco, pagando ao pre-
sente os filhos e netos dos primeiros
transgressores da lei e da paz Euange-
licaV» Barros, Década 1, liv. 9, cap. 2.
TRANSIÇÃO, s. /. (Do latim transi-
tio). Modo de passar de um raciocínio a
outro, de ligar as partes de um discurso,
de uma obra. — Uma feliz transição.
— Termo de geologia. Passagem de
um género de rochas a um outro.
— Terrenos de transição ; terrenos si-
tuados nos terrenos secundários.
— Figuradamente : Passagem de um
regimen politico, de um estado de cousas
a outros.
TRANSIDO, A, adj. (Do francez iran-
si). Passado, esmorecido de susto, dôr,
medo, trabalho.
— Part. pass. de Transir.
— Termo antiquado. Desusado.
TRANSIGIDO, part. pass. de Transi-
gir.
TRANSIGIR, t. n. (Do latim transige-
re). Fazer transacção.
Minha opinião sabeis : persisto n'el!a :
Sb for possível transigir co/n Cosar,
Pactuar sem desaire, e poupar sangue;
Faça-se. Mas fugir covardemente...
GARRETT, CATÃO, act. 2, SC. 2.
— V. a. — Transigir a demanda, o li-
tigio; compol-o por transacção.
f TRANSIGIVEL, adj. 2 gen. Que pôde
ser objecto de uma transacção.
TRANSIR, V. n. (Do íatim transi-
re). Traspassar-se de frio, de medo, de
susto.
TRANSITAR, i-. n. Passar, atravessar
um paiz. viajar.
TRAN3ITÀVEL, adj. 2 gen. Diz-se do
sitio por onde se pijde passar, fallando de
caminhos; praticável.
TRANSITIVAMENTE, adv. (De transi-
tivo, com o siiffixo «mente»). De passa-
gem, por transição.
— Com paciente expresso.
TRANSITIVO, A, adj. Termo de gram-
matica. Diz-se dos verbos que exprimem
uma acção, que do sujeito é transmittida
directamente ao complemento.
— Em philosophia: Cansa transitiva;
causa cuja acção se exerce sobre um ob-
jecto estranho.
— Conjunc(^ões transitivas; aquellas
que exprimem uma transição.
— Termo de geologia. Diz-se das ro-
chas ou terrenos que se consideram como
formando a passagem d'um terreno a um
outro de formação mais recente.
TRANSITO, s. m. (Do latim transitus,
de transire). Passagem, abertura, espaço
entre paredes, ilhas, etc. — «Nenhum si-
tio era todo o transito da procissão era
tão adaptado para conter avultado con-
curso de espectadores como Valverde e
a Rua- nova.» A. Herculano, Monge de
Cister, cap. 17.
— Figuradamente: Mudança de um
estado a outro.
— Passamento, morte.
— Syn. : Transito, morte. Vid. esto
ultimo vocábulo.
TRANSITORIAMENTE, adv. (De tran-
sitório, com o sufBxo «mente»). De um
modo transitório.
— De passagem, sem grande duração.
TRANSITÓRIO, A, adj. (Do latim tran-
sitorius). 8em grande duração, de passa-
gem, sem permanência.
Nào ma podem tirar : a morte he minha ;
E pois devo morrer, sou grande, e livre.
Sou nobre, independente, e sou ditoso ;
Se cm meu estudo ha frncto, o fructo he este.
Nem transitória \"ida he bem, que valha.
J. A. DE MACBDO, VIAGF.M IIT.ITICA, Caut. O.
TRANSLAÇÃO, *. /. (Do latim transla-
tio). Acto pelo qual se faz passar uma
cousa de um logar para outro.
— Celebrar a translação d'uvi santo;
celebrar o dia em que os restos de um
santo foram transferidos de um logar
para outro.
— Termo de mechanica. Diz-se que
um corpo é animado de um movimento
de translação, quando as linhas rectas
que unem uns aos outros os pontos d'es-
te corpo, se transportam parallelamente
a si mesmas.
— Movimento de translação; movimen-
to pelo qual um corpo muda de posição
no espaço, em opposição ao movimento
de rotação.
— Acção de conduzir um prisioneiro
de um logar para outro.
— Acção de transferir uma qualidade,
uma dignidade de uma pessoa para ou-
tra.
— Traducção.
— Metaphora, e suas espécies. —
«Grande parte da formozura poética con-
siste, por alto privilegio da arte, nas
atrevidas translações, como quando dá
attributos corp(')reos a puros spiritos, ou
quando spiritualiza o que é simples ma-
téria.» Francisco SIanoel do Nascimento,
Os Martyres, liv. 1, nota.
— Viii. Traslação.
TRASLATICIO. Vid. Translato.
TRANSLATO, A, adj. (Do latim trans-
latus), Metaphorico, figurado.
— Se7itido translato das palavras;
aquelle para exprimir o qual as palavras
não foram inventadas, mas que se lhe
deram ou por similhança, connexão, com-
prehensão, ou por ironia.
TRANSLÚCIDO, A, adj. (Do latim tra7is-
lucidus). Termo de phvsica. Que deixa
passar a luz, sem permittir a distincção
dos objectos.
— Transparente.
TRANSLUMBRAR, v. a. Deslumbrar.
792
TRAN
TRAN
TRAN
TRANSLUZENTE, fart. act. de Trans-
luzir. Que transluz.
— í)iapli;nin.
TRANSLUZIMENTO, s. vi. Transparen-
ci;i, iliriiiliriiiciílaile.
TRANSLUZIR, ou TRASLUZIR, v. n.
(Do latiiu Irunshii-iircj. i'"a/,cr passar a
luz, como o vidro, ser translúcido.
— ^ Figuradamonte : Transpirar. —
fEinfim, seria zelo, seria amizade, seria
tudo o que é decoroso ; porque inveja
nSo tinha Ingar. Já d 'aqui nos transluz
que o bispo jogava destranionte a ironia.»
Bi.spo do (Irrio Pará, Memorias, publica-
das por Carai lio Castello Branco, pag. 12.
— Apparecer o interior.
— Apparoce.r fira.
— Transluzir-se, v. reji. Tornar-se
translúcido.
TRANSMARINO, A, adj. (Do latim
iransmarinus). Situarlo alóm dos mares.
— Regiõet, naçZes transmarinas. Vid.
Marinho, e Marino, o Ultramarino.
TRANSMEAVEL, a,lj. 2 (jen. (Do la-
tim transmeabilis). Capaz do transpirar,
transpiravel.
TRANSMIGRAÇÃO, ». /. (Do latim
transmigratio, de trans, e migrare). Acção
de um povo, de um grupo tle homens que
passam do seu paiz para outro.
— Termo da escriptura sagrada. A
transmigração da liahylonin; a morada
dos juileus na Habvionia.
— A transmigração das almas; a pas-
sagem das almas para outros corpos, se-
gundo a opinião dos p3'thagorico8. Vid.
Metempsychose.
TRANSMIGRADO, paH. pass. de Trans-
migrar.
TRANSMIGRADOR, s. m. O que faz a
transmigração, o mudança de gentes para
outras terras.
TRANSMIGRAR, v. 7i. Soffrer a trans-
migração.
— Jludar de assento o domicilio, ir
assentar a sua vivem la em outra parte.
— Transmigra a industria e o comraer-
cio para onde é livre de impostos oppres-
sivos, de regulamentos minuciosos.
— V. a. Termo pouco em uso. Fazer
mudar de assento, e domicilio.
— Transmigrar-se, v. refl. Mudar-se
para outro sitio.
— Passar a alma do um corpo a ani-
mar outro.
TRANSMISSÃO, «. /. (Do latim tram-
missio, de transmissum, supino de trans-
viittere). Acção de transmittir, e effeito
d'esta acção.
— Termo de physiologia. Transmissão
hereditária; passagem de certas condi-
ções physicas ou moraes dos pães aos fi-
lhos.
— Termo de phvsica. Propriedade de
iim corpo que deixa passar a luz ou o
calor; diz-so om opposição á refie.vão. —
A transmissão do calor pelos diversos
inefaes.
— Em mechanica : Transmissão do mo-
vimento; commuiiieaçilo do movimento de
um Corpo a outro.
TRANSMISSÍVEL, adj. 2 gen. (Do la-
tim Irananiissiòilig, do transmisstivi, BU-
piíio de transmiltere). Que pijdc «cr traus-
mittido. — Dinifus transmissíveis.
TRANSMITTUIO, pari. pass. de Trans-
mittir. Deixado passar airm.
— Figuradamente: Transmittidas vir-
tudes.
— Enviado, participado.
3\ a voz do Cibo, o transmiti id/vi Ordcn» ;
Jii o retintin das lançaa, que o Tribuno
.Manda abaixar, ou manda pôr a prumo;
JA 8« forma cm batalha a hoste Romana,
Ao Btridor das Trombi^taa, ('rfrnoii, Lituoa :
Núa Crctcn.scs, entre esses Povos líarbaros,
Fieis k nossa u8ftiK;a, os nossos postos
Tomávamos aos sons Marciáca da I.,yra.
r. M. DO xAscmaTO, os marttbbs, liv. 6.
TRANSMITTIR, u. a. (Do latim tram-
mittere, de trans, e mitttre). Fazer pas-
sar. — Transmittir ordens. — Os nervos
transmittem as sensa^^des.
— Transmittir um nome d posterida-
de; fazel-o passar até á posteridade.
— Enviar, participar.
— Figuradamente: Transmittir vícios,
vÍ7'tudes, etc.
— Termo do foro. Ceder, fazer passar
a outrem o que se possue.
f TRANSMONTANO, A, adj. Que fica
para lá dns montes, e dos Alpes.
— Substantivamente: Um transmon-
tano.
TRAN3M0NTAR. Vid. Trasmontar.
TRANSMUDAÇÃO, s. f. Mudança duma
cousa em outra.
TRANSMUDADO, part. pass. de Trans-
mudar. Transtormaiio, mudado.
TRANSMUDAMENTO, s. m. Vid. Trans-
mudação.
— Passagem a outra mão, domínio,
possuidor.
TRANSMUDAR, ou TRASMUDAR, ou
TRESMUDAR, v. a. Transformar.
— Transmudar a acção, direito, ou
cousa em outro; cedel-a, ou traspaspal-a
o senhor d'ella a outrem, de maneira
que quem a traspassou fique escuso de
todo o litigio.
— Transmudar-se, v. rtfl. Transfor-
mar-se, mudar de forma. Vid. Trasmu-
dar.
TRANSMUTAÇÃO, s. /. (Do latim trans-
mutatio). Mudança de logar.
— Transformação de uma cou.^a em ou-
tra. — « Estando o Imperador Fernando
III na Cidade de Praga no anno de 1648
vio executar a transmutação de três ar-
rates de Mercúrio em ouro, por effeito de
hum só grão da Pedra Philosophal. Ri-
chthausen se cliamava o homem que a
fez, a quem o Imperador deo o titulo de
Barão de Caos em recompensa.» Caval-
leiro d'01ivoira, Cartas, liv. 3, n.° 8.
— Mudança, desapparecimento.
TRANSMUTADO, part. pas». de Trans-
mutar. Vil. Transmudado.
TRANSMUTAR, v. a. .\)h latim trant-
mut(ire). Mudar para outro iogar.
— Transformar om couna do outra na-
tureza.
— Transmutar o sytttma ; íazel-o des-
appareciT subitamente.
— Transmutar-se, v. reji. Mudar-se.
TRANSMUTATIVO, A, a-lj. Que tem a
virtude do tran«>niudar.
TRANSMUTAVEL, adj. 2 gen. Que é
possivel transmudar. — iò'u6«taRcúw trans-
mutáveis.
TRANSNADAR, v. a. (Do latim trans-
nadarei. Passar além nadando.
— Transportar, passar nadando algu-
ma pessoa ou cousa.
TRANSNOMINAÇÃO, s. f. (Do latim
transnominaiio, de trans, e noniinatio,
de nomem). Nome latino da metonjmia.
— Traslaçào das palavras.
— Uso translato das palavras.
TRANSORDINARIO, A, adj. Termo pou-
co em uso. Superior ao ordinário.
TRANSPARECER, i-. ;». (Do latim trans,
e páreo). Apparecer por meio de corf>o
diaphano, e transparente, vêr-se no meio
d'elle, ou além delle.
— Transluzir.
TRANSPARÊNCIA, s. /. Qualidade do
que é transparente. — A transparência
do ar.
— Diaphaneidade, trausluzimento.
TRANSPARENTE, adj. 2 gen. Que se
deixa penetrar por uma luz bastante
abundante para permittir distinguir niti-
damente os objectos atravoz de uma es-
pessura.
— Diaphano, transluzente, translúcido.
Olha o Cabo das rápidas corrcntof,
Que mal podem romper ferradas (jnilhas,
Acharás alem di-lle estranhas pentes,
A culta Europa ifcnotas maravilhas:
I^ageadas as ondas transparentes
Irás notando de diversas Ilhas ;
Deixa Madagáscar, dcizn te fiqne
Cosida á terra, enferma Moçambique.
J. Á. DB MACEDO, o OBI£KIS, CAUt. 6.
A traru^parente massa a entrada tolho
Aos bravos ventos na Eâtaçào gelada-,
Até da Natureza o seio occulto
Á vista indagadora desabrocha.
iDEH, A KATUREZA, cant. '2.
Uum Cidadão das ondas transparentes
Erguendo a fronte aos Nautas se descobre,
E brinca pelo azul campo espelhado ;
K não s'espant« com a terrível vista
Do homem, qu' encerrado em frágil lenho
Ouâa afroutor o mar, o vento, a morte.
iBiDEu, cant. 3.
— .'íw. : Transparente, diaphano.
DiapUano é o corpo atravez do qual
passa a luz. Transparente é o corpo alcra
do qual se vêem os objectos.
TRAN
TRAN
TRAN
793
TRANSPASSAB. Vid. Traspassar.
TRANSPIRAÇÃO, s. f. Esaalação con-
tinua uiaiã ou mer.osi abundante, que tem
legar ú superticie da pelle.
— Transpiração pidmonar; a que se
faz pela membrana mucosa das vias pul-
monares.
— O producto próprio da transpiração.
— Uma transpiração de viau cheiro.
— Termo de botânica. Exhalaçào hú-
mida á superticie dos vegetae?.
— Stx. : Transpiração, suor.
Transpiração é a exhalaçào insensível
dos humores pelos poros do corpo: suor
é esta mesma exhalaçào, mas abundante.
A transpiração, maior ou menor, é
permanente nos animaes 5 o suor é resul-
tado do calor, do exercício, do trabalho
corporal ou de remédios sudoríficos. A
transpiração é invisível; o sííot- cahe em
bagas, ou em gotas visíveis, da fronte,
ou sahe pelos poros da pelle em todo o
corpo.
TRANSPIRADEIRO, s. m. Orificio su-
btil da transpiração. Vid. Poro.
TRANSPIRADO, part. pass. de Trans-
pirar.
— Figuradamente : Segredo transpi-
rado.
TRANSPIRAR, v. a. (Do latim trans,
e spirare . Exhalar pelos poros do corpo
algum fluido, ou liquido.
— Figuradamente : Sair alguma noti-
cia de cousa que se occulta.
TRANSPIRA VEL, adj. 2 gen. Trans-
meavel. susceptível de transpirar.
TRANSPLANTAÇÃO, s. /. A acção de
transplantar, mudar, levar plantas.
— Figuradamente : Acção de mudar
de residência, fallando das pessoas.
TRANSPLANTADO, part. pass. de Trans-
plantar.
TRANSPLANTADOR, A, s. Pessoa que
transplantou.
TRANSPLANTAR, v. a. (Do latim trans,
e ■plantariA. ]\Iudar a planta para outro
logar, com as raízes.
— Transplantar povoações; mudal-as
para outro assento.
— Temo de medicina maravilhosa.
Transplantar doenças; fazel-as passar de
uma pesoa a uma arvore, depondo n'elia
a unha, ou o cabello do doente.
— Transplantar-se, v. rejl. Mudar-se,
passar ue um assento a outro losrar.
TRANSPLANTATORIO, A, adj. Que tem
a virtude de transplantar. Vid. Trans-
plantar.
7 TRANSPLANTA VEL, adj. 2 adj. Que
pôde ser transplantado.
TRANSPOR, V. a. Transferir.
— Mudar a ordem.
— Transpor os términos do mundo ;
ultrapiassar os limites d'elje, passar além
d'elles.
Com que transpondo 03 términos do !^Iundo
Creou no escuro abysmo o Pandemonio,
• VOL. V.— IIX).
Onde o Concelho horrendo o Eei das Sombras
Fez de invadir o Edem : do Caos rompe.
Deixa os globos, 03 Ceos, e engana o Génio,
Qu' o Sol no immobil centro observa, e prende.
J. A. DE MACEDO, A SATUBEZA, Cant. 1.
Dond" hoje solta a rápida quadriga
Não 3"avança amanhàa sem que transponha
Entre os prescriptos términos a meta
Onde deve chegar, se acaso a toca
Volve outra vez seu coche ao pólo opposto.
Desmaia a fantasia ; encolhe as azas
Timida Musa. se transpor destina
Das altas rochas escalvado cume,
Que Si5 naufrágio universal cobrií-a.
IBIDEM, cant. 2.
O fm'or Espanhol tran-ipoz sem medo
Essas da Terra altíssimas ban-ciras,
Com qu" em poiçucá igaaes dhum Polo a outro
Dividio Natureza o Mundo opposto.
IBIDEM.
— Transpôr-se, r. rejí. — Transpôr-se
o sol; pôr-se além da encosta, ou mon-
te, que nol-o encobre; traspôr, trausmon-
tar-se. Vid. Traspôr.
TRANSPORTAÇÃO, s.f. Acção de trans-
portar de um paiz para outro um homem,
uma tribu, um povo.
■ — Extasis, arrebatação, enlevação,
TRANSPORTADO, part. pass. de Trans-
portar. Levado de um logar para ou-
tro.
— Figuradamente : Enlevado, fora de
si, mui embebido em algum pensamento.
— Bosto transportado ; diz-se do que
tem, ou finge enlevações de pensamento
em devotas meditações, talvez de hypo-
critas.
— Enthusiasmado, enraivecido.
Depois que em Quadros taes a vista absorta
Acabei de deter, covos objectos
O transportado espirito me eulevào.
Nos áureos muros esculpidas vejo,
Nimca a meus olhos descobertas Formas.
J. A. DE MACEDO, \-LVGEM EXTÁTICA, Cant. 1.
TRANSPORTAMENTO, s. m. Enleva-
ção, rebatamento, transportação, extasis,
transporte.
TRANSPORTAR, u. a. (Do latim trans-
portar e, de trans, e portare). Levar de
um logar para outro. — « Crava-se-lhe no
cráneo uma lasca de chrystal, e tão pro-
funda que perdeo logo o accôrdo. Lava-
do em sangue o transportão á cama. onde
as dores de mui agudas lhe arrancavão
gritos que me retalhavão a alma. Nem se
atreverão os Chirurgiões dar-me antes da
operação, esperança alguma; e na mes-
ma operação, entre tormentos inauditos,
se lhe despedio a vida ao meu Esposo.»
Francisco Manoel do Nascimento, Suc-
cessos de madame de Seneterre.
— Em termos da Escriptma : A fé
transporta as montanhas ; produz os eftei-
tos mais potentes e mais maravilhosos.
— Condemnar á pena de transporta-
ção.
— Figuradamente : Fazer sair de si,
do siso, do sentido.
• — Transportar-se, v. rejl. Sofrer mu-
dança no corpo, e alma, com alguma
paixão grande, de prazer, dôr, medo,
susto, com alguma contemplação.
— Ficar transido « meio morto, ficar
desmaiado.
— Transportar-se em algum objecto; fi-
car enlevado com a sua vista, esquecer-se
n'el]e, enlevar-se, extasiar-se.
— Syx. : Transportar, transferir.
Transportar suppõe uma acção mate-
rial que acompanha o movimento de um
logar para outro. Transferir suppõe mo-
vimento d'um logar para outro, ou mu-
dança de um tempo para outro.
Muitas cousas se transferem, e não se
transportam. A corte, um tribunal, tudo
o que é pessoal, transfere-se duma ci-
dade para outra, etc. ; transportam-se
os moveis, os archivos, etc. Os navios
transportam, transferem as mercadorias.
Transferem-se as festas, as sessões para
outro dia, ou outrr epocha, e não sé
transportam.
D 'aqui vem que transferir só se diz
com propriedade das pessoas, com rela-
ção a seu peso, seu volume; e transpor-
tar, dos corpos, com relação a seu volu-
me e peso.
TRANSPORTE, s. m. A acção de trans-
portar, e exportar.
— • Extasis, arrebatamento. — «Misera
de mim ! Ha hi sitio no meu coração em
que outro namoro caiba? E de quem?
Pode a minha aíFeição acabar comtigo
constância e lealdade? Não experimento
eu, que um peito enternecido não se es-
quece nunca daquelle que lhe excitou
transportes de que esse peito era capaz,
mas qr.e elle até então não conhecia?
Que quantos abalos sente, prendem to-
dos no ídolo que adora? Que se não cu-
rão, nem se apagão as primeiras feridas
do amor?» Francisco Manoel do Nasci-
mento, Successos de madame de Sene-
terre.
— Figuradamente : A mudança de al-
gum humor morbifico á cabeça ou outra
parte, quasi sempre funesto.
— A mudança e perturbação súbita
produzida na alma de alguma paixão.
— Passagem de uma conta para outra
pagina, ou livro novo.
— Somma, addição que passa de uma
colimina ou de uma pagina para conti-
nuar com outras similhantes que se vão
seguindo.
— Navios de transporte ; navios de
carga.
TRANSPOSIÇÃO, ?. /. Acção de trans-
por, e effeito d'esta acção.
— Mudança da ordem natural.
TRANSPOSTO, part. pass. irreg. de
Transpor.
794
TRAN
TRAP
TRAP
TRANSSUBSTANCIAÇÃO, «. /. Mudan-
ça (ruma substancia em outra.
— ; Termo do tlioolo^íia. Mudança mi-
raculosa da sabatancia do pão o do vinho
na substancia do corpo e do sangue de
Jesu-i Christo na Eucliaristia.
TRANSSUBSTANCIADO, part. pasa. de
Transsubstanciar. — O i>ãi>, e o vinho
transsubstanciados.
TRANSSUBSTANCIAL, adj. ^]gen. Que
SC muda totalmente em outra substancia,
como acontece na transsubstanciaçDio.
TRANSSUBSTANCIAR, v. a. (Do latim
trans, e subsftiintia). Mudar uma sub-
stancia em outra.
— Termo de theologia. Operar a trans-
substanciação.
— Transubstanciar-se, v. rejl. Tor-
nar-se traussubstancial.
— Haver transsubstanciaçào.
TRANSSUDAÇÃO, s. f. Acção de ura
fluido que passa atravez das paredes de
um corpo qualquer, e se amontoa em
gotinhas á sua superfície.
— Transsudação cadavérica; acção de
um liquido que passa atravez dos tecidos
^epois da morto.
TRANSSUDADO, part. j^ass. de Trans-
sudar. (^uo ])assou revendo, recamando.
TRANSSUDAR, i'. n. (Do latim irans,
e sudare). Fazer passar atravez dos po-
ros d'um corpo por uma espécie de suor.
— Reçumar, suar.
TRANSSUMPTO. Vid. Transumpto.
TRANSTAGANO, A, adj. (Do latim
t)-a>is, e l'iijusi. D'além do rio Tejo.
TRANSTORNAR. Vid. Traslornâr.
TRANSTRAVADO, A, adj. Termo de
alvcitaria. CavaHo transtravado ; cavai lo
que tom o pé direito, e ambas as màos
brancas.
TRANSTROCAR. Vid. Trastrocar.
TRANSUMPTO, s. m. (Do latira trau-
sinnptHin, supino de transumere). Copia,
retrato, traslado por escripto, pintura.
— Figuradamente : Um transumpto
jiel da sua vaidade.
TRANSVASAR, v. a. (Do latim trans,
e vas). Vid. Trasvasar.
TRANSVERBERAR, v. a. Transluzir,
traspassar por um meio.
TRANSVERSAL, adj. 2 gen. Mo recto.
— Que pMssa atravez.
— Termo de geometria. Linha trans-
versal ; linha que atravessa de um lado
ao outro, ou corta obliquamente.
— Termo de astronomia. Linha que
se traça no limbo de ura quarto de circu-
lo, entre duas circumferencias concêntri-
cas, G que sei-ve para subdividir os
graus.
— Termo de botânica. As válvulas são
transversaes, quando est.^o perpendicu-
lares ao eixo do pericarpo.
— Termo de anatomia. Diz-se do cer-
tas partes que estão collocadas obliqua-
mente. — Os musculus transversaes do
nariz.
— Dlz-80 de uma concha bivalve, quan-
do a linha comprehondida entre as bor-
das anterior e posterior é menor que a
que desce perpendicularmente dos gan-
chos.
— P(;i;rt transversal da cruz; os bra-
ços.
TRANSVERSALIDADE, «. /. Termo do
foro usual. O ser transversal, collateral.
TRANSVERSALMENTE, adv. (De trans-
versal, e o sufllxo (I mente «). Do um modo
transversal.
— -PuldS lados transversaes.
TRANSVERSARIOS, s. m. piar. Vid.
Soalhas '/'/ òíiliístiUia.
TRANSVERSO, A, adj. (Do latim traiis-
versHK). I »c travcz, atiavessado.
TRANSVERTER, v. a. Transtornar, fa-
zer sair ili' si, lio siso, do sentido.
TRANSVIADO, part. pass. de Trans-
viar-se. Extraviado, desgarrado.
— Que se perdeu do caminho.
TRANSVIAR-SE, v. rejl. Extraviar-se,
desencaniinhar-se. Vid. estes vocábulos.
TRANSVIO, s. m. Erro, extravio, des-
garro.
TRAPA, s. f. Cova de armar ás feras,
ou alçapão.
TRAPAÇA, ou TRAPASSA, s. /. Con-
tracto feito entre o usurciro, e quem ILie
toma dinheiro emprestado, dando-lhe o
usureiro mercadorias por alto preço, para
depois o que as recebe lh'as revender ao
mesmo usureiro por preço mui diminuto,
e faílido, e assim fraudar as leis contra a
onzena.
— Dolo, engano, ardil, eavillação, cau-
tela nas demandas, Jogo, negócios; frau-
de, embuste. — iNani tizemos aqui deten-
ça, assl por não darmos lugar, a nos ar-
marem suas trapaças, o inuenções, como
por ja estarmos a vista dos muros de La-
sa, que daqui estariào três legoas, das
quaes andadas às duas e meya: demos
com o rio Cotam, que tem de largo vinte
duas braças, e quasi três do fundo.» Frei
Gaspar de S. Bernardino, Itinerário da
índia, cap. Kl.
TRAPAÇADOR, s. m. Vid. Trapaceiro.
TRAPAÇAR. Vid. Trapacear.
TRAPACEADO, part. pass. de Trapa-
cear.
TRAPACEAR, r. n. Tratar algum ne-
gocio com más artc^, fraudes, enredos de
trajiaceiro.
TRAPACEIRO, A, adj. e s. Que faz
trapaças,
TRAPACERIA, ou TRAPAÇARIA, s. f.
Má 1'c no pleitear; trapaça.
TRAPALHADA, s.f. Reunião de trapos.
— Termo Hgurado e popular. Confu-
são; cousa embrulhada, enredada,
TRAPALHADO, adj. m. — Leite trapa-
Ihado ; leite coalhado.
TRAPALHÃO, ONA, adj. c s. Termo
popular. Roto, trapeuto.
— Desmazelado.
— Atabalhoado.
TRAPASSADO, A, adj. Termo antiqua-
do. Passado, decurso.
TRAPASSENTO, A, adj. Vid. Trapa-
ceiro.
TRAPE. Voz onomatopaica, que indica
golpe batenfio.
TRAPEAR, V. n. — Trapear a vda ; dar
panea<las com oh embates do vento, e fa-
zer Jogar e balancear o navio com pendo-
res grandes.
TRAPEIRA, *. /. Espécie de aiçaplo
no telhado para dar luz, e ar á casa.
— Trapeira do batel; a parte sobro que
o arraes o vai governando.
— Armadilha de caçar.
TRAPEIRO, *. m. Termo antiquado.
Mercador que vendia ás varas pannos de
linho, burel, almalcga.
— Homem que vende trapos, e farra-
pos vi.llios. Vid. Roupavelheiro.
TRAPENTO, A, a'lj. Termo popular.
Vestido de trapos.
TRAPESIO, ou TRAPÉZIO, i-. m. (Do
grego trapeza). Termo de geometria. Qua-
drilátero c^joa doua lados sào desegiiaes
e parallelos.
— Termo de anatomia. O osso primeiro
dasegunda classe do carpo, contando de
fi')i-a para dentro, isto é, partindo do pol-
Icgar.
— Musculo situado na parte posterior
e superior do tronco.
TRAPEZAPE, s. m. Voz inventada pela
onomatopcia, com que se explica o som
das espadas quando se encontram no com-
bate.
f TRAPEZIANO, A, adj. Que pertence
ao trapézio.
— Termo do mineralogia. Nome dado
a uma variedade que tem sua supcrficie
lateral composta do trapézios situados em
duas classes, entro duas bases.
f TRAPEZIFORME, adj. 2 gen. Que
tem a fornia d'um trapézio.
f TRAPEZITO, s. m. Nome, sob os Pto-
lomcus, no Egypto, do recebedor geral
das tinanças.
f TRAPEZOEDRO, s. m. Termo de mi-
neralogia. Solido cujas faces s3o trapezoi-
daes.
— Solido composto do vinte e quatro
faces quadriláteras svraetricas.
-; TRAPEZOIDAL, " adj. 2 gen. Termo
de mineralogia. Que diz respeito ao tra-
pezoide.
j TRAPEZOIDE, adj. Termo de geome-
tria. (.^Uiadrilatero plano, sendo todos os
lados oblíquos entre si.
— Termo de anatomia. O osso trape-
zoide; o segundo da segunda classe do
carpo, a contar de fira para dentro, isto
é, a partir do pollegar.
— lÀgamento trapezoide ; porção ante-
rior do ligamento coraoo-clavicular.
TRAPICHE, .«. m. Casa de guardar gé-
neros de embarque, ou apparelho para
carregal-os, e descarregal-os dos navios,,
barcos, etc.
TRÁS
TRÁS
TRÁS
795
TRAPICHEIRO, s. m. Dono, rendeiro,
ou administrador de trepichc.
TRAPILHO, s. m. Talvez concm-so de
povo, de feira da ladra, segundo dizem.
TRAPINHO, s. m. Diminutivo de Tra-
po. Pequeno trapo.
TRAPO, s. m. Termo antiquado. Panno;
d'onde se deriva trapeiro, o que vende
panno, e trapear a vela, ou paniio do na-
vio.
— Modernamente : Fragmento de far-
rapo velho, roto.
— Figuradamente : Vestido velho.
— Lingaa de trapos; o que se explica
mal.
— Com um trapo a traz, e outro adiante;
diz-se que veio, ou anda alguém para in-
dicar a sua extrema pobreza.
— Adágios e proveubios :
— A pequeno mal, grande trapo.
— -Fel-o um trapo.
— Lingua de trapos.
TRAPOLA, ou TRAPULA, s. /. Vid.
Trapa.
— Figuradamente : Rede, ou engenho
de prender e caçar.
TRAPUZ, s. m. Termo popular. Es-
tronilo de cousa caída do alto.
TRAQUE, s. m. Foguete de pólvora ern
volta em papel dobrado, e aportado, que
dá estouros.
— Figurada e popularmente : Peido.
TRAQUE -\R. Vid. Traquejar.
TRAQUEJADO, iKirt. pass. de Traque-
jar.
TRAQUEJAR, v. a. Fazer esperto com
o uso e coaversaç.ão, fazer conhecer
aquillo com que se trata.
- — V. n. Termo popular. Dar traques,
dar peidos.
— Traquejar sem pejo; peidorrear.
TRAQUETE, s. m. A vela pequena,
atada á peça mais alta do mastro gi-ande.
— Termo de náutica. A maior vela
do mastro de proa, e um dos papa-figos
a que se enverga ua verga do traqueia.
— Quando o traquete, ou qualquer vela
latina está meia ferrada por causa do
muito vento, denomina-se antegalha.
TRAQUETINHO, «. m. Diminutivo de
Traquete.
TRAQUINADA, s. /. Baralho na bri-
ga, peh^ja, matinada.
— Travessura de traquinas.
— Traquinada de campainhas ; soando.
— Traquinada de chocalhos.
TRAQUINAR, v. n. Termo popular.
Fazer bulha, estrondo.
— Fazer travessuras de traquinas.
TRAQUINAS, adj. 2 gm. Buliçoso, in-
quieto, travesso. — Mvnino traquinas.
— Substantivamente: Um traquinas.
TRAQUITANA, s. /. Carruagem de qua-
tro rodas, de um só assento, com cortinas
por diante.
TRÁS. Vid. Atraz, e Traz.
— Trás diíFero de trans, pois que trans
significa além, assim trasjJÔr e transpor;
iv&spôr indica pôr atraz, deixar atraz;
e transpor indica pôr além. Vid. Trans.
Em algumas palavras compostas quasi
não ha differença entre trás e trans, por
isso que tras usa-se como abreviatura de
trans; assim póde-se dizer trasbordar,
e transbordar, etc.
TRASANDAR, v. a. Fazer andar, tor-
nar atraz com dôr, sensaçSo ingrata.
— Loc. POP. : Fede que trasanda ;
fede muito.
— O povo pronuncia tresandar.
TRASANTEHONTEM, ou TRESANTE-
HONTEM, adv. No dia anterior ao de
hontem, ou que fica atraz d'elle.
TRASBORDADO, imrt. pass. de Tras-
bordar. Lançado para fora das bordas
do rio, ou vaso cheio.
TRASBORDAMENTO, s. m. Acto de
trasbordar.
TRASBORDANTE, part. act. de Tras-
bordar. Innndante, redundante.
TRASBORDAR, ou TRANSBORDAR, ou
TRESBORDAR, i'. a. Cobrir, sair para
fora das bordas.
— Inundar, redundar, sair do leito,
da madre, alagar as margens.
— -Emprega-se também figuradamente:
Trasbordar de prazer.
• ^ — ^Fw-w. Sair o licor por fora das bor-
das do vaso em que não cabe.
— Exceder os limites.
— Manifestar-se no exterior.
— Sobejar, não se estreitar, manifes-
tar-se.
TRASCALAR. Vid. Trescalar, termo
mais em uso.
TRASCAMARA, s. f. Termo antiquado,
oppiísto a antecâmara.
TRASGOLAÇÃO, *■. /. Vid, Transcola-
ção.
TRASEIRO. Vid. Trazeiro.
TilASFEGADO, part. pass. de Trasfe-
gar.
— Figuradamente: Alma trasfegada.
TRASFEGA, s. f. Vid. Trasfego.
TRASFEGADURÃ, s. /. Acto de tras-
fegar.
"^TRASFEGAR, v. a. Transfundir, pas-
sar.
— Figuradamente : Trasfegar as vi-
das.
— Trasfegar o vinho, ou azeite d' uns
vasos para outros; diz-se para os limpar
talvez das borras, e fezes.
TRASFEGO, s. m. Vid. Trafego.
— O acto pelo qual se passa um li-
quido de um vaso para outro; particu-
larmente o de mudar o vinho do tonel
ou vasilha em que fermentou, e se de-
purou, para outro.
TRASFEGUEIRO. Vid. Trasfogueiro.
TRASFEQUEIRO, s. m. Barco pequeno
que naveca no rio Douro.
TRASFLOR, s. m. Termo de ourivesa-
ria. Lavor de ouro em campo de es-
malte.
TRASFOGUEIRO, s. m. O pau de le-
nha, que está por detraz dos outros, que
a elle se encostam para accender o fogo
correndo por baixo o ar livre.
— Adagio e provérbio :
— Kão ha dona sem escudeiro, nem'
fogo som trasfogueiro.
TRASFOLEAR, v. a. Termo do pintu-
ra. Copiar a pintura cm papel azeitado,
que se applica sobre elle, e tirando so-
mente os perfis.
TRASGO, s. «i. (Do grego tragos).
Diabo caseiro, maligno, duende.
TRASGUEAR, v. a. Fazer travessuras
de trasgo.
TRASLAÇÃO, s. /. Vid. Translação,
termo mais em uso.
TRASLADAÇÃO, s. f. Acto de trasla-
dar.
— Mixdança.
— Acção de trasladar.
— Traducção. — «Que dizeis, Mem?»
— perguntou elrei. «Que a trasladação
está demasiadamente servil ou ad litte-
ram ; — ■ respondeu o chanceller, deitan-
do de revés os olhos para o pobre escri-
ba, que balbuciava, fazendo-se de mil
cores. — Pois de que nixtro modo havia
de ser, homem? — acerescentou, viran-
do-se para traz.» Alexandre Herculano,
Monge de Cister, cap. 24.
— O acto de transferir as palavras
dando-lhe^- sentido metaphorieo.
TRASLADADO, imrt. pass. de Trasla-
dar. Levado de um logar para outro.
— Copiado, imitado, similhante.
TRASLADADOR, A, s. Pessoa que tras-
ladou.
• — Copista, traductor.
TRASLADAR, v. a. Levar de um lo-
gar para outro. — «A pedra pois na for-
ma que estava, trasladei diante de al-
guns Religiosos, e Seculares, que hia3
em minha companhia, e me ajudarão a
descubrila da terra, e dizia desta manei-
ra.» Monarchia Lusitana, liv. 6, cap. 17.
— Traduzir, copiar, retratar.
— Trasladar a palavra de uma signi-
ficação em outra; usar d'ella com tropo.
Vid. Translato.
— Syx. : Trasladar, copiar. Vid. este
ultimo vocábulo.
TRASLADO, s. m. Copia da escriptu-
ra, do retrato, ou da pintura original. —
« Soltaõ Badur despedio logo o Embaixa-
dor Xacoez com o traslado dos Capítu-
los, e lhe escreveo elle, e o Capitão mor,
pedindo-lhe que logo se fosse pêra Dio.
Chegado Xacoez a Baçaim, já achou o
Governador, e dando-lhe as cartas, e Ca-
pítulos, os festejou muito. » Diogo de
Couto, Década 4, liv. 9, cap. 8.
— Modelo, exemplar, amostra.
— O exemplar, que nas escolas de es-
crever se dá a quem aprende,
— Directório, regimento.
— Vid. Treslado.
TRASLAR, s. m. Logar nos fomos jun-
to do borralheiro.
796
TRÁS
TRÁS
TRAT
TRASLUZIR. Vid. Transluzir.
TRASMVLHAR. Vi'l. Tresmalhar.
TRASMONTADO, i>art. j,ass. de Tras-
monlar. Alto, elevado.
TRASMONTANO, A, 'f/j.
Vi
Transmontano, «•• Tramonlauo.
TRASMONTAR, ou TRANSMONTAR, ou
TRESMONTAR, i;. «.'Fas-sar por ciina do
luontu.
— Figuradamente : Exceder por alto.
— V. n. Desapparecer, eócondendo-sc
por detraz do uiontc, traspondo-se.
— Figuradamente: Diz-se da pessoa
que figurou, brilliou, e cahe em deslua-
tro, que vai descaindo.
— Fugir.
— Trasmontar-se, v. rejl. Pôr-se, tras-
pôr-so. — Trasmontar-se o sol.
TRASMUDAÇÃO, í. /. Vid. Transmu-
dação.
TRASMUDAR, c. a. Vid. Transmudar.
— aE Icixando-Oâ a alguma Igreja, ou
Moesteiro, ou Cavalleiro, ou Dona d'Or-
dem, ou Clérigo d'Ordeens Sagras, ou
Beneficiado, ou lhos desse, ou trasmu-
dasse per qualquer outro titolo que seja,
ou possa scor nomeado, em tal caso ]\Iau-
damos que per esse mecsuio feito sejaõ lo-
go todos esses bens confisca.dos, e apri-
cados aa Coroa dos Nossos Regnos, pcra
dclles podermos fazer o que Nossa mer-
ece for, assy como de Nossa cousa pró-
pria.» Ord. Affons., liv. 4, tit. 48, § o.
— Trasraudar alguma cousa; traspas-
sal-a por qualquer titulo oneroso, ou gra-
cioso.
TRASNOITADO, A, adj. Que perdeu o
somno tia noute, ou noutes atraz.
— Agua trasnoitada ; agua do dia an-
tecedente.
TRASNOITAR, ou TRASNOUTAR, v. a.
Passar a noute sem dormir.
TRASOLA, y. /. Termo da provinda
da Beira. Vid. Cavalla.
TRASORDINARIO, A, adj. Vid. Trans-
ordiuario.
TRASPASSA. Vid. Trapaça.
TRA3PAS3AÇÃ0, ou TRESPASSAÇÃO,
s. f. A acij'àii de traspassar.
— A acção de alhear o direito, o do-
minio, o cargo ou officio a outrem aquel-
le que o alcançara para si, e talvez ven-
dendo-so a quem é feita a traspassaçíío.
Vid. Traspassa.
— Excesso culpável, criminoso.
TRASPASSADO, part. pass. de Tras-
passar. Vid. Trespassado.
TRASPASSAMENTO, s. »i. O estado de
estar como morto. Vid. Trespassamento.
TRASPASSAR, ou TRESPASSAR, v. a.
Mudar para outra parte.
— Penetrar por poros, rompendo.
— Passar, ceder a outrem.
— Traspassar fazenda ; fazer tras-
passo.
— Passar úlom, ou deixiir atras.
— Traspassar o cargo, o ojjicio a ou-
trem; ceder-lh'o por dinheiro.
— Figuradamente : Traspassar o co-
ração.
— • Traspassar-se, l-, vnjl. Penetrar-se.
— Figui-udamcntc: Ficar como morto.
TRASPASSO, i. m. (Do latim traim, e
Ijassus;. Trasiaçào.
— A acçào de dar, passar a outrem.
Vid. Trespasso.
TRASPÉS, *, m. plur. — Dar traspós;
andar vacillando, c fazendo esforços por
se suster em pé como faz o bêbado, o
que vae ferido de morte.
TRASPILAR, s. vi. Pilar, o que fica
por detraz, e serve de encosto.
TRASPLANTAR. Vid. Transplantar.
TRASPÔR, L-. a. Deixar atraz do si
cousa que encubra.
— Levar, ou fazer passar de um logar
para outro, transplantar.
— Pôr, deixar atraz.
— Traspôr os montes ; passar além
d'elles.
— V. n. Desapparecer, pondo-so por
detraz. — Traspôr o sul.
— Figuradamente : Trasporem os amo-
res.
— Traspôr-se, v. rejl. — Traspôr-se a
occasião; passar, perder-se.
— Traspôr-se o sol; pôr-so.
— Substantivamente : O traspôr do
sol; a hora de ir-so pondo.
TRASPORTALECER, v. n. Termo anti-
quado. Traspôr, desapparocer, em oppo-
siçào a jxirfalecer. Vid. Portalecer.
IRASPORTAR, v. a. Vi I. Transportar.
TRASPOSIÇÃO, s. /. Vid. Transposi-
ção.
TRASPOSTA, s. /. Empesta, cousa que
fica atraz dalguem, e lhe tolhe a vista
de outro objecto mais atraz.
TRASPOSTO, A, iiart. pass. de Tras-
pôr.
— Adagio e puovekbio :
— Planta nmitas vezes trasposta nem
cresce nem medra.
TRASPRANTAR. Vid. Trasplantar.
1.) TRASTE, ou TRASTO, s. m. Corda
de viola, ou arame no braço da viola ou
cithara, que o atravessa a espaços, e so-
bre a qual o tocado)' comprime a cord;i
do instrumento, para tirar sons mais ou
menos fortes em raz.^o da largura ou cur-
teza da corda que fere.
— Uma cor>la para viola ou rebeca.
2.) TRASTE, s. m. Peça do uso e
serviço. = E mais usado no pliual.
— Loc. POP. : É forte traste! diz-se
das pessoas que tem má conducta.
TRASTEJAR, v. n. Termo populju-.
Buscar modo de vida negociando em cou-
sas baixas.
TRASTEMPAR, c. a. Termo antiqua
do. i're>irever.
TRASTEMPO, s. m. Termo antiquado.
Presciipçào.
TRASTO, .s. m. Vid. Traste
TRASTORNAÇÃO, í. /.. ou TRANSTOR-
NO, ». m. Acto de trastornar.
— Perturbação, desordem, confUsSo,
mudança da ordem.
— CoiÉtrati;m)fO.
TRASTORNADO, pari. pa>.». de Tras-
tornar. Mudado de parecer e du re-iolu-
çào.
— Derribado para traz.
— Corrupto.
— P<rtuibado, turvado.
TRASTORNAR, v. a. Perturbar a or-
dem, revolver de baixo para cima.
— Figuradamente : Fazer mudar de
vida, e oostumes, do Hentimeato, e de
opinião. -
— Derribar jiara traz.
Vendo que so saluaua o. r|ue coD»igo
A virln, o corarTio, o alma Ibc loua
Iiitfnta trivlnrnnr o b;itcl, pondo
Forijas, c diligencias sem proueito.
COBTB BEÀL,lfADrKAOIO DB BBPUI.TEDÁ , eSDt . 7
— Corromper.
— Perturbar, turbar.
— Trastornar-se, r. rtjl. Perturbar-
se, desviai' -se do recto caminho.
— Figuradamente: Aiterar-se a boa
ordem e harmonia. Vid. Transtornar.
TRASTORNO, s. m. Vid. Trastorna-
ção.
TRASTRAVADO. A. adj. Vid. Trans-
travado.
TRASTROCADO, part. pass. de Tras-
trocar.
— Figuradamente : Convertido a mal,
desordenado.
TRASTROCAR, v. a. Mudar a ordem.
— Figuradamente : Perturbar, alte-
rar, confundir.
TRASUMTO. Vid. Transumpto.
TRASVALIAR. Vid. Tresvariar.
TRASVASAR, i'. a. Pas-sar, deitar, fa-
zer correr um liquido de um v.iso ou
vasilha para outro. Vid. Transvasar.
TRATADA, *. /. Trapaça, velhacaria.
1. TRATADO, s. «I. Opúsculo sobre
alguui assumpto ou matéria. — iDe suas
virtudea fala o Doutor (í areia Dorta Por-
tuguês, no seu tratado das Medicinas
Orientaes. Amato Lusiumo. Andr» Ma-
thiolo. Christouào da Costa, e outros que
por não ser molesto devxo, concluvndo sò
com dizer que este nome Pazar ho o seu
próprio, e o de Bazar impróprio, e corru-
pto.» Frei Gaspar de S. Bernardino,
Itinerário da índia, cap. 15.
— Collecçào de artigos ou convenções
entre nações, sobre paz, commercio, li-
ga, etc.
— Sys. : Tratado, convenção. Vid. es-
te ultimo termo.
2.Í TRATADO, part. pass. de TratAr.
— Escí-ipto, discorrido litterariamente.
— «E desta mauevra nos partimos des-
ta cidade de Pougor, metropoly desta
ilha Lequia, da qual aqu! brevemente
quiz dar alguma informação, como cus-
TRAT
TRAT
TRAT
797
tumey de fazer nas outras terras de que
atraz tenlio tratado, para que se em al-
gum tempo Deos nosso Senhor for servi-
do de inspirar na nação Portuguesa, que
primevra e principalmente pela exalta-
ção e acrecentameuto da sua santa fé
Catholica.» Fernão Mendes Pinto, Pere-
grinações, cap. 143.
— Examinado, discutido, ensinado.
— Tratado das mãos; aquillo em que
se pegou, que se apalpou, e trouxe n'el-
las.
— Curado por medico, enfermeiro.
— Diz-se também do bom ou mau
porte para com alguém.
Vai Dona Leonor tão mal tratada :
Tào fraca, que uào pode já moucrse,
Que a fortuna cruel delia enucjosa
Os inales, e os trabalhos lhe acrecenta.
COBTE BEAL, NAUFBAGIO DE SEPÚLVEDA, Cant. 11.
— f No tempo, que este Príncipe assis-
tio em Lisboa, foi tratado com inexpli-
cável grandeza, até que resolutos a exe-
cutarem o seu projecto, marcbíraò am-
bos os Príncipes para a Beira, onde de-
terminando passar o rio Águeda, que
corre junto a Ciudad Rodrigo, o naõ po-
derão fazer, porque Ities estava defen-
dendo o passo o Duque de Berwick Ge-
neral das tropas Castelhanas com maior
poder do que sempre se imaginou.» Frei
Bernardo de Brito, Elogios dos reis de
PortugSLl, continuados por D. José Bar-
bosa. — aE n'esta ilha vive esta gente,
que he gente bem desposta, mais sobre
ho branco que sobre no baço, he gente
limpa e bem tratada, curam ho cabello
como molheres, e arrematam no numa
ilharga da cabeça, atravessado com hum
prego de prata, ha sua terra he fértil,
fresca e de muitas e boas agoas, e gente
que de maravilha navega com estarem
no meo do mar, usam darmas, trazem
muito bons treçados, foram nos tempos
passados sogeitos aos chinas, com quem
tiveram muita commumcaça.m, pollo que
sam muito achinados.» Tenreiro, Itine-
rário, cap. 2. — «Emfim em tudo sào
tratados como escravos, nào tendo a li-
berdade mais que no nome, pondo-lhe nas
aldêas por capitães alguns mamelucos,
ou homens de similhante condição, que
são 03 executores doestas injustiças.» Pa-
dre António Vieira, Cartas, n.° 9.
TRATADOR, A, s. Vid. Tratante, e
Contractador.
TRATAMENTO, s. vi. Trato que se
faz, e (;á a alguém. — «A mulher m.^v
de ElRey (que como dissemos, escanda-
lizada da prizaõ do marido se tinha pas-
sado pêra o lugar do Reigaõ) como era
mulher prudente, e varonil, sendo avi-
sada do máo tratamento que se fazia ao
marido, tratou de o tirar dalli por in-
dustria, jà que nào podia ser por força.»
Diogo de Couto, Década 6, liv. 10, cap.
12. — c Antes que se partissem estes Lou-
thias, mandaram aos Louthias da terra,
e aos tronqueiros que todos favorece>sem
os Portugueses e lhe rizessem muito bom
tratamento, e lhe mandassem dar todo
ho necessário pêra suas pessoas.» Frei
Gaspar da Cruz, Tratado das cousas da
China, cap. 2õ.
— A conversação.
— Trato.
— Toma-se também por salário, orde-
nado; mas n'este caso cousidera-se como
gallicismo escusado.
— Titulo de graduação. — «Antiga-
mente o dava aos mesmos Imperadores,
e ainda hoje se vê na Bibliotheca dos
Religiosos de S. Genoveva de Pariz, o
original de huma Carta de Ibrahim Pa-
chá Gram Visir, escrita ao Imperador
Carlos V na qual o dito ilinistro lhe não
dá mais tratamento que o de Kiral.» Ca-
valleiro d'01iveira. Cartas, liv. 1, n.° 55.
— a O Sultão ou Gram Senhor, dá o tra-
tamento de Kiral, que quer diser hum
Príncipe de menos autlioridade a todos
os outros Monarcas.» Ibidem.
TRATANTE, part. act. de Tratar.
— S. 2 geií. Pessoa que trata, que ne-
goceia.
— Figuradamente : Pessoa que faz ne-
gócios com ardil, malícia, astúcias más,
e dolos : u'este sentido toma-se á má
parte.
— Stn. : Tratante, commerciante. Vid.
este ultimo termo.
TRATAR, ou TRACTAR, v. a. (Do la-
tim tractare). Haver-se, portar-se com
alguém bem, ou mal.
Com palavras de deshom-a
Nào se ha de tratar quem ama ;
Nem zombaria se chama,
Por exprimentar a hom-a,
Pôr em tal perigo a fama.
Bem tive eu para mim,
Que era aquillo experiência.
CAII., AMPHTTRIÕES, act. 4, SC. 1.
— « Ouuiudo o Príncipe estas pala-
uras, ou fosse que na cabeça do irmào
que elle vio cortar, tomasse experiência,
em como nos auia de tratar, ou sua na-
tural inclinação a tanta cortezia o inci-
tasse: nos lançou os braços ao pescoço
abraçãdonos com muyta alegria e amor.»
Frei Gaspar de S. Bernardino, Itinerá-
rio da índia, cap. 6.
— Cuidar, fazer diligencia acerca de
alguma cousa. — «He de ferro para si ;
bem vemos como se trata. E também o
he para nossos inimigos com valor mais
invencível, que o aço; e para sustentar
o Ímpeto adversário, necessita, que o
ajudemos com nossas forças: e será mui-
to estólido, quem neste tempo tratar de
lhe diminuir as suas.» Arte de furtar,
cap. 45. — «Dentro nos quais passou por
lugares mujto nobres do Rey do Chaleu,
e Jacuçalão que estavão á borda da agoa,
sem tratar de nenhum delles, chegou a
esta cidade do Avaa aos treze dias de
Outubro deste mesmo anno de 1545.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações,-
cap. 157.
Porém a gente deUa, que então vinha
Dhum temor entranhavel combatida,
Nem outra salvação cuidou que tinha
Senão só nhuma \-il, torpe fugida ;
Sem tratar do que a sua honra convinha
Com deshonra antes quer salvar a vida,
Lança-se com gràa pressa toda ao Rio
Deixa seu Capitão só no navio.
FR.v2fcisco d'andeadb, pbimeibo cekco dk dic,
caut. 11, est. 10.
— «E quando veio a segunda vista,
que começou tratar nas cousas a que era
enviado, porque a carta que elle Embai-
xador trazia pêra elle AíFonso d'Albo-
querque era somente de crença, passadas
oífertas geraes, que deo da parte do Xe-
que Ismael.» Barros, Década 2, liv. 10,
cap. 4. — «Sem embargo das sobreditas
leys nam deixam alguns Chinas de nave-
gar pei"a fora da China a tratar, mas es-
tes nam tornaram mais aa China. Destes
vivem alguns em Malaca, outros em Sião,
outros em Patane, e assi por diversas
partes do Sul estam espalhados alguns
destes que saem sem licença.» Frei Gas-
par da Cruz, Tratado das cousas da Chi-
na, cap. 23.
— Escrever, discursar, occupar-se. —
«loão de Barros outro Tito Liuio, mas
Português na sua terceira Década, tra-
tando desta Ilha diz, que seu nome pri-
meiro foy Geru: e que Ormus era huma
Cidade, que estaua na terra firme da
Pérsia, onde agora dizemos o Magustão;
e a verdade elle a diz, por que inda ago-
ra muytos chamào ao Magustão Ormus
velho, nó qual porque os moradores del-
le erão dos Persianos muytas vezes mo-
lestados, e oprimidos.» Frei Gaspar de
S. Bernardino, Itinerário da índia, cap.
11. — «Me mandou em huma lanchara
de remo ao reyno de Pão, com dez mil
cruzados de sua fazenda para os entre-
gar a hum seu feitor que lá residia, por
nome Tomé Lobo, e dahy mé passar a
Patane, que era outras cem legoas avan-
te, cõ huma carta e hum presente para o
Rey, e tratar cõ elle a liberdade de huns
cinco Portugueses que no reyno de Sião
estavão cativos do Monteo de Banchá
seu cunhado.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, c^. 33.
Vi;
mas o que quereis tratar
vem de tào longe, que é ar,
tomal-o á mào assi.
ANTÓNIO l-KESTES, AUTOS, pag. 423.
— Vêr, examinar, frequentar alguma
terra, familia, pessoa.
798
TRAT
TRAT
TKAT
— Dar títulos do praduaç.lo.
— Tocar.
— Tratar traição. — «E acabado de o
assi dcfçolar so tornou porá ii cana, don-
de o Duque savra, por o mesmo corre-
dor, sem ninf^ueni saber quem era, e o
pregão dizia assi: lu.stlça quo manda fa-
zer ol liey nosso senhor, manda degolar
dom FeinanJo, Duquo que toy do lira-
gança, por cometer e tratar tray^'Jlo, e
pordiyão do seus Reyuos, o sua pessoa
Real.» Garcia de Rezende, Chronica de
D. João II, cap. 4G.
— Pegar com aa milos, mancar.
— Tratar com ycz ; tol-o, trazel-o nas
mãos.
— Tratar amores com alçjuein ; tel-os.
— Praticar, usar.
— Tratar </«; duenfes; dirigir-llie o cu-
rativo.
— Negociar em alguma mercadoria.
— Tratar-se, v. rejl. Cuidar de si.
— Portai--se bera ou mal com alguém.
K com tanto fervor, com ódio tanto
Em f(ualquer p.irt(! ontào viào tratar-se.
Que põo em quom oa ollia grande pspauto
E o Portugucz vé snmprc avautujar-30.
Poróin não quer ja maia este meu ounto
Neatcs pueris feitos occupar-se,
Torna a Ooja(;ofar, imi>io, nefando,
Que grandes cousas vai apparclliando.
r. i)'andiia.dk, ruiuEino okkco db dhi, cant. 10,
ost. 27.
— Tratar-se òem ; ter um bom passa-
dio, gastar, tlispeiííler.
— Tratar-se mal; tratar-se parca-
mente.
— Tratar de resto, tratar de bagatel-
la ; ter em pouca importância, ter em
nenhuma conta.
— Tratar-se bem em seu cojner e be-
ber. — (i.\ gente deste regno he baya, e
delia preta, e bem disposta, trataõ-se
bem em seu comer, e vestir : acostumào
muito anilar dam ires, e sobrisso se fa-
zem muitos desafios: os que se desafirio
pedem campo a el Rei, o se sam homens
do preço o vai ver, o que fazem a pc
em estacada.» Damião de (Joes, Chroni-
ca de D. Manoel, cap. 6.
f TRATARAM, ou TRATARÃO. Fcírma
do verbo tratdr na terceira pessoa do plu-
ral do pretérito perfeito do modo indica-
tivo. Vid. Tratar.
Com soltal-as as prendemos,
coni pvendel-as as soltaos :
finalmente, so com a miiilia
tratara o contrario indo,
fora cobrir-me do tinha.
ASiTONlO PUESTES, AUTOS, pSg. 247.
— «Os quais do tempo de Afonso Dal-
buquerque para cá passarão hum pouco
mais adiante, e tratarão ja ilos Selebres,
Papuaas, Mindanaos, Ohampaas, China,
e Japaõ, mas uào ainda dos Lequios,
nem dos mais arcipelagos que na gran-
deza deste mar estão ainda por descu-
brir. » Fernão Mondes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 14.3. — «Neste anuo de AI.
D. iiij. mandou el Roi a Índia por capi-
tam do huma grossa armada Lopo Soa-
rez daluarenga, filho de Rui <iomes Dai-
varonga chançalor uiór que fora dei Rei
dom Afonso o quinto, da qual ai'mada se
tratara no anuo seguinte de M. D. v. em
que tornou ao regno.» Daniião do Gocs,
Chronica de D. Manoel, part. 1, cap. 76.
— «Neste anno de M. D. xii. passou dom
Pedro do nienesos conde Dalcoutim, filho
de dom Fernando de meneses Marques
de Villa Real, a Septa, onde esteue por
capitam, e gouernador da cidade cinco
ânuos, de quem, c do que neste tempo
fez, .so tratara ao diante.» Ibidem, part.
'à, cap. 40. — «Destes houve antigamen-
te, e ainda ha alguns taò fidalgos, que
estimando mais a honra, que thesouros,
tratarão só do dar o seu a seu dono; e
assim tornaras para suas casas ricos só
de bom nome, que ho melhor, que mui-
tas riquezas, como diz o Sábio.» Arte de
furtar, cap. 9.
f TRATAREI. Forma do verbo tratar
na primeira pessoa do futuro imperfeito
do modo indicativo. Vid. Tratar. — «O
qual he tãto que he muyto para arrecear
cõtaio, e por disso não tratarey por ago-
ra dcUes, porque tenho por da vate co-
tar o que vimos nós da cidado do Pe-
quim, os quais ci5fesso que estou ja ago-
ra arreceado aver de vir cijtar ainda esse
pouco que dellcs vimos.» Feruão Mendes
Pinto, Peregrinações, cap. 88. — «Mas
deixando agora estas brutalidades gentí-
licas que trazem por pratica, de huma só
cousa tratarey aquy particularmente nes-
ta matéria, que ho das iguarias que di-
zem que se iiaõ de dar no banquete em
que se conviíla a Deos, de que a alguns
delles vy usar muyto A letra, inda que
por falta de fé suas obras lhe haõ de
aprovcytar pouco. f Ibidem, cap. 105.
f TRATAREM. Fórnui do verbo tra-
tar na terceira pessoa do plural do modo
infinito pessoal. Vid. Tratar. — «O que
sabendo o Çabaim, que ja estaua na terra
firme do caminho pêra soeeorrer a cidade
de Rachol, sobre quem tinha por certo
que vinlia ol Rei de Narsinga em pessoa
mandou Mostafaçani, homem principal de
sua corte, e com ello dous turcos homens
nobres a Afonso Dalbuquerque, pêra tra-
tarem destas pazes, ficando em terra por
arrefens Francisco coruinel, e Diogo fer-
nandez de faria Adail.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 3, cap. 7.
1 TRATASSE. hWrwa. do verbo tratar
na primeiva ou terceira pessoa do singu-
lar do pretérito mais que perfeito do modo
conjunetivo. Vid. Tratar. — «EUe se des-
culpou com dizer que j:\ não era gente,
que o deixassem cora sua fortuna, que
queria morrer por aquelles matos, o que
BO não tratasse mais dellc, que fizessem
conta que era acabado.» Diogo do Cunto,
Década U, Hv. 8, cap. 111.
j TRATAVAM. Forma do verbo tratar
na terceira pessoa do plural do pretérito
imperfeito do modo indicativo. Vid. Tra-
tar.
iJo Plioriniio, philoioplio eleçaiitt',
Vereis oino Annibal c^carin-cia.
Quando das artes beilicas di^intc
Dellc com larga voz tratara, c lia.
A disciplina militar prestante
Não SC aprende, Sentior, na phantasia,
Sonhando, imaginando, ou estudando;
Senão vendo, tratando, e pclcj^uido.
càm., Li'8., cant. 10, est. 153.
— «Feito isto dcspedio-sc Bernaldim
de Sousa de ElRey, e se tornou pêra
Ternate, muito amigo com o Rey de Ti-
duro, e D. Rodrigo de Menezes ee paaãou
pêra Talangame, por ser avisado que tra-
tava o Capitão de o jirender.» Diogo de
Couto, Década 6, liv. 9, cap. 20. — «Nós
lho agradecemos entaõ muyto o seu bom
zelo, e a caridade c3 que nos tratarão,
0 lhe aceitamos a esmola do arroz, de
que cada hum de nós comeo siis dous boca-
dos, porque era tão pouco que nâo abran-
geo a mais, e sem nos mais determos nos
dospidimos delles, e pelo caminho que el-
Ics nos insinaraõ começamos a caminhar
para o lugar onde estava a albergaria, c3
aíjuella pressa quo as nossas fracas forças
nos consontiaõ.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 80. — «El Rei man-
ilou logo chamar a D. JoSo por huma
Carta tão honrada, como se lhe não qui-
zera fazer outra mercê : com a qual D.
João 60 veio á Corte, onde foi tão enve-
jado pelas feridas, como pelos favores.
El Rei lhe fez mercê da Commenda de
Salvaterra, acordando aos homens de
novo seu merecimento e estimaçlo com
que os tratava. » Jacintho Freire d'An-
drade, Vida de D. João de Castro, liv. 1.
— «Deste feito auisou logo dom Francbco
01 Rei dom Emanuel, screuendolhe que
sua Alteza lhe mandasse o que haoia de
fazer daquelles mercadores ChristSos, que
tomara, porque os moradores lhos pediam
para os venderem em leilam, e leuarem
a parte que lhes coubesse, como fezeram
dos mouros que alli CAptiuarão, que por
taes se podiam estimar, pois viuiam em
suas terras, e tratauam com elles em
mercailoriiks defesas, como se sabia por
certo.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 4, cap. 15. — «Neste anno
do quatrocentos e nouenta, Barraxe Mou-
ro principal, e grande Senhor (que atras
se disse'! trataua de tomar a cidade de
Ceyta per manha, e anlil de hum Lopo
Sanches, caualleiro que nella estana, e
fingio de lha dar.» (íarcia de Rezende,
Chronica de D. João 11, cap. 111. — «Ti-
nha em todas as Cortes da sua m«5 hum
Conselheiro, qne lhe correspondia com os
TRAT
TRAT
TRAV
799
avisos de tudo, o que se tratava ; e a cada
hum dava por isso cincoenta mil cruza-
dos, que era muito boa propina.» Arte de
furtar, cap. 18.
TRATAVEL, adj. 2 gen. — Homem tra-
tavel ; Uomem com quem se pôde conver-
sar, tratar e negociar.
— Brando, maneavel. — Génio trata-
vel.
TRATAVELMENTE, adv. (De. tratavel,
e o sufEso iimente»). De um modo tra-
tavel.
-}- TRATE. Forma do verbo tratar na
primeira ou terceira pessoa do singular
do presente do modo conjuuctivo. Vid.
Tratar. — «Porém antes que trate de
outra cousa, me pareceu necessário dar
relação do fim que teve esta guerra
dos Achens, e em que i)arou. o apparato
da sua Armada, para que fique entendida
a razaõ do prognostico, e do receyo, em
que tantas vezes com gemidos, e suspiros
tenho apontado por parte da nossa Ma-
laca, taõ importante ao Estado da índia,
quanto (ao que parece) esquecida daquel-
les de quem com razaõ devera ser mais
lembrada. > Fernão Mendes Finto, Pere-
grinações, cap. 26. — «O dinheiro he o
nervo da guerra, e onde este falta, arris-
ca-se a vitoria, e o prol do bem commum,
de que he bem se trate primeiro que do
particular; que totalmente sâ perde, quan-
do se não assegura o commum.» Arte de
furtar, cap. 4Õ.
TRATEAR, v. a. Dar tratos.
TRATISTA, s. m. Termo pouco em uso.
Homem que trata sobre alguma matéria.
Vid. Arbitrista.
TRATO, ou TRACTO, s. m. Acto de tra-
tar, de pegar, trazer entre mãos.
— Tratamento. — «E nenhum dos
que tem qualquer trato destes se pode
mudar para outro sem licença da camará,
e por causas justas e licitas, so pena de
trinta açoutes.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 97. — «Os Papas tem
seus Xepotes, e os Príncipes devem ter
seus confidentes para cada matéria ; como
hum para a paz, outro para a guerra,
hum para a fazenda, outro para o trato
de sua pessoa, etc. E naõ seja hum só
para tudo, porque naõ pôde assistir a tan-
tas couzas, nem comprehendelas : e sendo
vários, estimulaõ-se com a emulação a fa-
zer cada qual sua obrigação por excel-
lencia.B Arte de furtar, cap. 30.
— Conversação.
— Amizade. — «Estas circunstancias
se achão também entre amigos ; e não he
cousa admirável que as mesmas inclina-
çoens que causão a amizade no commer-
cio dos homens, sejão muitas vezes a
cauza do aborrecimento no trato dos
amantes?» Cavalleiro d'01iveira, Cartas,
liv. 1, n.» 13.
— Nào ser uma terra de muito trato.
— ^^«Aqui esta hum Governador com pouca
gente pelo graõ Tiirco, porque esta terra
naõ he de muyto trato : nem de muvtas
lavovras. Ha aqui algumas palmeyras de
tâmaras, e o principal trato que aqui tem
he dos peregrinos Christãos quando pas-
saõ por aqui em romaria.» Tenreiro, Iti-
nerário, cap. 35.
— Tomar trato.
E quereis que voa presto
no que nào é de aea geito?
estaes n'Í3so máo galante ;
tomaes trato
qne vos é caro o barato ;
sabei qu'este de diante
no melhor nos tira o prato.
ANTÓNIO PRESTES, ACTOS, pag. 16.
— Assentar os tratos da paz. — «Xo
mesmo tempo mandou o Çabaiiu dalcào
dous embaixadores a Afonso dalbuquer-
que pedindolhe paz, e licença para poder
comprar dos cauallos que vissem a Goa,
03 que ouuesse mister aos quaes embai-
xadores fez muita honra, e mercê, e man-
dou com elles Diogo fernandez de faria
Adail de Goa, pêra assentar os tratos das
pazes com o Çabaim daleam.» Damião de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 3,
cap. 30.
— Proposições de negociação politica.
— Copula, conversação carnal.
— Trato dobre. Vid. Doble.
— Plur. Tormentos, torturas.
— Tratos de desejos ; a que não ha de
satisfizer.
— Dar tratos ao juizo; mortificar-se
por achar alguma verdade, etc.
7 TRATOU. Forma do verbo tratar na
terceira pessoa do singular do perterito
perfeito do modo indicativo. Vid. Tratar.
— «Floriano do Deserto bem mostrou na-
quella hora á donzella de Trácia, que nào
por falta de animo lhe ficara por acabar
a aventura da copa, que, posto que a lhe
a natureza dera, o tratou tão mal, que
quasi se não podia bulir.» Francisco de
Moraes, Palmeirim dlnglaterra, cap. 94.
— «Este Principe jà era Roy da Pimenta,
por certos agravos que teve de ElRev de
Còchim que o criara como pay, determi-
nou de se passar à parte do Camorim,
para o que se carteou com elle, e tratou
de se verem, o que o Camorim grangeou
muito, e lho mandou sobre isso cartas muv
honrosas, e de grandes offerecimentos,
com que elle se fez prestes para se pas-
sar a Caleci'it.í> Diogo de Couto, Década
6, liv. 8, cap. 2. — "E a Raynha de Cas-
tella como muy nobre, e virtuosa Prin-
cesa recolheo os filhos do Duque que erão
seus sobrinhos a sua casa, e os tratou e
honrou sempre como era rezam que fosse,
e fizesse a sobrinhos tão chegados a ella,
que eram filhos de sua prima com irmãa,
e netos do infante dom Fernando, e da
Infanta dona Beatriz, que era irmãa da
Raynha de Castella sua mây, e do Mar-
ques de Montemor não ficou filho algum.»
Garcia de Rezende, Chronica de D. João
II, cap. 44. — «Neste o que dissemos
basta pêra se entender com quanta pro-
uideucia tratou o padre Francisco da
iundaçam da nossa residência de Ter-
nate.» Lucena, Vida de S. Francisco Xa-
vier. — • «E chegando elle com isto á ul-
tima desesperação, tratou esta sua des-
aventura com sua molher somente, por-
que ja neste tempo não avia outrem com
quem se pudesse aconselhar, nem que lhe
fallasse verdade.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 149. — «Primeira-
mente dizendo elle que os Índios eram
mais de dez ou doze mil, tratou de os
repartir todos pelos moradores, que era
um modo corado de os captivar e vender,
sem mais differença que chamar á venda
repartição, e ao preço agradecimento.»
Padre António Vieira, Cartas, n." 11.
TRAUCTAR. Vid. Tratar.
TRAUMÁTICO, A, adj. (Do grego trau-
ma). Termo de medicina. Relativo a uma
ferida, ou produzido por ella. — Febres
traumáticas.
i TRAUMATISMO, s. m. Termo de ci-
rurgia. Estado em que uma ferida grave
acconimette o organismo.
t TRAUMATICINA, s. f. Solução da
guttapercha no chloroformio.
TRAUSAR, V. a. Taxar, limitar, pôr
taxa. Vid. Tausar.
TRAUSO, s. m. Termo antiquado. Ta-
xa.
— O acto de transar.
TRAUSSAÇÃO, s. /. Termo antiquado.
Transacção; por este meio se mudavam
uma prestação, serviço, pagamento em sa-
tisfação em outra espécie.
TRAUTA, s. f. O vestígio deixado pe-
la caça.
TRÁUTADO. Termo antiquado. Vid.
Tratado.
TRAUTADOR, s. m. Vid. Tratador.
TRAUTAR, 1-. a. Vid. Tratar. — "Os
quaes dias de custume soomente averam
lugar n'aquello, que for morador no lu-
guar, honde se trautar a demanda ; e
naquelle, que hí nom for morador no lu-
guar, honde se trautar a demanda, de-
ve-se guardar o que he contheudo no ca-
pitulo seguinte.» Ord. Affons., liv. 1,
tit. 44, § 8.
TRAUTO, s. m. Termo antiquado. Vid.
Trato.
— Uma tirada, ou caminhada, nem
para perto, nem para longe; o que se
chama também n7n estirão, que são 125
passos ou estádio. = Em Viterbo, Eluc.
TRAVA, s. /. Trave delgada, cujas ca-
beceiras descançam em duas paredes, co-
lumnas ou pilares, e fica atravessada
n'ella5.
— Trava da òcsta; a prisão dos pés,
peia.
— Trava da cruz; os braços. Vid.
Travessa.
TRAVAÇÃO, s. f. A connexào das
cousas travadas entre si.
800
TRAV
TRAV
TRAV
TRAVACONTAS, «. /. plur. Controver-
siaH, conteiulas.
TRAVADAMENTE, adv. (De travado,
com osíiffixo «mente»). — Batalhar, com-
batrr travadamente ; pelejar baralhado»
uiiH com (IS outros.
TRAVADURA, s. f. Ferro quo servo
de torcer os dentes da serra, um para
um lado, outro para o opposto, para alar-
par o talho, e correr folgadamente, sem
aporto entre a.s taboas, ou peças abertas
com cila.
TRAVADO, pnrt. pasa. de Travar.
— Briíja travada.- — «E sondo huma
menhani quasi Noroeste sueste co rio do
sal, que estil abaixo do Chabaquee cinco
Icgoas, no3 conictoo hum ladraõ com se-
te juncos muyto alterosos, e pelejando
com nosco das sois horas da nienham até
as dez, em quo tivonios huma briga assaz
travada de muvtos arremessos assi de
lanças como de íoíto, em fim se queimaríío
três vcllas, as duas do ladr.ão, o huma
das nossas, que foy o junco cm que hiilo
os cinco Portugueses, a que por nenhu-
ma via pudemos ser bõs, por ja a este
tempo teruu>s a mayor parte da gente fe-
rida.» Ferniio Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 132.
— Batalha travada; combate continua-
do, começado. — -«Bem vejo, disse Flo-
riapo, quo pcra homem tão esforçailo,
qualquer vantagem se havia de tomar,
porém eu a não quero que sem ella cum-
prirei o que disse. Então, descendo-se, e
coberto do escudo, começou com Auder-
raraeto nraa bataliia tão ferida e trava-
da, que naquella corte se não vira outra
tal. » Francisco de Moraes, Palmeirim
d'Inglaterra, cap. 80.
— Pressa travada; pressa principiada.
Aqui António de Sil nesta trauada
Pressa, ae acerta cora Tristão do Sousa,
Ambo9 com denodado encontro, as sollas
Liuros doixaudo, tição sem perigo.
Mas forão socorridos num momento
De ligeiros ginetes que folgados
Estauào, o na volta outra vez cntrâo
Do desastre passado assas corridos.
CORTE aSAL, NACFBAQIO DK SEPCLVEDA, Cant. 4.
— Andar a briga mui travada; andar
a briga cm progresso, contimiar. — «An-
dava a briga mui travada ; dos nossos al-
guns cahirão mortos, mMihum se retirou
ferido. Nos que estavão debaixo, a impa-
ciência de não ter lugar para subir, cau-
sava maior dôr, que as feridas que vião
receber aos companheiros, porque ainda
em tão prolixo, e perigoso cerco os não
fartava a guerra.» Jacintho Freire d'An-
drade. Vida de D. João de Castro, liv. 2.
— Guerra travada; controvérsia prin-
cipiada, ou continua-la, em que se briga,
e peleja com força e energia.
E para castigar este ódio e esta ira
Que pertido Siiltào no peito encerra,
Ab vellas logo ao mani» vento abrira
K d<; Cambaia ciitr&ra a ingrata terra,
Se llro dl! todu uiituo não impedira
Auina á»i)era, cruel, e dura guerra
Quo com o Accdecilo travwla tinha
Que Bua torra it Goa tom visinlia.
r. DK a:<draiik, i-bimeiro cercu dk diu, c*nt.
G, est. 25.
— Envolvido, implicado, enredado. —
«A artilheria dos quaos n3lo tirava de
fora, temendo que podoriam fazer dam-
no aos no.«i»os dos bateis, que andavam
envoltos com os imigo.-», e tão travados,
que não havia entre clles mais espaço,
que o comprimento de arma, com que se
feriam.» Barros, Década 2, liv. 9, cap. 2.
— Fidla travada ; falia que se pega,
embaraçada.
— Agarrado, entravado.
— Bi:sta travada; animal peiado.
— Termo do alveitaria. Cavallo tra-
vado; cavallo que tem o pé e a mào da
mesma parte, calçados do branco.
— ò'. plur. O vento cutre o Brazil e
a Africa, como os tufões da China.
TRAVADOR, A, s. O, a que trava.
— Adjectivamente : Pessoa travadora.
— «Em esta sazom vivia com elKei huum
boom escudeiro, e pêra mujto, mancebo,
e homem de prol, e em a quel tempo es-
tremado em asijnadas bondades, grande
justador c cavalgador e travador de gran-
des ligeiriçes, e de todallas manhas que
se a boons homens requerem chamado
per nome Aflouso Madeira.» Fernão Lo-
pes, Chronica de D. Pedro I, cap. 13.
TRAVADOURO, *. m. O eoUo da per-
na da besta, onde se ata a trava ou peia.
TRAVADURA, s.f. Acto de travar, ou
de prender varias peças entre si.
— Travamento.
TRAV AL, adj. 2 gen. (Do latim traba-
lis) . — Prego travai ; prego grande, e
mui fornido ])ara pregar tr.ives.
TRAVALHO, s. m. Vid. Trabalho.
TRAVAMENTO, s. m. A acção de tra-
var a peleja.
TRAVANCA, «. f. Embaraço, empeci-
lho.
TRAVANCADO, part. pass. de Travan-
car.
TRAVANCAR, r. a. Vid. Atravancar.
TRAVÃO, s. íJí. Cadeia de travar as
bestas. Vid. Trava.
TRAVAR, r. a. (Do latim travare).
Pegar uma cousa com outra, entrelaçan-
do, o enredando os seus ramos, braços
em diversos pontos.
Ávidas mãos, do abandonado leme
Validos tragam, não a indornç:i-lo
Para o rumo perdido ; mas cubi<,'a
Trcda, que os move, a syrthes, a naufrágios
Dosar vorada a nau presto arremessa.
Km suas iras de flagello aos povos
Um rei conquistador lhes manda o Eterno.
oARKKTT, cAuuKs, caut. 6, cap. 2.
— Travar peleja, briga; começal-a,
contínual-a. — «Durou assi esta peleja
por csjiaço de mais de cinco horas, no
fim das qoai.H vendo o tyranno Hraniaa
que 0.S de dentro ae defendiSo e>-força-
'lamentc, e que os seu» em partes liiiio
ja eiifraquecí-ndo, Kaltoa em terra cõ obra
do dez ou doze mil homens, dos milho-
res da armada, e reforçando com muy-
ta presteza as cjmpanhiaa dos que pe-
Icjav.to, a briga se tornou a traTar de
novo com tanto ímpeto c esforço de am-
bas as partes, que parecia que ent^o se
começava.» Fernão Mendes Pinto, Pere-
grinações, cap. 1.Õ4.
— Travar pratica ; começal-a, conti-
nual-a. — «Partido o ermitão, trauamos
todos pratica sobre o Elephante, e por
me parecer serã aos leytores cousa agra-
daucl tocar algumas calidadee, e proprie-
dades suas, a? contarey, porque saií el-
las taes, c t3o notaueis, que todos terão
o tempo, por bem empregado em sabei-
las.» Fr. (íaspar de S. Bernardino, Iti-
nerário da índia, cap. \h.
— Travar com algnem ; deaafial-o, pro-
vocal-o. — «O que foram fazendo ate de-
corem do vallc, onde obra de vinte de
cauallo dos mouros, que começaram de
trauar com elle, o embaraçaram de ma-
neira que nam poderão baswir a trilha,
por onde fora Brás da sylua.» Damião
de Góes, Chronica de D. Manoel, part.
4, cap. 44.
— Prender diversas peças de madeira.
— Travar pé com pé na Iveta j bri-
gando arca por arca, e á mão tente.
— Travar a Ksta; prende!-a com o
travão.
— Travar alguém pelo braço ; agar-
ral-o, prendel-o.
— Travar o combate ; desafial-o, pro-
vocal-o.
— Accommetter.
— Travar as set ras para abrir madei-
ra; voltar-lhe alternadamente os dentes
para lados oppostos para abrirem mais
largos tallios, e correrem melhor na ras-
gadura.
• — V. n. Ter gosto adstringente, como
certos fructos verdes que travam na bocca.
— Emprega-se também no sentido fi-
gurado.
— Travar-se, v. refi. Liar-se, tecer-se,
enlaçar-sc.
— Travar-se a braços; altercar, pro-
vocar, porfiar por meio dos braços. —
«Dramusiaudo e Barroeintc se travaram
a braços, experimentando cada um o
que havia em si, provando suas forças
por se derribar, e não o podendo fazer,
tornando-se a arredar, começaram a em-
pregar seus golpes como pessoas, que
queriam perder a vida a troco d'outra
vida.» Francisco de Moraes, Palmeirim
d'Inglalerra, cap. 04.
— Travar-se uma briga, uma batalha ;
começar-se. — «Porém hum irmão dei
Rcy de Andraguire lhe atalhoa a este
TRAV
TRAV
TRAV
801
seu dessenho, porque com dous mil ho-
mens se lhe pÔ6 diante, pelo qual a bri-
ga tornou ao primeyro estado, travando-
se de novo entre elles com tanta fiiria.»
Fernão Mendes Piuto, Peregrinações,
cap. 16. — «E o ferido lançado mào a
huma alabarda, decepou ao outro hum
braço, e travandose com isto a briga en-
tre todos nove sobre esta desaventurada
questão, a cousa veyo a estado que des-
pois de sete de nós estarmos muyto feri-
dos, acudio o Chaem em pessoa com to-
dos os Auchacys da justiça.» Ibidem,
cap. llõ. — «Aqui se travou huma mui-
to áspera batalha com grande destruição
dos iraigos, em que os nossos pelejarão
de maneira, que a poder de golpes arran-
carão os Mouros do campo, e os leváraõ
atè 08 meterem dentro na Cidade.» Dio-
go de Couto, Década 6, liv. 4, cap. 1.
— Figuradamente: Andar de compa-
nhia.
— Travar-se de razões, de palavras;
altercar, portiar.
TRAVE, s. f. (Do latim trabs). Lenho
grosso, longo, falquejado, de que se usa
na construcção dos edifícios. — tQuem he
solto de lingoa he de o ser da consciên-
cia; todo o maldizer que prejudica se ha
deytar da memoria como peçonha, que a
quem nam tendes boa vontade hum mos-
quito vos parece hum alifaute, e lium ar-
gueyro de mal seu huma trave.» D. Joan-
na da Gama, Ditos da freira, pag. 33.
— O arame da iivela, que une a char-
neira, e fuzilào ao arco.
TRAVECIA, s. f. Yid. Travessia.
TRAVEJAMENTO, s. m. As traves e
madeiramento de uma casa.
— Vigamento.
TRAVEJAS, V. a. — Travejar o edifi-
cio ; assentir-lhe as traves, mettel-as na
parede.
TRA VENTO, A, adj. Termo de medici-
na. Que tem um gosto adstringente, que
trava na bocca como os fructos ver-
des.
TRAVÉS, ou TRA VEZ, s. m. (Do fran-
cez travers). Termo de fortificação. Ba-
luarte feico de maneira que do lado do
angulo podem defender o outro lado do
angulo seguinte, e talvez parallelo.
— Os travezes da fortuna; as des-
graças, damnos que ella causa.
— Estar a nau do mar a travez ; é
quando se põe á capa, e as ondas emba-
tem no costado, vindo em direitura a
elle.
— Pôr a travez; pôr de um lado.
— Dar com uma cousa a travez ; per-
del-a de todo.
— Olhar de travez ; olhar com os olhos
torcidos, e desviados do objecto, signal
de desapprovação, e inimizade.
— Pôr-se com alguém de mar em tra-
vez ; apartar-38 d'elle, ficando mar in-
termédio.
— Ficar de travez ; ficar de permeio,
■ TOL. V. — 101.
de sorte que se atravesse, e atalhe o ca-
minho.
— Dar comsigo a travez ; perder-se,
arruinar-se.
— Dar o navio de travez ; ficar atra-
vessado com o lado ao vento, sem poder
proejar.
— Tudo lhes deu a travez; tudo se
lhes perdeu.
— Ir a travez da virtude ; ir <á parte
contraria da virtude.
— Loc. : A travez. — «O que ja ti-
nhaõ feito os outros capitães, que seguin-
do sua derrota a trauez de Dabul, acha-
rão Garcia de Sousa na sua carauella,
quo o Vicerei mandou após Fero Cão, vi-
sitar dom Lourenço, e pêra ficar com
elle, mas com temporaes naõ pode che-
gar.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 2, cap. 27.
— Loc. ADY. : De travez.
Apoz estaa palavras pouco tarda,
Torna a ajudar os seus na grãa. revolta,
Mas a morte erucl que a!li o aguarda
Faz que lá de travh o chumbo âílta
Contra elle huma mortal, loaga espingarda
Que na cabeça o encontra ; sahe-lhe envolta
Era sangue a alma. cahe morto o moço forte
Sobre o que lho causou agora a morte.
F. D'ASDnAOK, PBIXEIBO CEBCO DE Din,Cant. 19,
est. 5tí.
TRAVESANHO, s. m. Termo antiquado.
= Signitioaçâo incerta.
1.) TRAVE3SA, s. f. Rua que cort^ as
ruas directas e principaes.
A cidade, Deos a cresça !
tem em si tantos bolsinhos
que não ha rua sem travessa.
ANTO.MO PRESTES, ACTOS, pag. 371.
— Travessa da cruz; os braços.
— • O acto de atravessar, e vencer a
distancia de um logar a outro na costa
ou região opposta. — « AíFonso d'Albo-
querque recolhido em a nau Trindade
Capitão Fero d'Alpoem, fez sua viagem
caminho da Lídia ; e na travessa daquel-
le golfam té Ceilão tomou duas nãos de
ilouros, huma de Dabul, e outra de
Chaul, que vinham bem carregadas de
Çamatra.» Barros, Década 2, liv, 7, ca-
pitulo 1.
— Feça de madeira, ou taboa estrei-
ta com que se atravessa e prega a por-
ta do confiscado.
— Forçào de mar ou de terra, que di-
vide uma terra da outra, e que se ha de
atravessar.
— - Termo antiquado. Direito, outr'ora
passagem.
— Caminho atravessado.-
2.) TRAVESSA, adj. f. Obliqua,
— Mão travessa ; a medida da largura
da mão desde a cabeça do deJo poUegar
até á costa da mão, aberta a chave d'eila.
— Porta travessa ; porta que fica a
um lado, que não é ã frontaria do edifí-
cio, nem o opposto a ella. Yid. Travesso.
1.1 TRAVESSÃO, s. m.— O travessão
da balança ; é a peça onde está o fiel, e
d'onde pendem os pratos, ou de cujo ex-
tremo pende a cousa que se pesa, e o
peso; divide-se pelo meio em dous bra-
ços : nas balanças romanas, em dous bra-
ços, no mais curto, ou menos distante do
fiel põe-se o peso conhecido, no outro
aquillo que se quer saber que peso tem.
— Vento que dá de travez, vento con-
trario, travessia mui rija.
— Termo de náutica. Travessão das
gáveas. Yid. Cesto das gáveas.
2.) TRAVESSÃO, adj.— Vento traves-
são ; vento mui rijo, de travez ; por um
lado do navio, conforme o rumo que
leva.
TRAVESSAR. Yid. Atravessar.
TRAVESSEAR, r. n. Fazer travessu-
ras, baridhar.
TRAVESSEIRO, s. m. Almofada da
cama, onde se descança a cabeça, que
atravessa o longor da cama.
— Juizo, resolução consultada com os
travesseiros ; juizo bem considerado com
repouso, e uma meditação silenciosa.
— Loc. POP. : Conversar com os tra-
vesseiros ; pensar maduramente.
TRAVESSIA, s. f. Vento de travez,
contrario á navegação, riào em popa.
— • De travessia ; de travez, de um
lado.
1.) TRAVESSO, A, adj. Yid. Travessa,
— Linha travessa; linha collateral, ou
transversal.
— Estradas travessas ; estradas que
se cruzam com as próprias ruas.
— Mar travesso ; mar que corre atra-
vessado contra a proa, e rumo da embar-
cação.
— -Rua travessa; rua que vem desem-
bocar nas ruas directas e principaes.
2.) TRAVESSO, A, adj. Inclinado a fa-
zer travessuras, propenso a ellas. — Me-
nino travesso.
Enfeitae-me,
Senhor Matella, eu vos peço
que travesso
risqueis hoje, e perdoae-me.
AyiOKIO PRESTES, ADTOS, pag. 417,
Oh ! que scena de languidos prazeres.
Que paraizo de deleite, <5 Tenus!
Pelo travesso filho assetteadas
As esquivas nereidas suspirando,
Seguem a beUa deusa, que promette
A suspirar tam doce um doce premio.
GARRBTT, cauões, caut. 8, cap. 13.
TRAVESSURA, s. f. Desordem feita
com inquietação,
— Diz-se das moças que fazem peças
aos que as pretendem.
— Estúrdia, peça, mau jogo,
TRAVESSURINHÃ, «. /. Diminutivo de
Travessura. Fequena travessura.
802
TRAZ
TRAZ
TRAZ
TRAVEZ. Vid. Través.
TRAVINCAR, TRAVINCAVAR, ou TRA-
VINCAVACAR. Vid. Atravancar.
TRAVISIA, s. f. Vi<l. Travessia.
TRAVO, «. 711. (Jontrac(,'rio dcis membros,
quo tolhe o u.so d'cllu.s, o o.s faz eiitonar.
— A qualidade do Iriicto quo trava na
bocca.
TRAVOELA, s. f. Espécie de trado ou
verruma.
1.) TRAZ. Vid. Trás, e Atraz.
— Irei de traz ; irei ií retaguarda.
Sobi o não faleis mais.
Sobi VÓ8.
Eu irei do traz,
com sara Braz.
ANTÓNIO PRESTES, ADXOB, pag. 263.
— Outras vezes usam-n'o como pre-
posição. — «E' caso quo muitos dos que
alli chegaram lhe quizeram iallar, e dar
o prolfaça de seu contentamento, a nin-
guém respondia; que tinha o juizo e sen-
tido occupado em suas boas venturas,
succedidas uma traz outra, o pedia a
Nosso Senhor, que com alguma pequena
desventura sa ))urgassom.» Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 122.
Esta doença affirma sentir tanto
Como o seu mais chegado qui'. alli vinha.
Recebe Sousa disto luun gfande espanto
Porque a sua teni;ão mal advinha :
O grão Cunlia avisar manda de quanto
ElRoi determinado agora tinha,
E trai isto ao Sultão se vai chegando
Que ja pi-C3tc3 para ir o estii esperando.
FRANCISCO n'ANI>RADB, PRIMEIRO CERCO DE DIU,
cant. 6, est. 66.
— «Tras este messageiro, que el Rei
de Bintani mandou a Siaca, despachou
doze lancharas pêra irem em busca de
Georgo botclho, do que George dalbu-
qucrquo foi auisado, pelo que mandou
armar noue lancharas, de que deu a ca-
pitania a Francisco de mello o galego
dalcunha, pêra se ir ajuntar com elle
onde quer que estiaossp.» Damião de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 3,
cap. -89. — «Porque Ijaqueximena sahio
logo iras cllos com vinte lancharas bem
esquipadas, e os seguio ate lhes entrar
nas costas, no porto de Malaca, onde
matou Gil symõos capitaij de hum bra-
gantini, ooin todolos que com elle hiaõ.»
Ibidem, part. 4, cap. 75.
f 2.) TRAZ. Forma do verbo trazer na
terceira pessoa do singular do presente do
inodo indicativo. Vid. Trazer. — «E dize-
mos outro sy que o infitiota, quo traz a
cousa aforada d'alguuni Senhorio, uom
ha poderá vender a alguum estranho, se
a o Sonhor quiser avor t:into por tanto ;
o por tanto dove seer primeiramente
requerido, so a quiser comprar.» Ord.
Affons., liv. 4, tit. 37, § 4. — «Trás ol-
la tre.s gigante» do desmedida grandeza,
armados todos de uma maneira, cober-
tos 08 corpos de laminas d'a(;o, tSo gros-
sas o fortes, que parecia imjKjSHivel po-
derem-se desfazer com nenhuma cusa.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 93. — «Jesus te guarde, dis-
se o ermitão, filho maior perigo é esse,
em que agora te mettes, que o outro de
([\ie escapastes, que se o outro ora dam-
iioso ao corpo poderá fazer fructo n'al-
ma, mas este ao corpo nrio traz proveito
o condemna a alma.» Ibidem, cap. 100.
— «Que fazeis, cavallciro, n.ão acabais
de descansar do cuiilado, que mais ator-
mentada me traz? Esse, que tendes aos
pés, é o matailor de meu irmào, causa-
dor da velhice cansada d'el-rei meu pai;
iniigo de minha honra. Acabai de lhe
dar lim á vida, pêra que a minha fique
descansada c contente.» Ibidem, cap.
132. — «E sobre tudo está o sangue de
modo que ha mister ferros, e a concu-
piscência algemada pêra que nào acerte
de fazer alguma descortezia aos bons
propósitos que o homem traz da confis-
são ; que também como o tempo começa
de aquentar, so os não salgam muito bem
e os põem de fumo entre os prezuntos,
aos dois dias so damnam e não ha nari-
zes quo os aturem.» Fernão Soropita,
Poesias e prosas inéditas, pag. 8tí. —
(lE desastre que desarma uni homem de
quanta confiança traz nos alforges; por-
que a dama deu rizada do cima que es-
trugiu na rua ; e elle, perdendo de todo
as estribeiras, não tem mais repouzo que
motter so na primeira estrebaria que
acha, até ver maré que sem vergonha do
mundo navegue para casa.» Ibidem, pag.
122. - — «E corto se Clarinumdo primei-
ro olhara o danno, que traz ao estado de
minha fama sua vãa presunção, e des-
contentamento ao Emperador se o sou-
ber, naõ se metera nisso: faz mal de pôr
com sua bondado em condição minhas
cousas, pois taõ pouco lhe hade aprovei-
tar sua fantesia.» Barros, Clarimundo,
liv. 2, cap. 0. — «Nos vestidos de sua
pessoa, e algumas cabaias, que dá a Fi-
dalgos, e Embaixadores com seus feitios,
conto e dons leques; e hum c meio em
vivos das fotas que traz na cabeça ; e
cincoenta azares em feitio dos carapu-
ções.» Idem, Década 2, liv. 10, cap. 7.
Quem í este que a nós vem
tão d'as3uada?
Como aqui temos entrada
todos passam.
Traz dcsdcm
d'esti"angciro.
ANTONIÓ PRSSTE3, ACTOS, pag. 65.
Escute, não sei quem bate ;
á fé que vem confiado,
O bater tro: ai>ontado,
torre dela niua citto.
Mas traz doudo ou traz privado ?
Vô quem (■.
Ouço cavallo.
iniDEM, pag. 1.33.
LA farfalhou um proccuao
com quo me traz c inc troaguo
mais arrastado que axouguc
no nosso justiça avcaao.
iBioKM, j)ag. H.3.
— fDo maneira irmãos, que a princi-
pal empresa pêra que somos chamados
debayxo da Capitania de lesu Cbristo
he para fazermos guerra perpetua, e c3-
tinua a nos mesmos. Pcra a qual a pri-
meyra cousa necessária he, que nos co-
nheçamos a nós, e entendamos nossa c5-
postura, nam lhe parecendo a ninguém,
que he sò, mas sabendo que dentro em
si traz dous inimigos mortaes, de que
he cijposto.» Fr. Bartholomeu dos Mar-
tyres, Compendio da doutrina christã,
liv. 2. — «Nu Euangelho da Missa nos
traz o principio do Euangelho de sam
Marcos em que se conta quando aqaella
trõbeta celestial, aquelle diuino prego-
reyro, e precursor do Sonhor sam loam
Baptista, sayo do ermo a esperar os lu-
deus que se aparelhassem pêra receber
o Saluador do mundo, porque era che-
gado o tempo da sua vinda, i Ibidem.
Com que até do Catay no Iraporio o mares
Forão erguer as gloriosas Quinas
A còr ostenta do inetal precioso ;
Nivea, fragrante flor, já traz com elle
Nos delicados cAlices mais fructos.
J. A. DR MACEDO, UEDITAÇÃO, Caut. 3.
Do ar ouviste os bens, quando conserva
Seu corpo intacto \ descobriste os damnos
Que traz quando so altera, ou so corrompo.
IDEM, A NATCREZA, Cant. 2.
Xa ingenuidade natural seguro,
Kiqueza não comprada apresentava:
JVaz o fructo esiwntaneo, o leito puro
Do manso armento, que no pasto andava ;
Tanto de trato dobro, o engano, alheio,
Que As choças leva os nautas sem receio.
IDEM, o ORIENTE, CJIlt. 7, CSt. 51.
Almeida vem depois c'o nobre filho
(^ue do Indico oceano as aguas tinge
Do sangue imigo o sou. Atroz vingança
Corre coo iroso pae : Dnbul, Gambaia,
Inscadas de Diu, ei-lo no ferro
Destruidor vos traz exício c morte.
OAllBGTT, CAMÕKS, CaUt. 8, CAp. 17.
— B(/m modelo traz geit-o « feição.
EstA bel lo :
dVSSa AVR MARIA VÃO
de gcutil operação
estas letr:i3 ; bom modéUo
logo traz geito e feição.
ANTÓNIO PRESTES, ACTOS, pag. 32.
— Traz alguém de couce fora.
TRAZ
TRAZ
TRAZ
803
Mas traz-me do couco fóra
um vilão barrão eunuco.
Seu cazeiro ?
Meu colono.
AHTOmO PRESTES, AUTOS, pag. 195.
— Moeda traz que presta.
Não, moeda traz que presta.
Que moeda ?
Deixae-o vós
entrar, chegar á bandeira.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pag. 91.
TRAZEDOR, s. m. Homem que traz,
que importa, que introduz mercadorias,
moedas.
\ TRAZEIS. Forma do verbo trazer
na segunda pessoa do plural do presente
do modo indicativo. Vid. Trazer.
Trazeis seis moços de pé
Ei acrecentai-los a capa.
Coma rei, e por mercê.
Não tendo as terras do Papa,
Nem os tratos do Guiné,
Antes vossa ronda encurta
Coma panno d'AIcobaça.
OIL VICENTE, FAKÇAS.
Este é que vem cantando
tão doce de buena bóia :
ora trazeis gentil soya
pêra quem está esperando.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pag. 117.
Inda mais fica a dever.
Que trazeis ?
Queijos.
D'ondc ?
Dos que em Aleratejo lia.
IBIDEM, pag. 155.
Não ;
ora vereis rica peça.
Amostrae... vós trazeis hi
rica peça carvoeira,
O da mór graça que vi.
IBIDEM, pag. 409.
TRAZEIRA, s. f. A parte posterior de
uma sega.
TRAZEIRO, A, adj. Que fica na parte
posterior.
— Que vem atraz.
— Sub.^ítantivamente : O trazeiro ; o
cu, o anus.
f TRAZEM. Forma do verbo trazer na
terceira pessoa dn plural do tempo pre-
sente do modo indicativo. Vid. Trazer.
Emquanto vós outras lavrais.
Quero espreitar o penado.
Lá anda dando mil ais.
Mas cu creio que são mais
Que trazem esse cuidado.
GII, VICENTE, COMEDIA DE EUBENA.
— O O decimo artigo he. Que som agra-
vados, que lhes levam portagem, e dizima
das cousas, que lhes trazem per mar, ou
per teri-a pei'a seu mantimento, ou que
lhes mandam em serviço.» Ord. Aífons.,
iiv. 2, tit. 6. — «E desde entào até agora
nunca esta mercadoria cá aportou, se não
alguma que vem ás furtadas por ordem
do aviso; que como a trazem por outra
navegação, é a viagem mais comprida,
e, quando cá chega, vem tão mareada
que escassamente se parece comsigo.»
Fernão Soropita, Poesias e prosas iné-
ditas, pag. 2. — «E a fora estas bes-
tialidadcs nos contarão outras muytas a
este modo, nas quais estes cegos miserá-
veis estão tão crentes, que não ha cousa
que lhas possa tirar da cabeça, porque
ist') he o que os seus bonzos llie pregão,
e lhes dizem que não está em mais ser
huma alma bemaventurada que em lhe
trazerem aly os seus ossos, pelo que não
ha dia que aly não venhaõ duas mil ossa-
das destes malaventurados, e os que não
podem trazer os ossos por ser a distancia
de muyto caminho, trazem hum dente e
dous, porque com isso, dando essa esmo-
la, dizem que satisfazem tanto como se
trouxessem tudo o mais.» Fernão Mendes
Pinto, Peregrinações, cap. 109. — «Ao
seu Papa chanião catholico. Tem sua re-
sidência era Caldea com doze cardeaes,
dous Patriarchas, Arcebispos, Bispos, e
outros prelados. Os sacerdotes trazem a
tonsura em cruz, e consagram o corpo do
Senhor em pão asmo, e com vinho de pas-
sas, por na terra não hauer outro.» Da-
mião de Góes, Chronica de D. Manoel,
cap. 98. — «Pregados em as solas com
muvtos preguinhos de ferro, e uo calca-
nhar hum escudete de ferro pregado que
tem hum bico de huma polegada, que
servem despora, cingem huns talabartes
de couro e.streytos e dobrados, guarneci-
dos de ferros em que trazem a espada,
que seraa de quatro palmos.» Tenrei-
ro, Itinerário, cap. 17. — «E quem são
estes'? Perguntastes bem; porque co-
mo naõ trazem insignias de seus gráos,
nem sinal manifesto de sua profissão, saõ
mãos de conhecer, e entaõ melhores mes-
tres, quando peores de achar : sendo as-
sim, que em achar o mais escondido, e em
arrecadar o achado, saõ insignes.» Arte
de furtar, cap. 34. — «Nos officios mecâ-
nicos saõ perfeytissimos, na ley obseruã-
tissimos. Não comem carne em toda a
vida, nem matão cousa viua, inda que
seja bicho peçonhento, e que lhes faça
mal, ou dano algum. Com todos tem paz,
não trazem armas, nem peleijam cõ na-
ção alguma, nem tem Rey a que particu-
larmente obedeção.» Frei Gaspar de S.
Bernardino, Itinerário da índia, cap. 12.
— «As que trazem Águias saõ: Abul,
Abreu, Àzevedos, Botados, Bovadilha,
Carregueiro, Serrabodes, Coronéis, Cor-
rcaõ, Dagraã, G uivar, Jacome, Lemes
(Marletas sem pès) Maciel, Medeiros,
Montarroyos, Ourem, Penha, Proença,
Rodrigues, Sampayo, Tinoco, Villanova.»
Severim de Faria, Noticias de Portugal,
Disc. 3, cap. 4. — «As que trazem ou-
tros animaes, saõ: os Carreiros hum Gaito
caçando, os Garros huma Onça, os Leoens
entre sete Estrellas dous Libreos negros
armados de prata, alludindo à fidelidade
destes animaes, os Osorios dous Touros,
03 de Valdês hiim Elefante.» Ibidem. —
«Faxa he hum listão entre duas linhas,
que atravessa o Escudo ao largo. As Fa-
mílias, que trazem Faxas, saõ : Almas,
Avelar, Áustria, Cio, Durmaõ, Escrocios,
Ferreiras, Landins, Leitaõ, Mascaranhas,
Metela, Mexia, Pamplonas, Pedrosos,
Pestanas, Rebellos, Sylveiras, Vargas.»
Ibidem, cap. 5. — «As Cruzes em Aspa
se trazem nas armas por devoção de Santo
André, como mostra Argòte na Conquista
de Baeça, a qual Cidade tomou no dia
deste Santo Apostolo, o Conde D. Lopo
Dias de Haro, com 500. Cavalleiros, que
foraõ ao socorro do Castelio, que os Mou-
ros tinhaõ cercado. II Ibidem, cap. 7. —
«As Famílias, que trazem as Vieiras nos
Escudos, saõ os Barbosos, Barrosos, Bar-
radas, Calças, Calvos, Calheiros, Camel-
los, Márizes, Pimenteis, Rochas, Seraiva,
Sequeira, Velhos, Vieií-as. Pela mesma
devoção de Santiago tomarão os Falcoens
os bordoens, que costumaõ trazer os Pe-
regrinos do mesmo Santo.» Ibidem, cap.
8. — «Os Silvas trazem o Leaõ por armas,
por serem descendentes d'ElRey D. Afon-
so de Leaõ, pai que foi de D. Rodrigo
Afonso da Silva, cuja mãi era Dona Al-
donça Martins da Silva, como refere o
Conde D. Pedro tit. 58, §. 2. das suas
Linhagens.» Ibidem, cap. 15.
TRAZER, V. a. Tornar ou conduzir o
objecto para o lugar d'onde se levara.
— Levar. — « Hum Fernam Caldeira
contador, que depois foy de Ai-zilla muy-
to bom caualleiro de sua pessoa, tinha
huma sua irmãa solteyra em Arronches,
e tendoa casada honradamente em Lis-
boa, foy la para a trazer, e dandolhe
conta ao que hia, ella lhe disse que naõ
podia ser, porque era casada com hum
caualleiro da hi, homem honrado, que se
chamaua de Sequeira.» Garcia de Re-
zende, Chronica de D. João II, cap. 92,
— «E alli dom Vasco Coutinho, que de-
pois foy Conde de Borba, prendeo a dom
Anrique Conde de Alua de Lysta, pes-
soa nmy principal, que vinha a conhe-
cer a batalha do Príncipe. E trazendoo
assi preso, o Principo andaua correndo e
cerrando sua gente, e foy dar com elles,
e deu com o conto da lança ao Conde
passo, e disse a dom Vasco : Tendeo
bem, não se vá como o Conde de Vena-
uente.í Ibidem, cap. 13. — i E sendo
criado com tanto amor e prazer, tanto es-
tado e grandeza, tanta estima e estre-
mecimentos, e tanta gloria mundana, que
todos desejauão de o trazer sobre suas
cabeças, o virão em hum instante debai-
804
TKAZ
TRAZ
TKAZ
xo dos pes do hutna bosta,» Ibidem, cap.
i;{2. — «E íicando huin dos dons um ar-
relens dod viuto mil taeis, o outro 80
foy para trazer a prata, a qual logo
trouxo daly a menos do liuiua liora, com
maid liuiu bom prescnto do poyan ricas
quo todos os Nocodás llio inaadaraõ.»
Feniilo Mondes Finto, Peregrinações,
cap. í)2. — « Almourol tornou a Mira-
guarda, dar-lhe conta que Florendos,
alem do trazer o seu escudo, trazia pre-
so quem o levara, pêra ella fazer delle o
quo llio melhor parecesse.» Francisco de
Moraus, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 108.
— «Elioi com este alvoroi^o mandou bus-
cal-o, o assim maltratado o fez 1'ridos, du-
que do (Jalez, metter cm uma galló, tra-
zendo comsigo os criados dos gigantes,
aos quae» o do Salvagem fazia honra e
gaaalhado.» Ibidem. — «Porque além de
Lacsamana trazer comsigo muita gente,
a maior parte delia Jáos, homens mui
atrevidos em commetter, o animosos em
esporar, da terra concorreo alli muita
gente ; e posto que se mettesse nas lan-
charas do Lacsamana, por nào poderem
caber nellas, era tào perto delles aos nos-
sos, que com as frechas hiam fi-échar a
gente dos navios, que estavam afastados.»
Barros, Década 2, liv. 9, cap. 2. — <iO
Capitão vendo-o assim o tomou por hum
braço, e o arremeçou por diante delle,
dizendolhe que fosse trazer huma pa-
nela de pólvora, e ao passar por diante
delle lhe deraõ huma espingardada de
cima de hum eirado da Igreja, onde jà
estavaõ alguns Turcos, de que o Abe-
xim cahio morto aos pès do Capitão, que
quiz Ueos poio por seu amparo, porque
se não executasse nelle a cruel espin-
gardada, porque fora total perdição da-
quella Fortaleza.» Diogo de Couto, Dé-
cada 6, liv. 2, cap. 6. — tE logo aly
nos mandou trazer dous pratos grandes
de arroz cozido, e adens de chacina cruas
em talhadinhas, com que nós, como ne-
cessitados, nos metemos do tal maneyra,
que todos os circunstantes parece que
mostravào gosto de nos verem comer.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações,
cap. 119. — «Que foy hum sábado vés-
pera de nossa Senhora das Neves, se
veyo pela sesta á casa onde eu estava,
sem trazer comsigo mais que si3s dous
moços titlalgos, onde me achou dormindo
sobre huma esteyra.» Ibidem, cap. 130.
— «E com isto ticava novamente creado
nesta dignidade, o podia trazer armas,
e cavallo, o asscntar-se a comer com os
Cavalloiíos dEUley, e podia capitanear
03 Almocadons.» Severim de Faria, No-
ticias de Portugal, Disc. 2, cap. 6. —
tE porque elle de sua condição naõ es-
tava nunca em hum lugar, e caminhan-
do sempre, e trazendo sempre consigo es-
tes Senadores, lhe chamarão Comités, ou
Companheiros de César, e aos Continues
da Corte, o à Casa Imperial, Comitatus
Ciesaris ; foi logo de grande estima: este
Titulo de (Jompaiiiieiro do Emperador. •
Ibidem, iJisc. 6, cap. 7.'>. — «E elle .•^em
nmis aguardar se lançou na cidade com
os 1'orLuguezos que andavam captivos no
campo, com cuja vinda se fez grande fes-
ta, levando-os da porta por onde entra-
rão, com procissani até a Egreja, dando
todos muitas graça-s a Deos, pela salva-
ção de aquelles, o por em tal tempo tra-
zer João machado a cidade, que parecia
sinal do lhes mandar outro mor soecor-
ro.» Damião de Coes, Chronica de D.
Manoel, part. ii, cap. 21. — «No qual
recontro morrerão alguns delles, e posto
que da nossa gente, nesta volta não mor-
resse nenhum forào alguns feridos, assi
dos Christãos, como ilos mouros de pa-
zes, mas em tim dom Afonso, e Lopo
barriga, e Iheabentafuf se sairam dos
imigos sou passo cheo trazendo a caual-
gada sem delia perderem nada ato a ci-
dade de çatim, donde auia três dias que
dom Afonso partira.» Ibidem, cap. Õ9.
— «Acabado de fazer estas cruezas nos
homons, mandava trazer Lios e Ussos, e
os matava. E isto tudo fazia por se fazer
temer, porque assi ho custumão os senho-
res mouros destas torras.» Tenreiro, Iti-
nerário, cap. 20.
— Trazer ante os olhos; conservar
presente. — «Porém as do cavalleiro do
Salvage eram tanto por cima das dos
outros homen-í, que todo seu pensamento
desbaratavam; e trazendo ante os olhus,
e escriptas na memoria, as palavras e
lagrimas com que Alfornao o trouxera,
e a tenção damnada pêra que o trazia,
desejava dar-lhe a satisfação delia.» Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim d'Iaglaterra,
cap. 115.
— Trazer os olhos sempi-e' em Deus;
andar sempre com o pensamento em
Deus. — «Sobro ser cousa sem duuida,
que tome Deos muyto á sua conta guiar,
e tirmar bem os pes dos que leuam nelle
lirmes os olhos. Que era a rezam de Da-
uid trazer sempre os seus no Senhor: e
d 'onde noutro lugar, nos prometia a to-
dos, que seriamos, nam digo somente
guiados pêra nam cair, mas confirmados,
e esforçados, pêra vencer.» Lucena, Vida
de S. Francisco Xavier, liv. ti, cap. 15.
— Trazer al^um negocio entre màu>s;
tratar d'elle.
— Trazer vontade; tel-a habitualmente.
— Trazer occupada a phantasia ; tel-a
occupada. — «Todos estes inconvenientes
me representa a fantezia, que de a tra-
zer occupada em quem me mata nào pos-
so cuidar em almas depois de passar por
elles, se alguma razão me mostram, que
me faça desviar deste pensamento, lan-
ço-a de mim, como cousa desarrasoada :
quero bem a meus desconcertos, o ás
murmurações, que se de mim podem di-
zer, e cuido, que nisto só esui o acertar,
e que se ai fizesse, que erraria. > Fran-
cisco de Moraes, Desculpa duns amo-
res.
— Trazer alguém ajuízo; chamal-o,
incital-o a elle. — «Fero poderá o fiador,
se quiser, aver espaço pêra hir buscar o
principal devedor, e trazello a Juizo,
hoiide com direito deve soer demandado;
e trazendo-o, entom deve scer feita a de-
manda contra elle, assi como se fu.sse
presente ; e noni o trazendo, entom po-
derá elle dito fiador seer demandado, e
c<jndaj)iiado sem o primeiramente seer o
principal devedor, como dito h«.» Ord.
Affons., liv. 4, tit. 54, § 3.
— Citar, allegar.
— Conduzir para alguma parte.
— Trazer entre dente» a alguém; ter-
Ibe má vontade, tenç.ão com ello.
— Trazer paíi/ío d'alguem; receber rou-
pas d'e!le.
— Trazer alguém á conversando do
monte.
Pois quem vos pôde trazer
A convorsa(;ão do monte ?
Pnrguntac-o a essa fonte ;
Qui- as cousas dviras de crer,
Hum a faça, outro as conte.
CAII., AXPUTTBIÕES, act. 3, SC. 2.
Trazendo o pae fúria; viudo fu-
Eiâ vem o pao com animo estupendo,
Trazendo funa c magoa por antrolhos.
ciM., LLs., cant. lU, est. 33.
— Trazer armadas no mar; condu-
zil-as por mar. — «Alem das Armadas,
que os Reys mandavaõ trazer no mar
em defensa dos seus Vassallos, ordenou
ElRey D. Sebastião hum Regimento,
para com maior segurança se poder na-
vegar, e còmercear.» Severim de Faria,
Noticias de Portugal, Disc. 2, cap. 16.
— Trazer guen-a Cimi alguém ; tel-a.
— Trazer alguém em sua casa ; tel-o
como criado.
— Trazer do vento. Vid. Vento.
— Aeon)panhar-se.
— Trazer origem, principio; derivar-
se, originar-se.
— Figuradamente : Trazer nos olhos
alguém; olhal-o muito, pruzal-o maito.
— Conduzir para alguma parto.
— Trazer na bocca algum dito ; repe-
tii-o minucia^ameute.
— Ser cAusa.
— Trazer-se bem; tratar-se bem em
roupas, comida e bebida.
— Trazendo da sua pvòreza ; levando.
— «Aqui vinha o Capitão Arábio visitar-
nos algumas vezos, trazendo da sua po- .
breza, cò tanto amor, c vontade, como à
se fora irmão do nosso Padre S. Fran- 1
cisco.» Fr. (í.a-spar de S. Bemardiuo,
Itinerário da índia, cap. 9.
TRàZ£R£J1. Forma do verbo trazer na
TRAZ
TRAZ
TRAZ
805
terceira pessoa do plural do futuro do
modo coajunctivo. Vid. Trazer. — «E
vendo que alguns Jlinistros de Justiça,
mandados para lha trazerem, se deixarão
ticar com os mais, atónitos dos milagres,
que vião, e das palavras com que pregava
a lev Evaugelicii, se sahio elle mesmo de
seus paços, acompanhado da gente prin-
cipal de sua corte, jurando de cortar com
hum só golpe de espada a cabeça a Santa
Quitéria, e a cõiiança a todos os que a
punhaõ em seus enganos.» Monarchia Lu-
sitana, liv. õ, cap. 19. — «E pêra rece-
berem o Priucipe em Moura, e o traze-
rem á sua Corte, fez el Rey seus precu-
radores dum Pedro de Noronha seu mor-
domo mor, e o doutor loão Teixeira chan-
celer mor, e frev António seu confessor. »
Garcia de Rezende, Chronica D. João II,
cap. 41. — «Porque alem de trazerem
mantimentos, e cousas necessárias pêra a
obra da fortaleza, varejauam com a arte-
Iharia os do seu arraial, mandarão fazer
na entrada do rio huma estancia muito
forte, donde com a artelbaria defendiam
o passo a todos estes nauios.» DamiSo de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 3,
cap. 76.
j TRAZIA. Forma do verbo trazer na
primeira ou terceira pessoa do singular do
pretérito imperfeito do modo indicativo.
Vid. Trazer.
O fraco batel peadc, ja recolhe
Salgada carga, dando a que trazia
Ao profuudo do mar oade Kepthuno
Por castígo lhes deu prisão continua.
COBTE BEii, NACFBA.GIO DE SEPCLVBDA, Caut. li.
Se VOS lembra, ficou junto do Rio
Que busca e nào conhece a el Eey dizendo,
Que alguma ordem lhe de cõ que da parte
Que fronteira se via, va seguro.
Com instancia lhe pede que na sua
Sotil, e muy ligeira armada o passe,
E para o contentar, logo lhe otfrece,
E d4 parte das armas que trazia.
— «Confirmadas desde o tempo de seu
antecesso"- Dom Afõso, e conservadas nes-
tes primeiros annos por causa das grandes
discórdias que trazia com seu tio Abda-
la, que tyranizara Valença, e com os
Franceses que desde o tempo de Carlos
o grande, senhoreavaõ Barcelona.» Mo-
narchia Lusitana, liv. 7, cap. 13. — «Tor-
nando a Floriauo e ao cavaíleiro do Valle,
que andavam sua batalha, diz a historia,
que o temor que cada um trazia do ou-
tro lhes fez occupar tanto o cuidado na
salvação de sua vida, que nenhum sentiu
a levada de Targiana. » Francisco de Mo-
raes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 87. —
«Um trazia armas de verde e branco com
pintassirgos de prata, no escudo em campo
branco amas letras negras, que diziam :
Normandia. O outro as trazia de branco
e pardo com extremos verdes, no escudo
em campo verde Apollo pintado á maneira
antiga.» Ibidem, cap. 109. — «Por cima
trazia um toldo, que a defendia da cal-
ma, de não menor preço e louçainha, que
as outras peças. E por ser já tarde, e o
dia temperado, juntamente com a con-
fiança que a senhora trazia de fermosa,
mandou levantar as bordas delle, porque
quem estivesse de fora a podesse mellior
vêr : a seus pés delia vinham duas donas
e uma donzella.» Ibidem, cap. 110. —
«Florendos, errado o encontro, se encon-
trou dos corpos com el-rei de Arménia e
03 cavallos cahiram com elles, mas logo
03 socorreram; porem o mouro ficou tào
desacordado, que, nào se podendo levan-
tar, foi tirado do campo por dous primos
seus, que trazia pêra sua guarda. » Ibi-
dem, cap, 166.
D'e3te Deo3-homem, alto e infinito.
Os livros, que tu pedes, nào trazia;
Que bem posso escusar trazer esoripto
Em papel, o que na alma andar de\Ha ;
So as armas queres ver, como tens dito.
Cumprido esse desejo te seria:
Como amigo as verás ; porque eu me obrigo,
Que nunca as queiras ver, como inimigo...
CAM., Lus., cant. 1, est. 66.
De pezo, conta, e medida
Se prezava este nosso amo,
De pezo, porque tratia
Sobre as costas todo o cargo,
Xào 3(.') por dono da casa,
Mas por ser muv corcovado.
JEEOiTMO BAHIA, JOK-SADA 3.
— «(Que trazia dezasete feridas, que
o furor lhe nào deixava sentir) com ou-
tros Fidalgos, e Cavalleiros, com o rosto
nos imigos, e as costas na parede, fizerâo
cousas admiráveis, e não esperadas de
tão poucos homens, e tào cançados fican-
do todos em barreira ás frechas dos imi-
gos, de que todos estavão bem empena-
dos, e todavia tinhão diante de si um
monte de mortos.» Diogo de Couto, Dé-
cada 6, liv. 3, cap. 6. — «E atinando ho
milhor que pude, e sem perguntar a nin-
guém, cheguey ao apousento dos Venezea-
nos, que em ella habitam : de que era côn-
sul e principal hum micer André, pêra o
qual eu trazia huma carta do capitão Dor-
muz, e.scripta em latim, que em aquelle
tempo nam era ahi.» António Tenreiro,
Itinerário, cap. 13. — «A gente que ilo-
leinacer Rei de Mequinez trazia de pe,
e de ca uai lo era tauta que per onde quer
que passaua, ficaua tud > gastado, e des-
truído sem achar quem lho estornasse. »
Damião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 3, cap. 51. — «O que nem receou
fazer, porque sahio a elles com obra de
oitenta lancharas e mais de seis mil ho-
mens, vindo o mesmo Rei de Lingua
diante em huma lanchara tamanha como
a grande gale apadesada, e artilhada, em
que trazia duzentos homens nobres seus
familiares.» Ibidem, cap. 63.
A fortaleza n'este tempo guia
Dous cáturea o vento amigo c brando.
Hum que ao Governador obedecia
E lá de Goa as ondas vem cortando ;
Dentro hum nobre varão em si trazia
Cuja alcunha he Moraes, nome Fernando,
Que tem no militar, heróico oíBcio
Grande esforijo e saber, largo exercício.
F. «'asDRADE, PBIIIEIBO CEBCO DE DIC, CSnt. 13,
est. 9i.
— «Porque não avia cousa que bas-
tasse a quietar a gente, porque dos sete-
centos mil homens que avia no arrayal,
os seiscentos mil eraõ Pegús, de cujo
Rey aquella Raynha fora filha, mas tra-
ziaos este Bramaa tào sogigados e tão
cortados do ferro que não ousavào de le-
vantar 08 olhos.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 152. — «E sem da-
rem poios Governadores que traziam em
cima, foram esmagando quantos dos seus
achavam; com tamanho curso de corri-
da, que pareciam ginetes, sendo tão pe-
zados á vista, de maneira que não 03
puderam os nossos seguir.» Barros, Dé-
cada 2, liv. 6, cap. 4. — «Finalmente
per estes termos suas exhortações eram
lançar-nos fora da índia, e pêra isso tra-
ziam grandes indulgências a todos que
nisso fossem ; e a pessoas notáveis huma
vestidura, a qual diziam vir benta per
elle Çadij com palavras do Alcorão, pro-
mettendo-lhe, que vestindo-as contra nós,
além de serem vencedores, salvariam
suas almas.» Ibidem, liv. 8, cap. 6. —
«(larcla Afi'onso de Slello trazia a Lua.»
Garcia de Rezende, Miscellanea. — «E
estes indicies eram tào manifestos ainda
antes de se descobrir o efíeito d'elles,
que por vezes m'os avisaram os padres
que andavam pelas aldêas, advertindo-
me que me não fiasse das promessas do
capitào-mór, porque elles não viam dis-
posição nenhuma nos Índios, e os trazia
o dito capitào-mór occupados todos em
coisas muito alheias do nosso pensamen-
to.» Padre António Vieira, Cartas, nu-
mero 11.
— Trazia uma carta de amizade. —
II E lhe disse também o a que hia, que
era còtirmar as pazes antigas que o Chau-
bainhaa por seus embaixadores fizera com
Malaca quando Fero de Faria da outra
vez fora capitão delia, do qual tinha
muyto conhecimento, e que para isso lhe
trazia huma carta de grande amizade,
com hum presente de peças ricas da Chi-
na.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 153. — «E disse, que vinha
de Bácora : e que trazia huma carta dei
rey delia, pêra ho Xeque da dita vila :
que lhe viessem abrir a porta pêra en-
trar dentro.» Tenreiro, Itinei-ario, capi-
tulo 63.
— Trazia comsigo alguém; levava ai-
800
TRAZ
TREÇ
TREC
puum na sua coiiijumliia. — tHum dcfltes
que so acharão nesto ajuntamento, era o
guarda que no.s trazia conisiiío, o qual,
por ser liomcm rico o liDurado, viiihaõ
com cllo três dos inain jn-iiiciíjaort, convi-
dadoa jiara a cca, os qu.iis depois de te-
rem ceailo, vioraõ a praticar no niao suc-
cesso do dia dantes.» FernFlo Mendes Pin-
to, Peregrinações, cap, 118. — «E trazia
a i'riucea:i consigo nouo Damas lilhas do
grandes c nobres homens do Castolla e
Aragão, c vinha por sua aya, o camarei-
ra mor dona Isabel de Sousa, Portuguesa,
molhor niuyto fidalga, e prudente, c de
muv honc-ita vida, o outras nioUiurcs e
officiaes tio sua casa.» Uarcia de Rezen-
de, Chrouica de D. João II, cap. 120.
— Traziam as mouras nvs braços ma-
nilhas de prata. — «Do qual, segundo
se dcspois dizia, parece quo a cansa foi
huma crueza que vsarào alguns honioiís
baixos que hião noUo, e foi não podendo
tirar as manilhas de prata que as Mou-
ras trazião nos brayos, lhos cortauão :
mas como a Deos nào aprazem cousas
que a humanidade não sofre, elles e as
manilhas ficarão no roUo do mar.» Bar-
ros, Década 2, liv. 1, cap. 2.
— Trazia um regimento. — «Vendo os
Capitães o mao successo deste assalto,
receosos de lho estranhar el Rey, porque
ja no campo havia algumas murmurações,
disseraõ ao Nauticor que se elle determi-
nava de dar segundo assalto, o pusesse
em conselho geral, conforme ao regimen-
to que trazia, porque se não atreviao
elles a tomar sobre sy hum tamanho pe-
so.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 118.
— Traziam negócios que aviar ; tra-
ziam negócios para resolver. — «Dian-
te do Governador, mas afastados hum
pouco delle se poserâo todos os que tra-
zião negócios que auiar, e despachar,
tudo escripto : porque ali não he licito a
pessoa alguma, abrir a boca pêra falar
palaura.» Fr. (laspar de S. Bernardino,
Itinerário da índia, cap. 14.
— Trazia uma grande cutilada na ca-
beça; vinha ferido. — «E arremetendo
com este fervor c zelo da fó ao Coja
Acera como quem lhe tinha boa vontade
lhe deu com huma espada dambalas niaõs
que trazia huma tão grande cotilada pe-
la cabeça, que cortandolhc hum barrete
de malha que trazia, o derrubou logo no
chão.» Fernão Mendes Pinto, Peregri-
nações, cap. Õ9.
— Trazia uma ferida na coxa esquer-
da. — «Como nisto se detivessem muy-
to espaço sem tomar nenhum repouso,
quiz-se arredar Almourol, por poder fol-
gar algum tanto; mas o cavalleiro das
Donzellas, que sentiu sua fraqueza, o
apertou tanto e com tamanhos golpes,
que o fez vir á terra, por caso de uma
ferida que trazia na coxa esquerda, de
qae se nSo podia menear.» Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, capitalo
127.
— Trazia o demónio maia outros por
outro modo. — « Viuha5 mais outros que
também o demónio aquy trazia por ou-
tro moilo, os quais pedindo esmola de-
zião, minta dromaa xixapurba param,
que quer dizer, damo esmola por Deos
c SC nào matarmeey. » Fcrnílo Mendes
Pinto, Peregrinações, cap. 16.
— Trazia «ma har/ju sem cordas. —
«Aluaro da Cunha Estribeyro mor trazia
huma arpa sem cordas.» (iarcia do Re-
zeiulo, Chronica de D. João II, cap. 128.
TRAZIDA, 8. /. U acto de trazer, em
opiioMi-ào a levada.
TRAZIDO, yart. pass. do Trazer. —
«Pêro da Nhaya recolhoudo estes ciaquo
([ue ieuaua António de Magalhòes o pro-
uido como a nao de seu irmão fo^se ali
trazida : tauto quo veo leixoua com a
sua, e com a de loão Vaz d'Almada por
nào poderem ir pelo rio acima e levou
os bateis delias, e assi o nauio de seu fi-
lho e outro que foi de loão de Queirós
de que ja era feito cjipitào Pêro Teixei-
ra morador nas entradas.» Barros, Déca-
da 1, liv. 9, cap. 6 — «A unha: espe-
cialmente a do dedo pollex do pc direito
trazida em annel de prata, ou ouro em
f.irma que toque a carne he insigne amu-
leto para os accideutes do Epilepsia, e
para o Espasmo.» Braz Luiz d'Abrcu,
Portugal medico, pag. 498, § 14.
TRAZIMENTO, s. m. A acção de tra-
zer.
TRAZOLA, s. /. Vid. Trasola.
TRÈ, í. tn. Espécie de ruão (panno).
TREBELHAR, v. a. Termo antiquado.
Jogar os trebelhos.
— Figuradamente : Saltar, brincar,
bailar.
TREBELHOS, s. m. plur. As peças de
jogar o xadrez.
— Termo antiquado. Brinco, jogo, fo-
lias, invenções de festas.
— Vaso pequeno.
— Imposto quo pagava quem retalha-
va vinhos.
TREBELLTANA, s. /. Termo do fôro.
A ([uarta, quo o herdeiro gravado de tí-
deicomuiisso tem direito de reter, entre-
gando a herança.
TREBELO, s. »i. Brincos dos meni-
nos.
— Vid. Trebelhos.
TREBOLA, s. f. Peixe do mar quasi
da grandeza da baleia.
TREBOLHA, «. /. Termo antiquado.
Odre de marca maior para vinho, cada
um dos quacs era carga de besta eaval-
lar ou muar.
TREBUCAR. Vid. Trabui;ar.
TREBUTAR. Vi.l. Tributar.
7 TREÇADO, s. m. Vid. Terçado. —
«E chcgauílo eu ja despois da ineya noi-
te ao primeyro terreyro das casas, vy
nelle muyta gente armada com treçados,
e cofos, e lança^i, a qual viuta, sendo
para mvm cou'<a a-fsaz nova, me pó» em
muyto gran le confusão, c sospeitando eu
que podf-ria ser alguma traiçilo dax que
ja em outros tempos ne^ta terra ouve,
mo quisera lo^t» tomar.» Fen âi Mende«
Pinto, Peregrinações, cap. 19. — «Á
porta desta varanda OHtavão doze aiabar-
deyros mayto bem desposto», vestidos d©
huma cacbeyra inuyto felpuda, com wn*
c;irapuções do mesmo nas cabeça*, e tre-
çados na cinta de chaparia de prata, os
quais todos eraò tilo soberbos e dezarro-
zoados no mo<io da» suas reposta» que
toila a gente os temia.» Ibidem, cap. 124.
— «E continuando assi com a minha cu-
ra qiiiz nosso .Senhor que dentro em vin-
te dias elle foy saõ, sem llic ficar mais
mal que só hum pequeno esquecimento
no dedo polegar, pelo qual el licy e to-
dos 08 senhores daly por di.ãte me fizerSo
sempre inuyto gasíilhado, e muyta honra,
e o mesmo me fizerão a Raynha e suas
filhas, as quais me der2o niuytas peças
de vestidos de seda, e os senhores me
derão treçados e abanos, e el Rey me
deu seiscentos taeis, de maneira quo ain-
da a cura me montou mais de mil e qui-
nhentos cruzados que de lá trouxe.» Ibi-
dem, cap. 137. — «Que por todos eraS
dous mil e quinhentos e oitenta e doze
mil Bramaas de cavai lo, com Jaezes e
eubertas ricas, que também por sua or-
dem fechavão todo o dopo em quatro fi-
leyras, e estes todos armados de cossol-
letes, e couras, e sayas de mallia, e com
lanças, treçados, e cofoe dourados.» Ibi-
dem, cap. 141. — «Seguese ao longo da
China alem dos bramas ho reyno dos pa-
tanes que agora sam senhores de benga-
la, aos quaes fica ao mar da india todo
ho mais da india, de bengala ate cara-
baya que he ho rcvno de guzarate no
qual por vezes fizeram algumas entradas
he gente belicosa, usam darcos e frechas
a cavallo e tem bons treçados, e he esta
gente huma com os Mogorcs, e foram
do mesmo reyno e geraçam, e por divi-
sões que ouve antreles ficaram divididos
em diversos re\Tios.» Frei (Saspar da
Cruz, Tratado das cousas da China, cap.
4. — « Ao qual em chegando, guiado per
Alexandre dataide, dixe Afonso dalbu-
querqne que nam vinha como denia, pois
trazia armas, qu • as tirasse logo, o que
elle nam quis fazer, mas antos apunhon
do treçado o que vendo Afonso dalbu-
quei-que lhe trauou do braço dizendo a
Poro dalbuquerque que lho tirass>» dali.»
Damião «ie (?oes, Chronica de D. Manoel,
part. 3, cap. 6í^.
TREÇAR. Vil. Terçar.
TRECENTESIMO, A, adj. Do latim tre-
eeii'ís!muí'^, O ultimo de trezentos; o que
se seirno a 2119.
TRECHEIO, alv. Termo popular. A
trecheio houv« Jf cotner ; em muita co-
pia.
I
TREG
1.) TRECHO, s. m. Intervallo, espaço
de tempo, ou de logar.
— A trechos ; de tempo em tempo, de
distancia em distancia.
2.) TRECHO, s. wi. Passagem, pedaço
de alguma obra em prosa, ou verso.
TREÇÓ. Vid. Terço.
— Dú-se também este nome ao ultimo
leitão que nasce do mesmo ventre, e, em
geral, ao ultimo animal da mesma ni-
nhada.
TREÇOL. Vid. Terçol.
TREDICE, s.f. Termo antiquado. Trai-
ção.
— O caracter do que é tredo.
TREDO, A, adj. Termo antiquado. Trai-
dor.
Kão sei, ha medo,
de mi o jantar, e foge ;
pois não lhe fui nunca tredo !
Jantar foge? Ora accrtaes.
Jantares pobres d'e3,)irito
sao parvoa, nào entendem mais.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pag. 189.
— Não singelo, de animo dobrado, que
não falia sincero.
TREDOR. Termo antiquado. Traidor.
TREDORAMENTE, adv. Termo antiqua-
do. Atraiçoadamente.
TREDORICE, s. /. Vid. Tredice.
TREDORO, A, adj. Termo antiquado.
Vid. Traidor.
TREDRO. Vid. Traidor.
f TREEVOSO, A, a<lj. Termo antiqua-
do. Trabalhoso. — « Acabando esta tree-
vosa vida, mereça começar de viver per
certa sperança em aquella gloria eter-
nal.» Fr. João Claro, Opúsculos, pag.
180, em Inéditos d'Alcobaça.
TREFFGO, A, adj. Vid. Trefo.
TREFEGO, TREFEGUEIRO, A, adj. Vid.
Desalijo.
TREFO, A, adj. Sagaz, astuto, ardilo-
so, dissimulado com malícia.
— Que faz travessuras dissimulada-
mente.
TBEJEITADOR, A, s. Pessoa que faz
tregeitos, momo.í, pantomimas, e ade-
manes.
TREGEITOS, s. m. plur, Ademanes,
— Destrezas, e habilidades de mãos,
que parecem maravilhosas. — «Os ho-
mens dinheirosos, entre os quáes se acha-
va M. Chenu se tiuhão retirado n'um
canto da salla, onde sem duvida fallavão
de negócios. Outo mulheres, e eu na con-
ta, fazião meia lua á cheminó, as quáes,
sem as querer vêr, por mais que voltasse
03 olhos, me erão representadas pelos es-
pelhos com a vista cravada em mim, e
logo seus tregeitos, e os lanços de olhos
que servião de recíprocos intérpretes a
Damas e a Cavalheiros.» Francisco Ma-
noel do iSTascimento, Successos de mada-
me de Seneterre.
TREGOA, >•-•. /. Suspensão temporária
de armas e hostilidades. — Fazer tregoas.
TREI
— «Por morte deste pagano, sucedeo no
Reyno de Córdova, seu tilho Ozinen, que
no principio recusou de guardar as tre-
goas com elRey Dom Bermudo, sem pri-
meiro lhe dar o tributo ordinário das
donzelas.» Monarchia Lusitana, liv. 7,
cap. 10. — «Mande-me V. S. como lhe
peço, outro semelhante que seja de Por-
tuguez, confesse que este que lhe invio
se acha nos Livros, e á vista disso fare-
mos tregoas. (iuarde Deos a V. S. mui-
tos annos.» Cavalleiro d'01iveira. Car-
tas, liv. 1, n.° 33.
— Figuradamente : Cessação temporá-
ria de trabalhos, fadigas, moléstias. —
Tregoa du trabalho, da dõr, etc.
— Feiia.
TRÉGUA, s. f. Vid. Tregoa. — « Afir-
mou se aos Portugueses que estavam ca-
tivos e nos troncos pi-esos ho anno de
cincoeuta, que ha alguns annos que avia
antre os Chinas e Tártaros tréguas : e
no anno de cincoenta fizeram os Tárta-
ros huma grande entrada na China, da
qual lhe tomaram huma cidade niuv prin-
cipal.» Frei Gaspar da Cruz, Tratado
das cousas da China, cap. 4.
1 TREIÇAM, s. /. Vid. Traição. — «A
qual soltou com dizer ao capitão que com
el Rei de Cambaia, nem com seus vas-
salos, e amigos, não queria se não toda a
paz, e amizade, e que assi o podia dizer
a Jlilicupij, porque naquellas partes não
tinha el Rei de Portugal seu senhor guer-
ra se não com os Mouros de Meca, e
com el Rei de Calecut, polas treiçoens,
e enganos que fezera a seus capitães.»
Damião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 1, cap. 60. — «Pelo que no mesmo
dia despachou dom Lourenço com todolos
capitães da frota, para de súbito darem
em Coulão, e queimarem quãtas nãos
achassem dos mouros, e dos da terra, em
vingança da treiçam que fezerão, a quem
o tempo seruio de maneira que chegou a
Coulão antes que os da cidade soubessem
de sua ida, onde pos fogo a xxvij, nãos
de mouros, que achou no porto, do qual
se não quis partir sem primeiro as ver
arder todas.» Ibidem, part. 2, cap. 7.
— « Mas antes que saísse do castello
mandou matar cento, e cincoenta Mou-
ros que tinha presos por caso das trei-
çoens, em que entrou Miliqui cuf condal
e decí-par todolos cauallos que valião
muito dinheiro, por se o çabaim não lo-
grar tielles.» Ibidem, part. 3, cap. õ. —
«O que feito se pos a cauallo, com cen-
to, e cincoenta lanças, e foi alcançar ho
Arraial dos que fezeram a treiçam duas
legoas, e mea de çafim de que trouxe a
Cidade seiscentos, e cincoenta almas, e
muito gado vacum, e meudo, e matou no
recontro mais de cento, e cincoenta del-
les.s Ibidem, part. 4, cap. 64.
TREIÇÃO, s. /. Vid. Traição.
TREIDOR, A, adj. e s. Vid. Traidor.
TREIN, s, Wi. Vid. Trem.
TREL
807
TREINA, s. f. Termo de historia na-
tural. A ave, ou o animal, sobre que os
caçadores dão de comer á ave de rapina,
para esta se acostumar a caçal-a, e fazer
d'ella sua ralé.
— Figuradamente : O cevo, pasto ha-
bituai.
— Figuradamente : A treina da tua
conversação.
TREINAR, V. a. Acostumar a ave de
caçar com o cevo da sua ralé, para a ha-
bituar a empolgar n'ellas pelo gosto do
costume.
— Treinar-se, v. rcji. Acostumar-se a
ave com o cevo da sua ralé.
— Figuradamente : Acostumar-se al-
guém, aftazer-se a qualquer cousa.
TREITA, s. f. Rasto, vestígios, pega-
das, trilha.
TREITENTO, A, adj. Que usa de tre-
tas.
— Substantivamente : Um treitento.
TREITO, A, adj. (Do latim tritus).
Usado, costumado, trilhado.
— Tratado.
— Exposto, sujeito a treitas.
TREJURAR, V. a. Repetir o juramento
três vezes, affirmar muito, affirmar com
três juramentos. Vid. Tresjurar.
TRELADAR. Virl. Tresladar.
f TRELADO, s. m. Vid. Traslado. —
«Da qual Hordenaçom o Concelho da
dita Cidade nos pedio por mercê, que lhe
mandássemos dar o trelado delia; e nós,
visto seu dizer, e pedir, mandamos-lha
dar em esta nossa Carta testemunhavel.»
Ord. Affons., liv. 4, tit. 21, § 5,
TRELHO, s. m. Instrumento de bater
a manteiga.
TRELLA, ou TRELA, s. f. A correia
onde vai preso o cão da caça. — «E naõ
estiveraõ muito que chegou, para passar,
hum mancebo mui aprazível de rosto, e
airozo na postura, vestido de monte, com
hum galgo pela trela, e outros caens que
o seguiaõ; com a outra maõ vinha sope-
zando hum dardo.» Francisco Rodrigues
Lobo, Desenganado.
— Cão de trella ; cão que preso n'ella
vae puxando pelo caçador, levando-o pelo
rasto da rez até a achar.
— Loc. FIG. : Levar de trella o cão;
leval-o pela trella.
— Trazer á trella; trazer á toa.
— Loc. POP.: Bar trella; dar audiên-
cia, fallar com uns e outros, e respon-
dendo a todos ; dar attenção.
Quero comer hoje : daes
trela a parvos, isto faz.
Por aquiilo pclejacs?
por que mo trazeis cA?
Batei, chainae vossa irmã.
ANTÓNIO PRKSTF.S, AUTOS, pag. 2C3.
Molher, dos mais embaraços
sois que eu vi, niolhcr perigo,
quereis dar trãa a madraços
TREM
TREM
TREM
que andam do figo om figo ?
Eu ai.0 vou coiovoaco a<mi.
— Fi^nríulamentc: lioer as trellas ;
estar impacienta, por ir fazer alf:cu'"íi ^'"i-
sa, como o cuo que mo quer lançar ;l caça,
— Figuradamente: Soltar a trella auí
soldnd-iiK para irem accommetter; deixar,
perniittir.
— Fifíuradamente : Dar trella ao esty-
lo; dar larf^a.
— Soltar a trella ao animal caçador
para se lançar á presa, d sua ralé.
— Dar trella ; dar fclj^a, licença.
— Dar trella ás travessuras ; dcixar-
lh'as faner quantas querem.
— Esganiçar na trella ; diz-so do cão
preso.
— Figuradamente : Esganiçar na trel-
la ; diz-so lio que ralha, e censura som
poder emendar, nem castif^ar aquellos de
quem ralha, e diz mal, ou lastima as
maldades impunidas.
TREM, «. m. (Do francez train). A
gente, ^ bagagem que acompanha al-
guém de jornada.
— Ter trem de tartaruga; diz-se
d'aquelle que tem quanto sobro si o traz
ou leva.
— Trem de artilheria; apparelho d'el-
la. — «E assim com muita facilidade fez
ElRey Nosso Senhor hum Exercito no
anuo de 1643. que sahio de Elvas com
12áí000. Infantes, e 2^. cavallos: e no
anno do 45. fez outro na mesma Fron-
teira de 7()000. Infantes, e 1500. caval-
los, e que no Trem ila Artelharia, e ba-
gagem levava lU.-SOOO. » Severim de Fa-
ria, Noticias de Portugal, Discurso 2, ca-
pitulo 9.
— Trem do exercito; todo o apparato
de muniçijes, provisões, vedorias, gasta-
dores, etc, que o segue e acompaniia.
— Trem de vida, por modo de vida ;
n'esta locuçào c gallicisnio.
TREMA, s. m. (Do francez íre?)ia). Vid.
Dierese.
TREMALHO, s. m. Vid. Tresmalho.
TREMANTE, a^lj. 2 gen. Que trome.—
Voz treraante.
TREMAR, V. a. Descompor os fios da
tecediira.
TREMATE DO BRAZIL, s. m. Termo
de botânica. Tlanta da família das co-
rymbi feras.
TREMEBUNDO, A, adj. (Do latim tre-
viebundtis). Termo de poesia. Tremulo.
TREMECEM, adj. m. — Trigo treme-
cem ; trigo treniez. Vid. Tremez.
TREMECER. Vid. Estremecer.
TREMEDAL, s. m. Terreno ensopado
do agua; Icnteiro, brejo. — Tremedal de
arroz.
— Lamaçal, lodaçal, lameiro.
TREMEDOR, A, adj. c s. Que treme.
— ò'. m. Termo de historia natural.
Peixe que tomado nas màos produz ef-
feitoB eléctricos; outr'ora conhecido pelo
nomo lio trenielgu.
TREMELEAR. Vid. Tremolar.
— Hesitar, nilo saber o que se diz de
medo, e tui baçào.
TREMELEGA, «. /. Vid. Tremelga.
TREMELGA, f. f. Termo de zoologia.
Peixe como a raia, que causa o choque,
ou pancada (|ue produzem o» conducto-
res eléctricos, quanilo se toca na machi-
na, nas jiessoas a quo 80 communica o
iluido. Vid. Torpedo.
TREMELHICAR, v. a. Tremer a miúdo
o (|uc s(í uào |)i') le ter cm p6,
TREMELIGOSO, A, adj. Termo om des-
uso. Tremulo.
TREMENDAMENTE, adv. (De tremen-
do, eoni o sufiix(j «mente»). De um mo-
do tremendo.
TREMENDÍSSIMO, A, adj. superl. de
Tremendo. Alui tremendo.
TREMENDO, A, adj. (Do latim tremen-
dus). Que faz tremer, horrível.
Trrmendo todo, todo embaraçado
Rodea os olhos a hrnna c outra parto,
E ao pi do hum freixo antigo, ondo deitada
Dona Lianor csti'ua, a vista firma.
coRTH KUAL, nAUFRioio Ds sui-ULTEnA, cant. 9.
Povo de Utica,
Romanos — quo vis sois Romanos ainda,
Quo pretendeis '? As legiões de César
Estão ja sobre nJs. Esse alvoroto,
P'sso acclamar o nome d'um proscripto
Movcril sua cliolcra tremenda
Uoutra vóa. ]dc em paz, amigos, ide.
OÁRKETT, CATÃO, HCt. 5, SC. 5.
— Formidável.
TREMENTE, part. act. do Tremer. —
Amor tremente.
— i}\ití faz tremer.
TREMENTINA, s. /. Vid. Terebintia.
TREMER, i'. n. (Do latim trenure).
Sentir o nuivimento do corpo, que causa
o frio demasiailo, o susto, o horror, a
convulsão. — «E diante de todo este apa-
rato vrio mais de quatrocentos upos cij
grande soma de cadeas de ferro muyto
compridas que vão arrojando pelo chão,
com huma desordem e hum estrondo tão
medonho que fazem tremer as carnes a
toda a pessoa. » Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, c;ip. 106. — «Aquy nesta
segunda cerc;i em huma grande porta
por ondo entramos estavão, cm figuras
muvto disformes, os dous porteyros do
inferno, segundo olles ilizem, hum por
nome Bacharom, e outro Quagifiiu, am-
bos cõ maças de ferro nas maljs, e tão
feyos em tanto estremo, que as carnes
tremião aos que olhavào para elles.»
Ibidem, cap. 110. — «Se soubera, que
cousa he fogo eterno, tremera só do pe-
rigo do cahir nelle. Se soubera, que cou-
sa he gloria, naõ desprezara por pouco
mais de nada hum bem infinito.» Padre
Manoel Bernardos, Exercícios espiri-
tuaes, pag. 17(j.
E p/.dn um cidadão tremer ante ellci!?
l'oucoH iWjmOA ; mas livrca, mas ouiudoa.
No furor da peleja, (juantas vezcá
Um «<) braço baHiou a dccidi-U?
OABBKTT, CATÃO, aCt. 2, 8C. 1.
De te deixar, meu paol
IBIDEM, act. 6, SC. 9.
Tremo, e é medo
— «E a minha domna tremia, o o lei-
to tremia, tremia eu, que mirava tudo,
mas com a cabeça cuberta, por uma fis-
ga da roupa ; o a lampa<ia espirava, e
na janella sentia-se o vento que assobia-
va, c IX no telhado da igreja de S. Mar-
tinho os moclios que |iiavam.» Alexandre
Herculano, Monge de Cister, cap. 21.
— Não eslar tirme, abanar. — Tremer
a terra.
O bruto animal da scrr»,
O terra filha do barro,
Como s.abeõ tu, bcbarro.
Quando ha de tremer a terra,
Que espantas os bois c o Ciirro ?
GlI. TICESTB, AUTO DA HOFIXA KEXDES.
— «E tanto quo a noua foy dada a el
Rey, todas estas cousas se fizeram jun-
tamente, com tanta brcuidade, e preste-
za, que foy cousa espantosa. E era ta-
manho o estrondo, que com isso, e c m
a grita da gente parecia que a terra tre-
mia, tudo muyto pcra ver por ser tam
supitamente, c feito em muyta perfei-
çain.» Oarcia de Rezende, Chronica de
D. João II, cap. 115.
— Tremer as lact^at tetas; tremer de
cheias, de carregadas de leite.
Os crcs|K>â fios d'ouro desparzidos
I*e!o coilo qnc a neve escurecia •,
Lácteas tetas que andando lhe tremiam.
Com quem amor brincava e uão se vi* ;
As flamas que lhe saem d'alva pctrína:
Desejos que como horas inrolados
Pelas lisas columuas lhe trepavam...
OABBETT, CAMÕES, cant. 7, Cap. 18.
— Tremer a passarinha. Vid. Passa-
rinha.
— Figuradamente: Tremerem a» cida-
des de Meca e Mediíui.
>redina abominável. Meca tremem
C"o nome de Soares; as eitremas
Praias de Abassia tremem. Cede a nobre
Ilha de Taprobana, hasteado impera
Luso pendão nas torres de Columbo.
OABBKTT, CAMÕES, caut. 6, Cap. 19.
— Tremer de raiva; diz-sc do que in-
dica horror de consciência.
— Figuradamente : Tremerem as pa-
TREM
TREM
TREM
809
redes; abanarem, estarem dispostas a caí-
rem.
Tá! paredes, não tremaes!
estae, nào caiacs agora!
deisac-voâ passar.
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pSg. 445.
— Tremer a voz; tremolar.
— Tremer o queixo, as barbas, as per-
nas; diz-s<' do que está cheio de frio, ti-
ritando com elle.
• — Figuradamente : Tremer as ijernas ;
diz-se do que está possuído d'alg-iima ac-
ção má que tivesse commettido, e que o
receio do castigo liie produz o tremer
das pernas como remorsos.
— Treme-me o coração, a alma es-
morece-me.
— Figuradamente : O pensamento tre-
me; horrorisado de tanto.s perigos.
— Loc. POP. : Tremer maleitas; diz-
se o que as tem.
TREMETTER-SE, v. refl. Vid. Entre-
metter-se.
TREMEZ, arij. m. — Trigo tremez ;
trigo que nasce e amadurece em três me-
zes. Vid. Trigo.
— Figuradamente : A trova trigo tre-
mez; boa improvisada.
Renunciava o metal ;
Qu'cm rifòezinhos como estua,
Ha-se-de pôr tal eom tal.
Que a trova tx\s.o-tremez
Ha de ser toda dhum pano ;
Que parece mnito Ingrez
N hum pelote Portuguez
Todo huui quarto Castelhano.
CAM., AMPHTIBIÕES, act. 1. SC. G.
TREMEZINHO, adj. m. Diminutivo de
Tremez. (_'.'[ovem, tremez. — Trigo tre-
mezinho.
TREMIDO, part. pass. de Tremer. —
Linha tremida; linha cujos rasgos não
vão direitos, como a que faz quem tem
a mào tremula.
— Linhas tremidas ; linhas pontuadas
nas cartas de marear, que indicam os
ventos ini,ermedios.
TREMILHICAR. Vid. Tremelhicar.
TREMILIGOSO, A, adj. Vid. Treme-
ligoso.
TREMISSES, s. m. plur. Moeda do
valor de oito ou seis vinténs, e treze
reis.
— Um terço do soldo.
TREMO, s. m. Espelho posto no panno
de uma parede entre duas janellas. Vid.
Trumó.
TREMOÇAL, s. m. Seara, campo se-
meado de tremoços.
TREMOCEIRO, s. m. Termo de botâni-
ca. Planta qne dá tremoços.
TREMOÇOS, s. m. pJur! Gr.^ios brancos,
amargos, que depois de curtidos e cozidos
se tornam amnrellos, e se comem.
TREMOLADO, part. pass. de Tremolar.
" VOL. V. — 102.
— Tremoladas bandeiras. Vid. Tre-
molar.
TREMOLANTE, parf. act. de Tremolar.
— Tremolantes bandeiras. Vid. Tre-
mulante.
TREMOLAR, ou TREMULAR, v. a. Fa-
zer uKiver, e tremer solto ao ar. — Tre-
molar as bandeiras. — «Havia el Rei D.
João enviado alguns Religiosos Francis-
cos á Ilha de Ceilão, exemplares na vi-
da, e na doutrina, para que com o san-
gue, e com a palavra testemunhassem a
verdade Evangélica, sendo este o maior
cuidado de nossos Friíicipes, cujas ban-
deiras mais vezes vio tremolar a Ásia em
obsequio ca Religião que do Império.»
Jacintbo Freire d'Andrade, Vida de D.
João de Castro, liv. 4.
— V. a. Mover-se tremendo.
Deixar as ermas praias he forçado
O Capitão prudente. Ilha as julgava,
Das muitas, que inda o mar não profanado
Côas frias ondas resonantes lava :
A que ilida o Luso, navegante ousado,
Nem Colónias, nem nome eterno dava ;
Pois poucas são nas vagas cryatalinas.
Onde nào fossem tremolar as Quinas.
J. A. DE MACEDO, O OKIESTE, Caut. .3, eSt. 65.
— -Emprega-sc também no sentido fi-
gurado.
TREMOLITE, s. /. Termo de mineralo-
gia. Espécie de pedra. As tremolites
tornam-se notáveis pela sua phosphoren-
cia, ou pela luz que ellas derramam,
quando se lhes roça na obscuridade.
TREMONADO, s. m. O vaso onde cáe
a farinh:i nioida.
TREMONHA, s. /. Canoura, vaso de
madeira quadrado, largo na bocca, e es-
treito no outro extremo exposto, com pas-
sagem como o funil, pela qual cáe na
mó o trigo que está na tal tremonha para
se moer.
TREMOR, s. m. (Do latim tremor). Mo-
vimento tremulo. d'aquillo que treme, e se
agita, vibra ou abana. — Tremor de per-
nas, de braços. — Tremor do mar agitado.
— «E respondendo á segunda proposição
contra aquelles que dizião que logo viria
outro tremor e que o mar se levantaria
a 2õ de Fevereiro, digo, que tanto que
Deos fez o homem, mandou deitar hum
pregão no paraíso terreal, que nenhum
seraphim nem anjo nem arehanjo, nem
homem nem mulher, nem sancto nem san-
cta, nem sanctificado no ventre de sua
mãe, não fosse tão ousado que se entre-
mettesse nas cousas que estão por vir.»
Gil Vicente, Obras varias.
Aqnestcs tremores taes,
o outros muvtos signaes
vemos, sem termos lembrança
de Deos, ucm fazer mudança
de nossas vidas mortaes.
GAhCIA DE BEZENDlC, taSCSUUJTU.
— íEt irridebat me irrisione exhoria-
toria, quasi diceret : Tu non poteris quod
isti et istce, an isti et istce in semetipsis
possunt ac non in Domino Deo suo? E
com estas palauras que se lhe affiguraua
dizerlhe a castidade, e com estes exem-
plos, que punha diante, confessa que se
corria tanto de si mesmo, que se acaba-
rão seus tremores, e foy este o derradei-
ro termo de .<ua conuersaõ.» Paiva de
Andrade, Sermões, pag. 121.
• — Tremor de terra; terremoto.
Como assim?
A estar mais um anno aqui
tínhamos tremor do terra.
.Ofioxio rBESTES, AUTOS, pag. Ml.
. — í Com este vento e por estar ba ter-
ra movida pelos tremores, cayram e se
assolaram muitas cidades, nas quaes mor-
reo gente innumeravel. Em buma cidade
per nome Vinhàfuu neste dia tremeu
muito a terra.» Frei Gaspar da Cruz,
Tratado das cousas da China, cap. 29.
TREMPE, s. /. Um aro de ferro sobre
três pés, em que se assenta a panella ao
fogo.
— Uma postura dos três dedos na viola.
— Trempe do fuso; peça do prelo de
impiinra-. Vid. Quadro.
— Trempes dj) veado; são três pontas
que elles criam depois dos seis annos.
— Alguns escrevem frenipem.
— Adagio e provekuio:
— É dourado, avisado, e formoso como
as trempes.
TREMDDAR. Vid. Trasmudar, e Trans-
mudar.
TREMULAMENTE, adv. (De tremulo, e
o snffixi "mente»'. De um modo tremulo.
— Com tr.'muras.
TREMDLANTE, part. act. de Tremular.
— Lume tremulante ; lume agitado,
tremulo.
TREMULAR. Vi 1. Tremolar.
TREMULAS. Vid. Trémulos.
TREMULO, A, adj. Diz-se do movi-
mento que tem os corpos que se agitam,
como a corda da viola, ou cravo, quando
está tesa, e se fere, agitando-se a um e
outro lado, vibrando.
Quem és tu que assim falias, lhe dizia
Tremulo hmn tanto o capitão prudente
(Espantado da luz, que vence o dia.
Quando mais alto brilha o Sol ardente;)
És acaso illusào da fantasia,
E sem que existas te produz a mente?
Kào, (lhe diz hnma voz, qnc as luzes fende,
E mais, e mais extático o suspende.)
j. A. DK MACEDO, O ORiEJiiE, cant. 6, sst. 15.
Qual montanha ficou, que o fogo ardente
Ko escuro abysnio das entranhas guarda,
Que dalt^a cima tn-miãa. o convulsa,
ígnea lava arremeça, ígneos penhascos.
IDEM, MEDITAÇÃO, C3nt. 1.
810
TREM
TREP
TRE8
O Supromo Motor parte do fogo
Uniu ao Sol, il« Irem.iUwi Ií»trclla8 :
E diâporaas porções do fogo occulto
Nas ondas ouoorrou, no ar, na torra.
IDEM, A NATUREZA, CSnt. 2.
A vista pcrsoicaz por ontro as ondas
Ao loiípi a prpz!i Iremnia doviza.
Mergulha forocissima, d'hum golpo
No escuro ventre a esconde inda tremendo.
IBIDEM, cant. 3.
Ergui-o palpitando: nm ni'i o atava.
Trémulo o desabrocho — era oiro puro,
Oito d'aquclla3 tranças tam queridas,
Ricca jóia d'amor. Co "a doce. prenda
Vinha nm bilhete : abri-o, li ; — «Roubado
Foi este instante a bárbaros tutores, i
OARRETT, CAMÕES, caut. 4, cap. 4.
— Tom tremulo ; tom do que tem medo.
— « Ahi tendes, mestre ;
Poucos pardaus contém... (Menos me ficam,
T.-ílvoi; nf^nhuns...» em tom mai.i baixo c trémulo,
Qii.isi de não se ouvir ; nem certo o ouviram.)
«Porém d'aqui A praia não vai muito,
E a passagem do Jáo...»
OABRF.TT, CAMÕES, Caut. 1, Cap. 14.
— Oceano tremulo de fogo.
Tu vês de lá quo o \'ivido semblante
Do luminoso Sol se euluta, c cobre
De espessas manchas, quo ondeando girão
Polo Oceano tremulo de fogo.
J. A. DR MACEDO, A N.WDBEZA, Cant. 1.
— A tremula planicie.
No fundo abismo, c tremida planice
Descobre hum rasgo da immortal 15(>lleza ;
Em quantos Sores suas ondas guardão
Y6 do Eterno o poder, do Eterno a gloria.
J. A. DE MVCKDO, A NATUREZA, cant. 3.
— o alvejar de roupas tremulas. — •
«Ao lu.sco-fuseo, as ani))las pregas da strin-
gc d'Earico, branquejando movediças d
niercô do vento, eram o signal de que
ellc estava lá, e, quando a lua subia á.s
alturas do C(iu, esse alvejar do roupas
tremulas durava, quasi sempre, até que
o planeta da saudade se atufava nas aguas
do Estreito. D'alii a poucas lioras, os ha-
bitantes de Carteia que se erguiam para
03 seus trabalhos ruraes antes do alvore-
cer, olhando para o presbvterio, viam,
atravez dos vidros corados da solitária mo-
rada do Eurico, a luz da lâmpada no-
cturna que esmorecia, desvanecendo-se na
claridade matutina.» Alexandre Hercula-
no, Eurico, cap. 3.
TRÉMULOS, s. m. plur. Termo do ou-
rivesaria. Flores de pedraria sustidas so-
bre arame elástico, quo tremem muito na
cabe(,-a, ou peito que adornam.
TREMULOSO, A, adj. Tremulo.
TREMURAS, s. /. ylar. O susto que
produz a pressa, aperto, perigo.
— Loc. pop.: Vtr-te dUjuem em tre-
muras ; vcr-so em angustias, aifrontae,
atHic<;òe8.
TRENA, 8. f. Fita, ou tecido simiihante
do seda, ou tio do ouro.
— Trena de prata, de ouro; para tran-
çar o cabcllo.
— Correia com quo os rapazes fazem
gyrar o [mào açoutando-o.
" TRENÇA, s. /. Termo antiquado. Vid,
Trança.
TRENÇADO. Vid. Trançado.
TRENO', í. «1. (Do fraiicoz trainenu).
Carro de rojo, carreta sem rodas, em que
se viaja sobre os regeles do norte. Vid.
Solea, Rastilho.
TRENOS. Vil. Threuos.
1.) TREPADEIRA, «. vi. Termo de bo-
tânica. l'lanta de que ha duas espécies,
tendo a jirimeira folhas como a hera, e
flores brancas com figura de sino, e a
segunda folhas mais pequenas, e flores
côr de rosa.
2.) TREPADEIRA, adj. f. — Hervas
trepadeiras ; horvas que sobem ao tronco
a (|uo se arrimam, o que também fazem
algumas rasteiras, posto que não tanto.
1.) TREPADOR, s. m. Volteador na
niaroma.
2.) TREPADOR, A, adj. Que trepa, en-
roseando-se, e earolando-se, como alguns
cipós e plantas.
— Vinho trepador; vinho que sobe á
cabeça, e tolda o entendimento.
TREPADOURO, s. m. Logar onde se
trepa.
TREPANAÇÃO, s. /. Termo de cirur-
gia. A ojieração de trepanar.
TREPANAR, v. a. (Do francez trepa-
ner). Abrir com o trépano.
TRÉPANO, s. m. (Do grego tnjpanon).
Instrumento cirúrgico do furar o craneo,
para reconhecer o estado do cérebro.
TREPAR, r. n. Subir pegando-se com
as mãos, e ajudando-se d'ellas, como as
hervas trepadeiras de seus elos.
Nunca trepou tanto .1 era
que lá lhe não falsa uma volta
tudo o que cm subir so esmera.
Mestre, esta gente marfuz,
seus auterluuíios
nunca fino.
ANTÓNIO PHKSTKS, AUTOS, pag. SI.
Das Antilhas os íncolas remotos
Gozào deste spcctaculo ; dormentes
Alguns na praia concava sesteudem,
Outros trepando vão por escabrosas
Cixrcomidas do mar pendentes rochas.
J. A. DE MACBDO, A NATCRKZA, Cant. 3.
TREPEÇA, .t. /. Uma roda de madei-
ra cravada sobre três pós, que serve de
assento aos sapateiros, e outros mechani-
cos.
— .Vluuns dizem tripeqa.
TREPECADO. Vid. Triplicado.
TREPEES, 5. /. plur. Vid. Trempe.
TREPICA. Vid. Tréplica.
TREPICHE, «. VI. Machina de peneirar
a farinha.
— Tra|)iche.
TREPIDAÇÃO, ». f. (Do latim irepida-
lio). Termo (ie astronomia. Balanço, que
antigos a.-»tronomo9 cuidaram, que o fir-
mamento dava do norte para o sul, e
vice-versa.
— Trepidação na terra ; abalo menor
quo o tf-rronioto.
TREPIDANTE, adj. 2 gen. — Vôo tre-
pidante dus azoa fia ave agilaJat; ao
contrario de quando não as move, ou tre-
mula.
TREPIDAR, V. n. (Do latim trepidare).
Termo poueo em uso. Temer, ter medo.
TREPIDO, A, adj. ^Do latim trepidut).
Tremulo, temeroso, assustado.
— O trepido mido.
TREPLICA, *. /. Termo do foro. A res-
posta dada pelo reu á replica do anctor,
impugna!ido-a.
TREPLICADO, part. pas$. de Trepli-
car.
— Contervla treplicada de versa ; com
resposta de parte a parte.
TREPLICAR, 1-. a. Refutar, ou contra-
riar a replica do auctor.
— Locução forense : Treplicar por ne-
gação ; negando a matéria, proposições
da replica.
TREPRICA. Termo antiquado. Vid. Tre-
plica.
TREPRICAR. Termo antiquado. Vid.
Treplicar, tenno mais em uso.
TRÊS, ou TREZ, adj. 2 gen. (Do la-
tim três). O numero que resulta de dous
e mais um, existente entre 2 e 4, que é
maior que 2, e menor que 4.
Não fapresscs tu, Inei,
Maior hc o anno que o mcz.
Quando to não precatares
Virão maridos a pares,
E filhos de três cm três.
On. VICXNTR, PASÇAS.
— «E assi a qualquer parece que está
mais dobrado, sem nenhum conhecer seu
próprio engano, por grande que seja.
Ora, Senhores, a mim me esquece o dito
todo de ponto em claro: mas não sou de
culpar, porque não ha mais que tres dias
que mo dcrào. Mas em brevcá palavras
direi a vossas mercês a summa da obra :
ella he toda de rir, do cabo ate á pon-
ta.» Camões, Seleuco. — t Senhores, al-
gum de vós ; polo que devo á ordem,
que tomastes, quererá ir comigo fazer um
soccorro a uma donzella, que três caval-
leiros por força querem matar?» Francis-
co de Moraes, Palmeirim dlnglaterra,
cap. 16. — eDiz a historia que clrei do
Dinamarca antre três tilhos, que lhe a
natureza dera, especiaes cAvalleiros, o
primogénito chamado Albanis de Frisa,
o era tanto, que quasi em todo seu reino
TRÊS
TRÊS
TRÊS
811
não havia outro melhor.» Ibidem, cap.
88. — dOs três companheiros quizeram
contender das espadas, e Lustramar foi
o que n'isto mais porfiava, que se havia
por injuriado mais naquelle caso.» Ibi-
dem, cap. 129. — «Qualquer dos sobre-
ditos, que for contra esta nossa defesa,
Mandamos que perca aquella saqua ou
saquas que assy comprar. Feito em a
Cidade de Lisboa três dias d' Agosto. Al-
vare Annes o fez Anno do Nacimento de
Nosso Senhor Jesus Christo de mil e
quatrocentos trinta e sete annos.» Ord.
Affons., liv. 4, tit. 50, § 1. — «Depois
por espaço de três horas vêo já melhor,
que non sabia nem niifrallia de todo
aquesto.» Actos dos Apostoles, cap. 5,
§ 7, em Inéditos d'Alcobaça, tom. 1.
E seu fillio muv amado,
p-am, liberal, e5fon;ado,
Carloà virtuoso, humano,
com tra filhos cm hum àno
morrco moço, mal logrado.
GABCI.Í. DE BEZEKDE, ]aSCELLAJ(£A.
— cFurtaraõ três officiaea mancomu-
nados nove mil cruzados á fazenda de
Sua Magestade : repartiraõ-nos entre si,
e navegarão com o cabedal, hum para a
índia, outro para Angola, e para o Bra-
zil outro ; e depois de chatinarem valeu-
temente, tomou-os por lá a hora da mor-
te.» Arte de furtar, cap. 65. — «Durou
a escaramuça sem melhoria notável de
nenhuma das partes, e morte de muitos
cavaleiros de preço, desde as três da
tarde, até se cerrar a noite, em que el-
Rev chamou a conselho, e de parecer de
seus Capitães assentou dar batalha ao dia
seguinte, que foraõ três dias da Lua de
Muharran, aos noventa e quatro annos
da Hixara, que reduzido ao nosso modo
de contar, fica sendo meado Outubro em
quarta feira, do anno de Clnústo, sete-
centos e quatorze.» Monarchia Lusitana,
liv. 7, cap. 2. — «Passados dous ou três
dias, tendo o Almirante com elle prati-
ca: disse lhe este Brammane que elle lhe
queria descubrir a verdade da causa da
sua vinda a Portugal, per ventura se o
assi não fizesse a elle Almirante lhe pe-
saria de o nào ter sabido a tempo.» Bar-
ros, Década 1, liv. 6, cap. 7. — «Keste
tempo entre alguns Mouros que vinhaõ
vender aos nauios mantimentos; vieraõ
três Abexijs da terra do Preste loaõ.»
Ibidem, liv. 4, cap. 4.
Afíerrão com gràa pressa os três navios,
Movem os braços sempre vencedores,
E com quanto os achArào nào vasios
D'esfor(;o, de valor, de defensores,
Mandão comtudo ao mar os corpos frios
Daquella gente a quem altos louvores
Tirar nào podo a morte apoz a vida.
Porque sempre da fama foi vencida.
' r. d'aiidbade, PEUCEnio cebco de diu, cant. 7,
est. 59.
■ — «Fora da Cidade pêra aparte do
meyo dia distancia de três legoas, está
hum arco a modo de capela niòr porque
não passa o vão delle a outra banda, a
quem os Turcos chamão Selmõ Pac.» Fr.
Gaspar de S. Bernardino, Itinerário da
índia, cap. 19. — «Aqui aconteceo huma
galantaria que se notou a Jorge Cabral,
que estava presente, que vendo abertas
três successões disse: «Dera alguma cou-
sa agora por saber qual he o rapaz da
quinta successaõ, que a quarta bem sey
que sou eu, e assim o foy por falecimen-
to deste Governador, como adiante em
seu lugar se dirá.» Diogo de Couto, Dé-
cada 6, liv. 7, cap. 1. — «D. Álvaro de
Castro, que tinha poderes em toda a Ar-
mada do mar, sendo avisado que em Sur-
rate se esperava por algumas náos de
Meca, com conselho do Capitão despedio
Luiz de Almeida com três caravelas, de
que afora elle eraõ Capitaens Payo Ro-
drigues de Ai-aujo, e Pedro Afibnso, dan-
dolhes por regimento que se fossem pôr
na barra do Surrate, e que ahi esperas-
sem as náos que a haviam de ir deman-
dar.» Ibidem, liv. 3, cap. 8. — «Pas-
sados três dias que pus em me fazer
prestes de todo ho necessário pêra ho
dito caminho, nos partimos ha dez ho-
ras da noyte pêra hum aduar que estava
em ho deserto.» Tenreiro, Itinerário,
cap. 62. — «Vendo entaõ os que tinhão
parte em mim, que erão sete, que lhes
não servia eu para o oíficio que tinhào,
que era andarem sempre metidos na agoa
pescando, me puseraõ em leilão por três
vezes, sem em todas ellas aver quem qui-
sesse fazer lanço em mim, pelo que des-
confiados de acharem quem me compras-
se, me lançarão fora de casa, por me não
darem de comer, pois lhe não podia pres-
tar para nada.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 24. — • «A curta saia-
de-malhas, que me cingia, a uso dos pas-
tores do Egypto, salvou-me d'espedaçar-
me elle. Abati-o três vezes, outras tan-
tas se ergueu: rugia de sorte que estre-
meciam com 08 ecuos os mattos em re-
dondo. Por ultimo, suffoquei-o entre meus
braços ; e os pastores, que presenciaram
a victoria, quizeram me cobrisse com a
pelle d'este terrível animal.» Francisco
Manoel do Nascimento, e Manoel de Sou-
sa, Aventuras de Telemaco, liv. 2.
— Três iJíil ; numero inferior a três
mil e um, e superior a dous mil e nove-
centos e noventa e nove.
Ora vós quantos dobrões
Esse dia m 'entregastes?
Três mil ; e vós os contastes.
Ambos sois Amphitriões
Pelos sinaes que mostrastes.
CAM., AUPUYTEIÕES, act. 5, SC. 1.
— «O despojo desta victoria, se diz
que foi de mais de duzentas mil cabeças
de gado grosso, e meudo, e mais de três
mil camellos, cauallos, o outras alimá-
rias.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 3, cap. 49. — «Recolhido
Afonso dalbuquerque pêra a cidade com
a mais gente que sairá a este rebate, se
fez prestes dalli a dous dia?, pêra ir per
terra cercar Benastarim, leuando comsi-
go três mil s Idados Portuguezes afora
Malabares, e Canarins.» Ibidem, cap. 29.
— «E destas vimos muytas em lugares
estreytos, e passos entre algumas serras,
e lombadas do dito deserto, onde havia
alguma agua encharcada que alli vinhaõ
beber : e manada achávamos de dous três
mil delles.» Tenreiro, Itinerário, capitu-
lo 60.
— Três terços. — oE entam ordenou,
que os casamentos grandes fossem pagos
em três terços, e três annos, hum terço
em cada hum anno, e os casamentos de
mil coroas ate quinhentas fossem pagos
em duas ametades, e dous annos, e os
de quinhentas coroas e dahy para baixo
fossem pagos juntamente em hum anno,
como se ora faz.» Garcia do Rezende,
Chronica de D. João II, cap. 33.
— Vinte e três ; numero entre vinte
e dous e vinte e quatro. — «E pêra man-
tença sua, e de seus parentes, cento qua-
renta e quatro leques ; e dez a cinco
mancebas ; e a seis amas, e pessoas da
creação de seus filhos, vinte e tres le-
ques ; e de ordenado a seus officiaes, e
mires, duzentos e cincoquenta leques; e
do certas despezas miúdas, cinco ; e vin-
te e cinco de quitas a rendeiros.» Bar-
ros, Década 2, liv. 10, cap. 7.
— Durarei tres de ti.
Tres de ti durarei ; e eu te prometto,
Que sempre me ha5 de ver moço e menino,
Tu Paulino, teu filho, e mais teu neto.
ABBADE DE JAZEKTE, POESIAS, pag. 39.
— As tres horas da noite. — «As
tres hora- da noyte deste mesmo dia se
vio toda a casa em revolução a respeito
de Amoldo, que sendo atacado de uma
febre niuy violenta, rendeo a vida, e
deo o ultimo suspiro no mesmo termo
em que se completou o mez da predi-
ção.» Cavalleiro d'01iveira, Cartas, liv,
1, n.o 40.
— Tres dias ; no espaço de tres dias.
— «Os mantimentos forão tantos que em
tres dias, e duas noites que alli esteue a
frota, se não poderam acabar de carre-
gar nas nãos, a cabo dos quaes mandou
Afonso Dalbuquerque poer fogo ao lugar,
e a cinco nãos de Meca, e onze torradas
que estauam varadas em terra, o que
tudo ardeo com a mesquita, que era mui-
to formosa, antes de se a frota fazer à
vella.» Damião. de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 2, cap. 31. — «Determi-
nada a Nancaa com todos os seus neste
parecer, que por então se aprovou por
âl2
TEES
TKES
TRÊS
millior que todos, mandou lançar pre^^So
que 8i> pena de unirte nenliuma juiSdua
comcíise em toJoi aquclles três <li:n mais
quo BI) huina vez, ponjue com a absti-
nência lia caiiie ticas.f« o espritu pronto
com Deos.» Femào Mumlea Tinto, Pe-
regrinações, cap. 1*2.
— Três iiuzníi ; o o»paço do trea inc-
ites. — «Que de veniafía levau mercado-
res em eatilas <lo Elefantes, o Abadas
aos Roynos de Hornau, que lie do Siaõ,
Passiloco, títívadi, Taiif;ú, Prom, Cala-
minhan, e outra» Províncias, tpio pelo
certaõ desta costa de dous, e três mezcs
do caminho cstaõ divididas em Seidiorío,
e Reynos de gentes brancas, e ba^a<, e
de outras muy pretas; e em retoruo des-
tas fasendas se trás nuiyto ouro, iliauian-
tes, e rubins.» Fernão Mendes i^iiito,
Peregrinações, cap. 41. — «O mau suc-
cesso e tardan(;a «í'esta missão suspendeu
outra, que eu havia du fazer pelo rio das
Amazonas, onde estive ires mezes, es-
perando pela escolta dos portuguezes, e
se reservou para a primavera d'este an-
no ; fica-se aprestando para partir.» Pa-
dre António Vieira, Cartas, n." 16.
— Três annus; o espa^'o de três an-
nos. — «Alem destas mandou el Hei fa-
zer prestes quatro nãos e huma taforea
pêra andarem darmada no cabo de (íuar-
dafuui de que deu a capitania a Afonso
Dalbuqnerque e assi a successaõ do go-
uerno da Índia, depois do Vicerel dom
Francisco Daimeida acabar de seruir três
annos.t Damiiio de Góes, Chronica de
D. Manoel, part. 2, cap. 21.
— Por três vezes. — «Fiz por três
vezes requerimento ao ilito Gaspar Car-
doso, se não intromettesse no que lhe
não tocava, e era próprio de nossa pro-
fissão e para que vossa niagestade nos
mandara, mostrei-lhe e li-lhe iliante dos
padres e de oito ou dez soldados que le-
vava comsigo, a ordem de vossa niages-
tade e a do capitão-m(')r, e respondeu pu-
blicamente que a de vossa niagestade não
podia guardar, e que a do eapitão-iucir
nào queria.» Padre António Vieira, Car-
tas, n.» 11.
— Espécie de droga.
— Eniprega-se vulgarmente por trás
e trans na composição, como trespassar
por traspassar.
— Três vale três vezes.
— AUAOIOS E PROVÉRBIOS :
— Três irmãos, três fortalezivs.
— Três cousas fazem ao homem me-
drar, sciencia, e o mar, e casa real.
— Três cousas destroem ao homem,
muito fallar, e pouco saber ; muito gas-
tar, e poueo ter ; muito presumir, e pou-
co valer.
— Três cousas fazem mudar a nature-
ea do homem, a mulher, o estudo, e o
vinho.
— O leitão de hum mez, o pato de
três.
— O cabrito de um mez, o qusijo de
Ires.
— Ajuntaram-so «eis para peso de três.
— Tem-te em teuií pós, comerás por
tres.
— Quem nào se escarmenta do uma
voz, nào HC escarmenta de tres.
— Filhos doua ou tres, ha prazer; se-
te ou oito é fogo.
— Hospede o o peixe, aos tres dias
fede.
— Dcshonrou-me uiiuha visinha uma
vez, e eu ileshonrci-me tres.
— A juutam-so tres jjara peso de seis.
— Cada dia tres ou quatro, chegarás
ao fundo do sacco.
— A bom comer ou mau comer, tres
vezes beber.
— Ao quo erra perdoa-lhe uma vez,
e não tres.
— Barba de tres cores, barba de trai-
dores.
— Um dia de jejum, tres dias maus
para pào.
— Circo de lua, pastor enxuga, se aos
tres dias não enxurra.
— A duas palavras tres porrad-as.
— A pào de quinze dias fome de tres
semanas.
TRESANDADO, part. pass. de Tresan-
dar.
TRESANDAR, v. a. Transtigurar, coii-
fuuiiir, dc-ordenar. Vid. Trasandar.
TRESAVÔ, s. m. O terceiro avô. Vid.
Trisavô.
TRESAVÓ, s. /. A terceira avó. Vid.
Trisavô.
TRESBORDAR. Vid. Trasbordar.
TRESCALAR, ou TRASCALAR, v. a.
Calar alem, penetrar muito ; fallaudo
dos cheiros mui fortes e penetrantes.
TRESDOBRADO, part. jjoss. de Tres-
dobrar. Triplicado, que se compõe de
tres peyas sobi-epostas.
— Emprega-se também no sentido fi-
gurado.
TRESDOBRADURA, s. /. O ser, o es-
tar iresilobijulo.
TRESDOBRAR, v. a. Applicar e unir
chapas ou laminas de ferro sobre o escu-
do para resistir aos t^ros.
— Aecrescontar ao tresdobro.
— Luciíir em tiesdobro, augmentar
ao tresdobro.
— Fazer tres vezes outro tanto.
TRESDOBRE, ailj. 2 gen. Termo de
milicia. l)iz-se de uma das formaturas,
ou evolu(;òes da tropa.
TRESDOBRO, s. m. O triplo, ou tres
vezes outro tanto. — «A qual Ley vista
per nos, louvamos, O confirmamos como
em ella he contheudo quanto he aas pe-
nas do tresdobro, ou seis dobro, ou ano-
veado.» Ord. Affous., iiv. 2, tit. UO,
S -'0.
TRESFEGAR. Vil. Trasfegar.
— Termo antiquado. Figuradamente :
Revolver, pôr em coufasào, alvoro^-ar.
TRESJDRAR, ou TERJURAR, v. n. Ju-
rar muitas vc/.iíií.
TRESLADADOR, ». m. Copista.
TREsLADAR, v. a. Vi.i. Trasladar.
— «Ha ossada do qual Afonío dalbuquer-
que este seu filho, por lho elle a4»i man-
dar em seu testamento ; fez trazer da
cidade de (ioa a de Lisboa no aono de
^I.lXL.vvi. em duas nãos, e fui ponta na
Igreja da Casa da )Ii<tericordia; e a tres-
ladaram au Mosibiro >le no.s/<a Senhora
da (ira(,-a da Ordem ile .Sancto Agosti-
nho iU)ii Erimitãi"'.» Dauiiào de (iões,
Chronica de D. Manoel, part. 3, cap. 8<X
— fMas nam i^e fianiio de mi elle ha
tresladou logo, e fieaudu lhe ho trexlado
ine deu lia propr>a. ha qual eu bulvi em
Português com ajuda de huin que sabia
mais nossa lingoa e ha sua.» Frei (ías-
par da Cruz, Tratado das cousas da Chi-
na, ca|i. 2i<.
TRESLADO, *. «i. Vid. Traslado.
— Molde, modelo, retrato, exemplar
para se imitar no physico e no moral. —
«Das quaes bulias me pareceo desneces-
sário jjoer aqui ho treslado, ha huma por
conterem muita Icctura, e ha outra por-
que quem per coriwidade as quiser ler
as achará na torre do Tombo destes re-
giios, onde Jio presente estão era meu po-
der.» Damião de (lOcs, Chronica de D.
Manoel, jiárt. 1, cap. 44.
N:in, dairoio, isso quo farto,
treMiulit de Duraiidartc,
traduzido ao natural.
A>'ruMo PKESTES, ACTOS, pag- 135.
— Copia de algum papel.
— Figuradamente : A» Jilhas aão tres-
lados '.1'is mães; sào suas iuiitailoras.
TRESLER, r. a. Querer saber mais do
que cumpre, e usar mal da scieucia. —
«Torney a ler as vossas não lhe poude
descobrir mais ([Ue hum sentido. Relias,
estive para iresler e buscaudo-lhe inter-
preta(,'ocns nenhuma acliey.» Cavalleiro
d'Oliveira, Cartas, Iiv. 1, u." ÓO.
TRESLIDO, part. pass. de Tresler. Que
adquiriu scieucia prejudicial, e de que
abusa.
TRESLOUCADO, A, adj. Mais que re-
loucaio.
TRESLOUCAR, v. n. Perder o juízo,
tre> variar, t.unar-se louco, enlouquecer.
TRESMALHAR, r. a. Deixar escapar,
perder.
— Tresmalhar-se, r. reji. Soltar o pei-
xe da rede de entre as malhas d'ella.
— Figuradamente : Desapparecer, per-
der.
TRESMALHO, ou TRASMALHO, ou TRE-
MALHO, *•. M. Uuia rede larga, á qual
anda unida outra de malha menor para
pescar.
TRESMONTAR, Vii. Trasmontar.
TRESMUDAR, v. a. Termo antiquado.
Vid. Trasmudar.
TRÊS
TRÊS
TREV
813
TRESNETA, 5. /. Terceira neta.
TRESNETO, s. m. Terceiro neto.
TRE3N0ITAR. Vi.l. Trasnoitar.
TRESO, A, colj. Termo antiquado. Ma-
licioso, lie lilás entraniias.
TRESPANO, ou TRESPANNO, s. m. Te-
cido de tre> li(;os.
TRESPASSAÇÃO, s. /. Vid. Traspas-
sação.
TRESPASSADO, jmrt. pass. de Tres-
passar. Jlu.iado. — «item. Mandou que
has tenças separadas, e trespassadas pa-
gasse ho mais cedo que ])0 lesse, porque
nam lias pagando se poderia segaiir disso
algum damuo ás consciências daquelles
que lias recebem. » Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 1, cap. 1.
Este, vendo aos seus pés da imiga lança
Trespassado o que dentro nalma tinha,
Cortado d hum a dòi- que a alma lhe alcança
Diz : Moiior eu comvosco bem convinha,
Mas poi- ir vossa inorte com vingança
Folgo que se dilate hum pouco a minha,
Que a minha eu a haverei por bem vingada
Com ir a vossa delia acompanhada.
F. DASDBADE, FBIMEIBO CEKCO DE DIU, Cant. 19,
est. 51.
— Trespassado de medo; cheio d'elle.
— «P] em poucos dias .se alongaram tan-
to da illia, que o piloto não sabia Julgar
a que parte fossem arribados; e andavam
elle e os marinheiros tào trespassados do
medo, que elle nem elles tinham acordo
pêra se remediar.» Francisco de Moraes,
Palmeirim d'Inglaterra, cap. 115.
— O dia já trespassado. — «Mais se
o vendedor, passado aquelle dia, disser
ao comprador, que lhe laça aquella paga,
que lhe por aquella compra ouvera de
fazer no ilito dia já trespassado, entom
a venda se nom pôde desfazer, se o com-
prador quiser ; porque o vendedor leixou
o direito, que havia pela condLçom, per
que poderá desatar a venda, porque nom
fez a paga, e a pedio, e a demandou
aalem do dito dia.» Ord. Affous., liv. 4,
tit. 51, § 2.
— Desmaiado.
— Esmorecido, desanimado, transido,
fora de si por alguma grande paixão. —
«Porque neste tempo hiào taò trespassa-
das que quasi não acudião ao que os ta-
lagrepos lhe hiào dizendo, mais que so-
mente algumas vezes, inda que poucas,
alevantarem as mãos ao Ceo.n Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. lõl.
— Trespassado toma-se também por
traspassado, anterior, e além do pas-
sado.
TRESPASSADOR, A, adj. e s. Que
traspassa.
TRESPASSAMENTO, s. m. Traspassa-
ção.
— Traspassação de bens.
— Demora, dilação, espera. — «E por-
que me iizerom certo pelas autas do3 fei-
tos, que vinliaS aa minha Corte, d'antre
esses amos, e mancebos, que esses amos
pagavaõ as soldadas a seus mancebos e
mancebas, e poios trespassamentos dos
tempos esses mancebos e mancebas tinhaõ
que esses amos nom provariam como lhes
pagarom as soldadas, e tornavaõ-lhes a
demandar outra vez.» Ord. Affons., liv.
4, tit. 27, § 1.
— Diz-se d'aquelle que está como mor-
to, sem sentidos.
— Trespassamento da lei; excesso,
qnebiantamento, transgressão das raias
que cila traçou.
TRESPASSAR, v. a. Passar além.
— Fazer desmaiar, e esmorecer. — «E
estando assi veyolhe hum muvto grande
acidente, antes de lhe sayr a alma, que
o trespassou, e cuydando todos que era
finado, o Bispo de Tangere lhe fechou os
olhos, e a bocca, e elle o sentio, e tor-
nou assi, e disse: Bispo, ainda nào vem
a hora.» (íarcia de Rezende, Chronica
de D. João II, cap. 212.
— Passar de parte a parte, varar.
— Passar a outrem.
— Trespassar as leis; transgredil-as.
— Demorar, adiar, delongar.
— Alhear, conceder a outrem o direi-
to, acção, passar a outrem a herdade, o
estado, etc.
— Trespassar de um papel a outro ;
copiar, trasladar, traduzir.
— Trespassar com jjrtQO ; cravar, fin-
car.
— Trespassar a cscriptura de uma lín-
gua a outra; traduzila.
— Exceder o modo.
— Trespassar-se, v. rejl. Desmaiar,
esmorecer.
— Penetrar-se de susto, de medo, de
respeito, etc.
■ — • V. n. Ficar em esquecimento, pas-
sar por alto.
— Perecer, acabar, destruir-se.
TRESPASSO, s. m. Vid. Traspassação.
— Demora, delonga de tempo.
— Jejum, abstinência.
— Dór que penetra a alma.
— Desfallecimento, inorte.
— Vid. Trapaça.
TRESPÒR. Vid. Transpor.
TRESPORTALECER. Vid. Transportale-
cer.
TRESPOSTA. Vid. Trasposta.
TRESSUADO, part. pass. de Tressuar.
Acompanhado, conseguido com grandes
suores.
TRESSUAR, V. n. Termo popular. Suar
muito.
TRESTAMPAR, v. n. Fazer destam-
patórios, dizel-03, mais que destampar.
TRESTRAVAR. Vid. Trastravar.
TRESVALIAR, v. a. Termo antiquado.
Vid. Tresvariar.
TRESVARIADO, part. pass. de Tres-
variar. Que tem trcsvario, delirante.
— Que é acompanhado de tresvario.
TRESVARIAR, v. n. Dizer disparates
pela sua organisação do cérebro, deli-
rar.
TRESVARIO, s. vu Dito, acto de ho-
mem que tem o cérebro desordenado
com doença, delirio.
TRE3VERTEDURA, s. /. Vid. Verte-
dura.
TRETA, s. /. Destreza no jogo da lu-
cta, ou espada para ferir, ou derribar o
contrario, que nào previa o tal lanço.
— Engano ardiloso com que nos ha-
vemos para sairmos com a nossa.
TREU, s. ?H. (Do francez tréou). A ve-
la quadrada, que em temporal se colloca
nos navios latinos.
— Fauno de treu ; lona estreita, e for-
te para velas do navio, panno de velame.
— Vela.
TREUSASSOM. Termo antiquado. Vid.
Trausassom.
TREUTA^ s. f. Termo antiquado. Vid.
Fruta.
TREVA, s. f.—A treva da noite; a
escuridão da noite.
— Flur. Escuridão, falta de luz.
Desfar-me-hei em oração ;
moço, vê o que me levas,
que além de ficar em trevas
levMS-me a vida na uiào.
ANTOXIO PBESTES, AUTOS, pig. 317.
Triste, e alem dos Guardas vou sentar-mc.
Ouço um rumor... Vislumbro, em deusa treva..
Aperto a espada, corro á que me foge...
Alcanço-a. Oh raro espanto ! Era Vcllèda.
F. M. DO NASCIMENTO, OS MABXVKES, 1ÍV. 10.
Tudo nas covas lobregas lhe augmenta
O medo, a solidão, silencio, e trevas.
J. A. DE MACKDO, A NATUBEZA, Caut. 2.
— «Ia em meio a terceira noite após
aquella em que os crentes do Islam tinham
parado nas faldas septemtrionaes das cor-
oilheiras de Asido. Eram profundas as
trevas que se dilatavam pela fíice da ter-
ra, mas os raios scintillantes das estrel-
las, rareiavam o manto negro da atmos-
phera.» Alexandre Herculano, Eurico,
cap. 9.
— Ojficio de trevas ; o que se faz ás
tardes da quarta, quinta e sexta-feira da
semana santa.
— Trevas da morte eterna.
— Figuradamente: .tis trevas da ce-
gueira, da igm/rancia.
— As trevas do escuro nascimento.
TREVITE, s. m. Uma droga medicinal
da Inilia.
TREVO, s. m. Termo de botânica. Her-
va hortense vulgar.
— Trevo azedo; o mesmo que azedinha,
planta. Ha differentes espécies de tre-
vos, a saber: trevo de cheiro, dos char-
cos, trevo branco, trevo cotanilhoso, trevo
eervino.
TREVOA, s. f. Vid. Treva.
814
TREZ
TREZ
TKEZ
TREVOSO, A, a,Ij. Tenebroso.
TREVUDAR. Vid. Tributar.
TREVUDO, í. m. Vil. Tributo.
I TREYÇÃO, 8. f. Vil. Treição. —
«Al)r;n,Tmiii.i qniisi pulos pés, e eu a elle, e
c3 Oâ olhos no ch.ão me tlisso, quo o habito
que me via llio parecia iiiuy bem, e que
captiuo delle, o do termo que cu tiuera o
Domingo passado cõ o tillio do (Joucrua-
dor, a (juo cllc estiuera preauute, o fize-
raõ tanto meu afoyçoado, (luo cntonilia
faria treyção ao amor, se coo» aijucUas
mostras delle me não viesse visitar.» Frei
Gaspar de S. Bernardino, Itinerário da
índia, cap. 15.
TREZ, (idj. num. Vid. Três.
— tí. m. Vid. Trespauo.
TREZE, adj. num. 2 ijcn. Doze e mais
um, nauiero eouiprehendido entre dozo, e
quatorze.
. — Loc. : Estar nos seus treze; insistir
na sua opinião, parecer.
— Loc: Estou nos meus treze; estou
pertinaz, contumaz.
TREZENA, s. /. Devoção, rezas por
treze dias.
TREZENO, A, adj. num. card. Que se
segue ao duodécimo.
TREZENTOS, AS, adj. num. plural. Três
vezes cem. — tl^r Capitão da (piai for-
taleza, (que tieava já em altura que se
podia bem defender,) leixou a Ruy de
Brito Patalim, hum Fidalgo da Villa de
Santarém, pessoa de quem elle confiou o
governo, e defensão daqnella Ciiiade com
té trezentos c tantos homens d'armas.s
Barros, Década 2, iiv. 6, cap. 7. — «Hum
leque contém número de ciucoenta xara-
fins, e hum xarafim vai da nossa moeda
trezentos reaes, o dons azares vai hum
xaratin, e dez candins meio xarafin, e
cem dinares hum caudil.» Ibidem, liv. 10.
Trezentas legoas ja temos andado
Por fragosas nioutanlias, e altos montes,
Guerra uào na queremos, uial, ou dano
Por nòa não scri feito a paz pedimos.
CORTE BEAL, NÁUFBAOIO DE SEPDLVEDA, CHOt. 15.
— «Estes desabrimentos curou el Rei,
como pai, interessado na paz do hum, e
outro vassallo. Quisera D. Manoel par-
tir-se logo a Diu com trezentos soldados
á sua custa, porém o Governador o diver-
tio, querendo acompanhar-se delle na ar-
mada, servindo-se de seu valor, e expe-
riência, na facção presente.» Jacintho
Freire d'Andrade, Vida de D. João de
Castro, liv. 2. — «Logo o Cabo Guzara-
te, e Cinde nesta nossa Cambava, donde
até o Cabo de Comori passeão suas anila-
das il índia por espaço de trezentas lé-
guas, e começando desta nossa Cidade de
Cambava discorrem por Madigjto, Gan-
dar, Barocue, Çurrate, Reyuer, Mosca-
rin, Damão, Taraper, Raçviim, Chaul,
Bandor, Cifardão, (íalanci, Dabul, Cor-
tapor, Carepatuo, Tâmega, Banda, Cha-
pora.» Ibidem. — «E quo também trasiSo
muytos mantimentos, e munições, om quo
se afirmava quo viuliào trezentas poças
de bater, cm que entraviu dozo liasilm-
cos : com a qual nova ticamou todos assas
confusos, e espantados.» Fernão Mended
l'into, Peregrinições. — «Nesta conjun-
ção chegou a clles o corpo da nos.sa gen-
te, e os tratarão de maneyra que mais
de trezentos ficarão logo aly deitados huns
sobre os outros, cousa lastimosa de ver
porque não ouve nenlmm que arrancas.'!e
espaila.» Ibidem, cap. 05. — «E no rio
avia tanianiio numero do emb.arcaçòes,
que cm algumas partes onde avia ajunta-
mento de feiras, senão podia alcançar com
a vista, a fora outro* muytos magotes
mais pequenos de trezentas, quinlientas,
seiscentas, e de udl vellas que a cada
passo encontrávamos assi de huma parte
como da outra, nas quais se vende toda
a diversidade de cousas a que se pôde
pôr nome.» Ibidem, caj). 97. — «E se
fizeraõ mais de trezentas escadas muyto
fortes e largas em que bem podiSo caber
três homens emparelhados, e ajuntouse
mais huma grande soma do cestos e en-
xadas que se acharão pelas casas das po-
voações despejadas, o a mayor parte da
gente andou todo este dia occupada em
ajuntar estas achegas necessárias para o
dia seguinte em que se avia de dar o as-
.«alto.» Ibidem, cap. 119. — «E porque
el Rey, por elle ser Turco, o tinha em
conta de homem invencível, e para mais
que todos os seus, o mãdou então vir da
frontaria onde estava com trezentos Ja-
niçaros que tinha comsigo.» Ibidem, cap.
14t3. — «Sendo ja quasi a huma hora des-
pois do mcyo dia se tirou huma bombar-
da, ao qual sinal as portas da cidade fo-
raõ logo abertas e primeyro que tudo co-
meçou a sayr a guarda que el Rey o dia
dantes lhe mandara pôr, que erão quatro
mil Siões o Bramaas, todos aroabuzeyros,
e alabardeyros, e piqueyros, com mais
trezentos elifantes armados.» Ibidem,
cap. 150. — «Onde estão ao comprido
cento e sessenta hospedarias, e cada huma
delias de mais de trezentas casas térreas
muyto limpas e bem concertadas, em que
se agasalhào os peregrinos, Fancatões, e
daroezes, que vem em cabildas como ci-
ganos com seus capitães, de duas três mil
pessoas cada cabilda, humas mais, outras
menos, conforme ao longe ou perto das
terras e dos reynos donde vem, e logo
pelas devisas das bandeyras se conhecem
donde saõ naturais.» Ibidem, cap. 159.
Despache vossa merca
o senhor.
O senhor não,
t meu pae ; por ante ello
podem dar trezentos brados.
Tomem-so de mi ?
ANTOHIO PRESTES, AUTOS, pag. 205.
— «A qual tomou com muito trabalho.
por 80 os mouros defenderem mui bem
todo aquelle dia, e a noite seguiato, mas
ao outro dia, foraO entrados, c mortos
mais de trezeutog, e alguns niininos que
nella hauia mandou dum Va^quo da Gama
levar ha «ua nw^, com tonçaí» de os £izer
frades no mosteiro de notuía Senhora do
iiethelem.t Damião de Guea, CtlTOnica de
D. Manoel, part. 1, caj». 08. — «Nesta
peleja morrerão dezoito dos nossos, e fo-
raõ muitos feridos, «ntre os quae« foi dom
Ixiurenço, Nuno da Cunha, Fernam Pe-
rez Daudrade, i'ero Barreto, Paio de
Sousa, fieorge F<^;,'aça. Dos imigus mor-
reram mais de trezentos, afora muitos fe-
ridos.» Ibidem, part. 2, cap. 24. — «O
que sabendo Afonso Dalbuquerque man-
dou la Simão daudrade, Fernam perez
dandradc, (iaspar de paiua, Aires pereira,
Francisco serrão, George nunez de leam,
e Rui daraujo com alguus Portagueseí, e
mil laos que deu Vtetimutaraja, e seis
centos (.íentios que deu Ninachetu, e tre-
zentos pegus que deram os senhores doa
jungos de Pegu.» Ibidem, part. 3, cap.
19. — «Das quaea batalhas deu huma a
António iopez de siqueira, c a outra a
Diogo de melo, e na terceira ficou elle
com a mais gente de cauallo, e cento, c
dez homens de pe, espingardeiros, e bes-
teiros, os quaes todos caminhando em boa
ordem, der;;m de madrugada nos Adua-
res, em que tomaram trezentas, o oiten-
ta, e duas almas, e mais de cinco mil ca-
beças de gado meudo.» Ibidem, part. 4,
cap. 39. — «Assentadas assi todalaá cou-
sas que cumprião ao gouerno da cidade,
e guarda delia, e da furtalleza, deixando
nella trezentos soldados Portuguezes, e
na frota duzentos, afora gente de soldo
da terra, e a mor parte dos Malabares
que trouxera consigo.» Ibidem, part. 3,
cap. 26.
— Trezentas vez<is.
Não quero mais entremezes :
o senhor vosso amo é ci?
Ha mo<,'0 que negai hi
seu senhor trezentas veres.
AST0>10 PRESTES, AUTOS, pâÇ. 201.
— Trezentos mil reis; diz-se da quan-
tia equivalente a sessenta e duas moedas
e meia. — «Huma cadeira de Prima, em
que se lerá o esforçado, etc. terá por
anno trezentos mil reis.» Estatutos da
Universidade, pag. 142, em Blutcau.
— Mil 6 trezentos e oitmta annot;
numero existente entre mil e trezentos e
setenta o nove, e mil trezentos e oi-
tenta e um. — «Publicada foi e«ta Ley
em Saufcirem per Meestre Gonçalo, e Jo-
ham Duraaens Vezes Tenente de Chan-
celler, Vassallos, e privados do dito Se-
nhor Rev, a quatorze dias de Julho Era
de mil trezentos e oitenta annos.» Ord.
Affons., liv. 4, tit. 15, § 1.
TRIA
TRIA
TRIB
815
— Trezentos mil; numero superior a
dous mil e novecentos e noventa e nove, e
inferior a trezentos mil e um. — «Final-
mente o negocio chegou a concerto, que
03 moradores deram aos Janiceros tre-
zentos mil xarafins, e per elles ficou a
Cidade livre do roubo.» Barros, Década
2, liv. 10, cap. 6. — «Partido este Rey
Tártaro desta cidade do Pequim huma
segunda feyra dezasete dias do mes de
Outubro, com sós trezentos mil de ca-
vallo (como atrás disse) dos seiscentos
mil, que trouxera comsigo, esse mesmo
dia ja quasi noite se foy alojar a huma
ribeira que se chamava Quaytragum.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações,
cap. 123. — «E fazendo eu di<to grande
espanto, por me parecer que nào era pos-
sivel que esta cousa fosse em tanta mul-
tiplicação, me disseraõ alguns mercado-
res homens nobres e de respeito, e mo
affirmaraõ com muytas palavras, que em
toda a ilha do Japão avia mais de tre-
zentas mil espingardas, e que elles so-
mente tinhão levado de veniaga para os
Lequios em seys vezes que lá tinhaij ido,
vinte e cinco mil.» Ibidem, cap. 134.
— Mil e trezentos e onze annos; era
existente entre mil e trezentos e dez
annos, e mil e trezentos e doze. — «E
Mando, que se alguém se chamar a au-
tor, seja thsudo de jurar, que se nom
chama a elle maliciosamente, nem per
perlongar o preito. Esta Postura foi feita
no mez de Setembro da Era de mil e
trezentos e onze annos.» Ord. AfFons.,
liv. 4. tit. õ9, § 1.
— Mil e trezentos e treze aniios; era
existente entre mil e trezentos e doze
annos, e mil e trezentos e quatorze. — ■
íOu 03 querem aver per outra maneira,
se nom podem escusar que nom sejam
theudos por essas dividas, ou leixem esses
herdamentos, ou possissooens a aquelles,
a que som obrigados, a^sy como suso dito
he : e ai nom façades. Dante em Lixboa
a quatorze dias de Março Era de mil
trezentos e treze annos.» Ord. Affons.,
liv. 4, tit. 49, § 1.
— Mil e trezentos e quatro annos;
era existente entre mil e trezentos e três
annos, e mil e trezentos e cinco. — «Em
outra parte he estabelicido no mez de
Dezembro Era de mil e trezentos e
quatro annos, que usura, nem pena nom
creça mais que outro tanto, a saber,
quanto for o caimbo, como quer que per
grande tempo nom seja pagada a divi-
da, assi antre Judeu e Chrisptaaõ, como
antre Chrisptaai5 e ChrisptaaS.» Ord.
Affons., liv. 4, tit. 62, § 1.
— S. f. plur. — As trezentas ; enten-
dem-se as trezentas Ave-Marias; o ro-
sário de Xossa Senhora dobrado.
— As trezentas de João de Mena; co-
pias notáveis d'este. poeta hespauhol.
TRIAGA, s. f. Medicamento contra ve-
neno.
— Figuradamente: Triaga qxie cura a
alma de erros. Yid. Theriaga.
Eu não sei certo a que ponha
Mo3trardes-rae a triaga.
E virdc3-rao a dar peçonha.
Ora ide rir á feira,
E nào sejais dessa laia.
Se vedes minha canseira,
Porque lhe nào dais maneira?
CAM., FiLODEMO, act. 2, SC. 5.
]\Ia3 haveis vós d'csbrugar
do senhor meu amo a paga,
que bem vos podeis tornar
CO trabalho, c c'o cantar
qual peçonha c"o a triaga.
ASTOSIO PRESTES, AUTOS, pag. 47.
TRIAGUEIRO, ouTHERIAGUEIRO, s. m.
Homem que faz triagas.
TRIANDRIA, s. /." Termo de botânica.
Classe do systema de Linneo que contém
as plantas de três estames.
t TRIANDRICO, adj. Que pertence á
triandria.
t TRIANDRO, A, adj. Termo de botâ-
nica. Que tem três estames.
TRIANGULADO, A, adj. Yid. Triangu-
lar. — Prisma triangulado.
TRIANGULAR, adj. 2 gen. Que tem
três ângulos.
— Prisma triangular; prisma cuja
base é um triangulo.
— Dodecaedro triangular ; solido com-
posto de doze triângulos parallelos dous a
dous, e reunindo-se seis por seis em um
ponto do mesmo eixo.
— Termo de anatomia. O musculo
triangular dos lábios; musculo que nasce
da face externa da maxilla inferior, e se
estende até ao canto da bocca, apertan-
do as fibras em forma de triangulo.
— Triangular do esterno; musculo si-
tuado na face interna do esterno.
— Números triangulares ; espécie de
números polygonos, cujas unidades po-
dem ser dispostas em forma de triângu-
los.
TRIANGULARMENTE, adv. (De trian-
gular, com o sufiixo «mente»). Em for-
ma de triangulo.
TRIANGULO, s. m. (Do latim triangu-
las, de tri, e angulus). Termo de geo-
metria. Figura que tem três lados e três
ângulos.
— Triangulo equilátero; aquelle que
tem três lados eguaes.
— Triangulo isosceles ; aquelle que tem
dous lados eguaes.
— Triangulo escaleno ; aquelle que tem
três lados deseguaes.
— Triangulo rectângulo; aquelle que
tem um angulo recto.
— Triangulo obtusangulo; aquelle que
tem uui angulo obtuso.
— Triangulo acutangulo; aquelle que
tem os três ângulos agudos.
— Triangulo plano ; triangulo forma-
do por rectas.
— Triangulo espherico ; aquelle cujos
lados são arcos de grandes círculos da
esphera.
— Diz-se dos triângulos que se for-
mam sobre o terreno, pelas medidas geo-'
desicas.
— Triangulo aritkmetico; disposição,
em forma de triangulo, dos números fi-
gurados em diversas ordens.
— • Objecto de forma triangular.
— Termo de anatomia. Triangulo re-
cto-urethral ; espaço c jmprehendido entre
o recto e a urethra.
— Constellação do hemispherio boreal.
— Triangulo austral; constellação do
hemispherio austral, que é invisível nos
nossos climas.
— Termo de óptica. Vid. Prisma.
TRIANO. Yid. Triennio.
TRIAPHARMACO, í. m. (Do grego tria-
pharmakon). Termo de pharmacia. Em-
plastro composto de lithargyrio de ouro,
vinagre e azeite.
TRIARIO, s. m. plur. (Do latim tria-
rii). Os veteranos das tropas romanas
que estavam em corpo de reserva para
acudir nos apertos e extremos.
— -Figuradamente: Recorrer aos tria-
rios ; recorrer aos últimos e mais fortes
expeilientes em pressa e angustias.
TRIBO. Yid. Tribu.
TRIBOLO, s. 771. Yid. Thuribulo.
TRIBOMETRO, s. 77i. (Do grego tribo,
e vietron). Termo de physica. Instrumen-
to próprio para medir a força de fricção
pela quantidade do peso que se mette em
uma bacia suspensa a um cylindro mo-
vei.
TRIBOMETRICO, A, adj. Que diz res-
peito a um tribometro.
TRIBRACO, s. 77). (Do grego tribra-
kos). Termo de prosódia grega e latina.
Pé de um verso grego ou latino composto
de três syllabas breves.
TRIBU, s. m. e /. (Do latim tribus).
Certa divisão do povo, em algumas na-
ções antigas.
— Entre os judeus, todos aquelles que
saii-am de um dos doze patriarchas. —
«Muytos são do parecer, que esta gente
decende de hum dos doze Tribus de Is-
rael, que se perdeo; mas porque não
achey escriptura autentica, crea cada
hum nisto, o que melhor lhe parecer.»
Frei Gaspar de S. Bernardino, Itinerá-
rio da índia, cnp. 12.
— A tribu sagrada; a tribu de Levi,
que era dedicada ao culto.
— Povoação, pequeno povo fazendo
parte d'uma grande nação. — Uma tribu
de selvagens. — Uma tribu de árabes.
— Gente de todas as tribus ; gente de
toda a espécie.
— Os diversos membros d'uma famí-
lia.
— Diz-se também dos anímaes e dos
vegetaes. — A grande tribu das avesi-
nhas de ribanceira.
816
TRIB
TMB
TRIB
— Termo do historia natural, nivisíto
estaboieciíla nas famílias. -^ A tribu en-
cerra um ou in'tis i/fíiieríit.
— Em Roma, tribus urbanas; aquel-
las quo habitavam as cirlaiies; tribus rús-
ticas; a(|iii^ll;n fjiiD viviam iio cainj»').
TRIBULAÇÃO, s. f. (Uo Intiin trihula-
tio). Afílicrào, ailver8Í'lailo, aiip^iistia. —
«Ca oild li(j aquiíllf! iios-o cmparo, a quem
Sam i'aul() na sogunda Eiiistoia aos (Jo-
rlntliios chama pay ile inisoricorilia, o
Deus (Ic toda a consolarài), que nos con-
sola cm todas nossas tribulações.» Hei-
tor Pinto, Dialogo da Tribulação, cap. 8.
— A adversidade considerada n'tim
sentimento religioso.
— O illn da tribulação geral; o dia
do juízo universal.
TRIBULANÇA, s. f. Termo antiquado.
Vid. Tribulação.
TRIBULADO, pnrt. pass. de Tribular.
Vid. Atribulado.
TRIBULAR. Vid. Atribular.
TRIBULHO, s, m. Vi<!. Abrolho (lior-
Ta).
TRIBULO, s. m. Vid. Thuribulo.
— • Uma herva.
TRIBUNA, s. /. (Do latim tribuna).
Lofi^ar elevado d'onde 03 oradores {^reífos
e latinos arengavam ao povo. — iSubir
á tribuna.
— Logar elevado d 'onde faliam m-ado-
rés. — A tribuna da camará dos depu-
tados, — «No mevo desta casa estava
huma tribuna de sete degraos fechada
em roda cõ trcs ordens de grades de fer-
ro, e latito, e pao preto, cò troyos mar-
chetados do madre pérola, e ]ior cima
hum dorsel de damasco biadco franjado
de ouro c verde, com limnas remias muv-
to largas df) mesmo.» Fcrnào Jlendes
Pinto, Peregrinações, cap. 103. — «Pe-
la qual nos mandarão entrar em huma
grande casa onde estava o Broquem as-
sentado em huma tribuna ornada de pan-
nos do seda cõ hum dorsel de brocado,
o seys porteyros de maças ao redor pos-
tos de joelhos, c embaixo ao longo das
paredes de toda a casa estavaõ muvtos
homens armados com al.aliardas tauxia-
das douro e prata.» Ibidem, cap. ISO.
— .lanella ou balcão no corjio da egre-
ja ou outro edifício onde assiste alguém
aos officios divinos. — «O tecto da Ca-
pclla, depois de coroada com a simalha,
he também de pedraria apainelada com
ârtezõos, e molduras. Dos seis arcos, que
a compõem, ticav.^io os dons primeiros
nos presbyterios; no da parte do Evan-
gelho, estil huma porta, quo dá serven-
tia para a tribuna, e aposentos do fun-
dador; e no da parte da Epistola, outra
para o serviço da Sancristia.» Jacintho
Freire d'Andradc, Vida de D. João de
Castro, liv. 4.
TRIBUNADO, .-=./. ,Do hxúm tribuna-
tas, do tribumis). Termo do antiguidade
VOmana, Cargo do tribuno.
— Tempo do oxercicio ilo cargo de tri-
buno. \'id. Tribunato.
TRIBUNAL, ». wi. iDo latim íríóiiua/).
Sedo do juiz, do magistrado. — Assentar-
se n'um tribunal.
— .lurisditíção do um magi.strado ou
de muitos qu(í julgam ao mesmo tem|>o;
os pro))rio8 magÍHtrado.s. — Tribunal ci-
vil. — Tribunal rrimiiud. — Tribunal de
primeirn instancia,
— [jogar oiide se sentam os juizes.
— f> tribunal da penitencia ; o logar
onde o sacerdote ailmiuistra o sacramen-
to da penitencia.
— O tribunal de Deus; a justiça de
Deus.
— Diz-se da jurisdicção de cousas mo-
raos que se consideram como juizes. —
O tribunal da opinião publica.
— Figuradamente : O que julga em
n(>3 mesmos. — O tribunal da consciên-
cia,
— Figuradamente : Um tribunal de
litferatiirn.
TRIBUNATO, s, m, (Do \Ai\m fribuna-
tus). () iitTieio de tribuno.
— Viil. Tribunado.
TRIBUNICIO, A, adj. Termo de anti-
guidade romana. <,^ue pertence ao tribu-
nato.
TRIBUNO, s. w. (Do latim tribumis).
Em Roma, tribuno da plebe; magistra-
do encaricgado de defender os direitos
e os interesses do povo. Cieero crê que
o estabelecimento dos tribunos de Roma
foi a salvação da republica. — «Que a
meu ver foi padraõ posto na estrada, em
que esteve o nome do Emperador em cu-
jo tem]io se poz, o qual se não pode con-
jecturar ipial seja, jiois diz somente que
tinha sido Cônsul seis vezes, e tivera o
poder de Tribuno nove, c lhe dà os títu-
los de piadoso. e bem afortunado, aere-
centando (jue dali a Vouga são doze mil
passos, os qnaes se achaõ ao justo nas
três legoas que há de huma parte a ou-
tra.» Monarchia Lusitana, livro ã, capi-
tulo 1.
— Tribunos militares; magistrados que
cm Roma se revestiram temporariamen-
te da auctoridade dos cônsules.
— Tribunos de Irgião; officiaes supe-
riores que commandavam alternativamen-
te uma letriào.
TRIBUTADO, part. pass. de Tributar.
A quem se paga tributo, servido com tri-
butos.
— Dado em tributo.
— onerado com tributos.
TRIBUTAL, <idj. 2 gcn. — Terra tri-
butai; a terra ol)rigada a tributo, a pen-
fào. Vid. Tributário.
TRIBUTAR, V. a. Impôr tributos, one-
rar Com clles.
- — Tributar lonrorcs, adm-açòes.
— Pagar do tributo.
TRIBUTÁRIO, A, adj. (Do latim tribu-
tarius). Obrigado a pagar tributo.
Ao Norte a Proma vo «ua vizinha
(Joiu icti» coiBiiodadorcit ci)fori,'a(lo8 :
Viigria vio la junto do Polónia
DiuidiJas CO gr-ào inoiítc Carpatlio.
Tainlji-rn vio Traiisiluania, vio Moldauia
Do (juern lo4o S<!pas qui» o goui-rno,
AiiUn i|uoi-<-iido «cr K<:y IrihiUurio:
t^uc liuíc couipaitliciro do Foruaudo.
C. BRAJ., S\UrtL\titO DP. SKPVLVEDA, cant. 2.
Não, mais tributaria
mo, não fa<;a.
jlkioíiio rBESTKS, Auros, pag. 487.
— «Estes mataram a Cvro também
Rev dos persas: doítruvram (JvHriona
capitam de Alexandre Magno e subjuga-
ram asia três vezes por força darnias, e
por muitos annoH ha tiveram tributaria:
destes descendeo ho gram Tamorlanj, que
ouve limitas viti'rias em asia, e senho-
reou muitas t''rras a força darmas.» Frei
Oaspar da Cruz, Tratado das cousas da
China, cap. 4.
— - Substantivamente : Um tributário.
TRIBUTEIRO, s. m. Arrecadador de tri-
butos.
TRIBUTO, s. m, (Do latim tributum).
A taxa ou imposto que o vai»sallo paga
ao seu senhor em conhecimento <le do-
minio, ou para supprir as necessidades
publicas. — «Desta maneyra pois, esta-
va Espanha repartida, entre Romanos e
Bárbaros, e os antigo? moradores da ter-
ra contentes com a paz e bom tratamento
que todos lhe faziaõ, e com o alivio de
tributos, que pagavSo servindo ao Impé-
rio Romano, os E-itraogeiros tratavaõ de
se unir com os Espanhoes, dando-lhes J]
suas tílhas em casamento, o pedindolhe I
as suas em troco.» Monarchia Lusitana,
liv. O, cap. 3. — -«Finalmente elle resu-
niio nisto, que pofiia dizer a elRey e ao
seu governador i''<'>^e Atar que o envia-
ra, que elle era vindo per mandado d'el-
Rev seu senhor a notificar a eIRev de
Ormuz que se queria pacificamente na-
uegar os mares da Imiia, que lhe auia
de p.-igar hum certo tributo em sinal de
vassallagem.» Barros, Década 2, liv. 2,
c-ap. 3. — «Com obrigação de a villa
auer de pagar de tributo em cada hum
anno outra tanta contia quanta pagaua
a elRey de Ormuz, pêra mantimento do
alcaide c gente que esteuesse em guarda
delia, e deste acto mandou Afonso d'Al-
. boquerque tirar in.otromeuto. » Ibidem,
cap. 1. — «Pelo qual lhe pedia em nome
de todos, que em começo do tributo a
que por r»"zào da vassalagem lhe esta-
vâo obrigados, aoeytasse por ent.ào aquel-
le pequeno serviço que lhe offerecia para
murrões dos soldados, porque a mais di-
vida pn>testav.ão de lha satisfazerem a
seu tempo, e com isso lhe apresentou cin-
co caixões de barnis de prata em que vi-
nh.^o dez md taeis.» Fernão Mendes Pin-
to, Peregrinações, cap. 68. — « Sobre
mesa se praticou hum pouco cm cOpii-
TRIC
TRIC
TRIE
817
mentos de huma, e outra parte, e sendo
horas nos partimos nào querendo acey-
tar de iiòs o tributo que todos os mais
lhe pa.çarào, que era por cabeça, ou de
gente, ou de caualgadui-a hum iarini,
alem desta chariuade nos fez outra que
foT darnos doze homens de guarda (a
que eiles chamão Hispains) que he o
mesma que soldados, os quaes nos acom-
panharão ate a Cidade Lara.» Fr. Gas-
par de S. Bernardino, Itinerário da ín-
dia, cap. 12. — «Ha ley, que os releva
dos tributos e encargos civis, como se
mostra ex l. Médicos de Frofiíssorih . et
Media. Ha ley, que cõ os previlegios que
lhes assigna nobilita naõ sò os Médicos,
mas suas molheres, e iilhos, como se ve
ex l. Médicos cod. de Professorib., et
Medic. et ex l. in fine de vac. et excií-
sat.D Braz Luiz «VAbreu, Portugal me-
dico, pag. 253.
E á nova kiz quo surge, as folhas abre ;
Yêa que meu coração sincero, e puro
Em tribute te paga amor, e estima ;
De ti vem todo o bem, coratigo cu g''zo.
J. A. DE UACEDÚ, UEDlTAçlú, Caut. 1.
Que canta o Mar vencido, o vist "Oriente :
E meditando a máquiu:i do Mundo,
Eu 3Ó fora o Pintor da Natureza.
Se Arrighi, e Conti co'o3 Pincéis não derâo
A tão grande Painel mais ahna, e vida.
Itália, Itália, do mortal mais liyre
Recebe este tributo, e o voto acceita.
iBiDF.si, cant. 4.
— Pagar tributo á natureza; morrer.
— Figuradamente: Pagar tributo á
natureza ; solirer algum detrimento, le-
são, encargo usual, e como devido, ain-
da que extorquido com algum pretexto.
TRICA, s. f. — Âs tricas forenses ; os
enredo- e subtilezas : tomado á má parte.
7 TRICALCICO, A, adj. Termo de chi-
mica. Sal tricalcico ; sal cálcico que con-
tém três vezes tanta base como o sal
neutro correspondente.
TRICANA, «. /. Saia de camponeza,
manteu.
— Figuradamente : Mulher que usa
de tricana.
f TRICAPSULAR, adj. 2 gen. Termo
de botânica. Que é formado de três ca-
psulas, fallanuo de um fructo.
TRICELLULAR, adj. 2 gen. Termo de
botânica. Que tem três cellulas para se-
mentes.
7 TRICENARIO, í. m. Serie de trinta
missas ditas em trinta dias consecutivos.
f TRICENNAL, adj. 2 gen. (Do latim
tricennalis, de tricenni, e anniís). De
trinta annos.
t TRICEPHALO, A, adj. Termo de his-
toria natural. Que tem três cabeças.
— - Substantivamente: Género de mon-
stros.
1 TRICEPS, adj. 2 gen. Termo de
anatomia. Diz-se dos músculos cuja ex-
VOL. V.— 103.
tremidade superior é formada de três fas-
cículos distlnctos. — Os miiscidos tri-
ceps.
— Substantivamente : O triceps bra-
chial, ou humeral; musculo da j^arte pos-
terior uo braço.
— Triceps femural ; musculo coUoca-
do nas partes anterior, interna, e exter-
na da coxa.
TRIGÉSIMO, A, adj. num. ord. (Do
latim tricesimus). Que corresponde na se-
rie ao numero triuta.
TRICHECO, *. íii. Termo de historia na-
tural. Mamai amphibio, de que ha di-
versas espécies.
— Tricheco dugongo ; elephante mari-
nha do mar da índia.
— Tricheco bo^rmaro; elephante mari-
nho do mar do norte.
TRICHIASI3, s. f. Termo de cirurgia.
Aíiecçào, na qual as celhas, desviadas de
sua direcção natural, se vêem pôr em con-
tacto com a superfieie do globo do olho,
que ellas irritam.
-j- TRICHINA, s. f. Xome genérico de
Víxxx heimintho hematoide.
7 TRICHINADO, A, adj. Infestado de
trichinas. — Músculos írichinados.
-j- TRICHINAL, adj. 2 gen. Que diz
respeito á tri china. — '■ A doença trichi-
nal.
I TRIGHINOSE, s. /. Termo de medi-
cina. Doença ooeasionada pelas trichinas.
t TRICHODENTE, adj. 2 gen. Termo
de historia uatiu-al. Que tem os dentes
similhantes a sedas.
7 TRICHOGLOSSIA, s. /. Estado da
lingua em que ella parece coberta de pel-
los podendo attingir até a lun centíme-
tro de compriíio e mais.
f TRICHOLOGÍA, s. f. Tratado dos
pellos.
7 TRICHROMISMO, s. m. Termo de
physica. Phenomeno produzido por um
corpo que offerece três cores distribuídas
diversamente segundo o modo por que se
distinguem e cor.si']eram.
-j- TRICHOITO, A, adj. Que offerece o
phenomeao do trichoismo.
TRICIPITE, adj. 2 gen. (Do latim tri-
ceps). Que tem três cabeças.
-j- TRICLINICO, A, adj'. Termo de mi-
neralogia. — • 2]i/po triclinico ; typo cara-
cterisaio por três eixos deseguáes nào
perpendiculares entre si.
TRICLÍNIO, s. m. (Do latim triclinium).
Termo de antiguidade romaiia. Sala de
jantar, com as camilhas em roda da mesa,
onde se encostavam entre os romanos os
que a ella comiam, apoiados sobre o co-
tovelo esquerdo, ou direito.
-;- TRíCOBALTICO, A, adj. Termo de
chimica. Sal tricoballico ; sal cobaltico
que contém trcs vezes tanto de base
quanto o sal neutro correspondente.
TRICOCCA, adj. f. Termo de botânica.
— Capsula tricocca; capsula que tem
três cellulas ocas.
TRICOCEPHALOS, s. m. phir. Termo de
historia natural. Vermes intestinaes de
corpo redondo, grosso e obtuso posterior-
mente.
TRICOLOR, adj. 2 gen. De três cores.
— Flor tricolor.
TRICOLOREO, A, adj. Vid. Tricolor.
TRICÚSPIDE, adj. 2 gen. (Do latim
tricus2)is). Termo de botânica. Que é mu-
nido de três pontas.
— Válvula tricúspide ; membrana val-
vular coUocada na abertura de communi-
cação da aury;ula direita do coração com
o ventrículo correspondente.
TRIDACHNES, ou CHAMAIAS, s. /.
plur. Termo de historia natural. MoUus-
cos que teem a concha regular, e as ná-
degas pouco proeminentes.
f TRIDACTYLO, adj. Termo de histo-
ria natural. Que tem três dedos nos pés.
TRIDENTE, s. m. (Do latim tridens).
O sceptro de três farpas, com que os poe-
tas representavam a Neptuno. — O tri-
dente de Neptuno ê o sceptro do mundo.
Vencedor da braveza de Neptuno,
Senhor do seu Tridente, e ricas conchas.
AXTONIO FEEBEIKA, C.iBI.lS, 1ÍV. 1, TL." 1.
Figuradamente : O mar.
O que tem do tridente o poderio
Com festa 03 companheiros agasalha.
Voa a fama, c por todo o senhorio
Salgado, destes três a vinda espalha :
Nenhum de gosto alli fica vazio.
Por vê-los cada hum cone e trabalha.
Cada hum eo'o que p<5dc alli os festeja
Que o seu Rei isto faz, o isto deseja.
FRANCISCO d'aXDKADE, PBIMEIBO CEBCO DB Dnj,
cant. 7,'est. 42.
— Termo de geometria. Curva do ter-
ceiro grau que se chama também pará-
bola de Descartes.
TRIDENTEADO, A, adj. Termo de bo-
tânica. De três dentes.
TRIDENTIG-ERO, A, adj. (Do latim tri-
dens, e gero). Termo de poesia. Que traz
tridente.
TRIDENTINO, A, adj. Da cidade de
Trento.
— Que pertence ao concilio de Trento.
• — Os sentimentos tridentinos.
TRIDDO, s. m. (Do latim triduum). O
espaço de três dias.
— Furacão que diu-a três dias.
TRIENNAL, adj. 2 gen. Que dura três
annos.
— Conferido por três annos.
— Que vem de três em três annos.
— Termo de botânica. Diz-se das plan-
tas que nào tem fructos e sementes senão
no terceiro anno depois do em que foram
semeadas.
7 TRIEDRO, udj. Termo de geometria.
Que oíFerece, ou que é formado por três
planos.
818
TRia
TRIÍ>
TRKi
— Angulo triedro ; angulo solido forma-
do pcilii i'i!iiiiià<) 'lu tro^ planos.
TRIENNARIO, A, adj. Triennai.
TRIENNIO, .«. III. {\)o latim (riennium),
Es|i;u;o lie três anno».
TRIETERE, k. f. (Do grdgo trietcria).
Em|);u;'> '1'' trcs aunos,
TRIETERICO, A, 't/j. Que abrange tre»
annos, ou que se faz no tiin do trei an-
n03. — As orgias trietericsis.
f TRIFACIÀL, alj. 2 geií. Termo de
anatomia. N>:i-vo trifacial; nome dado
ao nervo cio quinto par, porque se divide
em trcs ramos |>rincipaes.
TRIFAUCE, adj. 2 gen. (Do latim tri-
fauv). Tormo de poesia. De ti'es guelas,
ou gargantas.
— Substantivamente: O trifauce hor-
rível.
f TRIFERRICO, A, adj. Termo de chi-
mica. Sal triferrico ; sal férrico que con-
tém tro3 vezes tanto de ba,se como o sal
neutro correspondente.
TRIFIDO, A, adj. (Do latim trijidiis,
de tri, e j!ndere'i. Termo de botânica. Que
tem trcs divisões, que c fendido em três.
— Aberto em três partes.
— De três pontas unidas cm um corpo.
TRIFLORO, A, adj. Termo do botâni-
ca. Que dá tros tlores.
TRIFOLIO, s. m. (Do latim trifoUum).
Trevo, herva.
TRIFORME, adj. (Do latim triformis).
Termo de mineralogia. Que apresenta a
combinação de tros firmas diversas.
TRIGA, s. /. Termo de antiguidade.
Carro puxado por trcs cavallos.
TRIGAMIA, s. /. Terceiro casamento.
TRIGADO, part. pas$. de Trigar. Termo
antiquado. Appressado, arrebatado.
TRIGANÇA, .f. /. Termo antiquado.
Pressa. — «Mas os nossos de cavalio en-
tendendo, que aquella seria a mór força
de sua defeza, ouverom conselho de os
cercar, o des y começarão sua peleja, na
qual se mexiam muitas lançadas, e pe-
dradas e azagayadas, porque nom eram
tam acerca, em que as armas mais cur-
tas podessera servir ; o em esto fezcrão os
Mouros huma volta com os de cavalio,
porque os de pee nom cbeg;irào ainda,
por razão da trigança, que os de cavalio
meterem cm seu andar.» Inéditos de his-
toria portugueza, tom. 1, pag. oli>.
TRIGAR, V. a. Termo antiquado. Dar
pressa, estimular.
— Trigar-se, v. refi. Apressar-se.
TRIGEMINO, A, adj. (Do latim trige-
miiiHs). Triplo, de trcs partes.
TRIGÉSIMO, A, adj. ord. (Do latim
irigesimus). Que existe entre o vigésimo
nono, e o trigésimo yirimciro.
TRIGLIPHO, ou TRIGLYPHO, ». m. (Do
grego /)•»(//(//)/).■.<''. Termo de arcliitectura.
^Membro composto ile três eanacs, que se
repartem no friso da eolumna dórica.
1.) TRIGO, *. m. (írào farináceo de que
se faz o pão, que autes do se moor em fa-
rinha, alimpa-se na joeira do joio, vae ao
crivo, raôe-ao, poncira-oe a farinba para
80 amassar cm pão. Ha variai espécies:
o trigo treinez, trigo monrinco viaior,
trigo branco, preln, ditrazio, gallego ;
o trigo miichi, o o trigo uf peita. — «K
quando acerta o anuo a ser estéril, se
reparto tamijem o trigo pelo povo «em
se levar por isso ganho nem interesse al-
gum, e o que se dá á gente pobre que não
tem com que satisfaça o que se lhe em-
presta, esse todo se contribuo das reuiias
que as terras paga»> a el Iley, por ser es-
molla que elle por aquelle jiailrào lhe tem
feita, o qual está registado em toilas as
camarás, paraque os Anchacya da fazenda
o levem em conta.» Fernão Mendes Fin-
to, Peregrinações, cap. 113. — tDaquy
continuamos nosso caminho mais treze
dias, vendo ao longo do rio assi de huma
parte como da outra muytos lugares
muyto nobres, que segundo o apparato
das mostras de tora, deviào de ser os
mais dcUes cidades ricas, o tuio o mais
erào bosques de grandes arvoredos, em
que avia niuytas iiortas, jardins, e pu-
mares, e a fora isto capinas do trigo muy-
to grades, em que pacia grade soma de
gado vacum, muytos veados, antas, o ba-
das, e tudo apaceutado por homens a ca-
valio.» Ibidem, cap. 158. — tO Author
das Chibadas dis, que as campinas de
Brabante saõ de área estéril, mas os na-
turaes com sua multidão, e industria as
fazem abundar de trigo, mostrando a ex-
periência contra o provérbio, que naõ he
trabalho baldado lançar semente na arca:
In Brahantia, diz elle, jiuiit agricolte tam
industrij, ijiti sicntissimas arenas cogunt
et triticuin ferre. V Severim de Faria, No-
ticias de Portugal, Disc. 1, cap. 1.
Trifjo. co.uada, centeo
furtam quíisi de pcrmeo,
e deitam terra no pam ;
aam tã mãos 03 que mãos sam,
que de Dcos nõ tem rccco.
a.UtClA DE REZK^^>K, saSCELLlNEA.
— «E por tanto o senhor comparou sua
doutrina a semente que o laurador lança
na terra pêra colher fru\-to, porque assi
como aquelles grãos do trigo que se na
terra lançam pêra delles se vir a fazer
pão delicado, e sabroso, he necessário que
primeyro passem por mil mu'lanças, e tor-
mentos, assi tem Deos ordenado que nam
alcancemos fruyto de saluação sem pas-
sar por varias aduersidades, e tribula-
ções, interiores, e exteriores.» Frei Bar-
tholomeu dos Martyres, Catecismo da
doutrina christã. — «A qual feito, o al-
caide 80 recolheo a fortaleza, sem saber
quem era dom Lourenço, mandando logo
hum presente a dom Francisco de refres-
co, da terra, e dalli a nove dias mandou
hum embaixador, pêra confirmar esta
paz, com dous zambuquos carregados
darroz, c trigo, e outros mantimentos, a
quul lhe dom Francisco coniirmou, c deu
seguro para poder traUir, c navegar pêra
onde quiseise.» l>anii.*io de •íoei', Chro-
nica de D. Manoel, part. 2, cap. 4. —
• Dauam estes Dalmudina, aliem dns mil
caniellos, a renda du ]>ãu que os iVrabea
traziam a Villa (jue era huma i;rande
somma, nos quaes camelios montavam
três mil, quinhentos de trigo, a rezão de
quarenta alqueires a camelio du aoaea
medida, e três mil, e quinhentoH de co-
uada a rezam ile uitent-i alqueires a ca-
mello.» Ibidem, part. à, cap. 14. — iFoi
tanto o despojo de mou"ns, trigo, ceoa-
da, mel, manteiga, galinhas, gado, e ou-
tras cousas, que tre-t ditis contínuos nSo
fezerão os mouros outra cousa que acar-
retar da villa pêra o arraial, no úva dos
quaes se partirão com o despojo, os mou-
ros pcra suas comarcas, acaudela'los por
Side bogima » Ibidem, cap. 72.
Tem-n'o a Rasilo do C"'-o tào dotado
c cUc tão bem que n'iâso caminha ;
queria-o eu trifjo da nossa farinha ;
mas tral-o a Rasào mui encabeçado
com prcg.a<;õosinhaâ de lambarcirinha.
ANTUKio PBGsrES, AiTui, pag. 9.
Ai ! antes eu menta
qun 08 trigo*.
Nào qner entrar ?
Falava com ama parenta:
que é isso, compadre ?
IBIDEM, pag. 281.
E quem disse que canhados,
como diz o berbào anti^
do sonpo — ferros d'arado3 —
03 miolos dissipados
tenha eu se não falo trigo.
IBIDEM, pag. 365.
— iAccuso-me, que comi cincoenta
moves de trigo, que naõ semeey, nem
herdey, nem comprey ; e também declaro,
que 03 naõ furtey; porque me naaceraS
cm C4isa dentro em huma tulha, assim
como me podia nascer hum alqueire de
verrug.as nestas mãos.» Arte de furtar,
cap. brt.
2.) TRIGO, A, aãj. De trigo.
— Loc. : E$tar trigo, ou ttão estar
trigo ; estar animado, ou desanimado.
— .'\d.\gios e pkoverbios :
— Muito trigo tem meu pae em um
cântaro.
— Nem vinha em baixo, nem trigo em
cascalho.
— Natal cm sexta-feira, por onde pu-
deres, scmêa; cm domingo, vende os bois,
c compra o trigo.
— Trigo de cizirão, pequena massa, e
grande pão.
— Trigo ccnteioso, pão proveitoso.
— Trigo acamado, seu dono alcvan-
tado.
TRIG
TRIL
TRIL
819
— De trigo, e de avêa minha casa
cheia.
— Não vendas a teu amigo, nem de
rico compres trigo.
— O trigo, e a teia, á candeia.
— Que monte de trigo se não estivesse
dividido.
— Tudo é nada, senão trigo, e cevada.
— Não é todo trigo.
— Maio come o trigo, e agosto bebe o
vinho.
— Com vento alimpam o trigo, e os
vicios com castigo.
— Deus me dê pae e màe na villa, em
casa trigo e farinha.
— Quando o trigo ó louro, é o barbo
como touro.
— Quando o trigo anda pela eira, anda
o pão pela amassadeira.
— Por Todos 08 Santos semêa trigo, e
colhe cardos.
— Por S. Francisco semêa teu trigo,
e a velha que o dizia, semeado o tinha.
— Quem semêa em caminho, cança os
bois, e perde o trigo.
— Nem herva no trigo, nem suspeita
no amigo.
— Mais valem alimpaduras da minha
eira, que o trigo da tulha alheia,
TRIGONO, s. m. (Do grego trigonos).
Termo de astrologia. Aspecto de dous pla-
netas afastados um do outro 120 graus.
— • Adjectivamente : Que offerece três
ângulos.
— Trigono dos signos; figura gnomiea
que serve para marcar sobre os quadran-
tes os arcos dos signos, e os arcos diurnos.
— Termo de anatomia. Trigono cere-
bral; lamina de substancia cerebral si-
tuada na f>arte superior dos grandes ven-
trículos, formada de duas partes reunidas
na parte anterior, e desviando-se na parte
de traz de modo a formar um triangulo.
— Trigono vesical; espaço triarigular
que a cavidade da bexiga apresenta no
seu fundo.
— Género de conchas.
— Género de coleopteros.
TRIGONOCEPHALO, A, adj. Que tem a
cabeça trigona.
— S. m. Serpente venenosa da Ame-
rica.
TRIGONOMETRIA, s. f. (Do grego tri-
gonos, e metroii). Sciencia que tem por
objecto resolver os triângulos, isto é, de-
terminar-lhes pelo calculo os ângulos e os
lados partindo de certos dados numéri-
cos.
■ — Trigonometria rtctilinea; aquella
que trata dos triângulos rectilíneos.
— Trigonometria espherica ; aquella
que trata i!os triauíjulos esphericos.
f TRIGONOMETRICAMENTE, adv. (De
trigonométrico, e o suífiso «mente»). Se-
gundo as roeras da trigonometria.
f TRIGONOMÉTRICO, A, adj. Que pre-
tence á trigonometria. — Ohservaqòes tri-
gonométricas.
TRIGOSAMENTE, adv. (De trigoso, e
o suflixo «mente»). Termo antiquado.
Apressadamente.
TRIGOSO, A, adj. Termo antiquado.
Apressado.
— Vontade trigosa; vontade de aca-
bar as cousas depressa.
TRIGUAR. Vid. Trigar.
TRIGUEIRÃO, s. m. Termo de zoolo-
gia. Ave agreste vulgar.
TRIGUEIRO, A, adj. Pouco branco, ti-
rante a pardo. — • Homem trigueiro.
TRIGUENHO, A, adj. Concernente a
trigo.
TRIGUOSO, A, adj. Vid. Trigoso.
TRIGYNIA, s. /. Termo de botânica.
Ciasse de ])lantas de três pistillos.
t TRIGYNO, adj. Termo de botânica.
Diz-se da flor que tem três pistillos.
f TRIHORARIO, adj. De três em três
horas. — Observações meteorológicas tri-
horarias.
TRIHYDRICO, A, a,lj. Termo de chi-
mica. Coj;í/(osío trihydrico ; composto que
contém três proporções d'hydrogeneo para
uma de outro componente.
t TRI-IODURETO, s. m. Termo de chi-
mica. lodureto que contém três propor-
ções de iodo.
TRIJUGADAS, adj. f. Termo de botâ-
nica. Folhas trijugadas; folhas jungidas
com três pares de folioios.
TRILATERAL, adj. 2 gen. Que tem
três lados.
TRILATERO, A, adj. Termo de geome-
tria. Figura trilatera ; figura formada
por três rectas.
— S. m. Um triangulo.
TRILHA, s. f. Os vestígios que deixou
o que passou por algum logar.
— A acção de trilhar, de pizar.
— Seguir a trilha d-e alguém; ir após
elle pelo mesmo caminho.
— O signal que deixam as rodas do
carro, as bestas na eira.
— Trilho de trilhar o grão.
• — Figuradamente : oeguir a trilha die
alguém ; imital-o, fazer outro tanto.
— Figuradamente : Dar na trilha a
alguém ; acertar, penetrar nos seus in-
tentos, e o caminho que leva para os con-
seguir,
— Na província de Traz-os-Montes dá-
se este nome á debulha do trigo, porque
se faz com trilhas.
— Figuradamente : Caminho, carrei-
ra, doutrina guiadora.
— tíeguir a trilha das doces musas;
a profissão de quem trata com ellas.
— Seguir a trilha de alguém; usar
dos mesmos meios, seguir o mesmo cami-
nho.
— Srx. : Trilha, vestigio. Vid. este
ultimo termo.
TRILHADA, «. /. Rasto, vestigio, tri-
lha.
TRILHADO, jjart. i^ass. de Trilhar.
Pizado com o trilho.
— Experimentado, feito no exercido,
cortido.
Da cidade ?
Já nào quero passar muros.
Fazeis bem.
Já sou trilhado.
Mas casado
requer pôr pis seguros :
filhos tendes já jantado ?
Sim, que sou j;i dos maduros.
ANTÓNIO PBESTES, AUTOS, pag. 277.
— Frequentado.
— Um corpo bem trilhado ; exercita-
do no curso das experiências, affeito.
Não é má essa consequência,
que trabalhos em estado
d'um corpo já bem trilhado
no cui-so da experiência,
é meio caminho andado.
AXTOXIO PRESTES, AUTOS, pag. 189.
— • Calcado, caminhado.
— Figuradamente: Commum, usado,
sabido, vulgar.
— Maltratado com guerra, ou passa-
gem de tropas para guerra.
TRILHADOR, A, s. Pessoa que trilha.
TRILHADURA, *. /. A impressão que
se faz trilhando.
— Debulha com o trilho.
TRILHAMENTO, s. m. Acto de pizar,
de trilhar.
TRILHÃO, s. m. Vid. Trillião.
TRILHAR, V. a. Pizar com o trilho,
dividir em miúdos, pizando.
— Pizar andando. — «Porque não he
licito que gente tão má como vós outros
trilhe a terra que pôde dar fruito, e
perdoe Deos a quem meteo em cabeça a
el Rey que podieis prestar para alguma
cousa, rapav as barbas.» Fernão Men-
des Pinto, Peregrinações, cap, lõO,
— Deixar impressão do pé ou fazel-a,
fazer pegadas, pizar.
— Trilhar um pé; pizal-o, magual-o.
— Trilhar o termo da vida ; andar em
perigo de vida, rodear a morte.
— Bater, pizar.
— Figuradamente : Pensar minuciosa-
mente, considerar por miúdo.
— Trilhar as vias da virtude ; seguir
a carreira d'ella.
TRILHO, s. m. Madeiro grosso que se
roja pelos bois, sobre o trigo, para o de-
bulhar das espigas.
— Instrumento de bater a qualhada
para queijar.
— Figuradamente : O trilho perpetuo
da humana prole.
Cri, que para aturar trilho perpétuo
Da humana pri^le, abrio louga avenida,
Três milhas cento, por Appulioa Montes,
Costeando o Golphào Xeápoli, e paugagens
De Anxur, de Alba, e Campinas do alta Boma.
F. M. DO NASCIMENTO, 08 MABIYBES, 1ÍV. 4.
820
TKIM
TRIN
TilLN
luz.
tíeguLr
trilho dtí sobri- humana
Tu sou» vi)03 dirigo aos ("ros, il Torra :
])c! sobrliuinana luz 8CguiiiJo o Irillio,
Verei da Natureza aa IcU, o quadro.
k-AruiiKZA, cant. 1.
DK UACRDO,
— Figuradaiiicnte : <> trilho da ver-
dade.
Quanto do trilho da verdade aberra,
Quando busca a verdade o Iminaiio engenho !
Incotnbustivel julga, c ardonto pedra
O luminoso Sol ! Quo mais agora
Descobre alli de Astrúnouios a turba ?
J. A. DK MACEDO, VIAGKJI KXTATICA, Cant. 2.
— Abrir o trilho no mar.
Ao denodado navegante mostras
Tl' alli nào vistos Astros, c com elles
Abre o trilho no mar. Por elle, oh Gama,
Tu puderas mcUior o aspecto horrendo
Ilir ver d'Adama3tor, som que tào fcraa
Arrostasses horrisonas tormentas
Sobre as adustas praias Africanas.
J. A. DK MACEDO, A KATUREZA, Cant. 1.
TRILHOADA, s. f.— Lavrar com tri-
Ihoada; iliz-,<o em opposiç.ào a lavrar com
charruas, c arados; é servi^'0 de lavra-
dor.
TRILICE, adj. 2 (jen. De três liços.
TRILINGUE, adj. 2 gen. (Do latim tri-
liii(juií!, de três, e língua^. Que está em
três liiifruas.
- — Qiif tem três liiifruas.
TRILLIÃO, s. m. Mil bilhões.
TRILOBADO, A, a<lj. Termo de bota-
niea. l)iviliilo em três lóbulos.
I TRILOCULAR, adj. 2 gen. Que estil
diviJidci (Mil ti'es loeulos interiormente.
TRIMENSAL, adj. 2 gen. Que se íax
ou dá cada quai'tel do anno, ou nos tri-
mestres.
TRIMEROS, s. m. phir. (Do prego treis,
e meros). Termo de entomologia. Sub-
ordem de insectos coleopteros, que tem
só trcs ai'ticulos em todos os tarsos.
TRIMESTRE, s. m. (Do latim trimes-
tris). Espaço de ti"es mezes. — O jyrimei-
ro, o segando trimestre do anno. — Pa-
gar por trimestre.
— Tudo o que se paga ou que se re-
cebe no fim de cada trimestre. — Ainda
não 1-ecebeu o .vru trimestre.
i TRIMETRICO, A, adj. Termo de mi-
neralogia. Nome dado ás fórnuis crvstal-
linas que se podem referir a um systema
d'eixiis 110 numero de três.
TRIMETRO, s. m. A^^erso jambieo de três
pés.
— Adj. Termo de prosódia. Que ê eom-
})osto de trcs metros. — Um verso trime-
tro.
t TRIMORPHISMO, s. m. Estado de
uma substancia trimorpha.
t TRIMORPHO, A, adj. Termo do mi-
ueralo;,'i.i. l)i/,-s<; da.-j substancias que po-
dem dar cry.staes pijrtenceutes a três sys-
temas dirterente», ou a um mesmo sys-
tema ; ma» com taes differonças d'angu-
los que He uiío saiba derival-os de uma
fi')rma t'im'!aiiicntal.
TRINADO, A, adj. — Voz trinada ; voz
que canta trinando.
— tí. in. — Um trinado.
TRINAR, V. n. Oar^antear, fazer um
som trenmlo liarmonioso cantando, ou fe-
rindo o instrumento.
— Termo de astrologia. Apparecer o
a.^tro, e influir com aspecto trino ou
trigono.
— V. a. Figuradamente : Modular,
cantar com harmonia, — Trinar louvo-
res, etc.
— Trinar a ave seus amores, seus quei-
xumes.
TRINCA, .«f. /. Termo de marinha. Vol-
ta do um cabo que vem fazer fixo no ta-
Ibamar e atraca fortemente o gurupés
com a roda de proa, dando voltas con-
secutivas por cima d'elle e pela clara
das perchas e da trinca.
— Dar uma trinca ; dar voltas ou re-
ataduras de cabo, para segurar ou fixar
alguma peça no navio.
— Fõr o navio á trinca; pôl-o com a
proa ao vento, com as veias levantadas.
— Na garatusa, sào trcs cartas do mes-
mo valor.
— Trinca da jóia; é um cabo que ser-
ve para atracar a garganta da peça con-
tra o voriru in».
TRINCADEIRA, adj. f. — Uva trin-
cadeira ; rabo ile lebre.
1.) TRINCADO, iiart. j/ass. de Trin-
car.
— Tahoado trincado ; taboado breado,
calafetado.
— Figui-adamente: Trincado de mali-
cia; forrado, e calafetado d'ella.
2.) TRINCADO, A, adj. Sabido, de jui-
zo tino.
TRINCAFIADO, A, adj. (Do francez
tranche filé I. ('osido com trincafio.
TRINCAFIAR, f. a. Termo de mari-
nha. Amarrar com trincafio, dar meias
voltas de longe em longe sobre o forro,,
a fim de se conservar firme.
— Passar muitas voltas de cabo delga-
do por outros grossos já amarrados a
qualquer objecto, jjara que este nào pos-
sa sair fira da mesma amarradura.
TRINCAFIO, s. m. Cabinho delgado de
fio branco ou aleatroailo, com que se trin-
c.ifia qualquer obra de marinheiro.
— Figuradamente : Delgadeza de jui-
zo, geito, e arte, destreza de juizo as-
tuto.
— ■ T>OC. POP. : Levar as cousas por
trincafios.
TRLNCAL. Vid. Tincal.
TRINCALHOS, s. i;i. plur. Nas ilhas
dos Açores, o mesmo que sinos.
TRINCANIS, ou TRINCANIZ, «. m. iDa
francez trim^neriíi). Te niwi <le marinlia.
Parte interior da nau ao pé dos embor-
naes, por ondi; corre a agua.
TRINCAPAU, adj. 2 gen. Que rie pau.
— ò'. /. — Trincapau, ou yhaUna cos-
sia ; lagarta que vive no interif/r do pau
do salgueiro, ulmo, etc, que r<je, depois
de os haver araollecido com um liquido
acre qne liic t-áe da bocca.
TRINC APINHAS, s. m. Vid. Cruzabico.
TRINCAR, V. a. Cortar com os dentes,
e faziT estalai-.
-. — Termo de marinlia. Fazer uma for-
te arroladura á maneira da trinca, de gu-
rupés, tiincar-so a amarra, cortar-se con-
tra qualquer objecto.
— Trincar o peixe a scltlla ; cortal-a,
fazel-a rebentar.
— Trincar a amarra; cortal-a, que-
bral-a.
— Figuradamente : Trincar o peixe a
sedella ; deixar em branco, levando al-
guma cousa alheia, eacapar-se. Vid, Se-
della.
— V. n. Estalar cortado peloa dentes.
— Rebentar.
— Trincar por alguma linguagem ; cor-
tar, fallar mal.
TRINCHA, »./. Termo antiquado. Trin-
cheira.
— Apara delgada como a que se tira
com trincha ou faca,
— Um ferro cortante como enxó, com
cabo direito também de ferro, de que se
servem os carpinteiros f)ara alimpar bu-
racos no meio das peças dos carros, etc.
TRINCHADO, part. pass. de Trinchar.
Cortado no trincho,
— Figuradamente : Trinchado dat mãos
dos inirnii/us.
TRINCHANTE, s. m. Official de casa
nobre, que corta, e triucua o comer, e
o distribuo aos que estilo na mesa. —
«Trinchante D. António Alvares da Cu-
nha Senhor de Taboa, e para Sumilher
da Cortina D. Joaõ de Sousa^ qne foi
Bispo do Porto, e Arcebispo de Braga,
e ultimamente de Lisboa, e Conselheiro
de Estado ; Escrivão da Cozinha Baltha-
zar Rebello; doze Moços da Camará, de-
zoito Reposteiros, e todos os mais OfB-
ciaes, de que se compõem huma Casa
Real.u Fr. Bernardo de Brito, Elogios
dos reis de Portugal, continuados por D.
José Barbosa.
— Ha também trinchante-/n(>r na ca-
sa real. Viil. Trinchão.
TRINCHÃO, s. );i. Trinchante, instru-
mento de trinchar.
— Angmentativo de Trincho, Instru-
mento de carpinteiro.
TRINCHAR, 1-. a. Cortar o comer com
trincho, ou sem elle.
— T''. ;». Fazer o oflScio de trinchante.
— Entre alfaiates, dar cortes no alto
da bainha para qne assente bera.
TRINCHÈA, #. /. Vid. Trincheira.
TRIK
TRIN
TRIN
821
TRINCHEIRA, s. /. (Do francez tran-
chéei. Fosso que os cerca Jores fazem
para chegarem cobertos ao pé do muro
da praça sitiada ; talvez se faa levantan-
do terra, que com sua altura defenda o
corpo do combatente dos tiros ou golpes
do inimigo; ou de saccos de terra, sal-
chichas, etc. — «Não tinha o lugar de-
fensa de muros, ou trincheiras, assegu-
rados seus habitadores, ou na grandeza
de seu Senhor, ou na paz dos Trincipes
visinhos; porém ao presente, como a
guerra que fazíamos ao Hidalcão come-
çou por vict<5rias, vírào os Mouros seu
perigo em seus mesmos exemplos : assim
trouxerão para defender a Cidade dous
mil soldados pagos, que com a milícia da
terra fizerào número bastante a defeu-
dellos, conformo ao seu discurso.» Jaciu-
tho Freire d' Andrade, Vida de D. João
de Castro, liv. 1. — tE marchando duas
legoas de Goa, avistou o inimigo, que
alojado ao pé de huma serra, tendo na
frente hum rio, que lhe servia de cava,
e de trincheira, com as vantagens do
número, e do sitio, esperou aos nossos,
que ainda que cansados da marcha, co-
brando novo alento, ou com a presenç-a
do Governador, ou com a vista do inimi-
go, começarão a passar o rio com mais
resolução que disciplina.» Ibidem.
— Trincheira da borda ; parapeito que
se forma sobre a borda dos navios com
pilares e redes por fora e por dentro, pa-
ra entre ellas metter objectos como ma-
cas da guarnição, etc. ; nos combates na-
vaes também se usa encner este vào com
cortiça ou algodão, a fim de obstar ao
estrago da mosquetaria.
— As trincheiras ; as queixadas, e
dentes.
TRINCHEIRADO, part. pass. de Trin-
cheirar.
TRINCHEIRAR, r. a. Abrir trincheira,
e fortificar, ou cobrir-se cora cila.
TRINCHEiaiNHA, s. /. Diminutivo de
Trincheira. Trincheira pequena.
TRINCHETE, s. in. (Do francez tran-
chei). Faca própria do sapateiro.
TRINCHO, s. m. Prato sobre que se
trincha o comer; ordinariamente era de
pau.
— A taboa de baixo onde se põe a mas-
sa do queijo, apertada pelo cincho.
— A parte por onde se corta facilmen-
te a ave, etc; d'aqui : saber o trincho
ás viandas.
— -Escudella de pau.
TRINCO, s. m. Som que se faz aper-
tando as cabeças dos dedos pollegar e
maior, deixando cair o maior sobre a pal-
ma da mão.
— Sonido como de trinco.
TRINCOLHOS BRINCOLHOS, s. vi. plur.
Termo popular. Brincos de meninos, fran-
dulager.s.
TRINDADE, s. /. (Do latim trinitas).
A união de três pessoas distinctas em
uma unidade, ou em uma só Divindade ;
é mvsterio de fé.
Que sam muito ledo e muito contente,
Porque a. verdade he a mesma Trindadt
Verdadeiramente.
E pois eu sam voz de nosso Senhor,
Se eu a calar, quem na ha de dizer "?
As otFeusas de Deos quem as ha do soffrer ?
Mas clame em deserto qualquer pregador.
GIL VICEHTE, AUTO DA HISTORIA DE DEUS.
— Um SÓ Deus em três pessoas, o Pa-
dre, o Filho, e o Espirito Santo.
— O primeiro domingo que se segue
ao Pentecostes. — A festa, o dia da
Trindade.
— Tocar as Trindades ; tocar as Ave-
ilarias, á tardinha.
TRINERVEO, A, adj. Termo de botâ-
nica. Que otierece três nervuras, fallan-
do de uma folha.
TRINITARIO, A, s. e adj. (Do latim
irinitarius). Diz-se, em geral, daquelles
que crêem na existência de três pessoas
em Deus.
— Particularmente applica-se a certos
sectários, cujas opiniões sobre a Trindade
não eram orthodoxas.
— Religioso de uma ordem fundada
por S. João da Matta no decimo terceiro
século, e chamada outr'ora a ordem da
liedempção dos captivos.
TRINO, A, adj. (Do latim frinus). Diz-
se de Deus, considerado na Trindade. —
Deus, trino em pi^^^oas,
— Aspecto trino. Vid. Trigono.
— tí. m. plur. Os frades da ordem da
Trindade.
— â. f. plur. As freiras da ordem
da Trimlade.
TRINOMINO, A, adj. (Do latim três, e
nomen). Termo de poesia. Que tem três
nomes, ou é conhecido por três denomi-
nações.
TRINOMIO, A, adj. De três nomes.
TRINQUE, s. m. O cabide em que os
aljubeteiros expunham á venda o fato
feito.
— Uma capa, ou outro vestido novo do
trinque; que ainda não se usou vez ne-
nhuma.
TRINQUETA, s. f. Vid. Tranqueta.
TRINQUETE, s. m. Mastro, e vela de
proa de uma galera.
TRINSAR, s. m. (Do latim trinso). O
chiar da andorinha.
TRINTA, adj. num. card. 2 gen. Três
vezes dez, numero existente entre vinte
e nove e trinta e um.
Hão mister, filha, curados ;
beoza-te Deos ! tal imagem
de filha se apaga ora,
antes me suena senhora
de trinta maridos.
Lagem
sobre tal ■í-iuva.
ASIOSIO PEE3TES, AUTOS, pag. 481.
— «E assi presos como hiamos de ties
em três nos meterão em huma prisaõ que
se chamava Gofanjauserca, na qual de
boa entrada nos derào logo a cada hum
trinta açoutes, de que alguns dias esti- '
vemos bem mal tratados.» Fernão Men-
des Pinto, Peregrinações, cap. 100. —
lE tomandouos ás mãos, nos deraõ logo
a cada hum trinta açoutes, de que fica-
mos mais sangrados que das feridas, e
nos levarão a huma mazmorra que esta-
va debaixo do chaõ, onde nos tiverão
quarenta e seis dias com grilhoens nos
peis, algemas nas maõs, e colares nos
pescoços, com que passamos assaz de
trabalho.!) Ibidem, cap. llõ. — t Partin-
do daquy, seguimos por este esteyro aci-
ma mais onze dias, em todos os quais
não achamos nem vimos lugar nenhum
que fosse notável, senão somente aldeãs
pequenas de casas de palha, povoadas de
gente pobríssima, e nos campos avia in-
finidade de gado vacum, que, segundo
parecia, não tinha dono, porque matáva-
mos peraute os da terra vinte e trinta
cabeças cada dia, sem aver quem nos
fosse á mão, nem nos dissesse palavra
nenhuma, mas antes em partes nollò tra-
zião de graça, como que folgavão de o
matarem.» Ibidem, cap. Iõ8. — a O mais
seguro deste caminho, he fazelo pelas
dez, que ficâo no meyo das trinta; nas
quaes tem fundo de vinte cinco braças
atè corenta. Por ellas se pode caminhar
de noyte. Mas nas outras dez que ficào
de cada parte ao logo da terra, iuda que
tem de oyío atè doze de fundo, ha cõ
tudo ueliss bayxos perigosos.» Frei Gas-
par de S. Bernardino, Itinerário da ín-
dia, cap. 8. — «Assentado isto, puzeraõ
em cima as armas, e todos os mantimen-
tos, pólvora, e roupas, e logo se embar-
cou Manoel de Sousa no batel com sua
mulher, e filhos, e perto de trinta pes-
soas principaes, em que eutravaò Pauta-
leaõ de Sà, Tristão de Sousa, Amador de
Sousa, Diogo Mendes Dourado de Setu-
val, Balthazar de Siqueira, e outros, e
com algumas espingardas, e armas se pu-
zeraõ em terra, e tornou o batel a des-
embarcar os mais.» Diogo de Couto, Dé-
cada 6, liv. 9, cap. 22. — «De maneira
que nesta entrada lhe mataram treze ho-
mens de pe, e de caualo, e dezasete ca-
ualos afora mais trinta que mandou ma-
tar em tornando, que de cançados nam
podião ir adiante, por nam ficarem aos
Mouros, aliem do que foi constrangido
de deixar toda a caualgada, carriagem, e
azemalas, em que leuauam o alforge, e
outras cousas necessárias.» Damião de
Góes, Chronica de D. Manoel, part, 3,
cap. 13. — «Parecendoliies que Hagama-
med, com todas suas trinta fustas lhe nam
fezeram nenhum damno, e desta manei-
ra esteue ancorado ate horas de vespora,
que começou ha viraçam com que se foi
a nao sam Denis dar conta ao gouerna-
822
TllIN
TRIN
TBIN
dor Diopo lopoz <lo que fozera, e 'lo
qiiam dcstrorado iicaua. » Ibidem, jiart.
4, ciip. 7;5. — «C^iio cbouoiauí taiitau ho-
broUoM, que j)oro de qucirofl tiiilia na sua
adarga prcRudas vinte Miite IVcclias, o
Kmanuol da cunha vinte cinco, e lioí ou-
tros* pelo HCíiiiinte, ao redor do Ijaluarte
acharam trinta dos íiiií;,'-oh nioito.s, quo
OH no.snos mataram delbndeiidolhc a en-
trada, do que os mais tinhaõ vestidas ca-
baias do soda, o chauialoto.» Ibidem,
cap. 74.
— Trinta cruzados. — »E do levarem
delias té o porto do Jiidá huina náo, le-
vam vinte o cinco tó trinta cruzados, e
navepam e-ito mar com dous ventos j^-e-
rac.s, ({110 s5o Levante, e Poiiente; e
quando não são mui tendentes, veiitam
alguns terrenhos, e porém poucas vezes.»
Barros, Década 2, liv. 8, cap. 1.
— Por mais de trinta dúis ; por espa-
ço de maia de trinta dias. — «As llostia-
rias chamadas do Bode, e da Afjuia, e
outras muitas cazas grandes da Cidade
ficílrão alagadas, e cercadas do agoa por
mais do trinta dias.» (Javalleiro d'Oli-
veira^ Cartas, liv. 1, n." 23,
— Trinta « seis dias ; por espaço de
trinta o seis dias, — t Porque despois quo
o Necodil e os mercadores foraõ desterra-
dos peia maneyra que tenho dito, me pas-
sarão logo a outra prisaõ mais apertada,
na qual me tiveraõ trinta e seis dias car-
regado de forros com assaz de aspereza e
crueldade.» l"\írnão Mendes Pinto, Pere-
grinações, cap. ITiS.
— Trinta vtilhZes; numero correspon-
dente a cento e vinto milhões tle contos
de reis. — «Se tivera de reserva os vin-
te, on trinta milhoens, quo gjvstou nas
superiluidades do (ialinheiro; ou se se
deixara estar nas mãos de seus vassallos,
outro galo lhe cantara, e naõ os achara
todos galinhas, quando lho sorvia serem
Leoens; titulo, e nomeada, do que so
prézão.» Arte de furtar, cap. õl,
— tSupreiHo presidente da casa dos trin-
ta e doiis. — <i Eu polo poder, e autorida-
de que tenho do Aytaõ da liatampina,
supremo presidente da casa dos trinta e
dous da gente estrangoyra, em cujo pey-
to se encerra o segredo do I^aõ coroado
no ttirono do Mundo, vos admoesto, c
mando da sua ])art6 quo me digais quo
gente soia, e o nome da terra em que na-
cestes, e so tendes Rey -que por serviço
de Deos, o pela obrigação do cargo que
tem se inclino aos pobres, e lhes guarde
inteyramente sua Justiça, por que naõ
clamem com as mãos levantadas, o com
lagrimas dos seus olhos ao Senlior tia for-
mosa pintura, de cujos santos pés saõ al-
parcas todos limpos, quo com cllo Rev-
lutõ.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 100.
— Trinta ilo cavnJío; diz-so de homens
cavalleiros, em opposição a trinta de pé.
— u E logo no mes Dagosto mandou An-
tónio gonçaluoz correr o campo com trin-
ta lie cauallo, o a .Mugurez seÍH lego;m
da cidade achou huns mouros do pc com
que pelejou per hum bom espaço.» Da-
mião lie Moes, Chrouica de D. Manoel,
part. 4, cap, 'áO.
— Trinta e quatro; numero cxi-ituntc
cnti'e trinta e trcs c trinta e cinco. —
o Aliem destas o acouipauhauaô trinta, c
([uatro fusta» dobaixo da bandeira de Mi-
liquias capitão, o gouornador da cidade
do Dio, por el Rei de Cambaia, todas
nuiito artilliadaa, e bem esquipadas, o as
velas do tíoldaò dauentajem, porque tra-
ziam muita, e grossa artelhai'ia de bron-
co, o bo:i g(!nte deguorra, em que entra-
vão alguns Cliristãos Lcuantiscos, e Ita-
lianos, 03 mais delies homens do mar.»
Damião de (iocs, Chronica de D. Ma-
noel, part. 3, cap. 20.
— Mil e quatrocentos e trinta e seis
annos ; era inferior a mil e quatrocentos e
trinta e sete, e sujierior a mil c quatro-
centos c trinta e cinco, — aE depGse o
que devia da moeda antiga, ou nova, que
se fez ataa primeiro dia de .Janc.Li-o da Era
de mil quatrocentos e vinto o quatro
annos, per as moedas novas, que se íize-
rom dós primeiro dia do Janeiro da Era
de mil c quatrocentos trinta annos, ataa
primoiro dia de Janeiro da Era de mil
quatrocentos e trinta e seis annos, a cin-
quo libras por huma, segundo era con-
theudo na T>ey de ciuquo por huã sobre
esto feita.» Ord. Affons.,liv. 4, tit. 1, §9.
— Trinta mil reis; seis moedas com
mil e duzentos reis. — «Hum Francisco
da Cunha das ilhas terceyraa chegou a
elle, e disselhe, que polias cinco chagas
de lesu Cliristo lhe fizesse alguma mer-
cê, que era lidalgo, e muyto pobre, e el
Rev lhe mandou com niuyta pressa fazer
hum paihão de trinta mil reis de tensa,
e o assinou, e disse-lho que tomasse a
prata que na casa estaua, que não tinha
ja que liio dar, o em o outro se sayndo
disse el Rev.ii (-tareia de Rezende, Chro-
nica de D. João II, cap. 212.
— Piaiir trinta arraieis; ter o poso de
trinta arráteis. — «Acharam-so nestas
duas nãos algumas cousas de preço, en-
tre as qnaes iiania iium idolo douro que
pesaua trinta arráteis, de figura nmito
monstruosa que tinha por olhos duas ri-
cas esmeraldas, cuberto de hum manteo
d'ouro de niartello, bordado de pedraria,
com hum robi nos peitos do tamaiího da
roda de hum cruzado. Despejadas as
nãos, dom Vasquo lhes mandou poer o
fogo, que so ateou de modo que todas ar-
deram a vista da frota.» Damião de
(iocs, Chronica de D. Manoel, part. 1,
cap. (,)9.
— Mil e quatrocentos e trinta e ires
annos; era anterior a mil e quatrocentos
e trinta e quatro. — « Dante em Tentúgal
a quinze dias de Junho. ElRey o man-
dou, Álvaro Gonçalves a fez Era de mil
e quatrocentos c trinta e tre» annoe.»
Ord. Affons., liv. 4, lii. 4, § 11,
— Trinta Ul/rru; numero equivalente
a cento e Irinta e cinco mil rei». — «E
que se a dcUonder, e a iioiii quiser letxar
aa justiça, seja-liiu ujiitada cm trintA li-
bras; o se for acíiado qac a traz tnais ao
diante, poia segunda vez l>ague cimjuoen-
ta mil liljras; e se ao diante qui«er aeer
portíoso, coutem-Uie a be»ta per ecta gui-
sa das cinquocnta mil librai, e façam-no-
lo a saber.» Ord. Affons., liv. G, tit.
119, {? 24.
— O òenejicit) d'e$ia lei até os triata
annos; o beneficio dolla até á idade an-
terior a trinta annos. — «E disserom OB
Direitos, que nom embargante, que al-
guma cou-^a fosse vendida per mandado
da Justi(;a com pregom om praça acu»-
tumada, se hy dcsjjois for achado, que
alí;unia das partes foi enganada na ven-
da ou compra aaiem da meetade do Jus-
to ]ireço, bem poderá desfazella polo be-
neficio desta Lei ataa os trinta annos,
como dito hc.» Ord. Affons., liv. 4, tit.
45, § 10.
— Mil e quatrocentos e trinta o cinco
annos ; era anterior a mil e quatrocentos
e trinta e seis. — «Dante em a nossa di-
ta Cidade d'£vora a dezoito dias de Mar-
ço. Affonso de Beja a fez Era de mil e
(juatrocentos e trinta e cinco annos.»
Ord. Affons., liv. 4, tit. 21, § 5.
— Trinta e cinco soldculo»; numero in-
ferior a trinta e seis. — (Mandou D. Ál-
varo governar a Xael, e surgindo á vis-
ta do castello, os Fartaques temerosos,
ou amigos, recebêrJlo como de paz a ar-
mada. Era o Forte fal)ricado do adobes,
com quatro cobellos tíío pequenos, que
basta vão para o guarnecer trinta e cin-
co soldados, que o preaidiavlo. » Jacin-
tlio íVeire de Andrade, Vida de D. João
de Castro, liv. 4.
— A idade de trinta e cinco annos. —
«Houve mais a Infante D. Maria, qne
morreo menina; o Infante D. António,
que viveo poucos dias, e de seu parto
ficou a Rainha tito enferma, que morreo
dahi a pouco te.mpo em idado do trinta
e cinco annos.» Frei Bernardi> de Brito,
Elogios dos reis de Portugal, coutiniui-
dos por D. José Barbosa.
— Trinta e cinco legoas. — « Estaua
ne,ste tempo no Porto do Escandarona,
quo fica trinta c cinco legoas de Alep-
po, huma fermosissima nao Veneziana
de caminho pêra Cliypre. O Guardi.ío se
concertou com o Capitão delia, pcra nos
levar a esta Ilha, e depois pa.^^sannos a
lapho, porto de terra Sancta.» Frei Gas-
par de S. Bernardino, Itinerário da ín-
dia, cap. 22.
— Jogo de cart-us em quo ganha ou
empata quem faz trinta, ou fica cm pon-
to mais próximo a elles que o do contra-
rio: hoje em logar de trinta é trinta e
um.
TRIP
TRIP
TRIS
823
— Adagio e provérbio :
— Quem de trinta não pôde, e de
(juarenta não sabe, e de clncoenta u<ão
tem, níio [.(''ide, não sabe, nem tem.
TRINTAGESIMO, A, aJj. Que se se-
gue ao vijíesimo nono.
TRINTAIRO. Vid. Trintario.
TRINTARIO, s. m. Termo antiquado.
Exéquias que se faziam aos trinta dias
depois da morte.
— Um trintario de missas ; triuta
missas ditas successi vãmente, ou talvez
no mesmo dia.
— ■ lr-s6 chegando para o trintario ; es-
tar íi morrer.
TRINTAVO, A, adj. Diz-se de qualquer
das partes de uma cousa dividida em
trinta partes.
TRINTENA, s. /. (Do francez treiítai-
ne). r^ parte; era o imposto ordinário
nas portagens dos rios.
TRIO, s. m. Termo de musica. Com-
posição de três partes. — Executar um
trio.
— A segunda parte de uma walsa, de
uma polka.
— Figuradamente : Reunião de três
pessoas.
TRIOICIA, s. 7)1. (Do grego treis, e
oikia). Termo de botânica. A terceira
ordem da vigésima terceira classe no sys-
tema de Linneu, o qual comprehende as
plantas que sobre três indivíduos da
mesma espécie, o primeiro tem flores hcr-
maplu'odita8, o segundo flores maclias, e
o terceiro flores fêmeas.
TRIPA, s. /. (Do francez tripé). In-
testino do animal. — «Nos porcos, huns
tratão em os venderem vivos por junto,
outros em os matarem, e os venderem
aos arráteis, outros em os chacinarem, e
os venilerem de fumo, outros em vende-
rem leitões pequenos, outros nos miúdos
das tripas, e banhas, peis, sangue, e
fressuras.B Fernão Mendes Pinto, Pere-
grinações, cap. 97.
Quer-se movir.
Oh! dizei, bem estreada.
Minhas tripas, uâo lia uada
que não seja era vos servir.
AKTONio mr.sTKS, AOTOs, pag. 463.
— Termo antiquado. A barriga.
— Panno tecido de lã e linho, felpu-
do de um lado, e que parece velludo.
— Levar as tripas na mão ; ir com o
ventre roto.
— Fazer das tripas coração; tirar ani-
mo da fraqueza.
— Viajar á tripa forra ; viajar sem
fazer gastos, nem despezas.
— Vomitar as tripas ; ter vómitos ex-
cessivos.
— Plur. Nome dado, na cidade do Por-
to, a uma certa comida composta de di-
versas substancias, taes como fressura,
gallinha, vacca, carneiro, cenouras, etc.
— Adágios e provérbios:
— Tripa cheia, nem fogo nem peleja.
— As tripas pelejam no ventre.
— As tripas estejam cheias, que ellas
levam as pernas.
— • Fazer das tripas coração.
TRIPAGEM, s. /. Toda a reunião de
trijias.
TRIPALHADA, s. /. Multidão de tri-
pas.
TRIPARTIDO. Vid. Tripartito.
TRIPARTITO, A, adj. (Do latim tri-
partitas). Dividido em três partes.
TRIPARTIVEL, adj. 2 gen. Que é pos-
sível dividir-se em três, ou que se divide
naturalmente em três partes.
TRIPÉ, s. /. Vid. Tripa (panno).
TRIFEÇA, s. /. Vid. Trepeça.
TRIPEIRO, A, s. Pessoa que vcntle tri-
pas.
— Pessoa que se serve d'ellas para
seu alimento.
TRIPETALO, A, adj. Termo de botâ-
nica. Que tem três pétalas.
TRIPE-TREPE, adv. pop. Pé ante pé,
mansosliiho.
TKIPHANE, s. /. Substancia mineral
em que se descobriu o lithio.
TRIPHTHONGO, s. m. Vid. Tritougo.
TRIPINHA, s. f. Diminutivo de Tripa.
TRIPLAR. Vid". Tripolar.
— Termo de arithmetica. Tomar a
mesma somnia ires vezes. Vid. Tresdo-
iirar.
TRIPLE, adj. 2 gen. Tríplice, tripli-
cado, furniailo de três.
TRIPLICAÇÃO, s.f. Acto de dobrar três
vezes um numero ou quantidade.
— Multiplicação por três; o mesmo nu-
mero tiúplicado.
TRIPLICADO, part. pass. de Triplicar.
TRIPLICAR, V. a. Triplar, desdobrar.
— Figuradamente : Multiplicar.
— Triplicar-se, v. reji. Figuradamen-
te : JMultiplicar-se.
TRIPLIGATA, s. /. Terceira copia.
TRÍPLICE, adj. 2 gen. Triplicado.
— Termo de poesia. Hecate, a lua.
TRIPLICIDADE, s. f. Termo de astro-
logia. Aspecto trino, trigono.
TRIPLO, A, adj. Vid. Triple.
— tí. m. Termo pouco èm uso. O tres-
dobro.
TRIPÓ, s. m. Trepeça, divergindo ape-
nas em ter o assento de sola, e os três
pés unidos em um si'i eixo.
TRIPODA, ou TRIPODE, s. /. (Do la-
tim tripus). Assento de três pés, trepe-
ça d'onde as sacerdotizas davam respos-
tas aos que consultavam os oráculos.
— Vaso precioso com três pés, de que
os antigos faziam presentes, como se vê
em Homero a cada passo.
TRIPODO, A, adj. Da forma de tri-
poda.
TRIPOLAÇÃO, s. f. Equipação de ma-
rinheiro.-: e soldados, de que se compOe
a guarnição de qualquer navio.
TRIPOLADO, part. pass. de Tripolar.
Munido do tripolação. • — Armada tripo-
lada. Vid. Atripulado, e Esquipado.
TRIPOLANTE, part. act. de Tripolar.
— tí. m. Homem da tripolação do na- •
vio.
TRIPOLAR, V. a. — Tripolar os na-
vios; munil-os de tripolação; esquipar.
TRIPUDIADO, part. pass. de Tripu-
diar.
TRIPUDIANTE, part. act. de Tripu-
diar. Que dança, baila, batendo com os
pés, ou liando sapateadas.
TRIPUDIAR, V. n. (Do latim tripudia-
re). Baihir batendo com os pés ou dan-
do sapateadas.
TRIPUDIO, s. m. (Do latim tripudium).
Dança, sapateada, baile.
TRIPULADO, part. pass. de Tripular.
Vid. Tripolado.
TRIPULAÇÃO, s. f. \\à. Tripolação.
TRIPULANTE, part. act. de Tripular.
Vid. Tripolante.
TRIPULAR. Vid. Tripolar.
TRIQUEBAL, s. m. (Do francez trique-
bale). Termo de artilheria. Carro con-
struído particularmente para o transpor-
te de pesados fardos a distancias pouco
afastai! as.
TRIQUESTROQUES, s. m. plur. Termo
popular. Adorno de palavras, consistin-
do em trocados, em períodos do som si-
milhante, etc.
— Confusãn de termos.
TRIQUETE. Termo usado n'esta locu-
ção : ^1 cada triquete ; a cada passo.
TRIQUETRAZ. Vid. Traquinas.
TRIRAMOSO, A, adj. Termo de botâ-
nica. Que tem três ramos.
TRIREGNO, s. m. O senhorio de três
reinos.
— O triregno do Vaticano; a tiara
do papa, em que ha três coroas.
TRIREME, s. f. (Do latim triremis).
(jalé, ou antes navio da três ordens de
remos, usado dos antigos romanos.
TRIS, s. m. Termo popular. — Esca-
pou, por um tris ; escapou por um nada.
TRISAGÍO, s. m. (Do grego trisagios).
Canto de três vezes sanctus.
— Hynmo em honra da Trindade.
TRISÀGO, s. m. Termo de botânica.
Planta, espécie de carvalhinha.
7 TRISANNUAL, adj. 2 gen. Que du-
ra trcs nnnos. — Planta trisannual.
TRISARCHIA, ou TRISARQUIA, «. /.
(Do grego treis, e arcK). (iovorno de
três chefes.
TRISAVÔ, s. m. Vid. Tresavô.
TRISAVÔ, *. /. Vid. Tresavó.
TRISCA, s. /. Rixa, briga, contenda
travada.
TRISCAR, V. a. Ter briga, razões com
algucm; contender com elle, travessear,
enredar.
— Ter rixa.
TRISECÇÃO, s. /. Divisão de uma cou-
sa em três partes.
824
TRIS
TRIS
TRIS
— Tormo de geometria. Divisão oin
tro8 pjirteM ofíuncH.
— Termo (Ic i)otanic!v. Principio da
trisecçAo ; cauBii iiicof,'iiita que faz quo
a u(>ni|ioHÍ(;ito (Ihh ídIIius su touic a»siui :
as folhas tcnrloin a iliviílir-sc por trcn;
quaiulo um iiiiil») so divide, ó somprc se-
gundo uiti iiitdtipio de treâ.
f TRISEPALO, adj. Termo do botâni-
ca. l)iz-se do caiyx que ó formado de
três [wiras.
TRISMEGISTO, A, wlj. (Do grego í»-t«-
mc<]'iilits\. Tics vezes máximo.
— S'ibroiiomo dado pelos gregos ao
mercúrio ogypciaco ou liermes.
TRISMO, s. »i. Termo do medicina.
Aperto das maxillas jiela contracyão es-
pasmódica dos músculos elevadores da
maxilla iuÍL-rior, de maneira quo a boc-
ca liqiie for(;osaincnto fechada.
TRISNETÁ, s. f. Vid. Tresueta.
TRISNETO, 5. «1. Vid. Tresueto.
TRISPERMO, A, adj. Termo do botâ-
nica. ^)nv t''in três grilos.
-j- TRISPLANCHNICO, A, udj. Termo
de anatomia. Nervo trisplanchuico ; ner-
vo chamado i/rumU ^i/m/ial/iico.
TRISSYLLÁBO, A, adj. De três sylla-
bas. — Vncihuli) trissyllabo.
TRISTE, adj. 2 (]en. (Do latim tristis).
Quo tem tristeza, o aflii(;à<), u.io conten-
te, uào alegre.
El andava tríMe mui sru sabor
Como quem é tão coytailo d'amor,
E pcrdudo o seu c a colur.
CANC. DE D. DINIZ, pag. 152.
Que nunca se vio prazor,
Scnào (luando nào se espera.
E iior tanto não devia
De ter trt'te a phautasia,
Poi-quo Vossa Mercê creia,
Que o pr.azcr sempre salteia
Quem dclle mais desconfia.
CAU,, AMl'HliTlllÕES, act. 1, SC. 1.
Meus olhos, que vistes?
Pois vos atrevestes,
Chorae, olhos tristex,
O bum que perdestes.
IDF.M, UGDONDILU.VS.
— «jras como naquellas cousas, quo
eram do sua gloria, fo.sso mais escassa
que i\a3 outras, nunca o quiz fazer. Al-
bayzar se partiu tào triste, que em ne-
nhum tempo o foi mais e ás três jorna-
das chegou a casa delrei Rociudos, onde
depois de se presentar a elle de parte de
Miraguarda, da maneira que o oUa man-
dilra, tioou em sua corto todo o tempo
que Polendos esteve preso.» Francisco
de Moraes, Palmeirim dTnglaterra, cap.
108. — «lAmaiu.iy todas as vellas, (juo
nos quebrou o lomc pcllo movo. Fica-
mos com estas palauras tam tristes, c
enfadados, quo cuyilo fácil cousa scrà
sentir, quaes neste passo ficaríamos. »
Fr. Gaspar de S. Bernardino, Itinerário
da índia, cap. 10. — «No a»|)eito do
rosto vinha ti\o triste que nào avia quem
olhasse para elle (|uo puilesse ter as la-
grimas, era de idade de sessenta e dou»
annos, grando du corpo c bem as8ond>ra-
do, os olhos cançados o tristes, a fiso-
iiomia grave e severa, o o aspeito de
príncipe generoso.» FeriiSo Mundos) fin-
to, Peregrinações, cap. IfjO. — «E quan-
do achou hum soo filho que tinha, quo
criara com tanto amor, tanto recoo, tan-
to contentamento, por ser o mais singu-
lar Piinciíic (|ue no mundo se sabia, cm
que so cl Roy reuia, o queria tilo gran-
de bem que hum so dia nào podia estar
sem o ver, nem tinim outro descanso,
senão sua muyto estimada vista, o con-
uersaçào, ficou cm tilo grande citremo
triste, e desconsolado, 'jue se d.Io podia
dizer, nem cuydar, dizendo sobre o li-
Iho tantas lastimas, o palauras de tanta
dor, e tristeza, que o nTio podia ouuir
ninguém sem muytas o tristes lagriiua-<.»
(íarcia do Rezende, Chronica de D. João
II, cap. 132.
Este, vendo que cm vão fora a passada
Obra da luvoja contra a Christãa gente.
Sondo com isto iielle então dobr.ida
A fúria, e no peito o odio em dobro ardente,
Coin a cabc(;a baix&, c derrubada.
Triste, c da companhia sempre ausente.
Imaginando está que modo tenha
Com quo o seu ináo iutcuto a effcito venha.
F. D'ANnRADE, PRIUEIRO CEBCO PE niU, Caut. 12,
est. 78.
Quo esteja triste o oontro da alegria !
Que viva na espessura a flor do prado!
E com barrete cujo, e mal lavado,
QuL-m hc gema do oúeito, e bi/.urria!
ABBAnK DE JAZESTE, POESIAS, pag. S9.
Têdes ? alli.
Pois do que ?
Ifojo me ergui
triste, mclanconisada.
ANTÓNIO PltESTES, ADT03, pag. 353.
"Quo nenhum de vi'3-outro3 se introraetta
No famoso litigio, que hoje corre
Entre o liispo, e Deaõ da Igreja d'Elvas.i
Severo, isto dizendo, se retira.
Deixando » todos triMcs, e confusos.
DiMiz DA CBUZ, BYssorr., cant. S.
Então das negras mãos mais luto espalha.
Os precursores hórridos do Monstro,
Mais tri.tle e assustador qu'a .Mareia tuba
Quaudo ã carnage, il morte as hostes chama.
J. A. DK HACEDO, A IIATDKSZA, cant. 2.
Condii;ào do morfcil, mesquinha, e triste !
De causa em causa vòa, e absorto pára
No ponto em que comova assombro, c espanto,
E brada: Assim cahio! O .Vcaso he este!
IDEli, HEDITAÇÂO, CaUt. 4.
— Desgraçado, infeliz, mofino.
Viase alli o mortal fero banquete
Onde o pay como os tivs filhos cozidos.
E bebo o triste tan^e do* qu6 •nuuia,
\ ingauí;» tão cruel nào presumindo,
COBTK IKAL, XAUraAOlO DE tEPtXTEDA, Cant. 3,
Ilumas IctruA ao pé t<>iii, qa« do ^usa
Forào lidaH as quues nssi denão,
Sou Verdadi', que o inundo todo cii;»eita.
Do |>oucoi< ttoii jirnuidii o conhfcid».
Jlum graiiih; (!Spni,'0 a (uit/-ui: firiiK- olhãdn
Seiítiiiilo nu alma ve.r du mm '
("õta que tem cjm Dcos, c i' '
Em f|ue ao presente cstaua t
iniDKM, cant. 10.
F^stc rccber.^ plácido c brando,
No seu reparo o Canto, quo molhado
Veui do naufrágio lri*te >• mií^itsimIo,
Dos proccllo.-tnti haixo.4 escapado.
Das fomes, do-i perigos graude^i, quando
Serã o injusto mando encutado
Naqm-lle, cuja lyra sonorosa
Sorá mais afanuuta que dito«a.
OAM., Lfs., cant. IO
Essa imagina-lo, cmfim. mo aM^mcnta
Mil mágoas no sentido, porque a vida
Do iiiiafjiuaí.ões tristes so contenta.
Que pois àc todo vive oonsumida.
Porque o mal que possuo *c resuma.
Imagina na glória possuida.
Até que a noite etorna mo oonsuma.
Ou veja aquelle dia desejado
Em que a Fortuna fa^a o que costuma :
Se nella ha hi mndar-sc hum triste estado.
IDEM, r.CLOOA 1.
Nào qnc OS olhos alimpeis,
Quo O não consentirão
fts trislti laços;
Que t.iC8 pontoa achareis
De face e. envés.
Que se rompe o coração
Em pedaços.
OIL \nCENTE, Atro DA ALMA.
Triste desavcnturada.
Que tão altJi est.'! a canada
Pêra mi como as estrcllas;
Oh coitadas das guclas!
Triste desdentada escura,
Quem me trouxo a taes mazelas !
IDEU, OBRAS V.UILAS.
o sexo feminil, cuja fraqueza
Resiste mais quo os duros [)citos fortes,
Nào pôde resistir a esta braveza.
Que se mantinha sú de humanas mortes ;
Pois também fez sentir sua crueza
Aquellas. cujas duras, tristes sortes
Com firme e conjugal nó lhe juutArio,
Quo com seu próprio sjingue desatarão.
FRANCISCO D"AXDB\nK, rBIMSUIO CEBCO D« DIC,
cant. 1, est. 11.
O Portuguez, quo nào era composto
De jaspe, nem estava em oilio aceso,
Enternecido assai do boi 'o rosto
De que o triste Mogor via tão preso.
Diz quo os mettèra dentro com grão gosto
Mas que do Capitão lhe era defeso.
Que o que só fazer pódc hc que dia entrasse
Com tanto quo de fora elle ficasse.
IBIDEM, cant. 2, est. 4õ.
— «E nunca tanta persegaiçam em
lembrança de homens foy vista em ne-
TMS
TRIS
TRIS
825
nhuma gente, como nestes tristes ludeus
que de Casteíla saliiram se vio, e alguns
depois destruvdos, deshonrados, e perdi-
dos se tornauam a Casteíla a fazer Chris-
tãos, e também outros .<e fizeram em Por-
tugal, e ficaram no Revno.» Garcia de
Rezende, Chronica de D. João II, cap.
163. — «E porque lhe faltava a agoa
quiz saa triste fortuna que a viesse to-
mar aquy para vós lhe tomardes sua fa-
zenda sem nenhum temor da justiça do
Ceo.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. òõ. — «E ainda que isto se
fez cõ todo o segredo possivel, não faltou
quem o dia dantes nos avisou da viada
deste homem, para a qual nos armamos
daa mais tristes e mais miseráveis mos-
tras de fóia que em meyo de quãta mi-
séria entào passávamos, soubemos ainda
tingir, porque despois de Deos estas forlo
sempre as que mais nos aproveitarão
neste negocio, que quantos outros meyos
para elle buscamos.» Ibidem, cap. 1-iO.
Em fim, Theodoro, em fim a eacura sorte
Te abateo como aoa mais endurecida ;
Tsdvez para elevar desvanecida
O instrumento cruel do (riste corte.
ÍBBXDZ BE JAZESTE, POESIAS, pag. 91.
C'o3 olhos longo3 para o gripho alado
Que se perde nos ares, cila. a triste,
De joelhos sobre o cume dos penedos,
Erguia para 03 eeu3 aa mào3 trementes...
Ma3 sem uma oraçào ; que é mudo o lábio,
E mudo o coraçào da desditosa.
OAKBBTX, D. BEAjcA, caot. 10, cap. 29.
Ahi vão concorrendo á humilde cúria
Essas tristes relíquias de Pharsalia
A que ainda senado appcllidunios...
OAUBsxT, CATÃO, act. 1, SC. 5.
Tristes desastres, tristes mortandades
Do crime açoutes são, dos Ceos a espada.
J. A. DS MACEDO, A SATCBEZA, Caut. 2.
— A triste are; a ave que symbolisa
a tristeza.
Alta a noite, escutei o carpir fúnebre
Do nauta que suspira por um tumulo
Ka terra de 3eu3 paea ; c aos longos pios
Da ave triste ajuntei meus ais maÍ3 trÍ3tes...
Eoaa damor, rosa purpúrea e bella.
Quem entre 03 goivos te esfolhou da campa?
OABRETT, CAMÕES, caut. 5, cap. 3.
— A triste luz d'alampada; a quasi
extincta luz d'alampada.
E lá desce o mortal, lá perde a vista
Do fulgurante Sol, do etherco Olimpo,
Do3 olho3 SC lhe esconde o dia, e tudo,
Só vai palpando horror, devisa a sombra
Qn'a triste luz dalampada lhe mostra.
J. A. DE MACEDO, A BATCBEZA, Cant. 2.
— Figuradamente : A triste imagem
da morte.
TOL. V. — 104.
Inda qu'hum meigo Zéfiro enganoso
Afague O solto panno, e nelle brinque,
Súbito ferra: ao pallido Piloto
Xas denegridas nuvens que sajuntão
Da morte a triste imagem saprcsenta.
J. A. DE MACEDO, A NATCBEZA, CaUt. 2.
— Nuvens tristes ; nuvens que inspi-
ram tristeza.
Adeus, ísizarda minha,
que se esciu-eee o ceu e a luz me falta,
que para vér-vos tinha.
A lua vae mui alta,
descem as nuvens tristes
para o fundo do mar onde me vistes.
BISPO DO GBÃO PAEÁ, MEMOBIAS, pag. 123.
A triste morte.
Tiuerão tanta força estas palauras,
Dos que tal razão dauào, quo vencidos
Com ella 33 cegarão, e fez que o vero
Conselho desprezassem, so seguissem
Aquclle que a seu mal e triste morte
Por caminho apressado os leua, e guia.
COUTE BEAL, NACrBAQIO DE SEPÚLVEDA, CaUt. 12.
— Uvi triste esquecimento.
Hum temor tal me chega a tal estremo.
Que, vencido d'hum triste esquecimento,
Xo mar me cabe da mão o duro remo.
CAM., EGLOGA 10.
Nevoeiro horrendo e triste.
O Globo ardente, que nos traz o dia,
S"embu(;a em nevoeiro horrendo, e triste,
Como sentido de desgraças tantas.
No luto universal scnvolve, e esconde.
J. A. DK KACEDO, A NATCfBEZA, Caut. 2.
— Uyna triste ferça-feira ; um dia bem
melancólico.
Huma triste terça feira
correndo huma caneira
em hum cauaUo cahio,
nunca faUou, nem bolio,
e morreo desta maneira.
GABCIA DE KEZESDE, MISCELLAKEA .
Triste rua; sombria, escura.
Oh meu bem doce palhete.
Quem pudera dar hum grito !
O triste Eua dos Fomos,
Que foi da vossa verdura !
Agora rua damargura
Vos fez a paixão dos tomos.
On, VICEKTE, OBBAS VABIAS.
— Triste aldeia; desgraçada, infeliz
aldeia. — «Esta mandou fundar %ec\\
Vmbarech Rey de Lasa, ou Aucza, a ^"al
tè o presente era huma triste Aldeã, ou
pêra melhor dizer, coua de ladrões, como
inda agora he.s Frei Gaspar de S. Ber-
nardino, Itinerário da índia, cap. 16.
— Mosteiro triste ; nielancolico. — lÉ
aquelle mosteiro triste, empinado n'uDS
rochedos que se debruçam sodre o Dout
ro. È lá em cima no monte d'Arados,
onde as neves hybernaes requeimam as
raizes do bravio para que alli nào flore-
çam os gestíies em abril, nem as tojeiras
no dezembro se dourem com os seus fes-
tões amarellos.» Bispo do Grão Pará, Me-
morias, publicadas por Camillo Castello
Branco, pag. 37.
— A Sibej-ia inculta e triste.
Abrão caminho ao centro o Emo, os Alpes,
Da Escandinávia os Cerros orgulhosos.
Os que bordão o Euiiuo, os que rodeão
A barbara Sibéria inculta, c triste,
Alvergue funeral do Inverno, e Crime.
1. A. Dr. MACEDO, A KATCREZA, Cant. 2.
— Substantivamente: O triste de mim;
eu infeliz.
— Ai, triste! ai, infeliz! desgraçado!
Ai triste, que me caio
O meu almiscrc na rua !
Como assi ? por vida sua !
Bofe, caio!
AjíTOsio PEEsiEs, AUTOS, pag. 465.
— O triste ; o desconsolado, o afBicto,
o falto de alegria.
Iremos pela estrada
por onde os tristes vam
porque nella por rezam
deve ser de nos achada
achada consolaçam :
Sobir-me-hei ao pensamento
Que alto de alli verei
verei eu se poderei
ver algum contentamento
de quantos perdidos ey.
CHBISTOvIo FALCÃO, OBBAS , pag.
Ja 03 grandes arraiaes desamparavão
Os defensores seus, quo 03 mal defendem.
Em grandes companhias se ajuntavâo
Os tristes, e por cá, por lá se estendem ;
Xào porque assi melhor se asseguravão,-
Jlas tal he seu temor, que nào entendem
Que fazem indo assi ser mais formosa
A presa, a gente imiga c cubiçosa.
FBASCISCO d'aSDBADE, PKIMEIBO CBBCO de DIU,
cant. 3, est. 38.
A causa porque então o triste veio
Lançar-se coo Sultão, e acompanhallo.
De quem devera ter hum grão receio
Só porque do Jlogor era vassallo,
Foi. para que alcançasse por seu meio .
Embarcação, que a Ormuz possa Icvallo,
E fizer dahi a Pérsia seu caminho
Onda tinha o paterno amado ninho.
iBiDEU, cant. 6, est. 5.
Tira-se o triste atraz, co'a côr perdida.
Que a dôr o cobre dhuma côr defunta.
Esta nova entre os seus sendo sabida
Grãa cópia em derredor delle se ajunta.
826
■ntis
TRIS
TRI3
Cuidando algun» que estava clle «cm vida
Qual olioga para o vir, qual o pergunta :
Mad o .\rouro Bagaz, quo coiiliixi! iato
Faz quo vivo do todoH soja visto.
iDiDKu, cant. 10, est. 69.
Onde, o quo a cruol morto arrobatitra
EUa com prosfia o cobro, c. d'alli o muda,
O que Hi^inoiíto o sanguo dorramiira
Ella o aporta, e a dcrfcor d'alli o ajuda,
O trintc om quem acaso cila en.^orgAra
('oyardia, não llio aclia a liugua muda,
E fôra-lhc melhor, agora nisto
Hor do Bcu Capitão, quo doUa visto.
IBIDEM, cant. 16, cât. 38.
Nenhum ha alli quo ontão o tompo gasto
Co 'o que cuida que tem a alma rendida,
Não acha o trinte. quem d'alli o affasto.
Mas acha quem na sua envelhecida
JJarba, faz fincapé, porque contraste
Melhor A imiga fúria embravecida
Também «ente a garganta, com seu dano,
O pá do companheiro deshumano.
iniDF.M, cant. 19, est. 68.
— O triste de; o infeliz, o desgraça-
çado de. — «Porque desto toni])o era Ja
quasi noite o.s despidio, e o triste do
Cluuibaiuliaa foi entrogue a hum capitão
Bramaa por nome o Xemim Coumidau,
o sua molhar e filhos com todas as mai.s
molhores ao Xeuiim An.sedaa por ter aly
sua raolher, e ser hõrado c velho e de
quem o Key Bramaa so fiava muyto.»
Fern.ão Mendes Finto, Peregrinações, ca-
pitulo lõO.
— Os tristes; anneis que as uiulhe-
ros traziam no âmbito da cabeça.
— As tristes ; na univer.sidade, dá-se
este nome ás horas do estmlo, a que o
sino da universidade faz sigual. — Estar
ás tristes.
TRISTEGA, s. /. Edifício de tro.s an-
dares 011 a parte superior d'elle.
— i\[iranto, eirado, ou aguas-fartadas.
TRISTEMENTE, adv. (De triste, e o
suflíxo o mente»). De um modo triste.
— De um modo miserável. — Morreu
este hoiiiem tristemente.
f TRISTESA, s. /. Vid. Tristeza.
Nam mo posso de tri^tesa
ja valor •,
qualquer cousa de praser
me he defesa ;
folgo com o que me posa
por acabar ;
vay se me cntam comei;ar
outra crueza.
D. JOANNA D.< OAMA, DITOS DA FREIUA,
pag. 100.
— «Sondo logo incapaz de participar
dos objectos que constituem as delicias
dos outros, outra naturalmente om huma
mortal melancolia. A tristesa que o de-
vora o faz invejoso, caprichoso, c criti-
co.» Cavalloiro d'01iveira, Cartas, liv.
3, n." 9.
TRISTEZA, s. f. (Do latim tristitía).
Espécie do sotlrimento moral que ordi-
nariamente apparcco no interior; diz-se
cm oppo.siçilo a alegria.
Quiz-no.í nossa natureza
Com tal coadi(;ào fa/.or,
Quo ja timos por certeza
Nao haver grande prazer,
Sem mistura de Irialeza.
CAH., Auriivruiõis.
Huma BÓ tristeza, tenho
Que não tom a meninice,
Quo no mór contentamento
O trabalho da velliico
Me embarai,a o Bontimento.
IDEM, 8ELEUC0.
Tudo seja por melhor,
herdar não mata tristeza
senão em quem mais não sento
que entristecer com pobreza ;
SC só com tanta riqueza,
logo 6 falso o mais que sente.
ANTÓNIO rKESTES, AUTOS, pag. 489.
A morte que vida ora
80 não fdra o que a dilata ?
A' fé, senhor, que me poza
vel-o assi, c não me iilliouta
tanto a prisão, ([uão aceza
sinto nalma essa tristeza
que eu tomara á miuha conta.
iniDK.M, pag. -lOô.
— Desabrimento, inquietação, afflic-
ção da vontade, angustia.
Tudo vay mingoando
naqucsta defeza,
e cresce a tristeza.
D. JOANNA DA QAHA, DITOS DA PRBIRA,
pag. 96.
Mais quizera dizer
O desditoso amante, que ajudado
se via (•ntào da mágoa o da tristeza;
Mas foi-Iho dofcudor
O outro companheiro, como irado
Com tão disforme e Áspera dureza.
CAM., ECLOOA 7.
Abrandetc huma vida consumida
Com triMeza, e pesar sempre abraçada
Mostrate a tanto mal agradecida.
Não queiras ser por áspera notada
Nem te prezes do ingrato peito isento
Ama pois vea meu bem, que es tào amada.
COBTE BEÁI., NAUFRÁGIO DE SEPÚLVEDA, CaUt. 9.
— «As tristezas dos homens soffrem-
se com esperar quo alguma hora terão
fim, as minhas sào sem ello : e não mo
dá a mim tão pouco por terem em quem
mostrarem siui for^a. » Francisco de Mo-
raes, Palmeirim dlnglaterra, cap. 87.
Com tristeza, dòr o pena,
que m.nis Tcreos se hão de achar.
Pois o meu riso se solta
agora mais, si reverá.
ANTÓNIO l-KESTES, AUTOS, píg. 81.
— tConchauilau, donzolla formosa, e
bem inclinada, e «obre tudo mais honra^
da quo toiia.t as doAta cida^io, pela cria-
ção quo sua mSy fez em ty, te certifica-
rá da parte de Deo», e dei Key teu ma-
rido, por cujo amor te pclinioH isto, da»
mais particularida<le)) deste negocio, assi
dan cuiitlnaaH iagrimas e gemidoD cm que
todos (5st'»< pobres agora ficSo, como do
grade me lo e tristeza era que toda esta
cidade está posta, cujos moradores todos
com jejuns e f-smola» te pedem que apres-
tes seus gritort diante dei Rey teu sobre
tofbs muyto querido filho, a quem o Se-
nhor de todos 08 bens dê tanto bem, que
dos seus esquecidos se fartem as gentes
que habitão a terra e as ilhas do mar.i
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações, ca-
pitulo 141.
Mas quanto hc mór o meu contentamento
De ver quão bem me hc paga esta vontade,
Tanto temo depois maior tormento
?>c quanto ou(,'0 d'amor tudo hc verdade;
Pois me ordenou tào largo a;>artaracnto
Em quo S''mente o mal da saudade
Em tamanha tristeza me tem posto
Que não basta contra ella o maior gosto.
r. dVndradk, rBiMEiRO cerco dr dic, cant. 4,
est. 57.
Grâa dôr, grão sentimento, grãa tristeza
(^om rasão deves ter, pois quo do seio
Te roubarão aquella alt-a grandeza
Do thosouro que lá do Judá veio ;
Mas doutro mór the.viuro, inór riqueza.
Presente occasião, presente meio
Tens agora na mão, segundo vejo.
Que satisfaça a perda, e teu denejo.
iDiDEM, cant. 12, est. 101.
— «Aqui passava os dias e as noitea
mettido em profunda melancholia : pa-
recia-me ter sido sonho quanto Tenno-
siris me prognosticara, ou quanto ouvi-
ra na caverna ; e vivia concentrado na
mais acerba tristeza. Olhava as ondas
que vinham quebrar-se na torre, que
me servia ile prisão; e muitas vezes en-
tretinha-me em ver os baixeis que, com
a força da tormenta, estavam quasi a pi-
que de se espedaçarem na rocha sobre a
qual assentava a torro.» Telemaco, tra-
ducção de Manoel de Sonsa, c Francisco
Manoel do Nascimento, liv. 2.
— Dar nova tristeza a alguém; en-
tristecer novamente a alguém. — «A mor-
te de Polinardo dou nova tristeza a seus
amigos e companlu-iros, j)orque, como se
já disse, era morto o imperador Vemao,
seu irmão, e da vida deile pendia algum
tanto o amparo da imperatriz Va.silia.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. Il39.
— Dó, luto. — «Aqui deixa de fallar
em Palmeirim d'lnglateira, que segui»
sua via de Constantinopla, onde entSo
havia muita tristeza pola morte d'el-rei
Frisol, que ii'aqutl!a corte era mui ama-
do, e torna a dar conta de Floriano,
que em companhia de Auderramete ca-
TRIS
TRIS
TRIU
827
minhava para a corte do gram turco, quo
como em sua viagem tivesse bom ven-
to, em pouco tempo as galés arribaram
naquelia parte.» Francisco de Moraes,
Palmeirim d'Inglaterra, cap. 80.
— Melancolia, liypocondria.- — «A que
elle despois de estar lium pouco pensati-
vo na deliberação da escoliia, apontando
para mim respondeo, este, que he mais
alegre e menos sesudo, porque agrade
mais nos Japões, e desmalencouize o en-
fermo, porque gravidade pesada como a
destoutro, entre doentes não serve de
mais que de causar tristeza e melanco-
nia, e acrecentar o fastio a quem o ti-
ver, i Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 13Õ.
A Diu chega emfim, c com presteza
Lá do Cojaçofar b\i9ea a morada
Oude entrando se eucbeo de gràa tristeza
Porque alli do tristeza não vio nada ■,
E por v^r a abundância, a grãa riqueza,
A soda e ouro, de que era toda ornada,
E mal deter as lagrimas podia
Porque então alli lagrimas nào via.
FRANCISCO DE AHDBIXIE, PRIMEIRO CERCO DE DIU,
cant. 9, est. 110.
— «Com as quais Antam de Faria lo-
go partio, e com pressa veo ao Prínci-
pe, que como singular, e virtuoso, e ver-
dadeiro filho, com muytas lagrimas, e
gi-andes soluços as leo, e assy com muy-
ta tristeza de todos os que presentes
eraõ, e de todo o Rcyno.» Garcia de Re-
zende, Chrouica de D. João II, cap. 17.
— «Mas Deos o ordenou de maneira,
que em lugar da presa que cuidauaõ
fazer lhes servirão os barcos pêra leua-
cem os corpos dos seus que recolheram
com muita tristeza, por antrelles auer
alguns homens nobres, e de authorida-
de.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 3, cap. 52. — «Assim m'o
dissérão, Madama, e me observarão so-
mente que unicamente empecia á sua
saúde uma profunda tristeza; e tem ac-
cessos de melancliolia de que nada o p('>-
de distrahir.» Francisco Manord do Nas-
cimento, Successos de madame de Sene-
terre.
Ou com miúdas gotas condensadas.
Nas ondeantes messes csparsidas.
Ao desvelado Lavrador conduzem,
Depois de longo afiau, tristeza, c pranto.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Caut. 1.
A sombra, qu'a atmosfera abafa, engrossa,
A tristeza conduz, mais tardo giro
O quente Sangue nas delgadas veias.
Avança-se a Estação, cresce a tristeza;
Espesso ncvoeií-o abai-ca os ares,
E manda o Sol a furto oblíquos raios.
Diz-se dos logarea sem agrado, dag
festas sem alegria. — • Os aposentos d'es-
ta casa são de uma grande tristeza.
— Syn. : Tristeza, tristura.
Ambas estas palavras são o contrario
de alegria; com tudo pela variedade das
terminações, tristeza exprime a qualida-
de que torna o homem triste, ou a pai-
xão, ou estado a que damos este nome;
e tristura parece reportar-se mais pro-
priamente aos etfeitos d'esta paixão, e ás
mostras que de ordinário se observam na
pessoa triste.
tristíssimo, a, adj. superl. de Tris-
te. Mui triste.
Hum contino, e tristissimo gemido
Pellos alegres versos que uie ouuieis
Será por este bosque agora ouuido.
Alemos e .altas Fayas, que fazieis
Ledas sombras aos prado.s, vós corrente
Clara fonte que tanto me aprazíeis.
OOBT£ REAL, NAUFRÁGIO DE SEPÚLVEDA, Caut. 9.
Velhos, crianças — miseranda vista !
As seguem com tristíssimos gemidos :
E c'o3 nomes dos deuses, de mistura,
O teu invocam : por ti choram, clamam,
E uUulando Catão desatinados
Vagam áquem, além. — Escuta: ahi correm
Para este lado. Ouve-los? —Receio
Que se atrevam talvez... Ha sediciosos
Entre elles : e é prudente...
GARRETT, CATAO, aCt. 5, SC. 4.
TRISTONHO, A, adj. Muito triste, té-
trico. — ■ « A estatua deste monstro era de
prata em vulto de homem agigãtado, de
vinte e sete palmos em alto, tinha os ca-
bellos de cafre, e as ventas dos narizes
muyto disformes, e os beiços grossos, e
toda a fisonomia do rosto tristonha e mal
as.sombrada. » Fernão Mendes Pinto, Pe-
regrinações, cap. 161.
Honra se quiz chamar do sangue a sede ;
Do humano coração se apossa tanto.
Que julga estado natural a guerra.
Foi esta idéa tua, Hobbes tristonho.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Caut. 1.
Do lado opposto Heraclito tristonho.
Sem lagrimas jamais, contempla o Mundo ?
A mortal condição u'alma lhe toca,
Xos humanos só vio miséria, e luto.
Eu só desgraças nos humanos vejo.
LBiDEM, caut. 2.
Olha o Clima tristonho, onde parece
Qu' o vivo fogo, qu' a motora força
Na entorpecida Natureza»expire,
Onde nem verde mnsgo os Campos veste,
Onde a brilhante alampada diurna
Derrama como a furto oblíquos raios,
Que não de todo as trevas afugentão.
IDEM, A NATUREZA, Caut. 3.
TRISTURA, s. /. Tristeza.
— Syx. : Tristura, tristeza. Vid. este
ultimo vocábulo.
TRISULCO, A, adj. (Do latim trisiil-
cus). De três pontas.
Ao rouco som das ondas se mistura
Da tempestade a voz. trovões rebramão,
Mostra o trisulco lume o horror, c a sombra.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, CaUt. 3.
TRITÃO, s. m. (Do grego tritôn). Ter-
mo de niythologia. Deus do mar, que a
fibula faz filho de Neptuno e de Am-
phitrite, que tem figura humana, e cujo
corpo termina em peixe.
— Termo de historia natural. Género
de batrachios aquáticos, próximos dos sa-
laniaudros.
— Género de conchas univalves.
TRITO, prefixo. Vid. Deuto.
TRITONGO, ou TRIPHTHONGO, s. m.
(Do grego treis, e phthoggos). O som de
três vogaes seguidas e pronunciadas em
um S(í tempo.
TRITONO, s. m. (Do grego treis, e to-
nos). Termo de musica. Intervallo disso-
nante composto de três tons, e consiste
na ra/ão de 45 para 32.
TRITOXYDO, s. m. Termo de chimica.
Combinação de um corpo simples com o
oxygeneo ; quando se ignora a lei que se»
guem as proporções do oxygeneo, chama-
se tritoxydo, ou 3.° grau de oxydação.
TRITURA, s. /. Trituração.
TRITURAÇÃO, s. /. (Do latim tritura-
tio). A acção de triturar.
— O estado do corpo triturado.
TRITURADO, part. pass. de Triturar.
TRITURAR, V. a. Moer em pó, pi-
sando.
TRITURA VEL, adj. 2 gen. Que é pos-
sível triturar-se.
t TRIUMPHANTE, part. act. de Trium-
phar. Vid. Triunfante.
Vijmos caa vijr elefantes,
outras bestas semelhantes
trazer da índia per mar,
por mar has vijmos mandar
a Roma muy triumphantea .
a. DE REZENDE, MISCELLANEA.
— (lA qual Igreja tem dous estados, e
por tanto tem dous nomes: Porque dize-
mos que hay Igreja Triumphante, e Igre-
ja Militante. Igreja Triumphante chama-
mos o ajuntamento das almas quejarey-
nam com Christo, vencidos ja seus ene-
migos, e triumphando delles.» Frei Bar-
tholomeu dos Martyres, Catecismo da
doutrina christã.
E por amor de quê? Da liberdade...
Liberdade ! — Qu'é d'ella, a liberdade ?
Quanta nos deram Mário, Sylla? — Quanta
Nos daria Pompeu se triumphatite
Com suas legiões volvesse ao Tíbre?
GABKETT, CATÃO, RCt. 1, SC. 2.
TRIUMPHAR, V. a. Vid. Triunfar. —
«Que haja por bem de dar tua neta Po-
linarda, filha do principe Primalião teu
filho, por mulher ao ooldão de Pérsia
mancebo de vinte e cinco annos, tão fa-
moso cavalleíro como príncipe poderoso,
828
TRIU
com cujo parcntosco a {floria fio tfu es-
tado com muito maior noinu triumpbará
do uiumlo toJo.» Frauci.ico 4u Moraoá,
Palmeirim d'Inglaterra, cap. 9;}.
Tooipo lio ja do ortqueocr coiitontameutos
Paíjadod, co'a cspciwnça fiue passou,
E do quo Iriamphcm novos pondainciitoi.
 fó, que riva n'alma me. ficou,
Dê ja tim aos caducos ai-dÍTiUMitos
A quo o passado bem se ooudoiuuou.
OAM., 80Nr.T09, U." 233.
Oh Ccsar,
.Assim não triwnphaste nunca ! —Amigos,
É forçoso ; caivcmo'-aos ao fado.
rizemos quanto humano esfòiço dava ;
Mais nAo podemos, que é tentiir os dousoa.
Coucidadãos, uào tonlio mais quo dar-vos :
Conselhos so : — ouvi-os, attcndci-os.
oABHicT-r, cvtlo, act. 5, so. 5.
TRIUMPHO, s. m. Vid. Triunfo. —
«Acabala a cruel e sang^uinolenta des-
truyçâo desta tristo cidade, o tyranno, a
modo de triumpho, com muyto jjrande
pompa e estado entrou dentro nolla por
hum lanço de muro que mandou derru-
bar, e clierrando ás casas que forão do
pobre Kcv luiuino so coroou nellas por
llev do Prom, tendoo sempre em quanto
durarão estas cerimonias posto de joelhos
com as mãos levantailas.» Fernão Men-
des Pinto, Peregrinações, cap. 155. —
«Atè quo se apurou tanto a barbaridade
dos homens, que dos mesmos homens che-
gou a sacrificar a própria vida. Os pri-
meiros que entre os Romanos se ofterece-
raõ em saerilicio, foraõ os inimigos, que
elles captivaraõ nos triumphos.» Rraz
Luiz d'Abreu, Portugal medico, pag. 601,
§ 73.
Dosse arraial do pranto, e de triumpho,
Ás Gallias me encaminlio, c busco amparo
Em Diuiz, Proto-Bispo do Lutécia.
F. M. DO NASCIlIENrO, 03 MARTYEES, 1ÍV. 7.
Não ha sangue que o farto, nào ha crime
Que o detenha : seu carro de trium^iho
Não impoi;a nos montos de cadaVorcs.
oA.nRKTT, c.vtIo, sct. 2, SC. 1.
— «Vem a cahir em v. cx." o arran-
jar as tropas; porém, venturoso exorcito !
por que os hespanhoes, quo se jirezam de
cortczàos, n.ào podiam deixar do confes-
sar o triumpho mais glorioso ! » Isto de-
via ser muito fe-itejado na corte.» Bispo
do Grão P.inl, Memorias, publicadas por
Camillo Ca^tviUo Branco, pa;;. IS.
TRIUMVIR, ou TRIUMVIRO, *•. m. (Do
latim tritimiir, de trcs, e vir). Magistra-
do encarregado, juntamente com dous
coUegas, (Tuma parte d'administra(;ão.
— Triumviros mmietarios ; intendentes
da moeda.
— Triumviros criminaes ; juises que
conheciam os crimes, e faziam executar
ti morte os criminosos.
TRIU
— Diz-so de Pompeu, de Ce^ar e de
(Jrasrio, o tamboiíi ile Octávio, de Antó-
nio e do Lépido, quo se apoileraram da
auctoriílado suprema.
— Figuradamente : Os triumviros ; o»
tros quo giivtírnarauí a Bahia.
TRIUMVIRAL, wlj. 2 gen. (Do latim
triumvíritlin, lio triumvir). Que pertonce
aos triumviros. — Ou poderes triumvi-
raes. — As fanrçòes triumviraes.
TRIUMVIRATO, s. m. (Do latim trinm-
viratiis). Entre os romaiioS) funcçâo de
triuiuviro.
— O governo dos três u.surpadores que
80 apoderaram da auctoridade suprema
em Roma.
— Figuradamente : O triumvirato dos
jtndres gregos; oa três maiores padres da
egreja grega.
TRIUNFADO, part. pafs. de Triunfar.
— Cotind triunfada ; do que se alcan-
çou triumpho.
TRIUNFADOR, A, s. Pessoa quo obteve
victoria, e fez conquistas quo mereceram
honras triumphaes.
— Pessoa que Ia, ou vao em trium-
pho.
TRIUNFAL, adj. 2 gen. Próprio do
triumpho, que serviu para elle. — Curro
triunfal.
Desce o mortal, dilata a csfer» própria
Com summa pcrfci(;ào das Artes bcllas.
A fori^a triunfal dalta Eloquência,
Qual Atheuas sentio, qual Koma outr'ora.
Do di'cimo Leão no Império brilha ;
E de Luiz majrnanimo aos acenos
Surgem novos Deniostheues, o TuUios.
J. A. DK liACEDO, MUDIIAçlo, Caut. 1.
— Acompanhado de triumpho, ou vi-
ctoria.
— Coroa triunfal ; coroa que os anti-
gos romanos davam aos geueraes, que ti
nhani obtido uma grande victoria, ou
conquista.
TRIUNFALMENTE, adv. (De triunfal,
com o suíBxo a mente»). De um modo
triumphal, cm modo de triumpho, de mo-
do quo Consiga triumpho.
TRIUNFANTE, /jcní. act. de Triunfar.
Diz-se tias cousas grandiosas como para
ornato de triumpho. — «Entrou-se a Vil-
la dia de 8. Lueas Evangelista, a dezoi-
ta de Outubro do anno de Christo mil e
duzeutos e dezasete. Venceo el Rei em
batalha aos Reis de Jaem, c Sevilha, quo
tinhaõ cercada Elvas, o correo-lhe as ter-
ras com maõ armada, onde fez muitos
damnos, e se recolhco triunfante jiara
seu Reino.» Fr. Bernardo de Brito, Elo-
gios dos reis de Portugal, continuados
por D. José Barbosa.
Nos areacs da Mauritânia ardente,
Oude 03 Lusos Peudoens scrgucm tritinfantu,
A gloria Portugue/.a alti», osplendente
Se "eclipsa aos pés de Aiabicos turbantes;
AUi SC acaba hum Rei grande, o potouto,
Correm de sangue rios espumautoa ;
TRIV
Do Lysia o beilbo nolln «n sepulta,
N'Africa, o n'Aiiia nunca mais avulta.
J. k. DB MACEDO, O ÚSUUtTB, Caut. 12.
Ou no Tibrc cobrio gelada* eiozaii,
Ou do (;randc Pompto fechou uo Nilo
Iloatos, (|uc aos olhos merecerão prauto,
E ao i)oito a dor do Iriun/ante Ccsar.
IDRM, VIAGEU EXTÁTICA, Cant. 2.
— A parte triunfante da carroça ; on-
de vae o triuniphador, o santo.
— >lrf<v triuufante ; arco triumplial.
— CVi/n/ triunfante. Vid. Triumphal.
TRIUNFAR, V. a. Vencer trinmphal-
mente.
— Fazer triumphar.
— Figuradamente : Fazer triumplian-
tc, glorioso, cheio de grande prazer, e
ostentação.
— V. n. Receber as honraa do trium-
pho.
— Figuradamente: Alcançar uma vi-
ctoria total, sair com a sua empreza do
todo acabada.
— Triunfar dos parthos; receber aa
honras do triumpho por haver desbarata-
do os parthos.
— Triunfar-se, v. refl. Tomar-se trium-
phante.
— Vencer.
TRIUNFO, í. m. (Do latim triumphtu).
Honra que se concedia aos generaes t^j-
manos, que obtinham alguma victoria
com total desbarato do inimigo, que sub-
jugavam uma nação, etc. ; iam com cer-
tos vestidos em um carro magnifico, en-
travam por baixo de arcos, rompia-se-lhe
o muro para entrarem em Roma, subiam
ao capitólio, etc; a pompa, a procissâe
triumphal.
— Figuradamente : Victoria grande.
Nem a Prudência, nem a Vakntía
Do Greiro ashito pode felizmente
Os triunfos cantar da Tcucra gente.
Som uzar de huoia infame aloivozia.
ABBADC DE JAZE2IIE, POESIAS, pag. 51.
E tanto que inda as Filhas da Memoria
Se lembraõ nesta nobre competência
De dous triunfos teus, homa só gloria.
iBioEu, pag. 113.
— Figuradamente : Vencimento das
paixões.
— Victoria dos adversários na disputa,
demanda, etc.
— Svx.: Triunfo, victoria, Vid. este
ultimo vociíbulo.
TRIUNFOSO, A, adj. (De triunfo, com
o suffixo «oso»}. Triumphaute, cheio de
triumpho.
TRIUNVIRATO, s. m. Vid. TrinmTi-
rato.
TRIUNTIRO, #. «I. Vid. Triumviro.
TRIVIAL, adj. 2 gen. (Do jlatim tri-
vial is). Quo é extremamente commum,
TROA
TROC
TROC
829
fallando fios pensamentos e das expres-
sões; vulgar. — «Embarcados na carrua-
gem, me disse: «Sabeis vós que resolu-
tamente ticáes de morada em Paris"? E
que assim ficou hontem assentado entre
M. Chenu, e M. Dar^on? Nào gosto do
vosso appellido ; que é muito trivial, e
que excitaria rifadas, quando ao sahir
do Theatro, bradassem pela carruagem
de Madama Chenu. Vés tendes, que eu
sei, um prédio ditto Depréval ; é preciso
ajuntar esse appellido ao vosso, e d'esse
só vos servireis.!) Francisco Manoel do
Nascimento, Successos de madame de
Seneterre.
— Estylo trivial; estvio baixo, com-
mum.
— Figuradamente : Diz-se das pessoas
que se vêem por toda a parte, facil-
mente.
— Auctor trivial ; que se occupa de
espécies muito sabidas e vulgares.
— Sem custo, meditação, estado, sem
engenho.
— Maneiras triviaes ; maneiras do
vulgo.
— Espirito trivial.
— .Syx. : Trivial, ordinário. Vid. este
ultimo termo.
TRIVIALIDADE, s. /. Caracter, quali-
dade do que é trivial. — A trivialidade
do estylo.
— Cousa trivial.
TRIVIALISAR, ou TRIVIALIZAR, r. a.
Tornar tri^^al, vulgarisar á plebe.
TRIVIALISSIMO, A, aãj. superl. de
Trivial. Mui trivial, vulgarissimo.
TRIVIALMENTE, adv. (De trivial, com
o sufíixo «mente»}. De uma maneira tri-
vial.
— Commummente. — Obra escripta
trivialmente.
TRIVIO, s. m, (Do latim írivÍM?») . União
de três caminhos, ou o logar d'onde se
dividem três caminhos.
TRIVUDAR-SE, r. rejl. Termo antiqua-
do. Tornar-se tributário, ou foreiro.
TRIZ. Vid. Tris.
TROADA, s. /. iMultidào de tiros, som
de bombardas disparadas.
— Figuradamente : Multidão de tro-
vões, estrondos, etc.
— Vid. Atroada.
TROADOR, A, adj. Que troa.
— Substantivamente : O troador.
TROANTE, part. act. de Troar. To-
nante.
TROAR, L'. n. Fazer grande estrondo,
abalo, e estragos.
Pararias atónita, se ousaras
Calcular, c medir o e3pa(;o immenso
Que de ti me divide, e em que elle gira,
Em seculoj, e séculos não fora
Inda proiima aqui bala que accesa
Parte do bronze militar, que o mesmo
Incalculável ímpeto levasse.
Com que troando sahe, e os ares corta.
J. A. DE UACEDO, i KATUBBZA., Caut. 1.
— Haver trovões, trovejar.
— V. a. ViJ. Atroar.
TROCA, s. f. I Do francez troe). A ac-
ção de dar uma cousa por equivalente
d'outra; permutaçrio.
— Mudança, conversão em costumes e
hábitos. — «Eu, disse Artisia, tão des-
enganada me tem vossa condição, que
me não hei de vencer mais por ella; an-
tes, se 03 cavalleiros buscam quem quei-
ra deixar cuidados velhos por amores no-
ves, aqui estou eu, que farei essa troca :
pois nós, disseram suas companheiras,
desse bordo estamos, que estas eram as
que ganhara aos cavalleiros na floresta.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. l'J9.
TROCAUAMENTE, adv. (De trocado,
com o suffixo «mente»}. Trocando.
— Mutuaiuente, reciprocamente.
TROCADILHO, s. m. Vid. Trocados.
TROCADO, part. pass. de Trocar, i^er-
mutado. — «E posto que se depois digua,
que foi vendida, ou trocada por boa, e
saà, ou gabada por avantejada, e que de
todo a achaõ pulo contrario, mandamos
que de tal demanda nom lilhem conhuci-
mento, mas depois que o dito contrauto,
compra, ou troca for perfeita, e acaba-
da, e o preço pagado, ou o penhor dado,
por nenhuma malícia, nem eyba, nem
doença, que depois em ella seja achada.»
Ord. Affons., liv. 4, tit. 21, § o.
e como o tempo virada
para as costas traz a grimpa,
anda a cousa assi trocada.
AST02ÍI0 F&ESXE3, AOIOS, pag. 303.
— Araor trocado ; amor reciproco, mu-
tuo.
— Diversoj diíFerente.
— O meu chapéo está trocado ; não é
o meu.
— Olhos trocados.
TROCADOR, A, s. Pessoa que troca,
cambia.
TROCADOS, s. m. plur. — Trocados de
palavras; espécie de ornato do estylo,
vicioso, que consiste em equívocos, e pa-
lavras em que trocada uma letra ha di-
verso sentido.
— Espécie de lavor nas bordadui^as an-
tigas, que era uso nos vestidos, e pannos
de armar.
TROCAR, V, a. Permutar, dar uma
cousa por outra. — «Porem por escuzar
taaes demandas, e dar avisamento aos
compradores, hordenamos, e estabelece-
mos, e mandamos, que qualquer, que em
a dita Cidade, e seu Termo cavado, ou
qualquer outra besta quizer vender, ou
trocar, que a venda, ou troque simpres-
mente.» Ord. Affons., liv. -4, tit. 21, §
3. — «Muytos se enterram inda viuos,
em humas couas como cisternas, e dizem
que tanto monta quasi morto, como de
todo. Nam tem pezo, dinheyro, ou medi-
da; mas sò comprào, e vendem, trocan-
do as cousas humas por outras. Nào sa-
bem algum ofScio mechanico ; saluo se-
rem pescadores, e pastores de gado.» Fr.
(Raspar de S. Bernardino, Itinerário da
índia, cap. 9.
— Trocar as pernas dançando ; cru-
zal-as.
— Não me troco por ti; não quizera
eu ser qual és, eu sou melhor.
— Trocar o dinheiro; dar o equivalen-
te de uma peça maior, ou de peças me-
nores por maiores.
— Substituir outro em seu logar. —
«Alguns trocavam as armas, outros as
devisas poios nào conhecerem por ellas.
Assim que então muitos amigos se en-
contravam, que primeiro que se conhe-
eessem se tratavam tão mal, que algumas
vezes eram postas as vidas em risco de
se perder. » Francisco de Moraes, Palmei-
rim d'Inglaterra, cap. 37. — «E inda
que pêra viver sem pena lhe parecesse
aquella condição proveitosa, a não dese-
java por sua ; nem trocara seu cuidado
com sua dôr por nenhum descanso alcan-
çar sem algum trabalho : que isto é pró-
prio dos bons namorados, contentar-se
tanto de seu mal, que não o trocaram
por algum bem, vindo de outra parte.»
Ibidem, cap. 127.
Conhecemos
que é verdade, peccadora
de mi ; por que trocaremos
por duvidosos estremos
o forte que em Deos só mora ?
Eil-aa vem.
AXTONIO PRESTES, ACTOS, pag. 20.
— Inverter a ordem, ou o sentido.
— Trocar o nome e os costumes; mu-
dar em outros.
— Trocar as palavras ; substituir ou-
tras em logar das próprias.
— O tempo troca a face das cousas ;
muda em outro.
— Trocar-se o tempo; mudar-se, va-
riar. — «A qual fazendo sua viagem com
tanto gosto como lhe fazia sentir o bom
aviamento que comsigo levava, caminha-
ram quatro dias e noites tendo sempre o
vento prospero, té ser a vista de sua ter-
ra; onde querendo a boa ventura do ca-
valleiro do Salvage, que pêra grandes
cousas estava guardada, se trocou o tem-
po com tão áspera tormenta, que muitas
vezes se tiveram por per ili dos.» Francis-
co de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. llõ.
— Trocar-se; subsíituir-se.
Olha que só te enleva, e te esvanece
A falta de ter bem considerado
O quáo erradamente se escolhesse
Trocando-sc o mandar por ser mandado ;
l'odereÍ8 Deoses ser, se se colhesse
O Pomo, que por isso he só vedado,
TROC
TRDC
TROF
K íioarii de vó» cntiio wiljido
O bom o o mal, quu aollo ciiti uHcoiidiílo.
aoLiM nu Mouiu, novíssimo» uo hojium, cant. 1,
est. 37.
TROCASBALDROCAS, s. f. jdur. Ter-
mo ]>(>i)ui:ir. Trocas, bar^'iiuhan.
TROCAVEL, adj. 2 gen. Que é possí-
vel ti'in;.'U'-se.
TROCAZ. Vid. Pombo.
TROÇA, s. ./'. Cabo ooni que as anton-
nas »(•■ Hi;2;'urain no nia.itro.
TROÇAL, s. f. Flo.s do tros pernas
torciíla-i 0111 uma do s.iJa ou là para cos-
turas, ou obra-) de sirp;uoiro.
TROCER. Vid. Torcer.
TRÓCHA, ."f. /. Torino antiquado, (^a-
luinlu) torcido, rodoio ([uo lova a alguin
legar por ilo.^vios.
TROCHADA, s. /. l'ancada com tre-
cho.
Agora merecia ou
Iluin par de troc.hadaa hnaa,
Forque fiar iiart pe^ifoati
Nunca outro fructo deu.
Bem vi cu que o guiiuni
Me viu tudo aqui leixar •,
Mas o seu uciíi'o jirégar
Me levou a mi o meu.
OII. VIOENTE, KAltÇAS.
1.) TROCHADO, s. m. Lavor que se fa-
zia ()utr'ora nas sedas, e vestidos.
2.) TROCHADO, A, adj. — Cano tro-
chado nau C!<ijiii(/ardas ; cano forte, ou
refor(;ado, ordinariamente oitavado por
fora.
TROCHAR, V. a. Reforçar o cano da
espingarda.
TROCHEMOCHE, termo usado na locu-
ção advcibial : ^1 trochemoche ; confusa-
mente, sem ordem.
TROCHEO, ou TROCHEU, A, adj. (Do
grego truchaiof:). Termo de prosódia gre-
ga o latina. Pé formado de duas sylla-
bas, uma longa e outra breve.
TROCHIO, s. 7)1. Termo de historia na-
tural. Vid. Pilorra.
TROCHISCO. Vi.l. Trocisco.
TROCHLEA, s. /. (Do latim trochlm).
Termo do anatomia. Eminência articular
que apresenta por dentro a extremidade
inferior do humero.
— A euperficie articular rotuliana do
f»mur.
— Termo do veterinária. Osso do joe-
lho do cavallo.
TROCHO, s. w. Termo da província de
Entre Douro e Minho. Pedaço de pau
tosco, hord.ão.
TROCICOLLO. Viil. Torcicollo.
f TROCIDA, s. /. Vid. Torcida. — «R.
de piretro, de cravo da Índia, de Eu-
phorbio, o de hiera piera an. scrup. j.
do ag. ardente fina une. j. misec ; e in-
troduzam-se no nariz trocidas molhadas.»
Braz Luiz d'Abreu, Poi"tugal medico,
pag. 485, § 154.
TROCISCAÇAO, s. /. Termo de phar-
macia. lUducçào dos corpos reduzidos a
pa-sta por meio da agua, a p'<pieiias mas-
saa cónicas no fundo de um fuuU, etc.
TR0CI3CAD0, part. pass. do TrocÍB-
car. EorniHilo de trocisco.
— Jlcduzido a trocisco.
TROCISCAR, V. a. Ternio de pharma-
cia. Reduzir um medicamento a troeis-
cos.
TROCISCO, s. VI. (Do grego trochia-
koe). Termo de ph.-innacia. Ma.ssa medi-
cinal fnta em rodinhas, ou pastilhas.
TROCO, 8. m. A moeda miúda que se
dá ])or outra peça de mais valor, com
que se fez alguuui de.-ípeza, ou que eo
deu a trocar.
-— Loc. ADV.: Â troco; em recompen-
sa.— «Nào creio ou, disse D. Duardos,
que em quanto Albayzar seu genro c:l
andar, queira fazer cousii em que aven-
turo sua vida; o o imperador de meu
consellio devia lançar mào delle, porque
a troco d'um se dessem qa outros.» Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim dTnglaterra,
cap. ]08.^kE's tu Palmeirim tiltio maior
de D. Duardos, disse o gigante, que
vencestes Dramusiando c mataste Caiu-
bold."io e ganhaste a ilha Encoberta, ven-
cendo todolos guardadores delia V Pêra
que o perguntas? disse elle; porque fol-
garia, disso o gigante, fazer bataliiacom-
tigo em presença de minha irmãa Colam-
bar e mostrar-lhe sequer algum gosto a
troco de quantos desgostos de tua lina-
gem tem recebido.» Ibidem, cap. 117.
Que toma morrer a troco
lie eallar o que padece,
laso lie estar emperrado
Na doeuça ; que he peor.
Tcem-no os Plivsicos curado ?
CA.M., Sl^LEUCO.
— «Sustentou o cerco de Guimarães
que o próprio Rei lhe veio pôr, onde
Egas Moniz fez aquella promessa ile bom
vassallo, que desempenhou como bom ca-
valleiro offerecondo sua vida a troco da
palavra mal cumprida. Venceo a Albu-
cazan Rei de Badajoz na batalha de
Trancoso, onde foi soccorrido das oraç.íes
de Fr. Áldeberto Prior do Mosteiro de
S. Joaõ de Tarouca.» Frei Bernardo de
Brito, Elogios dos reis de Portugal, con-
tinuados por D. Josó Barbosa. — «Che-
gando nós a huma ciiiade muyto nobre
que se dezia QuangeiKiruu, que teria
quinze ou vinte mil vezinhos, o Naude-
lum, que era o que por mandado dei Rey
nos levava, se deteve nella doze dias fa-
zendo sua veniaga cos da te.rra a troco
de prata e de pérolas, em que nos con-
fessou que de hum tizora quatorze, uifis
que se levara sal, se nSo cõtentar.a com
dobrar o dinheyro trinta vezes.» Fern.ào
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 132.
— «Em oâ quaes deixaram trinta Portu-
gueses encarregados dos navios e daa fo-
zendas, pcra que uUori defendessem <M
naviod e em algum portfj da China onde
milhor pudessem veude»«eui as iazeiídaa
que lhe ficavam a troco das fuzeudan d»
China, e <jrdcnado iato se partiram cami-
nho da Índia. • Frei (íaspar da Cruz,
Tratado das cousas da China, cap. 24.
— A troco d' isno ; em recomponaa.
— Troco de j/rieioneiro»; troca.
— Loc. : A troco de se fazerem poiU-
rosos commeltevi mil crivws ; para se tor-
narem poderosos.
TROÇO, s. m. Pedaço de pau roliço,
tosco. — «E nos quatro cantos d'e.'<tii casA
quatro tenores que ieraria cada bum qua-
si hum quarto com suas caldeirinhai pre-
sas por cadcas, guarnecidos em parte» de
troços dourados da grossura de hum bm-
ço, e dous caítiçaes nmyto grandes com
suas tocha.s de cera novas apagadas por
ser ain(la de dia.» Fernão Mondes Pinto,
Peregrinações, cap. 124.
— Parte. — Um troço da armada. —
(E como o. tempo pedia mais conclusSo,
que conselho, assentou comsigo enviar a
seu filho D. Álvaro do Castro com hum
troço da armada, contra o parecer dos
mareantes, que havi.ào por temerário esto
acomettimeuto no principio do inverno.»
Jacintho Freire <l'Andrade, Vida de D.
João de Castro,, liv. 2.
— Pedaço de pau quebrado. — «Por-
que vendo Affonso d'Alboquerque, que
atando com cordas os troços quebrados
da escada, nào ficava muito segura, man-
dou aos alabardeiros de sua guarda, que
com suas aiabardas a sustentassem.» Bar-
ros, Década 2, liv. 7, cap. 9-
— Peças em que se formam degraus de
escadas de navios, de assaltar praças á
escala.
— Um troço de cavallaria ; era um re-
gimento. Vid. Trosso. — «Diogo de Al-
mevda o vadeou com hum troço de ca-
vallaria, achando por aquella parte me-
lhor váo, e melhor fortuua; pirque se to-
pou com o General dos Mouros, que a ca-
vallo andava ordenando, e animando os
seus, ao qual euvesíio com grande genti-
leza.» Jacintho Freire d'Andrade, Vida
de D. João de Castro, liv. 4.
— Loc. AUV. : A troços ; com inter-
rupções.
TROCULO, s. m. Vid. Torculo.
TROFA, í. /. Termo da província da
Beira. Capa de junco contra a chuva.
TROFEO, ou TROPHEO, í. m. (Do la-
tim trophivum). Insignia., ou aignai ex-
posto .10 publico para memoria de alguma
victoria, como as bandeiras inimigas, os
canhões, .as lanças.
— Esteio com armas do inimigo venci-
do, que se erguia por memoria ou voto.
— Figuradamente: Victoria.
Anjos (dalli bradou í quiz o Destino
^Ou já vingança do rival Eterool
TROM
TROM
TROM
831
Qn'eu dos mares no campo crystallino
Não ganhasse um trofto. Eu Rei do Inferno,
Ia a punir n'hum Luso o desatino,
Qu'audaz se oppunlia a meu poder superno ;
Ia, vedando a temerária empreza,
Vingar meu Culto, oppòr-mc á Xatureza.
J. A. DE MACEDO, OBIF.NTE, Cant. 5, CSt. 7.
Nova Escola Ecléctica se eleva
Sobre a verdade, e calculo somente.
Que Monumentos immortacs no Templo,
Cercados d'alraa luz se mo otlerccem,
Depois que alto trofeo do grão Britano.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cãut. 4.
■ Troféos da fria morte.
Quando se acaba a paz, e o laço estala
Dos Elementos, na mortal substancia
Abre o grémio outra vez, e os dcspresados
Trofeos da fria morte, esconde, e fecha.
Guarda nossa memoria, e guarda o nome
Contra o furor da rápida existência.
J. A. DE MACEDO, A N.ATDEEZA, Cailt. 2.
— Troféos do inferno.
Em veneno subtil propina a morte.
Soberbo cora os troféos do Iirferno orulta.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Caut. 1.
TROGALHO, s. vi. Termo popular. Pe-
ça de atar alguma cousa.
TRÓIA, ou TROYA. Yid. Cana.
TROILE, s. m. Termo de historia natu-
ral. Ave palmipede, ou nadadora, de bi-
co direito, pontudo, e e.streito.
TROIXA, s. /. Vid. Trouxa.
TROLHA, s. f. (Do latim truelle). Pá
manual era que o pedreiro tem na mão
esquerda a cal amassada de que se vae
servindo.
— S. m. Termo popular. Servente de
pedreiro.
TROLHO, «. m. Termo antiquado. Me-
dida da provincia que leva meio sela-
mim.
TROM, s. 7)1, Macliina bellica antiga de
atirar pedras.
— Os canhões de artilheria.
— O troar, o som dos canhões.
1.) TROMBA, s.f. (Do franeez trompe).
Espécie de nariz, prolongado e grosso,
que sáe do meio da testa do elephante, e
que elle encurta, ou astende para diver-
sos usos, e em certo modo lhe serve de
mão : com a tromba sorve os liquides,
leva á bocca os alimentos, com ella abra-
ça, e levanta corpos pesados.
— Cano de chaminé, que encaminha o
fumo para fira d'ella, de maneira que
não torne a entrar.
— Termo de náutica. Manga de agua
ou de nuvem, que desce sobre o mar em
forma de columna, e muitas vezes abys-
ma as embarcaçõe.í : estas denominam-se
trombas maritimas; as outras denomi-
nam-se trombas terrestres, que tem logar
na terra, e produzem inundações, que-
bram arvores, destroem casas, etc.
— Loc. : Fazer tromba a alguém; mos-
trar-lhe má cara.
— Piar. Termo de marinha. Paus com
muitas raizes, que se encontram além daa
ilhas de Tristão da Cunha, e é signal.
— Termo antiquado. Parece ser insí-
gnia como massas, que se conservara em
algumas coUegiadas. Em Viterbo, Eluci-
dário.
2.) TROMBA, adj. f. — Abóbora trom-
ba ; abóbora que tem a figura de trom-
ba.
TROMBÃO, s. m. Trombeta grande.
— (J som forte d'ella.
TROMBEJAR, v. n. Fazer trombas, car-
rancas.
— Dar a alguém com a tromba, com
o focinho.
1.) TROMBETA, s. f. (Do franeez trom-
pette). Instrumento de sopro, que se com-
põe de um cano de latàu, ou prata, re-
torcido, e mais largo em um extrenio,
que n'aquelle que se applica á bocca;
serve na musica, e para fazer signaes na
guerra. — »0s moradores delia também
vendo as nossas nãos, e o apparato das
suas bandeiras, trombetas, e artelharia
que assombrou aquellas pravas : ficarão
muito mães espantados por verem uiaes
em nós pêra temer, do que os nossos viào
nelles.» Barros, Década 4, liv. 2, cap.
3. — «Senhores, e nobre gente, e muytas
trombetas, e charamellas, e sacabuxas,
se recolbeo a sua pousada. E depois ouue
em casa do Marquez muytos dias festas
de danças, e muy abastados banquetes.
E como nobre, e gi'ande senhor, deu al-
gumas dadiuas honradas aos officiaes que
èzerào seus despachos.» Garcia de Re-
zende, Chronica de D. João II, cap. 79.
— «E o estrondo de todas as trombetas,
e atambores, ministres altos dei Key, da
Princesa, e do Duque, e muytos senhores
que os íeuauam, era cousa espantosa.»
Ibidem, cap. 123. — «E foy amostra de
muito grande magestade ha maneira com
que sayo polia cidade, porque foy acom-
panhado com todos os grandes delia, e
com muita gente bem armada, e com
muitas bandeiras estendidas muito louçaàs
e com muitas trombetas o com muitos
atabales, e outras muitas cousas que em
semelhantes negócios casos e aparatos se
costumam.» Frei Gaspar da Cruz, Tra-
tado das cousas da China, cap. 2õ. —
«E quando entrava nas povoações, en-
trava com grandes estrondos e aparatos
com som de trombetas, e.com pregoeiros
diante, que hiam apregoando ha gram
vitoria que ouvera ho Luthissi foào dos
grandes quatro Reys de Malaca. E todos
os principaes dos lugares ho sayam a re-
ceber com grandes festas e honras, con-
corrindo todos os povos a ver a nova vi-
toria.» Tenreiro, Itinerário, cap. 24. —
«Com has quaes, e com has nãos emban-
deiradas a som de trombetas, no mesmo
dia depois de jentar forau surgir duas le-
goas da cidade de Calecut, taõ contentes
quomo se jà tiuerau feito fim de seus tra-
balhos, e estiuerão surtos diante da ci-
dade de Lisboa donde hauia onze meses
que partirão.» Damião de Góes, Chronica
de D. Manoel, part. 1, cap. 38. — «Com
esta pequena armada, em comparação da
dos imigos, os foi Rui de brito commet-
ter antes de Sol leuado, no qual tempo
se ja fazião a vela para entrarem no porto
da cidade com grandes gritas, e astron-
dos de bombardas, trombetas, anafis, e
sinos, com todos os navios emVjandeirados
e em tam boa ordem, que punha espanto
aos que os viam, mas nem por isso dei-
xaram os nossos de os ir commeter, o
que pos mor espanto, assi nelles como nos
da cidade, por o numero ser tão des-
igual.» Ibidem, part. 3, cap. 41. — «O
mandou receber antes de entrar na cidade
com muita gente de cauallo, trombetas,
e atabales, e dizer que viesse poiísar com
elle ate que el Rei tornasse da caça, onde
auia dous, ou três dias que andaua, e o
deixara assi ordenado, o que Diogo fer-
nandes com parecer do capitão criado de
Meliquegupi assi fez.» Ibidem, cap. 64.
— »Na principal atalaia dos mosselema-
nos soou então uma trombeta ; centena-
res d'ellas responderam por todos os ân-
gulos do campo a este convocar para a
morte.» Alexandre Plerculano, Eurico,
cap. 9.
— A trombeta bastarda ; tem o cano
mais estreito.
— Loc: Dar á trombeta; fazer si-
gnal de marchar, ou antes de investir o
inimigo.
— Podar de trombeta ; é deixar no
corpo da vide velha a vara do vinho, e
diante um terção.
— Trombeta marinha; instrumento de
uma só corda sobre arca de pau, que
produz um som similhante ao da trom-
beta.
— A trombeta evangélica. — ■ «Fr. João
Blasques do Barco, auctor da Trombeta
evangélica, pregava no Porto, sendo eu
menino, especialmente contra os que con-
sentiam tivessem os inglezes hereges uma
sala em que exercitavam as funcções re-
ligiosas.» Bispo do Grão Pará, Memorias,
publicadas por Camillo Castello Branco,
pag. 90.
— Loc. : Tremer antes da trombeta ;
tremer antes de ouvir o signal de ferir
a batalha.
— Querer alguma cousa com trombe-
ta ; querel-a com pompa, ostentação.
— As trombetas servem também para
applausos, festas, pompas.
— Loc. : Tremer antes da trombeta ;
tremer antes do perigo.
— Adágios e provérbios:
— Para rabão e queijo não é mister
trombeta.
TRON
TRON
TRON
— Ou morrer com trombetas, ou mor-
rer enforcíiilo.
2.) TROMBETA, ». m. lloincui quo to-
ca troiiiljft.i.
— Fifííirailameuto : Ilomcui quo apre-
goa novas.
TROMBETÃO, *. m, Tormo de milicia.
Instruiiioiito «lo .'opro, grainlc trompa,
quo so iMiiiirnir.i nin musicas iiiilitaru.-i.
TROMBETEIRA, s. f. Mulher quo toca
troiiiliitíi.
TROMBETEIRO, s. m. ílomcm que faz
ou tooit troMíbutit. — «Entre as tlores iiilo
ha aqui haspiíio que uionla, (piundo mui-
to, mojK(uito trombeteiro quo por modo
de melfja accordu o fa^a arder alfrum
tanto. 1 Bispo (K) Grilo l^ará, Memorias,
publicadas por Camillo CastuUo Brauco,
pag. 49.
— Termo do historia natural. Agami
do Cayenna ou da America meridional;
tem dous pós do comprido, pernas altas,
bico um pouco abobadado o cónico, e a
Bua plumagem é anegrada com uma pla-
ca do um azul brilhante no peito, longas
pennas cinzentas no uropigio, o somen-
te tem pennugem na cabeça e pescoço.
TROMBETINHA, *. /. Dinduutivo de
Trombeta. IV-tpiena trombeta.
TROMBETÕES, s. m. plur. Termo de
botanic.i. Vid. Estramonio.
TROMBONE, s. m. Vid. Trombão.
TROMBONIO, s. m. Termo do botânica.
Planta; es])ecie de narciso.
TROMBUDO, A, ailj. Quo tem tromba.
— Figuradamente : Carrancudo, enfa-
dado com soberba.
TROMPA, s.f. Trombeta usada na mu-
sica.
— Termo de anatomia. Trompa de Eat-
tachio ; canal cm parte ósseo, em parte
fibro-cartilaginoso e membranoso, uma
das extreuúdades do qual se prolonga
até á cavidade do tympano, e a outra,
mais afunilada, abrc-.-!0 ua parto lateral,
o superior da pharynge.
— Trompa de Fallope ; nomo dado a
dous canacj longos de 10 a 13 centime-
tros, quo njisce cada um de um dos ân-
gulos superiores da madre, o se dirigem
ao ovário correspondente.
TROMPETA, s. f. Termo antiquado.
Vid. Trombeta.
TRONANTE, part. act. de Tronar. Quo
atroa.
TRONAR, 1-. íi. Atroar, produzir trom.
— Trovidar.
TRONCADAMENTE, adv. (De troncado,
o o sutTixo iimeute»). Em partes separa-
das, sem eonuexào alguma entre si.
TRONCADO, part. pnss. de Troncar.
— lermos troncados. — Membros tron-
cados.
TRONCADURA, s. /. O modo de en-
tronqueeor, ile crear troncos, fallando
dos ve^etacs. Vid. Caulescencia.
TRONCAR, ou TRUNCAR, c. a. (Do la-
tim iruncare). Cortar membros do tronco.
— Troncar as palavras, períodos, clau-
sulas; tirar alguma parte que a« torua-
va inteira».
— Troncar imia ohm ; nSo a acabar,
tornal-a incompleta, tiraado-Iho folhas,
ou volumes.
— ■ Troncar o cone ; cortar parte d'el-
le, o vértice.
— Troncar a historia; faltar com al-
guma ])arte d'olla; wTw a coui|detar.
— Figuradamente: Troncar vidas; ma-
tar.
TRONCASSIA, s. f. Imposto que se pa-
ga do peixe pescado contra as posturas,
aos dias santos e domingos, ao tronquei-
ro-niór.
TRONCHADO, part. pass. de Tronchar.
Tornado troncho.
— Dosorolhado.
TRONCHAR, v. a. Troncar, cortar.
1.) TRONCHO, A, adj. Que está pri-
vado de algniii membro que outr'ora
teve.
2.) TRONCHO, *. m. O membro, a pe-
ça quo se cortou do tronco. — tNão tem
armas algumas, mais que huns trõchos
de pao que trazem sempre pouco niayo-
res de hum couado, e humas facas grau-
des como as dos carniceyros, e cõ ellas
se sangrão no meyo da testa ; Quando
estào enfermos senão conualecem em bre-
ue tempo ; matãose cõ suas próprias
mãos.» Frei Gaspar do S. Bernardino,
Itinerário da índia, cap. 9.
TRONCHUDO, A, adj. — Couve tronchu-
da ; couve de grandes talos e pouciw to-
lhas, que não fecham ordinariamente tão
bem como as do repolho, o qual fecha
quasi todas.
1.) TRONCO, í. m. (Do latim fritnctíS).
O corpo de uma arvore, considerado sem
ramos e sem raízes. — Um tronco nodo-
so.— «Assi que minha Icy he a de Curis-
to, meu nomo c ser de Christaõ, minha
eoutissaõ sempre huma, e minha deter-
minação morrer por ella : e se úo parti-
cular dos Deoses queres saber o que sin-
to, he serem na verdaile mortos e inscn-
siveis, e só vivos nas apparcncias, e não
terem mala de divinos, do que tem os
troncos das arvores, e as pedras dos
rochedos.» Monarchia Lusitana, liv. 5,
cap. 6.
As corpulentas Arvovcs apenas
Erguem aos ares os dcspiílos troncos.
Abrem-sc ao amio o tumulo sombrio.
J. X. DB KA.CEDO, A NATCBKZA, Caut. 1.
Mas Copia, o nSo Riv«l do Auctor Supremo,
Qual no Libano a Palma a pAr dhum Cedro
Quos altos troncos pelas nuvens mettc.
Cerrados bosques pelas nuvens mettcm
Troncos, que vão datar talvez no bcri;o
Do vasto Mundo, quo do u.ida emerge.
IBIDEM, cant. 2.
— Termo de botânica. Parte principal
lia ha'«te das arvorei dicotyledoneau, d'on-
do partem os ramos.
— Teruío do anatomia. A part) malg
considerável de uma artéria, de uma
veia, de um nervo. — Tronco arterial.
— Tronco venoso.
— Tronco brachio-cephalico ; artcrÍA
que nuBcc da parte anterior da convexi-
dade da crossa da aorta.
— Busto do corpo humano do qual se
separam a cabeça, os braços e as coxas.
— Em zoologia, nos vertebrados, a
parte principal do corpo do animal, aquel-
ía sobre a qual se articulam os m«»Q-
bros.
— Termo de genealogia. Linha directa
de uma mesma familia, d'ondo brotam oa
ramos collateracs. — «E todolos troncos
sam muy fortes, e cada cidade que ho
cabeça de provincia tem treze troncos, e
soo em seys delles esta ha gente scnfen-
ceada a morte : avera soo cm Cantão de
quinze mil pre.»as pêra cima.» Frei Gas-
par da Cruz, Tratado das cousas da Chi-
na, cap. 21.
Immcnaas solidões nliorror sublimes,
Majji-âtadc, extcuâào, riqueza, tudo
A imagem te mostrou do Omnipotente,
E destes troncos »n dcrramão filhoi
Enormes como oa Pais^ os Guararapes.
1. A. OR MACEIM), À MATCBKZA, Cant. 2.
— Fructo de tronco bem utreado.
Inda CU veja aqui fmcto
do tronco tão bom estreado.
Chamac-mc mal assombrado,
ora jA vos não escuto.
AHTúxio PBiisTxa, AUTOS, pag. 385.
— Prisão, cadèa, edificio fechado com
grades, para segurar pre.-os.
— Parte da planta existente entre a
raiz o a rama.
Junto ao tronco, por seus Avis plantado.
Cão íegenax. Tal, junto do Loureiro,
Que dos Tríicoâ Numes a Ara ensombra,
A' lançada, caliio, de Pyrrho, Priamo.
F. M. DO «ASCllárjtTO, OS HABTTBCS, 1ÍT. 10.
Inda vem, e entam, longo espaço, fica,
Cístas n"um tronco, e os ílhos no Castello.
Eu, que encoberto a vi, conter não pude
As lagrimas, quo rompera. Tardo o passo,
Sc despegou do tronco ; c mais não veio.
— Figuradamente : Um tronco ; um
cepo, um estúpido, insensível.
— Prisão de madeira com olbaee, onde
se prende o pé, ou pescoço.
— Tronco da gerai;ào; a possoa em
quem ella principia a ennobrecer-sc.
— Figura.iamente : Tronco </<J arvore.
— «Aos Capitacns da Cavallaria, o El-
mo; e aos Cavalleiros das Ordens Mili-
TROP
TROP
TEOP
833
tares assentaõ os circulos sobre aa mes-
mas Cruzes; e do tronco da arvore pen-
duraõ o Escudo das Armas da tal Famí-
lia.» Severim de Faria, Noticias de Por-
tugal, Disc. 3, cap. 18.
— Fifcuradamente : Prisiio, obrigação.
2.) TRONCO, A, adj. Troncado, muti-
lado, descabeçado.
TRONEIRA, «./, (Do francez trônilre).
Abertura por onde entram as boccas dos
canhões e espingardaria para se atirar
ao inimigo. .
. — - Bombardeira.
'•TRONO, s. m. Vid. Throno. — «Qniz
o Senhor que os Anjos lhe assistissem no
Sepulchro, e no trono, mas na3 os axlmi-
tio â sua meza, e nesta parte sendo su-
perior a natureza angélica â humana, di-
gnou de maior fauor a humana do que
a angeliea.» D. Fernando OoiTêa de La-
cerda, Carta pastoral, pag. 235. '
TRONQUEIRO, s. m. Guarda do tron-
co, carcereiro. — aE porque comunmen-
te nestas casas ha muy grandes apousen-
tos assi pêra ho regedor como pêra os as-
sistentes, e grandes troncos e apousen-
tos peKi os tronqueiros e pêra as vigias. »
Fr. Oa<?par da Cruz, Tratado das cou-
sas da China, cap. 8.
TROPA, s. /. (Do francez ttoupe). Sol-
dados de cavallaria.
— As forças militares, a gente de
•guerra.
■'■ — Loc.: Commandar as tropas, sedu-
zit-as, corrompel-as ; coramandal-as, cor-
rompel-as, subornal-as para que venham
para quem as subornou, corrompeu, se-
duziu, e deixeift''âa companhias e «erviço
de outrem. .':"c vj; ;• •-
— Em tropa ; por comi^nhia», bata-
lhões, esquadrões.
— Marchar em tropa ; diz-se em op-
•Iposição a marchar á desfilada.
■ — Cavallos de tropa ; cavailos pró-
prios para o serviço do exercito.
■ TROPEAR. Vid, Trapear o navio.
TROPEÇADO, part. pass. de Trope-
çar.
TROPEÇAMENTO, s. m. Acção de tro-
peçar, de embicar, de cair.
— Figuradamente : Erro, queda, des-
acerto.
TROPEÇÃO, «. m. Augmentativo de
Tropeço, (irande tropeço.
TROPEÇAR, V. n. Topar, e ir caindo.
— Figuradamente : Commetter falta,
erro. — «O peccado de hum Christão he
mais grave : porque levando diante a luz
da Fé, ainda tropeça ; e recolhido den-
tro da arca, ainda naufraga ; e conhe-
cendo a Christo, o cruciiica como os Ju-
deos, que o naõ conhecerão.» Padre Ma-
noel Bernardes, Exercioios espirituaes,
part. 1, pag. 214.
Estes dous olhos sSo a Basào,
porque os extrinsocos iiào tem mais logar
que dareili ao corpo vomper oete ar :
VOL. V. — 105.
esfoutros que digo, são sempre brandão,
sào stíiiipi-e atalaias a uào tropeçar.
ANrOSIO PKESTES, ACTOS, pag. 6.
— Adagio e pkovekbio :
— Quem em pedra duas vezes trope-
ça, nào é muito quebrar a cabeça.
TROPEÇO, í. m. Cousa em que se tro-
peça.
— Figuradamente : Impedimento nos
negócios, e consecução d'elles. .
— A pedra do tropeço ; a diffiouldade
do negocio, onde se de.ícáe d'elle, ou se
pára.
— Tropeços da memoria /• . obstáculos
pnr falta d'ena.
TROPEÇUDO, A, adj. Termo popular.
Que tropeça a cada passo por fracOj e or-
dinariamente por velho.
1.) TRÔPEGO, A, adj. Que não tem o
tisó livre e desembaraçado. — O trôpego
da linfjua.
2.) TRÔPEGO. Termo popular. Vid.
Hydropico.
TROPEIRO, ». wi. ' Hôm^. que i^aja
com cavalgaduras de carga ê' cáfila.
TROPEL, s. ni. Multidão de- eavallei-
ros.
— Figuradamente : Grande numero,
multidão estrondosa. — Seguir em tropel
alguém .
Estando praticando em variou, casos,
E matérias que alli mouem com gosto
Eis vem correndo a gente em tropel junta
C^:)m grande estrondo, vozes, c alaridos,
Co a reuolta. pressa os que não podem
Por doifecto da idade correr passaõ
Grande afronta o trabalho, atropellados
Daquella. tào viplouta vulgar ftiri*. ■
CORTE REAL, NAnFHAGIO DE SEPÚLVEDA, Cant. 5.
Aquelles que acompauhão vão feriudo
A tuvba Mauritana innumcrauel
E todos em tropel o vão seguindo
Dando em partícular golpe notaucl.
Os Mouros com furor sobre ellcs vindo
Estrago fazem triste, c miaeraucl
Hay, hay, caso cruel, hay sorte escura.
Quão firme he o mal, o bem quão pouco dura.
iDiDEM, eant. 14.
— Tropel de cavallos ; estrondo que
elles fazem com os pés. — «E caminhan-
do um dia a horas que o sol se punha,
por uma floresta deshabitada de todo ar-
voredo, e alongada de povoado, sentiu
traz si gram tropel de cavallos : viran-
do o rosto pêra ver o que seria, viu dez
ou doze cavalleiros armados que atra-
vessavam a floresta contra a outra ban-
da, levando um galope apressado, como
que iam a algum gram feitr>.» Francisco
(lo Moraes, Palmeirim de Inglaterra, cap.
104.
— Tropa, ou corpo.
— Adverbialmente : De tropel ; jun-
tamente, em tropa.
De.sceo dos montes de tropel o gado,
A Serrana, o Pastor, e o pegoreiro.
O voraz lobo, o tímido cordeiro
Tudo ficou attouito, e pasmado.
J. X. DK MATTOS, BIMAS.
TROPELIA, a. f. Desordena feitas por
gente de tropel. ■ '■-'■'.
— Figuradamente í As tropelias ■ ' ãat
fortuna ; os revezes d'ella, ' í
TROPEZIA, s. f. Termo popnlar. Vid.
Hydropesia.
TROPHEO, s. m. Vid. Trofeo.— «O
chronista franciscano -attesta ter visto e
existirem ainda no seu tempo, A. D.
1709, uns azulejos que ornavam a pare-
de da egreja no sitio onde fora a primi-
tiva sepultura do poeta, e alli foram pos-
tos cm seu obsequio com emblemas e tro-
pheos militares.» Garrett, Gamões, nota.
-\ TROPHIGO, A, adj. Que diz res-
peito á nutrição.
— A parte trophica dos alimentos ; a
parte que serve á nutrição, em opposi-
ção á parte excrementicia, que se ex-
pelle.
— Influencia trophica, poder trophi-
co; inflxiencia, poder que tem certos ór-
gãos para activar a nutrição d'outros. —
O poder tròphico doe gangjios-espinaes
em relação ás fibras das raÍ2!€s postêfio-
res. ■ •• ' ■ ■'' ■■ =■'-" '•• ' ■ -
TROPHOLOGIA, s. '/. (Dó grego írê-
phó. e Vigos). Tratado sobr^^ o regimen
alimentar ; doutrina da alimentação.
f TROPEOLOGICO, A, adj. Que diz
respeito á tropbologia.
•{- TROPHOPATHIA, s. /. Termo de
medicina. Ciasse das doenças que affe-
ctam os apparelhos da via nutritiva.
TROPHOSPERMA, s. m. (Do grego tre-
phô, e sperma). Termo de botânica. Saliên-
cia mais" ou menos pronunciada da cavi-
dade interior do pericíirjio, que serve de
supporte. ou de ponto de ligação ás se-
mentes. . .. . i ,
f TROPHOSPERMIGO, k, Mp'S^§. àiz,
respeito ao trophospernia. ■ ■ • ' '
-j- TROPICAL, adj. 2 gen. Que- perten-
ce ao trópico, que se encontra n'um tró-
pico. — A vegetação tropical. '—^.4« ar-
voi^es tropicaes. ' . - i.'^:-"^ —
— Regiões tropicaes ; paizes ftcíllocã-
dos entre os trópicos. ' ' ' '
— Por extensão: Muito quentOj^ como
entre os trópicos. — • Temperattiva tropi-
cal.
TROPICAR, V. n. Termo popular. Tro-
peçar, topar, ir de encontro a algum ob-
stáculo, que faz tropeçar. _ ' - ' ' ,
TRÓPICAS, adj. f. pZíír.Ttó^iftffdg- bo-
tânica. i^?ô«s trópicas ; flores que abrem
pela manhã, e fecham ao sol posto.
TRÓPICO, s. m. (Do grego trópikos).
Termo de astronomia. Parallela terrestre
correspondente & latitnde de 23° 28', que
é a inclina,ção do equador gobre a ecli-
ptica, e que separa a zona tórrida das
zonas temperadas. — Em todos os' pontos
d' um trópico o sol passa uma vez por
834
TROQ
TROU
TROU
anno pelo zeniih. — Os dong trópicos. —
Passar sob o trópico. — O sol p»r duas
vezes alumia, de um trópico a mitro, na
sua marcha o mundo inteiro. — «Donde,
«o colho, quo tanto distaã os Trópicos <l;i
equinocial, quanto os circulos-Fulare»;
•(que aísiin se cliamaõ tamboni estes;
porque estaõ Junto dos Poloa do Mundo)
por quanto a inayor rlistancia, quo entre
si tem o Zodíaco, e a Equinocial cm (juc
66 terminaõ os Trópicos, lie a mesma que
tem os seos Poios, om que se formaõ os
Círculos Árctico, o Antárctico.» Braz
Luiz d'Abreu, Portugal medico, pap;. .517.
— O trópico de Câncer; aquelle que
está situado no hemispherio boreal.
— O trópico de Capricórnio ; aquelle
que está situado no bemispherio austral.
— Adjectivamento: Anno trópico; in-
torvallo de tempo compreliendido entre
duas passagens successivas do centro do
.sol ao oquinoccio da primavera ; este anno
.diffcro do anno aiileral em consequência
do deslocamento do oquinoccio da prima-
vera, devido A precessão doa equinoccios
-e á mutayão ; ella ò de .365 dias, 5 ho-
ras, 48 minutos e 48 sep^undos ; e assim
menor 24 minutos e 8 segundos que o
-anno sideral.
— Termo do botânica. Flores trópi-
cas. Vid. Trópicas.
TROPIGO, s, m. Vid. Trôpego.
— Termo popular. Vid. Hydropico.
1.) TROPO, s. m. (Do grego tropos).
Termo de rhotorica. A translação da pa-
lavra ou pliraso da própria significação
pai-a outra com virtude. — «As figuras
da dicção tocam mui do perto com os de-
feitos; e c mister bom critério e uso dos
mostres para não confundir uns com ou-
tros, e estremar os tropos dos solecis-
mos.» Garrett, Camões, notas.
2.) TROPO, adv. (Do francez trop).
Muito, assiiz, bastante.
TROPOLOGIA, s. /. (Do grego tropos,
e lo(jos). Emprego da linguagem figura-
da. — A Soíjrada Fscriptura está cJieia
de tropologias jite não se devem tomar
■no sentido litteral,
— Sciencia das figuras, tratado sobre
os tropos.
— • Discurso moral allegorico, figurado
todo.
■\ TROPOLOGICO, A, adj. — Interpre-
tarão tropologica; interpretação que diz
respeito ;l mor;\l, e ao sentido figurado.
— Quo tem o caracter da tropologia,
que diz respeito á tropologia.
f TROQUE. Fornia do verbo trocar na
primeira ou terceira pessoa do singular
do presente do modo conjunctivo. Vid.
Trocar.
K pois quo, tão transformado
Mo tom voâsa formosura,
Hum do n<''S trnijue o ostado,
0« vcls para o povoado,
Ou cu para a ospessura.
CAM., FILODKSIO, aot. ."l, 8C. 2.
isenhor, troque a ontrn^ d'ella,
«'iitroífHC-mo vi'>s a olla,
quo de miiu porá cHa dao-a
por meu olho do paiiola.
ANTosio rBBSTF.s, AUTO», pag. 231,
A casada, trcs horas na egrnja ;
e o mais, quo om ca.sa ostoja,
c não jil que troqui: a toca
pelos gostos do andarcja.
iniDRH, pag. 335.
Pois senhor, BC o senhor
í dVsto, amor amador
qual ó a causa o a rezRo
quo por outro coração
troque tão perfeito amor?
Assi digo cu por esta boca.
IBIDEM,
TROQUESCA, .■>./. Vid. Turqueza.
TROQUEZ, s. f. Vid. Torquez.
TROSQUIA, s. f. Vid. Tosquia, termo
hoje mais correcto o usado.
TROSQUIAR, u. a. Vid, Tosquiar, ter-
mo mais em uso.
TROSSO, s. ni. Vid. Troço.
TROTADOR, í. )/). Vid. Trotão.
TROTÃO, s. m. Cavallo que anda de
trote.
— Corredor, ligeiro.
TROTAR, V. a. Metter de trote.
— V. n. Andar o cavallo de trote.
— Figuradaraeute: Andar, ir alguém
quasi correndo.
— Andar no cavallo a trote.
TROTE, s. 7)!. Maneira de andar das
bestas entre o passo, e o galope, incom-
modo aos que nSo estão habituados a
isso.
1.) TROTEIRO, A, adj. Que anda do
trote.
2.) TROTEIRO, *. m. O postilhão que
faz jornada apressada, correio.
TROTO. Termo antlcjuado. Vid. Trote.
TROUCIAR, r. a. Termo antiquado.
Vid. Passar, Vencer, Exceder.
TROUFER. F,'irma antiquada de Tra-
zer, por Trouver, Trouxer.
TROUSAR. Forma antiquada de Ta-
xar.
f TROUVE. Firma antiquada do verbo
trazer na primeira ou terceira pessoa do
singular do pretérito perfeito do modo
indicativo. Vid. Trazer. — «Por a qual
razom, com outras raujto boas, que a seu
perposito trouve, voo a conchulir, que
voomtade era dei Kei seu senhor aver
com cUe boa e firme paz jtera sempre, p
Fernão Lopes, Chronica de D. Fernan-
do, cap. 1.
TROUVER. Forma antiquada do verbo
trazer, por Trouxer. Vid. Trazer.
f TROUVESSE. Forma antiquada do
verbo trazer, por Trouxesse. — «Por tan-
to não agastada, mas com a nn^r gloria
do mumlo vos deveis tornar. Tanto poiler
tiveram estas razões com sua vaidade,
que lhe fizeram tirar a paixão: e por nào
80 partir sem vèr alguma cousa das da-
qnella terra, lhe mandou qae fceae onde
estavam os eseudoa, e lhe trouTesse o de
llinigiianla, que o desejava vdr e loval-o
corasitro.» Franiisco de Moraes, Palmei-
rim d'Inglaterra, cap. 110.
TROUXA, ». /. Embrulho, envoltório
eODi roupa, on fato.
— Trouxas de ovos ; ddc« de ovos «eo-
cos, em fónna de canudo, com'èeteiCO-
berto de assacar. /
TROUXADA, #. /. Termo popular.
Trouxa gramle e volumosa.
TROUXE. F(')rma do verbo trazer na
primeira ou terceira pessoa do RÍngular
do pretérito perfeito dó modo indicativo.
Vid. Trazer.
Da espessa nuvem setta» e pedradas
{'hovom sobre ní^e outros Hoin medida ;
K não foram ao vento cm vão di-itadaa.
Que esta perua trouxe cu dali ferida.
OAM., Lus., cant. 5, est. 33.
— « Asai como António d'Abreu com
Francisco Serrão descubrir Maluco, e
Cíomes da Cunha a ElRey de Pegu, que
era já vindo em o navio que trouxe man-
tinrentoa a Malaca, (como fica atrás,) o
qual hia com elle Fernão PerfaS, o Antó-
nio de Miranda com Duarte Coelho a
Sião.» Barros, Década 2, liv. 9, cap. ò.
— tE provendonos de mãtimento e ca-
valgaduras até o porto de Arquico onde
as nossas Fustas e-tav5o, e o Vasco Mar-
tins de Seixas trouxe hum presente rico
de muytas pe^^as de ouro para o Gover-
nador da índia, o qual se perdeo no ca-
minho, como logo se dirá.» Fernão 3Ien-
dcs Pinto, Peregrinações, cap. 4. — «E
dahi, tomada a carga, se tornarão todas
cinco para o revno, onde chegarão a sal-
vamento, levando também consigo em
companhia outra nao nova que se fizera
na índia, por nome São Pedro, de que
vevo por Capitão Manoel de Macedo que
trouxe o Basili-sco, a que cá chamarão o
tiro de Diu, p ^r se tomar alij" na ncorte
do Sidtào Baudur Rey de Camb.iva, oom
mais outros dous do mesmo teor.» Ibi-
dem, cap. 2. — «E despois que leo a
carta qua lhe elle trouxe do Jíautoqulm,
e lhe preguntar por algumas novas par-
ticulares de sua filha, lhe disse que me
c'iamasse, porque a este tempo estaTTi
hum pouco afastado atnis.» Ibidem, cap.
13õ. — «E elle nos disse: Pois quem vos
trouxe a osta nossa terra, ou para oude
hieis quando vos perdestes? È nós lhe
respondemos, que por sermos mercadores,
o termos por ofiicio tratar com nossas fa-
sendas, no-s embarcáramos no Reyno da
China do porto de Liampó para Tanixu-
mà, aonde já tinhamos ido alfrumaa ve-
zes.» Ibidem, cjip. 140, — « Ja sobola
t.irde se reeoliico o Calaminhan para ou-
tra casa de dentro acompanhado das rao-
Iheres somente, c todos os mais se vierSo
CO M<5vagaruu, o qual trouxe o Embai-
TROU
TROU
TROU
835
xador pela mão até a derradeyra sala, e
aly se despidio delle, e o entregou ao
Queytor, que o levou para sua casa, onde
sempre pousou até se tornar, que foraõ
trinta e dous dias, em todos os quais íoy
bãqueteado dos principais senhores da
corte com hum estranho modo de perfei-
ção e riqueza.» Ibidem, cap. 163.- — «E
quanto a que fez o Conde de Borba foi
assi, sabendo elle que 03 de Benharaede,
e de Benarroz estauão descuidados, foi
dar nelles de sobresalto, com boa compa-
nhia de gente de pe, e de cauallo, donde
trouxe trinta almas, e seis cantas cabe-
ças de gado grosso, e mais de mU de
meud.'.» Damião de Góes, Chronica de
D. Manoel, part. 3, cap. 8. — «Chegan-
do ate as atalaias de Tetuam, donde tor-
nou vitorioso, e trouxe alguns captiuos,
o que os Mouros tiueram em tanto que
çiuitop daquella villa se foram pêra Fez,
e outros »e vieram lançar em Septa, en-
tre 08 quaes foi hum caualleiro dos mi-
Ihores, e mais esforçados de Tetuam, da
casa, e íamilia dos Alhamazes linhagem
que antrelles he muito nobre, e antigua,
e 03 filhoo de Barraxa.» Ibidem, cap, Õ2.
O cazeiro trouxe aqui
outra melhor assombrada,
cuido que por ter bom rosto
se agasta e ihc põe grosa.
ASTOSIO PEE3IES, ACTOS, pag. 305.
Já a te ides?
trouxe-a um meu servidor.
'-IDEM, pag. 337.
Já,
. ;— «Bste homem admirado trouxe ou-
tra que tinha por fortíssima, quebrou-a
El-Rey da mesma forma, e dizendo-lhe
que toda aquella obra era falsa lhe pedio
terceira ferradura com a qual mandou ti-
nalmeute ferrar o Cavallo, tendo já mos-
trado, e praticado com as duas primeyras
a sua habilidade.» Cavalleiro d'OiÍTeira,
Cartas, liv. 1, n.» 50.
Contra quanta há hi mágoa, trouxe alino
Paulo a Coriutho presto. Apenas lavra
Pelo Império Komaoo a Fé Divina,
A Esperança do Céo, o Alivio do Orbe,
Do Orbe, abundante em Reis baldos de sceptro,
Do Orbe, Romano Escravo ; os meus Maiores
Cevados nas lições da Adversidade,
E em singelos Aveádioos costumes,
Inclinando á Cordura, subinettêrào-se
A Lei Christan, na Grécia, primitivos.
F. M. DO NASCIMENTO, OS MAETTEES, 1ÍV. 4.
— ■ fMas O livro?...»
— «A corte
Vim por elle e por vós; eommigo o trouxe.
Ha muito o conhecia : amigos vossos
D'elle com grande preço me faJlaram
Em Goa e Mossambique.»
OARBETT, CAMÕES, CaUt. 5, Cap. 1-1.
TROUXEL, s. m. Termo antiquado. Far-
do. — Trouxel de fazenda.
TROUXER. Forma antiquada do verbo
trazer. \\à. Trazer.
7 TROUXERA. Forma do verbo trazer
na primeira ou terceira pessoa do singular
do pretérito mais que perfeito do modo
indicativo. Vid. Trazer. — «Orande ibr
o abalo e alvoroço que se fez com sua
vinda, e logo houve quem lhe disse a ra-
zão que alli os trouxera, de que suas don-
zellas ficaram alvoroçadas e contentes, que
já enfastiadas delle, ou de o vêr a elle
delias, esperavam gracejar com os caval-
leiros.» Francisco de Moraes, Palmeirim
d'Ingiaterra, cap. 129. — «Estas lembran-
ças trouxeram ciúmes comsigo, acabei de
sentir que onde elles chegam fazem que
todas as outi'as dores se estimem em pou-
co, que as outras só o corpo atormentam,
e as suas desbaratam vida, e trespassam
a. alma. D Idem, Desculpa de uns amores.
— «Porque como da Iniia nàotinhào mães
noua que a que trouxera dom Vasco
da Gamma e a nauegaçào daquellas par-
tes não era sabida : ante de toparem esta
carta hiào ás escuras e mui confusos
em sua viagem.» Barros, Década- 1, liv.
õ, cap. 10. — «Desejoso dom Francisco
de fazer alguma boa sorte antes de se
tornar para o regno, e confiando na boa
gente que trouxera, e que lhe o Bispo
seu pai depois mandara que seriam per
todos mais de cincoenta de cauallo, pe-
dio a dom Vasco conde de Borba que
lhe desse guias, e alguns dos moradores
Darzilla, com que podesse fazer huma
caualgada, o que lhe o conde concedeo
de ma vontade.» Damião de Góes, Chro-
nica de D. Manoel, part. 3, cap. 9. —
«Este conselho pareceo bem a Pateonuz,
principalmente por nam achar Patecatir,
em que tinha muita confiança por ja ser
ido desbaratado perà laoa, como atras
fica dito, o qual elle nam encontrou no
caminho, porque que se o achara o trou-
xera consigo.» Ibidem, cap. 41. — «E
porque o embaixador que o xeque Ismael
mandaua a Afonso daJbuquerque adoe-
cera no tempo que lhe andauam dando
seu despacho, mandou que o nosso o fosse
esperando pelo caminho, pelo que se par-
tiram logo de Tauriz, guiandoos per ca-
minho desuiado do que trouxeram, per
terra muito fértil, e de muitas cidades,
villas, castelos, e povoações ate chegarem
a cidade de Caixam.» Ibidem, part. 4,
cap. 11. — «Dom Xuno que ainda anda-
ua escandalizado dellea, os mandou espiar
por quatro de cauallo que lhe trouxeram
nova certa «omo toda a Alahea de Gara-
bia estaua assentada nas salinas, e a de
(Jleidambram ate roduam, que he através
das salinas quatro legoas.» Ibidem, cap.
43. — «E em quanto estevemos comendo,
se sahio a parte da cáfila da vila : e logo
como acabamos de comer me fiz prestes, e
me despedi do dito xeque, e assi do mouro
guia que trouxera comigo: e lhe dey
huma cartinha que ahi 'escrevi pêra ho
ca.pitão Dormuz, e pêra ho rev de Báco-
ra outra.» Tenreiro, Itinerário, cap. 63.
— «Que auia muytos annos se sentia cha-
mar de Deos nosso Senhor pêra o seruir
em perfeiçam, nam acabaua de se des-
apegar do mundo, que de huma esperança
noutra o trouxera após si de Seuilha á
noua Espanha, e dali a Maluco, sem ou-
tro fruyto, que os trabalhos do corpo, pe-
rigo da consciência, desassosego do espi-
rito, perda do tempo.» Lucena, Vida de
S. Francisco Xavier, liv. 4, cap. 3. —
«De maneira que os Navios de 200.
e mais toneladas trouxessem 14. peças
de artelheria, e certo numero de piques,
lanças, e arcabuzes, e quintaes de pól-
vora; e 03 de lõO. até 200. toneladas,
onze peças, e as mais armas em sua pro-
porção,» tjeverim de Faria, Noticias de
Portugal, Disc. 2, cap. 16. — «Os quaea
confessarão que os dias atrás viera aly
ter huma nao do Baxá a buácar manti-
mentos, e trouxera hum Embaixador que
levava huma cabaya muyto rica para o
Hidalcào, a qual elle não quisera aceitar,
por nào ficar vassallo do Turco, visto não
ser custume entre os Mouros mandarense
estas cabayas, senão do senhor ao vassal-
lo, pola qual desavença a nao se tornara
sem mantimentos, nem outra cousa al-
guma.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 8. — «Num destes moste\TOs
que digo, da invocação do Quiay Frigau,
Deos dos atamos do sol, em hum rico apo-
sento est.iva huma irmam dei Rev viuva
que fora molher do Raja Benào príncipe
de Pafuá, a qual por morte de seu ma-
rido se metera aly em religião com sevs
mil molheres que trouxera comsigo, e por
grão mais honroso que todos se intitulava
vassoura da casa de Deos. s Ibidem, cap.
128.
D escarnecer ElRei. de rir não cessa
Do recado, e daquellc que o trouxera :
Faz o Baxá o signa! , e com grãa pressa
A turba, antes enferma agora fera,
Fora do gasalhado se arremessa
Que para se curar ElRei lhe dera ;
Descobre á gente a falsa enfermidade
Em que achou verdadeira piedade.
F. d'akdrade, pbimeibo cebco de Din, cant. 13,
est. 9.
Em quanto ao grão Silveira vai voando
A carta que o Faleiro alli trouxera,
Fica elle largamente declarando
As honras e mercês quo lhes fizera
O Baxá Çoleimào, e em que chegando
Cabaias de grào preço a todos dera ;
E com grande fervor, grande eloquência
Louva a sua real magnificência.
rBiDEM, cant. 15, est. 21.
— «O pagem que comigo trouxera
mandei-o voltar para o meu castello, to-
mando por pretexto algumas ordens que
tinha de communicar ao mordomo do so-
lar. A morte de Lopo Mendes devia di-
8Sfr
TROU
TROD
-TROV
vutfçar-se, o cu tomia quo as drtaconfÍATb-
çajj cítouvailii» do iJjigem nu; atraigoas-
mun.» Aloxanilro JlBrculiino, Monge de
Cister, f.ifi. 3.
f TROUXERÃO. Forma do verbo tra-
aey na tcrcoira pessoa do plural do
pretérito perfeito do modo indicativo.
— «Contasc que o Apostolo Sant-Iaj2^>
vivendo ainda, cscolhoo nove Diâcipu-
los CDi Galisa, sete dos- quacs furaõ
com oUo para Jiidea, iicamlo os outros
doud cm (ializa, c (w que loraõ com clle
trouxeraõ seu corpo a Galiza dc])()i.>i de
sou martvrio, ilos quaoa escreve o bem-
aventurado íSaò Joiunrmo cm seu Marti-
pologio, eõfoniic ouvio ao bemaveníurado
Cromaeio.» Monarchia Lusitana, liv. ô,
cap. õ. — "Os Jàos trouxeraõ linma peça
de artolliaria daa suas estancias, c a pu-
zeraõ defronto ila ponte, e por cima delia
varejavaõ a Cidade dentro, e fiiziào nella
muito dauo.» Diogo de Couto, Década li,
liv, 9, cap. 7. — «Aos que trouxeraõ este
recado mandou, que dissimulassem serem
Ckristàos, e dixeaeem que na terra ania
muitos delles, ho que elles souberaõ mui
bem contrafazer, pelo que lhes Vasquo
da Gama foz muito gasalbado, e deu al-
gumas peças e mandou outr;is a el liei.»
Damiào de Góes, Chronica de D. Ma-
noel, part. 1, cap. 37. — «Que os roma-
nos trouxeraõ por insígnias, como os Ás-
syrios a Pumba, e & Lua os Egypcios, os
Bizancios o Cacho de uvas, os Tbebanos
a Tartaruga, os Afiúcanos a Espiga; e
a^sim outras varias cousas. Porem os sol-
dados particulares costumavaõ trazer os
escudos brancos, atè que faziaõ algum
feito insigne, cuja historia pintarão uel-
les, ao qual costume alludio o Poeta,
quando disse de Heleno.» Severim de
Faria, Noticias de Portugal, Disc. 3,
cap. n.
-}• TROUXEREM. Forma do verbo tra-
zer na terceira pessoa do plural do fu-
turo imperfeito do modo coujuuctivo. Vid.
Trazer.
f TROUXESSE. Ft^rma do verbo trazer
na primcií-a e terceira pesso.a do singular
do pretérito mais que perfeito do modo
copjuaciivo. Vid. Trazer. — «E como es-
ta viveza e acordo o ajudasse a favore-
cesse, e trouxesse cansado Bracoliío, po-
dia o do Salvagem mais a seu salvo ap-
provcitar-so do tempo, fejindo-o a meude
com golpes tão bem acertados e grandes,
que ao gigante, depois de perdido muito
sangue e «He tiío cansado que se níto po-
dia boUir, lhe convcio arredar-.i^e.i) Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim d'Iaglaterra,
cap. 10l>. — ^.iDe sorte quo d'ahi por
diante trouxesse no escuilo em campo
amarello o Doos Cupido á maneira do
Ídolo, com os pés sobre um oavallolro en-
volto em s:iugui\ Ainda quo peva elle
es.t* pena fosse ;iòpera, como «ra deixal-o
com seu cuidado, a re|(;obou por hoa.»
Ibidem, cap. 110. j^ ^h ^looi A .
Porem, eomo a ost» tcrr.i entio vúiuéAi ■
Dl' l;i do rtuio Ariil)ico outciW getttoa, ,
(Jiio o cult») inuhoini-tico troiixvi^fn,
(N'o íjiiiil nií; iiirttituiram meus piírentíy;)
Sttce<«lnii, i|iií5 pm^atido cfmvírtrKrtMn
O 1'uriiniil, de gubiu4 e olo |iteiit(M ;
FuEcui-lliu a lui tomar euin furvor tiinto.
Que preauppoz de nella morrer aanto.
cAii., LU8., oant. 7, est. 33.
— «Chegou fto porto um Chim cossay-
ro com quatro juncos, a que el Rey dava
colbeyta em sua terra, por lhe dar a me-
tade tias presas que trouxesse iLi China,
c por esta causa era niuyto valido com
elle e com todos '« granílcB da terra, o
qual por nossos pecuadus era o mayor
inimigo que os Portuguese»* tinhil naquelle
tempo, jjor huma briga que os nosao.^ ti-
verào cõ oUe o anno dantes no porto de
Ijiimau.» FernSo Mendes Pinto, Peregri-
nações, cap. 140.
Oh ! cantor doce
De doçar
ae pedras fará chorar.
OK! qiiem tronxease c asai foaae
pou nomina tal cantar.
Àa;Ç0pO,£BBSTFS, .LUTOS, pag. 21.
— «O que concluído entrelle» ambos,
e alguns outros que os queriam compra-
zer, sem nenhuma forma, nem ordem de
justiça mandou a George botelho que
fi>aâc a sua casa, o lho trouxesse preso,
do que se ello excusou, pcrqua era seu
amigo, e o conhecia por bom homem, e
loal aos Portugueses, dizendo a George
dalbuquerque que nani acertaua em fa-
z.or o quo fazia.» DiuiiiSo de t.Toes, Ghro-
nica de D. Manoel, part. 3, cap. 79. —
«Que depois de tornarem desta primeira
viagem Ibes fazia mercê de. leuarem, ou
nnindarem leuar cada anno as ilhas, o
torras que descobrissem mil cruzados em-
pregívlos a sua cosia delles nas merca-
dorias que lhos aprouuesse, e trouxessem
delia o retorno que quise<isem sem disso
pagarem mais que a TÍntena.» Ibidem,
part. 4, cap. 37. — «Xo me-smo tempo
que Lopo eoarez despachou António de
saldauiia mandou também Emanuel do
lacerda,. o com clle em outra nao Garci*
da costa irmaõ de .Víoubo lojiee da cos-
ta, em busca dalgumas nãos que falta-
uam das que leuara ao estreito-, e que
fosse a Dio visit.ar ifiliqaiaz, e trouxes-
se consigo Fernnm martinz «.«laugelho,
que la estaua fazendo cousas do peruiço
dei Rei.» Ibidem, oap. 28. — «Portanto
não dava por causji extraordinária o qne
outrem quo clle arífuiria n'uma mulher
de sua (puilidade; que era gasUir na lei-
tura todo o momonti" vago : e (juaudo M.
Cuonu me iivsbiva quo lhe dissesse o que
desejava que de tal Cidatle me trouxós-
se, sempre Livros orju) o que Ibe eu pe-
dia.» Francisco Man>>el do }C.'iscimeato,
Successos de madame de Seneterrs.
TROUXINHA, ». /. Iiiminutivo de Troa-
xa. Pequena troaxA.
TRuVA, *. /. Comf>o-;i<;.lo em vefso
vulgar, e nJU^ muito jiclida.
Agora co'aa hcrvaa noTaa
Vo» toniastfís vós granhSo.
Nào wi qne hc, nerm que wlo,
Que liei do vir a ftzet trota».
• U. VICBaTB, Tkt/iÀi.
Quebrou.
Qufbrou pêra mim,
pcra mim niU) no enU^ra
iiiMiliuin bem ]M;r.'i buiu tini !
Isso é tro>:a.
ÀJtTOHto rsESTca, ACT06, pag. 187.
TROVADO, par/. pa»s. de Trovar. Ex-
posto em trovas.
— Toma-se por turbado. — «A isto
respondy eu entSo pelo meu irtterpfcte,
que levava muvto bom, que quanto ao
que sua alteza dezia de me sentir trora-
do, lho còfessava, mas nào por causa da
mayta gente de qne me via cercado,
poixjue ja outras vezes tinha visto outra
em inuyto mayor quantidade, mas que
quandij eu imaginara que me via diante
dos seus peis, isso só bastava para eu fi-
car mudo cem mil annos, se tajitos tive-
ra de vida.» Fernão Mondes Pinto, Pe-
regrinações, cap. l3õ.
TROVADOR, A, «. Pessoa que compõe
trovas.
TROVÃO, s. m. O estampido qne faz
no ar a explosão da electridade atmos-
pherica.
— Figuradamente : Os trovõca da ar-
tilheria.
Ad.AGIOS E PROVÉRBIOS:
— Agua de trovão em partes dá, em
partes não.
— Escapei do trovão, e dei no relâm-
pago.
TROVAR, V. n. Compor trovas.
Mas trova-se o fecho agora,
não p<ide d*eU«!i «aír
piodad<» de viuva,
do do t>obro, do arrastado,
CO seu corado
diamào com g«Ipe em hiT».
IXTOXIO PEESTES; ACTOS, pag. 391.
— Vid. Torvar.
— Substantivamente : O trovar. — tE
estando huma noite na cama ja despoja-
do, me perguntou se sabia as trouas de
dom lorgo Manrique, que começSo Rt-
corJe el ahnn dormida, e ea lhe disse
que si, fe^mas dizer de cor, e depois de
diUis mo disse, que tulgaua muyto de
mas ver saber, e que tilo necessário era
a hum homem sabellas, como saber o
i'ater noster, e gabou muyto o tronar de
mnyto si«gular n>*nhA, e teto-p«r«^ eu
tiz hl na troua que *''e vio, e a gaboo
TSÕV
tMc
TMJÍÍ
837
muyto, por me dar vontade de o apren-*
der, e saber fazer.» Garcia de Rezende,
Chronica de D. João II, cap. 20ò,
Ease trovar
nSó nó ■s i 8euão agoi a ;
<i'oudc vem, Tenha elle embora.
Seohor, o meu ooprejar
é pela linha do fora
corpo do camaz.
Airroitio PBESTEs, AUTOS, pag. 187.
THOVIJADO, pai-t. jxt^s. de TroTejar.
Acompanhado ou seguido de trovões. •
— Adacho e provérbio :
■ — Lua nova trovejada trinta dias é
molhada.
TROVEJAR, V: n. Havef trovões.
— V. a. Cansar trovões.
— Figuradamente : Troveja a ira d-e
Deus.
TROVINHA, ». /. Dimiuntivo de Tro-
va. Pequena trova. — «Ha outros muito
similhantes a estes, que pedem cartas de
amores para suas damas, e para porem
de sua eaza alguma cousa aeresoentam-
Ibe trovinha no cartapacio ao pé, tão
ufanos porque a souberam enxerrp q«e
se tomaram eom dez Petrarcbas.» Fer-
fiSo Soropita, Poesias e prosas inéditas,
pag. 109.
TROVISCADA, s. /. A acção de pisar
trovisco dentro da agua dos rioã para
matar peixe.
TR0VI3CAR. Vid. Embarbascar.
TROVISCO, s. m., ou TROVISQUEIRA,
*. /. Termo de botânica. Arbusto vul-
gar que nasce nos campos, e tem um
leite amargoso-,- e flor amarrella; pisa-se,
e lança-se nos rias para matar pei.5;e.
TROVISTA, 8, 2 gen. Vid. Trovador.
TROVOADA, s. /. Multidão de trovões.
^— «Mas como da Cidade Lugor a Mala-
ca be caminho de duzentas léguas, sem-
pre ao longo da costa,- a qual he mui
sujeita a trovoadas, e temporaes^ ante de
chegar a Malacii lie deo hum tempo, com
que esta frota se derramou, vindo ter al-
guns navios dêlla a hnma Ilha chamada
Pulloçapata três léguas de Malaca.» Bar-
ros, Década 2, liv. 6, cap. 1, — «Peró não
houve effeito sua tenção, porque veia so-
bre a tarde huma trovoada tio furiosa,
que ante elles quizeram coutender huns
com os outros como andavam, que- com
ella ; porque como veio- súbita, e 'tomoU
a todos descuidados, e mais mettidos em
pelejar, que no temor delia, se os nossos
tiveram algum salvamento foi por não tra-
zerem as inàos cortadas do temor, e do
ferro, como as traziam os Jáos, e por
isso forarií mais lestes em marear suas
velas.» Ibidem, liv. 9, cap. õ.
Na descampada Granja, ou lõto colmo
Da alluida Chó^a, a rouca trovoada,
E òs- Ventos debater-se escntáriamos. • •' '
F. U. DO NASdifENTO, OS MiRTOtESj HvrlÓ-.- -
— Grrtaiíã,- algazarra, BOotímP-^^'*
— Figuradamente : Estrondo, barn*
lho.
— Trovoada de buzinas ; de musi«íi-de
negros.
TROVOADO, p«>-í. pats. ie Irtrvoat.
Acompanhado de trovões. Vid. Trove-
jado.
TROVOAR, V. n. Vid. Trovejar.
Cabana humilde, onde nasceu, povoa-; -
E seguro no próprio abatimento, ■:.; v
Só tem mcdo-do Céo, <}uaadp_íroi;ôa. . ,.
ABBADE DE J.1ZENTE, POESIAS, pag. 109.
f TROXE MOXE (A), loc. adv. Cobfusa-
mente, sem ordem .-
O Bastos, neste instante, homem versado
Xa liçaõ de Florinda, e Carlos Magno,
Quiz metter seu bedelho; m^as Andrade,
Ue seu discarão naõ fazendo caso,^
Do douto Magistral o voto apoia
Com mil teitoõ que aponta a troxe m txt.
A. DIXIZ Di CBCZ. HTSSÓPE, Caut. 3.
f TROYANO, A, adj. e s. Nakiral de
Trova, na Oisecia.
Virgiliò, que cantas de tuaTroya,
Tu, Grécia, que lamentas tua HeleDa,
esta destruição parece sova, ' '
parece menos grave, menos pena
quo o destniir-se assi tão riea jóia
como era Rasào, doce e amena :
com menos mal t.-o>/anos acabaram
e menos pe/da gregos lamentaram.
AHTOÍilO PBKSTES, AUTOS, pag. -ÍO.
TRUANAZ, a. m. Augmentativo de
Truão.
TRUANEAR, v. n. Fazer de truão.
TRUANIA, s.f. Superstições ou embus-
te» supersticiosos de beatas, de benze-
deiras, que íazem na egreja orações com
superstições que a mebma egreja reprova.
TRUANICE, s. /. Dito ou gesto de
truno ; embuste, impostura.
TRUÃO, s. m. Aquelle que com gesto»
e palavras prazenteiras e ridículas pre-
tende causar iiso uos* ciroumstautes,; cbo-
carreiro.
— Imj)ostor, que se finge ser quem
não é.
— Embusteiro supersticioso,
— Truanice do falso Btroso ; de quem
finge revelações ; falsos monumentos para
enganar e tirar dinheiro, etc.
TRUáRIA, s. /. Vid. Truaaia,
TRUCAR, V. a. Na jogo do truque é
propor ao conti-ario se quer jogar, dizen-
do a mào tritco, ao que o outro responde
vale 3, isto é, quem ganhar fará três
pontos, e se não quer jogar dá um tento
ao que triica, ou envida ; e,.te talvez tem
mau jogo, e truca de falso, para_que o
contrario com medo se metta na baralha,
e lhe dê um tento.
— Figuradamente : Trucar de fnho ;
fingir, simular que tem o que n'elle nào
ha.
TRUCIDAR, V. a. (Do latini trucida-
re). Termo pouco em uso. Matar.
TRUCILAR, #. m. O canto, ou o piar
do tordo.
TRUCO. Vid. Truque.
TRUCULÊNCIA, «. /. (Do latim tiitcu-
lentta). Crueldade de fera, ferocidade.
TRUCULENTO, A, adj. C.uel, ferino.
-^ Animal trucvlento.
TRUFA, s. /. Vid. Trunfa.
TRUFÃO, «. m. Termo antiquado. Em
trufáo; por gracejo, por mofa.
TRUFAR, V. n. Termo antiquado. Gra-
cejar, motar.
TRUFARIA, s. /. Gracejo, mofa, zom-
baria, jogo.
TRUGIMÃO, í. 7ÍÍ. O interprete, o lin-
gua.
— Homem que leva recados áa moças.
Vid. Turchiman.
TRUHÃO, í. m. Vid. Truão.
TRUITA, í. /. Vid. Truta.
Cá a truita e não de freira,
que é filha dá manteigueira,
apelara o seu dourado.
Porque, tem damno?
Pois nào !
ANTOXIO PRESTES, AUTOS, Dag. 387.
— t Outros and a vão no campo á caça
das marrecas, das adens, e dos patos,
outros com falcoens e açores á caça de
alienaria, outros nos rios pescando trui-
tas, bogas, bordallos, lingoados, azevias,
mugens, e outras muytas diversidades de
peixes que ha em todos os rios des-te im-
pério. E nós pela mesma manfrvra gas-
távamos o tempo ora numa cousa ora nou-
tra.» Feiiiào Mendes Piuto, Peregrina-
ções, cap. Iõ9.
f TRUMFADA, s. /. Acção do ganhar
com ti-uiifo, de jogar trunfo. Vid. Trun-
fo.
E é mau saber?
E se clle^í^ora vos der
írum/oíía.? não sois uai peira !
Pao, deixae-me ora jogar. j;,, ^-j^.,
, , AMTOKIO PUBSTES, ADTOS, paga ,3§T, -
TRUMÓf s. m. (Do f/anbé* ÍJ^ífíeoS)^.-
Appellido do inventor deííes, d'oHde se
deriva. E vocábulo melhor que Tremo.
TRUNCADO, parf. pass. de Truncar.
TRUNCAR. Vid. Troncar.
TRUNCATURA, s. f. Termo de rairieJ
ralog-ia. Na alteração da forma primiti-
va dos niinCiaes, as mais notáveis são : a
truncatura, que é um cóite feito por um
só plano; e bisselamerdo, que é um córte
feito por úous planos, ou uma dupla tritíl-
catura. . -/. ; ; .
1.) TRUNFA, ». f. -Turbante, cõifi^s-
to de faxa, ou cinta enrolada na cabefft,
TRUíi
TU
TU
touca mourisca, de diversas navõe*» oricii-
tiics, e usa'la dos antigos sucordotc-j.
— Toucado quo as damas iiBavam ou-
tr'ora, talvez como as coructas d'iioj©, ou
cousa simitliaiite.
,2.) TRUNFA, *. /. Toruiç .de. botâni-
ca, Espocio de calyx, que cobre a ca-
psula dos musgos.
— Vou que cobre as antheras da planta.
TRUNFO, s. w. Termo de Jo;ío. Eu»
certos Jo;;os, dii^-se do luiipc do cartas
que 80 volta, dci)oia d« se ter dado aos
jogadores o numero de cartas, que lhes
compete; e em outros do naipe, que no-
meia o jogador (juc niauda jogar ; o nai-
pe que é ti'unfo gaulia os outros naipes.
Que lançada,'
que cUe não foi tão mão gol^Q,
pois por trunfei do- fid.iljjo- ~ '
to dei tillia por canhada.
iSTONio rsssTES, AUTOS, pag. 360.
Sim ; lia lá rei V
Muitos ha, gaTihtio.3 esta líiilo.
líaldaos carta ?
Que farei,
que outra d"ouros não levei ?
Trunfo, pezar iiiio de São.
luiDKM, pag. 381.
disse cu — não vos quero mais
que uma gorfjeira, que me vende
E U03 trunfos não falacs
que furtastes?
iBiDEsi, pag. 893.
.— -íflgo de quatro parceiros, .giu q»ije
E)e levauta o trunfo, que é o rnet^l^. Que:
gaulia. !,,. .
TRUÕES, s. m. plur. de Truão. .
. TRUFITAR, V. «. Termo popular. Fa-
zer cstroudo, ou tropelia. Vid. Estrepi-
tar.
TRUQUE, .«. m. Jogo de tíes .qartas
entre dous ou quatro parcei)L'OSy ; egsii que,
ha certas cartas maiores.
— Loc. : Fazei- truque ; metter a bo-
la pela veutauillia, do sorte que caia n'el-
la, e é truque òatxo; truque alto é dei-
tar a bola do parceiro por ciiua das bor-
das, ou varandas da mesa.
— Jogo de bolas, vulgarmente do taco.
— Truque de pt' ; jogo análogo ao do
aro, sem abaixar-se o que joga. '
TRUS, ou TRUZ, inteij.Xox imitativa
do estrondo do tiro, ou cousa análoga.
TRUSQUIADO, part. paxs. de Trus-
quiar. Wd. Tosquiado. — «Eu tenlio na
minlia livraria nm livro feito por Alonso
Carrani^a, contra as guedolaas, de que
diz cousas abomináveis; e touho outi<o
feito por Pedro Mexia, em que uào cessa
de chorar o ver os hoaicns ti-usquiados.»
P. Francisco Manoel de Mello, Carta de
guia de casados.
TRUSQUIADOR, A, s. Vid. Tosquia-
dor. ;:<,.! . ,
TRUSQUIAR, (u TtlOSQUIAR. Vid. Tos-
quiar.
— Diminuir a» posses.
TRUTA, ^1. /. Teruto de historia natu-
ral. Peixe do rio, que vive uas ^li^ças
dos pei^^otf, muito saboroso. ■• ,<■]
Não ha mais trutai do freira.
K uào é lukda, mus a mauba
com (|Uo o gabacs é fai;anha,
mas como isto está de seu
vir a tiT por gueto meu
o que em mim d'uiit<.-s bo ostianha.
ANTOXIO PkUSTKS, ALTOS, pag. 110.
— Adágios e pkoveeuios :
r-^ Truta cara u-ào é sâ.
— Xào se tomam trutas a bragas en-
xutas.
— Comer truta ou jejuar.
— líòa é a truta, bom ó o salmão,
quando ó de sazilo.
— Com uuia sardinha comprar moa
truta.
TRUTESCO, A, a<ij. Vid. Gruiesco, e
Brutesco.
TRUTIFERO, A, adj. Que cria ou pro-
duz trutas.
TRUTINA, s. f. (Do .latim trutina).
Teinu) pouco em uso. A balança.
— Figuiadamente : Ponderação, juizo^
exame. ' ' ■' ' ' '■■■'■'■ -^^ '-: ■
TRUTINAR, V. a. Ponderar, examinar.
TU. Pronome pessoal da seguuda pessoa
do singular, e dos (.lous géneros. Empre-
ga-se sempre como sujeito.
Perto tiahas tu o amor,
Que asinha te elle contenta
Não me tens em uomigalUa ; ■*
Cambra venha que teucambraj/f , lyff^.
Canta SC fií CS alambre, .-l..
De longe tomas a palha.
«iB viCE.-jTE^ l^Al^^;AS.• '
■ E quanto te dão por b$sta ?
-Não sei, assi Deus m^ajadc.
íkào lixcste logo o pre\-o V
Mal lias tu de livrar desta.
T.cixei-o cm sua virtude,
No qu'ello'vir qu'oa mereço.
IBIDEll.
Porqu»^ Setíhor,--se'4u quizèâsc
Sacriticio, da-lo-hia ;
So.preseutea recebesses.
Se por peitas te vencesses,
Tudo te offcreccria.
IDEil, OBliAS VABIAS.
Calit'eu anno c meio punha.
Mas tre« e mais haverá.
Viu3 tu comprar de comer.
Teus muito pcra fazer,
IDUX, KAKi^AS.
Queui é 'í
Não lhe dá lá o cheiro?
ó o senhor sobre senhor
rejonhor, senhor Dinheiro.
TM quebras ahi um miaibciro
du seoliorcs !
AKro.Mú PKusrEs, AUTOS, pag. *J01.
Tu com proi^sM igual na coacurraocia
Liie íizeste reciproca a victoria,
Sem que ceda nenhuma a preferencia.
ABBADE DE JATRITM, >0E8IAS, pag. 113.
— •Esforçado senhor capitam. Estan-
do cu na creceuça da Lua cjm C4ta ar-
mada prestes pêra a mandar sobre clliey
de Patàne por algumas rezoens, que me
moueram ao ca-itigar, de que ta jd terás
alguma noticia, fuy certificado das cruéis
nmrtes, que os Aehens deram aos teus,
do que tiue tanta dor em meu ooraynm,
como SC todos foram meus til lios. E por-
que sempre desejei de mostrar a el Key
de Poitugal meu iruiani o entranhaucl
amor, (]ue lhe tenho.» Lucena, Tidfl de
S. Francisco Xavier, liv. 4, cap. 16. —
«As peidas que os teu.'« }iaviona«s me tem
pregado nau íui com a lingoAi M cbm as
obras, e a minha aver.-ão he com as obras
do teu Paizj e não com a su^ )i(tgoa. Tu
to chamas Pinsonini, aqui t« chamão Ç%-
bra, tu mereces tudo, o exaqui ou<le se
entende a força do fala, e berra, ma* n&o
me retrates.» Cavalleiro d'(Jliveira, Car-
tas, liv. li, n." 10. — «Assim é que o es-
erever-te me dá gosto, ipas tu lógraa (e
eu Coiutigo) o gosto de me vtsres. Esse
me yem. acoompanbada das resérvsa do
Decoro ; mas o outro posso-o tomar quaa-
<lo bem o queira, Agora, que todos os de
Casa repousào, e se dão por Tcnturosos
de seu repouso, desfructo eu uma Dita,
que nunca sahirá do mais profundo re-
pouso.» Francisco Manoel do Nascimen-
to, Successos de madame de Seneterre.
— «Xo caso que me constasse que algum
tauto te penalizou a leitura d'ttsta Carta;
se eu te. desse crédito, e se me acarreas-
sem despeito e iras ©ssíí conãssão, e con-
sentimento, talvez que o ardor me reno-
vassem. Kada te inquietes d'óra em dian-
te da maneira com que eu me rejo, por-
que fora desmanchar sem dúvida os moas
projectos, de qualquer sorte que tu nel-
les eutrar quizéssos-» Ibidem. — «Quào
fracos me teriào parecido! E nao ha hi
motivos que valessem a arraucar-me de
teu lado: mas tu... deitaste sofregamente
mão dos. pretextos que Sb te deparáriía
para voltar a França. Estaca esse Xavio
de partida"? Deixásses-lo partir. Xão ti-
nhas Cartas da tua familia V £ n&o sabes
tu mui bem quantas perseguições eu pa-
deci da minhat** Ibidem.
Filho!... 7^1 e«'meit filho.
ojlbbÍrt, çatÃo, aci. 3,')m>. S.
Sequeira, os dous Mejieies, c tu^ forte
>ra3carenhas, depois vireis de glt5ria
Colmar, a mais e maie, o pátrio nome".
iDEn, CAMÕES, cant. 8, cap. 20.
— Tu, pospo&to ao verbo, di a eçte q
caracter e a forma imperativa.
TUA
TUBA
TUBE
839
Se mais zombai, te desoarta ;
se o achaste da-m 'o cá.
AdiWnha fu que é carta.
Cartaé.
ASTOKlO TBISSTBS, ÀUTÕS, pag. 107.
— Qaando tu é paciente, oa termo,
ou considerado em outra relação, que
aião seja a do sujeito de quem affirma-
mos, ou a quem chamamos ; fora d'este8
casos sempre se usa nas variações te ou
ti com preposição ; exceptua-se quando
Be lhe ajunta outro. Diís-se do mesmo
-modo quando ajuntamos um, como : vi um
tu.
— Substitue-se também por vossa mer-
■w, vós, em vez de tu.
^-Tu, anteposto a mesmo, dá-lhe mais
■energia e força.
Pensador Espinosa aqui fttTçãra -,
Errou, porque homem foi, e errou com elle
Toda a Escola Eleática, e t>i mesmo,
O' Séneca immortal, eom elle erraste.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM JIITATICA, Cant. 2.
TUA. Forma feminina do adjectiyo teu.
Que pertence a ti.
ategora noticia nenhuma da nossaverda-
de, mais que somente confessarem de
boca o que seus olhos lhe mostrào na
pintura ao Ceo, e na termos ura do dia, a
que continuamente por suas çumbavas
alevantào as màos dizendo, por tuas
obras, tieuhor, confessamos tua grande-
za. Com isto os mandou Autouio de Fa-
ria pôr livremente em terra, ; dandolhe
primevro algumas peças, de que foraò
muyto contentes.» Feraào.MenUes Finto,
Peregrinações, cap. 48,. — - «Broquem da
minha cidade de Fongor, eu o senhor das
sete geraçoens, e tabellos da tua cabeça
te envio o riso da minha boca, paraque
a tua hora seja acrecentada.» Ibidem,
cap. 142. — aApparelha-te; pòe tua gen-
te em armas ; e não tardes um instante
em recolher para dentro dos muros os ri-
cos rebanhos, que trazes nas campinas.
Se o meu prognostico for filso, sobra-te
tempo, passados três dias, para nos sa-
crificares; mas se for verdadeii-0, adver-
te que não é justo tires a vida áquelles
mesmos que t'a. salvaram.» Telemaco,
traducçào de Manoel de Sousa, e i- rau-
cisco Manoel do Nascimento,
Devera
não ser assi, porque era
mais domada tua idade,
tua justiça mais vera.
ASTOKIO PBESJBSi •*;DTOS, pag. 40.
— «Vay o comer, que no presépio o
acharas. Se ate agora te deleytauam os
manjares e deleytes dos cauallos, e por-
cos, engeitaos agora, vay comer este me-
nino por a fee e amor, e esprementaraas
quam doce he aquelle presépio, quam ri-
cos sam áquelles cuyrinhos, quam dou-
rados estam áquelles paços. Xam cele-
bres a festa de seu nascimento em carne,
soomente com recreaçuds de tua carne.»
Fr. Bartholomeu dos Martyres, Catecis-
mo da doutrina christã, liv. 2, cap. 82. i dia
^— iGuarda a ftM bolsa»
Euda interpoz a ronca voz do nauta,
«Cavalleiro orgulhoso ; tanto quero
Os teus pardaus, como a tua espada temo.
Mas este padre falia eomo um anjo ;
E o que elle disse, é ditto. Atraca a bordo ;
E abaixo o amigo Jáo. — Eema !»
J. A. DB MACEDO, O ORIKKTE, Cant. 10, CSt. 21.
Onde levas tuas aguas, Tejo atirifero ?
Onde, a que mares? Ja teu nome ignora
Neptuno, que de ouvi-lo eatremeeia.
GAKSETT, CAMÕES, cant. 10, can. 21. r
Manlio, ouve-me attento. A tua destra
Em pinhor do segredo.
IDEM, CATÃO, act. õ, SC. 3.
TUACA, s. f. Espécie de vinho da In-
Marquez, tinhas razaS ; c o Mundo agora
Da tua presistencia a valentia
íor prudência feliz tanto STalia,
Que de eterno louvor te condecora.
ABBADK DE JAZESTE, POESIAS, pag, 121.
Que tarde, meu Pauliro, resplandece
Na tua boca a cjindida v«rd.ade ?
Tarde sim ; porém sempre a longa idade
De sabias instrucçoens nos prevalece.
- aiDXM, pag. 81.
■Naõ digas, naõ, que he muda soledade,
Essa, ó Sábio Paulino, aonde moras ;
Pois com lua presença a condecoras,
JFazendo de hum dezerto huma Cidade.
IBIDEM, pag. 75.
— «E assi por estas preguntas como
por outras que lhe fez António de Faria,
entendemos que não tinha esta gente
TDBA, s^.f. (Do latim íuóa). Teçmo de
poesia. Trombeta.
Vão-na buscar c mandão-na diante.
Que celebrando vá com tuba clara
Os louvores da gente ua\egante, i. ,
!Mais de que nunca os d"oatrem celebrárâ^^
Ja murmurando a fama peaetraute
Pelas fundas cavernas se espalhara :
Falia verdade, ha^^da por verdade ;
Que junto a deosa traz Credulidade.
cAM., Lus., cant. 9, est. 45.
O medonho fragor da mareia tiiba
Nunca assustava os tímidos ouvidos.
Nem amorosa Mãy á voz da guerra
Ao peito os filhos enfiada unia.
J. A. DE MACEDO, A XATUKEZA, Cant. 2.
Se nunca a Tuba de Torquato erguera
O nome de Gofrédo aos áureos Astros,
A nenhum mais cedera Épica Tuba.
IDEM, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 4.
— Figuradamente : Estylo épico.
TUBARA, *. f.. Kaiz carnosa que se
cria sob a- terra, sem raizes nem rama,
de que os cozinheiros se servem para
adubar melhor, rechear perus, etc. Vid.'
Tubera.
— Plur. Testículos.
TUBARÃO, s. m. Termo de historia na-
tural. Feixe grande do mar, lixoso, de
pelle áspera, com duas ordens de dentes,
e é muito voraz.
TUBAROSA. Yid. Tuberosa.
TUBERA, 5. /. (Do latim tuber). Vid.
Tubara. ' "' ' ■ ■^■'-^'\^'- -rj^siD
TUBERÃO, í. m. Yid. TubarãcT.
TUBERCULADO, A, arlj. Termo de bo-
tânica. Que é guari.ecido de tubérculos.
— Que tem elevações similbantes aos
tubérculos.
TUBÉRCULO, s. m. (Do latim tubercu-
lum). Excrescência que sobrevem a uma
folha, a uma raiz. i:iv.
. — Diz-se das protuberâncias c$!caa_í[ue
se vêem na superficie de certa:^ con-
chas.
— Termo de botânica. Massa ordina-
riamente cheia de fécula, que está collo-
cada á extremidade de raizes, ou de ra-
músculos infeiiores da haste sjubj^erranea
de certas plantas. .■-: •
— Termo de anatomia. Toda a emi-
nência natural pouco considerável, que
apresenta uma paj-te qualquer.
— Termo de pathologia. Elevações,
que em certas doenças sobrevem á pelle.
TUBERCULOSO, a', a^j. Que offerece
saliências análogas aos tubérculos.
— Termo de medicina. Que é da na-
tureza do tubérculo.
— Matéria tuberculosa; aquella que
constitue os tubérculos pathologicos.
- — Meningit-e tuberculosa ; affecçào em
que as granulações se encontram na pia-
mater.
— Substantivamente.: Um tuberculo-
so ; aquelle que tem tubérculos no pul-
mão, que é plituvsico. . a -; 7- -
t TUBERCULIFERO, A, aí/. "Queteni
tubérculos, fallaudo de certas hastes sub-
terrâneas.
t TUBERCULIFORME, fl^{;'. 2 gen. Que
tem a fjruia ile um tubérculo.
f TUBERCULOSE, s. f. Termo de me-
dicina. A diathese que dispõe á forma-
ção do tubérculo. '
- TUBEROSA, s. /. (Do francez tubereu-
se). Flanta cuja tlGr é branca e odorífera;
flor ai gelica.
TUBER03IDADE, .s. /. (Do latim íuòe-
rosus, de tuber). Temio de botânica. Ex-
crescência carnuda.
— Termo de anatomia. As tuberosida-
des do estômago grande e pegueno ; as
duas extremidades d'«ste orgào.
— Tumorsinho que sobresáe em algu-
ma parte.
TUBEROSO, A, a,lj. (Do latim fvbero-
siis, de tuber !. Que oíFerece tubérculos.
'840
TCrÇA
TUDO
TUDO
— Jiaizea tuberosas ; raiaos qoe aão
mais ou monos ^M-urisaa.
— Bíi/òus tuberosos; aquellea cuja
Bubstancin é liomofrcnoa.
— Planta tuberosa ; |>lanta qno brota
da tubera, de um corpo redondo oomo
batata.
TUBO, 3. m. (Do latim tubnà). Canuilo
por oiidc o ar, 03 Huidoa, ca liquido*,
fito., iiodiin tor saiiida. — Um tubo de
chumbi, dl' vitlfn, f.tf.
Casaiui 1'inpniili.i o tnho, i\w. Catnpiíii
Ar(|uitoctoii primeiro, ao vasto espayo
Main odtiMíJp Q3 confina, mal* croBCC^oMnndp.
J. i. i>r, M\cEpoV«r.DlTÍçloVilí{lílti'Í, "^^'' ■^
il' /.■ i-j'i ;i.]'' . Ml!, .,,■,,.'):}
• ' f- ■ , ' '
— Tubo actisiico ; espécie de porta- vdiíl
'— Tnbo communifrtnfe ; canudo èurvo,
em qiio o liquido 8e equilibra, ou fiea éin
egual altura em um e outro tubo.
■' r*— Tubo o/)tíco; óculo dever no lonpc.
-''■'^ Termo de cinirjiria. TubO larymjia-
«o; espécie de sonda que se introduz na
laryn^e pela boocft ou cavidades nasae?, e
que, elieia de ar, eerve a restabelecei* a
respiraijFlo nos asphyxiados.
' — Em cliimica, vasos do vidro, àoa
quaes se dá differentes nomes, segundo
suiaá fijnnas e usos.
' >— Tnbo eléctrico; tubo de ridro que
adquire pelo attrito a virtude eléctrica.
■f TUBIFERO, A, adj. Termo de histo-
ria Tiaturnl. Que traz tubosJ '"
■' f TUBIFORME, <ulj. Que-tem S íirma
de um tubo.
t TUBO-OVARIANO, A, adj. Termo
do anatomia. Que pertence á trompa de
Fallopo c ao ovário.
TUBULAÇÃO, s. /. Tormô de ehimica e
phvsicT. Tubo, fig^ura do tubo, on de cy-
Hndro ôco.
TUBULADO, A, adj. Termo de ehimica
e physiea. (^ue tem a f^rma de um tubo;
quo tem um tubo.
TUBULADURA, s. /. Termo de ehimica
e pliysiea. A fV>rnia de um tubo.
TUBULAR, adj. 2 gen. Termo de botâ-
nica. Que tem uni tubo, tubuloso.
TUBUIÁRIA, s. f. Termo de historia
natural, (renero de zoophjtò, de que ha
varias espécies.
TUBULO, s. m. Pequpno tubo.
TUBULOSO, A, adj. Vid. Tubulado.
TUCANO, s. m. Termo de historia na-
tnral. Ave da America Meridional, do
tamanho de entre melro e pègn, singular
pôlti deforme grandeza do sen bico curvo
õ' dentado, que cm algumas espécies ou
variedades ó quatro vezes mais comprido
que a cabeça ; • é do cor preta e tem o
papo \ vermelho e amarello; d'esto se fa-
zem oriuunentos para as senhoras. O man-
to do imperador do Brazil c guarnecido
do papos de tucano.
TUÇARO, adj. Termo antiquado; -fior-
rendo, homvel, cruel. ''V ■;'*^^''^ ;■'-'
ii TOOEL, *. ni. Twrmo do mumca. Tubo
d« metal, ondo «e pfle a {>alheta; faz
part<í <lo aigun» iafltraiu«ntos dp mumca,
como fapíto, ete.
TUDESCO, adj. e «. Que pertence ao«
anti;,'!)* t,'eriiiano«. — A liiujmt tudesca.
— •Subutaiitivamonto ! O tudesco; a
iiíifíua dort antigos alIeniSea.
i.jTUDO. Tenno antiquado. Vid. Twi-
do.
2.) TUDO, «. m. (De todo). Equivalente
a todas, as cousa». .i.:io?i-i;.
Sc noato tompo de gloria
NacCra a Iflant;! Hagrada,
■■■•• Como fora fcitfjadn,
'1 .':8omenti' pola vitoria
; t-iPa QjiiiiiiA allumiuJa!
Ja tildo leixão pas:<ar,
. Tudo loixào por fazer,
" S(ím pouMoa perf^ntar
;i;.! A esto mc:<mo (wzar
^U^ foi daqualiu prazer.
9I|. yiÇ^X^^vT»miiJf»0 «g IKYBtUO.
IVaza ao ■mart^T Santiastc
Qíio nunca Ih 'a lobro presto.
Abaste^ eu nãq fui sesudo.
Conta, roRO-to, Gonçalo.
Mais porei eu em cont;l-lo,
Quo elles ora furtar-nie tuJo.
IDEM, TÁSÇiE.
Aindaquo eu peca são,
Wenliora, tudo bem vejo.
Attcnte, que na eloiçào
O que lhe pede o deáigo
Não consente o corai;ào.
CM., SKLEUCO.
— «Eu vol-a direi, disse Artisia, uma
de suas dtjnzellas ; anda tão costumado a
cevar-se em homens, quo não temCj e a
metter-nos em con-^ciencia, que para elle
tudo é pouco, que por não perder este
credito comno.sco, não quer levar a bata-
lha ao Cibo.» Francisco de Jloraes, Pal-
meirim dlnglaterra, eap. 127. — «Por-
que so os desertos estiuerão cheyos de
Ãnacoi-etas, se o glorioso Padre S. Bento
podo pouoar os ermos, os m3tfes, « af
cidades de Monges e de religiosos, tudo
fundou a força destas palauras, et secvli
sumus te.t Diogo de Paiva Andrade,
Sermões, part. 1, pag. 166.^ — «Porque
a estes huçi5es estava elle mui confiado
que os nossos não podiam ir : cá uão ti-
nham mais largo caminho, do quo he
huma veroda, imlo hum iiomem ante ou-
tro, por tudo o mais ser mui e-spos?o de
áspero arvoredo, i Barros, Década 2, liv.
cap,
2. — fE
ha^na poucos il»a.<i que a
(íoa viera hum Embaixador d'ElHei de
Bisnaga com grande apparato, ao qual
Aftbnso d'Alboquerquo fez uudta honra;
o posto que mostrasse vir visitallo da sua
vinda do estreito, e que se fizessem am-
bos em hum corpo pêra lani;areji. os mou-
ros do Reyno Deean. o que ambos parti-
riam o ganhado, tudo per derradeiro vinha
acabar nestei eav«llo8. » Idetir, Deoada 6,
liv. 10, cap. 1. — «A fortaleza de Xaèí
iTa hum ca'<tello pequeno de adobes com
quatro cubello», e tudo ViZ estreito que
ba.-itava pêra guardar, e defender trinta
c cinco Fartaquins, porque n.ío tinha
luait dentro em si.i Diogo do Couto, Dé-
cada 6, liv. 6, cap. 6. — (Arenilú loB
dezasíote dias qno uu era chegatio a esta
fortaleza de ]>ia, fazendose nella prontes
a3 dua« fustai< |>ara irem ao eatrevto de
Meca, a saberem a certeza da aniia/Ja doe
Turcos, de que ja na índia avia algum
receví), me ombarquey em huras delias
do quo hia por Capitão hum meu amigo,
por mo ello fazer grandes encarocímontos
da sua ainizade iiaquella viagem, fazen-
dome niuyto^ fácil snyr eu delia muyto
rico em pouco tempo, que era o qnc tn
então mais pretendia que tudo.» FemSo
Mondes Pintc(, Peregrina^e*, cap,. 3.
Grandes artifleiae»,
oax^tudo míiy entendidos, ^
muy sotís officiaes
De toda a sorte c metacs
maj prestes, muyto sabidos, '
baratos para fallar.
OABCIA PK BEZC.XDE, llISCeLI.XaEA .
— «O Duque nào sahyo mais da guar-
da roupa em que o el Roy deixon, onde
estaua sem ferros, nem outra alguma pri-
sam cm seu corpo, porem era dé bons fi-
dalgos, e caualleiros bem guardado, e em
tudo muy acatado, e seruido cofno a seu
ctado cumpria sendo em sua liberdade,
assi no seruiço da mesa com suas «aluas
deuidas, e costumadas, como nos officios
diuinos, e pratica, o viàtatôes de seu con-
fessor, o tíimbem nos auisos de «eus pre-
cnradores.i Iiiem, Chronica de João II,
cap. 44. — «Ho pagode, e offidnas delle
erSo do tamanho de hum grande conuento
dos nossftí, tudo de cantjiria muito bem
laurada, os telhados cubertos de ladrilho.
Chegados á porta do pagode, o Catnal
tomou Yasquo da Gama pela nião.i Da-
mião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 1, cap. 40. — «Deixou por seus
testamenteiros dom Dioguo de souda Arce-
bispo de Braga, e dom Martinho de ca»-
tel-branco conde de villa nona de Porti-
mão, com o corpo fiearom os prelados o
religiosos que foram presente? a sen faU-
ci mento, e dom Pedro de castro sen vea-
dor da fkaenda, que a tudo o que cm»-
pria pêra o enterramento deu abordem
necessária, até que o leuarara ao mos-
teiro de Biithelein, que foi duas oca» ante
manhã.» Ibidem, part. 4, cap. 83. — «Co-
me(.'ando pela conclusam de tudo o que
os am'gos tinham dito, perguntaua lhes
o P. M. Francisco como nam esperanara
os Ciiatins da índia, que se melhorassem
aquellas duas cousas, a noticia, digo, da
nane£;açam. e a paz, e comeifio cora oe
portos da China pêra meterem suas fa-
TUDO
TUDO
TUDO
841
zendas, e vidas na viagem de lapam.»
Lucena, Vida de S. Francisco Xavier,
liv. 6, cap. 9.
Olha cá, não és amigo,
tudo falsas quanto dás,
porque uào tens mais comtigo.
ASTOSIO PRESTES, AUTOS, pag. 17.
Si, que a acompanhaea.
Na que vem acompaulianilo
é tudo.
Eis aqui mais.
IBIDEM, pag. 223.
— «Perdoay, Bom Deos, minha, naõ
sei se diga, ignorância, se maldade, se
miséria; o certo lie, que tudo. ferdoai-
me : façamos pazes de hoje em diante.»
Padre Manoel Bernardes, Exercicios es-
pirituaes, pag. 118.
Âclião d'embarcaçõe8 grãa quantidade
Humaa são d'alto bordo outras rasteiras.
Tudo foi logo posto a bom recado
Como do nobre Cuaha foi mandado.
GABBKTT, cAMÕKs, cant. 8, cap. 56.
— Senhor de tudo ; senhor de todas
aa cousas, dominador d'ellas. — a A El-
Rey D. João I. aconselharão, que se se
queria fazer Senhor de Portugal, que
desse o que naõ tinha, e promettesse o
que naõ era seu, que eraõ os lugares,
que naõ possuía ; e por este meio se fez
Senhor de tudo. Pelo que em certo mo-
do dando ElRey agora lincença para ca-
da hum poder fazer estas novas povoa-
çoens nas suas terras com alguma juris-
dicçaõ, ou privilegio hoaroío.» Severim
de Faria, Noticias de Portugal, Disc. 1,
cap. õ.
— Offerecer-se a alguém para tudo o
que lhe fôr necessário; oíFerecer o seu
préstimo e os seus serviços para todas as
cousas necessárias. — «Ao qual o Mouro
Capitão, e Feitor da não por amizade
que Melique Gupij seu senhor mostrava
ter a nossas cousas, e seguro que AíFon-
so d'Alboquerque tinha dado pêra suaa
nãos navegarem, (como atrás escreve-
mos,) elle llie fez honra, oíferecendo-se
a tudo o que houvesse mister d'elle.»
Barros, Década 2, liv. 6, cap. 2. — «En-
trando Pêro Danhaia nesta camará el
Rei assi cego como era lhe fez muita
cortezia, e gasalhado, e logo alli houve
delle licença para fazer huma fortaleza,
offerecendoselhe a tudo o que lhe delle
mais fos.''e nceessario.» Damiào de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 2, cap. 9.
— Tudo isso; todas essas cousas. —
«Pois tinha tudo isso, ha cento e trinta
annos, Matozin los. Tudo isso viu o aca-
démico da academia real da historia por-
tugueza António Cerqueira Pinto. Vinte
e quatro ruas «de divertido e jocundo
passeio, formadas todas de nobres e lu-
VOL. V. — 106.
sidas casas» escreve elle. Os moradores
eram gente de prol, que toda, com o do-
bar dum século, degenerou em gentio
meramente prolitico.» Bispo do Grào Pa-
rá, Memorias, publicadas por Camillo
Castello Branco, pag. 2.
— Fazer-se senhor de quasi tudo o que
ha desde tal até tal; asseuhorear-se de
quasi todas as cousas. — «Este Mouro
como Vassalo delRey Abderrameu de
Córdova, e estimado delle, e dos mais
pela nobreza, e fama de seus antepassa-
dos, veyo com grande poder contra as
terras de Portugal, e achandoas com pou-
ca resistência, se apoderou da mayor
parte delias, tanto que diz o Conde Dom
Pedro, que.se fez senhor de quasi tudo
o que ha desde a corrente do Dom-o até
o Tejo, senào forjvo algumas povoaçoens,
que por muy fortes e importantes esta-
vão melhor guarnecidas com presidies.»
Monarchia Lusitana, liv. 7, cap. 20.
— Tudo aquillo : todas aquellas cou-
sas. — • fHo ley justa fazerse a ti, tudo
aquillo que ouvera de fazer delle, quan-
do provaras o maleficio, e recreceo so-
bre isto grande tribulação, porque o pren-
derão para o queimarem no dia seguin-
te.» Monarchia Lusitana, liv. 7, cap. 10.
— Tudo o mais ; todas as mais cou-
sas. — «E hindo assim menos de légua
da terra, tornou a mauchua, e disseraò
os marinheiros, que defronte tinhão huma
fermosa prava aonde só podiaò desem-
barcar, porque tudo o mais eraõ rochas,
e penedias asperissimas, e que nào havia
matéria alguma de salvação.» Diogo de
Couto, Década 6, liv. 9, cap. 21.
• — Ir Com tudo ao cubo.
Tomae, que vos dá ora
de sor fèa nem fermosa !
que diabo I
sabei que ir com tudo ao cabo
ás vezes descobre cabos
de começo dos diabos.
Asrosio PBEsiKs, AUTOS, pag. 311.
Tudo é lá fóri
Pae, nimigalha,
íicam cá dois bem pequenos.
TA, nào digaes o que fica.
Não digo, tudo é lá fora.
ANTOiío PKESTEs, AUTOS, pag. 377.
— P.restar isto tudo i^ara guerra
Mas que presta isto tudo para guerra
Oudo o valor 03 peitos nào accende?
Com tamanho poder Bauduv so encerra
Lá dentro no arraial, nem se defende,
Quassentado está Já junto da serra
De Mandou ; mas o imigo que pretende
Acabar o que ja bem começara,
Lá perto do Sultão já se alojara.
FRASCISCO DE ANDB.\DK, PBIUEIBO CERCO DE DIU,
cant. 3, est, 27.
— - Forte em tudo ; valoroso^ corajoso
em todas as cousas. — Um jauizaro for-
te em tudo.
Hum Janizaro ousado, c forte cm tudo
Companheiro também do Sultão era,
A que o Latino, que o Christào estudo
Deixou, por mulher huma filha dera.
A este o Tigre do ílundo, o povo i-udo
Por seu valor, por nome então pusera.
Não digo 03 outros, porque os nào conheço,
Mas todos são Senhores de grào preço.
F. d'asdbade, pbiueieo cebco DE Diti,cant. 6,
est. 76.
— Tudo o que é cerfsza divina; to-
das as cousas concernentes á certeza di-
vina. — «Independente o meu discurso
de tudo o que he certesa Divina, com-
bate unicamente o que tenho por pre-
sumpçaõ, vaidade, e cegueyra huma-
na.» Cavalleiro d'01iveira, Cartas, liv, 1,
n." 43.
— Tudo o que depender de mim ; to-
das as cousas que estiverem dependen-
tes de mim. — «Muita bondade vossa»
era a sua única resposta. — «Tudo o que
depender de mim farei para ser ditosa;
e se o nào fôr, consolar-me-hei com di-
zer que me julgastes vós, Senhora, di-
gna de sê-lo. — Um só dia não passei,
sem que a visse, até o dia do cazamen-
to, que prestes se concluio, presidindo
ao contracto o Maioral de minhas fazen-
das, e servindo-lhe eu de Madrinha no
Sacramento.» Francisco Manoel do Nas-
cimento, Successos de madame de Se-
neterre.
— Amargando tudo na secca bocca.
Bem como aquelle que febricitando
Onde a cólera está prevalecendo.
Na secca bocca tudo ja amargando
Amargo julga quanto vai comendo.
EOLIM DE MOCK.V, SOTISSIMOS DO HOMEM, Cânt. 9,
est. 9.
— A fonte geral d'onde tudo mana; a
fonte d'onde se originam todas as cou-
sas.— «As ninfas do mar se chama õ Ne-
reidas, sendo Galatêa uma d'ellas, e es-
tas saõ mais nobres que as das fontes,
rios e prados, porque saõ próprios filhos
da geral fonte donde mana tudo o que
na terra se cria com a sua humidade.»
P, Ignacio da Piedade Vaíconcellos, Ar-
tefactos symmetricos e geométricos, liv.
2, cap. 3õ.
— Confia, que tudo pôde. — «Teme,
replicou Mentor, teme que não te aggra-
ve com desgraças : temo seus mimos trai-
dores, inda mais do que os escolhos em
que se espedaçou nosso navio: o naufrá-
gio e a morte nào são tanto para temer
como os prazeres, quando estes encon-
tram a virtude. Foge de acreditar quan-
to ella te referir: a mocidade é desva-
necida, tudo presume de si : bem que
frágil, confia que tudo pode; que de na-
U2
TUDO
TODO
TUDO
(la se devo acautelar ; e entrejía-so livia-
namente e sem recato.» Manoel do Sou-
sa, e Francií<co Manoel do Nascimento,
Aventuras de Telemaco, liv. 1.
— Fazer tudo o que entemlcr ; fanor to-
das as cousas que eu julg^ar conveniente
fazer, proceder do moUo mais racionai.
— »E corto, que vós tendes feito nesta
jornada, desde o primeiro dia que tives-
tes novas do cerco de Diu, até o de vos-
sa, o nossa victoria, tudo o que enten-
do, que hum valoroso, c astuto Capitão
podia fiizer, assim na presteza dos soc-
corros, como em pordes vossos filhos por
balisas da fortuna, o perigos do Inver-
no, e mares da Índia, para que os ou-
tros os tivessem em menos.» Jacintho
Freire d'Andrado, Vida de D. João de
Castro, liv. 4.
— Ser avisado por alguém de tudo ;
fazel-o sciente do tudo, de todas as cou-
sas, tornal-o conhecedor. — «E llie dou
logo Juntamente cinco mil cruzados em
oiiro, o seiscentos mil reis de renda em
benefícios logo nomeados, poUos quaes
logo mandou despedir as letras, mas não
ouuerão eftVito, porque antes de despe-
didas o dito Diogo Tinoco falcceo. E de-
pois foy el Rey de tudo anisado por dom
Vasco Coutinho tilho do Marichal, e ir-
mão do dito dom Guterez, o qual dom
Vasco por descontentamentos que tinlia
dei Rey estaua neste tempo despedido
delle para se hir fora do Rey no.» (iarcia
de Rezende, Chronica de D. João II,
cap. 53.
— Tudo has de dizer; todas as cousas
has de contar.
Até n'Í330 C3 inimigo !
dii, d,i n'c.38a boca um ponto ;
tudo has de dizer !
ANTOSIO PRESTES, AUTOS, pag. 447.
— Determinar tudo com um conselho
de senadores; ordenar, dispor com elle
todas as cousas. — «E oscolhen dos prin-
cipacs Senadores hum Conselho, com o
qual determinava tudo.» Severim de Fa-
ria, Noticias de Portugal, Disc. 3, cap. 25.
— Manter tudo á sua custa; susten-
tar, conservar tudo fazendo despezas com
03 rendimentos. — «Em seu regno nin-
guém tem caualos se não de sua mão,
nem os po le comprar ninguém senão el-
le, de que tem passante de vinte mil da
sua ceuadfira, o que tudo mantém á sua
custa, e de sua mão qí entregão a seus
capitães que os repartem pelos soldados
do suas capitanias, a que chamão lasca-
rins.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 2, cap. 6.
— Man'cr em tudo l>om segredo ; guar-
dar em todas as cousas perfeito segredo.
— «Na camará liania Imm Catei muito
mais rioo que ho do fora, em que se el
Rei lançou, e sem hauer nella mais gen-
te, que ho Bramaua mor, e ho quo daua
ho betelle a el Rei, e hum seu veador
da fazenda, fez dizer pelo «eu lingoa a
Vapquo da Gama, que estaua em lugar
em que liureniente podia dar Hiia emliai-
xada, que om tudo se lhe manteria bom
segredo, pollos que estauaij presentes se-
rem do seu conselho secreto, e pessoas
de que elle conriaua todos seus ncgoeio!*,
e fazenda.» Damião de Góes, Chronica
de D. Manoel, part. 1, cap. 4.
— O mais importante de tudo ; o mais
essencial do toilas as cousas. — «E fíca-
riaõ as náos d<i Reino sem terem porto,
nem escalla aonde fossem carregar, nen»
a pimenta que era o mais importante de
tudo, porque logo os Mouros a haviaõ
de haver toda pêra si, e passalla a Me-
ca, que era o quo ell''s muito pretendiari,
porque com a nossa entrada na ln<lia lhe
arrancamos das mãos aquello trato com
que todos vieraõ a empobrecer.» Diogo
de Couto, Década 6, liv. 8, cap. 2.
— Obedecer em tudo a aJgnem ; ser-
Iho obediente em todas as cousas. — «E
lhes pedia por mercê que o quisessem
aconselhar, e lho mandassem o que que-
rião que fizesse, porque elle estava nuiy-
to jirestes jiara lhes obedecer em tudo,
e outras palavras a este modo que sem
nenlium custo resultaõ ás vezes em muy-
to proveito.» Fernão Mendes Finto, Pe-
regrinações, cap. 67.
— ^4 tudo o que cumj/ria para alguma
cousa deu a ordem necessária ; deu as
providencias para todas a« cousas quo
era mister dal-as. — «Deixou por seus
testamenteiros dom Dioguo de sousa Ar-
cebispo de Braga, c dom Martinho de
castel-bi-anco oonde de villa noua de Por-
timão, com o corpo ficarem os prelados,
e religiosos que foram presentes a seu
falicimento, c dom Pedro de castro seu
veador da fazenda, que a tudo o que
compria pêra o enterramento deu a or-
dem necessária, até que o leuaram ao
mosteiro de Bethelem, que foi duas oras
ante manliã.» Damião de (iocs, Chroni-
ca de D. Manoel, part. 4, cap. 83.
— Tudo é òújn ; sem excepção de par-
tes.
— Ainda iião dissemos tudo ; ainda
não diss-ojios todo o necessário. — «Le-
vem, disse o terceiro, muito bacalháo,
muito vinho, azeite, e vinagre. Esperay :
ides vós lá f!\zor alguma colada, ou me-
renda? xVinda naõ dissemos tudo, acodio
o (juarto. Levem muitos soldados, fari-
nhas, trapari.os, c múniçoens, e isto bas-
ta. Aqui acoilio a loy Presidente, dando
hum grito.» Arte de furtar, cap. 29.
— Como tudo Jica dito já apontado ;
como todas as cousas acima se mencio-
naram. — «Pelo que el Rei mandou a
d<nn Francisco, que ileixasse esta forta-
leza, e fosso fazer a do Quiloa, como tu-
do fica dito Ja apontado. Pa- tido dom
Francisco, cl Rei niaudou fazer prestes
seis nãos, de que deu a capitania ao mes-
mo Poro danhaia. > DamiSo de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 2, cap. 9.
— Jiem i' fjue naiòaiuus tudo o (jue a$
leis perntiltini e praUibi-in ; heni é que
se saibam to i;w as cousas permittidaa
e prohibidas pelas leis, — «Bom he, que
saiba tudo, o que permittem, e também
o que prohilKMii ha leys verdadeiras da
guerra, que ordinariamente tiraõ a con-
servar o |)roprio, e destruir o alheyo, pa-
ra que com a potencia x\a.<S destrua o
contrario.» Arte de furtar, cap. 21.
— Tudo o deniaÍH. — « Cojeatar que
absolutamente gonernaua el Rei lhe res-
pondeo, que quanto a fortalcaa era escu-
sado falar nisso, p<>rque per nenhom mo-
do o auia el Rei de consentir, mas que
tudo o demai» que tocaua ao contrato
das pazes qne fezerSo com Afonso dalba-
querque, estauam prestes para cumprir,
e lhe dar logo os quinze mil xeratins.»
Damião de Góes, Chronica de D. Ma-
noel, part. 1, cap. lõ.
— Tudo está n'i»to, isto é o tudo do
negocio; o qne n'elle 6 essencial.
— Dar conta de tudo a alguém. — «E
pois assim he peço-vos que me digais a
qual destes rlireitos que estes pretensores
àlegáõ por si hei de obedecer, pêra que
ElRey de Portugal meu Senhor seja bem
servido, porque vos heido lançar a culpa
do erro se o houver, e a elle dareis con-
ta de tudo, porque en desejo de acertar
em seu serviço. » Diogo de Conto, Déca-
da 6, liv, 10, cap. 11.
— Farei ludo o qve quizerdes ; obede-
cerei a todas as vossas ordens.
Pastor, digo que daqui
Farei t»do que quizerdes;
E SC. mais quereis de mi.
Digo que TOS dou o si
Para tudo o que quizerdcs.
CAU., FILODBHO, act. 4, SC.
— Pôr tudo a ferro e fogo ; matar to-
das as pessoas, queimar tudo, destruir tu-
do.— Matar gente, potvlo tudo aferro e
fxfo. — «E Sfthidos do rio voltaram pêra
a encea-la de Cambava, e dalli at^ Siir-
rate foram damlo em todas as aldeãs, e
povoações qne acharam sobre o mar, em
que cativaram, e mat:iram muita pente,
pondo tudo a ferro, e f 'go, nito perdoan-
do a cousa alguma.» I>iogo de Conto,
Década 4, liv. 7, cap. 13.
— Ach<U'aú mi tudo; presenciar tudo.
QiiP vaporando está címtinunracntí
Hum cheiro suavíssima celí^te.
Ordenado p"- Vénus, que a Xaja rodas
Qaiâ alli presidir, o achacai en» ttulo.
Por lhos fazer fanor a Cipria bclla
Esparge sobre o leito c branda cama
Hum delffsdo rocio, e liquor l«ie
Que si^ pêra este etleito C'ipro cria.
coBir. X8AL, NACFSAGio MC s8r(n,vciu, oaat. 4.
— VoiUm tudo isto resistiram os grip-
TUDO
TUDO
TUFA
843
nadinos ; a todas estas cousas se oppo-
zeram. — «Homens de armas, 4Ò000. gi-
netes, e õOòOOO. infantes, e por mar com
30- galés, e òQ. Xavios; contra tudo is-
to resistirão os Granadinos. » Severim
de Faria, Noticias de Portugal, Diac. 2,
cap. 9.
— Loc. ADV.: íSoire tudo ; mormente,
sobre todas as cousas, principalmente,
mais que tudo.
Mas sobre tudo a côr do rosto muda
Á gente popular, vèr que não vinha
O Viso-Rei, que espera dar-lhe ajuda,
Nem d'outra parte algum soccorro tinha ;
Neni fortaleza algxima ha que lhe acuda
Co"o que a tamanbo aperto lhe convinha,
O qual o Capitão, bem previnido.
Por vczea ás visinhas tem pedido.
r. d'a.sdbadk, psui£[R0 cebco de Diu,cant. 17,
est. 40.
— «Porque nas outras eram os prega-
dores favorecidos, e amparados dos chris-
tàos, e perseguidos e martyrisados dos
gentios; e n'esta os gentios nos amam,
nos recebem, e nos veneram ; e os chris-
tãos, ainda religiosos e portuguezes, são
03 que nos perseguem e affrontam, e so-
bre tudo nos perturbam, e impedem o
exercício de nossos ministérios, e a con-
versão das almas, que é o que mais se
sente.» Padre António Vieira, Cartas,
n." 15.
— Com tudo ; não obstante, apesai' de,
todavia.
E com tudo se passar,
A falia quero mudar
Na sua de tal feição,
Que couces, e porfiar.
Lhe facão hoje assentar
Que sou Sosea, e elic não.
CAU., AltPHYIBIUES, aCt. 2, BC. 6.
O^ eu não sei entender
Tal caso, nem lhe acho fundo :
Com tudo venho a dizer,
Que ha tantos males no mundo.
Que tudo se pôde crer.
Se vos trouxer quem vos diga
Como esta noite dormi
Na não, crereis que he assi ?
iBtDEM, act. 3, SC. 5.
— «Bem vejo, disse o cavalleiro do
Castello, que quererdes deixai- de ir co-
migo ao cabo, não vos vem da pouca
confiança, que tereis de vós mesmo, pois
vossas obras o mostram ; e com tudo nào
sei quam bem contado me seria, antes
que de vossa pessoa saiba mais do que
agora sei, deixar de me experimentar
comvosco, té que um de nós sinta a me-
lhoria de seu contrario.» Francisco de
Moraes, Palmeirim dlnglaterra, cap. 127.
— a Dom Diuarte, ainda que Ibie pareceo
que já hia morto, com tudo apeou-se, e
achou com huma viveza no animo taõ
grande, como quando entrara na bata-
lha : mas o braço direito que o tinha qua-
si decepado, e Luma ferida na cabeça
que o cegava com sangue, lhe faziaõ naõ
fazer o que elle desejava.» Barros, Cla-
rimundo, iiv. 2, cap. 26. — «iCom ludo
co;uo a gente de guerra, e do mar he na-
turalmente .soberba, e brigosa, íiUi em
Corfú se armou huma briga entre os dar-
mada, e os soldados Venezeanos, e gen-
te da terra, em que matarão dos nossos
mais de setenta homens, e dos Venezea-
nos, e da terra muytos, e foi negocio, em
que pêra o apacificarem tiueraõ ho Con-
de, e o geral dos Ven'=;zear.os, e os go-
uernadores da terra muito trabalho.» Da-
mião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 1, cap. 52. — -«Com tudo a villa
foi cercada per aquella parte com duas
nãos grossas, outros nauios, em que hiam
Pêro dafonseea, Vicente dalbuquerque,
António raposo, Tristão de miranda, Gar-
cia de eousa, e loam gomez dalcunha
cheira dinheiro, indo por capitão de to-
dos Ayres da sylua.s Ibidem, part. 3,
cap. 2S. — «Mas com tudo mandou seus
Embaixadores, que foraõ D. Christovaõ
de Moura, que hoje he Marquez de Cas-
tel-Rodrigo, a dar a el Rei D. Henrique
o pezame da perda dei Rei D. Sebastião,
e os parabéns da nova intrancia do Rei-
no, e depois veio D. Pedro Giron Duque
de Ossuna para o informar da justiça, e
direito, com que pretendia o Reino.»
Frei Bernardo de Brito, Elogios dos reis
de Portugal, continuados por D. José
Barbosa. — «Com tudo ElRey D. João I.
começou a fortificar os portos de Lisboa,
e Setuval, fazendo no Tejo ao pè da Vil-
la de Almada a Torre Velha; porque uaõ
tivessem abrigo os inimigos daquella ban-
da, assim como o naõ tinhaõ da de Lis-
boa. » Severim de Faria, Noticias de Por-
tugal, Disc. 2, cap. 12. — «Com tudo
parece, que em Portugal seguirão o cos-
tume de Itália, como fizeraõ nos Marque-
ses ; e o que se pôde colligir nesta maté-
ria era, que hia o Conde com acompa-
r.hamento dos Fidalgos, Reys de Armas,
instrumentos músicos ao Paço.» Ibidem,
Disc. 3, cap. 25. — «Com tudo he de
notar que nestes dous preceptos não se
deffendem os primeiros mouimentos de
luaos desejos, que não estam em nossa
mão, quando a carne deseja alguma cou-
sa contra o spirito, pesandonos com isso,
não consintindo, mas antes resistindo a
elles com presteza e efiBcacia.» Fr. Bar-
tholomeu dos Martyres, Catecismo da
doutrina christã. — «Ainda que elle nem
mesmo sobre o azul, pôde fazei- brilhar
mais a vossa formosura; vejo com tudo
que -o empregaes em quasi todo o orna-
to.» Cavalleiro d'01iveira. Cartas, Iiv. 1,
n.° 11. — «Os successos das suas intelli-
gencias contribuirão efficazmente a mu-
dar a persuação em infalibilidade. Com
tudo ou fosse ra>ão, ou fosse escrúpulo,
■era muy reservada em-faser as suas pre-
diçoeus.» Ibidem, Iiv. 4, n.° 40. — «Mas
a contos de eSes, bem he que sò elles lhe
dem credito. Com tudo nào deyxey de
notar esta charidade indiscreta, vendo a
pouca que ha entre alguns Christàos, de
quem com razão poderá formar minhas
queyxas; mas porque fazello, será hir
fora de meu instituto; passarey auante,
cõ a magoa, que outros de meu habito tã
bem passão.» Frei Gaspar de S. Bernar-
dino, Itinerário da índia, cap. 11. —
«Era para cuidar, se convinha servir de
pessoas de grandes partes? Quando ellaa
fossem conhecidas, muito bom seria. Ve-
mos com tudo, que n'estas ha o maior pe-
rigo; porque a fortuna tem guerras apre-
goadas com a natureza: sempre uma des-
favorece a quem a outro favorece.» D.
Francisco Manoel de Mello, Carta de
guia de casados.
— Adv. Totalmente.
— Adágios e provérbios :
— Tudo se diz, e tudo se sabe.
— Tudo se quer com meios.
— Do bom tudo, e do ruim nada.
— Tudo ha mister arte, e o comer
vontade.
— Tudo é nada, senão trigo e cevada.
— Tudo tem seu tempo, e a arraia no
Advei.to.
— Tudo farei, casas de duas portas
o guardarei.
nã — Quem tudo quer vingar, cedo quer
acabar.
— Tudo é vento, se não ha rei, ou
prior em convento.
— Tudo enfada, só a variedade re-
creia.
— Tudo ha no mundo.
— Tudo pode o dinheiro.
— Tudo põe sobre si, isto ó, não tem
mais que o que veste.
— Tudo acaba, senão amar a Deus.
— Quem tudo dá, tudo nega.
— Quem faz tudo, não enche fuso.
f TUFADO, part. pass. de Tufar. In-
chado.
— Figuradamente: Tufados bosques.
Ondeão brandamente as louras messes,
Cobrem-se os montes de tufados bosques
Qu" o claro Sol vedando, eatornão sombras.
Descobre-se fecunda a Natureza,
E, cheia a Terra de thcsouros tantos.
Digno Templo apresenta ao Ser Eterno.
J. A. DE UACEDO, A NATUBEZA, Cant. 1.
A temperie do ar por vós se nutre ;
Trazeis, ou supprimis a chuva, e gelo,
E sacudindo as arvores tufadas,
Quanto podeis lhes sazonais os fructos.
Fazeis communs os bens doppostos Climas,
Tão grandes fins a Providencia teve.
IBIDEM, cant. 2.
TUFÃO, s. m. (Do grego typhm). Ven-
to furioso, que brevemente corre todos
os rumos, nos mares da China.
— Figuradamente : A grande tormen-
ta do mar, que elles produzem.
844
TIJI>I
TUME
TUMU
— Torrivel tormenta do vento.
— ■ Tufão em terra.
TUFAR, 0. a. Incliar o corpo com ar
rarotoito.
— Figuradamente: Jrar-so com so-
berba.
— Termo jioimlar. Inchar do soberba.
Vid. Rolão.
TUFO, n. in. (Do l.itim tiifus). Podra
levo esponjosa. Vid. Tofo.
— Jiolliào de ajíua, que rebenta e gor-
gulha groasa.
— Tufo de là; uma porç.aio d'ella
aberta.
— Na roujia, a parte relovatla e in-
chada.
— Instrumento de espingardeiro.
— O tufo do turbante; a parte d'elle
convexa e relevada.
TUFOSO, A, adj. Termo de cirurgia.
liieliado.
TUGIR, V. II. Termo popular. Não tu-
gir, liem mufjir; eaiar-se, não dizer nada.
TUGÚRIO, ». m. (Uo latim tugurium).
Choça, choupana.
Vj que é inciioâ i)'i-Í!;030 adorar Césai-es,
Km purpuriío spleiídor, no Capitólio,
(Jiii; em ("li/ii;a tal, sobre l^upiíias pelica
S:ibC'-los dsí prezar. De inAgoa dignos
Em Roma os vi. De alcáç.arcs fatistosos
Senhores ávidos, ânsia vão inda
Destas nossas dovezas os tn(/urios.
V. M. DO NASCIMENTO, 03 UABTYEE3, 1ÍV. 7.
TUIDARÀ DO BtlAZIL, s. /. Termo de
historia natiiral. Espoeio de coruja.
TUINS, *•. m. plur. Uns papagaios pe-
quenos do ]5razii.
TUITIVO, A, adj. (Do latim taeor). —
Cartas tuitivas ; cartas que se ilão a al-
guém para o conservar na posse, ou di-
reito, de que houvera de ser privado, em
virtude de sentença de que appellou, e
contra a qual pediu tuitiva.
— Que se dá ao exeommungado appel-
laute, para não ser preso, nem evitado,
em quauto segue a appellaçSo.
— S. f. Vid. Tuitivo.
TUJUCO, s. »i. Lameirão, tremedal de
mangue.
— Bandeira d'algodão tinta em tuju-
co ; a lama do mangue que tinge de ne-
gro os panno3 grosseiros de algodão com
o humu.s em que se desfaz a folha caídi-
ça dos mangues.
TUJUPAR, s. m. Termo do Brazil. Uma
pallioça dos uegros, ou indios coberta de
pindoba ou sapé, e talvez duas aguas,
que tocam no chão com tapameutus de
palha.
TULHA, s. /. O monte de p.ães e grãos,
castanhas, nozes, arroz, que está no eel-
leiro, em divisões, talvez. Vitl. Geileiro.
AUAOIO E 1»1U)VKKI!10 :
— Mais valem alimpailui'as da minha
eira, que o trigo da tulha alheia.
TULIPA, s. f. Termo de botânica. Flor
vulsrar.
TULIPEIRO, «. n. Termo do botânica.
Arviin:, ou planta oriunda da America
septentrional.
TULUXI, «. "1. Termo da Ásia. O man-
gcric.^o.
TUMBA, s. /. (Do grego lymbos). Pro-
priamente é tumulo, corrupção do latim
tamulus.
— Diz-se a caixa (jue se põe nas cças,
e a tumba j)ortatil coui coberta plana, ou
em volta de arca, em quo se conduz e
leva o morto. — t Partido el liei dom
Emanuel de bylves, logo na primeira jor-
nada se adiantou, deixando dom Cieorge
com o corpo <lel Rei seu pai, e toda a
outra companhia, e se veo alforrado á
Batalha, onde o estauam sperando os Pre-
lados, e senhores do regno, que iiam fo-
ram a Svlues, com os quaes, e com lodo-
los Religiosos do (Jonuento veo receber a
tumba hum bom pedaço fora do lugar a
pe.» Damião de Líoes, Chronica de D.
Mauoel, part. 1, cap. 45. — • Estes, en-
trando todos na Igreja, se prostrarão
diante da tumba, ou cayxa, aonde elle
estava, o o reverenciarão com muytas la-
grimas, e quando o 8ol começou a sair,
abalarão j)ara a Cidade, e uo caminho
estava Diogo Pereyra em hum batel cô
muyta gente; com tochas, e círios ace-
sos, que em o catur perpassando por ol-
les, se postraraò todos com os rostos no
chão.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 217. — «Vimos também muy-
tas embarcaçoens toldadas de dó, cò suas
tumbas, e tochas, o cirios, e molheres
que choraõ por dinheyro, para enterra-
rem a gente que morre quaò honrada-
mente cada hum quizer yr acompanhado
ou chorado.» Fernão Mendes Pinto, Pe-
regrinações, cap. 99.
TUMBADO, A, adj. Termo antiquado.
De forma de tumba, abaulado.
TUMBAQUE, s. m. Vid. Tambaque.
TUMBEIRO, s. «í. Homem que conduz
a tumba; o que leva oa mortos a enter-
rar.
TUMEGENCIA, «. /. Vid. Intumecencia.
TUMEFACÇÃO, s.f. (Do fraucez tuim-
faction). Tt-rmo de medicina. Augmeuto
de volume de uma parte. — Tumeíacção
das aiiiygdalas.
— Tumidez, tumescencia.
— Vid. Tumor, que differe.
TUMEFACTO, A, adj. Termo de medi-
cina, inchado.
TUMENTE, adj. 2 gen. (Do latim tu-
mensi. incaado.
TUMESCENCIA, s. /. Vid. Intumecen-
cia.
TUMESCENTE, part. ate. de Tumescer.
Vid. Tumente.
— Figurada e poeticamente ; Que se
empola, que se ensoberbece. — Alar tu-
mescente.
TUMESCER, V. II. (Do latim tuinesce-
re\. Inchar. Vid. Intumescer, e Extu-
mecer.
TUMIDEZ, *. f. O iara<;ter do que é
incuado.
— Inchat^o, Roberba.
— Figuradamente: A qualidade do quo
é soberbo, empolado.
TÚMIDO, A, adj. inchado.
— Orgulhoso, soberbo.
— i^icuradamcnte: (írosio.
TUMIFICAÇÃO, ». f. Vid. Tnmefac-
çào.
TUMILHO, *. Vi. Vid. Tomilho.
TUMOR, *. wi. (Do latim tujiiorj. Ter-
mo de patholot;ia. Tuda a eminência cir-
cumscripta de um certo volume desenvol-
vida n'uma parte qualquer do corpo.
— tumores pulsativos dos oisos; tumo-
res formados perto daH articulações com
desenvolvimento das artérias anastomoti-
eas (l'e»ta8 regiões, que fazem que o tu-
mor tomado em massa apresente batidoa
ou dilatações isocuronas com as do pulso.
— Tuunores sanguin*o» do pavilhão da
orelha nos alienados; affecçào irregular
que 80 produz com bastante frequência
nus alienados sob a forma de tumor Úa-
ctuante, tendo a sua sede na face exte-
rior do pavilhão da orelha.
— Vid. Tumefacçào.
TUMOROSO, A, adj. (De tumor, o o
Buffixo C03OJ. inchado, intumecido, com
tumor.
TUMULAR, V. a. Enterrar, lançar no
tumulo.
TUMULENCIA, s. f. Vid. Temulencia.
TUMULO, s. m. (Do latim tumulu*).
Armação alta sobre que se colloca o ataú-
de ou a tumba na egreja.
Astro amigo dos Vates, quantas vezes
A Seu doce clarào vílo, e medito,
Como velou nas margens do Tamisa
Õ Cantor triste, o Numcn da Elegia,
yuando iio escuro tumulo encerrava
Grai;as, bcileza, amor, troféos da morte.
J. X. DE 1I.ICED0, A NÁTUBBZl, Cant. 1.
Faz das Cidades tumulo* medonhos
Em vasto cemitério os campos muda,
A toda a parto Fúrias homicidHâ
Leva o monstro cruel, debalde ajunta
As t"ori,as suas d'Epidauro o Nome,
O mal contra os obstáculos conjura.
IBIDEM, caut. 2.
As vibrações da musica, as palavras
Não menos fortes, o logar, a liora.
A grinalda de rosas sobre o titmrUo.
l'or ventura ignoradas circumstoncias
<^ue ás sombras deste quadro dào relêro
Com mais fortidào u°alma, tudo a um tempo
No predisposto cérebro, do embate.
Violento abalo deu ao Lusitano.
OARBKTT, cmõcs, caut. 2, cap. 6.
Nenhum? Inteiro ao tumulo desceste.
Traga-ie o olvido todo. Erjrue obeliscos,
.\montoa pyramidoj : — embalde I
Livra o mármore s<5 do esquecimento.
iniDCM, cap. 12.
— Assento alto.
TUMU
TUNI
TURB
84Õ
— Figuradamente: O tumulo do occa-
so «scuro.
Do Occaso escuro ao tumulo descia
No fulgurante coche o Sol dourado ;
E, dando alento derradeiro ao dia,
Tinha debaixo d horizonte entrado :
Eis de improviso rebramar se ouvia
Xo mar já turvo o vento amotinado ;
E monstruosos peixes, que o talhavào,
Tristes presagios da tormenta davào.
j. A. DE MACBDO, O OBiEsiF., caut. 3, cst. 35.
— Syn. : Tumulo, cenotaphio. Vid. este
ultimo termo.
TUMULTO, s. m. (;Do latim tumultus).
Grande movimento acompanhado de ruí-
do e de desordem.
— Motim, alvoroço de gente levantada
contra os superiores. — «Huma quarta
feira treze dias do mez de Julho do anno
de 1544, sendo passada mais de meya
noite se levantou em todo o povo huma
tamanha revolta e união de repiques e
gritas, que parecia que se fundia a terra,
e acudindo nós todos a casa de Vasco Cal-
vo lhe perguntamos pela cau-a daquelie
tumulto, 6 elle cõ assaz de lagrimas, nos
disse, que avia nova certa de estar el Rej
da Tartaria sobre a cidade do Pequim,
cõ mais grosso poder de gente que ne-
nhum outro Key nunca ajuntara no mun-
do, desde o tempo de Adão até aquella
hora.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 117.
Baudur, veudo-se ja desaffroutado
Do soberbo Mogor. cruel e imigo,
Que o tivera até alli tão apertado
Que o fez dos Portuguezes ser amigo,
E vendo livre todo o seu estado
De guerras, de tumultos, de perigo,
De novo começou em ira inchar-se
O seu peito, e de mór ódio inflammar-se.
r. DE AKD&ADE, PEIMEIBO CEBCO DE DIC,Caut. 6,
eãt. 1^.
— o tumulto do mundo; a agitação
que produz o mundo.
— Timiulto das armas.
— Figuradamente : Perturbação inte-
rior. — O tumulto da alma.
— Entre os romanos, ataque súbito de
um povo inimigo.
— Em tumulto ; em confusão.
TUMULTUAR, l-. a. (Do latim tuimd-
tuare). Mover a estrondo.
— Abalar com estrondo.
— V. )!. Levantar-se, amotinar-se.
— Tumultuar os céus ; turbar-se com
nuvens cheias de matéria eléctrica, agi-
tadas com trovoadas.
— Figuradamente: Tumultuar as pai-
xões no coração contra a lei do Senhor;
rebe!lar-se e ievantar-se.
TUMULTUARIAMENTE, adv. [De tu-
multuario, e o suffixo «mentes). De um
modo tumultuario.
— Em motim, em tumulto.
— Figuradamente
confusão.
— Fallar tumultuariamente; fallar
atrapalhadamer.te.
TUMULTUARIO, A, adj. (Do latim tu-
multuarius, de tumultus). Que tem o ca-
racter de tumulto.
— Que tem o caracter de desordem,
e do acaso.
— Desordenado, perturbado.
Era vão, traço atalhar os Combatentes :
Que, o que antes éra arrojo tumultuario,
Disparou em batalha mui ferida,
Cujo clamor confuso se ia ás nuvens.
P. M. DO NASCIMEKTO, OS MABTTEES, 1ÍV. 10.
— Feito em tumulto.
TUMULTUOSAMENTE, adv. (De tumul-
tuoso, e o suffixo «mente»). Em tumulto.
— Sem ordem, sem disciplina, tumul-
tuariamente.
TUMULTUOSO, A, adj. (Do latim iu-
jnultuosus'. Cheio de tumulto.
— Figuradamente : Cheio de pertur-
bações interiores. — Os tormentos d' uma
paixão tumultuosa.
— Estação tumultuosa; o inverno.
TUMUROSO, A, adj. Vid. Tumoroso.
TUNA, s. f. — Aiidar á tima ; andar
vagabundeando, e como o tunante. Vid.
Entuua.
TUNAL, í. m. Termo de botânica. Uma
arvore do México; ligueira da Índia.
TUNANTE, s. m. Vagabundo, que an-
da vadiando e comendo o que pode, com
ardis e estratagemas.
— Que caça, que furta, que prêa.
TUNDA, s. /. Termo popular. Sova de
pancadas.
TUNDIA, s. f. Moeda asiática.
TUNDO, s. m. Prelado de bonzos do
Japão.
TUNE, s. 771. Termo de historia natu-
ral. Ave do reino de Angola de pennas
brancas e cinzentas, pequena em corpo,
mas festejada das outras aves, que aco-
dem em bandos quando a avistam.
TUNGA, s. f. Termo de historia na-
tural. Espécie de pulga do Brazil, que
se introduz por entre as unhas dos pés,
e produz grande damno; é conhecida
também pelo nome de bicho dos pés.
TUNGSTENO, s. m. Termo de chiml-
ca. Metal reductivel com difficuldade,
d'um pardo anegrado, mui duro, mui
pesado, descoberto em 1780 por Scheele.
f TUNGSTICO, A, adj. Termo de chi-
mica. Que se refere ao tungsteno ; que
contém tungsteno. — Acido timgstico.
f TUNGSTIDES, s. m. plur. Família
dos mineraes que^comprehende o tungs-
teno e suas combinações.
TÚNICA, s. f. (Do latim íuníca. Ves-
tidura talar chegada ao corpo e por bai-
xo da capa.
— Termo de anatomia. Pellicula que
Sem ordem, em 1 reveste certas partes do corpo dos ani-
maes.
Esporeada da ementa fome
A preza espia qu"a\-ida ataçalha.
Forrada a espádua traz de férrea escama,
Impenetrável túnica! Medonhas
Cavernas profundíssimas descobre
Se a fauce alarga, exercito cerrado
De agudas lanças lhe defende a bocca.
J. A. DE JIACEDO, A SATUBKZA, Cant. 3.
Não ! mas com a vil túnica d'escravo,
Ko triumpho de César.— Pouco resta
De minha árdua tarefa.
GAKBETT, C.iTÂO, aOt. 3, SC 6.
— Termo de botânica. Membrana de
espessura variável, que envolve qualquer
órgão.- — "Raiz escamosa, quando é guar-
necida de túnicas ou producções escamo-
sas quer estas sejaõ obtusas quer pontu-
das, ou imbricadas, ou distantes, ou fi-
nas e membranosas, ou cascos da consis-
tência da raiz, e hum tanto succulentos
{dentaria ptntaphyllos'}.» Félix Avellar
Brotero, Compendio de botânica, tom.
1, pag. 16.
TUNICELLA, s. f. Túnica do bispo, que
traz entre a alva, e a vestimenta ou ca-
sula.
• — • Termo pouco em uso. Túnica de
monge.'
TUNIQUETE, s. m. Pequena túnica.
TUNNEL, s. m. Subterrâneo que pas-
sa sob um rio, um caminho, etc.
— Applica-se agora a toda a passa-
gem praticada sobre a terra, atravez das
montanhas.
— Tunnel submarino; tunnel que pas-
sa sob um braço de mar.
TUPIDO. Vid. Entupido.
TUPUTA, s. /., ou TUPUTÚ, í. vk Ter-
mo de zoologia. Ave da índia, que traz
as entranhas, em vida, cheias de bichos
que lh'as roem.
TURAMÃO. Vid. Trugimão.
TURBA, í. /. Do latim turba). Multi-
dão de srente.
Deteuesc o pressago velho amante
Xa liquida jornada quatro dias,
Jlas a corte marítima cansando
Chega onde o grào Neptuno residia :
Abremsclhe as \-idradas, grandes portas
Do soberbo magnifico aposento
Entre o Carpathio vate rodeado
De gente popular, e nobre turba.
CORTE BEiL, NAUKBASIO DE SEPCXVEDA , Caut. 6.
Sahe a turba feroz, presumptuosa.
Mostrando a natural soberba em tudo.
Com várias sedas vai rica, c lustrosa.
Qual setim, qual brocado, qual veUudo,
Branco, amareUo. azul, e a cór de rosa,
E (juantas soube achar engenho e estudo,
E com tào vário arreio o sumptuoso
Dá espectáculo bello, e temeroso.
FUAUCisco d'a>'dbade, fbimeibo cebco de DfC,
cant. 13, est. 44.
846
TURB
Marcha a turha arrog;uitc ú fortaleza
l'or(|uo om toinil-la ja cuidii que tarda,
Voa niiacii qual ^o võ catão com í^rãa dedtrcza
(» curvo arco tratar, qual a espingarda:
Traz (Mta iilta arro}?ancia, o^ta bra.'oza
Neuliuin IA na cidade dentro aguarda
Voi ((ue alli da infiel Cambaia turra
Trouxe autca Alucão para esta guerra.
IBIDKM, est. 4tí.
K sobre ello caliiudo a roaz turba
Dos bairristas Caohorron, quo a namoraõ,
Entre as pernas niettendo a longa cauda,
(!orro, sem so deter, até quo clicga
Junto do seu Senlior, a cujas aba»
Seguro, c eouliado encrespa as vcntuH,
Contra oUcs se revira eutaõ rosnando
Lhes mostra os brancos, navalhadoB dentes.
DINIZ Di CttUZ, IIY330PE, Caut. G.
— «Torra» echoa confusa vozeria
Da uiaritima turba: Oh ! voz querida,
Uoce aurora do goso e de cspcran(;.a
Ao cora(;ào do nauta infraquecido.
Do alquebrado sequioso passageiro,
Que a esposa, os filho-f, ou talvez a amante,
N'easa voz doce o grata lho alvejaram.
OAKKiiTT, CAMÕES, cant. 1, cap. 4.
— União de vozes no.s coros, quando
se unem todos a cantar.
— Piar. A populaça. Vid. Turma.
TURBAÇÃO, s. /. {Do latira turbatio).
Rovoluçào que turba.
— Fi£;aradamente : Perturbação, des-
as.soccRO dl) animo. Vid. Torvação.
TURBADAMENTE, adv. (Oe turbado, e
o sullixo «mente»). Coiu turbação, coui
desassocepfo.
TURBADO, imrt. pass. de Turbar. Per-
turbailo, desordenado.
— Viutu turbada; que distingue mal
os objectos.
— Turbado o ar, o mar em tormenta.
TURBADOR, A, s. e adj. Perturbador,
quo perturba.
— Aniotiiiador.
TURBAMULTA, s. /. Multidão. — «E
tocando huiu sino, toda a turbamulta
destes nduistros, e frente de guarda <lava
hunui tamanha grita que. era cousa uie-
donba de ouvir, e luuyto para tomer.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações,
cap. 151.
— Ajuntamento tumultuoso.
TURBANTE, s. in. A touca, trunfa que
03 orientaes e mouros trazem na cabeça.
TURRÃO, s. in. Vid. Turbante.
TURBAR, ou TURVAR, v. a. (Do la-
tim turliiiru). Escurecer, tirar a transpa-
rência, tornar torvo.
— Altci-ar, perturbai*.
— Interromper.
— Turbar o ceu, o ar; tornal-o escu-
ro com nuvens, chuveiro.
— Turbar-se, i'. rejl. Perturbar-sc, ha-
ver-se como aquelle que tem o animo
turbado.
— Figuradamente : Equivocar-se, con-
fundir-so.
TURBATIVO, A, adj. Que turba, que
commette força.
TURB
— Acto turbativo ; acto que perturba
a posse, em que outro está.
TÚRBIDO, A, wJj. {Dijlnúm turòidua).
Que impiiuta, que perturba.
Da Terra ubrazoada aos ares sobem
(trossos vapores lurhidon. no seio
Da horrcuda tempestade os germes levão.
Mais, c mais se condensào, foge o dia.
J. A. DE MACHDO, A KATUUBZA, Caut. 1.
O festival clamor, doce alegria
Os túrbidos cuidados afugenta.
Descora o rosto fulgido, c desmaia.
Em permanente eclipse 8'o.scondêra,
E a sombra universal do nada antigo
Sobre o nosso Planeta cm fim cahira,
Se omnipotente Mão, que rcgií o Mundo,
Não dissipasse os túrbidos vapores.
Ou vúo sombrio, que lhe afuma o rosto.
A sempre leda mocidade caloa
No fervente lagar purpúreos cachos
(Vedado asylo aos tnrbidon ))czares.
Acostumados a velar nas plumas).
A vista espavorida era grossas ondas
Descobre rios do betume acceso,"
E pelas ondas tuHndax aboia
Enxofre csbrazeado, que devora
Em torno os largos Campos cultivados.
IBIDEM, caut. 2.
Tanto no Cora(;ào domina o Crime,
Quu mesma Luz da Natureza otiusca
('om seus pesados, túrbidos vapores ;
A audácia dos inortaes «escuda, « arma
Também co'a fori^ indómita do fogo.
^'è com que magcstadc o mar recebo
Dos rios pcreuuaes constante feudo,
Nas suas ondas túrbidas se lam,'ào,
Nellas lhe e.xpira a gloria, o nome expira
O Pátrio Tejo, que volvera o fulvo
Metal, Tirauuo, o Déspota do Muudo.
luiDUii, caut. 3.
Outra o senado, os tiirliidos comicios;
Jauiaiâ euiquanto líouia foi... romana.
A Grncia, donde houvemos u'outro tempo
Leis de ouro — a Grécia escrava e corrompida
Ja não tom Aristogitons. Harmodioa
Para Hipparcos romanos, ueui Deuioathcnes
Para nossos Philippes.
OAUBKTI, CATÂO, act. 3, SC. 1.
— Escuro, turbado.
sem luzes.
■ Estrella túrbida
Mas que delírio ! lie Sol mais rico, e farto
De luzes, que esse Sol, que a Terra aclara,
K que visto de cá, parece apenas
Sem fogo, EstroUa túrbida sem luzes.
Sem quadriga, sem rápidos Ethontcs,
Quaes tú da Terra vés no espai;o as outras.
J. A. DK MAOKDO, A NATUUKZA, CaUt. 1.
TURBILHÃO, í. m. (Do francez turòil-
TURC
loa). Termo de ]>hiloaopUia. Ma<«8adc ar,
ou matéria subtil, que se revolve «obre
um centro, na hypotueãc de Descartes.
Attcnde ao que medito onvolto deutro
Do turbilhão dos lúcidos PlauoUui,
Donde atrevido indagador alongo
Sobre eBpa<^os iucoguitos a vista.
J. Á. DK MACKDO, & NAIUKISZA, Cftut. \.
Qu' cm nosso Turbillulo se agita Urano,
Nào seja o Astro que »e diz Cometa V
— Figuradamente: Tudo o que nos ar-
rasta comsigo.
— Redemoinho d« vento.
TURBILHOS, i-. )/i. plur. Género de
molluseos <;asteropodo8 testaceos.
TURBINADO, A, ndj. (Do latim turbi-
natas). Torcido em espirai.
— Em fi>rma de peilo.
— Osso turbinado ; osso dos que se
compõem os i.arizes.
TURBINOSO, A, aõj.- Que se volve em
redor como a agua de nm sorvedouro.
TURBIT, ou TURBITH, «. m. Termo
de pharmacia. Raiz medicinal.
— Raiz da planta thajjsia.
— Turbit mineral; azougue dissolvido
em óleo de vitriolo.
TURBO, A, adj. Vid. Turvo.
TURBULÊNCIA, s. f. (Do latim turbu-
leiUia, de tarbuUntas). Caracter, defeito
do que é turbulento. — Esta crtanqa é
d'uina turbulência ituiupportavel.
— Espirito de perturbaçào.
— Perturbação do estado com sedições,
tuDUiltos, guerras, etc.
TURBULENTÍSSIMO, A, adj. superl. de
Turbulento. Mui turbulento. — Turbu-
lentíssimo ra/jaz.
TURBULENTO, A, adj. (Do latim tur-
bulerttus:). Propenso a fazer barulho.
— Que se regosija na desonlem, na
perturbação. — Espíritos turbulentos.
— Que tem o caracter de perturbação,
de tumulto.
— CoiL-^elho, louvores turbulentos ; que
dá a turbamulta em desordem.
— Poeticamente, diz-se da perturbaçSo
dos elementos.
TURCHIMAN, ou TURCIMÃO, s. m. Vid.
Trugimão, e Dragomano, ou Drogmano.
1.) TURCO, A, adj. e *. Da Turquia,
natural da Turquia. — «Assi também o
mudarão a Scnatir, chamàdolhe Mesopo-
tâmia, por estar ei.tre agoas. Depois os
Chaldeos lhe chamar.ão a Chaldea, e ho-
je os Turcos que nella morào, lhe cha-
mão Diarbech, e à Cidade líag<iat.» Fr.
Gaspar de S. Bernardino, Itinerário da
índia, cap. 18. — «Alie Soltào como es-
teve ame o Turco, vendo que lhe fazia
acatamento como ao Xeque I>mael. que
elle cuidou que era, disse-lhe : Quem cui-
das tu, senhor, (^tie teu* ante tif Ao que o
Turco responde© : Ao Xeque Ismael, cuja
TUKC
TURG
TTTRQ
847
soberba, e doiidice está debaixo de meu
poder. « Barros, Década 2, Hv. 10, cap. 6.
— «ííeste tempo se fazia prestes o Visor-
rey dom Garcia de Noronha para yr so-
correr a fortaleza de Diu, da qual tinha
recado que estava em grande aperto,
pelo cerco que lhe tinhão posto os Tur-
cos, para o qual ajuntou então huma as-
saz grossa e fermosa armada.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 12.
Não 30 acaba com isto esta contenda.
Faz que de novo o Turco c o Christào gema,
Porque o Turco nào quer que hoje se renda
A sua insígnia á Cruz, que ello blasfema.
E Pires também quer que o Turco entenda
Que esta he a rasào que só se exalce e tema,
E três ou quatro vezes foi no ar visto
Ora o pendão do Turco, ora o de Christo.
F. D'Ain3BADE, PBIMEIEO CERCO DE Dir,Cant. 15,
est. 7.
Mas o Grouveia, a quem era sujeita
Do baluai-tc da barra a governança,
De IA contra as galés faz ir direita
A fúria que o cruel seu canhão liinça :
Esta mais que a dos Turcos aproveita,
Que alguns despedaçou, que então alcança,
E deaapparelhando dous Tiavios
Faz todos affastar de temor frios.
iBiDEji, cant. 191 est. 4í; .
Não tanto porque ao Mouro maltratasse .
Quanto por lhe encubrir quão fraco estava.
Porque elle se o sentir nào intentasse
Dar fitú a isto a que o Turco o então dava ;
E para que esta gente derrubasse
Aquellcs bastiões que lá na cava.
De trincheiras assaz fortificados.
Os Tuicos antes tinhão situados.
IBIDEM, cant. 20, est. 56.
— Tonia-se por musulmano.
— -Herva tarca. Vid. Hemiaria.
— Pombos turcos ; pombos afogados, e
guisados de certo modo.
— O turco ; a lingria turca.
— O grão turco; o imperador da Tur-
quia.— «Floriano, inda que da batalha
ficasse cançado, foi-se aute Targiana, on-
de postos de giolhos pêra ante o gram
turco seu pai, disse: Senhora, eu sou
um cavalleiro estranho, a quem os desas-
tres da fortuna per desastre nesta ter-
ra lançaram.» Francisco de Moraes, Pal-
meirim d'Inglaíerra, cap. 80. — «O gram
turco quizyra por algumas vezes man-
dal-os affastar, pesando-lhe yêr morrer
Auderramete. Targiana lhe pediu que o
não fizesse, pois ella segurava o campo.»
Ibidem, cap. 80. — «Floriano o saiu a
receber, desejoso de naquelle encontro
parecer bem a Targiana. E com esta von-
tade o acertou também, que deu com o
mouro por cima das ancas do cavallo,
sem elle fazer maás que quebrar a sua em
pedaços, de que ao grani turco pesou,
e a Targiana rào. » Ibidem. ^- «Em os
quies fuy agasalhado per hum Ai-meuio
nella morador, que me buscou hum Chris-
tão que me alugou huma besta : e logo
me parti em companhia de hum almoxa-
rife do gram Turco, que andava reco-
lhendo dinheiro por aquellas comarcas,
e trazia sete ou oyto espingardelros con-
sigo, por causa dos ladròis quo naquelle
caminho ha miiytos.» Fr. í^aspar da Cruz,
Tratado das cousas da China, cap. 53.
— Loc. ADV. : A turca ; :í maneira
dos turcos.
2.) TURCO, s. 771. Termo de marinha.
Apparelho mettido na serviola junto do
beque para erguer as ancoras. — «Ma^
isto nam socedeo a vontade, porque ain-
da que o galeão, e nãos ardessem ate as
cobertas, nem por isso sesqueceraS hos
turcos da artelharia, pelo que dous chris-
tãos dos que fogira\n de luda, a quem se
o negocio encommendou, o nam podaram
fazer, com irem a isso desafiados pelas
grandes promessas que lhe Lopo soarez
fez.» Damião de Góes, Chroníca de D.
Manoel, part. 4, cap. 13.
— • Madeiros assentes sobre a borda do
navio, encostados ao pau das perchas, e
cujos extremos .salientes ao costado tem
dous ou três gornes, onde se gorne o ap-
parelho que serve de içar as ancoras,
afastando-as do costado.
TURCOL, s. m. Termo da Ásia. Con-
vento.
TURGOMANIA, s. /. Mania de admirar
03 turcos, os seus usos, costumes, e mo-
dos.
TURFA, í. /. Termo de mineralogia.
Terra betuminosa, ou substancia com-
bustível mineral, ou vegetal, de que ha
varias espécies : a turfa rias alagôas, a
turfa pyritosa, e a turfa marinha.
TURFOSO, A, adj. Termo de minera-
logia e de botânica. Que é concernente á
turfa.
TURGENCIA, s. /. Termo de medici-
na. Inchação dos vasos cheios de humo-
res, de matéria viciosa.
— Turgencia d.os tubérculos, e vasos
seminaes; que ás vezes degenera em gra-
ve enfermi'la<le.
TURGENTE, adj. 2 gen. (Do latim tur-
gens). Termo de medicina. Em que ha
turgencia.
— Que produz turgencia.
TURC-ESCENTE, adj. 2 gen. (Do latim
turgescere). Termo de physiologia e de
pathologia. Que incha por uma super-
abundância de fluidos, fallando de um
tecido, de um orgâo.
— Inchado, túrgido, intumescido. Vid.
Turgente.
— Que causa turgencia.
TURGIDEZ, s. /.Estado da cousa túr-
gida, qualidade do que é túrgido.
TÚRGIDO, A, a-lj. (Do latim turgidus).
Em que ha turgencia.
— Inchado.
— Termo de poesia. Túmido, empola-
do. — Esti/lo túrgido.
TURGIBJLÃO, s. m. Vid. Turchiman.
TURIAS, s. /. Pannos de algodão ver-
melhos, oriundos de Cambaia.
TURIBIOS. Vid. Toribios.
TURIBULO, .«. m. Vi.l. Thuribulo.
TURIFEKO, A, adj. Vid. Thurifero. •
TURIONDO. Vid. Touriondo.
1.) TURMA, s. /. (Do latim turma).
Na milícia romana, era esquadra de 30
de cavallo.
— Multidão em bando.
Dita nos foi. não dar-mos, na Caçada,
Com turmas de táes Bárbaros, migrantes ;
Só dêmos, com famílias vaga,s, rústicas,
A cuja vista, os Francos são polidos.
F. U. DO NASCIMENTO, OS M.lItTTSÍES, 1ÍV. 7.
— Numero certo de estudantes que fa-
zem exame no mesmo acto, e junta-
mente.
— Figuradamente : As turmas do vi-
cio.
— Turmas das coutadas ; animaes do
serviço dos officiaes d'eilas.
— Vid. Turba, que differe.
2.) TURMA, s. /. Moeda de certas par-
tes da índia; cinco mil turmas de prata
tem o valor de 6:000 cruzados.
TURNARIAMENTE, adv. Por turno,
pela vez que a cada um toca.
TURNO, s. 7)i. (Do francez tour). O
gyro, vez em qu-e cabe a alguém fazer
alguma cousa, revezando-se com outros.
— Por seu turno ; por sua vez, no
gyro, alternadamente, a revezes. ■
" TURPILOQUIO, s. m. (Do latim turpi^
loquiuíii). Conversação, pratica torpe,
obscena. -
— Expressão sórdida.
TURPISSIMAMENTE, adv. superl. dè
Torpemente.
TORPÍSSIMO, A, adj. superl. de Tor-
pe. Yv\. Torpissimo.
TURQUESCÀ, s. f. Vid. Turqueza.
TURQUESCO, A, adj. e s. De turco.
— Co.icernente a turco.
Ja recolhidos todos aos usados
Aposentos, estando em sumptuoso
Magnifico banquete, os dous amantes
E outros graues varões de conta, e nome
Entrão na snlla doze disfraçados
Nobres mancebos ricos, e custosos,
Com cabayas tnrqtLescas de amare'io
Veludo, e gnai-nições de ouro, e encarnado.
COKTF. nE.tL, NACFKAGIO DE SEPCLVT.DA, Cant. 4.
— Bigodes á turqnesca ; bigodes á
moda dos turcos. — oEl-Rey seria de
idade de quarenta annos, de estatura
comprida, e de poucas carne.s, e bem
assombrado, tinha a barba curta, e com
bigodes á Turquesca, os olhos algum tan-
to achinados, de aspeito severo e grave.»
Fernão Meadas Pinto, Peregrinações,
cap. 122.
TURQUETI. Vid. Turbií.
TURQUEZA, s. f. Pedia fina azul.
848
TURV
TUTE
TYMP
TURQUEZADO, A, afij. Da côr da tur-
quezM.
t TURQUEZCA. Virl. Turquesca. —
«]\(', corcailíi cutii trcs luurus, <iue sufi o
Roxo, (Jcceaiio, Austral, i; Pérsico; del-
ia foy natural o porlido Mafoma, como
dizem 03 Mouros, o Viceuto Roca em sua
historia Turquezca. Nella uancerão .S.
O08U10, o S. Jíaniiruj o uella a parto ilo
Oriento, tem el Rey nosso Senhor a sua
Fortaleza do Mascate.» Frei (iaspar do
S. Bernardino, Itinerário da índia, capi-
tulo 10.
TURQUI, adj. Azul muito claro, e
iiiio.
TURRA, s. /. Termo popular. Dispu-
ta, teima emperrada, e com paix<ão.
— iMarrada com a cabeça.
1.) TURRÃO, s. m. Espécie de confei-
tos.
2.) TURRÃO, ONA, aJj. e «. Termo
popular. Tórij'o, teimoso.
TURRADO, part. pass. do Turrar.
TURRAR, t!. n. Marrar com a cabeça.
— Fiíjuradamente : Teimar com pai-
xão, (ísturro, calor.
TURRIFRAGO, A, adj. Termo de poe-
sia. Ariiiinador de torres.
TURRIGERO, A, adj. (Do latim turri-
(]cr). Termo do poesia. Encastellado, que
leva torre.
TURRISTA, «. 2 gen. Termo popular.
Pessoa (pie é pertinaz, obstinada.
TURTUEIRAL. Vid. Tortual.
TURTURINO, A, adj. (Do latim tnr-
tur). De pomba, rola.
TURUMRANTE. Vid. Turbante.
TURVAÇÃO, s. /. Vid. Torvação.
TURVAR. Vid." Turbar, o Torvar. —
« Que fíKiria vos p(')de iicar do iimito,
que hoje fizestes, se logo quereis turvar
o merecimento de tamanha obra com fa-
zer forças a uma fraca donzella, destruir-
Ihe sua honra, roubar-lhe sua fama, cou-
sa que cm pequeno momento podeis des-
truir, e depois em largo tempo lho nào
podeis tornar? Certo vós, quo as defen-
deis dos outros, as devieis guardar de
vós, pêra quo vossas cousas tivessem lou-
vor no mundo e merecimento ante Deos.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, ca]). 148.
TURVEJAR. Vid. Torvar, e Turbar.
TURVO, A, adj. Nào transparente, es-
curo, sujo.
Mas o desejo audaj;, o o louco orgulho,
O torna rio impetuoso, e bravo ;
Soberbo, ufano vai d'agua nào sua ;
VÁS 80, despenha qual torrente Alpina,
Os campos cobro tnrvo, e furioso,
Comsifio lova o gado, c leva os troncos,
Lova o Pastor, e a mis^ra choupana.
Té que cesse do ar chuva fecunda,
K, serenado o Coo, primeiro orgulho
EntJo depõe, deixando a marge enkuta.
j. X. DP. MAcuno, viAOKu EXTATiP.v, cant. 2.
!•'. largo, c fundo, o procelloso, c turvo
Como assombrada vês, volyem-so oudadas
Nos altos t('>pc8 flamiDulas ligciraB
Do vclivolas NAoií, mais denso hum boaquo
.14 vf'S de perto, na ferrada proa
.Jaz mal Hep;uro o dc8Ci'irado medo
Do Mercador avaro : om tanto objecto
Os teus olhos attouitos se perdem.
IDEM, A NATUBKZA, Cant. 1.
So turra exhalação dos ermos campos
Da barbara Tartaria, hb das quentes
Soltas áreas do staguante Nilo.
iniDEu, cant. 2.
Por elle aboião maia nas ondas frias
Os soberbos baixeis pejados darmas,
CJu' arfando sabem das boccas do Tamisa
A colher n'Oriento Ínclitas palmas.
Ou I.,onros immortaes (qu' honra!) molhados
Nas turvas agoas do tremente Nilo.
iBiDKM, cant. 3.
— Nublado, escuro.
— Túrbido.
TUSCANO, A, adj. e s. Que é da Tos-
cana.
TUSSILAGEM, s. f. Horva, vulgarmen-
te conhecida pelo nomo de un/ia de ca-
vai !o.
TUSSIR, i'. n. Vid. Tossir.
TUTANAGA, s. f. Estauho mais fino
que o caluím.
TUTANO, s. 7)1. A medulla pingue do3
ossos grandes do boi, etc.
— Figuradamente: O tutano, e espirito
da lei; diz-se em opposiyào a ossada, e
lettra.
— Figuradamente : O miolo, o mais
recôndito, o melhor.
TUTÃO, s. m. Na Ásia, governador do
provinda.
TUTE. — A tute ; em abundância.
TUTELA, ». /. i^Do latim tutela). Tu-
toria.
— Auctoridade dada, segundo a lei,
para o eíFeito de cuidar da pessoa e dos
bens de menor, ou de um iuterdicto. —
«Dcbayxo da tutela, e eniparo de Abdol-
talif, irmão do i'ay, c de sua ama Heli-
ma, em cuja casa esteue ate idade de
doze annos; e dando nestes poucos, mos-
tras de sou engenho, e abilidado, enten-
deo o tio irmão da mPiv em doctrinalo
na arte magica, c ceremonias ludaycas:
sem consentir aprendesse a lêr, ou escre-
uer: o que fez por ao diàte menos co-
nhecer pelas letras seus enganos, e tor-
pezas.» Frei (laspar de S. Bernardino,
Itinerário da índia, cap. 20.
— Tutela h.gitiina; tutela que o tutor
tem pela lei testamentária; que confere
o pao ou a niàe, ou avô do orphào por
seu test.aniento.
— Tutela dativa; tutela dada pelo
juiz dos orphãos.
— Figur.idaniente: Protec.ção, amparo.
1.) TUTELAR, r. a. (iovernar, prote-
ger, defender como tutor.
•2.) TUTELAR, adj. 2 yen. (Do latim
tttt-elaris). Que defendo, protege^
— Pretor tutelar; pretor que confir-
mava os tutores em Roma.
TUTENAGA, s. f. Vid. TuUnaga.
TUTIA, «. /. A felugem (jui; ut levanta
na fundição do cobre, e bronze, da uiiua
do zinco denominada caLamina: empre-
ga-8<) na pharmacia.
TUTINtGRA, t. f. Vid. Toutinegra,
TUTISSIMO, wlj. m. Termo de phar-
macia. Laudaiiij tutissimo; extracto da
triaga obtido com esjiiiito de vinho.
TUTO, A, adj. íDo latim tutut). Se-
guro, firme.
— Tuto acccsso; carta de seguro geral.
TUTOR, A, s. (Do latim tulorj. Pessoa
encarregada d 'unia tutela.
— Tutor ojjiciíjfo; tutor encarregado
de tutela oíTiciosa.
— Figuradaniente : Não ter necessidade
de tutor; diz-se do um homem que sabe
goveruar-se e conduzir-se.
— Pessoa quo protege.
— Tutor legitimo; tutor dado pela lei.
— Tutor testamentario ; tutor nomeado
pelo testador.
— Tutor dativo; tutor. dado pelo juiz
competente.
TUTORAR, ou TUTOREAR, r. a. Termo
pouco em uso, c figurado. Dirigir, gover-
nar como a pupillo, e inferior em capaci-
dade.
TUTORIA, *. /. O cargo de tutor, tu-
tela.
— A administração como tutor, o po-
der do tutor.
TUTRIZ, s. /. (Do latim tutrix). Vid.
Tutora.
TUTU, *. m. Coco, medo que se faz ás
creanças.
— Fazer tun tutu ; fazer mo^o vEo.
TUTUNAGA, s. ./'. Vid. Tutanaga.
TUZÃO, «. m. (Do francez toison). Or-
dem militar, cujos cavalleiros trazem por
insignia o vello de um conleiro de ouro
pendente de um coUar. Vid. Tosão.
TYGRE, s. m. Vid. Tigre.
Outras vão por caminhos solitário»
Por montanhas esquinas c confusas
Outras vcíos descendo a fundos valles,
A cada pasfK) espcrão brauos T;/^^f,
E soberbos LeOca que as duras vnhas
Rompendo lhes a earne, em sangue banhem.
COBTB BSÍ.L., KAUFKAOIO DB SBrCLTBDA, CaUt. 16.
• TYLARO, s. Hl. Termo de zoologia.
P;u-te denudada, nos dedoa e uo calca-
nhar dos mammiferos.
— Óalioncia quo firma, em cada arti-
culação, a parte inferior dos dedos das
aves.
f TYLOMA, í. "1. Termo de medici-
na. Callosidade da epiderme, ou callosi-
dade em geriU.
7 TYLOSE, s. /. Termo de medicina.
Callo nos iKS, olho de pega, de perdiz.
TYMO, í. '.,. Vid. Thymo.
t TYMPANAL, adj. 2 gcn.— Osso tym-
paual.
TYPH
TYPO
TYEA
•849
— S. in. Termo de anatomia. Oí?so em
forma de annel ou de tubo, no qual se
estende a membrana do tvmpano, inse-
rida n'uma cavidade que elle apresenta na
parte interna.
f TYMPANIGO, A, adj. Que diz res-
peito ao tvmpano.
— Termo de anatomia. Que diz res-
peito A cavidade do tvmpano.
— Termo de medicina. Som tympa-
nico ; som simiihante ao do tambor.
TYMPANILHO, s. m. Termo de impres-
sor. Peça do prelo, que segura as frisas;
é uma espécie de caixilho que entra no
tympauo, e em que assenta a branqueta.
' -j- TYMP ANISADO, part. pass. de Tym-
panisar.
TYMPANISAR, ou TYMPANIZAR, v. a.
Termo de medicina. Causar a tympani-
tes.
— Tympanisar-se, v. refl. Ficar tym-
panitico.
TYMPANITICO, A, adj. Doente da tym-
panites.
— Concernente á tvmpanites.
TYMPANITES, s. f. (Do latim tympa-
nites). Termo de medicina. Inchação do
baixo ventre causada de flatos, ou ven-
tos detidos n'elie.
TYMPANITIS, s. f. Vid. Tympanites.
TYMPANO, s. 771. (Do grego tympanon).
Termo de anatomia. Cavidade de forma
irregular encravada na base do rochedo,
forrada por uma membrana mucosa, com-
municaudo pela pharynge, pela trompa
de Eustachio, e constituindo o ouvido
médio.
— • Membrana do tympano; membrana
estendida entre o ouvido médio e o ou-
vido externo.
— Termo de impressão. Peça do prelo
aonde so coUoca a folha para impritoir e
registrar. Vid. Tympanilho.
TYPHEO, A, adj. Pertencente ao gi-
gante Typheo.
— As armas typheas ; os raios de Jú-
piter com que elle venceu o gigante Ty-
pheo.
f TYPHICO, A, adj. Termo de medi-
cina. Que é relativo ao typho.
— Matéria typhica ; substancia de um
branco ou de um pardo amarellado.
— S. m. — Um typhico ; um doente de
typho.
■f TYPHLITE, s. /. Termo de medici-
na. Intlammaçào do ceco.
-{• TYPHLO-blCLIDITE, s. /. Termo de
medicina. Inflammação da válvula ileo-
cecal.
-}■ TYPHLOGRAPHO, 8. m. Instrumento
que pcrmitte aos cegos escrever.
l.;i TYPHO, s. 7)i. Termo de medicina.
Vid. Typhus.
2.) TYPHO, s. m. (Do grego typhos).
Orgullio. vai lade, presumpcào.
f TYPHOEMIA, s. /. Termo de medi-
cina. Alteração do sangue pelas substan-
cias ou miasmas pútridos.
VOL. T.— 107.
TYPHOIDEO, A, adj. (Do grego typhô.
d-ês). Termo de medicina. Qne tem os
caracteres do typho. — Febre typhoidea.
— Affecçõès typhoideas ; diversas doen-
ças agudas no cur^^o das quaes se obser-
vam muitas vezes um conjuncto de phe-
nomenos geraes, que tem a maior simi-
lha'iça com os do tvpho.
TYPHOMANIA, s./. (Do grego typhos,
e nuiiiia). Delivio no typho, mania con-
secutiva ao tvpho.
TYPHOMANIAGO, A, adj. Termo de
medicina. Atacado de typhomania, dê de-
lírio com estupor.
TYPHUS, s. m. (Do grego typhos). Ter-
mo de medicina. Febre continua e con-
tagiosa, que nasce do embaraço dos ho-
mens nas prisões, nos hospitaes, navios,
etc, e que apresenta uma perturbação do
systema nsrvoso, um estado mórbido das
membranas mucosas, e quaei sempre uma
erupção petechial.
— Typhus abdominal ; nome que os al-
lemães dão á febre typhoidea.
— Typhus abortivo; doença que tem
certas relações com a febre typhoidea.
— Typhus icterode, typhus dos trópi-
cos, typhus da America; nomes dados á
febre amarelia.
— Typhus do Oriente ; a peste.
— Termo de veterinária. Doença da
espécie bovina eminentemente contagiosa,
que apresenta os caracteres da phlegma-
sia, com os signaes de envenenamento
miasmatico.
TYPICO, A, adj. (Do grego typikos).
Termo de historia natural. Caracteres ty-
picos ; aquelles que só convém á maio-
ria dos corpos comprehendidos n'um gru-
po, ou aquelles que occupam o centro
d'este grupo, e lhe servem de algum mo-
do de typo.
— Symbolico, allegorico, emblemá-
tico.
TYPO, s. m. (Do grego typos). Modelo,
original.
— Termo de mineralogia. Typo crys-
tallino; a reunião de crystaes cujos sys-
tenias d'eixo são similhantes, e nos quaes
as formas primitivas são análogas, ainda
que podendo diíferir pelo valor dos ân-
gulos.
— Termo de chimica. Typos chimicos;
systema ou conjunto de moleeults hetero-
géneas, em que uma ou mais moléculas
podem ser substituídas por outras, sem
que se perturbe a natureza chimica do
systema total.
— Combinações pertencentes ao mes-
mo typo chimico; combinações que en-
cerrara o mesmo numero d'atomos, etc,
o euja« propriedades chimicas fundamen-
taes são as mesmaS.
— Termo de botânica. Diz-se qvie um
generO dé plantas serve de typo a uma
familia, quando contém o nãaior numero
de caracteres communs aos outros géne-
ros da filésma família : assim o geneiro
ortiga serve de typo á família das urti-
ceas.
■ — Tormo de zoologia. Uma das três
divisões primarias de reino animal.
— Reu; ião dos caracteres distinctivos
de uma raça. — O typo europeu.
— Caracter, retrato original.
— Symbolo, emblema.
— Particularmente : Diz-se do que^ no
Antigo Testamento, é olhado como a fi-
gura do Xovo Testamento,
— Figura symbolica impressa sobre
uma medalha. — O typo d'esta medalha
ê uma Esperança.
— Teruio de astronomia. Descripção
graphíca. — O typo dos eclipses é d' um
grande soccorro.
— Termo de medicina. Ordem em que
se mostram e se succedem os symptomas
d'uma doença ; é continua, intermittente,
e rcmittente.
— Letra de forma de imprimir.
— Figuradamente : Impressão.
TYPOCHROMIA, s. f. (Do grego typos,
e chrôma). Impressão typographica de
côr.
TYPOGRAPHIA, í. /. (Do grego ty-
pos, e graphos). Arte de imprimir livros.
— Reunião de todas as artes que con-
correm para a impressão.
— Estabelecimento tvpographico.
f TYPOC-RAPHICAMENTE^ adv. (De ty-
pographico, com o suffixo amante»). Con-
forme os processos da typogi-aphia.
TYPOGRAPHICO, A, 'adj. Que diz res-
peito á typographia. — Erros tjrpogra-
phicos.
TYPÓGRAPHO, s. m. Homem que sa-
be, que exerce a arte da typographia;
impressor.
\ TYPOLITHO, .'. /. Pedra figurada
que tem as impressões de plantas ou de
ar.imaes.
f TYPOLITHO GRAPHIA, s. f. Modo
de imprimir na pedra, que deixa a facul-
dade de intercalar no texto toda a espé-
cie de desenhos, ornatos e accessorios.
f TYPOLITHO GRAPHICO, A, adj. Que
pertence á typolithographia.
TYRANIA," s. /. Vid. Tyrannia, ter^
mo mais em uso, e em harmonia com a
etymologia. — « No modo de seu gover-
no inclinou mais à misericórdia e bôda-
de, que á tyrania, e dava em tudo mui-
ta mão ao Senado, folgando que as cou-
sas af duaS se fizessem por sua determina-
ção e conselho : e como Sereno Granio
Procônsul de Ásia lhe escrevesse a cruel-
dade com que naquellas partes martyri-
zavaõ os Christãos, sem fazerem proces-
sos de suas culpas, nem guardarem for-
ma de juizo.» Monarchia Lusitana, liv.
5, eap. 13. — «Foy de toda esta mara-
nha anisado Sancto Fonte, filho de lulio
Fonte gentil homem de Veneza, que en-
tam estaua na Pérsia, e ve;-)dtse com O
Sophi lhe coutou tudo o passado, quey-
xandose de tão grande tyrania, e deâ-
860
TYKA
TYRA
TYBA
humanidade, feyta a gente CbristaS, que
sò na lealdailc do seus vassalos, cami-
nhaua ci") tanta confiança jmr sua» ter-
ras, como pelas do Vouoza.» Fr. (laspar
de S. Bernardino, Itinerário da índia,
caj). 1Í5.
TYRANNAMENTE, adv. (Do tyranno,
com o siiíTixo amante»). Do um modo
tyranno.
— Com tyrannia.
— Eniprcíía-ae também fipjuradamcnto.
TYRANNIA, s. /. (Do franccz ti/mn-
nic). Dominação usurpada e illeçal, bom
ou mal exercida.
— Governo injusto e cruel, legitimo
ou nilo. — Não é mister arte vem sciencia
imra exercer a tyrannia.
C:l nesta IJiibvlonia dondo mana
Matpria a quanto mal o mundo ci'ia ;
(':l dond(í o puro Amor não tem valia:
Qun a mãe, que manda mais, tudo profana
(;.i dondií o mal so atiiua, o bem se dana,
K p/ide mais que a houra a ti/rannia ;
Mas ainda cm outro modo diftcreutc,
Que com meu mal prozente
A própria razão deixo,
K o alheio mal sinto, c, me queixo.
F. noniiKiuKS i.ono, o desenoanado.
— Figuradamente ; Poder que tem cer-
tas cousas d'ordinarin sobre os homens.
— A tyrannia da hclleza.
— A tyrannia eterna.
Mas por occulta e nova providcneia
(Que ainda aqui com justa Loi governai
Terão estes da (iropria conacieneia
Outra pena maior, c maia intormi ;
Que como seu poder a preeminência
Meios farão de h/rannia eterna,
Assi dalma terão novo castigo
Além do que esta pena traz comsigo.
ROL. DB MOURA, Nov. i>o HOM., cant. 3, cst. 44.
— Toda a espécie de oppressiíes e do
violências.
— Diz-se também do abuso do impé-
rio sobre os animacs.
— Humor, conducta imperiosa e vio-
lenta nas relações do familia ou de so-
ciedade.
— Figuradamente : Acto deshumano,
injusto.
TYRANNICAMENTE, adv. (De tyranni-
00, com o sufíixo «mente»). Com tyran-
nia.
— Com usurpação do poder, do rei-
nado.
— Como tvranno.
TYRANNICIDA, s. 2 gen. (Do latim ti/-
raiiviciíld, do cirdere). Homem que mata
um tvranno.
TYRANNICIDIO, s. m. (Do latim tt/rmi-
nicidiuni^. Morto do um tvranno.
TYRANNICO, A, ndj. (Do latim ///;•«»!-
nicits). Q,uc tom tyrannia, que é injusto,
violento. — A ju-s/í^vt sem a fori^a <' im-
potente; afaria $em a justiça é tyran-
uica.
— Que tyrannisa. — Lei tyrannica. —
Império tyrannico. — Discur»os tyran-
nicos.
— Figuradamente : Que exerce poder
sobro o e.spirito doa homen», fallando das
cousas.
TYRANNISADO "u TYRANNIZADO,/ja)<.
pass. do Tyrannizar. — lima /jrnviucia
tyrannizada /«Vo ijorerundor. — «iSentia
o Domouio, que naquelias trevas da (Jen-
tiiiilailo appai-cccsso a luz do Ceo a des-
cubrir-llio os caminlios da vida, o armou
contra a innocontc Christandade hum
(ientio daquollas partes, que havia ty-
rannizado a Ilha de Moro, e se dizia
Tolon.» .Tacintho Freire d'Andrade, Vida
de D. João de Castro, liv. 1.
— Extorquido tyrannicamente, usur-
pado.
— Governado por tyranno.
— Figuradamente : Tyrannizada a car-
ne ; mortitieada com mau trato, absti-
nonoias, macerações.
TYRANNISADOR, ou TYRANNIZADOR,
A, n. i'ossoa que tvranniza.
TYRANNISAR, ou TYRANNIZAR, v. a.
Tratar tyrannicamente. — Nero tyran-
nizou o império roviano.
— Ter uma conducta imperiosa e vio-
lenta, nas relações de spciedade o de fa-
milia.
— Usurpar a soberania do qualquer
estado, governal-o arbitrariamente. — Ty-
rannizar o povo.
— ( íovernar tyrannamente.
— Figuradamente : Tyrannizar com
desdinn, etc.
1.) TYRANNO, s. m. (Do grego <?/ran-
nos). Na antiguidade, entre o.s gregos,
aquello que se apoderava da authoridade
soberana sobre uma commuuidade repu-
blicana, quer a exercesse com moderação
e doçura, quer abu.sasse d'ella. — Pisis-
frafo foi tyranno d'Afhcnas.
— Homem que usurpa o poder sobe-
rano n'um estado.
— Hoje dá-se o nome do tyranno a
um usurpador, ou a um rei que pratica
actos violentos e injustos. — «E a cau.sa
de sua vindív era querer ElRey per sua
pessoa saber se era verdade do estado
em que estava Malaca, e que gente era
aquella, que liie dava tal vingança daquel-
le tyranno, porque não o podia crer, e
disso mandava agradecimentos a Alionso
d'Alboqucrque, otlerectudo-so por gran-
de amigo d'ElÈey de Portugal, pêra o
qual mandava cartas, e presente, e assi
a elle Affonso d'Alboquerque. » liarros.
Década 2, liv. 6, cap. 7. — «E neste de
sou desterro, o tyranno que o lançou do
Royno, temendo quo AfTonso d'Alboquer-
que lhe pedisse conta daquella obra, e
mais do quo ora feito a João Viegas no
seu porto do Pacom, trabalhou sempre
de o contentar, o ganhar a vontade com
boas obras. » liidem. — « Trás estas, cer-
cada de doze porteyros cõ maças ile pra- |
ta, vinha a Nhay Canatoo (ilha do Rey
de Pegú a quem ente tyranno Brama ti-
nha tomado o reyno, e molher do Chau-
bainhaa ci> quatro criãças filhos seus,
quo homens a cavallo trazi3o nos braços,
e todas as cento e quarenta padecentes
era?! molheres e filhas dos priucipacs Ca-
pitaenfl que o Chaubainhaa tivera comsi-
go na cidade, nas quais este tyranno
Bramaa a modo do vingança quiz exe-
cutar sua ira, e a m;V inclinação que sem-
pre tove cõtra as niolli<;roB.« FcrnSo Men-
des Pinto, Peregrinações, cap. 151. —
»() lloolim se despidio logo delle, e se
foy Á cidade, e deu conta á Raynha de
tudo o que passara, e lhe deciaroa a da-
nada tenção do tyranno, e a sua pouca
verdaile, e lhe pôs diante o que em Mar-
tavào fizera co Chaubainhaa que se lhe
entregara ^^obre seu seguro.» Ibidem, cap.
154. — «Porque como o tyranno estava
magoado e afrontado do succcsso passa-
do, todos 08 modos de cruezas usou com
esta desavcnturada gente, para tomar
vingança da má fortuna qua tivera no
começo deste cerco, mas a verdade disto
foy por ellc ser fraco de animo, e de
baixo sangue e geração, em quem a cruel-
dade e o desejo de vingança custuraa a
ter mais lugar que nos gonero-sos e esfor-
çados.» Ibidem, cap. 155. — «Quatorze
dias avia ja que estas cousas erão passa-
das, nos quais o tyranno se occupou sem-
pre em fortificar a cidade c3 grande
presteza o cuydado, quando lhe chegou
nova certa pelas espias que nisso trazia,
que da cidade do Avaa era partida pelo
rio de Queitor abaixo huma armada de
quatrocentas vcUas de remo, em que vi-
nhào trinta mil homens do Siammõ, a
fora a ehuzma e a gente da marcação.»
Ibidem, cap. 156. — «Achou-se o homem
no seu elemento, e sem recato do sexo
nem attençÃo a umas donzellas creadas
com aceio e já crescid.a*, pois uma pas-
sava de 20 annos e outra de 17, despin-
do-as era publico as açoutou com um
nervo de boi — costume dos tyrannos
de Roma no gentilismo antigo, semeliian-
te ao do Pará monos em polido.» Bispo
do (Irão Pará, Memorias, publicadas por
Camillo Castello Branco, pag. 176.
Que hade cercenr-me o ferro do tyranno*
NÃO. Padres : ó por Vi'>8, <■ pela pátria
Que fullo, peço, que »upplico, imploro:
Nào pereçais cm sacrifieio ioutil.
GARRETT, CATÃO, BCt. "2, 9C. 2.
Nlo aporfies mais : eu nilo Tocebo
Mensagens do tyranno.
Se souberas
O que incerr.i ístn carta!...
iiiinKM, aet. 3, se. 1.
Dcsaffogar a pátria de um fi/ranno.
E transitório allivio : inípciora a miúdo
C"o esse remédio o mal ; tens com tvrannos
Em vez de um : nem titlontos nem virtudes
TYRA
TYRA
TZIN
851
Occuparão, no Estado, o grau supremo
Entic vis demagogos repartido
Por fac(;õos, por subornos, peitas, crimes.
IBIDEM, act. 4, se. 3.
Tincta era em sangue a purpura, — era férreo
O sceptro do tyranno : mas as togas
Dos deccmviíos !...
Juba, Jlanlio,
Que pretendeis? Deixae para o tyranno
O acutillar o povo.
míDEH, act. 5, SC. 4.
— Príncipe, usurpador ou nào, que
governa com injustiça, com crueldade,
calcando as leis divinas e humanas.
— Por extensão, diz-se de todos os
que tyranuizam. — E o tyranno de sua
familia.
— E um tyranno em sua casa. — Es-
te chefe é um tyranno para os seus su-
bordinados. — Os romanos foram os ty-
rannos das nações. — «Assim tinhaò
amor, e a fortuna em tam enleados pen-
samentos deus amantes, que com tanta
facilidade poderá tornar contentes : po-
rém assim costumaõ estes dous tyrannos
a esconder os bens, e a sustentar os cui-
dados. Leontino, quando o companheiro
acabou de cantar, lhe disse: Certamen-
te, amigo, que eu naõ soubu o que te
pedia : e assim he razaõ que de ti tenha
inveja, e de mim desconfiança.» Francis-
co Rodrigues Lobo, Desenganado, liv. 3,
cap. 4.
— Tyranno domestico; diz-se de um ho-
mem que tyraiiniza sua familia, sua casa.
— Figuradamente : Diz-se de cousas
cuja acção se compara á tjrannia dos
homens .
— O uso é o tyranno das linguas ; o
uso prevalece sobre as regras da gram-
matica.
2.) TYRANNO, A, adj. (Do latim ty-
rannos). Que usa de tyraunia e despo-
potismo.
— Feito tyrannicamente, com tjran-
nia. — Morte tyranna.
— Amor tyranno.
— S. f. Princeza, ou a usurpadora,
ou nào, que governa com injustiça, cruel-
dade, calcando as leis divinas e huma-
nas.
TYRANNOMANIA, s. f. (Do grego ty-
rannos, e inania). Propensão, gosto para
tyrannizar, para tratar despoticamente.
' f TYRANO, s. ííi. Vid. Tyranno. — «De
maneira, que as perseguiçoens dos tyra-
nos ornárào a Igreja, com sangue de
Martyres, e povoarão os desertos de Ana-
choretas, e Slonges, cujas vidas e obras
maravilhosas pareciaõ mais angélicas que
humaaas.» Monarchia Lusitana, liv. 5,
cap. 2õ.
Desejo geral hc, se não me cugauo.
Saber o fim que teve a Christàa gente
Que se entregou em màos do imigo insano
Sempre falso e cruel, nunca clemente.
Estos depois por ordem do iyrano
Baxá, dos Portuguezes mal contente,
Se diz que fòrào todos degolados
Sendo a Azobibe os Turcos an-ibados.
F. DANDKADE, PUIMEIBO CEKCO DE DIU, Caut. 15,
est. 37.
Ai sim, ó olhos arminhos,
inda que me sào tyranos.
ASTOSIO PKESTES, AUTOS, pag. 181.
— Adjectivamente : O peito tyrano.
Chega a nova ao Basá, e em tal fogo arde
Qual o Siculo monte ou o Campano,
Nem soífre que em vingar-se mais aguarde
O seu peito cruel, impio c iyrano,
Mas por cedo que vai, cuida inda ir tarde
A derramar aqueUe sangue humano,
Manda que, porque o seu furor se farte,
Dos quatrocentos morra a meia parte.
FBASCISCO D'A:SDE.tDB, PBIUEIBO CEBCO DE DIU,
cant. 12, est. 121.
I TYRINA, s. /. Termo de chimica.
Yid. Caseína.
TYRIO, A, adj. — Còr tyria; cGr de
purpura.
— Termo de poesia. Purpúreo.
TYRO, s. í/í. Termo de poesia. Pur-
pura .
TYROCINIO, s. m. Vid. Tirocínio.
t TYROGLYPHOS, s. m.ijlur. T&vmoàB
historia natural. Oenero de ai-achnides
acarianos, de corpo levemente apertado
nos fluncos, as.sim denominados porque
vivem nas pelles do queijo.
f TYROSINA, s. f. Termo de chimi-
ca. Producto da acção da potassa sobre
a caseína, fibrina ou albumina secca.
TYRSO. Vid. Thirso.
f TYRTEO, A, adj. Diz-se de um can-
to egual aos de Tyrteo, celebre poeta ly-
ríco e guerreiro, entre os gregos.
TYTHIMALO. Vid. Títhymalo.
7 TZIGANO, s. m. Synonymo de ci-
gano.
— O tzígano ; língua dos tzingaris :
parece ser um dialecto indiano mui cor-
rupto.
f TZINGARI, s. wi. Nome de errantes
e vagabundos que andam em pequenos
bandos lemlo a buena dicha, e cuja ori-
gem parece ser indiana. A forma usual
portugueza é Cigano.
s. m. Quinta vogal e vigési-
ma primeira letra do alpha-
beto. Um U grande. Um u
pequeno. Um U de caixa
alta. Um u de caixa baixa.
Um u egypcio. Um u normando. Um u
itálico. Um u romano. Um u illuminado
d'um vellio manuscripto.
— Ou eâcripto nem sempre se pro-
nuncia; depois de </ seguido de e ou i
é um simples signal orthograpKico : que,
queixar, aquillo, pronunciam-se ke, kei-
xar, akillu. Depois de jf e antes de e e
4 serve para indicar que o ^ é guttural :
guerra, Guilherme; pron. gherra, Ghi-
Iherme.
— Ou portuguez provém geralmente
do u das linguas fontes. É necessário dis-
tinguir o caso em que é accentuado
d'aquelle em que o não é, no primeiro
caso sendo as regras mais íirmes.
1. D port. de u latino é a regra, na
parte latina do vocabulário e formas : in-
cluo (includo), excluo (excludo), cru (ww-
dus)j junho (junius), juro (juro), luz
{luee}, adduzo (adãuco), publico (publi-
cus), puro (purus), puno {jmnio), muro
(murus), commu7n (communis), fumo (fu-
mus), etc.
2. U de lat. o. Raríssimo: ant. nuso
de noseoj furo de foro, cubro de coope-
rio.
3. O u não accentuado portuguez pro-
vém geralmente do u latino não accen-
tuado; mas tem outras origens mais ra-
ras.
Na terceira pessoa do pretérito perfei-
to singular o u provém do lat. v, que
por syucopa se achou diante do t anal :
amou por * amau por * amavt por lat.
amavit.
Também o u provém de outras con-
soantes, principalmente de c e Z; auto de
actus, etc.; couce de calcem; toupeira àe
taipa; fouce de f alcem; outro de alter;
souto de saltus, etc. De g provém o u
em Jleuriia, erroneamente escripto fieu'
gma, pois o u representa o g.
U, adv. ant. Onde. Nos livros antigos
apparece u escripto hu.
Hti te levão os pés Bieito amigo V
BEBNABDES, KCLOOAB.
— U antigamente servia por si só de
adverbio de logar. — U vás? — U moras i
UÃ. Vid. Uma.
UBÁ, s. m. Termo do Brazil. Canna
brava, que dá frechas, que servem para
gradar casas de taipa de sebe, e racha-
das para fachos, ou candeios de alumiar
como archote, e para pescar de noute o
peixe deslumbrado.
UBAIA, s. /. Termo de botânica. Fru-
ta do Brazil, tendo a casca como avellã ;
a massa de dentro é como casco de cebo-
la, ao redor do carocinho algum tanto
azeda, mas gostosa.
UBERDADE, s. /. (Do latim ubertas).
Abundância, e fartiu-a de novidades e
fi'uctos.
UBERE, s. m. (Do latim uber). Vid.
Ubre.
UBÉRRIMO, A, adj. (Do latim uberri-
vius). Mui fértil, mui abundante. — Cam-
IJO ubérrimo. — Te^rra ubérrima.
UBERTOSO, A, adj. Abundante, fértil,
copioso.
UBI, s. 7)1. Logar que se occupa, onde
se está, mora.
— Pessoa sem ubi certo ; pessoa sem
pousada certa, sem residência certa, var
gabundo.
UBICAÇÃO, «. /. Termo escolástico.
A acção de occupar algum logar.
UBIQUIDADE, s.f. Estado do que exis-
te em toda a parte.
— Opinião dos lutheranos ubiquita-
rios.
— - A actual presença de Deus em todo
o logar.
■\ UBIQUITARIO, s. m. Lutherano que
admitte que o corpo de Jesus Christo está
presente na Eucharistia em virtude da
sua Divindade presente por toda a parte.
— Adjectivamente : Termo didáctico.
Que se acha em todos os legares.
UBRE, í. m. A teta da vacca, ou ou-
tro animal. Vid. Ubere.
UCKA, s. f. (Do francez huclie). Ter-
mo antiquado. Caixa de guardai- pão, e
outras victualhas.
UCHÃO, s. m. Termo antiquado. Des-
penseiro, caixeiro.
— Chefe official da ucharia, casa da
guarda das aves, e carnes para a mesa
dns reis.
UCHARIA, s. /. Casa onde se guardam
as viandai, ou despensa. — A ucharia
d'el-rei. Vid. Ocharia.
UDO, adj. — Não deixar udo Jiewi miú-
do ; não deixar grande nem pequeno.
Vid. Graúdo.
f UDOMETRIA, s. /. Emprego do udo.
metro.
j- UDOMETRICO, A, adj. Que diz res-
peito á udometria. — Observações udome-
tricas.
UDOMETRO, s. m. (Do grego hydor, e
metron). Termo de physica. Instrumento
para medir a quantidade de chuva que
cáe em alguma parte. Vid. Pluviometro.
UFA. Interjeição admii-ativa do dicto
em louvor.
UFANAR, r. a. Tornar ufano.
— Ufanar-se, v. rejl. Encher-se de ufa-
nia, tornar-se ufano, orgidhax-se, enso-
berbecer-se, vangloriar-se.
-j- UFANEAR, V. n. Fazer ufania, enso-
berbecer-se.
— Jactar-se, gabar-se.
UFANIA, s. /. Brio, soberba, orgulho.
— Jactância, ostentação.
— AiTogancia, contentamento de si
próprio.
UFANO, A, adj. Que tem ufania.
— Soberbo, jactancioso, presumpçoso.
— Contente de si.
854
ULCE
ULMA
ULTl
— Quo se arroga increeiíiioiitos emi-
nentes.
UGA, s. /. Tunuo de liistmia natural.
Um itcixc.
UGALHA, *. /. Turmo popular. Egual-
(laílc.
UGAR, V. a. Termo popular. Egualar.
UGE, s. /. Viil. Uga.
UGIA, s. f. Vid. Uga.
UI. luterjoição de quem se admira, ou
de espanto.
UIOPHOBIA, s. f. (Do í^rego idos, e
2>/ijOi/s). Termo de patliologia. Espécie do
avcrsiio para aí cruaiK^as.
UIVAR. Vid. Uyvar, Huivar, e ^Uviar.
UIVO, s. m. Vid. Uyvo.
UJA, s. /. Vid. Uga.
ULCERA, s. /. (Do latim ulcus, ulce-
ris). Cliaga antiga e não tendente a ci-
catrizar-se.
— Figuradamente: Deus corta até ao
vivo para curar as ulceras do 7iosso co-
ração.
— Ulceras no pulmão ; dizia-se outr'ora
como syiionvmo de phthi/sica pulmonar.
— Ulcera perfurante do estômago; des-
truição mais ou menos enérgica da mu-
cosa do estômago, te. ido a tlhnia d'um
tumor pela parte exterior da existência
de toda a producção.
— Ulcera si/riaca; nome, nos antigos
médicos gregos, da angina diphtlicritica.
— Cbaga viva produzida pela corrosão
dos humores.
— Ferida antiga, materiada.
— Ulcera das arvores; chaga tendo a
sua sóde no svstema lenhoso dos vegetaes
arborescentes, nas hastes, nos ramos, ou
raizes.
ULCERAÇÃO, s.f. (Do latim lãceratio).
Termo de medicina. Formação d'uma ul-
oei-a; trabalho mórbido, quo tem por
efFeito a solução de continuidade d'um
tecido, com perda de subítancia.
— Solução de continuidade das partes
molles com perda de substancia, mais ou
menos antiga, acompanhada do suppura-
ção, e entretida por um vicio local, ou
por uma causa interna.
— Ulcera superficial.
ULCERADO, part. pass. de Ulcerar.
Atacado de ulceração. — Sua mão direi-
ta está sempre ulcerada.
— Figuradamente : Uma consciência
ulcerada ; uma consciência opprimida de
remorsos.
— Animado do um resentimento com-
parado a uma ulcera. — O homem o mais
justo, quando é ulcerado, vê raras vezes
as cousas como ellas são.
ULCERAR, r. a. (Do latim ulcerare).
Produzir uma ulcera. — Erupçdes que ul-
ceram (í pelle.
— Figuradamente: Fazer nascer no
coração de alguém um sontiniento pro-
fundo e duradouro. — As querelas da re-
ligião acabavam de ulcerar todos os co-
rações.
— Figuradamente : Chagar. — Ulcerar
o Coração.
— Ulcerar-se, v. rejl. Tornar-se em ul-
cera. — A ferida ulcerou-se.
f ULCERATIVO, A, adj. Termo de me-
dicina. C^,:ic tom a propriedade de ulcerar.
ULCERE, s. f. Vid. Ulcera, termo maia
cm u.so.
ULCER030, A, adj. (Do latim ulcero-
sus, de ulcus, ulceris). Termo de medi-
cina, (.^ue é coberto de ulceras. — Um
corpo tiiilo ulceroso.
— Que participa da natureza da ulce-
ra. — C/iaga ulcerosa.
,-{• ULEMAS, s. in. plur. (Do árabe au-
lemâ, os sábios, plural áaalèm, douto). En-
tre os turcos, doutores da lei, tendo por
funcçào explicar o Coram, presidir aos
exercícios da religião, vigiar pela edu-
cação dos príncipes, e fazer justiça ao
povo. O corpo dos ulemas comprehende
os inians, quo são theologos e pregadores;
os muftis, que são jurisconsultos; e os ca-
dis, quo são juizes.
f ULEX, s. 7)1. (Do latim ulex). Nome
moderno do género leguminosas, de quo
ha varias espécies.
ULIGINARIO, A, adj. Vid. Uliginoso.
ULIGINOSO, A, adj. (Do latim uligi-
nosuK, do uliijn, inis). Termo de histo-
ria natui'al. Diz-se dos vegetaes que cres-
cem em logares húmidos.
— Terrenos uliginosos; terrenos extre-
mamente húmidos.
-j- ULLITE, s. f. Termo de medicina.
Intlamniaçào da membrana mucosa gen-
gival.
ULLO, A, ou ULO, A. Termos compos-
tos de u, adverbio antiquado onde, o do
artigo antiquado lo, la, los, las, ou antes
entremettido o l por euphonia, e o artigo
o, a, os, as; e que significam aonde o?
aonde a? aonde osf aonde as'i
— Ullas partes que deixamos á virtu-
de? aonde estão, ou: que ó das partes
que damos a Deus?
— Alguns auctores trazem uUo pare-
cendo uma só palavra; d 'este modo inia-
gina-se que se cimfundiu como origem o
it//iís latino com o francoz oii Ics.
— UUo aquelle grande amigo f onde
está aquelle que era grande amigo?
f ULMACEAS, s. f. plur. Termo de
botânica. Faniilia de plantas, que tem por
tvpo o ulmo.
" ULMARIA, s. /. (Do latim ulmus\. Ter-
mo de botânica. Planta chamada também
rainha dos prados, quo tem as folhas como
as de ulmeiro, chamado do vulgo barba de
bode.
t ULMARICO, A, adj. Termo de chi-
mica. Acido ulmarico; svnouymo de ul-
mariud. ,
f ULMARINA, s. /. Termo de chimica.
A spiroina.
ULMATO, ». m. Termo de chimica. Sal
produzido pela combinação do acido ul-
mico com uma base.
ULMEIRA, «. /. Vi 1. Ulraaria.
ULMEIRO, «. m. Vi.l. Olmeiro.
t ULMICO, A, adj. iD.. latim ulmus).
Termo de chimica. Diz-se de um acido
particular que existe na terra vegetal, 6
na casca do ulmo.
j ULMINA, ê.f. Termo de chimica. Um
dos produ<.-tos da decomposição da ceilu-
losa.
ULMO, í. 7/1. í^Do latim ulmus j. Vid.
Olmo.
ULNA, s. f. CDo latim ulna). Medida
de dons braços, de uma vara, de um co-
vado.
— Termo de anatomia. A maior das
duas canuas do braço do cotovelo para
baixo.
ULNAR, adj. 2 gen. (Do latim ulnaj.
Termo do anatomia. Que é relativo ao
osso cubital.
f ULONCIA, «. /. Termo de medicina.
Inchação il.is gengivas.
ULORRHAGIA, s. f. Hemorrhagia pela
membrana mucosa da gengiva.
f ULOTRICO, A, adj. Termo de an-
thropologia. (^ue tem os cabellos crespoa.
— As raças ulotricas.
— Que é dividido cm cortes lineares
apestana>ioi e crespos.
ULTERIOR, adj. 2 gen. (Do latim ulte-
rior, comparativo de ultra). Termo de
geographia. Que está para lá, em oppo-
siçào a citerior. — A Índia ulterior fica
para lá do Ganges, que a separa da ín-
dia citerior. — Séneca nasceu em Córdo-
va, cidade celebre da Hespaidia ulterior.
— Figuradamente: Que so faz, qae
acontece depois. — As noias ulteriores
não conjirmam o que se dizia.
— Que passa de algum termo, prazo,
epociía, em opposição ao termo anterior.
ULTERIORIDADE, s. f. O ser ulterior,
posterior a alguma epocha, ou termo sa-
bido.
■f ULTERIORMENTE, adv. (De ulte-
rior, e o suífixo «mente»). Posteriormen-
te, em seguida.
— Além, da parte d'além, além do que
se disse ou fez.
ULTIMADAMENTE, adv. (De ultimado,
e o suffixo tmente»}. Por ultimo, derra-
deiro.
— Totalmente, até o ultimo ponto.
ULTIMADO, part. pass. de Ultimar.
— Absolutamente terminado, o con-
cluido. — Negocio ultimado.
— Fim ultimado ; fim que ultimamente
se propõe aos nossos desejos.
ULTIMAMENTE, adv. iDc ultimo, c o
suftixo «mente» I. Pela ultima vez.
— Em ultimo logar.
— !sos tempos últimos passados, postri-
nieiraniontc ; nos tempos remotissimos a
respeito de algum principio.
ULTIMAR, r. a. Findar, concluir to-
talmente, acabar, rematar. — Ultimar
este negocio.
ULTIMATUM, ou ULTIMATO, *. m. (Do
ULTR
ULTR
UM
855
part. pass. do latim ultimare, de ulti-
mus). Termo de diplomacia. As ultimas
condições que se põem n'um tratado ás
quaes se está ligado irrevogavelmente, e
mormente aquellas sobre a inacceptaçào
das quaes se segue uma declaração de
guerra.
— Por extensão : Diz-se de uma reso-
lução qualquer, definitiva e irrevogável,
á qual se liga um governo, um general
d'exercito, etc, no sujeito d'uraa causa
em litigio.
ULTIMO, A, arJj. (Do latim ultimus).
Termo diJactico. Que está coUocado em
derradeiro logar. — A ultima syllaba
d'tima palavra.
— Termo de medicina. Si/mptomas úl-
timos ; symptomas que annunciam a dis-
solução do doente.
— Figuradamente: A ultima mão; a
perfeição ou trabalho com que se aperfei-
çoa a obra.
— Extremo na serie, opposto ao pri-
meiro.
— Fim ultimo. Vid. Ultimado.
— O ultimo supplicio ; pma capital.
— A ultima vontade; o que declara-
mos, e não revogamos depois.
— Stx. : Ultimo, derradeiro.
Ultimo e derradeiro empregam-se indif-
ferentemente para designar o que em uma
linba ou serie não tem outro depois de
si, porém com diíferente relação. Ultimo
denota distancia, situação ulterior além
d'um terceiro; derradeiro refere-se pro-
priamente ao que depois de si não tem
outro na serie: é o dernier dos francezes,
e o postremus dos latinos.
ULTRA. Prefixo que se emprega na
composição para designar o que está
além dos limites racionaes.
— Diz-se também popularmente o nec
plus ultra.
f ULTRACHIMICO, A, adj. — Raios
ultrachimicos ; raios acima dos raios chi-
micos do espectro solar.
f ULTRALIBERAL, adj. 2 gen. Diz-se
d'aquellcs que expendem as doutrinas li-
beraes até nas consequências extremas.
— ' Diz-se das cousas. — Opiniões ul-
traliberaes.
f ULTRALIBERALISMO, s. m. Siste-
ma dos ultraliberaes.
ULTRAGEM, s. /. Vid. Ultraje.
ULTRAJADO, part. j^ass. de Ultrajar.
OfFondido, injuriado, aíFrontado.
ULTRAJADOR, A, s. e adj. Que ul-
traja.
ULTRAJANTE, part. act. de Ultrajar.
(Do francez outrageant). Que ultraja, que
exprime ultraje.
— Injurioso, aflfrontoso, contumelioso.
ULTRAJAR, r. a. (Do francez outra-
ger). Injuriar, offender por obra ou por
palavra, com desprezo.
— Figuradamente: Ultrajar a lei de
Deus. — Ultrajar a virtude.
ULTRAJE, ou ULTRAGE, s. m, (Do
francez outrage). Injuria, offensa verbal,
ou por obra, com desprezo.
— Syn. : Ultraje, injuria. ViiJ. este
ultimo termo.
ULTRAMAR, s. m. Diz-se das terras
que ticam além do mar que banham as
costas de Portugal; os estabelecimentos
portuguezes da Africa, Ásia, e ilhas ad-
jacentes a estas costas marítimas.
— Outr'ora o ultramar indicava terra
santa; e assim a guerra do ultramar; a
guerra das cruzadas.
— Conselho do ultramar; junta de mi-
nistros com direcção dos negócios de jus-
tiça, e graça, e militares, e da fazenda
(exceptuando o qiie toca ao erário), dos
domínios d'além-mar de Portugal : foi
instituído por D. João iv, e compunha-se
de presidente, seis conselheiros, um se-
cretario, etc.
ULTRAMARINO, A, adj. Do ultramar,
das conquistas de Portugal.
— >lz!íí ultramarino; de lápis lazuli.
— Conselho ultramarino. Vid. Ultra-
mar.
— Substantivamente : Um ultrama-
rino.
— Vid. Transmarino, Marino, e Ma-
rinho.
f ULTRAMONTANISMO, s. m. Doutri-
na da iidallibilidade do papa.
ULTRAMONTANO, A, adj. (Do latim
ultra, e vions). Que habita além dos mon-
tes. Vid. Tramontano.
— Diz-se dos maioraes da corte de
Roma tocando a potencia ecclesiastiea, e
d'aquelles que as sustentam. — Princi-
pias ultramontanos.
— Substantivamente : Os ultramonta-
nos.
— Homem que sustenta o poder abso-
luto do papa em toda a extensão.
ULTRAPASSADO, part. pass. de Ultra-
passar. Passado além dos limites pre-
scripti>s, excedido.
ULTRAPASSAR, v. a. (Do latim lãtra,
e de passar). Passar além dos limites
prescriptos, exceder.
t ULTRAREALISMO, s. m. Systema
dos ultrarealistas.
f ULTRAREALISTA, s. m. Diz-se dos
partidários do poder absoluto, dos fauto-
res do despotismo.
t ULTRAREGULAMENTAR, adj. 2 gen.
Que faz abuso ilo regulamento.
ULTRAREVOLUCIONARIO, A, adj. e s.
Revolucionário em excesso.
— Di/.-fe das cousas. — Medidas ul-
trarevoluciouarias.
t ULTRAVIOLETE, adj. 2 gen. Termo
de physica. Raios ultravioletes ; raios
que existem em toda a luz, que no espe-
ctro solar se coUocam além do violete, e
que são imperceptíveis, ou com difficul-
dade perceptíveis pela retina.
f ULTRAZODIACAL, adj. 2 gen. Ter-
mo de astronomia. Diz-se principalmente
dos planetas cuja orbita não está com-
prehendida na largura do zodiaco, que é
approximadamente de oito graus de cada
lado da ecliptica, largura calculada para
conter as orbitas de Mercúrio, Vénus,
Marte, Júpiter e Saturno, os únicos pla-
netas dos antigos conhecidos com a terra
cuja orbita é a ecliptica.
ULTRICE, s. f. A vingadora.
ULTRIZ, adj. m. ULTRICE, /. (Do la-
tim ultrix). Que dá vingança, castigan-
do ao oíFensor d'aquelle a quem se dá a
vingança.
— -Termo de poesia. Vingador, puni-
dor.
ULTRONEO, A, aãj. Que se offerece
de vontade.
— Que se adquire e acha sem traba-
lho, ou diligencia. Vid. Espontâneo.
ULULADO, s. m. Uivo, grito lastimoso
e desconcertado.
— Part. pass. de Ulular.
ULULAR, V. n. (Do latim ululare). Ui-
var. — Os lobos ululam.
— Dar gritos lamentosos, grandes gri-
tos.
-j- ULVA, s. /. Termo de botânica. Gé-
nero de cryptogamas, em que se distin-
gue a uiva intestinal.
f ULVACEAS, s. /. plur. Termo de
botânica. Familia de plantas cryiJtoga-
mas.
UM, UMA, adj. num. card. O primei-
ro de todos os números. — Um, dous,
três. — Os meninos de um a doze annos.
— De um a doze; desde o numero um
até doze.
— O mesmo, e egual.
— Idêntico.
— Algum.
— Ajuntar-se em um; ajuntar-se em
um logar, campo, corpo.
— Alguns escriptores escrevem um
com h, sem que o peça a orthographia
etymologica, que se deriva do latim
unus, e menos a pronuncia, porque sen-
do o A signal de aspiração, não aspira-
mos nenhuma vogal. Vid. Hum. — «Que-
rouos dizer breuemente huma palaura
sobro cada hum destes degraos. Pobreza
voluntária nam he outra cousa sanam
hum desprezo de toda a riqueza. De ma-
neira que ainda que o homem seja rico,
todauia nam tem o coração pregado, e
grudado cõ sua fazenda, mas liure, e sol-
to.» Frei Bartholomeu dos Martyres, Ca-
tecismo da doutrina christã. — « Sam
Matheus em Et .iopia aianceado. S. Tho-
me em outra india despois de queimado
com laminas de ferro ardentes, e lança-
do em himi forno, finalmente passado
con lanças. Sam Mathias, em ludea ape-
drejado e descabeçado. Sam Simão e lu-
das, em perfia em hum templo de idolos
foram pollos infiéis martirizados. Sam
Barnabee, em Salamina queymado.» Ibi-
dem.— «Quem me ja liurasse deste corpo
mortal, e maluado, em o qual nam ha
cousa boa. Vejo nelle huma inclinaçam,
656
ÚM
WA
U>rBR
que repnffna aa inelinaçani de mou espi-
ritu, que me teui captiuo, o ilolle ^ein
que ine pe^) saltaiT como faiscas huns sú-
bitos mouiinentos, o apixititos c'>tr;i aquil-
lo que eui minha aliim está lirmomonte
assentatl').» Ibidem. — «(>>stuiiiaos neato
dia saudaiuort, dizendo DEu8 vos dee
muytos annns e l)oim. Muytos nain po-
dem clk'9 ser por inuyto (jue traballicvs
de estender n vi' la, e ainda que fossem
cento, o mil comparados aa etcrnidailtí
do outro mundo, c ticauí huma ora. »
rbidem. — * Porque basta pêra isso saber
quo ho huma Ijcinaueutunknça, em que
Deos se quis esmerar, porá cÒtentar o
fartar sous amigos de eabciluria, e de-
Icytações sav.ctas o verdadeiras. Ay de
ti, se nem com os ameaços dos tormentos
eterno.5, nom eõ as promosf-as doa praze-
res eternos, te a molentam e dobrílo a
obedecer e seruir a DEOS.» Ibidem. —
«Matéria lie esta larga e profunda, em
qu3 ao presente me nào quero meter:
baste dizer em soma, que pam ha bem
em nossa alma que por hum peccado
mortal nam fique ou de todo deetruydo,
Dn ai menos ferido, e diminuydo.» Ibi-
dem. — oE por is.-io (como diz Chrisosto-
mo) assi como hum laurador píxla a cc-
poyra, e corta os sobejos ramos das ar-
uores porque o humor, e çumo que da
rayz vem, nam se gaste todo em folhas,
mas esforçSdose na rayz produza milhor
fmvto, assi o Senhor corta nossas pros-
peridades e bonãÇas temporaes, nas quaes
gastauamos os pensamentos e aflfeitos de
nossas almas, pêra que metendonos por
dentro, e euvdando nas eou^^as eternas
demos fruvto verda leyro da gloria e bem-
aiienturança.» Ibidem. — «Diz Sam Lu-
cas, que ajuntandose muy grande multi-
dam de gente, a ouiur a prègaçam do
Senhor, propôs huma tal semelhança.
Hum semeador sayo a semear sna semen-
te, o semeado, huma parte da semente
cavo na estrada e caminho pubrico, e
esta parte pisaram os caminhantes, e co-
meram as aues : assi nada delia veyo a
lume. E entra parte cayo em terra de
lagea: ô esta ainda que nasceo, logo se
secou, poi-qÚB nam tinha humor.» Ibi-
dem. — (I For tanto, diz o Sancto Doittor
no capitulo qnatorze, a este espelho assim
purificado, começa a intimar se huma
claridade do resplendor diuino, e hum
raio immenso de extraordinária luz appa-
recer aos olhos do coração, ^laqunh infir-
mado, c aceso o espirito começa a conhe-
cer com a vista do entendimento apura-
da as cousas superiores.» I<lem, Compen-
dio de espiritual doutrina. — «D. Alva-
Iw abalou com to-lo o poder, e rodeou a
fortaleza, arrimand.o logo algumas esca-
das, ]ior onde os nossos começfiraõ a su-
bir, franqueandolhes os outros o nmro
com a arcabu7..'iria. quo era tanta, que
naõ ousAraõ os Fartaquins a aparecer.
Fornaõ Peres foy o primeiro que come-
çou a Aubir por huma escada, levando o
seu guiaõ diante, o a poder de golpes o
poz em cima do muro.» Diogo de Couto,
Década ti, liv. tí, cap. G.
— C^uai.do se diz um Leonel de Lima,
detcrinina pessoa ignóbil, pouco conhooi-
da, c <listincta. — a D. Jorge deo o» car-
gos a hum Leonel de Lima, que fez tam-
bém tanto como o outro: pelo que ficou
pairando até lho vir o soecorro que man-
dava pedir. Álvaro de Sayavedra vendo-
se sem batel, esteve a risco de se tor-
nar, mas cominetteo a jornada até tomar
humas ilhas, quo por ter^jm muitas ar-
vores, e serem frescas, lhe poz nome
Bel-jftrdim, que estam em altura de dez
gráos do Norte, qnasi duzentas e sinc-oen-
ta legnas donde tinha pnrtido.» Diogo
do Couto, Década 2, liv. 6, cap. 4. —
«Por outra parte também subio Peio Bo-
telho qua*i ao mesmo tempo, e diante
dtdle o seu guiaõ, que levava hum Hei-
nol de hum pelote preto compriílo muy
valente homem, qne subio ao muro, e
com huma maõ sustentou o guiaõ, e com
a outra pelejou valerosamente.» Idem,
Década 6, liv. 6, cap. 0.
— De um se derivam os substantivos
unidade, união, e os adjectivos unanime,
unico^ vnifiiTme, xmissimo.
— Substantivamente: O algarismo que
indica 1. — ■ Três uns em seguida for-
mam cento e onze.
— Simples, quo não admitte plurali-
dade. — ■■ A religirio é nma. — A fé é
uma. -^ T)eu!í é um, infinito, perfeito,
único digno de vingar os amimes e de co-
roar a virtude.
-^ A verdade ê sempre nina ; nunca ó
contraria a si mesmo.
-^ Tern-.o de plíilosopbia. A unidade
absoluta, infinita.
— Onde reii\a a unidade. — A Fran-
ça é uma! ^ — A natureza ê Uma, « apre^
scnfa-se sempre a mesvia aos ijne a sa-
bem observar. — Todo O assiivipto é um,
e j>'}'' ' "'(''i^ vasto que seja, pôde ser en-
cerrado n'um só discurso.
— Substantivamente: Em um; em uni-
dade.
— NHor ser .•mnão Um ; díí-sé de mui-
tas cousas ou pessoas que sSo considera-
das como únicas. — il/eit Deus. vós não
lízrstes senão um coração, e uma alma
comnosco.
— É todo um; nSo ha difFerença al-
guma.
— Um d'estes dias; um dia muito pró-
ximo. — Eu 7ne offcreço a levar-vos Um
dia d'estes á comedia, se quizerdes.
— De dnis um ; um sobre dois.
- — De duas cousas luna; nito ha meio
termo.
— Emprega-se para representar uma
pessoa, uma cousa de que se acaba de
íalhir. — ApvfSi iitoií-se um.
— E»!re luna c duas; entre huma ho-
ra e duas.
— Vinte por um; diz-se para expri-
mir alguma cou«a quo aco: tece frequen-
temente.
— Emprcga-»e muitas vezes, nSo para
de6Ígr:ar especialmente o numero, maa
principalmente pam «igniriear um obje-
cto de que ainda não houve questXo. —
Um gimh'1, nm nada.
— C^jlloca-ío junto de um nome pró-
prio, para tirar a este nome seu sentido
particular, e fazer d'6lle uma o»pe<ie de
nome geral.
— (>jlloca-íe junto de um nome pro-
pr.o, para exprimir uma assimilhaçaq
com A i)or8onagem que w nomeia. — E
uma Lucrécia. — E um Cieero.
— Emprega-sô tamliom n'um sentido
simplesmente emphatico, para exaltar o
nome i!e personnfrens. — Este* santos dou-
tores, um tí. Justino, um S. Clemente,
ete., que passavam os diat a meditar na
Escrijjtura Sagrada.
— Dir.tr d'xxm, deprti» do milro; va-
riar na sua linguagem.
— Popularmente : Uns e antron; toda
a gente sem distincç.io.
— Nem um, nem outro. — Nem um,
nem outro virá.
— Um rt um ; um aptis outro, e um
por sna vez.
UMA, adj. f. Variação de Um.
UMANIDADÍE, s. f. Vid. Humanida-
de.
UMANO, A, adj. Vid. Humano.
UMBELLA, s. f. (Do latim umbeUa\
Pallio poqueno em fArma de chapéu de
sol, debaixo do qual se leva o Santissimo
Sacramento.
— Termo Ae botânica. Vi 1. Umbrella.
UMBELLIFERAS. Vid. Umbrelladas.
UilBELLIFERO, A, adj. Que tem um-
bellas.
UMSIGO, .<!. líi. Vid. Embige.
UM3ILICAD0, A, adj. Êm forma de
embigii.
— Termo de botânica. Arrodellado.
UMBILICAI, adj. 2 gen. Termo de an.i-
tonna. Que ó do embigo.
UMBILICAR, adj. 2 gen. Termo de ana-
tomia. Veia nmbilicar; veia do embigo.
— Região umbilicar; regi.no do embi-
go. Viil. Umbilical.
UMBLA, s. /. Termo á-^- historia natu-
ríil. E-;pi'i.'ie de salm.ío ipeixe).
UMBLINA, s. f. Vid. Umbla.
— Umblina das lagoas do norte; es-
pécie de -.limão.
f UMBRACULIFORME, atlj. 2 gen. Ter-
mo de botânica. Que eetá em forma de
gnarda-so!.
UMBRACULO, s. m. Termo do botâni-
ca. E^prci'' Al." disco que coroa o pedícu-
lo de oprtn« plantas cryptogamn?.
UMBRAL, y. m. V"íd. Ombreira da
porta.
— Os umbraes .(''( imn-te ; a hora da
morte.
— Figurada e poeticamente: A porta.
UNAN
UNDE
UNGU
857
— Os celestes umbraes ; a entrada dos
cens, as portas d'elles.
UMBRÃO, s. m. Titulo de nobreza ou
gran^leza no Mogol.
UMBRATICO, A, aâj. Phantastico, chi-
merico, que se passa em sonho e figura,
e n5o em realidade.
DMBRATIL, a'/j. 2gen. (Do latim um-
bratilis). — Umbratil sentido; quasi al-
legorico, figurativo, assombrado, escu-
ro; sem brio.
UMBREIRA, s. /. Vid. Ombreira.
— A.lj. — Peça umbreira; peça que
sustém a verga da porta.
UMBRELLA, s. f. Vid. Umbella.
— Termo de botânica. Disposição das
flores á feição de umbella, em forma de
chapéu de sol.
DMBRELLADAS, s. /. plur. Termo de
botânica. Familia de plantas dicotyledo-
neas, polypetalas, de estanies epigvnos,
de que ha varias espécies empregadas na
medicina. Vi-i. Umbelliferas.
DMBRELLADO, A, a<y. Termo de bo-
tânica. Que tem umbrella. Vid. Umbella.
UMBELLIFERAS, *. /. plur. Vid. Um-
brelladas.
UMBRIA, *. /. A parte do monte, que
está da parte da sombra ou do poente.
Vid. Humbria.
UMBRIFERO, A, adj. (Do latim ttm-
hrifer). Termo de poesia. Que faz som-
bra, umbroso. — Bosque umbrifero.
UMBRO, s. m. Cão de caçar veados.
UMBROSO, A, adj. (Do latim luiibro-
sus). Termo de poesia. Diz-se do logar
onde existe sombra, assombrado, que pro-
duz sombra.
UMBU, «. m. Termo de botânica. Plan-
ta fructifera, que produz umas como
ameixas verdoengas, agridoces.
UMÍDÁDE, s. /. Vid. Humidade.
UMILDADE, s. f. ViJ. Humildade.
UNA. Termo usado na locução : A la
una; a um tempo, a compasso. — - Todos
lançavi os pés a la UHa.
UNANIMAR, v. a. Fazer conformes em
o mesmo aaimo, parecer, resolução.
— - Unanimar-se, v. refl. Tornar-se una-
nime a outros, ou com outros, ou entre
si; conformar-se no animo, opinião, von-
tade.
UNANIME, adj. 2 gen. (Do latim una-
nimus, de unus, e animus). Que tem o
mesmo sentimento. — Todos estão una-
nimes neste ponto.
— Figuradamente : Que é de um com-
mum accordo, fallando das cousas. —
Juízo unanime.
— Unanimes em Deus ; conformes por
seu amor.
— Conforme comsigo mesmo.
UNANIMEMENTE, adv. (De unanime,
e o suffiso «mente»). De um modo una-
nime.
— De uma voz commum, de um com-
mum sentimento. — Votaram unanime-
mente a proposição.
TOL. T. — 108.
— Com egual parecer.
UNANIMIDADE, s. f. (Do latim unani-
viitas, de itnanimus). Conformidade de
sentimento, de opinião. — Entre a una-
nimidade e a egualdade das vozes ha
divisões deseguaes.
— Figuradamente : A unanimidade das
sensações é uma prova do destino geral
dos sentidos para excitar no espirito os
eflPeitos que n'ella produzem.
UNÇÃO, ou UNCÇÃO, s. f. (Do latim
unctio). A acção de ungir.
— • A unção da coroa, e da tiara; a
que se faz a alguns reis, aos papas.
— A extrema-viução ; sacramento da
egreja que se administra aos fieis em
perigo de morte, ungir 'o com óleo cer-
tas partes do corpo, e dizendo orações
apropriadas.
— Figuradamente : A unção da co-
roa, « da tiara; a eleição ou dignidade
reeia, ou pontifícia.
I UNCIFORME, adj. 2 gen. (Do latim
uncits, e forma). Termo didáctico. Que
tem a forma da um gancho.
— Osso unciforme ; a quarta parte da
segunria classe do carpo.
UNCINADO, A, adj. Termo didáctico.
Que termina em gancho, ou por ganchos.
— Curvo, recurvado como as unhas
das aves de rapina.
UNCINARIA, s. f. Termo de historia
natural. r4enero de vermes, que se criam
nos intestinos dos animaes : encontram-
se nos teixugos, raposas, ctc.
UNGIROSTRO, A, adj. Termo de zoo-
logia. Quo tem o bico adunco, retorcido.
— S. m. plur. Familia de pássaros
que tem pernas mui compridas.
DNCTAR, V. a. Vid. Untar.
UKCTO, 5. m. Vid. Unto.
UNCTORIO, s. m. (Do latim uucforiíis).
Logar nos banhos, onde, depois de sua-
rem, costumavam os antigos untar-se de
unguentos.
UNCTUOSIDADE, s. /. Caracter do que
é unctuoso.
— Termo de mineralogia. Propriedade
de apresentar uma superfície gorda ou
unctuosa.
UNCTUOSO, A, adj. (Do latim unctuo-
sus). Que tem unto, gorduroso.
■ — -Que se assimilha a unto.
— Substancias unctuosas. — Agua un-
ctuosa.
UNDAÇÃO, s. f. Talvez inundação, des-
aguamento, ou correnteza dos rios.
UNDANTE, adj. 2 g>:n. Que faz on-
das.
— Que fluctua, e vae frouxo.
— • Plumas undantes ; plumas ondean-
tes.
— Tremolante, que faz ondas.
— Fifruradamente : Muito abundante.
UNDE. Termo antiquado, por Onde.
UNDECAGONO, s. m. (Do grego ende-
ka, e gunia). Termo de geometria. Fi-
gura de onze lados, ou ângulos.
UNDECEMVIRO, s. m. Magistrado, um
dos onze juizes na cidade de Athenas.
UNDÉCIMO, A, adj. (Do latim undeci-
mus). Que está entre o decimo e o duo-
uecimo.
UNDECUPLO, A, adj. Onde vezes do-
brado.
UNDICOLA, s. 2 gen. (Do latim undi-
cola). Termo de poesia. Habitante das
agua?.
UNDIFLAVO, A, adj. Termo de poesia.
De ondas louras, cor de ouro.
UNDISONO, A, adj. (Do latim undiso-
nus). Que resôa com o vaguear das on-
das.
UNDIVAGO, A, adj. Termo de poesia.
Que vaga pelas ondas, pelo mar.
7 UNDINA, s. ,/'. Planeta telescópico
descoberto em 1866 por Peters.
UNDOSO, A, adj. (Do latim und.osus).
Que tem ondas. — O mar undoso.
— Que faz ondas. — O oceano undo-
so. Vi i. Undante, e Ondado.
UNDULAÇÃO, s. f. (Do latim unda).
Vil!. Undulação.
UNDULATORIO, A, adj. De undula-
ção. — Movimento undulatorio.
UNDULOSO, A, adj. Termo de poesia.
Undoso, que faz ondas.
UNGIDO, part. pass. de Ungir. Unta-
do com óleo ou unguentos por medicina
para amaciar, para tapar os poros.
— Figuradamente : Eloquência mavio-
sa e ungida da divina graça,
— Substantivamente : Homem que re-
cebeu o sacramento da extrema-unçlío.
— Os ungidos do Senhor; os reis, os
sacerdotes.
UNGIR, V. a. (Do latim ungere). Un-
tar com óleo, ou unguentos por medici-
na, para amaciar, para tapar os poros;
por perfume; ou dando a santa unção,
ou fazendo cruzes com óleos santos aos
reis, bii5pos, etc.
— Figuradamente : Dar poder, dar di-
gnidade.
— Ungir um rei; fazer rei.
— Ungir-se, v. rejl. — Os athletas cos-
tumavam ungir-se para luctar.
j UNGUEAL, adj. 2 gen. (Do latim
unguis). Termo de anatomia. Que per-
tence ás unhas.
— Phalunges ungueaes ; as ultimas pha-
langes dos dedos dos pés; aquellas que
tem unhas.
— Madre ungueal ; nome dado vulgar-
mente ao sulco ou seno cutâneo em que
estão implantadas a extremidade poste-
rior da unha, e uma parte de suas bor-
das lateraes.
UNGUENTACEO, A, adj. Termo de pbar-
macia. Concernente a unguento.
UNGUENTARIA, s. /. Officina onde se
preparam urgueiiíos.
— Loja onde se vendem os unguentos,
— C"llecção de unguentos.
UNGUENTARIO, A, adj. Que diz res-
peito a unguentos.
858
UNHA
UNIA
UNIC
— J^njaa unguentarias ; lojas do per-
fumadores, baiilias, óleos, e outros aro-
mas que n'ell,i.s su vendem.
— Priiça unguentaria ; praya ondo Be
vendiam os uiigiionto.s |>ara perfumar.
— Hciencia unguentaria ; scioncia dos
perfumadores.
— Offictaes unguentarias ; oíTiciaes por-
fumadore*.
1.) UNGUENTO, s. m. (Do latim nn-
guentum). Aroma oleoso de unf^ir.
— Figuradamente: Unguento de cari-
dade, de coiilfição, de minericurdia.
2.) UNGUENTO, s. m. (Do latim un-
guenttnn). Termo de pharmacia. Jledica-
mento feito de oloo, ou matéria unctuosa,
para unirir, com diversos intentos.
j UNGUIFERO, A, adj. (Do latim un-
guis. e ferre). Termo do zoologia. Que
tem unlia.
UNGUINOSO, A, adj. (Do latim ungui-
710SUS). Termo de anatomia. Unctuoso.
— Capsulas unguinosas ; as bolsas sy-
noviaes.
— Oleoso, abundante de óleo.
UNGUIS, í. »i. Osso laerymal, peque-
no o^so comparado também a uma unha
por causa da sua firma, collocado na
parte posterior e interior da orbita, e
concorrendo para a formaçSo da goteira
lacrvmnl, do canal nasal.
UNGULA, s. /■. (Do latim ungida). Vid.
Unha.
— Ungula caòalHna ; uma herva offi-
ciiial.
— Unha no olho.
UNGULADO, A, adj. Que tem unha
como o boi, o oavallo, e outros animaes,
que as possuem.
UNHA, s. f. Substancia córnea, que
cobre a parte superior da extremidade
dos dedos das mãos, e pés do homem.
— Fugir a unhas de cavaUo; fugir a
toda a pressa.
- — Loc. : Ser unha e carne com al-
guém; ser muito sca intimo e do seu seio.
— Untar as unhas ; peitar, dar, cor-
romper.
— Unha de asno, de cavallo; hervas
officinaes. Vid. Ungula.
— Loc. POP. : Metter a unha ; levar
mais do que é direito e justo nos impos-
tos, custas, no que se furta, comprando
para outrem, e dando-lh'o mais caro, etc.
— Substancia córnea dos dedos e dos
pés de certos animaes, com varias fei-
ções, inteiriça, solida ou fendida; faltan-
do do cavallo, dizem-se os cascos.
— Termo do anatomia. Unha no olho;
excrescência membranosa no canto do
olho.
— Loc. POP. : Estar na unha ; diz-se
da cousa possuída, da cousa obtida.
— Loc. : Levar alguma cousa nas
unhas; preal-a como as feras.
— Poilaço da videira, que vae pegado
ao bacello no pó, quando se rasga, ou
desgalha d'elle.
— Presunto,
— Fazer as unhas ; aparaUas.
— Loc. FIO. : Levar alguma cousa na»
unhas ; tomar por armas, em guerra, de
força.
— (larra maior ou menor da» feras,
onças, tigres, gatoM, etc.
— Termo de alveitaria. Callo que se
fi>rma nas mataduras das bestas.
— Loc. POP. : Ter unha na palma da
mão; ser ladrào.
— Unha de gran beata. Vid. Alce.
— Unha de ancora; o dente que ferra
no fundo do mar ; do arpeu, do croque,
etc.
— Estocadas de unhas a baixo; esto-
cadas com a palma da milo voltada para
o chSo, ao contrario de quando ellas sâo
de unhas a riba.
— Loc. : Não se apartar uma unha da
verdade; nito discrepar d'ella.
— Unhas, ou tenazes dos caranguejos;
unha com quu agarram (e talvez cortam
serrando outros insectos), o pé grosso com
dous ganchos, um d'elle3 movediço, entro
os quaes afterra as cousas, e com ellea se
defende dos caranguejoiros.
— ^1 nuha ; diz-se iallando d'aquellcs
que, n'uma tourada, se agarram ao tou-
ro, collocando-se em frente d'elle, espe-
rando-o para multas vezes soffrerem as
suas ferocidades. — Agarrar o touro d
unha.
— A unhas; a todo o trabalho.
— Comer d unha; diz-se quando se
lança mào da comida com os dedos; em
opjKisIçrio a comer com o talher.
UNHADA, s. f. Golpe, ou risca com a
unha.
— Dar unhadas na obra de um auctor ;
critical-o, ccnsural-o.
UNHAGATA, s. /. Vid. Restaboi, e
Onouis.
UNHAMENTO, s. m. O trabalho de
unhar o bacello.
■ — O logar por ondo se unha.
UNHAR, r. «.—Unhar o bacello (na cul-
tura da vinha, depois de o lançar na co-
va) ; é puxar pela ponta da vara para
cima, e dous palmos abaixo, fiizer uma
covinha mais baixa, e lançar-lhe terra, e
calcar nella a vara, para que ahi lance
raizes, c se faça outra videira.
— Unhar o rosto; carpil-o, arrancar
com as unhas.
— Ferir com as unhas. — Unhar al-
guém para nos vitigarmos do acto que
se nos fez.
UNHEIRO, s. m. Apostema na raiz da
unha.
UNIÃO, í. /. (Do latim unio). Reuni.^o
de duas ou mais cousas n"uma só. — A
união de dous domínios. — ^l união (/<;
dous cargos.
— Termo de theologia. União hypo-
statica : a uniTio do Verbo Divino com a
natureza humana em uma s») pessoa.
— .luucçào de duas ou mais cousas. —
A uniSo d^ certas palavra», de determi-
nados termos.
— Fazer união ; fazer acto de adhe-
sHo.
— Termo ciou mysticos. União essencial
com ./<■*«# Chrinto ; aquella em que elle
se uniu á essência da Divindade. — Dnião
pessoal; aquella em que elle se uniu á
pessoa do Filho de Deus.
— Termo de grammatica. Risco de
união. Vid. Risco.
— Absolutamente: Casamento. — A
união conjugal.
— A copula carnal, fallando dos ani-
maes. — A união dos animaes de espé-
cies differenfes.
— Figuradamente: Boa intelligencia,
ligaçilo. — A união rtina na minha fa-
mília.
— Espirito de união ; espirito de con-
córdia, de paz.
— Tratado pelo qual muitas potencias
se unem, e se confederam.
— Absolutamente : A União ; os Esta-
ilos-Unidos da America. — Presidente da
União.
— Uniformidade. — União de vontade».
— Ajuntamento em um corpo.
t UNIARTICULADO, A, adj. Que tem
uma unii/a ,irticulaç.^o.
UNICAMENTE, adv. (De «nico, e o suf-
fixo «mente»). Exclusivamente a todo c
qualquer.
— De um modo imico, acima de tudo,
preferível a tudo.
— De um modo excellente.
— S'imente, singularmente.
UNICANTE, adj. 2 gen. Termo de bo-
tânica. Planta unicante ; arbusto de um ■
só talo, não dividido em outros. *
f UNICAP3ULAR, adj. 2 gen. Diz-se
do frncto que consta de uma só capsula.
f UNICAULE, adj. 2 gen. Termo de
botânica. Diz-se da planta que tem só
uma liaste.
-}• UNICEILULAR, adj. 2 gen. Que é
formado de uma só cellula.
— Diz-se dos animaes e vegetaes cuja
organisação offerece um tal grau de sim-
plicidade, que não são representados ou
cnstituidos senão por um único elemento
anatómico análogo aos que pertencem ao
grupo das cellulas.
— ,1 tkci^ria nnicellular dos infusa
rio» ; theoria que considera os infusorios
como uma cellula, e reduz a uma só di-
visão todos 03 phenomenos de reproduc-
ção.
7 UNICHR0I5M0, 5. m. Termo de mi-
neralogia. l'ro]'riedade de certos mineraes
de dar sempre a mesma côr, qualquer que
seja o sentido em que os raios luminosos
os atravessem.
f UNICHROITA. adj. 2 gen. Termo di-
dáctico. Quo offerece o unichroismo.
UNICIDADE, s. f. Termo didáctico.
Qualidade do que é único. — Unicidade
do foco óptico que forma o crystaUifw. —
UNID
UííIF
USIJ
859
Unicidade ã'e.v£mple. — Unicidade que
excltie a pluralidade.
j- UNICISKO, s. m. Termo de medici-
na: Doutrina do unicismo ; doutrina em
que se ailmitte que todos os accidentes
até ao pra?ente deícriptos como syphiliti-
cos são produzidos pela inoculação de um
virus único.
ÚNICO, A, adj. (Do latim unicus, de
unus\. Que é um, que nào ha outro.
— Termo da Escriptura. O único ne-
cessário; o negocio da salvação.
— Termo de alchimia. O único per-
feito ; o mercúrio dos phiiosophos.
— Termo de numismática. Medalhas
únicas ; medalhas que nào se encontram
mesmo nos gabinetes os mais ricos e que
somente se encontram por acaso.
— Figuralamente : Que é infinitamen-
te superior aos outros, ao qual nenhum
-pôde ser comparado.
— Diz-se de certas cousas, ás quaes
nenhuma outra pôde ser comparada. —
Unia gentileza única.
— Particular, ou especial.
— Syx. : Único, só, singular.
Uma cousa é única, quando não ha
outra cousa de sua mesma espécie. Um
objecto é só, quando nào está acompa-
nhado de outros. O que é singular re-
presenta o individuo d'uma espécie como
único e só, sem relação aos demais indi-
víduos.
Um filho de família que nào tem ir-
mãos, nem irmãs, é único. Um homem
abandonado de todos, e retirado do trato
do mundo, é ou está só. A phenix, se
existisse, seria singular entre as aves.
f UNICOLOR, adj. 2 gen. (Do latim
.unicolorus, de unus, e color). Que é de
uma só côr. — A abel/ui unicolor.
— Figuradamente: Que é de uma só
cCr politica.
UNICORNE, s. m. (Do latim unicornis,
de unus, e cornu). Animal fabuloso que
tinha um só corno.
— Espécie de rhinoceronte.
— Uma pedra mineral.
f UNICOTYLEDONEO, A, adj. Termo
de botânica. Que tem um único cotyte-
don.
UNIDADE, s. /. (Do latim unitas).
Principio do numero.
— Quantidade tomada arbitrariamente
para servir de termo de comparação a
outras quantidades da mesma espécie. —
Unidade de volume, de peso, de força,
de calor, etc.
— Termo de phvsica e de chimica.
Diz-se das moléculas, átomos ou equiva-
lentes dos corpos.
— Qualidade do que é um, sem partes,
em opposiçào á pluralidade.
— O que forma um todo completo na
sua espécie, como um cavallo, uma casa,
um homem.
— O que firma o caracter de união.
— Não ha unidade na sua conducta.
■ — Termo de litteratura dramática. As
três unidades ; a regra que estabelece
que nào haja senão uma acção n'uma
peça, que esta acção se passe no mesmo
logar, e que não dure mais de um dia : a
unidade d'acçào, quando no poema dra-
mático nào ha senão uma acção princi-
pal; a unidade do logar, quando a acção
se passe no mesmo logar, na mesma casa,
e proximidade; e a unidade de tempo,
quando a acçào se passe no espaço de
vinte e quatro horas.
— Termo de anatomia. Unidade de
composição, ou de plano: principio anató-
mico estabelecido por inducção com o au-
xilio do methodo compai-ativo, que con-
siste em que os animaes e vegetaes os
mais differentes por suas fóniias, volume,
côr, etc, são reductiveis pela analyse
anatómica a um tvpo único e commum
de composição orgânica.
— Unidade da matéria; hypothese se-
gundo a qual nào existiria senão uma
substancia de que todos os corpos não
são senão modificações.
— Termo de pathologia. Unidade mór-
bida; conjuncto de lesões e de sympto-
mas correspondentes, que coexistindo ou
succedendo-se n'uma ordem determinada
pouco mais ou menos sempre o mesmo,
n'um ser vivo, offerecem relações de simi-
Ihança e de successão sufficientes, de um
individua a outro, para merecer ser con-
sideradas como um todo pelo pathologis-
ta, e para receber um nome em relação
com sua natureza.
— O ser, o estar só.
— Concórdia de vontades.
UNIDAMENTE, adv. (De unido, com o
suffixo «mente»). Com união.
— Com conformidade.
UNIDO, pai-t. pass. de Unir. Junto. —
A alma unida a um corpo.
— Estad os-JJniàos; grande republica
na America septemptrional .
— Em que reina a união, a concórdia.
— Sem desegualdades.
— Que nào tem ornato algum.
— Uniforme, sem variedade. — Uma
conducta unida.
— Sem perturbação.
— Ordinário, que nada tem de notá-
vel.
— Figuradamente: Confederado.
— Que vive em estreita amizade.
UNIFLORO, A, adj. (Do latim uiius, e
fos). Termo de botânica. Que tem uma
&ó flor.
— Casulo unifloro; onde se inclue so-
mente um tlosculo, como o milho, etc.
j UNIFOLIO, A, adj. (Do latim unus,
e folium ■. Termo de botânica. Que tem
uma só folha.
— Diz-se das folhas compostas cujo
peciolo não tem senão um foliolo. — A la-
ranjeira unifolia.
UNIFORMAR, v. a. Termo em uso. Dar
uma fúrma similhante a varias cousas.
— Dar uma firma egual, análoga em
todas as suas partes.
1.) UNIFORME, adj. 2 gen. (Do latim
unifoi-mis, de unus, e fonna). Que tem a
mesma forma, onde se não descobre al-
guma variedade, em que todas as partes
se assimilham entre si. — Uma planicit
uniforme.
— Esfylõ uniforme ; estylo a cujas miu-
dezas, tom, e movimento faltam varie-
dades.
— Termo de mecânica. O movimento
dum ponto é uniforme quando este pon-
to percorre, no seu trajecto, espaços
eguaes em tempos eguaes, quaesquer que
sejam estes tempos.
— Termo de mineralogia. Estructura
uniforme; estructura folhada d'nma rocha,
quando as folhas são todas da mesma na-
tureza.
— Tei-mo de botânica. Calathide uni-
forme; aquella em que as flores são to-
das da mesma forma.
— Egual, similhante, fallando das cou-
sas que se comparam.
— Habito uniforme ; habito feito se-
gundo o modelo prescripto a um corpo
militar, a uma pensão, a um coUegio.
— O movimento uniforme de dous cor-
pos; que em tempos eguaes percorrem
espaços eauaes.
2.) UNIFORME, s. m. Vestido d'uma
côr e de uma forma particulares, pelo
qual se distinguem todos os homens per-
tencentes a um mesmo corpo, e a um
mesmo posto n'e?se corpo.
UNIFORMEMEIíTE, adv. (De uniforme,
com o suffixo it mente n). De um modo
uniforme. — Todos os habitantes d' esta
cidade se vestem uniformemente.
— Termo de mecânica. Movimento uni-
formemente variado; diz-se aquelle em
que a velocidade varia proporcionalmen-
te ao tempo : uniformemente accelerado,
se a velocidade vae augmentando ; uni-
formemente retardado, se vae diminuindo.
UNIFORMIDADE, s. f. (Do latim uni-
formitas, de uniformis). Similhança das
partes d'uma cousa, ou de muitas cousas
entre si.
— A qualidade do que é uniforme,
conforme comsigo.
— Invariabilidade nos sentimentos, e
no proceder conforme a elles.
t UNIFORMISAÇÃO, s. /. Acto de uni-
formisar, de tornar uniforme.
f UNIFORMISADO, part. pass. de Uni-
formisar.
UNIFORMISAR, v. a. Tomar uniforme.
— Dar ás cousas a mesma forma, de
modo que fiquem, ou possam dizer-se uni-
formes.
UNIGÉNITO, adj. — Filho unigénito;
filho único, que se teve.
— Por antonomásia : Jesus Christo, o
Unigénito de Deus Padre.
UNIJUGADAS, adj. f. plur. Termo de
botânica. Folhas unijugadas; folhas com-
860
UNIP
postas, cujo peciolo nilT tem senilo um
único par do foliolos collocado no seu
vórtice.
f UNILABIADO, A, adj. Tonno de bo-
tânica. Que iiào tein soiiSo um uuico lá-
bio.
UNILATERAL, adj. 2 (jen. (Do latim
uiius, c laterin). Termo do historia natu-
ral. Que é disposto d'ura só lado. — As
Jlôres em algumas borrayinetis são unila-
teraes.
— Termo do jurisprudência. Contra-
ctos unilateraes; aquolles em que uma ou
mais pessoas sào obrigadas para com as
outras, som que haja empenho da parte
d'e~tes últimos; diz-ae om opposiçào a
bilateral.
— Termo didáctico. Que se inclina,
propende para um si) lado.
1 UNILATERALMENTE, ndv. (De uni-
lateral, ci>m o suíTixo «mente»). De um
modo unilateral.
f UNILINGUA, adj. 2 gen. (Do latim
ttnus, e lingaa). Que estil em uma só liu-
giia. — 'lextos unilingues. — Descripçdes
unilinguas.
-j- UNILOBADO, A, adj. Termo didácti-
co. Quo tem um só lóbulo. — Antheva
unilobada.
I UKILOCULAR, adj. 2 gen. (Do la-
tim uiius, e loculus). Termo de historia
natural. Que tem um só loculo, ou ca-
vidade; cuja cavidade interior não está
dividida por alfiunia separação completa.
— Piricarpo unilocular.
f UNIMIXTO, A, adj. Termo de mine-
ralogia. Diz-ic d'um crvstal produzido
em virtude de duas divisões.
-{- UNINERVEO, adj. Termo de botânica.
Que não apresenta senSo uma única ner-
vura.
UNIÔA, s. /. Termo de historia natu-
ral. MoUusco acephalo.
— A uniôa das praias.
•j- UNIPARO, A, adj. (Do latim unus,
e 2-'«''«''f)' Termo de physiologia. Diz-se
dos animaes, que, normalmente, dão um
filho de cada barrigada.
UNIPESSOAL, adj. 2 gen. Termo de
grannnatica. Diz-se dos verbos que só tem
uma pessoa, e que se chamam de ordiná-
rio impessoaus. *)- granimaticos modernos
preferem unipessoal para designar os ver-
bos que se empregam Siimente nas ter-
ceiras pessoas do singular.
I UNIPESSOALMENTE, adv. ,(De uni-
pessoal, e o suffixo «mente»). A manei-
ra de verbo impessoal.
f UNIPETALO, A, adj. Termo de botâ-
nica. Que tem uma pétala só. — Corolla
unipetala.
UNIPOLAR, adj. 2 gen. Termo de physi-
ca. Que tem um só polo.
— Diz-so dos fios d'uma pilha, que não
conduzem senão uma única electricidade,
por provirem de cada uma das extremi-
dades ou Ídolos da pilha.
-}- UNIPONTUADO, A, adj. Quo não c
UNIT
marcado senão com um b(j ponto colo-
rido.
UNIR, V. a. (Do latim unire, de unut).
Fazer um hi>, tornar um «ó.
— Juntar ao mesmo tumjto.
— Fazer quo pojsoas se reunam. — A
virtude que nos separa sobre a U^rra, nos
unirá diípois na morada ettrna.
— Estabelecer uma commuiiicaçno en-
tre.— Um rio une estas duas cidade».
— i^ussuir siumltaneamente. — Este ho-
mem une o espirito ao saòar.
— l-'igura' lamentei; F-.tabelei'er um la-
ço entre jjesíoas. — Nunca irmãos se uni-
ram por laços nem tão doces item tão po-
tentes. — TeiJiO uma ternura de coração
para com a^uelles que Deus uniu mais es-
treitamente.
— Figuradamente : Procurar a coucor-
(iia, alliança. — E um interesse commum
que os uue.
— Unir-se, v. rejl. Tornar-se um só.
— Figuradamente : Formar laços com
alguém.
— Consolidar-se.
— Combiuar-se.
— Ter copula carnal, fallando dos ani-
maes.
— Ajuntar-se om tropa para algum
fim, e talvez para algum acto de rebel-
liào, ou tumulto.
— Associur-se, alliar-se.
— Syx.: Um", o/u/iíar. Vid. este ulti-
mo termo.
f UNIREFRA..VGENTE, adj. 2 gen. (De
uni, e refraugentej. Termo de óptica.
Que produz uma uuica retracção. — Meio
imirefraugeute.
UNISEXUAL, adj. 2 gen. (De uni, e
sexuaij. Termo de botânica. Que nào tem
senão um só sexo, ou cujas tiores nào
tem seuào um só sexo.
— Diz-so das iiox-es, das plantas que
não se reúnem pelos dous sexos, teudo
somente ou estames, ou pistillos.
— Paixão unisexual ; diz-se, na escola
societária, àa amizade.
UNISONANCIA, s. f. Concorrência de
duas ou mais vozes em um tom de musica.
— Conformidade, harmonia de diver-
sas cousas.
— Monotonia, ou som não variado.
UNISONANTE, adj. 2 gen. Vid. Uni-
souo.
UNISONO, A, adj. (Do latim unus, e
soHus). Que tem o mesmo som que outra
voz, termo, palavra.
— Figuradamente: Egual, similhanto,
da mesma condição.
— Figuradamente: Que conforma com
outro no mesmo tom.
UNIáONUS. Vid. Unisono.
UNISPIGADO, A, adj. Termo de botâ-
nica. Que tem uma só espiga.
UNISSIMO, A, adj. superl. do Um, ou
Único. Muito s>'i, e único.
UNITÁRIO, A, alj. Que tende á uni-
dade.
UOTV
— Termo do mineralogia. Cuja forma
resulta de um bó decrescimcnto por uma
classe.
— Termo de chimica. íiysiana oníta-
rio ; HVHtema opposto á tlieoria dualintica
do Bcculo ultimo, e em que os compoa-
tos BC c^aaicleram como con8tituid0'i por
grupos d'atomos que une entre si o laço
d'affiiiidade, e que formam um todo.
— Termo de biologia. Diz-se dos seroe
que apresentam os cariíctere» de unidade.
— Animaes unitários; os vertebradas,
os molluscoK e os infuiorios.
— Termo de teratol<);ria. Monstros uni-
tários ; a primeira classe da classificação
de Isidoro Santo Hilário, coraprehenden-
do todos 08 monstros, nos quaes nSo se
enco,:tram os elementos sen&o d'um úni-
co individuo.
— tí. m. Aquelle que admitte um bvs-
tema theologico, em que a unidade do-
mina.— Doutrinas unitárias. — A here-
sia unitária.
UNITARIANISMO, a. m. Doutrina dos
unitário.-'.
UNITIVO, A, adj. Que faz unir.
— F*a unitiva, Vid. Via.
— Termo de anatomia. Fibras uniti-
vas do coração; fibras que unem os fas-
ciculos musculares tendo uma direcção
dada com aquellas que teem uma direc-
ção contraria.
— Termo de devoção. Que une pelo
puro amor. — Todo o amor é essencial-
mente unitivo.
UNIVALVE, adj. 2 gen. Termo de his-
toria natural. Diz-se dos muUuscos cuja
concha se compõe d'uma só peç^a.
— Termo de botânica. Diz-se de um
pericarpo que siimeute se abre d'um lado.
— Substantivamente : Um anivalve.
UNIVERSAL, adj. 2 gen. (Do latim uni-
versalis). Que se estende a tudo, que se
estende por toda a parte.
— Sujfragio universal ; direito de vo-
tar nas eleições concedido a todo o cida-
dão de uma certa edade.
— Concilio uuiversal; diz-se algumas
vezes por concilio ecumenio.
— Bispo tuúversal ; nome que se dá ao
papa.
— Jubileu universal ; jubileu concedi-
do a toda a Egreja.
— Termo de theologia. Graça univer-
sal ; diz-se, entre os reformados, da graça
derramada em todos os homens pelo sa-
crificio de Jesus Christo.
— Que tem capacidade para toda e
qualquer cousa.
— Este homem é universal ; tem uma
g^rande copia de conhecimentos. Diz-se do
mesmo modo : óciencia imiversal.
— Termo de lógica. Que comprehende
tudo, que tem o caracter da generalida-
de abstracta.
— Em universal; sem excepçio de
pessoa .
— lá. m. Termo de escolástica. NoçSo
UNIV
UNS
URAN
861
que abrange a todos os indivíduos de uma
espécie, ou género.
— Syn. : Universal, geral. Vid. este
ultiniõ termo.
UNIVERSALIDADE, s. f. (Do latim uni-
versalitas, de universaUs). Caracter do
que é universal, geral.
— Caracter do que se estende a iam
conjuncto de logares, de temjjos, de seres.
— Termo de jurisprudência. Totali-
dade. — A universalidade dos bens.
— AptidSo para tudo; capacidade uid-
versal .
— Termo de lógica. Qualida<le d'uma
proposiçiío universal. — E' verdade que
suas idéas são simples, extensas e vastas;
partem em primeiro logar d'uma grande
universalidade que é como o tronco, e em
seguida se dividem, e subdividem, e,
para assim dizer, se ramificam até ao in-
finito.
f UNIVERSALISMO, s. m. Opinião dos
universaliístas.
UNIVERSALIS3IM0, A, aJj. superl. de
Universal.
f UNIVERSALISTA, s. m. Membro de
uma seita chamada também latitudina-
ria, crendo que os homens se salvam,
quaesquer que sejam as suas opiniões
religiosas.
UNIVERSALIZAR, ou UNIVERSALI3AR,
V. a. Turnur universal; espalhar pelo
universo.
— Derramar por todas as classes.
UNIVERSALMENTE, adv. (De univer-
sal, e o suffiso «mente»). De um modo
universal.
— Em lógica, comprehendendo ura gé-
nero, uma classe, ou outra qualquer
cousa.
UNIVERSIDADE, s. f. (Do latim uni-
versitas, de universus). Oatr'ora corpo
de mestres, estabelecido por auctoridade
publica, gozando de grandes privilégios,
e tendo por objecto o ensino da theolo-
gia, do direito, da medicina, e das sete
artes, que são : a grammatica, a rheto-
rica, a dialéctica, a arithmetica, a geo-
metria, a musica, e a astronomia. — As
universidades de Pisa, de Coimbra, de
Salamanca. — ■ Hoje que tudo está cheio
de collegios, de universidades, de aca-
demias, de mestres particulares, de li-
vros, que são mestres ainda mais segu-
ros, que necessidade ha de sair da pátria
para estudar em qualquer género que
seja ■?
— A universidade ; os discípulos da
universidade, os estudantes.
— Em geral, as escolas.
— A totalidade das cousas, o universo.
— A totalidade de membros d'algum
concelho, collegio, confiaria.
— Figuradamente : A universidade do
mundo; a conversação, e trato com as
nações, seus sábios, e tudo o que é litte-
rato, artificial e mechanicos de que elle
consta.
1.) UNIVERSO, s. VI. (Do latim ttuí-
versus). O systema illimitado de plane-
tas, de cometas, de satellites, de soes,
de estrellas disseminados no espaço, svs-
tema que parece gyrar em volta do nós.
— i^articularmente : O systema solar,
com seus planetas e satellites, chamado
também mundo, quando se oppõe o mun-
do a universo.
— A reunião de todos os entes crea-
dos.
— Espaço immenso, onde não ha de-
serto algum.
— Os habitantes da terra.
— A sociedade, no seio da qual se vi-
ve; o unindo.
— Figuradamente : Domínio material,
intellectual ou moral, comparado ao uni-
verso.
— Syn. : Universo, mundo. Vid. este
ultimo termo.
2.) UNIVERSO, A, adj. (Do latim uni-
versus). Universal, todo, inteiro. — O
mundo universo.
UNIVOCAÇÃO, s. f. (Do latim univo-
catio, de unívocas). Termo de escolásti-
ca. Caracter do que é unívoco.
UNIVOCAMENTE, adv. (De unívoco,
e o sufExo «mente»). Com nome unívo-
co, com cansa unívoca.
UNÍVOCO, A, adj. (Do latim univo-
cus). Turmo de escolástica. Diz-se dos
nomes que se applicam a muitas cousas,
quer da mesma espécie, quer de espécie
aitfereiite, porém do mesmo género, co-
mo animal, homem, etc. — Animal é um
termo unívoco ao leão e á águia.
— Que não é susceptível senão de uma
só interpretação.
— Que é da mesma natureza. — E'
assim que se diz que a sympathía e an-
tipathia dos corpos naturaes são as cau-
sas sufficientes e unívocas de muitos ef-
feitos.
— Termo de grammatica. Diz-se das
palavras que tem o mesmo som, ainda
que tenham significação diversa,
— Uniforme, totalmente parecido.
— Synonymo.
UNO, A, adj. (Do latim iinus). Termo
de theologia. Um, único, de uma sub-
stancia e ser. — Trinu e uno em 2Jessoas.
UNOCULO, A, adj. (Do latim unocu-
liis). Que tem um só olho.
f UNONA, s. f. Termo de botânica.
Género da família das anonaceas, de que
ha varias espécies.
UNS, plur. de Um. Vid. Um. — «Es-
tes soem ser uns mal-estreados parentes-
cos. Certo que já me puz a philosophar
comigo somente, sobre a causa d'esta
desavença; e outra não posso achar, sal-
vo aquella que em outra diâerente cau-
■sa deu o mestre dos políticos, dizendo ;
Que aos grandes eram agradáveis as
obrigações, em quanto as pociíam pagar;
mas como cresciam mais, ainda em vez
de amor causavam ódio.» D. Francisco
Manoel de Mello, Carta de guia de ca-
sados.
UNTADO, part. pass. de Untar.
— Figuradamente : Cidade untada da
lei de Mafamede.
UNTADOR, A, adj. e s. Que unta.
UNTADURA, s. /. Vid. Untura, e Un-
ção.
UNTAR, V. a. Applicar esfregando. —
Untar o corpo com Jricçves.
— Figuradamente : Untar o carro, ou
as 'mãos; dar peita para apressar a con-
clusão do negocio, ou corromper.
UNTO, s. 7rt. A gordura dos rins, ou
entranhas do porco.
— Caldo de imto ; caldo temperado
com elle, derretido em agua e sal.
— Pomada com que as mulheres co-
ram as faces.
UNTOSO, A, adj. Vid. Unctuoso.
UNTURA, s. /. Unção com óleo.
— Fricção com unguent^j medicinal.
— Unguento, ou óleo aromático para
ungir.
UPA. Interjeição que serve para ani-
mar a pular, saltar, etc.
UPADO. Vid. Opado.
UPAS, s. m. Snbstancia venenosa de
que os habitantes das ilhas da Sonda se
servem para envenenar suas frechas, e
cuja menor quantidade basta para matar
ínimeiiiatamente. Vid. Ipo.
UPOS, s. m. plur. Ofíjciaes de justi-
ça da China.
UQUER, adv. Termo antiquado. Onde
quer que.
URA, s. /. Termo de historia natural.
Crustáceo dos mares do Brazil, do géne-
ro dos caranguejos.
URACA, s. /.■ Termo da Ásia. Vinho
feito de agua dos cachos da palmeira dis-
tillados. Vid. Sura.
URAGÃO, s. m. Vid. Furacão.
URACO, s. m. (Do grego ourakos). Ter-
mo de anatomia. Um dos quatro vasos
umbilicaes, pelo qual o feto lança a uri-
na, ou por onde sáe a urina da bexiga.
t URAGOGA, s. f. Termo de botâni-
ca. Nome especifico d'uma planta, a yw-
ha dei meravedi, dos hespanhoes ameri-
canos.
t URANETO, s. m. Termo de chimica.
Sal produzido pela combinação do oxydo
uranico com uma base.
7 URANIA, í. /. Uma das nove mu-
sas ; a que preside á astronomia.
— Planeta telescópico descoberto em
1854.
— Genei-o de borboletas diurnas.
f URANICO, adj. m. Termo de chimi-
ca. Diz-se do segundo oxydo d 'urânio e
dos saes que produz.
URANICO-CALCICO, adj. n. Termo de
chimica. Diz-se de um sal uranico com-
binado com um sal cálcico. Diz-se do
mesmo modo uranico-cuvrico.
f URANIDES, s. m. plur. Família de
mineraes derivados do urânio.
862
URBA
URET
URGE
URÂNIO, «. in. Tuniio du chiniica. Cor-
po RÍiii])lcM mutallico extraliido do uraiio.
URANITO, s. 711. Phoflpliato <lo urânio
natural .
URANO, s. «I. Termo de ohimica. Com-
posto do uraiio e de oxyfceneo ; corpo
considerado muito teinpo como corpo sim-
ples, in.is ((uc fui ilecompiiato cm 1841.
URANOGRAPHIA, s. ,/'. DescripçHio do
ceu.
f URANOGRAPHICO, A, adj. Que per-
tence :i nraiiw,iíia]>iiia.
f URANOGRAPHO, s. m. Homem que
faz uma dc.-icrl}ii;ã() do céo.
— Titulo de muitas obras d'astronomia.
— Auetiir d'uma uraiio<;;raphia.
URANOLOGIA, s. /. (De oarunos, o lo-
gos). Discurso sobre o cén.
URANGMETRIA, s. /. (Do grego oura-
nos, tí weíroií). A sciencia dos astrónomos
que medem o ceu.
URANOPLASTIA, s. f. Termo de ci-
rur^'ia. (Jjjcrai,'ào que tem por fim curar
as aljerturas cungeuitaes do paladar.
URANORAMA, s. m. (Do gr.ígo oura-
nos, e Iviraina). Vista do c^'u; exposição
do svstoma planetário, com o auxilio de
um globo movei.
URANOSCOPIO, s. m. (Do latim ura-
noscupus). i'eixo do mar, que tem os
olhos em cima da testa, e virados para o
ceií.
f URAN0STE3PLASTIA, s. /. Termo
de cirui-gi;i. <'i>eraeão ])ola qual se pro-
duz a occlusão das perfurações do paladar
por approximaçào dos ossos da abobada
palatina.
URATO, s. m. Termo de chiniica. No-
mo genérico dos saes formados pela com-
binaçílo do acido úrico com as bases. —
Urato (Vammoniaco.
— Estrume composto d'uma mistura
de urina, e ile terra.
URBANAMENTE, mlv. (De urbano, e
o suffixo umente»"). Com urbani lade, cor-
tezmente.
— - Dl' uma maneira urbana.
URBANIDADE, s. /'. (Do latim urbani-
tas, dtí urbanus). A politica dos antigos
romanos.
— A cortezia, e bom termo, os esty-
los da gente civilisada e polida ; civilida-
de, policia.
URBANISTA, adj. c s. 2 gen. Morador
de cidade, cidadão.
t URBANISTAS, s. /. Religiosas de
Santa Clara, que podem possuir feudos,
assim chamadas porque o jiapa Urbano
VIU lhes deu sua r(ii,'i'a.
URBANIZAR, ou URBANISAR, v. a.
Tornar urbano, civilisar.
URBANO, A, alj. (Do latim urbanus,
de urbs). Que diz respeito á cidade, que
pertence a ella; em opposição a rural.
— Guarda urbaua.
— Dotado de urbaiúdade.
— /S. III. Habitiuite d'uuia cidade ; cm
opposição a aldeão, villão, agresU.
URCA, s. /. E.iiliarcação de combol
nas armadas, espécie de barco grande, c
muito largo. Viil. Urco.
URCHILIA, ou URCHILLA, «. »». Côr
roxa, ou de violeta, cxtrahida de varias
planta».
URCHO, «. "1. Hatoquc, rolha, tudo o
que Kcrvc para tapar.
URCO, s. 7». Cavallo de raça mui
grande; frisão.
— O urco das cubas; a rolha.
URDIMAÇAS, ou URDIMALAS, adj. inv.
Ordidor de maldades, c iii.ls obras.
URDIDOR, .1. wi. Vid. Ordidor.
URDIR. Vid. Ordir.
URDUME, s. VI. Vid. Ordume.
UREA, s. /. (Do grego ourou). Termo
de cliiniica. Substancia jiarticular que se
encontra na urina do homem, sendo ella
um dos princípios immediatos.
-}- UREMIA, s. /. Termo de medicina.
Accumuiaçào de urea no sangue.
UREMICO, A, adj. Que diz respeito á
urcnúa.
URETERALGIA, *./. Tormo de medici-
na. Dôr no tr.ajccto dos ureteres.
URETERES, s. m. plur. (Do grego ou-
rettr). Termo de anatomia. Canal mem-
branoso destinado a conduzir a urina dos
rins para a bexiga.
I URETERICO, A, adj. Que diz res-
peito aos ureteres. — hchuria ureterica.
-j- URETERITE, s. f. Termo de medi-
cina, lirianimaçrio dos ureteres.
URETERO, A, adj. Da uretra, ou con-
cernente á uretra. Vid. Urethrai.
t URETEROLITHIASE, s. /. Formação
de cálculos nos ureteres.
URETERAL, adj. 2 gen. Que diz res-
peito {i uretiira. — £a;crcsce)iCí"a urethrai.
f URETHRALGIA, s. /. Termo de me-
dicina. Dôr na uretrha sem phenomenos
inihimmaturios.
f URETHRITE, s. /. Termo de medi-
cina. Inflammação da urethra, blennor-
rhagia.
f URETHROCYSTOTOMIA, s.f. Termo
de cirurgia. OperaçTio que consiste em
dividir o canal da urethra para penetrar
até á bexiaa.
f URETHROPENIANO, A, adj. Que diz
respeito á urethra e ao peuis.
— Fistula urethropeniana; fistula uri-
naria cujo oriticio externo se abre na par-
te anterior do escroto, ao longo do penis.
f URETHROPERINEAL, adj. 2 gen.
Termo de anatomia. Que diz respeito á
urethra e ao perinco.
— Fistula urethroperineal ; fistula
urinaria, cujo oriticio exterior se abre
no perineo, por detraz do escroto, e o
orificio interior, tendo a sua sede n'uma
parte da mucosa urethrai, na sua parte
membranosa em geral.
-;- URETHROPHRAXIA, .«. /. Termo de
ciruraia. OhstnK-kjMn ila uretlu-a.
f URETHROPLASTIA, s. /. Termo de
cirurgia. Operaçilo que tem por fim se-
parar uma perda de substancia experi-
mentada pida untlira.
f URETHRORRHAGIA, i. /. Termo do
cirurgia. I b-ni<..TÍja;rla da urethra.
f URETHRORRHAPHIA, ». /. Termo
de cirurgia. .Sutura pratica<ia ua urethra
fendida.
I URETHRORRHEA, *. /. Termo de
cirurgia. Kscoainento pela urethra.
f URETHROSCOPIA, s. f. Exame da
urethra por meio do urethroscopio.
t URETHROSCOPIO, ». m. Termo de ci-
rurgia. ln.strnmeiito imaginado para exa-
minar o interior da urethra.
t URETHROSCROTAL, adj. 2 gen. Ter-
mo de anatomia. Que diz respeito á ure-
thra e ao escroto.
— Fistula urethroscrotal ; fistula uri-
naria, cujo oriticio externo tem a sede
sobre um ponto da supertície do escroto,
c o interno [jartindo do canal da urethra.
URETHROSPASMO, *. m. íDo grego
ourêthra, e spasmai. Termo de patholo-
gia. Espasmo da urethi-a.
I URETHROSTENIA, s. f. Termo de
cirurgia. Apcrt'i da urethra.
j- URETHROTOMIA, s. f. Incisão da
urethra.
— Urethrotomia externa ; operação que
consiste em uma incisão de fora para o
interior do canal da urethra.
I URETHROTOMO, s. m. Termo de ci-
rur^ria. Instrumento que ícrve para cor-
tar a urethra.
URETICO, A, adj. Termo de medicina.
Vid. Diurético.
URETO. Desinência de muitas compo-
sições ehimicas, ou de vocábulos Cí)mjK)S-
tos, que exprimem estas composições con-
forme a n<imenclatura chimica. Quando
um metal com um metalloide, ou dous
mctailoides se combinam, o nome do
composto ô formado do nome do elemen-
to negativo terminado cm nreto, e se-
guido do nome do jiositivo precclido da
proposição de; como íuZ/vAureto <le cobre,
cariureto, ^Aos/j/iureto, etc.
URETRA, ou URETHRA, s.f. (Do gre-
go otirithra). Termo do anatomia. Canal
excrctor da urina nos dous sexos.
URGA, .•!. f. Herva.
URGEBÃO," ou URGEVÃO, .«. m. Vid.
Verbena.
URGÊNCIA, s. /. (Do latim urgeniia).
Qualidade do que é urgente. — Um caso
f/urgencia. — A urgência ílas circum-
stancias. — Urgência <los negócios.
— Aperto, pressa, que faz força ao
animo.
URGENTE, adj. 2 gen. (Do latim ur-
gem, de urgere). Que não ofiierece ne-
nhuma demora.
— Que aperta, que faz força ao animo.
— Necessidade urgente ; necessidade á
qual é mií^ter acudir com pres.sa.
— Negocio urgente; r.ogocio que dere
tratar-se, discutir-se, coucluir-se depres-
I sa e logo.
URIN
UROP
ÚRSU
863
— Oppressor.
URGENTEMENTE, adv. (De urgente, e
o suffixo (I mente»). De nm modo urgente.
— Com ]ires?a, com urgência.
urgentíssimo, a, a<lj. superl. de Ur-
gente. Mui urgente.
URGIR, V. a. Q n. (Do latim urgere).
Apertar com alguém, fazer força ao ani-
mo.
— Dar pressa, requerer, diligenciar,
exigir discussão. — Urgirem os negócios.
— O tempo urge ; o tempo aperta, é
mister aproveital-o.
ÚRICO, A, adj. Termo de chimlca.
Dizse de um acido produzido pela com-
binação da urea com o oxygeneo; e
constituo a parte branca dos excremen-
tos das aves, e de muitos reptis.
URINA, ou OURINA, s. /. (Do latim
urina). Liquido excrementicio segregado
pelos rins, d'onde corre pelos ureteres
para a bexiga, que, depois de o ter con-
servado em deposito durante algum tem-
po, o tira para fora pela urethra contra-
hindo-se. — Siipjjressão (í'urina. — Reten-
ção cZ^urina. — A urina dos cavaUos não
contém acido j^hosphorico nenhum.
— Urinas ardentes ; urinas vermelhas,
cuja coloração é talvez devida ao acido
rosacico.
— Essência cZ'urina; sal ammoniacal,
que se cxtrahia outr'ora da urina.
— Medico das urinas ; medico que pre-
tende, pela inspecção da urina, conhecer
as doenças. Vid. Ourina.
URINAR, V, n. Evacuar a urina, fal-
lando sobretudo dos doentes.
— V. a. Lançar pela urethra.
URINÁRIO, A^ ndj. Termo de anato-
mia e de medicina. Que diz respeito á
urina. — Calculo urinário.
— Meato urinário ; o orifício da ure-
thra.
— Fistulas urinarias ; fistulas que dei-
xam escoar a urina, distinctas em vesi-
caes e urethraes.
— Vias urinarias ; conjuncto dos ca-
naes e cavidades destinadas a transmit-
tir ou a conter urina, desde o momento
em que se faz a secreção d'este liquido
até á sua eliminação definitiva.
f URINIFERO, 'a, adj. (De urina, e
ferre). Termo de anatomia. Que traz uri-
na. — Omnes uriniferos.
f URINIPARO, A, adj. (Do latim «í-í-
na, e parere). Termo de anatomia. Que
produz urina.
— Tubos uriniparos ; tubos que produ-
zem urina, ou tubos da substancia corti-
cal do rim.
URINOL, s. 7)1. Logar disposto para
urinar nas ruas, ou logares públicos.
— Vaso era que os doentes podem uri-
nar commodamente.
— Vaso em que se urina ; e moderna-
mente espécie de cantoneira nas esquinas
das ruas para o mesmo fim.
URINOSO, A, adj. (De urina, e o suf-
fixo «oso»). Qne diz respeito á urina. —
Abscesso urinoso. — (Jheiro urinoso.
— Que tem cheiro, e sabor de urina.
URNA, s. f. (Do latim urna). Nos an-
tigos, grande vaso de esgotar agua.
— Vaso que servia para conter as cin-
zas dos mortos, as lagrimas dos que os
choravam.
— Vaso com que se representam os
rios entornando d'elle as aguas.
— Vaso d'onde se tiravam, e tiram as
sortes ao votar, ou eleger.
— Diz-se da caixa em que se recolhem
os votos. — A urna eleitoral.
URNARIO, A, adj. Em forma de urna.
— tí. m. Termo de botânica. Corpo
globoso que contém as semente» de al-
guns fungos.
URO, s. wí. Espécie de boi bravo, que
alguns entendem ser o bufaro.
"f UROBENZOATO, s. m. Termo de
chlmica. Nome antigo dos hyppuvatos.
UROCHEZIA, s. /. (Do grego ourôn, e
chezò). Termo de pathologia. Diarrhea
urifera.
X UROCHROMO, s. m. Matéria coloran-
te da urina.
f UROCRISIA, s. /. Termo de medici-
na. Juizo que se faz segundo a inspecção
das urinas.
f UROCYANINA, s. /. Termo de chimi-
ca. Principio immediato real, accideutal,
da urina.
f UROCYSTITE, s. f. Termo de me-
dicina. Intlammação da bexiga urina-
ria.
f URODELO, adj. Termo de zoologia.
Que tem mna cauda muito apparente.
f URODYNIA, s. /. Termo de medici-
na. Sentimento de dor que se experi-
menta urinando.
•]- UROGASTRO, s. m. Cauda d'um ca-
ranguejo, e ontros crustáceos decapodos.
f UROGENITAL, adj. 2 gen. Termo de
anatomia. Que diz respeito ao apparelho
urinário e ao apparelho genital.
f UROLITHO, s. m. Termo de medici-
na. Pe Ira urinaria nos rins.
f UROMANCIA, s. f. Arte de aiiivi-
nhar as doenças pela inspecção das uri-
nas.
f UROMANCIO, s. m. Homem que põe
em pratica a uromancia.
t UROMELO, s. m. Termo de terato-
logia. 'Monstros que tem os dons mem-
bros abdominaes mui incompletos, termi-
nados por um pé simples, quasi sempre
imperfeito, e cuja ponta está virada para
diante.
f UROMETRO, s. m. (Do grego ourôn,
e metron). Areometro disposto a dar a
densidade da urina.
f UROPHTHISIA, í. /. Termo de me-
dicina. Um dos antigos nomes da diabe-
tes.
UROPIGIO, s. m. (Do latim uropygium).
O sobrecu, ou bispo das aves.
f UROPLANIA, s. f. Termo de medi-
cina. Transporte da urina em qualquer
parte do corpo onde sua presença é anó-
mala.
UROPODE, adj. 2 gen. (Do grego atira,
e jjous, i^odos). Que anda ajudado com o
rabo.
— íSi plur. Termo de historia natu-
ral. Familia de pássaros palmipédes.
f UROPOESE, s. /. Termo de physi-
ca. ProJucçào da urina.
t UROPOETICO, A, adj. Que diz res-
peito á producção da urina, concernente
á uropoese.
-j- UROPYGIAL, adj. 2 gen. Que diz
respeito ao uropygio. — As pennas uro-
pygiaes.
— Glândula uropygial ; glândula se-
bacea do sobrecu das aves.
— Pennas uropygiaes ; pennas inseri-
das no sobrecu, as quaes cobrem a base
das grandes pennas da cauda.
URORRHAGIA, s. f. (Do grego oiirôn,
e rheô). Termo de pathologia. Fluxo de
urina, diabetes.
■\ UROSCOPIA, s. f. Inspecção das uri-
nas.
f UP.OSCOPICO, A, adj. Que diz res-
peito á uroscopia.
f UROSPERMO, s. m. Termo de botâ-
nica. C4enero do svnanthereas, em que se
distingue o urospermo pieroide.
f ÚROXANTHINA, s. /. Termo de chi-
mica. Matéria colorante da urina.
URRACA, s. f. Vid. Orraca.
— Termo antiquado. Ave, pega.
URRAR, V. n. Bramir. — Urra o leão,
o hibo, etc.
URRO, s. m. O bramido, ou voz forte
de qualquer animal feroz. — O urro do
touro, do leão, do lobo, etc.
i URROS ACINO, A, adj. Termo de
chimica. Substancia orgânica que se dis-
solve n'uma pequena quantidade d'agua,
e essencialmente caracterisada por sua
côr, que varia de côr de rosa á vermelha
amaranta tirante a negro.
URSA, «. /. (Do latim ursa). A fêmea
do urso.
— Termo de astronomia. A ursa maior,
e menor ; duas constellações boreaes : dá-
se-lhe também o nome de carro maior e
menor, e a este chamam outros cynosiira,
e n'ella estão as guardas do norte, que
são duas estrellas.
URSINO, A, adj. (Do latim ursinus).
De urso.
— Herva ursina ; herva gigante.
URSO, s. m. (Do latim ursus). Termo
de zoologia. Animal quadrúpede, pellu-
do, de grandes unhas rombas ; é de na-
tureza feroz. Vid. Usso.
URSULINAS, s. f. j)lur. Religiosas que
tiram o seu nome de Santa Úrsula, e que
são obrigadas, por seus estatutos, a cui-
dar da instrucção das donzellas ; seguem
a regra de Santo Agostinho. — E uma
ursulina.
— Toma-se também pelo convento
864
URZ
USAR
USO
onde habitam ostas religiosas. — Vamos
ás ursulinas.
f URTICINA, í. /. Termo do chimi-
ca. Matcria coloraiite vormollia dad HUiii-
II)idad^í^ da (irtlfía.
URTICIO, ou ORTICIO, A, a//. Da iia-
tur(!/,;i lia iirti^ra.
URTIGA. Vil. Ortiga.
URTIlíAÇAO, ou ORTIGAÇÃO, «. /.
Arte de ortipir.
— Termo do modicina. Espeeio do ila-
gcllação que .so pratica com aa ortigas
fresca.s para proluzir uma excitação lo-
cal.
f URTIGANTE, firt. acl. do Urtigar.
Dlz-S6 lio tu lo o quo produz uuia soii.síi-
çã I atialoga á pica ia das ortigas, com ele-
vações ou 3001 ollas, análogas ás da doen-
ça chamada urtigurin. — Os animacs ur-
tigantes mariniioí são alguns actiuios, e
muitiii' acalephos.
URTIGAR, ou ORTIGAR, v. a. Açou-
tar com urtigas.
— Urtigar-se, v. reji. Picar-se com
urtigas.
f DRTIGARIA, s. f. Termo do medi-
cina, lutlauimaçrio oxanthematosa cara-
cterisada por nódoas proeminentes, mais
amarellas, ou mais vermelhas (pie a pelle
que as envolve, raras vozes persistentes,
reproduzindo-se por acceaso, ou aggra-
vaudo-se por paroxysraos, e produzindo
um prurito similhante ao que produzem
as picadas da ortiga.
URUBU, s. m. Corvo grande, negro,
com ar de peru, que se mantém de ca-
dáveres de bois, cavallos, cubras mortas,
que divisa, ou cheira de mui alto; ó ave
do Brazil, tem a cabeça pellada; dizem
que existe um branco, rarissimo, a que
dão o nome ilo rei dos urubus.
URUGÚ, .í. m. Vid. Urucueira.
URUCUEIRA, s. /., ou URUGJ, s. m.
Termo de botânica. Nome de uma arvo-
re rosácea da Amorica, conhecila pelos
francezes pelo nome de rocoui/er : da sua
semente se prepara por trituração uma
fécula ou massa encarnada, chamada uru-
cú, que tem uso na tinturaria.
URUÇÚ. Vid. Oruçu.
URUMBEBA, s. /. Termo de botânica.
rianta do lii-azil, de folha grossa, e ar-
mada de puas, hÍíAa jurubcba; dores ro-
xas, fructo, o raiz amargos e medicinaes.
URUPEMA, ou URUPEMBA, s.f. Termo
do Brazil. Teeiílo da palha chamada urú
com vãosinhos; serve de peneirar a mas-
sa húmida da mandioca, para se afinar,
e cozci'-se depois : lia outras de palha, ou
canna brava, mais largas, e fortes, da
firma de esteiras, que em vez das gelo-
sias, ou rotulas, tapam as janellas, e por-
tas das casas pobres. Do mesmo iirií se
tecem assentos de cadeiras, e camapés,
mais grosseiros que os da palhinha da ín-
dia.
URUXI, .•••. "i. Um verniz do Japào.
URZ. Vid. Urze.
URZAL, «. 711. Matto de urzes.
— (^iiahpior matto baixo.
URZE, 8. f. Matta do muitas varinhas
duras ramosas, vestidas do fuiliinhas ás-
peras, «umpre verdo; toui tlores com fei-
ção do campainha.
— Arbusto silvestre, de que Brotoro,
além da ordinar;a acima apontada, traz
mais doz espécies.
URZEIRA, t. f. Urzo.
URZELLA, s. f. Vid. Orzella.
USADO, part. pass, do Usar. Que está
em uso. — «O JMitaquer chegando a olio,
que o estava esi)erando k entrada do
Castello, se desceu do cavallo cm que
hia, e tirou da cinta o troçailo quo leva-
va, o lho ofForcceu de joelhos, boyjando
primoyro a terra sinco vezes, que he cií-
remonia de cortesia usada entre ellcs..
Fernão Mendes Tinto, Peregrinações,
cap. 120.
— Exercitado.
— Mais do usado; mais do ordinário,
do costumado.
— Acostumado.
— Gastado com uso.
— Afeito.
USAGEM, s. /. Um tributo antigo.
USAGRE, s. m. Espécie de sarna mui
acre, que vae roendo a carne, quo vem
aos meninos mal humorados. Vid. Oza-
gre.
1.) USANÇA, s. f. Uso, costume, es-
tylo.
— Uso, serviço, e detrimento, que as
machinas padecem com o uso.
2.) USANÇA, s. /., ou USO, s. m. Es-
paço de tempo, ordinariamente de 30
dias, determinado para o pagamento das
letras do cambio, segundo a pratica das
ci la les sobre as quaes ellas sào sacadas.
USANTE, part. act. do Usar. Quo usa,
que exerce.
USAR, V. a. Praticar, pôr em pratica.
— Servir, exercer.
— (iastar com uso.
— V. n. Fazer uso, servir-so do alguma
cousa. — <Do qual perigo Affonso d'Al-
boquerque escapou: porque como sabia
que os Mouros naquellas partes vsauão
deste artificio, louaua o seu batel esqui-
pado para isso, e a força do remo se afas-
tou.» Barros, Década (3, liv. 2, cap. 2.
— «O mesmo S. Dionysio escreuenlo a
Dorotaeo Diácono desta neuoa, ■vsaado
das palauras seguintes, diz. A neuoa di-
ulna he huma luz inaccessiuel, naqual se
diz habitar o mesmo Deos. Esta he in-
uisiuel por sua excessiua claridade, o su-
prema eminência cm respeito doutra sub-
stancia, e pela abundância de lumo sobre
substancial, quo lança he ina^cessiuel. •
Frei Bartholoraeu dos ^lartyros. Com-
pendio de espiritual doutrina, cap. 11. —
oh] assi tolo hu:n anno tio hahi hum dia
natural, quo consta d'hum dia e n(dte ar-
titiciaes. E osta lis a domostraçam clara o
manifesta, na qual se per ventura meti
alguma palaura Bob^^rba, ou em defender
a matii<.'uiatica vsey d'alguma descorde-
sia, vo* jjeço quo me perdoeis.» Heitor
Pinto, Diálogos. — «Demaneyra que pêra
disputar contra a eloquência, vsa delia,
o entam 8o mo.-tra Principo dos orado-
rofl, quSdo contra ellcs argumenta, o
([uando <[ucr abater a rhetorica entam a
exalça, o para a ilesbarauir a confirma.
Tal era o quo disputando cutra os sonhos
dizia, que senão auia de crer nelle^, por-
que ello sonhara que nSo cresse ninguém
no quo sonhasse.! Ibidem.
f.ogo aquclla infiel gcntfl profana
<,"o'n gràa prita ;l Cnriítãa «e vai direita,
Cjual move o pi'|UK, qual a partaaana,
Qual tainbcin do zarpuiicho so aproveita ;
D outras armas tariíbcni com qui? mais dana
U'a ciitào, qiir a psiiclla chria deita
L)o ncpri-o pi'>, deita outros artoficios
(^uo laui^ar fo<:;o tnm por ftoui) officios.
r. UA.iDRADK, rxiiiEiRO cBRco OE DIU, cant. Id,
est. 71.
— Usar de misericórdia com alguém;
ser misericordioso para com elle. — f Day-
me Senhor porquo dey: avey misericór-
dia de mim, porque usey de misericór-
dia, de tal maneyra, que do dia, e tempo
presente seJSo estas cousas testadas, e
postas na administração do sobredito lu-
gar, e vosso alvidrio para todo sempre.»
Monarchia Lusitana, liv. 7, cap. 21. —
-E na (Jraçam quo oje ouuistes à Missa
torna a pedir o mesmo lume, rogando
assi, O Deos que neste dia descobristes
vosso vnigenito Filho aoi Gentios, por
guia de huma ostrella Vsay comnosco de
tanta Misericórdia que assi como neste
mundo allumiastes nos.sas almas cõ o lu-
me do fee pêra vos conhecer, assi par-
tindo desta vida nos deys lume de gloria
pêra claramente contemplarmos a infi-
nita fermosura de vossa Magestade.»
Frei Bartholomeu dos Martyres, Cate-
cismo da doutrina christã. — tlsto he o
que diz Salamào nos prouerbios : Aquelle
dá o seu á onzena ao Senhor, que faz es-
mola, e vsa de misericórdia com o po-
bre. Se isto Consirassem os ricos, despen-
deriam bem o seu, e não estariam feytos
estamagos encruados, e opilados, mas re-
partiriam o mãti mento pellos membros.»
Heitor Pinto, Diálogos.
— Usar-se, i*. reji. Estar em uso, es-
tylo, ser moda.
— Utili-iar-se, servir-se.
USAVEL, adj. 2 gen. Usual, que se usa.
USEIRO, A, adj. Costumado, habitu*-
do, fatiando em mau sentido.
— Loc: Useiro e vezeiro em furtar.
USNEA, 4. /. A ponnugem das arvores.
— Figuradamente: A que se cria nos
ossos expostos ao ar.
1.) USO, ». /. (Do latim twiwl. Cos-
tume, pratica, c^tylo, exercício.
— Direito de usar da cousa alheia, mais
limitado que o usufructo.
USTU
USUR
UTER
865
• •■ — ^ Piguradamente : O uso, ou exerci-
do de razão; faculdade intellectual, e
capacidade de entender a moralidade das
acções.
— Utilidade que resulta do serviço de
alguma cousa. — a Demais disto tendes ja
recebido delle arras e prendas de amor
commum, a saber, o mundo todo criado,
e todas as cousas delle pêra vosso vso, e
seruiço, pêra o qual foraõ feitas,» e saõ
eonseruadas continuamente.» Frei Bar-
tliolomeu dos Martyres, Compendio de
espiritual doutrina.
— Continuaç.ão frequente.
— Andar ao uso ; A'iver, andar á mo-
da.
— O direito, o acto de usar, e servir-
se de alguma cousa.
— Costume, ou facilidade adquirida
por muito exercício, habito.
— Estylo, pratica geral.
— Já com muito uso; já muito usado,
já tarado com a usança, detrimentado.
— De muito uso; de muito serviço, de
muito préstimo.
— Vid. Usança.
— ^Syn.: Uso, moda. Vid. este ultimo
termo.-
2.) USO, A, adj. Termo antiquado.
Usado, acostumado.
USOFRUCTO, s. m. Vid. Usufructo.
USSA, s.f. Vid. Ursa.
— Herva, que alguns dizem ser o ser-
pol.
— Termo antiquado. Nome de certa
folia.
USSIA, s. f. Termo antiquado. Vid.
Adussia.
USSO, s. m. Vid. Urso, termo mais
em uso.
USTAGA, s. /. Termo de marinha.
Roldana do mastro da gávea.
USTÃO, s. m. (Do latim ustio). Termo
,de cirurgia. Acto de queimar com cáus-
tico, de cauterizar.
— Termo de chimica. Calcinação, com-
bustão.
USTEDA, s. f. Uraa droga de lã com
festo, ou sem elle. Vid. Osteda.
USTILAGO, s. w. Termo de botânica.
Doença dos vegetaes, conhecida também
pelo nome de nigrella, carbúnculo: esta
doença reduz os grãos das espigas de tri-
go, centeio, etc, a um estado carbonoso
pulveriforme, ou farinha negra, como se
fosse fogo : é frequente no norte da Eu-
ropa.
USTORIO, A, adj. (Do latim lístor).
Que queima.
— Espelho ustorio ; espelho que serve
para incendiar.
USTULAÇÃO, 5. /. (Do francez nstula-
tion). Termo de pharmacia e chimica. O
acto de fazer seccar uma substancia hú-
mida ao fiigo.
USTULAR, t\ a. (Do latim ustulare).
Termo de pharmacia e de chimica. Quei-
mar e seccar ao fogo.
VOL. V.— 109.
USUAL, adj. 2 gen. (Do latim usualis,
de usus). De que se serve ordinariamen-
te. — Termos usuaes.
— Que está em uso.
— Que serve no uso commum.
— Tributo usual; imposto sobre os
viveres, carne, vinho para os presídios,
etc.
— As artes usuaes ; os misteres que
provêem ás necessidades communs,
f USUALMENTE, adv. (De usual, com
o suffixo «mente»). De um modo usual.
— - Isso diz-se usualmente.
USUÁRIO, A, adj. Pessoa que tem só o
uso das cousas, sem posse, nem proprie-
dade.
USUCAPIÃO, s. m. ("Do latim nsucapio).
Termo de jurisprudência. Modo de ad-
quirir por meio da posse, pelo uso.
— Titulo pelo qual alguém que com
boa fé, e justo titulo possue cousa de ou-
trem por certo tempo determinado pelas
leis, á vista e face do dono, vem o dito
possuidor a ficar senhor d'ella, e o ver-
dadeiro dono a perdel-a; e se a demanda
a quem a possue, é excluído pela exce-
pção de prescrípção.
USUCAPIENTE, adj. 2 gen. Termo de
jurisprudência. Que vae adquirindo, ou
que adquiriu por usucapião.
USUCAPIR, V. a. (Do latim usucapio).
Prevalecer, ter vigor, adquirir-se por
uso.
USUCAPTO, A, adj. Adquirido por usu-
capião.
USUFRUCTO, ou USUFRUTO, s. m. Ter-
mo de jurisprudência. Desmembração do
direito de propriedade, que compreheude
o direito de se servir da cousa para o
uso da qual ella é destinada, e o direito
de perceber os fructos e productos da
cousa; mas que differe da propriedade
em que elle não dá nem o direito de des-
truir ou alienar a cousa, nem a perpetui-
dade, e o usufructo era essencialmente
vitalício.
— Direito de gozar das cousas de que
um outro tem a propriedade.
— Usufructo legal ; direito de gozo do
pae e da mãe nos bens dos seus filhos
menores.
USUFRUCTUAR, r. a. Termo do foro.
Usar, e desfructar alguma cousa como
usufructuarío.
USUFRUCTUARIO, s. /. (Do latim usu-
fructuarius). TeruK) de direito. Pessoa
que goza do usufructo.
— Adjectívamente: Eeparações usu-
fructuarías ; reparações com encargo de
usufructuarío.
USURA, s. f. (Do latim usura). Toda
a sorte de interesse que produz o di-
nheiro.
— Por extensão : Proveito que se tira
de um' empréstimo acima da taxa legal,
ou habitual.
— Figuradamente : Beneficio em re-
torno, maior que o beneficio recebido.
— Fazer beneficios á usura ; esperar
retornos avantajados.
— Syn.: Usura, onzena.
Usura significava, entre os romanos,
toda a espécie de interesse menos legiti-
mo; com o andar dos tempos veio esta
palavra a significar o lucro illegal que se
exige por uma somma dada de emprésti-
mo. Onzena sempre significou usura im-
moderada e illegitima, e sempre se to-
mou em mau sentido.
C)8 antigos chamavam aos juros do di-
nheiro emprestado usuras, isto é, o pre-
ço do uso, e então era necessária a pala-
vra onzena para designar a usura ímmo-
derada; hoje a palavra usura somente se
applíca aos juros excessivos, íllegaes, por
isso não se usa em phrase jurídica e
Tuercantil a palavra onzena, e tornou-se
desnecessária.
USURAR, V. n. Dar dinheiro á usura,
ou ao ganho.
— Fazer usura. 'í;"?; o?..
USURARIAMENTE, aãiii (De usurário,
com o suffixo «mente»). De um modo
usurário.
— Com usura, intervindo usura.
USURÁRIO, A, a<lj. (Do latim usura-
rius). Em que ha usura.
— Substantivamente: Pessoa que dá
dinheiro emprestado com usura.
USUREIRO, A, adj. e s. Usurário.
USURPAÇÃO, s. f. (Do latim usurpa-
tio). Acto de usurpar, e effeito d'cste
acto.
USURPADO, part. j^ass. de Usurpar.
— «A cidade, onde nào ouuer boas leis,
será mui cedo destruída, e o revno que
per boas leis senão gouernar, será facil-
mente dessolado. Tanto durou a republi-
ca dos Lacedemoníos, quanto nella durou
a authorídade das leys de Licurgo : e
tanto a dos Atheníenses, quanto as leis
de Solão. Mas perdidas as leis perderão-
se também as i-epubricas, porque a go-
viernança que Soía andar nos sabedores,
fov vsurpada dos ignorantes.» Heitor
Pinto, Diálogos, cap. 7.
USURPADOR, A, s. Pessoa que usurpa.
USURPAR, V. a. (Do latim usurimre).
Apoderar-sc por violência, ou por astú-
cia, dos bens, da dignidade, do titulo de
um outro.
— Obter alguma cousa por fraude,
sem direito legitimo. — Usurpar a repu-
tação, a gloria, a estima.
— Stn. : Usurpar, apoderar-se. Vid.
este ultimo termo.
UT, s. m. Termo de musica. A primei-
ra niita da musica.
UTAR, V. n. Mover as mãos com cer-
to geito quando se criva o trigo. Vid.
Outar.
UTENSÍLIOS, s. m. plur. (Do latira
ufensilc). Os trastes do uso da casa, do
officíal meehanico, do soldado.
f UTERALGIA, *. /. Termo de medi-
cina. Dor nervosa do útero.
866
ÚTIL
ÚTIL
UVAD
UTERINO, A, ailj. (Do latira uteriím»).
Termo do anatomia. Que cliz respeito á
madre.
— Globo uterino ; a massa redonda
que fíirma no liypopfastro o útero durante
a gravidez o durante os oito ou dez dias
que Hegucm o parto, antes <|ue o útero ti-
vesse tomado uma forma o um volume
habituacs.
— Termo do pathologia. (rranulaçUes
uterinas; tmnorzinhos irregulares assen-
tando na cavidade do corpo do útero, o
algumas vezes do collo.
— Furor uterino ; synonymo de nym-
phomania.
— Irmãos uterinos ; diz-ae dos irm.los
e irmãs nascidos da mesma mão, sem te-
rem o nieamo pae.
ÚTERO, s. JH. (Do latim úteros). Ter-
mo do anatomia. Ventre ou madre da
mulher.
— Termo do medicina. Útero irritá-
vel; condiçSo inflammatoria e nevrálgica
do útero, em que ha muitos aoffrimontos,
mórmento na o<tai;ão o progressão, assim
como na< epochas da nienstrua^'ão.
UTEROCEPS, s. m. Termo de cirur-
gia. Instrumento para, agarrar nos lábios
do utcro.
f UTERO-LOMBAR, adj. 2 gen. Ter-
mo do anatomia. Que se refere ao útero
e aos lombos.
UTEROMANIA, s. f. Nvmphomania.
f UTERO-OVARIANO, Ã, adj. Termo
de anatomia. Que se refere ao útero e
ao ovário.
f ÚTERO -PLACENTARIO, A, adj. Ter-
mo de anatomia. Que diz respeito ao
.útero o á jdacenta.
f ÚTERO -SACRO, A, adj. Termo de
anatomia. Q,ue pertence ao utoro e ao
sacro.
— Ligamentos utero-sacros, ou utero-
lombarei: ; expansão do tecido fibroso sub-
peritoneal que se tixa sobre a aponevrose
pelviana e o sacro, o que ó um dos mais
poderosos meios de fixação do útero.
1 UTEROSCOPIA, s. /. Termo de me-
.dicina. Exame, por moio do instrumen-
,to8, do utcro durante a gravidez, e no
tempo do parto, sob o ponto de vista ab-
soluto ou relativo do feto.
UTEROTOMIA, s. /. (Do latim vUros,
c do grego tumê). Termo de cirurgia.
■ Operação pela qual se corta ou divide
os lábios do utoro em alguns partos dif-
,ficulto.^os, para dar passagem :l criança.
f UTEROTOMO, s. m. Termo do ci-
rurgia. Instrumento empregado para a
secção do canal do utoro.
t UTERO-VAGINAL, adj. 2 gen. Ter-
.mo de anatomia. Que pertence ao útero
e A vagina.
ÚTIL, adj. 2 gen. (Do latim tífi7»s).
Que sorve para alguma cousa.
— Proveitoso. — «O que eu desejo,
disse o cidadão, he sabor as qualidades,
que em especial ha de ter hum Rey, ou
hum prelado, ou em fim qualquer gouer-
uador, que tem mando e domínio, pêra
so poder chamar porfeito. E auendo eu
de eleger hum cidadão pcra gouernar a
republica, tjual antre os outro» escolhe-
rey. isto folgaria que tratásseis, porque
mo parece matéria mais vtil, que a das
ideas.» Heitor l'!nto. Diálogos, cap. í5.
— Dias úteis ; no lOro, aquelles cm
que 80 pôde requerer, ou correr a causa,
em opposição a contínuos, que são todos
08 dias seguidos, feriados ou não.
— Domínio útil ; a renda d'uma ter-
ra, 08 fructos d'ella.
— Despeza útil ; que melhora a cou-
sa com (luo olla se íaz.
UTILES, plur. de Útil. = Faliar-se-ha
mais correctamente dizendo úteis.
UTILIDADE, s. /. (Do latim utilílas).
Qualidade do que ó útil ; do que pôde
servir para alguma cousa.
— Proveito, serviço, commodo que se
pôde receber da cousa ou pessoa. — tlus-
tiça he hum habito do animo, que dá a
cada hum sua dignidade conservada a vti-
lidade commum, cujo principio he nascido
da natureza. A quem seguem todos os
theologos. E digo que so ha de dar a ca-
da hum o seu em seu tempo, porque se
tiuerdes cm deposito armas oflensiuas de
hum vosso amigo o o virdes vir furioso
a pediruolas, pêra cõ ellas satisfazer a
sua ira e doprauada indinaçam, não lhas
deueis de dar, porque era tal tempo he
injusto dar o seu a cujo hc.i Heitor
Pinto, Diálogos, cap. 1. — «Mas por ci-
ma de tudo isto tenho por sem duuida,
que a vida solitária, simplemente falado,
quàto em si he, leua muita auantagem ;l
pubriea tumultuosa, o que não somente
he mais segura, mas em muita cousa
mais fructifora, sem embargo que cm al-
gumas soja a pubriea do mais vtilidade.
Mas basta que absolutamente falando,
he a solitária mais excellente, (juo he o
cõtrario do que dizia Marco Tullio na
authoridade, que contra mim allegastes
do seu primeiro liuro dos officios.» Ibi-
dem, cap. 4.
— Préstimo, bem.
f UTILISAÇÃO, s. /. Acto de utili-
sar.
UTILISADO, part. pass. do Utilisar.
UTILISAR, ou UTILIZAR, i'. a. Tirar
utilidade, tirar partido d'uma cousa.
— (lanhar, lucrar.
— Aproveitar a alguém, ser útil, ser-
vil-o.
— Utilisar-se, v. refl. Servir-se para
seu commodo, aproveitar-se de alguma
cousa ou pessoa.
— V. ». Ter uso, ser util, proveitoso.
UTILÍSSIMO, A, adj. superl. do Util.
Mui util. — Operários utilíssimos.
-j- UTILITARIANISMO, ou UTILITARIS-
MO, .«. "1. S\.-itonia lios utilitários.
-}- UTILITÁRIO, A, adj. Que mira á
utilidade.
— Dia-so de uma escola, fundada por
Hcntham no principio dV-te século, que
8Ô reconhece como principio do bem a
utilidade geral.
— Substaiitivaniontc: í/m utilitário.
— Os utilitários.
UTILMENTE, adv. (De util, e o suf-
fixo « mente •^ Do um modo util.
— ("om utili<iade, proveito,
UTOPIA, í. /. Diz-sc peralmeate da
forma de um governo imaginário, onde
tudo está perfeitamente regulado para a
commum felicidade ; origina-8e do titulo
de uma da» obras de Tuoroaz Moru»,
eseriptor inglez. — Crear-te uma utopia.
— Vãs utopias.
UTOPISTA, a. o aJj. 2 gen. Homem
que crê n'uma utopia.
— Creador d'uma utopia.
— Partidista da utopia.
t UTRICULAR, adj. 2 gen. Que tem
a firm* de um utriculo.
— Termo de botânica. Tecido ntrícu-
lar; tecido cellular das plantas.
— Glândulas utriculares ; pequenas
bolsas que toem a f ')rma de empolas, e
que conteem um fluido aquoso; encon-
tram-se na superfície de certas plan-
tas.
— Termo de anatomia. Glandulat atri-
culares ; folliculos do grosso intestino o
do canal do útero, cuja extremidade está
inchada.
UTRICULO, s. wi. (Do latim utriculiu).
Pequt-na bolsa.
— Intumescência do labyrintho mem-
branoso do ouvido.
— Utriculo prostatico ; orglo em for-
ma do bolsa pyriforme, situado na linha
media entre dons canaes differentes, na
face urethral da próstata.
— Termo de botânica. Cada uma das
cellulas do que se compõe o tecido cellu-
lar dos vegetaes.
— Pequenos odres cheios d'ar servin-
do para suster na agua as folhas e as
raizos de algumas plantas.
— Nomo dado, por alguns botânicos, a
certa espécie de fructos.
— Cavidade cheia de fluido fecundan-
te que f')rma cadn grão do pollen.
f UTRICULOSO, A, adj. Termo de bo-
tânica. Que é guarnecido de pequenos
odres, como as raizes, as folhas radicaos,
o os ramos dos utriculares.
UTRIFORME, adj. 2 gen. iDo latim
nter, e forma). Que se assemelha a um
odre.
UUM. Vid. Um.
UVA, t. f. (Do latim uva). Fructo da
videira, que nasce em cachos,
— Termo de botânica. Ura espinx; cas-
ta de irva. — Uva espim battarda.
— Uva </« cão ; herva vulgar, planta
perenno.
— Uva '^' raposa. Vid. Parisetta.
UVADA DOCE, *. /. Conserva do uvas
em calda de assucar.
UVEL
UXI
UZIF
867
UVAL, adj. 2 gen. De uva.
— S. m. Termo de medicina. Espécie
de almorreimas.
UVEA, s. /. Termo de anatomia. No-
me dado limas vezes á choroidea, outras
vezes á face posterior do iris.
— Modernamente, o systema, das par-
tes representado pela choroidea, os pro-
cessos ciliarios e o iris.
UVEIRA, s. /. A arvore a que a vide
se arrima, com vide de enforcado.
— Termo de botânica. A planta raci-
mosa que produz a uva.
f UVEITE, s. f. Termo de medicina,
Inflammaçào da face posterior do iris.
-j- UVELTA, s. f. Género de plantas
coniferas, cujas bagas são doces e boas
de comer.
UVIAR. Vid. Uivar.
— -Emprega-se também figuradamente.
UVIDO, A. adj. (Do latim uvidus).
Termo de poesia. Húmido.
UVIFERO, A, adj. Termo de poesia.
Que dá ou tem uvas.
I UVIFORME, adj. 2 gen. (Do latim
uva, e forma). Que tem a forma de ca-
cho de uva.
UVRE. Vid. Ubre.
UVULA, s. /. Campainha da garganta.
UVULAR, adj. Termo de anatomia. Que
diz respeito á campainha da garganta.
UXI. Termo antiquado. Onde se.
f UXORIANO, A, adj. Que é do lado
da mulher, fallando da descendência.
UXTE. Voz vulgar na bocca dos ar-
reeiros.
— Interjeição no uso familiar para de-
clarar algum affecto.
UYVADOR, A, adj. e s. Que àà ui-
vos.
UYVAR, V. n. Dar uyvos ou uivos.
Vid. Uivar, Huivar, e Uviar.
UYVO, s. m. Voz aguda e lamento-
sa do cão ou lobo, quando estão presos,
ou andão na brama.
UZIFUR, ou UZIFURE, s. m. Termo de
chimica. Cinabrio, que é composto de
enxofre e mercúrio.
..fjvr,
s. m. Vigésima segunda le-
tra do alphabeto e deciraa
oitava consoante.
— Um V grande. — Um
V pequeno.
— Na ordem physiologica o cZ é a spi-
rante dental branda; extremamente pró-
ximas lhe ficam o b q o f com que per-
muta frequentes vezes.
— Na numeração romana V vale 5 ;
V/ vale 6 ; V7/ vale 7 ; V77/ vale 8; IV
vale 4; V com um traço j)or cima valia
5:000.
— Nas observações meteorológicas v
designa vento.
■ — ■ Termo de musica. Nas partituras
musicaes o v indica algumas vezes a par-
te do violino.
— Significa também a palavra italiana
volti; V. S., volti súbito.
— V ou >', nos livros da Egreja ou com
referencia á Biblia, significa versículo.
— Em termos de livraria, de impren-
sa 6 de bibliographia, V significa folio
verso.
A. Vossa alteza.
M. Vossa magestade.
R. Vossa reverendíssima.
E. Vossa excellencia.
Você, vocemecô.
— O V portuguez, como signal graphi-
co, provém do i; latino, alteração do di-
gamma grego.
— O T portuguez tem diversas ori-
gena, mas mais geralmente provém do v
latino : inicial, como em valer, vapor,
vestir, varrer, vomitar; medial, como em
ave, lavar, levar, nave, ovo, provar, sal-
var.
— Não raramente provém o v portu-
guez do 6 latino : exemplos são : trave de
trabes, amava de amabam, cavallo de ca-
hallus, cevo de cíbus, cevar de cibare, co-
vado de cubitus, dever de debere, duvi-
dar de dubifare, fava ãe faba, Jivella de
Jibula, maravilha de mirabilia, provar
— -V.
— V.
— V.
— V.
— V.
de probare, governo de gabernum, gover-
nalho de giibernaculum, governar de gur-
bernare, inverno de hibernus, nuvem de
nubes, herva de herba, arvore de arbor,
névoa de nebula, escrever de scribere, Évo-
ra de Ebura, sorver de sorbere, carvão
do carbo, alvitre de arbitrium, alvo de
albus; 03 suffixos -avel de -abilis, -evel de
-ebilis, -ivel de -ibilis.
— O V portuguez provém do p latino
em povo de populus, ant. pobo ; escova
de escopa, ant. escoba; estorvo de stru-
pus, ant. estorbo ; ant. soberva de super-
bia, modern. soberba; ant. e popul. j:^ro-
ve de piauper, modern. pobre.
— Durante a eiJade media, e ainda j)Os-
teriormente, não se distinguiu na escripta
o V de u, sendo u muitas vezes escripto
por V ; o caso contrario dá-se também : é
assim que no Cancioneiro de Rezende, por
exemplo, se encontra uva escripta vua.
Ainda no século passado era muitos li-
vros impressos se deu essa confusão.
— E' conhecida a troca frequente que
fazem os povos do norte de Portugal en-
tre 6 e v, confusão que verdadeiramen-
te os põe em grandes apuros quando es-
crevem, por não saberem que palavras
se escrevam com v, quaes com 6; assim
para elles besta pronuncia-se vêsta, e ves-
te pronuncia-se beste. Este vicio está tão
profundamente arraigado que até se de-
turpam na leitura palavras em que v e ò
estão respectivamente escriptas onde de-
vem ir. Esta confusão levou ao uso do
chamar á letra v, não como ao sul de
Portugal vê, mas sim vu ou vau, pois in-
evitavelmente ao dizer o alphabeto, che-
gados á letra que nos occupa, chaman-
do-se-lhe vê, os povos d'Entre-Douro e
Minho diriam bê, e seriam incapazes de
distinguir pelo nome a vigésima segunda
letra do alphabeto, da segunda ; o curioso
é que elles dizem mais geralmente bau
ou bu, que vau ou vu.
— Na epocha da decadência do impé-
rio romano parece ter sido frequente
uma confusão similhante, e um gramma-
tico escreveu um tratado sobre o recto
uso do v e do b, sendo curioso que mui'
tas que apresenta como correcções são er-
ros, sendo o que julga erros os modos de
dizer correctos. Os gascões, que faliam
um dialecto que se liga ao provençal, na
França, sào também muito atreitos a mu-
darem o V em à não só no seu dialecto^
mas sobretudo quando faliam francez. —
a A força do v consoante he como a do/,
mas com menos espirito. E a sua figura
saô duas costas de triangolo com o canto
para bayxo. Esta letra y que chamamos
grega tem a figura v consoante, senaõ
que estende bua perna para bayxo fican-
do-lhe a boca para cima todavia ; da qual
algús poderão dizer que não he nossa ;
mas eu lhe darey offiçio na escriptura
das nossas dições próprias ; e he este que
as mais das vezes quando vem híia vo-
gal logo trás outra nos pronunciamos an-
trellas híia letra como em meyo, seyo,
moyo, joyo, e outras muitas a qual letra
a mi me parece ser y e não i vogal.» Fer-
não d'01iveira, Grammatica de lingoa-
gem portuguesa, cap. 15. — «Como vi-
mos, temos dous, uus, hum desta figura,
V, e outro assy, u. Pêro o primeiro não
serve de vogal mas de consoante, em to-
dalas as dições que começam nelle, por
ser hua das leteras dobradas que temos,
que servem no principio: como nestas
dições, ventaje, veio, vimos, vontade,
vulto. E assy serve per dentro das di-
ções, ao modo do i pequeno : mas por cau-
sa da boa composição das leteras o u pe-
queno lhe toma as vezes o oficio de ferir
nas outras vogaes.» Joaõ de Barros, Da
Orthografia. — «V tem dous officios, hum
próprio, quando soa per si como as ou-
tras vogaes, como, vsso, vsura; outro
emprestado, quando fere vogal, que teem
grande semelhança com o f no som, co-
mo nestas palauras: verdade, virtude. A
870
VACA
VACC
VACU
qual pronunciaçilo (como temos dicto) os
Latinos antif.'03 escrouiflo com o dig-ain-
ma discteolico, que tiiilia .soiiiiílLaiiya do
nosso / 110 som o na fi^íura. Mas duspois
que o / succijiliju em Iw^nr do ^>/i gref,'o,
tomarilo emprestado o u c usarilo d«lle
om lugar d" digamma. O qual diíTereií-
ccamos agora, (juaiulo he consoante, de
quando lic vogal, desta maneira, V, ao
menos no principio das diç5es. Porque
no meo delias usllo de u iudistinctamen-
tc, quer soja vogal, quer consoante.»
Duarte Nunes de Leão, Orthographia da
liugoa portuguesa.
1.) VÁ. Locução adverbial popular.
Consinto, seja.
f 2.) VÁ. Forma do verbo ir na pri-
meira e terceira pessoa do singular do
presente do modo conjunctivo. Vid. Ir.
— «Assentando em que este termo lie
propiúo, e particular da Lingua Portu-
guesa, tcnlio mostrado a V. S. que signi-
fica vá bugiar som contradição alguma,
e ainda que hir bugiar pareya cousa dit-
teronte tudo ho o mesmo.» Cavalleiro de
Oliveira, Cartas, liv. 3, n." 2.
VACA, ou VACCA, ». /. (Do latim vac-
eà). A tomea do boi, em edade perfeita
do parir : entre vaccas so trazem os tou-
ros bravos, para virem onde se quer.
— Vacca de chocalho; a que faz guia
aos touros conduzidos, bravos e esqui-
vos.
■ — Um jogo defeso.
— Vacca /c)')-a ; na Ásia, o vadio ocio-
so.
— Figuradamente: A vacca de clwca-
Iho; a mulher que ameiga, e traz outras
esquivas ainda, ariscas, e novéis á con-
versação amorosa, e ])erigosa.
VACAÇAO, s. /. (Do latim vacatio).
Suspensão de estudos, e do curso foren-
se ; ferias.
■ — ' Desapego de negócios com relaçSo
a algum estudo.
VACADA, ou VACCADA, s. /. Manada
de vaccas.
VACA-LOURA, s. /. Abadejo, insecto.
VACÂNCIA, s. /. (Do latim vacantia,
de vacaiiít). Tempo durante o qual não
é preenchida uma funcção, uma digni-
dade.
— Tempo durante o qual os estudos
cessam nas escolas, nos coUegios. — O
tempo das vacâncias.
— Tempo em que os tribunaes inter-
rompem suas funeções.
VAGANTE, part. act. de Vacar. Que
não estii oecupado, que está por preen-
cher. — C(isa vacaute.
— Diz-se dos empi-egos, dos logares,
das dignidades.
— Curador dos bens vacaiites ; cura-
dor estabelecido pela administração, e
conservação dos bens que não tem pro-
prietário certo.
— tíéde vacante ; estando vaga a só,
fjaltando-lhe o bispo, ou o prelado.
— Figuradamente: A menina não está
vacante; não está son amigo.
VACAR, V. a. (Do latim vacare). Es-
tar do vago, estar devoluto.
— Applicar-sc, occupar-so em alguma
cousa cuidado.-^amente.
— Loc. : Vacar a Deus; deixar-se
das cousas terrestres, e applicar-se ao
seu serviço. Vid. Vagar « Deus. — «Pa-
ra que se naõ equiuocassem os ritos, de-
terminou a Igreja o Domingo para dia
sancto dos Catholicos, esto Le para va-
car, e ver a Deos, assim como ao ho-
mem extiMÍor lhe ho necessário tempo
para a refeição corporal.» D. Fernando
Corrêa de Lacerda, Carta pastoral, pag.
238.
— Estar ocioso, dosoccupado.
— Vacar o tempo; ser de vago, para
ócio.
VACARIA, ou VACCARIA, s. f. fiado
vaocum.
VACARIL, ou VACCARIL, adj. 2 gen.
Termo antiquado. De vacca. — Couros
vaccaris.
VACATURA, *. /. Vacância.
— Estar em vacatura ; estar vaga, ou
vago, não provido.
VACCINA, s. /. Espécie de bexigas a
que estão sujeitas as vaccas em certos
paizes ; a vaceina ataca particularmente
as tetas do animal, o manifesta-so por
borbulhas que não dão pus, mas sim
uma serosidade; este tumor enxerta-se
na pelle das pessoas, onde levanta uma
bexiga mãe com vesículas em roda que
suppuram, para se preservar o vaccina-
do das bexigas epidemicas, contagiosas
ordinárias, ou variolosas; hoje a maior
parte da vaceina é tirada das borbulhas
dos vaccinados.
— A própria operação pela qual se
inocula a vaceina. — Propagar a vac-
eina.
VACCINAÇÃO, s. /. Inoculação da vac-
eina, oj)eração que consiste em introdu-
zir o viruB vacoinico em contacto com os
vasos absorventes da pello.
f VACCINADO, part. pass. de Vacci-
nar. — Uma creanra vaccinada.
— Substantivamente : Os vaccinados.
VACCINADOR, A, adj. Pessoa que vac-
eina.
f VACCINAL, adj. 2 gen. Que diz res-
peito á vaceina.
VACCINAR, V. a. Inocular a vacei-
na.
— p]nxertar a vaceina no corpo huma-
no para o preservar da bexiga ordinária,
ou da infecção variolosa.
VACCINICO, A, adj. Termo de medi-
cina. Qhc ó relativo á vaceina, ou á vac-
cinação.
f VaCCINIFERO, a, ailj. Diz-so do
cavallo, da vaoca, e da creança que for-
necem vaceina por inoculação a outros.
— líCconhecer se o sujeito vaccinifero es-
tá são.
— Substantivamente : O vaccinifero.
t VACCINOIDE, ». /. Termo de medi-
cina. Nunjc clalo ás erupções cutâneas
pustuhjsas, de natureza e apparencias
vaecinai;s, que a inserção do virus vac-
ciniuo produz algumas vezes nos indiví-
duos, que tiveram precedentemente as
bexigas com que foram já vaccinados.
VACILLAÇAO, ». /. (_Do latim vacilla-
tio, de cacillaret. MovÍDieut<j do que va-
cilla.
— Figuradamente : Irresoluçâo, varia-
ção. — Vacillação das testemunhas.
— Figuradamente : Pouca iiniieza, es-
tabilidade.
VACILLANTE, part. act. de Vacillar.
Que vacilla. — Passo vacillante.
— Fi^íuradamcnte : Que não é seguro.
— Min/i/i saúde é viui vacillante.
— Figuradamente : Irresoluto, variá-
vel. — Espirito vacillante.
— Termo de botânica. Diz-se das an-
theras, quando são oblongas, ligadas peio
meio do seu comprimento, e oecillando
na extremidade do filete estaminai.
VACILLAR, V. n. (Do latim vacillare).
Não estar tirme. — Esta viua vacilla
bastante.
— Por exteiisão: Uma luz, uma cla-
ridade que vacilla.
— Diz-se da lingua, quando se tem
dificuldade em pronunciar uma palavra
por outra.
— Figuradamente: Tomar-sc fraco,
pouco seguro, fiillando de certas faculda-
des da alma. — Quando a memoria va-
cilla, a lingua balbucia.
— Figuradamente : Ser irresoluto, in-
certo. — Nossas resoluqZee já tião vacil-
lam.
— Vacillar nas suas respostas ; respon-
der, ora d'unia maneira, ora d'outra.
— Abanar, fazer vacillar.
— Vacillar o estagio nos perigos da
guerra, nas rebelliZes ; nào estar arme,
ameaçar ruina.
\ VACILLATORIO, A, adj. Que ó da
natureza da vacillaçilo. — O movimen-
to vacillatorio quo se manifesta algumas
vezes na anthera ligada por sea meio so-
bre o ti loto.
VACINIO, ou VACINO, s. m. (Do latim
vacc■nium^. Termo de poesia. Violeta
roxa.
VACUAÇAO, s. f. Vid. Evacnaçío.
VACUIDADE, *./. (Do latim vatnitas).
Estado do que ê vácuo. — A vacuidade
do estiimago.
— Vid. Vaidade.
VACUM, ou VACCDM, adj. 2 gen. Que
é de vacca.
— Gado vaccum ; os bois, vaccas, be-
zerros, eitc. — «Nesta ordem sairam da
serra, tomando logo os alniocadens o ca-
minho de Jíonçara, o Dalinaçnr, e o
guiam o da boca de Benarros, na qxial
corrida tomaram mais de trinta almas, e
mais de quatro ceutas cabeças de gnadò
VAGA
VAGA
VAGE
871
Tacum, e gram somma de meudo.» Bar-
ros, Décadas.
1.) VAGUO, s. m. Termo de physica.
A porção de espaço despejada de todo o
corpo, por muito subtil que aeja.
— O vácuo da machina pneumática ;
o vácuo que lia no recipiente d'ella, ex-
trahido o ar quanto é possível.
— Termo de escolástica. Vácuo coa-
cervado ; grande vácuo de todo.
2.) VÁCUO, A, adj. (Do latim vacuns).
Vazio, oco, sem cousa que o occupe.
— Posse vácua; a de que se goza.
• — ■ Aposento vácuo.
— Ralo, permeável.
VADEAÇÃO, *. /. A acção de vadear.
VADEAR, V. a. (Do latim vadai-e). Va-
dear o rio; passal-o a vau, a pé, ou a
cavallo.
— -Figuradamente: Sondar, examinar.
VADEAVEL, adj. 2 gen. Que se pode
vadear, que é possível passar-se a vau.
VADEMEGO, ou VADEMEGUM, *. m.
Termo latino. Cousa que cada um traz
ordinariamente comsigo, por exemplo, um
livro de summo apreço.
VADES. Termo antiquado por Ides. —
Vades embora.
VADIAÇÃO, s. f. O acto de vadiar.
— -Vida de vadio.
VADIAGEM, 5. /. Vid. Vadice.
VADIAMENTE, adv. (De vadio, e o suf-
fixo «mente»). De um modo vadio.
— Erraado, vagando ociosamente.
VADIAR, V. n. Audar para uma e ou-
tra parte sem procurar estabelecimento,
como vagabundo e vadio.
— • Não ter modo de vida.
VADICE, ou VADIIGE, s. /. Vida de
vadio.
VADIO, A, adj. Que não tem amo ou
senhor com quem viva.
— Que nào é arraigado na terra, e
vive n'ella de sua industria.
— Que não tem trato honesto, nego-
cio, mister, emprego ou modo de vida;
vagabundo, ocioso.
— aS'. f. Meretriz, mulher de vida pu-
blica.
VADOSO, A, ou VADEOSO, A, adj.
Que tem vau, que dá vau. — O rio va-
doso.
— Cheio de baixios, bancos de areia,
e perigoso á navegação.
VAGA, s. f. (Do latim vaga). Massa
d'agua do mar, de um rio, ou de um la-
go, que é agitada e sublevada pelos ven-
tos, ou por um outro impulso.
— Loc. : Pôr á vaga ; haver por es-
cuso do serviço quando se alista gente;
ou a que se deu baixa, reforma, ou fez
pousado de mercê.
— Figuradamente: O que é comparado
a uma vaga. — Ardentes vagas.
Sangue, escuma, em bolhões dos lábios verte,
Ecavalào-Ihc da fronte ardentes vagas.
r. M. DO MAsciMENTO, OBRAS, tom. 7, pag. 288. I
Fazer
vaga ; dar
occasiao,
— Vacância do beneficiado, officio.
— Por extensão : As azas das aves e
as barbatanas dos peixes são como remos
que fendem a vaga do ar, e da agua.
VAGABUNDO, k, adj. e s. (Do latim
vagabuad.us, de vagar i). Que anua cá e lá.
— Diz-se também das cousas. — Car-
reira vagabunda.
— Termo de zoologia. Polypos vaga-
bundos ; polypos que são totalmente li-
vres.
— Figuradamente : Desregrado, sem
ordem, fallando das pessoas. — Pobres
almas errantes e vagabundas. — Vossa
imaginação vagamuuda.
— Sem domicilio, nem estado certo.
Vid. Vagabundo.
— Diz-se d'aquell6 que percorre o
mundo, que vagueia.
— Figuradamente : Animo vagabundo
e inconstante; do que lê tudo, ou varia-
mente, sem profundar os estudos ; do
que se dá a diversos exercícios, tentati-
vas com leveza e sem os seguir.
VAGAÇÃO, s. /. Vid. Vagueação.
VAGAÇOM, s. /. Termo antiquado. Va-
gante, vacância, vaga.
VAGADA, s. f. Vagante, vacância, va-
gaçom ; aliás vegada, Yez.
VAGADO, part, pass. de Vagar. Vid.
Vago, que é dífferente.
VAGADO, s. m. Vertigem.
VAGALUME, s. m. Vid. Pyrilampo.
VAGAMENTE, adv. (De vago, e o suf-
lixo «mente»). De um modo vago. — Ha
homens vagamente ambiciosos e irresolu-
tos ainda.
— Indeterminadamente, com incerteza.
VAGAMUNDEAR, u. ;;.. Andar vaga-
bundo, ou vagamundo.
VAGAMUNDO, A, adj. e s. Vagabun-
do, errante.
— Figuradamente: O vagamundo 2''e'í-
samento.
— Substantivamente: Um vagamundo.
VAGANAO, ou VAGANAU, s. m. Termo
antiquado. Maroto, ou mariola de carre-
gar.
— Adj. Vadio, vagabundo, errante. —
Religioso vaganao.
VAGANCIA, s. /. Termo pouco em uso.
Vid. Vacância.
1.) VAGANTE, s. f. O estado do posto
vago, ou o tempo em que algum officio
está vago.- — A vagante de um logar.
— (Jfficio, cargo vago, vacância.
2.) VAGANTE, part. act. de Vagar.
— Sede vagante. Vid. Vacante.
— -Que vaga, que gyra, que erra.
— Figuradamente : Mulher vagante ;
mulher que não tem amigo. Vid. Va-
cante.
— Vadio, vagabundo, ocioso, errante.
— Substantivamente: U)n vagante.
1.) VAGAR, I-. a. Dar por vago.
— Correr vagando.
— V. n. Ficar sem proprietário, ou
pessoa que sirva o officio, dignidade, be-
neficio, cargo, posto. — Vagar o bispado.
- — Andar ocioso, sem officio, serviço,
ou emprego.
— Vagar para a coroa ; devolver-se a
ella o officio, ou outra. cousa da data de
el-rei, em certos casos.
■ — Ficar livre, desoccupado, em ócio,
sem obrigação de serviço, etc.
— Vaguear.
— Correr. , ;
— Fluctuar, andar boiando sobre as
vagas.
— Vagar o benejlcio; ficar vago.
— ■ Andar errando, sem caminho, ou
destino certo.
— Loc. : Vagar a Deus em ócio san-
to; entregar-se á vida espiritual, deixan-
do a conversação e trafego do mundo.
2.) VAGAR, s. JJ!-. Diz-se em opposição
a pressa, diligencia.
— Tempo ocioso, vago, desoccupado
de cuidados e trabalhos. — Ter vagar
para alguma cousa. — «Diz mais o vene-
rai Mestre Gersaõ. Nas pessoas Eccle-
siasticas particularmente religiosas, que
tem vagar, e aparelho pêra procurar, e
alcançar a graça da contemplação, cursa-
das na escola da deuoção, e oração, com
justa causa será culpada a negligencia
nesta parte, porque darão conta do ta-
lento que lhe foi entregue, e escondendoo
não luzirão, nem medrarão.» Frei Bar-
tliolomeu dos Martyres, Compendio de
espiritual doutrina, cap. 13.
— Loc. ADV. : De vagar; vagarosa-
mente, com pouca pressa, sem pressa.
- — Plur. Demoras, dilações. — Nada
de vagares.
VAGARINHO, s. m. Diminutivo de Va-
gar. — Andar de vagarinho.
VAGAROSAMENTE, adv. (De vagaroso,
e o suffixo «mente»). De vagar.
Dos homens a razão pára nhum pouto!
Deste bárbaro estado a raçji humana
Foi dando passos ragarosametde
A estado social ; barbara usança
Em costumes mais doces se transforma.
IDEM, MEDITAÇÃO, Cant. 1.
Correr a longa idade alhéa aos males.
Que ora tanto o período lhe cncurtão,
E vagarosamente as Parcas duras
Hiào fiando séculos Titonios,
Cu dias d'ouro do nascente Mundo.
VAGAROSÍSSIMO, A, adj. superl. de
Vagaroso. 3Iui vagaroso.
VAGAROSO, A,'^ adj. Nào apressado,
tardo. — Passo lento e vagaroso.
— Doença vagarosa; doença chronica.
— Que faz as cousas de vagar; de-
tençoso, demorado nas operações, es25a-
çador, procrastinador.
VAGEIROS, adj. e s. Termo antiqua-
do. As terras vagas, nào plantadas por
872
VACO
VAI
VAID
más, ou as calvas nos plantios omlo ha
cabeço» estéreis, ralfliros e fiiortorios.
VAGEM, 8. f. (Do latim vaijinn). A bai-
nlia (MH (]ue CHtSo o-t Ifífruiiios, como foi-
jòo'<, <!!■ vil lias, fti-.
VAGIDO, ou VAGITO, ». vi. (Do lati.n
vaqitug). o ctiovo 'l;is creaii(^'a3.
VAGINA, .1. /. ('niial quo comluz á itia-
dro.
— Termo de botânica. Vagiaa do pe-
dúnculo dos musijos ; quo llies serve de
baiiili.a.
VAGINAL, (t'lj. 2 (jen. Termo de ana-
tomia, (^iin diz respeito á vajjina. — Li-
gameiífos vaginaes.
— Em firma do bainha.
— Ai>tt/)h>/s,', vaginal; lamina saliente
que abraga a basi da ajiophysc cotyloide
do os.''o temporal.
— T\inica vaginal ; membrana serosa
quo envolve o testiculo.
— Termo de botânica. Folha vaginal ;
folha envafrinant".
t VAGINIFORME, adj. 2 gen. Termo
de historia natural. Quo se aasimiUia a
uma bainha.
VAGINITE, ITIS, .•». /. Termo de me-
dicina. lnriammai;i\o da vagina.
f VAGINO-LABIAL, arij. 2 gen. Ter-
mo de anatomia. Que pertence il vagina
e seus lábios.
— Hérnia vagino-labial ; aquella que
desce entre o ischion e a bainha até aos
grandes lábios d;i vulva.
f VAGINO-PERITGNEAL, adj. 2 gen.
Termo de anatomia. Que pertence d va-
gina e ao peritonuo.
— Canal vagino-peritoneal ; canal se-
roso que estabelece uma couimunifaçào
temporária no feto, e aceidentalmente
permanente no adulto, entre o peritoneo
abdominal, e a tunicji vaginal.
f VAGINO-RECTAL, adj. 2 gen. Ter-
mo de anatomia. Quo pertence á vagina,
o ao recto.
— Fistula vagino-rectal ; fistula exis-
tente entre a vacina e o recto.
f VAGINO-URETHRAL, adj. 2 gen. Ter-
mo de anatomia. Que pertence á vagina
c á urctlira.
— Fistula vagino-urethral ; fistula en-
tro a vagin.a e a urcthra.
f VAGINO-VESICAL, adj. 2 gen. Ter-
mo do anatomia. Que pertence A vagina
e á bexiga.
f VAGINULA, .-!. /. Termo de botâni-
ca. Pequena bainha membranosa que en-
volve a base do pedúnculo da urna dos
muscos.
VAGO, A, adj. Vagante.
— Err.ante, vagabundo.
— Andar vago no campo ; andar sol-
tamente som receio do inindgo.
— Horas vagas; horas desoccupadas.
— Forras vagas ; derramadas por di-
versos logares. — «Rosolveo buscallo com
luinia poilorosa armada, e tirar-lhe o abri-
go de Tunes, para que quando melhor
livrasBo, HO tornasne ao mar, dondo como
l'irat;i, si> poderia ulFencler com Icjrçan
vagas, as quão» niaÍH facilmente podoriilo
acabar os tempon, u oí kuccjh.íhh.í .la-
cintho Freiri! d'Andradc, Vida de D. Joào
de Castro, liv. 1,
— ln'l<:terrninado, incerto; em qno n.'io
se .assentou cousa certa, «obre assumpto
imprevisto.
— Ocioso.
— ('«."!«« vagas ; casas desamparadas,
dcshai>itadas.
— Vagos olhos; do que os movo a to-
das as partes com paixíto, furor ; olhos
errantes ; perturbados.
— Inconstante.
— De vago ; ocioso, deioccupado.
— Eslá a moça de vago ; está sem
amante, sem amigo.
VAGON, s. m. Vid. Wagon.
VAGUEAÇÃO, s. f. O estado do que
anda v.ogueando, viajando, peregrinando
ociosamente.
— O estado do que anda sem intento,
nem proveito.
— Figuradamente : InquietaçRo do
pensamento, sem attençào nem reflexilo
sobro nm si» objecto.
— Vagueação dos olhos, da vista; por
diversos objectos.
VAGUEAR, V. n. An'lar passeando ocio-
samente, sem algum fim útil.
— Andar sobro as vagas, correndo com
ellas.
— Figuradamente : Vagneia o crime,
antes impune campeia.
— Os olhos vagueiam com movimentos
incertos a todas as partes ; diz-se do que
está perturbado, etc.
— Figuradamente : Vaguear com tra-
balho.— «E pêra vencer estes desejos,
e cortar-lhe as raizcs, e ter dominio so-
brcllcs, c sobre nós mesmos, h< mais cõ-
ueniente a solidão quieta, que a compa-
nhia distraída. Isto he o que diz lerc-
niias nas lameutai,'ões. (Sedcbit solitariua
& taccbit, quia leuabit se super se.) Es-
tará assentado o solitário, e calar soba,
porque se alcuantará a si sobre si. Os
que and.ii nas cortes cegos eõ os fumos
de soberba, vencidos de ambii^ão, va-
gueam com trabalho, e o solitário e con-
templatiuo está assentado com repouso.»
Heitor Pinto, Dialogo da vida solitária,
cap. (i.
— V. a. Andar por diversas partes.
— Vaguear o mundo; correr to.lo o
mundo.
VAGDEDO, s. "I. Vid. Vagado.
VAHD, s. VI. Termo de zoologia. Ani-
mal quadrúpede da Palestina com figura
de cilo, e cabeça de urso.
■f VAI. Fiirma do verbo ir na terceira
pessoa do singular do presente do modo
indicativo. Vid. Ir.
K se o tempo nos ruí som nos aproveitar
do Uiuiauhas magoas andemos temidos.
par« quanta* viarem bom sperMbidsa
IMniu)! com &« virtiidri iioí |H>4<iamo» pagar.
[>. ju.tkiiA. Dá auiA, PI IO* Kx iB(iK4, pag. 103.
Contcntíi-se da iioitn trinte c cMura ;
Hdiu t«in ouiu o wjI puro c liucntc.
(^iiçm vio imiic:t tam.iiili.i dit.-tvciitura V
Com c^t^í 'ni pai»->iiido t.\o coiitontc,
(juo dl/. >|ii>% >|iiniido o mal mni* o alormoota,
Sc gOitto HCDtir p.'d.'. iMit.iii I. p«-iit«.
CAM, ECUMA 1.''
Lof;o diW tre* batalboit a priínirira
I,:í diante «c p'>e, a '(ual fniitda
Viti dliiima Iitr);a (-•n* ■ f ' .idcira
IJi! cor branca <• vcrii 1 1.
Ja a<Ja do tambor a T'
SAa a vnr. do clarão h' í.
A fcita he. Cal '|uu an - arroiaha
A terra qiiarti treine, n -i.
rHVHciiit-o d'a!<i>i«dk, ittiM»;ia.j CKaco DB DID,
oaot. 1<J, C4t. .30.
— « Pois vai em tanto exce«ao, quo
poucos sar» u-i Fidalgus, que piidem eaffar
huma fíllia, e qua^i nenhum doas, como
se disse no capitulo das Cortes do Esta-
do da Nobreza a Elllev Nosso Senhor
pcdindo-Uie remoJio para e«te danno, por
ser gravissimo, e que extinguia grande-
mente a Nobroja de Portada].! Severim
de Faria, Noticias de Portugal, Disc. 1,
cap. 2.
Aos desertos do espaço a cllipsc estende
E^tc, c gyraiido rai frôxo, c tranqaiUo ;
Outro qn.isi envolvido, c quasi immerso
No grão disco do Sol se mostra aos olhos.
1. A. DE MACEDO, MCDITÁçIo, Caot. 4.
T aí correndo sem rumo a forte Armada
Pela e3;)!idoa d:is ondaa espumosas;
Ora aos turvados Ceos arremedada,
Ora tocando as furnas arenosa-s :
De todo a ethórea abobada toldada
r>o Polo escondo as t/>cbas luminosas ; m
Muito a agulhi» grmpathioa declina,
Xem jA tcutada rrlta ás N.íoâ ensina.
iDcif, o ORtejiTE, cant. 3, est. 41.
Qual o que sobe do Apenino ao oams,
Que vai nos ares topctar eo'as nuvens,
K pelo immenso plano alonga os olhos.
Onde outrora s'ergueâ latina Império,
Grandes cid:uieâ vè, campinas forb^is,
K os re.st09 immortaes do fa-^to, c gloria.
Que inda em quebciidos mármores avulta.
IDKK, VIÀOEJI KXTATICA, Caut. 1.
— «Pelas sabi.as occurrencias de So-
ptembro de 1836, tempi> em que a com-
missão trabalhava, e quando, depois de
alguns dias, cliogava a este resultado,
foram suspensos os seus trabalhos. Um
relatório circumstanciado e documentado
de todo o processo da expioraçSo vai ap-
parecer brevemente ao público.» Garrett,
Camões, nota F. ao cant. 10.
VAIA, ou VAYA, í. /. Matraca, zom-
baria, apupada, corrinia^a ao que £coa
logra i o. — Dar vaia.
VAIDADE, í. /. iDo latim vanita»), A
TAL
VALE
VALE
873
falta de solidez, e permanência das cou-
sas.
— Ostentação, fausto, pompa và.
— Presuuipção de si sem fundamento.
— Desejo vão, vã pretenção de honra,
e gloria sem mérito.
— Pouca consistência nas cousas.
— Fumos, fumaça, vangloria.
— :Loc. : Dizer vaidades; dizer pala-
vras vagas, cousas sem sentido, nem ra-
zão.
— Os sumptuosos sepulchros sào vai-
dades eh 2ye'lra e cal.
— Dizer vaidades namoradas; deva-
neio^.
— Sts'. : Vaidade, orgulho. Vid. este
ultimo ternid.
TAIDOSAMENTE, adv. (De vaidoso, e
o suffixo "mente»'. Com vaidade.
VAIDOSO, A, a^j. Vanglorioso, cheio
de vangloria.
— Qae tem uma vaidade pueril, e ri-
dicula, tanto em acções, como em pala-
vras.
VAILETA, s. m. (Do latim veles). Ter-
mo antiquado. Soldado armado á ligeira.
^ VAIS. Forma do verbo ir na segunda
pessoa do singular do presente do modo
indicativo. Vid. Ir.
— Alguns escrevem fás em vez de
vais.
VAITEAELLE, s. m. Jogo próprio dos
rapaz'."S, cm que nns andam em segui-
mento dos outros.
VAIVÉM, s. m. Trave grande, com que
outr'ora sé tatiam as portas, e muros das
fortalezas.
— A pancada, embate com o vaivém.
— Dar vaivéns á -porta. — «Uma faisca
de lume me centelhou diante dos olhos : de
um pulo eu estava pegado com a porta da
igreja : as escamas das minhas manoplas
bateram nella como um vaivém e, com
um som que se prolongou pelas naves,
via-a aberta e lá no meio uma tumba
cercada de brandões accesos e ao redor
padres que resavam latim. n Alexandre
Herculano, Monge de Cister, cap. 1.
^Intrigas, máchinações.
— Figuradamente : Os vaivéns do mun-
do, da fortuna; os embates que nos dá
para arruinar; ou os seus revezes, e al-
ternativas.
VAIVODA, s. m. Príncipe soberano da
MoMavia, Valaquia, etc.
VAL. Forma dó verbo valer na ter-
csira pessoa do singular do tempo pre-
sente do modo indicativo. Vid. Valer.
Nestes medos amor meus bens desconta,
E nâo me vai a minha confiani;a,
Qae 30 muito montou, nada já monta.
FEBxlo SOBOPITA, POESIAS E PKOSAS ISEDITAS.
pag. 112.
— <t Desempeçado o entendimento do
cidadám da duuidà é toruãçáin em que
esfaua disse : Fm estremo folguey de VOí
VOL. V. — 110.
ouuir essa demostração, porque esta ella
tam clara, que a entendo eu, sendo iam
isento de letras per meu natural, como
vos ornado delias per longo estudo. Quanto
vai, disse o jurista, a praticai de homens
doctos.o Heitor Pinto, Diálogos da Jus-
tiça, cap. 8.
VALA, s. f. Vid. Valia.
VALADA, s. f. Vid. Vallada.
VAL.%.DIL, s. 7)1. Termo antiquado. Vid.
Valedio.
VALADIO. Vil. Baldio, e Levadio.
— De valadio ; debalde, ociosamente,
inutilmente.
VALADO. Vil. Vallado.
VALANCINA, VALENCINA, ou VALEN-
TINA, s. /. Pa;ino que .;e fabricava no
reino de Valência, d'onde se originou o
nome.
VALDEVINOS, s. m. Termo popular.
Valio, preguiçoso, libertino.
VALDIO,'A,'n'ij. Bailio, ocioso. — £'s-
peranças valdias. Vid. Baldo.
VALDO, por Baldo. Valio, ocioso que
não tem mister de que viva, ê anda sem
senhor, vagabundo.
l.y VALE, s. m. Termo latino de que
se usava nas despedidas; a despedida. —
O ultimo vale.
— Êseripto que constitue obrigação de
divida, e que se dá quando o Estado se
apodera de alguns objectos para siias ne-
cessidades.
— Letra pagável no correio.
2.) VALE. Forma do verbo valer na
terceira pessoa do singular do presente
do modo indicativo. Vid. Vai.
VALEDEIRO, A, adj. Termo antiqua-
do. Vali lo. firme.
VALEDIO, A, adj. — Dobras valedias;
eram castelhanas, e côrrerani.
VALEDOmO, A, ou VALEDODRO, A,
adj. Válido entre os^ contractadorés, vá-
lido juridicamente.
VALEDOR, A, í. Pessoa que vem acu-
dir a outra em briga, aperto.
— Protector, adherènte, advogado.
— Q'ie é da valia d'alguem.
— -AJj. Termo antiquado. Válido.
VALSDOURO, A, adj. Vid. Valedoiro.
VALEGO, A, aJj, — Odres valegos;
odres novos, que ainda estjío com o pez,
ou atados, presos, como velegado, que diz
o mesmo que relegado. = Em Viterbo,
Elucidário.
VALEIRO, s. m. Homem que nào leva
besta.
— Talvez o vallador escuso de ter bes-
ta, e de ser besteiro do conto. Vid. Ve-
leira.
VALÊNCIA, s. /. Termo de botânica.
Planta, conhecida fambeui pelo nome de
anguria, cujas 6ôres são similhantes na
côr e feitio ás da giesta.
VALENCINA, s. f. Vid. Valancina.
VALEN3A, í./. "(Do latim valere). Ter-
mo antiquado. Poder, fortaleza, auctori-
dade, força.
VALENTÃO, ONA, adj. e s. Que é muito
valente, ou que se preza de valente.
— Fanfarrão, que blasona de valente,
de ronca.
■ — -O campeão de alguém.
— O bravo matante.
VALENTAR, v. a. Termo antiquado.
Dar força, dar valor.
VALENTE, adj. 2 gen. (Do latim va-
len-s). Que tem valor, esforço. — «E deu-
Ihe el Rey por avo e gouernador de sua
casa dom Diogo Dalmeyda, que dahy a
poucos dias foy prior do Crato per fale-
cimento do prior dom Vasco Dataide. O
qual dom Diogo foy homem muy princi-
pal, e foy muy valente caválleiro, e nuiy-
to grande cortesam, e de muy tas, e boas
qualidades, e muyto aceyto a el Rev.»
CTarcia de Rezende, Chronica de D. João
II, cap. 137.
— Figuradamente : Que tem força,
energia; bom, gi-ande no seu género.
— Mantenedor, campeão.
— Valente remédio.
— Valente mentira.
— Animal valente; animal de grandes
forças'.
— Valentes de longe; os que blasonam
fora do perigo, e n'eíle esmorecem ou fo-
gem.
VALENTEMENTE, adv. (De valente,
e o suffixo «mente»). De um ínodo va-
lente.
— Com valentia, com esforço.
VALENTIA, s. /. Valor corporal, es-
forço.
— Figuradamente : A energia.
— Acção que exige grandes forças, e
valor.
— Fazer uma valentia ; fazer esforço
não ordinário no sujeito, ou despropor-
cionado á sua fraqueza do momento.
I VALENTINIANISMO, 5. wi. Systema
do gnosticismo, que se afasta mais do
christiaidsrao.
f VALENTINIANOS, s. m. plur. Anti-
ga seita de gnósticos nascida no princi-
cio do segundo século, e reconhecendo
por chefe Valentino, que não admittia
nem a geração eterna do Verbo, nem a
sua incarnação, nem a dividande de Je-
sus Christo, nem a redempção do género
humano no sentido próprio, e que profes-
sava a doutrina da emanação ê á crença
nos Eonios.
7 VALENTISSIMAMENTE, adv. superl.
de Valentemente. ^lui valentemente.
VALENTÍSSIMO, A, adj. superl. de Va-
lente. IMui valente. — Animal valentís-
simo.
VALENTONA, s. /. de Valentão.
— Loc. ÁDV. : A valentona ; á força,
sem razão.
— Com brios de valente.
VALER, v. n. Ser útil, servir, prestar,
soccorrer, prestar auxilio, amparar. —
«Se isto sempre ha de ser, e acabados os
oito dias me hei de ir como vim, tristes
874
VALE
VALE
VALH
dos que cm seu nomo bo vierem comba-
tor comigo, que [nAo sor, que quaii lo ci-
las llios quizorcm valer, iiilo queruni eu.
E qiuiixc-.<c Cu|)i'lo ((uaiiti) qiiizer, que
por (lorradoiro já vou oi>ton<len'io que iiílo
acertam to los quanton llic dito a vontade. i
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Iagla-
terra, cap. 142.
— Tof e-ítinia, importância, Bor esti-
mado. — n E cortou al^íuniaí» cspi-ja-*, que
cstauã iiiuyto mais altas qiio as outras, e
depois lio todas ficarem igoaes, disse u
Trasibulo, que assi ao cliamaua o enibay-
xador, que se fosse, e que aquillo que fi-
zera lhe dana por rcpoeta. Quis naquiilo
significar o philosoi)lio qi\e nenhuma cou-a
mais aformoscntaua a llepubrica <iuc a
igoaldadc, c que jiera bòa gouornança c
quictaçam os soberboi o fautosiósos auiam
de ser oprimilos, porque os que mais que-
rem valer, saõ os que nu'nos valem.» Hei-
tor Pinto, Dialogo da Justiça, wip. t).
—^ Valer íiiflií; ser prcferivel. ■
— Ser de tal "valor, ou míireciíncnto
proporcional comparável. ■,
.(— Valer mtnuK; perder a sua n9l)reza,
de dcgradai;ão jcraroliica, derogação de
qualidade, por má. conducta punivèl com
essa degraaaçiíó.
— Trazer em lucro.
^ çrz^Tpr certo valor ou valia.
'^ Valer com qlguem ; ter merecimen-
to, para d'cllc obter alguma cousa.
— Custar. ^ , „_ . . • ,
— Valer ante a^gupm; ter , .valimento
com elle. ' • '
— Figuradamente :. O saber não vale
jía praça; níto se vende, nem produz
difiilíeiro, nãii é mercadoria.
— Valer-se, v. rejl. — Valer-se «/e o/-
gúem, ou ãe alguma cousa; servir-se do
seii' préstimo, pcdir-llie auxilio, recorrer
a eito, ou a cila.
'^^— Valer-se </« «íf/ncn» ; apoiar-se n'elle,
' — Valer-se il) inimigo ; defendei--se
d'eUe, e otlcadel-o. ^ , , , . ','„ ,'^-.- '
-^ Vàler-se tZo ynò; resguafdar-se.
' — Adágios E PROVÉRBIOS:
— Quanto sabes, tauto vales.
— - Dizo-mo quanto, tens, dir-tediei
(juanto vales.
— Comamos e bebaniios, e nunca mais
Talhamos.
— Tanto vai a cousa, quanto d3o por
feftái ' ' '
\_-^ Morrer por ter, e soflEi'er por valer.
— ilíulia Ciusa c meu lar cem soldos
va); c o^timou-se ma,l, porque mais vai.
\,-T~ 1'or mais servir uieuos valçr.
— Mais vai vergonha no rosto, que
magoa no oorívçào. .,,-•. ■
— Mais vai amigo na praça, que di-
nheiro na arca.
— Mais vai uni toma, que dous te da-
rei.
— Mais vai calar, quo fallar mal.
— Mais vai um passarinho na milo,
íjuo, dous que voando vào.
— Mais vai o feitio, que o pauno.
— Mais vai sabor, que haV'-r.
— Mais vai penhor iia arca, que fia-
dor na jiraça.
— Mais vai tarde, que nunca.
— Mais vai qucíui Deus ajuda, que
quem muito madruga.
— Tantn vales, quanto luís, o o saber
por de mais.
— Tanto vai cada um na praça, quan-
to vai o (pu! tem na caixa.
— tíe nào houvera mais alhos que ca-
nclla, o que ellcs valem, vakra cila,
— Do andgo que nào valha, o do fa-
ca que nào talha, não me dá migalha.
— U sal quanto salga, tauto vai.
— Mais Vdl a;;ua do céo, que todo o
regado.
f VALER AL, s. m. Termo do chimica.
Producto obtido pola distillaçào do valc-
rato dt: barvta.
t VALE RATO, ou VALERIANATO, s.m.
Termo de chimica. Sal formado pelo aci-
do valcrico com us bases.
VALERIÀNA,, s. m. Termo de botâni-
ca, (í onero do jdantas, herva oflficinal,
amarga, de yuejia ciiico ospeçic;»: a or-
dinariq^ ou ^ilvesfref hortense^ phua,
diis In-rjoé. " ' ' , ,
1- VALÇRIANACEAS, s.f.plur. Familia
de plantas uieutyledoucas que tem por
typo a vd/criíina. ,
VALEROSAMENTE, adv. (De valeroso,
e o sufiixo «meulei';. De um modo vale-
roso. — BatalliDu valerosameute.
— Com valor, com esfoi\'o.
VALEROSIDADE, s. ./■. o caracter do
que é valemso.
VALEROSISSIMAMENTE, adv. auperl.
de Valerosameute. Jlui valerosameute.
VALER0SI3SIM0, A, adj. superl. de
Valeroso, -Mui valeroso..
VAL.EROSO, A, adj. Que tem forças.
— Eííforyado, corajoso, aniuioso. —
«Aquelle que iiojo se vo tão valeroso por-
que a nec 'ssiiladc, a colora, e a offensa
lhe discompòcm a imagina^'ào, amanhàa
sem alguma dessas causas parecerá o ho-
mem mais cobarde que tem o mundo.
Que dezigualdade, e que inconstância !
Está variedade porem sendo natural ao
homem, tem seus principies o tem suas
causas.» Cavalleiro d'ÒIiveira, Cartas,
liv. 1, n.o 1.
— De importância, que tem valor, va-
lia.— .«Assi como quando humã pe-ssoa
valerosa vos manda hum recado por hum
moyo rceebcylo com reuercncia o estima,
ainda que quem o traz seja pessoa vil,
assi todolos sauetos conselhos c doutri-
nas,» Frei Bartliolomeu dos Martyres,
Catecismo da doutrina christã,
— Que ó de grande preço, que tem
valia, valor.
— Figuradamente : VinJto valeroso ;
vinho fo:te, activo.
— linmedio valeroso; remédio forte,
activo.
■{• VALESIANOS, ». m. plur. Antiga
seita herética, rle que falia S. Epiphanio,
e que além de certa* o])iuir>e8 guootic&f,
se castravam a si mcsmoH.
VALETE, *. m. (Do francez valei).
IJnui das três figuras dos quatro naipe*
do baralho das cartas de jogar. Vid. Con-
de, e Cavallo.
VALETUDINÁRIO, A, adj. (Do latim
valeludinariutj. Qu • c-^tá muitas vezes
dociíto, — l'iiS'i<i$ dijentet c valetudiná-
rias.
— Que goza ])Ouca saúde.
— Substantivamente : Oi convaUsceti-
tet e os valetudinários.
VALHA. Fiirma ilo verbo iiali:r na pri-
meira e terceira pessoa do singular do
preseute do modo conjanctivo. Vid. Va-
ler. — «A este artigo diz Ellícv, que pois
tanto d^piio vem dclles, que os nom aja
hy daqui em diante, c manda que os
nom façam; e se os alguém fezer, que
nom valham nuiis que outro prazo feito
simprismento.» Ord. Affons., liv. 4, tit.
7. — «Ainda o iião ac^ibava ,«!<» '<]izer,
quando um dcUcs lhe caiu aos pé-i de
puro cançasso c deífallecimento do espi-
rito, o outro se soccorreu ás douzellas,
peilindo-lhc que valec^eem. Bjm couto
soubestes tomar, disse o do Sal vage, elle
vos valha, que certo perto estáveis de
pagar a vileza que comigo usastes.» Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim d'Inglaterr4,
cap. IIG.
Mas como a porta .1 poiícns agnsalha, ,
E 11 tíxloH uoila a vida si^ proinctto.
Qual (lilliarpa o oaminlm n'i-ir írribilhu.
'^>ual a entrada coo.i li '
Qual torna lium pouco
Mas donde este se ala-..
Ora vào atraz todos, ora .Ivaut.',
Movimento ao das oudas acraclhanto .
r. d'andbade, raiMEiRo ckbco de i>ir, cant 0.
est. 68.
— Substantivamente: 5er valha; ser
bom, approvavel, que merece fazer-sew
VALHACO, A, a<lj. e s. Vid. Velhaco.
VALHACOUTO, í. m. Logar seguro,
forte, defensável.
— Expediente, modo de occultar os
seus propósitos.
— Asylo, refugio.
— O valhacouto da divina misericór-
dia.
VALHER. Termo antiquado. V;d. Va-
ler, termo em uso.
VALHO. Forma do verbo valer na pri-
meira pessoa do singular do presente do
modo indicativo. Vid. Valer. — Valho-me
d'isto para melhor conseguir o mettjim. —
«Tendo provado os Autores de Medicina
que os homens sito mais c.ilidos, do que
as molhcres, valho-me desse principio pa-
ra segurar, que assim como esse calor
03 forma em menos dias r.os sevos ma-
ternos, agitando-os em menos tempo, e
gerando-os com mais facilidade, assim
VALI
VALL
VALL
depois de verem o mundo são ôs liomens
o qae nelle mostram maiores forças e
firmesas em tudo quanto entreprendem.»
Cavalleiro d'01ÍTeira. Cartas, liv. 1, n." 1 .
' 1 .) VALIA, s. /. Valor intrínseco ou
de opinião.
— Carta de valia; carta de favor, de
protecção, empesho.
— Valimento, impoi-tancia. — «E nes-
te anno de quatrocentos e oitenta e oito,
porque lio dito Bemohi por trayçam dos
seus fov lançado fora do Reyno, deter-
minou nieterse em huma carauella das
do tracto que corrião a costa, e em pes-
soa rir pedir a el Rey socorro, ajuda, e
justiça. E estando el Rey em Setuuel o
dito Bemohi chegou a Lisboa, e com elle
alguns negros seus parentes, e tilhos de
pessoas antre elles de muita valia e gran-
de e^^tima.« Garcia de Rezende, Chroni-
ca de D. João II,- cap.TS. — «Per on-
de consta que o que trazeis contra mim
he coLtra vos, e o que cuidais que he
contra a mathematica, he por ella, e o
que allegais pêra seu descrédito, allego
eu pêra sua valia. Day huma volta a es-
sas vossas razões, e achalas eis confor-
mes a meu propósito.» Heitor Pinto, Dia-
logo da Justiça, cap. 8.
— A pessi'a do valedor, protector.
— Valor de animo.
— Preço.
— Parcialidade, facção.
— Loc. : Guardar a valia a alguma
cousa ; respeital-a, guardar-lhe os firos.
— Emprestar a mór valia ; emprestar
com o maior juro e usura.
— Poder e forças militares, e pessoas
em que ellas consistem.
• •{•2.) VALIA. Forma do verbo valiar
na terceira pessoa do singular do presen-
te do modo indicativo. Vid. Valiar.
-j- 3.) VALIA. Forma do verbo valer na
primeira ou terceira pessoa do singular
do pretérito imperfeito do modo indica-
tivo. Vi'L Valer.
VALIAR. Vid. Avaliar.
VALIDAÇÃO, s. /. Acto de validar.—
A validação d' um casamento.
VALIDADE, «. /. Qualidade do que é
valido, em opposição a nuUidade. — A
validade d'um acto.
— Legitimidade.
VALIDAMENTE, adc. (De valido, com
o suífixo a mente»). De um modo va-
lido.
— Com legitimidade.
— Contrakir validamente ; conforme ás
leis, e direito, e sem oíFensa d'ellas.
VALIDADO, parí. pass. de Validar.
Tornado valido, e legitimo. — Acto vali-
dado.
VALIDAR, V. a. Tornar valido, legi-
timo alfrum acto. — Validar um acto.
VALIDIÇÃO, s. /. Termo pouco em
uso. Viil. Validação.
validíssimo, a, adj. supprl. de Va-
lido. Mui valido.
VÁLIDO, A, adj. (Do latim validus).
São, vigoroso. — Um homem valido.
— Figuradamente : Que tem as condi-
ções requeridas pelas leis para produzir
seu effeito. ' ' • " ' '
— Poderoso, robusto. •
— Que tem validade, em opposição a
nullo, ou irrito. — Pactns validos.
— Figuradamente : Validos venenos ;
venenos fortes, poderosos.
— Que usa de forças.
— Substantivamente: Um valido.
VALÍDO, A, adj. e s. Que tem vali-
mento e privança com alguém,: — «An-
dava na Corte hum cossairo, que se cha-
mava Alecheluby, que fora thesourciro
do Cairo, homem muito rico, e valido
antre os Baxàs. Este em chegando as
novas do que soccedeo a Moradobec, o
começou a vituperar diante dcs Baxàs
dizendo, «que homem, que entregara a
Fortaleza de Catifa aos Portugueses sem
esperar golpe de espada, naÕ se lhe ou-
vera de entregar aquelle negocio nas
mãos, ofFerecer.do-se aos Baxàs pêra elle
passar aquellas quinze Galês a Suez, co-
mo o Turco mandava.» Diogo de Conto,
Década 6, liv. 10, cap. 20. — «Os vali-
dos dos Reis de Castella foraõ os primei-
ros instrumentos 'da liberdade deste Rei-
no, porque mais parece, que attendiaõ a
destruir, do que a conservar. Eraõ ex-
cessivos os tributos, naõ se dava satisfa-
ção ao que juráraõ nas Cortes de Tho-
mar, e em outras, pois se viaõ os luga-
res, que deviaõ ser dos Portuguezes na
maõ dos Castelhanos, e parecendo-lhes
ainda pouca esta repetida infracção das
Leis enti-áraõ na pretençaõ de reduzirem
este Reino ao estado de Província. » Fr.
Bernardo de- Brito, Elogios dos reis de
Portugal, continuados por D; José Bar-
bosa.
— Favorecido em necessidades, traba-
lhos.
— Stx. : Valido, favorito. Vid. este
ultimo termo.
VALIMENTO, s. m. A privança, o me-
recimento, a gTaça que se tem com al-
guém, em virtude da qual se obtém d'el-
le o desejado.
— Intercessão, adherencia do valido.
VALIOSAMENTE, adv. (De valioso, e
o suíExo «mente»). De uma maneira va-
liosa.
— Validamente.
VALIOSO, A, adj. Válido, em opposi-
ção a nullo.
^Fc tem seguro firme e valioso
Xhum formão seu, de chapas d'ouro ornado,
Polo qual como nobre e grandioso
Xào somente nos tem assegur.ndo
Que as \'ida3 nos dará, c as liberdades,
Mas escravos também, e faculdades.
F. d'andbade, PRniEiRO CEBCo DE DIU, caut. 15,
est. 24.
1.) VALLA, s. f. Cova longitudinal de
mais ou menos altura, e largura, que se
faz na fortificação; ou para recolher a
agua que escorre e liltra das terras apau-
ladas, para dar curso ás aguas, para na-
vegação de vasos pequenos.
2.) VALLA. Forma antiquada do verbo
valer na prinicira ou terceira pessoa do
singrular do presente do modo conjuncti-
vo. Vid. Valha.
VALLADA, s. /. Valle mui extenso, ô
longo.
— Valias para desaguar os valles.
1.) VALLADO, s. m. Valle de pouco
fundo, com selva, ou tapume, de cercar
quintas.
— Quinta ou fazenda vallada.
— Derribar vallados ; talvez de tijo-
los.
— Os vallados são também cercados
ás vezes de pedra eiisossa.
2.) VALLADO, paH. pass. de Valiar.
Cercado de valias.
— • Rodeado por inimigo.
— Defendido de valias.
— Munido, corroborado.
— Figuradamente : Cercado.
— Torneado de obras defensivas.
VALLADOR, s. m. Homem que abre
valias, qne abre vallados.
— Vallador do campio do Mondego.
— Valladores de cava de fm-tijicaçdlo.
VALLAR, 1-. a. (Do latim v aliar e). Abrir
valia em algum logar para o fortificar,
cercar, e defender a entrada com vallo,
muro, tapume de pedra ensossa. - — Val-
iar a quinta.
— Cercar, sitiar.
— Valiar as terras com valias para as
desaguar,
^- Murar, munir, cercar.
— Vailar-se, v. rejl. Cercar-se, forti-
ficar-se com vallos, ou valias.
VALLE, s. m. (Do latim vallis). Planí-
cie ao pé, ou r.o baixo do monte, ou en-
tre dous, ou mais montes. — «Murto apra-
sivel de murtas hortas, e pomares de
muyta diversidade de fruytas, no qual
estava huma Aldeã de quarenta, ou sin-
coenta casas térreas, que Coja Acem ti-
nha saqueado, e dado a morte a alguns
dos moradores delia, que não puderaõ fu-
gir. Mais abayxo do valle obra de hum
tiro de besta ao longo de huma fresca
ribeyra.» Fernão Mendes Pinto, Pere-
grinações, cap. 59. — « Cõuertidos em
fontes de muy viuas agoas, e meu cora-
ção delido em suspiros e lagrimas com
que regaua o meu leito que era a nua
terra, onde constrangido do sono lançaua
os debilitados ossos, que escassamente
se tinhão huns cora os outros. Lembrame
que muitas vezes orando em alta voz
ajuntaua o dia com a noite,' e hora me
n;etia ras furnas e concanídades dos val-
les, hora subia ao cume dos fragosos mo-
tes, ora me metia nas aberturas das al-
tas rochas, i Heitor Pinto, Dialogo da
Justiça, cap. 9.
876
VAí.0
VAJ.V
VMO
— Figuradamente : Os pequenos o os
(le baixa condií^rio.
— FiguraiJaincute : Valles <y«e cavam
os ventus no mar.
— O valle (le lagrimas; o mundo. —
«UoUas ou pombas sam iiue.s cujo cantar
j^o he outro seuam gemer, em o quu
nos queria o- Sonbor ensinar qual deue
de ser nossa rida o oocupaySo noste des-
terro e valle de lagrimas, a qual nào de-
uo de .ser outra scuão gemer por nossns
peccados e poios albcos : polias tentaçõon
ç perigos em que viucmos : poia incerte-
ssa de nossa salua^^am : e juntamente ge-
mer com saudades do padre c pátria ce-
lestial, de cuja vista estamos tam alon-
gados e desterrados.» Fr. Bartholomcu
dos Jlartyres, Catecismo da doutriaa
cbristã.
— Adaoio e 1'koveubio:
— Se no valle neva, (jue fartl na serra.
VALLETA, s. /. Diminutivo de Valia.
Valia ]icquuna.
VALLESINHO, ou VALLEZINHO, ». »i.
Diminutivo de Valle. Tequcuo valle.
VALLO, s. m. (Do latim vallum). Mu-
ro de torra ou pedra para cercar, defen-
der a entrada do arraial.
— Vallo de ten-as de lavoura ; para
as cerca;', dividir e demarcar.
— A liya dos justadores para torneios.
— Fora da vallo ; fora da estacada.
Vid. Vallado.
VALOR, A-. m. (Do latim valor). Esfor-
ço do aniuu). — « Quod natura dat tiemo
negare potest. Esta Senhora he tola cm
huma só palavra. Sabendo que hade hir
» Princesa comigo, me oftereceo a sua
companhia com tanto valor como se fos-
se huma Ravnlia.» Cavalloiro d'01iveira,
Cartas, llv. 2, n." 59.
— Valentia. — «Não foram para o Ca-
pitão de tauta confusão os assaltos do
inimigo, nem de tanto temor verse em
braços dps bárbaros, como a desconfian-
sa do seus Soldados, aos quaes engrande-
cendo o valor, e constância, que tinham
mostrado de não seguirem o aftrontoso
caminho dos que se foram.» Conquista
do Pegú, cap. 7. — «A tirmesa que mos-
trarão algumas molheres expostas aos
tormentos não me fará mudar aqui de
opinião. Sei que a formosissima Leena,
tevo valor o constância para cortar com
ps dentes a sua própria liugoa, cospiu-
do-a no rosto do xilgoz, antes do que re-
velar a miniuia circunstancia da morte
^0 Tyrano. A constante Epicaris deter-
piiuou-se a morrer sem confessar o que
pabia da conspiração contra Nero.» Ca-
valleiro d'01iveira, Cartas, liv. 1, n.° 1.
— Merecimento, importância. — » E
por tanto amda que sejamos obrigadas
ser muy diligentes em fazer boas obras,
e guardar todos os mandamentos de Deos,
c da sancta Madre Igreja, e por ellas me-
jreçamos a, gloria eterna, todauia por mui-
to boas obras que façamos, nai5 auemos
do poer nossa confiança nollas, maa so-
mente nos merecimentos c paixam do
nosso senhor lesu (Jhristo, donde depen-
do e nace todo o valor que tem.» Fr.
Hartiiolomeu dos Martyres, Catecismo da
doutrina cbristã. — «Uomo se disi'i;.s8e:
Eu todo «ou voz, não tenho outro officio,
nem oiitro valor, se nam dar pregoes que
vem o Saluador às terras, que vos appa-
relheys, de nenhuma outra cousa siruo.
Na qual resposta cõ mostrar sua grande
humildade, mostrou também sua grão
digniilade. o Ibidem.
— 1'reço, ou aquillo em que a cousa
80 estima, ou a estimação que se lhe dá,
o com que ella se compensa com outras
cousas. — O valor do dinheiro, da vioeda.
— O desejo de valor ; o desejo de va-
ler, de ser estimado por merecimentos,
serviços.
— SvN. : Valor, coragem. Vid. este ul-
timo termo.
— Syx. : Valor, estimação, preço.
O merecimento intrinseeo das cousas
constituo seu valor; funda-se seu preço
na estimação que se lhes dá. Diz-se pois :
esta medalha, além do seu valor porque
é de ouro, é também de grande preço por
ser autiquissiuia e rara.
Freço suppõe alguma relação com a
compra ou veada, o que não suceeuo com
a palavra valor; pois se diz que não
é bom entendedor o que não julga do
valor das cousas senão pelo preço por
que se compram. Quantas vezes se ven-
dem por baixo preço alfaias do grande
valor ?
Estimação é o valor que se dá, ou em
que se considera uma cousa; é o juizo
que determina o seu valor relativo.
VALOROSO, A, adj. Vid. Valeroso.
VALOROSAMENTE, adv. (Da valoroso,
com o suffixo «mente»). Vid. Valerosa-
mente.
VALSA, s. /. Dansa gyrante em três
tempos moderados.
— A ária em três tempos em que se
executa esta dausa.
— Valsa a duus tempos; nome dado a
uma valsa mais rápida que a primeira.
VALSAR, V. n. Dançar a valsa.
VALVA, í. /. A peça de que consta a
concha, ou casca dos mariscos.
VALVERDE, *. m. flauta própria dos
jardins, de tigura pyrauddal, de agradá-
vel vista, couheeiaa também pelo nome
de belveder.
■\ VALVICIDA, adj. 2 gen. Termo de
botânica. Dehiscencia valvicida; aquella
que se opòra na ruptura das válvulas do
fructo.
VALVIFORME, adj. 2 gen. Termo de
Botânica. Que se assemelha a uma valva.
VÁLVULA, í. /. i^Do latim válvula).
Termo de anatomia. Toda a dobra que
nos viísos e canaes do corpo impede os
liquides ou outras matérias de refluir, ou
que tem por lunççào principal moditvcar
o curso do.s líquidos no trajecto dos quaes
BC encontra. — Certu» ijequcnas válvulas
'pie os aiiatomico$ qbatrvaram ao longo
das nossas veia/i,
— Válvula òicuspida; & válvula auri-
culo-vcntricular esquerda,
— Válvula Uicuspida, ou mitral; a vál-
vula auriculo-veiitriculaj direita,
— Válvula ileo-oecal; válvula que se-
para o ileon e o ceco.
— Termo do meehíiaiea. Peça de cou-
ro que nos orgàos ou bombas i\i. paisa-
gem ao ar, ou á agua, e fechaado-se im-
pede que retroce ia.
— Termo de botânica. K<^cama ou fo-
Ihiço paleaceo, de que se compSe o ca-
sulo.
VALVULADO, A, ou VALVULOSO, A,
adj. Teruio de historia natural. Que está
umrddo de válvulas.
VALVULAR, adj. 2 g&n. Que tem mui-
tas válvulas.
1.) VAM, A, adj. Termo antiquado.
Vid. Vào.
2.) VAM. Forma do verbo ir na ter-
ceira })e.-;soa do plural do presente do
modo indicativo. Vid. Ir.
— Alguns escrevem «õo, por estar
mais em uso. — «Tometn os doentes da
alma o sancto co:<solho que lhe da sam
Chrisostomo, Que assi como os fisicos
mandam a alguns doentes que vam ver e
passear por campos verdes, per.i se re-
crearem e conualeícerem, aséi elles vam
visitar e pa^isear pellos adros, e cimlte-
rios, porque he remédio efficaz pêra lan-
çar fura as «ioenças spirituaes.» Fr. Bar-
thohimeu dos Martyres, Catecismo da
doutrina cbristã.
VÃA, ou VAN, adj. f. de Vão. Vid.
Vão.
Por huma» nlas cspcrançu,
cm que eu jaa tanto esperei
vi depois tantas mudanças
que a meu ra:il conto nmi jf-i;
cuydados que cu uam o cuydei
dizei-me se hcyde cuydar
quo haveis tambcin de acabar.
CHBISTOTÂO FALCÃO, OBR.^S, pSg. 29.
VÃAGLORIA, ou VANGLORLA, *. /.
Gloria sem fundamento, imaginaria.
— Vaidade, jactância. — «Esta TOã-
gloria aiuJa que tilha da soberba, toda-
uia (^couui diz sam Gregorioi he mSy de
outras sete peçonlieutas tilhas, que sam
desobediência, jactância, hypocrisia, por-
fia, pertinácia, discórdia, presunçam de
nouidade. C)s remédios particulares pêra
vencer esto vicio Siim primeiramente con-
sideraçam da própria miséria.» Frei Bar-
tholomcu dos Martyres, Catecismo da dou-
trina cbristã.
— Syx. : Vãagloria, orgulho. Vid. ^te
ultimo terii.o.
VÃAGLGRIAR, v. a. Endier de van-
gloria.
VAMP
VAO
VÁKZ
877
— Tã.agloriar-se, v. >v/Z. Eucher-se de
vangloria.
— Figuradamente : Jaetar-se de cousa
que se representa gloriosa, porém que -o
nào é.
VÃ AGLORIO SÃMENTE, adv. (De vãa-
glorloso, coia o suífiso najeate»). De um
modo vaiiglorioso.
— Com vangloria..
VÃAGLORIOSO, A, aJj. Ciíeio de van-
gloria,
— Jaetancioso, vaidoso ue cousas qup
não dão verdadeira gloria.
— Que se desvanece com faciliilAdis de
gloria imaíTÍnaria.
VÃAMENTE, ou VÃMENTE. aJv. (De
vão, com o suffixo «mente»). De um
modo vão, inútil.
— Em vão, debalde, inutilmente, frus-
tradamente. — « Assi pêra a repubrica
ser repubrica he necessário ter hum Prín-
cipe no meo tam justo e igoal a todos,
que nara saya delle pêra a circumferea-
cia da communidade, cousa desproporcio-
nada e desigoal, E nào somente ha de
ger igoal, mas ha de igoalar os outros,
abavxando os que vãmeute se quiserem
aleuàtar com fautesia, e dominar sobre os
outros.! Heitor Pinto, Dialogo da Justiça,
cap. 9.
— Syn, : Vãamente, em vào, debalde.,
embalde, inutilmente.
Vãaxnente é o adverbio latino vanè,
que diz o mesmo que iíiutiluiente, e não
se deve confundir com em vão, que é o
latim in vanum, equivalente a Jrustre,
embalde, sem fructo.
Em vão suppõe iusufficiencia dos meios,
dos esforços, dos desejos que pomos em
pratica para obtermos um íim.
Debalde e embalde são. termos portu-
guezes e castelaanos, porém de origem
árabe, que vulgarmente se confundem,
mas que se deveriam differençar em por-
tuguez como se differençam em castelha-
no: debalde qu.er dizer sem preço algum,
gfraciosamente; embalde quer dizer em vão.
Inutilmente explica a pouca necessi-
dade ou utilidade com que se executa a
cousa, sem relação alguma a meios, nem
a esforços. Diz-se de um homem que fal-
ia inutilmente, isto é, sem necessidade, e
que falia em vào, isto é, sem fructo. Ha-
dxaguei inutilmente, quer dizer, levantei-
me cedo, sem fim, sem que a isso me
€tLrigasse motivo algum. Madruguei em
vão; quer dizer, ainda que tive o incom-
modo de levantai-me cedo, não alcancei
O iim a que me propuz, ou que esperava
alcançar. Querer corrigir um néscio é
cançar-se em vão. Gasta o tempo inutil-
vtente o )uoço que nào faz mais do que
passear, e divertir-se.
VAMOS. Forma do verbo ir na primei-
ra pessoa tio plural do presente do modo
indicativo. Vid. Ir.
t VAMPÍRICO, A, adj, Que tem o ca-
racter de vampiro.
f VAMPIRISMO, í. m. Crença nos
vampii'os.
— Figuradamente: Avidez sem medi-
da.
VAMPIRO, s. m. Na Europa oriental,
ser chimerico, que segundo a superstição
popular, sáe do tumulo para sugar o san-
gue dos vivos.
— Espécie de morcego.
— Figuradamente : Diz-se d'aquelles
que se accusaol de se enriquecer por ga-
nhos illicitos, e a expensas do povo. ^-
Os verdadeiros vampiros são oa frades
que çirmem á custa dos reis, e dos povos.
VANÁDIO, s. VI. Termo de cnimica.
Novo metal descoberto em uma mina de
ferro por Selstrom ; é branco como prata,
porém não é dúctil.
VANCÃO. Vid. Bancão.
VANDaLICO, A, a,IJ. Dos vândalos.
VANDALISMO, s. m. Regimen destru-
ctivo daa scieucias e das artes, por allu-
são aos vândalos, que devastaram algu-
mas partes da Europa.
VÂNDALO, s. m. Nome de um antigo
povo da Allcmanha que se espalhou até á
Africa e Hespanha.
— Figuradamente : Homem que abor-
rece, e detesta as scieacias e a civilisa-
ção, e que deslroe os monumentos das ar-
tes.
— Adjectivameute : Os usos gothicos e
vândalos.
VANDAVAL. Vid. Vendaval.
VANDOLA, s. f. Vid. Bandola.
VANDOLEIRO, A, adj. e s. Vid. Ban-
doleiro.
VANGLORIA, s. /. Vid. Vãagloria.
VANGOR, 4-. m. Termo da Ásia. O ca-
beça de casal, e seus herdeiros, ou famí-
lia que tem voto nos accordãos da Gan-
caria ; extiucta a família, extingue-se
aquella voz.
VANGUARDA, s. f. (Do fi-ancez avant-
garde). A dianteií-a, frente, rosto, testa
do exercito, do regimento.
— Levar a vanguarda; ir adiante.
VANGUEJAR, v. n. Vacillar, ir escorre-
gaii'io. Vid. Vanzear, que é uiffereute.
VANILHA, s. j. Vid. Bainilha.
VANILOCAiúENTE, adv. [De vaniloco,
e o suffixo « mente í). Com vaniloquio.
VANILOCO, A, adj. e s. Que diz cou-
sas inúteis.
VANILOQUEKCLA, s. /. Verbosidadade
inútil. Via. Vaniloquio.
VANILOQUIO, s. m. (Do latim vanilo-
quus). Termo pouco em uso. Pratica, pa-
lavras vãs, disparate.
VANIO, s. m. Na índia, a casta que se
aparenta com os charodos.
VANISSIMO, A, adj. superl, de Vão.
Mui vào.
VÃO, VÃ, ou VÃA, ou VAN, adj. Oco,
vazio,
— Sem fundamento, sem razão.
— Inútil, sem effeito.
— tíaír vão ; sair inútil, baldar-se.
— Vaidoso.
Quem ha (juc opponha a Tullio a Grécia, o Mundo?
TuUio, o maior brazão da espécie huinaua!
Tu mcsuo, ó vào Lucrécio, e tu Vanini.
J. A. DB MACEDO, StXDITAçÃO, Clllt. 1.
— £m vão; sem apoio, ou assento.
— Trabalhar, ficar em vão; debalde.
-— Substantivamente : Espaço vazio.
— Em um vão da pareda; aberta ou
Xíavidade feita n'e!la.
— SíN^: Em vão, vãamente. Vid. este
ultimo termo.
— Syx. : Em vão, inutilmente. Vid.
este ultimo vocábulo.
■\ VÃO. Forma do verbo irregular ir
na terceira pessoa do plural do presente
do modo indicativo. Vid. Ir, e Vam.
■Vaõse com tal victoria onde aguardando
O sepulueda está e o Eey por cUes,
Reccbeos com senibrante em que se enxerga
Do tal successo ter grande alegria.
Outra vez os aperta com estreito
Rogo ja contumaz, e encarecido,
Que de al!i nào se vão, até que ordene
Deoa tempo e conjunção para partirse.
COBTE BEAL, NAUFRÁGIO DE SEl-ULVEDA, Caut. 14.
Oh gengivas e arncilas,
Dcitae babas de seccura ;
Carpi-vos, beiços coitados.
Que ja li. vão meus toucados,
E a cinta e a fraldilha ;
Ilontom bebi a mantilha,
Que me custou dous cruzados.
CIL VICEXTE, OBBAS VAKIAS.
Das águas se lhe -antolha que sahião,
Par' elle os largos passos inclinando,
Dous homeug. que mui velhos pareeiâo.
De aspeito, inda aue agreste, venerando:
Das pontas dos cabeilos Uie cahiào
Gottas, que o corpo todo vão banhando ;
A côr da pelle. ba^u e denegrida ;
A barba hirsuta, intonsa, mas comDrida.
cAji., Lus., cant. 4, est. 71.
— «Succede muitas vezes ás mulheres,
o que aos potros, que melhor se gover-
nam quando lhes dào a rédea, e cuidam
que podem ir á sua vontade, que quando
lh'a recolhem, e mostram que vão á von-
tade alheia. !■ D. Francisco Manoel de
Mello, Carta de guia de casados.
VANTAGEM, í. /. Vid. Ventajem.
VAKTAJAR. Vid. Ventajar.
VAKTAJEM, í. /. Vid. Ventajem.
VANTE, AVANTE, adv. Adiante.
— Levar avante ; continuar, pi-oseguir.
— Figuradamente: Ir avante, passar
avante; fazer progressos, irem augmento.
— Estar muito avante; estar muito
adiantado.
— >S'. /. Diz-se em opposiçào á ré do
navio.
VANZEAR, V. n. Mover-se o mar va-
garosamer.te em grandes massas, quando
está vanzeiro, como diz o vulgo.
878
VA PO
VAPí)
VAQU
— Vanzear " imir; diz-sc quando a
tornieutii vem longe, e faz grande folia.
— Vanzeia o navio; joga no inar van-
zclro.
VANZEIRO. Vid. Banzeiro. — Mar van-
zeiro.
VÁO, ou VAU, s. m. No rio, Jiz-sc o
logar onde ello é luais baixo, e áo pôde
vadear.
— Loc. : Tentar o vào ; examinar al-
gum negoijio com precauçào, para achar
as diffieuldades que tom, o p;>dtír pas-
sal-a.s, salval-as, e livrar-so d'cllas.
— liaixo-!, banco, paul.
— Passar o vào; vadear.
— Figuradamente: T»mar o vào ; Bon-
dar, penetrar examinando com o enten-
dimento.
— Madeira a vào ; madeira em jan-
gada, embalsada, fluctuada.
— Figuradamente : Kão encontrar vào ;
não encontrar meio de vencer as difficul-
dades do negocio.
— Se o tempo der vào ; se clle der
commodidade, ensejo, opportunidade, co-
mo o rio que dá vão para se vadear.
— Fazer altjatm vão; mostrar o vào;
fazer guia ii'clle.
— Plur. Termo tle n lutlca. Traves em
que assenta a coberta da nau, onde anda
a artilheria, ou por baixo doa castelios.
— Paus grada-los na cabeça do mas-
tro sobre que assentam as coroas, e en-
xárcia.
— Paus cruzados nas gáveas.
— Adágios e pkoverbios:
— Por velho que seja o barco, sempre
passa o vào.
— Vào de orelha ó perigoso.
— Nem i"io som vào, nem geração sem
mau.
— Alto para vào, baixo para barco.
VAPIDO, A, adj. (Do latim vapidus).
Termo de medicina. Sem sabor, cheio de
vapores, de exhalações. — Substancias
vapidas.
VAPOR, s. «1. (Do latim ra^;or). Espé-
cie de fumo que se levanta dos corpos
húmidos por etleito do calor.
— O que se cxhala dos corpos sólidos
por via de decomposição, de combustão.
— Termo d'alchimia. Vapor potencial ;
a essência, o esplendor, a alma do metal.
— Diz-se fallando da atmosphera.
— Exhalação que obscurece. — Os va-
pores jaiíebres do inferno. — Mil negros
vapores obKcurecem o dia.
— Em physiea, nomo dado aos fluidos
aeriformes, mui coerciveis, provenientes
da vaporisação, pelo calor, de corpos ha-
bitualmente líquidos ou sólidos ;l tempe-
ratura ordinária, e passando ao estado
liquido ou solido, quando a temperatura
cresce sensivelmente, ou que a pressão se
torna mais forte. — O vapor do eiher. do
álcool, da camphora. — ^1 atjaa em vapor
existe na ar atmospherico, mesmo abaixo
de zero.
■ — Calor latente dos vapores; calórico
que cllc.s abandonam quando «o conden-
Harn, e ao (jual devem nua força elástica.
— Vapor Vesicular; nome dado, por
muito tempo, ás ijarcellu» d'agua visíveis,
cuja reuni.uo fArnia os nevoeiros e as nu-
vens, porque se Julgavam formadas d'uma
bolha d'agua cheia dar; hoje sabe-se que
estes vapores visiveis Hão formados por
gottinhas mui finas.
— Vapor de carvão de madeira, de
carvão de pedra, de coice ; nome dado ao
gaz e ao vapor d'agua que se desenvol-
vem c se misturaní com ar livre, quando
os corpos sobreditos ardem era taes con-
dições (pie o oxygeneo lhes chega em quan-
tidade insufficionte, para que haja, por
eonibustão, completa transformação na
agua, e no acido carbónico. — O vapor
de carvão aspky.ria.
— Machina de vapor ; aquella cujo mo-
tor é o vapor d'agua a<piecida em um cy-
lindro, e condensado em outro.
— Batd a vapor ; batel que marcha
com o auxilio de uma machina a vapor.
— Ir a todo vapor; diz-se de um com-
boio que caminha com todo o vapor que
a machina pôde dar.
— A força que possuo o vapor d 'agua
devida ao colorico, e de que se dispõe em
toda a espécie de mechaniámos.
— Figuradamente : Fazer uma cousa
a vapor; fazel-a mui depressa, com ve-
locidade.
— Termo de chimica. Banho de va-
por ; distillação em que o vaso contendo
matérias a distillar é aquecido pelo va-
por da agua fervente.
^ Os vapores do vinho ; a atordoa-
ção que o vinho tomado em mui grande
quantidade produz no cérebro.
— Figuradamente : Perturbação com-
parada aos vapores do vinho, e que so-
brevem ao espirito.
— Humor subtil que se levanta das
partes baixas, e que se aquece e fere o
cérebro.
— Nome repi'esentando todas as espé-
cies d'afFecçòe3 nervosas, hypocondria,
hysteria, nevropathia, etc, assim c!ia-
niadas porque os antigos as attribuidi a
vapores que elles suppunham partir da
madre, baço, hvpocondrios, e elevar-se
até ao cérebro. — Os vapores são as
doenças das pessoas felizes.
— Figuradamente : Dar vapores ; in-
quietar, atormentar.
— Um navio a va}K>r. — Elle chegou
pelo vapor. — O vapor c/wgará breve-
mente.
VAPORAÇÃO, í. /. O acto de vaporar.
— Elevação do vapor.
VAPORADO, part. pafs. de Vaporar.
VAPORAR, f. a. (Do latim vaporani.
Exiuilar fumo c vapores. — Vaporar chei-
ros.
— Figuradamente : Vaporar amores.
— V. n. Soltar vapores de si.
VAPORAVEL, n.lj. 2 gen. Vid. Evapo-
ravel.
VAPORIMETRO, s. m. íDo latim va-
por, e do grcjro mttron). Vaso cvlindri-
co lio metal, tirmcmente nivelado e col-
locado em algum terraço, etc., que con-
tém agua que se evapora, ex|xj8to ao
tempo, e por meio de certas combinações
se conliece a quantidade de agua evapo-
rada n'um tempo dett-rndnado.
VAPORISAÇAO, ou VAPORIZAÇÃO, *./.
Termo de chimica. (Jouversào de um so-
lido, ou liquido em vapor por meio do
calórico.
— Desenvolvimento de vapores.
— Vid. Vaporação, que liffero um pou-
co, pois que na vaporisaçáo considera-se
o va|)or e seus cflVdtoí», e na vaporaçUo
consi Jcra-se só o resíduo.
VAPORISADO, part. puss. de Vapori-
sar. ■ — Um liipiido vaporisado.
f VAPORISADOR, ou VAPORIZADOR,
s. m. Vaso que serve para a vaporísaçío
de um liquido.
VAPORISAR, ou VAPORIZAR, v. a. Ter-
mo de chimica. Produzir, n'um liquido,
um desenvolvimento de vapor.
— Desfazer um corpo em gaz por meio
do fogo.
— Vaporisar-se, v. refl. Reduzir-se a
vapor. — A agua vaporisa-se a luO
graus. — Não é mister que um liquido
ferva para ser susceptível de se vapori-
sar.
VAPOROSO, A, a/lj. (Do latim vaporo-
sus, de va^xtr). Que contém vapor, que
c de vapor. — Ondas vaporosas.
— Particularmente : l.>ia-Éi€ do estado
do ceu quando os vapores o encobrem a
meio. — (,'cu vaporoso.
— Figuradamente: Um tecido vapo-
roso ; tecido mui ligeiro.
— Figuradamente: Nebuloso, incerto.
— Um estylo vaporoso.
— Que está sujeito aos vapores.
— Que produz vaptires.
— Fomentarão vaporosa ; feitJi diri-
gindo á parte doente vapores de agua
quer.te, ou cozimentos.
VAPORZINHO, s. m. Diminutivo de
Vapor. Pequeno vapor.
VAPULAR, r. a. (Do latim vapulare).
Açoutar, lustigar.
— Figuradamente : Vapalar o ar com
as azas.
1.1 VAQUEIRO, s. m. Pastor, guarda-
dor de gado vaccum.
— Vestido nistico past«ril.
— Vestido de tambor ap;i5samanado,
com mangas perdidas estreitas.
— Adagio e provérbio :
— Hontem vaqueiro, lioje cavalleiro.
2.) VAQUEIRO, A, adj.' Que é relati-
vo a vaccas. ou a vaqueiros.
— Heria vaqueira ; planta.
— .>'. /. Mulher que guarda vaccas.
1 .^ VAQUETA, t. f. Sola branda de for-
rar sapatos, e botas.
VARA
VARA
VARA
879
2.) VAQUETA, s. /. Vara com pilãosi-
nho, com que se ataca a pólvora na es-
pingarda.
— Vid. Vareta, e Baqueta.
VAQUINHA, s. .,'. Diminutivo de Vac-
ca. Vacca pequena.
— Vacca nova.
VARA, s. /. Ramo delgado, renovo de
alguma arvore. — «Foy pronunciado per
Deos que aquelle tiuesse esta dignidade,
cuja vara florecesse. E postas as varas
de todas as gerações dos tilhos de Israel
em o tabernáculo do concerto, somente
aconteceo isto á verga de Aarõ a qual
milagrosamente deu folhas, e flores, e
fructa, e nam qualquer mas excellente.
Quis Deos nisto significar, que aquelle
he digno da dignidade e prelazia, e de
ter mando sobre os outros, cuja vida tem
folhas, e flores, e fructo.r Heitor Pinto,
Dialogo da Justiça, cap. 4.
— Insigaia de juiz, magistrado ; a ju-
risdicção. — «E ás vezes ha assi numa
parte como na outra grande erro. Por-
que os elejtores nam deuem ter conta
com suas particularidades e aíFeições,
mas pór os olhos no bem geral, e os ou-
tros hã de cõsiderar suas fraqaezas, e
nam se querer enfiar no pêra que nào
saõ. Mas ja que ace^-tào as prelazias,^
hà de pór os olhos em Christi, e seguilo,
pêra serem justos e igoaes juizes. Como
pode ter saã a justiça, quem tem rota a
consciência? Cousa monstruosa he ser a.
yara do juiz direita, e afteyçam com que
julga torta.» Heitor Pinto, Dialogo da
Justiça, cap. 9.
— ^ Medida e^ual a palmos geométricos
5 '/.,.; e craveiros õ: a pés portuguezes
3 ^/j. — «Porque hum diabo naò tem po-
der, para se transformar em tantos mons-
tros, como huma vara de serventia alu-
gada se transforma : e elles mesmos o con-
fessaõ, que naõ pôde ai ser, para paga-
rem ao orfaõ, on á viuva, cuja he, e fi-
carem com ganho, que os sustenta, a to-
dos á custa das perdas de muitos.» Arte
de furtar, cap. 57.
— MysUriosa vara.
Ondas rasgou mysteriosa rara ;
Já então sobre 03 mármores estavão
Esculpidos 03 symbolos das artes.
f. X. DE lUCEDO, MEDITAÇÃO, Caut. 1.
— Corrid.0 á vara ; perseguido da jus-
tiça.
— Figuradamente : Varas tenras ; os
moços.
— Lançar varas para descobrir the-
souros ; feiticerla ou patranha que os
desejosos de ter poderes do diabo fazem,
fingindo que com elles acham thesouros,
e podendo-os descobrir para si os preten-
dem dar a quem lhes dê cousa mais certa.
— Vara com que se castiga e açouta.
— Figuradamente : A vara da cólera
divina; o castigo d'ella.
— Uma vara de fitu ; pedaço d'ella
que tem o comprimento d'uma vara, me-
dida marcada para as medições.
— Vara de caçar aves; com vi-;co ou
encurva-la com laço, em que a ave fica
enforcada, desarmando-se a vara, e aper-
tando eiitào o laço.
— Poder supremo, senhorio.
— Vara do lagar; a peça que carrega
sobre o pé da uva para a espremer, por
meio do peso que tem na cabeça.
— Vara, ou varinha de condão ; vara
magica, de que o vulgo crê que se fa-
zem com o toque d'ella transformações,
por exemplo, de cobre em ouro, de um
homem em jumento, etc. : são asadas pe-
los arlequins nos theatros.
— Figuradamente : Vara, ou varinha
de condão; a virtude de fazer cousas ex-
traordinárias.
— Ramo liso, direito de arvore, para
varejar, para fazer andar barcos.
— Vara do castello ; a parte mais alta
d'elle, o viso, d'onde se descortina mais
ao longe.
— ■ Pòr-se á vara ; examinar as varas.
,— T- Empunhar a vara; começar a exer-
cer a magistratura.
^T^ Encostar a vara; deixar de ser
juizV '
— O sceptro, império.
— Figuradamente: Pòr-se á vara;
averiguar.
— Diz-se propriamente vara de porcos
por multidão ou numero de quarenta até
çincoenta porcos grados e de conta, que
por isso se chamam de vara ; e não por
terem uma vara do comprido como o vul-
go cuida. — Faztr varas d.e poi-cos.
— Termo de náutica. Vara de Coro-
mandel ; na índia, corda rija de vento
teso, que açouta, vareja de assalto aquel-
la costa, e causa graívfles estragos.
VARAÇÃO, s. /. Varadouro.
— A acção de varar.
VARADO, part. pass. de Varar. Tira-
do a monte, posto em secço na praia.
. — i2ei«Q varado.; fincado sem se re-
mar.
-T- Navio varado ; navio encalhado,
que deu em secco, onde não anda.
— Lança varada ; enristaila, tesa. —
«Pelejando-se pé a pé á espada, e lança
varada como em desafio ou batalha cam-
pal, p Fr. Luiz de Sousa, Vida do Arce-
bispo, liv. 2, cap. 11.
. VARADOR, s. m. Medidor'^ (|a^ pipas.
Vid. Varar.
VARADOURO, ou VARAIíDOURO, s. m.
O logar secco ;i borda do rio ou mar,
onde se recolhem os navios e embarca-
ções pequenas pelo inverno.
— Figuradamente : Local onde alguns
se aju:!t:im a descançar e praticar.
VARAL, s. 77i. Vara longa e grossa pa-
ra diversos usos, a fim de sobre ella se
estenderem redes.
— Peça de madeira lavrada, que ser-
ve nos coches e seges; entre os varaes
vae a besta; vae o carregador de cadei-
ra dp varas.
VARANCADA, s. /. Vid. Vardascada.
VARANDA, s. f. Obra sacada na dian-
teira ou trazeira, ou em todo o âmbito
das casas, com grades, balaustres, gelo-
sias ou parede ordinariamente descober-
ta, onde se toma o sol, ou fresco.
— Figuradamente : Varadouro.
— Roda dentada do lagar, que move
a entrosa.
— Alguns escrevem e prominciam ba-
randa, porém este termo está pouco em
uso.
VARANDINHA, s. /. Diminutivo de
Varanda. Pequeria varanda.
1.) VARÃO, í. m. Homem. — «No-
meou por Abbade ao Santo varaõ Mani-
lano, por lho pedir o Convento, decla-
rando, que daquelle tempo em diante
cessassem n meaçoens, c se elegessem os
Prelados pelo modo que nosso Padre Sao
Bento dispõem em sua regra : o Santo
foy por entaõ sepultado no lugar ordiná-
rio dos outros Abbades ; mas andando o
tempo, e sendo beatificado pelo Cardeal
Jacinto Legado em Espanha, que depois
o canonizou, sendo já Papa Celestino
Terceiro. » Monarchia Lusitana, liv. 7,
cap. 24. :
Daqui continuando mêà caminho,
Espero vêr a casa aos^eos acceita.
Na terra que da nossa aparta o Jlinho.
Onde vou visitar na urna estreita
Os santos ossos do Varão divino;. ;-
Que pretendeo do Jíestre a mão direita.
CAM., ÉCLOGA 11.
— «Viviaõ entaõ quatro, três dcUes
varoens, e huma fêmea, filhos de dous
Infantes, e de duas Ir.fantas : e pela an-
tiguidade das Proles eraõ Filippe Pru-
dente, filho da Infínta Dona Isabel, Phi-
lisberto filho da Infanta Dona Brites,
D. António filho do Infante D. Luiz, e
a Senhora Dov.a Catharina, filha do In-
fante D. Duarte.» Arte de furtar, cap.
16. — «O Duque D. Joaõ, marido da
Senhora Dona Catharina, era descenden-
te por linha masculina do primeiro Rey
de Portugal D. Afi^onso Henriques; e he
certo, que quando de alguma herança he
excluida a fêmea a favor de varaõ, naõ
tem isto lugar, quando ella he cazada
com agnado da mesma faniilia.» Ibidem.
— Homem sábio, esforçado.
— Homem de eilade varonil.
— Filho varão; , filho macho\
— Marido.
— Vid. Barão, que é differente.
— Syx. : Varão, homem. Vid. este ul-
timo termo.,
■ — Varão nobre ; homem, dé nobreza,
il lustre.
Graude escandiílo fez geral a todos
O desestrado fim do varSío nobre
880
VARA
VARD
VAHK
Daíojaitlo ca«tif»o, f|ue ficadso
Do tiio nofaiido oriíno por oxnmplo.
O tompo iiuaio iiini>;o (In inuditiii,')H
Fnz tratavol, o brando o diiio cuao,
E rodando |)or poiítoi a|)r<^sn:idoi<,
Daa momoriaH varrno hiiin iiial tain grildc.
couTR nuAi., NAUviiAoio PH «Ki-ULVf.nA , caiit. 3.
Noni súnionto a jornada llin concedo
ííunha, Miarf i|uaiit.o [lódi! Ili'a a{;nidocfi,
Nada lhe nc-ja nntào do qw. lhe podo,
Qiin muito wuiU cuida inda ')ui) nicroco.
Com irtto o ajuntanidiito sn despede,
K ja por toda a parto hc engrandece
De.-tte lllimtrt! V<trnn o esf<M\o raro
Qno nesta obra, i\ oin mil ontrart HO vio claro.
FHANOISCO ni: ANIIIIADK, I-KIMKIKO CEBCO I>B ITIO,
cant. 5, est. l'.l
Pas.íado cate combate não repousa
O dia inteiro a tjente I'ortnç;nnza,
Mas tanibom so dispõe a fazer cousa
Que »o.s imigos fani pôr-áe oui defcz».
O Capitão mandou Gaapar de Sousa,
Nobre rarão, a (|uem a niúr cmpreza
Sc píde encoinmendar com confiança,
Que ponha a sua gente em ordenança.
inmKM, cant. 11, est. 74.
Tendo o Silveira ja determinado
Que esto artefioio, que cllo não receia,
Sinta o furor nm si (pio foi tirado
Com força do fuzil, da dura veia,
O cargo disto lo^o encommendado
Foi por ello a Franci.sco de Gouveia,
Nobre rariío. cujo esforçado peito
Mais se alegra que espanta co'o grão feito.
iDinRM, caut. 13^ est. 82.
Varão fortit; liomcin corajoso, va-
lente.
Dcapedido atraz isto o varão forte
Ao primeiro perigo a fusta entrega,
E rompendo outra vez por fogo e morte
Com invencivi 1 peito o mar navega ;
E tal favor enb'io da amiga sorto
Scntio, que ;l fortaleza em salvo chega
Apesar do porcune fogo ardente
A dctê-lo apressado e diligente.
r. nE AMnRADia,Fnmi£inocEKCo dk Diu,cant. 14,
est. 14.
— Varão [/rave; homem serio.
e achou
No meyo dg luun deserto luim varão grave
Mal tratado do sol e penitente
Hum cordeiro mostrando, assi dcsião
Letras, que chivamento se e.nxorgauiio.
OOBTR RKAL, kAUPRAOIO DE SEPULVKDA , CaUt . 10.
— Varão maio7- Je todo o elogio. —
«Adquiriíiios aqui a noticia pratica do
um peixe cuja propriedade poderia mo-
derar a critica com cjue o rcvcrcado
FeijAo, aliás varão maior de todo o elo-
gio, escreveu contra o peixe torpedo,
pois a experiência dos indios mostra fi-
car estuporado o bra(,'o que o tocou.»
Bispo do Orão Pará, Memorias, publica-
d.as por Camillo Castello Branco, png.
203.
— Linha oriunda do varão ; linha pro-
ceiicnte do homem, linha varonil. —
"Quatro cousas se considoraii aqui, liuha,
sexo, idade, o gráo : c no primeiro lugar
SC busca a mollior linha, e só (juem ucl-
la jirevaleeo, prevalecerá na causa, ain-
ila que seja inteiior ao outro pcrtcuden-
to no sexo, iiiade, e grão: o sempre a
linha que procede de varaõ, iic melhor
(juo a ([ue procedo de fêmea.» Arte de
furtar.
— Varões, borrão eterno, e ticandalo
da historiu para a posteridade. — «Que
novo niartvr amanhece á companhia pa-
ra solemnisar a sua memoria no necroló-
gio do padre António Josà, do padre (iui-
gnard c outro.s varões, quo ser.^o eterno
borrão e escândalo da historia jiara a
po.steridade. n Bi.spo do (riào l'ará, Me-
merias, publicadas por Camillo (Jastcllo
Branco, pag. 217.
— Varões eruditos e pios ; varões pie-
doso.», sábios e iilustrailos. — «R. Os pios
e eruditos varões, .JoaÔ Bona Cardeal,
Ludovico ]}losio, e Nicoláo Avancino fi-
zeraõ já e.^ta diligencia. A' sua iniita(,-aò
proporemos aqui alguns exemplos : adver-
tindo primeiro ao cxeTcitante três cou-
sa.'*.» i'adrc Jbuioel Bernardes, Exérci-
cios espirituaes, part. 1, § 13.
— Adágios e raovKunios:
— Ao bom varão, terras alheias sua
pátria são.
— Bento 6 o varão que por si se cas-
tiga c por outrem não.
— Fazo bem ao bom varão, fiaVerás
galardão.
2.) VARÃO, í. m. Augnientivo de Va-
ra. Vara de ferro.
— Termo de náutica. Varão da esco-
tilha.
VARAPÁO, ou VARAPAU, a. niV' Vi^a^
de dar, malhar, espancar: é gi'Òasaj cçtii-'
prida e forte.
— ( lolpc de cajado.
VARAR, V. a. Fazer encalhar.
— l'ôr om secco.
— Tirar o navio para o varadouro, em
terra.
— Varar com a espada, ou lanqa; pas-
sar de parte a parte.
— • Varar os vinhos ; medir com a va-
ra a capacidade de uma pipa, tonel.
— ■ Atalhar, cnloar ; e d'aqui vem : Fi-
quei varado; fiquei atalhado, á niaucira
lio navio encalliado.
— Varar a barra, rio, etc.; passar por
ella, sem entrar, escorrer.
— Obrigar a sair.
— Varar alguém o seti baixel em al-
gum Dcgocio; não surdir, ficar encalha-
do, não o concluir, nào alcançar,
— V. n. Encalhar.
— Sair para fora.
— Passar, atravessar para a outra ban-
da, passar para alíni.
VARDASCA, í. /. Vara delgada de açou-
tar, de fustigar.
VARDASCADA, ». /. Açonte com var-
da-ca.
VAhEAÇAO, ». /. Vid. Vereação.
— • .Medirão An rara».
VAREAGEM, *. /. Mc-Hçilo doo géne-
ros <pií! HC vi.-ndem o medem ás varaa,
como paiinos de Uoho, ctc.
VAREAR, V. a. Medir A» varaa certas
fazendas, como lençaria de linho, caílar-
ços, fita?, ctc.
— Vid. Varejar.
VAREDA, s. f. Vid. Vereda, termo
mais em u^o, o mais correcto.
1.) VAREJA, s. f. I^jndca da mouca
varejeira.
— Loc. FIO. : Põr a língua má Tare-
ja f^m alguém; calaniniar, dizer mal.
2.) VAREJA, *. /. Espécie do tecido
de lã, !< ■■:», ou algcISo.
VAREJADO, part. pass. de Tafejar.
VAREJADOR, s. m. Homem que fazia
o varejo.
VAREJADiJRA, «. /. AcçSo de vare-
jar.
VAREJAMENTO, ». m. A acção de va-
riíjar as fazendas para receber a sisa
dVlla.^. itc.
VAREJAO, s. m. Vara grande.
VAREJAR, 1-. a. Derribar com varas
a;çòtrtando. — Varejar a aièitona, a» vli-
veitas, etc:
— Varejar a cidade, às inimigos, ba-
tkis, etc. ; com tiros, com artiiheria, co-
mo açoutal-a. — «Na frontaria das qaacs
duas ostanciae mandou c.^ar certos ba-
teis grandes com artíHieria, que vareja-
vam pela b.'inda de f'')ra todo o panno
da.=; paliçadas, por oi Mdaros nSo virem
per entl"e a maileira de noite ferir os que'
ás gnarJaram.» Barros, Década 2, liv.
6, cap. 5. — ■ «Aonde estava a Ermida da
Sladrc de Deos (porque estava .isfc*n-
fá'!o àntre elles que se apoderassem del-
le pêra dalli ficarem sobre a fortale-
za, porque aqucllo monto lhe he padras-
to) a velha lhes disse qne lhes mostraria
o csínnnho, e sahindo-.-p pêra frtra ferro-
Ihou a porta sobre si, e foy dar rebate
ao Capitão deste casff. 1>. Peíro da Sil-
va tinha encomendado aquella parte do
mar a ChriatovaS de f>à, que ao tempo
que 08 imigos acouietèraC, < s mandoii
varejar com a iM-t-.dharia, Ciim que lhe
nuitou muitos.» Diogo de Couto, Década
G, liv. 9, cap. 9. — «Ao outro dia, que
eríi Imma .«esta feira Lourenço de Brito
mandou trazer a artelharia gros-^a a tran-
queira, c (laMi mandou varejar a cida-
de, coui que alh-m do danno que se fez
nas cas.as derribaram hutn grande lanço
da mesquita dos ^touros onde elles por
ser o Seu Domingo, entaõ cstauam fazen-
do suas orações, dos quacs morreram al-
guns debaixo da parede que c.ahio.» Da-
mião do Ooes, Clironica de D. Manoel,
|)art. 2. cap. 17.
— Assoprar rijo, teso, açoutar forte-
mente.
VARG
VARI
VARI
881
— V. n. Examinar por ofBciaes do
varejo as fazendas que iiavia nas Injas,
para se vêr se os mercadores, que as in-
trorluziram, manifestaram direitamente,
nas quantidades, ou as descaminharam
para fraudar a sisa ; e para se comparar
o que importavam, com o que exporta-
vam em retorno, a fim de verem se se
saldavam com efFeitos da terra exporta-
dos, ou com diniieiros e metaes ricos.
— Examinar e medir os mantimentos
de vender que cada um tem nos cellei-
ros, e adegas para cobrar alguma impo-
sição, quando o dono não se quer aven-
çar.
VAREJEIRA, s. f. Mosca vulgar, de
cujas lêndeas saem uns vermes que roem
a carne do animal onde a mãe as depõe,
que é ferifia.
— Adjecti vãmente: Mosca varejeira.
1.) VAREJO, s. m. O acto de varejar
azeitonas.
— Figuradamente : Correcção, repre-
henaão áspera.
— Figuradamente : O acto de varejar
com artilheria, lanças, arremessos e ti-
ros.
2.) VAREJO, s. 7ii. O varejamento dos
varejadores; aquillo que rende o vareja-
mento.
— Dar varejo nos mantimentos ; ave-
riguar os que ha, para vêr se abastam.
— Dar varejo a alguma cousa; dar
busca a ella.
— Dai- varejos nas casas dos ouri-
ves; a fim de vêr se a prata lavrada e
ouro são dos qiâlates e da lei prescripta.
— Talvez fosse ou a sisa, que se paga
das varas da fazenda, ou imposição em
logar d'eila, ou composição, e avença
que os mercadores pagassem por evitar
03 varejos e exames, que se faziam nas
lojas dos pannos, para vêr se conforma-
vam com 03 despachos, ou houve desca-
minhados, ou a pena que pagavam aquel-
les, que nos varejos são achados em frau-
de do lealdamento. Vid. Alealdar, e Aleal-
damento.
• — ■ Dar varejo nas lojas ; para buscar
contrabandos, ou fazendas desencami-
nhadas, ou tiradas por alto, e não leal-
dadas, ou lealdadas com fraude.
VARELETE, ou VARELETA, s. f. Vid.
Varleta.
VARELLA, ou VARELA, s. f. Termo
da índia. Segundo uns ó pagode, templo
de idolatras. — As varellas dos gentios.
VARETA, s. /. Vara pequena.
— Perna.
— Vara de pau ou ferro para atacar
a pólvora nas espingardas.
— Loc: Passar pelas varetas; ser
castigado com as de espingardas, ou chi-
batas, ou varas de rota tina.
— Vid. Vaqueta, ou antes Baquetas
de tambor.
VARGA, s. /. Termo antiquado. Certo
artifício de pescar, ou talvez esteiro ra-
VOL. V. — 111.
so, onde entra maré, e com ramos se cer-
ca o peixe que fica na vasante.
— - Outr'ora significava vargem alaga-
diça lie inverno.
VARGEA. Vi.!. Vargem.
VARGEASINHA, ou VARGEAZINHA, s.f.
Diminutivo do Vargem, ou Vargea. Pe-
quena vargea.
VARGEM, ou VARGEA, s. /. Vid. Vár-
zea.
VARGUIJAR, V. a. Vid. Vanguejar.
Vergar, dobrar.
VARIA, s. /. Termo de historia natu-
ral. Peixe do tamanho da tainha, pintai-
nho; habita na barra de Setúbal.
VARIABILIDADE, >. f. Disposição ha-
bitual para variar. ■ — Variabilidade da
temperatura.
— Termo de grammatica. Propriedade
que tem certas palavras de mudar de
desinência. — -A variabilidade de um ver-
bo scgtindo os modos e tempos.
— Termo de biologia. Propriedade de
apresentar variedades. — Variabilidade
das espécies.
— Termo d'algebra. Indeterminação ;
passagem possível d'uma quantidade por
difliírentes estados de grandeza.
VARIABILISSIMO, A, adj. superl. de
Variável. ^lui variável.
VARIAÇÃO, s. f. (Do latim variatio,
de variare). Estado do que experimenta
mudanças successivas ou alternativas. —
Os barómetros, thermometros e hygrome-
tros, destinados a medir as variações
physicas que nos eram, ha pouco tempo,
ou absolutamente desconheciílas, ou so-
mente conheciflas pela relação confusa e
incerta de nossos sentidos. — A arte de
raciocinar tem seguido todas as varia-
ções da linguagem. — As grandes varia-
ções do systema do mundo não são me-
nos interessantes de conhecer que as re-
voluções dos impérios.
— Mudança na doutrina, nas idéas.
— Termo de grammatica. O que mu-
da n'uma palavra variável. — A varia-
ção das formas n'um verbo que se con-
— Termo de astronomia. A desegual-
dade do movimento lunar, que depende
dos aspectos, isto é, da differença das
longitudes do centro do sol e do da lua.
— Diz-se egualmente de todas as ou-
tras desegualdades astronómicas.
— Variações seculares; aquellas cujos
períodos alcançam muitos séculos.
— Variações pertocíicas; aquellas cujos
períodos não abraçara senão um pequeno
numero de annos.
— Termo de phvsica, e de marinha.
Variação da agullia magnética, variação
da bússola, variação do compasso, cha-
mada outrora declinação; o angulo for-
mado pela linha norte-sul da bússola, e
pela linha norte-sul do mundo.
— -Termo de mineralogia. Variações
das formas crystallinas ; modificações ao-
cidentaes das formas dos crjstaes, no
meio das quaes as incidências mutuas das
faces do crystal são constantes.
— Termo de matliematica. Calculo das
variações; ramo superior da analyse infir
nitesimal, na qual se consideram certas
differenciaes tomadas sob um ponto de
vista novo, a que se dá o nome de va-
riações.
— A variação das gentes; a variedade
d'ellas.
— Termo de musica. Mudanças feitas
n'uma ária, quer accrescentem ornatos,
quer substituam o fundo da melodia, e o
movimento. — Ha variações vocaesj e va-
riações instruinentaes.
— Syn. : Variação, variedade.
As mudanças successivas n'um mesmo
objecto constituem a variação. A multi-
dão de differentes objectos produz a va-
riedade. Por este motivo se diz: a varia-
ção dos tempos, e a variedade das co-
res. Não pôde haver governo estável n'um
povo, cuja legislação é sujeita a conti-
nuas variações. Nas difí"erentes espécies
dos seres creados observam-se muitas va-
riedades.
VARIADAMENTE, adv. (De variado, e
o suflSxo amente»). De um modo variado.
— Com variedade.
VARIADO, part. pass. de Variar.
— Diversificado.
— Que recebe variações.
— Que apresenta variedade. — Uma
lingua harmoniosa é variada. — Um es-
pectáculo variado.
— Termo de historia natural. Que está
ornado de difierentes cores.
— Termo de arehitectura. Columna
variada ; columna feita de diversas maté-
rias.
— Termo de mechanica. Movimento
variado ; aquelle cuja velocidade muda a
cada instante.
— Movimento uniformemente variado ;
aquelle em que a velocidade varia na ra-
zão directa do tempo.
— Terreno variado ; expressão de for-
tificação e de topographia, para designar
terreno accidentado, em opposição a ter-
reno horisontal.
VARIAGEM, s. /. Certo direito, ou im-
posto pago na casa dos cincos, e alfandega
de Lisboa.
VARIAMENTE, adv. (De vario, e o suf-
fixo «mente»). De um modo vario.
— • De diversos modos.
Geraes são as mulheres, mas somente
Para as da geração de seus maridos:
Ditosa condição, ditosa gente,
Que não são de ciúmes oifendidosi
Estes, 6 outros costumes rariameiUe
São pelos Malabares admittidos :
A terra Iic gvos.ia cm tracto era tudo 3f(UÍllo,
Que as ondas podem dar da China ao Nilo.
cAM., Lus., cant. 7, est. 41.
Com variedade.
882
VARI
VARI
VARI
VARIANTE, part. act. do Variar. Que
varia.
— Minlavol, inconstante.
— Teatennuiha variante ; tostoiímuha
quo vacilla, (juo unian vczco diz uma cou-
sa, outraH vczo.í outra.
— JaizD variante; juizu dcliranto.
— Lii}ài> variante 'lo texto; a quo nilo
conforma cm todos ou cxomidarcH, ou có-
digos.
— IS. f. i>hir. — As variantes da lii-
blia.
VARIAR, V. a. (Do latim variam). Fa-
zer aolVrcr mudan(;a3 sucessivas ou altor-
nativa*. — Quando escreverdes,, variae *«-
cessanfemante vossos tliscurs-js.
— Variar aj)hrafa; exprimir o mesmo
pensamento em outros termos,
— Termo do musica. Variar uviaarla;
mudando-a, accrescoiitando-lho ornatos
quo doixem subsistir o fundo da melodia
o o movimento.
— Tornar inconstante, fazer mudar de
parecer.
— Fazer vários em cores, dar varias
cores a uma peça, varias ondas.
— Alternar, mudar.
— Tornar vario, diverso.
— Variar as viandas para desfastio;
comer de outras, dar outras em substan-
cia, ojt guisamentos.
— V. n. Apresentar variação. — O
tempo varia continuamente. — O accusado
varia nas suas resjjostas.
— Variar o natural dos prados.
E quando de esmeraldas so toucava
A torra aloire, o do diversas cores
O uatural dos prados variava.
FKBNÃO SOBOriTA, POESI.VS E niOS.VS ISKnlTAS,
pag. ;!0.
— Mudar de partido.
— Dcsoonformar, não ser conformo.
Vid. Desvairar, e Desvariar.
— Não seguir o mesmo systema, cstylo
e theor, mudai--sc, proceder do variado
modo, ser diverso.
— Variar a fortuna; mudar-se.
— Variar a agulha; inclinar-sc, ou de-
clinar.
— Variar-se, v. rejl. Mudar-se alter-
nadamente.
— Sor vario.
— Variarem-se os vestidos; screni de
diftcrontfs matérias e feitios.
VARIÁVEL, adj. 2 ijen. (Do latim va-
riaòilis, do variare). Sujeito a variar,
que muda muitas vezes. — Um tempo va-
riável. — Vento variável. — Um povo va-
riável, incerto c tímido.
— iluilavcl, inconstante. — «Sempre
quo as moUicres geralmente falando são
mais variáveis do que nós; porém encon-
tro occazioens em tine o são menos, essas
são cm matérias de aiuar, e isso lie o que
ultimamente vos porsuadirey.» Cavalleiro
d'C)liveira, Cartas, liv. 1, n.° 1,
— Termo do medicina. Pulso variá-
vel; pidsi) que umas vezcii está regular,
outrari irregular, ora forte, ora fraco.
— Termo do grammatica. Diz-»o daa
palavras cuja dosiiieiicia varia segundo a
relação gramniatical.
— Termo do botânica. Diz-so da co-
rolla das sviianth^íreas, (juaiido ella so
apresenta sob diversas fóruias nas tlivcr-
sas Hôros do uma mesma calatliiíle, «ram
mesmo disco, ou d'uma mesma coroa.
— Diz-so também dat plantas cujas fo-
lhas são divididas om lóbulos doseguas o
<iis8Íiiiilliaiites.
— Termo de matbematica. Quantida-
des variáveis; aquellas que variam de
grandeza, om opposiçrio a quantidailes
constantes.
— Uenio variável ; gonio inconstante.
— Fortuna variável; fortuna incon-
stante.
— iS.f. — [ímrt variável. — Umafunc-
ção de muita.i variáveis.
— Variável independente; aquella d'on-
dc dependem uma ou mais.
— tí. m. O grau do barómetro que in-
dica um temi)o incerto, variável. — O
òuruiiietriJ esti'i no variável.
f VARIAVELMENTE, adv. (De variá-
vel, c o sullixo «menteoi. De um modo
variável.
VARIAZ, s. /. Vid. Varia.
VARICELLA, «. /. Termo de meilicina.
P«.xigas doudas benignas.
VARICES, .-;. m. plur. Vid. Varizes.
VARIGOCELE, s. m. (Do latim varix,
e do grego kclè). Termo do cirurgia. Tu-
mor formado pela dilatação varicosa das
veias do escroto e das do cordão esper-
matico.
f VARICOMPHALE, s. f. Termo de ci-
rurgia. Tumor varicoso tendo sua sede
no umbigo.
VARICOSO, A, adj. (Do latim varico-
SHs, de varix). Termo de cirurgia. Que
diz respeito iVs varizes, que é aftectado
d'ollas. — As hemorrhagias varicosas.
— Veia varicosa; a que é a sédc das
varizes.
— Ulcera varicosa; a que ó entretida
pelas varizes.
— Termo de historia natural. Que of-
ferece inchações bastante análogas ás das
varizes. — Vasos varicosos. — Concha va-
ricosa.
VARIEDADE, s. f. (Do latim variettis,
do varius). Estado variado, apparencia
variada. — E' v}ister variedade no espi-
rito. • — O espirito ama a variedade.
— Jlultiplicidado de cousas ditleren-
tes. — «Enteando huma vez Sócrates per
huma praça onde auia grando feyra, ven-
do muytas riípiezas e grando variedade
de cousas, disse como empatado: De quã-
tas cousas não tenho necessidade I Chry-
sostomo diz : Despreza a riqueza, c serás
rico, de-sprcza a gloria, o serás glorioso.
S. 1'aulo na primeira epistola a Timothco
chama á cubica raiz de todoí o» males.»
Heitor Pinto, Dialogo da Justiça, cap. 7.
— A inconstância. — A variedade dat
eslaçTie», dos tempos,
— Diversidade. — «Posto quo a natu-
reza bem acostum.uda pmco lhe basta, bo
não entrar o appetito da gula dis/^iniula-
da. Mas como nc-^ta mati-ria se não pode
<lar regra certa pella variedade das com-
preissòes, e disposição diucrsa das pes-
soas, ha se de Ummr recurso, o aui.so da
humilde discrição.» Frtd ltarth<)loineu dos
Martyres, Compendio de espiritual dou-
trina, cap. l'ò. — «A variedade do» Cli-
mas openi também em niVs a variedade
das nossas incliraçocns. .\ experiência
própria me tem mostrado, qao não he o
mesmo sofrer o Inverno de Vienna, quo o
Inverno de Portugal.» Cavalleiro d'Uli-
veira, Cartas, liv. 1, n." 1. — íA varie-
dade das sesoens muda o nosso tempera-
mento, nmdando os licores quo vivificão
os nossos corpos, c como as nossas incli-
iiaçoens seguem o nosso temperamento,
mudando a nossa coraplexão pela varie-
dade das Estaçoou.'», conforme a expe-
riência o mostra.» Ibidem.
VARIEGAÇÃO, 6. /. Termo pouco usa-
do. Varie. lade das cousas.
VARIEGADO, A, adj. i Do latim varte-
gatus). Termo pouco cm uso. De varias
cores, raios, manchas; variado.
VARINA, «. /. Embarcação estreita de
remos.
— Camponeza de Ovar.
VARINEL, s. m. Diminutivo de Vari-
na. Vid. Barinel.
VARINHA, s. /. Diminutivo de Vara.
— Figura<lamcute : Ter varinhas de
condão; obter tudo o que quer, ser fe-
liz.
VÁRIO, A, adj. Diverso do outro. —
Dias vários. — Estações várias. — Cottu-
mes vários. — JVuçòea várias. — «Para os
lugares Santos de Jerusalém mandou
huma Custodia para nella se expor na
gruta de Bclera Sacramentado aquelle
Deos, que na mesma I^apinha se dignou
de nascer feito Homem, e para mostrar
a sua grande piedade por vários Decre-
tos tom dado tal previdência, que desde
o anno de 1710 até o de 1722 tem hido
de Portugal duzentos e vinte mil cruza-
dos para subsidio daquclles Santos luga-
res.» Fni Bernardo de Brito, Elogios
dos reis de Portugal, continuados por
1). José Bajbosa. — «De sua essência
Divina Uie deo hum conhecimento, senaõ
claro, c intuitivo, ao menos muito mais
alto, e perfeito, do que nós agora temos.
Além destes dons lhe deo gratuitamente
o excellente <lom da justiça original, que
ho hum liabito, ou huma cmo complexa3
de vários hábitos.» Padre ilanocl Bernar-
des, Eiercicios espirituaes, pag. 158. —
«liai porem varies grais nesta vniaõ por-
que Imm se couueric mais docemente, o
agradauel cm Deos, e outro mais perfeita-
VARI
VARR
VARR
883
mente, na tal conuersaõ se remonta cada
hum, e se despoja de si mesmo. Estas
cousas todas saõ ditadas, e descubertas
por S. Dionysio Areopagita, o qual no
liuro da theoíogia mystiea dii-igido a Thi-
motkeo entre outras diz assim.» Fr. Bar-
tholoiueu dos Martyres, Compendio de
espiritual doutrina, cap. 11.
O Cco, que p.ara varia sorte o cbama,
A hum cilafatc Portuguez o entrega,
Grão saber, discrição nelle derrama,
Grande engeuho e agudeza lhe não nega,
Grandemente por isto o senhor o ama :
E depois acontece que navega
Lá para o Oriental Reino o mar bravo,
E leva em companhia o seu escravo.
F. j>'ANDaAiiE, PuiiíEiuo cEBCo DE Dic, cant. 2,
est. 66.
— De diversas cores.
— Inconstante nos ditos que descon-
formam.
— Mudável, inconstante.
-j- varíola, s. /. Termo de medicina.
Género de doença geral febril, com eru-
pção pustulosa na pelle, que de ordinário
se tem só uma vez, que é algumas vezes
esporádica, e muitas vezes epidemica. —
Varíola discreta. — Varíola confluente.
— Variola das vaccas; a vaccina.
•j- VARIOLAR, adj. 2 gen. Termo de
historia natural. Que offerece nodosida-
des, pequenos grãos, nódoas semelhantes
ás pústulas da variola.
•f VARIOLICO, A, adj. Que pertence
á variola. — £rupçào varioiica.
f VARIOLIFORME, aJj. 2 gen. Que se
assimilha á variola. - — Fustula varioli-
forme.
f VARIOLITA, s. /. Rocha de crvstal-
lisação, constituída por uma massa de
petrosileno de differentes cores, contendo
grânulos espheroides de petrosileno, cuja
côr differe da da massa, chamada pedra
bexigosa.
f VARIOLOIDE, s. /. Termo de medi-
cina. Forma que nas bexigas doudas se
approxima mais da varíola verdadeií-a,
distinguiado-a a ausência de febre secun-
daria. A varioloide sobrevem ás pessoas
que foram vaccinadas.
— Adj. Que se assemelha á variola.
— Doenças varioloides.
VARIOLOSO, A, adj. (De variola, com
o suffixo «osoí*. Termo de medicina.
Áffectado da variola.
— Matéria, vírus varioloso; bexigas
de infecção, em opposição ás da vaccina.
— Substantivamente : Um varioloso.
VARIZ, s. m. Termo de historia natu-
ral. Espécie de macaco, matizado com
grandes malhas negras e brancas.
VARIZES, s. f. jjlur. (Do latim va-
rix). Termo de cirurgia. Dilatação per-
manente d'uma veia produzida pela accu-
mulaeão do sangue na sua cavidade.
— Varizes vesicaes; cordões nodosos
entrecruzados em todos os sentidos, que
se encontram nas faces anteriores e pos-
teriores da bexiga sob o peritoneo.
— Termo de historia natui-al. Incha-
ção do bordo de certas conchas unival-
ves.
VARLETE, s. m. Termo antiquado. La-
caio.
— Criado, servidor.
VARLOAS, s. /. plur. Termo de náu-
tica. Cabos pequenos, que seguram o na-
vio quando está em querena.
VARÔA, s. /. de Varão.
VARÕIL. Yid. Varonil.
VARÕILMENTE, adv. (De varõil, com
o suffixo «menteu). Vid. Varonilmente.
7 VAROLE (de Varoli, primeiro medi-
co do papa Gregório Xiii, quo morreu
em 1Ò70, e deu o seu nome a esta parte
do encephalo). Ponte de Varole ; gi-ande
eminência saliente na face inferior do en-
cephalo, que passa transversalmente d'um
pedúnculo médio do cerebello a outro,
adiante da medulla alongada e do cere-
bello, detraz dos pedúnculos do cérebro.
VARONIA, *. /. O ser de homem, ou
varào.
— Por varonia ; por macho.
— Descender por varonia ; descender
não por feniea, ou linha feminina.
VARONIL, adj. 2 gen. De varão, de
homem esforçado. — Animo varonil.
— Robusto, masculino. — - Edade va-
ronil.
— De homem feito, em edade de 30 a
4õ an.íos.
— Diz-se da mulher que é valorosa
como varão.
VARONILIDADE, s. /. Edade de va-
rão, de homem feito.
— A qualidade do que é varonil, es-
forçado; hombridade.
VARONILMENTE, adv. (De varonil, e
o suffixo «mente»). X)e um modo varonil.
— Com estorço de varào. — «Assim o
soldado de Christo frequentemente diga
dentro de si. Senhor, por vosso amor re-
jeito ver, ouuir, ou gostar isto, ainda que
nestas acçoens naS aja peccado algum.
E dado, que nenhuma cousa he mais
aceita ao homem, que a liberdade de seu
aluidrio, -e por tanto lhe seja ao principio
mui difficil, e penoso cortar por sua von-
tade, e deixala totalmente, com tudo
exercitando-se varonilmente, por mercê,
e graça de Deos lhe vem a ser fácil, e
mui agradauel o cortar por ella, e naõ
vsar de liberdade.» Frei Bartholomeu
dos ^Martyres, Compendio de espiritual
doutrina, cap. 10.
VARRÃO, s. m. Termo de zoologia.
Porco não capado para fecundar as por-
cas de creação. O vulgo diz barrão, bar-
rasco.
VARRASCO, s. m. Varrão.
— Varrasco do mar; cautarilho, ou es-
corpena parda ; pedra thoracica.
VARREDEIRA, s. /. Termo de mari-
nha. Vela de navio presa na ponta do
botaló, e por cima vae a ponta da vela
grande ; é assim chamada por ser a vela
que anda mais baixa, e mais perto da
agua ; põe-se para tomar mais vento, po-
rém somente sei-ve quando é em popa. '
— Mulher que tem o officio de varrer.
VARREDEIRO, s. m. Termo antiqua-
do. Varredor.
VARREDELA, s. f. Varredura, acto de
varrer a casa, de tirar-lhe o lixo.
VARREDOR, s. m. Homem que tem o
officio de varrer.
— Termo de náutica. Uma vela pe-
quena, que se pòe para aproveitar o bom
vento.
VARREDORA, adj. f. Que arrasta.
— Pede varredora ; rede que arrasta,
e traz muito peixe, grande e rasteira,
ajunta o peixe e o faz saltar da agua ;
vae pregada por baixo do barco.
— Ê uma rede varredora; nada lhe
escapa, tudo leva ap.'is de si, nu furtando.
— 3. f. de Varredor. Mulher que
varre.
VARREDODRA, s. f. Termo de náuti-
ca. Viii. Varredeira.
VARREDOURO, s. m. Vassourado forno.
VARREDURA, s. f. A acção de var-
rer, o que se tira varrendo, e é sujo. —
oE abrindo alguns fardos de tâmaras
acharam no meio delles esterco de gado,
e varreduras de çugidade, de que Afon-
so dalbuquerque se escandalizou, e pro-
pôs em sua vontade tomar vingança des-
te escarneo, como depois fez.» Damião
de Góes, Chronica de D. Manoel, part.
2, cap. 31.
— Varreduras de lojas ; os alcaides,
restos das fazendas que se não vendem.
VARRER, V. a. (Do latim varrere).
Alimpar o Hxo, poeira, fragmentos, com
a vassoura.
— Figuradamente : O vento varre o
terra toda com turbulento assopro.
Se abalanção com fúria, c vão varrendo
Com turbulento assopro a terra toda.
COBTE KEil., KAtTFBAGIO DE SEPUI.\"EDA, Caut. 7.
— Varrer da memoria; tirar d'ella,
dissipar.
— Varrer o chão com vestido roçagan-
te; ir arrastando, arrojar pelo chão.
— Levar.
— Varrer tudo; fazer desapparecer.
— V. n. — Varrer (/a meniw/a/- esque-
cer totalmente, desapparecer de todo na
memoria.
— Adágios e pkoveebios :
— Mais ha quem suje a casa, que quem
a varra.
— A mulher polida a casa suja, e a
porta varrida.
— Levantou-se o preguiçoso a varrer
a casa, e poz-lhe o fogo.
— Casa varrida, e mesa posta, hospe-
des espera.
VARRIDO, parí. pass. de Varrer.
884
VASA
VASA
VASC
— Figuradamonte : Doudo varrido ;
doudo coinijlcto, sem jwiita de juisso.
— Varrido de vergonha; inui desaver-
gonhado.
VARUDO, adj. m. — Pão varudo; ar-
voro do >;raiule hastca, e direita; nilo
parrailii, não charneco. Vid. Charneca.
VARVACITE, s. w. Termo de eliimica.
Producto mineral, ha poucos anno.s des-
coberto entre o )nineral do iiianf;ane.sio,
e que j)arece ser um oxydo de mangane-
BÍo coni)n>sto.
VÁRZEA, «. /. Vargem, campo, planí-
cie cultivada, Homeaua.
— Campo plano, sem altibaixos.
f VARZIA, s.f. Vid. Várzea, orthogra-
phia mais em uso. — «E por que esta
medita^íào matemática ho sobro as eou-
saa altas o celcstiacs, disseram que esta-
ua este rei uilo nuuui vorde varzia, ou
sombrio valle, se nam no alto cume do
monte Cáucaso, que parece que confina
com o ceo, nem fingiram que lho roia o
coração animal terrestre, mas huma aue,
e não qualquer, mas a Princosa de todas
cilas, a que voa mais alto, a que era de-
dicada ao grande lupiter, a quem elles
chamauào Roy das estrellaa, e coUocauão
antro as vaidades de seus deoses, como
mais excollcute e supremo do todos ol-
les.» Heitor l'iuto, Dialogo da Justiça,
cap. 27.
VARZINO, A, adj. Cousa do várzea,
camponez.
1.) VASA, s.f. (Do francez vase). Lo-
do depositado no fun lo dos tanques, dos
rios, dos fossos, do mar.
— Ficar na vasa ; ficar atolado até á
cinta.
— Figuradamente : Ficar na vasa ;
parar, não ir avante, ficar atalhado.
— • Toma-se também por base.
2.) VASA, s. /. Termo de jogo. As
cartas de que se descarta cada vez a ro-
da dos parceiros, e por isso as vasas são
tantas como o numero das c artas que so
dão a caila um.
— Fazer vasa ; ganhal-a.
— Fazer duas, três, ou mais vasas ;
ganhar as cartas que jogarem os parcei-
ros de cada vez que a mào joga.
— Figuradamente : Deixar fazer va-
sas ; deixar participar de algum incom-
modo, alcançar alguma utilidade.
— Vid. Pistoletas.
VASABARRIS, s. m. Enseada infama-
da por naufrágios na costa brazileira.
— Locuções populares : Dar com tudo
em vasabarris; arruinar-sc. — Dar com a
gente em vasabarris ; matal-a o medico.
VASADO, part. pass. de Vasar. — «Con-
jecturo quo vaso seria porventura o que
agora cliamàmos fummo, raro e vasado
tecido, emblema de tristeza o lucto que
se traz no chapeo e espada, o que tam-
bém no cbapeo antigamente ee trazia,
mas tam comprido e arrastado quo des-
cia aps talares, como ainda agora se ob-
serva noB funeraes dos noAsos reis.i Gar-
rct, Camões, notas.
l.) VASADOR, í. Hl. Ferro de correei-
ros, com que olles fazem buraco» redon-
dos.
2.) VASADOR, s. m. O ourives, que
vasa o ouro ou prata o a derrete para fa-
zer obras fundidas ouj moídos.
VASADURA, «. /. A agua que se vasa
e despeja.
— U traballio de vasar líquidos em
outras viisilha-i, ou fu-a.
VASANTE, part. act. do Vasar.
— Maré vasante; diz-se em opposiçSo
a enchente.
— Substantivamente : Na vasante da
maré) (juando vasa.
— Dar vasante aos ijxie vinham con-
fessar-se; dar vasão; despachal-os, con-
fes.sal-os, avial-os a todos.
■ — • Vasante da lua ; o minguante.
VASÃO, s. /. A acção de esgotar a
agua de algum vaso, onde está repre-
sada.
— Evasão, saída.
— Expedição aos negócios, desemba-
raço d'ellcs com a sua conclusão. — Dar
vãsão a certos negócios.
— Figuradamente : Extracção, expor-
tação, saca, «lida.
VASAR, V. a. Tirar, deixar correr,
soltar o liquido do vaso, tanque, poço;
desaguar.
— Dar largamente.
— Fundir alguma obra de metal.
— Tassar de parte a parte.
— Vasar a lam-a em algttem; ombe-
bel-a toda e traspassal-o com ella.
— Despejar. — «Estes saõ, os que com
grande afioiteza, c confiança, metem a
saco a Rej)ublica, cujos sacos vasaõ para
encher taleigos, que já medem aos al-
queires : e isso he o menos, e mais he o
volume innnenso de outras drogas, de
que enchem sobrados, que haõ mister
espeques para sustentar o pezo, sem te-
mor da forca, que fora melhor fabricjirse
desses pontocns.» Arte de furtar, cap. 62.
— Vasar as carnes do sangue ; san-
gral-as, esgotal-as d'olle.
— Vasar sangue das veias; soltal-o
d 'dias.
— Vasar a parede; fazer n'ella algum
vão.
— Vasar tjua2<juer peça solida; cavan-
do-a, e doixaudo-lhe a tona.
— Vasar as casas, armazéns; dcspo-
jal-os do que n'elle8 está, deixar vazio.
— Vasar toa o/Ao; quebral-o, cxtrahir-
Ihe o bugalho, ou os humores.
— Dar saída o saco a fruetos, c géne-
ros commerciavois.
— Ir dar ou encalhar na vasa.
— Vasar a òolsa ; dar tudo o que ti-
ul(a n'clla.
— V. n. Ir a menos, minguar. — Va-
sar a maré.
— Sair, escapar-se, cscoar-se.
— Vasar-se, v. rejl. Soltar-se, desli-
gar-se.
— Ficar vazio.
— Vasar-se cum diarrkea ; ovacoar-eo
muito.
— Figuradamente : Tirar-no, Bacxu-«s«,
dar uaida cland<;iitina.
— Figuradamente: Descobrir o sogro-
do.
— Ficar exhauuto.
— Vasar em saiujue ; tí-r uma hemor-
rliagia ]ior feri-la ou evacuação grande.
VASCA, «. /. Movimenta convulsivo.
— Náuseas, anciãs de vomitar, arca*
das que precedem o vomito.
— IjOC. : Fazer vascas a alguém »o-
bre alguma cousa; mo«trar que d'ella re-
cebe grande desgosto e angustia.
VASCOLEJADO, part. pats. de Vasco-
lejar.
VASCOLEJADOR, A, a^ij. Quo vasco-
leja.
— Figuradamente : A riqueza f de ti
inesma tão vascolejadora, (yu« turòa os
ânimos e as pessoas.
— Substantivamente: Um vascoleja-
dor.
VASCOLEJAMENTO, o. m. Acto de vas-
colejar.
VASCOLEJAR, u. a. Mover, sacudir o
liquido que está em algum vaso, e levan-
tar-lhe o pi\, ou sedimento.
— Figuradamente : Inquietar, turvar,
perturbar.
VASCONÇADO. Vid. Vasconço, e Vas-
congado.
VASCONCEAR, v. a. Fallar vasconço,
faliar avasconça<lamente.
— Figuradamente : Vasconcear TinMo^,
e reijiteOros.
1.1 VASCONÇO. Vid. Vascongado.
2.) VASCONÇO, s. Vi. Lingua vaecon-
gada.
— Figuradamente : Linguagem emba-
raçada, inintellijivel. c irregular.
VASCONGADO, A, adj. o ». De Gui-
puscoa, ou próprio d 'esta parte da Bis-
caia. — Lingua vascongada. — Província
vascongada.
VASCOSO, A, adj. Que tem vascas,
anelado, convulso, que tem anciãs, e
nauseiís para vomitar.
VASCUENÇO. Vid. Vasconço.
VASCUENSE, í. m. Lingua bisca.inha.
VASCULAR, adj. 2 gen. Termo de ana-
tomia. Que é relativo .noa vasos, e espe-
cialmente aos vasos winguineos.
— Sgstema vascular ; reuniio dos va-
sos sanguíneos.
— Termo de pathologia. Tumore* vas-
culares ; tumores erectis.
— Termo de botmica. Composto de
vasos. — Tecido vascular.
— Plantas vasculares ; plantas que
além do tecido ccllular, encerram vasos.
VASCULARIDADE, s. f. (Do france»
voíKularité^. Em anatomia normal ou pa-
thologica, presença dos vasos sanguíneos
VASO
VASQ
VASS
885
. Termo coUectivo.
toneis de uma ade-
ou lymphaticos om quantidade maior ou
menor.
f VASCULARISAÇÃO, s. /. Producção
de vasos n'uin tecido que nada contém,
ou augmento do numero d'aquelleâ que
existiam .
VASCULHO, 8. m. Vassoura pegada era
uma vara para alimpar fomos, 03 tectos
da casa, etc.
— Figuradamente : Pessoa ou cousa
muito suja.
— Vid. Basculho.
I VASCULO-NERVOSO, A, adj. Com-
posto de nervos e de vasos.
f VASCULOSE, s. /. Principio forman-
do a parede dos vasos das plantas.
VASCULOSO, A, adj. Vid. Vascular.
VASEIRO, A, aJj. — Veado vaseiro ;
veado de casta pequena, e não real.
VASENTO, A, adj. Lodoso como vasa.
— Areia vasenta.
VASIADOR. Vid. Vaziador.
VASILHA, s. /. Vaso do serviço de
casa.
— Vasilhame.
— Cheirar d vasilha ; ter o bafio do
vaso onde esteve.
— Navio, vaso.
— Loc. POP. : Ê má vasilha ; é má
pessoa.
VASILHAME, s. vi
As vasilhas, pipas e
ga, de uma nau.
VASIO, A, adj. Vid. Vazio, melhor or-
thographia.
— Adágios e provérbios :
— Borracha vasia não tira seccura.
— Hospede tardio não vem vasío.
— Pão da ilha, arca cheia, barriga va-
sia.
— Jlelhor é anno tardio, que vasio.
1.) VASO, s. m. (Do latim vas). Va-
silha, peça concava de metal, vidro, bar-
ro, etc, que serve de recolher em si al-
guma matéria, mormente liquida, como
um frasca, copo, taça, cântaro, pote, etc.
— Espumantes vasos.
Dos espumantes vaaos se derrama
O licor, que Noé mostrara á gente;
Mas comer o Gentio não pretende
Que a seita, que seguia, lho defende.
oAu., Lus., cant. 7, est. 75.
— Figuradamente : Tudo o que é ca-
paz para ter em si alguma cousa.
— O negro vaso ; a sepultura, a urna,
o tumulo.
— O vaso do rio; o leito.
^^ Figuradamente : O vaso da ira, da
fúria, da vingança ; grande irritação, fer-
vor, excitamento a estas paixões.
— Loc. : Beber o vaso da mina; ser
arruinado.
— Esgotar o vaso da amargura; sof-
frer muito.
— Beber o vaso da lisonja ; embria-
gar-se com ella.
— Vasos de honra; os bens que hon-
ram a Deus.
— Beber o vaso da ira; irar-se muito.
— Beber o vaso da fúria ; enfure-
cer-se.
— Vasos de ignominia ; os peccadores,
08 maus que deshonram a Deus.
— O homem vaso da iniijuicia ; o ho-
mem mau de seu, o da sua colheita.
— Gonstellação. Vid. Copo.
— Navio, barco, ou nau.
— Os vasos do corpo humano; a par-
te que contém os liquilos como as veias,
artérias, etc.
— Termo de náutica. Na antiga con-
strucção naval, peça em que se sustinha
o casco do navio ; a envasadura.
— O vaso da mulher ; o órgão da ge-
ração.
— Vaso de misericórdia, de pureza; o
que está cheio de misericórdia, de pu-
reza.
— Vaso de sangue ; pequeno vaso cheio
d'uma matéria avermelhada, que se en-
contra junto de certos túmulos christãos
nas catatumbas de Roma, e que se jul-
ga ser o signal do tumulo d'um martyr,
e que só parece ser uma reliquia posta
como tal junto de um tumulo qualquer
de christão.
— Termo de physica. Principio dos
vasos communicantes ; principio de hy-
drostatica: quando um liquido pesado
está em equilíbrio em dous vasos que
communicam, a pressão sobre uma mes-
ma camada horisontal é a mesma nos
dous vasos.
— Vaso de Mariotta; apparelho em-
pregado para obter por meio da pressão
atmospherica um escoamento atmosphe-
rico.
— Figuradamente : Termo de devoção.
Vaso de eleição; aquelle que é escolhido
de Deus.
— Vaso espiritual, vaso honroso, e va-
so insigne de devoção ; nomes dados na
ladainha a Nossa Senhora.
2.) VASO, s. m. Lençaria ou droga
grossa, escura, e vil como o burel, e que
servia de vestir nos lutos, etc.
VASOSINHO, «. wi. Diminutivo de Va-
so. Vaso pequeno.
VASOSO, A, adj. De vasa, lodo.
— Fundo vasoso do rio ; fundo lo-
do«).
VASQUEIRO, A, adj. Que produz vas-
cas, anciã, fadiga, aâlicçào.
— Aiída vasqueiro ; o que custa tra-
balho para obter-se.
— 1' igiiradameiíte : Andar vasqueiro ;
ser raro, trabalhoso de obter, ganhar.
— Dar vasqueiro, e não em cheio; dar
de esguelha.
VASQUEJAR, V. n. Ter vascas, ou con-
vulsões, torcer-se, anciando com ellas.
— Nausear, engulhai-.
VASQUINHA, s. /. Saia á antiga com
muitas pi-egas cm volta da cintura.
VASSA, s.f. Yl]. Vasa.
VASSALLA, s. /. de Vassallo.
VASSALLAGEM, s. /. Estado, condição
do vassallo. — ■ Vassallagem subalterna.
— A v?.ssallagem hereditária.
— Vassallagem activa; direitos feudaes
sobre a herança como feudo.
— Vassallagem j)assiva ; deveres aos
quaes está submettido o vassallo.
— Direito de vassallagem ; o direito
que o senhor tinha de exigir do seu vas-
sallo.
— Multidão de vassallos.
— Fazer vassallagem ; reconhecer-se
por vassallo.
— Serviços, foragens de vassallos, «
obrigações de tal.
— Fazer de si vassallagem ; tomar a
el-rei, ou aos príncipes, e iidantes, e se-
nhores, por senhor.
— Reconhecer vassallagem ; reconhe-
eer-se por vassallo.
VASSALLAR, v. a. Termo pouco em
uso. Render, tributar vassallagem.
VASSALLO, s. 7». (Do francez vassal),
Outr'ora os infantes, condes e ricos-ho-
mens eram vassallos d'el-rei, que d'elle
recebiam terras, e contias para o servi-
rem por si, e com suas mesnadas e com-
panhas.
— Havia outros vassallos acontiados
por el-rei, escriptos nos seus livros dos
mai-avidis, menos graduados que os gran-
des e seus filhos, os quaes a certos res-
peitos gozavam do furo de fidalgos. Mas
antes d'estes já havia vassallos não fi-
dalgos, que por terem contia ou fazenda
grossa eram obrigados a servir a cavallo,
e gozavam de privilegio de fidalgos a
certos respeitos. Os vassallos não fidalgos
eram os do conto, ou numero, que de-
viam estar alistados, e armados em cada
cidade, villa ou logar; e antes de estar
cheio o numero d'estes recrutados, os se-
nhores que deviam serviço militar de seu
corpo, e com certas pessoas ou compa-
nhas não podiam recrutal-os, ou enga-
jal-os nas ditas cidades, villas, e legares.
Os grandes também tinham vassallos. A
qualidade de vassallo, que começou por
ilar-se somente a grandes, filhos, netos,
e bisnetos de fidalgos de linhagem, se
diftuudiu aos não fidalgos, que por seus
bens podiam manter cavallo, e eram n'el-
le acontiados, e d'estes diz a lei, 6e for
vassallo, ou d'ahi para cima, ou se fôr
peão ; e ainda que este nome, como clas-
se privilegiada, parece extincto, e convir
hoje a todos os naturaes do reino, e do-
mínios de Portugal, todavia em razão do
serviço a cavallo, e do que pôde fazer
(juem os mantém, temos alguns restos de
direito de vassallagem.
— Este termo, que outr'ora era titulo,
e tão honorifico que no tempo d'el-rei
D. Pedro i só costumava ser vassallo o
filho, o neto, ou bisneto de fidalgo de li-
nhagem, é hoje synonymo de súbdito. —
886
VASS
VAST
VATE
«Acrescentando a cito denatino outro
maior, de mandar do.sfazi-r a» arnian,
prohibiiitlo cõ ^'raviís |)eiias, (|uc ncnlui-
U)a pes.soji do scu.s lluviun, usasse dcllan
nem aM tivusrto oui mui casa, dizendo que
a ellícy cõpotia a defensão de hcuh vas-
salos, e darlhe arma» para guardar o
Keyno, quildo a» guc-rra» e nocesHidade
urgente o pedisse.» Monarchia Lusitana,
liv. G, ca[). 'òO. — cDiz a liintoria (|U(! do
duque Artilao vassallo de clrci Uecimlos
de ilo.spaulia, licoii uin;i lilliu herdeira de
seu sealiorio, que era grande; a qiiiil
criada na couvorsaçío da infante lieli-
sanda, iilha de elrei Kucindos, se namo-
rou d'OnÍ8taldo seu irmão; e como tam-
bém ella a elle não parecia mal, teve
tanta for(;a o amor aiitr'elles, que vieram
a efteito de suas vontades.» Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Iuglaterra, caj). 74.
— f Cousas de que os f^randcs dr.veni
guardar-se por teuioi- dos eriailos e vas-
sallos, que sendo seahoreadoa com tyran-
nia, 80 o tempo lhes abre alguui caminho
do viver em liberdade, com rigor o se-
guem e com tenção damnada, niiscida do
sfius aggravos, usam de sua fortuna, não
olhando o acatamento da pessoa, a que o
sempre tiveram, porque as vontades com
que tò alli os trataram, g 'ra este esque-
cimento.« Ibidem, cap. 118. — «Este é
o nosso natuial senhor: bemaventurados
08 vassalos, que de tão sinalado principe
são súbditos, pois se nelle encerra toda a
valentia e esforço.» Ibidem, cap. 97.^-
« Porem de qualquer maneira que fosse,
elle se vinha apresentar j)or vassallo d'el-
Rey de Portugal, o que este desejo naõ
era nelle nouo mas do primeiro dia que
vira Portugueses naqiielia terra.» Rarros,
Década 1, liv. 8, cap. 10. — «Que lhe
pedia seguro geral peras nãos Dormuz, e
de seus vassallos poderem nauegar perá
índia sem lhe ser feito danno, nem em-
bargos pelos capitães de suas arniiidas.n
Damião de Góes, Chrouica de D. Manoel,
part, 3, cap. (jti. — oE el Rey Agesilan
diz, como refere Plutarcho, que o bom
Principe ha de ser com os vassalos, como
pay com filhos. E eu digo que não como
qualquer pay, mas como pay beuignissi-
nio e amorosissimo, em tãto que antes
pareça que os vassallos se sustentam do
amor e fauor de seu Principi;, que o
Principe do trabalho e fazenda de seus
vassallos.» Heitor Pinto, Dialogo da Jus-
tiça, cap. 2. — «Exaqiú o (|ue suecede
ils leys injustas, o aos Príncipes i\\ie as
fazem. Os vassallos mais amantes, e os
sogeitos mais Heis, senão detcstão, fogem
ao menos quanto poilein dos seus Domí-
nios.» Cavalleiro d'(Jlivelra, Cartas, liv,
1, n.° 22.
Entre os rcbanlios seua, o outro seus filhos,
Viveo tramniillo o ingénuo Palestino ;
Ki-a o Monarcii pai, tillio o vasfallo:
Triunfos da Virtude, Hcróos ou vojo;
(Quanto o pudi')rilo «cr, antcit que a eterna
Sanctifieunti! luz dos Ciio* baixanso.)
j. í. m; UÀCKuo, mkditavão, cunt. 1.
— ■ Moleriianuinte, faliaiido ilos natu-
raes do reino e seus domiidos, usa-se de
subdittj, e não do vassallo; porque este
denota a depenuencia de um senhor.
— Hkí vassallo. — «Cada Key vassal-
lo com toda a gente de seu liei no liia
He|)arado a huma parte tanta ilistancia
huus dos outros, que nunca se ajuntavaò,
nem niisturavaõ, e por tal ordem, que
sempre Ellley do Pegíi ficava no nieyo,
e o mesmo era ao assentar dos arrayaes,
porque cada hum o punha sobre si, per-
to de moa légua huns dos outros. Sò Dio-
go Soares de Jleilo com os Portuguezcs
punlia sua estancia muito perto da de El-
Key porque fiava mais delles a guarda
de sua pessoa, que de seus naturaes.»
Diogo de Couto, Década 6, liv. 7, cap. 9.
— Vassallo leal; súbdito fiel. — «Mas
já que o (ioveruador da índia entrevi-
nha naquelle negocio, e ElRey de Por-
tugal o mandái-a fazer, que elle como
servidor, o vassallo leal queria estar :l
obediência do (iovernador da Índia, que
estava em seu lugar, e por tudo o que
elle Capitão nnir ordenasse : Que se que-
ria aquella fortaleza, elle lha largaria li-
vremente, e se iria com sua nmlher, e fa-
mília pêra outra parte, deixando aquella
ilha livi-e, e desembargada a ElRey de
Ormuz.» Diogo de Couto, Década 4, liv.
4, cap. 4.
— Fiel vassallo ; súbdito leal.
K isto mandou entregue á confiança
Do nobre Accf arção, liei vassallo.
Que teve em seu poder tal segiu-ança
Que melhor não pudera scgurallo :
Mas Baudur seu desejo nào alcança
Que veio a cruel morte a salteallo
CoVs Portuguozas armas, c lhe vejo
Do seu receio o fim, uào do desejo.
KRANCISCO d'aNDBADK, PSIUEIBO CEBCO DB DIU,
cant. 12, est. 07.
— Vassallo directo ; aquelle que con-
servava immedlatamente seu feuJo do
senhor da terra.
VASSOURA, s. /. Molho de palhas, ou
cabello para varrer.
— AD.\f;io E provérbio:
— Pelo nuirido vassoura, e pelo mari-
do senhora.
VASSOURADA, s. f. Pancada com &
vassoura, golpe de vassoura.
VASSOURINHA, s. f. Diminutivo dô
Vassoura. N'assoura pequena.
VASSOURIiNHA DO BRAZIL, s. /. Ter-
mo de botânica. Vassoura doce, planta.
VASTAÇÃO, .V. /. i,Do latim luitalio).
Assolação, estrago.
VASTADO, jiart. /tuís. de Vaslar.
VASTADOR, A, udj. Assolador, estra-
gador, destruidor.
— Substantivamente : Um vastador.
VASTAMENTE, udv. (De Tasto, com o
BiiíTixi) «mente»/. Di; um modo vaoto.
— Ampl;im'-nt'i, mui largamente.
VASTAR, V. n. Vid. Devastar.
VASTEZA, X. f. Vaati-iào.
VASTIDÃO, «. /. (írande e mui dilata-
da extvusão. — A vastidão do mar.
— A vastidão de seu» eorpo$ ; a gran-
deza (•normi-.
VASTÍSSIMO, A, adj. superl. do Vas-
to. Mui vasto. — litiiíus vastíssimos.
— A vastíssima baleia; a enormiasi-
ma b:dcia.
VASTO, A, a^ij. (Do latim vattu*). Quo
é de uma mui .grande cxtenslo. — Um
vasto Iwristiuie. — Um vasto campo. —
Um vasto império.
Não subira Manilio. entre os Romanos,
Am raulos Ceos a devassar os Astrot ;
Profundo Oaliléo, robusto Atlante,
Sustenti novos Ceos, mostra mais globo*.
Da Natureza nos abysmos planta
Luminoso fanal.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, C&Ot. 1.
Da ra»ía Thcba» a muralha ingente
Doo a idéa a Srmiramis dos muros,
Dos suspensos Jardins, qu' ind' hojr m Fama
Entre as do Mundo maravilhas contm.
Não triunfamos no fatal combate
(r.,hcs diz) oppôz-sc império, ou lei mais forte;
Mas nunca mea furor cede, e se abate.
Soja contraria, ou tisongcir* a Sorte:
Meu braço as iras do Immortal rebate,
Se evita o Luso ua tonnenta a morte.
Perdido o Vil fazer o .astuto engano
Na vasta solidão do immenso Oceano.
IDEM, o ORIEKTB, Cant. Õ.
— Por extensão : Que reina, que se
estende em uma grande extensão. — Vas-
tos horrores. — Vastas desgraças.
— Figuradamente : Diz-se das cousas
moraes, das concepções do espirito. —
Um vasto plano. — Uma vasta emprtza.
— Vastos dfsejos.
— Termo de anatomia. Musculas vasto-
iiiterno, e 'VdiStO-e xUrno; graniles múscu-
los que occupam o lado interno e o lado
externo da coxa.
— Figuradamente : Dilatado.
VATE, s. m. [Do latim vates). Poeta.
— Propheta.
Oh Musa
Celeste que inspiraste o Cysne illustro
De Sorrento e o Uritanno cígo Vate:
Tu, que, no o.rmo Thabor, sentaste o throno,
K a c|ueiu severos pons;iuientoi prazem,
Pr.izom contemplações sublimes, graves,
A teu auxilio, ncato assumpto imploro.
FRAXCISOO MAMOEI. DO NASCIMErrO, 09 lULBTTBKS,
liv. 1.
Não nic assombro de ver em Koma tantos
Arco», Templos, Prramides, Columnaa ;
Nào preudc a vista a bum Vate m pompa, o Luxo;
VAY
VAZI
VE
887
E il vista do Filosofo esvaecem
Monumentos do orgulho, c da vaidade.
J. A. DE MACKDO, MEDlTAçÂO, Caut. 1.
— • iS. /. Propliotiza, fatídica.
f VATICANO, s. m. Nome d'uma das
antigas coiiiiias de Roma, visinha do Ja-
niculo, além e perto do Tibre.
— Palácio de Roma, morada habitual
do papa, edificado sobre esta coUina, e
que tira d'ella o seu nome. O Vaticano
é também um museu.
— Por extensão : A corte de Roma, a
santa sede.
— Os raios do Vaticano; as excom-
munhões, os interdictos lançados pelo
papa.
— S. f. A bibliotheca do Vaticano.
VATICINAÇÃO, s. /. (Do latim vatirÃ-
natio). Predicção, prophecia. Vid. Vati-
cínio, termo mais em uso.
VATICINADO, part. pass. de Vaticinar.
— Prophetízado, predicto.
VATICINADOR, A, s. (Do latim vatici-
nator, de vaticinar i). Pessoa que prediz
o futuro.
VATICINANTE, part. act. de Vaticinar.
Que vaticina, que prediz.
VATICINAR, V. a. (Do latim vaticína-
ri), Proplietízar, pi^edizer, aiiívinhar.
— Figuradamente : Prenunciar.
— Syn. : Vaticinar, predizer. Vid. este
ultimo termo.
VATICÍNIO, s. m. (Do latim vatici-
nium). Prophecia, predicção do vate.
— Annuncio prévio do que se prevê e
conjectura.
■\ VAY. Forma antiquada do verbo íV
na terceira pessoa do singular do presente
do modo indicativo. Vid. Ir, e Vai. —
« Affirmarãouos mais os Chins que tinha
dez mil teares de seda, porque daquy vay
para todo o reyno. A cidade em sy he
cercada de muro muyto forte, e de boa
cantaria, onde tem cento e trinta portas
para a serventia da gente, as quais todas
tem pontes por cima das cavas.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 88,
— íPello paralítico se entende a alma
enferma, pello leyto o corpo. E assi como
onde hia o leito, lá hia o paralytico, assi
onde vay a carne, lá vay a alma do tris-
te peccador, que jaz entréuada no corpo.
Mas recuperada a saúde da alma, aleuan-
tase em cõtemplação, e vay cõ o pensa-
mento a sua casa, que he a gloria, medi-
tado os diuinos e altos mistérios.» Heitor
Pinto, Dialogo da Justiça, cap. 7. — «Prí-
meyramente conuem que dispamos nossas
vestiduras velhas, nosso velho, e carnal
homem, com todas suas obras, e desejos,
pêra que debayxo da Cruz de Christo
soja sopeado, e mortificado, e se espre-
mam suas maas inclinações, seus torpes
desejos, e rebeliões : e lançados no cham,
se pisem debayxo dos pees da asna em
que o senhor vay assentado, s. debaixo da
paciência de nosso Senhor lesu Christo,
conforme ao que pedia sam Paulo.» Frei
Bartholomeu dos Martyres, Catecismo da
doutrina christã. — «O mesmo movi-
mento vay fazendo a outava esphera ;
com que está ja hoje apartada da decima
28 grãos, e ?>2 minutos; ao qual aparta-
mento chamaõ os Astrólogos precedência
dos Asterismod aos dodecatemorios.» Braz
Luiz dAbreu, Portugal medico, pag.
Õ18, § IÒ2.
VAYA, s. f. Vid. Vaia.
f VAYDADE, s. /. Vid. Vaidade. —
«Em aquelle dia portehaas diante de ti,
pêra que te vejas. Quando neste mundo
viuías tínhaste lançado detrás das costas
esquecido de ti, e todo pensatíuo e em-
bebido nas vaydades e deleytes deste
mundo, não enxergando as magoas e
mascarras que punhas em tua alma e as
feridas de peccados mortaes que lhe da-
uas.» Frei Bartholomeu dos Martyres,
Catecismo da doutrina christã.
VAYS, por Ides, do verbo ir, na segun-
da pessoa do plural do presente do modo
indicativo.
VAZA, s.f. Vid. Vasa.
VAZAR, V. a. Vid. Vasar. — «Os imi-
gos deraõ o fogo, e chegando ás minas,
achando grande força de repuxos, que
pela banda do dentro estavào feitos, ar-
rebentou pêra fira toda a face do muro
com muy grande braveza, e foi cahír so-
bre os mesmos ímigos: ficando mais de
trezentos delles espedaçadoa debaixo das
paredes, vazando-se o fogo pelas contra-
minas de dentro, sem fazer mais dano,
que ficar a fortaleza toda coberta de hum
espesso, e negro fumo.» Diogo de Couto,
Década 6, liv. 3, cap. 2. — «Vaza este
rio seis mezes, e enche outros tantos. E
no tempo das vazantes vaõ os navios pêra
cima à toa, porque he muito alcantilado
de ambas as partes.» Ibidem, liv. 7, ca-
pitulo 9.
VAZIADOR, A, adj. — Cavallo vazia-
dor ; cavallo que estruma, ou bosta com
excesso, e nutre mal por isso.
VAZIAMENTO, s. m. Acto de vaziar.
— Acto de lançar o excremento, fal-
lando lios cavallos, e outros anímaes.
VAZIAR, V. a. Despejar, tornar vazio.
— Alguns dizem esvaziar,
VAZILHA, s. f. Vid. Vasilha.
1.) VAZIO, A, adj. Vão, despejado.
— Não cheio.
— Não solido, aéreo.
— Espaços vazios ; o vácuo.
— • Olhos vazios de lagrimas; sem ellas.
— Coche vazio ; coche que não leva
gente, como ordinariamente são os de re-
torno.
— Logar vazio de lisonjas ; \oga.r onde
não houve lisonja.
— Coroas vazias de reis; por serem in-
capazes.
— Bi-sta vazia; sem carga.
— Terra vazia de defensores; terra
falta delles.
— O gigante vazio de sangue; o san-
gue que se lhe vasava pelas feridas.
— De vazio ; sem carga, ou cavalleíro.
— Figuradamente : Pagar os altos de
vazio ; ser tolo.
— Vencer de vazio ; receber soldo, or-
denado, emolumento de posto, cargo, etc,
não fazendo os seus officios, exercidos,
obrigações. Vid. Cavallagem de vazio.
— Pagar soldados, carpinteiros, etc.
de vazio ; que vem alistados nas ferias, e
promptos, mas não trabalham.
2.) VAZIO, s. m. Espaço vazio.
— O vazio da barriga; os ilhaes.
— Plur. — Os vazios da Divindade;
os attríbutos, ou condições humanas, que
Christo tomou fazendo-se homem.
— • ITypocondrios.
f VÊ. Forma do verbo vêr na ter-
ceira pessoa do singular do presente do
modo indicativo. Vid. Vêr. — «Outra de-
dicação semelhante a esta, se vè na Pra-
ça de Beja em huma grande base de co-
luna, que referem Ambrósio de Morales,
e André de Resende, as letras da qual
dizem assi.» Monarchia Lusitana, liv. 5,
cap. 14.
De Europa tira os olhos, firma os fi^os
Na ponta Occidental de Africa, e junto
Do estreito que ambo3 mares comunica:
Abilc, o Calpe ve, sinais de Alcides.
Ambas as Mauritaniaa ve presentes :
A Cesaricu.so ornada co famoso
Altíssimo Athalantc, e a que do Tingis :
Por nome lhe ficou a Tingitana.
COKTE REAL, NAUFRÁGIO DE SEPUL^•EDA, Cant. 2.
Como quando so ve por estendido
Campo, grão multidão de grossas reses,
E outros rebanhos mil de simplez gado
Fugindo com clamor alto, o tristonho
Da fúria com que o IJio inchado, e solto
Por grandes inucrnadas vem cubriudo
Com grande estrõdo dagua turua o capo
Lcuando com rigor, tudo o que alcança.
IBIDEM, cant. 7.
Com grande sobresalto, grande espanto
Acorda Çoleimão, co'o que passara,
Contempla na promessa, e vè que he tanto
Que duvida se o ouvio, ou se o sonhara ;
Mas ja sentindo o effcito em si de qnanto
Qualquer dos seus então nellc inspirara,
D;l credito á visão, e determina
Fazer o que ella manda, e elle imagina.
FKANCISCO d'aNDRADE, PRIMEIRO CERCO DH DIIT,
cant. 12, est. 105.
Vê-ac O grande odio ja, vè-se a grande ira,
Mostra-se a natural fúria indomável,
Que a contraria fortuna reprimira.
Domestica fizera, e tolerável.
Amor forçado sempre foi mentira.
Pois mostra quando o Ceo vè favorável
Que amor não foi, mas odio de verdade,
Encuberto com nome d'amizade.
IBIDEM, cant. 6, est. 1.3.
— «Logo se a pena do inferno, por
huma parte he infinita, e por oittra he
merecida: bem se vê, que a graveza do
VEA
VECT
VEDE
peccíido, quo a merece, he também cm
corto moilo infinita. Por corto, cousa
muito para (ulinirar.n J'aili-e Manoel Hor-
nanios. Exercícios espirituaes, i)iip. 1 (!.").
— hE HO vê a niayor nolnoza com a
niayor baixeza em hutn sujeito, em hiima
formiga. IJaixozaH lia, que miõ andaõ om
uso, porque saí5 si) do nome: e nomes lia
quo uaõ pôom, nem tirari, ainda que se
encontrem, ])orque se compadecem para
tlifTerentcrt effeitos.» Arte de furtar, ca-
pitulo 2.
O fupa!! animal, subitainento,
Auto ofl pért do cavallo, v?, a torra
Em profundod nbysmos dcapciíhiir-so.
A. i>. DA cru::, iitssoit., caiit. 4.
Na Oflcura tez Protígoras conlipço,
Kntre sofiamaa sn revolve, o, nrpa,
Oli ! Saoriloga audácia! Hum Dcoa ao Mundo!
Nem rí na imincuíta gradação doa Seres
Reguladora mivo, que rege o Todo,
Os oftcitos apalpa, c a causa nega.
j. A. DK jíACKno, viAOKM EXTÁTICA, cant. 2.
Vc ((pie estranho cspoetaculo !) os sagrados
Exércitos d'hum Deos Omnipotente-,
Escuta 03 hyinnos bemavonturados,
Qu'entôa o Oôro aligcro, csplcndento !
Vê d'ouvo fino os tlironos levantados
Em tanta copia pela Corto ingente;
Que de cstrellas a noite he menos chèa,
Monos sào do Oceano os grãos d'arêa.
J. A. RK MACEDO, O OUIKNTE, Cailt. 13, CSt. 89.
— «Também IMiíjuel de Cervantes des-
creve a D. Quixote encontrando no cam-
po de Montiel dos beiiitos com sus anteo-
jos de camino. Querer parecer douto com
óculos é ncceilade que-se vê atravez dos
vidros.» Bispo (U) (!rão Far/i, Memorias,
publicadas por (,^amillo Castello Branco,
paçc. 137.
VÊA, ou VEIA, s. /. Vaso do corpo
humano por onde gyra o sangue, sem pul-
sação. ->— «E áupposto Hippocrates, Ga-
leno, c Avicena nos lugares assima cita-
dos digaõ, que quando a dor for na par-
te posterior da Cabec^a, cutaõ se deve
picar a vea da frente, ou a do nariz; e
quando a dor for na parte anterior se
deve pello contrario uzar de ventosas
sarjadas na nuca, on na parto posterior
da mesma Cabeça, por naõ ser este lu-
gar capax de sangria.» Braz Luiz de
Abreu, Portugal medico, pag. 181, §
101.
— Nas minas, ó a parto d'ellas oude
estil o metal, ou cousa que se tira, a be-
ta, a corda.
— Os rios que so ajuntam em um só,
d'ahi em diante se diz que correm em
uma veia, ou a formam.
— • Figuradamente : Sangue, geração.
— «Estas, senhor, são as minas certas
d 'este Estado, que a fama das de oiro e
prata sempre foi pretexto, com que d'aqui
se iam buscar a« outras minas, que so
acliarn uhh vêas dos índios, o nunca a»
houve nas da terra.» Padre António Viei-
ra, Cartas, n.» ÍG.
— Figuradamente : Nadar contra a
veia da agua; fazer cousa do muito tra-
balho, ou inipOHsivol.
— Ter veia de poeta; ter habilidade
para a poesia, ter engenho poético, ter
bossa para a poesia.
— Figuradamente : Veia de lagrimas,
de pranto.
— Veias 110 manuore ; os perfis das ma-
lhas do diviTsas cores.
— Té,r veia de doudo ; tocar do doudo.
VEAÇÃO, s. f. (Do franccz veiiaison).
Caça Jjrava de monte.
— (Jarnc do animal morto om moiito-
ria.
VEADA, s. f. Femoa do veado.
VEADEIRA, s. f. Vid. Vedeira.
VEADO, «. m. Termo de zoologia. Ani-
mal bi-avio de caça, quailrupedc com cor-
nos ramosos. — «E estando ambos prati-
cando nas aventuras daqu(dla terra e
quão singular parecia, sahiu do espesso
do mato um veado, que co'a fúria, que
trazia, quebrava todas as ramas e tron-
cos por onde passava, e traz elle um lião
grande e tomeroso.» Francisco de Mo-
raes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 31. —
«De que mais erão veados, gazcllas, car-
neiros, cabras, bodes brauos, adiues, lo-
bos, e jiorcos monteses, e alguns ussos,
e outras alimárias, depois (jue o xeque
foi dentro do cerco, derribou muitas del-
ias as frechadas do que enfadado, arrin-
cou de huraa cemitarra.» Damião de
Coes, Chronica de D. Manoel, part. 4,
cap. 10.
— Adagio k provérbio :
— Porfia mata veado, e não besteiro
eançado.
VEADOR, s. m. Vid. Vedor.
— Modernamente diz-se veador da rai-
nha, dos infantes, corrupto de veedor, of-
ficial da fazenda, economia da casa e de
provisão, regulamento e fiscalisação; ins-
pector, director.
— Termo antiquado. Caçador, mon-
teiro.
VEADORIA, s. /. Officio de veador, ve-
dor ia.
VEAIRO, s. m. Termo piopular e anti-
quado. Mania, veia, loucura.
VEARIA, ou VEHARIA, s. f. Casa on-
de se guarda a veaçSo ou caça, e se con-
serva jiara ficar mais tenra, e se ir co-
mendo, ou ondo so consei"vam aves para
o consumo da casa real.
VECEJAR. Vid. Vicejar.
— An.VGlO E PROVKRIUO :
— Da gordura da terra vicejam os en-
xertos.
VECTAÇÃO, .S-. /. (Do latim vectatió).
Andadura a cavallo, em sege, ou em
carro.
VECTOR, adj. m. (Do latira vector).
Termo do geometria. líaio vector; toda
a linha d'uma espécie dct-rminada que
uno um foco a um ponto da curva. Nas
curvas planas, o raio vector é uma linha
recta; uas curvas e«plierica«, o arco ve-
ctor é um arco de grande circulo.
— Mo Hvstema das coordenadas pola-
res, o raio vector é a linha recta que une
o polo a um ponio da curva.
— Raio vector d'itma ellipre; linha ti-
rada de um dos focos a um ponto qual-
quer da curva, A somma do.s dous raios
vectores tirados d'um ponto da ellipse a
cada um do» focos c ogual ao compri-
mento <lo grande eixo.
— Termo de astronomia. liaio vector ;
raio tirado do sol a um planeta ou d'um
planeta a seu satellite.
VEDAÇÃO, *. /. Cousa que veda.
— IvlitícHção para vedar a passagem.
1.1 VEDADO, part. pasê. de Vedar.
Probibiilo moralmente.
— Merrailnrias vedadas; defesas.
2.) VEDADO, B. m. Termo antiquado.
Couto ondo não se entra por lei, privile-
gio.
VEDADOR, A, adj. e *. Que veda, que
prohibe.
VEDALHAS, s. f. phir. Termo da Bei-
ra. A jóia que o padrinho d:l á noiva sua
afilhada no dia do noivado.
VEDAR, V. a. (Do latim teíarc). Ob-
star, impedir, atalhar, tolher.
— Piohibir, defender^
— Vedar a entrada de ctmsaa alimtn-
ticias.
— Vedar a entrada em algum logar ;
diz-se de um sitio cuja entrada é ile-
fesa.
— Syx. : Vedar, prohibir. Vid. este
ultimo termo.
VEDAS, s. /. plnr. Livros sagrados
dos brahmanes da índia. Vid. Brahma-
nes.
VEDASSA, s. /. (Do francez vedasnê).
Termo de chimica. Sal alcali fixo, ex-
trahido das ciuzas da planta marinha
pastel.
■j- VEDE. Fiirma do verbo vêr na segun-
da pessoa do plural do modo imperativo.
Vid. Vér. — «Não queirais pôr hoje a
índia a risco de se perder, porque esses
Fidalgos que om sima estam sam muitos,
e muito aparentados, e muito honrados,
o eu por taes os tenho, que só pelo qne
cumpre ao serviço d'ElRey cortaráS por
si, e se darão por prezos. Bradando alto
aos de sima : Senhores, vede o que fa-
zeis, não qU'ii'aÍ8 deservir a ElRey, de
cuja parte vos requeiro vos deis li prizSo,
porque se não perca hoje a Índia.» Diogo
de (^outo. Década 4, liv. 2, cap. 11.
VEDEIRA, s. /. Termo antiquado. Cer-
ta espécie de adivinhaçSo, quo ee tirava
da vista c inspecção de certas cousas.
■{- VEDES. Fr)nna do verbo vC-r na .«c-
gunila pessoa do plural do presente do
modo indicativo. Vid. Vêr.
VEED
VEGE
VEGE
Não vèden que aois já morto,
E andais contra natura ?
Ó flor da mor formosura,
Quem V03 trouxe a este meu horto ?
QIL VICENTE, FABÇAS.
— «E estes som os cinquo signacs: ella
na ora, que o homem delia travar, deve
dar srrande.s vozes, e braados dizeudo,
vedes que me fez Faam, nomeando-o per
seu noule : e ella deve seer toda carpi-
da : e ella deve vir pelo caminho dando
grandes vozes, qneixando-se ao primeiro,
e ao segundo, e ao terceiro.» Ord. Affons.,
liv. 5, tit. 6. — ■ «Admirada da pouca del-
ligencia com que busco presentemente os
objectos que servem de divertimento ás
outras pessoas da min!;a idade, e do meu
génio me perguntaes, querida Genoveva,
de onde, e de que procede esta negra
melancolia em que me vedes.» Cavallei-
ro d'01iveira, Cartas, n.° 74.
VEDOR, í. in. Mordomo da casa; admi-
nistrador.
— Inspector e director dos negócios e
fazenda, de obras.
— Vedor de agua; homem do quem o
povo crê que vê os sitios onde ha fontes
encobertas.
— Vedor da fazenda, bens de uma ca-
sa; regedor d'elles.
— Homem que tem inspecção, e faz
prover do necessário ; manda dar despe-
zas, e outros supprimentos.
— -Vedor do exercito; commissario do
guerra. Vid. Vedoria.
— Termo antiquado. Vedor da casa
real; mordomo-mór. A^id. Veedor.
VEDORIA, s. /. Cargo de vedor, seu
officio.
— o apparato do exercito, cofres ou
caixa militar.
— Inspecção, officio de quem deve vi-
giar sobre a execução d'alguuia lei, regi-
mento.
— Administração do quo pertence aos
exércitos, seus trens, cofres militares, pa-
gamento, etc.
— Junta dos vedores.
— Livros, e cofres dos vedores do exer-
cito.
— Casa onde elles se ajuntam.
VEDRO, A, adj. Termo antiquado. Ve-
lho.
— Torres vedras ; diz-se em opposi-
ção a Torres novas, e não nove.
— De vedro ; antigamente.
— ò'. 7)1. Termo antiquado. Tapigo,
cômoro com. que rodeavam os campos e
lavouras.
VEECA, s. /. Vid. Beca.
VEEDOR, s. m. Termo antiquado. Ve-
dor; mordomo-ni('>r da casa real.
— Veedores da fazenda real; os que
tratavam da sua arrecadação, despeza,
etc.
— Mordomo, inspector, fiscal.
— Termo antiquado. Veedor dos sapa-
VOL. V. — 112.
teiros ; hoje juiz do officio (extincto em
1833).
— Veedores dos alealdamentos ; offi-
ciaes eliiitos pelo conselho para irem em
cada anno assistir com o recebedor, e
escrivães dos portos, ou alfandega doa
portos, ao manifesto ou lealdamento dos
efFeitos importados, e avaliados para o
mercador exportar retorno de outros tan-
tos effv'ito3, e não ouro, nem prata, nem
dinheiro por saldo.
— Juiz a quem se deu commissão de
vêr, de fisealisar.
— Juiz do officio que avalia o bem ou
o mal feito das obras dos respectivos mes-
teres.
— Veedor da casa e cozinha; era co-
mo niordomo-menor.
VEEIRO, s. m. Termo antiquado. Vid.
Veiros, c Vieiro.
f VEEMOS, por Vemos, na primeira
pessoa do plural do presente do modo
indicativo.
veemos no revno metter
tantos captiuos crescer,
e yremse hos naturaes,
que se assi for seram mais
elles que nos, a meu vcer.
OAnCIA DE REZENDE, UISCri.t,ANEA .
Termo antiquado, por
/. Termo an-
VEER, V
Vêr. Viil. Prover.
VEGADA, ou VEGA,
tiquado. Vez.
f VEGETABILIDADE, s. /. Faculdade
de vegetar.
VEGETAÇÃO, s. f. Acto de vegetar;
conjuncto das funcções que constituem a
viila de uma planta.
— Collectivamente : As arvores e as
plantas.
— Por extensão, ha nos animaes par-
tes mui consideráveis, como os ossos, os
cabellos, as unhas, cujo desenvolvimento
é uma verdadeira vegetação.
— Figuradamente : Estado de uma pes-
soa que vive como uma planta.
— Nome dado a certas producçÕes chi-
micas, por terem alguma similhança com
as plantas.
— Termo de pathologia. Nome dado a
todas as producções carnudas que se ele-
vam e parecem vegetar á superfície de
um_ órgão.
VEGETAL, adj. 2 gen. Que pertence
ás plantas, que lhes diz respeito. — As
matérias vegetaes são formadas, em seus
primeiros principies, de carbono, de hy-
drogeneo e d'oxygeneo, aos quaes se ac-
crescenta, como accessorios não indis-
pensáveis, o azote, o enxofre e o phos-
phoro.
— O reino vegetal ; a reunião dos
vegetaes.
— S. m. Corpo organisado que vege-
ta, arvores, plantas; ou todo o ser orga-
nisado que satisfaz sua alimentação soli-
da, ou liquida, ou gazosa a expensas do
meio mineral ou inorgânico, em opposi-
ção ao animal, que se alimenta á custa
dos seres vivos, ou dos que viveram.
— Substancia vegetal; substancia que
Assim rios caudacs correm dos montes,
Gyrão nos poros da fecunda terra.
Levando ás plantas veye.tcd sustancia.
Ou múto, ou fogo, 03 alimentos coze.
J. A. DF. MACEDO, VI.VGEM EXTÁTICA, CaUt. 1.
f VEGETALIDADE, «. /. Estado ou na-
tureza d'uma planta, d'um vegetal.
— O conjuncto dos vegetaes, em op-
posição ao conjuncto dos animaes. — A
vegetalidade e a animalidade.
— Primeiro grau e o mais simples da
vitalidade, isto é, o conjuncto dos pheno-
menos physiologicos que são communa ás
plantas e aos animaes, e que existem só
nos veeetaes.
VEGETALIZAR, ou VEGETALISAR, v. a.
Formar em vegetal.
VEGETANTE, part. act. de Vegetar.
Que vegeta, que cresce.
— Dotado da propriedade de vegetar.
— Os seres vegetantes.
— Por extensão : Que vive e opera co-
mo as plantas. — Acima das cousas in-
sensíveis e inanimadas, Deus estabeleceu
a vida vegetante. Vid. Vegetal.
VEGETAR, V. a. (Do latim vegetare).
Nutrir, fazer crescer a planta, fazel-a
viver.
— V. n. Nutrir-se, crescer, fallando
das arvores e das plantas. — - Tudo nas-
ce, vegeta, e morre para vegetar aindat
— Figuradamente : Viver na inacção,
ou u'uma situação apertada.
— Não fazer senão vegetar ; não ter
já quasi o uso das suas faculdades intel-
lectuaes.-
— Figuradamente : Viver sem interes-
se, sem movimento, sem emoções.
— Vegetar-se, v. rejl. Nutrir-se, cres-
cer, viver pelo modo dos vegetaes.
VEGETATIVO, A, adj. Que faz vege-
tar.
— Que existe no estado de vegeta-
ção. — Ser vegetativo. — Vida vegeta-
tiva.
— Termo de physiologia. Diz-se das
propriedades de nutrição, de desenvolvi-
mento, e de geração, por serem communa
aos animaes e aos vegetaes. — Funcções
vegetativas.
— Vida vegetativa ; o conjuncto das
funcções que são communs aos vegetaes
e aos animaes.
— Órgãos e apparelhos da vida vege-
tativa ; aquelles que concorrem para as
funcções de nutrição, digestão e urina-
ção, respiração e circulação, o de repro-
ducção masculina e feminina.
— Termo de anatomia. Elementos, te-
cidos, systemas vegetativos ; elementos,
890
VETTE
VEIO
VEIO
tecidos que fazendo parto do corpo dos
.inimaeí, nflo gozam por tanto, eoino 03
elemontoí anatómicos das plantas, senSo
das propriedades de nutrií^ilo, do dosen-
volvimonto, o de reprodiic<;!lo, por<íím níto
tem ncnliuma das propriedades da vida
animai.
VEGETAVEL, ailj. 2 gm. Que vegeta,
que pi'idc vegetar. — Esta arvore está
secca, nito ha mais nada de vegetavel,
nem no tronco, nem na raiz.
VEGETO, A, afj. (Do latim vegetus).
Bem nutrido, robusto.
— Qnn faz vcsretir. — Calor vegeto.
I VEGETO-ANIMAL, a^íj. 2 gen. Que
partioi[)a da natureza dos animaes, e da
dos vcí^taes.
f VEGETO-MINERAL, wlj. Que parti-
cipa da natureza vegetal e da mineral.
— Termo de pharmaoia. Agua vegelo-
mineral ; composiçíio medica adstringen-
te, o tónica.
f VEGETO-SULPHURICO, A, adj. Ter-
mo de chimica. AcÍiId vegeto-sulphuri-
00 ; acido deiii[ucscente e incrystallisa-
vel que se fn-nia ao mesmo tempo que o
así^ucar, quando .*;e cura a roupa branca
pelo acido ?ulphurico.
VEGETOSO, A, arlj. Termo de botâni-
ca. Concernente á vegetação.
— Próprio para a vegetaç.ão. — Terra
vegetosa.
VEHARIA, s. /. Vid. Vearia.
VEHEMENCIA, s. /. (Do latim vcke-
mentia). Movimento forte e rápido na
alma, nas paixões. — Uma vehemencia
dolorosa e pafhetica.
Não faz isto Silveira iiorriue a ausência
Doâto homem, f)n;a falta nosta parte,
Porque o Sousa Coutinho, cora vehemeTicia
Lhe pede a dufcnsào do balututc :
Mas porque natural hc da prudência,
E muito mais no perigoso ífarto,
Trabalhnr porque não caia em allionta
O Soldado antes tido em boa couta.
FBilNCISCO PR ANDRADK, rKIMEIRO CERCO DB DIU,
eant. 13, est. 102.
■ ■ — Este orador tem vehemencia ; tem
uma eloquência cheia de força que enleva.
— Por uma passagem do sentido mo-
ral ao sentido pliysioo, diz-se fallando do
vento. — O vento sopra cniii vehemencia.
VEHEMENTE, adj. 2 gen. (Do latim vc-
heme)u). Que so transporta com ardor e
força a tudo o que faz.
— Orador Tehemente; aquelle que tem
uma eloquência que enleva. — K' o mais
vehemente dos podas sat>/ricos.
— Discurso vehemente ; discurso cheio
de calor e de força.
— Activo, impetuoso, mui enérgico. —
«Se houver exuperancia de cholera, oa
humor biliozo, conhecese; porque a dor
ho muyto mais aguda, e errodente; ar-
dor, e estuaçaõ grande da Cabeça, com
pouco, ou nenhum pezo; excepto se a
dor for tensiva; porque como adverte
Avtcen. Fen. i. .9. tract. i. cap. 12 a
gravitaçilo da Cabeça sompro denota ma-
téria embebida naquella parte; donde,
sondo a matéria colérica fará menor gra-
vitaçíio, porem h:í de causar a lustaò ui.-iis
vehemente; conu> se ve nas ICrysipelas.t
Braz Luiz d'Abreu, Portugal medico,
pag. J()7.
— Presiiviprõfís vehementes ; em ili-
reito, muito fortes.
VEHEMENTEMENTE, a<lv. 1 De vehe-
mente, u o sufllxo " mente »j. Mui forte-
mente.
— ('om vohemeueia.
VEHEMENTISSIMAMENTE, adv. (De
vehementissimo, e o suíTlxo mente»). Su-
perlativo do Vehementemente. ^lui vehe-
menteiuente.
VEHEMENTISSIMO, A, adj. supcrl. de
Vehemente. .Mui vehemente, impetuosis-
simo.
VEHICULO, s. 7)1. (Do latim vehiculum).
Uma carruagem qualquer.
— O que serve para conduzir, para
transmittir mais facilmente. — O ar é o
vehiculo do som.
— Dissolvente, fallando das cores.
— Termo de pharmacia. Excipiente li-
quido. — O assucnr, o mel, os suecos resi-
nosos começaram a ser empregados ewi me-
dicina como vehiculos, ou remédios esp»-
ciaes.
— Termo de anatomia. Os liquides
que servem para ter em suspensão, quer
momentaneaniente, quer de um modo per-
manente, 03 elementos anatómicos que se
devem examinar por meio do roicrosco-
pio.
— Figuradamente: O que prepara, o
que auxilia.
VEIA, s. /. Vid. Véa.
Em pró dos mesmos Príncipes, que hão quasi
Nas veias, esgotado-lhe a nascente.
Desses It^rócâ ("hristàos no manso vidto,
Nem prazer, nom tomor lhes rcsumbrava :
Sim, cordato valor, bem parecido
Co Lyrio sem senão. Mal trilha o Campo
A Legião, fógc aos Francos a victoria.
r. M. no N.V3C1MENT0, os MIRTVSKS, liv. G.
VEIGA, s. /. Campo.
— Planície fecunda.
1.) VEIO, s. m. Barra de ferro sobre
que se revolve alguma roda horisontalou
perpendicular.
j- 2.) VEIO. Forma do verbo vir na ter-
ceira pessoa do singular do pretérito per-
feito do modo indicativo. Vid. Vir. —
«Este João Machado era natural da Ci-
dade Braga, homem Ue boa linhagem, o
sendo mancebo estav.a em cas.i de um ab-
b.ade seu tio, onde se veio namorar de
huma sobrinha deste Abbade d'outra par-
te, sem cllc ser parente d'ella.i> Barros,
Década 2, liv. ú. cap. 0. — «(^ outro Em-
baixador, que chegou depois deste, man-
dava ElRev de Ormuz a ElRev D. Ma-
nuel a este Rejiio com requerimentoB, o
qual Embaixador veio aquelle anno em
as iiáoâ da carga; e entre algumas cou-
sas que trouxe de presente, foi huma on-
ça de caça, cóm que naquellas partes da
Pérsia costumam montear, traze!ido-a«' o
caçador prezan nas ancas do cavallo. •
Ibidem, liv. 7, cap. 'A. — «E neí-te amo
veio também Fernão Peres iTAndrade
com as Puas, que trouxe de Malaca, (co-
mo dissemos.) Partidas estas n.áog, despe-
jou-so Afonso d'Alboquerque de todolos
outros negócios, e cntendco em os de sua
partida pcra hum destes lugareí, aonde
F^IRey D. Manuel lhe mandou que fosse
ao estreito (io mar Roxo, ou a Onnuí. »
Ibidem, liv. IO, cap. 2. — «Peró porque
este Xeque Ismael naquelle tempo em
poder, e estado era maior senhor que o
Turco, e havia pouco tempo que lhe dera
luuna batalha, e veio a grande potencia
per armas, e religião do secta, e delle
tem escrito alguns anthorea.» Ibidem,
cap. b. — «O do Tigre, conhecendo nelle
a frouxidão com que pelejava, começou
do apertar mais que d'antes. A este tem-
po o que combatia com Platir veio a seus
pés desamparado dos espíritos, e elle por
estar mais seguro lhe cortou £, cabeça, e
a apresentou a Colambar. • Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 118.
— «Veio logo D. Álvaro Baçào com os
principaes Cabos da armada visitar a D.
João de Ca';tro ao mar, onde depois de
saudações cortezes, lhe deo conta das no-
ticias que tinha do inimigo, que segundo
03 avisos, a primeira invasão seria s><bre
Ceuta.» Jacintho Freire de Andrade,
Vida de D. João de Castro, liv. 1. —
"Naõ faltando quem destes, e outros fa-
vores quizesse arguir que a Rainha D.
Britis, que o veio a ser de Castella, fora
adulterina, e filha do próprio Conde, o
da Rainha, cousa muito falsa, porque
quando o Conde veio a Portugal, e co-
meçou a entrar ra privança, havia oito
para nove annos, que D. Britis era nas-
cida.» Frei Bernanlo de Brito, Elogios
dos reis de Portugal, continuados por
D. José Barbosa. — «E depois com nui-
danças que o tempo traz foy S(dto da dita
prisão, e se veio a Barcelona, onde cl
Roy e a Raynha de Castella estauão ao
tempo da entrega de Perpinhào, e dahy
se foy a Seuilha onde tinha sua molher,
e filhos, ilahv a poucos dias falcceo. » Gar-
cia de Rezende, Chronica de D. João 11,
cap. 74. — «Jlas posto que geralmente
succodcn assim, não faltou quem entrasse
nas suspeitas, c desse ponto ao paço,
d'onde em amanhecendo me veio recado
para que fosso fallar a sua alteza: fui, e
porque estavam para o sangrar, disse-
mo que esper.asse para depois da sangria,
tuiio a lim de me deter; mas eu me ea-
hi. e me fui embarcar a toda a pressa.»
Padre António Vieira, Cartas, n." 12.
— Alguns escrevem vein.
VEJO
VELA
VELA
891
VEÍR. (Do latim cenire\ Termo anti-
quado. Vid. Vir.
VEIRA, s. /. Termo antiquado. Vid.
Beira.
VEIRâDO, a, adj. Ornado de veiros.
VEIROS, *. III. plur. Termo do Bni-
zil. Formam-se lançando-se em uma faxa
uma risca columberada, e dando depois a
uma, e outra parte as cores que na arte
se declaram.
VEIZA, s. /. Termo antiquado. Vid.
Versa.
-j- VEJA. Forma do verbo irregular vêr
na terceira pessoa do singular do pre-
sente do modo coajunctivo. Vid. Vêr. —
«Aqui temos justamente o meu este es-
teve de que V. P. diz que Deos nos. guar-
de, Deos me livi-e a mim de V. P. e de
outras Paternidades como sua Paternida-
de (veja que Cacapiíoaiaj que liindo a
Portugal, e entendendo que tinira apren-
dido a lingoa do Paiz chegou aqui so-
mente com a prezumpçào de sabe-la.t
Cavalleiro de Oliveira, Cartas, liv. 1,
n.» 14.
•{- . VEJAIS. Forma do verbo irregular
vêi- na segunda pessoa do plural do pre-
sente do modo conjuactivo. Vid. Vêr. —
tE por isso, amigos meus, inda que vos
agora vejais dessa maneyra, nào descõ-
fieis de suas promessas, porque vos cer-
tifico que se de vossa parte o nào des-
merecerdes, que elle da sua não falte,
porque nunca f;dt ju aos seus, inda que
03 cegos do mundo tenliào para sy o con-
trario, por causa da affliçào com que a
mísera pobreza continuamente os abate,
6 o mundo os desjireza.» Fernão Mendes
Pinto, Peregrinações, cap. 81.
— AlfTuns escrevem vejaes.
j VEJO. Forma do verbo irregular rei-
na primeira pessoa do singular do pre-
sente do modo indicativo. Vid. Vêr.
Tal vejo cada hum dos valer03O3
Peitos qae a galeota agasalhava,
Que veudo huas esquadrões tão copiosoâ
Algam tanto o perigo arreceiava,
Mas tanto que dos ferros sanguinoios
Com3i;a de sjntir a faria brava,
De tamauhi ira e esforço fiea cheio
Que faz temer a quem lhe pôz receio.
F. d'andb^de, pbimeiro cebcú de Diu,caut. 11.
est. 34.
— «Adolpho, Adolpuo, mais que muito
o vejo, que só pai-a o amor é que não ha
impossíveis. Ponde, sem vacillar, no nu-
mero dos motivos que vos impellem, o
gesto de mais cedo a tornar a vêr, de
vos logrardes dos abalos que lhe ha-de
inspirar o ver-vos, e gozai' em íim folga-
damente da dita de ser amado, u Fran-
cisco Manoel do Na-cimeuto, Successos
de madame de Seneterre.
Anaximeues do Orador Romano
Assombro, estimai^-ão, contemplo, e vejo
Ko moto eterno da substancia eterna
A essência poz de hum Arbitro Supremo,
E dèo ao Mundo por principio, e fonte
A substancia do ar vasto, infinito ;
Mui grande em luzes foi, grande nas sombras.
J. A. DE M-VCEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 2.
Vejo formada a analysc das cores,
E tudo cu dovo aos ca!cu'03, ao Prisma,
Na luz. quG era só vista, c ignota sempre !
Vãos systcmas, que as gárrulas Escolas
Em fantásticos thronos coUoeárào,
Vão ao abysmo cahir, donde sahirào.
IBIDEM, cant. 4.
Da nebulosa Hollanda os Sábios vejo
Do Templo augusto ornatos sublimados,
Que 03 brilhantes faróes do Tibre arrancão
D'eatre as sombras, e põ de antigos evos,
E co!n douto trabalho esclarecidos
Ignorado thcsouro ao Mundo oíiertão.
Aos olhos perfeição, luzes á Mente.
Vejo o accezo relâmpago medonho.
Oiço o horrendo trovão, vejo o espantoso
Trilho abafado do sulfiu-eo raio...
Nada a meus olhos se me esconde, nada!
E já de enxofre, de bitume, e nitro.
De ácido sal, de alcalicos diversos
Grosso vapor subindo eu vejo aos ares.
lOEU, XEWTOS.
1.) VELA, «. /. Rolo de sebo, cera, es-
permacete, etc, com pavio para dar luz.
— «E atjando-se o fogo a estas seis ve-
las com grandíssima forsa, e Ímpeto sem
os inimigos ousarem a sair da Cidade, o
Rey Bata em pessoa, como homem que
se sentia favorecido da fortuna, e que em
nenhuma cousa queria perder a occasiaõ,
tentou acometer huma Fortalesa, que com
doze peças grossas varejava a entrada do
rio que se chamava Penacaõ, e assaltan-
doa à escala vista com obra de settenta,
ou oy tenta escadas, a entrou sem perder
dos seus mais que só trinta e sette; e to-
dos quantos achou dentro matou á espa-
da, sem a nenhum querer dar a vida, que
scriaõ até settecentas pessoas.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 16.
2.) VELA, s. f. Pessoa que vigia; sen-
tiuella.
— A primeira veia; na primeira vi-
gia, no primeiro quarto da noute.
— - Passar á veia a noute; passar sem
dormir, em vigília.
— Estar em vela ; estar desperto, vi-
giando.
3.) VELA, s. /. (Do latim velum). Ter-
mo de marinha. Panno grande de treu
pre.so nas vergas, que se abre ou dá ao
veato, e serve de impellir o navio, eoni-
mumcaudo o impulso do vento aos mas-
tros.
Desde qua frota o Tejo saudoso
Tinha, as rtias largando, abandonado,
Tào soberbo painel grato, e formoso
Nunca foi de seus olhos esperado :
No longo do Equador pelo arenoso
Ethiopico seio hum rematado
Quadro do L^sia vêem, tauta belleza
Capricho foi da sabia Natureza.
OAM., Lcs., cant. 7, est. 75.
— « Sou contente, responde o minis- •
tro ; mas ha-me Vossa Mercê de fazer
huma escritura de venda, em que con-
fesse, que lhe comprei a tal Quinta com
dinheiro de contado. Feita a escritura,
toma com ella posse da propriedade ; e
mete velas, e remos, para livrar o dona-
tário ; e naò descança, até o pór em gé-
meas escoimado, e limpo, como huma
prata.» Arte de furtar, cap. 25.
— Figuradamente : Meios de alcançar.
— Dar á veia ; começar a navegar. —
«Propostas estas palavras, quasi todolos
Capitães mais foram no louvor deste ca-
minho, que em contradições de o impe-
dir, com o qual conselho AíFonso d'Albo»;
querque ao outro dia, que eram dezoito
de Fevereiro do auno de quinhentos e
treze, deo á vela.» Barros, Década 2,
liv. 7, cap. 7^ • — «Embarcados todos de-
rau à vela, e por acharem os tempos con-'
trarios, mandou Bernaldim de Sousa dar
toas aos galeoens pelas Corocoras, e pu-
zeraò dez ou doze dias no caminho, e a
véspera do Natal passado surgirão na
barra de Geilolo, e salvarão a fortaleza
que se não enxergava de fora por causa
do grande, e espesso arvoredo que havia
autre ella, e o mar.» Diogo de Couto,
Década 6, liv. 9, cap. 10. — «Despedido
de toJos deu á vela pêra Cociiim, adian-
tando-se seu filho Dom Fernando de Me-
nezes em navios ligeu-os, porque Kia mal
disposto, que em poucos dias chegou a
Cóchini.» Ibidem, cap. 18.
— Velas perigosas; as mais altas, e as
que se accrescentam em bom tempo, por-
que nos tufões, e pés de vento súbitos
periga a embarcação, quando a tomam
com esses paunos altos.
— Ir a velas t^cndidas ; ir a velas
cheias.
— Fazer o navio vela; começar a na-
vegar.
— Dar as velas ao vento.
— Fazer-se á vela; começar a nave-
gar. — «Acabado este feito tornouse
Lopo Soares recolher às nãos e naquelle
dia nào se entendco em mães que na
cura dos feridos : e ao seguinte que era
dia de Janeiro do anno de quinhentos e
cinquo se fez à vela caminho de Cana-
nor.» Barros, Década 1, liv. 7, cap. 11.
— « Com todos estes trabalhos não se des-
cuidou ElRey das cousas da índia, man-
dando negociar sinco náos de que não
fez Capitão mór, e nellas mandou em-
barcar mil e quinhentos liomens. Esta
armada se fez á veia em Março.» Diogo
de Couto, Década 4, liv. 7, cap. 10. —
«Ne.-ta auguada de S. Brás fez Vasquo
da Gama queimar ha nao dos mantimen-
tos, de que era capitão Gonçalo Kunez,
por delia naõ hauer necessidade, donde
892
VKLA
VELH
VELH
feita auf?uada, e carnagem se fez h vela,
hauendo j:\ ti-c-zo dias quo alli clicí^àra, e
estiucra inaia se nilo Huccodcraõ de,HCon-
certo», c lirlf^as ontro lios nossos, o hos
nep^ros, polo quo autos da armada j)artir
daquelia paraifiin a vista da frota, hos
negroB derribarilo hum padrílo, com huma
Cruz, que Vasquo da (íania mandara
poer sobre, hum lombro, junto da praia.»
Damiiío do (íoc-i, Chronica de D. Manoel,
part. 1 , cap. Hõ.
— Anilar á vela.
— Desfi-dlilnr as velas.
— Metter velas, ou pannos nox mas-
tros.
— Fipuradamcnto: Phir. Os navios.
VELAÇAO, s. /. Benção nupcial.
VELACHO, «. /. Termo de marinha.
Vela do mastro da proa cutre o traquete
e o joaTineto.
VÍGLADO, part, pass. do Velar. Cober-
to com vóo. — Cara velada.
— Figuradamente: Õcculto, encoberto.
— Passado sem dormir. — Noites ve-
ladas.
— Vigiado.
1.) VELADOR, A, s. Pessoa que vigia,
que está desperta.
— <S. ?«. Pau com seu pé, c uma roda
no outro extremo, posto a prumo, ondo
86 p(5e a candeia, ou vela.
— O que vigiava, o que estava de
sentinclla de noute.
2.) VELADOR, A, adj. Que vela, que
vigia.
— Que está desperto vigiando com
attenção. — OlIiDS veladores.
— Cuidados veladores ; cuidados que
se desvelam.
— O velador estudioso; desvelado.
VELADURA, s. /. A acção de veiar do
noute.
— Vigilia.
VELAME, s. »)i. As velas de um navio,
ou apparclho, andaina d'ellas para os na-
vios.
— Panno, velas.
VELAMENTO, s. m. Veu, cobertura, in-
sígnia de sujciçilo, o humildado.
VELANÇA, s. /. Termo antiquado. Ve-
ladura.
1.) VELAR, r. a. (Do latira vclare).
Cobrir con\ veu, pôr veu na cabeça como
se fiizia aos noivos, e aos baptisados, e
ohrismados.
— Figuradamente: Encobrir, occultar.
2.) VELAR, i\ a. (Do francez veiller).
Vigiar, estar acordado, não dormir.
— Vigiar alguma causa, que nos foi
confiada. — Velar a fortaleza.
— Velar as armas ; era ceremonia que
faziam os cavalleiros, passando uma nou-
te desportos em vigia das armas, com
que se haviam de armar dentro, ou jun-
to de alguma egn^ja.
— V. n. Abstor-so de dormir durante
o tempo destinado ao somno. — Velar até
— N5o dormir nada, citar cm estado
do vigia.
— Estar de guarda.
— Figuradamente : Tomar attenção a
alguma cousa, fazer guarda.
— Velar-se, v. rejl. Vigiar-sc, acauto-
lar-se.
— Adaoios i; ntovEiíuios:
— Maia pôde Deus ajudar, quo velar,
ou madrugar.
■ — A (|uein vela, tmlo .'^c lho revela.
VELEAR, r. a. Prover de velas o na-
vio.
VELEGADO. Termo antitiuado. O mes-
mo que Relegado.
VELEIRA, *. /. Criada que nos con-
ventos (!(• IVeiras servo de porta fu-a.
1.) VELEIRO, A, s. Pessoa que fciz ve-
las.
2.) VELEIRO, A, adj. Que anda bem
A vela.
— Figuradamente : Expedito, ligeiro.
— Soldado veleiro ; soldado armado á
ligeira.
VELEJAR, V. n. Navegar á vela. —
«Rcconhcceran-as os Phenices, c quize-
ram fugir-lhes; mas ja era tarde : tinham
elics de sua parte o velejarem melhor
que n(')â ; servir-lhes o vento; e trazerem
maior numero de remadores: assim, abor-
dan-os: entvan-os; e nos levam piisionei-
ros ao Egypto.» Telemaco, tradueção do
Manoel de Sousa, e Francisco Manoel do
Nascimento, liv. 2.
— Figuradamente: Dirigir os seus ver-
sos.
— Substantivamente: O longo velejar.
E aos ingratos, iuhospitos baloiços
Do longo velejar, sucoetle o brando
Meneio da suavissinia corrente,
(juc no remanso do seguro porto
Tani doce é de sentir ao nauta cxUausto
Dos ropoUõeâ irados de Neptuno.
J. A. DB MACEDO, O OHIENTB, CaUt. 1, OSt. S.
VELENHO, s. w. Termo de botânica.
Vid. Meimendro.
— - Velenho bastardo ; tabaco fêmea.
VELETA, s. /. Grimpa collocada no
alto dos editíeios.
— Cabeça de veleta; o que muda a
cada passo de intentos, conselhos, e re-
soluções, como as veletas mudam de po-
sição com os vários ventos.
VELETO, s. m. (Do francez velet). Ter-
mo antiquado. Criado, lacaio.
VELHA, *. /. de Velho. Mulher adian-
tada em ânuos. — «E a segunda assegu-
rar a bolça para si com sua miiy, que era
huma velha taõ ardilosa, como elle, que
já estava prevenida ao Padre do púlpito,
c muito bem adestrada pelo filho : e em
descendo o Padre agarrou delle gritan-
do.» Arte de furtar, cap. 1.
— Coi\tos (/<" velha ; liistorias fabulosas,
petas contadas pelas vollias.
— Apagios e rUOVEKBlOS :
— Castigo do velha nunca fen moça.
— Castigar velha, c espulgar cSo, dnaa
doudices s3o.
— - Antcri velha com dinheiro, que mo-
ça com cabcdlo.
— Nem tilo velha que caia, nem t3o
moça que salte.
— ilais velha é a egreja, e vilo a ella.
— A moça em se enfeitar, e a velha
em beber, gastam todo seu haver.
— A velha o a cortiça curada» ae que-
rem.
— Pouco a pouco fia a velha <> copo.
— Avezou-se a velha aos brodoa, lam-
be-Iho os dedos.
— Avezou-se a velha ao mel, e comer
se quer.
— Abelha e ovelha, c a pessoa de traz
da orelha, e jiarte na egreja, desejava
])ara seu filho a velha.
— Iloje se serra a velha pelo meio;
isto é, o dia da metade da Quaresma.
— N/js em ai, e a velha no portal.
— Tal grado haja quem a velha arre-
gaça.
— Alta vae a velha na anda.
■ — Melhor ó fazer agarrar um cSo, que
uma velha.
VELHACADA, s. f. Junta civil de ve-
lhacos.
— Acto do velhaco.
VELHACAMENTE, adv. (De velhaco, e
o suffixo «mente»). Com velhacaria.
— A maneira cie velhaco.
VELHACÃO, ONA, adj. e «. Augmen-
tativii de Velhaco. Grande velhaco. Vid.
Velhacaz.
VELHACARIA, *. /. Acto de velha-
co.
— Acto de lascívia, acçSo deshonesta.
VELHACAZ, a/ij. e s. 2 gen. Termo
popular. Augmentativo do Velhaco. Gran-
de velhaco. Vid. Velhacão.
VELHACO, A, adj. Pessoa que engana
com dolo iiào cumprindo a promessa. —
Homem velhaco.
— Lascivo, deshonesto, impudico, lu-
xurioso.
— Substantivamente : Um velhaco.
VELHACOUTO. Vid. Valhacouto.
VELHADA, s. /. Cousa de velhos, au-
tigualhas, vdliice.
VELHANCÃO, ONA, adj. e t. Augmen-
tativo do Velho, (irande velho.
VELHANCARIA, s. /. Cousa própria de
velho.
— Severidade, imiMírtinencia.
VELHÃO, ONA, adj. e s. Termo popu-
lar. Augmc.tativi) de Velho, Velha. Gran-
de velho.
VELHAQUEAR, r. a. Praticar velhaca-
rias.
— Enganar, illudir, embustear a ou-
trem.
— Praticar act<« libidinosos.
— T". lí. Tornar-se velhaco.
VELHAQUESCO, A, adj. De velhaco.
— Phntíe velhaquesca ; pLrase chula,
com oipiivocos lascivos.
VELH
VELH
VELH
893
VELHAQUETE, s. e alj. 2 (jen. Dimi-
nutivo de Velhaco ; Veliiaquinho.
VELHAQUINHO, A, adj. e s. Diminu-
tivo de Velhaco. Algum tauto velhaco,
um pouco velhaco.
VELHENTADO. Vid. Avelhentado.
VELHICE, s. f. A edade do velho, an-
cianidade. — tE em Tribunaea mayores,
que constào de ancianidade, tem muitas
licenças, e pri\'ileg'ios a velhice, que ha
mister ajudada, e alentada, e porisso se
permittem mais Ministros, e mayores aju-
das de custo. Deus nos livre de Minis-
tros, que antes de lhe chegar o tempo de
os aposentarem, vencem salários sem os
merecerem, e sem trabalharem.» Arte de
furtar, cap. 44. — «Embora, seja assim,
ainda que lho pudera negar ; porque nes-
te mundo naõ ha velhice descauçada,
nem lustrosa : Senecttts ipsa est morbiis.
A mesma velhice em si he doença cheya
de mil desalinhes. Essa velhice ha de ter
o fim : e ao depois delle tomara saber,
que he o que se segue a Y. Excellencia,
meu senhor Marquez?» Idem, cap. 70.
— Dito, acto, estylo velho, antiquado.
— Adágios e provérbios :
— Velhice é mal desejado.
— A vida passada faz a velhice pe-
sada.
— A velhice da pimenta, engelhada e
negra.
— Mocidade ociosa não faz velhice
contente.
VELHINHO, A, s. o adj. Diminutivo
de Velho, Velha.
VELHÍSSIMO, A, adj. superl. de Ve-
lho, Velha. Mui velho.
VELHO, A, adj. Que está adiantado
em annos, em idade; que chegou á, eda-
de de velho, de ancião. — Homem velho.
O velho Protbeo vio, que em duas asas
Espinhosas, e grandes se sustenta,
Atónito, e pasmado, mas de vello
Ella fria ficou, e quasi muda.
Olha o peito escamoso, a cor, c o rosto
A proporção, e o talho ditiereute
Olha aquella figura estranha aos homens
Mas conhecida o vsada á natm-eza.
COUTE BBAL, NADrBAGIO DE SEPÚLVEDA, Cant. 6.
— «o Chim rodeou a irraida, e entrou
nella por huma porta travessa, e abrindo
a em que estava António de Faria, elle
com toda a gente entrou dentro na irmi-
da, e achou dentro nella hum homem ve-
lho, que ao parecer seria mais de cem
annos, com huma vestidura de damasco
roxo muyto comprida, o que no seu as-
peito parecia ser homem nobre, como
dcspois soubemos que era.» Fernão Men-
des Pinto, Peregrinações, cap. 76. —
«Forque ainda que o gouernador por ser
escrauo capado d'eiRey não tevesse her-
deiros, por memoria da gratificação que
dauamos âquelies de que recebíamos al-
gum beneficio, ouue por bem que sua
casa ficasse inteira, e dentro o Caciz ve-
lho pêra despois dar razão da tenção del-
le a AíFonso d'Alboquerquc.» Barros, Dé-
cada 2, cap. 1.
Conversemos bum pouco, meu Theodoro,
Nas mudanças do mundo. Nada fica
No próprio ser, que a vdha Natureza
Deo ás cousas da máquina roliça.
ABBADE DE JAZEHII, POESIAS, pag. 19.
— «Porque, pois, não aproveitaremos
alguns curtos instantes de paz e remanso
em innoceutes passatempos? Também eu
vou sendo velho, dado que os ânuos não
sejam muitos. Debaixo da coroa ainda
estes cabellos negrejam; mas a alma sin-
to-a encanecer.» A. Herculano, Monge
de Cister, cap. 24. — ■ «E naõ temos ne-
cessidade de exemplos forasteiros, quan-
do temos em casa o nosso Key D. Ma-
noel, com quem ac oppoz o Emperador
Maximiliano, estando ambos em igual
gráo, e este mais velho, mas em linha
inferior por fêmea, e D. Manoel por va-
rão, que representava; e julgou-se, que
poris.so prevalecia ao Emperador. » Arte
de furtar, cap. 16. — «A Condeça velha
foi como sempre a que meteo na dança a
mocidade das outras tíenhoras. Daucey
com a Princeza de Valaquia, e com vos-
sa Prima, e espero ter Domingo a felici-
dade de dançar também comvosco.» Ca-
valleiro d'Uliveira, Cartas, liv. 1, n,° PJ.
— Usado.
— Termo popular. Estar no calçado
velho ; não ser já para cousas que fazem
os moços.
— Tronco velho ; tronco antigo. — »E,
manso e manso, os agarenos, lançando-se
ao cumprido sobre o cepo que estremece-
ra ao golpe de Sancion e segurando-se ás
cavidades do velho tronco e ás asperezas
do seu grosseiro córtex, se aproximavam,
semelhantes ao estellio que se arrasta,
nas ruinas de Balbek, ao longo de co-
lumna tombada.» A. Herculano, Eurico,
cap. 16.
— Filho mais velho ; o primogénito.
— «Fez condestabre do regno dom Afon-
so filiio natural de dom Diogo seu irmam
Duque de Viseu. Fez Conde de Tentú-
gal dom Kodrigo de melo filho mais ve-
lho de dom Aluaro, irmam do Duque
dom Fernando de Bragança, que depois
foi Marques de Ferreira. i'ez dom loam
de meneses, seu mordomo mor Conde de
Tarouca.» Damião de Góes, Chronica de
D. Manoel, part. 4, cap. 86.— «Disse o
Príncipe Cuzzanni, que era aquelle que
tinha filhos ingratos, e indignos. Euteii-
deo-se que esta resposta feria o Conse-
Iheyro Klig que se achava presente, e
também o seu Morgado, ou para melhor
dizer filho mais velho.» Cavalleiro d'01i-
veira, Cartas, liv. 1, n.° 19.
— Despir o homem velho ; pôr-se eui
graça por meio dos sacramentos apro-
priados ; renovar-se, regenerar-se.
— Lua velha; minguante.
— Nào novo, não moderno,
— Loc. POP. : Isso é velho ; isso nSo
é novidade.
— A lei velha ; o pentateuco de Moy-
sós, e mais latamente os livros do Anti-
go Testamento, dos quaes muitos não
são legaes, mas históricos.
— tíoldado velho ; cortido, exercitado
por annos nas guerras, e serviço militar.
— 8yn. : Velho, antigo.
Estas palavras são comparativas e
oppositivas de outras, pelas quaes melhor
se pôde fixar sua significação e uso. Ao
velho, oppòe-se o novo, também o moço,
fallaudo de pessoas; ao antigo, o moder-
no ou novo. Tem seu uso difterente, e
não se podem empregar umas por outras.
Velho refere-se á edade individual da
pessoa ou cousa de que se falia, aos mui-
tos annos da sua existência; e por isso
que desperta a idêa de estar perto do
termo de sua duração, não é palavra po-
lida fallando com as pessoas, antes incul-
ca desprezo ou zombaria. Antigo usa-se
mormente fallando de trajos, moveis, mo-
das. Diz-se systema, methodo, linguagem,
estylo antigo.
— Vid. Envelhecido, Envelhentado.
— Substantivamente: Pessoa cuja oda-
de já declina da varonilidado; ancião.
— Um velho.
Passou por alli ura velho,
Um pobre velho soldado.
As barbas brancas da neve.
Em sua espada abordoado.
BOMANCEIBO GEBAL, pag. 26.
— «Aliem dos arcos, e frechas usaS
humas espadas de pao muito duro, e pe-
sadas, com as quaes onde acertam do
primeiro golpe esmeuçaõ qualquer mem-
bro em que tocam, os que matam na
guerra, e alguns dos que captiuaõ prin-
cipalmente os velhos, comem logo, e os
outros vendem, ou levaõ presos em cor-
das com que todos entram triumphando
pellos lugares onde moram, mas a carne
humana que comem naõ he eutrelles cou-
sa geral, porque naõ comem se naò a dos
que captiuam, e tem por inimigos.» Da-
mião de Coes, Chronica de D. Manoel,
pait. 1, cap. Õ6. — «E assi diz que o
conuidaua, e animaua com a grande som-
ma de moços e moças, velhos, e mance-
bos, uiuuas, e virgens, que puderaS le-
uar auante o que ella receaua de come-
ter.» Paiva de Andrade, Sermões, part.
1, pag. 121.
Froxos braços debalde o velho estende.
Triste implora soccorro á Esposa, ao Filho,
Ue seus gemidos espantados fogem ;
Teme a morte em seus ais o Filho, a Esposa.
J. A. DR MACEDO, A NATOEEZA, Caut. 2.
N'um canto do escaler, humilde e absorto
Em pensamentos que não são da terra
894
VELH
VELI
VELL
Um velho, oin quo atoUi iiilo attentariim
IndiffcrcntOHi «llioi, »e a:<rtoiitArn.
Alvojavttin-llie m chiix dii.i loiíjj.is b.irbas
No buvcl negro (|uu lho cobiB u pi^to.
aAllltKTT, fííUlíKHy c:iiit. 1, cuj>. 13.
— Adágios e pkovekuios :
— Ao velho recem-cusado rezar-lhe
por finmlo.
— Muid quero o velho, quo uic honre,
que o iiioyo, (juc luc ad.iuinbre.
— Mo(,'a com velho casada, como ve-
lha se trata.
— N<Titi concorda com o velho a mo^'a.
— Aiiula que seja* prudente, e velho,
níto dcspreze.H conselho.
— Guarda mogo, acharás velho.
— O moço por iiào querer, e o velho
por não poJer, deixam as cousas perder.
— Hajamos paz, inurrcrcnlos velhos.
— Pei\lc-se o velho por não poder, e
o moço por não saber.
— O moço de bom juizo quaudo velho
é adivinho.
— Quando o velho se nTio ouve, ou 6
entre noscios, ou cm açoup:ue.
— Velho que não adivinha, não vai
uma sardinha.
— Quem quizer ser muito tempo ve-
lho, comoce-o a ser cedo.
— Não ha moço doonta, nem velho
bSo.
— Não digas ao velho que se deite,
nem ao nieniuo que se levante.
— Quem cm velho engorda, do boa
mocidade se logra.
— O velho e o peixe ao sol appare-
cem.
— (-) velho que se cura, cem annos
dura.
— U velho a estirar, o diabo a arru-
gar,
— O moço dormindo pilra, o o velho
se acaba.
— Se queres viver são, i'aze-te velho
autes do tempo.
— O velho na .sua terra, e o moço na
alheia, sempre mantém de sua maneira.
— Velho amador, inverno com llòr.
— Arrenegae do velho que não adivi-
nha.
— Homem velho, sacco de azares.
— O amor no velho traz culpa, mas
no mancebo tructo.
— Por velho que seja o barco, sempre
passa o vau.
— A perro velho não digas buz buz.
— A contas velhas, baralhas novas.
— Aproveita-te do velho, valerá teu
voto CU' conselho.
— Do velho o conseliio.
— O velho muda o conselho.
— Em o velho e menino o beneficio é
perdido.
— O velho torna a engatinliar.
— 8e queres bom conselho, pede-o a
homem velho.
— Velho centenário.
— Velho, Como a serpe.
— Velho gaiteiro, velho menino.
— \'inlio velho, amigo velho.
— <Juio velho.
— Niuguem ho mais velho, quo o
tempo.
— Saúdo <le velhos 6 nmi remendada.
— Não ha melhor espelho, que amigo
velho.
— A burra velha cillia amarella.
— A velha galliuha faz gorda a cozi-
nha.
— Burra velha de longo aventa as pe-
gas.
— A cavallo novo cavalleiro velho.
— P.'io molle, e uvas, as moças pCe
nmdas, e aos velhos tira as rugas.
— A casas velhas portas novas.
— i'ae velho, manga rota, não é des-
honra.
— Come menino, criar-te-has, come
velho, viverás.
— Por novas não penareis, far-se-hão
velhas sabel-as-heis.
— Mal vae á corte, onde o boi velho
não tosse.
— A mula velha cabeçadas novas.
— Quem tem velho, não tem novo.
— Tomar atalhos novos, e deixar ca-
minhos velhos.
— Carne nova de vacca velha.
— Boi velho, rego direito.
— A boi velho não cates abrigo.
— A boi velho chocalho novo.
— Não ha cousa velha, se é dita a
propósito.
— Syn.: Velho, ancião.
Velho exprime simplesmente o homem
quo tem chegado á edade da velhice.
Ancião Junta á idêa do velho a de au-
ctoridade; é o velho respeitável e esme-
rado pela sua sabedoria e probidade.
VELHORI, (idj. m. — Cavallo velhori ;
pariio-einztnto.
VELHOSINHO, «. vi. Velho fraco e can-
çado, velliiaho.
VELHOTE, s. in. Termo popular. Ho-
mem velho ilc bom açraJo.
VELHUSCO, s. íu. Homem velho, edoso.
VELHUSTRO, s. in. Termo popular.
Homem vcUio, ancião.
VELICAÇÃO, s. /. Vid. Vellicação.
VELICE, 4. /. Vid. Velhice.
VELIDA, s. /. Vid. Belida.
VELIFERO,*A, adj. (Do latim veli-
fer). Termo de poesia. Que leva velas
náuticas.
VELILHO, s. VI. Lençaria mui tina
para véus, cortinas de nichos, câuias,
etc.
VELINHA, s. /. Diminutivo de Vela.
Pequena vela.
— Termo de cirurgia. Tenta de cera
para a urcthra, ou envernizaila do gonima
borracha, ou elástica; são solidas ou ôcaí,
para por estas sair a urina, conservadas
na urethra.
VELINO, aJj. VI. (Do franeez velin).
Papel velino; papel que Imita a alvura
e o uiii<io rio perKainii:tio.
VELISCAR. Vid. Beliscar.
VELISCO, t. 711. Vid. Belúco.
VELITES (do latim veliUt). \'id. Solda-
dos iclfÃroB.
VELIVAGO, A, adj. (Dn latim vtU, e
vaijuin\. Que navega e vaga pelo mar,
movido pido impul-o daa velaâ.
VELIVOLO, A, adj. (Do latim vtlivo-
lust. Termo de poedia. Que vúa com as
velas, efiitheto dado aos lutvioa.
7 VELLA, ». /. Vid. Vela. — •£ pare-
cendonos que serião gelvas, ou tan&daa
da outra costa, fomos guLiiaudu a cilas a
vella, e a remo, porque ja neste teiupo o
vento nos hia acalmando, e cõ tulu por-
fiamos tanto nesta ida, que em espaço de
quasi duas horas nos chegamos tam per-
to delias que lhe enxergamos toda a
apellação dos remos, conhecemos que
eram {,'aleotas de Turcos. • Fernão ilcn-
«les Pinto, Peregrinações, cap. 5. — «E
fazeridonos á vella cos tre.s juncoí;, e com
a lorcha em que viéramos de Patane,
casteamos a terra com ventos ponteyros
de hum bordo no outro, até hum morro
que se dezla Tilaumera onde surgimos,
porque a corrente da agoa era contra
nós.» Ibidem, cap. 47.
E porque sendo assaz exercitados
Koâ officios navaes, e oi cntcudiâo,
E 3í! c.iinpria ter peitos ousados
Tambdm a espada e a lani;a n-volviâo,
Ora servem de bons, fortes soldadOB
Ora ás cousas navaea se couvi-rtiâo,
Assi quaudo 30 o duro imigo otTcnde
Coiuo i(uaudo uo mar se a vella estende.
r. D'ANDnADE, PBIMSIBO CSBCO DB DICjCAOt. 12,
est. 111.
Em quanto di Mesquita cata resposta
Sou curso a nobre nrm:ula iiào detinha.
Mas cora a veila inchad;i, c em alto posta
Sempre polo salgado mar caminha.
iDiDEM, cant. 6, est. 34.
Li'vanta a vella a voz cm vendo o imigo
I luma c outra vez a grita alta repctte,
1)h rebate aos Christàos deste pcripj
E da gente que os muros accommctte:
Mas como cntào ao doce somno amigo
Inda a cansada gente se submctto,
Não SC pv''de este mal que cstl ja á porta
Com tal prcs3;i atalhar quanta lhe importa.
iBiDKM, cant. 10, est. 57.
VELLAR, V. a. Pôr veu. Vid. Velar.
VELLEANO, adj. m. Termo de direito
romano. Óenatus corisulto velleano; de-
creto do senado romano, que dispunha
que a nnilher não se podessc valiosajnen-
te obrigar por outrem.
— Substantivauieaite: O beneficio do
velleano ; que auuulla as obrigações con-
trahidas pelas mulheres em certos casos,
a favor de outrem por quem se obriga-
ram.
VELLEIDADE, *. /. (.Do latim vdUi-
VELO
VELO
VEM
895
tas). Termo de escolástica. Vontale pouco
effieaz.
j- VELLEJAR, V. n. Vid. Velejar. — «E
vellejando desde huma hora ante menham,
que savmos do porto, fomos com ventos
bonanças ao lonjro da costa até quasi a
véspera, e sendo ja tanto avante como a
ponta do Oocào, antes de cheerarmos ao
ilheo do ariecife, vimos três vellas sur-
tas. • Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. f^.
VELLICAÇÃO, s. f. (Do latim vellica-
tio). Termo de medicina. Belliscào, ou
pungimento para irritar, excitar.
— Pungimento das partículas acres cor-
rosiva^.
VELLICAR, V. a. (Do latira veUicare).
Termo de medicina. Belli.-^car, pungir.
VELLICATIVO, A, adj. Que punge, que
irrita.
1.1 VELLO, «. m. (Do latim vellus). O
pello. — O vello Joi carneiros.
— O vello de ouro do carneiro da fa-
bula.
— Lã cardada, e empastada.
— A pelle com os vellos.
— Figuradamente : Vello da barba
longa.
2.) VELLO. Termo antiquado. Velho.
VELLOCINO, s. m. Carneiro da fabula
que tinha o vello de ouro.
VELLOSO, A, adj. Que tem vellos, e
longa guedelha. — O leão velloso.
— Figurailamente: Diz-se de certas
plantas e fructos.
— Homem velloso ; homem não calvo.
VELLUDADO, ou VELDTADO. Vid. Ave-
lutado.
VELLUDILHO, s. m. Termo usado. Te-
cido de seda ou de algodão imitando o
velludo, menos coberto e menos encor-
pado que o velludo.
VELLUDO, *. m. Seda com pello alto,
vulgar.
— Flor velludo. Vid. Amarante.
— Adjectivamente : Vid. Velloso.
f VÊL-0, por Vêr o, pela figura anti-
these; indica o infinito do verbo ver. —
«Que ainda que lhe pesasse das suas
obras irem tão avante pola quebra de sua
corte, desejava vel-o sào. que natural é
dos corações piedosos ainda do mal de
seus imigos haver dó.i Francisco de Mo-
raes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 84.
Kcste momento sua Senhoria
A jvjrta chega, e o graõ Consulto, ao ve-lo.
Logo o rústico delia, e vai busca-lo.
A. DISIZ DA CBCZ, HTSSOPE, Caut. 4.
O Bol já sepultado s6 por vêl-a,
sem poder de Xeptiino ser detido,
colloca o plaustro douro junto d'ella.
BISPO r>o GRÃO PARÁ, MEMORIAS, pag. 7T.
•{■ 1.) VELO. Forma do verbo velar na
primeira pessoa do singular do presente
do modo indicativo. Vid. Velar.
Torna Baccho dizendo : Xão conheces
O grão legislador, que a teus passados
Tem mostrado o preceito, a que obedeces,
Sem o qual fôreis muitos baptizados V
Eu por ti, rudo, i-elo. c tu adormeces?
Pois saberás, que aquclles que chegados
De novo são, serão mui grande dano
Da lei, que eu dei ao néscio povo humano.
CAM., Lcs., cant. 8, est. 49.
2. VELO, s. m. Veu de cobrir alguma
cou^a.
VELOCES, phir. de Veioz. Vid. Veloz.
VELOCIDADE, í. /. (Do latim vdoci-
tas): Movimento veloz, rapidez. — A ve-
locidade d-o pensamenio. — A velocidade
da revolução de um astro. — A veloci-
dade 'la sua carreira.
^- A brevidade.
— O ser veloz.
— Stx. : Velocidade, rapidez.
A velocidade exprime genericamente
o movimento prompto ou accelerado d'um
corpo ; porém rapidez parece que accres-
centa mais energia á idéa, mais Ímpeto
ao movimento, representando ao mesmo
tempo o esforço violento com que o corpo
corre, e com que corta ou separa qual-
quer difficuldade com resistência que
possa oppôr-se-lhe.
D'uma torrente pôde dizer-se que des-
ce com velocidade rs montanhas; porém
sé se disser que desce com rapidez, offe-
rece-se á imaginação, com mais energia,
o movimento impetuoso com que se pre-
cipita, sem que haja obstáculo que possa
contel-a.
O. fogo eleva-se com velocidade, e con-
some uma casa com rapidez. D'aqui vem
que a rapidez só se applica á acção, e
não ao agente. PAde ser rápida a car-
reira d'uni cavallo, o vôo d'uraa águia ;
porém nem o cavallo, nem a águia sào
rápidos, senão velozes.
0 mau exem)ilo faz rápidos progres-
sos. Um general faz rápidas conquis-
tas.
1 VELOCIFERO, A, adj. (Do latim ve-
lox, e ftrrc). Diz-se das carruagens pu-
blicas cujos empresários affixam a pre-
tenção de ir com uma grande rapidez.
— Antigo nome do velocípede.
I VELOCÍPEDE, s. m. (Do latim ve-
lox. e pfAes). Espécie de cavallo de pan,
collocado sobre duas rodas, no qual se
collocavam em equilíbrio, ao passo que
se dava um movimento d'impulsão adian-
te com os pés. No velocípede moderno
03 pés são coUocados sobre estribos em
forma de manivella que fazem mover a
grande roda, e produzem uma grande
velocidade.
7 VELOCIPEDISTA, s. m. Homem que
vae snlire velucipede.
VELOCISSIMAMENTE, adv. (De velo-
císsimo, e o -uffixo ^( mente i)\ >Superla-
tivo 'le Velozmente. ílui velozmente.
VELOCÍSSIMO, A, adj. superl. de Ve-
loz. Mui veloz.
VELÓRIOS, í. m. phir. Vid. Avelo-
rios.
— Uvas miudinhas, que não servem
para comer, nem para víuhô.'
VELOZ, adj. 2 gen. (Do latim velox).
Que se move, passa com velocidade. —
«To los 03 da Complexaõ Mereurial sa3
agudos, velozes, deligentes, sábios, e de
subtil engenho. Saõ grandemente aptos
para a coraprehensaõ de qualquer scien-
cia, ou arte. Xas conversas, saõ deverti-
dos, noticiozos, promptos, e sociáveis. Xaõ
ha couza occulta que naõ esquadrinhem,
nem idea árdua em que não entendaõ.»
Braz Luiz d'Abreu, Portugal medico,
pag. 3.34, § 163. _
— Apressado, ligeiro, rápido. — Galgo
veloz. — Navio veloz.
Parte logo o subtil ir/or navio
A cumprir o que então a cargo tinha,
Miguel Vaz iielle o mando c senhorio
Leva, segundo alcança a historia minha;
Esprito de temor assaz vazio.
Fende a proa a quieta onda inarhiha,
Xera o favor do vento lhe fallece.
Que tudo a seu intento favorece.
rEANcisco d'andrai)K, primkibo chbco rm nrc,
oant. 12, est. 36.
— Adverbialmente: Partir veloz.
Mas, já grave:
• Já tens tua Ama, ob filha de Dcmídoco,
E a caza, e o Páe não longe. Deos te guarde.»
Parte veloz, sem que a resposta escute.
F. M. DO N.VSCIMENTO, OS MABTTSES, 1ÍV. 1.
VELOZMENTE, adv. (De veloz, e o suf-
fixo «mente"). De um modo veloz.
VELUDO. Vid. Velludo.
7 VEM. Forma do verbo vir na ter-
ceira pessoa do singular do presente do
modo indicativo. Vid. Vir.
Eis Job vem fallando ha gr.ande pedaço,
Triste com causa dç ter gran tristeza.
Oh quantos haveres e quanta riqueza
Perde aquelle homem era tão pouco espaço.
OII, VICENTB, AUTO DA HISTORIA DK DECS.
Por mais que a minha soberana Alcida
(Minha não, porque só sua beileza
Vem a ser minha em sor de mi querida)
Me trate vezea mil com aspereza :
Huma só vez que delia acho admittida
Minha pequena vista na grandeza
Da luz do rosto seu, sinto tal gloria.
Que de todo o penar perco a memoria.
CAM., KGLOGA 14.
E vem a gravidade,
Com a viva alegria
Que misturada tem de qualidade.
Que huma da outra nunca se des^'ia ;
Nem deixa de ser huma receada
Por leda e por suave,
Nem outra, por ser grave, muito amada.
CAM., ODES, n." 6.
«Porque além de não ter cousa, em
896
VEM
VEM
VENC
que huma borva lance, raiz, faz-se dous,
e três anno.s que iiào chove per toda
nquella Comarca, e qiian<lo vem esta
agua, he do'trovoaila (|ue paspa logo; e
ainda que houvesse algum arvoredo na
parte contra o mar, ho tão lavado dos
ventos do Levante que entram pelas por-
tas do estreito, (|uc tudo seria oscaidailo
como nascesse.» Ijarros, Década 2, liv. 7,
cap. H.
Vem formosura minha, e so castigo
Duro mo qucroa diir, não te mo escondas,
Nem me dcMxes hm\ morto num ponto
Quo cõ moiTor do hum í;<^lpe, nào te vingas.
Mas firma nos meus olhos esses rayos,
Formosos como o Sol, como oUo puros,
Dftrmeas cada momento cem mil mortos.
Se te prezas cruel de vnigatiua.
cORTr. nr.AL, NAUFiiAOio DE SErCLVKDA, cant. 6.
— «E por íím de contas vem a resi-
dência, 6 alcança os sobreditos em mui-
tos contos. E estes saõ os confidentes da
nossa Republica, que fazendo-se proprie-
tários do alheo, alienaõ o que não lie seu,
e daõ atravéz com os thcsouros alhevos.»
Arte de furtar, cap. 61. — «E despedio
logo dous navios ligeiros, em que man-
dou 8imaõ da Costa, e Miguel Colaço, e
lhes deu por regimento que se fossem pôr
no cabo de Rosalgate, atè quo se acabas-
se o mez de Agosto, que era a monção
cm que vem de Jleca pêra aquelle Es-
treito, e que haveudo vista das galez
sendo mais de vinte, Simaõ da Costa se
fizesse na volta da índia, e fosse dar
as novas ao Visorey, c quo Miguel Co-
laço voltasse pêra Ormuz, e fosse dando
aviso a todas aquellas povoaçoens de Co-
riate, Calayat.í, Mascate, e outras pêra
estarem negociadas, e sobre aviso.» Dio-
go de Couto, Década 6, liv. 10, cap, 1.
K com ([uanto hia em tanto crescimento
Aquella fraca gente, miserável,
Que quasi lho faltou recolhimento
Por sor cila ja quasi inuumeravcl:
Não lhe faltou comtudo mantimento,
A terra não o dá (cousa admirável),
Jtas de fiSra lhe reia ci^pia tamanha
Que farta a natural, c a gente estraulia.
r. dVnmiradg, pmuiuro crrco dg dic, cant.5,
Cít. 47.
Receia Acefarcjio, e não o nega.
Que o que manda o Baxá ninguém o quebra,
Vem o thesouro ao Cairo, e se lhe entrega
Sem detrimento algum, sem perda ou quebra,
Depois que cm vè-lo algum tempo se emprega
K ora se espanta delle, ora o celebra,
Ao Turco o faz saber com brenidade
Creio que com mais medo que vontade.
IBIDEM, cant. 12, est. 7"2.
K dando-a a hviin, de quo vem acompanhado
Que do Mafoma segue a immuuda seita,
■Manda quo dentro a deito ; cUe chegado
Com pressa .ao baluarte, dentro a deita ;
Kecolho o Sousa carta, e com cuidado
Faz com que elJa ao Silveira v,á direita ;
Faloiro, que lh"a vê na mio ja posta.
Lho oncommenda a prcstrza da resposta.
iMiDKM, cant. 15, est. 10.
— «Porque a soberba nSo nace BcnJlo
de trazerem os homens sempre os ollios
e pensamentos em cousas baixas o hu-
manas, o os liumildes de ter essas em
pouco, e trazerem os olhos nas grandes
e divinas, lhe vem t^jrso em pouco a
si também, e aucr que f|uanto tom nâo
ho nada.» Paiva d Andrade, Sermões,
part. 1, pag. 1;57. — «(J adverbio j/kí/,
quando anteposto a ferido, era legiti-
mo Portuguez, augmcnta que nSo di-
minuo a força do p.irticipio. Um homi^m
nt(il-fen'(lo c um homem gravemente fe-
rido, ^las ferido nem sempre vem na si-
gnificação natural; annudo se toma em
sentido translato ; poia dizem nossos bons
escriptores : « batalha nial-ferida» por «ba-
talha mui travada e renhida» ete.» (No-
ta da primeira edição). Oarrctt, Camões,
nota F ao canto 1.
Emfim d'Africa ardente vem nascendo
Por entre ásperas brenhas dilabidas (o Nilo).
SOL. DK MOURA, KOV. DO HOU., Caut. 1, CSt. 46.
f VEMOS. Fi^rma do verbo vêr na pri-
meira pessoa do plural do presente do
modo indicativo. Vid. Vêr. — « Porque
sempre ahi ouuo Reys e Príncipes em
Espanha desejosos de grandes empresas,
e tam cubiçosus de buscar, e descobrir
nouos estados como o Infante: e naõ ve-
mos nem lemos em suas chronicas que
mandassem descobrir esta terra, tendoa
por taò vezinha.» Barros, Década 1, liv.
1, cap. 4. — «Para o qual nos ho neces-
sário fazermonos prestes nuiyto depressa,
como quom forçadamente ha de passar
outro mnyto mi'ir trago que este em que
nos agora vemos, tomando cõ paciência
isto quo da mào de Deos nos he dado, e
nSo te desconsoles por cousa que vejas,
e que o temor te ponha diante, porque
considerado bem tudo, pouco vay em ser
mais ojo que a mcnham.» Fern.ào Men-
des Pinto, Peregrinações, cap. 23.
Sujeição he, quo poz a natureza
Ao peito que he mortal, ser avarento,
K desta sujeição, desta avareza
Não vcmoi' escapar hum eutre cento.
Nem somente dos bens e da riqueza,
Mus também do segredo c pensamento
Faz a avara intenção, a que esta entregue,
Que qualquer busque o alheio c o próprio negue,
r. d'anduadr, fbisieiro cerco dk Diu,cant. 4,
est. 2.
— «E assim vemos os Clérigos sugei-
tos :\s Icys Civis, quo olhaõ pelo bem
commura ; como as que taxão os preços
das couzas, as que irritaõ contratos, as
que prohibem armas, cfcc. C-oncordift.»
Arte de furtar, cap. bO. — «He ella de
qualida'le que ordinariamente a vemOS
MÓ ou mal acompanliiida, porem em V.
E. encontra-se com huma fermusura en-
cantadora, com hum onteudiíiieiitu bri-
lliantc, o com huma geoerosidade tão
grande (|uc iguala ao seu iliustre nasci-
mento.» Cavallciro d'01ivcira. Cartas,
liv. 3, n.'' -JO.
VENABLO, •. m. Espécie de dardo,
u=iadi) na nionteria.
— Arma doe tribunos militares roma-
nos ; outr'ora era talvez insígnia. Vid.
Venabulo.
— Arma ou insígnia militar qno o al-
feres trazia, e ia apresentar ao general
quando entrava na j)raça.
VENABULO, *. m. íDo latim venaba-
lum . \'id. Venablo.
l.i VENAL, (idj. 2 gen. (Do latim «»-
nalis). Qne se vende, quo p&dd Vender-
se, fallando dos carpos, officios.
— Valor venal ; o valor actual d'uma
cousa no commercio.
— Figuradamente : Que nSo obra se-
não por interesse e por dinheiro.
— Producques venaes ; commerciaes,
para venda, e negocio, para mercado;
merca vel.
— Que se deixa peitar para obrar mal,
que .-e fixz por peitas e daiiivas corru-
ptoras.— Juttiça venal. — Emprajot ve-
naes.
— Vida venal; vida que está expos-
ta a tniições da gente venal.
•2.) VENAL, adj. 2 gen. (Do latim fi-
na). Termo de anatomisi. Da veia. —
tíaiiffue venal.
VENALIDADE, s. f. (Do latim venaJi-
fa$). Qualidade do que é ]>ara vender.
— Figuradamente : A venalidade da*
consciências.
— O abuso de se vender o qne se de-
ve A justiça ou ao merecimento, do tor-
cer a justiça por peitas. — A venalidade
dos i,jiiiii'S.
VENALMENTE, adv. (De venal, e o
sufSxo «mente»). De um modo venal.
— Com venalidade.
VENARIOS, í. VI. plur. Termo anti-
quado. Vindiços, que chegam do fora a
uma terra, estrangeiros. Vid. Barrarios.
VENATORIO, A, adj. iDo latim i«fia-
toriítvi). Que diz r&speito á caça. que
lhe é relativo.
— 5. /. .\ arte da caça.
VENATURA, *. /. Termo antiquado.
Caça de veaç.ío. Vid. Veação.
VENCEDOR, A, adj. e #. Qne ficou vi-
ctorioso. — «Vencedor dos vascouios, —
gritou, rindo diabolicanicute, o conde de
Septum — olha por ti ! Nas margens do
Chiryssus não ha taças de vinho, como
aquellas com que te embri.Tgavas nos
paços do teu senhor. Aqui o que corre é
sangue.» Alexandre Heiculano, Eurico,
cap. 10.
— Victorioeo.
VE¥C
VENC
VEXC
897
Já ficou vencedor o Lusitano,
Recolhendo os tropheos, e presa rica :
Desbaratado, e roto o Mauro Hispano,
Três dias o gxào Rei no campo fica,
Aqui pinta no branco escudo ufano
Que agora esta victoria certifica.
Cinco escudos azues esclarecidos
Em signal destes cinco reis vencidos.
cxu., Lus., cant. 3, est. 53.
— Armas vencedoras ? armas victorio-
sas.
— Que ganhou a causa ou*a demanda.
— Bandeiras vencedoras ; bandeiras
victoriosas.
VENCELHO, s. m. (Do latim vincire).
Atilho de palha para atar as paveas. Vid.
Baraço.
— Em itm vencelho ; juntos.
— Alguns dizem que vencelho é o
gavião.
VENCER, V. a. (Do latim vincere).
Levar a melhor do inimigo, ou contrario,
que se desbarata na batalha, ou briga. —
«Da mesma sorte venceo aos Castelha-
nos na famosa batalha do Amexial, sen-
do Governador das Armas D. Sancho
Manoel, Conde de Villa-Flor. Havia en-
trado pela Provinda do Alem-Téjo D.
Joaõ da Áustria, filho natural de Filippe
IV. com hum exercito digno de taõ gran-
de (Teneral.» Frei Bernardo de Brito,
Elogios dos reis de Portugal, continua-
dos por D. José Barbosa.
Contra nossa Fce pregando,
e do Papa brasphemando,
dos Bispos, dos Cardeaes,
venceo batalhas campaes
ha gram gente do seu bando.
GABCIA DE BEZEXDE, MISCELLAIÍE A .
— a Porém desembarcados em terra es-
tes poucos soldados, abrirá o Oriente os
olhos ao segredo de nossas forças, e to-
dos estes Príncipes trabalharão por rom-
per a franqueza das prisões, em que os
tema? atados. Gloria foi do Império Ro-
mano, vencer muitas batalhas Quinto
Fábio Máximo, depois foi salvação escu-
sar um.» Jaclntho Freire d'Andrade,
Vida de D. João de Castro, liv. 2.
— Vencer em juizo ; ganhar a causa
ou demanda.
— Exceder, ser maior. — «Nomea de-
pois alguns homens afamados neste exer-
cicio, e mostra o excesso que nelle teve
o nosso Portuguez Diocles, pois além de
o engràdecerem os titules dos outros a
quem venceo, os seus próprios o fizeraõ
singular e excelente sobre quantos teve
Roma naquelles tempos.» Monarchia Lu-
sitana, liv. õ, cap. 4. — «No seu esta-
do presente tem de attender a mil res-
guardos, que para corações delicados são
outras tantas obrigações; e essas, quem,
a não ser o Amor, vencê-las pôde? Quem,
a não ser cu, arrazoará diante de Su-
zanna a sua própria causa?» Francisco
VOL. T. — 113.
Manoel do Nascimento, Successos de ma-
dame de Seneteríe.
Dias sem sol, tormentas pavorosas.
Negros Ceos de relâmpagos rasgados,
Densas nuvens do sul tempestuosas,
Trovões medonhos, raios abrasados ;
Parceis occultos, syrtes arenosas.
Onde se erurolem mares empolados,
A natureza em convulsões, o tudo
lence o que embraça da Virtude o escudo.
J. A. DE MACEDO, O OBTENIE, Caut. "2, CSt. 43.
— Vencer a natureza; as resistências,
os contrários que ella oppõe.
Forão já vossos pais nos esquipados
Lenhos, do Cafre aoa estuautes lares,
1 e/ioe/tdo a natureza, e os empolados.
Não vistos dantes, temerosos mares:
Ide exceder seus feitos sublimados.
Indo no Hydaape consagrar altares,
O Deos do Ceo vos abençoa, e chama.
Dai domiuioà á fé, e ao Tejo fama.
j. A. DE MACEDO, OKiEsiE, caut. 1, est. 68.
— Vencer uma opinião; ser superior,
ficar excedente. — «Que remédio para
lhe impedir a jornada? Desfazer nelle
era impossível, porque sua opinião ven-
cia, e acamava até á própria inveja. De-
raõ em fazerem elogios, e pregar encó-
mios delle a Sua Magestade, e que o
mandasse logo, que assim convinha.»
Arte de furtar, cap. 13.
— \ iugar, anu ar.
— Cobrar, adquirir, alcançar.
— Vencer as paixões ; refreal-as, mo-
ditical-as.
— Vencer em dias a alguém; sobrevi-
ver-lhe.
— Vencer o caminho; chegar ao ter-
mo d'elle.
— O somno vence os homens; apossa-
se d'elles a pezar seu.
— Vencer covi as bombas a agua que
o navio fazia; dar cabo d'ella, esgo-
tal-a.
— Vencer soldo, soldada; vencel-a pelo
trabalho de certo tempo.
— As paixões vencem o homem; fa-
zem-uo obrar o que ellas mandam, ape-
sar da resistência que se lhes oppõe.
— Vencer algian espaço voando, mar-
chando; chegar a elle, vingal-o.
— Vencer o caminho; chegar onde se
quer, Lmital-o.
— Vencer alguma cousa a alguém; cc-
bral-a d'elle por sentença sobre a de-
manda.
— V. n. Ficar victorioso.
— 'Vencestes, cavalleiro; as armas ponho.
Façanha heis feito de homem, que imitada
De muitos não será. Meu repto é nullo.
Por vencido me dou em leal batalha :
De mim dispondo.»
GABBETT, CAMÕES, CSUt. 9, Cap. lÕ.
— Vencer-se, v. reji. Ser vencido,
render-se ás razões, á formosura das sup-
plicas, importunações.
— Acabar o praso, chegar ao seu
termo.
— Refrear o Ímpeto do génio, reprimir'
as paixões.
— Vencerem-se dores de caheqa ; dea-
apparecerem . — « Em huma criada de mi-
nha caza se vencerão naõ sò por humas,
mas muytas vezes dores gi-andes de Ca-
beça applicando atrás das orelhas nabos
assados com todo o calor soffrível.» Braz
Luiz d'Abreu, Portugal medico, pag. 225,
§322.
— Ad.vgios e provérbios:
— Vencer ás mãos lavadas.
— Vencer-se a si é mais que vencer o
mundo.
— Vencer língua é mais que vencer
arraiaes.
— Quem cala, vence.
— Quem quízer vencer, aprenda a sof-
frer.
— No sofirer, e abster está todo o ven-
cer.
— Quem sofireu, venceu.
— Accommetter para vencer.
— Despreza teu inimigo, serás logo
vencido.
— De ruim a ruim, quem accomraette,
vence.
VENCIDA, s. f. Acção de vencer, de
ser vencido.
— Ir de vencida; ir vencido, e desba-
ratado.
— Levar de vencida ; ir seguindo o
inimigo vencido.
VENCIDO, part. pats. de Vencer. Sub-
jugado, superado.
Depois que a tal estado me chegaste
A tanto mal, e a tanta desuentura
Depois que ja vencido me deixaste
Atado, e sem remédio, em prisão dura.
Despois que a vida, e alma me leuaste
Negas me poder ver tal fermosura?
Quem te moue senhora a tal dureza?
Que faz igual em ti ódio e belleza?
OOBTE BEAL, NADTBAQIO DE SEPÚLVEDA, CSut. 7.
— Alcançada alguma cousa difficulta-
da, contestada.
— Ficar vencido em juizo; perder a
demanda.
— Diz-se entre os vogaes em maté-
rias, que vão a votos, d'aquelle parecer,
que se accordou á pluralidade de vo-
tos.
— Vencido por juizo; convencido do
delícto, condemnado na demanda,
— Soldada vencida; soldada ganhada;
soldada cujo tempo de a merecer é ajus-
tado, chegado.
— Figuradamente : Vencido do sovino,
do amor, efe; rendido dVlles.
— Ficar vencido alguém ; diz-se quan-
do maior i umero de vogaes foram de ou-
tro parecer.
VENCILHO, s. m. Vid. Vencelho.
VEND
VEND
VEND
VENCIMENTO, s. m. Victoria paiilia
por .alunem.
— Soldada vencida.
— O sor clipgado o dia do píií^amento
da divida, lotra do cambio, ctc.
— O sor vencido.
vencível, aJj. 2 (/eu. Quo é possível
veiicer-sc.
— líjnornncia vencível; aquella de quo
al;^acui se pr>dc tirar por meio da sua di-
ligencia inquirindo, averiguando.
— Figuradiunouto : Dificuldade ven-
cível; cni baraço.
1.) VENDA, s. /. AUioaçíIo da cousa
por corto preço.
— Desatdv a venda ; dissolver, desfa-
zer.
— Pôr de, venda; expor :l venda.
— Figuradamente: Pôr de venda; fa-
zer venal.
— Sustentar a venda ; domoral-a para
fazer caro.
— Termo antiíjiiado. Laudomio.
2.) VENDA, í. /. Taverna de estrada,
estalagem do eampo.
— Adacio e puovicuiiio :
— O bom vinho a venda traz com-
sigo.
:?.) VENDA, s. f. Faxa de cobrir os
olhos, quo ise collocava ao que ia a mor-
rer por justiça, ou sacrificado; a quem ia
pedir paz o acolhimento.
— Faxa com que os antigos ornavam
03 ranms insígnias de paz.
— Figuradamente : Cegueira.
— Fita, faxa.
— Insígnia com que se representa a
justiça, c n'ella a imparcialidade.
— Faxa colloeada nos olhos ao Amor,
por synibolo de sua cegueira.
VENDADO, i>'irt. pass. de Vendar.
— /)('«« vendado; Cupido, o Amor.
— Atado com venda.
— Figura lamente : Escurecido, cego.
— Os olhos vendados ; os olhos cober-
tos com uma venda.
VENDAGE, ou VENDAGEM, s. f. A
acçSo de vender.
— O que se paga ao corretor, ou an-
tes a quem vende cousas de outrem.
VENDAR, V. a. Cobrir os olhos com a
venda.
— Figuradamente : Escurecer, cegar.
— Vendar os olhos. Vid. Cegueira.
— Figuradamente: Vendar a razão.
VENDAVAL, s. vt., ou adj. — Vento
vendaval ; de baixo, do sul.
- Vento forte, inclinado ao poente.
VENDAVEL, adj. 2 gen. Que tem boa
venda, o saída.
VENDEÇAO, s. /. Termo antiquado.
Vinilicta, vindicaç.ão.
VENDEDEIRA, s. f. Mulher que vende
nas pr.u.as, foiras, mercados.
VENDEDOmO, s. m. O logar onde as
vendedeiras vendem as cousas do seu ne-
gocio; o onde se vende o vinho por miú-
do em alpendre junto da adega.
VENDEDOR, A, «. l'essoa qufi vende
alL'uma ciii^a.
VENDEIRA, ». /. .Mulher que vendo
em taviTiia.
VENDEIRO, «. m. Homem que tem
venda ou taverna.
— .AiiAoio K puovKiinio:
— Ninguém H3ría vendeiro, se nSo fos-
se o dinheiro.
VENDER, V. a. (Do latim vend/íre).
Alhear alguma cousa por preço. — Ven-
der os fructos por grosso, ou a retalho. —
«(Jutro sy 08 ditos Mercadores Estran-
geiros trazendo pilnos, ou outras merea-
dorías de fora de nossos Regnos, c des-
carregando no dito llegno do Algarve,
quando venderem os ditos panos, e mer-
cadorias no dito Regno, quo possam ven-
der os ditos panos om grós, e a peça» in-
teiras, pela guisa que suso dito he, e
mandamos que .as vendara na Cidade de
Lixboa.» Ord. Affons., liv. 4, tit. 4, §
l."""». — «Outro sy, que nenhum dos Mer-
cadores per sy, nem por outro algum
nom ])ossa enuíar fora da dita Cidade os
sobreditos panos, e mercadorias para as
vender em gros, e retalhar per outros lu-
gares dos nossos Regnos, salvo quo os
possam Icvíir da dita Cidade de Lixboa
j)era o Regno do Algarve, pêra os ven-
der em gros nos lugares do dito Regno a
juso devísados, pela guiza que os vender
devem na dita Cidade de Lixboa.» Ibi-
dem, tit. ."i, § 13. — «E se a penhora
for feita pelo Porteiro, e elle nom vender
os penhores, salvo o Pregoeiro, cntom
leve o Porteiro a penhora, e o Pregoeiro
sua remataçom da venda, como suso he
declarado. E se a penhora for feita em
bens de raiz, leve de sua penhora cinquo
rcacs, e da remataçom de cíncoenta reaes
hunm, ataa que chegue a duzentos bran-
cos, e mais nom, pêro que os bens mais
valham.» Ibidem, lív. 1, tit. 43, § 2. —
«Outro sy, porque os panos colorados, e
pardos, que se vendem aas v.aras, nom
vêem em medida certa, nem som as pe-
ças de certa mediçom, mandamos, que os
ditos Mercadores, que taaes p.^nos trou-
uerem, nom possam vender retalhos me-
nos de vinte varas por retalho; pêro se
algunt trouver menos de vinte varas, que
elle possa vender essas que trouver em
gros, nom as retalhando, sem pena algu-
ma...» Ibidem, lív. 4, tit. 4, § !-• -7
«Negrinhos, mulatínhos filhos d'e3tas, são
os mesmos diabos, ladinos, e chocarrci-
ros, por castanhas trazem, e levam reca-
dos :ls moças, e são d'ellas favorecidos.
Ciganas, ermito.as, adelas, mulheres que
vendem garavins, e bolotas para lenços;
outras que trazem dotes, c 03 dão mais
baratos do que valem, tudo i*: malissímo.
Mudas é peçonha. » Fernão Soropita, Poe-
sias e prosas inéditas, pag. 82. — «An-
tónio de Faria despois de lhe dar graças
por quanto a propósito lhe respondera a
suas preguutas, lhe rogou muyto que lhe
dissesse em que porto lhe aconselIuTa
que fosse vender aquella fazenda, que
fosse mais seguro, e de milhor gente, pois
não tinha monção para passar a LS[iooy>
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações,
eap. 45 — • No cabo do qual se não paga-
uam lhes vendiam seus moueÍH, >■, enxo-
vaes, publicanioiitc emprcgal> per muito
menos do que valião pela qual deshuma-
nidade os mais dos executores denta Cru-
zada ouuerão ma fim, de que na<5 quero
dizer os nomes, por os filhos, c netos dal-
guns destes ainda viverem.» Damilo de
ííoes, Chronica de D. Manoel, part. 3,
cap. 56. — «Como os que andaS de ter-
ra em torra vendendo unguentos para to-
das as enfermidades: em Castella os vi
applaudindo seus medicamentos pelas pra-
ças ; e para prova do sua efíícacía passa-
va5 com estacadas suas próprias tripas
fse naò eraò a« de algum carneiro) e un-
tando a ferida se davaõ logo por saòs. >
Arte de furtar, cap. 31.
— Vender uma mullur; prostituila por
dinheiro.
— Figuradamente: Fazer pagar caro,
não conceder de graça.
— Vender cnro, vender mtii caro tua
vida; defender-se cóm coragem, immo-
lar muitos inimigos antes de suceumbir.
— Figuradamente : Fazer-se pa^ar por
certos serviços, ou ofBcíos em dinheiro.
— Vender sua hjnra; receber dinheiro
por fazer uma aeção vergonhosa, e des-
honesta. Diz-se também fallando d'ama
mulher, abandonar-se por interesse.
— Publicar, propagar. — «Os Reys da
terra vendaõ sob graves penas, que al-
guém em sua presença, ou dentro de seu
Palácio, naõ digo eu, mate, ou fira mas
ainda arranque a espada còtra qualquer
pessoa.» Padre Manoel Bernardes, Ezer-
cicios espirituaes, pag. 91.
— Vender sua alma; díz-se d'aquelle
que depois de uma crença supersticiosa,
entregava sua alma ao diabo para certos
gozos.
— Figuradamente: Trahir, denunciar,
revelar um segredo jior interesse.
— Vender sen engenho; inculcar-se en-
genhoso.
— Inculcar falsamente.
— Dar com descontos.
— Vender vento ; fazer de cousas de
nada serviço de grangearia, e ganho.
— Vender-se, v. reji. Receber dinheiro
para fizer alguma baixeza.
— Vender-se tudo a ^^eso. — «Tudo se
vende a peso ])or muy grande regimento,
e tavxa, e qualquer pessoa que a naõ
guarda ou falta o peso, he gravemente
castigado. Guarda-se nmyto a justiça a
todos.» Tenreiro, Itinerário, cap. 1.
— Alienar sua liberdade, tornar-se es-
cravo por um certo preço.
— Entrar no serviço militar por di-
nheiro.
— Vender-se a algum partido; ban-
VEND
VEXD
VEND
899
dear-se, fazer-se do bando, partido de al-
guém por interesse ou dinheiro.
— Vender-se i^or djuto; incalcar-se
como tal, fazer que o tenham n'essa con-
ta, posto que o não seja.
— Vender-se p'"' donzella.
— Fi.íuradameute : Alienar sua liber-
dade moral por dinheiro ou outras van-
tagens.
— Trahir-se um ao outro. — Vende-
ram-se uns aos outros.
— Diz-se de uma mulher que se en-
trega por dinheiro.
■ — Vender-se a ptso d' ouro; vender-se
mui caro.
— Vender-se a um partido; entregar-
se a uni partido por vistas interessadas.
— Adágios e provérbios:
— Xào perde venda, senão quem não
tem que veada.
— Quem demos compra, demos vende.
— Vende a esposado, e compra a en-
forcado.
— Vende publico, e compra secreto.
— Quem cabritos vende, e cabras não
tem, d'oDde lhe vemV
— Comprar alforvas, e vender a on-
ças,
— Compra que vendas.
— Comprar em feira, e vender em
casa.
— Pesa justo, e vende caro.
— Quem dá, bem vende, se não é ruim
quem recebe.
— O dado dado, e o vendido vendido.
— O ruim me compre o amigo, que o
bom logo é vendido.
— Não vendas a teu amigo, nem de
rico compres trigo.
— Vende gato por lebre.
— Vende em casa, e compra na feira,
se queres sair de lazeira.
— Quem compra o que não pode, ven-
de o que não deve.
— Vender mel ao colmeeiro.
— Cousa que não se vende, ninguém
a semeie.
— Gaba-te cesto, que vender te quero.
— Quem se te encommeuda, caro se te
vende.
— Miguel, Miguel, não tens abelhas, e
vendes mel.
VENDIBIL, adj. 2 gen. Vendível.
VENDICÃR. Vid. Vindicar.
VENDICATIVO, A, adj. Vid. Vindica-
tivo.
VENDIÇO, s. m. Vid. Vindico.
VENDIÇOM, s. /. Termo antiquado.
Venda.
VENDIDIÇO, A, adj. Vendido falsa-
mente, phantasticamente, ou que se finge
vendido.
VENDIDO, part. pass. de Vender. Alhea-
do por preço.
— Entregar a alguém. — oOutro que
68 tem vendido á sua rapariga por um
dos descendentes da casa d'Austria, mais
tomado de pontos de honra que hum escu-
deiro de Cacilhas, estando huma vez pra-
ticando com ella, e referindo certas ven-
tagens que lhe el-rei D. João fizera a um
seu tio, passa um fidalgo, cujo rascão elle
era, e porque lhe tardou onde o mandara,
com grandes brados que atroa toda áTua,
peleja com elle atuando-o muitas vezes,
e chamando-lhe filho da... e villão.»
Fernão Soropita, Poesias e prosas inédi-
tas, pag. 124.
— Andar, achar-se vendido ; achar-se
enganado por outrem, contra os seus in-
teresses, que o vendedor trahiu a um ter-
ceiro.
— Estar como vendido ; estar alheio, e
desgostoso em qualquer companhia.
■ — ■ Vendido pjor tracto dobrtz, e enga-
no; da pessoa de quem nos fiávamos, ou
devianios esperar lealdade.
VENDILHÃO, ONA, s. Pessoa que anda
vendendo pelas portas, bxrfarinheiro ou o
que venle em pequena tenda.
VENDIMA, s. f. Vil. Vindima.
VENDIMAR. Vid. Vindimar.
VENDIMENTO, s. ?n. Termo antiquado.
Venda.
VENDITA, s. /. Termo antiquado. Vin-
gança.
— Tomar vendita ; tomar vingança.
— Acoimamento.
— Vid. Vindicta.
VENDÍVEL, adj. 2 gen. Que está para
se vender.
— Venda vel, que é capaz de vender-se,
e bom negocio, por bom na sua espécie
natural, ou artificial.
VENDO, 2Ja''í- «ff- do verbo vSr. Vid.
Vêr. — «Apartavase todo possível de pra-
ticas, e eonversaçoens ociosas dos outros
presos ; e vendo nelles alguma descompo-
siçaõ de palavras, os reprendia com in-
teireza, e gra^'idade própria de mayores
annos que os seus.» Mouarchia Lusitana,
liv. 7, cap. 19. — c(E vendo jâ o Mundo
pacifico, e limpo o Império de enemigos
naturaes, e estranhos, se vero a Roma,
onde o receberão, com aplauso devido a
taõ grandes vitorias, e para gratificar ao
Puvo, tantas demonstrações de amor, fez
os mais custosos e exquisitos jogos, que
muytos annos antes se viraõ naquella
Cidade.» Ibidem, liv. 5, cap. 20.
E vendo que os teu3 annos em pequena
Proporção imperfectos parecido,
E 03 delicados membros to íicauão
Ka primeira infantil, ti;nra íigura.
O oráculo de Tliemis considtando,
Era resposta me deu ser necessário,
(Pêra creceres tu| ter outro filho
De Marte, o qual a ti faria grande.
C0RTKRBAI.,NACFBAGI0 DE SKPULTEDA, CaUt. 2.
Alli a negra noite lhes atalha
Passar mais a diante, e vendo a pressa
Com que a luz se eseoudeo, alojào junto
Do Icuantado monte o esquadrão fraco.
IBIDEM, cant. 10.
— «E vendo Targiana, alem de lhe
parecer das mais bellas do mundo, cren-
flo que aquella era a própria por quem
Albajzar se combatia, desejou leval-a
comsigo e tornar a Cori=tantinopla, aflSr-
mando na vontade, que desta segunda'
vez se lhe não poderia amparar Albay-
zar.» Francisco de Moraes, Palmeirim
dlnglaterra, cap. 88. — «Vendo o impe-
ralor esta experiência de namorado em
Dramusiando, teve-o em muito mor conta
que antes, e folgava de vêr o amor e ga-
salhado, com que o recebiam aquelles
príncipes seus prisioneiros. c Ibidem, cap.
91. — «O Capitão delles vendo desem-
barcar os nossos, lançou fora huma mu-
lher velha que sabia falar Portuguez, por
quem mandou preguntar ao Capitão «que
era o que queria, que elle era o servddor
de ElRey de Portugal, e se queria aquelle
castello, que logo lho entregaria, e que
se hiriaõ cõ suas pessoas, e armas.» Dio-
go de Couto, Década 6, liv. 6, cap. 6.
— «D. João Mascarenhas vendo tudo
perdido, andava como leaõ bravo antre
03 imigos, com o rosto cheyo de pò, e
suor, as armas todas banhadas em san-
gue, e cortadas por algumas partes, a es-
pada jà sem fios de cortar pelas armas
dos imigos, e grítaudolho hum soldado
que se recolhesse porque tudo -se perdia,
elle o fez com grande magoa, e dor de
seu coração, levando os seus muy bem
ordenados, e o rosto sempre nos imigos.»
Ibidem, liv. o, cap. 6. — «Os nossos fica-
rão U!UÍto alvoroçados com este soccorro,
porque alguns mantimentos lhes levàraõ
as nàos cu que se remedeàraõ. D. Pedro
da Silva vendo que a falta delles hia por
diante, e que não tinha esperanças de lhe
virem da Jaoà, deu busca nas casas, e re-
colheo tudo o que achou, e o meteo em al-
mazens. » Ibidem, liv. 9, cap. 8. — «Ven-
do elle que ja entaõ no Reyno havia outro
Key, outros Governadores, e outra jus-
tiça (que saõ mudanças que o tempo cos-
tuma fazer em todas as partes, e em to-
das as cousas) se sahio de sua casa com
aquelles pobres vestidos, com que anda-
va, e com huma grossa corda ao pesco-
ço, e com huma barba muyto branca, e
ja a este tempo taõ comprida, que lhe
dava abayxo dos peytos. » Fernão Men-
des Pinto, Peregrinações, cap. 191. —
«E vendoos daquella maneyra lhes per-
guntou pela causa de sua desventura, e
elles lha contarão com mostras de muyto
sentimento, dizendo, que avia dezassete
dias que tinhaõ partido de Liãpoo para
Malaca, com propósito de passarem á ín-
dia, se lhe a monção nào faltasse, e que
sendo tanto avante como o ilheo de Çum-
bor os cometera hum ladraõ Guzarate,
por nome Coja Acem, com três juncos e
quatro lanteaas.» Ibidem, cap. 57. —
«Vendo António de Faria que era ja pas-
sada mais de hora e meya, mandou com
muyta pressa recolher a gente, a qual
não avia cousa que a pudesse desapegar
900
VEND
VEND
VENE
da presa em que andava, e na ^ente do
maiu conta «c eiixerf^ava inda isto inuyto
mais.» Ibidem, cap. (lõ. — «Os capitacn.-i
das carauclas vendo quo nestas offertas
tinbSo ajuda, por saber «creia os desta
ilha pranded iiuif^os dos da illia de Pal-
ma, que ellc.s Uiaõ buscar deseobriran-
Ihe seu propósito: pedindollie que ouues-
sem por bem de irem com alguma pente
Bobre amielles sou8 imifíos de quem o in-
fante cstaua mui escandalizado por ser
raá, o reuel, o que elles liiriaõ cm sua
companhia.» Barros, Década 1, cap. 11.
— «E sendo já o mo^'o do resf^ato posto
entro os seus, vendo a Moura azo para
isso, confiada mães em nadar, qui: ella
mui bem sabia, que na possibilidade dos
seus, de quem osperaua o {^"ando resga-
te, que prometia por si, lançouse ao mar,
o posse cm saluo.» Ibidem, liv. 1, cap.
11. — «Diogo Cam vendo quanto os ou-
tros tardauão, determinou de acolher al-
guns da(iuellos negros que entrauão em
o nauio, e virso com olles pêra este Rey-
no.« Ibidem, liv. 3, cap. ò. — «Chegado
Diogo Cam á barra do rio do Padraõ, foi
recebido pelos da terra com muito pra-
zer : vendo os seus naturaes que elle trou-
xera viuos o também tractados como
hião.» Ibidem. — «Colhe daqui por fru-
to, grande amor, e respeito a Deos nosso
Senhor, e grande confusão tua, vendo que
tantaa vezes lho perdeste.» Padre Ma-
noel Bernardes, Exercícios espirituaes,
pag^ 8õ.
Porquo veiido quo oom cruel império
Os constrangera ao remo uiais qiic iuclinào,
Os quo tem das galés o ministério
Tanto os move esta dòr, tanto se incliuão,
Que havendo-o por afrronta o vitu|)erio
liem quatrocentos dclles se amotiuào
E nogão ura serviço tal, tão forte.
Tristes, que caminhaes á vossa morte!
rSANCISCO DE ANDRADE, PKIMGIBO CEBCO DE DIU,
cant. 12, est. 120.
O qual veiulo que toda he ja gastada
Quauta pólvora tinha naquclla hora
Faz que toda a quo estava agasalhada
Km quiitro poijaâ grossas saia fóra.
Pois nenhuma outra cstA ja carregada
Antes todas cessado tem ja agora,
E o negro pó quo então faz sahir delias
Por trinta repartio, e mais pancllas.
aisEM, cant. 20, est. 30.
— «Roztomocau vendo esta obra, e
sentido o prazer dos nossos pela grita
que der.ão com ella, determinouso em
mães que defender : porque logo aquella
noite, ante quo os nossos procedessem
mães nella, teue conselho com os princi-
paes capitães que tinha.» Barros, Déca-
da 2, liv. 7, cap. 5.
— Vendo eslds notícias naturaes; sa-
bendo-as. — «BemoiJ como era homem
grande de corpo bem disposto o de bom
aspecto, e estava em idade de quarenta
annos com huma b.arba crescida e bem
posta, rcpresentaua nHo homem do Buas
coreá, luas hum Frincipo a quem dcuia
todo acatamento : com a qual majestade
de pessoa começou e acabou sua oração
com tantos affectos de prouocar a se eon-
doçreui do caso miserauel de seu dester-
ro, quo somente vendo estas noticias na-
turaes, ella.s per bí mustrauão o que o in-
terpreto depois dizia.» Barros, Década 1,
liv. 3, cap. G.
— Observando. — «Com tudo elles de-
pois da briga durar hum bom )"paço ma-
taram hos sette mouro.í sem se delles que-
rer dar nenhum à prisam, entre o» quaes
hauia iium (jue era sposado, o Icuaua
consigo a sposa, a qual vendo o negocio
trauado de maneira que podia perder a
sperauça de o nunca m;iis ver, llie dixe.»
Damião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 1, cap. 48. — «Dona IjCaiior mo-
Iher de dom Aluaro como era muito sa-
gaz, e prudente, vendo que a sanha dei
Rui se nam abraudaua, buscou outro mo-
do pêra per via mais dessimulada poder
reconciliar seu marido com el Kei, o qual
foi mandar dizer a meu irmam Fructos
de gocs, guarda roupa dei Rei, que en-
tão era hum dos seus mais priuailos, que
nam tomasse por trabalho quererlhe ir
fallar o que cUe fez de muito boa vonta-
de.» Ibidem, part. 3, cap. 40. — «O que
vendo dom Aluaro receoso que lho ma-
tassem, por estar so, fez voltar os guiões,
e elle fez o mesmo com a bandeira, na
qual V. Ita mataram trinta, e tomaram
hum muito honrrado, que se chamaua
Mu.sa benfada tilha dale umme, os outros
vendesse maltratados daquelle primeiro
encontro se afastarão pondosse todos jun-
tos a ver o que os nossos faziam, que
dalli foram tomar hum vao perque dom
Aluaro fez passar os captiuos na-; ancas
dos cauallos.» Ibidem, part. 4, cap. 39.
— «Eu tinha observado antes delle che-
gar que Jladame sua esposa estava hum
pouco melancólica, e isso justiliquey ven-
do que principiava a chorar.» Cavalleiro
d'01iveira, Cartas, liv. 1, n.° 1(5.
E vendo emfim que em vão tem consumido
Rogo, mando, brandura, ou aspereza,
Por salvar hum uaxno ja perdido
Por medo de sua gente, e por fraqueza,
Parte dhum furor grande combatido,
Parte dhuma profunda alta tristeza.
Deixa o que só não pode hum forte peito
Salvar, e IA A Cidade vai direito.
r. d'andbadk, PBtxciBO cebco db dio, cant. 11,
est. 21.
Vendo suspenso o pflago espumante :
Sahio das altas N.nos ooas vOlas chOas,
Correndo a Costa dAfrica cstuanto :
E do lá pouco a pouco o mar abrmdo
Côas mercês retornou do Idaspo, ou Indo.
J. A. DB UACEDO, O OBIESTB, Cant. 13, CSt. 09.
— Vendo-se sem favor dos uaturaes;
vcndo-.-iC desfavorecido d'elles. — «E ven-
do-se sem fjavor dos naturaes, e tem for-
ças pêra reaistir a e«te tyraano, com al-
guns que o quizerani seguir hia á Jauh»
a alguns Principes da sua linliagcni, que
o quizcssem ajudar na re^tituiç.To de seu
estado. I liari'08, Década 1^, liv. tí, cap. 2.
— Vendo->e arribado a alyujiia cousa ;
venilo-se encostado, apoiado n'ella.
Vfiulo-»'. Mirijain a hum tào potente
Sccptro em tàn |ioucos dias arribado,
Temendo a natural Cambaia gente
A quem jugo i-)trangeiro era (WMsdo,
Cktnitolho qniz tomar para o proAente
De quem lhe deu favor para o passado.
Para quem algum bom meio Ibf; mostrasM
Com que o seu novo Reino soguraiwc.
r. d'axdbade, pbiheibo ckbco de Dic,cant. 8,
est. 82.
VENDUDO, part. pass. aiU. Vid. Ven-
dido.
VENEFICIO, s. m. (Do latim ve$uji-
ciuvi). ( ) crime de compor e dar venenos.
VENEFICO, A, aãj. (Do latim veiuji-
tuí). \'cnenoso.
— Doença venefica ; doença funesta
como o veneno.
— Hitv\em venefico; homem prepara-
dor e propinador de venenos.
— Figuradamente : Palavras venefi-
cas ; palavras damniiicadoras.
VENENADO, yart. yass. de Venenar.
Vid. Envenenado.
VENENAR. Vid. Envenenar.
VENENO, s. m. ^\)o latim ventnum).
Peçonha que ataca os princípios da vida
por certas qualidades malignas, como s3o
alguns suecos, o rosalgar, etc. — Propi-
nar veneno a alguevi.
— Figuradamente : A malignidade.
— Syx. : Veneno, peçonha.
A palavra veneno estende-se nio só
aos simples, que naturalmente silo noci-
vos, senão também, e com mais proprie-
dade, aos compostas, misturas ou prepa-
rações, que destroem a .«aude, ou tiram
a vida. A palavra pií^onha applica-ee so-
mente aos .-^inipl^s que por si sós sâo no-
civos, e mais propriamente aos que na-
turalmente se encontram no corpo de
diversas animaes.
Compõe-se, prepara-se um veneno, e
não uma pei^oiiha; esta a dá preparada
a natureza.
VENENOSAMENTE, adr. (De venenoso,
o o suffixo «mente»). De um modo vene-
noso.
— Com qualidades venenosas.
VENENOSIDADE, s. f. Qualidade do
que é ve. enoso.
VENENOSÍSSIMO, A, adj. superl. da
Venenoso, ilui ve.ieuoiso.
VENENOSO, A, »dj. (Do latim v^nôno-
sus, de veiunum). Que obra como vene-
no sobre a economia, faltando de sub-
stancias vegetaes. — ti)j/uf)it/«s veneno-
sos.
VENE
VENE
VENI
901
— Diz-se também das matérias inorgâ-
nicas. — • O cobre forma saes venenosos.
— Diz-so ainda da carne tornada em
veneno em consequência da alteração.
— Animaes venenosos ; aquelles que
não ingeridos como alimentos, actuam
sobre a economia á maneira dos vene-
nos.
VENERA, s. /. Insignia de cavalleiro,
de commenJador, grau mestre das or-
dens militares.
— Medalha.
— Insignia dos romeiros de S. Tliiago.
VENERABILIDADE, s. /. Qualidade de
ser venera-lo.
VENERABILI3SIM0, A, aãj. superL de
Venerável, ilui venerável.
VENERABUNDO, A, adj. (Do latim ve-
nerabundus). Com demonstrações de ve-
neração.
j VENERAÇAM, s. /. Vid. Veneração.
— «Em esta casa estam duas sepulturas
que estam cubertas com pauos de seda
pretos que os mouros tem em grande ve-
neraçími: e ho judeu me disse que avia de
passar por junto daquella casa onde es-
tavam duas sepulturas huma de Aron, e
a outra de Hisda-os, sogro de Moyses.»
Tenreiro, Itinerário, cap. 36.
VENERAÇÃO, s. /. (Do latim venera-
tio, de venerari). ijraude respeito uni-
do a uma espécie de affeiçào. — «i Aceita-
rão os Bispos a jornada, e chegados a
França íbraõ recebidos de Theodorico
com a veneração e respeyto devido a sua
dignidade, porque inda que tivesse a he-
resia de Arrio, era todavia taõ modesto
e comedido, que a ninguém negava o
termo e bom acolhimento, próprio a seu
estado.» Monarchia Lusitana, liv. 6, ca-
pitulo 7.
— Particularmente : Respeito que se
tem para as cousas sagradas. — Expor
relíquias á veneração dus jieis, — ^ve-
neração que a egreja tem por uma dou-
trina santa, — «Os nomes dos sete discí-
pulos que levou cõsigo Deutre-Douro e
Minho, e de Galiza, foraõ, como diz o
Papa Calixto, Saõ Torcato, a quem, co-
mo natural da terra, se tem naquellas
partes, e nas da Beira grande venera-
ção, e hà algumas Igrejas dedicadas em
seu louvor, onde com pequena corrupção
lhe ckamaõ Saõ Torcato.» Monarchia Lu-
sitana, liv. õ, cap. à. — «Era Constan-
tino dotado de grande valor nas armas,
e nas occasiões possíveis favorecia o nu-
me e veneração de Caristo, donde diz o
Monge Eutropio, e outros, que Diocle-
ciano lhe cobx-ou grande ódio, e deseja-
va occasiào de lhe tirai" a vida dissimu-
ladamente; mas livre deste perigo pela
successaõ do pay e do poder de Galerio,
que o tinha em Roma com pretexto de
amizade.» Ibidem, cap. 24.
— Profundo respeito.
— Syn. : Veneração, respeito. Vid. es-
te ultimo termo.
VENERADO, part. pass. de Venerar.
Respeitado, honrado, acatado. — «O mui-
to bem que V. M. faz ás Obras de So-
ror Violante do Ceo, a quem Deos per-
doe, também parece perdido, porqae oa
Pindaros contestarão os prémios que V.
M. dá áquella Religiosa, e julgo que pcr-
deo a sua cauza, prezidindo nella a favor
dos mesmos Pindaros o grande Dom Fran-
cisco Manoel de Mello, que as Obras Poé-
ticas de Soror Violante do Ceo erão cou-
zas escuzadas neste mundo. As da sua
vida forào, e serào nelle muito venera-
das.» Cavalleiro d'Oiiveira, Cartas, liv.
1, n." 7.
VENERADAMENTE, adv. (De venera-
do, e o sufihxo «mente»). De um modo
venerado.
— Com veneração.
VENERADOR, A, aãj. e «. Que vene-
ra, que respeita, que acata.
VENERANDO, A, adj. Digno de vene-
ração, de profundo respeito.
Julgando ja Neptuno que seria
Estranho caso aquelle, logo manda
Tritão que chame os deoses da .ígua fria,
Que o mar habitào duma e doutra bauda.
Tritão, que de ser filho se gloria
Do Rei e de Salacia veneranda,
Era mancebo grande, negro e feio,
Trombeta de seu pae e sou correio.
CAM., LLs., cant. 6, est. 16.
VENERAR, V. a. (Do latim venerare).
Ter veneração para com alguém. — Eu
vun venero como meu. segundo pae.
— Respeitar, acatar muito. — »- Venerar
os santos^ as reliquias.
— Havei-so com veneração a respeito
de alguma cousa santa.
VENERÁVEL, adj. 2 gen. Venerando.
— uConcorreo por este tempo o venerá-
vel Beda, Monge da ordem de nosso Pa-
dre Saõ Bento, cuja douti-ina e santidade
foy rara na Igreja de Deos, como testi-
ticào suas obras de que dissera muito se
mo permitira a grande brevidade, que
professo nas cousas que nT.o tocaõ ao par-
ticular deste Reyuo.» Monarchia Lusi-
tana, liv. 7, cap. 10.
— • Titulo d'houra dado aos doutores em
theologia nos actos públicos.
— Logar, monumento venerável ; logar,
monumento consagrado pela religião, ou
por grandes lembranças.
— Diz-se do que morreu em cheiro de
santidade, feitas certas provauças de sua
virtude, e que é declarado venerável
pela Egreja.
— Substantivamente : Um venerável.
VENERA VELMENTE, adv. (De venerá-
vel, e o suffixo «mente D ). De um modo
venerável,
— Com acatamento, veneração.
VENÉREO, A, adj. (Do latim venereus).
Que diz respeito á approximação dos se-
xos. — Acto venéreo.
— Doença venérea, vial venéreo ; affec-
çào contagiosa que resulta d'um connu-
bio impuro.
— Modernamente venéreo não é sy-
nonymo de syphilitico ; diz-se das affec-
ÇÒes que contrahidas pelo coito nào tem'
caracteres especiíicos e não dão logar aos
accidentes secundários, ao passo que as
aíFecções syphiliticas dão logar aos acci-
dentes secundários e tem caracteres es-
pecíficos.
— Mal venéreo ; gallico.
— Substantivamente : Pessoa affectada
de doença venérea. — O hospital dos ve-
néreos.
VENERO, A, adj. Termo de poesia. De
Veiius. — Estrella venera.
VENETA, s.f. Veiasinha de loucura.—
Deu-lhtí na veneta fazer isso.
VENEZA, s. f. Cidade mui opulenta da
Itália.
— Figuradamente: Dar, ou prometter
Veneza; dar grandes cousas, e thesouros.
VENEZIANO, A, adj. e a. De Veneza,
natural de Veneza.
VENGALA, s. /. Vid. Bengala.
-{- VENHO. Fúrma do verbo vir na pri-
meira pessoa do singular do presente do
modo indicativo. Vid. Vir.
E agora venho a das-
Conta do bem passado
A esta triste vida e longa ausência.
Quem pode imagiuar
Quhouvesse em mi peccado
Diguo d'uma tão grave penitencia?
Olhae que he consciência
Por tão pequeno erro.
Senhora, tanta pena.
CASI., CAXçlo 6.
Venho, Soliso, a ti com hum cuidado.
Que todo m'entrÍ3tece ; e com grão medo
De grão mal sobre nós inopinado ;
Vês tu como está agora este arvoredo
Triste e pezado, lúgubre o sombrio?
Como o vento paicee que está quedo ?
IDEU, ÉCLOGA lÕ.
VÉNIA, s. /. (Do latim vénia). Licen-
ça, permissão, concessão. — Citar com
vénia.
— Fazer veaia ; em certos actos, pedir
licença aos professores e mestres para di-
zer : pedir vénia.
— ■ Cc«i vénia; com perdão, semoffensa.
VENIAGA, s. /. Termo da Ásia. Mer-
cadoria vendiveí.
■ — Levar veniaga; trazer veniaga; le-
var, trazer piara commercio. — «íso qual
bem largamente nos podíamos aparelhar,
e j)rovar de tudo o de que tivéssemos
necessidade, na entrada do qual estava
huma aldeã pequena que se cliamava
Xamoy, povoada de pescadores, e de
gente pobre, mas que daly a três le-
goas pelo rio acima estava a cidade onde
avia muyta seda, almizcre, porcelanas, a
outras sortes de fazendas que de veniaga
se levavão para diversas partes.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 55.
902
VENT
VENT
VENT
VENIAL, adj. 2 (jcn. (Do latim venta-
lis). <.^ne c (JÍL,'no <le penlãi), fiillamlo dos
pecca'lo'< lii^eiroi quu não jirnutaiii a pur-
da <la grm^ií, imu opposirão iioi peccados
moHaiis (juc a fazem perder.
— Diz-so, na linguagem popular, das
faltas ligeiras.
— Peccado venial; pccoado que n2o
mata a alina, nem se pune com penas
oternaí*.
VENIALIDADE, «. /. O caracter do que
é venial.
— Peccado venial.
— Figiu-adamentc: Eiro leve, descuido
periloavel.
VENIALMENTE, ndv. (De venial, e o
sullixo «meuten). D." um modo venial.
— Fccair venialmeute ; não mortal-
mente.
— Digno do indulgência.
— Por graça, pa^^atempo.
— Dizer uhjama cousa venialmente ;
dizel-a sem intento de oftender.
VENIDA, *. /. — Idas e venidas ; idas c
vindas, diligencias.
— Ataque, ou golpe para ferir no jogo
da espada.
— Termo de milicia. Surpreza do ini-
migo, ataque imprevisto. Vid. Avenidas.
VENIFLUO, A, adj. (Do latim venijluu»).
Que corre }>Ldaa veias. — Saiijue veni-
fluo.
VENOSO, A, adj. (Do latim vtnosus).
Termo de anatomia. Que tem veias; da
natureza das veias; que as «.•ompõe.
f VENS. Forma do verbo vir na segun-
da pessoa do singular do presente do
modo indicativo. Vid. Vir.
E df! t.iinanho golpe amoi-tccido
Inclina a frente... como ao pusâíra,
Fecha languidamente os olhos triãtca.
Anciaudo o nobre conde su approxiuia
Do loito... Ai! tarde veiis. auxilio do homem.
aiBUETT, CAMÕES, cant. 10, cap. 23.
VENSI. Termo antiquado, por bem si.
ou oatriisiin.
VENTA, s. /. O buraco do nariz, dos
homens e dos animaes.
VENTÃA, s. f. Vi 1. Venta, e Ventam.
VENTAGEM, ou VANTAGEM, s.f. Dian-
teira.
— Levar vantagem; ser de melhor
condição.
— Lucro, partido grande, mercê, ac-
crcscentamonto.
Ventagem tendes de mi,
docca aiuas que correia ;
poia fugis donde naacoia,
o eu vou para onde nasci.
rERNÃO SOHOPITA, POKSIAS E I-R03AS IME-
DiTAS, pag. 25.
— <Ser (Ze vantagem; ser melhor.
— Figuradamente: Melhoria, superio-
ridade, excesso a respeito de outro, no
logar, ponto, sitio, qualidades, partes.
— Levar vantagem, m fazer vanta-
gem; avantajar-.se, exceder.
— Tomar a vantagem de alguém ; pas-
sar-se adiante.
— Dar vantagem a ahjuem; sor-lhe
inferior.
— Fazia vantagem a todas na forma-
tura; era a mais formosa de todas.
— Fazia vantagem a todos nos annos;
era mais velho.
— Dar vantagem a algumn ; rcconhe-
col-a, conf(!8sal-a.
— ])e vantagem; supfrior, mais.
— De vantagem ; mais ou de mais,
além do razoado, e honesto, ou justo
preço.
— De vantagem; além do seu valor.
— Cousa de vantagem ; aquclla em que
se dd excesso, superioridade, ou excol-
lencia.
VENTA JADAMENTE, adv. Vid. Avan-
tajadamente.
VENTAJADO, pari. jju.-^s. de Ventajar.
VENTAJAR. Vi 1. Avantajar.
VENTAJEM. Vil. Ventagem.
VENTAJOSAMENTE, adv. (De ventajo-
so, com o sulilxo «mente»). Com vanta-
gem, de unia maneira vantajosa.
VENTAJOSO, A, adj. Que traz vanta-
gem.
— Figuradamente: Útil, proveitoso.
VENTAM. Vid. Venta.
— Termo em uso. Dizem-se as abertu-
ras das torres ou campanários, em que
estão apoiados os sinos.
— Em 03 clássicos encontra-se na si-
gnificação de soberba, elevaqao, fatui-
dade.
— Loc. piíov. : Andar sempre com o
faro na ventam; cheirando ou aventando
a boa hora de fazer nosso negocio, e pro-
veito ; de o conseguir.
VENTANA. Vid. Ventanilha.
VENTANEAR, v. a. Abanar, excitar
vento.
VENTANEIRA, s. /. Vento forte.
VENTANIA, í. /. Vento forte.
SolitAria Região! sempre embuçada
Em nóvoaa ; tempcstui^aa, entristecida,
Foreira a i\ntunias clamoróaaa.
V. M. DO NASCIMENTO, 09 HARTTBES, 1ÍV. 9.
VENTANILHA, «. /. Abertura da mesa
do taco, por onde entra a bola. Vid. Tru-
que.
VENT'APOPA, ou VENT'APOPPA, adv.
— L- a vent'apopa ; ir bem navegado de
vento.
— Figuradamente : Ir á vent'apopa ;
ir prosperamente nos negócios, e cou.sas
da vila.
VENTAR, V. n. Haver vento, assoprar
o vento.
— Ventar de rosto, ou pelo oiho ; pela
proa, contra o rumo que se quer levar.
-^ Figuradanient'- : Ventar de ro$to,
ou pelo olho; ir mal.
— Figuradamesito : tíe lhes ventasse ;
se tivessem favor, boa conjunctura.
— Ventou-lbe a fvrtuna; foi lhe pros-
pera.
— Vid. Aventar.
— V. a. As-oprar.
— Figuradamente: Favorecer, animar,
dar forças.
— Ventar sanijue. Vid. Aventar.
VENTAROLA, «. /. Abano, ventilador,
instrunn iito de fazer vento.
VENTE, part. act. de Vêr.
— Loc. : Fazer vente ; tomar palpá-
vel, evidente.
— S. plur. Prophetas, judeus.
VENTENARIO, «. m. Vid. Vinteneiro,
juiz de vintena.
VENTIGENO, A, adj. Termo de poe-
sia. Qu'- ppiiluz vento.
VENTILABRO, ». «i. (Do latim wfti/i-
labrum). Instrumento ile apartar ao ar
corrente a palha miúda do grão trilhado
na fira.
VENTILAÇÃO, s. f. (Do latim venti-
latio). Operação que tem por objecto en-
treter a pureza do ar n'um recinto fe-
chado, e remediar aos perigos do ar cor-
rompido.
— ExposiçSo ao ar livre.
— Figuradamente : Ventilação da ques-
tão; discussão.
VENTILADO, pnrt. pass. de Ventilar.
— .VaAí //.,/( ventilada.
VENTILADOR, «. vi. Instrumento em-
pregado para renovar o ar d 'um logar
fechado qualquer, e miSrmente das habi-
ções do homem e dos animaes.
— Machina destinada a produzir ama
corrente d'ar para alimentar o fogo d'am
forno.
— Instrumento para desembaraçar cer-
tas substancias dos corpus ligeiros que
ellas podem conter.
VENTILANTE, part. act. de Ventilar.
Que ondeia ;l «iiscrição do vento.
— Que excita vento, renova o ar.
VENTILAR, f. a. (Do latim teniilare>.
Dar o ar, renovar o ar ]X)r um meio
qualquer.
— Termo de constrncção. Praticar as
aberturas para fazer penetrar o ar.
— Termo de cirurgia. Moderar a cir-
culação dos humores e do sangue com
sangria leve.
— Alimpar o trigo da palha despejan-
do-© das peneiras do alto, quando corre
vento, que leve a palha e alimpadoras.
— Arejar.
— Mover o vento, ou o ar.
— Tratar alguma matéria conferindo,
ou disputando.
— Ventilar uma qxtestão; discutil-a,
suscital-a.
— FiiTuradamente : Dissipar como se
faz á palha eiltrecue, solta aos ventos.
VENTILATIVO, A, adj. Termo de ci-
VENT
VENT
VENT
903
rurpa e de alveitaria. — Sangria venti-
lativa. Vid. Ventilar.
VENTINHO, s. m. Diminutivo de Ven-
to. Vento ligeiro, pequena viração.
VENTO, s. m. (Do latim ventiis). Cor-
rentes d'ar mais ou menos rápidas occa-
eionadas pelas mudanças que sobrevem
ao peso especifico e á elasticidade do flui-
do atmosplierico. — Um vento violento
e impetuoso.
Os ventos eram taes, quo não puderam
Mostrar maÍ3 força d'impcto cruel,
Se para derribar então vieram
A fortissima torre de Babel: ■
Noa altíssimos mares, que cresceram,
A pequena grandura d'hum batel
Mostra a possante náo, que move espanto.
Vendo que se sostem nas ondas tanto.
CAM., tus., cant. 6, est. 74.
Ali o poder de muitos inimigos.
Que o grande esforço s6 com força rende,
Os ventos que faltaram, e os perigos
Do mar, que sobejaram, tudo o offende.
IBIDEM, cant. 10, est. 30.
— - «No qual estivemos cinco dias sur-
tos, por nos não servir o vento, e nelles
o Mouro e eu, por cõselho de alguns mer-
cadore.s da terra fomos ver o Rey, cõ
huma odiá ou presente (como lhe nós cá
chamamos) de algumas peças suficientes
a nosso propósito, o qual nos recebeu
com mostras de bom gasalhado.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 19.
— «E seguindo nós com este propósito
nosso caminho, sem podermos effeituar
este miserável intento, que então esco-
lhíamos por menos mao, e menos traba-
lhoso, nos saltou o vento ao Nornoroeste
ja sobola tarde com que os mares ficarão
taõ cruzados, e tão altos na vaga do es-
carceo, que era cousa medonha de ver. »
Ibidem, cap. 79.
O nobre Acefarcão, que entende e estima
Quanto hum perigo tal deve estimar-se,
Da Rainha e perigo assi o lastima.
Que o faz do seu perigo descuidav-se :
Aquella Attribulada gente anima,
Qu'então ja começava a desmaiar-se,
Mag pouco presta quanto faz agora
Pois o vento e o temor crescem cada hora.
FRANCISCO DR ANDR.tDE, PRIMEIBO CEBCO DE mtT,
cant. 4, est. 27.
— «O Ciúme he tão forte, e tão pode-
roso no natural de muitos homens, que
já houve alguns, diz Tertuliano, que ao
menor ruido que o vento ou os ratos fa-
zião á porta da sua camará sospeitavSo
que suas molheres erão roubadas.» Ca-
valleiro d'01iveira, Cartas, liv. 1, n."
13. — «A innocencia, e a confiança que
a acompanha devem conservar-se em tal
forma superiores aos ruidos populares,
que não se movão mais a estes, do que
as Estrellas se movem aos ventos que ^e
formão na Região mais inferior do ar.» Ibi-
dem, n." 51. — «Estavam a este tempo os
batéis em terra fazendo aguada, e queren-
do acudir à náo, não puderam sahir pêra
fora, porque o vento fazia na boca do rio
mui grandes escarceos.» Diogo de Cou-
to, Década 4, liv. 5, cap. 2.
— ■ Vento brando ; vento fagueiro, vi-
ração favorável.
Parte esto Embaixador, o mar navega,
E com favor do vento brando e amigo
Em breve tempo a Goa em salvo chega
Sem receber do mar damno ou perigo :
Falia ao Governador, nada lhe nega.
Que isto nelle era ja desejo antigo,
Contente o Mouro o mar passa de novo
Para animar o seu medroso povo.
F. d'andbade, primeiro CERCO DE mu, cant. 4,
est. 75.
Mas em quanto trabalha nesta entrada
A profana bombarda horrenda e fei-a.
Eu lá a Madrafabat faço a jornada
Onde a frota infiel sei que mu espera.
Esta estando ja assaz bem preparada
Do que a sua tenção necessário era.
Não quer alli detc--8e mais hum'hora,
Pois tem o mar e o vento brando agora.
IBIDEM, cant. 20, est. 14.
— Vento prospero; vento favorável.
— «E fazendo aparelhar um navio man-
dou metter nelle Arlança sua filha acom-
panhada de quatro donzellas e outros
tantos cavalleiros, que com poucos dias
tendo o vento prospero arribaram em um
porto perto do castello do cavalleiro, on-
de sahii-am em terra e caminharam o
mais secretamente, que poderam, te che-
gar a elle.» Francisco de Moraes, Pal-
meirim d'Inglaterra, cap. 114.
— Soltar as fúrias dos ventos repu-
gnantes.
A ira, com que súbito alterado
O coração dos deoses foi nhum ponto.
Não solfreo raais conselho bem cuidado,
Nem dilação, nem outro algum desconto.
Ao grande Eolo mandão ja recado
Da parte do Neptuno, que sem conto
Solto as fúrias dos ventos repugnantes ;
Que não haja no mar raais navegantes.
•AM., Lus., eant. 6, est. 35.
— Cruzaram, os ventos noroestes. —
«As outras são tamanhas como a palma
de huma mão, pretas de fora, e muvto
luzentes de dentro, abrem-se ao Sol em
lençoes, e deitão de si o aljofre e pérolas
que tem dentro; porem aquelle anno cru-
saraõ os ventos Xoroestes mais cedo que
os outros annos passados, e a nao em
que eu hia muyto carregado de mercado-
rias, e os ventos serem Noroestes que
eraõ pelo olho que naõ deyxavão ir avan-
te, e andamos muvto tempo fazendo vol-
tas a liuma costa, e a outra, onde lançá-
vamos ancora, e esperávamos por mares,
eõ que algum caminho hiamos avante
pelo que pusemos tanta tlemora que foraõ
mais de quarenta dias em esta viagem, I
até huma Ilha que está junto da boca do
rio Eufratres que se chama Cargem.»
Tenreiro, Itinerário, cap. 57.
— Os ventos ponteiros. — «Os outros
Capitães erão António Pereira, e Chris-
tovão de Sá; e porque na costa da índia
teve a Capitania os ventos ponteiros, es-
garrou, e não podendo ferrar Goa, foi
tomar Angediva ; donde mandou aviso ao
Viso-Rei para o prover do necessário,
visto ser-lhe forçado invernar em aquel-
le porto.» Jacintho Freií-e d'Andrade,
Vida de D. João de Castro, liv. 4.
— Ventos soltos.
Ventos soltos lhes finjam, e imaginem
Dos odres, o Calypsos namoradas,
Harpias, que o manjar lhe contaminem.
Descer ás sombras nuas já passadas:
Que por muito, e por muito que se afinem
N'estas fabulas vaãs, tão bem sonhadas,
A verdade que eu conto nua o pura
Vence toda grandíloqua cscriptura.
CAu., i.ns., cant. 5, est. 89.
— Vento bravo ; vento do meio dia,
ou do oeste, segundo as localidades, que
sopra sem cobrir o ccu de nuvens.
— Os ventos recebem qualificações di-
versas segundo a sua velocidade ; os prin-
cipaes são : vento fresco, que percorre
seis metros por segundo; vento bom fres-
co, que percorre oito metros por segun-
do ; e vento impetuoso, que percorre quin-
ze metros.
— O vento muda; a direcção do ven-
to muda.
— • Andar com o vento; andar com ex-
trema velocidade.
— Figuradamente : A todo o vento ;
seguindo todos os impulsos.
— Ventos subterrâneos ; ventos que se
formam nas concavidades da terra.
— Os -quatro ventos ; os quatro pontos
cardeaes.
— Os Ventos; personagens mythologi-
cas, que tinham por funcção soprar sob
o comniando de Eolo, rei dos ventos.
— Actores, que nos theatros e na ope-
ra representam os ventos.
— Vento forqado ; vento violento e
mais forte do que é preciso.
— Ter o vento em popa; ser favore-
cido pelo vento,
— Figuradamente: Ttr o vento em
pupa; ser favorecido pelas circumstan-
cias, ter vantagem sobre alguém.
— Ter vento e maré ; diz-se d'um na-
vio que é inipellido simultaneamente pelo
vento e peia maré montante.
— Figuradamente: Ter vento e maré;
ter todas as cousas favoráveis para acer-
tar em seus desígnios.
— /)• contra vento e maré; ter o ven-
to e maré contrários.
— Figuradamente : Ir contra vento e
maré; proseguir obstinadamente um pro-
jecto apesar dos obstáculos.
904
VENT
VENT
VENT
— Ir negunão o vento ; rej^ular sim
navcfíaçito, scfíiinilo o vonto.
— Figiiradainento : Ir segundu v ven-
to ; accomniodar-so ao tempo.
— Fií,'uradanic!ite : liiHuencia que fa-
voreço, ou que iircjndica, como um so-
pro favorável ou <l(wfavofavel. — O ven-
to das prii.ij)i;ri>l'ules.
— O ar af^itailo por Hlp;imi ineio parti-
cular. — Fazer vento com um leipic.
— InstrumentoK de vento ; instrmiion-
t08 de musica em que o som é firinailo
pelo ar que alii se introduz.
— Termo popular. Respiração, sopro.
— Tuniar, reter o vento.
— Os gazes existentes no corpo dos
homens e dos animaes.
— Diz-se também das emanações pro-
venientes d'um corpo (jualípier.
— Figuradamente: Cousa vã, e vazia,
— Vaidade.
— Termo de náutica. Um vento; são
09 */* '^'^ rumo. — Meio vento ; são '/^.
— Um quarto de vento ; é ura rumo
apartado do outro onze graus, e quinze
minutos.
— Loc: Levar o mesmo vento; levar
o mesmo caminho, o mesmo estylo, for-
tuna.
— Enfunar-se o vento na vela ; quan-
do a enche.
— Cheiro da caça.
— O vento das vaidades d'este «lun-
do; o nada.
— Vento popular; :x aura popular.
— Figuradamente : Agitação.
— Figuradamente : O largo vento das
esperanças.
— - O vento da bombarda ; a impressão
que a bala faz no ar.
— Boi achado do vento; boi perdido,
a que não se sabe o dono.
— Loc. : Andar de vento ; andar per-
dido, sem dono sabido.
— Figuradamente : Cousa ligeira que
passa rapiílamcnte.
— Vento teso; vento forte, que se le-
vanta subitamente.
— Vento escaco; vento fraco.
— Figuradamente: Emquanto sentir
este vento; cmquanto as cireumstancias
forem as mesmas.
— Vento geral; que reina por tempos
cm uma costa, mar, altura.
— Mo(;a df vento ; nos conventos de
freiras, criada que não tem ama certa,
porém serve juntamente a muitas.
— Pé de vento ; vento forte, que se
levanta da súbito.
— Loc. : Dar vento a alguém; louvor
vão, quo ensoberbece, que orgulha.
— Fallar vento ; fallar sem funda-
mento.
— Beber os ventos 2""' alguém; tcr-
Ihc muito an>or, fa/.er por elle muitos ex-
cessos.
— LoC: Commctter alguma cousa pei-
to a vento ; commcttcl-a como por sota-
vento, com desvantagem de resistência,
como a ave caçiidora, que vac buscar a
Hua ralé voando contra o vento que a re-
tarda.
— IJesfazer-ae em vento; desvane-
cer-»e.
— Julgado do vento ; objoctoB sem
ilono, ou rcpiitidos sem dono, julgados
para o foro publico.
— Vento /resco; vouto forte, que «e
levanla <lo rej^ente.
— Dar vento; ajudar a sair, dar pas-
sada, passar.
— O vento da fortuna ; a aura, o favor.
— Termo de artiliíeria. Vento do ca-
iihão ; a maioria quo tom o diâmetro da
bocca lia peça a respeito do diâmetro da
bala ; folga da bala.
— Vento de cima; vento da torra.
— Figuradamentt): Dar o vento na
corda; dar á douda, chegar a veneta de
doudice.
— Vento feito; vento durável, perma-
nente, o favorável.
— Direito do vento ; direito de fazer
arrematar para si os gados do vento, a
que não saiu dono.
— Achado do vento ; diz-se do qual-
quer objecto que alguém encontra sem
dono conhecido.
— Cào de bum vento; bom ventor, que
toma o faro da caça, o a descobre.
— O vento da vida; a vida que passa
como o vento.
— - Bi^sta do vento ; diz-so a que se en-
contra sem doiu) conhecido.
— Cervo prompto no vento ; o que toma
bem o faro dos cães para lhes fugir.
— Direito do vento ; direito d<í fazer
suas as cousas achadas sem dono conhe-
cido.
— Trazer do vento ; diz-se de qualquer
objecto que alguém encontra sem dono
conhecido.
— Mover-se com todos os ventos ; ser
inconstantissirao.
— Loc. : Furt<ir o vento u algucm;
mettol-i) em cousa de que se sai» mal,
por falta do uso, exercício.
— Gados do vento ; dizem-se aquelies
que se encontram sem dono conhecido.
— Mostrar alguém o vento ^ii<í traz;
mostrar os seus intentos.
— Adágios e pkovekbios:
— Se chove, chova; se neva, neve;
quo se não venta, não faz mau tempo.
— Com vento alimpam trigo, e os vi-
cies com castigo.
— A quem Deus quer bem, o vento
lhe apara a lenha.
— Do. caldo requentado, e de vento de
buraco, guardar d elle, como do diabo.
— Tem tento, quando te der no rosto
o vento.
— Logar do vento, logar som repouso.
— Vento o ventura, pouco dura.
— Tudo é vento, se nào La rei, ou
prior cm convento.
— Quando Deiu quer, com todos os
ventos chove.
— O homem ande c<mi teuto, e a mu-
lher não lhe toque o vento.
— Vae-Bo o tempo, c<imo o vento.
— Mulher, vento e ventura, a-tiulia se
muda.
— Amigo de bom tempo, muda-oe com
0 vento.
— Tempo faz tempo, e chuva traz
vento.
— Alto mar o não de vento, nilo pro-
mette seguro tempo.
— M.iidiS ruiva, ou vento, ou chuva.
VENTO, t. m. Peça acharoada da Chi-
na, COMI uni escri|itorio, o uma só porta.
VENTOINHA, s. f. Bandeirinha de vér
a ilirceçào do vento, que se muda com
elle.
— Figuradamente: Plur. Pessoas, for-
tunas inconstantes, mudáveis,
VENTOR, í. m. Cào de bom faro, que
descobre e rasteja bem a caça, e a le-
vanta ; o sabujo segue-a.
VENTOSA, s. f. Vaso de metal, ou vi-
dro, cujo ar interno se rarefaz por meio
de estopa queimada, e applicando-so pela
boeca á carne prende n'ella, dilatando-
po o ar interno do corpo, por encontrar
menor resistência no da ventosa; appli-
cam-semuitas vezes sobre sarjas, e n'e88C
caso se denominam ventosas sarjadas.
— Dá-se tiimbem este nome aos barre-
tes dos jcsuitas, pelo feitio.
VENTOSIDADE, s. f. (Do latim vento-
sitas, de ve)ti'isus\. Vapor ventoso no
corpo dos animaes.
— Ventosidade dos intestinoB; ar que
sáe pelo anus sem barulho.
— As feridas de ventosidade; as feri-
das do estoniasTo; Hato, arrotos.
VENTOSINHO. Diminutivo de Ventoso.
VENTOSO, A, adj. (Do latim cetUosus).
Quo está sujeito aos ventos. — Plaga
ventosa. — --1 primavera e o outomtio são
estações ventosas.
— Que tem a apparencia de vento.
— Que produz ventos, flatuosidades.
— Que é cau3a<lo pelos ventos. — Có-
lica ventosa. — Dotnçaí ventosas.
— Figuradamente : Vaidoso, vão. —
Parvos ventosos. — Lingua ventosa. —
Ambiqão ventosa.
— Que vôa como o vento, ou se move
n'elle.
VENTRAL, adj. 2 gen. (Do latim ren-
tralis, de venter). Temio de anatomia.
Que pertence ao ventre.
— Termo de cirurgia. Hérnia ventral ;
hérnia que se faz nas paredes do abdó-
men .
— Termo de historia nattiral. Barba-
tanas veutraes ; barbatanas collocadas no
ventre.
— Termo do botânica. Sutura ventral;
linha formada pela approximaçâo das
duas bordas da tolha carpellar dobrada
1 ou enrolada sobro si mesma.
VENT
VEN^
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VENTRE, s. VI. (Do latim venter). A ca-
vidaue do corpo que contém o estômago
e os intestinos. — Ter mal no ventre. —
Ventre inchado. — «E respondendo á se-
gunda proposição contra aqiielles que di-
zi<ào que losro viria outro tremor e que o
mar se levantaria a '2h de Fevereiro, di-
go, qu3 tanto qu-, Deos fez o homem
mandou deitar bum pregão no paraiso
terreal, que nenhum seraphim nem anjo
nem archanjo, nem homem nem mulher,
nem sancto, nem sancta, nem sanctifica-
do no ventre de sua mãe, não fosse tào
ousado que se entremettesse nas cousas
que estào por vir.» íill Vicente, Obras
varias. — «Na qual visitação o menino
encerrado no ventre de sancta Isabel foy
cheo do Spirito sancto, e lhe foy dado
sobrenaturalmente, conhecer quem era
aquella a Senhora que vinha visitar sua
mãv; e quem trazia no ventre. Feilo qual
se alegrou e deu saltos de prazer no ven-
tre de sua mãy.» Frei Bartholomeu dos
Martyres, Catecismo da doutrina christã.
— Barrifra.
O cadáver esquálido na terra
Jaz, ou no ventre da medonha Hyêna ;
Nenhuma pia mão i^ous olhos fecha,
Nenhuma bocca os lútimoâ suspiros
Lhe toma, e lhe conserva: assim nos bosques
Viveo por muitos séculos o homem.
J. Á.. DE 5IACED0, MIDIIAÇÃO, Cailt. 1.
— «Dietas estas palavras, o cavalleiro
negro cravou as esporas no ventre do
ginete e repetiu: avante!» Alexandre
Herculano, Eurico, cap. lò.
— A parte em que se formam as crean-
ças, os lilhos do animal, onde se passa a
gestação, fuliando das fêmeas dos ani-
maes, e (ias mulheres. Os filhos em
quanto estão encerrados no ventre de sua
mãe. — «Neste Domingo Irmãos, e nos
mais que se seguem atee a festa do Na-
tal celebra a Sancta Madre IgTeja o altis-
8Ímo e marauilhosissimo mysterio da En-
carnaçam do Filho de Deos, quando quis
do Ceo decer aas terras, e tomar carne
humana no ventre da Virgem sagrada
pêra nos saluar.» Frei Bartholomeu dos
Martyres, Catecismo da doutrina christã.
— Sobre o ventre ; deitado paia a parte
de diante do corpo.
— Receptáculo dos alimentos e das be-
bidas.
— Este hymetn faz do seu ventre um
deus; o ventre é tudo para elle.
— O ventre considerado relativamente
ás funcçòes d'evaeuação que elle preen-
che.— Ojluxo du ventre.
— O ventre considerado relativamente
á proeminência que apresenta. — <) ven-
tre incommoda-o.
— yj'f(t.i'o- ventre ; parte inferior do ven-
tre. — Uma pancada no íirti.ro-ventre.
— Teruio de jurisprudência. Curador
ao ventre ; curador que se nomeia á crean-
TOL. V. 114.
ça, de que uma mulher está gravida na
occasiào do fallecimento do marido.
— Figuradamente : Parte a mais larga
de um vaso.
— Figuradamente: A parte ôca e in-
terior de ura corpo qualquer.
— Termo de physica. Nome dado aos
pontos em que as vibrações apresentam
a maior amplitude.
— Termo de anatomia. Parte media e
inchada dos músculos.
— Termo de historia natural. Nas con-
chas, a parte mais grossa da superficie
exterior d'un)a válvula.
— Bordo inferior ou abdominal das
conchas univalves.
— • Bojo do vaso, concavidade da lapa,
caverna.
— Figuradamente: Prenhez, parto,
gravidez.
— O Jilho segue o ventre ; fica da con-
dição civil da màe; e é iivre ou escravo,
confoi'me ella fôr livre ou escrava.
— Ventre do dragão; na lua, são os
dous pontos da orbita em que a lua tem
a máxima latitude, e dista 90 graus dos
nodos, ou nós.
— Égua de ventre ; égua para cria-
ção.
— Adágios e peoveebios :
— Duas ceias eia uui ventre.
— Meu ventre cheio sequer de feno.
— iluito vae em dar couce em ventre
de dona.
— Não ha paz entre a gcDte, nem en-
tre as tripas do ventre.
— Mal haja o ventre que do pão co-
mido se esquece.
— U que é bom para o ventre é mau
para o dente.
— Cento de um ventre, cada um de
sua mente.
— As tripas pelejam no ventre.
— U ventre ensina as pegas, beijo as
mãos a vocemecê.
— A pássaro dormente tarde entra o
cevo no ventre.
— Pão quente, muito na mão e pouco
no ventre.
— Agua fria e pão quente, nunca fi-
zeram bom ventre.
VENTRECHA, s. f. Vid. Ventrisca.
t VENTRICULAR, adj. 2 gen. (Do la-
tim ventriculus). Termo de anatomia.
Que se refere aos ventrículos. — Capa-
cidade ventricular.
— Adherencias ventriculares, ou pe-
ricardicas ; aquellas que se estabelecem
entre o pericárdio parietal, e o da super-
ficie do coração.
VENTRÍCULO, s. m. (Do latim ventri-
culus, de venter). Termo de anatomia.
Capacidade particular a certos órgãos.
— «Entre os estomachicos convém a pi-
menta, tomando alguns graons delia in-
teira,* ou mal pizada ; porque consome
as cruezas no ventrículo ; a almecega, e
o seu espií-ito ; a csseucia do pao de
Aguila ; o espirito de vitríolo cephalico ;
e outros. No mesmo tempo se borrifará
levemente a Cabeça com agoa de rozas;
e os testículos se introduzirão em agoa
fria mixturacía com vinagre.» Braz Luiz'
d'Abreu, Portugal medico, p.ig. 215, §
224.
— Ventrículos do coração ; as duas
grandes cavidades que se seguem ás au-
rículas ; a direita envia o sangue venoso
aos pulmões, e a esquerda o sangue arte-
rial a todo o corpo.
— Ventrículos do cérebro ; nome dado
a quatro cavidades que se encontram no
interior d'este órgão.
— Absolutamente : O estômago. — Os
ruminantes ftm muitos ventrículos.
— Ventrículo succenturiado ; porção
do duodeno das aves que é rodeada pelo
peritoneo, e que é bastante largo para
se assiujiiliar a um segundo estômago.
VENTRILOQUIA, s. /. Faculdade de
ser veutriloquo.
— Arte do veutriloquo.
VENTRILOQUIO, A, s. Individuo que
tem a laculdade de modificar sua voz na-
tural, de a abafar á saída da larvnge, du-
rante uma expiração lenta, graduação,
de sorte que esta voz parece vir d'uma
distancia mais ou menos afastada; julga-
va-se outrora que estes indivíduos falla-
vani do ventre.
VENTRILOQUO, ou VENTRILOCO, A, adj.
(Do latim veiitriloquus, de venter). Que
fiilla arrancando a voz do estômago. — ■
Mulher ventriloqua.
VENTRiNHO, s. m. Diminutivo de Ven-
tre. Ventre pequeno.
VENTRIPOTENTE, adj. 2 gen. (Do la-
tim venter, e jjotens). Entregue aos pra-
zeres do estômago, de ventre potente.
— Que tem o ventre mui grosso.
VENTRISCA, s. /. A posta do peixe
imniedata á cabeça; é a melhor, a mais
.saborosa e estimada ; a ventrecha.
VEKTRUDO, A, adj. Que tem um gran-
de ventre, barrigudo.
— Figuradamente : Inchado, forman-
do uma espécie de ventre. — O tubo do
caJyx e o da coroUa podevi ser ventru-
dos.
VENTRUSIDADE, s. f. Desenvolvimen-
to excessivo do ventre.
VENTUIRA, s. f. Termo antiquado.
Vid. Ventura.
VENTURA, s. /. (Do latim venturus,
a, um). Risco, sorte, perigo, fortuna
boa ou má. — «Floramão lhe respondeu:
Quem, senhor, a teve sempre tão má em
tudo, que esperança lhe pode ficar de a
ter n'isto boa ? Eu farei o que me vossa
alteza manda, minha ventura faça o que
quizer, que já me não pode fazer mais
triste do que o sou ha muitos dias.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Iugla-
terra, cap. 91.
— Este homem é todo boa ventura ; c
sempre jovial, alegre.
906
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— Arriscar a vida e honra á ventu-
ra da haver ; expôl-a» á boa oa luá sor-
te.— «E (lostiw niiiherias ha por lá mui-
tas f^uizadas com tacs escabechos, que lie
necessário muito ardil para Ibes dar na
tempera: o ainda quo ha quem a enten-
da, assim como ha- quem a fifosto, na3
ha quem a declare, por se naõ encarre-
gar do dos<íosto3, arriscando a vida, o a
honra á ventura de haver, qu(;ni fa^a
prevalecer suas mentiras contra minhas
verdades.» Arte de furtar, cap. 10.
— Pela ventura ; om vez do por ven-
tura.
— Pôr em ventura ; pôr em sorte, em
caso duvidoso, em risco manifesto.
— Boa sorte, dita, boa fortuna.
Já, Bom bem certa e segura
Quo o castigo he cousa cava.
Leixar-to quero il ventura,
Que ás vozes o tempo cura
O que a razão não aara.
ou. VICENTE, FARÇAS.
As ondas navegavam do Oriento
Ja nos mares da índia, o enxergavam
Oa tlialamos do sol, que nasce ardente;
JA, quasi 8CU8 desejos se acabavam. ,
Mas o mau do Thyonco, f[ue na alma sente
As rentiiran que então se aiiparelhavam
A' gente Lusitana, d'clla8 dina,
Ardo, morre, blaspliema, c desatina.
CAM., i.rs., cant. G, est. G.
Quiz afiui sua ventura que corria
Após Ephyre, exemplo do bellcza.
Que mais caro que ns outras dar queria
O que deo para dar-se a natureza.
Ja cansado correndo lhe dizia :
O formosura indigna de aspereza,
Pois desta vida te concedo a palma.
Espera hum corpo de quem levas a alma.
iBiDEu, cant. 9, est. 76.
He certo tal casamento ?
Tenha-o por cousa segura.
Oh grande acontecimento !
Dest'arte sabe a ventura
Aguar hum contentamento !
ciii., FiLODEMo, act. 4, SC. G.
— «E porque a moradia que então era
custume dar-se nas casas dos Príncipes,
mo não bastava para minha sustentação,
determiuoy embarcarme para a índia,
inda quo com ]ioueo remédio, ja offereci-
do a toda ventura ou má ou boa, que
mo soccodesse.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 1. — «Este teve uma
filha, que a natureza estromadamente fez
formosa. Quiz sua ventura que antre
muitos cavalleiros que a serviam como a
luais formosa dama daciuelle tempo, se
namoraram delia dous grandes amigos,
vassallos de sou pai : um so chamava
Brandimar, c outro Artibel.» Francis-
co de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 90.
O negro monstro da sedenta Inveja,
Qu'o berilo tem uo Tartjiro maldito,
Dos ermos nunca o moradar bafeja.
Nem 14 lho escuta o pavoroso grito:
KUa ati(;a a ambi(;ào, c ella forceja
Km dar a ímpios termo indofiiiito,
Com cila da ventura o homo' diverge,
L)o erro, o mal uo pílago «o imerge,
j. A. nu MACKDu, o oBiKNrK, Cant. 7, est. U).
Quo disputaste As U\tb.í rebclladas ;
Fugio-te qual relâmpago a ventura,
Qual ofémora flor, ((Uo brota, o murcha :
Assim vemos nascer na Primavera
Kosplandi.ceiítn o Sol, risonho o dia,
Quo súbito negrume em nuvoíri densa
Aos olhos rouba a luz, o a paz aos ares.
IDEM, MKDITAÇÃO, Caut. 1.
Da Natureza suflbcando os gritos.
Na privarão do mal ventura encontra
Consular Orador: esto o seu brado,
Quando outro mil liyp'ithe8es suspenso
Eloquente Académico disputa.
LA nos dirige solida esperani;a.
Com seu lume immort:il nos rege, c escuda
Até que surja o decrctorio dia
Do hum eterno prazer, o, immerso o Justo
No seio do Immortal, som susto gozo
Da que buscou celestial Ventura,
Que morada não tem no térreo Globo,
Ondo ílptisinismo he fábula sonhada,
E somente he feliz quem tom virtude.
He voz da Natiireza esta conquista,
Iluma apparencia vã, hum vão fantasma
Da buscada Ventura, isto só basta
A' alma anhelantc.
— ■ De ventura ; por acaso, por acerto.
— Loc. : Metter em ventura; metter
eui sorte, era caso duvidoso, em perigo
do que a sorte dá.
— Por ventura ; por acaso. — «Se al-
guns daquelles, que ua dita Armada
hajam d'hir, acusarem alguns, que ja-
zem presos, possam leixar seus Pro-
curadores, que acusem os ditos presos,
e sejam obrigados de o assy fazerem ;
porque seria grande prejuízo aos que ja-
zem na cadèa espaçarem seus feitos os
acusadores ataa sua tornada: e se per
ventura os ditos acusadores nos leixarem
Procuradores pêra seguirem suas acusa-
ções, se taacs feitos forem, que os Juizes
devam tomar por parte da justiça.» Ord.
Affons., liv. 5, tit. 85, § 1.
— Pur ventura nossa; por felicidade
nossa, por sorte nossa. — « Um jiacre
nos estava esperando á porta, e no ca-
minho se travou com outra earroagem,
quebrou-so, mas por ventura nossa sahi-
raos illósos : somente o susto fez que to-
da estremecida foi forçoso que entrasse
n'uraa loge onde a mercadora teve a con-
descendência de me dar os soccorros ne-
cessários, e mandar busciír outra carrua-
gem, u Francisco Manoel do Niiseiftiento,
Successos de madame de Seneterre.
— Por ventura; talvez. — «Traba-
lhou o cavaleiro por fazer a vontade do
Britaldo, e depoi» de a guardar tempo
acomodado, a vio huma madru^rada, aca-
badas as matinas estar orando na prava
do Rio Nabaij, encomendando por ventu-
ra a Dcos sua inocência, e pedindoihe
remodio à tribulação om que andava, e
como a hora, e HolidaS do lugar, dessem
motivo ao acto, arrcmeteo a ella.» Mo-
narchia Lusitana, liv. G, cap. 24. — «E
a isto nom contradiz ser eu por ventura
agravado de vos, em cousas de que Vos-
sa Alteza mo de-agravaní com mercee,
honra, o acrecentamento como eitpero ;
porque os achaques nom se escuBam an-
tre hos Senhores, e seruidores pois oa ha
antre os Pais, e filhos: ma« os meus nom
sam de graveza, nem qualidade, que min-
guem em mym ho grande amor, o muita
lealdade, com quo vos sempre ey d'obe-
decer, e servir em todo que a vossa hon-
ra. Estado, e Serviço, e bem de vossos
Regnos comprir. » Inéditos d'historia por-
tugueza, tom. 2, pag. óá.
Fonseca nâo o ouvindo por ventura,
Polo tento que tom na gente ímiga.
Ou sendo-lho pesada cou.sa e dnra
Doixar o sou íogar, durando a briga.
Do que diz Vasconcellos pouco cura.
Não lhe torna i-csposta, nem mitiga
O esforço natural que o cstA movendo.
Antes cora isto mais lhe vai crescendo.
yRASCISCO D'ASDRAnK, PltlKEIIO CEBCO DR DIC,
cant. 10, est. 122.
— Adágios e provérbios:
— A leve ventura com diligencia.
— Vem a ventura a quem a procura.
— O que as cousas muito apura, põe-
nos em muita ventura.
— Vem ventura, e dura.
— Vento e ventura pouco dura.
— Ventura te dê Deus, filho, que sa-
ber pouco te ba.sta.
— Quando a má ventura dorme, nin-
guém a desperte.
— Quanto maior é a ventura, tanto
menos é segui-a.
— Quem está em ventura, a formiga
o ajuda.
— A boa ventura de uns ajuda os
outros.
— A boa ventura com outra dura.
— Dá-me ventura, deita-te na rua.
— Jlais corre a ventura, que c«vallo
ou mula.
— Onde falta a ventura, diligencia é
escusada.
— Rei por natura, papa por ventura.
— A Deus, e á ventura, botar a na-
dar.
— Quem em casa de mãe não atura,
na da madrasta não espere ventura.
— Que fiandeira eu era, se ventura
houvera.
— Tive formosura, nào tive ventura.
— A morte que der a ventura, essa se
soflra.
VENU
VEO
VEO
907
— Muda-te, mudar-se-te-ha a ventu-
ra.
— Bom coração quebranta má ven-
tura.
— Mulher, vento, e ventura asinha
se muda.
VENTDRÃO, s. m. Augmentativo de
Ventura. Grande fortuna, grande ven-
tura.
VENTURADO, part. pass. de Ventn-
rar.
VENTURAR. Vid. Aventurar.
VENTUREIRO, A, í. Vid. Aventureiro.
— Adagio e pkovekbio :
— A homem ventureiro, a filha lhe
nasce primeiro.
VENTURINA, s. f. Vid. Aventurina.
VENTURO, A, aJj. (Do latim venturus).
Futuro, que ha de vir. — Christo ventu-
ro. — D. Sebastião venturo (na opinião
de muitos').
VENTUROSAMENTE, adv. (De ventu-
roso, com o sufBxo «mente»). De um
modo venturoso.
— Com ventura, ditosamente.
— Tão venturosamente ; com tanta
ventura. — » Mas sobrevindo Bernardo
com a gente do rio o rompeo, e matou
por sua mào, tào venturosamente, que
de todo este grande exercito de Barba-
res escaparão muy poucos, para levarem
novas de sua desaventura. » Monarchia
Lusitana, liv. 7, cap. 11.
venturosíssimo, a, adj. superl. de
Venturoso. Mui venturoso. — Povoação
venturosíssima.
VENTUROSO, A, adj. Arriscado.
— Afurtunado, feliz, ditoso.
— Vid. Aventureiro, e Venturoso.
VÉNUS, s.f. (Do latim Vemis, vene-
ris). Divindade dos pagãos, a mãe do
Amor, e a deusa da formosura. — «Ha
termos, diz aquelle Poeta no Livro se-
gundo de Arte Amandi, com os quaes se
podem adoçar os defeitos das molheres,
chamando-se morena á que he mais ne-
gra que pez, cvmparando-se a Vénus a
que he vesga, e a Minerva a que sofre
tiricia. » Cavalleiro d'01iveira, Cartas,
liv. 1, n." '33. — «V. S. lhes chama vé-
nus tão secamente, que julgo que se es-
queceo de que os Historiadores das deli-
cias, das desenvolturas, das desordens,
e das deshonestidades de Vénus, não lhe
podérSo negar jamais a autoridade, o res-
peito, e o nome de Deosa.» Ibidem, n.°
3õ. — «Desta forma inílue Vénus sobre
os casos amorosos, porque os Pagoens,
submeterão o Amor ao diminio daquella
Deosa. Mercúrio preside á Eloquência,
e ao Commercio, Marte á Guerra, e as-
sim 08 outros.» Ibidem, n." 43.
— Termo de poesia. Os prazeres de
Vénus ; os prazeres do amor.
— Estatua de Vénus ; a estatua que a
representa. — A Vénus de Medicis.
— Vénus anadyoiiiena ; celebre estatua
representando Vénus saindo do mar.
— - Por extensão : Uma Vénus ; mulher
d'uma extrema belleza.
— Encantos, graças, bellezas.
— Termo de astronomia. Um dos sete
planetas principaes ; está distante do sol
cerca de 12000000 mvriametros, e per-
corre a sua orbita em 292 dias : o volume
é pouco mais ou menos egual ao da ter-
ra, e é o mais próximo do sol depois de
Mercúrio. O povo dá a Vénus o nome
de estrella do pastor. O planeta Vénus
apparece algumas vezes em pleno dia, e
em presença do sol.
— Termo de chimica antiga. O cobre,
dedicado ao planeta Vénus.
— ■ Vitríolo de Vénus; sulfato de cobre.
— Crysta-es de Vénus ; o acetato de co-
bre.
— Monte de Vénus ; a proeminência
abaixo do umbigo, e sobre a natura das
mulheres.
— O deleite sensual venéreo ; a con-
cupiscência carnal, o prazer carnal.
— Termo de chiromancia. Eminência
na raiz do dedo da mão.
— Género de conchas bivalves.
VENUSTADE, s.f. (Do latim venustas).
Graça, elegância.
— <írande formosura.
VENUSTO, A, adj. (Do latim venus-
tusi. Jluito formoso, engraçado, elegante.
— Figuradamente: Versos venustos.
VEO, ou VEU, s. rii. (Do latim velum).
Peça de lençaria, ou seda mui rala, de
cobrir o rosto, deixando vêr por ella, e
ser visto o objecto que cobre.
Com seu exemplo mostra, e noa descobre
Que o melhor era ignoto, e que podímos
Com porliado estudo d' entro as sombras
Da magestosa Natureza hum dia,
Despedaçado o véo, á luz traze-lo,
(Elle o caminho mostra, e o vai trilhando)
E assim tocarmos da verdade o termo.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 2.
De baixa gelosia me acenava
Com um cândido veo, mais nivea e cândida.
Formosa e breve mào. Fluctuando ao vento
O veo cahiu, c a destra desparcce.
GAERETI, CAMÕES, CaUt. 4, Cap. 3.
Alfim no oceano se mergulha a lâmpada
Do firmamento máxima. Descia,
Como um veo, a nebrina sobre a serra ;
Ja lhe toucava a frente, e ia ligeira
Pela espalda, insensível devolvendo.
Té lhe poisar as orlas na planície.
IBIDEM, cant. 9, cap. 1.
— Membranas subtis, que formam os
olhos, apartam e contém os seus humo-
res.
— Figuradamente: O véo da cegueira.
— Loc. : Deitar o véo da decência
sobre os- objectos torpes ; não os tratar ou
expor de todo em todo nus, mas com co-
res e palavras decentes, e quanto ser po-
dem modestas.
— Figuradamente : Véo sombrio.
Immortal Gralileo, ao dia, âs Luzes,
Que teu saber profundo aos homens trouxe.
Se oppoz a cega audaz insipiência ;
luda agora se oppõe, qu'hum véo sombrio
Tentou no Sena despregar-te em cima.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Caut. 3.
— Véo do cálix ; o panno de seda, ou
outra matéria, com que se cobro.
— Véo pallido e mortal; diz-se da phy-
sionomia do moribundo.
■\ VEO, por Veio, na terceira pessoa
do singular do pretérito perfeito. Vid.
Veio. — «Vasco da Gama depois que to-
mou o pouso diante desta pouoaçào Mo-
çambique : ao seguinte dia em companhia
do Mouro do recado que o veo visitar
mãdou o escriuão do seu nauio cõ algu-
mas cousas ao Xeque.» Barros, Década
1, liv. 4, cap. 4. — «Inuiada esta repos-
ta, quando veo ao seguinte dia a noue
de Janeiro do auno de quinhentos e hum,
em se o sol pondo, ex-aqui começa de
apparecer esta armada que elRey de Co-
chij dizia mães medonha em numero de
velas que poderosa no animo de quem
nella vinha: porque seriaõ ate sesenta
velas de que vinte cinquo eraõ nãos gros-
sas.» Ibidem, liv. õ, cap. 8.
depois veo. e morreo
na casa em que nasceo,
em Sintra, onde acabou
seus trabalhos, e deixou
gram filho que soboedeo.
GABCIA DE BEZENDE, MISCELLANEA.
Vij la Princesa tomar
bem a reues do que veo,
cousa muyto despautar,
tam gram pi-essa, tal mudar
do tempo, tam gram rodeo.
— íE tanto que a dita villa foy so-
corrida, e prouida como compria, el Rey
se veo a Cordoua, e ahy esperou polia
Raynha, andando prenhe se foy de Me-
dina a Toledo, e ahy pario acerca da
Páscoa a infanta dona Maria, no anno
de quatrocentos e oitenta e dous acerca
da Páscoa de Resurreição, e de Toledo
se foy a Raynha a Cordoua, onde a In-
fanta foy baptizada na Igreja mayor pol-
lo Bispo da cidade com grandes cerymo-
nias.u Garcia de Rezende, Chronica de
D. João II, cap. 35. — «Dalli se veo ao
passo, onde achou muito refresco que lhe
mandara el Rei de Cochim, que veo bem
a propósito a todos, e per os que trouxe-
ram o refresco, lhe mandou dizer, que
esforçasse porque elle speraua em Deos
de não tão sAmente vencer el Rei de Ca-
lecut, mas ainda o captiuar, e lho entre-
gar preso.» Damião de Góes, Chronica
de D. Manoel, part. 1, cap. 87. — «Don-
de veo a dizer Sam loam Chrysostomo,
que he impossiuel viuermos, se em nós
os vicios nã morrerem. Como nos pode-
mos chamar viuos estando nos vicios se-
908
VER
pultaflos? A alma <líi vida ao corpo, e a
gniça (IA vida il alma, a qual .som graça
está morta sondo imiiiortaí, o o.staiido ci-
la morta, dizso o liomom iiilo ter vida, e
ficildo ella aom vida, nílo viuímilo aitX
morto.» Hoitor Pinto, Dialogo da Lem-
brança da morte, cap. 7. — 'E dissclliu o
])r()i>licta, Oisos Huco.i ouui a palaiira do
Deos. E após eUas o outras palaiiras veo
o spirito .sobri! ollos e alouautarãso uu-
berto3 de carno, o ticarn iiomons viiio.s.
Que capo lie esto cUuo do ossoít fina loá,
Boiíílo o mundo cheo de pcccadorc.s V E
ttsisi como pêra ae alouantarum o.s ossos e
ficarem liomons viuoo, voo sobrelles o
spirito.» Ibidem.
VÉOSINHO, i-. III. Diminiitivu de Véo.
Pequeno véo.
1.) VÈR, V. a. Conhecer os objectos
externos por meio dos olhos.
Lofjo fallaiá por mondar,
Como homo-.n diinuclla tuna:
Jil Viía veriel.i im serra
Algiun gado/.iiilio andar,
Não digo cu pêra o guardar,
Sonào ve-lo-heis pacer
E porá VQS30 prazer
Sabereis assobiar.
GIL VICKNrE, >'ABÇAS.
— «Por certo, alto e poderoso impera-
dor, pequena ó a fama que do tua côrtf
polo mundo se estende, pêra o muito que
merece ser estendida e espalhada: por-
que, ioda que com um tom immortal soe
nos ouvidos ; daquelles, que do teu se-
nhorio vivera arrcdailos, em comparay.ão
do próprio, que agora estou vendo, é
quasi n.ida.» Francisco de Moraes, Pal-
meirim d'Iuglaterra, cap. 93.
Na própria noite deste próprio dia
Que Roma irr as virgens nicreceo,
A quera de Pedro a Barca então regia
Revelou o que rege a torra e Ceo
Que martyrio também receberia
Oude Úrsula co'as maia o reccbeo :
Deixa contente o grão Pontilicado,
Desejoso de ser martyrisado.
CAM., OITAVAS.
— «Cuydamos muitas ve/.es que vemos
homens, e não saõ homens: nos homens
não vemos homens, mas fantasmas de ho-
mens, e sepultui-as de si mesmos. Vemos
03S08, e caueyras, corpos mortos, fraco.-,
caducos e transitórios. » lleitoi- Pinto,
Dialogo da Lembrança da morte, capitu-
lo 7.
— Ob.servar, examinar, notar, — « E
destas havia tantas, que parecia impossi-
vel poder havei' tanta cria\;ão em tão
pequena floresta ; mas se muito mais es-
pantaram de ver a maneira da cova, que
era tão artificiosa e ilo fcintos repartimen-
tos e WVSJ13 couce; ta« las, que parecia que
iil em algum tempo servira ^le apousenta-
mentu de al.sum grande honieni.» Kran-
VER
cíhco de Moraes, Palmeirim dlnglaterra, I
ca]). 4'J. — «Todo seu dc.sijo ora ver m."io ;
Albayzar |iora hc partir delia. Neste tem-
po Constantinopla estava l^o cheia de ca-
valleiros famosos o damas fermosas c mui-
to loui;iís, (|ut3 entào so cria que nella en-
cerrava a dyr de tudo. Sij os dous ir-
milos falleeiam iU)< muros a dentro, pêra
se afíirmar que alli nllo faltava naila.i
Ibidem, cap. DO, — «.\flonso d'Alboquer-
(pii; vendo o desmando destes dous capi-
tAes, ileu a andar rijo poios ontreler, e
n iste .seu abalar de pressa os que iica-
uào a trás cuidando ((Ue era por ciiegar
ao Cerauic: come^'Ui'ào tudus a quom se
poria diante, sem Allonso d'Alboqu«)ripie
os poder entreter por j;i ir tudo arrom-
bado.» Barros, Década 2, liv. :'), cap, 3.
— tE inilo todos ao longo da ilha afas-
tados da terra lirme fròteira, iorge Po-
ga^'a capitão de huma earauella, como
leuaua Imm parao da terra leue, tomou
a dianteira : e em querendo descobrir
huma ponta que fazia a terra, deu de
súbito eom hum bargantim de Mouros,
que vinhào ver o que fazia a nossa ar-
niada.» Ibidem. — «Pj màdandolhe tirar
com hum berço, para ver se fallavào mais
a propósito, lhe responderão com cinco
pilouros, três de falcão, e os dous de ca-
niello, de que elle e todos os mais fica-
rão embaraçados.» Fernão Mendes Piuto,
Peregrinações, cap. -iO. — «Neste tempo
chegou o i'romalá Lluudel ao Junco gran-
de em que hia Autonio de Faria, e afer-
randoo cõ dous arpeos talingados em ca-
deas do ferro muyto compridas o teve
atracado de popa e de proa, oude se tra-
vou entre elíes huma briga muyto para
ver, a qual despois de durar espaço de
mais de meya hora, os inimigos peleja-
rão cõ tanto esforço que António de Pea-
ria se achou com a luayur parte da sua
gente ferida, o cõ isto por duaa vezes
em risco do ser tomado.» Ibidem, cap.
GG. — «Que bem se mostrava o Profeta
estar contra elles indignado, pois sotíria
vêr sua bandeira ignoniinio.samunte rota ;
e a estas considerações juntavão outras,
accusando a fortuna do General, e as
cousas da guerra, avaliando como culpas
as desgraças presentes.» Jacintho Freu-e
d'Andrade, Vida de D. João de Castro,
liv. 2.
A Cidade, que vê dados em presa
Seus bens d hum duro imigo, c deshum.ano,
Fica (pois mais não nóde) cm ódio acesa
Contra o author deste mal, impio o tyrauo.
<">s Soldados, que vêem que desta empresa
Outrem leva o proveito, oUes o dano,
Também se enchem dlium ódio asâai furioso
Contra hum tal Ca pitão, tão cubi^;oso.
fBASClSCO D'ANDttAnE, TSIUEIBO CKBCO DK DIC,
caut. 13, est. fJ.
N 'outros postos também cstA batendo,
Onde o tielouro ao muro jieior trate,
.Mais d luim grosso canhão me^loulio o horrendo
Cujo furor &ssola tado, o abate :
VEK
Também alguma* |m.\s>s r»' i-Mio 'ttnda
Km part<í oiidv qualqinT o nuiro bate,
Co'a sua co-itumada alta braveza
Sobre a pijrta lá da fortaleza.
IBIDEM, cant. 16, est. b1.
— < liequcria-lhe a mulher que tal nSo
fizesHc, porque o cidrão er^ fo^o par*
quem MC aciíava naquelle esta-lu. Bc8-
jiuiideu e:itão : Kem bei que.ó Coco, que
bem abra/.ado me tem ; mas deixai-me
vèr se .'ícaso tem o cidrão a TÍrtado do
cão damnailo, cujos cibellos, 6G oa pòc
na nionle inr:i que elle f<:z, uizcm que a
sara logo.» \). iVaiicisco Manuel de Mel-
lo, Carta de guia de casados. — «E a^-
si foy dous aia« ver ccuncr cl Key, que
pêra isso se vestio ricamente, e a saia
armada do rica tapeçaria, e com dorsel
de brocado, e niuyta, e uiuy rica prata,
e seus oíBciaes mores com reis darmas,
c porteiros de maça, c muytoa miidstros,
e danças, trombetas, e atabales, tudo fey-
to em grande perfeição, porque el Koy
nas cou.-as que tocauão a sou estado era
sobre todos muy cerimonial, e perfeit<j.»
( iarcia de Rezende, Chronica de D. João
II, ca[). 78. — «Navegamos dez léguas
n'este dia sem susto e divertidos a ver
garças e muita caça de alternaria ceier
á fortuna do ilestros caçadores. A ter-
mos a mortificação do Santo Borja, lar-
go campo se abria em (jue a po lêssemos
exercitar,» Bispo do <Jrio Pará, Memo-
rias, publicadas por Camiilo Castelio
Branco, pag. U^O.
— Estar confrontando, olhar para al-
íruma cousa.
Todos da grâa mudança que fizera
Kl liei 110 rosto, vem qual hc o seu peito.
Vem que sua tcn^ào c Ucscjo era
Vór-se de todo fora deste feito.
Outra vez geralmente aqui se espera
(^ue este gorai desejo tenha eíleito.
Mas foi vaji eaperan<;a, o vào desejo.
Donde nascer hum grave damuo vejo.
ruANoisco d'a.\'obadc, pbuibibo cbbco oa did,
cant. 7, est. 6.
— Viu a sua hora, ou vez; achou a
boa oecasião, hora, conjuncçSv, opportu-
nidade.
— Loc, : Ter de vêr cvm alguma cou-
sa; ter relação, connexão com ella, ou
alguma razão do obngaçilo, tomar-se
inspector delia.
— Fazer vér; mostrar, demonstrar,
provar, convencer,
— Vèr cvH» <iislraci;ão, ou divertitntn-
to ; dill"ereutes modos de vèr.
— Loc. : Ir vèr nianJo; viajar.
— Figuradamente : Conhecer.
Afrontado por rer que assi eoutrasta
E vence huma s.> nao o mar. c os ventos,
Com ae.nbraiite fero/, din. s.-mpre a força
Das ;iortngues;is nãos ficirá tirmo
K CO n tanta soberb.-i desn-ciando
De Kepthuno o poder, e o meu, so aiarguem
VER
VER
VER
909
Por maves profundisaimos, que desta
Forte uaçâo só, forào nauegadoa ?
COETE REAL, NAUFRÁGIO DF. SEPCLVEDA, Cailt. 7.
— «Acabadas estas palavras foi tanto
o alvoroço nas damas e mancebos corte-
sãos, que todo o paço se nào revolvia em
ai, desejando ver já a Albayzar no cam-
po, ellas para verem o que tinhão em
que as servia, elles para mostrar o que
lhe queriam e faziam por seu serviço.»
Francisco de Moraes, Paimeirim d'Iagla-
terra, cap. 82. — «Ciiegaiido-se a ella.?,
disse, olhando pêra quem o matava: Se-
nhora, já eu puz a esperança em alguma
parte, que me custou caro; e qual me
elia ficou por derradeiro na divisa do
meu escudo o podeis ver.» Ibidem, cap.
141. — -«E tratando primeiro dos ce-
rieiros, elle é negocio estremado ver dois
mil basbaques moscatéis mais espitiica-
dos que um pintasilgo mimoso, que em-
pregam 03 seus realts em negrinhos de
cera, e quando a bolça está debilitaila
que nào pôde levar os tenores, a isto mui
legalmente e como bons e fieis madraços,
surgem logo á porta Jo qual cerieiro, en-
tre trezentos rapazes, com o pensamen-
to tão picado daquella occupaçào, como
que importara o estado do Xarife.t Fer-
não Soropita, Poesias e prosas inédi-
tas, pag- 82. — « (jraças lhe demos,
por tam presto nos liurar de tantos, a
que pouco antes estauamos offerecidos, e
quasi descoufiados de nos vermos iiures
delles.» Fr. Gaspar de S. Bermirdino,
Itinerário da índia, cap. 2. — «Per ou-
tra parte havia já seis, ou sete dias que
não podia tomar conclusão alguma com
ElRey, e dissimular tanto artificio, como
com elle queria ter, pêra sua condição
era hum grave tormento, porém tudo sof-
fria por ver se podia ter algum modo de
salvar Ruy d'Aiaujo.B Barros, Década 2,
liv. 6, cap. 3. — «Nem eii sei se desejara
que para esse esquecimento se te depa-
rasse arrazoado pretexto : maior desgra-
ça minha, e mais ténue delicto o teu. Fi-
cares em França; não terás lá requiuta-
dos gostos ; mas vèr-te-hás livre. Cansa-
ço de prolixa jornada, certos sociáes de-
coros, receio de não responder como de-
ves, a meus arrebatamentos, te reprezão
em Franca. Ah nào receislo Francisco
Manoel do Na.scimento, Successos de ma-
dame de Seneterre. — «O que lhe con-
firmou muito mais ver em chegando ao
pagode cinco sinos sobella porta princi-
pal, postos em campauairo, apar dos
quaes estauão huma columua darame de
altura de hum grande masto de nao, e
110 capitel delia hum gallo também dara-
me.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 1, cap. 40.
— Reparar, atteLtar, considerar.
— NHo vêr a sua hora ; não achar o
tempo favoravtil ao seu intento.
— Principiar a vêr.
Agora que de neve se embranquece
Aquelle monte, e o burro se arrepia,
He ch(;gado o Inverno : principia,
Paulino, a ver que cedo te anoitece.
XBBlDi: DE JAZEKTE, POESIAS, p»g. 79.
— Vêr a luz da manhã; vêr o dia. —
«Aquelle dia ouuera de ser muito escu-
ro, nem o deuera o tíol allumiar. A noy-
te em que eu fuy cucebido ouuera de ser
escurissima, tempestuosissima e triste :
nem ouuera de aparecer nella estrelia,
nem ouuera de ver a luz da mauhaã,
pois nam fechou as portaò do ventre que
me cõcebeo. O porque não morii no ven-
tre de minha màyV» Fr. Bartholouieu dos
Martyres, Catecismo da doutrina christã.
— tíer cousa formosa para vêr ; ser
cousa agradável e linda á vista. — «Sua
entrada foi cousa fermosa pêra ver, por-
que eram três embaixadores, hum da or-
dem dos Baroens, que tinham o primei-
ro lugar, e os outros dous uoctores em
leis, os quaes traziam huma magrdfica, e
pomposa companhia.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, parte 3, capitu-
lo Õ7.
— Ter desejo de vêr alguém; desejar
vêl-o, manifestar esse desejo. — «E pêra
que se saiba ho grande amor que el Rei
tinha aos filhos do. Duque dom Fernan-
do, e a dom Aluaro, e desejo de hos ver
no Regno, e quanto a cargo tinha ha
honra, e fama dei Rei dom loão seu pri-
mo, me pareceo cousa couueniente ajun-
tar a este Capitulo huma carta que man-
dou ao mesmo dom Aluaro scripta de sua
própria mão, em que diz assi.s Damião
de Góes, Chronica de D. Manoel, part.
1, cap. 13.
— Ir vêr alguém. — «E recolhendo-
se à fortaleza muy anojado foy ver D.
Álvaro de Castro, que achou cuiando-se,
e sem fala : eucommendando ao Cirur-
gião, tivesse muvto grande conta com
sua cura, e com a de todos os mais feri-
dos, que foy ver curar.» Diogo de Cou-
to, Década 6, liv. 3, cap. 6. — «Aquel-
las escusas que o Sangage deu pêra não
hir ver o Capitão, foraõ, porque não se
atreveo a ver o rosto a EIRey de Terna-
te, porque havia que delle lhe nascera
todo o seu mal.» Ibidem, liv. 9, cap. 13.
— «Com esta familiaridade hum homem
honrado per nome Fernão Veloso desejou
de em companhia dalguns destes negros,
a que se ja fezera familiar, ir ver suas
habitações, e modo que tinhaõ em suas
L-asas, e pêra is.so houve licença de Vas-
quo da Gama, hos quaes mostrando nis-
so contentamento ho levarão consigo.»
Damião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 1 , cap. 35.
— Era muito para vêr.
Muy prezada e estimada
sinios a giueta ser,
destrangciroâ muv louuada,
tam rica, tam atilada,
que era muvto pêra ver.
r.AUCIA DE KEZESDB, MlSCELLAIfF.A .
— Ao vêr descer o somno ; ao appro-
ximar-se o somno.
Ao ver descer o Somno, i|ue a teu lado
Vem reclinado no tardio coche,
E derramar nos ares o recreio
Do plácido soce.go,
AlSrouxando os cordéis, já manso c manso
Descáhnft mão dos inferaaes supplicios.
Que dào, antes da morte, aos imprudentes.
Que espaucal-os niio ousão :
Que nào sabendo pôr Honras, Riquezas
Xo merecido gráo. são desditosos,
São baldões da Fortuna, são captivos
Do insolente Orgulho.
r. u. DO XASCutEKTO, OBBAS, tom. 1, pag. 24.
— Ser cousa temerosa de vêr ; ser cou-
sa terrível á vista. — «Este, alem de ser
muyto feyo, estava com ambas as maõs
metidas na boca, que a fazia tamanha
como huma porta, e com huma ordem de
dentes lá dentro no concavo delia, e com
a lingoa negra de mais de duas braças
botada paia fora, que também era cousa
muyto temerosa de ver, e que fazia ar-
ripiar a< carnes.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 89.
— Vêr-se ejn algum estado ; achar-se
n'elle; estar n'elle.
— Vêr-se isto mui claramente ; vêr-se
com muita clareza.
Isto 86 pôde vêr mui claramente
Nesta que hoje ha de ser de mi cantada,
A qual d'huma vil, pobre, e baixa gente
Ja no passado tem do foi morada:
E depois com a industria dhum prudente
Varão, foi tào famosa e celebrada
Que a cabeça entre todas foi erguendo
Quantas visita o Sol hoje em nascendo.
r. d'akdrade, peimeibo ceboo de diu, cant. 5,
est. 3:
— Vêr-se ao espelho ; vêr n'elle o pró-
prio semblante.
— Vêr-se ejfi perigo, embaraço ; arris-
car-se, embaraçar-se.
— Vêr-se uma batalha accesa em ódio.
Em tudo aqui podia vêr-se agora
Huma cruel batalha em ódio acesa.
Que hum momento nào cessa até aquella hora
Que a pouca mocidade Portuguesa,
A quem he natural ser vencedora,
A victoria alcançou daquella empresa,
E fez com forte braço, e valeroso
Hum imigo fugir tào copioso.
FBASCISCO n'ASDBADB, PSIMEIKO CEBCO DB DIU,
cant. 10, est. l(j.
— Patentear-se, mostrar-se, observar-
se. — «Este foi o fim de huma negocia-
ção, em que se considerarão os interes-
ses mais importantes para esta Monar-
quia, porém Deos que tinha decretado o
contrario, dispôz, que só servisse de mos-
910
VER
VERA
VERA
trar o Duque D. Nuno a grande capaci-
dade do seu talento na fiiif^ida beiíovo-
lencia doá Ministros do Sal)oya, o de se
vêr, que contra a» detiirininaçõca Divi-
nas naõ valein as politica», nem as in-
dustrias humanas. • Fr. Bernardo do Bri-
to, Elogios dos reis de Portugal, conti-
nuados por 1). Josó Barbosa. — «Da sua
parto se deu iiuin dos honrados da terra,
e da nossa hum dos liiif^oas, com que en-
tre todos começou aucr comercio : e en-
tre as cousas que se ouueraò dos negros,
foraõ huns dentes de elefante, que aluo-
roçaraõ tanto a Balarte, (]ue tratou com
03 negros se poilia ver um eiet-inte vi-
uo : e quando nai5, que llie trouxesse a
polle ou ossada d'algum, prometendo por
isso grande premio.» Barroí, Década 1,
liv. í, cap. 14. — «A promptidam e pres-
teza com que 03 Louthias sam servidos,
e quam temidos sejam nam se pode dizer
por pena, nem por palavra explicar, mas
aomoiite se ha de ver pi-ra saber ho que
he.» Tenreiro, Itinerário, cap. 19.
— ■ Desejar de se vêr em alguma coíí-
*a,\ter desejos de se vêr n'ella. — «Por-
que desejava de se ver em Imma grande
tormenta de mar, pêra depois poder con-
tar em sua terra : ca segundo" lhe diziaõ
08 mareantes desta carreira, as tormen-
tas e mares daquellas partes eraõ mui
differentes destes nossos.» Barros, Déca-
da 1, liv. 1, cap. 7.
— Vêr-se de longe alguma cousa ; en-
xergar-se, divisar-se. — « DeixavSo-se vêr
de longe muitos jardins, pomares, e edi-
fícios polidos, que mostraVão a delicia, e
grandeza de seus habitadores; seria a
Cidade de quatro mil visinhos, com dous
fortes, e alguns reJucto3 que defendião
a entrada do porto ; e dado, que a facção
era para mui discursada, residveo o Uo-
vornador entreprcndella. » J;uintho Frei-
re d'Andrade, Vida de D. João de Cas-
tro, liv. 4.
— Loc. POP. : Já se vê ; é claro, é
obvio, evidente.
— Syn. : Vêr, olhar. Vid. este ultimo
termo.
— Adágios e provérbios:
— Vê bem que ates, que desates.
— Vê o mar, e está na terra.
— Vê um dia do discreto, e não toda
a vida do néscio.
— Fazenda, teu dono te veja.
— Faze por ter, vir-te-hão vêr.
— Vede l;l vae, vede lá vem, como
barco de Sacavém.
— ^lais vêem dous olhos que um.
— Vê mais que um lynce.
— Vêl-o com um olho, comôl-o com a
testa.
— Vêr os touros de palanque.
— Vêr as ostrcllas ao meio dia.
— Mais vêem quatro olhos que dous.
— r Por onde vás, assim como vires,
assim farás.
— Sonhava o cego que via.
— O homem queremos vêr, quo os
vestidos são do lã.
— Estaeí na aidêa, não vedes 'a» ca-
sas.
— Vi um homem que viu outro ho-
mem, ([uo vio o mar.
— O mau visinho vê o que entra, mas
não o que sáe.
— Olho mau a quem viu, pegou malí-
cia.
— Se não vejo pelos olhos, vejo pelos
óculos.
— Os que faliam coirf* os olhos fecha-
dos, querem vêr os outros enganados.
— Inda que sou tosca, bem vejo a
mosca.
— Ide, comadre, á feira, vereis como
vos vai nella.
— Aquém, ou além, veja eu sempre
com quem.
— Não bebas cousa que não vejas, nem
assignes carta que não leias.
— Queres vêr o porvir, olha o pas-
sado.
— O dia de amanhã ninguém o viu.
— Comer sem beber, cegar, e não vêr.
— O que houveres do comer, não o
vejas fazer.
2.) VÈR, s. m. A acção de olhar.
— Figuradamente: A meu vêr; con-
forme a minha opinião, o meu parecer,
o meu juizo. — «Desta escritura, que a
meu ver, he huma das curiosas que se
achão em Espanha, se colige claramente
o estilo, e modo de viver que os Chris-
tãos tinhaõ debayj^ do Império dos Ára-
bes; e posto que nas outr;vs partes po-
diaS ter algumas leys diferentes, confor-
me, ao rigor, ou clemência dos senhores
que tinhão, não podia com tudo ser a di-
versidade tão grande, que cotejada com
esta senão deixe alcançar do entenili-
mento.» Monarchia Lusitana, liv. 7, cap.
7. — «Assim como 03 outros Príncipes
tem pajens de lança, pajens de campai-
nha, pajens d'outras cousas, assi Philip-
pe tinha este pajem do desengano, que a
meu ver era o mais necessário que tinha.
E prouuesse a Deos que tivessem todos
os Príncipes taes pajens, que os servis-
sem de lhe dar o desengano do seus pro-
fundos enganos, e lhe trouxessem cada
dia á memoria que eram mortaes, e que
se conhecessem a si mesmos.» Heitor
Pinto, Dialogo da Verdadeira philosophia,
cap. 4.
f VERA. Forma do verbo vêr na ter-
ceira pessoa do singular do futuro imper-
feito do modo indicativo.
Quem verá aqueUe Pac da Pátria sua,
Ai;oute do soberbo caitclhano.
Que o duro jugo sií, coa espada nua,
Reniovco do |>espo<;o Lusitano,
Quo nào diga : O j;rào Nuno, a eterna tua
Memoria causará, 30 nào mcnpmo,
Quo qualquer tom menor tanto sestimo,
Quo nunoa possii ser seuào aubliiue?
CAM., EPISTOLA 3.
Porque entóo m vfrá quanto atr«i fico
\>t> que p''diiido eiita.v:i lium tal xujcito,
No qual ilida o inaú fértil, e iiiai« rico
Kii(;rnlio, fora CHtc-ril e impirríi-lto ;
I'or onde eu ja d aqui me prognostico,
Pois o erro começou ja do ooaccito,
Tor ant«^ vitupério, que boura ou (floria,
Puid ousei cmpreliundcr tio alta historia.
rBA.YClBCO u'áHDBAOB, PalHKIBO CBBCO DE Dll',
cant. 20, eat. 4.
VERACIDADE, «. /. (Do latim veraei-
tas). Ligaçãi) constante á verdade.
— Termo de dogmática. Veracidade (2e
Deus; attributo em virtude do qual Deus
não piide enganar-se, nem enganar-noa.
— A qualidade do que é verdadeiro, do
que é conforme á verdade.
veracíssimo, a, adj. tuperl. de Ve-
raz. Mui veraz.
— Verdadeiramente; com verdade.
1.) VERAM, por Verão, na terceira pes-
soa do plural do futuro imperfeito do mo-
do indicativo. Vid. Vêr. — «Porque o se-
nhor o principal que reqaere de noa he
coraçam limpo. l-'or isso diz, Filho dame
teu coração. E bemauenturados os limpos
de coraçam, porque elles veram a Deus.
Diante daquelles diuinos e clari^simos
olhos 03 desejos sam contados por foytos,
porque ja o senhor dà por feyto tudo o
que tu desejas fazer.» Frei Bartholo-
meu dos Martyres, Catecismo da doutrina
christã. — tO Ceo, e a terra poderam fal-
tar, mas minhas palauras nam faltaram.
Irmãos de todo este Euangelho ao menos
leuay pêra casa impressas em vossa me-
moria aquellas temerosas palauras que
onuistes. Veram todos os homens o filho da
Virgem vir em huma nuuem, com grande
poderio e Magestale.» Ibidem.
2.) VERAM, s. m. Vid. Verão. — «Nam
tem nesta terra portas no veram por ser
a terra muyti) quente, e tanto que mny-
tas vezes abafam os homens : e eu sou
testemunha de vista. Este loguar estaa
ao longo da costa, e he ainda do senho-
rio do Ormuz.» Tenreiro, Itinerário, ca-
pitulo 2.
VERAMENTE, adv. (De vero, e o suffi-
xo «mente» . De um modo vero.
VERANDOURO, *. m. Vid. Varadouro.
VERANICO, s. m. Verãosinho, ili;i3 cal-
mosos pelo S. Martinho. Os veranicos
variam segundo os differentes hemisphe-
rios o climas.
l.) VERÃO, s. m. A estaçSo que se se-
gue ao inverno, e que contém março,
abril e maio.
Quero achar paz era um confuso iufemo ;
Na noite do sol puro a clarídado ;
E o suave venio no duro iuvemo.
CUI., SOXCTOB, U." llõ.
— « Porque lhes lembrava quanto lhes
tinha custado o tempo do inverno, em
que os nossos não tiveraõ soccorro mais
que de quatro navios sem gente, e que
já entrava o veraõ, 6 começavaS a cbe-
VERA
VERB
VERB
911
gar Armadas poderosas, e que se espe-
rava ainda pelo Governador : estas cou-
sas causarão grtàJeã desconfianças em to-
dos.» Diogo de Couto, Década 6, liv. 3,
cap. 8.
Traz isto, porque ja no senhorio
Entrava pouco a pouco do Oriente
O tormentoso inverno húmido e frio,
E o formoso verão lá no Occidente,
O Cunha se recolhe ao seu navio,
E dividindo o mar prosperamente.
Ajudada do vento, a aguda proa
So vai passar o inverno á real Goa.
FKANCISCO DE ANDRADE, PEIMEIBO CERCO D« DIC,
cant. 9, est. 87.
Nem tu, gentil Roupaõ de fresca Xita,
Com que á grande janella empanturrado
Da inútil, ociosa Bibliotheca,
Nas noites de Veraõ a calma passa.
As suas tezouradas escapaste.
ASTONIO DINIZ DA CBL"2, HTSSOPE, CaUt. 7.
2.) VERÃO. Forma do verbo vêr na ter-
ceira pessoa do plural do futuro imper-
feito do modo indicativo. A'id. Vér, e Ve-
ram.
Verão morrer com fome os filhos caros,
Em tanto amor gerados e nascidos ;
Verão 03 Cafres ásperos e avaros
Tirar á linda dama seus vestidos:
Os crvstallinos membros e preclaros
A calma, ao frio, ao ar verão despidos ;
Despois de ter pizada longamente
Co'os delicados pés a areia ardeute.
CAM., Lus., cant. 5, est. i.
— Adágios e PRO^^;RBIos :
— A inverno chuvoso, verão abundoso.
— Março marcegSo, pela manhã rosto
de cão, e a tarde de bom verão.
— No inverno forneira, e no verão ta-
verneira.
— Pão de hoje, carne de hontem, vi-
nho de outro verão, fazem o homem são.
— Nem no inverno sem capa, nem no
verão sem cabaça.
— Em o verão por calma, e no inver-
no por frio, não lhe falta achaque de vi-
nho.
— O menino, e o bezerrinho no verão
hão frio.
— Bácoro fiado, bom inverno, e mau
verão.
— Em verão cada um lava seu panno.
— Verão fresco, inverno chuvoso, es-
tio perigoso.
— A burra de viUão, mula é de ve-
rão.
— Syn. : Verão, estio.
Verão é termo mais vago, e indica todo
o tempo do anno em que faz calor, em
opposição a inverno. Estio é determina-
damente a segunda estação do anuo.
Diz-se que o verão começou cedo, e
acabou tarde, ou vice-versa, o que dá a
entender quo este termo se refere mais á
temperatui'a quente que á divisão regu-
lar do anno em quatro partes ou estações
eguaes, primavera, estio, outomno, in-
verno.
VERÃOSINHO, s. m. Diminutivo de Ve-
rão. \'iil. Veranico.
VERAS, s./.plur. (Do latim verus). O
mesmo que verdades, cousas verdadeiras,
e de propósito.
— Com grandes veras ; com sincerida-
de, sem refolho.
— Diz-se em opposição a Jicqão, hypo-
crisia, dissimulação.
— Loc. : Vede se são veras, ou bur-
las; examinae se são cousas serias, ou
brincos.
— Loc. ADV. : De veras, ou áeveras ;
com verdade, sem refolho, nem rebuço.
— De veras ; seriamente, e uào por
brincadeira.
VERATRO, s. m. (Do latim veratrum).
Helleboro negro venenoso.
VERAZ, adj. 2 gen. (Do latim verax).
Verídico, que diz a verdade.
— Que faz fallar a verdade. — Vinho
veraz.
VERBA, s. /. (Do latim verba). Termo
de toro. Artigo de contexto de alguma
escriptura. — U/na verba do contracto.
— Declaração que se faz em alguma
escriptura, apostilla, para talvez cessar o
que ella dispunha.
VERBAL, adj. 2 gen. (Do latim verba-
lis, de verbum). Que não é senão de viva
voz, e não por escripto. — Ordens ver-
baes.
— Antithese verbal ; antithese que con-
siste somente nas palavras, e não no pen-
samento.
— Critica verbal ; critica que somente
se. liga ás palavras.
— Relação verbal ; diz-se nas socieda-
des scientitícas, d'umà relação escripta,
quando não deve seguir-se d'uma deci-
são, e que não é recebida senão como do-
cumento.
— Termo de grammatica. Que é da na-
tureza do verbo. ^- Acçlo é um substan-
tivo verbal.
— Adjectivo verbal ; participio presen-
te tomado adjectivameute, e submettido
ás regras da consonância.
— Processo verbal ; diz-se do que se
passa n'uma ceremonia, etc.
— Nome verbal ; nome que se deriva
do verbo, os infinitos, e abstractos.
VERBALIZAR, v. a. Dizer ou apresen-
tar razões ou factos para os fazer metter
n'um processo verbal.
— Dirigir um processo verbal.
— Fazer grandes discursos.
— Certificar por escripto.
VT.RBALMENTE, adv. (De verbal, e o
suflixo «mente»)- De viva voz e não por
escripto. — Elle deu a ordem verbal-
mente.
VERBASCO, s. m. (Do latim verbas-
cuiii). Vid. Barbasco.
VERBENA, s. /, Orgevão; herva de
que se coroavam os gentios sacrificado-
res. — «Em fim, para cada huma das
suas próprias enfermidades, a Poupa bus-
ca a avenca ; a Craiba a verbena ; o Tor-
do a murta ; a Águia o Gallitrico ; a Per-
dis a cana; a Codornis a grama; o Cis-
ne a ortiga ; o Sapo a serralha ; o Urso a
mandrágora; a Doninha o verbasco: o
Corvo o dictamo, e o Javali a hera. Don-
de se colhe, que se esta Medicina veyo
de Deos como instincto ; com mais razaõ
de Deos procederia a outra como scien-
cia.» Braz Luiz d'Abreu, Portugal medi-
co, pag. 239, § 46.
VERBENACEAS, s. /. lilur. Termo de
botânica. Família de plantas dicotyledo-
neas.
VERBENECA, s. /. Termo de botâni-
ca. Herva correspondente ao latim ciri-
cia.
VERBERAÇÃO, s. /. (Do latim verbe-
ratio). Termo de physica. Vibração do
ar que produz o som.
— Flagellação, açoutadura.
VERBERADO, part. pass. de Verberar.
VERBERÃO. Vid. Orgevão.
VERBERAR, v. a. (Do latim verbera-
re). Flagellar, fustigar.
— Verberar-se, v. rejl. Disciplinar-se,
flageliar-se, açoutar-se.
VERBERATIVO, A, adj. Flagellativo,
próprio para açoutar.
VERBERAGEM, s. /. Abundância de
palavras e ausência de idêas.
VERBIGRATIA. Termo latino, que si-
gnifica o mesmo que : por exemplo, por
modo de dizer.
VERBO, s. m. (Do latim verbum). Pa-
lavra, tom de voz.
— No christianismo, o Verbo divino,
ou simplesmente o Verbo ; a sabedoria
eterna, o Filho, de Deus, a segunda pes-
soa da Trindade, egual e consubstancial
ao Pae. — - No principio existia o Verbo,
e o Verbo existia em Deus, e o Verbo
era Deus. — O verdadeiro Manoel, Deus
comnoseo, em sumnia, o Verbo feito car-
ne, unindo em sua pessoa a natureza hu-
mana com a divina, a fim de reconciliar
todas as cousas em si mesma. — • «Nam
nos he dado irmãos penetrar este segre-
do, senam agradecer o lume de fee, com
que o cremos, e pasmar de sua bondade,
e benignidade, que por amor de nos esta
imagem e Verbo eterno se vestio de nos-
sa carne, e nasceo oje nella, como diz o
sancto Euangelho, Verbum coro sanctum
est, et habitabit in nobis. Que quer di-
zer, o Verbo eterno tomou nossa carne, e
conuersou com nosco.» Frei Bartholomeu
dos Martyres, Catecismo da doutrina
christã. — «E se quereis saber (diz a
Sancta Madre igreja) que menino he este
que nos he nascido, e que filho he este
que nos he dado, digao aquella tròbeta
do ceo, aquella diuina Águia, sani loam
Euangelista, que começou seu Euange-
lho dizendo, No principio era o Verbo, e
912
VERR
VERD
VERI)
o Verbo ora acerca de Deos, este Vorbo
era verdaileyro Dooá. Iriiiiloí» num cure-
mos de oiitríir neste pef^o e abismo do
luz.> Ibidem.
— Termo de prainmatica. Palavra que
lip;a o sujeito com o attributo, mostrando
a existência d'i-ste n';i(iucllo.
— Verbo activo; aqucdle sobre que re-
Cile iiniiiciliatainento a ac-çilo do verbo.
— Matak é um verbo activo.
— Conjugar um verbo ; ó recital-o em
todos os 80118 modos, tempos, pessoas, e
números.
— () verbo a'lniitte quatro espécies de
modificaçi^es de firma por quatro causas:
a pessoa, o numero, o modo, e o tempo.
— Verbo absoluto; aquelle não carece
de numero, nem expresso, nem suben-
tendido. — Brilhar é «m verbo abso-
luto.
— Verbo abstracto ; diz-se do verbo
substantivo ser, por ter o attributo se-
parado de si.
— Verbos anómalos; aquelles que tem
irregularidades, c als^uma ccnisa de sin-
gular nas terminações ou formações doa
seus tempos.
— Verbo attributivo, ou adjectivo; diz-
se de todos os verbos que não são o ver-
bo se?', e que resultam da combinação
d'este verbo com um attributo. — Cou-
ber, MATAR, C BRILHAR são VerboS attri-
biitivos, ou adjectivos.
— Verbo í!«í)sían/íi'o; diz-se do verbo
que subsiste só por si ; este é só um, e é
o verbo ser.
— Verbos auxiliares ; dizem-se aquel-
les verbos que servem para firmar os
tempos compostos dos outros verbos. —
Ser, estar, ter, e haver são verbos au-
xiliares primários.
— Verbos concretos ; diz-se dos verbos
adjectivos ou attributivos, ])or existir o
attributo incluido nos próprios verbos ad-
jectivos. — Ouvir é um verbo concreto.
— Verbos defectivos ; são os que não
se usam em todos os modos e tempos,
ou que se não emprefíam em todas as
pessoas. — Chover, nevar são verbos
defectivos.
— Verbo frequentativo ; aquelle que
indica que se repete muitas vezes a mes-
ma acção, a mesma cousa, como cm la-
tim itare, ito. — DouMiTAR é um verbo
fre(juentativo.
— Verbo impessoal ; aquelle cujo su-
jeito grammatical não representa nem
um nome de pessoa, nem um nome de
cousa, e que só se emprepa na terceira
pessoa do singular: cliauia-se-llie tiimbem
tinipessoal .
— Verbo inchoativo ; aquelle que indi-
ca uma acção começada e continua no
sujeito do verbo. — ADORMECER é um
verbo inchoativo.
— Verbo intransitivo ; aquelle que ex-
prime uma avvào ou de um modo absolu-
to, o s em relação com algum objecto, ou
que n!lo a transmitto a um complemento
sen<^o de um modo indirecto.
— Verbos irregulares; aquelles qtio
n3o se^íuem a.s rc^rras geraes da» conju-
gações.
— Verbo neutro; aquelle que, como o
verbo activo, exprime uma acção, mas
que não tem complemento directo. —
(JOKUKR, URILIIAR, BRINCAR são VerbOS
neutros.
— Verbo passivo; verbo que exprime
uma paixão, quo soíTre e recebe a acç.ão
d'algum agente. — Ser amado, .ser lido,
SER ESCRiPTO são verbos passivos.
— Verbo pronominal ; verbo, que em
todoa os seu-i tempos se conjuga com dous
pronomes da mesma pessoa. — Eu ME
ARREPENDO, EU ME IRO, etC. SUO tempOS
d» verbos pronominaes.
— Verbo reciproco; aquelle verbo re-
flexo (]uando exprime a acção reciproca
de muitos sujeitos.
— Verbo reduplicativo; aquelle que
exprime uma acção repetida duas ou
mais vezes, ou a repetição d'unia mesma
acção, taes como : recomeçar, reduplicar,
etc.
— Verbo reflexo; aquelle que enun-
cia uina acção, quo partindo do sujeito,
c4e, e se reflecte sobre o próprio sujeito.
— Verbos regulares; aquelles que se-
guem as regras geraes das conjugações.
— Verbo transitivo; dá-se este nome
ao verbo activo.
— Verbo unipessoal; aquelle que so-
mente se emprega na terceira pessoa :
cliama-se também impessoal.
— Pôr o verbo no cítòo;, fechar os pe-
ríodos com o verbo, conforme a constrnc-
çào latina; ó viciosa entre ncís, ao me-
nos affcL-tada.
VERBOSAMENTE, ar?u. (De verboso, eo
suffixo i mente"). De um modo verboso.
— Com >'xcessiva copia de palavras.
VERBOSIDADE, .». /. Do latim verbo-
sitas, de verbosum), () ciractcr do que c
verboso. — A verbosidade d» um orador,
de uma memoria.
— Orando copia de palavras.
VERBOSO. A, adj. (Do latim verbosus).
Que abunda em muitas idêas, ou pala-
vras.
— Que falia muito.
— Loquaz, jialavroso, paroleiro.
— Que tem nniita copia de palavras,
e falia facilmente.
VERÇA, s. /. Vid. Versa.
VERÇAR, i". n. Vid. Versar.
VERCEIRA, .0. f. Vid. Verseira.
VERÇUDO, adf. Vid. Versudo.
VERDACHO, s. m. Tii.ta verde mine-
ral tirante a tór de canna. ^n.-' -
VERDADE, s. f. Qualidade pela qiial
as cousas apparccem taes quaos cilas são.
— Deus é a própria verdade.
A mosnia fornia tom •^undrada, p i>ropria
DaqucUa era que ii Verdade pobio vir.i:
Max DO graude omamonto na riqueza :
Muito som ()rO;>orí;»o *•• avantajaua.
AUi H<! %■<• com iji&o docta, eiigi-aho«a
A Dórica, c lorrica coliiama :
.V ('oríuthia, o compoAta, e jiinctamentA
O friso, o (-'apitei, c alta Cornija.
coKTB beàl, iiAUFaioiODCsr.ri;LTRDA, eaot. 11.
— «na»te:i03 o claro testemunho da
verdade, que iic o filho ile Deud, u qual
tão impresso o fixado quis que trouxés-
semos o inysterio da Trindade cm nossos
corações, que por isso ordenou que na
forma do baptisnjo, <iue he a porta da fè,
se expressasse este luvaterio, ordenando
(jue fiissetnos babtizados em nomo do Pa-
dre e do filho, e do Spirito San<.t<>.» Fr.
Bartiiolomeu dos Martyres, Catecismo da
doutrina chriatã.
— Cousa veriiadeira.
Infira a^ora assim, Scohor Abbadu,
A illaij.aõ, que se tira do arguim-nto,
Quo iiào p('.di,- negar por sor rerda/U.
ABBADR DR IkZY.STK, POEIIA*. pag. 71.
— A augusta verdade.
Tu mesmo, <5 Galilco, tu mesmo, «5 Newton,
No labyrintho das cruzadas T.inhaa.
Xào mais atinas co'a3 di>uradas chaves,
Qui; d augusta VtrdaiU as |>ortas abrem,
Doutro em cujos Alcaç.arcs so guardio
As Leis da Natureza, c seus arcanos.
J. A. DE MACEDO, TTAGEM FXTATICA, CAHt. 2.
— E uma verdade; >'' uma cou«a ver-
dadeira.— «Jluita rasão teve hum Sábio
da (irecia a quem me não lembra <• no-
me, quo contava entre as felicidades a
de nascer homem, dando por ella infini-
tas graças aos seus Deosos. Parece-mo
que he huma verdade que não carece de
provas.» Cavalleiro ile Oliveira, Cartas,
liv. 3, n." 10.
— As verdades do christianismo ; as
opiniões conformes ao que é, em opposi-
ç.ão u erro, faltando de uma doutrina,
de uma religião. — tAlle ganhara em
duas cousas ; na mais opip.ara rsçâo e
em ficar livre dos eloquentes sermões do
Bacharel acerca dos embustes gT».>ssos do
alcorão c das verdades <io ehristi.inismo.i
Alexandre Herculano, Honge de Cister,
cap. 20.
— Defewler a verdade ; defender o
que é. — • Prouardes viis, disse o juris-
ta, que hahi lugar, onde o dia he de seis
meses, tenho eu por tam imposeiuel, co-
mo prouanlcs ser mais necessária a scicn-
cia matheniatica, que a juridica. Xiio
apertieis nisso, disse o matheaiatico, por-
que he sem falta, o que vos digo. Isto,
disse o jurista, não he aporfiar, mas de-
fender a verdade. Muito folgaria, disse
o cidadão, saber como isso he, porque
pare(.-e impossiuel auer terra, onde o dia
seja do seys nicses.» Heitor Pinto. Dia-
logo da Justiça, cap. 8.
VERD
VERD
VERD
913
Verdade é; cousa verdadeira é, cer-
Bom-aveuturada a pena
Qac 3e pôde dcãcobi-ii- !
Oh caso graude o medonho !
Oh duio tormento foro!
Verdade he isto, qu'cu quero?
Não hc verdade, mas sonho
De que acordar nào espero.
CAM., SF.LEUCO.
— «Ao que ellc Utiinutiraja respondeo
que era verdade da ajuda que dizia, a
qual foi mais apparecer a sua geute no
feito, que pelejar. » Barros, Década 2,
liv. 6, cap. 5. — «E fazendo perguntas
a hum dos dous que liia mais era seu
acordo, e cõ graudes ameaças se mentis-
se, respondeu que era verdade que hum
santo homem de uma daquellas ermidas
por nome Pilau Angiroo, chegara ja muy-
to de noite á casa do jazigo Reys, o ba-
tendo muyto apressadamente á porta de-
ra hum grito muyto alto dizendo.» Fer-
não Mendes Pinto, Peregrinações, cap.
98. — «Verdade he que ha homens no
Malavar de casta nobre que chamam Pa-
nicaes, que alguns tem huma perna muy
grossa em demasia, e outros que as tem
ambas da própria maneira : os de mais
destes tem huma soo grossa, mas nam
he tal ho pee que possa fazer sombra aa
cabeça.» Fr. Gaspar da Cruz, Tratado
das cousas da China, cap. 4. — «A con-
tribuição das décimas neste Reyno he
muito grande, pois chega a milhaõ e
meyo: he verdade, que às daõ os povos
para as fronteiras, e he o mesmo, que
para se defenderem doa inimigos, que
nos infestaõ por mais de cem léguas de
terra, que correm do Algarve até Traz
os montes.» Arte de furtar, cap. 63. —
«E com quanto queria trabalhar cõ ra-
zões poUos trazer á razam, estauam elles
tã fora d'elia, que lha não podia persua-
dir. Verdade he que o estar fora da razã
senão pode entender em vós, mas ao me-
nos tomais com tenção ezquerda, o que
eu digo cõ direyta. Eu não nego a ley,
mas interpretoa. Entendida bem essa de-
finiçam não quer dizer que a justiça he
vontade, mas que he hum habito, com
que a vontade está constante e perpetua-
mente determinada de dar o seu a cada
hum em seu tempo.» Heitor Pinto, Dia-
logo da Justiça, cap. 1. — -«Verdade he
que no principio de seu Império deu elle
boas mostras tle si porque duraua ainda
nelle o mouimento da doutrina de seu
mestre Séneca. Assi como huma roda
luouida cõ grande Ímpeto, per grande es-
paço depois inda que cesse o mouedor,
eila per si se moue em' virtude daquelle
Ímpeto, que lhe pos o braço.» Ibidem,
cap. 3. — «Não só he verdade que sou
Portuguez pela graça de Deos, porem
que tenho a fortuna de ser filho do Lis-
boa, e neto de hum Cano chamado por
VOL. T. — -115.
Antonomásia, ou não sey porque, o Ca-
no real.» Cavalleiro d'01ivelra, Cartas,
liv. 3, n." 31.
— Tratar verdade ; andar lizo nos ne-
gócios que se tratam. — «Com o qual
fundamento ordenou desta maneira, que
D. Garcia de Noronha invernasse em
Cochij com parte da gente, pêra com ei-
la dar favor á nova fortaleza de Cale-
cut, por as cousas delia estarem ainda
mui frescas, e convinha dar resguardo á
pouca verdade que os Mouros tratam, e
principalmente acerca daquella fortaleza
feita a pezar de tantos.» Barros, Década
2, liv. 10, cap. 1. — «Partidos estes
quatro nauios de Lisboa em que hiam
afora pessoas nobres duzentos besteiros,
e espiugardeiros, chegaram com bom
tempo a Çafim, onde (lonçalo Mendez
achou Diogo Dazambuja, e Garcia de
Mello, e com elles Diogo de Miranda, e
Emanuel da Sylveira netos de Diogo
Dazambuja, e Francisco Dalmeida, e
Francisco Dabreu seus sobrinhos, dom
Garcia de Sá, e Lionel Dabreu, Simaõ
da Sylva, e George da Maia, todos mui
agastados pela pouca verdade que lhes
os mouros tratauam.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 2, cap. 18.
— Para dizer verdade; para fallar
franco. — «Sendo o amor huma paysão
gostosa e violenta, observa-se ordinaria-
mente com mais excesso nos coraçoens
inferiores, que nas almas grandes. Con-
fesso que a todos nos sogeita o seu po-
der, e que a todos nos tyranisa a sua
doçura, porem para dizer verdade os
mais fracos do numero, em que eutrão
sem duvida as molheres, são notoria-
mente 03 que sofrem mais crueldades
áquelle amável Tyrano.» Cavalleiro de
Oliveira, Cartas, liv. 1, n." 1.
— Principio verdadeiro, theorema de-
monstrado. — «E' que em cada século
ha uma verdade graúda que predomina
e que vai ajudando os espertos a conso-
larem-se dos dissabores da vida á custa
do animal, alvar por excellencia, chama-
do cidadão ou homem civilisado, para
cujo consolo vieram á terra as bruxas,
a therapeutica, os fundos públicos, a on-
tologia, 03 duendes, as infusões, a esthe-
tica, as petas e o palavreado.» Alexan-
dre Herculano, Monge de Cister, cap. 21.
— A mesma Trindade.
Que sam muito ledo o muito contente,
Porque a verdade hc a mesma Trindade
Verdadeiramente.
E pois eu sam voz de nosso Senhor,
Se eu a calar, quem na ha de dizer?
As otfensas de Dcos quem as ha de soffrer?
Mas clame em deserto qualquer pregador.
GIL TICENTE, ADTO DA HISTORIA DE DEUS.
— Realidade. — «Pelo que querendo-
sc Dom Álvaro de Noronha Capitão da-
quella fortaleza certificar da verdade,
despedio Ktun navio ligeiroj de que fez
Capitão Fernão Dias César, soldado ve-
lho, e muito bom cavalleiro (que jà anda-
va em trajos).» Diogo de Couto, Década 6,
liv. 10, cap. 1. — ■ «A qual verdade ne-
guão com as obras, ainda que com a bo- •
ca confessem aquelles de tal maneira vi-
uem como se Deos não tiuesse com as
obras, e cousas dos homens como se não
soubesse nossos peccados, ou nam tives-
se zelo de justiça, pêra os castigar.» Fr.
Bartholomeu dos Martyres, Catecismo da
doutrina christã.
— ■ Sabida a verdade ; conhecida a ver-
dade, sabido o que é. — «A que outros
responderão, não seja assi ja que por
nossos peccados os temos das portas a
dentro, não entendão de nós que como
inimigos nos receamos delles, porque
mais depressa se declai"arão com nosco,
mas com ícmbrante alegre, e palavras
brandas lhe perguntemos o que querem,
porque sabida a verdade delles a escre-
vamos logo ao Hoyaa Paquir a Congrau
onde agora está.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 41.
— Dizer verdade ; fallar verdade, di-
zer cousas verdadeiras. — « Bem vejo,
disse Dramusiando, que dizeis verdade,
que os signae.-i de vossa vida o manifes-
tam : porém com toda vossa paixão, pois
por esta teri'a andaes, saber-me-heis di-
zer onde acharei um cavalleiro, que traz
comsigo um escudo, em que vai tirada
polo natural a mais fermosa cousa, que
natureza criou com letras ao pé que di-
zem Miraguarda?» Francisco de Moraes,
Palmeirim d'Inglaterra, cap. 81.
— Persuadir bem esta verdade ; per-
suadir bem este principio verdadeiro. —
«Mas deixando esta matéria, que me
pôde fazer odioso com gente grande e po-
derosa, e eu quero paz com todos, assim
como trato de os por em paz com suas
consciências; só nos Reys, e Príncipes
grandes tomara persuadir bem esta ver-
dade, que paguem pontualmente o que
devem, se querem que lhes luzão mais
suas rendas.» Arte de furtar, cap. 6.
— Um ponto de verdade. — «Pôde ser
(disse elle então) que em tudo o qvie me
disse não haja um ponto de verdade ; dis-
se-vos o que ouvi. Por quanto, Senhora,
se antes de sahir de França, vosso filho
amava, e que esse seu amor ainda hoje
augmenta a tristeza que experimenta
aflastado de sua Mãe e de sua Pátria,
custoso é de crer, que elle cuide em se
cazar. Que nunca desampara os homens
a esperança; maiórmentc quando o cora-
ção está vivamente aífeiçoado.» Francis-
co jManoel do Nascimento, Sucoessos de
madame de Seneterre.
— Conformidade do que dizemos com
o que pensamos, em geral em phrase es-
colástica.
— Fallar verdade; dizer o que pen-
samos, sentimos, sabemos.
— Dito, facto verdadeiro, segundo a
914
VERD
VBRD
VERD
natureza das cousas, que por o.«c dito
reprosontamoa, sej^undo ao que se jias.sou,
conforma ao quo eiiteiideriiui.
— Conformidade ilo Juizo coin as cou-
sas quo oxistuni no objecto Hobro quo elle
versa.
— Sinceridaile, boa fé.
— Caracter próprio, failando (Tuma li-
gura.
— Termo do pintura. Expressão fiel
da natureza.
— De verdade ; deveras.
— Na verdade; certamente, com oíTci-
to. — «E poirt dixe da prof^enia da Kai-
nlia donna ilaphalda, mollier dei liei
dom Afonso anrriquoí primeiro liei do
Portugal, donde o.s outros Reiíj descen-
dem, (pi)r(]ue o primeiro de quo nam a
propfonia foi e.1 liei dõ (iarcia) mo não
pareceo cou^a deseonnoniente dar no Ca-
pitulo sof^uinte rezam donde descende o
Conde dom Anrrique pai deste Rei dom
Afonso, pêra que se declarem alguns
erros cm (pio os Cliroiiistas passados caí-
ram, e se saih.i na verdade a autigua, e
nobre progenia dos Reis destes regnos.»
Dainiào do Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 4, cap. 71. — «EUa o recebeu com
taes palavras e amor, quo parecia rece-
ber um tilho e i-.ão homem allieio: e na
verdade a tenção da rainha era te-lo na-
quella couta e nào em outra.» Francisco
de Moraes, Palmeirim d'Iuglaterra, ca-
pitulo 97.
— Homem de verdade ; homem verda-
deiro, inimigo do dolo, traiçào.
— -Loc. ADV. : A verdade; na verda-
de, realmente. — Fallar conforme á ver-
dade.
— Syn.: Na verdade, na realidade.
Na verdade refirc-se ao que pensamos
do objecto, conforme as idòas claras e exa-
ctas. Na realiiladc rofere-sc ao que o ob-
jecto ó cm si mesmo, conforme a sua na-
tureza. A jiriracira diz respeito ao mun-
do intellectual , a segunda ao mundo
real.
— Adaoios e 1'UOverbios:
— A verdade não tem pés, e anda.
— A verdade, e o azeite andam do
cinui.
— A verdade anda na herdade.
— A verdade, ainda^que amarga, se
traga.
— Dizer mentir.i, por tirar a verdade.
— Mal me querem as comadres, por-
que lhes digo as verdades.
— Do dinheiro, e da verdade ametade
da metade.
— Onde falleccm as verdades, preva-
lecem 03 engauos.
— As más suspeitas destroem as ver-
dades.
— A verdade nJto soffre dissimulaçiio.
— Sempre das cinzas Je mal premia-
dos resuscitam as verdades.
— Ainda que enterrem a verdade, a
virtude nào se sepulta.
— Amigo de todou, o da verdade mais.
— A teu amigo, »o lo guardar purida-
de, dize-lhc verdade.
— A teu amigo, dize-lue mentira, bc
te guardar verdade, diz'i-lhe puridade.
— Nào ha peor zombaria, que a ver-
dade.
— Pelejam as comadres, descobrem-
uo as verdades.
— Dobrada ó a maldade, fuita com
cOr de verdade.
— Ao medico, e ao advogado, o ao
abbade fallar verdade.
— Quem me nào cré, verdade mo uiio
diz.
— A verdade uilo quer oufeites.
— Vaese a liugua a verdade.
— tjompre a veidade saiu vencedora.
— A verdade c o azeite andam á tona
d'agua.
— A verdade amarga.
— U amigo que faiia verdade, ó espe-
lho sào, diz o que é.
VERDAUHIiiAMEiNTE, adv. (De verda-
deiro, com o sudixo umenle»;. De um
modo verdadeiro.
— Com verdade.
— Em verdade. — Animo verdadeira-
mente chrislào. — «(Juvio o 6auto-meui-
no as promessas, e favores delliey (a que
muitos dos prcseutes lhe tiuhaò euveja)
com huma quietação, e sossego estraaao,
sem a giaudeza dcUcs, nem a presença
de tantos Alcaydes, c senuorcs lhe cau-
sarem pertuibaçaò, nem mudança, antes
com animo verdadeiramente Cm-istaò, e
nobre, lhe rospondeo deste modo.» Mo-
uarchia Lusitana, cap. 19. — «Compu-
nha-so de oito grandes uáos, cuja Capi-
tania era S. Francisco de Assis cUamaUa
por antoiiomazia o Monte de oui'o, digna
verdadeiramente de taõ soberano hospe-
de, porque nella competia a grandeza
com o primor.» Frei IJeruardo de Brito,
Elogios dos reis de Portugal, continua-
dos por D. José Barbosa. — «Agora sem
a lev a justiça de Deos hc manitestada.
E aos Gaiatas: tíe fora dix da ley, quo
poderá viuilicar, verdadeiramente da iey
fora a justiça. Mas o nosso intento ho
deixad;i8 estas o outras signiácaçòes, fa-
lar da justiça, em (juàto é virtude moral,
huma das quatro, a que coumiuumcuto
chamamos cardcaes. Dessa, disse o juris-
ta, tratamos : a qual os nossos jurecòsul-
tos dizem que ho huma vontade constau-
te e perpetua de dar seu direyto a cada
hum.» Heitor Pinto, Dialogo da Justiça,
cap. 1. — «Verdadeiramente seria esta
acção mui própria do seu zèio, c quo
com grande editicaçào de toda a compa-
nhia coroaria os gloriosos trabalhos, que
pela salvação das almas em tantas ou-
tras partes tem padecido.» Padre Antó-
nio \'ieira. Cartas, n.° llí.
VERDADEIRISSIMO, A, a-/;', superl. de
Verdadeiro. Mui vor.ladeiro.
VERDADEIRO, A, adj. Conformo á ver-
dade. — iBem pareceu serem verdadei-
ras Muai palavras, iiue aoí doua dias che-
gou nova que a frota d<; Albayzar e dos
turcos era partida jKsra Con^tautinopla,
que foi causa de se deterem todolo« prín-
cipes o rei*, estando já de caminho pêra
suas casa8> que uão quizerauí desampa-
rar o imperador nesta aífrouta; ajtsim
que esta determinação desviou seu pro-
|)o<ito.» Francisco de Moraes, Palmeirim
d'Inglaterra, cap. liúi. — «E achareis
tanto que dizer, que, hei meio, que, a
voltas de obrigações verdadeiras, niiftn-
reis algumas, que o n&o sejam, que isto
tem o amor depois que se despeja.» Ibi-
dem, cap. !.'>;». — «S.-gundo as rcz3o«
contrarias desta, (jue o Conde nSo podia
ignorar, se pi><le crer, que a ficçiU» deste
pretexto tanto foi de quem o reprenentou,
como de quem o teue per verdadeiro.»
Francisco Manoel de Mello, Epanapho-
ras, pag. 21. — «E isto por trei causa.i ;
a primeira, porque com semelhantes pa-
lavras, imagina que llic dão aquella hon-
ra que só a Deus se deve; a segunda,
porque sabe, que com o abuso delias, ee
ofFiindc gravissimaniente a Deos; a ter-
ceira para que os homens o tenhaS por
verdadeiro, e temaõ menos a sua oom-
municaçào; o que tu<!o explica o mesmo
Saiicto, e seguo Maiolo 6. com Soares, 7.
jíi citados.» Braz Luiz d'Abreu, Portugal
medico, pag. 618, § 124. — «E íe as
entra-las que se fizerem ao sertSo forem
com verdadeira c não fininda paz, e se
pregar aos Índios .i fé de Jesus .Ciiristo,
sem mais interesse que o qne elle veio
buscar ao mando, que são as almas, e
houver quantidade de religiosos que
aprendam .ia lingnas, e se exercitem
n'c.ste ministério com verdadeiro zelo. i
Paiíre António Vieira, Cartas, n." 9. —
nEstc. senhor, foi o pretexto, m.as a cau-
sa que se teve por verdadeira, era, por-
que 08 Índios n'e3to Jlaranhão são pou-
cos, e 80 queria aproveitar d'elle3 como
aproveita, ou occupar.do-os cm coisas de
seus interesses, ou repartindo-os cora
(juem lh'os sabe agradecer.» Ibidem,
n.» 11.
— Perfeito.
Uonto seja o verdadtiro
Avarento por uatura.
Que (Kl/, a alma no dinheiro,
K o dinh'»iro cm vcatiira,
V. .1 Vúutura cm palheiro,
ou. VICKSIIC, farçàs.
— cMuTtos negarão e^ta difFerença de
verdadeiros homens na esphera da nossa
natureza : porque Aristóteles, e Alberto
Magno, ainda que admittem Pygmeos,
tem-nr>8 jwr hum certo género de bogioa.
Ulyssos Aldrovan lo, e Escaligcro total-
mente os regão.» Braz Luiz d'Abreu,
Portugal medico, pag. 9, J? "Jtí.
— Agua verdadeira ; agua pura, crrs-
VERD
VERD
VERD
91Õ
tallina. — «O reineclio reais efficax que
tenho acliado para excitar o doente de
(|aalqiicr soinao profundo, ou outro qual-
quer attecto capital em que seja iiecessa-
rio corroborar a Cabeça, e excitar 03 es-
píritos animais torpidos; e nebulozos, he
ajuntar a hunia onça de agoa da Rainha
de Ungria verdadeira, outo, ou des got-
tas do espirito da vida, cuja receita vay
a trás no sintagma da dor de Cabeça, in-
troduzindo pelos narizes repetidas vezes
torcidas de algodão molhadas na dita
inixtura.B Braz Luiz de Abreu, Portugal
medico, pag. 493, § 86.
— O verdadeiro Deus ; o único que
ha, em opposiçào aos falsos deuses. —
«Na qual se couiprehende a sciencia das
leys, como ja tenho prouado, as quaes
saõ tão excellentes, que nã somente con-
seruã o próprio reyno, mas ainda gouer-
nam e sustentam outros reinos e sefiorios
remotissimos, como se ve claramente nas
leis feitas neste reyno, que nào somente
o conseruam, mas ellas mesmas regem e
sostam as ricas índias do Oriente, per
grande distancia do immenso mar alon-
gadas de nós, que os inuictissimos e
Christianissimos Reys de Portugal dõ ]\ía-
noel,:.e dom loão de gloriosa memoria
per seus capitaens descobriram e con-
quistaram, e cõ o diuiuo fauor someterâ á
fé de lesu Christo nos.-o verdadeiro Deos.»
Heitor Pinto, Dialogo da Justiça, cap. 8.
— «Trouxeram-iia da Índia, e quis (> pa-
dre que a leuasse Paulo comsigo, e mos-
trasse ao senhor de Cangoxima, tendo
por eerto, que ella lhe abriria as portas,
faria dar grata audiência, e tomaria em
tím a posse da adoraçam do verdadeiro
Deos, e sua per todos aquelles reinos.
Respondeo o successo ás esperanças.» Lu-
cena, Vida de S. Francisco Xavier, liv.
6, cap. 18.
— A verdadeira vida ; a vida eterna.
— ■ «Aili habitaua esperado a iim da vi-
da, pêra começar a vida, que nào tem
iim. Àlli andaua com os olhos feitos alam-
biques, per onde se estillaua seu coração
cotando aquillo do Psalmista '(Singulari-
te sum ego donec trãseam.) Gomo se dis-
sera : Assi andarey solitário até que pas-
se desta vida pelo caiz da morte, pêra a
regiam da verdadeira vida.» Heitor Pin-
to, Dialogo da Justiça, cap. 7.
— Conforme á natureza das cousas,
em que ellas se representam quaes são,
ou se concebem taes, ou quaes são. —
cPera que se saiba que o que 3I Rei fez
nam foi senam como muito prudente, e
per parecer de seu conselho, e verdadei-
ras informações que tinha do sta^io do
Duque Charles, e do real sangue donde
descendia, e pêra que se saiba de sua
linhagem, e pregcnia.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 4, cap. 71.
— «O. pensamento verdadeiro e domi-
nante d'este poema é ligar a ^^da e fei-
tas todos de Camões como a um fado, a
uma sina com quo nasceu — a de ini-
mortalizar o nome portujíuez com o seu
poema.» Garrett, Camões.
— Os verdadeiros chrisfãos ; as que
seguem a lei de Christo, segundo o ca-
tholicisrao. — «Mas saybamos qual he a
escada por onde sobirã a esta celestial
Cidade todos os que là estão. Esta esca-
da nos pr&senta a sancta Madre igreja
no Euangelho que ouuistes a Missa, no
qual nos conta sam Matheus como o Se-
nhor logo como começou de se manifes-
tar ao mundo, depois que escolheo seus
discípulos Bubio com elles a hum monte,
e alli lhes pos e ergeo aquella escada,
polia qual elles todos os verdadeiros
Christãs auiã de subir ao mote celes-
tial.» Fj'ei Bartholomeu dos Martyres,
Catecismo da doutrina christã.
— Sciaicia verdadeira ; sciencia soli-
da, pura. — «Todos os Philosofos, e Dou-
tores Theologos defendem, que merece o
nobre titulo de sciencia verdadeira aquel-
la arte somente, que tem princípios cer-
tos, por onde demostra, e alcança, o que
exercita.» Arte de furtar, cap. 1.
— Figuradamente: Tronco verdadeiro.
D'huma parte este vicio baixo e imiiíundo
(Pac de todos, e troaeo verdadeiro,
Qu'a gente pasma, c tem por sem segando,
Afãs qualquci- era segai-lo he o primeiro,
Que sempre he falso o bom qae mostra o mando)
E doutra hum tal favor n'ham estrangeiro,
Aborrecido o foz doutros privados,
Oa quaes doUe se tem por acanhados.
p. d'andkade, piiiMEino CEECO DE Dio, cant. 2,
est. 72.
— ■ O' Espirito Santo, verdadeiro con-
solador das almas. — «O nam sejamos
taes, demos lugar ao Spirito santo, dei-
xem olo obrar em nos e conuldeniolo pêra
isso com aqnellas ardentissimaa palauras
com que a Igreja o chama dizendo : Vem
bpirito sancto e enuia em nossos corações
03 ríiyos de tua luz. Vem lume das al-
mas, vem consolador verdadeiro, doce
hospede, doce refrigério.» Frei Bartliolo-
meu dos Martyres, Catecismo da doutri-
na christã.
— Amante da verdade, observante d'el-
fa em tudo o que diz.
E 30 esta informação não fôr inteira,
Tanto quanto convém, d'eHe3 pretende
Informar-to, que é gente verdadeira,
A quem mais falsidade enoja e oftende.
CAM., Lus., cant. 7, est. 72.
Ha ay Xayres cauallciros
como homens dordcnança,
que pellcjam por dinheiros,
muy leaes, muy verdadeiros,
muy destros de frecha, e laça.
GARCIA DE KEZKNDE, MlSCr.LLANE A .
— O verdadeiro inferno. — «E he tam
ordinária opiniam serem aquellas espanto-
sas furnas bocas do verdadeiro inferno,
que ou por se accommodar nesta parte
(sem prejuízo da verdade) ao commum
sentir dos homens.» Lucena, Vida de S,
Francisco Xavier, liv. 4, cap. 3.
— Não falsificado, nSo imitado.
— Facto verdadeiro ; facto que somen-
te aconteceu como se narra.
— Verdadeira carne, e verdadeiros os-
sos. — «Assi como he impassluel, e inca-
paz de toda a corrupçã, pena, e de toda
outra miséria que se pode imaginar, a.ssi
o será a vossa. Assi como he sutil, e li-
geira, nam perdendo ser verdadeira car-
ne, e ter verdadeiros ossos, e assi como
he clara, e resplandecente, e estremada-
mente formosa : assi o será a vossa se de
coração me seruirdes, e andardes vnidos,
e pegados comigo, por fe, esperança, e
chaiidade. » Frei Bartholomeu dos Mar-
tyres, Catecismo da doutrina christã.
— A verdadeira 2^02 do coração; a
peifeita paz, a tranquillidade d'elle. —
«E temporais, e totalmente esqueceruos
do mundo, e suas apparencias, porque
nunca chegareis a possuir a verdadeira
paz, e puro sossego de coração, se com
todas as forças vnidas à vontade do Se-
nhor Deos, não perderdes a memoria das
criaturas.» Frei Bartholomeu do» Marty-
res, Compendio de espiritual doutrina.
— Verdadeiro amor; puro amor. —
«E por isso a cousa a que sobre todas
Deos e a mesma natureza nos inclina e
obriga, he procurar de alcãçar verdadei-
ro conhecimento de Deos, e após isso
verdadeiro amor. A qual cousa se o ho-
mem não tiuer, que fica senão dizerlhe
aquillo que Deos lhe disse : O homem
sendo posto em honra de excellente na-
tureza, nào a conhecendo, fica cõparado
!Ís bestas irracionaes, feito semelhante a
ellas V» Frei Bartholomeu dos Martyres,
Catecismo da doutrina christã,
— Com verdadeiro coração ; com o co-
ração puro, do fundo d'elle. — «Por isso
irmãos nesta arreygados e fundados, co-
mecemos a fabrica de nossa penitencia,
endereitando nossa entençam, por ella,
e dizendo com verdadeiro coraçam, eu
quero esta Quaresma castigar minha car-
ne, e emendar minha vida, e occuparme
em santas obras, por amor daquelle Se-
nhor, o qual eu deuendo sobretudo amar
e seruir, ofFendi e desobedeci.» Fr. Bar-
tholomeu dos Martyres, Catecismo da
doutrina christã.
— Si"N'. : Verdadeiro, leridico.
Verdadeiro toma-se algumas vezes na
accepçào de verídico, o que diz a verda-
de, porém em melhor sentido. O homem
■verídico suppõe o verdadeiro, o homem
verdadeiro não conhece senão a verda-
de. O homem verdadeiro é verídico por
caracter, pela singeleza, rectidão e vera-
cidade do seu caracter.
O homem verídico dlrige-se sempre a
dizer claramente a verdade ; porém o ho-
916
VERU
VEKD
VEKD
mem verdadeiro nilo pôde deixar de di-
»(il-a ; ó um ilevor seu.
f VERDADEYKAMENTE, ndu. lUo ver-
dadeyro, o o sullixo <imeule»^ Vid. Ver-
dadeirameate. — «(iuuui poilerii contar
as morcos que roceboinLiH de-jda tardo do
(lia proseiitc a;oc a tarde do dia «eguin-
to y Verdadeyrameiíle que taes sara, quo
aasi como callalas [laroee jurando inf^rati-
à&, assi fallar nuUas parece fjràde atre-
uimonto e prosuiiyaiu. Porque j)arecia
qiio ouuiiido nos tauí espautodos e tremi-
dos mysterioã, auiamoa de responder nam
com paiauras, mas cora pauores, e jjas-
mos, considerando como foy possiuei que
a tara indignos fizosso Deos tara incsti-
maueis benelieios.» Fr. Burlliolouieu tios
Martyres, Catecismo da doutrina chris-
tã. — «Ddspois que o Senlior lauou os
pès a todos, tornou a tomar sua vestidu-
ra superior, e tornaudose a assentar ILes
disse. Sabeis })or([ae vos liz isto? vòs
chauiaisnio mestre o Senhor, dizeis bem,
porque verdadeyramente eu o sou: Pois
se eu sendo mestre, e Senlior vosso, vos
lauei 03 pès, quanto raais deueis vos huns
aos outros lauar os pèsV» Ibidem. — «O
Barão de Leveidipe he hum homem que
tem verdadeyramente muitos merecimen-
tos, e muito grandes.» Cavaileiro d'01i-
veira, Cartas, liv. 3, n." tí.
f VERDADEYRO, A, adj. Vid. Verda-
deiro. — « K o outro pijto foy dizerlhe
que porque el Kev ile Portugal seu se-
nhor era com verdadeyra amizade irmào
de el Key da Uhina, vinhão elles a sua
terra, como também os Cains por este
respeito eustumaviio yr a Malaca, onde
eraõ tratados cora toda a verdade, favor,
e Justiça, sem se lhes fazer agravo ne-
nhum.» Fernão Mendes Pinto, Peregri-
nações, cap. 64. — «Servidores daquelle
alto Senhor, espelno claro do luz incria-
da, ante cujos merecimentos os nossos
ficão sendo nada, nós os somenos servos
desta santa casa de Tauhinarel, situada
no favor da quinta prisaõ do Nanquim,
com verdadeyras palavras de acatamen-
to devido fazemos saber a vossas humil-
des pessoas, que esses uove estrangeiros
que esta lhe daraõ saõ iiomens de terras
muyto apartadas, cujas tazendas e cor-
pos o mar consumio cõ sou bravo Ímpeto
tanto sem piedade.» Ibidem, cap. 85. —
«Tal he ao contrario a qualidade do me-
recimento, que ainda sendo o mais ver-
dadeyro, necessita do socorro do tempo
para conseguir o aplauso que lhe he de-
vido.» Cavaileiro d'Oliveira, Cartas, liv.
1, n.° 40. — «Não se esquecerão os seus
sequases de acreditarem a certesa da
Arte com os princípios mais sólidos, po-
rem nem por isso verdadeyros.» ibidem,
n.° 44. — «Que as molherea sejào verda-
deyras, ou falsas no couceyto de V. M.
he couza que as não põem por portas, e
ho couza que a mim nada me importa,
porem dosuiontir-me V. JI. e negar o
que disso no Jardim do Arcebispo, he
couza (pie me dá com hum páo na pa-
ciência, e <(uc me faz perder as estribei-
ras.» Ibidem, liv. 2, n." 10. — «Na ey-
ca deste mundo (diz o Senhor) estam os
bons o mãos do UKístura como está na
eyra a palha com o trigo. E como na
eyra assi a palh.i como o trigo sam pisa-
dos com os pees dos booys, e ambos sam
commouidtjs, e alcuantados no ar : mas
porem o trigo sofro, e liça na eyra e a
palha o vento a le\)a, o lança fora : assi
neste mundo os verdadeyros Christàos
ainda quo trilhados, e perseguidos de
muytos, o ainda, que combatidos do de-
mónio, carne, o mundo, todauia nam
saem da eyra de Deos, mas pcrseueram
cm Foo, Esperança, e Charidade. » Frei
Bartliolomeu dos Martyres, Catecismo da
doutrina christã.
VERDADURAS, -■;. /. ]dur. Termo au-
ti(iuailo. \'í'i. Esverdados.
VERDAICA, s. f. Termo de botânica.
Vara lenhosa delgada de qualquer arvore
ou arbusto. Vid. Vergasta.
1.) VERDE, s. m. Uma das cores prin-
cipaes, símil hante á que tem as hervas
viçosas, os louros, etc.
— Verde gris; verde tirante a cin-
zento.
— O verde ?'i«r & mais claro; verde-
(jai, claro e alegre.
— Verde lirio; verde desmaiado, uma
espécie de verde.
— Verde bexiga ; tinta feita do sumo
de arruda, e herva moura.
— Verde terra ; bórax amarello, que
se faz lançando agua cm veias míneraes.
2.) VERDE, s. m. Ferra, a herva dos
pães, que se sega na primavera, antes de
espigar, para os cavallos, bois, etc.
— Kendeirv do verde; o que arrendou
as multas, e coimas dos gados que entram
cm terras semeadas, o lhes produzem
dam no.
— Figuradamente : Dar um verde ; dar
cousa que alegre, e console.
— Verde de porco, de boi ; o sangue
guisado.
— Tomar um verde ; tomar cousa que
console, e alegre.
— Figuradamente : Lograr uvi verde ;
ter algum prazer, vantagem de pouco
tempo.
3.) VERDE, adj. 2 gen. Da c6r do
verde.
— A terra íem cousa verde ; sem relva,
sem hervas viçosas. — «Porque a tona
(pie he toda arca inenda sem cousa verde,
a esta chaiuão elles (^'ahcl, e ;\ que he cu-
berta de alguma hcrua ou mata como de
charneca pobre que he a parte que elles
pastão, chamào Azagar, e à qno he de
[ledregulho meudo em modo de grossa
área, Çahara : e a esta csausa, os mães dos
morai lores desta triste terra se achegaõ a
este ri(> Oauagá, e outros audaò buscando
as empolas que dissemos que lhe ticào em
lugar de pomares.» Barros, Década 1,
liv. 3, cap. 8.
— tVuz verde. — « E d(qj<jis de «cr lley
tomou por deuuçUu da ordem assentar o
escudo das armas de Portugal s<jbre ha
CKVS verde, com as pontas delia fora
do escudo na bordadura, como ainda em
suas obras, e luuy excellente sepultura
no Mosteyro da liatalha ojo em dia se
ve.» (i areia de Kezende, Chronica de D.
João II, cap. (>1.
— Ltn/ui verde ; lenha nâo gêcca.
— Couros verdes; couro» crus, nSo
cortidos.
— Campo verde ; campo cheio de her-
vas viçosas, de relva.
Com tão nobrí? apparato, c sumptuoso.
Para buscar o iinigo se dispunha,
Com 80111 de (|uatro pis, rijo c o^pantoso,
Pisa ja o x-erde campo a ferrada unha:
K (^imo era d'e3piriUi grandioòO,
Xas grandes presas só seu tento punha,
Poliis aldeias passa, c as vf; apenas,
Porque iiiio o detém cousas pequenas.
P. D'ANnEADR, PBIMF.IBO CBBCO DB DID, CaDt. .3,
est. 20.
— Viii/w verde ; vinho de uvas pouco
maduras.
— Mares verdes ; mares levantados,
encapellados.
— Figuradamente : Os verdes campos
de N^eptuno undoso; o mar.
Onde, sobre Amphitritc (que tirada
J)e escamosos Doiphinâ, u'uma aur(>a Concha,
Os verdes Campos de Neptuno undoso,
Cercada do Tiitõos, mia passeiaj
Do famoso Martin o veruiz brilha,
Seu emprego só saõ, e seu estado.
DLNIZ DA CBCZ, BTSSOPE, Cant. 1.
— Aniws verdes ; sem a madureza da
virilidade.
— Cantes verdes ; carnes frescas.
— Fructo verde ; fiucto nào maduro.
— J/oçu verde ; que faz imprudência, e
os verdores da mocidade.
. — Ornado, ou juncado de ramos.
— Loc. : Cortar cm verde ; cortar em
herva, ou em agraço, antes do tempo sa-
zonado, em tior.
— Estar o negocio ainJa em verde ;
estar não de vez, nào sazonado, nem ma-
duro para se otfcctuar.
— Loc. : Dar uma verde com tuna ma-
dura; misturar as cousas desabridas com
agradáveis, que liies sirvam de sainete.
— Juízo verde; diz-so por incapaz
aimla do julgar bem, sem bom discerni-
mento.
— £st4ir u negocio ainda em verde ;
estar fraco, pouoo forte.
— Está a apust&na verde ; está únda
fora do tempo de se abrir.
— Velho verde; velho rijo, ârcBco,
teso.
VERD
VERD
VERE
917
— Tempos verdes; quando dura ainda
o inverno, e não ha sazíto de navegar.
— Esperanças em verde; mui antes, e
arriscadas de se eftcituarein.
— Adágios e provérbios :
— Arde o sôcco pelo verde, e pagam
justos por peccadores.
— Está tremendo como varas verdes.
— A fruta é o verde do racional.
VERDEA, s. f. Espécie de vinho, que
na cor inclina a verde; é estimada a de
Florença, na Itália.
1.) VERDEAL, s. m. Os officiaes do
meirinho da Universidade de Coinibia,
assim denominados por andarem de verde.
2.) VERDEAL, adj. 2 gen.— Trigo ver-
deal ; -peru verdeal ; espécies de trigo, e
peros.
VERDEAR, V. a. Vid. Verdejar, termo
mais em uso.
VERDECER, i;. n. Apparecer verde,
tornar verde.
VERDECRÉ, s. m. Côr verde sobre ouro.
VERDEGAI,. aJj. 2 gen. Verde gaio.
— Roupas de verdegai ; roupas de
verde alegre claro.
t VERDEIJAR, V. n. Vid. Verdejar.
Mas em mar leite navegando alegres,
Os eâfoi'çado3 nautas ja descobrem
Entro a alva espuma das ambientes aguas
Viçar a ilha formosa: — qual no seio
Lacteo-trcmente da modesta noiva
Puro verdeija o sponsalíoio ramo.
cABBETT, C.1MÕES, cant. 8, cap. 13.
VERDEJAR, V. n. Apparecer verde.
— Emprega-se também figuradamente.
VERDELHÂ, ou CITRINELLA, s. f. Ter-
mo de historia natural. Pássaro vulgar,
chamado também verdelhão.
VERDELHÃO, s. m. Ave vulgar, pouco
maior que o pardal ; tem bico curto e re-
dondo, costas verdes e barriga amarella.
VERDEMAR, adj. 2 gen. De verde mui
claro.
VERDEMONTANHA, s. m. Verde azu-
lado, mais delgado que o verde terra ;
emprega-se na pintura para pintar mon-
tes. Vid. Verde 1).
VERDENEGRO, A, adj. De verde escu-
ro, apertado.
VERDEPEZO, ou VEROPEZO, s. on. Vid.
Aver de peso.
VERDESELHA, s. f. Termo de botânica.
Planta trepadeira vulgar.
VERDESELLA, s. /. Nas buizes é uma
vara mettida de ponta na terra, e arcada
para n'ella se armar o laço. Quando a
ave com os pés, ou cora o pescoço se en-
laça, a verdesella desencurvando-se, en-
direita, e no surto que dá aperta o
aro do cordel, e segura a presa ave, ou
animalzinho, coelho, lebre, e similhantes.
VERBETE, s. m. Tinta feita de ferru-
gem do cobre, ou latão posto em vapores
de vinagre.
VERDICT, s. víi. (Do inglez verdict).
Termo usado para designar a declaração
do jury, resposta que clle dá aos quesi-
tos do juiz. Vid. Júri.
VERDILHÃO, s. m. Vid. Verdelhão.
VERDINEGRO. Vid. Verdenegro.
VERDISELLA, s. /. Vid. Verdesella.
VERDIZELLO, s. m. Termo de historia
natural. Pássaro do género dos bico-gros-
sudos.
VERDIZELLOS, talvez por Virdizellos,
corrupção de vidros, vidrusinhos ou ga-
Ihatas.
VERDOENGO, A, adj. Tirante a verde.
— Fruta verdoenga ; fruta algum tan-
to verile, um pouco esverdeada.
VERDOGADA, ou VERDOEGA, ou VER-
DOAQA. Vid. Beldroegas.
VERDOR, s. m. Verdura da planta.
— O verdor da mocidade; os poucos
annos.
• — : Figuradamente : O verdor do sen-
timento; viveza, força.
— Os verdores da mocidade; as im-
prudências, e travessuras oriundas da
pouca edade.
VERBOSO, A, adj. Verde.
— Não maduro ainda.
VERDUGADAS. Vid. Averdugadas.
VERDUGO, í. m. Algoz, executor da
alta justiça.
A palavra que tenho ao Falcão dada
Por miin será cumprida, e não presuma
Leuar Manoel de Sousa o que me mauda
Dizer auante mais, pois ho escuzado.
(íuo primeiro estas mãos serào i-erdugo
Da filha que naceo pêra raatarmc,
Primeiro a euterrarci vlua, que passe
Esta falta por mim, tendo ella a culpa.
COHTE REAL, NAUFKàOIO DE SEPÚLVEDA, Caut. 1.
— Dobra, como vergão, feita na rou-
pa, carapução, ou gorras por ornato re-
levado.
— Uma navalha pequena.
— Espada sem gumes, muito longa, del-
gada.
— Termo de náutica. Cinta no costa-
do do navio. Vid. Cinta.
VERDUGUO. Termo antiquado de cor-
reeiro. = .Signilicação incerta.
VERDURA, s. /. A côr verde da
planta.
Três formosos outeiros se mostravam
Erguidos com soberba graciosa,
Que de gramíneo esmalte se adornavam,
Na foi-moaa ilha alegre e deleitosa:
Claras fontes e límpidas manavam
Do cume, que a verdura tom viçosa;
Por entro pedras alvas ae deriva
A sonorosa lympha fugitiva.
OAM., Lus., cant. 9, est. 54.
— ■ «Outros tam comparados a palmei-
ras que conseruam perpetua verdura e
nunca perdem a folha: assim elles con-
seruam a verdura da Castidade, e sani
constantes em as virtudes : assi como a
palmeira no alto he larga e no pè es-
treyta.» Fr. Bartholomeu dos Martyrcs,
Catecismo da doutrina christã.
— Diz-se em ojiposição á madureza
dos fructos, o contrario d'ella.
— Figuradamente : As plantas.
— Verdura do moqo. Vid. Verdor.
— Hortaliças.
— Figuradamente: Verdura do estylo
do principiante ; imperfeição, viço e pou-
ca correcção.
VEREA, 5. /. Termo antiquado. Vere-
da, caminho.
— Figuradamente : Direcção, directó-
rio.
VEREAÇÃO, s. /. Officio de vereador.
— Taxa em cousas de venda, ou ma-
neio, braçagem de serviçaes, e mochani-
cas.
— Conferencia sobre a direcção, e en-
caminhamento do bem publico, e bemfei-
toria encommendada a tacs officiaes. Ou-
tras conferencias teem ou relações sobre
despachos de coimas, causas ou pleitos,
que vão aos juizes e vereadores por ag-
gravo, ou appellaçao. Vid. Vareação.
— Postura ou decisão dos vereadores,
ou do concelho, para o bom regimento
da terra.
— Almotaçaria.
VEREADO, part. pass. de Verear.
— Regido, governado, dirigido a bem.
VEREADOR, s. m. Membro do conce-
lho, ou camará, que tem a seu cargo cou-
sas da policia, como os concertos das es-
tradas, a abundância dos mantimentos,
quasi encaminhador das cousas da terra
a bom paramento e estado. Vid. Varea-
dor, que é difiei-ente. — «No cães o es-
peravão os Cabos da milicia. Nobreza, e
Regimentos da Cidade, com os quaes en-
trou a primeira porta, onde hum Verea-
dor na lingua Latina lhe orou discreta-
mente, discorrendo, como por beneficio
de seu Valor tínhamos humilhado o mais
soberbo Sceptro do Oriente, cujas ruínas
serião de sua fama os elogios maiores.»
Jacintho Freire d'Andracle, Vida de D.
João de Castro, liv. 3.
VEREAMENTO, s. m. O conhecimento,
e jurisdicção económica no regimento das
terras acerca das bemfeitoi-ias concelhei-
ras, agricultura, etc. Vid. Encaminha-
mento.
— Regimen, direcção.
VEREAR, V. a. Termo antiquado. Go-
vernar, reger a terra pondo n 'ella verea-
mento, e boa policia, bom regimen. Vid.
Vereado, c Vereamento.
VERECIVELMENTE, adu. Termo anti-
quado. Verusinnlmeiíte.
VERECUNDIA, s. f. (Do latim verecun-
dia). Vid. Vergonha.
VERECUNDO, A, adj. Vid. Vergonhoso.
VEREDA, s. /. Caminho estreito, o não
estrada real.
— Figuradamente : O estylo, o modo,
e ordem de vida, ou passos, niethodo. —
A vereda da virtude.
918
VERG
VERO
VERa
VEREDE, s. m. Termo antiquaflo. Po-
mar.
VERENDO, A, ailj. Vcnei-avel.
VERETILHO, s. m. (Do latim verotillum).
Termo de historia natural, (ienero de
zoopliytoe.
f VEREY, por Verei, na primeira pes-
soa do siujíulai- lio futuro imperfeito do
modo indicativo. Vid. Vèr. — «Poeo-vos
que ma remetaes a cojiia delle pelo por-
tador, o se nào ha copia mereço o ori^^i-
nal que verey, e restituirey no tempo
cm que ordenaro.s.» Cavalleiro d'Oiivei-
ra, Cartas, liv. 1, n." 31.
VERGA, s. f. (Do latim virga). Vara
Hexivel o dobradiça com que talvez se
açouta.
— Ferro lavrado em barras estreitas
para arcos, etc.
— Vara usada dos mágicos, e similhan-
tes curandeiros, ou milagreiros.
— Termo de náutica. Vara, peça de
madeira redonda mais grossa no meio,
que nas pontas, que cruza o mastro, e
d'oade se prende a vela, antenna.
— Vara de medir.
— Figuradamente : Unia verga de fer-
ro fervente.
— Loc: Estar rZa vergas d' alto, ou de
vergas alfas; estar com as velas ferra-
das, ou soltas.
— A pe ira do portal superior, em op-
posiçíio á sdôiru, ou liminar.
VER5AD'ALT0, nU\ — Armada pos-
ta vergad'alto. Vul. Verga.
VERGAL. Vil. Tiravergal.
VERGALHADA, s. /. Uolpe, açouto da-
do com vei'galho.
VERGALHÃO, s. m. Barras de ferro es-
treitas e quadradíis, ou quasi, usadas no
commereio.
VERGALHO, s. m. O membro genital
do cavallii, boi, etc.
VERGAME, s. vi. Termo de náutica.
As vergas de um navio, que se acham
apparelliadas, ou prouiptas para o serem,
e servirenx na marinha.
VERGAMOTA. Vid. Bergamota.
— Na província da Beira chama-se-Ihe
hortelã mourisca.
VERGÃO, s. m. Augmentativo de Ver-
ga» Verga mais grossa. ,
— Figuradamente : O signal sauguea-
to ou não, alto, que deixa no corpo o gol-
pe lia vara grossa, ou açouto.
VERGAR, 11. a. Dobrar, curvar.
— V. n. Dobrar, curvar.
I Adòrnoa de vestal, não mAis vos mancho. » —
Co' Sacio gume, o niveo eólio iiivésto,
E o sangue, cm espadana, sAe de rojo. —
Vcllèda rérjja. e cle. Asaim nos sulcos,
Que hA sejrado, a CoifoÁra, o oMn inclina,
E, pcsiida do atVan, se entrega ao somno.
r. M. DO NA3CIJ1SNT0, 03 MARtYBKS, 1ÍV. 10.
— Emprega-se também no sentido de
estar voltado, ou inclinado para alguma
parte.
VERGASTA, «. /. Termo u.sual. Vara
que serve ile açimte.
VERGASTADA, s. /. Oolpe, pancada
couj vergasta.
VERGEL, «. )/(. íDo francez vergerj.
Horto ameno de recreio, onde existem
jardins.
Não ha hl favo do mel
Tão doei! como a preguiça ;
llc muiu descufadãdiça
Que bom pomar nem vergel.
OIL VIUEMlt:, KÁUVAS.
Ouvio erros s<5mente a docta Athenas
Nos vcri/eit de Academo ; o vasto Gcnio,
Por tanto tempo o Déspota da Kscola,
Em erros dei.ta o .Mundo, at»'; que Urânio
Os grilhões lho quebrou com niao robusta.
J. À.. DIS IIACKDO, A líATi;iI£ZA, Caut. 1.
— Figuradamente : Uns vergéis de
virtude.
— Adjectivamente : Amor vergel.
Olá, buscacs amor ?
Í5Ím.
Pastel, é amor vergd.
Pastel, amor mano e rida.
liuscaos amor V
Sim.
ANTÓNIO PBESTES, AUTOS, pag. 225.
VERGONÇA, *. /. Termo antiquado.
Vid. Vergonha. — «E estes Escripvàes
devem de jurar na Chaucellai-ia, que fa-
çam seu OíGcio lealmente, e sem prelon-
gua, e nom catem hi amor, nem des-
amor, nem medo, nera vergonça, nem ro-
guo, nem dom que lhes prometaõ, nem
dem, e sobre tod ) que guardem bem a
Nossa puridade, e todalas outras cousas,
que a Nós pertecncem, segundo aquello,
que eiles hã de fazer em seus officios.»
Ord. Affous., liv. 1. tit. 16, § 2.
f VERGONÇOSO, A, adj. Vid. Vergo-
nhoso.
VERGONHA, s. /. (Do latim verecun-
dia). A paixão da alma causada pelo re-
ceio de cousa que deshonra, infama, e é
feita em desprezo, ou por idèas deshones-
tas e impudicas ; ordinariamente é segui-
da de rubor no rostoi — «E chegou a ella
em poucos dias, que como fosse conheci-
do d'el-rei e dos de sua casa, houve por
cousa grave vèr-se naquella vergonha :
mas temendo seria miir vergonha nào
cumprir o que promettêra, entrou no pa-
ço, e chegou a tempo que el-rei estava
em casa da rainha.» Francisco de Mo-
raes, Palmeirim dlnglaterra, cap. 120.
Oh Solina, minha amiga.
Que todo Câte coração
Teulio posto em vossa mão ;
Amor nic manda que diga,
Veryonha me diz que nào.
CAM., FILODKMO, act. 4, SC 1.
Chum delgado cendal as partes cobre,
De quem vtrgoiiha ho natural reparo ;
Porém nem tudo escondi, nem descobre
O vco, dos roxos lírios pouco avaro :
M.is para <\w. o desejo accerida e dobre,
I,hc p*e diante aqueíle objecto raro.
.I;i se sentem no ceo, por tfida a parto,
Ciúmes cm Vulcano, amor oiu Marte.
iDBM, IMS., cant. 2, est. 37.
Rfo» nem com tilo mortal fúria medonha
IVide tanto o canhão bravo o espantoso,
Que ou arreceio, ou duvida então ponhs
Naquelle Portuguez peito animoso:
O esforço natural junto A yfftfonha
llc tanto, que o» canhões mais furioso,
Que o sulfúreo furor nào he bastante
A fazer que clle então uão passe ávanto.
raANCIgCO DE AJIDRADE, FBIMEIBO CEBCO DE DIC,
cant. 13, est. 88.
— «E sustentando a vida com um pe-
daço de pão comprado com a vergonha
de o pedir de porta em porta.» Frei Lniz
de Sousa, Historia de S. Domingos, liv.
1, cap. 8.
Essa tão
vád'impace Deus m'a priva.
Bom é ter vergonha já.
AMTOKIO PBESTES, AUTOS, psig. 191.
Ora emfim, eu estou posto
d'crguer lebros : não, desgosto
não vos quero, senhora, agora,
porque me não ponhaes magoa
ualma, e vergonha no rosto.
iBiDEJi, pag. 325.
Oh ! isso é meu,
mas põe-no quem tem x-ergnnJia.
Que não! que é mais carantonha
que sczudo ; isso é sandeu.
IBIDG3I, pag. 41Õ.
Começac vossos feitos gloriosoe.
Aqui estou so, feri : que vos demora!
Oli, faltava-noâ mais esta vergonha.
Esta vergonha derradeira! — Koma,
Ahi tens os teus heroes. Catão, são eaeee,
Ei-los, da liberdade os defensores !
OABBBTT, C.ITÃO, aCt. 4, SC. 1.
— Ser vergonha ; ser cousa vergonho-
sa, impudica, indecorosa. — tAs novas
de Admòm correrão logo por Goa, ãcan-
do Dom Tayo taõ desacreditado com to-
dos, que era vergonha^ e assim teve El-
Rey com elle tào pouca conta, que nun-
ca o despachou, se não depois de velho,
e ca.sado, e em quanto viveo licou com
eate labèo.» Diogo de Couto, Década 6,
liv. 6, cap. 6.
— Cousa ou pessoa que a produz, ou
deve produzir.
— Figuradamente : Plur. As partes
impudicas, as partes pudendas e obsce-
nas.
— Ad.vgios e pkoverbios :
— Jielhor é vergonha no rosto, e ma-
gna no coração.
— Quem sempre mente, vergonha nâo
sente.
— Quem nào tem vergonha, todo o
mundo é seu.
VERG
VERI
VERM
919
— A mulher qae perde a vergonha,
jamais a cobra.
— Quem tem vergonha auda magro.
— Quem não tem vergonha, iiào tem
honra.
— A pobreza uãõ ó vergonha.
— A vergonha no pobre fal-o mais
pobre.
— Antes a minha face com fome ama-
rella, que com vergonha n'ella.
VERGONHOSA, s. f. Vid. Herva mi-
mosa, viva, sensitiva.
VERGONHOSAMENTE, adv. (De vergo-
nhoso, e o suiBxo «mente»). De um mo-
do vergonhoso, que pro luz vergonha.
vergonhosíssimo, a, adj. siqjerl. de
Vergonhoso. Mui vergonhoso. — Dónzel-
la vergonhosíssima.
vergonhoso, a, adj. Que tem ver-
Que produz vergonha.
Com forçA não, com mantia vergonhosa
A vida lhe tiraram, que 03 espanta ;
Que o grande aporto em gente, inda que honrosa,
A'â vezes leis magnânimas quebranta.
CAX., tns., eant. 8, est. 7.
Em prisões baixas fui hum tempo atado ;
Vergonhoso castigo de meus erros:
Inda agora arrojando levo os ferros,
Que a morte, a meu pezar, tem ja quebrado.
CAM., SOXEIOS, n.° 5.
Surge outra Fúria lúgubre, c funesta,
Tjranao Amor, que em vergonhosos cepos
Mette esci-ava a razão, e ao carro atados
Leva em cadéas vis Soneca, e Zeno,
O velho curvo, o flórido mancebo.
J. A. DR MACEDO, MKDITAçlo, Cant. 1.
Por certo não é crime ser escravo,
So desventura grande ; maa, podendo
Espedaçar os ferroa vergonhosos,
Xào o fezcr é vil baixeza torpe,
E covardia, — e a covardia é crime.
GAKItETT, CATÃO, aCt. 5, SC. 3.
— Que padece vergonha, por qualquer
leve Câusa das que a excitam. — «He na-
turalmente o Elephaute manso, benigno,
clemente, vergonhoso, e amoroso. Dey-
tase em terra, e se leuanta todas, e quan-
tas vezes quer. Lembrado estou que Fr.
Phelippe Dias diz que ja mais se deyta,
mas que dorme encostado a huma aruo-
re.i) Frei Gaspar de S. Bernardino, Iti-
nerário da índia, cap. 15.
— Adagio e provérbio :
— Homem vergonhoso, o demo o trou-
xe ao poço.
VERGONTA, ou VERGONTEA, s. f. A
vara tenra, o renovo das arvores.
— Figuradamente : A prole tenra, os
filhos moços.
VERGONTEAR, v. ii. Lançar vergon-
teas a arvore, ou .irbusto, ou tronco de-
cotado o assim a raiz de tronco que ficou
na terra.
VERGUEIRO, s. m. Cabo de pau, em
cujo extremo os ferreiros cravam as suas
talhadeiras, e os carpinteiros de enge-
nhos as palmetas para se baterem com a
marreta, sem perigo das mãos de quem
as sustem.
— Termo de marinha. Cabo dobrado,
brasa. — Vergueiro do leme.
VERICID.A.DE, s. /. Vid. Veracidade.
j VERIDICAMENTE, adv. (De veridi-
co, e o suffixo «mente»). Da um modo
verídico. — Isto foi narrado veridica-
mente.
VERIDICIDADE, s. /. Vid. Veraci-
dade.
VERÍDICO, A, adj. (Do latim veridi-
cus). Que gosta de fallar a verdade, que
tem por habito dizel-a.
— áYX. : Verídico, verdadeiro. Vid.
este ultimo termo.
VERIFICAÇÃO, s. f. Acto de verificar.
— Verificação dos pesos e medidas. —
cPera mor certeza do que farei aqui men-
çam do que Pêro de sequeira (homem a
que se pode dar credito) me dixe acerca
da veri&caçaõ deste saucto Apostolo, ser
o primeiro que pregou a nossa fe catho-
lica uaquellas partes, que foi assi.» Da-
mião de Guês, Chronica de D. Manoel,
part. 1, cap. 98.
— O acto de cumprir-se algum dito,
prophecia.
VERIFICADO, part. pa-ss. do Verificar.
— «i^elo que tendo Portugal Rey, naõ
hà que temer nenlmm poJer estranho,
como testificaò os exemplos de todos os
séculos, os dictames mais verificados dos
Políticos, e sobre tudo os diviíios Orácu-
los.» Severim de Faria, Noticias de Por-
tugal, Dísc. 2, cap. 9.
VERIFICADOR, s. m. Homem que é no-
meado judicialmento, para examinar se
uma eícriptura é falsa ou verdadeira.
— Ofíicial nas alfandegas, encarrega-
do de verificar a qualidade, e quantida-
de das fazendas, que se apresentam a
despacho, etc.
— • S. Pessoa que verifica.
VERIFICAR, V. a. Certiticar-se se uma
cousa é como deve ser. — Verificar um
facto. — Verificar os pesos e rnedidas.
— Fazer vêr a verdade, a exactidão
de uma cousa.
— Indagar o verdadeiro estado da
cousa.
— Verificar-se, v. refl. Cumprir-se,
tornar-se verdadeiro o annuncio, a pro-
phecia, etc. — «Por isso desta nobre par-
te se verefica aquelle enigmático dicterio
dos Gregos; em quanto dizem, que quan-
to mais clieyo, mais leve; quanto mais
vazio, mais pezado.» Braz Luiz d'Abreu,
Portugal medico, pag. 33.
— Verificar-se a condição ; existir, efl^e-
ctuar-se, fazer-se aquillo que se tomou
por eouJiçào do contracto, ameaça, pre-
dicção.
— Loc. ; N'isto se verifica o que diz
o auctor; n'isto se sabe ser verdadeiro o
que elle diz.
— Stn. : Verificar, realisar, Vid. este
ultimo termo.
VERIFICATIVO, A, adj. Que serve de'
verificar. — Uma experiência verificati-
va. — Documentos verificativos.
VERIFICÁVEL, adj. 2 gen. Que é pos-
sível verificar-se.
VERILHA, s. /. Vid. Virilha.
VERI3IMIL, adj. 2 gen. (Do latim ve-
risimilis). Que parece, e tem ar de ver-
dadeiro.
VERI3IMILIDADE, s. /. Ar de verda-
de, apparencia de verdade, sob a qual
se nos representa alçum facto.
VERISIMILHANÇA,'' s. /. Vid. Verisi-
milidade.
VERISIMILITUBE, ?. /. (Do latim ve-
risimilitndo^, Vid. Verisímilhança.
VERISIMILI-iEKTE, adv. (De verisimil,
com o suflBxo «mente»). De um modo ve-
risimil.
— Com verisímilhança, ou verosimi-
lhança.
VERÍSSIMO, A, adj. superl. de Vero.
Mui vero, muito ver^:adeiro.
VERLO. Vid. Véllo.
VERaiE, s. m. (Do latim vermis). Ter-
mo de historia natural. Bicho que se cria
nos fructos, na terra, nas arvores, no
corpo anima!, nas conchas.
— Figuradamente : Verme roedor da
conscieyicia.
— Verme da ferra ; a lombriga terres-
tre.
■ — Diz-se dos vermes que roem os cor-
pos nas sepulturas. Vid. Vermee.
VERMÊE. Vid. Verme.
VERMELHAÇO, A, adj. Avermelhado,
algum tanto vermelho.
VERMELHADO, adj. Vid. Averme-
lhado.
1.) VERMELHÃO, s. m. Mineral de côr
vermelha accesa.
— Figuradamente : COr do rosto posti-
ça, arrebique.
— A mesma tinta artificial feita de
azougiie e enxofre. Vid. Cinabrio.
2.) VERMELHÃO, s. m. Termo de bo-
tânica. Dragoeira, arvore da índia que
produz o sanffue de drago.
VERMELHAÍÍTÈ, adj. 2 gen. Termo de
poesia. Que tii-a a verfiielho, tirante a
elle, avermelhado.
VERMELHIDÃO, s. /. A côr vermelha
d'uma ])arte inflammada.
VERMELHO, A, adj. (Do francez ver-
meil). Diz-tfc da côr do rosto corado com
vergonha, e do vermelhão, mas menos
vivo.
— Que tem a côr do sangue.
Dous mil e setecentos bem serião
(Na Lusitana terra ao mundo dados)
Os que a branci e rerme/ha Cruz segnião,
Do forte aço, c mais forte 'sprito armados,
Do Canarins, c Malabares ião
Outros dous mil também (os quaes creadoa
920
VERM
VERM
VERM
Na oMMma torra aiio} qu« «'ombarcavilo
Noa imviorf d« Moiiioi c|Uu alli (Htiiviio.
. D A.NDRADK
est. U.
piiiMuiHU UKUuu \>u iiii', cant. 1 ,
Porém pouco lho vai agora o grito,
Ni'm a Hua cansada fori;a vcllia,
<lnr: osta tofm luim fiiior r(iia»i infinito,
Aqucllo nào pnnntra a surda orelha;
Asai forcado lho ho render o u4priU)
Sem do rtiHi saufíuo a turra sor vermelha,
Ou ti^ir outio algum mal, mais que o que sento
Po' ardor com que peleja a sua gnuto.
iDiDEM, cant. 19, est. 70.
— « CttlçSo çapatoíi do pontillia do cou-
ro ou de seda : truzein oiu as cabt!(;as
toucas brancas loteadas sobre uns barre-
tes vermelhos com liuinas trombus ver-
luelbas o a.ssiiu como anilam bem atavia-
dos de vo.-~tid() lio aniLiõ dannas. s. ter-
çados, e adagas, arcos, torqiiiscos, o fre-
chas, sam grandes froelieyros trazem
huna escudos a que chainão cofos de seda
e dalgodara : taõ fortes que os nam pas-
sa uenhuma frecha e contiimaniente tra-
zem estas armas na paz.» Teureiro, Iti-
nerário, cap. 1. — «A causa do qual
nomo Roxo (jucrendo Alfonso do Albo-
querquc entender neste tempo que o na-
vegou, diz em huuia carta que sobre isso
escreveo- a ElKey D. ]\lanool, que lhe
convém muito este nomo Roxo, por ser
mui cheio de manchas vermelhas; porque
querendo elle abocar com a frota que le-
vava ás poi-tas dellc, vio saliir per ellas
huma vea grossa de agua vermelha.»
liarro.<, Década (5, liv. 8, cap, 1. — -«Os
Alouroa tiráràt) logo huma baudcira, bran-
ca, e arvorarão outra vermelha, a que
*ucceídep tirareiu os nossos algumas bom-
bardadas, com pontaria trw incerta, que
uãfl ,fiaerão daiuno. D. Álvaro rodeou
cora todos os seus a Fortaleza, quomau-
dou eommetter por escala por ditforentes
partes, assegurando os que subiào com a
espingardaria debaixo ; e porque era a
carga continua, nào ousavào apparecer
03 Mouros.» Jaeintho Freire d'Andrade,
Vida de D. João de Castro, liv. 4. —
tPòr este feito tão honrado, lhe deu El-
Rey p. Afonso V. por aimaa em campo
do ouro cinco cintos vermelhos coin fi-
vellas de prata ; e tachoens, e huma bor-
dadura azul com sete Flores de Liz, por
timbre hum meio jMouro cwm hunia aza-
gaya na maõ e l\iinia bandeira de prata,
e por Appellido o mosnio nome de Mes-
quita.» Severim do Faria, Noticias de
Portugal, Disc. 3, cap. 10.
São isso af^ouvos do velhas,
sois d'osâJi3 que tudo crêem,
d'e3sa3 que voem
o homem das cali;aa vermelhas,
o o pesadelo tumbom.
ASIOSIO l-UESTKS, Auroâ, piig- 355.
vnc. semisfl. de Coral vermelho jirepara-
do. aljôfar preparado aii. «crup. ij. de
a<;afrà<) scrup. j. follia» de ouro num. XV.
nústure se tudo, reduzindo-se primeiro a
pó Bobre uma pedra mármore. A Dohíh
silo doze gi-aoMs destes pi»H em agoa de
escorcioiíeira.» liraz Luiz d'Abreu, Por-
tugal medico, pag. 'òOCi, ^ lO-l. — «U.
do agoa ardente iiinssima lib. J. e semiss.
ajunte de excremento de pavíTo em pó
colhido no mez de ilayo drachm. vj. se-
mente de peonia negra em pó une. se-
núss. alfazema cm jiò, e sândalos verme-
lhos em pò an. drachm. ij. tlor do ale-
clirim pug. ij; ponha em diggestào por
três, ou quatro dias em cinzas quci!-
tes; e feita expressão forte, guarde em
vidro tapado.» Ibidem, § lOi). — «As
pedras vermelhas, «jue no (Jercz se
acham, também se encontram no distri-
cto de liellas, não sei em uma mina
d'agua como me disse tíimào de Viwcon-
cellos, mas também em um campo, de
cujas pedras teve nmitíW a snr.' condes-
sa de fombeiro e d'ellas fez um adereço,
misturanilo-lhes diamantes a snr.* uiar-
quoza d'Abraute3.» Bispo do (irão Fará,
Memorias, publicadas por Camillo Gas-
tello L5r:iuco, pag. 8. — «Quando, por-
tanto, Mossem Nat.ianael viu entrar os
dous farçolas mesteiraes, o o almuinhei-
ro, custou-lhe a suster uma lagryma de
terna compuncção, e n'um arrebatamento
de enthusiasmo espichou uma pipa aimla
atestada, encheu um cungirào de canada
e meia e pôl-o, rodeiado ile três malgas
novas de barro vermelho, diante dos fre-
guezes recemviíulos, as.-iontados já a este
tempo n'um poial de pedra que corria ao
redor do aposento.» A. Herculat:o, Mon-
ge de Cister, cap. 18.
— Bula vermelha ; na artilheria, feita
em braza, e disparada logo para incen-
diar edifícios, naus.
— Cruzes vermelhas. — «E os da par-
te delRei Dom Fedro e do Frincipe tra- j
giam toiios cruzes vermelhas em campo
bramco, e os dolRui Dom llemrrique le-
vavam esse dia baradas.» Fernão Lopes,
Chrouica de D. Fernando, cap. 0.
— Cruzes pinlailas ac preto e verme-
lho. — «O que feito começou logo do edi-
Hcar a fortaleza sobre alicerces de hum
antigo editício que achou na ilha junto
do mar, e a par dellcs algumas cruzes
pintadas de preto, e vermelho em pare-
des, que pareciam serem em outro tem-
po de alguma ermida, ou egrcja de Chris-
tãos.» Damião de troes, Chronica de D.
Manoel, part. 2, c^ip. 3.
— O mar Vermelho ; mar que banha
a costa Occidental da Ásia, e a oriental
da Africa, notável pelos factos históricos
n'ellc acontecidos, taes como * subver-
são dos egypcios n'olU\ o a passagem do
povo de Deus por elle a pé enxuto. —
aE assi aquelle aluoroço, e grande pra-
vermelbo : e <lespois de passado com moc
ollios vilão nelle afo;.'alos aquellee que (W
tiuoram cajitiuos, e an»! catou a Igreja o
<|ue ellos então cataram dizendo, OSte-
mos ao Senhor gloriosamente, |H>r<|ae
grande horiro' alcãç<ju neate dia, afogan-
do no mar oh caualeiros e os caualon.»
Fr. Ijiirtholomeu dos Martyres, Catecis-
mo da doutrina christã.
VERMEM. \ id. Verme.
f VERMICIDA, alj. J gen. Termo de
medicina. Que mata us bichos.
— Subutaiitivamcnte : Um Termicida.
VERMICULADO, A. adj. (Do latim vtr-
miculaiiífj. Termo de arehitectura. Diz-
se de um trab.ilho em figura de vermes,
que tem lo;,'ar nos edifícios cm pedra,
VERMICULAR, adj. 2 gen. Termo de
anatomia. Quo tom alguma sioiilhânça do
firma com os vermes.
— Appewlice vennicnlar ; appendice-
sinho do ceco.
— Eminência vermicular, ou vermi-
forme superior do certhello ; saliência
externa que apresenta a parto anterior e
media da face superior do cerebello.
— Onde existem vermes. — DfjecçZéê
vermiculares.
— Termo de physiologia. Qne tom um
movimento comparável ao do um verme.
— Movimento vermicular ; contracção
successiva das fibras musculares circula-
res do inte.'«tir.o e dos canaes excretores,
d'onde resulta um movimento análogo ao
dos vermes.
— Pulso vermiciilar ; aquelle que com
o caracter de pulso ondulante, é pequeno
e fraco.
— Termo de zoologia. Diz-se das con-
chas que são de uma só peça, e que tem
a firna de tubos alongad(/s.
VERMICULARIA, s. f. Uva de cSo me-
nor, femprenoiva; planta.
VERMICULO, s. »i. Diminutivo de Ver-
me. iVqut-no verme, bichinho.
VERMIFORME, adj. 2 gen. Termo de
hi.^^ti ria natural. Que tem a forma de um
verme. — Appeiulice vermiíonne.
— Termo de anatomia. Eminencicu
vermiformes do cerebello.
VERMÍFUGO, A, adj. (Do latim Mr-
mis, e fufiare). Termo de medicina. Que
tem a propriedade de determinar a ex-
pulsão dos vermes intestinacs.
— Siilistai tivamente: Um Tennifngo.
VERMILHÂO, .-•. m. Vid. Vermelhão.
VERMINAÇÃO, í. /. (Do latim rerrru-
iiati". do virmif:). Termo de medicina.
Froducção dos vermes intestinaes levada
ao ponto de pro<-luzir accidentes mórbi-
dos.
VERMINOSO, A, adj. iDo latim r<nni-
nosus). Termo de medicina. Que c pro-
duzido por vermes. — Dispotição ver-
minosa. — Doeiu^as verminosas.
— (Judo ha vermes,
f VERMOS. Forma do verbo vtr na
iDe Cinabrio miuerul vcrdadeyro | zer com quo passaram a pê enxuto o mar | primeira pessoa do plural do futuro do
VEKR
VERS
VERS
921
conjiinctivo, ou no infinito pessoal. Tid.
Vêr. — «Coutemplaç.rio nos admita aquel-
le Senhor, que he sobre tudo, porque che-
gando a tào alto objecto o nào vermos,
nem inquirirmos pello nosso limitado dis-
curso, humilhados verdadeiramente.» Fr.
Bartholomeu dos Martyres, Compendio
de espiritual doutrina, cap. 11.
VERNÁCULO, A, aJj. (Do latim ver-
naculus). Próprio do paiz, ou cousa do-
mestica.
— Liujjua vernácula ; o romance da
terra, a lingua vulgar n'ella.
VERNAL, adj. 2 gen. (Do latim venío-
lisj. Que pertence á primavera.
— Termo de astronomia. Ponto ver-
nal; synonymo de equinoccio da primave-
ra; ponto em que a ecliptica corta o
equador passando do hemispherio austi'al
para o hemispherio boreal.
— fSignos vernaes ; os signos da Ba-
leia, do Tauro, e Geminis, pelos quaes o
sol paasa na primavera.
— Termo de botânica. Diz-se das plan-
tas cujas flores desabrocham na prima-
vera.
VERNANTE, adj. 2 gen. Termo de poe-
sia. Vernal.
VERNIZ, s. m. Nome vulgar das solu-
ções de resina, e gommas resinas no ál-
cool, essências, benzina, etc., cora que
se cobre a superfície de certas cousas
para as tornar lizas e brilhantas, ou pa-
ra as preservar da acção do ar ou da hu-
midade.
— Figuradamente : O que dá ás ac-
ções, ás maneiras, uma apparencia com-
parada á dos objectos envernizados.
— Emboço composto de substancias
vitrificáveis, com que se cobre a louça-
ria, e a porcelana.
VERNO, A, adj. (Do latim vemus).
Termo de astronomia. Da primavera.
— O equinoccio vemo; quando começa
a primavera, a 20 de março.
VERO, A, adj. (Do latim verus). Ver-
dadeiro. — A vera cruz.
VERÓNICA, s. /. (Do latim vera, e do
grego eikow. A imagem do rosto, ou
corpo de algum santo impresso em len-
ço, cera, ou metal.
— Termo de botânica. Abrotano, her-
va.
— Termo popular. A feição do rosto.
VEROPESO, s. m. Vid. Aver do peso,
que é mais correcto.
verosímil, adj. 2 gen. (Do latim ve-
rus". Vid. Verísimil.
VERRÁ, por Virá, futuro de Vêr.
VERRASCO, s. m. Vid. Varrasco.
VERRUCAL, ou VERRUGAL, adj. 2 gen.
Que se refere ás verrugas.
VERRUCARIA, s. /. Termo de botâni-
ca. Herva.
VERRUGA, s. f. (Bo latim verruca).
Pequena excrescência cutânea, indolen-
te, tendo uma certa consistência, algu-
mas vezes movei e superficial, mas de
voL. y.— 116.
ordinário implantada na espessura da der-
me por filamentos esbranquiçados, den-
sos, e semi-fibrosos. — «O couro do corpo
he grosso, áspero, cheo de verrugas, e
de tâ pouco cabelio, que parece peiiado.
A còr de cinza escura, que o faz pare-
cer muj feo. A cabeça he grandíssima,
e as orelhas saõ compridas três palmos,
largas hum e meyo, as quaes moue, e
abana de contino. s Fr. t iaspar de IS.
Bernardino, Itinerário da índia, cap. lò.
— Termo de botânica. Pequena pro-
tuberância rugosa.
VERRUGANAS. Vid. Balanites 2).
VERRUGOSO, A, adj. (Do latim verru-
cosuíí). Termo de historia natural. Que
tem a forma de verruga.
VERRUGUENTO, A, adj. Vid. Verru-
goso.
VERRUGUINHA, s. /. Diminutivo de
Verruga. Pequena verruga.
VERRUMA, s. f. instrumento de furar
madeira ; é uma hastea de ferro cravada
em um cabo atravessado, e tem o extre-
mo de aço lavrado, e terminando em es-
piral ; é cavada como telha, com gumes,
até certa altura da hastea roliça.
VERRUMÃO, s. m. Augmeutativo de
Verruma. Grande verruma.
— insecto que fura o pau com a cauda.
VERRUMAR, v. c. Furar com verruma.
VERSA, j--. /. Couve gallega.
— Plur. Termo popular. Folhagens
inúteis, cousa não solida.
— Adagio e provérbio:
— Versas que nào haveis de comer, não
cureis de as mexer ; isto é, nào enten-
daes no que vos nào aproveitará.
VERSADISSIMO, A, adj. superl. de Ver-
sado. Mui versado, — Homem versadis-
simo em linguas.
VERSADO, part. pass. de Versar. Exer-
citado, pratico, afeito. — tMas isto pode
muy bem fazer o varam religioso e soli-
tário, o qual regado com agoa da doutri-
na das sagradas letras, e cõ a meditaçam
das cousas diuinas, influído no amor do
alto Deos, carregado de fermosos fructos
de virtudes, aproueita mais ao mundo cõ
suas orações e exemplos de bõa vida,
apartado dos negócios roubadores do spi-
ritual descaso que muitos outros que nel-
les anda metidos e versados.» Heitor
Pinto, Dialogo da Vida solitária, cap. 2.
— • Que tem tratado muito, e sabe,
pelo longo uso. — Versado 7ias linguas.
VERSAL, s. m. Termo de impressão.
Letras maiúsculas de cada um dos ty-
pos, no mesmo corpo.
VERSALETE, s. m. Termo de impres-
são. Synonymo de versai, differindo ape-
nas em ser o caracter da letra mais
miúdo.
VERSÃO, s. f. TraducçSo.
— Termo de obstétrica. O acto de vol-
tar no útero o feto para vir natural,
quando apresenta na vagina o braço, o
pé, ou o anus.
— ^4 versão dos astros ; a volta que fa-
zem nas suas orbitas.
VERSAR, f. a. Exercer, exercitar.
— ■ V. n. Saber pelo longo uso.
— Occupar-?e, exercer-se.
— Ser objecto de alguma cousa.
— Termo popular. Fazer versos.
VERSÁTIL, adj. 2 gen. (Do latim ver-
satilis, de rersare). Que muda'.
— Termo de zoologia. Diz-se do dedo
interno das aves, quando é susceptível ir
ora para diante, ora para traz.
— Figuradamente : Que não sabe fi-
xar-se.
— Vario, volúvel, inconstante.
— Engenho versátil ; do que muda con-
forme as circumstancias, e se accommoda
a ellas.
— Scena versátil ; scena que se vira,
, quo se muda.
VERSATILIDADE, s. f. Qualidade do
que ó versátil. — Esfe homem é de uma
grande versatilidade. — A versatilidade
do caracter.
— Figuradamente : Variedade, incon-
stância, mutabilidade.
VERSEIRA, ou VERCEIRA, s. /. Mu-
lher que vende versas, que faz contra-
ctos em versas, hortaliça.
VERSEJADOR, A, s'. Pessoa que faz
versos, sem ter a qualidade de poeta.
VERSEJADURA, s.f. Arte de fazer ver-
sos sem poesia,
VERSEJAR, r. n. Trovar, fazer versos
sem ser poeta.
VERSETO, s. m. Termo de escriptura.
Pequena secção composta de ordinário
de duas ou três linhas, e contendo as
mais das vezes um sentido perfeito.
— Diz-se também de algumas palavras
tiradas de ordinário da Escriptura Sa-
grada, e seguidas algumas vezes de um
responso, que se reza, ou canta no offi-
cio divino.
VERSÍCULO, s. m. (Do latim versicu-
lus). Membro inteiro de um capitulo, em
que se dividem as e^cripturas, e outras
obras em clausulas breves.
— Subdivisão de artigo, paragrapho,
etc.
— Vid. Verseto.
-}■ VERSICOLOR, adj. 2 gen. Que offe-
rece muitas cores.
— Que muda ou varia de côr.
— Termo de mineralogia. Diz-se dos
corpos cuja côr varia segundo o modo
por que foram impressionados pela luz.
VERSIFERO, A, adj. Que traz versos,
que os faz.
VERSIFICAÇÃO, 5. /. (Do latim lerst-
jicatio, de versijicare) , Acto, modo de fa-
zer versos.
— Emprego do estylo em verso. — A
versificação e mister para a ode, e epo-
peia.
VERSIFICADO, part. pass. de Versifi-
car. Posto em verso, trovado. — Peca
bem, ou mal versificada.
922
VERS
VERSIFICADOR, A, «. (Do latim ve.rni-
Jicator, (Id cruíficare). Pessoa qne fiiz
versos.
VERSIFICAR, V. n. íDo latim vertijl-
care.). Fazer rergos, compor versos.
— V. a. Pôr nm vor^o.
VERSIFICO, A, ailj. Ooncemente aos
verS'is, fiii \ vcrsifii-.i(,'.1o.
VERSINHO, s. m. Diminutivo flc Ver-
so. iV-i|UlTI() VtTtfO.
VERSISTA, .«. 2 (jcn. Vorsej.idor, quo
faz viTsiís-Kcrn tor a qunlidiidc de poota.
1.) VERSO, s. 'm. (Do latim versus).
Renniílo ile palavras uiedidas e cadencia-
das segundo certas regras fixas e deter-
minadas.
PÍ836 quo 08 vãoa thosouros
A morte nilo pprtcncia.
DcAiup ficou onterr:iflo
0»<la hum se despedin,
l>izciido catos varsos tristoa
^ gtorios.a Maria.
[Olt VICBKXr, OBllAS VARIAS.
De competir co'o merlo não dcscança
O 'ghTnilo caUiandro qn'cnrouqnocc
Por não piírdor c;illndo a coiifi.iiKja ;
Em quanto o pobro ninho ajunta o tece
O sonoro canário, modiilaudo
Engana a gravo perLi que padeço ;
Alguns vemos «'oaouta derramando
O vário pintasirgo, tão .saudáveis.
Que produzam memorias damor brando.
CAM., KCLOGA ().
Estando ostc negocio tão diverso,
Grãa contiauça cm huns, n'outros receio,
O Turco Rumocão, máo e perverso,
Tal que d'outro peior (segundo eu creio)
Não 30 tratou jamais cm prosa ou verto.
Tinha o mando geral, c o m<ír meneio
Sobro este grosso cicrcito e infinito ;
Atraz vos fica delle assaz ja dito.
r. D'ANDRAnK, TBIMKIRO CKRCO DK HIC, CRUt. 3,
est. 2S.
Hum destos doze foi o Santiago
De que atraz ja meus vereos escreverão.
Que nesta hora também achou o pago
Que .sempre suas obras merecerão.
A este polo salgado fundo lago
Os pés c as mílos a estrada líio fizerào,
E cortando .assi o mar com grãa presteza,
Se chega :l Lusitana fortaleza.
laiDiu, c«l^t.v,8,-CSt. 1-1 ■
CHiço-to junto á lapida, quo fecha
Da innocento Narcisa os ossos frios,
Teus i'er.tos, c teus .ais suspendem sombras,
Ho mais tristo o silencio, o Ceo mais negro,
Com magcstoso horror fescuta a noite. "
j. A. nn MAceoo, a natdrkza, cant. 1.
' Então nos versos meus, sublimo brado
O Mundo escutarA da gloria tua.
Rorteio do Immortal sobre o meu rosto.
T.\nta nos x'^ri!os meus Filosofia,
Tanta imaginação nos sons oadentoa.
IDEM, MEDITAÇÃO, CAIit. 1.
VERS
Kem tu has de deixar de »cr lembrado
V.ia meu» vr.mo», Trior da .Sauta lgrl^ja,
Quo Alca<;ova ciiuobeccc ; tu, c(UO sendo
ITm tempo branco, o louro, te tornaste,
Hor artu* eiU'Aiitadas, nc|{ro, i; pardo.
A. DiBiz i>A CRUZ, BVSsorE, eaiit. 7.
— f Suspiram pelu meu anteceesor...
Mas que suspirou ! de sorte elles silo, quo
me ó preciau luaiidal-os suHocar ua ca-
deia, pur serem explicado.-* em verBO
satyrico ou libello famoso. Ninguém bu»-
pire por mim com tanto que não caia so-
bre mim o suspiro de Isaias: Ve iiiihi
quia tacuHo lli»po do Grilo Pará, Me-
morias, publicadas por Camillo (Jasteilo
Branco, pag. 2(3. — «Para liistoria não
t('iii logar expressões poéticas. Ainda no
verso está o bom gosto na expressão sin-
gela, natural, de.satfectada, em que se
observe um nattiral desalinho, e simpli-
cidade polida, » Ibidem, pag. }^4. — «Pro-
hibiu que se cantassem mais versos sem
elle os vêr e rever. No an;io seguinte
approvou alguns, despacliaudo em verso.»
Ibidem, pag. 16õ.
— Peijuenos versos; pequenas peçaa
de versos sobre assumptos ligeiros.
— Áureos versos.
Não foi por certo, não, de Jove a sanha
Que no Sol quiz vingar de Roma o crime.
Como a voz da lisonja em áureos versos
Se quiz fazer ouvir no egrégio Vate,
Quando o punh;il da infausta liberdade.
Tirando á Pátria hum monstro, a entrega a conto.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Cant. 1.
— Versos falsos ; versos que peccam
contra as regras da versitica<;ào.
— Grandes versos ; os alexandrinos,
os versos de doze syllabas.
— Versos baixos.
Não sem inveja de pomposo Empório
Levo nas az;vs de não baixos versos
A de,ipertar a cândida virtude
No Coração (s'exÍ8te) onde se aninha.
J. X. DS MACEDO, A NATUREZA, Cant. Í
— Brandos versos.
Quem tal expressará, quem taes bellczas,
Na sílice ou painel ou brandos versos.
Pintar ja soube? — Não a viu tam bella
({rai;as pleitar pelo invejado pomo
t) real pastor de Priamo. — Escondidos
Por delgado sondai outros iueantos...
ovRRETT, CAMÕES, caiit. 7, cap. IS.
— Figuradamente : O cantar das aves.
VERSO, A, iidj. — Ka fol/ta, o\i pagina
versa; uas costas oppostas ao rosto, ou
face da pagina apontada.
— <S'. tu. — O verso da pagina ; o lado
verso virado opposto á primeira face; a
segunda pagina da follia, o contrario do
recto. Vld. Recto, e Folio.
VERT
VERSDCIA, «. /. rDo Utim vernttia).
Sacacidurle. astúcia, uiatilia.
VERSUDO, A, 'uij. Muito povoado de
pello ou folliu.
— Craveiros versados; craveiro» cres-
pos de rama.
— Figuradamente: ^íal aMombr»do,
carrancudo de rosto.
VERSUTO, A, udj. (Do latim vermttu).
Termo |>iiuco enu usu. Sagaz, atttacioso,
rnaihiisri.
VERTEÁS, «. ni. plur. Uns religiosos
de (Jundiuya, qui: attribu';m alua á a^ua,
e por isso a bebem quente par* Ih 'a ma-
tan-m, etc.
VÉRTEBRA, «. /. (Do latim v«rUt/ra).
Termo do anatf>mia. Cada um dos vinte
e quatro o.<»<js que forniam a columna
vertebral, e que sSo o centro dos movi-
mentos do tronco. — As vertel>ras do
pescoço. — « Este ia a começar a« suas
observa(;iíe8, e já o licenciado, de pé e
com ;us mãos cru/.adas sí^bre o ventre, do-
brava as vértebras do pesw><,'0» inclinan-
do a fronte para escutitr o oráculo, quan-
do o r'-po.stciro da entrada particular do
rei oscillou, e as pregas arrebaoluulaa ao
lado deixaram ver um novo personagem,
que vinha interromper, no britar, o ar-
roio <la sabedoria.» Alexandre Hercula-
no, Monge de Cister, cap. 24.
VERTEBRADO, A, adj. (Do latim rer-
tebrattts, <lo i^ertebrai. Termo de historia
natural. Que é pn.vido de vértebras.
— Aniniai^s vertebrados; grande divi-
são do reino animal, abrangendo todos os
aniniaos, oujo corpo e membros tem um
tecido interior ósseo ou cartilaginoso,
composto de peças ligadas entre si, e mo-
veis umas sobre as outras. Esta divisão
faz-se em quatro classes: 1.* os mami-
feros; 2.» as avee; 3.» os reptia;-4.* os
peixes.
— Diz-se dos insectos cujo dorso apre-
senta linhas dispostós de modo a imitar
o desenho d'um esqueleto.
— Termo do botânica. Que offereco ar-
ticulações distinctas e collocadaa a eguaea
distancias.
— Substantivamente: O* vertebra-
dos; os aiiiiuaes vertebrados.
VERTEBRAL, adj. 2 gtn. Termo de
anatomia. Que diz respeito ás vértebras.
— ^lr/t'r»(i vertebral.
— to/ui/i»uj vertebral; longa haate re-
sultante da reunião de todas as vérte-
bras.
— Canal vertebral; canal qae reina
em todo o comprimento da columna ver-
tebral, desde a grande abertura occipi-
tiil ató ao cAnal sacro que nSo ó senão
uma continuaçÃo.
— LiganuiUos vertebraes ; nome dado
a duas tiras ligamcntos.-vs <|ue reinam em
todo o comprimento do rachis desde o
axis ató o s.acro: um, antorior, está collo-
cado a^liante do corpo das vértebras; o
outro, posterior, está situado ao longo da
VERT
VERT
VERT
923
fece posterior d'este corpo no interior do
canal vertebral.
— Medulla vertebral ; prolongamento
do órgão encephalico, estendendo-se da
abertura occipital até á parte inferior do
tronco, e occupando o canal vertebral. .
^ — Nervos vertebraes ; nome dado a to-
dos 03 nervos em numoro de trinta e um
de cada lado que nascem da medulla ver-
tebral por duas raizes, uma anterior e
outra posterior.
— Senos vertebraes ; nome dado a duas
longas veias situadas no canal vertebral,
e communicando por todas as aberturas
de conjugações com as veias visinhas.
— Termo de medicina. Arthrite ver-
tebral ; nome dado impropriamente á al-
teração dos discos intervertebraes, que é
consecutiva á osteíte vertebral, ou in-
fiammaçào do tecido ósseo do corpo das
vértebras.
— Termo de zoologia. Diz-se de um
polypeiro que se assimilha a uma peque-
na vértebra do esqualo.
VERTEBRALITE, s. f. Termo de pa-
tbologlii. Intlammacão das vértebras.
f VERTEBRITA,'s. f. Vértebra fóssil.
-{- VERTEBRO-ILIACb, A, aój. Termo
de anatomia. Que diz respeito ás vérte-
bras, e ao osso iliaco.
— Articulação vertebro-iliaca ; arti-
culação da ultima vértebra lombar com
o osso iliaco.
VERTEBRÔSO, A, adj. Que consta de
vértebras.
VERTEDOR, A, s. Vid. Traductor.
— ò'. m. Vaso de verter agua como
jarro.
VERTEDURA, s. /. O azeite, vinlio, ou
vinagre que os taberneiros deixam entor-
nar por cima da medida.
VERTENCIA, s. /. O acto de virar, de
voltar.
— O decurso do tempo.
VERTENTE, ^^arí. act. de Verter. Que
verte.
— Aguas vertentes ; aguas que correm
da encosta do monte.
— tí.f. — As vertentes ao monte; a
encosta d'elle desde o alto para uma banda
d'elle, por onde corre a agua solta do seu
cabeço.
— As vertentes do monte ; onde ha
cheias, a mór altura até onde a agua
d'ellas chega aos pés de ladeiras, e d'on-
de verte atraz quando vasa, ou secca a
agua inundaute.
— Figuradamente: A vertente do sa-
ber.
Veja no Vate morador i>o Tojo
Mais que \-ira em Lucrécio a augusta Roma !
Vate infausto, infeliz, que inda que abrisse
Do saber a vertente, inglório existe.
Ódio, inveja, indigência, este o seu Fado.
J. A. UE MACEDO, VIAGKM EXTÁTICA, CaUt. 2.
VERTER, V, a. (Do latim vertere). En-
tornar, derramar liquido.
Força é bebel-a ou vertel-a.
E isto, scnlior, por que?
Desnventuras: não de
nÍ3 nenhum, segura cstrella.
Isso, senhor, assi ó.
ASTONio PBESTES, Atrros, pag. 495.
— Verter lagrimas; derramal-as.
Eu te formei essa alma de Romano,
Que lagrymas... oh, lagrjmas de gosto
Me faz verter agora. De teus dias
Occultui o segredo emquanto pude...
GiBKETT, cAilu, act. 3, SC 3.
— Verter aguas; urinar.
— Figuradamente : Verter a vida; mor-
rer.
— Verter sangue; derramal-o. — «Em
que entravão algumas de Andaluzia, por
que em todas estas elle e seu íilho el Rey
dõ Afonso Anriquez verteram seu sangue
por às ganhar das màos e poder dos Mou-
ros: (como se verá em a outra parte da
nossa escritura chamada Europa).» Bar-
ros, Década 1, liv. 1, cap. 1.
— Verter de uma lingua em outra; tra-
duzir, trasladar.
— Verter suor e sangue; na guerra,
sendo ferido, e derramando-o.
— Desaguar, descarregar.
— Verter sangue; derramal-o de feri-
das.
— Figuradamente: Verter a vida e a
alma pela pátria.
— Verter sangue; brotar, sair das feri-
das.
— ■ V. n. Desembocar, desaguar.
— Verter a medida; trasbordar.
— Figuradamente : Verter palavras de
— -Verter vinho das faces; o bêbado.
VERTICAL, ad;. 2 gen. (Do latim uer-
ticalis, de vertex). Que está eoHocado
alto por cima da cabeça, do vertex.
— Que é perpendicular ao plano do ho-
risonte, ou á superfície das aguas tran-
quillas. — Plano vertical.
— Linha vertical; aquella que -segue
os corpos que caem, e que é indicada pe-
lo iio de prumo ; linha que segue a resul-
tante das forças da gravidade de um cor-
po, e partindo do centro de gravidade.
— Quadrante vertical ; quadrante so-
lar perpendicular ao horisonte.
— • Termo de astronomia. Fonto verti-
cal; o zenith.
— Circulas verticaes; grandes círcu-
los da esphera que passam pelo zenith e
nadir.
— Termo de marinha. Diz-se de um
plano passando pelo eixo da quilha, da
roda da prGa do navio, e do cadasto.
Diz-se do mesmo modo de um plano pas-
sando pelo meio dos ramos das costellas
superiores.
— Termo de geologia. Ordem vertical ;
ordem de superposição dos diôerentes ter-
renos ou camadas.
— Termo de botânica. Diz-se de todo
o órgão que se eleva perpendicularmente
á vista, quer do horisonte, quer da parte
que o supporta.
— tí. f. A linha vertical. — Os corpo?
caem segando a vertical.
VERTICALMENTE, adv. (De vertical, e
o suffixo «mente»). Perpendicularmente
ao plano do horisonte.
— Pelo vértice.
VERTICIDADE, s. f. Poder, faculdade
de se mover circularmente.
VERTICILLADO, A, adj. (Do latim ver-
ticillatus). Termo de botânica. Que está
dispo.sto em verticillo.
f VERTICILLIFLOR, adj. 2 gen. Ter-
mo de botânica. Diz-se das flores que são
verticilladas.
VERTICILLO, s. m. (Do latim verticil-
liís). Termo de botânica. A reunião das
partes da fiôr, ou dos órgãos fuliaceos
dispostos, em numero de dous approxima-
damente, em volta de um eixo commum,
e sobre o mesmo plano horisontal.
— Falsos verticillos; verticillos incom-
pletos, nos quaes as flores não partem de
todo o circuito do eixo, e ahi deixam in-
tervallos.
VERTIDO, pari. jJass. de Verter. -—
Lagrimas vertidas.
— Traduzido, trasladado.
— ■ Desaguado.
— Derramado. — Sangue vertido.
VERTIGEM, s. f. (Do latim vertigo).
Estado em que parece que todos os ob-
jectos gyram, e que gyra elle mesmo^
— Perturbação, da cabeça, em que se
representa ao paciente andar tudo á roda.
• — - «O Emperador Carlos Quinto sendo
grandemente sogeito a couyulsoeus, e^a
Vertigens, mandava lançar no alto da
Cabeça pos dos bichos da sedar; e cem
elles corroborava admiravelmente a Ca-
beça.» Braz Luiz d 'Abreu, Portugal me-
dico, pag. 29õ, § 53. — «Cura familiar-
mente todas as Vertigens, especialmente
as que tinhaõ dependência do estômago,
e útero com mandar tomar aos doentes
em quinze, ou vinte dias continuados .as
plrolas de Hiera de Galeno, ou de regi-
mento, e feitas as evacuaçoéns necessá-
rias aconselhava o uzo d'esta sua agoa
particular, que he summamente cardiaca,
e cephalica. » Ibidem, pag. oOO. — «O
D. Francisco da Fonseca Henriques cu-
rou huma Vertigem em hum Muchacho
de dez annos ; dando-lhe primeiramente
hum vomitório de pós de Quintilio; e ao
despoia as seguintes pirolas por quatro
vezes repetidas em dias alternados.» Ibi-
dem, pag. 304.
— Figuradamente : Alienação doa sen-
tidos, loucura momentânea.
VERTIGINOSO, A, adj. (Do latim verti-
ginosus, de vertigo). Que produz verti-
gem. — Uma altura vertiginosa.
— Termo de medicina. Que diz res-
peito á vertigem. — Ajfecção vertiginosa.
924
VESE
— Que está sujeito a vortiffcns.
— .Fi^uradainonto: Lutla vertiginosa
daa paixTies.
Noíto Hnciilo infausto, « ncMn lutu
Vortii/iiio.ia (las paixões, dou nn-on.
Que ilas couíiii!! miiil-lra ctisonoia, c nome,
Que 11 (lui-tt o.^^;^•a vidão, o aori fiuTO.í duros
So chama lilxirdíido, c chama ostado
Da simplcí, pura humana Natureza.
J. X. UB MAOBOO, VIAUKll KXTATICÁ, COnt. 3.
-í^Quc ícyru, que ao revolvo cm roíla.
■-~^Vora(jeiii vertiginosa tZ'<iyua lutyra en-
xafrantí.
— Quo cstil com vertií:cm.
VERTUDE, li. f. Toriiio antiquado. Va-
lor, valentia, fortaleza.
"l" VERZEA, s. f. Vid. Várzea. — «E do-
brando lunn cotovelo^ quo a nui^nia «er-
ra fazia, Já quasi no cabo do.scobrio liuma
grando verzea de arrozes, aonde os ini-
migos estavaõ fechados em duas g^rosnas
batalhas, o tanto quo íbraõ á vidta huns
dos outros, ao som do suas trombetas, e
sinos, com vozes, e gritas incríveis se
acometerão como homens muyto esforça-
dos, o travando-se a briga entre elles,
depois de se arromeçarem muytas bom-
bas, frechas, e mais munições de fogo
que traziaõ, comei^âraõ entre si a peleja
do mais perto com tanto Ímpeto, tanto
animo, e esforâO, que sò a vista nio fazia
tremoT as carnes. • Fernão Mendes Pin-
to, Peregrinações, cap. 16.. •
-J- VES. K/)rma do verbo ver na segua<ia
pessoa do singular do presente do modo
indicativo. Vid. Vêr. • — «Que pensamen-
tos teriam ja aquellos, cnjos ossos ves se-
meados por esse campou Aquellas per-
nas, que caminhos an<lariara'(' Aquellas
cauevras quo imagina<;.ões teriam, quam
infunailas nas falsas esperanças do mun-
do seriam, quo castellos de vento fariiiV
E ora fim olha o em que se tornaram, e
o em quo todos nos auemos do tornar.
Sognndo minha idade não pode tardar
muito a minha hora, e vou ja nas cripre-
tas lie minha peregrinaçào.» Heitor Pin-
to, Dialogo da Lembrança da morte, ca-
pitulo 1 .
-j- VESÂNIA, s. /. (Do latim vesânia).
Termo do medicina. Nome genérico das
ditfercnto:! espécies d'alienaçrio mental.
VESANO, A, aJj. (Do latim vesnnus).
Termo pouco em uso. Louco, insensato,
furioso.
VESGO, A, aJj. (Do latim vtscus).
Apto, propi-io para comer.
f VE3ES, s. /. piar. Vid. Vezes. —
tParivje-me algumas veses que tendes os
cabellos louros, e outras veses me parece
tjue «s toniles negros.» Cavalleiro d't)li-
veira, Cartas, liv. 1, n.° 47. — «Mas se
algumas veses, ou por ordem do enfer-
mo, ou por industria dos assistentes saõ
convocíidos outros para conferirem a quei-
xa, ordinariamente naè consta mais que
do buUias a iuuta, l )s argumentos n*
VESI
proscrutaça(5 dad cauzas, saS (fitarias:
os textos no juizo 'la ilocnça, saS pala-
vra'ias : 04 lugaro* ua iuvcn^u da» indi-
caçoins, saõ sotai|ue; o o mctUodo na
aijplicuçaõ dos remodios, suij desalios.»
Braz Luiz d' Abreu, Portugal medico,
pag. ri«7, S ii7.
VESGO, A, adj. Que tem a vista tor-
cida, metteudo um ollio pelo outro.
VESGUEAR, V. n. Ter por huhitw o de-
feito de mctter um oliio pelo outro, ser
vesgo. Vid. Envesgar.
— • Fiííuradamente : Vôr mal.
VESICA, s. /. (Do latim veaica). Ter-
mo de ni''.dicin.a. Bexiga.
f VESICAÇiO, n. f. Termo de medici-
na. Acto de prndu/.ir, por uma substan-
cia irrit.iati!, vosiculas.
VESICAL, wij. 2 (jen. Termo do ana-
tomia. Que diz respeito á bexiga. — O»
nervos vesicaes. — Artérias vesicaes.
— Termo de pathologia. Cularrhu ve-
Sical ; inllannnaçào da membrana muco-
sa da bexiga.
VESICANTE, ailj. 2 gen. Termo de me-
dicina. Que faz nascer empola.s na pelle,
que produz, a ve-iicaç.ào.
— ò'. ni. Termo de pharmacia. Vesi-
catório, (pie tem a propriedade de fazer
empolar a poUe, para por este meio coar
um humor soroso cortada esta.
VESICATÓRIO, *. m. Termo de modi-
eina. Diz-se d<is tópicos, que applicados
sobre a pellc, dcterudnam uma secreção
sorosa pola (piai a epiderme se levanta
de maneira a formar uma empola.
— Ailj. — Uníjuetito vesicatório. —
Einiiídsiro vesicatório.
f VESICO-UTERINO, A, aJJ. Termo de
anatonua. Que se refere á bexiga o ao
útero.
— Ligamentos veSico-uterinos ; dobra
do peritoneo, que de cada lado da face
posterior do canal uterino, vae alcançar
os líi^his da bexiga.
vesícula, s. f. (Do latim vesicula).
Pequena bexiga, pequena cavidade.
— Termo de botânica. Nome dado a
pequenas empolas cheias d'ar occupando
a superticio de alguns oi^âos aéreos de
muitos fucos. ■ •
— Vesículas embryvnnrias ; vesículas
coUocadas ua extremidade mieropylar ilo
sacco cud)ry()'.iario, .assim chamadas, por-
que uma d'ellas torna-se o ponto de i>ar-
tida da geração das coUulas que forma-
ram o embrySo.
— Termo do anatDinia. Sacco mem-
branoso sinulha:ite a uma bexiguinha.
— Vesículas elemeiUare^ : nome dado
outrora aos elementos anatómicos tendo
fóniia de ccllula com cavidade distincta
da parede.
— Vesicula hiliaria; reservatório des-
tinado a conter a bilis segregada polo li-
gado, q<iando este fluido h.ho se dirige
<lireotamento ao intestino.
— Vesículas S(»u'/i<*ík,- bolsas d.stliva-
VEsr
das a conter o floido seminal, sonegado
pelos testículos.
— Vesicalas He Naboth; follieulos do
iuterior do canal da madre, ddatiulos sob
a forma ilc pc(|Uenos kvHtos.
— Termo de iciítiiyolo^ia. Vesícula
aérea, chamada também bexitja naUUi/ria;
sacco cbeio d'ar, que se cmontra no» pei-
xes, e que os torna mais ou merio* ligei-
ros, conformo elles querem subir ou des-
cer na agua; communica ordioariamoato
com o osophago, oa com o eitomago pjr
um canal atravez do qual o ar que eile
contem pôde oscapar-sc.
— Termo de pathologia. Género de
doença cutânea tendo por caracter a pro-
dueção, á superíicie da pcile, <le clcva-
ções hemisphericas que s.^o formadas {>ela
epiderme desligada da derme e que se
enchem d'uma sorosidade lim|ii(la.
VESICULAR, adj. 2 gen. Termo didá-
ctico. Que tem a forma de vesículas.
— Termo do physica. Eslatlo vesicu-
lar, ou es/jheroidal ; estado particular que
apresentam os líquiiios postos em conta-
cto com uma «upertíci ; quente até ao ru-
bro branco.
— Termo de botânica. Glarululif ve-
siculares ; pequenos reservatórios cheios
de óleo d'es8encia, c situados na espessa-
ra da casca oa sob a epidermo.
— Termo de medicina. Que tem vesi-
eulas.
VESICULOSO, A, adj. (D* latíni vtsi-
culosos, de vesicula). Ternu» didáctico.
Que otterece vcj-iculas. — Doenças vesi-
culosas.
VESIGA, s. f. Vid. Bexiga.
VESINHANÇA, s. /. Vid. Visinhança.
— «Oiiegou ao Cosareo do trono Marco
Aurélio Antonino, quando as Teeinhan-
ças de Trova na celebre Ci-laile do Per-
gamo nasceo aquelle griile Medico, para
o qual sò veyo nascendo a Medicina.
Aquelle que apurou a soier.cia, qae adian-
tou a Arte, qna honrou a Faculdade, i
Braz Luiz d'Abren, Portugsl medico,
pag. .Vi, j< 18l'.
VESINHO, A, adj. e s. Vid. Visínho.
— í Agora nm vesínho meu, cujas sSo
aquellas tenda.s, (|ne vede.*, gran senhor,
soberbo e mui confiado em sua valentia
e esforço, com ajuda de seus parentes e
aliados, sabendo qne estava concertado
e.asal-a, ajuntando-se com elles, se assen-
tou sobre este meu castello, com voto de
se n."io levantar dalli té lha dar por mu-
lher, ou a tomar a quem quer, que a le-
var quizesse.i Francisco de Moraes, Pal-
meirim d'Inglaterra, cap. 37.
VESPA, 3. /. (Do latim «,«ya). Espé-
cie de mosca como a abelha qae morde
muito.
VESPÃO, ít. VI. Vespa grande, que oi>-
ine o mel ;is «belu.tfi, etc.
VESPEIRO, s. fi. Buraco, toca, ou co-
va em que se criam o vivem muitas ves-
pas. Vid. Bespeíro.
VESP
VEST
VEST
92Õ
VÉSPER. Vid. Vespero. o -.1 r-.^.V
VÉSPERA, s. /. (Do latim véspera). A
tarde, em opposição á manhã.
— O dia anterior. — A véspera de
Santo António.
— Plur. Horas canónicas que se di-
zem á tarde.
— As vésperas de uma festa ; as ho-
ras que se rezam na tarde precedente ao
dia festivo.
VESPERAL, s. «i. Termo de liturgia.
Livro do ufficio da tarde.
— Adj. 2 gen. Da tarde.
VESPERIAS, s. /. -plur. Acto que an-
tes da reforma da universidade de Coim-
bra, fazia o theologo doutorando na vés-
pera do dia em que havia de tomar o
grau.
VESPERIZAR. Vid. Vesperias.
VESPERO, s. m. (Do latim vesper).
Termo de astronomia. A estrella da tar-
de. Vid. Vénus.
VESPERTINO, A, adj. (Do latim ves-
fertinus). Termo de poasia. Da tarde.
— Astro vespertino ; astro que se col-
loea depois de posto o sol no occidente.
VESPICIAS, s.f. plur. Pannos de Cam-
baya.
VESPINHA, s. f. Diminutivo de Vespa.
Pequena vespa.
VESPORA, s. /. Vid. Véspera. — «tJá
a horas de véspera viu perto de si uma
villa pequena cercada de forte muro,
onde foi ter, e pousou em casa de um
cavalleiro ancião, que acostumava aga-
salhar todos os andantes, que, polo ver
só e sem escudeiro, lhe tomou o cavallo
e riudou a desarmar, uiostrando-lhe toda
cortesia e boa vontade, que pode.» Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 117. — «Tornando a sua viagem
aos sete dias de Abril vespora do Do-
mingo de Ramos chegarão ao porto de
huma cidade chamada Mõbaça; em a
qual o Mouro disse que auia Christãos
Abexijs e da índia, por causa de ser
mui abastada de todalas mercadorias.»
Barros, Década 1, liv. 4, cap. 5. — «O
que dito o Duque tornou a entregar a
bandeira ao alferez, e naquelle dia de-
pois de vespora veo com os capitaens da
armada despedirse dei Rei, e da Rainha,
e do Príncipe, e Infantes, e se foy logo
embarcar, mas por interuirem alguns ne-
gócios que o detiveram, esteue quatro dias
diante da cidade, dormindo sempre na
nao, e por caso destes negócios vinha as
vezes a terra a falar a el Rei.» Damião
de Góes, Chronicá de D. Manoel, part.
3, cap. -±6. — ■ «E com estas vrcas, que
diante forão, e com mujtas e muy boas
carauelas, partio Diogo de Zambuja com
sua armada da Cidade de Lisboa vespo-
ra de Sancta Luzia, doze dias do mes
de Desembro do dito anno de mil e qua-
trocentos e oitenta e Imm.» Garcia de
Rezende, Chronicá de D. João II, cap.
25. — «Que cousa mais efficaz pêra re-
sistir a todos os torpes desejos, e mace-
rar e mortlticar nossa carne, que cuydar
como foy castigada e atormentada a in-
nocentissima carne do íilho de DE(JS?
E por isso nas vésperas dontem mandou
a sancta Igreja lancear hum pregam em
todo o vniuerso mundo dizendo, Vexilla
Regis prodeunt, que quer dizer, Sae a
bandeira do Rey celestial.» Frei Bartho-
lomeu dos Martyres, Catecismo da dou-
trina christã.
— Adágios e provérbios:
— Jejuar o dia, guardar a véspera.
— Vésperas de aldêa, põe a mesa e
ceia.
— Um trabalho é véspera d'outro.
VESSADA, s. f. — Vessada de terra; a.
geira.
VESSADELLA, s. /. Vessada, serviço
que se fazia, o mesmo que fazer geira ao
senhor directo da terra, e serviços do
couto, a saber: segadella, vessadella, e
malkadella.
— Toma-se também por campo, lamei-
ro que se cultiva.
— No Minho e Beira Alta, a terra que
se lavra em um dia com duas ou três
juntas de bois. == Em Viterbo, Elucidá-
rio.
VESSADOIRO, s. m. O direito de la-
vrar; lavragem de terra.
VESSAR, V. a. — Vessar a terra; la-
vral-a com profundos regos ; lavral-os
com regos atravessados para revolver
bem a terra.
VESSAS. Termo usado na locução ad-
verbial ás vessas ; diz-se em opposição
ás direitas ; pelo carnaz.
— Do lado opposto, ou contrario ás di-
reitas.
VÈSTA, s. f. por Besta.
VÉSTA, s. f. (Do latim Vcsta). Ter-
mo do polytiieismo latino. Deusa prote-
ctora da cidade, honrada nos templos, e
em casa.
— Termo de astronomia. Planeta mui
pequeno descoberto por Olbers em 1807.
1.) VESTAL, adj. 2 gen. De Vesta
(deusa).
2.) VESTAL, ». /. Entre os romanos,
sacerdotisa de Vesta, consagrada á vir-
gindade, e que era obrigada a conservar
aeceso o fogo sagrado diante da estatua
de Minerva.
— Figuradamente : Mulher, ou don-
zella mui casta, de um pudor exemplar.
— Termo de poesia. A virgem dedica-
da a Deus, a religiosa.
f VESTALADO, s. m. Entre os roma-
nos, corpo das vestaes.
— Espaço de trinta annos, durante o
qual as vestaes deviam guardar a sua vir-
gindade.
VESTALIAS, s. f. plur. (Do latim ves-
tal ia). Festa em honra da deusa Vesta,
entre os romanos.
VESTE, s. /. (Do latim vestis). Vesti-
dura, habito.
■ Vestia.
Veste universal.
Era ignorada dos Mortaos a Esscuciu
Das Cores de que forma ornato, c gala
Da veste universal a Natureza.
J. X. DB HACEDO, A. NATUREZA., CStnt. 1.
— Syn. : Veste, vestido, vestidura^ tfes'-
timenfa, trajo.
Veste é termo mui genérico, e signifi-
ca todo o adorno ou cobertura que se pSe
no corpo para abrigo ou honestidade ; por
isso se diz vestes usuaes, reaes, sacerdo-
taes, etc.
Vestido designa, para os homens, as dif-
ferentes vestes com que se veste de or-
dinário ou em dias de apparato, e, para
as mulheres uma roupa, com que cobrem
e adornam o corpo todo.
Vestidura eonfunde-se ás vezes com
veste, mas signihca particularmente uma
veste especial de grande distincção, tal
é o manto real, a capa magna, a becca,
etc.
Vestimenta é propriamente a veste de
que se servem os ministros sagrados na
celebração do.s divií.os officios.
Trajo denota nào tanto o vestido co-
mo a f()rma d'elle, o modo particular de
vestir-se, e certos ornatos que o acompa-
nham; assim diz-se trajo oriental, trajo
europeu, trajos de caçador, trajos do-
mésticos, etc.
VESTERIA, s.f. Roupa para fazer ves^-n;
tidos. *'■
VESTIA, s. f. Parte dos vestidos, que
cobre o tronco do corpo, com mangas, ou
sem ellas; traz-se por baixo da casaca. ■
VESTIAIRO, s. m. Termo antiquado.'
Inspector e guarda da vestiaria do con- ■
vento.
— Vid. Vestiário 2).
VESTIARÍA, «. /. A guarda-roupa d* -
commuuidado religiosa. -'-''■
— O vestido, ou dinheiro para isso.
1.) VESTIÁRIO, s. m. Mesa comprida
em que os sacerdotes se revestem na sã*' -
ci-istia. - -'i
2.) VESTIÁRIO, A, adj. Qae diz réé-
peito á vestiaria, que lhe é relativo. Vid,
Vestiairo.
VESTÍBULO, s. m. (Do latim vestihu-
lum). Entre os romanos, espaço deixado
entre a porta da casa e a rua, para que
08 que vinham saudar o dono- da casa,
não estivessem na rua, sem comtudo es-
tarem também na casa.
— Termo de anatomia. Cavidade irre-
gular que faz parte do ouvido interno.
— Vestíbulo genital ; a vulva e todas
as partes até ú membrana hymen exclusi-
vamente.
— Diz-se também do espaço triangu-
lar limitado adiante e lateralmente pelas
pontas das azas das nymphas, e atraz
pelo orifício da urethra; e é por este espa-
92(5
VE8T
ço qtio 80 entra quando so pratica o cor-
to vestibular.
— Portal, ti ciitraJa da porta um qual-
quer edifício.
VESTIDINHO, í. m. Diminutivo du Ves-
tido. l'e(iucm) Tcátido.
1.) VESTIDO, í, m. (Do latim vetti-
tui). Vestidura.
KÍ9 uqui Bubimod ■ iricruAnlein
l'era tir;ir o vtttida um que ando;
}'oi'qu<} oi a(;outC9 me estuo esperando.
Cuinpra-Be todo o meu mui e luou bem.
UIL VICKNIK, AUrO DA lIiarOIllA DU DRUB.
— •() exercício (uii que pastam a vi-
da, o fazouda, s.ío doçuras, musica, amo-
res, vestidos, e tratamento do sua pes-
soa, e sobre tudo furando opinirio de ca-
valleiros, a qual o« ta/, tão atrevidos era
commetter, que não temem u morte por
licar dellcs memoria d'aquelle feito ; po-
rém entro olles se traz, em provérbio:
Malayos namorados, Jáus cavalleiro.i, e
iissi na verdade.» Harro.s, Década 2, iiv.
C, cap. 1. — «Seus vestidos saõ huua c.1-
holins listrado.^, de branco, e preto, que
fazem, e tecem da laã das cabras, la
luais cortão o cabelo da cabeça, oa bar-
ba, em toda a vida, que os faz parecer
Cerithauro», porque a nam cobrem, por
mais Sol, ou frio que faça.» Fr. (iaspar
de S. Boruarlino, Itinerário da índia,
cap. 9. — «Ella cm urna mula m«y rica-
mente arrayada, c as damas cm mulas
com ricas goarniç5es. o diante delia muv-
tas trombetas, e atabales, cliaramelas,
sacabuxas, nuiytos porteiros de maça, e
reys darmas dei Rer, o da Ilavnlia de
Castella, vestidos do ricas sedas, e bem
encaiuilgados, o seus mestres ' ^alas, voa-
dor, e nionlomo mór ricamente vestidos.»
( Garcia de llczendo, Chronica de D. João
II, cap. 123. — «Estes couicçando a pro-
ver com diuhoyro o vestido alguns dos
que estavaõ mais perto dclles, cliegarSo
também a nós, e despois de nos sauda-
rem afabelraente, e com mostras de te-
rem piedade do nossas lagrimas, nos pre-
guutar.^o que homens éramos, do que
terra, ou do que luiçíiO, e porque Ciíso
estávamos presos.» FernSo Mendes. Pin-
to, Peregrinações, cap. 86. — «Com tu-
do cm muitas Províncias se conservon o
nomo de Duques, os quaes tinhan parti-
culares insignias, com que andavaõ, por-
que os vestidos erai5 vermelhos, o bal-
theo, ou cinto Militar de prata, ou ouro,
no dedo traziaõ luun anel com duas pe-
dras, e hum colar lançado a tiracollo, ca-
pacete, e escudo dourado, o só olli'S po-
diaõ trazer gente armada consigo, o dian-
te hum estendarte, cousa que a outrem
senaõ eoncelia.» Severim de Faria, No-
ticias de Portugal, Dise. 3, § 28. — «Of-
fereceo a ElRoy hum vestido dello mui-
to bem guarnecido, e obrado ao costume,
pedindo-lhe por mercê fosse servido tra-
VICST
zelo le quer oito dia»; c nJo oraB bem
quatro andados, quando já o mercador
naõ tinha na log^a de todo o panno, nem
um 8(i retallio, e se mil pciHsaH tivera,
tantas gastara.» Arte de furtar, cap, t>4.
— « Ja ae hc atteniJcr fi cllevada sorte »ie
seos antigas Profesíores, facilmente fica-
rh sendo huma das mais illustros. Os An-
tigos Phrigios, como primeiros invento-
res de coser os vestidos com agulha ('se-
gundo Plínio) HC oocu|iaraõ muyto neste
exercício.» Braz Luií d'Abreu, Portugal
medico, pag. 111, § 49.
Extinctos Animacs lhe dão vestido,
Qu' ao pejo naturul sirva d'cscudo.
1. i.. Dk MAUEDÚ, A XATLUIiZA, CUIlt. 2.
— «Espero que ninguém rasgue os ves-
tidos, nem esta folha ao lêr semilhante
blasphemia. No 3.» tomo de Goldoni, a
1.* comedia II cavaliere y la dama, é no-
bilíssimo estímulo de honra e exemplo de
castidade.» Bispo do Grão Pará, Memo-
rias, publicadas por Camillo Castello
Hranco, pag. 120.
— Um vestido; uma casaca, vestia, e
calções^
— Um vestido de vtulher; consta das
peças ordinárias, roupa, saia, etc. Vid.
Veste.
VESTIDO, part. pass. de Vestir.
— Vestido di; pobre ; cora trajo de po-
bre. — «D. João V, no tempo da sua ce-
gueira o libertinagem, quando ia para
Odivellas, rebuçava-so até ao Arco dos
pregos ; ahi descobria-se, e dizia o Cocu-
lim: «Alli perde a vergonha.» Na vés-
pera d<w Passos se foi cnllocar ao lado
da imagem do Senhor, vestido de pobre
para vèr do perto as fidalgas, que alli
costumam ir. Dizia-me a. snr.* I). Her-
culana Coculini : «Vi eu, viu & condessa
de S. Vicente e minha prima Constança
de Menezes as>ÍMi a el-rei.» Bispo do
rir?lo Pará, Memorias, publicadas por
Camillo (-astelio Branco, pag. 1.Õ4.
— Vestido de sâda roxa, reettmado de
branca e Jina prata; com trajo de soda
d'aquella cor.
VE.ST
— Coberto coíd qualquer peça das que
SC coBtamam Testir. — «Em o qual &it6-
ue alfruns dia« em quanto ello e os hcua
fiwsom vestidos e encaualgadiv», pêra po-
derem hir antellc: sendo oemprc dcruido
em toílalas cousaa, não como priíicipc
bárbaro e fora lia lei, mas como podia
ser hum do8 senhores da Europa coatu-
mado áa policias e scruiyos delia.* Bar-
ros, Década 1, Iiv. 3, cap. tí.
Vinha por outra parte a linda espoaa
Ue Neptuno, do CceJo, o Vesta filha.
Grave, e Ioda do gesto, p tio formoea,
Qui; »« amausuva o mar di- maravillia ;
Vulida uma cuiniitu prrcioia
Trazia do delpada bcatilha
Que o corpo ervittallino deixa ver-se;
Que tanto bem nào é para eacondcr-«e.
OAM., Lcs., eaut. 6, ciit. 21.
da
- Figuradamente :
'/e luz.
A esperança vetti-
Do grande mar do meu tormento antigo
Como aurora d amor sae a esperança.
Valida já de luz que de »i laai;a,
O aol que cu sempre temo c sempre BÍgO.
VEB.NÂO SOHOPITA, POBSIAB C rBOSlS OtTOtTÁ»,
pag. 76.
Dcsemparado ja doa dous amantes
O leitor sabedor do souí amores
Ambos de roxa scd;!, rccanuida
De branca, o fina prata, vem vettidot.
COUTlí BHALiMAUrXAUIO DE SEPÚLVEDA, Ont. 4.
— Homens pobremente vestidos ; ho-
mens trajados do pobreza. — «ElRev
quando vio de huma janclla aonde esta-
va, huns homens taõ velhos, e taõ pobre-
mente vestidos, o muytos doiles doentes,
sem ontre to<los, ver hum só em que pu-
desse pòr os olhos, mandou vir perante
si quatro que vio ir numa tilcyra todos
muyto velhos, e ao parecer doentes.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações, cap.
183.
— tíignal materno vestido de cabeRoM.
— tO Peito nu, liso, e dettpido de cabei-
los, faz que seja tímido, e eSemiuado,
pella exiguidade de calor natural no co-
ração. As niamillas pinguei, e flácidas
argucm o homem de sensual, dcbil, e
etfeminado. A parte esquerda do peito
pingue, carnozu, e cra&^a, com hum si-
gnal, ou nevo matornu vestido de cabel-
lus indica felicidades, honras, riquezas.»
Braz Luiz d'Abreu, Portugal medico,
pag. 343, § i9í>.
— Figuradamente : O prado vestido
de relva, o monte de arvores, etc.
— Loc. : Conseguir alguma cousa ves-
tido e califado; aJcançar sem fiazer dili-
gencias por ella.
— Escripturat vestidas de fé.
— Adágios e provérbios:
— Cada um sente o frio, como anda
vestido.
— (J homem queremos vêr, que os
vestidos não.
— Desde que vestidos nos vemos, nSo
nos conhecemos.
— Alfaiate mal vestido, sapateiro mal
ca!(,'Ado.
VESTIDURA, *. /. O vestido. Vid.
Veste.
VESTÍGIO, «. m. ^Do latim v*st!gium).
Pegada, signal que deixa a pisada. —
«Quanto á irmau d« Pelagio, nenhuns
vestígios haviam encontrado da soa pas-
sagem, rerihuma esperança traziam.» A.
Herculano, Eurico, cap. 13.
— Fipura<.ianiente : Vestígios da bocca;
o logar que ella tocou.
— Figuradameute : Signal que dá a
VEST
VEST
VEST
927
conhecer a existência de cousa que pas-
sou, e 9« perdeu. — «Qual pôde ser hoje
este fundamento se uào conservamos o
menor vestígio da idolatria Grega, ou
da Romana?» Cavalleiro d'01ivelra, Car-
tas, liy. 1, ii."^,
-'lííl -•■.
Onde nãobrilhas tu, se as procellosas
Negras Nuvens rasgadas, se os ardentes
De huma sulfúrea luz fuitnineos trilhos,
Que cora vapor eléctrico espedaçào
O tenebroso véo, são teus ve^tiçfiof.
No horror, na magestade imagens tuas.
J. A. DK MACEDO, A SATCBEZA, Cant. 1.
Na primeira manhãa, nos Ceos a Aurora
Tu fizeste raiar, tu lhe conservas
Alvos Lirios nas mãos, na fac« Rosas,
Por ti, da- vida desprovidos Ente»,
Duros penha.sc«s, agras Serranias
Parecem anlmar-se : em doce aspecto
Jlostra os vestígios de teu passo a Terra.
IBIDEM.
— Stn. : Vestígio, pegada, pisada,
rasto, trilho, pista.
Vestígio é palavra genérica que signi-
fica o signal ou mostra que deixou de si,
em algum logar, a cousa que n'elle este-
ve, ou por alli passou.
Pegada é o vestígio do pé do homem
ou do bruto que fica impresso na terra.
Pisada significa o mesmo que pegada,
porém emprega-se mais no sentido figu-
rado. Um bom filho segue as pisadas de
seu honrado pae.
Basto é o vestígio que deixa na ter-
ra o animal que por alli se arrastou, e
em geral o vestígio que fica d'alguma
cousa.
Trilho é o rasto que deixa no chão
uma cousa pesada carregando, ou pessoas
e animaes passando frequentemente.
Pista é o rasto que deixam os animaes
por onde passam ; diz-se também das pe-
gadas de quem se retira.
VESTIMENTA, s. f. A vestidura, mor-
mente dos- hábitos solemnes sacerdotaes.
Yid. Veste.
VESTIMENTEIRO, A, s. Pessoa que faz
vestimentas.
VESTIR, V. a. \Do latim vestire). Co-
brir o corpo com qualquer peça das que
vestimos. — fE porque era Jà tarde
quando se recolherão, ho negro ficou
aquella noite na nao, e ao outro dia pela
manhã ho mandou vestir de panos de
cores, e poer em terra, despedindose elle
dos nossos mui ledo, e contente da boa
companhia, que lhe fezeraõ, e sobretudo
dalguns cascaueis, continhas de Cristal-
lino, e outros brincos que leuaua.» Da-
mião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 1, cap. 35. — tNaõ perde a arte
seu ser por f:\zer mal, quando faz bem,
e a propósito esse mesmo mal, que pro-
fessa, para tirar delle para outrem al-
gum bem, ainda que seja illicito. E tal
he a arte de furtar, que toda se occupa
em despir huns para vestir outros.» Arte
de furtar, cap. 1.
Tanto céo ha ora aqui.
acolá oéo. e cá céo,
agora estou bem assi ;
não, melhor é pêra alli ;
céo, vçMi-voí VÍ3 d'arpeot
estou como pedra em poço.
AXTOSIO PRESTES, ÃTJTos,-pag. 87.
— Vestir seda, lã ; vestir vestidos de
seda, de lã.
— Vestir saragoça; vestir vestidos de
saragoça.
— Vestir galas. — «Vestirão galas os
Reis, e a Corte, e determinarão dia para
dar graças na Capella com offertas pias,
e Reaes. Houve um douto Sermão, em
que se disserào do Governador encómios,
e virtudes. El Rei deo conta da victoria
ao Summo Pontífice,, e aos maiores Prín-
cipes da Europa, que todos lhe congra-
tulárào, como a mais illustre facção do
Oriente.» Jacintho Freire d'Andrade,
Vida de D. João de Castro, liv. 4.
— Figuradamente : Vestir as paredes
de painéis.
— Vestir o campo de fiares ; guarne-
cel-o, ornal-o com ellas.
— Vestir á franceza, ou coríezão; ves-
tir segundo a moda da corte, de França.
— Vestir de branco, de azul, de pas-
tor; vestir vestidos brancos, azues, de
pastor.
— Disfarçar, dissimular; tomar os
ares, semblante.
— Ornar, adornar.
— Vestir corpos reformados. — Mani-
festo ])e que todos com entranhaueis ge-
midos dizemos com Paulo. Xolumus ex-
poliati sed superuestiti: que quer dizer,
Nam desejamos de deyxar este corpo, e
que as nossas almas estejão apartadas dos
corpos, mas desejamos de vestir corpos
reformados, corpos que nunca moirão,
que nur.ca adoeçam, que num possam ter
pena, nem desgosto, nem outro qualquer
achaque.» Frei Bartholomeu dos Martv-
res, Catecismo da doutrina christã.
• — Vestir a ntie o sol; cobrir a neve
o sol.
Na cima do Thabor, e hum Deos se mostra ;
Mais qui^ o Sol brilha o rosto, e a neve o veste.
Das ruinas, e túmulos de Athenas
Surgem caladas invejosas sombras.
J. A. Da MACEDO, MBDITAÇÃO, Caut. 1.
— As azas vestiram a côr.
Segue-lhe o vôo matizado Insecto,
Insano atrevimento ! e cahe prostrado :
De nada vale a côr, que as azas vestem.
j. A. DB MACEDO, A sauiueza, cant. 1.
— Figuradamente: Vestir alguém; dar-
Ihe de vestir por beneficio.
— Vestir o rosto de gravidade, con-
fiança, seriedade.
— Vestir alguém; ajudal-o a vestir-se
como fiiz a aia, o servo.
— Figuradamente : Vestir conselhos.
— (lE com fios seccos dados em borda de
alguidar vermelho, cortamos duas dúzias
de conselhos que os poderá vestir o prín-
cipe D. Filippe; e, sem tomar o pulso,
somente pelas aguas, receitamos ali me-
zinhas que Galeno nunca ouviu nem en-
sinou.» Fernão Soropita, Poesias e pro-
sas inéditas, pag. 17.
— Vestir casos das mesmas circum-,
stancias; acompanhal-os d'ellas.
— Vestirem-se as almas de santa fé.
Çhorárão-te, Thomé, o Gange c o Indo:
Chorou-te toda a teira que pizaste ;
Mais te chorão as almas, que vestindo
Se hiào da sancta Fé que lhe ensinaste.
CAM., LC!., cant. 10, est. 118.
— Vestir-se, v. refi. Cobrlr-se com fa-
to. — «E no Evangeliio disse Cbristo,
que nem Salomão em toda sua gloria se
vestira taõ ricamente, que chegasse á
belleza de hum Lírio.» Severim de Faria,
Noticias de Portugal, Disc. 3, cap. 12.
— «E, se apertarem muito, direi que não
errei, diante de Milton, de Adisson, de
Schakspeare e de outros inglezes que sa-
bem da poda; porquanto sendo esta obra
mosaica, isto é miscellania de embrecha-
dos, veste-se de muitas cores como capa
de retalhos em tempo de mascaras ou
theatro de Paris.» Bispo do Grão Pará,
Memorias, publicadas por Camillo Cas-
tell ' Branco, pag. 57.
— Ornar-se, guarnecer-se, adomar-se,
- — Vestir-se de Christo ; ser christão,
praticar as virtudes do christianismo.
— Figuradamente: Vestir-se. a alma
de Christo; de vii-tudes chiistãs.
— Figuradamente: Vestir-se de luz;
vestir-se de prudência, e seriedade.
— Vestir-se á castelhana; vestir-se á
moda de Castella, segundo o uso de Cas-
tella. — aVestiu-se á castelhana o minis-
tro, e montado em bom cavallo com um
só criado capaz, foi ajustar uma compra
de porcos com o Toscano; e, não se fa-
zendo o ajuste entre ambos, mandou cer-
car a cas^, e o segurou, havendo tiros
sem mortes.» Bispo do Grão Pará, Me-
morias, publicadas por Camillo Castelio
Branco, pag. 126.
— Vestir-se de purpura^ de louçainhas.
— Vestir-se o céo de nuvens.
— AdaGIO.Ç E PROVÉRBIOS:
— Ao revés a vesti, ande-se assim.
— Ainda que vistaes a mona de seda,
mona se queda.
— Capello sobre capello, nunca o veste
o mau mancebo.
— 3Iàe e filha vestem uma camisa.
— Quem o alheio veste, na praça o
despe.
928
VETU
VÊXÍ
VEYO
— Quem do vorde so veste, por for-
mosa so tove.
— Veste-te ein gucrja, c arma-tc em
paz.
— Quem 80 veste do ruim patino, ves-
tc-se duas vezes no anno.
— So queres ser rico, cal^^a do vacca,
o veste 'lo fino.'
VESTORIA, «./. Vid. Vistoria.
VESTUÁRIO, s. m. Fato, trajo.
— Tmlos 03 objectos juntos necessá-
rios para se vestir.
VESUGO, s. m. Termo de historia na-
tural. Peixe .vulgar; é do mar alto, da
feição do cacliucho, tem a calicça mais
agada, c a carno monos vcírmelha.
— Adágios e ruovKuiuos:
— A cabeça do vesugo come o sisudo,
o a da boga d:l a sua sogra.
— A castauba e o vesugo cm feveroiro
nílo tem sumo.
— Como te conheço, vesugo ! e clle ora
caraníjunjo.
I VESUVIANA, s. f. Termo do minera-
logia. Esiiiocio de pedra preciosa.
f VESÚVIO, s. m. Koiiio d'um vulcão
de Itália, tomado figuradamente por uma
cidade cm revoluç.uo.
VETA. Vid. Beta.
VETERANICE, *. /. O caracter do que
é vetiMMuo.
VETERANO, A, a<1j. (Do latim i'e<«ra-
nus). Quu uilo é novel, que não é biso-
nho.
— Maia antigo que o novato ; diz-se
fallando do estudo universitário.
— Substantivamente: Um veterano.
VETERINÁRIA, s. f. Arie de curar ga-
dos, bi'stas, eavallos; alveitaria.
VETERINÁRIO, A, adj. (Do latim le-
iérinarius). Concernente ao curativo das
bestas. — Arte veterinária.
— MeiUcos veterinários ; dizem-se os
que se chamam alveitarcs para sangrar
bestas, eavallos, etc.
— Figuradamente : Medico veteriná-
rio; sangrador de bestas.
■ VETO, s. »». (Do latim). Formula que
empregava em Roma um tribuno da ple-
be, quando se oppunha aos decretos do
seriado, ou aos actos do magistrado.
— Hoje, recusa que faz o chefe do es-
tado de sanccionar uma lei adoptada pe-
las canyiras. — Em Inglaterra, o rei tem
velo ; o direito do veto.
— Veto absoluto; faculdade de recusar
temporária ou definitivamente a sancçiSo
d'um acto legislativo.
— Figuradamente : OpposiçSo.
— Faculdade que as constituições dão
ao imperante para recusar a sua sancçSo
a uma lei discutida e approvada pelo cor-
po lo};islativo.
VETRE3CIVEL, adj. 2 gen. Vid. Vitres-
civel.
VETRIFICAR. Vi,1. Vitrificar.
VETUSTO, A, aJj. (Do latim vetiistus).
Velho, deteriorado pelo tempo.
a
VEXAÇÃO, •. /. (Do latim vtxatio).
Acto de vexar, de atormentar.
— Ajjcrto, lance trabalhoso, aifroutu,
tormento.
— • ( ) mau trato »|uo soflTre o vexiido.
VEXADO, jjart. pats, de Vexar. Ator-
mentado, atllieto.
— Vexado c/c demuitiu. — tPcllu qual
nos trc-s piiuieiros ].>umingos deste san-
cto teni[)o nos canta a s.^cta Madre l;,'reja
Euangeiiios cm oa quaes se contem al-
gumas victorias que O Senhor teuo coutra
o demónio, destruindo suas obras, como
se manifestou no primeyro Domingo no
qual so coutou a victoria contra suas ten-
tações: e no dominga passado se cõt lU
como liurou a fillia de Caiianca, que
era vexada do mesmo demónio.» Frei
Bartliolomcu dos Martyres, Catecismo da
doutrina christã.
VEXADOR, A, s. Pessoa que vexa, que
proiluz vexação, que a commettc.
— Adjcctivamente: As vexadoras /ii-
riaa.
VEXAME, s, 171. Vexação.
VEXAR, V. a. (Do latim rexarc). Ator-
mentar, pcrsegruir, molestar. — «E por-
que vexou os povos com taes tributos,
que chegou a quintar as fazendas a seus
vassallos, se lhe alevantai"a3 Portugal,
Catalunha, Nápoles, Sicília, etc. e por-
que faz guerra a França, e a outros Rey-
nos, e Estados, que lhe naõ pertencem,
por sustentar caprichos, está em pontos
de dar a ultima biiqueada á sua Jlonar-
chia.» Arte de furtar, cap. 15. — «Ella
pedia instante o pcrfiosamente que o Se-
nhor liurasse o corpo de sua filha, ator-
menta<lo pello demónio. Com quam mais
feruente c porfiosa oraçam que nos cõ-
uem humildemente pedir que o demónio
não vexe e atormente nossas almas, s. que
nos enduza e faça cavr em peccado mor-
tal, o qual mayor damno e estrago faz
em huma alma do quo podem mil demó-
nios fazer em a alma ou corpo.» Frei
Bartholomeu dos Martyres, Catecismo da
doutrina christã.
— Fazer envergonhar.
— Figuradamente : Vexa-me a cons-
ciência; remordeia. Vid. Avexar.
VEXATÓRIO, A, adj. Que tem o cara-
cter de vexação.
— Quo vexa.
VEXIDADE. Erro por Anuexidade, uae
Provas da historia genealógica, tom. 4.
VEXIGA, s. f. Vid. Bexiga.
VEXILLARIO, s. m. Entre os roma-
nos, soldados que formavam um corpo á
parte.
— Adjectivamcnte : Que pertence aos
estandartes.
— Termo de botânica. Que tem a fW-
ma d'um estandarte, que ofFereco uma
espécie do estandarte.
VEXILLO, *-. »i. [Vo latim vexillum).
Tormo pouco em uso. Bandeira, estan-
darte.
VEYA, $./. Vid. Vèa, e Veia.
t VEYO, por Veio. ViJ. Veio. — .Affir-
ma que quando veyo di- .luílca para Ko-
ma, e nellu foy abiolto du imiu'&<;ÍIo dos
Judeus, Ke pârtio na volta 'io Expanha:
o me.imo re|)cte na Epistola a<ir Phiii|ien-
nes, <; eobre u Pualmo lltí.» Mouarcbia
Lusitana, liv. 5, cap. 7. — «Oit<j annua
possuído Pliocau o luípcrío actjucrido por
tào eruoÍB meyo», e }j<iiito que no princi-
pio se tivesse delle grade conc«*it<j, « do-
sejasscm todos sua amizade, ao fim se TejO
a mostrar tão para pouco, que oa Capt-
taens e peséoa.s em que clle tinha mayor
confiança, o mat.âraõ às punhaladas den-
tro em seu paço.» Ibidem, liv. 6, cap. 24.
— iO próprio uonie deata Viila foy Alan-
kerkana, que tanto vai eoi lin^oa Ale-
mam, como Templo do» Alanos, e depois
abrandando a pronunciaçaõ do vocábulo,
c dimiuuindo-lhe aifrumas letraf>, veyo a
ficar na fi'>rma em que o nomeamos de
Alcmquer, Villa nobre, e muy conhecida
neste Keyno pela fertilidade de sua Co-
marca, e por ser terra dotal das Raynhas
de Portupal, dci«de o toropo delKey D.
Afonso Terceyro a esta parte.» Ibidem,
liv. G, cap. 4. — «Desta carta 'cuja da-
ta he anno de Christo setecentos e dozo)
entendeo o Conde D. Jullaõ a força quo
elRey fizera a sua filha, e dando ordem
aos negócios com toda brevidade, fo veyo
a Espanha com tanta lastima de seu co-
ração, que em nada se mostrou nunca
tanto a grandeza delle, como em saber
dissimular a dor em qne vivia.» Monar-
chia Lusitana, liv. 7, cap. 1. — •£ re-
tirandosc Carlos á Cidade do Aquisgran,
depois desta perda, viveo perto de qua-
tro annos, cansado dos rauytos trabalhos
passados, e da velhice. « dcsgoete que
recebera, e veyo a morrer no anno que
apontey acima.» Ibidem, cap. 12. — «E
disse também outras muytas coui^a.'! par-
ticulares muyto importantes a nosso pro-
pósito. E antre algumas qne noa disse,
nos veyo a confessar qne era Christlo
renegado, Jlalhorquy de naçAo. natural
de Cerdenha, filho de hum mercador que
se chamava Paulo Andrés, e que nSo
avia mais que stSs quatro anno6 que se
tornara Mouro por amor de huma <!r^a
Moura com que era casado. » FernXo Men-
des l^nto, Peregrinações, cap. 3. — «E
cõ outra mais gente que ainda tinha c5-
sigo, fingindo ir a Pacen prender hum
Capitão que se llve lenantára, veyo sobre
dous lugares do Bata, que se chamavaõ
Jacur, e Lingau, e como os achou dcs-
cuvdados pelas pazes que eraíl feytas ha-
uia taõ poucos dias, os tomon muyto fa-
cilmente com morte de três filhos do Ba-
ta, e setteccntos < hirobnlUVs, que he a
melhor gente, e a mais fidalga de todo o
Revno.» Ibidem, cap. 13. — «As três
nãos depois de venderem alli bem suas
fa-^emlas se foraõ para Ooa sò com os
Officiacs delias, e a gente do mar, aon.
VEZ
VEZ
VEZ
929
de estiveraõ mais alguns dias até que o
Governador as acabou de despachar pa-
ra Cochim, e dahi tomada a carga, se
tornarão todas sinco para o Reyno, aon-
de chegarão a salvamento, levando em
sua cõpanhia a náo S. Pedro, que se ti-
zera iia Índia, de que veyo por Capitão
Manoel de Macedo, que trouxe o Basi-
lisco, a que cá chamarão o tiro de Dio.»
Ibidem, cap. 2. — «Aqui em Torres Ve-
dras veyo a cl Rey iium Embaixador dei
Rey de Nápoles com hum muy grande, e
rico presente de cousas de muita esti-
ma, e o Embaixador era muyto grande
de corpo, muyto bem feyto, e muyto gen-
til homem, manhoso, anisado, e de bom
despejo, e o mayor musico de crauo, e
órgãos que então se sabia, que el Rey
algamas vezes ouuio.» Garcia de Rezen-
de, Chronica de D. João II, cap. 170.
— fFalta a estes senhores a generosida-
de, que sobejou ao Ssrenissimo Duque
D. Theodosio, digníssimo Progenitor de
nosso invictissimo Rey D. Joaõ o IV. de
gloriosa memoria, o qual convidado por
ElRey Filippe III. de Castella, quando
veyo a Poitugal na era de 620. que lhe
pedisse mercês, respondeu palavras di-
gnas de cedro, e de laminas de ouro.»
Arte de furtar, cap. 46. — «E assim foy,
que de graça veyo : contey por graça is-
to ao matalote dos duzentos mil reis, res-
pondeo marchando os beiços : saõ lanços,
que naõ tiraô seus direitos aos homens de
negi)cio.» Idem, cap. 56. — «A segunda
verdade que confessamos neste artigo, he
a Resnrreiçam do Senhor, e como aquella
alma sanctissima ao terceiro dia pella
menham cedo, muy trinmphante sayo do
inferno, e veyo ao sepulchro, e tornou a
vestir aquelle sacratíssimo corpo que nel-
le estaua, naõ com as fraquezas, e misé-
rias que tinha, mas renouado e glorioso
com todos os dotes c perfeições.» Frei
Bai-tholomeu dos Martvres, Catecismo da
doutrina christã. — «Esta he o compri-
mento da ley, esta he o vinculo da per-
feiçam : esta he caminho pello qual DEOS
deceo dos Ceos, e veyo aos homens : c
ella 80 he também o caminho por onde
os homens ham de subir aos Ceos.s Ibi-
dem.
Entre os Francos, de Harold o nome tinha.
Vei/o. qual piompttcra ao romper da Alva,
Com Dama, que inculcava alta progénie.
De linho a veste, que arde era roxa purpura ;
Braços nus, quasi nu (qual Franca) o seio,
Feições, 4 prima vista, meigo-barbaras,
Bronco o gesto c feroz. Estranhi mescla
De condoimento, inserto em peito Bárbaro.
F. V. DO KASCIlfENTO, OS SLiKTTHKS, 1ÍV. 7.
VEZ, í. /. A occasião em que se faz
alguma cousa, e o numero de oecasiòes ou
tempos. — Pagar pela primeira vez cin-
co mil liòras. — oE qualquer que as trou-
ver, passado o dito tempo, se for Conde,
Meestre, ou Priol do Espital, ou outi-os
VOL. T — 117.
Cavalleiros, ou Escudeiros de grande con-
diçom, que poia primeira vez pague cin-
quo mil libras, e pela segunda dez mil,
e pola terceira perca as terras, e a con-
thia que de nós houver.» Ord. Affous.,
liv. õ, tit. 9.3, § 3. — ■ «E quando a ma-
nhaa esclarecia, se acharam junto delia,
e lançaram ancora no porto, onde Pal-
meirim a primeira vez, que alli fura, des-
embarcara ; que em toda ella não havia
outro : e lançando os cavallos fora, qui-
zeram caminhar nellesj' porém a estrei-
teza do caminho, a aspereza ãã. rocha,
não lho consentiu senão a pé.» Francis-
co de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 119. — «Direi o que depois aconte-
ceo a estes dous, dos quaes Rahobemxa-
mut, mataram a priiueira vez que o Xa-
rife pelejou com el Rei de Fez de huma
lança que lhe tirou daremeso de traves
hum mouro negro que lhe hia fogindo,
cujo corpo trouxeram a sua molher Ho-
ta, que lhe mandou logo fazer o' milhor
que pode sua sepultura sem mais querer
comer, nem beber no que perseuerou uo-
ue dias a cabo, dos quaes morreo, e foi
sepultada com seu marido.» Damião de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 4,
cap. 32.
Xo estado social mil bens derramas ;
Quando sobes, da purpura cuberta,
Ao Sólio huma aó vez, ditosos povos !
J. A. DE JIACEDO, MBDIT.4.ÇÃ0, Caat. 1.
Man.'5o, e quedo huma ves, tranquiUo, o liso.
Outro revolto, c bravo entumecido,
De inconstância, c de guerra amplo theatro.
IDEJt, A SATCBEZ.^, CaUt. S.
Meu Sempronio, abracemo'-no3 ainda
Por esta cez, que ainda íomos li\Tes.
Ai ! talvez ámauhan não poderemos
Fazê-lo ja — sem nos acharmps ambos
Xo vergonhoso amplexo dum escravo.
GAEBETT, CATÃO, act. 1, SC 5.
— «Nào posso — murmurou o moço
frade. Fr. Lourenço ajoelhou de novo e
curvou a fronte para o chão. D'esta vez,
não aos pés da imagem do Salvador, mas
aos pés de Fr. Vasco, ora beijando-lh'os,
ora abraçanao-o pelos joelhos.» Alexan-
dre Herculano, Eurico. — «Já uma vez,
com a sua liberdade de bufão, tinha ou-
sado penetrar naquelle recinto, com gran-
de escândalo e gritaria de D. Cypriana,
a rodeira das damas, cujo throno, agora
vazio, se ostentava r.o topo escuro do
dormitório.» Idem, Monge de Cister, ca-
pitulo 21.
— LoC". : Ter vez de fazer, receber,
sofrer alguma coitsa; ter logar, cabi-
mento entre outros.
— Estou de vez ; estou em disposição
accommodada, em occasião própria.
— Acção feita, ou que so ha de fazer
por turno, ou gyro ; o gyro ou turno.
— Esperar vez ds encher ; de tomar
agua com outros concorrentes.
— Loc. : Estar de vez a fruta ; boa
para se colher.
— Figuradamente : Estar de vez a fru-
ta; no tempo opportuno,
— Outra vez ; em outra occasião, ou
segunda vez.
E Be levanto as azas, alguma hora,
Ao eco, que nunca cessa de chamar-me,
Por ver se minha sorte se melhora,
Ainda bem não tento levantar-mc,
Quando outra vez me abaixa o grave pezo
De que eu tão sem razão quiz carrcgar-mc.
FEEsIo SOROPITA, POESIAS E PBOSAS INÉDITAS,
pag. 148.
— «Feita aguada, tornou Affonso de
Alboquerque outra vez commetter o ca-
minho donde vinha té chegar ás próprias
Ilhas.» Barros, Década 2, liv. 8, cap. 2.
— «Tudo o qual passou, atê o anno de
Christo, quatrocentos e dezoito, que fo-
raõ quatro mil e trezentos e setenta e
seis, da Creaçào do Mundo. Por este mo-
do tícou outia vez grande parte da Lusi-
tânia em poder dos Alanos, como antes
estivera, inJa que sem nome de Reyno.»
Monarchia ' Lusitana, liv. 6, cap. 4. —
«Nesta primeira i !a de Castella foi Dio-
go da Sylva de Meneses, por seu aio, e
depois de dom Emanuel tornar de Cas-
tella, foi là enuíado outra vez no anno
do Senhor de mil, e quatrocentos, e oi-
tenta e três, pêra andar na Corte dos
Reis, atte ho tempo em que se hauião de
fazei' hos casamentos do Príncipe dom
Afonso, e da Princesa dona Isabel se-
gundo forma dos contratos, mas chegan-
do a Freixinal, primeiro lugar de Cas-
tella, se tornou, por se has terçarias des-
fazerem.» Damião de Góes, Chronica de
D. Manoel, part. 1, cap. 5. — «Deste lu-
gar fomos ter a outro que se chamava
Guinapalir, donde continuamos outra vez
por nossas jornadas por espaço de quasi
dous meses de teri^a em terra, até che-
garmos a huma villa que se chamava
Taypor, onde por nossos peccados, sem
o n<'is ■ sabermos, acertou de estar hum
Chumbim, que sa~ como Presidentes de
alçadas, qué de três em três ánnos cor-
rem as comarcas do reyno, e devassaõ
dos Corregedores e ofiGciais da justiça.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações,
cap. 84. — « De que o Prineipe ouue
muyto desprazer, e nunca nisso consen-
tio, antes disse a el Rey seu pay, que
pois queria fazer mercê aos que contra
elle se aleuantauam, que faria aos que o
muyto b?m seruissem. E porque o Prín-
cipe sentio muyto o dito Lopo Vaz se
ãleuantar assi sem causa, e não fiar ja
dcUe, por escusar de o poder fazer outra
vez, determinou de o mandar matar.»
Garcia de Rezende, Chronica de D. João
II, cap. 20.
930
VEZ
VEZE
vezí:
Vamos jantar.
•Jantaroi com o gosto Mra?
Poia onfoiTiuc-30 cila agora,
c lovo-o pnra esforçar.
Vou-mo outra vez il jonclla.
Àirroaio pansTr.s, íutos, pag. 315.
Sendo ja qnafti ontSo mortificada
Co'o pcrnnnn furor da artilharia
A asporoza da chaminii nlnvaiitada,
E a do fogo qiio aa pudras acendia,
Comin(ítto IA outra vez do novo a onti-ada
iluma a.ssaz nunioro.4a companhia
Do Hoberbos imigoií bem anilados.
Do nova ira u furor cstimuladoti.
r. n'ANDRA.ni£, pbimbiro cbbco de Dni,cant. 17,
est. 111.
— (lEntondo, digo outra vez, que pô-
de ser, o o confe.-*8o; iiorein o.s llelifíiosos
sito pcrpctunuiente vordadeyros, Bcado-o
ate quando nilo importa que o sejilo, que
he ató Aquelle ponto que nós dizemos
2ue se podo uiciitir com boa intenção.»
)avalleiro de Oliveira, Cartas, liv. 1,
n.» 28.
— O negocio ainda não estava de vez
para se ajustar ; affirmar, ultimar, exe-
cutar, eto.
— Uma vez de vinho; a porção que
do uma vez se bebe.
— Cada vez; todas as vezes. — «Es-
tando ne.ste pensamento, Arlauça o tirou
delle com dizer lhe, que ja outro caval-
loiro o esporava. Viis me acudistes a bom
tompo, disse elle, que cu estava em uma
duvida, que cada vez que cuido uella
me atormenta, t Francisco de Moraes,
Palmeirim d'Inglaterra, cap. 140. —
«Garcia ilodrifjues de Távora llie disso
que elle não se queria embarcar se na3
por seu soldado, e que assim o diria, e
lhe daria ainda disso l>um assinado cada
vez que lho pedisse.» Diogo de Couto,
Década 6, liv. 3, cap. 1.
— Rara vez; poucas vezes.
Eu turbado, o revolto, cm tal enleio
Do Roma, atravessando, um Bairro escuso,
De muita, o pobre gente povoado,
Kjira VK, pelos Grandes, decorrido.
Corto oditicio mo ferio nos olhos
Em fiSrma peregrina, cm stylo grave.
F. M. DO NASCIMENTO, 03 UARTYKES, 1ÍV. fi.
— Muita vez ; bastantes vezes.
Dcantc d 'esses feros lusitanos,
D'e3se uobro, indomado povo duro,
Ja muita vez tremeram de assustadas
Águias romanas, e... — Tu ris!
aABBKrT, CATÃO, act. Tl, se. T.
— cEu quiz designar aqui o couto e
guarida que os per.^eguidos adiámos sem-
pre n'aquolla ilha foliz : por mim pessoal-
mente não oneoutroi só isso, mas casas
o corações abertos que me aga.^alharam,
o om que me esqueci muita vez do que
era cstrangoiro o pro.>cripto.» Idem, Ca-
mões, uota E ao cant. 1.
— Alguma vez ; alguma occaaião. —
«Como alguma vez ob.sorvei se lhes fa-
zia, por iiiuito.s que não nasceram com
tanta iionra como a maior parto dos ca-
vallieiros do liaste, honradoros de todo»,
o de quem todos cliristã o politicamente
dovcm sor honrado.s tambcsni.» Ilispo do
(IrSo Pará, Memorias, publicadas por
Camillo Castello lirauco, pag. tiiJ.
— Segunda vez; outra vez, novamen-
te. — «Esta armada era do treze nãos
grossas, cau que hiam mil, e duzentos
soldados, e muitas munições de guerra,
por quanto ol Rei tiidia a guerra de Ca-
lecut por certa pellas informações que
lhe o Almirante dom Vasquo ila Gama
deu, quando de lii tornou a segunda vez. »
Damião de Góes, Chronica de D. Ma-
noel, part. 1, cap. 94. — «Mas se ainda
a.ssim se naõ remettirem os sobreditos
simptomas, convém purgar segunda vez,
especialmonto se parecer que o corpo
ainda nílo está suflRcientemente evacua-
do; e na execução destes remédios não
deve o Medico ser pouco prompto por
ser este affecto precipitado, grandemente
agudo, e pcrigozo ; por i.-íso pede de hora
a hora huma deligcnte aiiministração dos
remédios indicados.» Braz Luiz d'Abreu,
Portugal medico, pag. 4G5, § 60.
— Em vez de ; em logar de.
Km vez de liberal, virtude santa,
Xoeessaria a qnem tem qualquer governo,
\'irtude que os mais baixos alcvanta,
K faz o nome escuro, claro o eterno.
Virtude de qnem toda a lingua canta.
Nascida 1:1 no Reino alto o superno,
Toma do insano pródigo o exercício
Por ajuntar aos outros este vicio.
I-BANCISCO DE AMDBADB, rBIHEIBO CERCO D> DIU,
cant. 1, est. 25.
— «Mas hay algumas molhcres (como
diz sam Chrisostimo) que em vez de se-
rem porto e descanso pêra as fadigas de
seus marido-, sam mais penedo em que
cllos tornando pêra casa vem dar e que-
brar como nao quo depois de passados
muvtos trabalhos, e tormentos vcnso ala-
gar no porto onde csperaua seguramente
repousar.» Frei Bartholomeu dos Marty-
res, Catecismo da doutrina christã. —
«Em vez do lamentar estes homens qua-
si soçobrados, iuvejava-lhc a fortuna.
Brevemente, dizia eu commigo, porão ter-
mo aos trabalhos da vida, ou aportarão
á sua pátria ; mas ai ! que eu nem uma
liem outra cousa posso esperar I • Telema-
co, traducção do l""raucisco Manoel do
Nasclmeixto, o de Manoel de Snusa, liv. 2.
I VEZES, s. /. plur. de Vee.
— As vezes </< alguém; as suas obri-
gações, deveres.
— Muitas vezes ; frequentemente, fre-
quentes vezes. — «Eu debuxaua uiuyto
bem, o elle folgaua muyto com is.so, e
me acupaua sempre, e muytas vezes o
fazia peruuto elle om cousas que me elle
roandaua fazer, e porque eu leiusae go»>
to em o fazer me disse hum dia perante
muvtos, que me prezaMe niuyto diseo,
porque era tão boa manha quo elle deae-
jauA muyto de a saber, e que o Empera-
dor Maxemiliano seu primo era gram d©-
buxador, e folgaua muyto de o saber, o
fazer.» Garcia de ilczende, Chronica de
D. João II, cap. 2<Jy. — «Canar Elcabir
a que nos chamamos Alcaccrquibir eeta
situada junto do rio Luco, o qual crece
tanto d'tMixurro (|uc entra muitas vezes
polas portas, ila cidade, a qual dizem on
mouros quo edificou Mansor Rei, e Ponti-
fico ile Marrocos. > Damião de Go©«, Chro-
nica de D. Manoel, part. 1, cap. 70. —
«O condf; jior este Aroaz ser mui conti-
nuo em suas ontra'laji, e mui bom caua-
bdro, e tam manhoso que muitis vezes
vinha de noite ate as portas da villa,
mandava sempre gente de cauallo em
guarda dos atalaias, os quaes o atalaia
de Aroaz vio sair todos juntos.» Ibidem,
jiart. 4, cap. 29. — «Mas como o animo
dos homens acerca das cousas que eape-
ra, sempre imagina o cõtrario do que de-
seja: concorrerão dona siuaes da nature-
za era Cocliij, que por serem muitas vezes
sigiiificatiuos do grandes casos, lançauão
elles 8obr'cstu não passar muitos juizoe.»
Barros, Década 2, liv. 1, cap. 4. — «Por-
que ainda que ao tempo que alli se deti-
nliam chamavam invernar, não era por
razão de haver clmva, cá muitas vezes
naquellas partes passam três, e quatro
aniios que nao chove, e quando vem al-
guma agua, he ao modo de trt>voada,
que vem do mar, e passa logo.» Ibidem,
liv. 8, cap. 3. — «Assim }>or acudirem
ao urgente perigo que toda Espanha cor-
ria pelo grande poder dos Mouros, que
contra os ChristSos vinha, como por mos-
trarem o valor de suas {>essoas, para o
que sahiaõ da pátria a buscar semelhan-
tes empresas, quando cá havia paz, e
particularmente a Castella, como o testi-
fica o Conde D. Pedro, dizendo, quando
trata da tomada de Sevilha: Em aquele
tempo 03 Fidalgos Portuguezes hiaõ a
Castella muitas vezes, por se provarem
pelos corptw, quando em Portugal meste-
res não havia.» Severim de Faria, Noti-
cias de Portugal, Dise. 3, cap. 6. — «Maa
muitas vezes naõ convém interpor o Sum-
mo Pontitice sua authoridade, para que
naõ se sigaõ outros inconvenientes mayo-
ros, qual seria rebellar contra a Igreja a
parte desfavorecida : e cm tal caso naO
saõ obrigados os Prineipcs a esperar de-
finições do Papa, nem pcdillas, e podem
levar a cou.=a por força de armas: e fica
de melhor partido para a consciência o
Príncipe, que naõ deu occasiaõ ao Papa,
para se abster no juizo de tal demanda.»
Arte de furtar, cap. 21. — «Maisapren-
ileo em huma hora do deserto, que todo
o tempo que cstiueni na cidade. Pêra que
he mais senão que Cliristo nosao Badem-
VEZE
VEZE
VEZE
931
ptor mestre celestial se apartaxm muytas
vezes a lugares solitários, pêra nosso
exemplo e instriiçam, como contam em
muitos lugares os Eaàgelistas.» Heitor
Pinto, Dialogo da Vida solitária, cap. tí.
— «Antes receberemos nisso, disse o Ita-
liano, muito contentamento, porque as
letras diuinas saõ mais gostosas e authen-
ticas que as humanas, e saõ mais profun-
das, e fazem mais impressão : basta que
as humanas saõ dos homens, que muitas
vezes se enganam, e enganam, e as di-
uinas saõ de Deos, de que nem engana,
nem se pode enganar.» Ibidem, cap. õ.
— «E por isso S. Paulo muytas vezes
consola aos Christãos, trazendolhe à me-
moria este artigo, dizendo assi em huma
Epistola. Christo resurgio dos mortos,
como primícia de todos aquelles que ham
de resurgir : porque assi como por hum
homem (que fov Adam) entrou no mun-
d.o, assi por outro homem ( JESV Chris-
to) enfraraa á resurreiçam dos mortos. E
assi eomo todos morrem por Adam, assi
todos seram tornados á vida por CHRIS-
TO.» Fr. Bartholomeu dos ^lartyres, Ca-
tecismo da doutrina christã. — «Por isso
nos encomenda que nos benzamos, e per-
signemos muitas vezes com o sinal da
Cruz, porque nesta sagrada ceremonia
de assi nos persignarmos, se encerram e
representam os principaes mysterios de
nossa fee, os quaes confessamos e profes-
samos cada vez que assi nos benzemos.»
Ibidem. — «Sua Escellencia, que se di-
verte muitas vezes com este homem, sa-
bendo o que elle me tinha dito o chamou
depois da sua convalescença, e estando
eu presente lhe perguntou se sabia elle
algum remédio para a Gotai*!) Cavalleiro
d'01iveira. Cartas, liv. 1, n.° 2õ. — «Mui-
tas vezes se exercitaõ a saltat com gran-
des pezos na boca para assim se porem
disciplinados, e destros para os roubos;
de hum refere Alberto, que foi visto muy-
tos dias tomar na boca hum madeiro, que
pezava mais de quarenta arrates, e com
elle saltava sobre o tronco de huma ar-
vore ; e vendose já ensayado naquella
prova, hum dia se escondeo no mesmo
lugar, a tempo que passavaõ huns Vea-
dos pequenos ; e fazendo tiro a hum que
ihe pareceo pezaria pouco mais que o ma-
deiro o levou na boca, e subio em hum
momento à arvore, aonde o despedaçou
a seu salvo, sem os outros lhe poderem
valer.» Braz Luiz d'Abreu, Portugal me-
dico, pag. 583, § 10.
— Dieterios muitas vezes grosseiros;
dicterios frequentemente grosseiros. —
«As bufonorias dos chocarreiros que ahi
figuravam eram as delicias dos príncipes
e senhores, e os dieterios e allusòes, mui-
tas vezes grosseiros, oflFensivos e inde-
centes, parece que não' se estranhavam,
nem sequer na presença das damas, e
corriam como boa moeda.» A. Hercula-
no, Monge de Cister, cap. 25.
— Dizer muitas vezes; dizer frequen-
temente. — «Pelo que me toca, estou tão
livre de lhe chamar ^linerva, que a te-
nho por huma toula. Nào a posso ver, e
V. S. mo tem ouvido dizer muitas ve-
zes.» Cavalleiro d^Oliveira, Cartas, liv.
1, n.° 33.
— Renderem-se muitas vezes os privi-
légios.— «O entendimento enche os ho-
mens de privilégios para se opporem a
todos os damnos, porem aos que causa o
ouro, renJem-se muitas vezes esses pri-
vilégios de spírito se senào acompanhào
das immunidades da honra.» Cavalleiro
d'01iveira, Cartas, liv. 1, n.° 11.
— Expressão muitas vezes ridícula ;
expressão frequentemente ridícula. — «A
mesma expressão que he nobilíssima em
huma lingoa, socede muitas vezes ser ri-
dieula em todas as outras.» Cavalleiro
d'01iveira. Cartas, liv. 1, n." 21.
— • A vezes ; alternadamente.
• — As vezes; de tempos a tempos. —
«Muitos se presam de adivinhar, e se
sospeitam d'alguem alguma má inclina-
çam, aguardamna nella a cada passo, e
crêem que com hum muyto pequeno fio
a teram atada, e ás vezes está d'ali a
verdade longe.» D. Joanna da Gama,
Ditos da freira, pag. 60.
Apertar muito, ás vezts gritaremos:
Assim de quaudo em quando
Por espinhos, e flores
Iremos pelo Mundo misturando
Lagrimas com louvores.
j. X. DE MiTios, BÓIAS, pag. 392.
— «E finalmente tem posta a vida, e
morte em tão breve termo, como são três
dedos de taboa ás vezes comesta do Bu-
sano, e no descuido de cahir em huma
pevide de candea em lugar onde se possa
atear, e em outros múí particulares, e
miúdos casos, de que resulta tão grande
cousa, como vemos em tanto niimero de
riáos que são perdidas.» Barros, Década
2, liv. 7, cap. 1. — «OA.' qiiahcaput!
sed cerebruvi non habet. Assim o escre-
ve Horácio, que, ainda que doente dos
olhos não duvidara affirmar que viu o
caso ; nem Homero, ainda que cego e
dorminhoco, ás vezes.» Bispo do Grão
Pará, Memorias, publicadas por Camillo
Castello Branco, pag. 49.
— Fazer as vezes d^ alguém ; substi-
tuil-o.
— Mil vezes.
Dali mil vezes vio com rosto allcgre,
De deus fortes carneiros leda justa,
De lanosos e grandes corpos, e ambos
De retorcidas armas bem pronidos.
Ck)m seuera presença recolhendo
Atras os curtos passos enuestiào
Com denodada fúria, e bem no meyo
Da carreira se dauào fero encontro.
ODETE KliAI., SAUFKAGIO DE SEPÚLVEDA, Cant. 9.
Para as náos desta sorte caminhando
Com a possível pressa e brevidade.
Em mil partes alli vai encontrando
De vários animacs grãa quantidade.
Que o verde prado vão atravessando
Sem temor de ninguém, com liberdade.
Porque a cada bum falta o duro imigo
De que mil ye:es tem morte, ou perigo.
FBASCISCO DE AMDBADE, PBIMEIBO CERCO DE DID,
cant. 4, est. 70.
Mas em quanto o canhão profano c horrendo
Nos legares que digo a fúria emprega,
O Turco o baluarte combatendo
Que eombatco mil vezes, não socega;
E com quanto o Christào sempre vencendo
Do seu desejo ao Turco o elTcito nega,
A victoria porém sempre lhe vinha
Com perda da melhor gente que tinha.
IBIDEM, cant. 7, est. 57.
— «Adeos ! que nem me atrevo a te
escrever mil ternuras, nem me entregar
com soltura a todos os ímpetos do meu
coração, quando te amo mil vezes mais
que a própria vida, e mil vezes ainda
mais do que eu mesma cuido.» Francis-
co Manoel do Nascimento, Successos de
madame de Seneterre.
— Outras vezes ; em outras occasiões,
ou segundas vezes. — «Outras vezes se
davam com os punhos das espadas com
que faziam abolar os elmos, mas como a
fraqueza d'ambos fosse grande, pelejavam
mais brando e com menos força que no
principio.^ Francisco de Moraes, Palmei-
rim d'Inglaterra, cap. 89. — aOutras ve-
zes mudavam a pratica, havendo por
desnecessário annunciar mal vindouro, e
também porque a paz com palavras se
ha de conservar, a guerra com armas se
hade fenecer.» Ibidem, cap. 94.
Fazem-uos guerra os outros Elementos,
Deaatào sobre nús pesadas Nuvens
Horrisonos chuveiros, e outras vezes
Correm furiosas rápidas torrentes.
J. X. VS UACEDO, A KATCKBZA, Cant. 2.
— Duas vezes ; segunda vez. — t A
qual cousa, depois que o Hidalcão cahio
nella, assi o atormentou, além de perda
de tamanho estado, e de tanta injúria
eomo nella recebeo per duas vezes, que
partido elle Capitão mor pêra Malaca,
mandou cercar aquella Cidade, cujos la-
res ainda estavam quentes da habitação
que nella fizeram alguns dos que alli vi-
nham.» Barros, Década 2, liv. 7, cap. 4.
— «Ao tempo que ha Princesa pario fo-
raõ presentes el Rei dom Fernando, e ha
Rainha dona Isabel, e el Rei dom Ema-
nuel, e ha teve nos braços dom Francis-
co Dalmeida de quem atraz jà fiz duas
vezes mençaõ.» Damião de Góes, Chro-
nica de D. Manoel, part. 1, cap. 32. ^-
«Kão só o Abestruz digere o ferro. Já
houve hum homem que por tempo de seis
mezes comeo duas vezes cada semana
bastante porção de cobre, de ferro, e de
prata, não lhe sendo possível saciar o seu
982
VEZE
VEZE
VEZl
apotite nesse tompo com os aliinent(M or-
diimrioii.» Gavalloiro trOliveira, Carias,
liv. 1, n.° 16. — «Aa osperan<;iw <la paz
antiírf HO adiantiirain quo iliuiiuuiruin:
muitas í^raças dovemoa a Uou.s quo pele-
ja o iiegocôa por rnii. A armada tem
arribaiU) «luas vezes, pordcu já alguns
naviu», vae-lho morrendo gente, c os ven-
tos cada voz mais contrários c tompes-
tiiodos: e já so persuadem alguns destes
fieis christàos o seus predicadores, que
nílo quer Deus que vSo ao Jirazd; ooiu
quo eít>^o mais lirandoa os que furiosa-
monto queriam a guerra : mas ainda pe-
dem como quem a uào teme.» Padre An-
tónio Vieira, Cartas, n." 3.
— liuriif: vezes; poucas vezos. — «Ou-
tra difcr()ii<,'a so toma da partJ affecta : e
seguuiio esta hum occupa a substaucia
do Cérebro; outro, ainda que raras ve-
zes, olFende as mendíranas do mesmo
Cérebro; como se colLe Ax- Galen. 4. de
catisis pulMiuvi cap. 14. Outras difcreu-
ças so tomai) da còr <\o corpo, e do ros-
tro; porque dos Ijothargicos huns tem as
cores assim do rostro, como do corpo
cliumbadas, e quasi mortíferas ; outros
naõ distaõ muyto da cor natural.» Braz
Luiz dAbrcu, Portugal medico, pag.
457, ij li».
— Tantas vezes ; bastantes occasiões.
De mais ocoultn origora, peliis naves
Do templo entrou com passos inal seguros.
Kllo, que tantas vaes ha rompido
As cerradas fileiras.
OAiiRF.rr, cAjiòr.s, o.aut. 2, oap. 3.
— Qaanííw mais vezes ; quantas mais
occasiÕos. — «O qual gosto despois pa-
g.ão com llio vir a febre dobrada. Assi
acontece aos peccadorcs, que quantas
mais vezes consiguem e cumprem seus
mãos desejos, e gozam de seus falsos de-
levtes, taut'> mais crece depois nelles o
ardor e fúria de seus desejos, atè final-
mante os lançarem nos ardores eternos,
de que a diuina graça nos liure.» Frei
Bartholomeu dos Martyres, Catecismo da
doutrina christã.
— Por vezes ; por varias occasiões.
— • «Vasco da (.iamma com esta e outras
praticas que per vezes teua com esto pi-
loto, parecialhe ter nelle bum grão the-
souro, e por o não perder o raaes em
breue que pode depois que moteo per
consentimento dclHoy hum padraS per
nomo Saucto Spirito na pouoaçaõ, dizen-
do ser em testemunho da paz e amizade
que com elle assentara.» Barros, Década
1, liv. 4, cap. 6. — «Durante muitas ho-
ras, no meio do denso nevoeiro acamado
sobre as encostas, pelas sendas tortuosas
das montanhas, os cavai loiros que se-
guiam o duqno do Cantábria uão ousa-
ram qu''brar-lho o doloroso silencio. Apo-
nas, pela calada da noite negra e fria,
soava lá ao longe o ruido do Sallia, de
cujas margens por vezes «e approxima-
vain.» A. llorculauí), Eurico, cap. \'ò.
— Dar, coiiimctter a oulrtiii ui suas
vezes ; ilar-lho, couforir-lho o poder de o
substituir oui officio, gerência, otc.
— Ter ai vezes d* algiuvi; fazer os
seus dovores.
— Alyaiiioí vezes ; em algumas occa-
siòcs. — «E acontece algumas vezes os
Juizes mandarem citar novamente a par-
to aa porta do sua casa, como dito lie,
poendo nas Cartas Cttatorias, que se naõ
poder a parto sor achada porá sor cilada
cm pessoa, que a citem aa porta du suas
Casas : o osto fazem quando o -Vutor ailo-
gua alguma ovidouto razaõ, porque su
aja de fazer, ca em outra <;uirta fazer-se
nom seria justo.» Ord. Ãffoas., liv. 'ò,
§ 1. — «Deixando de faiar cm Fiora-
mam, como as festas se continuassem ca-
da dia, iam já enfraquocomlo na cidade,
que deu azo algumas vezes ao iuiperador
em andas, acompanha'lo de toda a no-
breza do sua còrtc, saliir ao campo caçar
com falcões, esmerilhões o outras aves
desta qualidade.» Francisco de iloraes,
Palmeirim dluglaterra, cap. Ibà. —
«Todo o mais tompo que alii estiueram,
elle, e Afonso Dalbuquorquo entenderão
na obra da fortaleza, que se fez quasi
toda de nouo, e assi os Çacotorius os quaes
neste tempo quo ahi esteuo a fruta, iu' lu-
zidos pelos fartaques que escaparam, e
mouros quo auia na terra se reuoltaram
por algumas vezes, per ocasioens causa-
das mais pelos nossos quo naõ per culpa
que 03 da terra tiuessein.» Damirio de
Ooes, Chronica de D. Manoel, part. 2,
cap. 2i5. — «E junto com cila ao longo
da Ribeira de Barcarena, ordenou outra
do pólvora, para ovitar os desastres dos
incêndios, que algumas vezes em Lisboa
tinbau acontecido.» áeverim de Faria,
Noticias de Portugal, Disc. 2, cap. 11.
— «A quarta se chama MiU$, cometa
grande, e formoso, da natureza de Vé-
nus; e corre algumas vezes todo o Zo-
díaco. Signilica tauibem esterelidade, por
causa de grande secca, e enfermidades
procedidas da mesma soccura.» Braz
Luiz d'Abreu, Portugal medico, pag, 437,
§ 1U9.
— Umas vezes ; n'uma3 occasiões. —
«E tornando a António de Saldanha, os
Officiaes da sua uáo andaram vendo don-
de nascia o defeito delia, mudando umas
vezes a carga á proa, outras á poppa,
andando com os niastos, ora a ré, ora
avante, e tantas cousas destas fizeram
até lhe acertarem o compasso; e começou
a náo a andar dalli por diante muito dif-
fcrentemeute, e seguindo sua derrota.»
Diogo de Couto, Década 4, liv. 5, cap. 1.
— Duas ou ires vezes ; em duas ou tre^
occasiões. — «A huma pequena estatua
do cera que so punha sobro o Altar, .se
pegavào seis pontas do titã de três cores
diversas, e fazendo andai* a tigura trea
vezes á roda do mesmo Altar, se davXo
três nós em duas }>oatas de titãs qu« ti-
vessem a mesma cor, dizcndo-se que se
davSo nós no amor.» Cavalleiro de Oli-
veira, Cartas, liv. 1, n." 29. — «Para ir
conforme coui o cpitueto pur que el-rei o
designava, tionçalo Lourenço abaixou
duas ou tres vezes a cabeça em sigoal de
acquiesoencia e encolheu os hombroii, co-
mo (juem ignorava que pílula se poderia
ministrar aos niercadoro da Kua-nova,
da Maglalena u de Santa Justa. pAra
liies acalmar o sangue acerca da liberda-
ile commercial.i Alexandre iiorculano,
Monge de Cister, iuiy. lú.
— AUAGIOS E FUOVEUUIOS:
— Dá-m'o de vez, dar-t'o-hci saboroso.
— C^uem luio se escarmei^ta de uma
vez, nfko se escarmenta de tres.
— Quem mal cospe, duas vezes se
alimpa.
— Quem uma vez farta, tiel nunca.
— Quem dá logo, dá duas vezes.
— Quem come e deixa, duas vezes põe
a mesa.
— D'onde esperança homem nSo tem,
ás vezes lhe vem o bem.
— Deshonrou-me minha visinha uma
vez, e eu deshonrei-nie tres.
— Quem mais tem na villa, sete ve-
zes amortece na vida.
— Ao bom comer, ou man comer, trea
vezes beber.
— Quem se não rege, muitas vezes se
dóo.
— A boa filha duaa vezes vem para
casa.
— Uma vez engana ao prudente, e
duas ao innocente.
— A quem o demo toma uma vez,
sempre lhe fica um geito.
— Uma vez no anno, essa com damnu.
— A azeitona, e a fortuna, ás vezes
muitas, e ás vezes nenhuma.
— Quem se acolUe debaixo de folha,
duas vezes se molha.
— Enganastes-me uma vez, nunca mais
me enganareis.
— O dinheiro do avarento duas vezes
veio á feira.
— As vezes corre mais o damno que
a lebre.
— llomem néscio dá ás vezes bom con-
selho.
— Rio torto duas veies se passa.
V£Z.'^DO, part. p<uí. da Vesar. Vid.
Avezado.
VEZAR, V. n. Vi<l. Avezar.
— Vezar-se, v. /<;_//. Vid. Aveaar-se.
VEZEIRA. Vi.l. Vara tU porcos.
VEZEIRO, A, <!((/. Que tem vezo, ou
habito do fazer alguma cousa. Vid.
Useiro.
VEZINDADE, s. /. Termo antiquado.
Visin.ia..i,'a, proximiilaue.
VEZINHANÇ.*, ». /. Vid. Visinhança.
— «Porque »oudo vos muito molesta á
pessoa da mesma casa, ou vesiofaança, se
VEZO
VI
VIA
933
lhe procurardes diffirir com boa obra, e
aflfabirdade, achareis na mesma efficaz
remeiio dessa moléstia.» Frei Bartholo-
meu dos ilartyres, Compendio de espi-
ritual doutrina.
7 VEZINHO, A, alj. Vid. Visinho. —
o 6obrev«;yo neste tempo ao Império
Oriental hum terribel açoute, que logo
se passou ao Occidente, qual foy fi en-
trada dos Hunos com seu Rey Atila, que
savndo das Pauonias onde os trouxera
Ecio, para vingar cõ sua mào os agravos
que tinha do Enipeiador Honório, entra-
rão destruindo a Trácia, e outras Pro-
víncias veziohas a ella em tanto numero
que viiihão cubrindo a terra. » Monarchia
Lusitana, liv. 6, cap. 6. — «E logo ao
outro dia começou a fortaleza nas mesmas
casas em que pousava, por estarem em
lugar próprio para o tal edilicio, por a
agoa bater uellas, pêra segurança du que
mandou derribar tantas casas veziohas
a esta, quantas ihe pareceo necessário, de
modo que fez hum mui espaçoso terreiro,
por onde a artelharia podia varejar huma
boa parte da cidade, e per honra do bem-
aventurado Apostolo Santiago, em cujo
dia esta fortaleza começou lhe poz o no-
me da sua avocaçam. «■ Damiào de Góes,
Chronica de D. Maneei, part. 2, cap. 2.
— «Com que se reoolherào de longo da
aldeã de Benamares que he a principal
daquella serra, situada na ponta delia,
d&sta aldeã, e doutras vezinhas sairam
alguns mouros de pe, e de eauallo que
8eguira3 dom Emanuel ate o tojalinho,
onde os nossos pararam, esperando por
alguns da companhia que ainda nam eram
recolhidos.» Ibidem, part. 4, cap. -42. —
tCom esta ordem caminhou dezassete
dias a oito legoas por dia, e no cabo del-
les chegou a huma boa cidade por nome
Guauxitim, de dez ou doze mil vesínhos
na qual foy aconselhado que se provesse
de mantimento?, porque ja eatào hia muv-
to falto delies.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 123.
Senhor, não ronque.
É honrado,
tem amo cnletieado,
despacha cousas que passam.
Feito mui bem se conheço,
é meu veziítho.
Olhae isso.
.OifOSIO PBE3TES, ACTOS, p3,g. 179.
— f A qual esta cituada em terra cham
cercada de pedra e de taypas he tem dous
mil veziíLhos esta ao les sueste: he muyto
fértil de mantimentos, e fruytas e de muy-
tas criações de gados e camelos e came-
los pretos de gedelha.» Tenreiro, Itine-
rário, cap. 11.
VEZO, s. m. Costume, habito.
E ponhaes tudo em seu peso
e medida, c em seu concruso,
jwrque, crede sem abuso,
que frequentar um máo vezo,
no que é erro, fica em uso.
iSTOxio PBESTEs, AUTOS, pag. 455.
VEZUGO, ou BEZUGO. Vid. Vesugo.
■j- VI. Forma do verbo vtr na primei-
ra pessoa do pretérito perfeito do modo
indicativo. Vid. Vêr.
Agora merecia cu
Hum par de trochadas boas,
Porque fiar nas pessoas
Nunca outro fructo deu.
Bem rj eu que o guinéu
Me vio tudo aqui leix.ar ;
Mas o seu ne^-o pregar
Me levou a mi o meu.
Qn. VICEKIE, FARÇAS.
Ora olhae esta maneira
Pêra bailar com mulher ;
E sabeis como se quer ?
Sempre a volta assi ligeira.
Ora eu quarenta annos hei :
E fí muitos homens ja,
E andei per ca e per lá.
Mas eu nunca tal topei.
Os bons Vi sempre passar
No mundo graves tormentos ;
E para mais mcspantar,
Os mãos vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assi
O bem tão mal ordenado.
Fui máo -, mas fui castigado.
CAU., ttEDOSDILH.AS .
— tPello que aliem do que sei de seu
estado, e vi no tempo que andei per suas
terras, em que a muitas cidades, villas,
castelios, fortalezas, e vassalos, direi o
que tenho alcançado da progenia donde
descendem os Duques de 8aboia.» Da-
mião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 4, cap. 74. — -«Chegou a Setuutd
bem soo muyto noite, e achou a Raynha
muyto mal, e com pouca esperança de
sua vida, de que ácou em estremo triste,
e eu o vi chorar soo muytas lagrimas
com grandes saluços e sospiros, auendoa
ja por morta, e ella foy sàa, e viueo de-
pois trinta annos, e elle falleceo dahy a
hum.» Garcia de Rezende, Chronica de
D. João n, cap. 180. — «Se Deos casti-
gara logo, quantos o offendem mortal-
mente, já não houvera gente no mundo,
e ha Dezembargadores, que dão senten-
ças de morte, por sustentar capricho. E
se na sua maõ estivera, despovoariào o
Reyno. Vi hum Padre da Companhia de
Jesus propor huns embargos, para livrar
hum pobrete da forca.» Arte de furtar,
cap. 49. — «Não se^-, se ponha aqui
huma confiança admirável, que não po-
dia crer até que a vi. Bem he que saiba
Sua Jlagestade tudo, para que o emen-
de com seu Real zelo, e para isso digo.»
Ibidem, cap. 62. — «Se o sermão de San-
ta Engracia estivera em estado de se po-
der lèr, fora com esta, mas como a maior
parte foi por apontamentos, é necessário
informa-lo ue novo, para que seja o que
era. O principio que por lá anda copia- .
do, vi eu antes de vir, mas tem mui
poucas palavras que concordem com o
original, e taes andam a maior parte dos
meus de mistura com outros qne o não
são, e tudo se pôde remediar somente
com a estampa.» Padre António Vieira,
Cartas, n.° 28.
1./ VIA, s. /. (Do latim fia). Cami-
nho.
Depois de ser passada a maior parte
Da noite que soguio a hum tão bom dia,
Quando o sanguinolento, hórrido Marte
Ao moUe e brando somno obedecia,
Sahe hum do combatido baluarte
E á fortale.^a faz direito a via.
Que por nome Faleiro António tinha,
E com pressa lá chega aonde caminha.
F. d'aíidrade, PEiuEiao CKBco DE DIU, cant. 14,
est. 75.
— Figuradamente: Meio, arte, maneira
de conseguir alguma cousa, de preceder,
de negoeial-a. — «E como ella he do gen-
tio mais saluage daquelks partes, toma-
dos os melhores portos, per via de tra-
cto e nauegaçào que os natui-aes da terra
não usaõ, fizeranse senhores, e algums
delies se intitularão com nome de Reys.»
Barros, Década 1, liv. 9, cap. 1. .t,
— Dtsctndencia por via do pai ; oriun^i
da do pai. — «A significação da qual
contêm o seguinte. Aqui nesta grosseira
sepultura está enterrado Sentico, por so-
brencUie Decio, cuja casa e descendência
por via de seu Pay vinha dos Godos,
e viveo neste Mundo sessenta annos. Deu
dignaujeiite a Deus seu espiritu em paz,
aos vinte oito de lulho da era de seis-
centos e .sessenta, que he anno de Chris-
to seiscentos e vinte dous, se- suas abre-
viaturas saõ também conjeturadas como
Ambrósio de Morales imagina.» Monar-
chia Lusitana, liv. 6, cap. 21.
— Pessoa por quem se envia alguma
cousa.
— Via militar; estrada publica.
— Toda via ; ainda, simidtaneamente.
Vid. Todavia. — a Os Mouros como lá
tiueraõ a esta Moura, e o moço, nào qui-
zeraõ dar o mestre, e o ludeu, que já ti-
nhaõ em poder o troco do Mouro honra-
do, se naò cij mães outros três. Soeiro
da Costa, posto que lhe foi gríive cousa,
toda via o fez por saluar o mestre: a
sem mães ganhar cousa que lhes fizesse
perder o nojo deste aquecimento, se tor-
nou a este Reyno.» Barros, Década 1,
liv. 1, cap. 11. — cAiuda que os Chi-
nas comunmente sejam feos tendo olhos
pequenos, e rostos e narizes esniaga<ios,
e sejam desbarbados, com huns cabeli-
nhos nas maçaàs da barba: toda via se
acham alguns que tem os rostos muy bem
934
VIA
VIA
VIAG
feitos e proporoiuiKiiloB, com olhos pran-
tles, barbas bom ])OHtaH, iiariz<!i< bem foi-
tus.» J''r. (iaajiai' (ia (Jm;:, Tratado das
cousas da Chiua.
— Fií;ura'laiiieiit(! : Via (Uj tíunhnr ; ca-
luiiiiio da virtiiilu.
— Via unitiva, ou /niríjutiva ; tornios
do inystica: estado da vida csiiiiituai em
quo a alma anda já unida a Dous, ou
puriiicaiidu ainda as im|jurf'uiçrie8.
— Termo de medicina. Oana.1 do liqui-
do 110 corpo animai, ou do excreinentoa
groaaos.
— A via posterior; por ondo se des-
carrega o ventre.
— Uma via, duas, ou três vias de car-
tas, ou letras de caniòio; um, dons, ou
três contractos do mesmo que vai cseri-
pto em um, para ([Uc pcrdcndo-se um,
chegue outrd.
— Via ordinária; no foro, o modo de
proceder com todas as solcmnidades, em
opposi(_;ão a via summaria, ou abreviada.
— Põr em via ; pôr-sc em caminho, en-
caminhar.
— Via sacra ; devoção que se reza,
parando em estaoõos diante de certas
cruzes.
— Via láctea. Vid. Lácteo.
— Vias de saccessão na governo; as
cartas em que os reis nomeavam sucees-
soreg ao governador que morresse, em
carta corrada, substituindo uns a outros
nas vias posteriores, no caso de ser mor-
to o nomoado em primeiro, segundo, ou
terceiro logar, etc,
— Loc. POP. : Corr&r a via sacra;
ir por casa de todos os conhecidos para
obter alguma cousa.
— Medrar por esta via ; por esto mo-
do, meio.
O douto Accuisio, todo satisfeito
Do podoí- ftranfícafuin Probondado,
Esperando iiiodnu- por esta via,
E vestir alguma hora a roxa inuri;a,
Diguo premio das suas gordas letras,
Lhe envia o Mertachino, o grande O ranha,
Tamborino, Escolano, Spada, o l'iclilcr,
Mcuinaa de seus olhos, tlor, o lionra
Da ran(;osa, indigesta Livraria.
A. D. DA 0RU2, iivssopi;, caut. 3.
2.) VIA, por Vinha, de Vir.
■f 3.) VIA. Kiirma do vèr na primeira
ou terceira pessoa ilo singular do preté-
rito imperfeito do modo indicativo. Vid.
Vêr.
Alli 3C via com pezar profundo
«IA hum amante A bengala eneostado,
Jil rasgar os acenos hun» barbado,
Já fazer rapazias ct^go, e imuuindo.
ADBADE DK JAZGMTK, POESIAS, pUg. 107.
— «O rildalcão, como via com seus
olhos as torras, e também os aggravos
continuados na rcteni;ão quo avaliava in-
justa, cada dia nos acordava com as ar-
ma» seu direito, sobresaltado juntamen-
te com a presença do Meále em <!oa, que
ora veneno quo acomettia o coiaçilo do
Ueino; o entendendo, quo com as eiítra-
das dos seus, subita-s, o furtivas, mais
irritava, que enfraquecia o Entado.» Ja-
cintlio Fndre d'Andrade, Vida de D.
João de Castro, liv. 4. — «Entrando cu
na tardi; da'|uello mesmo dia cm casa
do Conde Tonca so achava alli o Jus-
nianiúti, o correndo com muita pressa a
abraçar-mo disse que me via com muito
gosto havenflo mais de hum mez quo mo
não encontrava. Examinada bem esta
acção jurou seriosamcnto que ello não
tinha estado naqucdlo dia om S. Miguel,
o que eu me enganava dizemlo que o
tinha visto, e que lho tinha falado na-
quclla Igreja. » Cavalleiro d'01iveira,
Cartas, n." 18. — «He sem duvida que
V. A. não esperava receber hunia repre-
hensão por hum elogio, porem quem hc
quo a poderia supportar? Não sui diser
justamente o desgosto, e a raiva que elle
me causou depois de o ler, obrigando-nie
a ter do ndni mesmo grandíssima c(jm-
])aixão, quando entrando em mim, com-
pai-ey cora o que via o que V. A. uie
disia.» Ibidem, liv. 3, n," 60.
Ella com isto menos se entristece,
Anteí tanto poder teve a e3peran(;a
(.{ac ja tornando em si desapparece
A tristeza, em que a pôz sua lembrança:
Também tudo o que via então |)areco
Que com a vèr mudada fez mudança.
Porque quanto ella triste antes tornilra
Com vè-la agora alegre se alegrara.
r. DE ANDRADE, I-EIMKIBO CEBCO DE DIC, MUt. 4,
03t. 49.
rí(i-.<c na Cidade juntamente
Para se defender tamanho espaço,
E que era alli tão pouca a Christàa gente
E provida tão mal de corpos d'aço
Quo poderia ser mui levemente
Por mais forte que tenha e duro o braço
Que desfci defensão cousa nascesse
Por onde. a fortaleza se perdesse.
ininEu, cant. 11, cst. 52.
A linda ('vthcn-a, que então tia
A grave occupação, mais digna e [iropria
Da escara gente a que isto competia.
Nascida IA na torra da Ethiopia,
Que daqnoUa formosa companhia
Em que ella dos seus bous mostrou grãa copia,
Ilavendo-o por atfronta, determina
Tomav disto ving.ança delia dina.
luiDEM, cant. 16, cst. 45.
Adão em tanto jA bpn> conhecido
Da intima miséria em que se ria.
De seus erros mortaes tào convoncido
Quão falto das desculpas que daria,
De vergonha nhuu) bosque recolhido
Aonde só de folhas se cobria,
Em tanta pena, em tão grave tormento
As8Í rompe do peito o sentimento.
BOLIM DK UOIUA, KOVISSIUOS DO llú:UE>(, CSUt. 1,
est. 90.
«Marcoilo Donato coaheceo c«rto
homem de Mantua f>or nome llippolj-to,
que se a ca/o olhava para huin ouriço
(Jacheiro, cabia de rejicnto em hum mor-
tal syncope; e de muvtos escreve, a qaem
succedia o me.tino so olhava'* par:i hum
gato, ou para huma cabru. R«caligero
^•fcrcvo de hum, que se via o» Agrioens,
que nascem na agua, fogia com tal des-
acordo, c medo, como do mais indómito
Tmiro.» Uraz Luiz d'Abreu, Portagal
medico, pag. 17, § 59.
tV-rto Faceto, A mesa d'uin Ricaaao
Via no prato bou s/i cagarria ;
IVixe grosso ia longe,
Pega pois no miuçalho, (c arremedando
Fallar-lhe 6 ouvidoj logo põe á escuta
O ouvido próprio a rectber resposta.
rBAXCISCO UAIOEL DO XASCIMEnO, rABULAS DB
LAVorrAUE, liv. 3, n.* 25.
— f Haverá quasi um mez que me
achei n'uma Casa onde alguém disse quo
se via obrigailo a ir a Londres, onde ea
sabia que todos os F^rancezea estavão re-
gistrados ; por tanto lho pedi com anciã
que se informasse do M. de Senneterre ;
que, no caso que o visse, lhe fallasse : e
elle me prometteo pontual cumprimento
desta minha commisslo; perguntando-me
logo, da parte de quem tomaria easas no-
ticias, < Da vossa parte, Madama? (me
disse. • Francisco ^lanoel do Nascimento,
Successos de madame de Seneterre. —
«N'uma das paredes que corriam lateral-
mente, em relação ás portadas, via-se
um pequeno arco também ogival e cujo
vivo não excederia a decima parte da
área dos dous arcos maiores.» Alexandre
Herculano, Monge de Cister, cap. 10.
f 1.) VIAS, *. /. plur. de Via. Vid.
Via 1).
j 2.) VIAS. Forma do verbo vêr na se-
gunda pessoa do singular do pretérito
imperfeito do modo indicativo. Vid. Vèr.
— «Bem vias tu em que tiuhão de parar
princípios táes, e ainda que eu nada te-
nha que resguardar, com receio todavia
de te não criminar mais, se possivel é
que mais réo não sejas, se n5o escrevo
tudo; e também por me não arguir a
mim mesma, que depois do esforços tan-
tos inutilmente feitos, para que fiel me
fosses, não terás ta de o ser. > Francisco
Maioel do Nascimento, Successos de ma-
dame de Seneterre.
VIADO, s. »)i. Panno de lã antigo, e
próprio para vestir em occasião quo nSo
fosso a do luto.
VIADOR, s. m. (Do latim viotor). Ter-
mo de thoologia. Homem que anda n'e8-
ta vida mortal.
— Vid. Veedor, Veador, e Vedor.
VIADUCTO, í. II). Ponto, ou arcadas
construiilas por cima de uma c^^trada,
rio. ou valle, para a passagem de um ca-
minho de ferro.
VIAGEIRO. A, .«. Viajante.
— Adjectivameute : Viageiras fadigas.
VIAG
VIAJ
VIAO
935
Em viajeiras fadigas se hão penado,
Esto momento só, esta alegria,
Oli qnam sobejo as paga! O sentimento
Quasi devoto com que beja o nauta
As areias da pátria, é por ventura,
Na peregrinação da nossa vida,
— Se exceptuas a morto — o mais solemne.
GARRETT, CAMÕES, cant. 1, cap. 18.
VIAGEM, s. /. (Do francez voyage).
Caminho que se faz por mar.
Espantado ficou da grão viaf/em
O mouro, que Jlonçaide se chamava,
Ouvindo as oppressões que na passagem
Do mar o lusitano lho contava.
CAM., LU3., cant. 7, est. 26.
— oE vindo a monção de se partirem
03 galeoens pêra a índia, se embarcou
D. Joaõ Coutiulio na entrada do mez de
Fevereiro passado, e com elle D. Rodri-
go de Menezes, e juntamente se fizeraõ
à vela, e a nào de que era Capitão Chris-
tovaõ de Sousa Capitão daquellas via-
gens, que havia dous annos que estava
alli esperando pela monção de cravo.»
Diogo de Couto, Década 6, liv. 9, cap.
20. — iPorque nestas primeiras viagens
não mostrou o negocio tanto de si como
com a vinda delles : posto que a sua in-
formação ainda foi mm confusa, pêra o
que nas seguintes armadas se soube da
grandeza daquella conquista. » Barros,
Década 1, liv. 6, cap. 1. — «Na qual
uiagem passou elle Diogo Cam alem des-
te Reyno de Congo obra de duzentas le-
goas, onde pos dous padrõe.s : hum cha-
mado Santo Agostinho que deu o nome
do padrão ao mesmo lugar, o qual está
em treze grãos daltura da parte do sul,
e outro junto da manga das áreas, por
razão do qual se chama o lugar o cabo
do Padrão, em altura de vinte e dous
grãos.» Ibidem, liv. 3, cap. 3. — «Assi
que juntas estas principaes pessoas, e o
Secretario Pêro d'Alpoem, propoz-lhe Af-
fonso d'Albuqaerque o que lhe ElRey
mandava acerca de ir fazer huma forta-
leza no mar Roxo, e também da posse
da fortaleza de Ormuz ; e que quanto a
ida do mar Roxo, alli eram presentes
muitos, que experimentaram os traba-
lhos, que o anno passado acharam naquel-
la viagem.» Idem, Década 2, liv. 10,
cap. 2. — cPassada esta calmaria, se-
guindo sua viagem, os pilotos per ma na-
uegação com medo do cabo de boa Spe-
rança, se poseram em altura de quaren-
ta grãos, da banda do Sul, onde por ja
ser neste tempo Inuorno naquellas par-
tes.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 2, cap. 2. — o Sete dias
avia ja que fazíamos nossa viagem pelo
meyo da enseada do Nanquim, para cõ
a força da corrente caminharmos mais
depressa, como quem só nelia tinha sua
salvação, porem todos tão tristes e des-
contentes, que como homens fora de sy
nenhum de nós fallava a propósito, quan-
do chegamos a huma aldeã que se cha-
mava Susoquerim.» Feriiào Mendes Pin-
to, Peregrinações, cap. 79.
— Jornada. — Toda a viagem foi mi-
lagrosa, — líForão tantas as marauilhas
que o pay de misericórdias nos fez, que
quasi toda a viagem foy milagrosa. Mas
de todas ellas a meu ver, esta do trazer
do leme foy tão notauel, que cuydo pode
ter o primeyro lugar, mercê de Deos,
pêra nòs tã grande, quanto de nòs pêra
elle mal merecida.» Frei Gaspar de S.
Bernardino, Itinerário da índia, cap. 2.
— (I Paulo Lucas na Relação das suas
Viagens Tom. I. pag. 355 diz que as mo-
Iheres do Egypto inferior são extrema-
mente limpas sobre tudo nas suas casas,
e na presença de seus maridos, e que as-
sim differem das Senhoras da Europa,
as quaes servindo-se do mais precioso que
tem para faserem as suas visitas, vivem
ordinariamente nas suas casas com muita
negligencia, e algumas veses com muita
porcaria.» Cavalleiro d'01iveira. Cartas,
liv. 2, n.° 8õ. — o Quanto mais a dita so
me avizinhava, tanto ponderava com pa-
vor os discrimes que poderiam retardá-la,
ou talvez para sempre destrui-la. Escre-
vêra-me Àdolpho, dando-me parte de
quão rápida fora a sua viagem, e eu con-
tava dessocegada os dias.» Francisco Ma-
noel do Nascimento, Successos de mada-
me de Seueterre.
— Antigamente dava-se este nome vul-
garmente á navegação, ou jornada por
mar; e as jornadas por terra eram ex-
pressas pelo vocábulo jornada ou cami-
nho, e sendo longas e em paiz estrangei-
ro, peia palavra peregrinação. Hoje dá-
se este nome para significar umas e ou-
tras jornadas.
VIAJADOR, A, s. Pessoa que viaja, que
viajou.
VIAJANTE, pari. act. de Viajar. Que
faz viagens.
— ■ S. 2 gen. Pessoa que anda fazendo
viagens, peregrinatite.
VIAJAR, V. n. Fazer viagens. — Via-
jar pio- Inglaterra.
— Viajar um cavallo; fazer jornada
larga para conhecer a sua força e ma-
nhas, ou defeitos.
— Viajar terras; percorrel-as.
VIAJEIRO, A, s. e adj. Vid. Viageiro.
VIAJOR. Vid. Viajador.
VIAJEM, s.f. Vid. Viagem, termo mais
em uso, e mais correcto. — Fazer boa
viajem. — «Os senhores, e pessoas prin-
cipaes que hiaõ nesta armada, debaixo
da capitania do Duque, de que aqui po-
nho os nomes, sem na ordem delles po-
der guardar a cada hum o grão, e prece-
dência de suas nobrezas, foram dom loam
de meneses, o mesmo que ja fora sobcla
mesma cidade, como fica dito, o qual se
o Duque fallecera nesta viajem hia no-
meado por capitam geral da Armada,
e avia de ficar por capitam do campo
Rui barreto. Alcaide mor de Faram, vea-
dor da fazenda do regiio do Algarve.»
Damião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 3, cap. 46. — «Quàto a bõs cm .
vossa mão esta serem bons ou. mãos, por-
que não se dizem os annos bons por se-
rem prosperes e de bonança, senam por-
que seruem pêra chegar a bom fim ou
bom porto no cabo deste caminho, assi
como dizemos hum caminheyro ou huma
nao fazer boa viajem quando chegou com
saúde aonde desejaua. Pois sabido cstà
que todo o terapo de nossa vida nam he
outra cousa senão hum contino caminhar
on nauegar pêra o porto da Cidade ce-
lestial.» Frei Bartholomeu dos Marty-
res,, Catecismo da doutrina christã.
-j- VIAM. Forma do verbo vêr na ter-
ceira pessoa do plural do pretérito im-
perfeito do modo indicativo. Vid. Vêr, e
Vião. — «Levaram alli dons fidalgos suas
mulheres para semelhante negociação ; e
deixando-as lá, se sahiram logo. Viam
isto outros, e então disse um dVlles.s
Francisco Manoel de Mello, Carta de guia
de casados. — «Estas viam-se colgadas
de couro lavrado e tauxiado em volta
dos alizares com pregos, cujas cabeças
desmesuradas formavam como um aro re-
luzente aos apainelados. Uma esteira gros-
sa cubria o pavimento enxadrezado de
aiiobes.» Alexandre Herculano, Monge de
Cister, cap. lò.
VIANDA, s. /. (Do francez viande)'.
Cousa de comer.
— O comer com que se ceva a ave de
rapina.
— Pratos, guisados.
VIANDANTE. Vid. Caminhante.
VIANDAR, V. n. Termo de poesia. Fa-
zer viagem, caminhar.
VIANDEIRO, A, adj, e s. Comilão, glo-
tão.
-|- VIÃO. Forma do verbo vir na ter-
ceira pessoa do plural do pretérito imper-
feito do modo indicativo. Vid. Vêr, e
Viam. — «Entam mandou dar huma gran-
de gritada, e tocar as trombetas, e des-
parar a artelharia, com que desencadeou
logo 03 mais dos paraos aos quaes logo o
senhor de Repelim mandou outros em
ajuda, onde forão tantas as bombardadas
de huma, e outra parte, que nem o Ceo,
nem a terra, nem a agoa se vião com
fumo, e chamas de fogo.» Damião do
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 1,
cap. 88. — «<Js quaes ao entrar das ruas
acharam alguma resistência mas os inimi-
gos como homens que vião que o sobre
que se mais auia de pelejar era ja perdi-
do, se somiraõ per outras ruas, ficando
muitos delles mortos nellas, e muito mais
do popular, assi homens como molheres,
e mininos, que foram tantos que corria
o sangue pelas ruas.» Ibidem, part. 3,
cap. 19. — «A que respõdemos que éra-
mos pobres estrangeyros, uaturaes do
936
VIBR
VIBR
VICE
noH JJoiíH Miilvíira (l.-iiiuella iiiaruivra (juc
1K):( viào, a ciuo cila toinoii, jjoi.s, quo
quereis (juo vo.s fayaiiun, ou o quo dctor-
iiiiiiiii.s (ie fazer, iiorque aquv ilIo ha ca-
sa de rejwuso do (lolires ouilo vo» possa-
mos Hf::a»alli.ir. I FeinSo j\Iendc8 Pinto,
Peregrinações, cap. 82. — «Na portada
se vião lious i".ões dourados, sustentando
oní liuuia, o outra tarja as Koelas dos
Ca-itri)s seinpro illustres, a<;ora triuufau-
tos. .Junto ao caos corria liuui dilatado
boH(iuo do arvoredo, quo com interrompi-
das sombras mitifíava o calor, sem oc-
cultar o dia.» Jaciíitli" Freire d'Andra-
de. Vida de D. João de Castro, liv. 3.
VIATIGO, n. m. (Do latim viatíctiin).
Eutro os religiosos, dinheiro quo se lhes
dil paru seus gastos indo d'uiu logar para
outro.
— Figuradamente : Sacramento da eu-
charistia administrado aos doentes em pe-
rigo do vida, a lim de os dispor a passar
d'e3ta para a outra vida.
— Commungou em viatico; sem ter ne-
cessidade de estar em jejum.
VIÁVEL, adj. 2 gen. Termo de medi-
cina. Que apresenta no momento do
nascimento uma conformação assaz re-
gular, e com bastante desenvolvimento
para que as funeções necessárias á con-
servaçào da vida possam executar-se de
um modo mais ou menos duradouro. —
Feto viável. — A creança nasceu viável.
— .Julg(yu-se sempre que as mulheres eram
mais viáveis que os homens.
víbora, s. /. (Do latim vipera). Espé-
cie de serpente mui venenosa.
As Dorcadas iiasâAmos, povoadas
Das irmã.is, que outro tempo alli vivião,
CJuc de vista tot.al sendo privadas,
Todas tves d'luu>i só olho se scrvião.
Tu 8Ó, tu cujas trauijas encrespadas
Neptuno lá nas Aguas aceeudiào,
Tornada ja do todas a mais feia,
De vibora-t encheste ardente areia.
cAu., Lus., cant. 5, est. 11.
— «Porque certo é tprrivel tormento o
que padecem, já os homens, já as mulhe-
res, por esta maldita imaginação; aquém
com não menor propriedade houve quem
chamasse vibora, porque em nascendo
mata a possua ((ue a engendra.» D. Fran-
cisco Manoel de Mello, Carta de guia de
casados.
— Figuradamente : Esta mulher estava
uma vibora; estava nmi assanhada.
— Adagio ií pkoveubio:
— O áspide e a vibora se emprestam
a ])evonha.
reyno de Sião, e que nos perdêramos no | corda tesa pelas duas extremidades exe-
mar cõ hunia grande tormenta, da qual 1 cuta oscillando, a prinmira da parte, ode
outra do sua posiç.lo lixu, a segunda cii-
irc seus jiontos Hxos, (juando uma cau.sa
qualquer desvia in.stantaueauíonte uma
ou outra da posição em que ella se tem em
equilíbrio. — As vibrações d'uma corda
sonora.
— Vibração sonora; o intervallo do
tempo que ilecorrc entro duas voltas con-
secutivas do corpo vibrantio uo mesmo es-
tado.
— Diz-80 também d'um movimento
análogo que anima as partículas d'uraa
membrana estendida, e, em geral, de um
corpo (jualquer. — ^1» vibrações da mem-
brana do tympano.
— Diz-se do ar c dos fluidos elásticos.
O numero das vibrações d'uma colum-
na d'ar está na razão inversa do seu conj-
primouto.
— l:'or extensão : Vibração da voz ; qua-
lidade d'uma voz vibrante.
— Synonvmo de ondulação, fatiando
da luz c do ether. A luz resultava das
vibrações d'um Huido universal extrema-
mente subtil, agitado pelos movimentos
rápidos das partículas dos corpos lumi-
nosos, do mesmo modo que o ar é agitado
pelas vibrações dos corpos sonoros.
— Movimento de oeciUação d'um pên-
dulo.
— Vibração dos pêndulos ; o movimento
de um corpo pesado, ligado por um tio
ou por uma vara a um ponto lixo em
volta do qual descreve um arco.
VIBRADO, pari. pass. de Vibrar.
VIBRANTE, parf. art. de Vibrar. Que
vibra, que está posto em vibração.
— Voz vibrante ; voz potente, que
communica uma espécie de vibração.
— Termo do zoologia. Moscas vibran-
tes ; os ichncumons, porque agfitam con-
tinuamente suas antennas.
— Corpúsculos vibrantes ; pequenos
corpos redondos que, achando-se no bi-
cho da seda, indicam que ó doente da
pebrina.
— Termo de medicina. Diz-se do pulso
que ó ao mesmo tempo grande, duro, es-
tendido, prompto e frequente.
VIBRAR, V. a. (Do latim vibrare). Ter-
mo do jihysica. Executar vibrações. —
Uma corda que vibra.
— Arremessar vibrando.
Termo de náutica.
(Do latim vibratio).
Movimento mui ra-
VIBORDO, í. m.
Amurada.
VIBRAÇÃO, s. /.
Termo di^ ]>a\-sica.
]>ido ([ue unui vara elástica o rigida, iixa
n'unia das suas extremidades, ou uma
Jluda de aspecto a mísera, c 9'c3pautJi :
O Rei contempla o Ceo de fogo armado,
Quos raios ríírn. porque"» lei quebranta,
Quo neçTA A Regia esposa o Régio est;ido :
Do Throno então tremendo se levanta.
Como da morte horrífica assaltado •,
Mais se condensa a sombra escura, c fcfl,
O Ceo fuzila, a terra balaucoa.
J. A. UB MACKIJO, o OBIENTF., CUnt. 5, CSt. 4S.
— Figuradamente : Fazer vibrar ai
cordas sensíveis da alma ; tocar, commO'
ver.
— Vibrar luz.
— Brandir, dar movimento tremulo á
lança, pique, espada, ou chicote.
t VIBRATIL, adj. 2 gen. Termo didá-
ctico. Quo é Buscejitivel de vibrar.
— Termo de phvfiologia. Celhas vibra-
teis; pequciMSHÍnios iílamcntoa qucsSo do-
tados, em c<;rt<i8 aniniaes e cm certos te-
cidos, d'um movimento cãpontaneo alter-
nativii.
VIBRATORIAMENTE, adv. íUe vibrató-
rio, e o suilixo «mente»). De uoi modo
vibratório.
VIBRATÓRIO, A, arlj. Tormo didáctico.
(^ue tem o caracter de uma serie de vi-
brações. — Movimentai vibratorio.
— Relógios vibratórios ; slo os de pcn-
chilc), como alguns de parede.
— Em que ha vibração, ou movimento
para mu e outro la lo.
VIBRIÃO, «. m. Termo An historia na-
tural, (ienero de infusorios de uma figura
linear.
f VIBRISSAS, ». /. phir. (Do latim
vibrifscB). Nome dado aos pellos que se
encontram dentro do orificio das narinas,
e cujo estado pulverulento é algumas ve-
zes um signal utilisado em pathologia
para o diagnostico.
— Termo de zoologia. Diz-se dos lon-
gos pellos isolados, que apparecem nas
narinas, em diversos pontos da face.
— Diz-se, nas aves, das pennas total-
mente simples c piliformes, nos lados das
quaes só se descijbrem barbas raras e mui
curtas.
VIBURNO, s. m. Planta flexivel; vime,
quo Se enreda e enrosca nas arvores.
VICARIATO, «. «I. Funcção, emprego
do vigário. — O vicariato d'tima paro-
chia. — O grande vicariato da diocete.
— Território sobre o qual se estende
o poder do vigário.
— U tempo, durante o qual se foi vi-
gário d"un\a [larochia.
— Jlor.-uia do vigário d'ama parochia.
VICÁRIO, A, adj. (Do latim vieariu$).
Que faz, e sappre as vezes de outro.
•j- VICARIAL, adj. 2 gen. Qne diz res-
peito ao vicariato. — Os deveres vica-
riaes. — As funeções viçar iaes.
VIÇADO, pnrt. pass. de Viçar.
— i-}ue tem muito viço; viçoso, mons-
truoso na sua firma.
VIÇAR, r. a. Tornar \nçoso.
— 1'. n. Tornar-se viçoso. Vid. Vice-
jar.
VICE i,do latim vices'^. Vocábulo que
entra na composiç.^o com outros, e indi-
ca substituição da pessoa no cargo signi-
fic-ido pela outra palavra com que ella se
ajunta. — Vice-iví. — Vice-f'>»»*n/.
" VICE-ALMIR.4NTA, t. f. Primeira em-
bare.tçào de puerra dejK>is da capitânia.
VICE-ALMIRANTADO, s. «i. Cargo de
vicealmirante.
VICE-ALMIRANTE, s. i'i. Outr'ora, ofi-
cial geral que representava o almirante
VICE
VICE
VICI
937
e que tinha a segunda dignidade na ma-
rinha.
— Hoje, oíBcial que tem o logar de
general de divisão do exercito de terra,
e que tem os mesmos signaes distinctivos
que elle.
— Nome dado ao navio que monta
n'uma frota ou n'uma esquadra o official
general, que tem o titulo e a funcção de
vice-almirante.
— Vid. Almirante.
VICE-CHANCELLER, s. m. O que faz
as vezes de caanceller.
VICECÓMITE. Vid. Visconde.
VICE-C0N3UL, s. m. O que faz as ve-
zes de cor,3jl, o que occupa o logar de
cônsul.
— Homem encarregado dos negócios
commerciaes d'um paiz em sua auíencia.
— AqucUe que n'uma residência onde
não ha cônsul preenche as suas funcções.
— Delegado do cônsul.
VICE-CÓNSULADO, í. m. Emprego do
vice-consul.
VICE-DEDS, ou VIGE-DEOS, í. m. Ente
divino que faz as vezes de um Deus su-
perior; diz-se de alguns santos que são
vice-deuses.
VICE-DOMINO. Vid. Vidama.
VICE-GOVERKABOR, A, s. Pessoa que
faz as vezes do governador.
VICEJANTE, pari. act. de Vicejar. Que
viceja.
— Figuradamente: Oração , estylo vi-
cejante nos ornatos.
VICEJAR, V. n. Estar viçosa, erear a
planta, ou tlôr mais folhas das que deve
ter segundo sua espécie, por sobejo ali-
mento.
— Viceja em folhas a planta; quando
dá muitas, com pouco fructo, o que é um
mal.
— Figuradamente : Tornar-se bravio o
animal domestico, e manhoso, com muito
.pasto, e descasco.
— Vicejar a figura de murta, lançan-
do ramos, que a deformam.
— Figuradamente: O rosto viceja cotii
a juventude.
— O coração bem formado viceja em
virtudes; floresce em muitas virtudes,
em analogia á flôi- nas pétalas.
— Figuradamente : A imaginação vi-
ceja em excessivos floreios.
— O luxo das mesas lautas viceja em
lascivia.
— V. a. Dar viço. — O sueco nutriti-
vo viceja as plantas.
VICE-LEGAÇÃO, s.f. Emprego do vice-
legado .
VICE-LEGADO, s. m. (Do latim vice-le-
gatus). < > que faz as vezes de legado.
VICE-MORDOMO, s. m. O que faz as
vezes de mordomo.
VICE-MORTE, s. /. Quasi morte, que
faz as vezes d'e!la.
VICENARIO, s. m. O espaço de vinte
dias.
VOL. T. — 118.
VICENNAL, adj. 2 gen. (Do latim vi-
ceniialisi. Que é de vinte annos, que se
faz depois de vinte annos. — Prémios vi-
cennaes.
VICENNIO, í. VI. (Do latim vicennius).
Espaço de vinte annos.
VICENTE, s. m. Nome próprio de ho-
mem.
— Moeda d'oai'0, que mandou cunhar
D. João III, do valor de mil reis ; tinha
de um lado as armas reaes, e do outro a
efiBgie de S. Vicente sustendo \\m navio
na mào com a lenda — zelator fidei us-
que ad mortem ; corria ainda em 1561.
O mesmo monarcha mandou cunhar tam-
bém meios vicentes.
— Adagio e provérbio :
— Cada feira vale menos como burro
de Vicente.
t VICE-PREFEITO, *. m. O que faz as
vezes de prefeito.
t VICE-PRESIDENCIA, s. f. As func-
ções. a diífiiidado de vice-presidente.
VICE-PRESIDENTE, s. m. O que faz
as vezes de pr"^idente.
7 VICE-PROCURADOR, s. vi. O que faz
as vezes de procurador.
VICE-PRONOMES, s. m. plur. Assim
denominam alguns grammaticos moder-
nos as desinências dos nossos infinitivos
pessoaes. Sendo assim, os nossos verbos
não são pessoaes, por terem todos desi-
nências correspondentes aos pronomes
pessoaes, e, como estas, não fazem pessoal
o infinitivo, nem o farão ás mais varia-
ções verbaes ; porém o caso é que todos
os nossos grammaticos reconhecem os in-
finitos pessoaes tào particularmente pró-
prios do portuguez, e que muito aíjre-
virm a composição, por não advertirem
que o verbo comprehendendo synthetica-
mente no indicativo, e no mandativo a
expressão de muitas noções, como são o
sujeito, o attributo, o tempo, a asserção,
o desejo mandando, ou pedindo, vae-se
decompondo, e perdendo a expressão da
asserção, e do querer, e conservando al-
gumas expressões syntheticas, até que
fic^ um infinito puro, significando somen-
te o attributo verbal abstracto sem cor-
relação com tempos nem pessoas; o que
tolhe que nas línguas as expressões syn-
theticas, ou complexas se decomponham,
e despojem de algum sentido, conservan-
do os seas radicaes, e algumas noções
que exprime conjunctamento. Vid. Infi-
nitivo pfssoal. A analyse ou decompo-
sição do pensamento tem-se feito mais ou
menos nas linguas, e as mais antigas
como a hebraica, e a chineza nào tem pa-
lavras correspondentes ao nosso verbo
ser, e por tanto não analysaram, ou de-
compozeram os varbos adjectivos ou ex-
pressivos de um attributo qualquer tan-
to como nós. Outras linguas exprimem
no verbo o género masculino ou feminino
do sujeito da oração ; outras exprimem a
negação, quando a sentença é negativa.
e muitas outras circumstancias acciden-
taes ao verbo.
Mal é que os educados á franceza vão
desaprendendo o uso dos nossos infiniti-
vos pessoaes.
VICE-PROVINCIAL, s. m. O que fkz as'
vezes de, provincial,
VICE-PROVINCIALADO, s. m. O ofiicio,
o gover;;o de vice-provincial.
VICE-RAINHA, s. /. Mulher do vice-
rei.
— Princeza que governa com a aucto-
ridade d'um vice-rei.
— No tempo dos Philippes em Portu-
gal era a princeza Margarida de Mantua
que goveriava este paiz.
-T^VICE-REAL, adj. 2 gen. Que per-
tence a um vice-rei.
VICE-REI, s. m. Governador d'um es-
tado que tem ou teve o titulo de reino.
— Governador de algumas provindas,
ainda que não tenham o titulo de reino.
— Vice-rei da Catalunha. — O vice-rei
do Algarve, da índia, etc.
VICE-REINA, s. /. Governadora, como
vice-rei. Vi l. Vice-rainha.
VICE-REINADO, s. m. O officlo, juris-
dicção e puder de vice-rei.
— O tempo do governo -de um vice-
rei.
— Districto da jurisdicção de vice-rei.
VICE-REINAR, i-. n. Governar como
vice-rei, em vez de algum rei que sofiEre,
que outrem mande como elle.
VIGE-REINO, s. m. Estado, província
que é governada por vice-rei, e tem mais
graduação que as outras que tem gover-
nadores, ou somente capitães-generaes.
VICE-REITOR, s. m. O que faz as ve-
zes de reitor, em uma corporação, colle-
gio, universidade, seminário.
VICE-VERSA, adv. (Do latim vice, e
versa). Reciprocamente, ás avessas.
VICIADO, part. pass. de Viciar. Cor-
rupto, depravado.
— Mulher viciada; mulher corrupta,
depravada, não virgem.
— Drogas viciadas ; falsificadas, adul-
teradas.
— Escripiura viciada; aquella em que
se fez falsidade.
— Figuradamente: Natureza viciada;
natureza corrupta.
VICIADOR, A, s. Pessoa que vicia, que
corrompe.
VICIAR, V. a. (Do latim vitiare). Cor-
romper, depravar o que era bom.
— Viciar mulher; seduzil-a, deital-a a
perder, deshonral-a.
^— Viciar iinia escriptura, o texto ã'el-
la; alterar, corromper mudando, tirando
ou accrcscentando palavras, etc, falsifi-
car, etc, dar mau sentido, ter má inten-
ção ao usar d'ellas.
— Viciar a alma com o contacto da cul-
pa.
— Viciar-se, r. re//. Corromper-se, de-
pravar-se.
938
VICI
— Apodrocer.
VICILINO, .•>. m. Clmpamol; ave.
VICINAL, adj. 2 gen. Quo ó visinho,
(loH contornos.
— (Jamiaftii vicinal ; caminho, qiio coni-
munica aa villaw o iildc.iaa entro si, cm
opposiçilío a i'f:lrii'/n real.
f VICINALIDADE, s. /. Qualiilarlc rio
uni C!uninliii vicinal.
VICIO, p. m. (Do latim vitium). Falta,
dcí"iMt.(i pliysico, ou moral. — «E pelo
contrairo oi dados a nogocios terrae.s tra-
zem abatidos, c trastornados npiritos, e
quanto mais ocCupani os sontidoH nas cou-
sas da torra, o onclinil os pensamentoá a
cousas bayxas, tanto monos alcuantam o
entendimento ao coo, e penetra cousas al-
tas: porque como diz sam (irogorio: Al-
ma carroçada de cuidados debaixo dão se
alcuãta ás cousas de cima. Isto entendia
bom saneto Augustinho quando dizia, que
a solidão era necessária a nossa mente.
E com razào, porque alli lia inaia azo
pêra a virtude, e luenos ocasião jicra o
vicio.» Heitor Pinto, Dialogo da Vida so-
litária, cap. 7.
Mas como nada disto lhe tirava
A grande discripçào, grande eloquência,
Qiro seu ináo peito em si doutro encerrava
Tacs, quo CO 'os vidos vão a competência:
Aquellc quo algum tempo o conversava,
E disto tinha alguma experiência,
Ha que om Priucipes tição desculpados
Que lhe forão ja tão all'tii;;oados.
r. D'AnnR\nB, priukibo ckeco dk diu, cant. 2,
est. 2.
— «De umas quo se prezam de formo-
sas, não ha para que nos descuidemos.
Que a mulher se conlieya não ó vicio ;
antes antiga opinião minha quo em mui-
tas partes tenho escripto.» Francisco J[a-
noel de Mello, Carta de guia de casados.
— Termo de medicina. Vicio de con-
formai^ão; má disposição d'uma parte do
corpo.
— Disposição habitual para o mal, em
opposiçSo á virtude. — O vicio grosseiro
causa horror.
— Disposição habitual para a pratica
de certo mal moral particular.
— Diz-se das pesso.is viciosas. — Cas-
tigar o vicio.
— ■ O vicio personificado.
— Erro contra as regras d"artc, ou da
sciencia.
— Escripfura sem vicio; defeito, adul-
teração, respançamento, etc.
— Adagio e ruovKunio:
— Não ha manjar quo não enfarte,
nem vicio que não enfade.
■ VICIOSAMENTE, adv. (De vicioso, e o
suffixo «mente». De um modo vicioso.
VICIOSIDADE, í. /. O caracter do que
ó vicioso.
— A qualidade de sor vicioso.
VICIOSÍSSIMO, A, adj. superl. de Vi-
cioso, Mui vicioso.
VIÇO
VICIOSO, A, adj. (Do latim vitiotu»,
de vitium,. Que tom faltas, imperfeições
graves. — V(mfunna<;ãij viciosa.
— Termo de grammatica. Locução vi-
ciosa; locução contraria á regra c ao bom
uso.
— Termo do lógica. Circulo tícíoso;
petição do principio, o idom por idom,
argumentação falsa.
— Depravado, corrupto, adulterado.
— íNào se nega porém ao marido, quo
30 possa mostrar galante com as damas,
e senhoras, (piaiido a occasião fôr de ga-
lantaria ; porque esta obrigação é de bom
sangue; e como nào seja viciosa, antes
virtude, pelo menos politica, não obriga
contra ella o matrimonio. As próprias
mulheres, se são generosas folgam que
seus mariílos se mostrem cortezãos onde
o devem ser. • Francisco Manoel do Mello,
Carta de guia de casados.
— Fallando das jicdsoas, entregue ao
mal, ao deboche. — Virtuoso sem mérito,
e vicioso sem crime.
— t^uc diz respeito ao vicio, que lhe
6 relativo.
VICISSITUDE, s. f. (Do latim vicissi-
tudo). Mutlança de cousas quo suecedem.
— Variação.
— Instabilidade das cousas humanas,
disposição que oUas tem para se muda-
rem.
— A própria mudança devida á insta-
bilidade das cousas. — As vicissitudes do
mundo.
— Plur. As voltas, revezes, alternati-
vas da fortuna, do mundo physico ou mo-
ral.
VICISSITUDINÁRIO, A, adj. Exposto a
vicissitudes, alterações, revezes do bem
ou mal, ctc.
VIÇO, s. m. A viveza da planta, ou
llôr, bem vegetada, bem nutrida; a alte-
ração feita em planta, ou flor, por sobejo
nutrimento.
— A altiveza e desassocego originado
do mimo.
— Viço do animal; o bem nutrido d.'el-
le, a inquietação, o braveza que elle cria
por bem nutrido, descançado e amimado.
— Kegalo, luxo, mimo no tratíimento.
— O viço da mncidade, da belleza.
— Mimo de bom trato.
— Creado a gran viço ; com muito mi-
mo e liberdade.
— Figuradamente: Crescia-me todo o
viço da ís/ii'ra))i;a.
VIÇOSAMENTE, adv. (Do viçoso, e o
suffixo «mente» . De um modo viçoso.
— Com viço.
VIÇOSÍSSIMO, A, adj. superl. de Vi-
çoso. Mui viçoso.
VIÇOSO, A, adj. Que está fresco, ve-
geto, vivo, nutrido. — Flor viçosa.
— Terra viçosa de rios, fontes, cria-
ção, fructos, ele.
— Cidade viçosa ; abundante de cou-
sas de regalo.
VICT
— Coberto de verdura viçosa. — iHe
muito viçosa daruoredoí, fontes, abastada
de caças, carnes, pescados, e fruitas de
palmeiras, e doutroa géneros, e muiu, c
boa despinho, e ahhI de aroz, milho, iaha-
mos, canas diiçucar, c gengiure, que co-
mem verde, sem o secarem, nem o tem
por merea/Joria, a nella muita* minas de
prata a qual ellea apuraò mal, e por isso
a usam de muito baixa lei, em cadcas,
anéis, e outras ji>ias, dizem que ahi mi-
nas douro, e outros metaes de que se na<"5
logram por os naõ saberem tirar. > Damiio
de (iões, Cbronica de D. Manoel, part.
2, cap. 21.
Ku vejo hum Cco mais puro, c %-cjo ctenu
Mais doce Primavera, c mais ricota,
Mais recendentes, varisdn^ florou,
Delicioííi sombra, anicims boAqucs,
Oude habita o prazer, onde o gusiUTO
De equilibrado Zéfiro sunvc
Socego, e paz inspira, c a mente eleva
Do Focta, o Filosofo á «ublimo
Contemplação de maravilhas tantas.
J. A. DE JIACKt>0, TIAOKX KXTATICA, Caut. 1 .
Xovo Anacharsis
Co 'o pensamento rápido paâ»cio
Do Divino Platão n.as áureas salas,
E de Epicuro noâ .lardins riçofOf,
A sombra vou do Pórtico da E«t<Sa.
IDEM, MKDITAÇÂO, Cant. 1.
— Que está luxuriante, e tem folhas
de mais da sua espécie.
— Homem viçoso ; que é mimoso no
trato de sua pessoa.
— Fil/f) viçoso ; filho mimoso, trata-
do com mimo, e perdido por isso.
VICTIMA, s. /. (Do latim vietima).
Entre os pagãos e os povos selvagens,
creatura viva offerecida i divindade.
— Entre os judeus, animaes que se
immolavam em sacrificio. — Vietima pro-
piciatória. — Vietima d'erpiaqão.
— Termo de theologia. A vietima of-
ferecida peia salvação dos homens; Je-
sus Christo.
— Figuradamente : Aquelle que é im-
pressionado d 'alguém golpe.
— C> animal ou pessoa que se mata em
sacrificio a alfrumas divindades.
Em si vê Sylla, que, deixando Homa,
Comaipo niosmo leva os crime» todos ;
Algo/. 110 corai;ão, n'alma tjTanno.
Nào Sylla Cousular, mas Sylla obscuro,
Inda he seguido das funest.is sombras
Das victimíw, quo dera outr'ora A morte,
j. A. or. MACRDO, Mr.DrrAçÃo, cant. 1.
— Figuradamente : Aquelle que se sa-
crifica aos interesses, ás paixões dou-
trem.
E do Ostracismo a rictima não fora
Aristides inodcãto. E tu, daa Gentes
Soberana u'hum tempo, sgorm eseriva
VICT
VICT
VIDA
939
De hum Déspota brutal, Eoma, coutaste
Entre immortaes Democratas a muitos
Alumnos da Virtude austera, e santa.
J. i. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Caut. 1.
VICTIMADO, part. pass. de Victimar.
VICTIMAR, V. a. Tornar victiina.
— Matar, sacrificar victimas.
VICTIMARIO, s. m. (Do lafim victi-
mar iust. íSacerdote que nos sacrifícios gen-
tios immolava as victim;as.
VICTO. Vid. Vito, termo mais em uso.
VICTOR ido latim victor). Termo com
que se applaude ao vencedor.
VICTORIA, s. f. (Do latim victoria).
Vantagem alcançada sobre os inimigos
n'uma batalha, n'um combate. —7 Triíiín-
phador de tantas victorias. — As portas
da victoria.
De tamanhas vícíoríos triumphava
O velho Affonso, Príncipe subido.
Quando quem tudo em fim vencendo andava.
Da laro;a e muita idade foi vencido.
A pallida doença lhe tocava
Com fria mão o corpo eofraquecido •,
E pagarão seus annos deste geito
A' ti'iste Libitina seu direito.
cAjf., Lus., cant. 3, est. 83.
— f Senhoras, respondeu o do Salva-
gem, quem tão boa mostra de sua victo-
ria leva comsigo não ha de querer per-
del-a por nenhuma cousa : bem me lem-
bra a mim que vos poderia lá levar ;
mas, porque é deixar-vos, o não farei
por nenhum preço. Já hei de esperar
que me vença alguém e vos leve, inda
que quem é de vós vencido mal o pode-
rá ser d'outrem.» Francisco de Moraes,
Palmeirim d'Inglaterra, c;ip. 117. —
«Huns ajudando a carregar, e bornear
as peças da artelharia ; outros em refor-
mar as ruinas, e em outi-as semelhantes,
6 necessárias occupaçoens, de sorte que
todos derão muito grandes esperanças
no animo com que acodiaõ a todas as
cousas, e na alegria que mostravaõ nos
trabalhos, de huma muito certa, e gran-
de victoria.» Diogo de Couto, Década 6,
liv. 2, cap. 1. — «Esta victoria que o
Vicerei ouue da armada do Soldaõ de
Babilónia, foi o principio da demiiiuiçaõ
de seu estado, ate lho Selymaõ Empera-
dor da Turquia tomar, e o matar, o que
aconteceo no anno de M. D. vxj, e erào
tamanhos os direitos que lhe pagaua das
especiarias depois de as trazerem de Ca-
lecut á índia, e de ahi as leuarem a Cay-
ro, e do Cayro a Alexandria, que se ti-
nha pelo milhor, e mais sustaucial de to-
das suas rendas. i> Damião de Góes, Chro-
nica de D. Manoel, part. 2, cap. 40. —
€ Pouco tempo deixarão a D. João de
Castro descauçar no gosto da victoria,
porque logo para negocio de maior cui-
dado, tornou a vestir as armas, como re-
ferirei mais largamente, ainda que con-
tra meu costume ; por não truncar a His-
toria, buscarei princípios afastados.» Ja-
cintho Freire d'Andrade, Vida de D.
João de Castro, liv. 1. — «Já neste tem-
po estava arrasada a Fortaleza, e os
Portuguezes, em lugar de muros, defea-
dião suas mesmas ruinas; o inimigo den-
tro dos baluartes ás portas da victoria ;
os mantimentos, huns erào pelo tempo
corruptos, outros, pela qualidade noci-
vos, de que resultavão doenças de tão
má qualidade, que os sãos recebião maior
damno do contagio, que da hostilidade.»
Ibidem, liv. 2. — «E.eprehendião os pri-
meiros, que assentarão pazes com o Es-
tado, e aos que agora intentavão que-
brallas; estes, porque não sabiào guardar
a fé, nem aquelles conhecer a injuria.
Outros (como costuma succeder nas cou-
sas incertas) discorrião ao contrario, e
acliavão tantas razões para a guerra,
como para a victoria.» Ibidem. — «O
Governador ainda peleijava no Campo,
soUicito da victoria dos seus, certo na
sua, quando lhe chegou aviso, que a Ci-
dade estava já rendida. Mas Kuraecão,
pondo tropeços á victoria, tornou a re-
bentar, como mina, com oito mil solda-
dos, ordenando-se em forma de dar, ou
esperar nova batalha; que era o poder
tão grande, que das reliquia^ do seu es-
trago fez outra nova guerra.» Ibidem, liv.
3. — aO Padre Xavier o socega. Pro-
gnostica a victoria ; e annuncia o modo
delia. Cuidados do Hidalcão. Manda gen-
te á terra firme. D. Diogo de Almeida
lhe sahe. O Governador o faz recolher;
e põem esta guerra em conselho. Dilata-
se para outro tempo. Exercita guerra na
paz. Favorece os soldados. Tem avisos
de Diu. Communiea-os ao Senado, e pe-
de-lhe ajuda.» Ibidem, liv. 4. — «Sobre-
saitado o Hidalcão com a presença do
Meále em Goa, tentou com o remédio
das armas purgar estes receios : e por-
que as guerras de Diu tinhão hum pou-
co desangrado o Estado, crendo acharia
no Governador confiança, ou descuido
nascido das victorias, sabendo a Cidade
de Goa o tinha ausente, acometteo as ter-
ras de Bardcz, e Salsete, que assegura-
das na paz, estavão sem defensa.» Ibi-
dem. — «E ainda que prohibiraij ás mo-
Iheres o raparse por naõ engrossarem a
graça, que lhe dà a primeira lanugem ;
e fossem contrarias a esta arte as leys
de Lvcurgo, e reputados por seos inimi-
gos os povos Euboicos, com tudo para
credito delia basta que Alexandre Magno
a pezasse em muyto, pello grande deze-
jo que teve de que os Macedonios rapas-
sem as barbas, dando por razaõ que che-
gando às mãos com os inimigos, podiaõ
servii'-lhe os cabellos de preza, e por es-
ta cauza perderse a victoria, como nota
Plutharco.» Braz Luiz d'Abreu, Portu-
gal medico, pag. 116.
— Diz-se de vantagem ganha sobre
um combate singular.
— Figuradamente : Triumpho qual-
quer.
— Figuradamente : Acto de fazer ce-
der suas paixões, seus sentimentos a al-
gum dever, a alguma obrigação.
— Figuradamente : Alcançar victoria
das paixões, do inferno, etc.
— Divindade dos pagãos, representada
sob a figura d'uma mulher com azas, e
tendo uma coroa n'uma mão e na outra
uma palma. — Estatua da Victoria.
Da in.stavel Sorte a súbita mudança
Em si vê de continuo, em si cõutempla
Mário entro os restos de Carthago occulto,
Que o triste pão mendiga, onde a Victoria
Lhe cingira de louro, outr'ora, a fronte. "
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, CaUt. 1.
— Syx. : Victoria, triumphx).
Victoria é o acto de vencer, e a van-
tagem que se obtém sobre outro, ven-
cendo.
Triumpho é a ostentação da victoria,
ou a solemnidade com que ella se cele-
bra em honra do vencedor.
João de Castro ganhou a victoria em
Diu, e teve seu triumjjho em Gôa.
Em sentido figurado, triumpho ó uma
grande victoria.
VICTORIADO, part. pass. de Victo-
riar. Applaudido.
VICTORIAR, V. a. Dar victoria, applau-
dir dizendo victor.
f VICTORIANNO, A, adj. — Período
victorianno ; multiplicação de dous cy-
clos, o solar de vinte e oito annos, e o
lunar de dezenove, que faz quinhentos e
trinta e dous annos inventado por Victo-
rio de Aquitania, no 5." século, para a
festa da Paschoa.
j VICTORIATO, s. m. Termo de anti-
guidade romana. Peça de moeda de pra-
ta valendo cinco asses, com a effigie da
Victoria.
VICTORIOSAMENTE, adv. (De victo-
rioso, e o sufSxo << mente»). De um modo
victorioso, com muita vantagem.
— Com victoria, com vencimento.
VICTORIOSISSIMO, A, adj. superl. de
Victorioso. ilui victorioso.
VICTORIOSO, A, adj. (Do latim victo-
riusus, de victoria). Que ganhou a vi-
ctoria.
— Que alcançou victoria.
— Vencedor.
VICTRICE, adj. f. (Do latim victrix).
Vencedora, victoriosa.
VICTDALHAS, s. f. Vid. Vitualhas.
VICUNHA, s. /. Termo de historia na-
tural. Quadrúpede das índias de Hespa-
nha, cuja lã é finíssima.
— Alguns dizem vigonha.
VIDA, s. /. (Do latim vita). O estado
do animal em que faz as funcções natu-
raes, e animaes; em opposiçào á morte.
Ja não defenderá somente os passos.
Mas queimar-lhe-ha lugares, templos, casas:
940
VIDA
VIDA
VIDA
Accoso do ira o oilo, nilo vitiido laH40»
Aqiiollm f|U(! iis cidad«^ fazem raaftH,
l''.ini (|ui! OA «riim, da ridn pouco r.My.i^vif,
Cominnttilo o l':ic!ii!CO, c(ii(: tnm nfl:iH,
Poi- dons passo» iriiiiin tnmpo : iiiiin vo.indo
D'hum iroutro, tudo inl dosbarutaiido.
oAM., LU3., eant. 10, est. 10.
— f() Mouro asHoinbruilo com OHta
rospostíi, foi-.sc :i Ellluv, r. t!f(,'iin(lo we
(Icpoin aoiiljii no {!on.si!llio d'EIHtiv, hou-
ve fíramlo confu.são, porquo o.s hoiiicn.H,
cuja vida oní nofíocio, u trato, seu voto
ora o (|uo soinpro (li.tsoratn, quo hg re-
mi.sso tuilo per qualquer soma de dinlioi-
ro.» Barros, Década 2, llv. G, cap. .T.
E asHÍ d'honra c d'amor estimulado
Faz com tal apparato ertta partida,
Qual convinha ao grào pr(;í;o, ao graúdo estado
Daipiolla com niiom manda o go.sto c a vida:
K vendo olU^ ja tudo apparclhado,
l'j quo il partida o vento as uáort convida,
Mauda-a.H ii- o outro dia naquella hora
Quo deixa o bcUo espoáo a bolla Aurora.
KBANCI3C0 d'aNDBADK, I-BIMEIRO CEBCO DE DIU,
oant. 3, est. 98.
O' prcaento do Cco, docn Virtudr^,
O' voz do consciência, ú voz do Kteruo,
Trazes ao Mundo a paz, sabor á vida.
J. A. DE MACKDO, MKUITAÇÂO, Cant. 1.
— Tirar a vida a alguém; matal-o,
pi-ival-o da vida.
Com força não, com inauha vergonhosa
A vida lhe tiraram, que os espanta;
Quo o grande aperto em gente, inda que houroaa,
A's vezos leis magnânimas quebranta.
«AU., LU»., oant. 8, est. 7.
— oE tomando o eainiuho para Lis-
boa, onde el Rei estava, foi avisado quo
levasse comsirro {^cnte do f^uerra porque
seus contravio.s tratiivão de lhe tirar a
vida.» Frei líeroardo de Rrito, Elogios
dos reis de Portugal, continuadua por
D. José liarhosa. — ■ «Esta condição me
pareceu mais acerba que a morte, e ex-
clamei: Tiranos, ó rei! a vida, mas não
nos tractes tam indig^naraente: sabe que
sou Telemaco tilho do sábio Ulysses rei
de Itliaca: bu-^co por todos oa mares a
meu pae; e visto não poder encontral-o,
nem tornar á minlia pátria, ou evitar o
captiveiro, priva-me antes da vida, que
ja me c insnpportavel.» Telemaco, tra-
ducção de Manoel do Sousa, e Franci.ico
Manoel do Nascimento, liv. 2.
— Foliando da vida do hoiiiem. — «E
assim como fallando Job do ser, nasci-
mento, o vida do homem : Hotno natiis
de muliere, bmvi, vivens tcmpore, naõ
apontou causa alguma, suppondo que era
a vontade de Deos: assim lallando das
misérias: Iicjd-elur imthis miseriis : a naõ
apontou, suppondo, que era a disposição
do mesmo Senhor.» i';ulro Jlauoel Ber-
nardes, Exercícios espirituaes, part. 1,
pag. 242.
— Oi prazeret da vida ; aH alc)çria«
d'o8to mundo. — t Por isso reputo como
monstruos aqueilo.4 coraço'!n8 inBCUHivoiri,
o capaises d.; resintir aos cfreitofl do sou
poder, ou como doentes atacados de hum
letargo, os quacs sem receberem a morto
estão privados de todos os pra/.cros da
vida.» (Javuileiro d'01ivoira. Cartas, liv.
1, n." 2'J.
— Vida d$$«ançada; viila soccj^ad»,
tranquilla.
Kauorccido cstaiia o Sousa e posto
Km grão contrntc, o viita descansada.
Abastado de bens, logrando iielles
Tiio formosa, c tio branda companhia.
(,'om su|)ita mndan(;a a pos em tanta
K tal tribulação, tendo presente
A cada passo a morte (|ue descanso
Lhe fora, por não vt^r tanto mal junto.
uouiK ar.AL, NAurHAuio i>K si'.i'L!L.VKnA, oant. H.
— Ter vida; ter modo do vida, fazen-
da, património.
Tanto em mi pôde este amor.
Que a tcjilio recebida ;
E se o erro icravo for,
Aqui ciucro ser pastor :
Dcixe-rac ter esta vida.
cAu., i-iLODKuo, act. 4, BC. G.
— As vidas escapavam; salvavam-se.
Eis as lanças e espadas retiniam
Por cima dos arnezes: bravo estrago !
Chamam, segundo as leis que alli seguiam,
Huns Mafamedo, c os outros Sauct-lago ;
Os feridos com grita o ceo feriam.
Fazendo de seu sangue bruto lago,
Onde outros meios mortos se atfogavam,
Quando do ferro as ridos escapavam.
0A51., Lus., caut. 3, est. 113.
— Outra vida íyiíe ha de vir; outra
vida futura, depois thi morte. — nConse-
Ihoyro, Ueos, Forte, pay da outra vida
que ha de vir, Princijio lie paz. Também
na oraçam <ia me.sma Missa .«e toca a
dita coniparaçam, dizendo assi a Sancta
Madre igreja ardentissiuiamentc. Deos
(luc esta saoratissinia noyte fizeste escla-
recida com o nascimento da verdadeyra
luz, danos pois na terra conhecemos o
inv.sterio da luz, que também no ceo tro-
zemoa de seus prazeres.» Frei Bartholo-
meu dos Martyres, Catecismo da doutri-
na christã.
— Bioprapida, historia do que alguém
obrou liurante a sua vida. — «Remeto o
mais deste negocio aos que depois de seu
falecimento tomarem a cargo escrcuer
por extenso toilo o proce.?.-o de sua vida,
e taudiem aquelles que composerom a
Chroiuca dei Hei dom Sebastião) seu so-
briniio, onde como em sou próprio lugar
se pudera com mor licença dizer o modo
e maneira com que gouernou o tempo
que lhe couber uesto tâo trabalhoso car-
go.» Damião do (ioos, Chrouica de D.
Manoel, part. 3, cap. 27. — t E aindft
que a vida doo Sant<JM he huma d&i prin-
ci[)acs cousas porque lhes chama Christo
sal da terra, também a sua doutrina be
grande parto para lhe» quadrar ente no-
me, e de luz do mundo, pois o cmkc-
cimento de Doou, c do seus mii>t«rÍ9)i, do
qual naco o seu amor o temor, ]>olias
orelhas entra na^ aluíam, como di2 B. Pau-
lo, e polia jtregaçAõ.» Paiva d'Andrade,
Sermões, part. 1, pag, laf».
— T*r vida ; vivor, dar signaoé de
vida.
Os Christilos de que ja disse (friniciro
Que & fusta de líaudur vAo dando c-iça.
Não querendo nenhum ver derradeiro,
A grilo pressa os detciu c os embaraça.
E juntamente o fracr> c ril Rcmoiro
(A qnc enliio com cruel morte ameaça.
Quando tinha indu riila, o mo;o ousado i
Scguo o caminho monos u|irciMulo.
FBAIfCISCO dVkDRADE, rSIMKIBO OMCO III! DIC,
eant. 7, est. 49.
Cousa he esta que espanta em b4 oavílla
E inda alguém a terá por de.satino,
Mas bem o prova Uarpalicc c Camilla
V. a que foi nmlher d'hum. mie d'outro Sino.
l'orque a causa, a quem bem qner »dvertilla.
Do esforço destas, d'alto4 peitos dino,
S/j de necessidade foi nascida
Ou do Reino, ou do pac, ou do ter vida.
iBiDiM, cant. 16, est. 3.
— Escapar com vida ; nalvar-se do pe-
rigo da morto. — tAchon-se este Princi-
pe em cõpanhia delRoy D. Koilrigo seu
primo, na grande batalha de (íuadalete,
e quando se acabou de penler, retirado
em cíjpanhia dos que se salvarão com o
beneficio da noite, se foy direito a Tole-
do, crendo, que se eIRey escapara com
vida, não deixaria de acudir alli, como a
lugar em que deixara a^ melhores pren-
das que tinha.» Monarchia Lusitana, liv.
7, cap. d.
— Partir da vida presente; morrer,
expirar, dar a alma ao Creador, perecer.
— «Chegado a noventa e nove annos de
sua idade, segundo a melhor opiniSo, se
partio da vida presente na Cidade de
Epheso, couio he a mais certa e comum
opinião em que com Tertuliauo, S. Jcro-
nvmo, Euthimio e Be<ia conforma grande
immcro de Santos.» Ilonarchia Lusitana,
liv. 6, cap. 7.
— Frender-se á vida ; ligar-se a ella,
unir-se a ella. — «Mas nem esse retiro
me deixarão ; quo não pude, nem tratei
lie me esquivar ao decreto que encAroo-
rava todos os parentes lio emigrados : nem
eu j:l me prendia á vida, senão por um
vinculo de religiosa resignação : e vendo-
nie privada da consolação de receber no-
vas do meu Adolpho, angustia'ia com 08
fados que o aguardarão, houvera agra-
decido aos venlugos a vida que me tiras-
sem. Nesses instantes horrorosos mais
ânimo era necessário para j>odir vida,
que para dispôr-se á morte.» Francisco
VIDA
VIDA
VIDA
941
Manoel do Nascimento, Successos de ma-
dame de Senelerre.
— N'esta vida; n'ostò muudo, u'este
valle de lagriuiaa. — «O nome do maclio
era Qniay Xingatalor, e o da fêmea,
Aponcapatur, e pregnntando nós aos cliins
pela sigiiilicação daquellas iiguras, iios
responderão, que o maclio era o que as-
soprava com aquellas bochechas tão in-
chadas o fogo do inferno para atormentar
as almaa daquelles que nesta vida lhe
não davão esmola, e a fêmea era, a por-
teyra do inferno.» Fernão Mendes i^into,
Peregrinações, cap. 90. — «Diz Aristó-
teles no decimo das Ethicas, que neste
conhecimento e contemplaçam consiste
principalmente a mais excellente bem-
aueaturança que se pode nesta vida al-
cançar. E porque morrer he apartar se
a alma do corpo, e nesta contemplaçam
está a alma separada delle, deixando os
sentidos, c aleuantandose no entendimen-
to, alienada do exterior que distrahe, c
metida no interior, que vne, posta no
centro de si mesma, chamou Sócrates a
isto meditaçam de morte.» Heitor Pinto,
Dialogo da Lembrança da morte, cap.
7. — «E quem chegar a esta felicidade,
logrará a mayor bemaventurança, ainda
nesta vida, e livrarse-ha dos infernos
deste muudo; que infernos vem a ser to-
das suas couzas nas penas, moléstias, e
tribulaçoens, que causaõ, até quantlo se
gozaõ; e por isso com muita propriedade,
e razão lhes chamou Chriato espinhos.»
Arte de furtar, cap. 70.
— Privar da vida; matar, tirar a vi-
da. — «Contra este se levantou Abdaia,
de geração de Abem Alabeci outro neto
de Mafoma, que rompendoo em batalha,
o privou lio império e vida, e neste tem-
po se dividio o senhorio dos Mouros em
tantos Príncipes, que veyo a diminuir
cm grande parte o estado e grandeza de
sua monarchia.» Monarchia Lusitana, liv.
7, cap. 10.
— Ojjerecer as vidas; dar como oífer-
ta as próprias vidas. — «O Governador
mandou juntar o governo da Cidade a
quem deu cópia da carta de D. João Mas-
carenhas, pedindolhe o ajudassem, para
acabar de domar, ou reduzir este inimi-
go ; e ainda que esta exacção os tomava
sobre tão fresco empenho, foi a proposta
do Governador tão grata a todos, que lhe
offerecêrão as vidas, e as fazendas, co-
mo se fora o serviço do Estado alimento,
e herança dos tllhos que criavão. » Jacin-
tho Freire d' Andrade, Vida de D. João
de Castro, liv. 4.
— Guardar as vidas ; poupal-as. —
€ Afonso dalbuquerque se foi a cidade de
Goa, onde mandou fazer execuçam nos
arrenegados, guardandolhes as vidas, co-
mo IJcara assentado nos concertos das
pases, mas pur exentplo doutros não fa-
zerem o que estos fezerâo, lhes mandou
com pregão cortar as orelhas, narizes, o
as mãos direitas, e os dedos polegares
das esquerdas.» Dami^^o de Góes, Chro-
uica de D. Manoel, pirt. 3, cap. 3.
— O tempo que dura a vida.
Este animal furioso
bo uamora sem concerto,
Poii uão ama em logar corto.
Este animal delicado
Não sei porque cansa a vidji
Traa quem tem certa guarida.
GIL TIOHTI, rABÇXS.
— «O gigante vendo morta a cousa que
mór bem queria, e em quem queria sua
vida se sustinha, não podendo relrear es-
ta dôr com o pi-azer do nascimento de
seu tilho, teve tamanho poder a paixão,
que em poucos dias morreu.» Francisco
de Moraes, Palmeirim d'Inglaíerra, cap.
7(3. — "Queria, senhora, que me disseseis
que esperança terá minha vida, pois a
que me sostem té agora, é a em que me
pozestes vós, que tào confiado me fez,
que poude passar os dias e suster-me con-
tra o cuidado que me atormenta. Quem
tão bem sabe mostrar o que quer, disse
Dramaciana, uão se ha o de tratar com
esquecimento.» Ibidem, cap. 135. — oOs
corações grandiosos nam podem repou-
sar, passam esquivas penas : encurtam a
vida por estenderem a fama.» D. Joan-
na da Gama, Ditos da freira, pag. 36.
— «Foi devotissimo de tí. Lazaro, e por
seu amor fazia grandes estremes de cari-
dade, o que lhe o Santo pagou appare-
cendolhe duas vezes na vida, e anuun-
ciando-lhe o tempo de sua morte, e na
agonia da qual o achou sempre presen-
te.» Fr. iiernardo de Brito, Elogios dos
reis de Portugal, continuados por D. Jo-
sé Barbosa. — «Diga pois cada hum con-
sigo: De que me queixo, de que me des-
consolo tanto ; ou porque se me faz taõ
difQcultoso o padecer V Naò he certo que
esta vida acaba brevemente, e a outra
dura para sempre'?» Padre Manoel Ber-
nardes, Exercicios espirituaes, part. 1,
pag. 241. — oD. Afonso etc. Carta de
Fornam lopez guarda das escripturas da
Torre perque o dito senhor pelos gran-
des trabalhos, que elle a tomado, e ain-
da a de tomar em fazer a Chronica dos
feitos dos Reis de Portugal lhe pos de
mantimentos em cada hum mes em toda
sua vida em a sua portagem de Lisboa
quinhentos reaes de mantimentos.» Da-
mião de Góes, Ghronica de D. Manoel,
part. 4, cap. 38. — «E a vida dura mui-
to mais. Nam he inconueniente, respon-
deu o mathematico, chamar-se huma mes-
ma cousa longa, e breue, segundo diuer-
sos respeitos : hum monte podese chamar
alto em re.ípeyto doutro baixo, e baixo
em respeito doutro alto, como allirma
Aristóteles nos predicamentos : assi o
tempo de dez aunos he logo cotejado
com hum mes, mas em cõparaçã da eter-
nidade diz Séneca escreuendo a Lucillo,
que ho tam breue, que se copara a hr.m
põto e menos ainda...» Heitor Pinto, Dia-
logo da Justiça, cap. 1. — «Pertendia
V. M. fidelidade de sua Fermosa? Isto
não seria erio se ella não tivesse tida
outros amores que os seus, e se V. M.
não tivesse também amado outra pessoa
em toda a sua vida ; porem nós sabemos
que ella teve já diíferentes inclinaçoens
que acabarão, e apesar de huma expe-
riência convincente, imaginava V. M.
que devia durar para sempre o amor que
lhe inspirava.» Cavalleiro de Oliveira,
Cartas, liv. 2, n." 99. — fComo eu não
acceitei o offerecimento de M. Birtou,
que deixava comigo qual de suas filhas
mais quadrasse para minha companhia,
fiquei só na minha quinta : que situações
ha na vida, em que dá menos enojo a
soledade, que as distracç!5es a que por
condescendência nos prestámos, sem qne
estas nada obstante produzão efteito al-
gum nos pensamentos que incessante vos
oceupào.» Francisco Manoel do Nasci-
mento, Successos de madame de Sene-
terre.
— J£m vida ; em quanto vivo, duran-
te o tempo em que vivia. — Em vida te
adorou. — «Ficou o Reverendo Padre
Pregador attonito com tal caso, que hou-
vesse homem no mundo, que restituísse
em vida, e disso aos ouvintes milagres
do sugeito ; e que podendo melhorar de
capa com aquelle achado, o naõ fizera,
estimantlo mais a paz de sua alma, que
commodo de seu corpo, e que em hum
daquelles eraõ bem empregadas as esmo-
las.» Arte de furtar, cap. 1.
Em rida to adorou ; na morte... A morto,
Quem, senão tu, á ingrata ih'a ha causado?
Saudades a privaram da existência.
Cousola-me que ao monos não gosaste
Tanto amor, tenta fé, tanta belleza,
Que uào mer'cia3, não. So digno d'olla
Kouve mortal, a mim que nào a um...
GABKETT, CAMÕES, cant. 9, cap. 12.
— Vida solitária; vida isolada, entre-
gue á solidão, íio estado de isolamento.
— «Empédocles Agrigentino, discípulo
que foy de Pithagoras, como escreue Thi-
meo, nunca quis aceptar o rejmo, que
lhe dauam, como o afBrma Xãto no liuro
que fez de seus louuores. Estimou tãto
a vida solitária, que a preferio a toda a
potencia e riquezas do mundo. Estado
Demétrio Phalereu desterrado no Egy-
pto, depois de ter gouernado Atheuas,
foy o alli ver Crates o philosopho, e
dissera altas cousas, e tractou tã graues
matérias, que disse Demétrio, como o re-
fere Plutarcho. » Heitor Pinto, Dialogo
da Vida solitária. — «E ainda que no
principio còtradissemos vossa opinião, nã
vos pareça que estauamos cõtrayros a
ella, que bem sabíamos quãta excellen-
cia tem a vida solitária sobre a publica
e secular, mas quisemos oppugnar vossa
942
VIDA
VJDA
VIDA
MOiitenya porá vermos a oratória com quo
a dcfoiídicif», quo certo nos satisfez mui-
to. Ao iiicnos cu, (iiáso o FríiiiKMiífo, te-
nho titto cõtoiítainunto eõ vo.s ouuir, (|ue
nil sinto aí;ora cousa, (|uc mo tàto pode-
rá dar.» Ibidem.
— Perder a vida ; morrer, privar-se
d'eila, licar sum vida.
Noin »i'>inoiite fallar-to a dura uiortc
Mb deixou, f)uu aprcrtsuda o negro manto
Lanijiir sôbrc oh tcui! ollios coimciitisti;.
Oh mar ! oli coo ! oh minha c-tcura sorte !
Qual vida pordorci (|iic valha tanto,
Se inda tcuho por pouco o viver triste V
CAM., SONETOS, U." 170.
— «Com este pensamento resolveu-se
a perder antes o lleyno, o com clle a
vida, do que viver sem iionra iivtamado,
o abatido ; ne^ou o tributo que costuma-
va papir, e prevendo o que lhe havia de
Bucctder, ajuntou o melhor, c mais co-
pioso exercito, quo lhe foy possível.»
Conquista do Pegú, cap. 2.
— /Salvar as vidas ; escapar da morto,
livrar-se de morrer. — «Somente lujuella
parto per que ellos ])odiam tornar :í for-
taleza, mandou pòr nclla fo^o pi^ra licar
por defensão entre ellc, c os imiíjjos, em
quanto os nossos a esbulhavam, temendo
que andando neste fervor de esbulhar
tornassem sobre elles; mas como todos
leravam mais cuidado em salvar as vi-
das, que na fazenda que lhes ficava ti-
veram 03 nossos largo tempo de prear á
sua vontade.» Barros, Década 2, liv. 9,
cap. 1.
— Rogar a Deus j)da vida e saúde
d'al(jiicin; pedir-lhe para que lhe empres-
te a vida, para que dure por muitos an-
nos. — «Assim que a v. m. caberá a
maior e principal parto do merecimento
d'c3ta santa obra : e todos nós ficaremos
com nova obriga^rio se roj^armos a Deus
pela vida e saúde de v. m. que o Senhor
guardo por muitos annos, como havemos
mister. For sor a hora que é, n.ão vou
levar este papol, mas estimarei que v.
m. mande dizer por palavra peio porta-
dor quando o irei buscar. Collegio õ de
Julho de l(i52.» Padre António Vieira,
Cartas, n." G.
— Vida doce; vida agradável, alegro.
E se huma condi(;ão endurecida
Também me ucga a morto por meu dauo.
Oh que doce morrer! que doce vidai
CAH, GLEQIA 5.
— .fl justiça é a raiz da vida. — «E
logo nuiis abaixo: Bomaucnturados sam
08 quo padecem por fazerem justi(.'a. Sam
Gregório nos moraos diz quo a justiça he
paz do pouo, firmeza da pátria, liberda-
de da gente, temperãni,a do ar, sereni-
dade do mar, ft-rtolidade da terra. Sam
loara Chrvsostomo diz quo a justiça he
raiz da vida. Sancto Isidoro affirma que
he a ordem e i^foaidado, com quo o ho-
mem se ordena bem, cm todas as cou-
sas.» Heitor 1'iiito, Dialogo da Justiça,
cap. 1.
— Memoria de su<t vida. — «CtdebramoH
o festejamos o nascinicnto do gloriosissi-
nio liaptista do Senhor. E sem duuida não
cõuem que passe este dia sem alguma me-
moria do suas façaidias, de sua vida •
doutriua pois foi tal que mereceo que o
Saiuador do mundo dcllo preegasBc.» Fr.
Hartholoniiíu dos Martyrcs, Catecismo da
doutrina christã, liv. 2.
— (Iranijear a vida; trabalhar por a
conseguir, por a obter.
E, 80 para isto só pranpeio a vida.
Muito melhor partido me seria
Antes de mais jxírdor vél-a perdida.
FKRSÃo SOnoriTA, POF.SUS T. PROSAS IHKDITAS,
pag. 111.
— O procedimento moral, religioso. —
«E foi sepultado em a uilla de Lagos e
dahi passado ao mosteiro de sancta Ma-
ria da Victoria, a que chamaõ a Bata-
lha, na capclla dellley seu padre. O qual
Infante e Frincipc, de grandes cn)prc-
zas : segundo suas obras e vida, douemos
crer que está cm o Paraíso entro os elei-
tos de Deos.» Barros, Década 1, liv. 1,
cap. 10. — «E este rio Çanagá per a di-
uisaõ nossa he o quo aparta a terra dos
Mouros dos negros, posto quo ao longo
de suas agoas todos saõ mestiços, em
cor, vida, o custumes, per razão da ci'>-
pula que segundo custunie dos Mouros
toda molher accoptão.» Ibidem, liv. 3,
cap. 8.
— Dar a vida ; olVerecel-a. — « Se-
nhora, disso Florendos, inda que a vi-
da nào se ha do dar a quem em más
obras a desjiende, vós valeis tanto, que
se vos nào deve negar nada.» Francisco
de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap.
102.
Não fazem os Chriatãos o que pretendem.
Que os prevenidos Turcos os miUtratào,
E inda c|ne duramente se defendem
Alguns feridos vão, hum 30 lhes matão ;
Alguns Turcos também alli se estendem
Que as almas das mortaes prisões desatão,
E na infernal o eterna são uu^ttidas ;
Alguns só dão o sangue, c não as vidas.
FBANCISCO d'a:<DBADU, PKIMElaO CEKCO DE DIU,
caut. 17, est. 28.
— «.A.te quo pouci> a pouco so foy des-
fazendo aqucUe bõ uuiuimento, o qual
acabado começou aquolla espantosa cruel-
dade, o dominou aquella fera e diabólica
impiedade, da qual ostà cucos os liuros.
E polo còtrayro Oesar foy tà humano
que a seus projjrios innuigos nào somen-
te perdoou, mas iiõrou. Deu a vida a
quem lha queria tirar, fez hora a quem
lha queria fazer perder.» Heitor Pinto,
Dialogo da Justiça, eap. 9.
— O tangue truz ti leva a vida; traz
8Í rouba a vida, CNgota-a.
Corre o sangue in6el em groiwio fio
A quem u ino<;o di»j bir^a Hahida,
Come\-ji-«o a tonur o corpo frio
A qu<rm o Rangue traz h! levava a ruía,
I'erde a diT natural a agua do rio
E de branci nn purpur<-a he convertida,
E o contrario á inãcl face acontcci]
Quo sendo antes purpúrea ainarclleee.
r. D'AxnRAb>, HHiuriao ceacu i>e nir.cant. 17,
est. 20.
— A tspumo»a vida envoUa em ntgro
satigue da ferida.
Te quo de um bote o cão forte, c ncrroao
Aberto cahe, tingindo o «angue a terra,
Onde lan(;jiva a cspumo.4a vida
Envolta cm ucgro sangue da ferida.
OADBIEL FEBKIUA DE CASTBO, «LTMLa, Callt. 7,
est. 3'J.
— Alimento, bebidas.
— Vida boa ; vida regalada, ou mo-
ralmciite virtuosa.
— Vida futura; depob da morte.
— Fazer vida de piulir; ganhar a vi-
da mostraudo-se á compaixão dos bons.
— Mudo de vida ; estado que dê com
que se sustente a vida.
— A guarda da vida do» nottot. —
«ElRei dom Manuel como tinha sabido
os grandeã trabaliios que Trimumptara
Rey de Cochij passara na guerra que lho
o Çamorij de Calecut fez, por lhe grati-
ticjir os méritos de quanta fó mostrou no
processO daquella guerra acerca da guar-
da da vida dos nossos : quis per o Viso-
Rey dom Francisco mandarlhe mostra
da boa vontade que lho tinha por estas
obras.» Barros, Década 1, liv. 9, cap. 5.
— Em sua vida ; no tempo em que vi-
via.— «Leixou em sua vida descuberto,
do cabo Bojador que está em trinta e
sete grãos d'altura da parte do Norte, te
a serra Lioa, que est& em sete e dous
terços, que fazem de costa trezentas e
setenta legoas : da qual serra o derradei-
ro descobridor foi hum Pedro de Cintra
caualleiro de sua casa.» Barros, Década
1, liv. 1, cap. llj. — «El Rey por ter a
Mina guardada fez crer em sua vida,
que navios redondos não podiam tornar
da Mina por acaso das grandes corren-
tes, somente nauios latinos, e isto por-
que em nenhuma parte da Christandade
liS ha senão as earauellas de Portugal, o
do Algarue, e os galeOes de Roma, que
não são pêra nauegar tam longe.» Gar-
cia do Rezende, ChroQica de D. João II,
cap^ 150.
— Vida gloriosa ; vida cheia de gloria,
alegre.
Andemos a estrada nossa ;
Olhae nào tomeis atra*,
Que o imigú
VIDA
VIDA
VIDR
943
A' vossa vida gloriosa
Porá grosa.
E des o (rrou. té Folosa,
Homens de seis centas cores,
Si no jogo nào tem grosa,
Conversação perigosa.
Missa d'arrenegadore3.
SX DE UIBAKDA, CABTA A ASTOSIO TT.R-
KEIRA.
Lavor 'la vida.
Poisar-lhe o coração suavemente
Sobre esquecidas penas, amarguras.
Anciãs, lavor da x'idat — Oh gruttas frias,
Oh gemedoras fontes, oh suspiros
De namoradas selvas, brandas veigas.
Verdes outeiros, gigantescas serras !
OABBXTT, cAuÕES, cant. õ, cap. 11.
— Vida commuin; vida vulgar, social.
— «No regaço da ordem, da equidade,
da harmonia nas relações da vida com-
mum, passou aninhada a tyranuia sim-
ples e culta, a tyrauiiia de um só substi-
tuta da de muitos, a tvrannia respeitado-
ra do meu e do teu, vingadora dos cri-
mes, grandiosa, illustrada.» Alexandre
Herculano, Monge de Cister, cap. 17.
— Vida eterna ; a bemaventurança.
— Pena de vida; pena capital, perda
d'eUa.
— Vida eterna ; vida que dura para
sempre.
— Diz-se do estado dos vegetaes, em
quanto duram vegetando, nutrindo-se, e
conservando-se no estado de perfeição
natural.
— Minha vida ; expressão terna, e
carinhosa.
— Vida temporal; que acaba com a
morte.
— Por uma, duas, ou três vidas ; pa-
ra o primeiro a quem se conceder a gra-
ça, ou para seu herdeiro, e para o her-
deiro do herdeiro.
— Vida de sempre; vida eterna, e per-
petua.
— A liberdade só á vida entrega.
Beliza livre, e sem conhecimento
Dos eôeitos de Amor, a quem se nega
Com seu honesto, e brando movimento,
A liberdade só á vida entrega.
Mas não merece em fim meresiroento.
Quem também neste golfo não navega.
Tirando o preço ás partes naturais.
Que hamde vir por Amor a valer mais.
FRASCISCO BODRIGCES LOBO, PEI.MArEKA.
— Viver na vida d'alguem; ter n'ella
o seu amparo, felicidade, prazer; viver
por amor d'ella.
— Fazer vida de soldada); ser solda-
do, viver como tal.
— Faztr vida de casada; viver como
casado, satisfazer aos deveres matrimo-
niaes .
— Vida do mez; tributo ou serviço
que outr'ora se fazia; era um dia de co-
mida, ou a mantença em viveres guisa-
dos e feitos, como pào, etc, que se dava
ao morJomo-menor d'el-rei um dia em
cada mez. — "Vida. para quatro homens;
uma comida bastante para quatro uma
vez ao dia, ou equivalente ao que se de-
via dar em viandas, pagado a dinheiro.
— Termo de physlologia. Vida orgâni-
ca; o conjuncto das funcçòes puramente
vegetativas. — Vida animal; o conjuncto
das fancções de relação.
— Amar mais do que a própria vida ;
amar apaixonadamente.
— Termo de jurisprudência. Vida rui-
tural; o curso da vida conforme a natu-
reza. — Vida civil; estado que occupa
na ordem politica aquelle que ainda nào
descaiu d"ella.
— Fstar entre a vida e a morte ; es-
tar n'um extremo perigo, quer pela doen-
ça, quer doutro modo.
— Nào dar mais signal de vida ; es-
tar morto.
— Dever a vida o alguém; diz-se d'a-
quelle a quem fe conservou ou salvou a
vida.
— Passar da vida á morte; morrer.
— O espaço de tempo que decorre en-
tre o nascimento e a morte.
— Uma parte considerável do curso
da vida.
— A existência terrestre. — A vida
presente.
— Figuradamente : A vida dos senti-
dos; os sentimentos terrestres e munda-
nos.
— A existência da alma depois da
morte. — A -nda. futura. — A esperança
d'uma outi-a vida.
— O livro da vida.
— Figuradamente : Renascimento es-
piritual, communhào, baptismo.
— Nuirir-se com o pão da vida ; com-
mungar.
— Principio de existência e de força.
— Modo de viver. — Levar uma vida
doce e cheia de prazeres.
— Um homem de má vida ; um ho-
mem debochado, sem morigeração..
— Diz-se em relação ás occupações e
ás profissões differentes da vida. — Uma
vida activa. — Uma vide^. contemplativa.
— A vida dos campos.
— Na vida; no uso habitual.
— Figuradamente : Diz-se do que faz
a principal aífeiçào, a principal occupa-
ção. — O estudo é a sua vida.
— Contou-me toda a sua vida; narrou-
me tudo o que lhe succedeu.
— Diz-se também em forma de jura-
mento. — 'Sobre a vida, eu vol-o deferi.
— A arvore da vida ; thuya. Diz-se em
allusão á arvore da vida de que falia a
Escriptura Sagrada e que existia no Pa-
raíso Terreal.
— Ar).\GIOS E PEOVERBIOS :
— Vida é prazer de quem nào tom sa-
ber.
— N'esta vida os prazeres são por on-
ças, e os pezares por arrobas.
— Vida sem amigo, morte sem castigo.
— O fim louva a vida, e a tarde o dia.
— Meia vida é a candeia, e o vinho é.
outra meia.
— O que em tua vida nào fizeres, de
teus herdeiros o não esperes.
— A vida passada faz a velhice pesada.
— Quem a fama tem perdida, morto
anda em vida.
— Para prospera vida, ai-te, ordem, e
medida.
^Quem as cousas muito apura, não
vive vida segui-a.
— Todos somos fiJhos de Adão, só a
vida nos diíFerença.
— Darei a vida e alma, mas nào a al-
barda.
— Vê um dia do discreto, e nào toda
a vida do néscio.
— Quem tem vida, a agua fria lhe é
mesinha.
VIDAL, adj. 2 gen. Termo antiquado.
O mesmo que Vital.
VIDAMA, s. m. (Do francez vidame).
Aquelle que tinha as terras de um bis-
pado, com a condição de defender -lhe o
temporal, e o que commandava suas tro-
pas.
— Aquelle que possuia algumas d'es-
tas terras erectas como feudo hereditá-
rio.
— O que representava a pessoa do bis-
po como senhor temporal.
VIDAR, 1-. n. Termo antiquado. Plan-
tar vinhas, e fazer mergulhias.
VIDE, í. /. A rama da videira, que se
separa d'ella na poda.
— O cordão umbilical, entre parteiras.
VIDEIRA, s. f. Cepa, que produz vi-
des, vinhedo e parras.
— Videira da cabeça ; a videira velha
que se mette pelo pé mais na terra, do-
brando-a, e cortando-lhe algumas raizes.
■ — Videira cie enforcado; a que trepa
pelas ai-vores.
VIDENTE, s. m. (Do latim videns). No-
me que pelos escriptores sagrados se dá
ao propheta.
VIDMA, s. f. Termo de anatomia. Vi-
de, veia por onde vae o sangue nutrir o
feto.
— Cordão umbilical.
VIDOEIRA, s. /., ou VIDOEIRO, s. m.
Termo de botânica. Arvore que se en-
contra no Gerez e em Traz-os-Montes.
VIDONHO, s. m. A casta ou espécie de
uvas.
— Vidonho labrusco ; casta de uvas
agrestes, incultas.
— O génio, Índole, caracter, a casta.
— Figm-adamente : As pessoas que se
casam para Augmentar a propagação.
— Os renovos da videira, que servem
para bacello, e reformar as vinhas.
VIDRAÇA, s. /. Caixilho com pedaços
de vidro para tapar as janellas, e por-
944
VI DK
VIER
VIER
tas, conservando a luz. — «A justiça an-
da pronhc, o a» vezes pare monstros,
porque concebo do O'lios ou interesses, os
quacs do tal maneira perturbiini o Juizo,
que lho fazem parecer iis cousas, das co-
res que quorum. Assi, disóic o inatLcma-
tico, como o sol, que entra pellas vidra-
ças, tal cor representa, quiil lie a 'las vi-
draças, assi qu;il lio a ali'i!Íçain, tal lio a
sentença.» Heitor Pinto, Dialogo da Jus-
tiça, cap. 3.
— Fip^uradamonte : Moslrar-se por vi-
draças ; luostrar-so raras vezos.
— Olhos (ywe sem vidraços viam tão
longe; oliios que viam sein óculos do vêr
ao lonp^e.
VIORAÇARIA, *•. /. To;las as vi<lraças
de oilitieids.
VIDRACEIRO , s. m. Homem que p3e
vidros nos caixilhos das janellasí, portas,
ctc.
VIDRADO, ]"vt pass. de Vidrar.
— <)lh'ix vidrados; olhos (jue tem falta
de transparência, c vSo quasi amortecen-
do.
— Agua vidrada; doença, espécie de
mornio que vem aos falcões.
VIDRAR, V. a. Dar vidro á louça.
— |)ar breu, ou betumar as talhas,
vasos do barro para guardar vinho.
— Vidrarem-se os olhos do moribundo ;
terem parecença com o vidro.
— Vid. Vidar.
VIDRARIA, s. f. A fabrica de vidros,
o o trabalho do os fazer.
VIDREIRO, s. m. O homem que faz vi-
dros.
— Honiom que vende vidros.
VIDRENTO, A, a<lj. Frágil como o vi-
dro, exposto a quebrar mui facilmentL",
ou receber qualquer lesão, e que para
evitar a qu'bra requer o cuidado, e me-
lindre eoin que se trata o vidro. — A
fortuna <- vidrenta.
— Que quebra facilmente os seus de-
veres.
— Condição vidrenta ; que requer mui-
to'melindre.
— Sujeito vidrento ; sujeito que des-
contia facilmente, e requer muito melin-
dre na conversaçrio.
— Figuradamente : Mulher vidrenta ;
nuilhcr trai;d como o vidro.
VIDRILHOS, s, m. plur. Missanga,
grãosinhos de vidros que se enfiam coino
contas, e servem para vários adornos das
damas.
VIDRINHO, *. m. Diminutivo de Vidro.
Viilro poqueno.
VIDRINO, A, (idj. De vidro, <;onio vi-
dro.
VIDRO, s. «1. (Do latim f»írtiHi'i. Corpo
transparente, e frágil que se faz fundindo
areia limpa com um sal alcalino. — «O
nosso viÃro de Antimonio Rubeo athe
tros graons ; a agoa bonedicta de Rulan-
do athe tros onças : o Vinho emético athe
duas ; o tártaro emético athe seis graons ;
e a Gil la de Thooplirasto athe huma ou-
tava, saõ os vomitórios nente caso mais
eíTicazes, o mais approjiriados.* iiraz Luiz
d' A breu, Portugal medico, pajj. 2Ú7,
§ 00.
— Lente.
Df-o luz no Miiodo
No quo pódí! alivini,'ar dn Astronomia,
Do vitlro i>ort(!iiU»!io o olho dnspido,
Kllc i>i'iiiK'.iio do Solsticio o ponto
Sobre 11 T('rrn marcoii; e eJlc primeiro
O Koli|Me assustador predisse aos liomens,
A maicba calculando u ctbercoa orbué.
J. A. OH MXCBDO, O OBIKHTK, Cant. 2.
— ( ienio agastadiço, que quebra com
08 outros facilmente.
— i'cça d'clle.
— Vidro da vidraça ; prancha d'ellc.
— Figuradamente: Um vaso de vidro
para cheiros, aguas, oloos, etc.
— Cousa frágil como o vidro.
— AdAOIO.S E I-UOVEKIJIOS :
— A nudher e o vidro sempre estilo
em perigo.
— Um atrevido dura, como vaso de
vidro.
— Quem tem telhado de vidro, n.no
atire pedras ao do visinho.
— Vidro quebrado perde o valor, sol-
dado nào tem graça.
VIDROSO, A, adj. Vidrento, frágil.
VIDUAL, ciilj. 2 gcn. De viuva, Du de
viuvo. — Ksfwlo vidual.
VIEIRA, s. /. A concha, o de ordinário
das que trazem os romeiros.
— Jlarisco análogo !Í amêijoa. l
VIEIRINHA, «. ./■. Diminutivo de Viei- |
ra. i*equena vieira. i
VIElRO, «. m. Veia, betíi do metal, ou ]
qualquer mineral, c fóssil nas minas. — I
cA ncUa huma serra pequena, que de
huma banda tem vieiro denxofrc, e da
outra iiurna mina de sal em pedra, que
as nãos lenam dalli por lastro, tem dous
portos de muito bom surgidouro, pêra
nãos grai:des, hum da banda do Lenan-
te, e outro do Ponente.» DamiSo do lioes,
Chronica de D. Manoel, part. 2, cap. 32.
— Figuradamente: Vieiros ricos de
maior ganância.
VIÉÍS (do fi-ancez biais). Vid. Viéz.
VIELAS, .«./. ;;/iir. Quatro ferros com
argolas, que gyrani sobre o rodizio do
moinho.
VIELLA, .<!. /. Bèceo, rua estreita.
-,'- VIER. Forma do verbo vir na primei-
ra ou terceira pessoa do singular do fu-
turo do modo conjunctivo. Vid. Vir.
• Quando o meu fim rtVr. d;i-mo a promessa,
tiui' me h.-ls-do en\nar de Sefrcnas notícia. •
T. U. PO KiSrlMESTO, OS MABTTIIES. 1ÍT. 10.
•{• VIERAM. Forma do verbo rir na
terceira pessoa do plural do pretérito
perfeito e mais que perfeito do modo in-
dicativo. Vid. Vir. — «E, quando o po-
bre do homem se quer sahir do atoleiro,
começa o outro ile novo a perguntar-lhe
novas da terra; e, bv por m> eiícapar faz
quo as i:ão sabe, puciu-ee eli«, por lhe
fazer mercê, a coritar-lhe a^ que sabe,
acrescentando-lhes de caza seu par de
moralidades, como se viera de propósito
a touiar-lho o vento.» Fcrnilo Soropita,
Poesias e prosas inéditas, pa^'. 123. —
«i'orém o da |'ontc, que no meio delia o
recebeu, o encontrou tiki duramente, que
elle e o cavaiio vieram ao chilo : e to-
mando uma lança das uiuitas, que esta-
vam encustaduii au castello, remotteu a
D. Rossuel, que lhe dizia qne se guar-
dasse.» Francisco de Moraes, Palmeirim
d'Ingiaterra, cap. 49. — «EutAo, abai-
xan<:o as lanças se vieram um contra ou-
tro, e como em Palmeirim houvesse maio-
res obras, que en) seu contrario palavras,
c os encontros fossem dadoe ein clieio,
nSo recebeu mais <iamiio que derfazer-Mj
em seu escudo a lança de Bramarim, e
elle caiu polas ancas do cavallo t2o grani
queda, qu« por muito espaço nSo bollia
com pé nem mão.» Ibidem, cap. ti9. —
«Que a(|uella terra e governança delia
justamente pertencia, e era de eea inu2o
Floriano : jjois com mais despeza de seu
sangre dostmlra os senhores delia; e
que, além d'isso ellcs por sua causa vie-
ram alli : que quando elle a nSo quizes-
se, ent.^io poderia ser que acceitariao es-
tado que lhe queriam dar.* Ibidem, cap.
119. — «Acabado o serSo, os turcos se
despediram mais namorados do que alli
vieram. O imiíei^ador manuou com alies
tochas até o real. Mas antes que de todo
se despedissem, aconteceu uma cousa,
que 80 deve fazer memoria, e foi que o
gigante Framnstante, como todo o tem-
po, que alli esteve no serSo, n&o tirasse
os olhos d'Arlança, com quem Dramu-
siando estava, inclinando mais a vontade
a ella, que a nenhuma outra pessoa.»
Ibidem, cap. 163. — t Tcloe a uma voz
clamavam nos ouvidos do imperador e
capitães, que acabassem de dar-lhes li-
cença d.e cometter seus imigos, com quo
por ventura perderiam parte da confian-
ça, com que alli vieram. Se por vontade
de Priuialiào f Ta, já tivera visto em que
confiança ou forças estava o fim deste
negocio.» Ibidem, cap. 16õ. — «A este
tempo (como dissemos) tinha o Almiran-
te espedido a carauela que viera em sua
companhia, com hum recado a Vicente
Sodrc que segundo soubera andaua sobre
Cananor: o qual lhe leixara per pt>pa
da sua nao, hum parao grande que to-
mara vindo elle Almirante de Cochij, os
Mouros do qual dandolbe esta carauela
caça se saluaraõ em terra.» Barros, Dé-
cada 1, liv. 6, cap. 7. — «E neste mes-
! mo tempo mandou outra embaixada a
i ElKoy de Pégu pir Ruy òa Cunha: e
assi elle, como António de Miranda fo-
I ram em navios que alli vieram de Pégu,
VIER
VIER
VIÉS
94Õ
e porém António de Miranda ficou em
Tanaçarij, que era d'ElRey de Sião, por
o seu senhorio ser de mar, e per alli en-
trou per terra té Siào.» Idem, Década 2,
liv. 6, cap. 7. — ■ «E assi mandou logo
com eUe feytores, e officiaes pêra lá es-
tarem, e resgatarem a dita pimenta, e
outras cousas que na terra aula. E de-
pois por ser muyto doentia, e o trato nào
ser de muyto proueito como se esperaua,
a feytoria se desfez, e os officiaes se vie-
ram.» Garcia de Rezende, Chronica de
D. João II, cap. 65. — «E uelles man-
dou a el Rey por seu embaixador Caçu-
ta, que primeiro a estes Reynos viera,
horaem muy principal, e a elle muy
aeeyto, que depois de ser Ciiristào ouue
nome dom loam da Sylua, homeui de
bom natural, e muy bom Caristào amigo
de Deos, e trouxe a el Rey hum presen-
te de muytos dentes dalefantes, e cousas
de marfim lauradas, e muytos panos de
palma bem tecidos, e com finas cores.»
Ibidem, cap. Iò6. — «Passada esta tor-
menta, as três nãos questauam de trás das
ilhas se vieram ao mesmo lugar, onde se
os Sodres perderão donde, como a carauel-
la de Pêro Dataide foi concertada, se par-
tiram elegendo-o a elle por seu capitam
assentando todos de se irem rota abatida
caminho de Cochim, socorrer a el Rei, e
o 5 Portugueses que là deixaram por lhes
parecer juizo de Deos.i> Damiào de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 1, cap. 74.
— tVem a ella mercadores, de íiuria,
Egypto, Pérsia, e Arábia por caso da
muita pimenta que nella ha. Quando os
nossos vieram a índia, era esta cidade
gouernada per os mesmos da terra a modo
de Republica, cora tudo estaua a obediên-
cia do Çamori) rei de Calecut.» Ibidem,
cap. 98. — «Vieram também com dom
Pedro doze moços nobres pêra ca apren-
derem as cousas da Fe, e costumes dos
Christãos, os quaes el Rei dom Emanuel
também mandou repartir per mosteiros.»
Ibidem, part. 3, cap. 38. — «O jungo
grande de que se os nossos alargarão por
caso do fogo arteficial, e a que poserào
nome o brauo, por quam bem se defen-
dera, esteue duas noites, e hum dia surto
no lugar onde lançara ancora, e ao se-
guinte quasi as dez oras do dia saíram
delle dous homens no parao, e se vieram
direitos a nao de Afonso Dalbuquerque.»
Ibidem, cap. 17. — «Neste mesmo anno
vieram a este regno três gentis homens
Polonos, dos quaes o principal era Joam
tarnouio de quem no Capitulo do nasci-
mento do Infante dom Luiz fiz menção.»
Ibidem, part. 4, cap. 4. — «E quis sua
boa dita que na primeira feira que se fez
vieram vender, e comprar os principaes
de Abida, em que entraua Abdemula, ho-
mem de grande authoridade entrelles, e
assim outros de Garabia, Dom íTuno co-
mo os teve na cidade mandou cerrar as
portas, e ajuntar a gente que auia de le-
vot. V — 119.
uar que foram duzentos, e sessenta caual-
leiros Portugueses, e sessenta piàes bes-
teiros, e espingardeiros. » Ibidem, cap.
44. — «Estacou. Um joelho se dobrara
imperceptivelmente debaixo da garnacha
de João das Regras, e um calcanhar vie-
ra ao de leve applicar-se á tibia escai.i-
frada do grande homem de Celorico.»
Alexandre Herculano, Monge de Cister,
cap. 24.
— Viera ao mundo ; nascera, viera á
luz do dia. — «Quizera eu que nunca
viera ao mundo a Marqueza de F... pois
que no dia de seu cazamento é que tu
me entranhaste na alma a Dôr que sinto.
Abhorreço o que inventou o baile. Abhor-
rêeo-me a mim própria ; e sobre tudo
abuorrèço ainda essa Fianceza mil vezes
mais. Entre tantos abhorrecimentos ne-
nhum porém teve a audácia de se che-
gar a ti; que ainda infiel, te considero
amável. • Francisco Manoel do Nasci-
mento, Successos de madame de Sene-
terre.
— Viera ter a al-gum ponto; dirigir-se,
encamiiihar-se para lá. — «Pelo que no
mesmo instante mandou sobella fortaleza
Danchediua, huma armada de obra de
sessenta nauios de remo, da qual era ca-
pitam hum Português arrenegado, per
nome António Fernandez carpinteiro de
nãos, que se entaõ chamaua Abedella,
que foi hum dos degradados que leuara a
Pedralurez cabral, e deixara em Quiloa,
donde viera ter a estas partes, per cujo
conselho o Çabaio fez esta armada, pro-
metendolhe que se tomasse a fortaleza
Danchediua, lhe daria a Ciritacorà.» Da-
mião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 2, cap. 12.
7 VIERÃO. Forma do verbo vir, por
Vieram. Vid. Vieram. — «No qual dia
vieraõ cometer a villa com mantas, pi-
cões, espingardaria, besteiros, que por se-
rem muitos, nenhum dos nossos podia as-
somar entre as ameas, nem aos buracos
das seteiras que logo naõ fusse presrado.»
Damiào de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 2, cap. 28. — «Concluído este ne-
gocio com tanto credito da clemência
Real, vierão Embaixadores do Hidalcão,
que depois de lhe darem as saudações or-
dinárias, e congratulações do cargo, lhe
pedião entregasse certo prisioneiro i;a for-
ma que com seu Antecessor estava con-
certado. E porque este negocio chegou a
alterar o Estado com guerra descuberta,
nào deixaremos em silencio a origem que
teve. » Jacintho Freire de Andrade, Vida
de D. João de Castro, liv. 1. — «Porém
D. João de Ciístro sem deixar-se vencer
do amor do filho, nem dos medos do tem-
po, resolveo enviar o soccorro; o que en-
tendido pelos soldados, e Fidalgos, se lhe
vierão offerecer, ainda aquelles que pelos
annos, e authoridade já estavào escusos.»
Ibidem. — «E despois de andar a briga
hum pouco travada, fingindo os Achens
I fraqueza se lhes vieraõ retirando pêra a
trauqueyra onde os dias atrás o Rey Ba-
ta lhe tomara as doze peças de artilharia,
e seguindoos hum Capitão dos Batas des-
mandadamente, e sem ordem, por lhe pa-
recer que ja tinha a victoria certa, os
meteo por dentro dos vallos, porem os
inimigos lhe tornarão aly a fazer rosto,
e se defendiào valerosamente.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 17.
— o Após isto perguntado hum dos dous
Portugueses, porque o outro estava como
morto, cujos filhos erào aquelles mininos, e
como vierão ter ao poder daquelle ladrão,
e como se elle chamava, respondeo que o
ladrão tinha dous nomes, hum de Chris-
tào, e outro de gentio, o de gentio por-
que se então nomeava era Necodá Xicau-
lem, e o de Christão era Francisco de
Saa.» Ibidem, cap. 46. — «E despois de
estarmos aquy surtos treze dias sobela
amarra, e bem enfadados com temporais
pela proa, e algum tanto ja faltos de man-
timento, quiz a nossa boa fortuna que a
caso ja sobula tarde vieraõ dar de rosto
com nosco quatro lanteaas de remo que
saõ como fustas, em que hia huma noiva
para huma aldeã daly nove legoas que se
dezia Panduree, e como todos vinhào de
festa.» Ibidem, cap. 47. — «Nas quaes
desordens, e novidades lhe tiveraõ culpa
muitos Senhores de Castella, que aggra-
vados, ou temerosos dei Rei D. Henrique
se passarão a Portugal, e foraõ herdados
em grandes senhorios de terras, que el
Rei D. Fernando lhe dava das suas pró-
prias, a troco de esperanças, que não vie-
raõ a efl'eito.» Frei Bernardo de Brito,
Elogios dos reis de Portugal, continua-
dos por D. José Barbosa. — «Nam me
diram, de donde lhe vieraõ tantas cí)lga-
duras de damasco, e tela, tantos bofetes
guarnecidos, escritórios marchetados, com
pontas d-e abada em cima? Derão os far-
tos em fome canina'?» Arte de furtar,
cap. 42.- — «Estando ambos ordenando
nossos concertos, nos vierão dizer a grão
pressa, que andava Lionardo ás cutila-
das com um rafionaz, que aqui anda.i
António Ferreira, Bristo, act. 3, se. 6.
■{- VIESSE. F«>rma Jo verbo vir na
primeira ou terceira pessoa do singular
do pretérito mais que perfeito do modo
conjunctivo. Vid. Vir.
Passou-se ca hum mandado,
Nejra por me dar cauccira.
Que logo em toda maneira
T'íe.'se, c vim emprazado
Bofa com fraca esmoleira.
GIL VICENTE, FAKÇAS.
— «Por aqui vereis, Argolante, a que
estremo de necessidade é chegada a tris-
te CoiíStantinopIa, que cuidando eu se
os imigos viessem a ella, mandar-lhe
derrubar os muros por onde entrassem,
agora está tão só dos outros valedores,
946
VIEZ
VIGI
VIGI
tão cheia de temor e medo, que os man-
do fortalecer, esporando ter iiollos algu-
ma dolonHii, quD doutras piii tcs j.i nào
osporo.» Francisco do Moraos, Palmeirim
d'Inglaterra, cap. 45. — «Oomo «ou pa-
ríínto S. ItoBonilo viesse visitar a(|uollo
Mostcyro de Vioyra, o pastasiom ambos
furando parto do dia em colóquios Divi-
nos, hum lUsticD ipio andava concertan-
do os telhados do casa, so poz a murmu-
rar daqtiella convi'rsa(,-af5, em pena do
qual fov Hupitaniont(! arrebatado do De-
mónio, e o matara se as oraçoons da San-
ta o não livrarão daquella tribida^mõ.»
Monarchia Lusitana, liv. 7, cap. 25. —
«Finalmente este Nordim do Ormuz so-
cretameutc fez que o outro, e llaoz Ga-
mai viessem a Ornmz a se ver com el-
Kov : assentando com clles que quando
viessem com seu irmão ao tempo de rom-
per a batalha que esporauaò de sor na-
ual, ellcs se passarião de Sargol pêra
elle.» BaiTos, Década 2, liv. 2, cap. 2.
— «Porque falecido o Rey de Sião, que
seu pai temia, com Armadas de navios
de ramo, a que os Cellates eram mui
costumados, começou de obrij^ar as náos
que navefijavam ])or aquolle estreito d'au-
tro Jlalaoa, o a Ilha ('aniatra, que não
fossem adiante a ('injíápura, o as do Le-
vanto que viessem alli fazer com estas
do Ponento suas commutaç^es do merca-
dorias, segundo o seu antigo uso.» Ibi-
dem, liv. 6, cap. 1. — «E porque pri-
meiro que viesse a concluir, houve en-
tre olles muitos recados sobre a entre-
ga da fortaleza, quo Ellley não queria
dar naquelle lugar, por ser mui vizinha
ás suas casas, nem menos os reféns.» Ibi-
dem, liv. 10, cap. .'}. — «E por aoroL-entar
a seus louuores, posto que ja será fora de
aeu lugar e o ter passado per negligen-
cia direi a honrra que ganhou, e obriga-
çam que lhe a Coroa destes rcgnos tem
nO aoocorro que deu a (;afim em tempo
do Diogo dazambuja, porque screuendo-
Ihe oUo como tinha ganhada aquella ci-
dade, e que temia que os Mouros vies-
sem Bobrcllc, o lha tomassem, lho man-
dou logo trezentos homens, e após estes
foi elle em pessoa, com nouccentos. » Da-
miSo do Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 3, cap. 12. — «Sendo ja o Gonde
fora do estreito de (^apanes, posto que os
mouros da companhia ilo líarraxa, e Al-
mandarim lho viessem ladrando nas cos-
tas per bom ospai^o elle so recolheo a seu
saluo com toda a caualgada, com que
chegou a Arzilla ja de noite.» Ibidem,
cap. 36, — «Quitou as sisas de todo o
pam que de fora viesse a estes rcgnos.
Mandou comprar rondas em Galliza pêra
se allume.ar continuamente do dia, e do
noito huUia alampada do prata que deu
a casa do Apostolo Santiago como fica
dito.» Ibidem, pnrt. 4-, cap. 86.
VIEZ, 5. ?». — .4o viez; enviezado,
wm uma direcção obliqua. — Cortar o
panno ao viez, « lulo te.(jund<j a lUrecçào
do» Jío».
VIGA, *. f. Trave da casa.
VIGAIHAÍ «. /. Vid. Vigaria.
VIGAIRO, «. m. Vid. Vigário. — tE
depois di> íMo/i de .lulho cliegiiraõ as car-
tas de Dom .loaõ Mascarenlias, (|Uo crão
as que o Vigairo levou, u se maudàraõ
de liaçaim, o (JhJiul por terra. E saben-
do |)or cilas o grande aperto em quo
aquolla fortaleza estava, se foy logo pôr
na ribeira dos navios, o fez 1oí;o lan-
çar ao mar os que estavail melhor nego-
ciados, o mandou chamar sou filho D.
Álvaro de Castro, a quem disse que se
fizesse prestes pêra hir soccorrer a forta-
leza d'EIUey.» Diogo de Couto, Década
6, liv. 'J, ("ip. 7.
VIGAMENTO, h. m. As vigas do edití-
cio.
VIGAR, r. n. Assentar o vigamonto.
VIGARARIA, s. /. A dignidade do vi-
gário, o officio d'elle.
— Parochia.
1 .) VIGARIA, í. /. Cargo que tem nas
ordena terceiras as mulheres. — Irmã vi-
garia.
2.) VIGARIA, VIGAIRA, ou VIGARIA,
*'. /. Pessoa que faz as vezes de outra,
a qua Sirvo em logar de outra.
VIGÁRIO, s. m. (Do latim vicárias). O
cura d'almas. — «Na qual ordem entra-
rão na fortaleza, que o vigário logo ben-
zeo, e lhe pos nome Emanuel, por lem-
brança de nosso Senhor, cujo o próprio
nome he, e por memoria dei Rei dom
Emanuel, em cujo tempo se fezera, e a
Cruz pos na Egreja, que jà estaua come-
çada, e lho deu nome da iuuocação de S.
liartholomeu.» Dandão de Góes, Chroni-
ca de D. Manoel, part. 1, cap. 78.
— Official de justiça, quasi juiz ordi-
nário, porém que ordinariamente conhe-
cia do coimas do britamentos de aguas
o similhantes objectos.
— Vigário geral do bispado ; ecclesias-
tico que faz as vezes do prelado.
— Vigário do império; principe quo
faz as vezes do imperador, ou pretende
ter esse direito.
VIGENTE, adj. 2 gen. (Do latim vi-
<jcji«). Que está cm vigor, força, activi-
dade. — l.iis vigentes.
VIGÉSIMO, A, adj. ord. num. Que se
segue ao decimo nono.
VIGIA, s. /. Vela do quo estA despor-
to. — «Peró depois que elle Rodrigo lía-
bello vio Melrao desbaratado com a vin-
da de Pulate Can, o quo com elle se
ajuntaram os Mouros do outro pregador,
com que lhe vinha dar mostras derredor
da Ilha, e poiiia cm jangadas, como da
outra vez. commottor a entrada delia,
ordenou navios de guarda, porque té eu-
tão a vigia dos passos era enconnnenda-
da ao Tanadar Cogcquij homem de guer-
ra, e mui fiol serviílor.» Barros, Década
2, liv. 6, cap. 8. — «Certificado António
de Faria desta boa nova que o 8imilau
llie dera, o do novo caminho por ondo
avia de entrar nuiua terra tamanha o
tio podcHisa, exforçiindo ou seun, »o pó»
no som conveniente a hcu propósito, íumí
na artilharia, que até cntSo fOra abatida,
como om concertar as arnuM, ordenar
(JapitaenB de vigias, e tudo o mai« que
era necessário para qualquer bucc'í»w que
tivesse.» Fernão Mendes Piuto, Peregri-
nações, cap. 72.
— Hora» iLe vigia ; diz-»e om oppoei-
çJo Ah do repouto de trrtòalhar.
— Vigilância.
— O acto de vigiar.
— Doonça do que soffro iniiomniaa.
— Loc. : Levar em vigia nlf/um Oaixo,
ou perigo no mar; ir-sc vijriando d'ellc,
navegnr com tento; em olho.
— l'lur, A negados, o outros t»e« peri-
gos, de que os mareantes devem vigiar-se.
— Veladores.
— ò'. 2 gen. Espia, flcntinella.
— Syx. : Vigia, tentinella, espia, ata-
laia.
Vigia exprime em geral o que vigia,
está com os olhos attentos para v^r c no-
tar o que se passa. Sentiixella Òí vigia
militar, soldado que i-stá de guarda n'al-
gura posto para vigia. Atalaia ó vigria
posta cm torro, assim chamada para ob-
servar ao longe ; extensivamente é espia
que anda observando o inimigo e seus
movimentos. Espia 6 o que com dissimu-
lação observa o escuta o que se passa
para communicar a quem lh'o encommon-
dou.
VIGIADO, part. fxtsg. de Vigiar. A quem
se poz, sobre quem so traz vigia.
— Suspeitoso, receoso, ilesvolado, acau-
telado com receio, guardado.
— Aquello que se vigia de alguém, do
algum perigo, damno, e se fas guardar
por vigias seus.
VIGIADOR, A, s. Pessoa que vigia.
— Adject'vamento : Vigilante.
— Desperto, observando.
— Desvelado, de pouco dormir.
VIGIANTE, part. act. de Vigiar. Que
vigia, que espia.
VIGIAR, V. a. (Do latim vigilare). Es-
piar, observar desvelado, desperto, e sem
dormir.
— Locução do 'lautica: Vigiar o mar
ao longe; estender a vista para vèr oqae
vem, ou apparece ao longe.
— Vigiar-se, r. rejt. Acautelar-so.
— Vigiar-se de alguma couta, ou pu-
soa ; andar com cautela para se resguar-
dar do damno que d'ella nos p<ide vir.
— V. n. Velar.
As cítrellas os cios .icomp.inh«Tam,
Qual campo revoâtído de boninas ;
Os furiosos voatoâ repoustivom
PeJaa covas escuras, pcroijriuas:
Porem d:i ;iriii.id.T a ^ento t-r/ín-a
Como por larpo tcuipo costum.iva.
cjM., i-rs., cant. 1, est. õ3.
VIGI
VIGO
VILA
947
— tE a doze homena, que vigiam de
noite a gyros, e ao Guavdamói' delles,
seÍ3 leques, e seijenta e dous azares; e
aos tintureiros, cincoenta azares; e a
quatro porteiros, lium leque, e ciucoenta
e seis azares ; e em repairo de casas de
pedraria, e gesso, dez leques; e a sua
mãi pêra vestidos, outros dez.» Barros,
Década 2, liv. 10, cap. 7. — «E sam
Paulo diz escreuendo a Timotheo, que
elle constituirá em prelado : Tu vigia, e
em tudo trabalha. Porque o prelado ha
de ser exemplo de boas obras. Isto de-
clara a escriptura no liuro dos juyzes
onde o bom Gedeam capitão dos Israeli-
tas lhe dezia : O que me virdes fazer,
isso fazey. O bom Príncipe ha de obede-
cer ás leys pêra dar exemplo. No Deute-
renomio mandaua Deos, que tanto que
el Rey fosse electo e cõstituido, escre-
uesse a ley, e a tiuesse consigo, pêra per
elia se gouernar.» Heitor Pinto, Dialogo
da Justiça, cap. 4.
VIGIEIRO, s. 7?!, O vigia, ou guarda
do campo.
VIGILÂNCIA, s. /. (Do latim vigilân-
cia). Qualidade do que é vigilante.
— Vigia cuidadosa, desvelo nas cousas
de nossa obrigação, para que se execu-
tem como é razão e devido, e se evite
perigo, damno, e mal.
Como a mestra engenhosa acha matéria
Dia losta a eftcotuar o que pretende,
E na couâenuujão das cousas sempre
Uom grande viyUanria está occupada
Vendo falturlhe algum dos que sustenta
E cria, como mãy, alli reforma
O filho fallecido e leua gosto
Em ver aquelle vão falso retrato.
COBTE BEAI., NAUFRÁGIO DK SEPÚLVEDA, Cant. 16.
VIGILANTE, adj. 2 gen. (Do latim vi-
gihnis). Dotado de vigilância. — Pae vi-
gilante.
VIGILANTEMENTE, adv. (De vigilante,
e o suífixo «mente»). De um modo vigi-
lante.
— Com vigilância.
VIGILANTISSIMAMENTE, adv. (De vi-
gilantissimo, e o suffixo «mente»). Su-
perlativo de Vigilantemente.
— Mui vigilante.
VIGILANTÍSSIMO, A, adj. superl. de
Vigilante. Mui vigilante.
vigília, s. /. (Do latim vigília). Es-
tar desporto a horas de dormir; falta de
somno.
— Véspera de festa.
Neste exercício vai continuando
Com perda dos iraigos, aura aeu dano,
Porém inda até então accrescontaudo
Bem pouca gloria ao nome Lusitano ;
Até que aquelle dia chega, quando
A vigília a Igreja traz cada ano
Do dia em que a fecunda Virgem Santa
Ao Reino de seu Filho se levanta.
r. d'ahdrade, pkimeiro cerco de diu, cant. 11,
est. 87.
— Desvelo em algum trabalho.
— Ter vigílias de devoção em alguma
igreja.
— Vigia, ou quarto d'aquelles em que
se reparte a noite, desde as seis da tar-
de até ás seis da manhã seguinte; cada
uma é de três horas.
— Figuradamente : Em vigilia da mor-
te; na véspera, ou na hora da morte.
VIGIVEL, adj. 2 gen. Termo popular.
Ser visivel.
VIGIVELMENTE, adv. Vid. Visivelmen-
te.
VIGGNHA, s. /. Vid. Vicunha.
VIGOR, s. m. (Do latim vigor). Força,
energia do corpo e do espirito.
Eu sam Mercúrio, senhor
De muitas sabedorias,
E das moedas reitor,
E deos das mercadorias :
Nestes tenho meu vigor.
GIL VICENTE, AUTO DA FEIBA.
— Por vigor da penitencia escapou do
inferno; escapou em virtude d'ella.
— Os costumes e leis estão em vigor ;
guardam-se bem, e fazem seu effeito.
— Força, energia.
- — Diz-se fallando dos vegetaes. — As
plantas retomaram o seu vigor, que ti-
nham perdido.
— Força com que se faz, ou executa
alguma cousa. — Responder com vigor.
VIGORANTE, part. act. de Vigorar.
Que dá vigor, que fortifica.
VIGORAR, u. a. Dar vigor, robustez,
roborar.
— Termo de pharmacia. Ajuntar a ter-
ceira parte do vigoraute ao medicamen-
to que se quer vigorar, ou tornar mais
valente. = Usa-se também na linguagem
medica.
— • V. n. Alcançar vigor, força, ro-
bustez.
VIGORISAR, ou VIGORIZAR. Vid. Vi-
gorar.
VIGOROSAMENTE, adv. (De vigoroso, e
o suffixo « mente »)• De vasi modo vigo-
roso.
— Com vigor.
VIGOROSO, A, adj. (Do latim vigoro-
sus, de vigor). Que tem vigor physico.
— Homem, cavallo vigoroso. — E' um
velho bastante vigoroso.
— Vegetação vigorosa ; estado dos ve-
getaes que crescem com força.
— Que tem vigor moral.
— Que se faz com vigor, fallando das
cousas.
— Forte, robusto.
— Syn. : Vigoroso, fm-te, robusto.
O vigoroso mostra maia agilidade em
suas acções, e tudo que obra o deve prin-
cipalmente ao valor. O forte dá a co-
nhecer mais firmeza que o vigoroso, de-
vendo isto á boa constituição de seus
músculos. O robusto está menos exposto
que 03 dous a indisposições e achaques,
sendo causa de seus aflectos exteriores
seu bom temperamento. O vigoroso ó
próprio para o combate, e para tudo que
exige vivacidade na acção. O forte é pró-
prio para a defensa. O robusto soffre o
trabalho natural com resignação.
VIGOTA, s. f. Viga pequena.
VIGOTE, s. m. Vigota.
VIIR. Termo antiquado. Vid. Vir.
VIL, adj. 2 gen. (Do latim vilis). Bai-
xo, de baixa sorte; diz-se das pessoas,
e cousas de pouco apreço.
Tal he esta força nunca resistida
Que até a mesma fortuna lhe obedece,
Porque esta onde a esperança hc mais perdida
Differentes remédios oíierece ;
Esta a cousa mais vil, baixa, e abatida
Mil vezes sobre as grandes engrandece,
Tal que da ja pequena Aldeia e pobre
Pude fazer Cidade illustre e nobre.
FRANCISCO DE AÍTDEADE, PRIJÍEIBO CKBCO DK DIU,
cant. 5, eat. 1.
— De pouca conta.
— • Desprezível, deshonroso.
Por degráos mais, e mais a industria cresce:
A sebe fecha os campos, defendidos
Só das feras então, depois dos homens ;
Quando Avareza vil, cobiça insana
Quiz dar jús á rapina, e jús á força.
Fundando o Império da Razão nas armas.
J. A. DE MACEDO, MEDITAçlo, Caut. 1.
Digna sciencia, só, do estudo humano,
Que liga a Terra aos Ccos, e os Ccos á Terra,
Que á ambição delii-ante, á vil cobiça
Açaima a fiuia, os Ímpetos reprime.
— «E com esta fama foi a cousa em
tanto crescimento, que sendo já lá dezoi-
to homens da gente vil, começou entrar
no coração de algumas pessoas de mais
qualidade.» Barros, Década 2, liv. 6,
cap. 9.
Inveja vil de pérfidos validos,
Não é tua esta victima ^ seus ossos.
Não lh'o.-i possuirás, ingrata pátria.
Seu fado negro foi, mas antes elle;
Antes perder a vida ás mãos selvagens
Do rudo cafre na deserta areia,
Que á fome... á fome, c no seu pátrio ninho.
GARRETT, CAMÕES, Cant. 8, cap. 17.
— Figuradamente : Baixo, abjecto, des-
prezível.
— Syn. : Vil, baixo. Vid. este ultimo
termo.
f VILA, s. /. Vid. Villa. — «Deu mui-
tos privilégios assi as cidades, c vilas do
regno, como as das ilhas, e lugares de
suas conquistas em Africa, Guine, terra
de Santa Cruz ou Brasil e na índia, e
outras prouiucias que ganhou, do que
tudo foi absoluto Senhor, em quanto vi-
veo.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 4, cap. 86.
948
VI LL
VILL
VILL
VILDADE, s. /. Via. Vileza.
VILEZA, «. /. A (jualidailc «lo ser vil,
do baixa HOrte, nito honrado.
— Biiixeza, vulfíaridaiio. — tlOm tim
este hc aiiuclie outro todos distiiicto Ani-
mal que por que possa passar continua-
mente pello.s ollios o (im para que toi
creado, d(!sprcza as vilezas do jiò de que
foi naseido; por isso a Natureza o coii-
tra-diâtinpuio ao3 mais Animais na admi-
rável oHtructura.» Braz Luiz d'Abrou,
Portugal medico, paf^. 'M, § 124.
— Acto de pessoa vil.
— Adaoios k 1'uovKumos :
— Pobreza não é vileza.
— A casta, e a pobreza lhe faz fazer
vileza.
— Quem diz que a pobreza ó vileza,
nSo tem siso na cabeça.
VILKANCICO. Vid. Villaucete.
VILHANESCA, ou VILHANCETE. Vid.
Villaucete.
VILHETE, s. «1. Vid. Bilhete.
VILIAR, V. a. Termo antiquado. Vil-
tar, viliiicndiar.
VILICE, 5. m. Termo antiquado. Vid.
Velhice.
VILIDA, .V. /. Vid. Belida.
VILIFICAR. Vid. Envilecer, e Aviltar.
VILIPENDIAR, r. a. Ter por vil, des-
estimar, tratar por vil.
- — Desprezar, tratar com desprezo por
obras ou jialavras.
VILIPENDIO, s. "i. Desprezo de pessoa
ou cousa, que se estima em nada, menos-
cabo.
VILIPENDIOSO, A, adj. (De vilipendio,
e o suffixo «oso»). Que traz vilipendio.
— Que mostra aquillo em que é tida
aljjuma pessoa ou cousa. — Maneiras vi-
lipendiosas.
VILISSIMAMENTE, adv. superl. de Vil-
mente. Mui vilmente.
VILISSIMO, A, ailj. superl. de Vil.
Mui vil.
VILLA, s. /. (Do latim villa). Povoa-
yào de menor graduaçiío que a cidade, e
superior á aldeia; tem juiz, camará, e
peílourinho. — «E se estas ])e3Soas forem
citadas na villa fora da Audiência, leve
o Porteiro de cada pessoa dous soldos,
salvo se forem herdeiros, e testamentei-
ros, que levaril quatro, porque som duas
pessoas; e se o Porteiro for a al<2;um lu-
gar citar algumas pessoas na petiçom dal-
guem, per mandado do que ho Juiz, ou
Corregedor, fora da Villa, e for no
Termo, leve de cada legoa quatro reaes
pola hida.» Ord. Affous., liv. 1, tit. 19,
§ 2. — «E foi sepultado em a villa de
Lagos e dahi passado ao mosteiro de
sancta Maria da Victoria, a que cha-
maõ a Batallia, na capeila delRey seu pa-
dre. O qual Infante e Príncipe, de gran-
des emprezas : segundo suas obras e vi-
da, deuemos crer que está em o Paraiso
entre os eleitos de Deos.» Ban-os, Déca-
da 1, liv. 2, cap. Ití. — <iE porque aos
Mouros nito o» assombrou o estrondo e
dilno da artelharia, pêra decerem de seu
propósito: assentou .\tlonso d'Alboquor-
que nquella noite em consellio o modo de
combater a villa, e quíldo vuyo ante ma-
nhail, erSo todolos capitães em seus ba-
téis derredor da nao capitania, onde re-
cebifla Luma absoiúiçSo geral do cjipellào
da nao, todos em hum corjx) com grande
estrondo de trombetas, e grita poserito o
peito em terra.» Idem, Década 2, liv. 2,
cap. 1.
(^uc casa» (luc m juntavam 'f
i|UO rondiís i]uu alcaiii,'aruiii ?
vassullos, vilUm, riqiuíza V
juidii;õos, mando, noblozaV
quo rttMiliorios hcrdarum V
UAUCIA IIK UKZENDi:, UI8Ci:LLlNi:A .
11 uo clérigo natural
dii ':iU(i de Alpedrinha
vimos ca ser Cardeal,
cm pouco tempo c asinha
Cardeal de Portugal.
— «E assi proueo as fronteiras de Ca-
pitães, e as fortalezas de Alcaides mo-
res, gente, e armas, o todo o que mais
cumpria. E fcyto assi tudo, tendo ja a
gente prestes, jjartio da Cidade da Guar-
da no mes de laneiro de mil e quatrocen-
tos e setenta e seis annos, entrou em Cas-
tella polia villa de são Felizes, a qual lo-
go tomou por força por estar contra el
Kev seu pav, e a deixou por sua e no
combate ouue alguns mortos, e feridos.»
Idem, Chronica de D. João II, cap. 12.
— «Em esto mesmo tempo, c anuo, ouue
o Príncipe de Pêro pautoja, que lhas deu,
as fortalezas de Zaguala, e Pedra boa do
mestrado de Alcântara, em que logo pos
seus alcaydes, e capitães, e por ellas lhe
deu em Portugal a villa de Santiago de
Cacem.» Ibidem, cap. 16. — «E no mes
de Nouembro deste anno de mil e qua-
trocentos e oitenta e hum forão juntos na
Cidade todos os grandes senliores, e pes-
soas principaes, e alcaydes morea, o assi
todos 03 procuradores das Cidades, e Vil-
las nutaueis pêra Cortes, que auiào de
fazer.» Ibidem, cap. 20. — «"No qual tem-
po dom loani de Sousa, capitam da dita
Villa, adoeceo a morto, de maneira que
nào podia acudir a cousa alguma que com-
prisse, e por não morrer por muigoa de
tisicos, e cousas necessárias a sua saúde,
ordenaram todos que se viesse logo a cu-
rar a Portugal.» Ibidem, cap. 81. — «Os
muros e toda a villa era cavada, e toda
enramada, e muytas intindas bandeyras,
e as ruas espadanadas, e umyta e rica ta-
peç;iria, as janellas com simies de muyta
alegria, que entam todos tinham.» Ibi-
dem, cap. lol. — «Embarcados nós da
nianevra que tenho dito, fomos aquolle
dia ja quasi noite dormir a huma villa
grande que se chamava Potimbeu, e ua
cadea delia estivemos nove dias, por cau-
sa das niuyta« chuvas que ouve na con-
junção daquolla lua nova, onde quiz nosBO
Senlior que achamos pre>o iium liomem
Alemão, que nos agasalhou com muvta
caridade, e pci-guntandulhe nii» na lin-
goa do Cidm ^com a qual nos cntondia-
mos com olloj donde era natural, ou co-
mo viera aly terV» Fernão Mendes Pin-
to, Peregrinações, cap. Hh. — «Dom Vas-
co (Joutiiiho, (Jonde de Borba, governar
d<jr, e capitrio d'eata villa, emprazado
[lor capitules, que dulle durão a el Uei
Dom João, e deixara em seu lugar dom
Rodrigo Coutinho seu sobrinho, lilho de
Dom Álvaro Coutinho, que morreu uo
combate de Baltanaa, quomo tenho dito
na Chronica do Principo dom João, ho
qual dom Rodrigo gahio a pelejar com
esta companhia de mouros, que era gros-
sa, e de boa gente de guerra, onde foi
desbaratado, e morto com dezasete fidal-
gos.» Damião de Góes, Chronica de O.
Manoel, part. 1, cap. 12. — «E correndo
ha costa dez legoas contra Melinde lhe
sairam de huma villa de Mouros chama-
da Páte oito terraJas, que sam naaios
pequenos de guerra, com muita gente,
dos quacs se desfez as bombardas, e por
lhe escacear o vento lias nam seguio. »
Ibidem, cap. 44. — «Aos quaes todos
dom loam fez muito gasalhado, e lhes
deu a estancia do sino que elle guardana
para sim, com esta gente, e com a que
auia na villa se acodia a todalas partes.»
Ibidem, part. 4. cap. 5. — «Fez villas
na illia da madeira os lugares da ponte
do Sol, da Caliíeta, e os separou da lur-
diçam da cidade do Funclial. Fez villa
do lugar do porto do ludeu na ilha ter-
ceira com nome de Sam Sebastiam, e o
separou da jurdiçam da villa Dangra.»
Ibidem, cap. 86. — «Fez villa o lugar de
Nordeste na ilha de S. Miguel, e o sepa-
rou da jurdiçam de villa Franca. Fez
vila o lugar de saacta Croz na ilha da
Madeira, e o separou da jurdiçam de ila-
i hico. Fez villa do Ing-ar dagoa do pao da
ilha de S. Miguel. Fez villa .do lugar de
Tancos, e o separou da jurdiçam da villa
Datalaia. Fez villa do lugar dos arcos de
Valdevez.» Ibidem. — «Cada hum quer,
(jue se lhe assista ao seu negocio, como
se outro não houvera ; e daqui nascem as
queixas, (|ue porisso saõ muito deaarre-
zoadas. Da villa de (joes vejo a esta
Corte certo homem de bem com hama ap-
pellaçaõ em caso crime.» Arte de fartar,
cap. 48.
K |K>rque Hquelle, a quem a soberana
Providoncia. huma loura côr tem dado,
N.1 biirbara lintruagcra Indiaiui
Com próprio nome gpu Rume he chamado ;
K aquelle c^ue naaceo lá na profana
Turquia, desta cor loura he dotado.
Daqui estj» nova 17//(i que estou vendo
A dos Rumes ac dir, sopundo entendo.
>°. D'i>'nKXI>B, PBOIEIBO CBBOO DB DIC, Caot. 5,
est. 32.
VILL
VILL
VILT
949
• — <r Pelas três da tarde, ckeguei á Ca-
sa-Forte, ou villa d'(Jurein, onde fechei
a visita e dei as providencias que me pa-
receram necessárias; e, embarcando em
um bote com André Coraino, chegamos
ao sitio de Padre (labriel e ahi íicamos.»
Bispo do Grào Pará, Memorias, publica-
das por Camillo Casteilo Branco,
— Conietter a villa com mantas, espin-
gardaria, etc. — «No qual dia vieraõ co-
meter a villa com mantas, picões, espin-
gardaria, besteiros, que por serem mui-
tos, nenhum dos nossos podia assommar
entre as ameas, nem aos buracos das se-
teiras que logo nào fosse pregado.» Da-
mi.ào de Ooes, Chronica de D. Manoel,
part. 2, cap, 28.
— Casa do campo.
— Moça, ou pessoa de villa ; moça, ou
pessoa pouco polida, e urbana ; em oppo-
siçào á certeza, ou creada em paga, ou
serviço de cortezàos, e gente nobre.
, — Cidade. — J. villa de Guimarães,
— Villa de foro. Vid. Fôro.
— Adágios e provérbios :
— Em ruim villa briga cada dia.
— Quem màe tem na villa, sete vezes
se amortece ao dia.
— Alvoradas á villa, que beringellas
ha no açougue.
— Nào ó villào o da villa, senào o que
faz villanÍR.
— Melhor é uma casa na villa, que
duas no arrabalde.
— Quem deixa a villa pela aldeia, ve-
nha-lhe má estreia.
— Quem te gabar a villa, gaba-lhe a
cidade.
— Quem não tem mesura, toda a villa
é sua.
— De uma faisca se queima a villa.
f VILLAAO, s. m. Vid. Villão. — «Por
que muytas uezes acaece que o homem
faz por concórdia, nem ade (sic) descor-
dia pur ende assy he que per caiom dos
previlegios que os nossos antecessores aos
espitaaes derom e eles nom husam deles
como deuem fazendo preytezia com os
lauradores, e con os seos villaaos que Ihis
façam foro certo en cada huum ano des-
sas herdades e lançam em elas ssinaaes
e cruzes ssen que deneguem a nós o nos-
so dereyto.» Doe. de 1211, em Port.
Mon. Hist.
VILLA-DIOGO, s. f. Termo usado na
seguinte locução popular : Dar <h de Vii-
la-Diogo ; fugir, esgueirar-se, raspar-se.
Diz-se do mesmo modo : Tomar as de
Villa-Diogo.
VILLAGE, s. /. Vid. Villagem.
VILLAGEM, s. /. Villa.
— Logar nào fechado de mui-alhas,
composto principalmente de casas de
camponezes.
— Os habitantes da villagem.
— Aldeia, casa rústica, campestre.
VILLÃ. Vid. Villão.
VILLANAGEM, s. f. Grupo de villàos.
VILLANAMENTE, adu. (De villão, com
o sufTixo «mente»). Villãmente.
VILLANAZ, adj. 2 gen. Grande vil-
lão.
— Substantivamente : Um villanaz.
VILLANGETE, s. m. Poema breve, rús-
tico, chacota.
VILLANESCO, A, adj. — Composição
villanesca. Vid. Villancete, ou Chacota.
VILLANÍA, s. f. ViUanagem.
— Figuradamente : A villauia da al-
ma; qualidades vis da alma de mau vil-
lào.
VILLÃMENTE, adv. (De villã, com o
suffixo «mente»). De um modo villão.
1.) VILLÃO, Ã, ÃA, AN, ou VILLÕA,
adj. Rústico, descortez, próprio de vil-
lão.
— Cavalleiro villão ; cavalleiro que
não era de linhagem, e ia á guerra a
cavallo, ou era obrigado a mantel-o, se-
gundo a contia da sua fazenda, chamado
outr'ora cavalleiro acontiado.
— Villãos cuidados ; baixos.
— Acção villã; acção própria de vil-
lão, rústica.
2.) VILLÃO, s. m., VILLÃ, ÃA, AN,
ou VILLÒA, s. /, Homem ou mulher que
mora em villa.
— Pessoa baixa, injuriosamente.
— Camponez, ou camponeza.
Vi soberba nos villàos,
e baixeza no3 honrados,
vi cubi(;a nos prelados,
descuido nos anciãos,
e desordens nos estados.
OAECIA DB IIEZF.NDE, MI3CKLLÍNRA.
— f Com tudo auia na borda delle hum
magote, de quasi trezentos villãos adar-
gados, que todos juntos fezeraõ rosto aos
nossos, os quaes dom Bernardo commet-
teo com a sua gente, porque loam da
sylua passara huma ponta de rochedo,
que entra IH) rio, para dar em outra com-
panhia de Mouros, que por aquella ban-
da se saluaram a nado. » Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 3, cap. 48.
— Acção de villão ; acção baixa, vil,
abjecta.
— Termo de desprezo. Villão, ou vil-
lã ruim; homem, ou mulher rústica, iu-
civil.
— Pessoa cível, não nobre, não fi-
dalga.
— Pena de villào ; pena vil como açou-
tes, galés, etc.
— Flur. Villãos, ou villões. — € Ne-
grinho, negrinha a que se digam reque-
bros; engeitadinhos graciosos, villôes sim-
ples (que ás vezes nào são simples) ves-
tidos de cores, que se chamam Dons fu-
lanos, entram, e vão por donde querem,
não quizera eu que entrassem, nem fos-
sem por casa de v. m. Tudo isto na mi-
nha má opinião é reprensivel; e folgara
de o ver longe das portas de meus ami-
gos.» Francisco i\Ianoel de Mello, Carta
de guia de casados.
— Adágios e provérbios :
— Villão quer-se espremido como o li-
mão.
— ^Do villão, e do limão, o que ti-
ver.
— Não dar o dedo ao villão, porque te
tomará a mão.
— Quando o villão é rico, não tem
parente, nem amigo.
— Não é villão o da villa, senão o
que faz villania.
— Se queres saber quem é o villão,
mette-lhe a vara na mão.
— A cabo de cem annos os reis são
villões, e a cabo de cento e seis, os vil-
lões são reis.
— A força do villão ferro em meio.
— Bem come o villão, se lh'o dão.
— Estende-se como villão em casa do
seu sogro.
— Quanto se faz ao villão, tudo é
maldição.
— Obra é de villão, tirar pedi-a, es-
conder a mão.
— O nogal, e o villão, ás pancadas
dão.
— A burra do villão, mula é de ve-
rão.
— Se o villão soubesse o sabor da gal-
linha em janeiro, nenhuma deixaria no
poleiro.
— Villão farto de alhos.
— Sanha de villão, perda de sua casa.
— A vacca do villão, se no inverno
dá leite, melhor o dará no verão.
— Ficou o villão como aguilhada na
mão.
VILLÃOSINHO, s. m. Diminutivo de
Villão.
VILLÃOZÃO, Ã, a.lj. 2 gen. Augmen-
tativo de Villão. Viil. Villanaz.
VILLAR, s. m. Termo antiquado. Ca-
sal ou aldeia.
VILLETA, s. /. Villa pequena.
VILLICO, s. m. (Do latim villicus).
Abegão. feitor, caseiro.
VILLÔA, s. /. Vid. Villã, termo me-
lhor, e talvez preferível.
VILLOTA, s. f. Villa pequena, e de
pouca importância.
VILLULA, s. f. Prédio rústico, herda-
de pequena, insigniticante.
VILMENTE, adv. (De vil, com o suffi-
xo «mente»}. De um modo vil, e baixo.
— Com villeza, sem nobreza.
— Por baixo preço.
VILTA, s. /. Termo antiquado. Pala-
vra ou acçào para aviltara outrem.
— Deshonra, aíFronta, vitupério que
envilece a quem a soffre.
VILTADO, 2Jart. pass. de Viltar. En-
vilecido, deshonrado, abatido moralmente.
VILTANÇA, s. /. Termo antiquado.—
Receber viltança ; receber deshonra, aba-
timento vil.
— Aviltamento.
950
VIMO
VINA
VDÍC
VILTAR, V. a. Toriiio antiquado. Des-
lionrar, íiffrontar.
— Envilecer, aviltar.
f VIM. F/jrma tio vorho vir na primei-
ra ytossoa (lo sinerular tio pictorito porfei-
to do modo indicativo. Vid. Vir.
Olhae 80 o lovou o pato,
Inda não to.ndcs carniça?
Poiílio per cajo que algucm
Vem como cu vim aftora,
K vótt a 0ticui°a!« a tal hora ;
Parcce-voA que scra bem?
OIL VICUMTR, FXRÇÁS.
E eu também merecia
Metida a grave tormento,
l\)irt que, como não devia,
Vim a dar couâeutimcuto
A tào sobeja ousadia.
' CAU., FILODKMU, act. 4, 8C. 6.
VIMA, s. /. Emplasto feito pelos cam-
ponezes.
VIME, 8. m. (Do latim vimen). Arbus-
to que produz vai-inlias tenras de que se
tecera cestos rústicos, e servem de atar.
— Na tanoaria servem para prender
08 arcos.
— Varinha de vimeiro.
VIMEIRO, s. m. Arbusto. Vid. Vime.
— Vimeiro ordinário.
— Vimeiro do norte, ou salriueiro fran-
cez.
VIMEM. Vid. Vime.
VIMINEO, A, adj. (Do latim vimi-
»ieus). Termo de poesia. De vime. — Ces-
tos vimineos.
-|- VIMOS. Fi'irma do verbo vèr na pri-
meira pessoa do plural do pretérito per-
feito do modo indicativo. Vid. Vér.
Ho mestre tã grã priuado,
que Castella assi mandou,
Condestablo prosperado,
que tauto senhoreou,
vimos morto dcgoUado.
OAUCIA Dl! RCZUNDC, UI3CKI.I.AMB&.
Vimos bem brcucs medranças,
e outras bem vafiarosas,
vimos ja muytas priuauças
ficar com vàas esperanças,
c outras bem provcctosas.
lUlDCM.
Vimos muyto espalhar
Portugueses uo viuor,
Brasil, ilhas pouoar,
e aas índias yr morar,
natureza lhe esquecer.
Vimos falescor na corte
senhores velhos hom-ados,
todos muy aprossurados
lios vimos louar a morte
sem falia, nem confessados.
Vimo» o gr»m Mirliael,
Albrito c Uaphacl ;
n em Portugal lia taes,
tani grande,! o naturais,
<pii: vc in quasi ao Imel.
VimOH alçar Uranca rosa
por Iley inuytos dos Iiigleaos,
foy cousa marauilhosa
que cm dias c non em meses
juntou gente muy fennosa.
— «O qual quando assi vimos por so
s.'iluaçrio de nossa pessoa nos tingimos
doente, e estando assi com os nos.sos, per
Imma divinal inspira^^jlo de uosso Senhor,
nos esfori;amos, e chamamos, os nossos
xxxvi homens, e com cUes nos appare-
Ihanios, e nos fomos com elles a praya
da Cidade, onde o dito nosso l'ai fale-
ceo, onde pente de numero infindo esta-
ua com o dito nosso irn)ão, e alii brada-
mos por nosso Senhor Jesu Christo.» Da-
mião de Ctocs, Chronica de O. Manoel,
part. 3, cap. 38. — «15 em quilto dura-
raõ estas altercações, quiz Deos que es-
clareceo a menhri, cm que distintamente
vimos que ora gente que se perdera no
niai-, que andava sobre paos, então lhe
pusemos afoutamente a proa a vella e a
remo, o chegandonos bom a elles para
que nos conhecessem, gritarão muyto
alto por seis ou sete vezes, sem dizerem
outra cousa, senão, Senhor Deos miseri-
córdia.» Fernão Mendes Pinto, Peregri-
nações, cap. òo. — lAquella noite se-
guinte, sendo qua.si o quarto da modor-
ra rendido, vimos no meyo do rio por
nossa })roa estar huma barcaça surta,
dentro na qual pelo grado aperto e ne-
cessidade em que então estávamos, nos
foy forçado entrarmos sem tumulto nem
rebuliço algum, e nella tomamos cinco
homens que achamos dormindo. p Ibidem,
cap. 74. — «Dahi proscguimos e de ca-
minho vimos o engenho de moer cana de
assucar, iiào com cavallos ou bois como
os outros, mas sim com agua, tendo por
fi')ra um.a azenha ou moinho de cubo ex-
cellente.» Bispo do (irão Pará, Memorias,
publicadas por Camillo Castello Branco,
pag. 205.
VIMOSO, A, adj. De vimes.
VINA. Termo antiquado, por Vinha.
VINAGRADO, ijart. jyass. de Vinagrar.
— Figuradamente: /lazSes vinagradas ;
razões azedas, acerbas.
VINAGRAR, 1-. n. Avinagrar-se, aze-
dar-se como o vinagre, entrar na fermen-
taç.^o acida.
VINAGRE, s. m. (Do francez vitiai-
gre). A calda doce, ou mosto de certos
fnicios, o grãos farináceos, que depois
de entrar na fermentação vinosa, passa
a azedar. — « E aqui está escondido ou-
tro segredo natural, que aquella agua
botada aos poucos, se vay convertendo
em viaagre, e ás vezes maia forte, por-
que BC destempera; c nesta parte he co-
mo o ca5 damnado, que irritado ue aze-
da muis.» Arte de furtar, cap. .'ó.
— I>oC'. KKi. : K um vinagre; tem pe-
nio azedo, denabrido.
— AlJAOIO.S E PUOVKBBIOS :
— Apregoa vinho, e vende vinagre.
— De bom vinho bom vinagre.
— Estou feito de fel e vinagre.
— Olha o vinagre, famoiio vinagre é
fulano.
VINAGREIRA, ». f. V&no onde se faz
o vinagre.
— Herva, aliás ateda».
— Vaso que contém o vinagre.
VINAGREIRO, «. m. Homem que faz
vinagre.
— Homem que vendo vinagre.
VINALIAS, «. /. jtlnr. Festas celebra-
dae pulos romanos em honra de Júpiter
ant'js de principiarem as vindimas, e na
primavera em honra de Venos ao oome-
çfir a beber-sc o vinho novo. »
VINARIO, A, luJj. Próprio para vinho.
— Cata vinaria.
— Casa vinaria; casa, ou cella em
que no tempo de Salomão se guardavam
os mais preciosos vinhos do Líbano.
VINCADA, a. f. Vinco, rego.
VINCAPERVINCA, s. /. Herva.
— Vid. Clematite.
VINCENTE. Vid. Vicente. v> —
VINCETOXICO, s. m. iDo latim vin-
cere, e do grego tirikon). Herva oontra-
voneno. Vid. Hirundiaria.
VINCILHO, «. «I. Vid. Vencelho.
VINCO, s. 111. O signal que fica no que
esteve dobrado, ou por onde passoa a
roda.
— Vincos das orelhas; por britíco».
VINCULADO, fart. pass. de Vincular.
Preso, ligado.
— Annexado.
— Vinculado com TtieUrimonio; ligado,
obrigado por elle.
— Vinculado por pacto, ajtuU; liga-
do, obrigado por elles.
VINCULADOR, A, s. Pessoa que vin-
cula, que liga.
VINCULAR, 1-. a. Prender, ligar.
— Annexar.
— Dar para sempre.
— Figuratiamente : Vincular bens ; an-
nexar senhorio, ou usufructo dos bens a
certa pessoa, e .«eus deecendenlee, de
um modo inalienável.
— Vincular-se, v. refi. — Vincnlar-se
por parenlescii, ebrigaç^, caridade com
alguém ; ligar-»o com elle.
VINCULATIVO, A, a«7j. Que eerve de
vincular. — Pacto vinculativo. — Dispo-
siçilf) viuculativa.
VINCULATÓRIO, A. adj. Que serve de
vincular. Vid. Vinculativo.
VINCULAVEL, ,idj. 2 gen. Que se pô-
de vincular. — lii-i)." vinculáveis.
VINCULO, s. m. (^Do latim viMtdnm).
Ataduia, liame.
VIND
VIND
vmD
951
— Correlação, ou relações obrigatórias
de deveres, reconhecimentos, prestanças.
— O laço moral, prisão voluntária. —
O vinculo matrimonial.
■ — ■ Bens vinculados.
— A obrigação nascida da vontade ou-
torgante, e imposta pela lei.
— Vinculo de morgado, ou capella ; ins-
tituição de uma administração de bens
para certa linhagem, inalienáveis, one-
rados com encargos. Vid. Vincular bens.
VINDA, s. /. A acção de vir. — «Es-
tando envolto antre umas e outras magi-
nações, chegou o principe Primalião seu
filho, a que já fora a nova das vindas
das galés, que o fez cavalgar; e assim
com pouca campanha se foram ao porto,
onde os seus desembarcavam.» Francis-
co de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 122. — «A qual paixão naõ somen-
te moueo os principaes per cuja mão an-
te da nossa vinda corria este tracto, mas
ainda ac genro d'elRey que era o maior
contrario que alli tínhamos : aqueixando-
se a elRey mui grauemente de dar azo
a que as cousas viessem àquelle termo.»
Barros, Década 1, liv. 10, cap, 3. — «E
porque ao diante particularmente have-
mos de tratar do effeito que houve a vinda
deste Mattheus, e assi do estado, e cou-
sas deste Rey da Abexya que o enviou,
baste '.U.aii^^esente saber, que Affonso
d'Alboquerque mandou este Embaixa-
dor aquelle anno em as náos que vieram
com especiaria.» Idem, Década 2, liv. 7,
cap. 6. — -«Ordenadas estas cousas, quan-
do veio a hora da vinda d'ElRey, por-
que tardava, mandou-lhe Affonso d'Albo-
querque dizer per o Secretario Pêro de
Alpoem, e Alexandre d' Ataíde lingua,
que estava esperando por elle, e levaram
comsigo as trombetas pêra virem com a
pessoa d'ElRey. » Ibidem, liv. 10, cap.
5. — «E se havemos de crer a Beroso,
Diodoro Siculo, Mestre Annio, e outros
Authores gravíssimos, também os Hespa-
iihoes descendem destes Tártaros, e Ma-
gores ; porque dizem elie>, que quasi nos
annos de cento e oitenta annos antes da
vinda de Christo, quando Dionvsio Rey
do Egypto (por outro nome Osiris) foi a
Hespanha, e matou o tyranno Gerion,
que já vinha do rodear toda Africa, e
Ásia e os desertos, e últimos fins da Ín-
dia.» Diogo de Couto, Década 4, liv. 10,
cap. 2. — «Nuno fernandez dataide o fez
assi como o uíandara dizer a Iheabenta-
fuf porque logo pela manhãa despachou
Lopo barriga com duzentas lanças, e
atras elle Nuno da cunha com trezentas,
mas sua vinda foi excusada, porque quan-
do chegaram o campo dei Rei de Marro-
cos era de todo desbaratado.» Damião de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 3,
cap. 35. — «Como disse no Domingo pas-
sado, todos estes quatro Domingos antes
do nascimento do Senhor estão consagra-
dos ao mysterio de sua vinda e encarna-
çã, e em todos elles sospira a Sãcta Ma-
dre igreja por sua vinda, e como se em
dia de natal ouuesse de nacer de nouo.»
Ibidem, part. 2, cap. 70. — «Tanto quo
o Principe foy em Touro, por o grande
fauor que ei Rey seu p.iy, e todos com
saa vinda receberam, porque el Rei dom
Eernamlo tinha cercado o castullo de Za-
mora, determinarão logo de yrem cercar
a Cidade da outra parte da ponte, ho
que logo fizeram, e deixou el Rey com a
Raynha em Touro o Duque de Bragan-
ça, e o Conde de Villa Real com a gen-
te que compria.» Garcia de Rezende,
Chronica de D. João II, cap. lo. — «E
pêra isto repartio o auno em diuersos
tempos couuem a saber ante Natal toma
quatro semanas pêra celebi'ar o mysterio
da vinda do Senhor em carne, e pêra
aparelhar seus filhos a cteuotamente rece-
berem seu senhor nascido, o qual tempo
chamou Aduento.» Er. Bartholomeu dos
Martyres, Catecismo da doutrina christã.
Confuso o Capitão, suspenso fica
Tanto quo lhe chegou disto o recado,
Porque esta vinda eutào lhe proguostica
Algum estranho mal, e náo cuidado ;
Mas nada então de tora notifica
O que o seu peito tem dentro encerrado,
O sobresalto o apressa, elle o primeiro
Deseja d ir buscar logo o Faleiro.
F. DANDRADE, PRIMEIRO CEKCO DE DIU, CaUt. 14,
est. T(j.
— «Engolfou-se o marido em serviços,
e esperanças, e não fazia conta do vir
tão cedo. Enfadava-se a mulher, e lhe re-
queria muitas vezes que viesse ; mas des-
esperada já da vinda, dizem que lhe es-
creveu em catalão estas palavras: Mo-
sen Gralha, Mosen Gralha, mon amor
non manha palha, t D. Francisco Manoel
de Mello, Carta de guia de casados.
— Vinda do mez. Vid. Vida do mez.
— Loc. : Dar as boas vindas; dar os
emboras a quem chegou de novo á terra.
f VINDE. Forma do verbo vir na se-
gunda pessoa do plural do modo impera-
tivo. Vid. Vir.
Viiide acceudor na Etruria o facho oxtincto...
J;l na mão da sciencia arde, e se inflamma!
Aunu\'iada, o barbara atO .igora,
bobo ao throuo iramortal Filosofia.
J. A. DK 3I.4CEDO, MEDITAÇÃO, CaUt. 1.
— «Nobre dama comnosco ao régio Affonso
Vinde; e rceebereia honra o justiça,
Qual se vos devo Nome e sangue ignoro
De tam bolla senhora, mas poreorto
D'alta progénie o tenho.»
QAKnETT, D. BRANCA, caut. 8, cap. 2.
— nSou cu, amigo ;
Cavalleiro, sou eu. Vinde; á justiça
Porta abrimos emfim : ver- vos deseja
K ouvir- vos o monarcha. »
— "A mim !»
IDEM, CAMÕES, caut. õ, cap. 14.
VINDICAÇÃO, s. /. (Do latim vindica-
tio). A acção de vindicar.
— Apologia. .
— Defesa. — A vindicação da honra.
— Vingança, punição.
VINDICADO, part. jmss. de Vindicar.
— Vid. Vingado.
VINDICAR, V. a. (Do latim vindicarej.
Pedir a restituição do que é nosso por
demanda, por armas.
— Impor penas, castigar, punir.
— Defender. — Vindicar a verdade.
— Tomar o que se nos tirou.
— Cobrar, recuperar.
VINDICATIVO, A, adj. Qne ó propenso
á vingança.
— Punitivo.
VINDICO, A, adj. Que veio para a terra
onde está, estranho n'ella.
— Chegado de ha pouco, ou a algum
negocio.
VINDICTA, s. /, (Do latim vindicta).
Vingança. Vid. Vendita.
— Castigo, punição legal.
VINDIMA, s. /. (Do latim vindemia).
O trabalho de vindimar.
— A uva vindimada.
— O tempo de vindimar.
— Ad.4gios e provekbios :
— A vindima molhada acaba cedo al-
liviada.
— Até o lavar dos cestos ha vindima.
— Vindima molhada, pipa asinha des-
pejada.
— Não ha cada dia Paschoa, nem vin-
dima.
— Agosto e vindima não é cada dia.
— Folgar galinhas, que o gallo é em
vindimas.
— Rainha é a gallinha, que põe ovos
na vindima.
— O velho põe a vinha, e o velho a
vindima.
— Vindima enxuto, colherás vinho pu-
ro.
— Agosto madura, setembro vindima.
— Quem não poda em março, viudima
no regaço.
— Por Santa Marinha vac vêr tua vi-
nha; e qual a achares, tal a vindima.
— Dia de S. Matheus vindima o sisu-
do, semeiam os sandeus.
— Quem com o demo cava a vinha,
com o demo a vindima.
VINDIMADELHA, t./. Mulher quo vin-
dima.
VINDIMADO, part. pass. de Vindimar.
— Vinha vindimada; vinha d 'onde se
colheram os cachos.
— Figuradamente : Perdido, morto,
acabado.
— Loc. POP. : Passar j>or alguma cou-
sa como por vinha vindimada ; passar ra-
pidamente, .=;cm obstáculo nem impedi-
mento.
VINDIMADOR, A, s. Pessoa que anda
vindimando. Vid. Vindimadeira.
VINDIMADURA, *. /. Vid. Viudima,
952
VIND
VING
VING
VINDIMAL, aãj. 2 gen. Conoeriionto áh
viiuliiiias, 011 collioita, e feitura iIoh vi-
IlIlllH.
VINDIMAR, i). a. Colher aH uva» das
vinhas ou parreiraw.
— Fif^uradauioiitc: Matar, acabar.
— V. 11. ('(lUu^r cachou, uvas, apa-
iiiiai-aH.
VINDIMO, A, (vlj. Serôdio, do tempo
da viudiíua. — Fruta vindima.
— ('iisti) vindimo ; cesto ((ue servo nas
vindimas de reooirter as uvas.
— Fi<j(is vindimos ; iigos quo se colhem
jior .s<jt(!nil)ro ou outubro.
VINDITA, s. f. T.irnio antiquado. (»
meaiiio que Vindicta. Vid. Vendita.
VINDO, jiavi. acf. e pass. do Vir. Q.uo
voio, (juo clie^^ou, chefiando.
Vo do!) monte» da Ijiia, o fjrando Astapo
Da sua Cntiidúpa dcspoiíliavso:
Vindo com ticte bocas com bramido
As ondas piofnndiasimas buscando.
OOETB EKAL, NAUFRÁGIO BB SEPÚLVEDA, Cant. 'J .
— «Porque vindo o exercito per terra
hum pouco derramado, como por sua pró-
pria torra, acertou de vir ter huiiia parte
dellc á Cidade Calantam, quo esta entre
1'atane, e Pam; e como agente da i;ucr-
ra he desmandada, c solta, e jirincipal-
mento em ausência do seu Ca{)itào mór,
começou de fazer alj^umas forças em rou-
bar, o forçar mulheres, entre as quaes
foram duas mui nobres casadas com dous
lilhos do (lovornador da (Jidadc.» ]5ar-
ros, Década 2, liv. G, cap. 1, — «Em
sois dias aíVcrrou Baçaim, vindo buscallo
ao navio D. Jeronymo de Menezes seu
cunhado, Capitiio Mor daquella Fortale-
za, consolando-se reciprocamente hum na
morte do irmào, outro do iillio. E porque
o (Jovernador não queria ter ociosas as
armas, despachou D. Manoel de Lima
com seis navios lij^eiros, para quo na an-
seada do Cambava fizesse algumas pre-
sas nos navios, quo soccorrião, ou baste-
ciSo Campo do inimigo.» Jacintho Freire
d'Audrade, Vida de D. João de Castro,
liv. 3.
Vo\ filho ou companlicivo do Tlicbauo,
Que tão divovsas pai-tcs conquistou :
Pároco L-iitdo ter ao ninlio Hispano,
Seguindo as armas que coutino usou.
Do Douro, e. Guadiana, o campo ufano,
Ja dito Elysio, tanto o contentou,
Que alli quiz dar, aos ja causados ossos
Eterna sepultura, e nomo aos nosáos.
OAM., Lus., cant. H, est. 3.
— Chegada. — «Com que logo aquoUa
noite na baixamar em as estacas ti/.eram
ao raacliado grandes prezas, ontle amar-
raram cabos do linho grosso; e vinda a
maré, que alevantou a mi", o navios, a
força da agua fez arrincar as estacas
sem mais cabrestante, c per este modo
lizcram lugar com que entraram, o foram-
se ajuntar com a caraveila, e batel de João
(íomos.B Harroi, Década 2, liv. 7, cap. f).
— «Porém vinda a e.urella, olles ventá-
ram tilo poucos dias, quo saliido do porto
com toda a frota, nJlo pode ir mais avante
quo té humas lilias, que estain já no mar
largo, onde os ponontes lhes deram de
rosto, o o detiveram alli vinte e dous
dias.» Ibidem, liv. 8, cap. 2. — «Peró
vindo os poiientes, que começaram a quin-
ze do .Julho, sahio Allouso d'Alboqui;r-
que com toda a frota, leixando aquella
Ilha Camaram sem lierva verde, nem
cousa viva, o assolado quanto nolla ha-
via sem ficar podra sobre pedra.» Ibidem,
cap. iJ. — «Foram estos mouros vindos
aa chiua o espalhados nella na maneira
seguinte. Tinham os mogores do quo fa-
lamos no prinei})io <la oijra contrataçam
con\ O.S. chinas com (juem coidiíiam inda
que ha lugares desertos no moo. « Frei
(laspar da Cruz, Tratado das cousas da
China, cap. 28.
VINDOURO, A, a<lj. Que está por vir,
futuro.
— /»i/or<unío vindouro ; infortúnio que
está para vir.
— tí. piar. Os homens que so hSo do
seguir á geração presente.
— A posteridade.
VINEO, A, ndj. (Do latim vineus). Do
vinho. — O vineo cnpo.
VINER. Termo antiquado. Vid. Vir.
VINGADO, part. pass. de Vingar. A
quem se deu, que tomou vingança.
— Lavoura vingada ; chegada a estado
de colhcr-se.
— Chegado a tei-mo.
— Estou vingado ; de quem se tomou
vingança.
— Crime vingado ; crime punido, cas-
tigado.
— Injuria vingada ; injuria castigada.
VINGADOR, A, s. o «jj. Quo vingou
alguém de outrem, quo tomou vingança.
— ( 'astigador, puuidor. — Deus vin-
gador <le nossos pi^ccados,
— Que serve de castigar, de punir.
VINGANÇA, s. /. A acção de vingar-
se. — «Alguns velhos, e meninos, que
não pudérão salvar-se, mandou o (gover-
nador livrar do incêndio; misericórdia
aos soldados importuna, grata á humani-
dade. Os despojos se entregarão ao fogo,
sendo menor a preza, que o destroço.
i\Iuitos outros lugares daqncUa Costa, sem
nome, forào arruinados, ticando este cer-
co de Diu mais famoso pela vingança, do
que pela victoria. » Jacintho Freire de
Andrade, Vida de D. João de Castro, liv.
2. — ■ «Francisco do Miranda, fizera o
que clles fizorão, e por isso me auerey
com elles temperadamente, o logo sem
outro mais requerimento mandou cessar
as deuassas, o inquirições, sem falar nis-
so mais, porque fora sobre vingança de
injuria de pay.» ('areia de Kozende,
Chrouica de D. João II, cap. 145.
Toda a ira o desejo de vingan^
Súlta contra h<|ui:1Ic baluurtc
Do <|ual tens tu, F'ro';n(,'a, a fçovrriiança,
l'orém tu HaberAit t!imb<;in puardart*.
Do SC viii);ar aijui tom conAi>iu;a
Do hiaI (|ue recebera noutra part«,
I>á-lbe isto tal fervor, tamanlio alento
(jue não Me 'juiz deti:r mais bum momento.
r. r)'AHIlBAIiK, PBIMEIHO CKBCO DK DIU, CaOt. 18,
o»t. 33.
— Loc. : Dar vingança dv uvia pes-
soa a outra ; castigar essa pessoa yMjla
injuria que ella fez a essa a quem se dá
a vingança.
— Mostrar vingança ; dar tal castigo
que appareça. Vid. Mostrar.
— O acto de casti^rar.
— Tomar vingança «/e a/ifum delictu ;
vingar outrem, ou a si d'elle.
— Fazer vingança d'al;fuem; castigal-o
em vingança de injuria que elle fez.
1.) VINGAR, v.a. i Do latim vindicar
re). (Jlfender, fazer mal ao ofTensor de
outrem.
— Punir cm vingança do delicto. —
«Ella foy agasalhada om huma boas ca-
sas, e a sua gente, (|uc podião ser até
seiscentas ])cssoas, no cam|x> de liher,
em cabanas o tendas o miluor que por
então so pôde fazer, e em todo o tempo
quo ella aquy esteve, que seriâo quatro
ou cinco meses, cõtinuou sempre no re-
querimento que trazia, que era basear
favor para vingar a morte de seu mari-
do, com razões licitas c bastantes para
se lhe não negar o que pclia.» Fernão
Mondes Pinto, Peregrinações, cap. '29.
— Viugar-se, i-. nfl. Tirar vin<rança
do outro.
— Satisfazer-se de injuria.
— Vinguei-me; fiz mal a quem m'o fi-
zera.
2.) VINGAR, V. a. Vencer, chegar ao
cabo, fim de algum termo, ou logar, ou
espaço, alcançar.
Utica encerra
Ab cinzas de Cntão ; nas mesmas cinzas
Envolta jaz a Pátria, a Liberdade ;
Do escravo da Ambii;ào hc Koma escrava;
Entro eser.ivoâ tão vis si ]>ruto he livre :
Al<,'a o punhal democrata, que rin^
Do afundo a e8cni\'idào, do Mundo a injaria.
J. A. ni MACKDO, MimTAÇÃO, CAIlt. 1.
— Vingar a sclla ; alcançal-a, eubir-
se n'ella cavalgando.
— Vingar a agua do rio; começar a
correr segundo a direcção que lhe dSo.
— Vingar a m-e voando; vingar ao al-
to, ao largo.
— V. n. — Vingar a fiòr, o fructo;
não cair do ramo, maa vegetar c cres-
cer.
3.) VINGAR, 1. a. (Do latim vindica-
re). Tomar, fazer seu.
— Escudeiro, jidalgo, ou cavaUtiro de
vingar õW, ou mais, ou menos soldos ;
VINH
VINH
VINH
953
de tal condição, que sendo delaidado,
aleijado, ou viltado, se paguem de pena
500, mais, ou menos soldos.
— Pagar o homem; é locução que al-
lude ás penas pecuniárias foraes, com
que se remia o criminoso. Os soldos vin-
gavam-se mais ou menos em razSo da
maior ou menor graduação da nobreza,
qual era a dos grandes vassallos, senho-
res, condes e ricos-homens, consoante aos
foraes das terras, e conforme era o que
se lhe fazia.
— Vindicar, pedir, exigir, vencer.
— Adágios e provérbios :
— Quem tudo quer vingar, cedo quer
acabar.
— Ellea por se vingar, passaram mal.
VINGATIVO, A, adj. Amigo de vin-
gar-se.
— Inclinado a vingar-se.
E inda que do pó está ouborto
Couheco ser o grande saucto Elias,
Por lezabcl buscado, pêra nelle
Ser aplacado o zelo vingativo.
Vio Michoas Propheta sancto c justo,
Por mandado do Acab, prego, e em sua
Prcsoni;a pclla mão do lijougeiro
E falao Sedechiaa, otfeudido.
OOETB KEAL, NAUFRÁGIO DE SEPÚLVEDA, Cant. 1.
1.) VINHA, s. f. (Do latim vinea). Lo-
gar plantado de videiras.
— A vinha do Senhor ; o pasto espi-
ritual das almas, em doutrina, e sacra-
mentos.
— Adágios e provérbios:
— A vinha posta em bom compasso,
o primeiro anuo agraço.
— A vinha que se põe de espaço, an-
tes de um anuo dá agraço.
— Quem em ruim logar põe vinha, ás
costas a tira.
— O medo guarda a vinha, que não o
vinheiro.
— A vinha onde pique, e a horta on-
de regue.
— Casa, vinha, e potro, faça-o outro,
— Dia de Santiago vou á vinha,
acharei bago.
— Mais guarda a vinha o medo, que
o vinheiro.
— Menina e vinha, peral e faval, más
são de guardar.
— Nem compreis malhada, uem vinha
desamparada.
— Nem vinha em baixo, nem trigo
em cascalho.
— O casal de ruim lavrador, e a vi-
nha de bom adubador.
— O velho põe a vinha, e o velho a
vindima.
— Deita outra sardinha, que outra
ruim vem da vinha.
— Oliveira de meu avO, e a figueira
do meu pae, e a vinha que eu puzer.
— Quem em ruim parte tem a vinha,
ás costas a tira.
VOL. T. — 120.
— Quem tem vinha em mau logar, ao
olho vê seu mal.
— • Vinha entre vinhas, casa entre vi-
sinhas.
— Casa de pae, vinha de avô.
— A mulher e a vinha, o homem lhe
dá alegria.
— Ainda que entres na vinha, e sol-
tes o gabão, se não trabalhares, não te
darão pão.
— Por santa Marinha vai vêr tua vi-
nha, e qual a achares, tal a vindima.
— Em cada prado uma vinha, e em
cada bairro uma tia.
— Por casa, nem por vinha, não ca-
ses com mulher parida.
■\ 2.) VINHA. F('>rma do verbo vir ua
primeira ou terceira pessoa do singular do
presente do modo indicativo. Vid. Vir. —
«E o quo mães daqui sentia era parecer
lhe que vinha isto per industria dos Mou-
ros de Cochij : e sendo assi elle não po-
dia ter tanto resguardo que huma hora
ou outra uào lhe pudesse acontecer algum
grande desastre, por ser trabalhosa cou-
sa guardar das iniigos de casa.» Barros,
Década 1, llv. 1, cap. 7. — «E porque
Aifonso d'Alboquerque soube que o dia
da batalha, quando se ElRey recolheo,
fora pêra o lugar chamado Beitam, on-
de tinham seus duções, e que dalli se
passara mais longe, leixando naquelle
lugar o Príncipe, o qual se fazia forte
com grandes estacadas, e cerca de ma-
deira em modo de fortaleza com sua ar-
tilheria posta ao longo do rio, que vinha
ter a Malaca, mandou fazer prestes em
bateis té quatrocentos homens, e estes
Capitães.» Ibidem, liv. 6, cap. 6. — «O
qual presente Lopo Soares não acceptou,
dizendo que elle estaua naquelle porto
suspeitoso onde se costumaua negociar
com cautelas de enganos, e porque não
sabia se vinha da mão de Coje Biquij
que elle aula por homem amigo do ser-
uiço d'elRey de Portugal seu senhor, se
de outro algum que fosse imigo dos Por-
tugueses, não podia acceptar cousa al-
guma. i> Ibidem, liv. 7, cap. 9. — «E
posto que donde elles vinham sempre
as traziam ás costas, que as traziam
mais çafadas que os pelotes.» Idem, Dé-
cada 2, liv. 5, cap. 7. — «E também
porque vinham abocar as principaes ruas
naquella ponte, onde de força havia de
concorrer o pezo da gente, dando-Uie N.
Senhor posse desta ponte, alli fariam sua
força pêra o mais que o tempo mostrasse
de si.» Ibidem, liv. 6, cap. 4. — «Neste
tempo teve AfTonso d'Alboquerque nova
per hum Portuguez de alcunha Tavares
de Alcacere do Sal, que fora cativo em
Cambaya, que em Dabul estava hum ho-
mem, o qual lhe dissera, sabendo ser elle
Portuguez, que vinha a elle Capitão mór
da parte do Rey dos Abexijs pêra o en-
A'iar em as náos da especiaria, por quan-
to levava huma embaixada a ElRei de
Portugal.» Ibidem, liv. 7, cap. 6. — «Os
quaes ficariam alli mortos com os mais
que andavam naquelle trabalho, se lhes
não acudira Fernão Peres, que vinha já
com a vitoria da primeira cerca; e como
entrou na segunda, não somente livrou a
elles, mas acabou de enxotar toda a gen-
te que havia nas cercas, que a tio se re-
colhia no mato, onde Pato Quotir se sal-
vou.» Ibidem, liv. 9, cap. 1. — «Peró
quando elle sentio nas costas a revolta
de outros, com que Jorge Botelho peleja-
va dentro, por se melhor segurar, não
curou de ir de rosto onde elle andava, e
foi-se escoando pêra aquelia parte, onde
tinha huma pequena porta pegada no
mato, que vinha dar na tranqueira per
que se elle esperava recolher quando se
visse naquella necessidade. » Ibidem. —
«Tinha partido de Baçaim D. Álvaro
do Castro com cincoenta navios, (assim
chamavão quaesquer baixeis na índia;
ainda que sejão caravelas latinas, ou
embarcações de remo;) e como vinhão
empachados com munições, e bastimen-
tos, não podendo soffrer mares tão gros-
sos, tornarão a arribar em popa destro-
çados, e abertos, tomando diversas an-
gras, e enseadas, onde o temporal os
lançava.» Jacintho Freire d'Andrade,
Vida de D. João de Castro, liv. 2. — «O
Duque Ap Bragança, ao tempo que o
dito Embaixador de Castella entrou em
Portugal, estaua em Villaçosa, e porque
se disse logo que el Rey pêra despacho
da embaixada se vinha ha Extremoz,
que era tam acerca donde elle estaua, e
quererso por honestidade, por ascusar
sospeitas, o outros inconuenientes de sua
honra, se partio só pêra Portel, onde os
procuradores dei Rey, que hiam a Mou-
ra, o acharam dia de Pentecoste indo ja
pêra Moura.» Garcia de Rezende, Chro-
nica de D. João II, cap. 41. — «E com
este recado, que Ruy de Sande trouxe,
ouue el Rey muyto grande prazer, e
contentamento, e logo foy certeficado
que no anno que vinha se auia de fazer
o dito casamento. Pêra o qual el Rey
logo começou de dar ordem, e auiamento
pêra as grandes festas que ordenou fazer,
e pêra toJalas outras cousas necessárias.
E de Almada no Setembro logo seguinte
com toda sua Corte se partio pêra Setu-
uel.» Ibidem, cap. 73. — «Sabido o sol,
Targiana se levantou e ataviou das mais
ricas e louçãas roupas que trazia, fcizen-
do também concertar suas donzellas, que,
alem de fermosas, vinham tão apercebi-
das pêra aquelle dia, como se fora o pró-
prio, em que sua senhora poderá casar.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações,
cap. 89. — «Vasquo da Gama pelo seu
lingoa Fernão Martinz propôs ho a que
vinha, e de quam longe, e por mandado
de quem, e que ha fim de sua embaixa-
da era querer el Rei dom Emanuel de
Portugal, seu senhor, amizade com hum
964
VINH
VINH
VINH
taõ poderoso, e ta3 nomeado Rei, quomo
ho elle ora per todallas partoB do mundo,
e que para aiiial (Iíhso Ihis trazia cartau
saas do cren^-a, quo llio aprurtontaria
qaando h.o houuesHo por liom.» Damião
de Ooes, Cbrouica de D. Manoel, part.
1, cap. 41. — «E 80 bem attontarmos em
ambo8 estes direitos, estava a Senhora
Dona Catharina dianto delRoy Filippe:
no do 8an;,'un, por vir por linha niaaculi-
na, qtio he preferida á feminina, por
onde cile vinha; e no hereditário; porque
a instituição do nosso Royno era, que
dósse ao natural, como era a Senhora
Dona Catharina, e naõ a estrangeiro,
como era Filippe.» Arte de furtar, capi-
tulo 16.
— Vinha em sua companhia. — a Neste
anno como atras fica scrito mandou el
Rei a Roma dom Diogo de Sousa, ]3ispo
do Porto, o qual depois de ter negociado
as cousas que leuaua a cargo, e ser Ar-
cebispo de Braga, se tornou ao regno
per mar, depois da chegada do qual a
Lisboa, que foi no mes Doctubro, se
ateou logo peste tam braua na cidade,
de huma nao que vinha em sua compa-
nhia tocada sem o elle saber, que foi ne-
cessário irse el Rei com toda sua casa
pêra Almeirim, a qual pestilença se es-
palhou per todo o regno, e foi huma das
mais brauas, e cruel, que em muitos tem-
pos se acha, que ouvesse em nenhuma
outra parte da ílispanha.» Damião de
Goos, Chronica de D. Manoel, part. 1,
cap. 94.
— Vinha de Lorvão. — «Mais ardilo-
sos se portarão outros taos na mesma
praça: souberaõ que vinha do celebre
Lorvaõ, por occasiaõ de Natal, huma va-
lente consoada para o Bispo.» Arte de
furtar, cap. 66.
— Vínhamos muito doentes; vínhamos
muito incoraniodados. — «Então nos per-
guntou que determinação era a nossa, e
nós lhe dissemos que do nos curarmos na-
quella casa se para isso nos dessem li-
cença, porque vínhamos muyto doentes,
e lião podíamos caminhar, a que elle res-
pondeo que de muyto boa vontade, por-
que isso era o que continuamente se fa-
zia nella por serviço de Doos, o que nós
todos chorando lhe agradecemos com hu-
raas mostras exteriores tãto a nosso pro-
pósito, que a elle so lhe arrasarão os
olhos dagoa.» Fernão Mendes Pinto, Pe-
regrinações, cap. 81.
— Vinha em um navio d'armada. —
«Andando assi estes recados, chegou
aquello porto Emanuel da Gama, que vi-
nha de Malaca em hum navio darmada,
com cujo parecer, e dos outros capitães,
e homens nobres da frota, assentou Gcor-,
ge dalbuquerque o modo e ordem que te-
riam no tomar daquella tranqueira a qual
posto que fosse muito forte determinou
do combater, e scalar com os Portugue-
ses que alli stauam, que poderiam ser
ate duzentos, o oitenta.» Damião de
(iões, Chronica de D. Manoel, part. 4,
cap. 6l>.
— Vinha atoada a nau. — «No qual
instante começarão da nao ao esbombar-
dear, fazend' lhe HÍuaes que amainasse, o
({ue vendo os da carauela que vinha atoa-
da a nao cortaram o cabo, e so acolhe-
ram, sem o» Inglezes niaso atentarem,
por 08 Vasco fernandez césar da sua ca-
rauolla neruir com a artolharia de ma-
neira que lhes dava aBsaz em que enten-
der.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 4, cap. 78.
— Vinha muito sentido com alguma
cousa. — «Vinha o padre muito sentido
com esta arribada dos padres, mas ella
mo animou de maneira, que no mesmo
ponto se mo assentou no coração, que eu
havia de ir com elles ; e assim o comecei
logo a intentar, mettendo o negocio em
consciência, e descarregando sobre a de
sua magestade, e alteza, a condemnação,
ou conversão de muitas almas, que de eu
Lr, ou ficar, se poderia seguir.» Padre
António Vieira, Cartas, n.° 12.
— Vinha detraz d'el-rei. — «Feita esta
obra, foi-se Aíibnso d'Alboquerquo per
onde entrava ElRey, dizendo aos Capi-
tães, e gente que estava com D. Garcia:
Já tudo he feito, e mandou-lhe que rija-
mente entretivesse a gente de Raez Ha-
med, que vinha detrás d'ElRey, a qual
vendo que lhe cerravam a porta, remet-
têram rijo a ella, entendendo o que hia
dentro.» Barros, Década 2, liv. 10, capi-
tulo 5.
— Vinham quatro naus detraz do mon-
te.— «Nomeada per toda aquella costa
por ser muito ligeira, e andar niuito bem
esquipada, e artilhada, e lhe deu noua
como detraz do moute vinham quatro
nãos que pareciaõ Francesas, que o dia
dantes a sua vista tomaram huma cara-
uella Portuguesa, que a capitania trazia
com hum cabo dado por popa. » Damião
de Góes, Chronica de D. Manoel, part. 4,
cap. 78.
— D'onde vínhamos ; d'oude era a
nossa vinda. — «No calor do primeiro
impetu, nos queimam o navio, e degol-
lam 03 companheiros; reservando-nos a
mim, e a Mentor para nos apresentarem
a Acostes, a fim que ello inquirisse de
nós do onde vínhamos, e qual intento
era o nosso. Entramos na cidade com aa
mãos presas ás costas; e so nos retarda-
ram a morte para servirmos d'espectacu-
lo a um povo cruel, quando soubesse ser-
mos Gregos.» Aventuras de Telemaco,
liv. 2.
VINHAÇA, s. /. Jlau vinho desbotado.
— Borracheira.
VINHACEO, A, adj. Que é do vinho.
VINHADEGO, s. m. Termo pouco usual.
Vinha.
VINHADEIRO, s. m. Vid. Vinheiro.
VINHAGO, í. m. Vid. Vinhadego.
VINHANÇA, *. /. Termo antiquado.
Cou/<a que vem, que accresce.
7 VÍNHÃO. Forma irregular do verbo
vir. \"\<\. Vinham. — «ijanhou Lisboa com
favor de huma Arma/la Entrangcira, e e>-
LauUo sobre ella rompeo hama grande
batallia de Mouros que viuhaõ em soo-
corro dos cerca-los, junto a Sacavam,
onde se fundou huma Ermida de NoMa
Sonliora, e cm nostos dias hum Mosteiro
(lo Freiras d'-.scalças.» Frei Bernardo de
Brito, Elogios dos reis de Portugal, con-
tinuados por D. JobÓ Barbosa. — «E en-
tão vínhão niuytos porteyros de maça,
muytoB oíTiciaes, todos ricamente vesti-
dos, e encaualgados, e após elles o por-
teiro mor, e depois quatro mestres salas,
o atras o mordomo mor, todoe com opas
roçagantes de ricos brocados, e tellaa
douro com ricos forros, e após ello ví-
nhão muytos cauallos á destra com ri-
quíssimos paramentos, e muy singulares
armas, e os moços destribeyra que oe le-
uauão toclos vestidos de brocado.» Gar-
cia de Rezende, Chronica de D. João 11,
cap. 12"j. — «Aquelle dia á noute chefia-
rão novas, que entravaS por Cóchim de
cima oito mil Nayres Amoucos, e que
vínhão fazendo grandes estragos, com o
que a Cidade se poz em revolta.» Diogo
de Couto, Década 6, liv. 9, cap. 2.
VINHAR, «. VI. Termo antiquado. Lo-
gar plantado de vinha.
VINHATARIA, í. /. A cultura das vi-
nhas, c trabalho do fazer vinho.
VINHATEGO. Vid. Vinhadego.
VINHATEIRA, «. /. Mulher que vende
vinho, taverneira.
VINHATEIRO, s. m. Agricultor do vi-
nhos, e fabricador de vinho.
VINHATICG, s. m. Pau não muito rijo,
amarelio, do Brazil.
VINHEDO, í. m. Vid. Vinha.
VINHEIRO, «. m. Homem que guarda
a vinha.
— Homem que a cultiva ^omo servo,
ou rendeiro.
VINHETA, s. /. (Do franoez vignette).
Estampa, figura ou cabeção estreito, que
se põe na primeira pagina do livro, ou
no alto de cada pagina.
VINHETE, «. m. Diminutivo de Vinho.
Vinh ) fraco.
VINHO, 4. m. (Do latim vinum). O
mosto na primeira fermentaçiio. — «Di-
zia o herege: «Manuel dos Beis tem bom
juiso. Ainda o hei da converter.* Sou-
be-o o companheiro, e disse-lhe: — Olha,
eu gosto de ti, como um bebedor de vi-
nho; porém, quando võ que lhe vae fii-
zendo mal, pega no frasco e atira com
elle á rua. Riu-se o inglez.» Bispo do
Grão Pará. Memorias, publicadas por Ca-
millo Castello Branco, pag. 154.
— Vinho doHzel, ou macho ; vinho puro.
— Vinho cascarrãi) ; vinho forte, agro.
— • Vinho toldado; vinho que se mistu-
ra com as fezes, o se torna escuro.
VINH
VIR
VINT
955
— Vinho onolle ; em mosto.
— Vinho d' alhos ; ospecie de escabe-
elie feito de vinho ou vinagre, alhos, lou-
ro, etc, era que se põe as carneâ duran-
te algum tempo antes de se assarem,
etc. Alguns dizem vinha d'alhos, porém é
termo errado.
— Vinho botado; vinho que perdeu a
côr.
— Vinho de cutello; o que cada um
tem de sua colheita.
— Vinho santo ; composição antisepti-
ca de vinho, salsaparrilha e sassafraz.
— Vinho de barra a barra; o que não
se vinagra saindo fura da barra em em-
barques.
— Gordo vinho; o que faz fio.
— Vinho de j)ê; o podado, que não é
de uvas de enforcado, ou de embarrados.
— Licor alcoólico resultante da fer-
mentação do summo da uva, e servindo
de bebida.
— Vinho doce; vinho novo, que ainda
não tem encubado.
— Figuradamente: Embriaguez.
— Vinhos tnedicamentaes ; medicamen-
tos officinaes, liquidos, resultantes da
acção dissolvente do vinho sobre as di-
versas substancias medicinaes. — Vinho
de quinquina. — Vinho antimoniado.
— Vinho verde; vinho novo.
— Vinho maduro; vinho velho.
— Adágios e provérbios:
— Dia de S. Martinho prova teu vi-
nho.
— Maus vinhos todos são uns.
— Menos vai ás vezes o vinho que as
borras.
— • O bom vinho escusa pregão.
— Pão e vinho, um anuo meu, outro
de meu visinho.
— Onde alhos ha, vinho haverá.
— A condição de bom vinho, como a
do bom amigo.
— O cabedal do teu inimigo, ou em
dinheiro ou em vinho.
— Solas e vinho anrlam caminho.
— - De vinho abastado, de razão min-
guado.
— O queijo do Alemtejo, o vinho de
Lamego.
— Pão e vinho, e parte no Paraiso.
— Por carne, vinho e pão, deixo quan-
tos manjares são.
— Quem é amigo de vinho, de si mes-
mo é inimigo.
— Quem de vinho falia, sede ha.
— Em o verão por calma, e o inver-
no por frio, não lhe falta achaque de vi-
nho.
— Meia vida é a candeia, o o vinho
outra meia.
— Tenha eu pipas e cabedal, e quem
quizer, vinhos, e lagar.
— Vinho, nem mouro, não é thesouro.
— Cada cuba cheira ao vinho que
tem.
— Agua ao figo, e á pêra vinho.
— A bebedor não lhe falta vinho, nem
á fiandeira linho.
— Azeite de cima, mel do fundo, vi-
nho do meio.
— A boca do fraco esporada de vinho.
— Pão de hoje, carne de hontem, vi-
nho de outro verão, fazem o homem são.
— Quem se lava com vinho, torna-se
menino.
— Homens bons, e picheis de vinho,
apaziguam o arruido.
— Vinho de peras, não o bebas, nem
o dês a quem bem queiras.
— Se queres ser bem disposto, bebe
vinho, e não já mosto.
— A mulher e o vinho tiram o homem
de seu juizo.
— Abril frio, pão e vinho, maio come
o trigo, e agosto bebe o vinho.
— Agua de S. João tira o vinho, e
não dá pão.
— Até 8. Pedro ha o vinho medo.
— Por S. Martinho nem favas, nem
vinho.
— Vinho velho, amigo velho, ouro ve-
lho.
— O bom vinho não ha mister ramo.
— Porcos com frio, homens com vinho,
fazem grão ruido.
— Jantar, sem vinho.
— De bom vinho, bom vinagre.
— Vindima enxuto, colherás vinho pu-
ro.
— N'este mundo mesquinho, quando
ha para pão, não ha para vinho.
— Nada escapa aos homens, senão o
vinho que bebem as mulheres.
VINHOGO, s. m. Lugar de muito vi-
nho, ou de muitos vinhos.
VINHOSO, A, adj. Vid. Vinoso.
VINHOTE, s. m. Termo popular. Ho-
mem dado ao vinho.
VIIR (do latim venire), por Vir.
f VINIAGA, s. f. Vid. Veniaga. —
(t Aportou á Ilha da Madeira huma náo
de carga, saltarão em terra os passagei-
ros a fazer viniagas, e entre elles hum
Clérigo, que eu vi (grande pirata devia
de ser pelo tear, que armou para fazer
seu negocio melhor, que todos).» Arte de
furtar, cap. 64.
VINOLENCIA, s. /. (Do latim vinokn-
tia). Bebedice, embriaguez.
— Vicio de beber excessiva e nimia-
mente licores, que sobem á cabeça e per-
turbam o juizo.
VINOLENTO, A, adj. (Do latim vino-
lentus). Entregue ao vicio de beber vi-
nho. — Homem vinolento.
VINOSIDADE, s. /. Qualidade, proprie-
dade do vinho.
VINOSO, A, adj. (Do latim vincsus).
De vinho. — - Cheiro vinoso.
— Dado ao vinho, a bebedeiras.
— Que dá vinho.
— Para vinho. — Vasos, taças vino-
sas._
VÍR, por Vir. Vid. Vlir.
VINR, por Vir.
VINTADOZENO. Vid. Vintedozeno.
1.) VINTANEIRO, s. vi. Vid. Vinteneiro.
— Juiz vintaneiro ; de logar de vinte
famílias. — «E se o assy nom fezerem-,
esses nossos Juizes ho estranhem grave-
mente a esses Juizes da terra, e Meiri-
nhos, ou Jurados, e Vintaneiros pêra es-
ses Juizes, e Meirinhos, c Vintaneiros, e
Jurados poderem penhorar esses, que o
dãpno fezerom.» Ord. Affons., liv. 1,
tit. 25.
2.) VINTANEIRO, ou VINTANNEIRO, A,
adj. — Terra vintaneira ; terra mui fra-
ca, difficil de cultivar, e que só se culti-
va de vinte em vinte annos.
VINTANO. Vid. Vinteno.
1.) VINTE, adj. 2 gen. num. card. Duas
vezes dez; o numero inferior a vinte e
um, e superior a dezenove. — «Governou
a Igreja quatro mezes, e vinte dias, sem
que a muyta brevidade do tempo nos
deixe lugar de saber cousa notável de
seu governo, mais que alguns sinaes no
Ceo, e cometas espantosos, quo aparece-
i-aõ durado seu pontificado.» Monarchia
Lusitana, liv. 7, cap. 30. — «Com estas
seis nãos se partio Vasco Gomez Dabreu
do porto de Lisboa huma terça feira, aos
vinte dias do mesmo mes Dabril, e sen-
do na costa de Guine, a carauella de
loaõ Ghauoca que por ser nauio pequeno,
e bom do vela, leuaua o farol, so perdeu
por ma vigia huma noite no rio Sonega.»
Damião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 2, cap. 14. — aE aos vinte dias
do mes de lunho do anno de mil e qua-
trocentos e oitenta e três, de noite ante
manhãa, tirarão o Duque dos paços em
cima de huma mula, e Ruv Telles nas
ancas apegado nelle, e muyta e honrada
gente a pé, que o acompanhaua com gran-
de seguridade. » Garcia de Rezende, Chro-
nica de D. João II, cap. 4G. — «E de-
pois mandou Esteuâo Vaz seu escriuão
da camará, que depois foy feytor das
casas da índia e da Mina, homem de
que el Rey confiaua, que com o dito dom
loam entendesse no resgate do dito Bar-
raxe, o qual se concertou com elles de
se resgatar por quinze mil dobras de
banda, e dez catiuos Christãos, e vinte
cauallos bons, pêra que logo deu filhos
seus, e outras pessoas principaes por
seus arrefens.» Ibidem, cap. 48. — «Os
quaes partiram aquelle anno a vinte de
Abril oito dias depois de ser partido D.
Garcia de N-oronha filho de D. Fernan-
do de Noronha, debaixo da bandeira do
qual elles hiam, e fizeram ambos tão boa
navegação, que elles somente passaram
aquelle anno á índia, e D. Garcia por
mà pilotage invernou em Moçambique
com mais quatro náos que levou, da via-
gem do qual adiante escreveremos.» Bar-
ros, Década 2, liv. 6, cap. 10. — «E en-
tão lhes disso que havia já vinte diaa
que António da Sylveyra estava cercado
956
VJNT
VINT
VINT
de liuma grossa armiula de Turcos, de
quo era CapitSo luór Solimilo Baxá Vi-
soUoy do Cayro, e quo a ffraudo ([uanti-
dado das velas quo tlnhamoí visto, erilo
aincoenta e oyto Galos reaes, o bastar-
das, quj atiravão sinco peças por proa,
e ai{(uinas delias, passamuros, e loòes, c
esperas, e oyto iiilos grossas, eiu que vi-
nhao muytoj Turcos do sobrecelento pa-
ra refeyçSo do3 que morresaoiu.» Fornilo
Mendes Finto, Peregrinações, cap. 7. —
«Seja assim, diz o soubor Governador;
e eis ahi tem v. m. a sua pessa: o antos
de vinte e quatro horas o manda notiti-
car, que se embarque prezo para o Huy-
no, para dar conta diante do Sua ^Li-
gostade de certos cargos, o crimes lirso'
majestatis, provados com mais de vinte
testemunhas.» Arte de furtar, cap. 'J. —
«E prova-se claramente que nunca teve
tenção ao que a jornada se fizesse, por-
que havendo de ser dezoito ou vinte ca-
noas que havia do ter prevenidas, pedin-
Iho eu uma, tanto que desfez a missão,
para ir ao Fará, custou-lhe muito o bus-
cal-a para m'a dar. » Padre António Viei-
ra, Cartas, n." 11. — tEste rio do Gua-
mà, que cm quatro dias se vence do Pa-
rá a Oasa-forte ainda so navega vinte
dias sempre ao poente o inclinando a sua
cabeceira para as cabeceiras do Capim.»
Bispo do Grito Par:l, Memorias, publica-
das por Camillo CastoUo Branco, pag.
188.
— Vinte « quatro; numero inferior a
vinte e cinco, o superior a vinte e três.
Vimos ha astrologia
muntir toda ora todo mundo,
quo toda juncta dizia,
quo em i-inte o quatro auia
do auor deluuio segundo.
UAHCIA DG BEZEKDK, HISCELLAKEA .
— Vinte « siiis ; numero existente en-
tre vinte e cinco, e vinte e quatro. —
«Quando começou a reinar era de vinte
6 seis ânuos, gastos mais em cura de
suas enfermidades, que nos exercioios de
seus antepassados, com o qual, e com sua
inclinação própria, deo em liuma frouxi-
dão taõ remissa, que os privados se co-
meçarão a senhorear de sua Pessoa, e
Reino, e a governar tudo conforme a seus
p.articulares respeitos.» Frei Bernardo de
Brito, Elogios dos reis de Portugal, con-
tinuados por U. Josó Barbosa. — «E ha-
vendo j;\ vinte e seis dias que tr.abalho-
samente velejávamos por nossa derrota,
tivemos vista de huma Ilha, que so dizia
PuUo Condor, a qual nos distava em al-
tura de oyto grãos, e hum terço Noroes-
te Sueste com a barra do Reyno Cambo-
ja.» Fernilo Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 180.
— Vinte e um; numero inferior a vin-
te e dous, e superior a vinte. — «A qual
distarão de Çofala pêra o Ponente per
linha direita pouco mães ou menoii cen-
to e setenta logoas cm altura entre vinte
e vinte o hum grãos da parte do sul,
Hom per aquellas partes auer edifício an-
tigo nem moileruo : ponjue a gento hc
nmi barbara e todas suas casas saò de
madeira, o j)er juizo dos Mouros que a
virão parece ser cousa mui autiga o que
foi ali feita pêra ter posse daquellas mi-
nas que saò mui antigas em as quaes se-
não tira ouru ha annos por causa de
guerríis.» Barros, Década 1, liv. 10, ca-
pitulo 1 .
— Vinte e tre»; numero existente en-
tro vinte e dous e vinte e quatro. — «A
nona Esphera se move com movimento
próprio, e natural sobre os Poios do Zo-
díaco (que neste tempo distaõ dos do
Mundo vinte, e trás grãos, e mcyo) do
poente para o nascente, com tal vagar,
quo naõ anda em espaço de hum anno
mais que h\ segundos, conforme as ex-
periências de Ticobrahe; e vem a com-
pletar hum grào em 70 annos, e sete
mezes; e andará todo o Zodiaco, se o
Mundo tanto durar em espaço de 25 mil
annos.» Braz Luiz d'Abreu, Portugal
medico, pag. 518, § 62.
— Vinte e quatro d' abril; metade de
quarenta e oito. — «E auendo ja hum
mes que hia naquella grão volta, quando
veo â segunda octaua da Páscoa que eraõ
vinte quatro de Abril, foi dar em outra
costa de terra tirme. » Barros, Década 1,
liv. 5, cap. 2.
— Vinte e dous ; numero existente en-
tre vinte e um e vinte e três. — «E co-
mo era diligente nestas cousas, passou
alem do cabo Verde obra de setenta e
tantas legoas, te chegar onde ora chamaõ
o rio Grande : e surto o nauio na boca
delle, meteose no batel com uinte dous
homeras, com tenção de entrar pelo rio
acima descobrir alguma pouoaçaõ, por
ter huma grande entrada.» Barros, Dé-
cada 1, liv. 1, cap. 14.
— Vinte e cinco mil cruzados ; dez
contos de reis. — «Vendo Affonso d'Al-
boquerque que ElRey lhe não entregava
est ) Mouro, posto que não soube logo
destes seus artifícios, como era costuma-
do a dissimular palavras de Mouros, não
quiz esperar mais recados, nem menos
os partidos que lhe movia, promettendo
de lhe dar vinte c ciuco mil cruzados
polas cinco nàos que tomara dos Guza-
rates.» Barros, Década 1, liv. 1, cap. 2.
- — Vinte e oito ; numero existente en-
tre vinte e sete e vinte e nove. — «Pas-
sando vinte e oito dias com a mesma
disposição de saúdo, e de alegria, teve
elle cuidado de fasor observar huma, e
outra couza a sua Prima nesse tempo,
segurando-lhe que elle se sentia sem von-
tade, e sem apparencia alguma de adoe-
cer.» Cavalleiro d'01iveira. Cartas, liv.
1, n.o 40.
— Cento e vinte ; numero inferior a
conto e vinte e uu». — «Não pareceo a
D. João de Castro, que estava o i lidai-
cão ainda bem cortaUo de noiísas anuaa ;
resulveo quebrautallu com mais pesada
guerra. Assegurou com grosso presidio
iid terras de .'^isete, deixando a D. Dio-
go de Almeyda com c«iito e vinte cavai-
los, e mil piões da t<;rra.» .Jacintbo Frei-
re d'Audrado, Vida de D. João de Cas-
tro, liv. 4. — « Chegando os nossos a
pouco mais de tiro do espingarda dia
cavas que estavão por fora do maro, nos
sayrau por duas portas obra de mil até
mil e iluzontos homens, segundo o esmo
de alguns, dos quais os cento até cento
e vinte eraò de cavallo, ou ]iara milhor
dizer, de sindeyros bem magros.» Fer-
não Mendes Pinto, Peregrinações, capi-
tulo t)Õ.
— Vinte e nove; numero inferior a
trinta. — «ElRey de Syaõ he Príncipe
que ante quo so lhe os Mouros leuantas-
sem com o Reyno de Malaca : começaua
o seu estado naquella cidade que está
em dous grãos e meio da bauda do nor-
te, e acabaua em os montes do Reyno
dos Gueos, que começaõ em vinte noue
grãos.» Barros, Década 2, liv. 9, cap. 1.
— Mil quatrocentos e vinte e quatro
annos; era inferior á de mil quatrocen-
tos o vinte e cinco. — «Que por outrem
forem recebedores, e desfazimento de
contrautos per Ley d'Avoenga, ou per
justo preço, ou por outro qualquer mo-
do, ou per privilegio, e costume, que se
possa desfazer, e dos outros contrautos
todos, ou casi contrautos feitos, e cele-
brados per as moedas, que se fízerom
d es primeiro dia de Janeiro da Era de
mil e quatrocentos e vinte e quatro an-
nos, ataa primeiro dia de Janeiro da Era
de mil e quatrocentos c vinte e cinco
amos.» Ord. Affons., liv. 4, tit. 1, § 14.
— Vinte e cinco legoas; legoaa supe-
riores a vinte e quatro. — «Mas no fim
destes dias que pedio, não fizeraõ mães
que chegar a hum rio, que está vinte
cinquo legoas auante do ilheo da Crus
em altura de trinta e dous grãos.» Bar-
ros, Década 1, liv. 3, cap. 4.
— Vinte e quatro mil reis ; cinco moe-
das de quatro mil e oitocentos reis cada
uma. — «Para esta occasiaõ de Saboya
fez lavrar el Rei D. Pedro huma meda-
lha de ouro, que pezava vinte e quatro
mil reis, da qual de huma parte tinha o
seu retrato com esta letra Petrus D. G.
Portugal. <£• Algarb. Princtips. e da ou-
tra as Quinas de Portugal orladas com
os Castellos sobre a Cruz de Christo, e
dizia á roda. In hoc signo vitices. Pespi-
ciam, ií' vidtbo.t Fr. Bernardo de Brito,
Elogios dos reis de Portugal, continua-
dos por U. José Barbosa.
— Vinte e sete ; numero existente en-
tre vinte e oito, e vinte e seis ; numero
inferior a vinte e oito, e superior a vin-
te e seis. — «£ a noua certa do faleci-
VINT
VIO
VIO
9Õ7
mento dei Rey foy dada á Raynlia, e ao
Duque em Alcácer logo ao outro dia se-
gunda fevra. E a terça feyra logo se-
guinte, vinte e sete dias de Outubro do
dito anno de mil e quatrocentos e no-
uenta e cinco, o Duque foy solemne-
mente aleuautado, e obedecido por Rey
em Alcácer do sal, e assi logo era todo
seu Reyno com muyta paz e concórdia
de todos.» (-rareia de Rezende, Ghronica
de D. João II, cap. 214.
— Vinte e três; numero inferior a vin-
te e quatro, e superior a vinte e dous.
— «Dous meses e vinte e três dias, este-
ve a Igreja sem Pastor, dilatando sua
eleição, a competência de Theodoro e
Pascoal, cada hum dos quaes tinha gran-
de parcialidade em Roma, e pretendia
sair com a dignidade suprema, à custa
de mortes e efusaõ de sangue, que Deos
atalhou por sua piedade, movendo as
vontades de todos a escolher.» Monar-
chia Lusitana, liv. 6, cap. 30.
— Oitocentos e vinte e três; numero
superior a oitocentos e vinte e dous, e
inferior a oitocentos e vinte e quatro. —
«Outo centas e vinte e três propriedades
de cazas ticárào inteyramente demolidas,
e que gente vos parece que ficaria nessas
ruínas sepultada.» Cavalleiro d'01iveira,
Cartas, liv. 1, n." 23.
2.) VINTE, s, m. — O vinte; no jogo
da bola, pau que se põe em certo logar,
e quem o deita abaixo, ganha vinte pon-
tos. — Mudar o vinte no jogo da bola.
— O vinte e um; jogo de cartas.
— Loc. : Saber as pancadas aos vin-
tes ; ser perito nos toques de terminar os
seus negócios, saber-lhes dar os cabes.
— Os vinte e quatro; a casa dos vinte
e quatro, que hoje está estincta; junta
de vinte e quatro pessoas de officio me-
chanico, que eram apresentadas por elei-
ção na mesa da vereação pelo juiz do
povo; tinham voto nas matérias de eco-
nomia ,da cidade de Lisboa.
— As vinte ; logo.
3.) VINTE, fart. act. de Vir. Termo
antiquado. Vid. Vindo.
— Plur. Vindouros.
VINTEDOZENO, A, adj. — Panno vin-
tedozeno ; panno que tem de ordidura
dous mil e duzentos tios.
VINTÉM, s. «i. Moeda de prata do va-
lor de vinte reis. Vid. Real de prata.
— No tempo das nossas conquistas ha-
via vinténs dt cobre, que valiam também
vinte reis. Hoje também os ha em Por-
tugal.
— Termo de historia natural. Peixe
dos mares asiáticos.
VINTENA, s. /. A vigésima parte.
— Junta dos vintaneiros.
— Cavallo da vintena; o cavallo pae
que tinham os que sào encarregados à'is-
80, o qual cavallo se ha de lançar cada
anno a vinte éguas de raça, cujos donos
pagam um tanto aos donos dos garanhões,
e ainda que nào queiram lançal-a cada
um ao respectivo garanhão da sua vinte-
na, pagam sempre a cavallagem, ou co-
brição lie vazio. Vid. Vinteno.
— Tributo de um tirado de cada vinte.
— Vinte risinhos, ou casaes.
— -Juiz da vintena, ou povo de vinte
casaes.
— Um homem tirado de cada compa-
nha, ou numero de vinto barqueiros, ou
pescadores, para o serviço das armadas
reaes.
— Laudemio de vintena; de vinte, um.
Vid. Quarentena.
VINTENEIRO, s. m. O cabo, ou official
dos que estavam alistados para o serviço
das galés, e das armadas reaes, que eram
barqueiros ou pescadores.
— Official, juiz da vintena.
— Povo de vinte visinhos.
VINTENO, A, adj. Vigésimo.
— Panno vinteno, ou vintreno; o que
tem dous mil tios na ordidura.
VINTEOCHENO, A, adj. — Panno vin-
teocheno ; panno de lã, que tem dous mil
e oitocentos fios no ordume. ou ordidura.
VINTEQUATRENO, A, adj. — Panno
vintequatreno ; panno que tem de ordi-
dura dous mil e quatrocentos fios.
VINTEQUATRIA, s. /. O grémio dos
vinte e quatro da extincta casa dita dos
vinte e quatro no antigo senado, hoje ca-
mará municipal de Lisboa.
— Os direitos de que os vinte e quatro
gozavam.
VINTE QUATRO. Vid. Vinte 2). -
1.) VIO, s. m. Termo antiquado. Vid.
Vinho.
-}■ 2.) VIO. Forma do verbo vér na ter-
ceira pessoa do singular do pretérito per-
feito do modo indicativo. Vid. Vêr.
Depois que fio amor que o fugitiuo
Tempo, hum tal erro ja tinha maia brado,
Não ao esqueceu daquellea cujas almas
Em tão saaue priaào, tinha tão juntas.
Manda o Sousa pedir coui brando rogo
Ao generoso pay da bella dama
Que queira consentir, o que não pode
Atalhar com rigor, e peito irado.
OOKTE SE.^1., NÍUFBA.OI0 DE SEPÚLVEDA, CaUt. 3.
Dauãono a conhecer latinaa letras.
Que Pelagio dezião ser, em tempo
De Aroadio Emperador, e de Innocencio
Pontífice, de tal nomo o primeiro.
Aquele infernal, falso Peraiáno
Inuentor de blasphemia abominaucl,
Vio com grão multidão dos que aeguiào
Seu parecer, e hajretica doctrina.
IBIDEM, cant. 11.
EUe, que vio tão clara esta verdade.
Com soluços dizia (que a eapessui-a
Inelinavào de mdgoa, e piedade) :
Como pi5de a desordem da natura
Fazer tão ditferentes na vontade
Aos que faz tão conformes na ventura?
CAM., SONETOS, n." 41.
— «Nem devia faltar a cõsideração
destas correspõdencias em el Rey Theo-
demlro, e nos grades de sua Corte (que
então residia em Braga, como cabeça que
sempre foi do Reyno dos Suevos) pois no
põto que vio o Santo, soube seu nome,
ouvio sua doutrina.» Monarchia Lusita-
na, liv. 1, cap. 18. — «Foraõ a petição,
e lagrimas de tanto effeito no animo de
S. Rosendo, que lhe não pode negar seu
consentimento, e aceitando o cargo Ab-
baciai, se vio o Mosteyro logo cheo de
Cavalleiros, e senhores grades, que re-
nunciando as pompas do Mundo se vi-
nhão dedicar ao serviço de Christo, e
muitos Conventos de Monges, e Religio-
sas de Portugal, e Galliza, lhe mandarão
dar obediência.» Ibidem, liv. 7, cap. 24.
— cA chegada dos quaes cattivos a Co-
chij com toda a frota de dom Garcia Jor-
ge de Mello, _foi um dos mayores praze-
res que Affonso d'All5oquei-que vio, e que
mães contentamento lhe deu, que quan-
tas victorias teue: ca esta grossa armada
era sou animo acabou de as confirmai-, o
tirar de muitas suspeitas que elle tinha,
como a diante veremos.» Idem, Década
1, liv. 7, cap. 2. — «ElRei de Cochij
polo que lhe importaua,' trazia sempre
em casa do Çamorij pessoas que lhe da-
uaõ auiso de todas estas cousas, e tanto
que o VisoRey chegou a Cochij, despois
que se com elle vio a primeira vez, lhe
deu conta destes grandes apparatos do
Çamorij.» Ibidem, liv. 10, cap. 4. — •
«Peró depois que elle Rodrigo Rabello
vio Melrao desbaratado com a vinda de
Pulate Can, e que com elle se ajuntaram
os Mouros do outro pregador, com que
lhe vinha dar mostras derredor da Ilha,
e podia em jangadas, como da outra vez,
commetter a entrada delia, ordenou na-
vios de guarda, porque té então a vigia
dos passos era encommendada ao Tana-
dar Cogequij homem de guerra, e mui
fiel servidor.» Idem, Década 2, liv. 6,
cap. 8. — a Onde já da banda da terra fii'-
me vio muita gente que queria passar per
huma jangada pequena, que estavam fa-
zendo, a qual obra impedio que não fosse
mais avante. Peró i.sto aproveitava já
bem pouco, jjorque ante de sua vinda
eram passados alguns Mouros de cavallo
com hum golpe de gente de pé.» Ibidem.
— »D. Garcia quando vio este sinal, e
ouvio o que diziam, por João Machado
não ser presente, mandou saber per Bas-
tião Rodrigues, que sabia alguma cousa
da lingua do tempo que o cativaram na
morte de D. Lourenço, o que queriam.»
Ibidem, liv. 7, cap. õ. — «Por que isso
quando ouviram fallar os arrenegados em
partido, lançaram orelhas a isso, e muito
mais Roztomocan, que vio o negocio or-
denado de maneira pêra o tomarem ás
mãos.» Ibidem. — «Porém quando ama-
nheceo, que elle vio a maneira da força
que elle Lacsamana tinha feita, ficou es-
pantado, e teve-o por homem de grande
958
VIOL
VI O L
VIOL
espirito, e iadustrlu : uá não «ómonto fez
cousa que havia mister muit.i fíonte, e
iiuinií^õci [)oi!i !i coiniiKíttc.r ; mas aiiiila
fui tuo caladaincnto, «iikí ilo o uDIl» senti-
rem cuiilava clle Fernili) Porcí! que fuf,'í-
ra pelo rio assiinii com parto ila frota.»
Ibidem, liv. 9, cap. 2. — «E quando vio
a ponta da laucliara dolRey que coine<;a-
va apparccíT dotnis do cotovcilo, do im-
proviso som sabor o quo vinha dotrás,
deo huma grita com os seus, o mandou
desparar a artolharia (pie trazia, a qual
ainda que era miúda, cila, e as espingar-
das dos sous derribaram logo alguns dos
romeiros da lanchara d'ElKey.ii Ibidem,
cap. 7. — «Miinoel Machado chegando a
terra vio imma povoação ao longo da
agua, o qucrenlo desembarcar, acudiram
03 negros com frechas, e páos tostarlos, c
carregando nos nossos, os tizeram embar-
oar com morto de lium grumete, e dous
feridos.» Diogo de Couto, Década 4, liv.
6, cap. 1. — íE andando assi em busca
dos ditos papeis, tí)pou com algumas car-
tíis, e estruções de Castolla, o pêra os
lieya de Castella, delias próprias, e ou-
tras cmemlas corrcgidas, e emmcndadas
da letra do mesmo Duque. E como assi
vio, escondidamente do moço as tomou
todas, e nieteo na manga, o se foy a casa
o secretamente vio todas.» (larcia do
Rezende, Chronica de João II, cap. 28.
— »0 pouo que andaua em treuas vio
huma gi-anda luz: e aos que morauão na
regiam da sombra da morte, lhes nasceo
huma grande claridade. Porque esta noy-
te hum menino he nascido, e hum lilho
nos he dado, cujo principado e império
será eterno, e chauiarseha por estes no-
ipes. Marauilhoso. D Frei Bartholomeu
dos Martyres, Catecismo da doutrina
christã.
Mas quiindo rio aahir da ludc furna,
líoiTeiidiimeuto uivando, um Uaõ medonho,
Do nogro, espesso, retorcido peio,
Quo lanija pelos ollios triste fogo,
E oliegar-so do Magico ás orelhas.
De todo perde a cor, o alento perde,
nimz DA OBDz, uYssoi-E, caut. 8.
Eis prodígio maior, uo dilatado
Dos Ceos espaço Oriental fulgura.
Repentino hum clarão ; nclle gravado
Era o sigua! detorua, alma veutura :
Qual Constantino o fio no campo armado.
Que do Maxcncio o estrago lhe assegura •,
Tal aos olhos dos Lusos se otVerece,
Imniobil brilha, immobil resplandece,
j. A. PS MACEDO, o oHiKNTB, cant. 8, ost. 73.
Aquello Qonio milagroso observo,
Quo a Frigia vio nascer profundo, o sábio,
Que os Brutos fez fallar, Arvores, Plantas.
IDRM, VIAGEM EXTÁTICA, CaUt. 2.
1.) VIOLA, s. /. Instrumento musico
vulgar, ci>m coidas de tripas de carnei-
ro, e trastes no braço.
— • Peixo cí)m feirjlo de viola.
— Viola de arco; rabeca.
— Figuradamente : A viola do etpiri-
to tão iKDtjjerada.
2.) VIOLA, s. f. (Do latim violn). Ter-
mo de boi.-mica. Flor, aliás violeta, rô-
xa-escuru.
VIOLAÇÃO, ». /. (Do latim violatío).
A acçílo do viidar, de sor violado.
VIOLÁCEO, A, adj. (Do latim viola-
ctíus). De côr de violetas, rôxi>-e8Curo.
I.) VIOLADO, part. yass. de Violar.
Quebrantado.
— Co\iti) violado ; couto quebrado.
— Jgrejd violada ; igreja profanada.
2.) VIOLADO, A, adj. Violáceo.
— Termo de i)harmacia. Feito de vio-
las. — Xdi-npe. violado.
VIOLADOR, A, s. (Do latim violator).
Pessoa qiU! violou.
— Quebrantador.
— tí. m. Homem que violou uma mu-
lher, que a forçou, que a estuprou.
VIOLAL, s. «». Campo onde ha violas
llôres.
VIOLÃO, 8. m. Augmentativo de Viola.
1.) VIOLAR, .S-. Hl. Vid. Violai.
2.) VIOLAR, V. <i. (Do latim violare).
Quebrantar. — Violar as leis.
— Profanar. — Violar o templo.
— Figuradamente : Violar composiçde»
alheias, sem certeza de ser a emenda ver-
dadeira.
— Forçar a mulher, estuprar a don-
zella niiSrnicnte.
— SvN. : Violar, contravir. Vid. este
ultimo termo.
VIOLAVEL, adj. 2 gen. (Do latim vio-
labilis). Quo é posaivel violar -se.
VIOLEIRO, s. m. Homem que faz vio-
las.
— Homem que as vendo.
— Homem que as toca.
VIOLÊNCIA, s. /. (Do latim viokntia).
Força, Ímpeto, grande impulso. — ^4. vio-
lência da torrente. — «No baluarte S.
Jorio se resistia á, violência do ferro, sem
temer a do fogo. Peloijavãô os inimigos
tibiamente, até quo lhes chegou o sinal
de se dar fogo il mina, retirando-se a
hum mesmo tempo todos ; poróiu o temor
igual, e súbito nos descobrio o engano.
Prailou logo o CapitFío Jl/ir dizendo, que
deixassem o baluarte, para que sem dam-
no rebentasse a mina, já conhecida ua
improvisa retirada do inimigo.» Jaein-
tho Freire d'Andrade, Vida de D. João
de Castro, liv. 2. — «E diz bom, que
sentio grande força intrinseca no direi-
to da Senhora Dona Catharina, porque
força intrinseca nTio a havia nolla: an-
tes com paz, o socego se punha na ra-
zão, que Filippo naõ qniz admittir, nem
ouvir: e porisso chamamos violência il
posse que tomou; com que na verdade
ponleo todo o direito, que affectava.»
Arte de furtar, cap. 10. — «Ds Religio-
sos exercitSo huma violência que dura
sempre : obri^So a Ruspender-so, c a fi-
xar-«e em hum mesmo ponto, a incons-
tância do entendimento humano; e por
meyo dos votos solemos que prophcAsAo,
se obrigSo á necessidade de conservar
huma virtude peri)etua.» Cavalleiro d«
Oliveira, Cartas, liv. 1, n." 28.
— Força feita a alguém contra direito.
— Intensidade. — Violência da ceUtaa.
— SvN.: Violência, f</rr,a. Vid. est*
ultimo termo.
VIOLENTADO, part. pa»i. de Violen-
tar. Tomado por força, p<jr guerras.
— Forçado, constrangido. — «Mas in-
sistia RumecAo na obra tão porfiadamen-
te, que por cima dos morto» fazia subir
outros, que ainda que violentados, ven-
ciílo o perigo com a obediência. Chegou
em fim por meio de tão custoso trabalho
a igualar a cava.» J.-icintho Freire d'An-
drade, Vida de D. João de Castro, liv.
2. — «Livremos nossos mares, que de-
baixo de suas armailas violentados go-
mem. Com este altimo assalto poremos
fim a tão illustre empreza, e se acordará
o Oriente idades largas com alegre me-
moria de tilo formoso dia.» rbidem.
VIOLENTADOR, A, ». Peasoa que vio-
lentou, que constrangeu.
VIOLENTAMENTE, adv. (De violento,
e o suffixo «mente»). Do um modo vio-
lento.
— Com violência, impeto, intensidade.
VIOLENTAR, v. a. Y&ivt força phy-
sica.
— Constranger, forçar, forçar a von-
tade.
— Stn.: Violentar, constranger. Vid.
este ultimo termo.
VIOLENTÍSSIMO, A, adj. sup^rl. de Vio-
lento. -Mui violento.
VIOLENTO, A, adj, (Do latim vioUn-
tus). Vehemente, impetuoso, forçoso, que
obriga e força. — O fogo violento das
forjas. — « Pasma a Natureza, extremece
a mão, e naõ atina a correr pello papel
a penna h vista dos bárbaros costumes,
que entramos a ponderar em muytoa ho-
mens a respeito doa mesmos homens; de
quem naõ será violento o verificar-se à
vista de tantas crueldades inhumana» o
antigo Provérbio: Hvmo hyiniui íuptts
est.- Braz Luiz d'Abreu, Portugal me-
dico, pag. 25, § 91. — «Porque me des-
te a conhecer a imperfeição e desagrado
d'um amor que não tinha de ser perpe-
tuo ; e as desditas que accompanhão vio-
lentas affeiçòes quando n.^o são recipro-
cas? E porque motivo uma cega inclina-
ção, e desabrigados fados porfião pelo
ordinário em nos determinar em favor
daquellas que porião sua afteiçSo em ou-
tra pessoa?» Francisco Manoel do Nasci-
mento, Successos de madame de Sene-
terre. — «Parece-me inútil jxinderar, pois
que o sabeis, que o fogo que devorou a
dita pobre Parisiense havia de ser tão
penetrante como o de hum rayo, poia
VIR
VIR
vm
959
que reduzio a cinza os ossos que o fogo
violento das forjas não pode destruir nem
calcinar que em muito tempo.» Cavallei-
ro d'01iveira, Cartas, liv. 1, n." lõ.
— • Loc. : Pôr mãos violentas em al-
guém; maltratal-o, offeudei-o contra di-
reito.
— Arrebatado.
— - Não natural, nem por doença.
VIOLETA, s. /. Termo de botânica.
Flor agreste, ou hortada, roxa. Vid. Vio-
la, porém violeta é termo mais usual e
próprio.
VIOLETE, adj. 2 gen. De côr da vio-
leta.
— Pau violeta ; madeira de tinturaria
ou marchetaria do Brazil, com aguas e
ondas roxas.
— <S'. m. — O violete.
VIOLETTA, s. f. O instrumento musi-
co da figura de uma rabeca, e um pouco
maior, de que se faz uso em grandes or-
chestras ou concertos musicaes; é inter-
médio entre as rabecas ou violinos, e o
baixo.
VIOLINHA, s. f. Diminutivo de Viola.
Viola pequena.
— - Violino.
VIOLINO, s. m. Violinha de arco, uma
espécie de rabeca.
VIOLONCELLO, s. m. Instrumento mu-
sical de quatro cordas como a rabeca, po-
rém muito maior. Vid. Rabecão -pequeno.
VIPEREO, A, adj. Termo de poesia.
Vid. Viperino.
VIPERINO, A, adj. (Do latim viperi-
nusi. De vibora. — Viperino sangue,
— Figuradamente: Venenoso. — Glân-
dula viperina.
1.) VIR, adj. Termo antiquado. Vil,
plebeu. — • Qualquer vir pessoa,
2.) VIR, V, n. (Do latim venire). Pas-
sar de outro logar para aquelle onde está
quem diz que veio. — Vir n'inn carro,
— Voltar. — eE quando o quiz espe-
dir, ordenou de vir com elie o próprio
Mouro, que o seu Embaixador mandou a
AfFonso d'Alboquerque, o qual também
era chegado com elle Miguel Ferreira a
Ormuz, e trazia hum grande presente a
elle Afibnso d'Alboquerque.» Barros, Dé-
cadas, liv. 10, cap. 2.
Que hc o que voa quereis?
Que o mandeis vir aqui
Preso, e que o castigueia.
Ja eu estive cuidando nisso,
Porque eu não sou abantosma.
on. vicektí:, fabças.
Não posso mais aqui estar,
Que ando destemperada.
Como eu for estancada,
Virei ca mais devagar.
Boa mestra he aquella honrada.
Ay, ay, ay triste do mi !
Por minha condemnaçào ;
Dá tu sentença por mi:
Pois que ja me arrependi
Passe por satisfação.
E minha lingua louvará
Tua justiça clemente,
Todo o Ceo se alegrará,
Todo o peccador lirá
A ti mui devotamente.
IDEM, OBBAS VARIAS.
Quando de Cafres huma turba horrenda
Com tão grande alarido que o ceo rasga
Se deixa vtV por Íngremes ladeiras,
Com braucza frechando 03 curuos arcos.
Corrase o Lusitano esquadrão, pondo
Os que saõ mais ousados na dianteira,
Estes, inda que poucos, bem se atreuem
Reprimir o furor dos inimigos.
COEIE REAI., SACFRAGIO DE SEPÚLVEDA, Cant. 9.
Logo O Eei infernal, a quem isto era
Bem conforme ao seu gosto e natuieza,
Gabando-lhe a tenção damnada c fera,
Incitaudo-o a múr ódio, a mor crueza.
Faz vir alli a pestífera Megera
E lhe manda que vá com gràa presteza
Onde a sua morada tem a Inveja
E mande que o Sultão nisto proveja.
F. d'andrade, PBistEiBO CEBCo DE Dic, cant. 9,
est. 98.
— «Estas seis nãos depois de terem
dobrado o cabo de boa Sperança, foram
lançar ancora de fronte de huma terra
fresca, de muitas ribeiras, aruoredos, e
criaçoeus, da qual nenhum dos uaturaes
ousou vir às uaos, nem na praia quise-
raò comunicar com os nossos, nem ven-
derlhes mantimentos de que tinhaõ mui-
ta necessidade.» Damião de Góes, Chro-
nica de D. Manoel, part. 1, cap. 57. — •
«Que quanto a pessoa delle Capitão, com
ella teria menos conta, e se aprouvesse a
elle Capitão mór, elle lhe viria fallar á
ribeira com vinte homens, nào trazendo
elle mais comsigo.» Barros, Década 2,
liv. 7, cap. 7. — tE agora com a prizão
daquelles Fidalgos, que são os principaes
que ElRey tem na índia, ficou tão ufa-
no, que segundo tenho por cartas, está
apostado a vir cercar esta fortaleza, e
prender o senhor D. Simão, que a mim
já o tem feito em tempo que ha tão cer-
tas novas de galés de Rumes.» Diogo de
Couto, Década 4, liv. 3, cap. 5. —
«Acordarão communicar o negocio com
Martim Affonso de Sousa, Governador
que então era do Estado da índia, pedin-
do-lhe mandasse vir Meále de Cambava,
e o tivesso em Goa. E quando engeitaa-
se a gloria de o restituir, teria sempre
ao Hidalcão temeroso, e propicio para
todas as occurrencias do Estado.» Jacin-
tho Freire d'Andrade, Vida de D. João
de Castro, liv. 1. — «Que o negocio, que
propunha, tocava ao Governador da ín-
dia, o qual estava aprestando a armada
para vir visitar aquella Fortaleza, que
chegado elle lhe communicaria a sua pro-
posta.» Ibidem. — «Lembrou alguém que
havia conloio com os inglezes, para vi-
rem procurar com poderosa armada o in-
fante e ir coroar- se rei ao Brasil, corren-
do a negociação entre America e Lon-
dres. Não fico por fiador da idéa: direi
porém o que se seguiu.» Bispo do Grão
Pará, Memorias, publicadas por Camillo
Castello Branco, pag. 110.
— Chegar. — «E estando os nossos
nesta obra de tomar agoa virão vir hum
homem grosso bem tratado sem a touca
que elles costumão como afrontado d'al-
guma cousa; e tanto que chegou espaço
que o podião ouuir, começou de bradar
dizendo que se acolhessem.» Barros, Dé-
cada 2, liv. 1, cap. 1. — «O Xeque Is-
mael assentado neste conselho, leixou vir
o Turco té se assentar ao pé de huma
serra diante de hum campo mui espaço-
so, e disposto pêra a gente de cavallo
delle Xeque Ismael pelejar a seu uso.»
Barros, Década 2, liv. 5, cap. 6.
He cousa para nam cveer
virem ambos a morrer
no mes de lulho e hum dia,
nos quaes tempos nou auia
mais filho que sobceder.
G. DE BEZEXDB, MISCELLAKEA.
— -«Cuidareis agora que estou. rindo,
assim he, porem rio de raiva á imitação
dos Pastores que cantão com medo para
afugentar os Lobos, e as Raposas, ou rio
porque estou certo que todos estes risos
hão de vir a dar em grandes choros.»
Cavalleiro d'01iveira. Cartas, liv. 3,
n.o 25.
— Proceder, originar-se, derivar, ser
oriundo. — «E como este Hacem Bec
era homem novo sem parentesco de no-
breza, e estrangeiro na terra, por me-
lhor segurar o que ganhara, e se liar
com os Príncipes do Reyno, casou huma
filha sua com Xeque Aidar, que além de
ser homem nobre em sangue, por vir da
linhagem de Alie, e secta que novamen-
te professava, com que tinha acquirido
muita gente, houve Hacem Bec que a
dava a huma das mais notáveis pessoas
da Pérsia.» Barros, Década 2, liv. 10,
cap. 6. • — «E se bem attentarmos em
ambos estes direitos, estava a Senhora
Dona Catharina diante delRev Filippe:
no do sangue, por vir por linha masculi-
na, que he preferida á feminina, por on-
de elle vinha; o no hereditário; porque a
instituição do nosso Reyno era, que des-
se ao natural, como era a Senhora Dona
Catharina, e naõ a estrangeiro, como
era Filippe.» Arte de furtar, cap. 16.
Segundo todos diziào,
non fov cousa natural
o damno que recebiam,
mas por castigo o auiam,
e temiam vir mais mal.
GABCIA DE REZEXDB, MISCELLANEA.
Tudo faz emfim prestes quanto via
Que cumpre á defensão da fortaleza.
960
VIR
VIRA
VIRA
De aorte quo vir cousa nâo podia
Que cíiiiHO oonfimio ou iiicerto/.u.
Lofço ollo CO 'ca da hiiii coinpiiiihia
O» lopiroH vioita cm que ha fraqueza,
TvOíiibrando n cada liuin o rjui' h<- ubripido,
I'oi'(''m ÍHto ora tiin todos e>ti'Uitado.
FHANCISCO Di; AltDHADK, PUIMKIBO CKHCO DB DIU,
cunt. lit, est. 10.
— Vir em pessoa; vir pessoalmcnto,
ser o próprio. — «K no«te anno do (|iuv-
trocontos e oitonta e oito, porque lio dito
Beiuohi por trayçain ilos seus foy ian(;!i-
do fora do Keyiio, doturminou meterse
em liunia cnrauella da» do tracto que
corrião a costa, e cm pussoa vir pi-dir a
el Rey socorro, ajuda, o justi(,'a. E es-
tando cl Key eiu Setuuol o dito líomolii
clieRou a Lisboa, o coui ollo alf^una ne-
gros seus parentes, o filhos de pessoas
antro oiles de luuvta valia o grande esti-
ma.» íiarcia de Rezende, Chrouica de D.
João II, cap. 78.
— Fazer vir ah/uem; mandar clia-
mal-o. — «Faltou o Senhor Conde Açor-
da, o Barào de Ma(,'amorda, e também
faltou aquelle Cavalheiro, que quando
chega hc o mesmo que fazer vir o coco. »
Cavalleiro d'Oliveira, Cartas, llv. 1,
n.° 10.
— Vir a si; chamar á sua presença.
— «Mandou vir a si o governo popuhir
da Cidade, ao Vigário t!eral da índia,
ao (iunrdiSo de S. Francisco, a Fr. An-
tónio do Casal, a S. Francisco Xavier, e
aos Officiaes da fazenda dei Rei, a quem
fez esta falia.» Jaeintho Freire d'Andra-
de. Vida de D. João de Castro, liv. 4.
— Virem de fora ; chegarem de fora.
— «Temendo os nossos, logo quando se
acolheram ;l Cidade, que com a entrada
desta gente, além de não ser mui iiol,
haviam de padecer ;l fome, por os pou-
cos mantimentos (]ue havia nella, e elles
foram causa de virem do fora nos mezes
do inverno, que fora o de maior traba-
lho.» Barros, Década 2, liv. G, cap. 9.
— Virem com embargos; apresentarem
obstáculos, diíBeuldades. — «Faziaõ ju-
rar na Chancellaria, os que compravaõ
os oíTicios, que nada davaõ por elles,
nem os que pertendiaõ por interposta
pessoa : prohibiaõ ás partes virem com
embargos a taes provimentos, e se al-
guém dava mais pelo ofiicio já comprado,
lho largavaõ sem restituírem o dinheiro
ao primeiro comprador, a quem satisfa-
ziaõ com que ajiontasse, o pedisse outra
cousa.» Arte de furtar, c^ip. 19.
— Vir ú costa ; perder-se, naufragar.
— «E como as nãos grandes nTio tinlião
portos pêra isso, a maior parte delias
auiaõ de vir a costa, e se metessem os
nauios pequenos em os rios segundo cus-
tume da terra, tinhaõ certo poderem logo
ser queimados.» Barros, Década 1, liv. li,
cap. l5.
— Vir a terra ; desembarcar, voltar a
terra, pôr pó em terra.
O Kazá, que luto tudo f;ovurnavs,
Nunca a frota di.'ixou, uulla se oucoira,
AhȒ porque i;uurdii-ia a cllo tocava
I*or oiítar nella u força desta guorra,
Como porqui) de todo lhe ne);avu
A sua antif^a idade rir a tcrru,
Ou por outro respeito extraordinário,
Mas dalli provê tudo o necessário.
rBANCISCO DK A.IDBADK, PRIUEIBO OEBCO DB VIC ,
caut. 1.^), est. 47.
— « Diogo Lopez parecendolhe que era
isto asai mandou todolos bateis a terra,
sem ficar narmada maia quo o da taforea
por lhe catarem calafetando a cuberta, o
Kcruia de ir, e vir a torra buscar cousas
necessárias.» DandAo do (iões, Cbronica
de D. Manoel, jiart. '^, cap. '2.
— Vir a ^ruçíj»; luetar.
— Vir bem, ou trial o vestido a alguém;
ser bem, ou mal feito para clle, ajustar-
se-lho, ou não ao talho, e feição do corpo.
— Nascer, reproduzir-se, dar-se.
— Nit f aliando ; fallar andando.
— Vir sobre a praqa com forr^a d'ar-
mas ; ir accommettel-a.
— Vir a palavras, e razoes desconcer-
tadas; chegar a ter razões.
— Vir d varanda, ou janella sobre o rio,
ou praqa; olhar para elle, cair, ou dar
no rio, ou praça.
— Vir bem; fazer conta, ser útil, con-
vir.
— Vir a saber-se; acontecer, succeder,
chegar.
— Vir ás mãos, aos cabellos ; ter bri-
gas.
— Vir á memoria; occorrer, lembrar-
se, recordar-se.
— Loc. POP. : Vir ás boas; diz-se n'u-
nia questão que se ventila, d'aquelles in-
dividues que por fim concordam, iázem
pazes.
— Vir $m alguma cousa; concordar,
convir.
— Vir d prova; fazer, ou sofiFrer exa-
me, e experiência.
— Vir-se, i'. rfjl. — Vir-se chegando o
inverno; approximar-se, estar-se perto
d'elle. — « Feito isto por se vir chegando o
inverno, recolheo-so a invernar em Chaul,
pelo assi mandar o Governador. E conti-
nuando com Diogo da Silveira, foi se-
guindo sua viagem até o Cabo de Guar-
dafúi, onde as náos que vam de Achem
pêra Meca sempre vam demandar.» Dio-
go de Couto, Década 4, liv. 8, cíip. 4.
— Termo popular o obsceno. Fazer
sair o sémen na occasiào em que se está
em copula carnal com uma mulher; ou
mesmo quando se está em presença de
algum objecto concupiscente.
1.) VIRA, .•!. /. (W) francez vire). Setta
mui aguda.
— Peça de sola, quo forra a borda do
rosto do sapato.
15odo\uc^rro anda no mato.
Negro ho o cor\-o c negro hc o pM.
Nef^ro he o rei do eoxadrex.
Negra he a vira do sapato,
Ncf^ro he o saco queu deaato.
OIL riCKXTE,' rAEÇA».
— Meia vira ; tira de «oia á borda do
rosto do sapato, entre a palmilha o a so-
la, divcri<a >ia vtVa inteira, ca «ola por
baixo da sola.
— Era antigamente a tira de couro
com que Oi besteiros forravam as mãos
para armarem au beatas, qoasi como as
tiras (|uu usam os aapateiros forrando as
mãos, quando cosem as viras, e sapatos
para aperUir o ponto melhor. == Em Vi-
terbo, Elucidário.
— Fifíurauamente: Metade do que fora
suffieiento, u não ba.sta ]>or ser aú a me-
tade.
2.) VIRA. F/irma do verbo vir na pri-
meira ou terceira pessoa do singular do
pretérito mais fjuo perfeito do mo<io indi-
cativo. Vid. Vér. — «El-rei conhecendo,
que era (iraciano Príncipe de França,
quo já outra vez o vira, se desceu do ca-
vallo, recebendo-o com tanto amor o cor-
tesia, como se devia a tal pessoa.» Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim d'lnglaterra,
cap. 34. — «E muito maior depois que lhe
contou as cousas, que passara com o Xeque
Ismael, em que vira nelle quanto estima-
ria ter amizade, e prestança com El Rey
D. Manuel ; té dizer hum dia ao seu Fy-
sico mór, que lhe mandaria cortar a cabe-
ça, se não desse a elle Miguel Ferreira,
que acertara de adoecer.» Barros. Década
2, liv. 10, cap. 2. — «E porque elle pudes-
se contar ao Camorij o que vira, mandou
o Almirante em sua presença tomar huma
nao que estaua surta diante da cidade
carregada de mantimentoa e leuar bordo
da 8ua.> Idem, Década 1, liv. 6, cap. 5.
Tão sublimei brasocna serão ganhados
Com força invicta por Hermes prestantes,
Quaes vira ò Tibre em séculos passados,
Entre os grandes Democratas reinantes:
Seus nomes immortaea serão gravados
Em bronze eterno, sólidos diamantes ;
Ho Deus quem te revela, A Lusitano,
Este, quinda o futuro encerra, arcano.
J. A. DR MACKDO, O OBtSXTB, Cant. 12, CSt. 5Õ.
Se as solidões da Libya. e o Téjo ameno.
São para mim morada indiffercntc;
Se com semblante igual me rira o Mondo,
Ou n'hum profundo cárcere, on nTium Throno ;
Se 03 mesmos Ceos descubro cm toda a parte.
IDEM, KKDITÀÇÂO, CaUt. 1.
■f 3.1 VIRA. Fiirma do verbo virar na
terceira pessoa do singular do presente
do modo indicativo. Vid. Virar.
VIRAÇÃO, 5. /. Vento brando, c fres-
co, que corre depois da calma.
— Figuradamente : A viração da gra-
ça : favor d'ella, inspiraç.Ho.
VIRACCENTO, s. m. Signal orthogra-
plúco.
VIRA
VIRA
VIRA
961
VIRADO, part. pass. de Virar.
E pois propriedade e natureza
Da Fortuua, he fazer logo mudança,
Creio que já tora virada a roda
E a terra cm favor nosso posta toda.
r. DE AjfDBADK, piuitKiso CERCO DK mV, cant. 18,
eat. 37.
VIRADOR, s. m. Cabo em que se ata o
que se quer mover com o cabrestante, e
se vai envolvendo no seu cylindro.
— Maciíiua de um cvlindi-o perpendi-
cular com braços, ou barras, que o fazem
vulver, e enrolar o virador, ou corda que
levanta ou puxa algum peso.
— Viradores de encadernador; ferros
de dourar, com que fazem riscas de ouro
deliradas e direitas.
VIRAGO, s. /. (Termo latino derivado
de vtV). Mulher robusta eom estatura e
forMs de iiomem. ViJ. Varôa, Machôa.
-J- VIBAM. Forma do verbo ver na ter-
ceira pessoa uo plural do pretérito per-
feito e mais que perfeito do modo indi-
cativo. Vid. Vêr. — o Todavia quando vi-
ram o grande numero de velas, as ban-
deiras, estandartes, trombetas, e pompa
da frota, e sobre tudo a trovoada da ar-
tilheria, que durou per espaço de meia
hora, assi como lhe foi triste cousa a vis-
ta das velas, assi a sua musica, e muito
mais triste a imaginação em que havia de
parar aquelle tào temeroso espectáculo a
eUes.» Barros, Secada 2, liv. 6, cap. 2.
— tOs Mouros tanto que o viram afas-
tado, a grão pressa começaram apagar o
fogo, que ardia em hum certo óleo de
terra, de que em Pedir ha grande quan-
tidade, em huma fonte que mana, ao qual
óleo 03 Mouros chamam Napta, cousa
acerca dos Médicos mui notável, por ser
excellente pêra algumas enfermidades, de
que nós houvemos algum, e temos expe-
riência ser mui appropriado pêra cousas
de frialdade, e compressão de nervos.»
Ibidem. — «Seria o povo que se ajuutou
e poz per as janellas, e eirados da rua
per onde ElRey hia, passante de trinta
mil almas; e quando o viram naquella
pompa, e com maior estado do que nunca
cavalgou, todos a huma voz em modo de
louvor davam graças a AlFonso d'Albo-
querque por lhes tirar o seu Rey do ca-
tiveiro daquelle tyranno, e o poz em es-
tado de tanta honra.» Ibidem, liv. 10,
c^p. 5.
E no nome de Beatriz, também gravado
Na sílice do monte, lhe responde,
Como echo das cndeixas namoradas
Do cantor da soidão. Seut^-ulo viram
O génio da montanha, alvas trajando
Roupas de nuvem, dar ouvido attento
As canções magoadiis e suavíssimas
De Bernardim saudoso o namorado.
OAimErr, c.vmòes, c;iut. 9, cap. 9.
VIRAMENTO, *. m. Acto de virar.
VOL. V. — 121.
-j- VIRÃO. Forma do verbo vêr na ter-
ceira pes.>oa do plural do pretérito per-
feito do modo indicativo. Vid. Viram,
orthographia preferível. — «E se a toma-
da desta nao naò seruio à malícia de Có-
ge Ceuiecerij seruio pêra temorlzar aos
Mouros de Calecut, e ao Camorlj : o qual
cõ esses mães prlnclpaes quando viraõ a
grandeza da nao, e souberaõ a gente que
trazia, comparando Isto ao naulo saõ Fe-
dro que seria de ate cem toneis, ficarão
mui assombrados, e sem esperança de nos
poderem offender per guerra.» Barros,
Década 1, liv. õ, cap. 6. — «Estes ar-
reos com que este homem sahio em terra
fezerão enueja aos que ho virão, porque
ao outro dia vleraò à praia quinze, ou
vinte delles. Pelo que mandou logo Vas-
quo da Cama polar gente nos bateis, com
que se veo a terra, trazendo comsigo mos-
tra despeciarlas, ouro, e aljôfar, seda, ho
que h s negros estimarão pouco por não
saberem ho que era.n Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 1, cap. 3õ.
— «Porem de agoa bebeu huma grande
quantidade, e tornandolhe a perguntar
pelos moços Christàos, respondeu que no
payol da proa os achariaõ, e Ajitonlo de
Faria mandou três soldados que os fos-
sem logo buscar, os quaes abrindo a es-
cotilha para os caamarem aslma, os vi-
raõ a todos embayxo jazer degollados,
que com huma grande grita que metia
medo, começarão a dizer.» Fernão Men-
des Pinto, Peregrinações, cap. 51. —
«Chegado este pai-ao ao junco de Antó-
nio de Faria, elle fez logo recolher den-
tro estes oito Portugueses, os quais em
subindo acima que o viraõ se lhe lança-
rão todos aos peis, e elle os recebeo com
muyta afabilidade e gasalhado acompa-
nhado de assaz de lagrimas, pelos ver
rotos, nús e descalços, e banhados no seu
próprio sangue. » Ibidem, cap. òl. — «Foi
celebrado o seu nascimento com todas
aquellas demonstrações de pompa, que
merecia o maior Príncipe de todo o mtiu-
do. Por morte de seu Pai Flllppe segundo
deste Reino, na Idade de dezasels annos
tomou posse do Governo, e da mais di-
latada Monarquia, que viraõ os homens. *
Fr. Bernardo de Brito, Elogios dos reis
de Portugal, continuados por D. José
Barbosa, — «Soube el Rei D. Henrique
destas ligas, e prevenindo seu aggravo,
entrou em Portugal com maõ armada,
até pôr cerco a Lisboa, e queimar a rua
nova, e fazer no Reino muitos damnos
por si, e seus Capitães, a que acodlo o
Cardeal de Bolonha mandado pelo Sum-
mo Pontífice, e fez paz entre os Reis am-
bos, que em Santarém se viraõ, e fallá-
rao no Tejo, cada hum em seu barco.»
Ibidem. — «Bem sey, disse o moço, que
esta casa naò tem Igreja mais que o adro,
que hc V. m. ao meyo dia; e por isso eu-
trey cm suspeitas, se viraõ cá enterrar
aquelle finado: c confirmey-me de todo,
porque a gente, que o traz, vem dizen-
do, que o levaõ á casa, oude se naõ co-
me, nem bebe, nem ha cama, mais que
a terra frla.n Arte de furtar, cap. 41. —
1 Esses que quando ante mim vlnhào só
culdavão em me comprazer, cessarão de
constranger se quando virão que não ha-
via que esperar de mim; e o Insultuoso
compadecimento de uns me estamagava
mais que a Ingratidão dos outros.» Fran-
cisco ^lanoel do Nascimento, Successos
de madame de Seneterre.
No mais sabido cume entào descubro
Dest« fulgente Olvmpo erguido hum Templo,
Cuja pomposa, estranha architectura
Nem alma concebêo, nem olhos virão,
Nem dellc idéa dão, nem dar poderão.
Se inda os de Mênfis, e Palmira aos ares
Levantassem as cúpulas dom-adas.
Como inda os finos mármores quebrados
Enti-c os desertos arcaes nos clamào.
J. A. DE ÍL\CKD0, VI-IGF.M EIT.VTICl, Cant. 1.
-j- VIRÃO. Forma do verbo vir na ter-
ceira pessoa do plural do futuro imper-
feito do modo indicativo. Vid. Vir.
E tanto pôde em nós seu erro, o crime,
Que terao.í por herança o mal, e a morte :
Para nós foi desterro o qu"era pátria ;
A hum dia d'ouro séculos de ferro
Se virão succedcr ; fechada noite.
Profunda escuridão, pousou na Terra ;
De mistura co"as brutas alimárias.
O Eei da creaçào nos bosques vive.
J. K. T>V- M.VCEDO, SJEDIT.\ÇÃ0, Caut. 1.
VIRAR, V. a. (Do francez virer). Vol-
tar, dar um movimento que colloea a
cou-a em outra postura. — Virar as cos-
tas a alguém.
— Mudar a direcção que levava. — «E
para que naõ pai-eça que só em estranhos
damos com este discurso, viremos a proa
delle para nossas conquistas, e achare-
mos mãos de gato façanhosas, de que usaõ
Portnguezes. Já toquey esta treta succln-
tamente o §. ultimo do Capitulo IX. a
outro propósito ; mas agora a coutarey
mais dlíFusa a este Intento, em que tem
mais artificio.» Arte de furtar, cap. 37.
— Converter, voltar.
— Loc. POP. : Virar a casaca; des-
manchal-a, tornal-a a coser com o verso
para fora.
— Rodear.
— Não sei de que parte me vire; não
sei que partido tome.
— Locução figurada e popular : Virar
a casaca; mudar de opinião, de partido,
de parecer, ser contra os seus.
— V. n. Mudar de opinião, de pare-
cer.
— Mudar de rumo.
— Figuradamente : Mudar de génio.
— Virar d direita, ã esquerda. Vid.
Voltar.
— Tomar outro modo de vida.
962
VIRG
VIEG
vmci
— Virar contra alguém; voltar-so con-
tra cllo.
— Virar-se, v. rejl, Voltar-so, pôr-se
a cousa oui outra postura. — Virar-se du
costas. — - «E com iflto se virou puivi tnis
por notí nào ver, e por iiio.itiHr «)iiílio-uiu-
f^uailo hia. do nós, o qut; bum olbailo, qui-
yil qau iljc aào iultou niziio, pulo '|uo
atrúd fica dito.» Furjiào Moudcb Tiuto,
Peregrinações, cap. li).
— Virar-se a aUjatin o miolo; perder
o juizo.
— CoTivortor-t<e.
VIRATAO, s. m. AuKinciitativo do Vi-
ra. ..-. Aipiiiw dizem Virotão, de virola.
VIRAVOLTA, s. f. ida o viudu, rodeio.
— Fii;ur.adamcntc: Vavicladc, alterna-
tiva, vicissitude. — Viravolta da for-
tim't.
VIRENTE, adj. 2 gim. (Do latim vi-
rens). Termo de poesia. Verde, verde-
jante.
VIRGA, s.f. (Do latim lirga). Vara,
açouto.,
— A virga férrea ; com todo o rigor,
com vlrfri, ai,'Outo de ferro.
1.) VIRGEM, s.f. (Do latim virgo). Pes-
soa do sexo feminino que não poeeou con-
tra a castidade, que niío teve trato car-
nal com lunfíuem.
— Uma virgem; uma douzolla.
— Titulo dado por antonomásia á Mài
de Deus. — A virgem tíagmda. — «Nes-
te Domingo L-mãos, e nos mais que se
seguem atcc a festa do Natal celebra a
Saneta àladre Igreja o altíssimo e mara-
uilbosissimo mysterio da Encarnaçam do
Fiibo de Deos, quando qiús do Ceo de-
ccr aas terras, e tomar carne humana na
ventre da Virgem sagrada pêra nos sal-
uar.)i Fr. Bartholonieu dos Martyres, Ca-
tecismo da doutrina christã. — «Ora ir-
mãos neste dia do bemaucnturado conce-
bimcQto da Virgem, chore cada hum os
males em ({uo foy concebido, e nascido,
e dcspois viuendo aerccentou, c diga ca-
da hum por si. O miserauel de mim: que
al(un doa males cm que minha mày mo
concebeo, o pario, to<.la a vida gastey
em acrecoutar, e me <;"U^i' '^'^ outros
mavores.» Ibidem. — nCumo podes dizer
estas palauras da Virgem. Minha alma
magnifica o vSonliory ('om mais verdade
podoas dizer. Minha alma abate o des-
preza o Seulior. E muyto monos poderás
dizer o que logo a Senhora disso. Alo-
grouse meu spirito em Deos meu t^alua-
dor.» Ibidem. — «Ora sus irm.nos, se soys
denotes do nascimento da Virgem escia-
roclda, acabcsc ja a noite da viila car-
nal, c toruay nesta festa a nascer cò cila
em filhos de graça, o luz eterna. EUa na-
coo saneta, porque prinieyro foy sancti-
ficada que nascida.» Ibidem. — «O que
se cumprio quando uo dia de seu passa-
mento lhe foy dada claríssima vista de
Deos, e perfeytissinio gozo sobro todas
as puras criaturas. A segunda cousa que
tom a luz da manhS ho, ser cabo, o ter-
mo das trcuas da iioyte. A><«i iiaticoiido
a Virgem oiclarocida, c<jnicçou dar cabo
à noitu de todo tempo passado, que foy
dosiio peccado do Adam tò seu nascimen-
to.« ILidem.
— Virgem, no rigor da palavra, 6 aqucl-
la qao nào eonsoatiu nem cm dcAtijo do
cousa venérea licita, uem illicita.
— Virgens dí. lagar; silo duax pcyas
empinadas iiira do lagar, que tolhem que
a vara ou feixe declino para algum lado.
— Virgens dou engenhos de vwer canas
de assacar; quatro paus quadrados por-
poudicularos sobre os quaes se põe os dor-
mentes, a ))Oute, gatos, ete. ; entro ellas
andam os três eixos.
— Sigmi da Virgem ; o sexto do zo-
díaco, cm que o sol entra por agosto.
2.) VJRGEM, adj. 2 gen. Que tem vi-
vido cm uma perfeita continência; diz-so
igualmente do homem e da mulher.
— Livro virgem; livro que ainda nSo
foi aberto, e por conseguinte lido.
— Nào tocado, niio usado, não devas-
sado, innoL'ente.
— Figuradamente : Diz-se da cousa
que não serviu naquillo para que é fei-
ta ou nascida, que nào teve ainda feitio
algum.
— Mãos virgens, olhos virgens; que
toem a pureza das virgens, virginacs, n;"io
contaminados com peitas, crimes de ar-
mas, com olhar para cousas obscenas,
etc.
— Cera virgem; om pão, como vem
das colmeias.
— Cal virgem ; cal não preparada.
— Ouro, prata virgem; bruta, como
sáe da mina.
VIRGEU, s. m. Forma antiquada de
Vergel.
VIRGINAL, adj. 2 geu. (Do latim vir-
gÍ7ialis, de virgo). Que pertence àa vir-
gens.
— Diz-se de Jesus Christo. — A car-
ne virginal de Jesus CJiristo. — «Final-
mente tão grande castigador, e peniten-
ciador foi de sua inuocentc o virginad
carne, que o pos o tíenhor por claro exem-
plo e ti"eslado de todos os penitentes, o
mortificadores de sua carne, dizendo:
Dos os dias de loão Baptista, ate o pre-
sente, o Keino dos ecos pur força se to-
ma, e 03 valentes mortificadores de sua
carne o alcanção.» Fr. Bartholomeu dos
Martyros, Catecismo da doutrina christã.
— Um leito virginal ; a^sim chamado
por causa da pureza da sua alvura.
— Leite virginal ; espécie de co.smcti-
co que serve para branquear a pelle.
— Que pertence á Santa Virgem. —
O ventre virginal. — (A primeira, Quo
o filho de Deos foy concebido no ventre
Virginal por virtude do Spiritu saucto.
A segunda, que nascoo de Saucta Miiria,
ficando Virgem antes da parto, o no par-
to, c depois do parto. E destas duas uer-
dadoH, coauem quo colhamos na« outras
duas porá nosso ensino e saluaçam.» Fr.
liartholomeu dos Martyres, Catecismo da
doutrina christã..
f VIRGINALMENTE, adv. De virgi-
nal, com o Huílixo > mente»/. De um mo-
do virginal.
VIRGINDADE, *. /. (Do latim virgini-
tas, de virgo . Estado d'uma pessoa vir-
gem. — A virgindade de .Marít tra co-
mo utn sacrifício contínuo ipie tslla fagia
a Deus. — A iillia de Juplitú i>e<lo \>ura
chorar sua virgindade, \»>'i» era a maior
desgraça para as íilluis da Judêa o mor-
rerem .virgens.
— O virgo.
— Haver uma mul/ier ri» virgindade ;
desHoral-a, deshonrol-a.
— Syn'. : Virgindade, castidad». Vid.
este ultimo termo.
t VIRGINEICO, A, adj. Termo do chi-
mica. Ac: lo virgineico ; acido gordo,
d'um cheiro forte, extrabido dft r»iz do
poli^'1'ila lia Virginia.
VIRGÍNEO, A, a4j. (Do latim virgi-
neus\. VirL'lnal.
t VIRGÍNIA, *. /. Tabaco da Virgi-
nia. — Boa Virginia.
— Termo de botânica. Variedade- de
tulipa.
VIRGO, .". íH. O embaraço que se en-
contra ordinariamente no accosso daa
donzellas, que nào tiveram copula car-
nal.
Qu'he o que haveis d'cmbarc»r?
Seiscentos rirfjnt po3tii;o8
E tro;; arcas de feitiços,
Quo, não podom iiviis levar.
aVL nCEXTE, JLCTO DA BABCA DO IXnUCIO.
— Loc. POP. : Ter o virgo ; nâo tor
tido copula carnal, ser virgem do corpo.
— Tirar o virgo a uma donztlla; des-
iloral-a, deslionral-a.
— 8iguo do zodíaco. Vid. Virgem.
VIRGULA, s. f. (Do latim virgula).
Pequeno sigual de pontuação, que iodica
a menor de todas as pausas.
— Emprega-se a virgula para separar
entre si as partes d'unia mesnia phraso;
eoUoca-se entre daixs virgulas toda a pro-
posição incidente puramente explicativa.
Faz-se uso da virgula quando um sub-
stantivo ou adjectivo seguido de qual-
quer Complemento, (]U8r elle comece,
quer elle termine, pôde supprimir-se sem
alterar a construcção. Separa-se por uma
virgula toda a palavra em apostrophe,
.<e começa ou tcrmir.a a piírase, ou por
duas virgulas, se estii encravada n'es«a
mesma phraee. Emproga-se algumas ve-
zes para substituir o verbo, que 6 sub-
entendido no segundo membro da phrase,
f 1. VIRGULAR, a.lj. 2 gen. Que diz
respeito A virgula, (|ae se assimilha a
cila.
■J.^ VIRGULAR, V. a. Dividir com vir-
gulas as phrases, sentençaé," etc.
VIRO
VIRT
VIRT
963
VIRGULOSA, s. f. Pêra que se come
no inverno. .
VIRGULTA, s. f. (Do latim virguUum).
Termo pouco usado. Varinha das ai-vo-
res.
VIRIDANTE, adj. 2 gm. (Do latim vi-
ridam). Que principia a verdejar.
1.) VIRIL, adj. 2 (jen. (Do latim u»-
rilis, de vir). Que pertence, ao homem.
— Força viril. — Sexo viril.
— Idade viril ; idade de um homem
feito. — A idade viril mais madura ins-
2-iiVtt um ar mais saòio.
Ja a cate tempo aquclle que tomara
Dos dous do Zobcdeo nomo c appellido,
Da idade pueril que atraz deixara
Oi teuroâ aunos tinha consumido,
Agora na viril idado entrara,
E com estudo tal tinha aprendido
Quasi aa linguagens todas do Oriente,
Que delias usa assaz perfeitamente.
T. d'akdkade, pbiueibo CEnco db diu, cant. 2,
eat. 68,
— Figuradamente : Firme, corajoso,
digno de um homem.
— Defensão viril; defensão esforçada.
— Obra viril ; diz-se em opposição a
mulheril.
2.) VIRIL, s. m. Obra de vidro em
que se põe alguma relíquia, ou cousa
que não se quer tocada ; por resguardo
de pó, de a mudarem, etc, espécie de
ambula.
VIRILHA, s.f. Termo de anatamia. A
parte superior da coxa, onde se une á
outra, ficando em meio os membros da
geração.
— Quebradura das virilhas ; hérnia
intestinal.
VIRILIDADE, s. f. (Do latim virilitas,
de virilisi. Idade varonil, de 41 até 56.
— Por extensão : No homem, capaci-
dade de gerar.
— Figuradamente: Força, vigor. — -A
virilidade do espirito.
f VIRILMENTE, adv. (De viril, com
o suffixo omente*). De um modo viril.
— Com virilidade, vigor,' robustez.
VIRIPOTENTE, adj. 2 cjen. (Dõ latim
viripofens). Forte, vigoroso, robusto.
— Moça viripotente ; moça que pôde
casar, e soffrer a copula com um homem.
VIROLA, s. f. (Do latim virola). Cir-
culosinho de metal, em roda do cabo da
ferramenta, para que o cabo não ra-
che.
— Termo de relojoaria. Nome que se
dá ás peças de um relógio, que sustém
outras,
VIROSO, A, adj. (Do latim virus).
Termo de medicina e de botânica. Que
é dotado de qualidades nocivas ; o que se
attribue a um principio desconhecido em
a natureza.
— Substancias virosas; substancias que
tem um sabor riauseoso particular.
— Venenoso, virulento.
vel.
■Que tem cheiro fétido, desagrada-
VIROTADA, s. /. Golpe de virote.
VIROTÃO, s. í/i. Virote grande.
VIROTE, s. m. Vira gi-ande, setta cur-
ta euipennada. Alguns virotes eram de
arremesso.
— Peça da balestilha de tomar a altu-
ra do sol, que a cruza.
— Figuradamente : Olhar pelo virote ;
estar acautelado, estar alerta, vigiar,
guardar.
— Virotes cabeçudos; com o ferro que-
brado, ou embolado, para não ferir caça,
e talvez armados de fogo.
— Virotes da espada ; o ferro atraves-
sado sobre os copos, e que sobeja por fo-
ra d'elle3.
— Figuradamente : Pessoa que se man-
da em procura de outra de que não se
sabe novas.
^ Termo de náutica. As peças das
obras mortas, que formam o remate do
navio sobre os ^pés mancos, de alto a
baixo.
— Adagio e provérbio :
— Nunca de rabo de porco bom vi-
rote.
VIRTAES, s. m. plur. Termo da Ásia.
Avençai.
VIRTE, s. m. Termo da Ásia. Lista,
que nas aldèas de Goa se faz dos aven-
çaes, ou sócios das várzeas.
VIRTUAL, adj. 2 gen. (Do latim vir-
tus). Que em virtude, força, actividade
equivale a outro, e pôde fazer os mes-
mos eileitos. — Calor virtual.
— ■ Tenno de raechanica. Que é possí-
vel, sem que se preveja nada na sua rea-
lidade.
— Velocidade virtual ; espaço infinita-
mente pequeno percorrido na direcção de
uma força pelo ponto d'applicação d'essa
força.
— Momento virtual ; o producto da
força multiplicada pela velocidade vir-
tual.
— Termo de physica. Foco virtual
de um espelho, de uma lente, etc. ; foco
determinado pelo encontro dos prolon-
gamentos geométricos dos ralos lumino-
sos.
VIRTUALIDADE, s. /. Caracter, quali-
dade do que c virtual.
VIRTUALMENTE, adv. (De virtual, e
o suffixo «mente»). De um modo virtual,
em opposição a formalmente e a actual-
mente.
VIRTUDE, s. /. (Do latim virtus). For-
ça moral, coragem.
— Firme disposição da alma em fugir
do mal e fazer o bem.
E agora que buscas lá?
Busco homa muito grande,
E eu virtuih. que Deos maudc
Que topç co' ella ja.
Outra addiçào nos acudc:
Screvo logo hi a fundo.
Que busca honra Todo o Mundo,
E Ninguém busca virtude.
OIL \1CENTE, FARÇAS.
— »Ao tempo de sua morte; porque o.
reino ficava sem , herdeiro, mandou que
esta copa fosse levada por todalas côi-tes
de princepes, pêra provarem os cavallei-
ros: e que aquelle que fosse de tanta
virtude, que tomando-a na mão a fizesse
tornar em toda sua claridade © perfeição
pêra nunca mais a perder.» Francisco de
Jloraes, Palmeirim d'Ingiaterra,'cap. 90.
— « Este malvado, e inimigo de toda
virtude, desejando a Ilha do Prazer des-
cansado, que confina com a costa do seu
Reino, mandou a ella alguma gente pêra
a tomar : meu sogro como naõ tinha mais
bem, escreveo logo a seu filho, e a meu
pai que lhe fossem ajudar a defender sua
terra, os quaes ajuntando alguma gente
foraõ em seu soccorro.» Barros, Clari-
mundo, liv. 2, cap. 28. — «E a Raynha
por suas grandes virtudes, e muyta bon-
dade, e poUo gi-ande amor que a ol Rey
tinha, não abastou consentir nisso, mais
ainda pediu por mercê a el Rey que lho
deixasse criar em sua casa, e que como
a próprio filho o criaria, de que el Rey
foy muyto alegre, e mandou logo por
elle.B Garcia de Rezende, Chronica de
D. João II, cap. 113. — «Onde acabou
seus dias cõ grande quietaçam naquella
vida solitária, no que mostrou a fineza
de sua virtude, e a grandeza de seu ani-
mo. Diz Séneca que de coração grande
he desprezar cousas grandes. E Quinti-
liano diz, que assaz he de riquezas não
as desejar. Estado huma noite ceando
Philippe rey de Macedónia disse aos phi-
losophos, que tratassem alguma questam,
e foy ella, qual era a mor cousa do mun-
do. Hum respondeo que o monte OIjtu-
p>o, que ■ com sua altura traspassaua as
imuens, e chcgaua cõ seu cume onde os
ventos não podia chegar, dõde vieram os
Gregos a chamarlhe Olympo, que quer
dizer todo resplandecente, porque tem o
sol claríssimo, e não he de nenhumas nu-
ueus ofuscado nem oncuberto.» Heitor
Pinto, Dialogo da Vida solitária, cap. 5.
— «Houve mais el Rei D. Manoel o In-
fante D. Luiz Duque de Beja, Condes-
tavel de Portugal, Príncipe ornado de
virtudes singularissimas, cujo filho foi o
senhor D. António Prior do Grato; O In-
fante D. Fernando, que casou com D.
Guiomar, filha de D. Francisco Coutinho
Conde de Marialva, e de sua mulher D.
Britis Condeça de Loulé, e sem ficarem
filhos dentre ambos, faleceo em Abrantes
era idade de vinte e sete annos.» Frei
Bernardo de Brito, Elogios dos reis de
Portugal, continuados por D. José Bar-
bosa. — nPor onde quem quer empre-
hender virtudes grandes, naõ ha tanto
de pòr olho no pouco que pode, quando
se ve preso d'aíFeições desordenadas,
96-t
VlllT
VIRT
VllíT
qii.aiito no muyto que Doos poflo cm qiiom
BO (loliljLira a ra[n])Gr por cIIíiíi.» IViva
(rAiiilrailc, Sermões, part. 1, paj,'. ]2'i.
— «Mas (leixaiulo o que inuyto.s Douto-
res dizem, parecome que quis nosso Sc-
nlior cora isto mostrar a pcrfeiçilo e gran-
deza do espirito ('hristaõ, que nos olle
mercceo, a qual nunca se contenta com
nenhum prao de virtude que tenha, mas
tendo i»osto.s o9 olhos nas perfeições diui-
nas sempre aspira a cousas mayores.»
Ibidem, pa^'. \M. — «Imagino que son-
do esta a virtude que ntais deseja onco-
brir-se, não se podia melhor occultar que
entre as sublimes qualidades de V. E.
He certo que iiílo haveria quem cuidasse
om busca-la no coração de V. E. obser-
vando-so a maE^ostade, e o respeito que
imprime a sua presença nos ânimos dos
que tem a honra de conhecel-a.» Caval-
loiro d'()livcira, Cartas, liv. 3, n.° 20.
— «Monsicur, ilij^nai-vos de acceitar os
agradecimentos muito sinceros que pelos
bons officios que a minha Mão prestastes
vos dedico; faltão-me expressões para a
gratidão; mas esta só com a minha vida
tem do acabar. Peço- vos que para com a
vossa Esposa sejaes o intérprete d'este
meu sentir. O que Jladania de Scnneter-
re me disse de suas virtudes, da sua sen-
sibilidade, me recordou, que desde a sua
infância eu tinha prognosticado as quali-
dades de que ella seria possuidora em
mais crescidos annos.» Francisco Manoel
do Nascimento, Successos de madame de
Seneterre.
Senhor Doos fcu as creaturíia a««y a» ra-
soavees, como aquellas, que carecem de
razom, noin quis ()ue tod;w fossem iguaes,
mais estabe.lecoo o ordenou cada huma
om sua virtude, e poderio, departando-as
segundo o graao, em que as pos.» Ord.
Affons., liv. "J, tit. <>:>, § 1. — fMas isto
lie próprio da virtude c uobreza do san-
gue: om quabjuer idade logo se mostra,
ainda que seja nos maiores perigo» da
vida.» Barros, Década 1, liv. 1, cap. h.
— a. Mas basta que liam do ser libcracs c
d'alto animo, não querendo satisfazer si't
cõ palauras a falta do suas obras, seme-
lhantes :iquelles om cujos roynos correm
])alauras por moeda. Isto baste quanto a
liberalidalc, que dissestes ser necessária
a<i l'riiieiiie, como lhe saõ muitas outras
virtudes e sciencias. Ao menos, disse o
jurista he lhe necessária a sciencia do
direito, pois ha de fjvzer guardar as leis,
e he impossiuel fazelas guardar sem aa
saber: Quanto mais que hahi ás vezes
tempo, cm que he necessário fazer leys,
c não se podem fazer as nouas sem sabe-
rem as antiguas.» Heitor Pinto, Dialogo
da Justiça, cap. 7. — «Na Corte houve
sobre esta eleição diversos sentimentos:
alguns a notarão por enveja, e outros
por costumo; tanto, que nas virtudes cm
quo lhe não podião achar faltas, lhe ar-
guião excessos : foi porém tão bem ava-
liada dos mais, e dos melhores, que el
Rei se alegrava de haver adiado homem
feito á vontade de todos.» Jaciutho Frei-
re d'Andrade, Vida de D. João de Cas-
tro, liv. 1.
Vir humilde esperar o santo Asperges
Á porta deste Alca(;ar, de repente,
Mudando de systcnia, hoje rcfusa
Kite obsequio render, cate tributo.
De taõ altiis viriude.i merecido.
A. D. DA CRUZ, HTSSOPE, COUt. 3.
Ditoso o Cidadão, se o brado escuta ;
Que a Virtude lhe dA! Não ousa o crime
Am03t<-ar-lho o semblante horrendo, e feio;
Com pouco se contenta, e aá deseja
O que ;l.vida he bastante; o luxo ignora,
luutil fructo do trabalho, e lida.
J. A. DK MACKDO, MKUirAçÃO, CaUt. 1.
— «Não deve suffocar-se e abafar com
o peso de gravíssimos negócios; divirta-
se em boa hora e embora, nem isto é
contra a virtude, antes é exercício de eu-
trapélia, na doutrina de S. Thoniaz.»
Hispo do (ir.ão Pará, Memorias, publica-
das por Camillo CastoUo Branco, pag.
184.
— Diz-se também de tal ou qual qua-
lidade particular.
— Virtudes cívicas; amor da gloria,
da pátria.
— Virtudes theologaes; a fé, a espe-
rança, o a caridade.
— Virtudes cardeaes ; a prudência, a
justiça, a fortaleza, e a temperança.
— Valor, coragem. — «Quando Nosso
Sob 03 arcos triumphaes da ínclita Goa
Altas pompas de Roma, c altas virtudes
Que sA geraram Lusitânia e Homa !
oAiiHETT, CAMÕES, caut. 3, Cap. 17.
— Pessoa virtuosa.
— Castidade, fallando das mulheres.
— No mttio diis tentações, esta mulher
conservou sna virtude.
— Qualiiladc que se torna própria para
produzir certos effeitos. — «E delia se
estila aquelle portento entre as agoas es-
tilladas, que pelas grandio.sas virtudes se
pôde chamar remédio universal, como se
verá no seu titulo das agoas estilladas:
com tudo se faz mensão delia aqui, por
ser também do numero das plantas j:l
murchas, por esquecimento do nirae, e
arriscada de ficar de toda segada, pela
ferrugenta foyce do tempo.» Gabriel
(írisley. Desengano para a medicina,
canteiro li.
— Virtude celestial; virtude do céo.
— «Quiserr» nisto significar os antiguos
quo a justiça he huma virtude celestial,
pos a collocaram no eeo, e que está an-
tro as outras virtudes cardeaes, no meio
dVllas como mais execllente, e que dá,
reparte, e distribuo, cõforme aos mereci-
mentos, sem attentar pêra affcição. Ibso,
disso o thcologo, fjuiii «igiiitícar Cassiodo-
ro sobre os psalmos, quãdo diz que a jus-
tiça não conhece pay nem m3y, moa a
verdade.» Heitor Pint<.>, Dialogo da Jtu*
tiça, cap. H.
— PtHÊoa» de virtude ; pessoas virtuo-
sas, pessoas <lc merecimento moral. —
«Pondera alma miidm, quando tu peccM-
tc gravemente em presença do Deoe, e
diante do teu Anjo, cm que conceito fi-
cavas para com Deos, c o teu AnjoV Não
há cousa, que no mundo tanto se toma
como a infâmia, principalmente para com
pessoas do virtude, porque huma bó vai
])iir muitas.» Paire Manoel Beroardes,
Exercicios espirituaes, pag. 187.
— • Virtudes murae» ; o exercício dos
deveres inoraes, e religioso''. — « Assi
como da terra esterilc sae o ouro, e tem
ella om si minas de excoUentes metaes,
assi ás vezes d'hum gentio sae maraui-
Ihcsa doctrina, e ainda que esterile polo
defeyto da fe, todauia olhada sua vida,
achar Iheis ás vezes minas de grandes
virtudes moraes, ainda quo imperfeitas
por falta das theologaes. >[as basta que
enten<liam elles quã excellento era a vi-
da solitária, pois trocauara por ella a pu-
brica. Anaxiílo o philosopho p<jr lograr a
doçura da vida solitária, desprezou o
principado de Athenas, dizendo, que
queria antes ser seruo dos bõs, que al-
goz dos niáos.» Heitor Pinto, Dialogo da
Vida solitária, cap. 4.
— As virtudes celeaUt; os anjos do
quinto coro.
— A virtude natural derribada; aa
forças naturaes prostradas, abatidas.
— Validade legitima.
— Loc. PREP. : Em virtude ; em con-
sequência de, em razSo de.
— Por virtude ; por força, pelo poder.
— «Eu por elles rogo: nam rogo ftoUos
mundauos scnam por aquelles quo eaco-
Ihestes, o me entrega.stes. Padre Sancto
guarday em vosso nome aquelles que me
destes, pêra que elles sejam huma cousa
em amor, e charidade, como nòs somos.
Sanctificayos por virtude de vossa pala-
ura que hc a verdade.» Fr. Bartholomeu
dos Martyres, Catecismo da doutrina
christã.
— Adágios e provérbios :
— Fazer da necessidade virtude.
— Virtudes vencem signaes.
1 — Desejo de soledade, ou muita tít-
tude, ou muita maldade.
\ — Virtude precede, quando força cede.
1 — Se soubesse a mulher a virtude d»
j arruda, busca!-a-hia de noite á lua.
VIRTDOSAMENTE, <i</i-. iDe virtuoso,
com o suffixo « mente »"!. De um modo
virtuoso. — Viver virtuosamente.
virtuosíssimo, a, adj. stiperl. de
Virtuoso. ^lui virtuoso.
VIRTUOSO, A, ailj. ;Do latim virtuo-
sus, de virtus . Que tem virtude. — «E
VIRT
VIS
VISA
965
dei Rov dom AíFonso, que sancta gloria
aja, não ficarão mais filhos que cl Rey
dom Joauí, e a Infanta dona Joana, mais
velha que el Rey, que solteira sem ca-
sar, com vida, e obras de muy virtuosa,
e catholica Princesa, se finou no Mostei-
ro de Jesu Daueiro dahy a muytos dias
em hidade de trinta e seis annos, no an-
no de mil e quatrocentos e nouenta, co-
mo adiante será.» Garcia de Rezende,
Chronica de D. João II, cap. 22. —
«Domingo em se querendo por o sol,
vinte e cinco dias de Outubro do anno
de nosso Senhor lesu Christo de mil e
quatrocentos e nouenta e cinco, em ida-
de de corenta annos e seis meses, dos
quaes foy casado com a Raynha dona
Lianor sua molher vinte e cinco, e rey-
nou quatorze annos e dous meses, e sen-
do muyto virtuoso na vida acabou desta
maneira, que he muyto pêra auer inue-
ja.» Ibidem, cap. 212. — «E neste pró-
prio tempo que o Duque chegou a porta,
bem longe de cuidar o que se fazia, o
deixou el Rey, e declarou no dito testa-
mento, por só e legitimo herdeiro destes
Reynos, e senhorios, e deixoulhe o se-
nhor dom lorge seu filho encomendado
como vassalo seu. O qual testamento foy
assy verdadeiro e virtuoso que Deos foy
com elle seruido, e todos os do Reyno
muy contentes.» Ibidem, cap. 208. —
«E por isso diz o Propheta. Que Deos he
marauilhoso em seus sanctos. E assi co-
mo o Senhor he engrandecido era a alma
virtuosa cuja imagem, e semelhança de
Deos está reformada polia graça, e does
sobre naturaes; assi pollo contrairo em
a alma viciosa quàto em si he Deos aba-
tido, porque sua imagem esta nella af-
feada, e escurecida. O miserauel pecca-
dor isto deuia bastar pêra te cufundir,
e fazer tornar em seu acordo.» Fr. Bar-
tholomeu dos Martyres, Catecismo da
doutrina christã. — «O corpo assim co-
mo se achou na batalha foi depositado
em Alcacere, e dahi levado a tanto nú-
mero de annos, e o que foi lamentável,
hum Rei de vinte e quatro annos, que
fora de neste caso acceitar poucos con-
selhos, era em tudo o mais ornado de
virtudes, e dons naturaes convenientes
a hum justo, e virtuoso Príncipe.» Fr.
Bernardo de Brito, Elogios dos reis de
Portugal, continuados por D. José Bar-
bosa.
— Medicamento virtuoso ; medicamen-
to poderoso, efficaz.
— Dado á, virtude; entregue a ella.
— Conforme á virtude.
— Pudico, casto, fallando das mulhe-
res.
— Que é inspirado pela virtude. —
Acção virtuosa. — Paixão virtuosa.
Vós sois o valeroâo
Campião de Christo, que em virtuosa guerra
Consummastes ditoso
O triunfo melhor, que ha sobre a terra :
A' Pátria verdadeira
Levando as almas por tão sã carreira.
J. X. DK MATTOS, RIUA9.
— «A primeyra, he que ainda se en-
contra nclle a própria payxão do Autor
contra o sexo, a qual seria conveniente
adoçar com o uso da imparcialidade, que
he virtuosa em todas as occasioens, e
em todas as matérias semelhantes. » Ca-
valleiro d'01iveira. Cartas, liv. 1, n.° 18.
— Substantivamente : Um virtuoso.
— Os virtuosos. — « E com tudo elles
sam muytas vezes nas eleyções preferi-
dos aos bõs. Dizia Catão Vticense que a
causa porque nunca fora cônsul, ora,
porque viuia na Republica de Rómulo,
como se ouuera de viuer na cidade de
Platão. Queria dizer que não elegião os
Romanos em cônsules senam a indignos,
sem fazerem conta dos virtuosos e que
elle fazia com que o nam fizessem, com
fazer virtude;;, tam abatidas entam em
Roma como estimada naquella perfeyta
cidade.» Heitor Pinto, Dialogo da Justi-
ça, cap. 9.
VIRULÊNCIA, s. /. (Do latim vírulen-
tía, de viruleiítus). Qualidade do que é
virulento.
— Figuradamente : Diz-se do que se
compara á virulência dos humores.
— Veneno, peçonha.
VIRULENTO, A, adj. (Do latim viru-
lentus). Teraio de medicina. Que parti-
cipa da natureza do virus, que é produ-
zido pelo virus. — As moléstias virulen-
tas.
• — Figuradamente : Fallando dos dis-
cursos, dos escriptos que se comparam ao
humor virulento. — Disputa virulenta.
— Diz-se das pessoas. — Que virulen-
to jurnalista !
VIRUS, s. m. (Do latim virus). Ter-
mo de medicina. Principio de transmis-
são de muitas doenças contagiosas. — O
virus syphilitico. — O virus variolico.
— O virus vaccinico.
— Matéria que inficiona o corpo, co-
mo peçonha.
f VIS, 2j/ur. de Vil. Vid. Vil. — «Os
vis, e fracos soldados que o deixarão, se
forão meter no navio, e esperando por
elle ate amanhecer, vendo que tardava
deraõ à vela pêra a fortaleza, aonde che-
garão ao mesmo tempo que a cabeça do
seu valente, e esforçado Capitão apare-
cia posta na lança, acompanhada daquel-
la infernal turba, que com vozes, gri-
tas, o tangeres mostravaõ o contenta-
mento daquella vitoria.» Diogo de Cou-
to, Década 6, liv. 3, cap. 4. — «Oh co-
mo saõ vis, e desprezíveis todas as cou-
sas terrenas, quando ponho os olhos nas
celestiaes ! Bem considerado o Mundo,
sua grandeza he pcquenhez ; sua abun-
dância, pobreza ; sua sciencia, ignorân-
cia; suas alegrias, tristezas; sua luz,
trevas ; sua felicidade, miséria : aqui a
honra he hum pouco de fumo, a fazenda
he huma pouca de terra, e a vida hc ser-
vir á corrupção.» Padre Manoel Bernar-
des, Exercicios espirituaes, pag. 57.
VISAGE. Vid. Visagem.
VISAGEM, s. /. (Do francez visage).
Termo antiquado. O rosto, a cara.
— Cara feia.
— A visagem da celada; a cara, ou
parte da armadura que cobria o rosto, e
tinha aberta para se respirar.
— Plur. Caras, caretas, geitos com o
rosto, carantonhas.
VISAGIA, s. /. Vid. Visagra.
VISAGRA, s. /. Vid. Misagra, ou Bi-
sagra, nu Vizagra.
VISANTE. Vid. Besante.
VISÃO, s. f. (Do latim visio). A ac-
ção de vôr.
— Apparição.
Chama o Rei os senhores a conselho,
E propõe-lhe as figuras da visno:
As palavras lhe diz do santo velho.
Que a todos foram grande admirac^ào.
CAM., tus., cant. 4, est. 76.
— "(Que eraõ muito compridos, e es-
palhados por cima do rosto, e das cos-
tas, e com esta medonha visaõ, a que se
todos encoramendàraõ, remeterão cõ a
fortaleza, tocando todos os seus instru-
mentos, e dando tamanhos gritos, que
ensurdeciaõ o mundo).» Diogo de Couto,
Década 6, liv. 2, cap. 7.
Com grande sobresalto, grande espanto-
Acorda Çoleimào. coo que passara,
Contempla na promessa, c vê que he tanto
Que duvida se o ou^•io, ou se o sojihára ;
Mas já sentindo o cftcito em si de quanto
Qualquer dos seus então nellc inspirara.
Dá credito á visão, e determina
Fazer o que ella manda, e cUe imagina.
F. D'ANriBADB, PBIMEIKO CEKCO DE DIU, CaUt. 12,
est. 105.
Quando o nosso Dcaõ, todo engolfado
Na Celeste visaõ, se veste alegre,
As meias gris de fer, e mais as luvas.
DINIZ DA ciinz, UY.ssorE, cant. 4.
— Imaginação de que se vê alguma
cousa.
— Qualquer cousa estranha, de appa-
rencia fora do commum, que nos appa-
rece.
— Visão directa; a que se faz pelos
raios da luz saídos do objecto.
- — Visão rejiexa; a que se faz vendo
os objectos representados em espelhos.
— Visão refracta; a que se faz pelos
raios refrangidos, ou refractos, que saem
do corpo mettido em agua, ar, ou debai-
xo de vidros côncavos ou convexos, e pas-
sando a luz de um meio mais ralo a ou-
tro mais denso, e vice-versa.
966
VI SC
VISI
VISI
— Cousa quo su mo.stra raaravilliosa-
mento.
— Visão hcntijica; a vhta do Deus no
còo.
— Plur. Espectros, cousas horríveis
que apparcccin.
— Syn.: Visão, ajijiarirjuo. Vid. esto
ultimo termo.
VISAR, V. a. (I)(i francez viser). Pôr o
visto. = É gailicisuio, mas muito usado
hdjc.
VrSAVÔ, .V. m. Vid. Bisavô.
VISAVO, s. f. Vid. Bisavó.
víscera, s. f. (!)<) latim víscera). Tcr-
iiu) ilc anatomia. Todo o orfíào, mais ou
lueuoij complicado, alojado n'uma das trcs
cavidades sphuiclinicaa : a cabc^-a, o tlio-
r.ix, o abdomon; ou n'o3tc ultimo quasi
particularmcuto.
— Termo t!o botânica. Diz-se dos va-
sos fasciculai"es, que sobem na haste das
plantas.
VISCERAL, aiJJ. 2 gen. (Do latim vis-
ceralis, de víscera). Termo de anatomia.
Quo diz roípeito ás visccras. — Os teci-
dos visceraes. — Dures visceraes.
— Figurailamcnto : Essencial, mormen-
te cm termos de pratica. — As condiçíks
visceraes d'u!n contracto.
f VISCERALMENTE, adv. (De visce-
ral, e o suíBxo «meuteji). De um modo
intrinacco, profundo. — As revuluçues re-
ligiosas modificam visceralmente o syste-
iiia das idcas, dos costumes e das inslitui-
çZes.
VISCERIO. Vid. Viscera.
VISCEROSO, A, adj. (De viscera, e o
sudfixo "080»). Que diz respeito ás vísce-
ras, quo lhe 6 concernente.
VISGIDEZ, s. /. Termo de medicina.
Qualidaiíc do quo é viscoso, viscosidade.
— Vicio, qualidade viciosa, dyscrasia,
má (.•onstitui<,'ào.
VISGIDO, A, adj. Viscoso,
VISCO, s, m. (Do latim viscnm). Gru-
de vej^etal com que os caçadores untam
as varas para prenderem as aves que
ii'ellas pousam.
— Fijíuradamente : Cousa que prende,
atasea oonio a vasa, lodaçal.
VISCONDADO, s. m. A dignidade' de
visconde.
— O território de visconde.
VISCONDE, s. m. Titulo de nobreza in-
ferior na graduação ao conde; tem coro-
nal iiobre o escudo.
VISCONDESSA, s. /. Mulher do viscon-
de.
— Senhora do viscoudado,
VISCOSIDADE, s. /. Propriedade pe-
la qual as partículas d'uma sub.stancia
adhorcm umas á outras. A viscosidade
natural das partes da agua faz que as in-
feriores arrastem as superiores, que n'u\n
canal liorisontal não teriam tido movi-
mento algum.
— ■ Lympha, baba viscosa do estômago.
— Propriedade peculiar aos líquidos
espessos e glutinusos, d'onde resulta a
grande adhorencia de • Bua» moloculas,
e a faculdade do correr em filetes mais
quo em gnttinhas.
VISCOSO, A, adj. ("Do latim viscosut).
Diz-se das moléculas das quuus umas tem
adlicreucia com as outras, fallando de um
liquido. — Licor esijetto e viscoso. —
Humor viscoso.
— Diz-se também de uma substancia
pegajosa, mais ou menos tenaz.
VISEIRA, s. /. (Do francez visiire). A
visagom <la armadura, peça quo cobre o
rosto pegada ao elmo.
-— Loc. : Calar a viseira ; deixal-a cair
sobro ij rosto.
VISGO, f. m. Vid. Visco.
VISGUEIRO, s. 11). Arvore do lírazil
que produz umas vagens cheias de visco;
cresce muito, tem a fidlia miúda e a ma-
deira molle; serra-se para caixões d'as-
sucar; o miolo é bom para algumas obras.
VISGUENTO, A, adj. Pegajoso, viscoso.
— Unta'!o de visco.
VISIBILIDADE, s. /. (Do latim visiòi-
litas, de visíòi/is). Termo de physica.
Projirioaade que tem os corpos de pode-
rem ser apercebidos por meio do sentido
da vista. — Estabelecer os limites da visi-
bilidade dos tibjf.ctos immergidos no mar,
— A visibilidade de todos os corpos c o
espectáculo do universo oj)<:recido ao ho-
mem.
— Qualidade quo torna uma cousa ma-
nifesta.
— Appai-encia que torna as cousas vi-
síveis.
f VISINHANÇA, s. /. Vid. Vizinhança.
— «Esto Soltaõ Halaudiín se passou pê-
ra Viantana, donde D. Estev.ào da Ga-
ma, sendo Capitão de I^Ialaca, também o
lançou fora pela ruim visinhança que fa-
zia. E na-; pazes que lhe fez o obrigou a
se passar pêra Muar, onde estaria sem
fazer forte algum, e alli se aposentou em
hum lugar chamado Tangòr, onde viveo
três, ou quatro annos.» Diogo <]e Couto,
Década O, liv. O, cap. 5. — «Acho graça
nesta historia. Fora a baptizar em um
lugar d'esta minha visinhança a filha de
um escudeiro; e porque ouviu que a ou-
tra de um titulo tinha sua mào mandado
pôr na pia três nomes; como a elle lhe
custava barata a grandeza, içou um furo
mais á vaidade, e mandou baptizar a me-
nina com qualTo nomes.» D, Francisco
Manoel de Mello, Carta de guia de ca-
sados.
VISINHO, A, adj. e s. Vid. Vizinho.
lUwcais vosso natural,
<|ue í tor (1 fim mais rizinlio,
eu contrtt o vasso cuniinlio,
busco principio a meu mal.
vKRNÃo soiionr.v, poesias k prosas
isKmiAS, piig. 25.
— «E porque o lavrador da herdade
HO queixava, que o«tc8 Tisinhos lho po-
diaS fazer danno ao seu gudo, c searas,
lhe piizcraô clausulas no aforamento, que
queixaudo-se o laviador d'i tal foreiro,
lhe derrubariaô as casais, sem por isrio lho
tornarem nada.i S';verim de Faria, No-
ticias de Portugal, Disc. 1, cap. í>. —
<U liei visinho, coui iagrimait de laitti-
ma, c agrado, lhes accoitou a oíTurtA, ou
fosse ambiçiio, ou humanidade. EscoliicM
entre os seus mil soldados beneméritos do
facçào tào grande, querendo ser o mesmo
Hei eompanlieiro, e Capitilo de todos.
Partirilo no silencio da noite, e chegando
á Cidade, lhe derâo us conjurados iuuna
porta, por onde eiitrárJo, fazendo-sc »«s-
nhores do Cafitello com levo resistência.»
Jacintho Freire d'Andrade, Vida de D.
João de Castro, liv. 4. — «E acabar em
Calapor a que está começada com o no-
me de Santa ('ruz; e na Ilha visinha de
Corilo levantareis outra, da traça, o ma-
gestade que vos parecer conveniente, pois
he cousa, que nada mais despertará nos
Gentios a devoção ás cousas de nossa
Santa Fé, que a afieição que de nossa
parte virem.» Ibidem, liv. 1. — tExtin-
gue-se com as sombras da novte a obri-
gação da promessa, levanta-se a molher
mais cedo, e mais indiscreta do que cos-
tura.ava, e parte logo para casa de uma
visinha.» Cavalleiro d'01iveira. Cartas,
liv. 1, n." 54. — fDebalde lhes expuz
que nilo éramos Pheuices: apenas nos de-
ram ouvidos, e houveram-nos por escra-
vos, em que traficavam os Phenices: so-
mente tinliam o fito '.lo lucro da prosa.
Ja viamos branquejar as ondas com as
aguagens do Nilo; e tinhamoa defronte a
costa do Egypto, quasi de idvel co'a
.agua do mar. Chegámos a ilha de Pharos,
visinha á ciiiade de Nó; e d'aqai mon-
támos o Nilo athó 3IemphÍ3.» Francisco
Manoel do N-i^cimento, e itanoel de Sousa,
Telemaco, liv. 2. — «Visinha a esta bella
costa está s' tua ia a cidade de Tyro. Esta
granile cidade parece estar boiando sobre
as aguas, e reger o mar todo: a ella con-
correm negociantes de todiís as partos do
mundo; e seus habitantes silo os mais
acreditados mercadores que ha no uni-
verso.» Ibidem, liv. 3.
Co 'a vista no vifinho cavalloiro
Deu... estremece... ao atabude os volve.
OARBKTT, cAuõr.9, cAnt. 2, cap. 0.
f VISIOMETRO, .1. m. Instrumento que
indica, para toda* as vistas, o grau da
força visual, e os vidros correspondentes.
VISIONÁRIO, A, adj. (Do francez vi-
sionnaire<. Que crê ter visSea, revela-
ções.
— Figuradamente : Que tem idêas lou-
cas, extravagantes e chimcricas. — .tis
«lás qualidades dos espiritus visionários.
— Substantivamente : Um Tisiouario.
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VISI
VISI
967
VISIR. Vid. Vizir.
VISITA, s. /. Acto de ir ver alguém
por civilidade, ou por dever.
— Fazei- visita; ir visitar.
— Bilhete de visita ; cartSo que se
deixa em casa do individuo que se quer
visitar, e cujo individuo se não encoutra
em casa.
— Pessoa que ao recebe como visita.
— Tenho hoje visitas em casa.
— Diz-se de um medico, de um cirur-
gião que vae vêr um doente.
— Diz-se de um medico, de um cirur-
gião que percorre as salas d'um hospital
para vêr os doentes, e prescrever os di-
versos tratamentos.
— Pesquiza, o acto de visitar um lo-
gar, uma cii-cumscripçào, quer para achar
ahi alguma cousa ou alguém, quer para
ver so tudo está em ordem. — Visita do-
iniciliaria. — Visita dos lagares. — O
commissario de policia fez a visita a esta
circumscripção.
— Visita de i-adaveres ; o exame que
03 médicos nomeados pela justiça fazem
de um corpo morto, averiguando assim
das causas da morte.
— Termo de marinha. Inspecção que
se faz d'um navio para conhecer exacta-
mente o estado em que elle está.
— Termo antiquado. Presente, ou mi-
mo com que os emphyteutas ou forelros
costumavam mandar visitar uma ou mais
vezes no anno o senhorio.
— Loc. POP. : Visita de- medico; visi-
ta breve.
— Acto de devoção que se cumpre
ii'uma igreja, n'um hospital, ctc. — A
visita de uma igreja.
— Gyro que os bispos fazem na sua
diocese, e os geraes d 'ordens nos mostei-
ros. — Visita pastoral.
— Termo de theologia. Castigo celeste.
— Graças obsequiosas. — .às visitas
particulares do Verbo que vem a nós pa-
ra nossas consolações.
VISITAÇÃO, s. /. (Do latim visitatio).
O acto de visitar, visita. — «Alguns dias
esteve Palmeirim na corte, tão occupado
de visitações, que lhe não davam lugar
a poder-se aproveitar do tempo em ne-
nhuma cousa de seu gosto ; porem quan-
do ee iam acabando teve algum espaço
de entender no que mais trazia a vonta-
de, e tanto o atormentava o cuidado que
sempre tivera, que nunca lhe dava ne-
nhum descanço, que isto tem os bons na-
morados. » Francisco de Moraes, Palmei-
rim d'Inglaterra, cap. 135. — «E per es-
paço de dous dias que depois desta visi-
tação Pedraluarez ali esteue : sempre de
huma, e outra parto ouue recados, e obras
do grande amizade.» Barros, Década 1,
liv. õ, cap. 3.
— Foragem que outrora se pagava,
como a colheita, jantar, parada ao se-
nhor da terra quando ia a cila uma vez
cada anno.
— A Visitação da Santa Virgem, a
festa da Visitação ; a festa instituída em
memoria da visita que Maria fez a San-
ta Isabel ; celebra-se a 2 de julho.
— Quadro, estampa, imagem que re-
presenta a Visitação.
— Ordem da Visitação; ordem de re-
ligiosas instituída em honra d'e3ta visita
da Santa Virgem por S. Francisco de
Salles.
— Informação que tira o visitador do
bispo.
VISITADO, part. pass. de Visitar. —
«Partido deste porto de Pedir, chegou
ao de Pacem, onde também foi visitado
d'ElRey, mandando-se desculpar da cul-
pa que lhe elle punha na morte do Por-
tuguez, e ferimento dos outros da com-
panhia de João Viegas.» Barros, Década
2, liv. (3, cap. 2. — «Brauo hia Sam Pau-
lo: e determinado de oftender a Deos,
quando com luz celestial foy supitamen-
te visitado. Em suas treuas estaua S.
Matheus quando o Senhor olhando pêra
elle o illuaiinou interiormente. Nur.ca vS.
Pedro chorara auer negado seu Mestre
se o Senhor nam olhara para elle e nam
o visitara primeiro interiormente.» Fr.
Barthulonicu dos Martyres, Catecismo da
doutrina christã.
— Visitado alguém com presentes, mi-
mos, etc.
-^ Culpado em visitação do bispo.
— Figuradamente : Visitado de Deus
com luzes, trabalhos, etc.
VISITADOR, A, s. Pessoa que visita.
— _tí. m. Homem que vae visitar por
si, ou mandado de outrem.
— • Um official do terreiro do trigo de
Lisboa.
— O sacerdote que visita a igreja por
commissão do bispo, o chrisraa, etc.
f VISITANTE,- part. act. de Visitar.
— iS. 2 gen. Pessoa que visita.
VISITAR, V. a. (Do latim visitare). Ir
vêr alguém a sua casa. — Visitar um
amigo. — «O imperador o visitava mui-
tas vezes, fazendo-lhe muitas honras ;
porque alem deste príncipe, como se já
disse, ser cavalleiro famoso, era tão apra-
zível e de tão boa conversação, que fa-
zia querer-lhe bem todo género de ho-
mens.» Francisco de Moraes, Palmeirim
d'Inglaterra, cap. 8.5. — «Ao outro dia
foy ElRey visitar o Governador, e lhe
pedio mandasse chamar o Bispo, e Pre-
lados, e 03 Fidalgos velhos, que tinha
que lhe dizer. E vindo todos lhes fez
alli esta breve fala.» Diogo de Couto,
Década 6, liv. 7, cap. 5. — «O Gover-
nador assim o fez, e desembarcou em
Còchlm, e foy visitar o Visoroy que o
recebeo secamente, e /lUi lho fez entre-
ga da índia, e se reeolheo pcra sua casa,
mandando logo navios a Goa em busca
dtí suamulhor pêra se embarcar pcra o
Reino.» Diogo do Couto, Década (>, Hv.
O, cap. 1.
Vim eu vel-os, visital-os
dar-lho a miuha boução toda ;
são filhos, além do cvial-oa
ha liomcm do acompaiihal-os
n'e3ta3 duas, mOrte e vôda.
ANTÓNIO PRESTES, ACTOS, pag. 365.
— «Estando ai-nda el Rei em monte
mor ho mandarão visitar hos Reis dom
Fernando, e dona Isabel sua niolher, por
dom Afonso da Sylva, pessoa principal
de sua corte, e per elle alem das grati-
iicações, ordinárias, e acustuniadas entre
hos Reis nos principies de seus Regna-
dos, lhe mandarão commetter casamento
com ha Infante dona Maria sua lilha, do
que se el Rei excusou per boas palavras.»
Damião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 1, cap. 11. — «Por auer ja dias
que esperaua por elle, pelo assi ter as-
sentado com George Dalbuquerque no
tempo que o foi visitar a Malaca, pelo
que se fez logo prestes com sua casa, mo-
Iher, e lilhos, dando-lhe Francisco de
mello pêra sua embarcação a lanchara
dei Rei de Lingua, que elle teue por gran-
de honrra, e das outras tomou Francisco
de Mello as que se poderam marear, e
as mais mandou poer o f 'go.» Ibidem,
part. 3. — - «Esta cidade de Tauriz he
fermosa de ediftcios, e populosa, em qUe
a muitos Christãos Arménios, dos quaes
o embaixador foi bem visitado o tempo
que alli esteve, que foram vinte dias.»
Ibidem, part. 4, cap. 11. — «E havia
poucos dias que a Goa viera hum Em-
baixador d'EiRei de Bisnaga com grande
apparato, ao qual Aflbnso d.'Alboquerque
fez muita honra, e posto que mostrasse
vir visitallo da sua vinda do estreito, e
que so fizessem ambos cm hum corpo
pcra lançarem os Mouros do Reyno De-
can, c que ambos partiriam o ganhado, tu-
do per derradeiro vinha acabar nestes ca-
vallos.» Barros, Década 1, liv. 10, cap. 1.
— «Exaqui as próprias palavras de Mon-
conis. Disse-me o Arcebispo de Mayen-
ça, que Busardiere morador en? casa de
hum Cavalheiro de- Praga, achando-se
em perigo de morte escrevera a Vicnna
de Áustria a hum homem seu amigo cha-
mado Caos, pedindo-lhc que viesse pi'om-
ptamente visita-lo.» Cavalleiro d'01ivei-
ra, Cartas, liv. 3, n." 8. — «D'aqui nas-
ceu a grande cautella que havia em ob-
servar as pessoas que fallavam com Dio-
go de Mendonça, ou o iam visitar a Sal-
rêo, padecendo, ainda que não innocen-
te, sob o poder de capitães ou tenentes
indignissimos, mormente um chamado F.
Cachimbo.» Bispo do Grão Pará, Memo-
rias, publicadas por Caraillo Castello
Branco, pag. 126.
— Particularmente : Fazer visitas. —
Visitar os chefes. ' •■.•■'
— Inspeccionar, vêr se as cousas' es-
tão na ordem em que devem estar. — Vi-
sitar os arsenaes. — Visitar uma dioce-
se. — «Levado das quaes persuasões fez
968
VISI
VISI
viao
huma joriiivda ros lufjfireH de Africa taò
(loBacoiii[janlia'lo do SoldadoH, e luairt cou-
8a« iioceHHarian para fazor coii^ji do iiii-
j)ortiiiicia, (|uo cmu nomo do visitar a(|uel-
luB íroiitoiraB no tornou ao lioino luiõ ar-
rependido do Bou intento, ma» com do-
brada vontade do o i:xccntar.i> Kr. l$or-
iiarilo do IJtito, Elogios dos reis de Por-
tugal, continuador por 1). Jo.só liarljo.ía.
— «(Jonio Hoii parente S. Rosendo viesao
visitar a(piollo Alonteyro do Vieyra, c
ga^^tassom aniboH grande parto do dia oiii
colo([UÍos Divinos, iium rústico que anda-
va concertando 08 tcUuidos de casa, ho
poz a murmurar (laquei la conversa^raõ,
oiu pena do qual foy supitanicnte arre-
batado do Demónio, c o matara so as
orai;(>ons da Santa o naõ livrarão daiiuel-
ia tribuiac^aõ.» Mouarchia Lusitana, liv.
7, cap. "iò. — <i Doudo íio ])artio ao.s qua-
tro diaa do mes Daj^osto, sem passar cou-
sa que de contar soja ate clie^ar a Dio,
onde depois do surto, o mandou visitar
Miliquiaz capitão, o j,'oucrnador da cida-
de por ol Koi de Cambaia, oHerccondos-
80 a fazer tudo o que Uio dolle conipris-
se.» Damião de (iões, Chronica de D.
Manoel, part. 3, ciip. 44.
— Fi_;íuradaniento : O planeta doura-
do visita aquelle sino que no salijado rei-
no foi gerado.
E cinco dias antes (|uc o douriído
Planeta uinitanae aquollo bíuo
Que no salgiido Reino foi gerado
E no Cco tem assento alto e divino,
Surge o Governador, acompanhado
Do sou nobre apparato, deílc dino,
Meia légua daiiuella forte e brava
Cidade, para onde ella navegava.
fRANCISCO D'ANnnADr., PRIURIBO CEKCO DE DIU,
cant. 2, est. 18.
— Ir vòr por caridade, ou por devo-
ção.— Visitar os hospitrus. — Visitar (í-s
prisíies. — - t Então nos deraõ hum sacco
darroz, o quatro tacis em prata, o huma
colcha para nos cubrirmos, e nos onco-
luendaraõ muyto ai^ Cliifuu, que era o
alcaide a quem hiamos entregues, o se
dcspidiraõ de nós com muyto boas pala-
vras, o se tornarão a visitar a enforma-
ria da prisaõ que atrás disse, onde ontào
avia passante de trezentos enfermos, o
como ao outro dia foy nienham clara,
uos mandarão a carta que lhe tínhamos
pedido mutrada com tros sinetes de la-
cro verde, a qual dizia assi.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 81-5.
— Termo de theolojíia. Lembrar-se da
humanidade, fallando de Deus. — «K tu
muytas vezes desprezado o mesmo lume,
apaijandoo com peecados mortaes, nam
te duseniparou, mas tornoute a visitar
muytas vezes com misericordiosas inspi-
rações, ciiamandoto o eonuidandote que
(|uiscsses tornar à luz. Ay de ti que caís-
te em poccivdo mortal despois do Bautis-
mo. Se o senhor to nam viesse buscar, o
visitar, em teu jtcccado morreriaH porá
Houi])re : porque tu a clle nam o podes
visitar primeiro.» Frei iSartliolomeu dos
MartyrcH, Catecismo da doutrina christá.
— Visitar a» reliquid» dos Bagradu»
apostolou. — « Concluído o ncfiocio da
embaixada, quiz o His|)0, poÍH estava em
caminho, visitar as relíquias dos .Sajrra-
dos Apóstolos.» Frei Luiz do Sousa, Hist.
de S. Domingos, liv. 1, cap. 2.
— Ir ter, lallando dos animaOB. — íE
andam tão destros n'ellaH (juo de duaa
léguas as conhoceni pelo faro ; o praza a
Deus que entre cllcs não liaja muitos se-
nhores de paquife e cimeira que também
neste dia fazem armazém do barriga; e
a estos destijo eu de jxTguntar que mal
lhes fez o carnal no discurso de tantos
mezos, onde os foi sempre visitando di-
versidade do animaos, tornando sempre á
risca.» Feriiilo Soropita, Poesias e prosas
inéditas, pag. 83-84.
— Diz-se dos paizos, dos monumentos,
etc, (jue se vão vôr por curiosida<li', ou
por um interesso particular.
— Examinar alguma cousa com cuida-
do, miuuciusamonte. — O cirui-yião vi-
sitou a feridu. — O architecto visitou a
casa.
— Termo da Escriptura. Dar signaes
do colora, de ira, fallando de Deus.
— Visitar o prelado aos súbditos ; in-
quirir do seu procedimento, e castigar os
maus.
— Mandar visitar a outrem do nas-
cimento de um Jilho; mandal-o cumpri-
mentar por essa occasiao.
— Us physicos visitavam os boticários
para examinarem se tinham os remédios
necessários e bons.
— V. n. Vêr, inspeccionar se as cou-
sas estão na ordem cm que devem estar.
— «N-esta terra visitei, chrismei, pre-
guei o estivo quatro dias admirando a
copia de cíiça que vinha do matto, como
adens, motuus, marrecas, e porcos.» Bis-
po do (irão Fará, Memorias, publicadas
por Camillo Castello Branco, pag. 192.
— Visitar-se, v. reji. Fazerem-se visi-
tas mutuamente.
Não se podem visitar
huns aos outros, nem fallar
em plazer, nojo, doença,
sem cl lícy lhes dar licença,
sobpena do hos matar.
o. I)K KEZF.NKK, UISCELLÀMEA .
VISIVA, s. f. Visão, órgão da vista.
VISÍVEL, adj. 2 <jen. (Do latim visiòi-
lis, do visum, supino de videre). Que se
pôde ver, quo ó objecto da vistii.
Emijuanto neatc véo medonho, escuro,
O Mundo inda imperfeito anda envolvido;
Hum com outro Elemento em chonuo duro
Anda em terrível confusão batido :
Kaça-se a luii, diz Oeos, brilhante, e puro
Corpo do luz he súbito espargido ;
Vi»i<fl foí o Mundo; he preoar«ors
A luz uo .^Iuado dii primeira Aurora.
1. A. r» MAI.-KDO, U OBICHTr, csut. U, Mt. 40.
Mas a carreira iiio, gira constante
K não he Cí-ntro o Sol do giro incíiiU}
S-'! vi*lrrj :i ihíh, se o |K>ut<i marca
Do gràtj circulo Hcu próximo áquellc
Qu' em turno ao >Sol descreve o t4:rroo Globo
IDEM, A (ATCHKZÀ, Cant. 1.
A mente humana, incop^itn Rubiitancia,
\'i»i>-rt luj s<'ntido, iiltu iví basta,
Sempre a mão lhe convém d'agento uturuo,
K tudo nasce de senaivcl Causa.
■ — Evidfnt'í, manife.4to, claro, obvio.
VISIVELMENTE, adv. (De viaiTel, o o
suflixii fmente»!. De uma maneira víbí-
vcl, apreciável á vi)<ta.
— .\Iaiiifostamente, ovidentcmonto.
VISIVO, A, udj. Termo didáctico. Que
diz rcs])oito á vi.-íta, ao poder, á faculda-
de de vêr. — A faculdade visiva wlo é
outra cousa S' iião a alma ein quwUu vê.
— Pyramiile visiva. Vid. Pyramide.
— Luz visiva ; os olhos.
VISLUMBRADO, part. yat$. de Vis-
lumbrar. Alumiado mal e cegamente.
— Visto maldistinctamcnte, lobrigado,
com pouca luz.
VISLUMBRAR, v. a. Alumiar mal e
ccgamcuto.
— Vôr maldistinctameutc, lobrigar,
com pouca luz.
Kão vislumbrando, nem de longe, a« chamoiaa
Que, sem que as cfvem, sempiternas dor&o,
Começam a ouvir gemidos dos prcscitoí.
r. 31. DO MAsciMENro, os XABrraas, liv. 8.
— Vislumbrar-se, i'. reji. Divisar-se
maklistinctamente; entrevcr-se confusa-
mente.
VISLUMBRE, s. m. Idèa obscura.
Quem senão tu pudera I Oh ((uadro angusto.
Eu 3(5 derramo cm ti froios ridiimhra,
E adoro o grande Artilice Supremo.
1. A. DK MACKOO, A HATCBKZA, CAOt. 3.
— Mostra maldistincta, não moito
viva.
— Apparencia indistincta, mostra.
VISLUME. Vid. Vislumbre.
VISO, s. m. Vista.
— Vulto, phvsionomia, semblante.
— O viso de um outeiro; o mais ele-
vado d'elle.
— A hora da apparição da aiUDra.
— Vid. Vice.
— Plur. Ares, apparencias. — Visos
de viriude.
VISONHA, .<. f. Visão, espectro, appa-
ri(;ão do tigura medonha.
VISO-REI. Vid. Vice-rei, termo mais
usado. — «ElRcy de Cochij polo que lhe
VISO
VISS
VIST
069
importaua, trazia sempre em casa do Ça-
iiiorij pessoas que lhe dauaõ auiso de to-
das estas cousas, e tanto que o VisoRey
chegou a Cochij, despois que se com eiie
vio a primeií-a ve;4, lhe deu ctmta destes
grandes apparatos do Çamorij.a Barros,
Década 1, liv. 10, cap. 4. — «O qual
caso foi a tempo que estauão com o Viso-
Rey algumas pessoas, cujoa criados ti-
nhào recebido dos negros outra tal cõpa-
nhia, priacipaluieute hum FeruSo Car-
rasco criado de íorge de Mello.» Idera,
Década 2, liv. 3, cap. 10. — « Porque
vindo em rompimento de guerra, podia
perder aqueiles ii.omens cativos, e princi-
palmente Ruy d'Araujo, que particular-
mente desejava muito tirar daquelle ca-
tiveiro, que recebeo por amor delle ;
porque, como atrás vimos, o Viso-Rey
D. Francisco nas diíícrenças que teve
com elle Affonso d'Alboquerque, en-
tregou a este Ruv d'Ai-aujo prezo a
Diogo Lopes de Sequeira em modo de
degredado.» Ibidem, liv. 6, cap. 3. —
« O Visorey tanto que vio terra, disse
o seu Piloto que era da costa da índia :
mas Joaõ Rebello de Lima, Piloto afa-
mado que alli hia por passageiro, disse
que a terra que aparecia era Columbo, e
Ceilaõ.» Diogo de Ct.uto, Década 6, liv.
9, cap. 1, — «D. Diogo de Noronha não
so quiz embarcar atè vir recado do Viso-
rey, que em lhe dando as cartas, no mes-
mo dia despedio Joaõ Peixoto por Capi-
tão mòr de quatro navios, e por terra
mandou Gaspar Pires de Matos com qua-
renta piaens, e huma grande soma de
servidores, e boys, pêra trazerem o fato
por terra.» Ibidem, cap. 4. — «Que pe-
los terços, e choques que pertenciaõ a
ElRey de todo o cravo que trouxesse no
seu galeaõ, desse quatrocentos e cincoenta
bares, s. duzentos e ciucoenta bares li-
quides pêra ElRey, e os duzentos pêra as
pessoas que tivessem liberdades por pro-
visoens do Visorey, e que na dita conta
não entrariaõ os bares que viessem nos
gasalhados delle Capitão, e dos OfSeiaes
do galeaõ, nem do Patraõ mòr, e outros
que eiles íirariaõ forros.» Ibidem, cap. 19.
— «O Visorey depois que no Norte deu or-
dem a muitas cousas, assim em Baçaim,
como em Chaid, e que teve as segundas
novas de Ormuz, deu à vela pêra Goa aon-
de chegou no fim de Fevereiro.» Ibidem,
liv. lÔ, cap. 8. — «A quem o Visorey
deu hum fermoso galeaõ, de que era Ca-
pitão Ruy de Castro, em que hiaõ em-
barcados trezentos homens, e lhe deu
mais dous navios de remo, com regimen-
to que como chegasse a Ormuz entregas-
se a gente a D. Fernando de Menezes,
c o galeaõ a D. Antaõ de Noronha pêra
se vir nelle pêra a índia.» Ibidem, cap.
18.
Gastou-se nisto o cáp.-vço quo o dourado
Planeta p6z na usada sua carreira,
VOL. Y. — 122.
Maa quando elle nas ondaa descansado
Fez que mostrasse a irtnàa a luz primeira,
A fusta só quo tiaha, com recado
A Goa ao Ví^o-Rei manda o Silveira,
E netla oa que a doença grave e dura
Necessitados fez alli de cura.
FRANCISCO d'aNDHADB, PRIMEIKO CEBCO de DIU,
cajit. 14, est. IG.
Quando o illustro Silveira, que em si tinha
Da fortaleza a summa dignidade,
(Como ja disse atraz a historia rainha')
Huma fusta mandou còm brevidade
A Goa ao Fiso-Rei, ao que convinha,
Onde alguns que a grave enfermidade
De cur.T. tinlja assaz necessitados
Mandou também que lá fossem levados.
IBIDEM, cant. 16, est. 9.
VISORIO, A, adj. Vid. Visual.
— N^ervos visorios ; nervos ópticos, que
sào como instrumentos de vèr.
VÍSOURO, s. Jrt. Vid. Besouro.
VISQUEIRA, s. /. Termo de botânica.
Herva áu Brazii, conhecida por este no-
me. Vid. Visqueiro.
7 VíSSE. Forma do verbo vêr na pri-
meira ou terceira pessoa, do singular do
pretérito mais que perfeito do modo con-
junctivo. Vid. Vêr. — ^Mas como visse
a pouca mudança, que tudo fazia nella,
posta no equleo, ou cavalete, lhe quei-
marão de novo as vazias, e covas dos
braços com tochas, sem a Sãta dizer mais
que o verso de David.» Monarchia Lu-
sitana, liv. õ, cap. 22. — «Porem como
Albayzar o visse já mui fraco e aquei-
las ser as derradeiras mostras do que po-
dia fazer, indinado e manencorio de se
vêr assim, o tratou tão mal, que em pou-
co espaço desfalecido do sangue, e des-
emparado do sentido cahiu a seus pés.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 84.
Diz hum que como a luz da manhã vissem,
Os passariào sem duuida, c que esperem.
Que trarão juntamente outro nauio
Para ser a passada com mais pressa.
O que o Cafre promete aceoita o Sousa,
Torna-se a recolher o tempo aguarda,
E em quanto a noite vay por seus espaços
Passando pontos, horas, e momentos.
COBTBKEAX,NADFRAGIO DE SEPni.VEDA, Caut. 15.
— «E ao longo do mar nos lugares de
suspeita poz outros Capitães com arti-
Iheria necessária, e o Príncipe seu filho,
e o genro, cada hum com seu corpo de
gente haviam de acudir onde vissem
maior pressa, e elle ficava pêra quando
o mal fosse muito acudir com outro cor-
po de gente, que havia de estar com elle
em guarda de sua pessoa com os Ele-
fantes de seu estado.» Barros, Década 2,
liv. 6, cap. 3. — «Acabada de segurar
esta serventia, mandou Affonso d'Albo-
querque a Manuel d' Acosta, que era Fei-
tor de toda a Armada, que levasse toda-
las mercadorias que tinha, e se mcttesse
na fortaleza, porque vissem os Mouros
que também havia de servir de casa de'
commercio, como de fortaleza.» Ibidem,
liv. 10, cap. 3. — "Ao que loão Macha-
do respondeo que por aquelle dia ser o
que 03 Mouros solemnizauão, lhe parecia
virem elles mães a folgar que a outra
cousa; e qiianto ali vir Roztomocan, não
via bandeira sua: porém porque elles
costumauão encorporarse ás duas Amo-
res, tanto que os visse em hum corpo
onde se auião de ajuntar os de cauallo
com os de pé, saberia dizer se vinha ali.»
Idem, Década 7, liv. 2, cap. 4. — «On-
de perante todolos CarJeaes, e embaixa-
dores que estauam em Roma, recebeo o
presente do Pontifical, e outras jóias, o
que andou de mam em mam, sem ficar
Cardeal, nem embaixador que o nam vis-
se com espanto.» Damião de Góes, Chro-
nica de D. Manoel, part. 3, cap. 56. —
«E dom (iuterrrez pesandolhe da hida do
irmão, e aueodo por cousa certa a morte
dei Rey com que sua Lida seria escusada,
lhe mandou pedir muyto que antes de se
partir se visse com elle em Cezimbra,
onde se virão, e dom Guterrez' por lhe
não descubrir a causa principal de seu
fundamento lhe disse, que o mandara
chamar sentindo muyto seu despedimen-
to, e partida, e llie pedio mUyto que es-
tiuesse alh' alguns dias, nos quais tra-
balharia remediar com eí Rey seus agra-
uos, com tjue sua hida se escusasse.»
Garcia de Rezende, Chronica de D. João
II, cap, 53.
Ora i-vos para cima,
que por estas que elle o pague.
Quem o visse!
Oxalá.
AUTOsio PRESTES, AUTOS, pag. 4-35.
— «Se visses, que um homem ofíen-
dia gravemente a outro, que estava in-
nocente: como lho estranharias? E âe
sobre innocente, fosse amigo; sobre ami-
go, bemfeitor? O zelo te acenderia o co-
ração em dezejos de vingança.» Padre
Manoel Bernardes, Exercícios espirituaes,
pag. 8õ.
VISTA, s. /. O acto de vêr.
— Faculdade de vêr, a dos cinco sen-
tidos que tem por órgão o olho. — «A
qual suspeita era assi, porque não seria
Aires da Silva tornado a este lugar quan-
do sentio o rumor da gente que vinha
nas jangadas ; e porque o escuro da noi-
te, e chuva lhe não dava vista pêra as
commetter, converteo-se a mandar tirar
com artilheria a esmo, onde sentiram o
rumor, que causou não se mudarem os
Mouros donde estavam, o que aproyeitou
muito pêra se salvarem.» Barros, Déca-
da 2, liv. 6, eáp. 8. — «Em nossa com-
panhia hia hum negro cego dãbos 03
olhos, que se persuadião sem falta toma-
ria cõ vista, tal he a opinião em que os
tem. Depois de todos sabidos, entrey nel-
970
VIST
VIST
VIST
les, nos quaus iiilo ostiuo mais que »eU
credos, assi por sua quentura fíraadissi-
ma, couiu polo pus.iiiuo clioyi^u de inarc-
zia, e enxofre (pie dellus siiliia.» Fr. (las-
par de 8. Bornardinu, Iliaerario da la-
dia, cap. 12.
Jn do mar o da terra go não sontc
Sonilo 8'' da bombarda a cruel ira,
Tudo flrtcondc a fumaça noRra ardente,
Kiicobro o Sol, a vlntn ao» olho* tira.
O douto bombardeiro diligente
Não sabu aondo aponta, ou aonde atira,
No» navioi o ferro e fogo ho tanto
Que causa morto n'hun8, n'outroi espanto.
PSANCI8C0 d'aNORADI!, PBIMKiaO CKRCO DB DIU,
ouut. 2, est. 53.
— Os olhos, o org3o da vista. — A vis-
ta não me engana.
E segundo o que dolle agora entendo.
Se a vista não m'engana o pensamento,
Ou do vãa phantasia estou pendendo ;
Quando fura maior o grão toruicuto,
Quo Soliâo padece, não pudera
Igualar-se com seu merecimcuto.
CAM., EOLOQA 15.
Num monte estA meu cuidado :
E ou posto aiiui noutro monto.
Como passarei sem ponte?
Tudo quanto a x-ista alcança
Coberto de males vejo :
Dilqucm tica meu dezojo,
E dálom minha esperança.
Esta continua me cança,
Porque está sempre defronte :
Como passarei som ponto?
KBANCISCO R0DBIOUE3 LOBO, PMIUVKIIA.
— «Divertia-se a vista do alto de uma
varanda que dava sobro o rio, com vôr
bandos de gar^^aa muito alvas e outros
de goarazes encarnados, ja pysamarelloa e
pretos e outra muita variedade de pás-
saros.* Bispo do Grão Pará, Memorias,
publicadas por Camillo Castello Brauco,
pag. 193.
— A vista de; em presença de. — «Es-
tava o lugar da ermida, e está hoje à
vista do moute em quo olRey vivia, e
posto quo a memoria donde vou tirando
as forças deste sucesso, o nào especifi-
que, de crer he, que se veriaõ muytas ve-
zes, e teriaõ colóquios tão Divinos, como
a vida, e santidade do lugar o pedia,
avendo de poriucvo as grandes tontaçoens
do Demónio.» Monarchia Lusitana, liv.
7, cap. 3. — X Assim sairam do porto do
Constantinopla á vista do povo que do
novo chorava sua desventura, estimando
por gravo cousa tó os ossos de seus prín-
cipes lhe não deixarem possuir.» Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 171. — «Assentando o arrayal, man-
dava se posessom oscutíis, e quo mar-
chando fossem sempre as batallias humas
à vista dos outras j o que as Bandeiras
dos Fidalgos aenaS estendessem, salvo
(|uando se soltasse a Il'>al.i Scverim de
Faria, Noticias de Portugal, Disc. 2,
cap. 8. — «O sitio da (jual [K>r Bcr á
borda da praya c5 huin jjouso em que
UA nossas uaos ao abrigarão do tempo
que trazião : a fazia ainda inacs fermosa
â vista dos ncssos.» Barro;-<, Década 'J,
liv. 2, cap. 1. — «E juntauicnto pêra
quo nos ensinasse nam auorrecer a mor-
te, nam quer chamar à sua morte, mas
passamento deste mundo ao padre, c pê-
ra quo daqui aprendêssemos que a morte
dos verdadeiros Christãos nam era aca-
bamento de vida, mas pa.ssamcnto de
desterro e perigrinaçam à presença e
vista do padre celestial, acabamento de
vida tri.-fte, c chea de misérias, à vida
immurtal o gloriosa.» Fr. Bartholomeu dos
Martyres, Catecismo da doutrina christã.
— «O certo he que estes Médicos sai) taõ
conhecidos, e famigerados nas suas Medi-
cinas, que justimcnte nos naõ quizeraò
participar o.s plausíveis successos das suas
curas; porque se porsuadirai}, (avista -Io
celebre nome quo actualmente lograõ)
qu» naò necessitaõ dos impulsos da nos-
sa pena, para os voos da sua Faina. »
Braz Luiz d'Abreu, Portugal medico,
pag. 22õ.
— A' siinples vista ; com o olhar des-
armado, sem auxilio de instrumento.
Oh sublime delirio ! A Mente acccsa
Kompo os estreitos círculos, qnc ao Mundo
A núa, e simples vista lho assignúla
Tuutoj Astros, e Soes, tantos Phinctas
Da vida habitação, qual gira a Terra.
J. A. DF. MACr.DO, A IIATLIIF.ZA, Caut. 1.
— Termo de thcologia. A vista de
Dens ; estado dos bemaveuturados que
vêem a Deus. — «Assi como também a
justiça requere, que os danados nam soo-
mentc sejam castigados na alma, e lan-
çados perpetuamente da vista de DEOS,
e postos em estado de infinita tristeza e
agonia, mas tam bem seus corpos que fo-
ram instrumentos nos peccados, e por
cujos torpes apetites e deleytes, as almas
se perderam, sejam também rigurosamen-
te atormentados no fogo eterno.» Frei
Bartholomeu dos Martyres, Catecismo da
doutrina christã. — « Qual he a moUier
que estando longe apartada de seu mari-
do, ou mãy do filho, nào folgue de ouuir
nouas delle, sem se nunca enfadar? Fois
como he possiuel tor amor a Deos, do
cuja vista estamos tiim alongados, c nam
folgar muyU) do ouuir nouas delle"? Não
sam outra cousa as sanct.aa doutrinas o
pregações, senam humas nouas quo nos
dam de Deos, e da gloria celestial, e
dos que noUa com Deos rciuào.» Ibidem.
— O próprio olhar.
Inlindoã Entes nào sabidos mostra,
Impalpáveis áa màos, c á vista ignotos,
O Ctmpo kzul dot Cco» noa aproxima
R torua 08 bomonji Cidadilos doii Astros.
J. A. Dl MACEDO, A «AIL-sr.ZA, CaOt. 2.
Deste» soberbo» e natum<Mi Colo*«o»
Mil ben» o Ktertio Artificfl no» manda,
SAo daH aguas duposit/jn per>rniUM
Dos niio doctOfi inortaes a ruía oecoltoe,
K «em cemar as liquido» corrente»
Dellen brotio na terra árida c dura.
— A vista do hijrror; conservando o
olhar sobre o horror. — «Os aeua Cams-
radas, ainda que tremendo, o íizerSo ao-
bir; não com a pressa necessária naquel-
le cazo, mas com a diligencia que po'le-
rão executar á vista do horror eni que
ae achavão.» Cavalleiro de Oliveira, Car-
tas, liv. 1, n." 15.
— O aspecto, presença. — cE desta
maneira andou per todalas ruas princi-
paes da cidade até chegar as casas onde
ae fazia a fortaleza, porque alli o estava
aperando dom Fraiicisco dalmcida no
terreiro, cm hum aidafalso emparamen-
tado de panos douro, e de seda, no qual
lugar a vista de todo o povo, e de mais
da nobreza daquella cidade.» Damião de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 2,
cap. 2. — «E 08 homens que as espevi-
tavam cubertos de di» sem lhe parecer os
rostos, e assi todalas outras cousas ne-
cessárias em grande comprimento, e abas-
tança com muyta perfeiçam quanta po-
dia ser, e era cousa tam triste so a vista
que qucbraua os coraçõi-s quanto mais a
causa porque se fazia de todos era em es-
tremo sentida.» Garcia de Rezende, Chro-
nica de D. João II, cap. 133. — «E quan-
do achou hum soo filho que tinha, que
criara com tanto amor, tanto receo, tan-
to contentamento, por ser o mais singu-
lar Príncipe que no mundo se sabia, em
quo SC el Rey reuia, e queria t3o grande
bem que hum so dia não podia estar sem
o ver, nem tinha outro degcanso, senão
sua muyto estimada vista, e conuersa-
ção, ficou em tão grande estremo triste,
e desconsolado, que se não podia dizer,
nem cuydar, dizendo sobre o filho tantas
lastimas, e palauras de tanta dor, e tris-
teza, que o não podia ouuir ninguém sem
muytas e tristes lagrimas.» Ibidem, cap.
132. — «Aqui acodio o Vigário João Coe-
lho com hum Christo arvorado, dizendo,
que aqueile Deos, cuja causa dcfendião,
era o Author das victorias; com cuja
vista alentados aqucUes fieis, e fortes
companheiros, parecia que obravão com
forças mais que liumanas.» Jacintho Frei-
ro de Andrade, Vida de O. João de Cas-
tro, liy. 2.
— A vista d'tst<t* verdadtê; attenden-
do a estas verdades, considerando-as
bem. — «A vista pois destas verdades
forme a alma comsigo cíte argumento:
se os beuoficios de Deos para comigo saõ
taõ grandes, e se o não corresponder-lhe
VIST
VIST
VIST
971
he vicio taõ abominável : quam abominá-
vel cousa será em lugar de render a
Deos graças, offendello com agravos?»
Padre Manoel Bernardes, Exercicios es-
pirituaes, pag. 104.
— O aspecto que as cousas offerecem.
Suave, deleitosa, alegre vista,
Donde pendia toda a minha glória,
Por quem na mór tristeza fui contente;
Quando será que veja aquelle dia
Em que deixe de vèr tão grav£ darano,
E em que me deixe tão penosa vida V
CiM., SEXTILHA 3.
— Letra á vista ; que se deve pagar
logo ao apresentante. — «E eis aqui pa-
pel, e tinta, e lanterna de furta fogo, e
he de noite; com todo o encarecimento a
sua mulher, ou ao seu caixeiro, que en-
tregue logo logo à vista ao portador dous
mil cruzados em ouro : e assim se estaõ
a pé quedo, até que volta hum delles
com a resposta em eífeito.» Arte de fur-
tar, cap. 23.
— A vista ; presente.
Ao ar, ao portamento, á vista, ao moto
Súbito conlieci que os Sábios crão,
Que as sempiternas Leis da Natureza
Era pró dos outros conhecer tentarão.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Caut. 1.
Ou quando polo rúbido Oriente
Hum dourado Listão se observa apenas,
Núncio do Sol, que fulgurante assoma
Poucos momentos se demora, á vista.
— Passar uma nau á vista da terra;
passar próximo da terra, avistando-a. —
«Era isto no mez de Fevereiro em que
cursaõ os ventos Xamais, que saõ os No-
roestes, que dentro naquelle Estreito saõ
muv tormentosos, e assim teve a Arma-
da tanto trabalho que esteve perdida
com huma tormenta desfeita que lhes
deu, com que correrão com velas peque-
nas ate defronte de Mascate, e sendo
vista a Armada da terra, lhe sahio Fer-
não Dias César em hum Terranquim, e
disse a D. Antaõ de Noronha que o dia
dantes passarão as duas galez á vista da
terra.» Diogo de Couto, Década 6, liv.
10, cap. 10.
— Perder de vista; não descobrir
mais, não enxergar mais.
Porem hoje que o dezejo
Não acha quem lhe resista,
Pois que te perdeu de vista
Sente o mal em que me vejo :
Deixa, deixa o pasto estranho,
Torna ao teu natural;
Se não te obriga meu mal,
Lembre-te o do teu rebanho.
T. SODRIGDES LOBO, PRIMAVERA.
Corro apoz este bem que não se alcança ;
No meio do caminho me fallece;
Mil vezes caio, e perco a confiança.
Quando ello foge, cu tardo; c na tardança,
Se 03 olhos ergo a vèr se inda apparece.
Da vista se me perde, e da esperança.
CAM., SONETOS, n.° 48.
— «Para abator-lhes o orgulho, tinha
Sesostris assentado cortar-lhes o commer-
cio em todos os mares; e por elles cru-
savam suas armadas á caça dos Pheni-
ces. Fomos pois encontrados d'uma, a
tempo que perdíamos de vista as monta-
nhas da Sicília : parecia que o porto e a
terra nos iam fugindo, e se mettiam pe-
las nuvens; quando attentamos que vi-
nham para nhs as naus egypcias, figu-
rando uma cidade errática.» Telemaco,
traducção de Manoel de Sousa, e Fi-an-
cisco Manoel do Nascimento, liv. 2.
— «Conheceu o author, a fundo, o cara-
cter do theatro. Se o judeu António José
soubesse as regras tiieatraes, e aprovei-
tasse seu grande engenho, seria um dos
primeiros homens; mas a ignorância e
falta de probidade fizeram que, attentan-
do somente em fazer rir, perdesse de vis-
ta o aproveitar.» Bi.-jpo do Grão Pará,
Memorias, publicadas por Camillo Cas-
tello Branco, pag. 120.
Quantos dias comtigo o Nauta ousado,
Qu' apoz o Gama foi dar leis no Hydaspe,
Lutou no mar incógnito ! Da vista
Os claros Ceos perdeo, a esteira o rumo
Attonito deixou.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, CaUt. 1.
Esconder-se á vista ; desappare-
Em ti milhões de fulgurantes globos
Caminhão sem obstáculo guardando
Invariáveis Leis. Certo o momento
Tem do mostrar-sc, de esoonder-se &. vista.
J. A. DE MACEDO, A HATDEEZA, Caut. 1.
— Não perder alguém de vista ; vi-
gial-o cuidadosamente.
— Perder a vista ; perder a luz dos
olhos. — «O qual estado de todo prestes
teue hum accidente de vagado cõ que
perdeo a vista, de maneira que esteue
muito tempo sem a cobrar : e foi no se-
guinte anno de quinhentos e seis como
veremos.» Barros, Década 1, liv. 8, capi-
tulo 3.
— Perder-se a vista ; confundír-se a
vista.
AUi do claro Apollo o lume ardente
Nunca descoalha a neve, ou quebra o gelo;
Dalli se perde a vista, ou se deslumbra
Sc 03 precipícios hórridos contempla.
J. A. DK MACEDO, A NATUREZA, Caut. 2.
Entre cabeços d'orgulhosos montes
Tu não vês profundissimos abj-smos,
Onde a vista se perde, ou so deslumbra V
IBIDEM.
— Roubar da vista; desapparecer, per-
der-se de vista, confundir-se.
E sombra repentina os Ceos enluta,
Vôa espantosa noite, e prematura
Pousa nos ares liquides, o rouba
Da vista os claros Ccoa, da vista o Mundo.
J. A. DE UAOEDO, A NATUREZA, Caut. 1.
— Fugir da vista ; desapparecer, per-
der-se.
Envolto de continuo em manto escuro
De hum, como a noite, espesso nevoeiro.
Da i-i.sto nos fugio brilliantc, c puro,
Baliza cm Polo austral, vivo cruzeiro :
Té que o véo sepulchral medonho, impuro
Eompe do mundo avivador Luzeiro,
Esta, incógnita a nó3, torra tociimos,
E aqui dos homens a pegada achámos.
J. A. DE MACEDO, O ORIENTE, Cailt. 5, CSt. 37.
— Furtar d vista ; tirar, fazer
parecer dos nossos olhos.
Se a nossos olhos foge, eia não culpes
De indócil o Cometa, a grossa nuvem,
O ar sombrio, e denso, os áureos raios
Do luminoso Sol ã vi-fta o furtâo.
J. A. DE M.ICEDO, A NATUREZA, CaUt. 1.
— As vistas d' alguém; os seus inten-
tos, projectos, planos, respeitos, dese-
nhos ; as suas miras, o seu fito, o alvo
dos seus planos. — «Tanto que passarão
estas vistas, quis o Almirante escreuer
ao Camorij por lhe confundir seus pro-
pósitos e artificies. D Barros, Década 1,
liv. 6, cap. 4.
— Dar uma vista; vêr de passagem.
— «ElRey cõ palauras de muito agrade-
cimento estimou aquella sua vinda di-
zendo ser verdade o que se dizia, mas
como era no principio do inuerno em
que o Camorij não aula de mouer senão
passado elle, era escusada sua presença
que bem poderia dar huma vista à cos-
ta da Arábia pêra onde dizia que estaua
de caminho.» Barros, Década 1, liv. 7,
cap. 2. — (iRuy Lourenço como foi in-
formado d'elRey destes seus trabalhos e
da causa delles, ordenou logo com elle
que com a sua nao queria ir dar huma
vista ao porto de Mõbaça.» Ibidem, capi-
tulo 4.
• — As vistas; os olhos.
• — Vista da carta; o sobrescripto.
— Cidade forinosa de vista ; cidade
linda á vista. — «A qual cidade de Adem
he formosa de vista, e de bons edeficios,
po.^íta ao pe de huma serra que se vem
meter no mar, na ponta da qual esta si-
tuada, e tão cercada de agoa que fica
quasi em ilha, a serra he tão seca, que
nam nasce nella erua, nem aruore por
sor toda de rocha viua, e nam chouer
nesta terra se não de dous cm três an-
nos.» Damião de Góes, Chronica de D.
Manoel, part. 3, cap. 43.
972
V18T
VIST
VLST
. — Projecto, <io3Ígiiio. — «Na qual vis-
ta oiiuo grauilo.i contirmações ilo jjaz, ft
oífort:i8 ilelliey : dizendo oUo qiic todo
seu estado, o pos.soa d'aíiuelle dia pêra
sempre eilo o Hobijicttia à vontade d'ol-
Rey de Portugal, uoiuo do maon poileni-
so Príncipe da torra.» Uarros, Década 1,
liv. f), cap. :i.
— iSois uiwt vista que ainda não vi.
Como i coníiado ein ai !
parcco-mc c|uc quor que o gabem:
Boís uma vista que cu não vi
aiuda outra vista assi,
fciMuodo poucod o sabein.
ANTÓNIO l'BBSTH8, AUIOS, pag. 3BÕ.
— Ajiartar-vw d'aquMa vista.
Oh tiitiU^, oh tenebroso, oh oruol dia,
Amauliecido si') para meu damno !
Pudeste-mc apartar daquolla vinta
Por quem vivia com meu mal contente 'i
Ah He o aupromo foras doata vid:i,
yii'cm ti se comcçiira a rainha glória !
CAll., SEXTILHA 3.
— A vista do elmo ; o logar por onde
o armado com elle via; era uma espécie
do óculo, ou íi:radc,âinlia, ou rede que de-
fendia o boto da arma por alli.
— Figuradamente: Perdar-se de vista
o (jue jica fora do alcance d'ella; descui-
dar-se, divertir-se, fazer digressão.
— Falta-lhe uma vista; falta-llie um
olho.
; — Faculdade de vêr, de examinar.
— Loc. : Estar á vista; estar patente.
— Seusa^^ão que recebe quem vô.
— Figuradamente: A vista do enten-
dimento.
— A primeira vista ; ao primeiro as-
pecto, na primeira apparencia, ou mos-
tra.
— Loc. : Vêr todo o objecto a uma vis-
ta ; vcl-o d'uma vez, não parcialmente.
— Estar á vista ; estar onde a vista
alcança manifesta o claramente.
— A vista d'isto, ou visto isto; exa-
minado e sabido isto.
— Óculos de longa, ou larga vista ;
óculos de vêr ao longe.
— 2'er á vista; ter presente.
— O objecto que so vê.
— KxtcusiXo do que se pode ver do le-
gar em que se estil.
— Modo como os objectos se apresen-
tam á vista. — Uma vista de lado. —
Uma vista de baixo para cima.
— Quadro, estampa, imagem que re-
presenta un) logar, um palácio, uma ci-
dade. — Vista de Roma. — Vista de Lis-
boa. — Vista de Coimbra,
— Vista longa ; diz-so dos olhos que
distinguem os objectos a uma grande
distancia.
— Vista curta, a que se dá também
o nomo de r.iyopia, ou myopismo ; diz-se
dos olho» que só distinguem o» objectos
a curtas difltancias.
— Ter a vista turva ; nilo vrr claro.
— Figuradamente : Dar na, vista ; ex-
citar a atterii;?lo, o desejo, a ambirJIo.
— Figuradamente : Dar jic* vista ; le-
rir, impressionar por um brilho agradá-
vel.
— Figuradamoute : Ter a vista sobre
alguém; vigiar coiistantcmonto sobre a
sua conducta.
— Jaiiella, abertura d'uma casa pela
qual 80 vê para os logarcs visinhos.
— Fim a que se jiropõe, c(jiitíidera(;ão.
— Figuradamente: A vista de Deus;
a lembrança incossantemoute presente de
Deus.
— Figuradamente : Diz-se do espirito
que vê as cousas intellcctuaes, como o
corpo vô as cousas materiaes.
— Tev as vistas em alguma cousa ;
ter desejos, desejar alcanyaí-a.
— Modo de vêr, opinião, parecer.
— Idêas, exposi(;ão sunimaria.
— Ponto de vista ; ponto ao qual a
vista se dirige, ou aonde pára.
— Figuradamente: O espirito não tem
senão um ponto de vista, <£ue é o ceu ;
fora dalii, nada o inquieta.
— Termo do perspectiva. Ponto de vis-
ta ; logar preciso onde é mister coUocar-
se para mellior vêr um objecto.
— Ponto de vista ; o ponto que o pin-
tor ou o desenhador escolhe para pôr os
objectos em perspectiva, e para o qual
dirige todos os raios que partem do olho
do espectador.
— Conhecer alguein de vista; conhe-
cel-o por o ter visto sómento ; conhecel-o
de rosto.
— Loc. : Dar uma vista de olhos; vêr
de passagem.
— .4íiVíi7- á vista ; dirigir o tiro ou
bote ao rosto.
— Figuradamente: Atirar á vista do
elmo ; affrontar muito.
— Figuradamente: Ficar alguma cov^
sa a perder de vista da outra ; ter uma
differeuça giaudissima.
— Loc. ADV. : Em uma visldi d' ol/ios;
em um momento, instante.
— As vistas ; as pinturas da sceua.
— O logar das vistas ; aquelle era
que alguns ajustai-am eucoutrar-se, ajuu-
tar-se, e avistar-se.
— Fazer a vista grossa; tingir que
se não vê, passar por alto.
— As vistas da lanterna ; os buracos
com vidraça i>or onde sáe a luz.
— Loc. : Dar vista á praça, cidade ;
apparecer n'ella, diante d'ella, dar mos-
tra de si.
— Syn. : Vista, aspecto,
A vista nào é mais que a acção ma-
terial dos ollios sobre um objecto; o aspe-
cto suppõe no objecto diversos modos de
ser visto.
P(íde vèr-se uma cousa de frente, de
lado, por detraz, du alto a baixo, de
baixo para cima; sempre é a mesma cou-
sa que BC vi:, ainda do diíTcrentes niodoR,
a que chaiuamoH aspectos. Para julgar
bem as cousa», è mister vêl-a» sub todos
08 aupectoH.
VISTAR, V. a. Termo antiquado. Vêr,
revistar, passar revista.
f VISTE. Fiirma do verbo vtr na so-
gun<ia pottsoa do singular do pretérito
perfeito do modo indicativo. Vid. Vèr.
(Vni que mágoa ({i Amor) com que trÍHtczit
Vixtf. cerrar aquoUc» tum fi-rmoso»
Olho», onde \'i%'iaH, jXMioroíio»
U'abrnndiir com sua vista a mór darez> \
ANTÓNIO FenuriBA, SÚNF.TO 2, pog. 4.
Té niàos Impp.riaBB rintr., /> Florença,
Depondo o Sccptro, tactcar Cadinhoa,
Tanto pode o prazer, pode o prestigio!
Mas se dollcs a Purpura não foge,
Fo;^em por certo as ?»Iusas d'c8pantada8.
J. A. DE MACKDO, VIAOEM KXTATICA, CUIlt. 4
Pae, contae, que vistei lá?
líofá filho, maravilhas,
<iue grande terra esta qptá.
ANTÓNIO PHESTES, AUTO», pftg. 373.
VUle Decio?
Ochala que nunca o vira !
OAKBETT, CATÃO, act. 3, 8C. 5.
f VISTIDURA, s. f. Vid. Vestidura.
— «Por isso lancemos fora as obras es-
curas dos peccados, vistamo-uos, e armc-
monos de claras vistiduras, e obras de
luz, como conuem aos que nam andam ue
noyte, senam ■em dia claro, despedindo
de nos todas as desordenadas deleytaçiles
da carne, toda demasia de comer e beber,
toda a abominação de Luxuria e torpeza,
toda enueja, todas as discórdias e diflfe-
rença,s, e vestindonos do Senhor losu
Christo, 8. de suas vnrtudes e custumcs.
Esta he a Epistola.» Frei Bartaolomeu
dos ^íartyres. Catecismo da dontrina
christã.
1.) VISTO, part. pass. de Vêr. Perce-
bido pelo sentido da ■vista. — Um espe-
ctáculo visto de longe. — fDevese prover
com toda ililigencia, o cuidado, quo aquel-
les a cujo cargo parece estar o lugar do
governo, não se jào vistos fazer afrõta aos
celcstiaes Sacramentos, porque ncs foy
dito, o que he horrível de ouvir, e abo-
minável para crer, que alguns sacerdotes
levados da sacrílega temeridade, toroão
os vasos do Senlior para seu próprio ser-
viço.» Monarchia Lusitana, lir. 6, cap.
27. — «Mas quis sua ma fortuna que se
foi meter em hum estreito que quando a
maré vazou ficou em secco: e vinda a
nienhari em que o batel foi visto pelos
Mouros, acodiraõ obra de dozentos, onde
fronçalo de Cintra por se defender, na-
quella vasa pereceo c5 estes sete ho-
VIST
VIST
VIST
973
mems.» Barros, Década 1, liv. 1, cap. 9.
— «Affonso crAlboquerque porque o dia
d'ante tinha visto este illieo, e temendo
quo delle Ibe po>!ia vir algam dauno,
mandara a elie Atibnso Lnpes d'Acosta,
e António do Campo : tanto que o vio fei-
to hua pinha de gente, e como a artelha-
ria delle varejaua a ribeira, tornouos a
mandar que o cometessem : e elie cõ oa
outro» capitães tornou ao longo da praya
pêra no cabo delia vir encaualgaudo a
terra, e dar na estancia da artelliaria
que estaua sobre o porto, poi-que come-
tella de rostro, era cousa de grade pe-
rigo.» Idem, Década 2, liv. 2, cap. 1. —
«íiSta povoação nào loy vista atè entaõ
dos nossos. E recolhendo-se daili, deraõ
conta ao Capitão do que viraõ, e do mo-
do da povoação, o que elie estimou muito
saber.» Diogo de Couto, Década tí, liv. 9,
cap. 12. — «Estevão (iomes Feitor de
Calayate, que atraz deixamos partido pê-
ra Goa em o Terranquim, ioy atraves-
sando aquelle grando golfo atè haver vis-
ta da terra de Baçaim, e entrando den-
tro deu recado à Cidade, e depois de to-
mar agua, e mantimentos partio pêra
Goa.» Ibidem, liv. 10, cap. 5. — «Che-
gadas as três embarcações a pouco mais
de tiro de besta da nossa lorcha, nos ro-
dearão por popa e por proa, e depois de
a terem muyto bem vista se tornarão a
ajuntar como que de novo fazião conse-
lho, em que gastarão pouco mais ou
menos ~ hum quarto de hora, e após isto
se dividirão em duas partes, as duas
embarcações mais pequenas por popa.»
Fernão Mendes íinto. Peregrinações,
cap. 40. — «Ainda que não sey com
quãta razão, porque segundo o que te-
mos visto e lido, assi em Ptolomeu como
nos mais que escreverão da geografia,
nenhum destes ouve que passasse do
reyno de Sião e da ilha Çaraatra, senão
sós os nossos Cosmographos.» Ibidem,
cap. 143. — «Este banquete auia de ser
em huma grande casa de madeira que el
Rey pêra isso mandou concertar junto da
ponte, no qual tempo huma Moura Per-
seana, que tinha estalajem na cidade,
mandou dizer a Diogo Lopez, per Duarte
Fernandaz alfaiate, que pousaua em sua
casa, e sabia a lingoa Pérsia, que lhe que-
ria fallar em segredo, em cousas que lhe
muito importaua, pêra o que eila mesma
iria a sua nao de noite, por uam ser vis-
ta dos da cidade, se lhe elie desse para
isso licença.» Damião de Góes, Chro-
nica de D. àlanoel, part. 3, cap. 2. —
«Ha qual Torre se vela de noite, e de
dia, de modo que nenhuma vela pode
passar sem ser vista, e obedecer ás sal-
vas que lhe delia fazem com a artelha-
ria, nem foi menos liberal el Roi dom
Emanuel na grandeza destes edifícios,
que no seruiço do culto diuino, porque
aos Freires, que tinham a cargo esta ca-
peila de Bethelem, que dali mudou por
licença do Papa a Egreja de nossa Se-
nhora da Concepçam em Lisboa, que fo-
ra Synagoga de ludeus, deu rendas, de
que viuem abastadamente.» Ibidem, part.
1, cap. 53.
Que sérvio de envergonhalla ;
I'ois o pejo do ser vista, .
Inda a quem ama, acovarda ;
Erau já meus pensamentos
Taõ clavo3, que alguns tomavaõ
Delles matéria de lizo,
E olla de dc90ontían(;a3.
í. ItODRIGUES LOBO, O DESENGANADO.
— «Muitas vezes se exercitaõ a saltar
com grandes pezos na boca para assim se
porem disciplinados, e destros para os
roubos; de hum refere Alberto, que foi
visto muytos dias tomar na boca hum
madeiro, que pezava mais de quarenta
arrates, e com elie saltava sobre o tronco
d« huma arvore; e vendose já ensayado
naquella prova, hum dia se escondeo no
mesmo lugar, a tempo que passavaõ huns
Veados pequenos; e fazeudo tiro a hum
que lhe pareceo pezaria pouco mais que
o madeiro o levou na boca, e subio em
hum momento à arvore, aonde o despe-
daçou a seo salvo, sem os outros lhe po-
derem valer.» Braz Luiz d'Abrcu, Portu-
gal medico, pag. 583, § 10. — «Se dous
destes Benzedores se avistarem; e sem
nuuca se terem visto se conhecerem ; saõ
detestáveis, e grandemente suspeitos ;
por que o Demónio costuma assigualar os
seos, com certo signal a modo de cica-
trix, a quo elles por devoção infiel cha-
maã commummente Pegada de JS. Ca-
therina; ou Palma de tí. Quitéria: co-
mo trás Torrcblanca; e isto para os
distiuguir dos bons, e marcar como es-
cravos seos; que assim o ponderaõ Ter-
tualiano, Remigio, e Binsfeldio.» Ibidem,'
pag. 621, § 13Õ.
— Figuradamente : Examinado, obser-
vado, sabido, averiguado.
O rústico Pão leua hum bastão grosso
Do seluatica, dura, secca Anzinha :
Kaiuoso, e denodado se poem jiuito
Do hum passo estreito dude o esquadrão chega,
Agachado, escondido, como quando
O besteiro que a rcs gauchoaa espera
La no tempo da brama, em certo posto
Examinado delle, e de antes visto.
COKTia REAL, NAUFBAGIO DE SEPÚLVEDA, Cant. 9.
— «Esta Ilha Gamaram está em altui'a
de quinze gráos da parte do Norte, e tão
vizinha á terra firme de Arábia, que está
vista delia per espaço de huma iegua; he
terra muito baixa, e parte delia alagadi-
.ça, e nestes alagadiços cria algumas ar-
vores, a que chamam mangues de madei-
ra rija, e reversa de lavrar, a qual com-
mummente se acha em Guiné naquelles
alagadiços.» Barros, Década 2, liv. 8,
cap. 2. — «Deste meio nos convinha
muito valer em Portugal, vista a grande
multidão de EngeitaJos, e Órfãos, que
hà neste Reyno, os quaes creando-se em
boa doutrina, até se poderem pòr aos offi-
cios, ticariaõ sendo de grande utilidade à
Republica.» Severim de Faria, Noticias'
de Portugal, Disc. 1, cap. 6. — «Porque
estando uma praça com bom presidio, naõ
pôde ser entrada por hum grande Exer-
cito, se tiver outro em seu favor, ainda
que seja de muito menor numero, como
se tem visto nas guerras dos Turcos com
os Polacos, e nas de Jorge Gastrioto, e
nas modernas de Flandres, e Itália.» Ibi-
dem, Disc. 2, cap. 9. — «Dada em a nos-
sa cidade de Manicongo, no anno do nas-
cimento de nosso Senhor Jesu Christo de
M. D. XII. A qual carta de credito e
obediência vista pelo Papa, e CoUegio
dos Gardeaes.» Damião de Góes, Chroni-
ca de D. Manoel, part. 3, cap. 39. —
«Minha senhora. A carta que escrevoo o
Barão de Nevenlipe á Senhora Condeça
Glarinda de Nusberg de que V. S. me
manda a copia, he huma Carta de pêsa-
mes semelhante a outras muitas que te-
nho visto cheyas dos mesmos despropó-
sitos que cometerão nesta matéria muitos
homens eloquentes, e bons Rhetoricos.»
Çavalleiro d'01iveira. Cartas, liv. 3, n."
6. — «Porque ex aqui treuas, e escuri-
dam cubriram os pouos incrédulos, c obs-
tinados, mas em si nascerá o Senhor, e
sua gloria em si será vista, e viram os
Gentios a ver tua luz, e os Reys a go-
zar do resplandor em ti nascido. A qual
prophecia claramente foy oje comprida
nestes três Príncipes Gentios que do
Oriente vieram buscar a luz nascida em
Bethlem, como nos conta S. Matheus no
Euangelho.» Frei Bartholomeu dos Mar-
tyres. Catecismo da doutrina christã.
— Versado.
— Bem visto, mal visto ; recebido coni
approvação, com desapprovação.
— Attento, considerado. — «Com dis-
posições táes nos pozéraos á mesa, na qual
me podéra eu dar pela Divindade da-
quella Casa, vistos os resguardos tão as-
sinalados, e as melindrosas preferencias
que comigo tinhão; era a quem mais te-
ria a dita de me servir, a quem fixaria a
minha attenção.» Francisco Manoel do
Nascimento, Successos de madame de
Seneterre.
— Visto a armada estar descoberta;
attento o estar a armada descoberta. —
«Embarcárão-se os nossos, e forão na
companhia de D. Jorge a demandar a ar-
mada. O qual referindo a D. Álvaro o
successo, e a observação que fizera, pa-
receo aos Cabos, que não tinha lugar a
facção, visto estar a armada descuberta,
e a terra appeilidada.» Jacintho Freire
de Andrade, Vida de D. João de Castro,
liv. 4.
— LOC. CONJ.: Visto que; pois que,
já que, por isso mesmo que.
2.) VISTO, s. m. Formula escripta em
974
VITA
VITE
VITO
alffum acto, o que ad^ignada por pessoa
para isso auctorisada, torna este acto au-
tlientico.
— Visto do passaporte ; a declaração
da authoridaiio ri'ello cscripta, para cons-
tar o dia em quo o portador se aprosen-
tou ;'i. aiitlioridado eompetento.
VISTORES, H. m. pUr. Termo anti-
quado. O.i ([ue fazem vistorias, louva-
dos.
VISTORIA, s. /. Inspecçiío para exami-
nar, ieitíi jior juizes o pessoas pertencen-
tes. — Vistoria dos vivitres.
— Vistoria das partes da (jerai;ão do
hijmein ; ))aru vér se é potente.
— Vistoria d<is partes da r/eração da
mulher ; jiara vcu' so está. virjrem.
— Vistoria nos cadáveres, nas feridas,
arroinòiiiiitíiitus, etc.
VISTOSAMENTE, adv. (Do vistoso, e
o suffixo u mente «). De um modo vistoso.
— Do um modo apparatoso.
— (Jiim i)0m]ia.
VISTOSÍSSIMO, A, adj. superl. de Vis-
toso. J\Iui vistoso.
VISTOSO, A, adj. Quo convida a vis-
ta pela sua formosuia, pompa, ^ra(;a, lu-
zimento. *
Aqui, c'o rosto um pouco carregado,
vO Uonclave doapcdc ; c logo cliama
A vintosa líirtonjii, (juo n'um ponto
(^em cavas, cem vestidos, cinu figuras,
Com línguas toma, c muda brevemente
De palavras, e tom, segundo o gOíito
Dos que o governo tem, e assim llic falia.
A. DINIZ PA CKUZ, HYSSOPE, Caut. 1.
— Apparatoso.
VISUAL, adj. 2 gen. (Do latim visua-
lis). Termo de physica. Que pertence á
vista.
— Ei.ru visual ; linha recta que pas-
sando pelo centro da coroca transparen-
te, o pola abertura ])Upill:ir, atravessa
perpendicularmente o crvÃtallliio.
— Anijulo visual ; anjxulo (pie formam
entre si os raios extremos enviados para
o olho por um corjio.
— Ilorisonte visual; a extensão que
a vista ahrai^a.
VISUALMENTE, adv. (De visual, o o
suflixo «meute»). Tor meio dos olhos.
— • IVtr meio da vista.
VISUGO, s. m. Vid. Vesugo.
VITA, s. f. (Do latim vitta). Fita com
que os antigos atavam cm roda das fon-
tes as coroas, os cabellos, as flores.
VITAL, adj. 2 gen. (Do latim vitalis).
Quo serve á consorvaçito da vida, que
pertence A vida. — Os movimentos vitaes
são o producto das impressões recebida.s
pelas partes sensíveis.
Lívida sombra 09 olhos embacia,
Vittil. respiração da bnoca apenas
S'oxhala intorciulonte aos turvos ares •,
Gretada lingoa, denegrida, o seca
Na corrompida bocoa immovel úai.
1. A. DK. MACEDO, A KATUUEZA, Caut. 2.
— Calor vital ; o que conserva a vida.
Do mar no eHCUro, no profundo seio
Prendi; o calor rítal, o uniniu o.i KntCB
I>o vasto abysnio mudou habitaiiti:s.
J. A. DK UACKDO, MKDITAÇÃO, CUnt. 1.
— Principio vital; principio, que se-
gundo certos j)liysiologistas, d a cau»a da
vida, indepeadeiiteiuento da substancia
organisada.
— Quo d:l força. — Licíir vital lUuvi
òril/iaide e saboroso vinho.
— Ar vital ; ar respirável, que nSo
mata como o mophitico, e o ar inficiona-
do do ])odridí"ío, de fumo de carvfíes, e o
das adegas, prisões mal arejadas, priva-
das subterrâneas, etc.
— Ácç(ji:s vitaes ; acções que concor-
rem mais ])ara conservar a vida.
— Arvore vital ; a arvore da vida.
— Viração vital ; que ajmJa a vida, a
viver.
VITALICIAR, i;. a. Tornar vitalício o
([uo ci.i temporário.
VITALÍCIO, A, adj. Que dura toda a
vida, quo é perpetuo. — Emprego vitali-
cio.
VITALIDADE, s. /. (Do latim vitalitas,
de vitalis). Conjuncto das propriedades
inliereiítes ú substancia organlsada. —
Fibras d'uma vitalidade considerável.
— Vitalidade d' um tecido; o conjuncto
de suas propriedades vegetativas ou ani-
maes.
— Força de vida, — A vitalidade de
certos seres organisados.
— Figuradamente : A vida.
f VITALISMO, s. ?;i. Doutrina dos vi-
talistas.
I VITALISTA, s. Mi. Nome dado aos
médicos que explicam por inlluencia do
principio vital os phenomenos physiologi-
cos e patliologicos.
VITALMENTE, adv. (De vital, e o suf-
fixo «mente»). De um modo vital.
— Com vida.
VITANDO, A, adj. (Do latim vitandus).
— Ejxommuíigéido vitando; aquelle com
quem se não deve conversar, associar-se,
ajuntar-se em sessões, conferencias, jun-
tas, etc. ; em opposição ao tolerado, como
os de outro culto a catholico.
VITATORIO, A, adj. — Pregão vitato-
rio ; aquelle que o pregoeiro dá antes de
se executar no jiadecente a pena ultima.
VITECOMADO, A, adj. Termo de poe-
sia. Que tem a< comas de parra.
VITELLA, s. /. (Do latim vitula). Be-
zerra, novilha dn nnuo.
f VITELLIFERO, A, aílj. (Do latim vi-
teUus, c fen-e). Que é munido de um
amarello ilc ouro, c de vitello.
f VITELLINA, .«. /. Nomo dado :i mem-
brana que envolve inmiediatamente o vi-
tello ou a genmia do ovo das aves; e
ilquella que, nos mamíferos, c a mais
excentaica das membranas do ovulo.
— Termo do ciiimíea. Substancia or-
gânica azotada coagulavel que se extraho
da líetnma do ovo.
VITELLINO, A, adj. Que iliz respeito
ao vitello. — ilemòraua vitellina.
— Substancias vitellinas ; princípios
iinniediatos i|ue se encontram no ovo,
VITELLO, «. til. Termo de zoologia. A
parte fuiulamental do ovulo dos animaea,
aquella que encerra a vcsicula germina-
tiva, que preenche a membrana vitelli-
na ou zona pcllucida, e que pelo segmen-
to dá origem áa cellulas blastodermi-
cas.
— Tenno do botânica. Nome dado a
certas partes mal observadas ou t>oaco
conhecidas do enibrv3o.
f VITÍCOLA, a/i/. 2 gen. (Do latim vi-
ticola). Que diz respeito á cultura da vi-
nha. — Paiz, população viticola.
j VITICULTURA, t. f. (Do latim vitii,
e cultural. (Jultura da vinha.
t VITIFERO, A, adj. (Do latim eiít-
fer, de vitis, e ferre). Quo produz vi-
nha; onde a vinha cresce.
I VITILIGO, *. m. (Do latim vUUigo).
Termo de medicina. Affecçâo catanea,
caracterisada ])or tubcreuloS brancos, li-
sos, lúcidos, que so elevam na pelle em
roda das orelhas, do peacoço, da face,
algumas vezes em todo o corpo, e quo
são ordinariamente mistoiados de papu-
los lúcidos.
VrriNGA, s. f. Termo do Brazil. Gé-
nero lie fariídia.
VITO, ou VICTO, *. m. Õ sustento ou
antes o conducto.
VITOLA, *. /. Vid. Bitola.
VITORIA, *. /. Vid. Victoria. — «Lo-
go foi deitado em um leito ; porque pêra
sua saúde era assim necessário. O impe-
rador fez curar Albavzar com muita
presteza : e sendo certificado do mestre
que as feridas não eram de morte, ficou
contente da vitoria mais do que antes
estava.» Francisco de Moraes, Palmei-
rim d'Inglaterra, cap. 89. — «E que pos-
to que alcança-ssem a vitoria, havia El-
Rey do estranhar muito ao (lovernador,
e a todos que alli estavaS, consentirem
por-se o Estado todo em hum tombo de
dado (como là dizem) sobre isto se ba-
ralhou todo o conselho, com grandes
gritos, porfias, e altercações.! Diogo de
Couto, Década 6, livro 3, capitulo 10.
— «E porque quem dá costas, dá animo
a seu imigo, foi tanto alvoroço em os
nossos, que juntamente assi na fortaleza,
como na Armada, começaram bradar :
Vitoria, vitoria, fogem ; e desferindo Fer-
não Peres a sua vela, dizendo : Sant-Iago,
a elles, foi cousa m.aravilhosa o que nis-
so cada hum fez ; e seria a nós mui diffi-
cultosa escrever a ousadia, animo, dili-
gencia, c astúcia, que cada hum teve
naquelle feito,» Barros, Década 2, liv. 9,
cap, õ. — «Sabemos além do tudo isto,
que ao tempo que el Rev tomou a Liaõ
VITO
VITR
VITU
975
com esta vitoria, o sairão a receber as
donzellas principaes com danças, e can-
tigas compostas em louvor de tamanha
vitoria, gratiticando-llie com isto o bene-
ficio de as deixar libertadas; e hoje em
dia se guarda este costume de sairem à
véspera, e dia de Nossa Senhora da As-
sumpção, quatro danças cada huma de
doze meninas (a que chamaõ as canta-
deiras) huma das quaes dà a freguesia
de Saõ Marcello, outra a de Saõ Marti-
nho, a terceira nossa Senhora do Merca-
do, e a quarta S. Anna. » Monarchia Lu-
sitana, liv. 7, cap. 20. — «E que pois
elle só era Capitão daquella cidade, e
daquelle povo que aly estava junto, que
a elle só pertencia condecender em f)eti-
torio taõ justo e taõ santo, e taõ agradá-
vel ao Profeta Noby Mafamede, pois elle
só fora o que dera a vitoria daquella
presa a seu genro, e naõ o exforço de
seus soldados como elle dizia.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 6. —
«E em Africa se alcançarão muitas vito-
rias contra o poder dos Reys de Marro-
cos, Xarifes, e Reys de Fez em tempo
d'ElRey D. Manoel, sendo todas estas
naçoens bellicosas, e praticas na guerra.»
Severim de Faria, Noticias de Portugal,
Disc, 2, cap. 8. — • «Alcançarão os Por-
tugueses grandes vitorias, e desbarata-
rão muitos Exércitos de poderosíssimos
Príncipes, sendo sempre os nossos muito
inferiores em numero, como se vio em
tempo d'ElRey D. Afonso Henriques nas
batalhas do Campo de Ourique contra
ElRey Ismael.» Ibidem. — »Alèm disto
para íicar lembrança da grande vitoria,
que alcançara dos Mouros, atravessou
quatro cordoens no escudo, dous em Cruz
de meio a meio.» Ibidem, Disc. 3, cap.
6. — fO padre mestre Francisco dando a
Deos infinitas graças por tam bons prin-
cípios de vitoria, nam sahio de Cande
sem hum embaxador pêra dom loam de
Castro, que entam gouernaua a índia.»
João de Lucena, Vida de S. Francisco
Xavier, liv. 5, cap. 24. — «Será licito o
desafio com authoridade publica, como
quando a batalha, e vitoria de dous exér-
citos se põem em dous soldados escolhi-
dos por consentimento de todos, como em
David, e o Gigante : porque a causa he
justa, e o poder legitimo : e sendo licito
pelejar todo o exercito, também o será a
parte delle; com tanto, que nao seja evi-
dente a vitoria no todo, e a ruína na
parte.» Arte de furtar, cap. 21. — «Por-
que mais íllustres couzas se obraõ com o
entendimento da cabeça, que com as for-
ças dos braços : e allegava o que diz
Tullio, que mais aproveitarão a Athenas
os conselhos de Sólon, que as vitorias de
Themistocles. He muito prejudicial sabe-
rem os Conselheiros, o que o Princípe
quer; porque logo buscaõ razoens, com
que o ju.stifiquem.» Ibidem, cap. 30.
VITÓRINA. Vid. Aventurina.
vítreo, a, adj. (Do latim vitreus).
Da natureza do vidro.
— Transparente como vidro.
No vifreo foco a ohamma concentrada
Pcnetrantea revérberos dardeja,
Derrete o ferro, 03 mármores calcina.
J. A. DE MACEDO, A NATOREZA, Caut. 2.
Vê quando em calmaria o pinho ondeante
P<ára no vítreo mar, qu' horrenda fera
Em torno delle turva o equorco espelho.
IBIDEM, cant. 3.
Outro descubro, que no vítreo seio,
Ao furor do inimigo escapa, e foge,
Com mais profundo ardil, pronto derrama
De opportuno deposito cm torrente
Denegrido licor, qu' as Ondas turva ;
Na escuridão confuso o fero imigo
Em vão busca, e tactea a presa ooculta.
— ■ Termo de physica. Electricidade ví-
trea; electricidade produzida pelo attri-
to do vidro, e que se oppõe á electri-
cidade resinosa, desenvolvida pela re-
sina.
— Termo de anatomia. Hunwr vitreo ;
um dos de que consta o olho, diíFerente
do ai^ueo e do crystallino.
VITRESCIBILIDADE, s. f. Qualidade
do que se p(')do vitrificar.
VITRESCIVEL, adj. 2 gen. Susceptível
de se nuular, e converter em vidro. —
Rochas vitresciveis.
VITRIFIGAÇÃO, s. /. Fusão das maté-
rias susceptíveis de tomar o brilho, a
transparência e a dureza do vidro, por
meio do uma elevada temperatura. —
Fogo de vitrificação.
— Por extensão, matéria que oíferece
a apparencia do vidro.
VITRIFICADO, part. pass. do Vitrifi-
car. Matérias vitrificadas ; matérias trans-
formadas em vidro, ou nas quaes a fusão
deu a apparoncia de vidro.
— Photograpkia vitrificada ; producção
das imagens de photographia sobre um
vidro sensibilisado.
VITRIFICAR, V. a. Termo de chimíca.
Fundir uma substancia de maneira que
se transforme em vidro. — O foqo vitri-
fica a areia misturada com o alcali.
— Viti-ificar-se, v. refl. Tornar-se vi-
dro por meio da fusão.
VITRIFICAVEL, adj. 2 gen. Que se
pôde reduzir a vidro, ou a uma matéria
com apparencía vítrea. — Metaes vitrifi-
cáveis.
f VITRINA, s. f. Termo de anatomia.
Vitrina auditiva; licor contido no laby-
ríutho do ouvido, chamado também en-
dolijmpho.
VITRIOLA, s.f. Peça de ferro, de que
so u.sa na fabrica dos botões de casqui-
nha, para tirar a impressão do cunho.
VITRIOLADO, A, adj. Composto com
vitríolo.
VITRIOLICO, A, adj. Da natureza do
vitríolo, ou que participa d'elle.
— AcidM vitriolico ; hoje chamado sul-
fúrico, que se obtinha pela decomposi-
ção do proto-sulfato de ferro.
— Gaz vitriolico ; acido sulfuroso.
— Ether vitriolico; ether sulfúrico.
f VITRIOLISAÇÃO, s. f. Termo de an-
tiga chimica. Acção de reduzir a vi-
tríolo.
— Termo de mineralogia. Effloresccn-
cia esbranquiçada e fijaraento.sa ou sul-
fato de ferro que se produz nos pyrites
em decomposição.
VITRÍOLO, s. m. Nome vulgar de vá-
rios saes metallicos, que tem actualmen-
te o nome chimíco de sulfatos.
— Particularmente, o sulfato de co-
bre.
— Vitríolo am.noniacal ; o sulfato de
ammoniaco.
— Vitríolo branco; o vitríolo de zin-
co; o sulfato de zinco.
— Vitríolo de Vénus; o sulfato ue co-
bre.
— Vitríolo calcaren; o sulfato de cal.
— Vitrioio de ferro, de chumbo, etc;
sulfato de ferro, de chumbo, etc.
— Vitrioio verde, vitrioio marcial; os
sulfatos de ferro.
— Óleo de vitríolo ; acido sulfúrico
concentrado.
VITRO, s. m. Termo com a significa-
ção de appluuso.
VITUALHAR, v. a. Prover de vitua-
lhas, e víveres.
VITUALHAS, ou VICTUALHAS, s. /.
plur. Víveres, provisão de mantimentos.
VITULO, s. m. O bezerro.
— Termo de historia natural. Peixe,
conhecido pelo nome de boi marinho.
VITUPERAÇÃO, s. /. (Do latim vitu-
peratio). A acção de vituperar, ou de
ser vituperado.
VITUPERADO, part. pass. de Vitupe-
rar. Tratado com vitupério, reprochado.
— Desestimado, desprezado.
VITUPERADOR, A, s. (Do latim vitu-
perator). Pessoa que vitupera.
VITUPERAR, V. a. (Do latim vituperu-
re). Tratar com vitupério, reprochar, re-
prehender. — «A gente do povo vendo-
nos vir assi presos, e conhecendo que
éramos os Christaõs cativos, foraõ tãtas
as bofetadas que nos dei'aò que em ver-
dade afirmo que nunca cuidey que esca-
pássemos daly cõ vida, porque avião,
pelo que o Cacíz dizia, que ganhavão in-
dulgência plenária cm nos vituperarem,
e maltratarem.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. õ.
— Castigar de palavra, dar em rosto
com cousa torpe, mal feita, ou mal dita.
— Dar cm cidpa, defeito, dar em ros-
to com alguma falta, ímproperar.
VITUPERA VEL, adj. 2 gen. Digno de
vitupcrio.
VITUPÉRIO, s. m. Acto de vituperar.
976
VIU
VIVA
VIVE
— Reprehensilo, aciíUdiiçJlo, reproche.
— iJuítiiDiirii, iiilaiiiiii, i^tiomiuiu, deH-
])r(i}!(), irmiilto, opprobrio.
l'ori(uc vciidu i(ue com cruel itnporio
Oit oouBtniiinoiiv ao rmiio iimiii"«|iio iiiclinilo,
()ú (luo tom duH fjiilírt ij iiiiiiiiitcrio
Tiuito oti tnovo cHtii ilói', tanto se iucliiiilo,
Qlifl liavnnclo-o por íillVoíitii o rttupe.eio
Uoiíi 'ijuutiocfiiitoH dftlliw »(! ainotinSo
liwigilo Imin (íurvivo tal, tão fortn,
Trjiitp.H, ijuo ciimiulinon á voiwa uiorto !
KBAM0I8UO u'^f(puADI!, PlltUlCIltO QBKCO D« DIU,
' oaiit. 12,0!ít: 120.
— «A luosnia Viaiina arma hoje como
Q.i;itaõ, BC qiior trus mivio», o i^orto qua-
tro, Lisboa seÍ3, Sctuval tre:<, o Algarve
c^utro» três, o KlUey ajuiitolhe tlous ga-
leons por Cajjitanias : e eia aiii huma ar-
mada, do, vinte velas com dtuvi .esqua-
dras; e armo-se imma bolça só para isto
do gente vokiutaria, e livre, e vovcmoa
lo):!;o as not^sm barbas sem vitupérios.»
Arte de iintar, eap. 2i5.
VITUPERIOSO, A, udj. Que encerra,
contém vitupério. — Palavras vituperio-
sas.-. ,. ■ ■■•'■'.- -■ I, ■ V- ;.jV .n
VITUPER03AMENTE, ado. (De vitupe-
roso, coui D sullixo «mente»). De um
nioilu vituperoso.
-^Coni vitupério.
— Vcrgouhosainento.
VITUPEROSO, A, ailj. I.t;nomiuioso, op-
probrioso. — Gesfou vituperosos.
-j- VIU. Fórraa do verbo vêr na ter-
ceira pessoa do singular do pretérito per-
feito do modo indicativo. Vid. Vio, e Vêr.
— «Estando posto em tão gram eoufn-
sào, viu (pio do alto da rocha, té cho-
gar a cUe deixavam pendurar um ccáto
velho e roto por um eoi'del tão fraco o
delgado, que.pavoçja quo o peso do met^-
mo cesto nào podia suster.» Francisco
de Moi-aos, Palmeirim d'Inglaterra, cap.
■9.9», rrr «.Açinia. delles viu o em que esta-
va o vulto de Miraguarda, a quem, em
o voudo, não soube negar a vantagem,
que havia delle a sua senhora, Targiana ;
porém de muito coufiiwlo oiu si o no quo
lhe queria, determinou seguir sua eniprc-
za: o, por ser tarde, esperou té outro «lia,
dormindo a noite no campo.» Ibidem, cnp.
71, — «Quando o do tíalvage o viu tâl,
chegou junto domle fôx-a a queda, o veij-
do-o desamiiarado da vida, iiQOU de todo
coatei\te ; c acudindo a suas feridíis, que
tinhiii necessidade do remédio, a douzelia
o o ,SQU escudeiro lh'a3 aportarauí o me-
lh,OT que pqderam.» Ibidem, cap. 107.
— 1 « O escudeiro se foi ao apousento ila
i'alnln\, onde também achou el-rei, que
jantilra com ella, o lant;ando os olhoa a
toda a casa, posto que viu muitiis ilauijas
e.a\g\imas formosas, bem Uie pareceu, ijue
tudo o quQ via em compavaçii» ila gi^au-
doaa, da. corte do ini[t::rador, na ipial Já
ostivoi"a, era quasl uada.n Ibidem, cap.
123,, — «Chegaudo ;i borda d''agoa viu
que da outra parto do rio um cavalleiro
gramle <le corpo, armado d'armaH (l'a/.id
e ouro e uo escudo cm campo du prata
um ieílo dourado, tiidia a seus pés uma
doiiKclla poios cabelloH, quo do longe jia-
rociam formosos o taça, que uAo more-
ciauí tratarem-noa assim : tinlm a osparia
jjua na m?io, com quu a amolava, di/.en-
do.» Ibidem, cap. 128. — «O/t/ ijwiln
capnt! sed cereòrum. noa haòet. As!«ini o
escreve Horácio, quo, ainda que doente
doa olhos, nilo duvidara affirmar que viu
o caso; nem Homero, ainda (jue cego o
dorndiihoco, iis vezes.» líispo do (!riio
l'ará. Memorias, publicada.? por Camillo
Castello lir.-inco, jiag. 4d.
VldDEZ, s. in. Termo pouco em uso.
Viuvez.
• VIUVA, s. f. Mulher, cujo mariílo é
fallecido. Vid. Viuvo.
— Uma flor d'e8to nome, roxa.
— Uma ave preta com uma longa pen-
na 110 rabo.
VIUVAR, V. a. Perder a mulher o ma-
rido, ou este a nmlhcr por morte.
— Figuradamente : Ser privado de
grande bem.
VIUVEZ, 8. /. O estado de viuva, ou
viuvo.
VIUVEZA, s. /. Viuvez.
VIUVIDADE, s. /. Vid. Viuvez.
1.) VIUVO, s. 111. Homem cuja nmlhcr
ó fallecida.
2.) VIUVO, A, adj. Que é viuvo. —
O esposo viuvo c triste.
Perdendo ;i :lura dosCéos, mui breve, Epicharis,
Lcthoaa ondas vaguear muco c triste
As via o c3|)oso ; e só cobrava allivio
Em ter uo gróuiio seu, o penhor uiiico
Da amante união.
F. U. DO ■ASnUENTO, OS MARTYBKS, 1Í7. 1.
— Figuradamente : Igrejas viuvas de
seus prelados. — A pátria viuva.
VIVA, s. m. — Dar os vivas ; desejar
a vida.
— Figuradamente : Dar os vivas ; ap-.
plaudir.
VIVACE. Vid. Vivaz.
. — Termo de botamca. Raiz vivace.
VIVACIDADE, s. /. ^Do latim vicaci-
tas). Tromptidão em obrar, em se mo-
ver.
— Promptidão com que se faz uma
cousa. — A vivacidade tio combate, da
disputa.
— Força com que são experimentadas
as iiaixões, os sentimentos, etc. — .íI vi-
vacidade '/a.s paijiões. — A vivacidade
das seihsa(;(ks.
— Penetraç.^o rápida.
— .íi vivacidade do espirito, da ima-
ginaqão; a promptid.ão cm conceber, cm
imiigLuar.
— Disposiç.Hi) do um cjiracter vivo.
— Diz-se de unia linguagem i'nde rei-
na algum arrebatamento.
— Petulâncias. — Mil vivacidades «le
patsaiu pela cabeça.
— Toniíi-HC algumao vozea pór ienti-
bilidad*..
— Diz-RO daa (j/jroí quo tem brilho. —
Vivacidade d/u róreê.
— Ter vivacidade luj» olh>a; ter o»
olhoH brilhantes e ch<;ioa de fogo.
Por extons.li) : Diz-se do e«tylo.
— Termo de botânica. T>iz-«eda« plan-
tas viv.a/es. que nSo morrem cada aiino,
VIVACISSIMO, A, adj. tupert. áu Vi-
vaz, i; Vjvace. Míd vivaz.
VIVAMENTE, ude. (D,-, vivo, com o
BuíTixo ■! monte»). Com vivacidade, com
acrimofda, jiromptidAo.
— Com energia, força, efficacia.
— Ao vivo.
VIVANDEIRO, A, adj. e *. (Do fran-
cez eicdiídier). Aquelie <]ue vende vive-
res, e que os leva atraz doa cxcrcitoA.
VIVAZ, aJj. 2 ffen. CDo latim i-íiox).
Que t<:m cm si os pnncipioa do uma lon-
ga viila. — líomem vivaz.
— Ti-rnio de botânica. Diz-ee de uma
planta herbácea que dura muitos anuo»,
sem conservar comtudo as bastea que
sustenta todos os annos na primavera:
opp3c-fo a annual e bi-annual.
— Figuradamente : Difficil de des-
truir. — Revwrsu vivaz. — Prejuízo vi-
vaz.
VIVEDOR, A, adj. Vivaz.
— Quo .sabe grangear a vida rom in-
dustria, boa astúcia, e prudenci:;
VIVEDOURO. Vid. Vividouro.
VIVEIRO, 8. írt, (Do latim vivariui,.
Tanque onde se criam peixes ; casj» on-
de se criam avos, coelhos, lebres, etc.
— Figuradamente : Terra tpu é um
viveiro de todo o inal; terra onde elles
habiiauí, se conservam e propagam.
— Viveiro de plantas; a terra onde
estão as plantas tenra.s nascidas para se
disporem. Vid. Seminário, Sementeira, e
Criadouro.
— Viveiro das aves que fazem cria-
ção.
VIVENDA, s. j. Acç3o de viver domi-
ciliado om algum logar; assento. — Ca-
sas de vivenda.
— O viver, o passadio em algum lo-
gar.
— Loc. : Ir de viveuda para alguma
parte ; ir para fazer assento, e pôr alli
caaa.
— Comportiimento.
— Termo antiquado. Modo de ganhar
a vida. o nocesí-ario para a subsistência.
VIVENTAR, t. a. Vid. Aviventar.
VIVENTE, iKirt. act. de Viver.
— S. 2 ycit. Tudo o que vive. — «To-
do o viuente neste tempo dorme fora de
casa, até os caualos por n.^o abafarem,
vão dormir a prava do mar: e certo que
só dos jirezos se po le auer lastima, e
paixão.» Fr. Uasptir de iá. Bcroardino,
Itinerário da índia, cap. 11.
VIVE
VIVE
VIVE
977
Eu levo o contrario dos no céo viventes,
E vós, Mocidade e Velhice, tomae.
ANTÓNIO PBKSTES, AUTOS, pag. 101.
— «Nâo havia vivente daquelles, a
quem em honra da sua qualidade chama-
mos insectos, que não trabalhasse, e que
nào desse os dias da vida pela sua susten-
tação, e conservação, metendo-lhe pelos
olhos, ou por bayxo delles os seus obsé-
quios.» Cavalleiro d'01iveira, Cartas, liv.
1, n.o 45.
« São teus olhos dé carne como os d'homem ?
Como elles ves e julgas? — Porque ao dia.
Do cárcere materno, me lias trazido?
Oxalá que eu uào visto perecera
De olho nenhum vivente, e houvera sido
Como se nunca fosse, — trasladado
Do ventre á sepultura !
OABRETT, CAMÕES, cant. 2, cap. 5.
Quanta nos Ceos, nos Asti-os se descobre.
Como viventes móuadas la formão
Hum Jlundo á parte tão maravilhoso.
J. A. DB UACEDO, A NATUBEZA, Cant. 3.
— Pessoa que vive.
— Diz-se também um bom vivente,
oriundo do francez un bon vivant, d'um
homem de humor fácil e alegre.
— Termo de theologia. Diz-se d'aquel-
les que gozam da eterna bemaventurança.
— O que tem vida. — Depois de ter
provado que o vivente é o que custa me-
nos á natureza, busco quaes são as cau-
sas principaes da morte, da destruição.
— O homem, o animal, logo que vive.
VIVER, V. n. (Do latim vivere). Ter
vida, estar vivo, com vida animal, vege-
tal, ou a que convém aos entes immor-
taes. — As aves vivem no ar, e os pei-
xes na agua. — Indigno de viver e de
morrer, abandonaram-no ás mãos qtie se
dignaram nutril-o. — Quanto mais vive-
mos, tanto mais gostamos de viver, mes-
mo sein nada gozar. — Os carvalhos vi-
vem por muito tempo. — «Condecende-
rào todos nesta petição, e partindose do
lugar de Gei'tigos, a quem desde então
atègora íicou o nome de Wamba, por
memoria de sua eleição, chegarão a To-
ledo em cuja Igi"eja foy ungido hum Do-
mingo aos dezanove de Setembro, que
com esta particularidade vay S. Juliano
Arcebispo de Toledo, especiticando as
cousas delRey, como quem então vivia,
e era testemunha de tudo quanto passa-
va.» Monarchia Lusitana, liv. 6, cap. 24.
E sem fazer differença
No quo de mi possuis.
Pelo pouco que sentis.
Dais á minh'alma doença.
Porque dous aventurais ?
. Oh não seja o damno nosso !
Sangre-se este corpo vosso,
Por<iuo, minha alma, vivais.
CAM., UEDONDILUAS.
TOL. V. — 123.
Vojào-se 03 bens que tiverão
Os que mais em alcançar-te
Se eamerárào ;
Que huus vivendo, não viverão,
E outros, só com deisar-te.
Descansarão.
IDEU, CABTA 2.
Nús n'esto mundo nascemos
e nús sayremos d'eUe,
n'e!te meyo que vivemos
Soo rico he aquelle
que ser contente sabemos :
E que grandes bens vos dessem
aquelles que vol-os deram,
eu sei bem que nús nasceram
e antes que os tivessem
he certo que nam tiveram.
CHBISTOVÃO FALCÃO, OBRAS, pag.
O seu formoso parecer
Me faz en tal cuita viver
Qual non posso neu sei dizer,
E moiro querendo lie ben ;
Esto me faz amor sofirer,
De.í que me vin ãc Santarém.
TROVAS E CANTARES, U." 121,
— «Alli estaua aquelle diuino sacrifí-
cio abrasado nas viuas chamas do diuino
fogo de sua immensa charidade. Quis o
justo Deos pagar por nós, pêra que como
diz Damasceno, per justiça ficássemos
iiures do antigo tirano, resgatados cõ o
preço de seu precioso sangue. Morreo
pêra que nós viuessemos, e quis cõ sua
morte triumphar da morte: como elle ti-
nha dito pelo propheta.» Heitor Pinto,
Dialogo da Justiça, cap. 10. — «No ca-
bo do qual se não pagauam lhes vendiam
seus moueis, e eiixouaes, publicamente
empregaõ per muito menos do que va-
lião pela qual deshumanidade os mais dos
executores desta Cruzada ouuerão ma
fim, de que naõ quero dizer os nomes,
por os filhos, e netos dalguns destes ain-
da viverem.» Damião de Góes, Chronica
de D. Manoel, part. 3, cap. Õ6. — «Era
mui caridoso, e fez em quanto viueo mui-
tas esmolas no reino, e fora d'elle a mui-
tas pessoas, e casas d'oraçaui, e ha Sau-
cta casa de Hierusalem, e do monte si-
nal daua cadanno a todolos frades da
Obseruancia da Ordem de Sam Francis-
co de seus reinos todo o pano que lhes
era necessário pêra se vestirem.» Ibidem,
part. 4, cap. 8(5. — «Finalmente quis
morrer, pêra que uòs viuessemos : pêra
que com sua morte matasse a morte, assi
eterna, como temporal. O qual se cum-
prirá no dia da resurreiçam geeral, assi
como elle auia ameaçado à morte, pello
Propheta Oseas, dizendo, morte eu serei
tua morte, que quer dizer, eu te mata-
rei.» Fr. Bartholomeu dos Martyres, Ca-
tecismo da doutrina christã. — «Tam-
bém senhor porque este corpo mortal
nam pode viuer, e seruir ao Spiritu sem
ter hum pedaço de pam pêra comer, dai-
nolo Senhor. Nam pedimos riquezas, e
superfluidades, nam queremos ser solíci-
tos (conforme a vosso Mandamento) pollo
mantimento dos annos ou dias que vi-
ram, 03 quaes por ventura nunca vere-
mos, somente do mantimento que baste .
pêra este dia nos fazey mercê.» Ibidem.
— «O qual na sua primeyra Epistola nos
ensina a conhecer se viuemos ou se an-
damos mortos diante de DE(JS, dizendo,
Quem nam ama, nam tem vida. A vida
da alma, he amor de DEOS e do próxi-
mo, e por isso quem nam ama, dayo por
morto. Deos he charidade : e por isso
quem permanece em charidade, permane-
ce em DEOS, e DEOS nelle. E este
amor se esta na alma ou nam, nas obras
se conhece.» Ibidem. — «Não sey se vive,
porém quanto á sua memoria hade ser
tão durável como a do Drago.» Cavallei-
ro d'01iveira. Cartas, liv. 1, n.° 49.
Que ter para não viver
é melhor sem ter morrer,
ter sem vida não sostem .
ANTÓNIO PRESTES, AUTOS, pag. 415.
— «Desde que este amor não consiga,
que te dês, com elle, por ditoso, sem elle
viver posso, mas sem a tua estima não :
razão essa pela qual tão impaciente es-
tou de vèr-tc ; não creias porém que ó
por afFecto; que louca eu fora se quises-
se bem a quem assim me trata. E' cóle-
ra, mas quem a cauea, é... amor. Que
não te assomarias tu a pontos táes, se
excesso de amor não militasse em ti.»
Francisco Manoel do Nascimento, Succes-
sos de madame de Seneterre.
Vivem, no undoso pego, as praias buscào,
Aura mais doce, e branda alli rcspirão.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Caut. 3.
— Fazer viver; prolongar a existên-
cia. — O regimen rigoroso que elle segue,
o faz viver.
— Morar, habitar, ter vivenda. — Vi-
ver na capital, que mais distracções pô-
de offerecer. — «E porque per este nome
Rey elles se intitulaõ do melhor sob-
bjecto que be da jurisdicçaõ dos homens,
chamâse Rey e naõ senhores, ou diremos
que o fazem porque nomeandose por Reis
da terra, entendese que o saõ dos ho-
mens que viuem nella.» Barros, Década
1, liv. G, cap. 1. — «Este tanto que te-
ue noticia dos nossos nauios, e que a
gente delles era estrangeira, saio de hum
lugar onde elle viuia chamado Onor per-
to dalli : e como homem sagaz quis co-
metter os nossos per este artificio, ajun-
tando oito navios de remo pegados hums
em outros todos cubertos de rama que
parecião huma grande balsa delia.» Ibi-
dem, liv. 4, cap. 11. — «Com a chega-
da do junco ficou elle senhor daquella
passagem de maneira, que a gente da
maior povoação da Cidade, que era da
978
VIVE
VIVE
VIVE
parte do Upi, nilo podia passar a outra
oude ElRoy vivia, que AÍToiíio u'All)o-
querquo toiuoti.» Idimi, Década k), liv. O,
cap. í5. — «Da qual lllia iiiiiiidoii hum
preaento a Affonso d'Alljoqiic;rqu(; de cer-
tos fardos do lenho aloc, c de liuma iiias-
aa da ospecio íKí lacre, (|uc ciitri! olK a
servo Uo verniz; dizendo que aquella ora
a fruta da sua tona; e poato que nella
fosso livre, quo seu desejo era f;izer-Bo
vassaiJo d'ElKcy de Portnpal, o vir vi-
ver a Malaca ao «orvir, se aprouvesse a
elle Ciipitilo mór.» Ibidem, cap. 7. — «A
Hustancia da qual embaixada era liança
de amizade, e ([uc ]wh ellc tinha dostrui-
do aqiielle tyraiino, i[Uo tanto tcmjio lhe
fora roucl e nunca jiodôra castigar, que
dalii cm diante podia mandar os seus
pouos do Siíio viver áquella cidade, jior-
quc seriilo trattados nella como oa pi-o-
prios Portugueses." Ibidem. — - «N'esta
t^rra vivia naquellc tempo hum prineipo
du senliorio e estado pequeno por nomo
Turbno, o qual dizem quo sendo mance-
bo solteyro ouvora três filhos n'uma mci-
Ihcr por nome Nancaa a que em estnmo
era ajffeiçoado, de que a Riynha viuva
niSy dclle tinlia nmyto grande desgosto.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações, ca-
pitulo 92.
O meu paterno Avô foi profesaoi-
Do latim, que rusinou ou bem, ou mal ;
E o materuo riren no seu cazal,
De que inda agora cu mesmo sou senhor.
ABBADF. DE JAZENTE, POESIAS, pag. 93.
— «Esta ilha do Moçambique tem mul-
to bom porto, jaz em terra baixa alaga-
diça, c doentia, hos principaes dolla craõ
mouros baços de diuersas nações, que
tratauào dalli pêra muitas parte.'^, ho-;
naturacs saõ negros, assi hos da ilha,
quomo da torra firme, viuem em casas
de taipa cubertas de palha.» Damiào de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 1,
cap. 36. — «Viuem em cauernas de ro-
chas, o choupaníis, nam tem lei, crem
muito om agouros: guardam matrimonio,
c sam nuiito ciosos de suas molhcres, nas
quaos cousas se parecem com os Lapos
que também viuem debaixo do Norto,
de Ixx ate Ixxxv grãos sugcitos aos Reis
de Norocga, o Suécia, aos quaes pagam
tributo, licandu sempre om sua gentilida-
de por falta de doctrina.» Ibidem, cap. (57.
— «Aliem destes viuião nella muitos ea-
ualeiros, naturais da mesma ilha, ricos, o
abastados, que seutrctinluMÍo do suas he-
ranças, o soldo que ganhauào no tempo
da guerra.» Damião de Gocs, Ghrouica
de D. Manoel, part. 3, cap. 3. — «Pas-
sada esta de cindi\ estam as da laoa
miuor, o menor, que tem cada huma del-
ias Rei que habitam no sertam das ilhas,
o saõ gentios, assi clles como seus vas-
sallos, excepto os que vivem nos portos
do mar que sam mouros, saõ ambas mui-
to fertilos de mantimentos, fructas, ca-
ças, criaçoens de gado grosso, o cauallos
pequenos como quartaos.» Ibidem, cap.
41. — <E assi tnmbeni na Epistola c
Euangeliio nos traz doutrina muy a pro-
pósito jtera nito imitarmos as quedas, e
peccados de nossos primeyros Padres,
passados, o presentes. E aumariannmte
no.s quer dizer, que entendamos a condi-
çam do mundo, o terra cm que viuemos,
e que saybamos (juo nam fomos lançados
nella pêra folgar, descansar, e dcleytar
nossa carne, mas jiara [lelejar, pcra tra-
balhar, e gardiar Cor(ia.i> Frei Bartholo-
meu dos Martyros, Catecismo da doutri-
na cbristã. - — «E dcyxada a toruaçam
que desta nona teue o maldito Herodes,
e todolos mãos que viuiam em Jerusa-
lém, todauia alli pelos Doutores <la ley
foram informados qne se era nascido,
nam podia ser seu.io em Belém porque
assi estaua Prophetizado. » Ibidem. —
«Edificarão aqui estes Fidalgos suas tor-
res, e casas fortes doude viviaõ; assim
para se defenderem dos rebates doA Mou-
ros, como por ser este modo de edificar
casas fortes no campo, próprio das na-
çoens do Norte, como ainda hoje se vè
cm toda a França, Alemanha, e lugla-
tjria.B Severim do Faria, Noticias de
Portugal, Disc. 3, cap. 2. — «Os Rjys
de Armas tem obrigação neste Reyno,
segundo o Regimento, que lhes deu El-
Rev D. Manoel, de cada hum em sua
Província fazer hum livro, em que se es-
crcvaõ todas as Famílias dos Nobres, e
Fidalgos, que nella vivem, -apontando os
casamentos, e filhos, que cada hum ha;
o fazendo disso arvores certas, e distin-
tas com seus nomes.» Ibidem, cap. 18.
— «Provável é que Adolpho nunca ima-
ginou em contractar se com Miss Anna
Blrton, que com effeito é tão formosa
como nol-a pintarão; porquanto tudo é
instar-me que deixemos Londres, cuja
vivência uão me é de agrado, c que eom-
prômos algum prédiuzinho om que cu
possa socegadamente viver, o segundo o
teor a que era habituada.» Francisco
Manoel d<> Na-^clmcuto, Successos de ma-
dame de Seneterre.
— Viver lihipii e virtuosamente ; fcsr
uma vida limpa, pura, e cheia de virtu-
des.. — «E este celestial prií.goeyro (diz
S. Marcos) andaua vestido do cilicio do
eabehw de camello, e cingido com huma
cinta de pelle, e o seu mantimento era
gafanhotos, e mel montesinho: e a.ssi pree-
gaua a todos que fizessem penitencia,
que mudassem as vidas: e os que se con-
uertlam com sua pregaçam, bautizauaos
no rio lordam cm sinal de penitencia:
porque daquella maneira professanam a
mudança da vida, e querer dalli por
diante viuer limpa o virtuosamente.»
Frei Bart!iolonieu dos Martyrcs, Catecis-
mo da doutrina cbristã.
— Viver trintn ânuos; durar trinta an-
noa; ter trinta ânuos de rida. — f A pri-
meira historia contou-a frei JoSo de S.
Pedro que viveu trinta aimos voluntaria-
mente inclaustrado iio mosteiro de Ren-
diifTe. A segunda passou com meu primo
D. José da (jloria, geral dos cruzios.
Sempre ó bom> por isso, «Tvir ao tribu-
iial lio santo oflicio e estar bem entabola-
do com a ordem. Nunca vi sair em Por-
tugal jesuítas, nem ilomiiiic s cm auto de
fc'-.» Bispo do (irito Pari, Memorias, pu-
blicadas por Camillo Castello Branco,
pag, 90.
— Viver como chrintSo; viver segando
a lei de Christo, seguindo as virtudes
christãs. — . De maneira irm2o8 que a
primeira pedra que aucnios do lançar
neste editicio de no.^sa' penitencia, he
hum quero muy dcterminaJo, s. querp
daqui jmr diante viuer como ChristSo, e
com o fauor diuino guardar todolos pre-
ccytos e mandamentos de meu Deos,
quebrar e esmiuçar a dureza de minha
vontade, resistindo a todolos appetitcs
que se iiella aleuautarem contra a vonta-
de e Ley de meu Senhor lESV CHRIS-
TO.» Frei Bartholomeu dos Martyres,
Catecismo da doutrina cbristã. — «Sc
tu determinas viuer como Curistam, apa-
relhate pêra sofl"reres pedradas, porque
sem duuida nam haõ de faltar apedrcja-
dores (que sara, o demónio, carne, e
mundo) então se ham do aperceber con-
tra ti cora mais e mayorcs pedras de
tentações. £ se ainda isto naõ tens ex-
perimentado, sinal he que nam ions a
vida de todo emmen'Ja'la (uomo diz San-
cto Augustiuho).» Ibidem.
— Viver quieta e privalameniê^ ter
uma vida socegada e particular. — «Tan-
to que 08 Emperadores Diocleciano, e
Maximiano, renunciada a Monarchla se
rctlràraí) a viver quieta e privadamente,
como deyxamos ct^ntido, ficàraõ com o
governo absoluto do império Constàcio,
c Galerio Armentario. » Honarchia Lusi-
tana, Hv. õ, cap. 24.
— Viver cijin alffuem; viver em sua
com()auhia. — «Hos com que viuem fa-
zem caualleiros aos m.-^trcs que h>^>s en-
sinaõ, a que ehamau Panlcàes, sau taS
obedientes em moços, e depois de ho-
mens, que em qualquer parte que hos
acliaò ae iançaõ de bruços diante deiles,
e hos adoraò quomo se fossem idolos: aho
Rei arma cauallelro ho Pânica que ho
ensinou.» I)«miào do Go>?. Chronica de
D. Manoel, part. 1, cap. 42.
— Viver mcd e aujametúe ; ter vida ea-
eandalosa e indecente. — «Nenhum des-
tes sacerdotes tem mtdheres, mas vivem
mal e sujamente. Ho primeiro dia do
anno, que he na lua nova de março fa-
zem por toia ha terra muito grandes fes-
tas, visitam SL> huns a outros, c andam
os grandes prl:;eipalniontc em grandes
bant(Ui'tes.» Fernão Mendes Pinto, Pere-
grinações, eap. 37.
VIVE
VIVE
VIVE
979
— Aliinentar-se, snstentar-se. — «O
mais seguro meio de lucrar muito, é não
querer lucrar demasiado, e saber perder
a tempo. Faz que os estrangeiros te esti-
mem : passa-lhes alguma cousa : evita que
te aborreçam por altivo ; e observa con-
stantemente as kds do commercio : sejam
estas siuiples e claras: costuma teus po-
vos a cumpril-as inviolavelmente ; pune
com severidade a fraude, e inda a negli-
gencia, ou o luso dos negociantes; pois
tudo isso arruina o commercio, arruinan-
do os homens que d'elle vivem, p Fran-
cisco Manoel do Nascimento, e Manoel
de Sousa, Telemaco, liv. o. — «O que
nunca se pôde extinguir é uma casta de
gente que vive junta á freguezia de San-
t'Anna do Capim em treze ou quatorze
casas todas <le uma família chamada Bra-
gas. — D'esta família ha uma oii outra
casa que vive com honra. — Os Bragas
misturados com negros ou cafuzes, vivem
como ciganos e como gente do corso.»
Bispo do Grrão Pará, Memorias, publica-
das por Camillo Castello Branco, pag. 201.
— Vivendo; em vida. — «Chegou pela
posta a Inglaterra (donde alguns affir-
maõ, que sua mãy era natural) estando
Constâncio agonizando cõ a morte, como
quer o Jletaphrastes, onde foy aclamado
Emperador das Províncias, e exércitos
que o pay governara vivendo.» Monar-
chia Lusitana, liv. 5, cap. 24. — «Suc-
cedeolhe no estado, e crueldade contra
03 Christàos, seu filho Halid, Abul, (rna-
lidaben, Abdul Melich, íbi, Marvan,
chamado entre os Árabes Espada de
Dcos, pelo muito sangue que derramou
vivendo, entre as primeiras empresas
que cometeo foy huma delias a de Afri-
ca, por saber que os naturaes da terra
canssados de sofrer as tyranias dos Ára-
bes, se tinhaõ rebelado, e posto a cute-
lo, huma grande copia delles.» Ibidem,
liv. 6, cap. 30.
— Viver na cadeira de S. Pedro sete
annos ; viver no pontificado por espaço de
sete annos; ser pontífice sete annos. —
«Viveo Sérgio na cadeira de Saõ Pedi-o
sete annos, e quatro mezes, e dezaseís
dias, e tendo precedido grandes sinaes
no Ceo, morreo de sua enfermidade, e
lhe succedeo Auastasio terceiro do nome,
que em dous annos, que os Authores lhe
assinaõ de governo, não fez outra cousa
digna de memoria, mais que naõ perse-
guir o credito de seus predecessores.»
Monarchia Lusitana, liv. 7, cap. 2õ.
— Viver setenta e seis annos; ter vi-
da, durar por espaço de setenta e seis
annos. — «Viveo el Rei setenta e seis an-
nos, quatro mezes, e nove dias, dos quaas
Heinou quarenta e oito, e faleceo no an-
no de Christo mil e quatrocentos e trinta
e quatro. Jaz sepultado no Mosteiro da
Batalha que elle fundou.» Frei Bernardo
de Brito, Elogios dos reis de Portugal,
continuados por D. José Barbosa.
— Viver alegre e contente; levar uma
vida alegre, jucunda, e jovial.
Saiba ja temer ;
E pelo que vio
Julgue o qu'ha de ser.
Alegre viiia.
CAM., REDONDILH.IS.
— «E posto que o imperador tào ale-
gre e contente vivesse naquelles dias,
nem por isso perdia o desejo de ver seus
netos Palmeirim e Fioriano, com cujas
obras sabia que as dos outros homens po-
diam estar em quedo. » Francisco de Mo-
raes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 90.
Aqui da negra inveja
Jamais me infama o bafo pestilente :
Do que aos outros sobeja,
Bem que me falte a mira, vivo conteute :
Porção pequena de qualquer comida
Basta para mauter-me a curta vida.
J. X. DE MATTOS, ElMAS, pag. 117.
Prima, já agora me prezo
de me não prezar de mi ;
vós si, que viveis contente,
tendes outro pensamento.
ANTÓNIO PIIESTES, AUTOS, pag. Í5.31.
— Viver sem conhecimento de Deus ;
viver 110 seio do paganismo ; viver como
pagãos. — «Ha festa faz se toda ha noi-
te, porque todos os gentios assi como an-
dam em escuridade vivendo sem conhe-
cimento de Deos, assi todas suas festas
por todas as partes da índia e da china
principalmeníe as fazem de noite. Ha
nestas festas muita abundança de comer
e muito vinho, toda ha noite gastam em
comer e beber e musicas e diversos tan-
geres com diversos instrumentos.» Frei
Gaspar da Cruz, Tratado das cousas da
China, cap. 14.
— Viver socegadamente ; ter uma viila
soeegada, e plácida. — «Provável é que
Adolpho nunca imaginou em contractar
se com Miss Auna Birton, que com eflci-
to é tão formosa como nol-a pintarão ;
porquanto tudo é instar-me que deixemos
Londres, cuja vivenda não me é de agra-
do, e que compremos algum prédiozinho
em que eu possa socegadamente viver, c
segundo o teor a que era habituada.»
Francisco Manoel do Nascimento, Suoces-
sos de madame de Seneterre.
— Quando vivo, e crescendo. — <tOra
irmãos neste dia do bemauenturado con-
cebimento da Virgem, chore cada hum os
males em que foy concebido, e nascido, c
despois viuendo acrecentou, e diga cada
hum por si. O miserauel de mim : que alem
dos males em que minha mãy me coaoe-
beo, e pario, toda a vida gastey em acre-
centar, e me çujar de outros mayores.»
Frei Bartholomeu dos Martyres, Catecis-
mo da doutrina christã, liv. 2.
— Tratar-se. — «Quem não sabe viver
com as que tem sendo bastantes, he igno-
rante : Quem deseja, e trabalha por aug-
mentar ás necessárias as supertiuas, he
desgraçado. Destes últimos loucos he-
grande o numero, dos ignorantes he infi-
nito, e o dos ditosos póde-se contar pelos
dedos.» Cavalleiro d'01iveira. Cartas,
liv. 2, n.° 71. — (lE como a seccura he
principio da desolaçaã da natureza ; por-
que vivemos do seo contrario, qual he o
húmido radical ; (fundamento que tiveraõ
os Estóicos para affirmarem, que o Uni-
verso teve o seo principio da humidade,)
bem pode o Medico na prezer.ça da sec-
cura nimia predizer pestes. Epidemias,
febres araentes, Erysipelas, e outros ma-
les deste género, como tem Galeno.»
Braz Luiz d'Abreu, Portugal medico, pag.
415, § Õ7.
— Não poder viver muito; não poder
durar muito, — • «Quando se vio ante elle
começou de chorar, dizendo quão desam-
parado ficava sem sua presença, e tão te-
meroso de sua vida, por as cousas de
llaez Hamed, que lhe parecia nào poder
viver muito.» Barros, Década 2, liv. 10,
cap. 8.
— Viver em boa intelligencia ; viver de
harmonia, com amizade. — «Hum pomo
do ouro poz toda a Corto Celeste em ru-
mor, fazendo de três Deosas que vivião
antecedentemente em boa intelligencia,
três inimigas irreconciliáveis.» Cavalleiro
d'01iveira. Cartas, liv. 1, n." 11.
— Tornar a viver; viver segunda vez,
de novo.
Em mui sancto e limpo estado,
Soccorrei íio namorado,
Que vós sejais namoradas.
Oh coitado !
Ai triste desatinado
Ainda torno a viver ;
Cuidei que ja era livrado.
Qu'esforço de namorado
E que prazer !
GIL VICESTE, FARÇA3.
— Viver ewi paz ; viver pacificamente,
ter uma vida pacifica. — «Tãbem ficamos
sabendo como avia gente de presidio nos
lugares fortes de Portugal, sem bastar a
grande paz em que jâ viviaõ, para os
Romanos se darem por seguros da feroci-
dade e animo guerreiro dos naturaes da
terra.» Monarchia Lusitana, liv. 5, cap.
9. — «O officio do Príncipe he procurar,
que seus vassallos vivaõ em paz : e por
isso quando o juraõ, leva na maõ direita
o Sceptro, com que ha de governar o po-
vo em paz.» Arte de furtar, cap. 19.
— Conservar-se.
Eis-me CO a fazenda assi,
viverei com esta fazenda,
esta fazenda, de mi.
AMTONIO PRESTES, AUTOS, pag. 407.
— Exiãtir, haver.
980
VIVK
Vivia At»tría com o» inortafiu, vivia
O fraternal aiiiur, u a \>m ditosa.
J. A. I)K MAi;K1)0, a NArUHKZA, caiit. 2.
— Fifíurailamoiite: A alma vive; a
alma <j iiiimortul.
— O passariíi/iu toma ajf'iii(;ã<i aos ferros
da (jaiola em </ne vive. — «Um loào, oiu
poquono se rtiimii(;a. Aod próprios ferros
lia t,'iiiola, em ((uc vive pruao, toinii affeiç^o
um i)assarinho; scfulo aquellc por seu na-
tural feroz, e cstu livre. È a creação ou-
tro 80<;uii'.lo nascimento; c, ao cm alguma
cousa diíFere do primeiro, é só om ser
mais poderoso Mte sc<?undo.» D. Fran-
cisco Manoel de Mello, CarU de guia de
casados.
— Fiiíuradanionte : Sustoutar-se, iiu-
trir-86. — «Mas ponderay a palaura, Kx-
2>iicians, não 'li/, drsojando, nem amando,
senaò esporando, porque o alento com que
a alma viue, do que se sustenta, o os
neruos da repubrlea, saõ esperanças, des-
sas naco amor, nace ousadia, naco esfor-
ço, com essas se conquista o ceo, e a ter-
ra.» Paiva de Andrade, Sermões, part. 1,
pag. 105.
Viver (Vamor penando; viver amo-
rosamente penando.
Quanto for mais avisado
Quem d'amor vive penando,
Tcra menos siso amando,
Forque lie mais namorado.
OIL VICKÍITB, FAUÇAS.
— Viver descan(;ado ; viver placidameu-
te, sem inquietação.
K estas cousas dam plazer,
e riquezas dam cuydado,
ostas fazem non temer
terremotos, uom morrer,
o. mais viuiT descansado.
OABCIA DE BKZKNDB, MI3CEL1.ANEA.
— Fisuradamentc : Viver « esi>eyança.
Perco a esperança
Kas mostras que vejo;
Mas no meu dczojo
Vive a. esperança.
Croaco o meu cuidado,
Vojo-mo perdido ;
E, inda que olíeudido.
Mais .atírtiçoado.
K. HODumuEs i.ono, o desenoasado
— Viver pobre; lovar uma vida cheia
do pobreza, viver pobremente.
E ho mellior som mais contenda
Viver pobre neste mato,
Que entre os homens com sou trato,
Tor cabras, liom-a e fazenda,
r. KODiuauKs lobo, éclogas.
— Ensinar a viver ; ensinar a por-
tar-se d'uma certa maneira com relação
aos costumes, á religião. — Viver santa-
VIVE
mente. — Não saber viver o peccadifr. — 1
Viver niiindmenie. — « Nara sabe viver o I
puecador, nani tem vida o carnal, anti-s
sua vida lie destruyçauí da vida. Dizem
os iillios deste mundo, que boa vida In;
tratar Inim liomem bem sou corpo, o nam
padiicer trabalhos ou tribulaçHes. Mas
leomo diz o inetnir) sancto) os mintiro.sos
a si mesmos montem. Boa vida (diz cUe)
liam he outra cousa se nam neste mundo
niuytos. bons faier muyto» males cò pa-
ciência padecer, o nisto te a morte per-
seuiirur e pcn-manecer.» Frei Bartlioloincu
dos Martyres, Catecismo da doutrina
christã. — «Sam Marco<, cm Alexandria
ataila bua corda ao pescoço foy arrastra-
do jioUa cidade, te es[)irar. Assi acabara
estes iiicnsa;ícyros cnuiados [lor Deos. Ks-
tes sain os verdadeiros mestres da vida,
([ue j)or nos dar vida morreram, por nos
ensinar a viuer perderam sua vida. r> Ibi-
dem.
— Viver alcançado; viver empenhado,
viver com uma dospcza superior si recei-
ta.— «Responde-llie: de graça dczejara
servir a v. m. mas vive hum homom al-
cançado, e sustenta casa com esto ofScio,
de v. m. o que quizcr. E se o requeren-
te insta, que lhe iliga ao certo o que de-
ve, por que naõ traz ordem para dar
mais, nem he bera que dé meãos?» Arte
de furtar, cap. 59.
— Expressão que se emprega para in-
dicar que se deseja por muito tempo a vi-
da e prosperidade a alguém. — Viva a li-
berdade! Viva Cl rei]
Ma viagem faças tu
Caminho de Calecu,
Praza k virgem consagrada.
Que ho isso ?
Nilo he nada.
Asi «tua Bercebu.
OlL VICIiNTR, FABÇAS.
Asai viva ellc -,
hi Víls pois, quo me mandaes.
Per amor de mim que asinha.
Não tenho espada, nem vcl-a.
ANTÓNIO PEF.STES, AUTOS, pag. 359.
— Deus vive por toda a eternidade,
vive por todos os séculos dos séculos, vi-
ve por si mesmo; diz-se pai'a exprimir a
vida de Deus infinita, eterna, indepen-
dente.
— Os bemaventurados viverão eterna-
mente com Detis na gloria; elles gozarão
da vista de Deus durante a eternidade.
— Em termos de devoção, diz-se cm
relação á disposição do espirito que cstA
em estado de graça. — Uvi peccador cun-
vertiilo vive da vida da graça, uma «o-
va vida.
— l'assar sua vida em certo tempo. —
Aíjuelles que viveram na era christã.
— Passar sua vida.
— -Viver para alguém; consagrar-lhe
sua vida. — «E como diz Pittaeo hum dos
sete sábios, ha de ser subjeito á razão
VIVE
doB Hous, O liurc á sem raz.1o <]o« alheou*
Diz o i^itrarcha quo u bom Ilev o dia
quo começa a reyiiar, acaba de Tiver a
si, e começa a viuer pêra os outros. E so
faz o contrayro, destrue totalmente a re-
pubricu, porque como diz Xenopiíôte, to-
das as que HO perderão, foy j<ur cauMi doa
gouernadoreo. > Heitor Pinto, Dialogo da
Justiça, cap. .'>.
o que cane«ira !
antes n&o sei onde cotava
a larrandcira primeira.
Virei-m^, nào vo» maUriíi.
A))eUe-o, que d<-amaio.
ANrOMIO FBBITES, AUTO*, ptg. 4S9 .
— Viver c«tn uma vitilher; ter com ci-
la relações conjugaes. Diz-ae também : Vi-
ver com uma concubina.
— Viver uma mulher cvm o publico ;
viver na prostituição.
— Nutrir-se, sustentar-se. — Cutta mui-
to viver nesta cidade.
— Viver em commum; viver entre £a-
inilia, comer todos a uma mesa.
— Procurar para si oe meios do viver,
de 80 sustentar. — Viver do teu trabalho.
— Viver dos teus rendimentos.
— Ter com que viver; pcMuir uma
renda sufficiente para o modo como ae
vive.
— Viver de industria ; viver por meioa
pouco iioiirosos ; diz-se á má parte.
— Viver aos dias, ou viver dia pen-
dia; diz-se de quem nâo se envolve em
negócios, que teem a execução penden-
te da incerta futuridade, oa de longa» es-
peranças, traças o projectos; qae só tra-
ta de lograr-se d'aquelle dia com mode-
ração, e o que basta.
— Figuradamente : Viver dia por dia ;
viver sem previdência, sem se inquietar.
— Figuradamente: Viver da graça d«
Deus; diz-se d'um homem a quem se uJo
reconhecem recursos alguns para t-ua sub-
sistência. Diz-se também de uma pessoa
que come pouco, e tem difficilmente o
bastante para so sustentar.
— Figuradamente : Viver da esperança ;
viver na espectativa de algum bem, e
sustentar-se por essa espectativa.
— Diz-se em relação á despeza que se
faz, ao estado que se tem. — Viver es-
plendida, nobre, largamente. — Viver co-
mo particular. — Viver como príncipe. —
Viver miseravelmeiUe.
— Viver nubrements ; viver como fidal-
go.
— Levar um género de vida qualquer,
ter uma certa existência. — Viver no ce-
libato, no casamento. — Viver na alegria,
na tristeza.
— É mister deixar viver cada um á
sua viO'la; é mister que cada um regule
sua vida como entender.
— Eitiir em contacto, em commercio
habitual.
— Viver comsigo mesmo; viver no re-
VIVE
VIVE
VIVI
981
tiro, sem communicação com o mundo.
— Viver bem, ou mal com alguém ; es-
tar em boa, ou má intelligeacia com elle.
— Conformar-se aos usos do mundo.
— Figuradamente: Ter uma segunda
vida, ficar na lembrança, na aíFeição, fal-
lando das pessoas.
— Diz-se também das cousas. — Seus
usos, siKis leis, seus nomes vivem ainda.
— ■ Esta obra viverá ; passará á poste-
ridade.
— Viva mil annos ; locução com que
agradecemos desejando vida larga ao bem-
feitor.
— Viver do seu havei', do seu traba-
lho.
— Viver do alheio; viver do que furta,
usurpa, rouba, etc.
— Viver na vida de outrem; ter n'el-
le o seu bem, felicidade, amparo.
— Loc. : Viver depressa; diz-se dos
que .se arriscam, e mettem em perigos.
— V. a. Toma-se também n'esta classe
de verbos com a palavra vida ou uin no-
me de tempo para regimen. — Viver vi-
da feliz. — Viver calmas iyisoffriveis. — •
«Os Byduins que saõ os naturaes, e mo-
raõ pelas montanhas, padecem grandes
frios, e pelo contrario os Arábios, que
viuem ao longo do mar insofriueis cal-
mas. Estes são excelentes pescadores,
oflicio, que perpetuamente vsão, em huns
madeiros atados, sem modo algum, ou
fe3'çam de barco.» Frei Gaspar de S.
Bei-nardino, Itinerário da índia, cap. 9.
— Viver-se, v. reji. — Vive-se aqui
commodaniente.
— Substantivamente : O estado do ser
na sua vida.
— Vida. — í E a primeira povoação que
fizeram, foi em hum monte, que está so-
bre a fortaleza que alli temos, no qual
acharam alguma gente da própria terra
quasi meios salvages no modo de seu
viver, cuja lingua era a própria Malaia,
de que toda aquella gente usava, e com
quem estes Cellates se entendiam. » Bar-
ros, Década 2, liv. 6, cap. 1.
E em gastar desordenados,
c tantcs trajos mudados,
tanto mudar de viuer,
tanto tractar, reuoluer,
tanto acr negociados.
O^BCIA DE BEZENDE, UI3CELLA.KEA.
«E Vlpiano diz que os preceptos do
direyto saõ viuer honestamente, nam em-
pecer a ninguém, dar o seu^|a cujo he,
nos quaes se inclue toda a moral philoso-
phia. E as leis sam as que ensina estes
preceptos. Por onde se mostra que saõ
ellas regras de philosopliia, & doutrina de
bem viuer dadas pêra o bem comum. Por-
que ley não he senào huma ordenança
da razão, e hum precepto dado de quem
tem carrego disso pêra o commum pro-
ueito, e conseruaçam da humana socie-
dade» Heitor Pinto, Dialogo da Justiça,
cap. 7.
Nas náos attribuladas, isto espalha
Cirande espanto, temor, desconfiança,
Mas a gente que n'ella3 se agazalha,
Faz, quanto de viver lhe d:l esperança:
Com revezada força se trabalha
Na longa bomba, e o mar ao mar se lança,
Ora ae encolhe a escota, ora se solta,
Cresce a voltas do modo, a grãa revolta.
F. d'andeade, pkimeibo cebco DE DIU, cant. 4,
est. 26.
Alli sua bonança ha por segura,
E que sua fortuna alli socegue,
Mas como ella ao que pôz na mór altura
Sempre com maior mal trata e persegue,
Faz que neste alli foi de pouca dura
Tudo quanto lhe fora antes entregue :
Perde o mando, as riquezas, a privança,
E quasi de viver a confiança.
IBIDEM, cant. 2, est. 79.
JA me não prendem dúvidas ; fujamos
Do vil cárcere : a morte só é termo
Da vida, — da existência não... No intimo
D'alma o pôz Deu.i, o sentimento vivo
Da eternidade. Este viver continuo
D'esp'rançaa, este anciar pelo futuro.
GAKKETT, catão, act. 5, BC. 2.
— «Desde o palácio até a taberna e o
o pro.?tibulo; desde o mais esplendido vi-
ver até o vegetar do vulgacho mais rude,
todos os lugares e todas as condições tem
tido o seu romancista.» Alexandre Her-
culano, Eurico, Prol.
— Adágios e provérbios :
— Ao que mal vive, o medo o perse-
gue.
— Quem mal vive, por onde pecca, por
ahi se castiga.
— O que vive mal, pouco vive.
— Come menino, criar-te-has ; come
velho, viverás.
— Come caldo, vive em alto, anda
quente, viverás largamente.
— Come para viver, pois não vives
para comer,
— Viva quem vence.
— Viver do presente, sem ter conta
com o futuro.
— Viva a gallinha, e viva com a sua
pevide.
— Quem mala vive, mais sabe.
— Quem em carcez-es vive, em cárce-
res quer morrer.
— Quem as cousas muito apura, não
vive vida segura.
— Faze da noite noite, e do dia dia,
viverás com alegria.
— Vive o pastor com a sua rudeza, e
morre o physico, que a physica reza.
— Quem me empresta, ajuda-me a vi-
ver.
— O que caminha a cavallo, vive
pouco, e o que anda a pé, contam jjor
morto.
— Quem se naõ conhece, vivendo se
desfallece.
— Segue a formiga, se queres viver
sem fadiga.
— Não vive mais o leal, que quanto
quer o traidor.
— Homem provido, não vive mesqui-
nho.
— Se queres viver são, faze-to velho
antes do tempo.
VIVERES, s. m. plur. Victualhas, pro-
visão de mantimentos.
As cegonhas também tragão,
Os viveref! conduzindo,
No peru venha o esporão,
Que venha logo ferindo.
JERONYMO BAHIA, A UM PINTASILGO MOBTO
POB UM GATO.
— dAndão por alto vozes peregrinas,
não cessando com os combois, brechas
aproxes, viveres, avançadas, e castra-
mentaçoens.» Francisco Manoel de Mel-
lo, Apologos dialogaes, n." 169.
VIVEZA, s. f. Vivacidade, esperteza,
promptidà.0, acrimonia, actividade.
— Energia, força. — A viveza do en-
genho.
— Loc. : Defender-se com viveza.
VIVÍDO, part. pass. de Viver.
VÍVIDO, A, adj. (Do latim vividus).
Vivo, animado, que tem vivacidade.
Espavorido Lúcifer fugia.
Não sui)|iortando o vivido, esplendente
Clarão dos Ceos, que as sombras dividia,
No_ fundo cabos se occultou tremente :
Eaio purpúreo do nascente dia
Do ouro vinba esmaltando o Ceo d'Orionte,
E, nunoia da manhã serena, c bella,
De Vénus surge a rutilante estrella.
j. A. DE MACEDO, OBiuNTE, cant. 3, cst. 48.
Foi aos vindouros séculos distantes
Promettido esto arcano entre cerrados
Negrumes do Sinai; foi por constantes
Imagens dictó em extasia sagrados :
E Proféticas chammas fulgurantes,
liom pendo do futuro os véos pezados,
Sustinhào sempre a vivida esperança
De hum pacto Divinal, nova alliança.
IBIDEM, caut. 10.
Agente principal ; vivido, pronto.
Em seu Corpo vastissimo fespalhas
ÍTernien da Vida. As Ondas procoUosas,
Se mór frio lhes tolho a acção do fogo.
Súbito em corpos sólidos se mudão.
IDEM, A NATUBEZA, Cant. 2.
VIVIDOURO, A, adj. Vivaz, que dura
largos annos, que não morre com facili-
dade. — P/anta vividoura.
VIVIFICAÇÃO, s. f. Acção de vivifi-
car, ou ser vivificado.
VIVIFICADO, part. liass. de Vivificar.
— plantas vivificadas pelo calor do sol.
VIVIFICADOR, A, adj. e s. Que vivi-
fica.
VIVIFICANTE, part. act. de Vivificar.
Que vivifica, que reanima. — Espirito
982
VIV(J
VIVO
VIVO
vivificante. — «A quinta porque estando
viraila a purta do taljuraaculo para o Occi-
dentc, ollirido para elie o.» liideos, fa<;a-
iiios o contrario, olhatido para o (oriento
08 Catholicos, porque a loy daquellns lie
hoje niortitora, o o no.-iso espirito viuifi-
cante, poÍH elle« ainda tem o vo da cc-
pueira nos ollio.s.» Lacerda, Carta Pasto-
ral, (lag:. 26.
— Tornio de thoologia. Fé vivificante.
— Vivificantes nnras.
— Vivificantes obrua ; que restituem o
homem A ;,'r.u;a de Deu.?.
VIVIFICAR, V. a. {\)o latim vivijica-
re). Dar a vida, e conserval-a.
— Por extensão : Dar vigor, força, fal-
lando de certos agentes naturaos.
— Figuradamente : Dar animação, vi-
da.
— ' Termo de theologia. Diz-se dos effei-
tos da graça, da oração. — A graça vivi-
fica.
— Figuradamente : Dar movimento, e
actividade a um paiz.
— A esperan<;a vivifica os amantes.
— Fomentar a vida.
— Vivificar-se, i-. rejj. Tomar vida,
força.
VIVIFIGATIVO, A, a<lj. Que vivifica, e
fomciit.i a vida. — Calor vivificativo.
VIVIFICO, A, ailj. (Do latim vivijiais).
Vivitieanto.
VIVIPARO, A, aJJ. (Do latim liviím-
rus, de uivus, e parere). Termo de zoo-
logia. Diz-se dos auimaos, cujos filhos
vem ao mundo com vida. — Entre os re-
ptis, uns sào oviparos, uittros viviparos.
— Termo de botânica. Diz-se das plan-
tas cujas sementes germinam no pericar-
po, ou que apresentam bolbilhos axillares,
ou que se desenvolvem em logar das flo-
res.
— Substantivamente : Os viviparos são
vienos fecundos (jiie os oviparos.
VIVisSIMAMENTE, adv. sitperL de Vi-
vamente. Mui vivamente.
VIVÍSSIMO, A, aJj. siiperl. de Vivo.
Mui vivo.
VIVO, A, adj. (Do latim vivus). Que
tem vida animal ou vei^etal.
Jogais comi;:;ú á panoUaV
Tendeâ-me ha tanto captivo,
E dcâeiiguuaii-me agora V
Tudo isto he o i\\\o jirivo.
Assi que he isso, Senhora,
Dochelo morto, doche.lo vivot
Se me vós desenganais
No cabo do tíintoa anos.
cAM., AMPurraiÕEs, act. 1, se. 3.
— «O filho de Pirbec no tempo que
SimaS da Costa voltou pêra a terra, hou-
ve vista delle, o metendo o bastardo o
foy seguindo, e como o vento era rijo, e
os mares grandes, e a fusta pequena, hia-
se aftbgando de feição, que chegou a ga-
lé do filho de Pirbec a ella, e por desejar
de tomar a todos vivos alo quiz meter a
fusta no fundo, e se fov desviando de ma-
neira, que llie ficou delciixo dos remos. •
Diogo lie ('outo. Década G, liv, 10, cap,
1. — «Por a qual raz.^o, jHjwto que o tem-
po era mui perigoso jiera navegar, c a
gente vin!i:i mui anojada do mar, e ou-
tra onfuriiia, provido o melhor que podo,
espedio a Pêro Mascarenhas que fosse to-
mar ipialquer porto das nossas fortalezas
da índia pêra esforçar a gente, sabendo
ser elle vivo; cá pelas novas que D. Ai-
res, o OhristovSo de Brito hl deram, tara-
bcui o haviam por perdido.» Barros, Dé-
cada '2, liv. 7, cap. 2. — «Dom loam sa-
bendo o que ])assaua ae a])re8suu quanto
pode ate chegar as pontinhas, onde achou
os mortos, e Aluaro nunez ainda vruo.i
Damião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 4, cap. 76. — «Assi se arremessa-
uam n'elle, que em breue foram os na-
uios enxorados de to<]os os viuos solda-
dos, e chusma, o Lucena, Vida de S. Fran-
cisco Xavier, liv. 5, cap. 14.
A hvbernn Quadra,
Ao clarão de splcndcntc viva flamma,
Junto a um pihir sentada, deduzia
Delgado íio, em rodopiado fuso.
F. M. DO NASCIMENTO, OS UABXVBES, llV. 1.
— íiQue a rainha, chamando o embai-
xador catholico, lhe gritara: Diga ao
bárbaro de meu irmão que ainda são vi-
vos os netos d'aquellcs que venceram
vinte e ciaco batalhas aos hespanhoes :
diga-lhe que não sou castelhana : que
sou rainha de Portugal, e que me hei de
ir ver com elle no campo.» Bispo do
(irão Pará, Memorias, publicadas por
Camillo Oastello Branco, pag. 16.
— Aguas vivas ; aguas correntes, não
encharcadas.
— Figuradamente : Aguas vivas ; ma-
rés grandes da lua cheia. — «Mandado
esto junco, por razão de luima coroa que
fazia o rio ante de chegar á ponte, não
pode passar, nem outro navio mais pe-
queno, que a este fim mandava na eua
esteira, e isto por as aguas serem mui
quebradas, de maneira que foi necessá-
rio esperar que viessem as vivas com a
Lua nova.» Barros, Década 2, liv. 6,
cap. 5. — «Hum na proa, outi'o na popa,
e outro no meyo, liados, e atravessados
com grossas vigas, em quo mandou me-
ter muitos artificios de fogo, barriz de
alcatrão, e de outros niateriaes, pêra lan-
çarem dentro no baluarte muitos danlos,
lanças, pedras, e outros instrumentos de
guerra: encomendando aquelle negocio a
hum Sangiaco com duzentos Turcos, pêra
como fossem aguas vivas, na marò da
noite abordar com a n:\o o baluarte, e
ganhai lo, o que lhe fora muito fácil se
Deos o tiHo descobrira.» Diogo de Cou-
to, Década 6, liv. 1, cap. 8.
Com quanto a ChrÍHb*ia f;cntc IA imagina
Kiita obra d ;i:>iiui;r.<< iiiai< que diàiio,
Fiiifir p.j . Jutonuiua
Aiitiij q .r> traga O <>cc«4no;
Não jiorqu i ... .:.i.) fima a ruiiui
Que procura u intiul povo profauo,
S';njio pura cUo ver (jue cm vio pcrtcode
lieiídcT n manha, a queiji (oTi^ não rcudc.
caA.vciscu uK ASbaAOK, raiMEiBo ceboo db diu,
cant. 19, c«t. 81.
— Agua viva; agua nadivel.
— Pedva viva ; nativa onde eetá, e
nSo a.soentada por artificial.
Olha as portas do estreito, que fenece
No reino da mcca Adem, que confina
Com a serra d'Arzira, pedra viita.
Onde chuva dos ecos *c não d'TÍvn.
aiii., LL's., cant. 10, est. Si*.
— Fogo vivo ; fogo que arde com acti-
vidade.
— Figuradamente: O fogo vivo du
amor.
— O fogo vivo yu* nos olhos cham-
Ttieja. ,
Então amores de Monra,
Ja sabeis o fogo viro.
Ella captiva cu captivo :
Ora que ma morte moura
Se ha hi mal tão esquivo.
GU. VICENrE, FJLBÇA8.
o torrivel aspecto mettc medo,
Nos olhos rii-o fogo então chammeja.
Da língua o natural U80 e:-tá quedo,
Nem púdc declarar o que deseja :
Emlim a solta, c diz que muito cedo
Elle mesmo irá ver se cm tudo seja
Cori-esjjondente o esforço em obra e eSeito
A tacs palavras, tão st^rbo peito,
r. d'ándbaoe, pbocbibo cebco oe diu, cant. 3,
eat. 15.
— Vivas paixòes ; paixões violentaâ.
Co'aâ mais vivas Paixões, insigne ingcnho *,
Nimio, no estudo, c «os prazcrea nimio,
Néga-lhc a Impulso», a ludolc, repouso;
Irascivel, sublime, inquieto, bárbaro,
No perdão implacável, se ottendido.
F. M. DO KASClMEjrrO, OS UXSTYBKa, liv. 4.
— Ódio vivo; ódio cntranhavel, figa-
dal, irreconciliável.
Recolhe as.si do li\Te e do captivo
Coleimão do ouro e prata huma gr2a «opia,
Mas mór a rccolheo d "um ódio Wro
Co'a gente u.itural, e ooa sua propia;
Que debaixo do ardente Sol estivo
Não ferve tiuito a areia da F.thiopia,
Quanto huns e outros em ódio estão ferrendo
Todos porque roubados se estão vendo.
FKANCISCO D'xXDBJk.DH, PBIUEir.O CEBCO DE DIU,
caut. 13, C8t. IS.
— Fmos das ann<is vivos « acessos. —
fNão tardou muito que ao cerco che^^oa
um câvalleiro ao parecer de todos bem
VIVO
VIVO
VIVO
983
posto, armado d'armas de negro, com fo-
gos por ellas tão vivos e acesos que qua-
si pareciam uaturaes.» Fraucisc:) de Mo-
raes, Palmeirim dTuglaterra, cap. 84.
— Diz-se para exprimir a força de luz,
das cores. — COr viva.
Tão rÍTO.ç cores, tão diversas formas
Cantando expor! Thesouros d'harmoma
Qu' o remontado Cisne, qu' as Thebanas
Lides fraternas decantando entorna,
Sào pobres para expor tanta belloza !
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Oant. 3.
— Olhos vivos ; olhos brilhantes e
cheios de fogo.
— Exprioiido com calor, com força ;
enérgico, animado. — Vivos revérberos.
Com seus vivos revérberos dilílto
Meu circulo mortal; a alma levada
Em soberanos êxtases encara
Luminosos relâmpagos, que mostra
De tua Sapiência o Mundo impressos,
j. A. nE MACEDO, MEDITAÇÃO, cant. 1.
— Expressões vivas ; expressões em
que se faz sentir o fogo da imaginaç.ão,
— Feitos vivos; feitos picantes.
— Trazei-m o vivo ; trazei-m'o com
vida. — «A melhor cidade do Gharb e a
mais bella das minhas escravas a quem
m'o trouxer vivo aqui. Todos!... Ide,
trazei-mo vivo! Prestes, cheiks, walis,
kaiyds, cavalleiros do propheta ! Prestes !
correi após o meu assassino ! » A . Hercu-
lano, Eurico, cap. 15.
— Comer alguém vivo; comel-o em
vida.
— Figuradamente : Desejar comer al-
guém vivo ; ter-lhc um grande ódio, com
desejo de cruel vingança. — «Donde te
Deos guarde, porque te affirmo que se
por mofina lá fosses ter, que vivo te co-
messem 03 Achens aos bocados, e o pró-
prio Rey mais que todos, porque a honra
de que agora mais se preza.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 18.
^ i^oíiíe viva ; fonte pereune, perpe-
tua, que é Deus. — «O escodrinhador da
Magestade divina será opprimido de sua
gloi-ia, e luz infinita: e por isso quanto
cm nos falta a clareza de nosso conheci-
mciito, tanto creça a sede de o conhecer,
e gozar perfeitamente, dizendo com Da-
uid. A minha alma anda morta com sede
de chegar a DEOS fonte viua : quando
irey, e apparecerci diante do rosto de
Deos?» Frei Bartholomeu dos Martyres,
Catecismo da doutrina christã.
— Enérgico, efficaz.
Qu' anima a Natureza, derramado
No ar qu' o uutrc, a força, actividade
Deste fluido traz, e effeito he delle
A viva acção que tem : quanto he mais denso.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Cant. 2.
— ■ Morte viva ; estado cm que o ho-
mem vive, porém sem vida verdadeira |
em consequência das graves misérias que
o cercam. — «E com rezam se chama
vida, porque somente entào verdadeira-
mente viuirenios assi nalma, como no cor-
po: Porque assi como viucr em graucs
misérias mais se deue chamar morte viva,
que vida, assi estando nosso corpo liure
de todalas misérias, de fome, e sede,, de
calma e frio, cansaço, e de todalas outras,
então se dirá ter verdadeira vida.» Frei
Bartholomeu dos Martyres, Catecismo da
doutrina christã.
— O vivo azul dos cens; o claro azul
d'elles.
Por elles seus revérberos mistura
A apavonada cor da fresca Aurora,
O vivo azul dos Ceos, e o voltojante
Verde qu'a3 ondas liquidas esmalta,
O roxo triste do modesto Lirio.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Cant. 3.
— Peçonha ardente e viva; peçonha
ardente e forte.
Vai-sc a Cojaçofar, que ja o preceito
De Plutão quer cumprir, a que alli veio,
Com foriiigenta mão lhe toca o peito
Que de mil pungimentos doixa cheio ;
Faz também apoz i.-ito o usado effeito,
Na mais interior parte do seio
Lliiuspira liuma peçonha tào nociva
Que nos ossos lhe fica ardente c viva.
FRANCISCO DE AHDR.IDB, TRIMEIRO CEKCO DE DIU,
cant. 9, est. IIL
— Os espiritas vivos que os olhos ins-
piravam; os espíritos activos, enérgicos,
fogosos, que os olhos inspiravam.
Quando hade o apuro do cinzel mais destro
Tacs mimos egualar? Aquelle gesto'
Que as estrellas, o ceo c o ar namora,
Aquelle affrontamcnto do caminho
Que a belloza lhe aviva ? Como as graças.
Os espíritos vivos que inspiravam
Dos olhos onde faz seu filho o niabo ?
GARRETT, CAMÕES, caut. 7, oap. 17.
— Imagem viva; imagem fiel, enérgi-
ca e verdadeira. — • «Quem faliara da ge-
raçam eterna'.'' quem poderá declarar co-
mo o Padre eterno eternalmente produ-
zio huma imagem viva de sua substancia,
de sua natureza, igual a elle em Mages-
tade, bondade, poderio, e sabeduria?»
Frei Bartholomeu dos Martyres, Catecis-
mo da doutrina christã.
— Figuradamente : Uma morte sempre
viva; a uondemnacào eterna.
— Carne viva; diz-se, n'um corpo vi-
vente, em opposição a carne morta.
— Cabellos vivos, ou naturaes; cabei-
los taes quaes foram cortados sobre a ca-
beça.
— Floresta viva ; que tem bellas e
grandes arvores.
— Rocha viva; rocha cuja superfície
não .se alterou.
— Cal viva ; cal que ainda nào foi im-
pregnada d'agua.
— Que tem muito vigor, actividade,
fiillando das pessoas, dos animaes. — Co/-
vallo vivo.
— Ter os sentidos vivos; ser muito
sensível á impressão dos objectos inte-,
riorcs.
— Ter o espirito vivo, a imaginação
viva; conceber, produzir prompta e fa-
cilmente.
— Que sente vivamente.
— Que tem vivacidade, fallando das
cousas. — Maneiras vivas.
— Ataque vivo ; ataque prompto e
forte.
— Termo de medicina. Pulso vivo;
pulso que reúne a promptidão, a frequên-
cia e a força, sem dureza.
— Diz-se para contrariar a força de
certas impressões physicas. — Um calor
vivo. — Um frio vivo.
— Ar vivo ; ar puro e fresco, tal co-
mo o dos logares elevados, e que faz im-
pressão ao peito.
— Diz-se para caracterizar a força de
certas impressões uiorae?. — Vivo desejo.
— -Vivo amor.
— Fé viva ; fé ardente e firme, c tam-
bém a fé q'ae é acompanhada das obras.
— Que dura, que subsiste cumo algu-
ma cuusa vivente.
— Que se faz sentir como n'uma parte
vivente.
— Vivo exempÀo ; exemplo fresco,
actual, não esquecido.
— Serra viva ; rocha sem herva, ter-
ra, ou pl;int;i.
— Penha viva ; penha que ainda está
na pedreira, ou na terra onde se formou.
— Chaga viva ; chaga descoberta da
pelle.
— Diligente, ágil, esperto.
— Bois, cavallos vivos na andadura ;
bois, cavallcs espertos, ágeis, applicados,
ligeiros. ■
— Figuradamente: Chaga \i\a; chaga
mui serisivel ao toque.
— Sangue vivo ; sangue puro, sem al-
teração, ou mescla.
— Vivo exemplo; exemplo enérgico e
efficaz.
— Loc. : Ficar mais morto que vivo;
ficar mui transido, cortado de susto.
— Sangue vivo ; sangue não coalhado,
— A viva força; a grande força.
— Respostas vivss ; respostâ.s que tem
certa promptidão, viveza, energia.
— - 7?«rz3e« vivas ; razões enérgicas, for-
tes.
— O príncipe absoluto é lei viva; pô-
de fazer a lei, e interpretal-a, derogal-a,
e o que elle ordena c lei.
— Praça viva ; diz-se cm opposição á
praça morta, na milicia.
— Lume vivo ; lume claro, bem acce-
so, não amortecido.
— Carla viva ; a pessoa que vai dizer
o que diria a cscripta.
— Termo de uautica e de theologia.
984
VI Z
VI ZI
VISÍ
Obras vivas; diz-Ho cm oppoaiçiio a obras
mortas. Viil. Obraa.
— Fi(íur!iil;iiiit;iito : Andar em tinia ro-
da viva; niiiJar em iiioviíiuMito contiiun*,
muito utbrvoriulo.
• — Não jierdoar a rí/ma. viva; niío pcr-
iloar íi n influem.
— Olhos vivos; 0II108 imii iii(|uiutos,
brilliaiitcH o !il('fírcM.
— (^hamma, ou braza viva ; chauniia, ou
brazA muito ucuusa.
— Figuradamente : Vivas chuvimas de
amor.
— De voz viva, ou de viva voz; do
palavra, o não de oscripto.
— Loc. ADV. : Ao vivo ; com perfeita
simillianya, mui próximo á realidade.
Alli ostíiiia tnmbom (dcapoin que o Reino
Afonso goucniou) ai|uclla liistoria
Ao >'iiio retratada, om que a Rainha
Do CaHtolla ao vo no ponto extremo :
Deuisftòse as nefandas lij^aduras,
Que a Sarracina Maj;ica ordenara :
Mouida pela falsa coiioubina,
Que preso a olRcy trazia de amor torpe.
COBTB BKAL, NAUFRAOIO DR SEPULTEriA , Cant. 13.
— Retratar ao vivo ; rotratar bem ao
natural.
— Mais ao vivo ; mais próximo á rea-
lidade, e íl certeza.
— Tonia-se também adverbialmente :
Ventar vivo ; ventar rijo.
— Substantivamente : Os vivos ; os se-
res viventes.
Succede a este temor a dura fome,
Que nenhuma fori;a ha que não quebrante,
Faz esta com (|ue a morte a muitos torac,
E nos vivos o medo se alcvante :
Todo o bruto animal alli se come,
Não escapa o cavallo ou o elephante.
Elrei, aem ser do imigo combatido,
Foge huma noite emfim, sem sor sentido.
rKANCISCO DB ASnBADR, PRIUEIBO CERCO nH DIU,
cant. .3, est. 34.
— Quanto vae do vivo ao pintado;
com grande diflerença.
— Tocar, Cortar no vivo ; tocar, cor-
tar onde doe.
— Figuradamente : Tocar, cortar no
vivo; tocar om especi&s que molestam
muito.
— Figuradamente : Metter a mão no
vivo da minha alma.
— Entre vivos; entre pessoas vivas.
— Doação entre vivos.
VIVOS, s. »(. piar. Os matizes de co-
res diversas nas orlas, e outros adornos
diíTcreutes da peça. — Os vivos do ga-
bão, do vestido.
VIVRE, ou VIVRES. Vid. Viveres, ter-
mo liojo. mais cm uso.
f VIZ, plur. de Vil. Vid. Vis.
A Vinj:;ança atrocíssima, que embebe
No seio do inimigo inoauto, inerme
(Pai.\ào das almas r/:) punhal buido.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Caut. 1.
VIZAGRA, ». /. Dobradira do ferro pa-
ra portas, otc. Vid. Visagra.
VIZINHADO, part. pasi. de Vizinhar.
Viil. Avizinhado.
VIZINHANÇA, s. f. Proximidade d'al-
gum lofíar, nitio.
— Carla de vizinhança; aquelia pela
(|ual ali^'uom ó recebido |xjr vizinbo da
villa, cidade ou lugar.
— ('bcgafla j)erto, pouca distancia.
— 0.i vizinlios do povo, villa, bairro.
— Encargos de vizinhança ; os que al-
guém deve í-upportar, fcgundo o foral da
terra, omlo é vizinho.
— A (pialidade do ser vizinho de al-
gum lugar; os direitos c encargos de (\iio
os do logar gozam, e a que slo sujei-
tos.
— Foro que se paga em Chaves. Vid.
Fogos.
— Fazer vizinhança ; gozar, o sofTrer
as pensões do logar onde está avizinhado.
VIZINHAR, V. a. Habitar, morar em
algum logar, sitio, como vizinho d'elle
estabeleciílo.
— V. n. Ser vizinho, estar próximo,
estar na vizinham;*, nos contins.
— Fazer vizinhança boa ou má.
— Supportar encargos devidos pelos
vizinhos, segundo a lei ou foral do rei,
ou do senhor da terra.
— Estar vizinho de outros, e tratar-
se, visitar-se luiudadamente como os vi-
zinhos costumam.
— Chegar perto, vizinho.
— Figuradamente : Estar próximo em
digiiidaiie.
— Vizinhar-se, v. rejl. Aproximar-se,
achegar-se, contormar-se.
1.) VIZINHO, A, adj. (Do latim vicí-
nus). Que está próximo, que fica perto.
— Nação vizinha, — cPhellippe Roiz
posto que pcrdeo aquelia primeira chega-
da pêra aferrar com dom Lourenço, não
perdeo a sorte de outra nao vizinha des-
ta capitaina em que também teue assas
de trabalho : porque duas vezes lhe lan-
çarão o arpco fora, te que na terceira
fez melhor preza.» Barros, Década 1, liv.
10, eap. 4. — «A potencia e riqueza dos
quaes he taõ grande cousa, que a pena
rocea entrar na relação dellos, o princi-
palmente porque em outra parte o faz :
somente por mostra da sua grandeza di-
remos o que dizia elKey de Cambava
chamado liadur, que morreo a nossas
mãos vizinho destes primeiros.» Ibidem,
liv. 9, cap. 1. — iEIlley de Bintani seu
sogro tanto que soube que elle era eleito
pêra Bendára, e que este era o tim pêra
que elle se dera á nossa amizade, e a
causa do presente que mandara a AlVon-
so d'Alboquerque, e depois ir em pessoa
a Malaca ver-se com o Capitão delia,
ordenou logo de lho impedir que não
fosse, e )iera isso convocou outro seu gen-
ro, e vassallo, que era Rey de Lingua,
huma Ilha vizinha á de Bintam, onde
ello Maliamud a/<Montára soa vivenda,
(como dissemoM;.» Ideui, Década 2, liv.
9, cap. 7.
T«nho por Htinka a fonte.
Colho o ]>a'> que «pnii-fli :
Quando outra coiíii ntu> litri,
f^iiio diu hervuji do luontc.
r. BunilUURB LOBO, BCUMA»
— Figura'lamente : Similhantc, par,
egual.
— Que mora com outros na mecnui
rua, propriedade de casas, bairro, ou
povo.
— Iteiíio vizinho ; reino contíguo.
— Que habita no mesmo logar, cida-
de, conceliio, villa, o goza dos direitos
e privilégios do seu foral, e poxtura^, e
c natural d'clli;, nu se fez visiuho.
— SvN. : Vizinho, próximo. Vid. este
ultimo tfrnio.
■2.) VIZINHO, A, «. Pessoa que mora
ao pé do outro na mci<ina casa, ou na
mesma rua. — «Nestas prouineias não ha
tamauhas cidades, nem pouoaçoens C'>mo
ca na Europa, a causa he andar sempre
o precioso Joam sempre no campo, e so
agasalhar com todo seu exercito em ten-
das, o que faz para se a nobreza exerci-
tar nas Cousas da guerra, porque conti-
nuamente a tem com os Reis, e senhores
seus vizinhos, que todos sam infiéis. En-
tre nos se nào usa o direito scripto, nem
as demandas se fazem per scripto, senaõ
verbalmente, o que he causa de auer
poucas, e menos procuradores. • I>ami2o
de Góes, Chronica de D. Manoel, part.
3, cap. 61.
— Pessoa que nasceu em um logar, e
mora n'elle, e foi perfilha-lo e confirma-
do por algum vizinho; ou tem ahi cargo,
officio, posto pelo rei ou pela rainha.
— Plur. Diz-se muitas vezes por mo-
radores, famílias, fogos.
— Vid. Visinho.
— Adágios e pbo\'ERBio3 :
— A perda, que teu visinho nXo sabe,
não é perda n.a verdade.
— O bom visinho faz o homem des-
apercebido.
— Por mau visinho nào desfaças teu
lunho.
— Quem cora mau visinho ha de vi-
sinhar, com um olho ha de dormir, e
com outro vigiar.
— Quem tem bom risinho, não temo
ruido.
— Deshonrou-mo minha visinha uma
vez, e eu deshonrei-me três.
— No mal, que teu visinho te não sa-
be, nSo teus parte.
— Guar-te de mau visinho, e de ho-
mem mesquinho.
— A cabra de minha visinha mais lei-
te dá, que a minha.
— (^'omadres, e visiuhas, ás vezes sSo
farinhas.
VOAD
VOAR
VOAR
— Pouco se estima o que tem cada vi-
sioha.
— O mau visinho vê o que entra, mas
não o que sáe.
— A má visinha dá agulha sem li-
nha.
— Fui a casa de minha visinha, en-
vergonhei-me, tornei á rainha, e conso-
lei-me.
— Diga minha visinha, e tenha meu
sacco farinha.
— Nào ha rainha sem sua visinha.
— Vai a moça ao rio, conta o seu, e
o do seu visinho.
— Nào percas o siso pelo doudo de teu
visinho.
— Quem tem telhado de vidro, não
atire pedras ao do visinho.
— tão, e vinho, um anno meu, outro
de meu visinho.
— O que come a minha visinha, não
aproveita á minha tripa.
— Pão de visinho tira o fastio.
— Vinha entre vinhas, casa entre vi-
sinhas.
— Com teu visinho casarás teu filho,
e beberás teu vinho.
— Mais quero pedir á minha peneira
um pão apertado, que á minha visinha
emprestado.
— O filho de tua visinha, tira-lhe o
ranho, o casa-o com tua iilha.
— Quem quizer mal á sua visinha,
dê-lhe em maio uma sardinha.
— Quando vires arder as barbas do
visinho, põe as tuas de molho.
— A chave na cinta, faz a mim boa,
e á minha visinha.
— Q,uem nào tem casa na villa, em
cada bairro é visinha.
VIZIR, s. m. Nome dos prineipaes offi-
ciaes do grande senhor.
— Grande vizir; o primeiro ministro
do império turco, que recebendo o sêllo
imperial para signal do seu emprego, é
revestido de todo o poder do imperador,
e goza d'uma authoridade quasi absolu-
ta. — No governo despótico, o vizir é o
próprio déspota, e cada official particu-
lar é o vizir.
— Figuradamente: E um vizir; é um
homem absoluto, imperioso.
I VIZIRATO, ou VIZIRIATO, s. m. Di-
gnidade, funcçào de vizir; duração d'es-
ta funcçào.
VIZRÉI. Termo antiquado. Vid. Vice-
rei.
VOADO, part. pass. de Voar.
— òtí- voado; ser levado aos ares por
explosão de mina, etc.
— Figuradamente : Voados seus pro-
jectos.
VOADOR, A, aãj. Que vôa.
— Figura 'lamente : A voadora fama;
a que se derrama mui rapidamente.
— Lebreus voadores ; lebreus rápidos.
— S. m. Termo de historia natural.
Peixe com azas cartilaginosas.
TOL. V — 12i.
VOADURA, í. /. Acção de voar.
VOAIÍTE, part. act. de Voar. Que vôa.
— A águia voante.
VOAR, V. 71. (Do latim volare). Mo-
ver-se a ave adejando, batendo as azas.
Bera SC enxerga nos pomos e boninas,
Que competia Chloria com Pomona :
Pois se as aves no ar cantando voam,
Alegres animaes o chão povoam.
CAM., Lus., cant. i), est. 62.
Verá graUias a voar,
verá terra, verá mar,
e mais vèr-me-ha a mi também.
AHTOSIO PBESTES, AUTOS, pag. 79.
Que, inda tardava Séphora comigo,
Coragem dando á minha adolescência ;
Qual Pomba, que a voar, Pombinho instrue.
FKJLXCISA) MASOZL DO NASCIMESIO, OS UABTY&ES,
liv. 4.
Batia preguiçoso o mar na área
Em leve espuma delia scscoava ;
Dhum largo rio a cristallina vêa
Se mostra, e sem fragor no mar entrava:
Hum vergel inaccsso á luz Febea
As incurvadas margens lhe assombrava,
Onde aves, que voando os ares fendem.
Entre as folhas co'o canto os ventos prendem,
j. A. DE MACEDO, O ORiEXTE, cant. 5, cst. 2Õ.
— Voar a pousos; parando de vôo em
vôo.
— Voar dependurado; voar sem bater
as azas.
— Mover-se com grande velocidade.
— Subir, elevar-se.
Que sáio? dizc, desmaio,
Um que levou meu senhor,
não a jogar, a lhe pôr azas.
Que võe oudc o vae pôr.
ASTOKio PRESTES, AUTOS, pag. 447.
— « Contem plandoo a elle, e procura-
do com muita instancia, e esquecimento
de vos mesmo aj untamos amorosamente
ao Senhor, que he sobre toda a sustan-
cia criada : porque em vos despirdes as-
sim de toda ella, liure, e puramente ex-
pedito, e constante voareis a lograr o
sobresustancial raio da neuoa diuina. E
hum pouco adiante, diz o sancto Doutor.
O Contemplatiuo deixando as criaturas
visiueis, e espirituaes, entra na mvste-
riosa neuoa por si mesmo ignorante ; nem
leuado dos naturaes presidios, e luzes da
sciencia, e intellecçào humana.» Fr. Bar-
tholomeu dos Martyres, Compendio de
espiritual doutrina, cap. 11.
Barreiras á mortal intelligeneia
Não superáveis, nào : e alem não chega
Batendo o tempo as azas, e as fech.adas
Portas, em gonzos de diamante, eternas,
Fazem tomar atraz, confusa, c muda,
Li\"re imaginação, que aos Astros voa.
I J. X. DE MACEDO, A NAIUOEZA, Caut. 1.
Correr muito.
Vôa. lhe diz o Santo ; as levantadas
Abobadas dos Ceos ambos ja pizão ;
Entie o fulgor, que os ollios deslumbrava,
O Templo eterno o Gama contemplava.
J. A. DE MACEDO, 0 ORIENTE, Caut. 12, CSt. 88.
Por entre as vagas, que se quebrão, voão
As combatidas Náos, e os Ceos toldados
Nem deixão vêr o mar, nem vèr os Astros ;
Só por entre o neginime a branca espuma
Tufa em cachões na proa, e aUi se quebra.
IDEM, A NATUREZA, CaUt. 1.
Mais viva, e doce luz súbito brilha.
Do profundo lethargo acorda o Globo,
Dos vicejantes Zéfiros nas azas
Vôu risonha, alegre Primavera.
— Figuradamente : Voar direito o
chumbo subtil; mover-se com grande ra-
pidez.
Sahe o chumbo subtil, c contra a estancia
Onde então Veiga está vôa direito,
E sendo grande assaz esta distancia
Parece que qualquer bem fraco objeito,
Com qualquer fraca e leve repugnância.
Lhe pudera impedir o usado effeito.
Porém nào foi assi, que a cruel morto
O fez mais do que soe agora forte.
FBASCISCO DE AíiDRADE, PEIMEIKO CERCO DE DIU,
cant. 20, est. 69.
— Figuradamente : Voar das mãos em
pedaços, a espada. — «No instante em
que o cavalleiro negro chegou ao logar
onde já o duque de Corduba 6<) procu-
rava amparar-se contra Mugueiz e Ju-
liano, este, cego de furor, descia com se-
gundo golpe : a espada, porém, voou-lhe
das màos em pedaços, batendo na maça
do cavalleiro negro, que, deixando depois
cíúÚT a pesada borda ao longo da ephip-
pia, ergueu o frankisk e, descarregan-
do-o sobre o hombro do renegado, lhe
fez uma ferida profimda.» Alexandre
Herculano, Eurico, cap. 10.
— Elevar-se muito.
— A raiva vôa ; faz com rapidez os
seus estragos.
— Voar, ou elevar-se o pensamento;
elevar-se a grandes objectos, ou assum-
ptos.
— Voaram v^eus gemidos a Deus; che-
garam até elle.
— Figuradamente : Voar a alvta como
pensamento ; pensar em tudo rapidamente.
— Voar redondo, ou volteando; voar
sem bater as azas.
— Derramar-se com muita pressa.
— Voar o muro, ou mina, ou navio
por força de pólvora; ir ao ar em frag-
mentos.
— Voar a alma ; ir ao outro mundo, o
ordinariamente á outra vida, á vida éter-
986
VOCA
VODA
VOGA
— Voar a mevioria de alyuma cousa ;
na poiínii floH c-tcriptores.
— Voar nas azas da fama; ter grande
ropiita<;jlo, o bom dorraiiiailii.
— Fifjurailaiiioiitc : Voar o nmne, afa-
ma; olevar-80 dojiros.sa, 3ubir.
— Voar á fjloria, ao throno de Deus.
— V. a. Termo i)oueo cm uso. Dei-
tar a voar.
— Discorrer voando, divuigar-se, ca-
palliar-se.
— Fazer voar com minas do pólvora.
— Voar a mina,
— Adágios e provérbios:
— Inda que a garça vôe alta, o falcão
a mata.
— Cavallo que vôa, não quer espora.
— Mais vale um pássaro na milo, que
dous que voando vão.
— Ave pur ave, o carneiro se voasse.
VOARÍA, s. /. Ave, ralé.
— O caçar aves com as de rapina, en-
einadaí a isso. Vid. Volateria.
— A voa la que o ialcão faz para em-
pol^'ar na ralé.
VOATO, s. m. Vid. Boato, orthographia
prufcrivid.
VOCABULÁRIO, s. m. (Do latim vocabu-
larium). Lista de palavras, commum-
mente por ordem alphabotica, e acompa-
nhadas de explicações succintas.
— Por extensão, conjuncto de pala-
vras que pertencem a uma sciencia, a
lima arte. — Vocabulário de chímica, de
medicina.
— Diz-se também: O vocabulário de
vm povo; o numero de palavras de que
elle se serve.
— Syn. : Vocabulário, diccionario. Vid.
este ultimo termo.
VOCABULARISTA. Vid. Vocabulista.
VOCABULISTA, s. 2 gen. Auctor do
um vocabulário.
VOCÁBULO, s. 7)1. (Do latim voeabu-
him). Termo de grauunatica. Parte inte-
grante d'uma linguaírcm.
— Palavra de qualquer dicçSo, lingua.
— Os vocábulos da honra; os indica-
tivos d'ella, como os tratamentos do ex-
cellencia, senhoria, etc.
— Trazer vocábulos de conserva; tra-
zer palavras estudadas. '
— Syn. : Vocábulo, palavra. Vid. este
ultimo termo.
VOCAÇÃO, s. /. iDo latim vocatio). A
acção de cliamar.
— Termo da Escriptura. A vocação de
Abrahilo ; a escolha que Deus fez d'este
patriareha para ser o pae dos crentes.
— -4 vocação dos ijtntios; a graça que
Deus lhes concedeu chamando-os ao co-
nhecimento do Evangelho.
— Ordem exterior dn Egroja pela qual
Os bispos cluimam ao ministério sagrado
iiquellcs que cUes julgam digr.os delia.
— Movlment'> interior ))clo qual Deus
chama uma pessoa a qualquer género do
vida.
— Movimento interior pelo qual ee sen-
te transportado á vida religiosa.
— Uma certa ordem do cousas com a
qual 80 deve conformar. — A vocação do
hoinevi é ser útil a sens eimilhantes.
— ChaiiiamtMito do Deu», inspiração
para ser religioso, para abraçar a íc. —
«Que qucrião agradecer a Deus huui mi-
lagre, antes que pedir outro; que o Go-
vernador 08 não mandava como Aposte-
los, senão como soldados ; que se hiSo a
derramar o próprio sangue pela Fé, fos-
sem sem armas, mas que u sua vocação
era defender a Lei com a espada, e não
y)régalla.i> Jacintho Freire d'Andrade,
Vida de D. João de Castro, liv. 4.
— Toiíia-sc tandjcm por invocar^ão.
— Liclinação que se sente para um es-
tado. — Uma vocação contrariada.
— Disposição, talento. — Tem uma
vocação decidida para a pintura.
VOCAL, adj. 2 gen. (Do latim vocalis).
Que serve para a producçào da voz. —
Órgãos vocaes.
— Que se enuncia, que se exprime por
meio da voz, em opposição a mental.
— Orai;ão vocal ; diz-se em opposiçào
a orrtÇ(7t) mental.
— Musica vocal ; aquclla que se can-
ta, com differença da musica instrumen-
tal.
— Compositor vocal ; aquelle que com-
põe trechos do canto.
VOCALMENTE, adv. (De vocal, e o suf-
fixo «mente"). De ura modo vocal.
— Loc. : Fallar vocalmente a alguém;
de meia voz, e não por cscripto, ou por
outrem.
VOCATIVO, s. m. (Do latim vocati-
vus). Termo de grammatica das línguas
que tem casos. Caso de que nos servi-
mos quando nos dirigimos a alguém.
VOCIFERAÇÃO, s^f. (Do latim vocife-
ratio-. 'nito, alarido, brado.
VOCIFERADO, part. pass. de Vocife-
rar. 15ra''a lo, dito em brados.
VOCIFERADOR, A, adj. e *. Pessoa
que vocifera.
— Que diz om altos gritos, c brados,
e clamores.
— Clamoroso.
VOCIFERANTE, part. act. de Vocife-
rar. Que vocifera, que brada.
— Vociteradur.
VOCIFERAR, !•. n. (Do latim vocifera-
re). Bradar, erguer muito a voz.
— T^ a. Vociferar i'nprccai;T>es.
VODA, s. /. Vid. Boda.
— Que bi-eviairo, ou quo praça? >
Que não qnoro : nqui drfKoil
Qmmdo viu revolta n ioda.
Foi o csfarrapou-me toda
O cabei;>»o da camisa,
ou. vicESTK, fabi;as.
— «Forão estas vodas celobraJíi.s no
anno do Senhor de M. D. xxxvi. aunos,
om Villauiçosa, lugar do mesmo Duque
as quaes el Rei foi presente com os In-
fanteii seus irmãos, c os mais dos senho-
res destes regnos.» Damilo de ííoe-.
Chronica de D. Manoel, part. 3, cap. 78.
I>arr-cc-mc '{ue Daa aza«
d']earo tonbo s {a4ik todA
que inn rvi:n\n :
tuilo tv> . t-taa,
i\ki> iri' 1 á võda
pclaa \'. II razM.
AaTOmu 1-lkl.Áli.S, AL'T01, psg. 878.
— Vodas de fogara»; em t
gos, parcnt'"* e convidado» ni..
gaças, ou presentes, á cf»u.j ...
quem melhor o faria, o por is.>o erain
mArcs festas, o de.«peEas, e desordeii.-.
Vid. Vodos, em Vedo.
— Festas. — «Além destes apparatos
das vodas, tinha dentro na Cidade oito mil
peças de artilhería; porque como ella ca-
tava toda ao longo do mar •' * - ' '-. '.
maneira do hunia touca por <
de légua, e era todade madcir - .-
ro, nem cava, si'imente a defensilo dos
homens, como geralmente se Té nas gran-
des povoaçõe.^.» Barros, Década á, liv.
6. — «£ porém eiie hia dilatando estas
Todas quanto podia a ãm de ter conu-ico
muita gente, como homem a que o tcm^r
dava suspeita, que mui cedo havia mis-
ter todas estas ajudas. > Ibidem, ^ap. 1.
— Stk. : Voda, matrimonio. ViJ. est-.-
ultimo termo.
VODIVOS. Vid. Vodos, em Vodo.
VODO, *. "1. Vid. Bodo.
Não sejaes d'c33a manpira.
senhor, não queirace que queira
a;;£rrarar-iiio ; temos vodot.
Falta algum ?
O camareiro.
Venha cá.
ÀKTONIO FSBSTBS, ACTOS, pSg. 07.
— Vodos ; votos que se fazem a algum
santo, promessas, romaria», que qnand"
se iam cumyTÍr eram oocasiào de come-
zanas, e outras desordens, c por Í8s«> fo-
ram só toleradas, co:n condição de nSo
haver banquetes nas igrejas, etc
— Os Todos, ou votit» de SatWIago;
promessa que se diz feita era toda a
Hespanha a S. Thiago pela victoria al-
cançada contra os mouros ; é prestação de
certa porç.ào de trijro.
VOEJAR. Vid. Esvoaçar.
VOENGA. Vi i. Avoenga.
— Loc: Chamar-se á voenga; rescin-
dir a alheaç.ão dos bens avitos, feita a
pessoa, que nào era da avoenga, ou dos
mesmos avós c familia.
— Loc. AXT. : Chamar-se á voenga ;
querer o direito da avoenga, on defen-
der-se com elle.
VOENGO. Vid. Avoengo.
VOGA, s. f. yOú francez roj^Ms). O re-
mo do navio.
— Dar voga; remar para diante.
VOGA
VOLA
VOLA
987
— Estar alguém com sua voga; iisar-
se, praticar-se, ser moda.
— Forçar a voga; remar com força.
— A voga surda ; remando sem ruido.
— ■ Figuradamente : Não dar voga ; não
saber manejar os negócios.
— De voga arrancada ; com toda a ex-
pedição do remar.
— Figuradamente : Dar a voga ; ser o
principio de acção, ou movimento.
— Navio de menos voga; os mais pe-
sados no remo, que se atrazam dos ou-
tros, não companheiros iguaes.
— Em duas vogas; em duas remadas.
— Figuradamente : Dar o amor a vo-
ga; dar o impulso, o tom; determinar,
impellir.
— Termo de historia natural. Peixe.
Vid. Boga.
— Figuradamente : Reputação, credi-
to de um individuo.
— Srs". : Voga, moda. Vid. este ulti-
mo vocábulo.
— Plur. Figuradamente: Os remeiros
do primeiro banco.
VOGA-AVANTE, s. m. Termo de náuti-
ca. Remeiro, forçado.
1.) VOGADO, part. pass. de Vogar. Re-
mado.
— líavecado a remos.
2.) VOGADO. Termo antiquado, por Ad-
vogado.
1. VOGAL, adj. 2 gen., ou s. /. Som
simples elementar, que se ouve sem o au-
xilio de sons consoantes, ou modificações.
— Ha vogaes puras, que são a, e, i, o,
u e y; vogaes nasaes, que são an, en,
in, on e un, e os diphtongos ão, oe, etc.
2.J VOGAL, s. 2 gen. Pessoa que tem
Toto nas communidades, juntas, etc.
VOGANTE, adj. 2 gen. Que anda á
voga .
VOGAR, V. n. Remar para seguir avan-
te. — «E os outros todos forom-se a Bo-
lonha, e tanto que foi tarde vogarom pêra
alem, e ante que entrassem ao porto min-
gaou-lhes o tempo em tanto que ouve a
Galleota do Conde de dar cabo ao Bari-
nel do Infante Dom Pedro, até que an-
corou em doze braças fora da barra, e
dalli mandárom o mais pequeno Bragan-
tim a filhar a guarda, e quando forom
dentro acharão gransolla, pelo qual nom
ousarom de sahir fora, e alli acordárom,
que as Fustas, e Galleotas e Bragantins
tomassem a gente do Barinel, e que en-
trassem a barra.» Inéditos d'historia
portugueza, tom. 2, pag. 402.
— Xevegar a remos.
Mas notando que o Xaire desgostoso
Da prudente repulsa se partia.
Manda outra vez cxijlorador Vclloso,
Á quem fiel interprete seguia :
Desce da gi-ande Náo. do caudaloso
I!io a planice liquida varria ;
Voga coo remo compassado, e certo
De finas sedas o escaler coberto.
j. A. DE itiCEDO, o OKiESTE, cant. 5, cst. 92.
Em fim chegado cora ditoso auspicio
As mclindanas praias, aqui finda
O iUustro Gama a narração pedida.
Ja pazes firma e alliança amiga
Com O africano rei ; e alfim nos mares
Indicos voga. demandando a terra
Que desejada ja de tantos fora.
GAKEETT, CAMÕES, cant. 8, cap. 11.
— Figuradamente : Ter diverso efiFeito.
— Figuradamente: Ter vigor, estar
em uso, correr, valer, ter influencia.
A nymfa tem mil écHras
de formosa o mais de estado,
e seu pae é bom letrado.
Não vos caseis vós com letras
onde só voga casado,
que é morrer em palheiro
casardes com bolsa enxuta.
AXTOXTO PRESTES, ATTTOS, pag. 121.
— Termo antiquado. Advogar.
VOGARIA, s. / Termo antiquado. Ad-
vocacia.
— Pôr em vogaria ; pôr em pleito, em
contestação.
VOGUE, s. Mi. Embarcação pequena da
índia.
1.) VOLANTE, «. m. Tela mui rala de
linho ou là.
— Volante do relógio; peça que resis-
te ao impulso da mola, e faz que se vá
restituindo regularmente, ou que regula
o movimento da roda catarina, entrosada
nos dentes d'ella.
Meu velho.
Qu'é O meu volante.
o meu anel...
Oh ! meu velho ?
Se uma eu^nda, outra em revida," "_/■ " "
carregam boi do concelho. - ' '
AXTOsio PEESTES, AUTOS, pag. 27Õ.
— Peça de cortiça empennada,' com
que se joga ao ar, e que se torna a ati-
rar com a raqueta quaKuo vem caindo.
— Jogar o volante.
— Vid. Andarilho.
2.) VOLANTE, adj. 2 gen. Voante, que
vôa.
Desde o vasto Elefante ao verme humilde,
DAguia volante ao paludoso insecto,
Do Monarca ao Pastor, todo respira
Ou tudo se confunde, acaba, e perde
De sua frente ao magestoso aceno.
J. A. DF, MACEDO, A NATUREZA, Cant. 1.
— Figuradamente: Que se move com
rapidez.
Tal he d'alma o poder ! Substancia ethérea
Que nos caducos vcos inda envolvida
Da origem se recorda, inda conserva
Hum habito divino, e só nhum ponto
Sem mudar de lugar, gira volante
Se muda o pens.imento : ella nas tristes
Casas penetra da espantosa morte.
J. A. DE MACEDO, A IfATtrBKZA, Cant. 1.
Sobre as azas do Sul volante-f nuvens
Correm lançando do medonho seio
A chuva salutar, qu' a Terra ensopa.
Chega, calando, ao coração dos Montes,
E nas vastas entranhas cavernosas,
Da própria gravidade as leis seguindo.
iBEDEsi, cant. 2.
— Tropa volante ; nos conclaves, os
cardeaes que não tomam partido algum,
imparciaes.
— Papeis volantes ; breves escriptos,
que se espalham.
— Não fixo, que anda para muitas par-
tes, não de assento.
— Carro volante ; carro que se move
com rapidez.
— Campo volante; tropa á ligeira sem
artilheria para expedições de pressa, sal-
to, e forte.
— Homem volante ; homem não assen-
tado, não estabelecido na terra.
— Sello volante ; sinete impresso só
em uma parte do sobrescripto, e não na
outra, de maneira que vae a carta aber-
ta, ou para se poder abrir, até que se
cerre para se entregar.
— Dragão volante, meteoros volantes;
que se dissipam logo nos ares.
— Commissario volante ; que muda de
terra, vae, e volta com seu negocio, e
mercadorias, ou retorno d'ellas.
— Guerra volante ; guerra feita pelos
Índios acconnnettendo, e fugindo sem offe-
recer batalha formal.
— Servo volante ; um insecto.
— Soldado volante ; soldado armado á
ligeira, veleiro; soldado que serve volun-
tário, sem praça assentada.
VOLANTIM. Vid. Bolantim, e Vola-
tim.
7 VOL-AS, ou VO-LAS, por Vos as.
Áchegade-voE a mim :
Qne papades, meu ch'rtibim ?
Escumas de demoniuhado.
Quem vo-las deu ?
Dei-vo-las eu.
GIL VICEXTE, PABÇA3.
— « Ora vedes isso ? era o que vos di-
zia, que de sentirdes que vos sentimos,
vos não fica paciência : quereis ter as
obras á vossa vontade, e não quereis que
vo-las grossem ; quereis-vos soberanos em
tudo, e de haver quem o estranhe não o
o podeis consentir.» Francisco de Moraes,
Dialogo 1.
Que vol-a dê
sob pena de ser mal feito,
e bem que índia, ou que Guiné
lhe pedistes.
ANTOSIO PRESTES, AUTOS, pag. 383.
Eu VOS vi não ha meia ora
contrario do que dizeis.
Tenho para mi...
O que?
Que porque vol-a mostrei
carvão achei.
iBiDEu, pag. 409.
988
VOLC
VOLO
VOLT
VOLATARIA, ou VOLATERIA, «. /. Ar-
to (lo f.ir.ir .-iv. s, (.'oiii iiiitriíri 'lo rajjina.
— Alfa volateria. Vid. Alteuaria.
— As :^V^í^ (JtlO SC ca^'!llil.
VOLATEAR, i'. n. Adejar, osvoaçar, dc-
batci-ic. 01)111 for^a para voar.
VOLÁTIL, ailj. 2 f/un. (Do latim vola-
tilis, de volwe). Quo tom a faculdade do
voar, — A espécie volátil. — Os insectos
voláteis.
— Termo do chimica. Que é susceptí-
vel do 80 reduzir a fraz, ou a vapor, quer
il tompcratura ordinária, ((uer pela aerfio
d'iun calor niali "U menos elevado. As
parto-i mais voláteis das matérias combus-
tíveis, obudcceulo seiíi esforço a este mo-
vimento expansivo, que lhes foi commu-
nicado, se elevam a vapores. Os produ-
cto3 voláteis desapparecem pela evapora-
çílo nas mudanças do vasos, pela absor-
pção nos meios que ati-avessara.
— Figura; lamente: Cousa subtilissima,
que SC oxhala.
VOLATILIDADE, s. f. Antigo termo de
physica. Qualidade do que c susceptível
d'uma expansão subtil. — A volatilidade
do fogo.
— Termo de chímíca. Faculdade de
que gozam certos corpos sólidos ou líqui-
dos <le sii transformar em vapor.
VOLATILIZAÇÃO, s. /. Operação chi-
mica <[ue consiste cm transformar um cor-
po solido em gaz ou vapor.
— Acção de SC volatilizar.
VOLATILIZADO, jjart. pass. de Volati-
lizar. — Camjj/itfd volatilizada.
VOLATILIZANTE, part. act. de Vola-
tilizar. Volátil, que se exliala, que se
evapora.
— Medicamento volatilizante ; que com-
munica espíritos voláteis.
VOLATILIZAR, ou VOLATILISAR, v. a.
Termo de cliimica. Roduzir a gaz ou a
vapor.
— Tornar volátil.
* — Volatilizar-se, i'. refl. Reduzir-se a
vapor, ou a gaz.
VOLATIM, s. m. Volteador em maro-
ma.
— Termo pouco em uso. Caminheiro,
que f;\z grandes jornadas.
— Homem que vai diante do coche,
correndo .n pé, ou a cavallo.
f VOLATIZADO. Vid. Volatilizado.
O Sal volathculo s'cncorpor!i
N'atmo9fiM'a qu'ein torno ii torr;» fecha,
Oo"oá túrbidos vapores se mistura.
J. X. DE MACEDO, A RATUBEZA, caut. 3.
t VOLCANICIDADE, s. /. Termo de
geologia. Incaudesoeucia do centro da
terra.
— Reacção do interior da terra sobre
a crusta exterior, ou acção dos volcões.
— Estado ou condição das substancias
d'origejai volcanica.
VOLCANICO, ou VDLCANICO, A, adj.
Qm- iHTt'iice aos voleucn.
— Ti: 111:110 volcanico; terreno formado
pelas eru[)çncs iln.s voIcõoh.
— Termo de botânica. Diz-HO das plan-
tas que crcdccui no meio das dcjccçOos
volcaiiieas.
— Figuradamente: Ardente c impetuo-
so como um volcão. — Cabeça, iviugina-
ção volcanica. — ■ Possuidor d'uTn coração
virgem e volcanico.
VOLCÃO, ou VULCANO, s. vi. (Do latim
vidcunun). (lolfo aberto, as mais das ve-
zes nas montanhas, e d'oiidc HÚcm turbi-
Ihijes do fogo, e matérias em fusão. lia
na Europa trcs famosos volcões : o mon-
to Etna na Sicília, o monte Hecla na Is-
lândia, c o monte Vesúvio na Itália, per-
to de Nápoles.
— Volcões extinctos; volciJes que esta-
vam em actividade antos do estado actual
do globo. O numero dos volcões extin-
ctos ó actualmente talvez cem vezes maior
que o dos volcões acccsos.
— Ha volcões d'agua, isto é, monta-
nhas que vomitam regatos d'agua, taes
como as da Cíuatiniala, na America.
— Cratera do volcão ; abertura, ou
bocca por onde suem as lavas do vol-
cão.
— Lavas do volcão; as matérias in-
flammaveís que o volcão expello de si.
— Figuradamente : Um logar em que
uma numerosa artilhería faz um fogo ter-
rível.
— Figuradamente: Imaginação impe-
tuosa, ardente.
— Figuradamente : Perigos imminen-
tes, mas occultos.
VOLENTINA. Vid. Valancina.
VOLIÇÃO,»./. (,Do latim volitiu). Ter-
mo de escolástica. A acção de querer, da
vontade.
VOLIERE. Vid. Aviário.
VOLITAR, V. n. (Do latim volitare).
Voltear.
VOLITIVO, A, adj. Declaratório, ex-
pressivo da vontade. — Modo volitivo.
VOLIVEL, adj. 2 gen. Termo de esco-
lástica. Que se pó le querer.
f VOLO, ou VO-LO, por Vos o.
Jfas verdadeiro, fácil, c aingello
De puro coração, c alma não falM,
Ko beneuolo aspecto bem mostraua
Do enganos, o maldados csUr liure.
O que aqui socodeo ao Sousa, em outro
Cauto <-olo direi, que este se alarga,
Onde ae podo ver, que o toinpo iwrde,
IJucin presume fugir ao alto juiso.
rOBTÍ BCAL, NAUPBAOIODB 8EPin,>TiPA , Caut. 11.
Eu isso nSo ro-Jo nego.
E logo dalii a hum anno,
Pêra ajuda de casar
Hua orfan, mandastes dar
Meio covado de ]ianno
D"Aloobac,'a por tosar.
ou. TICSliT£, FABÇA3.
QoAndo f
\'')-!o inn
Sf o qiii/'
Niio VO.i di-.i: dt: últu. ,
Se nio falt.ir o querer.
CAM., riLOUKMO, ACt. 2, K. &.
Quo podara ser?
dAo vos irdcD.
Bem quizera,
mas nin quer quem me bem quer.
Quem 10-/0 to'ho?
AJCTONio rauTRa, At-Toi, pag. 115.
Pêra mi tenho, c j* o dioso,
que na*5eo p«ra enfadonho,
e mui cedo vol-o ;ionlio
naiiior.ir-sc da doudice.
iBioBJi, pag. 119.
Bem sei quem vol-o diria
muito á clara, c utiito i gemins,
autos dAmuiihi a moio dia.
Quem, Lemos?
Pcital-o-hia.
Nio busqueis mai* alçaprema.
Nomeae-lhe csííc dourado.
Os homons nào se dev
IBIDEM, pag. 179.
VOLTA, í. /. Movimento circalar.
Quatro perfeitas voUaã tinha dado
O ciarissimo Phebo, a quarta K3;>haera,
E começjindo a quinta, doze dias
Da casa onzena ja tinha corrido,
O tempo resaalandose por pontoa
Tguacs, c costumados ja no moodo
Jfostrado tinha casos difFcrentea
Xos começos, e fins ledos ou triste».
COBTE BEAL, HACPBAGIO DC BEPIXVKDA, CAItt. 5.
De sapito cubertaa de terríboL
Medonha escuridão, c acerbo fado
Com desestrada vcJla se escondiào
No salgado elemento embrauecido,
E 03 tristes nauegantes condonados
Num pouto a miserauel, cruel morte.
tBiDBM, caut. 2.
— «No qual caminho loam de freitas,
o feitor, e o alail fezeraõ muitos voltas
com a gente que seguia seus gruioens co-
mo mui esforçados canalleiros, nas qnaes
e na peleja que tudo foi de noite, e no
aduar morreriam mais de duzentos mou-
ros, de que mais de trinta erSo cauallei-
ros dos principaes da Enxonnia, 6 hntn
delles homem de tanta authoridado como
Alemume.» Damião de Hoes, Chrooica
de D. Manoel, part. 4, cap. 40. — «O
que vendo Pêro de meneses lhe dixe se-
nhor pois forçadamente aueis de fazer
volta a estes mouros junto da ribeira,
onde sei bem que luuu de trauar com
vosco, fazeia agora, ao que dom Ema-
nuel respondoo que lhe parecia muito
bem seu conselho, o que assi fosso, e sem
mais spenu" voltou diante de todos eom
tanta pressa, que por o cauallo ser mui-
to ligeiro se meteo entre os mouros so,
VOLT
VOLT
VOLT
989
onde logo derribou liuiti dos seis de ca-
uallo.» Ibidem, cap. 42. — tE como se-
jam as várzeas darroz ao estender dolhos
parecem muitas embarcações ao longe
vindo a vela, que parece virem cortando
pola terra ate que homem faz volta a el-
les e elles a homem que lhe descobre os
grandes cascos que tem, nam lhe apare-
cendo antes mais que as velas.» Tenrei-
ro, Itinerário, cap. 9.
Seu excêntrico traz passo tâo lento
Que dando no epicvclo volta eirada
Fica por muito espaço o movimento
Seguido eontra a ordem começada,
Obrando nellc tal impedimento
Outra maldade em giáo tão superada,
Que em quanto imprime eutào tudo destrue
No tempo que este tempo errado influe.
BOLIM DE MOCHA, NOVISSOIOS DO HOUXM, Caut. 4,
est. 17.
— A acção de tornar ao logar d'onde
se parte. — «Seguindo Vasco da Gamma
seu caminho na volta do mar por se des-
abrigar da terra, quando veio ao tercei-
ro dia que eraõ vinte de Nouembro pas-
sou aquelle grão cabo da Boa esperança,
com menos tormenta, e perigo do que os
marinheiros esperauaõ. pela opinião que
entre elles andaua, donde lhe chamauaõ
o Cabo das tormentas : e dia de sancta
Catherina chegarão onde se ora chama
aguada de Saõ Brás, que he alem delle
sessenta legoas.» Barros, Década 1, liv.
4, cap. 3. — «E ou que o tertenho o
fez, ou estarem ja com a carga que auiaõ
mester, ainda que Pedraluarez quisera
hir aos imigos elle o não poderá fazer :
porque a nao de Sancho de Tuar hia
muito na volta do mar e como era das
mães poderosas, e as outras também a
seguiaõ.» Ibidem, liv. 5, cap. 8. — «E
fez a Pedraluarez por a proa nellas apa-
nhando hnma e huma te se fazer em hum
corpo na volta de Cananor, ficando os
imigos muito satisfeitos com os verem
partir, em que mostrarão não irem a ou-
tro fffiFeito.8 Ibidem. — «E porque muv-
tos presumiam que deviam ter feito vol-
ta pêra o Achem, pos dom Francisco em
conselho se a fariam elles também pêra
Jlalaca, ou se passariam em sua busca o
termo, que Simam de Melo lhe posera.»
Lucena, Vida de S. Francisco Xavier, liv.
5, cap. 13. — «E tornando na volta do
mar, inda que co vento algum tanto pon-
teiro, em doze dias de navegação traba-
lhosa costeou toda a fralda da terra de
ambas as costas de Sul e Norte, sem em
todas ellas ver cousa de que se pudesse
lançar mão.« Fernão Mendes Pinto, Pe-
regrinações, cap. 52.
— Ir na volta da terra, fazer-se na
volta da terra; voltar a ella depois de
se amarrar.
- — Curvaturas. — «A maior parte do
qual corre tortuoso em voltas meudas,
principalmente do resgate pêra baixo, te
se meter no mar em altura de treze grãos
e meio, ao sueste do cabo a que chama-
mos Verde.» Barros, Década 1, liv. 3,
cap. 8.
— Movimento com direcção circular.
Ao Sistema Solar corpos estranhos
Xa marcha irregular diverso Centro
Da EUipse, ou da parábola descobrem,
Mas tem constante volta, em doctas folhas
Halley a aponta aos Séculos futuros.
J. A. DE MACEDO, A NATCBEZA, Caut. 1.
— Movimento em gyro. — «E indo
desenrolando mais um par de voltas, no
outro dia fui-me ouvir missa a uma er-
mida do logar, afastada algum tanto do
povoado ; e, antes que entrassem ao offi-
clo, sentamo-nos á porta os naturaes e
forasteiros que alii estávamos, e, sem ser
necessário tanger campana, entramos em
cabido sobre a ordem e successo da guer-
ra.» Fernão Soropita, Poesias e prosas
inéditas, pag. 17. '
— As voltas do labi/rintho ; caminhos
com rodeios torcidos.
— Voltas ao mots; espécie de glosa.
— Volta em redondo no baile ; gyro.
— Gyro em torno.
— ]\Iovimento de rotação. — A terra
dá uma volta em 24 horas.
— Movimentos que fazem os luctado-
res para se derribarem uns aos outros.
— Alternativas, revezes. — As voltas
da fortuna.
— As voltas do tempo; as vicissitudes,
o volver dos annos.
— O terreno em que o picador traba-
lha o cavallo na picaria.
— Alternativa. — «E quer dizer, que
o coraçam aleuantado com fè, e amor, e
louuor de Deos, está sobre todolos cor-
pos terreaes, e celestiaes. E dos homens
cujos corações amdam metidos na terra
disse que anuauam em redor sojeytos aas
voltas e mudanças das cousas temporaes.»
Fr. Bartholomeu dos Martyres, Catecis-
mo da doutrina chrisíã.
— Volta da cantiga ; os versos que se
repetem depois de cada ramo, ou ramos.
— Loc. : Furtar as voltas a alguém ;
fazer gyros para se não encontrarem, e
escaparem.
— Figuradamente: Fazer-se em outra
volta; mudar de resolução, de intento.
— Dar uma volta na casa ; mover-se
em roda d'ella, talvez dançando.
— Figuradamente: Furtar as voltas
a alguém; fazer gyros para não se vêr
ou concluir com alguém, que sobre al-
gum negocio o busca.
— LoC: Andar ás voltas 7io viar ;
fazer bordos, por nào poder seguir um
rumo direito.
— Dar volta o tempo ligeiro; revol-
tar-se, mudar de feição.
Deu volia o tempo ligeiro,
Tornou-me a minha esperança,
E com súbita mudança
Fiquei qual nasci primeiro,
Fui grande, tive poder ;
E nesta nova ventura.
F. nODBICnES L0B0,0 DESEXGAXADO.
— Errando de volta em volta no la-
byrinth}; andando n'elle caminhos com
rodeios torcidos.
Se no Dedáleo Labii-intho entrasses,
De volta cm volta errando, aos mudos troncos
Perguntar.ís em vão, tu nào souberas
Co' a vareda atinar : tal me pareces
Que confundida, attonita vagucas
Co' o pensamento pela noite, e ao vácuo
Immeuso, indivisível, onde existe
Tudo o que vês nos Ceos, e vês na Terra.
J. A. DE MACEDO, A SATCEEZA, Caut. 1.
— Ter-se ás voltas ; resistir aos mo-
vimentos que fazem os luctadores para
se derribarem uns aos outros.
— Dar uma volta ; dar um pequeno
passeio.
— Tira de panno que cobre o cabeção
dos clérigos.
— Duas tiras pendentes sobre o peito
dos que vão de capa e volta.
— Termo de architectura. A parte cir-
cular do arco, da abobada, começando
da pedra immediata ao capitel ou cima-
Iha, e as mais pedras que se seguem de-
nominam-se peças de volta.
— De volta com alguém, ou com algu-
ma cousa; de mistui-a.
— Figuradamente : Velejar no mar
d'este mundo raras voltas ao bem, e ao
mal mais vezes.
— Andar ás voltas ; pairar, cruzar no
mar, esperando outros navios, ou em cor-
so, ou a favor d'e!les.
— Dar voltas á fortuna ; variar o
successo das cousas, alternal-o.
— Figuradamente: Dar mil vezes mil
voltas ao pensamento ; pensar de mil mo-
dos.
Que mil vezes me faz dar
Mil voltas ao )>onsamento.
Nào entendo delle nada.
Mas inda qu'isto he assi,
Disso que dcUe entendi.
Me sinto tào alterada,
Qnc me arreceio de mi.
CAM., FILODEMO, act. 2. BC 6.
— Fazer alguma cousa ás voltas d'ou-
tra ; em quanto se faz a outra juntamen-
te no mesmo ensejo, e conjuncção.
— Figuradamente: Ter-se ás voltas
com os desejos; resistir, reagir contra os
meros desejos, do mesmo modo que o lu-
ctador resiste ás voltas com o seu adver-
sário.
— Gyi'o de cambio com usui-as.
— Voltas no esfi/lo ; torneio, contorno
na composição das phrases, e sua con-
strucção accommodada aos pensamentos,
que hão de exprimir.
990
VOLT
VfíLT
VOLT
— Loc. : Dar voltas aos textos; dar
(livorso.s Bontiilo» furçinlos, improprio.s.
— Locii^rto (lo iiHuticJt : Fazar-sii na
volta (1'alguma terra; inular o rumo
que 110 levava, e ir demandal-a.
— Volta iVolhos ; goito do namorar,
— /J'ír volta jxirn traz; tornar atra/,.
— Fi;,'uraliiinoiite: Dar volta para
traz, ilesviar-se d(j erro (jue ia seguin-
do; (li'Hviar-so, afastar-so atraz, a fora.
— Volta do panno que envolve jmr
inteiro ; uraa volta do cordão, ou corda,
que cin^e o corpo por inteiro uma voz.
— As voltas da amarra ; recolhida
em cireulos.
— As voltas dos cabos ; quando estJlo
fixos onde se reatara.
— Voltas do cordel ; arroclmndo-o mais
apertado nos tractos.
— Figuradamente : Dar mais w;na vol-
ta ao cordel; aecreseentar mais alguma
moléstia, ou tormento, dôr, trabalho.
— Fazer voltas ao inimigo ; torna-
rem a ferir n'elle o^ que parece, ou real-
mente se vinham retirando d'elle.
— Fazer-sc o entendimento em mil vol-
tas ; estar mui desassoeegado, istoó, olhar
as cousas por todos os lados com inquie-
tação.
— Termo antiquado. Briga, motim, pe-
leja, alvoroço, choque, rixa.
— Figuvail amento : Levantar volta em
juizo.
— Dar voltas ^wr obter alguma cou-
sa; trabalhar muito.
— Dar o Juízo volta ; endoudecer, en-
louquecer.
VOLTACARA, s. /. Termo militar. Fa-
zer voltacara ; voltar as costas para reti-
rada.
VOLTADO, parí. pass. de Voltar. Vi-
rado.— «Nào saboroy diser se a vara era
assim de sua origem, ou se tinha feito
assim por força do uso que ella lhe da-
va, pois que para se servir delia lhe pe-
gava pelas duas pontas, tendo a parte
convexa do arco voltada para cima em
nituaçào vertical.» Cavalleiro d'01iveira,
Cartas, liv. 3, u." 26. — «Sabia que ou-
tras usavão da vara pcgando-lhe com a
míío esquerda pelo meyo, com a palma
voltada sempre para cima, e arqueando
com a mão direyta a ponta da vara que
apertavão dentro da mesma mào. A di-
recção destes era mixta, porque de huma
ponta da vara até o meyo lhe davào si-
tuação horisontal, e a outra parte, que
era mais curta, ficava em situação ver-
ticiil.» Ibidem.
— Vid. Volto.
— O cabello voltado em anneis; cabei-
lo eros]io.
f VOLTAICAMENTE, ndv. Por meio da
electrieiíiade voltaica.
VOLTAICA PILHA\ ou PILHA DE VOL-
TA, .<. f. Termo «lo chiuiica. Apparelho
eléctrico iiiventaiio por Volta, ck-pois da
descoberta do galvanismo. Vid. Bateria.
f VOLTAICO, A, adj. (De Volta, cele-
bro pliy-ii-o italiano, <|uc iaventou a pi-
lha). Termo de pbybica. Diz-so da pilha
eléctrica, o de seus eflfeitos. — PiUia, cor-
rente voltaica.
f VOLTAISMO, s. VI. Electricidade
desenvolvida pelo contacto de Dub^taucia»
heterogiiic^a-'.
I VOLTAMETRO, k. m. Termo do phy-
sica. Instrumento destinado a roeilir a
energia o força da corrente da pilha do
Volta.
VOLTAR, V. a. Virar. — Voltar a fo-
lha de um livro.
E sempre libcnil iiiaií amplo roita
O pciiicno dcpoAito, i|u'ao siào
A parca miio do lavrador Uic lain;a !
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Caut. 2.
— Voltar as cosias ao mundo; aban-
doual-o, ucsprezal-o.
— Figuradamente: Voltar as guardas
a alguma cousa; tomal-a ao contraiio, ao
avesso.
— Voltar o rosto, as costas a alguém ;
para o não vêr, ou nos apartarmos d'elle,
e talvez com desagrado.
— Voltar a fortuna o rosto a alguém ;
desfavorocol-o.
— Voltar ao inimigo; retha.r-Be d'elle,
e talvez com a fuga.
— Termo popular. Voltar casaca. Vid.
Virar.
— Voltar-se, v.refl. Virar-se. — «Du-
que de Corduba, u.ào creias que o meu
espirito se volte hoje para aá misérias da
terra, iuipellido por uma tardia saudade.
Não ! De que me Bcrviriam o ouro, o po-
der e a gi-andeza? Para tomar um pu-
'.ihado desse lodo não se curvaria o Prcs-
bvtero.» Alexandre Ilercidano, Eurico,
cap
«Ao voltar-se e ao dar com os
olhos em el-rci, Fernando empalliíleceu
e balbuciou alguuías palavras. O seu pla-
no, estribado na supposta enfermidade,
consideriHi-o como perdido.» Idem, Mon-
ge de Cisler, cap. 26.
— Voltar-se para alguém; pCr-sc do
frente para elle.
— V. n. Fazer volta, tornar do logai-
para onde fôramos, ou íamos. — «Com
cuja morte os seus dcsacoroçoar.ào de tal
màneyra, que querendo voltar para huma
ponta' que chamavão Batoquirlm, com
tenção de ahy feitos todos em hum cor-
po, se fazerem fortes ate vir a noite, cm
que dcterminavão de se acolherem, o uào
puderão fazer, porque a corrente da agoa,
que era muyto grande, os dividio em
nuivtas partes.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. i52. — «Ante do qual
fiito tinha acontecido outro a lorge da
Svlucira digno de tão bom caualleiro, co-
mo elle era: indose os Mouros recolheudo
ao palmar, foi lorge da Svlucira com o
seu colaço dar com hum Jlouro homem
nobre em seu trajo, que leuaua huma
molhcr moça du bom parecer ante bí, qao
parecia BUa esposa, e quando vio que lor-
ge du Syluuira eucarada nella, deu de
mão á esposa, uiandaudo-lhe que se eal-
uast<e, o voltou sobrVdle polo entreter.)
Barros, Década 2, liv. 1, cap. 2. — «Mas
tornaudo a Paio de .Sousa, Pêro Barreto,
Diogo Pirez, Duarte de Mello, e outros
capitães que andauam em trabalho de
acodirem a dom Lourenço, vendo que a
nao cstaua quasi toda no fundo, e que
era entrada dos imigos, voltaram com a
corrente da maro com que saíram piela
barra.» Damião de Goeti, Chronica de D.
Manoel, part. 2, cap. 26. — «E quando
voltou, chegou primeiro a Cascai^»*, que
Vasco da Gama. E por elle soube EiRey
todo o succedido uaquelle dcãcobrimento.
Pelo que entre outras mercõs, que ElBey
D. Manoel lhe fez, lhe deu por armae em
campo vermelho hum Lcaò rompente en-
tre duas colunuas do prata, que estão so-
bre huns moi.tes verdes.» Severim de
Faria, Noticias de Portugal, Disc. 3,
cap. 16. — «Recebendo Tachard o seu
Luiz de ouro, voltou com a Demoiselle
para casa onde se físeràu muitas expe-
riências com dinheyro escondido debayxo
de alguns vaáos de vidro, e de porcela-
na; e ainda que nem em todos houve o
mesmo successo, o me^mo Tachard atri-
buído a falta delle á precipitação com
que a Senhora Franco operava.» Caval-
leiro d'Olivelra, Cartas, liv. 3, n." 26.
— a Fiquei pois de:am]>arada e só, no
meio d'uma revolução, na qual não fatia-
rei, senão nos pontos que tem relação co-
uúgo. Recebia algumas Cartas de Adol-
pho, que de contiuuo me dava a esperar
que voltaria; mas que de coutiiiuo se de-
morava. » Francisco Manoel do Nasci-
mento, Successos de madame de Seneter-
re. — «Dalli voltaram a Calypso, que os
esperava. As uymphas, com oa cabellos
entrançados, e cândidos vertidos, miuis-
traram umas iguarias simpleces, ma» ex-
quisitas no gosto e no aceio. Nào havia
outros guisados mai< que das avcâ, por
ellas prca las r.as redes, ou das feras, que
tinham assetteado na caça. Grandes e ar-
ger.teas vasilhas, despejavam em áureas
taças vinho mais saboroso que o néctar.»
Francisco Manoel do Nascimento, e Ma-
noel de Sousa, Telemaco, liv. 1.
Komn, T?oma, Oà teus dias sio contados ;
Tu queres um senhor : te-lo-has. Os (^uídcím
Ja não ro/tiim. Sem honra, «em \-irtudo,
Sem aquella pobrej;a s.iueta o li\Te
De Fabrioio, ouda vai a liberdade !
Marco-Tulio venceu a Catilina.
«ABam, CATÂo, aot. 1, se. 2.
Esto horror da anniquilação, e o vago
Desi^jo de outni vida mais ditosa,
O que sáo? — Indiátinotis. m.iâ seguras,
Kominisorncias da perdida pátria.
E *auJ;»Jeá de voltar a ella.
IBIDEM, act. 5, so. 2.
VOLT
VOLU
VOLU
991
— «Depois de fechar a lista e chrismar
muitas' pessoas que necessitavam d'este sa-
cramento, nos despedimos, e voltando pe-
lo mesmo rio a casa de Guillierme Bros-
sem, nos embarcamos peias 10 horas da
noite para a cidade.» Bispo do Grão Pa-
rá, Memorias, publicadas por Camillo
Castelio Branco, pag. 213.
— Voltarem as noutes sobre os dias;
irem sendo maiores que elles.
— Voltar á direita, á esquerda; tomar
á mão direita, ou á esquerda.
— Voltar sobre o inimigo; tornar a
atacal-o depois de se ir retirando d'elle.
— Mover-se em gyro, em torno, apar-
tando-se de um ponto, virar.
— Torfiar a voltar atraz ; voltar atraz
de novo, segunda vez, recuar do novo.
— «Pirbee que hia diante achando logo
a gale menos, tornou a voltar atraz, e
chegando à restinga, achou a gale que-
brada, e toda a gente nella, e deitando
barquinhas fora, mandou recolher todos,
e 03 Portuguezes que forao taõ mofinos,
que podendo-se salvar em terra que era
perto se deixarão ficar.» Diogo de Cou-
to, Década 6, liv. 10, eap. 10.
— Voltar attonitos; voltar espavoridos,
espantados, admirados.
Os Lusos dous atónitos voltarão,
Na idêa iaimersos da funesta scena,
Deixando o estranho Templo atravessarão
Pela estrada espaçosa a selva aracua :
Ao longe surta a Frota demandarão,
JA quando a noite plácida, e serena
O véo de estrellas recamado abria,
E a Lua o rosto no horizonte erguia.
J. A. DS MACEDO, O OBIESTB, Caut. 5, GSt. G2.
— Voltar atraz; vir atraz, recuar, re-
troceder.
Assombrado do gelo atraz voltava ;
Mas nunca hum passo além co' o Lenho ousado
Da terra foi , que descobrira hum Luso ;
Magnânimo Queiroz, deste-lhe hum nome
Para ti foi brazão, e he meta aos outros.
J. A. »E MACEDO, TIAGEH EXTÁTICA, Cant. 4.
— Voltar com pressa; voltar ligeiro,
rapidamente. — «Mas pois voltar com
tanta pressa nam era honra, e estar mais
de vagar naquella ilha era de nenhum
proueito, em todo o caso auiam dir auau-
te : que em fim sempre fora melhor leuar
a vitoria nos olhos, que deixala nas cos-
tas. Com tudo a doin Francisco nam lhe
pareceo apartar se do regimento, que lhe
deram.» João de Lucena, Vida de S.
Francisco Xavier, liv. õ, cap. 13.
— Substantivamente: Um voltar d'o-
Ifws; acto de pôr os olhos em alguma
cousa.
— Figuradamente : Em um voltar de
olhos : em um momento.
VOLTARETE, s. m. Jogo de cartas em
que o fejto volta um trunfo, ou o levan-
ta da baralha, ou o declara a seu arbí-
trio quando se faz só, sem ir comprar á
baralha, etc; jogo mui análogo com o
jogo da arrenegada. Vid. Arrenegada.
V0LTE.4D0, part. ^jass. de Voltear.
VOLTEADOR, A, s. Pessoa que voltêa.
— Pessoa que dá voltas, e faz equilí-
brios sobre a corda.
VOLTEADURA, s. f. Acto de voltear,
volteio.
VOLTEAR, V. a. Dar gyros, contor-
near.
— Voltear as bandeiras; dando voltas
com ellas.
— Voltear a funda no ar; gvrar.
— V. n. Gjrar, rodar.
— Voltear o marinheiro ]ias cordas do
navio.
— Revolver-se.
VOLTEIRO, A, aãj. Termo antiquado.
Brigoso, rixoso,- que levanta brigas, mo-
tim.
VOLTEJADORES, s. m. plur. (Do fran-
cez voltiyeuis). Vid. Volteadores, termo
verdadeiramente portuguez, oriundo de
voltear, pois volíejadores é gallicismo
desnecessário na nossa lingua.
VOLTEJAR, L-. a. (Do francez voUiger).
Vid. Voltear, pois voltejar é gallicismo
escusado no nosso idioma.
VOLTERETE, s. m. Vil. Voltareis.
VOLTIVOLO, A, adj. Termo pouco em
uso. Vario, inconstante.
VOLTO, part. pass. irreg. de Volver.
Voltado. .
— Volto o rosto para se retirar da ba-
talha.
— Os olhos voltos em sangue; os olhos
feitos em sangue, tornados n'elle.
— A bocca torcida, e volta a uma ore-
lha.
— E volto a D. Fernando; virado
para elle.
VOLUBEL, ou VOLUBIL. Vid. Volúvel.
VOLUBILIDADE, s. /. (Do latim volu-
bilitas, de vulubilis). Facilidade de se
mover.
— A volubilidade da linguagem; a fa-
cilidade da língua em se mover d'esta ou
d'aqueila maneira.
— Figuradamente: Volubilidade da
lingua; habito de fallar muito, e de-
pressa.
— Figuradamente: Articulação nitida
e rápida. — Fallar com volubilidade.
— Figuradamente : Propensão, facili-
dade para a mudança; fallaudo do espi-
rito, do coração.
VOLUME, s. m. (Do latim volumen). A
grandeza, tamanho, tomo do corpo de
qualquer livro de uma obra impressa ou
escripta. Vid. Tomo.
Foi teu maior estudo esse Volume,
Onde as Wsões de extático Profeta
Em sombra impenetrável se sepultão.
J. A. DE U.ACEDO, ^T-IGEM EITAIICA, Caut. 3.
Depositada está n"aureo volume.
Que aobranceiro ao saugue, ao cadafalço
Não ferio cora Bailly furor de Tigres !
Que escondidos nas lôbregas cavernas
Sem cessar vào sapando Altar, e Throno,
Ao mundo dando Leis, aos homens ferros,
Que afiigentào virtude, e o crime escorão.
IBIDEM, cant. 4.
Quando acaso feliz nos desenterra
Dentre bárbaro pó volume antigo,
Os assombrados séculos admirào
Da Genotria terra no profundo sábio
Quanto o Grego Filosofo escrevera !
roEM, KEDiTAÇÃo, cant. 1.
Pudeste, Miraband Í3'é3 tu daquelle
ímpio volume Ai-tiíice profano),
Desconhecer hum Deoa principio eterno !
IDEM, A KATUBEZA, Cant. 2.
— Trabalho que fornece a matéria de
um volume.
— Volume ia-folio ; livro em que a fo-
lha de pape! faz dous folhetos.
— Volume in-quarto; aquelle em que
a folha faz quatro folhetos.
— Volume cm oitava, doze, dezeseis,
etc; aquelle em que a folha dobrada faz
oito, doze, dezesseis folhetos.
— Figuradamente : Desenvolvimento,
amplitude.
— Figuradamente : Em grande volu-
me ; em grande quantidade.
— Em pequeno volume ; em pequena
quantidade, com pouca força.
— Diz-se da massa d'agua que revol-
ve um rio, uma ribeira.
— Termo de musica, em compararão
com um volume d'agua. ilassa de som
que produz uma voz ou um instrumento
em cada um dos graus do diapasão.
— Termo de geometria e de phvsica.
O espaço occupado pelos corpos. — O vo-
lume de um corpo é igual ao seu peso
dividido pela sua densidade. — Isso é de
um grande volume, e de um pequeno
peso.
: — Diz-se da grossura dos órgãos do
corpo vivente. — A comparação do volu-
me do cérebro.
V0LUMIN030, A, adj. Vid. Volumoso.
VOLUMOSO, A, adj. Fallaudo de uma
obra, que tem grai.de numero de volu-
mes.
— Que fez muitos volumes* — Autlwr
volumoso.
' — Muito enérgico em todos os senti-
dos; que occupa muito logar.
VOLUNTARIAMENTE, ndv. (De volun-
tário, com o suíuxo «mente»). De boa
vontade, sem constrangimento. — «De
todas estas cousas a mais iilustre, assi
em grandeza, como em perfeição de ar-
ckitectura, foy a ponte de Trajauo, a
que 03 Mouros deraõ nome de Aleantha-
ra, que em Arábigo he o mesmo que
ponte, inda que esta se edificou à custa
dê muitos povos de Portugal, que se fin-
tarão voluntariamente, vendo a gramle
necessidade que avia delia.» Monarchia
Lusitana, liv. 5, cap. 10.
992
VOLU
VOLU
VOLV
— Por cumprir vontade, o contru ra-
itLo.
— Espontaneainonto, por rjuorcr. —
Soccorro li/inado voluntariamente. —
« Verdaili soja, que cscrovoíulo ao Pa-
dre M. Simaiii numa de Malaca d'esto
mesmo anuo de coronta o iioue, dcelara,
(juauto mais depressa se aleaiir-a a cou-
fiançá' em Daoi na falta do todo empa-
ro, o aoeorro iiuniauo tomada volunta-
riameute por zelo do diuino .seruiyo, que
na abundância das couHas necessárias, o
noa peri;;os cuideutes da morte, em que
no3 põem a oljodiencia, e desejo da glo-
ria do Seniior, que na soRura, o bolla
paz.» Lucena, Vida de S. Francisco Xa-
vier, liv. (), ca]!. 17.
VOLUNTARIEDADE, «./. Crenva livro,
espontaneidade.
— Vontade, caiirichosa.
1.) VOLUNTÁRIO, s. m. Aquelle que
servo n'um exercita, que toma parto n'u-
ma expodii,'ão, sem a isso ser obrigado.
— Homem que serve na tropa sem
praça, som soldo. — Os voluntários da
rainha D. Maria u.
2.) VOLUNTÁRIO, A, aJj. (Do latim
vulantarius). l)i/,-se de tudo o que está
em nosso poder de fazer ou uão fazer.
— Movimento voluntário.
— Termo de physiologia. Nerws vo-
luntários ; aquelles que cedem ao tecido
muscular, e que, por seu intermédio, o
Bubmettem á inllueneia da vontade; não
teem corpúsculos ganglionarios,
— Músculos voluntários ; aquellos que
executam moviuientos voluntários.
— Que se faz de pura vontade, sem
constrangimento. — Um erro voluntário.
— «E temendo, que a enforcassem os
Generaes porisso, porque he ponto, que
sç naõ dtívo perdoar, passou-se para Cas-
tella, ^ castigando-se a si mesma com de-
gredo voluntário : e por(jue fugio sem
passaporte, uaõ se atreveo a voltar; e
lá se fez natural com tanta audácia, o
excesso, que cm breve tempo assolou
toda Espanha com tributos para engor-
dar, por(iue Ília muito magro deste Rey-
no.» Arte de furtar, cap. G9.
— Que obra por sua própria vontade,
sem ser a isso constrangido, fallando das
pessoas. — « Miraguarda se deteve ura
pouco, cuidando o (pic devia fazer, por-
que, alem de voluntária, era discreta:
depois de se detern.iinar no que melhor
lhe pareceu, o mandou vir ante si, fican-
do Florendos '.,o campo.» Francisco de
Mori:ve8, Palffieirim d'Inglaterra, capitulo
108.
TT-Ojae só quer fazer a sua vontade.
.'—> ASoWrttios voluntários ; soldados que
flOrvera na tropa sem preço, nem soldo. —
«Polo que cn\ usar destes prémios para o
intento, com que foraõ instituídos, está o
podermos ser poder.isos, o ter grande nu-
mero do Soldados voluntários, e naõ for-
çados, com (pie veuçamos nossos iuimi-
fíon, > Severini do Faria, Noticias de
Portugal, Disc. 2, cap. lli,
— \)o boa vontade.
Noa conBtitiiiino» rnn «onado fi cúria ;
]i í nos^a atiut<ji°idadc tiiibinuttêinoH
Milliiirurt dl) liomoiis!. — • Volunlarioi, digo,
ViiíUios uo ptiiigo --•(!, oiii>|ii<iiiU> longo,
rioviíriíilnios Si'nliorCH, rf!Hii(!Ítado«,
Como no Capitulio obedecidos.
aARnv:rr, UAiÂo, act. 2, RC. 2.
— Jurisdicção voluntária ; a que se
exerce nos pontos quo dependem do que-
rer das partes.
— Homem voluntário ; homem amigo
de fazer a sua vontaile, sem talvez guar-
dar os foros á razào, o á justiça.
— Guerra voluntária ; n.ão necessária
á dcfi',za, conservai;.ão, de capricho.
VOLUNTARIOSAMENTE, >i,tv. (Do vo-
luntarioso, com o sufllxo «mente»;. Co-
mo quem só quer fazer sua vontade, a
arbitrio ou capricho, contra razão, direi-
to, prudência.
VOLUNTARIOSIDADE, s. f. Qualidade
do voluntariuo.
VOLUNTARIOSO, A, wlj. Vid. Volun-
tário.
VOLÚPIA, 3. f. (Do latim Volúpia).
Termo de mythologia. Deusa da fabula
que presidia ás dissoluções. Voluptuosi-
dade.
VOLUPTARIO. Vid. Voluptuoso.
VOLUPTUARIO, A, a<lj. — Bemjeitorias
voluptuarias ; de recrcaç.ão e prazer, o
não necessárias, nom feitas por commo-
do.
— Vid. Voluptuoso.
f VOLUPTUOSAMENTE, adv. (De vo-
luptuoso, eom o snffixo «mente»). De
um modo voluptuoso.
— Com deUíite, voluptuosidade.
VOLUPTUOSIDADE, s. /. Caracter vo-
luptuoso das pessoas ou das cousas.
VOLUPTUOSO, A, adj. (_Do latim volu-
ptuosHs). Que procura o prazer, o delei-
te, fallaudo das cousas. — Uma habita-
ção, um ijerfume voluptuoso.
— Que exprime o prazer, o deleite.
— Em que so descreve e se pintam
seenas voluptuosas. — Quoilros voluptuo-
sos.
— Que ama o prazer, o deleite.
— Substantivamente : Um voluptuoso.
VOLUTA, s. /. (Do latim vuluta).
Termo de architcctura. Parte do capitel
da columna em que se representam CJis-
cas de arvores, retorcidas, o enroscadas
em linlias espiraes.
— Diz-se de toila a espécie do enrola-
mento, semelhante aos da voluta do c;i-
pitel ionico.
— Termo do historia natural. Concha
nnivalvc.
VOLUTABRO, .<. m. Termo pouco cm
uso. O lodaçal, espojadonro do porco.
— Figuradamente: Immundicio de de-
leitei, em quo 80 revolve o devaMo, o de-
bocliado.
VOLÚVEL, adj. 2 (jvn. (^uo co volve,
gyra, roda.
Sympatbica attracf ào deocobro Urauio,
(^uc du li chama a si volmeU oiula«.
J. A. DK MACKDO, A NAtUalUtA, Ciillt. 3
— Vario, inconHtanto, variável, incor-
to.
— Termo de botânica. Diz-se do todo
o género de plantão que trepam o so en-
roscam em redor do que está perto d'cl-
las.
VOLVA, *. /. Termo de botânica. Mem-
brana cm forma do bulsa quo envolvo to-
talmente certos cogumelos.
f VOLVACEO, A, adj. Termo do hiuto-
ria natural. Que tem a forma do uma
bolsa, de uma volva.
VOLVADO, A, adj. Termo de boUnica.
Cou) volva.
VOLVADOR. Vid. Envolvedor.
— Vid. Envolvedouro.
VOLVER, V. a. (Do latim volvtrt). Vol-
tar.
 novas sccnas, novas maravilhas
Teus olhos volve, Alcipc, oh quanto hc grato
O pomposo espectáculo da Terra !
J. A. DE UAOEDO, A MATCBEZA, Cant. 2.
Sob"csta horrenda Scona os véos desdobro,
Lembrão-mc os tristes Incas; volvt agora
A novo objecto os olhos, novas graças
Yacs descobrii- na Torra, e mais riquezas.
Rápido ia o sol no ceo descendo :
O guerreiro ciutor vnlvt a imbrcnhar-ac
iMa espessura e bosques. Não csp°ranç«a
De melhor sorte, uào lisonjas doces
De amor próprio, mais doces quando ouvidas
De lábios de monarchas : não promessas
De merecido proraio, — nada agita
O sangue do esforçado na\'cgante.
oARBiTT, cAMUKs, Cant. 9, cap. 3.
— » Jlas que pareça espontânea da na-
tureza como ciirrente que deveria já bo-
jando a tlôr, já volvendo o fructo despe-
gado, já esperguiçando-ae sob a arvore
que a ensombra e, em paga, a eetA espe-
lhando.» Bispo do Gr.lo Pará, Memorias,
publicadas por Camillo Ca-stello Branco,
pag. 84. — «Volvendo ao Bacalhau : Pro-
poz-se no conselho se podia S. M. D.
João v, applicar p real de agua que se
oxtrae do povo e clero ;aliaz exempto
de colleptas'1 para a procissão de Corpus,
depois de applicado p.ara o fim que se ex-
poz ao Pajw. A lisonja dos thcologtw vo-
tou que sim.K Ri.*po do Orão Paro, Me-
morias, juiblicadas por Camillo Castello
Branco, p. Sõ.
— Tornar, redarguir.
Já ncsao pleito ouvi, (»<' bom me lembro)
E no jHiino faltar : ilhe vol'-f o Lar;i)
Mas o tal Monsicur ráris foi um asno ;
(Perdoe a sua ausência) se na cansa
VOLV
VOMI
VOMI
993
De sor Juiz a sorte me coubera,
Daria mal, ou bem a minha soutença,
Couforme o mou bostunto me ajudasse,
Som em nada gravar a Consciência.
A. DINIZ n\ CRDZ, HT350PE, Caut. 5.
— PAris o não Pariz, diz o letreiro,
(Circumspccto lho voh-t o Padre Mestre)
Nem franccz, como crô. Cabelloireiro,
A personagem foi, que representa;
Mas em Troya nasceo de estirpe regia. —
IBIDEM.
— Revolver, trazer envolto, fazer vir
rodando. — «E quando virom, assy o em-
penho, que tinham, ass}' dos bois mortos,
como dos Carros, e desy os Mouros que
eram sobre elles nom poderem pa.sar, caa
o caminho nom he mais que hum peque-
no carril, volverem pêra fundo, e enca-
minharom pola estrada direita para o ou-
teiro escontia a serra.» Inéditos de his-
toria portugueza, tom. 2, pag. 541.
Tinha ficado em extasia profundo
N'alma volvendo o Monumento augusto :
D'esta abstracção maravilhosa aurjo.
Da Fadiga ao clamor levanto os olhos,
E vejo de repente em ledo aspeito
Dous vulto» feminis de estranha forma.
J. í. Da MA.CGDO, VIAQEU EXTÁTICA, Caut. 3.
Do Neva, e do Danúbio os Sábios enchem.
Nào mais, não mais a ievantar-so atreve
O grande Império da Sciencia exacta!
Onde o claro Sebeto as aguas volve,
E ao perto ouvo bramir, troar escuta.
IBIDEM, cant. 4.
Eis novo arcano que descubro ousado :
Sempre fervendo o Sol, volve, e revolve
Hum pélago de chammas, dosde o centro
A extremidade liquida arremessa
Denegridos cachões de massa impura,
Então d"e3pesso fumo a grossa nuvem
Embacia o clarão, que o Sol to manda.
IDBU, A MATUSEZA, Caut. 1.
— - Dar volta, fazer girar.
Ah Pelayo se lo viesses!
tanta é sua desventura
que nem sAio nom costura
volverá, por mais que d'e3ses
leva feito uns alicerces.
ASTONio rsESTES, AUTOS, pag. 4.35.
Inda menos terá que oppòr-te o Mundo,
Ó portentoso, universal Roborti !
Nào me cega o furor, com que do Tibre
Eu volvo as producções, e estudo as Artes.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, CaUt. 2.
— V. n. Voltar para d'onde saiu.
— Revolver-se, gyrar. — Volvem os
tempos.
— Volver-se, v. refl. Voltar-se, vi-
rar-se.
Da Natureza nas eternas obras,
Volvem-se ás outras producções coevos.
J. A. DT. MACEDO, A NATUREZA, CaUt. 1.
VOL. T. — 125.
— Revolver-se, agitar-se, mudar-se. —
«Solto, busca, volvendo-se de novo, a sua
curvatura anterior. A rapidez da corrida
ei'a quem o podia salvar: a dianteira dos
almogaures árabes hesitara vendo recuar
tantos homens diante de um homem S(') ;
porém, ao retroceder do cavalleiro, lan-
çavam-se despeiadamente após elle.» Ale-
xandre Herculano, Eurico, cap. 15.
Volve-sc o Tempo, o excêntrico Cometa
Apparece nos Ceos co'o rosto acceso.
Se alguma voz os Cálculos desmente.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Cant. 1.
— Adagio e provérbio :
— Ao mau vento, volve-lhe o capello.
VOLVIDO, jyart. pass. de Volver. Vol-
tado. Vid. Volto.
VOLVO. Vid. Volvulo, melhor vocá-
bulo.
VOLVULO, s. m. (Do latim volvulus,
de volvere). Cólica do miserere, paixão
iiiaca ; é uma inversão da natureza pela
qual os humores, e excrementos que ha-
viam de sair pela parte inferior, mudam
de via, e virados para a parte superior
vêem a sair pela bocca por vómito. Tam-
bém se lhe dá o nome de ileo, por ser a
sua sede no intestino ileon. Vid. íleo.
VOMER, s. m. (Do latim vovitr). Ter-
mo de anatomia. Osso impar que forma a
parte posterior do fecho das fossas ua-
saes.
1.) VOMICA, s. /. (Do latim vomica).
Termo de medicina. CoUecções purulen-
tas, enkysticas ou não, formadas no pei-
to, susceptíveis de serem evacuadas por
uma espécie de vomito.
2.) VOMICA, adj. f. — Noz vomica;
noz venenosa, que mata cães, gatos, etc.
VOMIÇÃO, í. /. Termo de medicina.
Vomito, acto de vomitar.
f VOMICINA, s.f. Termo de chimica.
Principio toxico, que se encontra com a
strychnina, na voz vomica.
VOMIL. Termo antiquado. Vid. Gomil.
-f VOMI-PURGATIVO, A, adj. Termo
de medicina. Que é ao mesmo tempo vo-
mitivo e purgativo.
— Substantivamente : Um vomi-pur-
gativo.
VOMITADO, pari. pass. de Vomitar.
Rejeitado pelo vomito. — Examinar as
matérias vomitadas.
— Estou vomitado ; diz-se do que toma
vomitório.
— Engeitado com asco, e náusea.
— Figuradamente : Injurias vomitadas
com a embriaguez,
VOMITAR, V. a. (Do latim vomitare).
Rejeitar pela bocca as matérias contidas
no estômago. — Vomitar os alimentos.
— • Por extensão, lançar, expellir para
fora, arrojar de si.
Que 03 dons presados n'Africa mandava
Nào metal louro, ou pedras luminosas.
Mas o feiTBO arcabuz, que vomitava
Fria morte nas pélas pressurosas:
E quaes no Tejo o artífice forjava
De férreo punho laminas lustrosas ;
Rico presente, dadiva prestante
Dhum Reino vasto ao forte Dominante.
J. A. DK MACEDO, O ORIENTE, Caut. 4, OSt. 31.
Quasi arrazada ho Diu, o assim triunfa,
E as onças boccas, que vomitào raios,
Manda, eternos trofeos, c gloria, ao Tejo,
Em quanto em torno das muralhas ficão
Estendidos no campo os alvos ossos ;
Por entr'ellos, continuo, erra indignada
Do vencido Sofar medonha sombra.
IDEM, A NATUBEZA, Cant. 2.
Nem quiz qu'as Náos velivolas puzeasem
Frente a frente (qu'audacia !) sobr'as ondas
Das férreas boccas vomitando mortes,
Como se fosse a Terra hum campo estreito.
Em qu'humana ambição derrame estragos.
Mas ah ! qu'os ventos insolfridos trazem
Com seus profícuos dons também desgraças !
Muge horrendo Vozutío, da espumante
Bocca vomita rcfervcnte lava.
De fumo grossas nuvens enroladas.
Grossos chuveiros d'ostuante3 cinzas.
Mas os filhos da Greeia mentirosa,
Mày de agradáveis fabulas, e versos.
IBIDEM.
Lá vão subindo furiosas ondas.
Voragens profundissimas se formão,
Qu'os miscroâ baixeis sorvem, de novo
Sobro as quebradas vagas os vomitào.
IBIDEM, cant. 3.
— Vomitar veneno; por meio das pala-
vi'a3.
— Vomitar injurias, hlasphemias, «íe./
proferir com violência.
— O mar vomita as tremelgas.
■ — Os volcões vomitam lavas, cham-
mas; expellem de si lavas, chammas.
— Vomitar a alma; morrer.
— Vomitar a vida; morrer.
— Vomitar o sangue as feridas.
— Vomitar os peccados ; confessando-se.
— - Figuradamente : Vomitar fanfarro-
nadas ; inipôr mais do que o que é.
— Vomitar fogo e chammas; proferir
palavras violentas.
— Vomitar os segredos com artificio.
— V. n. Figuradamente : Lançar fora,
expellir. — «Pouca conta fazia a prin-
cipio d'um inimigo a seu parecer tam dé-
bil ; porem eu sem cobrar medo de suas
forças monstruosas, nem de seu gesto sel-
vático e brutal, embebi-lhe a lança no
peito, e vomitou, expirando, a feroz al-
ma involta em negro e fumegante san-
gue. Ao cair, por pouco me não esma-
gou.» Telemaco, traducção de Manoel de
Sousa, e Francisco Manoel do Nascimen-
to, liv. 2.
f VOMITINA, s. /. Termo de chimica.
Principio ao (piai a ipecacuanha deve a
sua propriedade vomitiva.
994
VONT
VONT
VONT
VOMITIVO, A, adj. Termo de medici-
na. Que faz vomitar, eiiiotico.
— tí.vi. — Os vomitivos ; os aponte»
medicaanjntosos dotados do uma proprie-
dade Toniitiva constante e inlierento a um
principio particuluc.
VOMITO, s. m. (Do ktjui vomitus).
Aoto polo qiKil as substancia» solidas o
liquidas contidas no ostoinaíífo silo expol-
lidas pani fora. — Vomito (Ida matérias
nlimeiUi'i(ts, — Vomito da saiKjue.
— ilAtcrias vomitadas. — Os vómitos
foram abundantes.
— Diz-se também do que é rejeitado
pela bocca, sem vir do estômago. — Vo-
mito de sanfiue.
— Tornar ao vomito; i^ccaír no erro,
na culpii íUitipa.
VOMITÓRIO, s. VI. Medicamento que
faz vomitar, emético. — «Se eíses na3
baatarem bem podemos confiadamente em
tal cazo iKissar aos vomitórios antinio-
uiiiis cbimicameiito prcj)a!a los; como s:iõ
pôs de Quintllio do doze até quinze graons
tomados em substancia; o do vinte ate
vinte, e quatro praons pontos de iafusaõ
cm três onças de vinho branco ; agoa be-
nedicta de Rulando atò trcs onyas ; vinho
emético atò duas onçAs ; sal de vitríolo,
ou Giila de Theophrasto atè dous escro-
pulos ; tártaro emético atò seis graoxis ;
porque de todos estes remédios bem ci-
curados temos uma infinidade de expe-
riências, tanto nestes, como em outros
cazos.» Braz Luiz d"Abreu, Portugal me-
dico, pap. 213, S 218.
VONTADE, s. /. Faculdade, poder in-
terior polo qual o homem e os animaes
se determinam a fazer ou a não fazer al-
guma cousa. — O espirito crê natural-
mente, c a vontade ama naturalmente. —
«Naõ sei. Senhora, porque com tal ga-
lardão despedis minha fé, contente de
me matardes : peço-vos que olheis, que
naõ posso com tantos males, nem tenho
parte onde os pôr, senaõ na vontade, que
nunca se contenta com quantos lhe fa-
zeis, antes hc cobiçosa de mais.» Barros,
Clarimundo, liv. 2, cap. 9. — «A alma
que anda já destra, em muito breve tem-
po 03 faz. Mas se a vontade se sentir
movida com qualquer doUes, dctcnha-se
quanto quizer ; que isso mesmo he Ora-
ÇAÕ.» Padre Manoel Bernardes, Exercí-
cios espirituaes, pag. 21.
Haa vondo-sc apartar, ficar ausente,
DaqucUa qnc a vontade lhe levava,
Dfti^ella cora quem só era contente.
Som quem inda o mór gosto o atormentava,
Arrancando hum suspiro triste e ardente
LA do centro do peito, a que abrazava
Hum grSo fogo d'araor, e saudade,
Com que cada hora mais rendo a vontade.
r. n'AMiR*nE, miMEiRO cr.Hco pe Dir, cant. 3,
eat. GO.
Desejo.
K qiiandú ou iiai3c« da cidade
Mc prn(»ar<Mn no madeiro
(Jom fortflg pregos daceiro,
(^111' iiUiiM com (|uií loiitíuU
Mii iMitrcjfuei ao carniceiro.
OIL VICENTK, AUTO Dk niSTUKIA DK DECR.
— «Como quer que o Apostolo mande
arguyr, rogar ou inerepar c^ni toda pa-
ciência, soubemos, como alguns de nos-
sos irmilos, deixada esta doutrina se in-
din.^o contra os que jà silo ordenados, e
os maltratais com tantos açoutes, quantos
|)uderiio merecer salteadores de cami-
nho.-i, por tanto aquellcs que já merece-
rão grãos Eclesiásticos, como sSo os Sa-
cerdotes, Abades, e Diáconos, que fora
das graves, e rnortacs culpa.', na3 devem
ser sogeitos a castigo de açoutes, naõ he
conveniente quo qualquer Prelado a ca-
da passo, o conformo a seu gosto, e von-
tade os sogeito a dór, o castigo de açou-
tes.» Monarchia Lusitana, liv. tí, cap.
27. — « Jlas como a vontade de Reya haja
pouca resistência, ouvcase de fazer a sua,
c aberto o paço, diz o Arcebií^po Dom
Rodrigo, que sen3o achou ncllc outra cou-
sa mais quo huma arca, em que estava
hum pano, cheyo de pinturas estranhas,
com homens de cavalo, cubertas as ca-
beças de trunfas mouriscas, armados com
bò..stas, maças, e outros géneros de ar-
mas desusadas em Espanha e nelle humas
lotias latinas, que diziiio deste modo.»
Ibidem, liv. 7, cap. 1. — «Fedraluarez
como quada hora lhe vinhão recados de
Aires CoiTea, destes" modos, e escusas
quo tinhão com elle, as quaes sabia pro-
cederem mães dos officiaes delRey por
serem peitados dos Mouros que da von-
tade delle Camorij, (como aconteceo a
dom Vasco da Gamma).» Barros, Década
1, liv. 5, cap. 5. — «Morto Ale, ouue
entre os Arábios, e Pérsios grandes dife-
renças, e guerras sobre as opiniões das
seitas que Ale, e Mahamed lhes deixa-
rão, porque Ale depois da morte de Ma-
hamed querendo enmendar na seita que
elle pregara fez outros muitos artigos di-
ferentes para mais a sua vontade atraher
a si aquella gente barbara, e inuocente.»
DauiiSo de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 3, cap. 67. — «No regimento que
el Rei deu a pedralures Cabral, hum dos
pontos mais substanciaes era, que traba-
lhasse muito pela amizade dei Kei de
Calecut, porque sua vontade era fazer
huma fortaleza naquella Cidade, onde
seus naturaes, e oflSciaes cstiuessem se-
guros dos da terra, e mouros, e podcs-
sem fazer as cousas que comprissem a
seu soruiço.» Ibidem, part. 1, cap. 5-i.
— «Por serem eiiformados que n3o com-
prião com o que lhe tinham prometido, o
que faziam por lhe darem aniamento, e
se lhe nam passar o tempo da nanegaçaõ
para a Imlia, quo seu desejo era mostrar-
Ihc a vontade que tinham de o favore-
cer, e cumprir com o quo lhe tinham pro-
metido per seoB contratos.» Ibidem, part.
.3, cap. 2. — «E que sobre tudo Lsto ti-
nha a vontade dos naturaos da terra que
era amaln, u querido, « quu tendo eiisa
cidade por si, com us castellos, c forta-
lezas da ilha se ai liaria c«m çabaim dal-
c.lo c oom elRei do Nar>>inga, e outros
sunh>>res do sertam, e da costa, o qae se
fczesse viria pouco a pouco ser tio po-
deroso, que 08 da terra se crgueriSo com
elle, e os Portugueses que la andauHo
(jbcdeccriilo mais a i<eus mandados que
aos de sua Alteza.» Ibidem, cap. 77.
EêtÁ bem ; mas que rontade
lhe fica, c que Mudado
tivera d'esiia finncial
Scnliora, par este rosto
que faça que nunca vi.
ASToino paEBTEs, ACTOS, pog- 387.
Maa porque o offeito disto nio detenha
Donde espera íwr posto em liberdade.
Que vA hum Embaixador logo de,*<'nha,
Qu'ao grão Cunha descubra esta vonUide,
E lhe pcssa quc a Diu logo venha.
Co o mór poder que po.^-ia, e brevidade.
Mas comtiido a rasilo nAo lhe d>seobre
Qu'cntào o constrangeo a ser tâo nobre.
FKAHCISCO D'AXDRAnr, rBIMEtBO CKBOO DK DttT,
cant. 3, est. 83.
Mas SC est« meu amor, esta roaiade.
Este di'3ejo meu. sempre cm vós posto,
Tive (como sabeis) tão do verdade
C^e sempre o vosso ai foi o soa goeto.
Donde uasceo em vós tal crueldade
Que quciracá contra mi voltar o rosto,
E apartar-me de vós naquelle dia
Que cu mais desejo vosaa companhia?
iBiDEU, cant. 16, est. 21.
— Fazer alguma cousa de md vonta-
de; fazel-a com constrangimento. — «. "Pe-
nhora, respondeu Florendos, qualquer
dessas cousas, que me manda que faça,
farei de muito má vontade, e a que vfis
me aconselhaes de muito peior que to-
d:tó.» Francisco de Moraes, Palmeirim
d'Inglaterra, cap. 102.
— Boa vontade.
Ó Senhor, por piídade
Escuta aqnetla mulher.
Pois tons de propriedade
Com muito boa voiitade
RecJíbcros quem te quer.
OIL MUmcrB, ACTO DX CASAMÈA.
— «Vossa merco receba a boa ronta-
de, e dê copia deste cazo ao meu ami-
go..., a quem n.ào escrevo em particu-
lar, por que dei agora no regimento de
Setúbal que não dou uma carga senSo
por outra. Nosso Senhor, etc. A cinco
de Janeiro de 159."t.» Fern.ío Lobo Soro-
pita. Poesias e prosas inéditas, pag. 87.
— «Senhor cavalleiro, respondeu Palmei-
rim, vossas palavras c a boa vontade,
com que vós as direis, merecem o galar-
VONT
VONT
VONT
99Õ
dão e premio que eu agora não posso,
pois que são cheias de verdade e desen-
gano.» Francisco de Moraes, Palmeirim
dlnglaterra, cap. 98. — "Aos quaes elie
respondeu dandolhe agradecimento d'a-
quella offerta e boa vontade que mos-
trarão às cousas d'el-Rey de Portugal
seu senhor : e podiaõ ser certos que vin-
do elle a Portugal como esperaua, o dito
senhor lhe gratiticaria aquelle seu desejo
como elles veriaõ na primeira armada
que ali tornasse.» Barros, Década 1, liv.
5, cap. 8. — « Sobre o qual negocio Me-
lique Az trabalhava em contrario com
ElRey de Cambava, como logo veremos,
mandou dizer a Affonso d'Alboquerque,
e depois lho disse per si, que nenhuma
cousa mais desejava, que ter alli huma
Feitoria d'ElRej de Portugal, e que de
boa vontade daria lugar pêra se fazer,
mas que temia nào a querer ElRey de
Cambava conceder.» Idem, Década 2,
liv. 8, cap. õ. — «E que ElRey meu Se-
nhor mais propriamente tenna este come
de pay de seus vassallos, claro parece
pelas muitas honras, e grandes mercês
que continuamente delle recebemos, e
pelo amor, e boa vontade, com que nos
trata.» Diogo de Couto, Década l3, liv.
10, cap. õ. — «E logo el Rey mandou e
deu carrego a certos fidalgos, que man-
dassem tirar a pedra pêra se fazer a
Igreja, os quaes ordenarão logo mil ne-
gros, que com muyta diligencia a tra-
ziam ás costas de duas e três legoas, com
tantas cantigas de prazer e alegria, e
com tam boa vontade, que era de mara-
uilhar, e muytos a que o não mandauam
se conuidauam pêra isso.» Garcia de Re-
zende, Chronica de D. João II, cap. 159.
— «Façouos saber, como veo Coiealeam,
e me dixe de vosso amor, e vossa boa
vontade, e algumas palauras que lhe di-
sestes, que antre vos e elle passarão, e
mas dixe muito bem dietas, e mo obriga-
ram, e acrescentaram amor, e amizade
antre nos.» Damião de Góes, Chronica de
D. Manoel, part. -4, cap. 11. — «Os taes
sendo por Deos alumiados do que liaòde
fazer ou deixar por seu amor, com tudo
de boa vontade obedecem aos outros, so-
jeitandose, tomão o derradeiro lugar, e ti-
ção mui contentes, naõ se leuantai5 per-
sumidos com os doens que recebem, mas
recorrem logo ao conhecimento de sua in-
sufficiencia, e do seu nada cora grande cui-
dado se apartaõ dos pecados, ainda mui
pequenos, e leuissimos, e se caem em al-
guns, logo 03 purgaõ com a commemora-
ção do sangue de Christo. » Frei Bartho-
lomeu dos Martyres, Compendio de es-
piritual doutrina, cap. 11. — «Estando-
se queimando a hum rapaz certas excres-
cenças no Anus, as dores que sofria o
obrigarão a deixar sahir hum vento de
que se fez homa chamma, obrigando esse
successo a rir de boa vontade a todos os
que estando preeentee poderão gostar da
galantaria.» CavaUeiro de Oliveira, Car-
tas, liv. 1, n." lõ. •
— A vontade de Deiis ; as suas or-
dens, os seus decretos. — «Mudança de
vontade não he outra cousa senam de
terminar-se cada hum consigo muy de va-
gar e dizer com todo coraçam. Eu até
agora viui aa minha vontade daqui por
diante determino de viuer à vontade de
Deus: atègora fazia o que me bem pare-
cia, e o que desejaua, daqui por diante
quero renunciar toda minha vontade, e
appetites e conformarme com a vontade
de Deos, sò ella tendo por regra e me-
dida de todalas minhas obras, palauras e
desejos, porque quem assí nam endereita
sua vontade mas perseuera nella torta e
desobediente aa vontade de Deos, quan-
tas obras faz nam sam aceytas de Deos.s
Frei Bartholomeu dos Martyres, Catecis-
mo da doutrina christã. — «E por isso
nà vos coafirmeis com este mundo; mas
reformaiuos dentro em vos, e procurav
de conhecer qual he a vontade de DEOS,
e como lhe mais podereis comprazer :
exercitandouos em todas as obras san-
eias, segundo a graça e ministério que
Deos a cada hum deu: amando huns aos
outros sem fingimento. » Ibidem.
— A divina vontade; a vontade de
Deus, os seus decretos. — «E no mesmo
ponto começou subitamente a cair gran-
de copia d'agoa, que poderamos bem cha-
mar chuua voluntária, pois se nam sabe
que procedesse de outra causa, que da
diviaa vontade, que a apartou, e deu á
confiança, desejos, e orações daquellas
almas singelas, e fieis, que segundo o
Profeta sam as verdadeiras searas, e her-
dades do mesmo Deos.n Lucena, Vida de
S. Francisco Xavier, liv. 3, cap. lò.'
— iSantissima vontade de Deus ; os seus
santíssimos decretos. — • «E finalmente
aproueitando mais no temor e amor filial,
chegaras a comprir todos os mãdamentos
de teu padre eterno, com affectos de fi-
lho perfeito, s. fazendo tudo o que Deos
manda nào por outro respeito, senão por
cumprir sua sanctissima vontade, porque
aquella eterna bõdade assi o mandou, as-
si o quis : à qual sò por quem he se deue
toda obediência, toda reuerencia, e todo
o amor.» Frei Bartholomeu dos Marty-
res, Catecismo da doutrina christã.
— Fazer a vontade a alguém; obede-
cer aos seus mandados, ás suas determi-
nações sem constrangimento. ■ — <U Ne-
codá me pedio entaõ muyto que quizesse
subir asima, porque neste tempo jasia eu
deytado embayxo na camará mal dispos-
to, o que eu fis logo por lhe fazer a
vontade ; e apparecendo era sima r.o cou-
ves, chamey pelos que vinhaõ no para^. »
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações,
cap. 145.
— Por vontade ; voluntariamente. —
«Dize se começasses a fallar com hum
homem, e deixandoo com a palauxa na
boca te pozesses a fallar com teu escra-
uo, nam lhe farias grande injuria V Esta
fazes a Deos, distraindote por vontade,
ou por negligencia.» Frei Bartholomeu
dos Martyres, Catecismo da doutrina
christã.
— Ser de vontade ; não ser constran-
gido, nào forçado. — «Donde fica falso o
que dizem os vossos jurecõsultos que a
justiça he võtade, se entendera essa defi-
nição, assi como parece que soa. Antes,
disse o jurista, nào seria virtude senão
fosse de vontade. Huma cousa he, tornou
o theologo, ser vontade, outra he ser de
võtade. A virtude he de vontade, mas
nà he võtade. Assi como o peccado actual
ha de ser voluntário, como diz sancto
Augustinho, que doutra maneyra nào he
peccado, assi na virtude, pêra ser virtu-
de o entendimento ha de fazer o aluará
e a võtade assinar.» Heitor Pinto, Dialo-
go da Justiça, cap. 1.
— Ser esta a minha vontade ; ser este
o meu desejo, o meu gosto. — «E porque
esta he minha vontade, para que venha
á noticia de todos, faço estacaria de sal-
vo còduto, e a entrego aos Christãos, pa-
ra que a tenhào em lugar de ley, e a
mostrem quando lhe for pedida pelos
Mouros.» Monarchia Lusitana, liv. 7,
cap. 7. — «Lembre-vos que esta batalha
é sobre vossa fermusura, e qualquer of-
fensa, que se me faça, oâende a vós :
favorecei-me nisto, pois o não fazeis no
ai, que eu nas cousas de vosso serviço
desejo mais a victoiia, que nas de minha
vontade remédio, que me sempre negas-
tes. » Francisco de Moraes, Palmeirim de
Inglaterra, cap. 23.
Com minha Lamia fineza,
e em sua graça permaneza
que isto passa, ou tal passava:
assi. na mesma verdade
jui-o que não permaneça
u'es3a graça e gravidade
se ha lii-io quo mais floresça
que vós na minha vontade.
A.\'ioíiio TREsiEs, AUTOS, pag. 293.
— Saber a vontade a algiiem; conhe-
cer-lhe o desejo d 'alguma cousa, obede-
cer-lhe. — «Xão hahi que debater se não
que o amor, e benignidade do Príncipe
catiua os corações dos homens, e de tal
maneyra os move ao seruirera, que não
desejam de lhe saber a vontade, senão
pêra lha fazerem. E cõ este amor, que
tem a seu Rey, pelo que elles, lhe tem
a elles, se prezam de ser seus, e se ex-
citào e auenturam a cousas grandes e
duuidosas. E nào somente aos seus, mas
ainda aos estranhos os Príncipes catiuam
com amor, e benignidade.» Heitor Pinto,
Dialogo da Justiça, cap. 2.
— Reger a vontade ; dominar.
Onde rege a i:ontade
nam tetfi valia a ra^am ;
996
VONT
VONT
VONT
em «aindo a libcrdado
oiitrou logo a |iayxam ;
quuiii tom tiil coiivui°ria<;urii
som poJi'i- (l.inubafur,
ha rti! llio o mal do «moigar.
D. JOANNA DA OASA, DITOS DA rnKinA,
pag. 94.
— Por sH<i vontade ; por vontade pró-
pria, vi)lant;iriain»jiito. — « Senhora, ou
houvo batalha com um cavalleiro, que
nosta vossa corto estove o juntou com
Albavzar, quo leva «mii Hua coiniiaiiliia
nove donzollas; pedi-llio que por sua von-
tade cousentiase quo as partíssemos por
meio, o que cada um levasse a metade:
nSto quiz consentir neste partido, antes
rcípouileu que folgara do me achar ou-
tras tant.is pêra m'as tomar todas e as
levar coinsi.i,'o.» Francisco de Moraes,
Palmeirim d'Inglaterra, cap. l'if>. — «A
segunda condi(,-am ho que a confissam
ha de ser inteira, s. que venha o peni-
tente dctermiii.ido, que por sua vontade
nam ficaríi nenhum peccado mortal por
confessar: porque aquelle que deixa do
cõfossar algum peccado mortal, leinbraii-
dolhe, nam vai nada sua confissam : mas
he obrigado de nouo repetilla, e tornar
a dizer quanto disse, assi os peceados
quo contcssou, como os que a cinte nam
confessou.» Fr. Bartliolomeu dos Marty-
res, Catecismo da doutrina christã. —
fPor cima de todos estes males, tica im-
possibilitada pcra por suas foryas se ale-
uantar da coua e atoleiro em que por sua
vontade se lançou : por quanto se Deos
sobrenatiiralmonto lhe não der a mão,
por virtude do sangue e morte de lesu
Christo, nunca se aleuantarà, nem co-
bi"ar;\ outra vez a graça c luz que per-
doo.» Ibidem.
— Sei/uir ijuem levava na vontade ; se-
guir quem tinha no gosto, no desejo. —
íEu não sei, disse o do Tigre, se m'o
agradecereis, ou não; mas sei quo se vos
vira em outro melhor, que vol-o tomara
pêra seguir quem levava na vontade,
e valer a quem d'isso tem necessidade.»
Francisco de Jloraes, Palmeirim d'Iugla-
terra, cap. 105.
— A amizade consiste no consentimento
das vontades. — « Consentiram, disse o
matliematico, porque a amizade consiste
principalmente no consentimento das võ-
tades, como diz Platão, de quem o to-
mou Oicero na sua amicicia. E como to-
dos sejamos amigos, quereram elles o
quo nós quisermos. Eu, disse o cidadão,
quero o que vos quereis, mas queria que
quisésseis vos o quo eu quero. He tam io-
ga, disso o theologo, essa matéria, do tem-
po, qvie ella nolo não darA, pêra lhe dar-
mos tlm. E os mesmos philosophos parece
que a trataram a tim, de nunca lha da-
rem.» Heitor Pinto, Dialogo da Justiça,
cap. 1.
— Viver ã vontade de Dmts ; viver
conforme as suas determinações, viver
segando a sua lei. — lE na Epistola o
nxcídlonte Apostolo, o Capitam do exer-
cito de (Jhriito S. Paulo, nos exorta, o
excita a pelejarmos fortcun-nti;, e om
esijecial contra dous viços de que somo»
mais frequente, e brauamente combati-
dos, ([ue sam Luxuria, o (Jobiça. E diz
desta maneyra, Irmãos rogtmos muyto
em o Senhor lesu Cbristo quo porsene-
reis na doutrina quo vos tenho ensinado,
de como aueys de co/itcTitar a Deos, e
viver íi sua vontade, e nisso aproueytSU
do de caila vez mais.» Fr. Hartliolomeu
dos Martyres, Catecismo da doutrina
christã.
— Dados á sua vontade ; dados a seu
gosto, segundo o seu desejo. — tE elle
empregava os seus de feição «pie os mais
delles foram dados á sua vontade, e nem
por isso os de Dramusiando lhe deixa-
vam do empecer alguma vez, com tanto
damno, que assim poucos como eram, o
poseram em fraco estado, e tal, que qua-
si se não podia ter nem nomear. Todos
03 que viam a batalha a haviam por ta-
manha cousa, que pasmavam de a vêr.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Iugla-
terra, cap. 41.
— Eiixerijar-se em algiitm a vontade
« o amor; divisar-se n'elle estas duas
partes. — tE querendo pôr em obra a
partida, quiz D. Daardos prover primei-
ro na fortaleza, pêra que ficasse por sua,
e a Entropa tia do (Mgante, posto que
lhe não merecia boas obras, dar-lhe ou-
tra mais de seu proveito, em que podes-
se estar; porque a elle esperava fazer
tantas mercês, que nellas se enxergasse
a vontade o o amor, que com suas obras
lhe soubera merecer.» Francisco de Mo-
raes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 43.
— Trazer a si as vontades alheias ;
attribuir a si as vontades dos outros,
grangear-lhes as sympathias. — t Esta
diligencia lhe nascia de uma afeição no-
va, que a trazia obrigada a mais: e não
era nuiito, porque, alem de sua condição
a inclinar a isso, as obras, que vira de
Floreudos, lhe fazia esquecer os outros
cuidados passados. T.imbem a obrigava
as palavras, que co'elle passara, que,
quando são boa?, trazem a si as vonta-
des alheias.» Francisco de Moraes, Pal-
meirim d'Inglaterra, cap. 102.
— Vontade deliberada de fnier ahjii-
ma cousa ; desejo determinado, vontade
resolvida a fazel-a. — «O qual preceyto
o Senhor declarou por Sam Mathcns, di-
zendo que se entendia, Nam mataras,
nem com a mão, nem com o coraçam.
Porque aquelle que tem desejo, ou von-
tade deliberada do matar seu próximo,
ja diante de Deos que lhe veo o oora-
(,^am he matador, ainda que com a mão
nem cumpra seu mao desejo.» Fr. Bar-
tholomeu dos Martyres, Catecismo da
doutrina christã.
— Não ser d vossa vontade ; não ser
soando o voflso gosto, conforme o vobm
desejo.
K'eata« casaa mo não adio.
1'or que ?
Ku o sei por que.
Nio BÍo & voasa voiUadet
Nio, em verdade,
doutra* me fazei fflsroé.
AMToaio nucfna, xoto», pag. 365.
— Nosta vontade ; nosso desejo. — tE
entendemos pedir nisto, que naa tarraa
se faça nam suomente aquillo que elle
efficazmente quer, mas também tudo o
quo elle queria que nos fizéssemos, pos-
to que elle deixa o crimpriment'), e exe-
cuçam em nossa vontade e iib«r<iade.>
Fr. Hartliolomeu dos Marlvre.*, Catecis-
mo da doutrina cUristâ. — « Óí bew e
perfoyções naturaes ainia quo nam fi-
quem de todo destruydas, ficJo quebra-
das, e deminuydas: porque o lume de
reza» natural, fica era alguma raaneyra
escurecido. A boa inclinação quo pêra a
virtude a nossa võtade tem, fica demi-
nuida.» Ibidem.
— Sois mau de andar-me á vontade ;
sois mau de andar-me a gosto.
Oh! nào vA, por vida minha.
\\c\ de ssr inoiígo encerrado?
Mau sois de andar-me i rontaiU.
Não sou nada afcii;oado
a cazciro.
Ajtroxio raKSTKS, ávtos, pag. '2S9.
— C</ntra vontade dos pães; sem elles
quererem, contra as suas ordens e deter-
minações. — «Ao homem que seu filho se
casasse bem, ainda que contra vontade
de seus pais da mulher com que casasse,
aconselhara que o sotfresse, que de secre-
to o ajudasse, e se não desse por conten-
te, nem descontente da acção d'aquelle
filho.» Francisco Manoel de Mello, Carta
de guia de casados.
— Consentir em sua vontade ; consen-
tir em seu desejo, concordar, obedecer.
— iComo o oatni fiwse conforme a seu
companheiro n;i8 obras e j)areocr, consen-
tiu em sua vontade, e então porfiandtt
qual seria o primeiro, que comigo tivesse
parte, lançando sortes, caiu naquelle que
me tinha polo* eabeilos.» Francisco dê
Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 128.
— A vontade das vontades.
ChamaT-lhe-hri.s \-ida das vidas
e vontiulc dn» •vn/o.Yí»,-
ha perdizes mais sabidas?
Náo por certo.
AiTTONio rassTEs, ADT06, pag. 113.
— Para extcuç3o da stia vontade; para
cumprimento das suas ordens. — «O filho
se criou cm poder de sua 8v<>, mli de
sua niài, té idade de ser cavalleiro, sen-
VONT
VONT
VOO
997
do tào' destro nas armas, tào cruel em
suas mauiias, que por toda aquella terra
o temiam como ao diabo. Seu costume
era mortes, roubos, incêndios, forças, sem
nenhuma causa; sómeate a inclinação pre-
versa, de que fora gerado, o movia a is-
so: e trazendo sempre pêra execução de
sua vontade cavalleiros polas florestas,
que tomavam donzellai pêra elle.» Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim dlnglaterra,
cap. 7tí.
— Ganhar a vontade a alguém; grau-
gear-lii'a, attraliii-a a si. — «Targiana
era tratada com toda a honra e cortezia,
que lhe parecia necessária. E posto que
de priucipio quiz provar com palavras se
lhe poderia ganiiar vontade, acaando-a
nisso dura, cessou de seu preposito.»
Francisco de Moraes, Palmeirim dlngla-
terra, cap. 88.
— Foi-se á vontade do peixe; seguiu-o,
foi atraz d'elle. — «Estando em huma al-
madia pescando hum homem fora da bar-
ra de Quiloa junto de huma ilha chama-
da Miza, aferrou hum peixe no auzolo da
liaha que tinha lançada ao mar, e sen-
tindo eUe no barafustar do peixe ser gran-
de, polo naõ perder desamarrouse donde
estaua, e foLse à vontade do peixe : o qual
ora que elle levasse o batel ora as cor-
rentes que ali são grandes, quando o pes-
cador quis tornar ao porto era ja taò
apartado delle que naõ soube atinar.»
Barros, Década 1, liv. 10, cap. 2.
— For suas vontades ; por vontades pró-
prias, voluntariamente. — «E taes cores
déraõ á sua pretensão que ao fim sahiraõ
com ella, levando el Rei á execução para
alliviarem sua culpa, e partindo de Mon-
temor o Velho para a Cidade de Coimbra
onde D. Ignez estava, a matáraõ i:'ero
Coelho, Diogo Lopes Pacaeco, e Álvaro
Gonsalves Meirinao mor, mas já por suas
vontades, que pela dei Rei D. Atibnso, a
quem sua iunucencia tinha movido a pie-
dade.» Frei Bernardo de Brito, Elogios
dos reis de Portugal, continuados por D.
José Barbosa. — aBor hum homem entrou
o peccado neste mundo, e pelo peccado a
morte, e deste modo passou a todos, pur-
que todos peccáraò no primeiro homem,
por estai-em suas vontades moralmente
unidas com a de Adaò, como cabeça sua.»
Badre Manoel Bernardes, Exercícios es-
pirituaes, pag. 292.
— Inclinar a vontade mais a uma pes-
soa, que a outra; obedecer-lhe antes,
affeiçoar-se mais a ella. — a Acabado o
serào, 03 turcos se despediram mais na-
morados do que alli vieram. U imperador
mandou com elles tochas até o real. Mas
antes que de todo se despedissem, acon-
teceu uma cousa, que se deve fazer me-
moria, e foi o gigante Framustante, co-
mo toilo o tempo, que alli esteve no serào,
não tirasse os oluos d'Arlança, com quem
Dramusiaudo estava, inclinando mais a
vontade a ella, que a nenhuma outra pes-
soa.» Francisco de Moraes, Palmeirim
d'Inglaterra, cap. 163.
— Forçar a vontade ; constrangel-a. —
«Borém encobria-o o melhor que podia;
forçando a vontade por- usar dos compri-
mentos necessários á amizade. Que este
bem tem os prudentes, que inda as cou-
sas que forçadamente fazem, lhe são agra-
decidas.» Francisco de Moraes, Palmei-
rim dlnglaterra, cap. 1C3.
— Dtter-se mais do que a vontade lhe
consentia; demorar-se mais do que o que
tinha na vontade. — «Esteve tantos dias
Balmeiíúm na corte delrei Fradique dln-
glaterra seu avô, que alguns sem razão
começavam de estranhar sua detença, de
que teve pouca culpa, que força de rogos
e palavras de sua mài, lhe deteve mais
do que lua vontade consentia; porque
Florida queria -com aquelles poucos dias
de sua conversação satisfazer a tristeza
dos outros, em que o nào vira.» Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim dlnglaterra,
cap. 54.
— ■ De sua prjpria vontade ; volunta-
riamente, por querer. — «Mas estas mos-
tras nem aos muito desesperados enga-
nem, que, ainda que nos ódios são mais
constantes, pêra as cousas de seu apetite
nenhum é tão grande, que lhe logo não
esqueça. E assim aconteceu a Dragoiial-
te, que sendo muito tempo aborrecido de
, Arualta, ao fim ella de sua própria von-
tade quiz casar co'elle, fazendo o rei de
Navarra : por tanto, neste caso ninguém
desconfie do que quer, que no aturar vai
tudo.» Francisco de Moraes, Palmeirim
dlnglaterra, cap. 111.
— Não ha prudência que possa ajinar-
se a ttmperar de todas as vontades. —
«Nam ha prudência que possa afinarse a
temperar de todas as vontades, que sam
diferentes no sentir, e discordes nas con-
dições; que humas palavras sam aceitas
e desemportunam a huns, e as mesmas
aborrecem e afrontam aos outros; que o
sol abranda a cera e endurece o barro;
faz uma obra duas contrariedades, segun-
do as calidades que acha.» D. Joauna da
Gama, Ditos da freira, pag. 67.
— Daruaadas vontades ; malévolas,
corruptas vontades. — «Borque quando
cuido, que sem peccado que me obrigasse
a três dias de Burgatorio, passei três mil
de más liuguas, peores tenções, damna-
das vontades, nascidas de pura inveja, de
verem su a>nada yedra de xi arrancada, y
en oiro inurv asida... Da qual também
amizades mais brandas que cera, se ac-
cendião em ódios que disparavào lume
que me deitava mais pingos na fama, que
nos couros de hum leitão.» Camões, Car-
ta 1.
— Navegar, correra navio á vontade
dos ventos; navegar, correr ao arbítrio
i;'elle3, conforme a direcção que elles lhe
dão.
— Ter a alguém boa vontade ; toma-se
ordinariamente ironicamente, e por anti-
phrase, por querer mal.
— Correr á vontade do mar, do tem-
poral; correr ao seu arbítrio.
— Loc: Sair da vontade a alguém; '
nào lh'a fazer.
■ — LoC: 2'er vontade de fazer alguma
funcçào necessária ; sentir necessidade
d'ÍS30. ,^.
— Homem feito de sua vontade ; o queí
não conhece outra lei, e quer que tad<^
se lhe conforme ; homem voluntário.
— Numa vontade ; n'um querer.
Ajuuta-se também a quantidade
Dos pequenos escravos <]ue agasalha
A fortaleza, cuja tenra idade
Também soffiera mal o arnez e a malha :
Conformes n'um querer, n'hunia vontade
Ordenão de se dar huma batalha.
Sendo menos assaz os Lusitanos
Que o que he natural se acha em quaesquer anos.
FEAKCISCO D'A?rDRADE, PEIUEIBO CEBCO DE DIU,
cant. 10, est. 11.
— Ter uma grande vontade; ter muita
vontade, muito ardor para aquillo que se
emprehende.
— .á vontade do ceu.
— At ultÍ7iias vontades d' uma pessoa;
o que uma pessoa quer que se faça de-
pois de sua morte.
— Acto de ultima vontade; um testa-
mento.,
— A vontade armas; commando mili-
tar em que os soldados podem estar mais
a seu commodo. ,-
— Plur. Termo antiquado. Trastes,
moveis, ou cousas de gosto, luxo, appeti-
te, alfaias, cubicas.
— Adágios e provérbios :
— Tudo ha mister arte, e o comer von-
tade.
— ^Os astros não violentam vontades.
VOO, s; m. O movimento que faz a
ave quando vôa.
O Amo, o Tibre, o Tames, o Sebéto
Quantos Cisnes nas agoas apasceutào,
Cujos voos extáticos excedem
Da Grécia, c Lacio antigo a gloria, o nome J
Deixào de Esmyrna, e Mantua incerto o looit».
Que frente deva ornar, que frente escolha.
J. Jl. de macxoo, sieoitação, cant. 1. .
— Tolher os voos da razão.
Sem que a excelsa razão sepulte cm sombra,
Oti'useaudo-lhe a luz, tolhendo oa lôoí.
Qual ser costuma nos mortaes se he gi-ande!
Pregados em seu rosto eu tinha os olhos,
Com celeste prazer minhaluia toda
Km sobre-humanos néctares s'cngolfa.
J. A. DE MACEDO, VtAOEU EXTÁTICA, Cant. 1.
— Figm"adamente: Descer em ião rá-
pidos voos a tão mesquinha habitarão ter-
rena.
Destes accesos extasia me arranca
A Fadiga outra vez. Conserva, ó tUho,
998
VOO
VORA
VORT
Pcntro d'alma pruvado Uto 'luo obHorvaH,
K 'I liando cm iiôo» rapidoA d(.'íCorert
A tilo uir!H'|iiiiilia liabitíiçrio tnrruiiii.
< AoH truiispurtadoM liomuiU o niiiuiiici.i.
J. X. D( UÁCKUO, VIAUKM KXTiriCA, Cailt. 3.
— O VÔO rnjiiditsimo do etlro.
Da praia occidi-iital racu Kstro toma
Seu vôn rapidiwiino, o cliiviido,
Ah jiortaH entra d:i soberba Homa,
A quem do Mundo o Imprrio o Coo tem dado.
J. A. DB MAUKnO, o OaiENTE, CUUt. 1, CSt. 8.
— Encurtar ao ijeiísaiiiento ousado VÔO.
E ao pensamento ousado võo encurta,
Globos rpic o Mundo Planetário formão,
Qu'os j:i pa»s:idi)S Secnloâ não viríio,
Qu'IIcrscliel nào pódc achar, quTIolbcrt descobre.
J. A. DK. MACr.DO, A NATURKZA, Caut. 1.
— FiguraiLimente : Os vôos do enge-
nho; 03 pensamentos elevados, nào vul-
gares.
— A oração é um vôo da alma a
Deus.
— Tomar o vôo, ou um vôo ; Jar um
surto.
— Figuradamente: 7hmar o võo "»<*
alto; eiisoberbecer-se nuiito.
— Figuradamente: Os vôos imoUtos
d'uin anjo,
Oli Anjo, (e não mortal, que hum ser tão baixo
A teus rôo-1 insólitos nào quadra)
Penetra nos umbracs d:i Natureza,
Rouba hum si^í raio á Luz, o oUe só busta
Quando a travoz do Prisma oristallino
Faz s.ihiv d'osto raio as cores todas.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Cant. 1.
— Solta os vôos por entre as orbitas
dos globos.
Das sombras infernao.-i jii livre, os võoi
SMta por entre as iWbitas dos Globos,
E junto ao Sol passando, o Sol sVnlucta,
E com otíntral eclipso assusta o Mundo.
Da humana fantasia império immenso !...
J. A. DK MACEDO, MF.DllAÇÃO, Caut. 1.
— Figuradamente: Um vôo extático
vie leva acima do sol; n'um extasia uie
vou, me arrebato o transporto alóm do
sol.
Mas ah ! que hum vuo extático me leva
Inda acima do Sol. Daqui descubro.
Ou se mo antolha que diviso a Terra,
Coiuo u'huui prado estivo o insecto accoso
Girar uo e3pai;o azul, pequena, e muda.
J. A. DB MACEDO, A KATUBEZA, Cant. 1.
— Partir a vôo; partir voando.
A lâmpada arrebata, e a v6o parte.
Nunca igual dur punçri'^ minha alma, no âmago.
A que empana a hmiicoui-ia, é a miW- Disgrai^a.
No grémio (iuc;xutoli adormeci do prigo;
. Sempre advertido a abomiiuir meus erros.
r. u. Dú KASoiuRrro, o« uaetvres, liv. 10.
— Não se alcanr/tin os tôOB de Pin-
ilaro ; n.ài) ?.(: olcva tiinguem á sua Hubii-
iiii(hiii<;.
VORACE. Vid. Voraz.
VORACIDADE, *. /. (Do Intim voraci-
las). Avidez em couicr. — yl voracidade
das aves de presa.
— Figurudan cnto : Dosojo comparado
á vorueirlade.
— Figuradamente : AvidoE do leitura.
— Avidez em beber. — • O Imperador
Caligui.i gastou 0111 banquetes grandes
tlio.souros, (|ue llic havia doixado Tvbc-
rio. O Imperador Vitellio almo(;ava, jan-
tava, merendava, e ceava »em|jrc com
igual abundância, e largueza; mostrando
bem a sua voracidade em beber o.< caldos
que vinbaõ fervendo sem oíteii.^ía alguma.»
Braz Luiz d'Abreu, Portugal medico, pag.
28, § 101.
— Figuradamente: Voracidade fio ín-
cendio, das clia7ninai>, etc.
VORACISSIMAMENTE, adv. (De vora-
cissimo, c o siifTixo «mente»). Mui vo-
razimuitc.
voracíssimo, A, adj. superl. de Vo-
raz. Jlui voraz. — Ave voracíssima.
— Guerra voracíssima ; guerra que faz
muitos estragos, que causa muitos dam-
nos.
— Figuradamente : Incêndio, fogo vo-
racíssimo ; incêndio, fogo mui devorador.
luda cntr'cllc8 nào tinha hum génio illustrc
Sondado a Natureza, exposto a \-ida
Para rasgar o v,'o d'alto segredo.
Que nas ciitrauhas do Vesúvio atca
O fogo voracissimo, c ([ue rompo
Da sulfúrea garganta ao ar vazio.
J. A. DE MACEDO, A NATCREZA, «aut. 1.
O fogo voracíssimo não sente
Triste, attonita Mãy, qn'o fogo envolve.
ibidf:m, cant. 2.
VORADOR. Termo de poesia pouco em
uso. Vid. Devorador.
VORAGEM, ». /. (Do latim vorago).
Sorvedouro, remoinho no mar, e nos rios
profundos, que leva ao fundo tudo o que
se mette no gyro da agua, que alli se
faz.
Doce calma, e prazer domina os ares,
E nas foragriif do gelado Polo
O Inverno melancólico se esconde.
J. A. DE M.ICBDO, A SATUBEZA, CAUt. 1.
Voraijens profundíssimas, de quantos
Feros monstros orueis vós sois alvcrguú !
Do foio Tubarão emulo o Serra
Deixa iudcciso o louro da victoria.
IBIDEM, cant. 3.
— A voragem dax fauces dilatada; &8
guelas, ou gargant;is mui rasgadas.
— (irande abertura com sorvedouro
em rochedo do mar ; e grande rasgadu-
ra, carorna profunda, abysmo DM iam*
por terremoto.-", etc,
— Figuradameiítij : A voragem dat vi-
dos; tt sumidouro d'elles.
— A voragem dns aunoi twLj sorve.
• — Figuradamente: X voragem «/a aai-
biç>V..
VORAGINOSO, A, a>Jj. (Do latim «o.
raginoxHii). Qu'- tí;ra voragem.
— Da natureza da voragem.
— Mui ra-;:adii, ab<-rto, com profundi-
dade. — A òncca voraginosa do Uão.
VORAZ, adj. 2 fjKu. (Do latim coroas,
de vorare). Que devora, que come com
avidez. — Ave voraz.
— Devorador, conanmidor, accelerado.
Roubar-me a triste vida, dar-mc a pena
Do oiivir-t« cxcofnínuiif^ar pelas csquioaa,
Ou prezo cruelniente, entregue ia gaiTM
Do Meirinho i-oro:, qual tcura Pomba
Entre as unhas cruéis de Açor ligeiro.
A. DIKIZ DA CRUZ, BTSSOPE, CROt. 6.
DiWno Canto, qu'os voraza Evos
Par<wm adorar, ».'> termo esp««ra
Quando convulsa a mx^uina terrestre.
Outra vez ha de entrar uo ab)'smo, e nada.
}. A. D> MACEDO, A MATcaazA, cant. 2.
— O voraz Saturno; o tempo conBO-
midor, accclcrado.
— Figuradamente : O demento vorax.
Este Supremo Artífice derrama
No Elemento r-ora: o assopro activo,
Por elle a força eléctrica penetra
Esse Globo onde cstis, e os Ccos qtt'ob9erva*,
For^a quos Corpos sólidos desune.
1. A. DE MACEDO, A MATCBEZA, Cant. 2.
— Figuradamente : Os séculos Tora-
Comão embora os séculos rortae*
Os meditados calenlos, as linhas
Do extático Apolonio : aurco compasso
Abriste a Viviani ; oh maravilha!
Tíisc;i, mede, c;Ucula, inventa, e acha
Quanto ao Grego Gcometra faltava.
J. A. DE MACEDO, MEDITAÇÃO, Cant. 1.
Se 03 fugitivos séculos voratet
Do teu tiiesouro a parte não gastassem,
Inda avivando a dor da perda aoerÍMi
Na imperfeita porvào, que nos deixario,
Eu de lougc apoz ti, voara ao Pindo,
Rico s<5 de teus bons, sinda existirão.
IDEM, A KATCBEiA, CJVnt. 3.
VORAZMENTE, adv. (De voraz, e o
suflixo «mente»). l>e uni modo voraz.
— Com voracidade.
— Como devorador.
VORO. Desinência de^nitaa palavras
compostas, usadas em historia natural ;
exprime a propriedade de comer ou ali-
ment!vr-se, como Aíriivoro, canuvoro,
omnívoro, etc.
VORTICELLA, s. f. Termo de hiatori*
vos
vos
vos
999
natural. Género de zoophytos que se criara
e vivem nas aguas estagnadas.
— Espécie de polypo, vermo.
VÓRTICES, s. m. \jlm-. (Do latim vór-
tices, plur. de vorfex). Revolvimentos,
circumvolu(,'ôes, remoinhos no ar, e tal-
vez tufões de ventos, que em breve sal-
tam todos 03 rumos.
De turbilhõc3,"de vórtices sonhados.
Nos jardins de Epicuro se assentava,
Renovador dos átomos errantes
Pensativo Gasseudi, e em treva involto
Corpuscular Filosofia ensina,
Onde engenho sú brilha, o nunca hum passo
A' SiS protícua experiência avança.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 4.
VORTICOSO, A, adj. (Do latira vorti-
cosus). Termo de physica. Que se move
em remoinho, rodopio.
VORTIGINOSO, A, adj. Da natureza e
movimento dos vórtices.
— Tufões vertiginosos ; que rodeiam,
e gyraiu todos os rumos da agulha.
— Vid. Vorticoso.
VÓS. Pronome pessoal da segunda pes-
soa do plural (do latim vos). Emprega-
se fallando no estylo épico, ou orató-
rio, ou familiar a muitos; e emprega-se
também por abusão fallando com meia
cortezia a pessoas que não tratamos por
tu, e aos monarchas.
Da morte venho eu cansado,
E cheio de refregereo,
E não posso, mal peccado.
Põe cramá hi o arado.
Percm esse he gran mestereo.
S'eu trouguera mais vagar
Sorrira-me eu tamalavêz.
E tío's villão, quereis zombar?
Se vos eu arrebatar?
Doufeu muito de mao mez.
GIL VICENTE, AUTO DA BABCA DO TOBOATO-
BIO.
Chorará meu coração ;
Vós olhos, olhae por mim,
Porque veja posto em fim
Meu propósito mui são.
Casto como seraphim.
IDEM, COMEDIA DE BUBENA.
E VÓS, Tágides minhas, pois creado
Tendes em mi um novo engenho ardente.
Se sempre em verso humilde celebrado
Foi de mi vosso rio alegremente:
Dai-me agora um som alto e sublimado.
Hum estylo grandíloquo, e corrente ;
Porque de vossas aguas Phebo ordene
Que não tenham inveja ás d'Hippocrene.
cAM., LUa., cant. 1, est. 4.
Mas, Senhor, vós que ordenastes
Que o juiz disto fosse eu.
Quando se a batalha deu,
Dizei, que m'oncomraondaste3
Que ficasse a cargo meu?
CAM., AMPUTTBIÕES, aCt. 5, SC. 1.
Ja que chegais tanto ao cabo.
Com as mãos, postas aos Ceos
Vou sempre pedindo a Deos,
Que vos levo este diabo.
Eu, Senhora, não me gabo ;
Mas pois que me dais tal nome,
Tomo-o, para que vos tome.
IDEM, BEDONDILHAS.
O que VOS quero m'engana,
Mas o que desejo não.
Não haaqui senão paredes.
As quaes não fallào, nem vem.
Está isso muito bera.
Bem: e vás, Senhor, não vedes
Que poderá vir alguém ?
CAM., FILODEMO, act. 2, SC. 5.
— «Senhora, disse o do Sal vage, se
vós vos visseis, vós me desculparíeis ; de
vos não verdes, vos nasce cuidardes que
tenho culpa, que esses olhos nào se po-
dem pôr em parte, que nào roubem vida
e alma.» Francisco de Moraes, Palmeirim
d'Inglaterra, cap. 148. — «Por quanto,
vós Marquez, por vossa grande dignidade
vos foj' dada bandeyra quadrada como a
Príncipe, e por esta honra, e dignidade,
que recebestes, éreis obrigado guardar a
honra, e estado dei Rey vosso senhor, e
seruillo, e acatalo como natural, e vei-da-
deiro Rey, e senhor, e vós tudo isto fi-
zestes ao contrairo, tal bandeyra não de-
ueis ter, porque a não mereceis.» Garcia
de Rezende, Chronica de João II, cap.
49. — -«A minha alma magnifica ao se-
nhor, quasi dizendo, Vos prima louuays-
me por benta antre as molheres : e a mi-
nha alma louua o Senhor do qual proce-
dem todallas benções, e mercês. As cou-
sas marauilhosas que Deos obrou assi no
meu ventre como na minha alma, mos-
trão quão grande he Deos. Ainda que to-
dallas criaturas manifestem a gloria de
Deos, e mostrem sua grandeza, especial-
mente a alma sãcta he certa testemunha
do poderio, e misericórdia de Deos.» Fr.
Bartholomeu dos Martyres, Catecismo da
doutrina christã.
Vós, santos Ceos, e Tu, Astro brilhante
Que o dia trazes, e que o dia levas,
E que eu nascer naõ vejo ha lougos aunos.
Vós testemunhas sois, s.e eu pertendia
Mais, que cm paz desfructar minha Prebenda,
Comer, jogar, dormir, o divertir-me.
DINIZ DA CKUZ, HYSSOPE, Caut. 4.
— Representa o sujeito da proposição,
ã pessoa a quem falíamos.
Homem, não aporfieis.
Que não quero, nem me praz
Ide casar a Cascaes.
Nào vos anojarei mais,
Aindaquft saiba estalar ;
E prometto não casar
Ató que vós não queirais.
QIL VICENTE, FABÇAS.
«Ora Deos seja louvado vós o ten-
des feito taõ honradamente, e tanto a seu
seruiço, e prazer do Infante, que vos he
elle por isso em obrigação de honra, e
mercê, o que todos deueis esperar qoada
hum em seu grão.» Barros, Década 1,
liv. 1, cap. 11. — • «Não tenho duvida al-
guma em que será eterna a minha dura-
ção, e já não dependo que somente do Al-
tíssimo que amo, e adoro como origem da
minha existência, e da minha gloria. Per-
doai-me se vos digo que vós sois a que
presentemente sois criança a meu respei-
to.» Cavalleiro d'01iveira. Cartas, liv. 2,
n.° 60. — «Nem vós negareis esse vosso
préstimo a unia mulher da província;
que, ao que estes Senhores dizem, tem de
que se talhe uma linda Dama. — É do-
nósa, tem engenho! bello epigramma!*
tem preço ! Pou minha palavra de hon- '
ra. — E doni')sa — (murmurarão ainda
unisonos os Peraltas que me rodeavão).»
Francisco Manoel do Nascimento, Suces-
sos de madame de Seneterre. — «Seja
assim : mas apurae vós lá a computação
nos contos com o thesoureiro-mór, que
para isso não tenho tempo. Quereis fazer
a mercê, senhor escrivão da camará, de
encommendar a Lourenço Martins que
apure essa ementa com micer Percival e
de adveitir-lhc que taes negócios devem
chegar averiguadas á presença de meu
senhor elreiy» A. Herculano, Monge de
Cister, cap. 15.
— Usa-se também de vós por tu.
Ireis vós pêra Sanhoanne
Polo ceo sagrado,
Que meu dono está danado.
Vio elle o demo no ramo.
Se elle fosso namorado,
Logo eu vou buscar outr'amo.
QIL VICENTE, FABÇAS.
Senhor, si ; e todo hum anno...
Vós zombais, se nào m'engano?
Nào, mas dou- vos minha fé
Que nunca vi tão bom panno.
Ora olho vossa mercê.
CAM., AMPUIIKIÕES, aCt. 1, 80. G.
Suspeitas, que me quereis ?
Qu'eu vos quero dar lugar
Que de certas me mateis,
Se a causa, do que nasceis.
Vós quizcsseis confessar.
Que de não lhe achar desculpa,
A grande niMgoa passada.
IDEM, BEDONDILHAS.
— «E porque o vento o arribou neste
lugar deixou o navio em que veio, traz
aquella ponta que o mar faz, e saiu em
terra por vêr se acharia alguém em que
satisfizesse parte de sua paixão : e hoje,
recolhendo-se já achou esse escudeiro, que
vós emparastes, que andava traz estes
cavallos, que nós aqui temos, a que man-
dou prender. Agora vede o que quereis
fazer de nós.» Francisco do Moraes, Pal-
meirim d'lnglaterra, cap. 32. — «Parece
1000
vos
vos
vos
que tarnbom vÓ8 mo trataen desHa ma-
neira, poiJindo-mo al^iiumH il.i» iiiialiiis
ol)Hervaç<>oiiH (|iio ouvistuirf.» (Javalleiro
d'(Jliveira, Cartas, liv. 1, n." 23.
— Quaiulo ur<aiiii)H ilt) vós com um ad-
jectivo di^jois d'(!lic, i;rtti- iiiljoctivo u.sa-«o
no 8Íiifíular, o o vcr\M no plurul.
— (guando com osto vocábulo vós fal-
íamos a muito», vao tudo ao plural. — •
«Mas li;i de sor cora condiçilo, qui! vós c
ollcs me i)romottiit;s, (|ue untes <lo um
anno inteiro mo lovo á côrtc do impera-
dor, quo desejo ver as fcrandezas dullas o
ficar na coriver.<a(;no e amizailo d'cRsas
soiilioras, (pic iud nomeastes.» l''r.aiieÍH(0
de Wor.ies, Palmeirim dTuglaterra, cap.
];u).
— Vós sereis minha; pertoncer-mo-
hois.
Kicae-vos ora com Dooa :
("on-ao a porta HÓbri! viís
Oom vossa caiideiasiuliii ;
F. rti(|uiui8 sm'nÍ8 cfí» minha,
Kntoiíeiífl Turcmos mis.
Pessoa conheço eu
Quo lovilra outro caminho.
OIL VICENTE, FAIIÇAS.
— Estar queixoso de vós; ([ucixar-so
do vós.
Pudera ou com rasão hojo afírontar-mc
Ou ao menos «âtav de vó> queixoso,
Senhor, pois duvidais oucarregar-me
Do ncpocio (juc haveis por periposo,
Sabendo que nenhum lia mais (pie armo
Ao peito forte, d"honra desejoso,
Que aquelle ((ue .a maior perifjo o chama,
Porque esto sompro deu mór honra e fama.
r. D'ANnniDK, puimeiuo cerco de diu, oaut. 5,
ost. 72.
— Cada um de vós ; qualquer do vós.
— f Irmãos nam vos quero mais deter,
somente fazer a cada hum do vos a pre-
sunta i[ue foy feyta a sam loauí liaptis-
ta. Dizeme tu quem os? Rcceo teulio que
aja aqui niuytos que nam me saybam
responder, ou que diç^am despropósitos,
contando sua liuiiafrem, ou sua nobreza,
ou suas prosperidades tomporaes.» Frei
Bartholomeu dos Martyrcs, Catecismo da
doutrina christã. — t Mando a vós c a
cada hum de vós que eutreguedes ao In-
fante Dom Fernando d'Arajíão... e a
Quintaa de Pauza Folies, o Feua Cova
com todoios Direitos e Rendas, e perten-
(,'as, coleitas, e parte de Dízimos, que eu
hi hei, e de direito devo aver, e outro si
com toda juridiçom (Criminal, e C^ivil.»
Doe. de 13.Õ4, no Corpo diplomático por-
tuguez, tom. 1, pag. :2'Jti, publicado pelo
Viscomlo de Santarém.
— Emprega-so também com difforou-
tes preposi(^'ões :
1.° Com .1 preposi\'rio <í.
Ou<;a-ino o pnt<tor c o rei,
Kotumbo cate assento santo.
>fova-BO no inundo espanto;
Qiio do que ja iiiiil cantei
A paliiiodia ja ciiiiUi :
A '(i» mi 1110 quero ir,
Seiílior, « ^rao (.'apitáo
l).'i alta t<irre do Siáo,
A ipial não ponso itubir,
Se ini! vús iiào dairt a mão.
■ 'AM., Br.D0XDII.IIAR.
\Á desi*a Clloria immensa o radiante
Limitar do Inferno inda o» tormento»,
firaiideznrt não A Ké coinmuiiicadas
K a 1'rM as dessa (!ruí B<') reservadas.
BOL. DB UUUKA, BOV. I>0 IIOH. ,' CBIlt. 2, CSt. 2.
2." Com a preposi\'.1o ■para. — «E ho
a primeira máxima do toda a Politica ilo
mundo, que todos seus preceitos se en-
corraõ oui dons, como temos dito, o bom
para mim, e o ináo para VÓS. K pósia
nestii i)rimeiro principio, entra logo sua
lu-ãy Kazalj de EsUulo, onsinaudodlie,
que por tuiio ct'>rte, sagrado, e profano,
para alcançar este tim.» Arte de furtar,
cap. GO.
(Meu padre san' Bernardo me pi-rdoe!)
Mas para tam fididf^a companlii»,
Para 'tíí, re:d senhora, sobretudo.
Dos iiioujíes brancos honra, flor c nata.
Tal poisada buscar!... De nossa regra
O mais sancto preceito venerável,
Querereis infringi-lo ? Antes mil vczca
Os votos todos trcs.
OABUKTT, D. BBAMCA, ClUt. 1, Cip. 7.
3." Com a prcposiçivo em. — «E Pe-
dro ainda perseueràdo em seu espãto
disse Senhor nunca pêra todo sempre c3-
sinterei que mo laueis os \ihs,. Ao qual
respõdeo o Senhor, Pedro, vè o que di-
zes: se te uiio lanar, nào toras parte em
ud. Temorizado Pedro cu tà grade amea-
ça respondeo, Liureme Deos Senhor de
tam grande nnildiçam. Se nam posso ter
em VOS parte se me não lauai-des, nào
somente os pês, mas as mãos, e a cabe-
ça me lauay.» Fr. Bartliolomeu dos Mar-
tvrcs. Catecismo da doutrina christã. —
«A ninguém mostreis ter pouco atlocto,
posto que estejais aggrauado, se cm vos
sentirdes nacer alguma espinha, e ran-
cor contra o proxiuu), arraucaiá logo, e
senaõ poderdes de todo extinguilla da
memoria, buscai razões pêra abrandar.
Se porém o próximo offende a Deos,
afroxai da fixmiliaridade, que tínheis do
antes com elle, pêra quo vendouos res-
friado caia ia coula.» Idem, Compeudio
de espiritual doutrina, cap. lõ. — «Mas
pois tudo isto sois, o eu mo consolo, do
quo o sejais, e tudo em vós está bem
empregado, e essa Coroa de Empcratriz
de todas as creaturas parece, que vos
vem nascida : eu ainda que indigno, te-
rev atrevimento de anmr-vos, a vós su-
birá o nu^u affecto, em meu coração vos
farey hum lugar o melhor, que cu pu-
der.» Padre Manoel Bernardes, Exercí-
cios espirituaes, pag. 13.
4." Com a prepoHiçâo junto de. —
«Quem me pozora junto do vós, ijenho-
ra ! quo recebesse aa vos^ai* contolações,
H om minha cora^^cm vos alentasne !
Nestes horrendos instantes é que cu «iii-
to (juanto o amor mo de«-caminhou, ao
vòr-mu tào aíFasUido de minha Míle ; to-
mai animo c vivei para voi»so filho, quo
hojo ouj dia só por vós susjdra; e que
nilo daria por cuiito grande a vida que
di'ssi; ]ior entremciar imxw aa vonaaii aa
suas l.-igrimas.» Francisco Mamx:! do Nas-
cimento, Successos de madame de Sene-
terre.
.')." Com a prei)osiçílo d«, — «E «em
elle fica a casa do«p<?ja<ia ; e o Henhur
Dom Lusidardo anda no pomar; que U>-
do o seu píissatempu ho enxertar e dis-
por, o outros exercícios dagricultura,
naturaes a velhos: O poi* o tempu nos
vom á mciída do desejo, yamo-nos lá; o
se puderdes fallar, íazei de vÓ8 mil man-
jares, porque liie façais crer quo sois
mais esperdiçado duuior (|ue hum Braz
Quadrado.! Cauiijes, Fidolemo, act. 2,
SC 2.
Mas {rrãa vergonha ho rirmos que o Cambaio
diogar a tanto bem hojo noa tolhe.
Em quem costam.ics pôr tuuto de.8aiaio
Que de ouvir nomeiír-vo» 8>'i »c CDColhe.
Deste atrevimento hojo castigaio
R jagora o segui que ja so oeolhe.
Pois que sempre foi seu, o vosso cstillo
Elle fugir de vó», c vós seguido.
r. D'A»DaADB, PKiMEiao CBBCO oB Dic,cant. 9,
est. 46.
— «A que ella respondeo, ora, ja quo
sois esses, esperay até que vos digo o
que esta gente quer determinar de vós,
c tornado pêra onde os seus estavilo, que
seriTio ja a este tempo mais de cem pes-
soas, esteve com elles em grandes por-
fias, por fim das quais tomou com hum
sou sacerdote, vestido numas operlandas
muyto cõpridas de damasco roxo, que he
o ornamento da dignidade suprema en-
tre elles, o qual trazia hum molho dcs-
pigas de trigo na miio.» Femilo Mendes
Pinto, Peregrinações, cap. 82.
6.* Com a preposição por.
Em passo tio estreito me convinha
Chamar por võt Senhora, noâtc estado
A minha impia fortuua então me tinha ;
Se aqucUc grane mal imaginado,
De morte me cobria, este presente
Sondo a tauta verdade já chegado.
COBTB BEAI., XAUrBAOlO DE SCTCLTZDA, C«Qt. 11
E. se por ww nio fér remediado,
E.sta fi^. que asâim sècca osti. comigo
Ir.'! também por prexa do pcccado.
rKBNÃO i^OROPITA, POESIAS Tt IBOSAA ISHUTAS,
pag. U>.i.
May deos escolha como quon ele ó
Por tóf. amigo, e dc«y i>or mi
I Que uou moyradcs vós, nem eu assy,
vos
Vos
vos
1001
Como morremos, o deos ponha hi
Conselho, amigo, ;a V(^s e a u)i.
CANC. DE D. DINIZ, pag. 103.
■ — «Porque vos affirmo senhor Capitão
que desque me entendi atégora, nenhu-
ma outra cousa tenho visto, nem ouvido,
se nSo que quãto os desaventarados como
meu marido e eu mais fazem por vós os
Portugueses, tanto menos fazeis vós por
clles, e quanto mais deveis, menos pagais,
pelo que infirimlo daquy, o que clara-
mente se p('ide affirmar, lie, que o galar-
dão da naçno Portuguesa mais ensiste, e
ínais pende da aderência que do mereci-
mento da pessoa.» Fernã'o Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 30. — «Por que, co-
mo diz no prologo das suas Instituições
O Imperador lustiniano, a imperatoria
magestade conUem não somente ser afer-
mosentada cõ armas, mas ai-mada cõ
íejs, pêra que hum tempo e outro assi o
da guerra como o da paz possa ser di-
reytamente gouernado. E quanto he ao
que dizeys da authnridade de Platão,
que os philosophos hão de reynar, ou os
Reys f)hilosophar, está claro que faz mais
por mim que por vos, porque se entende
não da philosophia contemplatiua mas da
actiua. » Heitor Pinto, Dialogo da Justi-
ça, cap. 8.
7.° Com a preposição ante. — «Senho-
ra, disse Floriano, livre me quei"ia ver
dos muitos em que me põe vosso amor,
que do mais tudo perdi já o 'medo, de
nada tenho receio, nenhuma cousa ante
vós me pode acontecer, que me pareça
muito, porque tudo estimo pouco.» Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim d'Inglaterra,
cap. 87.
8." Com a preposição antre, por en-
tre. — «Quanto mais ao Prelado eclesiás-
tico, que ha de imitar aquelle bom pas-
tor Cliristo nosso Deos, que trouxe aos
hõbros a ouelha que se perdera, e que
diz em S. Matheus : Quem quiser ser
mayor antre vós, seja vosso ministro, e
o qiie quiser ser primeyro, seja vosso
seruo, assi como o tilho da virgem, que
não veo a ser seruido, mas a seruir, e a
dar suã vida em resgate por muytos. E
daqili veo chamarse o Papa seruo dos
seruos de Deos, que a meu ver ho o mais
excellente dos titulos do mundo, cujo in-
ventor foy o glorioso ''Gregório Vigavro
de Christo.» Heitor Pinto, Dialogo da
Justiça, cap. 6.
9.° Com a preposição sem.
Os diaa mais alop-es me eutristoccra ;
As noites, com cuidiídos as desconto,
Em que sem vós sem conto me parecem.
CAM., SONETOS, n." ÍÍ\.
— Praza a vós, santos céus!
E logo prosegiiiii. So minha cstvclla
Ordenado rac tem, que por encantos
VOL. T. — 126.
De alguma feiticeira, ou Nigromante
Km fero bruto eu haja de mudar-me.
Praza a vó-i, santos Ceos! ao Fado praza,
Que, antes do que cm sendeiro lazarento.
Em brioso Cavallo, ellcs mo mudem.
A. D. DA CRDz, iiYssoPE, cant. 5.
— Junto a mesmo, indica mais expres-
samente a pessoa. — Vós mesmo estáveis
lá.
— Vós ambos; diz-sc de duas pessoas
com quem se falia.
— Vós outros; diz-se de varias pes-
soas a quem nos dirigimos. — «Porém j;\
que ha de ser de necessidade, porque ha
de ser forsado comprir eu com o que de-
vo, vos rogo como amigos que vos naõ
espanteis de vos eu' fazer algumas per-
guntas necessárias ao bem da justiça, e
quanto ao mais que competir á vossa' sol-
tura, se Deos mo der vida; vós a tereis,
e podeis descançar nesta minha promes-
sa, porque sey rlelKey meu senhor quaõ
real condição tem para os pobres como
vós outros.» Fernão Mendes Pinto, Pe-
regrinações, cap. 163. — «Apercebeyuos
pcra muitos trabalhos, o tribulações, que
no mundo aueis de passar, porque vos
certifico que vos outros vos entristecerevs
e chorareis, e o mundo folgara, è se ale-
grará : mas a vossa tristeza se tornara
em prazer, e sereis semelhantes á molher
que chegando a hora do parto se entris-
tece, mas despois que vee hum filho nas-
cido, cora o prazer que toma nam se
lembra do trabalho passado: assi vossas
tristezas todas se converterão eni gran-
des, e verdadeyros prazeres.» Fr. Ear-
tholomeu rios Martyres, Catecismo da
doutrina christã.
VOS. Pronome pessoal que se empre-
ga como regime directo, ou complemen-
to objectivo.
Não por tomar claridade,
Antes v<5s a podeis dar ;
Mas por poder enviar
Coriscos c tempestade
Sobre quem ro.' mais amar.
QIL VICENTE, COMEDIA DE RUBEN A,
Quanta choca, quanta lama.
Que traz o mantão frisado.
Que estava tão alimpado.
Que parecia lumui dama
Diante seu namorado !
Porque não fugis do Iodo?
Dizei, nunca mal vos venha,
Nem dia dolle, amen, amen.
GIL VICENTE, FAHÇAS.
Por vos servir a tudo apparelhados,
De VÓS tão longe, sempre obedientes
A quaesqucr vossos ásperos mandados.
Sem dar resposta, proinpto.? c contentos.
Só com saber que são de vós olhndos.
Demónios infernaos, negros o ardentes
Commctterào connosco ; o não duvido
Que vencedor \os facção não vencido.
CAM., LIS., cant. 10, est. 148.
Meu querido, entre a neve
Tritando estais:
Mas ardendo enti-ií aftectos
Voa abrazaisi Arder, tritar
Entro ancvo, entre aífecto.s
Amor vos faz.
ABBADE DE JAZENTE, POESIAS.
— «Dramusiando o salvou cortczmen-
te ; e vendo que com desacordo lhe não
respondia, o tirou contra si por um bra-
ço, dizendo: Senhor caValleiro, não res-
pondeis a quem vos falhiy» Francisco de
Moraes, Palmeirim dlnglaterra, cap. 81.
— «E achando os dous ca/valleiros no
campo, um atravessado da laiiça, outro
quasi morto teve mais de que se mara-
vilhar. Senhor Florf!»4pPi .di^se- o das
líonzellas, e.stas são as obraw com que
vos sei servir.» Ibidem, cap. 127.
Desengano f|uem vos quer
Esse vos não pode achar,
E quem voa não ba mister
Busca-lo para o matar.
IDEM, DESCULPA.
— «E se cuidais, que temos outra fo-
me, senaõ do que pedimos, estais enga-
nado ou quem vos cá manda, por tanto
bem podeis levar o presente.)» Barros,
Clarimundo, liv. 2, cap. 7.
Mas a rasâo me move, antes me obriga
A que d'aqui rriou canto hum pouco aparte.
Porque a causa da vinda aqui vos diga
Dos que do Turco seguem o estandarte,
E a causa porque veio a armada imiga
Mais a esta fortaleza que a outra parte :
Não demando attenção, porque eu espero
Que a historia por, si alcance quanto eu quero.
F. DAMDRADB, PBIMEIRO CERCO DB Bin, Cant. 12,
est. G5.
— «Do qual (ainda que he tam rico
em mysterios) ao presente nam vos ^ue-
ro dizer mais, senam encomendaruos que
imiteys estes bemauenturados sabedores
em duas cousas. A primeyra, no obedien-
te, e constate seguimento da estrella.»
Fr. Bartholomeu dos Martvres, Catecis-
mo da doutrina christã. — «E da mes-
ma sorte dos outros membros o mesmo
das potencias da alma: se cahireis em
doudice, que res])eito, e affeiçam tiuereis
ao Medico que vos curara e toi-nara a
restituir o siso, por tanto vede, e cui-
dai.» Idem, Compendio de espiritual dou-
trina, cap. 13. — «Mvito hc pêra espan-
tar, e estranhar, como naõ amais a tal
Senhor, que vos criou e deu entendimen-
to, e naõ vos fez bruto animal, ou outra
insensiucl creatura, mas vos deu lume da
rezaõ pêra o conhecer, amar, e poder
gozar perpetuamente, que vos amou tan-
to, que vos criou conhecendo, que o auies
de offender e como fosseis pellas offensas
cometidas; e ingratidões digno de ser del-
le dcsomparado, vos aguardou misericor-
diosamente naõ tratando de castigo pre-
sente se naõ de vossa emmenda.» Ibidem,
1002
VOS
vos
vos
cap. 14. — <iN3o está na minha mâo, mi-
nhii senhora, saber o pouco que sev. Tor
isso nílo ostevo nclla ser tíío aorioso neste
papel como mandastes. Dcos vos fcuarde
muitos aunos. í^avallciro d'01iveira, Car-
tas, liv. 1, n." 30. — Este destino ho tào
coiijmum c[uu raramcute se evita. Duvi-
do porem que essa infelicidade vos com-
prcheuda, o julgo que se todoa os au-
sentes tivessem os vossos merecimentos
que nenhum a experimentara.» Ibidem,
n." 42.
— • Emprcga-sc também como regimen
indirecto, ou complemento terminativo.
Isto com tnl condição
Jíh'o pedireis,
Que asRÍ ^ordoarciB
Oâ males qac vos farão ;
E senão, não no espereis.
GIL VICENTE, AF TO DA CANANÉA.
Que eu vos não consentira
Entrar em tanta privanija.
Pois afjora estais singela,
Quo lei me dais y^<n, senhora?
Digo quo venhais embora.
IDEM, KAUÇAS.
— • «Das quacá a huma nos fica, e a
outra vos enviamos com a nossa embai-
xada, o dito lenho he preto, e leva huma
argolia pequena de prata, bem vos pode-
ramos mandar muito ouro.» Damião de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 3,
cap. 59.
E como o anno ja d'ante8 tinha feita
O Sultão huma paz, qual tenho dito,
E para ser mais firmo e mais perfeita
Deu o que ja ro.' fica atraz escripto :
O conselho dos seus approva e acceita,
Porque lhe roprcaonta o fraco esprito.
Que a nova fortaleza, e a paz antiga
Lhe fari a Çhriitàa geuto mais amiga.
FRANCISCO d'aNDRADK, PKIMKIDO CBRCO DIÍ DIU,
caut. -3, est. 86.
,C:'' >'<■■■'•■■:
o if ir- ■ L '
— «Se quereis entender perfeitamente
cm quanta «.stima vos beis de ter, consi-
derai o preito iníinito do sangue de Chris-
to, por vos otferecido: ponderai vossa di-
gnidade segundo a excellencia do Senhor,
que vos rcmlo, o da grandeza, do preço
que lhe custastes, por onde vos pejai, e
cnuergonhai de offender, e manchar cora
vícios tanta nobreza, e dignidade.» Frei
Bartholomcu dos Martyres, Compendio de
espiritual doutrina, cap. 14. — «lavosnam
chamarcy soruos, porque o seruo iiam sa-
be o segredo de seu senhor, mas chamar-
uos ey amigos, porque yos descobri os
segredos de meu Padi-e. Vos uão me es-
colhestes por mestre, mas eu vos escolhi
por discípulos, e vos deputey pêra que
vades pcllo mundo, o faç.ays muyto fruyto
quo dure i)era sempre.» Liem, Catecis-
mo da doutrina christã. — ^O senhor
ospertay o aoudiuos: porque dormis se-
nhor o nos desemparaes deyxandonos
em nossas cofíUoyrasV Porque nos viraes
o rosto o vos esijueceis de no.isas tribtila-
çòesV A Senhor que tomos a alma pega-
da o grudada com a terra, e despegada
do Ceo. Alcuantayuos pêra nos ajudar, e
iiurar.» Ibidem. — «Lembreuos da palaura
quo hua vcis vos disse, que nam ho o ser-
uo niayor que .«iu senhor. E por tilto se
me a mim perseguiram, também a vos
pcrso^íuirain. ..Mas cOíiai que cu venci o
mundo. Exhortnu os tíbem <à charidade,
o amor fi-aternal, dizendo, Míidado nono
vos dou que vos ameis huns aos outros,
assi como vos cu amei.» Ibidem. — «Co-
mo o dito Poema obriga a adivinhar, e
como isso me seja prohibldo pelas Leys
do meu Paiz, eu que as quero observar
era todos, vos faço restituição da obra
bastando a do Casa para me quebrar a
cabeça.» Cavalleiro de Oliveira, Cartas,
liv. 3, u." 3. — «Pareee-me quo consigo
do meu discurso mostrar-vos que as almas
grandes sabem pela força da sua razão
resistir aos Ciúmes, que apenas deyxão
chegar ás suas portas, sem consentir que
lhes entrem em caza, onde como inimigos
declarados arruinarião os donos d'ellas.»
Ibidem, liv. 1, n." 13. — «Madama, (me
diz a Bacchante, concentrando a ch<)lera)
o senhor, na pergunta que vos fez nada
disse que vos injupasse. Nem eu, Mada-
ma, lhe respondi fora de propósito. O
mais cui-ioso, esse se instrua; e por certo
que o Senhor o é mais que eu.» Francis-
cisco Manoel do Nascimento, Successos
de madame de Seneterre.
Quero explicar-i-05 o successo estranho
Que hontem presenciastes ; — e do escândalo,
Se a meu pezar o dei, perdão vos peço.
OABUETT, CAMÕES, Cailt. 3, CSp. 8.
— Não vos parece esta escusa boa. —
f Senhora, disse Pompides, a donzella le-
va tào bom recado pêra sua necessidade,
que eu faria lá pouca mingoa; porém,
porque a vós não vos parece esta escusa
boa, quero ir traz clle, mais pêra o ver
obrar, que pêra cuidar que lá posso ser
necessário. E despedindo-se d'eUa, seguiu
polo rastro de Palmeirim, que ia jà tão
alongado, que primeiro passaram muitos
dias que o visse.» Francisco de Moraes,
Palmeirim dlnglaterra, cap. GT.
— Dtipijis de vos darem com as costas
no adro; ilopois de vos fustigarem. —
«Antes saO taõ privilegiados, que depois
de vos darem com as costas no adro, e
com vosso pay na cova, demandaõ vossos
herdeiros, que lhes paguem a peçonha,
com que vos tirarão a vida, c o trabalho,
que tiveraõ em vos apressarem a morte
com sangrias peores, que estocadas, por
serem sem necessidade, ou fi')ra do tem-
po.» Arte de furtar, cap. 4.
— tíeJa-\os o mando yara bem.
O Marquez de Villa Ileal
Diria lagrimejando:
O neto d El liei Fernando,
Todo de «anguc Real,
Porá bem vos oeja o mando.
alL ilCEHTE, OSaAS VAaiAB.
— Junta-80 aos verbos reflexos, e pro-
nominae.s. — tTão leve fazeis esta aven-
tura, disse o cavalleiro, quo já vos n3o
queixaes senão do tempo, que ó pouco;
pois olhai por vós, que deste encontro fa-
rei que vos sobeje mais dias pêra estar-
des preso na conversação de outros nés-
cios, como vós, que vos piVie íallecer pê-
ra vencerdes j costume do castello. » Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim d' Inglaterra,
cap. 69. — «Nam tenhaes por cousa es-
tranha se o mundo vos tiver ódio, e vos
perseguir : lembreuos qne amim que sou
mayor que vos, teue ódio. Se vòs fosseis
mundanos, o mundo como conaa sua vos
amaria, mas porque vos nam soys deste
mundo, mas eu vos escolhi, e tirei d'elle,
por isso vos quer mal o mundo.» Frei
Bartholomeu do.í Martyres, Catecismo da
doutrina christã. — «Por temer seusibili-
zar-vos não encarreguei, Senhora, uma
carta, que Mr. de boa vontade remetto-
ria a vosso filho, a quem privei a-ssim da
maior ventura sua. Como não tinha a
honra de conhecer Madama de Seneterre
(disse elle) deixei em casa de M. Birton
a endereça de Madama Depréval, asse-
gurando-lhe que as cartas que seu filho
mandasse, lá vos seriào fielmente entré-
ííues.í Francisco Manoel do Nascimento,
Successos de madame de Seneterre.
— Não vos pesará de ser caiitada a
novidade; não vos enfadará.
Mas oumpre-me apartar-mo d'aqui cm quanto
Dentro polo sertão faço a jornada,
Porque a huma novidade volto o canto
Que não vos pesarA de ser cantada.
Causou em todo o Reino grande espanto
A morte do Sultão não esperada,
E em mil partes algum tempo não crida
Por immortal julgando tão mi ^ida.
FRANCISCO d"aNDR\DE, PBIICEIRO CERCO DE DIC,
cant. 8, C8t. 70.
— Pareceram-vos; assemelharam-se-vos,
mostraram-se-vos. — «Com estes entram
outra sorte d'elles que, aos domingos, na-
moram do canto da travessa; os quacs
pela maior parte, não sahem de obreiros
de offieial que para este passo se almofa-
çam de maneira que vos parccênun uns
infantes de Lara; mas destes não faz a
historia menção porque são parvos de
corja.» Fernão Soropiti», Poesias e prosas
inéditas, pag. 109.
— Peço-vos; rogo-vos, supplico-vos.
Peço-ros, pois que o paristes
Dcos e homem natural,
Que a esta alma Real
Deis o bem que descubristes
Eternal.
on. TKBtiTB, OB&àS TAB1A8.
VOSQ
— Yos ficará muito obrigado; agrade-
cer-vos-ha muito. — «E o nosso Rer vos
ficará por isso muyto obrigado, para que
sempre com rauyta lealdade sirva como
escravo cativo ao Príncipe do g-rande
Portugal, vosso e nosso senhor e Rev, da
parte do qual, e om nome do meu vos re-
queiro senhores a ambos huma e duas e
cem vezes, que não deixeis de cumprir
00 que deveis.» Fernão Mendes Pinto,
Peregrinações, cap. 21.
— Pedem-vos, senhor, por mercê; sup-
plicam-vos por graça. — «Pedem-vos, Se-
nhor, por merece, que mandees que o di-
to artigo se guarde, e que nom vaam
contra elle sob pena certa. Assi manda
ElRev que o guardem ; e se alguém con-
tra elle for, que tomem sobre ello estru-
mento, e lho enviem, e que lho estranha-
rá.» Ord. Affons., liv. 1, tit. 58.
— Porque vos não fostes; porque vos
não retirastes. — «O saneta Maria, se
mandei a todos que se fossem a comer,
porque vos nam fostes, e me vindes en-
chendo de poo ; respondeo o loam Goo, e
disse: Senhor, os que tinhão de comer se
foram, e os que aqui vem não tem que
comer : e el Rey lhe disse : Prometovós
loão Goo, que eu vo lo de : e muvto ce-
do, e logo aquelle dia a tarde o liiandou
chamar, e lhe deu a comenda da Freirea
em Euora, e aos outros fez mercê. » Gar-
cia de Rezende, Chronica de D. João II
cap. 90.
— Vos convinha este officio; vos era
conveniente.
Sem alma o corpo achou, que ii'alma tinha!
O Nereidas do Egêo, consolai-a,
Pois e3te pio officio vos convinha ;
Conaolai-a ; sahi das vossas ágoas ;
Se consolação ha em grandes mágoas.
CAM., ÉCLOGA 7.
— Qrmo vos vai n'esse mar tão profun-
do e espaçoso^
Como vos vai ncaso mar
Tão profundo o espaçoso?
Nosso mar he fortuuoso,
Nosso viver lacrimoso.
E o chegar rigoroso.
GIL VIGESTE, FABÇAS.
— Nós VÓS enviamos muito saudar,
como aquelle que muito amamos, e pre-
zamos, etc; formula de saudação regia,
— «Muito poderoso, e excellente Rei de
Manicongo. Nos dom Emanuel pela graça
de Deos Rei de Portugal, e Guine vós
enuiamos muito saudar, como aquelle que
muito amamos, e prezamos, e para quem
queríamos que Deos desse tanta vida, e
saúde como vos desejaes.» Damião de
Góes, Chronica de D. Manoel, part. 3,
cap. 37.
VOSCO, de Vós. Emprega-se com a pre-
posição com. — Deus seja comvosco.
VOSQUO. Termo antiquado. Vid. Vos-
co.
VOSS
VOSSANCÊ. Termo popular. Vid. Vos-
sa mercê.
V0S3E. Abreviatuia de Vossa mercê,
que se emprega familiar e amigavelmente.
-—Também se usa por trato de gente
baixa e intima.
VOSSO, A. Adjectivo possessivo da se-
gunda pessoa do plural. Da pessoa, ou
pessoas a quem falíamos. — Eis aqui vos-
sa mãe. — «E esto meesmo ho escrepve-
de vós em vosso livro, e assine-o o dito
Coudel, e Escripvam pêra no-lo vós mos-
trardes, e Ni')s podermos despois saber se
estes taaes teera as ditas beestas de gar-
rucha com as suas armas, ou cavallos sem
armas, assy como se obriguarom ; e seen-
do achado, que teem a dita besta de
guarrucha com armas, ou cavallos sem
armas, vós nom os co.stranguades per
beesteiros do conto.» Ord. Affons., liv. 1,
tit. 69, § 16. — «E ora, Senhor, os vos-
sos Sobre-Juizes, e Corregedores se tre-
metem, e querem tremeter de conhece-
rem de taaes feitos, o que a nós he gran-
de graveza, e prejuízo.» Ibidem, liv. 5,
tit. 109, § lõ.
E assi de vossa antigua geração,
E o principe do reino tão potente,
Cos successos das guerras do começo ;
Que sem sabol-as, sei que são de preço.
CAM., LHs., cant. 2, est. 109.
Pois se as settas tiradas da inimiga
Corda, contra si só nocivas são,
Que farào, Rei, as vossas que tem liga
Com a que ja tocou Sebastião !
Tinta vem do seu sangue, com que obriga
A levantar a Deos o coração.
Crendo bem que as que vós despedireis,
No sangue Serraceno as tingireis.
CAM., EPISTOLA 3.
— « Por certo, cavalleiro, vós tomastes
a mór empresa, que nunca vi : e porque
não conceder o que pedis seria desgosto
vosso e doutros muitos, digo que vos se-
guro o campo e dou licença pêra vos
combaterdes com as condicções, que no-
meastes, todolos dias, que quizerdes.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 82. — lEu sou Floriano do
Deserto, vosso primo, e vo.sso servidor,
em cuja presença se vos não íixrá nenhum
desserviço. Agora não hei por muito ne-
nhuma cousa destas, dis.se elle, que pêra
V('is tudo é pouco. í Ibidem, cap. 127.
«Mas queria que estivesse nelle a senhora
Arlança vossa filha pêra lho presentar e
lhe dizer que o soccorro, que lhe tanto
encareci, e se ha de fazer a aquella don-
zella, porque a ella é feito o aggravo;
que d'outra ai-te nam sei quam boa des-
pedida poderei dar a este negocio.» Ibi-
dem, cap. 114. — «O cavalleiro estranho
se assentou em um dos poiaes da ponte,
e o do Touro encostado a uma borda d'el-
la, disse : Senhor cavalleiro, já agora ireis
sentindo se alguns offerecimentos fiz, que
os poderei cumprir. Porem polo que co-
VOSS
1003
nheço de vossas obras, folgaria que se
guardassem pêra outros tempos, e não
quizesseis consumil-as aqui.» Ibidem, cap.
132. — «Ah perros aonde me levais? os
negros com o medo se lançarão ao mar,'
e Dona Leonor se lançou com elle, di-
zendolhe : Tà Senhor, que he isto? este
he o vosso siso, e prudência? Manoel de
Sousa de Sepúlveda tornou sobre si, e
quietou-se.» Diogo de Couto, Década 6,
liv. 9, cap. 22. — «Finalmente vos soes
de cuja vida depende o bem ou maf do
mundo. Porque manifesto estaa que 'se
vosso zelo respondo ao officio, nam aue-
ria tanta dissoluiçam nos leigos, nam an-
dari.am as ouelhas de Christo tam fora do
caminho do Ceo.» Frei Bartholomeu dos
Mart^Tes, Catecismo da doutrina christã.
— «Antes trabalhai quanto em vos for
polo fazerdes vosso amigo a fim de lhe
dardes os exercícios espirituais, ao me-
nos, quando mais nam podesseis, os da
primeira somana, que atras apontaua. Da
mesma maneira vos auereis com os sacer-
dotes da terra, procurando, e conservan-
do a amizade de todos, tendolhe, e mos-
trandolhe muyto respeito, e trazendo-os a
que se recolham per alguns dias a tomar
as mesmas meditações... Lucena, Vida de
S. Francisco Xavier, liv. 6, cap. 11.
Elias
são peãs.
Por que ?
Estas moças.
Que moças ?
As noras vossas
lhe chamo.
Mudae as pélas.
ANTÓNIO PBE8TE8, AUTOS, pag. 249.
N'huina fusta que alli só foi achada
(Tendo para o que quer tempo opportuno)
Entra, e com grão silencio, abrindo a estrada
\ai polo húmido assento de Neptuno,
Mas porque a mi ja causa, a vós enfada
Este Canto, ja assaz largo e importuno,
Crsso aqui, porque cesse algum espaço
O vosso enfadamento, e o meu cansaço.
fBANCISCO DE ANDBADE, PaiaEIBO CEBCO DE DIU,
cant. 13, eât. 112.
— «Oh gram excesso foy de vosso
amor, quereres na Circumcisaõ, no Bau-
tismo, e na Cruz apparecer com sombras
de peccado, e ser reputado entre os mal-
feitores ! Amor, que ao menos nestas som-
bras, venceo hum ódio infinito, qual he o
de Deos para com o peccado, sem duvida
foy amor infinito.» Padre Manoel Bernar-
des, Exercícios espirituaes, pag. 116. —
■ — «Nunca eu me perdoara essa fraque-
za, a não ser de permeio a bondade com
que filha vossa me chamáes, e o saber que
ao menos puz da minha parte quanto em
mim coube por preencher os meus deve-
res á cerca de meu Esposo. A approva-
ção de minha Mãe, mais valiosa que as
minhas próprias reflexões me estorva o
envergonhar-me de mim mesma.» Fran-
1004
VOS.S
voas
voss
cisco Manool do Nasuiiueato, Snccessos
de madame de Seueterre.
Avoi'i ao >:o«so posto.
Avooii ii iiieuií mil po^to.i,
nào lhe qacro hso encobrir,
porqun mal p^^do urgoir,
podondo iitalliíir desj^ostos,
ataHIial-o.i, so cumprir.
ANioNio i-uEârES, AUTOS, pag. í!07.
— O merecinteiito de vossas qualida-
des; o morecimeuto do qualidades que
y()3 teades, qualidad&j que vos peitca-
ju^fU.iTTTT «For certo a batalha podur-se-lia
j>erdei', e perder-áe-ha pur luiiiua fra(|Qe-
za, mas uào polo mercciíueiito de vossas
qualidades, ou porque alii^uG'" uieroi,a
mais que v/ií.» Francisco de Aloraes,
Palmeirim de luglaterra, cap. íjá.
— Por vossa j'é. _,.
£ a que?
lago que ú ?
ÉââC perguntar me entreva ;
aaiuha, por i*os»tí f(5.
"■'"^ ' AiiioNio Vresté.s, XblroB, píij;, 39;').
-i-'>cu • . >'." . '(. >. i:xi.
'.. — Espero vossa ajuda; espero o vos-
j» auxilio. — «E deteado-âc irm pouco,
msso antre si : 6euliora, se eu nas gran-
des affroutas espero vossa ajuda, em
qual maior que esta me pôde a minha
ventura nunca pôr? A vida, se a nào de-
sejara pêra vos servir, pouco me dera
perdel-a aqui : esta voz a tirai d'este pc-
rijío ; e <lepoiá ordenai algum serviço,
vosso, em que eit' perca, e vós sereis ser-
vida e cu contoiíte. » Francisco de Mo-
raes, Palmeirim de Inglaterra, cap. 58.
— Por vosso ri spcit') ; por respeito á
vossíi pessoa.; — «Eu tallel a sua Alteza
em Affonsó de Kojas, e por vosso respei-
ta lhe fizera logo a mercê, que liie eu
pedi, mas porque (como dijjo) manda di-
zer ás pessoas que andão na índia, que
este anuo niío manda lá nenhvuu despa-
cho, deferio o de Attonso de Rojas para
o- anno q.ue vem, e diz que para eutào
lhe fará mercê.» Jacintho Fh"eire de An-
drade, Vida de D. João de Castro, liv. 3.
— Alevantai vossas cnity/.s; erguei
vosaas cabeças. — «E vòa ó filhos meus e
verdadeiros Cliristãos, quando começar-
des de ver esses espantosos siuaos, nam
teuiaes mas entam aleuautay vossas ca-
beças, esforç«iyuos, e coufiay, porque he
chegada a hora de vossa perfexta redem-
pçam e ■ liurameuto de todolos males e
misérias. E tomay esta semelhança.»
Fi-ei Bartholomeu dos Martyres, Catecis-
mo da doutrina christã.
— Figuradamente : Leio t?»» vossos olhos
a 'victoria.
Como a troar da maldicijíio os raios
Quaâi prompta... AU ! mas viSâ, vós sois Romanos ;
Em vossos cora(;òos ja vejo a pátria,
Jil leio em vossos olhos a victoria.
Senadores ! romano» HCiiadorus
Vúi »oi» — avante, eia ávaiitr, ú Padre»!
aÁiiiiKrr, catãu, iict. 2, se. 1.
— Namorado vosso ; namorado que vos
pertença.
So aoia contento, Honhora,
Do cu ser namorado >^0'iot
Que sejacii muito embora.
oiL vicK.trr., KABÇAS.
— Guiar o vosso i>ovo ; guiar o povo
que vos perteace. — « Ex atjui o .Senhor
vira pêra saldar as gentes, e ouuircis
sua gloriosa voz, com mvyta alegria de
vosso coraçam. O Deos eterno, regclor
do Israel do pouo fiel, cntendey sobre
nos. Vos seuhor que guiaes vosso pouo
como ouelhas perJiJas n'este mundo, vin-
de ser nosso pastor, vindenus guiar e mos-
trar o caminho dos deleytosos, e eternos
]jastos.u Frei Barthulnmeu dos ilaityres,
Catecismo da doutrina christã.
— Vossa eiifascada alma ; alma que
vos pertence, vosso espirito eufuscado. —
o Ao qual António de Faria, em lugar de
oraçào que lhe rezava pela alma, disse,
an<lar muyti cramá para esse inferno,
onílc a vossa enfuscada alma agora esta-
rá go/ando dos deleites de Mafamede,
como ontem còm grandes brados jirega-
veis a essoutros caens taes como vós.»
Fernão Mendes Pinto, Peregrinações,
cap. 60.
— Vossa meinoi-iu; vossa lembrança.
CA in'aoou)paiiliará vossa memoria,
So o rio, que se diz do csqnecimunto,
Da minha não borrar tào longa historia,
Tão grave mal, tào duro apartamento.
CAMÕES, KCLOGA 5.
Culpa vossa ; a culpa que vos per-
tence.
Mas para que tudo possa
.\mor, que fudo encaminha,
Tal justii.-Ji lho, convinha -.
Porque da culpa quhe rosta,
Venha ser a morte minha.
CASl., KEDONDILUAS.
— Estar em vossa mão ; estar em vos-
sa competência. — «Quato a bõs em vos-
sa mão esta serem bons ou mãos, porque
nao se dizem os .iuuos bons por serem
prósperos e do bonança^ scuam porque
seruem pêra chegar a bom fim ou bom
porto no cabo d'este caminho, assi como
como dizemos hum caminheyro ou huuia
nao fazer boa viajem quando chegou com
saúde a onde desojaua. Pois sabido esta
que todo o tempo de nossa vida nam he
outra cousa sen.ào hum contino caminhar
ou nauegar pêra o porto da Cidade ce-
lestial.» Frei nartholomeu dos Martyres,
Catecismo da doutrina christã.
— Novas d'el-rtii vosso stiilior. — «Ca-
valgai, e dai-me novas dclrei voa^O se-
nhor; que pedir-voíi-laá de outrem bem
me parece que se poderá escuiiar. Se-
nhor, di.sse Argolaute, cu por ijcn man-
dado venho a vosda magestitdc, por isso
va-se onde a imperatriz c (jridonia está,
que lá lhe direi ao que sou vindo.» Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim de Inglater-
ra, cap. 45.
— Vossa gtnle; a familia quo voa per-
tence. — «Sen .or lembrayuué de noa,
«jlhayiios coiu aquelles olhos prosegnínog
com aquella graça e favor com que acua-
tumaes a fauoreccr o pouo por voa esco-
lhido: visitaynos com vossa salaaçani^
pêra que os vossos escolhidos vej2o vossa
bondade, a vossa gente se ale;.Te, e a fa-
milia que escolhestes por vossa herdado
vos luuuc e diga, I^onuav o Senhor parque
he bou), e sua Misericórdia he sempiter-
na, u Frei Pjartuolomeu dos Martyres, Ca-
tecismo da doutrina christá.
— Vossos uuiinbrijs ; membros que vos
pertencem. — «Nam sabeys que vossos
membros sam membros de Christo, c
Templos do Spiritu Sancto que em vos
mora? Nam soys vossos, nam : lesu
Cluústo V08 comprou por seu preciosiasi-
mo sangue, pêra morar em vossaa almas,
e em vossos corpos. Pois se assi he, como
vos atreveya a apartiir vossos membros
de Christo, e entregallos^ e ajuntailos
com huma torpe molhar Pi Frei Bartho-
lomeu dos Martyres, Catecismo àa dou-
trina christã.
— Vossos offendedores; aquelles que
vos oflenJem. — «Pella medida porque
medirdes a vossos ofiendedures, por essa
voz medirey a vòz, diz o senhor, e p<.)r
isso diz também, perdoay e perdoamos
hào. E quando quizeres ofFerecer algu-
ma cousa no altar, primeiro que offere-
ças te reconcilia com teu irni.io.» Frei
Martholomeu dos Martyres, Catecismo da
doutrina christã.
— Fazer fructo em vossa própria al-
ma ; aproveitar para a vossa alma. ^- « Se
quereis fazer muyto fi'uyto, assi em vossa
própria alma, como nas dos próximos, e
viuer consolado cm espirito, conuersai
com os peccadores de maneira que se
venliam elles a fiar de vós, e vos desco-
brir suas consciências.» Lucena, Vida de
S. Francisco Xavier, liv. 6, cap. 11.
— Vossas rendas u$urpada* ; tiradas
as rendas que vos pertencem.
E que vos tr-Ticm .... ,. ;...-
j'o*«»i« rendai», o um morfrado
lá d°um vosso antepassado.
AKTOMO PREffTKS, ACTOS, pAg. 123.
— Olhae por vossa f atenda ; olkae pe-
lo que é vosso.
Olhae por votta fazenda :
Tendes hmuas escríptnras
voss
voss
voss
lOOõ
De hima casaes,
De que, perdeis graude renda.
Ho eouteuda,
Que leixárào ás escuras
Vossos pães.
On. VIGESTE, AniO DX ALM,V.
— Vosso devotistimo filho ; vos30 filho
mui reiigiuso. — « Sanctissimo em Cliris-
to, Padre Beatíssimo Senhor, Senhor nos-
so lulio Segundo, pela divina Providen-
cia Sumo poutitice. Vosso devotíssimo fi-
lho dom Afonso pela graça de Deos Rei
de Manicongo, e senhor dos Ambudos,
Guine, manda beijar vossos beatíssimos
pes com muita devação. Bem cremos Bea-
tíssimo Padre, que tem vossa Sauctidade
entendido como el Rei dõ loão de Por-
tugal, segundo do nome no começo.» Da-
mião de Góes, Chronica de D. Manoel,
part. 3, cap. 39.
— .Na vossa presença-; diante de vós.
— «Os privilégios dos Príncipes sàoreaes,
porem conhecemos outros mais soberanos
que os seus. Não desconfiarão os Bufoens
de Palácio dos sopapos que os afrontào,
e desconfiaria eu na vossa presença dos
mesmos risos que adoro y» Cavalleiro de
Oliveira, Cartas, liv. 1, n.° 11.
— Vossa jigura dá mostra de si.
Tal mostra de si dá vossa figura,
Sibola, clara luz da redondeza,
Que as forças e o poder da natureza
Com sua claridade mais apura :
Quem couliauça ha vista táo segura,
Táo siugular esmalte da belleza,
Que uão padeça mal de mais graveza,
Se resistir a seu amor procura ?
CAM, SONETOS, u.o 140.
— Vossas almas sejam moradas do Es-
pirito âanto ; as habitações onde estaes
sejam moradas do Espirito Santo. — oE
cada hum tàto he mais sanctu, quàto mais
foge de peccar. Por isso irmãos se que-
reis que vossas almas seja moradas do
Spírito saiicto, e de seu amor, arrepen-
demos e confessayuos dos peccados que
atè o presente cometestes : e assenta v
firmemente com vosco não cometer ou-
tros, e isto com perseueiança.» Frei Bar-
tholomeu dos Martyres, Catecismo da dou-
trina christã.
— Vossos juízos são um abysmo gran-
de ; os juízos que fazeis são um abvsmo
grande. — «Vossos juízos saò hum abys-
mo grande, e ba-ta sorem vossos, para
serem justilicados.» Paili-e Manoel Ber-
nardes, Exercicios espirituaes, pag. 45.
— - Derramar sangue em vosso altar.
Se ás minhas o negais, seja o mais caro
Amigo seu, — -seja o seu próprio sangue
Que aquelle sangue em vosso altar derrame.
QAsauTT, CATÃO, act. 3, SC. T.
— O vosso sacerdote ; o sacerdote que
VQ3 pertence. — «E por isso ter fastio
quando se pregão e ensinâo as cousas de
Deos, e do outro mmido, he sinal que a
alma nào tem quinhão em o outro mun-
do, nem he da parte de Deos. Por isso
irmãos ouui com ferventes desejos o que
da parte de Deos vos diz e ensina o vos-
so Sacerdote e Re.ytor qualquer que elle
seja: porque elle he a boca porque Deos
vos falia. » Frei Barthoiomeu dos Marty-
res, Catecismo da doutrina christã.
— Vosso pae ; o autiior dos vossos dias;
o.pae que vos pertence. — t Vedes aili
Palmeirim d'inglaterra que vos tantas
lagrimas tem custado, e a quem vós po-
zestes o nome por seu nascimento ser
conforme ao de vosso pai. E depois o
imperador seu avô sem lho saber tornou
a luo pôr quasi por inspiração divina.»
Francisco ue Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. -IT.
• — ■ A vossa objecção embaraça-me ; a
vossa objecção atrapalha-me, confuude-
me. — «Coiifessarey neste caso que a
vossa objecção me embaraça. ísão res-
pouuerey decidindo á questão, porem
ubservarey que se estes corpúsculos de
que se trata se pegão ao ar grosseyro, se
podem também pegar áquella matéria
ctherea que se voita com a terra sem re-
ceber deslocação respectiva.» Cavalleií-o
d'Uiiveira, Cartas, liv. o, n.° o9.
— Vosso Jiiho ; filho que vos perten-
ce. — «Finalmente seniiora entregay oje
por nos vosso filho ao Padre eterno em
reféns, atee que elle por nos mesmos se
oóereça na Cruz. E ainda que a senhora
trazia offerta de infinito valor, e em tudo
igual aaqueile a quem se offrecia, nam
deixa por isso de trazer a offerta tempo-
ral que a le}' ordenaua, s. duas roUas, e
dous pombinhos, offerta certo muy mys-
teriosa. » Fr. Barthoiomeu uos Martyres,
Catecismo da doutrina christã.
— Tratamento que se dil em cortezia
ás pessoas que não tem senlioria, e a
quem se não trata por tu ou vós; trata-
mento dado outrora a el-rei.
Mantenha Deos vossa mercê.
Bote, vús venhais embora.
Ah sancta Maria senhora.
Como logo Deos provê !
GIL VICENTE, FABÇAS.
Assi, seuhor, folgo eu
de vossa mercê saber
fazer templos de beber.
AMTONIO PKKSTES, AHTOS, pag. 71.
Longe está
VOSSO favor do que importa ;
ora vossa mercê vá,
bata alli áquella porta
e pergunte se estou cá,
iBUBEM, pag. 127.
Parece que as névoas grandes
que atraz foi-am, e inda são,
revê a encadernação
dos livros peior que em Fraudes.
Fiz-lhe quinhentas mesinhas,
vê vossa mercê ? galinhas
maninhas que não põem nada.
IBIDEM, pag. 149.
Logo a culpa a mi se dê,
pois fui tão mal attcntado,
que a tempo do deseançado
vim cançar vossa mercê.
IB1DE.M, pag. Itíl.
Oh ! bom escuzar,
façam conta que me enforcam,
que á forca os vou confessar.
Porá confeitos me empraxa
vossa merco V vem de mula.
IBIDEM, pag. 211.
Assi é isso.
Casou meu filho, c casado.
Filho vosso mercê tem.
Homem de bem,
nào ê vossa mercê lembrado
do meu Fernando ?
IBIDEM, pag. 3t)3.
Perdoe-me vossa mercê,
que ninguém já assi me leva.
Andae.
IBIDEM, pag. 395.
Como vem vossa mercê
com monanconia a.-isi tanta ?
Vossa senhora nào cré,
nào é christà, nào tem fé.
IBIDEM, pag. 415,
Vossas mercês querem ouvir
musica darte?
Quem são ?
IBIDEM, pag. 427.
— «Até aqui basta para esta carta-le-
ge. Assim, pagarão as moradias, come-
rão os cortezãos mais pinhoadas nestas
festas. Vossa mercê receba a boa vonta-
de, e dê copia deste cazo ao meu ami-
go..., a quem não escrevo em particular,
por que dei agora no regimento de Se-
túbal que não dou uma carga senão por
outra. Nosso Senhor, etc. A cinco de Ja-
neiro de 1Ò9Õ.» Fernão Lopo tíoropita,
Poesias e prosas inéditas, pag. 87.
— Vossa senhoria ; tratamento que se
dá a certa qualidade de pessoas que não
teem mercê, nem excellencia, e que não
se tratam por tu.
E como os sons, Senhor, saõ desse porte,
Se deve recear, que levemente
A sua appellaçaõ possaõ nogar-lhe ;
Assim, por evitar longas anibagea.
Que dinheiro, paciência, e tempo gastaõ.
Será melhor, que í'o«.«a Senhoria
Appelle logo, — coram probo viro.
ANTÓNIO DIMIZ DA CKLZ, HTSSOPS, CaUt. 4.
— «Eu, senhor, como tenho dito a vos-
sa senhoria, três vezes cheguei ás portas
da morte nesta minha doença, de que
tornei a arribar, fora de toda a esperan-
ça, por mercê de Deus. Sirva-se sua Di-
vina Magestade que seja para o saber
1006
voss
voss
VOTA
servir, ainda que pouco posso, mal con-
vaiecido, e com recoioa do recair, jiorque
não p(')de a minha fraqueza com a intem-
perança d'e8te.s ares, e com os rif^ores
d'este segundo cárcere de <Joinib)'a para
onde mo mandarani, nílo sei por que cul-
pas.» l'adro António Vieira, Cartas, n."
2ii. — t Não posso encarecer a vossa se-
nhoria quanto estimei, e se estimou n'eH-
to collegio, a rciaçiío pormenor do exer-
cito que sua oxcellencia tem prevenido
para esta campanha. Fizeram-so muitas
copias para irem a todos os eollegios d 'es-
ta banda, que serão de grande animo pa-
ra todos, c também para que se saiba o
que nem todos publicam.» Ibidem, n." 28.
— Vossa revercndissiina ; tratamento
que se dd aos ecclcsiasticos, qualquer
que seja a sua graduação. — «Por fim
d'c8ta, como protestação da fé, quero di-
zer e confessar a vossa rcvorendissima,
que tudo o que nos bons princípios d'esta
missão se tem obrado, se deve mui parti-
cularmente ao zelo, diligencia e industria
do padre procurador gorai Francisco Ri-
beiro, o tudo são cffeitos de sua grande
caridade, c pontualidade com a qual nos
assistiu, encaminhou e superintendeu a
tudo de maneira, que sem elle se não pu-
dera fazer nada.» fadre António Vieira,
Cartas, n.° 12.
— Vossa excellencia; tratamento dado
a pessoas de classe elevada, tanto ho-
mens, como seukoraa.
O mesmo dic;o do temido Ahncida,
De quom Voudci UxccUeiicia tem o sangue :
De Cambava iniirchav as altas palmas
Na brutal Cafraria ello nau vira,
Se afouto, ou ttMiíerario não zombiira
Do bater dns sapatos dos Menezes :
Vossa Excellencia tem visto os portentos,
yuo llic tom neste dia acontecido.
Disu DA CRUZ, HYssoPE, caut. G.
— Vossa magesfaãe ; tratamento dado
actualmente aos monarohas. — «Esta per-
da, que tanto nos deve envergonhar, quiz
Vossa Magestade remediar com me man-
dar proseguisse a Historia da índia, co-
meçan<lo donde João ile Barros acabou,
era que sahisscm á luz os feitos, que
estes vassallos Portuguozes ten» obrado
nestes Estados. E tanta ventagem faz
esta merco a todas as que fez a todos,
depois que herdou essa Coroa de Portu-
gal, quanto vai da vida á morte, e do
que sempre dura ao que logo se acaba.»
Barros, Clarimundo, Epistola. — «E so-
mente quando faltasse suecessor ao prin-
cipal de tdda a aldèa, ou naoão, e se hou-
vesse de fazer eleição em outro, no tal
caso proporão os ditos prelados, e procu-
rador geral dos iiulios a pessoa que entre
ellcs tiver mais merecimento, e lhes fôr
mais bem aceita, e o governador ou ca-
pitão niór em nome de vossa magestade
lho passará provisão. » Padre Anfonio Viei-
ra, Cartas, u.° 13. — tE foi este res-
í»ate uma boa prova das nova» ordens do
vossa magestade, a favor dos Índios, que
08 padres lhes foram [uiblicar, e com que
oiies ficaram nnii eont'-stefl e animados,
e Já 8?lo partidos por diftereiítes braços
do rio a levar a mesma nova aos do suas
nações, algumas das quaes são píjpulosis-
simas, o se esperam jior este meio gran-
des conversões.» Ibidem, n." 1.'). — f Pri-
meira : Porque as coisas que vossa ma-
gestade foi servitlo resolver, todas foram
examinadas e consultadas com as pessoas
mais timoratas, o de maiores letras que
vossa magestade tem em seus reinos.
Segunda: poique esta consulta e resolu-
ção se tomou depois de serem vistas to-
lias as leis antigas, e breves dos summos
pontiiices, consultas do conselho ultrama-
rino, e todos os mais documentos que po-
dia haver na matéria. » Ibidem.
— Vossa alteza ; tratamento dado aos
infantes e príncipes, — «A qual lhe deu
com muito pejo, e sobrieto no fim de hu-
ma carta que escreueo a el Rei lhe diz
as palauras seguintes. Senhor (íonçalo
mendez çacoto me dixe que trazia licen-
ça de vossa Alteza, tanto que el Rei
de Fez nos desapresasse pêra tornar a
negocear suas cousas.» Damião de Góes,
Chronica de D. Manoel, part. 1, cap. 23.
— «Faça-se vossa alteza amar, e n'esta
só palavra digo a vossa alteza mais do
que pudera em largos discursos. Conside-
re vossa alteza, senhor, que esta é a pri-
meira acção em que vossa alteza ha-de
adquirir nome ou de mais ou de menos
grande priíicipc.» Padre António Vieira,
Cartas, n." 5. — o Da mesma creação de
vossa alteza saiu Achilles a ser terror de
Tróia, e fama de (íreeia: e esta mesma
desconfiança (a qual inculco a vossa al-
teza) o fez mais Achilles. Eia, meu prín-
cipe, (iespiíla-se vossa alteza dt>s livros,
que é chegado o tempo de ensinar aos
portuguezes e ao mundo o que vossa al-
teza n'elles tem estudado.» Ibidem. —
«Sejam, senhor, estas as principaes ca-
deiras que vossa alteza reparta: venham
muitos mestres da fé a ensinar e reduzir
a Christo estas gentilidades : e persuada-
se vossa alteza, meu príncipe, que lhe
hão de prestar mais a vossa alteza para
a defensão e estabilidade do reino os
exércitos de almas que cá se i-eduzirem,
que os soldados que lá se alistarem.» Ibi-
dem, n." 8.
— Alegrar est^ alma vossa ; alegrar
esta alma que vos pertence.
Meu sol, quando alegrais esta alma rosta,
Mostrando-lhe esse rosto que dá vida,
Cria tiòres em seu contontamento ;
Mas logo, em não noa vendo, entristecida
Se murcha c se consumo em grão tormento:
Nem ha quem vossa ausência softi-or possa.
CAM., SONETOS, U." 12G.
— Essa ntateria não é vossa; essa ma-
téria não é da vossa prolissSo.
VOTAÇAO, «. /. Acto de votar.
— A acção de dar votos em quaesquer
assemlileias deliberantes.
VOTADO, part. paKB. de Votar.
Quanto es, bem sei, por ella te hai votado;
Catão HO com sua e«pa«lii e com seu doiim
Defendeu a republica, e de lioma
Protegeu a orphandadc, quando todos.
Vil! — a desampararam os «eus filhos!
Mas agora no extf<-iiio, n>8te atUicto,
App<:rt:ido momento da agoai».
Na hom do passamento é que a abandonas?...
OASaCTT, CATÃO, tct. 5, BC. 3.
VOT'AMARES. Jura cómica c popular.
Vofamaret de jogardes.
Senhor pae, não B»n jogar,
não, bof/i, por vida iniuha.
ANTOxio pucsns, ACTO», pog. 375.
VOTANTE, part. act. de Votar. Que
dá o seu voto, ou suãragio.
— Que faz voto.
VOTAR, V. 71. (Do francez voUr). Dar
o seu voto, ou suffragio. — «Estando el
Rey hum dia oom desembargadores so-
bre hum feyto seu, depois de lido, e a
cisa despejada pêra darem seus votoe,
disse o doutor Nuno Gonçsluez: Senhor,
nos não podemos aquy votar neste fey-
to: perguntou el Rey, porque: disse o
doutor: Porque vossa Alteza he parte
nelle e está presente.» Garcia 'de Rezen-
de, Chronica de D. João II, cap. 9G. —
«Pj he, que a Ri-{iublica dos ratos entrou
em conselho, e fez huma junta, sobre que
remédio teriaõ para se verem livres das
unhas do gato? Presidio hum arganáz de
bom talento : assentaraõ-se por suas anti-
guidades os adjunctos : votou o mais ve-
lho.» Arte de furtar, cap. 29. — iThuci-
dides, que entendaõ a matéria, em que
votaõ; que naõ se deixem corromper com
peitas, e que saibam propor os negócios
com graça, e destreza.» Ibidem, cap. 30.
— V. a. — Votar algium.
César! César ! ás fúrias implacáveis
Da pallida viugaiiya aqui te voto;
E sobre essa c:ibeça criminosa
Seu flagcUo conjuro. Atros poderes
Do Averno, ouvi a imprecação tremenda :
rPor vingativas mãos pereça o monstro.»
OARBRTT, CATÃO, aCt. 3, SC. 7.
— Votar çiíí sim. — «A lisonja dos
theologos votou que sim. O desembarga-
dor João Marques Bacalhau foi o minis-
tro que primeiro disse que nSo, princi-
piando o sen voto assim: «S. M. faz esta
pergunta para salvar a sua consciência.
Responderei de sorte que elle a salve e
en a rainha.» Bispo do (irão Pará, Me-
morias, publicadas por Camillo Castello
Branco, pag. 85.
— Fazer voto.
— Stx. : Votar, deliberar. Vid. este
ultimo termo.
— Votar-se, v. rtji. Dedicar-se.
VOTO
VOU
vou
1007
— Votar-se á pátria, ou pela ■pátria;
expôr-se, sacrificar-se por ella.
VOTIVO, A, a'lj. (Do latim votivus).
Que pertence ao voto.
— Quadro votivo ; quadro oíferecido
para cumprir um voto.
— Termo de antiguidade. Diz-se dos
objectos de toda a espécie que se suspen-
diam nos templos em memoria de algum
favor obtido dos deuses.
— Missa votiva; missa dita por uma
intenção particular, e que não é do offi-
cio do dia.
— Oração votiva ; oração feita por oc-
casiào de se cumprir algum voto.
VOTO, s. m. (Do latim votiim). Pro-
messa a Deus, ou santos de dar, ou fazer
alguma cousa para os propiciar. — «Acom-
panhou este voto com perpetua oraçam, e
assistência ao enfermo, nam se appartan-
do mais d'elle ate que espirou com todos
os bons sinais.» Lucena, Vida de S. Fran-
cisco Xavier, liv. 6, cap. 13.
— Relaxar, dispensar, irritar o voto;
annullal-o.
— A offerta, ou cousa que se votou.
— Promessa,
Do que promette faz ao Cunha voto,
Dá-lhe a menagem delle antes pedida,
Como quando o furioso bravo Noto
No mar cria a tormenta embravecida,
Grita e trabalha o tímido Piloto
Porque vê em grão perigo a náo e a vida,
O passageiro que este mal conhece
De temor cheio votos ofFerece.
FaiJiCISOO d'aSDRADB, PSIMEIBO CEKCO DK DIU,
cant. 8, est. 48.
Expõe teu voto; um parecer contrário
Nào ofFende a Catão ; e é honra, é gloria
Ser contestado pela voz de Manlio.
OASBÍTT, CATÃO, act. 2, SC. 2.
— Parecer, voz, suffragio que dá o vo-
gal ou o votante.
— » Ter voto ; ter direito de votar.
— Voto simples; voto feito a Deus,
sem expressões solemnes e formulários,
como o dos que professam em religião.
— Ter voto ; ter critério, ter intelli-
gencia, bom juizo na matéria para acer-
tar os dictames ou decisões.
— Plur. Supplicas, rogos. — «He hu-
ma Rainha soberaiia, que despois de su-
birem ás suas mãos quaesquer consultas
do entendimento, ainda que todos os seus
votos sejaõ encontrados, pode tomar as
determinaçoens, e passar os d.^cretos que
mais quizer.» Padre Manoel Bernardes,
Exercicios espirituaes, pag. 288.
— Pareceres dados pelo vogal. — «Com
esta remetto a vossa magestade a relação
do que se tem obrado na execução da lei
de vossa magestade sobre a liberdade dos
Índios. Muitos ficam sentenciados ao ca-
ptiveiro por prevalecer o numero dos vo-
tos mais quo o pezo das razões.» Padre
António Vieira, Cartas, n." 14.
— Os melhores votos ; os vogaes mais
prudentes, sábios, justos.
— Estar aos mais votos ;. decidir-se se-
gundo o de maior numero.
— As obrigações a que os religiosos se
sujeitam de guardar castidade, pobreza,
obediência, clausui-a; e são votos solem-
iies, etc.
— Prometter os votos; quando se faz
profissão.
— Votos denodados; protesto que os
cavalleiros faziam de ua batalha obrarem
alguma façanha grande, e de muito risco
seu, como o que na de Aljubarrota fez
um cavalleiro de ir prender eL-rei de Cas-
tella uo meio de seuB exércitos ; aliás vo-
tos ousados.
— Adagio e pkoverbio :
— Aproveita-te do velho, valerá teu
voto em conselho.
■f VOU. Forma do verbo ir na primei-
ra pessoa do singular do presente do mo-
do indicativo. Yid. Ir.
Esperae, qu'eu o direi.
Dixestes-me : Trabalharei
Por hum cruzado pra pão.
— Seuhora, eu vol-o haverei. —
Vou e vendo huma viola
E hum gibão de fustào.
GIL TICEHTE, FABÇAS.
— lO outro levantou o rosto, pondo os
olhos n'elle, disse, eu vou tal que nem vos
ouvi, nem sei se me faliastes, e se outra
cousa vos parece estaes enganado.» Fran-
cisco de Moraes, Palmeirim de Inglater-
ra, cap. 81.
Feito, não vos quero ouvir
doudice que assi me vingas.
Das mangas
perras sois, quereis vos não ir ?
esconjuro-te, Domingas.
Foii-me sobre isso dormir.
ANToxio PBKSTES, AUTOS, pag. 247.
Foíi-lhe partir
cada um seu dia ; a arca tem
que possas inda engolir
até seculorum.
IBIDEM, pag. 277.
lá de Tral-os-Montes vou,
não porque isso me abonou
mas porque nào são favores
de quem os melhor ganhou.
IBIDEM, pag. 303.
Vou a isto; eu, raolher sou;
que veuha de capa e espada
pela parte namorada.
iBiDEU, pag. 317.
Tanto me fui amolando
na mó da corte, ao commum,
té que a corte isto gastando
me disse um dia — Fernando
tale gravatum tuinn :
cis-mc voT pela panel.a
CO 'o prazer d'isto, c que íizV
iBiDSn, pag. 348.
Vou, galante ?
Senhor, is ;
nisso não ha que dizer \
mas porém tanta molhcr
é muito de amo cacis.
IBIDEM, pag. 489.
— «E dahi vem, que enfastiados do que
possuimos, suspiramos por mais, cuidan-
do, que no que de novo vier, acharemos
alguma satisfação; e não he assim, quan-,
do lá vou ; porque tudo he do mesmo lor
te, e jaez; e em nada ha a satisfação,
que buscamos.» Arte de furtar, cap. 70^^
' -':!)
Aonde vou!... Aonde?
Vou desafiar de César os furores,
Vou lauçar-mc por entre essas phalanges,
Procuni-lo, buscar-lhc a ponta á espada,
Guiar-lh'a ao coração : o sangue impuro.
Que delle recebi, elle que o verta.
oAniu:iT, c.vTÂo, act. 3, se. 3.
— Vou-;ne embora; retiro-me.
O céo me tem olho n'elle.
Andae ora,
meu dinheiro, cá mais fora ;
agora estais bem, amigo ;
vou-mc, eis o céo comigo
outra vez ; não, rou-me embora.
A^ÍTOXIO PRESTES, AUIOS, pSg. 87.
que O defeito
jaz no não estimar ditos.
Com isto me ro;; embora,
falei- vos isto e mais grosa,
quanto á moça é milagrosa.
IBIDEM, pag. 311.
— Vou-/íie em busca d' elle; vou procu-
ral-o.
Eu me vou cm busca delle.
Fernando, vcm-te com elle,
e verás o que te peito.
Faça elle cá devoção.
ASTOSIO PEESTES, AUTOS, pãg. 317.
— Vou notando; vou observando, no-
tando pouco a pouco.
O que d'anui vou notando
c(UG ciosa é vosso intento.
Não, por certo, está enganado.
Ciosa guarde-!:05 Deos
ciar a meu senhor dos céos;
si, ciosa nem bocado.
ASTO.vio PEESTES, AUTOS, pag. 305.
— Vou cansado ; vou enfadado.
Cansado vou :
cu de herança :
não tenho cansar; liança
com o máo corpo, mo buscou.
ANTÓNIO PRESTES, ACTOS, p3g. 91.
— Vou ajuízo; vou apparecer na pre-
sença de Deus para ser julgado. — «E
has de andar cuidando e dizendo contigo
mesmo: Eu caminho pêra a morte, vou a
juizo, hã me de tomar conta, e per força
1008
VOX
a ey do dar. Que «crA de mim qiiítdo fo-
rem abertoH os liiiro» o o cadciiio ile mi-
nha viila se aiieri^oar cõ o Jiiiro da diui-
na juHtiraV Nistn haH iiiuituH vay.tíH de me-
ditar, e lia» te cada dia de ordenar, como
Be Boiíbu.Ksea que a(|ii(tlle dia aula de nor
o derradeiro de tua vida, e ter asim dian-
te dos (illii)^.> liiilor Pinto, Dialogo da
Lembrança da morte, caji. 1.
— Vou (í SciJuim dl) Monle; caminho
})iira a rieuhora do Monte, dirijo-nie pa-
ra lá.
Agoni
rnii ;l Siiiihovn-dn-Moiitc
diir-lhc ostp teu corftçSo.
O inão, diic.
Divv-lhc o bom pão,
111 ostil (^Hto defronto.
Qiio me d;l aqui?
' Antão.
ANniMn rin-^^rr:?
IM.
— Vou cear; dlrijo-mc á mesa onde es-
tiver a cèa. :. ,1 ■ - .
Awo -. ,, . j>r;n. Cousa brava!
Senhor Commcndiídor, eu
não mo miintenlio no ar,
conversfi, rjun rnii cear;
quanto ó ao feito seu
não tem que ine vir lembrar.
ANTÓNIO PllESTES, AUTOS, pftg. Í97.
— Vou-»!e; retiio-me, ausento-mo.
Como mo deixo csquecov !
Aqui estivera aporá
J''»Uí^ndotú anoitecer. ,, .jU soV , -
yoK-me •, o olliac quanto yal-.
O que passou entre ni^s.
E porque vos ides vós?
CAM., PILODBMO, aot. 1, BC. T).
— Vou-»»« ã morte. ; caminho para el-
la, avisinho-me d'olla.
Fui ditoso,
(èuo o molhor pudo obtor, — o de mais pVigo ;
Oudu maia derrocada* as inucaUias
Aos primeiros assaltos do inimigo
Hiiode ficar e.^postas. — FoH-mo á. morte,
Certa, meu .luba ; Tou.
uAHKKri', OMÃo, act. 5, se. 8.
— Vou coiijiado ; iico tloscam^ado, c
eeperanyado.
Eu o darei despachado
com' sentença muito cedo.
PoÍ8 senhor, rou contindo;
mais senhor, íiíjue lembrado
que a mão carregue era degredo.
ANTÓNIO riuBSTES, AUTOS, pag. 190.
i" VOX, s. /. (Do latim rox). Vid. Voz.
— oAflirmase, que vendo o Lobo ao ho-
mem primeiro, perde o homem a vox ; e
daqui sahio o provérbio, jAipus iii J'h-
bula ; porque estando a nuirmurarse de
algum absente, assim que este cheíja à
prezença dos murmuradorcs, logo calaõ
VOZ
todoB. E pello contrario, He o homem vò
primeiro ao Lobo, di/.em que tica «ttt
menofl atrevido; mas a experiência tem
mostrado, ipie snò falsas estas noticia». •
Hraz LuÍ2 d'Abr<ni, Portugal medico,
paj:. .^)H;í, 4? 12.
VOZ, *. /'. ílJo l.itim uoxi. Em (jeral
e na acce)i(;rio pliyhii)lo;;ica, é a proiluc-
í^o do siim na larynfrc. A voz é pro-
iliizida pela passatrcm do ar na larynfre,
om crmsei|ueneia da impidsào, que com-
munica i'i columna aen^a o movimento de
expiração; ó destinada a pôr o animal cm
rela(;flo com os neres dotados do soutido
íla audição.
— Particularmente : 8om que é produ-
zido |icla larviif^i! do homem. — «Marzfto
com quinhentos Turcos se fez forte nos
paros, mais certo do [lerif^o, que das can-
.•<as, c authores ilcllo. ('om a primeira luz
do dia apparcceo cl liei ca[)itaneando os
seus, e log^o enviou a Marzào hum trom-
beta, dizendo, que aquella Cidade era
sua por antiífos pretextos, e agora por
eloiçào dos ])roprios mora'lorc.-<, que op-
priniidos com a intrusão do Haxá, tive-
rão a voz, c a liberdade atadas para não
pronnnoiarem o nome do seu natural
Príncipe. » .Jacintho Freire d'Andrade,
Vida de D. João de Castro, liv. 4.
f) tíol Langarcam, c oa que cahírão
I.í para a popa então, tendo Infinita
Dór por aque.llc mal (|uc a seu Hei v/rão,
(^'ue a terrível vinganea já os incita,
Tanto que do seu Rei a voz ouvirão
<^ Coutinho salteão, e o Mesquita
Com imigo furor, coni ir.a immcusn,
Mas em ambos acharão graà defensa.
F. D'ANnaADK, PBiMF.iBO cEnco DE DIU, cant. 7,
est. 29.
Ouve a voz de hum Filosofo, que sempre
Voa em balança igual Choupana e Throno ;
Que o ente racional n'homcm contempla,
O me.smo berço, e tnmulo, e mais nada.
.1. A. DE MACEDO, VIAGEM EITATICA, CAnt. 2.
Por tudo attenta o cauteloso fíama,
Recea em tudo |ierfida cilada ;
Com acenos a turba immensa chama.
Tendo da paz a senha despregada :
Che^ào-se ás Náos, o interprete lhes olama
Cou> voz do todos súbito escutada,
Que peregrino conhecer deseja,
Em que ignota porção do Globo esteja.
J. A, DE MACEDO, ORIENTE, Caut. .T,' eSt. 67.
líu aqui O advogado da paz ; — único
Na cúria fui, e persisti : mas hoje,
Agora, a minha %oz foi a prinioira
l^hio bradou guerra — e bradará constante
Kmquanto houver de optar entre as dc9gr.lça8
Da guerra — e a infâmia de tal pas.
OAttBETT, CATÃO, aCt. 2, SC. 5.
— «De pó, cavalleiros ! Aos infiéis, em
nome de Christo ! — gritou o duque de
Cantábria, con\ uma voz que retumbou
nas frotundezas da caverna.» Alexandre
Herculano, Eurico, ciip. 13.
Vf»Z
— Fama, boato. — < AehfcntS jk o Oa-
I)itai> morto, e correndo a vOE pela fi*-
tideaa, aoniiira5 tod»« a sua «Ma,* ncm
saberem donde lho aqiiillo podia vir, e
alli de onímum consentiniento elegóra»?
jior (Japitiiõ hum Fidal(.'0 pobre, acjtnhft-
<lo, mas bom homem, e bom ííhri^tari,
chamado I >. Artur de Ta^tro.» I>io(rr> de
CJouto, Década f>. — «E«u voz no derra-
mou com t.lo feliees écw», qne o^ no«í>ofl
outra vez unidos, buscilrilo sua bandei-
ra; A os inimigos timido», ou crédalon,
for.lf) perdendo o campo, sendo Mta toz
do (joiíeral a porta por ondo ontmn a
victoria. Aqui fi/.erRo os noMon wttrapo,
como de vc.ncedorcs, e o qiw ora arilil,
já parecia vrdadc .laeintho Fnire de
Andrade, Vida de D. João de Castro,
liv. H.
Knclie ft Romn co' a ror, co' a fama o Mundo ;
Súuu-ntc itcabariu no extremo dia
Do grão Virgílio os «ous melodiosos.
J. A. DE MACEDO, HKOirAçIo, CUUt. 1.
— Também ee diz do som dos instru-
mentos músicos pela analogia que tem
com a voz uumaiia.
Parece-me isso vnz do cravo,
por que, incua enliivamcntoa,
bofetada de quinhcntoa,
foi is<o V e eu cujo escravo ?
AKrONIO l'BE8rK8, ACTOS, pBg. 349.
— Levantar a voz ; erguel-a.
Com duro, agreste acccnto a voz cr^iia
A negra chusma, c saudava os Losog,
E gente humana apenas parecia
Tão rudes erão, bárbaros, obtusos !
Kis que da bruta multidão rompia
Hum, que os nautjis deixou d'horror confusos ;
O accento Portuguez lhe escutào l<-dos,
£Ue a voz levantando, os Lusos quedos.
J. A. DE MACEDO, o ÚBIENTE, CAUt. 4, CSt. 3.
— -Figuradamente: loapiraçio, movi-
mento interior que provoca, e incita a
fazer ou lieixar de fazer alguma cousa.
— «Eu sou aquella voz de que jirophe-
tizou Esayas que auia de bradar no de-
serto, e dizer, Aparelhay o caminho ao
Senlior ; endereyts' suas carreiras : sej3o
todos os caminhos direitos, planos, e li-
sos, nào aja altos, e bayxos, nem aja ca-
minhos escabrosos: porque chegado be o
tempo de o Messias apparecer antre os
homens. » Fr. Bartholomeu lios ilartyres,
Catecismo da doutriua christã. — «E es-
ta mesma voz IÍk'. cucommendou por Sam
Lucas que apregoassem em todo o mun-
do, dizendo : Pregay em meu nome pe-
nitencia, e remissam de pecados a toda-
laâ gentes, começando de Hierusalem.>
Ibidem.
— So cr^r em abusíies é de almas fracas,
Desprciar portentosos raticinios
voz
voz
voz
1009
É de peito obstiuado, ensurdecido
As i>ore», com que o Ceo mil vozes falia.
AHIOmO DISIZ PA CBOZ, HTSSOFE, Cant. 0.
— Dizer em alta voz ; fallando de rijo,
de modo que ae oixça.
Com tal milagre os ânimos da gente
Portugucza iiiílammadort, levantavam
Por seu Rei natura! este cxcellcntc
Príncipe, que do peito tanto amavam :
E diante do exercito potente
Dos imigos, gritando o ceo tocavam,
Dizendo cm alta voz: «Bcal, Eeal,
Por Afonso alto Rei de Portugal.»
CAH., Lus., cant. 3, est. 36.
■ — «Alguma cousa houve antre os ser-
vidores das damas sobre qual iria pri-
meiro; que como o do Salvagem se offe-
receu fazer a batalha por todas, pareceu-
Ihes que sem nenhuma ordem lhe deviam
sahir ; mas elle, que entendeu a ras.ão de
seu debate, disse era voz alta : Esta pri-
meira empresa ó em nome da senhora
Mansi; polas outras senhoras podem vir
três, 6 a senhora Teleusi será a segun-
da; Latranja a terceira; Torsi a quarta.»
Francisco de Moraes, Palmeirim d'Ingla-
terra, cap. 139.
— Voz sonora; voz ruidosa, unLsona.
Pulgurou-lhe na frente cthereo lume.
Pareço que dos lábios lhe rompia
Souúra, insinuante a voz d'hum Nume
Què o coração preságo lhe accendia.
j. A. Dr MACEDO, ouiENTE, caut. 1.
■.Voz branda; voz serena, plácida,
Uom branda voz, c com acção benina
Lhe disso : Só te pode ter despido
O fruito da mortífera amargura ;
Tens tu comido delle, por ventura?
ROLIJI DE MOOBA, HOTISSmos DO JIOUEM, C»nt 1
est. 101. '
• — Voz estridente; voz sibilante. —
«Domingas, Domingas! — soou de repen-
te do alto da escada. Era a voz estriden-
te de Fr. "Vasco. A velha nem deu as
boas noites á palreira vizinha. Deixou ca-
hir a adufa e gritou : — Ahi vai, ahi vai.
Estou acabando de encerar o púcaro d'E.s-
tremoz.» Alexandre Herculano, Monge de
Gister, cap. 14.
— Os brados formidáveis da voz ingen-
te; os brados da enorme e grande voz.
E que sangue esparziu Bruto !
Que vingança tomou ? — Da voz ingente
Aos brados formidáveis se ergueu Roma,
E fugiu pavorosa a tyrannia.
OABRBTT, CATÃO, act. 3, SC. 3.
— Voz mais doce ; voz mais suave, mais
VOL. V. — 127.
amena, mais agradável. — «E porque pê-
ra as orelhas de peccadores nam podia
auer voz mais doce, que denunciarlhe, e
promcterlhe perdam do peccad<)s da parte
do Deos : por tanto (como diz Sam Lu-
cas) tanto que íSam loam Baptista Pre-
cursor do Senhor, sayo do ermo a pre-
gar, a primeyra cousa que denunciou, e
apregoou aos homens, fov, que auia ahy
perdam de ]ieccados.» Frei Bartholomeu
dos ]\Iart\Tes, Catecismo da doutrina
christã.
— Erguer a voz um pouco; levantal-a
algum tanto.
A minha Coiiductora, excelso Nunion,
Me curvo humilde, a Magestade ac^to.
Titubeante, e trémulo, desta arte
Erguendo a voz hum pouco, entào exclamo.
J. A. DE MACEDO, VIAGEM EXTÁTICA, Cant. 2.
■Tremula voz; a vacillante voa.
Mas vendo ja que o Fillio commettia
Da tortuosa cova o passo estreito,
E da vista o sentido menos cria
Que a memoria onde via ieu defeito,
Do culpado receio se temia.
Que a culpa traz o medo unido ao peito,
E com tremula voz, rouca e cansada
Assi foi d'alma a pena trasladada.
BOLi« DE MOURA, N0VISSIMO.Í Du uoMEM, cant. 3,
est. 16.
— Yoz Jirme; voz perseverante, inal-
terável. — «Aquelle que eu cria viesse
em meu soccorro — tornou com voz fir-
me a captiva — não se esconderá de ti
no dia em que estiverem em volta delle
todos os seus irmSos em esforço e amor
da terra natal: porque nesse dia das
grandes vinganças ve-lo-has face a face.»
Alexandre Herculano, Eurico, cap. 14.
— De viva voz ; com a palavra, era
opposição a j}or escripfo.
— Meia voz ; diz-se em opposição a
alfa, e mais ainda a voz 67» grito. Vid.
Chamar.
— Figuradamente: A voz da guerra;
os chamamentos guerreiros.
— Diz-se, em medicina, das modifica-
ções pathologicas da voz.
— Diz-se de certos animaes. — A voz
do papagaio.
— Faculdade de fallar. — Ficar sem
voz e sem moviviento.
— A voz modificada pelo canto.
— ler voz; ter disposições, tendên-
cias naturaes para o canto.
— Voz do peito; extensão dos sons
produzidos pela situação natural dos ór-
gãos da voz, com o peito cheio e a boc-
ca aberta, com a differença d'estes sons
mais agudos.
— Voz da cabeça; espécie de voz sub-
larjngiana, chamada também voz de
falsete, que um homem faz ouvir, quan-
do saindo pelo agudo do diapasão de sua
voz natural chamada voz do peito, imita
a voz da mulher ou da creança.
— Parte vocal de uma peça de musi-
ca. — Um cânon a três vozes.
— Um cantor, uma cantora. ;;<'
— Conselho, aviso, supplica.
Ousado o atacarei, prcsta-me as armas -,j(
A mesma Natureza. A X'oz do Eterno
NcUa SC faz ouvir, e ho delle a prova.
J. A. DE MACEDO, A NATUREZA, Caut. 1.
Inuuracravel multidão, nascida
Ao império da V03 omnipotente
Que lhe mandou multiplicar nos mares.
IBIDEM, cant. 3.
— Termo de grammatica. O ar vocal
tornado plenamente sonoro, plenamente
apreciável ao ouvido, e susceptível de se
suster em toda a sua plenitude, durante
um tempo mais ou menos longo. — Voz
articulada. — Voz nasal.
— -Figuradamente : Ruido, som. — A
voz da tempestade. — A voz de uma cam-
painha.
— Na linguagem biblica, o que pare-
ce fallar.
Dentro do corpo férvidos combatem
Inimigos cruéis em lide horrenda ;
Os alimentos armas lhes minístrào,
Unísonos na voz, que chama a morte.
J. A. DK MACEDO, MEDITAÇÃO, Caut. 1.
— Voz do céo ; os chamamentos celes-
tes. — «E dizendo aos Discípulos o que
lhe tinha acontecido, elles lhe declara-
rão, que com aquelle milagi-e quisera Nos-
so Senhor honrar o Corpo do seu Apos-
tolo, e depois de o bautizarem, soou hu-
ma voz do Ceo, que disse como aquellas
Vieiras haviam de ser a insígnia do San-
to.» Sevorim de Faria, Noticias de Por-
tugal, Disc. 3, cap. 8.— »E naõ cessou
por largos annos desta penitencia, até
que ouvio huma voz do Ceo, que lhe di-
zia: Levanta-te, que já estás perdoado.»
Padre Manoel Bernardes, Exercícios es-
pirituaes, pag. 132.
— Figuradamente : Suggestão interior.
• — • A voz da razão. — Resistir á voz das
paixões. — A voz da consciência.
— Suffragio, voto. — Recolher as vo-
zes.
— Direito de suffragio. — Voz delibe-
rativa.
— Tomar voz ; em discu8s3es, começar
a fallar quando outro acabou.
— 3'er voz activa; ter influencia di-
recta.
— Não ter voz activa, nem pa«*t?;a ;
diz-se de quem está sujeito, e não tem
auctoridadc de mandar fazer alguma cou-
sa, ou dar o seu parecer, etc.
— Sentimento, juizo, opinião.
— Termo de grammatica grega e lati-
1010
voz
voz
VUBA
na. Nome dado a differentos Wrmas do
vorbo omprepadafl ])ara indicar no o su-
jeito HofTro n acçSlo do verbo ou a rooebo.
— Voz activa. — Voz passiva. — Voz
media. i:
— ■ Dar a» tuas vozes. .— rr>i(E*,ao tempo
quo Ofl I.)o3einburi,';idore8 ouverom do dar
suas vozes, hi; h;iÍ;i da llcilai;;uii fura, e
leixo aos ■ Donenibargadorcs desembargar
taaes foitoa,. como por direito ontende-.
rcin, sem estando cllo presunto, porque
sua estada a tal tempo sui-ia aoa Desem-
bargadores cmpacliosa, e aos feitos quo
Nós averaos contra outras pessoas, ou el-
los contra Nós, seja o dito Procurador ;u)
desembargo dos feitos.» Ord. Affons., liv.
1, tit. O, S 2.
— Loc. : Deitar voz ; fazer espalhar
alguma noticia por ecliadiços.
— Dicção, vocábulo.
— ■ Tom de voz ; certa modulação de
voz.
Tão Krrnidn orn Ac. membros quo bem posso
{jcrtilicar-tn fino esto ora o HORundo
Uo Itliodoa cati'»iiliissimo colosso,
yuft mn (loa soto milaf^vcs foi do mundo ;
CIiuTu tom dl', rnz uoâ falia lionxudo « grosso,
Quo parcceo sahir do mar profinido:
Arropiào-so a» oamcs o o cnbclto
A mi e a todos, só de ouvil-o o velo.,
ct.it., LCB., c*nt. 5, lest. 40...
Até que hum dia, quando o costumado
Paato, o corpo mortal do nós recebe,
Eis ([ue 80 Ihu chega hum tão apressado
Que apenas os usados ares bobe ;
E iuda CO 'o tom da mz mal declarado
Lhe diz: Com grande, pressa tt^ apercebe,
Souhor, porque os Mogores tens tão pc^rto,
Que quii;:l lhe serás ja descubcrto.
FKANCISOO I>K ANDHADK, FHIMBIBO CBRCO DB DIU,
'■ cant. 5, eat. 78. ,
-JJJ-'- -!.(.■ -:.'-u .i.li
iili ,*itiLu;idvv»;l tijuj
Com ledo ro»to o Príncipe Africano
Escuta quanto o Portuguez dizia,
E do tão nobre ,T,catameiito ufano,
Com grave tom de vití lhe respondia :
NSLo ho de mim tão lona;e o trato humano
Qu'a tão nobres acções não dê valia ;
Quanto em meu lícino tenho, u quanto posso
Com lizo trato vos sujeito, he vosâo.
.1. A. DK M.^CÈDO, o OBIK.NIE.
;-' ,cjij'->q :
— As vozes da' musica ; siio : do, re,
mi, fa. sol, la, si,
— A vozes ; levantando a voz, gri-
tando.
— Toda (t voz em grita; toda a voz
solta com força.
— Dar voz de alguém; bradar, gritar,
queixando-so d'elle, clamar contra elie.
— Voto, parecer, opinião.
— ■ 2'ei- voz; ter direito de votar.
— Ter voz activa; ter voto para ele-
ger.
— Ter voz pastiva; ter capacidade
legal para ser eleito.
— Ter a pra<ia a voz d*! algu«m; es-
tar por oll© como senhor d'olla, suaten-
tando-se por elle.
— Esforçnr a voz.
— ler a voz <le alguém; ser do «ou
bando, parcialidade, reuonbecendo-o por
senhor o superior.
— De uma voz, ou o uma voz ; di-
zendo todos o mesmo, conformes uo pa-
recer.
— Dar vozefl ; gritar, bradar.
— Toitoar voz por ei-rei de Portugal.
— Alarido, brad<i, grito, clamor. — «K
estes som os cin(|U0 signaes : olla na ora,
que o liomeui delia travar, deve dar
grandes vozes, e brados dizendo, vedes
que fi'Z Fuam, nomoamlo-o per seu no-
me: e ella deve scer toda carpi<la : e ci-
la devo vir pelo caminho dando grandes
vozes, (lucixando-se ao primeiro, o ao se-
gundo, e ao terceiro.» Ord. Affons., liv.
5, tit. tí.
Com levantadas mãos, com altas voie»
Em lagrima» cnuoltas a diuina
Vcnerauel figura iidorão todos.
Todos dizem senhor misericórdia.
Leua Manoel de Sousa oitenta e quatro
Valentes Portuguesos na dianteira
Do escrauos Icua hum cento que nas andas
Portatilfts, e leues se reuozão.
COBTE RKAL, NAOrnAOIO DK 8EPUI.TKDA, CBUt. 8.
Qual, co'os gritos e voze-i incitado.
Pela montanha o rábido moloso
Contra o touro romette, que fiado
Na força está do corno temeroso ;
Ora pega na orelha, ora no lado,
Latindo, mais ligeiro que forçoso,
Até que emfim, rompcndo-lhe a garganta.
Do bravo a força horrenda se quebrant,"».
CAM., tus., ciint. 3', est. 47.
— cFoy-se continuando a bataria em
que 03 nossos sofrerão muito grandes tra-
balhos, porque naõ largavaõ de dia ucm
de noite as armas das costas, nem das
mãos as achegas pêra a reformação dos
lugares derribados, sendo tudo assim em
huma parte como na outra, vozes, cla-
mores, gritos, estrondos, fogo, fumo, tro-
voens, e tempestades da cruel, e horren-
da artelharia, que quasi tinha ensurdeci-
dos todos os da fortaleza.» Diogo de Cou-
to, Década <i, liv. :i, cup, 2.
— Perder a voz de alguém; perder o
direito de obrigal-os a que se chamem de
aquelle, quo perde a voz d'ollos, ficando
esses francos para se chamarem do outro,
o ai)pellidarem nos arruidos ai/ui de fuão.
— Perder a voz de alguém; o diireito
do patrocinio e defeza do otTondido, que
d;i, voz, ou quorella do offcnsor aos mi-
nistros e ofiiciíies do rei, e o de ser juiz
entre o accusador, e o accusado, o de pu-
nir com crime o ciUpado ; em summa o
direito magestatico de justiça, um dos
principaes, e inalienáveis, conforme as
idêas do tempo, como o de bater moeda;
o direito de defeza militar, e o de pedir
impostos para as dospezas publicas. Es-
tas espécies de honra faziam os fidalgos
por abuso, dos casaea dos lavradores, por-
que os serviam do pâ<j, came«, como se
vivesnem em /mas herdades, levando d'el-
les as luitosas, que eram d'el-rei, e di-
zendo que o rei perdia dos donos díis her-
dades a voz. Vid. Chamar, e AppelUdar.
— Nos pareceres de Saragoça, diz-se
que se achara [wr nscripturas authenti-
cas, que por voz « coima se entendam es-
tes direitos: «mordomado, portagem e ta-
folaria, pelos quaes se ha e deve levar o
direito, e tributo que se pelo dito nome,
voz e coima em qualquer logar, e em
qualquer maneira levasse.»
— Syn.: Voz, bra/Lo, grito, clamor.
Voz, ou antes vozes, c os outros vocá-
bulos significam o esforço maior ou me-
nor que fazemos com a voz para que nos
ouçam melhor ou para exprimir algtim
aifecto do animo.
Vozes, suppõo um tom natural esfor-
çado : grito é voz em grita, e suppSe um
tom mais agudo que o natural : brado é
grito esforçado, que se faz ouvir, e tal-
vez resôc ao longe : clamor é grito esfor-
çado e queixoso, de ordinário dos qae
pedem justiça, ou de muitas pessoas que
gritam mui alto, sem moderaçilo, como
alvorotada.s, queixando-se, pedindo qual-
quer cousa, mostrando-noB desejos, etc. ;
d'aqui veio charaar-so outr'ora clamc/r á
procissão de preces e rogações publicas.
— Adágios e provérbios:
— Na boda dos pobres tudo s2o vo-
zes.
— Mais são as vozes, que as nozes.
— Voz do povo, voz de Deus.
— A voz de el-rei não ha cousa forte.
VOZARIA, s. f. Vid. Vozeria.
VOZEADOR, «. m. Grande Mlador, gri-
tador.
VOZEAMENTO, s. m. Brado, clamor,
vozeria.
VOZEAR, f. n. Dar vozes, gritar, bra-
dar.
— Fallar mui alto, e desentoado.
— Clamar.
VOZEARIA, s.f. Vid. Vozaria, e Voze-
ria.
1.) VOZEIRO, s. m. Termo aotiqmido.
Procurador, solicitador, advogado.
— Brigo.-io, bradador como as brabas.
— Volteiro.
2.) VOZEIRO, A, aJj. Que so faz com
grandes brados, o grita.
— Aves mui vozeiras ; aves gritado-
ras, palreiras.
VOZÈO, s. m. Termo de poesia. Vo-
zeria.
VOZERIA, *. /. Muitos brados, e gri-
tos confusos.
— Figuradamente : A vozeria do$ cã*t
jia caqa ; os cãea de montear.
VOZINA, s. /. Vid. Buzina, ou Bozi-
na.
VUBARANA, ». /. Termo de historia
natural. Feixe da America meridional,
similhante á truta.
VULG
VULG
VULG
1011
VULCANEAS, ou VULCANIAS, s.f. plur.
Festas em honra de Vulcano,
VULCANEO, A, adj. De Vulcano.
O Portuguez magnânimo nâo teme
Dos vulcaueos canhões o estrondo, o raio,
O natural valor lhe forra o peito
Do triplicado bronze impervio ao susto.
J. A. DK HAOBDO, A MÀTUBIiZA, Caut. 2.
— Redés vulcaneas ; os laços em que
ge tomara os adúlteros.
— Figuradamente : Tomar evi vulca-
neas redes; surprehender em adultério,
como Vulcano achou a Vénus sua mulher
com Marte, presos em uma rede subtil que
elle lhes armou.
VULCÂNICO, A, adj. De volcão, sahido
d'elle.
— Lavas vulcânicas ; matérias inflam-
maveis expellidas do vulcão.
— Termo de geologia. Que pertence á
incandescência central da terra.
VULCANIO, A, adj. Vulcânico.
f VULCANISMO, s. m. Hypothese que
attribuo ao fogo a formação da crusta do
globo.
t VULCANISTA, «. m. Partidário do
vulcanismo.
■f VULCANITO, 8. 771. Substancia ina-
tacável pelos ácidos e dissolventes ordi-
nários; não se pcSde desfigurar, apesar de
todas as intluencias ás quaesa submettem.
E composta de gutta-percha e de caout-
chouc vulcauisado, aos quaes se ajunta en-
xofre e silica.
f VULCANIZAÇÃO, s. m. Combinação
d'uma pequena quantidade de enxofre com
o caoutchouc.
-j- VULCANIZAR, v. a. Fazer soffrer no
caoutchouc a vulcanisação.
VULCANO, s. m. (Do latim Vidcanus).
Termo do polytheismo. O deus do fogo,
filho de Júpiter e de Juno, esposo de Vé-
nus, que tinha suas forjas na ilha de Lem-
nos.
— Termo de poesia. O fogo.
VULCÃO, s. m. Vid. Volcão.
VULGACHO, s. m. Termo popular. Po-
pulaça, gentalha da plebe, Ínfima ralé.
VULGADO, part. jjass. de Vulgar. Ter-
mo pouco em uso. Divulgado.
1.) VULGAR, t;. o. Termo pouco em
uso. Divulgar.
2.) VULGAR, adj. 2 gen. (Do latim
vulgaris). Que se vê commummente entre
os homens. — Opinião vulgar. — Prejuí-
zos vulgares. — Fraquezas vulgares.
Presagios sSo também aos que se acabão
Da vida temporal, o breue termo,
Yidyar opinião he que estes morrem
Porque tal sombra virão, mas he falso.
Que a certeza e verdade, (inda que escura)
Te contarei Senhor com que te espantes.
COBTE BEÁL , NÀUFUAOIO DE SUPOLTEOÁ, Cant. 16.
— Plantas vulgares; aquellas que se
encontram a cada passo. i
— Medicamento vulgar ; aquelle que
se emprega frequentemente.
— Línguas vulgares ; diz-se das lin-
guas vivas, em opposiçao a línguas mor-
tas. — As traduci^ões da Biblia em lín-
guas vulgares.
— Que não se eleva, nem se distingue
por nada.
— Que pertence ás classes sem distinc-
ç5o, ás pessoas do vulgo, de baixa sor-
te.
— Trivial, baixo. — Pensamentos, sen-
timentos vulgares.
— Sem distincção, fallando das pes-
soas. — Espírito, poeta vulgar.
— Substantivamente : O commum dos
homens.
— Diz-se d'aquelles que n'uma classe
não se distinguem. — Õ vulgar dos au-
ctores.
— O que existe sem distincção. — Dar
no vulgar.
— O que divulga o que sabe.
— Syn. : Vulgar, ordinário. Vid. este
ultimo termo.
VULGARIDADE, s. f. (Do latim vulga-
ritas, de vulgaris). A qualidade do que
é vulgar.
— Diz-se do que se acha facilmente,
do que é trivial.
— Diz-se do que é baixo, do que não
é nobre.
— Loc. : Arriscar-se com vulgaridade;
arriscar-se muitas vezes.
VULGARISAÇÃO, ou VULGARIZAÇÃO,
s. /. Acto de vulgarisar.
VULGARIS ADO , ou VULGARIZADO , part.
2)ass. de Vulgarisar. Tornado vulgar,
commum, trivial.
VULGARISADOR, ou VULGARIZADOR,
A, s. m. Pessoa que vulgarisa.
— Adj. - — Talento vulgarisador.
VULGARISAR, ou VULGARIZAR, v. a.
Reduzir ao estado de plebeu, homem vul-
gar.
— Tornar vulgar. — Vulgarisar a scien-
cia.
— Vulgarisar o corpo; devassal-o, pros-
tituil-o.
— Tornar commum, com abatimento de
nobreza, graduação, apreço, respeito. —
Vulgarisar os foros de Jidalgos, as insi-
gnias, as honras, etc.
— Publicar a todos.
— Figuradamente: Vulgarisar afama;
dando-a a cousas vulgares.
— Traduzir em vulgar.
— Romancear.
— Vulgarisar-se, u. rejl. Faciiitar-se
com gente inferior.
— Tornar-se vulgar, commum, trivial.
— «Mas devendo-se a Camões a popula-
ridade de tam insigne feito, deve-se-lhe
também o vulgarisar-se um erro com-
mum — pois geralmente se crê pelos que
não teem profundado a nossa historia (e
quantos o fazem V) que por sua vontade
única o infante quizera antes passar a
vida de senhora feita escrava, por se não
dar aos Mouros a forte Ceuta.» Garrett,
Camões, nota E ao cant. 3.
— Figuradamente : Prostituir-se, fal-
lando de uma mulher.
VULGARISMO, s. m. Termo pouco em
uso. Maneira de fallar, pensar, obrar do
vulgo.
— Máximas, documento, errónea do
vulgo, de pouco apurada educação.
VULGARMENTE, adv. (De vulgar, e o
suffixo «mentei)). Commummente. — «Nas
Paxoens cantadas, cantão três, que vul-
garmente são Christo, Texto, e Brada-
do.» Manoel Nunes da Silva, Arte mini'-!
ma, p. 50. 4fi
— Entre o vulgo. !
— A modo do vulgo.
— De um modo vulgar, trivial, com-
mum.
— Loc: Fallar vulgarmente; fallar
com propriedade, com palavras com-
mummente usadas.
VULGATA, s. f. (Do latim vulgatus).
Versão latina da Biblia, que se julga fei-
ta do hebreu, no fim do quarto século, e
no principio do quinto, e que foi authOf;
risada pelo concilio de Trento. ,/,
— Adjectivamente : A versão vulgata
da Bíblia.
f VULGIVAGO, A, adj. (Do latim vul-
givagus, de vulgus, e vagari). Que se en-
trega ao amor banal, que se prostitue. -^■
O casamento é o maior freio da impudiciP
cia vulgivaga.
VULGO, s. /. (Do latim vulgus). O po-
vo commum, a plebe, a populaça, a gen-
te da classe Ínfima, gentalha, em opposi-
ção aos nobres, honrados, e homens bons.
— «Albayzar vendo tanto rumor na gen-
te, cousa não costumada, inda que natu-
ral é ao vulgo folgar com novidades, foi
rompendo co'o3 olhos por antre a multi-
dão e enxergando a Targiana, esteve pê-
ra cahir, não porque de todo a conheces-
se, mas porque os corações namorados
qualquer cousa os move.» Francisco de
Moraes, Palmeirim d'Inglaterra, cap. 80.
— «Vinte mil crusados disse no titulo des-
te capitulo? Pois disse pouco, quando sey
casos de quarenta, e de oitenta mil cru-
zados levados de codilho em occasioens,
que a sabedoria do vulgo ficou cuidando,
que recebia ElRey no lanço hum serviço
hei'oico de grandissimo interesse.» Arte
de furtar, cap. 10. — «Segue-se a esta
o craneo, que he huma uniaõ de ossos,
que á maneira de hum capacete cobrem
o cérebro, e se chama commumente pel-
los Latinos Calva, ou Calvaria, e o vul-
go Caveira. Ho de substancia dura mas
rara, e espongioza; po-i^oada de suturas,
e poros ; assim para não gravitar muyto
com o pezo; como para conther o sueco
pai-a o próprio alimento, e para haver
modo de transpirarem os vapores.» Braz
Luiz d'Abreu, Portugal medico, pag. 61,
§53.
1012
VULN
VULT
VUIiT
O torvo íoato, a Olina afoRuoiída
Dn liu ln! rf,fr:ieç:V) flUHudo do ApoUo
Pela atciio.ífor.i ilo (Joincta oi vaioa
IVyiiUw ^'■. i{\iíÀ)tiii): corn^cíliitií a'ípnrti>
Ao 'pl'iLHativo Aitroiióiiio «n oiofttrn
EtfuitO liatui-al ; pfodigip no i>idt/o.
■"ã. A. tW MiUÍBM, 'i HATCUISi:!, tMLDt. 1.
No «oeulo f|U(^ (ilida tu uivo visto
Nua noH Oi>os a espada ninfa(;adom,
Qii'luiM) |)rP(^ào do furor se antolUa ao viilyn,
K ta vt-i fiiini'>j»r do naufíiiô hum rio,
]'iilar no cadafalfio iiiiiiicuaiii) visto
Ji(d'i tiuti«4 em «iiiii^uo áuguHbiB frontes.
IBIDKU.
Sòa o ("autor da uoito, cxccIho cniblenia
Da. modCBtiii, o do inwito, que ao» olhoi»
Do vidyo iuorto fogo, o so rotira.
— Separar-se do vulgo ; oatremar-so,
distiiipiiir-se, abalizar-.se, csniorar-sc.
— O vulgo dos homens; o commum
(l'ellea.
-^ Vulgo errante; poro vagabundo,
ambulantu.
Nonhuia (jiw uso de seu poder bastante
Para servir a sou desejo feio,
E í|uo por comprazer ao vidgo errante
Se muda em m*is figuras que Protcio ;
Nem, Uamonas, tíkmbom cuideis que cante
Quem com liabito houesto c grave veio,
Por contentar ao Jíei no oflicio novo,
A despir, e roubar o pobre povo.
oAM., LD9., caut. 7, est. 85.
— Vulgo imperito; povo indouto, igiio-
rauto, inepto. — « Nem vai o argumento
de dofoiíder sua honra, para na3 sor tido
por covarde, se aaõ saiiir ao desaiio ; por-
que isso saõ leys do vulgo imperito, quo
naõ devem prevalecer contra as do direi-
to : e maior honra lie fiear hum valen-
te tido por Christaõ entre prudentes, quo
por desalmado deferindo a ignorantes.»
Arte de furtar, cap. 21.
— Vulgo ignorante; povo imperito, es-
túpido, grosseiro, inliabil. — «Os Chal-
deo3 que se tinhão feito muy celebres na
Astronomia, predissérão sem duvida al-
guma 03 Eclipses. O vulgo ignorante e
incapaz de alcançar de quo fornia a con-
sideração dos Astros podia ensinar aos
Philosophos o futuro, que para olle era
tão escuro, concluhio que so a considera-
ção dos Astros podia prever os Eclipso.s,
quo também não ora impossível que estos
superiores objectos dessem a conhecer o
destino doa homens.» Cavalleiro d'01ivei-
ra, Cartas, liv. 3, cap. 11.
— Figuradamente : O vulgo dos pei-
xes; os miúdos.
— Stn.: Vulgo, povo. Vid. esto ulti-
mo termo.
2.) VULGO, ot/u. (Do latim VM?(7Ú). Vul-
garmente, oommummente.
VDLNERAÇÃO, s. f. i,Do latim vuLnera-
tio, de^uuÍTierare). Termo do cirargia. Fe-
rida.
— Lfísão por vulneraçào ; diz-ac em
opposição a cliaga por ulctrui-ão,
VULNERADO, purt. pass. do Vulnerar.
I''ei-id(), olVcudido.
VULNERAI, udj. 2 gen. Qtte 6 próprio
para fl:ri'la^.
t VOLNERANTE, part. act. dtí Vulne-
rar, (^uo vulnera.
— Que fere. — Instrumento Tulnerante.
VULNERAR, v. a. (Do latim vUlnera-
re). Ferir, ofiender, lesar.
— Figuradamente: Offender muito. —
Vulnerar « consciência.
— Vulnerar a honra e a própria fama.
VULNERARIA, a. /. Planta legumino-
sa, de liôres ainarolíaf», boa para as cha-
gas e feriíhis recentes; planta medicinal.
VULNERÁRIO, A, arij. Que f> próprio
para a cura das chagas ou das feridas.
Planta vulneraria. — • Hervas vulnera-
rias.
— Aguas vulnerarias ; . aguas extralii-
das das plantas vulnerarias.
— S. m. Medicamento bom para as
ohagas e feridas. — Um bom vulnerá-
rio.
VULNERATIVO, A, adj. Que &z feri-
das.
— Que fere, que offiande.
VULNERÁVEL, aJj. 2 gen. (Uo latim
vulnerabilig, do vuliíerare). Que pó<le ser
ferido. — Encontrvu-se o ludo vulnerá-
vel.
VULNIFICO, A, adj. Termo de poesia.
Quo fere, que corta, que faz feridas.
VULTAR. Vid. Avultar.
VULTO, s. m. (Do latim viiltus). Ca-
ra, rosto, semblante, physionomia. — oE
chegando-30 onde estava o vulto de Tar-
giana sua senhora, com os olhos uella
começou louval-a com palavras não me-
nos soberbas, que namoradas.» Francis-
co de Moraes, Palmeirim dlnglaterra,
cap. .S3. -— «O da Ponte catava tão mc-
nencorio de ver o vulto de sua senhora
algum tanto desfeito de um encontro,
que jd se arrependia de nào contender
das espadas, e dizia antro si : Por certo,
ou o cavalleiro é o melhor do mundo, ou
eu não sou pêra nada, pois tendo em
minha ajuda o parecer de quem mo ma-
ta, não posrío vencer quem suas mostras
otlende.» Ibidem^ cap. 49. — tE, ven-
condoo, trareis o escndo do vulto a esta
corte, vindo primeiro pola do imperador
Palmeirim, onde por força d'armas fareis
conhecer a todos os que o negarem, que
servia a mais fermo.-^a senhora do mun-
do.» Ibidem, cap. 71.
Nogrosi vidtos irão do Africa ardente
Dcsentrauliar na America, siilvagom
Tlicsouros ricos de metal hizentc.
j. I. DK MATTOS, BiUÀS, pag. 266.
Quo por Bruto mo conffímno,
pois tal tetiç&o mo não abmi^.
Oh ! fuíto portiann maix penoi
d('t)to-we golpe couio aujo,
c lavras cotno veneno.
AKTomo ruesTfet, AuroB,p&g.'S19.
— «Que ho o Empyreo comparado com
a Immenffidade divina? Ho como »o tia8
fora. Logí) que screy f!u na jfreuffnça de
Deos, e que tulto fiiM o m«u nor ditentc
do sua grandeza infinita'/ Sou nada, e
se pudesse aer, menoti que nada. Cooio
se atreve o nada a presumir de oi Uiao'
te do infinito «erV» Pa/ In; Manoel lier-
nardee, Ezercicios espirituaes, psg. ól.
— Corpo de pau ou jr^dra, etc., á imi-
tação.
Mas quem piide livrar-íC por ventara
Dos lai;os que Amor arma braudamcntc
Kntre a» rosas, e a neve hsmana pnra,
O ouro ; c o alabastro transparente ?
Quem de uma peregrina formosura,
De um vidlo de Medusa propriamente.
Que o coração converto, que tem preso.
Em pedra iiio, mas em desejo aoce«*V
(UM., Lvs., cant. 3, est. 146.
— Vulto. jri^a?)^ ; volufiAd A/^^^atado.
— «Errante pelos cerros qua<i inaoessi-
veis que so elevam no extremo ONCutal
da (iallecia o que, passando ao norte da
Ciiartliaginense, vão entroncar-ee no vul-
to gigante dos Pyrenóus, o mancebo nSo
dobrara a cerviz ao fado cruel que pesa-
va sobre seus irmSos.» A. Hercuiauo,
Eurico, cap. 13.
— Talhar uma imagem de TUlto. — t Es-
tas duas imagens saõ ttJhaiias de vulto
em pedra lioz, e os rostos ambos tirados
bem ao natural. De fronte deste editicio
mandou el Rei fazer a torre de sam Vi-
cente, qúé se chama do Bethelem, filnda-
da dentro na aguoa, pêra guarda deste
Mosteiro, o do porto de Lisboa, edificio
que ainda que em si nau seja grande em
cantidade com tudo ha instructura delle
he magnifica.» Damião de Góes, Chroni-
ca de D. Manoel, part. 1, cap. 53. — «A
Egreja deste mosteiro tem duas portas,
das quaes a da travessa, que está contra
a prava, he a môr, e mais sumptuosa,
na qual mandou pcer em pê, na colum-
na do meo da porta, a imagem do Infan-
te dom Henrique primeiro autor destas
nauegaçCics, talhada de vulto em pedra,
armado com cota dannas, e a eapAda
nua na maõ, aleuantada pêra riba, do
qual modo se afigurai^ todoàtoa Reb,^ e
príncipes quo em pessoa se acharão em
feitos de guerra, c uellea, íotÍo ve&oedo-
res.» Ibidem.
— T'» um vulto ; vi cousa que se pare-
cia com um homem ; sombra, phantasma,
— Loc. : Vtr as cousas a vulto ; v«1-«b
sem as examinar, som discernimeato.
— Fazer vulto ; fazer volume notá-
vel.
— Figura de vulto; estatua, jui; ju:
VULT
VULV
VYUV
1013
— Atirar a vulto ; atirar sem saber a !
que, a acertar. |
— Cousa de vulto ; cousa grande, de
monta, de importância, de momento.
— Loc, : Avaliar os livros a vulto ;
avalial-os pelo volume que fazem, sem '
examinar o merecimento d'elle3.
— Occupação de vulto ; occupaç2o de [
momento, de importância. .'
— Considerar a morte a TUlto; consi- :
deral-a sem olharmos o que ha de ser de i
nós, qual será a nossa sorte, a nossa vi- {
da futura.
— Stn. : Vulto, cara. Vid. este ultimo
termo.
VULTOSO, A, adj. Que avulta, que faz
vulto, e tem muito corpo.
•j- VULTUOSO, A, adj. Termo de me-
dicina. Diz-se da face quando está co-
rada em excesso, e que as faces e os
beiços incham, a côr pronunciada, os I
olhos salientes. j
VULTDRINO, A, adj. (Do latim vultu-]
rinusi. Da natureza do abutre.
VULTURNO, t. m. (Do latim viilturnus). '
Vento que se levanta com o sol, e até
80 pGr segue a sua direcçiio.
VULVA, s. /. (Do latim vulva). Ter-
mo de anatomia. Parte externa do appa-
relho da geração na mulher.
— Diz-se também para as fêmeas de '
certos animaes.
— Abertura sem saída que se encon-
tra no cérebro abaixo da commissura an-
terior, adiante do apoio das camadas ópti-
cas, precisamente abaixo do pilar ante-
rior da abobada.
— Termo de zoologia. Depressão lon-
ga e pouco larga, na parte dorsal de
certas conchas bivalveâ.
-j- VULVARIO, A, adj. Termo de ana-
tomia. Que pertence á vulva, — A mu-
cosa vulvaria.
— S. f. Termo de botânica. A vulva-
ria ; planta que é vulgar nos campos,
que espalha um cheiro a peixe, que ou-
tr'ora era recommendada para as affec-
ções hvstericas.
— Ançarinha fétida.
-}- VULVÍTE, ». /. (De vulva, e o suf-
fixo «ite>). Termo do medicina. Inflam-
maçlo da ruiva.
— Vulvite folliculosa ; inflammação das
glândulas do orifício vulvario.
VURMO, «. m. O pus das chagas, ou
o sangue das feridas.
— Ferida com vurmo ; ferida san-
guenta.
VYUVIDADE, í. /. Termo antiquado.
Viuvez, estado de viuva.
;;ioi
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$. m. Letra chamada doblt
vi, ou doble vaii, introduzi-
da no nosso alphabeto para
conservar a orthographia de
algumas palavras das lin-
guas do norte, etc. Nas palavras d'ori-
gem ingleza pronuncia-se como u (con-
soante) ; nas palavras provenientes do
allemão pronuncia-se como v.
f WACKE, ou WAKE, *. m. Termo de
mineralogia. Matéria opaca que occupa
o meio entre o basalto e a argila.
WAGON, WAGGON, ou VAGON, ». m.
Vocábulo inglez, que significa carro de
quatro rodas, adoptado para designar as
carroças empregadas no caminho de fer-
ro, para transportar viajantes ou fazen-
das. — Os wagons dos caminho* d« fer-
ro portuguetes.
f WAGONETE, ». m. Pequeno wagon.
f WAHABITA, ». m. Nome de uma
seita musulroana, que teve origem na
Arábia no principio d'este século, e que
se comparou a uma espécie de protestan-
tismo musulmano.
f WAHABITISMO, ». m. Doutrina dos
wahabitas.
f WALI, ». m. Titulo doa governado-
res árabes de Hespanha, na idade me-
dia.
-j- WALIDA, «. /. Termo de botânica.
Planta apocynea de CeylSo, empregada
contra a dysenteria.
f WALKYRIA, «. /. Nome genérico,
na religiSo dos antigos scandinavios, das
três deusas mensageiras do Odin, que se
suppunham ir ao meio dos combates dis-
pensar a victoria, e designar aquelles
que deviam morrer.
t WERNERITA, s. f. (De Werner, ce-
lebre naturalista allemào). Substancia ví-
trea ou lithoide resultante da combina-
ção dos dous silicatos de cal e d'alumiua.
f WESLEYANO, «. m. Nome de uma
seita protestante, que deveu sua origem
ao inglez Wesley, na primeira metade
do século ivili.
-}• WHIG, ». 2 g«n. Pessoa que na In-
glaterra pertence ao partido fazendo pro-
fissão de defender a liberdade. — í/m
whig. — Uma whig.
— Adjectivamente : A opinião whig. —
O partido whig. — O» ministtrio» whigs.
f WHIGGISMO, $. m. Partido, opinião
dos whigs.
WHIST, s. m. (Do inglez whist, inter-
jeição que significa silencio, em conse-
quência d'este jogo exigir effectivamente
silencio e attenção). Espécie de jogo de
cartas, que se joga entre quatro pessoas,
das quaes as duas que estão defronte
uma da outra ião parceiros.
f WHITERITA, ». /. Mineral que é o
carbonato de baryta.
■j- WIBIS, s.f. plur. Donzellas condem-
nadas, segundo uma legenda da Bohemia,
a sair, depois da sua morte, do tumulo, e
a dançar toda a noite.
t WIGLEFISMO, ». /. Doutrina de
Wiclef, heresiarcha inglez do Xiv século;
ensinou que a Egreja romana não é che-
fe das outras igrejas ; que o clero nem oa
monges não podem possuir bem algum
temporal, e que vivendo mal, perdem to-
dos os seus poderes espirituaes.
f WICLEFISTA, ». m. Partidário do
■wiclefismo.
f WODANIM, «. 771. Termo de chimi-
ca. Metal que se julgava, mas que se re-
conheceu ser do nickel impuro, mistura-
do com cobalto, cobre, chumbo, antimo-
nio, arsénico, e enxofro.
f WOIGHTIA, s. f. Termo de botâni-
ca. Nome de plantas apocyneas das quaea
uma espécie fornece o Índigo.
f WORMIANO, adj. m. (De Wormio,
medico de Copenhague). Termo de ana-
tomia. Ossos wormianos ; pequenos os-
sos mui variáveis quanto ao numero ou á
forma, que de ordinário estão coUocados
nos ângulos das suturas da abobada do
craneo, e particularmente na autura lam-
bdoíde.
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TIRrf!» «línJ .n .»
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s. m. Letra chamada chiz
íxiz) que é a vigésima tercei-
ra do alphabeto e que tem
ditferentes valores na pronun-
cia.
; diz-se de dous objectos cru-
zados como as pernas do x.
— X na numeração romana vale 10 ;
XI, 11; XII, 12; XIII, 13; XIV, 14;
XV, 15; XVI, 16; XVU, 17; XVIII, 18;
IX, 9; XIX, 19; XX,- 20; XXI, 21, etc.
Com um traço por cima vale 10:000; dei-
tado valia 100,
— No computo ecclesiastico, X designa
o domingo.
— Nas moedas de França, indica que
éllas foram cunhadas em Amiens, segun-
do uns, em Aix, segundo outros.
— A margem dos antigos manuscriptos,
X é uma nota critica que indica uma ex-
pressão muito atrevida ou uma expressão
desusada. Serve também algumas vezes
para indicar um sitio notável.
■ — Em álgebra, x ou u; emprega-se or-
dinariamente para designar a incógnita
ou uma das incógnitas.
— Figuradamente: Diz-se d'uma cousa
qae sé buíca, d'uma questão a resolver.
— -Uma de x; dez reis, moeda que tem
c seu valor marcado com um x. — Não
ter nem uma de x ; estar sem um real,
extremamente pobre.
— Termo de giria. X P TQ; diz-se
para designar a excellencia d'uma cou-
sa. — Cousas de X P T O. — Isto é de
X P T O. Diz-se também : X P T O
London. Qual a origem d'esta phrase as-
saz espalhada e hoje pela primeira vez
recolhida? X P T O era uma abrevia-
tura de Christo nos antigos manuscriptos,
mas a forma X P T O London parece
indicar antes que a phrase se originou
d'uma marca commercial ou d'expedição.
— «Ao I nós lhe chamamos çis, mas eu
llie chamaria antes xi, porque assi o pro-
BBnciaanoB na escritura: pronunciasse
▼OL. T. — 128.
com as queixadas apertadas no meyo da
boca, os dentes juntos, a lingua ancha
dentro na boca e o espu-ito ferve na hu-
midade da língua.» Fernão d'01iveira,
Grammatica de liugoagem portuguesa,
cap. 13.— «D F P T X Z. Estas seis
leteras, nam tem tantos trabalhos, nem
mudanças em servir seus officios, como
vemos que tem as outras, Servem-nos
commummente em todalas dições, como
povo nos trabalhos da republica : ao qual
as podemos comparar : e por isso as ata-
mos em molho sem guardar a ordem que
tem, nem fazermos delias muita men-
çam.» João de Barros, Da Orthographia,
pag. 195 (2.* edição). — «X he letra do-
brada, que consta de c e s em alguns
vocábulos, e em outros de ^ e «. Porque
em jjax, assim pronuncião os latinos o x,
como se dissessem, pac, e lhe accrescen-
tassem, s. E assi pronuncião lex como se
dissessem, hg, e depois lhe ajuntassem s.
O que se ve pela formação dos casos.
Porque de pax, dizemos pacis, e de nu,x,
Hucisj e de lex, lexis, e de rex, regis.
Mas isto he quanto aa pronunciaçào das
palavras Latinas. Porque a pronunciaçào
que agora damos a esta letra, he arábica,
da maneira que os Mouros pronunciam
o seu xin. Polo que nas palavras hespa-
nhoes, não nos fica servido o x dos La-
tinos, em força e potestade, senão era fi-
gura, per que denotamos a dieta pronan-
ciação Arábica, como nestas palavras:
paixão, coxa, enxada, coxim, E assi os
Francezes, que tem a mesma pronun-
ciaçào que nós, a denotão eh impropria-
mente, porque per x se não podia deno-
tar, e dizem, Cheval e Ckapitre, per Xe-
val e Xapitre.T) Duarte Nunes do Leão,
Orthographia da lingua portugueza. —
« O X tem no uso da nossa orthogra-
phia três significações. Elle serve de con-
soante portugueza para figurar o som
mourisco da chiante semivogal branda nas
palavras de origem árabe, como xacoco,
xadrez, xarel, xergão, e por imitação nas
de outra origem, como frôxo, coxo, bai-
xo, paixão, etc. — A segunda significa-
ção ou valor do x, é o mesmo da duplex
latina es, qual algumas pessoas polidas
lhe dão nas palavi'as fluxo, refluxo, fixar
e sexo, que pronunciam á latina flucso,
refiucso, ficsar e secso. — Êlas, como esta
combinação de es não é muito do génio
da nossa Lingua, esta a costuma adoçar
mudando a c em i quasi sempre que o X
ó precedido de e, è o s em z, de sorte
que lhe vem a dar o valor de iz, pronun-
ciando exactidão, exórdio, exec^uias, como
se estivesse escripto eiz-actidão, eiz-ordio,
eiz-equias, quando se lhe segue vogal ; e
quando não, dá-Ihe o valor de is, como
em sexto, explico, exceder, que pronun-
ciamos como seisto, eisplico, eisceder, É
este o terceiro uso que fazemos do X.
Ainda que, quando elle é final, se pro-
nuncia como s; comtudo, para conservar
a origem latina, se costuma escrever com
o mesmo x nas palavras que não tem a
ultima aguda, como em Félix, nome pró-
prio, simplex, duplex, index, appendix,
e poucos mais.» Jeronymo Soares Barbo-
sa, Grammatica philosophica, p. õO-õl
lõ.'' edição). — «A duvida maior, ainda
entre os que screvem como pronuncião, é
sobre as duas consoantes portuguezas x e
eh, que parecem ter o mesmo som na no-
sa pronunsiasão usual. Digo portuguezas,
porque ainda que a primeira é latina e S
segunda grega, ou equivalente a ela, nós
lhes damos significasões mui diferentes,
servindo-nos da primeira, não como du-
ples CS, mas como chiante semivogal com
um som mourisco ; e da segunda, não co-
mo aspirada, mas como chiante muda
com o som tch á italiana, — Os que me-
lhor falão a Lingua Portugueza distin-
guem na pronunsiasão estas duas consoan-
tes, dando ao xis um chis semivogal, que
se deixa perseber ainda com o órgão sca-
samente fechado, como em xofre, e ao cA
1018
XABA
XAKT
um chis mudo que so nilo persebo so n2o
no instante mesmo da dcBintorsoptaarto da
voz que o mesmo orgilo represava, como
em chove, O vulgo polo eontrario confun-
do ordinariamente estas duas consoantes,
pronunsiando ambas como x. — 1'oríím
como a genuina pronuusiaçilo do eh ain-
da subsiste em i)arte, c nSo ò justo que
Bo perca do uso da Língua o do noso al-
fabeto, apontarei as palavras que tem i
no {principio e no meio, e couhosidas elas,
todas as mais se screvcrSo com eh, onde
BC ouvir o mesmo som equivoco. — As pa-
lavras portuguezas que principiSo por x
bSo poucas e quasi todas de origem ára-
be. Taes sSo xaca, xaque, xacoco, xa-
drõs, xalmas, xará, xarel, xergão, xeri-
fe, xarope, xira, xiro, xarajim, e as de-
rivadas d'eBta3. Isto pelo que pertenso ao
prinsipio. — Para saber quando no meio
das palavras avemos do uzar de x e não
de eh, servirão estas duas obscrvasões. A
1.* que ocoorremlo o tal som depois de
alguma vogal nasal, an, en, etc. ordina-
riamente so eisprime com i, como cu.«t-
ca, en-vaqueca, emxacocQ, enxada, enxar-
tia, enxerir, imxertar, enxofre, en.vova^
Ikar, enxugar, c derivados. — A 2.* que
o mesmo susede ordinariamente todas as
vezes que o som das mesmas consoantes
vem immcdlatamonte depois de ditongo,
como em ameixa, baixo, caixa, queixa,
deixar, desleixo, faixa, feixe, paixão,
peixê, reixa, seixo, taixa, troixa, e deri-
vados. Alóm dVstas á mais algumas, co-
mo bexiga, bocaxim, bruxa, buxa, buxo,
Cartaxo, coxa, coxia, coxim, eôxo, frou-
000, g^rajoa, lixa, lixo, mexer, 2Mxar, ro-
xo, roxinol, vexar, e der4vados. — Afóra
estas, todas as mais palavras em que se
ouvir o som do i, quer no principio, quer
no meio e no fim, se pronunciarão com o
som ào ck, e se screvorão oaim, como
chacota, chegar, cheirar, chiar, chorar,
chuítna, chumbo, achar, capric/iar, des-
pachar, encher, fechar, inchar, manchai;
petreoho, rinchar, sachar, trinchar, e in-
finitas outras.» Ibidem, p. 67-58. — Os
preceitos que acabamos do transcrever
dos nossos grammaticos não elucidam com-
pletamente a questão embrulhada da pro-
nuncia o ortbograpbia do i e do eh. Os
nojsoa grammaticos ligaram-se sobretudo
a cpnsiderações empíricas; mas a gxam-
ipatica comparativa devia ser ouvida. Eis
alguns piúucipios que completam ou ra-
tificam a.3 passagens que acabamos de
transcrever. — Hoje na pronuncia usiuU
o som expresso pelo eh de chave não se
distingue do som expresâo pelo i de bu-
xo; isto é, onde x n eh exprimem um
simples som chiante esse som ó o mesmo,
seja qual fôr o lúgnal. Som duvida assim
não era, como ao vê das passagens de
Duarte Nunes o Soares Barbosa e se sa-
be d'outros testcnuinlios além d'cstes; na.
Beira h» ainda distiue^-ão entro os sons eh
de chat^y çtc., e o som x de btixo, etc.
— Na orthographia ctymologica e con-
forme .''i antiga o provincial pronuncia, o
X dovo-HC oscrcvcr sempre que ollc ro-
T-esenta um som ou sons naBcidos do x
latino, e o som chiante nascido do e lati-
no. Distingamos vários casos:
1." Escreve-sc x para exprimir o iz ou
it nascido do x latino :
cxempli), exame, eo.-lra,
exceder, excesso, excalleixia.
2." Escrevc-so o x para exprimir a
chiante preceilida de vojÇal, nascidas am-
bas de * latino:
eixo, teixo, freixo, viadeixa,
seixo, froixo, lei.car.
S." Para exprimir a simples chiante
nascida de x latino :
coxa, buxo, Alexandre,
luxo, lixívia, enxúndia.
4." Para exprimir o grupo es = x lati-
no ou CS grego:
fixo, nexo, sexo, fiuxo, etc.
ExcKPçrtF-.s. Quando os sons nascidos
de X latino são finaes ou fão s, ss ou *
procedido de vogal, nSo se escreve x:
seis (sex); tatisar ant. {taxare):
— O X emprega-se nas ])alavra3 ára-
bes para representar a chiante idêntica
ao eh de francez cheval e x de port. bu-
xo (distincta de j) que correspondo aos
sons árabes cMn, djtm, sín, çad. Taes
são os casos em que o uso de x é legiti-
mado pela orthographia e a antiga pro-
nuncia.
— C% ao contrario dovc-so escrever
quando representa a chiante proveniente
dos grupos latinos cl, pi, ti, fl, etc.; do
o latino deante do e, t {chicharó), as pa-
lavras d'origem franeoza que tom cA =
latim c, como chefe, etc.
— Hoje que o rigor da pronuncia das
duas chiantes x e cA desappareceu o que
ellas se confundem, a orthugrapliia nào
pôde seguir um rigor demasiado, e ha ca-
sos até verdadeiramente embaraçosos em
que o capricho faz tudo. Como escrever
a palavra popular alterada do inglez shoe-
maker, sapateiro : chumeco, ou xumecol
Qualquer modo d'escrevor é indifterente,
pois fora da pixivuicia, ninguém lerá tchn-
meco.
1.) XA, «. f». Termo da Pérsia. Rei,
soberano. Vid. Xiah, do Shack, que si-
gnifica príncipe.
2.) XÁ, ou CHÁ, s. m. Ilerva da Chi-
na, cnja tintura so bebe, como remédio,
o alimento, se o é, usado em almoços
com pão o manteiga, ou antes da ceia.
— A infusão das folhas do ohá.
— No sentido de infusão diz-se figura-
damente do outras folhas, alóm das fo-
lhas do chá, oriundo da China. — Chá
lie tilioy d^ folha de laraiij«{rcf, dt fiar
iU sabugueiro, etc
— Vid. Chá, orthographia prefarivel.
XABANDAR, s. iii. Termo da Ásia.
Diz-sc o que governa sobre o qae toca
da armadas. , .. i.-i...v oi ...... ^,
— Diz-Bc também o governador d'uma
terra.
XACA, ou XACCA, «. m. ídolo de me-
nor adoração entre os japonezea.
XACARA, ou CHÁCARA, ». /. Roman-
ce, Begnidilha, qui- se canta á viola em
som alegre.
— Vid. Chácara, e Chácara Cquinta),
quo divergem.
XACÕCO, A, adj. Diz-HC d'aquelle que
querendo fallar alguma liug-ua lhe intro-
duz barbarismoB.
— Latim xacõco ; latim bárbaro.
— Substantivamente : Uvt xacõCO.
XACOMA, t. f. Vid. Xaquema.
XADREZ, *. ni. Jogo de taboleiro com
sessenta e quatro casas ; jogam-se diver-
sas peças ou figuras de rei, rainha, ro-
que, cavallo, etc.
— Obra de pedra, marceneria, etc,
feita de quadrados de varias cores á si-
milhança do taboleiro do jogo do xadrez.
— Diz-se também, de £Azen<laa. — Cal-
ças de xadrez.
— Plur. Termo de marinha. Engra-
damentos unidos, feitos do madeira, col-
locados nos cestos das gavea.«, nas esco-
tilhas, e á prúa, por cima do t&liaamar,
onde servem como de sobrado; na» em-
barcaçSos miúdas também servem de pa-
vimento aos paneiítffi.
lAFARIZ, s. 771. Tiil. Chafariz.
XAGUÃO, s. m. Vid. Saguão.
XAGUATE, ». tn. Vid. Saguato.
XAIREL, s. m. Vid. Xarel.
XAL, s. m. Moeda turca, do valor de
duzentos reis.
XALE, ». Tíi. Vid. Cbale.
XALMAS, t. f. plur. Gra^les, que a«
ajuntam ao leito do carro para accommo-
dar mais palha, lenha, etc., no compri-
mento, ou largura do leito. Vid. Xelmas.
XALOTA, s. f. Termo de boUnic*.
Planta medicinal, que se cultiva naa hor-
tas.
XAMATA, *. /. Termo da Ásia. Géne-
ro de vestido em f<5rnta de capa asado
pelos reis de Campar e Adem.
XAMATE, 8. :n. Termo usado na lo-
cução : Dar xamate ; no jogo do xadres,
reduzir o adversário á ultima raia do jo-
go; ganhal-o prendendo o rei.
XAMBRE, s. m. Vid. Chambre, termo
maÍ3 correcto e preforivel.
XANFRAR, f. a. Vid. Chanfrar, ortho-
graphia preforivel.
f XANFRO, *. m. Termo de náutica.
O corte nos topoa, ou canto doa nadei*
ros, quando não ficam em esquadria.
XAMTEL. Vid. Chantel.
-j- XANTHENA, í. /. Termo de minera-
logia. Espécie de pedra preciosa.
f XANTHICO, A, ar^. Termo de chi-
mica. Quo dia respeito á côr amarella.
f XANTHINA, s. /. Termo de chimi-
ca. Matéria oolorante da garança.
— Xanthina azofadii ; oxydo xanthioo,
principio descobecto em algumas pedraa
XAQU
XARR
XEQU
1019
nos rins do homem, e que parece existir
também em grande quantida'ie no guano.
-[• XANTHO, s. jíí. Termo de zoologia.
Género de crustáceos.
— Termo do botanicai Género de plan-
tas que produzem um sueco branco ou
amarello.
XANTHOGENEO, ou XANTHOGENIO,
s. m. (Do grego xanthos, e gennaô).
Termo de chimica. Carbonato de enxo-
fre, que segundo Zeize se torna um ra-
dical composto dos carbo-sulphuretos.
f XANTHOPHYLLA, s. /. Termo de
chimica. Matéria colorante amarella que
se desenvolve nas folhas das arvores du-
rante o outomno no momento da sua
queda.
f XANTHOPICRITA, e. f. Termo de
chimica. Substancia amarella, de um sa-
bor amargo e styptico.
-{• XANTHOPROTEICO, A, adj. Termo
de chimica. Acido xanthoproteico ; aci-
do amarello, um dos princípios não crys-
tailisaveis da decomposição das substan-
cias orgânicas azotadas pela acção do
acido nitrico.
f XANTHORRHEA, s. /. Termo de bo-
tânica. Género de plantas monocotyledo-
aeas, próximo dos asphodelos, oriundo da
Nova Hollanda.
-j- XANTHORRHIZO, A, adj. Termo de
botânica. Que tem as raizes amarellas.
f XANTHOSE, s. /. Termo de chimi-
ca. Matéria de um amarello açafroado,
ou de um amarello alaranjado, que se
encontra por nódoas singulares e pouco
enérgicas no câncer.
f XANTHOXYLEAS, s. /. 2}l^r. Ter-
mo de botânica. Tribu da familia das
rutaceas, considerada por alguns aucto-
res como uma familia á parte.
f XANTHOXYLO, A, adj. Termo de
botânica. Que tem o pau de uma cor
amarella.
— S, m. Arbusto a qne se dá também
o nomo de freixo espinhoso.
XANTHURETOS, s. m. plur. Termo de
chimica. Compostos de carbureto, de en-
xofre e de um metal. É synonymo de
cetrbo-siilphuretos, ou sulpho-carhonatos.
XANTIIYDRICO, adj. m. Termo de chi-
mica. Acido xanthydrico ; acido resul-
ta,Qte do carbureto de enxofre combina-
do com o hydrogeneo.
XANTINA, «. /. Termo d© chimica.
Vid. Xantbina.
XAQUE, s. m. Voz usada hg jogo de
Síidrez para avisar quando o rei está fe-
rido de alguma peça ou trebelho, e evi-
ta que se lhe dê o mate, ou o xamate,
coro que se pei-de o jogo.
— Figuradamente: Grande damno,
destruição.
- — Figuradamente r PaiBcada, toqae al-
kwivo.
— De xaque em laque.
XAQUEADO, part. pass. de Xaquear.
Apertado, aperreado.
XAQUEAR, V. a. Apertar, aperrear,
tratar, ou pôr em estreiteza de trabalho.
— Combater, batalhar.
XAQUEGA, s. f. Vid. Enxaqueca, ety-
mologia preferível.
XAQUEMATE. Vid, Xaque, e Xamate.
XAQUEMA, s. f. Tecido de cordel de
fazer cilhas ás bestas.
— ■ Em linguagem castelhana, é o ca-
bresto.
XAQUIMA, s. f. Vid. Xaquema.
XARÁ, s. f. Setta, ou pau tostado de
fazer tiro.
— Loc. : Ir como uma xará ; ir mui
rapidamente.
— Termo de zoologia. Animal reptil
mui veloz.
— Termo de botânica. Esteva, planta.
XARAFIM, ou XERAFIM, *, m. Moe-
da da índia, do valor de trezentos reis
approximadamente.
XARÃO, s. m. Vid. Charão.
XARAQUE, s. m. Praça larga, ampla,
e vasta.
XARDÁ, s. f. Termo de zoologia. Pei-
xe pequeno, espécie de bordalo.
— Espécie de cadoz do rio.
XAREL, ou CHAREL, s. m. Peça de
panno ou pelle, que cobre o cavallo do
arção trazeiro até ás ancas; sobreanca.
XAREO, s. m. Termo de zoologia. Pei-
xe do Brazil, que se pesca em armações
e curraes. Vid. Chareo.
XARETAR, «. ôi Bordar o navio de
xaretas. ■■' ■'- ■
XARETAS, s. f. plur. Termo de náu-
tica. Redes de cabo para obstarem, á en-
trada do inimigo quando aborda,
— Ha outras redes de grades para o
mesmo fim.
XARGÃO, ou XERGÃO, s. m. Vid.En*
xergão.
XARIFE, ou XERIFE, s. m. Titulo de
grande honra e dignidade entre os tur-
cos e mouros.
— Descendente de Mahomet.
XAROCO, *. nu Vento terreal.
XAROPADA) -s. /. Beberagem de xa-
rope.
— Figuradamente : Bebeiagem de ri»-
nho.
-}• XAROPADO, part. pass, de Xaropar.
XAROPAR, V. a. Dar xaíope.
— Figuradamente : Embeberar-ae. Vid,
Enxaropar,
XAROPE, *. M». Composição pharma-
ceutica de diversos ingredientes com cal-
da de assucar ou mel.
XAROUGO, s. m. Vid. Xaroco.
XARQUE, s. m. Nome dado no sul do
Brazil, mormente no Rio Grande de S.
Pedro, ás carnes feitas em mantas, sal-
picadas de sal, e curadas ao sol, que
transportam para vender. D 'este termo
se Originaram outros, como eiixercu/r, en-
xercado, enxerqueirUf etc.
XARQDEAR, V. a. Saccar carne ao aol.
XARROUCO, s. m. Vid. Eniarroco.
XARRUA, s. /. Vid, Charrua, termo
preferível e mais correcto,
XARTRE. Vid. Alfaiate.
XASTRE. Vid. Sastre, e Zastre.
XAUTER, s. VI. Piloto que guia os ca,-
minhantes nos areaes desertos da Arábia.
XAVANA, s. /. Vid. Chavana, ortho-
graphia preferível,
XAVECO, s. m. Vid, Chaveco, ortho-
graphia melhor.
XAVEGA, 5. /. Vid. Enxavega, termo
mais correcto.
XE, por Se. Pronome antiquado.
XEIRI, s. m. Goiveiro amarello.
XELIM. Vid. Schilling.
XELMAS, s. /. plur. Vid, Xalmas. ,
— Collocam-se também nas bordas dos
barcos que can*egam palha.
XEMIM, ou XEMEM, *, m. Termo da
Ásia. Capitão no reino de Pegú.
XEN, s. m. Moeda da índia, do Valor
de trezentos reis, conhecida também pe-
lo nome de bastião.
XENDI, s, m. Termo da Ásia. Trança
solta nas costas, que trazem os jogues
na índia.
f XENELASIA, s. /. Entre os antigos,
interdicçâo feita aos «strangeiros de mo-
rada de uma cidade. — Uma das mais
celebres leis attribuidas a Lycurgo, um
uso pelo menos de que se não pôde ne-
gar a existência, era o da xenelasia.
XENOGRÀPHIA, s. f. (Do grego xenas,
e graphos). Termo didáctico. Conheci-
mento, estudo das linguaa -estrangeiraa.
— A sciencia que trata dé conhecei' as
línguas estrangeiras.
— Tratado sobre esta sciencia.
XENOMANIA, s. f. Mania de somente
gostar do que é estrangeiro, e dos costu-
mes estrangeiros.
— Mania e gosto de viajai.
XEQUE, s. m. Chefe de cabilda, ou
tribu, príncipe ou regulo. ■^— «Ao qual
Mouro AiFonso d'Alboquerque fez hon-
ra, e mercê, e leixou em sua liberdade;
porque na prática que teve com elle níos-
ti-ava Ber quem dizia, e delle soube. Af-
fonso d'Alboquerque muitas cousas da-
quelle estreito, e príricipalmente do Pres-
to João, a que elles chamam Rey de Aba-
sia, por a muita communicaçSo que teve
com 03 seus uaturacs quando era Xeque
na liba Maçuá tilo vizinha a povoação
Arquico, que (como escrevemos) he do
Preste. í Barros, Década 2, liv. 8, cap.
2. — f Esta cabeça do Xeque mandou
Nuno fernandez poer em hum pique so-
bre huma das portas da cidade, pela qual
03 Mouros dauam muito dinheiro, mas
elle a nam quis dar se nam no concerto
das pazes que de ahí a poucos dias feze-
ram oa Árabes de Xerquía, em que hum
dos pontos prlncipaes, foi que lhe auia de
dar a cabeça deste Xeque, porque fora
antrelles hum dos mais honrrados, e mí-
Ihor caualloiro.» Damião de Góes, Cbro-
nica de D. Manoel, part. 3, cap. 34.
1020
XIFA
XERAFIM, s. VI. Vid. Xaraam.
f XERANTHEMO, «. m. Termo do botâ-
nica. (Jenero da família das compos-
tas.
XERASIA, 8. /. (Do prego xSrasia).
Termo do pathologia. Doença qiio dá nos
caholloB, que ob impodo de crescer, o oh
torna nirnilhantes a luna pennugom co-
berta de pó.
XEREL, ». m. Vid. Xarel.
XEREM, s. m. Appcllido naual do pes-
soa».
■j- XEREZ, s. m. Vinho da cidade d'c3-
to nomo na Hcspanha.
XERGA, s. /. Tanno de saceo, grossei-
ro, do que outr'ora se faziam vestidos do
dó (! do luto.
XERGÃO, s. m. Vid. Enxergão.
— - Enxerga mui grossa.
XERINGA, s. /. Vid. Seringa.
XERINGOSA, s. /. Nome dado naa ter-
ras da índia á cólica.
XEROPHAGIA, s. /. (Do grego xeros,
e phaf/Ci). Na primitiva Egreja, abstinên-
cia dos clu-istãos, que durante o tempo
da quaresma só comiam fructos seccos
com j)Tio.
— Termo do medicina. Dieta secca.
f XEROPHAGO, 8. m. Homem que p3e
em«ipratiea a xcrophagia.
XEROPHTHALMIA, s. /. (Do grego xa-
ros, c phthalmos). Termo de medicina.
Ophthalmia secca, caracterisada pela co-
michão e vermelhidão nos olhos, sem in-
flammação, nem lagrimas.
XEROTRIBIA, ». f. (Do grego xeros, e
tribo). Termo de pathologia. Fricção sec-
ca foita com a mão, sobre alguma parto
doente jiara ahi chamar o cíilor.
XERQUE, adj. 2 f/en. — Sella xerque ;
sclla da Xerquia, d'aquolla moda.
XERVA. Vid. Linho.
XESCATEMO, s. «i. Termo de historia
natural. Peixe vulgar da feição de fane-
ca, conliccido também pelo nome de sa-
lema.
XI. O mesmo que Xe, por Se. Vid. Xe.
XIAH, s. m. Termo da Arábia. Im-
perador.
XIBANÇA, s. f. Vid. Chibança, termo
mais correcto.
XIBANTEAR, v. a. Vid. Chibantear,
orthographia prefevivel.
XIBÁO, ou XIBAU, fi. m.—Pé de xi-
bào; nomo do uma dança antiga portu-
gueza.
XIBAR, V. a. Vid. Chibar, termo maia
correcto.
XIBÀTA, s. f. Vid. Chibata, termo
mais correcto.
XIBATAR, V. a. Vid. Chibatar, ortho-
grapliia prcforivel.
XÍCARA, s. /. Vid. Chicara, orthogra-
phia prcforivel.
XICO, A, adj. Termo antiquado. Vid.
Secco.
XIFAROTE. Vid. Chifarote, orthogra»
phia melhor. -
XIRO
XILINDRON, «. 711. Vid. Chilindrao
íjofíoi.
XIMEA. Vid. Sumea.
XIMIO, ». m., o XIMIA, a. f. Mono,
macaco.
— Figuradamdtito : Imitador, aiTcnic-
dador.
XINA, ». /. Vid. Chiúa, orthographia
preferível.
XINEIRO, ». m. Vid. Chineiro, termo
melhor.
XIPATOM, s. 7». O primeiro entro u.i
que governam as hosjedarias, ou esta-
lagens da cidado de Pckin.
f XIPHIO, s. VI. Termo de historia na-
tural. Género do peixes acanthoptery-
gios.
— Termo do astronomia. A Dorcada,
constcUaeào austral.
f XIPHISTERNAL, t. v,. Termo de ana-
tomia. l*eça cU) o.storuo das tartarugas.
f XIPHÒDYMO, adj. Termo de torato-
logia. Monstros xiphodymos ; monstros
compostos de dous corpus distinctos su-
periormente, dos quaes os thorax são con-
fundidos om baixo, mas separados em ci-
ma, e que tem doua membros pelvia-
nos.
XIPHOIDE, s. f. (Do grego íCipAo», e
eidos). Termo do anatomia. Cartilagem
que liça no baixo do esterno, a espi-
nhela.
— Adj. m. Termo do anatomia. Ap-
pendice xiphoide ; appendice alongado
cartilaginoso, que termina inferiormente
o esterno.
f XIPHOIDIANO, A, adj. Termo de
anatomia. Que diz respeito ao appendice
xiphoide.
— Liijamento xiphoidiano, ou costo-x\-
phoidiano ; ligamento extenso da cartila-
gem da sétima co.-tella na face anterior
do appendice xiphoide, onde se insere,
entrecruzando-so com o ligamento do la-
do opposto.
f XIPHOPAGO, adj. Termo de tcrato-
logia. Monstros liphopagos ; monstros re-
sultantes da reunião de doua individues
desde a extremidade do esterno até ao
umbigo commum.
f XIPHOPHYLLO, adj. Termo de bo-
tânica. Que tem folhas ensiformes.
XIQUER. Termo antiquado. O mesmo
que Sequer.
XIRA, s. /. (Do francez chcre). — IVr
boa xira ; ter bom pasto, e bom comer,
como em banquete esplendido.
— Diz-sc comczanas com más mulhe-
res, a que outros denominam pagodes.
XIRE, s. »)i. Termo do botânica. Plan-
ta, espécie de lirio.
XIRIA, s. f. Força, ímpeto.
XIRINGA, s. /. Vid. Xeriuga, e Serin-
ga.
XIRIS, *. t/l. Termo do botanioat Vid.
íris fel ido (planta).
. XÍRÓ, s. m. Teimo . cojLoniftl.. Caldo
de arrozL com sal. . . ,íj ■. ;a
XYLO
XIS, ». m. Uma quantidade incógnita
no problema. — Achar o raii/r de xis.
XISGARAVIS, í. M. Termo popular. E'
mu xisgaravis ; ó uma figurinha entre-
metti>la, esperta,
XISTE, «. 7(». Vid. Chiste, orthogra-
pliia preferi vel.
XÓ. Interjeição, que serve para man-
dar parar as bijeta».
XOCHIGAPAL, «. VI, Arvore da Ameri-
ca, cuja madeira e cortiça tem um chei-
ro agradavol.
XOCOLATE, ». m. Vid. Chocolate, ter-
mo meliior e mais conecto.
XOFRANGO, «. m. Termo de zoologia.
Ave de rapina.
— Outrora Orita-oeeuê.
XOFRAR. \id. Chofrar.
XOFRE, «. f/i. Vid. Chofre.
XOPRA. Interjeição popular a<Jmirativa.
XORCA, ». /. Manilha ou argola, que
alguns bárbaros trazem nos braços, e
pernas, e talvez com pedraria.
— Vid. Axorcas, e Exorca.
XORRO, «. m. Vid. Jorro, pela simi-
Ihança que tem a pronuncia de x, ou eh
com j. .
XOUFARIA, ou CHOUFARIA, s. f. Ca-
sa onde estão as forjas, para reduzir o
ferro a barra.
XUÉ, adj. 2 gen. Vid. Chué.
— Ir vestida muito xué ; com pouca
roupa sobre o corpo, com roupa de baixo
preço, ou que faz pouca roda naa saias.
— FazeTida xué ; de pouco corpo e sub-
stancia.
XUMBERGA, s. /. Vid. Chomberga.
XUPAR, V. a. Vid. Chupar, termo mais
correcto, e orthographia preferível.
XUPISTA, «. 2 gen. Pessoa entregue
ao vieio de beber, e de embebedar-se.
— Figuradamente: Vid. Chnpista.
XUQUETOR, s. «1. Talvez erro por Exe-
cutor.
— Também pôde significar o que anda
ajuntando, e mendigando pedaços de pSo,
e d'elJes se nutre.
— Joquetador, o que brinca, graceja-
dor.
f XYLENO, 8. m. Termo de chimica.
Carbureto de hydrogeneo liquido ferven-
te a 13<r.
-}■ XYLHARMONICO, *. m. Instrumento
de musica inventado i-ecentemcnte.
1.) XYLO. Palavra que eerve de prefi-
xo a muitos termos technieoa.
2.) XYLO, «. m. Termo de botânica.
Algodoeiro, ou arbusto que produz o al-
godão.
XYLOALOES, s. m. Termo de pbarma-
cia. Lenho do .tloes; pau aromático oriun-
do da ludia; nome composto do grego
.v!/lon, pau, c de aloes.
' XYLOBALSAMO, s. m. ^Do grego xy-
lon, e balsamoti). Nome da arvore que
produz o balsajnp da Judêa, ou do Egy-
pto. . jl : ..- ^ .
— l^ome do pau d'^ta arvore.
XYLO
XYLO
XYST
1021
f XYLOCARPO, adj. Que tem fructos
linhosos.
f XYLOCOPE, adj. Termo de historia
natural. Que corta o pau.
f XYLODIA, s. f. Termo de botânica.
Género de fructos linhosos, análogos á
avell.ã, mas sem cúpula.
f XYLOGENO, s. m. Termo de ehymi-
ma. Substancia lignificante, caracterisada
por uma solubilidade fácil e completa na
potassa cáustica, e pelo contrario, por
sua insolubilidade, ou mui difficil dissolu-
ção no acido sulphurico. O xylogeno en-
contra-se na parede primaria das cellulas
das plantas, e nas camadas de densidade
de todas as cellulas lignificadas.
XYLOGRAPHIA, s. /. (De xylon, egra-
pAos). Entre os antigos, escriptura sobre
folhas de madeira.
— Arte de imprimir em madeira.
— Arte de imprimir com caracteres de
pau, ou com pranchas de madeira, nas
quaes são gravadas as letras.
I XYLOGRAPHICO, A, adj. Que diz
respeito á sylographia.
— Impressão xylographica ; impressão
com caracteres de pau.
f XYLOGRAPHO, s. m. Gravador em
madeira.
— Homem que se occupa da xylogra-
phia.
XYLOIDEO, A, adj. (Do grego xylon, e
eidos). Que se assemelha á madeira, que
provém de um corpo linhoso.
f XYLOIDICO, A, adj. Termo de ar-
chitectura. Ti/po xyloidico ; typo sup-
posto de architectura em madeira, pelo
qual se fazia a architectura gothica.
t XYLOIDINA, s. /. Termo de chimi-
ma. Matéria mui combustível, obtida pela
decomposição ao frio dos principies neu-
tros vegetaes pelo acido azotico.
•j- XYLOLATRA, s. m. Homem que ado-
ra Ídolos de madeira.
— Adoração dos Ídolos de madeira.
XYLGLATRIA, s. f. Idolatria dos xjlo-
latras.
f XYLOLITHO, s. m. Pau petrificado,
pau fóssil.
f XYLOLOGIA, s. /. (Do grego xy-
lon, e lagos). Tratado, historia dos bos-
ques.
I XYLOMANCIA, s. /. Adivinhação por
presagios tirados da disposição de certos
bocados de pau secco, que se encontram
pelos caminhos.
t XYLOMYCO, A, adj. Termo de botâ-
nica. Diz-se dos cogumelos que crescem
na madeira.
■j- XYLON, s. m. Termo de chimica.
Cellulosa do pau, e dos invólucros dos
fructos duros.
XYLOPHAGO, s. m. Termo de entomo-
logia. Insecto coleoptero que vive nas
madeiras velhas.
-~Adj. Que roe o pau. Vid. Lignivo-,
ros.
f XYLOPHAGIA, s. f. Acção do inse-
cto que roe o pau, que se nutre do pau.
t XYLOPHONE, s. m. Termo de musi-
ca. Instrumento composto de uma argola
de pau de pinho descansando sobre almo-
fadas de palha, os toques das quaes se
ferem, e que produzem um som mui sin-
gular, e de uma qualidade toda particu-
lar.
XYLOPHORIA, «. /. (Do grego xylon,
e2>herô). Festividade dos hebreus no mez
de setembro, no fim das solemnidades dos
tabernáculos, em que cada um levava a
lenha ao templo para o fogo sagrado.
f XYLOPHORO, s. m. Cada um dos sa-
cerdotes judeus que accendiam, e entre-
tinham o fogo sagrado,
f XYLOTOMO, A, adj. Termo de zoo-
logia. Que corta o pau.
I 1.) XYSTO, s. m. Termo de antigui-
dade. Entre os gregos, pórtico coberto
para a palestra.
— Entre os romanos, logar descoberto
servindo de passeio.
f 2.) XYSTO, s. m. Termo de entomo-
logia. Género de dipteros.
íir^"^ s. m. Vigésima quarta letra
k /^^^ do alphabeto, chamada ipsi-
^:3 h^^. Como abreviatura, Y, na
idade media, na numeração
valia 150; com um traço horisontal por
cima 150:000.
— Em álgebra, designa muitas vezes
uma incógnita, Quando ha duas incógni-
tas n'um problema a primeira designa-
se com X, e a segunda com y ; havendo
mais, a terceira com z.
— Na transcripção das palavras gre-
gas ou na representação graphica d'algu-
mas palavras do fundo da lingua, mas
d'origem grega, o y serve para represen-
tar o V que os gregos modernos pronun-
ciam, como nós fazemos, como i, mas
cnjo som era idêntico ao do u francez,
allemão ii, isto é, era um som interme-
diário entre u e i. Na orthographia pho-
netica deve evitar-se o signal y, sempre
que este represente mero som vocálico,
como em phjsica, phjsiologia, etc, que
se escreverão, como fazem os hespanhoes,
Jisica, fisiologia, etc.
— Alguns authores propõem o signal
y para representar o i consoante ou pa-
latal que temos nos diphthongos ai, ei, oi,
ui, quando seguidos de vogal, como em
arraia, raio, cato, saio, meio, veio, seio,
moio, poio, cuia, etc, som idêntico ao
que os inglezes tem em year, etc, os
^emães em jakr. Moraes era d'essa opi-
liião, assim como Fernão d'01iveira.
— Nos antigos manuscriptos, sobretu-
do nos anteriores á invenção da impren-
sa, o emprego do y por i corria parelhas
com o do r por u; assim encontramos
j$to poT isto, etc.
— O y escreve-se hoje em oertas pala-
vras de origem não grega em que elle se
acha nas ligaçães ia, ie, io, iu, iniciaes ;
n'as8e caso o y representa o t consonan-
ttil. Em nenhumas palavras verdadeira- [
mente portuguezas se encontram iniciaes I
como ligações, excepto em ia, iamos, do
verbo ir. Exemplos de palavras estran-
geiras usadas em portuguez são: jacht,
yankee, jard, Yedo (nome próprio de lu-
gar: cidade do Japão), Yoga, Yuju (em-
barcação chineza), jucca (planta, pala-
vra caraiba). De todas essas palavras de
origem estrangeira, e usadas geralmente
só na linguagem scientifica ou pelas pes-
soas instruídas, a única que penetrou mais
no fundo da linguagem foi yacht que es-
crevemos hiate, para indicar com o h que
o i tem um som especial aqui. Note-se
que todas as mais palavras que se e;
crevem com hia, hie, hio, inicial, são
termos scientificos ou didácticos ; pôde
aíBrmar-se, que além do imperfeito de
ir nenhuma palavra portugueza popular
conhece o i consoante inicial, á excepção
do termo adoptado do inglez hiate. A
aversão que o portuguez possue por um
similhante som inicial manifesta-se na
transformação que faz d'elle em j n'al-
gnmas palavras, mesmo d'introducção sa-
bia; taes são: jerarckia ao lado de hie-
rarchin, jerogJifo ao lado de hieroglypho.
Comp. ainda Jeronymo de Hieronymus
e a palavra d'introducção relativamente
moderna jarda do inglez yard. Notem-
se ainda as formas jambo por iamho, e
certas transcripções de palavras orien-
taes, como jogos por yogos^ jogui por
yogui, e reconhecer-se-ha que o i nas li-
gações alludidas é para nós um verdadei-
ro i consoante, como tal pouco conforme
ao génio da nossa lingna e portanto assi-
bilado do mesmo modo que o j latino,
que era um i consonantal, dietiucto do
som qne lhe damos.
— O testemunho do nosso grammatico
Fernão d'01iveira confirma a pronuncia
consonantal do i medial nas ligações men-
cionadas aia, eio, etc. — «Esta letra y
que chamamos grego tem a figura v con-
soante se não que estende hua perna pa-
ra bayxo ficando-lhe a bocca para ci-
ma toda via : da qual alghuns poderão
dizer que não he nossa : mas eu lhe da-
rey offiçio na escriptura das nossas di-
ções próprias : e he este que as mais das
vezes quando vem huma vogal logo trás
outra nos pronunciamos antrellas huma
letra como em moyo, seyo, meyo, joyo,
e outras muitas a qual letra a mi me
parece, ser y e não i vogal, porque el-
la não faz syllaba por si; nem tão pou-
co j consoante na força que lhe damos,
mas em outra quasi semelhante aquella
muito enxuta sem nenhuma mestura de
cospinho e nestes taes lugares poderia
servir esta figura y e se nSo he ociosa.»
Fernão d'01iveira, Grammatica de lin-
goagem portuguesa, cap. xn\ — «Y gre-
go tem dous ofícios : serve no meo das di-
ções, às vezes, como mayor, veyo. E ser-
ve no fim, das dições sempre : como, áy,
páy, tomáy, etc.» João de Barros, Da Or-
thographia. — « Y he letra vogal dos Gre-
gos, que os Latinos receberão em seu al-
phabeto, para com ella screverem os no-
mes Gregos, que naturalmente teem co-
mo nós também devemos fazer. Mas assi
os Hespanhoes, como os Francezes usão
delia mal : porque indistinctamente se
aproveitão delia, em lugar de í vogal, em
vocábulos originalmente Latinos, ou pró-
prios da lingua Hespanhol, e Franceza,
que nSo podem teer aquella letra, que hç
propriamente Grega. A qual teve muita
diferença de i na pronunciação, posto que
ao presente a não sintamos, como he em
muitas outras letras, a que não damos
seu próprio som, por se perder com o dis-
curso do tempo. De que he grande argu-
mento, que os Latinos antigos, quando
screviSo com ^uas letras as diçSes, em
que entrava y em logar delle, punhão, e
pronunciavão u, como neste nome, Syl-
la, por o qiial dizião, Sulla, etc. como se
usa na trasladação de muitos vocábulos
da lingua Grega na Latina. Porque por
mylos, dixerâo muios, e por ihynnos,
1024
YDOL
YR
íhunnos, c por myg, mus, ctc, por sam-
byca, sambuca. Porque niato scguiào aoa
ctoolico3, que pronuiiciavjlo o y como u.
E aasi verão, que cm muit<js nomes ílre-
gos, mudarilo ca Latinos o y om o, como
do nyx, nox, de stijra.i:, stora.c, de -myle,
mola. O que quis lembrar, para que sai-
bílo, quanta differença tinha o y do i na
pronunciai;ri(), que não so podia exprimir
por outra Ititra mais propriamente, que
per u ou o com que tinlia mais semelhan-
ça. Peloquo está claro, que na pronuiicia-
çiío tinha manifesta differença do t ainda
que agora a nilo alcancemos. Porque so não
tivera soido, não o accroscentarãu os Gre-
gos ao seu alphabeto, como letra differen-
te do » o das outras vogaca. Que acerca
delles, assi como distão as letras na figu-
ra, assi distão na pronunciarão. — Do
que fica convencido o abuso, dos que fa-
zem esta letra consoante, como o j. Por-
que sendo de sua natureza sempre vogal,
screvem Yeruuímo, e Yuão, como Se vêo
oní moedas do alguns Ruis do Ilespanha,
onde pelo Y denotavão, Yoanne, per a
maa orthographia de seus ministros, que
derão traça para ellas. O que os Reis não
devião commetter, senão a homens esqui-
sitamente doitos, e mui avisados. Porque
como as moedas correm muitas terras, o
muitas uiãos, fica mui exemplado o acer-
to, ou desconcerto delias. Assi que hemos
de seguir nisto os Latinos, e soomente
screver Y- com as dições Gregas, de que
usamos no ITespankol, em que vem a di-
eta letra, o não originalmente Latinas,
ou HespauboeSj como: HUronymos, Hip-
jJoUto, hydropico, crystal, mjjrrha, mijs-
terio, e outros infinitos, que os versados
na lingoa Grega sa,bcrão. Dos quaes poe-
rel 03 que podem vir sob certa regra : co-
mo são todos 03 compostos d'esta preposi-
ção, syn, que quer dizer cííw, e acerca de
nós, com, como : syllaha, syllogismo, sy-
nagoga, syncopa, syndico, syiiodo. — Item
03 nomes derivados de chryson, que quer
dizer ouro, como Chryseis, Chrysippo,
Chrysogono, Chrysostomo. — Item 03 de-
rivados do lycus, que quer dizer lobo, co-
mo: Lycaon, Lycaonis, Lyconieães. — Item
03 derivados de poly, que quer dizer mui-
to, como: polypos, F-olycratcs, Polydoro.
— Item os derivados do hydor, quo quer
dizer agua, como: hydria, hydra, hydro-
inco, hydropesia. — Item 03 derivados de
physis, quo quer dizer uatui-oza, como:
pkysico, metaphysico, o physionomia, per
o qual 03 idiotas dizem phylosomia. —
Item 03 compostos da preposiç-ão hypcr,
qv\e qiicr dizer, super, ou ultra, como :
hyperbole, hyperhaton, hyperboreus. — Item
03 compostos de hypo, que quer dizer sob,
como: hyporrita, hypotheca. — No que so
deve advertir, que todaa as vezos, quo se
a dição so começar cm y sempre vai sem
aspiração, como uos exemplos acima di-
ctoi. — - Item ha alguns nomeâ Latinos, a
quç.dão origem Grega, que so escrevem
com y, como sylva, de hyle e considerar
de sydus. O que om considerar n2o admit-
tiria porque sidus ho nome Latiuo (como
diz Macrobio sobre o sonho de ScipiDlo), e
diz-sc de sido, quo quer dizer estar fixo,
que he mais vorisimcl otymologia, quo a
que lho dão do syn, o de eidein, palavras
Gregas, que qierem dizer juntamente
veer. — Polo que fique por regra, que to-
da a dição screvamos por * Latino, tiran-
do os vocábulos Gregos, em que entra y,
porque da mesma maneira os screverc-
mos.» Duarte Nunes do Leão, Orthogra-
phia da Lingoa portugueza. — tUsamos
do ypsilon, SI) nas jialavra» de origem gre-
ga que são menos trilhadas do povo, co-
mo hype.rbole, lyra. N^s que porém tem
passado ao uso vulgar, o mesmo uso dis-
farça já o 8crvirmo-n03 do. i pelo y, e es-
crever por exemplo : giro, pigmeu, Ja-
cintho, labirintho, abismo, crisol, pirâ-
mide, rima, mártir, sindicar, Jerónimo,
Ilippolito, etc. E' porém abuso empregar
o y em palavras quo o não tem na sua
origem, como ley, rey, meyo, comboy.t
Soares Barbosa, Grammatica philosophi-
ca da língua portugueza, pag. 49 (ij.* edi-
ção).
YALMA, *■. /. Termo popular, por
Alma.
YALOTECHNIA, s. f. (Do grego hyalos,
e technc). Arte de trabalkar o vidro.
YANDON, s. m. Género de abestniz
maior que homem, que ha na ilha de S.
Lourenço.
YAPÚ, s. m. Termo de historia natu-
ral. Pássaro do Brazil semelhante á pega.
YCHÃO. Vid. Uchão.
YCHECO, s. m. Termo antiquado. En-
xeco.
f YDA, s. /. Vid. Ida, termo mais cor-
recto. — «Os Capitães ambos puseraõ es-
ta yda em conselho cos mais que para is-
so forão chamados, o se assentou por pa-
recer de todos que quatro soldados o fos-
sem ver em companhia do Vasco Mar-
tins, e lhe levassem a carta que António
da Sylveira lhe mandava, o que assi se
fez.» Fernão Mendes Pinto, Peregrina-
ções, cap. 4. — «Surgindo António de
Faria nestas ilhas huma quarta feira pela
menham, Mem Taborda e António Auri-
quez lhe pedirão licença para irem dian-
te dar recado á povoação de como elle
era chegado, e saber as novas que avia
na terra, c se se dezia ou soava por lá
alguma cousa do que ellc fizera em Nou-
day, porque se a sua yda lá prejudicasse
cm alguma cousa á Begurança c quieta-
ção dos Portugueses, se iria invernar á
ilha do PuUo Ilinhor como levava deter-
minado.» Fernão Mendes Pinto, Peregri-
nações, cap. G7.
j YDOLO, «. )>i. Vid. ídolo, orthogra-
phia preferivel.
E rao<;.as vam prometter
a ydolot virgiudado,
e BO vam ofFereccr,
e por bí mertinag corromper
em sinal de castidade.
OABCIA DS BEZEBDB, MIBCZLLiaEA .
YEMAL. Vid. Hiemal.
YETIM, 8. m. Termo de historia na-
tural. Mosquito do Brazil, que pica com
o ferrão tão subtil, que passa as vestidu-
ras leves como se fora agulha.
YLM0FARI2, *. r/i. Vid. Almofariz, ter-
mo mais correcto.
YOSCIANO. Vid. Meimendro.
YPSILOIDE, s. e adj. /. Termo de ana-
tomia. Diz-se de uma sutura do cranco.
YPSILON, s. m. O Y grego; a vigé-
sima quinta letra do alphabeto portu-
guez.
-J- YR, V. n. Vid. Ir, orthographia pre-
ferível.— »E depois de muytaa praticas
que sobre este caso passarão, os ditos
procuradores saãmente, o sem cautella
o aconselharam que pvara ellc acidar que-
bras c achaques, que no pouo se^deziam
auer antre el Roy, e eUe, e também por
que assi era rezam, elle se dcuia yr pêra
o Príncipe, e scruillo, o festcjallo cm suas
terras, -e yr com elle ate a corte.» Gar-
cia de Rezende, Chrouica de D. João II,
cap. 41.
E pellas mas andauam
grandes barcas, que aaluaaã
a gente também com cilas:
podaram yr caraucllaa,
pois tam alto neuegauam.
oiBCLi DE reze;«db, suscellanka.
— a Se a fraca e molheril natureza me
dera licença para daquy onde lico yr ver
a tua face, sem com isso pôr nódoa no
meu honesto viver, crê que assi voaria
meu corpo a yr beijar esses teus vagaro-
sos peÍ3, como o e3Íaiauido açor no pri-
meiro Ímpeto de sua soltura.» Fernão
Mendes Pinto, Peregrinações, cap. 47. —
«O perro do cacíz, que ficiiva por Capi-
tão na tranqueira, tingindo querello yr
ajudar a continuar aquelle bõ principio,
sahio fora cõ obra de quinhentos homens
que tinha comsigo, o que vendo hum Ca-
pitão dos inimigos Mouro Malavar, por
nome Cutiale Marcaa.» Ibidem, cap. 27,
— «De maneira que ate os fins do reyno
se pode navegax e yr em embarcações.
Qualquer capitam ao longo do mar pode
cm muito pouco espaço .ijuutar duzentos,
ate mil navios so lhe forem neceatarios
porá pelejar. E nam ha lugariubo ao lon-
go do rio que nam este qualbado de em-
barcações grandes o pequenas.» Frei
Gaspar da Cruz, Tratado das cousas da
China-, cap. i^. — «E porque todos nas-
cem incertos de sua salvaçam nam saben-
do se ham do escapar das tenções, e pe-
rigos d'este mundo, e onde ham de yr
parar : por tar.to com muyta razatt se
prautea o oõcebimento, e nascimento da
YRA
YSTO
YXEC
1025
Virgem sagrada, nam o cõcebimento e
nascirneuto de todos os peccadoros. » Frei
Bartbolomeu dos Maityres, Catecismo da
doutrina christã.
YRA, í. /. Vid. Ira, oithographia pre-
ferível.— xE vendo muitos Fariseus vir
a ouuir sua pregaçam, e receber seu ba-
ptismo: dizia-lhes, Filhos de biboras pe-
çonhentos como vossos pays, quem vos
aconselhou que viésseis buscar remédio
pêra escapar da yra que cedo ha de vir
sobre os incrédulos, e endurecidos? Ora
nisto se vera se vos conuerteis de coraçam,
se fizerdes obras dignas de gente que pro-
fessou penitencia, e emenda de vida.» Fr.
Bartholonieu dos Martyre?, Catecismo da
doutrina christã. — ■ « Andauam os homens
todos de guerra contra DEOS, obstina-
dos em continuas desobediências e rebe-
liões, multiplicando cada dia ofFensas e
abominações, enthesourando e acrescen-
tando de cada vez mais no thesouro da
yra de Deos contra si. Que misericórdia
se podia em tal tempo esperar do Ceo?
Auia Dauid lamentado e dito.» Ibidem.
— «E porque os caminhos que vem an-
dar, e as moradas em que ha de pousar
sam os corações dos homens, por isso nam
aja coraçam alto por soberba, e presum-
pçam, nem bayxo por desconfiança e pu-
silanimidade, nem escabroso, e áspero por
yra, por braueza, por descharidade, e
deshumanidade, mas em todos resplande-
ça charidade, e humildade.» Ibidem.
YRIAN. Termo antiquado. Esquadrão,
exercito.
7 YROSO, A,- adj. Vid. Iroso, ortho-
graphia prefcrivel. — ■ «Tragam este man-
(iamento diante dos olhos os brigosos, e
yrosos de condiçam, que por qualquer
occasiam armão arroydos, ferindo, e ma-
tando. E nniytas vezes acontece que nam
somente corporalmente, mas também eter-
nalmente matam. Porque acontece estar
em peucado mortal a pessoa a quem ma-
tam.» Frei Bartholumeu dos Martyres,
Catecismo da doutrina christã.
•j- YSTO. Vid. Isto, ortographia prefe-
rível.
Mas ysto vai d'aqucll!i arte
quando se entro montes brada,
ho toora he cm hunia parto
c em outra ho a pancada.
CHRISTOVÂO FALclo, OBRAS, pag. 24.
Cuidado sem esperança
he o qne eu por voa cuidei,
seguindo por firme lei
cm maÍ3 mal menos mudança,
ysto cuido o cuidarei.
A males que nào tem cura
esporal-o da ventura
vam esperança seria,
que esperando creçcria
cuidado, desa ventara.
IBIDEM, pag. 31.
YTTERBITE, ou YTTERBY, s. m. Ter-
mo de mineralogia. Mineral achado na
Suécia, em Ytterby, d'onde deriva o no-
me; contém a terra denominada yttria,
silicia, ferro, oxvdo de mangav.esio, etc
YTTRIA, ou GADOLINITE, s. /. T«rra
descoljerta por < Uiduiin, no metal ytter-
bite. Vid. Ytterbite.
— • Oxydo de yttrio.
f YTTRICO, A, adj. Termo de chimP
ma. Diz-se de oxydo de yttrio, e dos saes
produzidos por este oxydo.
YTTRIO, s. m. Termo de chimica.
Metal que tem por oxydo a yttria.
YTTRO. Contracção \le Yttrio, para os
termos compostos,
— Yttro-ce)-ííe, ou yttrio-ce?-i7e; mine-
ral em que se acha misturado o cerio com
o yttrio.
— YtlTO-fantalite: outro metal ue yt-
trio com o tântalo.
— YttTO-coIomòUe; outro metal do yt-
trio com o colômbio.
YUCA, s. /. Termo de botânica. Gé-
nero da familia das labiaceas ; compôe-
sa de plantas vivazes de haste elevada,
mais ou menos herbáceas, algumas vezes
subterrâneas, de flores em panieulas ter-
minaes.
— Batata da America.
YXECO, s. m. Termo antiquado. Vid.
Enxeco. =Em Viterbo, Elucidário.
voL. V. — 129.
^ í. jíi. Vigésima quinta letra
fp^ ^^ do alphabeto, chamada ze.
— Nas letras numeraes Z
vN f Ay^^^ vale 2:000 e cora um traço
^5s^^ por cima 2.000:000.
— Em numismática, Z nas moedas fran-
cezas indica que foram cunhadas em Gre-
noble.
— Nos mauuscriptos gregos, o Z põe-
se diante das palavras suspeitas.
— Ornato ou outro objecto em fórrãa
de z.
— A letra z serve em portuguez para
representar um som que no alphabeto
physiologico é classificado como sibilante
ou continua dental branda, isto é, como
a branda ou sonante de s. Em latim o z
servia para transcrever o zeta grego e ti-
nha o som de dz (som composto); esse
som composto degenerou no simples que
representamos por z; mas não é essa a
única origem d'esse som em a nossa lin-
guagem. Vejamos, com relação ao latim,
as fontes principaes do z portuguez:
— 1." Z provém de lat. z, represen-
tando o zeta grego. Inicial: zelo, zelador,
zephyro, zewgnia, zizyi>ho, zodíaco, zoilo,
zona, zea, zoina, zingiberaceas, zizania
(ou sizania), zoologia, etc. ; medial em
azymo, etc.
— 2.° Z provém de c latino: dizer [di-
cere), fazer (facere), nuzer ant. (nocere),
jazer {jacere), vizinho (vicinus), donzel-
la (dominicellà) , azeo (acinus), prazer
(placere), prezes ant. por preces, etc.
— 3." Z provém muitas vezes de ti (se-
guido de vogal latina), por exemplo em
razão de ratioaem, prezar de pretiare, e
sobre tudo nos suffixos eza, iza, de -itia.
— 4.° Z provém de s latino entre vo-
gaes ; sempre que esse som latino se achar
isolado (não dobrado ou geminado), é re-
gularmente representado por z em por-
tuguez (na pronuncia) ; mas n'esse caso
a orthographia etymologica busca repre-
sentai-o por s.
— 5." Z provém excepcionalmente d'ou-
tros sons latinos, como de g (diante de
e, i) em esparzir por espargir, Jorze
por Jorge.
— Vejamos agora de que soi^s d'outra3
linguas provém z.
— Asíaz numerosos são os exemplos da
origem árabe de z. Inicial : zagal (ára-
be zagaT), zaino (açamm?), zamboa (zan-
hô',a), zarabra (zamara). Zarco, nome de
homem, por exemplo, appellido do des-
cobridor ua ilha da Madeira (árabe zar-
ca, mulher d'o!hos azues, d'onde hespa-
nhol zarca com' a mesma significação ;
em hespanhol faz-se o masculino zarco,
homem d'olho3 azues), zahnedina (çahib
al-medina), zirbo {therh), zoina {zaniyá),
zorame ou sorame [zolham). N'uns casos
como se vê o z inicial provém do za ára-
be, n'outros de çad e excepcionalmente
de tlia em zirbo. Medi;ú z pi"Ovém de za
árabe, por exemplo, em azeite, azeitona,
azougue, azáfama {az-zahma), azagaia
[zagaya, palavi'a berbere), azerve {az-
zerb), azinhaga {az-zan{a)-ka)., azinhabre
{az-zindjar) , azul {lazuicerd, palavra per-
sa), azurracha (az-zalladja), mais raro
de sa, como em azaria (as-sariya), azi-
mut (as-samt).
Taes são as principaes origens do z
portuguez. Satisfeita a questão etymolo-
gica, vejamos a questão orthoepica, e a
questão orthographica. Em quanto a pro-
nuncia nada mais simples : z inicial e me-
dial representa em portuguez um único
som, o som que acima definimos; do z
final fallaremos mais abaixo. Em quanto
a orthographia a questão é um tanto mais
complicada, porque esse som que é a con-
tinua dental branda, se representa tam-
bém por s entre vogaes e assim se escre-
ve : casa ou caza, asar ou azar, asa ou
aza, rasuo ou razão, raso ou razo, i^ezo
ou peso. A orthographia phonetica resol-
veria a questão facilmente conservando
para esse som unicamente o signal z. Mas
como a orthographia etymologica é a que
predomina, convém assentar algumas re-
gras.
Um uso perfeitamente estulto e ridícu-
lo é o que sem respeito pela phonetica,
nem pela etymologia, guiando-se apenas
por um capricho disparatado, quer que se
escreva z depois òq e g. i, e s depois das
outras vogaes. Este disparate que desgra-
çadamente tem muitos sectários deve ser
condemnado com os termos mais fortes,
assim como todos os preceitos orthogra-
phicos do mesmo jaez. O som continuo
brando dental de despesa, mesa, pisa,
empresa, etc. provém dum s latino (em la-
tim dispensa, mensa, pinsare, emprehen-
sa)i logo conforme á etymologia escreva-
se s, assim como se escreve em casa, ra-
so, caso, vaso, uso, etc. ; mas se se es-
creve despeza, meza, empreza, pizar, etc,
isto é, se se representa o som indicado
por z, seja-se coherente e escreva-se ca-
za, cazo, vazo, razo, itzo. Então em vez
d'um erro haverá um systema, que tem
a seu favor fortes argumentos : estar-se-
ha no campo da orthographia phonetica.
Se falíamos em tal erro tão de pausado,
é porque o vemos muito espalhado e até
adoptado por muitos annos na folha offi-
cial do governo portuguez. Tal uso con-
demnado veremos qual o melhor campo
no sentido etymologico.
1." No começo das palavras escreve-se
sempre z e nunca s para representar o
som continuo dental brando, seja qual
for a origem d'este;
2.° No meio das palavras depois de
consoante ou vogal nasalisada represen-
tada por an, en, in, on, un, esse som é
sempre representado por z, seja qual for
a sua origem;
3." No meio das palavras escreve-se
sempre z para representar aquelle som
sempre que elle representa o z latino ou
zeta grego ou um som árabe ou d'outra
qualquer lingua oriental ;
1028
Z
4." Encrover-se-ha s no moio das pala-
vra:), oiitro vo;íae,f, para reproscntar osso
suDi quaii'lo oUo pruvóiii do s latiui) ou
gro^^o ou de qualquer llnjtfua europêa mo-
derna, ein que esae s represente a conti-
nua forte ou a branda ;
5.° Escrever-se-ha z no meio das pala-
vras quando o aom indicado provém de c
óu ti latino.
!EÍ3 re;,'raa simples e fundadas sobro a
historia das linguaa e tendências mais ge-
racs da nossa orthograpliia nas dideron-
tes epoehas do seu desenvolvimento, nas
quacs se podem firmar os que optam pela
orthograpliia etymologiea.
Uma quostào assaz embaraçosa é a do z
e s finat;.-». Uigorosanientc a sibilante den-
tal final portuguesa, tal como cila 6 pro-
nuncia'ia u'um tào grande numero do pa-
lavras, por assim dizer cm (juasi todas as
palavras da língua, pois se aeha no plural
de todos os substantivos e adjectivos, dos
pronomes, om três ftjrmas de cada tempo
dos verbos (á excepção do perfeito em
que Si) a primeira pessoa do plural dos
regulares termina om s), em vários ailver-
bios, preposições e interjeições, esse som
tão frequente não é o mesmo que se ou-
ve inicialmente, por exemplo, em são,
seis, ete., ou medialmente em j)ersa,
corsa, J/osso, etc, nem tão pouco o som
inicial de zoilo, zelo, etc, ou o do z me-
dial de casa, braza, etc. ó um s mais
fracamente articulado que o de são e
persa, mas não c ainila o z de braza. Co-
mo represental-o? Não havendo para esse
som intermediário um signal próprio pa-
rece indifferente represental-o ou d'um
modo on d'outro ; mas onde so irá bus-
car a razão da preferencia ou do uso pa-
rallelo d'um ou outro signal? No uso vul-
gar escreve-se z geralmente quando pre-
cede vogal accentuada e que a palavra
não é uni plui'al ou a segunda pessoa do
angular d'um verbo, afora alguns ou-
tros casos ainda om que o iiso vaeilla e
de qiie fallaremos ; assim se escrevem
l.^.Mónosyllabos: a) substantivos sin-
gular: az, Braz, gaz, paz, raz, Vaz,
grez, fez^ mcp, j)ez, tez, rez, vez, criz,
giz, liz, triz, coz, foz, noz, voz, cruz,
luz, ohuz, puz; b) partículas : zaz, traz;
c) verbos: faz (e seus compostos), jaz,
praz (o sons compostos), fez, jiz, diz,
quíz, luz (ou luze), puz; d) numeral:
, 2."" De mais d p uma syllaba: a) subs-
íántiVos singular : àgua-niz, alcatruz, al-
paravnz, nnnnaz, anthraz, arcaz, arga-
naz, Barrabae, caòaz, Caiphaz, canabraz,
capataz, canciz, carnaz, cartaz, ãança-
raz, fatacdz, Ferrabraz, gaz, gilvaz, go-
raz, Joaz, lambaz, machacaz, montar-
raz, paparraz, patarraz, peseae, rapaz,
roaz, Satanaz, sequaz, tenaz, Thomaz,
iracanhaz, convez, cnvicz, gorupez, revez,
Suez, vez, arnez, Bardez, calcez, camoez,
camponez, Corlez, desnudtz, doblez, entre-
mez, freguez, gaguez, Imãion/Liz, imlez,
intrepidez, jaez, languidez, viar<jui:z, mor-
bidez, mudez, nudez, pallilez, pavez, pe-
t£uenhez, polidez, rudez, solidez, surdez,
lorquez, viuvez, abaliz, aboiz, actriz, al-
mofariz, aprendiz, Asaentiz, Assiz, Aviz,
Beatriz, bisneclriz, cariz, cerviz, chafa-
riz, c/iaiiiariz, cicatriz, codorniz, dire-
ctriz, embaxatriz, feliz, imperatriz, infe-
liz, juiz, matiz, matriz, meretriz, nariz,
paiz, Pariz, perdiz, pertigriz, j)roiz,
raiz, soòrepelliz, tamiz, íapiz, teliz, ver-
niz; albatroz, alburnoz, aljeroz, arrioz,
Badajoz, cadoz, catrapoz, taruz, retroz,
Queiroz, Munhoz, abestruz, alcatruz, an-
daluz, arcabuz, cuchapuz, capuz, Que-
luz, lapuz, noctiluz, Ormuz; b) adjecti-
vos : audaz, capaz, contumaz, ejficaz, ful-
laz, incapaz, iiiejjicaz, loquaz, mordaz,
perspicaz, pertinaz, primaz, pugnaz, roaz,
sagaz, tenaz, trocaz, vivaz, voraz; ara-
gonez, calabret, camponez, cartaginez, chi-
nez, cordovez, cortez, dinamarguez, escocez,
francez, genebrez, groenlandez, hambur-
guez, hollandez, inglez, irlandez, iroijuez,
islandez, japonez, leonez, malfez, monta-
nhez, montez, norueguez, pedrez, jtescarez,
piemontez, portuguez, sucz, tavanez, tre-
mez, troquez; feroz, lioz, tardoz, veloz; b)
verbos : refaz, etc, apraz, etc, conduz,
adduz, induz, produz, reconduz, reluz,
reproduz, seduz, traduz, transluz, etc;
d) advérbios: assaz, aliaz, airaz, de-
traz.
Eis ahi a maior parte das palavras que
usualmente so escrevem com z final e
todas as incluídas na classe acima indi-
cada, isto é, palavras em que o Z Jinal
é precedido de vogal accentuada e que não
são j^li-i-raeSf nem formas verbaes da «e-
guada pessoa do singular; á mesma clas-
se pertencem também as seguintes, que
porém mais usualmente se escrevem com
s final e algumas nunca com z :
1. três; muitos cscrevLMn também trez;
2. sus; esta palavra renovada pelos
eruditos, apparece naturalmente com sua
ortliograpliia alatinada ; acha-se também
escripta suz;
3. obus, que outros escrevem obuz, com
o s para imitar a orthographia da língua
franceza, d'onde a palavra se introduziu
em portuguez ;
4. Moijsés, Jesus; cuja orthographia
biblica (da Vulgata) ostil geralmente pre-
sente aos espíritos;
5. pus; termo de sciencia, que de maia
se quer distinguir de puz de pôr;
G. Lés-a-lés;
7. vis; termo didáctico;
8. cusc\''S; como a palavra é redupli-
cada escreve-se a segunda parte como a
primeliM e a primeira segundo as ten-
dências geraes não poilia escrever-so cuz.
Vè-se, pois, bem claramente, mesmo
por a razão de ser d 'essas excepções, que
ha uma tendência muito pronunciada pa-
ra escrever as palavra'< da classe indica-
da com z final ; dizemos tendência por-
que não lia nada na nossa orthographia
definitivamente fixo; o z vale não eó
como o signal do som aibilanti; final do
quo tratamos, mas ainda indica que o
acceiito está na vogal antecedente, o as-
sim, quan>lo algum daquelles disylla-
bos 80 escruve com # finai, põc-se na vo-
gal antecedente um acceato ; portuguez
ou portuguCs, indsz ou íwIks, etc, Tào
habituado se está a attribuir ao z finai
esse duplo valor que até quando olle não
é final mas precede immediatamente vo-
gai final accentuada, pondo z em vez de
« se dispensa o accento ; assim José se
escreve Joze.
Sobre que se basêa .um tal emprego
do z y Provém elle meramente do uso,
do arbítrio, ou terá uma razão de ser
mais importante? Sc notarmos que uma
parte das palavras das letras acima da-
das provêem de palavras latinas em que
um c (deante de e, i) occupa o logar de
z portuguez e que sobre a vogal prece-
dente estava em latim o accento tónico,
se soubermos que dz é um dos succeda-
neos de c latino (deante de e ou í) vemos
que nos correspondentes portuguezcs d'es-
sas palavras latinas o z era a orthogra-
phia phonetica e etymologicamenU indica-
da : assim
audaz de audacem,
feliz » felicem,
diz » dicit,
fez » fecit,
Jiz 1 feci,
etc. Note-se que audaz, feliz, etc, não
podiam provir dos nominativos áudax,
félix, como pretenderam os nossos gram-
maticos, mas sim do caso obliquo em que
o augmento syliabico deslocava o accen-
to tónico para a syllaba em que elle se
acha em portuguez ; z pois não esfci aqui
por X latino, mas sim por c; o e do caso
obliquo a que se tinham reduzido o ti,
i, em do genítivo, dativo e accusativo
caiu junto d'e3se som dz por uma lei ge-
ral que nos explica, /hz por faci por /a-
cit, Jiz por feci, dez por dece por decem,
etc.
Como era grande o numero das pala-
vras em que o c, tornado final e dege-
nerado era sibilante dental se achava em
virtude do processo histórico escripto ri-
gorosamente com z, tomou-se esse caso
como norma n'uma epocha em que as re-
lações das coiisas não eram mais conhe-
cidas, e poz-se z nos finaes accentaa-
dos por toda a parte onde um outro prin-
cipio geral e importante não indicasse a
orthographia com s; ora esse principio
apresentava-se nos pliiraes terminados
em « pela regra e na segunda pessoa de
alguns tempos dos verbos; portanto es-
creveu-se e escreve-se as, das (artigo),
mas; dás, estás, vás e não az, daz, ntaz;
daz, estaz, vaz, porque aqui estavam pre-
z
ZAFI
ZAMB
1029
sentes o s do plural dos nomes e o da
segunda pessoa singular dos verbos. As-
sim 71ÓS, vós, como pluraes, se escreve-
ram com s; assim ires em que o z dá
idêa d'um plural, etc. com s também.
Agora applicando os mesmos principies
que para o z e s medial diremos que sob
o ponto de vista strictamente etymologi-
co se deve escrever :
1," z final sempre que a sibilante den-
tal representa um c latino ou um som
árabe ou d'outra lingua oriental;
2.° z final em assaz que representa o
latim satis por intermédio de saís, satz,
sadz ;
3." deve-se escrever s final quando a
sibilante dental final representa um s lati-
no. Assim escrever-se-ha portuguKS, fran-
cês, pois o suf. gentílico ês representa o
latim ensis ; assim se escreverá atrás,
detrás, pois trás aqui representa o la-
tim trans, mes de munsis, etc.
— Vejamos agora as opiniões dos prin-
cipaes grammaticos portuguezes. — «A
pronunciaçào do z zine antr'os dentes
cerrados com a lingua chegada a elles
e 03 beyços apartados hu do outro : e he
nossa própria esta letra.» Feruào d'01i-
veira, Grammatica de lingoagem portu-
guesa, cap. 13. — oZ nào he kuma soo
letra mas abbreviaçào, ou figura de duas
letras, como o x, porque se coraprehen-
dem nesta figura s, d. Porque assi pro-
nunciavão os Gregos, e Latinos, Zacyii-
thos, como se screverão Idacynthos. E a
mesma pronunciaçào teem Ezrás, que
Esdrás. Mas com o tempo perdeo-se a
própria pronunciaçào desta letra, que os
antigos lhe davào e damos-lha agora por
huma maneira, que soa antre s e ç. A
qual letra, porque muitos vulgares a con-
fundem com o s e ás vezes com ç poerei
alguns legares onde a devemos usar. E
com ella screveremos todos os nomes pa-
tronymicos Portuguezes, como de Álvaro,
Alvarez; de Nuno, Nunez; de Pedro, Pe-
rez; de António, Antunez; de Paio, Paez;
de Garcia, Garcez ; de Martinho, 3Iar-
tijz ; de Rodrigo, Rodriguez; de Rui,
Ruiz; de Lopo, Lopez; de Tello, Tel-
lez ; de Gonçalo, Gonçalvez ; de Mendo,
Mendez ; de Vasco, Vaaz; de Lain, Lai-
iiez ; de Bermudo, Bermudez; de Xime-
no, XimeJiez; de Diogo, Diaz; de Ioaii-
ne, lanez ; de Marcos, Marquez. — Item
se screvem com esta letra, os nomes fe-
meuinos denominados, d'outros d'esta fi-
gura: avareza, largueza, fraqueza, sim-
pleza. — Item todos os nomes que na
ultima syllaba tem a com o accento nel-
la, como : arganaz, cabaz, rapaz. E os
que significão augmento, ou abundância,
que as mais das vezes se tomão em maa
parte, como : beharraz, ladravaz, lingua-
raz, truanaz, etc. — Item se screvem
alguns nomes, que teem accento, e e na
ultima syllaba, como : axedrez, vez, pez,
freez, treez, garoupez. E estes são pou-
cos : porque os mais se escrevem por s
ainda que tenham o accento na ultima,
como : Português, Tagrês, Marqcs, revês,
convés, etc. ■ — • «Item se screvem com z
03 nomes, que teendo i na ultima syllaba,
teem o accento nella, como : abuiz, al-
mofariz, chafariz, chamariz, codorniz,
juiz, perdiz, raiz, verniz. — Item os no-
mes, que tesm da mesma maneira na ul-
tima o accento, e o vogal, como albornoz,
algoz, arroz, atros, Badajoz, Estremoz.
E os monosyllabos, silicet, de huma soo
syllaba, que teem o acento agudo : coz,
foz, noz, voz, tirando nós e vós, prono-
mes que se escrevem com s. — Item os
nomes que teem u na mesma ultima com
accento, como alcaçuz, arcabuz. Anda-
luz, alcatruz, Ormuz. E as dições de
huma syllaba, como cruz, cuz : tirando a
primeira pessoa do pretérito prefeito, do
verbo ponho, que he pús, que se screve
com s. — Item se escrevem com esta le-
tra, as terceiras pessoas d'estes verbos,
e seus descendentes : faz, diz, jaz, traz,
como fazia, dizia, jazia, trazia: fazer,
dizer, jazer, trazer. — Item estes nomes
numeraes, dez, onze, doze, treze, quatc/rze,
quinze, dezaseis, dezasete, dezoito, deza-
nove ; duzentos, trezentos. Mas quatrocen-
tos, e 03 mais até mil se screvem por c.
— Item se ha de notar, que por esta le-
tra em si ser dobrada, se não pode do-
brar na scriptura. Polo que he grande
abuso o dos Italianos, os quaes todas as
vezes que o z vem entre duas vogaea, o
dobrão, e dizem, vagnezza, bellezza, dol-
cezza. O que não pode ser; porque os
dous zz teem força de quatro consoan-
tes, que não teem vogaes, a que vão ata-
das. Salvo se dixerem que esta letra per-
deo a própria pronunciaçào antiga das
letras dobradas, e que agora he huma
specie de s que dobrado vem dar nosso
y.s Duarte Nunes de Leão, Orthographia
da lingua portugueza.
ZAADONA, s. /. Termo antiquado. Se-
nhora, mulher livre, forra; ingénua.
ZABANEIRA, s, /. Mulher desavergo-
nhada.
ZABELLO, adj. m. — Cavallo zabello.
Vid. Isabel.
ZABRA, s. /. Pequena embarcação
análoga aos nossos botes, que se usa na
Africa e costas de Biscaia.
ZABUCAES. Vid Sapucaia.
ZABUCAIA. Vid. Sapucaia.
ZABUMBA, s. m. Instrumento seme-
lhante ao tambor, porém muito maior ;
usa-se na musica, militar.
ZABURRO, adj. m. — Milho zaburro ;
milho grande da índia, milho grosso.
ZACOUM, ou ZACUM, s. m. Termo de
botânica. Planta da Arábia, mui espinho-
sa, com folhas parecidas ás do aipo ; pro-
duz fructo3 brancos e amargos.
ZAÇO, s. m. O papa, ou o pontífice dos
bonzos.
ZAFIRA, s. f. Vid. Safira.
1.) ZAGA. Termo antiquado. Vid. Sa-
ga, e Retaguarda.
— O alail, que era como official de
guias, a quem competia ensinar o cami-
nho por onde devia marchar o exercito. '
2.) ZAGA, s. /. Termo de botânica.
Arvore de cujo pau se fazem as zagaias.
ZAGAIA, 5. /. Arma de arremesso,
com que os mouros combatem a cavallo.
— Nome dado aos dardos curtos de que
se servem os habitantes do Senegal, a
maior parte da populaça d'Africa e ou-
tras nações selvagens.
— Vid. Azagaya.
ZAGAIADA, s. /. Golpe de zagaia.
ZAGAL, s. ?;í. Ajuda, criado do maio-
ral.
— Pastor.
ZAGALA, s. /. Pastora, moça, donzella
do campo.
ZAGALEJO, ou ZAGALETO, s. m. Za-
gal, moço.
ZAGARI, s. ni. Uma espécie de lença-
ria.
ZAGÚ, s. m. Termo de botânica. Ar-
vore da índia análoga á palmeira.
ZAGUNCHO, s. m. Vid. Zarguncho. —
«E no primeiro cometimento lançam mui-
ta soma de cal para cegarem os adver-
sários : e assi dos castellos como das gá-
veas lançam muitos paos tostados agudos,
que servem como zagunchos sam de pao
umy testo : usam também de soma de pe-
dra e ho principal que trabalham, he que-
brarem com os seus navios as obras mor-
tas dos adversários, pêra que fiquem se-
nhores delles, ficandolhe debaixo, e des-
emparados de cousa com que se lhe en-
cubram.» Frei Gaspar da Cruz, Tratado
das cousas da China, cap. 9.
ZÃIBRO. Vid. Zambro.
ZAING, A, adj. — Cavallo zaiuo ; cas-
tanho escuro, sem mescla.
— Alguns dào este nome ao cavallo,
que não tem signal algum branco.
— Figuradamente : Retrahido, dissimu-
lado, disfarçado, velhaco encoberto.
■|- ZAIRE, s. m. Nome de um rio da
Africa. — «Toda a terra que contamos
por Reyno de Sofala, ha uma grade re-
gião que senhorea um Príncipe (íentio
chamado Benomotàpa: a qual abraçaõ em
modo de ilha dous braços de hum rio que
procede do mais notauel lago que toda a
terra de Africa tem, mui desejado de sa-
ber dos antigos escriptores por ser a ca-
beça escondida do illustre Nilo, donde
também procede o nosso Zaire que corre
per o Reyno de Congo.» Ban-os, Década
1, liv. 10, cap. 1.
1.) ZAMBO, A, adj. Vid Zambro.
2.) ZAMBO, «. m. Termo de zoologia.
Animal selvagem, e disforme da Ame-
rica.
3.) ZAMBO, s. 7?!. Nome que se dá em
algumas partes da America aos filhos de
um negro e uma mulata, ou de um ne-
gro 6 de uma indígena.
1030
ZANf>
ZARC
ZAZl
ZAMBÕá, «. /. Termo de botiinica.
Fructo cuiiio a luraiij.-i, . poróm uiuito ii\-
sipiílo.
— Marmelo enxertado, o iwaiiu lucllio-
lado. Vid. Gamboa.
, • — Parvo, ou tul) como zambõa; iiisi-
pido, milito fi-icirào, Houi Habor.
ZAMBOEIRA, s. /. Termo du botaaica.
Arvoro que pioduí zaiubôai. Vid. Zam-
bóa.
ZAMBRALHO, ♦. m. Teriuo do historia
natural. Ave .Kiuatica do tamanho do uma
gallinhii, tuudo o peseuyo o IjÍcd como o
do pato; ha muita abundância (Tollas pe-
lo inverno uu Sado.
ZâMBRO, a, adj. Que ajunta as per-
nas no8 joelhos, e se liie vão alargando
para oa pós com divergência.
ZAMBUGO, s. m. Embarca(,'ão da Aaia,
de carga. — nlluv Lourenço vendo a mul-
tidão deUes, porque Cípeiava de se aju-
dar bom com artilharia, armou dous dos
seus zambucos e o batel com a meudeza
que podlão leuar e gente destra e poa
roitro na terra: a que logo acudirão os
Mouros apinUaando-se todos onde lhe pa-
receo que os nosíos qncriaò sair.» Bar-
ros, Década l, liv. 7, cap. 4.
ZAMBUJAL, ou ZAMSUGAL, s. m. Ter-
mo de botânica. Arvoio do lirazil ; pro-
duz fructos do tamanho de cocos grandes,
^'p»4a S(á.<íW jÇ*atauhaií mui duras e sabo-
rosas.
ZAMBUJEIRO, s, m. Vid. Azambujeiro.
ZAPÍBUJO, *. 1». O mesmo que Zambu-
jeiro.
ZAMURIM, ou SAMORIM, s. m. Titulo
do rui de Calecut.
, ÍANAGA, ?■ ■»»^/permo.pí>pulac., Vesgo,
torto, zarolbd). , ,.•,,' ',i
— Adjocti vãmente : Homem zanaga.
r,jJ^ANGAj -.s. /, Termo popular. Autipa-
lljuíia, inimizade.
^v,— r Avoi'sií^>» uiiiií agouro.
, — : Ter zanga cojh ahjuma cousa, ou
cQf^ alí/tíem; tor grima.
— Um jogo de cartas entre duas pes-
soas.
— O moinho de mão.
ZANGADILHA, s. f. Termo do archite-
ctura. Cunha com que se calçam os pon-
tões.
ZANGADO, part, pass, de Zangar. En-
fadado, agastado.
ZANGADOR, A, s. Pessoa que se zanga.
— Diz-so também da cousa que zanga.
— Adjcctivamente : Humem zangador.
ZANGALHÃO. Q.uerem alguns que este
YO.çabulo correaponda ao latim monogam-
mus.
ZANGANO, s. m. Adello.
— Homem quo logra, e desfructa ou-
trem com engano nos tratos O negócios,
e por isso diz-se dos adellos, que fraudam
a quem passam cousas velhas, o do pouco
valor por muito, enganando os simples e
rústicos.
— Corretor sem authoridade publica.
ZANGÃO, «. m. Termo do historia na-
tural. Espccie de abelha que come o mol
foi to yielas outras.
— U atiavessador do niei^cadorias, zan-
gano.
ZANGAR, V. a. 1'roduzir infelicidade o
fazer que vá mal.
— Enfadar, causar eníado, pro luzir
zanga.
— Zangar-se, v. rejl. Enfadar-se. —
Zangar- se com aUjuma coma; tel-a em
mau a;roui(), cnfadar-so d'ella.
ZANGARALHADO, part. paus. de Zan-
garalhar.
ZANGARALHÃO, ONA, s. Pessoa alta e
mal feita.
ZANGARALHAR, v. ii. Termo popular.
Vi<l. Zangarrear.
ZANGARREAR, v. n. Termo popular.
Tocar mal na viola com rojões sem har-
monia.
ZANGUIZARRA, s. /. Termo popular.
Desordem, motim, tumulto, alvoroço.
— Alguns escriptores querem dar a es-
te vocábulo a significação de mulher mal
ataviada, iidmiga do trabalho, amiga do
ócio, e <|ue somente se occupa em comer.
— Outros dão-lhe a significaç.ào d'ar-
mação descompassada, informe.
ZANGURRIANA, s. /. Termo popular.
Bebedice, embriaguez.
ZAKOLHO, í. e aJj. Vid. Zarolho.
ZANUO, s. m. Lanço das arremata-
ções, na linguagem dos portuguezes na
índia.
ZÃOZÃO, s. m. — O zãozão das coii-
sountes; a monotonia de sons similhantes
simuleadontes, enfadonho, sem variedade.
ZAPATEADO, s. m. (Do hespanhol za-
puta, sapato). Dança he-sj^anhola que se
exeuuta ii'uma ária a -1-, e apresenta al-
guma analogia com a sorrefeira.
— Vid. Sapateado.
ZAPE. Vid. Sape.
ZAPETE, »•. "í. Um jogo do cartis, es-
pécie de truque.
— Nome do quatro de paus n'este jogo.
ZAPOTA, s.f. (Dofrancez sapotUlier).
Termo de botânica. Orande arvore de
S. Domingos, de que ha duas espécies, a
zapota maior, e zapota menor.
ZAPOTE, s. m. Fructo da zapota.
ZARABATANA, s. /. Canudo longo,
por meio do (lual assopram settas, o tiros
leves para irem ferir, impellidas pelo
vento encanado.
— Vid. Sarabatana.
ZARAGALHADA, s. /. Turbamulta.
ZARAGATÒA, s. /. "Termo de boUni-
ca. llorva medicinal, denominada vul-
garmente piilijueira.
— Certa droga medicinal.
ZARATÃO, s. ))i. Termo de medicina.
Tumor duro e indolente.
— Alguns dão-lhe o nome de scirrho.
ZARAVATANA, s. /. Vid. Zarabatana,
e Sarabatana.
ZARCÃO, s. m. Cal vermelha de chumbo.
— Na moderna nomenclatara chimics,
é o orydo de chumbo.
ZARCO, A, adj. Quo tem os olhos azues
claros, ou trarços.
ZAHELHO, *. T>i. e ndj. pop. Homem
belicoso o intromettido em concas que lhe
não pertencem, e que tudo faz accelera-
daniente.
ZARGO. Vid. Zarolho.
ZARGUNCHADA, «. /. Ferida dada com
zarguiicho.
ZARGUNCHADO, part. past. de Zar-
gunchar. Airemes.-ado, ferido com zar-
guncho.
ZARGUNCHAR, v. a. Ferir alguém com
zarguncho, arrcme8.«ar.
— Figura>iamente: Penetrar muito.
— O frio zarguncha ; o frio é muito
penetrante.
ZARGUNCHO, $. nt. Uma meia lan-
ça, azagaia de arremesso usada dos ca-
fres.
ZAROLHO, A, adj. Que mette um olho
pelo oiitio, que o volta olhando para o
outro.
— Torto, vesgo, zanaga.
— Substantivamente : Um zarolho. —
Uma zarolha.
ZARPAR. Vid. Sarpar.
ZARRA, í. /. Vid. Jarra.
— Termo antiquado. AIraotolia, botija
de azeite. — Compraram-se duas zarras
Ijara o azeite.
ZARZAGANÍA, s. f. Termo oriundo do
Castella. Vento frio, ventosidade.
— Alguns querem dar-lhe o sentido de
tecido de seda como o tafetá.
ZÁS, ou ZAZ. Voz formada por ono-
raatopeia, jiara exprimir o ecbo do golpe
ou pancada.
ZASTRE, s. VI. Vid. Sastre.
— Ternui popular e cómico. Homem
entregue a mulheres, frascario. Vid. Xas-
tre.
ZATÚ, s. «1. Termo de zoologia. Ani-
mal do Brazil, mui notiivel pelas armas
com que a natureza o adornou.
•}■ ZAVALCHEU, .». «i. Nome dado, pe-
los mouros, ao magistrado que decidia
as suas causas, e fazia dar á execução
as suas sentenças; só elle podia authen-
ticar com o seu signal qualquer instru-
mento.
I ZAVALNADINA, s. f. Termo anti-
quado, porém frequente nos documentos
de Hespanha até ao século Xiii. O pre-
tor da cidade a quem pertencia, por com-
missão do príncipe, ou tio rico-homem,
todo o governo politico, e civil da respe-
ctiva cidade, e sentenciar a final os fei-
tos civiis dos seus moradores.
ZAVANEIRA, í. /. Vid. Zahaneira.
ZAVRA, í. f. Vid. Zabra.
ZAZAGITANIA, s. /. Droga asiática de
fazer camisas á mourisci.
ZAZERINO, A, «•(;. ^ 'J- Jazerino, o
Gezerino.
ZAZINTA, ou ZAZINTHIDA, s. /. Ter-
ZELA
ZELO
ZELO
1031
mo de botânica. Planta medicinal, lam-
psana de Zanthe.
ZAZO, s. 111. Pontifico dos japões.
ZEBELINA, í. /. Espécie de doninha,
ou marta de Moscovia, do tamanho de
um gato pequeno, que tem a peUe e o
pelio mui finos.
— A pelle d'este animal.
ZEBO, s. m. Termo de historia natu-
ral. Gebo, espécie de boi selvagem, ou
pequeno búfalo.
ZEBRA, s. /. Termo de zoologia. Ani-
mal do género barro, habitante da Afri-
ca, e notável por sua pelle que tem raios
negros.
— Nome dado a certas conchas, e a
duas espécies de peixes, os clietod&ntes, e
os pleuronectos.
ZEBRAL, adj. 2 gen. De zebra.
— Uma pedra zebral ; nos foraes an-
tigos, conjectura-se que é o peso de uma
arroba.
ZEBRDIÍO, A, adj. Côr de cervo, ou
lebre. — Cavallo zebruno.
ZEBTJRA, s. f. Termo antiquado. Vir-
gula, signal orthographico, de que se
usa para distincção na escriptura.
ZECORA, s. /. Termo de zoologia. Ani-
mal da Ethiopia alta, a que os portu-
guezes deram o nome de burro d.o matto.
ZEDOARIA, s. /. Termo de botânica.
Herva oíBcinal d'este nome, de cuja raiz
se usa na medicina. Vid. Zerumbete.
-j- ZEDOARINA, s. /. Termo de chimi-
ca. Extracto amargo da zedoaria redonda.
f ZEENO, adj. m. — Carvalho zee-
no; espécie de carvalho de Algéria, cujo
pau é notável pela sua densidade.
-j- ZEFYRO, s. m. Vid. Zephyro.
Sc nas azas dos Zifyros fugindo
For a doce estação, qual fogo a vida,
E cingido do pálidas espigas,
Trouier girando o Sol o ardente Estio,
De novos fructos 8'enriquece a Terra.
J. A. DE SIACEDO, JÍEDITAçÃO, Cant. 2.
ZEIMÃO, s. 7)i. Termo da província do
Minho. Vocábulo de desprezo, com que
Be denomina um homem sem préstimo,
desamanhado, indigno, incapaz de boa
cousa.
ZEINA, s. f. Termo de chimica. Glú-
ten da farinha do maiz.
-}- ZEISMO, s. m. Termo de medicina.
Doutrina que põe no maiz alterado a
origem do pellagro.
•j- ZEEEAT, s. 7íi. Imposto sobre as
rendas nos paizes musulmanos, e particu-
larmente na Algéria.
ZELADOR, A, s. (Do latim zelator, de
zeliis). Pessoa que obra com zelo por al-
guma cousa, ou para com alguém. —
«Com estas, e outras ajudas, que a for-
tuna andava trazendo a este seu mimoso
que queria &,zer senhor de tantos Rey-
nos, como lhe deo, elle se intitulou por
Xeque Ismael herdeiro, defensor, e zela-
dor das cousas de Alie, donde elle vi-
nha; e pêra maior denotação deste seu
propósito, mandou fazer os verdugos do
seu carapução muito mais altos. > Barros,
Década 2, llv. 10, cap. 6.
— Zelador da fé; que a zela.
— Pessoa que zela.
— Membro d'uma seita judaica que
existia em Jerusalém sob Tito.
— Titulo d'officio, que consiste, em al-
gumas ordens religiosas, em vigiar com
zelo sobre o procedimento dos noviços e
dos novos professos.
— Xome, entre as religiosas ursulinas,
d'um officio que corresponde ao de pro-
curador nas communidades de homens.
— /S. 771. Official que vigia sobro a exe-
cução das posturas da camará municipal
de Lisboa. — Os zeladores da camará,
— Adjectivamente : Que zelaw — Ho-
mens zeladores da honra de Deus.
ZELANTE, imrt. act. de Zelar. Que ze-
la, que tem zelo.
— Substantivamente : Vid. Zelote.
ZELAR, V. a. Tratar cora zelo, procu-
rar com zelo. — Zelar a honra de Deus.
— Zelar a mulher; ter ciúmes d'ella,
vigial-a, cial-a.
ZELO, s. 771. (Do grego zelos). Affeição
viva, ardente para o serviço de alguma
cousa, de alguém, de Deus. — «E assi
não sei o que mais admire nesta santa se
o que mostra de seu peito o que fez por
seu filho, se o zelo que fora teue na sua
conuersaõ porque quanto nisto era mais
feruente, tanto mais mostraua o lugar,
que Deos, seu temor, e seu amor tinha
em seu coração.» Paiva de Andrade, Ser-
mões, pag. 264:. — T «Os Louthias da ar-
mada por achar que tem pouca culpa man-
do que sejam soltos, uso ho desta manei-
ra com todos, porque vejam os meus Lou-
thias que tudo ho que faço, que ho faço
com bom zelo. Estas cousas todas mando
que sejam feitas com brevidade.» Frei
Gaspar da Cruz, Tratado das cousas da
China, cap. 26. — «Feio Idacio, ou Ur-
sacio assi, com tanto zelOi e effieacla,
que a demasia delle poz o negocio em ter-
mos, que convc}"© ajuntar Concilio na Ci-
dade de Çaragoça, e convocar os Bispos
de toda Espanha, e alguns de França,
onde também ficarão sinaes desta des-
aventura, semeados por Marcos em sua
primeira chegada, e nelle.» Monarchia
Lusitana, liv. õ, cap. 28. — «E por tan-
to estes limpos de coração gozam de hu-
ma marauilhosa paz interior: e também
quanto he de sua parte, perfeytamente
conseruam paz com todos os homens, as-
si amigos, como inimigos : daqui procede,
que nasce nelles hum ardente zelo de fa-
zer paz entre os próximos, procurando de
cõcertar, e cõcordar todos os desauindos
e differentes.il Frei Bartholomeu dos Mar-
tjTcs, Catecismo da doutrina cbristã.
Paulino, estas imagens da verdade,
Que pinta a^tua^voz^sempre eloquente.
Parece, que as anima hum zelo ardente,
E saõ véos com quo encobres a maldade.
ABBADK DE JAZZSIK, POESIAS, pag. 4:9.
— «o zelo da causa, que solicitaua, o
esplendor de sua familia, parentes e com--
passadas aeçoens lhe hauiam grangeado
mais, que o próprio talento (nào de todo
estéril) boa opinião entre os Ministros
Castelhanos, e modernos portuguezes.»
Francisco Manoel de Jlello, Epanapho-
ras, pag. 13. — «E se as entradas que se
fizerem ao sertão forem com verdadeira
e não fingida paz, e se pregar aos Índios
a fé de Jesus Christo, sem mais interes-
se que o que elle veio buscar ao mundo,
que são as almas, e houver quantidade
de religiosos que aprendam as linguas, é
se exercitem n'este ministério com ver-
dadeiro zelo.» Padre António Vieira, Car-
tas, n." 9.
— Zelo indiscreto; zelo inconsiderado,
zelo que não é regalado pela prudência.
— Xa linguagem da Escriptura: O ze-
lo da casa de Deus o devora, tem úrá
zelo extremo para o terviço de Deusi'"'
— Particularmente, o zelo pela reli^
gião. '''•^'^
— Ciúme.
— Falso zelo; zelo cego, e mal enten-
dido pela religião.
— Adágios e provérbios :
— A conversação escandalosa, argue
zelo damnado.
— O mau zelo empeçonhenta o enten-
dimento.
— O errar é tolerável, mas o mau ze-
lo é cutello da republica.
— Para man^lar convém zelo, e rigor.
ZELOSAMENTE, adv. (De zeloso, e o
suffixo «mente»). D'um modo zeloso.
— Com zelo.
ZELOSÍSSIMO, A, adj. superl. de Zeloso.
Mui zeloso. — «Nas cousas da Religião
foi zelosíssimo, e fez reformar quasi to-
das as do Reino, e reduzi-las a seu pri-
meiro rigor, e observância, e se na ma-
téria das rendas de alguns Mosteiros met-
teo mais a maõ, do que convinha, sein
duvida foi a culpa mais dos Ministrpg, e
Conselheiros Reaes por quem os negodios
corriaõ, que do mesmo Rei.» Frei Ber-
nardo de Brito, Elogios dos reis de Por-
tugal, continuados por D. José Barbosa.
ZELOSO, A, adj. Que tem zelo, que sé
ha com elle. ]
— Que tem zelos, ciúmes, cioso.
ZELOTE, adj. e í. 2 gen. Que tem zelo
falso, mal entendido, ou fingido.
j ZELOTISMO, í. m. Excesso de zelo
religioso. ,
ZELOTYPIA, s. /. (Do grego zêio», e ty-
pein). Termo de pathologia. Ciúme, sus-
peita, desconfiança da pessoa que se es-
tima.
— Inveja que degenera em monoma-
nia.
ZELOZIA, s. /. Vid. Gelozia.
1032
ZEOL
ZERO
ZIBE
-[ ZEND, 8. wj. O commentario, a ex-
plicíir.lo ilíi rovolaçílo de Zoroastro, quer
n'urii flcntiilo restricto, quer n'iiiii sentido
/^oral ; todos os cHcriptos que podem dar
d<a rovola(;?lo um sentido mais completo.
— Nomo dado, injustanH>nto, á lirif^aa
em que Zoroastro escreveu seus livros. —
Livros físcriptoa em zend.
— Ad ji'ctivaniente : Quo pertence ao
7-end.-- Livrou zends. — A lin<jua zend.
ZENDAL, s. 7)1. Vid. Sendal.
ZEND-AVESTA, *. /. Código dos livros
saturados dos persas, o que encerram os
mais antipos monumentos da religiílo e
da philosophia da Pérsia.
ZENIAR. Vid. Azinhavre.
ZENIDO, s. m. Vid. Zunido.
ZENIR, V. n. Zunir.
ZENITH, s. VI. Termo de astronomia.
1'outo da esphera celeste, quo para caria
Ioga rda torra ó encontrado pela verti-
cal elevada n'este logar. — «E tanto quo
o sol começa a decer da equinocial, que
he o orizõto onde se acaba a vista dos
que viuem ao norte, lhe começa a noite-
ccr, e dura a noite outros seis meses,
desde Setembro, que o sol dece da linha,
até Março, que o sol torna a entrar na
mesma linha, assi como o dia lhe dura
de Março ate Setembro. E todos os seis
meses, que he dia aos que viuem ao nor-
te, he noite aos quo viuem ao .sul, e pcl-
lo cõtrajTO todos os seis meses, ho dia
aos do sul, he noite aos do norte. Porque
assi como os quo tem por zenith o nor-
te.» Heitor Pinto, Dialogo da Justiça,
cap. 8.
— Figuradamente: O ponto mais ele-
vado onde se pôde chegar. — O zenith
da virtude.
— O sol no zenith; o sol no meio dia.
— Figuradamente: O auge, o cumulo,
ou o cume.
-j- ZENITHAL, adj. 2 gen. Que pertence
ao zenith. — Pontos zenithaes.
— A distancia zenithal d 'um ponto
n'xim logar ó a distancia angular d'esse
ponto, 9 do zenith d'estc logar.
f ZENOLIA, s. /. Termo de botânica.
Género de plantas pertencentes á família
das eriniccas.
— Termo de zoologia. Género de crus-
táceos.
— Espécie de phalena.
-{• ZENONICO, A, adj. Quo pertence ao
systema de Zen.ão d'Eleo no quinto sé-
culo antes de Christo ; é um systema idea-
lista.
— Que pertence ao systema de ZenSo
de Cicio, 362 annos antes de Christo ;
creador do .stoieismo.
f ZENONISMO, s. «í. Philosophia do
Zenão, o stinoo.
f ZENONISTA, s. m. Partidário da
doutrina do um doa dous Zenão.
ZENZEREIRO. Vid. Cinceiro, ou Sin-
ceiro.
ZEOLITHE, í. m. (Do grego zvo, e li-
thoa). Termo de mineralogia. Espécie de
rocha que borbulha ao canudo, por cau-
sa da agua que ella contém.
— Substancia da natureza do pedra,
que dissolvida cm ácidos adquiro uma
consistenciji g(datinosa.
f ZEOLITHICO, A, adj. Que pertence
ao zeolitho. — V/n«)ví/ zeolithico.
■\ ZEOPHAGO, A, adj. C^ue como mais,
quo se nutro de mais. — As jwpulaçõeê
zeophagas.
ZEPHYRO, s. m. (Do grego zephyroa).
Termo do jiocsia. Nome quo os antigos
davam ao vento do occideute. — O sopro
do zephyro.
— Na fabula, o vento do occidento per-
sonificado, o (jualiticado de deus. — Os
amores de Flora e de Zephyro. — O ven-
to Euro e o Zephyro.
— Todo o sopro de vento doce e agra-
dável.
— Termo de marinha. Ligeiro sopro de
vento.
— Nomo dado, no exercito, aos solda-
dos da companhia de disciplina que ordi-
nariamente se envia para Algéria. — Um
zephyro. — Os zephyros.
ZEQUIM, s. m. Moeda de ouro de Itá-
lia, do valor de 15600 reis, com pouca
differonça.
ZERBO. Vid. Zirbo.
ZERIBANDA, s. f. Sova, tunda.
ZERIBANDO, s. 7/1. Azorrague.
ZERO, s. m. Termo de arithmetiea. Ci-
fra em f^rma de O, que por si mesmo
não indica numero algum, mas que, sen-
do posto Á direita dos outros, indica que
elles tem um valor dez vezes maior. —
Um 2 e três zeros fazem dous mil (2000).
O zero nSo ó do mesmo género que os
números, porque multiplicando-se, não
podo excedel-os, de maneira que é um
verdadeiro indivisível de numero, como
o indivisível é um verdadeiro zero de ex-
tensão.
— Eu não quero que lhe falte um ze-
ro ; não quero que lhe falte nada, cousa
alguma.
— Sua fortuna está reduzida a zero;
estil reduzida a nada, estil completamen-
te dissipada.
— Figuradamente: Ajuntar zeros a
uma conta; ampliiical-a, como os zeros
multiplicam um numero.
— Figuradamente: Tudo «zero; não
valo nada. — Nada ha mais próprio para
me consolar nas misérias da vida, que
pensar continuamente que tudo é zero.
— Figuradamente : E um zero, um
verdadeiro zero, um zero em cifra; diz-
se de um homem que não é de conside-
ração alguma.
— Ponto que corresponde á tempera-
tura do gelo fundente no thermomotro
de Reaumour, e no thermomotro centí-
grado. — O thermumetro desceu a zero.
— Zero absoluto; termo imaginário,
ficção m.ithematica commoda para empre-
gar no calculo dos problemas da thermo-
dyn arnica.
— Ponto d'ondo se parte para se con-
tar 08 graus.
ZEROME, s. m. Vid. Cerome.
f ZEROTAGE, «. m. Fixação do zero
nos instiiinji iitos de |jr';cÍHão.
ZERUMBETE, ou ZIRUMBETH, *. m.
Termo de botânica. Gcngivre silvestre.
ZERVATANA, ». /. Vid. Zarabatana.
— Zervatanas /lenadas. — «E por causa
do ardor do Sol, que assava os homens,
fróelias, o zervatanas hervada«, que os
Mouros tiravam de alguns eirado? das
casas mais vizinhas á jjonte, raandou-a
AffonFO d'Alboquerque toldar com vela*
das náos, que deo a vida a todos. • liar-
ros, Década 2, Jiv. 6, cap. 5.
ZESTE, ». m. Separação membranosa
que divide o interior de uma noa. — O
zeste de uma iwz.
— Casca exterior, amarella e odorífe-
ra, da laranja, e do limlo, separada da
pelle bianca e amarga que está por bai-
xo. — Cvrtar um zeste.
— Figuradamente: Cousa de módico
valor.
— Popularmente: Itso não vah um
zeste, iião daria um zeste ; diz-se de
uma cousa de pouco valor.
-{■ ZETA, s. m. Nome da decima sexta
letra do alphabeto grego.
ZETETICA, í. /. Termo de mathema-
tita. ilethodo de que se serve para re-
solver um problema. Vid. Zetetico.
ZETETICO, A, adj. (Do grego z«<eíí-
kos, de zeteô). Termo didáctico. Que diz
respeito á zetetica.
— Methodo zetetico ; mothodo de que
se serve para resolver um problema de
mathematica, e, em geral, aquelle de que
nos servimos para penetrar a razão das
cousas.
— Philosophos zeteticos ; antigos phi-
losophos que duvidavam de tudo.
-}• ZETOS, s. m. Termo de astronomia.
Nomo da constellação dos Gémeos.
ZEUGMA, í. /. (Do grego Mujtna).
Termo de rhetorica. Figura de elocuçSo
mais conhecida pelo nome de adjuncçSo.
A zeugma tem logar quando uma pala-
vra, jii expressa n'unia proposição, se
subentende n'uma outra análoga á pri-
meira, e ligada a esta. A zengma é »»m-
ples, quando a palavra subentendida é
exactamente aquella que se exprimia,
por exemplo: Eu renuncio á Ortcia, a
Sparta, ao meu império, á minha fami-
lia. A zeugma é composta, quando a pa-
lavra subentendida não é absolutamente
aquella que j;i se via.
— Figura de grammatica, na qual o
mesmo verbo liga duas proposiçSes.
ZEVRA, í. f.^Vid. Zebra.
ZEVRINA, s. f. Vid. Zebelina.
ZIBELINA, s.' r. Vid. Zebelina.
ZIBETHA, ou 'gato DE ALGALIA DE
ÁSIA, s. 7)1. Espécie de género de gatos
znvTR
ZIRC
ZOAN
1033
de Algalia; produz também o almíscar.
Habita nas índias e na Arábia.
ZIGENA, s. f. Termo de historia natu-
ral. Borboleta de antennas compridas,
cauda longa, azas approximadas, etc.
— Espécie de esphinge.
f ZIGUELINA, s. /. Mineral que é o
cobre oxydulado ci-ystallino.
ZIGUEZAGUE, s. m. (Do francez zig-
zag). Serie de linhas formando ângulos
alternativamente salientes e reintrantes.
— Uma zona negra desce desde o olho,
e traçando um ziguezague cáe até á aza.
— Ir, caminhar em ziguezague. — Um
caminho tr<içaiio em ziguezague.
— Ziguezague dorsal; nome dado a
uma quebrada que se encontra no dorso
de certas espécies de viboras.
— Pequena machina composta de triân-
gulos moveis, e dispostos em losango, que
se estendem ou se comprimem, conforme
o movimento que se lhes dá, por dous ra-
mos, que servem para a sustentar. — Dar
uma letra por meio de um ziguezague.
— Ornato em forma de ziguezague.
- — Termo de zoologia. Espécie de pha-
lena.
ZIGUEZIGUE, s. m. (De zig, z>g, voz
pérsica, o som que faz uma porta aper-
tada quando se abre, ou fecha). Instru-
mento da feição de um pequeno tambor,
coberto de peUica, para brinco dos rapa-
zes.
— Homem buliçoso, inquieto.
ZIMARRA, s. m'. Vid. Samarra.
ZIM60, s. m. Marisco que serve de
moeda em Angola, Congo; é de cor par-
da, e dififerente do corif ou caiiri ; e tam-
bém se pesca na Bahia de Todos os San-
tos.
— Os negros pronunciam gimbo, e gim-
bongo.
ZIMBÓRIO, s. m. Obra de architectu-
ra, mais cimeira e elevafla que o tecto
do editicio ; nas egrejas existe de ordi-
nário no meio do cruzeiro, e tem vidra-
ças; ou mais propriamente é o remate
por cima das clarabóias, ou lanternas do
tecto. No zimbório se colloeam as cru-
zes, e grimpas, etc. O zimbório está so-
bre as cúpulas, que remata cimeiro a el-
las.
ZIMBRADO, part.-pass. de Zimbrar.
ZIMBRAL, s. m. Bosque ou matta de
zimbros.
ZIMBRAR, u. a. Flagellar, açoutar, es-
pancar.
— V. n. Diz-se do movimento que fa-
zem 03 barcos para baixo e para cima,
depois de serenar o vento que os agitava.
ZIMBRO, s. m. Termo de botânica. Ar-
busto vulgar. Vid. Junipero. — «Fructos
bagas de louro, de zimbro, cravinhos da
índia, nóz manchada, cubebas, e graons
Hermes.» Braz Luiz d'Abreu, Portugal
medico, pag. 254, § 232.
ZIMBRO DE LYCIA, s. m. Termo de
Botânica. Cedro.
voi.. V.— 130.
ZIMOMA, ou ZYMOMA, s. m. Termo de
ehimica. Producto que se obtém pondo o
glúten em contacto com o álcool quente:
uma parte se dissolve, é a gliadina, a
outra fica insolúvel, é a zimoma, que é
capaz de fermentação.
ZINABRE, s. m. Vid. Azinhavre.
ZINAS, s. f. plur. Termo frequentís-
simo na província do Minho, onde se usa
d'esta8 locuções: Estar nas zinas do
inverno, estar nas zinas do verão; estar
no mais penetrante frio do inverno, ou
nas mais ardentes calmas do verão.
•j- ZINGAGE, «. m. Acção de cobrir de
zinco.
— Processo de [galvanisação do ferro.
ZINCATO, s. m. Termo de ehimica.
Composto chimico resultante do oxydo
metallico de zinco com outro oxvdo.
t ZINCICO, adj. Termo de ehimica. —
Acido zincico. — Oxydos zincicos.
— Diz-se também dos saes que formam
este oxydo.
— Sulfureto zincico ; sulfureto de zinco.
t ZINCICO-ALUMINICO, adj. m. Díz-se
de um sal zincico combinado com um sal
aluminico. Díz-se do mesmo modo zinci-
co-ammoaiaco, etc.
f ZINCIDES, s. m. plur. Família de
mineraes comprehendendo o zinco e seus
compostos.
7 ZINCIFERO, A, adj. Que contém o
zinco accidentalmente.
ZINCO, s. m. (Do allemão zink). Metal
que existe na natureza, combinado com
o enxofre na blenda, e no estado de hy-
drato e oxydo na calamina. — Cobrir uvi
tecto de zinco.
— Flores de zinco ; zinco sublimado
pelo fogo.
I ZINCOGRAPHAR, v. a. Imprimir por
meio do zinco.
ZINCOGRAPHIA, s. /. (Do zinco, egra-
phos). Arte de imprimir os desenhos su-
bstituindo a pedra lithograpldca pelo
zinco.
ZINGAMOCHO, s. m. Remate de cousa
alta.
f ZINGARI, s. m. Um dos nomes da ra-
ça á qual pertencem os vagabundos conhe-
cidos pelo nome de egypcios ou bohe-
mios.
j- ZINGIBERACEAS, s. f. plur. Termo
de botânica. Família das plantas monoco-
tyledoneas, comprehendendo hervas viva-
zes de rhiz ma rastejante e taberoso.
ZINGRAR, 1-. a. Termo popular. Escar-
necer, illudír.
ZINIDO, part. pass. de Zinir.
— S. m. Vid. Zunido.
ZmiR, r. n. Vid. Zunir.
f ZINQUE, s. m. Vid. Zinco; ortho-
graphia preferível.
ZIRBAL, adj. 2 gen. Termo de anato-
mia. Dii zírbo.
ZIRBO, s. m. Termo de anatomia. Re-
denho. teagem cellular.
f ZIRCON, *. m. Termo de mineralo-
gia. Mineral cryatalliuo, pedra preciosa
que affecta diversas cores.
ZIRCONIA, *. /. Termo de ehimica.'
Oxydo de zirconio.
t ZIRCONICO, A, adj. Termo de ehi-
mica. Diz-ge do oxydo de zirconio. -,;
: — Diz-se também dos saes que formam
este oxydo. ^
— Sulfureto zirconico ; .sulfureto dé'
zirconio.
f ZIRCONIDES, s. m. plur. Familia
dos mineraes que contém, zirconio.
ZIRCONIO, s. m. Termo de ehimica.
Metal que se chegou a isolar em 1824, e
que é de um pardo anegrado, sem aspecto
metallico, a não ser pelo menos roçado
pelo brunidor. ,
— Adjectivamente : Que contém zir-
con.
t ZIRCONITE, s. f. Termo de minera-
logia. Variedade de zircon.
ZIRGELIM, s. m. Semente oleosa, de
que se faz doce. Vid. Gergelim, termo
mais novo no Brazil, onde se dá em ca-
sulos de uma planta.
ZIZANEIRO, A, adj. e s. Que semêa
zizanía.
ZIZANIA, s. f. (Do latim zizania). Ter-
mo de botânica. Joio, má semente que
vem entre o bom grão.
— Figuradamente: Desunião, desintel-
ligencia. — Este partido cresce, desola o
campo do pai de famílias, semeando n'elle
a zizania.
— Zizania bastarda; espécie de joio
(herva).
— Tei-mo de botânica. Género de plan-
tas da America, pertencente á familia
das gramíneas.
ZIZANIAR, V. n. Semear zízanias.
— Figuradamente: Semear desordens,
dissenções, desintelligencias.
— Mexericar, dizer novas.
ZIZANISTA, s. 2 gen. Pessoa que se-
mêa zízanias.
— Pessoa mexeriqueira, que dá novas,
que semêa mexericos.
t ZIZYPHICO, A, adj. Termo de ehi-
mica. Acido zizyphico; acido crystallísa-
vel do extracto da açafeifeira.
ZIZYPHO, s. m. Termo de botânica.
Vid. Maceira de anafega.
ZOADA, s. f. S(.ada, som forte.
t ZOANTHARIOS, s. m. plur. Nome da-
do a uma ordem da classe dos polvpos,
ramo dos radiados.
— Zoantharios pedregosos, coraes, etc.
t ZOANTHINIANOS, ». m. plur. Polv-
pos da familia dos polypos actinidianos,
que formam o polrpeiro.
t ZOANTHODEMO, s. m., ou ZOAKTHO-
DEMIA, «. /. Nome dado ao conjuncto de
tudo o que compõe o raminho do coral o
mai-^ conipleti'.
ZOANTHROPIA, s. /. (Do grego zôon, e
anthrôpos). Termo de medicina. Espécie
de moi:omania em que o doente se julga
convertido em anima!.
1034
ZOMB
ZOMB
ZOMB
■j- ZOANTHROPO, s. m. Pesaoa que oatá
aflectíida do /.(lantiiropia.
ZOAR, V. n. Dar «oui forte. — Zoar o
vento.
ZODIACAL, adj. 2 (jea. Quo pertenço
ao zodiaco. — tíiipios zodiacaes.
— Luz zodiacal; luz do fói-ma lenticu-
lar que se apoia sobro o liorisonte, e que
apparece d(qK)i» do pôr do sol na cpoclia
depois do oquinoxio da primavera, e an-
tes do nascer do sol na o.pocha do equino-
xio do outomno. :^
— Represe, ntaçtMíif zodiacaes ; baixos re-
levos, modallias, pednis antigas tendo os
signos do zodíaco.
— Moedas zodiacaes ; nioodas do Orien-
te, nas qu;vos estão representados ca si-
gnos do zodiaco.
zodíaco, *•. m. (Do latim zodiacus).
Termo do astronomia. Zona da esphera ce-
leste estendondo-se a oito graus de uma
parte e d\>utra da ecliptica, e em que
estilo sempre coraprehendidos os planetas
outr'ora conliocidos. O zodiaco está divi-
dido em doze partes eguaes por grandes
círculos perpendiculares à ecliptica, a
partir do equinoxio da primavera; estas
lioze partes h%o os signos do zodiaco; re-
ceberam os nomes das constellações as
mais próximas; estes nomes estSo con-
tidos em douH versos mnemónicos : «Sunt
Aries, Taurus, Gominis, Câncer, Leo,
Virgo, Libraque, Scorpius, Areitcnens,
Oaper, Amplior, Piscos.»
— A representação do zodiaco.
— Zodiaco dos cometas; parte do ceu
onde a maior jiarto dos cometas tem o
seu movimento.
ZODOARIA, N. /. Vid. Zedoaria.
f ZOÉ, *\ f. Termo de zoologia. Gé-
nero de crustáceos quasi microscópicos.
f ZOECIA, s. /. Termo de zoologia,
Polypciro; liabitação dos polypos.
ZOILO, s. /«.'Nome próprio d'um anti-
go critico de Homero.
>— Figuradamente : Mau critico.
— Figuradamente: Critico invejoso e
mau, ■''■^ ,'i. • "■ ■■'' ■ > ■-
ZOINA, s. f. Nome vil; qtie as mulhe-
res da mais baÍTta' ralé dito, na província
do Minho, a outrai? taes, quando conten-
dem entre si, querendo charaar-lhés más
vmJhírrs, mal procedidas.
f ZOIODINA, V*. /. Termo lie ehimica.
Producto azotado d'vtm bello -^iolete ex-
trahido da agua, ond& se forma a glai-
riua. '•.■■■ .j^v "-"'.'t"'.'í 'íiM-' ::• í'- •■'
f ZOISÍWO, í. wi. A' renn^So dôs phe-
noiíienus da vida animal.
ZOMBADEIRA, .«./.Vid, Zombador.
ZOMBADO, ]'<tyt. pass. de Zombar.
ZOMBADOR, A, s. c <idj. Que zomba,
que esoiírncce, que faz 'zombaria.
— Que encana, que illude.
— Zombeteiro* ■ ■.• ■' ■' ^ '
ZOMBAR, c.íii Dizer zOriibarias, mo-
far, motejar,-^ «Fnrtar para rif he mui-
to raáo modo de zombar; porque ordina-
riamente 80 converte o riso em pranto,
como aconteceo em Coimbra a huma cor-
ja de estudantes, por sinal quo eraõ gra-
ves, e bem nascidos, t Arte de furtar,
cap. 66.
— Desobedecer.
— NSo fali ar serio.
— Não fazer caso das cousas dignaa de
attenç2o e respeito.
— Loc. ADV. : ZomLazombando ; fa-
zer, dizer alguma cousa jx)r zombaria,
brincando, o não do serio.
— Por zombar; por zombaria. — «Es-
tando el Rey em ura rebate de peste no
lugar de Ataliiya, dom loam de Sousa
foy aposentado fora do lugar em huma
quinta ahy perto, c estando el Rey co-
mendo lhe preguntou onde pousaua, e dom
loam lhe disso que fora do lugar, e o
Prior do Crato dom Diogo Dalmeida, por
zombar disse. » Oarcia de Rezende, Chro-
nica de D. João II, cap. 172.
— Gracejar.
Conta-mc isío, toma ati-az:
Ho certo que cstAst zombando.
TJoixou Tareja a Feriiiiiido.
F. RODRIGUES LOBO, ECL0OA8.
Ai ! são líento!
Ai ! ai ! ai !
Ai ! ai também.
Zombaes ?
Nem por pensamento ;
mas sou cu o aenlnmento
disso.
.ANTÓNIO PHBSTEs, ACTOS, pag. 369.
^- V. a. Fazer zombaria, escarnecer,
ridicularisar. — «Um Capitão delRey de
Portugal (que então era dos Suevos) e de
grande poder e authoridade, i>.o Reyno,
sendo (como seu Príncipe) da seyta e here-
sia de Arrio, e ouvindo contar o milagre
que todos os annos acontecia naquelle lu-
gar, tendoo por abusaS, ou engano dos
Catholicos, zombava de quem lho referia,
e como acertasse de passar com alguma
gente de cavalo por aquella terra, e lhe
mostrassem o Templo e piscina, em que
o milagre acontecia.» Monarchia Lusita-
na, liv. 6, cap. 11.» Diogo de Couto, Dé-
cada 4, liv. 4, cap. 4.
Outro ha aq,ui,
Por Ofúerii tu ::omhrs cio iiií?
Pois só de33(!'Ciic!int.idor
Me cinero vingar cm ti.
' CA.U., ASIPUÍTaiÕBS, ict. 4, 8C. 4.
— «Zombando, e escarnec6i;idó, diíièn-
do-lhcs, que pois os não quizerara deixar
ir a elles da fortaleza, que haviam alli
toddS de fic^r. E assi foi, porque deram
logo as febres nelles, ipor ser chegada a
monção; delias,) do que começaram a inor-
rer muitos.»
]\lórào, iipásoà sertões, Povos fovinos.
Eiii sumido ^Ad. Co'* iaitie se alhWôtlK'
I3o bruta» alimixiaa, sempre o ferro
EmpuiihHdo na dr-itra, a Paz contcmpISo
Indócil captiveiro, Agpcro jugo.
N/;veH, gelo, granizo /• seu recreio;
Afirontão mares, zomiitio dou m^^uuure.
r. ■. UO MABOUUHTO, tM MJJiTriuia, liv. 6.
— Uludir, enganar com lograçSea e
acintes.
— Adágios e puovehbios:
— Zombai com o doudo em c&sa, zom-
bará comvosco na praça.
— Também quem zomLa, morre.
— Com o olhio, © com. a fé, nâo zaa-
barei.
— Nem com homem zombador briguea,
nem com teu maior.
— Com a mulher, e dinheiro nâo zom-
bes, companheiro.
ZOMBARIA, s. f. Dito picante, mote-
jo, mote.
— Acto com que se escarnece.
— Ludibrio, escarneo. — «Acabando
Philippo Rey de Macedónia de julgar in-
justamente huma causa cõtra M&cheta
vassalo seu, com ira e pouca considera-
ção, disse o Macheta que appellaua. E
fazendo cl Rey zombaria de sua appela-
çào, dissolhe: Nà sabes tu qoe nào te-
nho eu superior? Pois pêra quem appel-
las (Resp5deo elle: Senhor appello de ti
pêra ti, depois que estiueres desagastado,
e vires a causa cõ milhores olhos).» Hei-
tor Pinto, Dialogo da Justiça, cap. 6. —
« Nisto se tornou a potencia daquele gran-
de Dário Rey da Pérsia, cõ quem aoiâ
espãtar o mundo. Por isso diz Aristóte-
les, como refere Stobeu, que o homem hs
hum exemplo de fraqueza, hum despojo
do tempo, huma zõbaria da fortuna, hu-
ma imagem de incõstancia, huma balSçs
oui-o e fio de euueja e dosauentura. O bS
Phocião Athenies hum dos mais justos
gouernadores na paz, e dos mais animo-
sos capitães na guerra que ouue antre os
(íregos, aquelle em quem parecia que se
aehaua a religião de Numa Põpilio, o es-
forço de Sei pião.» Idem, Dialogo da Vida
solitária, cap. 9.
— Dito em graça por escarneo.
— Lançar o feito a zombaria ; metter
o caso a bulha, dizer que se gracejava, e
zombava quando alguém se «iffende do
que lhe parecia tlizer-sefieriamente; quan-
do lança mão da ofierta, ou palavra de
comj-rimento.
■ — Adágios E PROVÉRBIOS: .■•
— A zombaria deixal-a, quando igct^
agrada. . ^ ., . '^^ . • , .ii . í
— Zombaria de si^ in^Q . ipi^ li^omens
em perigo.
— Não ha peor zombaria, que a ver-
dade.
ZOMBAZOMBANDO. Vil. Zombar.
ZOMBEIRÃO, ONA, sul<:<t. Vid. Zomba-
dor.
ZOMBETAR. Vid. Zomhelear.
ZOMBETEAR, v. n. Termo popular. Zom-
bar, esc;irnecer, metter a ridieulo.
ZONA
ZOO
ZOOI
103Õ
— Illudir, enganar com lograções e
acintes.
ZOMBETEIRO, A, s. e adj. Pessoa, ou
cousa que faz zombarias.
— Pessoa que illude, que engana, que
escarnece. Vid. Zombador.
ZOMBIDO, s. m. Vid. Zumbido.
ZOMIDINA, s. /. (Do grego zômidion).
Termo de chimica. Substancia á qual o
caldo de carne, e a carne assada devem
o seu sabor.
— Substancia simples descoberta nos
productos da fermentação acescente e vis-
cosa d'um grande numero de substancias
vegetaes, como da noz vomica, do arroz,
da beterraba, etc.
-j- 1.) ZONA, s. f. (Do grego zams). Ter-
mo de medicina. Phíegmasia cutânea, que
envolve, sob a forma de semi-cintura, o
peito ou uma das três regiões abdomi-
naes.
2.) ZONA, s. /. Termo de geographia.
Cada uma das cinco grandes divisões do
globo terrestre, que se concebem separa-
das por circules parailelos ao equador. A
superficie da terra está dividida em cin-
co zonas ; 1 ." duas zonas glaciaes, que se
estendem desde os poios até aos circules
polares, a distancia de 23" 28', quantida-
de igual á inclinação do equador sob a
ecliptica : para todos os poutos d'estas zo-
nas, o sol fica, em certas epoclias do an-
no, sem nascer e sem se pôr; 2.° uma zo-
na tórrida, que se estende até 23° 28' de
uma e outra parte do equador : para to-
■dos os pontos d 'esta zona, o sol passa ao
aeuith em certas epoclias do anno; 3."
duas zonas temperíidas, comprebendidas
entre a zona tórrida e as zonas glaciaes :
para todos os pontos d'e3ta8 zonas, o sol
nasce e põe-se cada dia, sem nunca pas-
sar pelo zenith. O lobo, que n'esta zona
temperada é talvez de todos os animaes
o mais feroz, não é tão cruel, tão terri-
vel como o tigre, a panthera, o leão da
zona tórrida, ou o urso branco, etc.
— Figuradamente : Passar a zona tór-
rida; atravessar um logar em que o sol
está abrazador, e onde não está sombra.
— Partes do ceu que correspondem ás
divisões do globo terrestre cbamadas zo-
nas.
— Região considerada em relação á
sua temperatura. — A Ásia não tem na-
da de zona temperada.
— Termo de geometria. Parte da su-
perficie de uma esphera comprehendida
entre dous planos parailelos.
— Termo de historia natural. Tiras e
signaes circulares. — Seu pescoço e seu
peito ondeados distinctamente de zonas
negrat t brancas.
— Particularmente : A parte visivel
das camadas sobrepostas de que certas
pedras, e certos terrenos são formados.
— No onyx vêem-se muitas zonas. — Zo-
nas concéivtricaê.
— Termo de physica. Zona luminosa;
pkenomeno que acompanha a aurora bo-
real, e que consiste em uma espécie de
arco iris estreito e muitas vezes irregu-
lar.
— Diz-se de um espaço mais ou menos
extenso que se compara a uma zona. —
Sabe-se que n'esta vasta parte do gran-
de oceano equatorial existe uma zona de
12 a 1-4 graus pouco mais ou menos de
norte a sul, e de 140 graus de este a
oeste, semeada de ilhas, que estão sobre
o globo terrestre, como a via láctea so-
bre a abobada celeste. — Os raios do
Bol estão quasi sempre comprehendidos
n'uma zona de sua superficie, cuja lar-
gura, medida sobre um meridiano solar,
não se estende além de 34 graus, de ca-
da lado do seu equador.
— Termo de marinha. Uma das cinco
partes do globo que está entre os dous
poios j a do centro se chama tórrida, as
dos lados, immediatas a esta, chamam-
se temperadas, e as dos extremos se de-
nominam frigidas ou glaciaes.
— Zonas cios ventos alizados, dos ventos
variáveis, etc. ; a parte do globo em que
estes ventos reinam habitualmente. —
Parece-rne i^ue se podiam dividir os ven-
tos por zonas.
— Termo de anatomia. Zona tendíno-
sa; circulo esbranquiçado que se obser-
va por toda a parte do orLficio auriculo-
ventricular do lado direito do coração.
— Zona transparente; a membrana vi-
tellina.
— Termo de cirurgia. Zona perigosa;
região, que tendo por centro a região
clavicular, se estende a 14 ou 18 centí-
metros, sobre o pescoço, braço e peito, e
faz correr o perigo de introduzir ar nas
veias quando se abrem dui'ante as opera-
ções cirui-gicas.
— Figuradamente e por assimilação :
As diversas classes da sociedade.
ZONCHADURA, s. f. A acção de levan-
tar o zoncho.
— Golpe com zoncho para dar á bom-
ba de zoncho, differente da de roda.
ZONCHAR, V. n. Dar ao zoncho, le-
vantal-o para extrahir o ar da bomba,
ou seringa, e fazer vir a agua oceupar o
vazio.
ZONCHO, s. m. Êmbolo da bomba do
navio, o qual se levanta para a agua su-
bir pelo tubo d'elia.
— Talvez ó pêndulo de ferro, que se
move para fazer subir o pêndulo que em
outras bombas sobe e desce ao movimen-
to de uma roda.
ZONIDO, s. m. Vid. Zunido.
f ZONIFORME, adj. 2 gen. Em forma
de cintura, de zona.
■}- ZON-ZON. Onomatopeia que exprime
o som de uma varada que fere o ar, o
ruido dos instrumentos de cordas, etc.
ZOO. Palavra que serve de prefixo em
muitos termos scientifiços, e que se de-
riva do grego zôon, animal.
ZÕO. Vid. Zovo.
I ZOOBIA, s. /. (De zôon, e bios). Que
vive no corpo dos animaes.
t ZOOBIOLOGIA, s. /. A physiologia
animal.
-{- ZOOCARPO, s. m. Jíome dado, poi-
Bory de S. Vicente, que os descobriu em
1817, aos corpos chamados zoosporos
1 t ZOOCHIMIGA, s. f. Analyse chimi-
ca das partes constituintes dos animaes,
I f ZOOCHIMICO, A, adj. Que perten-
ce á zoochimica.
— Processos zoochimicos ; emprego dos
j reactivos chimicos para facilitar as dissec-
j ções ou supprtr a impotência dos instru-
mentos.
ZOOCHRESIA, s. f. (Bo grego zôon, e
^ chrêsisj. Sciencia que indica ao homem
a maneira de educar, e adestrar os ani-
maes que lhe podem ser úteis, para d'es-
te modo alcançar d'elles melhor serviço,
, ou proveito.
t ZOOETHYCA, s. f. Historia dos cos-
tumes, e hábitos dos animaes.
7 ZOOuENIA, s. f. Geração dos ani-
, mães.
\ ZOOGENEO, ou ZOOGENIO, «. m. Do
; grego zôon, e gennaô). Termo de chimi-
j ca. Matéria orgauica azotada, que ha si-
j do indicada em algumas aguas mineraea,
I e que parece ser o mesmo que a baregi-
: Tuij ou glerina.
j t ZOOGLYPHITA, «. /. Termo de mi-
I neralogia. Pedra figurada, apresentando
; estampas danimaes.
• ZOOGONIA, s. f. Termo didáctico. Co-
nhecimento da geração dos animaes.
' ZOOGRAPHLA, s. /. (De zôon, e gra-
pkosj. Descripçào dos animaes.
— Termo de bellas-artes. Pintura de
animaes.
— Arte de desenhar as partes dos ani-
j mães, ou de as imitar empregando as
diversas matérias plásticas.
ZOOGRAPHICO, A, adj. Que pertence
I á zoographia.
— Termo de diplomática. Diz-se de
cartas cujas diversas partes são formadas
por meio de figuras d'animaes.
— Termo de mineralogia. Diz-se de
uma espécie de talco que serve para a
pintura.
f ZOOGRAPHO, s. m. (De zôon^ e gra-
phos). Author que escreveu luna zoogra-
phia.
— Pintor d'animae8. — Polycida, zoo-
grapho e musico, viveu no quarto século
antes de Jesus Christo.
7 ZOOIATRIA, s. f. Svnonvmo de me-
diciíia veterinária, medicina dos ani-
maes.
f ZOOIATRICO, A, adj. Que pertence
á zooiatria.
ZOOIATRO, s. m. Synonymo de vete-
rinário, medico dos animaes.
ZOOIATROLOGIA, «./. (Do grego zôon,
iatreuô, e lugos). Sciencia medico-veteri-
naria.
1036
ZOON
ZOOP
ZOEL
— Discurso, tratado sobro essa scicn-
cia.
f ZOOIDE, adj. 2 gen. Temio de mi-
neralof^na. l)iz-»c do um mineral cuja for-
ma rupru8oiitii a de um animal inteiro ou
uma ]i:irto do qtuxl((Uor animal.
ZOOLATRA, D. m. Adorador ■Jdos ^am-
maoH.
ZOOLATRIA, í. /. (Do] grego] z/Joft, o
latreia). Adoraorio <los animaes.
f ZOOLATRICO, A, mlj. Que perten-
ce :l ZDolatria.
ZOOLITE, ou ZOOLITHE, s. m. (Do
grego zôon, e lithou). Farto de um ani-
mal que está petrificado.
— Nome dado ás potrideações que re-
presentam certos animaes, ou partes de
animaon .
f ZOOLITHICO, A, a<lj. Termo de mi-
neralogia, tjut'. coiitóni zoolitlies.
— Que pertence ou se assimilha a um
zoolithe.
ZOOLOGIA, *. /. (Do grego zôon, e la-
gos). l\irte da historia natural que tem
por objecto os animaes.
— Zoologia medica ; parte da zoologia
que descreve os animaes, fornecendo ma-
térias utilisadas em medicina, e aquelles
que sã > nocivos ao homem, taes como os
animaes venenosos, os peixes venenosos
e 09 parasitas.
t ZOOLOGICAMENTE, adv. (De zooló-
gico, e o suffixo «lueate»). No ponto de
vista zoológico.
ZOOLÓGICO, A, adj. Que diz- respeito
á zoologia.
— Gdographia zoológica ; parte da geo-
graphia que trata da distribuição dos ani-
maes sol);'o a torra.
ZOOLOGISTA, s. 2 gen. Termo de his-
toria natural. Aquelle que conhece a zoo-
logia, iquelle que trata d'ella.
— Alguns dizem Zoologo.
t ZOOLOGOGRAPHIA, *•. /. (Do grego
zôon, log IS, o t/raphou). Parte da historia
natural que se oceupa dos animaest
ZOOMAGNETISMO, s. m. Termo didá-
ctico. Magneti-imo animal.
f ZOOMORPHIA, s. /. DescripçRo do
exterior Jo-; auimaes.
■{■ Z00M0RP3ISM0, a. m. Gnlto reli-
gioso qiio dá á^i divindades a forma de
animaes. .-u-i/ . 0.';
— OpiniJto ciH que sí>;'08taVa de que
os homens se podiam transformar em ani-
mas?, tal era a crença na Ivcantliropia.
t ZOOMORPHITA, s. /. Substaníia mi-
norai que i>ftVri'ee a fArma de um animal
ou do uma parte de um animal.
ZOONATO, s. »». Termo dé ciilmica.
Sal formado pela combinação do acido
zoonico cora lima base. ' •
ZOONIGO, adj. m. Termo de títómica.
— Acido zoonico ; ácido obtido pela dis-
tillaçrio de muitas substancias animaes, o
que depois se veritíco» ser o Hiesmo que
acid<) (tcofico. -jo ',■•''
f ZOONITADO, A, adj. Termo d© eco-
logia. Animaes zoonitados; o» articula-
dos, OB verme», o oh echiiiodormes.
f ZOONITE, ». wi. Cjida um doa HcrcB
parciacs cuja reuniSo couiitituo um ani-
mal Cl imposto.
ZOONOMIA, «. /. Conjuncto daR lois
que rigiui as acções orgaidcas doa ani-
maes.
f ZOONOMICO, A, a<lj. Que diz respei-
to á zoononiia.
f Z00N030L0GIA, ou ZOOPATHOLO-
GIA, «. /. Conhecimento das dofeaçaa dos
animaes.
f ZOONOSOLOGICO, A, adj. Que diz
respeito á zuimosologia.
ZOOPHAGIA, s. f. Condição dos ani-
maes que SC nutrem d'outros animaes.
ZOOPHAGO, A, adj. Que vive de ma-
térias animaes.
— Diz-se das moscas, o outros insectos,
que chupam o sangue dos outros ani-
maes»
— Diz-se dos carnivorr>s, que se nu-
trem de carne, e particularmente dos que
devoram as presas vivas.
— Substantivamente: Um zoophago.
ZOOPHORICO, A, adj. Que é relativo
ao zoophoro.
— Cviumna zoophorica ; columua real-
çada com uma figura d'auimal.
ZOOPHORO, s. ?«. (Do grego zoopho-
ros). Termo do architectura antiga. Friso
tle um edifício carregado de figuras de
animaes.
— Termo de anatomia antiga. Nome
que os antigos liavam ao zodiaco.
t ZOOPHYTARIO, A, adj. Que diz res-
peito acis zoophytos. — As invasões do
oceano pela via zoophytaria.
t ZOOPHYTICO, A, <idj. Que contém
zoophytos.
ZOÓPHYTO, s. «i. (Do. grego zoophy-
ton). Termo de historia natural. Nome
dado por Linneo a uma classe de ani-
maes compreheudendo os seres que elle
julgava intermediários entre os animaes
e as plantas.'"'! ' '■ ' •■"■
— Adj. Que participa do Àninuil e da
plaut.i.
f ZOOPHYTOGRAPHIA, »./. (Do grego
Boophi/ton, e grriphos). Descri pçâo, histo-
ria dos zoopliytos.
^ — Obra relativa a esta acicncia..
-■ Y ZOOPHYTOGRAPHO, a. m. [Do grego
zoophyfon, c graphoí). Aquelle que ae
entrega ao estudo dos zoophyt*>8.
— Author d 'obras relativas a esta ma-
téria.
ZOOPHYTOLITHES, s. m. Termo de mi-
noralogia.. Petrifioaçãò de z«oplijrliãá »em
fíirma <itó arbustos.. i'^
ZOOPHYTOLOGIA, s. f. (Do gi-e.go zoo-
phytos, o log<>s'\. Termo de histeria uatu-
nvi. Conhecimonto, tratad».do3 zoophy-
tos. -■ • I
ZOOl^HYTOLOGO, .-!. m. (Do grego aoo-
phytoti, e logví,. AqucUe ijuo ^e oiiti'egA
ao estudo da aoophytologia.
— Auctor irobrat) relativau a esta ma-
téria.
ZOOPISSA, ». /. (Do grego zdo, e pi$-
sa), Ak-utr3o ou breu que He tira doe na-
vios velhos.
— Alguns dizem Zopiza, e talvez eej»
melhor porluguez.
f ZOOSPOREAS, ». /. plur. Termo de
botânica. lJiz-«e de certas algas, cujoa
sporos são dotados do movimentos.
;- ZOOSPORO, ». m. Termo de botâni-
ca. Sporo tendo pêllos vibrateis, em certaa
algas.
ZOOTAXIA, ». /. (Do grego zôvn, e ía-
xÍ8}. r'las.-ificaç3o dos animaes.
— Termo didáctico. Dis{K>8Íção, orga-
nisaçào nicthodica dos animaes.
f ZOOTAXICO, A, adj. Que diz respei-
to zoot.-ixia.
ZOOTECHNIA, «. f. (Do grego tOcn, e
technc). l^alavra a principio empregada
como titulo d'uma obra sobre * arte de
conservar os animaes.
— Modernamente : A arte de aperfei-
çoar 08 animaes domésticos, e de os ada-
ptar ás necessidades determinadas. — A
zootechnia [iratica, que para nós deve
passar adiante da historia natural.
f ZOOTECHNICO, A, adj. Que pertence
á zootechnia. — A questão zootechoica.
— S. m. Aquelle que outr'ora puniia
em pratica ;^a arte de conservar os ani-
maes.
— ilodemamente : Aquelle que se en-
trega ao estudo e perfciçào das raças de
animaes domésticos. — Todos os zoote-
chnicos reconhecem que os mestiços po-
dem^reproduzii'-3e entre si sem degene-
rar.
ZOOTHERAPIA.Ç.'./. Termo didáctico.
Arte de curar as doenças dos animaes.
I ZOOTHESE, *. /. Termo de botâni-
ca. Synonymo iVaiitheridia e de ovulo
mach) entre os acotyledoueoe.-
ZOOTOMIA, s. f. (Do grego soôn, e /*-
mn')). Aiuitomia dos auimaea.
■ — .Dissecção dos animaes.
7 ZOOTOMICO, A, adj. Que diz res-
peito á zix)ti>mia, á anatomia dos ani-
maes. — Lti." zootomicas.
-;- ZOOTOMISTA, «. 2 gen. Pessoa que
estu ;a nu jiratiea a zooton.ia.
ZOOTYPOLITHES.s.iw. piar. (Do grego
BÔoi, tif^i'.s. f /í(/í «>> Termo de luineralo-
gia. Pedras que toui impressa em iodo, ou
om parte, a figura de uni arúmal.
-{■ ZOOXANTINA, «. /. Termo de eki-
mica. Piir.cipio coloraute aman»llo ea-
poeia! que se ubt^m decompondo fus pen-
nas amarellas, >o;( ile iuu.amaiWlo eever-
ileaik» i)èlo .icido acótiâo quôuto.
ZOPYRO, *-. Hl. Tei:mo »le boUnica.
Plantn.
ZORAHE, 0-. "I. Vid. Cerome.
ZORIA, .-•./. Palmatoria-
ZORUTQ, .-». IH. TeiuK» litó higtoriar na-
tural. Espécie de cabra luiuitez.-
— Cabrão ba::taifui> utoutez, .ctyréolo.
ZOUA
ZUMI
ZUZA
1037
ZORNAL, s. m. Termo de historia na-
tural. Tordo visqueiro.
f ZOROÂSTRIANO, A, adj. Que é re-
lativo a Zuioastro. — Estudos zoroas-
trianos.
— Substautivanieiite : Á religião dos
zoroastriauos.
f ZOROASTRISMO, s. m. A religião
de Zoruastro.
I ZORONGO, s. TO. Dausa kespauhola,
cujos pas:50S sào dirigidos alteraativa-
mente para diante e para traz, em um
movimento mui forte.
ZORRA, s. f. Cairiuho com rodilliões
de levar pedras, e cousas pesadas.
— Um angulo de dous paus, ou forqui-
lha grossa de ramo, que se faz com tra-
vessa na base ; sobre ella se colloca ma-
deira de rojo comprida para a cabeça
correr alta do chão, e estorvos que impe-
dem o arrasto nas mattas onde se abrir
a picada.
— Figuradamente : Pessoa que faz tudo
mui vagarosamente.
— Termo de historia natural. Uma es-
pécie de raposa.
ZORRAGUE, s. m. Vid. Azorrague.
ZORRAL, s. m. Termo de historia na-
tural. Estorninho.
ZORREIRG, A, adj. Eonceiro, vagaro-
so, que se move lentamente. — Embarca-
ção zorreira.
— Home/ii zorreiro ; homem não acti-
vo, tardo, iuddigeute, que tudo faz va-
gorosamente.
ZORRO, A, adj. Arteiro, astuto como a
raposa.
ZORROS. Termo usado n'esta phra-
se : Levar a zorros ; levar aos tirões, ar-
rojando, arrastando, a reboque, ou á sir-
ga. Vid. Jorro, e Rojo.
ZORZAL, s. í/i. Termo de historia na-
tural. Ave pequena negra, malhada de
pardo ou branco, ou amarello ; tem bico
á similhança da pega: é mais conhecida
entre n('is pela denominação de estorninho.
ZORZALEIRO, adj. m. — Falcão zorza-
leiro ; falcão que caça zorzaes.
■j- Z03TER, s. m. Termo de medicina.
Sjnonymo de Zona 1).
f ZÒSTERA, s. /. (Do latim zoster,
planta marinha). Termo de botânica.
Planta da familia das naiadeas, crescen-
do submergida nos lodos de quasi todos os
mares, mormente meridionaes.
ZOTE, adj. 2 gen. (Do francez sot).
Termo popular. Idiota, estúpido, ignoran-
te, pateta.
— Substantivamente: Um zote.
ZOTISMO, s. m. O vicio do zote, e seus
desacertos.
— Idiotismo, ignorância, estolidez, pa-
tetice, parvoíce.
ZOUAVE, s. «!. Soldado de um corpo
africano ao serviço da França depois da
conquista de Argel.
— Os corpos de infanteria ligeii'a fran-
ceza.
ZOUCETO, s. m. Espécie de mergulhão.
ZOUPEIRO, A, adj. Termo da provín-
cia da Beira. Velho, ou velha; decrépito,
que se não pôde bulir.
— Substantivamente: Um zoupeiro.
20V0, s. iit. Nome dado pelos cafres a
um cavallo marinho, que se cria nos
rios de Cuama, e de Sofala, e nos mais
de tilda, aquella costa jjjsão de desmesura-
da grandeza.
I ZOZIMO, s. m. Termo de botânica.
l-Tenero de umbeiliferas.
ZUARTE, s. m. Cleuei-o de lençaria de
algodão, oriundo da Ásia.
ZUCHE, í. m. Termo de zoologia. Uma
cobra do Brazil.
ZU.TCHE, s. 71). Termo de historia na-
tural. Vid. Zuche.
— Coljra de Angola, denominada cus-
pidora, porque se defende com esguichar
uma lympha venenosa aos olhos daquel-
le que a" persegue : os ossos da sua espi-
nha t em virtude medicinal para a cura
das escrófula-;.
ZUM. Voz formada por onomotopeia,
exprimindo o zunido io ve-ito, das abe-
lhas, ete.
— Diz-se também: Ouvir um zum-zum.
ZUMBAIA, ou ZUMBAYA, s. /. Termo
da índia. Cortezia profunda com os bra-
ços cruzados, que consiste em abaixar a
cabeça até aos joelhos, e a mão direita
no chão, e isto três ou quatro vezes an-
tes que cheguem ao senhor, e chegados
a elle mettem-lhe a cabeça entre as mãos,
dando a entender que lh'a offerecem.
■ — Por analogia, inclinação a quaes-
quer signaes de respeito.
ZUMBAIADO, parf. pass. de Zumbaiar.
Corttijadi), fazendo zumbaia. — Ricaqo
zumbaiado.
ZUMBAIAR, ou ZUMBAYAR, v. a. Cor-
tejar, fazendo zumbaia.
ZUMBAR, V. n. Dobrar, acurvar.
ZUMBIDO, s. m. O susurro das abe-
lhas, dos mosquitos, moscas e outros in-
sectos.
— Part. pass. de Zumbir.
ZUMBIR, V. n. Causar som á similhan-
ça do susurro das abelhas, das moscas,
dos mosquitos, e outros insectos.
— Figuradamente : Zumbem, ou zunem
os ouvidos. ' ' '
ZUMBRIDO, A, adj. Dobrado, acurva-
do, vergado.
— Ser zumbrido, andar zumbrido; cur-
vando-se, humilhando-lhe a todos á ma-
neira do cão fagueiro, que se humilha
muitas vezes a seu dono.
— Part. pass. de Zumbrir-se.
ZUMBRIR-SE V. reji. Dobrar-se, cur-
var-se, vergar-se.
— Figuradamente : HumUhar-se, á si-
milhança do cão fagueiro, que se abai-
xa ou deita.
ZUMICO, adj. m. — Acido zumico, ou
láctico ; acido descoberto na zomidina.
Vid. Zomidina, e Zymico.
ZUNGA, s. /. Termo de zoologia. Bi-
chinho do Brazil, e da índia.
ZUNIADA, s. /. Grande zunido conti^
nuo e aturado.
— Termo popular. Aturar zimiada;
ouvin.io os falladores.
ZUNIDEIRA, s. f. Pedra em que os ou-
rives alizam o ouro.
ZUNIDO, s. m. Som agudo do vento
I enfiado por fendas.
1 — O .susurro das abelhas, das moscas,
dos mosquitos e outros insectos.
I — Som que algumas doenças produ-
I zem nos ouvidos.
— Diz-se também : O zunido dos re-
mos.
— Part. pass. de Zunir.
j ZUNIDOR, A, adj. Que faz zunido,
que produz som agudo, que zune. — In-
' sectos importunos e zimidores.
[ ZUNIMENTO, s. m. Vid. Zunido, ter-
mo preferível.
ZUNIR, V. n. Produzir zunido, causar
som agutlo e forte.
j — vSoar aguda e fortemente.
j — Zunem os ouvidos; por doença.
I ^ Zunem os ventos que entram pelas
I femlas,
ZURRACHA, s. /. Barco de carreira
ou passagem.
ZURRADO, í-^rí. pass. de Zurrar. Or-
nejado.
ZURRADOR, A, adj. Que zurra, que
produz zurros.
ZURRAPA, s. /. Vid. Surrapa.
ZURRAR, V. n. Soltar o burro a sua
voz, ornejar.
— V. a. Figuradamente: Zurrar gra-
fes conceitos; dizel-os estupidamente em
altas vozes.
ZURRARIA, s. f. Multidão de zurros
de muitos jumentos juntos; ou os muitos
zurros de u,m só, contínuos e amiuda-
dos.
— Figuradamente: Zurrarias de vates
ou orates jumentaes.
ZURRO, s. rn. A voz do burro.
Feliz tu, que no zurro ao maia valente
Burro, que vencer pôde hum Methéoro,
No ligeiro emparelhas igualmente.
ABBADE DE JAZENTE, POESIAS, pag. 65.
ZURZIDURA, s. f. Acto de zurzir.
— Acção de maltratar com açoutes.
ZURZIDO, part. pass. de Zurzir.
— Maltratado com fustigadas.
— Figuradamente : Maltratado com pa-
lavras ásperas.
— Açoutado, flagellado,
ZUBZIR, V. a. Maltratar com pancadas
e açoutes.
— Figuradamente; Maltratar com pa-
lavras ásperas.
— Flagellar, fustigar, açoutar, azorra-
gar.
f ZUZARO, s. m. Termo de zoologia.
Género de crustáceos.
1038
ZYGO
+ ZWINGLIANISMO, s. m. Doutrina do
Zwinglo, (JiíTerindo da do Luthcro cm
doua pontos : o livre arbítrio, ao qual Lu-
thcro concedia vantagem, e a oucharÍH-
tia, em que elle pretendia que o pSo e o
vinho não oram mais que uma figura do
corpo o sangue de Jesus Cíiristo.
t ZWINGLIANO, s. m. Membro d'uma
seita fundada no século xvi por Zwin-
glo, vigário de Zurich,
t ZYGENO, «, m. Termo do zoologia.
Peixe conhecido também pelo nome de
martdlo,
— Cicnoro do borboletas crepusculares
■ t ZYGOCERO, A, adj. Termo do zoo-
logia. Que tom os tontaculos om numero
par.
f ZYGODACTYLO, A, adj. Termo de
zoologia. Que tem os dedos em numero
par.
ZYGOMA, 8. m. (Do grego zygoma, jun-
tura). Termo de anatomia. Todo o corpo
teansversal que serve para unir outros
dous.
— Alguns denominam-n'o osso jugal,
porque uno a face ás partes lateraes do
crftneo.
ZYGOMATICO, A, adj. Termo de ana-
tomia. Que pertence ao zygoma, á ma-
çã do resto.
-—Arcada zygomatica ; arcada óssea,
formada por baixo da fouto da cabeça
pelo zygoma e o temporal.
— Apophj/se zygomatica; longa apo-
physe que da cavidade glenoide do osso
temporal se dirige transversalmente pa-
ra diante, a fim de se articular com o os-
so malar.
— Fossa zygomatica; espaço compre-
hendido entre o bordo posterior da aza
externa da apopkyse pterygoide, e a cris-
ta que desce da tuberosidade malar á ex-
tremidade alveolar superior.
ZYMO
— Músculos zygomaticos ; os dous mús-
culos que attrahcm os cantos das boccas
para as orelhas, e que obram principal-
mente na acção do rir. — O grande zy-
gomatico. — O pe,,uerw zygomatico.
— N,;rvo zygomatico; um dos ramos
do facial.
t ZYGOMATO-AURICULAR, adj. 2 r/en
Termo de ai atomia. Que pertence ao zy-
goma e ao ouvido. — Musculo zygomato-
auricular.
t ZYGOMATO-LABIAL, adj. 2 gen. Ter-
mo do anatomia. Que pertence ao zvgo-
ma o aos lábios. — Musculo zygom'ato-
labial.
t ZYGOMATO-MAXILLAR, adj. 2 gen.
Termo de anatomia. Que pertence ao zy-
goma o á maxUla. — Musculo zyqomato-
maxillar.
ZYGOPETALO, ,. m. Termo de botâni-
ca. J'lanta do Urazil
t ZYGOPHILLEAS, s. f. plur. Termo de
botânica. Fanulia de plantas separadas
das utraecas.
t ZYGOSPORO, s. w. Sporo produzido
pela uniao de dous filamentos visinhos em
certas espécies de cogumelos e algas mi-
croscópicas.
ZYMICO, A, adj. Que diz respeito á
rermen tacão.
— Ácido zymico ; synonymo de acido
lacHco.
— Vid. Zumico.
ZYMOLOGIA, s. /. (Do grego zymê, e
logos). Tarte da chimica que trata da fer-
mentação.
t ZYMOLOGICO, A, adj. Que pertence
a zymologia.
ZYMOME, í. /. A parte do visco vege-
tal, que é insolúvel no álcool.
^ f ZYMOSA, s. /. Termo de chimica.
Substancia, que no bolor é o fermento
glycosico do assucar da canna, como a
ZYTn
diastese na ceva<Ja germinada é o fer-
rncnto glycosico da fécula. Uma zymosa
6 sempre o producto da actividade d'uma
cellula, ou d'um grupo de ctllulas vivas;
espontaneamente, alguma mateiiu albumi-
nóide ou outra não se toma uma zymosa,
ou não adquire as propriedades d'uma
zymosa ; por toda a parte cm que cllaa
apparecem, estamos seguros de encontrar
alguma cousa rio organisado
t ZYMOSCOPO, ,. m. O mesmo que
Zymosimetro.
i ZYMOSIMETRIA, «. /. Termo de
pliysioa. Artt; de se servir do zymosv-
metro. '' "'
t ZYMOSIMETRICO, A, adj. Que per-
tence ao zymo.simetro, relativo á zymosí-
metria.
ZYMOSIMETRO, .. m. (Do grego zymn-
SIS, e metron,. Termo de physica. Ins-
trumento proprir. para fazer conhecer o
grau lie f. riiientação d'um licor
ZYMOTECHNIA, *. f. (Do grego zy-
■me, e technê, arte). Arte de excitar, de
conduzir a fermentação.
i ZYMOTECHNICO, A, adj. Que diz
rcsjioito i\. zyniotechnia.
t ZYMOfiCO, A, adj. (Do grego zy-
motikos). Que é próprio para a fermenta-
ção.
— Termo de melicina. Que ofiFerece
iim caracter do perturbação, e de disso-
lução comparada a uma f.-rmentaçào. —
As doenças zymoticas. — A varíola é
uma doença zymotica.
ZYTHO, s. m. (Do grego zythos, bebi-
da fervida, cerveja). Bebida de vegetaes
cozidos com agua.
— Espécie de cerveja.
ZYTHOGALA, s. m. (Do grego zythoB,
cerveja, e gala, leite). Mistura de leite,
e de cerveja, que é empregada como be-
bida em certos paizes.
FIM DO QUINTO E ULTIMO VOLUME
AEREVIATURAS USADAS NESTE DIGGIONARIO
Adag.
adagio.
adj.
adjectivo.
adv.
adverbio.
ant.
antigo.
antiq.
antiquado.
apassiv.
apassivadamente.
a. ou act.
activo, activamente.
augm.
augmentativo.
CAM., LUS.
Camões, Lusiadas.
SON.
soneto.
c. ou cap.
capitulo.
cant.
canto.
c. ou col.
columna.
comp.
comparae, comparativo.
Gonf.
conferi.
conj.
conjuncyão.
chul.
chulo.
Chr. ou Chron.
chronica.
der.
derivado.
did. ou didact.
didáctico.
dim. ou dimin.
diminutivo.
ed.
ediçfío.
ed. ult.
edição ultima.
fam.
familiar.
/•
feminino.
fig.
figurado.
freq.
frequentemente.
gramm.
grammatica.
i. é.
isto é.
inter j.
interjeição.
irr.
irregular.
L.
livro.
Lat.
latim.
Loc.
locução.
m.
masculino. j
n. ou neutr.
num. ou n."^
p. ou pag.
P. ou P.«
p. e.
•pi. ou plw.
phr.
Prov.
p. a. ou part. act.
p. p. ou part. pass.
p. prés. ou pr.
prep.
pr. ou prop.
pron.
p. us.
s. ou subst.
sing.
s.f.
s. m.
SUp. ou SUptívl.
t.
T. ou tit.
T. ou tom.
us.
V. ou Vid.
v.g.
V.
V. a.
V. n.
V. refl.
V. rec.
V. trans.
V. ou vers.
2 gen.
neutro, neutramente.
numero.
pagina.
padre.
por exemplo.
plural.
phrase.
provérbio.
participio activo.
participio passivo ou do passado.
participio do presente.
preposição,
próprio.
pronome.
pouco usado.
substantivo. »
singular.
substantivo feminino.
substantivo masculino.
superlativo.
termo.
titulo.
tomo.
usado ou usual,
vide, veja.
verbi gratia.
verbo.
verbo activo.
verbo neutro.
verbo z-eflexo,
verbo reciproco.
verbo transitivo,
verso.
dous géneros.
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