Skip to main content

Full text of "Grande diccionario Portuguez; ou, Thesouro da lingua Portugueza"

See other formats


^    Civ 


>^-5^, 


^*f**. 


^4 


DICaONARIO  PORTUGUEZ 


GRANDE  DICCIONARIO  PORTUGUEZ 


ÍHESOO 


I 


PORÍOGUEZA 


PELO 


DR.  FR.   DOMINGOS  VIEIRA 


DOS  eremita;  calcados  de  santo  agostinho 


PUBLICAÇÃO  FEITA  SOBRE  O  MANUSCRIPTORIGINAL,  INTEIRAMENTE  REVISTO  E  CONSIDERAVELMENTE  AUGMENTADO 


QUNTO    VOLUME 


r»03FlT0 

EDITORES,  E.  CHARUON  E  BARTHOLOMEU  H.  DE  MORAES 


1874 


^^--'        Cr 


PORTO 

TYPOGRAPHL\  DE  AlíTONIO  JOSÉ  Di^^ILVA  TEIXEIRA 

02,     RCA    DA    CANCELLA    VEL^   62 


1874 


DICCIONARIO 


língua  portugueza 


e^G. 


das  consoantes.   Um  Q 
mde.  Um  q  pequeno^  Um 
q  romano.  Um  q  itálico.  Um 
Q  de  caixa  alta.  Um  q  de  caixa  baixa. 

—  O  q  nunca  se  escreve  sem  a  vogal  it 
(^qíie,  quão,  quando). 

—  Q  nas  moedas  íVaucezas  indica  que 
ellas  foram  cunhadas  em  Perpignau. 

—  Q  valia  500  na  numeraçào  romana  e 
com  um  traço  horisontal  superior  500:000. 

—  O  Q  latino  é  o  antigo  ko^pa  do  al- 
phabeto  dorico  de  Cumas,  alteração  do 
l:oph  phenicio ;  os  latinos  empregavam-o 
para  exprimir  o  grupo  consonantal  qr, 
escripto  ordinariamente  qc. 

—  Em  portuguez  o  u  na  ligação  qit  ora 
se  pronuncia,  ora  é  simplesmente  um  si- 
gnal  etymologico :  d'esta  ultima  circums- 
tancia,  isto  é,  d'elle  não  ter  muitas  vezes 
valor  phonetico  na  esci-ipta,  resultou  ser 
empregada  antigamente  a  ligação  qit  pa- 
ra exprimir  simplesmente  o  c  latino  con- 
servando o  seu  valor  guttural;  assim  es- 
crevia-se  quaòeca  (cabeça;,  quOr  (côri, 
etc.  Também  o  q  n'essa  ligação  era  mui- 
tas vezes  escripto  c;  assim  cual,  etc,  so- 
bretudo quando  o  u  deixava  de  ser  pro- 
nunciado, como  em  camanlw  fquam  ma- 
gnas),  calidade,  etc. 

—  Nas  palavras  que  como  em  quan- 
do, qual,  quào,  quarenta,  quaresma,  qua- 
tro o  u  é  pronunciado,   qual  é  o  seu  va- 


lor? Temos  aqui  um  u  vocálico  como  em 
uma,  fulano,  etc.  V  A  opinião  vulgar  in- 
sciente responderia  assim ;  mas  esse  ti  que 
segue  q  e  precede  uma  vogal  é  uma  con- 
soante da  natureza  do  v  inglez. 

—  Vejamos  o  que  dizem  alguns  dos 
primeiros  grammaticos  portugueses  sobre  o 
q,  seguindo  a  ordem  clironologica. — • «  Diz 
Diomedes  que  a  pronunciação  do  .q.  se 
faz  de  .c.  e  .u.  e  elle  quer  que  ou  seja 
sobeja:  ou  sempre  tenha  .u.  liquido  de- 
poys  de  si.  Verdade  he  que  ja  Quintilia- 
no quasi  deu  a  entender  que  esta  letra 
era  sobeja  porque  não  faz  mais  do  que 
pode  fazer  .c.  e  os  mais  antigos  todos  os 
lugares  que  agora  se  escrevem  com  .q. 
elles  os  escreviam  com  .c.  cujo  testemu- 
nho he  este  nome  anticum  que  Cornelio 
Fronto  escreve  com  .c.  mas  como  quer 
que  seja  nol-a  havemos  mester  na  nossa 
lingua  assi  para  em  alghiias  dições  que  de 
necessidade  tem  .u.  liquido,  como  quasi. 
quando,  qual.  quanto,  e  outras  semelhan- 
tes como  também  para  quando  se  seguem 
.i.  ou  .e.  por  tirar  a  duvida  que  pode  ha- 
ver entre  .c.  e  .ç.  c  Fernão  d'(_>liveira, 
Grammatica  de  íingoagem  portuguesa, 
cap.  13. — -«Esta  letera,  Q.  pelo  nome 
que  tem,  e  assy  pela  pouca  necessidade 
que  á  delia  (como  vimos  atrás  na  letera 
.c.)  a  nós  convinha  mais  que  a  outra  na- 
çam  desterral-a  da  nossa  orthographia,  e 
em  seu  logar  empossar  esta  letera,  c.  ilas 
já  disse  quam  receoso  sou  de  novidades : 


dado  que  as  proveitosas  tenham  muita 
força  para  serem  recebidas.  Como  creio 
que  se  faria  a  esta  letera,  c,  se  fezesse 
profissam  dano  e  dia :  pois  esta  .Q.  tem 
tam  preversa  natureza  alem  do  mao  no- 
me, que  se  nam  ajunta  ás  leteras,  senam 
mediante  esta  u,  que  lhe  é  semelhável. 
Ou  sam  ellas  tam  limpas  que  senam  que- 
rem ajuntar  a  elle,  ca  nam  dissemos,  qa, 
qe,  qi,  e  dizemos  qua,  que,  qui.  »  João  de 
Barros,  Grammatica  portugueza,  p.  lí)9- 
200,  2.*  ediç.  —  (I  E  assy  tiea  aquella 
letera,  u,  sempre  liquida  sem  força,  prin- 
cipalmente acerca  de  nós,  nestas  dições 
que,  qui:  ca  assy  as  sentimos  como  os 
latinos :  e  dizemos,  qual,  quam,  quanto, 
e  nam,  cál,  cam,  canto,  por  terem  ou- 
tros significados.  Estoutras  syllabas,  quo, 
quu,  nam  as  ha  em  nossa  linguagem :  ca 
dizemos,  como,  cume,  e  na,  quomo,  quu- 
mc.  Estas  duas  syllabas,  que,  qui,  sam 
acerca  de  nós  mui  celebradas.  Porque 
n'esta  parte  desfaleçeo  o  uso  do,  c.  Assy 
que  podemos  daqui  tirar  esta  regra :  Qua, 
usaremos  ás  vezes:  que,  qui,  sempre: 
quo,  quu,  nunca.  i>  Ibidem,  pag.  200. 

—  Vejamos  agora  os  grammaticos  do 
secido  XVII  (e  fins  do  xvii. —  «  Q  he  le- 
tra muda,  que  nenhua  lingua  tem,  senão 
a  Latina,  e  as  que  delia  descendem,  e 
pronunciase  como  c,  segundo  os  antigos. 
As  quaes  duas  lettras  entre  si,  não  se 
diíFerenciavam  na  pronunciação,  mais  que 
na  figura.  Pelo  que  dixeram  muitos  an- 


o 


QKAlJ 


tigos,  quo  <>  .q.  era  letra  ociosa,  e  di-s- 
ncceHHaria.  Donde  veu,  que  muitos  ho- 
monrt  doctos  nunqua  a  corttuniarani  em 
Bua  escriptura,  como  foi  Nií,'idio  Figulo 
contcmiioiaueo  do  Marco  Tuilio,  i|ue  nun- 
ca U!*ou  .k.  iioni  .q.  Poniue  o  mesmo  eí- 
feito  tinha  o  .c.  em  turio.  K  assi  veorilo, 
que  muitos  dos  mosmos  antifíOf,  Bcrcviilo 
por  .q.  palavras  que  depois  se  cscroviào 
per  .c. »  Duarte  Nunes  iIh  Loàn,  Ortho- 
graphia  da  língua  porlugueza.  —  «A  le- 
tra, Que  íproimnciauiDÍa  assi  polo  mao 
soido,  (pie  ta/,  cõ  o  .u.  (jue  lie  seu  compa- 
nlieyro  indispensável)  lie  liuma  das  mu- 
das. Tom  necessidade  iconio  a;,'ora  dice- 
mos)  do  .u.  liquido,  para  lhe  dar  valor 
porque  sem  elle  noidnima  for(;a  tem.  » 
Joilo  Franco  Uarreto,  Ortographia  da  lín- 
gua porlugueza,  y.v^.  1;").').  --  "  Somen- 
te resta  di/.or  que  despois  de  Q.  sempre 
80  escrevo  u,  liquido,  para  moditicar  sua 
pronunciação  :  como  quando,  quasi,  que- 
do, quito,  vacqueiro,  (piero,  aeifuiro, 
quotodiano,  cinquo,  quonio  ipi^r  interro- 
gação) á  difforença  do  como.  E  alj;umas 
vezes  se  segue  outro,  u;  mas  he  em  dic- 
çilo  Latina;  c  nilo  Portuguesa.  E  pondo- 
se  o  til  (que  ho  hum  risco,  que  ordinaria- 
mente 30  poom  sobre  vogal,  supprindo  a 
letra  m,  o  n)  somente  esta  letra  Q,  su- 
pre estas,  ue :  como  q.  »  Álvaro  Ferreira 
do  Vera,  Orthographia  portuguesa. 

QUA,  coiij.  (dit.  Vid.  Ca,  couj.  C^juo,  por- 
que. 

QUACACUJA,  s.  »i.  Termo  do  Brazil. 
Peixe,  vulgarmente  chamado  enxarroco 
bicudo  (Lophhis  vespertilio),  cujo  corpo  c 
todo  guarnecido  de  tubérculos  cartilagi- 
nosos e  cónicos. 

QUACRE.  Vid.  Quaker. 

QUADA.  Modo  errado  descrever  Cada. 
—  «  Partidos  piír  esta  maneira,  huns  pêra 
o  Keyno,  o  outros  porá  (!uiné,  do  que  era3 
estas  duas  cabeças,  Soeiro  da  Costa,  e 
Làçarote  :  tomou  quada  hum  sua  de  rota.» 
Ban'os,  Década  l,  liv.  1,  cap.  11.  —  «Fi- 
nalmente o  capitào  lhe  concedeo  a  paz 
com  tributo  em  quada  hum  anno  de  cem 
miticaes  douro  o  trinta  carneiros  pêra  o 
Ciipituo  que  os  viesse  receber. »  Ibidem, 
liv.  7,  cap.  4. 

QUADERN...  As  palavras  que  n.HO  se 
encontrarem  com  Quadern...,  busquem-so 
com  Cadern... 

QUADERNA,  s.  /.  Vid.  Caderna. 

—  Plural:  Cadernas.  Termo  de  jogo. 
Parelhas  do  quatro  pontos,  pintados  em 
cada  um  dos  dados  de  jog.ar. 

QUADERNADO,  A,  adj.  Termo  de  botâ- 
nica. Diz-sc  das  folhas  que  tem  quatro  fo- 
liolos  sobre  o  topo  do  peeiolo.  Dú-sc-lhos 
também  algumas  vezes  o  nome  de  quatro 
em  rama. 

QUADRA,  s.  f.  Sala,  quarto  quadrado; 
peça  da  casa,  de  forma  quadrangular. — 
«  Fr.  Vasco  lançou  os  olhos  para  lá ;  mas 
a  Inz  que  entrava  livremente  pela  porta 
e  enchia  a  quadra  em  quo  estavam  mal 


QUAD 

liie  deixou  divisar  ah!  ilcntro  uma  enxer- 
ga e  um  vulto  deitado  om  cima  delia, 
com  o  rosto  virarlo  para  a  parede.»  Ale- 
xandre Herculano,  Monge  de  Cister,  ca- 
pitulo ."). 

-  1'atco  quadrado,  rodeado  de  edificio 
quadrado.  —  uTiidia  os  jjós  sobre  uma 
coluna  de  três  covados,  e  ao  entrar  dei 
Hey  cessou  do  golpear  no  chào,  dando- 
llio  lugar,  a  quo  visse  os  segredos  da 
quadra,  em  hmna  parede,  d:i  <(ual  posta 
à  m."io  esquerda  léo  estas  palavias.»  Mo- 
uarchía  Lusitana,  liv.  7,  cap.  1. 

—  Quadra  <la  lua ;  uma  das  quatro 
divisões  do  tempo  de  «eu  curso,  ou  a 
quarta  parte  do  mcz  lunar;  quarto  da 
lua. 

—  Quadra  do  anno;  uma  das  quatro 
estações  do  anno. 

—  Bandeira  de  quadra,  ou  a  quadra, 
termo  náutico;  a  que  levam  nos  mastros 
grandes  a  almiranta,  ou  nau  capitania, 
e  a  tiscal. 

—  Termo  náutico.  <)  largo  da  nau  pe- 
la quarta  parte  posterior. 

—  Termo  de  poesia.  Quatro  versos  me- 
nores ;  um  quarteto,  —  Glosar  uma  qua- 
dra. 

—  O  lado  de  um  quadrado.  —  ..4  qua- 
dra d'um  edificio,  d\uma  fortaleza. 

—  Loc.  ADv. :  Aquella  quadra  ;  n'a- 
quolla  sazilo,  ensejo,  occasião. 

—  Repartição  de  um  jardim  cm  qua- 
dro, ordinariamente  cercado  de  miu-tas. 
As  quadras  dividem-se  em  arcolas,  onde 
se  forniam  maciços  de  flores. 

QUADRADO,  s.  m.  (Dolaúm  quadratus). 
Termo  de  geometria.  Quadrilátero  cujos 
quatro  lados  são  iguaes,  o  cujos  quatro 
ângulos  são  rectos.  A  superfície  d'iun 
quadrado  acha-sc  multijilicando  por  si 
mesmo  o  numero  quo  exprimo  o  com- 
primento de  seu  lado. 

—  Termo  d'algebra  e  d'arithmetica. 
Diz-se  da  segunda  potencia  d'uni  nume- 
ro ;  4,  por  exemplo,  é  o  quadrado  de  2, 
isto  é,  o  producto  de  2  multiplicado  por 
si  mesmo;  por  consequência,  2  c  a  raiz 
quadrada  de  4. 

Eis  aqui  os  quadrados  dos  números, 
com  seus  valores,  desde  1  até  10: 

Riizes  quadradas:  1,   2,  3,   4,   5,    6, 

7,  S.  9,  10. 

Quadrados:  1,  4,  O,  1(3,  2j,  oG,  40, 
64,  81,  100. 

—  Quadrado  magico ;  dá-se  este  nome, 
cm  arithmetica,  a  um  quadrado  dividido 
em  collulas  ou  compartimentos,  cm  que 
se  dispõe  uma  serie  do  números  em  pro- 
porç.no  arithmetica,  de  modo  que  as  som- 
mas  de  todos  os  quo  sj  acham  na  mesma 
fileira  horisontal,  vertical  ou  diagonal, 
sejam  todas  iguaes.  Sc,  por  exemplo,  se 
distribuo  nas  casas  d'ura  quadrado  mui- 
tos termos  d'uma  progressão  por  diffc- 
rença,  taes  como  1,  2,  o,  4,  f),  G,  7,  8, 
O,  10,  do  seguinte  modo: 


QUAD 


0 

10    3 

i 

6     8 

H2I7 

ter-8c-ha  ó4-10  +  3  =  4-f0-f8  = 
5  +  4  4^  í»  =  10  4-  6  -1-  2,  ctc. 

—  Adjecti vãmente:  De  figura  quadra- 
da. —  Uma  caijií  quadrada.  —  Uma  me- 
sa quadrada.  —  «l)o  mais  alto  do  com- 
cheo  sahia  uma  si.•<\.l^  de  piata  grande, 
onde  se  engasl;iv:i  uma  grimjia  a  manei- 
ra de  bandeira  quadrada  feit.-i  do  matéria 
incorruptivcl.»  I''raiici.-co  de  Morae*.  Pal- 
meirim dlnglaterra,  cap.   120. 

—  llaiz  quadrada  de  um  numero;  ou- 
tro numero,  que  «e  contém  n'elle  exacta- 
mente tantas  vezes,  (juantas  são  as  uni- 
dades de  que  consta  o  numero  contido: 
assim,  2  é  raiz  quadrada  de  4,  ponjuc 
SC  conta  duas  vezes  cm  4;  este  é  raiz 
quadrada  de  1(5,  que  contém  aquclle  qua- 
tro vezes ;  e  assim  .")  de  2ii ;  7  de  40 ;  H 
de  64,  etc. 

—  Aspecto  quadrado,  termo  de  astro- 
nomia. A  posição  do  astro,  «jue  dista  de 
outro,  a  quarta  parte  do  circulo,  ou  90 
graus. 

—  Iloruciu  quadrado ;  perfeito,  com- 
pleto. 

—  Figuradamente :  Constante,  valoro- 
so nas  adversidades. 

QUADRADURA.  Viil.  Quadratura. 

QUADRAGENARIO,  A,  adj.  iDo  latim 
quadraijenarius,  de  quadrageni,  tjuadra- 
ginta,  quíirenta).  Que  contém  quarenta 
unidades.  —  O  numero  quadragenario. 

—  Qiie  tem  a  idade  de  quarenta  ân- 
uos. —  Um  homem  quadragenario. 

—  Substantivamente:  Uhi  quadrage- 
nario. —  -4  qloria  dns  quadragenaríos. 

QUADRAGÉSIMA,  .'.  /.  Do  latim  qua- 
dra;it'gi»i<i  tliis,  o  quadragésimo  dia,  de 
quadragesimus\.  Palavra  que  significa  a 
quaresma,  e  que  se  usa  só  na  seguinte 
locução :  o  domingo  da  Quadragésima,  o 
primeiro  domingo  da  quaresma. 

—  Absolutamente  :  .4  quadragésima, 
este  primeiro  domingo.  —  E  "  <lia  da 
Quadragésima  usa-se  sempre  com  um  Q 
maiúsculo  . 

QUADRAGESIMAL,  adj.  2  gen.  (Do  la- 
tim quadragesimalis,  do  quadragésima). 
Que  pertence  á  quaresma.  Usado  frequen- 
temente nas  seguintes  locuções:  j> jum 
quadragesimal  ;  ferias  quadragesimaes ; 
aòstintncia  quadragesimal. 

—  T'í(/'r  quadragesimal ;  aquella  cm 
que  se  faz  ct>nstanteuieiite  quaresma.  Al- 
guns devotos  faziam  voto  particular  para 
adoptar  uma  vida  quadragesimal. 

QUADRAGÉSIMO,  A,  adj.  ordinal.  :Do 
latim  fjiiinh-ihj>fiinuí^<.  Qu;u'ente^imo,  qua- 
rentesiina. 

I  QUADRANGULADO,  A,  adj.  Termo 
de  bot,r.iio:i.  Que  tem  quatro  ângulos. 

QUADRANGULAR,  adj.  2  gen.    De  qua- 


QUAD 


QUAD 


QUAD 


drangulo).  Termo  de  geometria.  Figura 
que  tem  quatro  ângulos. 

—  Prisma,  pyrdiniflé  quadrangular; 
que  tem  por  base  um  quadrilátero. 

QUADRANGULARMENTE,  adv.  De  íV.r- 
ma  qiiailrangular. — Dispor  quadrangu- 
larmente  ali/uma  cousa. 

QUADRANGULO,  s.  m.  (Do  latim  qua- 
(Iramjuloti.  de  (^tiafuur,  quatro,  o  angu- 
las, angulo).  Figura  que  tem  quatro  ân- 
gulos, e  quatro  lados. 

—  Edifício,  cuja  base  é  um  parallelo- 
grammo  rectângulo. 

1.)  QUADRANTAL,  s.  m.  Termo  anti- 
go. Medida  romana,  de  liquides,  que  le- 
vava 2  urnas ;  o  médios ;  6  semódios  ;  8 
congios;  48  sextarios;  9G  heminas;  192 
quartarios;  57G  cvathos. 

2.)  QUADRANTAL,  aiJj.  2  geií.  (Do  la- 
tim quadrantalis) .  Termo  de  fortificação. 
CasteUo  quadrantal;  praça  quadrantal; 
cuja  defensa  é  segundo  a  quarta  parte 
de  seu^  alcance,  ou  tiro  veiíemente  de 
mosquete. 

—  Termo  de  trigonometria  espherica. 
Triangulo  quadrantal ;  o  que  tem,  pelo 
menos,  um  lado  que  seja  quadrante  de 
um  circulo. 

QUADRANTE,  s.  m.  (Do  hãúm  quadrans, 
porque  primitivamente  a  sua  forma  era 
quadrada).  Superfície  ordinariamente  re- 
donda sobre  a  qual  se  gravou  oii  pintou 
as  divisões  do  tempo,  como  horas,  minu- 
tos, segundos,  etc.,  e  onde  são  indicados 
quer  por  meio  d'agullias  ou  ponteiros  mo- 
veis, como  nos  relógios,  quer  pela  som- 
bra d'um  estvlete,  como  nos  quadrantes 
solares.  —  Um  quadrante  de  metal.  — 
Um  quadrante  de  porcellana,  etc. 

—  Termo  de  astronomia.  Vid.  Quarta. 

—  A  quarta  parte  do  circulo  ;  o  instru- 
mento mathematico,  em  que  esta  quarta 
parte  está  fígurada  e  graduada. 

—  Termo  de  astronomia.  Quadrante,  ou 
quarto  de  circulo;  instrumento  que  serve 
para  medir  a  altura  d'um  astro  acima  do 
horisonte  e  tomar  alturas  correspondentes. 

—  Quadrante  de  circulo  mural;  instru- 
mento com  o  qual  se  observa  com  gran- 
de precisão  a  altura  meridiana  dos  as- 
tros, fixando-o  solidamente  contra  a  face 
d'um  muro  no  plano  do  meridiano. 

—  Quadrante  de  redacção;  instrumento 
náutico,  pouco  usado,  que  serve  para  re- 
solver muitos  problemas  de  pilotagem  pe- 
los triangidos  semelhantes. 

—  Quadrante  de  reflexão.  Vid.  Oitante. 

—  Termo  guomonico.  A  delineação  em 
um  plano,  de  um  relógio  solar,  formado 
de  linhas  correspondentes  aos  circidos  ho- 
rários, ou  a  cada  15  gi'aus  do  equador. 
Diz-se  quadrante  horisontal,  vertical,  ou 
inclinado,  segundo  elle  está  parallelo, 
perpendieidar,  ou  inclinado  relativamen- 
te ao  horisonte;  e  meridional,  septentrio- 
nal,  oriental  ou  occidental,  segundo  o 
ponto  d'estes  quatro,  para  o  qual  se  acha 
voltado. 


—  Em  conchyliologia  é  o  nome  de  um 
género  de  moUuscos  gasteropodos  pecti- 
nibranchios  de  concha  orbicular,  unival- 
ve,  em  cone  deprimido,  que  habitam  os 
mares  austraes. 

QUADRAR,  L'.  a.  (Do  latim  quadrarc). 
Dar  a  figura  quadrada;  por  exemplo: 
Quadrar  um  terreno,  uma  superficie.  — 
Quadrar  uma  tahoa,  uma  pedra,  wina 
trave. 

—  Termo  de  mathematica.  Quadrar  um 
numero;  multiplical-o  por  si  mesmo. 

—  Termo  de  geometria.  Reduzir  qual- 
quer figura  a  um  quadro,  ou  ao  seu  va- 
lor. 

—  V.  n.  Figuradamente :  Ser  coheren- 
te,  conforme,  accommodar-se,  conformar- 
se;  dizer  bem,  agradar. —  Tudo  lhe  qua- 
dra bem.  —  Isso  não  me  quadra. 

—  Termo  de  astrologia.  Quadrarem  os 
astros;  estarem  em  quadratura,  e  terem 
esse  aspecto,  e  as  influencias,  que  os  as- 
trólogos lhes  attribuem. 

—  Convir.  —  Postura  que  melhor  lhe 
quadra;  a  que  lhe  fica  melhor.  —  «Quan- 
to à  postara  do  corpo,  diz  fiuillerme  Pa- 
risiense, que  não  ajuda  pouco  pêra  a  for- 
ma da  contemplação  estar  ordenadamen- 
te, pello  que  cada  qual  escolha  aquella 
postui'a  que  melhor  lhe  quadrar,  ou  de 
joelhos,  ou  assentado,  ou  estando  em  pé,  ou 
deitado :  aconselha,  porem  o  estar  em  pé 
se  poder  iuclinandose  a  parte  esquerda, 
ou  assentandose  com  o  rosto  leuantado 
ao  Ceo.»  Fr.  Bai"tholomeu  dos  Martyres, 
Compendio  de  espiritual  doutrina. 

QUADRASTE.  Vid.  Cadaste. 

QUADRASYLLABO,  A,  adj.  De  quatro 
syllabas.  — Palavra  quadrasyllaba. 

QUADRATIM,  s.  m.  Termo  de  impren- 
sa. Quadrado  que  serve  para  deixar  o 
branco  ou  claro  do  costume,  nos  princí- 
pios dos  capitules,  ou  de  outras  divi- 
sões. 

f  QUADRÁTICO,  A,  adj.  (Do  latim  qua- 
dratus,  quadrado).  Termo  de  mathemati- 
ca. Que  é  relativo  ao  quadrado.  —  Equa- 
ção quadrática;  equação  do  segundo  grau. 

—  Termo  de  mineralogia.  Que  é  de  fir- 
ma quadrada,  ou  que  se  aproxima  do  qua- 
drado. 

QUADRATO,  s.  m.  Termo  antigo.  Tira 
quadrada  de  seda,  ou  de  outro  qualquer 
tecido,  que  se  sobrecosia  diante,  e  detraz 
das  alvas,  a  que  também  se  chamava  re- 
gaço. =  Em  Moraes. 

t  QUADRATORISTA,  s.  m.  (Do  italia- 
no quadratorista).  Pintor  de  quadraturas, 
isto  é,  d'ornamentos  d'architectura. 

1.)  QUADRATURA,  s.f.  (Do  latim  qua- 
dratura, de  quadrare).  Termo  de  geome- 
tria. Reducção  geométrica  d'uma  figura 
curvilínea  a  um  quadrado  equivalente  em 
superficie. 

—  Figuradamente:  È  a  quadratura  do 
circulo;  diz-se  de  uma  cousa  impossível 
de  achar. 

—  Termo   de   astronomia.    Aspecto   de 


dous   astros    afastados    um   do  outro  90 
graus. 

2.)  QUADRATURA,  s.  f.  (Do  latim  qua- 
dratus,  quadrado).  Termo  de  bellas-artes. 
Pintura  a  fresco. 

—  Pintura  d'ornamentos  d'architectura. 
QUADRELLA,    s.  f.   Termo    antiquado. 

Quadrilha,  divisão  dalguns  para  fazerem 
algum  feito,  ou  serviço. 

—  Courella,  casal. 

—  Quadrella  do  muro;  um  lanço  do 
muro  repartido  a  uma  quadrella  de  gen- 
te para  o  vigiar  e  guardar.  =  Em  Viter- 
bo, Elucidário. 

QUADRELLO,  s.  m.  Setta  com  ferro  de 
quatro  faces,  que  se  disparava  da  besta. 

f  QUADRI...  Palavra  que  significa  qua- 
tro era  composição,  e  é  o  latim  quadri,  que 
não  mais  se  usa  senão  em  composição. 

—  Palavra  usada  em  chimica,  prece- 
dendo certas  denominações,  para  indicar 
a  proporção  quadrupla  d'um  dos  elemen- 
tos dos  seus  componentes.  —  QuadriswZ/w- 
reto;  quadro.ryfZo,  etc. 

I  QUADRI-ALADO,  A,  adj.  Termo  de 
botânica.  Que  é  numido  de  quatro  azas. 

f  QUADRIBASICO,  adj.  m.  (De  qua- 
dri..., e  base).  Termo  de  chimica.  Diz-se 
d'um  sal  que  contém  quatro  proporções  de 
base  pai"a  uma  proporção  d'acido,  isto  é, 
quatro  vezes  a  quantidade  de  base  conti- 
da no  sal  neutro,  sendo  a  proporção  de 
acido  a  mesma  que  n'este  ultimo. 

QUADRICAPSULAR,  adj.  2  gen.  Termo 
de  botânica.  Que  consta  de  quatro  capsu- 
las. —  Fruc.to  quadricapsular. 

t  QUADRICARBURETO,  .s.  »i.  Termo  de 
chimica.  Carbureto  que  contém  quatro  ve- 
zes tanto  carbonio,  como  uma  outra  com- 
binação do  mesmo  género. 

QR'aDRICOCCA,  adj.f.  Termo  de  botâ- 
nica. Diz-se  capsula  quadricocca,  a  que 
tem  quatro  cellulas  bojudas,  e  quatro  se- 
mentes. 

f  QUADRICOLOR,  adj.  2  gen.  (De  qua- 
dri..., e  do  latim  color).  Que  apresenta 
quatro  cores  difterentes. 

f  QUADRICOTYLEDONEO,  a,  adj.  (De 
quadri...,  e  cotyledon).  Termo  de  botâni- 
ca. Que  contém  quatro  cotvledones. 

QUADRICUBICO,  a,  adj.  Vid.  Quadrado, 
e  Cubico. 

QUADRICULA,  s.f.  Instrumento  mathe- 
matico destinado  a  tomar  a  perspectiva 
de  qualquer  objecto. 

QUADRICUSPIDE,  adj.  2  gen.  (De  qua- 
dri..., e  do  latim  cuspis,  ponta).  Que  se 
termina  por  quatro  pontas  agudas. 

f  QUADRIDENTADO,  A,  adj.  (De  qua- 
dri..., e  dentei.  Que  tem  quatro  dentes, 
pontas  ou  divisões. 

QUADRIDENTE,  s.  m.  Peixe,  do  qual  ha 
duas  espécies  :  o  quadridente  hispido;  e  o 
quadridente  cabeça  de  cáqado. 

j-  QUADRIDIGITADO,  Á,  adj.  (De  qua- 
dri..., e  do  latim  digitus,  dedo).  Que  ter- 
mina \K)r  qTiatro  dedos,  ou  por  quatro  fo- 
liolos. 


8  QUAD 

QUADRIENNAL,  adj.  2  ijm.  De  (jua- 
«liii^miio.  lie  (|ii,itro  annos. 

QUADRIENNIO,  «.  m.  íDo  latim  i/iui- 
drifiiiiiiiiin.  K<]>!n;o  (lo  (|uatn)  íinno.s. 

QUADRIFENDIDO,  A,  'i<lj.  1 1  ).•  quadri..., 
<.•  fendido  I.  'rirmo  di!  liotanica.  l*"i'iiiliilo 
MU  (|iialri)  |>art<'s.  —  í']siii/iiiii  quadrifen- 
dido. 

f  QUADRIFOLIADO,  A,  "<lj.  i\h:  qua- 
dri..., 1^  folioloi.  Termo  de  botaiiiea.  \>iu' 
6  ci)iii])ci^tii  lie  (|uatro  foliolojj. 

QUADRIFORME,  ai/j.  2  gen.  (De  qua- 
dri..., e,  forma  .  Quo  aproíienta  quatro 
tVinn.is. 

-j-  QUADRIFURCADO,  A,  'i'lj.  (De  qua- 
dri..., t!  lio  latim  fiin-íi).  Dividido  em 
quatro  ramos. 

QUADRIGA,  .V.  /.  iDo  latim  quaãrujw, 
quadr-igo;,  de  quadr...,  o  do  latim  (ujere, 
comluzir).  (^irro  montado  sobre  dua.s  ro- 
das c  jiuxa<lo  por  quatro  cavallos, 

—  O  tiro  (lo  (|uatro  cavallos. 
QUADRIGEMEOS,    adj.    m.   i>lur.    (De 

quadri...,  e  gémeos i.  Termo  de  anato- 
mia. Nome  de  (juatro  músculos  da  coxa 
da  perna. 

—  Tuhcrcuhi!<  quadrigemeos ;  dá-t^e  es- 
to nome  a  quatro  eminências  da  protu- 
berância eorebral. 

QUADRIGUMEO,  A,  adj.  ^De  quadri..., 
e  gumei.  Termo  do  botânica.  (,!uadran- 
pular.  riiam.i-sc  pedúnculo  quadrigumeo 
o  (]ne  tem  ([uatro  inumes  aiiado.s. 

QUADRIJUGADOi  A.,wlj.  iDe  quadri..., 
e  do  latim  jiíí/íí^i.'-',  de  juíjum,  jn^o).  Ter- 
mo de  botânica.  Diz-se  das  folhas  com- 
postas, que  oíferecem  quatro  pares  de 
foliolos  oppostos. 

QUADRIJUGO,  A,  adj.  (Do  latim  qua- 
drijitiius).  Termo  de  })oesia.  Tirado  por 
quatro  cavallo.s  emparelhados,  ou  por  dous 
tiros  de  bestiís. 

QUADRIL,  s.  m.  A  parte  do  corpo  des- 
de as  ultimas  costellas,  ou  cintara,  até 
ás  coxas;  anca. — «  No  momento  em  que 
os  quinze  ou  vinte  aprendizes  do  sovéla 
6  tira-pé,  encapellados  até  os  quadris 
dentro  do  bojo  do  di-ago,  espécie  classiti- 
cavel  entre  os  sonhos  zoológicos  de  Al- 
drovando  e  cujas  trinta  ou  quarenta  per- 
nas eram  a.s  da  rapaziada  embebida  na- 
qnelle  cavallo  de  Tróia  dos  sapateiros...» 
Ãlexandi-e  Herculano,  Monge  de  Cister, 
cap.  17. 

—  Figunidaniente  :  Alcatra. 

QUADRILATERAL,  adj.  2,jen.  (De  qua- 
dri..., e  lateral).  Que  otferece  (juatro  la- 
dos. 

QUADRILÁTERO,  A,  adj.  i  Do  latim  ,/xia- 
dri/iifcruí'.  de  quadri...,  e  Iiituf,  ladoi. 
Dc  quatro  lados.  —  Fi<iitr(i  quadrilatera. 

—  Substantivamrnte  :  TtM-mo  de  geo- 
metria. Um  quadrilátero;  tigura  que  con- 
tém qu.-itro  lados. 

QUADRILHA,  .'./.  (Do  italiano  (juadrl- 
glia,  diminutivo  de  squadra,  com  a  si- 
gnitíca(^'.ào  de — pequena  companhia  do  sol- 
dados formando  (piadrado).  Pequena  tur- 


QUAD 

ma  (lo  gente  a  cavallo,  originariamente 
i!m  numero  dc  quatro,  soberljamente  mon- 
tados e  vestiiloH  para  executar  justas  nas 
festas  galantes  o  disputar  os  jtremios. 

--Turma  ou  numero  d(r  gente  a  ca- 
vallo jtara  a  guerra.  -  Quadrilha  dt;  Iiks- 
j/a)dwes. — «  Estes  homens  (|ue  aquy  adia- 
mos, nunca,  em  três  dias  ([ue  aquy  esti- 
vemos, quiserar)  te/  com  nosco  neidnim 
modo  i\i'  ednnnnnicaeaò,  ante»  acudindo 
muytas  quadrilhas  dellos  á  prava  junto 
díMide  iKPs  estávamos  surtos,  com  graú- 
dos algazaras,  e  cataduras  medonhas  nos 
davào  grandes  apupadas,  e  atirandonos 
com  fundas  o  bestas,  corriam  de  imma 
parte  pai'a  a  outra,  como  que  se  temiiio 
de  ni'is.  »  Fernào  Mendes  Tinto,  Peregri- 
nações, cap.  71. 

—  (,'ompanhia. — Quadrilha  de  iudivi- 
diios  da  mesma  categuria.  — •  «  Ajuntava- 
se  a  estas  cousas,  os  saccTdotos  dos  Ído- 
los e  todos  08  dc  sua  quadrilha,  que  an- 
dam pêra  sacerdotes  e  se  tem  por  gente 
religiosa,  e  no  trato  e  vivenda  sam  se- 
jiarados  dc  tola  outra  gente,  que  a  meu 
jiiirccor  sei'a  ha  terça  jiarte  da  gente  do 
reyno,  com  el  Rey  desta  terra  poer  cem 
mil  homens  no  campo.»  Fr.  (iaspar  da 
Cruz,  Tratado  das  cousas  da  China,  ca- 
pitulo 1. 

—  Bairro  da  inspecção  do  quadrilhei- 
ro; gente  que  aeomiiauha  o  quadrilheiro. 

—  Esquadra.  —  Quadrilha  ilt  paráos. 

—  Quadrilha  du  l<idrucs,  de  salteado- 
res;  companhia  (Telles. 

—  Matilha.  —  Quadrilha  de  cães. 

—  Tormo  de  dança.  Diz-se  de  cinco 
tiguras  seguidas  dc  uma  contradança.  — 
Dançar  uma  quadrilha  de  lanceiros. 

— -Termo  de  musica.  Reuniiio  do  tre- 
chos de  musica  correspondentes  ás  tigu- 
ras que  se  executam  u'uma  quadrilha. 

—  Collecção  de  quadrilhas ;  collecção 
do  contradanças.. 

—  Quadrilhas  (/(;  Verdi,  de  Bellini, 
ctc. ;  reuni.ào  d'arias  tiradas  das  operas 
d'ostes  authoros,  e  coordenadas  de  modo 
a  formar  contradanças. 

QUADRILHEIRO,  s.  m.  (De  quadrilha, 
com  o  suffixo  «eiro»).  Official  inferior  de 
justiça  nomeado  pela  camará  par.i  servir 
por  esjiaço  de  três  annos. 

—  Termo  de  antiga  milicia.  <.)flicial 
que  repartia  os  despojos  da  guerra. 

—  Designa  tamberti  o  chefe  de  uma 
quadrilha  de  cavalleiros  que  jogam  can- 
nas  e  correm  argolinhas,  ctc. 

—  Quadrilheiros ;  antigamente  em  Lis- 
boa eram  pessoas  graves,  de  confiança  e 
mui  privil(';;iadas. 

f  QUADRILOBADO,  A,  adj.  De  qua- 
dri..., e  do  latim  lobus].  Que  é  dividido 
cm  (piadro  lobos.  —  Fulha  quadrilobada. 

QUADRILOBAL,  adj.  2  gcn.  Termo  de 
botânica.  <^>ue  tom  quatro  lobos  ou  bai- 
nhas ili'  semente. 

QUADRILÔCULAR,  adj.  2  gen.  (Dc  qua- 
dri..., e   do   latim   Inciilus.    lojai.    Termo 


QUAD 

de  botânica.  Quo  é  dividido  cm  quatro 
cellulas  ou  compartimentos.  —  Fructo 
quadrilocular.  —  ( hjj.-iii/a  quadrilocular. 

Aiiilrfa   quadrilocular. 

QUADRILONGO,  ».  m.  .D.-  quadri...,  e 
do  latim  [■niiju.':,.  Figura  de  (piatro  la<l(Jrt 
parallelos  dou.s  a  dous,  tiendu  dous  d'el- 
les  mais  compridos,  o  o»  quatro  ângulos 
rectos. 

t  QUADRIMANO.  Vid.  Quadrumano. 

I  QUADRINGENTESIMO,  «dj.  j),,  la- 
tim quadriagenlesimo  loro,  cm  vez  dc 
qiiadrireutesimo,  de  quadringenti,  quatro- 
centos). Emprega-se  para  designar  o  4<X), 
o  obj(!cto  de  uma  série,  quando  se  come- 
çou a  contai-  por  primo,  secundo,  tertio, 
ete.  ( 'ontiiiu;in(lo  a  cmlagcm,  diz-se: 
quadringentesimo  primo,   quadringente- 

Simo   i^irundi,.    itc. 

QUADRINOMO,  s.  m.  (De  quadri...,  e 
do  grego  u<imê,  parte,  divisii(j;.  Termo 
de  álgebra.  Expressão  algébrica  compos- 
ta de  quatro  termos. 

j  QUADRIPARTIÇÃO,  s.  f.  (De  qua- 
dri..., e  lio  latim  partitus).  Partilha  de 
uma  eoiis.a  em  ((u;itro. 

QUADRIPARTITO,  A,  adj.  iDe  qua- 
dri..., e  do  latim  partitus).  Termo  de 
botânica.  Que  é  dividido  em  quatro  jiar- 
tes.  —  CmUa  quadripartita.  —  Calyx 
quadripartito. 

f  QUADRIPLUMBICO,  adj.  ,De  qua- 
dri..., e  do  latim  plumljusi.  Termo  de 
chimica.  Diz-se  d'iim  sal  de  chumbo  que 
contém  quatro  vezes  mais  da  base  do 
que  do  acido. 

I  QUADRIPONCTUADO,  A,  adj.  (De 
quadri...,  e  do  latim  punctum,  ponto). 
Termo  de  zoologia.  Quo  é  marcado  com 
quatro  ])ontos  coloridos. 

f  QUADRIREMO,  s.  m.  (De  quadri..., 
o  do  i.-itim  rri/tas,  remoi.  Nome  de  um 
navio  da  antiguidade,  que  se  dizia  ter 
quatro  ordens  sobrepostas  do  romeiros, 
quatro  grupos  de  remos  ou  quatro  remos 
por  baiico. 

f  QUADRISAL,  ».  vi.  iDe  quadri...,  o 
sal).  Termo  de  chimica.  Sal  cm  cuja 
composição  entram  quatro  proporções  de 
acido  para  uma  de  base. 

QUADRISPERMO,  A,  adj.  (De  quadri..., 
e  do  grego  sptruia.  semente"!.  Termo  de 
botânica.  Que  tem  quatro  sementes.  — 
Fruto  quadrispermo ;  capsula  quadrí- 
sperma. 

QUADRISULCO,  A,  adj.  Do  quadri,  e 
do  latim  sulcus,  rego).  Termo  de  botâ- 
nica. Que  tem  quatro  regos. 

—  Termo  de  zoologia.  O  animal  qua- 
drúpede, cujo  pc  o  dividido  em  quatro 
dedos. 

-J-  QUADRISULFURETO,  s.  iu.  i  De  qua- 
dri..., e  do  latim  fu/fur).  Termo  de  chi- 
mica. Sulfureto  que  contém  quatro  vezes 
mais  enxofre  do  que  um  outro  da  mesma 
base. 

f  QUADRISYLLABO,  .•.-.  m.  (De  qua- 
dri...,   e    d<>   grego   si/lhib,'!.    Termo    de 


QUAD, 


QUAD 


()UAD 


j^-rammatiua.  Palavra  compo.sta  de  qua- 
ti'ii  svllabas. 

f  QUADRISYLLABICO,  adj.  (De  qua- 
dri...,  e  «o  gTep'o  sj/IlaòP).  Que  é  com- 
posti)  ilc  (|i!atro  svllabas. 

QUADRIVALVE,"  adj.  2  (jen.  (De  qua- 
dri...,  e  (Io  Xslíkiw  valva,  batente  de  por- 
U\).  Teruii)  de  botânica,  (^ue  tem  quatro 
válvulas.  —  Capsula  quadrivalve ;  a  que 
consta  de  quatro  válvulas  e  se  abre  por 
quatro  suturas. 

f  QUADRIVAL¥ULABO,  A,  adj.  (De  qua- 
dri...,  e  do  latim  valva).  Que  tom  quatro 
jiequciia.s  válvulas. 

QUADRIVIO,  s.  m.  (Do  latim  quadrí- 
víuni,  encruzilhada,  de  quadri...,  e  d.o  la- 
tim via,  caminho).  Eiicruzilliada,  logar 
onde  desembocam  quatro  caminhos,  ou 
quatro  ruas. 

• — Designa  também  a  uiviwão  superior 
das  sete  artes  na  universidade  da  idade 
media,  divisão  que  vinha  depois  do  trivio 
e  que  comprehendia  a  arithmetica,  álge- 
bra, a  geometria,  a  musica  e  a  astrono- 
mia. 

QUADRO,  s.  m.  (Do  latim  quadrum, 
quadrado,  íorma  ordinária  dos  quadros). 
Reunião,  ordinariamente  em  angulo.s  re- 
ctos, de  peças  de  madeira,  lisas  ou  com 
molduras,  que  servem  d'ornamento  ou 
meio  preservativo  contra  os  accidentes, 
aos  objectos  que  cerca,  taes  como  vidros, 
painéis,  ete.  —  Um  quadro  dourado  ;  um 
quadro  òevi  entalhado. 

—  Paiael  com  pintura,  ordinariamente 
quadj-ailo  ou  quadrilongo.  —  Bello  quadro. 
—  Um  quadro  de  Raphael.  —  Quadro  de 
(/enero.  — Quadro  d/historia.  —  Galeria  de 
quadros.  —  Restaurar  win  quadro. — íS'eí- 
amador  da  quadros.  —  «  O  Priucipe  con- 
sulte, e  cuide  bem  o  que  decreta ;  por- 
que naò  parece  bem  retratado,  salvo  for 
em  quadro  com  bom  pincel ;  mas  com 
penna  nem  de  palavra,  naõ  fica  gentil- 
homcm.  Se  o  erro  for  pequeno,  melhor  lie 
sustentalloy  se  naõ  se  seguir  delle  grande 
damno,  ou  alguma  oífensa  de  Deos ;  por- 
que prepondéi-a  mais  o  credito  do  Prínci- 
pe. »  Arte  de  furtar,  cap.  30. 

—  Figuradamente :  Um  todo  d'objectos 
qu'í  ferem  a  vista,  que  fazem  impressão. 


Xi^íta  immensa  extnnsão  uiillnjos  de  globos 

Km  profamJo  silencio,  em  gyro  etoruo, 

Sem  encontrar  obstaonlo  caminhão, 

¥,  a  lei  primeira,  que  escutarão,  guardão  : 

Como  surgirão  na  primeira  noite, 

Inda  surgem  agora,  e  aos  olhos  iirilhão, 

D'oxta3Íado  Astrónomo,  que  vi' Ia, 

No  silencio  da  noite,  absorto,  immerso 

Xo  quadro  encantador.  Descubro,  e  vejo 

Astro  origem  da  luz,  que  forma  o  dia. 

J.  A.  DE  MACEDO,  MEDITAçSo,  Cant.  2. 

Até  depois  que  o  pavoroso  Crime 
A  seu  mando  forcou  do  Inferno  as  portas, 
Embargadas  as  lágrimas  lho  ficão 
Nos  tristes  olhos,  se  o  pomposo,  o  vasto 
Qiiadrn  da  Naturcvia  hum  pouco  encara,. 
imnKM.  cant.  -í. 


Diverso  clima  embora  eu  mo  affigure, 
Vapor  mais  denso,  ou  raro,  e  outro  diverso 
Palpitar  de  pulmrics,  e  estranha  forma, 
Ao  ciwumfu.so  fluido  ajustada, 
Em  c;li-ceie  mortal,  substancia  eterna. 
Alma  d 'ordem  sublime  em  corpo  humano, 
(^uo  o  quadro  possa  meditar  da  immensa 
Pasniosa  croaçào,  qual  eu  medito. 
iDiDEM,  cant.  2. 

Tal  foi  o  assombro,  o  êxtase  sublime, 
(jue  o  primeiro  mortal  sentio  primeiro, 
tjaando  ao  Divino  assopro  o  inerte  barro 
Kecebo  a  ^dda,  as  pálpebras  se  rompem, 
E  a  seus  olhos  brilliou  do  Mundo  o  quadro. 

IllIDE.M. 

Tu,  que  dos  Al.)os  as  novosas  frentes 
Soubeste  decantar  :  se  tu  correras 
O  Cáucaso  gelado,  o  Tauro,  o  Gate, 
Que  niagostosos,  que  sublimes  quadros 
Atfain;írào  teu  canto,  onde  a  Pintura 
Tcin  liçues  que  escutar,  o  Urbino  idéas. 

IBIDEM. 


E  o  gérmen  nos  deixou  no  aurco  volume, 
De  (pumto  soube  nas  idades  todas 
A  humana  experiência,  humano  estudo, 
Da  Natureza  o  Quadro  contemplando. 
iriE.M,  VIAGE.M  EXTArici,  caut.  2. 

Em  seus  Escriptos,  que  a  ignorância  altera, 

(Ignorância  dos  Árabes  soberba) 

Saber  cncyclopedioo  descubro. 

Dos  brutos  animaes,  que  a  Terra,  os  Ares, 

E  o  Jlar  no  fundo  abysmo  cucerrào,  nutrem, 

(A  immensa  turba,  as  variantes  classes) 

Plinio,  e  Líuftbn  nos  representa  o  Quadro. 


Míiravilhoso  quadro,  quanto  excedes, 
(Is  do  Vate  EsinirnOo !  Mas  quanto  p/idc 
.•V  crciídrira  fantasia,  o  Génio! 
Quanto  vai  progredindo  o  Ser  humano, 
Co'  o  grã  pczo  dos  séculos,  nas  Artes ! 
Do  Gama  no  Cantor,  que  assombros  vejo! 

llilDEM. 

Os  immortacs  Alcácei-os  se  abrirão. 
Do  centro  esciu'o  das  espessas  nuvens. 
Que  aos  frágeis  olhos  dos  mortaes  escondem 
Os  Quadros  do  Futuro,  a  voz  escuta 
De  hum  Divinal  Oráculo,  que  a  estrada 
I.,ho  marca  da  Virtude,  e  que  lhe  mostra 
Os  Fados  que  hão  de  ter  Carthago,  c  Eoma. 
iiuDE.M,  cant.  1. 


Depois  f|ue  em  Quadros  taes  a  vista  absorta 
Acabei  de  deter,  novos  objectos 
O  transportado  espirito  me  cnlevão. 
Nos  áureos  muros  esculpidas  vejo. 
Nunca  a  meus  olhos  descobertas  Formas. 


Da  sua  mesma  gloria  opprcsso  fica ! 

Da  Creação  no  Quadro  imjnenso,  e  vario 

Eu  si'i  prodígios,  e  milagres  vejo. 

IlUDEM. 

—  Representação  natural  d'uma  cousa 
em   acção,  de  viva  voz  ou  por  escripto. 

—  Quadro  das  paixões  e  dos  vicios.  — 
Quadro  fel.  —  Quadro  exagerado. 


Teu  fogo,  (5  Milton,  teu  transporte  he  fi-ouxfi, 
Teus  quadros  ideaes  cedem  na  força 


Aos  que  Verdade,  c  Natureza  òstcntào  ! 
Remonto  os  voos,  que  animoso  eu  solto 
Inda  além  de  Saturíio,  além  dos  tardos, 
Quàsi  opacos  satellites,  que  o  cingem, 
j.  A.  DE  M.vcEDO,  MEDiT.u,'lo,  cant.  2. 

Quanto  soja  o  mortal  inda  hoje  mostras. 
Teus  quadros,  teus  pincéis  respeita  o  Tempo. 
Entre  o  medonho  estrépito  das  armas 
Ao  Jlacedonio  Heróc  prendeste  os  olhos. 


—  E  uma  sombra  n'um  quadro  ;  diz-so 
d'um -pequeno  defeito  que  faz  subresahir 
as  qualidades  d'uma  pessoa,  a  belloza  do 
uma  obra. 

—  Arca,  peça,  espaço,  divisão  qua- 
drada. 

—  Folha  ou  taboa  sobre  a  qaal  se  or- 
denam metliodica  e  synopticamente  ma- 
térias históricas,  didácticas,  etc.  —  Qua- 
dro estatístico.  —  Quadro  comparativo  en- 
tre os  antigos  pesos  e  medidas  e  os  ■mo- 
dernos. 

—  Quadro  votivo;  diz-se  do  quadro  con- 
sagrado n'um  tem.plo  por  aquelle  que  es- 
capou a  algum  perigo. 

—  Divisão  d'uma  peça  di-amatica  intro- 
duzida nos  usos  do  theatro.  —  Drama  em 
cinco  actos  e  oito  quadros. 

—  Termo  d'architectura.  Quadro  bai- 
xo;  membro  quadrado  que  serve  como 
de  plintho  á  base  do  pedestal.  —  Quadro 
nlto;  egual  membro  sobre  a  columna. 

—  Termo  (Parte  militar.  Quadro  de 
(jente;  batalhão  quadrado. 

—  Termo  de  imprensa.  Taboa  quadri- 
longa  com  quatro  ganchos  em  cima  pre- 
sos na  trempe  do  furo  com  que  se  carre- 
ga no  tvmpano,  que  aperta  a  forma. 

—  Termo  de  phvsica.  Quadro  magico; 
quadrado  de  vidro  montado  sobre  uma 
moldura,  com  as  duas  superílcies  cober- 
tas em  parte  de  folha  de  estanho,  que 
pôde  produzir  os  mesmos  eíFeitos  que  a 
garrafa  de  Leyde  quando  está  electri- 
sado. 

QUADRO,  A,  adj.  (Do  latim  quadro, 
are,  fazer  quadrado).  Termo  de  mathe- 
matica.  —  A  raiz  quadra ;  o  numero  ou 
unidade  -que  multiplicado  j^nr  si  mesmo 
produziu  o  quadrado.  —  8  é  raiz  quadra 
de  64. 

QUADROMANO.  Vid.   Quadrumaiio. 

QUADROXALA'TO,  s.  m.  (De  quadri..., 
e  oxalato).  Termo  de  chimica.  Sal  que 
contém  quatro  vezes  mais  acido  oxalico 
do  que  uni  oxalato  simples. 

t  QUADROXYDO,  s.  m.  (De  quadri..., 
e  oxydoi.  Termo  de  cliimica.  Oxydo  que 
contém  quatro  vezes  mais  oxygeueodo  que 
um  (lutro. 

QUADROMANO,  A,  adj.  (De  quadru..., 
ou  quadri...,  e  do  latim  manus,  mão). 
Termo  de  historia  natural.  Que  tem  qua- 
tro mãos. 

—  Quadrumanos,  s.  m.  pliir.  Segunda 
ordem  dos  mammiferos,  caracterisada  pe- 
la disposição  em  firma  de  mãos  das  qua- 


10 


QUAD 


tro  cxtremidaloí.  Esta  ordem,  qiio  coni- 
prehondo  os  animaos  cujo  pollogar  don 
pés  do  traz  «stá  «('[jarado  como  mu  de 
dianto,  o  quo  pidas  fVjrmas  fíoracs  o  or- 
panÍ8a(;i!o  iutorior  híío  o.s  mais  proxlmo.s 
(lo  hoiiuiiii  na  oscala  zoológica,  ostá  divi- 
diila  oin  duas  tauiilia.s:  os  macaco»  c  os 
maki-t. 

QUADllUMVIRATO,  «.  »i.  <  IK'  quadru..., 
ou  quadri...,  c  do  l.itiui  rir,  lioiurim.  Jun- 
ta (ic)  (|uatrii  ina;^istradns  (jiui  tinliaiu  o 
conliocitinuito  o  jurisdicgilo  d'alguiua  iiai- 
to  do  g(iv(-nio  nimauo. 

QUADRUPEADO,  A,  nlj.  (^uadiuplifa- 
do,  i(u;Ui'(i  vr.y.r:^  outivi  tanto. 

QUADRUPEAR,    v.  a.  (Quadruplicar. 

QUADRUPEDANTE,  alj.  -'  wlj.  (Do  la- 
tim quailriijicjliois,  fin,  que  anda  oní  qua- 
tro pés).  Que  diz  ros))cito  á  cavalgadura, 
(^uc  anda  vm  (|uatn(  pós.  — O  quadru- 
pedaule  /"''irn. 

QUADRUPEDAR,  v.  n.  (Ue  quadru..., 
ou  quadri...,  c  do  latim  pes,  dis,  pé), 
líator  com  03  pés,  fallando  do  cavallos  e 
outros  (piailrupodcs.  —  Quadrupedando  os 
rnpidii.t  qtiiffrs. 

QUADRÚPEDE,  'dj.  2  geií.  (Do  latim 
qiKiilniiiciliis,  (ic  quadru...  ou  quadri..., 
o  pes,  d  tu,  \ir).  (^tuo  tem  ([uatro  pés.  Que 
marcha  com  (juatro  ])é.s. 

—  Animaes  quadrúpedes ;  ilá-so  em  ge- 
ral este  nome  a  todos  os  animaes  provi- 
dos de  quatro  pés,  mas  mais  especialmen- 
te aos  manunifcros  terrestres.  —  «  Os  ani- 
maes quadrúpedes  domésticos,  segundo 
Rhasis,  ;>.  se  vem  hum  sò  olho  do  Lobo  ar- 
rancado, temem  de  sorte,  quo  fogem  a 
toda  a  parto  furiosos;  e  posta  a  cauda 
deste  animal  sobre  o  OurWd  dos  IJois, 
logo  estes  tleixaõ  de  comer.»  Braz  Luiz 
d'Abreu,  Portugal  medico,  pag.  583. 


Nos  livros  avos  as  volúveis  avps 

Soltão  ao  canto  n  voz,  c  ao  vento  as  pc:ias : 

Os  luunililiM  n^jitis  sou  covpo  aiT.astào  : 

Os  iliviTso.-i  (i'iifilriipe(le:í  distinfcnom 

A  in-o;n-iiv  li.il)it;n;rio.  Na  inculta  brenha 

Se  acouta,  e  se  defende,  o  bravo,  i>  fero  : 

E  vem  buscar  o  império,  e  a  nuio  ilos  Iichuimis 

Os  rebaniios  paciticos,  c  dóceis. 

j.  A,  ni:  M\cF.»o,  MKi)ir\í"o,  cant.  .'5. 


Dos  Entes  brutos  progressão  pasmosa 
Nestes  viventes  átomos  começa  : 
Chega  onde  a  Niitureza  estanca,  o  pAra 
Nos  colossaos  q>iadr>ipcdc.s,  qne  a  Terra 
Parecem  opprimir  com  pozo  enorme  : 
Qual  vai  nas  margens  do  assombrado  G mges, 
E  vergéis  de  Ceilão,  forte  Elefante. 
ininKM. 

—  Termo d"astr(Uion\ia.  N/<//Ií).s-  quadrú- 
pedes ;  do  animaes  de  q\iatro  jiés  :  arie.s, 
tauro,  loo,  ctc. 

—  Termo  do  mvthologia.  Quadrúpede 
alado;   Pegado. 

QUADRUPLE,  alj.  2  ./-íi.  Do  latim 
quadrujdc.v,  ou  i/wi  Ini/dits,  quatro  ve- 
zos t.anto).  Quadrupoado.  duplicado  duas 
vozes. 


QUAK 

QUADRUPLICAÇÃO,    x.    f.    >  Do    latim 

'/niflruji/iiarr,  diibran.  Ac(;Jl(>  de  qua- 
drujilicar.  Multi|)lica<;ito  por  quatro  ou 
tomar  quatro  vezes  um  numero, 

—  Termo  de  aimtomia.  Dobrar  em  qua- 
tro dobras,  fallando  das  membranas  do 
cerol)ro.  —  «De  cuja  quadruplicação  n- 
sultam  c  se  firniam  (puiti-ii  cavíd.adcs.» 
1'raz  Luiz  d'.\brcu,  Portugal  medico, 
pag.  li:;. 

QUADRUPLICADAMENTE,  'ilv.  (De  qua- 
druplicado, co:ii  o  suffixo  umentei').  Em 
numero  ipiadruplo,  (juatro  vezes  outro 
la-ilo. 

QUADRUPLICADO,  ji'irf.  pfins.  de  Qua- 
druplicar.—  IJiii  imiiuiri)  quadruplicado; 
ipi;itn)  vezes  outro  tanto. 

QUADRUPLICAR,  v.  >i.  (Do  latim  <pi>i- 
ih-njdíi-fin-,  dobrar).  Jlultiidicar  por  (pia- 
trn,  tornar,  rcjn-tir  (piatro  vezes  a  mesma 
quantlilailc. 

QUÁDRUPLO,  A,  adj.  iDo  latim  qua- 
dniplna,  de  quadru..,,  ou  quadri...,  e 
um  radical  plu»,  mais).  Que  vale  quatro 
vezos  tanto. —  Um  numero  quádruplo. — 
Uma  somma  quadrupla.  —  Pruporauj  qua- 
drupla. 

—  Quadrupla  alliança  ;  tratado  entro 
quatro  potencias:  v.  g.  o  tratado  con- 
eluido  em  1815-1  entre  a  França,  Ingla- 
terra, llcspanha  e  Portugal,  para  susten- 
tar o  governo  constitucional  nos  dous  úl- 
timos estados. 

—  Termo  de  musica.  Propon^ão  qua- 
drupla ;  aquella  em  quo  o  numero  maior 
contém   o  menor  quatro   vezes. 

—  Termo  de  chimica.  Sal  quádruplo; 
sal  formado  de  dous  outros  saes. 

—  Quádruplo,  s.  m.  A  somma  do  qua- 
tro unidades. 

QUAER,  \n>r  CAER,  aut.  Vid.  Cahir. 

QUAIRA.  \"\A.  Cairá,  ou  Cayra. 

QUAIRELLA,  <n,t.  Vi.l.  Courella. 

QUAIRELLARIA,  nnt .  Vid.  Courella,  etc. 

QUAIRELLEIRO,  'mt.  Vid.  Courelleiro. 

QUAKER,  ou  QUAKRE,  .•*.  /-(.  Do  in- 
glez  qudLcr,  tremedor,  de  to  ijuakif,  trc- 
merl.  Nonui  de  uma  seita  chri-^tà,  a  prin- 
cipio fanática  e  hoje  eminentemente  phi- 
lanthropica,  que  tevo  a  sua  origem  em 
Inglaterra  em  IGjO.  P^ste  nome  vem  de 
que  a  principio  manifestavam  o  seu  en- 
thusiasmo  durante  os  seus  cxercicios  de 
piedade  por  contorsões  e  tremores,  que 
justitieavam  as  palavras  do  seu  funda- 
ih>r:  o  Tremei  em  presença  da  palavra 
de  Deus.  » 

Esta  seita  ensina  quo  Dous  dá  a  todos 
os  homens  uma  luz  interior  que  dispensa 
a  intervenç.uo  dos  sacordote^s.  Os  qua- 
kers  n.ão  fazem  Juramento  algum,  n<ào  li- 
tigam e  protestam  incessantemente  contra 
a  guerra,  debaixo  de  todas  as  suas  fir- 
mas. 

Concedem  o  direito  de  jMégar  a  qual- 
quer individuo,  liounMn  ou  mulher,  inspi- 
rado pelo  Espirito  Santo,  evitando  com 
certa  tinura  os  inconvenientes  d'csta  con- 


QUAL 

cessjto  pelo  estabelecimento  <\f:  juizes  da 
realidade  da  inspiraç.lo,  formados  jKir  um 
conselho  d'anci3oH,  cujo  procedimento  é 
subordinado  ás  repras  ordiíiarias  da  pru- 
dcmcia  humana.  O  kcu  culto  é  puramente 
espiritual  o  despido  do  toda  a  coremo- 
iiia,  assim  c<jmo  a  sua  capella  de  todo  o 
ornamento. 

Dilo-se  o  nomo  d'aniigoB  e  a  sua  seita 
conta  numerosos  proselvtos  na  Inglatur- 
ra.  Ilollaiid.i  <•  I''»lado»-Uniilo8. 

1  QUAKERISMO,  «.  m.  (De  quaker. 
Doutiina  dos  quakers. 

< »  quakerismo  apresenta  o  nin^lar  es- 
pectáculo de  uma  sociedade  sem  chefe, 
constantemente  submettida  a  uma  lei  dc»»- 
provida  de  toda  a  sancç.ío  penal,  renun- 
ciando ao  ei.ijjrego  da  força  e  á  protec- 
ç.^io  dos  tribunaes,  e  debaixo  do  sSo 
principio  d'obcdiencia  litteral  á  palavra 
evangélica,  chegou  a  realisar  vutos  for- 
mados por  utopistas,  fazendo  reinar  a 
fraternidade  no  seio  da  desigualdade  das 
fortunas  c  das  posiçSes  sociaes,  emanci- 
pando a  mulher,  sem  enfraquecer  os  la- 
ços da  familia,  e  abolindo  o  sacerdócio, 
sem  (|uc  o  dogmia  variasse. 

QUAL,  adj.  2  i/en.  i  Do  latim  qualisi. 
.Vdjectivo  articular,  de  que  nos  servimos 
indagando  o  tim  de  designar  a  pessoa  ou 
cousa,  a  respeito  do  que  duvidamos.  — 
Qual  dos  dons  foi  o  que  com»»etteu  esKe 
crime  ?  —  « P.  Qual  he  o  tempo  mais  con- 
veniente para  orar?  —  R.  í)  melhor  lie 
de  noite,  quando  tudo  oj>tá  em  silencio  : 
Meditatus  sum  lujcte  cuni  corde  meo,  et 
e.rcrcitabar,  et  scopebam  spiritum  meum: 
Também  he  bom  o  da  manhàa :  Mane 
oratio  mea  prffveniet  te:  Levantando-se 
cedo,  como  fazia  o  Povo  de  Deos  no  de- 
serto para  colher  o  Jlanná.»  Padre  Ma- 
noel Bernardes,  Ezercicios  espirituaes, 
pag.  1,  part.  16. 

—  Relativo  conjunctivo,  quando  prece- 
dido dos  artigos  o  e  fl,  c  vale  tanto  ci>mo 
que.  —  oAo  Escripvào  das  Malfeitorias 
jierteence  screpver  todalas  malfeitorias  da 
Corte,  e  o  Corregedor  ha  de  ordenar  co- 
mo sejam  pagadas  d'Arca  das  malfeito- 
rias, e  despois  que  forem  pagadas  entom 
o  Escripvam  as  ha  de  tirar  em  rool 
o  qual  ha  de  dar  ao  Porteiro  dante  o 
Corregedor,  que  vaa  fazer  as  eixecu- 
ÇÕes  per  mandado  do  dito  Corregedor 
nos  bens  daquelles,  que  as  malfeitorias 
fezerem.»  Ordenações  Affonsinas,  liv.  1, 
tit.  If).  —  «Disse  mais  o  dito  Vicente  Es- 
teves, que  o  Monteiro  Moor  tinha  junli- 
çom,  como  tem,  sobre  os  Monteiros  da 
Camará,  e  Monteiros  de  Cavallo,  e  <« 
Moços  do  monte,  qne  erra.»?era  em  seus 
i.fticios,  ou  fezcssem  o  que  nom  deviam 
de  os  privar  dos  ofHcios,  e  poer  outrt>3 
em  seos  1(\íuos.  e  mandallos  aa  cjídea,  c 
dar-lhes  pena,  qual  entendessem  qne  me- 
reciam C(un  (Iin'ito,  segundo  esto  nniis 
eompridamentc  se  contem  cm  hunia  car- 
ta, que  o  dito  Jjopo  Vazques  dello  tem.» 


QUAL 


QUAL 


QUAL 


11 


Ibidem,  liv.  1,  tit.  (37.  §  1(3.  — «Diz  a 
historia  que  do  duque  Artilao  vassallo  de 
elrei  Recindos  de  Hespanha,  licou  uma 
fillia  lierdcira  de  seu  senhorio,  que  era 
grande  :  a  qual  criada  iia  conversação  da 
infante  Belisanda,  filha  de  elrei  Recin- 
dos, se  namorou  d'Onistaldo  seu  irmão; 
e  como  também  ella  a  elle  «ào  parecia 
mal,  teve  tauta  força  o  amor  antr'elles, 
que  vieram  a  effeito  de  suas  vontades.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  74.  —  «Bem  pareceu  a  todos 
que  isto  seria  alguma  aventura  nova,  e 
esperaram  ver  a  embaixada  que  o  escu- 
deiro daria:  o  qual  chegando  ante  a  rai- 
nha, com  os  giolhos  em  terra,  disse.» 
Idem,  Ibidem,  cap.  129. 

Tal  na  imaginação  se  me  apresenta 
O  nobre  Sousa,  o  qncd  inda  que  forte 
Som  temor  não  entrou  nesta  tormenta 
Porque  o  esforço  não  tira  o  medo  á  morte. 

F.  d'ajídrade,  primeiro  cerco  de  DIU,   caut. 
6, 'est.  52. 

Francisco  de  Gouveia  hum  se  chamava 
O  qual  uaquclla  parto  do  Occeano 
Que  da  famosa  Diu  as  terras  lava 
Era  o  Capitào-mór  mais  soberano  : 
O  sobrenome  ao  outro  Veiga  dava 
Sobre  o  nomo  do  Santo  Lusitano, 
O  qual  da  fortaleza  feitor  era, 
A  ambos  o  Ceo  hum  forte  esprito  dera. 

IDEM,  IBIDEM,   CSnt.    10,  CSt.    81. 

?i  landa  huma  grande  fusta  áqacUa  parte 
Na  qmd  era  o  Carvalho  obedecido. 
Para  que  quanto  tem  no  baluarte 
Também  fosse  cntào  iiella  recolhido. 
Traz  a  barcaça  a  fusta  logo  parte, 
E  sendo  destes  dous  bem  cnteudido 
O  que  manda  o  que  tem  o  gorai  mando 
Sem  detença  o  vão  logo  effeituando. 

IDEM,  ii)iDE.M,  est.  lOG. 

—  «Matou  com  virtude  de  suas  ora- 
çoens  hum  Baselisco,  que  com  sua  vista, 
e  alento  mortífero,  tinha  tirado  a  vida  a 
muytas  pessoas,  e  fez  outros  milagres  em 
vida  e  morte,  que  foraò  indicio  de  sua 
Santidade,  e  o  saõ  hoje  de  sua  gloria, 
para  a  qual  se  partio,  tendo  governado  a 
Igreja  oito  annos.  três  meses,  e  seis  dias.» 
Monarchia  Lusitana,  liv.  7,  cap.  15.  — 
«Queimadas  as  nãos  em  que  se  passou 
boa  parte  da  noite,  logo  ao  outro  dia  pe- 
la menhãa  mandou  Pedralurez  esbom- 
bardear  a  Cidade,  o  que  se  fez  tão  bi-a- 
uamente,  que  muitos  se  sairão  delia,  e 
assi  o  mesmo  Rei,  aos  pès  do  qual  hum 
pelouro  de  bombarda  matou  um  Xaire 
muito  seu  prluado.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Iiíanoel,  part.  1,  cap.  õ9. 
— ^  «Entre  os  quaes  auia  Castelhanos,  e 
genoeses,  e  outras  nações  "de  Christãos, 
donde  vinha  muito  cobre,  será,  prata,  e 
outras  mercadorias  ao  castello  de  sauta 
Cruz  do  cabo  de  guer,  a  qual  villa  dom 
Francisco  de  Castro  depois  destroio,  e 
arasou  como  se  ao  diante  dirá.»  Ibidem, 
part,  4,  cap.  21.  —  «O  qual  pela  grande 


perda  que  nisto  recebia  quis  dar  a  enten- 
der a  el  Rei  que  isto  era  mais  quereren- 
Ihe  tomar  o  regno,  que  nam  desejo,  nem 
vontade  de  olharem  por  sua  fazenda,  e 
porque  el  Rei  era  mui  inclinado  a  naçam 
Portuguesa,  e  seruiço  dei  Rei  dom  Ema- 
nuel parecendo  a  Raix  xarajDho,  que  com 
difficuldade  o  poderia  atraer  a  sua  ope- 
niam,  determinou  de  fallar  sobreste  ne- 
gocio ao  sogro  do  me.smo  Rei  pêra  lhe 
ganhar  a  vontade.»  Idem,  Ibidem,  part. 
4,  cap.  63.  —  «Os  Mouros  tanto  que  o 
viram  afastado,  a  grão  pressa  começaram 
apagar  o  fogo,  que  ardia  em  hum  certo 
óleo  de  terra,  de  que  em  Pedir  ha  gran- 
de quantidade,  em  huma  fonte  que  mana, 
ao  qual  óleo  os  Mouros  chamam  Napta, 
cousa  acerca  dos  Médicos  mui  notável, 
por  ser  excellente  pêra  algumas  enfermi- 
dades, de  que  nós  houvemos  algum,  e  te- 
mos experiência  ser  mui  appropriado  pê- 
ra cousas  de  frialdade,  e  compressão  de 
nervos.»  João  de  Barros,  Década  2,  liv. 
6,  cap.  2.  —  «O  primeiro  foi  a  Pulate 
Can,  dizendo-lhe,  que  não  se  podia  ne- 
gar elle  Pulate  Can  ter  commettido  aquel- 
le  feito  como  cavalleiro  que  era,  por  o 
qual  merecia  mercê  ao  Hidalcão,  e  que 
elle  lhe  escreveria  como  as  cousas  esta- 
vam em  melhor  estado  do  que  lho  fora 
dito.»  Idem,  Ibidem,  cap.  9.  —  «  Tor- 
nando, pois,  agora  ao  que  hia  dizen- 
do, tanto  que  o  Príncipe  proveu  nes- 
te negocio  por  esta  via  com  mostras  de 
grandissimo  animo,  e  de  bom  Capitão, 
se  recolheu  para  huma  casa  de  reli- 
giosos que  estava  no  meyo  do  bosque, 
na  qual  se  encerrou  três  dias,  e  tornou 
de  novo  a  lamentar  a  morte  de  seu  pay, 
mny,  e  irmãs  com  miiytas  lagi-vnias,  o 
tri.steza.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pere- 
grinações, pag.  201.  —  «E  tirando-se  de- 
vassa do  que  passava  o  escreverão  por 
petição  de  clamor  do  povo,  a  que  ellcs 
chamão  macaxilau,  ao  Chaen  do  governo, 
que  he  o  VisoRey  naquelle  Reyno,  o  qual 
mandou  logo  hum  Aytao,  que  he  como 
Almirante  entre  nòs,  com  huma  armada 
de  trezentos  juncos,  e  oytenta  vancões 
de  remo,  em  que  hiaõ  sessenta  mil  ho- 
mens, que  se  fes  prestes  em  dezassette 
dias.»  Idem,  Ibidem,  pag.  221.  —  «Jesus, 
nome  de  Jesus  !  Phrase  exclamativa.  — 
.Tesus  !  nome  de  Jesus!  —  exclamou  D. 
Luiz  —  meu  primo  conta  uma  historia  do 
marechal  de  Villars,  o  qual  servindo  a 
Luiz  XVI,  venceu  os  alemães,  entrou  por 
Alsacia  e  fez  prodígios.»  Bispo  do  Grão 
Pará,  Memorias,  publicadas  por  Camillo 
Castello  Branco,  pag.  118. 

—  Correlativo  a  tal.  ■ —  Qual  o  animo 
de  D.  João  II,  tal  a  sua  forca.  —  Qual 
pae,  tal  filho. 

—  Toma-se  também  por  ah/um,  ou  por 
M?H. —  Todos  esperavam,  qual  wíhíVo,  qual 

pOMCO. 

—  Pelo  qual,  locução  elliptica  a  que 
falta  a  palavra  motivo,  ou  causa;  substi- 


tue  a  locução  pelo  que.  — -  «Polo  qual  ere- 
ceo  ho  ódio  dos  Bramenes  conti-a  mi,  e 
dalli  por  diante  tive  disfavores  delRey, 
que  se  moveo  por  zelo  de  seu  deos  e  do 
deos  de  seus  Bramenes.»  Frei  Gaspar  da 
Cruz,  Tratado  das  cousas  da  China,  ca- 
pitulo 1. —  «Pois  assim  como  o  somno 
natural,  no  commum  dos  Philosophos,  se 
excita  pellos  vapores  do  alimento  que  oc- 
cupào  as  vias,  pellas  quais  se  communi- 
caõ  03  espíritos  aos  orgaons,  com  muyto 
mayor  efficacía  se  dará  somno  no  Lethar- 
go,  pois  nelle  se  obstruem  os  mesmos  or- 
gaons, naõ  sò  com  os  vapores,  mas  tam- 
bém com  a  mesma  corporatura  dos  hu- 
mores, de  quem  elles  se  cllevaõ.  Braz 
Luiz  d'Abreu,  Portugal  medico,  pag.  4õ6, 
§  14. 

—  Em  que  estado,  de  que  sorte,  ou 
condição. 

—  Usa-se  também  como  adverbio  nas 
comparações,  e  invariável. 

—  Qual  a  qual;  quem  a  alguém. — 
Qual  cão,  a  qual  dono. 

—  Adágios  e  provérbios  : 

—  Qual  o  rei,  tal  a  grei. 

—  Qual  o  rei,  tal  a  lei ;  qual  a  lei, 
tal  a  grei. 

—  Qual  é  elle,  tal  ca.sa  mantém. 

—  Qual  é  o  cão,  tal  é  o  dono. 

—  Quaes  palavras  te  dizem,  tal  cora- 
ção te  fazem. 

—  Qual  cabeça,  tal  siso. 

—  Qual  é  Maria,  tal  filha  cria. 

—  Qual  fiamos,  tal  andamos. 

—  Qual  pergunta  farás,  tal  resposta 
terás. 

—  Qual  o  tempo,  tal  o  tento. 

—  Qual  mais,  qual  menos,  toda  a  lã  é 
pêllos. 

QUALHADO,  j>art.  pcm.  de  Qualhar. 

—  Viilro  qualhado ;  vidro  não  trans- 
parente. 

QUALHAR,  V.  a.  Vid.  Coalhar,  ortho- 
graphía  mais  conforme  com  a  etymologia 
latina  coagulare. 

QUALIDADE,  s.  /.  (Do  latim  qualifas). 
Termo  didáctico.  Modo  de  ser  dos  coi-pos 
em  virtude  da  qual  fazem  nos  nossos  sen- 
tidos uma  impressão  particular  que  nos 
dá  as  idéas  de  figura,  de  côr,  de  grande- 
za, etc. 

—  Termo  de  philosophia.  Qualidades 
primarias  dos  corpos ;  aquellas  sem  as 
quaes  não  poderiam  existir  nem  ser  con- 
cebidas. 

—  Qualidades  secundarias;  aquellas 
que  de  uenhiam  modo  são  essenciaes  á 
concepção  dos  corpos. 

—  Qualidade  occulta;  propriedade  dos 
corpos  cuja  causa  é  incógnita. 

— ■  Termo  de  alchimia.  As  quatro  pri- 
meiras qualidades ;  o  calor,  o  frio,  a  sec- 
cura  e  a  humidade. 

—  Disposição  moral  boa  ou  má.  — 
«Targiana  fez  o  mesmo,  vendo  Floriano 
victorioso,  cousa  que  ella  não  desejava ; 
que  o  amor  que  antes  lhe  tivera,  agora 


12 


QUAL 


QUAL 


QUAL 


ura  convertido  oin  ódio,  qiio  ostii  quali- 
dade é  a  filia  nestas  iiiia'(  eousaa  nào  tn- 
rom  moio,  Honilo  <lc!  ódio  oii  amor,  anda- 
rem scuipro  afODijiaiiliada  I.»  Fi'aiicisco 
do  Moraes,  Palmeirim  d'Iiiglaterra,  ca]). 
DL  —  «A  oHtt!  tom]")  Ha^iin  um  cav.illei- 
ro  do  meio  don  outroH,  liotiicm  antr'olle.i 
de  íçram  credito  o  aiit!i(»'idade,  as.sim  por 
Buas  eàns,  como  ])ola  qualidade  do  nua 
jiossoa  o  oxperioucia  i!e  cousaai,  que  mui- 
tos annoí  lho  mostraram,  o  disse  contra 
Palmeirim.»  Idom,  Ibidem,  eap.  '.IS.  — 
«Nova  maneira  d'avcntiu"a  pareceu  esta 
ai  rei,   o  caso   que  as   qualidades  delia 

Í)arecosse  cousa  de  rir,  aif^ans  {galantes 
lOuve  na  cOrtc  que  iiouveram  moio  por 
não  conliar-so  tanto  da  constância  de 
quem  serviam,  que  se  tivessem  por  se- 
guros, em  espacial  vendo  os  cavalleiros 
sjr  de  tant-i  eUado.»  Idem,  Ibidem,  cap. 
129.  —  «E  tvmbem  porque  as  damas  fa- 
çam isto  com  menos  pejo,  além  do  preço 
que  mostrar.ào  nas  armas,  Hio  querem  di- 
zer o  do  Puas  qualidades.  Tolos  três  s."io 
primos  herdeiros  de  estalos  nobres,  um 
se  chama  ÍAistramar,  filho  maior  do  mai"- 
quez  Astramor.»  Liem,  Ibidem,  cap.  12ÍL 


Ficou  tal  iiccossidado 
(lo  liomcna  desta  qualiãadf, 
([uc  p:iva  a  Indiix  mandar 
80  iion  pode  Imo  achar 
soai  nmvta  diâiculdado. 

O.VKCIA  DE  EEZEXDE,   MISCELI.VXEA. 


—  Absolutamente:  Diz-se  também  das 
cousas.  —  «E  como  a  tençaõ  delRiv  dom 
Fcrnãdo  era  dilatar  este  caso  te  lhe  vi- 
rem oatros  nauios  que  tinha  inuiado  a 
estas  ilhas  que  descobrira  Coiom,  pêra 
que  segundo  a  qualidade  da  cousa  assi 
fazer  a  estima  delia.»  Joào  de  Barros, 
Década  1,  liv.  3,  cap.  11. —  «Passados 
poucos  dias  que  estes  capitiíos  crão  idos, 
succcderíio  cousas  cõ  os  dons  capitães  que 
iieavão,  com  que  per  alguns  dias  os  voyo 
a  suspender  das  capitanias :  porque  couio 
andava  escandalizado  da  desobediência 
dos  outro=!,  nào  qniz  soffrer  a  estes  con^a 
alguma  d'e3t:i  qualidade.»  Idem,  Década 
2,  liv.  2,  cap.  õ.  —  «Senhor  Floram- 
bel,  disse  l'anilore3,  naõ  he  sem  causa 
folgardes  de  aventurar  a  vida  em  cou- 
sas desta  qualidade,  pois  naò  ha  ninguém 
que  as  engeite,  e  ainda  que  eu  sou  gran- 
de servidor  do  8enhi.>v  Clarinmndo,  e  de- 
seje do  imitar  suas  cousas ;  em  fugir 
dos  que  elle  fugia,  não  o  tarei  desta 
vez.»  Idem,  Clarimundo,  liv.  2,  cap.  2l). 

Ouvido  nisto  o  Sonsa  nttcntamcnto 
E  n'outra9  cousas  desta  qiia'idade 
Foi  do  Governador,  que  doUas  sento 
A  tenção  de  IJaudur,  c  a  m.4.  vontade. 

F.  ©'ANDRADE,  PRIMEIRO  CERCO  DE  DIC,  Caut.  O, 

est.  5S. 
■ —  «  Tínhamos  j;i   i)erdido   oitenta   ho- 


mens, o  mais  do  cento  feridos,  e  pula  es- 
treiteza, c  ruim  qualidade  do«  mantimen- 
tos, muito.s  andavào  r.ifinuos.  As  muni- 
yões  em  grande  partj  gastadas,  tinhão 
reduzidos  os  nossos  .-»  perigoso  estado ;  o 
que  onteiidido  por  (Jogo  (,Jofar  do  alguoH 
escravos,  rpie  fugirão  da  Fortaleza,  man- 
dou reforçar  as  baterias,  crendo,  que  não 
[)oderiào  durar  os  aiiimos  em  tão  quebra- 
das forea^.  »  .lacintho  Freire  d'Aiidradc, 
Vida  de  D.  Joào  de  Castro,  liv.  :!.  —  «Ao 
seguinte  dia  eaeg;irrio  ]>.  .Jm-ge,  e  li. 
Duarte  de  «Menezes,  h.ivendo  ]>assado  os 
mesmos  riscos,  com  a  mesma  constância, 
que  Luiz  de  Jlello,  com  estes  soccor- 
ros,  maiores  na  qualidade,  que  no  nu- 
mero, i>arecia  que  tinha  já  outro  sem- 
blante a  guerra. »  Ibidem,  livro  2.  — 
o  Devxemos  horrores  de>ta  qualidade, 
os  quaes  ainda  que  verdadeyros  não  gos- 
to tio  introduzir  nos  meus  escritos.  » 
Cavalloiro  d'Uliveira,  Carias,  livro  1, 
n,"  Iti.  —  «  Eaterravão  os  Antigos  hum 
menino  até  :'i  barba,  e  aproseatavão- 
Ihe  muitas  vezes  no  dia  differentes  qua- 
lidades de  alimentos  sem  que  lhe  dev- 
xassem  tocar.»  Ibidem,  liv.  1.  n.°  30. 
—  «  Tal  he  ao  contrario  a  qualidade  do 
merecimento,  que  ainda  sendo  o  mais 
verdadoyro,  necessitado  soccorro  do  tem- 
po para  conseguir  o  applauso  que  lhe  he 
devido.  »  Ibidem,  n."  40.  —  «  Dj  toda  a 
t  inna  que  me  figuro  que  sois  me  pare- 
ceis muito  bem,  e  sem  saber  qual  he  a 
qualidade  <'a  vossa  fermosura  estou  para 
jurar  que  he  a  mais  encantadora,  o  fei- 
ticeyra. »  Ibidem,  n."  47.  —  He  femini- 
no, nocturno,  o  movei ;  iiorfjUii  entrando 
nelle  o  Sol,  se  muda  a  qualidade  do  tam- 
po, iniluindo  humidade,  e  frialdaile  tem- 
perada mny  apta,  e  conveniente  para  a 
nutrição,  líntra  o  Sol  nesta  Signo  a  '22 
de  Jnnho  :  e  até  que  sahe  diminúe  o  dia 
meya  hora  :  o  qual  Signo  he  c;iza  diur- 
na^ e  nocturna  da  Lua  ;  exaltaça")  de  Jú- 
piter, detrimento  de  Saturno,  e  caida  de 
JLirte  com  a  sua  entrada  se  ias  o  Solsti- 
cio  Estival.  »  líraz  Luiz  d'Abre.u,  Portu- 
gal medico,  pag.  r)21.  —  «Por  esto  rio 
até  ;i  nova  coloni  i  tivemos  o  praser  de 
observar  lindíssimas  flores  c  também  fru- 
ctas  silvestres,  peixes  deliciosos,  barrei- 
ras de  que  se  tira  excellente  tinta  ama- 
rella,  e  uma  qualidade  de  gesso  a  quo 
chamavam  tavatinga  alvíssimo  e  melhor 
do  que  a  cal. »  Bispo  do  (irão  Pará,  Me- 
morias, publicadas  por  Camillo  Castello 
Branco,  pag.  203. 

—  Casta,  raça.  —  «  Yio-se  um  Cirur- 
gião que  comia  contopeyas,  o  bichas  la- 
gartas, com  azeyte  e  com  vinagre  :  hiiina 
moça  donzella  quo  comia  lagartos  vivos 
todas  as  vezes  quo  os  podia  alcançar  ; 
outra  que  comi.\  Arraas,  Lagartos,  Ra- 
tos, Cobras,  Lagartijas,  e  toda  a  quali- 
dade de  insectos.  »  Cavalloiro  de  Olivei- 
ra, Cartas,  liv.  1.  n."  14. 

—  Nobreza  distinctn.  —  E  um  homem. 


('  iim/i  mulher  tle  qualidade.  -  •  Naqucl- 
le  dia  toda  pestioa'  do  tola  qualidade  jxdo 
comprazer  so  vestiram  e  aliviaram  o 
melhor  que  jxvleram,  segundo  a  sub-taii- 
cia  de  cada  um.  Targlana  «aiii  tão  fer- 
mosa  e  ciisto-<a  de  atavios,  quo  Ih'?  o  ini- 
porad'ir  mandou  dar  á  sua  custa,  que 
não  teve  di>  quem  se  teinossc  pêra  lhe 
fazer  inveja,  ne  n.âo  .so  fui  Poliiuirda, 
que  nas  obras  de  natureza  lhe  fazia  mui- 
ta vantagem.  »  Francisco  de  Morae*,  Pal- 
meirim d'Inglaterra,  cap.  'Jõ.  — «  Ainda 
que  isto  fossem  couâas  de  encantauiento 
jiouco  pêra  sentirem,  nem  doerem,  hão 
actmteeeii  assim  ao  cavaileiro  do  Tigre, 
que  revolvendo  na  memoria  todaa  suas 
boas  venturas  pas.sadas,  pareceu-liic  que 
já  a  fortuna  o  cliegára  ao  derradeiro  grão 
delias,  e  que  dalli  por  diante  descairia ; 
pois  acabando  sempre  cousa*  tamanhas, 
em  uma  de  menos  qualidade  p'i  lera  tão 
pouco.»  Ibidem,  cap.  12*).  —  «Na  qual 
por  certo  não  ousara  nem  deuera  de  to- 
car, se  me  nam  fora  inanda'lo  por  V.  A. 
por  ser  de  qualidade,  que  depois  de  al- 
gumas pessoas  a  terem  começada,  el  lú-i 
dom  João  vosso  irmão,  que  «anta  gloria 
haja,  lhes  mandou  tomar  o  que  já  tinhaõ 
scripto,  pêra  se  acabar  per  outros,  de 
cujas  habolidades  tinham  mór  opinião, 
em  mãos  dos  quaes  ficou  até  seu  faleci- 
mento. B  Damião  de  «iões,  Chronica  de 
D.  Manoel.  — «  Em  todas  as  cidailes  e 
lugares  grandes  tem  el  Rey  mXiito  boas 
e  nobres  casas  para  se  agasalharem  to- 
dos os  Loutliias,  assi  grandes  como  pe- 
quenos, e  todos  03  que  sam  por  qualquer 
via  dei  Rey,  que  tem  rendas  bastantes 
pêra  provimento  de  toda  ha  pessoa  que 
na  casa  pousar  se^gundo  sna  qualidade.  » 
Frei  (I aspar  da  Cruz,  Tratado  das  cou- 
sas da  China,  cap.  18.  —  «  E  se  for  de 
qualidade,  que  peça  emenda,  haja  algum 
^Ministro  fiel,  que  o  tome  sobre  si.  c  tam- 
bém a  pena  que  o  Principc  ramlei-ará, 
ou  perdoará  a  titulo  de  descuido ;  e  .as- 
sim se  dará  satisfação  a  todas  as  partes, 
ficando  illesa  a  authoridade  mayor.  »  Ar- 
te de  furtar,  cap.  30. 

—  Espécie.  —  «  Estas  duas  qualidades 
de  Deshonra  ordinariamente  nào  andào 
juntas,  porque  muitos  homens  indignos, 
e  por  consequência  infames  diante  de 
Deos  são  louvados,  c  honrados  no  mun- 
do pelas  suas  m.ás  obras.  »  Cavaileiro  de 
(oliveira.  Cartas,  liv.  1,  n.°  ól, 

—  L^iz-se  dos  títulos,  que  toma,  que 
recebe  uma  pessoa,  por  causa  do  seu 
nascimento,  do  seu  emprego,  da  sna  pro- 
fissão, dignidade,  ctc.  —  Tomar  a  quali- 
dade </«'  Dolire.  lie  príncipe,  de  duque,  etc. 
—  .íl  qualidade  de  prefeito,  de  mestre, 
de  matiis^trado,  etc.  —  A  qualidade  ''<. 
advoffado. 

—  Raça,  casta.  —  A'  »iíí  qualidade  de 
ijente.  —  «  Se  o  dissessem,  inentiri.lo  com 
quantos  dentes  tem  na  boca,  assim  como 
mentem  em  quantas  letras  t.nu  as  suas 


QL'AL 


QUAM 


QUAN 


li 


gazetas:  porem  o  melhor  de  tudo  lie  que 
r.ao  appareça  a  carta,  como  vo.s  digo, 
nem  em  Carta  uem  eui  Aldeja,  em  que 
liaja  esta  qualidade  de  gente. »  Cavallei- 
ro  d'01ireira,  Cartas,  liv.  1,  n."  23.  — 
«  Exaqui  hvima  matéria  sobre  a  qual  se 
polem  fazer  grandes  discursos,  por  as- 
sentarem em  liuma  qualidade  de  gente 
que  pôde  com  tulo.  Perguntais-me  se 
kouve  no  mundo  l-í^igantes  ?  Digo-vos  que 
uào  someate  os  liouve  porem  que  aiiída 
os  ha.»  Ibidem,  liv.  1,  n.°  49.  —  «He 
ella  de  qualidade  que  ordinariamente  a 
vemos  só  ou  mal  acompanhada,  porem 
era  V.  E.  encontra-se  com  huma  fermo- 
sura  encantadora,  com  hum  entendimen- 
to brilhante,  e  com  huma  generosidade 
1 10  grande  que  iguala  ao  seu  ilhistre  nas- 
cimento. D  Ibidem,  li%'.  1,  n."  20. 

— Termo  de  jurisprudência.  Titulo  que 
torua  hábil  a  exercer  algum  direito.  — 
A  qualidade  de  legatário. 

—  Syx.  :  Qualidade,  estado.  Vid,  este 
ultimo  vocabul'1. 

QUALIFICAÇÃO,  s.  f.  Acçào  de  quali- 
ficar. —  A  qualiíicação  de  crimes. 

—  Xa  linguagem  ecclesiastica,  modo 
de  apreciar  as  proposiçòes. 

—  A  qualidade  moral  dada  como  gra- 
duação pela  lei,  etc, 

—  Attribiiiçào  de  uma  qualidade,  de 
um  titulo. 

QUALIFICADO,  part.  pass.  de  Qualifi- 
car. Que  recebeu  uma  attribnipào.  uma 
qualidade.  —  Uma  proposição  qualificada 
de  errónea. 

—  Que  tem  íitulos  de  nobreza. 

—  Uma  pessoa  qualificada ;  uma  pes- 
.soa  de  qualidade.  —  «  Sendo  Capitão  do 
Cunhale,  e  na  jornada  de  Jafanapataõ 
com  o  feliz  General  Andi-é  Furtado  de 
Mendonça,  aonde  mostrou  sempre  ser 
soldado  qualificado.  «  Conquista  do  Pegú, 
cap.  3. 

—  Termo  de  jurisprudência.  Que  é 
acompanhado  de  circumstancias  aggra- 
vantes. 

—  Iiuliviãuo  qualificado  pai-a  alguma 
dignidade ;  individuo  que  tem  as  quali- 
dades que  se  requerem. 

—  Caracterisado. 

—  Termo  de  antiga  jurisprudência. 
Crime  qualificado ;  crime  capital. 

QUALIFICADOR,  A,  aJJ.  Que  quali- 
fica. 

— ■  Substantivamente  :  Theologo  per- 
tencente ao  tribunal  da  inquisição  que  é 
considtado  a  respeito  das  proposições  de- 
feridas. —  Qualificador,  do  Santo  Offi- 
cio. 

QUALIFICAR,  v.  a.  Indicar  de  que  qua- 
lidade é  uma  cousa. 

—  Termo  de  grammatica.  Exprimir  a 
qualidade.  —  O  adjectivo  qualificai  nome. 

—  Attribuir  um  tltiUo,  uma  qualidade 
a  uma  pessoa. 

—  Censurar   livros  como  qualificador. 

—  Caracterlsar, 


—  Qualificar  umu  pessoa ;  dar-lhe  um 
ser,  pre'iicamento  ou  qualidade  civil,  e 
authorisal-a,  eonceder-lhe  attribuições  mo- 
raes. 

—  Qualificar-se,  i-.  rejl.  Attribuir  a  si 
uma  qualidade,  um  titulo.  —  Qualificar- 
se   doutor. 

—  Toraar-se  capaz   de   alguma  cousa. 

—  Quaiificar-se  na  sua  posição. 
QUALIFICATIVO,    A,    aJj.   Termo    de 

grammatica.    Que    serve    de    qualificar, 
que  exprime  a  qualidade,  o  modo  de  ser. 

—  Bj7nj  grande,  sào  adjectivos  qualifica- 
tivos. 

—  Termo  de  chbuica.  Analyse  qualifi- 
cativa. Vid.  Qualitativo. 

—  S.  m.  Palavra  que  qualifica. — E 
mister  distinguir  o  qualificativo  especifi- 
co adjectivo,  do  qualificativo  individual. 

t  QUALIFICÁVEL,  adj.  Que  se  pôde 
qualificar. 

QUALITATIVO,  A,  adj.  Que  respeita 
á  qualidade,  que  tem  por  objecto  a  qua- 
lidade. 

—  S.  f.  — Analyse  qualitativa  ;  aquella 
que  determina  a  natureza  ou  a  qualida- 
de dos  termos  compostos. 

QUALQUER,  adj.  2  gen.  (composto  de 
qual,  e  quer;.  Adjectivo  articular  desi- 
gnando um  individuo  indetermiuado  da 
espécie  significaf^la  pelo  substantivo  a  que 
se  ajunta.  —  dessas  cousas  estão  ao  alcan- 
ce dAi  todo  e  qualquer  homem.  —  «Já  que 
estava  em  disposição  pêra  foliar  em  qual- 
quer cousa,  Floriano  lhe  pediu  quizesse 
dizer-]  he  quem  era,  e  a  maneira  como 
houvera  o  escudo  do  vulto  de  Miruguar- 
da,  porque  tinha  em  tanta  conta  o  guar- 
dador delle,  que  não  sabia  que  cuidas- 
se.» Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  de 
Inglaterra,   cap.  76. 

QUAM,  adv.  Vid.  Quão,  orthographia 
preferível.  —  «Porque  o  fim  da  contem- 
plação nào  he  saber  só,  ou  esquadrinhar 
nouas  verdades,  mas  amar  a  Deos  afer- 
uoradamente,  e  gostar  quam  suaue  he,  a 
qual  siunidade,  e  doce  sentimento,  com 
razão  se  chama  conhecimento  alto,  e  se- 
creto, porque  só  quem  ò  alcança  o  co- 
nhece, e  nào  se  pode  cora  palam-as  de- 
clarar.» Fr.  Bartholomeu  dos  Martvres, 
Compendio  de  espiritual  doutrina. 

Jlas  q>iam  loagc 

Me  tomoa  a  volver  do  Tejo  ao  Thamesis, 
Cortado  de  meraorias  que  o  confundem, 
O  pensamento  vago  !  —  Escura  a  nouto 
Suas  roupas  de  dó  tinha  estendido 
Pelas  torres  da  Ínclita  Ulyssea. 

G.\_EKKTT,  CAMÕES,  Caut.    1,  Cap.    16. 

Cinza,  esfriada  cinza  é  todo  o  alcaçar 
Da  glória  lusitana...  uma  faisca, 
Esquecida  a  tvranuos,  lá  scintiUa  : 
Mas  quam  débil  que  vens.  sopro  de  vida ! 
Um  so  momento  com  vigor  no  peito 
O  coração  te  pulsa.  Exangue,  infêrma 
So  te  ergues  d 'esse  leito  de  miséria 
Para  cahir.  dcsfaUceor  de  novo. 
IDEM,  IBIDEM,  caut.  10,  cap.  20, 


—  Quam  toma-se  também  por  cào  (or- 
thographia  erroneai . 

QUAMANHO,  ou  QUAMIvíANHC,  A,  adj. 
(composto  de  quam,  e  magno,  ou  manhoi. 
Quão  grande. 

QUAMQUAM,    s.   m.   Termo    didáctico.' 
Discurso  latino  pronunciado  na  abertura 
de  itma  taese. 

—  Loc.  POP. :  Fazer  o  seu  quamquam  ; 
fazer  o  seu  elogio,  ou  palavias  de  cum- 
primento: parolorio. 

QUANDO,  adv.  (Do  latim  quando).  No 
tempo  em  (jue.  —  Quando  penso  na  fra- 
gilidale  das  cousas  humanas.  —  Quando 
Deus  creou  o  mtindo.  —  Irei  vêr-te  quan- 
do podÃr.  —  Não  sei  quando  poderei  ir 
ahi.  —  Não  se  engana  quando  se  nttri- 
hue  tudo  á  oração.  —  «E  que  seja  puni- 
do por  Ley  Santa,  prova-se  pollo  que  se 
lê  no  Auto  dos  Apóstolos,  quando  Ana- 
nias,  e  Safira  sua  molher  com  teuçaõ  em- 
guanosa  oferecerão  ao  Apostolo  Sam  Pe- 
dro o  preço  dos  bens,  que  venderão,  por 
entrar  em  sua  companhia :  e  porque  lhe 
mentirão  soneguando  a  parte  delle,  mor- 
rerão loguo,  e  esto  por  pena  de  sua  men- 
tira.» Ord.  Affons.,  liv.  3,  tit.  128,  §  1. 
—  oE  quando  se  taees  Excepçoens  ale- 
guam  depois  da  Sentença  definitiva,  em- 
barguam  a  execuçam  delia,  até  ser  exa- 
minado e  provado,  se  foram  justamente 
oppostas  e  aleguadas.»  Ibidem,  liv.  3, 
tit.  õ6,  §  1 . 

Torna  a  casa  muito  ^iresí es 
E  leva  este  breviairo. 
Fran.  Em  dia  de  algum  fadairo 

Foi  quando  vós,  pac,  naecsícs  ; 
Porém  se  ea  lá  volver 
Bcnzei-vos  se  cá  vier. 

OIL  VICENTE,   F.\KÇAS. 

Pintado  cstana  quando  da  verdade 
Atroa  desenganado,  auorrecendo 
Esse  adidtero  irmão,  e  os  três  iilhinlios 
Que  Thiastes  na  molher  falsa  gera.  ' 
Estaua  o  Eeino  todo  posto  em  armas 
Partido  em  divisões,  em  varias  partes, 
E  pêra  se  escusarem  mortais  danos 
Atreu  ao  falso  irmão  a  morte  busca. 

COHTE  REAL,  XACFBAGIO  DE  SEPÚLVEDA,   Cant.    3. 

—  «AlgTins  dias  esteve  Palmeirim  na 
corte,  tão  occupado  de  visitações,  que 
lhe  não  davam  lugar  a  poder-se  apro- 
veitar do  tempo  em  nenhuma  cousa  de 
seu  gosto ;  porem  quando  se  iam  aca- 
bando teve  algum  espaço  de  entender 
no  que  mais  trazia  á  vontade,  e  tanto  o 
atormentava  o  cuidado  que  sempre  tive- 
ra, que  nunca  lhe  dava  nenhum  descan- 
ço,  que  isto  tem  os  bons  namorados.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  dlngla- 
terra,  cap.  135.  —  «E  desde  então  ago- 
ra, nunca  esta  mercadoria  cá  aportou,  se 
nào  alguma  quê  vem  ás  fiu'tadas  por  or- 
dem do  aviso ;  que  como  a  trazem  por 
outra  navegação,  é  a  viagem  mais  com- 
prida, e  quando  cá  chega,  vem  tão  ma- 
reada que  escassamente  se  parece  com- 


14 


qiJAN 


QUAN 


i^UAN 


8Í;í0.n   l'''<!rii!lii)  llDrlri-íiios  Lobo  Soropitn, 
Poesias  e  prosas  inéditas,  jm^'.  2. 

liei.     Si,  iiuirt  poriMii  nunca  veiiioii 
A  iiiitiirpza  ríuKM-ar 
Adiiiitlit  liajii  i|ii«  tiixar  ; 
Qiicí  (fiifido  dia  faz  lixtromos. 
Km  tudo  (|ufir-HO  cxtnnnar. 

<;am.,  HKLKlIrO. 

—  «Com  tudo  íiconsclli;i<lo  jiclo.s  mou- 
ros (lotoriiiinou  coiiiotcr  ii  torneira  vez  o 
passo  trazendo  toda  a  sua  frota  ordena- 
da em  e-squadròe»,  Duarte  l'aelicco  man- 
dou aos  das  carauellas,  e  bateis  que  ni\ii 
tirassem,  nem  se  mostrassem  senam  quan- 
do o  elle  dixessn.ii  Damiào  de  (Joes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1,  cap. 
87.  —  «E  posto  i|ue  estes  o  animaram 
muito  pêra  aquelle  feito  a  ([uc  vinha, 
quando  soube  delies  como  Patê  Quetir 
era  partido  porá  a  Jaulia,  e  o  modo  como 
foi  desbaratado,  ficou  mui  triste,  c  con- 
fuso, i)c>rque  no  cousolho  delle  tinha  pos- 
to grande  parte  de  sua  esperança,  o  co- 
mo homem  novo  na  terra  achou-se  man- 
co de  todo.»  Jo.ào  de  BaiTos,  Década  2, 
liv.  O,  cap.  :').  —  «E  ainda  nSo  ora  bem 
em  sima,  quando  arrebentou  pelo  campo 
Ascari  Jlir/.a  irm;"io  do  Roy  dos  Maiores 
com  oito  mil  de  cavallo  escolhiilos,  qne 
se  vinha  recolhendo  de  Barochc,  por  El- 
llev  seu  innào  lhe  ter  mandado  recado 
que  se  recolhesse,  e  ficasse  com  aquella 
pente  na  sua  retaguarda,  com»  o  hia  fa- 
zendo.» Diogo  do  Couto,  Década  4,  liv. 
9,  cap.  10.  —  «E  acabado  isto  com  elle 
fez  seu  justo  e  verdadeiro  testamento, 
estando  ambos  sos  assentados,  e  fov  es- 
cripto  com  as  minhas  penas  e  meus  apa- 
ros, e  eu  estaua  a  porta  de  fora,  e  acu- 
dia quando  chamaua.»  (rareia  de  Rezen- 
de, Chronica  de  D.  João  IT,  cap.  208. 

iluanilo,  Soiihor  nu'  lunilnou 
tamanho  numero  dollas, 
e  tam  graúdo  csquoeimento, 
que  poucas  vemos  escritas, 
mn  parcceo  que  erraria 
noa  as  por  em  louihrani;a, 
c  também  outras  pinucuas 
que  são  dijjiuis  de  notar. 

innM,   MISCF.I.I.AXKV. 

—  «O  bom-lesn,  ó  amor  de  minh'al- 
nia,  ó  criador  meu,  ó  meu  Senhor,  e  ou- 
tras palauras  semelliantes  sahidas  do  co- 
raçam  da  Esposa,  que  quando  dormia, 
vigiaua.»  Lucena,  Vida  de  S.  Francisco 
Xavier,   liv.  (,!,  cap.  õ. 

Qiiainio  da  enxo^^a,  qne  asi^ueirosa 
Otíeude  por  inmiuiida  oltato,  c  N-ista. 

MANOEL   TUOMAZ,  IKSVLAN.V,   1ÍV.   9,  0Ít.   22. 

Aqui,  Senlior,  aonde  mais  me  offcndc 
Vosso  temor  em  passo  tào  estreito, 
Aqui  da  Fé  o  fo£;o  mais  se  ae-nde 
Quando  melhor  conhei^o  meu  defeito. 

ROLIM  DE   UOUR^,   NOVÍSSIMOS   DÚ   HOMEM,   CAWt.   2, 

est.  3. 


—  «Que  em  aquelh'  tiiii])o  ja  n.^o  ha- 
via memoria  pela  mayor  parte  morrerem 
nas  batalhas  (|uc  tivcraò  quando  lhe  o 
gr.^lo  Turco  tomou  esta  ('idade,  e  assim 
vi  mais  luiiiia  rua  de  comprido  du  hum 
tiro  do  besta  de  huma  banda,  e  da  outra 
habitada  de  Mouros  todos  boticayros  de 
preparar,  o  conce)'tar  o  âmbar  :  que  Lo 
huma  cousa  que  muvto  se  usa  entre  os 
Jlouros.»  António  Tenreiro,  Itinerário, 
caj).  40. 

Se  desejaes  saber  os  que  ajudarão 
Kstií  Mouro  a  tratar  o  que,  atra/,  digo, 
Korão  alfíuns  Motores,  que  deixárau 
()  seu  Kei  mitural,  Senhor  antigo, 
K  para  o  de  Cambaia  se  passarão 
t^ue  lhes  fora  até  entáo  o  mi'ir  íuiíro. 
Quando  seus  companheiros  ja  deixavão 
A  terra  imiga,  c  ti  sua  se  tornavào, 

K,    DE   ANDBADE,   PRIUEIBU  CERCO   DE  DIl.°,Cant.    8, 

st.  75. 

—  (I  Amigo  do  coração.  Dizeis  no  vos- 
so discurso  que  tendo  as  niolheres  o  en- 
tendimento nuiito  mais  débil  que  o  no.s- 
so,  sào  as  (jue  pela  mayor  parte  come- 
tem o  erro  de  descarregar  os  etteitos  da 
sua  cólera  sobre  as  cousas  inanimadas,  e 
que  sào  as  únicas  pessoas  que  quando 
jKidem  executar  a  sua  vingauea,  uào  re- 
parjio  em  (jue  o  objecto  delia  seja  capaz 
ou  incapaz  de  sensibilidade.»  Cavalleiro 
d'C)liveira,  Cartas,  liv.  1,  n."  18.  — 
«Porque  então  verdadeiramente  amamos, 
quando  seus  màdamentos  guardamos : 
porque  como  está  dito,  o  próprio  officio 
do  amor  he  fugir  de  dar  descontentamen- 
to ao  mundo.»  Frei  Bartholonieu  dos 
Jlartyres,  Catecismo  da  doutrina  christã. 

Já  ua  soberba  mcza  cem  Terrinas, 
O  vapor  mais  suave  derramando, 
A  insaciável  Gula  provocavaõ. 
Quando  cliegaõ  ao  cheiro  os  Convidados, 
Que  feitos  os  devidos  cumprimentos. 
Sem  distiuc(;aõ,  em  torno  se  assentarão. 

A.   DINIZ  DA  CBCZ,   HYSSOrE,   Caut.    3. 

—  Emprega-se  também  ]iara  interro- 
gar, significando  —  em  que  tempo?  — 
Quando  líw.'  —  Quando  casaremos/  — 
Quando  terenins  jillius? 

—  Loc. :  J)e  quando  em  quando;  uma 
vez  e  outra  vez;  ás  vezos. —  «Suppiliem- 
se  dadas  ou  tomadas,  se  parecer  ao  mes- 
tre do  sacro  palácio  de  Apollo;  entendo 
será  iIercui'io  ou  Esculápio,  por  mais  es- 
pertos e  escolhidos  do  numen,  que  de 
quando  oní  quando  os  inspira.»  Bispo  do 
Crào  l';ir:'i.  Memorias,  publicailas  por  Ca- 
millo  Oastello  ]5ranco,  pag.  47. 

K  seus  olhos  do  puro  nzid  da  espliera 
Volve,  de  quando,  cm  quando,  aos  olhos  negros 
Do  ((ue  a  leva  nos  bradas.  Nào  atliioto, 
Nào  é  couvidso  o  olhar,  mas  trist*  o  Isuiguido. 

OARRETT,  D.   BR.VNCA,  Caut.   3,  e«p,  20. 


—  Quando  </uer  ([ue ;  em  todo  o  tempo. 


—  Loc.  ADV.:  Aiii'l'i  quando;  ainda 
no  ca^o. 

—  Quando  não;  ptlo  contrario. — «Quan- 
do não,  falk-m  por  signacs  de  exercitato- 
rio,  inciiiiand»  a  orelha  a  inodo  de.  quem 
approva,  cabeceaudo  a  uma  o  outra  par- 
te como  cónego  que  entra  em  c<!*ro,  ou 
acolito  que  incensa  o  povo.»  Bís|m>  do 
(jrão  l'ará.  Memorias,  jmblicaila«  p<jr  Ca- 
millo  ('asteilo  liranco,  pag.  ã7. 

—  Quando  muiio  ;  quando  i>ohco  ;  quan- 
do meiwb.  —  «Dutro  gabando-se  de  enge- 
nheiro consuma>lo,  prometteo  hunia^  \ta.r- 
cacas,  que  sahindo  do  Rio  de  Lisboa  abra- 
zariaõ  todou  esses  mares,  e  quantas  arma- 
das inimigas  nelles  houvessem  :  encheo-aa 
de  ])alhas,  e  chamiços,  que  estavaO  pro- 
mcttendo  quando  muito  huma  boa  foguei- 
ra de  S.  Joaò;  e  uay  cá  por  cada  inven- 
to destes  tantos  mil  cruzados.»  Arte  de 
furtar,  cap.  31. 

—  Sendo  que. 

—  Quando  siAdado ;  no  tempo  em  que 
era  soldado. 

—  Quando  assim  não  fosse;  se  assim 
não  fosse.  —  «Bem  creio,  disse  Albayzar, 
que  esta  lança  me  acabará  de  fazer  con- 
tente, c  quando  assim  não  fosse,  já  eu  me 
agi-avarei  de  vossa  A .  me  nào  deixar  che- 
gar ao  cabo  com  meu  desejo.»  Francisco 
de  Moraes,  Palmeirim  dlnglaterra,  cap. 
124. 

—  Sabe  Deus  quando;  sabe  Deus  em 
que  tempo. —  «Despedem-se  pois  estes 
dous  antigos  companheiros :  sabe  Deo.s 
quando,  e  como  tornarão  a  ajuntarse. 
Despedem-se;  e  o  braço  que  se  daõ,  be 
despegar-se  «lo  .ibraço.»  Padre  Manoel 
Bernardes,  Çxercicios  Espirituaes,  part. 
1,  pag.  481. 

—  Emprega-se  também  substantiva- 
mente :  Muitos  quandos,  poucos  quan- 
dos. 

— An.\oios  E  rBovEUBios: 

—  Quando  minguar  a  lua,  não  comeces 
cousa  aigum:i. 

—  Quando  chover  em  agosto,  não  met- 
tiVS  teu  dinheiro  em  mosto. 

—  Quando  não  chove  em  fevereiro,  não 
ha  bom  prado,  nem  bom  centeio. 

—  Quando  troveja  em  março,  apparelha 
os  cubos,  e  o  li.iraço. 

—  Quando  Horece  o  maracotão,  os  dias 
iguaes  sào. 

—  Quando  chove,  c  faz  sol,  ale^rre  está 
o  pastor. 

—  Quando  o  rio  não  faz  ruido,  on  não 
leva  airua.  ou  vai  crescido. 

—  Quando  Deus  quer,  com  todos  os  ven- 
tos chove. 

—  Quando  o  trigo  é  louro,  é  o  barbo 
como  touro. 

—  Quando  estiveres  morto,  toma-te  á 
abelha,  c  ao  porco. 

—  Quando  ao  gavião  lhe  cahe  a  pcnna, 
também  lhe  cahem  as  azas. 

—  Quando  em  casii  nào  cstjí  o  gato,  cs- 
tcnde-sc  o  rato. 


QUAN 


QUAN 


QUAN 


15 


—  Quando  vem  ao  soberbo  o  castigo, 
vem-lhe  mais  rijo. 

—  Quando  o  lobo  vai  furtar,  longe  de 
casa  vai  cear. 

—  Quando  o  lobo  come  outro,  fome  lia 
no  souto. 

—  Quando  durmo,  canço;  que  fará  quan- 
do ando "? 

—  Quando  fores  de  caminho,  niio  digas 
mal  de  teu  inimigo. 

—  Quando  fores  ao  mercado,  pào  leve, 
e  queijo  pesado. 

—  Quando  o  trigo  anda  pela  eira,  anda 
o  pào  pela  amassadeira. 

—  Quando  cuidas  metter  o  dente  em  se- 
guro, toparás  o  duro. 

—  Quando  o  gosto  é  sobejo,  mais  custa 
a  encher  que  o  sebo. 

—  Quando  o  corsário  promette  missas, 
e  cera,  por  mal  anda  o  galeão. 

—  Quando  o  velho   se  nàio   ouve,  ou  é 
entre  néscios,  ou  em  açougvié. 

—  Quando  a  creatura  denta,  morte  at- 
tenta. 

—  Quando  Deus  queria,  ao  longe  cus- 
pia; agc)ra  que  não  posso,  cuspo  aqui  logo. 

—  Quando  o  medico  é  piedoso,  é  o  doen- 
te perigoso. 

—  Quando  o  nó  se  faz  piolho,  com  mal 
anda  o  olho. 

—  Quando  os  doentes  bradam,  os  phy- 
sicos  ganham. 

—  Quando    o    diabo    reza,    enganar-te 
quer. 

—  Quando   a   velha   tem    dinheiro,  não 
tem  carne  o  carniceiro. 

—  Quando  entrares  na  villa,  pergunta 
pi'imeiro  pela  mãe,  que  pela  iilha. 

—  Quando  não  tenho  vontade  de  fiar, 
deito  o  fuso  a  nadar. 

—  Quando    fores  ao   conselho,  fiilla  do 
teu,  deixa  o  alheio. 

—  Quando  fores  á  casa  alheia,  chama 
de  fora. 

—  Quando  fores  bigorna,  soffre ;  e  quan- 
do malho,  malha. 

—  Quando  o  sandeu  se  perdeu,  o  sisudo 
aviso  coliíeu. 

—  Quando  o  villão  está  rico,  não  tem 
parente,  nem  amigo. 

—  Quando   a  má  ventura  dorme,  nin- 
guém a  desperte. 

—  Quando  te  derem  o  porquinho,  aco- 
de logo  com  o  baracinho. 

—  Quando    pegas,    gallinhas  ;    quando 
gallinhas,  pegas. 

—  Quando  vires  arder  as  barbas  do  teu 
vislnho,  deita  as  tuas  em.remolho. 

—  Quando  o  enfermo  diz  ai,  o  medico 
diz  dai. 

—  Quando  um  não  quer,  dous  não  ba- 
i'alhani. 

—  Quando  Deus  não  quer,  santos  não 
rogam. 

—  Quando  o  ferro  está  accendido,  en- 
teio ha-de  ser  batido. 

—  Quando  cahe  a  vacca,  aguçar  os  cu- 
tellos. 


f  QUANDROS,  s.  ,n.  Pedra  preciosa  que 
se  dizia  existir  no  cérebro  do  abutre,  e  á 
qual  se  attribuia  a  propriedade  de  au- 
gmentar  a  secreção  do  leite.  Esta  pedra 
não  existe. 

QUANT'A  POR  ISSO,  por  Quanto  a  isso. 

QUANT'É ;  termo  antiquado,  por  Quan- 
to é. 

QUANT'É  DISSO,  por  Quanto  a  isso. 

QUANTEIRA,  s.  f.  Yid.  Canteira. 

QUANT'É  POR  ISSO.  Yid.  Quanfa  por 
isso. 

QUANTIA,  s.  f.  Importância,  somnia, 
numero,  porção.  —  «Era,  portanto,  axio- 
mática a  justiça  cora  que  o  valido  dera 
um  tamborete  na  Torre  da  Escrivaninha 
ao  honrado  Asinipes,  com  boa  quantia  e 
assentamento  na  casa  d'el-rei.)>  Alexan- 
dre Herculano,  Monge  de  Cister,  cap.  24. 

—  Yid.  Contia,  termo  antiquado. 

f  QUANTIASINHA,  s.f.  Diminutivo  de 
Quantia.  Pequena  quantia,  quantia  dimi- 
nuta.—  «Nada  menos,  uma  quantiazinha 
me  vinha  a  pedir  de  bôcca,  e  me  daria 
azos  de  augmentar  um  commercio,  em 
que  ha  seus  lucros,  quando  vai  o  dinhei- 
ro na  dianteira, — -Pois  bem,  M.  Chenu, 
dizei-me  francamente,  que  dote  imaginaes 
vós  que  eu  desse  a  Suzanna?  —  Madama, 
não  são  cousas  essas  que  me  caiba  a  mim 
dizer.»  Francisco  Manoel  do  Nascimento, 
Successos  de  madame  de  Seneterre. 

QUANTIDADE,  s.f.  iDo  latim  quanfitas, 
de  quautus).  Tudo  o  que  é  susceptível  de 
augmento  ou  diminuição.  —  Híedír  uma 
quantidade.  —  Duas  quantidades  igums. 
—  Comparar  quantidades. 

—  Termo  de  mathematica.  Quantidade 
continua;  aquella  cujas  partes  são  liga- 
das, como  o  tempo,  o  movimento.- — Quan- 
tidade discreta;  aquella  cujas  partes  não 
estão  ligadas,  como  os  números.  —  Quan- 
tidades negativas ;  aquellas  que  são  affe- 
ctadas  do  signal — .  Quantidades  positi- 
vas; aquellas  que  são  affectadas  do  si- 
gnal -)-.  —  Quantidades  algébricas;  núme- 
ros iudetermiuados,  ou  que  se  referem  á 
unidade  em  geral.  —  Quantidades  imagi- 
narias;  quantidades  que  si)  tem  luna  exis- 
tência symbolica,  e  que  divergem  essen- 
cialmente das  quantidades  reaes :  a  raiz 
quadrada  de  —  2,  V — 2,  é  uma  quanti- 
dade imaginaria.  A  denominação  de  quan- 
tidades imaginarias  foi  mal  cabida,"  seria 
melhor  dizer  expressões  imaginarias,  ex- 
pressões por  que  ellas  se  assemelham  ás 
expressões  que  significam  alguma  cousa, 
e  imaginarias,  porque  na  verdade  ellas 
nada  significam.  —  Quantidades  homogé- 
neas ;  quantidades  que  tem  um  mesmo  nu- 
mero de  factores.  —  Quantidades  racio- 
naes ;  aquellas  que  tem  uma  relação  ex- 
primivel  em  números  inteiros  ou  fraccio- 
narios  com  a  unidade. — Quantidades  í'/í- 
commensu7-aveis  ;  aquellas  em  que  esta  re- 
lação não  existe. 

—  Multidão,  abundância,  niunero  maior 
ou  menor.  —  Recolher  uma  grande  quan- 


tidade de  trigo.  — Havia  grande  quantida- 
de de  gente  no  passeio.  —  A  qualidade  das 
cousas  é preferivel  á  queintiàa.àe  d'eUas. — 
«Não  tardou  muito  que  dous  escudeiros 
de  Albayzar  lhe  trouxeram  as  armas,  que . 
eram  de  negro  e  ouro ;  o  ouro  em  menos 
quantidade  que  o  negro,  de  sorte  que 
quasi  se  via  por  uma  saudade,  com  que 
eram  mais  loneãas  e  galantes.»  Francisco 
de  Moraes.  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap. 
124. 


Achào  d'cmbarcaçòcs  gràa  quantidade 
Humas  .sào  d'alto  bordo  outras  rasteiras. 
Tudo  foi  lofio  posto  a  bom  recado 
Como  do  uobrc  Cunba  foi  maudado. 

F.    DE  ANDRADE,  PKIMEIKO    CEBCO  DE  DIU,  CSnt. 

8,  est.  50. 


Ajnnta-se  também  a  rjuanf idade 
Dos  pequenos  escravos  que  agasalha 
A  fortaleza,  cuja  tom-a  idade 
Também  soffrêra  mal  o  aruez  c  a  malha  : 
Conformes  u'hum  querer,  uhuma  vontade 
Ordenào  de  se  dar  huma  batalha, 
Sondo  menos  assaz  os  Lusitanos 
Que  o  que  hc  natural  se  acha  em  quacsquer  anos. 
IBIDEM,  cant.  10,  est.  11. 

Soltando  com  esta  ordem  toda  a  armada 
Dos  canhões  a  fulminca  tempestade, 
Faz  que  na  fortaleza  tenha  entrada 
De  pelouros  mortaes  grãa  quantidade: 
E  ciddando  quiçá  ver  destroçada 
Só  com  isto  a  Cliristàa  ferocidade, 
Só  n'luim  tào  forte,  quanto  triste,  moço 
De  infinitos  canhões  pára  o  destroço. 
IBIDEM,  cant.  14,  est.  29. 

As  mulheres  também  em  si  tomárSo 
Gràa  parte  do  trabalho  aUi  ordinário, 
Porciue  nos  varões  fortes  enxergarão 
Menos  forças  do  que  era  necessário. 
EUes  coin  grãa  vergonha  Ih 'o  acccitárào. 
Porém  a  contumácia  do  adversário 
E  a  grande  quantidade  pódc  tanto 
Que  póz  fraqueza,  em  quem  não  põe  espanto. 
IBIDEM,  cant.  16,  est.  79. 

— «  Mandou  logo  trazer  montes  de 
terra,  e  rama  para  entulhar  a  cava,  for- 
talecendo a  esplanada  com  troncos  de  ar- 
vores grossas  para  lhe  assegurar  o  terra- 
pleno. A  quantidade  dos  gastadores,  que 
servião  o  campo,  era  outro  novo  exerci- 
to, com  que  a  obra  medrava  sem  tempo, 
e  sem  medida.»  .Jacintho  Freire  de  An- 
di-ade.  Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv.  2. 

—  Porção,  numero,  fallando  das  cou- 
sas.—  «Á  troco  dos  quaes  derào  dez  ne- 
gros de  terras  differentes,  e  huma  boa 
quantidade  douro  em  pi),  que  foi  o  pri- 
meiro que  se  nestas  partes  resgatou  :  don- 
de ficou  a  este  lugar  por  nome  Eio  do 
ouro :  sendo  somente  hum  estreito  d'agoa 
salgada  que  entra  pela  terra  obia  de  seis 
legoas.»  João  de  Barros,  Década  1,  liv. 
1,  cap.  7. — -«Tem  este  maldito  idolo  de 
renda  cada  anuo  segundo  alli  nos  affir- 
máraõ,  trezentos  mil  cruzados,  a  fora  as 
oíiertas,  e  peças  ricas  dos  seus  abominá- 
veis saerificios,  que   se  orçaõ  em  muyto 


Hi 


QIJAN 


qi:an' 


(^UAN 


iiiíiviir  quãtidade.  «  l-Vrnào  Mendes  l'in- 
ti),  Peregrinações,  cjip.  H»:.'. 

(';iiiil):n()  IJci,  com  tcMi  oxiMiiplo  ctijinro 

I  >o  (|iii)  dii;o  mo-itriir  lo^o  a  vordiulii. 

!•)  por  iM»)  tni/.er  otítnm  imo  r|U(!ro 

I)(!  (|iic  Iioiiví;  (com  Htiu  iiiiil)  f^niii  nwinliiUuh ; 

I*iiÍH  tanto  to  co^ou  teu  oilio  fi-ro 

(.•uc.  I)  ciiiiiiilio  (|uc  tua  cninldailo 

'!'((  ciirtinoii,  para  mal  doutrem,  niaiu  perto 

\)is  tua  mort'3  cnicl  foi  o  maia  certo. 

rjl  VNIJiaeO  DK  ANI)H.M>K,    rUIMKiao  CKIll-O   DK  Dll', 

cant.  7,  est.  'i. 

--((()  (iovcniailiii-,  (Icixamlo  a  Cida- 
de abraza  In,  .so  tornou  a  embarcar,  e  foi 
demandar  Ajjfayaim,  onde  o  esperava  D. 
1)1(11^0  do  Almeyda  com  cento  e  cincocn- 
ta  cavalloff,  o  a  milícia  da  torra,  com 
quantidade  «lo  bareaí  para  passar  a  p;cu- 
te.  »  Jaeintlio  Freire  de  Andrade,  Vida 
de  D.  .João  de  Castro,  liv.  4. 

—  Terau)  de  mecânica.  Quantidade  de 
movimento;  o  producto  da  uias.sa  pela  ve- 
locidade. 

— Termo  de  gramiuatica.  Duração  do 
tempo  mais  oii  menos  considerável  que 
SC  emprega  a  pronunciar  uma  letra,  uma 
syllaba.  —  A  versificação  latina  e  p'e</a 
é  fiiuddiln  sobre  a  quantidade. — As  re- 
gras da  quantidade.  —Não  saber  a  quan- 
dade.  —  Heijuir  a  quantidade.  —  A  quan- 
tidade iVuiiia  palavra,  iTiuiia  sj/llaba. 

—  Quantidade  mdural ;  ajusta  nidlida 
da  duraeào  do  som  em  cada  syllada  de 
cada  palavra  (pie  pronunciamos  conformo 
ás  leis  do  mecanismo  da  palavra  e  do 
uso  da  naçiio. 

—  Quantidade  artificial;  applicaçào 
convencional  da  diu-ação  do  som  em  ca- 
da syllaba  de  cada  i)al.ivra,  relativamen- 
te ao  mecanismo  artificial  da  versiticaçào 
métrica  e  do  rytlinio  oratório. 

—  Termo  de  mu.sica.  IViração  relati- 
va que  as  notas  ou  syllabas  devem  ter. 
— ■  A  quantidade  produz  o  r^thnio. 

—  Termo  de  plúlosophia.  Quantidade 
dus  juizos ;  diz-se  em  alguns  antigos  sys- 
temas  de  lógica,  e  no  kantismo,  da  pro- 
]>rie  lado  f[ue  teni  os  juizos  de  ser  geraes, 
partieulires  ou  singulares. 

QUANTIOSO,  A,  adj.  Abundante,  co- 
pioso,  numeroso. 

—  Tributo  quantioso ;  tribiito  avultado. 

—  Homem  quantioso;  homem  de  teres, 
de  cabedaes. 

QUANTITATIVAMENTE,  a,lv.  De  quan- 
titativo, com  o  suflixo  «mente»'.  Confor- 
me a  quantidadi>. 

QUANTITATIVO,  A,  adj.  Termo  de 
granunatiea.  C^Uie  diz  respeito  á  quanti- 
dade; ou  ás  quantidades, —  Termos  quan- 
titativos, eon\o:  ninito,  pouco. 

—  Termo  de  chimica.  Anali/ses  quan- 
titativas ;  aqnellas  que  determinam  exa- 
ctamente a  quantidade  de  cada  elemen- 
to, como  a  analyse  qualitativa  determina 
a  natureza. 

QUANTO,   A,  ((.//.    Do  latim  ,jiinnfus). 


Qu(^  grandeza  numcriea,  ou  contínua; 
que  intensidade,  que  grau. —  Quanto  «'<«- 
i/ite  vejo  dex/iarzido  !  ■ — «  E  a  suí»stancia 
de  .sua  embaixada  ura  representar  quan- 
to damno  todolos  Jlouros  daquellas  par- 
tes ilidiam  recebido  de  nossa  entrada  na 
Índia,  c  como  os  mares  eram  cheio»  ile 
nossas  Armadas  ;  c  não  nos  contentando 
com  navegar  os  da  Índia,  novamente  en- 
trara hiinia  mui  grossa  no  estreito  do 
mar  Koxo,  e  commettôra  querer  ir  .ao 
porto  d<i  Judá.»  Joào  de  iiarros,  Década 
2,  liv.  H,  cap.  0. —  «  E  quanto  desejava 
ter  amizaile  com  EIKey  D.  Manuel,  e 
haver  entro  elle  comuninicaejlo  de  <d)i-as, 
entro  algumas  cousas  que  apontou,  foram 
diiaa  importantes  ás  cousas  de  (Jrmuz  : 
liuma,  que  os  direitos  das  mercadorias, 
que  da  i*ersia  entravam  em  Orinnz,  fo.s- 
sem  dello  Xeque  Ismael.»  Ibidem,  liv. 
10,  cap.  4.  —  «('fintemos  quantos  estru- 
monto?  nos  deu  Deos  pea"a  alcaiiearmos 
a  sua  graça  que  tudo  o  cpie  elle  criou 
serve  a  nós ;  sirvamos  nós  a  elle,  e  ajun- 
temos provisam  pêra  o  necessitado  dia 
em  que  havemos  de  dar  conta  tam  es- 
treita.» D.  Joanna  da  (íama,  Ditos  da 
Freira,  pag.  õ(j. 

Gil.      Dpos  vos  salve  :  chegar-inc-hci  ? 
Ou  tendes  de  mim  receio? 

Mont.   Certo,  Gil,  cu  te  direi 

Homem  por  guardar-so  veio, 
Quanto  cu  guardar-ine  naò  sei. 

FKAXCISCO  B0DBIQCK3  I.OH0,  KfLOOAS. 

—  «  Seu  sangue,  dizia  elle,  será  agra- 
dável ás  cinzas  d'este  hcroe  :  o  mesmo 
Eneas,  tendo  noticia  de  tal  sacriticio,  li- 
cará  mui  satisfeito  vendo  quanto  prezas 
o  porque  elle  mais  estremeceu  no  mun- 
do.» Telemaco,  tradncyào  de  Manoel  de 
Souza,  e  Francisco  Manoel  do  Nascimen- 
to, liv.  2. 

Dependência  d'um  Throno  a  (jirn/i^o- obrigas! 
Fazca  do  grande  Sábio  homem  pequeno ! 
Nào  vejo  grande  a  Séneca  nas  obras, 
Pois  a  vida  autepoz  ao  justo,  ao  pejo ; 
Por  olla  perde  de  \-iver  as  causas. 

J.    \.   DE  MACKDO,   VIAGEM  E.XTATRA,  Caut .    '2. 

Depois  de  quanto  attau,  de  quanto  estudo 
Tu,  Saladini,  a  theoria  expunlias, 
Que  escolho  da  Mecânica  se  chama, 
Nào  supcravcl  cpiasi  a  cugcuho  humano ! 
iniDEM,  cant.  4. 

Quanto,  quaitio  cm  Parthénopo  te  exaltas! 
AUi  mais  se  cultiva,  e  mais  se  apura 
Do  Maquinista  Siculo  o  talento, 
Que  atalha  os  voos  das  Koinauas  Águias. 

iniDEM. 

O  crime,  iS  crime  atroz,  cegueira  d"alma 
A  quanto  prccipicio  03  homens  levas  ! 
O  fogo  activo,  dádiva  do  Eterno, 
Com  que  seu  domicilio  alVormoséa. 

IPE.M,  MEDITAÇÃO,    Ctlot.   2. 

ls'huin  v.-ícuo  immciiso  os  vrtrtioos  primeiro 
Este  Henio  espalhou.  Quanlo  se  admira 


Xo«  que.  do  no^■a  luz  a  Euro;)»  fnchcrâo, 
No  profundo  (j<u>metra  \)fhvArti-ti, 
Que  do  Alca(;;ir  da  iiniucuiui  Nuturezu. 
iniiiKU,  cant.  4. 

-  Todos  os  que.  — J.ain;nr-se  com  quan- 
tos (jiieretn. — «E  pêra  i.sso  mandava  scu.s 
cavalleiros  saltear  quantos  acluiva,  e  tan- 
to que  lhos  traziam  c  via  quu  nenhum 
era  o  que  esperava,  faziaos  matar,  .lá 
agora,  disse  Albayzar,  cessara  essa  crue- 
za. N'isto  acabaram  dv.  desarmar  Floren- 
dos  c  fazercm-ihe  um  leito.  A  duiizella  o 
curou  de  su.-is  feridas,  <|ue  eram  puucoii 
e  pequenas ;  que  como  cc  disse  já  atraz, 
e.sta  donzclla  era  grào  saljcdora  n'aquclla 
arte.»  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
de  Inglaterra,  cap.  'Mi.  —  •  Veio  ter  a 
osta  fortaleza  a  tcmjjo  que  eu  me  nam 
temia  de  ningnein,  onde  dando  de  suj/i- 
to,  mamlou  meter  a  espada  a  quaatos 
aciiou  dentro  e  só  a  mim  deixou  viva, 
dizendo  que  me  queria  ter  em  prisam  té 
haver  vos  a  mào  e  queimar-nos  anibus 
juntos.»  Ibidem,  cap.  'JG. 

Lan(;à6C  com  quanto»  querem, 
som  llie  os  maridoí  tolherem 
quantos  querem  escolher, 
dei.\-am-lhc  tudo  fazer, 
sem  lho  n.ada  reprcndcrcm. 

OAUCIA  DE  REZENDE,   MISCELLASm 

—  «E  como  a  elles  acompanham  einn 
03  estudos  da  Filosofia,  e  sagrada  Thco- 
logia  aprendendo  primeiro  a  lingoa  lati- 
ra, e  procedendo  em  tudo  pela  mesma 
ordem,  que  se  giuirda  nas  vniuersidades 
de  Europa :  menos  he  agora  tempo  de 
foliarmos  de  quantos  entre  clles  tem  fei- 
to, e  fazem  o  oiticio  de  pregadores  cuan- 
gelicoã  com  immenso  frnyto  das  ahn.'«s 
dos  seus  naturais.»  Lucena,  Vida  de  S. 
Francisco  Xavier,  liv.  G,  cap.  IS. 

—  Que  porç.^o,  que  quantidade?  — 
Quantos  christàos  retugaram  iwssa   Féi 


qtiantos  Christàos  renegaram 
uossa  Fé,  p,  se  lançaram 
no  Cairo  com  vaidade 
de  alcam;ar  tal  disuidade, 
e  as  almas  condemuaram. 

CIARCIA  DE   BKZKXPK,  UISCKLLAXEA. 


Hum  dos  solemnes  dias  e  sagrados 
Que  a  memoria  daquclla  gloriosa 
Resiu-roivào  de  Deos,  fez  venerados 
Entre  a  gente  liei,  religiosa. 
Se  juutào  qnantoK  mo.,-os  b-iptisados 
Da  Xaijào  Portugueza.  alta  e  ramo.sa. 
A  fort-íleza  entào  dentro  em  si  tinha 
Cuia  idade  inda  ás  armas  não  convinha. 

FKANCI^CO  DE  ANDRADE,  PKI31E1B0  CBROO  DE  DIC, 

cant.  10.  est.  10. 


dia 


— Tudo  o  que. — Assentar  quanto  aprtn- 


E  levarão  qKivilo  tinha. 
Porque  Deos  e  a  Kainha 
Diz  que  05  favorecerão  : 


QUAN 


QUAN 


QUAN 


17 


Tão  gi-aiulo  golpe  mo  de.rão 
Com  favor, 

Que  110  contaré.  mis  qucjas 
Si  á  vos  no. 

GIL  VICKNTE,  OBR.VS  VARIAS. 


De  tudo  quanto  passei, 
Por  vos  dar  coutoiítamonto. 
Em  summa  vos  contarei. 
Trago,  Senhora,  a  viotoria 
Daquelle  Rei  tão  temido. 
Com  fama  clara  e  notória. 

CAM.,   AMPHYTRIÕES,    aCt.    2,    SC.    2. 


Qual  no  longo  estandarte  vai  mostrando 

Quanto  tom  d'esperança,  ou  arreceio, 

Qual  d!!3cobre  so  amor  lho  lio  duro  ou  brando, 

Ne=ilium  sua  tenção  deixa  no  seio. 

A  Melique  Toeão,  que  então  o  mando 

Em  Diu  tinlia,  a  nova  disto  veio, 

Tudo  com  diligencia  olha  c  concerta 

Onde  o  temor  o  avisa,  onde  o  desperta. 

F.    DE  ANDBADE,  PRI.MEIR0  CERCO   DE   DIU, 

cant.  1,  est.  43. 


Deste  intento  d'ElRei  falso  o  damuado 
Indigno  da  real  alta  Coroa, 
A  fama  com  veloz  curso  apressado 
E  co'o  som  do  metal  que  a  orelha  atroa, 
I^ogo  ao  Governador  levou  recado 
E  lhe  manifestou  lá  denti-o  cm  Goa 
Xào  somente  as  palavras  que  dizia 
Mas  quanto  contra  os  nossos  pcrtsndia. 
IBIDEM,  cant.  6,  eat.  32. 


Apoz  isto  ante  os  olhos  lhe  aprcicnta 
Q'ia-ifo  ja  p.)dc  em  Diu  o  novo  imigo, 
Tal  que  a  grandeza  delia,  alta  e  opulenta 
Muito  cedo  terá  toda  comsigo; 
Que  30  este  o  seu  poder  novo  accresconta 
EUe  perderá  o  sou  poder  antigo. 
Depois  que  outras  mil  cousas  diz  dcsfarto 
Com  que  assaz  o  aceudeo,  d'alli  se  parte. 
iniDE.M,  cant.  9,  est.  112. 


Ainda  que  em  pequena  breve  parto, 
(Jlha  o  que  a  minha  industria  to  ofíorece 
Nesta  breve  pintura  èm  cada  parte. 
Quanto  o  Celeste  Globo  orna  e  guarnece. 

ROLIM  DE  MOURA,   XOV.    DO   HOMEM,  Cailt.    1, 

est.  39. 


—  «Mostrou -me  depois  Narbal  os  ar- 
mazéns, arsenaes,  e  mais  officiíias  onde 
se  fabricam  as  naus.  Inquiria-llie  eu  com 
miudeza  as  menores  circumstancias ;  e  as- 
sentava quanto  aprendia,  para  me  não 
esquecer  ponto  algiun  importante.»  Tele- 
maco,  tva^lucçào  de  Manoel  de  Sousa,  e 
Francifico  3Ianoel  do  Nascimento,  liv.  3. 

—  Quanto  custou?  que  somma? 

—  A'  proporção,  conforme  que. 

—  Quanto  melhor.  —  «E  praza  a  Deos 
que  quanto  for  melhor  lavrada  ante  elle 
per  gloria,  e  acerca  dos  homens  per  fama, 
seja  tão  lembrada,  como  he  a  destes  des- 
terrados corpos  entre  aquelles  bárbaros, 
.'jcgundo  jà  per  nós  atrás  fica  dito  em  ou- 
tra tal  lamentação.)'  João  de  Barros,  Dé- 
cada 2,  liv.  6,  cap.  10.  —  «Além  do  cm- 
jirestimo  da  Cidade,  lhe  enviarão  as  do- 
nas, e  donzellas  em  hum  cofre  a  pedraria, 
e  jóias,  com  que  a  fraqueza  feminil  serve 
ao  po^^ler,  e  á  vaidade:  oíFerta  de  que  não 

voT..  V.  —  3. 


podião  esperar  retribuição,  ou  usura  :  don- 
de se  vê,  quanto  melhor  ser^'idas  são  dos 
Povos  as  virtudes,  que  as  tyrannias  dos 
Rep-entes.»  Jacintho  Freire  de  Andrade, 
Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv.  3. 

—  Quanto  nunca.  —  (J  banquete  foi  tão 
nobre  e  giande,  quanto  nunca  nenhum 
d'elles  vira  outro  maior,  passando-o  todo 
em  louvores  da  corte  do  imperador  Pal- 
meirim e  das  muitas  nobrezas  de  sua  pes- 
soa.» Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  de 
Inglaterra,  cap.  96. 

—  Quanto  ínrtíor.  —  «Quanto  mayor  se- 
ja esta  província  que  ha  de  Cantaõ  e  que 
ha  de  Cansi,  mostra-se  porque  ella  soo 
tem  um  governador  e  Cantão  e  Cansi  tem 
ambas  hum  governador.»  Frei  Gaspar 
da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da  China, 
cap.  5. 

—  Quanto  mais,  quanto  menos. — «Quan- 
to mais,  que  eu  não  sei  que  mais  penhor 
se  possa  dar  neste  caso,  que  o  partido 
ser  commettido  pelo  turco,  que  por  ne- 
nhum j^reço  quererá  quebrar  sua  pala- 
vra.» Francisco  do  Moraes,  Palmeirim 
d'Inglaterra,  cap.  112.  —  «Perder  a  mim 
por  vós,  e  perder-se  o  mundo  todo,  tam- 
bém me  pareceria  justo :  mas  perder  a 
vós  por  nada,  não  se  deve  de  querer  : 
quanto  mais  que  não  tenho  por  boa  tro- 
ca a  que  vós  fazeis  comvosco.»  Idem, 
Ibidem,  cap.  116.  —  «Certo  que,  quanto 
mais  vou  vendo,  mais  me  parece  o  saber 
de  Urganda  dino  de  ser  estimado  por  ci- 
ma de  todolos  do  mundo.  N'isto  não  er- 
rava Platir,  que  como  quer  que  aquelles 
paços  e  ca.sas  fossem  feitos  pêra  o  repouso 
de  sua  pessoa,  onde  o  mais  do  tempo  habi- 
tava.» Idem,  Ibidem,  cap.  119.  —  «Quanto 
mais,  que  além  desta  ajuda  e  íavor,  que 
tem  de  sua  parfe,  os  que  se  aqui  sempre 
acham,  são  tão  extremados  de  seu  pró- 
prio natural,  que  ninguém  pôde  ganhar 
com  ellos  alguma  honra,  que  lhe  primei- 
ro não  ponha  a  vida  no  derradeiro  extre- 
mo de  a  perder.»  Idem,  Ibidem,  cap.  126. 
— - « Quanto  mais  que,  segundo  o  nume- 
ro das  velas  dos  imigos,  o  mais  que  nel- 
las  poderia  haver,  seriam  té  mil  homens, 
os  quaes  ante  de  dous  mezes  não  tinham 
vida,  porque  haviam  de  comer,  e  beber, 
e  finalmente  a  doencia  da  terra,  segundo 
ella  tratava  os  estrangeiros,  ante  de  pou- 
cos dias,  oit  os  lançaria  de  si,  ou  os  con- 
sumiria de  todo.»  João  de  Barros,  Déca- 
da 2,  liv.  6,  cap.  3.  —  «Assi  que  a  cou- 
sa andava  tão  baralhada  e  dividida  entre 
elles,  que  ainda  que  sua  mercê  assolara 
a  cidade  de  Cantão,  se  não  fizera  caso 
disso,  quãto  mais  a  cidade  de  Nouday  que 
na  China  em  cõparaçaõ  de  outras  muytas 
era  nuiyto  menos  do  que  em  Portugal  pô- 
de ser  Oeyras  cõ  Lisboa.»  Fernão  Men- 
des Pinto,  Peregrinações,  cap.  67. 

Q'iaiito  mais  a  Oceana  onda  salgada 
Ko  tcm'io  quo  a  sazão  fria  apparocc. 
Com  a  fúria  do  Xoto  nogra  c  inchada 
Se  engrossa,  se  alevanta  e  se  embravece. 


Não  pôde  sor  com  a  fúria  igualada 
Que  no  gesto,  o  palavi-as  se  conhece 
Do  illnstro  Xuno  como  lhe  apresenta 
A  fama  o  que  o  Sultão  pérfido  intenta. 

F.    d'aNDR.\DE,  PRIMEIRO  CEKCO  DE  DIU, 

cant.  6,  est.  24. 

Dos  singelos  discursos  dozatndo, 
Em  mais  altas  idêas  se  enobrece ; 
E  quanto  mais  a  idade  nello  cresce. 
Mais  se  vê  nas  Scicncias  sublimado. 

ADBADE  DE  JAZENTE,   POESIAS,   tOUl.    1,  p.   43. 

—  «O  grande  nunca  sofre  igual,  quan- 
to mais  superior,  e  pox-isso  naõ  se  huma- 
na senaõ  com  o  inferior;  e  este  porque 
tem  iguaes,  com  quem  faça  sociedade,  naõ 
necessita  do  bafo  dos  grandes,  mais  quo 
para  engodar;  e  he  quanto  lhe  permitte 
o  careyo,  que  lhe  daõ,  e  usaõ  delle  os  va- 
lidos com  insolência.»  Arte  de  furtar, 
cap.  38.  —  «Quanto  mais  pasto  damos  ao 
fogo,  tanto  mais  se  accende,  e  mais  fome 
mostra  de  mais  pasto,  accrescentando-a 
com  nquillo,  que  a  pudera  fartar,  e  ex- 
tinguir.» Ibidem,  cap.  70. 

—  Quanto  imporía  para  a  morte  o  viver 
bem;  o  que  serve,  importa  para  a  morte 
o  viver  bem. 

—  Fiz  quanto  inaJe ;  fiz  tudo  o  que 
pude. 

—  Loc.  ELLIPTICA  :  Quanto  (';  quanto 
a  isso.  O  vulgo  diz  cante. 

—  Quanto  a;  pelo  que  diz  respeito,  ou 
toca  a  alguma  cousa. —  «Quanto  ajustar, 
fal-o-hei,  porque  a  senhora  Miraguarda 
satisfaça  o  seu  desejo,  que  só  jDelo  que  a 
vós  vos  vai,  folgarei  de  lhe  fazer  a  vonta- 
de, ainda  que  seja  á  rainha  custa. »  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  de  Inglaterra, 
cap.  126.  —  «Os  ministi-os  desta  obra  tan- 
to que  per  ella  ficarão  seguros,  consenti- 
rão que  Vasco  da  Gamma  se  embarcasse, 
mas  quanto  a  dar  modo  pêra  que  Diogo 
Diaz  comprasse  alguma  cousa,  tudo  eraõ 
artifícios  pêra  o  naõ  poderem  fazer.»  João 
de  Barros,  Década  1,  liv.  4,  cap.  10, — 
«Que  quanto  ao  negocio  que  entre  elle  e 
o  capitão  de  Onor  era  passado  per  reca- 
dos elles  o  soubcraõ,  e  por  verem  que  o 
capitão  d'elRey  se  remettia  à  vontade 
delle  cujo  recado  tardaua  muito,  elles 
determinarão  de  se  sair  daquelle  porto  de 
Onor.»  Idem,  Ibidem,  liv.  8,  cap.  9. — • 
«E  os  que  vieram  a  este  negocio,  como 
já  escrevemos,  foram  Diogo  Corrêa,  e 
Francisco  Pereira  de  Berredo,  os  quaes 
chegaram  a  tempo  que  Affonso  d'Albo- 
querque  estava  de  caminho  pêra  Malaca, 
e  deo  a  Diogo  Corrêa  a  capitania  de  Ca- 
nanor,  em  que  ficou  em  lugar  de  Manuel 
da  Cunha ;  e  quanto  ao  despacho  dos  ou- 
tros, espaçou  té  sua  vinda  por  não  poder 
ser  então.»  Idem,  Década  2,  liv.  7,  cap. 
3. —  «E  quãto  á  carta  que  pedis  vos  da- 
remos de  muyto  boa  vontade,  visto  quão 
necessária  vos  ha  de  ser,  para  que  o  fa- 
vor dos  bons  vos  não  falte  no  tempo  que 
o  ouverdes  mister.»  Fernão  Mendes  Pin- 


18 


QUAN 


to,  Peregrinações,  cap.  H7.  —  «K  quanto 
;t  dizor  (jiio  ha  oriental  su  arremata  em 
liiim  ponto,  assi  clio  como  ou  de  «jiieiu 
elio  tomou,  parocc-mo  quo  so  encanaram, 
o  qiio  iliefi  iiacoD  esto  oiifçauo  do  ha  vc- 
rom  as.si  ai)outaila  jinr  al^^uus  cosmo;íra- 
i\)i  na  iMappa  miimli,  ho  (|ue  foy  por  fal- 
ta da  nnticMa  da  verdade.»  Fr.  daspar  da 
(!ru/.,  Tratado  das  cousas  da  China,  liv. 
-.  —  «Quanto  á  terce.ira  tolice:  furtar  pa- 
ra outrem,  di^'o  ipio  hu  mayor,  (juo  a  pri- 
meira, e  segunda;  porque  naõ  ha  duvida, 
que  he  insânia  muito  grande  ompcnhar-se 
hum  homem,  pelo  que  naò  ha  de  lograr.» 
Arte  de  furtar,  cap.  (iõ. 

—  Klliiitieamente:  lV)r  que  grandeza 
ou  quantidade. 

—  Quanto  vai  de  um  termo  a  outro  ;  isto 
c,  a  distancia,  ou  graduav<ào  intermédia. 

—  Palavra  correlativa  a  tanto. —  «Por- 
que sua  tcn^'ão  era  não  tanto  ir  impedir  a 
obra,  que  os  Jlouros  faziam  na  ponto, 
quanto  per  elle  mesmo  sondar  o  lugar  se 
poderia  com  outro  maior  subir  tanto  assi- 
ina,  que  puzesso  a  barba  sobre  a  ponte  ; 
porque  quando  houvesse  de  commetter  ou- 
tra vez  a  Cidade,  per  elle  esperava  en- 
trar na  ponto,  e  lhe  ficaria  em  lugar  de 
fortaleza,  por  ser  de  bom  gazalhado,  e  a 
gente  ficava  amparada  da  artilheria,  e 
frcclias.»  Joiío  de  Barros,  Década  2,  liv. 
(),  cap.  4.  —  «A  qual  obra  acreditou  tan- 
to nossas  cousas,  que  nào  tardou  muito 
vermos  quanto  aproveitou  com  clles,  ha- 
vendo sermos  homens  que  tínhamos  duas 
|)artcs,  liuma  pêra  muito  temor,  e  outra 
j)era  grandemente  amar;  por  mal,  sermos 
mui  esquivos  vingadores  de  oífensas ;  e 
por  bem,  em  extremo  fieis  na  amizade,  o 
cumpridores  do  nossa  palavra.»  Idem, 
Ibidem,  liv.  7,  cap.  3.  —  «Que  corto  foy 
ora  tanta  abastança,  e  tanta  porfeiçam. 
tanta  honra,  tanto  estado,  quanto  no  mun- 
do podia  sor.  E  neste  tempo  ato  o  Natal, 
cm  quo  03  justailores  se  onsayauam,  e  apa- 
rclhauam  as  cousas  pêra  a  justa,  ouue  na 
praça  da  Cidade,  e  no  terreiro  dos  paços 
nuiytas  vezes  muytos  touros  com  muvtos 
galantes  a  elles,  e  ricos  jogos  de  canas,  e 
nuiytos  momos,  e  scraõs,  musicas,  e  festas 
sem  nunca  cessarem.»  Garcia  de  Rszcndc, 
Chronica  de  D.  João  II,  cap.  125. 

A  falta  destes  dous,  quo  alli  morrcudo 
CUegiivão  do  louvor  A  invlr  alteza, 
Xoí  trcs  quo  se  ficavão  defendendo 
Por  excessiva  dòr,  mas  nslo  fraiueza, 
Antes  quanto  o  perigo  liia  crescendo 
Tanto  crescia  nelles  a  braveza, 
E  ajudiido  d:i  dòr  o  esfon,'o  antitro 
So  faz  sentir  em  dobro  ao  bravo  imigo. 

F.    I>E    A.SDR\r>E,   rHlUKIKO  CERCO   DE   Dlf, 

cant.  7,  est.  33. 

—  Loc:  Ver  os  homens  para  quanto 
são ;  quanto  préstimo  tem,  ou  para  quo  fei- 
tos, e  obras,  negócios  sào,  o  cm  que  grau. 

—  Em  quanto ;  entretanto.  —  «E  posto 
que  Florcndos  c  Miraguarda  muito  folgas- 


QUAN 

siMU  do  os  ouvir,  bó  Floraniito desejava  quo 
nílo  tivesse  fim;  o  cm  quanto  se  o  vilanee- 
tc  cantava,  por  lhe  iiilo  esquecer,  o  escre- 
veu no  tronco  d'uma  arvoro,  como  já  ou- 
tra vez  fizora,  cortando  as  letras  nclle, 
que  depois  cnwceram  a  compasso  com  o 
mesmo  tronco,  c  estiveram  ni;lla  tanto  tem- 
po até  que  o  mesmo  tempo  consumio  a  ar- 
voro o  as  letras.  O  vil.anccte  dizia,  n  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  de  Inglaterra, 
cap.  lOí).  —  «Que  cm  quanto  n.ào  tiver  ck- 
ta  certoza  delia,  nào  espere  vôr-me,  antes 
farei  o  quo  o  cavallciro  do  .Salvagc  orde- 
nar do  mim.»  Idem,  Ibidem,  cap.  IKi. 

Dou»  invernos  fazendo,  c  doua  vorõcs, 
Em  quanto  corro  d'um  a  outro  {Mo, 
Por  calmas,  jior  tormentas  c  o,)|>riíi.sõcs 
Quo  sempro  faz  no  mar  o  irado  Kólo, 
Vimos  as  Ursas,  apozar  de  Juno, 
Uanharom-30  nas  aguas  de  Neptuno. 
cAM.,  Lus.,  cant.  5,  est.  lõ. 

— • «  As  quaes  cousas  asei  ficarSo  do 
juizo  do  Camorij,  que  lhe  parecia  não  ter 
mães  dilação  per  auer  victoria  dos  no  'SOS 
que  cm  quanto  estas  se  oi-dcnauão:  e  por 
isso  com  muita  diligencia  mandou  logo 
pôr  mão  nellas.»  João  de  Barros,  Década 
1,  liv.  7,  cap.  G. —  «  E  foi  tanta  a  ma- 
tança nelles  nesta  fugida,  que  alguns  que 
escapAram  foi  por  serem  tantos,  e  os  nos- 
sos tão  poucos,  que  em  quanto  se  deti- 
nha com  huus,  se  puzeram  os  outros  em 
salvo.»  Idem,  Ibidem,  cap.  8.  —  «E  tam- 
bém alguns  dos  juncos  do  mantimento 
que  esperava  da  Jauha  eram  já  vindos; 
os  quaes  tantos  que  c-hcgáram,  e  foram 
despojados,  em  quanto  llie  nào  fazia  tem- 
po pêra  se  tornar,  ordeuáram-se  logo  pê- 
ra se  defender,  temendo  nossa  armada.» 
Idem,  Década  2,  liv.  9,  cap.  2.  —  «  E 
porque  ja  com  esta  dôr  de  nos  lançar  de 
Malaca,  podia  encubrir  seu  principal  in- 
tento, começou  de  ter  algumas  intclligen- 
cias  com  os  principacs  Jáos  que  viviam 
em  Malaca,  j>rincipalmente  com  Utimu- 
tirája  em  quanto  viveo,  e  depois  com  Pa- 
tê Quetir,  e  Çuria  Deva,  que  eram  os 
mais  poderosos,  os  quaes  liberalmente  lhe 
fizeram  offerta  do  suas  pessoas,  e  o  feito 
mui  leve  de  acabar,  apressando-se  muito 
que  viesse  a  elle.»  Ibidem,  liv.  9,  cap. 
•4.  —  «  Estas  novas  se  espalliáraõ  logo  por 
Goa,  a  que  acodiraõ  todos  os  Fidalgos,  e 
Capitaens  a  se  ofFerecerem  pêra  aquelle 
negocio,  sendo  o  primeiro  D.  Francisco 
de  ]SIenezes,  a  que  o  Governador  aceitou 
03  offerecimcntos  uiandando-Ihc  que  so 
preparasse  pêra  o  outro  dia  se  partir  com 
alguns  navios  diante,  cm  quanto  D.  Ál- 
varo de  Castro  se  fiizia  prestes.»  Diogo 
de  Couto,  Década  fl,  liv.  7,  cap.  7. — 
«  Em  quanto  assi  estam  ninguém  ousa 
de  lhes  fallar,  nem  chegar  a  clles,  e  o 
que  alli  concluem  he  o  que  os  outros  ham- 
do  fazer  sem  lhe  poderem  contrai-iar.  Saõ 
tam  obedientes  ao  que  estes  velhos  «is- 
scntaõ  e  ordenam  no  conselho,   que  ain- 


QUAN 

da  que  saibam  quo  a  execuçani  disso  lhes 
lia  de  custar  as  vida^,  uam  deixarão  ilo 
poerem  obra  o  que  os  velhos  ordenaram.* 
Damião  de  (iues,  Chronica  de  D.  Ma- 
noel, part.  1,  cap.  Dli. —  «D.  Duarto 
Pacheco  com  a  «ua  nao  e  ciirauclla  do 
Poro  líaphael,  porque  a  outra  de  Diogo 
Pirez  ficou  cm  Cochim  pêra  a  concerta- 
rem, acompanhou  Afour-o  Dalbuquerque, 
o  Francisco  Dalbii<|uerque  em  quanto 
estiuoram  em  (Jauanor,  e  no  p<jrto  de 
Calecut.  >  Idem,  Ibidem,  part.  1,  cap. 
8.^.  —  « Ao  que  loam  coellio,  o  Airca 
coelho  armados  de  couraças,  capacetes,  e 
adargas  acodiram  com  lanças  nas  mão», 
e  assim  o  Grinaldo,  que  o  fez  em  quanto 
este  m-gocio  durou  mui  e-sforçadamente, 
os  quaes  do  primeiro  encontro  niataraõ 
quatro  dos  mouros,  e  os  outros  se  lança- 
ram na  fusta.»  Jdem,  Ibidem,  part.  4, 
cap.  50.  —  «  E  porque  na  capitulação  das 
terçarias  foy  concertado,  que  em  quanto 
durassem  o  senhor  dom  Manoel  irniâo  da 
Riiynha,  que  ainda  era  moço,  andasse  cm 
Castella  el  Rcy  para  comprimento  disso, 
o  anuo  passado  lhe  ordenou,  e  deu  casa 
honrada  com  todos  seus  officiaes  dos  seus 
próprios  moradores.»  Garcia  de  Rezende, 
Chronica  de  D.  João  II,  cap.  47. 


O  tempo  que  durou  o  seu  inípcrio, 
(Fcior  í|ue  o  do  cruel  Ciracusano) 
O  seu  Ivcino  scntio  tal  vitupério, 
Taes  infortúnios,  males,  tanto  dano. 
Que  em  quanto  alumiar  este  homisphcrio 
O  sol,  c  descansar  la  no  Oceano, 
Durará  nelle  viva  esta  memoria, 
Nem  sei  se  verá  mais  a  antiga  gloria. 

F.    PF.   AXDR.VnE,   FRIMEIBÒ   CERCO   PC  DIV.   Cant. 

l.est.  31. 


Em  quanto  dá  Me8'^uita  esta  resposta 
Sou  curso  a  nobre  armada  não  detinha. 
Mas  com  a  vclla  inchada,  o  em  alto  posti 
Sempre  polo  salgado  mar  caminha. 
IBIDEM,  c:int.  O,  est.  34. 

O  Piloto  também  no  alto  navio 
Para  ]ioder  salvar-sc  todo  ordena. 
Levanta  a  rouca  voz.  do  temor  frio. 
Lança  ao  mar  nova  amarra,  desce  a  entcna : 
E  o  que  se  sente  d'ngua  mal  vazio. 
Cora  revezada  força,  o  não  pequena, 
Meneia  a  fedorenta,  longa  bomba. 
Em  quanto  a  ale^•:lntada  onda  retomba. 
IBIDEM,  cant.  13,  cât.  57. 

—  «  E  vendo  D.  JoSo  de  Mascarenha.s, 
que  em  quanto  aquelles  sustentavSo  o 
lugar,  crescijio  outros,  mandou  que  lhe 
trouxessem  escadas,  ordenando  o  caso.  o 
a  necessidade,  que  na  sna  mesma  Forta- 
leza desse  elle  o  ass,ilto.»  Jacintlio  Frci- 
r,-  de  Andrade,  Vida  de  D.  João  de  Cas- 
tro, liv.  2.  —  «  Disto  SC  jKiz  acima  hum 
exemplo,  em  quanto  o  ofterecimento  era 
affecto  particular,  que  também  occorre 
no  discurso  da  Meditação.  As  obras  de 
Christo  posso  ajuntar  as  de  sua  Mài  f:^an- 
tissima,  o  de  todos  os  Santos.»  Pailre  5Ia- 
noel   Bernardes,   Exercícios   espirituaes, 


QUAX 


qua:s^ 


QUÃO 


19 


part.  1,  pag.  63.  —  «E  toda  huma  noite 
e  aas  vezes  duas  e  três  noites  estam  con- 
tinuamente ocupados  em  representações 
liuma  após  outra :  em  quanto  ha  estas 
representações  lia  de  aver  mesa  posta 
com  muito  comer  e  beber.»  Frei  Gaspar 
da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da  China, 
cap.  14.  —  «  Por  isso  desta  nobre  parte 
se  verefica  aquelle  enigmático  dicterio  dos 
Gregos;  em  quanto  dizem,  que  quanto 
mais  cheyo,  mais  leve;  quanto  mais  va- 
zio, mais  pezado.»  Braz  Luiz  d'Abreu, 
Portugal  medico,  pag,  33.  — «  Tal  é  a 
gratitícação,  que  de  ti  consigo,  pelo  mui 
íémo  amor  que  empreguei  em  ti.  Embo- 
ra :  tenho  de  te  adorar  em  quanto  eu  vi- 
va, e  ninguenxmais  vêr;  e  túma  este  meu 
segui'o:  nào  ames  ninguém.  Quem  acha- 
rias tu  que  te  amasse  com  tão  ardente 
aíFecto,  como  o  meu?  Mais  formosa  que 
eu,  bem  podes  vê-la  (lembro-me  todavia 
que  me  disseste  que  eu  nào  era  feia)  mas 
nào  com  igual  amor ;  e  sem  amor  tudo  o 
mais  é  nada.»  Francisco  ilanoel  do  Nas- 
cimento, Successos  de  madame  de  Sene- 
terre. 

—  Por  quanto  ;  visto  que.  —  «  Xo  mes- 
mo dia  que  se  pos  o  fogo  a  cidade  assen- 
tou dom  Francisco  de  acometer  ao  outro, 
polo  que  duas  horas  ante  manhã  sahio  de- 
fronte donde  estava  siu-to,  e  com  elle  dom 
Francisco  de  Sà,  e  Lourenço  de  Brito, 
Rui  Freire,  Gonçalo  de  Paiva,  Phelipe 
Rodriguez,  Fernão  Bermudez,  Antam 
Gonçaluez,  e  a  gente  da  nao  de  loam 
Serram,  por  quanto  ellc  estaua  ferido.» 
Damiào  de  Góes,  Chroaica  de  D.  Manoel, 
part.  2,  cap.  o.  —  «  E  por  quanto  o  ca- 
pitão daquella  frota  nào  leuaua  piloto  que 
soubesse  da  nauegaçào  daquelle  estreito ; 
o  mandaua  em  ten-a  a  saber  do  senhor 
ou  gouemadop  delia  se  lhe  dariào  ali  al- 
gum piloto  por  seus  dinheiros,  que  os 
quisesse  meter  em  Ormuz,  onde  estaua  o 
capitão  que  buscauào.»  Joào  de  Barros, 
Década  2,  liv.  3,  cap.  2.  —  «Por  tanto 
que  mandasse  lançar  pregào,  que  nin- 
guém fosse,  nem  viesse  senào  nestas  tor- 
radas: e  mais  lhe  pedia  que  na  Cidade 
houvesse  todo  assocego  sem  alvoroço  al- 
gum, por  quanto  elle  era  vindo  pêra  bem 
de  todo  seu  Reyno.»  Idem,  Década  2, 
liv.  10,  cap.  3.  —  « Viramno  todos,  e  de- 
pois de  bem  visto  lhe  disseram,  que  lhe 
nam  era  obrigado  em  cousa  alguma,  por 
quanto  tiuera  razào  de  alegar,  e  el  Rey 
lhe  foz  todauia  por  isso  mercê  de  trinta 
mil  reaes  de  tença.»  Garcia  de  Rezende, 
Chronica  de  D.  João  II,  cap.  96.  —  «Des- 
pois  que  el  Rey  fez  este  juramento  nas 
niàos  do  seu  Caciz  mayor,  por  nome  E,a- 
ja  Moulana,  em  hum  dia  da  festa  do  seu 
Ramadaõ  se  passou  á  ilha.  Campar,  onde 
despois  de  se  celebrarem  as  festas  das 
suas  vodas,  teve  conselho  sobre  o  que  se 
devia  de  fazer  neste  negocio  em  que  se 
metera,  porque  bem  entendia  que  era  as- 
saz difficultoso,   por  quanto  lhe  era  for- 


çado aventiu'ar  nelle  muyto  do  seu.»  Fer- 
não ]\Iendes  Pinto,  Peregrinações,  cap. 
31.  —  «  E  assim  continua  desde  principio 
até  o  cabo.  Em  Lisboa  nào  cuidem  que 
sou  eu  o  namorado;  por  quanto,  ha  dias 
que  rapei  as  ordens  a  cuidados  amorosos.» 
Fernào  Rodi-igues  Lobo  Soropita,  Poesias 
8  prosas  inéditas,  pag.  llõ. — « Por  quan- 
to quando  nos  baptizam  e  metem  deba- 
xo  dagoa,  alli  por  virtude  do  sangue  de 
Christo,  que  obra  naquella  agoa,  ficam 
mortos  e  apagados  todos  os  nossos  pecca- 
dos.»  Frei  Bartholomeu  dos  Martyres, 
Catecismo  de  doutrina  christã.  ■ —  « Á. 
razaõ  disto  'por  quanto  intentamos  bre- 
vidade, e  naõ  he  bem  tocalla  de  passa- 
gem) se  pôde  ver  nos  Reverendos  Padres 
xVlvarado,  Molina,  Granada,  Puente;  es- 
pecialmente na  vida,  que  compoz  do  Pa- 
dre Balthazar  Alvarez.»  Padre  Manoel 
Bernardes,  Exercícios  espirituaes,  part. 
1,  pag.  14.  —  «  Repetiãome  a  miúdo  os 
homens,  que  a  nossa  sociedade  compu- 
nhào,  que  eu  era  bella,  e  mui  bem  sa- 
biào,  que  eu  era  orphan,  mas  rica;  por 
quanto  uma  roça  de  2000  moedas  de  ren- 
da era  um  dote  que  carearia  namorados 
á  mais  feia  e  desprendada  noiva.  »  Fran- 
cisco Manoel  do  Xascimento,  Successos 
de  madame  de  Seneterre.  —  «  Projecto 
bem  digno  da  paternal  amizade  d'esse 
bom  anciào;  mas  que  foi  o  derradeiro  si- 
nal do  seu  amor!  por  quanto  o  colheo  a 
morte  no  momento  de  esecutálo.»  Idem, 
Ibidem. 

—  Com  quanto ;  nào  obstante,  ainda 
assim,  posto  que.  —  «  Mas  com  quanto 
vsaua  este  modo  de  acatamento  com  os 
officiaes  mores,  postos  a  parte  titules  de- 
masiados, nos  despachos  que  daua,  e  car- 
tas que  se  delle  faziaõ  usoii  titulo  de  se- 
nhoria, e  nam  dalteza  alguns  ânuos  de- 
pois que  reinoxi  como  o  eu  tenho  visto 
por  muitos  aluaras,  assignados  da  sua 
maõ.»  Damiào  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  4,  cap.  84.  —  «  Contey  es- 
te caso  pollo  meudo,  porque  se  veja  com 
quanto  concerto  e  recado  fazem  suas  cou- 
sas e  com  quanta  diligencia  obedecem  os 
seus  mandados :  porque  todo  ho  que  te- 
nho dito  se  fez  quasi  em  continente,  antes 
que  nos  dalli  boliissemos.»  Frei  t^aspar 
da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da  China, 
cap.  19. 

E  com  quanto  hia  cm  tauto  crescimento 
Aquplla  fraca  gente,  miserável, 
Que  quasi  lhe  faltou  recolhimento 
Por  ser  cUa  ja  quasi  innimieravel : 
Kào  lhe  faltou  com  tudo  o  mantimento, 
A  terra  não  o  dá  (cousa  admirável), 
Jlas  de  fora  lhe  vem  cópia  tamanha 
Que  farta  a  natural,  e  a  gente  estranha. 

F.    DE  ANI>RADF.,  PBIMEIEO  CEBCO  DE   DIU,   CaUt.    5, 

est.  47. 

E  vendo  porque  via  a  adversa  sorte 
Causou  a  perdição  a  seus  amigos. 
Vê  que  lhe  cumpre,  por  fugir  á  morte, 
Ter  mais  tento  nos  seua  que  nos  imigos, 


Com  quanto  os  achou  sempre  acompanhados 
De  valerosos  peitos,  c  esforçados. 
IBIDEM,  cant.  11,  est.  27. 


Jlas  com  quanto  fm'or  c  diligencia 
Põem  agora  os  Cambaios  quasi  insanos, 
Com  dar  vidas  e  sangue  a  competência 
Por  vingar  este  novo  e  os  velhos  danos, 
Achào  porém  tão  dura  resistência 
No  pequeno  esquadrão  dos  Lusitanos, 
Que  quanto  este  furor  os  mais  inflama 
Tanto  mais  do  seu  sangue  se  derrama. 
IBIDEM,  cant.  11,  est.  38. 


—  Adágios  e  provérbios: 

—  Quanto  mais  gêa,  mais  aperta. 

—  Quanto  mais  acha  nado,  tudo  deixa 
espigado. 

• —  Quanto  mais  te  dão,  quanto  mais 
amigos  são. 

—  Quanto  mais  a  vacca  se  ordenha, 
maior  tem  a  teta. 

—  Quantas  vezes  te  ardeu  a  casa  ? 
Quantas  casei  filhas. 

—  Quanto  mais  razão  ao  riiim,  peor. 

—  Quanto  se  fez  no  villâo,  tudo  é 
maldição. 

—  Quanto  mais  vivemos,  tanto  mais 
sabemos. 

—  Quanto  mais  temos,  mais  desejamos. 

—  Quanto  fez  com  a  cabeça,  desman- 
cha com  o  rabo. 

—  Quanto  um  mais  alto  sobe,  maior 
queda  dá. 

—  Quanto  chupa  a  abelha,  mel  torna, 
e  quanto  a  aranha,  peçonha. 

— ^Em  quanto  o  amo  bebe,  o  criado 
espera. 

—  Em  quanto  vai  e  vem,  alma  tem. 

—  Em  quanto  a  grande  se  abaixa,  a 
pequena  varre  a  casa. 

—  Por  carne,  vinho  e  pão,  deixa  quan- 
tos manjares  sào. 

—  Minha  filha  Tareja  quanto  vê,  quan- 
to deseja. 

—  Morra  Sansào,  e  quantos  com  elle 
estão. 

— Não  tem  homem  siso,  mais  que  quan- 
to querem  os  meninos. 

QUÃO.  Termo  correlativo  de  tõo.  Em 
quanta  porçào,  em  que  grau.  —  A  quão 
grande  empreza  te  arriscaste  ! 


Ó  Morte,  quào  cruas  são  tuas  esporas  ! 
Quão  lastimeiras  ! 
Morte.  Isào  vos  detenhais  ; 

Andae,  que  são  horas. 

GIL  VICENTE,  ACTO  DA  HISTORIA  DE  DEUS. 


—  «A  imperatriz  se  foi  a  seu  apousen- 
to  e  o  imperador  com  ella,  e  cada  um  se 
foi  a  sua  pousada.  Palmeirim  algum  tan- 
to cor.tente,  pelo  que  passou  com  Dra- 
maciana,  sabendo  quão  privada  era  de 
Polinarda,  dormiu  a  noite  com  mais  re- 
pouso, que  as  outras  passadas.»  Francis- 
co de  Moraes,  Palmeirim  de  Inglaterra, 
cap.  95. 


20 


QUAf ) 


(í\:a\i 


QUAK 


AUi  vi  o  míiior  bciíii 
Quilo  po\K!o  (W[)a(;o  (|iin  dura  ;     • 
O  mal  qiiàn  i\o\>rí:*Mi  vtiiii  ; 
IC  riuào  trirttn  (Síitiulo  t(!iii 
Quem  H(t  liu  dii  vuiitura. 

(;AM.,   IIUUUSDIÍ.IIAH. 

—  «O.s  Cíiiiiiíils  o  priíicipiíos  do  (JucliiJ 
vondo  otitii  Llili;,'eiiciii  do  Diiarto  ]*acbo- 
fo,  c,  quão  on.siidaiiKMití!  liia  cõmcttcr  o 
< 'aiiiiiii j,  [inro  (ju(í  c.rttijiic.-í.som  abalado.) 
jirra  «u  ruljolar  a  cllloy,  dotcucraii.se  to 
víu-  0111  quo  píiraua  csaa  sua  ida.»  Joíío 
do  Barro.í,  Década  1,  llv.  7,  cai).  •''•  — 
<i()s  Capitães  ambos  vendo  quão  cogo  o 
dotatinado  estava  esto  iiialavoíiturado  no 
couhociíiionto  da  santa  o  Catliolica  ver- 
dade do  (jiio  llio  tratavào,  avondo  ainda 
t.HO  })OUco  tempo  que  fora  ( "liri.st.ào,  como 
linha  confessado,  croccndoUio  a  colora, 
oní  luim  zelo  santo  da  honra  (h;  Dcos  o 
mandarão  atar  do  pó.s  o  de  maõs.»  Fcr- 
u.Ho  Mondes  Pinto,  Peregrinações,  cap. 
.').  —  «  Esto  co.ttumava  a  dizer,  sabeis 
quão  niil  gente  he  a  da  índia,  que  me 
puzeram  quo  era  puto,  e  prov;lram-nio  ; 
sendo  cllc  tão  Iionosto,  que  nào  dirá  cria- 
do seu,  que  alguma  liora  lhe  visse  a  ])on- 
t:i  do  pé.»  Diogo  de  Couto,  Década  2, 
liv.  G,  cap.  7.  —  «E  como  se  auhou  per 
conta,  niorreraiu  na  nao  de  dom  Louron- 
(,'0,  o  nas  outras,  conto,  e  quarenta  ho- 
mens, o  foram  feridos,  couto  o  vlnta  qua- 
tro :  dos  eaptluos  o  quo  mais  honra  ga- 
nhou, foi  hum  grometo  per  nome  André 
(iouçalvez  do  Porto,  que  da  gauia  da 
nao  pelejou  tanto  sem  so  querer  dar,  nem 
o  poderem  ferir,  que  vendo  Jliliquiaz 
quaõ  valente  homem  ora,  mandou  que 
II 10  naõ  tirassem  mais,  e  com  promessas, 
i'  lho  assegurar  a  vida,  se  entregou.» 
J)amiào  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  2,  cap.  2(3.  —  «Jlouido  el  Rei  de 
Fez  destas  afrontas,  e  doutras  que  lhe 
cada  dia  os  Darzilla  faziiio  determinou 
de  a  vir  cercar  outra  vez  pêra  o  quo 
ajuntou  muita  gente,  e  muuii;oens  de 
guerra  com  quo  voo  assentar  sou  arraial 
no  Xcrquào,  o  por  neste  coroo  se  não 
acontecer  cousa  notauol  não  direi  mais, 
so  não  que  sabendo  ello  quão  bem  aper- 
cebida a  villa  estaua  de  gente,  manti- 
mentos, o  muniçoens  do  guerra,  com  con- 
selho, o  parecer  de  seus  capitaena  ale- 
vantou  o  cerco.»  Ibidem,  part.  3,  cap.  8. 
—  «Assim  que  oin  toda  esta  terra  naõ 
fes  nonliuin  fi-utto  tanto  pelas  guerras,  c 
dissençiios  que  naquello  tempo  tinha  huns 
povos  cos  outros,  (que  ho  cousa  que  en- 
tre elles  ha  ordinariamente)  como  por 
outros  muytos  inconvenientes  largos  de 
coutar,  dondo  se  conhece  claramente 
quão  grande  pesar  o  inimigo  da  Cruz 
recebia  disto,  que  este  servo  de  Peos 
pretendia  fazer  nesta  terra.»  Braz  Luiz 
d' Abreu,  Portugal  Medico,  pag.  208. 

Ilomcm,  qiuio  gi-anile  ós  tu!  Chog;i  teu  mando 
Niio  só  H03  iuiimaoa,  quo  a  torra  pizào, 


!•;  iiH  avcH,  <|uo  no  ár  ^yrio  triin(|uilluH ; 
At/;  do  inur  ao;4  turliidurf  al)yMiiiOi< 
L)oi  lioinoiM  chega  a  voz,  o  iiiípcrio  chega, 
j.  AouBri.\iio  DK  MACEDO,  MiiiiirAvÃu,  cant.  3, 


QUAQUER.    Vid.   Quacre,  o  Quaker. 

QUARANGO,  ».  /.  Donominavão  dada 
pelos  aiinrieaiio»  á  quina  ou  ca.scii  peru- 
vian.a. 

QUARDALINHO,  .s.  »/.  Diininiitivo  de 
Quardelho. 

QUARDELHO,  «.  m.  Termo  antiquado. 
Courrlhi  ili:  terra. 

QUAREIRA,  8.  /.  Termo  antiquado. 
O  iiKMiiin  (pio,  carreira  ou  caminho  que 
nào  adiiiilto  mais  do  quo  uin  carro. 

QUARENTA,  a<lj.  uitm.  card.  inv.  Qua- 
tro vezes  <lez.  —  Ku  farei  chover  sobre 
a  tc.rni  quarenta  di/ts  c  i^iareata  noites. 

—  «iVro  jior  mui  rendavel,  que  o  oflicio, 
ou  mester  seja,  nom  lho  poeram  em  me- 
nor valia  que  oito  marcos  de  prata  na 
Streiuadura,  e  nas  outras  comarcas,  em 
que  lanyam  cavallos,  c  armas  de  quaren- 
ta marcos.»  Ord.  Affons.,  liv.  1,  tit.  71, 
cap.  4,  íj  2.  —  «Sueedeo  esta  queda  do 
lloyno  dos  Suevos  (segundo  a  melhor  c!j- 
tai  pelos  annos  de  Chi-isto,  quinheiítes  e 
oitenta  o  cinco;  quatro  mil  e  quinhentos 
e  quarenta  o  três,  da  Creaçaij  do  Mun- 
do.» Monarchia  Lusitana,  liv.  U,  cap.  17. 

-  -  «Xo.sto  próprio  anuo  de  novecentos  e 
quarenta  c  três,  aos  dezoito  de  Outubro, 
fez  doaçaõ  da  Jgreja  de  Lusim  a  Dom 
Ansur,  o  Dona  Eyleva,  hum  Sacerdote 
chamado  Adulfo,  porque  caindo  cm  hum 
crime  de  hoinieidio,  que  comoteo  na  mor- 
te de  certo  homem  chamado  Liaõ.»  Ibi- 
dem, liv.  7,  cap.  21.  — «Sentio  el  liei 
sua  morte  em  todo  extremo,  porque  foi 
esta  a  nuUher  que  mais  amou,  mas  ven- 
do-se  em  idade  de  quarenta  e  nove  an- 
nos, e  em  disposição  de  haver  filhos,  ca- 
sou terceira  voz  com  D.  Lianor  filha  de 
Filippe  o  primeiro  Rei  de  Castolla,  irmã 
do  imperador  Carlos  quinto,  de  quo  hou- 
ve o  infante  D.  Carlos,  que  morreo  do 
pouca  idade.»  Frei  Bernardo  do  Brito, 
Elogios  dos  reis  de  Portugal,  continua- 
dos por  D.  José  Barbosa.  —  «O  Brinci- 
po  D.  Aftbnso,  que  morreo  sondo  mini- 
no,  D.  Maria,  que  nascei  em  Coimbra, 
o  casou  com  D.  Filippe  Brincipe  do  Hes- 
panha  filho  do  Imperador  Carlos  quinto, 
e  faleceo  em  Valhadolid,  no  anuo  do  Se- 
nhor mil  e  quatrocentos  e  quarenta  c 
cinco,  em  idade  de  dezasetc  annos  de 
parto  do  Brincipe  D.  Carlos.»  Ibidem. — 
«A  obra  foy  crescendo  de  feição,  que  em 
brevos  dias  se  poz  o  cubcllo  em  pé,  de 
que  encarregou  António  Baçanha,  varaõ 
de  conselho,  c  de  muito  esforço,  dando- 
Iho  quarenta  espingardoiros.»  Diogo  de 
Couto,  Década  O,  liv.  2,  cap.  2.  —  «O 
qual  dom  tieorge  foi  casado  com  dona 
Beatriz  do  Vilhena,  filha  de  dom  Aluaro, 
irmão  de  dom  Fernardo  Duque  de  Bra- 
gança, c  do  dona  Bholipa,  filha  de  dom 


Iloilrigo  de  mello,  Conde  de  01iuen»;a, 
como  fica  apontado  no  capitulo  quarenta, 
c  cinco  <la  primeira  parte  di-í-t.a  (.'hroni- 
ca.»  Damiào  de  Tioes,  Chronica  de  D. 
Ma.ioel,  part.  3,  cap.  4').  —  cO  galeam 
dl'  Eiiianiiel  de  Bouxa  nam  foi  a  liidiu, 
liorqiio  a  elle  o  ni.ataraõ  inouron,  com 
mais  de  quarenta  Bortuguescs  uo  pirto 
de  .Mançna,  inilo  para  Melinde  buscar 
mantimentos,  o  outras  cousas  de  que  ti- 
nlui  necesHidade.^  Ibidem,  part.  4,  capi- 
tulo 3<i.  —  «O  quo  a.isi  asHcntudo  se  fo- 
ram pcra  Bua»  cuRas,  c  dentro  no  prazo 
limitado  para  fura  da  cidade  e  rcgno, 
que  H(-riaiii  quarenta  casa.",  em  que  aaia 
mais  do  mil  pi-ssoas,  a  fora  ori  RcratioR, 
que  toda  esta  gente  metia  Ilaix  liamcd  na 
cidade,  pouco  a  pouco,  a  for.-i  muitos 
soldad.os  que  tinli.a  do  8ua  m.lo,  e  per 
derradeiro  fez  o  mesmo  Abraiiembeque, 
que  era  huma  das  priíicipaes  pcB.-íoaa  des- 
ta conjuraçam,  tendo  todos  assentado  de 
lançar  os  portuguezes  do  Ormuz,  e  poer 
a  cidade  com  o  regno  a  obediência  do 
Xeque  Ismael. •  Ibidem,  part.  3.  cap.  G)^. 
—  «Esto  anuo  de  quatro  centos  quarenta 
e  cinco;  mãdou  o  Infante  armar  hum  na- 
uio,  a  cajiitania  do  qual  deu  a  hum  Gon- 
çalo de  Sintra  escudeiro  do  sua  casa,  que 
segundo  diziãq  ja  o  seniira  de  moço  des- 
pôras,  mas  por  ser  homem  pêra  muito,  e 
caualíeiro  de  sua  pessoa  sempre  o  trouxe 
em  cargos  honrados.»  .loilo  do  Barros, 
Década  1,  liv.  1,  cap.  9.  —  «E  ello  Ro- 
drigo Kabello  per  muitas  vezes  cavalga- 
va com  té  quarenta  de  cavallo,  c  g<nte 
de  pé  da  tona,  e  anilava  favorecendo  as 
aldeãs,  e  dava  também  algtnna  mostra  a 
Pulatc  Can,  que  a]ipareeia  da  outra  ban- 
da do  rio.»  Idem,  Década  2,  liv.  G,  cap. 
8. —  «Do  Gezam  té  a  Villa  Imbo,  que 
serão  de  costa  cento  o  trinta  léguas,  Lc 
tudo  do  estado  do  Xerife  Barac  Senhor 
de  Meca  :  ás  quarenta  e  duas  está  Zidem 
lugar  mui  notável,  e  nesta  distancia  fi- 
cam os  portos  de  Jlalábo,  Giil)aalcarne, 
Boçá,  Gudnfi,  Magaxá.»  Ibidem,  liv.  8, 
c.;ip.  1.  —  «Sem  po;ler  quasi  pronunciar 
palavra  quo  se  me  entendesse,  lhes  pidi 
assi  como  pude,  que  me  deixassem  tor- 
nar ao  Jurupàgo  em  busca  de  humas 
chaves  que  me  lá  ficarão  por  esquecimen- 
to, e  que  lhes  daria  por  isso  quarenta 
cruzados  logo  em  ouro,  a  que  elles  todos 
sete  respõderai"!,  nem  que  nos  dês  quan- 
to ilinheyro  ha  em  Malac».»  Femilo  Men- 
des Binto,  Peregrinações,  cap.  10.  —  «E 
feitos  a  amoueos  arremeterão  aos  nossos, 
quo  passavào  de  trinta,  a  fora  outros 
quarenta  moços,  e  de  novo  se  tornou  a 
travar  a  briga  de  til  maneyra  que  em 
pouco  mais  tio  três  credos  que  os  nossos 
os  acabarão  do  matar,  elles  nos  matarSo 
dous  Bortugueses,  e  sete  moços,  e  ferirão 
mais  de  vinte,  e  o  Capitão  António  de 
Faria  ficou  com  du.as  cutila  las  na  cabe- 
ça, e  huma  num  braço  de  que  Oj»teve 
muyto  maltratado.»  Ibidem,  cap.  43. — 


qUAR 


QUAk 


QUAR 


•21 


«E  o  mal.s  depressa  que  pudemos  entra- 
mos em  kum  esteyro  menos  seguido  de 
gente  que  a^  enseada  por  onde  tiiihamos 
vindo,  que  se  cuamava  Xalingau,  pelo 
qual  corremos  mais  nove  dias,  nos  quais 
caminhamos  cento  e  quarenta  legoas,  e 
tornando  a  entrar  na  mesma  enseada  do 
Nanquim,  que  ja  aquy  era  de  mais  de 
doz-ou  doze  legoas  de  largo,  velejamos 
por  nossa  derrota  cõ  ventos  Oestes  de 
hum  bordo  no  outro  mais  treze  dias.» 
Ibidem,  cap.  7D. —  «Chegado  eu  comos 
quarenta  Portuguezes  que  hiào  comigo 
ao  bayleu,  aonde  ElRey  estava,  lhe  íi- 
zcmos  todos  as  coreraoiíias,  e  cortesias 
que  em  tal  teto  se  lhe  costumào  fazer.» 
Ibidem,   cap.  22-í. 


E  porque  ellc  ainda  assi  se  iiào  contenta, 
Destas  novas,  que  em  summa  tiulia  dadas, 
Cinco  galés  rcacs  sobre  quarenta 
Diz  que  deixa  na  armada  bem  contadas  ; 
Cem  outras,  de  que  atraz  vio  com  mais  Icuta 
Força  as  marinhas  ondas  ser  cortada», 
Que  de  muitos  navios  que  lá  via 
De  toda  sorte,  vem  em  companhia. 

FRANCISCO  DE  ANDRADE,  PRIMEIRO  CERCO  DE   DIU, 

cant.  12,  est.  47. 


• —  «Ao  longo  da  cidade  de  Cantam 
mais  de  mea  legoa  polo  rio  ho  tam  gran- 
de multidam  de  navios  quu  he  cousa  ma- 
ravilhosa vellos  e  ho  que  he  mais  de  ma- 
ravilhar he  que  esta  multidam  nunca 
desfalece  nem  mingoa  quasi  todo  o  anuo  : 
porque  se  saem  trinta  ou  quarenta,  ou 
cento  hum  dia,  entram  outros  tantos.» 
Frei  Gaspar  da  Cruz,  Tratado  das  cou- 
sas da  China,  cap.  9. — «Conforme  o  ho- 
róscopo que  tinha  tirado  a  si  mesmo,  de- 
via morrer  de  idade  de  quarenta  annos.» 
Cavalleiro  de  Oliveira,  Cartas,  liv.  1, 
n.°  44. — «Poucas  palavras  explicam  a  li- 
beralidade do  ministro  :  fr.  João  era  ini- 
migo de  Jesuítas,  e  visita  do  conde  de 
Oeiras.  Bispo  aos  quarenta  e  oito  annos 
de  edade  ;  bispo  sem  ter  exercitado  na 
sua  ordem  alguma  cathegoria. »  Bispo  do 
Gri5o  Pará,  Memorias,  publicadas  por 
Camillo  Castello  Branco,  pag.  5. 

—  Termo  de  liturgia  catholica.  As 
orações  das  quarenta  horas,  ou  as  qua- 
renta horas ;  orayões  feitas  nas  grandes 
calamidades,  e  durante  o  jubileu,  no  tem- 
po das  quaes  se  expõe  o  Santíssimo  Sa- 
cramento. 

—  O  trinta  e  quarenta ;  jogo  de  azar 
usado  nas  cartas. 

—  S.  m.  O  algarismo,  o  numero  qua- 
renta. —  O  quociente  de  quarenta  dividi- 
do por  dez  í  quatro. 

—  Termo  de  antiguidade  grega.  Os 
quarenta;  titulo  de  quarenta  magistra- 
dos athenienses,  que  percorriam  a  Atti- 
ca  para  julgar  os  delictos  pouco  graves. 

QUARENTENA,  s.  f.  O  espaço  de  qua- 
renta dias. 

—  A  santa  quarentena  ;  a  quaresma. 
• — A  quadragésima  parte,  que  o  forei- 


ro  paga  ao  senhor  predial  de  laudemio, 
ou  terradego,  quando  não  tem  estipula- 
do outra  quantia. 

—  Fazer  quarentena  ;  estacionar  mais 
ou  menos  dias  em  sitio  dado,  sem  ter 
communicação  com  a  terra,  quando  se 
teme  que  no  paiz  d'onde  provém,  ou  em 
algum  navio  com  quem  communicou  híi- 
veria  peste,  ou  outra  qualquer  epide- 
mia. 

1  QUARENTENARIO,  adj.  Termo  de 
jurisprudência.  De  quarenta  annos.  — 
Prescripção   quarentenaria. 

—  Medida  quarentenaria  ;  medida  re- 
lativa ás  quarentenas. 

QUARENTESIMO,  A,  adj.  Vid.  Quadra- 
gésimo. 

QUARENTONA,  aJj.  f.  Tarmo  popular. 
Mulher  quarentona;  mulher  que  tem  qua- 
re.ita  annos,  pouco  nuxis  ou  menos. 

QUAREOGRAPHO,  s.  m.  Instruiaento 
novo,  em  virtude  tio  qual  se  pode  debu- 
xar uma  perspectiva  com  a  máxima  exa- 
ctidão. 

QUARESMA,  s.  /.  O  espaço  de  qua- 
renta e  seis  dias,  em  que  os  catholicos 
devem  abster-se  de  carne,  e  jejuar,  ten- 
do já  idade  para  isso.  Tem  principio  na 
quarta-feira  de  cinza,  e  termina  no  sab- 
bado  de  alleluia.  —  »E  certo  que  segundo 
o  Camorij  trazia  a  gente  e  navios  de  que 
os  nossos  quada  hora  erao  assombrados, 
se  naij  entreviera  a  consolação  e  esforço 
spiritual  da  memoria  daquelles  dias  da 
Quaresma  em  que  espera vaõ  por  sei"viço 
de  Deos  e  de  seu  Rej  derramar  seu  san- 
gue, segundo  erão  poucos  e  a  carne  he 
subjecta  a  temores  de  morte.»  João  de 
Barros,  Década  1,  liv.  7,  cap.  õ. — «De- 
pois que  foi  ordenado  de  missa  a  diz  to- 
das as  vezes  que  pode  com  muita  devo- 
ção, principalmente  ahos  Domingos,  dias 
Santos,  e  na  quaresma  e  outros  muitos 
dias,  quando  os  negócios  lhe  dam  lugar.» 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  3,  cap.  27. — -«E  a  principal  causa 
a  que  o  Embaixador  foy  era  sobre  a  mu- 
dança das  terçarias  de  Moara  para  a 
Corte,  ou  oixtra  parte  do  Reyno,  em  lu- 
gar sadio,  forte,  e  seguro,  onde  tudo  se 
comprisse,  ou  desfizessem  as  ditas  terça- 
rias pollo  perigo  em  que  o  Príncipe  e  a 
Infanta  dona  Isabel  estavão,  polia  villa  de 
Moura  ser  muito  doentia  nos  verãos.  Che- 
gou o  Baram  a  Medina  dei  Campo,  onde 
el  Eey  e  a  Raynha  estavão  na  quares- 
ma.» Garcia  de  Rezende,  Chronica  de  D. 
João  II,  cap.  3õ. 

QUARESMAL,  adj.  2  gen.  Quadragesi- 
mal.    .. 

— Concernente  á  quaresma,  qiie  lhe 
diz  respeito.  —  Desobriga  quaresmal. 

QUARESMAR,  v.  n.  Abster-se  de  car- 
nes, e  jejuar  nos  dias  que  a  igreja  man- 
da no  tempo  da  quaresma,  sendo  de  ida- 
de para  isso. 

QUARIZIL.  Vid.  Corazil,  onde  se  ob- 
servou, que  esta  pensão  variava  quanto 


á  sua  grandeza,  e  peso,  e  não   era   uni- 
forme em  todos  os  legares  da  monarchia. 

QUARTA,  s.  f.  Porção  de  um  todo  que 
se  divide  em  quatro  partes. 

-r  Quarta  de  pão ;  nos  antigos  foraes, 
era  com  relação  ao  moio,  e  ao  quarteiro  ' 
do  moio;  por  exemplo,  sendo  o  moio  de 
sessenta  e  quatro  alqueires,  a  sua  quar- 
ta era  o  que  diziam  quarteiro,  ou  a  sua 
quarta  parte,  que  constava  de  dezesseis 
alqueires,  e  a  quarta  do  quarteiro  qua- 
tro alqueires.  E  com  esta  proporção  se 
deve  julgar  dos  differentes  moios,  segun- 
do as  terras;  por  exemplo,  sendo  elle  de 
trinta  e  dous  alqueires,  a  sua  quarta  se- 
rão oito  alqueires,  e  a  quarta  do  seu 
quarteiro  serão  dous  alqueires,  etc.  Mais 
tarde  chamaramdhe  a  quarta  parte  de 
um  alqueire. 

—  Quarta  de  vinho  ;  esta  medida,  com 
que  depois  se  mediu  a  quarta  parte  de 
um  almude,  que  constava  de  doze  cana- 
das, seguiu  outr'oi'a  a  mesma  ordem  que 
a  quarta  do  pão  a  respeito  do  moio.  Cin- 
co quartas  de  vinho  deviam  pagar  cada 
um  dos  casaes  encabeçados  de  Valença 
do  Douro,  por  carta  do  aforamento  de 
126i). 

—  Vela  de  quarta ;  vela  que  tem  uma 
quarta  de  arrátel  de  cera. 

—  Termo  de  musica.  Intervallo  de  qua- 
tro tons  subindo,  ou  descendo. 

—  Quarta  de  cevada,  farinha,  etc. ; 
a  quarta  parte  do  alqueire. 

—  Vaso  de  barro,  levando  talvez  a 
quarta  de  um  pote  de  agua. 

—  Nas  escolas  menores  do  latim,  cha- 
mava-se  a  aula,  em  que  se  começava  a  tra- 
duzir, ou  a  construir. 

—  Termo  de  náutica.  Cada  uma  das 
trinta  e  duas  partes  em  que  está  dividi- 
da a  rosa  da  agulha  de  marear,  e  que 
vale  11°  e  lõ'. 

—  Quarta,  ou  quadrante  do  zodiaco ; 
uma  das  quatro  partes  em  qxic  se  divide 
o  zodiaco,  e  contém,  ou  abr-ange  três  si- 
gnos ;  em  quanto  o  sol  anda  nos  três  si- 
gnos de  cada  quadra  faz  uma  estação  di- 
versa. 

—  No  jogo  das  cartas,  são  quatro  car- 
tas do  mesmo  naipe ;  a  quarta  maior  co- 
meça pelo  az  ;  ha  quarta  de  rei,  de  da- 
ma, etc. 

—  Quarta /í(nc)-rtZ ;  a  quarta  parte  que, 
segundo  os  costumes,  tocava  aos  bispos, 
e  se  deduzia  dos  bens  deixados  a  mostei- 
ros, igrejas,  ou  lugares  pios  da  sua  dio- 
cese ;  outr'ora  quarta  episcopal. 

—  Quarta /a/ci(Z/a;  a  quarta  parte  da 
herança,  que  no  direito  romano  tocava 
ao  herdeiro,  entrando  pelos  legados  para 
se  inteirar  d'ella,  ou  pelos  fideicommis- 
sos,  c  n'este  caso  se  diz  quarta  trebellia- 
nica. 

—  Quarta  funeral ;  parte  que  se  paga 
ao  parocho  quando  O  freguez  não  se  en- 
terra na  parochia. 

—  Adj.  f.- — Pela  quarta  vez ;  pela  vez 


22 


(ilTAll 


QUAR 


qUAll 


(juo  80  Hc^'iic  (li-poÍH  (la  terccini.  —  « l';i- 
poii  lo^o  o  tril)iit()  ilai|iii-llo  anuo,  deu  o 
c;i|)itili(j  livrr.iiK'.iit(!  as  liuan  nãos  «o  ho- 
lii-iiiiio  (rollíoy  (lo  Muliiidc,  e  á  cidailo 
dou  outra  por  «er  sua  :  Hunieutu  a  quar- 
ta quo  cru  (lo  liuni  lu^^ar  da  corita  clia- 
niailo  l'atii  so  ro-<fcatou  por  cento  o  ho- 
Bouta  niiticaes  maus  cm  sifínal  do  obe- 
dioncia  f|iii3  em  estima  do  sua  valia.» 
liurni-i.  Década  I,  liv.  7,  eap.  4.  —  (dias 
outras  forào  lia  liitanto  di">na  loanna, 
íjuo  casou  com  dom  Piíilippo  ArclieJu- 
que  Daustria,  que  arriba  nctmcoi,  que 
per  fallecimento  da  Kainlia  d(1na  Isabel, 
Buceodoraõ  nos  Reguos  do  (JastcUa,  e 
Loilo,  o  ha  terceira  lia  Infante  (l(-ina  Ma- 
ria, que  dopois  foi  Rainha  de  Portufíal, 
quomo  se  ao  dianto  dirá,  e  ha  quarta  lia 
Infante  dona  ("atlierina,  (jue  easoii  com 
dom  lltínriípie  Rei  do  Injilaterra,  oitauo 
di>  nonu'.»  Damiào  de  (iocs,  Chroiiica  de 
D.  Manoel,  part.  1,  eap.  22. —  «Pela  quar- 
ta voz,  mo  vejo  destituído  de  livros,  o 
obrigado  a  citar  de  memoria.  Perdi,  pelo 
terremoto,  quantos  livros,  ontani,  pos- 
suía.»  Francisco  Manoel  do  Nascimento, 
Os  Martyres,  liv.  U. 

—  Quarta  oi-Jint  tio  inarcha ;  é  de  seis 
ângulos,  ou  de  seis  cohinmas,  cada  unia 
das  (|uao-s  é  de  li»;')";  (■  pouco  usada. 

QUARTAÇÃO,  í.  /.  (Jporavào  chimioa 
que  se  pratica  n'uina  massa  de  oiu-o  o  de 
prata  ligados  conjunctamente,  quando  se 
quer  fazer  a  separação  do  ouro  por  meio 
do  acido  azotlco.  >So  esta  massa  não  con- 
tóm  três  quartos  de  prata,  accrescenta-se 
até  esta  quantidade,  o  esta  addiçào,  quo 
reduz,  \wr  consequência,  o  ouro  ao  quarto 
da  massa,  favorece  a  aceão  do  acido. 

QUARTADO,  A,  mJj.  —  Pào  quartado; 
de  quatro  espécies:  trigo,  milho,  cevada 
c  centeio. 

—  Um  ah^ueire  de  pão  qUartado ;  a 
quarta  parte  de  trigo,  outra  de  milho, 
etc. 

QUARTA-FEIRA,  s.  /.  ( )  quarto  dia  da 
semana,  entro  ter(;a  e  quinta-feira.  — 
(( Isto  foi  aos  XIX  dias  do  mes  Doutubro, 
de  M.  I).  viij,  huina  quarta-tViía.  c  ao 
outro  dia  chegou  todo  o  poder  dei  Rei  de 
Fez,  que  se.  afirma  quo  trazia  vinto  mil 
homens  do  cauallo,  e  conto,  e  vinte  mil 
de  pè,  om  quo  entrauaõ  doz  mil  bestei- 
ros, e  espingardeiro?,  com  muit:is  bom- 
bardas o  outras  muni(,'ões  do  guerra  pêra 
combater,  e  escalar  a  villa,  o  que  logo  no 
mesmo  dia  começaram  de  fazer  no  qual  os 
do  doutro  se  dcfonderam  ate  noite  mui  es- 
for(;adanioiito."  Damiilo  de  Ooes,  Chroni- 
ca  de  D.  Manoel,  pavt.  2,  eap.  28.  —  «A 
quarta  feyra  seguinte  noa  sahimos'  logo 
deste  ri.>  de  Varella  por  nomo  Tinacorou, 
o  ao  Piloto  pareceu  bom  ir  demandar 
Pullo  Champoyh'),  que  he  hunia  Ilha  des- 
povoada, que  ostil  na  boeca  da  enseada  da 
Caueheuehiua  em  quatorze  gr."ios,  e  hum 
terço  da  banda  do  Norte.»  Fernào  Men- 
des Pinto,  Peregrinações,  eap.  42. — «Por 


quilto  na  quarta  feyra  Higuinto  aucmos 
(lo  coinoi;ar  o  sagra'lo  tempo  de  (^uaros- 
niu,  o  penitencia,  qiiernos  a  Saiicta  Ma- 
dre igreja  ne.<te  Domingo  aparelhar  pêra 
isso.  E  isto  faz  oiminaiidoiios  de  quo  ma- 
neira auoniOH  do  fazer  nossa  penitencia 
porá  Her  valiosa,  e  acoita  diAte  de  Doos.» 
Vr.  liarthídomeii  dos  Martyres,  Catecis- 
mo da  doutrina  christã. 

QUARTALUDO,  A,  <i,lj.  Termo  do  al- 
veitaria.  (^uo  tem  aberturas  ou  defeitos 
nos  quartos;   diz-sc  dos  cavallos. 

—  QiU!  tem  a  f(irrna  e  o  habito  do  quar- 
tilo. 

QUARTAMENTE,  adv.  (De  quarto,  eo 
suliixo 'í mente "  .    Km  (piaito  luir.ir. 

QUARTA,  .,u  QUARTÃA,  ou  QUARTAN, 
adj.  f.  — ■  Fii/jre  quarta  ;  fiibre  ([ue  se  re- 
pete de  quatro  em  quatro  dias.  iJo  mesmo 
modo  se  diz:   sezòtís  quartas. 

QUARTANAI,  s.  /.  Termo  antiquado. 
Kspccie  de  estofo  OU  tecido  de  l.à. 

QUARTANAIRO.  \'i  I.  Quartanario. 

1.  QUARTANARIO,  A,  'olj.  Doente  de 
quart.ãs. 

2.)  QUARTANARIO,  s.  m.  Nos  cabidos, 
é  o  bcnetieiado  inferior  a  meio  cónego,  e 
tem  a  quarta  parte  da  congi-ua  de  um  có- 
nego. 

QUARTANO,  s.  m.  Termo  antiquado.  A 
quarta  parte  do  quarteiro,  que  é  a  quar- 
ta parte  do  moio.  E  assim  imia  vez  con- 
cluido  de  quantos  alqueires  é  o  moio,  sa- 
bemos de  quantos  consta  o  quarteiro.  E 
sabcndo-se  de  quantos  consta  o  quarteiro, 
egualmeute  se  sabe  do  quantos  d  o  quar- 
tano,  pois  c  a  quarta  parte  do  quarteiro; 
por  exemplo,  sendo  o  moio  de  sessenta  e 
quatro  alqueires,  i  o  quarteiro  de  deze- 
sei-;,  e  o  quartano  de  quatro. 

QUARTÁO,  s.  w.  Cavallo  corpanzil,  c 
quadralo.  j>orc'm  cui"to. 

—  No  IJrazil  dizem  vulgarmente,  h?» 
quartào,  ilo  cavallo  tal  que  nào  é  de  es- 
trebaria, mas  cargueiro:  nào  de  marca, 
do  estatura  meií,  corpulento. 

—  ( )utros  dizem  cavullos  aquartanados, 
rjuartCto,  como  estaturas,  e  corporaturas 
quadradas,  meàs,  e  niio  de  marca,  nem 
rocins  pequenos. 

—  Peça  do  artilheria,  quo  é  a  qtiarta 
parte  do  um  eaniiào. 

1.)  QUARTÃO,  .«.  m.  Augmentativo  de 
Quarta.  ^le  lida  de  liquides,  que  leva  três 
canada^,  ou  a  quarta  parte  ile  um  almudo. 

—  Vid.  Quartào. 

2.)  QUARTÃO,  .--.  m.  (Do  francez  car- 
tou). Cartão  ou  papelão  com  claro,  c  lavor 
á  roda  para  iuscripçilío,  ou  letreiro,  ou  pa- 
ra lavoro'.  • 

QUARTAPIZA,  s.  /.  Barra  de  outra  côr, 
quo  aeom)>anl\a,  por  exemplo,  a  borda  in- 
ferior da  saia,  ou  o  meio,  o  borda  de  uma 
colcha,  etc.  Vid.  Ribetes. 

—  Outros  dizem  cortapiza,  á  caste- 
lhana. 

—  Alguns  escrevem  quartapisa,  porém 
este  termo  ó  pouco  usado. 


QUARTAPIZADO,  jmrl.  past.  de  Quar- 
tapizar.  líxrdado,  (ju  atriivi!«sado  de  qiiar- 
tapiza-.  -  Sitliif  quartapizadas.  —  Cul- 
cltn»  quartapizadas. 

QUARTAPIZAR,  i-.  a.  Borlitr,  ornar 
com  'piarta|.i/a,  atravessar  de  quartapiza. 

QUARTARIO,  «.  m.  Vid.  Quarteiro. 

QUARTEADO,  itatt.  pcum.  de  Quartear. 

—  hm- II lio  quarteado  ;  escudo  dividido 
em  quatro  part^-^,  <ni  jjcça». 

—  Quarteado  di-  cores;  feito  cm  qua- 
dra'los   do   varias   lôrc'*. 

—  Carnlln  quarteado  ;  cavallo  de  boas 
esj)adoa.s,  e  outnja  membros  bom  propor- 
ciona(los. 

QUARTEAR,  r.  n.  Dividff  em  quadra- 
dos. 

—  Quartear  um  eícudo;  vid,  Quar- 
teado. 

—  Quartear  uma  camina;  guameccl-a 
com  ri'iirl;i>.  i-ntremeios  e  barafundas. 

QUARTEIRÃO,  s.  m.  iDo  francez  qunr- 
terom.  A  quarta  parte  de  um  cento,  «u 
vinte  e  cinco.  —  Um  quarteirão  </«  /«- 
ranjag,   de  peras,  etc. 

—  A  quarta  parte  do  osctido  quartea- 
do. —  «No  meio  encostado  sobre  uns  co- 
xins de  velludo  avcllutado  pardo,  um  ca- 
vai leiro  armado  d'arma8  verdes  e  ouro  a 
quarteirões,  e  no  escudo  cm  cjunpo  verde 
Cupido  preso  com  seu  arco  e  frechas  em 
pedaços,  c  clle  lançado  de  bruços  á  ma- 
neira de  desbaratado  ou  vencido.  E  ama 
donzella  formosa  sentada  com  os  pés  sobre 
elle.»  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  de 
Inglaterra,  eap.  110. 

—  Carta  geographica  parcial. 

—  Termo  antiquado.  Imposiçã^i  aiui- 
ga  ;    eram   dezoito   soldos  por  c.ida  ca.sa!. 

—  Quarteirão  da  lua;  vid.  Quadra. 

—  Um  dos  quatro  paus,  que  atraves- 
sam os  cantos  do  tecto  da  casa. 

—  Uma  divis.ào  de  rua  por  uma  ou 
mais  travessas;  ou  a  massa  de  casas, 
que  formam  duas  faces  cada  nina  de 
sua  rua,  e  duas  faces  do  travessas,  for- 
mando um  quadrado,  ou  quadrado  lon- 
go. 

QUARTEIRO,  .«.  m.  (De  quarto,  com  o 
sufíixit  «eiró» '.  Termo  antiquado.  Quart-i 
parto  do  moio,  quinze  alqueires.  —  Quar- 
teiro de  cevada.  —  Quarteiro  de  trigo. 

—  Pensão  que  se  pagava  aos  quar- 
téis. 

QUARTEIRO,  A,  adj.  Quo  é  sujeito  si 
obrigaç.ào  de  piagar  quarto.  —  Esta  pr<.- 
priedivk  é  quarteira.  —  Terreno  quar- 
teiro. 

QUARTEJAR.  Vid.  Quartear. 

QUARTEL,  s.  in.  Do  provençal  guar- 
tier,  do  latim  quartarius,  que  significa 
projiriamente  uma  certa  medida,  deriva- 
do de  quartiif).  A  quarta  parte  de  cer- 
tos objectos. —  Uma  porçào  de  fructa  di- 
vidida em  quartéis. 

—  Renda,  ordenado  ou  pensão  que  se 
paga  de  três  em  tre^  mczes.  —  Deco  dous 
quartéis  da  mitiha  petuão.  —  Já  $9  vtn- 


QUAR 


QUAR 


QUAE 


ceu  um  quartel. — -Pagar  em  dous  quar- 
téis. 

—  A  quarta  jmrte  do  anno,  espaço,  de 
três  mezes.  —  O  anno  é  dividido  em  qua- 
tro quartéis.  — Quartel  do  anno;  estaçào. 

—  O  ultimo  quartel  áa  it c/n/ próximo 
á  morte,  a  idaàe  caduca. 

— ■  Quartel ;  o  tempo  empregado  em  fa- 
zer algiun  serviço,  repartido  entre  varias 
pessoas  por  turno  ou  giro. 

—  Diz-se  por  extensão  das  porções  de 
um  todo  que  nào  é  dividido  exactamente 
em  quatro  partes.  —  Um  quartel  de  la- 
ranja.—  Quartel  c?e  terra;  um  campo  de 
certa  extensão. 

—  Termo  de  guerra.  Quartel;  o  edifí- 
cio em  que  os  soldados  estào  aposentados. 
—  Quartel  d'infanferia.  —  Quartel  c/e  ca- 
vallari».  —  Quartel  d'artilkeria. 

—  Acantonamento,  acampamento  d'um 
corpo  de  tropas.  —  As  tropas  entraram  no 
quartel. 

—  Quartéis  de  acampamento;  reunião 
dos  corpos  d'exercito  e  de  todo  o  mate- 
rial que  vem  tomar  alojamento  em  um 
corpo. 

—  Quartel  dos  viveres;  logar  onde  es- 
tào alojadas  as  munições  de  bocca  e  on- 
de se  coze  o  pão  que  se  distribue  ás  tro- 
pas. 

—  Quartel  d' inverno;  o  logar  onde  o 
exercito  passa  o  inverno.  —  O  exercito 
vai  tomar  os  seus  quartéis  d/ inverno;  o 
intervallo  de  tempo  entre  duas  campa- 
nhas. 

—  Quartel  de  refresco;  logar  onde  as 
tropas  fatigadas  se  vão  restabelecer,  em 
quanto  dura  a  campanha. 

—  Quartel  general;  logar  escolhido  no 
centro  do  acampamento,  da  posição  dos 
qiiarteis  d'um  exercito  ou  d'um  corpo  de 
exercito,  onde  está  estabelecido  o  aloja- 
mento do  general  em  chefe  e  o  seu  esta- 
do maior.  —  O  quartel  general  está  situa- 
do n'uma  posição  que  domina  toda  a  cida- 
de sitiada.  —  Ir  ao  quartel  general. 

—  Quartel  da  saúde;  o  quartel  gene- 
ral. 

—  Loc. :  Acolhei--se  ao  quartel  da  saú- 
de; pOr-se  a  salvo  de  algum  perigo. 

—  Quartel-?nesí)-€  ;  sargento,  tenente  ou 
capitão  encarregado  do  alojamento  do  re- 
gimento. Aposentador  do  regimento. 

—  Quasiel-mestre  general;  aposentador- 
mór  do  regimento. 

—  Quarlel ;  residência.  —  São  horas  de 
me  recoUier  ao  quartel.  — Entrar  no  quar- 
tel; entrar  em  sua  casa. 

—  Figuradamente :  Dar  quartel ;  con- 
ceder a  vida  aos  vencidos  ou  as  prisio- 
neiros, tratal-os  coui  humanidade. 

—  Não  dar  quartel.  —  Bater-se  sem 
quartel;  matar  o  inimigo:  tratar  com  ri- 
gor. 

—  Pedir  quartel ;  pedir  misericórdia, 
pedir  qu--  nào  seja  tratado  rigorosamente. 

—  Tomar  quartel ;  aquartelar-se. 

— r Termo  de  náutica.  Quartel  das  esco- 


tilhas; a   tampa  ou  porta  d'ellas  que   é 
quadrada. 

—  Termo  de  brazão.  A  quarta  parte 
d'um  escudo  quarteado.  Xo  primeiro  quar- 
tel coUocam-se  as  armas  da  casa  princi- 
pal, e  nos  outros  quartéis  as  allianças. 

QUARTELEIRO,  s.  m.  (De  quartel,  com 
o  suíExo  «eiró»).  Termo  militar.  Soldado 
encarregado  da  guarda  e  limpeza  do  quar- 
tel. 

QUARTELHA.  Vid.  Quartella. 

QUARTELLA,  s.  f.  /De  quarto,  com  o 
suffixo  « eila  >' ' .  Termo  de  alveitar.  O  te- 
cido que  nas  bestas  pega  da  coroa  do  cas- 
co até  á  primeira  junta. 

—  Termo  de  architectura.  Peça  que 
sustenta  um  vão.  — Quartellas  guarneci- 
das. 

QDARTELLADO,  A,  adj.  (De  quartella). 
Diz-se  dos  cavallos  que  tem  grande  quar- 
tella. 

QUARTETE.  Vid.  Quarteto. 

QUARTETO,  í.  m.  .Do  latim  quafuor, 
quatro  .  Termo  de  musica.  Trecho  escri- 
pto  para  quatro  vozes  ou  Cjuatro  instru- 
mentos. 

—  Darça  executada  por  quatro  pes- 
soas. 

—  Quatro  versos  rimados,  o  primeiro 
com  o  quarto  e  o  segundo  com  o  tercei- 
ro, ou  o  primeú'o  com  o  terceiro  e  o  se- 
gundo com  o  quarto. 

QUARTIL,  ai/j.  2  gen.  (Do  latim  qvar- 
tus,  quarto).  Termo  d'astronomia.  Nome 
que  03  astrónomos  ou  antes  os  astrólogos 
dào  ao  aspecto  de  dous  planetas  afastados 
um  do  outro  a  cpiarta  parte  do  zodiaco, 
90°.  (u  três  signos. — Aspecto  quartil. 

QUARTILHO,  s.  m.  (Do  latim  quartus, 
quartoi.  A  quarta  parte  de  uma  canada. 
Medida  portugueza  para  líquidos  que  con- 
tém quatro  quarteirões  ou  a  48."  parte 
do  almude.  —  «A  outro  Phienetico  dis- 
pus huma  bebida  cordeal  attemperante 
em  quantidade  de  três  quartilhos,  em 
cuja  compoziçaõ  entravaõ  outo  graons  de 
Laudano  opiado.»  Braz  Luiz  d'Abreu, 
Portugal  medico,  pag.  398. 

—  Xo  BrazU  corresponde  esta  medida 
á  canada  de  Portugal. 

QUARTINA,  s.  /.  (Do  latim  quartus, 
quarto).  Termo  de  botânica.  O  quarto 
invólucro  do  ovulo  vegetal  C|ue  existe  al- 
gumas vezes  entre  a  tercina  e  sacco  em- 
brvonario  ou  quintina. 

—  Termo  antiquado.  Cortina,  tj-ibuna 
d'onde  o  rei  ouve  missa. 

QUARTINHA,  s.f.  Diminutivo  de  Quar- 
ta. Pequena  bilha,  pequeno  vaso  de  bar- 
ro, cantarinha,  pequena  enfusa. 

QUARTINHO,  s.  m.  Diminutivo  de  Quar- 
to. Pequeno  quarto;  pequena  camará. 

—  A  quarta  parte  da  moeda  d'ouro  de 
4-5800  reis  ou  doze  tostões. 

QUARTO,  A,  alj.  (Do  latim  quartus, 
quart')  .  Xumero  ordinal  de  quatro;  que 
se  segue  logo  depois  do  terceií-o.  —  O 
quarto  logar.  —  O  quarto  dia.  —  Paren-  \ 


te  em  quarto  grau.  —  Affonso  quarto. — 
aXo  mes  de  lulho  deste  anno  de  oitenta 
e  três,  el  Rey  com  a  Raynha,  e  o  Prín- 
cipe, e  sua  Corte  se  foy  a  Yilla  Dabran- 
tes,  onde  veo  a  elle  hum  Xnncio  com 
hum  breue  do  Papa  Sixío  quarto,  porque 
por  cousas,  e  causas,  nelle  apontadas,  em 
que  parecia  el  Rey  meter  mão  indiuida- 
mente  nas  cousas  da  Igreja,  o  emprazou 
que  por  si,  ou  seu  procurador  parecesse 
em  Corte  de  Roma  para  dar  delias  re- 
zam.» Garcia  de  Rezende,  Chronica  de 
D.  João  II,  cap.  48. 

O  diluvio  ardentíssimo  de  cliaminas, 
Que  do  nascente  Mundo  em  quarto  instante 
Quiz  o  Immortal  fjue  derramasse,  entorna 
Da  Crcaçào  no  portentoso  quadro. 

3.  A.    DE   MACEDO,   MEDIIAçIo,   03 Ut.   2. 

—  Quarta-fetrcí ;  o  terceiro  dia  depois 
do  domingo.  • 

QUARTO,  s.  ra.  (Do  precedente).  Quar- 
ta parte  d\im  todo.  —  Um  quarto  d'hora. 
—  Um  quarto  d/hectolitro.  —  Um  quarto 
de  pipa. 

—  Um  quarto  d,e  boi,  de  vitella,  de  car- 
neiro, etc. ;  é  a  perna  ou  mão  até  ameta- 
de  do  lombo  na  altura,  e  até  meia  bam- 
ga  na  largura. 

—  Ter  bons  quartos ;  diz-se  do  cavallo 
que  é  robusto  e  apresenta  boas  propor- 
ções. 

—  Fazer  em  quartos ;  esquartejar. 

—  Um  quarto  d' ouro;  quartinho,  1^200 
reis. 

—  Um  quarto  de  cruzado;  tostão,  pe- 
quena moeda  de  prata  do  valor  de  100 
reis. 

—  Quartos  da  lua;  phases  da  revolu- 
ção lunar.  —  Quarto  crescente.  —  Quarto 
7ningua7ite . 

—  Termo  náutico  e  militar.  Tempo  em 
que  xima  parte  da  equipagem  d'um  na- 
vio, ou  as  praças  e  oíEciaes,  no  exercito, 
empregara  em  fazer  certo  serviço,  que  to- 
dos os  marinheu-os,  praças  ou  officiaes 
devem  fazer  por  seu  ,tumo. 

—  Entrar  de  qiiarto.  —  Sahir  de  quar- 
to.—  Acudir  ao  sen  quarto.  —  Estar  de 
quarto,  ou  vigia. — A  noite  é  dividida 
em  quatro  vigias  ou  quartos,  que  duram 
três  horas. 

—  Quarto  de  prima;  das  seis  até  ás 
nove  da  tarde.  —  Quarto  da  alva.  —  Quar- 
to da  modori'a;  entre  o  de  prima  e  da 
alva. 

Lá,  no  segundo  quarto  da  nocturna 

Vigia,  em  ciue  não  ouço  outro  ruido, 

Qiie  a  torrente,  dos  Alpes  despenhada, 

Ergo  a  fronte...  Oh  prodigio  !  Ob  raro  assombro  ! 

Rompem  luzeiros,  grato  aroma  exhala  ! 

F.    M.    DO  XASCtíCESTO,  OS  StABTYEES,  1ÍV.    7. 

—  9  Parece  que  neste  negocio  não  en- 
trou este  só,  mas  havia  de  hir  concerta- 
do com  algum  dos  Capitaens  de  alguma 
estancia,  porque  esta  mesmo  noite  no 
quarto  da  modorra  foraõ  metidos  na  Çi- 


24 


(ilIAR 


QCAS 


QUAS 


(lilde,  o  CDllKi  ;í(|Uill.l-<  IlDfHS  (^^t;lV!lõ  to- 
(loH  (l(iHeiii'líi'i<n,  ;iiTi-tM!!it;iiiil<)  jnslo.-*  l»;i- 
liiartOH,  foriín  iriutíiiiilo,  o  (íS|)c,(|;i<;íinil(i  !i 
qimntos  íicliiivilo.»  l)i(i;^o  ilc  iÀnit»,  Déca- 
da  (i,    liv.    t),    Cl]».    ."). 

— •  Quarto  <l<>  fiUjir.io  ;  \wyríín  ili!  iiiiiii 
casa  com  «ervuiitia  «cpai-aila. 

— ■  Quarto  de-  ciimi.  —  Quarto  <h  dur- 
miv ;  (.■amara  onde  unta  a  cama. 

—  Termo  g(!Oiiiotrico.  Quarto  <lt  circu- 
lo; a  ((iiarta  ))arto  da  circiiiiitorencia  nu 
lUTO  do  i)U".  IO  a  iiiodida  do  anfíulo  ro- 
cto. 

—  Quarto  tio  viavidl<m(i ;  arco  do  me- 
ridiano terrestre  comprohoudiílo  entro  o 
polo  do  norto  o  o  oiiuador,  cujo  conipri- 
inonto  Horvia  de  ba-<o  ao  ayntoma  mé- 
trico. 

—  Pev.d  de  quartos;  jiera  ijiio  serVe 
para  tazor  dar  os  (piartos  d'iim  r.doyio  ou 
d'um  pêndulo  de  rep)ti(;ào. 

—  Termo  do  pintura.  Retraio  de  três 
quartos;  retrato  que  representa  os  três 
quartos  da  ti^iira  humana. 

—  Quarto  ;  Jo^-o  carteado  do  ipiatro  par- 
ceiros. 

—  Livro  cm  quarto ;  livro  cujas  folhas 
estão  divididas  em  quatro  qiuirtos, 

—  Termo  militar.  Quarto  de  cunrersão ; 
movimento  p(do  ((ual  uma  das  alas  d'uin 
corpo  do  tropa  percorro  um  ([uarto  de 
circulo,  em  quanto  quo  a  outra  ala  ma- 
nobra, encurtando  o  passo. 

—  Termo  do  veterinária.  Quarto;  par- 
te lateral  tanto  interna  como  externa  do 
casco  do  i'avallo. 

QUAUTODECIMANOS,  s.  m.  2>l-  (J^o  bai- 
xo latim  quarlodccimiimis,  do  latim  tj^iutr- 
tits,  (|uarto,  e  deciínaaus,  decimo,  de  de- 
ceiíi,  dez).  Christãos  que  queriam,  á  iuu- 
tação  dos  judous,  celebi-ar  a  paschoa  no 
decimo  quarto  dia  da  lua  de  março,  (puil- 
quer  ([uc  fosse  o  dia  da  semana  em  que 
cllo  podesso  cahir. 

QUARTOLA,  x.  /.  id)o  quarto,  com  o 
sultixo  .(ola»)-  Meia  pipa. 

QUAtlTZO,  s.  ííi.  (^I)o  allcmào  qiinrz 
por  apjjniximaeào  de  Warzc,  mamillo; 
u'este  caso  seria  pedra  mamillosa.  Sepíun- 
do  Bauvlry,  do  latim  (jnadratiis  germani- 
sado,  o  quo  seria  pedra  quadrada,  por 
causa  dos  anaulos  de  crystal).  Termo  de 
mineralogia.  Com  este  nome  designam-se 
todas  as  substancias  niineraos  que  não  são 
compostas  senão  de  acido  silico  ou  silica. 
Existem,  todavia,  duas  espécies  de  silica 
dittbrentes  e  muito  distinctas  :  a  primeira 
é  anhyib-a,  tom  um  aspecto  vitroo  e  c 
muito  rara ;  a  segunda  é  hvdratada  e  en- 
conti"a-so  muito  espalhada  no  globo.  (> 
quartzo  puro  é  composto  exclusivamente 
(le  silica  com  alguns  vestígios  do  alumi- 
nia,  apenas  apreciáveis ;  n'este  caso  ó  per- 
feitamente branco,  misturado  porém  com 
siibstaiicias  estranhas,  principabnento  oxy- 
dos  de  ferro  e  de  nianganez;  apresenta  to- 
das as  variedades  de  cores,  e  constituo 
quasi  tolas  as  pedras  preciosas. 


Quartzo  hi/nlino  Hinjiidij;  o  crvMtal 
de  roi'ha. 

-Quartzo  /ii/nlino  riolcta;  a  amethyn- 
tu  dos  iapidarioH. 

-  Quartzo  /n/idiíin niintrillij-esvcrdcndo; 
a  faina  ehrysolilha. 

Quartzo  nnjj/tlrino,  ou  quartzo  nzitl ; 
siderlte,  ciiaiiia  la  quartzo  Knjdtiru,  ou 
jinendo  Kti/diirii. 

—  Quartzo  (Kjata ;  variedade  do  ágata 
atravessada  de  filet(;«  d'amianto  que  re- 
Hoct(ím  as  cores  do  espectro  solar. 

—  Quartzo  /ni/rcridinitn  ;  a  ari-ia  ordin.a- 
ria. 

■\  QUARTZOSO,  A,  'idj.  (De  quartzo-. 
Q,U(i  tem  a  natureza  do  quai-tzo;  cpie  con- 
tém quartzo.  —  Git4'.iss  quartzosos. 

— •  Terrcwis  quartzosos;  grupo  de  ter- 
renos encerrando  aquiíiles  que  são  abun- 
tos  em  rocluis  silicosas. 

—  liufrticrão  quartzosa ;  dupla  refrac- 
ção  que  possuo  o  ([uartzo,  a  qual  se  dá 
quando  o  raio  extraordinário  está  approxi- 
mado  do  eixo  e  situado  entre  ellc  o  o  raio 
ordinai-i<i. 

f  QUARTZIFERO,  A,  'nlj.  ,1),.,  quartzo, 
o  do  latim  furo,  levar,  trazer),  (^ue  con- 
tém quartzo  no  estado  de  mistura,  que  é 
composto  de  quartzo.  —  Cdl  carbonatada 
quartzifera. 

f  QUARTZIFORME,  udj.  2  gen.  (De 
quartzo,  e  forma).  Que  tem  a  fu-ma  do 
([uartzo  ou  d'unia  de  siiiu;  variedades.  — 
tíetcn-ilc  quartziforme. 

f  QUARTZITE,  s.  f.  (De  quartzo. 
(^>unrtzii  h\  aiini)  granidovso  ou  em  rocha. 
QUASA/QUASAL.  Vid.  Casa,  ctc. 
QUASI,  iidr.  (Do  latim  ijtuisi,  do  (junm, 
(pie  e  se).  Próximo  a,  perto  de,  pouco  fal- 
ta; com  pouca  ditfereuíja.  —  «E  por  so 
temer  que  fossem  da  armada  do  Jlanda- 
rim,  de  que  ja  tinhamos  algumas  atoar- 
das, surgio  hum  pouco  á  terra  delles,  e 
como  a  maré  começou  a  encher,  que  se- 
ria ja  quasi  meya  noite,  levou  a  amarra 
nuiyto  caladamente,  e  passou  adiante  pa- 
ra onde  tinha  vistos  os  fogos,  de  que  a 
mayor  p.arte  ja  neste  tempo  erào  apaga- 
dos, e  não  avia  mais  que  dous  ou  três 
quo  do  quando  em  quando  apareciào  os 
(juais  lhe  servião  de  guia.»  Fernão  Men- 
des Pinto,  Peregrinações,  cap.  42.  — 
((Nesta  prisaõ  estivemos  quasi  dous  me- 
ses, com  assaz  de  trabalho,  sem  em  todo 
este  tempo  nos  fallarem  a"  feito;  e  dese- 
jando el  Rey  ter  mais  alguma  informa(;aõ 
de  ni'>3  que  a  (pie  o  Broquem  lhe  tinha 
escripto,  manilou  hum  homem  por  nome 
Raudivaa  que  seLTctamcnto  vie-se  á  pri- 
saõ onde  estávamos.  V  Idem,  Ibidem,  cap. 
140. —  ((E  se  a  povoação  era  quasi  toda 
de  madeira,  e  as  casas  cubertas  de  olla, 
(ciMuo  geralmente  so  usa  naquellas  par- 
tes.) tand)cm  viam  outras  torres,  muros, 
e  ai-quitecturas  de  melhor  parecer,  e  de- 
fensão, que  era  grosso  povo,  que  enchia 
todolos  lugares  altos,  e  baixos,  que  esta- 
vam em  vista  da  ribeira.»  Barros,  Déca- 


da 1,  liv.  O,  cap.  2.  — ^  «E  ansi  neste  re- 
(•(jlhfT,  coMio  na  pidcja  do  dia,  dos  uomor 
foram  fíiridoH  setenta,  o»  louig  delle«  com 
herva  de  ipie  oa  Jlouros  Ufan»  ii;uito'nn- 
(|U(rlla  ]iart(;;  e  por  lhe  ninda  nAo  sab(;- 
reiíi  a  cura,  dcpoin  cni  as  i:áo«  faleceram 
dez,  du  doze;  e  outroH  que  houveram  naUT 
de  delia,  senijire  ticáram  com  aquolln  par- 
te da  f(!riila  i-nferina.  e  quasi  hum  tremor 
na'|uelle  wuMubro  da  nialda'le  ('a  jki^-u- 
nha.»  l(lem.  Década  2,  liv.  •>.  cap.  4. — 
"K  a  eau'a  deste  rlamiio  foi,  que  Faben- 
do  os  Mouros  (juc  navegavam  o  mar  Ro- 
xo, jMTa  onde  ellas  hiam  cirregadoB,  c<i- 
mo  elle  Affonso  (TAIboquerque  era  den- 
tro, temendo  de  o  encontrar,  partiram  dou 
|ioi-tos  da  índia,  onde  tomúrnui  carga  quasi 
no  fim  da  monção  do  tempo,  parecendo- 
lhi!s  que  a  este  seria  elle  Kahi>lo  do  es- 
treito.» Mcm,  Ibidem,  liv.  H,  cjip.  (J. — 
((Qual  he  o  peccador  carnal  que  senào 
confunde  e  affronta  de  trat-ir  mimosamen- 
te sua  carne,  e  fugir  de  penitencia,  ven- 
do que  o  innocentissimo  virgem  tão  asj»c- 
ramente  trataua  a  sua'?  Pois  da  alteza  de 
sua  oração,  c  continua  còtemplação  no 
mesmo  deserto,  quem  poderá  dignamente 
fallar?  Não  nos  metamos  neste  peego  que 
hemuyto  fundo.  Basta  saber  que  perseue- 
rou  em  o  hermo,  atec  idade  quasi  de  trin- 
ta annos,  fazendo  em  tudo  vida  mais  An- 
gelaca  que  humana.»  Fr.  ]íartholom'-u 
dos  Martyros,  Catecismo  de  doutrina 
christã.  —  «O  Rei  d'esta  província  he 
grande  scihor  ponjue  segundo  dizem,  tem 
em  cirv'uito  seus  senhorios  mais  de  oito- 
centas legoas,  afora  alguns  Reis,  e  senho- 
res que  lhe  obedecem,  e  pagam  tributo 
douro,  do  qual  ja  os  da  ten-a  tomarãn  o 
gosto  que  lhe  os  mouros  que  antrelles  vi- 
uem,  deram  de  muito  tempo  a  esta  parte, 
e  lhe  nos  acrecentamos,  em  quasi  seten- 
ta annos  que  a  que  descobrimos  estas  pro- 
víncias.» Damião  de  Go'\s,  Chronica  de 
D.  Manoel,  part.  2,  cap.  10. —  «Foi  mui 
limpo  de  sua  pessoa  galante,  e  bem  ves- 
tido do  que  se  prezana  tanto  que  quasi 
todos  os  dias  vestia  alguma  cousa  n  na, 
pelo  que  tinha  tantos  vestidos  que  tofbv 
los  annos  mandava  repartir  dua-s  vezes 
muitos  de  seda,  e  pano  com  os  fidalgos, 
cauileiros,  e  escudeiros,  e  moços  da  ca- 
mará quo  andauaõ  ra  corte.»  Liem,  Ibi- 
dem, part.  4.  cap.  84. 

As  ondas  iiíivog.-wam  do  Orií^ntf» 
.Ti  nos  mar(>3  da  Índia,  c  cn.xcrpavRiii 
Os  thalumos  do  sol,  quo  nasc<"  nrdontc  ; 
,}:\  fyidwi  seus  desejos  se  aojibavam. 
Mas  o  inaii  de  Tliyoneo.  que  na  alma  sonto 
As  venturas  que  então  se  atijiarelhavam 
\  pente  Lusitana  dVUas  dina. 
Arde.  morre,  blas;)hema,  e  desatina. 
t<M..  bis.,  cant.  tj.  est.  (5. 

-—  «EUa  era  tão  gi-ande  de  corpo,  que 
quasi  parecia  gigant;i.  não  tão  somente 
na  estatura,  mas  inda  na  grandeza  dos 
membros;   porque  tudo  era  á  proporção 


QUAS 


UUAT 


QUAT 


25 


(lo  corpo.  Seria  de  iJaJe  de  dezaseis  an- 
nus,  feia  e  porém  airosa.  No  concerto  e 
atavios  de  sua  pessoa  parecia  de  muita 
maneira  e  gravidade.»  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  de  Inglaterra,  cap.  113. 

Seguindo  a  piza  ao  Fundador,  ao  Mctre 
Da  Scicucia  Aâtronomica,  empunhando 
Teu  Tclc3COiio  o  singular  Cainpani, 
De  Saturno  os  Satellitcs  descobre 
Quasi  todos  cntào  :  busca  as  EstrcUas, 
Que  immortal  Galileo  primeiro  aoliára, 
(Luas  do  Jove  são :)  fanal  aos  Nautas.     • 

J.   A.    DE  MACEDO,  VIAGEM  ESTÁTICA,  Cant.    4. 

A  força  cm  tudo  cede  ás  Artes  sabias ! 
QiMsi  vejo  surgir  Numes  na  Terra, 
A  cujo  aceno  os  corpos  obedecem  ; 
Mas  sào  disposições,  são  leis  profundas. 
Que  as  sombras  arrancou  da  Natureza 
O  estudo  da  Mecânica  profundo. 


Em  pró  dos  mesmos  Príncipes,  que  hão  quasi 
Nas  veias,  esgotado-lhe  a  nascente. 
Desses  Heróes  Christàos  no  manso  vulto. 
Nem  prazer,  nem  temor  llics  resnmbrava  : 
'  Sim'  cordato  valor,  bem  parecido 
("o  Lvrio  sem  senão.  Mal  trilha  o  Campo 
A  [.■egiào,  foge  aos  Francos  a  victoria. 

FRANCISCO  MANOEL  DO  XA3CI.MEXT0,  OS   MARTVB5IS. 

liv.  G. 

—  «A  cau.sa  natui-al  da  falsa  idea  que 
toem  os  Francezes  do  seu  idioma,  é  a 
universalidade  que  elle  por  toda  a  Euro- 
pa tibteve  :  por  aqui  também  se  explica 
o  mui  pouco  ou  quasi  nenhum  estudo  que 
fazem  dos  altieios.  Mais  inexplicável  é, 
em  verdade,  o  tom  magistral  e  tranchant 
com  que  dos  auctores  e  litteraturas  es- 
trangeiras ajuizam  e  decidem,  ignoran- 
do, as  mais  das  vezes,  a  menor  syllaba 
dos  originaes.»  Garrett,  Camões,  nota  A 
ao  canto  1. 

—  Às  vezes  repete-se: 

Mas  ali !  que  em  vôo  extático  me  elevo 
Inda  acima  do  Sol!  Daqui  descubro. 
Ou  gfí«-';",  rpixwi  se  me  antolha  a  Terra, 
Como  n"hum  prado  estivo  o  insecto  accezo, 
Gyrar  no  espaço  azul  pequena,  e  muda  ! 

J.    A.   DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Cant.    2. 

—  Palavra  que  se  junta  a  muitas  ou- 
tras para  indicar  que  a  qualidade  ex- 
pressa por  estas  é  só  approximativa.  — 
Quasi  monarchico.  —  Quasi  liherdade.  — 
Quasi  reijuhlicano.  —  Quasi  legitimo. 

—  Pecúlio  quasi  castrense;  o  adquiri- 
do pelo  fil!io-familias  nos  cargos  e  em- 
prego.^ públicos. 

—  Quasi  força ;  dú-se  quando  .?e  occu- 
pa  a  posse  da  cousa  vaga,  que  nào  fosse 
por  outrem  corporalmente  possuída,  a 
qual  o  possuidor  cuidava  ser  alheia,  e 
depois  achou,  que  era  sua. 

QUASI-CONTRATO,  s.  m.  (De  quasi,  e 
contrato  .  T -rmo  de  jurisprudência.  Con- 
veuçào  em  que  o  consentimento  das  par- 
tes nào  foi  previamente  expresso,  mas 
presume-se. 

■i-  QUASI-DELIGTO,  s.   m.  iDe  quasi,  e 


delicto).  Termo  de  jurisprudência.  Da- 
mno  causado  a  outrem  involuntariamen- 
te ou  por  negligencia. 

QUASÍMODO,  s.  m.  (De  quasi,  e  modo, 
que  suo  as  duas  primeiras  palavras  do 
intróito  da  missa  do  domingo  depois  de 
paschoa).  Termo  de  liturgia.  O  primei- 
ro domingo  depois  da  paschoa,  chamado 
da  pa-íchoela. 

QUASSAÇÃO,  s.  /.  Termo  de  pharma- 
cia.  Coutuíào ;  operação  que  tem  por  íim 
destruir  a  cohesào  dos  corpos  duros  por 
meio  de  instrumentos  contundentes. 

QUASSIA,  s.  f.  Género  de  plantas  da 
familia  das  simarubas,  do  qual  a  espé- 
cie quassia  amaii,  de  Linneu,  produz  uma 
casca  muito  amarga,  empregada  na  me- 
dicina e  conhecida  com  o  mesmo  nome 
de  quassia. 

f  QUASSITE,  s.  f.  Termo  de  chimica. 
Principio  n.ào  azotado,  extrahido  da  quas- 
sia. 

t  QUATERNADO,  A,  adj.  (Do  latim 
quatenius;  vid.  Quatemoí.  Termo  de  bo- 
tânica. Diz-se  das  partes  dispostas  qua- 
tro a  quatro. — Folhas  quaternadas. — 
Antheras  quaternadas. 

—  Termo  de  mineralogia.  Diz-se  dos 
mineraes  que  apresentam  faces  dispostas 
quatro  a  quatro,  ou  que  residtam  d'iuaa 
reunião  de  quatro  prismas  em  cruz. — 
Bavyta  sulfatada  quaternada. 

QUATERNÁRIO,  adj.  (Do  latim  qua- 
ternariuSy  de  quaternus,  de  quatuor,  qua- 
tro) .  Que  vale  quatro ;  que  é  divisível 
por  quatro. 

—  Termo  de  chimica.  Diz-se  dos  cor- 
pos compostos  que  resultam  de  quatro 
corpos  simples. 

—  Termo  de  geologia.  Terreno  qua- 
ternário; conjuncto  de  rochas  que  com- 
firehende  todas  as  formações  superiores 
ao  calcareo  dagua  doce,  ou  quasi  a  me- 
tade superior   do   terreno  supercretaceo. 

—  Period.o  quaternário  ;  época  da  ap- 
parição  do  homem  á  superticie  do  globo. 

—  Homem  quaternário ;  o  homem  con- 
temporâneo do  terreno  quaternário. 

—  Termo  de  mineralogia.  Diz-se  d'uma 
variedade  de  mineraes  que  resulta  d'um 
decrescimento  por  quatro  angidos,  como 
a  (jlauberite  quaternária. 

—  Termo  de  botânica.  Diz-se  d'um  ór- 
gão repetido  quatro  vezes. 

QUATERNIÃO,  s.  m.  Bálsamo  assim 
chamado,  composto  de  quatro  simples. 

QUATERNIDADE,  s.f.  (Do  latim  qua- 
ternitatciii,  de  quaternus,  de  quatuor,  qua- 
tro i.  Estado  d'uma  cousa  que  é  compos- 
ta de  quatro  partes. 

—  Numero  de  quatro  pessoas,  á  imi- 
tação de  trindade.  —  Quaternidade  de 
Parabranm,  na  religião  dos  Índios  do 
Oriente. 

f  QUATERNIFOLIADO,  A,  adj.  (De 
quaterno,  e  folha.  Termo  de  botânica. 
Que  tem  as  folhas  (juaternadas,  dispostas 
(|uati'o  a  quatro. 


QUATERNO,  s.  m.  (Do  latim  quaternus, 
de  quatuor,  quatro).  Numero  de  quatro 
unidades,  pessoas  ou  coxisas ;  quatro  nii- 
meros. 

1  QUATERNOBISUNITARIO,  A,  adj. 
Termo  de  mineralogia.  Diz-se  d'iun  mi- • 
neral,  cujos  crystaes  residiam  d'iun  de- 
crescimento por  quatro  augidos  e  de  dous 
decrescimentos  por  cada  angido.  —  Cal 
sulfatada  quaternobisunitaria. 

QUATORZADA,  *■.  /.  (De  quatorze ; 
pr.  catorzada).  Quatorze  pontos  que  con- 
ta quem  tem  os  quatro  azes,  os  quatro 
reis,  etc,  no  jogo  dos  centos. 

QUATORZE,"  adj.  mm.  (Do  latim  qua- 
tuordecim,  de  quatuor,  quatro,  e  decem, 
dez;  pr.  catorze).  Dez  mais  quatro;  ou 
quatro  mais  dez;  duas  vezos  sete.  — 
«E  el  Rey  dahy  a  três  dias  foy  ver  as 
obras,  e  vio  la  o  homem  com  huuia  muy- 
to  grande  barba,  que  auia  quatorze  an- 
nos  que  não  fizera,  e  disselhe :  Não  sois 
vos  o  a  que  eu  dey  a  vida.»  Garcia  de 
Rezende,  Chronica  de  D.  João  II,  cap.  08. 
—  «E  tendo-a  reduzido  quasi  á  ultima 
miséria  pela  falta  de  defensores,  passou 
a  Alem-Tejo  o  Conde  de  Cantanhede  D. 
António  Luiz  de  Menezes  por  ordem  da 
Rainha  Regente,  e  buscando  ao  inimigo 
dentro  das  suas  mesmas  linhas  o  rompeo 
com  grande  estrago  de  Castella,  e  com 
grande  gloria  de  Portugal  a  quatorze  de 
Janeiro  de  mil  seiscentos  e  cincoenta  e 
nove.»  Fr.  Bernardo  de  Brito,  Elogios 
dos  reis  de  Portugal,  continuados  por 
D.  José  Barbosa. —  «O  qual  chegou  a 
Malaca  na  entrada  de  Jxdho  do  anuo  de 
quinhentos  e  quatorze,  a  torapo  que  era 
vindo  da  índia  Jorge  d'Alboquerque  fi- 
lho de  João  d'Alboquerque  pêra  Capitão 
da  Cidade,  e  estava  já  em  posse  del- 
ia, e  Ruy  de  Brito  esperando  tempo 
pêra  se  vir  pêra  a  índia.»  João  de  Bar- 
ros, Década  2",  liv.  9,  cap.  6. 

—  Em  algarismo,  14  ;  em  caracteres 
romanos,  xiv. 

QUATORZENO,  A,  adj.  (De  quatorze). 
Numero  ordinal  de  quatorze.  Decimo 
quarto. 

—  Panno  quatorzeno ;  o  que  tem  mil 
e  quatrocentos  fios  no  ordume. 

—  S.  m.  pi.  —  Os  quatorzenos  ;  os  dias 
décimos  quartos,  críticos  em  muitas  doen- 
ças. 

QUATRALVO,  A,  adj.  (Do  latim  qua- 
tuor, quatro,  e  alvus,  branco).  Diz-se  do 
cavallo  e  dos  outros  animaes  que  teem  os 
pés  e  mãos  brancas. 

QUATRAPISSO,  ou  QUATROPISIO,  s.  m. 
Jogo  de  tabolas,  em  que  as  parelhas  se 
jocam  quatro  vezes. 

QUATRIDUÁNO,  A,  adj.  (Do  latim  qua- 
triduum,  de  quatuor,  quatro,  e  dies,  dia). 
Que  comprehende  o  espaço  de  quatro 
dias. 

QUATRIDUO,  s.  m.  (Do  latim  quatri- 
duus,  de  quatuor,  quatro,  e  dies,  dia). 
Espaço  de  quatro  dias. 


20 


QUAT 


QUATRIM,  ».   m.   (Do  itiliaiu)  qimflri-' 
1111,    iln   i/iiallr»,    (|iiatroi.   liraiica,    fi^itil, 
(liiiliciro  ili-  iiiriior  valia. 

QUATRINCA,  <.ii  QUATRINQUA,  ».  f. 
f^hiatn»  v<r/.c,.-i.  —  «10  cMiii  isto  amaino, 
l)i-.ijaiiilo  osda.s  podoronas  mitos  liiima  qiia- 
trinqua  do  vcidi,  cuja  vida  e  rovenm- 
di.srtima  pessoa  nosso  Sonlior,  ctc.»  Ca- 
mões, cart.  'J. 

—  No  Joiío  da  í,"'""'*'i^'h  quatrozada, 
isto  ('■,  (|uati'o  dczes,  riuvcs,  otc. 

QUATRO,  aiJj.  num.   2  (jen.  (Do  latim 
ijuiitiiDi-,   uni   sanskrlto  calnr).  Duas  vo- 
zes dous.  —  4,  cm  al^'arismo;  IV,  ini  cara- 
ctoi-cs  romanos.  —  «Destas  quatro  lillias 
iia   com   quo   cl   Rei   dom  Emanuel  mais 
dcscjaua  casar,  foi   ha  Intauto  dona  Isa- 
bel,  viuua   do   Frincipe   dom   Afonso,  c 
por    ter  esta   vontade  so  cxcusou  do  da 
Infanto  dona  Mai-ia,  per  dom  Afonso  da 
Svlua,    quando    ho   veo   visitar  do   parte 
diis  Reis,  quomo  atras  fica  dito  no  ( íapi- 
tnlo  xj.»    iJamiào  do  Góes,  Chronica  de 
D.  Manoel,  part.  1,   cap.  22.— «Depois 
de  l)iof];o  lope.z  de  sequeira  ter  despaclia- 
do   António   Corrêa  iiera  Babarem  como 
iica  dito,   mandou    Diogo    fernaudes    de 
Beja,  com  quatro  velas,  que  fosse  correr 
a  costa  de  Cambaia  a!é  quo  clle  chegasse 
a  Diu,  onde  determinaua  fazer  luima  for- 
taleza  como   fica  dito,    das  quaes  a  fora 
clle    oram    Capitães   Nuno   fornandos   de 
macedo   Emanuel   de  niaeedo  sou  irmam 
e  Gaspar  d'outel.i)  Idem,  Ibidem,  part.  4, 
eap.  G9.  —  «A  toda  osta  arniaiia  deu  dcs- 
paclio  com  Martinho  do  Castelbrauco  con- 
do de  villa  noua  de  Portimam,  e  voador 
da  fazenda,  em  espa(,'0  de  quatro  meses 
o  meo.»  Idem,  Ibidem,  part.  3,  cap.  46. 
—  «Estas  quatro  galos  com  as  duas  que 
tomara  o  comendador  Rui  soares  mandou 
o  Viccrei  logo  queimar,  e  a  loam  da  no- 
xia,  deu   cargo  do  ir  buscar  os  captiuos, 
a  quem  Miliquiaz  entregou  os  que  ainda 
viuiam,  quo  orão  dezasete,  todos  vestidos 
de  cabaias  do  seda.  a  Idem,  Ibidem,  part. 
2,  cap.  40. —  «Esta   cidade   de   Cranga- 
nor  he  grande,  situaila  na  torra  do  jMala- 
bar,  quatro  logoas  do  ('oohim,  contra  Ca- 
lecut,   do   longo    da    (|ual    passa   hum  rio 
que  a  coroa  por  algumas  partos.  Abltani 
nella   gentios,    mouros,  judeus,  e   Chris- 
tãos,    he  do  grande  trato,  e  de  que  todo 
o  rogno  toma  nome.»  Idem,  Ibidem,  part. 
1,    cap.   98.  —  «A   qual   Armada   partio 
ElRev  em  duas  capitanias,  hnma  do  oito 
náos  doo  a   Jorge  do  Mello  IVroira  filha 
de  Vasco   ^Martins    do    ilollo,  o  qual  hia 
porá  ficar  na  Índia  por  Capitão  da  forta- 
leza de  CananíH-,  e  das  outras  quatro  hia 
por  ('apitão  (iareia  de   Soiísa.»   .loào   ilo 
Barros,  Década   2,  liv.    7,  cap.  2. —  «E 
determinados  todos  neste  parecer  dooor.ão 
do  cume  da  sciTa  aonde  estavrxo  por  qua- 
tro   partes    huraa   noyte    clnivosa,    o   de 
grande   escuro,    o   dando   no  campo  del- 
Roy,    que  ja   a   este    tempo  estava  todo 
posto  cm  ordenan(;a  por  aviso  que  disto 


QUAT 

tí^vc,  a  briga  se  travou  entre  elles  de  tal 
manoyra,  o  com  tant')  olio,  impoto  de 
ambas  as  partos,  quo  durando  até  duas 
horas  de  dia,  em  fim  ho  voyo  a  averiguar 
com  ficansm  no  campo  trinta  e  s('te  mil 
mortos. D  Fern.lo  Mendes  l'into,  Peregri- 
nações, caji.  201 . 


Mais  fi-rmoso  cstú  no  villAo 
Miio  burel  que  niuo  frisado, 
E  roííippr  Miatos  inauiiilios, 
K  ao  lidulgo  tlc  iiai;rio 
Ter  iiiiairo  lioiuous  du  meado, 
E  loixar  lavrar  ratinlios. 

OIL  VICENTE,  FAIIVAS. 


—  «Xào  tardou  nada  que  contr.a  a  par- 
to debaixo  viu  vir  quatro  cavalieiros  a 
fio,  um  ant'outi'o,  todos  armados  de  ver- 
de e  branco,  os  elmos  dourados,  o  pobre 
olles  capellas  de  flores  alegres ;  nos  escu- 
dos quo  os  escudeiros  lhe  traziam,  cisnes 
brancos  em  campo  vordo.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  11(3. 
—  «Ao  outro  dia  pola  mauLà  os  quatro 
companheiros  se  sahiram  ao  jarilim,  que 
antro  as  cousas  notáveis  daquelia  casa 
era  menos  pcra  ver  e  as  ter  em  muito ; 
que  como  quer  que  Urganda  nolle  costu- 
masse lograr  as  sestas  dos  veròcs  com 
si'u  amigo,  o  ordenou  a  seu  gosto.»  Ibi- 
dem, cap.  120.  —  «Acabado  de  verem 
tudo  miudamente,  se  foram  contra  o  c;is- 
toUo,  que  também  ao  parecer  de  todos 
era  cousa  pêra  vir  buscar  de  longe.  Ao 
pé  dellc,  áquem  da  cava,  estavam  qua- 
tro padrões  de  jaspe  com  os  escudos  do 
tamanho  e  cores  que  os  outros  passados 
oraui.»  Ibidem,  cap.  119. — E  fazendo 
apai'olhar  um  navio  mandou  niettcr  noilc 
Arlanoa  sua  filha  acompanhada  do  qua- 
tro donzollas  e  outros  tantos  cavalieiros, 
quo  com  poucos  dias  tendo  o  vento  pros- 
pero arribaram  cm  nm  porto  perto  do 
castello  do  cavalleiro,  onde  sahiram  em 
terra  e  caminharam  o  mais  secretamente, 
que  poderam,  té  chegar  a  clle.»  Ibidem, 
ciip.  114. 


Vi  (lue  cm  Lisboa  se  alijaram 
poiío  baixo  e  villàos 
contra  oâ  uouos  ChriâtSos, 
mais  do  quatro  mil  mataram 
dos  que  ouucram  ás  mãos. 

o.   DE  REZENDE,   MISCELLAKEA. 

—  «OfFereceo  a  ElRoy  hum  vestido 
dollo  muito  bom  guarnecido,  o  obrado  ao 
costumo,  pedindo-lhe  por  mercê  fosse  ser- 
vido trazolo  so  ((uer  oito  dias:  c  nào  eraõ 
bom  quatro  andados,  quando  já  o  merca- 
dor naõ  tinlia  na  logoa  de  todo  o  panno, 
nem  um  8(i  retalho,  o  se  mil  possas  tive- 
ra, tantas  gastara.»  Arte  de  furtar,  ca- 
pitulo G4. 

O  Inferno  assim  bradou  dentro  em  sou  peito ! 
CorromJ^falanjres  búrbaras,  o  cobrem 


QUAT 

Da  consternada  Kuro|>a  \iim\fn»tté  eaiuiUMt. 
l'od<!  a  morte  caiujar,  ii3o  canija  o  ^tolIl^tro, 
Quatro  hmtroA  de  nanguc  inda  não  ba«tãii. 

J.  A.  IlK  MACKUO,  IIKUirAçÃo,  ciint.  .3. 


—  -  I^oc. :  Fit-.cr  o  diabo  a  quatro  ;  fa- 
zer muito  barulho,  causar  niuitu  desor- 
dem. 

—  Desrttr,  subir  a»  encadiiH  qaatro  a 
quatro  ;  anilar  com  grande  velocida'le. 

—  Figurada  e  familiarmente  :  Cnmo 
quatro  ;  muito  excessivamente.  —  Ikbtr 
cijiiio  quatro.  —  (Iritnr  cnmo  quatro.  — 
Ter  cí/nrito  como  quatro. 

—  Termo  de  musica.  Trecho  a  quatro 
mãos;  peça  composta  para  ser  executa<)a 
por  duas  pessoas  ao  mesmo  tempo  no 
mesmo  piano. 

—  .S'.  »i.  O  numero  quatro.  —  Quatro 
imiltijjlicaflo  jfor  quatro  </'i  drzestis.  — 
O  quatro  do  mez;  o  quarto  dia  de  cada 
mez. 

—  Termo  de  jogo.  A  carta  que  é  mar- 
cada com  quatro  copas,  quatro  paus,  ctc. 
—  O  quatro  de  paus.  —  O  quatro  dt  co- 
pas. 

QUATROCENTOS,  AS,  adj.  num.  (De 
quatro,  o  cem  .  <^hlatro  centena»,  cem 
repetido  quatro  vezes.  —  «E  achSdo  nel- 
la obra  de  quatrocentos  Achens  occupados 
no  despojo  dalgum  pouco,  fato  que  ainda 
nella  avia,  incitanilo  os  seus  a  se  faze- 
rem amoucos,  c  trazcndolhcs  á  memoria 
com  muytas  lagiúnias,  a  obrigação  que 
para  isso  tinhaõ,  cometeu  os  inimigos  tào 
esforçadamente,  quo-dos  quatrocentos  se 
affirmou  despois  cm  Malaca  que  nào  es- 
capara nenhum.  »  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  28.  —  «Partido  o  Ca- 
mareiro mòr  chegou  ao  lugar  de  Madabc, 
aonde  so  vio  com  aqucllc  Prii:cipe,  c  con- 
certou com  elle  que  o  «ijudasse  contra  o 
Maduno  por  aquella  banda,  e  lhe  deixou 
quatrocentos  homens  pêra  ajuntar  com  a 
sua  gente.»  Diogo  de  Couto,  Década  6, 
liv.  10,  cap.  12. —  €  Desembarcaram  to- 
dos cm  terra  em  dous  batalhões  de  qua- 
trocentos homens  cada  himi  :  c  SimSo  do 
Mello  sem  ser  sentido  entrou  a  povoação, 
e  doo  nas  casas  do  Arei,  que  eram  de 
madeira,  pondo-lhe  logo  o  fogo  por  mui- 
tas partes,  que  começaram  a  arder  com 
grande  braveza.»  Liem,  Década  4,  liv. 
ò,  cap.  4.  —  «Que  pelos  terços,  e  cho- 
ques que  pertenciaõ  a  ElRey  de  todo  o 
cravo  quo  trouxe.sse  no  seu  g:»lej»õ,  desse 
quatrocentos  e  cincoenta  bares,  s,  du- 
zentos e  cincoenta  bares  li(]UÍdoB  jx-ra 
ElRev,  e  os  duzentos  pêra  as  pessoas  f]ue 
tivessem  liberdades  por  provisocns  do  Vi- 
sorev,  e  que  na  dita  conta  nSo  cntrariaS 
05  birres  que  viessem  nos  gnsalhados  dol- 
lo Capitão,  o  dos  Gffieiaes  do  galeno, 
nem  do  Patraõ  nnSr,  c  outros  qiie  elles 
tirariaò  forros.»  Idem.  Década  6,  liv.  9, 
eap.  19.  —  «Partido  Afonso  dalbuqm^r- 
que  pcra  Cochim.  e  os  capitacns  das  nao8 
de  carga  para  Portugal,  o  Viccrei  se  fez 


QUE 


QUE 


QUE 


■27 


a  vela  de  Cauauor  pêra  Dio,  aos  xi  j  dias 
do  mesmo  mes  de  Dezembro,  em  busca 
de  Jlirhoccm  capitão  do  Soldam  de  Ba- 
bilouia,  com  dezauoiie  velas,  e  mil,  e 
trezentos  soldados  Portuguezes,  e  quatro- 
centos ilalabares  de  Cochim,  a  fora  gen- 
te de  seruieo.»  Damião  de  Góes,  Chro- 
nica  de  D.  Manoel,  part.  g,  cap.  38. — 
«Em  que  mataram  muitos  moui'OS,  e  ca- 
ptiuaram  quatrocentas,  e  oitenta,  e  duas 
almas,  que  trouxeram  Azamor,  que  era 
a  parte  dos  Christãos,  e  trezentos,  e  se- 
senta  caua-llos,  e  oitentos,  e  cincoenta 
bois  e  vacas,  e  mais  de  seis  mil  ouelhas, 
e  muitos  cauallos,  egoas  e  asnos,  que 
couberam  a  parte  dos  moiu'Os  de  pases, 
segundo  forma  de  seus  contratos,  o  que 
til  lo  trouxeram  com  pouca  resistência.» 
Ibidem,  part.  4,  cap.  59.  —  «Nasceo  el 
Kei  D.  Duarte  na  Cidade  de  Viseu  no 
anno  de  mil  e  quatrocentos  e  lium,  e 
com  clle  huma  esperança  de  gozar  Por- 
tugal o  melhor  Rei  que  até  entaõ  tivera, 
porque  os  dons  naturaes,  e  adquiridos 
deste  Príncipe  foraò  taS  raros  como  mal 
logrados.»  Fr.  Bernardo  de  Brito,  Elogios 
dos  reis  de  Portugal,  continuados  por 
1).  José  Barbosa.  —  «A  Ciata  he  huma 
Villa  situada  do  dito  mar  para  a  ban- 
da do  Norte,  eliticada  de  bons  edifi- 
cios.  8erâ  de  quatrocentos  vezinhos  Chris- 
tàos  nastoris  que  tem  diferença  em  a  le v ; 
e  fé  dos  Arménios.  Saò  gentes  brancas, 
vivem  por  criações  de  gados,  e  lavoyras 
de  algoloes.»  xVutonio  Tenreiro,  Itinerá- 
rio, cap.  ■2'^. 

QUATROÓLHOS,  s.  m.  (De  quatro,  e 
olhos  .  Peixe  das  costas  do  mar  do  Bra- 
zil. 

QUATROPEADO,  wlj.  Vil.  Quadrupea- 
do. 

QUATROPEAR,  r.  a.  ilultipliear  qua- 
tro Vezc-. 

QUATROVINTENS,  s.  m.  iDe  quatro,  e 
,  vintém  i.  JloeJa  antiga  de  prata,  cunhada 
no  tempo  de  D.  Joào  iii,  do  valor  de  80 
reis.  No  Brazil  corre  com  o  cunho  da  pa- 
taca, que  tem  o  mesmo  valor. 

QUATRUMVIRATO,  ou  QUATUORVIRA- 
TO,  .^.  lu.  Viil.  jQuadrumvirato. 

QUE.  Diante  de  e  e  i,  o  u  de  qu  nào 
se  pronuncia. 

1.1  QUE,  proJi.  relativo  ou  conjuncfívo, 
dos  dous  géneros  e  dos  dous  números. 
(Xa  forma  portugueza  que  podiam  coin- 
cidir a»  fiírmas  latinas  qui,  qum,  quem 
(sing.),  qui,  qiuc  (plur.) ;  em  todo  O  caso 
é  difficil  determinar  se  representa  uma 
só  firma,  se  mais.  Se  observarmos  que  o 
pronome  relativo  regimen  francez  que  é 
considerado  com  bous  fundamentos  como 
proveniente  do  latim  quod  (neutro  singu- 
lar i;  que  que  2  (^conjuncçào)  portuguez 
provém  como  o  hespanhol  que,  o  fi-ancez 
que,  o  italiano  che,  do  latim  quod,  po- 
dia-se  também  suspeitar  que  em  que  re- 
lativo portuguez  coincide  a  forma  latina 
quod),  O  qual,  a  qual,  os  quaes,  as  quaes. 


—  Vamos  considerar  o  relativo   nos  seus 
diiferentes  empregos  grammaticaes. 

—  1."  Que,  ligando  um  substantivo  a 
uma  oraçào  subordinada  de  que  elle  é  su- 
jeito : 

—  a)  sujeito  d'uma  oração  do  singular, 
referindo-se  a  pessoas.  —  «E  que  assi  no 
estado  em  que  aquelle  Eevno  estaua,  que 
era  em  poder  d'elRey  de  Portugal  a  elle 
por  seruiço  do  dito  senhor  se  lhe  deuia 
dar  pola  terra  estar  em  paz  e  concórdia  : 
e  naô  se  despouoar  polo  descontentamen- 
to que  tinhaò  em  estar  debaixo  da  obe- 
diência e  gouerno  de  homem  que  naò  era 
da  linhagem  dos  Reys  de  Quiloa.»  Bar- 
ros, Década  1,  liv.  10,  cap.  6.  —  «Aos 
quaes  Affonso  d'Alboquerque,  que  estava 
de  fora  ao  pé  do  cubello,  mandou  que  se 
descessem  per  umas  cordas,  que  Dom 
Garcia  de  Noi"Ouha  lhes  lançou  com  astes 
de  lanças  atadas.»  Idem,  Década  2,  liv. 
7,  cap.  9.  —  «Com  esta  determinação  fo- 
ram á  pousada  de  Palmeirim,  que  com 
Selviào  estava  concertando  a  ida  pêra 
outro  dia.»  Francisco  de  Moraes,  Palmei- 
rim d'Inglaterra,  cap.  101.  —  «Porque 
polia  enformaçào  que  ja  a  este  tempo  ti- 
nha do  lugar,  e  terra  ser  naturalmente 
doentia,  e  o  rio  não  se  poder  em  todos 
os  tempos  nauegar  até  a  dita  fortaleza, 
ja  tinha  assentado,  que  em  caso  que  o 
dito  lugar  fora  feyto,  e  não  cercado,  de 
o  mandar  despouoar,  e  derribar.»  Garcia 
de  Rezende,  Chronica  de  D.  João  II,  cap. 
81.  —  Deste  casamento  dei  Rey  dom  Af- 
fonso com  a  Rainha  dona  Isabel  nasce^ 
rão  o  Príncipe  dom  loào,  que  foi  casado 
com  a  Rainha  dona  Leanor  filha  do  In- 
fante dom  Fernando,  irmã  do  dito  Rei 
dom  Affonso,  e  a  Infante  dona  loanna 
que  acabou  em  habito  de  freií-a  no  mos- 
teiro de  lesu  Daueiro,  da  ordem  de  Saõ 
Domingos.»  Damião  de  Góes,  Chronica 
de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  dõ. 

Xem  o  cugauou  de  todo  esta  csperauça 
Antes  lhe  suceedco  como  cuidava, 
Chega  o  catiu:,  e  com  gràa  confiança 
Vai  Sousa  vèr  ElRei,  que  já  o  esperava ; 
E  vcudo-llic  ora  liuma,  ora  outra  mudança, 
Que  o  malvado  conceito  ncUc  obrava, 
Vè  que  o  sou  peito  cheio  de  maldades 
Tem  concebido  grandes  novidades. 

FBAXCISCO  OE  AXDRADE,  TEIMEIRO  CERCO  DE 

mu,  caut.  6,  est.  íS. 

Kas  náos  atribuladas,  isto  espalha 
Grande  espanto,  temor,  desconfiança, 
Mas  a  gente  que  ncllas  se  agazalha 
Faz,  quanto  do  viver  lhe  dá  esperança  : 
Com  revezada  força  so  trabalha 
Ka  longa  bomba,  e  o  mar  ao  mar  se  lança. 
Ora  se  encolhe  a  escota,  ora  se  solta, 
Cresce  a  voltur  do  medo,  a  gràa  revolta. 
IBIDEM,  cant.  4,  est.  20. 

—  «  E  assentandose  nesta  cadeyra  ou- 
vio  Missa  cantada  officiada  com  grande 
concerto,  assi  de  falias,  como  de  instru- 
mentos músicos,  na  qual  pregou  hum  Es- 
tevão Xogueyra  que  ahy  era  VigaLro,  ho- 


mem ja  de  dias  e  muyto  honrado.»  Fer- 
não Mendes  Pinto,  Peregrinações,  capi- 
tulo G9.  —  «  O  pouo  que  andaua  em  tre- 
uas  vio  huma  grande  luz :  e  aos  que  mo- 
rauão  na  regiam  da  sombra  da  morte, 
lhes  nasceo  hiuna  grande  claridade.  Poi'- 
que  esta  noyte  hum  menino  he  nfiscido, 
e  hum  filho  nos  he  dado,  cujo  principa- 
do e  império  será  eterno,  e  chamarseha 
por  estes  nomes.  Marauilhoso.»  Fr.  Bar- 
tholomeu  dos  Martyres,  Catecismo  da 
doutrina  christã.  —  «  Porque  na  tal  ora- 
çam  chamamos  padre  nosso  a  Deos  trino 
e  vno,  porque  todas  as  três  pessoas  da 
Sanctissima  Trindade  .^am  hum  padre,  e 
criador  nosso,  mas  neste  primeiro  artigo 
chamamos  padre  somente  à  primeira  pes- 
soa da  Sanctissima  Trindade,  que  he  o 
padre  natural  de  nosso  Senhor  lesv  Chris- 
to.»  Ibidem. 

Curiosidade,  e  ócio  á  Deosa  derão 

(Ao  Nume,  que  preside  ao  Templo)  a  essência. 

J.    A.    DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Cant.    1. 

Gcuio,  que  objectos  da  terrena  estima 
Aos  pés  soube  calcar,  e  além  subindo, 
Onde  o  fr.igil  mortal  mui  raro  chega, 
Teve  ao  lado  virtude,  e  teve  o  gosto, 
Que  esse  bcllo  ideal  nas  Ai-tes  busca. 
IBIDEM,  cant.  .3. 

—  b)  sujeito  d'uma  oração  do  singular, 
referiudo-se  a  cousas. —  «  E  o  macs  po- 
deroso príncipe  d 'aquelle  ilalabar  era 
ElRey  de  Calecut,  o  qual  por  excellen- 
cia  se  chamaua  Camorij  que  acerca  del- 
les  he  como  euh-e  ncjs  o  titulo  de  Empe- 
rador.»  João  de  Barros,  Década  1,  liv.  4, 
cap.  7.  —  «Porque  alguns  homens  que 
foram  ter  ao  seu  porto  da  náo  Flor  de  la 
mar,  que  naquella  viagem  que  Aftbnso 
d'Alboquerque  fez  pêra  a  índia,  se  per- 
deo,  ('como  veremos),  elle  os  agazalhou, 
e  mandou  com  davidas  em  as  náos  de 
Choromandel,  que  hiam  carregar  ao  seu 
porto,  pêra  dahi  se  irem  a  Cochij.»  Idem, 
Década  2,  liv.  6,  cap.  7.  —  «  E  com  pa- 
lam-as  de  Príncipe  tão  prudente,  e  vir- 
tuoso, e  filho  tão  obediente  como  era,  re- 
nunciou logo  de  si  nas  mãos  dei  Rey  seu 
pay  ho  titulo  de  Rey,  que  por  seu  man- 
dado tinha  tomado. »  Garcia  de  Rezende, 
Chronica  de  D.  João  II,  cap.  18, 

A  mor  carrega  que  hc. 

Essas  moças  que  vendia  ; 

D'aqucsta  mercadoria 

Trago  eu  muita  á  bofe. 
Diabo.  Ora  ponde  aqui  o  pé. 
Brk.     Hui !  eu  vou  par'ó  Pai-aizo. 

GIL  ■^^CE^•TE,  acto  da  barca  do  ixferso. 

—  «  Embarcados  todos  derao  à  vela,  e 
por  acharem  os  tempos  contrários,  man- 
dou Bernaldim  de  Sousa  dar  toas  aos  ga- 
leoen.s  pelas  Corocoras,  e  puzeraij  dez  ou 
doze  dias  no  caminho,  e  a  véspera  do 
Xatal  passado  sm-giraõ  na  barra  de  Gei- 
lolo,  e  salvarão  a  fortaleza  que  se  não 


28 


QIIK 


(^IK 


QIJK 


cnxrrfjavii  (1<!  fiini  pm-  caiiHji  do  f;ranili', 
c  0.-4JJLMHO  arvoredo  quis  liavia  antrc  <dla, 
o  o  mar.»  Diof^o  de  (Nnito,  Década  <>, 
liv.  !),  cap.  10.  —  «  Ho  Hcidiornada  pela 
Bcnlioria  de.  Vonoza:  daqui  mo  ))arti  por 
iiain  acliar  embarcaram  pcra  Kuropa,  c 
iiic  fiiv  cin  outro  navio  a  outro  porto 
inairt  a  dianto  oyto  Ic-íoas :  que  st^  cliaiua 
AssalinaB.»  António  Tcnriiro,  Itinerário, 
cap.  50. 

liuticais  V03!<0  i>atin':i1, 
que  t  tor  o  fim  iiiiii.-i  virtiulio, 
ou  eonti'!!.  o  vosrto  c.iUiiinlio, 
busco  principio  a  inou  mal. 

1'.   B.   I..    80B0PITA,    rOICSIAS  K  PnOSAS  IXK- 

DiTAs,  pag.  25. 

—  «  Sendo  lofío  incapaz  de  participar 
do3  objectos  que  con.stitucm  aa  delicias 
do.s  outros,  entra  naturalmente  em  liuma 
mortal  melancolia.  A  tristesa  que  o  de- 
vora o  faz  invejo.so,  cajiriclioso,  e  criti- 
co.» Cavallciro  (('Oliveira,  Cartas,  liv.  ;>, 
n."  0.  —  «  O  bispo  do  Porto,  1).  Fernan- 
do Correia  de  Lacerda,  descontcntou-se 
notavelmente  com  uma  satyra  que  se  can- 
tou na  noite  do  natal  no  meu  convento, 
composta  por  JLinuel  Ferreira  Pinlieiro, 
do  Arrifana  de  Sousa,  author  de  celebres 
entremezes.»  Bispo  do  (irão  Par;i,  Me- 
morias, publicadas  por  ( 'auiillo  Castello 
P.ranco,  pag.  lUõ. 

Oli  mal  aeouaolliado.í !  So,  o  dcsi^jo 
111!  cstemlcr  mais  o  patornal  limite, 
Soui  seguraui;ii  do  ver  mai.s  o  Tejo, 
Assim  V0.4  leva  aos  campos  d'Aufiti'itc ; 
1'-  SC  ouvidos  doâfavto  cu  dar  \oa  vejo 
Da  Fama  ao  sempre  equivoco  convite. 
Não  tendes  aqui  perto  a  Africa  adusta, 
(.ine  8Ó  de  o  nome  vos  ouvir  se  assusta  ? 

J.  Ar.OSTISIIO  DK  M.VCEDO,  O  OBIKKTK,  Cant.  11, 

est.  17. 

No  meditar  profundo  embevecido, 
O  guerreiro,  (pie  aguarda  ha  muito  a  hora 
Lenta  da  noite,  não  deu  fe  da  névoa 
Que  húmida  todo  em  derredor  o  fecha. 
OABEETT,  CAMÕES,  cant.  !1 ,  cap.  1"2. 

—  e)  sujeito  d'uma  orayiío  do  plural,  re- 
fcrindo-se  a  pessoas.  —  «p]  vinha  encima 
de  Imma  nuivto  grande  azeniola,  que  para 
isso  se  buscou,  vestida  em  pelles  de  Vssos, 
e  tão  natural,  que  euydauão  que  era  Vsso, 
com  huma  sella,  e  goarnição  de  estranha 
maneira,  e  derredor  do  (iigante  mnytos  ho- 
mens darmas  a  pe  com  alabardas  douradas 
nas  mãos,  que  pareciuo  muvto  bem.»  f!ar- 
cia  do  Ivezcnde,  Chronica  de  D.  João  II,  ca- 
pitulo 128.' — <i  Houve  em  seu  tenqio  hu- 
ma grande  mortamlade  de  .iudeos  na  Ci- 
dade de  Lisboa,  que  se  levantou  por  hu- 
ma leve  causa,  e  custou  muitas  vidas, 
porque  Icvantando-so  o  ]>ovo  matiui  ii  es- 
pada grande  número  delles,  e  de  volta 
alguns,  que  o  naõ  i'raõ.»  Frei  Bernardo 
do  Brito,  Elogios  dos  reis  de  Portugal, 
continuados  por  D.  José  Barbosa. 

—  d)   sujeito  d'unui  oraeào  do  plural 


com  referencia  a  cou.wh.  —  •  Entes  n5o 
costuiiiaõ  mostrar  exteriores  HÍngulares,  e 
extraordinários,  nem  costume.^,  que  ««^jaò 
notados,  mas  bãose  peia  com  todos  beni- 
gna, e  suauemente  :  com  tanto,  que  com 
toibi  a  <lilig<-neia  se  di-suicni  do  to  lo  pee- 
eailo."  I'ii-i  liartholomcu  dos  Martyres, 
Compendio  de  espiritual  doutrina. 

Nàip  ileteiii  Cunha  cintanto  a  nobre  armada 
íliii-  do  presente  o  engano  bem  presiunc  : 
E  tiMido  perto  o  fim  da  sua  jornada 
O  Sol,  cm  (pie  mostrava  o  usado  lume. 
Lá  no  porto  do  Diu  a  vê  ancorada 
Co'as  cerimonias  quo  crão  do  costumo. 
ElRoi,  quo  vai  seguindo  a  inchada  vcUa, 
A  Cidade  chegou  junto  com  cila. 

KiiANCisco  «'a.ndbade,  fbimeibo  cebco  m:  we, 
est.  41. 

Ventagem  tendes  do  mi, 
(Inces  aguas  (/mc  correis; 
pois  fugis  donde  nasceis, 
o  eu  vou  para  onde  nasci. 

K.   B.    LOIIO  80B0PITA,  POESIAS  E  PBOS.IS 

INÉDITAS,  pag.  25. 

—  f  Depois  de  começada  a  guerra  até 
se  alcançar  a  vitoria,  he  licito,  e  justo 
fazer  ao  inimigo  todos  os  damnos,  que  se 
julgarem  necessários  para  a  satisfação,  ou 
para  a  vitoria,  sem  offensa  de  innocen- 
tis.ii  Arte  de  Furtar,  eap.  21. 

Hoje  que  d'um  amigo  alguns  instantes 
Os  ouvidos  queria  achar  attcntos, 
l'"elicitando  armciuico  os  bons  aunos, 
Qiic  formão  hoje  o  circulo  primeiro. 
AimAUE  DK  ,i\ct;nte,  poeslvs,  tom.  2,  pag.  11 
(ed.  1787). 

—  2."  Que,  rtígimen,  eomplcuieuto  de 
uma  orayào  que  ello  liga  a  um  substantivo. 

—  a)  regimen  directo.  —  «E  per  lim  das 
desculpas  que  deo,  e  cousas  que  disse  da 
parte  d'ElKev,  a  conclusão  da  resposta 
de  Affonso  d'Alboqnerque  foi,  que  EIKey 
pêra  entre  elles  haver  paz,  lhe  havia  de 
dar  na(piella  Cidade  lugar  pêra  fazer  hu- 
ma casa  forte  ao  modo  das  que  Ellíey 
seu  Senhor  tinha  na  índia,  pêra  nella  lei- 
xar  gente  com  Feitor,  e  Dfficiaes  pêra 
negocearcm  a  fazenda  do  dito  Senhor, 
que  os  Capitães  m()res  da  Índia  alli  man- 
dassem em  suas  náos.»  Barros,  Década  2. 
liv.  (5,  cap.  v). —  ((Esta  povoação  Suez 
ao  pirescnte  não  hc  habitada  de  mais  gen- 
te, que  de  oflíciaes  de  fazer  navios  pcra 
as  Armadiíã  que  o  Soldào  fazia,  e  ora  o 
Turco  faz  pcra  a  Índia,  e  de  gente  que 
está  em  guarda  destas  velas.»  Ibidem, 
liv.  8,  cap.  1.  —  o  Por  tanto  lhe  pedia 
como  leaes  a  Deos,  o  ao  servi(^^o  iPEl- 
Kev,  estarem  por  a  noniea(;ão  (|ue  elle 
tízesse,  e  eontíassem  delle  que  saberia  fa- 
zer esta  eleição,  pola  experiência  que  ti- 
nha, e  tempo  era  que  estava,  em  que  os 
homens  não  devem  mentir  a  Deos,  e  a 
seu  Rey.»  Ibidem,  liv.  10,  cap.  8.  —  «E 
em  nossa  Senhora  da  Pena  elle  e  a  Il;»y- 
nlia  forão  cst^ir  onze  dias  por  huma  no- 


uena  que  promcterUo,  e  cstiuerão  inuytos 
«os,  jiorque  então  a  eaí<a  era  huma  bem 
pequena  hemiida,  e  os  que  cim  elle  e-»- 
tauão  |>ousauão  em  tendas  que  ei  Kcy 
ahy  Hiandou  Icuar,  onde  se  agasaliiauSlo 
muyto  bi-in,  e  a  todos  se  rlaua  de  eouicr 
em  inuyta  jterfcição,  e  noB  onze  dias  aca- 
l)ada  a  dita  nouena  e|  Hoy  e  a  Uavnlm- 
se  tornarão  a  Sititra.»  <  íareia  de  Hezen- 
do,  Chronica  de  D.  Joào  II,  eap.  171. — 
«  (J  cavalleiro  Negro,  depois  de  paARar 
com  o  vulto  de  Miraguarda  as  ])alavras 
que  o  amor  lhe  ofTerecia,  virando-«e  a 
Albayzar  conheceu  nelle  os  extreni'  s  em 
que  estava,  e  levantando  a  voz,  disse.» 
Francisco  de  iloraes.  Palmeirim  d'fngla- 
terra,  cap,  H!t.  —  c  Donde  ibjioix  do  ter 
acabados  os  negócios  a  que  hia  tomei  a 
cidade  de  Daiífique  cm  Prússia  ídonde 
partira)  a  tomar  conclusam  nas  cousas 
que  naquellas  partes  ainda  tinha  que  fa- 
zer, e  dalli  me  fui  a  Cracouia  ci<!ade 
])rincipal ,  e  metroimli  ('a  Polónia  niinor.» 
Damião  de  Ooes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
I)art.  1,  cap.  10].  —  «Entre  a.s  nouas 
que  tinhaõ  trazido  ao  Sjltão  do  aleuanta- 
niento  de  Jjara,  foy  huma,  que  foy  cau»a 
de  me  não  receber  com  tanto  agazalha- 
do,  em  qíie  lhe  affimiarào,  que  os  mora- 
dores de  Lara  se  leuantarão  por  conselho, 
e  ajuda  dos  Portuguezes  de  ()rmuz,  acre.s- 
centando  a  isto,  que  auião  mandailo  bom- 
bardeiros, e  munií.M^es  pêra  se  defender  a 
fortaleza.»  Ant(mi>  Couvêa,  Jornada  do 
arcebispo  de  Gôa,  liv.  il,  cap.  ult. 

Meu  e.stro  nunca  cxtincto  inda  voara 
Pelo  eiune  do  Líbano  frondoso ; 
V.  gyrando  entro  os  Cedros  corpulentos. 
Talvez  rpie  os  ('ecos  das  caní.-ijcs  ouvira. 
Que  alli  Vate  inspirado  ao  Ceo  mandara, 
j.  A.  DE  MACEDO,  MEDirA(.Ão,  cant.  3. 

—  li"|  Que,  prece  lido  de  preposição.  — 
«  E  porque  em  as  taboas  da  no;sa  <,íeo- 
grafia  a  olho  se  p('>de  ver  a  situação  des- 
ta Cidade  Malaca,  aqui  si'>mente  pcra 
entendimento  da  historia  trataremos  da 
fundação,  commercio,  e  cousas  dVlla.  té 
o  estalo  em  que  Affonso  d'.\lboquerque 
chegou  a  seu  porti).  o  mais  breve  que  em 
mis  for.»  Barros,  Década  2,  liv.  G,  cap.  1. 

Desejo  be  natural  a  todo  peito, 

A  que  com  griio  trabalho  se  põe  freio. 

Entender  o  secreto  alheio  feito, 

E  (SC  também  ser  p.xlo)  o  peito  alheio. 

E  quanto  d'buma  parto  a  isto  lie  sujeito, 

Tanto  doutra  procura  de  acliar  meio 

Com  qii''  encubcrt<i  nelle  a  tcxlos  soja 

O  (pio  em  todos  saber  ollc  deseja. 

KRANeiSCO  d'aXDRAPE,    PBlMKrRO  CF-ROO  PK   DIl", 

cant.  4,  est.  1. 


Noa  dias  que  o  fiel  que  a  Cliristo  adora 
Põe  em  se  reparar  priia  diligencia. 
Também  a  infiel  gente.  luKpirlIa  lior» 
yuo  a  noite  mostra  a  escura  sua  potencia. 
As  estancias  com  griía  arto  melhora 
(Sem  poder  do?  Christàos  tor  resistonci») 


QUE 


QUE 


QUE 


^0 


Em  qne  a  sua  vanguarda  so  alojava, 
E  vai-as  pôr  lá  junto  á  nossa  cava. 
IBIDEM,  est.  87. 

ile^iois  voo,  e  morrco 
na  easa  em  gve  nasceo, 
cm  Sintra,  onde  acabou 
seus  trabalhos,  e  deixou 
giam  filho  que  sobeadeo. 

<;.   DK    REZENDE,  MISCELI..ÍNEA. 

D'e3ta  Canina  fome,  que  o  devora. 
De  alarve  lhe  ficou  o  gentil  nome. 
Com  que  cm  toda  a  Cidade  é  conhecido. 
DINIZ  DA  CROZ,  HYSsoPE,  caut.  7. 

—  3.°  Precedido  de  mu  pronome  a  que 
se  refere.  —  Eu  que  isto  vi,  acudi-lhe  lo- 
go.—  Disse-Ih'o  a  elh  que  o  não  quiz 
acreditar. 

—  Aíjuelle  que,  aquella  que,  aquelles 
que,  aqueUas  que,  aquillo  que.  —  «  He 
bem  que  se  diga,  que  foi  huma  das  mo- 
res que  Emperador,  nem  Rei,  nem  outro 
senlior  nunca  fez  de  terras  patrimoniaes 
possuidas  pacificamente,  porque  nas  ac- 
queridas  de  nouo,  ou  que  sesperam  dac- 
querir  tem  obrigações  de  partirem  li- 
beralmente com  aquelles  que  llias  ajuda- 
rão lia  ganhar.»  Damião  de  Ooes,  Chro- 
nica  de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  13.  — 
«  Aquelle  que  eu  cria  viesse  em  meu  soc- 
corro  —  tornou  com  voz  firme  a  captiva 
—  não  se  esconderá  de  ti  no  dia  em  que 
estiverem  em  volta  delle  todos  os  seus 
irmãos  em  esforço  e  amor  da  terra  natal : 
porque  nesse  dia  das  grandes  vinganças 
ve-lo-kas  face  a  face.»  A.  Herculano, 
Eurico,  cap.  14. 

—  4."  O  que,  a  que,  os  que,  as  que; 
aquelle  que,  aquella  que,  etc.  —  «  E  por- 
que algumas  nãos  da  carga  auião  de  to- 
mar geugiure  em  Cananor,  cá  do  mães 
que  auia  em  Cochij  e.?tauào  de  todo  pres- 
tes, partiose  com  ellas  pêra  Cananor  a 
vinte  de  Novembro,  onde  chegou :  e  ten- 
do ainda  por  despachar  a  nao  de  Fei"não 
Searez,  e  a  de  Rui  d'Acunha,  veyo  ter 
cõ  elle  Aífonso  d'Alboquerque.»  João  de 
Barros,  Década  2,  liv.  3,  cap.  1.  —  «Os 
quaes  descubriram  a  terra,  e  notaram  o 
que  nella  havia,  que  eram  as  cousas  que 
atrás  na  descripção  desta  -Cidade  escre- 
vemos, e  acharam  no  porto  cinco  navios, 
a  que  elles  chamam  marruazes,  com  man- 
timentos que  trazim  das  Cidades  Barbo- 
ra,  e  Zeila.»  Idem,  Década  2,  liv.  8,  cap. 
4.  —  «  E  também  pelo  mesmo  modo  os 
que  entrassem  com  ElRey  na  casa  onde 
elle  Affonso  d'Alboquerque  estives.^e,  não 
levassem  armas.»  Idem,  Década  2,  liv. 
10,  cap.  5.  — • «  U  que  el  Rei  fez  mouido 
de  sua  Real,  e  boa  condiçam  por  nam 
aggrauar  os  Prelados,  e  outro  Eeclesias- 
tico  do  regno,  contentandosse  de  lhas 
alargar  por  cento,  e  cinceenta,  e  três  mil 
cruzados. »  Damião  de  Góes,  Chronica  de 
D.  Manoel,  part.  3,  cap.  Õ6. —  «O  que 
tudo  achou  ao  contrario,  finalmente  La- 
queximena    almirante    dei    Rei    de   tin- 


tam, lhe  defendeo  também  hum  baluarte, 
per  onde  c(uiimeteram  a  villa,  que  as 
bombardas,  e  frechadas,  matando,  e  fe- 
rindo muitos  delles,  hos  fez  tornar  pêra 
trás.»  Ibidem,  part.  4,  cap.  15.  —  «Não 
contamos  mais  que  cinco  peccados  mor- 
taes,  o  que  tomamos  do  derradeiro  capi- 
tulo de  Apocalip.si,  onde  diz,  os  cães  fi- 
caram de  fora  e  os  feiticeiros,  e  os  disso- 
lutos sem  vergonha,  e  os  homecidas,  e  os 
que  adoram  idolos.»  Ibidem,  part.  3,  ca- 
pitulo 61. 

O  q>ie  procura  então  prover  primeiro 
He  saber  a  certeza  do  que  ouvia, 
Não  perdoa  a  trabalho  ou  a  dinheiro 
Que  nisto  largamente  os  despendia  : 
Jtas  como  nova  certa,  e  o  verdadeiro 
Signal  tcr-se  dos  Mouros  aó  podia, 
A  nova  que  elles  dào  lie  sempre  errada 
Porque  he  com  má  tcuçào,  máo  zelo  dada. 

F.  d'andrade,  primeiro  cerco  DE  Dic,  caut.  10, 
est.  51. 

0  tcrrivel  aspecto  inette  medo. 

Nos  olhos  vivo  fogo  eutão  chammeja, 
Da  lingua  o  natural  uso  está  quedo, 
Xcui  pôde  declarar  o  que  deseja  : 
Emfim  a  solta,  e  diz  ((ue  muito  cedo 
Elle  mesmo  irá  vèr  se  em  tudo  seja 
Correspondente  o  esforço  em  obra  o  efteito 
A  taes  palavras,  tào  soberbo  peito. 
IBIDEM,  cant.  3,  est.  lõ. 

Porém  a  maior  força  prevalece. 
Fica  a  que  era  menor  delia  vencida, 
O  grão  fogo  á  bombarda  ja  obedece, 
Que  esta  de  tudo  hc  sempre  obedecida. 
Vendo  o  fogo  apagado  lhe  parece 
Ao  Turco  que  tem  ja  fácil  subida  ; 
Sobem  com  pressa  ja  muitos  ao  alto, 
Preparados  a  hum  bravo,  horrendo  assalto. 
IBIDEM,  cant,  17,  est.  lOtj. 

—  «  E  isto  he  o  que  o  senhor  dezia 
por  Isayas  a  Hierusalem.  Aleuantate  Hie- 
rusalem  pêra  seres  allumiada :  Aleuanta- 
te de  tua  negligencia,  de  tua  frieza,  de 
tua  contumácia,  nam  resistas  ao  lume 
qite  te  quero  dar:  cõsinte  ser  allumiada.» 
Frei  Bartholomeu  dos  Martyres,  Cate- 
cismo de  doutrina  christã.  —  «  Havidas 
as  terras  do  Algarve  emprehendeo  el  Rei 
a  conquista  das  que  ainda  eraõ  de  inimi- 
gos, e  ganhou  Faro,  Loulé,  Algezur,  Al- 
bufeira, com  outros  muitos  Lugares  de 
menos  conta,  ficando  o  Reino  todo  livre 
do  trabalhoso  jugo  dos  Mouros.»  Frei 
Bernardo  de  Brito,  Elogios  dos  reis  de 
Portugal,  continuados  por  D.  José  Bar- 
bosa. — « Veja  V.  M.  o  que  diz  hum 
Grammatico,  ou  o  que  Ausonio  lhe  faz 
diser  em  hum  Epigramma,  protestando 
a  elle  certos  noivos  que  estimaria  que 
fossem  fecundos.  «  Eu  vos  desejo,  diz  o 
Grammatico,  que  tenhaes  filhos  do  géne- 
ro Masculino,  Femenino,  e  Keutro.  »  Ca- 
valleiro  de  Oliveira,  Cartas,  liv,  1,  n." 
39.  —  «Assento  finalmente  em  que  nun- 
ca tive,  nem  heyde  ter  juiso,  e  fico-vos 
muito  obrigado  por  me  tirares  da  cabe- 
ça o  que  os  amigos   de  Gumpendorf  me 

1  tinhào  metido  nella.»  Ibidem,  n.°  50. — 


«  Porem  como  eu  nunca  bi'inquey  cora 
as  ordens  de  V.  E.  executo  a  que  me 
deo  mandando-me  declarar  o  que  eu  es- 
creveria consolando  a  hum  Desterrado.» 
Ibidem,  n.°  34. 

Vai  formando  o  Meandro  crystallino. 

Do  que  elles  dào  no  orgânico  compo.sto. 

Da  frágil  vida  a  téa  estalaria. 

Se  do  marcado  circulo  aberrassem. 

Que  mão,  que  sábio  Author  dirige  o  g}i'0? 

J.    A.    DE   MACEDO,    MEDITAÇÃO,    CautO   i. 

—  5."  Quando  se  refere  a  pessoas,  é 
geralmente  mais  elegante  e  correcto  em 
logar  d'empregar  que,  precedido  d'unia 
preposição,  empregar  quem:  O  homem  a 
quem  deste  o  livro;  as  mulheres  em  quem 
concorrem  estas  virtudes;  os  amigrjs  por 
quem  nos  sacrificamos . 

—  6."  Com  referencia  a  coitsas  empre- 
ga-se  sempre  que  e  nunca  quem;  os  an- 
tigos authores  permittiam-se  n'este  ponto 
liberdades  que  são  pouco  para  imitar ; 
exceptua-se  o  caso  em  que  as  cousas  se 
acham  personificadas :  Coroou  a  Gloria  a 
quem  elJe  tudo  sacrificara ;  mas  isto  mes- 
mo só  em  poesia  fica  bem. 

—  7."  Que,  correspondendo  a  nenhum, 
algum,  ninguém,  alguém,  nada,  cousa  ne- 
nhuma, etc,  pede  o  verbo  da  proposição 
subordinada  no  conjunctivo :  Não  ha  ne- 
nhum homem  que  queira  hoje  sacrificar-se 
generosamente  pelo  bem  d' outrem.  —  Não 
vi  nenhum  d' elles  que  estivesse  disjwsto  a 
ir.  —  Não  ha  nada  que  jwssa  dvmovel-o 
do  seu  intento.  —  Não  conheço  ninguém 
que  deseje  habitar  aqui. 

—  8."  Quando  que,  sujeito,  é  precedido 
d'um  substantivo  ou  d 'um  adjectivo  que 
está 'em  logar  d'um  substantivo,  pôde 
pôr-se  o  verbo  da  proposição  subordina- 
da oti  na  pessoa  do  sujeito  ou  na  tercei- 
ra pessoa:  Eu  fui  o  primeiro  que  lá  foi. 
—  Eu  sou  o  advogado  que  deftndeu  o 
réo.  —  Nós  somos  pessoas  que  não  se 
mettem  nos  negocias  alheios.  —  Tu  és  um 
hovwm  que  merece  toda  a  estima.  A  ulti- 
ma construcção,  de  que  damos  esses  exem- 
plos, é  gerabneute  preferível. 

—  9."  Deve-se  sempre  buscar  construir 
os  períodos  de  maneira  qite  ou  o  antece- 
dente de  que  o  preceda  ou  immediata- 
mente  ou  de  modo  que  não  o  precedendo 
não  haja  ambiguidade. 

—  10."  Mvtitas  vezes  succedem-se  umas 
ás  outras  e  subordinadas  entre  si  muitas 
orações  relativas :  Vi  o  visinho  que  ma- 
tou o  cão  que  mordeu  no  gato  que  elle  es- 
timava muito  ;  deve-se  evitar  este  género 
de  construcção.  Duas  orações  de  que  su- 
bordinadas a  uma  única  são  admissíveis ; 
por  exemplo :  E  aquella  mulher  que  leva 
a  cesta  á  cabeça,  que  vossê  procura.  Mas 
pode  construir-se  a  phrase  d'um  modo 
mais  simples ;  por  exemplo :  Aquella  mu- 
lher que  leva  a  cesta  á  cabeça  é  (a)  que 
vossS  procura;  ou  melhor:  Aquella  mu- 
llier  que  leva  a  cesta  á  cabeça  é  quem  vos- 


;50 


(.»i:k 


«í!  iifDCuru.  -—  ()  hniiii:in  que  viíi  n  com  >■ 
é  (llioiil    ciinsnu   toilii  i:»li'   iiinlim. 

—  11."  Que,  j)i'nli)  (:<|iiiviilcr  ii:  o  que, 
ai/inl/ii  que ;  num  lioju  6  iiioikih  unailo 
n'c.stf;  Hentlilo  quo  antitíuinoiíto.  —  tíaOtH 
que  quero  í  —  Não  uai  que  devo  fazer, 

—  Ni)  soiitidt)  (lo  cotiiia  que  6  muito 
usado,  Hobrotmlo  dopoia  du  ter,  saber.  — 
Não  sei  que  Um  diija.  —  Não  ten/vi  que 
fazer.  —  Não  sei  que  admire.  —  o  l'clo 
qiio  Fcrnilo  juti^z,  pnr  iilli  naiii  tor  iiiiii» 
que  fazer  «c  voo  a  Malaca,  onde  acliou 
Antunii»  dai)rou,  que  por  iiiamlado  de 
Afonso  I)all)Ui|iior(|uo  fora  descobrir  as 
ilhas  de  Banda,  e  Jlaluco,  o  qual  j)or  lUc 
o  tempo  sor  contrai ro  uaò  pa>;.sou  da  ilha 
Damboiíio,  ((uc  he  jiiuto  das  do  Jlalueo.» 
Damiito  do  (íoe-i,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  ;>,   eap.  2S. 

— •  12,"  Que,  construído  com  um  adje- 
ctivo o  o  verbo  ser,  fornia  uma  espécie 
de  locução  signiíicando  sendo.  —  Iniiocen- 
te  que  elh  era. — Bom  que  elle  estava. — 
Feliz  que  tu  eras. 

—  13."  Que,  interrogativamente:  Que 
cousa?  qual  cousa? — Que  «  isto'?  —  Que 
quer  elle '} 

—  Construo-sc  com  o  infinitivo :  Que 
fazer  ?  —  Que  dizer  )  —  Que  responder  a 
unia  proposta  tão  insolente? 

—  14."  l'orquc,  para  que.  —  « Que  ain- 
da que  lhe  pesasse  do  suas  obras  irem 
tào  avante  pola  quebra  de  sua  corte,  de- 
sejava vel-o  são,  que  natural  é  dos  cora- 
ções piedosos  ainda  do  inal  do  seus  iiui- 
gos  haver  dri.n  Francisco  do  Moraes,  Pal- 
meirim d'Inglaterra,  cap.  84.- —  «  Mal  ha- 
ja, disse  o  do  Tigre,  o  primeiro  que  or- 
denou eacantamcntos,  que  com  olles  se 
escurece  a  bondade  dus  esforçados  caval- 
leiros  e  vai  avante  a  malícia  dos  máos.» 
Ibidem,  cap.  1 14.  —  «  Estas  correspon- 
denciaj  naõ  se  alcançaõ  sem  gastos;  es- 
tes de  nós  liaõ  do  sahir,  como  do  couro 
as  correa-i :  que  mal  he  logo,  que  se  to- 
mem estai  décimas  com  unhas  taò  pro- 
veitosas, quando  vemos,  ([iie  os  outros 
cabedaos  naõ  bast.iõ  para  seus  ineiioos 
pi'oprioi.»  Arte  de  furtar,  cap.  G;í. 

Nin^iiLMu  mo  iIk  por  plcilíulo 
Noticias  do  líem,  ([ne  os,)cro? 
Que  nnciosa,  quo  sentida, 
Qiio  perdida  estou  por  vèllo? 

AIUIADE   DE  JAZENTE,  P0KS1A8,   tOlll.    2, 

pag.  233  (cdiv-  de  18G7). 

— 15."  Que,  com  um  nomo  do  tempo, 
significa  durante,  em  que.  —  A  noite  em 
que  eit  lá  estive, —  O  anno  que  eu  fui  a 
Paris. 

—  IG."  Segundo  o  qual,  pelo  qual.  — 
Da  maneira  que  elle  vive  é-se  feliz. —  Do 
que  elle    falia  adquire-se  fama  d'orador. 

2.)  QUE,  adj.  (_Vid.  Que  D.  Exprime 
a  qualidale  ;  qual,  qnaes.  —  Que  homem 
e  esse  ?  —  Que  homens  são  aquelh  s  ? —  Que 
gente  é  essa?  K  yente  jinn.  —  Não  sei 
que  livro  queres. 


QDE 

—  Excliimativauioiito  :  Que  Oelta  al- 
ma?—  Que  admirável  espectáculo  ?  —  Que 
excelleide  fructo!  —  Que   horrível  sceiíal 


Com  0/1  olhos,  (|iic  OH  liibios  iiilo  ouitavam  — 
Ali !  Kl-  eu  ii]\o  fora  uui  d(MKrii(;iido  escravo, 
Qiif  r.iini<;ilo  <\w.  eu  tinha  p:iru  diir-lhe  ! 

OAUIIKir,    CAMUKK,    CllUt.     ID,    Clp.    10. 


• —  Exprime  também  a  natureza  da 
pessoa  e  da  cousa.  — Que  escriptor  yretjo 
disse  isso  ?  —  Que  livro  2>erdt:ste  ?  —  Que 
és  tu,  senão  barro  t 

—  Quanto,  {pie  quantidade  de;  quão 
grande.  —  Que  satisfação  tive  ao  ouvil-o? 
—  Que  aleijria  ao  vêr-le  ?  —  Que  din/iei- 
ro  tens  ?   Tenho  pouco. 

—  Emproga-80  para  indicar  a  ordem, 
a  succossão,  o  numero.  — Em  que  século 
estamos  nós?  No  século  xix. —  Que  dia 
do  mez  é  hoje  ?  São  dezoito, 

—  Que  lioras  são  ?  —  Que  hora  é  f  São 
três  horas.  E  uma  hora. 

—  Do  mesmo  mo. lo  diz-sc  :  Que  idade 
tem  V.  ?  —  Que  idade  tem  elle  ? 

—  Loc.  FA.M. :  Que  diabo?  —  Que  cou- 
sa ?  —  Que  diabo  fez  elle  f  —  Que  diabo 
queres  tu  ? 

'ò.)  QUE,  conj.  (Do  latim  quod).  Sei-vo 
a  unir  dous  membros  d'uma  plirase,  uma 
das  quacs  completa  o  sentido  da  outra. 
O  que  distingue  então  que,  conjuncyão,  de 
que,  relativo,  é  que  este  pôde  ser  sempre 
reduzido  a  o  qual,  ou  a  qual,  os  quaes 
ou  «*•  quaes j  c  aquelle  nunca. 

—  Na  plu-ase  :  eu  digo  que  sim,  ella 
diz  que  não,  sim  e  não  representam  pro- 
posições. Que,  conjuncção,  começa  sem- 
pre uma  proposição. 

—  Depois  de  certos  verbos  e  certas 
constnicçòe*  que  implicam  dc.-iejo,  vonta- 
de, possiiiilidadc,  duvida,  negação,  inter- 
rogação, ordem,  eniprega-se  o  subjun- 
ctlvo.  —  «Tornando  Tristão  da  Cunha  as 
nãos,  assentou  com  todolos  capitaens  que 
dessem  na  fortaleza  cm  rompendo  a  alua, 
pcra  o  que  se  aperceberão  toda  aqueila 
noite,  e  antemanhã  se  embarcarão  nos 
bateis,  levando  Tristam  da  C"unh;i  a  dian- 
teira.» Dami.ão  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  2,  cap.  23.  —  « Depois  de 
el  Rei  ter  tomado  esta  ordem  escreueo  a 
Iam  brandam,  natural  do  Porto  Commen- 
dador  da  ordem  do  Christo,  que  o  entam 
seruia  em  Flandres  de  feitor,  que  man- 
dasse fazer  )ierà  ("apella  desta  ordem  do 
Tosaõ  hum  iVmtilic-al  de  panno  rico  dou- 
ro com  seus  sabasti-os  borlados,  cm  (jiio 
se  posossem  as  arm;is,  e  insígnias  d'oste 
regno.»  Ibidem,  i>art.  4,  cap.  iM. 


Mauda  logo  o  Silveira  que  os  navios 
Qiif  de  lá  de  Goa  eutiio  alli  vicrào, 
l'oia  estavno  de  todo  já  vazios 
Pos  famo.sos  varões  que  uUi  trouxerSo, 
Antes  que  a  Aurora  espalho  o*  raios  frios 
E  descubra  os  segredos  quo  escoudcrào 


QL»E 

Am  itoiubraii  qur;  a  luicturua  Pliulto  ».'>ltji, 
Fui,'<l<>  >K'in  muiri  di;teii^'a  a  Goa  volta. 

riitiKiiH.-u  UE  AsiiKAbi:,  raiMKiao  cFai»  nK  i>ir. 
caut.  IH,  c«t.  U. 


—  «Nogrinlio,  negriulia  a  que  pc  di- 
gam re<juebros  ;  eiigeitadinho*  gruciíMiM, 
villòos  Himplcs  Mjui!  áH  Vfzert  nilu  M.ào  ríiu- 
jilei^i  vestidos  de  cores,  que  h<!  chamam 
iJons  fulan<w,  entram,  c  vão  j>or  donde 
querem,  nãu  quizera  eu  que  cntra.sjiem, 
nem  fossem  por  casa  de  v.  in.  Tudo  i<to 
na  minha  má  opini.^o  é  reprenAÍvel ;  e 
folgara  de  o  ver  longe  das  porta»  de 
meus  amigos.»  Franciuco  Manoel  de  Mel- 
lo, Carta  de  guia  de  casados. 

Diz  Ainor,  ijiif  adore,  e  esixre, 
t^uc  o  dciujo  ejitá  cuniprídii ; 
Que  i!Hta  noite  o  Bem,  que  copero ; 
Ilá  de  vir  amante  fino. 

ABBADK  DE    JAZESTE,   POESIAI. 

—  Quando  a  constnicção  implica  um 
facto  positivo,  real,  indubitável,  emprega- 
se  o  indicativo  depois  de  que.  — «E  cha- 
mou entam  o  homem,  c  disse  que  lhe 
pei'doaua  livremente,  c  que  elle  manda- 
ria á  sua  custa  por  pcrdam  das  partes,  c 
assi  o  fez,  e  o  mandou  logo  soltar,  e  dis- 
selhe  que  em  quanto  nào  viesse  o  {jerdâo, 
que  se  fo-sse  as  obras  dos  jiaços,  que  aliy 
lhe  dariam  caila  dia  dous  vinténs,  c  o 
homem  liie  beijou  a  mam,  e  o  fez  assi.» 
(i  areia  de  Rezende,  Chronica  de  D.  João 
II,  cap.  í'8.  —  i()  qu.il  ven<!o  que  per 
alg^umas  vezes  que  doo  combate  a  Abe- 
delíí  nào  o  polia  entrar,  ordcnou-.«e  em 
modo  de  o  ter  cercado,  e  tomar  á  fome  : 
110  meio  do  qual  tempo  elle  foi  soccorri- 
do  de  nós  sem  o  elle  esperar,  por  estn 
maneira.»  João  de  Barros,  Década  2,  liv. 
!>,  c^p.  7. 

Kste  por  novas  deu  que  poueo  liavia 
l,!ue  ja  lui  oricutd  praia  a|K)rtára 
A  Tortuguesa  amiada,  e  <;<(?  trazia 
lluiu  novo  Viso-Iíci  também  decl.ira, 
Cujo  nome  diz  que  era  I>om  Garcia 
l)a  Noronha,  família  antiga  e  clara, 
E  diz  que  traz  comsigo  juntamcntt' 
Mui  copioso  poder,  mui  nobre  gente. 

FRANCISCO  nE  AXnKADE,    rRIMEIRO    CXRCO    t»   ttlV . 

-     Cíint.  13,  est.  lóõ. 

—  «Deos  que  esta  sacratissima  noyte 
fizeste  esclarecida  com  o  nascimento  da 
verdadeira  luz.  danos  |x^is  na  terra  o 
mvsterio  da  luz,  que  tunbem  no  ceo  go- 
zeiiio-»  de  seus  jirazeres.»  Fr.  Bartlioli>- 
nuu  <los  Martyres.  Catecismo  de  doutri- 
na christã,  part.  2.  cap.  H).  —  «O  ouvi- 
do lie  o  Juiz  natural  dos  tons,  e  ho  o  que 
conhece  as  cacaphonias  que  a  penna  dev- 
xa  passar  miiy  facilmente  :  porem  j«ra 
ter  bom  ouvido  dizemos  que  he  necessá- 
rio ter  boa  orelha,  e  e.sse  privilegio  con- 
cedido a  V.  V.  nem  ti*tlo  o  niun<lo  o  lo- 
gra.» Cavalleiro  d\>liveira,  Cartas,  liv. 
1,  u."  14. 


QUE 


QUE 


QUE 


31 


Entaõ  o  Cozinheiro,  debulhado 

Em  lagrimas,  llic  coata,  qxe  a  noticia 

Uc  ter  vencido  o  Bisio  o  grande  pleito, 

Que  trazia  com  sua  Seuhoria, 

Tinha,  ha  pouco  chegado,  por  um  Próprio. 

DISIZ  DA  CBUZ,  HTSSOPE,  CaUt.   8. 

—  «O  que  mandou  perà  cidade,  e  pas- 
sando adiante  pelo  ralle  Dalgamuz,  ja 
huma  ora  de  noite,  foi  ter  a  humas  ladei- 
ras, as  quaes  passa-las  dixe  a  Simão  pi- 
rez  que  era  hum  dos  que  espiara  estes 
Aduares,  que  se  per  alli  auia  terra  de 
pedras  que  os  guiasse  pêra  la,  por  lhe 
nam  sentirem  o  rasto,  e  pola  auer  muito 
perto  doude  estauam,  os  leuou  lá,  onde 
depois  de  repousarem  duas  oras,  se  po- 
serao  a  eauallo  em  três  batalhas  porque 
dom  Aluaro  hia  receoso  de  lhe  sairem 
mouros  pelo  auiso  que  lhes  poderia  ter 
dado  o  que  fogii'a  da  cafilha  que  tomou.» 
Damiào  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  -i,  cap.  39. —  «Já  que  chegava  per- 
to donde  Arlança  estava,  vendo  que  o 
tempo  se  lhe  encurtava  pêra  mais  aren- 
ga, bavendo  que  aquelle  desprezo  era 
conforme  ao  que  lhe  as  damas  de  Fran- 
ca fizeram,  lhe  ílisse.»  Francisco  de  Mo- 
raes. Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  148. 
—  o  Exaqui  justamente  o  estilo  em  que 
Y.  A.  diz  que  eu  sou  corrente,  e  que 
dirá  Dom  Francisco  se  eu  acabando  a 
Carta  neste  mesmo  estilo,  me  vejo  obri- 
gado a  lhe  chamar  corrupto,  não  me  che- 
gando a  lingoa  a  diser  correpto?»  Caval- 
leiro  d'01iveira,  Cartas,  liv.  3,  n.°  9. 

—  Algumas  vezes  também,  depois  de 
que,  vai  o  indicativo  onde  mais  rigorosa- 
mente devia  usar-se  o  subjunctivo.  —  «E 
assim  como  fallando  Job  do  ser,  nasci- 
mento, e  vida  do  homem :  Homo  natus 
de  muliere,  brevi,  vivens  tempore,  naò 
apontou  causa  alguma,  suppoado  que  era 
a  vontade  de  Deus  :  assim  fallando  das 
misérias:  Repletur  iniãti$  núseriis :  SlUaò 
apontou,  suppondo,  que  era  a  disposição 
do  mesmo  Senhor.»  Padre  Manoel  Ber- 
nardes, Exercícios  espirituaes,  part.  1, 
pag.  242. 

—  Muitas  vezes  uuia  oração  de  que, 
com  a  copulativa  e,  contimia  uma  phi-ase 
em  que  ha  um  infinito.  —  Julgando  ter 
chegado  ao  termo  d<i  viagem  e  que  era 
realmeate  alli  o  logar  que  procurava. 

—  Que,  é  correlativo  de  tal,  qual,  tão, 
tanto,  mesmo.  —  É  o  mesmo  que  eu  dis- 
se. —  «E  detrás  dos  cadafalsos  vinhão 
muvtas  charamelas,  e  sacabuxas  ricame~n- 
te  .vestidos.  Após  elles  vinha  hum  Gigan- 
te muvto  grande,  e  espantoso,  armado  de 
todas  armas  douradas,  com  hum  escudo 
em  huma  mão,  e  em  a  outra  himia  gran- 
de facha,  tão  natural,  que  parecia  vivo, 
e  passava  de  trinta  palmos  de  alto.»  Gar- 
cia de  Rezende,  Chronica  de  D.  João  II, 
cap.  128. —  «Com  huma  esperança  vãa, 
e  desordenado  desejo  o  cegarão  de  ma- 
ne}Ta,  que  lhe  fizerão  esquecer  que  el 
Rev   era  seu   natural   Rev,    e   senhor,  e 


que  o  criara  como  filho,  e  honrara  como 
irmão,  e  que  era  seu  primo  com  irmão, 
o  irmão  da  Rayuha  sua  molher,  fiUio  do 
liilante  dom  Fernando  seu  tio.»  Ibidem, 
cap.  52. 

Com  heresias,  e  manha 
vimos  ho  falso  Luterio 
conuei-tcr  em  Alemanha 
tanta  gente,  qne  he  façanha 
na  moor  força  do  Império. 

IDEM,  M1SCELI.A5EA. 

—  «A  nella  tanta  gente,  que  não  ca- 
be pelas  ruas  :  a  muitos  mercadores  Chris- 
tãos,  gentios,  mouros,  e  judeus  de  diuer- 
sa«  nações,  porque  de  todalas  partes  do 
mundo  podem  alli  vir  seguramente  com- 
prar e  vender.»  Damião  de  Góes,  Chro- 
nica de  D.  Manoel,  part.  2,  cap.  6.  —  «Xo 
que  em  tudo  ha  homens  mui  doctos,  em 
cousas  de  arte  mecânica  passam  todalas 
Naçoens  do  mundo,  porque  o  perfeito 
delias  obraõ  com  muita  destreza,  e  ao 
imperfeito  dam  taes  talhos,  e  cores  que 
parecem  terem  a  mesma  perfeiçam,  es- 
timansse  em  tanto  que  dizem  que  o  ho- 
mem que  nam  he  Chim  nam  he  ho- 
mem.» Ibidem,  pai-t.  4,  cap. -23. —  «So- 
bre os  hombros  um  coUar,  que  os  occupa- 
va,  também  de  pedraria  de  tanta  valia, 
que  a  muita  sua  o  fazia  não  ter  preço.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  89.  —  «E  descendo  com  um 
golpe,  o  do  Salvage  se  desviou  por  lh'o 
fazer  perder;  e  tornando  com  outro  o  to- 
mou por  cima  do  escudo,  onde  fez  pouco 
damno  por  ser  cercado  de  uns  arcos  de 
ferro  tão  fortes,  que  se  não  podiam,  des- 
baratar.» Ibidem,  cap.  107. 

Cumpre-lhe  menear  o  braço  forte. 
Usar  mais  de  furor  que  de  prudência, 
Porque  este  novo  imigo  he  de  tal  sorte 
Que  ha  mister  novo  esforço  e  resistência  : 
Por  salvarem  seu  Rei  da  cruel  morte 
A  vão  todos  buscar  á  competência, 
E  este  intento  tratarão  de  tal  gcito 
Que  esteve  em  condição  de  ter  effeito. 

FKA>"CISCO    DAXDRADE,     PRIMEIBO     CEBCO    DE    DIC, 

eant.  7,  est.  56. 

—  «E  como  nas  Cortes  dos  Príncipes, 
as  cousas  grandes  são  melhor  ouvidas 
que  as  possíveis,  e  em  Barba-Roxa  a  ex- 
periência, e  o  valor  tinhão  tantos  abo- 
nos, Solimão  altivo,  e  bellicoso,  começou 
a  dar  ouvidos  a  empreza  de  tantas  con- 
sequências, que  parecia  opportuna  pela 
paz,  e  prosperidade,  que  gozava  seu  Im- 
pério.» Jacintho  Freire  de  Andrade,  Vi- 
da de  D.  João  de  Castro,  liv.  1.  —  «D. 
Manoel  lhe  mandou  mais  dous  navias,  e 
alguma  gente  escolliída,  para  que  fosse 
assegurar  a  Cidade,  em  quanto  lhe  apres- 
tava maiores  forças;  e  ao  Embaixador 
dei  Rei  de  Campar,  depois  de  lhe  fazer 
honrado  tratamento,  aconselhou,  que  pe- 
disse ao  Governador  da  índia  armada, 
que  elle  era  tal,  que  nào  negaria  amparo 


aos  amigos  do  Estado,  mormente  contra 
TiuTos,  cuja  guerra  tomávamos  como  he- 
rança de  nossas  armas.»   Ibidem,   liv.   4. 
— •  Que,  correlativo  de  mais. 

E  pois  tudo  ^T  passar, 
começar,  e  acabar, 
e  desta  mimdana  gloria 
non  ficar  mais  que  memoria, 
desta  me  quis  adjudar. 

G-'.BCIA  DE  BEZEXDE,  MISCELLAXEA. 

Cezil.   Mui  boa  vontade  he  a  sua. 

Mas  o  cuidado  o  desvia. 

Reza  mais  que  cinco  donas, 

E  Deos  se  está  sem  paixão. 
Duar.  Que  lhe  pede  na  ora^^âo? 
Cezil.   Que  lhe  dê  sete  atafonas 

A'  porta  de  SanfAntào. 

GIL  VICESTE,    FABÇAS. 

—  «As  praças  eram  ornadas  de  fontes 
e  obeliscos:  os  templos  de  mármore,  com 
imia  architectura  simples,  mas  magcsto- 
sa.  O  palácio  do  príncipe,  so  per  si,  é 
uma  grande  cidade:  não  se  viam  n'elle 
mais  que  columnas  de  mármore,  p^Tami- 
des,  obeliscos,  estatuas  colossaes,  e  mo- 
veis de  ouro,  e  prata  massiça.»  Telema- 
co,  traducção  de  Manoel  de  Sousa,  e 
Francisco  Manoel  do  Nascimento,  liv.  2, 

Em  meio  d'agua  e  fogo,  sempre  vivos. 
Pois  então  cada  hum  e  outio  accrescenta. 
Os  amantes  cada  hora  mais  captivos 
Passào  esta  amorosa,  alta  tormenta  : 
Porém  entre  accidcntes  tão  nocivos 
(Tanto  o  vêrcm-se  juntos  os  contenta) 
Desejando  inda  estão  que  se  detenha 
O  Sol  mais  do  que  soe,  ou  que  não  venha. 

F.  d'axdrade,  prijíeibo  cerco  de  DIU,  cant.  3, 
C5t.  ICH). 


—  <i  Elle  com  tudo  aprendeo  em  pou- 
cos meses  a  formar  as  nossas  letras,  e  a 
escreuer  ao  nosso  modo,  e  o  que  he  mais 
que  tudo  de  duas  vezes,  que  ouuio  de- 
clarar o  Euangelho  de  S.  Mattheus  lhe 
ficou  todo  capittilo  por  capitulo  na  me- 
moria.» Lucena,  Vida  de  S.  Francisco 
Xavier,  liv.  õ,  cap.  19. 

—  Correlativo  de  antes,  primeiro,  etc. 
—  Disse-lhe  isto  antfs  que  elle  viesse.  — - 
«Surta  a  armada,  mandou  dom  António 
a  Diogo  berrio  que  com  a  sua  carauella, 
posesse  de  huma  banda  da  barra  a  fu^ta 
de  Pêro  bentes,  e  da  outra  a  do  Charino, 
com  os  quaes  foi  António  de  saldanha,  e 
a  Berrio  mandou  como  isto  fezesse  en- 
trasse primeiro  que  todos  pela  barra  den- 
tro.» Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  3.  cap.  36. 

—  Correlativo  de  sujrposto,  visto,  deter- 
minado, e  outras  pala^Tas  com  que  forma 
espécies  de  locuções.  —  «E  pondo-.*e  a  pé, 
começaram  a  batalha  tal,  qual  se  alli  não 
vira  havia  muito  tempo;  que  posto  que  o 
de  Salvage  nas  armas  fasse  estremado, 
Dragonalte  era  muito  bom  cavalleiro,  e 
merecia  ser  mettido  no  conto  dos  notá- 
veis  daquelle  tempo.»  Francisco  de  !Mo- 


3á 


QHK 


rfUM,  Palmeirim  dlnglatcrra,  enp.  l^)*). 
—  «h]^Ui,  |)c,r  uoiiii;  J  línligi.-i,  po.-itu  que 
mui  contente  fosne  dcUo  novo  iiuiriílo, 
dc])oi.s  tine  per  iil^iiiiiín  vi^/.ch  o  viu  to- 
uiíido  ilii  ilor  lU:  epileiíeia,  ((lie  llie  c;iii-<ii- 
Vii  toilo.-i  miuelhiH  tni.Hij;iM.sjiiiiontos,  e  actos 
que  fiiz  no  piieiente,  era  mui  ilciconHola- 
da,  e  trirftc.))  Uarro.*,  Década  2,  liv.  10, 
c;i|i.   <). 

Denta  iirto.  o  o,oi-ai;ru),  (|up.  livro  iniciava, 
{\'nntoqin'  ja  ilo  loiígd  destinado) 
Onde,  iiiiMios  toniia,  foi  ferido. 
I'r)n|iii'  ((  fi-ccliciro  cego  mo  esporava. 
Para  (|iie  me  tomaSMO  descuidado, 
Em  vosaoB  claros  olhos  escondido. 

CAM.,  SONKTOS,  H."   30. 


—  Kxpiiine  o  desejo,  a  inipreeai,'ào, 
ordem.  —  Que  morra !  —  Que  Dam  te  aju- 
da. —  «E,  so  não  fôr  contra  o  ócio,  fa- 
^.■am  aljíuma  coisa  (pie  sirva  á  po.storida- 
de  de  certidrio  ili^  que  viveram.  Abram  a 
boeca  e  difíam  batendo  as  palmas,  como 
cmlim  de  iL;'loíisa  do  outeiro,  c  de  ária  can- 
tada :  «Que  viva!  15ravo!  ote.»  Bispo  do 
(irão  Pará,  Memorias,  publicadas  por  ('a- 
millo  Castello  Branco,  pag.  57. 

— •  Correlativo  dos  comparativos.  —  Me- 
lhor que  eu.  —  Paor  que  os  outros.  — 
Híaittr  que  (UjueUe. 

—  F('>rma  um  furando  numero  de  locu- 
sõe.H  com  advorbio.s  e  conjuncções  e  ou- 
tras palavras.  —  Com  tanto  que.  —  For 
isso   que.  — •  Logo  que.  —  A   menos  que. 

—  Além  de  que.  —  Antes  que.  —  Jd  que. 

—  Para    que.  —  «Além    do    que    nun- 
ca vosií  js  ouviram  dizer  que    Calderon, 
Lope,   Muroto    Salazar,    Solis    e    outrss, 
cri-aram   o    caracter    d'eÃte'  ou   d'aquolle 
pertíonagcm?   i'ois   assentem  que  errei  o 
heróico   caracter    d'osta  magnitica   Dedi- 
catória.»  Bispo  do  (Irào  Paní,  Memorias, 
publicadas  por  Camillo   Castello  Branco, 
pag.  hl ,  —  «Roztomocan  vendo  esta  obra, 
o  sentindo  o  prazer  dos  nossos  pela  grita 
quo  deram    com    olla    determinou-se    em 
mais    que  defender,  porque   logo  aquella 
noite,    ante    que    os    nossos    procedessem 
mais  nella,  teve  consolko  com  os  priuci- 
paes  capitães   que   tinlia. »    João  do   Bar- 
ros,  Década  "i,   liv.  7,  cap.   5. —  «Dom 
loaõ  lhe  respondco,    \)ois  sabei   do  certo 
quo  estamos  em  terra  que  se  fôramos  sen- 
tidos, que  cem  vilãos  do  pe  nos  desbarata- 
rão, mas  já  que  Deos  nos  trouxe  aqui  não 
a  quo  temer.»  Damião  de  Góes,  Chronica 
de  D.  Manoel,  part.  4,  cap.  4t). —  «A  este 
tempo,  aconteceu  outro  caso   novo,   pêra 
que  o  prazer  de  toilo   fosse   perfeito,   que 
ouviram  mui   grani   grita   no   terreiro  do 
paço;  e  ora,  ([uo  como  aquelle  dia  Alba- 
ner,  escudeiro  do  prineipo  Boroldo,   quo 
trazia  a  Colambar  i^or  mandado  do  ea- 
valleiro   do  Tigre,   chegasse,    e    entrasse 
com  ella  polo  terreiro,  tolo  o  povo  a.u- 
diá   pola   vêr,   como   a   uma   da3  cousas 
jnais    monstruosas,    que    nuuea    naquoUa 


(iL'KB 

terra    se    vira.»    Frunci.íco    de    Moraes, 
Palmeirim  d'lnglaterra. 


l'aJ'a  ijiir  urruMlas  tanta  iniincjisidadu 
Dii  casos  rtiiccedidos, 
l)(!  ()iu!  teiilio  atroados  os  ouvidos, 
So  isto  naõ  faz  ao  caso  do  teu  conto  ? 

AIIIIADK  DK  JAZK.NTK,    Í-OK8U8. 


ilEB 


QUEBRA,  s.  f.  ( l)f,  quebrarj.  Desunião 
das  parlei  de  um  todo. 

—  -  l''iguradameMte  :  1  )imiuuiyão.  —  Te- 
ce quebra  nos  rendimentos.  —  « E   punha 

0  ll(!V  do  (irauada  mais  homens  de  ca- 
vallo  em  campo,  quo  os  outro.j  iíeynos 
de  Espaidia  ;  com  serem  os  mais  dellcs 
muito  jnaiores,  que  o  de  (iranada;  o  qual 
agora  pela  falta,  que  tem  de  gente,  está 
taõ  dessemelhante  daqnelle  tempo,  como 
se  naõ  fora  o  mesmo  torráõ  da  terra,  e 
por  esta  caitsa  vieraõ  as  rendas  dElUey 
na(|uelle  Keyno  a  tanta  quebra,  que  naõ 
chegaõ  hoje  a  ametadc  do  ipie  tlantes  va- 
liaò.»  Manoel  tíevcrim  ile  Faria,  Noticias 
de  Portugal,  disc.  1. 

—  Falta  na  sonima. 

—  Diminui(,'ão,  detrimento,  abatimen- 
to, tara,  faliia. 

—  Figuradameate  :  Quebrar/e  amizade. 

—  Soldar  quebras  ;  .sanar  desavenças, 
refazer  a  amizade,  a  boa  harmonia. 

—  Andar  de  quebras  com  alyuem ;  não 
querer  nada  com  ollo. 

—  Mudança  de  estado  para  pcor. 

—  Dar  quebras;  dar  falhas,  descon- 
tos. 

—  Quebra  de  honra,  de  credito,  de  re- 
liutação,  etc. ;  diminuição. 

—  Perda,  damno,  prejuízo  que  alguém 
soffro  nos  seus  negócios,  nas  suas  forças; 
que  não  tem  com  que  pagar  aos  credo- 
res. 

—  Violação,  transgressão,  não  obser- 
vação.—  «Por  mil  razões  theologicas,  o 
bom  do  abbade  lhe  demonstrara  quo  não 
haveria  quebra  do  sifitllam  coajissionis, 
se  por  tal  meio  se  po  lessem  obter  do  cri- 
minoso alguns  esclarecimeatos,  nteis  á 
paz  e  socego  da  republica,  sobre  as  ma- 
chiuaçòes  politicas  dos  tidalgos.»  ^Vlexan- 
dro  Herculano,  Monge  de  Cister,  capi- 
tulo 28. 

—  Figuradamente:  DilViculdade,  em- 
baraço, má  posição.  —  «Floriano  do  De- 
serto, que  té  li  não  entendera  em  outra 
cousa  senão  em  olhar  pelo  cavalleiro  do 
Dragão,  tomendo  que  a  falta  do  cavallo 
o  posesse  em  alguma  quebra,  tanto  que 
o  viu  a  pé  apercebido  pêra  batallia  so 
lançou  fora  do  seu  e  juutando-so  ambos 
com    Dramusiando,    que   fazia    milagres, 

1  todos  juntamente  começaram  aquella  te- 
niorosa  contenda.»  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  dlnglaterra,  c^p.  04. 

—  Termo  de  brazão.  Cotica  quo  atra- 
vessa o  escudo  om  banda ;  distmctivo  do 
(pie  não  é  chefe  da  fandlia. 

QUEBRADA,  •<.  /.    ^Do  thema   quebra, 


de  quebrar,  com  o  suflílxo  «ada»).  ll<itiira 
feita  no<  montes  pelas  correntes  'las  agiuis 
das  chuvas. 

—  TcriU  desigual  c  aberta  entre  mon- 
tes, formando  alguns  vuUcf*  eslrcito<. 

—  Precipicio,  salto.  —  A  quebrada  da 
serra. 

Quebrada  no  rio ;  angulo,  boío,  ou 
r(;maMso,  «pie  sií  l'-<;  faz  para  diminuir  a 
rapidez  da  ciirrcute,  etc. 

QUEBRADAMENTE,  adv.  (Do  quebrado, 
com  o  sulTixo  «mente»).  De  repente,  «cm 
prc.para(;.'io.  de  improvifo. 

QUEBRADEIRA,  «./., ou QUEBRADEIRO, 
«.  Vi.   Falt:(  dl-  bens,  rji!  p()-^c•^. 

—  Figuiadamente :  Quebradeira  d^  ra- 
beca; amotinação,  apoquenUição,  inipiie- 
tiição,  tédio,  aborrecimento,  tudo  que  im- 
portuna o  incommo  la. 

—  Quebradeira  de  caUra;  ancielad'-, 
cuidado,  desa~'Ocego. 

—  Quebradeira  de  rabeca;  diz-r>c  d<> 
objecto  que  so  ama  cim  paixâu,  e  pelo 
qual  í<c  soflVe  inquietação. 

QUEBRADIÇO,  </  Ij.  Frágil,  sujeito  a 
quebrar-.-c. 

—  Que  (|uibra.  mas  não  dobra. 

—  Porta  quebradiça ;  a  de  duas  peças, 
que  se  dobra  sobre  gonzos,  pega"los  na 
outra  peça. 

—  Vida,  saúde  quebradiça;  que  facil- 
mente se  perde,  com  leve-s  accidentes ; 
frágil. 

QUEBRADO,  [/art.  2'«*».  de  Quebrar. 
Partido,  fcit"  em  dous  ou  maia  pedaços, 
despedaçado. 

E  o  batel  dos  daninados. 
Porque  na.sc(>0  hoje  (Tiristo, 
Está,  c'os  rpmos  r/tiebraiio», 
Em  sécco.  O  dcscuidadoe, 
Cuidacnisto. 


OIL    VICKNTE, 

TOHI". 


Viro    DA    BABIA     PO    rCBOA- 


—  «Porem  nem  o  esfitrço  de  iV-irrocan- 
te  poderá  salvar  a  cabeça  de  Albarroco, 
se  o  cavalleiro  do  Dragão  não  tivera  uma 
das  rédeas  quebradas,  que  o  me.*mo  .\1- 
barroco  ao  tempo  do  encontro  lha  que- 
brou ao  passar  (la  la-iça.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  dlnglaterra,  cap.  04. 

1",  o  compungido  Eudóro,  que,  ssíriín,  Ata 
A  ^cuâ  succeâsos,  o  qiiehrtuio  fio. 
Pitto  deixei,  riup  nv>s  confins  das  rialliae, 
De  mim  se  despedira  Zacharias. 
Moraua  cntj\m  o  Ccsnr  em  Lutócia. 

K.  u.  IH)  sAscijrexro,  os  MAsrYREs,  cap.  4t>. 

Qiii'hi-a<la  9<">brc  o  o^cAlho  da  desgraça 
Tnda  languidos  sons  desfere  a  medo. 
Que  a  teu  fiel  ouvido  vão  memorias  _ 
Lembrar  da  pátria  c  rotxirdar  do  amigo.» 
OAHRKrr,  lAUÒKs,  cant.  1,  cap.  3. 

—  Enfraquecido,  (juebrantado.  —  «Na 
qual  carta  lhe  serlviào  que  el  Rei  de  Ca- 
lecut ficara  tão  quebrado  da  guerra  que 
tiuera  com  Duarte  Paclieco,  que  os  go- 
uernadorcs  da  cidade,  siibeuJo  que  el  Rei 


QUEB 


QUEB 


QUf:B 


33 


aceptiiria  a  paz  se  Ília  des«em  posto  que 
aquellc  tempo  não  estiuesse  na  cidaile.» 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  1,  cap.  96. 

—  Quebrantado,  débil. 

Oft"rciKlas  recebeu  de  hymnos  celestes : 
Pela  última  vez  as  chordas  fere, 
E  este  adeus  derradeiro  á  pátria  disse, 
Cortaudo-llie  o  alento  infraqueeido 
Agora  os  sons,  agora  a  voz  quebrada. 
GARRETT,  CAMÕES,  oaut.  10,  cap.  15. 

—  Diz-se  da  pessoa,  encontrada  em 
bancarrota,  ou  que  so  declarou  em  que- 
bra. 

—  Diz-sa  da  pessoa  que  padece  hérnia 
ou  quebradura. 

—  Figuradamente :  Diz-se  de  um  ve- 
lho, porque  tem  perdido  todo  o  seu  vi- 
gor. 

—  Estar  de  perna  quebrada ;  estar  in- 
capaz de  trabalhar,  negociar,  ou  fiizer 
outra  quplquer  cousa,  por  falta  de  meios, 
ou  instrumentos  indispensáveis. 

—  Espirito  quebrado;  desfallecido. 

—  Desavindo  de  to  lo  com  alguém,  ro- 
to.—  Amizade  quebrada. 

—  Aguas  quebradas  ;  marés  fracas,  bai- 
xas ou  contrarias  das  aguas  vivas. 

—  Còreg  quebradas ;  diz-se,  na  pintura, 
das  que  se  usam  misturadas  com  outras 
para  iicarem  menos  vivas;  e  participam 
de  ambas. 

—  Garaçãú  quebrada  ;  era  que  entrou 
bastardia,  ou  faltou  a  legitima  succes- 
sào. 

—  Nau  quebrada;  naufragada. 

—  Olhos  quebrados  ;  molles,  abatidos 
com  dissimulação. 

—  Olhar  quebrado ;  é  dos  namorados 
pelo  grito  affectuoso,  e  furtado. 

—  Muralha  quebrada;  rota  pela  arti- 
Iheria. 

—  Pactos  quebrados;  não  observados. 

—  Prata  quebrada ;  cousa  que  ainda 
perdfdo  o  primeiro  feitio  tem  valor. 

—  Sem  vigor,  validade,  observância, 
dissoluto.  —  Privilegio,  lei,  cortes  que- 
bradas. 

—  Termo  de  poesia.  Diz-se  do  verso 
de  quatro  syllabas,  quando  rima  com  ou- 
tros mais  extensos,  ou  de  metro  maior;  e 
também  da  poesia  em  que  ha  esta  espécie 
de  versos. 

—  Pé  quebrado;  hemistichio,  em  que  o 
sentido  fica  suspenso. 

—  Figuradamente  :  Andar  de  pé  que- 
brado ;  metter-se  em  maus  negócios. 

— 'Termo  de  arithmetica.  Numero  que- 
brado, ou,  substantivamente,  um  quebra- 
do ;  fracção  em  que  se  considera  dividi- 
do um  numero  inteiro,  ou  a  unidade ;  ex- 
pi'essa-se  por  dons  raimeros  separados  por 
um  traço ;  o  de  cima  chama-se  numera- 
dor, e  o  de  baixo  denominador;  este  de- 
nota as  partes  em  que  se  divide  o  intei- 
ro, e  aquelle  os  que  se  tomam  para  for- 
mar o  quebrado,  como:  -j-,  ^. 


—  Quebrado  de  quebrado  ;  diz-se  do  nu- 
mera quebrado  tomado  como  inteiro  e  di- 
vidido em  algumas  partes;  como:  ^ 
de  4-. 

—  Escrever  em  forma  de  quebrados ; 
traçar  o  papel,  deixando  alguns  espaços 
em  branco,  ou  sem  riscos. 

—  Figuradamente  :  Quebrado  de  pare- 
de ;  rotura,   abertura. 

QUEBRADOR,  adj.  (Do  thema  quebra, 
de  quebrar,  com  o  suffixo  «dor»j.  Que 
quebra  ou  despedaça  alguma  cousa ;  des- 
truidor. 

—  Quebrantador,  transgressor  de  algu- 
ma lei  ou  preceito. 

—  Quebrador  de  imagens  ;  iconoclasta, 
partidário  da  seita  anti-christã,  que  con- 
demnava  o  culto  das  imagens. 

QUEBRADURA,  s.  f.  (Do  thema  quebra, 
de  quebrar,  com  o  suffixo  «dura»).  Acção 
de  quebrar,  ou  quebrar-se. 

—  Rotura,  ou  abertura  de  alguma 
cousa. 

—  Hérnia  ;  descida  das  tripas  ou  dos 
intestinos  no  escroto. 

QUEBRA-ESQUINAS,  s.  //(.  Armador, 
QUEBRAMENTO,  s.  m.  Quebradeira  de 
caberá. 

—  Infracção.  —  Quebramento   da  paz. 

—  Quebramento   de  olhos ;   o   fural-os. 
QUEBRANÇA,  s.  f.  Embate  das  ondas 

quando  rebentam  na  praia,  e  rolam  para 
ella  a  embarcação. 

QUEBRANOZ,  s.  m.  Ave,  espécie  de 
grallia,  de  côr  parda,  com  pintas  bran- 
cas, e  o  seu  sustento  principal  é  as  no- 
zes. 

—  Pequeno  instrumento,  do  feitio  de 
uma  tenaz,  que  serve  para  partir  as  no- 
zes, otc. 

QUEBRANTADISSIMO,  adj.  superl.  de 
Quebrantado. 

QUEBRANTADO,  part.  p«ss.  de  Que- 
brantar. —  «liuraa  ante  manhã  ao  tempo 
que  a  gente  estava  mais  quebrantada  da 
vigia  de  toda  a  noite,  per  mar  de  que  os 
nossos  se  não  temiam  por  té  então  não 
terem  commettido  per  alli,  mandou  dous 
calaluzes,  a  gente  dos  quaes  assi  veio  ca- 
lada, e  súbita,  que  mataram  Affonso  Chai- 
nho.»  Barros,  Década  9,  liv.  2,  cap.  1.  — ■ 
«Mas  como  fosse  velho,  e  quebrantado  de 
trabalhos,  agravarãoselhe  os  males  anti- 
gos de  maneira,  que  acabou  a  vida  em 
idade  de  setenta  annos,  avcndo  dezasete, 
e  oito  meses,  e  três  dias,  que  governava 
o  Império,  segundo  Panuino,  inda  que 
outros  lhe  dão  dezuito  annos,  e  dez  me- 
ses.» Monarchia  Lusitana,  liv.  5,  cap.  15. 
—  «Os  imigos  forão  continuando  o  cerco 
de  ambas  as  partes,  dando  muitos,  e- apres- 
sados combates,  e  assaltos,  com  que  os 
nossos  andavão  muv  quebrantados  :  mas 
de  todos  foraõ  rebatidos,  e  escalavrados 
pelo  esforço  do  Capitão,  e  de  todos  os 
mais,  que  neste  cerco  fizerão  maravi- 
lhas.» Diogo  de  Couto,  Década  6,  liv.  9. 
cap.  7. 


—  O   navio   quebrantado  ;  destroçado. 

—  Ferido  do  impidso,  e  rúto. 

—  Feras  mansas  e  quebrantadas  ;  que 
não  teem  a  braveza  natural;  é  menos  que 
domesticados  de  todo. 

QUEBRANTADOR,  adj.  (Do  thema  que- 
branta, de  quebrantar,  com  o  suffixo 
«dôr»).  Que  quebranta,  abate,  enfraque- 
ce, diminue. 

—  Que  quebra,  infringe.  —  Quebranta- 
dor das  leis. 

—  6'.  m.  O  que  transgride  uma  lei,  ou 
um  preceito,  violador,  transgressor.  — 
«Isto  não  vos  devo  parecer  mal,  que  a  fé 
não  se  ha  de  guardar  aos  quebrantadores 
delia.  Filho,  disse  o  imperador,  se  alem 
de  ver  Polendos  e  Belcar  e  todos  esses 
outros  cavalleiros  prezos,  te  vira  também 
a  ti,  não  creias  que  com  cautellas,  fora 
de  meu  costume,  trabalhara  de  vos  sol- 
tar, ainda  qire  todalas  outras  esperanças 
de  remédio  tivesse  perdidas.»  Francis- 
co de  Moraes,  Palmeirim  de  Inglaterra, 
cap.  96. 

—  O  que  deleita,  prostra  ou  quebran- 
ta as  forças. 

—  Guerreiro  astuto  e  .sagaz,  que  sabe 
diminuir  as  forças  do  inimigo  e  bater-se 
quando  convém. 

QUEBRANTAMENTO,  s.  m.  (Do  thema 
quebranta,  de  quebrantar,  com  o  suffixo 
«mento»).  Abathnento,  prostração,  fra- 
queza, debilidade,  cansaço ;  estado  do 
corpo  quebrado  pela  fadiga. 

—  Figuradamente  :  Infracção,  trans- 
gressão, violação  de  alguma  lei  ou  pre- 
ceito. 

—  Evasão,  rompimento  ou  força  feita 
para  se  libertar  de  alguma  oppressão. 

—  Quebrantamento  de  olhos;  cegan- 
do-os. 

—  Quebrantamento  da  igreja,  da  ca- 
dm;  arrombamento. 

QUEBRANTAR,  v.  a.  Separar,  dividir 
com  maior  ou  menor  violência  as  partes 
de  um  todo. 

En  o  mar  cabe  quanfy  quer  caber 
E  manten  muitos,  e  outros  y  a  •, 
Que  x'ar  quebranta  e  que  faz  morrer 
Enxcrdados,  e  outros  a  que  dá 
Grandes  herdades  e  muit'outro  bcn  ; 
E  tod'esto  que  vos  cuncto  aven 
Al  Rey,  se  o  soberdes  conoeer. 

TROVAS  E  CAXTABES,  B."  280. 

—  Forçar;  sixperar  qualquer  difficulda- 
de  ou  estorvo  que  se  oppunha  ao  gozo  da 
liberdade. 

Sombrios  P3'rcnéos,  barreira  imbeUe, 
Que  a  perfídia  do  bárbaros  quebranta. 
Não  esforço,  e  valor. 

J.    A.    DE  JLVCEDO,   MEDITARÃO,  CaUt.   2. 

— Pôr  alguma  cousa  em  estado  de  se 
quebrar  mais  facilmente. 

—  Amolgar,  machucar. 

—  Diminuir  as  forças,  o  vigor;  abater, 


31 


QUEB 


prostrar  o  animo.  —  «Mas  antes  íjuo  aja 
misoriconlia  tios  outro.-i,  conueui  iiuo  i>ri- 
nioiro  aja  inisf^ricorilia  do  si  mesmo  (trnoií- 
ílíldo  8iia  vida,  <!  curjtdo  às  eliajías  do  sua 
alma,  <•,  quebrantado,  o  mortilicíldo  às 
màs  incliiiaruiM,  c  dcsrjos  de-  sua  canu!.» 
Fr.  IJartlioldmcii  dos  >tartyrns,  Cathecis- 
mo  da  doutrina  christã,  liv.  2.  —  «Oc- 
cupadu  polo  Baxá  a  Cidade,  vondo-so, 
ainda  que  intruso,  obedecido,  come(,'ou  n 
quebrantar  o  Povo  com  diversos  f^rava- 
iiics,  tiraiido-llie  as  forças  para  undlior  os 
dominar,  tímidos,  c  sujeitos.»  Jacintlio 
{•"n-ire  de  Andrade,  Vida  de  D.  João  de 
Castro,  liv.  4. 

—  JÍolestar,  fatigar,  aflligir  o  animo, 
angustiar  o  coração. 

—  Acalmar  a  ira,  o  rigor. 

—  Infringir,  transgredir,  violar,  nào 
guardar  alguma  lei,  palavra  ou  obriga- 
ção.—  oE  80  algum  homem,  quem  quer 
que  ello  for,  quebrantar  isto  quo  fazemos, 
ou  intentar  de  o  violar;  primeyro  de  tu- 
do seja  apartado  do  corpo,  c  sangue  de 
nosso  Senlior  Jesv  Christo,  e  com  as  màos 
experimento  as  penas  do  inferno,  confun- 
dido nos  abismos,  e  essa  doaçaõ  surtira 
cffeyto  em  todas  suas  clausulas.»  Monar- 
chia  Lusitana,  liv.  7,  cap.  21. 

—  Tocar,  commover;  causar  pena,  ins- 
pirar dó  ou  compaixão.  —  «  (.'om  o  (piai 
presente  depois  (pie  o  receberrio,  assi  ii- 
carào  contentes  e  brandos  da  fúria,  tpie 
entrí^garaí"")  os  filhos  quanto  mães  os  pe- 
nedos, tàt  >  poder  tem  o  dar  (pie  como 
dÍ7AMn  quebrantou  Diogo  d'Azambuja  as 
pedras  que  era(")  os  coraçtles  d'aquelles 
negros  em  sua  indignação,  e  mãos  que- 
brou 03  penedos  que  elles  defendiaõ.» 
Barros,  Década  1,  liv.  3,  cap.  '2. 

—  Figuradamente:  Abrandar  quem  es- 
tá irritado,  fazer  ceder  a  rogos. 

—  Arrombar.  —  Quebrantar  cadeias, 
igrejas. 

—  Quebrantar-se,  v.  reji.  Perder  o 
anirao. 

(pio  vulgarmente    cha- 


»i.   Acção,  ou  acto  de 


—  Coiitrahir 
mam  quebranto 

QUEBRANTO, 
quebrar. 

—  Prostrai.ào,  desfalleeimento ;  que- 
brantamcufii  de  etu-po. 

QUEBRANTOSSO,  *•.  w.  Termo  de  zoo- 
logia. Espocie  do  género  petrelo,  chama- 
da também  i)ctrdo  <ji<janfe ;  encontra-se 
desde  o  Cabo  de  llorn  até  ao  de  Boa 
Esperança,  e  sustcuta-so  de  insectos, 
molluscos,  o  da  carne  dos  peixes,  o  cetá- 
ceos mortos,  que  Huctuam  na  supcrticio 
do  mar. 

QUEBRAOSSO,  .••■.  m.  Termo  do  zoolo- 
gia. Espécie  de  açor  ou  águia  maríti- 
ma de  dous  pés  de  comprimento,  lombo 
branco,  e  os  cotos  das  azas  malhados  de 
negro;  o  bico  muito  forte,  grande  e  cur- 
vo, bem  como  os  pós,  que  sào  cobertos 
de  pennas,  e  cujas  unhas  são  grandes  e 
fortes. 


(iCEH 

QUEBRAR,  f.  n.  Separar,  d(Munir  as 
partes  de  um  todo,  partir,  dc.speda(;ar.— 
d  A  (jual  Ki;ntoii(;u  foy  muy  justa,  jjorquo 
alem  d(d  Uoy  vir  ate  o  mais  galanto  que 
to<los,  por  ser  atpudla  a  ])rimeyra  vez  que 
justara,  quebrou  com  muy  ta  d<;senuoltu- 
ra  as  primeyras  quatro  lanças,  <|uo  pêra 
ganhar  ho  grão  (  rão  ordenadas.»  < rareia 
de  Uczcndo,  Chronica  de  D.  João  II,  cap. 
128.  —  «  E  porque!  Niiiio  \'az  J'i-reira 
com  o  tempo  rijo,  (pie  os  íez  aleuantar, 
quebrou  a  verga  grande  do  seu  iiauio : 
íiÁ  n(;ee,ssari(j  tornar  outra  vez  ao  porto 
onde  aeh(ju  que  o  n(>sso  padra(~  estaua  ja 
chamuscado  do  fogo  como  que  lho  po- 
zeraõ  ao  pé.»  Banos,  Década  1,  liv.  10, 
cap.  õ.  — «  E  antes  de  esperar  outra  res- 
posta se  foi.  Florendos,  vendo  que  os  ca- 
valloiros  so  concertavam  nas  sellas,  to 
mando  uma  laiu^a,  cuberto  do  escudo  sa- 
iiiu  a  rocel)elos.  Todos  juntos  quebraram 
nelle  as  lanças  sem  o  poder  mover:  o  ao 
(pie  encontrou,  j>assaiido-llie  as  armas, 
deu  com  elle  morto  no  ehào;  e,  arran- 
cando da  espada,  antes  que  Astribor  sa- 
liisso,  que  se  estava  armando  a  grau 
j)ressa  crendo  que  aquelle  fora  o  que  ma- 
tara Dramorante,  cortou  o  braço  da  es- 
pada a  outro.»  Francisco  de  Mcu'aes,  Pal- 
meirim d'Inglaterra,  cap.  ÍKi.  —  »  E  por- 
que nestes  encontros  quebrara  três  lan- 
ças que  trazia,  o  quinto  se  deteve,  es- 
perando lhe  viesse  outra.  Albayzar  lh'a 
mandou  dar  d'algiimas,  que  tinha  pêra 
sua  pessoa,  porque  ils  vezes  justava;  e 
era  negra  e  o  ferro  dourado.»  Ibidem, 
cap.  123.  —  <(  Por  isso  hade  ser  uma  de 
dous :  ou  me  haveis  de  dizer  vosso  nome 
pêra  depois  de  sabido  vêr  o  quo  me  está 
bem ;  ou  tornar  a  nossa  justa,  e  quebrar 
tantas  lanças,  té  que  a  victoria  ou  o  des- 
gosto ti(pie  com  algum  de  n('(s.»  Ibidem, 
(5ap.  127. 

Que  qitehrandolhe  hum  loro,  a  estribeira 
Caida  cm  terra,  o  faz  parar  sem  tempo. 
Os  terceiros  ja  vinhão  com  airosa 
Apraziuol,  veloz  dcscmuoltura 
Kstes  erào  Tristão  de  Sá,  e  António 
De  Sá,  (pic  ao  bello  Adónis  cxcediào. 
Ambos  em  verdes  olhos  iguais,  c  ambos 
Iguais  cm  juuenis  annos  floridos. 

CORTE  UK.H.,   N.VlFll.VGlO    HE    SEPIXVEPA,  Cailt.   4. 

—  «  lie  muito  para  ver  a  diligencia 
com  quo  os  boticários  se  acodem  huns 
aos  outros  nestas  occasioens,  emprestan- 
do-se  vidros,  e  medicamentos,  para  que 
os  Visitadores  os  achem  providos  de  tu- 
do :  e  poderá  succeder,  jmr  mais  que  te- 
nham tudo  bem  apm-ado,  e  a  ponto,  se 
não  andarem  mais  diligentes  em  peitar, 
que  em  se  prover,  que  lhe  quebrem  to- 
dos os  vidros  por  dá  c;i  aquella  palha.  » 
Arte  de  furtar,  cap.  4.  —  «  E  não  o  po- 
dendo mover  quebrou  diante  dcUo  huma 
folha  de  huma  arvore  em  sinal  de  rotura 
da  paz  icouio  antre  elles  se  costuma)  e 
so  despedirão  dellc,   movidos  de  compai- 


QUEH 

xaiT  do  miserável  cstíido  em  que  o  viai», » 
Diogo  de  Couto,  Década  fJ,  liv,  Ii,  wip. 
13.  —  «A  reputação  é  <a<pelho  cristalli- 
no;  quahpier  toipie  o  quebra,  (|ualqucr 
bafo  o  empana.  Ellus,  (planto  i>.^o  utaia 
seguras  em  seus  procedim<!ntos,  se  aven- 
turam, \)i'Ae  Her,  uiai«  a  tratar  a8  (jue  u 
não  8.^0.  <J  vulgo  sempre  cego,  nSo  sabe 
distinguir,  ou  n.lo  quer,  o  bom  dn  mau.» 
Francisco  )íanoel  i^  Mello,  Carta  de  guia 
de  casados. 


Qiifhra  os  fi^rrollioi  de  diain.nit".  c  dentro 

S'  entranha  nos  abvsinus,  ir  rrt<>ma 

A  ver  os  claros  Cimx.  l)u  Kydiísjx:,  o  Oangc* 

A's  margen»  coiTc,  pelos  lirinoj  vôa 

Da  iiuille/.a,  c  do  orjjidho.  o  vai  mil  vczc« 

1'a.ssear  s<ibrc  o  íris,  e  contempla, 

Dc-sde  o  curvo  listão,  da  diuva,  c  gúlo 

Os  immonsos  dejtositos. 

j.  A.  i>E  MAr-i:iMi,  jir.niTACÂo,  cant.  2. 


—  Dobrar,  torcer. 

—  Transgredir,  violar,  iiifringir. 

—  Annullar,  devassar,  cassar. 

—  Descontar  do  (|ue  alguém  deve. 

—  Temperar,  suavisar,  moderar,  abran- 
dar a  força  e  rigor  de  alguma  cousa. 

—  Vencer,  superar  alguuia  difficuldade. 

—  Interromper,  estorvar  o  andanicntu 
de  alguma  cousa  iinuiateriul. 

—  Aiit.  Cobrar. 

—  Quebrar  '(  ra/jera,  ou  o#  ouviílos  n 
ahjucin ;  caiiçar,  importunar,  incomnio- 
dar. 

—  Quebrar  a  amtzatle ;  romper  as  rela- 
ç(!)es  de  amizade  com  alguém,  ou  afrou- 
xal-as. 

—  Quebrar  a  fé,  a  verdade;  nHo  a  ob- 
servar. 

—  Quebrar  a  carta  de  seguro;  nilo  gtiar- 
dar  as  condições  iFella. 

—  Quebrar  <>  jejum ;  comer  ou  beber 
cousas  prohibidas  em  dias  de  jejum. 

—  Quebrar  o  coração,  d^animar ;  es- 
morecer, fazcl-o  dcsfallecer. 

—  Quebrar  a  condição  áspera  d'ahjuem  ; 
tornal-o  mais  tratjivcl,  mais  brando. 

—  Quebrar  a  ira  em  alguém;  desafo- 
gal-a,  vinga'ado-.H>  de  qualquer  modo. 

—  Quebrar  o  fio ;  interromper  alguma 
cousii . 

—  Quebrar  o  fi.o  da  vida ;  matar. 

—  Perturbar,  desviar,  interromper,  im- 
pedir. —  Quebrar  "  somno. 

—  Quebrar  os  ol/ios ;  uiovcl-os  com  cer- 
ta languidez. 

—  Quebrar  os  olhos  n  alguém  ;  fiinir, 
vasar. 

—  Quebrar  II "Kl  la»f a  com  alguém  ;  ter 
um  diieilo. 

—  Quebrar  a  cubcra  a  alguém  ;  dAr-llio 
que  entender  em  cousa  trabal  osa,  e  dif- 
iicil. 

—  Quebrar  <i  moeda;  fundil-a  para  a 
recunhar. 

—  Quebrar  vivo;  dizi.i-se  do  condem- 
nado  á  morte,  que  lhe  quebravam  os  (w- 
S(xs  com  uma  uiassa  de  ferro. 


QUEB 

—  Quebrar  a  indoJe,  ou  o  giuio;  mu- 
dar de  inclinações. 

—  Quebrar-se,  r.  reji.  Eomper-se,  espe- 
daçar-.se.  de-.tazer-sc,  partir-se.  —  «Mas  o 
ilo  deste  prazer  e  alvoroço  se  ilie  quebrou 
com  uma  aventura,  que  no  mesmo  valle 
aconteceu :  que  da  banda  debaixo  de  sob 
uma  arvore  saliiu  um  eavalleiro  á  maneira 
de  gigante,  grande  e  bem  proporcionado, 
em  um  cavallo  rosinlio  conforme  á  grande- 
za de  seu  senhor.»  Francisco  de  Jloraes, 
Palmeirim  dTnglaterra,  cap.  12õ. —  «Pi- 
ques, que  se  quebrarão,  e  gastarão  em 
assar  borregos;  capacetes,  de  que  iizeraõ 
panellas,  para  cozer  ovelhas  com  nabos, 
e  outras  mil  couzas,  que  naõ  se  contaõ; 
com  que  lançadas  as  contas,  sempre  as 
perdas  excedem  os  ganhos.»  Arte  de  fur- 
tar, cap.  56.  —  «  E  tudo,  o  que  chamaes 
honra,  vem  a  ser  hum  vidro,  que  cora  a 
liviandade  de  huma  muliíer  se  quebra,  e 
com  o  desconcerto  de  qualquer  de  vossa 
familia  se  tolda,  como  o  espelho  com  hiuu 
bafo.»  Ibidem,  cap.  70.  —  «  Vai  mais  per- 
der por  carta  de  menos.  Muitas  vezes  se 
quebrão  os  narizes  dando  sempre  cora  o 
C.  para  a  porta.  Como  cahirá  isto  bera 
na  Lingua  Italiana  !  Oh  quem  podéra  já 
ver  a  Tradução !  »  Cavalleiro  d'Oliveira, 
Cartas,  liv.  1,  n."  10. 

Esquecida  de  si,  seus  ovos  dióra 

A  desvelada  mài ;  o  Sol,  que  nasce 

No  uiesmo  ardor  a  cncoutra,  c  ncUa  a  deixa, 

Se  os  braços  busca  da  ccridca  Thctis. 

Calor  activo  os  ovos  desenvolve  : 

Eis  se  quebra  a  prizão,  o  a  luz  respirão. 

J.   A.    DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Cant.    3. 

—  Figiu-adamente :  —  «A  agua  o  deu, 
a  agua  o  leva.  As  Republicas  conservaò- 
se  cora  fazenda,  vassallos,  e  leys:  e  se  a 
fazenda  se  desbarata,  e  os  A\issallos  se 
oftendem,  e  as  leys  so  quebraõ,  lá  vay, 
quanto  Martha  fiou. »  Arte  de  furtar, 
cap.  15. 

—  Paliando  de  cordilheiras  ou  serras 
quer  dizer  que  a  sua  continuidade  é  in- 
terrompida. 

—  Quebrar-se  uma  geração;  receber 
alguma  quebra  por  bastardia,  por  fiiltar 
herdeiro  leffitimo  em  linha  recta. 

—  Quebrar-se  o  legitimo  herdeiro;  fal- 
tar successào  legitima  a  alguma  fami- 
lia. 

—  V.  n.  Romper-se,  rebentar  com  vio- 
lência, espedaçar. 

—  Quebrar  a  nau  nos  rochedos ;  nau- 
fragar. 

—  Dar  com  ímpeto,  e  desfazer-se,  co- 
mo o  mar  no  recife,  ou  penedos. 

—  Desfazer-se,  vir  parar,  e  diminuir  o 
impulso. 

As  grossas  altas  ondas  cscumosas, 
Dos  furiosos  ventos  constrangidas, 
Vào  quebrar  seu  furor  nas  alterosas 
Iiochas,  ou  lá  nas  pi-aias  estendidas  : 
Rotumbão  as  montanhas  cavernosas, 
Yeem-sc  do  mar  as  nuvens  combatidas, 


QUEB 

Qu'a  força  com  quo  cncoutra  a  rocha  diu"a 
Lho  faz  com  que  então  suba  a  tanta  altura. 

F.    D'AXDr.VDE,    PBIMEIRO  CEBCO  DE   DIC,     Cant.    4. 

est.  21. 


—  Abater,  diminuir,  dcsfallecer,  can- 
çar  a  actividade.  —  «Entendendo  Rume- 
cào,  que  viuhào  chegando  á  Fortaleza  al- 
guns soccorros,  e  que  era  abrindo  o  tem- 
po nào  seriào  os  Portuguezes  tardos  em 
dar-se  huns  aos  outros  a  mào  nos  maio- 
res perigos,  começou  a  desconfiar  da  em- 
preza,  vendo  que  os  trabalhos  nào  que- 
bravão  os  ânimos  dos  nossos,  e  que  os 
seus  soldados  nas  conversações  nào  tinhào 
por  justificada  a  causa  desta  guerra,  ac- 
cusando  aos  quebrantadores  da  paz  por 
ni')s  fielmente  guardada.»  Jacintho  Freire 
d'Andrade,  Vida  de  D.  João  de  Castro, 
liv.  2. 

—  Quebrar  o  cwação ;  perder  o  animo. 

—  Quebrar  com  alguém ;  romper  as  re- 
laçijes  de  amizade  com  alguém,  ou  afrou- 
xai-as. 

—  Quebrar  por  tudo ;  romper. 

—  Quebrar  por  si ;  ceder  do  seu  direi- 
to, ou  pretençào,  ou  razão  por  bem  de 
paz. 

—  Dobrar,  torcer.  —  Quebrar  o  corpo. 

—  Quebrar  com  somno ;  mover  a  cabe- 
ça, dormindo  em  pé,  ou  sentado. 

: —  Perder  o  viço,  lustre  da  mocidade. 

—  Perder  o  vigor,  energia,  actividade, 
rigor,  acriraonia  de  animo. 

—  Quebrar  o  Jlo  da  vida;  morrer. 

—  Contrahir  uma  hérnia. 

■  —  Fazer  bancarrota,  interromper  o 
commercio  ou  negócios  por  falta  de  fun- 
dos ou  cabedaes  com  que  satisfazer  aos 
credores,  perdendo  completamente  o  cre- 
dito por  motivos  conhecidos  ou  por  fraude. 

—  Perder  o  animo. 

—  Quebrarem  as  aguas ;  serem  as  ma- 
rés mortas,  o  contrario  das  vivas. 

—  Faltar  no  peso. 

—  Diminuir  o  impeto,  força,  quantida- 
de de  movimento. 

—  Caíi".  —  Ouviam-se  quebrar  as  aguas 
ao  longe. 

—  Quebrar  a  dianteira,  oix  quebrar  as 
aguas ;  soltar-se  agua  do  útero  das  mu- 
lheres, quando  estào  para  parir. 

—  Quebrar  a  tardança ;  acabar,  ces- 
sar de  tardar. 

—  Ponto  de  quebrar ;  ponto  alto  que 
se  dá  ao  assucar. 

—  Adágios  : 

—  Quebrarei  a  mim  iim  olho,  para 
quebrar  a  ti  outro. 

—  Ao  mau  costume  quebrar-lhe  a  per- 
na. 

—  Jarras  quebradas,  mar  bonança. 

—  Melhor  é  dobrar,  que  quebrar. 

—  Antes  quebrar,  que  dobrar. 

—  Xào  quebra  por  delgado,  senão  por 
gordo,  e  mal  fiado. 

—  Obreiro  pago,  braço  quebrado. 

—  A  cana  fosse  quebrada,  e  nào  soada. 


QUE  D  _  3õ 

—  Fui  para  me  benzer,  e  quebrei  hum 
olho. 

• —  Perda  de  mai'ido,  perda  de  algui- 
dar, hum  quebrado,  outro  no  poial. 

f  QUEBRA-VAGAS,  s.  m.  Termo  de 
naiitica.  Navio  velho  e  incapaz  de  ser-  • 
vir,  que  carregado  de  pedra  se  colloca 
cm  ura  porto  para  quebrar  a  impetuosi- 
dade das  ondas,  ante  uma  obra  hydi-au- 
lica,  para  a  defender,  e  proporcionar  mais 
seguro  abrigo  ao  ancoradouro. 

QUEBRO,  s.  m.  Inflexão,  trinado.  — 
Os  quebres  da  voz. 

• —  Quebro  do  corpo ;  geito,  posição  af- 
fectuosa. 

QUÉCA,  s.  /.  Peça  pertencente  a  um 
antigo  vestuário  de  mulher. 

QÍJECER.  Vid.  Aquecer. 

■J-  QUECHUE,  íí.  VI.  Fructa  sempre  ver- 
de da  nova  Andaluzia,  de  gosto  suave, 
e  semelhante  A  amora  da  Europa,  porém 
de  muito  pouca  duração. 

QUEDA,  s.  f.  O  acto  de  cair,  caída, 
caimento,  tombo.  —  «E  avisando  aos  seus 
o  que  determinava  fazer,  arremeterão 
aos  muros  com  tal  traveza,  que  a  pesar 
dos  defensores,  foy  a  Cidade  entrada, 
fazendo  o  Conde  taes  estremos  por  sua 
pessoa,  que  do  muito  trabalho,  e  de  al- 
gumas quedas,  que  deu  das  escadas  ao 
tempo  de  escalar  os  muros,  perdeo  a  vis- 
ta dos  olhos,  cousa  que  el  Rey  sentiu  de 
maneira,  que  o  obrigoii  a  chorar  publica- 
mente a  perda  de  taõ  leal  vassallo.»  Mo- 
narchia  Lusitana,  liv.  7,  cap.  26.  —  «Fez 
estrondo  a  queda;  porém,  o  aggressor 
com  grande  desembaraço  limpou  ao  len- 
ço o  tíorete  e  deu  parte  ao  imperador  que 
chegava  pela  porta  da  campanha.»  Bispo 
do  Oirào  Pará,  Memorias,  publicadas  por 
Camillo  Castello  Branco,  p.  76.  —  «Traz 
este  veio  Beroldo,  mas  como  o  dos  frei- 
xos guardasse  aquelle  dia  pêra  mostrar 
todo  seu  preço,  polo  modo  dos  passados, 
veio  ao  chão,  de  que  o  imperador  teve 
muito  que  cuidar.  X'isto  veio  á  justa 
Dramiante,  e  porque  ao  tempo  do  encon- 
tro, seu  cavallo  embicou  na  raiz  d'um 
dos  fieixos,  que  estava  mais  alta  que  a 
terra,  e  caiu  com  elle,  não  se  quiz  dar 
por  derribado,  dizendo  que  a  victoria  de 
sua  queda  não  se  podia  dar  a  seu  imigo, 
e  posto  que  alguns  haviam  esta  razão 
por  má,  o  outro  disse  que  tornasse  caval- 
gar tantas  quantas  vezes  quizesse  ;  por- 
que mais  asinha  cançaria  de  o  fazer  que 
elle  de  o  derribar.»  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  d'Inglaterra,   cap.  111. 

Cahio  esse  Penedo  sem  segundo 

Da  humilde  Paciência  intitulado  : 

Que  o  ferro,  o  bronze,  em  fim  quanto  he  creado, 

Xada  reziste  ás  quedas  deste  Mundo. 

ABBADE  DE  JAZENTE,  POESIAS,  tOm.  2,  pag.  107. 

—  Declinação,  pendor. 

—  Decadência,  ruina.  —  «E  o  de  que 
primeiramente  muito  bemauenturado  Pa- 


;3(i 


QUED 


QIJKD 


Qi:i:i 


drc,  mais  nojo  recebemos,  lie  os  diimnos, 
o  «{pravos  (lo  que  o  Solilaiii  se  a'|iitíixa 
n  vossa  Saneti<la(U^  contra  iiòs,  iiiVo  b(í- 
roín  maiores  jiora  sua  queda,  e  as  cau- 
sas disso  iiFlo  serem  de  mais  cffifacia. » 
iJaiiiiilo  do  (looH,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  J,  cap.  ÍKl.  —« Iremos  rocaintiilaii- 
do  Ijrovemerite  as  cousas  tocantes  ao  Im- 
porio  Oriental,  pai'a  com  mais  claridade, 
c  distinci;aõ  |M-osr;íiiirnios  dci«)is  a  que- 
da o  ruiiia  total  ila  Monarcliia  de  Oci- 
dente causada  pelas  nações  barbaras,  que 
cada  dia  cntravaõ  ocupandolhe  diversas 
Províncias,  e  dcstruiudollie  ^^randos  exér- 
citos.» Mouarchia  Lusitana,  liv.  t>,  cap.  li. 

Nii  marclui,  que  vai  tendo  a  Natureza, 
Ti\o  rouioto  mio  sor  da  Torra  o  berilo  •, 
A  1)1130,  as  progrossõiis,  a  gloria,  a  quidn 
Uc  liiípci-ioâ,  (juc  anibi(;rio  levauta,  c  postra. 

J.    A.    1>K  MACKIIO,  ^aAGUM  EXTÁTICA,  Cant.    3. 

—  Quebrada. 

—  tieito,  propensão.  —  Ti  r  queda y^a- 
ra  poeta,  iJÍntur. 

—  Dar  queda  ;  passar  da  prosperida- 
de á  dcsp;ra<;a. 

— -  Salto  do  rio,  que  cáe  de  alto. 

—  Queda  do  ptllo ;  a  direcção  que  to- 
ma o  pcllo  para  algum  lado,  de  modo 
que,  passando-lho  a  mào,  tica  macio  c  as- 
sente, e  iiào  arripiado. 

QUEDADO,  pad.  pass.  de  Quedar. 
QUEDAR,    t'.    11.    Ficar,    conservar-sc, 
re.-^tar. 

—  A([uietar,  descontinuar,  estar  que- 
do, parar. 

QUEDO,  adj.  Immovel,  suspenso,  pa- 
rado. —  «Os  imigos  como  sentirão  «a  nos- 
sa gente  cm  terra  começai';"io  a  desparar 
a  artilharia  da  tranqueira,  mas  posto  que 
de  todalas  partes  cliouuessem  pilouros, 
clles  a  cometeram,  cada  hum  pela  parte 
que  lhe  fora  ordenado,  ao  que  acudio  o 
capitam  da  cidade,  que  em  chegando  a 
porta,  que  se  agora  chama  de  sancta  Va\- 
thorina,  esteue  quedo  pêra  ver  a  qual 
parte  lhe  era  necessário  acudir  em  }ies- 
soa.»  Damião  de  (iões,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  3,  cap.  11.  —  «Estando 
Nuno  fernandez  quedo  sem  mouer  sua 
gente,  na  cpial  batalha,  que  se  começou 
quasi  Sol  posto,  o  Serifo  foi  desbaratado 
dos  mesmos  mouros  da  capitania  de  Cido 
Iheabcntafuf,  ao  alcance  dos  quais  Nuno 
fernandez  saio,  seguindo  ambos  a  victo- 
ria,  tanto  quanto  o  dia  deu  lugar,  em 
que  forào  mortos,  e  presos  muitos  dos 
imigos,  e  alguns  dos  da  companhia  de 
Cide  Iheabcntafuf  mortos.»  Ibidem,  cap. 
49.  —  «E  como  a  noite  cscureceo  se  fo- 
i'am  todos,  e  o  Principe  ficou  só  no  cam- 
po, triumphando  de  tamanho  vencimen- 
to, c  fazcado  recolher  os  feridos,  e  mor- 
tos como  piadoso  capitão,  esteue  assi  que- 
do. E  eoui  tanta  razam  tinha  de  estar 
rauy  alegro  por  tamanha  honra  como  ti- 
nha ganhada,  estaua  em   estremo  triste 


sem  lio  diir  a  entender,  |)or  mio  saber 
nonas  dei  llcy  seu  pay,  que  sobro  tudo 
desejaiui  de  saber.»  (iarcia  de  Uezcnde, 
Chronica  de  D.  Joáo  II,  cap.  1.?.  —  «Com 
este  contentamento  dissimulado  so  foi, 
<leixando  encommendado  as  armas  de 
Floreiídos  a  .\lmourol,  e  andando  alguns 
dias  ao  longo  da  ribeira  do  Tejo,  atra- 
vessan<lo  valles  c  outeiros  a  uma  e  outra 
parte,  um  dia  Já  tardo  se  achou  cm  um 
escampado  onde  havia  uma  fonte  de  umi- 
ta  agua,  cercada  d'arvores  bastas  c  al- 
tas, (pie  a  cobriam,  debaixo  das  qaaes 
ouviu  tocar  uma  frauta  de  tào  maravi- 
lhoso som,  que  o  fez  estar  quedo  por  al- 
gum espaço,  u  Francisco  de  iloraes,  Pal- 
meirim d'Inglaterra,  cap.  12.  —  «E  ca- 
minhando ao  longo,  viu  que  d.a  outra 
banda  caminhavam  trcs  cfivalleiros  d'ar- 
mas  lustrosas  e  louçàas,  que  cmpareliuin- 
do  com  elle,  estiveram  quedos  polo  olhar 
mais  de  vagar.  Um  d'elles  so  adiantou 
um  pouco,  bradando  que  se  detivesse. b 
Ibidem,  cap.  12.').  —  «(J  cavallciro  se 
quiz  j)ôr  em  ordem  de  so  defender ;  mas 
Ãrlança  que  tinha  o  coração  varonil,  e  a 
paixão  lh'o  esforçava  nmito  mais,  lhe 
travou  o  braço  direito,  levautando-se  em 
pé,  e  teve-o  tào  quedo,  que  se  não  pode 
valer;  de  sorte  que  o  cavalleiro  das  don- 
zellas  sem  nenhum  pejo  o  pode  levar 
nos  braços,  não  ousando  de  o  ferir  da 
espada  por  não  tocar  em  Aidança.»  Ibi- 
dem, cap.  128. 

O  Capitão  o  abraça  cm  cabo  ledo. 
Ouvindo  clara  a  liagua  do  CastoUa  ; 
Junto  de  ai  o  assenta,  c  prouipto  e  quedo, 
l\'la  torra  pergunta  e  cousas  dolhi. 
Qual  90  ajuntava  em  Kiiodo;)e  o  arvoredo, 
Sií  por  ouvir  o  amante  da  donzclla 
Eurydice  tocando  a  lyra  de  ouro. 
Tal  a  gente  se  ajunta  a  ouvir  o  Mouro. 
CAM.,  i.is.,  cant.  7,  est.  "20. 

—  «E  como  estiveram  quedos,  olhava 
ho  guia  pêra  mim,  e  eu  pêra  elle  r  e  ca- 
tivemos hum  pedaço  sem  nos  podermos 
falar  hum  acoutro.»  Tenreiro,  Itinerário, 
cap.  ú'2. 


Em  vão  foi  o  soccorro  do  Macedo 
E  o  da  geutc  que  llie  era  companheira, 
l^orque  alli  mais  podia  o  antigo  medo 
Que  a  força  luitnral,  nem  a  estrangeira. 
Xenluim  pára  alli  mais,  ou  está  quedo 
Vendo  na  terra  erguer  huma  poeira, 
Poniuc  o  Mogor  só  cuidào  que  a  levanbi 
Cujo  nome  siuuente  os  tanto  espanta. 

FRASCISCO  DE  ASnBADE,  PRIMEIRO  CEBOO  PE  DIt", 

cant.  5,  est.  52. 


Com  duro,  agreste  acccuto  a  voz  erguia 

A  negra  cliusma.  e  saudava  os  Lusos, 

E  gente  humana  apenas  parecia, 

Tào  rudes  erào.  bárbaros,  obtusos  ! 

Eis  ((ue  da  bruta  uinltidào  rompia 

Ilum,  í|ue  03  nautas  deixou  dhorror  confuso.< 

O  aceento  Portuguez  Ibe  esoutão  lêdoj, 

Elle  a  voz  levantando,  os  Lusos  q)led•^s. 

J.   A.  DE  MACEDO,  O  OKIESTE,  Cant.   4,  CSt.   3. 


Figuradam<nt<í 


Nunca  nestes  entrou  algum  desmaio, 

Nem  a  morte  diante  cau^in  nK^do. 

VutKvjacllfH  Fr:iiiciiW!(i  • 

Noutra  gal<-  t"i   ii  niuml  -  i. 

NMium  bat.rl  Vuwi.  l'ir.- 

Noutro  iiiiiiiduvsi  Heiíri  , 

Nnutro  MHrtim  df  Kn-i:  i, 

.Miguel  Carvullio  liuma  :i.      ;  i.i. 

r.  i>'aki>bade,  nuMEiBU  ckbcu  de  dic,  cant.  -. 
est.  31. 


—  A  p'-  quedo;  a  pé  tinue. 

—  Ir  quedo  <■  quedo ;  {míuco  n  poao», 
lentamenti-,    iliívagarinho. 

—  AuAíWOs  : 

—  A  cíirga  bem  se  lev.a,  a  soljrecarga 
citu.«a  a  queda. 

—  Andando  ganha  a  azenlut,  que  n.lo 
estando  queda. 

—  Em  quanto  tem  saúde,  quedos  <■— 
tão  03  santos. 

—  Casar,  ca.sar,  e  quedo  governo. 

—  Na  almoeda  tem  a  bobeia  queda. 

—  Pés  costumados  a  andar,  nào  po<]eni 
quedos  estar. 

—  Qualquer  ramo  cm  janeiro,  torcido 
está  quedo. 

QUEENDAS,  «.  /.  a<ú.  f)  primeiro  dia 
de  cada  mez.  —  «E  en  cada  huum  anno 
por  foro  dons  alqueires  de  trigo  linpho. 
e  senhos  capoens.  e  dez  ovos  cada  huum 
de  viis  pelas  queendas  de  janeiro.»  Doo. 
de  12(;ii. 

QUEIJADA,  «.  /.  Paatel  de  ovos.  man- 
teiga, queijo  c  a*sncar. 

QUEIJAR,    V.  a.  Fazer  qn^^ijos. 

QUEIJARIA,  .-.  /.  O  trabalho  de  quei- 
jar. 

QUEIJEIRA,  .«.  /.  Casa  onde  se  fozem 
queijii-. 

QÚEIJEIRO,  A,  .-.  O  que  faz  ou  vendo 
queijos. 

QUEIJINHO,  s.m.  Diminutivode  Queijo. 

QUEIJO,  s.  í/l.  Mas.sa  de  leite  de  vac- 
cas,  ovelhas,  cabra*,  coalhado  e  espremi- 
do no  cincho.  —  Queijo  lowlriíw.  —  Quei- 
jo jhuitcuijn.  —  Queijo  da  serra  da  E*- 
t relia.  —  Queijo  frenco.  —  «  N3o  tem  o 
gosto  cousa  excellente  que  se  nJo  ache 
no;  queijos  com  que  V.  A.  me  re.pilou. 
Isto  não  he  nata.  hc  hum  maravilhoso  iuà<> 
sev  que,  que  picando  agradavelmente  a 
ling')a,  tem  huma  bondade  (|ue  se  sente 
com  luima  graça  que  se  nào  pxle  exjiri- 
mir.»  Cavalleiro  d'01iveira,  Cartas,  iiv. 
ií,  n.°  21.  —  «Nào  Senhora,  nXo  he  pos- 
sivtd  que  com  mãos  tào  grosseyras  se  tra- 
balhem cousas  tào  delicadas.  As  Nvuiphjis 
de  \'ienna  tiverào  parte  lu»  obra.  ou  pa- 
ra melhor  diser  os  queijos  que  V.  A.  me 
mandou  são  obr.as  das  suas  mãos.»  Idem, 
Ibidem.  —  ««^  Padre  Diogo  Jloniz  Vian- 
na.  que  foi  hum  Beneficiado  da  Igreja  de 
Santa  (^ruz  de  Lisboa,  ou  se  desmayava, 
ou  mudava  de  côr  f:isendo-se  mais  ver- 
melho que  huma  Lagosta,  á  vista  do  quei- 
jo Flamengo,  e  do  Melào.  Até  a  corOa 


QUEI 


QUEI 


QUEI 


se   lhe  fksia   desta   côr.»   Idem,    Ibidem, 
n.°  38. 

—  Queijo  de  figos  passados ;  figos  reu- 
nidos e  apertados  no  cinclio,  em  forma  de 
queijo. 

—  Queijo  de  herva;  o  que  se  coalha 
tom  a  ílôr  do  cardo,  ou  com  outra  herva. 

—  Adágios  : 

—  O  queijo  do  Alemtejo,  o  vinho  de 
Lamego . 

— -  Queijo  de  ovelhas,  manteiga  de  vac- 
cas,  e  leite  de  cabras. 

—  Queijo,  pêro,  e  pào  comer  de  villào. 

—  Queijo,  pào,  e  pêro,  comer  de  ca- 
valleiro. 

—  Quando  fores  ao  mercado,  pào  leve, 
e  queijo  pesado. 

—  Rábàos,  e  queijo  mantém  a  corte 
em  peso. 

—  O  melão,  e  o  queijo,  tomal-o  a  peso. 

—  Pào,  e  queijo,  mesa  posta  he. 

—  Pào  com  olhos,  e  queijo  sem  olhos, 
e  vinho  que  salte  nos  olhos. 

—  Para  rábào,  e  queijo  não  ha  mister 
trombeta. 

—  O  cabrito  de  hum  mez,  o  queijo  de 
três. 

—  Em  abril  queijos  mil,  e  em  maio 
três,  ou  quatro. 

—  Xào  comas  muito  queijo,  nem  do 
moço  esperes  conselho. 

—  Ao  couro,  e  ao  queijo  comprado  por 
peso. 

—  Xo  queijo,  e  pernil  de  toucinho  co- 
nhecerás teu  amigo. 

QUEIMA,  s.  f.  Acto  de  queimar,  e  o 
sitio  queimado. 

—  Incêndio,  abrazamento. 

—  Figuradamente  :  Fugir  da  queima ; 
evitar  toda  a  occasiào  em  que  se  possa 
comprometter,  em  geral  fugir  de  qual- 
quer perigo. 

QUEIMAÇÃO,  s.  /.  —  Queimação  de  san- 
gue ;  co.isa  que  enfada  muito,  ou  o  enfado 
que  delia  resulta. 

QUEIMADA.  Vid.  Queima. 

QUEIMADELLA.  Vid.  Queimadura. 

QUEIMADO,  part.  pass.  de  Queimar. 
—  u  Xeste  combate  perderão  os  imigos 
dezanoue  paraos,  entre  queimados,  e  ala- 
gados, e  moiTerào  duzentos,  e  nouenta,  e 
dos  nossos  per  milagre  de  Deos  nenhum, 
porque  em  muitos  deram  os  pilouros  nas 
cabeças,  braços,  peitos,  pernas,  e  per  to- 
do o  corpo  sem  lhes  fazerem  nojo.  passan- 
do delles  adiante  tam  furiosos  que  des- 
manchauào,  e  quebrauào  as  padesadas  em 
pedaços,  no  que  se  claramente  vio  que 
Deos  era  o  que  pelejana  por  elles.»  Da- 
mião de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  I,  cap.  SI,- —  «O  primeiro  que  abal- 
roou foi  ilartim  guedez  com  hum  jungo, 
depois  de  ter  metidos  no  fundo,  e  queima- 
do alguns  nauios  de  remo,  o  qual  jungo 
entrou  por  força,  e  o  mesmo  fez  loam  Lo- 
pez  dalvim  em  outro,  íTDs  quaes  ambos, 
se  po8  logo  fogo,  e  elle  com  os  outros  ca- 
pitães, segidram  a  frota  de  maneira  que  a 


desbarataram  de  todo,  saluo  Pateonuz,  e 
os  quatro  jungos  que  estauam  ao  redor  do 
seu.»  Idem,  Ibidem,  part.  o,  cap.  42. 

Molhercã,  freiras  forçadas 
as  nobres  casas  queimadas. 
e  mortos  os  moradores, 
principaes,  e  mercadores, 
sem  porque,  ás  cutilladas. 

GiiCIA  DE  BEZENDE,   MISCELL AIÍE A . 

—  « E  sem  se  saber  quem  nem  por  cujo 
mandado  foi  posto  fogo  às  nãos,  e  assi  to- 
mou elle  posse  delias  que  as  não  leixou 
ate  o  limie  da  agoa  :  onde  ardeo  muita  fa- 
zenda, por  que  estauào  pêra  partir  quasi 
de  todo  carregadas.  E  foi  a  cousa  que 
mães  espantou  aos  da  terra,  vendo  que 
sem  ter  cobiça  de  tanta  riqueza  como  nel- 
las  estaua  tào  leuemente  forào  queima- 
das: e  diziaò  que  isto  se  fizera  em  vin- 
gança do  que  fora  feito  a  Aires  Corrêa.» 
Barros,  Década  1,  liv,  7,  cap.  11. — ^d Man- 
dou ao  Bispo  de  Sylues,  e  ao  Bispo  de 
Tangere,  e  a  dom  Francisco  Déça,  e  a 
loam  Fogaça,  que  o  tirassem  da  sepul- 
tura, os  quaes  quando  o  tiraram  acharam 
as  taboas  do  ataúde,  em  que  o  corpo  es- 
taua, quasi  queimadas  da  cal,  e  assi  hu- 
ma  alcatifa  e  lençol,  e  o  corpo  do  glo- 
rioso Key  sam,  e  inteiro,  com  hum  chei- 
ro singular,  com  suas  barbas  e  cabelios 
na  cabeça,  e  nos  peitos,  e  pernas,  e  bra- 
dos, e  o  estômago  testo  como  se  fora  vi- 
uo,  e  dally  com  grande  acatamento,  co- 
mo corpo  santo  que  era,  per  esperiencia 
de  milagres  que  ja  tinha  feyto,  o  pose- 
ram  em  outro  ataúde,  cuberto  de  broca- 
do cramesim,  e  emburilhado  em  hum  len- 
çol de  olanda,  e  o  ataúde  em  que  jazia 
foy  todo  desfeyto  em  radias,  e  leuado 
por  relíquias.'.  Garcia  de  Rezende,  Chro- 
nica de   D.  João  II,  cap.  291. 

Xào  eram  ancorados,  quando  a  geute 
Extranha  pelas  cordas  já  subia  ; 
No  gesto  ledos  vem,  e  humanamente 
O  Capitão  sublime  os  recebia. 
As  mesas  manda  pôr  cm  continente : 
Do  licor,  que  Lyeu  prantado  havia, 
Enchem  vasos  de  \idro,  e  do  que  deitam, 
Os  de  Phaeton  queimados  nada  engcitam. 
cAM.,  Lcs.,  eaut.  1,  est.  49. 

—  «Temo  que  este  homem  he  hum  da- 
quelles,  que  hade  morrer  queymado  em 
algum  dos  incêndios  naturaes.  e  interio- 
res, que  se  tem  observado  em  muitas 
pessoas,  que  cometerão  no  uso  do  ■\-inho 
os  seus  excessos.»  Cavalleiro  de  Olivei- 
ra, Cartas,  liv.  1,  n.°  22. 

—  Assucar  queimado;  que  tem  o  pon- 
to mais  alto,  que  o  de  quebrar,  que  está 
tostado. 

—  Côr  do  cavallo,  tirante  a  negro. 

—  Alguns  dedos  queimados ;  alguns 
aggravados,  ou  offendidos  por  allusão  a 
defeito  delles. 

—  Clima  do  sol  queimado  ;  a  zona  tór- 
rida. 


—  Huras  queimadas  ;  furtadas,  subs- 
cessivas. 

—  Queimado  da  geada  ;  destruído,  sec- 
co  por  etieito  da  geada. 

—  Curda  queimada ;  jogo  de  rapazes. 

—  Figurada  e  popularmente  :  Joelhos 
queimados ;  diz-se  dos  homens  que  são 
casados. 

QUEIMADOR,  s.  m.  (Do  thema  quei- 
ma, de  queimar,  com  o  suffixo  «dôr»'. 
O  que  queima,  ou  lança  fogo  a  alguma 
cousa. 

QUEIMADURA,  5.  /.  Effeito  produzido 
pelo  fogo  em  algum  corpo,  e  seguido  da 
decomposição  de  suas  partes. 

• — •  Signal,  chaga,  empola  ou  impres- 
são, que  produz  o  fogo,  ou  qualquer  cou- 
sa muito  quente,  applicada  a  outra. 

—  A  parte  do  corpo  queimada. 
QUEIMA-LINGUA,  s.   m.   Planta  medi- 
cinal. 

QUEIMAMENTO,  s.  m.  Acção  e  effeito 
de  queimar.  —  «E  estes  afora  dos  que  na 
cidade  havia,  de  que  se  já  deu  conta.  De 
sorte  que  todos  juntos  uns  e  outros  eram 
perto  de  vinte  mil  de  cavallo  e  setenta 
mil  de  pé.  Na  verdade,  inda  que  o  quei- 
mamento  da  frota  de  seus  imigos  foi  gran- 
de azo  e  aparelho  pêra  estas  ajudas  po- 
derem vir,  porque  como  as  mais  delias 
viessem  por  mar,  e  o  achassem  desemba- 
raçado da  sua  frota,  sem  nenhum  pejo 
poderão  desembarcar  no  porto.»  Francis- 
co de  Moraes,  Palmeirim  dlnglaterra, 
cap.  160. 

QUEIMÃO.   Vid.  Quimão. 

QUEIMAR,  V.  a.  Abrazar,  ou  consumir 
por  meio  do  fogo.  —  «Nesta  auguada  de 
S.  Brás  fez  Yasquo  da  Gama  queimar 
ha  nao  dos  mantimentos,  de  que  era  ca- 
pitão Gonçalo  Xunez,  por  delia  naõ  ha- 
uer  necessidade,  donde  feita  auguada,  e 
caruagem  se  fez  à  vela,  hauendo  jà  tre- 
ze dias  que  alli  chegara,  e  estiuera  mais 
se  não  succederaõ  desconcertos,  e  brigas 
entre  hos  nossos,  e  hos  negros,  polo  que 
antes  da  ai-mada  partir  daquella  parajem 
a  vista  da  frota,  hos  negros  derribarão 
hum  padrão,  com  huma  Craz,  que  Yas- 
quo da  (lama  mandara  poer  sobre  hum 
combro.  junto  da  praia.»  Damião  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1, 
cap.  35.  —  «Que  el  Rei  de  Calecut  per 
conselho  dos  seus  feiticeiros,  em  toda  es- 
ta somana  nam  cometeo  o  passo,  Duarte 
Pacheco  nam  deixou  entre  tanto  de  fazer 
seu  officio,  entrando  pella  terra  de  Cam- 
balam,  fazendo  muitos  saltos,  em  que 
queimou  alguns  lugares  da  Ilha,  de  bom 
despojo,  tornando  sempre  vitorioso.  » 
Idem,  Ibidem,  cap.  87.  —  «Resoluto  o 
Marichal  em  ir  queimar  os  paços,  man- 
dou desembarcar  dous  tiros  de  metal  que 
entregou  a  Pedrafonso  daguiar  seu  sota 
capitam,  pêra  os  leuar  diante,  e  sem  que- 
rer tomar  o  parecer  dalgumas  pessoas 
que  lho  desaconselharam  mandou  tocar 
as  trombetas,  ao   som  das  quaes  abalou 


38 


C^UKl 


com  obra  do  oitocentos  honions,  o  toilu- 
lo»  ciipitricB  (Ic  wiiíi  frota,  niamlaniJo  <li- 
sicr  fi  Afoiwo  I)iill)iiqucr(|iio  huji  dctermi- 
níi(,'!iõ,  quo  o  pojiu  «uííuir,  ou  liizc.r  o  (\m', 
lhe  jmroco^HO. »  1'ioui,  Ibidem,  part.  2, 
cap.  4;5.  —  «Aiii  outro  f,arucro  do  (icntios 
a  (|uo  cliaiuJío  líaiijaciin  (|uo  viuom  niÍH- 
ticanuMite  assi  i-ntrostus  ll.s.Hbutos,  como 
entro  os  Jlouros,  os  ([uaos  nain  conuni 
cousa  quo  tcnlia  saiifíuc  e  per  sua  ioi 
naõ  podoni  matar,  nem  uor  matar  cousa 
nonluiina,  c  isto  oiu  tinto  quo  a:<  iMudeas 
com  quo  80  alumiam  motom  rm  alouter- 
nas  por  as  moscas,  mosquitos  c  borbole- 
tas senam  riroui  queimar  no  lume  doi- 
las.»  Idem,  Ibidem,  part.  ií,  cap.  0-1.  — 
«Encommoudou  muito  a  Lopo  soarez  quo 
huma  das  primeiras  cousas  que  fozosso 
depois  de  ter  despachada  a  armada  cui 
que  hauia  do  tornar  pêra  o  rcgno,  Afon- 
so dalbu(pierque  fozessc  luima  viajem  ao 
mar  Darabia,  e  trabalhasse  muito  por 
queimar,  e  desbaratar  aquella  do  8ol- 
dào.»  Idem,  Ibidem,  part.  o,  cap.  77. — 
«Isso  mesmo  saberá  vossa  Alteza  que 
elle  he  muito  justiçoso,  e  pune  grande- 
mente os  que  adoram  idolíos,  e  com  os 
Ídolos  03  manda  queimar,  c  tem  per  to- 
dos seus  recuos  ofticiaes  de  justiça  pêra 
prenderon»  todolos  que  souberem  que  tem 
idollos,  ou  fazem  feitiçarias,  c  outras 
quaesquer  maldades  que  toquem  a  nossa 
santa  fe  catholica.»  Idem,  Ibidem,  part. 
4,  cap.  3.  —  «Sepuiose  a  este  outro  era 
que  elle  imaginou,  que  a  Sàta  menina 
mudasse  pi-cposito,  o  foy  mandala  quei- 
mar com  tochas  acesas,  que  lhe  abrasa- 
rão todo  o  corpo,  e  vendose  daquello 
modo,  disse  ao  Tresidente:  Assado  tens 
meu  corpo,  c  feyto  nelle  o  que  pode  tua 
cruoldade,  mandão  salgar,  porque  lhe  nào 
falte  sabor  na  mesa  onde  ha  de  ser  apre- 
sentado.» Monarchia  Lusitana,  liv.  õ, 
cap.  22.  —  «Fez  em  publico  ajuntamento 
da  nobreza  do  Keyno  trazer  estes  papeis, 
c  queimalos  á  vista  de  todos,  para  que 
soubessem  que  juntamente  cõ  elles  se 
punha  etorno  silencio  aos  agravos  e  cul- 
pas antigas,  o  ficavaõ  todos  no  estado  em 
que  costumavào  estar  antes  das  discór- 
dias e  conjurações  passadas.»  Ibidem, 
liv.  6,  cap.  30.  —  «E  o  de  que  os  JIou- 
ros  mães  se  marauilharão,  foi  auendo  ali 
tanta  fazenda,  niío  fazer  cobiça  âquelles 
capitiles:  e  mãdarera  queimar  tudo  som 
tomarem  mães  despojo,  que  a  artelharia.» 
Barros,  Década  2,  liv.  1,  cap.  6.  —  «E 
como  quem  queria  mostrar  aos  Capit.ues 
que  n.uo  foram  no  sen  parecer,  quanto 
•  menos  era  queimar  as  náos  do  que  cUes 
cuidavam,  ordenou  cem  homens  do  mar. 
o  governo  dos  quaes  dependia  de  Fer- 
nando Affonso  Mestre  da  sua  náo,  o  Do- 
mingos Fernandes  Piloto  delia. b  Idem, 
Ibidem,  liv.  8,  cap.  4.  —  «A  substancia 
das  quaes  era,  que  em  nenhuma  outra 
cousa  entendessem,  sen.^o  em  segurar  a 
fortaleza    daquella   Cidade;    e   que   em 


QUKI 

quanto  podia  correr  perigo  de  per  algu- 
ma niatieira  poder  ser  tomada,  ou  a  po- 
voaçilo  da  (Jidade  fie  a  queimarem,  ou 
destruirom  de  man<3Íra,  que  <n  morad<j- 
rcs  íi  despovoassem,  o  ho  fossem  viver 
a  outra  parte,  per  nenhuma  necessidado 
o  (Japiti\o  mi')r  do  mar  Fern.^o  IVres  se 
apartasse  dVUa.D  Idem,  Ibidem,  liv.  í», 
cap.  15. —  oiVuíiue  agora  sua  teuçào  nilo 
tào  somente  c  por  armas  matar  e  tle-struir 
os  que  trazem  armas,  mas  inda  nas  mu- 
lheres c  pessoas  de  pouca  idade  fazer  tan- 
tos géneros  do  crueza,  assolando  c  quei- 
mando os  lugares  famosos  e  nilo  famosos 
de  teu  senhorio,  té  que  se  hajam  yjor  sa- 
tisfeitos das  perdas,  que  já  nesta  cidade 
tem  recebidas.»  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  IKl. 

Já  nâo  defenderá  somente  os  passos, 
Mas  (/Hci»mr-llic-lia  legares,  templos,  casas: 
Acccâo  de  ira  o  cio,  nao  vendo  lassos 
AqucUes,  que  as  cidade*  {azem  rasa-s, 
Fará  (luc  os  seus,  de  vida  pouco  esciíssos, 
Commcttam  o  Pacheco,  que  tem  azas, 
Por  dons  pasiws  n'um  tempo :  mas  voando 
D'ura  noutro,  tudo  irá  desbaratando. 
cAii.,  Lus.,  caut.  10,  est.  IG. 

—  «Os  imigos  de  cima  delle  sentirão 
03  nossos,  c  mio  ousáraõ  a  lhe  sahir,  cui- 
dando fosse  alguma  cillada  pêra  os  faze- 
rem acodir  alli,  e  cometcrem-nos  por  ou- 
tra parte,  c  de  cima  atirarão  muitos  ti- 
ros, com  que  fizeraò  afastar  os  nossos, 
ticrtndo  huma  só  casa  por  queimar,  de 
quinze  ou  vinte  que  er.no.»  Diogo  de  Cou- 
to, Década  G,  liv.  1»,  cap.  12.  —  «Pelos 
l*arao3  que  queimei  cm  Bacanor,  que 
eram  a  principal  força  de  Calecut;  por 
este  serviço  me  mandou  V.  A.  embarcar 
em  huma  n:ío  no  aposento  dos  grumetes. » 
Idem,  Década  4,  liv.  U,  cap.  7. —  «O 
qual  peias  ventas  lançava  muyto  grande 
quantidade  de  fumo,  e  pela  boca  iutini- 
dade  de  faiscas  de  fogo,  nào  artiticial, 
seniio  verdadeyro,  porque  dizem  que  lá 
encima  dentro  na  cabeça  lhe  faziào  con- 
tinuamente fogo.  para  mostrarem  á  gente 
que  era  a  Kaynha  da  esfera  do  fogo,  por- 
que esta  dizem  cUes  que  ha  de  queimar 
a  terra  quando  se  acabar  o  mundo.»  Fer- 
n.HO  Jleudes  Pinto,  Peregrinações,  cap. 
t)>Jl.  —  E  tirado  a  limpo  tudo  ho  que  aviam 
de  levar  na  corte,  queimaram  todo  ho 
demais.  E  porque  estes  trcs  homens  que 
tomaram  por  ajudadorcs  nam  divulgas- 
sem cousa  alguma  do  que  tinham  visto  c 
escripto,  deixaramnos  encerrados  com 
muitii  vigia  que  ninguém  pudesse  falar 
com  elles.»  Tenreiro,  Itinerário,  cap.  2õ. 

Já  vão  chegando  ao  Riibre  de  trinta  annos, 
Onde  tem  descoberto  o  sacro  Visgo. 
Altar  de  rólva,  ao  pê  do  tronco  erigem, 
Nelle,  um  eórte  do  pão,  Senanis  queímUo, 
K  o  borrifào  com  lágrimas  de  viiilio. 

r.   MVXOEL   DO   X.VSCIUESTO,  OS   1ÍABTTHE3,  1ÍV.  9. 

— Abrazftr,  aquecer  com  multa  inten- 


QUEI 

sidado,  como  o  sol  no  estio.  —  «Xem  o  sol 
te  queimará  de  dia,  nem  a  Lua  tu  affii^- 
rà  de  noyte,  que  quer  dizer :  Se  ten«  pos- 
to teu  prazer  em  iJco.s,  nem  a  prosperi- 
dade tempitrul  nem  a  aduersidadu  te  fa- 
ram  nojo.  O  sancto  lob  nem  no  dia  de 
suas  trÍHt«-zas  pcrtleo  esto  j)razer :  pois  qne 
em  o  diluuio  de  tauto.í  trabalho-)  dczia, 
Pois  de  Deos  recebemos  Ix-nn  Knibanios 
também  Boffrer  males  :  seja  o  seu  nomo 
bento.»  Fr.  Bartholomeu  dos  Martyreí, 
Compendio  da  doutrina  christã. 

—  Figuradamente  :  —  « Mandaua  Deo« 
que  do  sacrifício  que  6c  offerecia  polUjs 
jieccados  dos  Sacerdotes  qu.*ido  «;  conwi- 
graua,  Aaron  quoima.-ísc  toda  a  grossura 
do  fígado,  c  dos  intestinos,  e  quo  cobre 
oa  rins,  c  os  próprios  rins  amljos,  para 
mostrar  que  jiara  offerecer  sacrifício  de 
oraçatT  acoito  a  Deos.  cumj>re  queimar  de 
todo  os  apetites  dm  r^cntidoã  com  f<jgO  da 
caridade.»  Sermões  de  S.  Braz,  pag.  8ã. 
—  «Quem  foy  nunca  atribulado  que  eu 
com  elle  juntamente  nam  padecesse? 
Quem  foy  alguma  ora  c.scandilizado  que 
eu  por  isso  me  nam  doesse  e  queimasse? 
Deos  e  pav  de  no.sso  Senhor  Je.su  christo, 
sabe  que  nam  minto.  Ex  aqui  os  traba- 
lhos deste  diuino  semeador.  Mas  o  fruyto 
que  se  seguio,  quanto  fiv?»  Fr.  Bartho- 
lomeu dos  ^lartyrea,  Compendio  de  dou- 
trina christã,  liv.  2. 

—  Crestar,  desseccar,  fazer  perder  a 
verdura,  c  louçania.  como  acontece  com 
varias  plantas,  no  tempo  de  grandes  ne- 
ves ou  de  calore.'  excessivos. 

—  Cau.sar  uma  sensação  muito  activa 
na  bocca  c  no  paladar. 

— Tostar,  tisnar,  torrar  ao  ardor  do  sol, 
ou  do  fogo. 

—  Figuradamente:  Desbaratar,  dissi- 
par a  fazenda,  vendel-a  por  vil  preço. 

—  Picar,  ofFender  excessivamente  a  al- 
guém, affrontal-o. 

—  Queimar  ns  pestanas ;  estudar  de 
noute,  trabalhar,  d&svclar-se  para  fazer 
alguma  cousa, 

—  Tomar  as  cousas  por  ondt  (j[neimam ; 
tomal-as  á  má  parte,  no  peor  sentido. 

—  T'.  n.  Estar  uma  cousa  demasiada- 
mente quente. 

—  Queimar-se,  r.  rtfi.  Ser  queimado, 
abrazar-se.  —  «E  porque  nenhuma  cousa 
ha  hi  debaixo  do  sol  sem  tomar  a  ser  o 
que  foi,  e  o  que  virào  desta  qualidade 
(ie  tremor  havia  de  tomar  a  ser  por  for- 
ça, ou  cedo  ou  tarde,  nSo  o  escrevêriío. 
Concmo  que  u.mío  foi  este  nosso  espanto- 
so tremor,  ira  Pei ;  mas  ainda  quero 
que  me  queimem,  se  n5o  fizer  certo  qne 
tào  evidente  e  manifesta  foi  a  piedade 
do  Senhor  Deos  neste  caso,  como  a  fúria 
dos  elementos  e  damno  dos  edifícios.» 
Gil  Vicente,  Obras  varias.  —  «Assi  a  al- 
ma preza  cm  huma  cndea  asquerosa,  es- 
cura, penosa  de  que  ha  de  sahir  presto, 
e  presentarse  no  tribunal  do  Diuino  Juí- 
zo, se  deixa  leuarao  de  vaSos  cuidados, 


QUEI 

e  distrahirse,  a  causa  he,  porque  se  es- 
quece totalmente  de  sua  miséria,  e  sor- 
te trabalhosa.  Se  succede?se  queimarse 
liuma  casa,  poderia  quem  mora  nella  de- 
uirtirse  com  sentido  em  outra  parte.» 
Fr.  Bartliolomeu  dos  Martn-es,  Compen- 
dio de  espiritual  doutrina,  cap.  15. — 
u()  Arei  escapou  por  desastre,  e  quei- 
mou-se-lhe  a  mulher,  e  mais  familia,  e  a 
povoação  foi  mettida  a  ferro,  e  a  fogo,  e 
lhe  tomaram  trezentos  paraos  mui  bem 
feitos,  e  muitas  pessas  de  artilheria  de 
bronzo,  falcões,  berços,  e  dous  camelos, 
hum  de  metal,  e  o  outro  do  feiTO,  e  lhe 
cortaram  todos  os  palmares  que  puderam, 
de  sorte  que  ficou  destruído  de  todo.» 
Diogo  de  Couto,  Década  -i,  liv.  5,  cap. 
4. —  «Lembra-me  o  que  dizia  Mr.  rHuil- 
lier  de  Mr.  de  la  Millietere;  que  era  ho- 
mem muito  sábio  nas  suas  controvérsias, 
porem  tão  teymoso  nos  seus  pareceres, 
que  seria  capaz  de  se  queymar  vivo  em 
hum  Concilio.»  Cavalleiro  de  Oliveira, 
Cartas,  liv.  1,  cap.  15. 

—  Agastar-se,  impacientar-se;  deses- 
perar-se  ou  porque  se  faz  alguma  cousa 
contra  vontade  própria,  ou  por  se  ouvi- 
rem expressões  que  offendem. 

—  Termo  familiar.  Avisinhar-se  de  al- 
guma cousa,  estar  prestes  a  tocal-a. 

— ■  Queimar-se  o  sangue;  ferver  o  san- 
gue, sentir  uma  viva  impaciência. 

—  Adágios: 

—  Quem  se  queimar  que  sopre. 

—  Queime-se  a  casa,  mas  que  não  saia 
o  fumo. 

— -Não  faz  pouco,  quem  sua  casa  quei- 
ma, que  espanta  os  ratos,  e  aquenta-se  á 
lenha. 

—  A  muita  cera  queima  a  igreja. 

—  Fazenda  de  sobrinho,  queime-a  o 
fogo,  ou  leve-a  o  rio. 

—  Quando  o  carpinteiro  tem  madeira, 
que  lavrar,  e  a  mulher  pão,  que  amas- 
sar, não  lhe  falta  pão  que  comer,  e  le- 
nha que  queimar. 

—  Em  março  queima  a  velha  o  maço. 

—  Da  matta  salie  quem"  a  queima. 

—  De  uma  faísca  se  queima  uma  villa. 
QUEIMA-ROUPA,  s.f.—Á  queiraa-rou- 

pa,  loc.  ah-.;  de  repente,  immediatamen- 
te  ;  de  muito  perto. 

QUEIMO.  Vid.  Queimor. 

QUEIMOR,  s.  m.  A  sensação  muito  acti- 
va que  fazem  certas  substancias  na  boc- 
ca,  e  no  palador. 

QUEIRO.  Vid.  Queixeiro. 

QUEIROGA,  s.  m.  Uma  espécie  de  plan- 
ta ;  hoje  é  appellido. 

QUEIXA,  s.  f.  Expressão  de  dôr,  pena 
ou  sentimento,  damno,  mal,  injuria  que 
soffremos  por  injuria,  ou  feito  por  al- 
guém; querela,  lamento.- — «De  modo 
que  teria  pêra  auer  este  homem  dentro 
na  fortaleza,  com  hum  seu  filho,  e  genr- 
ro,  que  eram  culpados  nesta  conjuração, 
o  que  nunca  poderá  vir  em  efleito,  por 
ja  andarem   de  sobre  auiso,  pellas   mui- 


QUEI 

tas  queixas  que  cada  dia  os  da  cidade 
danam  a  Afonso  Dalbuquerque  delles, 
dos  agrauos  que  lhes  faziam.»  Damião 
de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part. 
3,  cap.  25. 

Hum  delles  ipostra  ser  ledo,  c  afíiabel, 
Beueuolo,  amoroso,  c  atractiuo, 
Triste  aflicçào  e  angustia  mostra  o  outro : 
Mostra  pesar,  desgosto,  c  queixa  sempre. 

CORTE  BEAL,  KAUFKAGIO  DE  SEPDLVEDA,  Caut.    11. 

Veiga  a  tautas  rasões  não  obedece, 
Autes  maia  importuna,  c  maia  atiu-a, 
E  tanto  em  seu  intento  prevalece 
Que  câcusar-ae  o  Silveira  cm  vào  procura ; 
O  qual  por  quanto  agora  bem  conhece 
Quào  pouco  cm  lho  outorgar  isto  aventura, 
Por  nao  ter  cSte  só  delle  esta  queixa 
Cumprir  sua  vontade  agora  o  deixa. 

FHA>-CISCO  DE  ANDRADE,  PRIMEIRO  CERCO  DE  DU', 

cant.  2U,  est.  64. 

Dalli  por  hiuna  Gruta  que  cortada 
Estava  na  aspereza  dos  penedos. 
De  condensadas  névoas  occupada 
Onde  tom  sou  lugar  os  torpes  Medos, 
A  huma  porta  chegào,  que  talhada 
Sc  mostra  entre  ruinas  e  rochedos. 
Onde  anciãs,  queixas,  prantos,  só  s'ouviào 
Que  03  éccos  de  seus  antros  repetiào. 

ROLIM  DE  MOURA,  XOV.   DO  HOMEM,   Cant.    3, 

est.  25. 

Chorai,  pois  que  a  queixa 
Somente  vos  deixa 
As  vozes  dos  ays. 

ADBADE  DE  J.IZEXIE,  POE.SIAS,   tOm .    2, 

pag.  238  (ediç.  1787). 

— « Das  outras  vinhão  por  Capitães 
D.  Joào  Lobo,  João  Rodrigues  Peçanha, 
Fernão  Alvares  da  Cunha,  Álvaro  Bar- 
radas. Estimou  o  Governador  a  vinda  de 
D.  Manoel  de  Lima,  pela  pessoa,  e  pela 
occasião.  Vinha  provido  na  Fortaleza  de 
Ormuz,  que  el  Rei  lhe  deo  por  desviar 
alguns  encontros  entre  elle,  e  o  Gover- 
nador Martim  Affonso  de  Sousa,  com 
quem  andava  atravessado,  esperando  que 
viesse^  da  índia,  para  lhe  pedir  satisfa- 
ção de*  algumas  queixas.»  Jacintho  Frei- 
re d'Andrade,  Vida  de  D.  João  de  Cas- 
tro, liv.  2.  —  «Faça  o  marido  de  quan- 
do em  quando  uma  estação  a  sua  mu- 
lher; amoeste-a,  que  nem  no  seu  estra- 
do, nem  em  o  alheio  apode  ninguém; 
cousa  muito  certa,  e  de  que  as  apoda- 
das, sendo  mulheres,  se  cansam  assaz,  e 
também  apodam  :  e  de  que,  se  homens, 
logo  lançam  mão  para  queixas,  ou  agra- 
decimentos.» Francisco  Manoel  de  Mel- 
lo, Carta  de  guia  de  casados. 

—  Doença,  achaque.  —  Queixa  de  pei- 
to.—  «Xem  faça  duvida,  que  pôde  haver 
estas  doenças  com  a  pureza  de  ar;  que 
se  promette;  porque  o  influxo  de  Júpiter 
por  fiivorecer  a  natureza  com  nimia  nu- 
trição; faz  que  o  sangue  se  augmente 
em  demazia;  e  em  este  sendo  mu3-to  fa- 
cilmente se  corrompe;  e  resultaõ  "aquel- 
las  queixas.»  Braz  Luiz"  d'Abreu,  Portu- 
gal Medico,  pag.  437. 


QUEI 


39 


—  Sentimento  de  dôr,  oftensa,  injuria, 
aggravo. 

—  Adagio  :  Autes   queixa  bem   cabi- 
da, do  que  premio  insuffieiente. 

QUEIXADA,  .«.  /.   (De   queixo,   com  o 
suffixo  «ada»).  Queixo. 

QUEIXAL,  atlj.  2  gen.  Dente  mollar. 

QUEIXAR-SE,  V.  refl.  Proromper  em 
queixas,  manifestar  vocalmente  a  dôr  ou 
pena  que  se  experimenta;  lamentar-se; 
dar  a  entender  o  resentimento  ou  moti- 
vo de  queixa  que  se  tem  de  outrem.  — 
«Fera  que,  Florendos,  te  queixas  de  teu 
mal  sendo  tão  contente  delle :  minha  se- 
nhora Mii-aguarda,  que  quereis  que  faça 
quem  vos  viu  pêra  se  perder,  e  vos  nào 
vê  pêra  dizer  o  que  sente?»  Francisco 
de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap. 
76.  —  «Meus  inales  não  sào  taes,  que  al- 
guém possa  com  elles  se  não  eu,  que  de 
os  ter  vivo,  pêra  que  com  maior  dô  a  vi- 
da passe :  bem  sei  que  toda  pena  sofrida 
por  vós  se  satisfaz  com  o  gosto  de  vos 
servir;  mas  que  fará  quem  vossas  cousas 
assim  trataram,  que  nem  lhe  dão  vida 
pêra  lograr  este  contentamento,  nem  o 
acabam  de  matar  pêra  não  ter  de  quem 
se  queixar?  Acabadas  estas  palavras,  de- 
teve-se  um  pouco  sem  dizer  outras,  e 
com  o  esvaecimento  delias  adormeceu.» 
Idem,  Ibidem,  cap.  76. — -«Senhor  ir- 
mão; disse  Palmeirim,  pêra  que  é  quei- 
xardes-vos  dos  desastres,  que  a  fortu- 
na tem,  pois  são  tão  geraes,  que  a  quem 
se  mais  guarda  delles  vem  cada  dia, 
quanto  mais  a  quem  por  si  os  busca.» 
Idem,  Ibidem,  cap.  87.  —  «Se  eu  algu- 
ma cousa  errei,  disse  o  cavalleiro  do 
Valle,  emendal-o-hei  no  que  me  mandar, 
e  se  vos  queixaes  de  vos  não  fallar,  nào 
tendes  razão,  que  eu  ando  tal  que  nem 
ouço  o  que  dizem,  nem  vejo  quem  pas- 
sa :  assim  me  trata  um  cuidado  que  de 
tudo  me  faz  esquecer.»  Idem,  Ibidem, - 
cap.  88.- —  «Senhora,  se  me  poderá  quei- 
xar a  alguém,  fizera-o;  mas  a  quem  o 
íarei,  se  isto  são  cousas,  que  nem  se  po- 
dem dizer  a  outrem,  nem  o  remédio  del- 
ias pôde  vir  senão  de  vós.»  Idem,  Ibi- 
dem, cap.  95.  —  «E  vendo  as  palavras 
com  que  se  queixava,  ainda  que  sentiu 
que  lhe  sabiam  d'alma,  tão  pedra  era  seu 
coração,  que  não  cabia  nella  ter  delle 
nenhum  dó.  Sobr'isso  tão  confiada  e  alti- 
va, que  cria  que  tudo  se  devia  a  seu  me- 
recimento, sem  ella  dever  nada  a  nin- 
guém.» Idem,  Ibidem,  cap.  109.  —  «E 
daqui  mando  a  Satlafor,  que  como  a  mim 
vos  obedeça,  e  a  V()s  peço  por  mercê,  que 
o  honreis  como  cu  o  espero;  de  sorte, 
que  de  vós  tire  o  galardão  do  muito,  que 
lhe  devo.  Senhor,  respondeu  Daliarte, 
esta  ilha  é  a  que  se  deve  queixar  com 
causa,  pois  lhe  negais  o  seu  premio  em 
tiral-a  de  vós,  pola  dar  a  quem  custou 
tão  pouco.»  Idem,  Ibidem,  cap.  120. — 
«A  rainha  se  levantou  e  o  abraçou,  fa- 
zendo-lhe   toda   a    honra    e    eortezia   que 


40 


QUEI 


QUKI 


QIEI 


pôde,  queixando-se  il<',  .tr  ilu'  nAo  ilar  n 
cim\irni-v  (|U!iiiil()  |i!is;ii-ii  ii  (iutr;i  vrz  por 
«iiii  cíiMH ;  I!  iiAi)  liic  i|ui/,  rccfijcr  (Ir-ciil- 
]iii  nciiluima.»  Idciii,  Ibidem,  <-'n\>.  l-i'. 
—  «.lá  íifTora  toroi  incnus  de  <|iie  iiic 
queixar,  pois  vejo  que  nAo  Bíto  cu  m  o 
esquecido,  iiiH.-i  isti)  nie  iiilo  consola,  (|ue 
nos  fiivore.s  queria  Hcr  hò,  nos  distiivores 
quanto  V('(8  (|uii<erde3.  o  Idem,  Ibidem, 
cnp.  14;$.  —  «Xaõ  sejíis  do  numero  da- 
quellfs  de  quem  o  Senlior  se  queixa,  que 
o  louvaò,  e  eonfessaõ  eoin  a  hoea,  mas  os 
Hcus  eora(,'i)ens  e-^taõ  loiíffe  delle. »  l'a- 
dre  Manoel  Hernardes,  Exercícios  espi- 
rituaes,  part.  1,  paj?.  yr>.  —  «Todos  so 
queyxauam  da  perpetuidade,  c  continua- 
riam de^ta  guerra.  Jlas  porem  nai\i  can- 
sauam  de  guerrear.  Atò  o  Sanetissimo 
apostolo  Paulo  bradaua,  c  dezia?  O  des- 
uenturado  de  mim  lioniem.»  Fr.  Bartlio- 
lomeu  dos  Martyres,  Catecismo  da  dou- 
trina christã,  llv.  '2. 

l'or('ni  o  mal  (|iu^  piii  mi  tem  maior  parte, 

O  qiu!  esta  alma  mais  souto,  c  oiiuo  mais  cliora, 

Ho  vêr  <iuc  coin  rasào  pódos  qucixar-te 

De  quom  morre  por  ti ,  ds  quem  to  adora  ; 

Pois  aeudo  minha  gloria  coutontar-to, 

Ku  te  obrigo  a  lancear  dos  olhos  fora 

Essa  agua  (pie  a  mi,  mais  que  a  ti  maltrata, 

Pois  a  ti  só  faz  triste,  a  mi  uie  mata. 

F.    DK  ANDB.VDK,   1'KIMKIRO  CKRCO  I)K  Dll',  Cailt. 

3,  est.  64. 

Iluns  com  vozes  ja  fracos  lamentáveis 
Da  morte  ja  visiuha  se  qneixavão. 
Outros  coui  altas  vozes  incansáveis 
Que  dessem  cruel  morte  eucommendaviio  ; 
Arteticios  de  fogo  iunumeraveis 
AUi  so  vòoui,  que  huns  a  outros  se  apag;ivão, 
E  assi  o  fogo  ((ue  sen\pre  os  damna  o  offende 
Esse  agora  de  si  mesmo  os  defende. 
iDiDEM,  cant.  18,  est.  40. 

Até  ((ue  em  tantos  dias  venha  uiu  dia. 
Que,  qiieixamlo-me  ao  som  d'uma  almofa(,'a, 
Mo  acabe  de  espirar  na  estribaria. 

FEIÍnXo  SOROPIT.V,    poesias  E  TBOSAS  INEmXAS, 

pag.  11. 

—  Queixar-se  d  justiça ;  querelar. 

—  Lanu'iitar-se   por  vicio  ou   costume. 
QUEIXEIRO,   (/■//.    Dente  do  siso. 
QUEIXIA,  *■.  /."  Vid.  Queixa. 
QUEIXO,  íí.    "'.    Parte   óssea   do   corpo 

animal,  onde  estào  ei-avadoa  o.s  dentes. 
lia  queixo  superior  e  inferior;  o  queixo 
superior  consta  do  onze  ossos,  cinco  do 
cada  parte  e  um  no  meio,  desamparado; 
o  queixo  inferior  consta  só  de  dous  ossos, 
que  no  meio  da  barba  se  unem  pela  iu- 
terposiv.ào  de  luna  cartilagem  a  qual  no 
sétimo  auno  de  idade  cst:i  dura.  e  con- 
vertida em  um  osso  que  já  nrio  se  piule 
separar.  No  bonunn  tica  immovel  o  quei- 
xo superior,  como  também  nos  mais  ani- 
maos,  excepto  o  jtapagaio,  e  o  crocodilo; 
entro  todos  os  ossos  só  OvS  queixos  teem 
veias ;  estas  teom  uns  pequenos  buracos 
ou  alvéolos,  em  que  estào  niettidas  as 
raizes  dos  dentes.  —  «  Com  bum  queixo 
do  jumento  matou  Sansaõ  em  hum  recon- 


tro ]ior  sua  niaiS  mil  contrários.»  Honar- 
chia  Lusitana,  tom.  1,  foi.  (í:5,  col.  2.^ 
1  l''oi  a  K.iinlia  iiiuIIkt  de  boa  e'<tatura 
alua,  iiéui  asHombjada,  o  queixo  do  rosto 
hum  pouco  Honiirlo,  os  olhos  graeionos, 
])ouco  risonha,  mui  honesta  em  toda.s  as 
suas  j)raticas,  ile  (jue  a.s  niai.s  eram  de 
eou.sas  diuinas,  muito  caridosa,  e  dada  a 
eniparar  (irjiliTuis.»  ]  >ami.^o  do  (iões,  Chro- 
nica  de  0.  Manoel,   part.  4,  eap.  l'.l. 

—  Tremer  o  queixO ;  diz-sc  das  pes- 
soas (|ue  tem  grande  mudo  oa  que  faliam 
tremendo. 

—  Fazer  tremer  os  queixos  a  nlijuein ; 
causar-lhc  terror. —  «Aonde  Júpiter  ves- 
tido do  estrellas,  e  coroado  de  magestadc 
fazia  tremer  o  queixo  aos  defuntos. »  }5ar- 
tholomeu  1'aixào,  Fabula  dos  planetas, 
pag.  4:}. 

— ■  Cair  o  queixo  "  ahjuem;  fiear  de 
queixo  caido;  iiear  attonito,  o  pasmado, 
embasbacado,  admirado. 

Da  toalha  soqucixada 
Era  tào  ayroso  o  geyto, 
Que  o  qiiei.rn  cahia  a  quantos 
tUhavão  para  o  soquci.xo. 

E.M    BLUTEAl',   8.     V. 

Que  e'o  qneixn  cahido  os  escutava 
Arqueando,  dcí  pasmo,  as  sobrancelhas. 
No  que  dizem  os  dous  in'ompta  concorda. 
Em  vão  o  Tlu>soureiro,  cm  vào  o  Chantre, 
Homens  austeros,  que  adular  não  sabem, 
S'oi)põcm  três  vezes  ao  sinistro  Acórdão : 
Que  a  Lisonja  astuciosa,  que  voando 
ííobrc  suas  cabeças,  invisivcl, 
Os  seus  votos  inspira,  faz  quo  todos 
A  callar-8C  os  obriguem,  murmurando: 
E  levados  da  força  da  torrente 
Assignárào  também  o  vào  Decreto. 
mMz  DA  CRUZ,  iiYSsorE,  caut.  3. 

—  Fazer  bater  o  queixo ;  tremer  de 
frio. 

QUEIXOSAMENTE,  a'lv.  De  queixoso, 
com  o  suffixo  "mente>".  De  uma  maneira 
queixosa. 

f  QUEIXOSISSIMO,  a<lj.  superl.  de 
Queixoso.  1  >eseoutentissimo. 

QUEIXOSO,  A,  adj.  (De  queixa,  com  o 
surtixo  iiOSO»i.  l^ue  se  queixa  tle  qual- 
quer cousa,  que  nào  faz  outra  cousa  que 
queixar-se;  quo  tem  motivos  de  queixa, 
que  tem  razões  para  se  queixar. 

Antro  estas  soo  saudosa 

vi  antro  duas  ribeiraa 

huma  serrana  queixosa 

cercando  umas  cordeiras 

sendo  cordeira  formosa  : 

Como  alli  tccm  (Mjr  uso, 

em  huma  roca  liando 

mas  como  que  hia  cuidando 

cahia-se-lhe  o  fu.'»o 

da  mão  do  ipiando  om  quando. 

inRisrovÃo  fauão,  obras,  pag.  6  (Cdiç. 
IS71I. 

Por  que  senhora  vas  assi  queixosa 
Do  mim  que  por  amarto  mouro  ardendo? 
Do  quem  foges  esquiva,  c  mais  ferniosíi 
Das  (pie  honra  ao  mundo  dão,  nelle  nac.ondo. 

(\>RTE   RKAI..   NAIFRAOIO  I>K   SErfl.VKHA ,    CaUt.     7. 


Inda  do  frio  invonio  a  Jura  frontí» 
Qui-iiim  o*  (.'anipos ;  e  o  pulu  <.-iíp«vori'li>. 
Como  o  priidu  da  relva  vi'  Uutjn<k>, 
Km  qiieij-imi»  balidon  bunca  o  munt>-. 

ADItADK  IlK  JAZKXrK,   lYiKKIAK,    tlJUl.    2.  pag.    i>i 

(cdiç.  d.i  17871. 

—  «  Era  este,  que  cantava,  o  queixozo 
<  *riano,  que  a  rogos  de  I>eontiuo.  dejx»!» 
de  dar  fim  ai)  que  escrevera,  o  eoii%'id<ni 
a  quo  eantiísse  eul|ian'l«  a  trÍ8t<:za,  que 
em  seus  contentamento»  nio«trava :  cllc 
dando  signaes  da  sua,  e  razaõ  da»  obri-  ■ 
ga(;oens  em  que  ella  o  puidi.-i,  cantou  o 
(|U<-  ouvisfcs.  >  Francisco  Uodriguca  I»- 
bo,  O  DesengaBado,  i>ag.  'à',). 

—  Mo!esta'lo  de  alguma  dôr,  ou  quei- 
xa. —  •  f 'om  o  que  lhe  deitey  trwi  veze^ 
pfdjre  o  liiirar  queixoso.  »  ÍVirro,  Obser- 
vações medicinaes,  pag.  107,  «ni  lílu- 
teau. 

—  Som  queixoso,  voz  queixosa ;  que 
exprime  la-itima-s,  queixas,   maguaa. 

QUEIXUME,  *.  VI.  Vid.  Queixa.  —  «  Fi- 
nalmente t.into  practicaraò  ambos  nesta 
matéria  de  paz,  que  veo  o  IJramnjanc  a 
dizer  que  se  clle  Almirante  quisesse  al- 
gum tanto  abrandar  de  seu."  queixumes, 
elle  seria  medianeiro  ev.tre  elle  e  o  f'a- 
morij  cõ  que  o^  negócios  viessem  a  me- 
lhor est.ido  do  que  estauSo.»  Barros,  Dé- 
cada 1,  liv.  6,  cap.  7. 

Vós  ojin,  que  vay  do  monte  a  monte 

Carregado  de  roubos,  c  queixume». 

Que  bora  amcat;»,  bora  nào  aofrc  a  ponte? 

AXTOXIO   FEBBEIK.K,    E(!UX3A    1. 

—  «  Mas  porque  nnivta  gento  vos  !ia- 
de  vir  com  queixumes,  e  importun.or  que 
lhe  falíeis,  tende  nisso  muvto  tento,  e  o 
melhor  be  escusardes  vos,  dizendo  que 
estais  oecupado  em  cou  as  espirituais:  e 
que  se  nam  tem  conta  com  Deos,  e  com 
sua  consciência  (conio  elles  dizem)  menos 
a  terá  eom  visco.»  Lucena,  Vida  de  S. 
Francisco  Xavier,  liv.  6,  cap.  11. 

TMsercta.  c  de  boa  catrcia, 
E  alóui  do  tudo  hc  alheia ; 
Que  isto  a  faz  sor  mais  formosa : 
Entre  outras  partos  que  tem. 
Deste  queixume  ejítá  rica  : 
Ah  <(ue  noiva,  que  lá  fica ! 
E  (pu^  inveja,  que  cá  vem! 

r.    R.    LOBO,  o  DFJ9KN0.15AIIO. 

Tu  guardarás  no  seio  os  meus  qiieixHmet, 

Tu  eontnrás  ás  porvindouras  eras 

Os  segredos  d"amor  que  nu^  esc«tasto, 

E  tu  dirás  a  ingratos  IVrtugiioxes 

Se  ix)rtugncz  cu  fui,  so  amei  a  (Utria, 

Se,  além  d"olla  e  d'amor.  jwr  outro  objecto 

Meu  coração  bateu,  luctou  meu  bnif,-o. 

Ou  modulou  meu  verso  eternos  cArmca. 

C.AHHETT,  CAMÕES,  CJUlt.    2,  OAp.   li. 

—  Fazer  queixume  a  ahjuein  ;  queixar- 
(le. —  í  iSomente  lhe  f-z  queixume  delles 
da  pouca  lealdade  que  lhe  mantinl  ai"»  dan- 
do auiso  de  .«eus  segredos  a  seu  imigo, 
pedindollie  que  prouesse  nisso  mandando 


QUEM 


QUEM 


QUEM 


41 


dar  tal  castigo  a  hum  par  delles  que  te- 
messem os  outros  encorrer  ua  sua  culpa.» 
Barros,  Década  1,  liv.  7,  cap.  6.  —  «Pas- 
sando o  triste  padecente  por  esta  rua  do 
Sabambainhâ,  chegou  a  hum  cerco  passo 
'aonde  estava  o  nosso  Capitão  Gonçalo 
Pacheco  com  mais  de  cem  Portuguezes 
em  sua  companhia,  entre  os  quaes  estava 
hum  que  era  homem  de  bavxo  sangue,  e 
de  entendimento  mnyto  mais  bayxo,  o 
qual  parece,  segundo  elle  dizia,  que  fora 
roubado  havia  dous  annos  no  tempo  que 
este  padecente  reynava,  e  fazendolhe  elle 
que3rxume  dos  culpados  ao  furto,  naõ  fo- 
ra ouvido  como  elle  quisera.»  Fernào 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.  198. 

—  Querela  judicial,  quando  o  queixu- 
me é  dado  por  voz,  ou  querela  formal; 
pleito  ventilado  em  consequência  de  uma 
injuria,  offensa,  ou  iusulto. 

—  Moléstia,  mal  que  obriga  a  quei- 
xar-se. 

QDEJADILHO,  *.  »i.  A  primavera  das 
boticas,  planta  medicinal. 

QUEJADO.  Vid.  Quejando. 

QUEJANDO,  ('.'íj.  yual.  que  tal,  de  que 
qualidade. 

—  Quejandas  são;  que  taes,  em  que 
estado  estào. 

QUELHA,  s.  f.  Calha,  peca  de  madei- 
ra que  tem  uma  taboa  por  baixo,  e  duas 
pelas  iliiargas,  por  onde  corre  a  agua 
para  a  roda  do  moinho. 

— Nos  moinhos,  uma  armação  de  ta- 
boas  muitas  largas  em  cima,  e  em  baixo 
muito  estreitas  quasi  a  modo  de  funil ; 
está  no  ar  sobre  a  mó,  que  chamam  cor- 
redora,  e  fica  atada  a  umas  vigas  em  ci- 
ma nos  quatro  cantos,  n'ella  se  deita  o 
grão  para  con-er  para  a  mó. 

— ■  Na  província  do  Minho,  beco,  ou 
rua  estreita. 

QUELIDONIA.  Vid.  Celidonia. 

QUEM,  pron.  rei.  Que  pessoa,  ou  pes- 
soas. —  Não  me  perguntes  quem  é.  —  Não 
posso  dizer  quem  sào.  —  «A  qual  seita, 
o  alcaide  se  recolheo  a  fortaleza,  sem  sa- 
ber quem  era  dom  Lourenço,  mandando 
logo  hum  presente  a  dom  Francisco  de 
refresco,  da  terra,  e  dalli  a  nove  dias 
mandou  hum  embaixador,  pêra  confirmar 
esta  paz,  com  dous  zambuquos  carrega- 
dos darroz,  e  trigo,  e  outros  mantimen- 
tos, a  qual  lhe  dom  Francisco  confirmou, 
e  deu  seguro  para  poder  tratar,  e  nave- 
gar pêra  onde  quisesse.»  Damião  de  Coes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  2,  cap.  4. 
- —  «Atfonso  dAlboquerque  sabendo  quem 
elle  era,  o  tratou  honradamente,  e  man- 
doulhe  pagar  os  cauallos  por  o  estado  da 
terra,  que  foi  a  razão  de  duzentos  cruza- 
dos cada  hum :  com  o  qual  embaixador 
quando  se  partio,  elle  mandou  Rui  Go- 
mez  de  Carualhosa  e  hum  Frei  loào  fra- 
de da  ordem  de  Saò  Domingos  cõ  buma 
carta  a  elEey  de  Ormuz,  e  outra  a  Coge 
Atar  seu  gouemador:  pedindolhe  que  a 
estas  duas  pessoas  que  elle  mandava  ao 

VOL.  V.  — 6. 


Xeque  Ismael,  dessem  cauallos,  e  todo 
bom  atilamento  pêra  irem  em  companhia 
daquelle  embaixador.»  Barros,  Década  6, 
cap.  2,  liv.  6.  —  a  E  para  que  de  todo 
fiqueis  contente  vos  afSrmo,  que  é  mais 
fermosa  que  Targlana:  de  tamanho  me- 
recimento como  ella  e  nào  muito  desigual 
em  estado.  Nào  me  pergunteis  quem  é, 
que  este  segredo  guardo  pêra  mim  só. 
Já  agoi'a,  disse  Albayzar,  não  quero  mais 
detença,  que  não  me  soffre  o  animo  lou- 
vores alheios  em  quem  não  pode  ter  ne- 
nhum despreso.»  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  dlnglaterra,  cap.  124. 

Comendo  alogremcute  pergimtavào, 
Pela  Arábica  língua,  donde  viiibào  ; 
Qtiein  erào  ;  de  que  terra  •,  que  buscavào  ; 
Ou  que  partes  do  mar  conido  tinhào. 
Os  fortes  Lusitanos  lhe  tornavào 
As  discretas  respostas  que  conrinhào : 
Os  Portuguezes  somos  do  Occidente ; 
Imos  buscando  as  terras  do  Oriente. 
CAM.,  LIS.,  ciint.  1,  est.  50. 

— «  Pede  o  pobre  Christam  a  Deus 
justiça  pelas  praças,  que  nam  ha  quem 
lha  faça  na  terra :  arde  em  zelo  o  bom 
padre  Cypriano,  assi  o  sente  como  o  pas- 
tor quando  lhe  o  lobo  leua  arrastando  da 
boca  huma  oueliiinha,  e  deixa  no  curral 
outras  degoladas,  e  todas  assombradas.» 
Lucena,  Vida  de  S.  Francisco  Xavier, 
liv.  6,  cap.  10.  —  « Vossês  estão  mor- 
tos por  saberem  quem  eu  sou.  Aqui  em 
segredo  ao  ouvido...  Sou  eu.  Achava- 
me  em  vinte  e  quatro  de  eJade,  quando 
juntei  a  maior  parte  das  espécies,  tào  dis- 
paratadas como  as  cinco  do  Universal.» 
Bispo  do  Grão  Pará,  Memorias,  publi- 
cadas por  Camilio  Branco,  pag.  51 .  — 
«  Sim,  diz  Frei  Lourenço,  e  você  me  ha 
de  dizer  quem  é  João  Satur.  —  Mudou 
de  cores  e  conversação.  Retirou-se,  e  frei 
Lourenço  o  seguiu,  e  com  amisade  o  aper- 
tava, mas  o  Magalhães  lhe  pediu  que  nào 
instasse,  porque  nào  podia  fallar,  e  n'a- 
quella  matéria  lhe  pedia  inviolável  segre- 
do. »  Ibidem,  pag,  113. 

—  í  Podcram 
Chegar  ao  throno  as  vozes  da  verdade, 
Sabe  quem  sois  cbei  ;  louvou  com  emphase 
O  amor  da  pátria  glória  que  a  alta  imprèsa 
De  perpetuar  seu  nome  ha  commettido, 
Dando  aos  heroes  de  Lvsia  et«ma  fama. 
Vinde,  que  á  hora  nona  vos  aguarda 
Impaciente. » 

GAKBEfT,  CAMÕES,  cant.  5,  cap.  14. 

—  <)  que,  a  que,  aquelle  que,  aquella 
que. 

—  Quem  diz  o  que  quer  ouve  o  que 
nào  quer.  —  «Dos  quaes  lugares  recita- 
dos te  ve  na  verdade  ter  Fernam  lopez 
scriptas,  e  acabadas  todalas  chronicas  do 
regno,  começando  do  Conde  dom  Henri- 
que ate  a  dei  Rei  dom  Duarte,  que  fa- 
zem em  numero  doze,  mas  como  se  lhe 
roubou  o  loutior  de  tamanho  trabalho  jul- 


gue quem  o  bem  entender.»  Damião  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  4, 
cap.  38.  —  «Quem  leva  por  guia  a  afei- 
ção, não  pode  acertar  bom  caminho, 
ha  o  de  levar  errado,  ha  de  yr  dar  em 
barrancos ;  se  forem  pecos  ahi  ficarão  ato- 
lados. Quem  dá  entrada  á  afeição,  está 
deliberada  no  consentimento  delia ;  apo- 
dera-se-lhe  do  juyzo,  e  priva  da  razão, 
que  nenhum  bom  conselho  lhe  pode  en- 
trar na  vontade.»  D.  .Joanna  da  Gama, 
Ditos  da  freira,  pag.  4  (ult.  ediç.) 


Eis  ca  vem  sempre  Amador, 
E  veremos  o  que  diz. 
Quem  enfermo  for  d'amor. 
Como  cu  contino  sara. 
Faça  autos  de  christào. 
Confesse-se,  tome  o  Senhor, 
Pois  tem  a  morte  na  mão. 

GIL  VICF.STE,  F.VBÇ.IS. 


E  quem  verdadeiramente 
estas  todas  bem  sentir, 
verá  que  em  muytos  tempos 
nunca  taes  aconteceram. 

GAECIA  DE  BEZZXDE.  MISCELLAXEA. 


—  (cE  porque  quem  dá  costas,  dá  ani- 
mo a  seu  amigo,  foi  tanto  alvoroço  em  os 
nossos,  que  juntamente  assi  na  fortaleza, 
como  na  Ai-mada,  começaram  bradar : 
Vitoria,  vitoria,  fogem ;  e  desferindo  Fer- 
não Peres  a  sua  véla,  dizendo  :  Sant -la- 
go, a  elles,  foi  cousa  maravilhosa  o  que 
nisso  cada  hum  fez  ;  e  seria  a  nós  mui 
difficultosa  escrever  a  ousadia,  animo,  di- 
ligencia, e  astúcia,  que  cada  hum  teve 
naquelle  feito.»  Barros,  Década  2.  liv.  9, 
cap.  õ.  —  «E  saltando  do  batel  em  um 
porto,  que  antre  dous  outeiros  estava,  co- 
meçou a  subir  por  um  pequeno  e  estreito 
caminho,  que  na  aspereza  da  rocha  se  fa- 
zia, tão  Íngreme  pêra  cada  parte,  que 
quem  pêra  alguma  delias  escorregasse, 
além  de  ser  muito  perigo,  não  podia  pa- 
rar senão  d'alli  mui  longe.»  Francisco  de 
Moraes.  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  Õ6. 
—  «E  porque  quem  naquelle  valle  entra- 
va não  podia  passar  sem  prometter  uma 
de  três  cousas,  escolhi  defender  que  era 
a  mais  fermosa  e  dina  de  ser  servida  de 
todalas  nascidas,  que  era  uma  das  condi- 
ções.» Idem,  Ibidem,  cap.  103.  —  «Cui- 
dei, disse  Arjentao,  que  ficava  inda  al- 
guma raiz  de  Bravorante  :  mas  pois  as- 
sim é,  quem  desejar  servir  a  vós,  tam- 
bém haverá  por  bem  servir  a  vosso  ir- 
mão :  a  mercê  que  me  fazeis,  acceito,  e 
que  eu  não  seja  pêra  tamanha  cousa,  nem 
vós  sois  pêra  as  pequenas.»  Idem,  Ibi- 
dem, cap.  119.  —  «Deixemos  os  affeiçoa- 
dos ;  que  estes  cada  um  dará/  o  louvor  a 
quem  estiver  entregue;  que  esta  cegui- 
dade  tem  o  amor,  e  daqui  veio  pintarem- 
no  assim;- mas  quem  tivesse  desoccupado 
o  espirito,  mal  poderia  negar  esta  verda- 
de.» Idem,  Ibidem,  cap.  120. 


42 


QUEM 


QUE3I 


qi:km 


f>li  i|iii".  iiào  i(iii  (Iij  iKijíi  ('(imo  o  iioiiti! ! 
Qmi  criiiiilo  tiir  iio.i  l)rii(;o.(  iiuKin  iiiiiavii, 
Al)r;ii;iuli)  im'.  ucJiiii  c/lmiii  iliiro  inoiítn 
Dl!  iH|ii)ri(  mato,  (i  dis  cHiinHiiirii  l)ravii : 
Kitando  f.'liuin  piíiiivlii  frontii  a  froiiti?, 
QiK!  i!il  pulo  f,'c\4ti)  aii^íc.licci  apurtava, 
Nài)  li'|iiri  lioiiii;:ii  ii:i<),  ina.s  iimilii  r  i|ii<' 
V,  Jiuitci  irmii  pniimlti,  nutro  pnund". 
1,'Ajt.,  i.f.s.,  c.tiit.  r>,  nst.  .')!!, 


--«H  (li/.  ((Ill-  quem  .so  dc^ll.-i  hho  con- 
tontíir,  quorondo  ontroa  novos  jicoutcci- 
lucnto-i,  (|uo  HO  Vil  iuw  soalhoivo.í  il<w  Ivs- 
i'iiiloiro.4  (l;i  ( 'astiinhcivii,  ou  do  Alliot  \'i'- 
tlro3  o  Biirroiro,  ou  converso  na  Rua  No- 
va oui  ca.ia  (lo  Boticário  ;  o  nài)  lliu  fal- 
tará quo  couto.»  Lloui,  El-rci  Seleuco, 
Prol. — ((E  ncsto  damos  tini  ao.-i  Jlaui- 
fostos  de  liuma,  o  outra  parte;  em  (jue 
Hcail  avcrií^uadas,  e  bem  inanifosta^  as 
unhas  do  Portugal,  c  Castella ;  o  bom 
curto  de  vista  sci-á,  c  bem  cego  do  pai- 
xão, quem  com  n  luz  destas  verdades 
naõ  vir,  que  l'ortui:^al  na(~  tem  unhas,  c 
quo  Oastoíla  sempre  as  tevo,  e  para  e<te 
Iveyno  muito  «rrandes.»  Arte  de  furtar, 
cap.   K). 

Km  mi'io  dixta  (Ivaia  90  cstl  vendo 

llua  larga  bahia,  ao  modo  feita 

Da  Ijiia,  t\w  de  novo  appareeendo 

De  travcz  o  fraterno  raio  acceita. 

D'hua  n  outra  parte  ao  Ceo  se  vai  erguendo 

Hua  intratável  roelia,  tão  direita, 

(iu'om  vão  subir  acima  tenta  c  estuda 

Senão  9i5  quem  das  azas  tem  a  ajuda. 

FKAscisiM  ni;  .VNmiini;,  riiiMEiito  cerco  de  nic, 
cant.   1,  est.  o'.). 


—  «A  obra  é  um  xadrez  do  coros,  mas 
sem  murtas  quo  aí  ordenem  cm  um  pla- 
no ;  c  um  macarrom  italiano.  Leia  quem 
gostar  por  sua  ordem  as  desordens  do 
autlior,  quo  me  parece  lia  do  ser  enfer- 
mo porque  vac  gastando  o  bom  humor.» 
líispo  do  (h-iio  rar;i.  Memorias,  publica- 
das por  Camillo  Oast  'lio  Br.iuco,  p.  45. 
—  «A  hom-a  da  mulher  comparo  eu  á 
conta  do  algarismo ;  tanto  erra  quem  er- 
rou cm  um,  como  quom  errou  em  mil. 
Fa(,'ain  as  honrailas  boas  contas,  acharão 
esta  conta  certa.»  Francisco  J[auoel  de 
ilello,  Carta  de  guia  de  casados. 

—  .1  quem;  ao  (|ii:il,  ;í  pessoa  (pie. — 
Á  quem  vutnujuci  tudo  quanUt  ixissuia. 
; —  «Do  ((ue  (íeorge  da  cunha  anisou  Afou- 
so  Dalbn([Uorquc,  que  poi'a  disto  ter  mais 
corta  informa(,'am  mandou  Diogo  Fernan- 
.dez  de  faria,  a  quem  por  ser  muito  es- 
forçado caualleiro  dera  o  ofticio  de  .Vdail 
do  (ioa,  que  fosse  com  dozo  de  cauallo, 
e  mil  pioons  Cauarins  a  terra  firme,  pa- 
ra tomar  lingoa,  no  <|ue  corroo  grande 
risco,  porque  fui  dar  de  noite  com  gente 
do  (,'abaim  daleão,  do  que  escapou  com 
n\ulto  trabalho,  atte  se  acolher  a  ilha.» 
Damião  de  (ioos,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  3,  cap.  4.  —  «Seguindo  .Vfonso  dal- 
buquerque  sua  viajen\  pêra  (\uianor,  foi 


ter  u  Onor,  onde  o  Tlnioja  vco  ver  com 
muito  rofresco  da  teiTa,  a  quem  Diogo 
memloz  deu  huma  curta  dei  Uei  dom 
Kiuanuel,  (|ue  Timoja  estimou  em  muito, 
e  fez  Hobelo  (|ue  lli<!  cl  Itei  uclia  screuia 
grandes  (.ifiertart,  jiura  todalas  uou!<aH  que 
(•um]irissrni  a  «eu  Herui<;o.B  Idion,  Ibi- 
dem, part.  1$,  (íap.  10. — «F,.ites  a  pri- 
meiía  cousa  <pi3  lho.)  dixeram  fi>i,  (|ue 
el  Ivei,  .-i  quem  a  meno.'i  parto  d;i  culpa 
do  qiU!  era  feito  cabia  por  8u;i  pouca 
idade,  lho  mandaua  pedir  (jiio  desse  se- 
guro aos  da  cidade  pêra  Fiiirom  ao  vara- 
douro apagar  o  fogo  que  andaiui  nas 
nãos,  e  (jue  elle  se  sobnuitia  a  obcflien- 
eia  dei  Uei  dci  Tortugal,  com  to  lalas  cou- 
ili(;oens  que  lhe  a  elle  jiarecessem  hones- 
tas, no  contratar  das  (piaos  vsaria  do  seu 
conselho  como  do  pai,  em  cujo  lugar  o 
queria  ter  dalli  por  diante.»  Ibidem,  jiar- 
te  2,  cap.  ;3I).  —  ((Nào  fallo  do  grande 
amor,  e  amizade  quo  ol  Uei  de  Congo 
tem  a  vossa  Alteza,  porque  lho  ouui  d\- 
zor  que  rogaua  a  no.sso  .Senhor  que  o 
nam  matasse  ato  primeiro  sena(T  ver  com 
vossa  Alteza,  isso  mesmo  lhe  ouvi  dizer 
que  vossa  Alteza  era  Uei  de  (!ongo,  c 
elle  de  Portugal,  c  estas  cousas  diz  mui- 
tas vezes  a  quem  ai  quer  ouuir.»  Ibi- 
dem, part.  4,  cap.  3.  —  nO  qual  saben- 
do o  trabalho  em  que  eu  andaua  me  cs- 
creueu  huma  carta  da  cidade  do  Porto 
onde  reside,  em  Nouembro  de  mil  qui- 
nhentos eincoenta,  e  oito,  de  quo  porei 
s(,>mente  o  (pie  toca  a  este  negocio,  a 
quem  se  pode  dar  inteira  fe  pola  muita, 
e  varia  li(;am,  e  doctrina  quo  nelle  e  nas 
artes  liberaes,  e  Philosophia.  e  experiên- 
cia das  cousas  que  de  seu  tempo  aconte- 
ceram nestes  regnos,  e  outros.»  Ibidem, 
part.  4,  cap.  3. —  «Ao  tempo  da  morte 
do  Duque  de  Viseu  a  senhora  Infanta 
dona  Beatriz  sua  mãy  estaua  em  Palmela, 
a  quem  d  Uey  pelo  Doctor  Nuno  (ion- 
(^alues  do  desembargo,  pessoa  de  nnivtas 
letras,  e  autoridade,  c  per  Gil  Fornandez 
seu  escriuão  da  camará,  pessoas  de  que 
eontiaua,  lhe  mandou  logo  notificar  a 
morte  do  tilho,  e  mostrar  as  causas,  c  cul- 
pas do  caso,  pêra  ver  as  razões  que  te- 
ucra  de  o  matar,  e  assi  lhe  mandou  Ic- 
uar,  e  mostrar  a  grande,  e  liberal  doa(;."io 
(|ue  a  seu  tilho  o  senhor  dom  Manoel  ti- 
nha feita.»  (iarcia  de  Rezende,  Chroni- 
ca  de  D.  João  II,  cap.  Tm. 

Peva  vor  me  fostes  dados, 
vos  soo  a  chorar  vos  destes, 
e  se  cu  toiíbo  cuidados 
meus  cibos  vos  mos  fizestes: 
l^esnue  n'elles  me  puzestes 
do  descan(;o  me  fugis 
iilbos  a  ijucm  eu  tanto  quiz. 


cmsTov.vo  F.M.c.vo,  oius.vs,  nas. 
de  ISTli.  '    ■" 


,ediv. 


—  oE  o  que  mais  animava  a  esta  nos- 
sa gente  desesperada,  além  de  saberem  o 
uso  dos  .Mouros   ]).Ta  os  fazer   fugir  pêra 


(•lies,  era  habereni  qu<-  andava  lá,  Imvia 
muito  teui|Mi,  hum  Portuguez  |H;r  noiíie 
.loãi)  .Machado,  ([ue  l^lztomucan  trouxo 
coinsigo  por  Mít  iioiiiem  e>tiiiiKdo  cntru 
elles,  e  a  quem  o  llidaleào  |;elort  fcitus 
de  Hiiu  posiioa  dera  a  capitania  de  certa 
gente,  e  ciirgo  di-  to<!oIiH  ianeailoH  noé- 
so.f.»  I>arr«>s,  Década  2,  liv.  tJ,  cap.  íl. — 
Com  tudo  uaõ  me  iian-coo  conveniente 
fazello  a.''sim  :  ]»>r  (pi;iiit<>  o  inteuUi  <Ikí- 
te  Tratado  naò  he  per^uadi^,  ou  conven- 
cer, a  quem  otivi-r  op|><>st<>,  ecnaS  ensi- 
nar, a  quem  está  persuadido  :  c  c.«tc  tal 
dezcja  adiar  doutrina  breve,  c  lhana,  que 
o  uào  cance,  e  confunda.*  Padre  MaiuM-l 
Bernardo.'',  Exercicios  espirítuaes,  //«/n»- 
ilnrjião.  —  «Alguns  ■•innos  depr/m  íc  de-<- 
cidirio  huma  co:ijiira«,aõ  cruel  contra  a 
pessoa,  e  vida  dei  Uei,'  <Ie  que  era  cabe- 
(;a  D.  Diogo  Duque  d<!  Vizeu,  cunhado 
do  Duque  morto,  c  innaõ  da  Unynlia.  a 
quem  el  Uei  ulepois  de  justificar  «iiflR- 
cieutissimamente  a  verd.vio)  matou  jx.r 
sua  ]inq)ria  uiai"»  ás  punhalada.s  na  Villa 
de  Setuval,  com  mais  razaõ,  o  mai«  no- 
tória causa  do  que  houve  na  morte  do 
Dufpie  de  Bragan<;a.'.  Frei  líernardo  de 
Brito,  Elogios  dos  reis  de  Portugal,  con- 
tinuados por  D.  .lo-é  Barbosa.  —  «Intro- 
duzio-se  em  Portugal  em  fcu  tempo  o  (.>f- 
tício  da  Santíi  In([uisi^-aõ,  a  qoem  dei 
grande  favor,  e  augmentou  por  to^las  as 
vias  possíveis.  Trouxe  a  Portugal  os  Pa- 
dres da  Companhia,  quo  entaò  couic\;rt- 
vaõ  cm  Uonia  debaixo  da  instituirão  do 
Padre  Ignacio  de  Loiída,  movido  da  fa- 
ma, que  corria  de  sua  doutrina,  e  bom 
exemplo  de  vida.  e  desprezo  do  mundo, 
6  cousas  delle.»  Ibidem.  —  «.-V  quem  olla 
em  reconheeimento  deste  beneficio  con- 
sentia tyrannizareni  o  Povo  em  publico, 
e  secreto,  sendo  taes  os  excessos,  que  al- 
guns Senhores  compadecidos  da  opprcs- 
saõ  dos  pobres  se  vierai"!  queix.ar  a  ol  Rei, 
represent-indo-lhe  a  perdi«;aõ  de  seus  vas- 
sallos,  e  os  gritos  com  que  os  jiobres  \<c- 
diaõ  a  Deos  vingança  de  taes  tyraunia.s.» 
Ibidem.  —  « Mas  bem  cbiro  fica  do  que 
temos  discursado,  a  quem  pertencem  es- 
tas nome^idas,  que  mais  se  contínnari  con\ 
as  ameaças  da.-*  novas  violências,  quo  nos 
promette :  e  entre  tinto  nos  coíisolemos 
com  o  que  lá  dizem  oin  Castclla.»  Arte 
de  Furtar,  cap.  1(>.  —  «Ahi  naõ  jx^hIc  ha- 
ver mavor  confiança,  que  a  do  hum  Ca- 
bo, a  quem  daõ  cem  mil  reis  para  hum 
pagamento  de  seus  soldadivs:  e  eui  ve»  de 
o  fazer  logo,  para  lhes  matar  a  fome,  que 
os  traz  m/irtos,  vai-se  á  casa  da  tafularía, 
põem  o  dinheiro  na  taboa  do  jogo.  com»  se 
fora  seu.  ou  lho  viera  da  ca«a  de  seu  avô 
torto.»  Ibidem,  cap.  ti2. 

I»go  o  Roi  inferunl.  »  quem  isto  cru 
Hem  conforme  ao  seu  gtjsto  o  naturcx*, 
GaI>ando-lbe  a  temcào  damnad»  e  feni. 
Im-itando-o  a  mór  ódio.  a  m.'ir  cmcza. 
Faz  vir  alli  a  p<?stifor8  MepTU 
K  Ibe  manda  que  vá  com  griU  prt>ste£a 


QUEM 


QUEM 


QUEM 


43 


Oiid!  a  sua  niorada  tom  a  Inveja 
E  mando  quo  o  Sultão  nirfto  proveja. 

r.    DE  ANDRADE,  PBIMEIBO  CERCO  DE  MU,CaUt.    O, 

C3t.  98. 


—  (( (j  objecto  desta  famosa  Sciencla, 
Le  o  Corpo  Humano,  cm  quanto  medica- 
vel;  porque  por  elle  se  especitíca,  e  se 
fàs  distincta  dos  outros  habitas  scientifi- 
C05  diversos.  A.ssi  o  tem,  com  os  seos  Ex- 
pcsitore?,  Avicena ;  2.  a  quem  segue  Car- 
reiro, 3.  Mercado,  4.  Yarandeo,  5.  Ap- 
pouense,  6.  Sancto  Thoma.s,  7.  Aristóteles, 
8.  e  Mereurial.  9.»  Braz  Luiz  de  Abreu, 
Portugal  medico,  pag.  242,  §  55.  —  «  Sc 
o  pregador  é  excellente  em  dizer,  pare- 
ce breve  a  quem  e.scuta.  Os  sermões  de 
missão,  se  o  missionário  é  douto,  e  tem 
sal  junto  com  grande  conceito,  não  são 
grandes  ainda  occupando  duas  horas.  Taes 
eram  os  de  frei  Paulo  do  Yaratojo,  os  de 
frei  Manuel  de  Deus  e  os  de  frei  Affonso 
doi  Prazeres.»  Bispo  do  Grào  Pará,  Me- 
morias, publicadas  por  Camillo  Castello 
Branco,  j;ag.  135. 

—  De  quem ;  do  qual,  dos  que,  daquel- 
le  que,  daquellas  que.  —  «Tendo  as  por 
trio  acima  das  de  os  outros  homens,  que 
as  passadas  estimadas  dantes  em  muito, 
agora  pareciam  de  menos  valor,  que  pêra 
Floramão  era  assas  contentamento  vêr 
tanto  em  extremo  louvar  a  pessoa  de  que 
fora  vencido,  c  de  quem  o  eram  tantos, 
eouio  atraz  se  disse,  antes  que  o  comer  se 
acabasse,  entrou  pola  porta  um  cavallei- 
ro  mancebo  armado  de  todas  as-  armas, 
somente  o  rosto.»  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  30.  —  «Ves- 
tidas de  cores  c  roupas  tão  novas,  como 
se  foram  daquelle  dia;  e  cada  uma  do 
trajo,  que  em  seu  tempo  se  costumava; 
tão  vivas  no  parecer,  que  enganavam  a 
vista  a  não  saber  determinar  outra  cou- 
sa, nem  se  podia  acabar  com  o  juizo  de 
quem  as  via  crer,  que  fossem  corpos  mor- 
tos; que  em  nada  o  pareciam  senão  no 
esquecimento  dos  mcoibros  pêra  os  biilir, 
e  da  lingua  pêra  soltar  paIa-\Tas,  que  em 
tudo  o  aí  não  havfa  que  duvidar.»  Ibi- 
dem, cap.  120. 

Aqucllo  do  quem  já  no  tempo  antigo 
Prophctizou  Daniel,  quo  nacoria 
Do  huma  fora  espantosa  hum  corno  eseuro  ; 
Que  com  força  trc.-?  cornos  lho  quebrasse. 

CORTE  BEAL,    NAUFRÁGIO  DE   SEPÚLVEDA,   Caut.    2. 

Cum  delgado  cendal  as  partes  cobre 
De  quem  vcrgonlia  é  natural  reparo  ; 
Porém  nem  tudo  esconde,  nem  descobre, 
(fxéo,  dos  roxos  lírios  pouco  avaro  : 
Mas  para  que  o  desejo  acconda  e  dobre. 
Lho  põe  diante  aquolle  objecto  raro, 
Já  se  sentem  no  céo,  por  toda  a  parte,. 
Ciúmes  em  Vulcano,  amor  em  Marto. 
CAM.,  i.us.,  eant.  2,  est.  37. 

• —  «Soubc-se  que  estava  em  Bavon;-  de 
França  Pedro  José  Suppico  e  alguém  lhe 
armou  o  la<;o  pelo   modo  seguinte :   Che- 


garam de  Moçambique  o  padre  António 
Serra,  religioso  dominico,  sujeito  de  quem 
a  sua  illustre  ordem  não  fará  menção  nos 
seus  Agiologios  nem  metterá  entre  os  va- 
rões illustres.»  Bispo  do  Grão  Pará,  Me- 
morias, publicadas  por  Camillo  Castello 
Branco,  pag.  110.  —  «Dormimos  uma 
noite  em  casa  de  José  Alvares  Roxo  de 
Potfliz  honrado  homem  do  Pará,  filho  de 
um  francez,  e  irmão  do  erudito  chantre, 
de  quem  faz  honrosa  memoria  mr.  de 
Condamine.»  Ibidem,  pag.  203.  —  «Pas- 
ma a  Natureza,  extremece  a  mão,  e  naõ 
atina  a  correr  pello  papel  a  peuna  à  vis- 
ta dos  bárbaros  costumes,  que  entramos 
a  ponderar  em  muvtos  homens  a  respeito 
dos  mesmos  homens  ;  de  quem  naò  será 
violento  o  verificar-se  à  vista  de  tantas 
crueldades  inhumanas  o  antigo  Provér- 
bio: Homo  homini  lupus  est.»  Braz  Luiz 
d'Abreu,  Portugal  medico,  pag.  25,  §  91. 

E'  tarde-,  e  se  outro  hospicip  á  mào  não  tendes, 
Sereis  bem  vindo  a  um  gasalhado  humilde 
De  quem  melhor,  a  tê-lo  offerecêra. 
Má  noute  passareis ;  mas  um  soldado 
Xào  teme  estrados  maus  nem  leitos  diu-os. 

GARRETT,  CAMÕES,  CaUt.  1,  Cap.  21. 

Das  leis  univorsacs  diverge,  e  aberra, 

Que  a  Xatiireza  invariável  dieta 

A's  espceies  sem  número  dos  brutos. 

S<)  modelo  encontrou  entre  os  humanos, 

Mais  cruéis  entre  si  que  as  feras  todas. 

De  quem  o  Tigre  é  monstro ,  e  opprobio  os  homens. 

J.    A.    DE  M.ICEDO,  o  ORIENTE,    Caut.    3. 

—  Per  quem,  ou  j^or  quem;  pelo  qual, 
pelos  quaes.  —  «Dada,  etc.  O  treslado 
desta  notificação  mandou  el  Rei  dom  Afon- 
so de  Manicougo  aos  principaes  Senhores 
de  seus  regnos  e  senhorios,  e  alguns  seus 
vizinhos,  e  logo  no  mesmo  anno  de  M.  D. 
xii,  mandou  dom  Pedro  seu  primo  com  a 
obediência  pêra  o  Papa,  e  com  elle  doze 
pessoas  principaes  de  sua  corte  per  quem 
mandou  a  el  Rei  dom  Emanuel  hum  pre- 
sente de  cousas  que  se  em  seus  regnos 
criam.»  Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  3,  cap.  38.  — « Em  Cana- 
nor  veo  ter  com  Afonso  dalbuquerque 
hum  embaixador  dei  Rei  de  Cambaia, 
per  quem  lhe  mandaua  dizer  que  tinha 
entendido  que  se  fazia  prestes  pêra  ir  ao 
mar  de  Arábia,  que  lhe  pedia  que  de  ca- 
minho quisesse  entrar  em  hum  dos  dous 
seus  portos  pêra  lhe  vir  fallar,  e  com  elle 
assentar  pazes,  e  amizade,  que  era  a  cou- 
sa do  inundo  que  por  entani  mais  deseja- 
ua.»  Ibidem,  cap.  10. 

Tanta  força  lho  dá  esta  esperança 
Que  novamente  cm  si  tem  concebida, 
Quo  o  forçou  a  deixar  sem  mais  tardança 
A  vista  por  q}iem  morre,  c  lhe  dá  a  vida. 
Daqui  com  grande  pressa  faz  mudança 
Lá  OEContra  Strongile,  Ilha  conhecida 
Entro  as  Vulcanias  sete,  e  celebrada. 
Porque  Eo!o  alli  faz  sua  morada. 

F.  d'andrade,  primeiro  cerco  de  DIU,  cant.  4. 
eat.  y. 


—  Covi  quem ;  com  o  qual,  com  os 
quaes.  —  Com  quem  repartia  txido  que, 
tinha  —  «A  terceira  armada  era  de  três 
nãos,  capitão  loam  serram,  com  quem 
hião  por  capitaens  Paio  de  sousa,  e  ou- 
tro de  que  não  pude  saber  o  nome,  os 
quaes  el  Rei  mandaua  a  ilha  de  Sam  Lou- 
renço, pêra  assentarem  pazes,  e  amisade 
com  os  Reis  de  Matatana,  e  Turubaia, 
pêra  por  esta  via  auer  gingiure,  e  quaes- 
quer  outras  speciarias  que  ouue.sse  pa 
ilha,  as  quaes  partirão  aos  oito  dias  do 
mes  Dagosto.»  Damião  de  Góes,  Chro- 
nica de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  10. — 
«Pois  acompanhando  ao  bispo,  de-  cuja 
familia  era,  e  ajoelhando  a  fazer  oração 
em  terça-feira  maior,  ajiTStou-se  com  uma 
dama,  com  quem  depois  casou.»  Bispo 
do  Grão  Pará.  Memorias,  publicadas  por 
Camillo  Castello  Branco,  pag.  03. 

■ — Quem?  servindo  para  interrogar. — 
Quem  falia  f  —  Quem  és  tu  ? 

Mora.  Não  vedes  que  sois  ja  morto, 

E  andais  contra  natura '? 
Velho.  O  flor  da  mor  formosura, 

Quem  vos  trouxe  a  este  meu  horto  V 

Ai  de  mi ! 

GIL  vicexte,  FABÇAS. 

Quem  averá  quo  orca  taes  estremos 
D 'amor,  de  formosura,  c  crueldade? 

ANTÓNIO  FERREIRA,  SONETOS,  U.»  10. 

—  «  Como  templará  el  destemplado  ? 
Quem  poderá  dar  o  que  não  tem,  Senhor 
Duriano?  Eu  quero-vos  deixar  comer  tu- 
do :  não  pôde  ser  que  a  natureza  não  fa- 
ça em  vós  o  que  a  razão  não  pôde :  o  ca- 
so he  este ;  dir-vo-lo-hei ;  porém  é  neces- 
sário que  primeire  vos  alimpeis  como  mar- 
melo, e  que  ajunteis  para  hum  canto  da 
casa  todos  esses  máos  pensamentos ;  por- 
que segundo  andais  mal  avinhado  dam- 
nareis  tudo  aquillo  que  agora  lançarem 
em  vós.»  Camões,  Filodemo,  act.  2,  se. 
2.  —  «  Pois  quem  vos  parece  que  sayeys 
a  ver:  homem  vestido  de  olanda,  e  se- 
da? taes  nam  se  acha  no  ermo,  senam 
nos  paços  dos  Reis.  Pois  quem  saleys  a 
ver,  Propheta?  affirmouos  que  mais  he 
que  Propheta.  Este  he  aquelle  Anjo  do 
qual  está  escrito,  Ex  aqui  cu  enuio  a  uicu 
Anjo  diante  de  ti,  pêra  que  te  aparelhe 
o  caminho.  Deste  Euãgelho  irmãos  meus 
somente  duas  doutrinas  vos  quero  enco- 
mendar. »  Frei  Bartholomeu  dos  Martyres, 
Catecismo  da  doutrina  christã,  liv.  2.- — 
o  Quem  fallara  da  geraçam  eterna?  quem 
poderá  declarar  como  o  Padre  eterno  eter- 
nalmente  produzio  huma  imagem  viva  de 
sua  substancia,  de  sua  natureza,  igual  a 
elle  em  Magestade,  bondade,  poderio,  c 
■sabeduria?»  Ibidem.  ■ —  «  Quem  ha  de  cul- 
tivar os  campos?  Quem  ha  de  guardar 
os  gados?  Quem  ha  de  trabalhar  nas  ofli- 
cinas  de  toda  a  Republica?  E  faltan- 
do isto,  que  has  de  comer,  que  baa  de 
vestir,  e  calçar?  Que  IvaçHò  viste  nunca j 


44 


ííUKM 


QIJKN 


QUKK 


í|iio  tizomii    miorra  hii  cdiii  <m  h(!Uj<  luitii- 
riuwV  «  Arte  de  furtar,  c.iit.  '2'.K 

(lufni  tiio-i  iiill:i(;rin  iriicroiíímo  n  iriioiirii, 
Qnoiíi  tiiutii  k''''1'''i  "  tiliii  pnijiicMio  li(!r(;<» 
J''i>i  tam  loií^i!  K'">l»^>'  f  QiK'1»  <t  >>>■>  pinilinili) 
l>'lii>iii<Mi.'4,  á  iiiiiiri  |ii!i[iii'ii.'i  ii!t(;ilo  (li)  orbii 
I)(!U  iiiiinM  n  tiiiiH|)i)r,  vm-odii!)  iiovhh 
A  tlnrtciibnr  mi  fiico  do  iiniviTrtO. 
OAHiiKTr,  i:amui;h,  ciuit.  3,  cap.  17. 

Do  Nyrtii  o  vciiciidoí-  cio*)  iiiipiii;iiii 
A  BiMitcm;ii  do  imiiKiii.  (1'tcin  AtinU:\\bi 
A  lioroica  LyHia?  K'  Viíiuih,  Vcmiti  hclla, 
A(F(!Í(;oiidii  a  iini  povo,  diH  roíiianu!» 
Qualidades  honltúro,  o  cuja  linpiia 
Com  pouca  c.orrupi;ào  ci-c''  ipin  ('•  latiua. 
iiiiDi.M,  caiit.  7,  cap.   lá. 

—  Quem  tal  dii-ia?  o  parvo  do  inancoho 
Itnbado  a  olhar  |)ara  oUa  uma  liora  intoira. 
K  porliui...  (1  porliui — ^  toina-a  nos  bra<,'0S, 
K  dosanda  a  cornM'  eoino  uui  <lauiuad(). 
Para  a  levar  a  terra  de  baptismo, 
K  fugir  —  dizia  ollo  lá  comsigo  — 
Da  t«utai;ão. 

IDKM,  D.   IIIUNCA,  Cap.   20. 

—  «  Com  um  movimento  convulso  Fr. 
Vasco  aportou  a  mào  do  abbado,  e  com 
voz  rouca  e  lenta  respondeu  :  «  Alma  o 
corpo,  padre  abbado,  dou-vos  tudo  nesta 
vida:  que  na  outra...  a  minha  alma  per- 
tence ao.s  demónios!»  « (Jutra  vida!  ou- 
tra vida!  — respondeu  o  monge  alcaido- 
mór  com  um  sorriso.  —  Quem  sabe  lá  na- 
da da  outra  vida y  Viste  jil  tu  o  deiiionioy 
Nào.  Nom  cu.»  Alexandre  Herculano, 
Monge  de  Cister,  cap.  9. 

—  Quem  repetido  duas  vezes,  n'uraa  ou 
mais  plirases,  quer  dizer:  lun,  outro. — 
Quem  roi)q)e  a  cabeça,  quem  o  braço.  — 
Quem   rii-e  de  um  mudo,   quem  de  outro. 

— ■  Quem  quer  que ;  qualquer  que.  — 
Quem  quer  que  fòr.  — «  Ajuntando-se  com 
elles,,se  assentou  sobre  oste  meu  castello, 
com  voto  do  se  nito  levantar  dalli  té  lha 
dar  por  niulhor,  oix  a  tomar  a  quem  quer 
quo  a  levar  quizessc.»  Francisco  de  Aío- 
raes,  Palmeirim  dlnglaterra,  cap.  37.  — 
«Menina!  pohresinha!  Aqui  está  o  bom 
padre  do  teu  Jesus.»  Isto  dizia  o  mouro 
cm  voz  baixa,  curvando-sc  e  estendendo  o 
pescoço,  como  reccioso  do  despertar  quem 
quer  ([ue  era.  »  Alexandre  Herculano, 
Monge  de  Cister,  cap.  ò. 

—  Phtr.  Quem.  —  «  E  mandar  chamar 
03  Fidali,^os,  e  (.\ipitaen3  do  conselho  a 
queu  deu  conta  do  que  passava,  e  lhes 
declarou  que  sua  tenção  era  cmbarcarse 
logo,  pedindollies  que  se  fizessem  prestes 
pêra  o  acompanharem.  Todos  lho  louv;Y- 
raõ  muito,  o  se  lhes  oftereceraõ  com  mui- 
to gosto.»  Rarro.M,  Década  (1,  liv.  10, 
cap.  f).  —  «  Já  naõ  ha  uma  vara,  que  ron- 
de de  noito,  nom  queu»  casse  hum  milha- 
tre;  o  por  isso  as  unhas  andaõ  taõ  soltas. 
E  porque  os  Reys  saõ,  os  a  quem  mais 
nesto  uíuudo  se  furta,  porque  ten»  mais 
do  seu ;  ou  porque  naõ  se  resguardaõ  por- 
isso  tanto  como  os  quo  tom  menos;  seja- 


tiie  liciti)  liar  aqui  hunia  |>alavi'a  a  Ki-Hey 
lumin)  Senhor.»    Arte   de  furtar,  eap.  til. 

—  A'l.r.  \'\<l.  Áquem. 
QUEMBRA.  Vi.l.  Cãibra. 
QUEMQUER.  Vi.j.  Quem. 

■j-  QUENA,  .■*.  /.  Iv^pi-cie  de  flauta  que 
tiir.uii  11  í  ijidios  do   l'i:rú  <;  Bolívia. 

QUENGA,  í.  f.  Vasillia  fuita  da  ineta- 
do  da  casca  de  um  coco,  limpa  do  miolo, 
na  qual  comem  os  crioulinlios  do  ISrazil 
nas  fazendas  e  jjlantaeòcs  o  serve  de  me- 
dir a  tamiiia  de  cada  comida,  ou  diária. 
—  /'//('(  quenga  d,-  fcijàn. 

QUENTAR.  Viil.  Aquentar. 

QUENTE,  adj.  J  ,j,„.  Que  tem  ciilor 
em  si,  cálido,  caloroso. 

I.ouomento  llio  passa  o  forte  ppjto, 
I'as.salhe  o  coraçfto  rohuftto,  c  duro 
Huma  parte  alli  mostra  as  penas:  c  outra 
Nas  costas  mostra  o  forro  em  saiiguo  tinto. 
Cac  o  forte  varilo  regando  a  terra 
Com  escunioso,  ruiuo,  e  quente  sangue 
Do.somparados  ja  da  luz  radio.sa, 
Os  frios  oliios  cerra  em  noite  escura. 

COUTK  HKAI,,  NAlKnAOIO  DK  SKITLVKnA,    caiit.  9. 

—  (I E  tomando  os  corpos  das  mulheres, 
filhos,  e  mais  familia,  que  estavam  ain- 
da palpitando,  o  revolvendo-so  no  quen- 
te sangue,  os  foram  lançar  no  meio  da- 
quellas  ardentes  eiiannnas,  consunnudo- 
sc  tudo  em  cinza  cm  luun  nuiito  breve 
espaço,  imitando  nesta  brutal  façanha  os 
antigos  Numantlnos.»  Diogo  do  Couto, 
Década  4,  liv.  7,  cap.  'iS. —  «ilas  vindo 
ho  mes  do  mayo  do  mesmo  anuo  cliovco 
muita  chuva  muy  quente,  com  ha  qual 
parecia  que  ardia  ha  terra,  o  com  gran- 
de calor  pcrecco  muita  gente  :  mas  nào 
pereceo  de  todo  ha  província :  pollo  que 
fov  ha  molher  levada  a  cl  Uey,  ha  qual 
esteve  pres.a  no  tronco  onde  estavam  pre- 
sos os  portuguezes  que  isto  coutaram.» 
Tenreiro,  Itinerário,  cap.  2'.t. — -«No  mes- 
mo tempo  se  lho  applicou  íi  cabeça  o  ro- 
denho,  c  bofes  de  «irneiro  com  o  calor 
ainda  do  animal ;  e  se  lhe  repetirão  três 
vezes,  sendo  quentes  em  cozimento  de 
coentros  verdes,  e  cabeças  de  dornddei- 
ras  ;  c  com  cffeito  da  applicaçaõ  destes 
dous  remédios  começou  sensivelmente  a 
restituir-se  em  forma  ipie  convalesceo  per- 
feitamente.» Braz  Luiz  d' Abreu,  Portu- 
gal medico,  pag.  397,  §  1G4. 


Muda-sc  O  vento :  vemos  pelas  torres. 
Que  naõ  tem  perziatencia  as  suas  grimpas : 
l'or  lu\ma  parte  o  Norte  frio  bufa  ; 
I'or  outra  o  quente  Sul  nos  as.sobia. 

ABIIADE  DK  JAZENTE,  POESIAS,   tOUl .    2,  pag.    19 

lediç.  do  1787). 


«Uma  lagryma 
Delira  o  mais  das  letras  ;  —  quente  ainda 
A  senti  no  papel...-    >fudo  e  sem  vida 
Horas  longas  fiquei  parado,  extatiw), 
No  coração  a  earfc»,  os  olhos  fitos 
Na  avara  gelosia.  Alta  ia  a  uoute. 
OABBETT,  CAMÕES,  cant.  4,  cap.  4. 


Va\  vejo.  ujkím  hum  Ciccro,  d«  Nero 
(»  gfuiTóso  MiMtre,  u  8abiu,  o  fort« : 
De  Zi-uo,  do  Xiuii'crut<'s  austírro 
Aluiiino,  e  vencedor  no  engr-nho,  o  vid» 
Mais  sublime  ipic  SocratJM  na  iiiiirtc- : 
Ur<M-be  o  vaso  da  Cicuta,  c  cal» 
1'rofiindo  Kw-iíio  ;  SíMieca  entorna 
O  qiiriile  Kangiie  das  rusgadas  Vi'as  ; 
Tem  já  nu  nisU)  a  n)orti-,  iiida  dis|>utn, 
K,  nutrundo  nos  umbruvs  da  Kttrnidadc, 
Demoiuttra  i|ui)  hu  veutura  o  gol|H!  (-xtretoo. 

J.   A.   DK  HAi.KUO,  MKDITAVÂO,  C«nt.    1. 


Content»;  observa  os  p<)li)es,  e  os  despojo* 
Dos  dessanf^rados  animaiM  ;  paxMeia 
Sí)bre  inda  qneitlf  n>iMiibri).|  palpitantiM 
Com  fria  crueldade,  e  s.'i  lhe  pe/ji 
De  que  tão  cedo  se  lhe  acabo  a  fome  : 
T{-  contra  a  própria  c»i)ocic  itc  enibnívpoc. 

iniDKU. 


—  (^uc  cansa,  ou  produz  calor.  —  O 
sol  eutá  quente. 

—  Figuradamente  :  Activo,  vivo,  for- 
te, portioso. 

—  lerrtts  quentes ;  em  quo  o  sol  ttsm 
muita  força. 

—  Cotnidag  quentes  ;  espirituosas. 

—  Aiidar  o  tieijncio  quente  ;  traballiar- 
se  com  fervor  no  negocio.  —  «Este  nego- 
cio andava  tSo  quente,  que...  etc.»  Chro- 
nica  de  el-rei  D.  Affonso  V,  foi.  70,  em 
lilutoau. 

—  AtuJUim  quentes  asanna»;  poleja-»e 
com  vigor,  com  ardor. — -«Nrio  andavào 
menos  quentes  as  armas  no  Baluarte  Sjin- 
tiago.»  Jacinthi)  Freire  d'Andr.ade,  Vida 
de  D.  João  de  Castro,  liv.  2,  n.°  148. 

—  Ter  «.s  coítiis  quentes  ;  diz-sc  do 
que  pratica  quabjuer  acçito  arrojada,  on 
atrevida,  fiado  na  protecção  de  alguém. 
—  II E  destes  ha  alguns  taõ  destros,  que 
provém  todos  os  officios  em  seus  criados, 
para  lhes  pagarem  serviços  próprios  com 
salários  alheyos  :  e  saõ  os  peores  ;  porque 
com  as  costas  quentes  em  seus  amos, 
procedem  affoutos  nas  rapiuad.  *  Arte  de 
furtar,  cap.  31). 

—  Ferro  quente  ;  cm  braza. 

—  Miil/iar  )io  ferro,  em  quatUo  está 
quente ;  valer-se  da  occasiào  que  se  ofVe- 
reco  da  boa  disjwsiçiio  em  que  est.lu  as 
cousas,  e  proseguir  com  fervor  o  que  se 
tem  começado. 

—  liaiz  quente  (to  tjosfo ;  que  queima 
quando  a  mastigam. 

—  Quente  ilo  miolo ;  colérico,  bilioso, 
assomado,  fogoso. 

—  Homem,  mulher  quente  ;  para  anuv 
res,  o  prazeres  venéreos,  por  opposição 
a  frio. 

—  Cnvallo  quente  ;  fogoso,  ardente,  ar- 
dego.  . 

—  Diz-se  do  negocio  ou  feito  darma^. 
de  grande  trabalho,  on  perigo. 

—  AnAOiO.<! : 

—  ('orne  caldo,  vive  em  alto,  anda 
qntate,  viverás  largamente. 

—  O  caldo  em  quente,  a  injuria  em 
frio. 


QUER 


QUER 


QUER 


45 


—  Malhar   no   forro,    em   quanto   está 
quente. 

—  Nào  se  fará,   se  não   se  malliar  no 
ferro,  quaado  está  quente. 

—  Dia  de   S.  Vicente,  toJa  a  agua  é 
quente. 

—  Ande  eu  quente,  ria-se  a  frente. 

—  Pào  quente,   muito  na  mão,  pouco 
no  ventre. 

—  Pão  quente  fome  mete. 

—  Perdiz  é  perdida,   se   quente   não  é 
comida. 

—  Um  dia  frio,  e  outro  quente,  logo  o 
homem  é  doente. 

QUENTURA,  s.  /.  Calor,  calma. 


Com  um  redondo  ainpai-o  alto  de.  seda, 
N'uma  alta  o  dourada  hástca  en.xcrido, 
Um  ministro  a  solar  quentura  veda, 
Que  não  oftcnda  e  queime  o  Rei  subido. 
Musica  traz  na  proa,  estranha  c  leda, 
De  asporo  som,  horrisono  ao  ourado, 
De  trombetas  arcadas  cm  redondo, 
Que  som  concerto  fazem  rudo  estrondo. 
cAM.,  Lus.,  cant.  2,  est.  96. 


QUEQUER,  adj.  ant.  Tudo  o  que, 

QUER,  conj.  —  Ou. — Quer  venha,  quer 
não.  —  Quer  chegue,  quer  Jique.  «Quer 
chores,  quer  te  ria.s.»  Barreto,  Pratica 
entre  Heraclito  e  Demócrito,  pag.  o8,  em 
Uluteau. 

— ■  tíe  quer;  ao  menos.  —  «Tomemos  se 
quer  um  breve  espaço,  era  que  a  nossa 
alma  se  recolha  com  Deos.»  Amieira,  Ser- 
mões, tom.  1,  pag.  837. 

—  Como  quer  <ffe;  de  qualquer  modo 
que.  —  «Como  quer  que  naquelle  caso  o 
cavalieiro  do  Tigre  estivesse  tão  novo 
como  seus  companheiros,  suspeitaudo  que 
poderiam  ser  obras  de  Daliarte,  lhe  pe- 
diu que  o  tirasse  daquella  duvida.  Se- 
nhor, respondeu-  Daliarte,  quem  a  aven- 
tura desta  fonte  ordenou ;  assim  como 
quiz  que  os  que  n'ella  acabassem  ficas- 
sem em  esquecimento;  quiz,  que  quem  a 
seu  salvo  a  acabasse,  deixasse  memoria 
perpetua  de  tamanho  caso.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  119. 
—  «E  eu  toruanilolhe  a  falar  outras  ve- 
zes, que  assi  ho  queria  como  quer  que 
fosse.  E  passados  quinze  dias,  me  tornou 
a  mandar  chamar  :  e  me  disse,  que  ja  ti- 
nha buscado  hum  mouro,  que  dizia  que 
hiria  comigo.»  Tenreiro,  Itinerário,  ca- 
pitulo 61.  —  «Porque  estes  remédios  co- 
mo querque  evacuem,  e  respeitem  parti- 
cularmente o  cérebro,  tem  mayor  uso, 
propriedade,  e  commodo  na  Vertigem  es- 
sencial, que  nas  outras  espécies ;  como  ja 
nottamos  na  dor  do  Cabeça  por  essência. » 
Braz  Luiz  de  Abreu,  Portugal  medico, 
pag.  293,  §  46.  —  «Pella  maior  parte  fe- 
rem 03  mais  altos  cabeços  dos  montes,  ou 
cahem  nas  eminências  das  torres  mais  al- 
tas ;  porque  como  querque  desçaõ  com 
obliquo  movimento,  e  torcida  carreira,  sò 
naa  torres,  e  outeiros  frequentemente  to- 


paõ ;  pois  como  estas  alturas  saõ  as  pri- 
meiras, que  lhe  sahem  ao  encontro,  para 
a  hi  eacaminhaõ  o  impulso  que  vibraõ,  e 
o  fogo  que  exhalaõ.»  Ibidem,  pag.  427, 
§  86. 

—  Por  onde  quer  (/we ;  por  qualquer 
lado,  ou  lugar  que. 

Além  de  llic  tirar  o  regimento 
Da  Cidade,  c  que  nella  não  mandassem, 
Quiz  dos  nossos  também  consentimento 
Que  as  suas  nãos  os  mares  navegassem 
Hem  na  viagem  ter  impedimento. 
Nem  nas  mercadorias  que  levassem, 
E  que  estas  náos  por  onde  cpier  que  irião 
Seguro»  SC  os  quizesscm,  levariSo. 

FR.^NCISCO  d'aNDU.VDE,  rBTMEIIlO  CERCO  DE  DIU, 

cant.  5,  est.  39. 

Por  onde  quer  que  volvo  absorto  os  olhos 
Vejo  presente  hum  Deos,  sua  luz  fulgura, 
E  meu  spirito  attónito  o  descobre. 
Dentro  cm  si  mesmo  abrange,  enche,  e  penetra 
A  immensa  Crcação,  no  alto  Empyreo 
Envolto  em  luz  se  assenta  em  Throuo  Eterno, 
E  sua  gloria,  e  magestadc  ostenta. 

J.    A.    DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Caut.    4. 

—  Qual  quer;  vid.  Qualquer. — ^«Cá 
pois  por  as  ocupaçoens  de  seus  Officios 
lhes  he  outorguado,  que  possam  trazer 
seus  contendores  á  Corte  de  qual  quer 
parte  do  Regno,  muito  com  maior  rezaõ 
lhes  deve  ser  outorguado,  que  nana  pos- 
sam em  outra  parte  ser  demandados,  se 
naõ  em  ella.»  Ord.  Affons.,  liv.  3,  tit.  5. 
—  «Que  lhe  mandaua  Pcro  Capeia  com 
seu  conselho  o  o  de  Pêro  Barreto,  Duar- 
te de  ilello,  e  Diogo  Pirez  seu  ayo  se 
determinar  em  qual  quer  cousa  que  ou- 
uesse  de  fazer,  por  serem  de  mães  ma- 
dura idade  pêra  poder  aconselhar,  que  os 
outros  capitães  :  posto  que  todos  fossem 
mui  caualleiros  pêra  cometer  hum  hõra- 
do  feito.»  Barros,  Década  2,  liv.  2,  ca- 
pitulo 7.  —  «O  que  não  só  descompassa 
as  náos,  mas  basta  qual  quer  occasião  pa- 
ra abrirem,  e  se  perderem  tantos  como 
temos  visto,  abertos  iudo-se  todos  ao  fun- 
do.» Historia  tragico-maritima,  tom.  2, 
pag.  034. 

QUERAIBA,  s.  /.  E.specie  do  cipií,  plan- 
ta ramosa  do  Brazil. 

QUERCULA,  s.  /.  Planta  de  que  ha 
duas  espécies.  —  Quercula  maior,  e  me- 
nor. 

QUERELA,  ou  QUERELLA,  s.  /.  Dispu- 
ta, controvérsia,  altercação,  contenda. 


Também  vimos  em  Castella 
guerras  das  comunidades, 
e  murtas  batalhas  nella, 
em  villas,  e  cm  cidades, 
muytos  mortos  na  querella. 

GABCIA  DE  REZENDE,  lUSCELLANEA. 


—  Ant.  Queixa. 


Aquellas  mãos  que  o  mundo  edificarão, 
AqucUos  pés  que  pízão  as  cstrcllas, 


Com  duríssimos  pregos  so  encravarão. 
Mas  qual  será  o  humano  qu'as  quereUas 
Da  angustiada  Virgem  contemplasse. 
Sem  se  mover  a  dôr  e  mágoa  delias? 
E  que  dos  olhos  seus  não  destillasse 
Tanta  cópia  de  lagrimas  ardentes, 
Que  carreiras  no  rosto  sinalasse  ? 

CAMÕES,  ELEGIA   11. 


—  Accusação  ou  queixa  apresentada 
cm  juizo  contra  alguém  que  se  faz  réo 
de  algum  delicto  que  o  aggravado  pede 
SC  castigue. 

—  Siinjdes  querela ;  queixa  sem  ser 
affirmada  com  juramento,  nem  com  as 
testemunhas  que  a  lei  exige,  nem  pres- 
tar fiança  pelas  perdas  e  damnos  equiva- 
lentes á  denuncia. 

—  Causa,  demanda. 

—  Querela  de  testamento  inofficioso ;  a 
que  os  herdeiros  forçados,  injustamente 
desherdados  "ou  omittidos,  apresentam  ao 
juiz,  pedindo  a  invalidade  ou  rescisão  do 
testamento  como  inofficioso,  isto  é,  como 
feito  contra  os  deveres  de  piedade  que 
os  pães  e  os  filhos  se  devem  mutua- 
mente. 

QUERELADO,  ou  QUERELLADO,  í^arí. 
imss.  de  Querelar.  —  «E  porém  alguuns, 
por  esto  nom  saberem,  som  emburilhados 
dos  Corregedores ;  e  se  appellam,  os  Jui- 
zes d'Appellaçom  os  condampnam  nas  cus- 
tas, e  corregimento  nas  partes ;  e  em  ou- 
tros feitos,  posto  que  sejam  em  reixa  no- 
va, e  a  parto  nom  acusa,  ou  perdoa,  se 
nom  apellam  polia  justiça,  condampnam 
aquelle,  de  que  é  querellado,  ou  lhe  dam 
pena  corporal.»  Ord.  Aííons.,  liv.  5,  tit. 
õ8,  §  9. 

QUERELADOR,  ou  QTJERELLADOR,  s.  m. 
(De  querela,  com  o  suffixo  «dor»).  O  que 
querela. 

QUERELANTE,  ou  QUERELLANTE,  adj. 
2  (je-ã.  ( Part.  act.  de  Querelar).  Que  que- 
rela. 

—  *S'.  m.  —  O  querelante. 

QUERELAR,  ou  QUERELLAR,  v.  n.  Ter- 
mo forense.  Fazer  uma  accusação  peran- 
te o  juiz,  queixando-se  de  alguém  por 
delicto,  injuria,  ou  aggravo  que  tenha 
commettido. 

—  Querelar-se,  ou  Querellar-se,  v,  ref. 
Queixar-se,  lamentar-sc,  chorar-se,  mani- 
festar o  sentimento  próprio,  ou  o  que  se 
nutre  a  respeito  de  alguma  pessoa. 

QUERELOSO,  ou  QUERELLOSO,  adj.  (De 
querela,  com  o  suffixo  «oso»).  Que  dá  a 
querela. 

—  Que  se  queixa. 

—  Som  quereloso  ;  de  quem  se  quei- 
xa, lamentoso,  queixoso,  maguado. 

—  Substantivamente  :  O  quereloso. 
QUERENA,    s.  f.    Termo    de    náutica. 

Concerto  ou  calafetação  que  se  faz  ás  em- 
barcações para  que^  possam  tornar  a  ser- 
vir. 

QUERENADO,  2^^^'^-  F*''*»-  ^^^  Quere- 
nar. 

QUERÈNAR,  v.  a.  Termo  de  náutica. 


41) 


(iii:i; 


(!()ico.rtiir  oti  ciilufV.Ur  iiniíi  (iiiliurciírão, 
jioM-lo-ii  i-.iii  cUíido  <li!  |ii»  l"r  M-i-vir. 

QUERENÇA,  «.  /.  VoiiU  Id  boii  «m  má, 
qiio  rtd  t.-.iii  ;i  !ilj,'iiiMii.  — -  Jiein   querença. 

—  M<il  querença.  — '«E  acliunao  KllU-y, 
qun  diM^ii  iiial  «li^lli'-  por  f,'riini!o  iiiiiMikIo 
Buii,  o  iii.il  querença  (jiid  tivo.isu  iirroifiuila 
no  coraiMnu  i^ontra  i'llo,  v.íu  tal  ca -to  o  de- 
vo Ellliiv  crucliiicnU!  atornioiitur  um  tal 
guisa,  quti  n  furando  ])Oiia,  (juc  llic  dc.vsc, 
fViMo  oixomplo  a()4  outro»,  qnc  ouvorcm 
dollo  coulicfimciito,  jioviíuc  nom  sejam 
OUíadot  Mi\  al.^uiM  temi»!  diz(!r  mal  de. 
seu  Sunlior.»  Ord.  Affons.,  liv.  f),  tit.  il. 

—  «Avia  aiitre  (U  IVirtu-ueiCi,  que  an- 
dau^io  enearui(,'adot  notto  tào  feo,  e  inhu- 
mano  trato  taot,  quo  por  se  vingarem  do 
ódio  e  mal  querença  que  tlnliam  eom  al- 
guns Christàoí  liu  loi,  dauam  a  entender 
aoi  citrangcirot  que  eri\o  chri^.^oi  nouiM, 
e  na?  ruas,  ou  cm  siun  casas  ondl'.  os 
hlito  saltear  os  matuião,  sem  cm  tama- 
nha de  «aventura  se  ju)  ler  [loer  orlem. » 
Damiilo  de(ioei,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  1,  cap.  102. 

—  Termo  do  volateria.  O  logar  onde 
os  falcõoi  o  outras  ave.i  de  rapina  cotu- 
mam  croar  scu!  filhos,  quer  sejam  bos- 
ques de  arvort^  loi,  quer  sejam  enormes 
roelias. 

QUERENÇOSO,  wlj.  iDe  querença,  com 
o  suITíkii  ■'0S0"|.  Benévolo;  amoro;o,   de- 
sejoso (lo  qm-  excita  appetite. 
' — .  DoiejoH),  ou  que  (juer. 

QUERENTE,  alj.  2  (/<;/».  (Part.  act.  de 
Querer).  Que  quer,  tem  vontaile  e  dese- 
jo, que  faz  diligencia  para  conseguir  o 
que  d(>!eja. 

QUERER,  f.  ('.  (l'i>  latim  tjiKrrerei.  Ter 
vontade  de  al^íuma  eou^a,  desejar,  appe- 
tecer.  —  Quero  como-. 


l'ur(iui'  vi  muitos  piístoros 
iiuiliir  jíii:irilauil()  áoiis  fjados 
vcatidos  d'alegroâ  coroa 
bo!ii  fiíra  do  moiw  ciiidiidos, 
ma»  nam  dos  At'  sons  amores : 
Nam  (lurremln  mais  liavoros, 
nom  niioromli)  mais  ricuioza, 
por([uo  amor  tudo  Jos,)roza, 
mas  todos  os  sons  pra/.oro.s 
foram  pêra  mim  tvistoza. 

ciiiiisTOvÀo  KAi.iÃo,  oiiius,  pag. 


edil".). 


(ult. 


—  «Antes  do  so  fazereuí  estas  niena- 
jens,  el  llev  com  o  Dmiue  de  Braganya, 
e  outros  senhores,  e  pessoas  do  conselho, 
praticou  nas  palauras,  que  nas  nienajens 
aui.ào  de  dizer  nuiytas  vezes,  em  que  ou- 
ue  mnytas  pertias.  de^íosto^,  desconten- 
tamentos, por  llic  parecer  áspera  forma 
ha  em  que  cl  Key  queria  que  eo  tizes- 
sem,  sendo  aquella  própria  em  que  ora 
BO  fazem,  porque  até  entào  nào  achauào 
regimento  algum  por  onde  se  tizessom 
(cousa  de  muyto  grande  descuido  dos 
Revs  passados^»  (4arcia  de  Rezende, 
Chronica  de  D.  João  II,  cap.  27. 


A  Ilidiu  ii&o  (Mtú  lii  V 
t^uo  i/'ifru  cu  di:  mi  ai)ui  V 
Mellio.-  Hr-ra  i|uc!  iiio  va. 
K  u  Jiii  (|iie  HO  Min  dií  V 
Kis  Frniiuido  \ ulli. 

(III.   Vl(  E.NIK,    Alio   rjkllrOUlL   IMjBrCOLKi!. 


—  «A  esposa  vendo  que  por  causa  sua 
HO  hia  oHereeer  á  morte,  tornou  com  el- 
le  :  mostrando  ondo  cllc  por  ella  morres- 
.se,  alii  queria  sua  morte.»  IJarnM,  Dé- 
cada 'J,  liv.  1,  caj!.  2.  -—  «Tantas  eou~as 
Targiaiia  llie  disse,  tílobem  lho  soube  pe- 
dir o  que  queria,  <pie,  soltando  a.s  espa- 
das, se  deram  a  pris."io,  c  foram  metidos 
cm  uma  torre  escura  debaixo  do  chào, 
tJ\o  carregados  do  ferro,  que  quasi  so  ni\o 
jiodiaiii  bollir.i.  Francisco  de  iloraes,  Pal- 
meirim dlnglaterra,  cap.  DO.  —  «Com- 
tudo,  queria  que  os  povoadores  desta  ter- 
ra fossem  d^i-iso  contentes,  que  cm  quan- 
to assim  nào  fôr,  u.^o  quererei  governar 
quem  de  minha  goveruan^a  se  despreze. 
Como  este  Arjentao  fosse  cavallelro  de 
nobre  goraçào,  homem  christianissimo, 
de  bons  coitunies,  e  a  quem  o  gigante 
muito  tempo  teve  desamor,  nilo  por  mais 
senão  poripie  sempre  os  bons  aos  máos 
sào  odiosos,  tolo  o  povo  o  acceitou,  c 
folgai-am  lie  lhe  dar  a  obediência,  tendo 
por  cousa  ju>ta  sei-eiu  governados  por 
elle.i)  Ibidem,  cap.  llS».  —  «Peço- vos  que 
esta  desculpa  hajais  por  verdadeira;  e  se 
quereis  que  vos  fallo  mais  claro,  digo- 
vos,  que  minha  vontade  foi,  em  quanto 
vos  não  devi  muito,  fazer  o  que  vos  pe- 
de agora  a  vós  a  vossa  ;  mas  depois  que 
vos  tive  outra  obrigayào,  n.HO  sou  de  tào 
máo  conhecimento,  que  vol-o  queira  pa- 
gar em  cousa,  que  tem  o  contentamento 
lireve  e  o  arrependimento  pêra  sempre.» 
Ibidem,  cap.  124. 

Qual  om  cabcUo  :  —Oh  doce  c  amado  esposo, 
Sem  quem  nào  quiz  amor  que  viver  possa, 
Porque  ir  a  aventurar  ao  mar  iroso 
Essa  vida,  que  é  minha  c  nào  (!■  vossa? 
Como  por  um  caminlio  duvido,-<o 
Vos  esquece  a  att"ei(;ào  tào  doce  uo.ssa  ? 
Nosso  amor,  nosso  vão  conteutaiiieiito 
Quereis  que  com  as  velas  leve  o  vento  ? 
cAM.,  i.rs.,  cant.  4,  est.  91. 

—  «I\dlo  que  chegando  no  que  alli  se 
pode  agasalliar,  ho  oflícial  da  ca-^a  chega 
a  elle  e  lhe  pergunta  se  quer  ho  seu  or- 
denado que  tem  pêra  comer  em  dinhei- 
ro, ou  em  cousas  necessárias  pêra  manti- 
mento, e  ho  que  lhe  pedir  a  que  abran- 
ger ho  dinheiro  lho  ha  do  dar,  nmito 
bem  e  muito  limpanuíute  concernido,  ou 
carne,  ou  pexe,  ou  patos,  ou  galinhas, 
ou  ho  que  cUe  quiser.»  António  Tenrei- 
ro, Itinerário,  cap.  18. 


Mas  porque  cm  tal  negocio  nSo  queria 
C'o'o  sou  coiisellio  si»  detorininar-so. 
Faz  ajuntar  a  nobre  companhia 
Com  quem  era  costume  »con*olhar-iso  ; 


l'(Tguutu-lhu  f|uc  modo  *<;  tirria 
l'uru  (|Ui.-  s<!  e)tcixiHí*M'iii  aviriiturar-w 
(lu  a  (fiMite,  ou  o  Souita  a  til  |KTÍfio. 
K  pura  iiAo  |H!rder  KlUci  d'anii|:;u. 

r.  iiK  A!íi>HAbi!,  raiMEiao  crBcu  nK  i<ii  ,  cant 
El,  CHt.  7U. 

— ■  «Sua  mile  pa*.sou  a  w-gundaí  nú- 
pcias com  o  inaÍH  miserável  homem  que 
se  conhece.  Tratava  cl  lo  de'icari<loMimea- 
te  as  duas  (nitcndas ;  rle  sorte  que  mor- 
rendo elle  de  pura  mingua  por  iiSo  gas- 
tar, parecia  querer  que  a  fumilia  expi- 
ra^^se  nu  observância  de  tSo  impractica- 
vel  dietamç.»  líisjm  do  íirào  l'ará,  Me- 
morias, ])ublicadaH  por  (..'amillo  ('axtello 
Hranco,  jiag.  170.  —  «Tudo  quer  de  es- 
mola esta  gente.  Ilontem  devi  a  estes 
ilheos  fazerem  conloio,  que,  como  vinha 
o  bispo,  píxleriam  vender  melhor  as  nuas 
ííallinllas.^  Ibidem,  pag.  191.  —  «f>u  i><>- 
de  também  dizcrs»^  que  (ialeno  picava 
logo  no  jirincipio  a  vea  Cephalica;  jxirque 
o  enchimento  seria  sí)  particular  da  Ca- 
beça, e  nào  de  todo  o  corpo ;  e  quereria 
o  Mestre  occorrer  antes  ao  morbo  com 
pre8.=a,  que  com  segurança.  •  I$raz  Luiz 
d'Abreu,  Portugal  medico,  pag.  176.  — 
«()8  réis  fjH'  so  tractam  de  fazer-.^^e  temi- 
dos, e  de  ojtpriínir  os  vassallos.  para.mais 
os  subníettcrem,  sào  riagellos  da  humani- 
dade. Sim  sào  temidos,  como  querem ; 
mas  também  sào  aborrecidos,  e  abomina- 
dos :  e  com  mais  razào  se  devem  temer 
de  seus  vassallos,  do  que  estes  d'elle«.» 
Telemaco,  traducçào  de  Manoel  de  Sou- 
.'ia,  e  Francisco  Manoel  do  Nascimento, 
liv.  2. 

Ver-mc-lias  ainda  ;  um  anjo  hontom  m"o  dine 
X'um  sonho  tani  feliz  !  —  Era  eu  vestida 
De  riquíssimas  gallas...  e  alva  c'roa 
De  ro.sas  me  toucava...  tu  a  nin  lado, 
Triste  —  nilo  S('i  porqut',  outros  de  lutto  : 
Não  me  admirou,  que  nosso  amor  não  qiirrem. 
GARRF.TT,  cAuÒKs,  cant.  4,  cap.  4. 

— ■  Seguido  immediatamente  de  outro 
verbo,  com  a  mesma  significaçào.  —  Que- 
ria vêr  a  cíil'vh  .  —  Querem  oitfessar  fu- 
do.  —  «O  primeiro  que  deu  mo8tra.s  em 
publico  de  animo  desleal,  foy  o  Conde 
Ciildo  Governador  de  Africa,  que  ou  com 
pretexto  de  querer  unir  aquella  Provín- 
cia ao  Império  de  Oriente  (como  alguns 
diziaò)  ou  pela  tirar  a  ambos  os  irmàos, 
e  se  fazer  senhor  delia,  quo  era  o  mais 
certo,  negou  abertamente  a  obeJiencia  e 
vassalagem  a  Honório,  em  cuja  reparti- 
ção cabia.»  Honarchia  Lusitana,  liv.  õ, 
cap.  30.  —  «Andando  dom  l'asqun  da 
Ciama  occupado  nas  cousas  que  compriani 
a  sua  torna  viagem,  mandou  el  Rei  do 
Calecut  dissimuladamente  hum  Bramana, 
sob  specia  de  dizer  que  queria  ir  a  Por- 
tugal, com  hum  seu  tilho,  e  hum  seu  so- 
brinho que  trazia  consigo,  pêra  apren- 
derem letras,  c  verem  o  modo  que  os 
Christàos  tinham  de  vluer  na  Europa.  • 
Damiilo   de  Ooe«,   Cbronica  de   D.  Ma- 


QUER 


QUER 


QUER 


47 


noel,  part.  1,  cap.  (j'J.  —  «Poli^  (jiic  niau- 
(li)ii  loj^ii  dizer  ao  yabaiin  dalcao  que  se 
queria  ^0l■  senhor  de  Goa,  llic  mandasse 
mais  ;^'ontc,  ou  viesse  em  pessoa,  poi-quo 
do  tudo  aula  necessidade,  mas  nem  por 
isso  dcixauH  com  a  gente  que  tinha,  e 
outra  que  se  cada  dia  ajuntava  com  ello, 
do  cometer  a  cidade,  desejoso  de  a  to- 
mar, antes  que  o  cabaim  viesse  pêra  po- 
der ganhar  uma  tamanha  honrra.»  Ibi- 
dem, pai-t.  o,  cap.  õ. —  «Eu  tegora  esti- 
uu  neste  erro  esperando  que  a  Igreja  se 
acabasse,  e  pois  so  pode  fazer  antes  dis- 
so, cu  não  quero  estar  mais  nelle,  e  de 
manhria  em  toda  a  maneira  eu  quero  ser 
(Jhristão,  porque  assi  mo  diz  meu  cora- 
ção, o  minha  molher,  o  tilhos,  e  os  de 
meu  Royno  depois  se  taram.  E  os  Fra- 
des muy  contendes,  e  alegres  de  sua  ten- 
ção, de  que  não  duuidauão,  lhe  disse- 
ram :  .Senhor,  isso  ho  ja  graça  de  Deos, 
c  por  tal  lhe  day  mujtas  graças  e  louuo- 
res.»  (tareia  de  Rezende,  Chronica  de 
D.  João  II,  cap.  159. 

Não  na  foste  tu  spcvav, 
Pêra  a  damnaros,  villào, 
E  começou  de  bradar 
Que  a  qnerias  forçar  ? 

Gir,  VICENTE,  AUrO  D\  BARCA  DO  PURGA- 
TÓRIO. 

— «E  assi  ordenada  a  outra  gente  que 
fiizião  huma  comprida,  e  largaua,  pêra 
que  quando  Caramança  como  também 
ora  homem,  que  queria  mostrar  seu  es- 
tado, veo  com  muita  gente  posta  em  or- 
denança de  guerra.»  Barros,  Década  1, 
liv.  3,  cap.  1.  —  «Porém  como  isto  era 
ante  manhã,  e  a  luz  d'Alva  mostrou  a 
sna  Armada  que  ainda  hia  á  vista  dos 
nossos,  enteudeo  Fernão  Peres  que  os 
tangeres  de  toda  a  noite,  e  grita  d'ante 
manhã  fora  artificio,  por  não  serem  sen- 
tidos que  se  queriam  partir;  e  por  sinal 
que  levavam  temor,  vio  muitas  ancoras 
ficar  no  pouso,  que  não  puderam  levar.» 
Idem,  Década  2,  liv.  9,  cap.  5. —  «O 
qual  era  vindo  ao  Cairo  ao  chamado  do 
Soldão  pêra  lhe  fazer  saber  outro  tal  as- 
sombramento que  queria  destruir  aquel- 
la  casa,  como  fez  ao  Padre  Fr.  Mauros, 
que  veio  a  Roma,  como  escrevemos.» 
Idem,  Ibidem,  liv.  8,  cap.  6.  —  «Queren- 
do tornar  a  cavalgar,  não  achou  em  que, 
que  o  seu  cavallo  estava  dahi  mui  longe, 
mas  antes  apoz  elle  lhe  tornaram  a  to- 
mar a  espada  e  armas,  ficando  desacom- 
panhado delias,  de  que  começou  cobrar 
algum  receio,  lembrando-lhe  que  o  esfor- 
ço tem  necessidade  d 'armas  pêra  execu- 
ção de  seu  offeito.»  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  d'Inglaterra,  cfip.  98.  — 
n  Por  certo  a  alta  bondade  de  Albayzar 
ninguém  a  poderá  negar,  mas  o  outro 
não  me  parece,  que  lhe  quer  ficar  de- 
vendo nada.»  Idem,  Ibidem,  cap.  89. — 
«Tu  me  pediste  viuendo  no  mundo,  que 
no  perdão  das  culpas  que  fazias  contra 


mi  me  ouuesse  como  tu  te  auins  com 
aqucUes  cpie  te  oftendião,  e  injuriauam, 
e  que  te  perdoasse  ^  eu  como  tu  perioa- 
uas.  Digo  que  seja  assi,  (jue  por  essa 
medida  te  quero  medir,  perdoandote  se 
perdoaste  de  coração.»  Fr.  Bartholomeu 
dos  Martyres,  Catecismo  da  doutrina 
christã.  —  «Ho  modo  dos  correos  hc  co- 
mo antro  nos,  levam  corneta  que  tocam 
quando  querem  chegar  a  algum  lugar, 
pêra  que  lhe  tenham  cavallo  prestos  em 
cada  lugar  de  certa  em  certa  distancia, 
sam  obrigados  ouvindo  ha  corneta  a  lhe 
ter  cavallo  prestes,  ho  que  se  faz  com 
tanta  diligencia  como  os  demais  serviços 
dos  oíRciaes.»  António  Tenreiro,  Itinerá- 
rio, cap.  22.  —  «E  desejando  saber  que 
gente  era,  e  donde  vinhào,  mandou  me- 
ter huns  quatxo  delles  a  tormento,  dos 
quais  03  dous  se  deixarão  morrer  emper- 
radamento,  sem  quererem  confessar  ne- 
nhuma cousa.»  Fernão  Jlendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  42.  —  «E  quando 
saem  fora  nam  sam  vistas  porque  vão 
nas  cadeiras  fechadas  de  que  temos  dito 
acima  quando  talamos  dos  officiaes,  nem 
quando  entra  alguém  nas  casas  nam  as 
ve,  senam  se  acertam  por  curiosidade 
por  baixo  do  pano  da  porta,  querer  ver 
os  que  entram  quando  he  gente  estran- 
geira.» Fr.  <!aspar  da  Cruz,  Tratado  das 
cousas  da  China,  cap.  15.  —  «E  quando 
se  trata  do  que  a  elles  lhe  cumpre,  e  do 
suas  obrigações,  se  persuadem  elles  que 
queremos  comprazer  ao  povo,  e  assy  des- 
armado em  vão  não  fica  a  terra  saldada, 
mas  corruta,  o  mundo  com  luz,  mas  ás 
escuras.»  Diogo  de  Paiva  Andrade,  Ser- 
mões, part.  1,  pag.  71. 

E  porque  tu  não  cuides  que  a  mostrar-te 
Mc  moveo  iutercssc  esto  perigo, 
Nem  o  meu  uome  quero  dcclarar-to 
Nem  dizcr-tc  aqui  mais  que  o  te  digo : 
Fica-tc  embora,  e  cumpre-tc  guardar-te 
Porque  to  mostra  amor  o  mir  imigo. 
E  cora  isto  de  fallar  o  Mouro  cessa, 
Volta  aa  costas,  o  vai-se  com  gràa  pressa. 

F.    ri'ANDRADE,    PRIMEIRO    CUBCO    DE  DIU,   Caut.    2, 

est.  52. 

—  B  Declaro  isto  aos  leigos  ;  não  por 
que  elles  não  tenham  heróicas  e  fortissi- 
mas  eutrapellias ;  mas  para  não  traduzi- 
rem a  palavra  em  outra  pdle,  como  fez 
um  irmão  que  se  queria  ordenar,  e  no 
exame  traduzio  aquillo.»  Bispo  do  Cirão 
Pará,  Memorias,  publicadas  por  Camillo 
CastoUo  Branco,  pag.  51.  —  «Outro  mau 
costume  dos  Índios  era  não  quererem 
comprar  a  bulia,  em  cuja  venda  muito 
se  empenhava  Paulo  de  Carvalho,  irmão 
do  conde  de  Oeiras.»  Idem,  Ibidem, 
pag.  23. 

Aoude  estão  as  scttas,  lhe  dizia, 
Aoude  o  arco,  a  aljava? 
Queria  rcspondor-me,  o  não  podia, 
De  novo  soluçava. 

.1.   ,\.    DE   MATTOS,    RIMAS. 


—  Tentar,  procurar;  dosojar.  —  «O 
primeiro  porto  a  (|ue  chegou  foi  o  do  Pe- 
dir, que  lie  na  mesma  Ilha,  onde  lhe  el 
Rei  mandou  noue  Portugueses,  dos  que 
ficaram  em  Malaca,  que  alli  vieram  ter 
fogidos,  dos  quaes  hum  era  loam  viogas, 
que  lhe  contou  como  alguns  dias  depois 
da  partida  de  Diogo  lopez  de  sequeira, 
el  Rei  do  Malaca  mandara  fazer  justiça 
do  Bendara,  polo  querer  matar  a  elle,  e 
so  lhe  querer  aleuantar  com  o  regno.» 
Damião  de  (íoes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  4,  cap.  47. — •  «E  querendo  entrar 
per  cima  do  muro  novo,  quo  Aflbnso 
d'Alboquerque  fizera,  tomaram  algumas 
lanças,  que  os  nossos  tinham  postas  ao 
longo  delle,  e  começaram  commetter  a 
porta  da  entrada  com  vai,  e  vem.»  Bar- 
ros, Década  2,  liv.  G,  cap.  9.  —  «Albay- 
zar, quando  o  viu,  disse:  Por  ceito  ao 
pé  de  a(|uolle  casteilo  passei  a  maior 
afronta  em  que  nunca  me  vi,  que  por 
soccorrer  a  uma  donzella  quo  dous  ca- 
valleiros  por  força  queriam  deslionrar, 
os  matei  ambos;  e  depois  sahiram  a  mim 
dez,  a  que  também  venci  e  desbaratei 
com  morte  de  muitos  delles.»  Francisco 
de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap. 
9G.  —  «Todavia,  disse  Albayzar,  vos  pe- 
ço, que  polo  que  cumpre  ao  preço  e  au- 
thoridade  de  quem  me  isto  faz  pedir, 
queirais  uuxdar  a  tenção.  Far-me-heis 
fazer,  disse  o  das  Donzellas,  o  que  não 
cuiilei.»- Idem,  Ibidem,  cap.  124. 

Querendo  escrever  hum  dia 
O  mal,  que  tauto  estimei; 
Cuidando  no  quo  poria, 
Vi  Amor  qno  me  dizia  : 
Escreve,  qu'eu  notarei. 

CAM.,   REDONDII.IIAS. 

—  «EstaA'am  a  este  tempo  os  batéis 
em  terra  fazendo  aguada,  e  querendo 
acudir  à  náo,  não  puderam  sahir  pêra 
f(')ra,  porque  o  vento  fazia  na  boca  do 
rio  mui  grandes  escarceos.»  Diogo  de 
Couto,  Década  4,  liv.  5,  cap.  2.  —  «Ma- 
noel Machado  chegando  a  terra  viu  huma 
povoação  ao  longo  da  agua,  e  querendo 
desembarcar,  acudiram  os  negros  com 
frechas,  e  páos  tostados,  e  carregando  nos 
nossos,  os  fizeram  embarcar  com  morte 
de  hum  grumete,  e  dous  feridos.»  Idem, 
Ibidem,  liv.  6,  cap.  1.  —  «Com  tanto  que 
V.  M.  as  não  exceda,  disse  eu,  seguro- 
Ihe  que  nenhuma  so  off"enderá  de  que  as 
imite.  V.  M.  me  quer  tirar  do  bico  huma 
confissão  que  lhe  não  posso  fazer. »  Caval- 
leiro  de  Oliveira,  Cartas,  liv,  1,  n."  10. 


(Meu  padre  san'Beruardo  me  perdoo!) 
Mas  para  tam  fidalga  companhia, 
Para  vós,  real  senhora,  sobretudo, 
Dos  monges  brancos  honra,  flor  e  nata, 
Tal  poisada  buscar  ! . . .  De  nossa  regra 
t>  mais  sancto  preceito  venerável, 
<liierereis  infringi-lo  ?  Antes  mil  vozes 
Os  votos  todos  três. 

(iARRETT,  D.    BRANCA,  Caut.    1,  Cap.    7. 


48 


QUKli 


QUEK 


QUER 


—  iViitiJiidor,  r(if|ii(írer,  iiitoiíbir.  — 
Que  queres  lii  d'a(jaií —  «O  ukju  uoim; 
ho  ArKiim  ilulu  ProMa:  as  vozopi  mo  elui- 
niílo  Caviílloiro  da  Mortii,  o  vkla,  pola 
qui)  trafío  ])iiitaila  no  oscudo  ;  aíiuolloii- 
tro  (Juv;dliíir<)  lia  nomo  (Jrlaiidor  de  l'an- 
nL4a,  iiiidios  rtoriio.s  primos,  o  da  ca.sa  do 
JOiii])(!r;ulor  J'oliiiario,  vedo  o  (|U(!  mais 
quereis  do  nós,  imis  toudo-i  salfiilo  o  (iiii; 
))c<lÍHtcs.»  ISaiTos,  Clarimundo,  liv.  :i, 
cap.  20.  —  liCdvnl.  Hdijo  as  uiàns  a  v.  iii. 

—  Dout.  As    suas:    quo   niaiuUi  acnliorV 

—  Cavai.  Soiito-Hc  v.  m.,  (pio  ou  voiiUo 
mais  do  vaj^ar.  —  Dout.  \\í'y,\  o  (pio  quer, 
soalior,  (pio  ou  ostou  um  pouco  ocoupa- 
do. —  Cavai.  Ora  souhor,  soiito-so  por  ma 
fazor,  o  ou(;a-nio,  (\\u;  na  <  quero  mais 
do  duas  ]ialavras.u  Francisco  do  Moraos, 
Dialogo  '2.  —  «(^Mic  quereis  quo  fM(,-a,  so- 
nhor  J)aliartc,  (piom  vir  as  inaravillias 
desta  casa,  souão  occupar  o  juizo  noUas 
o  perder  o  scutidoijera  não  saber  cuidar 
cm  ai?  Do  mim  vos  digo,  que,  maravi- 
lhado do  qiio  vojo,  não  sei  onde  estou,» 
Idom,  Ibidem,  ea)i.  120.  —  «E  tocada  de 
ciumos  la/.ia  dift'eren(;as  no  rosto,  (juo  lho 
eilo  mui  hí-m  sentiu,  (pio  neste  caso  ue- 
idiunia  dissinuila(;ào,  moderai;ão  nem  sof- 
friínento  sabem  mostrar;  mas  como  o  ca- 
valleiro  do  que  ella  queria  ter  posse,  fos- 
se costumado  a  não  lha  dar  do  si  a  nin- 
guém, ainda  que  a  entendeu,  dissimula- 
va, o  ({ijanto  mais  sentia  nella  aquelles 
agastamoutos,  tanto  com  maior  despojo 
usava  do  sua  condição.»  Idem,  Ibidem, 
cap.  12.'). — «E  continuando  nesta  con- 
fusão obra  de  hunia  hora  enxergámos  ao 
longe  hiima  cousa  preta,  e  rasa,  sem  vul- 
to nenhum,  e  nat")  sabendo  determinar  o 
que  seria,  tornámos  ue  novo  a  ter  con- 
selho sobre  o  que  nisto  fariamos,  e  por 
quanto  na  lanchara  na»)  ei'amos  mais  que 
quatro  Portuguezes,  os  pareceres  foraõ 
rauytos  differcntes  huus  dos  outros,  em 
que  houve  requorcremmo  que  nau  qui- 
zesse  saber  o  que  me  naõ  relevava,  e  me 
fosse  para  onde  me  mandava  Poro  de  Fa- 
ria, porque  })erder  huma  sò  hora  daipicl- 
lo  tempo  era  pôr  a  viagem  na  ventura,  e 
a  fasenda  em  risco,  o  eu  ficar  dando  mà 
conta  do  mini,  se  me  acontecesse  algum 
desastre.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pere- 
grinações, cap.  33. —  «Os  Medieos  Bra- 
nunios  o  conhecem  })or  LaA'anga,  posto 
que  ta\nbem  o  nomeam  pelo  nome  dos 
]\Iouros :  mas  cada  hum  lhe  quer  dar  o 
seu,  como  n('is  também  o  fazemos.»  Dio- 
go de  Couto,  Década  4,  liv.  7,  cap.  S). 


Pouco  ao  caivuita  a.  finin,  iiiic  esto  o  autiiro 
ITso  lio,  do  quo  n!iii\K'llo  assouto  moiM, 
Insta  0111  bator  do  novo  onde  atraz  digo 
Aeosa  ja  do  si  pola  doinoia  ; 
liO^o  na  porta  abrir  stMito  hum  postigo 
E  vio  hum  quo  a  cabota  lain;a  fiíra, 
E  porguuta  do  hí  quo  ii<n'r,  quom  ora, 
Irada  lho  respondo  assi  Aíegora. 

F.    DK  ANDKADK,  TRIMKlRO  CF.BCO  DE  DU',  Cailt.  1"2, 

est.  95. 


—  "E  não  querendo  conservar-so  com 
as  mesmas  arte<,  com  que  havia  medra- 
do, veio  u  descobrir  a  ambição,  c  sober- 
ba; foz-wc  Biiuhor  dos  lugares,  buscando 
com  maior  atten(;ão  «w  postos  ((ue  os  auji- 
gos;  os  quaes  já  não  queria  para  arrimo, 
uem  para  companliia;  só  do  Soltão  (jue- 
ria  parecer  e-icravo,  e  d(W  outros  senhor.» 
.laeinthe  Freire  (PAudraile,  Vida  de  D. 
João  de  Castro,  liv.  2. —  aTambem  .Mi- 
gutd  de  (Jervautes  descreve  a  D.  C^nixo- 
te  encontrando  no  campo  do  Montiel  du» 
òenitvs  con  sus  anteojtia  ds  camião.  Que- 
rer jiarecor  douto  com  óculos  c  nccedade 
que  se  vê  atravez  dos  vidros.»  Bispo  do 
(irão  Pai"ii,  Memorias,  publicadas  p(n' 
(.'aniillo  Cast(dli)  Branco,  ])ag.  137.  — 
«(>  Livreyro  (pie  a  soeeorria  com  Livros 
não  querendo  offende-la,  fez  pouco  e<- 
erupulo  de  lhe  tíar  os  Tratados  de  Õhi- 
romaueia. »  Cavalleiro  d'Olivcira,  Cartas, 
liv.  1,  n."  40.  —  «O  certo  he  que  os  Au- 
tores em  semelhantes  matérias,  fazem 
muitas  vezes  com]iaraçoens  tão  indignas, 
(pie  toda  a  devo(;ào  que  querem  mostrar, 
não  p<')de  encobrir  a  ignorância  cimi  que 
escrev(írão.»   Idem,  Ibidem,  n,"  24. 

Infjratos,  copos,  inseiisiveis,  (/iirrem 
Trivar  d'huni  bem  tamanho  a  humanidade, 
Que  huma  vida  lho  dá  percnne,  eterna, 
Que  a  hum  Deos  ah'm  do  támiilo  me  h^va, 
Que  huma  ploria  sem  fim  prometto  ao  Justo ! 
j.  A.  Dv;  MAOKno,  MKiiirArÃo,  caut.  4. 

—  Querer  fazer ;  tencionar,  resolver, 
decidir,  assentar.  —  «Trazido  este  alma- 
zein  Duarte  pacheco  comeyou  do  fingir 
que  queria  fazer  hum  grande  edificio,  e 
por  os  da  terra,  que  natiii-almcnte  sam 
palrreiros,  nam  verem  o  que  era,  defen- 
deo  que  nenhum  chegasse  ao  passo  do 
vao,  no  qual  mandou  logo  abrir  grandes 
couas,  e  fazer  fossados,  que  de  baixa  mar 
ficauam  eheos  dagoa  em  altura  que  se 
nam  podiam  passar  se  num  a  nado.»  Da- 
mião de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  1,  cap.  00.  —  «E  pois  tenho  feito 
duas  vezes  mení^iaõ  desta  illia  de  Saõ  Lou- 
reníjjo,  a  primeira  quando  Fernaõ  .Soarez 
a  de.scobrio  pela  banda  de  fora,  e  e-sta 
em  que  Tristam  da  Cunha  o  fez  jiela  de 
dentro,  direi  breueinente  o  que  delia  pu- 
de alcançar,  porque  querendoo  fazer  per 
extenso,  scgunilo  sua  grandeza  e  vários 
costumes  de  gente  que  nella  ha,  seria  ne- 
cessário fazer  hum  grande  volume,  o  que 
cumpre  mais  aos  Scriptores,  que  separa- 
damente serenem  as  cousas  dest;is  naue- 
gaçoens  que  a  mi.»  Idem,  Ibidem,  part. 
2,  cap.  21.  — «Mandou  sobreisso  luina 
apontamentos  a  el  Rei  de  Nai*siuga,  per 
frei  Luís  da  Ordem  de  Saõ  Francisco,  o 
qual  despoli  lo  determinou  de  ir  outra 
vez  sobro  Ormuz,  dando  cor  que  queria 
fazer  huma  fortaleza  na  boca  do  mar  de 
Arábia,  e  de  caminho  deixjir  algumas 
nãos  a  Duarte   de   Lemos,  que  era   capi- 


tão daquella  costa,  •  Idem,  Ibidem,  part. 
3,  cap,  3, —  «Pois,  Senhora,  conf<isso 
minha  vontade,  naò  me  pagueis  a  vúsi-u; 
porque  acabe  de  ser  de  to'lo  contente 
eouí  essa  nierei';  (pii;  me  quereis  fazer,» 
Barros,  Clarimundo,  liv.  2,  cap.  O,  — 
«Ainda,  senhor,  que  té  hoje  não  recebi 
de  ninguém  outro  encontro  como  o  vcd»- 
so,  quero-vos  fazer  este  sendço,  porque 
liipieis  |)iTa  em  algum  teuiJKi  os  poderdes 
d;»r  a  outrem.  Por  certo,  disse  1).  Duar- 
dos,  eu  não  sei  como  meu  cncontru  vos 
pareceu  grande,  poríira  sei  que  o  vos«o  d 
o  maior  (pie  nunca  rceclji.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  d'lnglaterra,  cap.  3ít. 

—  « E  ainda  que  já  não  preste  pêra  mo 
tornar  á  viua,  jirestará  pêra  sentir  me- 
nos a  morte  :  e  porque  meu  cora(;ào  nesta 
jornada  me  annnncia  mai(jres  meios  do 
(pie  nunca  passei,  e  não  sei  o  que  a  ven- 
tura quererá  fazer  de  mim,  rogf>-tc  que 
se  aqui  está  certa  minha  fim,  que  com 
aquella  f(i  e  amor  que  me  sempre  servi»- 
tc,  sirvas  minha  senhora,  e  delia  esperes 
o  galardão,  (pie  te  eu  nâ"j  posso  dar,  de 
(pie  levo  mais  pena.»  Idem.  Ibidem,  cap. 
11.Õ.  —  «Senhores,  segundo  vou  vendo, 
80  vos  não  forem  á  mão,  aqui  quereis  fa- 
zer assento  perpetuo,  e  umas  imagens 
mortas  serão  verdadeiro  esquecimento  do 
que  vos  deve  lembrar.»  Idem,  Ibidem, 
cap.  120,  —  íNem  nisso  vos  quero  fazer 
a  vontade,  disse  o  outro:  uma  s<)  cousa 
vos  descubro,  e  e^ta  tomai  por  derradei- 
ra reposta,  que  sou  o  maior  imigo,  que 
nesta  vida  tendeis,  e  que  de  cl-rei  não  nos 
deixar  fazer  batalha,  fico  bem  aggrava- 
do,  que  ha  muito  teinjjo  que  o  desejo,  e 
agora  cuidei  de  cumprir  minha  vontade ; 
mas  pois  el-rei  m'o  c~storva,»  Idem,  Ibi- 
dem, cap.  124.  —  «Entaò  hunm  fiUia  del- 
Rey  moça  ja  de  quatorze  até  \h.  annos, 
e  miiyto  formosa,  pedio  licença  a  sua 
mãe  para  huma  certa  farsa,  que  aeis,  ou 
sette  queriaõ  fazer  sobre  a  matéria,  de 
que  se  tratava,  e  a  Rainha  cõ  consenti- 
mento deiRcy  lha  concedeu. »  Fernão 
Mende-s  Pinto,  Peregrinações,  cap.  223. 

—  «E  que  não  comprasse  nenhum  cravo, 
nem  danassem  o  preço  que  nellc  estav.i 
posto  pelos  oflficiaes  d'ElRev  de  Portu- 
gal; e  que  não  o  querendo  fazer,  protes- 
tava por  todas  as  perlas,  e  damn  «s  quo 
di>so  resultassem.»  Diogo  de  Couto,  Dé- 
cada 4,  liv.  1),  (jap,  3.  —  «Seja  assim: 
mas  apurae  vos  lá  a  eomputiçào  nos  con- 
tos com  o  thesoiirriro-iniir.  que  para  isso 
não  tenho  tempo.  Quereis  fazer  a  mercr-, 
senhor  escrivão  da  camará,  <Ie  encom- 
mendar  a  liouronço  ilartins  que  apure 
osísa  emontji  com  micer  Percival  e  de 
advertir-lhe  que  t-Jics  negócios  devem  che- 
gar averiguados  À  ])resença  de  meu  se- 
nhor elrei?»  A,  Heroulauo,  Monge  de 
Cister,  e.ap,  1.^. 

—  Tentar,  provar,  ou  que  ae  lhe  acei- 
te por  certo,  —  «Mas  em  algumas  torres 
que  ainda  estão  em  pê,  e  nas  ruinaí»,  que 


QUER 

apparecem,  se  mostra  que  foi  jà  grande 
cousa.  Outros  querem  que  Luziua,  que 
lie  mui  perto  destíi,  foi  a  senhora  de  to- 
das, e  que  Paremunda,  Lamo,  lâca,  Oja, 
e  outras  cidades  que  estào  nesta  comar- 
ca, todas  lhe  obedecerão.»  João  de  Bar- 
ros, Década  2,  liv.  1,  cap.  2.  —  «Xa  for- 
mação de  hum  mosquito  mostra  Deos  mais 
seu  grande  entendimento,  que  na  fabrica 
do  Universo.  Quero  dizer,  que  naõ  en- 
grandece tanto  as  sciencias  a  matéria, 
em  que  se  exercitaõ,  como  o  engenho  da 
arte,  com  que  obraõ.»  Arte  de  furtar, 
cap.  2. 

— ■  ^fandar,  resolver,  determinar,  or- 
denar. —  Quero  que  se  faça  isto.  —  «Po- 
rem querendo  nós  a  esto  poer  remédio,  e 
tirar  os  aazos  em  tal  guiza,  que  se  nom 
façam  tantos  males,  mandamos-vos,  que 
vista  esta  Carta,  façaes  logo  apregoar  to- 
dalas  Villas,  e  Lugares  desses  estremos, 
«jue  nenhum  nom  seja  tam  ousado.»  Ord. 
Áffons.,  liv.  õ,  tit.  116. 

Manda  o  Sousa  pedir  com  brando  rogo 
Ao  generoso  pay  da  bella  dama 
Que  queira  consentir,  o  que  não  pode 
Atalhar  com  rigor,  e  peito  irado. 

CORTE  REAL,   NAnFBAGIO  DE  SEPLL\'EDA,    Caut.    3. 

—  «Eu  d'esse  bordo  estou,  disse  Be- 
roldo,  pois  assim  quereis,  disse  Daliarte, 
torne-se  o  messageiro  do  gigante,  e  diga- 
Ihe  esta  determinação,  e  que  d'aqui  por 
diante  pôde  vir,  que  está  mal  o  campo 
sem  elle.»  Francisco  de  Moraes,  Palmei- 
rim d'Inglaterra,  cap.  118. 

Via  Acteon  na  caça  tào  austero, 
De  cego  na  alegria  bruta,  insana, 
Que  por  seguir  um  feio  animal  fero, 
Foge  da  gente  e  bella  forma  hiunana  : 
E  por  castigo  qner,  doce  e  severo, 
Mostrar-lhe  a  formosura  de  Diana  : 
E  guarde-se  não  seja  inda  comido 
D'e38es  càes,  que  agora  ama,  e  consumido. 
cAM.,  Lus.,  caut.  9,  est.  2(3. 

—  «Entaõ  se  chegarão  a  nos,  e  nos 
pergaiutaraõ  por  muytas  cousas  particu- 
lares, a  que  naturalmente  saõ  muyto  in- 
clinados, às  quaes  respondemos  confor- 
me a  toda  a  verdade,  e  lhe  pedimos  pelo 
amor  de  Deoj  que  nos  quizessem  levar 
comsigo  para  qualquer  povoação  que  qui- 
zessem, e  la  nos  vendessem  por  seus  ca- 
tivos a  gente  que  nos  levasse  a  Malaca, 
porque  éramos  mercadores,  e  lá  lhes  da- 
riaõ  muvto  dinheyro  por  nos,  ou  fazenda 
quanta  quizessem.»  Fernão  Mendes  Pin- 
to, Peregrinações,  cap.  180.  —  «  Per  este 
modo  quer  Caristo  nosso  Senhor  que  nos 
singularizemos,  e  estrememos  de  todas  as 
mais  gentes,  nisto  quer  que  pareçamos  dis- 
cipulos  seus,  e  que  sejamos  filhos  de  seu 
Eterno  padre,  Vt  sitis  Jilij  patris  ves- 
tri.»  Diogo  Paiva  d'Andrade,  Sermões, 
part.  2,  foi.  13,  vers.,  col.  1.  —  «Eu  me 
meterey  no  sezudo,  minha  Senhora,  quey- 


>    QUER 

ra  o  Deos  Amor,  que  dezejo  tratar  bem, 
conservar-me  no  bom  estiilo.»  Cavalleiro 
d'01iveira,  Cartas,  liv.  1,  n.»  29. 

Assim  o  Céo  clemente  a  immortaliza : 

E  se  ello  escuta  os  rogos  dos  humanos. 

Assim  queira  fazer  hoje  a  Luiza  : 

Para  que,  sem  sentir  do  tempo  os  danos. 

Assim  como  os  da  Fenis  eterniza. 

Faça  o  Céo  immortaes  hoje  os  seus  annos. 

ABB.4DE  DE  JAZENTE,   POESLIS,  tOm.     2,    pag.    142 

(cdiç.  de  1787). 

—  «  Sim,  quero  ouvilo, 
Quero,  e  desejo :  nào  ignoro  o  preço 
Das  boas  letras,  nem  d'um  raro  ingonho 
A  estima  dcsvalio  :  em  prol  da  pátria 
Uns  obramos  co'a  espada,  cumpro  a  outros 
Co'a  penna  hom-á-la. 

oABRETT,  CAMÕES,  cant.  7,  cap.  9. 

í  Quereis  dizer  á  corte  ?  Ouvi  que  a  Cintra 
Se  fora  clrci  com  o  conselho  e  cabos 
Principaes  do  exército.  E'  voz  publica 
Que  hàodc  ahi  resolver  graves  projectos 
D'alta  valia  :  mas... » 
IBIDEM,  cant.  4,  cap.  2. 

—  Approvar,  conformar-se  ou  convií- 
com  alguém  era  um  intento,  designio,  ou 
caso  análogo, 

—  Requerer,  exigir. 

Fid.     Concrusão  quereis?  Bem,  bem, 

Concrusào  ha  em  alguém. 
Cap.     Concrusão  quer  coucrusão, 

E  nào  ha  concrusào  em  nada. 

Senhor,  eu  tenho  gastada 

Huma  capa  e  hum  mantào ; 

Pagae-me  a  minha  soldada. 

GIL   VICE.\TE,   FARÇAS. 

Porque,  ainda  que  são  peccadores, 
Nem  tem  outro  padre  senão  o  Senhor, 
Que  nào  quer  a  morte  ao  peccador. 
Mas  antes  que  viva  e  lhe  dê  louvores. 

Gil.  VlCENTB,    AUTO  DA  HISTORIA  DE  DECS. 


Não  te  agastes  tu  comigo. 
Nem  me  dês  pousada  a  mi. 
Que  o  meu  regno  não  he  aqui. 
Nem  quero  nada  comtigo  : 
Mas  quatro  cousas  quero  de  ti. 


—  « Por  hum  olliinho  que  perdeo,  Deos 
sabe  aonde,  pfjde  ser  que  bebendo  em  al- 
guma taverna,  quer  que  lhe  dénrmais  do 
que  vai  toda  a  sua  cara :  ainda  lhe  ficou 
outro  olho,  isso  lhe  basta.»  Arte  de  fur- 
tar, cap.  36. 

Aquelle  deixo,  a  quem  do  somno  esperta 
O  grão  favor  do  Rei  que  serve  e  adora, 
E  se  mantém  desfaura  falsa  e  incerta. 
Que  de  corações  tantos  he  senhora, 
Deixo  aquelles  qu'e3tão  co'a  boca  aberta 
Por  s'eucher  de  thosouros  de  hora  em  hora. 
Doentes  desta  falsa  hydropesia, 
Que  quanto  mais  alcança,  mais  queria. 

CAMÕES,  EPISTOLA  1. 

—  « Dizei-o  vós,  Madama,  nào  acháes 
que   ella   seja   venturosa?  Xão  é  assim, 


QUER 


49 


minha  Suzanniiilia  (aqui  entre  nós  bem 
t'o  posso  chamar)  não  te  dás  tu  por  ven- 
turosa?—  «  Sim,  meu  amigo  (lhe  respon- 
deo  ella  forçando-se  a  surrir).  —  Ei-la  a 
cousa  concluida  (disse  ell^) :  daqui  a  4  ■ 
dias  parte  Madama  de  Senneterre,  e  tu 
irás  ámanhan  ao  baile ;  que  absolutamen- 
te quero  que  te  divirtas.  Xegar-mo-hás 
ainda?»  Francisco  Manoel  do  Nascimen- 
to, Successos   de  madame  de  Seneterre. 

—  Querer  bem  a  alguém;  desejar-lhe 
bem,  ter-lhe  amizade,  amor.  —  «  Muvtas 
vezes  andamos  tristes  e  nam  sabemos  de 
que :  quereo  Deos  asf^i,  poi'que  buscámos 
gostos  contra  sua  vontade,  que  nos  ve- 
nha tristeza  contra  a  nossa,  e  de  nos 
querer  bem,  nolo  tira  das  ofensas  que 
lhe  fazemos.»  D.  Joanna  da  Gama,  Di- 
tos da  freira,  pag.  29  (ultima  edição). 

—  Ter  vehemente  aftecto  por  alguém, 
amar. 

tempo  foy  que  nunca  fora 
quando  com  outra  esperança 
■  toda  a  minha  confiança 
puz  em  vos  só  por  huma  hora. 
Muito  mais  vos  quero  agora 
por  que  sois  desesperados, 
quero-vos  para  cuydados. 

CHRISTOVÃO    F.ALCÃO,  OBRAS,  pag.    30 

(ediç.  do  1871). 

—  «  Se  o  que  vos  quero  não  aproveita 
pêra  vos  lembrardes  de  mim,  nem  sentir 
o  mal  que  me  fazeis,  aproveite  pêra  hoje 
levardes  a  victoria  de  quem  a  não  deve 
ter  de  vós ;  e  então  matai-me  se  o  dese- 
jais: seremos  ambos  contentes.»  Francis- 
co de  Moraes,  Palmeirim  d'lnglaterra, 
cap.  89. 

—  Que  quer  ãlse?- ;  que  significa.  — 
«  Esta  Rainha  era  mui  docta  na  sagrada 
Scriptura,  em  que  compôs  dous  liuros,  a 
hum  chamam  Enzerachebà,  que  quer  di- 
zer, louuai  a  Deos  com  orgaõs,  em  que 
disputa  da  Trindade,  e  da  virgindade  de 
nossa  Senhora  mài  de  lesu  Clu-isto,  o  ou- 
tro lixiro  se  chama  Chedale,  Chay,  que 
quer  dizer  raio  do  Sol  em  que  trata  da 
lei  de  Deos. »  Damião  de  Góes,  Chroni- 
ca  de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  61. 

Diabo  Tu  nas  oy  tene  vergonlic? 
Feif.    Que  fiz  eu  ? 
Diabo  De  tois  lesães  en  aute  sois. 
Feit.    Vós  me  diredes  depois 

O  que  isso  quer  dizer. 
Diaho  Tu  aspete  de  bem  lajmer. 
Feit.    Hni !  pete  que  pôde  ser? 

Esta  que  linguagem  he  ? 
6IL  ■^^CE^•TE,  farças. 

—  «  Todo  ho  homem  que  na  Clúna  tem 
qualquer  oficio,  mando  ou  dignidade  por 
el  Rey,  se  chama  Louthia,  que  quer  di- 
zer em  nossa  lingua  senhor.  Como  este 
titulo  se  lhe  ponha  dilo-emos  em  seu  lu- 
gar.» Tenreiro,  Itinerário,  cap.  16. — 
«Os  Nayres  como  superiores  de  todos,  são 
tào  soberbos,  e  arrogantes,  que  pelas  imas 


50 


QUER 


QUER 


QUER 


por  ondo  paHflam,  vatn  hrailando  alto,  pó, 
pó,  fjuo  quer  clizor,  aflFii^tu,  aflafita. »  Dio- 
go do  (Jouto,  Década  4,  liv.   7,  cap.  14. 

Naò  tem  ouvido  Vo.i.sa  Sonlioriíi 
Ruid(mr>í)  Vaca  uiviir,  14  na  iilta  noite? 
lV)irt  1111(1  qiierrin  ilizcr  iii|ii(ill(M  uivo^, 
Sniiiiõ,  qtii!  iiiiilii  no  Imirro  Liibiií-lioiiiein, 
(Ju  hoiiiuiii,  por  fiulaiio,  traiiMimid:ido 
Em  juiiunito  orclliiido,  ou  oiii  «enduiroV 

A.  DINIZ  DA  CRUZ,  IIY8801'E,  Caut.  5. 

—  Queira  Deus ;  pcrniitta.  —  «  Draiua- 
ciana,  disse  Polinarda,  queira  Dcos  quo 
alfçuma  hora  te  possa  paj^ar  o  muito  quo 
to  devo.  Isso  lue  parece  beui,  faze-o  as- 
sim, o  nilo  dòs  a/.o,  que  se  |)rcsunia  que 
o  sei.  Entílo  liuipando  as  la^riuuis,  so 
tornou  peni  a  imperai riz.u  Francisco  de 
i\[oraes,  Palmeirim  dlnglaterra,  eap.  1)5. 
—  «  Nisto  ilic  po  liu  a  mào  pêra  liia  bei- 
jar, mas  elle  o  touiou  nos  bra(;os,  e  aper- 
tando-o  antr'clles,  lhe  disse:  Queira  Deus, 
Bciihor  irmào,  que  me  deixe  o  tempo  ter 
com  que  vos  sirva,  que  entiío  vos  mos- 
trarei quanto  sou  em  conhecimento  do 
que  vos  devo.»   Ibidem,  eap.  120. 

—  Querer  mites;  estimar  uuiis,  prefe- 
rir, —  «D  outro  SC  veio  contra  Vcrnao, 
dizendo:  Pouco  estimais  a  vida,  eaval- 
leiro,  jiois  tendes  em  menos  perdel-a  que 
dizer-me  que  pensamento  é  o  vosso,  sen- 
do sobro  isso  nossa  batalha :  e  com  di- 
zcl-o  piide  haver  fim.  Antes  ou  quero, 
disse  Vcrnao,  perder  essa  que  dizeis,  que 
tola  com  deixar-vos  a  victoria  de  saber- 
des o  gosto  de  que  nào  tendes  necessida- 
de, e  me  a  mim  traz  morto  e  contente. 
Pois  é  forçado,  disse  o  da  serpe,  que  ou 
mo  digais,  ou  um  de  ni')S  tique  no  campo 
cora  sua  magoa.»  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  eap.  9.  —  «  Mas 
como  é  natural  dos  corações  esforç^ados 
quererem  antes  morrer  em  liberdade  que 
viver  em  captiveiro,  Polendos  com  seus 
assim  desarmados,  sii  com  as  espadas  nas 
mãos,  postos  um  cauto  da  sala  a  deteiuui- 
navam  doixar-se  antes  matar  que  pren- 
der, o,  oceupado  da  ira  dizia  contra  o 
gram  turco :  Por  certo  duas  cousas  se 
empregaram  mal  cm  ti,  pessoa  c  estado.» 
Ibidem,  eip.  0(i.  —  «  Oi-ecem  tanto  mais 
na  dor,  o  sentimento  do  passado,  quanto 
mais  ouuom  e  entendem  da  diuina  mise- 
ricórdia do  Senhor,  quiseram  antes  mor- 
rer qu'í  telo  oftondido,  nem  ja  querem  a 
vida  senara  pêra  o  scrulr. «  Lucena,  Vida 
de  S.  Francisco  Xavier,  liv.  4,  eap.  11. 

—  Como  o  senhor  quizer,  ou  como  qui- 
zer;  expresscào  ilu  que  se  usa,  para  ceder 
em  qualquer  contenda,  questrio,  ou  tlis- 
puta. 

—  Como  quizer ;  como  entender,  como 
julgar  melhor,  á  sua  vontade.  —  «  Os  Al- 
vazis  devem  ir  ao  lugar,  ou  devem  en- 
viar hi  seu  Porteiro,  c  devem-lhc  dar 
aquelle,  que  quer  partir,  outra  tamanha 
partiçom  daquello  lugar,  camanha  lhe  hl 
devo  ende  acontecer  per  direito ;  e  este 


lavro-o  cjmo  quiser,  e  nom  rr^sponda  dos 
fruitos,  c  novos,  que  d'iii  «aireiu.»  Ord. 
Affons.,  liv.  4,  til.  107, 

—  Que  initis  queres  ?  denota  quo  se 
obttive  tuilo  quanto  tni  podia  desejar. 

—  Queira  ou  não  queira;  «cja  qual  fór 
a  sua  vontade, 

(iiifí  quer  is(o  dlzerí  denota  a  adnn- 
raçito,  uu  estranheza  que  alguma  cousa 
causa. 

—  Que  quer  isso  Jizcr?  corrocçSo  ou 
admoestação  dirigida  a  alguém  para- que 
corrija  e  modere  o  que  tiver  dito, 

—  Sem  querer ;  por  acaso,  sem  inten- 
çilo, 

Fiigio,  som  cu  iiurrer.  do  poito  hum  voto: 
Mi!ditai;ão  profunda  unio  di«t:intc.i 
Objectos  entro  «i,  c  á»  ^^u.■^lls  torna, 
j.  A.  DK  MACKno,  MKDirAvÃo,  cant.  3. 


aS',  m.  Vontade,  desejo. 

E  vimos  o  Tamorlain 
com  ^raudisiiinio  podor 
tuin  pram  scnlior  so  fazer, 
r|uc  tinlia  da  sua  mani 
líeys  grandes  a  sou  (jiierer : 
vimos  sua  crucldiide, 
gram  tirania,  maldado 
subir  cm  tão  grande  estado, 
t|ue  era  de  muvtos  cliamado 
açoute  da  Cliristaadadc. 

GARCIA   DE   BEZKNDE,   HISCELLANEA. 


—  a  Que  com  umas  praticava;  com  ou- 
tras zombava,  e  a  que  entào  menos  par- 
te tinha  er.a  cila,  de  maneira  que  sentin- 
do, que  seu  querer  arrufar  se  lhe  fazia 
damno,  tornou-sc  d'outro  bordo;  quanto 
lhe  mais  doía  algum  desengano,  mais  o 
dissimulava  :  assim  por  nito  dar  má  vida 
a  si,  como  por  não  dar  a  entender  o  que 
lhe  era  honesto  encubrir.  •)  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  dlnglaterra,  eap.  125. 


Vencidos  vem  do  somno  c  mal  despertos, 
liocej;indo  a  miude  so  encostavam 
l'ebis  antouas,  todos  mal  cobertos 
Contra  os  agudos  aros  que  assopravam : 
(íâ  olhos  contra  seu  querer  abertos, 
Mas  esfregando,  os  inoaibros  estiravam  : 
Remédio  contra  o  somno  buscar  querem, 
Historias  coutam,  casos  mil  referem. 
CAM.,  i.is.,  cant.  G,  est.  3it. 


—  Bi ni  querer;  vid.  Bemquerer,  .«.  «i. 
—  «  Jlas  conui  o  bem  querer  destes  dous 
se  não  apartasse  continuando  em  seus 
amores  tinha  o  mancebo  modo  de  entrar 
com  esta  escraua,  o  que  sabendo  dom  Al- 
uaro  pos  nisso  tal  vigia  que  o  achou  de 
noite  dentro  cm  sua  casa  fallando  com 
ella,  pelo  que  movido  de  sanha  o  mandou 
açoutar  per  mouros  de  sua  estrebaria, 
tào  cruidmente  que  em  todo  o  corpo  ilie 
nào  tieou  lugar,  que  não  fosse  chagado 
dos  açiHites.B  Damião  do  (íoes,  Chronica 
de  D.  Manoel,  part.  3,  eap.  40. 


—  Adaoios  : 

—  Querei-me  pelr)  que  vt»-  ijipio,  nào 
mo  falíeis  em  dinheiro. 

—  (^uem  tudo  o  quer,  tudo  o  pcnle. 

—  Quem  bem  quer,  do  longe  vô. 

—  Pintar  como  querer. 

—  Quem  me  quer  bem,  diz-me  o  quo 
sabe,  e  dá-uie  o  que  tem. 

—  Quem   quer  uiais   que  l)em,  a  mal 
vem. 

—  Queres  que   te  siga  o  cilo,    dá-lhe 
pão. 

—  Quem   te  dá  um  osso,  nSo  te  qner 
vêr  morto. 

—  Quem  dá  mão  á  ]>êra,   comer  quer 
d'ella. 

—  So  bem  mo  quer  .João,  bum  obraa  o 
dirão. 

—  Deita-te  a  enfermar,  «abcrás  quem 
te  quer  bem,  e  quem  te  quer  mal. 

—  Quem  diz  o  que  quer,  ouve  o  que 
não  quer. 

—  Lá  vão  os  pés,  por  onde  quer  o  co- 
ração. 

—  Conselho  de  quem  bem  te  quer,  ain- 
da que  te  pareça  mal,  escreve-o. 

—  Não  dá  quem  tem,  senão  quem  quer 
bem. 

—  Aonde  te  querem  muito,  nSo  vás  a 
miude. 

—  Onde    te    querem,    ahi     te   convi- 
dam. 

—  Prudência   é   não  querer  o  que  se 
não  piide  haver. 

—  Ainda   que  nos   nào  fallemos,  bem 
nos  queremos. 

— •  Mais    faz    quem    quer,    que    quem 
pôde. 

—  Quem  mais  tem,  e  mais  quer,  com 
seu  mal  morre. 

—  Quem  quer  enricar  em  um  anno.  a 
seis  mezes  o  enforcam. 

—  Isto  quer  Martinho,  sopa^  de  vinho. 

—  Mais  quer  a  côa,  que  toallia  eecca. 

—  Como  criastes  tantos   tilhos  V   que- 
rendo mais  aos  mais  pequeninos. 

—  A   quem   Deus   quer  bem,  o  vento 
lhe  apanha  a  leuha. 

—  A  quem   Deus  quis  bem,   no  rosto 
lho  vêem, 

—  Quem  bem  quizer  cear,  a  sua  casa 
o  vá  buscar, 

—  Quem    dinheiro    tiver,    fará   o   que 
quizer. 

—  Quem  quando  p<'>de  não  quer,  quan- 
do quer  nào  jxide. 

—  Se  nào  deres  o  que  quizeres,  fa/.e  o 
que  puderes. 

—  Mulher   se   queixa,  mulher  so  dóe, 
mulher  enferma,  ipiando  olla  quer. 

—  Mulher  sara,  o  adoec'  (piaudo  quer. 

—  Tal  virá,  que  tiil  queira. 

—  Rei   vai   aonde  p<Vde,  e  não  aonde 
quer. 

—  A  quem  nuil  queiras,  um  rocim  lhe 
vejas,  e  a  quem  mais  nial.  um  par. 

—  A  mulher  que  te  quizer,  nào  dirá  o 
que  em  ti  houver. 


QUER 

—  Cobra  boa  fama,  faze  o  que   quize- 
res. 

—  Em  tal  signo  nasci,  que  mais  quero 
para  mim,  que  para  ti. 

—  Quando  Deus  não  quer,  santos  não 
rogam . 

—  O  que  deve,  nào  repousa  como  quer. 

—  Quem  faz  o  que  quer,  não  faz  o  que 


quem   nao    quer 


—  Se  queres,  que  faça  por  ti,  faze  por 
mim. 

—  Não   o  quero,   não  o   quero,  deita- 
mo  n'este  capcilo. 

—  Que  queira,  que  não  queira,  o  asno 
ha-de  ir  á  feira. 

—  Quem    quer    vai 
manda. 

—  Quem  não  quer  ser  lobo,  não  lhe 
veste  a  pelle. 

—  Quem  quer  bolota,  trepa. 

—  Onde    quer   que   fores,    faze    como 
vires. 

—  Faz  mais  quem  quer,  do  que  quem 
pôde. 

—  Quem  bem  quer,  bem  obedece. 

—  Quem  bem  quer,  tarde  esquece. 

—  Quem  bem  te   quer,  far-te-ha  cho- 
rar, 

QUERIDO,  parf.  pass.  de  Querer. 

Fid.     Mas  esperae-me  aqui ; 

Tornarei  á  outra  vida 

Ver  minha  dama  querida 

Que  so  quer  matar  por  mi. 
Dlidi.  Que  SC  quer  matar  por  ti? 
Fid.     Isto  bem  certo  o  sei  cu. 
Diah.  O  namorado  sandeu, 

O  maior  que  nunca  vi ! 

GIL  VICENTE,    ACTO  DA  BAKCA  DO  INFEKNO. 


QUÊS 

Queixa,  querela,  que  do  juiz  inferior  se 
interp!5e  para  o  superior,  ou  para  o  so- 
berano. 

QUERMES,  «.  »i.  Termo  de  zoologia. 
Género  de  insectos  hemípteros,  cujas  es- 
pécies tem  as  antennas  compostas  de  cin- 
co artelhos,  e  abdómen  desprovido  de  ca- 
naes  secretorios.  Vid.  Kermes. 

QUEROGRILLO,  s.  m.  Nome  d'um  aui- 
mal. 

QUERQUERA,  adj.  f.  Espécie  de  febre 
intensíssima,  que  sacode,  e  estremece  os 
membros,  faz  a  voz  tremula,  e  o  gesto 
horritico. 

I  QUERRER.  Vid.  Querer. 

Quizo  beu,  amigos,  c  quero  o  qnerrey 
Hunha  mídher  que  me  quis,  c  quer  mal, 
E  qucrrá 

CANC.    DK    D.     DINIZ,    pag.   49. 

QUERUBIM.  Vid.  Cherubim. 


QUÊS 


51 


O  querido  de  Deos,  por  quem  peleja 

O  ar  também  e  o  vento  conjurado 

Ao  atambor  lhe  acodem,  porque  veja 

Que  o  que  a  Deos  ama,  hc  de  Deos  amado  : 

Os  contrários  rcvéis  á  Madre  Igreja 

Atroarão  coo  tom  do  Ceo  irado. 

Que  assi  deo  ja  favor  mais  que  humano 

A  Josué  Hebreo,  Theodosio  Hispano. 

CAM.,  EPISTOLA  3. 


Em  vão,  Filhas  dos  Francos  aptaes  Bálsamos, 
Com  que  os  golpes  saneeis.  Védão-no  os  Fados, 
Co 'a  choupa  do  veuablo,  um  jaz  ferido, 
Ko  coração.  Já  delle  foge  mesta 
Da  Pátria  a  tam  querida  imagem  sacra. 
Outro,  a  quem  férrea  Clava  ambos  os  hombros 
Rompeu,  não  mais  tom  de  apertar  ao  peito 
O  Filho,  que  lhe  a  Esposa  está  criando. 

F.    M.   DO  NASCIMENTO,  03    MABTYEES,  1ÍV.    G. 


—  Expressão  carinhosa  e  terna  com 
que  se  denota  o  affecto  intimo  que  se 
tem  por  alguém,  amante,  namorado. 

Naõ  choreis,  naõ,  naõ,  Querido, 
Augraentando  a  vossa  dor  ; 
Porque  dá  infausto  annimcio 
Vir  com  lagrimas  o  Sol. 

ABnADE  DE  JAZENTE,  POESIAS,  tOID .    2, 

pag.  245  (ediç.  de  1787). 
QUERIMA,  ou  QUERIMONIA,  s.  f.  ant. 


Com  teus  cseriptos,  Réaumour,  defendo 
Contra  o  sectário  vil  de  hum  cego  acaso 
O  Ai-quitector  da  maquina  do  Mundo  •, 
Grande  no  Querubim,  no  Insecto  grande  ! 

J.  A.  DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Caut.    3. 

He  tanto  o  Deos  do  Átomo  ignorado. 
Quanto  hc  do  accezo  Sol ;  tanto  do  insecto, 
Que  o  lodo  vil  esconde,  e  a  planta  piza. 
Quanto  he  do  Aujo  que  o  seu  Ser  adúra. 
Igual  do.s  Querubins  escuta  os  hymnos, 
Escuta  a  voz  do  tenro  Cordeirinho, 
E  ouve  03  rugidos  do  Leão  sanhudo. 
iiiiDEM,  cant.  4. 

QUÊS,  por  Queres.  Vid.  Querer. 

QUESILA,   QUESILIA.  Vid.  Quigila. 

QUESITO,  s.  m.  (Do  latim  quwsitum). 
Questão,  pergunta,  interrogação ;  ponto, 
ou  artigo  a  que  se  deve  responder. 

QUESTA,  s.  f.    ant.    Ganho,  grangeio. 

QUESTÃO,  s.  f.  (Do  latim  quaistio). 
Di.sputa,  controvérsia;  exame  que  se  faz 
da  matéria  duvidosa,  para  averiguar  a 
verdade. 

Ergo  claro  so  vê  com  fimdamento 
Xa  tcimoza  questão  da  nossa  idade. 
Ser  o  homem  mais- novo  que  o  jumento. 

ABBADE  DE  J.\.ZENTE,   POESIAS,  tOm.   2,   pag    71 

(ed.  1787). 

Que  o  Dialéctico  Pharo  de  cár  sabe. 
Que  de  santo  Thomaz  tem  lido  a  Summa, 
O  Gonet,  Bufembaum,  Lacroix,  Guimenio, 
Que  sabe  decidir  magistralmente 
A  famosa  questào,  — se  um  Burro  pude 
O  baptismo  beber,  ardendo  em  sede. 

DINIZ  DA  CRUZ,  HTSSOPE,  Caut.    3. 

Vejo  Espeuzipo,  imitador  da  excelsa 
Virtude  de  Platão,  e  em  sua  Escola 
Teve  cominum  com  oUc,  estudo,  e  sangue, 
Áureas  Bases  lançando  á  Academia, 
A  quem  depois  dèo  Cicoro  mais  luzes 
Nas  Questões  Académicas,  que  em  Baias 
Entre  Oradores  Cônsules  ventila, 
E  nas  alas  das  arvores  sombrias 
Do  fresco,  c  ameno  Tusculo  resolvo. 

J.   A.   PE  MACBDO,  VXAUEJI  EXTÁTICA,  Çaut.   2. 


—  Questão  determinada;  a  que  só  tem 
uma  solução,  ou  um  certo  numero  d'el- 
las. 

—  Questão  indeterminada  ;  a  que  pôde 
ter  intinitas  soluções. 

—  Agitar-se  uma  questão  ;  tratar-se 
com  calor. 

—  Deslindar  a  questão ;  resolver  o 
problema. 

—  Pôr  em  questão ;  em  duvida,  em 
controvérsia. 

—  Termo  familiar.  Questão  de  lã  de 
cabras,  ou  de  cágado;  sobre  o  que  não 
existe,  nem  ha. 

—  Postura  em  que  se  punham  os  cri- 
minosos, ou  suspeitos  de  crime,  para  con- 
fessarem o  crime,  ou  declararem  os  seus 
cúmplices. 

QUESTIONADO,  part.  pass.  de  Questio- 
nar. 

QUESTIONADOR,  s.  m.  (Do  thema  ques- 
tiona, de  questionar,  com  o  suíExo  «dôr»). 
Que  gosta  de  questionar. 

QUESTIONAR,  r.  a.  Disputar,  debater, 
discutir ;  argumentar,  ventilar. 

QUESTIONÁVEL,  adj.  2  gen.  (Do  the- 
ma questiona,  de  questionar,  com  o  suf- 
fixo  «avel»i.  Duvidoso,  problemático. 

^QUESTIÚNCULA,   s.  f.    Questão    fútil, 
vã,  inútil. 

QUESTOR,  s.   m.   (Do    Lltira    qua;stor). 
Antigamente,  em  Roma,  era  aquelle  que 
tinha  cuidado  do  erário  ou   dinheiro  pu- 
blico, como  entre  nós  os  thesoureiros  do 
reino  ou   viadores   da   fazenda.    A    mai.s 
provável   opinião   é    que    este    officio    foi 
instituído  por   Publio   Valério   Publicola, 
cônsul,    o    qual   depois    de   collocado    no 
templo   de    Saturno   o   thesouro    publico, 
constituiu  n'elle  dous   questores  para   o 
guardar,  os  quaes  eram   senadores,  e  or- 
denou que  d'ahi  em  diante  fossem  eleitos 
pelos  votos  do  povo;   depois,  querendo  o 
povo  ter  parte  no  dito  officio,  foram  crca- 
dos  outros  dous  questores,  e  assim  entre 
todos  eram  quatro,  dous    para   a   cidade, 
que  vigiavam  o  thesouro   publico,    e   ou- 
tros dous  que  sempre  acompanhavam  os 
cônsules  na  guerra.  Foi  crescendo  o  nu- 
mero dos  questores  ao  mesmo  tempo  que 
se  foi  augmentando  o  império ;  de  quatro 
subiram  a  oito,  de  oito  a   vinte,    creados 
por  Sylla,  e  de  vinte  a  quarenta  que  Ce- 
.sar  creou  para  encher   os  logares  do  se- 
nado. Os  questores  da  cidade  cobravam 
os    tributos,    arrecadavam    os    impostos, 
iam    ao   encontro    dos   embaixadores    es- 
trangeiros, pagavam  os  gastos  da  jorna- 
da, e  mandavam  preparar  e  armar  o  pa- 
lácio em  que   eram   agasalhados   á    custa 
da   republica ;   os   outros   questores   que 
seguiam  os  cônsules,  pretores,  e  generaes 
dos  exércitos,  quando  iam  á  guerra,  re- 
colhiam   e   registravam    os    despojos    dos 
inimigos,  recebiam   os   tributos  das  pro- 
víncias, e  distribuíam  a  paga  aos  solda- 
dos. Os  a  que  chamavam  Qncestores  Par- 
ricidii,  por  decreto  do   senado  se  repar- 


52  QIIEX 

tiaiii  p''.l;n  provincial  (!  tiiiliam  autliori- 
(lailo  para  jui^íaruin  cjrtu.s  criíiiu.'» ;  o  uo 
(lifltricti)  (lo  Hiia  jurÍHdict,'ito  iiiidavain  com 
lictoro.4  <!  outras  iiinif^iiiaM  do  ina^^iatra- 
d(j.s  Huprtimort.  Taiiiljciu  livuram  o  man- 
do do.H  oxcrcito.s  como  o.s  coiimilos  o  pr<í- 
torcH,  ma^^  era  inais  limitado  o  pudor  dos 
questores  da  cidade.  <>  magi.stcrio  do 
questor,  ora,  do  ordinário,  animal;  algu- 
ma-i  vezos  chegava  a  sor  trionnal. 

—  Homem  que  oxorceii  o  oliicio  do 
qiioator.  —  «Quando  soube  como  Terên- 
cio Varro,  questor  do  sou  exercito,  llcá- 
ra  morto  no  campo.»  Monarchia  Lusita- 
na, tom.  1,  foi.  18S,  col.  1. 

—  l)oa-30  Cíito  nomo  a  uu,^  pedintes 
do  crimolas,  que  com  atrovimouto  e  sol- 
tura enganando  as  almas  dos  iieis,  pro- 
punham ao  povo  indulgências  falsas,  dis- 
])ensavani  de  seu  niotu  próprio  nos  vo- 
tos, absolviam  os  penitentes  de  perjúrios, 
homicidios  e  outros  ))eecados,  remittiam 
o  perdoavam  o  mal  levado,  fazendo-se 
com  cUes  compoaii^ào,  em  certa  cousa, 
ou  quantidade  de  dinheiro,  relaxavam 
uma  certa  parte  das  penitencias  dadas 
cm  contissilo,  Ungindo  que  pelas  esmolas 
quo  alguns  tieis  lhos  dessem,  orara  livres 
das  penas  do  purgatório,  e  iam  gozar 
da  gloria,  uma  ou  muitas  almas  do  seus 
amigos  e  parentes,  o  que  os  bemfeitorcs 
dos  lugares  om  quo  elles  pediam  esmo- 
las, alcançavam  indulgência  plemiria. 

QUESTUARIO,  uilj.  (Do  latim  quccstua- 
riusj.  (^>ue  cuida  cm  lucrar. 

QUESTUOSO,  adj.  (Do  latim  qucvstuo- 
íKS).  Que  dá  proveito,  lucro. 

QUESTURA,  s.  /.  (Do  latim  (jii(rstuva). 
Ofticio,  cargo  do  questor. —  «Deyxando 
a  queslura  com  quo  viera.»  Monarchia 
Lusitana,  tom.  1,  foi.  317,  col.  1. 

-[■  QUETUAL,  s.  m.  Vid.  Catual.— «Ins- 
pirara no  coração  di^  hum  JMouro  persia- 
no, por  nome  Cojeabrahem,  do  peilir  a 
Afonso  dalbuquei-que  o  oflieio  de  quetual, 
ao  que  lhe  respondeo  que  tinha  assenta- 
do de  nam  dar  ofticio  da  cidade.»  l);i- 
mião  de  Góes,  Chrouica  de  D.  Manoel, 
part.  3,  cap.  25.  —  «Andando  Atlonso 
(rAlboquorquc  mui  cheio  das  suas,  acon- 
teceo,  que  hum  Coge  llabraem  alouro, 
Pai'sco  de  nação,  grande  amigo  deste 
Utimutirája  veio  pedir  a  olle  AUbnso  de 
Alboquerquo  o  officio  de  Quetual  da  Ci- 
dade ;  ao  qual  respondeo,  quo  os  taes 
officios  não  os  havia  de  dar  sem  conse- 
lho dos  homens  principaes  da  Cidade, 
quo  os  ajuntasse  cllo  a  hum  certo  dia,  o 
quo  perante  elles  lho  daria.»  Barros,  Dé- 
cada ■_',  liv.  G,  cap.  7. 

QUEXIQUER,  s.  »).  ant.  Qualquer  cou- 
sa ;  o  quer  quo  seja. 

Hum  bacoreto  orj?iilhoso 
Dou  viata  ao  gado  ovelhum 
De  qiiexiqiier  espantoso 
Trombcjava  cllo  hum,  e  hum. 
Andava  todo  bravoso. 

BÁ  DE  OTHASDA,  EOI.OO.V  1. 


QIMC 

QUEZILA,  quezília,   Vid.  Quigila. 

QUI,  por  Aqui.  Vil.  Aqui.  — «K  pon- 
to ([wr  tudo,  ou  a  maior  iiarte  do  quo  to 
qui  i'.scrcuonio.i  soja  tirado  da  escritura 
do  (iouiezeauoii,  e  assi  desto  AttonHo 
Coruoira :  nJio  foi  pequeno  o  trabalho 
que  tivomos  em  ajuntar  cousas  derrama- 
das.» Barros,  Dec:a4a   1,  liv.    2,    cap.    1. 

QUIABEIRO,  *.  lu.  De  quiabo,  c<jm  o 
Hufllixo   «eiro»).  Planta  que   d;í  (piiabos. 

QUIABO,  <..  M.  Fructo  do  Brazil,  de 
forma  coiiiai,  c  que  cozido  so  Borvc  com 
carnes,  peixo,  otc. ;  no  ilio  de  Janeiro  ó 
conhecido  polo  nome  de  quigonbo  ou  quin- 
(jonhii. 

QUIAIRA.  Vid.  Cairá. 

QUIÇÁ,  «l/r.  l'or  ventura,  quem  sabeV 
talvez.  —  «E  sonào  (pie  lho  fallasse  muy- 
to  claro,  e  o  desenganasse,  quo  se  nilo 
avia  do  yr  daly  até  que  lhos  nSo  man- 
dasse, porque  quiçá  i[ae  certiticado  desta 
determinação,  o  medo  lhe  faria  fazer  o 
(pie  pelas  outras  vias  lhe  negava,  quanto 
mais  (jue  pela  via  do  interesse  poderia 
ser  que  se  rendesse.»  Fern.ào  Mendes 
Finto,  Peregrinações,  cap.  IJ4.  —  «E  co- 
mo estes  Mouros  <  )ricntacs  s.ào  crédulos 
em  .agouros,  tomando  el  Rei  o  caso,  co- 
mo aviso  do  algum  mão  sucecsso,  quiçá 
cubrindo  com  a  superstição  o  medo,  sa- 
hio  logo  do  campo,  deixando  a  Jnzarc.ào, 
hum  Abexim  valente,  que  nas  guerras  do 
Mogor  tirara  soldo  contra  Soltào  Jlaha- 
miid,  e  agora  como  soldado  mercenário, 
fora  chamado  com  algumas  vantagens  a 
servir  nesta  guerra.»  .laeintho  Freire  de 
Andrade,  Vida  de  D.  João  de  Castro,  li- 
vro 2. 

Alp;iun  tanto  doscansa,  e  se  assegura 

O  namoiado  Roi,  f/v/','''  cioso, 

Que  não  sei  30  aiiiiclla  alta  formosura 

O  faz  dl!  Acofercào  sor  duvidoso. 

A  partida  porém  lo<;o  procura 

Tão  largo  em  qualquer  cousa  e  curioso, 

Que  não  se  satisfaz,  ou  determina. 

Pois  sempre  novas  cousas  imagina. 

^■UA^■CISC0  de  andrabe,  pbimkibo  ckkco  i>f.  mr, 
cant.  3,  03t.  97. 

Raudur,  qnic^á  por  vêr  80  agora  o  engana 
Esta  amizade  feita  novamente 
Com  gcuto  cstranlia,  c  que  ellc  ba  por  profaua. 
Pede  ao  Cunha  que  queira  alguma  gente 
A  Barouche  mandar  da  Lusitana, 
(^uc  dlmm  imigo  a  livre  tao  potente, 
K  (pie  elle  mandará  dos  seus  soldados 
Ue  ([uc  vão  os  cbristãos  acompanlnidos. 
iiiinKu,  cant.  5,  est.  48. 

E  que  tomando-os  inda  desmembrados 
Grão  perigo,  e  difficuldado  atalba, 
Porque  estando  assi  todos  espalhados 
PiWle  só  co'os  que  tem  dar-llies  batalha  : 
E  além  disto  alguns  povos  alterados 
Vendo-9C  sem  Rei  inda  que  lhes  valha, 
Desejosos  quiçá  de  novidade 
Folgarão  d'acceitar  sua  amiz.ade. 
iniDKM,  cant.  8,  est.  80. 


Torna  cst.a  gente  atraz  com  tnnta  pressa 
Quanta  para  diante  aulcs  lovilra, 


QUIC 

(^ue  qitii;á  lanXt)  o  medo  agora  a  z\ttin*A 
Quanto  foi  o  ódio  (|U<!  antiM  a  apreiMÚra. 
O  .Mogor  d'-  fugir  |)ori'in  nào  essa 
O  muro  it>'i  o  detcm,  alli  w'i  pAra, 
Port-m  iiula  não  »e  lia  p<jr  bem  M^uro 
Em  iiuiiutij  #>•  nào  vt*  dentro  do  muro. 
iHiDKM,  cant.  O,  est.  H-t. 

K  Hcndo  devedor  cm  quantidade 
\)i'  dinheiro  ellc  ao  Hei  de  '|ue  Ik-  \ii^.iallij, 
TraUí  lie  o  arrecadar  Cíim  bri'\  idad.- 
A'|U<'I1«  u  i|uem  compett;  arrccadalio, 
Em  tão  pia  tendão,  pia  vontade 
Dciicjando  tumbeui  iiuir/t  ajudaUo ; 
.Mas  queixa-se  ellc  uisto,  e  mal  o  Hofrc 
Que  a  abna  descarregar  vem,  nio  o  cofre. 
iBiDKM,  cant.  1.3,  c«t.  98. 

Man  o  Turw)  feroz  nunca  r)cin«o, 
Que  o  damno  dos  (Miristãos  mi  pert4>ndÍH, 
(luii;à  cutão  de  viugar-sc  Ucycjooo 
Do  damno  (jue  da  CJiva  recebia, 
Prepara  hum  novo  assalto  e  furioso 
Para  aquella  hora  (piando  o  novo  dia 
Mostra  lá  do  Oriental  dourado  assento 
O  que  tem  do  quarto  orbe  o  regimento. 
iBiDKM,  cant.  17,  est.  32.  • 

Os  Turcos  entretanto  não  tomarão 
Atraz  efl'o  grão  furor  que  antes  tivcrSo, 
K  tiinto  os  defensíorcs  apertarão 
Que  a  victoria  qniijá  por  sua  liouvcrão, 
l'orque  o  baluarte  mais  ganharão 
Que  os  outros  que  primeiro  o  comcttcrio, 
Porém  fcies  »ào  os  peitos  que  o  defeiidínn 
Que  em  quanto  ha  for(;a  c  vida,  nào  se  rendem. 
iiunKM,  cant.  19,  est.  92. 

QUIÇAES.  Vid.  Quiçá. — «^7lo  deiaqucl- 
Ic  moço  seniío  polias  dar  aqni-lles  necios, 
que  vinham  juntos  a  fazer  c.'».*o  no  bem 
que  eu  (pieria  fazer,  o  quiçaes  se  ficarão 
cm  brigas  n.ào  se  ajuntaram  pêra  isso  co- 
mo agora  vinham  juntos,  c  cu  por  aqiiy 
lhas  atalhei.»  (íarcia  de  Rezeníie,  Chro- 
nica  de  D.  João  II,  eap.  193. 

■;-  QUICHOTADA,  s.  /.  Acçào  riJicnla, 
extravagante,  como  as  de  D.  Quichote. 

—  Feitos  tie  D.  Quichote.  —  «Mjw  os 
encontros  desatinados  d'aquella  obra  do 
engenhoso  Cervantes  compostos  era  saty- 
ra  das  Novellas  (como  o  foi  a  obra  das 
quichotadas  para  desterro  dos  livros  de 
eavallariasi  tem,  seniío  similhança,  sup- 
plemeiíto ;  porqqe  maior  encontro  de  es- 
pécies n.^u)  o  ha  nem  em  Suppico. »  Bispo 
do  (hào  Parti,  Memorias,  publicadas  por 
Caniill"  Castello  Branco,  pag.  45. 

\  QUICHOTE, .«.  ).i.  —  Dom  Quichote;  o 
heroe  da  immortal  novella  de  Cervantes 
e  o  typo  dos  kcroes  cómicos. 

—  Fanfarr.ío  ridiciilo. 

QUICIO,  «.  «I.  Oonzo  de  portas  c  ja- 
nellas.  para  .is  fazor  pirar-  —  «A.  porta 
da  casinha  estava  fechada,  e  uma  gros- 
seira tela  de  estopa  servia  de  vidraça  á 
janella  quo  dava  luz  para  o  interior.  Rei- 
nava sobre  isto  tudo  um  silencio  profun- 
do, que  s.)  foi  interrompido  pelo  ranger 
do  portollo,  quando  o  mouro  o  fez  rodar 
sobre  o  prumo  que  l8o  servia  de  qnicio, 
c  pelo  clach,  clach  das  rans  que  estavam 
assentadas  gravemente  «a  margem  do 
pego,  e  que  saltaram  á  agua  assustadas 


QUIE 


QUIE 


QUIE 


pelo  súbito  ruído  do  chiador  portello.  que 
respondia  ao  clach,  clach  das  tímidas  fu- 
gitivas.)' Alexandre  Herculano,  Monge 
de  Cister,  cap.  5. 

QUICONGO,  s.  m.  Pau  medicinal,  que 
tem  a  mesma  virtude  do  pau  quiseco. 

7  QUIDADE,  í.  /.  (Do  latim  quiddi- 
tas).  Termo  de  jjhilosophia.  Essência  de 
uma  cousa. 

•j-  QUIDãM,  s.  m.  iDo  latim  quidavi). 
Termo  familiar.  Um  certo,  Tun  tal ;  pes- 
soa indeterminada,  cujo  nome  se  ignora 
ou  se  occulta  ;  usa-se  commummente  em 
tom  de  desprezo. 

QUIDITATIVAMENTE,  adv.  (De  quidi- 
tativo,  com  o  sufScio  «mente»).  Por  qui- 
dade,  d'um  modo  quiditativo. 

-j-  QUIDITATIVO,  adj.  (Do  latim  quiddi- 
taticusi.  Termo  de  pliilosopliia.  Que  per- 
tence ou  é  i'elativo  á  essência,  ou  sub- 
stancia de  alguma  cousa. 

•j-  QUID  PRO  QUO,  loc.  adv.  Expressão 
puramente  latina  introduzida  em  todos  os 
idiomas  europeus,  que  se  usa  quando  se 
substitue  uma  palavra  ou  cousa  por  ou- 
tra equivalente. 

t  QUIERMESIRA,  s.  f.  Tela  de  seda 
fabricada  em  Alepo. 

QUIETAÇÃO,  s.  /.  aiif.  Repouso,  tran- 
quillidade.  —  «O  restante  de  sua  vida 
passou  elRey  com  grande  quietação  ;  des- 
cuidado nào  só  de  guerras,  mas  do  go- 
verno do  Reyno,  que  em  quasi  tudo  pen- 
dia da  Raynba  Adosinda,  e  do  Infante 
Dom  Afonso  seu  sobrinho,  filho  delRev 
Dom  Fruela  seu  irmào.»  Monarchia  Lu- 
sitana,  liv.   7,  cap,  9. 

Ati5  que  aqui  no  teu  seguro  porto, 
Cuja  brandura  c  doce  tratamento 
Dará  saúde  a  um  vivo,  e  vida  a  um  morto, 
Noí  trouxe  a  piedade  do  alto  Assento. 
Aqui  repouso,  aqui  doee  conforto, 
Nova  quietação  do  pensamento 
Nos  déstc.  E  vès-aqui,  se  atteato  ou\ã5te, 
Te  contei  tudo  quanto  me  pediste. 
CAM.,  Lus.,  cant.  5,  est.*  85. 

— «D.  Jorge  de  Castro  lhe  disse,  que  fi- 
zesse elle  naquella  matéria,  o  que  lhe  bem 
viesse,  e  o  que  fosse  melhor  pêra  elle,  e  pa- 
ra quietação  do  seu  Reino.  Com  isto  despe- 
dio  ElRtíV  os  Emljaixadores,  por  quem 
mandou  dizer  a  seu  irmão  que  se  vies- 
se pêra  Ceitavaca,  e  que  alli  se  reconcilia- 
riaõ,  e  assentariaõ  as  pazes,  mandandolhe 
hum  seguro  seu,  e  outro  de  Dom  Jorge  de 
Castro.»  Diogo  de  Couto,  Década  G,  liv. 
8,  cap.  7. —  «Quanto  à  postura  do  corpo, 
parece  que  se  deue  escolher  a  mais  ac- 
comodada  a  quietação  interior  porque 
naõ  se  pode  o  animo  aquietar,  e  pacifi- 
car muito,  se  nao  estiuer  também  o  cor- 
po repousado,  e  de  assento,  isto  as  mais 
vezes,  e  ordinariamente.»  Frei  Bartholo- 
meu  dos  Mart\-res,  Compendio  de  espiri- 
tual doutrina,  cap.  18.  —  «A  vida  da  al- 
ma, e  sua  fartura  nào  ho  outra  seuào  por 
participaç.ío  do  summo  bem,  que  he  Deos, 


em  quanto  careceis  de  seu  diuino  amor 
applicandouos  as  cousas  do  mundo  nào 
pode.s  viuer  em  descanso,  mas  antes  an- 
dais em  penosa  calmaria,  ou  tempestade 
de  vários  desejos  ;  sem  amor  nào  pode  al- 
gum estar,  e  por  tanto  nào  tendes  quie- 
tação, porque  nào  acabais  de  achar  o 
verdadeiro  amor.»  Ibidem,  cap.  14. — 
« Assi  o  testemunhou  quem  o  esprimentou, 
dizendo,  desta  maneira,  senhor  o  que  he 
vosso  seruo  guarda  vossos  mandamentos 
e  em  os  guardar  recebe  grande  galar- 
dam,  Quasi  dizendo,  Nam  somente  des- 
pois  que  os  guai-dar,  e  passar  desta  vida 
seraa  gualardoado,  mas  ainda  viuendo  e 
guardandoos,  recebe  grande  galardam  de 
consolaçam  e  quietaçam  de  consciência.» 
Idem.  Catecismo  da  doutrina  christã, 
pait.  1.  cap.  i]-í  lediç.  16.53 1. 

QUIETADO,  part.  pass.  de  Quietar. 

QUIETADOR.  Vid.  Aquietador. 

QUIETAMENTE,  adv.  i^De  quieto,  com 
o  suffiso  «mente»).  Tranquillamente,  pa- 
cificamente ;  com  socego,  e  descanço. 

QUIETAR.  Vid.  Aquietar.  —  «E' como 
passasse  a  Itália  por  quietar  a  cisma  que 
se  lavàtou  em  tempo  de  Beuedicto  IX  re- 
cebeo  a  Coroa  Imperial  da  mão  de  Cle- 
mente segundo,  a  quem  por  deposição 
dos  intrusos  se  dera  o  Pontificado,  e  tor- 
nado em  Alemanha  teve  novas  guerras 
com  03  Ungaros.B  Monarchia  Lusitana, 
liv.  7,  cap.  'òO.  —  «ElRey  de  Tidore  co- 
mo não  quietava,  tornou  a  voltar  com  a 
sua  Armada,  com  determinação  de  ver 
se  podia  tomar  iium  dos  nossos  galeoens, 
do  que  o  Capitão  foy  avisado  primeiro 
que  elle  chegasse,  e  mandou  a  Dom  Ro- 
drigo de  Menezes  que  se  fosse  pêra  a  Ar- 
mada, e  nào  deixasse  chegar  a  ella  El- 
Rey de  Tidore.»  Diogo  de  Couto,  Déca- 
da ti,  liv.  9,  cap.  11.  —  «Bernaldim  de 
Sousa  depois  de  se  achar  bem  de  sua  en- 
fermidade, que  lhe  durou  alguns  dias,  se 
tornou  a  embarcar  pêra  Geilolo  pêra  aca- 
bar de  derribar  a  fortaleza,  e  quietar  as 
cousas  daquelle  Reino,  e.foy  ElRey  de 
Ternate  com  elle,  e  todos  os  Portugue- 
zes,  tirando  D.  Rodrigo  de  Menezes  que 
por  estar  quebrado  com  elle  se  deixou  fi- 
car.»  Ibidem,  cap.  13.  —  «Ah  perros 
aonde  me  levais"?  os  negros  com  o  medo 
se  lançarão  ao  mar,  e  Dona  Leonor  se 
lançou  com  elle,  dizendolhe :  Tà  Senhor, 
que  he  isto?  este  he  o  vosso  siso,  e  pru- 
dência? Manoel  de  Souza  de  Sepúlveda 
tornou  sobre  si,  e  quietou-se.»  Ibidem, 
liv.  9,  cap.  22.  —  «E  quanto  a  te  dize- 
rem que  te  faço  agora  esta  viagem  mais 
comprida  do  que  em  Liampoo  te  prome- 
ty,  tu  sabes  a  rezão  porque  o  fiz,  a  qual, 
no  tempo  que  ta  dey,  te  não  pareceo 
mal,"  o  pois  então  to  não  pareceo,  quie- 
tese  agora  teu  coraçaS,  e  não  tornes 
atrás  do  que  tens  assentado,  e  tu  verás 
quão  proveitoso  fruito  tiras  deste  traba- 
lho.» Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  71. 


QUIETE,  s.  /.  (Do  latim  qiiies,  quie- 
fis  .  Descanço,  tranquillitlade,  socego. 

QUIETISMÒ,  s.  m.  iDe  quieto,  com  o 
suftixo  «ismo»).  Quietação,  socego,  des- 
canço. 

■ — •  Erro  de  certas  pessoas  mysticas, 
que  em  consequência  de  uma  espirituali- 
dade errónea  fazem  consistir  toda  a  per- 
feição christã  na  tranquillidade,  e  na  in- 
acção da  alma,  descuidando-se  inteira- 
mente dos  seus  deveres  exteriores. 

—  Termo  de  politica.  Opinião  dos  in- 
di^-iduos,  que  durante  a  revolução  fran- 
ceza  se  afastavam  dos  acontecimelitos 
políticos. 

—  Nome  de  uma  doutrina,  também 
chamada  molinismo,  denominação  deriva- 
da do  seu  auctor  Miguel  de  Jlolina,  here- 
siarcha  aragonez  do  século  xvii,  que  en- 
sina bastar  uma  continua  elevação  ou 
extasi  para  ganhar  a  bemaventurança, 
ainda  que  a  pessoa  se  entregue  a  torpe- 
zas peceaminosas. 

QUIETÍSSIMO,  adj.   superl.  de  Quieto. 

QUIETISTA,  adj.  2  gen.  Sectário  do 
quietismo. 

QUIETO,  adj.  (Do  latim  quktus).  Fal- 
to de  movimento. 

—  Pacifico,  socegado,  tranquillo ;  isen- 
to de  pertiu'bação  ou  alteração. 


E  para  me  atormentar 
Moâtraa-me  a  sombra  do  bem 
Para  assi  mais  m'enganar  ?' 
Assi  que,  com  quanto  canso, 
Ja  nào  po.sso  achar  atalho, 
Pois  que  o  somno  qyieto  e  manso. 
Que  03  outros  tem  por  descanso. 
Me  vem  a  mi  por  trabalho. 

CXM.,  EL-REI  SELECCO. 


Como  isto  disse,  manda  o  consagrado 
Filho  de  Maia  á  terra,  porque  tenha 
Um  pacifico  porto  e  socegado, 
Para  onde  som  receio' a  Frota  venha  : 
E,  para  que  em  Mombaça  aventurado 
O  forte  Capitão  se  nào  detenha. 
Lhe  manda  maia,  que  era  sonlios  lhe  mostrasse 
A  terra,  onde  quieto  repousasse. 
IDEM,  LUS.,  cant.  2,  est.  ÕU. 

—  «Pois  este  Philo  no  liuro  que  fez 
dos  sonhos,  onde  moraliza  este  de  lacob 
diz,  que  Haran  quer  dizer  coua,  e  Tha- 
ré  còtemplação  de  cheiro.  Esta  lapa  e 
coua  separada  he  a  vida  solitária  e  quie- 
ta, na  qual  repousa  Tharé :  porque  so- 
mente nella  repousam  aquelles,  que  na 
contemplaçam  acham  cheyro  e  suaue  de- 
ley tacão.  E  cõ  estes  communíca  Deos 
seus  mistérios,  e  os  faz  thesoiu-eiros  de 
seus  segredos.»  Heitor  Pinto,  Dialogo  da 
vida  solitária,  cap.  6.  —  «E  boa  prova 
disso  seja,  que  devendo  a  tantos,  nenhmn 
os  cita,  nem  demanda,  porque  ham  medo 
da  bastão  da  potencia,  em  que  se  fijmão, 
com  que  lhes  podem  quebrar  as  cabeças; 
mas  para  remirem  sua'  vexaçam,  usam 
do  direito  natural,  que  os  ensina  a  refa- 
zer-3e  pela  calada,   e  pelo  mais   quieto 


ÍA 


QUK! 


QUIL 


QUIM 


iiioilo,  i|iiii  llic-i  li(t  jKjssivcl  :  o  como  h 
H;iti.si;i(;;ini  liça  iiii  sua  i'c'tviM-a,  lio  onliii/i- 
riiuiKiiiti!  (Mil  iloliro.i-  Arte  de  furtar,  <::í\'. 
V).  —  ol'()r  tanto,  ou  Huja  Ikjiiicui  couilia- 
tido  da  jiru;,aii^-a,  porá  as  cousas  ouitin- 
tuaos,  i!  da  Mocura,  ou  de  alffuina  teiita- 
çílo,  ou  gozo  do  intima  do^iura  do  cora- 
ção deuoto  naõ  mciioB  merecera  o  (jue 
BUjjporta  no  estado  aihicr.so  do  (juc  o  go- 
zoso no  quieto,  e  .sossegado  ;  inas  ordina- 
riainonto,  pêra  os  fracos  costuma  sor  mais 
vtii,  á  (leua^^aõ,  e  aos  jiroucctos,  e  cale- 
gados  na  virtuile  a  occasiaõ,  ou  vonto  da 
tribulação  grangisara  mais  merecimentos.  » 
Frei  IJartlioloineu  dos  Martyies,  Com- 
pendio de  espiritual  doutrina. — -«Nem 
naípiella  parte  o  eonsentio  Salvador  Ki- 
beyro  viver,  quieto,  autos  inandàdoih'' 
fazer  cruel  guerra  com  Xiniins  escolhi- 
dos, aos  quaus  fazia  niuvtos  favores,  o 
honras,  o  oljrigou  a  quo  deyxada  sua  pá- 
tria, passasse  ao  Royno  de  l*roui,  temen- 
do a  Fortuna  do  nosso  (Japitaõ.»  Fernão 
Mondei  Pinto,  Discurso,  cíip.  12. 


Este,  ou  que  ElRoi  não  fiii,a  doUe  a  couta, 
Qual  cum])rc  a  Seu  estado  o  digiiiilade, 
Ou  levado  da  mal  quieta  c  proiiipta 
A  cousati  nov.as,  soiupro  mocidade, 
lia  vendo  todavia  por  aflVouta 
Mosti-ar-lho  ElKoi  desgosto  e  má  vontade, 
Do  sou  mereciuicuto  assaz  indiua, 
Buscar  Senhor  alheio  determina. 

r.  DP.  ANmtinB,  ntiMEiíto  ckkco  de  diu, 
cnut.  3,  est.  íl. 


Onde  cliegando  vêem  huma  espaçosa 
Ilha,  que  de  nenhum  hc  conhecida. 
Mas  de  fresco  arvoredo  tão  formosa 
Que  a  lograrom-se  então  delia,  os  convida: 
Por  toda  a  parto  mostra  huma  areosa 
Praia,  que  iiaquella  hora  combatida 
Da  quieta  onda,  faz  quo  ainda  mor  seja 
O  desejo,  de  quem  muito  a  deseja. 
IH1DK..M,  cant.  4,  est.  38. 

—  «Ás  Cabriollas  cora  que  huma  pes- 
soa 86  apresenta,  conheço  a  alta  idea  que 
forma  de  si  mesma.  A  sua  postura  mos- 
tra claivunente  so  o  spirito  he  quieto,  ou 
se  o  temperamento  he  vivo,  e  apayxona- 
do,  o  03  seus  passos  ou  passeyos,  me  di- 
sem  quasi  sempre  se  he  ou  nTio  he  Bes- 
ta. Algumas  veses  vejo  se  lium  homem 
hc  generoso,  ou  avarento,  quando  me  dá 
huma  pitada  de  tabaco. »  Cavalleiro  d'01i- 
veira.  Cartas,  liv.  2,  n."  43. 

—  J/«)-,  vento  quieto  ;  sem  alteração, 
socegado. 

—  Nação  quieta;  povo  quieto  ;  de  gen- 
te mansa,  não  revoltosa  ;  sem  alteração 
da  paz. 

—  Livro,  socegado. 

•}■  QUIGE,   ant.  Voz  do  verbo   querer. 

Joaii.   Canfeu  não  sei  que  te  fige, 

(^ne  tal  escandola  mo  tens. 
Ciit.      Mas  não  sei  a  quo  cá  vens  •, 

(Jue  a  niiiííuem  tanto  mal  qiiijff. 
Joaii.  Por  bem  querer,  mal  haver. 
Cai.     Ora  teus  bom  do  comer. 


JiKiit.  ]aío  lio  foscuH  mui  aHÍnliu. 
I'cir  me  iiietter  rebuiitinlia  ; 
.Mas  jicrol  iiào  fhoi  de  crer. 

OII,  VICK.STI!,  AUTO    l-ABrOKIL    rOllTLOf BZ. 


QUIGILA,  .1. ,/'.  Aiitiiiatliia  que  os  pre- 
tos de  Africa  tem  a  certas  comidas  o 
acções,  a  ponto  de  adoecerem,  o  até  mor- 
rerem, sr  os  contrariarem  u'i«80. 

QUIGILAR,  V.  n.  Tomar  (juigila,  anti- 
]ialhia,  aversão  a,  alguém,  ou  a  alguma 
eou.sa. 

QUIGILENTO,  'idj.  Que  faz  ou  causa 
quiulla,  aiili]iatliieo. 

QUIGILHA,  QUIJILA,  ou  QDIJILHA.  Vid. 
Quigila. 

QUIGONBO.  Viil.   Quingonbo. 

QUIJANDG.   Vid.  Quejando. 

QUIL,  .V.  tn.  Animal  (juedrupede  do 
feitio  do  furão,  e  que  alguns  Índios  criam 
em  casa  para  matar  e  exterminar  ratus; 
tem  este  animal  grande  antipathia  com 
as  serpentes,  e  quando  se  vô  mordiílo 
d'ollas  recorro  ao  pau,  a  que  cliamam  pau 
de  cobra,  de  cuja  raiz  so  faz  notável  es- 
timação, por  sor  efficacisâimo  antídoto  de 
venenosas  mordo  luras. 

QUILATAÇÃO,  s.  /.  Acção  de  quilatar, 
avaliação  dds  (piilates  do  metal,  etc. 

QUILATADO,  imit.  j^nss.  de  Quilatar. 

QUILATADOR,  s.  m.  (J  que  examina  e 
estima  os  quilates  doa  metaes  c  pedras 
preciosas. 

QUILATAR,  V.  a.  Examir.ar  e  fixar  o 
(juilato  lio  metal  ou  da  pedraria. 

QUILATE,  s.  m.  (jrande  perfeição  e 
puro/.a  de  (mro  e  das  pedras  preciosas. 

—  Vigésima  quarta  parte  do  valor  do 
ouro  puro. 

—  Nas  pedi-as  preciosas,  uma  das  con- 
to e  quarenta  partes  em  que  se  divide  a 
onça. 

—  Espécie  de  moeda  antiga  do  valor 
de  meio  dinheiro. 

—  Peso  de  quatro  grãos;  ó  a  terça  par- 
te do  tomim  e  a  centésima  quadragési- 
ma quarta  parte  da  onça.  —  «  E  porque 
faltava  moeda  na  Cidade,  mandou  bater 
iiuma  de  om-o  da  ley  dos  pagodes  redon- 
das, que  vinh.ão  da  terra  firme,  quo  era  de 
quarenta  e  três  pontas,  que  responde  a 
vinte  quilates  o  hum  quarto,  c  cada  marco 
do  ouro  fica  respondendo  a  sessenta  c  sete 
moedas,  e  duas  tangas,  oito  grãos  e  de- 
zascis  avos  de  grão.  Esta  moeda  mandou 
chapar,  o  cunhar  de  huma  parte  com  a  fi- 
gura do  bemaveuturado  Apostolo  S.  Tho- 
mè,  Padroeiro  da  Índia,  e  da  outra  com 
as  quinas  das  armas  Koaes  de  Portugal, 
o  tíeàraõ-se  chamando  Saõ  Thomès,  moe- 
da quo  ainda  dura  na  Índia,  e  corre  por 
toda  ella.!!  Diogo  do  Couto,  Década  li, 
liv.  7,  cap.  1. 

—  Figuradamente:  Grau  de  perfeição 
de  alguma  cousa.  —  «  E  porá  peior  estar 
ortereeido  a  entrar  em  campo  com  o  ca- 
valleiro do  selvagem  e  filho  do  D.  Duar- 
dos,  tanto  seu  amigo,  tão  esforçado  em 


armas,  quo  com  elle  se  não  po>lia  ga- 
nliar-ae,  nilo  quebra  na  honra,  rÍBco  na 
vida,  e  sobro  tudo  quem  nestes  termos  o 
punha  não  quereria  coiu  algum  favor  ou 
esperança  delle  pagar  nenhum  quilate 
deiles.»  Francisco  de  Morueii,  Palmeirim 
dlnglaterra,  cap.  1-lH. 

—  J'or  quilates  ;  miudamente,  em  po- 
quciiissiiiias  porções. 

QUILATEIRA,  ».  /.  Instrumento  com- 
prido, cheiíj  de  furos  por  onde  passam  as 
peiiras  preciosas  para  se  reconhecer  os 
quilates  ou  valor  d'elleH. 

QUILHA,  «.  /.  (Do  grego  koilot).  Ter- 
mo de  náutica.  A  parte  inferior  do  na- 
vio, da  qual  se  elevam  todas  as  obras  do 
costado,  ou  a  base  principal  de  qualquer 
embarcação,  d'oude  parte  todo  o  esquele- 
to d'ella.  E  composta  de  varias  peças  en- 
cravadas umas  nas  outras,  ás  quaes  se  dii 
o  nome  de  talòes  da  quillia;  é  o  alicerce 
sobre  que  se  fijrma  este  admirável  edifi- 
cio. 

—  O  mesmo  navio,  tomando  a  parte 
polo  todo. 

—  Passar  por  debaixo  da  quilha;  fazer 
passar  um  homem  por  debaixo  da  qui- 
lha do  navio,  pona  de  morte,  marcada 
pelas  leis  penaes  para  certos  delictos  de 
maior  gravidade. 

—  Pi)r  o  navio  em  quilha ;  começar  a 
construil-o. 

—  Quilha  limpa ;  a  quilha  sem  outra 
peça. 

—  Naus  de  quilha ;  por  opposiçfio  ás 
razas. 

—  Figuradamente  :  Lançar  a  quilha  ; 
08  alicerces,  os  fundamentos,  a  base. 

—  Ad.\cuos: 

—  Dá-mc  quilha  quo  eu  te  darei  mi- 
lhas. 

—  A  quilha  ó  de  quem  a  pas-^a. 
QUILHADO,  pavt.  pass.  de  Quilhar. 
QUILHAR,    V.    a.   Pôr   quilha   aos   na- 
vios. 

—  S.  m.  Prego  ^ande  com  que  se  pre- 
gam as  cavernas  na  quilha  da  nau. 

QUILLO,  por  Aquillo.  Vid.  esta  pala- 
vra. 

QUILOMBO,  s.  m.  Termo  do  Brazil. 
Casa  sita  no  mato,  onde  vivem  os  c*- 
Ihambolas  ou  os  escravos  fugidos. 

QUIMÀO,  s.  »i.  Roup.ío  talar  com  man- 
gas, aberto  pela  frente,  c  largo. 

QUIMERA.  Vid.  Chimera. 

Eila  lá  vem  ;  naõ  cuides,  quo  hc  quinifra  : 
Tu  naõ  vês,  que  com  passo  acelerado 
Vem  dizendo...  Paulino,  espera,  espera? 

ABBAtlE   I>E    JAZV.XTE,   POESIAS,   tOm.    2,   pftg.   •jí' 

icdii;.  1T87Í. 

•f  QUIMÉRICO.  Vid.  Chimerico. 

.\  KazSo  te  acabou,  foge  a  meus  olboe, 
O  quimrrira  \\y\>ót\w90  da  Escj''la, 
Rival  de  Atlienas,  que  a  Cidade  lioiiraate 
Po  .Toven  Macedónio  obra,  que  onoerra 
Ho  Romano  Pompêo  choradas  cinz.ia  : 
Calção  pós  o  sepulcro,  a  vista  ignora ; 


QUIN 


QUIN 


QUIN 


Que  a  férrea  mão  dos  séculos  estraga 
Os  letreiros  do  orgulho,  c  até  minas  ! 

J.   A.    DE  MACEDO,   MEDITAÇÃO,  CaUt.    2. 

química.    Vid.  Chimica. 

QUIMINHA,  s.  /.  rianta  de  Angola. 
Vid.  Minhaminha. 

QUINA,  s.  f.  O  angido  solido,  esqui- 
na. 

—  Quina  víi-a;  a  que  é  muito  aguda. 

—  Termo  de  chimica.  A  casca  do  ve- 
getal do  mesmo  nome,  de  que  se  conhe- 
cem varias  espécies;  é  anti-febril. 

—  Termo  de  botânica.  Género  de  plan- 
tas da  família  das  rubiáceas,  cujas  espé- 
cies sào  arvores  mais  ou  menos  elevadas 
que  crescem  no  Peru  e  no  Brazil. 

—  PI.  Quinas.  No  jogo  de  dados  é 
quando  estes  apresentam  a  face  marcada 
com  cinco  pontos  voltada  para  cima. 

—  As  armas  portuguezas ;  que  são  õ 
escudos  azues  postos  em  cruz ;  e  em  cada 
escudo  5  dinheiros  de  prata  em  aspa.  — 
«O  qual  tributo  lhe  pos  naõ  somente  por 
razão  de  vassallo  d'elRey  dom  Manuel, 
mas  porque  em  sua  chegada  naõ  mos- 
trou a  bandeira  das  quinas  reaes  do  Rey- 
no.»  Barros,  Década  1,  liv.  7,  cap.  4. 

Que  naus  são  essas  que  ufanosas  surcam 
Pelo  esteiro  do  Gama  ?  Pendões  bárbaros 
Varrem  o  Oceano,  que  pasmado  busca, 
Em  vão !  nas  poppas  descobrir  as  Quinas. 
Em  vão ;  da  hástca  da  lança  escalavrada 
Roto  o  estandarte  cai  dos  portuguezos. 
GARKKxr,  CAMÕES,  cant.  10,  cap.  19. 

Os  Heróes  immortaes,  que  as  Lusas  Quinas 
Nas  margens  hão  erguer  do  Hydaspe  e  Ganges  •, 
Porém  debalde  exclama,  as  Nãos  triunfantes, 
Engolfadas  no  mar.  já  tiícão  perto 
Praias  náo  vistas  das  Romanas  Águias. 

J.    A(K)STI!1H0  DE  MACEDO,   MEDITAÇÃO,  Caut.  1. 


QUINADO,  adj.  Preparado  com  quina. 
—  Vinho  quinado. 

—  Termo  de  botânica.  Diz-se  das  fo- 
lhas quando  o  peciolo  sustenta  cinco  fo- 
liolos. 

QUINAL,  s.  m.  ant.  Medida  de  cinco 
puçaes,  que   são   vinte  e  cinco  almudes. 

QUINANTE,  adj.  2  gen.  Que  tem  qui- 
nas gravadas. 

QUINAO,  ou  QUINAU,  s.  m.  Emenda  de 
erro,  que  faz  o  que  argumenta  a  quem 
responde  errado. 

—  Dar  um   quinao;  emendar  um  erro. 
QUINAQUINA,  s.  f.  Vid.  Quina. 

"i"  QUINAR,  V.  a.  No  jogo  do  quino,  ou 
loto,  ganhar  a  partida, 

QUINARIO,  ad,j.  (Do  latim  <juinarius). 
Diz-se  do  numero  composto  de  5  unida- 
des, ou  que  é  divisível  por  ò. 

—  8.  II).  Moeda  de  prata  dos  romanos 
que  valia  cinco  asses  ou  meio  denario. 

QUINAS.  Vid.  Quina. 

QUINATOS,  s.  m.  pi.  Termo  de  chimi- 
ca. Saes  formados  pela  combinação  do 
acido  quinico  com  as  bases. 


QUINAU.  Vid.  Quinao. 

QUINCALH...  As  pala\Tas  escriptas  com 
Quincalh...,  busquem-se  com  Quinquilh... 

QUINCALOGO,  s.  m.  Os  cinco  manda- 
meuto-i  da  iffreja  catholica. 

QUINCHOSO."Vid.  Quintal. 

QUINCUNCE,  s.  m.  Termo  de  agricul- 
tura. Plantio  de  arvores,  uma  em  cada 
angulo,  e  outra  no  meio,  ou  disposição 
de  arvores  em  forma  de  xadrez. 

—  O  lu£:ar  assim  plantado. 

f  QUINDECAGONO,  s.  m.  Termo  de  ma- 
thematica.  Figura  geométrica  composta 
de  15  lalos  e  outros  tantos  ângulos. 

f  QUINDECEMVIROS,  s.  m.  pi.  Conse- 
lho de  quinze  -varões  instituído  em  Roma, 
para  repartir  as  terras,  para  lêr,  ou  in- 
terpretar os  versos  das  Sybillas,  e  dispor 
as  festas   seculares, 

QUINDENNIO,  s,  m.  (Do  latim  quin- 
deni).  Espaço  de  quinze  annos ;  usa-se 
frequentemente  pela  pensão  que  cada 
quinze  ânuos  se  pagava  ao  papa,  de  igre- 
jas annexas. 

QUINGAMBO,  s.  /.  Planta  annual,  da 
ordem  das  malvacoas,  cujo  fructo  se 
come. 

QUINGONBO.  Vid.  Quiabo. 

QUINGOSTA,  s.  /.  Caminho  estreito. 
Vid.    Congosta,    ou   Cangosta. 

QUINHÃO,  s.  711.  Ração,  pitança, 

—  Parto  que  toca  ou  pertence  a  al- 
guém.—  «Bem  será,  pois  no  castello  d'Al- 
mourol  fomos  veacidos,  e  lá  nos  ficam  nos- 
sas emprezas,  que  nos  vinguemos  nesta 
senhora,  pois,  além  de  ser  fermosa,  tem 
algum  quinhão  n'essa  casa.»  Francisco 
de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap. 
128. 

—  Parto,  porção,  numero. 

—  Ração  que  toca  ao  lavrador,  que 
parte  os  fructos  com  o  senhorio, 

QUINHENTISTA,  s.  nu  Escriptor  por- 
tuguez  do  século  xv  a  XVi. 

QUINHENTOS,  adj.  Diz-se  da  metade 
de  mil,  produzida  pela  multiplicação  de 
cinco  por  cem ;  500.  —  « Neste  anno  de 
mil,  e  quinhentos,  aos  xxv.  do  mes  de 
Maio  deu  el  Rei  titulo  a  dom  Cleorge  de 
Duque  de  Coimbra,  el  senhor  de  Monte 
mòr  o  velho,  alem  dos  que  jà  tinha  de 
Mestre  das  Ordens  de  Sanctiago,  e  de 
Avis,  e  ao  derradeiro  dia  do  mes  o  casou, 
sendo  em  idade  de  vinte  annos,  com  donna 
Beatriz  de  Vilhena,  filha  de  dom  Aluaro, 
irmão  de  dom  Fernando  segundo  Duque 
de  Bragança  do  nome.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  4õ. 
—  «Nesta  armada  aueria  mil,  e  quinhen- 
tos soldados  Portugueses,  e  trezentos  Jla- 
labai-es  de  que  era  capitam  hum  Naire 
muito  nosso  amigo,  que  fora  Guazil  dei 
Rei  de  Cananor.»  Ibidem,  part.  3,  cap. 
11.  —  «  Destes  Árabes  a  na  Aduecala  três 
linhagens,  a  que  chamam  Xerquia,  Abi- 
da,  e  (rarabia  das  quaes  ha  da  Xerquia 
se  parte  em  seis  tribus,  a  que  chamam 
Cabildas,    se.   Vleidambram   lithali,    que 


he  a  principal,  em  que  entam  aula  mil  e 
quinhentos  de  cauallo,  e  trinta  mil  de 
pe,  e  couto,  e  cincoenta  aduares,  e  o 
aduar  se  chama  a  pouoaçam  de  numero 
de  cincoenta,  e  sessenta  ate  cem  tendas, 
e  todos  estes  aduares  juntos  se  chamam 
alheilà.»  Ibidem,  part.  3,  cap,  47.  —  «E 
pêra  mais  confirmar  isto  leuou  consigo 
hum  Rui  faleiro  Português,  homem  que 
fazia  profisaõ  de  Astrólogo,  e  Mathema- 
tico,  estes  ambos  forão  ter  a  Saragoça 
no  anno  de  mil,  quinhentos,  e  dezoito, 
os  quaes  el  Rei  dom  Carlos,  com  seu  con- 
selho ouuio  muitas  vezes,  e  a  Feniam  de 
magalhães,  mais  por  fallar  melhor  nas 
cousas  do  mar  que  ho  faleiro.»  Ibidem, 
part.  4,  cap.  37.  —  «Com  esta  armada 
que  iriam  três  mil  soldados  Portugueses, 
e  mil  naires  de  Malabar,  e  canarim  che- 
gou Diogo  lopez  de  Sequeira  sobre  ha 
barra  de  Diu,  na  entrada  de  Feuereiro 
do  anno  de  Mil  quinhentos  vinte,  e  hum, 
a  quem  logo  Jtelique  saqua,  e  Hagama- 
hamed  mandaram  visitar  com  muita  so- 
ma de  refrescos  da  teri-a  ofterecendosse 
em  nome  dei  Rei  de  Cambaia,  e  de  Me- 
liquiaz  a  tudo  o  que  lhe  delles  conipris- 
se.»  Ibidem,  part.  4,  cap.  60.  —  «Acaba- 
do este  feito  tomouse  Lopo  Soares  reco- 
lher às  nãos  e  naquelle  dia  não  se  enten- 
deo  em  mães  que  na  cxira  dos  feridos:  e 
ao  seguinte  que  era  dia  de  Janeiro  do 
anno  de  quinhentos  e  cinquo  se  fez  à 
vela  caminho  de  Cananor.»  João  de  Bair- 
ros, Década  1,  liv.  7.  —  «A  relação  das 
quaes  victorias  começaremos  neste  segun- 
do liuro  ante  que  sayamos  do  anno  de 
quinhentos  e  oito,  por  não  confundir  o 
tempo  em  que  se  as  cousas  fezerão :  o 
qual  quanto  em  nos  for,  trabalharemos 
por  guardar  no  processo  delias.»  Idem, 
Década  2,  liv.  2,  cap.  1.  —  «Mandou  el 
Roy  o  anno  de  quinhentos  e  oito  dezase- 
te  vela.?,  que  partirão  em  duas  capita- 
nias :  a  primeira  era  de  treze,  oito  que 
ião  pêra  a  carga  da  especearia  por  serem 
nãos  grandes,  de  que  erão  capitães  Tris- 
tão da  Silua  filho,  de  AfFonso  Telez  de 
Meneses,  João  Rõiz  Pereira  filho  de  Rei- 
mão  Pereira,  Vasco  Carualho  filho  de  Al- 
uaro de  Carualho.»  Idem,  Ibidem,  liv.  3, 
cap.  1.  —  «Sobre  as  quaes  palauras  que 
ouue  algumas  perfias  entre  alguns  capi- 
tães Rumes  desfazendo  n'o  que  João  Ma- 
chado dizia.  Finalmente  o  negocio  chegou 
a  tanto,  que  hum  daquelles  capitães  Ru- 
mes disse  ao  Hidalcão  que  lhe  mandasse 
dar  atè  quinhentos  homens,  e  que  elle 
com  sua  pessoa  queria  ir  esperar  a  ousa- 
dia dos  Portugueses.»  João  de  Barros, 
Década  2,  liv.  .5,  cap.  6. — «A  nova  da 
vinda  deste  Patê  Unuz,  posto  que  se  en- 
cubrio  muito  tempo  aos  nossos,  foi  sabi- 
da era  ^Malaca  na  entrada  de  Janeiro  do 
anno  de  quinhentos  e  treze,  a  tempo  que 
Fernão  Peres  estava  de  todo  prestes  pê- 
ra se  partir  pêra  a  índia  com  as  três 
nãos    carregadas    da    Armada    de    Dio- 


56 


QUIN 


QUIN 


QUIN 


po  Míjnde»  do  Vartconcolliw,  que  por  .so- 
roíu  lie  arniiidoi-cs,  por  ordoiiiiiiríi  de  At- 
foriso  d'Allj<)<|U(jnpu!,  (eoiiio  Htr;ls  Heii)  lia- 
viam  do,  vir  a  otUt  llcyiio  ••mii  eiir^^i  do 
CMpoclíiria.»  Idem,  Ibidem,  liv.  '.',  uap.  4. 
—  «Ao  tempo  do  l(!Vautar  ;m  moHaH,  se- 
gundo outiva  ordeiiailo,  entraram  pola 
porta  da  sala  quinhentos  cavalleiroH  <la 
guarda  do  grain  turco,  armado»  do  todas 
poças,  Hl*  e.spailaa  na  mão,  dizendo:  Nàn 
80  bulia  ninguém,  so  nito  convém  quo 
quem  o  couti'ario  Hzcr,  sinta  em  suas 
carno.s  os  duros  iios  destas  espadas.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  dlngla- 
terra,  cap.  96.  —  «('om  tórios  estos  tra- 
balhos nào  se  descuidou  Elliuy  das  cou- 
sas da  índia,  mandando  negociar  sinco 
iiáos  do  quo  uàoH:'oz  Capitão  mi'ir,  e  nel- 
las  mandou  embarcar  mil  o  quinhentos 
honiciís.  Esta  armada  se  fez  á  vela  em 
Março.  D  Diogo  de  (Jouto,  Década  4,  liv. 
7,  cap.  10.  —  «Das  Tanadarias  visinlias 
Bo  ajuntarão  todos  os  piaens  da  terra, 
quo  com  os  que  estavaõ  em  Kachol  fariaõ 
numero  de  mil  c  quinhentos.  O  (iover- 
nador  jnaudou  recailo  a  Francisco  de 
Mello  que  estava  em  Raehol  com  tre- 
zentos homens,  e  quinhentos  piaens,  que 
estivesse  prestes  pêra  como  eile  entrasse 
nas  terras  pela  banda  de  Agaçaim,  quo 
partisse  elle  do  là,  o  so  ajuntassem  na 
Villa  de  Margão.»  Idem,  Década  G,  liv. 
5,  cap.  7.  —  «E  os  navios  que  vieraõ  de 
Cochim,  do  que  eraõ  Capitães,  Francis- 
co de  Siqueira,  Vasco  Nunes,  Balthazar 
Dias  Nobre,  Fancisco  de  íSiqucira  o  mo- 
ço, Francisco  Fernandes  o  Moricale,  (pio 
traziaõ  quinhentos  Nayres,  que  ElKey 
do  ('òchim  mandava,  o  mais  navios  de 
Còchim,  e  Cananor,  que  chegarão  liindo 
ji\,  o  Governador  à  vela,  do  que  eraò  Ca- 
pitaens,  Luis  da  Veiga,  (Uiilhcrme  Pe- 
reira, Comes  Carvalho,  Joaõ  Fernandes, 
Podralvares,  Lançarote  Gonçalves,  1'aulo 
do  Pedrosa,  Pedro  Anes,  Rodrigo  Ribei- 
ro, Simaõ  Ferreira,  Joaíâ  de  Magalhaens, 
Cosme  Brandão,  o  outros  muitos  Fidal- 
gos, e  Cavalleiros,  quo  nesta  jornada  tb- 
raõ  ora  navios  seus,  a  quo  não  achamos 
os  nomes.»  Idem,  Ibidem,  cap.  (>. — -«K 
logo  despodio  o  Capitão  mòr  do  mar  com 
cincoenta  soldados,  o  quinhentos  Terna- 
toKOS  pêra  que  se  tossem  meter  no  estei- 
ro, e  dessem  guarda  a  certas  pessoas, 
que  haviaõ  de  hir  com  lanças  de  fogo 
queimar  a  povoação,  e  as  embarcaçoens 
quo  estavaõ  varadas.»  Idem,  Ibidem, 
liv.  9,  cap.  12.  —  <i<)  quo  mo  mandastes 
nas  n:ios  que  viorão,  me  foi  dado,  o  cora 
tudo  folguei,  por  ser  cousa  quo  veio  da 
vossa  mão,  agradeço-vo-lo  muito.  Escrita 
ora  Almoyrim,  a  vinto  sois  de  Jlarço  de 
mil  quinhentos  quarenta  o  sete.»  JacÍTi- 
tho  Freire  d'Andrade,  Vida  de  D.  João 
de  Castro,  liv.  o. 

—  Isao  não  outros  quinhentos ;  quer 
dizer  que  alguém  pronunciou  novo  dispa- 
rate afora  os  que  havia  já  soltado. 


QUINHOAR,  1-.  a.   Dividir  em  quinhões. 
QUINHOEIRO,   eolj.  Que   tom    quinhío, 
quo  paitiel|ia. 

—  Quinhoeiro  im  ilfiiuiiulii ;  (jue  6  com- 
parti'. 

QUINHOM.  Viil.  Quinhão. 

QUINIA,  ».  /.  Ten-lo  do  chindca.  Prin- 
cipio particular  constitutivo  da  quina. 

QUINICO,  <iilj.  Tormo  do  chinnea.  Aci- 
'/'^quinico;  princiíiio  immodialo  descober- 
to na  casca  peruviana,  ou  quina. 

QUININA,  s.  /.  Termo  do  chinnea.  Al- 
culoiíle  descoberto  em  1H2U,  fpie  aj)rcscn- 
ta  ordinariamente  o  aspecto  do  uma  mas- 
sa porosa  o  crystallina  em  firina  do  agu- 
lhas, om  uma  dissolução  de  álcool, 

f  QUINO,  s.  ;;».  Jogo  familiar  á  manei- 
ra do  loteria,  que  se  joga  repartindo  en- 
tro varias  pessoas  uns  cartões  que  con- 
tém condjinaçõos  numéricas,  feitas  com 
noventa  números,  havendo  outras  tíintas 
bolas  ou  rodinhas  numeradas,  que  se  vão 
tirando  do  uma  bolsa  ou  saquinho,  e  ga- 
nha quem  ]irimeir(i  marcar  b  números  se- 
guidos. \'i(l.  Loto. 

QUINQUAGENARIO,  n<lj.  Que  tem  ijO 
annus  ilc  iiladi-. 

QUINQUAGESIMA,  .».  f.—Doviiiujo  da 
Quinquagesima ;  o  ipie  começa  a  semana 
de  v\u7.a.  vidirò  ibnninqo  yurdo, 

QUINQUAGESIMO,  adj.  Que  fica  depois 
do  (|u.cli'aL;'csimo  nono. 

QUINQUALOGO.  Vid.  Quincalogo. 

QUINQUATRIAS,  s.  f.  piar.  Festas  quo 
se  celebravam  todos  os  annos,  primeiro 
em  Alba,  c  depois  em  Roma  no  dia  17 
do  m.arço,  em  honra  de  ilincrva.  Eram 
as  festas  dos  artistas,  o  duravam  o  dias ; 
o  ultimo  era  consagrado  á  purificação  das 
trombetas  que  serviam  nos  ritos  sagi-a- 
dos. 

QUINQUEFOLIO,  s.  m.  Cinco  em  rama, 
planta  meilieinal. 

QUINQUENNAL,  adj.  2  gen.  (Do  latim 
quiiitjueunalisi.  Que  dura  cinco  annos, 
quo  so  faz  ou  occorre  de  cinco  em  cinco 
auuos. 

—  Epithcto  que  so  dava  a  certos  jo- 
gos, magistrados,  etc,  que  entre  os  ro- 
manos so  faziam  de  cinco  em  cinco  an- 
nos. 

—  Diz-so  do  cada  um  dos  dons  ou  qua- 
tro magistrados  das  colónias  ou  municí- 
pios, cuja  authoridadc  durava  cinco  an- 
nos. 

QUINQUENNIO,  s.  m.  (Do  latim  (^itin- 
qneiitiiiiiin.  F.spjiço  do  cinco  annos;  usa- 
so,  ordiíuuianicntc,  no  computo  das  ren- 
das. 

QUINQUENOVE,  .^■.  m.  Jogo  de  dados 
em  que  ]H'iiK'ni  os  .')  e  9. 

QUINQUEPARTIDO,  adj.  Repartido,  di- 
vidido cm  cinco. 

QUINQUEVIR,  .<!.  »i.  Cada  um  dos  cin- 
co magistrados  romanos  que  faziam  parte 
do  qinn(|nevirato. 

QUINQUEVIRATO,  *.  m.  Magistratura 
do  cincii  homens,  que  os  romanos  nomea- 


vam extraordin;iriaraente.  para  diverso» 
eart/Ks  i\n  reiMíblica. 

QUINQUILHARIA,  ou  QUINQUILHERIA, 
K.    /'.    '  dir.i  'Ic   ipiinquilheiri>. 

QUINQUILHEIRO,  ».  m.  O  quo  vendo 
pelas  ni:is  (c,iii<a«  de  pouco  valor;  como 
agnlii.i'^,  botòi-s,  fivelas,  etc. 

QUINTA,  ».  f.  Fazenda  no  campo  oi>m 
sua  casaria.  —  «  Morreolhe  «eu  pay,  her- 
dou aquella  quinta  de  Cintra  aondo  »e  re- 
cfdlioo  a  filosofar  jà  de[K>is  de  Bor  de  qua- 
renta annos,  cortando  toda«  aB  arvore»  do 
frnito  (pie  tinha,  om  cujo  lugar  fez  plantar 
outras  agrestes,  o  peregrinas,  e  fez  alli 
debaixo  do  buma  lupa  hunia  Ermida  nmi- 
to  devota.  Aqui  o  hia  o  Ii  fante  I>.  Luiz 
ver,  c  communicar,  o  dali!  mí  lhe  affei- 
(;ooa  de  feição,  que  o  inculcou  a  ElUey 
pêra  o  mandar  por  Governador  á  índia. 
onde  o  Her\-io  com  nmito  zelo,  amor,  in- 
teií-eza.»  Diogo  de  (Joiíto,  Década  <j,  liv. 
t),  cap.  9.  —  «A  dita  torcetagem  vai  com 
o  sangue  na  guelra.  Fez-se  a  uma  Henho- 
ra  do  muitos  merecimento»  estando  em 
Sacavém,  em  uma  quinta  sua,  e  o  pobre 
do  servidor  na  praia  do  Tejo,  carregado 
com  08  ferros  de  sua»  saudades.»  Fernão 
Ro<lrigue8  Ix)bo  Soropjta,  Poesias  e  pro- 
sas inéditas,  pag.  114. 

Bopois,  dormindo  docomonte  a  gosta, 
Sc  lhe  tiíjura,  uo  melhor  do  somno. 
Que  andaudo  de  passeio  pela  Qitinta, 
("om  passos  lentos  a  ellc  so  clicfrava 
I)a  nc'ira  o  velho  líurro,  o  ali;.iiido  o  rabo, 
Dons  conco.s  Ilio  propava  no  vazio. 
A  fantástica  dôr,  pi-itando.  acorda : 
K  acudindo  a  família  promptamcnte, 
Lhe  narra  o  triste  caso,  inda  assustado. 

DUIZ  DA  CBIZ,   IITSSOPE,  CaOt.   6. 

—  Acto  de  quintar. 

—  No  jogo  dos  centos,  cinco  (jartas  se- 
guidas do  mesmo  naipe. 

—  Termo  de  musicji.  Intervallo  con- 
sonante  que  p<>de  apresentar-se  debaix" 
de  muitos  aspectos. 

—  Classe  em  que  se  começava  a  tra- 
duzir o  latim. 

—  Medida  antiga  que  levara  outro  tan- 
to mais  i|uc  a  medida  pequena. 

f  QUINTADO,  imrt.  pm.^.  de  Quintar. 
—  «  Enxergaraõ-se  em  Castella  os  dam- 
nos  da  cobiça,  na<T  t*\  nos  vassallos  des- 
truídos com  as  fazendas  quintadas,  e  fin- 
tas, que  lhes  poz  até  no  fiimo.  que  se  vay 
por  esses  ares ;  mas  também  na  cabeça 
do  Rey  tirando  lhe  delia  Coroas;  e  que- 
brando-lhe  Seeptros  á  sua  visti».»  Arte 
de  furtar,  cap.  i>9. 

QUINTA-ESSENCIA,  .•>.  f.  O  que  ha  d.- 
mais  fino  e  uo  mais  alto  gran  em  uma 
cousa.  Commumnioiite  diz-se  do  espirito 
ou  da  parte  activa,  extremamente  recti- 
fic<vda,  quo  pola  chimica  se  extrahc  dos 
corpos, 

—  Figuradamente :  O  mais  puro,  o  mais 
fino  6  apurado  de  alguma  cousa,  —  •  Maa 
furtar  esse  thesouro,  mas  qtic  seja  de  hum 


QUIN 


QUIX 


QUIN 


Õ7 


milhão,  e  outro  em  cima,  e  ficar  taõ  en- 
xuto como  hum  inhame;  e  taõ  escoimado, 
como  hum  noviço  cartuxo,  sem  deixar 
indicio,  de  que  lhe  peguem,  aqui  bate  a 
quinta  essência  da  ladroice;  e  o  que  as- 
sim se  porta,  bem  se  lhe  pôde  passar  car- 
t:i  de  examinação,  com  foro,  e  privilegio 
de  mestre  graduado  nesta  ciência.»  Arte 
de  furtar,  cap.  34. 

QUINTA-FEIRA,  í.  /.  Quinto  dia  da  se- 
mana. —  Quinta-feira  de  comadres. — Quin- 
ta-feira  gorda.  —  «  E  a  quinta  feyra  de- 
pois de  comer  fez  el  Rey  sua  mostra  com 
seus  oitenta  mantedores,  e  após  elle  a  ti- 
zerão  todos  os  auentureiros,  que  passarão 
de  cincoenta.»  (Warcia  de  Rezende,  Chro- 
nica  de  D.  João  II,  cap.  128.  —  « Em 
huma  quinta  feyra  dendoenças,  andando 
el  Rey  correndo  as  Igrejas,  se  pos  huma 
mulher  em  joelhos  diante  delle,  o  cho- 
rando muvto  lhe  disse :  Senhor,  pollo  dia 
que  oje  hc,  e  a  honra  das  cinco  chagas 
de  lesu  Christo,  peco  a  vossa  Alteza  que 
aja  misericórdia  comigo.»  Idem,  Ibidem, 
cap.  102. 

c  cm  outra  quinta  feira 
ante  manhàa,  da  maneira 
que  foy  o  grande,  espantoso, 
fov  outro  muy  temeroso, 
outro  ante  a  terça  feira. 

G.    DK    EKZENDE,   MISCELL ANE A . 

—  «O  que  elle  me  fez  beber  Quinta 
feira  he  vinho  que  ainda  me  dura,  e  co- 
mo V.  A.  legislou  naqueila  ocazião,  que 
as  vSaudes  se  havião  de  fazer  em  roda 
com  a  mesma  quantidade,  e  com  a  mes- 
ma qualidade  de  vinho  com  que  o  Ba- 
rão as  principiasse,  seguio-se  dahi  que 
satisfiz  por  força,  e  por  politica  ás  or- 
dens, que  nem  por  serem  de  V.  A.  dey- 
xárão  para  mini  de  ser  tyrannas.»  Ca- 
valleiro  d'nlivcira,  Cartas,  liv.  1,  n.°  22. 

1.)  QUINTAL,  s.  m.  Peso  de  quatro 
arrobas,  que   varia   em  algumas   partes. 

Hos  do  cabo  dospcrança 
ferro  sobre  tudo  estimão, 
por  hum  dardo,  ou  huma  lança, 
qidntaes  douro  desestimão. 

GARCIA  DE  REZENDE,   snSCELLANEA. 

—  «  Xesta  Armada  mandou  Coge  Ce- 
maçadim  mil  quintaes  de  gengivre,  e  du- 
zentos de  pimenta,  -de  serviço  à  Rainha 
D.  Catharina,  pêra  huns  chapins,  porque 
tinha  delia  todos  annos  cartas  muito  lion- 
rosas,  e  peças,  e  brincos  curiosos  da  Eu- 
ropa, e  assim  mandou  hum  Alifante  pêra 
servir  na  ribeira  das  nàos.»  Diogo  de 
Couto,  Década  6,  liv.  7,  cap.  3. 

—  Adágios: 

—  A  como  vai  o  quintal,  que  quero 
onça,  e  meia? 

—  Arrobas  nào  sào  quintaes,  nem  as 
cousas  são  iguaes. 

2.)  QUINTAL,   «.   m.   Pedaço   de  terra 
murada,    com    pomar,   legumes,    etc.  — 
voi..  V.  — 8. 


« Ora  vem  cá :  vai  daqui  a  casa  de  Mar- 
tim  Chinchorro,  e  dize-lhe  que  temos  cá 
Auto  com  grande  fogueira ;  que  se  venha 
sua  mei"cê  para  cá,  e  que  traga  comsigo 
o  Senhor  Romão  d'Alvarenga,  para  que 
sobre  o  Canto-chão  botemos  nosso  contra- 
ponto de  zombaria.  Ouves,  Lançarote V 
ir-lhe-has  abrir  a  porta  do  quintal,  por- 
que mudemos  o  vinte  aos  que  cuidão  de 
entrar  por  f  irça.»  Camões,  El-rei  Seleuco. 
QUINTALADA,  s.  f.  Muitos  quintaes  de 
pimenta,  que  cada  official  de  feitoria  po- 
dia comprar  para  seu  negocio,  ou  que  lhe 
eram  dados  como  salário,  a  certo  preço, 
segundo  a  graduação  do  officio. 

—  Termo  de  náutica.  Importância  que 
do  producto  dos  fretes  depois  de  deduzi- 
dos 03  prejuízos  das  avarias,  resultava  de 
2  Vi  por  cento  de  liquido,  para  ser  re- 
partido pela  gente  de  bordo  que  mais  ti- 
nha trabalhado  e  servido  na  viagem. 

QUINTALÃO,  s.  m.  Quintal  grande. 
QUINTALEJO,  s.m.  Diminvtivo  de  Quin- 
tal. 

—  Um  barril  de  duas  arrobas. 
QUINTA,  ou  QUINTÃA,  s.  f.  ant.  Quin- 
ta, campo. 

QUINTANÇA.  Vid.  Quitação. 

QUINTANO,  adj.  Que  vem  de  5  em  5 
dias. 

QUINTANTE,  s.  «*.  Termo  de  astrono- 
mia. Instrumento  de  reflexão  para  obser- 
var as  alturas  ou  as  distancias  dos  astros 
cujo  arco  consta  da  quinta  parte  do  cir- 
culo, podendo,  por  conseguinte,  medir  ân- 
gulos de  14-4  graus. 

QUINTAR,  V.  a.  Tirar  de  cada  cinco 
um.  —  Quintar  um  regimento. 

—  Pagar  ao  rei  o  direito  que  se  cha- 
ma quinto. 

—  V.  n.  Chegar  ao  numero  de  cinco. 
Diz-se  ordinariamente  da  lua  quando  che- 
ga ao  quinto  dia. 

QUINTEIRA,  #.  /.  Mulher  do  quintei- 
ro, ou  a  (|ue  tem  cuidado  de  uma  quinta. 

QUINTEIRO,  s.  m.  (De  quinto,  com  o 
suffixo  «eiró»).  O  que  tem  arrendada 
uma  quinta,  fazendeiro. 

QUINTETO,  s.  wi.  Termo  de  musica. 
Composição  musical  para  cinco  partes. 

QUINTIL,  adj.  2  gen.  Quinto  mez  do 
anno,  ou  julho  no  antigo  calendário  ro- 
mano. 

—  Termo  de  astronomia.  Aspecto,  op- 
posição  quintil ;  distancia  dos  planetas 
egual  a  72  graus  ou  a  quinta  parte  do  zo- 
díaco. 

QUINTILHA,  s.  f.  Termo  de  poesia. 
Composição  métrica  de  cinco  versos  qua- 
si  sempre  octosyllabos,  dons  dos  quaes 
tem  a  mesma  consoante,  e  da  mesma  sor- 
te os  três  restantes,  cuja  ordem  se  altera 
de  vários  modos. 

QUINTILIO,  s.  m.  Preparação  de  anti- 
monio  em  ])ó. 

QUINTINHA,  s.  f.  Diminutivo  de  Quin- 
ta. 

QUINTO,    adj.    7nm.    ord.    (Do    latim 


qi(intus).  Que  perfaz  ou   completa  o  nu- 
mero de  cinco.  —  «  Mandou  per  homens 
doctos  de  seu  conselho  visitar,  e  rever  os 
cinco    livros   das   ordenações,  que   cl  Rei 
dom  Afonso  quinto,  seu  tio  fez  reformar, 
sendo  regente  o  Infante  dom    Pedro  seu 
tio,    por   elle  ser   de   menor    idade,   nas 
quaes    mandou     diminuir,    e    acrecentar 
aquillo  que  pareceo  necessário   pêra  bom 
regimento  do   regno,  e  ordem  da  justiça, 
do  que  se  trabalhou  muito,  e  tanto  tem- 
po que  foi  a  mor  parte  de  tudo  o  que  elle 
regnou.»    Damião  de  Gocs,  Chronica  de 
D.  Manoel,  part.  4,  cap.  86.  —  «A  qual 
quinta  parte  auia  de  ficar  a  el  Rey,  ain- 
da que  a  graça  fosse  do    marido,  e  mor- 
resse a  molher,  ou  pollo  contrario,  como 
se  apartasse  o  matrimonio   logo  ficassem 
separadas.  E  porque    no   breue   do  Papa 
S.   ^nnha  esta  palaura  de   separadas  to- 
marão o  nome  de  separadas,   e  dahy  lhe 
ficou    ate   agora.  »    Garcia    de    Rezende, 
Chronica   de   D.  João  II,  cap.  3o.  —  «A 
terceira,   Arnedos,    rei   de   França,    com 
três   mil,    entrando    também    nelles  dous 
mil  francezes.  A  quarta,    Polendos,   rei 
de  Tesalia,   com  três  mil.  A   quinta,   o 
imperador   Vernao   d'Alemanha  com  ou- 
tros tantos.  A  sexta,  D.    Duardos,    com 
qnati-o  mil.»   Francisco  de  Moraes,  Pal- 
meirim  d'Inglaterra,    cap.    16õ.  —  «  0.s 
mais    Capitaens    de   siia    conserva,    eraõ 
Diogo  de  Mendonça,   Jacome   Tristão,  e 
Joaõ  Figueira.  Da  outra  que  faltava,  era 
Capitão  Diogo  Botelho  Pereira,  o  que  foy 
na  fusta  ao  Reino  (como   na    quinta  Dé- 
cada no  Capitulo  segundo  do  primeiro  li- 
vi-o  fica  dito)  que  em  Outubro  foy  tomar 
Còchim.»  Diogo  de  Couto,  Década  6,  liv. 
8.  —  «E  assim  se  sérvio  delle  nas  Arma- 
das das    Ilhas,  e  depois  foy  à  índia  com 
D.  Garcia  de  Noronha  ao  primeiro  cerco 
de  Dio  (como  fica  dito  no  Capitulo  oita- 
vo do  terceiro  livro  da  quinta  Década)  e 
em  tudo   deu   de  si   grande  satisfação.» 
Ibidem,  liv.  6,  cap.  9. 

—  S.  VI.  A  quinta  parte,  uma  parte 
do  todo  dividido  em  cinco. 

—  Direito  de  20  por  cento. 

—  Espécie  de  direito  ou  imposto  que 
se  paga  á  fazenda  publica,  por  todas  as 
tomadias,  thesom-os  e  cousas  semelhantes, 
que  é  sempre  a  quinta  parte  do  que  se 
tomou  apprehendeu,  ou  descobriu. 

—  Parte  da  deveza  ou  terra,  ainda  que 
não  seja  exactamente  a  quinta  parte. 

—  Termo  de  náutica.  Uma  das  cinco 
partes  em  que  os  marinheiros  dividiam 
antigamente  a  hora. 

—  Jogo  da  espadilha  de  cinco  pessoas. 
QUINTUMVIRO,  «.  m.  Yid.  Quinquevir. 
QUINTUPLO,   adj.  Quantidade  que  in- 

clue  outra  cinco  vezes. 

QUINZE,  adj.  (Do  latim  quindecim). 
Niunero  composto  de  dez  e  cinco,  ou  de 
três  vezes  cinco.  —  Quinze  homens.  — 
«Estes  arreos  com  que  este  homem  sahio 
em   terra  fezerão  enveja  aos  que  ho  vi- 


M 


QIJIN' 


QUIN 


QUIT 


rito,  poríjuo  ao   outro  dia  viiíraò  à  jiraia 
quinze,  ou  vinte  dclles.  1'clo  que  mandou 
lofío    Vmquo    da   Oaina  poiar   gonto  n<m 
batois,  com  (juo  se  voo  a  terra,  trazendo 
coin.sigo  mostra  dospociarias,  ouro,  o  al- 
,  Jofar,   80  Ia,  lio  qno  Iwm  nobres  estimarilo 
pouuo    por    nilo    nal)i!r.in    Im    «luo    era.» 
Damiito  dl!  (io(^^,  Clironica  de  D.  Manoel, 
part.   1,    cap.    .').').  — «Si)|)ri.-ito   tcue   elie 
conselho   com   o    mesmo   Koi,  e   capitites 
da  frota,   i)eloá   ipuics  todos  hc  assentou, 
que   dessom  do  súbito   i'm  (íranf;anor,  o 
quo    coneluido    partio   do   (Jocliim    liuma 
noite  com  quinze  batei»  o  vintacinco  pa- 
raos,  o  Uuma  caraui-lla,  todos  bem  esqui- 
pados, em  que  aucria  mil  liomeus  Portu- 
gueses, e  mil  Nairea  dol  Hei  do  ("ochim.» 
Idom,    Ibidem,    c;ip.    UT.  —  «E   lhe   dou 
lunis  aiip<intamoutos,  om  que  se  continha 
o    reudiniouto    das   altamlogas  de  toda  a 
ilha,  das  quaes  a  da  cidade,  valia  cadan- 
no  vinte,  e  cinco  mil  pardaos  douro  e  as 
das  ilhas  auuoxas  a  cila  quinze  mil,  o  os 
almoxarifados,    ou    tauadarias    da    terra 
firme,  quo  eram  Barde,  Oostc,  e  Antruz 
sessenta,   e    cinco    mil.»    Idem,    Ibidem, 
part.    3,    cap.  4. —  «O   que   vendo    dom 
loam  se  partio  caminho  de  Goa,  a  quem 
na  boca  no  rio  de  Chaul,  sairão  quinze 
fustas  do  Jloloquiaz  capitam  de  Dio,  quo 
auia  dias  que  lho   andauam  a  goito,  mas 
ello  se  desfez  delias  com  abalrroar  huma, 
que  leuou  consigo  de  que  todollos  mouros 
so  lançaríío  ao  mar.»  Idem,  Ibidem,  part. 
4,  cap.  16. —  «No  anuo  de  mil  o  (piatro- 
centos  o   nouenta  e  dous,  a  quinze  dias 
do  mes  de  ]\Iaio,  mandou  ol  Key  ])er  an- 
te si  fundar  o  ccmioçar  os  primeiros  ali- 
cerces do  Esprital  grande   de    Lisboa  da 
inuocaçam  de  todolos  Santos,  na  maneira 
em  que  ora  esta  feito,  o  qual  lugar  era 
orta    do    mosteiro    de    Sam    Domingos.» 
Garcia  de  Rezende,  Chronica  de  D.  João 
II,    cap.    140. —  «Aos    quinze    annos  do 
Império  do  Tvberio  Ocsar,  sendo  Toneio 
Pilato  gouernadur    da  ludca,    o  Herodes 
Principe  do  Galilea,   e   Phelippe   seu  ir- 
mão Príncipe  da  região  de  Iturea,    e   de 
Traehonitidis,  o  Lisania  Principe  de   Al- 
bilina:  sondo  Anuas,  o  Cayphaa  summos 
Sacerdotes,    disse    Doos  a  loào  filho  de 
Zacharias  quo  andaua   no   deserto,    que 
saisse  às  gentes  a  exercitar  o  officio  de 
precursor  do  Jlossias,  pêra  que  ora  esco- 
lhido.»  Frei  Bartholomcu   dos   Jlartyres, 
Catecismo   da   doutrina   christã.  —  «  E 
que   ainda  que  nisso   passássemos  algum 
trabalho,  podia  muyto  a  António  do  Fa- 
ria  que   o   ouvesse  por  bem  empregado, 
porque  ello  o  fizera  por  milhor  e  mais  se- 
guro á  vida  de  todos:    e  perguntandolhe 
António   de   Faria   quantos  dias  poderia 
pôr  na  viagem  até  passar  aqnelle  rio  por 
onde   o   levava,    disso   que    quator/.e   até 
quinze  smionto.»   Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  12. —  «E  em  quinze 
de  Novembro  foram  tomar  Ooehini,  onde 
jà   estavam  as  nãos  de  Tristão  Vaz  da 


Veiga,  c  Francisco  do  Anliaya,  quo  tam- 
bém furam  por  fora  com  tempos  bem 
roin».  As  nãos  de  Vicente  (íil,  o  do  An- 
tónio de  Abreu  foram  por  dentro,  o  fica- 
ram invernando  em  Moçambique.»  Dio- 
go de  Couto,  Década  4,  liv.  1,  cap.  'J. — 
"  Esta  Armai  la  so  fez  á  vela  de  quinze  de 
.Vbril  por  diante,  indo  enibarcailo  cum  D. 
Estevão  sou  irm.lo  D.  (.'hristovão  da  'ía- 
ma,  C(jm  Provisão,  jiera  que  se  D.  Paulo 
seu  irmãíj  não  (piizesse  bi  iicar  jjor  Capi- 
tão miir,  o  ser  elle.»  Mem,  Ibidem,  liv. 
8,  cap.  !•. 

Ora  siipporMn,  (|U(>  ou  toiílio  o»  meus  sessenta, 
K  tu  S''>  qiiinzf.  tons :  eiitiiò  i|Uo  intenta 
Mostnir-ine  a  Um  .Musa  iinpintinente V 
Ser  v(!llio  Bcin  calor  V  Tu  moi,'o  ardiMite  V 
Asssini  lic:  povéin  ouvc-uin  liuma  iiistoria, 
Que  me  está  latejando  na  memoria. 

ADDAni-:  DK  JAZF.NTE,  POESIAS,  toffl.  2,  pag.  29 
(ediç.  1787|. 

Sim  (diz  o  burro)  cu  sipo  o  meu  destino  •, 
Que  supposto  dos  quinze  a  idade  chi'iro, 
Para  l)rincar  comvosco  sou  menino. 
iiiiDKM,  pag.  41. 

Para  ti  guarda  o  medo;  pois  lie  justo, 
(Juc  dos  ijiiinze  a  lembrau(;a  te  C3tremc(,'a : 
l'on|ue  lie  bem,  que  o  sou  dano  reconheça, 
(Juom  sentio  da  atafona  o  giro  adusto. 
iiiiDEM,  pag.  47. 

Qualfpier  homem,  (|He  conta  setenta  annos, 
Kolxisto  pôde  ser,  forte,  c  valente  ; 
Mas  hum  burro  de  quinze,  apenas  sente 
Do  chicote  os  vcrgocos,  da  espora  os  danos. 
iiunEM,  pag.  'il. 

Mil  tojos  tem  hum  burro  devorado 
Kos  seis  annos  da  sua  mocidade  ; 
Mas  nos  seus  quinze  o  tem  a  anti;;uidade 
Nas  próprias  mataduras  sepultado. 
iiiiDEM,  pag.  05. 

Mas  naõ  assim  o  burro,  cuja  idade 
O  Tempo  sempre  aos  quinze  desfigura  ; 
E  se  apenas  trcs  lustros  vivo  dura, 
Ao  quarto  desfalece  sem  piedade. 
IBIDEM,  pag.  73. 

Morre  o  burro  dos  quinze  estropiado, 
Sem  ter  memoria  alguma  do  presente, 
Nem  conservar  leuibran(;as  do  passado. 


—  Algarismo  que  representa  esto  nu- 
mero. 

—  Decimo  quinto. 

—  Jogo  de  cartas;  partida  de  jogo. 

—  No  jogo  da  pella,  cada  um  dos  dous 
primeiros  lances  que  se  ganha. 

—  Dar  quinze  e  Jnlta ;  atalhar  al- 
guém com  mais  sabor  c  mostrando  mais 
discrição. 

—  Quinze  de  resto;  jogo  do  envidar  a 
fa/.or  \r>  com  cart:is. 

QUINZENA,  í.  /.  ^De  quinze^.  Nome 
ool lectivo  (pie  comprehende  quinze  cou- 
sas do  mesmo  gonero. 

—  Espaço  do  quinze  dias,  e  soldo  ou 
salário  respectivo  a  elles. 


7  QUINZENAL,  '/'/;.  2  fj>^n.  Que  per- 
tence :i  (piinzeiía. 

QUrPELA,  «.  /.  Animal  da  índia,  c 
particularmente  de  (,'eyl5o. 

QUIPOS,  #.  JH.  jjI.  Po'laço«  de  corda» 
nodosa»  com  «lifTerentcs  números  c  varíaii 
core»,  das  (pia'.»  os  Índios  do  Peru  se  uor- 
viam  |iara  sujiprir  a  falta  du  escrí])ta, 
conservanilo  assim  as  historias  e  ntjticias, 
como  as  contas  om  que  são  mister  os  al- 
garismos. 

QUIPROQUÓ,  í.  «1.  (^Do  latim  fjui  pro 
ijwn.  Substituição,  equivoco,  engano  de 
uma  eou-^,1  por  outra. 

QUIRAGRA.   Vid.  Chiragra. 

QUIRÁTE.    Vid.  Quilate. 

QUIRATO,   .-.   /-.   .\rvore  do  Rrazil. 

-j-  QUIRINAL,  '(■(/■.  Pertencente  a  Qui- 
riiio,  a  Uoinulo,  ou  a  um  dos  sete  montes 
da  antiga  Roma. 

—  Dizia-80  do  palácio  edificado  sobre 
o  monte  Quirino. 

—  6'.  /.  pi.  Quirinaes ;  festas  antigas 
dos  romanos  cin  h(mra  do  Quirino,  ou 
lifjmulo,  que  80  celebravam  no  mez  de 
fevereiro. 

QUIRIOS.  Vid.  Kyrios. 

QUIRITE,  8.  m.  Cavalleiro,  cidadSo 
romano. 

QUIROM...  As  palavras  que  principiem 
por  Quirom...,  busquem-se  com  Chirom... 

QUISECO,  í.  «1.  Arvore  de  Benguela, 
cujas  folhas  são  crespas,  e  teem  ura  pal- 
mo de  comprido. 

—  O  polme  d'e3te  pau  applicado  «obre 
a  testa,  abranda  as  dores  de  cabeça. 

QUISILA,  QUIZILA,  etc.   Vid.   Quigila. 

QUISSÀ,  wlv.  Vid.  Quiçá. 

QUISTO,  nilj.  —  Bem,  ou  maí  quisto  ; 
que  goza  ou  não  de  sympathias,  quo  à 
querido  ou  detestado.  —  «E  de  sua  doen- 
ça e  perigo  pesou  muvto  a  todo  o  Reyno, 
porque  era  muyto  bem  quista  de  todos, 
e  fizeram  por  ella  em  muytas  parte*  pro- 
cissões, e  muytas  deuações,  e  prouue  a 
nosso  Senhor  de  lhe  dar  vida,  ]><«rem  não 
inteira  saúde,  porque  viuendo  depois  mais 
de  trinta  annos  sempre  foy  doente,  e  o 
mais  do  tempo  em  cama.»  (íarcia  de  Re- 
zendcj  Chronica  de  D.  João  11,  cap.  180. 

QUITA,  í.  /.  Kcmissão  de  alguma  di- 
vida, ou  obrigação.  —  « E  assi  per  pala- 
ura  pedio  perdão  á  clerezia,  caualleiros, 
e  pouos  do  Portugal,  com  conhecimento 
de  algumas  cou.sas  que  fizera  como  não 
deuia,  e  a  muytos  homens  fez  com  muyta 
temperança  muytas  mercês  de  tenças,  e 
quitas,  officios,  e  beneficios,  satisfações 
em  dinheyro,  segundo  ca'la  hum  o  mere- 
cia.» (Sarcia  de  Rezende,  Chronica  de  D. 
João  II,  e.ip.  212. 

QUITAÇÃO,  .«.  /.  (Do  thema  quiU,  de 
quitar,  com  o  suflRxo  «açãol.  U  acto  pe- 
lo qual  se  desobriga  alguém  de  satisfazer 
o  que  deve. 

—  Quitação  peremptorin  ;  a  morte. 

QUITADO,  port.  pass.  de  Quitar. 

QUITADOR,   .«.  III.  Cão  que   está  ensi- 


QUIZ 


QUIZ 


QUIZ 


59 


nado  a  tirar  a  caça  aos  outi-os,  para  que 
nào  a  despedacem  nem  comam,  e  a  tra- 
zel-a  á  mào. 

QUITAMENTO,  s.  m.  Desquite  de  casa- 
do ;   divorcio. 

—  Quitaeào  da  divida  por  escripto, 
etc. 

QUITANÇA,  s.  f.  ant.  Quitação,  de- 
claração que  se  passa  ao  devedor  quando 
paga. 

QUITANDA,  s.  /.  Logar  onde  se  com- 
pra-ou  vende;  mercado. 

QUITAR,  r.  a.  Fazer  quite,  remittir  a 
divida  ;  desobrigar,  libertar,  desembai-a- 
çar,  desonerar. 

—  Impedir,  tolher. 

—  Prolubir,  vedar. 

—  Poupar. 

—  Por  quitar  questões;  por  poupar, 
evitar  ou  fazer  cessar. 

—  Desquitar-se,  divorciar-se. 

—  Quitar-se,  i".  rejl.  Caír-se  da  aven- 
ça, nào  a  cumprir  conforme  tinha  ajus- 
tado. 

—  Divorciar-se.  —  Quitar-se  do  ma- 
7- ido. 

—  Apartar-se,  emendar-se. 

—  Separar-se,  deixar-se  alguma  cousa. 
QUITASOL,  s.   m.  Pára-sol,  guarda-sol, 

chapéo  de  sol ;  sombreiro  de  pé  que  se 
abre  e  fecha  para  resguardar  e  abrigar 
do  sol  a  quem  o  leva, 

QUITE,  adj.  2  gen.  Livre  da  divida  ou 
obrigação  que  se  pagou,  perdoou,  etc. 

—  Aparta  lo,  desquitado. 
QUITEMENTE,    cidv.  ant.    Livremente, 

sem  duvida,  embargo,  nem  embaraço. 

QUITEVE,  s.  rn.  Nome  commum  dos 
reis  das  terras  do  sertão,  e  rio  de  So- 
fála. 

QUITO,   ai^j.  Quite,  tirado. 

QUITUMBATA,  s.  f.  Arbusto  que  nas- 
ce e  se  cria  em  Angola,  Benguela,  e  al- 
gumas partes  da  America ;  a  sua  raiz 
tem  varias  virtudes  medicinaes,  e  é  útil 
para  camarás  de  sangue. 

QUITURA,  s.  /.  Um  moio  de  milho,  no 
Monometapá. 

QUITUTE.  Vid.  Paparicho. 

QUITY.  Vid.  Quite. 

QUIXOTADA,  s.  /.  Termo  familiar. 
Acçào  própria  de  D.  Quixote  ;  acçào  ri- 
dícula, extravagante. 

-}•  QUIZ.  Pretérito  perfeito  do  verbo 
Querer.  —  «Vendo  Affonso  d'Alboquer- 
que  que  ElRey  lhe  nào  entregava  este 
Slouro,  posto  que  nào  soube  logo  destes 
seus  artifícios,  como  era  costumado  a  dis- 
simiúar  palavras  de"  Mouros,  nào  quiz 
esperar  mais  recados,  nem  menos  os  par- 
tidos que  lhe  movia,  promettendo  de  lhe 
dar  vinte  e  cinco  mil  cruzados  polas  cin- 
co nàos  que  tomara  dos  Guzarates.»  Bar- 
ros, Década  2,  liv.  6,  cap.  2.  —  «E  por- 
que á  força  de  armas  tinha  per  muitas 
vezes  tentado  comnosco  sua  ventura,  quiz 
experimentar  que  tal  a  teria  per  modo 
de  ardil,  em   que  o   metteo  hum  Tuam 


Maxeliz  Moiu-o  Bengala  de  naçào,  e  ho- 
mem mui  sagaz,  e  astucioso,  muito  ac- 
ceito  a  elle,  como  hum  dos  mais  princi- 
paes  que  lhe  governava  sua  casa.»  Ibi- 
dem, liv.  9,  cap.  6. —  «D.  Diogo  de  No- 
ronLa  nào  se  quiz  embarcar  atò  vir  re- 
cado do  Visorey,  que  em  lhe  dando  as 
cartas,  no  mesmo  dia  despedio  Joaõ  Pei- 
xoto por  Capitão  mor  de  quatro  navios, 
e  por  terra  mandou  Gaspar  Pires  de  Ma- 
tos com  quarenta  piaens,  e  huma  grande 
soma  de  servidores,  e  boys,  pêra  traze- 
rem o  fato  por  terra.»  Idem,  Década  6, 
liv.  9,  cap.  4.  —  «Este  teve  uma  filha, 
que  a  natureza  estremadamente  fez  for- 
mosa. Quiz  sua  ventura  que  antre  muitos 
cavalleiros  que  a  serviam  como  a  mais 
fermosa  dama  daquelle  tempo,  se  namo- 
raram delia  dous  grandes  amigos,  vas- 
sallos  de  seu  pai:  um  se  chamava  Bran- 
dimar,  e  outro  Artibel.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  dlnglaterra,  cap.  90. 


Qnh-noã  nossa  natiu-cza 
Com  tal  condição  fazer, 
Que  ja  temos  por  certeza 
Kào  haver  grande  prazer. 
Sem  mistura  de  tristeza. 

CAM.,  AMPUYrRIUES. 


—  «O  qual  partio  das  terras  de  Repe- 
lim,  ao  derradeiro  dia  de  Março,  deste 
anno  de  mil  e  quinhentos,  e  três,  e  aos 
dous  dias  Dabril  chegou  ao  passo  do 
A'ao,  onde  alguns  dos  seus  Xaires  quize- 
ram  logo  cometer  Karamuhim,  sobrinho 
dei  Rei  de  Cochim,  que  já  alli  estava, 
que  lho  defendeo  como  bom  cavalleiro, 
matando  muitos  delles,  sem  perder  ne- 
nhum dos  seus.»  Damião  de  Góes,  Chro- 
nica  de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  73.  — 
«Que  as  que  comerão  delle  melhorarão, 
porem  que  todas  as  outras  pessoas,  que 
forào  dez,  que  não  quizerão  usar  de  re- 
médio, morrerão  damnadas  poucos  dias 
depois.»  Cavalleiro  d'01iveira,  Cartas, 
liv.  1,  n."  23. 

•}•  QUIZER.  Futuro  do  modo  subjuncti- 
vo  do  verbo  Querer.  —  «E  já  que  se 
acharam  em  disposição  pêra  tomar  armas, 
se  foram  á  corte  d'el-rei  por  ver  a  ordem 
de  sua  vida,  que  era  tal  como  atraz  se 
disse  :  e  inda  que  trabalharam  o  que  po- 
deram  por  vêr  Flerida,  nunca  acharam 
maneira  pêra  poder  ser  :  assim  porque 
elles  se  nào  quizeram  descobrir,  como 
porque  ella  nào  saia  nunca  da  camará 
de  sua  contemplação.»  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  15. 
—  «Em  quanto  estas  palavras  passavam, 
o  cavalleiro  do  Salvage  se  chegou  mais 
a  elles  ;  Dragonalte  lhe  disse  em  voz  al- 
ta :  Senhor  cavalleiro,  porque  sintaes  o 
costume  deste  valle,  ou  haveis  de  expe- 
rimentar minhas  forças,  e  no  fim  delias 
estar  á  ordenança  do  que  a  senhora  prin- 
ceza  quizer,  ou  confessar  que  é  a  mais 
fermosa  dama  do  mundo,   e  mais  pêra 


ser  servida.»  Ibidem,  cap.  130.  —  «Pelo 
que  vos  torno  de  novo  a  requerer,  que 
façais  com  Lopo  Vaz  que  se  ponha  co- 
migo em  direito  ;  e  quando  o  não  quizer 
fazer,  o  hajais  por  alevantado,  e  me  co- 
nheçais por  Governador  da  índia.»  Dio- 
go de  Couto,  Década  4,  liv.  2,  cap.  9. 
—  « Estando  com  este  trabalho,  tornou  a 
faltar  o  vento  a  Leste,  e  tornandolhe  a 
virar  a  popa,  lançandolhe  o  leme  à  ban- 
da, não  lhe  acodio  a  nào,  antes  foy  agu- 
çando de  lò,  e  como  o  vento  era  rijo, 
levoulhe  o  papafigo  da  verga  grande,  com 
o  que  acodiraõ  os  officiaes  tomar  o  da 
proa,  porque  o  nào  perdessem,  e  antes 
quizeraõ  ficar  de  mar  em  travez,  que 
sem  alguma  vela.»  Idem.  Década  6,  liv. 
9,  cap.  21. 

Jlirizam  com  que  pode  desculpar-sc 
De  perder  a  Cambaica  opulência? 
Pois  no  Reino  pudera  segurar-sc 
Se  quizera  pôr  nisso  diligencia. 
De  si  súmentc  devo  lamentar-se 
De  sua  ociosidade  e negligencia, 
Que  a  fortuna  a  ninguém  leva  forçado 
A  gràa  prosperidade,  ao  grande  estado. 

FRANCISCO  DE  AXCB.VDE,  PBlltEIBO  CEBCO  DE  DIC, 

cant.  9,  est.  3. 

Que  pertendcs,  PaiUiuo  ?  Intimidar-me  ? 
Ora  inventa  as  historias,  que  qnizeres : 
Que  por  mais  que  os  estragos  me  ponderes, 
Xunca  o  medo  pueril  há  de  occupar-me. 

ABBADK  DE  JAZEXTE,  POESIAS,  tOm.  2,  pag.  69 

(ediç.  1787). 

QUIZERA.  Pretérito  mais  que  perfeito 
do  verbo  Querer.  —  «Ruy  de  Brito  peró 
que  entendeo  ser  elle  sabedor  do  caso, 
agradeceo-lhe  sua  tão  breve  diligencia, 
e  assocegou  todo  o  alvoroço  da  Cidade ; 
porém  depois  quizera  elle  per  justiça  ao 
modo  de  Utimutirája  matar  este  Tuam 
Colascar,  e  ante  delle  Çvu-ia  Deva  polo 
que  fez  com  Patê  Unuz.»  Barros,  Déca- 
da 2,  liv.  9,  cap.  G.  —  «Quizéra  o  Go- 
vernador dissuadillo,  temendo,  que  nin- 
guém lhe  acceitasse  a  Fortaleza,  porque 
com  a  victoriá,  e  alteração  do  commer- 
cio,  faltavão  os  estímulos  da  honra,  e 
do  proveito,  que  são  os  maiores  incen- 
tivos, de  que  os  homens  se  vencem.» 
Jaeintho  Freire  d'Andrade,  Vida  de  D. 
João  de  Castro,  liv.  3.  —  «Ah !  que  o 
não  era  eu  antes  que  te  amasse.  Não  sei 
se  te  fallo  de  sobejo  na  insupportavel 
situação  em  que  me  vejo  :  e  com  tudo 
do  intimo  do  meu  coração  te  agradeço  a 
desesperação  que  me  enlouquece,  nasci- 
da de  ti  mesmo :  e  tanto  assim  que  de- 
testo a  tranquillidade  em  que  vivia  an- 
tes de  conhecer-te.  Adeos :  que  a  minha 
aíFeiçào  a  cada  instante  augmenta.  Que 
de  cousas  te  quizéra  dizer!»  Francisco 
Manoel  do  Xaseimento,  Successos  de  ma- 
dame de  Seneterre. 

7  QUIZESSE.  Pretérito  imperfeito  do 
modo  subjunctivo  do  verbo  Querer.  —  «O 
do  Salvaje  não  podendo  soffrer  vêr  a  sua 


GO 


Qiji  m 


QUOM 


QUY 


sonliora  tanto  espaço  dontro  na  florpciítc, 
poJiu  fi  I)aliart<5  quizesse  acabar  di;  o 
«loscansar  o  a  illa  tirar  de  iiiiai;ina(;õoí.» 
Francisco  do  ^Io^ao^^,  Palmeirim  d'In- 
glaterra,  cap.  I ,';:').  —  «Fu1;í<»,  (|uu  ton- 
Uo  (!sto  coiiiuiciíiicnto,.  nilío  nu;  vejo  mu- 
dado da  tcnrào  (|iic  me  aqui  trouxe,  maí) 
antes  m  alf,'um  destes  cavalleiros  que 
03to  passo  ííuardam,  quizessera  comif^o 
correr  um  par  do  laneas,  .satistazer-Uie- 
hia  o  desejo,  com  tanto  que  nJlo  mo  obri- 
gassem a  maia,  que  mo  temo  quo  essas 
mostra»  desbaratem  quem  as  offende,  e 
favoroeam  quem  por  (dias  so  combato.» 
Ibidem,  cap.  10',).  —  «O  (íovernador  man- 
dou levar  o  remo,  o  esporou  hum  pouco, 
c  logo  chegou  ;i  sua  embarcarão  huma 
almadia  pequena,  em  que  vinha  hum  ho- 
mem, quo  lhe  pediu  da  parte  de  EUlcy 
de  Tanòr  (o  que  (jai-cia  do  Sà  fez  Chris- 
taõ)  quo  sobrccstivesso  uaquiilo,  que  os 
Príncipes  ]\Ialavarc3  queriaõ  cò  elle  paz, 
com  todos  os  partidos  que  quizesse,  o 
quo  lho  dèssc  lic('n(;a  pcra  ello  vir  falar 
com  ollo  Sobre  aípiclle  negocio.»  Diogo 
de  Couto,  Década   (í,  liv.  8,  cap.  13. 

QUO,  "»f.  (';i,  para  este  lugar. 

f  QUOARENTA.  Vid.  Quarenta.— «Dalli 
por  diante  vieram-lho  muitas  fazendas, 
fazendo  os  Louthias  que  nara  atentavam 
nisso,  c  dossimuhmdo  com  os  mercadores. 
E  assi  desta  maneira  se  iizeram  as  fazen- 
das aquelle  anuo,  que  foy  do  quoarenta 
o  oito.»  António  Tem-eiro,  Itinerário,  ca- 
pitulo 1?;!. 

QUOCIENTE,  s.  m.  (Do  latim  quotiens, 
ijuolieiíti'),/].  llesultado  da  divisão  de  um 
numero  por  outro. 

QUODLIBETAL,  a<lj.  2  gen.  Pertonconte 
aos  quodlibctos,  ou  que  se  forma  dos  mes- 
mos. 

QUODLIBETO,  s.  m.  anf.  Tratado  de 
quostõtM  [iropostas  ao  arbítrio  do  auctor. 

QUOGELO,  s.  m.  Animal  da  Cafraria, 
fS})i'fii^   d(í  crocodilo. 

QUOJAS-MORROU,  s.  m.  Espécie  de  sa- 
t>T0  no  reino  Quoja,  e  Angola,  a  que  nós 
chamamos  selvagem. 

QUOMA.  Imto  do  Coma,  por  Como. 

QUOMO.  Vid.  Como.  —  <(  lios  senhores, 
c  tidalgos  que  se  acharão  cm  Aluor  acom- 
panharam ho  corpo  dei  Rei  atte  a  cidade 
de  vSyluos,  onde  ho  enterrarão  na  Sé,  pollo 
elle  assi  ter  mandado,  c  ali  Jouue  atte  que 
ho  tresladarão  pêra  ho  ^losteiro  da  Bata- 
lha, quomo  SC  ao  diante  dirá.»  Damião  de 
(tocs,  Chronica  de  D.  Manoel,  jmrt.  1, 
cap.  1.  —  uE  naõ  se  tendo  por  satisfeito 
disto,  qnomo  catholico  Christaõ,  e  amigo 
do   culto  diuino,   pcra  que  se   naquellas 


partes  podossc  com  mijr  authoridado  ce- 
lebrar, àlcm  das  rondas  que  ja  tinhari  ho» 
Sacerdotes,  do  quo  se  podiaõ  manter  ho- 
nestamente, ordenou  que  todolos  tributos, 
o  páreas  (jue  pagassem  hos  mouros,  se 
desse  ho  dizimo  à  Igreja,  ho  quo  «iantos 
naí)  acustumaua  fazer.»  Ideui,  Ibidem, 
cap.  11.^ — «lloh  quaos  ca-samentos  am- 
bos houueraõ  depois  cffecto,  porque  el  liei 
casou  com  ha  Princesa  dona  Isabel,  o 
depois  de  viuuar  delia,  casou  com  ha 
mesma  infante  dnna  Maria  sua  irm.í,  quo- 
mo se  ao  diante  dirá.»  Itlom,  Ibidem. 
—  «A  oste  dom  Sancho  mudou  el  Kei 
ho  titulo  do  (Jonde  do  l''arão,  cm  Oou- 
de  do  Demira,  quomo  lio  fora  ho  Conde 
Dom  Sancho  seu  auo.  Foram  todos  estes 
senhores  bem  recebidos  dcl  Rei.»  Idem, 
Ibidem,  cap.  13.— «E  pois  trato  da  ca- 
restia do  pão,  quero  também  dizer  quomo 
hos  Reis  de  Inglaterra  acodirào  à  das  car- 
nes, pelo  preço  delias  ir  em  grande  cre- 
cimeuto  per  todos  seus  Regnos,  c  foi  com 
mandarem  por  lei  expressa  que  ninhum 
homem  per  grão  senhor,  e  poderoso  que 
fosse,  podesse  criar  mais  que  huma  certa 
e  taxada  cautidade  de  gado,  assi  grosso, 
quomo  meudo.»  Idem,  Ibidem,  cap.  21. — 
«Mas  a  estes  enleos  lhe  deu  por  ventura 
azo  ho  concerto,  que  el  Rei  com  elle  fez, 
promettondolhe,  que  so  lhe  desse  todos 
estes  foraes  feitos,  c  acabados  dentro  do 
hum  certo  tempo,  que  lhe  fazia  por  isso 
mcrce  de  quatro  m'ú  cruzados,  quomo  fez, 
alem  do  salário,  o  mantimento,  que  lhe 
ordenou  pêra  elle,  e  pcra  lias  pessoas,  que 
com  elle  soruirão  todo  ho  tempo  que  nisso 
andou.»  Idem,  Ibidem,  cap.  25.  —  «Vas- 
quo  da  Gama  partio  de  Lisboa,  quomo 
atras  íica  dito,  lium  sábado  viij.  dias  de 
lulho  do  anuo  do  Senhor  de  M.ccccxcviJ, 
e  com  elle  seu  irmão  Paulo  da  Gama,  o 
Nicolao  Coelho  com  outra  nao,  que  leuaua 
mantimentos  de  que  era  capitão  Gonçalo 
Nunez.»  Idcni,  Ibidem,  cap.  3õ.  —  «Vas- 
quo  da  Gama,  o  os  outros  capitães  co- 
nhecendo que  craõ  mouros,  estiueraõ  sem- 
pre sobre  auiso,  com  tudo  hos  conuidàraõ 
com  fructas  que  traziaõ  e  entre  ho  ban- 
quetear lhes  perguntauaõ  da  terra,  e  ha 
calidade  delia,  dos  quaes  souberaõ  quomo 
aquella  ilha  se  chamaua  Moçambique,  e 
que  ho  Xeipie  era  vassalo  dcl  Rei  de  Qui- 
loa.B  Idem,  Ibidem,  cap.  3().  —  «Quomo 
\'asquo  da  Gama  soube  que  o  Cabaio  ar- 
maua  sobrelle,  com  ha  mor  diligencia,  quo 
pode,  acabou  daparelhar  has  nãos,  c  a 
huma  sesta  feira  cinco  dias  Doutubi'o  se 
fez  à  vela  caminho  de  Melinde.  louando 
consigo  este  judeu,  a  que  sempre  fez  muita 


honrra,  o  bom  giiaaihado,  pelo  acbir  ho- 
mem, que  tinha  experiência  de  muitas 
cousas  da  índia,  c  doutras  prouincias,  e 
o  trouxe  a  Lisboa,  onde  so  fez  Chriístào, 
e  lhe  chamarão  Gaspar  da  (iama,  do  qual 
se  el  liei  dom  Emanuel  depois  seruio  em 
muitos  negócios  na  índia,  e  o  fez  caual- 
leiro  de  sua  casa,  daudolhe  tença>í,  onle- 
nadoB,  c  ofBcio»  de  que  se  manteue  Uj<la 
sua  vida  abastadamente.»  Idem,  Ibidem, 
cap.  44. 

QUOTA,  «'//'.  /.  Parte  ou  porçSo  fixa  e 
detorminad;i.  —  Quota  parte. 

QUOTE.  Vid.  Cote. 

—  Vis^ti-h,  lie  quote ;  de  c^-ida  dia. 

QUOTIDIANAMENTE,  uAv.  ,1V  quoti- 
diano, com  o  .-uflixo  o  mente»).  Todos  os 
dias,  cada  dia.  —  oG  fnicto  corresjKinde 
abundantemente  ao  trabalho,  porque  é 
grando  o  numero  de  alm.ifl  innocentes  e 
adultos,  que  d'entre  as  mãos  dos  missio- 
nários, por  meio  do  baptismo,  estão  quo- 
tidianamente voando  ao  céo ;  sendo  muito 
maior  a  quantidade  dos  que,  recebidos  os 
outros  sacramentos,  nos  deixam  timbem 
certas  esperanças  de  que  se  salvam.»  Pa- 
dre António  Vieira,  Cartas,  n."  17  (ediç. 
1854). 

QUOTIDIANO,  nilj.  (Do  latim  qxiotidia- 
nus).  I)c  lada  dia,  de  todos  os  dias. — 
Afissn  quotidiana.  —  tOs  Povos  Caspios 
tinhaõ  por  costume  p«>r  cm  pris.-jõ  os  Pavs, 
e  as  Mays,  aonde  morriaõ  à  fome :  e  des- 
pois  de  mortos  os  cxpunhaò  no  campo ; 
aonde,  se  os  comiafí  as  Aves,  julgavaõ 
que  elles  eraõ  bemaventurados,  e  que  es- 
ta vaõ  em  perpetuo  descanço;  porem  se  os 
devoravaõ  os  caens,  ou  se  corrompiaõ  de 
sorte  que  nelles  se  geravaò  bichos,  en- 
tendiaõ,  que  tinhaõ  sido  mal  fadados,  e 
choravaõ  por  muytos  dias  a  sua  disgraça. 
Os  Cantabricos  saõ  taõ  perguiçosos,  e 
inerptes,  que  as  Mays  saõ  as  que  cuydaõ 
na  vida,  e  lhe  grangeaõ  o  quotidiano  ali- 
mento; e  as  Jlolhcres  na  occa>iaò  do  par- 
to saij  as  quo  se  occupaõ  no  serviço  da 
caza ;  e  ao  mesmo  tempo  os  Maridos  se 
agazalhaõ  na  cama,  apertão  a  cabeça, 
naõ  comem  se  nafS  ovos  frescos ;  e  em 
tudo  se  trataõ,  como  so  elles  foraõ,  os 
que  tivessem  experimcnt^ido  o  trabalho  do 
parto.»  Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal  me- 
dico, p:ií.  24.  t}  ■'^t>. 

QUOTIZAR,  ou  QUOTISAR,  r.  o.  Repar- 
tir )>or  ]>;irteí  certas,  quotas  partes. 

QUUTILIQUÉ,  loc.  popular.  —  Homem 
de  quutiliqué ;  homem  de  respeito,  de 
credito. 

—  Cousa  insigne.  Vid.  Cutiliqnè. 
QUY,  por  Aqui.  Xesta  vida. 


s.  m.  Decima  oitava  letra  do 
alpliabeto  poi-tuguez  e  deci- 
ma quarta  das  consoantes. 
Um  R  grande.  Um  r  peque- 
no. Um  R  maiúsculo.  Um  r 
minúsculo. 

—  O  r  tem  duas  pronuncias  principaes 
na  lingua  portugueza :  o  som  pleno  no 
começo  daís  palavras  e  algumas  vezes  no 
maio  (eatrio  escreve-se  rr)  como  raro,  rir, 
rnsu,  russo,  òarro,  carro,  serra,  forro, 
(jorro,  urro,  e  o  som  brando  sempre  no 
meio  das  palavras,  em  regra  deante  de 
consoante  e  era  muitas  palavras  entre  vo- 
gaes  :  deante  de  consoante  como  em  ar- 
vore, larva,  carne,  cerne,  cornOj  j^eriia, 
firme,  forno,  turno,  merlo,  biròante,  etc. ; 
entre  vogaes  como  em  ara,  cara,  para, 
rara,  vara,  cera,  dera,  era,  fera,  leria, 
mero,  Nero,  jjêro,  serôdio,  vero,  ira,  fira, 
lyra,  mira,  tira,  corar,  morar,  furar. 

—  Carregar  no  r;  defeito  de  pronuncia 
que  consiste  em  dar-lhe  sempre  um  som 
mais  ou  menos  forte. 

—  Prender  no  r  ;  defeito  de  pronuncia 
que  consiste  em  não  pronunciar  clara- 
mente o  r  ou  em  deixar  ouvir  em  logar 
d'elle  uma  consoante  affim. 

—  Ré  abreviatura  de  receberá,  respos- 
ta, réo,  reprovo,  reverendo. 

—  Nas  formulas  medicas,  R  significa 
recipe,   receba,  tome. 

—  Tenno  escolar.  Levar  um  R;  ser  vo- 
tado com  um  R,  signal  de  reprovação  da 
parte  d'um  dos  lentes  examinadores ;  d'es- 
tes  diz-se  deitar  umB.. —  «Ré  letra  semi- 
vogal,  simples,  e  não  de  duas  maneiras, 
como  os  vulgares  cuidão,  que  põem  no 
seu  alphaboto  duas  figuras :  hua,  que  di- 
zem ser  de  .r.  singello,  e  outra  de  do- 
brado, que  se  põem  no  principio  das  di- 
ções,  ou  quando  soa  como  dobrado.» 
Duarte  Nunes  de  Leão,  Orthographia  da 
lingua  portugueza. 

RÃ,  s.  /.  Vid.  Rãa. 
RÃA,  s./.  Vid.  Ran. 


—  Adagio: 

—  Ou  é  lobo,  ou  rãa,  ou  feixe  de  lenha, 
ou  aruieo  de  lã. 

RABAÇA,  s.  /.  Planta  aquática,  que 
produz  umas  flores  brancas  ordenadas  co- 
mo as  de  uma  rosa. 

—  Bubão  de  má  raça. 

—  Figuradamente :  Pessoa  desengraça- 
da,  insípida,  com  indisposição  para  ter 
saber,  e  virtudes,  e  que  só  tem  disposi- 
ção para  comer  e  dormir. 

RABAÇAL,  ."N.  '111.  Plantio  de  rabaças. 
Vid.  Labaça,  e  Labaçal,  que  differem. 

RABAÇARIA,  s.  f.  Hortaliça,  salada, 
fructos  vulgares. 

—  Amigo  de  rabaçarias  ;  amigo  de  hei-- 
vas,  e  fructos  grosseiros  e  vulgares. 

RABACEIRO,  A,  adj.  Amigo  de  raba- 
çarias. 

—  Siiljstantivamente  :  Um  rabaceiro. 
Vid.  Rabaça. 

RABACOELHA.  Vid.  Rabicoelha. 
RABADA,  í.  /'.  O  rabo  do  peixe. 

—  Termo  de  náutica.  A  parte  da  ré 
do  navio,  onde  se  compreheude  a  maior 
altiira. 

—  No  trajo  antigo,  era  uma  trança  para 
traz,  cheia  de  laços  de  fitas. 

RABADAM,  s.  m.  Servo  soldadeiro  rús- 
tico, que  tinha  guarda  de  gado,  e  talvez 
de  porcos. 

RABADANA,  s.  f.  Um  jogo  de  rapazes 
usado  na  pivtviucia  da  Beira. 

BABADELLA,  s.  /.  Na  ribeira  de  Lisboa, 
é  o  resto  do  peixe  que  fica  para  o  pesca- 
dor, que  o  pescou  á  linha. 

—  Termo  de  anatomia.  A  extremidade 
do  espinhaço,  ou  osso  sacro. 

RABADILHA,  s.  /.  Termo  popular.  Ra- 
badella,  sobrecu  da  gallinha,  uropigio. 

—  Termo  do  anatomia.  Osso  sacro,  e 
ás  vezes  se  toma  pela  carne  que  o  cobre. 

RABADO,  A,   adj.  Que  tem  rabo,   com 
cauda,  caudato,  —  Cometa  rabado. 
RABALDE,  s.  m.  Vid.  Arrabalde. 
RABALHA,  adj.  f.  —  Quarta  rabalha; 


medida  de  líquidos  usada  no  Porto ;  era 
chamada  outr'ora  rabalva,  medida  mais 
diminuta  que  a  quarta  nova. 

RABALVA,  s.  /,  Ave  de  rapina  noctur- 
na. Vid.  Rabalha. 

RABANA,  .s. /.  (íeuero  de  atabales  usa- 
dos pelos  malabares,  e  que  trazem  pen- 
durados ao  pescoço. 

RABANADA,  s.  f.  Pancada  com  o  rabo. 
—  Este  homem  levou  uma  rabanada  d' este 
peixe. 

—  Rabanada  de  vento;  repellão. 

—  Termo  das  províncias  do  Douro  e 
Beira.  São  fatias  de  pão  com  ovos  e  assu- 
car,  que  se  costumam  fazer  pelo  natal  e 
entrudo. 

RABANAL,  s.  m.  Plantio  de  rábanos. 

RABANETE,  s.  m.  Diminutivo  de  Ra- 
bão. Planta  da  familía  do  i-ábão. 

RABANHO,  s.  m.  Vid.  Rebanho. 

RÁBANO,  s.  m.  Vid.  Rabão. 

RABÃO,  .s.  m.  Termo  de  botânica.  Hor- 
taliça vulgar,  que  é  uma  espécie  de  raí- 
zes brancas  cheias  de  sueco. 

E  a  outra  ras.ão  do  ràhcio, 

quo  ha  gcntca 

que  o  comem  c'o9  meus  dentes. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  25. 

RABÃO,  ONA,  adj.  Que  tem  o  rabo  cor- 
tado até  perto  da  raiz,  e  arrebitado,  cor- 
tando-se-lhe  os  músculos  depressores,  á 
moda  ingleza,  fallando-se  dos  cavallos  e 
éguas. 

—  Substantivamente:    Um  rabão. 
RAB'AVENTO,  adv.  Usado  na  seguinte 

locução  :  Voar  a  ave  rab'avento  ;  voar  se- 
gundo a  direcção  do  vento ;  em  opposição 
a  j^eifavento;  vento  em  popa. 

RABAZ,  adj.  2  gen.  Roubaz,  que  arre- 
bata, que  leva  por  força.  —  Animal  feroz 
e  rabaz.  » 

RABBI,  s.  m.  Entre  os  judeus,  é  o  mes- 
tre da  lei,  que  decide  as  questões  de  re- 
ligião, e  de  direito  ;   faz  os  casamentos, 


G2 


KAliK 


UAIU 


IIAIU 


(Icciani  oí  direitcs,  ctc. —  uO  perro  do 
julcii — di«30  mostro  Alborto,  encliendo 
na  malffas  —  parece  que  «o  coiifeuaou  ao 
rabbi.  K  uma  re.ftitui<;ili"  que  nos  (|uer 
f.iZvjr  pela  lualdicta  zurra|)a  coniíino  mais 
d'uuia  VL-/.  luiH  ti^in  i-iivi'ii«'iiado. .  Aluxau- 
dre  II  Ml-  il  i  1.1,  Monge  de  Cister,  cap.  18. 

f  RABBINADO,  .".  "'.  \'i  1.  Rabinado. 

t  RABBINICO,   A,  alj.  Vid.  Rabinico. 

-]   RABBINISMO,  s.  f.  Vid.  Rabinismo. 

■\  RABBINISTA,  s.' 2  yen.  \l\.  Rabi- 
nista. 

RABBINO,  s.  m.  Vid.  Rabino,  e  Rabbi. 

—  «Este  judmi  (pii'  mereceu  a  eoiili.iin,a 
do  8ur.  rei  I).  IVdro  e  a  envestidura  de 
seu  enviado,  convidou  o  pa  lie  Vieira  para 
ouvir  na  svnagof^a  o  rabbino  explicar  o 
texto.»  Bispo  do  Ur.Ho  Pará,  Memorias, 
publicadas  por  Camillo  Castello  JUmucu. 
pa^'.  liil. 

RABBONI,  >■.  ii>.  Titulo  liouorifico  entre 
os  jiidou:*,  i|ue  siíínitiea  «icjiíct'.  Vid.  Rabbi. 

RABBOTH,  s.  nt.  Nome  com  que  os  Ju- 
deus dào  a  entender  os  conuncutarioj  al- 
legorieos  dos  cinco  livros  de  iloysés. 

•{■  RABÊ,  s.  )it.  Palavra  derivada  do 
árabe,  alludindo  ao  mez  do  fevereiro.  — 
(iMatoma  a  quem  os  Arábios,  por  todas  es- 
tas partes  ehamào  ^lahamet,  nasceo  ua 
Arábia  Felice,  junto  à  Cidade  ileclia,  na 
Alilea  Itrarip,  em  o  anno  de  quinliento* 
e  sessenta  e  noue,  aos  vinte  três  dias  do 
mes  Rabè,  que  he  o  de  Feuereyro.»  Fr. 
(iaspar  de  S.  Bernardino,  Itinerário  da 
índia,  eap.  20, 

RABEADOR,  A,  <ilj.  Que  bole  muito 
com  o  r^ho. —BesiA  raòeaãora. 

—  Substantivamente:  Um  rabeador; 
diz-se,  no  sentido  figurado,  de  uma  crjan- 
ya  travessa,  que  nunca  est.i  quieta. 

RABEADURA,  ••*.  /.  Jlovimento  feito 
com  o  rabo.  —  ^1  rabeadura  do  cão,  do 
yitto,  ili   iiti-allo,  ete. 

RABEAR,  V.  a.  Mexer  com  a  cauda. 

—  Jlover  as  nádegas  em  certas  dan- 
ças pouco  decorosas,  bambalear,  rebolar, 
saracotear. 

—  Figuradamente:  Galantear,  fazer 
corte,  e  afagos  submissamente,  á  manei- 
ra do  cào,  que  dá  ao  rabo,  ou  o  abate 
fagueiro,  e  seguin<lo  a  qu>.'ni  o  afaga. 

RABECA,  s.  /'.  Instrumento  musico  de 
quatro  cordas,  que  se  ferem  com  um  ar- 
co de  cerdas  de   eavallo  ;   viola  de   arco. 

—  «Os  instrumentos  que  usam  pêra  tan- 
ger, sam  humas  vi(das  como  as  nossas, 
inda  que  nam  também  feitas,  com  suas 
caravellias  pêra  as  temperarem,  e  ha  hu- 
mas de  fei(,'am  de  guitarras  quo  s.ão  mais 
pequenas,  e  outras  a  feii;am  do  viola  dar- 
co  que  sam  menores  :  usam  também  de 
doçainas  e  de  rabecas,  e  de  huma  ma- 
neira de  charamelas,  que  quasi  arreme- 
dam as  de  nosso  uso.»  Frei  (íaspar  da 
Cruz,  Tratado  das  cousas  da  China,  c;i- 
pitulo  14. 

—  Alguns  escrevem  rebeca.  Vid,  este 
vocabvdo. 


RABECÃO,  n.  III.  Instrumento  á  manei- 
ra de  rabc-ea,  j)orém  em  ponto  grando. 

—  Ha  rabecão  ijrande,  e  ptijueiui,  que 
embora  tinliam  entre  si  certa  similhan^-a, 
sào  coiiitudo  iiistruinentoj  diirereutes, 

RABECO,  «.  //-.  Vid.  Refoucinhado. 

l.í  RABEIRA,  í.  /.  Pingada,  ra.-^to  da 
ca(;a. 

•2.)  RABEIRA,  *./.,  ou  RABEIRO,  s.  m.  O 
resto  do  grilo,  quo  tiea  na  eira,  c)ii  uo  cel- 
leiro  misturado  com  pedras,  torra,  etc,  de- 
pois do  separado  o  melhor.  Alguns  dAo  a 
isto  a  denoinina^-3o  do  aliiiqias,  porém  es- 
tas propriamente  silo  o  que  cáe  du  joeira, 
quando  por  ella  passa  o  grito. 

RABEL,  s.  IH.  Rabeca  agreste  como  alaú- 
de de  três  cordas,  que  produz  um  som 
mui  aguilo  quando  se  fere. 

—  Rabil,  ou  árrabil. 

RABELLO,  s.  »/i.  Cabo  pregado  no  cou- 
ce (la  rabi»;,i,  que  serve  para  o  lavrador 
pegar,  ([uaiulo  lavra. 

RABEQUINHA,  s.f.  Diminutivo  de  Ra- 
beca. K.ibeea  pequena. 

RABEQUISTA,  *.  in.  Tocador  do  ra- 
beca. 

RABERVIVA,  s.  f.  Ave  silvestre. 

RABETA,  .s.  /.  Vid.  Alvéloa. 

RABIA,  s.f.  Vid.  Raiva,  e  Hydrophobia. 

RABIADO.'  Vid.  Arabiado. 

RABIAR,  *•.   a.  Vil.  Raivar. 

RABIA VEL,  s.  iii.  Termo  antiquado. 
Um  livro  de  jurista,  mencionado  entre 
as  Duyrutaes  (decretaes),  e  um  Seisto,  e 
outros  livros,  em  um  inventario. 

Em  um  instrumento  de  partilhas  de 
ISõlt  lemos  esta  verba:  Ilumas  Dagrataes 
em  linguagem,  e  um  rabiavel,  e  um  seisto 
todo  em  pei'gaminho,  e  um  quinto,  e  um 
seetimo  cm  papel.  Documento  de  Pendura- 
da. E  seria  este  Rabiavel  alguma  Tratica 
criminal,  ou  Alfarrábio,  por  onde  os  rábu- 
las e  advogados  d'aiinelle  tempo  se  go- 
vernavam no  seu  officio,  que  era  mais  de 
razoes  vàs,  que  de  solidas  razões  V.,. 

RABIÇA,  s.  f.  O  rabo  do  arado,  onde 
o  lavrador  pega,  para  lavrar ;  esteva, 

—  Espécie  de  rábào. 

RABICÃO,  adj.  (Do  latim  riibens\.  —  Ca- 
vallo  rabicão;  eavallo  que  tem  cerdas 
brancas  uo  cabo,  O  castelhano  diz  rubia- 
no,  como  pêllo  mesclado  de  ruço  e  Tcr- 
melho, 

RABICHÃO,  ONA,  adj.  Rabão,  Vid,  es- 
te vnealiulo, 

RABICHO,  s.  m.  Peça  da  sella,  que  vai 
presa  pur  baixo  da  sua  parte  posterior ; 
n'elle  se  euiia  o  cabo  do  cavaUo,  para  a 
sella  n.^o  correr  para  diante. 

—  Chicote  da  cabelleira,  e  da  antiga 
penteadura  dos  homens. 

—  Termo  de  náutica.  O  chicote  que 
se  deixa  tiear  na  ali;a  de  qualquer  moi- 
trxo,  patesci»,  Ciidernal,  etc,  e  d'aqui  pro- 
vém talha  de  rabicho,  moitrio,  etc,  a 
obra  embotijada,  quo  se  pratica  nos  chi- 
cotes dos  cabos,  que  gu;u'necem  os  na- 
vios apparelhadoâ  com  proluxidadc 


RABICOELHA,  *.  /.  Ave  aquática  pouco 
mais  ou  menos  de  grandeza  igual  á  de 
uma  perdiz,  de  cór  parda,  verdo  e  cin- 
zenta. 

RABICURTO,  A,  'idj.  De  cauda  curta, 
—  A  te  rabicurta. 

RÁBIDO,  A,  'idj.  iDo  latim  raUJu$,. 
Furioso,  hanhudo,  enraivecido,  raivu»o. 

Atiça  niairi  a  rahida  cama^cin  : 
O  cuinpo  uiutaii^uontiido  &in  olhos  mostrm 
Os  trou-oa  danibii^Ào,  da  gloria  o  fructo. 
j.  A.  DK  í<Ar»a>j.  sr«T>j.v,  caiit.  2. 

RABIFORCADO,  A,  <idj.  Que  tem  o  ra- 
bo farpado,  ou  dividido  em  firma  de  to- 
souia  aberta,  —  Ave  rabiforcada, 

RABIL,  s.  m.  Termo  mais  usado  que 
Rabel.  \'id.  este  vocábulo, 

—  Lyra  agreste. 

RABÍLEIRO,  «,  m.  Tocador  de  rabil, 

—  Ibiiiniii  que  faz  rabis. 
RABILONGO,  A,  adj.  Que  tem  a  eau<ia 

comjirida. 

RABINADO,  ».  í/l.  Dignidade  de  rabino. 

RABINHO,  ^.  m.  Diminutivo  de  Rabo. 
Rabo  iieqneno, 

RABINICO,  A,  adj.  Que  é  peculiar  aos 
rabinos.  —  Um  acervo  de  ch{n.tr<u  rabí- 
nicas. 

—  Escola  rabinica ;  escola  cujo  obje- 
cto é  formar  e  tornar  aptoa  03  rabinos 
para  o  culto  judaico. 

—  Caracteres  rabínicos  ;  caracterea  re- 
dondos dos  hebreus. 

—  Liiujud  rabíQÍca;  a  lingna  hebraica 
moderna. 

RABINISMO,  s.  m.  A  doutrina  dos  ra- 
binos, a  seita  delles. 

RABINISTA,  s.  2  gen.  Pessoa  que  se- 
gue a  doutrina  ou  que  estuda  os  livros 
dos  rabinos. 

RABINO,  s.  «1.  Titulo  dos  sábios  ju- 
deus, equivalente  ao  de  doutor,  e  que  s-j 
se  dava  ao  homem  verdadeiramente  ins- 
truído na  Escriptura  e  leis  di«  judeus. 
Este  titulo  deu-se  mais  tarde  a  toda  a 
pessoa  litterata ;  mas  entende-se  sobretu- 
do por  rabinos  os  escriptores  judeus  anti- 
gos que  commentaram  e  exjdicarani  a 
Biblia,  ou  que  escreveram  sobre  assum- 
ptos da  religião  judaica. 

—  Hoje  chamam-se  rabinos  os  douto- 
res do  culto  judaico  collocados  á  testa  de 
algumas  corporações.  Suas  funeções  sào 
pregar,  abençoar  os  casamentos,  etc 

—  Grand*  rabino ;  o  chefe  d'uma  sv- 
nagoga  ou  d'um  consistório  israelita. 

—  Figurada  e  popularmente  :  Desin- 
quieto com  teima ;  maldoso,  malévolo, 
que  tem  mau  génio. 

RABIQDE,  5.  »i.  Vid.  Arrabiqne. 

RABIRDIVA,  s.f.  Rouxinol  dos  mnros; 
pass;iro  de  arribaçilo. 

RABISACA,  #,  /,  Termo  popnlíir.  Ida 
ou  digressão  clandestina,  e  ás  occultas. 

—  Loc:  Dar  uma  rabisaca  jxjr  ca$a 
de  alguém. 


RABO 


RABO 


RABU 


Go 


RABISCA,  s.  /.  Pequeno  esgalho,  que 
ticou  ua  vinha  por  incúria  do  que  a  vin- 
dimou. Vid.  Rabiscas. 

RABISCADEIRA,  s.  f.  Mulher  que  ra- 
bisca a  vinha. 

—  ilulher  que  faz  rabiscas. 

'  RABISCADOR,  s.  m.  Homem  que  anda 
ao  rabisco. 

—  Honiora  que  faz  rabisc<as. 

1.  RABISCAR,  r.  a.  Fazer  rabiscas, 
sujar  com  rabiscos,  ou  traços  irregulares 
de  penr.a.  ou  lápis. 

2.)  RABISCAR,  r.  a.  Corrupção  de  Re- 
buscar .  Buscar  segunda  vez. 

—  Rabiscar  os  cachos  na  vinha;  tor- 
nar a  vêr  se  se  acham  cachos  que  esca- 
param ao  olho  do  vindimador. 

—  Toma-se  também  no  sentido  figura- 
do.—  Ir  a  alguma  parte  rabiscar  o  que 
Jicou . 

—  Vid.  Rebuscar. 

RABISCAS,  s.  /.  ijhtr.  Traços  ou  ris- 
cos iufnrnies  feitos  com  penna  ou  lápis. 

RABISCO,  s.  »!.  As  uvas  que  escapa- 
ram á  mào  do  vindimador,  e  que  por  in- 
cúria d'este  ficaram  na  vinha. 

—  Ir  ao  rabisco ;  rabiscar  as  uvas  que 
ficaram  na  vinha  por  descuido. 

RABISECCO,  A,  a^lj.  Termo  popular. 
Secco.  estéril,  infructifero,  minguado. 

RABO,  s.  m.  [Dõ  latim  rapum).  A 
cauda,  cabo  ou  colla  dos  quadrúpedes  : 
n'estes  consta  de  ossos  vertebrosos  na  ex- 
tremidade da  anca,  cobertos  de  pelle,  e 
pêllo,  ou  de  cabello;  nas  aves  consta  de 
pennas ;  nos  peixes  é  cartilaginoso. 

Falla'ido  com  salvos  rabos, 
Ilida  que  me  tens  por  vil, 
Acharás  homens  cem  mil 
Hom-ados,  que  são  diaboa. 
Que  cu  não  tenho  nem  ceitil. 
E  bem  honrados  te  digo, 
E  homens  de  muita  renda, 
Que  tem  divedo  comigo. 

GU,    VICENTE,    ArrO    DA    FEIR.I. 

Assi,  pesar  do  Diabo, 
pesa-mc  a  mi  muito  d"isso. 
Emfim.  são  bens  que  tem  cabo, 
que  tem  coma  c  tem  rabo  : 
era  uma  moça  de  serviço, 

A5T0XI0  PRESTES,  AUTOS,  pag.  1.39. 

—  Pimenta  de   rabo ;    pimenta    longa. 

— ■  Termo  de  marinha.  Rabo  do  minho- 
to; é  o  entalhe  que  se  dá  aos  topos  dos 
madeiros  que  se  querem  unir,  entalhan- 
do uns  nos  outros  pelo  centro. 

—  Rabo  de  a^no;  planta,  cujo  sueco, 
sorvido  pelo  nariz,  faz  parar  o  fluxo  de 
sangue. 

—  Rabo  de  raposa ;  a  flor  amaranto. 

—  Rabo  de  cavaUo ;  vid.  Cavallinho 
(herva  < . 

—  Rabo  fie  ovelha;  espécie  de  uva 
grossa. 

—  Termo  de  marinha.  Rabo  de  rapo- 
sa;   obra   de  fio    de  vela  ou  de  carreta, 


que  os  marinheiros  praticam  nos  chicotes 
das  escotas  para  maior  luxo. 

—  Cauda. — Rabo  do  vestido  de  uma 
dama. 

—  Rabos  de  juncos ;  aves  que  se  en- 
contram na  derrota  da  índia,  do  tama- 
nho de  pombas  torcazes ;  no  rabo  tem 
uma  penna  delgada,  e  muito  mais  com- 
prida que  as  outras  no  meio  d'ellas. 

—  Loc.  POPULAK :  Mentira  de  rabo; 
mentira  de  bom  tamanho. 

—  'Kaboforcad.o ;  ave,  Vid.  Fragata. 

—  Loc. :  Metter  o  rabo  entre  as  per- 
nas; aquietar-se  com  medo. 

—  Loc.  POPULAR  :  Olhar  com  o  rabo 
do  olho;  olhar  virando  o  preto,  ou  a  pu- 
pilla  para  o  canto  externo,  ou  para  a  par- 
te das  fontes,  para  olhar  a  furto. 

—  Termo  antiquado.  Coronha,  ou  re- 
paro das  boccas  de  fogo,  ou  artilheria 
miúda. 

—  Loc. :  Acudir,  fazer  alguma  cou- 
sa, festejar,  receber  com  o  rabo  pe?o 
chão;  acudir,  receber,  festejar  com  as 
humiliações  e  festas  dos  càes  timidos,  e 
fagueiros,  e  como  os  càes  de  rastos. 

—  Pegue-lhe  pelo  rabo  ;  diz-se  para  si- 
gnificar que  alguém  fugiu,  e  n.no  se  po- 
derá alcançar,  ou  se  nos  escapará  ao  al- 
cançal-o. 

—  Loc.  popular:  O  rabo  ê  ruim  de 
esfolar;  os  extremos  sào  trabalhosos. 

—  Adágios  e  proat:kbios  : 

• —  O    rabo   é  o  peor  de  esfolar. 

—  Manda  o  amo  ao  moço,  o  moço  ao 
gato,  e  o  gato  ao  rabo. 

—  Asno  morto,  cevada  ao  rabo.. 

—  Brincai  com  o  asno,  dar-vos-ha  na 
barba  com  o  rabo. 

—  Ha  um  anno  que  morreu  o  asno.  e 
agora  lhe  cheira  o  rabo. 

—  Bom  cào  de  caça,  até  á  morte  dá  ao 
rabo. 

—  Da  casta  vem  ao  galgo,  ter  o  rabo 
largo. 

—  A  carneiro  capado,  nào  apalpes  o 
rabo. 

—  A  mulato  sempre  parece  asno,  quer 
na  cabeça,  quer  no  rabo. 

—  Morreu  vosso  macho,  ainda  agora 
lhe  fede  o  rabo. 

—  De  rabo  de  porco  nunca  bom  vi- 
rote. 

—  Aqui  torce  a  porca  o  rabo. 

—  Quem  rabo  corta,  por  detraz  se 
descobre. 

—  Bole  com  o  rabo  o  cào,  nào  por  ti, 
senào  pelo  pào. 

—  Ovelha  farta  do  rabo  se  espanta. 

—  Nem  cada  dia  rabo  de  sardinha. 

—  Em  março  nem  rabo  de  gato  mo- 
lhado. 

—  Ai-renego  do  cavallo,  que  se  enfreia 
pelo  rabo. 

—  Bem  sabe  este  onde  a  bugia  tem  o 
rabo. 

RABOLÃO,  s.  m.  Homem  que  diz  ra- 
bolarias,  paroleiro.  Vid.  Rebolão. 


Vid.  Rebolo. 
7.  Alimpar    com    o    ra- 

P]  lina  grande  de  car- 

adj.    Que    tem    rabo  ou 


—  Segundo  a  etymologia  deve  escre- 
ver-se  Rabulão. 

RABOLARIA,  s.  f.  Palanfrorio,  pala- 
vreado, trovoada  de  vozes,  sem  substan- 
cia alguma  de  razào  e  fundamento, 

—  Razões  de  rábula. 

—  Palavras  ameaçadoras,  que  ficam 
em  nada. 

RABOLEVA,  .«.  m.  Rabo  de  papel,  ou  de 
panno  que  se  põe  nas  costas  de  algucm, 
pelo  carnaval.  — Pôr  em  algucm  um  ra- 
boleva. 

RABOLO,  s. 

RABOTAR,    í- 
bote. 

RABOTE,  .t. 
pinteiro. 

RABUDO,    A, 
cauda  comprida. 

—  Termo  pouco  usado.  Que  tem  ca- 
bellos  longos  nos  posteriores  da  cabeça, 
e   nào  é  chamorro. 

—  Vestido   rabudo ;  vestido  de  cauda. 

—  A  respeito  d'este  termo  já  conta  al- 
guns séculos  o  prejuizo  louco,  com  que  o 
vulgo  portuguez  chama  aos  castelhanos 
rabudos,  como  se  nascessem  com  um 
grande  e  vergonhoso  rabo.  Porém  nào  ha 
que  admirar  n'isto,  pois  todas  as  nações 
confinantes,  entre  quem  houve  guerras, 
ódios,  invejas,  etc,  se  costumam  recipro- 
camente injuriar  com  anexins  e  apodos, 
bem  ou  mal  fundados.  E  se  os  portugue- 
zes  chamam  aos  hespanhoes  rabudos,  estes 
os  tratam  de  judios.  Os  francezes  tam- 
bém chamam  aos  inglezes  rabudos  ;  e 
isto  tomado  de  uma  pala-\Ta  equivoca, 
que  assim  como  significa  bizarro,  guapo 
e  bem  alinhado,  egualmente  quer  dizer 
rabudo.  E  verdade  que  de  algumas  na- 
ções e  famílias  se  conta,  que  u'ellas  nas- 
cem alguns,  ou  todos  com  rabo.  ou  maior, 
ou  mais  pequeno.  Diz-se  que  na  ilha  For- 
mosa ha  uns  homens  silvestres  com  uma 
excrescência  no  fundo  do  espinhaço,  a 
modo  de  rabete ;  vivem  no  campo,  e  sào 
mui  damninhos  aos  moradores  da  cidade ; 
porque  em  apanhando  alguns  d'elles  os 
despedaçam :  Que  nos  montes  da  ilha 
de  Borneo  ha  uma  casta  de  gente  que 
toda  nasce  rabuda ;  e  segundo  a  rela- 
çào  de  Pedro  Martyr,  na  terra  chamada 
Insignavim  ha  gente  com  rabo,  nào  flexí- 
vel, como  o  dos  animaes,  mas  tào  duro  e 
teso,  que  nào  se  assentam  senào  em 
bancos  furados ;  e  para  se  assentarem 
no  chão,  mandam  fazer  buracos  na  ter- 
ra, em  que  mettem  o  rabo.  Mas  confes- 
sando ingenuamente  que  ha  monstros, 
sempre  diremos,  que  nào  havendo  em- 
baraço, a  sabia  natureza  procede  inva- 
riável em  seguir  as  leis  cosmologicas, 
que  recebe  do  seu  auctor,  e  pelas  quaes 
o  racional  não   deve  nascer   rabudo. 

Dons  fundamentos  tiveram  os  portu- 
guezes  para  chamarem  aos  castelhanos 
rabudos  :  o  primeiro  foi  a  balela  que 
correu,    de  que  a  rainha  D.  Brites,  mãe 


64 


KA<'A 


ka(;a 


KACII 


de  cl-rei  D.  Diniz,  o  dcscendontc  por 
8iia  niílií  da  casa  dn  í!ui»inào  (que  di- 
ziam que  tivera  ai/^uns  iillio»  com  ra- 
bo) nascera  eoui  cauda.  K  «ubiu  tJiiito 
do  ponto  tilo  íjroHSoiro  prejui/.o,  que  da» 
choupanas  (Mitrou  pelos  palácios;  e  el- 
roi  I ).  Seliastino  no  I ."  lio  a/jo^to  de 
ir)(>í),  fez  abrir  to'ias  as  sepulturas  dou 
rei»  que  estilo  no  mosteiro  do  Alcoba^M, 
com  o  pretexto  do  vêr  o  estado  dos  bcu» 
corpos ;  nia.s  na  verdade  só  a  tim  de  fa- 
zer examinar  no  da  rainba  ]).  Brites  a 
tal  suspeita,  (pii;  se  achou  ser  inteiramen- 
te falsa.  O  sefíuudo  fundamento  foi :  que 
esta  rainha  introiluziu  cm  Portugal  as 
cotas  de  rabo  ou  caudatas,  ile  que  se 
serviam  antigamente  as  maiores  senho- 
ras e  priíicezas,  E  a  frufíalidado  por- 
tu,i;ue/.a,  estraniiiindo  o  trajo  deu  o  ti- 
tulo de  rabuda  á  introductora  d'ellc :  e 
d'aqui  por  despi-ezo  se  attribuiu  aos  cas- 
telhanos  o  mesmo  titulo. 

RABUGEM,  ou  RABUGE,  s.  /.  Sarna 
que  d;i  na  ra(;a  canina. 

—  Fiirurahi  e  popidarinonte  :  Mau  hu- 
mor, imiH  rtincncin,  abi>rreein\ento. 

RABUGENTO,  A,  "'//'.  (^ue  tem  rabu- 
gem. —  Cão  rabugento. 

—  Figurada  e  iiopularmoute  :  Imper- 
tinente, aboi-rido,  de  mau  humor. 

—  Substantivamente  :    Um  rabugento. 
RABULÃ,  s.  m.  (Do  latim  nilnda) .  Advo- 

gado  ignorante,  estúpido,  e  mui  loquaz  e 
paroleiro. 

Cheio  destas  ideias  entni  oin  Casa, 
E  para  dar  acu  voto  na  AsseuibUHi 
Com  mais  legalidade,  pedir  manda 
Ao  Raljii/a  do  Cèa  alguns  Autlioves, 
Quo  os  Cânones  sagrados  commeutilraõ. 
piNiz  iiA  CRUZ,  iivssorK,  cant.  3. 

RABULAO  .f.  »i.  Fanfarrrio,  bravatea- 
dor,  pariiK'ini.  Vid.  Rabolão. 

RABULARIA,  í.  /.   Vid.  Rabolaria. 

RABULIGE,  s.  /.'  Arrazoado  de  rábu- 
la ;  ou  as  fraudes  que  elles  fazem  na 
praxe. 

RABUSCA,  ?.  /.  Rabisco,  diz  o  vulgo, 
de  rabiscar  as  vinlias. 

RAÇA,  .-•.  2  ijcn.  Pessoa  tola,  sem  juizo. 

RAÇA  .V.  /.  (Do  francez  race).  Linha- 
gem, extracy.ào,  tudo  o  que  provem  de 
uma  mesma  familia.  —  Boa,  antiga,  no- 
bre raça. — ..l  raça  judaica. — Não  olhe- 
vws  ixirn  a   raça,  mas  sim  para  o  mérito. 

—  Diz-se  tandjcm  dos  auimaes. —  «Pa- 
ra haver  maior  numero  de  cavallos.  man- 
darão os  Revs  prohibir  as  mulas,  quar- 
tAos,  o  facas,  como  foi  EIRey  D.  Joaõ 
II.  D.  Joaij  III.  e  D.  Sebastião;  e  fize- 
raõ  piU"ticulare3  leys.  para  que  sempre 
se  conservassem  no  Re\Tio  as  boas  raças 
dos  cavallos,  as  qnaes  exceutavaõ  os  Cou- 
dcis  Mores.»  Severim  do  Faria,  Noticias 
de  Poi-tugal. 


EUa  lie  íisico  bem,  quo  a  piovidonto 

RIfio  do  Immorbd  derrama,  assim  se  apouc-a 


A  feroz  rtiça  (ju'  aH!tobcrl)a  os  maré», 

Pos  nadadores  tímidos  dcst'arte 

Si!  augiiieiita  a  gora(;ão,  conserva  a  cspccic. 

J.   A.   m:  MAL-KUO,  A  MATCUKZA,  caijt.   .3. 


—  Toma-«e  em  nní  parte,  e  no  mcADio 
sentido.  ~  Ilomim  fie  raça  vil  <•  cuhur- 
ile.  —  ((Desgrat,'a>lo  do  nazareno  quo  so 
lembrasse  de  annir-te  dejjois  que  Abilu- 
laziz  to  chamou  sua.  Onde  se  iria  escon- 
der esse  nialventurado  filho  de  uma  raça 
vil  e  covarde,  que  podesse  escapar  a  este 
braço,  o  qual  ao  cstender-tíe  arranca  pe- 
los fundamentos  os  vossos  casUdlos  e  re^ 
duz  a  pi)  03  templos  do  vosso  Deus  e  os 
muros  díis  vos.^as  cidades V a  A.  Hercula- 
no, Eurico,  cap.  14. 

—  Raça  de  sul ;  em  vez  de  raio. 

—  Termo  de  alveitaria.  Abertura  no 
casco  da  besta,  quasi  conso  o  quarto. 

— •  Figuradamente  :  Ter  raça  ;  vale  o 
mesmo  que  ter  sangue  de  mouro,  ou  de 
Judeu. 

—  Termo  de  zoologia.  Reuni.^o  de  in- 
dividues pertencente  ;l  mesma  espécie, 
tendo  uma  origem  eommum  e  caracteres 
semelhantes,  transmi.ssiveis  por  \'ia  de 
gerayão,  ou  por  outros  termos,  variedade 
constjtnto  na  espécie.  N'e^te  sentido,  diz- 
se  dos  homens :  As  jiopidações  da  raça 
germânica.  —  A  raça  caucasica.  —  A  ra- 
ça judaica. 

—  Diz-sc  algumas  vezes  de  uma  clas- 
se de  homens  exercendo  a  mesma  pro- 
fissão, ou  tendo  inclinações,  hábitos  com- 
muns, 

—  Diz-se  dos  vegetaes  também. 

—  A  raça  mortal,  a  raça  humana;  os 
homens  em  geral. 

—  Termo  de  poesia.  A  taça  futura ;  os 
homens  a  nascer. 

—  Figuradamente  :  Raça  de  víboras  ; 
expressrio  tirada  da  Escriptura,  e  que  se 
applica  aos  phariseus,  e  que  diz-se  hoje 
das  más  pessoas. 

—  E  um  cavallo  de  raça;  é  um  ca- 
vallo  de  boa  raça. 

RAÇÃO,  í.  /.  ^Do  latim  ratio  .  Termo 
de  náutica.  A  porção  do  mantimentos  que 
se  dá  a  cada  uma  das  praças  do  navio 
iliariamente,  e  a  qual  está  estipulada  por 
tabeliã. 

—  A  porç.ào  de  cevada  que  quotidia- 
namente se  dá  ás  bestas. 

—  Nos  tempos  posteriores  aos  princi- 
pies da  monarclúa  toniava-se  a  palavra 
ração  pela  porç-ào,  que  a  cada  um  se  dá 
para  o  seu  sustento,  e  usos  da  vida  em 
uma  eommunidade,  collegio,  familia,  na- 
vio, exercito,  etc.  Outras  rações  havia 
no  principio  do  i"eino,  e  depois  se  conti- 
nuaram a  pagar  d'aqucllas  terras,  que 
ou  são  reguengas,  ou  por  doações  e  ou- 
tros titules,  passaram  da  real  coroa,  as- 
sim a  particulares,  como  a  communida- 
dcs,  cabidos  e  mosteiros.  Todos  os  direi- 
tos reaes,  e  mormente  as  jugadas,  eram 
chamadas  rações,  e  cada   uma  d'ellas   se 


dizia  no  singular  jiui,  re»,  ditio,  donti- 
iiium,  Iji/na,  faculta».  O  mc:<nio  nomo 
de  rações  conservam  ainda  boje  estea  fi>- 
ros  ou  jugadas,  que  em  umas  partea  sSlo 
de  quarto,  em  outras  de  quinto,  do  i«ex- 
to,  de  oitavo,  de  quarteiro,  etc.  =  Em 
Viterbo,  Eluc. 

--  Piirç.^o,  ou  côngrua  que  se  dava  aos 
beneliciadiis  e  ministros  da  igre;a  ou  f')«- 
se  em  distribuições  quotidiana.'*,  a  quo 
chamavam  diário,  ou  fosse  cada  mcz,  a 
que  chamavam  vientura ;  ou  iiiialmente 
por  anno,  como  hoje  mesmo  se  pratica, 
eonsignando-lhes  certa  quantidade  de  firu- 
ctos,  dízimos  ou  dinheiros. 

—  Lof.  ANTKíCADA:  Patjnr  ração;  p«- 
g.ar  foro  como  plebeu. 

—  Dava-se  tandjcm  este  nome  nos  sé- 
culos X,  .\i.  xii  á  parte,  sorte,  ou  qni- 
idi.lo  da  herança,  que  a  cada  um  dos  ra- 
turaes,  ou  herdeiros  cabia  nas  igrejas, 
mosteiros,  ermidas,  oratórios,  ou  ontros 
lugares  pios,  como  hosjtitaes,  albergarias, 
etc.  Estas  rações  se  augmentavam  e  bc- 
neiiciavam  algumas  vezes  com  novas  c 
mais  avultadas  doações  dos  mesmos  her- 
deiros, que  n'isto  mesmo  tinham  seus 
temporaes  interesses,  crescendo  as  como- 
dorias,  casamentos,  etc.,  á  proporçSo  que 
os  primeiros  fundos  se  augmentavam,  Suc- 
cedia  porém  algumas  vezes  que  os  doan- 
tes  se  nSo  propunham  augmontar,  senão 
aquella  porçAo,  quo  nos  ditos  mosteiros 
ou  legares  pios  lhes  cabia.  E  n'cste  caso 
as  nutras  rações  em  nada  ficavam  mais 
avult^adas  e  crescidas.  =  Em  Viterbo, 
Eluc. 

—  O  mantimento  dado  pelos  reis  aos 
morador&s  de  suas  casas,  que  andavam 
assentados  nos  livros  da  sua  cozinha. 

—  Nos  foraea  e  arrendamentos  é  a 
quarta  parte  doa  fructas,  por  exemplo, 
metade,  quarto,  oitavo,  que  o  lavrador, 
encabeçado,  ou  rendeiro  deve  pagar  ao 
senhorio,  segundo  as  escripturas  do  tra- 
cto, ou  i>arçaria,  e  ração. 

RACEMO,   s.   m.   Vid.  Racimo. 
RACHA,    s.  /.   Fenda,  fisga,  grota. 

—  Roçado  de  pau  rachado,  lasca. 

—  Enxertar  de  racha ;  rachar  o  tron- 
co ou  ramo,  onde  se  mette  o  enxerto, 

—  Adaoio  : 

—  Pequenas  rachas  acccndcm  o  fogo, 
e  a*  madeiros  grandes  o  sustentam. 

RACHADEIRA,  s.  /.  Instrumento  de 
ferro  próprio  para  rachar  os  ramos  ondo 
se  enxortM.  etc. 

RACHADO,  part.  pass.  de  Rachar.  Fen- 
dido, aberto. 

—  Bipartido,  bifido. 

RACHADOR,  A,  *.  Pessoa  que  racha. 
que  parte  lonlia. 

RACHADURA,  .*.  /.  De  racha,  e  o  snf- 
tixo  «dura»  .  A  acç."io  de  rachar. 

—  A  fenda,  racha,  fisga.  —  A$  racha- 
duras da  terra  :   por  efleitos   voleanicos. 

RACHAR,  r.  a.  Do  grego  rAfl*«ô'>.  Fen- 
der, abrir.  — Rachar  Int/ia  ctn  ntacha- 


RACI 


RACI 


RACI 


65 


do.  —  «Ambos  acertaram  os  encontros: 
o  de  Dragonalte  rompeu  o  escudo  ao  do 
Salvage,  e  detendo-se  na  fortaleza  das 
armas,  rachou  a  lança  em  pedaços,  fa- 
zendo-o  algum  tanto  encostar  sobre  o  ar- 
ção trazeiro ;  mas  o  íeu  foi  tanto  mais 
forte,  que  deu  com  elle  no  chào.»  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  130. 

—  Termo  de  estofador.  Riscar  e  abrir 
a  pintura  ou  estofo  com  um  ponteiro  de 
páo,  prata,  ou  ferro  para  apparecer  o 
ouro,  que  esfci  por  baixo  da  ultima  mào 
de  tinta,  o  que  representa  as  roupas,  de 
ordinário  pretas,  e  as  figiiras  do  estofado. 

—  Loc.  FIGURADA  :  Rachar  com  açou- 
tes; ferir  o  corpo,  escalar. 

—  Fazer  em  achas. 

—  Loc.  POPULAR :  Rachar  aZ^e»n;  mal- 
tratal-o  com  palavras. 

—  Rachar-se,  i-.  ref.  Fender-se,  abrir- 
se.  Vid.  Gretar. 

■ —  Emprega-se  também  no  sentido  figu- 
rado. 

RACHEBIDOS,  *.  m.  plur.  Soldados  da 
costa  Kajes  na  índia,  que  sào  como  os 
janizaros  do  turco. 

RACHIALGIA.  s.  /.  Vid.  Raquialgia. 

RAGHITIS.  Vid.  Raqnitis. 

RACIMADO,  A,  adj.  Que  está  em  forma 
de  racimós,  em  que  ha  racimos,  racimoso. 

f  RACIMICO,  A,  adj.  Termo  de  chimi- 
ca.  Acido  racimico ;  acido  extrahido  das 
aguas  mães,  de  que  se  extrahiu  o  acido 
tartrico. 

—  Camphora  racimica;  camphora  for- 
mada de  pesos  eguaes  de  camphora  or- 
dinária, cujo  poder  rotatório  se  exerce 
para  a  direita,  e  de  camphora  de  matri- 
caria,  cujo  poder  rotatório  se  exerce  para 
a  esquerda. 

RACIMIFERO,  A,  adj.  (Do  latim  race- 
m>fer<.  Termo  de  poesia.  Que  produz,  ou 
traz  racimos. 

f  RACIMIFLOR,  adj.  2  gen.  (Do  latim 
racemus.  e  jios).  Termo  de  botânica.  Que 
tem  as  tiôres  em  forma  de  racimos. 

t  RACIMIFORME,  adj.  Termo  de  botâ- 
nica. Que  se  assemelha  a  um  racimo.  — 
Thi/rso  racimiforme. 

RACIMO,  s.  m.  (Do  latim  racemus). 
Termo  de  botânica.  Grupo  de  flores  ou 
de  fructos  que  tem  relação  com  um  ca- 
cho. 

—  Inflorescencia  em  flores  pedicella- 
das. 

—  Cacho  de  uvas. 

RACIMOSO,  A,  adj.  iDe  racimo,  e  o 
suffixo  «osof'.  Termo  de  botânica.  Diz- 
se  das  plantas  cujas  flores  estão  dispostas 
em  forma  .de  racimos. 

—  Latadas  racimosas  ;  latadas  que  es- 
tão em  cachos. 

f  RACIMULOSO,  A,  adj.  Termo  de  bo- 
t-anica.  Que  tem  as  flores  em  pequenos 
racimos. 

RACIOCINAÇÃO,  í.  /.  (Do  latim  ratio- 
cinatio.  de  rafiotiiiarfi.  Termo  de  philo- 

VOL.  V.  —  9. 


sophia.  Acçào  de  raciocinar,  de  usar  da 
razào. 

RACIOCINADO,  pai-t.  pass.  de  Racioci- 
nar. Distursaiio. 

f  RACIOCINADOR,  *.  m.  Termo  de  his- 
toria romana.  Escravo  ou  liberto,  que  ti- 
nha as  cartas  do  patrão  ou  do  amo  nas 
grandes  casas. 

RACIOCINAR,  1-.  a.  (Do  latim  ratioti- 
nari  .  Termo  usado  somente  no  estylo 
dogmático.  Usar  da  razão. 

RACIOCÍNIO,  .«,  m.  O  conhecimento  da 
relação  que  ha  entre  duas  idêas,  resul- 
tante do  conhecimento  da  relação  que 
cada  uma  d'ellas  tem  com  uma  terceira 
chamada  media. 

—  Alguns  definem  raciocinio  o  acto 
intelle^tual,  com  que  inferimos  um  juizo 
d'outro.  Divide-se  em  deductivo  e  indu- 
ctivo;  directo  e  indirecto:  deductivo,  quan- 
do procede  do  geral  para  o  particular^ 
isto  é,  quando  passa  de  juizos  mais  ge- 
raes,  para  outros  que  o  são  menos :  iti- 
ducfivo,  quando  sobe  do  particular  ao  ge- 
ral, da  espécie  para  o  género,  da  conse- 
quência para  o  principio :  directo,  quando 
dos  principies  postos,  tiramos  immediata 
e  directamente  em  conclusão  a  mesma 
verdade  que  pretendemos  provar :  e  indi- 
recto, quando  dos  princípios  postos  tira- 
mos immediata  e  directamente  não  a  ver- 
dade, que  pretendemos  provar,  mas  sim 
uma  conclusão,  que  nos  leve  ao  conheci- 
mento d'essa  mesma  verdade.  O  racioci- 
nio indirecto  ainda  pôde  dividir-se  em  ra- 
ciocinio por  absurdo,  por  hypothese,  por 
enumeração  e  exclusão  de  partes. 

■ —  Raciocinação,  discurso. 

—  Uso  da  razão. 
RACIONABILIDADE,  s.  /.  (Do  latim  ra- 

tioiuibilitas).  O  caracter  de  ser  raciona vel. 

—  < )  ser  racional. 

—  A  faculdade,  o  poder  de  raciocinar. 
1.)   RACIONAL,   adj.   2  gen,  iDo  latim 

rationalis,  de  ratio  •.  Termo  didáctico. 
Que  só  se  concebe  pelo  entendimento.  — 
Âs  abstracções  t^m  no  nosso  espirito  uma 
espécie  de  existejicia  racional. 

—  Que  é  conforme  á  razào,  á  theoria. 
Applica-se  a  todo  o  systema,  a  todo  o 
preceito  fundado  nos  princípios  tirados 
da  razão,  e  deduzido  d'estes  princípios 
como  consequência  natural  e  rigorosa. 

—  Dotado  da  faculdade  de  raciocinar. 


Oave  a  voz  de  hum  Filosofo,  que  sempre 
Poz  em  baknça  igual  Choupana  c  Throno ; 
Que  o  ente  racional  n"homem  contempla, 
O  mesmo  berço,  e  túmido,  e  mais  nada. 

J.   A.    DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Cailt.    3. 


Nos  entes  racMnaeg,  nos  entes  bmtoe, 
Mais  se  conhece  seu -poder,  seu  sceptro; 
A  força  empresta  á  maquina  vivente  ; 
Sc  elle  faUece,  o  movimento  acaba  ; 
Quando  na  douta  Maquina  se  fiuta, 
Débil  chama  mortal  se  apaga,  e  foge. 

IDEM,   ítEDITAÇÃO,    Caut.    2. 


Ás  mortaes  precisões  sujeita  os  brutos 
O  Soberano  Arquitector  do  Mundo. 
Do  homem  sócios  sào,  sào  dellc  esteios ; 
Mas  deUes  o  mortal  lições  nào  toma. 
Quasi  me  peja  o  triste  parallelo 
Dos  Entes  racionaes  co'os  entes  brutos! 
Orgulhoso  o  mortal  sacode  o  jugo 
Das  leis,  e  da  razào ;  e  as  leis  do  instincto 
Invariáveis  animacs  conhecem. 
IBIDEM,  cant.  3. 


Quando  o  ser  racional  perto  descobrem  : 
O  respeito,  ou  temor  dclles  se  apossa  : 
O  Tigre  nào  conhece,  o  Tigre  insulta 
Inda  03  restos  d'antiga  Monarquia. 


—  Termo  de  mathematica.  Quantidade 
racional ;  aquella  cuja  relação  com  a  uni- 
dade pode  ser  expressa  por  números,  quer 
inteiros,  quer  fraccionarios. 

—  Fundado  no  raciocinio.  —  A  mecâ- 
nica racional  é  uma  sciencia  mathematica 
e  abstracta. 

—  Termo  de  geographia  astronómica. 
Horisonte  racional ;  aquelle  que  corta  o 
o  céo  e  a  terra  em  dons  hemispherios ; 
diz-se  em  opposição  ao  hoi'isonte  sensível 
ou  apparente. 

—  Termo  de  medicina.  Que  é  fundado 
nos  princípios  systematicos  e  leis  scien- 
tificas.  O  methodo  empirico  ó  mais  antigo 
que  o  methodo  racional,  porque  é  mis- 
ter immediatameute  ajuntar  um  grande 
numero  de  factos,  e  experiências,  antes 
de  poder  estabelecer  princípios  scientifi- 
cos.  —  «Dos  Césares,  Imperadores,  Reys, 
Princepes,  e  Dymnastos  do  Mundo,  houve 
também  huma  copioza  serie  de  Médicos 
Dogmáticos,  e  racionais.  O  Imperador 
Augusto  César  foi  medico  famozo,  e  dos 
seos  commentarios  tirou  Valeriano  muy- 
tos,  e  diversos  remédios.  Nos  do  Impera- 
dor Tibério  descobrio  Galeno  certas  pas- 
tilhas, que  elle  como  bom  Medico  tinha 
composto.»  Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal 
medico,  pag.  245,  §  67. 

—  Arrazoado. 

—  Substantivamente  :  O  racional ;  diz- 
se  em  opposição  ao  animal. 


De  venerável  rosto,  accesos  olhos 
Eu  descubro  Platão,  que  o  Nume  eterno 
Neste  immenso  espectáculo  conhece. 
Na  Planta,  e  Bruto,  e  Racional  o  adora. 
A  novo  amor  dá  luz,  e  alegre  espera, 
Que  a  seu  astro  natal  sua  alma  tome. 

J.  A.  DE  M.^CEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  CaUt.  2. 


2.)  RACIONAL,  s.  m.  Termo  de  histo- 
ria romana.  Espécie  de  intendente  do  pa- 
lácio, na  corte  dos  imperadores. 

- — Official  do  fisco. 

—  Termo  de  historia  hebraica.  Ornato 
que  o  grande  sacerdote  trazia  no  peito,  e 
que  consistia  em  um  pedaço  de  estofo  pre- 
cioso ornado  de  doze  pedras  finas,  em 
cada  uma  das  quaes  se  lia  o  nome  de 
cada  uma  das  tribus  de  Israel. 


66 


Ti  ADI 


RADI 


líADI 


RACIONALIDADE,    «. /.  (Do  racional, 

com  o  Hufrixo  <iidade»j.  Termo  da  pliilo- 
sophiii,  Qiiiilidiuli!  (lo  í|ii«  (j  racional. — 
A  jtrimeini  lei  dn  'trlt;  «  ii  racionalidade. 

—  TorDio  (lo  matlif^matica.  (Qualidade 
das  quantidades  cliauiadas  raciomics. 

—  Conformidade  com  a  razilo  c  equi- 
dade. 

^-  <  >-!  dictaiiiiM  da  boa  raziUo  natural. 

RACIONALISMO,  *■.  m.  TtMino  do  plii- 
lo.sopbia.  Toda  a  doutrina  quo  adniitto  o 
jioflor,  c  indopondcncia  da  razào  liuma- 
na.  l)iz-HO  cm  oppo»i<;ão  ao  senstuilisnw 
c  ao  vii/ntirim»'». 

— •  Systcma  que  pretendo  fundar  as 
crcn(;a9  rolijíiosa»  nos  princípios  forneci- 
dos pela  razilo :  é  oppo.sto  ao  supernatti- 
ralismo,  ou  systenia  da  revelaeào  sobre- 
natural. Os  argunicíntos  dos  supernatura- 
listas  contra  o  racionalismo  são  tirados 
da  impossibilidailr  do,  lazer  saliir  do  racio- 
nalismo uma  roli^iàc  pratica,  o  da  natu- 
reza vaíja  o  hypotliotica  das  crenças  fun- 
dadas n'e-<ta  doutrina. 

-[  RACIONALISTA,  nJj.  2  gen.  Que  per- 
tence ;io  racionalifimo.  —  A  yhUosophia 
racionalista. 

— •  (^ue  professa  o  racionalismo. 

—  Substantivamente:  Um  racionalista. 
RACIONAVEL,  ndj.  2   tjen.  Arrazoado, 

conforme  ;l  razão.  —  òowifHrt   racionavel. 
RACIONAVELMENTE,    adv.   (De  racio- 
navel,   com  o  surtixo    «mente»).  De  um 
modo  racionavel,  conforme  á  razão, 

—  Com  equidade. 

RACIONEIRO,  ou  RAÇOEIRO,  A,  adj. 
Que  tem  direito  a  alj^uma  raeào,  que  lhe 
devo  ser  dada  por  alf^uma  colle.íiada  ou 
casa.  Vid.  Natural  de  mosteiro. 

RACK,  ou  ARRACK,  (ui  RAK,  s.  »i.  Li- 
cor das  Índias,  misturado  com  arroz  fer- 
mentado, assucir  e  noz  <le  côeo.  Uiz-se 
tambom  aj^uardeute  de  cana  do  assucar, 
chamada  catchas  no  Brazil,  e  tajin  nas 
colónias  francezas  da  America.  Vid.  Ara- 
ca,  e  Orraca. 

RAÇOM,  s.  m.  Termo  antiquado.  Vid. 
Ração. 

RACONTO,  s.  m.  Narração,  relação, 
recontamonto. 

RADAR,  V.  a.  O  mesmo  que  Redrar,  ou 
Redar,  que  é  dar  segunda  cava  á  vinha. 

—  Outr'ora  radar  era  defender,  Vid. 
Redrar. 

RADIAÇÃO,  s,  /.   Vid.  Irradiação. 

RADIADAS,  .«.  f.phtr.  Termo  de  botâ- 
nica. Flautas  que  dão  flores  compostas 
i'adiadas,  como  a  bonina,  o  girasol,  etc. 
Constituem  a  decima  quarta  classe  do  me- 
thodo  de  Touruefort. 

RADIADO,  part.  pass.  de  Radiar.  Raia- 
do. 

—  Termo  de  botânica.  Ornado  do  um 
circulo  radioso. 

—  CoroUa,  fores  radiadas;  coroUa,  flo- 
res que  tem  riscos  em  forma  de  raios,  que 
partem  do   centro  para  a  circiimferencia. 

1.)   RADIAL,   adJ.   2   gen.    Termo    de 


anatomia,  Quo  diz  respeito  ao  radio.  — 
Aítmculo  radial.  —  Artirin  radial. 

—  íS'.  Hl.  Nomo  de  certos  músculos  que 
occupam  a  n^gi.lo  radial. —  O  radial  an- 
tiirior,  i>  radial  curto  externo,  o  radial 
longo   c.rfiTno. 

2.)  RADIAL,  ndj,  2  gen.  Termo  do 
j)liysica.  Que  radia,  que  tem  relação  com 
o  raio. 

—  T(!rmo  de  pcromotria.  Curvas  ra- 
diaes ;  curvas,  cujas  ordenadas  jiartem 
de  \un  só  ponto,  como  a  espiral,  pela 
transformação  das  coordenadas  roctangu- 
laros  ou  obli((iias  em  coordenadas  polares. 

—  Termo  do  mecânica.  M"<-hin'.ts  ra- 
diaes  ;  maeliinas  que,  n'um  (rstabelccimen- 
to  de  forjas,  servem  para  fazer  radiar,  e 
ir  a  carpa  em  todos  os  sentidos,  a  uma 
distancia  maior  ou  menor  do  eixo  cen- 
tral, 

—  Termo  de  zoologia.  Celhila  radial ; 
na  aza  dos  insectos,  synonymo  de  areola 
radiante. 

—  Curôn  radial;  coroa  de  raios  que 
se  encontra  nas  medalhas,  na  cabeça  dos 
prineipes,  quo  f(U-am  classificados  como 
deuses. 

RADIANTE,  pmi.  act.  de  Radiar.  (Do 
latim  radians,  de  radiare).  Termo  didá- 
ctico. Que  se  estende  radiando.  —  Calor 
radiante. 

(")lli;i  ost'imtni  debaixo,  fiiie  esmaltado 
Dl'  coriin-i  lisos  linda  e  riuliaiifef. 
(ine  também  nello  tem  curso  ordenado, 
E  nos  seus  axc3  correm  scintillantcs. 
CAM.,  I.CS.,  cant.  10,  est.  87. 

—  Ponto  radiante ;  ponto  d'onde  cer- 
tas cousas  emanam  em  forma  de  raios,  — 
Os  pontos  radiantes  das  estrellas  filantes ; 
os  pontos  do  céo  donde  emanam  as  es- 
trcllas  tíl.antcs. 

—  Termo  de  zoologia.  Areola  radiante ; 
areola  do  forma  arredondada  que  n'uma 
aza  de  insecto  está  no  centro,  d'onde  par- 
tem, divergindo,  muitas  outras  areolas 
alongadas. 

—  Termo  de  botânica.  Epitiíeto  dado 
á  coroa  das  synanthereas,  quando  as  flo- 
res que  a  constituem  excedem  em  com- 
primento as  do  disco, 

—  SvN,:   Radiante,  ra<iioso. 

A  effusão  abundante  da  luz  produz  >mi 
corpo  7-adioso ;  a  eniissão  de  muitos  raios 
de  luz  um  corpo  radiante. 

l)istinguem-se  os  raias  de  um  corpo  ra- 
diante ;  no  corpo  radioso  estão  todos  con- 
fundidos, 

O  sol  é  radioso  ao  meio  dia ;  ao  pòr-se 
não  é  mais  que  radiante. 

E  radioso  n'um  eco  puro;  através  de 
nuvens  transparentes,  só  é  radiante  á  nos- 
sa vista. 

Fallando  com  propriedade,  os  raios 
emanam  do  corpo  radioso,  o  rodeiam  um 
corpo  radiante. 

A  palavra   radioso  signala  a  proprie- 


dade, a  natureza  da  couiia  :  e  a  palavra 
radiante  uma  circumiitancia  da  cuujta. 

l,'m  corjto  luminoso  é  fxjr  si  mesmo  niaiu 
ou  nniios  radioso;  quando  esp.nrgc  sua 
luz  i'-  mais  ou  menos  radiante. 

RADIAR,  f.  n.  Do  latim  radiarei. 
líaiar.   l.-im.ar  lui''". 

I  RADIATIFLOR,  adj.  2  gen.  Termo 
de  bi'taiiiia.  <,'oi-  ti-iii  flores  radiadan. 

f  RADIATIFORME,  adj.  Termo  de  Ui- 
tanica.  lUz-se  da  calathidc  cujau  tlorca 
vão  augnu-titau<lo  de  comprimento  do  cen- 
tro para  a  circumfercncia,  onde  cUa.s  es- 
tão mais  csti-ndidas. 

RADICAÇÃO,  *.  /.  Acto  de  radicar. 

—  Termo  de  botiinica.  Dispoaiçio  das 
raizes  d'iiiiia  planta. 

RADICADO,  part.  pasf.  de  Radicar. 
Arreigado,  enraizado. 

—  Emprega-se  também  no  sentido  fi- 
gurado, 

1.1  RADICAL,  adj.  2  gen.  (Do  latim  ra- 
dicalis,  de  radiri.  Termo  de  botânica. 
Que  pertence  á  raiz,  que  parte  da  raiz. 
Pedúnculos  radicaes. 

—  FoUuis  radicaes ;  aquellas  qnc  nai»- 
cem  tão  porto  <la  raiz,  quo  parccein  eahir 
dVllas,  ernão  da  baste. 

—  Flores  radicaes  ;  aquellas  que  na«- 
cem  tão  perto  da  raiz,  que  parecem  sabir 
delias. 

—  Pêlhis  radicaes ;  aqnellea  que  guar- 
necem muitas  vezes  as  radiculas, 

—  Figuradamente:  Quo  diz  respeito  á 
raiz,  á  essência,  ao  principio  de  uma 
cousa. 

—  Cura  radical ;  aqucUa  que  destroe 
o  mal  na  sua  raiz, 

—  Vicio  radical ;  vicio  que  produz  ou- 
tros, 

—  Humor  radical ;  liquido  imaginário 
que  se  considerou  como  o  principio  da 
vida  no  corpo  humano, 

—  Em  jurisprudência  :  Nullidade  ra- 
dical; nidlidade  que  vicia  um  acto  de 
modo  que  não  possa  jamais  ser  valido. 

—  Termo  de  grammatica.  Que  perten- 
ce .'\  raiz  d'uma  palavra, 

—  Letras  radicaes ;  letras  da  palavra 
primitiva,  e  que  passam  para  os  deriva- 
dos. 

—  Termo  de  álgebra.  Signal  radical; 
signal  coUocado  diante  das  quantidades 
de  que  se  quer  extrahir  as  raizes. 

—  Quantidade  radical ;  quantidade  pre- 
cedida do  signal  radical. 

—  Radical  intelligencia  :  pela  raiz  per- 
feita. 

—  Termo  de  chimica.  Vintufre  radical ; 
diz-se  para  designar  o  acido  acético. 

—  -S.  III. —  O  radical  duma  iKilftvra; 
diz-se  também  a  parte  invariável  duma 
palavra,  em  opposição  ás  tenninaçõe«  ou 
desinências  que  esta  palavra  pôde  rece- 
ber. 

—  Termo  de  chimica,  Xome  dado  aos 
corpos  simples,  que  nos  ácidos  ou  ba*e8 
são  combinados  com  outro  corpo  que  se 


KADI 


KADI 


RAGE 


07 


considera  como  principio  acidilicante  ou 
basilicaute.  Os  radicaes  sào  simjjhs  ou 
comijostus;  os  metalloides  sào  os  radicaes 
simples  dos  ácidos  oxygenados ;  os  me- 
tíies  sào  os  radicaes  dos  oxydos  metalli- 
cos.  —  O  sódio  é  o  radical  da  soda. 

—  Em  cliimica  orgânica  uào  se  admit- 
tem  senào  radicaes  compostos ;  mas  tem 
uma  existência  real,  como  o  cyanogeneo  e 
o  oxydo  de  carbone ;  outros  sào  pura- 
mente hypotiíeticos,  taes  como  o  amido, 
etc. 

—  RadiCcQ  fundamental ;  diz-se  d'um 
hvdrogeneo  carbonado  que  forma  o  fun- 
do das  combinações  orgânicas. 

—  Radical  derivado ;  aquelle  que  se 
forma  pela  moditicaeào  do  radical  funda- 
mental, admittindo  para  substituir  o  liy- 
drogeneo,  o  chloro,  o  bromo,  o  oxyge- 
neo,  metaes  ou  mesmo  grupos  fazendo  a 
funcçào  de  corpos  simples. 

—  Em  Inglaterra  cliama-se  assim  ao 
que  pede  a  reforma  radical  do  systema 
do  governo  e  do  systema  eleitoral,  e  a 
extirpação  até  á  raiz  de  todos  os  abusos. 

—  Os  radicaes  ;  os  sectários  do  radi- 
calismo. 

RADICALISMO,  s.  m.  Systema  dos  ra- 
dicaes, dos  partidários  da  reforma  com- 
pleta da  sociedade  politica.  —  O  radica- 
lismo ganhni  partidários.  —  O  radicalis- 
mo ffe  suas  opiniões. 

RADICALMENTE,  adv.  iDe  radical,  com 
o  suíiixo  «mente»).  Na  sua  raiz,  na  sua 
origem. 

—  Totalmente,  até  á  raiz.  —  «Xo  sen- 
tido do  tacto  he  prodigiosa  aquella  diffe- 
rença  de  homens  chamados  Ophiogenos, 
que  vivem  no  ííellesponto,  os  quais,  por 
liçaõ  de  Plinio,  só  com  o  contacto  cu- 
raõ  radicalmente  todas  as  mordeduras 
das  serpentes,  por  mais  venenosas  que 
sejaõ.»  Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal  me- 
dico, pag.  19,  §  <jS. 

—  Saber  radicalmente  ;  saber  a  funda- 
mento, e  não  superlicialmente. 

RADICANTE,  adj.  2  yen.  Vid.  Raigo- 
toso. 

RADICAR,  V.  a.  (Do  latim  i-adicari). 
Enraizar,  arraigar. 

—  Figuradamente  :  Fundar,  estabele- 
cer. 

—  Radicar-se,  r.  reji.  Arraigar-se,  en- 
raizar-se. 

7  RADICELLA,  s.  f.  Termo  de  botâni- 
ca. Pequena  raiz,  ultima  dÍA'lsào  das  rai- 
zos. 

f  RADICELLAR,  adj.  2  gtn.  Termo  de 
botânica.  Que  diz  respeito  ;í  radicella. 

—  Que  tem  a  forma  d'uma  pequena 
raiz. 

f  RADICIFLOR,  adj.  2  (jen.  (Do  latim 
radix,  e  jlosi.  Termo  do  botânica.  Diz- 
se  das  flores  que  nascem  de  luna  haste 
subterrânea. 

f  RADICIFORME,  adj.  iDo  latim  ra- 
dix, e  forma'.  Termo  de  botânica.  Que 
se  assemelha  a  uma  raiz. 


7  RADICIVORO,  A,  adj.  (Do  latim  ra- 
di.r,  e  lorarc  .  Termo  de  zoologia.  Que 
se  nutre  de  raízes. 

RADICOSO,  A,  adj.  Termo  de  botâni- 
ca. Que  participa  da  natureza  da  raiz. 
que  tem  muitas  raizes. 

—  Vid.  Raigotoso. 

RADICULA,  s.  /.  iDo  latim  radicula). 
Pequena  raiz. 

■ — Termo  de  botânica.  Parte  do  em- 
bryào,  a  primeira  que  atravessa  o  invólu- 
cro da  semente  para  se  metter  na  terra. 

—  Planta  que  é  conhecida  também  pe- 
lo nome  de  lanaria. 

RADIFICAR,  1-.  n.  Enraizar-se,  arrai- 
gar-se. 

—  Radiíicar-se,  v.  rejl.  Euraizar-se.  lan- 
çar raizes. 

RADIO,  s.  in.  Termo  de  náutica.  Ins- 
trimiento  geométrico  a  que  chamam  bales- 
tilha ;  raio  da  luz  do  sol,  ou  das  estrellas, 
raio,  semidiametro  do  circulo ;  raio  de 
qualquer  roda. 

—  Termo  de  anatomia.  Osso  longo  que 
occupa  o  lado  externo  do  antebraço. 

—  Termo  de  zoologia.  Primeira  ner- 
vura do  bordo  externo  da  aza  dos  inse- 
ctos, que  partindo  da  base,  se  dirige  qua- 
si  em  Unha  recta  no  sentido  do  compri- 
mento. 

f  RADIOCARPO,  adj.  Termo  de  ana- 
tomia. Que  diz  respeito  ao  radio  e  ao 
carpo. 

t  RADIO-CUBITAL,  adj.  2  gen.  Ter- 
mo de  anatomia.  Que  diz  respeito  ao  ra- 
dio e  ao  cubito. 

7  RADIOLITHO,  ^.  m.  Silicato  de  alu- 
mina  e  de  cal,  de  estructura  fibrosa,  e 
em  massas  divergentes. 

RADIGMETRO,  «.  m.  Instrumento  que 
servia  para  tomar  as  alturas  no  mar.  Vid. 
Balestilha. 

7  RADIOPALMAR,  aãj.  2  gen.  Termo 
de  anatomia.  C^iue  diz  respeito  ao  radio  e 
á  palma  da  mào.  — -  Artéria  radiopalmar. 

RADIOSAMENTE,  adv.  «De  radioso,  e 
o  suffixo  «mente»).  De  um  modo  radio- 
so, brilhantemente,  d 'um  modo  brilhante. 

RADIOSO,  A,  adj.  (Do  latim  radiosus  . 
Que  tem  raios  de  luz.  —  Corpo  radioso. 
—  Sol  radioso. 

—  Foido  radioso;  aquelle  donde  ema- 
nam os  raios  luminosos. 

—  Figuradamente  :  Animado  pelo  con- 
tentam ento  e  aleoria. 


Seguindo  Phebo  a  via  arrabafada 
Do  primeiro  moucdor,  que  constràgidos 
Com  curso  velocíssimo  reuoluc 
(E  com  violenta  fúria  i  os  outros  orbes. 
Dando  a  forçada  volta,  ja  toraaua 
Moòtrarsc  no  Oriente  com  radioso 
Eoáto,  alegrando  a  terra,  que  a  sombria 
Noite  confusa,  tinha  escura  e  triste. 

COUTE  REAL,  SACFILIGIO   DE   SEPfLVEDA,  Cant.   4. 


—  Syx,  :  Radioso  radianie ;  vid.   este 
ultimo  termo, 


RAER,  ou  RER,  v.  a.  (Do  latim  rade- 
re).  Termo  antiquado.  Easpar,  tirar. 

—  Xas  marinhas,  puxar  com  o  rodo  o 
sal  para  o  ajuntar,  e  alimpar  o  leito. 

RÁEZ.   vid.  Arraes. 

RAFA,  s.  /.  Termo  popular.  Grande 
fome,  galga. 

RAFADO,  A,  adj.  Cheio  de  fome,  fe- 
minto. 

—  Pobre. 

—  Loc.  POP. :.  Casquilho  rafado ;  o  po- 
bre enfeitado  de  cousas  de  pouco  mere- 
cimento. 

7  RAFECE,  adj.  Termo  antiquado.  Bai- 
xo, vil,  desprezivel. 

RAFEIRO,  s.  m.  Cão  grande  de  guar- 
dar gado  e  quinta. 

—  Adjectivamente  :  Uma  febre  rafei- 
ra ;  arrebatada. 


Desemb.  Vede  este  pulso,  senhora, 

tenho  febre? 
Filha.  E  mui  rafeira. 

Moço.       Pois  é  febre  pemleira, 

morde  em  quem  ceou,  agora 

cm  quem  não. 

AiTOSIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  233. 


—  Figuradamente :    Pessoa   que  vigia 
bem,  á  maneira  de  cào  rafeiro. 


Criado.  Folgo ;  a  paz  que  nào  peleja 

é  fé  morta,  uào  melhora. 
Pae.        Vcgia,  sé  bom  rafeiro. 

AXTOXIO  PRESTES,  AlIOS,  pSg.  271. 

RAFIADO,  part.  pass.  de  Rafiar. 

RAFIANAZ,  s.  m.  Augmentativo  de  Ra- 
iião. 

RAFIÃO,  s.  m.  Vid.  Rufião.  —  GiateZa 
com  este  rafião,  que  tem  enganado  todo  o 
mundo. 

Olhade  a  gente  honrada 
Que  me  trazia  o  ladrào  ! 
Hum  ([ue  foi  amancebado, 
Alcoviteiro  provado, 
E  hum  frade  rafiào. 
Sabeis  quào  mal  me  parecem 
Pes.soas  de  mao  viver? 
Mais  ca  moscas  m"aborreccm, 
Xão  nas  posso  ouvir  nem  ver. 

GIL  VICEXTE,  FABÇAS. 


RAFIAR,  c.  a.  Termo  pouco  usado.  Te- 
cer, guarnecer,  ornar  com  fio,  fazer  o 
tissii. 

—  Afagar,  amimar,  acariciar,  alcovi- 
tar. 

RAPINADO,  part.  pass.  de  Rafinar.  Vid. 
Refinado. 

RAFINAR,    V.  a.  Vid.  Refinar. 

RAGADIA,  ou  RHAGADIA,  s.  f.  (Do 
grego  rhagas).  Termo  de  medicina.  Gre- 
ta, rachadura,  ou  pequena  ulcera  longa, 
e  estreita  entre  os  interstícios  das  do- 
bras, ou  pregas  do  anus. 

—  Racha  nos  lábios  e  outras  partes. 
RAGEIRA,   s.  f.  Termo   de   marinha. 


68 


RAIA 


RAIN 


UAIK 


Cabo,  ou  amarra,  com  qui;  ho  atraca  o 
navio  em  terra,  e  que  Bcrvia  tal  voz  jja- 
ra  f|ue  alando-.ic  por  cllo,  cln;f;a)<si'iii  u 
navio  á  borda,  ou  costa,  ou  para  outro 
navio,  a  qucuii  hc  dá  um  do.i  c^bos,  ou 
extremoH  da  rabeira.  Vid.  Rajeira. 

RAGURA,  ».  /.  Tirino  antiquado.  Uan- 
cura. 

RAGUSANO,  A,  adj.  Pertencente  á  ci- 
dade (1<!  ItufíUíia. 

—  Substautivamonto  :  Um  ragusano. 
1.)  RAIA,  ou  RAYA,  s,/.  (Uo  fraucoz 

raie).  Liiilia. 

—  Figuradamente  :  < )  limite,  extremo, 
ou  termo,  ou  a  ultima  linha  d'uma  ro- 
giSo. — Á  raia  dn  Hespanha.  —  «E  o  ines- 
mo  fez  a  mousicur  de  Trcginy,  cauallei' 
ro  da  ordem  de  Tosam  ((ue  veo  por  mor- 
domo mor  da  Rainha.  Concluído  o  casa- 
mento a  Rainha  j)artio  do  Saragoya,  o 
per  suas  jornadas,  com  os  senhores  que 
a  acompanhauao  chegou  a  raia  do  Portu- 
gal nu  mes  de  Xouembro  desto  anno  de 
Mil,  e  quinhentos  e  dezoito.»  Damião  de 
(ioos,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  4, 
cap.  i53.  ■ —  «Os  senhores  de  Portugal  que 
a  foram  receber  a  raia,  forão  o  Dncjuc 
do  Bragan(,-a,  dom  laimes,  o  Arcebispo 
de  Lisboa,  dom  Jlartinho  da  costa,  o  His- 
po  do  porto,  dom  Rodrigo  de  mello  Con- 
de de  Tentúgal,  (|ue  depois  foi  Marques 
de  ferreira,  dom  Jlartiuho  de  Castclbrau- 
co,  Conde  de  viUa  noua.»  Ibidem,  part.  4, 
cap.  34. 

Tens  perguntas 

quo  passam  muito  da  raia ; 

uào  sejas  mou  confessor. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  437. 

EUa  as  paixões  indc^mitas  enfrêa, 

Entre  o  bem,  c  entre  o  mal  limites  ntarca, 

Dú  honesto,  c  justo  as  raias  nssiguala. 

J.   A.   DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Cant.   1. 

—  Pôr  a  raia  por  cima.  Vid.  Risco. 

—  No  truque  do  taco  é  um  dos  qua- 
tro pontos  com  que  se  ganha  uma  par- 
tida. 

—  Em  alguns  jogos,  traçam-se  umas 
raias  com  tinta  ou  giz. 

—  Figuradamente  :  As  raias  da  Di- 
vina   Omnipotência ;   os  limites. 

—  Passemos  juntos  d' esta  vida  a  taíSí; 
morramos  ao  mesmo  tempo. 

—  Figuradamente :  Pôr  a  raia  mais 
alta;  avantajar-se,  sobropujar-se,  exce- 
der. 

—  Vid.  Raya. 

2.)  RAIA,  .V.  /,  (Do  latim  raia).  Pei- 
xe marinlio,  cliato  o  cartilaginoso,  com 
rabo  comprido.  Vid.  Arraia. 

RAIADO,  part.  pass.  de  Raiar.  Lis- 
trado. 

—  Radiado,  que  tom  raias. 

1.)  RAIAR,  ou  RAYAR,  v.  a.  Listrar, 
botar  uma  raia,  ou  listra  de  oivtra  còr. 

—  Figuradamente  :  I^anij-jir  raios  do 
luz.  —  Raiar  uma  scieiuia. 


Quul  o  turvo  OroniV|ue,  ou  qual  o  Nilo 
A|{Uu,  c  nome  confunde  cm  mar  immeuiiO  ; 
Tal  <li)  rfcio  du  vasta  Naturiv.a 
l'riifunclo  seio,  pouco  ii  pouco  trouxe 
O  hutnuno  uiitcndimciit'»  h  lux  brilhante, 
(yom  i|Uú  logo  ratou  Filuitofiu. 

J.   A.   DK  MACEDO,  VIAOEM  KITATICA,  Caot.   1. 

NAo  era  longe  dcDc  ora  sombra  iuvolto 
Da  prisilo  nieluncclica  Boécio : 
Vai  banhando  o-)  (írilhões  de  amargo  pranto, 
'IVi  que  raUiiulo  vi«  Filosofia, 
Quo  AS  sombras  rompe,  as  lagriman  enxuga. 
(.'oiiauhK^ilo  extrema  lie  Sapiência 
Xo  mal  da  Natureza,  e  da  Ventura. 
iniDEM,  cant.  2. 


2.)  RAIAR,  V.  n.  Lanhar  raios  de  luz. 

—  Luzir,  alumiar,  iílustrar  o  espi- 
rito. 

—  Lançar  a  raia. 

—  Figuradamente  :  Avantajar-se  a  al- 
guém . 

RAIGOTA,  8.  f.  Raiz  mui  delgada.  Vid. 
Espiga  das  unhas. 

RAIGOTOSO,  adj.  Termo  de  botânica. 
Que  deita  raizes. 

—  FollKts  raigotosas ;  diz-se  quando  na 
pontiv  ou  em  qualquer  parte  do  seu  disco 
lanyam  raigotas. 

RAINETA,  s.  /.  (Do  francez  rainette). 
Espécie  de  mayã  mui  estimada,  e  deno- 
minada assim  das  pequenas  pintas  ver- 
melhas o  pardas  de  que  é  siilpicada,  e 
que  imitam  as  da  rii. 

RAINETE,  s.  m.  A  arvore  que  produz 
as  rainetas. 

RAINHA,  s.  /.  A  mulher  do  rei.  —«O 
quo  eu  daqui  julgo,  respondeu  Palmei- 
rim, 6  que  Vossa  Alteza  acerta  no  que 
faz,  que  a  donzella  é  pêra  mui  grandes 
obras:  e  antes  que  se  partisse,  como  fos- 
se cousa,  que  a  rainha  já  praticara  com 
os  grandes,  a  mandaram  chamar  e  alli 
ambos  juntamente  lhe  deram  a  forma  e 
maneira,  que  havia  de  ter  em  sua  em- 
baixada.» Francisco  de  Moraes,  Palmei- 
rim d'Inglaterra,  cap.  101.  —  «Entiio  c;i- 
valgando  no  seu  cavallo,  que  lhe  deu  o 
escudeiro,  o  ella  no  palafrem,  em  que 
alli  chegara,  se  partiram,  indo  a  donzel- 
la contando  como,  vindo  Dinamarca  com 
recivdo  da  rainha  porá  a  imperatriz  Va- 
silia,  que  a  tormenta  do  mar  a  lanyára 
naquella  parte,  oude  sabia  com  dons  es- 
cudeiros pêra  ir  vèr  as  tilhas  do  mar(iuez 
Beltamor,  que  eram  suas  primas.»  Ibi- 
dem, cap.  lOG.  —  «E  deixando  de  fal- 
lar  nelles,  por  acudir  ás  cousas  mais  nc- 
cess.arias  a  esta  chronica ;  diz  a  historia 
que  neste  mesmo  tempo,  como  já  estives- 
se determinada  a  partida  da  Prineoza  de 
Trácia  pêra  a  corto  do  imperador  Pal- 
meirim, quiz  a  rainha  Carmolia  sua  avó 
mandal-a  íiltaniente  .acompaniiada,  assim 
de  donas  pêra  sua  authoridade,  como  de 
donzellas  pêra  seu  8ervi(;o.  o  alguns  se- 
nhores do  reino  pêra  a  honrarem  em  sua 
viagem."  Ibidem,  cap.  111.  —  «A  rainha 
estava  contente  de  ver  aquelle  aconteci- 


mento e  aventura  cm  sua  ca«a,  c  as  da- 
nuis  também,  por  Hor  couaa  nova  na<juel- 
La  corto  ;  em  ettpocial  atjuellaH,  que  po- 
diam passar  o  tem|>o  á  cu^ta  dalguuuM 
cujo»  servidores  foram  desbaratados ;  e 
havium  que  aa  donzellas  viidiani  bem 
acompaidjadati,  e  ser  om^a  dura  podel-as 
gauliar  ninguém,  em  quanto  as  o  seu 
guartlador  quizeji*e  defender.  A  uuia  8<i 
eoujia  nilo  sabiam  dar  razito.»  Ibidem, 
cap,  l'S.'>.  —  tK  virandu  aj  costad  se  aaiu 
tào  mal  tratado,  como  i-utrára.  El-rei  ti- 
eou  dando  couta  á  rainha  de  quem  era, 
levantando  nas  estrellaa  a  valentia  do 
cavalleiro  da*  Donztdlas  polo  vencer  tSu 
levemente ;  que  este  Trofolaute,  antre  os 
mui  as.signados  cavalleiros  daqueliu  tem- 
JX)  era  contado.  E  nSo  queria  el-rei  que 
nenhum  dos  tilbos  de  D.  iJuardos  viesse 
a  sua  corte  pêra  se  encobrir  nella.»  Ibi- 
dem, cap.  \'J*).  —  «Ora  senlior,  disse  a 
rainha,  c:ida  vez  que  elle  vier,  ee  lhe 
deve  levar  tudo  em  conta,  que  eu  nlo 
creio,  que  quem  tanto  trabalha  de  des- 
culpar-se,  se  encobriu  de  vossa  A.,  senXo 
por  lhe  ser  forçado.  Poço-vos,  disse  el- 
rei  contra  o  cavalleiro,  me  digais  quem 
sois.  A  mim  chamam  Trofolante  o  me- 
droso, respondeu  elle.»  Ibidem,  cap.  126. 
—  «Senhor,  disse  Trofolante,  nem  o  vi, 
nem  o  conheço,  porém  tenho  pêra  mim 
que  ó  algum  dos  filhos  de  D.  Duardoa, 
porque  tanta  força  e  esforço  nio  cuido 
que  haja  em  outrem ;  e  pois  já  cumpri  o 
que  me  mandou,  peço  por  mercê  a  vossa 
A.,  o  á  rainha,  me  dêem  licença  ]>era 
me  ir,  que  tenho  muito  que  fazer  noutra 
parte.»  Ibidem.  —  «Pois  convêm,  disse 
elle,  que  de  minha  parte  vos  presenteia 
ante  as  damas  da  rainha,  e  lhe  digaes  o 
que  comigo  passaste.s;  e  d'abi  vos  nào 
vais  sem  sua  licença  ;  nfio  trazaes  mais 
armas  se  vol-a  ellas  pcra  isso  nSo  derem. 
Isto  por  seguirdes  a  ordenança  des8'ou- 
tros  vossos  amigos,  a  que  também  man- 
dei o  mesmo.»  Ibidem,  cap.  12>>.  —  «Pa- 
rece-me,  disse  a  rainha,  que  se  o  caval- 
leiro das  Donzellas  andar  muito  por  esta 
terra,  sempre  veremos  cousas  grandes ; 
e  já  as  damas  se  nrio  podem  escusar  de 
lhe  dever  muito.»  Ibidem,  cap.  120.  — 
« Kl-rei  teve  alguns  cumprimentos  com 
elle.<,  no  tim  dos  quaes  se  despediram ;  e 
o  cavalleiro  das  Donzellas  quizer»  fazer 
o  mesmo,  mas  a  rainha  lhe  fez  força  por 
alguns  dias,  que  em  extremo  folgava  de 
o  ver  em  sua  casa,  assim  por  suas  obras 
e  amizade  que  tinha  com  Beroldo  e  Onis- 
taldo.  seus  tilhos  como  por  ser  tilbo  de 
Flerida,  com  quem  se  criílra.»  Ibidem. 
—  A  soberana,  imperante  por  direito 
de  succes8.\o,  como  acontece  nos  reinos 
de  Portugal,  Inglaterra,  llespanha.  Sué- 
cia, Hungria,  etc.  —  As  rainhas  dt  Por- 
tugal D.  Maria  I  e  D.  Maria  II.  — 
•  Primeiramente  declaramos,  que  as  Rai- 
nhas, que  forem  cm  estes  Rognos,  devem 
d  a  ver  cm  todalas   Villas  e  Terras,   que 


RAIN 


RAIN 


RAIO 


G9 


Ikes  forem  dadas  per  bem,  e  virtude  de 
seus  Matrimónios,  a  Jurdlçom  em  esta 
maneira.»  Ord.  Affons.,  liv.  2,  tit.  40. 
—  «Acabado  de  passar  por  esta  magina- 
çào,  fez  seu  acatamento  ai  rei,  e  posto 
de  giolhoã  ante  a  rainha,  disse  em  alta 
voz.»  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
de  Inglaterra,  cap.  123.  —  «Hiaõ  a  pè, 
atte  que  per  sua  ordem  lhe  acabarão  de 
beijar  a  mlío,  fazendo  a  todos  grande  ga- 
salhado,  principalmente  a  dom  loào  de 
Sousa,  que  era  delle  mui  conhecido  do 
tempo  que  andara  nas  guerras  de  (Gra- 
nada, ho  que  feito  abalou  el  Rei  pêra 
onde  el  Rei  seu  genrro,  e  ha  Rainha  sua 
filha  vinhão.i)  Damião  de  Uoes,  Chroni- 
ca  de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  28.  — 
«Dalli  per  suas  jornadas  chegarão  a  Ça- 
ragoça  ao  primeiro  dia  de  luuho  do  mes- 
mo anno  de  M.ccccxcviij,  onde  el  Rei 
dom  Fernando  com  ha  Rainha  dona  Isa- 
bel sua  molher  entrarão  antes  de  comer, 
sem  nenhuma  festa,  por  trazerem  ainda 
dô  pelo  Príncipe  dom  loao  seu  filho. « 
Ibidem,  cap.  39.  —  «Despois  dei  Rei  ter 
casado  fez  mercê  a  Rui  de  Sande  pelos 
seruiços  que  lhe  fezera  neste  casamento, 
de  titulo  de  Dom,  parelle,  e  pêra  todos 
seus  descendentes,  e  o  fez  veador  da  ca- 
sa da  Rainha,  alem  de  muitas  outras 
mercês,  tenças,  dinheiro,  e  ordenados, 
no  que  os  Reis  de  Ca.stella  o  quiseram 
também  imitar,  dando  ao  dito  Rui  de 
Sande  o  habito  de  Sanctiago,  com  huma 
boa  comenda.»  Ibidem,  cap.  46.  —  «O 
qual  Príncipe  dom  loào,  que  foi  Rei  des- 
tes regnos,  segundo  do  nome,  neto  do 
Infante  dom  Pedro  sendo  Príncipe,  e  ca- 
sado com  a  Princesa  donna  Leanor,  ouue 
hum  filho  de  donna  Anna  de  mendonça, 
dama  que  andaua  em  casa  da  Rainha, 
dona  loanna  de  Castella,  e  de  Leam,  es- 
posa dei  Rei  dom  Afonso,  pai  do  dito 
Príncipe  a  qual  desempossada  de  seus 
regnos  pelos  Reis,  dom  Fernando,  e  Rai- 
nha dona  Isabel  viuia  em  Portugal  com 
titulo  de  Excellente  senhora.»  Ibidem, 
part.  3,  cap.  45.  —  «E  porque  ('oulaò 
staua  aleuantado  mandou  logo  embaixa- 
dores a  Rainha,  que  goueruaua  por  seu 
filho  ser  moço,  os  quaes  assentai-ào  com 
ella  paz  a  condição  que  mandasse  fazer 
a  sua  custa  a  Egreja  do  Apostolo  S.  Tho- 
me  que  os  mouros  derribarão  quando 
aconteceo  o  negocio,  em  que  matarão 
António  de  sa,  e  outros  Portugueses, 
como  fica  dito.»  Ibidem,  cap.  2. —  «AI- 
uaro  da  Costa  como  procurador  dei  Rei 
dom  Emanuel,  e  com  titulo  de  embaixa- 
dor recebeo  a  Rainha  em  seu  nome,  per 
causa  do  qual  casamento  se  fezeram  per 
espaço  de  quinze  dias  muitas  festas,  e  jo- 
gos em  Saragoça,  onde  entam  el  Rei  dom 
Carlos  estaua.»  Ibidem,  part.  4,  cap. 
33.  —  «Que  quer  dizer  eu  dom  Afon- 
so Rei  de  Portugal  filho  do  conde  dom 
Anrrique,  e  da  Rainha  donna  Tareja, 
neto  do  grande  Rei  dom  Afonso,  junta- 


mente com  minha  molher  donna  Maphal- 
da,  filha  do  Conde  Amedeu  de  moriana, 
consyderando  nossa  morte,  etc.»  Ibidem, 
cap.  71.— «Poz  duas  escolhidas  em  hum 
par  de  arrecadas,  e  fez  delias  presente  á 
Rainha  Dona  Margarida,  que  as  estimou 
muito  ;  porque  tudo  o  dado  de  graça  le- 
va comsigo  agrado,  e  graça  natural.» 
Arte  de  furtar,  cap.  64.  —  «E  como  as 
Rainhas  saõ  o  espelho  de  todas  as  Se- 
nhoras de  seu  Reyno,  em  estas  vendo  a 
estima,  que  a  Magestade  fazia  das  esme- 
raldas, cresceo  nellas  a  estimação,  e  lo- 
go o  dezejo,  que  o  mercador  estava  es- 
perando para  as  levantar  de  preço ;  e  se 
tivera  hum  milhaõ  delias,  todas  as  gas- 
tara talhando-lhes  o  valor,  que  em  ne- 
nhmn  tempo  viraij.»  Ibidem.  —  «Tanto 
que  a  manhã  foy  clara,  a  Rainha  se  le- 
vantou logo,  e  levando  comsigo  esta  sua 
camare\Ta  mór,  e  a  donzella  Síjmente, 
se  foy  por  dentro  de  hum  passadiço  à 
camera  aonde  seu  filho  estava,  e  dando- 
Ihe  couta  do  que  delle  queria,  mandou  à 
donzella  que  lhe  lesse  a  carta,  e  por  pa- 
lavra dicesse  tudo  o  que  sobre  isto  era 
passado.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pere- 
grinações, cap.  142.^ — -«Posso  crer  com 
licença  de  toda  a  Antiguedade,  que  Hip- 
pai-chia  amava  Crates  da  mesma  forma 
que  outras  amarão  hum  mouro,  como  a 
molher  de  Jucundo,  hum  Pigmeo,  como 
a  Rainha  Lombarda,  hum  Negro,  como 
a  Princesa  Fantomina,  hum  Cochevro, 
como  a  Princesa  Lampiria,  e  hum  Dona- 
to, que  sendo  ainda  peor  que  tudo  isto, 
muitas  tem  amado.»  Cavalleiro  d'01ivei- 
ra.  Cartas,  liv.  3,  n.°  10.  —  «Para  a 
boca,  narizes,  e  ouvidos  he  excellente 
por  experiências  de  HoUerio,  i.  a  agoa 
distillada  de  nozes  mosehadas  lançando 
humas  gottas  em  cada  huma  daquellas 
partes.  O  mesmo  uzo  cora  conhecida  uti- 
liilade  tem  também  a  agoa  de  Rainha  de 
Ungria.»  Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal 
medico,  pag.  485,  §  156.  —  «Que  a  rai- 
nha, chamando  o  embaixador  catholico, 
lhe  gi-itara  :  .<Diga  ao  bárbaro  de  meu  ir- 
mão que  ainda  são  vivos  os  netos  daquel- 
les  que  venceram  vinte  e  cinco  batalhas 
aos  hespanhoes :  diga-lhe  que  não  sou 
castelhana  :  que  sou  rainha  de  Portugal, 
e  que  me  hei  de  ir  ver  com  elle  no  cam- 
po.» Bispo  do  Grão  Pará,  Memorias,  pu- 
blicadas por  Camillo  Castello  Branco, 
pag.  16.  —  «O  Diário  do  Governo,  que 
tanta  cousa  nos  publica  que  melhor  fora 
não  dizer,  nunca  se  dignou  communicar 
á  Nação  este  honroso  acto,  feito,  não  me- 
nos em  seu  nome  e  para  sua  gl('iria,  do 
que  para  glória  da  Rainha.  Julguei  de 
serviço  público  deixá-lo  trasladado  aqui. » 
.Garrett,   Camões,  nota  D  ao  canto  7. 

—  Figuradamente:  A  rainha  do  mar; 
Lisboa,  cidade  do  oceano. 


Vendo  de  muitas  gentes  as  cidades, 
As  varias  artes,  os  costumes  vários, 


Até  que  levantou,  na  foz  do  Tejo, 

A  rainha  do  mar,  Lisboa  invicta. 

DINIZ  DA  cBUz,  HYssoPE,  cant.  3. 


—  Rainha  do  prado ;  herva,  conhecida  . 
vulgarmente  pelo  nome  de  barba  de  bode. 

—  Figuradamente  :  A  principal  na  gra- 
duação.—  A  agida  é  a  rainha  das  aves. 

—  A  segimda  peça  do  xadrez. 

—  Adagio: 

—  Não  ha  rainha  sem  sua  visinha. 
RAINUNCULACEAS,  s.  f.  plur.  Termo  de 

botânica.  Família  de  plantas  que  consti- 
tuo uma  ordem  da  classe  das  dicotyledo- 
neas,  polvpetalas  de  estamos  hvpogvneos. 

RAINUNCULO,  s.  m.  Vid.  Ranúnculo. 

RAIO,  ou  RAYO,  s.  m.  (Do  latim  ra- 
dius).  Linha  de  luz  que  lançam  de  si  os 
astros,  as  candeias,  etc. 

—  Raio  visual;  o  que  sabe  do  centro  do 
objecto  e  entra  pelo  da  pupilla  dos  olhos, 
por  meio  do  qual  vemos  os  objectos ;  e 
d'aqui  raio  de  incidência,  de  refvacção  e 
de  reflexão,  e  outros  vocábulos  de  óptica, 
dioptrica,  e  catoptrica. 

—  Figuradamente:  Luz. 

O  filho  do  Latona  esclarecido, 

Que  com  seu  raio  alegra  a  humana  gente, 

Matar  pôde  a  Pj-thonica  serpeute 

Que  mortes  mil  havia  produzido. 

c.iM.,  SONETOS,  n."  87. 

—  Raios  do  sol ;  as  difierentes  linhas  de 
luz  que  d'elle  dimanam.  — «Em  passar 
esta  serra,  que  seria  de  quarenta  e  cinco 
até  cincoenta  legoas,  pusemos  seis  dias  de 
caminho,  e  no  fim  d'elle3  entramos  nou- 
tra serra  não  menos  agreste  que  esta  por 
nome  Gangitanou,  e  daquy  por  diante 
toda  a  mais  terra  he  muyto  montuosa, 
agra,  e  qua>i  intratável,  e  tão  fechada  de 
arvoredo,  que  por  nenhum  caso  lhe  podia 
o  sol  comunicar  os  seus  rayos,  nem  a  sua 
quentura.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pere- 
grinações, cap.  73. 

Se  qualquer  cscriptor  isto  pcrtende 
Ou  seja  fabuloso,  ou  verdadeiro, 
No  braço  Portuguez,  a  quem  se  entende 
Que  nenhum  outro  foi  nunca  primeiro, 
Conhecido  ja  onde  o  Sol  estende 
O  seu  primeiro  raio,  e  o  derradeiro. 
Mil  feitos  adiará  mais  espantosos 
Que  os  verdadeiros  seus,  ou  fabulosos. 

F.    DE   ANDRADE,    PRIMEIRO   CERCO   DE   DIt7, 

cant.  14,  est.  2. 

Eis  que  o  S>51  turvo  rompe  as  nuvens  áridas 
Tiraimo  o  avéxa  eiii  dúbro  com  seus  raios. 
Quem  há,  que  o  horror  descreva  dessas  furnas 
Onde  quanto  é  pesar,  quanto  é  agonia 
Se  ajunta  eterno,  e  sempre  eterno  occulta  ? 

F.    M.    DO  NASCIMENTO,   OS    MARTVRES,   1ÍV.    8. 

• — «Era  imia  lenta  agonia!  E  sempre 
tu  ante  mim :  nas  solidões  das  brenhas, 
na  immensidade  das  aguas,  no  silencio  do 
presbyterio,  nos  raios  esplendidos  do  sol, 
no  reflexo  pallido  da  lua  e,  até,  na  hóstia 


70 


RAIO 


U.UO 


RAIO 


dcj  .sacriticio...  scinprc  tu!...  o  seiupro 
p.-ini  iiiiiii  iiiipoHtíivel !»  Alexumlru  I!er- 
ciihiuo,  Eurico,  cnj).  IH. 

Kllo  o  dííícobrc  aoa  ralo»  matiiliiioií 
C^iio  Sol  iiaitcondo  ci(;mllia  ulioi-isoiite. 

J.    A.    DE   MACKOO,   A    NAUllEZA,   callt.    3. 

—  Fíiiscii  de  ordinário  cm  zifíuezapue, 
rcsiiltiuito  dii  dc-tcarf^H  olectrica  nutre 
unia  uuvoíu  i-  a  terra.  O  raio,  uietuom 
tcrrivoi  (|uc  tom  morto  inatautancamciitu 
liomcus  o  auimací,  (|uo  parte  e  tendo  om 
todos  os  uentidos  a;*  mais  robustas  arvo- 
res, (juo  por  uma  acçào  caloritica  incal- 
culável fuude  rochas  e  motaes,  lança  em 
roda  do  si  um  cheiro  análogo  ao  enxofre 
inriannnado,  devido  ao  ozone,  isto  é,  ao 
oxvireuoo  do  ar  eloctrisado,  etc. 


Outros  iirdonJo  voui,  e  ii  terra  varrem 
Com  forçoso  apressado  mouiiiiciito 
líuscaudo  vão  com  voltas  turtuosas 
Lugares  onde  a  fjcute  est,'i  mais  junta. 
Aqui,  e  alli  a  os,)alha,  soa  o  grito 
l)a(|uclle  cujos  pés  o  raj/o  encontra. 
Enipu.\ãosQ  Inins  aos  outros  por  guardarão 
Do  eoruscaute  fogo,  o  ardente  chama. 

CORTR  HEAL,    MAUFK.IQIO   DE  SErULVKBA,   CaUt.    5. 

Mas  ipiem  ha  hi  tjuc  não  esteja  preso 
Do  ipie  manda  o  que  o  Ceo  alto  governa? 
Desce  lunu  raio  do  chumbo  cm  fogo  acccso 
LA  da  parte  do  muro  mais  superna ; 
Xào  detém  o  forte  a(;o  o  subtil  peso, 
Ao  valero.so  Heitor  passa  Ima  perna, 
Caho  o  corpo  mortal,  que  a  morte  o  chama, 
Mas  triumpha  da  morte  a  eterna  fama. 

F.    d'aNDUADE,   PRIUEIUO  UEUCO  DE  DIU,  CaUt.  2, 

est.  5. 

—  «Tal  como  este  foy  outro  cm  Campo 
mavor,  que  se  gabou  sabia  lazer  luiuia 
arca  do  foguetes  em  lorma  de  giraudola ; 
tí  que  haviaõ  de  sahir  delia  de  soslayo  to- 
dos juntos,  como  rayos,  a  ferir  as  barbas 
do  inimigo  com  ferroens  de  settas.  Tor 
mais  louco  tive  outro,  que  trouxe  a  este 
Reyno  hum  segredo  de  armas  de  papel, 
que  disse  sabia  fazer,  untadas  com  certo 
óleo,  que.  as  fazia  impenetráveis  a  prova 
de  mosquete,  e  taõ  leves  como  a  camiza.» 
Arte  de  furtar,  cap.  31. 

Veyo  primeiro  huo  ratjo, 
apÀi  ellc  huo  trovão, 
e  gríim  terremoto  então, 
tam  grande,  que  pos  desmayo, 
qual  nào  viram,  nem  verão. 

HAllCIA   DE   IIEZESDE,   MlseEL^ANEA. 

Vio  que  do  forro  só,  não  liso  arado. 

Mas  dura  espada  fabricar  deviào, 

E  do  bronze  os  Canhões,  que  o  mio  imitào 

(A  tauta  assolação  se  ch.ima  gloria!) 

Mais  o  ouro  cscondèo  no  abysnio,  o  sombra, 

Do  lá  âc  arranca,  se  conduz  ao  dia. 

J.   A.   DK  MACEDO,  VLIGEJI   EXTÁTICA,   tAUt.   4. 

Se  coutempláras  ásperas  montanhas, 
Onde  o  mortal  (juc  sébc,  observa,  o  núta 
Brilhar  por  cima  o  Ceo,  sercuo,  e  claro, 


K  debaixo  dos  pés  [)or  cutro  opáuao 
Nuvens  cruzando  o  raio  estrepitoso!... 
iiiEU,  uKuiTÁvÂo,  caut.  2. 

Mas  não  só  do  ar  fluido  no  grcuio 

O  raio  origem  tem,  o  imjierio,  a  força  ; 

Díi  terra  dura  no  cavado  avio 

Também  poder,  e  estragos  alardèa, 

Quando  em  cavernas  li.írridas  se  espandc. 

Pelo  toque  do  fogo,  o  ár  comprcsrt<j. 


Do  sempiterno  Artifice,  de  tudo 
Ho  ci«pia  teu  clarão;  dardejas  raioi 
Do  vasto  espaço  aos  últimos  limites: 
IVlos  ares  diáfanos  te  espalhas, 
Chegas  do  mar  ao  seio,  aos  astros  chegas. 


Dcsprcndem-»e  do  alpestres  serranias 
Penhascos,  ((uo  fendera  o  raio  aecczo; 
Com  pavoroso  baque  aos  vallcs  descem, 
He  já  mar  sem  limite  o  campo  Cítenao. 
Inda  nos  mostra  o  már  mais  triste  aspeito, 
Quando,  onde  raóra  o  recatado  China, 
O  medonho  Tufão  revolve  as  ondas, 
K  tapa,  repentino,  os  Ccos,  c  os  Astros. 

lUlDEM. 

Que  vista  perspicaz !  Com  força  altiva 
Chega  a  transpor  as  nuvens  enroladas : 
Deixa  abaixo  de  si  trovões,  c  raios: 
Té  onde  os  árcs  li(iuidos  a  soffircm 
Vai  devassar  subindo  o  Sol  ardente. 
luiDEM,  caat.  o. 

Tranquillo  entre  paixões  vive  Epicuro, 
Qual  do  Olympo  o  cabeço  além  das  nuvens. 
Onde  o  trovão  não  brame,  ou  criua  o  raio; 
Quem  lhe  suftoca  os  gritos  do  remorso. 
Quando  um  ai  <iu'elic  exhala,  um  Deus  lhe  mostra ! 
Oh  soberba  mortal  I  cegaste  a  mente 
(Depois  de  quantos  sécidos!)  a  Bruno, 
Basto  do  hum  fogo  ati-oz,  qual  foi  Vanini ! 
IBIDEM,  cant.  -í. 

Eu  vivo!  Mas  que  mão  potente,  c  sabia 
Me  anima,  e  faz  brilhar  fulgentes  raiot 
A  meus  olhos  attouitos !  Nhum  ponto 
Tirado  foi  do  tenebroso  Nada. 
Devo  acaso  a  mim  mesmo  o  ser,  c  a  vida  ? 
Nao  ;  que  a  Terra  escaldou  nas  fundas  veias 
Dos  vários  animaes  germes  fecundos. 

lUIDEM. 

Que  do  seio  das  trevas  produzirão 
Da  Natureza  enfático  Systcma, 
Não  lho  commovcm  solidas  raizos : 
Mais  quo  o  Cedro  no  Libauo  frondoso 
Da  tom  postado  zomba  ;  o  raio  iusultào 
Da  altiva  plautu  os  troncos  magcstosos. 

IDIDEM. 

Desprondom-se  d"alpéstroà  serranias 
Benhascos  que  fendera  o  raio  acceso. 
Com  pavoroso  baque  aos  valles  descem. 
Que  triste  quadro  os  campos  roprescntào ! 

IDEM,  A  KATUUEZA,  COUt.    2. 

Tolda-sc  o  ar  de  túrbidos  vapores, 
Medonho  tôa,  em  raios  se  desata. 
Instrumento  da  >nda,  a  vida  estanca 
Se  com  miasmas  pútridos  sonirrossa. 


Qu'  enfrear  do  mar  turvo  as  vagas  pixieui, 
Bodem  deixar  suspenso  o  rciio  acceso, 
E  o  (pio  he  mais  árduo  ainda,  em  á>rreos  peitos 
Fazer  troar  a  voz  do  seutimouto. 


—  Raio  calurijico,  ou  raio  de  calor;  a 
linha  recta,  que  «ugue  o  calórico,  propa- 
gando-se. 

—  Raio  linninoto,  ou  raio  </«  luz ;  é  a 
direc^Ilo,  que  segue  a  luz  propagando-iie. 


O  claro  ar  e  screiuj  8'cscuroce, 

Qu'a  grosiia  c  negra  uuvcin  lb<:  aUMAde, 

(>  resplendor  do  .S>1  desapparocc. 

Qu'osta  uuviMn  também  mesma  lho  iinpc<lc: 

No  mar  ao  meio  dia  hoje  anoitece, 

}Iorrísonos  trovõ<.-s  de  si  despede 

(í  Ceo,  c  apoz  estrondos  Ojipautoton 

ívilta  de  si  mil  raio»  luminuéod. 

rm.icisco  de  aiubáde,  pumeibo  cebco  de  oic, 
cant.  4,  est.  22. 

Sc  a  vista  pelos  Ceos  dilato,  o  sigo 

De  tantos  corjMS  a  diversa  marcha. 

Que  pari!ccin  na  ab<jbada  pendentes, 

Quo  tanto  sobre  mim  se  arr|uêa,  c  brilha  -, 

Se  cu  considero  o  ar,  puro  elemento, 

('uja  interna  estructúra  em  si  conserva, 

E  encerra  em  si  da  luz  brilhantes  raio», 

Que  a  terra  enche  de  ^nço,  c  esmalta  as  flores. 

J.  Á.   DE  MACEDO,  KEOITAçIo,  Cant.  4. 

Vê  nos  Britannos,  bárbaros  hum  tempo, 
Quem  mede  os  altos  Ccos,  c  os  aatrua  pcaa, 
Quem  manda  dividir  da  luz  hum  raio, 
E  as  cores  iioste  raio  encontra,  e  mostra. 

IDEM,    A   XATIUKZA,   CaUt.    1. 

—  Figuradamente :  Um  raio  <U  leite ; 
a  porçào  em  úo,  que  sahe  espremida,  ou 
esguichada  do  peito. 

—  Raio  da  guerra:  aquelle  que  com 
ella  produz  grandes  destroços. 

£  a  quem  os  sagrarei  ?  Ddlcs  nio  digno 
He  soberbo  mortal,  inda  que  aos  hoii)end 
Mande  da  paz  os  dons,  da  guerra  os  raio<, 
E  dos  caprichos  seus  os  Fados  forme 
Dos  Thronos.  e  dos  Reis :  debalde  o  cinge 
Endcosada  ambição  de  palma,  e  louro. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  COUt.  1. 

—  Na  lança   para  correr  ari;'   ..-.   ■ 
08  que  cercam  o  toral  d'ella. 

—  Raio  do  circulo ;  a  recta  que  vai  do 
centro  da  circumferencia  e  termina  n'um 
ponto  qualquer  da  mesma  circumferen- 
cia; é  metade  do  diâmetro. 

Foi  entre  tantos  Magalhaens  primeiro ; 
Todos  de  hum  centro  os  raio»  so  dcrramio. 
Que  vem  tocar  d  hum  circulo  os  extremod. 

J.    A.    DE   MACEDO,  VIAOEM   EXTÁTICA,  CAnt.    4. 

—  Figuradamente:  Qualquer  golpe 
que  faz  immensos  destroços. 

As  Censuras,  o  Bispo,  e  sua  vara 

Vaõs  espantalhos  saô  que  naõ  me  aasustaõ; 

Eu  naõ  temo  o  Meirinho,  nem  da  Igreja 

O  forte  mio.  sem  razaõ  \-ibrado ; 

E  para  mo  livrar  do  Bispo  ás  iras 

Tenho  braço,  arte,*  tenho,  c  tenho  modo. 

DINIZ   PA   OttlZ,   UVSSOPE,   CaUt.   tí. 

Vem  outra  voz  da  frigida  Livonía, 

Da  Escandinávia  b:vrbara  os  Guerreiros 

Trazer  uas  mãos  o  ferro,  o  mio,  a  morte. 


KAIO 


RAIO 


RAIO 


71 


Treme  o  berço  de  Tytiro,  c  se  cresta 
Do  Cantor  immortal  o  louro  cm  Mantua, 
Quando  03  canhões  horrísonos  vingarão 
O  juz  dado  á  maldade,  e  dado  ao  crime. 

J.    A.    DE  MACEDO,  \aAGEM  EXTÁTICA,  Cant.   2. 

—  Xa  roda  das  carruagens,  se  chama 
aos  paus  que  sabem  das  piuas  para  o 
cubo. 

—  Raios  da  virtude.  —  «He'preciso  que 
cada  hum  se  incline  ao  bem  por  ódio  do 
mesmo  vicio,  e  níio  por  medo  da  deshon- 
ra,  a  qual  não  he  mais  do  que  huma  som- 
bra que  desaparece  infalivelmente  aos 
rayos  da  virtude.»  Cavalleiro  de  Olivei- 
ra, Cartas,  liv.  1,  n.°  51. 

—  Figuradamente:  Raios  da  pátria; 
modelos  de  virtude. 

Baios  da  pátria,  exemplos  de  virtude 
Imitados  por  ti,  por  ti  citados. 
Sempre  os  vi  abrazados  de  ira  sancta. 

GARRETT,  CAtÂO,  act.   4,   SC.    3. 


—  Por  metaphora  :    As  forja 
ceso  raio. 


,s   do 


—  Figuradamente : 
rannia. 


Os    raios   da    ty- 


N'c9tc  humilde  legar,  entre  estes  muros 
Qunsi  cercados  de  armas  inimigas  ; 
Sobre  nossas  cabeças  cada  instante 
Vendo  troar  da  tvraunia  os  raios ; 
Sem  accurvar  ao  peso  do  infortúnio, 
Unidos  inda  pela  voz  da  pátria... 

GARRETT,    CATÃO,   aCt.   2,    SC    1. 

—  Raios   d'ouro. 

Poucas  vezes  depois  o  que  a  formosa 
Daphne  fez  converter  em  verde  louro. 
Lá  sobre  a  opaca  terra,  c  ponderosa 
Estendera  e  encobrira  o  raio  de  ouro, 
Quando  na  hora  que  a  Aiu-ora  rociosa 
Quer  soltar  o  cabello  crespo  e  louro, 
Põe  junto  á  fortaleza  a  aguda  proa 
Hum  cátur  que  de  lá  vinha  de  Goa. 

F.    DE  AXDRADE,  PRIMEIRO   CERCO  DE  DIU,  Cant. 

13,  est.  104. 

Dura  este  bravo  assalto  e  furioso 
Até  que  de  Latoua  o  filho  louro 
Nas  ondas  já  meXtia  o  luminoso 
Carro,  d'onde  espalhara  os  raios  d'ouro. 
Confuso  entào  assaz,  e  ja  medroso 
Aquelle  antes  soberbo,  e  ousado  Mouro, 
Não  se  atreve  a  esperar  a  força  brava 
Que  antes  como  a  vencida  despresava. 
IBIDEM,  cant.  14,  est.  69. 

—  Raios   e   luz   do  meu  entendimento. 

Tudo  he  matéria,  exclama,  e  tudo  Acaso; 
E  não  pode  a  matéria  o  dom  sublime 
Dar-se  a  si  de  pensar  ;  máxima  impressa 
No  fundo  da  minhalma.  E  donde  nascem 
De  meu  entendimento  a  luz,  e  os  raios? 
He  inerte  a  matéria,  e  seu  repouso, 
Lethargico  repouso  he  delia  efFeito. 

J.   A.   DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  CEnt.   4. 

—  Raio  que  deixa  a  pólvora ;  a  por- 
ção, que  iica  por  abrazar-se,  e  arder  com 
a  outra  incendiada,  quando  não  é  boa, 
e  não  arde  toda  junta. 


Tu  podes,  se  te  apraz,  das  grossas  nuvens 
Saber  a  formação,  saber  as  causas : 
Co'  as  forjas  atinar  do  acccso  raio. 

J.   A.  DE  MACEDO,  A  KAILREZA,  Caut.  1. 


—  Figuradamente:   Raio  ardente. 

D'est'artc  em  nossas  mãos  he  raio  ardente 
Esse  sulfúreo  põ,  qu'  o  Mundo  assola. 
Este  Elemento,  dadiva  do  Eterno. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  CaUt.  2. 

—  Raio    abrazadm-. 

Em  tanto  o  raio  abrazador  desfecha 
O  provocado  Jove,  e  nas  entranhas 
Do  acceudido  Volcào  scpidta  o  monstro. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATCBEZA,  CaUt.  2. 

—  Apollo  defraudado  de  seus  raios. 
—  «Defraudado  Apollo  de  seus  raios, 
viu-se  estreitado  a  ser  pastor,  e  a  guar- 
dar os  rebanhos  do  rei  Admeto.  Tangia 
tlauta,  e  todos  os  zagaes  corriam  a  escu- 
tar-lhe  canções  á  sombra  dos  ormeiros,  e 
juncto  a  uma  crystallina  fonte.  Attié  esse 
tempo  era  selvática  e  bruta  a  vida,  que 
passavam :  nada  mais  sabiam  que  pasto- 
rar suas  ovelhas,  tosquial-as,  mimgir-lhes 
o  leite,  e  queijai-o  :  toda  a  campma  era 
um  horroroso  ermo.»  Telemaco,  traducçào 
de  Manoel  de  Sousa,  e  Francisco  Manoel 
do  Nascimento,  liv.  2. 

—  O   raio  fatal  forjado  em  Feia. 

Este  o  raio  fatal  forjado  cm  Péla 
Alexandre  se  diz,  co  a  altiva  planta 
Naçocns  esmaga.  Povos  atiopella, 
E  no  Hydaspes  veloz  peudoeus  levanta  : 
A  Suza,  a  T_\to,  á  Babylonia,  Arbella, 
A  Ásia  co'a  espada  vencedora  espanta, 
Corta-lhe  a  morte  os  triunfantes  passos. 
Surgem  Reinos  do  seu  feito  em  pedaços. 

J.    A.    DE  MACEDO,  O  ORIENTE,  CaUt.    10,  CSt.    8. 

—  Os  raios  de  Alcides. 

«Que  faz  Jóvc,  que  do  alto  dessas  nuvens 
«Tal  relê  não  destrúe,  e  me  uào  vinga '?» 

Apenaria  todas 
Do  Olimpo  as  Di\nndades,  a  que  os  raios, 
A  que  a  Clava  de  Alcides  lhe  commettào. 

Para  estourar  a  Pulga. 

FRANCISCO    MANOEL    DO    NASCIMENTO,    FABULAS    DE 
LAFONTADíE,  1ÍV.    3,   U."  22. 

—  Raio  avivador. 


E,  onde  não  fulgura,  onde  nào  brilha 
Teu  raio  a^^vadorV  Na  juba  hirsuta 
Do  generoso  Déspota  das  Feras 
Bom  te  descobre  o  tórrido  Africano, 
No  mosqueado  dorso  Hircanos  Tigres 
Sinaes  de  tuas  mãos  impressos  guardão. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  CaUt.  1. 

—  O  raio  dos  vulcaneos  canhões. 


Deixais  voando,  illeso  entre  minas 
O  Portuguez  magnânimo,  que  affironta 
Dos  vulcaneos  canhões  o  estrondo,  o  raio; 
Manda  eternos  troféos  de  gloria  ao  Tejo 
Na  desmedida,  horrisona  bombarda, 
Onde  esculpidos  vem  Valor,  e  Pátria, 
Em  quanto  de  continuo  era  indignada. 
Entre  alvos  ossos,  que  as  muralhas  cercão, 
Do  vencido  Sofar  medoulia  sombra. 

J.    A.    DE  MACEDO,  MEDIT.içÃO,  CaUt.   2. 


— •  Um  frouxo  raio   de  modesto  brilho 
das  estrellas. 


Que  pedes  ás  estrellas  mais  propicias 

Um  frouxo  raio  de  modesto  brilho, 

Com  que  os  rubis  da  bõcca,  com  que  os  lyrios 

Do  peito  entre- ver  deixas. 

F.    M-VNOEL    DO    NASCIMENTO,  OBRAS,  pag.    21. 

—  Figuradamente :  Um  raio  ;  pessoa 
mui  diligente  e  activa;  de  grande  pene- 
tração; pessoa  que  foz  imniensos  e  rápi- 
dos destroços. 

—  Vento,  ou  ar  de  raio  ;  o  ar  agitado 
pela  chamma  eléctrica,  ou  rarefeito,  que 
iaz  grande  impressão,  como  o  vento  da 
bala  em  quem  toca. 

—  A  voz  do  raio ;  grito  atroador. 

Encerra  oceultos  bens  hum  mal  qu'he  visto, 
Tantos  estragos  de  instrumentos  servem 
A  vingança  immortal :  a  voz  do  raio 
He  grito  atroador  qu'os  máos  assusta, 
Inda  que  d'ouro,  e  purpura  se  vistão. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Cant.  2. 

—  Imagem  coroada  de  raios ;  imagem 
tendo  sobre  a  cabeça  uma  aureola  brilhan- 
te.—  «7.  Deste  mesmo  Astro  ^no  Pie- 
rio  8.  Huma  Imagem  em  certa  moeda 
coroada  de  rayos,  e  com  huma  maõ,  que 
voando  com  duas  azas,  mostrava  ao  mes- 
mo tempo  o  caminho  do  seo  Oriente  para 
o  Occazo.  Tanto  foi  entre  os  Antigos, 
deste  beneficio,  e  commum  dispenseiro 
das  luzes,  a  veneração,  o  obsequio,  e  a 
idolatria.!.  Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal 
medico,  pag.  156,  §  5. 

—  Termo  de  náutica.  Raios  da  roda 
do  leme ;  os  balaustres  torneados  d'ella, 
e  cujos  extremos  salientes  á  circumferen- 
eia  da  roda,  formam  as  malaquetas  onde 
o  homem  que  governa  o  leme  applica  a 
força. 

• —  O  raio;  a  frecha. 

Silv.     O  meu  me  ferio  d'agulha 

e  dedal,  não  de  frecheiro. 
Leon.  Qual  frecheiro,  mana?  mentem  ; 

amor  tira  a  papagaio, 

d'onde  é,  d'alli  dá  o  raio. 

ANTÓNIO  PRESTES,  ACTOS,  pag.  175. 

—  Figuradamente:  Fiosinhos  de  raios 
que  entram  em  casa,  a  que  chamam  dia- 
binhos. 

Cioso.  Porque  aquellcs  fiosinlios 

dos  raios  que  entram,  uns  ousões 


72 


RAIV 


RAIV 


UAIZ 


cliainam-Ihc  vnlhos  diabinhoii 

f|ii(!  entram  cm  cnía,  o  d'i!Hti'H  inlioH 

BC  uriíium  sompri!  uim  dintiOcs. 

ANTOMl)   1'IIKSTKH,   ALIOS,   pilg.    2t'!. 

—  Figuraflamontc :  <>  raio  '«•<:ttso  de 
um  viiKjiidnr. 

Ali !  que  dentro  oní  gnu  peito  um  Dcoí)  8'cHCOudc, 
MoHtra-llic  aos  ollios  luminoso  ospc.llio, 
C)ndu  todo  descobre  o  horror  do  crime, 
Dcricobro  bum  vingador,  (|ue  o  rain  accezo 
Tem,  pcompto  a  desfechar,  na  dextra  irada. 

J.   A.   I)K  M.VIKDO,  MKDITAÇÃO,  CaUt.   4. 

—  AUAÍÍIOS    K   rUOVKKHIOS  : 

—  É  raio. 

—  I  )issc-llio  raios. 

RAIOSINHO,  .-•.  III.  Diuiimitivo  do  Raio. 
Pi'([uiMii)  raio. 

RAIVA,  .«.  /.  (Do  latim  niòies).  Docii- 
^•a  lios  uiiiinacs  tlamnailos,  livclropliobia. 
—  «A  qual  tinha  propriedade,  que  a  liuui 
certo  tempo  acudia  á  pessotv  ferida  delia 
huma  raiva,  inordondo  a  si  me.suio,  como 
SC  tosse  mordido  do  cão  damnado  :  o  que 
SC  vio  em  hum  (^avalleiro  da  Villa  Estre- 
moz chamado  Lopo  de  Villalobo.?,  c  era 
outros  que  alli  foram  feridos.»  Joào  de 
Barros,    Década  '2,  liv.  Ij,  cap.  4. 

Torrivcl  Tubarão,  dos  vastos  mares 

IIc  tlugcUo,  c  terror,  c  a  raiva  sua 

Na  própria  capccic  (horror!)  se  nutre,  c  ceva. 

J.  A.  DB  MACKDO,  A  NATIBEZA,  Cant.  3. 

—  Bolos  de  farinha,  manteiga,  ovos  c 
assacar. 

Eil-a  vem,  dissimulemos, 
que  uel  campo  dormirás. 
Phil.    Certo  que  a  mofina  faz 

tpuuido  tiucr  raivas  d'estremo8. 

ANTÓNIO  PBESTES,  AUTOS,  pag.  105. 

Phil.    Baiva  te  ama.tsaria  cu, 
falso  maio  engauador. 
IBIDEM,  pag.  137. 

—  Raiva  de  jixjar,  de  faier  imd,  de 
dizer  imd ;  furor. 

—  Loc.  axtiqu.ada:  For  raiva  a  al- 
guém; dizer  ou  fazer  cousa  que  a  assa- 
nhe, por  injuriosa  ou  aflfrontosa. 

—  Orando  appetite. — .fl  raiva  da  fu- 
me; da  sede. 

—  Figiuadameutc :  Ira  grande  o  ar- 
dente. 

O  diabo  queu  o  dou, 
Que  tão  inao  bc  de  aturar. 
Oh  Jcâu  !  que  eufadamcuto, 
E  que  raiva  c  que  tormento, 
Que  cegueira  e  ((ue  canceira! 
Eu  bei  de  buscar  maneira 
D"algum  outro  aviamouto. 

GIL  VICENTE,  KABÇAS. 

—  «  Vi  amor;  inas  em  ciíso  igual,  mo- 
rar nelles  amor!  Queria  vèr   uelles  des- 


peito, raiva;  que  cm  tudo  me  contradis- 
«o.sciii ;  rjuo  mo  acltasscm  feia ;  que  na- 
morassem outra  Dama;  e  jrar  último  quo 
fuisciMHom  de  ci<j»os,  pois  que  ou  tutm  a|t- 
parencia.s  dcsleáes  mostrava.»  Fraiici.fco 
Manoel  do  Nascimento,  Successos  de  ma- 
dame de  Seueterre. 


Com  ellas  fez  parar,  mas  niio  vencida», 
O  forte  1'irrho  as  Legiões  Romana». 
A  tanto  chega  a  ntira  doií  humano» ! 
Do  solitário  bosqne  IM  feras  tira, 
I)á-llies  furor,  que  a  Natureza  nega  ; 
Instrumonto.s  as  faz  de  sangue,,  o  morto. 

J.    AGOSTINHO  DE  MA<ED0,   MEOITAfÃO,  CStlt.  3. 


—  Termo  auti(iuado.  Iniamia,  noUi, 
alcive,  labóo. 

—  AUAGIOS  K  1'KOVEIJBIO.S  : 

—  Quem  o  seu  cào  quer  matar,  raiva 
lhe  põe  nome. 

—  Com  raiva  o  asno,  torna-se  á  al- 
barda. 

—  O  cão  com  raiva  cm  seu  dono  trava. 

—  »Syn.  :  Raiva,  escandesceneia.  Vid. 
este  ultimo  termo. 

RAIVAÇÃO,  s.  m.  Termo  popular.  Prui- 
do  forte  lio  appetite,  ou  copula  venérea. 

RAIVADO,  {jart.  pass.  de  Raivar.  En- 
raivado, raivoso,  encolerisado. 

RAIVAR,  V.  a.  Arder  em  raiva,  cm 
cólera. 


Baivon  tauto  sidcraque 
E  tanta  zarzagania, 
Vou-mc  a  morror  de  seqaia 
Em  cima  dbum  almadra(|uo. 
E  aute  de  meu  tinamciito, 
Ordeno  meu  testamento 
Desta  maneira  seguinte. 
Na  triste  era  de  vinte 
E  dous  desde  o  nascimento. 

GlU  VICENTE,  OBBAS  VABIAS. 


Cubicar,   desejar   com  fúria,    c  co- 

—  Raivar    com    alguém;   enfureccr-se, 
irar-se,  encolerisar-se. 


lera. 


Dita.    Oh  !  como  folgo  pardclhas 
de  a  Philippa  ter  furtado 
osta  carta  namorada 
parcstas  de  nas  orelhas 
a  trazer  por  arrecada  ! 
Hei-a  de  fazer  rnittir.' 

ANTÓNIO  PEESTES,  ACTOS,  pag.  lOÕ. 

Viiiv.  OUiao-me  aquillo  cm  questão. 
Grim.  Toda  rac  fazeis  raivar; 
as.si  é,  hei  de  estalar. 
IBIDEM,  pag.  385. 

—  Raivar  o  vento ;  en{\u*ecer-6c,  esbra- 
vejar, cnfuriar-se  o  vento. 

—  Raivar-ihe  a  lascívia  no  corpo;  cn- 
furccor-sc,  fazendo  os  seus  mais  violen- 
tos ofVoitos. 

RAIVENTO,  A,  adj.  Iliiivoso,  que  está 
com  raiva,  cheio  d'clla. 

RAIVOSAMENTE,    adv.     (D^    raivoso, 


com  o  fluffixo  t mente»;.  1)8  um  modo 
raivo-o.  com  raiva. 

RAIVOSINHO,  A,  adj.  Diminutivo  de 
Raivoso. 

RAIVOSO,  A,  adj.  (Do  latira  rabiotus). 
Que  c.-tá  com  raiva,  raivcnto,  cheio  de 
raiva. 


Ahdí  como  »c  ve  brano,  e.  rainoto 
O  Uniro  que  no  («rro  anda  acoflwido 
Com  testa  earrancnd.i,  e  vista  ew|uiua : 
.Mil  bramido»  no»  ares  leuantando. 
Assi  fiarcia  de  S.á  quaodo  do  Sousa 
Tal  recado  lhe  dão,  fica  g<;m  tento, 
P'ogelhc  a  cor  do  rosto,  ajunta,  e  cerra 
A  branca  sobrancelha,  assi  dizendo. 

COBTE  BKAL,  XACrBAOIO  DK  lErULVeoA,   Cailt.    I. 

Furor,  c  Amor  lhe  abrasão  juntamente 
O  duro  cora<;âo.  brauo,  e  raiiirtso: 
Se  castis"  imagina,  não  »v  atreue 
E  se  a  fúria  o  constrange,  amor  o  impode. 
Com  tiles  contrario»  junto»  num  sogeito, 
Da  camará  se  sae,  c  a  Lionor  duiza 
Arrependida  não,  ma»  desgostosa 
De  o  ver  assi  por  cila  descontente. 

IBIDEU. 

—  Acompanhado  de  raiva,  de  desespe- 
ração, de  ira. 

—  Diz-se   também   das   paixões  fortes 
que  enfurecem.  —  A  luxuria  raivosa. 

—  Raivosos   cíies ;   animaes    cheios   de 
raiva,  rancor. 


Das  Leis.  c  Magistrado  á  cinta  traicm, 
E  cheios  de  grande  ira,  quacs  raivoto». 
Arremessados  Cães,  que  ardidos  BCgucm 
O  fero  .Javali,  que  veloz  foge 
A  emboscir-se  na  densa,  e  vasta  moita. 
Correm,  sem  tino,  apor  o  bom  ÍJonaalTe», 
Que  em  seguro  ji  posto,  ao  pé  da  guarda, 
Os  olha  com  desprezo,  o  com  insaito. 
A.  DINIZ  DA  TRcz,  BvesorE,  cant.  6. 


Ataca  a  preza  tímida,  que  foge  \ 
Debalde  f-Age  victima,  raíf"«o 
No  palpitante  coração  lhe  empolga 
As  encurvadas  garras,  e  d°hum  golpe 
A  sangra,  a  rasga,  a  dcspodat^,  a  trag%. 

J.    A.    DE  M.VEDO,  MXDITAÇÃO,   CUt.    3. 


—  Figuradamente  :    O   raivoso  veiUv  ; 
o  vento  fiirioeo,  embravecido. 


São  da  bondade  tutelar  a  prova. 
Pois  dos  terríveis  tóxicos  so  tirão 
Armas,  que  i  fria  Morte  a  fouce  embotio. 
Assim  montão  de  túrbidos  vapores, 
Que  no  jiojado  seio  o  raio  acolhe, 
Co'a  brava  fúria  do  raivow  vento 
Mil  vezes  se  transforma  em  ondas  puras. 
Que,  humedecendo  as  áridas  campinas. 
De  Flora,  e  de  Pomona  os  dons  aJcntio. 

J.   A.   DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Cant.  3. 

RAIXA,  í.  /.  Vid.  Raia. 

RAIZ,  s.  /.  'D'^  latim  radix^.  A  parte 
da  plant<n  que  liça  debaixo  da  terra,  e  que 
absorve,  para  a  nntrir,  os  suecos  que  lhe 
sSo  apropriados. —  tEu  dei  uma  topada 
com  meu  cavallo  em  uma  raiz  d'uma  ar- 


RAIZ 


RAIZ 


RALA 


73 


vore,  que  se  não  pôde  ter  em  a  mão  di- 
reita ;  e  vou  triste  por  nào  poder  chegar 
a  tempo,  que  estou  pêra  morrer  com  pe- 
sar. »  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  de 
Inglaterra,  cap.  104.  —  «Vinhão  todos 
vestidos  com  huns  panos  como  mandins, 
feytos  de  rayzes  de  eruas,  com  tintas  de 
muy  varias  cores  listrados.  O  cabello  re- 
torcido, algum  tanto  grande,  e  pardo,  e 
os  vestidos  sobraçados  ao  modo  de  Me- 
linde.»  Frei  Gaspar  de  S.  Bernardino, 
Itinerário  da  índia. — -«Para  untar  com 
liuma  penna  o  palato  lie  insigne  o  se- 
guinte apophlegmatismo.  R.  de  triaga  de 
Andromeda  drachm.  ij.  de  extracto  de 
Castoreo  scrup.  semiss. ;  de  pos  de  raízes 
de  piretro  scrup.  j.  de  óleo  distillado  de 
alambre  got.  vj.  misce.»  Braz  Luiz  de 
Abreu,  Portugal  medico,  pag.  485,  §  15õ. 
—  o  Cada  copa  de  vinho  que  virara  fora 
seguida  de  uma  ou  outra  allusão  aos  an- 
tigos padres  do  ermo,  que,  alimentando- 
se  de  hervas  e  raizes  e  saciando-se  no 
arroio  do  valle,  tinham  chegado,  não  só 
ao  ápice  da  sanctidade,  mas  também  a 
velhice  robusta  e  dilatada.»  Alexandre 
Herculano,  Monge  de  Cister,  cap.  2'ò. 

—  Figuradamente  :  Origem,  principio, 
fonte,  base,  causa  donde  alguma  cousa 
provém. —  «E  se  buscarmos  a  raiz  des- 
tas perdas  grandes,  havemola  de  achar 
no  descuido  das  pagas  pequenas,  que  oc- 
casionaraò  licença  nos  acrédores,  para  se 
pagarem  de  sua  mão,  sem  repararem  na 
censura  de  ladroens,  que  incorrem  pelo 
que  levão  de  mais  :  e  se  algum  pezar  os 
acompanha,  he  de  não  acharem  mais,  pa- 
ra se  pagarem  também  de  dous  perigos, 
a  que  se  puzerão.»  Arte  de  furtar,  ca- 
pitulo (3.  —  «Conselhos  bons  saõ  muito 
bons  de  dar,  mas  muito  m;\os  de  tomar : 
muitos  os  daõ,  e  poucos  os  tomaõ.  Con- 
selhos máos  tem  duas  raizes:  ou  nascem 
de  ódio,  ou  de  ignorância :  por  peores  te- 
nho os  primeiros ;  porque  a  ignorância 
procede  da  fraqueza,  e  o  ódio  resulta  da 
malicia ;  e  a  malicia  he  peor  inimigo  que 
a  fraqueza.»  Ibidem,  cap.  30.  —  «Fran- 
cisco Patricio  2.  a  denominou  Alicerse,  e 
Fundamento  de  tudo  o  que  se  pode  sa- 
ber. Sancto  Isidoro  3.  a  detinio  Univer- 
sidade admiranda,  e  raiz  da  planta  de 
todas  as  Sciencias,  e  faculdades.  O  famo- 
zo  Grammatico  Dionysio  Licinio  mereceo 
ter  huma  estatua  no  Capitólio,  que  tanta 
veneração  grangeou  esta  Arte  entre  os 
Romanos.»  Braz  Luiz  de  Abreu,  Portu- 
gal medico,  pag.  127,  §  98. 

Hadc-tc  ir  definliando  a  pouco  c  pouco, 
E  da  hoivada  rah  hàodc  brotar-lhe 
As  parasitas  plantas,  que  mui  breve 
Gigantes  cresccrào,  o  hàode  assombrar-te, 
Vingani;a  !  —  Eu  sempre  vi  esses  Eomanos. 

GARRETT,    CATÃO,    act.     4,    SC.     S. 

—  A  parte  occulta  d'uma  cousa  que 
apparece.  —  A  raiz  dos  dentas. 

VOL.  V.  — 10. 


—  Figuradamente  :  O  pé,  a  parte  in- 
ferior.—  A  raiz  do  monte.  —  «De  um  la- 
do as  tendas  dos  árabes,  derramadas  pe- 
las raizes  dos  montes  e  pelos  cimos  dos 
outeiros,  podiam  comparar-se  ao  acampa- 
mento das  tribus  do  deserto,  que,  empra- 
zadas  á  voz  do  propheta,  se  houvessem 
ajunctado  n'um  ponto  único  das  solidões 
onde  vagueiam.»  Alexandre  Herculano, 
Eurico,  cap.  9. 

—  Conhecer  alguma  cousa  bem  de  raiz; 
saber  alguma  cousa  bem  a  fundamento, 
radicalmente,  profundamente.  —  «Para  se 
livrar  o  Príncipe  de  todas  estas  Scylas, 
e  Charybdes,  deve  conhecer  bem  de  raiz 
os  talentos,  e  ânimos  de  seus  Conselhei- 
ros :  e  faça  porisso,  porque  nisso  está  a 
perda,  ou  ganho  total  de  seu  Império.» 
Arte  de  furtar,  cap.  30. 

—  Restos  de  causas,  ou  meios,  que  vão 
produzindo  os  mesmos  eíFeitos.  —  «Eu  vi 
muito  bem  a  prova,  que  de  bom  namo- 
rado fizestes  na  cidade  de  Constantino- 
pla, e  sei  que  a  fé  e  amor,  com  que  tão 
grande  cousa  acabastes,  tem  algumas  raí- 
zes dentro  em  vós,  que  vos  estorva  o  ga- 
lardão dos  trabalhos  desta  terra.»  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  de  Inglater- 
ra, cap.  101. 

—  A  raiz;  os  bens  chamados  de  raiz. 
- — •  Bens  de  raiz ;   são  herdades,  casas, 

etc. ;  em  opposição  a  bens  moveis. —  «E 
vista  per  nós  a  dita  Ley,  adendo  e  de- 
clarando em  ella  dizemos,  que  vendendo 
alguma  possissom  de  raiz  o  marido  sem 
outorgamento  da  molher,  poderá  essa  mo- 
Iher  demandar  em  Juizo,  e  cobrar  a  dita 
possissom,  sem  gaaçando  pêra  ello  Carta 
d'ElRey.»  Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit.  11, 
§  2.  — «O  qual  costume  visto  per  nós, 
declarando  em  elle  dizemos,  que  se  algum 
homem  casado  der  á  sua  barregaã  alguã 
cousa  movei,  ou  raiz,  ou  a  qualquer  ou- 
tra molher,  com  que  aja  carnal  afeiçom, 
a  molher  sua  poderá  revogar,  e  aver  pê- 
ra si  a  dita  cousa,  que  assy  for  dada.» 
Ibidem,  liv.  4,  tit.  12,  §  2.'— «E  decla- 
rando acerca  da  segunda  parte  da  dita 
Lei,  que  falia  em  como  se  deve  haver  a 
dita  divida  primeiramente  pelos  bens  do 
devedor,  etc.  Dizemos,  que  nom  deve 
seer  demandado  o  fiador  em  nenhum  ca- 
so, ataa  que  o  principal  devedor  nom  se- 
ja primeiramente  demandado,  e  conda- 
pnado,  e  feita  a  eixecuçom  em  seus  bens 
assi  moviis,  como  de  raiz ;  e  feita  assi  a 
dita  eixecuçom,  em  aquello,  que  se  nom 
pôde  aver  poios  bens  do  principal  deve- 
dor, poderá  seer  demandado  o  fiador.» 
Ibidem,  liv.  4,  tit.  53,  §  3.  — «A  qual 
Ley  vista  per  Nós,  adendo  e  declarando 
em  ella  Dizemos,  que  todo  Corregedor, 
Juiz,  ou  qualquer  outro  nosso  Official, 
que  seja  posto  a  tempo  certo  em  alguã 
Comarca,  Cidade,  ou  Villa,  ou  em  outro 
algum  lugar,  durante  o  tempo  de  seu  Of- 
ficio,  nom  possa  hi  comprar,  escaimbrar, 
nem  afforar,  nem  arrendar  bens  alguns 


de  raiz,  nem  possa  receber  doaçom  à'al- 
guns  bens,  assy  moviis  como  de  raiz,  que 
lhe  seja  feita  per  alguã  pessoa,  que  seja 
de  sua  jurdicom.»  Ibidem,  liv.  4,  tit.  61, 
§  1- 

—  A  parte  dos  montes  que  se  encobre 
profundamente  na  torra. 

—  Pala\Ta  primitiva. 

—  Lançar  raízes  áe  vivenda;  arraigar- 
se  na  terra. 

■ —  tSaber  alguma  cousa  de  raiz  ;  saber 
alguma  cousa  solidamente,  e  não  super- 
ficial, nem  pela  rama. 

—  A  raiz  das  carnes;  sobre  o  cor- 
po mi. 

—  A7-rancar  de  raiz  ;  extirpar  com  as 
raizes. 

—  Ter  raizes  na  terra ;  ter  bens,  fa- 
mília, assento,  estabelecimento. 

• —  Figuradamente  :  Arrancar  de  raiz 
os  vícios,  peccados,  maus  hábitos,  etc. ; 
arrancar  de  todo  com  as  suas  causas. 

—  Raiz  do  dente;  a  parte  d'elle,  que 
está  dentro  do  alvéolo,  e  o  segura  na 
queixada. 

—  No  jogo  da  pella,  a  raia  que  rema- 
ta o  jogo. 

—  Termo  de  arithmetica  e  de  álgebra. 
O  numero  que  mídtiplicado  por  si  mes- 
mo produz  a  sua  elevação  a  alguma  po- 
tencia.—  4  é  a  raiz  quadrada  de  16,  ou 
de  si  mesmo  elevado  á  segunda  potencia, 
como  4*.  — 5  é  a  raiz  cubica  de  125,  ou 
de  si  mesmo  elevado  á  terceira  potencia, 
como  5^. 

—  Tei-mo  antiquado.  Género  de  estofo 
usado  para  vestidos. 

RAIZAME,  s.  m.  Todas  as  raizes  da 
planta. 

RAJA,  s.  f.  Termo  de  origem  hespa- 
nhola.  Abertura,  faxa,  listra. 

RAJA,  s.  m.  Príncipe  indiano. 

— Nome  honorifico  entre  os  mouros  ma- 
laios, que  quer  dizer  d'elrei,  que  accres- 
centam  a  seus  próprios  nomes. 

RAJADA,  s.  m.  Termo  de  náutica.  Ra- 
jada de  vento;  refega  forte  de  vento,  pro- 
cellosa,  arremeços  impetuosos,  pelo  que 
se  diz  :  vento  de  rajadas,  ou  de  fura- 
cões. 

RAJADO,  A,  adj.  Que  tem  raios  ou  lis- 
tras de  côr.  —  Cavallo  melado  rajado  de 
branco. 

RAJEIRA.  Vid.  Rageira. 

RAK,  s.  m.  Vid.  Rack. 

1.)  RALA,  s.  f.  Vid.  Arrão,  ou  Ar- 
ram. 

2.)  RALA,  s.  f.  —  Pão  de  rala  ;  pão 
feito  unicamente  de  rolão. 

RALADOR,  s.  m.  Termo  de  funileiro. 
Instrmnento  usado  nas  cozinhas  e  boti- 
cas para  ralar  queijo,  pão,  etc. 

RALADURA,  s.  /.  Raspadura. 

RALAMENTE,  adv.  (De  ralo,  e  o  suf- 
fixo  «mente»).  Vid.  Raramente. 

RALÃO,  s.  m.  Pão  de  rala. 

—  Vid.  Rolão,  termo  mais  usado. 

RALAR,  V.  a.  Passar  pelo  ralo. 


74 


KA  LU 


RAMA 


IIA.MA 


—  FigiiraJaiucnto  :  KH^otar  a  jjiicirii- 
cia,  mool-a. 

—  Ralar-se,  v.  ntjl.  Fifíurailaincnt*!  : 
Mocr-so,  aftlifíir-HC,  inortifii;ar-.so, 

RALÉ,  s.  /.  Termo  do  volatoria.  A 
avo  ou  o  animal  om  quo  a  ave  di!  cai.ar 
costuma  fazisr  prosa. 

—  As  mor/is  (líi  camará  t/uf,  são  (/un- 
te da  nosnd  ralé  ;  isto  ó,  das  (|uo  iiamo- 
ramoM,  ila  missa  or<lcni. 

—  Vid.   Relê. 

—  ylc(;(5e.9  (fusta  ralé  ;  acçõos  dosta 
casta  ou  cspocio. 

—  Nào  ê  (VcKjuella  ralé ;  nào  fçosta 
d'aquilio,  ou  não  ó  liabil  para  aquillo. 

—  Figuradamente :  A  sua  ralé  são 
louvaminhas ;  isto  ó,  o  que  ca^'a  o  quo 
mais  llio  aprada,  o  quo  clle  cara,  busca, 
o  nn  (|U(;  so  cova,  sào  lisonjas. 

RALEA,  «.  /.  Termo  antiquado.  Espc- 
cio,  casta,  sorto. 

RALEADO,  part.  pass.  de  Ralear. 

—  Termo  do  botânica.  Quo  o  ralo,  cm 
pequeno  numero. 

—  Umlirelhi  raleada ;  diz-so  quando 
tem  pedúnculos  era  pouca  quantidade. 

—  Verticillo  raleado ;  diz-sc  quando 
os  seus  flosculos  estào  um  tanto  distan- 
tes entre  si. 

—  Racimo  raleado ;  diz-so  quando  as 
suas  oscadoas  são  um  tanto  realçadas,  c 
tlcxivcis  para  os  lados. 

RALEADURA,  *■.  /.  O  ralear,  fallando 
particularmente  da  vinlia,  quando  por 
cffeito  do  um  tompoi'al  cáe  a  flor,  e  não 
vinga  o  fructo. 

RALEAR,   t".  a.  Fazer  raleiros. 

—  V.  n.  Tornar-se  ralo  ou  raro. 

—  Ficar  ralo,  com  raleiros.  —  Ralea- 
ram  as  uvas, 

RALEIRO,  s.  m.  A  parto  das  vinhas 
o  outros  plantios  onde  morreram  ou  nas- 
ceram mal  as  plantas,  o  sementeiras,  por 
serem  cabeços  maus,  ou  morrerem,  ou 
não  nascerem  de  afogados  do  monda, 
etc.  calvas,  mor  tórios. 

—  Vid.  Mortorio. 

—  Toma-so  também  no  sentido  figu- 
rado. 

RALEO,  ou  RELEO,  s.  m.  O  bródio  da- 
do aos  pobres  na  portaria  do  mosteiro  do 
Alcobaça. 

RALEZA,  s.  /.  Vid.  Rareza. 

RALHADO,  parf.  pass.  do  Ralhar.  — 
«Que  um  frade  caetano,  tio  do  duque  de 
Cadaval,  estava  preso  no  sou  convento 
por  ter  ralhado  do  oasanionto  do  sobri- 
nho com  uma  lilha  do  conde  do  S.  Vi- 
cente.» Bispo  do  Grão  Par;i,  Memorias, 
publicadas  por  Oamillo  Castollo  Branco, 
eap.  U). 

RALHADOR,  A,  s.  Pessoa  que  ralha 
por  habito. 

RALHAR,  r.  n.  Ameaçar,  fazer  gran- 
des ameaças,  sem  poder  para  os  execu- 
tar. 

— Dosgostai'-se,  agastar-se,  enfadar-se. 

—  Dizer  mal. 


RALHOS,  s.  III.  pliif.  í)rgulho»o«  e  su- 
pcrlhios  aiii'-aços. 

RALINGA,  *.  /.  Vid.  Relinga. 

RALLAN,  ».  111.  Termo  antiquado.  O 
mesmo  quo  real,  moeda.  —  Cento  e  vin- 
l(i  reis  cm  din/utiro,   de  seis  ceitig  o  ral- 

lan,     ciiiiKj    cl-ri  i   muadiir. 

RALLEIRO  DE  AGUA,  .s.  m.  Termo  do 
historia  natural.  Ave  aquática,  do  côr 
parda,  malhada  do  proto  jior  cima,  o 
cinzenta  azulada  por  baix;o,  cnm  as  ilhar- 
gas raiadas  de  branco  c  proto,  tendo  o 
bico  vermelho  :  vivo  entre  a»  li(!n'as  jun- 
to ás  aguas  estagnadas. 

1.)  RALO,  s.  m.  Vid.  Raro.  Folha  de 
metal  furada  com  bui-aquinhos,  que  tapa 
a  janella,  ou  abertura  da  roda  de  frei- 
ras, polo  qual  so  lhes  falia. 

—  Termo  do  fuuiloiro.  Folha  de  lata 
furada,  de  sorto  que  fiquem  uns  rebites, 
ou  as  pontas  da  outra  parte,  a  modo  de 
grosa,  sobre  as  quacs  se  roça  a  cidra,  o 
tabaco,  para  o  fazer  em  porções  miúdas, 
cortando-se  nos  robites  ou  pontas,  e  pas- 
sando pelos  buracos,  etc. 

2.)  RALO,  A,  adj.  Vid.  Raro. 

—  Pão  ralo.  Vid.  Ralo. 

—  IJic/io  ralo  ;  insecto  pardinho,  com 
visos  de  dourado,  que  roo  a  raiz  da  cou- 
ve, melões,  e  mais  hortaliças. 

—  Adágios  e  proverisio.s  : 

—  Quem  ralo  scmea,  rala  leva  a  pa- 
voa. 

—  ()  fidalgo,  e  o  nabo  ralo. 

l.)  RAMA,  .«.  /.  Os  ramos  da  ar\'ore. — 
«No  cabo  d'algumas  aventuras  chegou  a 
vista  do  castello  d'Almourol.  Caminhan- 
do polo  Tejo  abaixo,  como  fosso  em  ve- 
rão o  as  arvores  estivessem  cobertas  de 
ramas,  e  as  agoas  corressem  som  nenhum 
Ímpeto,  acharam  tão  gracioso  o  sitio  e  o 
lugar  por  onde  caminhavam,  que  punham 
em  os(piecimento  o  trabalho  que  as  lon- 
gas jornadas  fazem  sentir  a  quem  as  pas- 
sa.» Francisco  de  IMoraes,  Palmeirim  de 
Inglaterra,  cap.  12().  —  «E  atravessa  to- 
do o  deserto  o  per  cila  nam  ha  nenhum 
caminho,  nem  passagem,  soomente  em 
este  lugar,  onde  ostaa  hunia  casa  feyta 
do  madeyra,  o  de  ramas  de  palmeyra 
cubcrta,  que  em  os  tempos  passados  man- 
dou fazer  ho  grão  Soldào.»  António  Ten- 
reiro, Itinerário,  eap.  38.  —  «Daqui  nos 
leuou  o  Ermitão  por  humas  ruas  do  ar- 
uoredo,  cujas  ramas  parecião  sobir  às 
nuuens,  e  no  mais  intimo  d'olle  achamos 
o  (iouornad(n"  assentado  com  outros  gran- 
des, quo  estimarão  hirmos  ali  dar  com 
olles.»  Fr.  (! aspar  de  8.  Bernardino,  Iti- 
nerário da  índia,  cap.  1.''. 

—  Seda  em  rama  ;  seda  não  fiada,  não 
torcida. 

—  Loc.  ncuiíADA  :  Andar  pela  rama  ; 
tratar  superficialmente  as  cousas  ;  não  jis 
profundar,  não  ir  á  raiz  d'ellas. 

— -  .fl  rama  da  victorin  ;  a  insignia  do 
vencedor,  a  palma  da  victona. 

—  Figuradamente : 


Estoii  liiiu;ain  o  mai»  da  ritma 
pcra  elloH  maiH  Ar-  HUHpoito. 
N<!ín  tudo  cuide  iicin  urnufl, 
pAdt;  «cr  nAii  «cr  a  cauiui 
íhiio  que  diz ;  inaÍH  iiic  vence 
(|ui!  HurA  porijUK  pcrtiíiice 
lá  iiiaiit  que  outro,  c  a>|ui  dê  pauHa. 
AKTORio  rBKRTES,  AiTO*,  pag.  30.'). 


Anui  r.tciu  parccíiro» 
c:í  iis  dainii»  pcdamiit  nau  fainait, 
«''  nu»  roniíM, 

oinii  )iii  minas  som  havcren, 
e  como  lia  ))ra/;ts  «em  cliamii». 
iniDKii,  pag.  30.'i. 


—  Cortar  os  viriíja  j/ela  rama;  nâo  nn 
arrancar,  nem  extirpar ;  deixar  os  tron- 
cos d'ond('  reliontoni  e  renovem. 

2.1  RAMA,  í.  /.  Termo  de  imprcs«ilo. 
Quatro  vergas  delga<la.s  do  forro  quaijra- 
do,  e  em  quadro  pegadas ;  no  meio  tem 
um  ferro  atravessado  com  suai  abertu- 
ras, para  entrarem  n'ella8  as  pontura^. 
Na  rama  se  aperta  a  fOrma,  e  posta  na 
prensa  se  imprime. 

RAMADA,  s.  f.  Ramos  cortados  e  dis- 
postos de  maneira  a  assombrarem  algum 
logar. 

—  Casas  cobertas  do  ramos  á  prensa 
abortas  pelos  lados. 

—  Sombra  com  ramos  nativos  sobre  as 
janellas  o  portas. 

—  Riimos  mui  largos  e  dilatados  da 
arvore,  quo  faz  grande  sombra. 

—  Coberto  á  maneira  de  ramada,  ain- 
da que  de  taboas. 

—  Pescaria,  que  se  fazia  com  ramos, 
lançando  grande  copia  d'elle8  nos  mais 
profundos  poços,  para  que  o  peixe  su- 
bindo das  lapas  e  raizes  so  acolhesse  a 
elles.  Era  mui  frequente  este  serviço  dos 
colonos  para  com  os  senhorios  das  terras. 
O  tempo  que  apei-feiçoou  a  arte  de  pe.s- 
car,  igualmente  consumiu  o  uso  das  ra- 
madas. 

RAMADAN,  ou  RAMAZAN,  f.  m.  (Do 
árabe  ramadan).  Nono  mez  do  anno  ará- 
bico, que  os  musulmanos  consagram  ao 
jejum. 

—  Vid.  Remedão. 

RAMADO,  adj.  Vid.  Enramado.  — ^r- 
vore  ramada. 

RAMAGEM,  ou  RAMAGE,  .«.  /.  Grupo 
de  ramos  c  folhas  arbóreas,  folhagem  es- 
pessa. 

—  Ramada. 

RAMAL,  *.  »).  Mídho  de  fios.  —  Um 
ramal  de  misnaiiga. 

—  Trincheira  comprida  rectilínea  para 
defender  alguma  obra»  corna  ou  coroada. 

—  Ramaes  de  jiinhZef,  de  camoezet  s«c- 
cos  :  ramaes  enfiados. 

—  Figuradamente  :  Ramal  (jelado ;  á  si- 
milhança  do  qual  as  vertentes  lagrimas 
pendem  dos  olhos. 


Ura,  plúmbeo  manto;  outro,  o  -«udário  ardonto. 
Qual  trás,  iw  seio  as  Scrpos,  quo  o  dcvorão. 


RAME 


RAMI 


RAMO 


Outro,  as  vertentes  lágrimas,  que  pendem. 
Como  um  ramal  gelado,  de  seus  olhos. 

F.    M.   DO  NASCISTENTO,  OS   MARTYEES,   1ÍV.    8. 

—  Ramal  da  funda  de  atirar  pedras ; 
o  cordão,  uma  cLas  pontas. 

—  Termo  de  fortificação.  Grandes  la- 
dos, que  atam  uma  parto  da  praça  prin- 
cipal com  as  obras  exteriores,  ou  sejam 
tenalhas,  cornas,  etc. 

—  Ramal  da  coifa  ;  a  borla  ou  os  cor- 
dões que  saliem  da  coroa  d'ella. 

—  Ramal  na  mina;  o  caminho  subter- 
râneo, que  guia  aos  fornillios. 

RAMALHADA,  s.  f.  Grupo  de  rama- 
lhos. 

—  Estrépito  de  ramos  agitados. 
RAMALHAR,  v.  a.  Chegar  a  obter  os 

ramos  mais  baixos. 

—  Fazer  som  nos  ramos,  pondo-os  em 
movimento. 

—  Fazer  susurro  a  rama. 
RAMALHETE,  s.  nu  Ramo  de  flores  na- 

turaes  ou  artificiaes,  dispostas  por  certa 
ordem. 

-RAMALHATEIRA,  s.  f.  A  mulher  que 
faz  ramalhetes. 

—  Mulher  que  os  vende. 
RAMALHO,  s.  m.  Ramo  cortado,  velho 

e  secco. 


Por  aqui  não  passarão, 
fica  o  palheiro  ramaího 
aos  barcos  que  vem  e  vào. 
ASTONio  prestes;  AUTOS,  pag.  261. 


—  Pôr  ramalho  como  em  atoleiro  ;  pôr- 
se  ramos  em  pé  nos  barrancos,  atoleiros 
das  estradas,  para  que  o  viandante  se 
desvie,  e  não  vil  cahir  n'elles. 

RAMALHUDO,  A,  adj.  Que  tem  muita 
rama . 

—  Galhudo. 

RAMASSÃO,  s.  m.  Vid.  Remendão. 

RAMEOTIM,  s.  m.  Certo  estofo  asiá- 
tico. 

RAMEIRA,  s.  m.  Mulher  publica,  puta, 
prostituta.    Vid.  Cantoneira,  que  differe. 

—  Adagtos  e  provérbios  : 

—  Não  ha  geração  sem  rameira,  ou 
ladrão. 

—  Quando  a  rameira  fia,  o  letrado  re- 
za, e  o  escrivão  pergunta  quantos  são  do 
mez,  mal  vai  a  todos  três. 

—  Amor  de  rameira,  e  convite  de  es- 
talajadeira, não  pôde  ser,  que  não  custe 
dinheiro. 

1.)  RAMEIRO,  s.  m.  Homem  que  arre- 
mata aos  contractadores  principaes  da  al- 
gum contracto  um  ou  mais  ramos  d'elle. 

2.)  RAMEIRO,  A,  adj.  —  (íatíao  ramei- 
ro;  gavião,  que  saindo  do  ninho  anda 
de  ramo  em  ramo. 

RAMELA,  s.  /.  Vid.  Remela. 

RAMENTOS,  s.  m.  pi.  Pequenas  par- 
tes. 

RAME  O,  A,   adj.  Termo  de  botânica. 


Que  nasce  sobre  os  ramos,  fallaudo  das 
folhas,  pedúnculos. 

—  Que  é  relativo  aos  ramos. 
RA-ME-RAM,  ou  RAMMERÃO,  adv.  ono- 

matopaico,  vindo  do  som  uniforme  de 
imi  instrumento  mal  tocado,  ou  do  som 
de  algum  instrumento  fabril. 

—  Figuradamente :  Costumeira  cousa, 
e  praticada  vulgarmente. 

—  Costume,  habito  vulgar.  —  Não  pas- 
sa este  homem  do  seu  ra-me-ram. 

RAMICH,  «.  m.  Termo  de  pharmacia. 
A  labaça  ou  azedas,  herva. 

RAMIFICAÇÃO,  s.  m.  Termo  de  bo- 
tânica. Divisão  de  uma  haste  em  muitos 
ramos. 

—  Disposição  de  ramos.  — •  A  ramifi- 
cação  do  carvalho. 

—  Termo  de  anatomia.  Jlodo  pelo 
qual  se  dividem  as  artérias,  as  veias,  os 
nervos,  etc, 

—  Figuradamente :  Subdivisões  d'uma 
sciencia,  d'um  assumpto,  d'uma  matéria. 
—  Seguir  seu  assumpjto  em  todas  as  suas 
ramificações. 

—  Figuradamente  :  Diz-se  de  uma  sei- 
ta. —  As  ramificações  d'esta  seita  esten- 
diam-se  mui  longe. 

f  RAMIFICADO,  part.  pass.  de  Rami- 
ficar. —  Artérias  ramificadas. 

RAMIFICAR,  i'.  a.  (Do  latim  ramus, 
&  f acere).  Propagar,  estender  em  ramos 
a  arvore. 

—  Figuradamente  :  Ramificar  a  gera- 
ção, a  prole. 

—  Figuradamente :  Ramificar  a  scien- 
cia,  a   doutrina,    a  seita. 

—  Figuradamente :  Ramificar  os  de- 
feitos, os   vicios,   os  hábitos,    etc. 

—  Ramificar-se,  i-.  ref.  Dividir-se  em 
muitos  ramos. 

—  Figuradamente :  Diz-se  das  noções, 
das  sciencias.  —  Estas  verdades  dividem- 
se,  subdividem-se  e  ramificam-se  até  ao 
infinito. 

■ — ■  Diz-se  também  de  uma  seita,  de 
uma  doutrina.  —  As  seitas  protestantes 
tem  uina  grande  tendência  a  ramifica- 
rem-se. 

f  RAMIFLOR,  adj.  2  gen.  Termo  de 
botânica.  Diz-se  das  flores  que  nascem 
sobre    os   ramos. 

1  RAMIFORME,  adj.  Termo  de  botâni- 
ca. Que  se  assemelha  a  um  ramo. 

RAMILHA,  í;.  /.  Vid.  Ranilha. 

RAMILHETE,  s.  m.  Vid.  Ramalhete.— 
«Ho  hum  ramilhete  composto  de  excel- 
leutes  flores,  e  não  se  pôde  diser  outra 
cousa  cm  seu  louvor  se  não  que  foi  com- 
posto das  fragaucias  dos  Jardins  mais  co- 
nhecidos.» Cavalleiro  d'01iveira.  Cartas, 
liv.  2,  n.°  67. 

Alli  vejo  o  teu  Busto,  alli  cingida 

A  frcute  tons  de  peregrinas  Plantas, 

E  tu,  qual  novo  Adão,  dás  nome  a  todas. 

lima  ramilhete  de  purpúreas  Flores, 

A  Europa,  a  Lybia,  a  America  te  ofiTrcccm. 

J.  A.  DE  SUCEDO,  VUGEM  EXTÁTICA,  CaUt.   2. 


RAMINHO,  s.  m.  Diminutivo  de  Ramo. 
Ramo  pequeno. 

A  dar-mc 
.  prazer,  sem  entresachar-mo 
um  raminho  desliosto. 
Só  Deos  tem  o  coutentar-me. 
E'  verdade. 

AKTONIO  PBESTES,  AUTOS,  pag.  20. 

Que  favor 
ha  de  ir  ncllcs  ? 

Uus  raminhos 
cm  bicos  de  passarinhos, 
cousa  que  tenha  primor. 
IBIDEM,  pag.  451. 

RAMINO.  Vid.  Ramo. 

f  RAMIPARO,  A,  adj.  Termo  de  bo-- 
tanica.  Qiie  deita  ramos. 

• —  Diz-se  dos  polvpeiros. 

RAMNO.    Vid.  Rhamno. 

BAMO,  s,  m.  (Do  latim  ramus).  Por- 
ção menor  que  o  braço  da  arvore,  em 
que  se  divide  o  tronco.  —  Um  ramo  de- 
figueira. 

Na  trança  do  chapóo  traz  sempre  um  ramo, 
E,  se  encontrar  rascão  seu  matalote. 
Lá  o  sabe  avisar  pelo  reclamo. 

FERNÃO  SOROPITA,  POESLIS  E  PROSAS  INÉDITAS, 

pag.  5.3. 

Ireis  vós  pêra  Sanhoanne 
Polo  eco  sagrado, 
Que  meu  dono  está  danado. 
Vio  elle  o  demo  no  ramo. 
Se  elle  fosse  namorado. 
Logo  eu  vou  buscar  outr'amo. 

GIL  VICENTE,  FARÇAS. 

Imaginaua  ouuir  no  rumor  surdo 
Da  cristallina  fonte  a  voz  suauc 
Daquella  suauc  boca,  quanto  ouue, 
E  quanto  ve,  Lianor  se  lhe.  afigura. 
Qualfjuer  ou  aue,  ou  ramo  que  se  mouc 
Lhe  fere  o  coração  com  sobresalto : 
Alterado  se  vira,  alenta,  e  busca 
O  fantástico  bem  falso,  e  fingido. 

CORTE  REAi,  NAUFRÁGIO  DE  SEPÚLVEDA,    Caut.   9. 

—  «Logo  Lereno  tomando  o  çurrão, 
que  nos  ramos  tinha  pendurado,  se  sa- 
hio  de  entre  elles  ;  e  pondo-o  sobre  hum 
penedo,  que  no  valle  estava,  encostado  a 
elle,  e  a  pastora  ao  seu  cajado,  lhe  pc- 
dio  ella  que  lhe  dissesse  o  seu  nome,  a 
terra  donde  era,  e  o  que  naquella  bus- 
cava.» Francisco  Rodrigues  Lobo,  Pri- 
mavera. 


O  meigo  Ijrilho  espalha  ;  Heras,  que  abraçâo 
A  Choça  antiga,  o  líouxiuol,  que  canta, 
O  Velho,  que,  no  umbral,  se  assenta,  a  ouvi-lo. 
E  03  que,  Hjmnos,  Aves,  soltão,  pelos  ramos, 
Que  em-sombrâo  suas  câns :  e  a  Deos  adora. 

F.    M.    DO   NASCIMENTO,   OS   MÍRTYRES,   1ÍV.   C. 

Pizava  o  gelo,  c  as  comas  ouriçavão-se-me, 
Co 'a  apolvilhanto  geada ;  o  cru  Nordeste 
Me  dessecava  as  lágrimas,  no  rosto. 
C"um,  que  tirei  do  fei.tc,  tosco  ramo, 
Abordoava  os  passos  mal-seguros. 
IBIDEM,  liv,  7. 


76 


11  A. Mo 


UAN 


KANC 


Oado  Sugcivla,  dos  Gorraanoa  Pythia 
Ji  oritculoH  rompeu,  brcvo  traiiBiimpto 
Vi  da  Mão  do  Jcsiw.  Ciiin  nimo  de  Hi'ra 
Dcrio  il  Màd,  o  ao  «acro  liifMiitn  adorno 
Oi*  maduros  Corymlio-i  troinolaiitcH, 
Que  o  iiiHuIto  iada  nia  nentcin  da»  goadan. 


Quanto  ho  apraz  doH  catnnoa  LuHitauoii 
A  formosa  pacifica  Oliveira! 
}fo  Hymbolo  da  pai;,  c  a  paz  implora, 
S'orf;uc  seu  ramo  o  misoro  vencido. 
A  dura  milo  do  desal)rido  Inverno 
Jilmairt  a  dí^spojou  do  ornato,  c  fçala ; 
Vagarosos  ao  ár  «cus  troncos  sobem  •, 
Pouco  amanlio  a  vigora  ;  e  mí-dra,  c  cresce 
Em  torra  pedregosa,  o  sAfia,  e  dura. 

1.    A.    Di:   MACEDO,   MEDITAÇÃO,  Caut.    3. 

Vio  dos  Coos  o  mortal,  quo  crranto,  afflicto, 
Nilo  tinlm  asylo  mais  que  as  ermas  grutas, 
Tristes  furnas  dos  liorridos  penhascos  ; 
As  vicejantes  arvores  Uio  prcstiio. 
Do  Rei  da  crcaijào  pobre  choupana 
Foi  palácio  primeiro,  e  seccos  ramos 
Da»  injurias  do  ár,  sem  arte,  o  luxo, 
A  muito  frágil  maquina  lho  cscudâo. 


Ondcào  som  cultura  as  louras  messes, 
De  plantas  colossaes  ac  cobre  o  monte, 
Alça  entr'  ellas  a  coma  o  Cedro  altivo, 
Cruzão-se,  enlação-sc  os  virentes  ramos, 
Formilo  tufado  bosque,  c  a  sombra  cutóruSo, 
Asylo  ao  pensador,  asylo  ao  Vate. 
IBIDEM,  caut.  4. 

—  ILamilicação  ou  braço  om  que  se  di- 
vide o  tronco  da  veia  ou  artéria. 

—  Ramo  de  alguma  casa,  ou.  familia ;  o 
descendente  de  algum  tronco,  que  o  di- 
vide e  subdivide  cm  familias. 

—  Ramos  dos  montes ;  braços  d'elle3. 

—  Ramo  do  lençol;  um  dos  panuos  do 
que  se  compõe. 

—  Um  ramo  de  gente;  uma  pequena 
porção,  um  pequeno  numero. 

—  Ramo  de  doença;  ataque  imperfeito 
d'ella. 

—  Ramo  do  rio  ;  braço  d'elle. 

—  Figuradamente  :  Ramo  de  commercio, 
de  industria,  de  contracto  ;  a  parte  cm  que 
elle  se  occupa,  os  efFeitos ;  c  terra  onde 
ello  80  faz,  c  dirige  :  parte  d'elIo  ari"enda- 
do  a  rameiro;  ou  é  tratada  de  certos  que 
n'ena  se  occupam  particularmente. 

— •  O  tenro  e  novo  ramo  florescente  da 
arvore  de  Christo. 

V<59,  tenro  e  novo  ramo  florcceute 
Do  uma  arvore  de  Christo  mais  amada. 
Que  nenhuma  nascida  no  Occidentc, 
Cesárea,  ou  Cliristianissima  chamada  : 
(Vòdc-o  no  vosso  escudo,  que  presente 
Vos  amostra  a  victoria  já  passada. 
Na  qual  vos  deu  por  armas,  e  deixou 
As  quo  olle  para  si  ua  Cruz  tomou). 
cAM.,  tus.,  caut.  1,  est.  7. 

—  Ter  ramo  </*'  doudice  ;  tocar  de  dou- 
do ;  ter  parte  de  doudo;  ter  venetas. 

—  Divisiio,  ou  estrophe,  ou  estancia 
em  que  se  divide  a  ode,  ou  c;inçào,  ou 
silva,  com  certa  regularidade. 


—  Termo  du  tccello.  O  ctjuipriuiento 
do  cada  urdidura,  que  corroupoude  ao  da 
ordideira. 

—  L<)C. :  Entregar  o  ramo ;  dal-o  ao 
qutj  otlurecou  luui.s  pela  cousa  quo  hc 
vendo  ou  hc  arrenda  um  praça. 

—  Ramo  d^  louro  á  jx/rta;  aigaal  de 
que  nn  casa  se  vendo  vinlio. 

—  Vender  ao  ramo ;  vender  vialio  ata- 
vernado,  por  miúdo. 

—  Figuradamente:  Taverna  ou  caea 
onde  se  vendo  vinho. 

—  Domingo  de  Ramos;  domingo  da  so- 
mana  santa,  em  que  se  dào  palmas  e  ra- 
mo» de  oliveiras. 

— -Semana  de  Ramos  ;  a  que  começa  om 
domingo  de  Kamos,  e  acaba  com  as  allc- 
luias. 

—  Sexta- feira  de  Ramos;  sexta-feira 
da  semana  santa. 

—  Adágios  e  provérbios: 

—  Não  lhe  deixes  pôr  pé  em  ramo 
verde. 

—  Pelejam  os  touros,  mal  pelos  ramos. 

—  Qualquer  ramo  em  janeiro,  torcido 
está  quedo. 

—  O  bom  vinho  nao  ha  mister  ramo. 

—  Ramos  molhados,  sào  louvados. 
RAMOSIDADE,   s.  f.   (De  ramoso,  e  o 

suflixo    « idade nj.   O  caracter   de  ser  ra- 
moso. 

—  A  totalidade  dos  ramos. 
RAMOSO,  A,  adj.  (Do  latim  ramosus). 

Termo  de  botânica.  Que  tem  ramos ;  que 
está  dividida  em  ramos.  — •  Haste  ramosa. 

—  Diz-se  da  cornadura  do  veado. 

—  Diz-sc  emtim  de  toda  a  espécie  de 
ramiticaçào.  — Em  cada  parte  d'e8tes  áto- 
mos viventes,  veias,  sangue;  n 'este  san- 
gue, espirites,  partes  ramosas  e  humores. 

—  A  matéria  ramosa  ;  hypothese  ima- 
ginada por  Dcsciírtes  sobre  a  configiu-a- 
çào  da  matéria  para  explicar  certos  ar- 
ranjos. 

RAMPA,  s.  f.  (Do  francez  rampe).  O 
declive  de  uma  collina,  de  uma  monta- 
nha. 

—  Palco ;  tablado. 

—  Termo  de  anatomia.  Rampas  do  ca- 
racol; nome  dado  ás  duas  cavidades  do 
caríicol,  no  ouvido ;  a  externa  ou  superior 
ó  chamada  rampa  testiòulur;  a  interna 
ou  inferior  ó  chamada  rampa  ti/mpanica. 

RAMÚSCULO,  s.  m.  Diminutivo  de  Ramo. 
Kamo  pequeno. 

RAN,  s.  /.  (Do  latim  ratvi).  Pequeno 
animal  amphibio,  creado  nos  charcos  e 
alagôas;  faz  grande  grasnada  mormente 
nas  noutes  de  verào. 

E  farei  calar  as  raiis 
De  noite,  e  cantar  os  grilos, 
E  as  patas  pelas  mauhans ; 
E  alimpar  as  ma(;an3, 
E  floreccr  os  pampillos. 

OIL  VICKSTB,  KABÇAS. 

—  Rà  do  mar;  peixe  monstruoso,  chato, 
com  bicos  na  cabeça. 


RANZINHA,  <.u  RAAZINHA,  *.  /.  Dimi- 
nutivo do  Râ.  KS  pijíjuona,  ri  no  estado 
de  ttjard. 

RANÇADA,  *.  /.  Vid.  Arrancada. 

RANÇAR,  i'.  a.  Toriiar-»e  runcido,  en- 
raiii;;ir--«'. 

RANCE.  t.  /».  Movei  antigo. 

RANCEONAR,  v,  a.  Vid.  ResgaUr,  e 
Arrançoar. 

RANCESCER-SE,  v.  rejl.  Tornar-«e  ran- 
cido,  ranç.ir-ne. 

RANCHADA,  «.  /.  Ilancho  de  pwsoas. 

—  Turba  do  gente,  associaçSo,  bando 
de  g<'nte. 

RANCHEL,  ».  m.  Diminuti%'0  de  Ran- 
cho.   <';i-a  '111  camará  pequena. 

RANCHEIRO,  *.  m.  (J  camarada  que 
faz  o  rancho,  ou  mesa  commam  do  quar- 
tel e  camarada. 

—  Termo  de  marinha.  O  marinheiro 
que  faz  rancho,  ou  me**  commam  nos 
navios,  V  o  guarda  de  sua  mão,  distri- 
buindo-o  convenientemente. 

RANCHINHO,  s.  »i.  Diminutivo  de 
Rancho.   Pequeno  rancho. 

RANCHO,  H,  ii\.  Termo  de  marinha. 
Logar  á  proa,  onde  nos  navios  mercan- 
tes  se  junta  e  dorme  a  marinhagem. 

—  U  aggregauo  de  mantimantos  com- 
prados pela  guamiç.Ho,  a  quem  se  dá  para 
esse  eflfeito  a  ração  a  dinheiro. 

—  Cada  um  dos  grupos  que  se  reúne 
a  comer  cm  uma  bandeja. 

—  Casa  ou  tenda  movivel,  que  se  faz 
pelos  caminhos. 

—  Rancho  de  Santa  Barbara;  nos  na- 
vios, o  logar  por  baixo  da  camará  onde 
está  a  canna  do  leme,  onde  vão  os  arti- 
lheiros. 

—  ^«  pessoas  do  rancho ;  no  mar,  ou 
nos  quartéis  militares,  as  que  comem  em 
commum;  mesa  communi. 

—  Figuradamente  :  Bando,  facção,  par- 
cialidade de  poucos,  partido. — Este  ho- 
mem pertence  av  rancho  do  Carqueja. 

—  (jrupo  de  pessoas  que  86  separam 
a  conversar. 

RANGIDO,  A,  adj.  (Do  latim  roncídu*"'. 
Que  tem  rançt»,  rançoso. 

—  Emprega-se  também  no  sentido  fi- 
gurado. 

RANÇO,  s.  in.  Significação  incerta. 

RANCOR,  «.  «I.  (,Do  latim  rancor).  Ódio 
occulto  e  inveterado  que  se  entranha  uo 
coraçrio.  —  a  Este  nome  despede  de  nos- 
so coraçam  toda  a  dureza,  todo  torpor, 
rãcor,  e  azedia  spiritual.  Pois  irmãos  se 
te  agora  nam  f(.>stes  tam  deuotos  deste 
saudauel  nome,  d.iqui  por  diante  o  sede 
muvto  nomeandoo  mnytas  vezes  com  con- 
fiança c  feruor  de  amor.  Lembre-uos 
o  que  diz  sam  Paulo :  quo  ningnem  pode 
dizer,  lesus,  senam  mouido  pello  Spirito 
sancto.»  Fr.  Hartholomeu  dos  Martyres, 
Catecismo  da  doutrina  christâ. 


Que  f.i<a  que  em  Fars,nlia  o  Si-v^rro.  c  O  GenrO, 
«Tumultuoso  pár  !i  disputa  o  Globo? 


RANG 


RAPA 


RAPA 


Da  citenuiuauto  guerra  não  são  clles 

Os  precuraores  hórridos  :  somente 

Doa  homcna  a  ambição,  o  amor  da  gloria, 

A  avareza,  o  rancor:  este  o  Cometa, 

Que  muda  a  face  áo  Globo,  o  sangue  entorna. 

J.  A.  DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Cant.  2. 

Ao  rancor  dos  mortaos  não  basta  a  Terra  : 
Vão  sobro  as  ondas  disputar  cruezas. 
Que  espantoso  conflicto,  horrendo  estrago. 
IBIDEM,  cant.  3. 


Era  convenção  pasmosa  os  Ursos  vivem, 
Em  bando  os  corpulfutos  Elefantes 
Som  ódio,  som  raiwor  nos  bosques  passão. 
Gctulico  Leão  jamais  derrama 
O  sangue  de  hum  Lcào  ;  vogão  no  Nilo 
Os  Crocodilos,  o.-?  Hypopotámos  : 
Creadas  para  o  sangue,  o  para  a  morto 
Cada  espécie  oomsigo  em  paz  se  liga. 


—  Aggravo,  queixa. 

—  Stn.:  Rancor,  ódio.  Vid.  este  ulti- 
mo vocábulo. 

RANCOROSO  A,  adj.  (De  rancor,  com 
o  suffixo  «oso»).  Cheio  de  rancor. 

—  Homem  rancoroso ;  homem  que  con- 
serva ódio  a  alguém. 

— -Termo  antiquado.  Substantivamen- 
te :  Um  rancoroso  ;  o  homem,  que  quere- 
la de  alguém,  e  que  na  presença  do  juiz 
manifesta,  e  quer  provar  o  crime  alheio, 
e  procura  a  satisfação  e  vingança  da  sua 
própria  injuria,  ou  que  como  tal  se  con- 
sidera. 

—  Lesado,  qaeixaso,  offendido,  aggra- 
vado. 

RANCOURA,  ou  RANCURA,  s.  f.  Que- 
rela ou  queixa  judicial  e  contra  alguém 
dada  perante  o  juiz. 

RANÇO,  s.  m.  A  mudança  de  cor,  chei- 
ro e  sabor  que  «obrevem,  por  exemplo, 
á  manteiga,    ao  toucinho,  ao  azeite,  etc. 

RANÇOSAMENTE,  adv.  (De  rançoso, 
com  o  suffixo  «mente»).  De  um  modo 
rançoso,  com  ranço. 

—  Figuradamente  :  Ao  modo  antigo. 
RANÇOSO,  A,  adj.  Que  tem  ranço,  ran- 

cido. 

—  Figuradamente:  Estylo  rançoso ;  es- 
tylo  antiquado,  de  mau  gosto.  O  mesmo 
se  deve  entender  de  conceitos  e  jtensa- 
mentos  rançosos. 

RANCURAR-SE,  v.  refl.  Termo  antiqua- 
do. Queixar-se  perante  o  juiz  de  alguma 
violência,  aggravo,  injuria,  affronta  que 
se  lhe  fez,  ou  a  cousa  e  pessoa  da  sua 
obrigação.  Vid.  Arrancurar-se. 

RANCUROSO,  A,  adj.  Vid.  Rancoroso. 

RANCURUSU,  ant.  Vid.  Rancoroso. 

RANGER,  1-.  a.  Fazer  produzir  um  som 
áspero,  e  que  faz  arripiar  o  corpo. 

—  Loc. :  Ranger  os  dentes;  apertal-os, 
e  correr  apertadamente  uns  sobre  os  ou- 
tros produzindo  estrépito, 

—  V.  n.  Produzir  ura  som  áspero,  mais 
ou  menos  temeroso.  —  «  Para  o  povo, 
ignorante  e  impiamente  crédulo,  a  noite 
é  cheia  de  terrores;  em  cada  folha  que 


range  na  selva  elle  ouve  um  gemido  de 
alma  que  vagueia  na  terra.»  Alexandre 
Herculano,  Eurico,  cap.  7. 

—  Ralhar,  mostrando  os  dentes  como 
03  cães. 

—  Rangiam  os  ossos  entre  os  dentes  do 
gigante  que  o  devorava;  estalavam  com 
o  mastigar. 

—  Ranger-lhe  aferida  do  peito  ;  fazer 
um  estrondo  com  a  respiração. 

—  Ranger  os  dentes  com  o  frio  da  fe- 
bre. 

RANGIDO,  í.  m.  O  ruido  áspero  pro- 
duzido pela  cousa  que  range.  —  O  ran- 
gido dos  dentes.  —  O  rangido  dos  car- 
ros, etc.  Vid.  Ranger. 

—  Part.  pa^s.  de  Ranger. 
RANGIFER,  s.  m.  Vid.  Renno. 
RANGOMELA,  s.  /.    Termo  da  Beira. 

Aversão. 

RANGUE,  adv.  pop.  Usado  n'esta  lo- 
cução: Andar  em  rangue  com  alguém; 
andar  em  razões,  ralhos,  resingas,  e  al- 
tercações. 

RANHADURA  «.  /.  Termo  de  tanoeiro. 
O  chanfro  da  aduella. 

—  O  acto  de  chanfrar. 

RANHO,  s.  m.  (Do  grego  rhin,  rhinos). 
O  monco  do  nariz. 

RANHOADA,  s.f.  Fressura.  —  «  Do  pe- 
dida uma  ranhoada  de  carneiro,  com  duas 
soldadas  de  pão,  ou  seis  soldados,  se  os 
nós  quizermos.»  Doe.  de  Bostello  de  131G, 
em  Viterbo,  Elucid. 

RANHOSO,  A,  adj.  (De  ranho,  com  o 
sufHxo  «oso»).  Que  tem  o  nariz  sujo  de 
ranho. 

—  Adagio  :  Nem  o  moço  por  ranho- 
so,  nem  o  potro  por  sarnoso. 

RANHURA,  s.  /.  (Do  fi-ancez  rainu- 
re).  Termo  de  náutica.  Cavidade  no  to- 
po do  pau  do  turco,  onde  ronda  a  bôça, 
quando  n'elle  se  suspende  a  ancora. 

RANILHAS,  í.  /.  Termo  de  alveitaria. 
A  parte  trazeira  dos   cascos  das  bestas. 

RANINA,   adj.  f.  Vid.  Ranular. 

RANULA,  s.  /.  (Do  latim  ranula).  Ter- 
mo de  cirurgia.  Tumor  que  nasce  debai- 
xo da  lingua  junto  ao  freio. 

RANULAR,  adj.  2  gen.  Termo  do  ana- 
tomia. Diz-so  de  duas  artérias,  e  de  duas 
veias  situadas  debaixo  da  lingua. 

RANÚNCULO,  s.  m.  (Do  latim  rauuncu- 
lus).  Termo  de  botânica.  Planta  da  fa- 
milia  das  ranunculaceas,  de  calyx  penta- 
phylloso,  raríssimas  vezes  triphyllo,  e  co- 
rolla  polypetala.  As  principaes  espécies 
indígenas  são : 

—  Celidonia  menor  (ranunculus  fica- 
ria, Linneu). 

—  Montão  do  ouio^nno  (ranunculus  hul- 
latus,   Linneu). 

—  O  ranúnculo  gramíneo. 

—  O  ranúnculo  dos  jardins  (ranuncu- 
lus asiaticus,   Linneu). 

RAPA,  s.  /.  (De  rapar).  Dado,  com 
dous  pequenos  eixos  em  que  se  imprime 
um   movimento  giratório  e  que  tem  nas 


quatro  faces  as  letras  T,  que  significa 
tira,  R,  que  significa  rapa.  D,  que  signi- 
ca  deixa,  P,  que  significa  perde  ou  põe. 
Se  a  um  jogador  fica  para  cima  a  face 
com  T,  tira  a  entrada  dos  parceiros ; 
se  a  face  com  R  ganlia  o  bolo  ou  monte 
todo;  se  a  face  com  D  continua  a  jogar 
sem  ganhar  nem  perder;  se,  finalmente, 
a  face  com  P  é  obrigado  a  pagar  o  equi- 
valente ás  entradas  dos  parceiros.  É  jo- 
go muito  usado  entre  as  crianças  e  so- 
bretudo entre  os  gaiatos  da  rua,  que  o 
acompanham  com  muitos  anexins. 

RAPACE,  adj.  (Do  latim  rapax,  eis, 
do  mesmo  radical  que  rapere  (vid.  Ra- 
pto), rapidus,  etc).  Ávido  e  ardente  em 
fazer  presa.  —  A  águia  rapace.  —  O 
abutre  rapace. 

—  S.  111.  plur.  —  Os  rapaces  ;  primeira 
ordem  das  aves  em  que  se  incluem  to- 
das as  que  se  designam  ATilgarmente  sob 
o  nome  de  aves  de  pjvesa.  Divide-se  essa 
ordem  em  duas  famílias:  as  nocturnas,  e 
as  diurnas. 

—;  Figuradamente  :  Disposto  á  rapina. 
—  -E  xim  honitm  rapace. 

—  Termo  de  metallurgia.  Diz-se  das 
substancias  que  não  somente  se  dissipam 
pela  acção  do  fogo,  mas  ainda  contribuem 
a  fazer  desapparecer  as  outras  substan- 
cias. —  Os  minérios  d'arsenico  são  rapa- 
ces. 

RAPACIDADE,  s.f.  (Do  latim  rapacita- 
te,  de  rapa.i;  rapace).  Avidez  com  que 
o  animal  se  precipita  sobre  a  sua  presa. 
Rapacidade  do  abutre. 

—  Avidez  tle  se  assenhorear  do  bem 
d'outrem.  —  A  rapacidade  dos  agentos  du 
governo  foi  uma  das  causas  da  queda 
do   império   romano. 

RAPACISSIMO,  A,  superl.  de  Rapace. 
Muito  rapace. 

RAPADA,  s.  /.  (Vid.  Rapado).  A  cabe- 
ça rapada.  =  Cabido  em  desuso. 

RAPADO,  part.  pass.  de  Rapar.  (Ety- 
mologicamente,  o  mesmo  que  Raspado). 
Raspado  na  sua  superfície.  — •  Uma  raiz 
rapada  com  uma  navalha. 

—  Cortado  desde  a  superfície  até  á 
raiz. —  Cabello  rapado.  —  Barba  rapada. 

—  A  que  se  cortou  o  cabello,  a  barba, 
até  ao  couro  cabelludo.  —  «A  pessoa  do 
Chaubainhaa  vinha  em  hxima  elifanta  pe- 
quena em  sinal  de  pobreza  e  desprezo  do 
mundo  cuforme  á  religião  em  que  nova- 
mente queria  entrar,  sem  mais  outro  ne- 
nhum fausto,  vestido  por  d(5  em  huma  ca- 
baya  de  ueludo  preto  muyto  comprida,  e 
rapado,  de  novo  de  cabeça,  barba,  e  so- 
brancelhas, e  ao  pescoço  huma  corda  de 
cayro  muito  velha,  para  assi  com  ella  se 
entregar  a  el  Rey.»  Fernão  Mendes  Pin- 
to, Peregrinações,  cap.  150.  —  «Tem 
idolatria  no  cabello  e  por  isso  ho  criam 
tam  comprido,  tendo  que  por  elle  ham 
de  ser  levados  ao  ceo.  Os  sacerdotes  co- 
muns nam  criam  cabello,  mas  andam  ra- 
pados, porque  dizem  que  nam  ham  mis- 


78 


RAPA 


RAPA 


RA1'A 


ter  ajiidii  <|Uc  ou  levo  ao  coo.»  Vr.  (im- 
par (ia  (.'ru/'.,  Tratado  das  cousas  da  Chi- 
na, cap.   l.i. 

RAPADELLA,  «.  /.  (Do  rapado,  com  o 
Bufíixii  «ella"*.  AcçSo  do  rajiar. 

—  -  il,a]>.-i,iliir,'i. 

RAPADOIRA,  <m  RAPADOURA,  s.f.  (De 
rapar),  liistiiiiiifiuo  cnm  f(uc  hc  rapa. 

RAPADURA,  .S-.  ./'.  '  1 )"  tliiriiia  rapa,  de 
rapar,  i-diu  o  siiílixo  a  dura»).  O  qiu!  se 
tira  rapando  ou  raspando  ;   ras]ia«. 

—  'l'oriiio  do  caça.  Rapaduras  de  coe- 
lho; nome  dado  á  terra  que  o  coelho  tira 
das  covas  que  faz. 

—  Termo  do  15razil.  Jlassa  dura  de 
assuear  ainda  nTio  purfrado  ou  de  masca- 
vado coalhado,  na  qual  se  lançam  amen- 
doins. 

—  Costra  jírossa  de  assucar  pef^ado  aos 
tijolos  das  tachas,  que  se  raspam  para  se 
guardar,  ou  misturar  e  desfazer  cm  mel 
mascavado. 

RAPAGÃO,  s.  w.  Augmentativo  de  Ra- 
paz. M  inriho  cliinjantc,  bem  conformado. 

RAPALINGUAS,  .s.  /.  (Ue  rapa,  e  lín- 
gua), llerva  de  superfície  muito  áspera 
e  negra  que  cresce  naturalmente  nos  val- 
lados  e  dá  bagas  semelhantes  ás  do  len- 
tisco. 

1.)  RAPÃO, .«.  í/í.  (Do  thonia  rapa,  de  ra- 
par, com  o  suftixo  «ão»).  Jlomem  que 
anda  rapando  e  ajuntando  lixo  para  es- 
tei'car. 

2.)  RAPÃO,  s.  ííi.  Chita  ingleza  d'algo- 
di\o,  mais  forte  que  a  ordinária. 

RAPANTE,  imvt.  ad.  de  Rapar.  Que 
rapa . 

—  Termo  de  brazão.  Animal  rapante; 
animal  que  se  representa  com  as  unhas 
estendidas  para  rapar  o  chno. 

RAPAPÉ,  s.  «1.  (De  rapa,  e  pé\  Ter- 
mo familiar.  Cortezia  que  se  faz  arrastan- 
do o  pé  para  traz. 

—  Por  extensão  :  Comprimento,  acção 
que  se  faz  para  lisonjear  alguém. 

RAPAR,  1'.  a.  ( Ktymologicamente,  o 
mesuu)  que  Raspar ?i.  Cortar  até  á  raiz  o 
que  está  á  .superiicie.  - — Rapar  a  barba. 
—  Rapar  o  cnhello. 

—  Rapar  a  cara,  a  cabeça,  o  pescoço, 
ete. ;  cortar  ató  á  pelle  o  cabello  que  ci- 
las teem. —  «Chegadas  estas  quatorze 
vellas  ao  Achem,  lhe  deraõ  conta  de  tu- 
do o  que  jjassava,  de  que  dizem  que  fi- 
cou tão  triste,  que  vinte  dias  o  não  vio 
pessoa  nenhuma,  no  fim  dos  quais  man- 
dou cortar  as  cabeças  aos  Capitães  das 
quatorze  vellas,  e  a  todos  os  mais  que 
nellas  vinliSo  mandou  rapar  as  barbas,  e 
que  so  pena  de  serem  serrados  vivos  da- 
ly  por  diante  andassem  sempre  vestidos 
como  moiheres,  tangendo  com  adufes  por 
onde  quer  que  fossem,  e  que  quando  ju- 
rassem sobre  alguma  cousa,  fosse,  assi 
me  Deos  traga  meu  marido,  ou  assi  eu 
veja  pi-azer  dos  que  parv.»  Fern.no  Men- 
des Pinto,  Peregrinações,  cap.  32. — 
tCavlke  atravessada  sobre  a  coxa,  an- 


dam Bompro  rapados,  cabeça  c  barba, 
soomente  lio  beiço  derriba  deixam  sem- 
pre por  rapar,  c  isto  em  quanto  sam  man- 
cebos e  liie  nam  naeem  cães,  c  depoys 
que  lhe  naeem  a  criam  e  trazem  coinpri- 
ila.»  António  Teureiro,  Itinerário,  capi- 
tulo 17. 

Dinheiro,       Dinhoiro,  «fiiihor  doutor. 

Vfrmniiura.  Aiiiur,  duutur  mou  Houlior. 

Moro,  líupoií-me.  o  dngolaUouro  ! 

amor,  doutor,  toinc  mouro, 
iifio  liit  d'orite  ainor,  doutor, 
mu  minuto  a  boca  d'ouro. 
ANioNio  rBEsres,  autos,  pag.  209, 

—  Figui-adameute :  Estender  a  mão  e 
tirar  tudo  o  que  se  acha  em  monte,  cm 
uma   superfície.  —  Rapar  o  bolo  ao  joyo. 

—  Roubar  por  força  ou  engano. 

Eu  dei  ao  ploculador, 
quanto?  um  de  mil  c  vinte; 
bem,  valente, 
((ue  rapou  o  meu  senhor 
melhor  ((UC  escarnar  um  dente. 

AKTONIO   PRESTES,    AUTOS,  pag.    350. 

fieg,  Villào.  Que  jogou  ?  conde  ?  matac  ; 
níio  fallo  ;  rapae-lli'o,  nora. 
Fernão,  Qiiei-vo9  calar,  pae,  ou  não? 

Grimaiieza,    E'  conde  d'ouros  ?  dizei. 
míDESf,  pag.  381. 

RAPARIGA,  s.  ,/'.  (Feminino  irregular 
de  Rapaz;,  ^lulher  nova;  ereança  ou  ado- 
lescente do  sexo  feminino.  —  E  uma  lin- 
da rapariga. 

1'rro.  l'ao,  pae,  venha  a  rapariga, 

E  veremos  que  ella  diz  : 

E  como  diz  a  cjintiga, 

Traga  as  testcmunlias  ca. 

Sete  ou  oito  abastarão. 
Anna,  Senhor,  senão  for  per  rezão, 

Xunca  s'i»so  provará  : 

Que  era  o  pão  onde  os  achei 

Mais  alto  do  qu'he  essa  vara. 

GIL  VIOE-STE,  KABÇAS. 

—  «Porque,  se  tem  a  dama  rapariga, 
é  justo  que  lhe  mandem  cestinho  de  meio 
tostão  em  que  ás  vezes  se  fazem  grandes 
viagens,  se  acerta  de  ir  o  preto  em  pel- 
losinho,  quando  a  simplicidade  bota  os 
cominhos  ao  sol  como  caracol  entre  fun- 
cho.» Fernão  Rodrigues  Lobo  iSoropitíi, 
Poesias  e  prosas  inéditas,  pag.  82. 

—  í^irvilheta. 

RAPARIGO,  í.  m.  Rapaz.  Fórraa  anti- 
quada, ainda  usada  no  ilialeto  gallego. 

RAPARIGUINHA,  s.  f.  Diminutivo  de 
Rapariga. 

RAPAZ,  .«.  f.  (Segundo  Diez,  do  latim 
raiHi.r,  nom.  rapaj.-,  pela  tendência  á  ra- 
pina que  teem  os  rapazes \  Adolescente 
do  sexo  masculino;  homem  novo. —  Um 
rapaz  elegante.  —  Um  bom  rapaz.  —  Um 
rapaz  solteiro. 

Diiar,  Bapaz,  éa  tão  namorado  ! 
Cru  falia  eem  sabor, 


Rapaz,  que  mudas  a  c<'ir. 
fíoiiç.    Ora  cMtai*  bem  aviado. 
Alrn.      Vende»  u  lebre,  villào? 
Goiíç.    Si ,  fidalgo. 
Alm ,  Mostra  ca  : 

Quanto  a  dás  ?  que  custará  ? 
Go/iç,    Samicas  meio  tostão. 

ML  VICEME,  FABÇAS. 

L'in  rajiat  que  o  mandei 
c  lhe  disse  —  vae  n'um  p^-  — 
mas  a  culpa  que  a/jui  i 
quem  a  tí!m,  mui  bem  a  sei. 

ASrOXIO  PBESTES,  AUTOS,  pag.   2Ó. 

—  «Que  vos  guardeis  dos  rapazes,  naJÍ 
vos  apedrejem,  se  souberem  que  fostes 
de  parecer  que  larguemos  aos  inimigos, 
o  que  nossos  aviis  nos  ganharão  com  tan- 
ta perda  de  seu  sangue.»  Arte  de  fur- 
tar, cap.  29. —  «As  idades  são  agora 
muito  curtas,  c  se  os  homens  se  não 
adiantarem  no  exercicio  das  suas  obriga- 
çoens,  terào  mui  pouco  tempo  para  as 
usarem.  Diz  V.  M.  que  creou  muito  bem 
seu  filho,  e  que  ello  ho  o  primeyro  rapaz 
que  se  agradou  de  moiheres  em  huma 
idade  tão  tenra.»  Cavalleiro  d'Uliveira, 
Cartas,  liv.  3,  n."  3(3.  — «  Diz  que  todos 
estes  iSecandija»  andavão  em  huma  La- 
guina  da  sua  terra,  e  que  muitas  vezea 
se  agregou  vel-os,  e  conhecel-o  sem  diver- 
sas figuras.  O  melhor  que  diz  nesta  ma- 
téria, he  que  também  conheceo  em  Por- 
tugal huma  molher  que  era  Lupis-humem, 
c  dous  rapazes  que  erão  Rruxas.»  Ibi- 
dem, liv.  1,  n."  25.  —  «Os  rapazes  do 
meu  tempo  também  dizião  rro,  rro,  la- 
ranjeira, e  assim  este  uso  de  dous  rr  no 
principio  da  dicçiio  parece  antigo,  e  ain- 
da que  seja  bom  não  he  da  moda.»  Ibi- 
dem, n.°  7.  —  «O  escrivão  da  camará  e 
secretario  nosso,  tirou  na  visita  onze  ar- 
robas de  peixe,  n'e3te  sitio,  e  deseseis 
tartarugas  e  lun  jacaré  pequeno  de  qua- 
tro palmos,  com  que  os  rapazes  brinca- 
ram, 03  índios  encheram  as  barrigas.» 
Bispo  do  Grão  Pará,  Memorias,  publica- 
das por  Camillo  Castello  Branco,  pag. 
20,'>.  —  «Esta  senhora,  indo  visitar  a  so- 
gra de  seu  filho  conde  de  S.  Loorenço, 
que  casou  com  a  herdeira  desta  casa, 
sendo  muito  rapaz,  disse  á  condessa  de 
S.  Ix)urenço,  sogra  do  conde;  «Sabeis, 
marqueza,  que  João  me  desattendeu?» 
—  Como  assim?»  Ibidem,  pag.  98. 

—  Moço  de  soldada,  lacaio. 

2.    RAPAZ,  adj.    2  gen.  Vid.  Rapace. 

RAPAZA,  .-.  /.  Termo  popular.  Femi- 
nino de  Rapaz.  Rapariga.  =  Empregado 
por  Jorge  Ferreira  de  Vasconcelloa,  etc., 
e  usado  no  dialecto  gallego. 

RAPAZÃO,  í.  »i.  Vid.  Rapagão. 

f  RAPAZELHO,  s.  m.  Termo  familiar. 
Rapaz  atrevido,  ou  malcreado. 

RAPAZETE,  s.  m.  Diminutivo  de  Ra- 
paz. 

RAP  AZIA,  .«.  íii.  De  rapaz,  com  o  snf- 
lixo  «iar  .  Dito,  acção  própria  de  rapaz,- 
travessura  de  rapaz. 


RAPH 

—  Multidão,  ajuntamento  de  rapazes. 

—  Credulidade,  ingenuidade  de  i'apaz, 
ou  própria  de  rapaz. 

RAPAZIADA,  >«.  /.  /De  rapazia,  com  o 
suffixa  «adaui.  Vid.  Rapazia. 

RAPAZINHO,  s.  m.  Pequeno  rapaz ;  ra- 
pazeto. 

Por  sinal,  quo  de  tela  boas  fitas 
O  Mestre  me  rapou,  que  era  um  alambre. 
Jlas  voaõ,  voaõ  os  ligeiros  amios, 
E  daninlios  comsigo  tudo  Icv^aõ, 
Os  gostos,  a  saúde,  c  a  memoria  ; 
E  qualquer  rapazinho  agora  pôde 
I?acbar-mc  com  quimios  afoutameute. 
Dixiz  Dx  CKUz,  uYssoPE,  cant.  4. 

7  RAPAZIO,  s.  m.  De  rapaz,  com  o 
suffixo  oio»).  Ajuntamento,  reunião  de 
rapazes, 

— -O  todo  dos  rapazes.  —  O  rapazio 
gosta  muito  de  festas. 

RAPAZOLA,  í.  m.  iDe  rapaz,  com  o 
suffixo  aola»).  Termo  chulo.  Rapaz  gran- 
de, de  14  a  20  annos,  pouco  mais  ou  me- 
nos. 

RAPÉ,  s.  m.,  ou  adj.  2  gen.  (Do  fran- 
cez  rapé,  ou  antes  tabac  rapé,  tabaco  re- 
duzido a  pó).  Tabaco  de  cheirar. —  To- 
mar uma  pitada  de  rapé. 

Alli  a  mollc  pluma  se  lhe  toma 
Em  duro  campo  de  cruel  batalha. 
Mil  cuidados  o  investem,  seu  decoro 
Atrozmente  offcndido,  a  todo  o  instante, 
A  memoria  lhe  vem  :  ora  d  'um  lado 
Os  lassos  membros  volve,  ora  do  outro : 
Suspira,  tosse,  escarra,  e  abrindo  a  Caixa 
Toma  o  insulso  rapi'.  c  naõ  socega. 

A.    D.    DA    CRUZ,    HYSSOPE,    Caut.    4. 

RAPELHO,  s.  m.  Termo  antiquado,  col- 
ligido  por  Bento  Pereira.  Rapazinho. 

•j-  RAPHAEL,  s.  m.  (Do  hebreu  rapha-el, 
remédio  de  Deus).  Um  dos  principaes 
anjos,  um  dos  archanjos.-^Raphael,  Mi- 
giíel,  Gabriel  e  Uriel  presidiam  aos  qua- 
tro pontos  cardeaes. 

—  Celebre  pintor  da  esciila  italiana  do 
século  XIV.  —  E  um  Raphael. 

t  RAPHAELENO,  adj.  Termo  de  bellas- 
artes.  Que  tem  o  caracter  coiTecto,  a 
piu'eza  do  desenho  e  a  harmonia  da  côr 
de  Raphael. 

f  RAPHANIA,  s.  f.  (Do  latim  rapha- 
nus).  Nome  dado  por  Linneu  a  uma  doen- 
ça convulsiva  assas  frequente  na  Allema- 
nlia  e  que  se  attribue  ao  raphanus  ra- 
phanistrum  (Linneu),  planta  crucifera  cu- 
jas sementes  se  encontram  misturadas 
com  o  triço. 

t  RAPHEU,  ou  RAPHÉ,  «.  m.  (Do  gre- 
go rhaphé,  soldadura,  de  rháptô,  coser). 
Termo  de  anatomia.  Nome  dado  a  certas 
linhas  salientes  que  se  assemelham  a  uma 
costura ;  tal  c  o  raphé  que  divide  o  escro- 
to e  o  perineo   em  duas   partes  lateraes. 

—  Termo  de  botânica.  Prolongamento 
dos  vasos  do  funiculo  no  interior  das  tú- 
nica» d'um  grão. 


RAPI 

t  RAPHIDE,  s.  /.  (Do  grego  rhaphis, 
agulha  de  coser).  Termo  de  botânica.  Fas- 
cículo de  crjstaes  em  agulhas  que  se  en- 
contram nas  cellulas  de  alguns  vegetaes, 
caryophvlleas,  orlddeas,  etc. 

t  RAPHILITHO,  s.  m.  (Do  grego  rha- 
phis, agulha,  e  lithos,  pedra).  Termo  de 
mineralogia.  Silicato  múltiplo  originário 
do  Canadá,  que  se  apresenta  sob  a  for- 
ma de  massas  aciculares  d'um  brilho  de 
seda. 

RAPIDAMENTE,  adv.  (De  rápido,  com 
o  suffixo  «mente»).  Com  rapidez;  de  mo- 
do rápido. 

RAPIAR,  V.  a.  Vid.  Arripiar. 

RAPIDEZ,  s.  /.  (De  rápido,  com  o  suf- 
Hxo  «ez»).  Qualidade  do  que  percorre 
umito  espaço  em  pouco  tempo.  —  A  ra- 
pidez do  raio.  —  É  notável  a  rapidez  du 
Bouro  em  tempo  d'enchente. —  Vès  a  ra- 
pidez com  que  o  cavallo  corre  ? 

-—  Figiu-adamente  :  A  rapidez  da  iii- 
telligencia ;  a  facilidade  com  que  eUa 
passa  por  differentes  objectos. 

Excedo  a  nossa  intelligencia,  excede 

A  sua  rapidíi ;  correm  velozes 

Do  fogo  estas  partículas,  e  passào 

Dos  Ceos  a  immeusidade,  em  toda  a  parto 

Sc  ditiundem  no  ar ;  destas  pequenas 

Porções  de  clara  luz  tem  lume  os  Corpos. 

J.    A.    DE  MACEDO,   VIAGEM    EXTÁTICA,   Caut.    3. 

—  Diz-se  do  tempo.  —  O  tempo  passa 
com  extrema  rapidez. 

—  Diz-se  dos  declives,  das  rampas.  — 
A  rapidez  do  declive  assustava  os  vian- 
dantes. 

—  Figuradamente  :  Promptidão  com 
que  se  obra,  com  se  faz  alguma  cousa. — 
O  preso  escapou  com  extrema  rapidez.  — 
«O  abbade,  medindo  o  aposento  a  passos 
largos,  falando,  meneianclo  os  braços,  cer- 
rando 03  punhos  e  agitando-os,  como  o 
luctador  que  se  amestra  para  o  pugilato 
da  arena,  parava  de  quando  em  quando 
e  desatava  a  rir,  esfregando  as  màos  com 
grande  rapidez,  antigo  habito,  que  indi- 
cava n'elle  feroz  contentamento.»  Ale- 
xaudi-e  Herculano,  Monge  de  Cister,  ca- 
pitulo 24. 

-—  Termo  de  litteratura.  Movimento 
rápido  das  idcas,  das  expressões.  —  A 
rapidez  do  estylo,  d'uma  narração. 

RAPIDÍSSIMO,  adj.  superl.  de  Rápido. 

Deixo  as  sombras  da  ten-a,  aos  ares  volto... 

Interminável  fluido  !  Só  neUe 

Entro  os  seres  orgânicos  eu  vivo. 

Pela  extensão  do  espaço  abrange  os  corpos  ; 

Sempre  agitado,  eLástico  se  move ; 

Da  força  que  o  comprime  as  torças  tira. 

Elle  sustenta  das  ligeiras  aves 

Os  voos  rapidissimos,  com  cllc 

As  animadas  máquinas  sagitão. 

J.   A.    DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  CaUt.    2. 

Tal  rebenta  do  frigido  Nifáte 
O  Tigris  rapidíssimo,  e  cortando 


RAPI  -  79 

Impérios  n'outro  tempo,  hoje  só  nomes, 
Entra  no  Seio  Pérsico,  c  repousa. 

IDEM,   A  NATUREZA,  CaUt.    2. 

RÁPIDO,  adj.  (Do  latim  rapidus,  de 
vdpere,  arrebatar).  Que  percorre  muito 
espaço  em  pouco  tempo. 

Taõ  rápida  calar  das  altas  nuvens 
Naõ  vê  o  Passageiro  em  largo  Campo, 
A  grasnadora  gralha,  o  negro  Coi'VO, 
Sobre  o  triste  animal,  que  de  cansado, 
Em  comprido  caminho  deo  a  ossada. 
Como  correr  se  vê  o  bom  Fidalgo 
A  voz,  e  cheiro  do  mais  vil  banquete. 

DINIZ  DA  CRUZ,  HVSSOPE,  CaUt.    7. 

Pois  quasi  confundido,  e  quasi  ignoto 
Correndo  vae  no  Ceo,  qual  vae  d'area 
Peiíueno  grão  rodando  em  ar  vazio 
Nas  leves  azas  rápidas  do  vento. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Caut.  1. 

—  Diz-se  fallando  de  correntes,  tor- 
rentes. 

Que,  atravessando  rápidas  torrentes, 

A  frente  tem  n'hum  lado,  e  n"outro  a  cauda, 

Se  se  enrosca  em  si  mesma,  e  aguarda  as  prezas, 

Dos  orbes  espiraes  acima  eleva 

A  medonha  cabeça,  e  espalha  em  torno 

A  luz  ferrenha  dos  terríveis  olhos. 

J.    A.    DE  M.VCEDO,    MEDITAÇÃO,  CaUt.    3. 

Dos  rios  muda  a  rápida  corrente. 
Ou  lhos  estanca  a  fonte,  e  as  agoas  sorve. 
Com  o  choque  horrendo  o  pedregoso  monte 
Se  fende,  e  estala,  se  submerge,  e  foge, 
O  cego  abysmo  súbito  apparece. 
IDEM,  A  N.wuREZA,  cant.  2. 

—  Diz-se  d'um  rio,  d'uma  catadupa, 
d 'uma  catarata. 

Vê  nos  ares  a  espada  coruscante, 
Da  miseranda  escravidão  presaga  ; 
r)bserva  hum  rio  rápido  espumante 
De  rubro  sangue,  que  o  Oriento  alaga  : 
Já  corta  o  mar  em  lenho  fluctuante 
Heróe,  qu'a  frente  triunfal  lhe  esmaga  ; 
Descubro  cinzas,  solidoens,  ruinas, 
E  sobre  tudo  tremolando  as  Quinas. 

J.   A.   DE  MACEDO,  O  ORIENTE,  CaUt.    11,  CSt.   70. 

Em  opposto  hemisfério,  em  giro  immenso, 
O  Mississipi,  o  rápido  Amazonas 
Já  feito  largo  mar,  no  mar  «'engolfa. 

IDEM,  A    NATUREZA,  Caut.    3. 

Olha  onde  o  mar  azid  s 'estende,  e  alarga 
Aquém  do  Cabo  frio  ;  pelas  oudus 
Olha  correndo  o  rápido  Espadarte, 
Vae  provocar  a  singular  peleja 
A  doscouforme,  túmida  Balea. 


—  Diz-se    do    sol,    dos    outros    astros, 
meteoros,  etc. 

Inda  mo  alongo  mais :  rápido  vôo 
Mais  que  a  fuga  do  rápido  Cometa 
Mo  leva  pelos  Ceos,  onde  não  chega 
Nem  fugindo  por  sccidos  hum  raio 
Do  fulgurante  Sol.  Do  espaço  eis  toca 
A  extremidade  incógnita  aos  humanos. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Cant.  1. 


80 


RAin 


RAPI 


IlAPU 


o  Bol  d<!MÍn  rápido,  o  ja  perto 
D(i  Hou  diurno  tormo,  coinni;ava 
A  flo»tin(çir  no  v(irdn-inar  il»«  nguan 
A  açafroada  côr  Ac.  r|U(!  hi;  udonia 
No  oceano  di'rriulcíiro.  I-fVii»  gyratn, 
Do  HDfÇiiido  biiix"!  cni/.ando  niii  tnriio, 
Ciomo  um  baiidi)  dn  loiuvin  iiiariposart 
Km  dorrrdor  da  cliainma,  -  ai*  dcHtomiiliiH 
l)t!  forroa  proa  rápida»  niulotaH. 
(lAnaurr,  casiòkb,  cant.  1,  cap.  H. 

lliiptili)  ia  o  «ol  110  eiio  dl^^c(1lldo  : 
O  guorroiro  cintor  volvo  a  imbronliar-HO 
Pola  ofCiiiSflura  o  bo-l'nii;.H.  Niio  csp'rani;atf 
Do  mollior  Horto,  não  Hnoiíjao  doci'H 
Do  amor  próprio,  maiH  docoí»  quando  ouvidas 
Do  labioa  do  moiiarchas  :  não  pn)incs9aB 
Do  morncido  promio,  —  nada  agita 
O  sangue  do  o.sforçado  navegante. 
iiuDKM,  cant.  í),  cap.  3. 

-  -  I)iz-3C  lio  tempo,  coiniiaríuto  a   um 
movimcuto  rápido. 

—  Quo  fliu-a  pouco.  —  -1  rápida  cris- 
feiícia.  —  Felicidade,  rápida. 


Guarda  nossa  mwnoria,  o  guarda  o  nomo 
(!ontra  o  furor  da  rápida  cxistoucia. 
Fazcm-nos  guerra  os  outros  elementos  ; 
Dosatão  sobro  urts  pozadas  nuvens 
Horrisonos  chuveiros,  e  outras  vozes 
Correm  furiosas  rápidas  torrentes. 

J.   A.    DE   MACKDO,   MBDITAçÃO,   Cailt.    2. 

Nesta  pausa  da  rápida  existência, 

Em  que  a  dòr  se  não  sente,  o  mal  se  ignora, 

Ku  sinto  arrobatar-nic,  e  comOj  o  aonde, 

Eu  não  sei  declarar...  Subi  nas  azas 

Do  sobre  humanos  extasis,  quo  soltão 

Das  corpóreas  prisões  a  alma  elevada, 

Além  da  habitação  terrena,  e  tri.ste. 

IDKM,   VIAOKM   EXTÁTICA,   Caut.    1. 

Mas  no  lugar  da  rápida  bellcza, 

E  raomentanca  formosura  vemos 

Coberto  o  Campo  do  douradas  Messes, 

(!rcscem  gradas,  o  vento  as  volve  em  ondas, 

O  Lavrador  impaciente  espera 

Qu'a  terra  a  seu  suor  paguo  o  tributo. 

IDEM,   A    NATIUEZA,   Cant.    1. 

—  Qiic  produz  o  .sou  efFcito  cm  pouco 
tempo;  quo  opoiva  cm  pouco  tempo. 

Depois  o  faxo  da  razão  accende 
Com  màoH  puras  o  limpas  de  interesse... 
Puras! -que  em  dextra  sórdida  essa  toa 
E'  labareda  sem  clarão,  —  que  abraza 
Sem  dar  luz  —  queima  e  rápida  devora 
Autos  que  um  sií  vislumbre  rompa  as  trevas, 
Que,  om  vez  de  dissipar,  deixou  mais  crassas. 

QABRETT,    CATÃO,   act.   4,   SC.    3. 

—  Que  vem  cm  declive  ;  muito  om  de- 
clive ;  muito  precipitado.  —  Uma  rápida 
collina.  —  Um  ileclive  rápido. 

—  Momentâneo,  que  se  faz  n'um  mo- 
mento. —  "A  espécie  de  torpor  moral 
em  que  uma  rápida  translijào  de  hábitos 
c  pensamentos  o  lanyara  pareceu-lhe  paz 
o  repouso.  A  ferida  affizera-se  ao  ferro 
que  estava  dentro  delia,  e  Eui'ico  sup- 
punha-a  sarada.  Quando  um  novo  affo- 
cto  veio  espremò-la  c  que  sentiu  que  uào 


HO  havia  cerrado  e  que  o  sangue  manava 
ainija,  porventura,  com  mais  forya.»  A. 
Herculano,  Eurico,  cap.  ;?. 

—  (^u<:  é  feito  com   promptidilo,  e  em 

JMIllCO     tlMIlpO. 

Cjuaiido  0111  meio 
Oiro  a  Noite,  IiâokIo  ouvir  batcr-Uio  á  prtrta, 
(Não  sabem  ípiomi  que  os  chame,  com  vizbaixA ; 
E,  á  prai.a  irão,  em  rápida  ojrrida. 

K.    M.    no   riAHOlMKNTO,   OH   MAKTYKKH,   1ÍV.    10. 

Destes  accesos  extasis  me  arranca 

A  Fadiga  outra  vez.  Conserva,  6  filho, 

Dentro  d'aliiia  gravado  isto  que  obscrviis, 

E  (pumdo  om  voo.s  rápido*  desceres 

Á  tão  mesquinha  habitação  terrena, 

Aos  transportados  homens  o  auuuncia. 

.r.    A.   IiK  MA<KDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Caut.   3. 

K  dos  tempos  fixar  a  iinmensidadc 
Nhum  ponto  V  E  pode  concentrar-se  todo 
Em  profunda  abstracção,  pélago  immenso 
Oiulo  mais  de  luuna  voz  entra,  o  naufraga  V 
Podem  acaso  os  Átomos  uuidos 
Iiula  rpio  em  m(')to,  rápido,  c  constante, 
Conhecer,  dcvisar  degráos  profundos 
Que  abstracta  Metafysica  calcula? 

IDEM,   MEDITAÇÃO,   Cailt.    •!. 

E  na  passagem  rápida  encorpara 
Em  si  filtradas  agoas  d'outro3  montes. 
Que  vom  como  tributo  c  feudo  humilde 
Mais  cagrossar-lhc  a  criatalliua  veia. 

IDEM,  A  NATUBEZA,  Cant.   2. 

A  força  presta  á  maquina  vivente, 
O  concentrado  fogo  ao  rubro  sangue 
D;i  movimento  rápido  nas  veias, 
E  tanta  foiça  ao  ar  3i5  deve  o  fogo, 
As.íim  se  volve  rápido,  espumante; 
A  continua  impulsão,  c  os  succe.?3Ívo8 
Toques  o  chilo,  e  nutrição  lhe  acabão. 


N'huma  passagem  rápida  s'encontra 
Repercutido  o  ar,  eis  se  trausmitte 
Por  mil  undiUaçues  ao  centro  dalma, 
Orn  produz  repouso,  ora  tumulto. 


Mais  oresco  seu  calor ;  o  as  lois  ao  fogo 
Dieta  d'est'arto  o  ar  c  ao  ar  seguindo. 
Se  atiça,  ou  se  amortece,  e  pronto  sempre 
A  seu  sabor  lhe  dá  rápida  fuga. 


Partículas  subti.-*  de  fogo  inquieto 
Do  centro  aos  aros  líquidos  se  lunç&o. 
Se  na  passagem  rápida  não  achão 
Nova  matéria,  súbito  se  perdem. 


Tal  vae  timida  Lebre,  que  uào  pôde 
Sustentar  mais  a  rápida  carreira ; 
Arqueja,  pára,  na  miúda  arêa 
S'envolve,  o  escapa  aos  galgos  esfaimados. 
iiiiDRM,  oaut.  â. 

—  Termo  de  litteratura.  Em  que  ha 
movimento.  ■ —  Versux  rápidos. 

—  Estylo  rápido ;  cstylo  em  que  as 
iilèas,  os  movimentos  se  succedem  sem 
interrup^-fio. 

—  N<tna(;ã(>  rápida  ;  narração  cm  qtie 
os  factos  se  succedem  apertados. 


—  Eloquência  rápida ;  cloqucncia  ani- 
mada e  convincente. 

—  JJiz-Hc  das  faculdade.*  intollectuaea 
cuja  aii^âo  &  pronipta.  —  Uma  c(/nc^pç3o 
rápida.       I'ina  c/mprehensão  rápida. 


Do  cárcere  corpóreo  iiida  nâí»  ««Mta 

.Miiih'alma  lá  te  deixa,  e  o  v<>o  alonga; 

Du  pensamento  rápido  cji'  aiaa 

Traiinpunho  os  claros  r<;os,  transponho  o«Aatro«  ; 

Atteiidi'  ao  qu<!  infylito  i)ii\olto  dentro 

Do  turbilhão  d'M  lúcidos  Planetas, 

Donde  atrevido  indiígador  alongo 

Sobre  quadros  iiiO''>gnit<>s  a  vista. 

J.    A.    DR    MAUBDO,   MBDITAçXo,   Cailt.    i. 

Do  cárcere  corpóreo  inda  nit)  solta. 
Minha  alma  deixa  a  Terra,  ousada  TÓs, 
Do  pensamento  rápido  oo'aíi  azas 
Transponho  os  claros  Ceos,  transponho 06  Astros. 
IDEM,  A  .HAiiuEZA,  cant.  1. 


RAPILHO,  *.  m,  IVira  esbranquiçada, 
dividida  om  pequenos  trn^mentos,  que  se 
encontra  nos  sitioe  volcanicos. 

RAPINA,  s.  f.  I  Do  latim  rapiím,  de 
rapere,  arrebatar,  roubar).  Acçito  de  rou- 
bar al(^uma  cousa  com  violência. 

—  O  que  é  roubado,  o  objecto  do  rou- 
bo violento.  —  Oenle  qxu  vive  de  ra- 
pina. 

—  Roubo,  concussão,  rapacidade. 

—  Aves  de  rapina  ;  o  mesmo  que  ave* 
de  presa  ou  rapaces.  Vid.  Rapaces.  — 
«As  próprias  aves  do  rapina,  que  não 
tem  outro  officio  senão  caçar,  e  prear  o 
que  encontram,  costumam  ir  ao  lonpe 
(i'onde  habitam,  fazer  seus  empregos. 
Porque  .seríto  os  homens  menos  fieis,  e 
menos  doutrinados?»  Francisco  Manoel 
de  Mello,  Carta  de  guia  de  casados.  — 
«Quando  colhe  as  aves  se  chama  Ancu' 
pia ;  e  neste  exercício  se  avantajou  mny- 
to  o  famoío  Vlvssos,  que  foi  o  primeiro 
que  de  Trova  despoi»  de  arruinada,  trou- 
xe à  (irecia  pássaros,  e  aves  de  rapina, 
como  Falcoins,  Nebli*,  e  Açores;  destra- 
mente ensinados  a  casí»ar  as  outras  ave.s, 
para  com  esto  exercicio  temperar  n"S 
Gregos  o  vivo  sentimento  doa  parentes 
mortos  na  quella  puerra.»  Braz  Luiz 
d'Abreu,  Portugal  medico,  pag.  120. 

—  Caqar  de  rapina ;  caçar  á  maneira 
das  aves  do  rapina. 

—  Figuradamente  :  Ave  de  rapina  ; 
ladrSo,  salteador,  homom  que  por  quaes- 
quer  meios  mais  ou  menos  violentos  se 
apodera  do  bem  alheio. 

f  RAPINANTE,  porf.  act.  de  Rapi- 
nar, e  suliít.  Que  rouba ;  o  que  rouba. 
—  Uma  sucia  de  rapinantes. 

RAPINAR,  vn  RAPINHAR,  r.  a.  (De 
rapina  .  Kcubar. 

—  Tomar  injiLstiimento,  abusando  das 
ftineçr>es  de  que  se  é  encarregado. 

RAPONCIO,  ou  RAPONTICO,  ».  m.  Vid. 
Rapuncio. 

RAPONÇOS,  .«.  111.  pi.    Vid.  Rapnncio. 
RAPONTIS,  *'.  /.  Espécie  de  congorsa, 


RAPO 


RAQU 


RARE 


81 


chamada  também  ruiponto  bastardo  (cen- 
táurea rhnponfica,  Broteru). 

RAPORTE,  s.  m.  (Do  fraucez  rapport). 
Termo  antiquado.  Eelaçào,  relatório,  in- 
formação ;  intrigas  contra  alguém.  = 
Usado  por  Damião  de  Góes. 

RAPOSA,  s.  /.  (Do  latim  rapus,  ra- 
bo, por  causa  do  gi-ande  rabo  do  animal). 
Mammiíero  quadrúpede  silvestre  que 
exerce  grande  rapina  sobre  os  gallinliei- 
ros;  é  o  symbolo  da  astúcia. 

—  Figuradamente:  Pessoa  astuciosa, 
que  não  se  deixa  cair  em  logros,  antes 
finamente  logra  os  outros.  —  Âquelle  ho- 
mem é  uma  velha  raposa. 

—  Cesto  de  verga  de  f('irma  cubica, 
usado  na  ilha  Terceira  principalmente 
para  a  exportação  da  batata  e  outros  pro- 
ductos  agricolas. 

RAPOSAMENTE,  aJ.v.  (De  raposa,  com 
o  suttixo  « mente »)■  A  modo  de  raposa ; 
astutamente ;  astuciosamente. 

—  Ardilosamente;  enganosamente, 

—  Com  sagacidade,   finura. 
RAPOSEIRA,  s.  /.   Vid.   Raposeiro   2. 
1..I  RAPOSEIRO,  s.m.  (De  raposa,  com 

o  suffixo  «eiró»).  Cova  de  raposa. 

2.1  RAPOSEIRO,  s.  m.  (Corrupção  de 
Repouseiro,  de  repouso).  Termo  da  Beira. 
A  cama. 

—  O  soalheiro  d'inveniO. 

3.1  RAPOSEIRO,  adj.  (De  raposa,  com 
O  suffixo  «eiró»).  Termo  familiar.  Astu- 
cioso, arteiro,  manhoso,  ardiloso  como  a 
raposa. 

RAPOSIA,  s.  f.  (De  raposa,  com  o  suf- 
fixo «ia»!.  Acção  própria  de  raposa. 

—  Astúcia,  artimanha  ;  ardil. 
RAPOSINEA,  s.  f.  Diminutivo  de  Ra- 
posa. Pequena  raposa. 

RAPOSINHAR,  v.  n.  (De  raposinha). 
Fazer  acções  astuciosas,  ardilosas ;  usar 
de  más  manhas. 

RAPOSINHO,  s.  m.  Diminutivo  de  Ra- 
poso.  Pequeno  raposo. 

—  Cheirar,  ou  feder  a  raposinhos  ; 
diz-se  do  que  cheira  a  catinga  ou  bodum 
debaixo  dos  sobacos. 

—  A  mesma  phrase  significa  também 
figuradamente  ter  casta  de  preto  ou  mu- 
lato. 

RAPOSINO,  adj.  (De  raposa,  com  o 
suffixo  «ino»).  Próprio  de  raposa. 

—  Astuto,  ardiloso,  sagaz. 

RAPOSIO,  s.  m.  Vid.  Raposia. 

RAPOSO,  s.  m.  iXid.  Raposa).  O  ma- 
cho da  raposa.  —  «Nem  correrom  a  cer- 
vo, nem  a  raposo,  nem  a  lebre,  a  coelho, 
nem  a  outra  cousa  geeralmente,  porque 
muitas  vezes  aconteceo  ja  per  aazo  desto 
a  hoste  receber  grande  perigoo :  e  deve- 
mos de  levar  aalein  da  gente  hordenada 
na  avanguarda,  e  rcguarda,  outra  gente 
de  fora,  pêra  escaramuçar,  e  quaeesquer 
outras  cousas  semelhantes,  que  acontecer 
possam.»  Ord.  Affons.,  liv.  1,  tit.  õl, 
§21. 

—  Figuradamente : 

vor..  V.  — 11. 


Cler.    Olha  bem  pelo  virote, 
Não  te  fies  de  rascào. 

Go»r.  E  rascõcs  que  aves  são  ? 
Samicas  são  alguns  bichos. 

Cler.    Mas  são  lobos  pêra  michos, 
E  rcqmsos  de  uaçào. 

Goȍ.   Bem  hei  de  saber  vender. 

GIL   VICENTE,   FARÇAS. 


—  Adj.  Ajdiloso,  manhoso,  astucioso, 
sagaz;  velhaco. 

RAPOSTEIRO.  Vid.  Reposteiro. 

RAPOZIM,  6'.  m.  Vid.  Raposinho. 

RAPSO...  As  palavras  começando  por 
Rapso...,  busquem-se  com  Rhapso... 

RAPTADOR,  s.  m.  O  que  rapta.  —  O 
raptador  das  sabinas. 

RAPTAR,  V.  a.  (De  raptare,  frequen- 
tativo  de  rapeve,  derivado  do  part.  d'este 
verbo  que  é  raptiis).  Fazer  um  rapto. 

1./  RAPTO,  s.  m.  (Do  latim  raptus,  de 
rapere,  roubar,  arrebatar).  Roubo  d'uma 
pessoa  por  violência  ou  por  seducçào. 

—  Arrebatamento  d'uma  cousa  pelos 
ares. 

—  EnJevo,  arrebatamento  do  espirito. 


Em  mim  tomava  a  Dita  ^^vos  rasgos 
Da  Desesperação.  Oh!  quem  nos  \nra, 
Nesse  rapto  embebidos,  nos  tivera 
Por  dous  Kéos,  a  quem  toão,  nos  ouvidos 
Da  sentença  de  morte  os  Ecchos  diu-os. 

F.   M.    DO  SASCIMESTO,  OS  MABTYRES,  líV.    10. 


—  Termo  de  mystica  christã.  Eleva- 
ção do  corpo  do  asceta  acima  do  nível 
do  chão,  em  resultado  do  seu  arrebata- 
mento intellectual. 

—  No  systema  de  Ptolomeu,  movimen- 
to de  rapto,  movimento  que  o  primeiro 
movei  communica  aos  astros  que  giram  á 
roda  da  terra. 

—  Termo  de  medicina.  Transporte  re- 
pentino dos  humores  n'uma  parte. 

—  Rapto  hemorrhag ico  ;  aÁux.0  de  san- 
gue e  hemorrhagia. 

2.)  RAPTO,  adj.  Arrebatado,  rápido. 

RAPTOR,  s.  m.  (Do  latim  raptor).  O 
que  taz  um  rapto;  raptador. 

RAPUNCIO,  s.  m.  Planta  biennal,  de 
cuja  raiz  se  faz  salada  (campânula  ra- 
punculus,  Linneu). 

RAQUEL,  «.  /.  Nome  d'uma  planta  de 
ornato,  florifera,  chamada  também  lyrio 
do  Japão. 

RAQUETTA,  s.f.  (Do  francez  raquette). 
Instrumento  de  pau  da  forma  d'um  bi- 
rimbau  sem  palheta,  cujo  arco  é  tecido 
com  uma  rede  de  bordões  de  viola  bem 
estirados,  ou  guarnecido  de  couro  bem 
estendido  com  que  se  dão  as  pancadas  no 
volante  ou  pellotas  no  jogo  d'este  nome. 
=  Também  se  lhe  chama  pa?'^. 

RAQUIALGIA,  s.  f.  (De  raquis,  e  gre- 
go algos,  dôr).  Termo  de  antiga  medici- 
na. Cólica  metallica. 

—  Modernamente  :  Toda  a  dôr  que  oc- 
cupa  um  ponto  qualquer  da  columna  ver- 
tebral. 


f  RAQUIALGICO,  adj.  Que  tem  o  ca- 
racter da  raquialgia. 

f  RAQUIDIANO,  adj.  (De  raquis).  Ter- 
mo d'anatomia.  Que  pertence  á  columna 
vertebral. 

—  Nervos  raquidianos ;  os  que  provém 
da  espinhal  medulla. 

f  RAQUIS,  s,  m.  (Do  grego  rhákhis). 
Termo  d'anatomia.  A  columna  vertebral. 

—  Termo  de  botânica.  Eixo  central  da 
espinha  das  gramineas,  dos  cachos,  das 
palmeiras,  etc. 

RAQUÍTICO,  adj.  iDe  raquis.  Termo 
de  medicina.  Afíectado  de  raquitismo. 

—  Substantivamente  :  A  ourina  dos  ra- 
quiticos. 

—  Diz-se  das  plantas  que  se  desenvol- 
vem mal.  —  Trigo  raquítico. 

RAQUITIS,  ou  RACHITIS,  í.  /.  (De 
raquisj.  Vid.  Raquitismo,  que  é  mais 
usado. 

f  RAQUITISMO,  s.  m.  (De  raquis,  com 
o  suffixo  «ismo»).  Termo  de  medicina. 
Doença  consistindo  n'uma  perturbação 
da  nutrição  de  todos  os  tecidos,  que,  pro- 
duzindo-se  na  infância,  detém  ou  pertur- 
ba o  seu  desenvolvimento  e  se  manifesta 
no  exterior  pela  deformação  do  raquis  ou 
do  resto  do  systema  ossoso. 

—  Termo  de  botânica.  Doença  que  tor- 
na a  haste  do  trigo  curta  e  nodosa. 

f  RAQUITOMO,  s.  m.  (De  raquis,  e 
grego  toriú,  secção).  Instrumento  d'ana- 
tomia,  por  meio  do  qual  se  abre  o  canal 
vertebral  sem  lesar  a  medulla. 

RARAMENTE,  adv.  (De  raro,  com  o 
suffixo  «mente»).  De  modo  raro;  poucas 
vezts ;  raras  vezes.  —  «  Por  términos  tem 
este  Reyno,  da  parte  do  Oriente  as  ter- 
ras do  grão  Mogor,  ou  Acabar  (apartan- 
dose  quasi  delle,  com  o  rio  Indo,  de  quem 
toma  a  índia  o  nome,  como  diz  a  Monar- 
chia  Ecclesiastica)  com  o  qual  o  Sophi 
mui  raramente  se  encõtra  por  lho  estor- 
narem umas  grades  serras,  semelhantes 
aos  Pyrineos  de  França,  ou  aos  Alpes  de 
Ytalia,  por  cuja  causa  viue  delle  mais 
seguro,  que  dos  outros  imigos.»  Fr.  Gas- 
par de  S.  Bernardino,  Itinerário  da  ín- 
dia, cap.  14. 

RARAR,   1-.  a.  Vid.  Ralar. 

RAREFACÇÃO,  s.  f.  (Vid.  Rarefazer). 
Termo  de  physicií.  Acção  de  rarefazer; 
estado  do  que  está  rarefeito. 

RAREFACIENTE,  adj.  2  gen.  Termo 
didáctico.  Que  rarefaz,  que  dilata. 

—  Antigo  termo  de  medicina.  Os  ra- 
refacientes  ;  medicamentos  aos  quaes  se 
attribuia  a  propriedade  de  dar  mais  ex- 
pansão ao  sangue  e  aos  humores  circula- 
tórios. 

RAREFACTIVEL,  adj.  2  gen.  Termo 
didáctico.  Que  é  susceptível  de  ser  rare- 
feito. 

RAREFACTIVO,  adj.  Termo  didáctico. 
Vid.  Rarefaciente. 

RAREFACTO,  jjart.  pass.  de  Rarefa- 
zer. =  Pouco  usado. 


fi2 


KAUK 


RARO 


KAUO 


RAREFAZER,  v.  a.  (Do  latim  rum.'', 
raro,  o  fnccrc,  fazer).  Tornio  ilitlaetlco. 
Augmontiir  conHidoravolinonte  o  volunio 
criim  corpo  soiii  llio  au^íiiiciitar  a  inatt!- 
rla  própria  nem  o  [)c'.so ;  o])|)(isto  a  con- 
deiiHar.  —  O  cn/oriro  rarefaz  os  corjins.- 
()  calor  d'i  <i(jHtt  u  ferver  i/mi  não  rare- 
faz «  fK/iia  senílo  Wiimu  vu/nsinui  Vfwlit 
parte,  rarefaz  o  vapor  da  agua  a  ponto 
da  lhe  fazer  romper  um  volume  1.300  ou 
1400  vezes  maior  que  o  da  aijua  (pu:  n 
formou,, 

O  fo),'o  o  rarefez,  ontiio  quebrandc-» 
IiiBotlViílo  o  grillulo,  já  livro,  o  solto 
O  Hiiio  ni»j;a  i\  ma(|uiua  eouviilsa, 
Kiitilo  SC.  dortpeda<;a ,  oi\tàf)  do  iMiiitro 
Nnvaa  tnrrciitoa  ospiimaiitc»  lan(;,a. 

J.   A.    l>i:  MACEDO,  A  NATDHBZA,  Cailt.    -. 

Dosfartc  o  ar  ((uc  rarefaz  o  fogo, 
Da  vida  aos  aniinao»  se  túrna  o  gcrineii, 
De  tantos  dotes  o  coucuvso  vario 
Os  nossos  dias  rápidos  conserva. 


—  Rarefazer-se,  i'.  rrji.  Tornar-sc  mais 
raro,  menos  denso ;  oceupar  um  maior  vo- 
lume. —  Todo  o  (jaz  se  rarefaz  pdo  calor 
e  se  condensa  pelo  frio. 


O  liirainoso  Sol  ao  vasto  Oceano 
Rouba,  em  vapor  subtil,  cerúleas  ondas. 
No  Boio  as  feicha  dos  delgado.s  ares ; 
Rarefaz-se  o  vapor,  tolda-sc  o  dia  ; 
Sobro  as  azas  do  Sul  volantes  nuvens 
Corrom,  lançando  do  medonho  acio. 

J.  AGOSTINHO  DK  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Cant.  2. 


RAREFEITO,  part.  pass.  de  Rarefazer. 
Tornado  monos  denso,  dilatado. 

Que  rarefeitos,  nas  quebradas  nuvens 
Deixa  livre  a  prisão,  e  oin  liberdade 
Cotn  pavoroso  estrondo  estala,  e  desce. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUBEZA,  Cant.  -. 

Mas  vês  agora  rarefeiUis  nuvens 
Que  sobro  as  azas  do  nuulavel  vento 
jil  vão  fugindo  ao  Sul,  e  a  (^ilnia  torna  V 
IBIDEM,  cant.  3. 

Nos  rarefeitos  aros  eu  descubro 
Do  vago  vento  a  origem  não  sabida. 
Arcano  sempre  aos  séculos  incógnito. 
Celestes  dons  do  paternal  desvelo 
Da  bcmfazeja  otorna  Providencia. 
IDEM,  >nAOEM  ExrATicA,  caut.  1. 


RUo  dco  por  principio  aos  Sores  todos 
Esse  liquido  humor,  quo  corça  o  Globo, 
Quo  dos  ingncos  vapores  rarefeitos 
(Tal  pensaste,  6  Buflbn!)  cahio  dos  arca. 
iDiPE»,  caut.  2. 

RARENSARA,  s.  /.  Arvoro  da  ilha  do 
S.  Louro.nyo,  similhante  ao  loureiro. 

RAREZA,  s.  f.  iVc  raro,  oom  o  suffixo 
«eza»).  Vid.  Raridade. 

—  Qualidade  do  tecido  cujos  lios  estào 


pouco  ou  mal  apcrtado.s,  do  modo  que  Be 
vê  atravrs  iTídio. 

RARIAR.  \'id.  Ralear. 

RARIDADE,  ».  /.  (Do  latim  rarltate, 
de  niniíi,  rarot.  l'oquorio  niimoro,  peipic- 
iia  <|iiaiitid;i'ii',  jidr  oppo8Í<;ilo  a  aòundun- 
ciii. —  .1  raridade  ilo»  diamantes. — A 
raridade  d^m  Ifim-as  flizcs. 

—  Qualidade  d'um  objecto  (|ue  nHo  é 
commum. 

—  Cousa  rara.  —  Um  museu  de  rari- 
dades. 

—  Cousa  (juo  succodc  poucas  ou  raras 
vezes.  —  E  uma  raridade  ir  este  homem 
ao  the.atro. 

—  Termo  de  pliysica.  Estado  do  que 
está  rarefeito. 

f  RARIFLOR,  adj.  iDo  l.itim  ranis,  ra- 
ro, o  //os  i.  Termo  de  botânica.  Cujiw  Ho- 
res  s.-ii)  poiíeii  iiumcrosas. 

-f  RARIFOLIADO,  adj.  (Do  latim  ra- 
rits,  raro  <■  fo/ium,  folhai.  Termo  de  bo- 
tânica. ( "njas  folhas  sào  pouco  numerosas. 

raríssimo,  'í'lj.  superl.  de  Raro.  Mui- 
to raro.  —  K  raríssimo  vêl-o. 

RARO,  (t<IJ.  I  Do  latim  }-arus).  Que  não 
é  commum,  que  nTio  é  frequente,  que  dif- 
licilmenttí  se  encontra. 


Gabando  o  Capitão  a  lealdade 
Do  valente,  esforçado  Lusitano 
Torna  de  nono  a  ver  aquella  industria : 
AqucUe  ardil,  c  manlia  ao  mundo  raro. 

COUTE  REAL,   NAUFRÁGIO   DE  SEPÚLVEDA,  CaOt.  13. 

Ilào-do  enlevâ-la  as  raras  maravilhas, 
Que,  de  tam  longos  tcn-as,  lhes  contares. 
Dirás,  que  existe,  nas  Germanas  brenhas. 
Povo,  que  descender,  se  diz,  dos  Teucros. 

K.    M.    DO  NASCIMENTO,  OS    MARTYRES,  1ÍV.    7. 

Tc  agora  vinte  séculos  não  derão 
Hum  tão  raro  espectáculo  aos  humanos. 
Teu  génio,  i>  (í;Uileo,  sS  dcUc  he  .sombra 
Co'a  frente  augusta  de  lauréis  cingida  ; 
Marccllo  o  vencedor  lhe  chora  a  morte. 

J.  A.  DK  MACEDO,  VIAOEM  E.XTATICA,  Cant.  2. 

Com  as  raro*  producções,  que  a  Natureza 
Dèo  aos  climas  d 'Ocaso,  c  do  Nascente, 
Enriquecer  a  bellicosa  Europa. 
IBIDEM,  cant.  i. 

—  Raro  na  Europa,  ainda,  c  então  condigno 
Ornato  de  rcacs  copas.  — AUi  se  cnclicm 
Ao  límpido  jorrar  de  frescji  fonte 
Da  fria  agua  de  Cintra,  o  saborosa 
>lais  que  o  licor  do  Rheno.ouquo  as  sulphuivas 
Lagrymas  de  Parthéuopc.  Tomaram 
Refeição  leve  a  nobre  companhia, 
E  o  vate  proseguiu. 
oABRETT,  CAMÕES,  cant.  8,  cap.  3. 

—  Caso  raro  em   medicina;   caso  que 
SC  apresenta  poucas  vezes. 

—  Cousa  desusada;  insólita. 


iioro  o  caso  verás  ;  porím  não  chora 
O  Jáo  pelos  palmares  do  seu  ninho : 
IVendc-o  a  amizade,  não  grilhões  de  c«crnvo. 

OABRETT,  CAMÕES,  Caut.  1,  Cap.  19. 


—  Cousa  rara. 

'I'ão  arreigado  oatava  contra  o  imip> 
Em  tixlo  o  peitii  ci»t«  ódio  furioso, 
Que  ilá  csforí,'!  e  furor  maior  i|uc  antigo 
No  pi;it<i  «pie  hc  de  «i  brando  u  infdro*i. 
.Mas  se  espanta  esf'  exemplo  rpio  aqui  «ligo 
Inda  outro  liei  de  ã\vr  niais  •ttspanttHUi, 
Com  que  est<!  ódio  geral  claro  «c  prov& 
Com  couHii  inda  inaiit  rara,  inda  maia  nova. 

rBAXCISCi)  IiK  ASIilHDK,    PIIINEIBO  rr.nco  DE  DIl, 

cant.  IH,  e.*f    '" 


P^ntiô  ao  Coro,  '|ii'-  i.,;m  r:nioo  •  -t.iva, 
Deo  sinal  o  Di';ir.,  o  uma  Símiiata 
De  Oavo,  de  Machete,  e  Castanhola» 
Da  Oreliestra  estrepitosa  foi  preludio, 
A  que  um  Duo  »>•  segue,  cfmua  rara! 
DINIZ  iiA  CRUZ,  iivs80i-r.,  cant.  7. 

—  DÍ/-SO  das  pessoas  para  exprimir  a 
excellencia. 


Em  sombras  metaphysicas  8'entranha. 
(Quadro  bom  digno  d'att<^nçio  do  Sábio. 
Nunca  em  meu»  Versos  ficarás  inglório  1 1 
Os  pcstilcntiis  hálitos  da  Inveja 
Quizerâo  denegrir  Varão  tão  raro. 

J.   A.    DE   MACEDO,   ^TAOEM   EXTÁTICA,  Cant.     1. 


—  Diz-se  das  cousas  excellentes  e  nâo 
cominuns.  —  «O  vulpo  n.ào  sabia  pôr  tai- 
xa  nos  louvores  do  D.  Joio  de  Castro, 
como  gente  sem  enveja  das  pessoas,  e 
fortunas  maiore.s.  Os  Fidaipos,  e  prandcs 
ajudav.^io,  ou  con-sentiào  a  voz  universal 
de  todos,  sendo  virtude  rara,  poder  sof- 
frer  de  seiLs  iguaes  a  fiuna;  e  nSo  houve 
algum  tão  ambicioso,  que  de^eja.«6c  para 
íi  melhor  nome,  nem  mais  illiL^tres  obra*.» 
Jacintho  Freire  d'Andradc,  Vida  de  D.  João 
de  Castro,  liv.  4.  —  «Aqui  foy  a  primevra 
vez,  onde  vi  huns  chamarem  por  Doos,  e 
Sàcta  alaria,  outros  por  Ale,  e  Mafoma. 
Os  naturaes  tem  estes  banhos,  por  tã  mi- 
lagrosos, e  raros,  que  me  affirmarão,  sahi- 
rcm  muvtas  vezes  os  coyxus,  e  aleijados 
de  todo  saõos.»  Frei  Gaspar  do  S.  Der- 
dino,  Itinerário  da  índia,  cap.  12. 


Nem  o  raro  valor,  com  que  seguindo 
De  seus  Av>^  as  Ínclitas  façanhas, 
Ao  som  da  Caixa,  e  Pifares,  na  frente 
Da  brava  Eccle,sia.<tica  falange. 
Coronel  General  dignou  chainar-sr. 
Disiz  DA  CRUZ,  HYssorE,  cant.  3. 

—  Pouco,  cm  pouco  numero. 

Adeus.  — AppertA  o  tempo.  Nas  muralhas 
Vou  confortar  os  raro»  defcn!<ore8 
Da  agonizante  liberdade.  —  Marco  ! 
Marco-Hruto,  meu  filho,  olha  o  qne  deves 
A  Roma,  a  ti,  a  mim  ! 

GARRETT,  catão,  act.   3,  9C.   3. 


—  « Dando  nova  Nobreza  atis  do  povo, 
que  faziaõ  feitos  a.<sinalados  neila,  e  os 
nobres  acrcícentando-os  a  maiores  esta- 
dos, de  maneira,  que  raros  sa3  os  Senho- 


RARO 


RASA 


RASA 


res  de  Vassallos,  que  hoje  hà  em  Portu- 
gal, que  naõ  tivessem  este  heróico  prin- 
cipio.)* Manoel  Scverim  de  Faria,  Noti- 
cias de  Portugal.  —  «Os  que  tem  nome 
e  baptismo  de  christSos,  muitos  o  recebe- 
ram, sem  saberem  o  que  recebiam  e  vi- 
vem tào  gentios  como  d'antes  eram,  sen- 
do muito  raros,  ainda  dos  mais  ladinos, 
os  que  se  desobrigam  pela  quaresma,  e 
ha  chriãtàos  de  sessenta  annos  de  idade 
que  nunca  se  confessaram.»  Padre  Antó- 
nio Vieira,  Cartas,  n.°  9. 

Do  pcqucniuo  poLte  oliia  o  cardume 
De  argêntea  escama  tauxiada  d"ouro 
E  do  verniz  azul,  qu'os  Ccos  enfeita ; 
Sc  o  nome  o  fez  humilde,  o  gosto  o  exalta, 
So  fosse  raro  o  Grande  o  desejara. 
Entraria  dos  Reis  no  Paçfl,  e  mcza. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Cant.  3. 

—  Raras  vezes;  poucas  vezes,  com 
pouca  frequência.  —  «  Outra  differenca  se 
toma  da  parte  affecta ;  e  segundo  esta 
hum  occupa  a  substancia  do  Cérebro; 
outro,  ainda  que  raras  vezes,  offende  as 
membranas  do  mesmo  Cérebro;  como  se 
colhe  Ex  Galen.  4.  de  causis  pulsuum 
cap.  14.  Outras  differenças  se  tomaõ  da 
còr  do  corpo,  e  do  rostro ,  porque  dos  Le- 
thargicos  huns  tem  as  cores  assim  do  ros- 
tro, como  do  corpo  chumbadas,  e  quasi 
mortíferas ;  outros  naõ  distaõ  muvto  da 
cor  natural.»  Braz  Luiz  d'Abreu,  Portu- 
gal medico,  pag.  4ò7,  §  19.  —  «Donde, 
porque  raras  vezes  se  dà  esta  conferen- 
cia, e  se  descobrem,  ou  encontrão  com 
difficrJdade  as  coudiçoins  para  que  o  re.- 
medio  pui"gante  administrado;  e  porque 
também  o  principio  universal  do  Phre- 
nesi  esta  destinado  para  as  sangrias;  o 
qual  he  brevíssimo,  porque  o  morbo  he 
summamente  agudo,  e  se  termina  com 
celeridade,  e  quando  vamos  a  exhibir  o 
medicamento  purgante,  ja  o  Phrenesi  pas- 
sa a  estar  no  augmento,  ou  no  estado,  em 
cujos  tempos  todos  temem  a  exhibicão  do 
tal  remédio,  por  isso  naõ  costuma  ser  de 
muyto  uso  a  pm'ga  nos  phreneticos.»  Ibi- 
dem, pag.  377.  —  «Mas,  inda  que  nas 
grandes  affliçues  raras  vezes  se  acha  em 
uma  só  pessoa  conselho  singular  e  cora- 
ção esforçado,  Polendos  se  houve  tào  dis- 
creta e  valentemente,  que  assim  por  me- 
ra sabedoria,  como  por  esforço  singular, 
os  desbaratou  com  morte  de  seus  imigos, 
tomando  preso  Moleyxeque  capitão  da  fi-o- 
ta  e  sobrinho  del-rei,  filho  d'uma  sua  ir- 
mãa  e  del-rei  de  Tunes",  sem  morte  de 
nenhum  seu,  posto  que  alguns  ficassem 
feridos.»  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
dlnglaterra,  cap.  96. 

Os  annos  cstaõ  caros,  c  eu  naò  devo 
Um  gancho  desprezar,  que  raras  vezes 
A  Ventura  depara,  e  nos  ofl:"reco. 
Disiz  DA  CBUz,  HY3S0PE,  oant.  6. 

—  Singular,  extravagante. 


—  Pouco  espesso,  nào  basto.  —  Cabello 
raro.  —  Cabelleira  rara. 

—  Transparente,  que  deixa   ver  atra- 
vés, fallando  d'um  tecido. 


Oh!  sonho  nào  foi  esse.  — Affigm-ou-sc-me 
Ver  do  moimento  erguer-se  um  vapor  leve, 
Raro.  como  de  nuvem  transparente 
Que  mal  imbai,'a  o  lume  das  estrcllas 
No  puro  azul  dos  ccos :  —  foi  pouco  a  pouco 
Condensando-sc  espesso,  e  lougcs  dava. 
GAKBETT,  CAMÕES,  caut.  .3,  cap.  20. 


• —  «  Uma  figura  de  mulher,  cujas  for- 
mas mal  se  podiam  adivinhar  através  de 
um  raro  cendal  que  a  cubria  até  os  pés, 
acompanhava-o.  Com  passo  firme,  ella  se 
encaminhou  para  Abdidaziz,  e  o  eunu- 
cho  desappareceu  de  novo.»  Alexandre 
Herculano,  Eurico,  cap.  14. 

— •  Termo  de  phvsica.  Diz-se  dos  cor- 
pos cujas  partes  são  pouco  apertadas. 

- —  Diz-se  do  liquido  delgado  e  claro, 
não  turvo.  —  Vinho  raro. 

—  Poroso.  —  Terra  rara. 

—  Bicho  raro.  Vid.  Ralo. 

—  Adverbialmentc : 

Mui  raro  este  espectáculo  gozarão 
Os  miseros  mortacs,  quando  no  throno 
Triste  Roma  hum  só  vio :  ao  Jlundo  escravo 
Dictava  o  crime  as  leis,  lançava  os  ferros. 

J.    A.   DE  MACEDO,   MEDITAÇÃO. 

Génio,  que  objectos  da  terrena  estima 
Aos  pés  soube  calcar,  c  além  subindo, 
Onde  o  frágil  mortal  mui  raro  chega. 
Teve  ao  lado  virtude,  e  teve  o  gosto, 
Que  esse  bello  ideal  nas  Artes  busca. 

IDEM,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Cant.    3. 

O  coração  é  cofre  precioso 
De  que,  raro,  confia  homem  prudente 
A  chavo  a  seu  mais  intimo.  Guardac-vos 
De  baratear  assim  o  oiu-o  cendrado 
Da  amizade  fiel  íconfiança  intendo) 
A  qualquer  que  sun-indo  vos  estendo 
Talvez  curiosa  mão,  que  não  4e  amigo. 
GAEKETr,  CA.MÕES,  cant.  3,  cap.  8. 

—  S.  m.  Vid.  Ralo. 

RÁS,  s.  m.  Vid.  Arras.  A  forma  Rás 
é  hoje  a  mais  usada.  —  Ura  panno  de  ràs. 

1.)  RASA,  s.  f.  Vid.  Arras.  Estofo  de 
lã  de  varias  sortes,  taes  como  rasa  en- 
trapada,  rasa  de  Montalvão,  rasa  de  no- 
me. 

2.)  RASA,  s.  /.  Taxa  dos  estipêndios 
ou  custas  dos  autos  determinada  pelo  con- 
tador. 

■ — Escrever  â  rasa;  escrever  papeis  ju- 
diciaes,  que  devem  ter  um  determinado 
numero  de  linhas. 

—  Pagar  jjela  rasa ;  pagar  sem  exce- 
der o  que  limita  o  regimento  do  official  a 
quem  se  pagam  as  custas. 

3.)  RASA,    s.    f.    Cadeira  sem   costas. 

—  Antiga  medida  de  capacidade  para 
seccos,  usada  na  Beira,  onde  equivale  ao 
alqueire, 


—  Pau  cylindrico  de  pouca  grossura 
que  se  passa  por  cima  d'uma  medida  de 
capacidade  para  seccos  a  fim  do  tirar  o 
que  excede  a  medida.  Vid.  Rasoura. 

RASADO,  j)«?í.  pass,  de  Rasar.  =  0b- 
soleto  e  mal  authorisado. 

RASADURA,  s.  f.  (De  rasa,  com  o  suf- 
fixo  «dura»).  O  que  se  tira  com  a  rasou- 
ra ou  rasa  da  medida  cogidada  ou  que 
contém  mais  do  que  o  justo. 

RASAMENTE,  adv.  (De  raso,  com  o 
suffixo  «mente»).  Inteiramente,  comple- 
tamente. —  «  Vinha  deliberado  a  conquis- 
tar rasamente  toda  a  Hespanha.»  Monar- 
chia  lusitana,  tom.  2,  foi.  152. 

RASANTE,  part.  act.  de  Rasar,  e  adj. 
Que  rasa. 

—  Termo  antigo  de  fortificação.  Linha 
de  defensa  rasante ;  a  recta  que  partindo 
do  flanco  de  um  bastião  leva  a  direcção 
da  face  do  bastião  visinho,  chamada  tam- 
bém jianco  rasante. 

—  Fogo  rasante  ;  fogo  da  linha  de  de- 
fensa rasante. 

—  Bateria  rasante  ;  a  da  linha  de  de- 
fensa ra.sante. 

1.)  RASÃO,  s.  f.  Vid.  Razão.  — «Po- 
rem como  sua  condição  fosse  livre,  estas 
rasões,  nem  o  merecimento  de  Florendos, 
a  poderam  dobrar.  Almourol  se  veio  des- 
contente e  manencorio  de  ver  tanta  ingra- 
tidão em  obras  merecedoras  de  outro  ga- 
lardão.» Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
d'Inglaterra,  cap.  108. —  «A  senhora,  que 
se  não  pagava  destas  rasões,  lhe  disse: 
Ora,  senhor,  isto  é  tarde,  ceiai  e  repou- 
sareis, que  amanhã  praticaremos  no  que 
se  deve  fazer.  E  despedindo-se  delle  com 
toda  a  cortesia,  que  o  ódio  e  engano  po- 
dia fingir  ou  dissimidar,  o  deixou  e  se  foi 
a  seu  apousento.»  Ibidem,  cap.  113. 

Este  para  quo  a  minha  historia  pede, 
Senhores,  attenção,  seguio  a  insana 
Lei  primeiro  do  immundo  Mafamcde, 
E  nasceo  na  infiel  terra  Africana ; 
Lei  que  a  brutalidade  toda  excede. 
Que  os  seus  por  si  somente  desengana. 
Mas  tanto  pôde  a  carne  ícom  seu  dano) 
Que  vai  mais  que  a  rasão,  que  o  desengano. 
F.  d'andkade,  PBi>rEiE0  CEBCO  DE  DIU,  cant.  2, 
est.  64. 


Chegão  lá  ao  logar  onde  apparecem 
Os  na^-ios  ao  fogo  condemnados, 
Artificies  do  fogo  não  fallecem 
Jlas  fallecem  então  peitos  ousados  : 
Estos  a  seu  t«mor  mais  obedecem 
Que  ao  que  por  mil  rasões  são  obrigados, 
Faz-lhos  isto  desejar  com  gràa  presteza 
Toruarem-so  outra  vez  á  fortaleza. 
IBIDEM,  cant.  11,  est.  60. 

Estas  e  outras  rasões  com  que  faziào 
A  defeza  aos  Christãos  mais  impossivel, 
E  a  guerra  que  fazer  lhos  pretendião 
"Maior,  mais  perigosa,  mais  ten-ivel, 
Os  Mouros  Capitães  aos  seus  diziào 
Por  lhos  fazer  a  guerra  mais  sofírivel, 
E  porque  dos  imigos  a  fraqueza 
Lhe  déssc  novo  csprito,  o  fortaleza. 
IBIDEM,  cant.  9,  est,  48. 


84 


RASA 


KASC 


UA.SC 


Pouco  o  Fuleiro  dÍHto  no  oontuiita 
Qnn  (Mn  (Çrão  porigo  vc  nua  viirdiido, 
K  comoiíidii  procurii,  iiiiidii  iiitorita 
I)(t  l'ii(!hi\C()  provar  a  «iifiírniidado, 
(Jrila  (M^pia  do  raàiie»  logo  aproaimta, 
Max  todait  Huin  vi);or,  o  authoridiulct, 
Paru  dar  a  ciitcndor  que  »cr  podia 
O  ((uo  lho  o  SouHa  nutilo  contradizia. 
luiDEU,  cant.  1-1,  Crit.  82. 

Hofil,  Honhora  RanHn, 
Pordoe  Hua  ina^iírttadii, 
inda  eu  vos  danii  cliristAo 
quit  o  ui\ja  inuÍH  lioin  lui^lilo 
Quo  vúu  pordoi-lhu  a  Haudadt!. 

ANTÓNIO   l'RK8TKS,  AUTOS,  pOg. 

Outra  ratão  vojo  cu 
n'ontraí<  pelles  ((ue  niio  digo, 
que  todoD  {|uorfini  caatigo 
o  ucnlium  no  erro  seu  ; 
Guta  c  cotia  como  figo. 


Sabeis  quo.  rasào  ha  aqui  V 
a  do  Mafoma 
que  cativo,  vaca  toma  ; 
quanfcu  uilo  vejo  nem  vi, 
outra  mesa  cm  quo  olla  oomn. 

iniDEM. 

Que  hei  do  falhir, 
ó  minha  Kaaào?  chorar 
acres  (lucm  é.s,  vêr-te  as.^im 
nilo  u'o  po9;jo  comportar. 
iBiDKM,  pag.  51, 

Outro  irá  menos  juncado 
de  rasSes ,  a  fidalguia 
tem  muito  por  fautcsia, 
quo  Deua  UiXo  fez  outro  estado, 
que  todo  amio  é  seu  dia. 
luiDEU,  pag.  151. 

Foi  amor  sempre  desterros 
da  rasào  no  seu  favor ; 
n'Í8to  osti  grande  senhor, 
que  o  amor  que  faz  mais  erros 
seja  o  mais  honrado  amor. 
iBroEM,  pag.  173. 

—  «Querendo  porem  dar  a  V.  A.  hu- 
nia  rasão  que  nilo  seja  originaria  de  Por- 
tugal, oudo  as  gentes  voudo  ao  menos 
tanto  como  nós  vemos  aqui  estilo  tidas 
por  gentes  cegas,  se  me  ortoroce  ámanhit 
ji  occasiiío  desejada.»  Oavalleiro  d'()li- 
veira,  Cartas,  liv.  1,  n."  Irl.  —  «For  es- 
sa rasão  o  faço  cm  tal  forma  que  nilo  ti- 
que lugar  aos  que  me  culpilo,  de  enten- 
derem que  também  zombo  com  V.  E.  a 
quem  só  venero.»  Ibidem,  u."  34.  —  a  Não 
teve,  eutretíinto,  rasão  o  Botelho  para 
tíio  seccAmontc  responder.  O  serem  do 
mesmo  officio  lhe  causou  displicência.  De- 
veria agradecido  lembrar-sc  que  o  sur. 
conde,  honrador  dos  vivos,  quo  niío  sii- 
mente  dos  mortos,  com  merecimento,  lhe 
fizera  elogios  n'uma  oitava  da  sua  Hcn- 
riqiieida.'^  Bispo  do  Grrio  Pará,  Memo- 
rias, publicadas  por  Camillo  Castello 
Branco,  pag.  108. 

2.)  RASÃO,  .«.  /.  (Do  thema  rasa,  do 
rasar,  com  o  suffixo  «ão»).   Rasoura   de 


rasar  as  medidas.  =  Termo  colligido  por 
B(!nto  Pereira,  o  qual   parece  caido  em 

desuso. 

RASAR,  V.  a.  (Do  Uittm  rasus,  part.  de 
raderi:).  Arrasar. 

—  Kgualar  a  superficio  do  que  está  na 
medida  de  grãos  ;  tirar-lhe  o  excedente 
da  nu;diila  exacta. 

—  Rasar-se,  r.  reji.  Arrasar-se.  —  Ra- 
sarem-se  os  olhos  d'aijua.  :^-=  Arrasar-se 
é  ])rcloriv(!l. 

RASBUTOS,  ou  RESBUTOS,  s.  «i.  plur. 
Termo  a.-úatico.  Valentes  baniancs  que 
profussam  a  arto  militar. 

RASCA,  ».  /.  ííspeeie  de  rede  de  pes- 
car. 

—  Embarcaçilo  em  quo  se  pesca  com 
essa  rode. 

—  Embarcaçilo  pequena,  costeira,  de 
dous  mastros  em  direcçílo  obliqua,  quo 
serve  para  transporte  do  mercadorias. 

—  Loc.  :  Não  fei-  rasca  em  alfptma 
cousa,  ou  d'alguma  cousa;  nilo  ter  parte, 
quinhilo,  lucro  ou  emolumento  nella. 

—  Tei-  rasca  na  assadura;  ter  ganho, 
parte,  quinhilo,  emolumento  n'algum  ne- 
gocio pouco  ou  nada  legitimo.  —  Elk  fal- 
ia assim  porque   tem  rasca  na  assadura. 

RASCADOR,  s.  /.  Termo  d'ourivesa- 
ria.  Ferro  de  rascar  ou  raspar. 

—  Termo  de  balística.  Peça  de  ferro 
de  fi')rma  de  meia  lua  assentada  em  mn 
cabo,  com  que  os  bombeiros  raspam  as 
bombas  ferrugentas. 

RASGADURA,  s.  /.  (De  rasca,  thema 
de  rascar,  com  o  suffixo  «dura»).  Impres- 
sílo,  signal  que  deixa  o  corpo  áspero  quo 
arranha,  raspa  ou  corta.  —  Saltou  uma 
sebe,  mas  ficou  com  o  corpo  cheio  de  ras- 
caduras. 

1.)  RASGÃO,  s.  m.  Guisado  de  car- 
neiro picado  com  cebola,  toucinho,  alho, 
etc. 

2.)  RASGÃO,  s.  w.  ant.  Pagem  ou  cria- 
do a  que  se  deu  logar  de  pagem;  e  n'um 
sentido  pejorativo  mandriilo,  vadio. 


Na  igreja  bradão  com  elle, 
rorqu'assoviou  a  hum  oiio  ; 
K  logo  excomTnuoliào  na  pelle. 
O  fidalgo  maçar  nelle, 
Até  o  mais  triste  ra.«c'w. 

(ilL  VICENTK,  AUTO  DA  D.iRCA   DO  PUHOA- 
TORIO. 

E  também  as  condições 
De  que  planeta  lhes  vem, 
Declarado  por  item. 
Cí:/V.   Dizei  embora,  rascões. 

Qu'eu  sei  isso  muito  bem. 

IPEM,  FARÇAS. 


—  «Quanto  ao  Entrudo,  6  festa  de 
rascoens,  porque  lhe  celebram  as  véspe- 
ras com  muita  tanhada  c  snmbarcos  com 
que  perseguem  os  pobres  dos  saloios,  t.^o 
soberbos  por  lhes  fazerem  uma  travessu- 
ra, como  se  tomilram  jNIas.og.^o  de  nma 
ponnada.  A  festa  do  dia  avulta  mais  n'el- 


les  que  na  outra  pente.»   Soropita.   Poe- 
sias e  prosas  inéditas. 

Ha  me  de  dar  d 'alriiiH-ar 
jMirqiie  f-  do  HOU  rwtrAn 
que  a  namora ;  c  k-d&o 
l>cm  p<<dc  gemer,  chiar. 

Aaroiio  PKEiiTK*,  Aurof,  pa^.  1*X>. 

RASGA-PIOLHO,  «.  m.  íCompfjsto  de 
rasca,  tlii-ma  de  rascar,  c  piolho >.  O  pio- 
lhoso, o  que  de  Continuo  está  (vtf-ando  e 
matando  j)iolhos.  =  Termo  insultuoso  usa- 
do e  talvez  creado  por  <íij   Vicente. 

RASCAR,  f.  a.  liaspar,  arranhar,  co- 
çar. 

—  Antigamente  :  Gritar,  bradar. 
RASCETA,  «.  /.  Vid.  Rasqueta. 
RASCÔA,   ».  /.  (Feminino  de-  Rascâo). 

Criada  que  serve  d'aia. 

Outro,  que  veio  aqui  de  Ilcuaveutc, 

A  roíicda  que  viu  na  mancebia. 

Diz  que  i  a  mais  bcUa  dama  do  ooeidont«. 

F.   R.   LOBO  SOROPITA,  POESUg   B  PB08AB  IHEDrrAS. 

pag.  ÍA. 

RASGOEraO,  s.  m.  (De  rascaoi.  Namo- 
rador de  rascôas,  criadas,  aias. 

RASGOICE,  s.  f.  íDe  rascão,  com  o 
suffixo  «ice»).  Dito  ou  acçSo  baixa,  mal- 
crcada,  própria  de  rasciSo  on  de   rasct*>a. 

—  JLaneiras  de  rascão  ou  rascôa. 
RASGOTE,  s.  Hl.  (De  rascão,  com  o  suf- 
fixo "Oten  .  Diminutivo  de  Rascão. 

RASCUNHADO,  j.-aW.  pass.  de  Rascu- 
nhar. Esboçado,  delineado. 

—  Escripto  em  borrilo. 

RASCUNHAR,  v.  a.  Fazer  um  rascu- 
nho, fazer  em  rascunho ;  desenhar  os 
primeiros  e  mais  rudimentares  traços  de 
uma  pintura.  —  «Entiío  rascunhando  o 
que  querem  na  parede,  que  foi  tinta  de 
preto,  e  se  lhe  deu  mào  de  cal  á  colher, 
como  estuque ;  e  rascunhando-a,  ou  fe- 
rindo n'ella  com  hum  estilo,  appareee  a 
figura  no  preto,  que  se  descobre.»  Nu- 
nes, Arte  da  pintura,  foi.  74. 

—  Escrever  o  borrilo  de  qualquer  cou- 
sa ;  escrever  minutas. 

—  Imprimir  signaes  fiindos. 

RASCUNHO,  í.  "1.  Traços  rudimenta- 
res, sem  dcterminaçSo  dos  accidentes  par- 
ticulares do  que  se  ha  de  pintar,  ou  tra- 
ços sobre  que  se  ha  de  sombrear  para 
fazer  um  desenho. 

—  Minuta. 

—  Borrão  d'uma  obra  litteraria,  duma 
carta. 

—  DoscripçSo  tosca,  imperfeit.i. 

—  Syn'.  :  Rascunho,  etbo^o,  bosquejo. 
Estas  três  palavras  s.lo  termos  teíhnicos 
das  .artes  de  desenho,  que  se  empregam 
também  por  analogia  ou  extensSo  na  lin- 
guagem geral.  Rascimho  é  o  primeiro 
lançamento  de  traços,  linh.as  ou  pontos, 
delimitando  as  liguras,  os  horisontes,  os 
accidentcò  principaee  da  obra  que  se  ha 


RASG 


RASG 


RASG 


de  pintar ;  esboço  é  a  pintura  ou  desenho 
nào  acabados,  mas  em  que  a  idêa  da 
obra  apparece  clara  e  apreciável,  haven- 
do já  sombras,  um  colorido  imperfeito. 
Os  esboços  de  Sequeira  sào  admiráveis  e 
alguns  valem  por  quadi"os  acabados,  em- 
quanto  nào  se  pode  dizer  o  mesmo  dos 
seus  rascunhos  que  nào  podiam  dar  idêa 
do  que  elle  tencionava  fazer.  Esboço  é 
também  o  toro  ou  cepo  depois  que  o  es- 
tatuário o  desbastou  até  aos  limites  que 
ha  de  occupar  a  estatua  que  vai  acabar. 
Bosquejo  é  propriamente  o  esboço  em 
que  já  ha  colorido.  E  um  erro,  que  se  en- 
contra nas  edições  augmentadas  de  Mo- 
raes que  não  se  dê  o  nome  de  esboço  ao 
bosquejo,  isto  é,  com  colorido;  mas  temos 
ouvido  empregar  o  termo  n'esse  sentido 
por  mmtos  pintores  de  profissão,  que  me- 
nos uso  fazem  já  de  bosquejo,  Xa  lingua- 
gem geral :  rascunho  é  um  borrào  d'es- 
cripta,  uma  minuta,  esboço  é  o  delinea- 
mento d'uma  obra  litteraria  e  bosquejo  é 
uma  obra  litteraria  que  se  pôde  já  publi- 
car, mas  que  o  «luthor  por  consciência  ou 
modéstia  tingida  ou  real  assim  chama, 
para  a  indicar  como  mal  acabada. 

RASGADO,  parí.  pass.  de  Rasgar.  Fei- 
to em  farrapos;  lacerado,  roto. 

—  Grande,  extenso. 

—  Figiu'adamente  :    Subdividido,   cor- 
tado. 


No  mosqueado  dorso  indóceis  Tigres 
Sinaes  daquella  formoaura  ostentão, 
Cora  que  enfeitasse  a  Natureza  inteira. 
Onde  nào  brilhas  Tu?  Se  as  procellosaa, 
Negras  nuvens  rasgadas,  se  os  ardentea, 
De  huma  sulfúrea  luz,  fultnincos  trilhos, 
Que  com  vapor  eléctrico  espcdação 
O  tenebroso  véo,  são  teus  vestigios, 
Em  tua  dextra  omnipotente  as  armas  ? 

J.   A.    DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Caut.    1. 

—  Aberto. 

Misero  Vate  eu  sou,  no  peito  acolho 

Desejo  de  saber,  sempre  affanoso  ; 

Apoz  a  imagem  da  Verdade  eu  corro  ; 

Mas  alma  iuvolta  em  sombra,  e  deslumbrado 

Enigmas  obscurissimos  diviso, 

Nunca  rasgada  escuridão  de  arcanos. 

J.   A.   DE  UAC2D0,  TIAGESI  EXTÁTICA,   Caut.    2. 

A  mystcríosa  veya  vai  rasgada 

Em  esteiros  variados,  que  se  prendem. 

Se  dividem,  se  enlação,  se  desunem. 

r.   M.   DO  S.VSCIMESIO,  OS  MABIYKES,  1ÍV.    3. 

—  Fallando  dos  olhos,  da  bocea,  de 
grande  abertura.  —  Olhos  rasgados.  — 
Bocca  rasgada.  —  «Os  OUws,  mediana- 
mente rasgados,  pardos,  e  profundos: 
Oculi  fere  sunt  cinerei,  non  valde  ma- 
gni;  admodiim  apti,  et  parum  in  capite 
profunde  jacentes,  clari,  Incidi,  et  humi- 
di  sursum  deorsumque  currentes.-»  Braz 
Luiz  d'Abreu,  Portugal  medico,  pagi- 
na 333. 

—  Grande,  extenso. 


—  Portinhola  rasgada;  portinhola  mui- 
to aberta. 

—  Comprimento  rasgado ;  muito  gran- 
de. 

—  Letra  rasgada  ;  letra  grande. 

—  Rasgado  em  comprimentos ;  que  faz 
grandes  comprimentos,  palu%Tosos. 

—  Figuradamente :  Rasgado ;  generoso, 
bizarro. 

—  Caracter  rasgado ;  franco,  liberal. 

—  Dilacerado.  —  Coração   rasgado. 

—  Adverbialmente :  Muito,  em  gran- 
de quantidade.  —  Comer  rasgado. —  Dan- 
çar rasgado. 

RASGADOR,  A,  adj.  e  subst.  (Do  the- 
ma  rasga,  de  rasgar,  com  o  suffixo 
«dôr»  I.  Que  rasga:   o,  a  que  rasga. 

RASGADURA,  s.  f.  (Do  thema  rasga, 
de  rasgar,  com  o  suffixo  «dura»).  Aber- 
toi-a,  ruptura,  seissura  de  cousa  rasgada. 

—  Grande  abertura  natui-al.  —  A  ras- 
gadura da  caverna. 

—  Rasgadura  do  reparo,  do  muro ; 
brecha. 

—  Aeçào  de  rasgar. 

RASGAMENTO,  s.  m.  (Do  thema  ras- 
ga, de  rasgar,  com  o  suffixo  «mento»). 
Acçào  e  effeito  de  rasgar.  —  O  rasga- 
mento  da  muralha. 

■ —  Abertura.  —  O  rasgamento  da  boc- 
ca   do  crocodilo. 

RASGÃO,  s.  m.  (Do  thema  rasga,  de 
rasgar,  com  o  suffixo  «ão»).  Rasgadura 
grande. — Fez-lhe  um  rasgão  no  vestido. 

■ —  Ferida  profunda  e  larga.  —  Dar 
um  rasgão  na  cara  a  alguém. 

—  Pedaço  que  pende  da  cousa  rasga- 
da. —  Fendia  o  rasgão  do  vestido. 

—  Pedaço  separado  da  cousa  rasgada. 

Não  ha  dcspir-mos^rmas,  dispor  fogos. 
Niís  fremendo,  buscamos,  nós  chamamos. 
Os  nossos  :  um  pede  agua,  outro  comida  ; 
Feridas  se  atào,  com  rasgões  das  fardas  •, 
Sentinelas  transmettem  d 'uma  a  outra, 
O  grito,  a  cada  vela,  e  se  respondem. 

r.   M.   DO  KASCIMESTO,  OS  M.VBTYRES,  1ÍV.    8. 

—  Pedaço  de  carne  arrancado. 
RASGAR,    V.    a.    Romper,    fazer    uma 

abertura,  um  buraco;  lacerar.  —  «Espe- 
ro que  ninguém  rasgue  os  vestidos,  nem 
esta  folha  ao  lêr  semilhante  bla.sphemia. 
Xo  3.°  tomo  de  Goldoni,  a  1.^  comedia 
II  cavaliere  y  la  dama,  é  nobilíssimo  es- 
timulo de  honra  e  exemplo  de  castida- 
de.» Bispo  do  Grão  Pará,  Memorias, 
publicadas  por  Camillo  Castello  Branco, 
pag.  120. 

— •  Em  medicina,  e  cirurgia,  rasgar 
uma  veia,  uma  artéria,  um  vaso;  abril-os 
para  uma  sangi-ia,  etc. — •  «E  supposto 
Galeno  nestes  aíFectos  rasgou .  algiuuas 
vezes  logo  no  principio  a  vea  Cephalica; 
era  porque  no  seo  tempo  aflectavaõ  os 
Médicos  largissimas  profuzoens  de  san- 
gue, que  neste  nosso  estaõ  esquecidas  em 
razaõ  da  mayor  debilidade  dos  corpos; 
e  daquella  larga  evacuação  da  Cephalica 


se  seguia,  não  sò  o  deporse  o  enchimen- 
to da  Cabeça,  mas  de  todo  o  corpo;  de 
maneira,  que  ficava  cessando  o  perigo  de 
se  attrahir  mais  para  a  parte. »  Braz  Luiz 
d'Abreu,  Portugal  medico,  pag.  176. 

—  Ferir  profundamente,  abrii'  grandes 
feridas. 

O  medonho  rival  tenta,  e  persegue, 
Divide,  e  rasga  o  corpo  do  inimigo, 
Ou  morre,  ou  fica  vencedor  no  Campo. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  SATIBEZA,  Caut.  3. 

—  Rasgar  a    terra,    o  seio    da   terra ; 
abril-a  oom  o  arado  para  a  cultivar. 

Vejo  a  Misson...  Que  svmbolo  o  distingue? 

O  nobre,  o  nobre  só  profícuo  Arado, 

Que  o  seio  rasga  á  teiTa  agradecida  ; 

Delle  se  peja  a  estólida  vaidade  : 

Do  Filosofo  á  vista  he  mais  que  hum  sceptro. 

J.   A.   DE  MACEDO,   VIAGEM    EXTÁTICA,  Cant.    2. 

—  Poeticamente : 

Debaixo  de  seus  pés  se  alegra  a  Terra, 
Que  o  ferro  triunfal  lhe  rasgue  o  seio  •, 
Dos  abysmos  medonhos,  que  a  Foi-tuna 
Ao  sólio  preparou,  fugindo  hum  César, 
Em  pequeno  jardim  sesconde,  e  vive. 

J.   A.    DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Caut.    3. 

— •  Rasgar  o  seio  do  globo ;  penetral-o 
profandamente. 

Mas  não  julgues,  qu'  ás  lobregas  entranhas 
Desço  do  Globo,  que  lhe  rasgo  o  seio 
Com  Ímpia  avara  mão,  para  arrancar-lhe 
Vastos  thcsouros,  que  cioso  occulta. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  SATrREZA,  Caut.  2. 

• — •  Figuradamente  : 


Nunca  !  —  O  punhal  das  civicas  discórdias 
Rasgou-lhe  o  seio,  quebrantou-lhe  os  membros  ; 
Eoma  nào  vive  já.  — E'  César,  César 
Quem  hoje  é  Eoma,  e  que  é  senhor  do  mundo. 

GAERETT,  CATAO,  act.    1,  SC.    2. 

—  Rasgar  o  oceaiio,  as  ondas,  o  dorso 
do  oceano,    etc. ;   cortal-o   com    embarca-  ' 
ção,  navegar. 

Vê  longos  rios  fecundando  a  terra, 
E  no  Tirreno  mar,  d"Adria  nas  ondas 
Altas  Náoã  vê  rasgando  o  dorso  a  Thctis. 

J.  A.  DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Caut.    1. 

Do  Mar  a  agitação,  do  Vento  a  fúria 
Com  frágil  lenho  voador  se  cmbrida. 
Sentado  cm  ligneo  throno,  e  fluctuante 
Apparece  o  mortal  Bei  do  Universo  ; 
A  seu  arbítrio  o  Mar  divide,  e  rasga. 
IBIDEM,  cant.  4. 

—  Rasgar  o  pego ;  navegar. 

—  Abrir.  —  Rasgar  passagem.  — Ras- 
gar uma  janella.  —  Rasgar  um  muro.  — 
Rasgar  uma  porta. 

■ —  Rasgar  o  veu  d'um  segredo ;  reve- 
lal-o,  descobril-o. 


8Í5 


RASO 


KASG 


UASO 


O  goinpitonio  brai;o  outílo  rani/ava 

Denso  V('-o,  (|ii(3  o  futuro  (iscoiidi!  ao  Mundo  ; 

Mortti-a-HU  lio  Gaiim  llor/m,  (|iu!  diMtroi;ava 

Km  Haiif^uiiiorfa  lidu  o  Mouro  iniiniiiido : 

Qu'ora  ha  lioiíto»  iia  torra  afu^oiitava, 

Ora  nu  Núo.i  oiivnatiu  em  mar  profundo  ; 

Eru  Paclioco  ij^ual  a  Itnlisario 

No»  bcnH,  o  inalcit  do  DoHtino  vario. 

J.   A.    I)K  UACKOO,  o  OIllK.NTK,  Cailt.    1-,  Crtt.    01. 

S'lio  |)OHHÍv(!l  rtuyar  o  inagcntofio 
Escuro  vío,  iju'  u  Nuturc/.a  envolvo, 
Seria  aeaHO  o  mar  medonho,  e  turvo 
(Cobrindo  o  vasto  Globo,  ipie  dei.xasso 
(guando  de  todo  s'o.4treitou  nas  margens 
Entro  montes,  cavados  precipícios? 

IDEH,  A    NATltKKXA,  CaUt.   2. 

o  seu  Sabia-  adoro,  c  seu  profundo 

Kngonlio  admiro,  ([ue  raxi/ar  soubera 

O  véo,  onde  mais  den,-io,  e  mais  compacto 

Involve,  oecidta,  e  feelia  a  Natureza. 

De  lium  louvor  motivado  a  olferta  acceita. 

Escuta  o  ('auto  liarmonico,  que  nunca 

A  vil  adula(;ao  soube  acurvar-se. 

Il)K.\l,   VIA<1K.M  K.tlATICA,  Caut.    3. 


De  arcanos  uaturaes  e.\poz  a  Cifra, 
liasf/oii  da  Natureza  o  véo  sombrio. 
Eis  ^o  infinito  o  calculo  profundo. 
iiuDKu,  oant.   1. 

Mais  que  a  vazào,  c  (luc  os  sentidos  púdí^ 

A  luminosa  Fé...  Mortal,  silencio! 

Oa  véos,  em  quo  se  involve  o  escuro  arcano, 

A  morte  ras(/ará.  c  em  Deos  veremos 

O  que  a  minha  alma  ignora,  ignorào  todos. 


—  Rasgar  as  cortinas- do  futuro;   pre- 
vel-o,  prophetisal-o,  conhecêl-o. 


Da  Natureza  expositor,  quizcstc 
As  azas  despregar  n'hum  Ceo  mais  alto, 
As  cortinas  fatídicas  ra^ií/audo. 
Com  i{uc  a  mão  do  Immortal  cobre  o  futvno. 
j.  A.  oi;  M.icKDO,  viAonM  ExrATRA,  caut.  3. 


• —  Rasgar  as  somhras  do  futuro  ;  o  mes- 
mo seiítiilo  da  phraâc  antcceik-nte. 

Alli,  rasujamlo  as  sombras  do  futuro, 
Com  clara  voz  me  diz  Mente  presaga. 
Que  saberão  uo  Mundo  os  tardos  Netos, 
Que  eu  no  Mundo  existi,  que  no  nieu  peito 
Cahio  em  turbilhões  Pierio  fogo. 

J.    A.    UE   MACEDO,  VIAOESI  EXTÁTICA,  Cant.    3. 

—  Rasgar  S()»i6íVí,s- ;  dar  luz,  esclare- 
cer, penetrar,  elucidar,  destruir  a  igno- 
rância, o  erro. 

Onde  immorso  em  si  mesmo,  a  origem  busca 
Desta  do  Mundo  macliina  pasraosa  •, 
Aos  homens  traz  hum  facho  lumino.so, 
Que  de  hum  tal  labyriutho  as  sombras  nx^^t/a. 

J.   A.    I>E   MACEnO,   VIAOKM    EXTÁTICA,   Cailt.    -. 

o  Spinozista  incrédulo  nilo  sente 
Nelles  o  seu  poder,  nelles  seu  brai;o : 
SA  vê  moditicada  a  inerte  massa 
Sem  desiguio,  sem  lois.  Oh  Deus  Supremo. 
Com  tua  immobil  luz  raoju-lhe  a  sombra, 


E  na  dosordctn  parcial  coubera 

O  Scllo  augusto,  que  puzcstc  cm  tudo. 

J.  A.   DE  UACKDO,  A  KATl'llt:Zl,    CaUt.  2. 

Do  século,  cm  que  vivo,  u  sombra  densa 
Eu  ranyari-i  com  vivo  enthusiasmo  : 
Ai,'aiiMada  deixando  a  negra  Inveja, 
Ao  meno.s  quando  o  corpo  cm  Civa  humilde 
A  morte  me  cscondor.  Das  cinzas  surge 
Sem  niáeida  o  renome,  então  conH<!gue 
Da  clara  Kuma  o  póstliumo  tributo. 

IIIICM,    VlAOKM    EXTÁTICA,   Cailt.    1. 

Assim  mesmo  teu  gcuio  absort<j  admiro, 
O  Lusitano  Ilebréo,  nem  posso  a  forija 
D'alma  mígar-te,  que  penetra  S(jmbras, 
Que  rasgar  não  foi  dado  á  mento  humana. 
iBiDEu,  cant.  2. 

Tu  nascido  a  dar  luz,  rasgan  as  sombras. 
Talvez  mais  densas  que  no  seio  involvcm 
Já  marcados  períodos  dos  tempos. 
luiDEM,  cant.  3. 

— Rasgar  a  amizade;  quebral-a,  rom- 
pel-a. 

—  Rasgar  o  vinculo  do  matrimonio ;  di- 
vorciar-se ;  conimetter  adultério. 

—  Rasgar  cortezia;  nào  fazer  cortezia; 
quebrar  as  boas  ou  ceremoniosas  rela- 
yõe.s  que  se  tem  com  alfçuem. 

—  Rasgar  o  peito,  o  coração;  causar 
íirande  dôr.  —  Esta  miscria  rasga-me  o 
corarão. 

—  Rasgar  os  olhos;  abril-os  bem. 

—  Rasgar  a  bocca;  abril-a  bem. 

—  Rasgar  baetas  por  alguém';  fazer-lhc 
muitos  comprimentos,  muitos  elogios,  li- 
songeal-o. 

—  Rasgar  a  letra;  fazel-a  grande. 

— 'Rasgar  sedas;  usal-as,  andar  vesti- 
do luxuo.-^amente. 

—  Rasgar-se,  r.  reji.  Ser  rasgado. 

Escuma,  geme,  e  brama,  range  os  dentes. 
Taõ  cruel,  taõ  espantoso,  taõ  feroz 
Naõ  tremo,  naõ  avança,  naõ  se  rasga. 

DINIZ  DA  CRUZ,  HYSSOPE,  CaUt.  G. 

Hasga-se  bum  pouco  o  seio,  o  mar  fluctua. 
Da  plana  superfície  os  montes  surgem, 
A  magestosa  fronte  ás  nuvens  siíbe, 
E  no  cther  s'esconde,  e  delles  rompem 
Soberbos  rios,  (pie  engrossados  correm. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  CaUt.  1. 

Jlas  soa  a  Voz  Eterna,  o  Sol  se  avança  ; 
Traz  n'huma  nuvem  d 'ouro  a  frente  envolta, 
Rasga-sc,  c  brilha,  no  iuflaramado  seio 
Do  Firmamento  súbito  se  espalha 
Nova  luz,  nova  pompa,  ao  longo  os  Globos 
Mais  fulgurantes,  mais  acccsos  girão 
Pelas  marcadas  orbitas  diversas. 


Os  que  de  eterno  gelo  o  campo  assombrão 
Que  o  Tartsiro  fugaz  cidtiva  e  deixa, 
liasgiiem-se  aos  olhos  meus,  e  as  bases  mostrem. 
IBIDEM,  cant.  2. 

Eis  mnnifi>sto  o  arcano,  o  véo  se  rasga. 
Na  Origom  peronnal  descubro  os  rios. 

IBIDEM. 


Do  Sol  o  Imperío  dciío,  inda  me  avanço 
Além  de  Urano  aos  t«rmiuos  da  c«féra. 
J{tug'io-»e  os  véo»  impenetráveis,  uovaj< 
Maravilhas  descubro,  e  weiuui  vejo. 

iniDKM. 


Porém  a  Terra  opica,  inerte,  e  fria, 
Do  S<jI,  Astro  central,  ainda  nâo  in-nt'- 
O  fog»  aiiimiulor,  clario  suave, 
Que  fúrma  o  dia,  o  Muudo  aflurmonéa. 
Eis  chega  o  quartii  instante  ;  o  S<jl  sciatilla  : 
Traz  niiuma  nuvem  dVjuro  a  frente  oii volta  ; 
A  nuvem  s<!  rasgou,  mústra-iK;  o  Mundo. 
iiiiDKu,  cant.  4. 


Todo  o  veo  da  illusio  se  rasga  cm  breve  ; 
Cai-lhc  o  [x>stiço  manto  mal  seguro, 
E  em  todo  o  horror  da  mtirW.  se  dcKobre 
Da  escravidilo  o  livido  s(|ueJcto. 

UARBKTT,    CATÃO,  OCt.   2,  SC.   2. 

RASGO,  «.  7/1.  íDe  rasgan.  Traço  feito 
com  a  pcnna  ou  pincel  para  formar  le- 
tra ou  desenho. 

— Talho  da  letra. 

—  Facilidade  e  firmeza  com  que  os 
grandes  mestres  das  artes  de  desenho 
traballuim. — Na  esculptura  tem  o  rasgo 
(/«  Miijuel  Angelo. 

— Rasgos  d'elo(juencia;  expressSes,  phra- 
ses  altamente  eloquentes. 

—  Rasgo  ;  acyào  bella,  nobre.  —  Um 
rasgo  '/'■  caridade. 

RASCUNHO,  s.  «I.  Outra  forma  de  Ras- 
cunho. \  i'l.   esta  palavra. 

RASO,  adj.  Rapado,  tosquiado,  cortado 
até  á  pollc,  até  á  raiz.  —  Cabellu  ra80.= 
Desusado  n'este  sentido,  em  que  o  em- 
pregaram os  nossos  clássicos. 

—  Adverbialmente :  Cortar  raso.  — 
Thsquiar  raso. 

— Que  tem  o  pello  muito  ctirto.  —  Oa 
cavallos  dus  paizes  quentes  teem  o  pello 
mais  raso  que  os  outros. 

—  Por  cxtensiio :  Campo  raso;  campo 
muito  unido,  om  que  nào  ha  eminências, 
de  superticie  plana,  sem  rios,  nem  rega- 
tii3,  bosques,  valles.  —  •  Ha  cidade  de 
Melinde  jaz  de  longo  da  praia  em  hum 
Cíinipo  raso  cercada  de  palmares,  c  are- 
quaes,  tem  muitos  pumares,  e  ortas,  com 
noras,  de  boa  ortali<;a,  e  fruita  despinho, 
e  outras  prumajes,  tem  ho  surgidouni 
longe  da  pouoai^-aõ,  por  estar  em  costa 
braua.»  DamiJio  de  Góes,  Chronica  de 
D.  Manuel,  part.  1,  cap.  38.  —  •  He  mui 
abundante  douro,  o  qual  se  acha  em 
grande  cantidade,  assi  em  minas,  como 
em  rios,  e  alagoas :  destas  minas  ahi 
humas  no  regno  de  Batua,  de  que  o  Rei 
he  vassalo  do  de  Benomotapa,  a  comarca 
em  que  estam  se  chama  Ti>ro  a  toda  em 
campo  raso,  e  sam  as  mais  antiguas  que 
se  s;»bem  em  tmla  aquella  regiaò. »  tti- 
dem,  part.  2,  cap.  10. —  «Assim  andando 
atravessando  aquelle  reino,  fazendo  cou- 
sas, com  que  sua  fama  grandemente  se  es- 
tendia, indo  contra  uma  cidade  porto  de 
mar,  onde  cuidavam  embarcar-se  pêra 
Grécia,  foram  ter  a  um  campo  descober» 


RASO 


RASO 


RAST 


87 


to,  e  raso,  e  grande,  o  indo  lançando  os 
olhos  a  lima  c  outra  banda,  contentando 
a  vista  nas  boninas  e  flores  graciosas  de 
que  estava  coalhado,  viram  vir  contra  si 
umas  andas  cobertas  de  um  tapete  ne- 
gro, acompanhadas  com  tíes  escudeiros, 
que  faziam  gram  pranto  por  um  corpo 
morto,  que  nellas  ia.»  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  7G. 

O  Invci-no,  os  Pyrcnéos,  o  Gêllo,  os  Alpes 
São  razos  campos,  e  estações  mimosas : 
Nada  os  passas  dotem,  e  apaga  os  raios. 
Perpétua  oscilação  sento  a  Victoria, 
E  o  ferro  assolador  jamais  dosoança. 
A  adusta  praia  do  focando  Nilo, 
Do  Báltico  gelado  a  margem  fria, 
Mostra  o  mesmo  espectáculo  de  sangue. 

J.  A,.   DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Caut.  3. 

— Logar  raso ;  a  mesma  significação. 
—  «A  Ilha  de  Ormuz  a  que  Ptholomeu 
chama  Arniazõ,  e  os  da  terra  Gerum,  está 
situada  auasi  na  boca  do  mar  da  Pérsia, 
da  parte  de  dentro  terá  de  roda  quatro 
legoas,  a  delia  a  terra  firme,  da  banda 
de  Arábia  dez,  e  três  a  da  Pérsia,  e  assi 
na  outra  como  nesta  tem  muitas  cidades, 
villas,  fortalezas,  lugares  rasos,  e  outras 
ilhas.  »  Damião  de  Cloes,  Chronica  de 
D.  Manuel,  part.  2,  cap.  32. 

—  Termo  de  náutica.  Navio  raso;  o 
navio  a  que  ainda  se  não  pozeram  ou 
que  perdeu  todos  os  seus  mastros. 

—  Taòoa  rasa.  Vid.  Taboa. 

—  Ondas  rasas  ;  que  se  elevam  pouco. 

—  Mar  raso;  mar  chão,  quasi  sem  on- 
das. 

— Doiidice  rasa;  calva,  manifesta. 

—  Tornar  tudo  raso  ;  arrancar,  deitar 
a  perder  tudo. 

—  Ir  tudo  raso;  fazer  grande  desor- 
dem; perder-se  tudo.  Vai  lá  tudo  raso 
com  os  doudos. 

—  Cadeira  rasa ;  a  que  não  tem  cos- 
tas, nem  braços ;  escabello,  mocho. 

—  Termo  de  balistita.  Bala  rasa;  a 
que  é  lisa,  por  opposição  á  que  é  encadea- 
da ou  de  ramaes. 

—  Liso. —  Um  vestido  preto  raso. 

—  Estofo  raso;  estofo  sem  pello  al- 
gum.—  Seda  rasa. 

—  Escudo  raso ;  sem  ornamentos  exte- 
riores como  o  paquife,  manteler,  timbre. 

—  Figuradamente  :  Dito  com  seccura, 
simplicidade,  sem  lisonja. — Palavras  ra- 
sas. 

—  Simples. 

Passa  um  Grego,  que,  em  lJoma,como  eu,  vive, 
(De  Persêo  descendia  Macedónio) 
Seus  Avós,  já,  n'outrora,  ao  carro  presos 
Do  PavUo  Emilio,  a  sor,  depois,  baixarão 
Rasos,  em  Roma,  Scribas.  Junto  á  rua 
Sagrada,  e.sse  baldão  da  sorte  esquiva 
No  pardeiro  cm  que  mora,  m"o  mostrarão. 
R  é  Persêo  com  quem  muito  hei  practicado. 
Inquiro,  a  que  uso  dão  o  Monumento, 
Que  ante  olhos  tenho  ! 

FRANCISCO    MANOEL  DO  NASCIMENTO,  OS  MARTYRES, 

liv.  5. 


—  Fidalgo  raso ;  sem  graduação,  sem 
titulo. 

—  Cavalleiro  raso;  escudeiro  raso;  o 
escudeiro,  o  cavalleiro  que  passa  a  esse 
estado  do  de  moço  da  estribeira,  sem 
mais  privilégios  ou  distincções  de  no- 
breza. 

—  Homem  raso ;  homem  sem  gradua- 
ção ou  dignidade  civil. 

—  Soldado  raso ;  simples  soldado,  sem 
posto  algum ;  praça  de  prot. 

Oh  quantas  vezes. 

Nas  longas  noites  autumnaos,  olhando-mo 

Soldado  ra.so,  em  solitária  vela. 

Nos  avançados  postos,  contemplava 

Quam  perfilados  os  Romanos  fogos ; 

Quam  sparsos  os  das  Francicas  Cabildas ! 

FRANCISCO    MANOEL  DO  NASCIMENTO,   OS  MABTVRES, 

liv.  6. 

—  Entender  raso  ;  entender  superfi- 
cialmente, julgando  pelas  apparencias. 


Entendeis  n'isso  mui  raza. 
Não  tenho  ouvidos  de  mouco, 
menos  vos  quero  tão  pouco 
que  me  enfadeis  n'esta  casa, 
que  omfim  não  fique  amor  louco. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  291. 

—  Medida  rasa  ;  medida  cheia  de  mo- 
do que  o  conteúdo  não  exceda  as  bor- 
das. 

—  Raso  d'agua ;  cheio  d'agua  até  ás 
bordas. 

—  Signal  raso ;  signal  sem  as  guar- 
das do  signal  publico  dos  tabelliães. 

—  Escriptura  rasa ;  a  que  faz  o  tabel- 
lião  ou  escrivão  e  assigna  com  o  simples 
nome  sem  as  guardas  usadas  nos  signaes 
públicos  e  escripturas  solemnes. 

—  Traslado  raso  da  escriptura ;  tras- 
lado sem  dia,  mez,  nem  anno. 

—  Raso ;  que  não  medra  em  bens  ou 
condição. 

■ —  Lançar  cavallo  raso ;  obrigar  a  ter 
cavallo  sem  obrigação  de  ter  armas  ;  im- 
por o  ónus  de  ter  cavallo  para  com  elle 
servir  na  guei'ra. 

—  Raso ;  raspado,  respançado  n'uma  es- 
criptura. 

—  Charneca  rasa  ;  em  que  não  ha  ve- 
getação alguma. 

RASOADO,   part.  pass.   Vid.  Razoado. 

RASOAMENTO,  s.  vi.  Vid.  Razoamento. 

RASO  AR,  e  seus  derivados.  Vid.  Ra- 
zoar,  e  seus  derivados. 

RASOAVEL,  adj.  Vid.  Razoável. 

RASOAVELMENTE,  adr.  Vid.  Razoa- 
velmente. 

RASOURA,  s.  f.  (De  raso,  com  o  suf- 
tíxo  «oura»).  O  acto  de  fazer  a  barba,  e 
o  cabello,  ou  a  coroa.  =  Nesta  accepção 
conserva-se  o  sentido  etymologico  da  pa- 
lavra, derivado  do  latim  rasus,  part.  de 
radere,  fazer  a  barba,  etc. 

—  Casa  de  rasoura  ;  casa  onde  se  cor- 
ta o  cabello,  se  faz  a  barba,  etc. 


—  Dia  de  rasoura  ;  dia  de  fazer  a  bar- 
ba ou  cortar  o  cabello. 

—  Pau  roliço  torneado,   que   os   medi- 
dores correm  por  cima  das  bordas  da  me- 
dida da  farinha  e  grãos,   para  tirarem  o  , 
cogulo,  isto    é,    o    excedente   da   medida 
rasa  ou  cheia  até  ás  bordas. 

—  Figuradamente :  Deitar  a  rasoura 
a  alguma  cousa;  cortar  o  que  ha  d'ex- 
cessivo  n'ella.  -^  Deitar  a  rasoura  «os 
louvores  alheios. 

RASOURADO,  part.  pass.  de  Rasourar. 
Que  tem  a  barba  feita,  ou  a  coroa,  ou  o 
cabello  cortado,  ou  tudo  a  um  tempo.  — 
Um  padre  bem  rasourado. 

—  Figuradamente  :  A  quem  tiraram 
algum  bem  ou  honra. 

—  A  que  se  tirou  o  excesso  da  medi- 
da ou  cogulo  com  a  rasoura. 

RASOURAR,  V.  a.  (De  rasoura).  Fazer 
a  barba,  a  coroa,  cortar  o  cabello. 

—  Tornar  rasa  a  medida ;  tirar  o  ex- 
cesso da  medida. 

RASPADEIRA,  s.  f.  (Do  thema  raspa, 
de  raspar,  cum  o  suffixo  «deira»!.  O  mes- 
mo que  raspador. 

RASPADOR,  s.  m.  (Do  thema  raspa, 
de  raspar,  cora  o  suffixo  «dôr»).  Instru- 
mento que  serve  para  raspar. 

RASPADURA,  s.  f.  iDo  thema  raspa, 
de  raspar,  com  o  suffixo  «dura»;  ou  de 
raspado,  com  o  suffixo  «ura»).  Acto  de 
raspar. 

—  O  que  se  tira  raspando ;  raspas.  — 
Raspadura  de  ponta  de  veado. 

RASPAR,  V.  a.  (Do  francez  rãper,  do 
latim  radere).  Pulverisar  o  que  está  á 
superficie.  —  Raspar  a  casca  d'um  pau. 
—  Raspar  queijo. 


Lógo  dealbado  Eubage,  á  Enzinha  sóbc  ; 
Co'a  fouce  de  ouro,  que  lhe  dera  a  vii-gem, 
Devoto  rcfpa  o  venerando  Visgo. 

F.    M.    DO  NASCIMENTO,  OS  MARTYRES,   1ÍV.    0. 


RASPAS,  .s.  /.  2jIu^'-  <•  que  se  tira 
raspando.  (Vid.  Raspadura). — Raspas  áe 
ponta  de  veado. 

RASPILHA,  s.  f.  (Do  thema  raspa,  de 
raspar,  com  o  suffixo  «ilha»).  Instrumen- 
to de  tanoeiro. 

RASQUETTA,  s.  /.  (Do  francez  antigo 
rasijuete,  palavra  que  se  liga  ao  baixo- 
latim  racha,  a  palma  da  mão,  o  que  é 
de  origem  árabe).  Antigo  termo  d'anato- 
mia.  A  junta  da  mão  e  do  cotovelo,  com- 
posta dos  ossos ;  carpo. 

—  Termo  de  chiromancia.  Nome  de 
uma  parte  da  mão  em  que  algumas  linhas 
se  acham  dispostas  transversalmente. 

RASSAMALHA,  s.  f.  Estoraquo  liqui- 
do. ==  E  preferível  a  f<)rma  Rossamalha. 

RASSO,  adj.  aid.  Raspado,  respança- 
do  na  escriptura. 

RASTEAR,  V.  a.  Vid.  Rastejar. 

—  Andar  de  rojo   como  certos   reptis. 

—  Estender-se  pela  terra,  fallando  das 


88 


RAST 


IlAST 


RAST 


jilantas   trarantcg   ou    do   couhiw  que   mt 
imitam. 

—  DoBcrover  ra.stiíir!iincntf!,  hciii  cli;- 
vaçílo. 

—  V.  n.  Nilo  Ko  (elevar,  andar  ynr 
junto  da  teri'a  ou  pnla  terra.  —  <>  balão 
rasteia. 

—  Fifíuradaniunte  :  Niio  tor  olcvayilo, 
Bubliini'iad(',  alcanço,  iallando  do  espiri- 
to ou  das  Huas  oliraít. 

RASTEIRO,  n'lj.  (  De  rasto,  com  o  Buf- 
lixo  «eiro»).  Que.  anda  rés-vóa  com  o 
cliâo;  t|uo  80  cstoudo  ou  caminha  polo 
cliilo,  f|uo  nílo  HO  elova   acima    do    cliilo. 

—  CoitfKin  rasteiras. 

A  veloz  pílla  viii  ifclli-s  for<;ada, 
Ora  tooii  o«ti3  canto,  ora  outro  toca, 
Salta,  voa  n  travos,  ao  longo  voa : 
Não  ro|iousa  uoin  para  hum  só  inoinciito. 
Dallio  aínuOlo  ilali,  ilallii^  outro,  o  outro 
Ia  levantada  iio  ar;  ja  vai  ra-itcira. 
Todos  trás  oUa  correm  com  estrondo. 
De  soberbas,  discordes  c  altas  vozes. 

COBTE  RB.VU,    KAUFRAOIO  DE  SEPULVBDA,  Cant.   7. 

—  Anim'd  rasteiro;  reptil.  —  A  co- 
bra é  um  aniiiKil  rasteiro. 

—  Planta  rasteira  ;  a  que  estende  pe- 
lo chào  ramos  comprido.s,  como  as  melan- 
cias, melões,  certas  espécies  do  foijííes, 
otc. 

—  ^li-e  rasteira ;  a  que  nào  eleva  o 
voo  acima  da  terra. 

iMas  pouco  Avo  raMeira  as  azas  pc^dc 
Erguer  do  turvo  lago  audaciosa, 
De  Tompson  aa  canijòes  oiça  o  Tamisa, 
Elias  abrangem  toda  a  Nahireza : 
Seguindo  o  gyro  ao  Sol,  fixào  seus  voos 
Onde  das  cstai;òe3  o  Império  acaba. 

J.    A.    DE   MACKDO,  MKDIT.VÇÃ0,   Cant.    .3. 

—  F^iguradanientc  :  Baixo,  humilde, 
tosco,  rude,  frrosseiro,   ordinário,   trivial. 

—  Ifmi-m  rasteiro.  —  Espirito  rasteiro. 

—  Condii;uo  rasteira. 

Tu  rasga  aos  olhos  meus  negra»  cortinas 
Quo  mou  rasteiro  eutoudimento  ciuioitiio. 

J.    A.   DE   MACEDO,   A  NAri'BEZA,  Caut.    1. 

—  Engenho  d'assitcar  rasteiro  ;  moi- 
nho rasteiro,  aquelle  cuja  roda  toca  a 
agua  por  baixo. 

—  Navio  rasteiro  ;  navio  cujo  bordo 
se  eleva  pouco  acima  do   nivel  da   agna. 

RASTEJADOR,  A,  .«.  O,  a  quo  rasteja. 

—  ( *,  :\  que  indaga,  investiga,  seguo 
os  rasto-;,  o-;  trai.'os,  a  pista  d'uma  cousa. 

RASTEJADURA,  s.  f.  (Do  thema  ras- 
teja, de  rastejar,  com  o  suffixo  «dura»). 
Acção  do  rastejar. 

—  líusca  que  se  faz  seguindo  o  rasto 
d'alguem  eu  d'alguma  cousa. 

RASTEJAR,  V.  a.  iDe  rasto,  com  o  suf- 
lixo  «ejanl.  Seguir  pelo  rasto  ou  pista, 
pelos  vestígios,  pógadas,  traços,  deixados 
no  cliào  para  chegar  até  alguom  ou  algu- 
ma cousa. 


—  Rastejar  unta  mulJw.r;  namoral-a, 
roquestal-a,  si;giiil-a  ilc  continuo. 

IVincipcs  riutitjwnm 
(|nc  mn  penteani  dVscarlata  ; 
■nas  eu  nada  ;  toda  ingrata 
h/i  as  ondas  iiii'  lirvavam 
u  ser  Lcand>'a  alfuiata. 

Axro.Nio  i'KKKrE8,  AiTos,  pag.  17.0. 

—  Figuradamente  :  Indagar,  investi- 
gar, seguindo  traços,  vestigios  meio  obli- 
terados. —  Rastejaram  os  sabioa  a  di- 
reri^ão  das  entradas  romanas  na  Penín- 
sula. 

—  Rastejar  o  tempo,  a  época;  conjcctu- 
ral-a  por  meio  dalguns  indicioa  ou  ves- 
tigio». 

—  Aproximar-se  mal  d'uina  cousa,  de 
um  modelo.  —  Quem  rasteja  a  sublimi- 
dade dos  Lusíadas? 

—  Rastejar  numa  traducção,  numa 
copia,  ou  ímií«ç</o;  copiar,  reproduzir  mal 
o  original,  o  modelo. 

—  Alcançar  imperfeitamente.  —  Ras- 
tejaremos a  felicidade  que  desejamos? 

—  Fazer  andar  de  rastos. 

- —  V.  n.  Andar  de  rastos.  —  As  co- 
bras rastejam,  os  quadrúpedes  correm, 
as  aves   roam. 

■ — •  Rojar-so,  arrastar-se. 

■ —  Nào  se  elevar,  occupar-se  de  cou- 
sas vis  ou  baixas,  fallando  do  espirito. 

—  Achar-se  abaixo  da  esphcra  da  sua 
existência. 


Cogitação  percnne  essência  hc  sua: 
Imperceptível  laço  ao  corpo  o  prende  ; 
Na  mestpiinha  prizào  rasteja  o  Eterno, 
Té  que,  solto  huma  vez,  retorne  aos  Astros. 

J.    A.    DE   MACEDO,  MEDlTAçlo,  Cant.   4. 

—  Ficar  áquem.  —  Rastejar  áquem  do 
ti/po  d(i  homem  honrado. 

RASTEJO,  8.  m.  (De  rastejar/.  Acção 
de  rastejar. 

RASTELAR.  Vid.  Restellar. 

RASTELO,  í.  m.  Vid.  Restello.  e  Res- 
telho. 

—  Rasteio,  ou  rastello  da  chan;  as 
divisões  por  onde  passa  o  palhetão  d.as 
chaves  abertas;  por  onde  passam  algu- 
mas peças  de  ferro  cravadas  nas  fecha- 
duras, as  quacs  tornam  imi)Ossivel  a  in- 
troducçào  de  chaves  d'outra  couforma- 
çào. 

RASTILHO,  «.  »i.  iDe  rasto,  com  o 
suflixo  ailho»!.  Carrinho  sem  rodas,  ou 
trem  que  roja  pelo  gelo  ou  lameirões  fun- 
dos. Vid.  Seléa. 

—  Rastilho  de  pólvora,  ou  simplesmen- 
te rastilho ;  tio  mais  ou  menos  delgado, 
coberto  de  pólvora  e  envolvida  de  papel, 
com  que  se  lança  o  fogo  a  um  barril  oti 
outra  cousa  que  contenha  porção  mais  oii 
menos  considejavel  de  pólvora,  a  uma 
peça  d'artíticio,  ctc,  ficando  ao  abrigo 
quem  lauça  o  fogo. 


—  Linha  de  {xjlvora  solta  lançada  no 
chão  para  o  mesmo  lim. 

RASTINGA,  *.  /.  Vid.  Restinga. 

RASTO,  s.  m.  i\h)  latim  nutrumi.  A 
pista,  signacH,  ventigioB,  |iégadaH  quo  dei- 
xii  no  caminho  que  segue  o  animal  oa 
cousa  que  ffc  arrasta  por  alli,  pesBoaa, 
tropa,  ctc.  —  •  J'(^rém  porque  ao  tempo 
que  os  nossos  bAtéis  jjoyauJlo  a  gento  em 
terra,  achar.lo  rasto  dos  Mouros  que  se 
recolhido  contra  himia  Horra  :  niand&a 
Affi>nso  d'Alboquerque  a  sen  «obrinho  dS 
António  cò  atè  cem  homens  no  alcSçu 
d'elle.s,  ondo  os  nossos  passarão  aMas  de 
trabalho.»  Barros,  Década  2,  liv.  2,  cap. 
1 .  —  •  Então  se  metteram  polo  mato  con- 
tra onde  a  filha  da  dona  fora;  c  com  an- 
darem todo  o  espaço  que  estava  por  pas- 
.sar  do  dia  e  alg\ima  parte  díi  noite,  nem 
a  acharam,  nem  rasto  algum  delia,  por 
onde  podessem  seguir :  e  não  era  muito 
que  isto  assim  fosse,  que  o  medo  que 
comsigo  levava  a  desviou  mui  longe.» 
Francisco  de  Morae«,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  lO.õ, 

—  Piso,  a  via  marcada  só  pela  par-a- 
gem  de  animaes  on  gente,  onde  não  ha 
caminho  aberto  d'outra  maneira. 

Onde  por  ellc  entrando  ^-io  no  rasto 
Frequentado,  c  seguido,  quo  não  pode 
Errar,  ou  dcsuiarse,  tiU  hc  o  mundo 
Tal  a  gcute  que  agora  viue  nclle. 

COSTE  BEAL,  NACFKAOIO  DE  SEPIXVEDA, 

cant.  10. 

—  Perder  o  rasto ;  deixar  de  rêr  03 
vestígios,  a  pista,  perder-lhe  a  direcção. 
—  «Indo  assim  segnindo  a  trilha  dos  pri- 
meiros, lhe  anoiteceu  com  tamanha  escu- 
rid.^io,  que  de  todo  perdeu  o  rasto ;  e 
como  levasse  desejo  de  se  achar  naqaella 
aftronta,  andou  toda  a  noite,  revolvendo 
a  rioresta  sem  nunca  sentir  signal  del- 
les.i»  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  de 
Inglaterra,   cap.  K>4. 

—  Rasto  (/■«'  sangn* ;  pingas  ou  linha 
ensanguentada  deixada  por  pessoa  ou  ani- 
mal ferido.  —  •£  seguindo  por  um  cami- 
nho estreito,  que  mostrava  rasto  de  san- 
gue fresco,  caminhou  por  elle  algum  es- 
paço ;  e  sendo  já  de  todo  no  alto  da  mon- 
tanha, viu  um  castello  grande,  bern  ta- 
Ihailo  e  forte,  cercado  de  torres,  e  edifi- 
cado sobre  uma  rocha,  tão  áspera,  que 
por  parte  nenhuma  podiam  sobir  a  ella, 
senTio  a  pé.»  Francisco  de  Moraes,  Pal- 
meirim d'Inglaterra,  cap.  27. 

—  Figuradamente:  Seguir  o  rasto  n 
alguém ;  imiuil-o  no  procedimento  e  car- 
reira de  vida. 

—  Rasto  ;  indicio,  signal  que  fica  de 
uma  cousa. 

—  Vestígio.  —  Ha  rastos  da  existência 
d'um  templo  antigo  i)'(fte  logar. 

—  Adorar  os  rastos ;  adorar  os  ^•esti- 
gios. 

—  Figuradamente :  Seguir  instando. 

—  .í1h'/<i;-  em  rasto  d'alguem  ;  em  sua 


RAST 


RATA 


RATI 


89 


companhia,  com  elle,  atraz  d'ellc,  na  sua 
comitiva. 

—  Andar  pelo  rasto  «  alguma  moca ; 
seguil-a,  namoral-a,  requestal-a. 

—  Perder  o  rasto  d'algum  dos  inten- 
tos, das  acções  d'alguein  ;  não  prever  o 
que  pretenda,  a  que  fim  se  dirija. 

—  Pôr  alguém  no  rasto  d'alguiiia  cou- 
sa;  indicar-lhe  o  meio  de  chegar  a  ella, 
de  a  alcançar. 

—  Rasto  de  polcora.  Vid.  Rastilho. 

—  Rede  de  rasto.  Vid.  Rastro. 

—  Termo  d'artilheria.  Rasto  do  repa- 
ro ;  a  parte  do  reparo  que  se  estende  ou 
roja  pelo  chão ;  conteira. 

—  Carro  de  rasto.  Vid.  Trenó,  Seléa. 
— •  De  rastos,  ou  a  rastos  ;  loc.  adv., 

arrastando  ou   arrastando-se,  rojando  ou 
rojando-se. 

—  Ir  de  rastos  ;  movendo-se  com  tra- 
balho, como  pessoa  muito  doente. 

—  Levar,  trazer  de  rastos  ;  de  rojo, 
rojando  nelo  chão.  —  «Por  isso  elles  em 
hum  dia  entronizavão  em  Roma  hum  Em- 
perador,  e  ao  outro  o  trazião  à  rasto  ; 
como  fiserão  a  Otho,  Aureliano,  e  Vitel- 
lio.  e  outros  cento.»  Francisco  Manoel 
de  Mello,  Apologos  dialogaes. 

—  Estar  de  rastos  ;  foliando  d'uma 
pessoa,  estar  em  muito  má  condição. 

—  Estar  de  rastos  ;  foliando  d'um  ne- 
gocio, dar  poucos  lucros. 

—  Estar  de  rastos  ;  foliando  de  gé- 
neros, estarem  extremamente  baratos  e 
darem  poucos  lucros. 

— •  (.)bseuv.  :  Rasto  e  Rastro  são  uma 
e  a  mesma  palavra ;  mas  rastro  é  quasi 
só  usado  hoje  nas  aceepções  que  vão  mar- 
cadas no  seu  logar. 

RASTOLHADÁ,  s.  /.  (De  rastolho,  com 
o  suffixo  «ada»).  Multidão,  grande  quan- 
tidade de  rastolho. 

—  Figuradamente:  (írande  quantida- 
de. —  Uma  rastolhada  de  pessoas. 

■ — Ruido  que  foz  o  rastolho,  agitado 
pelo  vento  ou  por  alguém,  ou  por  alguma 
cousa  que  passa  sobre  elle. 

—  Ruido,  barulho.  —  Vai  lá  uma  gran- 
de rastolhada. 

RASTOLHAL,  s.  m.  (De  rastolho,  com 
o  suffixo  «ai»).  Extensa  porção  de  terre- 
no coberta  do  rastolho. 

1.)  RASTOLHAR,  v.  n.  Andar  de  ras- 
tos. 

2.^  RASTOLHAR,  i-.  n.  Fazer  rastolha- 
da, fozci-  ruido  como  o  da  rastolhada. 

RASTOLHO,  s.  m.  (De  rasto,  com  o 
suffixo  «olho»;  propina  mente,  os  rastos 
(]ue  ficam  do  trigo  no  campo).  A  canna 
do  ti'igo  segado  que  fica  com  a  raiz  na 
terra  para  seccar. 


O  homem  mo  tiea  fisga  no  olho  ; 
amarras  me  corta,  amaina-mc  as  velas  ; 
agora  passeia  soguro  cm  chinelas, 
de  anjo  me  cega  em  demo  rastolho, 
o  já  mê  rechaça  do  todo  as  pelas. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  5. 
YÕL.  V.  —  12. 


RASTREAR,  v.  a.  (De  rastro).  Raste- 
jar. Vid.  Rastejar. 

Larga  mésso  deparão-me  as  Campinas, 
Onde  houvérào  batalluxs.  Alta  noite, 
Qual  vái  Lobo  roaz,  vou  rastreando, 
No  morticínio,  onde  haja  moribundos. 

F.   MANOEL    DO    NASCIMENTO,  OS  MABTVRES. 

RASTREIRO,  adj.  Vid.  Rasteiro. 

RASTRILHO,  s.  m.  (De  rastro,  com  o 
suífixo  «ilho»).  Termo  antigo  de  fortifi- 
cação. Porta  de  grades,  cujas  baiTas 
eram  aguçadas  por  baixo,  a  qual  se  sus- 
pendia na  porta  da  praça  por  uma  corda 
para  inijKvlir  a  entrada  ao  iuimigo. 

—  Vid.  Rastilho,  Seléa,  Trenó. 
RASTRO,   s.   vt.     (Do    latim    rastrum). 

Rede  grande  de  pescar,  que  se  lança  ao 
largo  e  depois  se  puxa  para  a  praia. 

— ■  Alvião,  ensinho,  instrumento  den- 
tado com  que  se  quebram  os  torrões  e  se 
abrem  regos  na  terra. 

—  Para  as  outras  significações,  vid. 
Rasto,  que  é  a  forma  mais  usada  para 
ellas. 

RASURA,  s.  f.  (Do  latim  rasura,  de 
rasus,  part.  pass.  de  radcre).  Raspa,  ras- 
padura. — ■  Rasuras  de  ponta  de  veado. 

— •  Raspadura,  raspançadura  d'e8cripto 
errado. 

RASURAÇÃO,  s.  /.  (De  rasura,  com 
o  suffixo  «ação»).  Termo  de  pharmacia. 
Acção  de  raspar,  de  fazer  rasuras. 

1.)  RATA,  s.  /.  (Vid.  Rato).  A  fêmea 
do  rato. 

—  Parir  como  rata ;  parir  muito  a 
miúdo. 

2.)  RATA,  s.  /.  (Do  latim  ratus,  jul- 
gado, estabelecido").  A  quarta  parte  que 
cabe  a  alguém  n'um  rateio.  Vid.  Pro- 
rata. 

f  RATADA,  s.  f.  (De  rato,  com  o 
suffixo  «ada»).  Ninhada  de  ratos. 

^  ]\[ultidão  de  ratos. 

RATADO,  part.  pass.  de  Ratar.  Roído 
dos  ratos.  Que  levou  dentadas  como  de 
rato. 

RATAFIA,  á.  m.  (Etjonologia  incerta. 
Ménage,  seguido  por  os  continuadores 
de  Moraes,  -  julga-a  d'origem  indiana  ; 
Leibnier  julgava-a  uma  coiTupção  de  re- 
ctificado (franeez  rectijié,  álcool) ;  outros 
diziam  que  era  um  copo  de  licor  que  se 
bebia  ratificando  um  contracto :  rata  fiat 
(scilicet  conventio) ;  nenhuma  das  etymo- 
logias  satisfaz).  Licor  feito  dagua-arden- 
te,  assucar,  sumo  de  certas  fructas  e  es- 
sência aromática  d'alguma  flor. 

—  Termo  de  pharmacia.  Nome  dado  a 
muitos  licores  alcoólicos,  doces,  contendo 
em  grande  dose  princípios  aromáticos  e 
sapidos  de  muitos  vegetaes. 

RATANHIA,  s.  /.  Nome  peruviano  da 
krameria  triandra  (familia  das  pohjgala- 
das),  da  sua  raiz  rhizoma  empregada  em 
medicina  e  da  krameria  ixina. 

1.)  RATÃO,  s.  m.  Augmentativo  de 
Rato.  Rato  grande,  arganaz,  ratazana. 


—  Peixe  semelhante  á  raia. 

2.)  RATÃO,  ONA,  s.  m.  e  /.  Termo 
popular.  Pessoa  que  faz  o  seu  negocio 
com  dissimulação. 

—  Pessoa  que  pelas  suas  acções  extra-- 
vagantes,  ou  modo  de  trajar  singular 
faz  rir  os  outros,  já  intencionalmente,  já 
sem  intenção. 

• — •  Adjectivamente  :  Singular,  extra- 
vagante, exquisito,  exótico.  —  í/?)t  homem 
ratão. 

—  Desusado. —  Um  chapéo  ratão. 

—  Ridiculo.  —  É  ratão  o  proceder  d/es- 
te hmnem. 

3.)  RATÃO,  adj.  —  Assucar  ratão;  as- 
sucar inferior  ao  assucar  panella.  Vid. 
Retame,  de  que  Ratão  é  uma  corrupção. 

f  RATAPLAN,  s.  m.  Palavra  imitati- 
va, exprimindo  o  ruido  que  faz  o  tam- 
bor. —  O  rataplan  dos  tambores  não  me 
deixa  dormir. 

RATAR,  V.  a.  (De  rato).  Roer,  fallan- 
do  dos  ratos.  —  Os  ratos  rataram  um  len- 
çol. 

—  Dar  dentadas,  tirar  pequenos  boca- 
dos, como  faz  o  rato.  —  Os  rapazes  rata- 
ram o  queijo. 

RATAZANA,  s.  f.  Augmentativo  de 
Rato.  Rato  grande,  ai-ganaz. 

— •  Subsf.  2  gen.  Pessoa  que  faz  rir. 

—  Néscio  ridiculo. 

RATEAÇÃO,  s.  f.  iDe  ratêa,  thema  do 
ratear,  com  o  suffixo  «ação»).  Vid.  Ra- 
teio. 

RATEADAMENTE,  adv.  (De  rateado, 
com  o  suffixo  «mente»).  Por  meio  de  ra- 
teio. —  Dividir  rateadamente  enti-e  os  ac- 
cionistas da  sociedade. 

—  Segundo  a  proporção  dos  capitães, 
das  dividas,  dos  credores. 

RATEADOR,  A,  s.  (Do  thema  ratêa,  de 
ratear,  com  o  suffixo  «dôr»).  O,  a  que 
faz  rateio. 

RATEAMENTO,  «.  m.  (Do  thema  ra- 
têa, de  ratear,  com  o  suffixo  «mento»). 
Vid.  Rateio. 

RATEAR,  V.  a.  (Do  latim  ratus).  Dis- 
tribuir proporcionalmente  as  entradas  dos 
sócios  para  uma  sociedade,  as  acções  dos 
accionistas  para  uma  companhia,  os  ga- 
nhos ou  lucros  da  sociedade  ou  compa- 
nhia; dividir  a  massa  d 'um  fallido,  os 
bens  penhorados,  segundo  o  que  deve  aos 
credores. 

RATEIO,  ou  RATÊO,  s.  m.  (De  ratear). 
Acção  de  ratear. 

—  Entrar  em  rateio  ;  receber  ou  en- 
trar em  divisão  segundo  as  entradas  ou 
títulos  de  divida  de  cada  um. 

RATICE,  «.  /.  (De  rato,  com  o  suffixo 
«ice»).  Acção  engi-açada. 

—  Dito  galante,  que  faz  rir. 

—  Maneira  engraçada. 

—  Acção  estidta  que  faz  rir. 

—  Cousa  extravagante,  singular;  ac- 
ção, modo  de  proseguir  exótico,  excên- 
trico. 

RATICUM,  s.  m.  Fnicto  do  Brazil  que 


oo 


KATÍ 


RATO 


UAVl 


tom  a  fi')rniji   (rum   jicào ;    ó   coinestivel ; 
tom  i';ir(i(;í)  <■  r  Hih-c^tro. 

RATIFICAÇÃO,  *.  /.  (Oo  tlioma  ratifi- 
ca, lie  ratificar,  eoin  o  nuffixo  <iação»i. 
('imliiinarào  aiitliuuticii  do  (jiio  loi  |iro- 
jiicttido  ou  feito.  —  ^1  ratificação  d'um 
tratado, 

—  Tormo  d'i'conoiiiiii.  Ratificar  as  ac- 
ç3e«  d'uma  cumpan/iia;  j)a;rar  iinH  tantos 
por  conto  do  cada  uma,  dopois  do  as  ter 
tomado. 

—  Escripto  quo  contém  uma  ratllica- 
çilo. 

RATIFICADO,  porl.  pass.  do  Ratificar. 
Quo  tovf  ratitica(;ão. 

RATIFICAR,  V.  a.  (Do  latim  rutus, 
confirmado,  o  facere,  fazor).  Confirmar 
autlionticamonte  o  quo  foi  dito  »u  ]m<- 
mettido. 

—  Absolutamente  :  Km  todos  os  negó- 
cios <■  hoiii  ratificar. 

—  Pagar  a  primeira  porcentagem  das 
acções  que  so  tomaram  d'uma  compa- 
nhia. 

—  Fipuradamonte  :  Dar  uma  confirma- 
ção comparável  ás  confirmações  autlien- 
ticas.  —  Esta  acção  do  meu  amigo  rati- 
fica a  boa  opinião  que  eu  formava  d'eUe. 

RATIHABIÇAO,  «.  /.  (Do  latim  raias, 
confirmado,  e  hahere,  haver,  ter  ivid. 
Haver.  Termo  forense.  Ratitícaçào. 

RATIHABIR,  c  <(.  i  Do  latim  rntus,  eon- 
lirnuulo,  c  haber<!,  haver,  ter  vid.  Haver). 
Tormo  forense.  Ratificar. 

RATIM,  *.  «I.  Termo  asiático.  Quilate. 

RATINA,  s.  f.  (^Do  fraucez  ratine,  pa- 
lavra d'origom  incerta  em  que  Schcler 
vô  um  derivado  do  baixo-ailem.MÍo  rate). 
Estofo  de  là  enizada  cujo  pôllo  é  puxa- 
do para  fira  e  fixo  de  maneira  que  for- 
ma como  ))equeno8  flocos  ou  gr.nos. 

RATINHAR,  v.  a.  Tormo  popular.  Re- 
gatear por  piouoo,  por  reaes. 

—  Poupar  cousas  miseráveis,  dar  com 
cainheza,  sordidez;  amealhar  vergonho- 
samente. 

—  Absolutamente:  Este  homem  anda 
sempre  a  ratinhar. 

RATINHO,  s.  í)í.  iDe  rato,  com  o  suf- 
fixo  «inho»).  Diminutivo  de  Rato.  Pe- 
queno rato. 

— -  Epitlieto  injurioso  dado  aos  da  Bei- 
ra pela  sua  sordidez. 

—  Personagem  cómico  do  antigo  thca- 
tro  portugiu^z. 

Alm.    Lopo  vos  forSo  di«cr 

Qu'cra  cu  ratinho,   senhor. 
Ditar.  Não  sei,  v«W  to-.nastps  cõr, 

Eu  não  »pi  que  isso  quer  ser. 

E  vejo-vos,  ni.ino,  morto, 

E  tendes  ar  de  mirrado. 

GIL  VICESTK,   PARÇ.VS. 

Tem  paciência  da  tua  deshonra , 

se  do  céo  to  lani;am  que  era  teu  ninho, 

será  aporá  o  homem  como  rolinho 

quo  nasço  d'um  freixo,  vom  c;i  tomar  honra 

aos  naturaes  do  Douro,  e  não  Minho. 

A.NtOSIO  rSESTES,  AITTOS,  pag.   Õ. 


—  FalUir  ratinho,  ou  rum'»  ratinho ;  fal- 
lar  dialecto  provinciano. 

—  Homem  (|Ue  leva  carreto». 
RATIS,  K.  m.  Vid.  Ratim. 

-  Villão  lie  ratis;  <le  marca,  do  alto 
quilate. 

1.)  RATO,  «.  wi.  I  Do  germânico.  O  an- 
tigo alto-ailemilo  tem  rato,  o  angio-.sax.ío 
raet,  o  antigo  baixo-ailom.^o  raltn,  o  di- 
namar(|uez  rotlei.  l'equeiui  quadrúpede  da 
ordem  dos  roodoro.<,  de  pe<juenas  patas, 
rabo  comprido,  focinho  agudo,  que  habitai 
nai  paredes  dus  casas,  outro  ou  por  baixo 
dos  sobrados,  nos  celleiros,  nos  quintaes, 
campos,  etc,  comendo  gi\^io8,  palha,  etc. 
<  >  rato  parece  h.-ibitar  todos  os  paizos  co- 
nheciílos  (ui  freíjuentados  polo  homom. 

—  J/íi'((-ratos ;  composiç.no  om  que  en- 
tra arsénico  e  quo  serve  para  destruir  os 
ratos. 

—  Beber  como  rato ;  locução  popular, 
beber  muito. 

—  Peixe  que  tem  uma  firma  similhan- 
te  ao  do  quadrúpede. 

— Figurailamonte:  Ilomem  ridículo  que 
aspira  ao  que  não  merece. 

—  Ter  ratos  na  garganta;  diz-se  de 
quem  canU  mal,  fazendo  ouvir  pios. 

—  Rato  d' agua ;  espécie  de  rato  nada- 
dor que  habita  á  beira  dos  rios. 

—  Rato  do  Egt/pto,  ou  rato  de  Pha- 
raó;  o  ichutuimon. 

—  Rato  do  mar;  um  do3  nomes  vulga- 
res da  tartaruga  que  habita  o  Mediterrâ- 
neo. 

—  Rato  de  Xornega  ;  o  lemming. 
--Rato  de   Surinam;  nome   dado  por 

erro  a  dlttorcntes  espécies  do  getiero  pha- 
langer  (marsupiaes  ,  os  quacs  s.ào  todos 
quer  da  Austrália,  quer  da  índia  e  não 
da  America  onde  se  encontra   Surinam. 

—  Rato  da  America;  o  porco  da  In- 
<lla. 

—  Rato  de  Tartaria ;  nome  vulgar  do 
sciuroptero  siòerico  (ordem  dos  roedores  i 
de  Lcsson  i,Europa  c  Asla  septentrional), 
ou  d'uma  espécie  multo  próxima. 

—  Terino  de  náutica.  Rato;  pedra  cs- 
cabrca  qus  roe  as  amarras  das  ancoras. 

—  Rato  pellatl.0 ;  nome  insultuoso  que 
se  da  a  uma  pes.soa  c;\lva. 

—  Figuradamente  :  Rato  ;  ladr.ào. 

2.^  RATO,  adj.  (Do  latim  ratuc,  part. 
pass.  de  r6or,  reri,  lixar,  estabelecer, 
confirmar).  Confirmado,  i-atific<ida. 

—  Inte'u'amentc  conlirmado  pela  pra- 
tica. 

RATOEIRA,  .«.  /.  í  De  raton,  antiga  for- 
ma de  ratão,  com  o  suftixo  «eira»;  se  de- 
rivasse de  rato  seria  rateira  i.  App;irolho 
para  apanhar  ratos.  —  Armar  uma  ra- 
toeira. 

—  Figuradiuucnte :  Armar  umn  ratoei- 
ra a  alguém;  armar-lho  uma  cilada,  lun 
engano,  seja  com  fim  mau,  seja  para  con- 
seguir d'ollc  uma  revelação. 

—  Cahir  na  ratoeira ;  cahir  no  enga- 
no, na  cilada. 


RATONEIRO,  f.  m.  ,De  raton,  antiga 
firma  de  ratão,  com  o  miíTixo  «eiró»;. 
Ijirapio,  ladrão  que  furta  cousas  de  j«m- 
co  valor. 

—  Tormo  antiquadu.  Paisano  <|ue  reguÍA 
u  exercito  para  comprar  su>i  i«oldado«  ou 
objectos  havidos  por  cllca  p<ir  meio  do  ía- 
quo. 

RATONICE,  íf./.  iDe  raton,  antiga  f.r- 
ma  de  ratão,  eoni  o  «ufTixo  «ice».).  Ter- 
mo jiopuiar.  lk.uulxj  de  couita  de  {juuco  va- 
lor; .■lee-lu  lie  ratoneiro. 

f  RATOPOLIS,  *.  /.  De  ralo,  fran- 
cez  ral,  c  Ki"<'go  poliu,  cidade;.  Komc  da- 
do por  Lifiiitniiie  á  capital  fabulosa  do 
povo  .!oí  i;itn<.    Fab.  7,  pag.  3). 

RAUCISONO,  «<//.  Do  latim  rauei$€^ 
nus;  de  rauctt*,  rouco,  c  aonum,  oomy. 
Termo  diilactico.  Que  tem  um  som  rouco. 

RAUDAL,  t.  Hl.  Torrente.  —  Um  rau- 
dal  ii'agun,  ou  simplesmente  um  raadal. 
—  lin  raudal  de.  sam/ue. 

RAUDÃO,  ONA,  adJ.  lto.silho,  fallando 
do  cavalio.  —  Caiallo  raudão.  —  Egoa 
raudona. 

RAUDIVA,  í.  /.  Termo  aí^iatico.  Peça 
do  vestuário  dalguns  povos  da  Ásia.  — 
«Vestidos  de  queimocns  e  randÍTas  de 
sotim.»  FeiTwo  Mendes  Pinto,  Peregri- 
nações, cap.  103. 

RAULIM,   í.  J/l.  Sacerdote  do  Pcgú. 

f  EAUCIDADE,  s.  f.  Do  latim  rauci- 
tate,  de  raucus,  roucoi.  Estauo  da  voz 
rouca. 

RAUSADO,  part.  pass.  de  Ransar.  Vid. 
Rousar. 

RAUSADOR,  s.  m.  iDo  thema  rausa, 
de  rausar,  com  o  suifixo  «dor>'i.  Viola- 
dor, forçador,  raptador.  =  Antiquado  já 
no  fim  do  século  xiv. 

RAUSAR,  f.  a.  Violar,  raptar  virgem 
ou  nmlhcr  honesta. -—Antiquado  já  no 
tempo  de  Fernão  Ixipe-. 

RAUSO,  ou  RAUSSO.  s.  m.  (De  rau- 
sar i.  Violação,  rapto  de  mulher  para  a 
forçar.  =  Antiquado  já  no  tempo  de  Fer- 
não Loi>e-!. 

RA  VIAGEM,  s.f.  Do  francez  rawtgeT). 
Estrago,  danmo,  avaria,  defeito.  :=:  Des- 
usado. 

7  RAVINA,  í.  /.  i^Do  franc«z  ravine, 
que  ó  uma  alteração  do  latim  rapina). 
Logar  cavado  jior  uma  oorreníe. 

—  Obseuv.  :  Esta  palavra  tem  sido  usa- 
da por  alguns  authores  no  sentido  indica- 
do 10  principal  cm  francez  é  o  de  espé- 
cie de  torrente  quo  se  precipita  ^'um  lo- 
gar clevadoí,  nia-s  é  olha'a  c<.>mo  gallicis- 
co  escusado,  tonilo-se  pi-i>j>osto  |>ara  a 
substituir  a  palavra  _<;rô<íi  us.ada  nos  Aço:- 
ros  diz-se  que  no  sentido  indlca<lo  de  lo- 
gar cavado  }>or  uma  torrente.  Grota  é 
uma  (Uitr.n  tVirma  do  gruta    'atlm  cryptn'. 

RAVINHOSO,  adj.  "i  Vid.  Ravioso.  Rai- 
voso. 

—  Rj\bugetito. 

RAVIOSO,  <j  y.    Do  latim  i"-  ."'...  ... 

rabies,  raiva.  Raivoso  provém  de  ravio- 


KAZA 


líAZA 


KAZA 


£11 


so  por  attracçào  do  i\  Raivoso.  :^  For- 
ma antiquada. 

RAXA,  s.  /.  Antigo  paano  grosseiro, 
de  pouco  valor. 

—  Hoje,  tecido  grosso  de  lã  com  lar- 
gas riscas,  que  serve  para  cobertores  de 
camas. 

RAXADA,  s.  f.  Yid.  Rajada. 

RAXADO,  í.  /.  Vid.  Rajado. 

RAXETA,  í.  '/.  Diminutivo  de  Raxa. 
Espécie  (11'  raxa  menos  grossa. 

1.1  RAYA,  s.  f.  Vid.  Raia.  —  «Alma 
minha:  tu  és  o  novo  David  que  has  de 
combater  com  o  Gigante  do  inferno,  que 
ha  muitos  annos  te  espera  na  campanha 
desta  vida  mortal,  junto  as  rayas  da  eter- 
nidade.» Padre  Manoel  Bernardes,  Exer- 
cícios espirituaes,  part.  1,  pag.  422. 

2.  RAYA,  í;.  /.  Antiga  forma  de  Rai- 
nha, culligida  por  Viterbo  no  Elucidário. 
No  Dicciouario  de  3Ioraes  vem  erronea- 
mente accer.tuado  ràya,  mas  o  accento  de- 
via estar  forçosamente  sobre  o  y  li',  que 
representa  o  i  accentuado  do  latim  regina. 
Em  quanto  ás  relações  das  formas,  eil-as : 

lat.      regina 

1 
port.    reina 


rainha 

■ — 1."  o  (/  de  regina  foi  syncopado;  2." 
o  e  de  7-eina  mudou-se  em  a,  por  dissi- 
mUaçào  maior  do  i  a  que  é  immediata- 
mente  affim;  3.°  a)  raina  deu  d'um  lado 
raia  por  syncope  do  n;  b)  o  n  d'outro  la- 
do para  escapar  á  svncope  molhou-sc  em 
nh. 

RAYAL,  aiij.  Outra  forma  antiga  de 
Real,  usada  especialmente  para  designar 
o  reaL   unidade  monetária. 

—  Rayal  de  ouro;  valia  três  libras. 

RAYAR,  1-.  a.  e  n.  Vid.  Raiar. 

RAYO,  s.  m.  Vid.  Raio.  —  «E  tragia 
em  sas  maãos  huma  muv  ixemosa  e  gran- 
de asta,  encima  dela  huma  cruz  que  es- 
prandecia  como  o  sol  e  lançaua  de  si  rayos 
de  fogo.  Esta  foi  mazelada  de  coita  de 
door  e  de  presa  descorodoe  a  todas  no- 
sas  gentes.»  Livros  de  linhagens,  pag. 
189. 

RAYZ,  s.  /.  Vid.  Raiz.  —  «Homem 
nem  tam  calvo;  que  os  equívocos,  ainda 
que  postissos,  pareçam  que  na  mesma 
conversaçam  tiveram  rayzes.»  D.  Fran- 
cisco Manoel  de  Mello,  Feira  d'aiiexins, 
part.  1,  dial.  1. 

RAZ,  s.  m.  Vid.  Arraz.  =Esta  forma 
foi  usada  antigamente  e  é  hoje  de  novo 
usada  e  até  preferida  por  muitos  escri- 
ptores  á  f  Jrma  Arras,  Arraz. 

RAZ  A,  .«.  /.  =  Usado  na  antiga  locu- 
ção; RaEa  e  serrão. 


■ —  Propriedades  de  raza  e  serrão  ;  pro- 
priedades que  pagam  foro  em  annos  al- 
ternados, isto  é,  um  anuo  sim  outro  nào. 
Vid.  Elucidário,  de  Viterbo. 

RAZAM,  s.  /.  Antiga  forma  interme- 
diaria entre  Razom  ido  latim  ratione)  e 
Razão.  Escreveu-se  muitas  vezes  e  muito 
tempo  razam  quando  já  se  pronunciava 
razão,  como  provam  os  dous  modos  de 
escrever  simultâneos. —  «E  querendo  nós 
a  esto  proveer  com  justa  razam  e  remé- 
dio, em  tal  guisa  que  nós  possamos  seer 
servido  sem  outro  escândalo,  hordenamos 
de  se  teer  em  ello  esta  maneira,  que  se 
segue.»  Ord.  Affons.,  liv.  -1,  tit.  20,  §  2. 
• —  «E  este  dia  em  que  primairo  ouuio 
ilissa,  por  honra  delia,  mandou  que  em 
sua  terra  pêra  sempre  se  guardasse  por 
dia  santo,  e  outras  cousas  fez,  e  dissesse, 
como  homem  que  nacera  Christam,  o  que 
certo  parecia  ser  mais  por  milagre  de 
nosso  Senhor  Deos,  que  por  outra  ne- 
nhuma razam.»  Garcia  de  Rezende,  Chro- 
nica  de  D.  João  II,  cap.  156. 

Vimos  o  gi-am  capitam, 
que  tanto  honrou  Castella, 
que  boadade,  que  ra-am, 
cm  tudo  que  perfeiçam  ! 
outro  tal  ijoii  vimos  nclla. 

IDESl,  MISCELLASEA. 

• — «Vencido  Vicente  Sodre  da  speran- 
ça  que  tinha  posta  nas  presas  das  nãos 
dos  ^louros  que  hia  buscar,  mais  que  da 
razam  que  o  obrigaua  a  iicar  em  Cochim, 
em  ajuda  dei  Rei,  e  fauor  dos  nossos,  se 
partio  como  no  capitulo  atras  iica  dito.» 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  1,  cap.  74.  —  «Mas  como  quer 
que  seja  a  razam  demostra  que  nào  auia 
necessidade  de  tanta  diligencia  senão  fo- 
ra para  se  também  delias  colegir  o  que 
compria  a  todalas  outras  Chronicas  do 
regno,  que  per  ventura  ate  entam  naõ 
estariam  bem  ordenadas.»  Ibidem,  part. 
4,  eap.  38.  —  «E  porque  todos  nascem 
incertos  de  sua  saluaçam,  nam  sabendo 
se  ham  de  escapar  das  tenções,  e  perigos 
deste  mundo,  e  onde  ham  de  yr  parar: 
por  tanto  com  muyta  razam  se  prantea 
o  cõcebimento,  e  nascimento  da  Virgem 
sagrada,  nam  o  cõcebimento,  e  nasci- 
mento de  todos  os  peccadores.»  Fr.  Bar- 
tholomeu  dos  Martyres.  Catecismo  da 
doutrina  christã.  —  «  Esta  gente  era 
aquella  a  quem  os  irmãos  do  nome,  e 
imigos  no  feito  queriào  vender  o  sangue 
de  loseph.  Aqui  foy  onde  começou  por 
nossos  peccados  a  falsa  secta  de  Mafoma, 
que  depois  tanto  pelo  mundo  se  espalhou, 
e  estendeo :  pelo  que  com  mais  razam, 
lhe  ouueramos  chamar  terra  infelice.  e 
desditosa:  que  Felice.»  Fr.  Gaspar  de  S. 
Bernardino,  Itinerário  da  índia. 

RAZÃO,  s.  /.  (Do  latim  ratione  (nom. 
ratio),  de  ratus,  fixo,  determinado).  Fa- 
culdade pela  qual  o  homem  conhece,  jul- 
ga e  determina  o  seu  proceder. 


A  justiça,  e  a  razào  he  la  vencida 
De  hum  querer  contumaz,  impio,  e  danoso, 
Moãtrào  nas  apparencias  sancto  zelo  : 
lutriuscca  a  maldade,  e  a  tvrannia. 

CORTE  BEAL,  XArFBAGIO  DE  SEPÚLVEDA,  Cant.    15. 


■ — «Xella  ha  muytos  montes  de  área 
grandíssimos  que  se  mudão  com  os  ven- 
tos, e  mais  falta  de  agoa,  que  em  todas 
as  outras  Arábias,  e  porque  Ludulpho  de 
Saxonia,  diz  auer  hiima,  que  liça  Beth- 
lem  de  ludea  hum  anno  de  caminho,  di- 
go que  nam  ha  tal,  e  a  razão  o  mostra, 
porque  nam  ha  mais  que  três  Arábias,  as 
quaes  estão  todas  juntas,  e  immediatas 
umas  a  outras.»  Fr.  Gaspar  de  S.  Ber- 
nardino, Itinerário  da  índia,  cap,  14, 
—  «A  razão  cura  os  Ciúmes  ligeyros, 
porem  nào  abate  facilmente  os  fortes, 
nem  os  dezesperados,»  Cavalleiro  d'01i- 
veira,  Cartas,  liv,  1,  n.°  13, —  «Porem 
que  esses  remédios  sejão  capazes  de  obri- 
gar amar  objectos  determinados  tenho-a 
por  cousa  impossível,  e  absolutamente 
contraria  á  razão.»  Ibidem,  n."  30. — 
«Amigo  do  Coração.  Destruir  os  enga- 
nos, e  as  falsidades  que  offuscão  a  razão 
seria  sem  duvida  alguma  hum  dos  mais 
signalados  serviços  que  se  fizesse  ao  Gé- 
nero Humano.»  Ibidem,  n,"  43, — «A 
aggressiva  naõ  he  mão  fazer-se,  antes 
pôde  ser  bom,  e  necessário:  naõ  he  máo, 
porque  temos  muitas  na  Sagi-ada  Escri- 
tura mandadas  fazer  por  Deos  ;  e  he  ne- 
cessário fazer-se,  porque  a  razaõ  a  dieta 
para  evitar  injurias.  Para  qualquer  del- 
ias ser  justa,  saõ  necessárias  três  circuns- 
tancias. Primeira,  que  se  faça  com  poder 
legitimo;  segunda,  com  causa;  terceira, 
que  se  giiarde  a  moderação  de-^-ida.»  Ar- 
te de  furtar,  cap.  21. 

Do  Euthusiasmo  férvido  nas  azas 
Vôa  agora,  oh  minlia  alma,  e  a  vista  acccsa 
Por  este  Quadro  extática  apascenta. 
Foi-tc  dada  a  razão,  discorre ;  observa 
Este  insigne  espectáculo  do  Mundo. 

J.  A.  DE  IIAGEDO,  A  KATUBEZA,  Cant.   1, 

Tem  limito  o  vastíssimo  Oceano, 

Intransgrediveis  a  i?arào  tem  marcos, 

Xcm  pode,  alem  dos  quaes,  dar  mais  hum  passo. 

IDEM,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Caut.    2. 

Foi  da  excelsa  razão  primeh-o  ensaio 
A  afleiçào  paternal,  e  a  lei  primeira ; 
E  na  mesma  caverna,  o  Esposo,  a  Esposa 
(Didcissima  união  !)  co"o3  tenros  filhos. 

IDESi,  MEDITAÇÃO,  CSUt.    1. 

E  quando  em  cega,  sempiterna  guerra 
Ferve  orgulhosa  opinião  de  sábios, 
Dcnti-c  svstemas  vãos  foge  a  verdade  ; 
Só  quem  ouve  a  Sazão  co'  a  estrada  atina 
Ko  Império  Filosófico  ;  com  cila, 
Qual  ao  clarão  da  Tocha,  os  passos  guia. 
Ao  que  medita,  e  vê  se  apraz  mostrar-se 
Sem  véos,  em  claro  aspecto,  a  Natui-eza. 
IBIDEM,  cant.  2. 

Instincto  animador,  motora  força 
(Insondável  mysterio  á  mente  humana  !) 


92 


UAZA 


UAZA 


UAZA 


Movimento  llins  dá,  rofçula  o»  pasitoM, 
K  iiim^oin  dit  raz'M  iiok  bruto.i  brillui. 
(Calciilf!  o  Mothafydico  profundo 
Quiil  Hnja  a  loi  do  inucauiitino  occulto, 
Quo  uniformo,  (|un  igual,  dirija  oa  ÍjrutOH. 

IIIIDKM,  Ciint.   'I. 

VisU)  espraiado  mar  touit  olhoH  liuii;aH, 
Snu»  principiori  inci^uito*  no  citcoiideni, 
A'i4  Luzcit  da  rardo,  tudo  liií  myrftcrio  : 
A  cxiiitHncia  dos  Soron  or  divicobn-, 
O  otVuito  lio  «ompro  visto,  a  causa  igniUa. 
IIIIDKM,  cant.  4. 

(!on8i)rva  cm  ferros 

A  nnu  lado  a»  paixões,  o  o  jugo  arrastrilo, 
Quo  a  rn:i7o  llios  impõe.  Ku  vejo  a  /eno. 
Nomo  do  (imnn  rtyni'iiiimo  lie  Virtude. 
Caia,  oítiilaiulo,  a  iiiiic(uina  do  Mundo, 
Desçiio  Hobr'  elle  rapiílas  contolhas. 
Imperturbável  animo  sustenta. 


Aqui  pilrn  a  razão,  o  este  o  limito, 

Que  a  seus  vòo.s  prescreva  a  mão  do  Eterno  •, 

Conheço  a  babitai;ão,  vejo  a  morada. 

Que  neste  ponto  do  Universo  tenho. 

Contemplo  os  vastos  Ccos,  contemplo  a  Terra 

Pavimento  do  Alcaçar  magostoso 

])()  Uci  da  Creação.  Conheço  os  Seres, 

Que  gúz&o,  como  ou  gozo,  os  dona  da  vida. 

lOIDR». 


Venha  a  teu  lado  a  sombra  de  Epicuro, 
Que  audaz  negou  do  Mundo  Author  supremo, 
Que  doo  força  á  matéria  inerte,  c  morta  ; 
])o  lume,  que  a  raziio  no  canto  esparge. 
Verá  fugir  seus  Átomos  confusos. 


Meditação  profunda,  eia,  suspende 
O  vòo  audacioso,  hum  Deos  achaste; 
Console-se  a  raziio,  callc-sc  o  impio, 
IJos  Systemas  no  pélago  se  abyamc. 

IBIDEM. 

Teus  venenos  mortíferos  derrama 
Em  soui^ros  trovões  d  áurea  eloquência 
Profano  Diderot...  Ah!  quão  pequeno, 
tiuiio  mcaquinho  o  mortal,  que  ousa  estribar-se 
Nas  luzes  da  Bazão,  que  o  crime  culucta  ! 

IDIDR». 

—  A  razru)  porsoiúticada.  N'cste  caso 
escrevc-so  com  letra  maiscula:  Razão. — 
Senti  a  Razão  j>Cir-)ne  no  hombro  a  sua 
mão  Jirme  e  fria  e  fazer-me  parar  no 
curso  da  loucura. 


Cav.     Em  qual  porta  ? 
Mest.   Na  do  meio. 
Eaz.     Tem  razào,  muito  bem  modo. 
Mfst.   A  mesma  liazilo,  o  pede 
que  do  que  jaz  n'este  seio 
'o  amor  em  Deos  procede. 

ANTÓNIO  PBESIKS,  AUTOS,  pag.  24. 

Se  OU  visse  vencida 
esta  Ba:'io,  a  teus  pés  caída, 
Ucava-me  o  jogo,  baralha  na  mão  ; 
niio  tinham  razào  então  A  Kazào 
de  lhe  dar  primeira  da  luz  da  outra  vida. 
Tão  mestra  é  a  Razão  que  sií  estfl  n'olla 
o  forte  do  homem,  o  firme,  o  inteiro. 
ii)u>£M,  pag.  7. 


parcco-vox  que  o  pão 
i|ue  tal  mantém 
qno  HO  emprega  nVlIe  bcin  V 
ror  irtiuj  vejo  a  liiizão 
qual  os  mcUH  olhos  a  vécni. 
iBiiii:]!,  pag.  20. 

Que  dizes,  lUtzão,  não  fora 
iiuiit^j  m<dhor  que  deixaras 
es.-ía  rc/ia,  e  fijiáras 
conm  fazemos  agora  V 
NAo  respondes  V  (iin  í|ue  varas  '; 
IIIIDKM,  pag.  r>l. 

Eu  bem  creio  que  será 
isso  que  dizes ! 
mas  obras  são  juizes : 
vér  a  lia-.no  qual  está 
nenhum  soffrcr  m'o  matizes. 
IBIDKM,  pag.  C'!. 


Tu,  Demócrito,  me  culpa, 

que  cu  a  mi  nilo ;  Razão  miolia, 

jóia  das  gentes 

(pie  estás  gcímcnte  o  flcntes 

no  vale  onde  convinha 

teres  amigos,  parentes. 

IBIDEM. 

—  A  razão  considerada  nos  indivíduos. 
—  A  minha  razão.  —  A  tua  razão.  —  A 
razão  f/'i<»t  sábio.  —  «  Elle  lie  o  que  con- 
fessa sinceramente  que  o  Sábio  nào  piide 
embaraçar  os  movimentos  da  sua  alma, 
ainda  que  a  sua  razão  se  po.ssa  oppor  vif^o- 
rozamcnto  aos  seus  excessos.»  Cavalleiro 
dOliveira,  Cartas  liv.  1,  u."  13.  —  «ííiío 
sois  feliz,  Adolpho?  E  que  falta  para  a 
vossa  felicidade  em  tudo  o  que  pôde  per- 
teuder  um  homem  dessa  idade,  e  d'esse 
appellido  y  »  —  Ser  amado  ;  ou  ter  forças 
que  venção  um  amor  que  a  minha  razão 
condemna,  e  quo,  máo  furado  meu,  coni- 
pòe  hoje  parte  de  minha  existência.  » 
Francisco  ^lanool  do  Nascimento,  Suc- 
cessos  de  madame  de  Seneterre. 

E  pódc  o  homem, 

Com  sua  falha  razão,  acertar  justo 

N'csse  termo?...  E  se  errar?  —  Porque  nào  hado 

O  mesmo  Sopro  Eterno  que  d  A  vida. 

Distribuir  a  morte? 

OARBETT,  CATÃO,  act.   5,  SC.   3. 

Que  aeductora  ó  a  amizade,  Manlio ! 
Tu,  cuja  razão  clara  c  exp'rímentada 
I?i  das  vans  esperanças  de  mancebos, 
Fez-to  mais  cego  que  cUes  a  cegueira 
Do  amor  quo  luc  teus. 
IDEM,  oct.   5,  SC.  7. 

—  Ter  a  sua  razão,  toda  a  sua  ra- 
zão ;  gozar  da  plenitude  das  soas  facul- 
dades intellectuaes. 

—  Idade  de  razão ;  idade  em  que  as 
crianças  começam  a  gozar  de  razilo. 

—  Perder  a  razão  ;  enlouquecer. 

—  <S't')/)  razão ;  que  perdeu  a  razào,  que 
enlouqueceu.  —  Estar  sem  razão. 


E  t.smbem  todo  o  christào 

que  escurece 

quem  sois,  que  vos  não  couhccc. 


fica  cltriatio  »nia  razão, 
fé  ftciii  obras  mo  parece. 

Axioiíu  i-KurKs,  AL'ro«,  pag. 


211. 


—  Perder  a  raZãO  ;  dix-ue  tauibein  por 
exjigero  d'iuu  hoiiieiu  que  faz  alguma  cou- 
sa contraria  á  razilo,  ao  bom  i-eiiso. 

—  Termo  de  inetaphysiea.  RazAo  pura, 
ou  intuitiva;  di/.-8c  p<jr  upp<.isi(;fto  á  n- 
zio  empirica,  ou  conhecimentos  experi- 
nii-ntaes.  Kant  «Kicroveu  uma  obra  «obre 
a  razão  pura,  intitulaiia:  Critica  da  razão 
pura. 

—  Culto  da  Razão;  culto  celebrado  na 
igreja  metropolitana  de  i'arÍ0  a  20  do 
brumário  du  anuo  It  1 10  de  novembro 
de  \HT^j  da  republica,  e  em  breve  imi- 
tíido  em  toda  a  França. 

—  Razão;  designa  também  a  somma 
das  Verdades  que  os  homcn»  admittem 
uniformemente;  chama-se  também  razão 
impessoal . 

—  Razão ;  diz-se  algumas  vezes  por  lo- 
gos.  Verbo,  a  razilo  suprema. 

—  O   bom  uso  da  faculdade  da  razSo. 

—  Razão  escriptn ;  diz-se  do  direito 
romano  nos  paizes  onde  elle  é  consul- 
tado. 

—  Direito  e  razão;  o  direito  escripto 
e  o  direito  natural.  — «  E,  que  este  dis- 
curso, e  opinião  esteja  confiirme  a  Direi- 
to, e  razaõ,  confirma  Castella  com  seme- 
lhante casii,  em  que  tirou  a  >S.  Luiz  Rey 
de  França  a  herança  de  sua  Coroa,  que 
lho  vinha  por  sua  mày  Doua  Branca,  ti- 
Iha  mais  velha  do  Rev  f 'atholico,  e  a  deo 
aos  lilhos  de  Doua  Berenguera  mais  mo- 
ça, que  assistiaõ  em  Castella.»  Arte  de 
furtar,  cap.  Kl. 

—  Razão  natural ;  o  qne  o  entendimen- 
to alcança  pelos  seus  próprios  meios,  sem 
auxilio  da  revelação. 

— Num  sentido  moderno,  razão,  to- 
mada absolutamente,  signilica  a  somma 
sempre  em  incremento  das  idòas  boas  o 
justas.  A  razão,  diz  Rousseau,  é  preser- 
vativo da  intolerância  e  do  fanatismo. 

—  O  que  é  de  dever,  de  direito,  de 
justiça. 

—  Ser  de  razão;  ser  de  justiça. 

—  O  que  é  razoável. 

—  Ter  razão.;  ser  fundado  no  que  se 
diz  ou  faz.  —  «No  meio  destas  no  mais 
digno  lugar  Polinarda,  que  também  nesta 
quadra  parecia  que  fazia  inveja  ás  ou- 
tras ;  mas  isto  n.^o  parecia  assim  a  Flo- 
rendos,  se  alli  estivera ;  e  tivera  razão, 
que  Miraguartla  lá  se  lhe  conhecia  uma 
mostra  tào  contiada,  que  parecia  que  lhe 
usurpavam  seu  lugar. »  Francisco  de  ilo- 
raes,  Palmeirim  d'lnglalerra,   cap.   1"_\>. 

doutra  parto  tem  razão 
de  me  deixar  p<>sto  cm  C4ilma ; 
quer  fazer-me  enehuto  c  s.ào, 
que  o  comer  damna  o  carSo  ; 
é  amigo  da  minh'alina, 
fax-me  jejuar  ? 

ANTÓNIO  PRESTES,  AITTOS.  pAg.  403. 


RAZA 


RAZA 


RAZA 


r 


— « E  vendo  ellc  que  boas  palavras 
naõ  bastavaõ  para  quererem  elles  conde- 
cender  co  que  elles  lhes  pedia,  lhes  man- 
dou dizer  por  hum  mercador  que  andava 
nestes  recados,  que  bem  via  elle  quanta 
razaõ  elles  tinhaõ  de  quererem  que  des- 
embarcasse ello  a  fazenda  em  terra  como 
era  costume.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pe- 
regrinações, cap.  49. —  «<)  Terceyro  he 
o  Tigris,  a  quem  loseph  chama  Diglath, 
que  quer  dizer  arrebatado,  e  teuc  muyta 
razão,  pêra  lhe  dar  tal  nome;  porque  dos 
que  vi,  e  passey,  da  Índia  tè  Lisboa,  nam 
achev  outro,  que  tam  apressadamente  se- 
guisse seu  caminho.»  Fr.  Gaspar  de  S. 
Bernardino,  Itinerário  da  índia. — «Os  in- 
fantes coitadinhos,  querem  alguns  Críti- 
cos especulativos,  que  sejaõ  de  unhas  do- 
bradas, porque  sai5  multiplicados  os  seus 
furtos  :  mas  naõ  tem  razão,  que  assas  sin- 
gelos andaõ;  e  se  agasalhaõ  huma  mar- 
rãa,  ou  um  cabrito,  mas  que  seja  hum 
carneiro,  ou  huma  vaca,  quando  vaõ  de 
marcha  por  esses  campos  de  Jesu  Chris- 
to,  he,  porque  os  achaõ  desgarrados,  para 
que  os  não  coma  o  lobo. »  Arte  de  furtar, 
cap.  34.  —  «Qual  tenha  mais  razaõ  para 
dominar,  o  que  vay  logrando,  isso  direy 
eu,  porque  o  sey  de  certo.  E  naõ  usarey 
de  embuços,  como  alguns,  que  fallaõ  por 
escrito  sem  dizerem  o  mal,  e  o  bem  de 
ambas  as  partes,  havendo-se  nisto  como 
Advogados,  que  só  huma  parte  abonaõ.» 
Ibidem,  cap.  16. 

—  Dar  razão  a  al;/uem-,  achar  justifi- 
cado o  que  elle  faz,  declarar-se  a  seu  fa- 
vor. 

—  Ter  razão ;  ser  justo,  conveniente, 
razoável. 

Polo  dinheiro  o  hei  ou. 
Mas  por  tudo  ;  mas  mandão 
dizer  disso  a  vosso  irmào 
quo  é  razão 
chamo  o  Pedro. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  283. 

—  «  E  na  lembrança,  que  entre  tama- 
nhos trabalhos,  e  tão  importantes  negó- 
cios, tivestes  daquellas  cousas  minhas  que 
levastes  a  cai'go,  se  vê  bem  quanto  dese- 
jo tendes  do  nisso,  e  em  tudo  me  servir, 
o  qual  eu  estimo,  como  he  razão.»  .Ja- 
cintho  Freire  d'Andrade,  Vida  de  D.  João 
de  Castro,  cap.  4. 

: —  Contra  toda  a  razão ;  d'um  modo 
excessivo.  — •  Grifa  contra  toda   a  razão. 

—  Explicação,  conta. 

—  Dar  razão ;  dar  conta,  explicação. 
—  «Homem  sou  eu,  que  do  meu  mester 
outrem  vos  dará  peor  razão  de  si  por 
tanto  proponde  breuemente,  porque  vosso 
pay  mandou-me  fazer  um  pouco,  e  não 
queria  que  me  visse.»  Jorge  Ferreira  de 
Vasconcellos,  Ulysippo,  act.  1,  se.  5. — 
«  E  chegando  assi  todas  a  casa  da  filha 
do  Broquem  onde  esta  molher  então  es- 
tava mais  para  morrer,  que  para  dar  ra- 
zão do  que  humas  e  outras  lhe  pergunta- 


vão,  ellas  movidas  pela  cansa  primeyra  e 
principal  que  he  Dôos  nosso  Senhor  au- 
tor de  todos  os  bens.»  Fernão  Mendes 
Finto,  Peregrinações,  cap.  141.  —  «Dir- 
me-has  a  arquitectura,  e  disposição  dos 
Ceos,  e  darás  a  razão  destas  cousas  cá 
na  terra?  Non  potest  eas  homo  explicare 
sermone:  não  p('>de  o  homem  entender, 
quanto  mais  explicar  estas  cousas  salvo 
com  muito  trabalho,  e  pouca  certeza.» 
Padre  Manoel  Bernardes,  Exercícios  es- 
pirituaes,  pag.  309. 

—  Reparação  d'am  ultrage,  d'uma  af- 
fronta. 

—  Satisfação,  indemnisação. 

—  Fazer  razão;  indemnisar,  reparar, 
compensar.  =  Locução  desusada. 

—  Fazer  razão  de  si-  dar  satisfação, 
jnstificando-se  ou  reparando  um  mal  que 
se  commetteu.^Já  se  não  usa  esta  lo- 
cução. 

—  Ter  razão  d'alguem;  triumphar  d'el- 
le,  vencel-o. 

—  Pi  ova  por  discurso,  por  argumento. 
— -  Uma  carta  recheada  de  razões. 

—  Dar  razões  ;  apresentar  provas,  cou- 
sas, explicações,  justificações.  —  «  E  entre 
outras  razões  que  dá  pêra  approvar  este 
seu  parecer,  he,  que  daqui  té  a  povoação 
de  Suez,  que  serão  quarenta  léguas,  não 
ha  entre  os  Mouros  memoria  de  situação 
de  algum  logar,  que  naquella  distancia 
em  que  Ptolomeu  a  põe,  houvesse,  nem 
o  maritimo  da  costa  mostra  poder  ter  po- 
voação, por  a  maior  parte  delia  ser  de 
serranias  quasi  té  Suez,  e  mui  estéril  sem 
agua  alguma.»  Barros,  Década  II,  liv.  8, 
cap.  1  —  «Nas  quaes  capitulações  Fran- 
cisco Dalbuquerque  insistio  muito  por 
auer  os  dons  Milaneses  que  se  lançaram 
em  Calecut,  mas  el  Rei  lhos  não  quis  en- 
tregar, dando  pêra  isso  razões  suficien- 
tes.» Damião  de  Coes,  Chronica  de  D.  Ma- 
noel, part.  1,  cap.  80. 

o  com  isto  vadim  pace, 
Eu  lhe  darei  cssa.s  razões. 
E  que  d'uraa8  opilações 
me  vem  phj'sico3  curar 
que  me  tolhem  arrazoar 
sem  óculos  de  tostões. 

ANTÓNIO  PliESTES,  AUTOS,  pag.    129. 

— «  Entendi  serem  estas  escusas,  de- 
sejos de  se  ver  na  pátria,  e  por  mais  ra- 
zões que  lhe  dei,  não  bastarão  todas, 
pêra  me  acompanhar.  Tè  que  me  deter- 
miney  em  ficar  sò,  e  ir  sem  elle  a  Hie- 
rusalem  como  fiz :  e  se  verá  na  segunda 
parte  o  que  nella  passey,  a  qual  fico  com- 
pondo, e  confiança  tenho  em  nosso  Senhor 
seja  aceita.»  Fr.  Caspar  de  S.  Bernar- 
dino, Itinerário  da  índia,  cap.  22.  — 
«  Tem  mais  esta  grande  cidade  dos  mu- 
ros para  dentro,  segundo  os  Chins  nos 
affirmaraõ,  três  mil  e  oitocentas  casas  dos 
seus  pagodes,  em  que  continuamente  se 
sacrifica  huma  muyto  grande  quantidade 
de  aves,   e  de  animais  silvestres  dando 


por  razão  que  aquelles  saõ  mais  aceitos 
a  Deos  que  os  outros  domésticos  que  a 
gente  cria  em  casa,  e  para  isso  dão  os 
sacerdotes  muitas  razões  ao  povo,  com 
que  o  persuadem  a  terem  esta  abusaõ 
por  artigo  de  fé.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  107. 

—  Dar  razões;  dar  pretextos. 

—  Causa,  motivo.  =E  uma  das  acce- 
pções  mais  importantes  da  palavra  e  em 
que  ella  é  mais  usada.  —  «  O  cavalleiro 
da  Fortuna  se  metteu  antre  elles,  pedin- 
do-lhes  que  deixassem  sua  contenda,  pois 
era  sobre  cousa  que  se  podia  bem  escu- 
sar :  e  nem  isto  pode  acabar  com  elles ; 
porque  a  ira  que  os  então  senhoreava,  lhe 
não  deixava  conhecer  a  razão,  ou  o  que 
Ihe.s  mais  era  necessário. »  Francisco  de 
]\Ioraes,  Palmeirim  de  Inglaterra,  cap.  33. 

—  «  Bem  se  parece  que  a  natureza  em 
muitas  de  suas  obras  minte.  Queria  sa- 
ber qual  é  a  razão  poi-que  nos  prendes, 
ou  porque  não  tens  conhecimento  do  ser- 
viço, que  te  fizemos  em  trazer  tua  filha 
com  mais  seguridade  e  hom-a  do  que  me- 
reces? Certo  dos  máos  se  não  deve  fiar 
ninguém,  porque  seus  galardões  sempre 
são  conformes  a  sua  condição. »  Ibidem, 
cap.  96,  —  «Por  esta  razão  como  melhor 
pôde  se  despediu  delia  e  se  foi  a  sua  poTi- 
sada,  onde  o  desarmou  a  donzella  de  Trá- 
cia e  Selvião,  que  nunca  o  desacompa- 
nhava.» Ibidem,  cap.  77. —  «E  porque  o 
escudo  que  trazia  era  o  de  Bracolão,  que 
o  seu  elle  lh'o  desfizera  no  braço,  acha- 
va-o  tão  pesado  que  com  uma  mão  o  não 
podia  levantar  bem,  pêra  se  amparar  com 
elle ;  por  e.sta  razão  temia  mais  a  bata- 
lha, trabalhando  de  se  defender  por  ma- 
nha, e  trazer  a  Baleato  traz  si,  tanto  quo 
o  cançasse  de  todo  ;  mas  como  o  gigante 
sentisse  n'elle  por  aquella  via  o  queria 
desbaratar,  usou  d'outra  manha.»  Ibidem, 
cap.  107.  —  «Quem  me  dissesse  porque 
este  ai-rependimento  não  chega  quando 
se  pôde  curar,  ou  de  que  serve  quando 
já  não  tem  remédio?  A  razão  é  como  esta 
ceguidade  nasce  de  amarem  mais  o  erro 
que  a  pessoa,  este  amor  tem  tanto  poder, 
que  estorva  as  cousas,  com  que  se  pode 
atalhar.»  Ibidem.  —  «Por  isso  meu  pare- 
cer é  que  com  as  nossas  pelejemos,  que 
pêra  vencer  a  razão  que  temos  basta,  e 
as  armas  são  sobejas.»  Ibidem,  cap.  118. 

—  «  Já  vos  disse  que  não  havia  de  fazer 
batalha  comvosco.  Isto  não  é  medo  que 
vos  tenha,  senão  razão,  que  tenho,  de  o 
fazer  assim.»  Ibidem,  cap.  127. —  «Esta 
é  forte  cousa,  disse  o  cavalleiro  da  Tor- 
re, quererdes  que  me  satisfaça  de  não  ter 
feito  nada,  e  não  me  dizerdes  a  razão  que 
tenho  pêra  ficar  contente.»  Ibidem. — ■ 
«P.  Porque  razão  pousastes  com  Diogo 
de  Mello? — R.  Porque  todos  os  Gover- 
nadores pousaram  na  fortaleza,  aonde  ha- 
via aposentos  pêra  ambos,  sem  nos  ver- 
mos hum  ao  outro.»  Diogo  do  Couto  Dé- 
cada IV,  liv.  6,  cap.  8. 


UAZA 


RAZA 


KAZA 


fíllino  cil,  Hunlior  irinJo, 
Hl)  o  jiHto  é  pui!  do  ifçiinl, 
não  liavi!Íi4  do  tiT  por  mui 
1(110  o  meitnio  B(-jn  u  raz-1o 
dn  ficariiiort  tal  por  tal. 

AMroNio  i-np.srKH,  Auroa,  png.  275. 

—  «Mus  foiíio  !i  Uayiilia  acordar,  que 
pAJo  ser  duquy  ii  laiina  liora,  cila  me 
achanl  aos  seus  peii,  porque  e.sta  novida- 
de soja  caiwa  para  me  olla  preguiUar  jio- 
la  razão  delia,  porque  mais  lia  do  kovs 
«mios  (pio  uito  ivi  outro  tanto  por  iiiiiiba 
má  ilispo-iii;ào.i>  Fernào  Mendes  Tinto, 
Peregrinações,  cap.  142.  —  «E  a  fora 
esta  razào,  fo  deiaõ  neste  caso  outras 
muvtas  por  onde  se  assentou  que  era  cs- 
cusiula  a  sua  yila  a  Malaca,  e  eu  pedy  a 
Joilo  (Javeyro  que  de  tudo  o  que  era 
passado  neste  caso  me  mandasse  passar 
um  estronionto,  para  por  elle  se  me  dar 
credito  em  Malaca,  porque  em  o  avendo 
ú  mito  determinava  de  me  tornar  logo 
pois  aiy  nàt)  tinha  mais  que  fazer.»  Ibi- 
dem, cap.  148.  —  «A  razaõ  lie,  porque 
a  inulti  laõ  dos  súbditos  detende  o  senho- 
rio próprio,  e  pôde  conquistar  o  alheio. 
A  multiilaõ  da  gente  cultiva  o  terreno, 
de  maneira,  que  naõ  somente  basta  para 
os  naturaes,  mas  pôde  prover  os  estra- 
nhos.» Soverim  de  Faria,  Noticias  de 
Portugal,  Discurso  1,  §  1.- — «A  razaõ 
he  por  estar  todo  Alentejo  dividido  em 
herdades,  das  quaes  os  Lavradores  naõ 
saõ  senhores;  mas  somente  arrendado- 
res ;  e  ainda,  que  muitos  homens  deze- 
jaS  fazer  casas  novas  nas  mesmas  herda- 
des, naõ  lhe  podem  os  Lavradores  dar 
para  isso  licença.»  Ibidem,  §  ».  —  «Por- 
que a  razaõ  de  se  pedirem  grandes  do- 
tes, he  haver  muitas  mulliercs  para  ca- 
samentos, e  poucos  homens,  por  nclles 
estarem  juntos,  c  unidos  ordinariamente 
muitos  Morgados.»  Ibidem,  4}  7.  —  «Oh 
acaba  de  entender  i^homem  de  Oração, 
se  assim  he  bem  chamar-te)  a  razaõ  por 
que  naõ  cresces,  antes  te  achas  atraza- 
do  no  amor  de  Deos,  e  do  próximo.  Co- 
mo has  de  crescer  no  amor  de  Deos,  se 
nada  diminues  no  teu  amor  próprio?» 
Padre  Manoel  Bernardes,  Exercícios  es- 
pirituaes,  part.  1,  pag.  2HJ.  —  «Essa 
iov  a  razão,  porque  a  outra  fcrmosa  fa- 
zia concerto  com  a  morte,  prometendo 
de  se  lhe  entregar  cada  vez  que  a  cha- 
masse, com  tanto  que  a  defenderia  do 
tempo,  que  a  não  envelhecesse.»  Fran- 
cisco Manoel  de  Mello,  Apol.  Dial.,  pag. 
36.  —  «Costumam  as  nnilheres  de  alguns 
ministros,  pela  própria  razão  que  se  hou- 
veram de  abster,  e  ajudar  com  grande 
tonto  a  levar  aquoUa  carga  a  seus  mari- 
dos, oceasionar-llies  seu  preeipicio,  carre- 
gando-os  de  novo  com  suas  desordens,  e 
vindo  depois  com  clles  a  torra.»  D.  Fran- 
cisco Jlanoel  de  Mello,  Carta  de  guia  de 
casados.  —  «Temo  que  vos  pareça  pe- 
quena a  minlia  Carta,  porem  ostimarey 
que  não  tenhaes  outra  critica  que  fazer- 


Ihe.  Pura  não  ser  mais  dilatado  tenho 
muitas  razoens.»  Cavalleiro  de  Oliveira, 
Carias,  liv.  1,  n."  42.  —  «Sc  me  quereis 
crer  nào  hayaes  hoje  de  casa.  Pergunta 
ella  a  razão,  conta  Talauo  o  seu  sonho, 
u  respondo  Margarida  com  granrle  <les- 
]>reso.  .Meu  marido,  quom  mal  quer  mal 
sonha.»  Ibidem,  n.°  í)2.  —  «Ainda  que 
no  (ieiicsiu  cap.  0.  v.  4  se  faz  menção  dos 
(iigaiites  que  viverão  antes  do  Diluvio, 
e  ainda  que  no  cap.  115.  o  14.  dos  Nume- 
ras v.  iVò  c  i54  se  fala  |>articularmente 
dos  que  viverão  depois  do  Diluvio,  ha 
eom  tudo  muitas  rasoens  para  .supor  que 
os  homens  forão  em  todo  o  tempo  da 
mesma  grandesa  que  são  agora.»  Ibidem, 
n."  .00.  —  «A  isso  poderá  responder,  que 
o  Manifesto  he  de  Castella,  e  por  isso  o 
j)uz  na  sua  lingua  :  mas  para  explicar 
melhor  a  razão  mais  principal,  que  me 
moveo,  coutarey  hiima  historia,  que  acon- 
teceo  em  hum  Tribunal  do  três,  que  tem 
o  Santo  <  )fíieio  n'este  lleyno. »  Arte  de 
furtar,  cap.  lli. 

—  N'estc  sentido  emprega-se  também 
no  plural.  —  «E  esso  meesmo  se  esses 
dos  mesteres  forem  da  condiçom  dos  ou- 
tros suso  ditos,  que  os  aver  podem,  man- 
da, que  se  tiverem  mancebos,  que  lhes 
nom  sejaõ  tirados ;  porque,  pois  as  ra- 
zoões,  j)er  que  ham  de  seer  dados  aos 
outros,  liam  lugar  em  esses  mcsteiraaes, 
110111  seria  razom  tirarem-lhos.»  Ord.  Af- 
fons.  —  «Floriano,  que  já  neste  tempo 
era  livre  de  seus  cuidados,  quiz  com  ra- 
zões tingidas  mostrar  que  então  mais 
que  nunca  estava  metido  nelles  :  o  por- 
que neste  caso,  em  que  se  nào  aventura 
mais  que  pala\Ta9,  os  homens  não  hão 
de  ser  avarentos  ou  escassos  d'ellas,  elle 
a  satisfez  tanto  quanto  cumpria,  dizendo 
antre  algumas,  que  lhe  então  o  tempo  e 
a  iscmi>ção  ensinava.)'  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  80. 
—  «O  cavalleiro  do  Tigre,  além  de  lhe 
doer  vêl-a  assim,  estava  tão  occupado  de 
ira  e  manencoria  do  não  poder  entrar  no 
castello,  que  se  chegou  ao  pê  delle,  des- 
honrando  os  cavalleiros  com  razões  fora 
de  sua  condição  ;  que  isto  tem  os  cora- 
ções agastados,  desabafarem  com  pala- 
vras ásperas,  quando  sào  ditas  aos  qite 
as  merecem.»  Ibidem,  cap.  10.').  —  Ain- 
da que  estas  razões  fossem  de  receber, 
o  cavalleiro  as  não  quiz  levar  em  conta, 
dizendo  (|ue  por  força  haviam  de  fazer 
batalha,  se  el-rei  não  o  atalhara  com 
niandar-lhe  que  desse  lugar  aos  outros, 
pois  as  condições,  com  que  o  d.is  donzel- 
las  alli  viera,  o  desobrigavam.»  Ibidem, 
cap.  12i).  —  «Porque  primeiro  que  fosse 
a  C'astella  andou  com  elle  mesmo  Hey 
líom  loão  que  o  armasse  pêra  este  nego- 
cio, o  que  elle  naõ  quis  fazer  jior  as  ra- 
zões que  abaixo  diremos.»  Barros,  Dé- 
cada 1,  liv.  3,  cap.  11.  —  «Passando 
assi  Afonso  Dalbuquerque  o  inuerno,  com 
trabalhos   do  mar,   c  da  terra  algumas 


peasoas,  e  dcllcs  do.i  principais  da  frota, 
tendo  pouco  respeito  a  suas  obrigaçocnji, 
começarão  a  traUir  amores  com  hí  moçaa 
que  lhe  tomara  em  (ioa,  e  guardaua  para 
casar  eom  alguns  Portugueses  jjolas  ra- 
zoens  que  iic.^o  apuutadas.»  Damião  de 
lioes,  Cbronica  de  D.  Manoel,  part.  3, 
cap.  ti.  — -  «\'òs  tendes  feito  pazes  com 
Dom  Estevão  da  (iania.  Capitão  que  foy 
daquclla  fortaleza,  irmaò  do  qao  hoje 
está  nella,  a  quem  querein  fazer  guerra, 
que  por  duas  razoens  naõ  pt^dois  que- 
brar.» Diogo  de  (-'outo,  Década  (i,  liv. 
ít,  cap.  b.  —  «Dcspuis  de  lida  esta  car- 
ta, nos  disse  o  NauUjquini.  este  Uey  do 
Pungo,  é  meu  senhor  e  meu  tio,  irmão 
de  minha  m.ãy,  o  sobre  tudo  he  meu  bom 
pay,  e  ponholhe  este  nome,  porque  o  be 
de  minha  molhcr,  pelas  quaes  razões  me 
tem  tanto  amor  como  aos  seus  mesmos  fi- 
lhos.» Fernão  Mende.*  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  13.').  —  «Por  estas  razoens  to- 
marão muitos  Cavalleiros  as  Flores  de 
Liz  por  armas,  e  as  deixarão  a  seus  des- 
cendentes, como  foraò  os  Albuquerques. 
os  fiouveas,  etc.»  Severim  de  Faria,  No- 
ticias de  Portugal. — «Passado  o  Impé- 
rio a  (Ireeia  ainda  que  os  mais  dcates 
Capitaens  ticarão  com  nomes  de  Condes, 
pelas  razoens,  que  logo  diremos.»  Ibi- 
dem. 


Estas  razões.  Senhores,  nos  obrigaú 
A  olhar,  como  própria,  a  honra  sua. 
Kll:t  ultrajada  gc  acba  iudignamcute 
I'i'!o  altivo  Doaõ  •,  pois  costumando 
(Nós  tcstcmunlios  somos,  n<53  o  vimos!) 
niNiz  DA  cRCz,  HISSOPE,  cant.  3. 

—  tE  qnc  me  importa 

A  mim  corte  e  conselho?  Outros  motivos 
Tenho,  outras  razoes...» 

—  fTenhais  embora. 
GABRF.rT,  CAMÕES,  caut.  4,  cjip.  3. 


—  Com  razão ;  com  motivo,  motiva- 
mente,  justamente.  —  «Ao  qual  Manda- 
mos que  se  enforme  Acerca  de  sua  pri- 
som  quanto  bem  poder,  se  foi  preso  Jus- 
tamente e  com  aguisada  razom,  e  quer 
fazer  o  dito  contrauto.  e  assi  lhe  dê  pêra 
ello  sua  authoridade,  ou  naõ ;  e  dando- 
Ihe  sua  authoridade  pêra  cllo.  Mandamos 
que  valha  esse  contrauto  feito  per  esse 
preso,  assi  como  se  fosse  solto.»  Ord.  Af- 
fons.  —  «Porque  ja  ouvirieis  dizer  :  Ni- 
nho feito,  pega  morta.  Que  me  dizeis  ao 
contentamento  do  mundo,  que  toda  a 
dura  delle  est-i  em  quanto  se  alcança? 
Porque  acabado  de  passar,  acabado  de 
esquecer.  E  com  razão,  porque  acabado 
de  alcançar,  he  passado;  e  maior  sauda- 
de deixa,  do  que  he  o  contentamento 
que  deo.  Esperae.  por  nic  fazer  mer- 
cê, que  lhe  quero  dar  humas  palavri- 
nhas de  propósito.»  Camões.  Carta  2. — 
«O  mesmo  fazião  também  os  Frades, 
luins  cortando  com  machados,  outros  acar- 
retando fato  :  e  nâo  ha  que  duuidar  8«« 


RAZA 


BAZA 


RAZA 


95 


nào  que  se  a  este  grande  expectaculo 
fora  presente  o  Propheta  Hieremias,  com 
muyta  razão  dissera.»  Fr.  Gaspar  de  S. 
Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap.  1. 
— -  «E  se  os  moradores  da  Guarda  no  nos- 
so Portugal,  por  causa  dos  grandes  frios 
do  Inuerno  que  nella  ha,  dizem,  que  os 
três  meses  do  Verão  saõ  os  do  frio,  o  os 
noue  de  Inverno  :  cõ  muyta  mais  razão, 
os  de  Ormus  podem  affirmar,  que  os  três 
do  Inuerno  saò  de  Verào  e  os  noue  de 
Inferno.»  Ibidem,  cap.  11.  —  «E  por  isso 
se  pôde  dar  com  razaõ  principio  às  de 
Portugal  des  do  tempo  d'ElRey  D.  Afon- 
so Henriques  para  cà.»  Severim  de  Fa- 
ria. Noticias  de  Portugal.  — ■  «Pelo  que 
com  razaõ  usou  o  nosso  Luiz  de  Ca- 
moens  desta  palavra,  quando  na  pro- 
posta dos  seus  Cantos  dos  Lusiadas  dis- 
se :  As  armas,  e  Barmns  assignalados,  e 
naõ  varoens,  como  alguns  inadvertida- 
mente querem.»  Ibidem.  —  «Das  mais 
grandezas  desta  iusigue  cidade  direy  a 
seu  tempo,  porque  isto  que  agora  contey 
assi  de  corrida,  foy  somente  para  dar 
huma  breve  relação  da  origem  e  funda- 
ção deste  império,  e  do  primeyro  que 
fundou  esta  cidade  do  Pequim,  metropoli 
com  razão,  e  com  verdade  de  todas  as 
do  mundo,  na  grandeza,  na  policia,  na 
abastança,  na  riqueza,  e  em  tudo  o  mais 
quanto  se  pôde  dizer  ou  cuydar.»  Fer- 
não Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap. 
94r.  —  «E  he  também  certo,  que  de  nin- 
guém podemos  temer  com  mais  razaõ, 
qu3  seja  brevemente  miserável,  como 
d"aquelle,  que  lhe  parece  o  naõ  tem  si- 
do. »  Padre  Manoel  Bernardes,  Exercícios 
espirituaes,  part.  1,  pag.  232. 

Nem  ts  lembres  dá  minha  longa  idade, 
Se  a  tua  com  razaõ  nunca  melhoras ; 
Deixa  correr  os  meus  dias,  e  horas, 
Sempre  atteuto  á  mortal  fragilidade. 

ABB.iDi:  DE  JAZESTE,  poEsi.is,  tom.  2,  pag.  75 
(ediç.  1787). 

—  Por  razão  de  ;  em  virtude  de.  — • 
«E  Xos,  visto  seu  dizer,  e  pedir,  acor- 
damos que  se  as  houverem  de  fazer  per 
razom  de  conhicimento  dos  Juizes,  se  os 
presos  venderem,  ou  enalhearam,  e  os 
mandados,  que  os  Juizes  sobre  elles  de- 
rem, que  taaes  escripturas  façaõ  os  Ta- 
balliaàes,  que  nas  audiências  escrepve- 
rem  perante  eUes  ;  e  que  as  cartas  das 
veuilas,  e  arrendamentos,  e  obriguaçoões, 
e  outros  contrautos  façam  os  ditos  Ta- 
balliaões  do  Paaço,  que  poios  ditos  pre- 
sos a  alguas  pessoas  forem  feitas,  mos- 
trando-lhe  as  autoridades  dos  Juizes.» 
Ord.  Affons.  —  «Isto  por  razaõ  de  ser 
gnarda-mòr  do  mesmo  tombo,  ofiicio  mui 
próprio  dos  chronista.s,  por  sor  huma  cus- 
todia de  toda  a  scriptnra  do  Reyno.» 
Barros,  Década  1,  liv.  2,  cap.  2.  —  oE 
logo  em  dons  dias  que  Vasco  da  Gamma 
esteue  esperando  por  recado  de  Camorij, 


este  Monçaide  o  anisou  de  algumas  cou- 
sas :  por  razaõ  das  quaes  ello  teve  con- 
selho com  os  capitães  do  modo  que  teria 
em  ir  ao  Camorij  quando  o  mandas.çe 
chamar.»  Ibidem,  liv.  -4,  cap.  8.  —  «E 
por  razão  desta  auçào  que  este  Reino  ti- 
nha nestas  ilhas  Canareas  pola  despesa 
que  era  feita  na  conquista  e  conuersão 
de  seus  pouos,  quando  se  iizerào  as  pa- 
zes entre  Portugal,  e  Castella  por  causa 
das  guerras,  que  ouue  entre  el  Rey  dò 
Affons  )  o  quinto  neste  Reyno,  e  elRev 
dom  Fernàdo  de  Castella.»  Ibidem,  liv. 
1,  cap.  12.  —  «Os  quaes  neste  tempo 
que  elle  partio  estauau  em  Quiloa  fazen- 
do mercadorias,  e  entre  rogo  e  forca  os 
leuou  consigo,  por  razaõ  dos  quaes  mor- 
tos auia  muitas  lagrimas  e  pragas  entre 
todolos  Mouros,  e  o  que  elles  mães  abo- 
minauaõ  era  ser  elle  causa  de  os  Cafres 
levarem  tantos  Mouros  captivos.»  Ibi- 
dem, liv.  10,  cap.  6.  —  «Peró  não  pas- 
sam do  mar  do  Ponente,  a  que  Ptholo- 
ineu  chama  a  enseada  Sabarica,  á  outra 
Perimulica  do  Levante,  mas  moram  as 
de  cá  obra  de  quarenta  léguas  de  Mala- 
ca junto  de  huma  Ilha,  a  que  os  nossos 
chamam  a  Polvoreira,  e  os  da  ten-a  Bara- 
la,  que  quer  dizer  casa  de  Deos,  por  ra- 
zão de  hum  antigo  templo  que  alli  esteve.» 
Idem,  Década  2,  liv.  6,  cap.  1. — «Man- 
dado este  junco,  por  razão  de  huma  co- 
roa que  fazia  o  rio  ante  de  chegar  á  pon- 
te, não  pode  passar,  nem  outro  navio 
mais  pequeno,  que  a  este  fim  mandava 
na  sua  esteira,  e  isto  por  as  aguas  se- 
rem mui  quebradas,  de  maneira,  que  foi 
necessário  esperar  que  viessem  as  vivas 
com  a  Lua  nova.»  Ibidem,  cap.  5.  —  a  A 
velha  como  era  namorada  delle  por  ra- 
zão da  idade  juvenil  que  tinha,  com  esta 
fabula  já  o  nào  amava  como  a  marido, 
mas  reverenciava  como  a   profeta,  e   co- 


meçou entre   as    vizinhas. 


e   amigas  em 


grão  segi-edo  denunciar  esta  santidade  do 
marido.»  Ibidem,  liv.  10,  cap.  6. «Fi- 
nalmente assi  estos  por  razão  de  seus  es- 
tados, como  03  outros  Mouros  de  toda  a 
costa  da  índia  por  causa  de  seus  com- 
mercios,  estavam  mui  assombrados  em 
ver  que  a  gente  Portuguez,  que  té  li  nào 
fizera  couta  do  habitar  na  índia,  com 
ter  tomada  aquella  Cidade,  começava  de 
lançar  raizes  de  sua  vivenda.»  Ibidem, 
liv.  7,  cap.  i.  —  «Mas  a  fortuna  o  fauo- 
receo  mães,  do  que  elle  desejaua :  cá  Xá 
Nosaradim  faleceo  na  guerra  em  que  an- 
daua,  e  seu  filho  que  o  snccedeo,  por  ra- 
zão delias  ficou  tào  desbaratado  e  sem 
forças  pêra  contender  com  Mamud  Xá,  e 
elle  tào  poderoso,  que  ousadamente  se 
intitxúou  por  Rey  do  Canará,  chamando- 
Ihe  Decan. .  Ibidem,  liv.  õ,  cap.'  2.  — 
«Segunda:  o  homem  he  huma  creatura, 
que  por  razaõ  de  sua  natural  constitui- 
ção, está  entre  os  xinjos,  e  os  brutos  : 
com  aquelles  convém  no  espirito,  e  ra- 
zão :   com  estes   no    corpo,    e    appetite. » 


Padre  Manoel  Bernardes,  Exercícios  es- 
pirituaes, part.  1,  pag.  389. 

—  Haver,  ser  razão;  haver,  ser    mo- 
tivo. 


Intz.    Praza  a  Dcos  que  algum  quebranto 

Mc  tire  do  captiveiro. 
Mãe.    Toda  tu  estás  aquella ! 

Chórào-te  os  filhos  por  pào  ? 
Intz.    Prouvesse  a  Deos :  que  ja  he  razão 

De  eu  nào  estar  tào  singela. 

GII,  VICEXTE,  FARÇAS. 


—  «Finalmente,  seidior,  quando  não 
houvera  nenhuma  outra  razão,  e  quando 
tuiio  o  que  vossa  magestade  tem  ordenado, 
não  fOra  tão  justo  e  tão  justificado  como 
é,  só  pelo  que  agora  direi  o  devia  vossa 
magestade  mandar  continuar  sem  mu- 
dança nem  alteiação  alguma.»  Padre  An- 
tónio Vieií-a,  Cartas,  n.°  15. 

—  Dar  razão  de;  dar  noticia. —  «D. 
Garcia  de  Menezes  que  era  Fidalgo  or- 
gulhoso, e  desejava  de  se  assinalar,  pe- 
dio  licença  a  D.  Pedro  da  Silva  pêra  hir 
tomar  aquella  peça,  que  lhe  elle  deu,  e 
fazendo-se  prestes  com  cem  homens,  e 
com  elle  Pêro  Vaz  Guedes  (de  quem  no 
primeiro  cerco  de  Dio  de  António  da 
Silveira  temos  dado  razaõ,  no  Capitulo 
decimo  do  livro  terceiro  da  quinta  Déca- 
da) e  outros  Fidalgos,  e  cavalleiros  que 
se  lhe  offerecèraõ  pêra  isso.»  Diogo  de 
Couto,  Década  (5,  liv.  9,  cap.  7. 

—  Termo  de  philosophia.  Razão  suffi- 
ciente;  diz-se  no  leibnitzianismo  da  cousa 
sem  a  qual  nós  julgamos  que  um  facto 
não  pôde  dar-se. 

—  Por  extensão  e  na  linguagem  geral, 
muitas  vezes  n'um  sentido  irónico,  o  que 
basta  para  produzir  um  effeito,  para  ope- 
rar. 

—  Qj-m  mais  forte  razão ;  com  motivo 
mais  forte. 

—  Ter  razões  com  alguém,  travar-se 
de  razões  com  alguém;  contestar,  dispu- 
tar,  injuriar-.se. 

—  Trazer  a  razão,  ou  metter  era  ra- 
zão ;  apaziguar,  socegar.  os  que  altercam, 
contendem,  disputam  entre  si. 

—  Razão  d' estado;  motivo  politico,  mo- 
do d'obrar  conforme  á  politica. 

—  Razão  d' estado;  governo  politico  do 
soberano  e  seus  miiiistros. 

—  Razão  d/ estado;  relatório,  exposição 
do  estado  d'uma  nação. 

—  Fazer  razão  d' alguma  cousa;  to- 
mal-a  como  motivo,  pretexto,  justifica- 
ção. 

—  Seia  razão  ;  sem  motivo,  sem  cau- 
sa ;  sem  justificação. 


Favor  ao  ocioso  nào  concede 
Fortuna,  nem  o  nega  ao  diligente. 
Porque  sem  razão  a  outrem  favor  pede 
O  que  para  si  mesmo  he  negligente. 
Se  acaso  a  diligencia  mal  succcdc 
Ao  menos  o  que  a  usou  fica  contente, 


Utí 


liÁZÁ 


K.VZA 


1{.\Z<» 


K  a  8ua  advoi'HÍ(l!i(lc  biiiii  dti4(:ul|>a 

Com  vitr  i|iio  dii  tortuiin  ho  toda  n  culpa. 

r.   UK  AXDUAIIB,   l'l(IMKIIIO    CKHOO  I>K   IIIU,  Oailt. 

',1,  ci*t.  á. 


—  uQiifUi'l()  cii  (ligo  ii  Senhoril  Coii- 
(loyn  l'';il)ri(:i;i  (|iiií  tuiiilxim  o  Lolw  llio 
liíilo  upiiiirrccr  no  matu  iiAo  lio  M-m  ra- 
zão.» (!iiviilloiri> 'l''»liv(iii;i.  Cartas,  liv. 
1,  11."  02. 

—  Sulj.stantivnmcnto :  íb'<;/«-razão ;  coii- 
•sa  coiitrii  razilu,  iiílo  motivaila,  nild  jus- 

tilicjiilii. 


l)i;rt,)r«rtoH  o  cS'iui?(!Íinciito, 
r|iicitii  contr'ollcs  wi  dofondo, 
não  oa  oiiito,  ou  iiíio  ciitcndo 
onde  cliogii  líi^ii  tormento  : 
iimn  piTii  fiuciii  sinto  a  ponii 
inda  ó  mrtr  a  st-m  raz'w, 
((uorordiis,  quo  o  cA  mortii  ordena, 
»i!  tomo  por  galardão. 

V.    I>K   MOIl\K8,    r.VLMKlBlM    I)'l.N<ll..MKlllU , 

cap.  10',). 


—  kEu  a  Nliay  Nivolau  i)obro  mollicr, 
ava,  e  serva  iloi^te  orfaõ  minino  to  po(,'o 
com  la,>íi'imas  prostrada  diante  de  ty, 
com  aquelle  acatiimeiito  quo  se  te  devo 
como  a  senhor,  que  não  arrri([uos  tua  es- 
pada contra  minha  fraqueza,  porque  sou 
inolher  que  mo  não  soy  defender,  nem 
aey  mais  que  chorar  diante  de  Deos  a 
sem  razão  quo  se  mo  tizor,  a  cuja  divina 
natureza  he  tào  próprio  socorrer  com  mi- 
sericórdia, e  castiiíar  com  iusti(,'a.»  Fer- 
não jMendos  Pintn,  Peregrinações,  capi- 
tulo lõ-i. 

—  Toi-mo  de  mathematica.  Relayào  de 
uma  quantidade  a  outra.  Progressão  que 
segue  por  razào  arithmotica,  por  razão 
geométrica.  A  razão  daítrac^ào  é  dire- 
cta quando  se  consideram  as  massas,  e 
inversa  quando  se  consideram  aa  distan- 
cias. 

—  Miiilia  e  extrema  razão;  propor(,'ão 
na  qual  um  todo  está  para  uma  das  suas 
partes  como  esta  está  para  a  segunda. 

—  Primeiras  e  nltin>as  razões ;  nomo 
d'uma  tlieoria  ct^lebre  de  Newton. 

—  Termo  de  banco  c  do  commercio. 
Nomos  dos  associados  ordenados  e  enun- 
ciados da  maneira  determinada  pela  so- 
ciedade. 

—  Razão  soci<iI;  nome  sob  o  qual  uma 
sociedade  é  conhecida  iia  pracja  do  com- 
mercio. 

—  Livro  lie  razão  ;  livro  cm  que  o  ne- 
gociante lani,'a  as  suas  despezas  por  deve 
e  haver;  clianiado  também   livro  utestre. 

—  Relatório,  memorial. 

—  Figuradamente : 

Sois  mui  janolnira ;  não, 
não  quoro  iisâi,  d'aqui 
vos  comedi 

nnu9  ooni  minha  condi(;ào. 
que  ('•  outra  adii;i\o  por  si 
do  mou  livro  do  ntz~io. 
AiiTONio  raesiEs,  actos,  pag.  241. 


--  Na  razão  de,  loc.  i^rfposicionai ;  na 
(pianlidado  de.  —  A  cume  fui  disiribui- 
da  nu  razão  de  meio  arraiei  jx/r  caberia. 

—  Km  razão  '/*',  l'>c.  j)rcjM>HÍcional ; 
cm  virtude  de,  |)or  motivo  dn,  por.  — 
Em  razão  dn  preru  eleruflo  do  triyo  jjou- 
CO  comitrei.  —  Juit  razão  d'ellfí  estar  de 
coin/jaiikin  não  f/ude  fallar-Uu.. 

Km  razão  de ;  cm  propor(;ão  de. 

—  Km  razão  directa  ;  augmentando  ou 
diniiuuimlo  lui  razão  (\w  uma  outra  quan- 
tidade augiMonta  ou  diminuo.  —  Ou  cor- 
po» attrahem-He  na  razão  directa  das 
mufuaii.  —  A  velocidade  dum  corjio  que 
cahe  extá   na  razão  directa  do    tempo. 

—  Km  razão  inversa;  augnniutaiido  ou 
diminuindo  na  razão  quo  uma  outra  quan- 
tidade diminue  ou  augmenta.  —  Os  cr/r- 
pos  attrahem-sc  lui  razão  inversa  do  c/iia- 
drado  das  dist^mcias.  —  As  obras  litte- 
rurias  são  estimadas  rui  razão  invejosa  do 
sen  mérito  real. 

—Razão ;  parentesco.  =  Diz-se  também 
razão  de  parentesco.  —  «Então  pondo  os 
olhos  nellc,  vendo-o  tão  moço,  dizia  :  Por 
certo  eu  não  sei  como  em  tão  tenra  idade 
haja  tamanhos  feitos ;  nem  posso  crer 
senão  que  o  favor  dos  deuses  ora  do  sua 
parte :  c  não  d  muito  pêra  duvidar,  por- 
que a  natureza  deste,  segundo  sua  fer- 
mosura  é  conforme  á  dellos  mesmos,  por 
oudo  creio  que  «alguma  razão  ou  paren- 
tesco tem  com  algum  dclles.u  Francisco 
de  Moraes,  Palmeirim  d'lQglaterra,  cap. 
lio. —  «Isto  é  natural  de  todolos  apar- 
tamentos, em  especial,  quando  são  pes- 
soas com  que  se  tom  alguma  razão  e 
amizade,  que  antre  estes  sempre  amor 
faz  fazer  extremos.»   Ibidem,    cap.    12ÍI. 

—  Razões ;  conversações,  palavras,  dis- 
cursos, argumentos.  —  Uesta  maneira 
cada  um  passava  outras  razões  com  quem 
llie  dizia  o  desejo;  quem  não  achava  com 
quem  as  passar,  occupada  a  fantesia  em 
todas  partes,  não  sabendo  onde  a  affir- 
masse.»  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
d'Inglaterra,  cap.  120.  —  «E  oliiando  a 
.Vlbayzar  miudamente,  lhe  pareceu  bem 
feito,  c  aparelhado  pêra  grandes  obras, 
e  desejava  havor  batalha  com  elle,  por- 
que lhe  lembrava  as  razões  que  ambos 
passaram  no  eastelh»  de  1  Vamorante-<>- 
Cruel.»  Ibidem,  cap.  lL'i3. —  «Não  que- 
ria houvesse  em  viks  tacha  pêra  perder 
isto,  ou  cousa  que  me  dê  pejo  commetter 
a  quem  vos  possa  merecer :  peço-vos  me 
tenhais  polo  mais  certo  amigo  do  mundo ; 
apartai  de  vcis  esse  outro  pensamento, 
que  isto  é  o  que  vos  cumpre.  Acabadas 
estas  razões,  a  tomou  pola  mão,  o  tornou 
com  elJa  onde  as  outras  dormiam.»  Ibi- 
dem, cap.  124. 


t"on>  morcõs  sumptuosas  mo  agradeço, 
K  com  rii:òrx  me  louva  cst^i  vontade ; 
Quo  a  virtude  louvada  vive  e  croce,, 
K  o  louvor  iilto»  casos  persuade. 
cA«.,  n'í.,  caut.  4,  est.  81. 


—  «Ao  Nantaquim  parecerão  tào  boau 
estíw  razOes  do  co*Mayro  que  entrou  logo 
no  junco,  e  mandou  ao»  ("CUJ»  que  por  «e- 
reiíi  iiinytoH,  uíto  entrfitwein  mais  que  o» 
que  elle  dissense.»  PVrnâo  MeiídcK  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  l'A'A.  —  «No  que  ou- 
ue  poui-o  que  fiizer,  porque  cMtremada- 
niíinti-  era  iinigo  de  Oliristãos,  c/>iii  »» 
qual  xarapho  tractou  o  negocio  |H!r  tao* 
termos,  qu«  com  os  me(>mo«  argumentos, 
e  razões  mudaram  cl  K<»i  de  propo«it<i 
em  que  estaua  de  maneira  qne  alenta- 
ram todo.s  três  de  se  alevantarem  com  a 
cidade  depois  de  se  Diogo  lopez  ir,  e 
matarem  todollos  Portugueses  que  nella 
acliasceni.»  l>ainião  <!«  íio«-.«,  Cbronica 
de  D.  Manoel,  |>art.  4,  cap.  <i8. 

—  Dinheiro  de  razão  ;  dinheiro  dado  a 
juros  de  tintos  pf)r  ceTito.  =r  LocuçAo 
desusada. 

—  Fazf-r  n  razão ;  corresponder  ao 
brinde,  á  saúde.  =  Ix>cuç3o  cahida  em 
desuso. 

—  Knrher-se  de  razão ;  esperar  com 
paciência,  com  resignação  o  momento  de 
justiça, 

—  PROVF.HBin: 

—  A  razão  mata  raz3o;  os  raciocínios 
destruem  outi-os  raciocinio» ;  boas  acções 
são  suffocadas  pelo  raciocínio. 

A  razão  mata  a  razno 
como  IA  dizem  :  ora  emfiin 
não  lia  %'ilão  »rm  ruim, 
nem  ruim  som  ser  vilão. 

A.1TOS10  PBi:srES,  AlTUS,  p«g.  253. 

RAZENTE,  adj.  .\ntiga  f.rma  de  Re- 
cente. --=--  Empregada  no  Cancioneiro  de 
Rezende. 

RAZIMO,  ».  m.  Outra  f/irma  de  Raci- 
mo,  usada  por  alguns  clássicos  como  V<a- 
briel  Pereira  «le  Ca«tro,  forte  Real,  etc. 

RAZO,  .«.  "1.  (De  rasot.  Antigo  estofo 
de  setim.  seda  ou  13  liso,  sem  desenhos  e 
d 'uma  si'i  c''>r. 

De  rnzn  verde  a  barra  tem  lavrada. 

M^xiiKi.  Tiiou.iz.  is«fHNk,  cjint.  3,  est.  *> 

RAZOADAMEHTE,  adv.  (\^c^  razoado, 
e  o  suffixo  «mente»'.  I>e  modo  razoado; 
conforme  á  razão;  juntamente;  equitati- 
vamente.—  «A  que  eram  obrigados,  se 
quiserem,  on  paguem  per  esta  moeda  cin- 
(luo  libras  per  humn.  que  vem  assy  ao 
que  pagava  pela  outra  moeda  de  trea  li- 
bras e  meia,  e  cruzados  cincoenta  libras, 
duzentas  e  cincoenta  libnís  per  esta  moe- 
da :  e  esto  jtarece  que  rszoadamente  se 
deve  de  fazer.  ]><'r  quanto  a  maior  jwrte 
das  cousas  iguabnente  fezen>m  esta  mul- 
tiplicaçom.»  Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit.  1. 
j}  36.  —  «Outro  sy  mandamos  a  vóe  Vaa*- 
qíio  Fernandes,  e  Armom  Botim,  que  co- 
mo cada  huma  dessas  Comarcas  tcverdes 
acabada,  e  feita  apnraç<Mn  em  ella.  qrte 
lojjo  nos  enviees  o  caderno  dos  becsteiros 


RAZO 


RAZO 


RAZO 


97 


que  iicarom  feitos  em  cada  Comarca,  de- 
olarando-uos  polo  miúdo  os  nomes,  e  as 
alcunhas  delles,  e  as  idades,  segundo  que 
vos  razoadamente  parecer.»  Idem,  liv,  1, 
tit.  G9.  í?  47. 

—  Proporcionadamente. 

RAZOADO,  ijarf.  pass.  de  Razoar.  Con- 
forme ás  regras  do  raciocinio.  —  Isso  ê 
mal  razoado.  —  Bevi  razoado. 

—  Que  é  o  resultado  do  raciocinio.  — ■ 
Um  dito  bem  razoado. 

—  Razoável,  conforme  á  razào,  admis- 
.«ivel,  justo.  —  «Pêro  vindo  despois  em 
algum  tempo  perante  Níj.s,  e  allegando 
por  sy  alguma  escusa  tal,  que  pareça  ra- 
zoada, e  offerecendo-se  a  lidar,  devemos- 
Ihe  de  conhecer  sua  razom,  e  fazer-lhe 
direito  com  acordo  da  nossa  Corte.»  Ord. 
Affons.,  liv.  1,  tit.  64,  §9.  —  «E  dize- 
mos que  poderá  jeralmente  cada  hum 
comprar  e  vender  livremente  moeda  de 
ouro,  ou  prata,  que  seja  verdadeiramen- 
te lavrada  na  nossa  moeda  do  crunlio 
nosso,  ca  nom  parece  ser  cousa  razoada, 
que  compra  ou  venda  de  tal  ouro  ou  pra- 
ta batida  na  nossa  moeda  seja  defeza  a 
pessoa  alguma  em  nenhum  caso.»  Idem, 
liv.  4,  tit.  1,  §  3. —  «E  pêra  os  ditos 
Escripvaàes  das  Camarás  averem  algum 
galardom  de  seu  trabalho,  qvie  em  ellas 
tomarem,  mandamos  que  por  todalas  Car- 
tas, e  escripturas  do  tempo  passado  atta 
ora,  que  assy  haõ  d"eserepver,  elles  se- 
jam satisfeitos  das  rendas  de  cada  hum 
Concelho,  segundo  razoado  for.»  Idem, 
tit.  24.  i?  o. 

f  RAZOAL,  adj.  (De  razão,  ou  antigo 
razom I.   F/irma  popular.  Razoável. 

RAZOAMENTO,  s.  »t.  (Do  thema  razoa, 
de  razoar,  com  o  suffixo  «mento»).  En- 
cadeamento de  diversos  argumentos. 

—  Discurso,  palavras  que  tem  um  fio 
lógico.  —  « Acabado  este  razoamento,  o 
Papa  se  leuantou,  levandolhe  Tristão  da 
cunha  a  faldra  ate  ha  sua  camará,  donde 
se  despediram  delle,  e  assi  se  acabou  esta 
segunda  vista,  e  logo  a  terça  feita  seguin- 
te forào  na  mesma  ordem  com  o  pre- 
sente, pêra  o  que  o  Papa  os  foi  esperar 
em  Belueder,  porque  o  Elephante  naõ 
podia  sobir  aho  paço.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  parte  3,  capitu- 
lo Ò2. 

—  Tratado,  descripçào,  narração.  — 
« E  quanto  a  dei  Rei  dom  Duarte  nam 
ai  duuidu  senam  que  o  texto  substancial 
delia  he  de  Feruam  lopez,  e  os  razoa- 
mentos  da  ida  de  Tanger  de  Ciomezea- 
nes  de  Zurara,  que  parece  que  por  o  vo- 
lume ser  pequeno  que  lhe  quis  acrecen- 
tar  aquelles  razoamentos,  com  o  enterra- 
mento dei  Rei  dom  loam,  que  conuinha 
a  terceira  parte  de  sua  Clironica.»  Da- 
niiiio  de  (!oes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  4,  ca)!.  38. 

RAZOANTE,  part.  act.  de  Razoar.  Que 
razoa . 

—  Que  tem  uso  de  razão;  racional. — 

VOL.    V.  —  13 


As  creaturas  razoantes ;  os  homens,  por 
opposição  aos  irvacionaes, 

=  Caliido  em  desuso. 

RAZOAR,  r.  n.  (De  razão).  Fazer  uso 
da  razão.  — Este  homem  razoa  muito  bem 
em  tudo. 

—  ProciU'ar  e  allegar  razões  a  respeito 
d'um  facto,  d'um  negocio,  d'uma  ques- 
tão. 

—  Discorrer. 

RAZOÁVEL,  adj.  (Do  latim  rationabi- 
lis,  de  ratio,  razão).  Que  é  dotado  de 
razão,  racional.  =  Cabido  em  desuso  n'es- 
te  sentido. 

—  Que  obra  segundo  a  razão,  o  direi- 
to, a  equidade.  —  Um  homem  razoável. 

• —  Fallando  das  cousas,  conforme  á  ra- 
zão, á  equidade.  —  Leis  razoáveis.  — 
Uma  conjectura  razoável. 

—  Que  se  accommoda  com  as  circums- 
tancias,  que  não  é  muito  exigente.  —  Vos- 
sê  exige  muito;  seja  tnais  razoável. 

—  Que  é  sufficiente,  conveniente.  — 
Acho  esta  casa  razoável  j^a^^  mim. 

—  Que  está  acima  do  medíocre.  — - 
Aquelle  homem  tem  uma  fortuna  razoá- 
vel. 

—  Moderado. — Preço  razoável. 
RAZOAVELMENTE,  adv.  (De  razoável, 

com  o  suflRxo  «mente»).  D 'um  modo  ra- 
zoável. —  Fazer  uma  cousa  razoavel- 
mente. 

— -Sufficientemente,  convenientemente, 
assas.  —  EUe  foi  razoavelmente  pago. 

— ■  D 'um  modo  acima  do  medíocre,  sof- 
frivelmente,  supportavelmente. 

RAZOEIRO,  s.  m.  Termo  antigo.  Vid. 
Racioneiro. 

RAZOM,  .í.  /.  Antiga  fúrma  de  Razão, 
usada  até  ao  século  XV  em  que  se  deu  lo- 
gar  á  firma  Razam,  d'onde  se  veio  á  se- 
guinte Razão.  —  «  E  o  escripvaõ  va  re- 
contar ao  Juiz  da  Alçada  a  Sentença, 
que  o  Juiz  Hordenairo  der  era  razom  das 
ditas  armas  cõ  toda  a  razom  da  dita  Sen- 
tença, e  prova  delia.  E  Mandamos  que 
o  feito  seja  trautado  perante  cada  hum 
dos  sobreditos,  presente  o  Nosso  Procu- 
rador, por  dizer  hi  pola  Nossa  parte  o 
que  pertence  ao  Nusso  direito,  correndo- 
se  a  Alquaidaria  por  Nos.»  Ord.  Affons., 
liv.  1,  tit.  31,  §  9.  —  «E  o  que  suso  he 
hordenado  em  razom  das  frontas,  que  os 
devedores  fezerom  aaquelles,  a  que  eram 
theudos,  que  recebessem  das  moedas,  que 
per  nós  era  mandado,  e  as  obraçoões,  c 
consinaçoões,  que  delias  fezerom,  manda- 
mos que  haja  lugar  nas  que  forom  feitas 
ataa  primeiro  dia  de  Janeiro  da  Era  de 
mil  e  quatrocentos  e  quarenta  e  dons  an- 
nos.»  Idem,  liv.  4,  tit.  1,  §  23.  —  «Que 
depois  por  alguma  razom  de  direito  seja 
desfeito,  ou  achado  por  nenhum ;  ca  em 
cada  huum  destes  casos  nom  averá  lugar 
esta  Ley,  mais  será  tornada,  e  restituída 
aquella  meesma  prata,  ou  ouro,  que  foi 
entregue,  ou  outra  tam  boa  assy  em  bon- 
dade de  forma,  como  de  matéria.»  Idem, 


tit.  2,  §  16. —  «E  per  nós  forom  dados 
aos  ditos  Prazentins,  e  muitas  razoões, 
que  perante  nós  pelos  sobreditos  de  hu- 
ma,  e  d'outra  parte  forom  ditas,  c  alle- 
gadas  sobre  esta  razom,  nós  com  acordo 
do  nosso  Conselho  por  bem  da  nossa  ter- 
ra, e  este  meesmo  dos  ditos  Mercadores 
Estrangeiros,  acordamos,  que  daqui  em 
diante  se  faça,  e  guarde  sobre  esta  ra- 
zom pela  guisa  adiante  escripta,  e  nom 
em  outra  maneira.»  Idem,  tit.  4,  §  1. — 
«  E  declarando  ainda  mais  acerca  da  dita 
Ley  dizemos,  e  mandamos  que  o  marido 
nom  possa  vender,  nem  enalhear  beens 
alguuns  de  raiz  sem  outorgamento  expi-es- 
so  de  sua  molher ;  e  posto  que  se  alegue 
que  essa  molher  outorgou  a  dita  venda, 
ou  enalheamento  caladamente,  mandamos 
que  tal  outorgamento  tácito,  ou  calado 
nom  valha,  nem  seja  alguum  recebido  a 
allegar  tal  razom,  e  outorgamento,  salvo 
allegando  outorgamento  expresso,  como 
dito  he.»  Idem,  tit.  11,  §  7.— «E  de- 
pois da  dita  obrigaçom,  passados  doos  an- 
nos  continuados,  outra  vez  novamente  se 
obrigou  pola  dita  obrigaçom,  oii  deu  por 
ella  fiadores,  ou  penhores;  ca  em  tal  ca- 
so, pois  passado  tam  longo  tempo  ella  ou- 
tra vez  novamente  se  obrigou  pola  pri- 
meira obrigaçom,  ou  deu  fiadores,  ou  pe- 
nhores por  ella,  nom  se  pode  com  justa 
razom  chamar  ao  benaficio  de  Valleano, 
nem  gouvir  delle  em  algum  tempo.»  Idem, 
tit.  19,  §  6.  —  «A  este  artipo  responde- 
mos, e  mandamos  que  os  Juizes,  e  Ve- 
readores, e  homeens  boõs  façaõ  suas  pos- 
turas, e  vereaçoões  em  esta  razom,  quaees 
entenderem  que  compre,  e  ouverem  por 
sua  prol.»  Idem,  tit.  29,  §  2.— «Por- 
que pois  de  seu  gi-ado  moraõ,  esguardan- 
do  em  ello,  que  nom  he  de  crer  que  ne- 
nhum tenha  nem  faça  despesas  sobre 
mancebos,  senom  em  aquelles  que  lhes 
som  compridoiros,  mandou  que  lhe  nom 
fossem  tirados;  porque  seria  sem  razom, 
pois  que  os  serviaõ,  e  queriaõ  com  elles 
viver  per  suas  vontades,  e  os  mester 
ham,  averem-lhos  de  tirar.»  Idem,  §  9. 
— « Quem  quer  que  demandar  per  razom 
de  sua  avoenga  alguum  herdamento  de 
tanto  por  tanto,  deve  logo  de  levar  os 
dinheiros  ao  Concelho,  e  deve  logo  fazer 
mostra  delles  quando  fezer  a  demanda 
perante  a  Justiça;  ca  se  logo  nom  mos- 
trar 03  dinheiros,  quer  todos,  quer  del- 
les, quando  começar  a  demanda,  nom  o 
pode  demandar  de  tanto  por  tanto.»  Idem, 
tit.  38,  §  9.  —  «E  póde-se  dizer,  que  nom 
seria  justa  razom  pêra  se  desfazer  alguã 
venda,  despois  que  fosse  de  todo  perfei- 
ta, por  se  dizer  pola  parte  do  vendedor, 
que  vendera  alguã  cousa  por  dez  libras, 
a  qual  avia  já  comprada  por  vinte  libras, 
ou  que  o  comprador,  que  lha  comprou,  a 
vendeo  depois  por  vinte  libras.»  Idem, 
tit.  45,  §  5. —  «Ou  em  mercee,  ou  em 
asseentamentos,  que  de  Nós  tenham  por 
razom  de  seus  casamentos,  ou  per  alguã 


9í? 


rkaí: 


TlKAF 


TíKAL 


outrn  f|Uiil(|itcr  razom;  porque  ncnimit 
das  dita«  couhhs  nom  (lueroiiios  (jao  J)Oh- 
Ham  flcor  ciialhoada»,  ou  aiionliadas  hciu 
iiostío  cHpecial  inaiidado,  (i  d'outra  f,'ui«a 
mandamos  rjiie  nom  vallia  quanto  liy  for 
foito.B  Mcm,  tit.  :>'■'>,  S  ^-■ 

RAZOURA,  s.  f.  Vid.  Rasoura. 

1.)  RE.  Tarticula  iJropositiva  quo  su 
colloca  no  principio  das  palavras  e  indi- 
ca ora  rcpetiçiío,  como  redizer,  rever, 
etc,  ora  volta,  ou  acto  retroactivo,  como 
reagir,  repellir,  ctc,  ora,  omfim,  repro- 
duz a  idêa  do  verbo  simples,  augmcn- 
tando-a,  ou  mesmo  algumas  vezes  sem 
valor  muito  sonsivel,   como  reluzir,  etc. 

—  Dá-so  familiarniento  a  um  verbo 
qualquer  o  sentido  reiterado  por  meio 
d'esta  particula.  —  Ltr  e  reler.  —  Gos- 
tar e  regostar. 

2.)  RÉ,  s.  /.  (De  reul.  Termo  do  fo- 
ro. A  mulher  demandada,  accusada. 

3.)  RÉ,  s.  /.  Termo  de  marinha.  O 
espaço  comprehendido  entro  o  mastro 
grande  o  a  popa. 

—  Figuradamente:  Deixar  pôr  de  ré 
toda  a  heróica  virtude;  <leixar  atraz  não 
fazendo  caso  d'ella. 

—  Loc.  KIGUIIADA  :  Estar  á  ré  do  cabo 
dejaqucte;  estar  para  traz  d'olle,  antes 
de  chegar  a  elle. 

4.)  RÉ,  s.  /.  (Do  fraucez  raye).  No 
jogo  do  aro,  risca  no  chào,  raia :  a  ré 
do  jogo,  é  a  primeira,  o  d'ella  se  princi- 
pia. Ha  outra  ré  do  cabo,  a  qual  a  bola 
deve  passar  para  ganhar. 

5.)  RÉ,  s.  7».  Termo  de  musica.  A  se- 
gunda nota  musical  depois  de  ut  ou  dó. 

Senhora,  olhao  para  mi 
quo  cu  não  quero  mais  espelho. 
Direis  como  diz  Joaquim, 
senhor,  só,  IA,  fA,  r^,  mi, 
porque  jA  eiou  perro  velho. 
Mas  cuido  que  ferro-volho. 

ASTONIO  PBESTES,   AUTOS,   p:Vg.    3-41. 

—  Ré-ménores. 

Solta  o  Critério  a  voz,  e  o  douto  exame 
Cala  pcloâ  ri!-méuorc8  ouvidos, 
Com  agrado  c  proveito,  até  ás  almas, 
Oudc  80  imprime,  e  guarda  longamente 
Sabor  das  eloquentes  iguarias. 

F.   U.    DO  NASCIMENTO,   OBRAS,  tOUI .    1,   pag.    .37. 

RÉ  A,   .«.  /.  o  mesmo  que  Ré. 

REABILITAÇÃO,  s.  f.  Vid.  Rehabili- 
tação. 

REABILITAR,  v.  a.   Vid.  Rehabilitar. 

t  REABSORPÇAO,  s.  f.  Nova  absor- 
pçSo. 

f  REABSORVER,  r.  a.  Absorver  de 
novo. 

REACÇÃO,  í.  /.  Termo  do  phvsica. 
AcçSio  opposta  a  uma  outra ;  resistência 
activa  a  um  esfort,'o  qualquer.  E  por 
reacção  que  o  corpo  elástico  comprimido 
resalta  á  altura  d'ondc  cabo,  e  quo  um 
corpo  abalroado  fere  um  outro  corpo  com 
a  mesma  intensidade  como  se  se  ferisse 


a  si  próprio.  10  mister  prestar  attonçSo 
a  este  principio  certo,  que  a  reacção  é 
egual  á  resistência  que  acha  a  acçjo,  ou 
que  um  corpo  que  encontra  outro,  soffre 
nas  suas  partes  a  mesma  compressilo  que 
proiluz  nrj  outro.  —  K  uma  lei  geral  da 
natureza  que  a  reacçãO  é  egual  e  contra- 
ria á  ac<;i!o, 

—  f^sforyo  que  se  levantou  cm  volta, 
por  uma  acçHo.  —  Nos  movimentos  phi/si- 
cos,  a  ac<;ão  é  sempre  seguida  de  uma 
reacção. 

—  Figuradamente  :  Opposiçílo,  acçSo 
contra    outra,    vingança  oppondo  forças. 

Melhor  dirias  rraii;ão  dos  habito.s 
C^ue  um  instante  vergou  a  natureza. 
-  -  «Avante!"  clama  o  torvo  mestre  «Avante  !• 
Como  ((uc  invergouliadi)  do  momento 
Que  involuntário  ao  corai;ão  cedera. 
oAiiBKTT,  cAiiÕF.s,  caut.  1,  cap.  11. 

—  Termo  de  equitação.  O  abalo  mais 
ou  menos  forte,  que  o  cavallo  ou  acção 
faz  experimentar  no  cavalleiro  que  o 
monta.  —  Reacções  agradáveis. 

—  Termo  de  chiinica.  A  manifestação 
dos  caracteres  di.stinctivos  de  um  corpo, 
proA'ocada  pela  acção  de  um  outro  corpo. 

—  Phenomenos  entre  corpos  actuando 
uns  sobre  os  outros. — As  reacções  ge- 
raes  que  tem  logar  entre  os  metaes  e  os 
ácidos. 

—  Termo  de  phvsiologia  e  pathologia. 
A  acção  orgânica  que  tende  a  contraba- 
lanccar  a  inlluencia  do  agente  morbirico, 
cm  virtude  do  qual  ella  foi  occa.sionada. 
Algumas  vezes  toma-se  também  pelo  acto 
cm  virtude  do  qual  um  orgào  irritado  de- 
termina a  actividade  normal  ou  mórbida 
de  um  outro  órgão  que  se  diz  também 
irritado  sympathicaniente. 

—  Km  .sciencia  social,  acção  contraria 
suscitada  por  uma  acrào  antecedente. 

REACCENDER,  ou  REACENDER,  v.  a. 
Tornar  a  accender. 

—  Emprega-se  também  no  sentido  fi- 
gurado. 

—  Reaccender-se,  c  ivfi.  Tornar  a 
accender-.so. 

-]-  REACCIONÁRIO,  A,  nc/y.=  Neologis- 
mo. —  Poder  reaccionário.  —  Espirito 
reaccionário. 

—  Substantivamente  :  Os  reaccioná- 
rios. 

REACCUSAÇÃO,    s.    /.    Recriminação. 

REACCUSADO,  part.' pass.  de  Reaccu- 
sar. 

REACCUSAR,  '■.  a.  Recriminar  ao  que 
aecusa. 

REACENDER,  c  a.  Vid.  Reaccender. 

REACTIVO,  A,  adj.  Vid.  Reagente, 
termo  ni.iir>  em  uso. 

READILHO,  s.  m.  Espécie  de  droga  do 
lã  e  do  .soda. 

f  READMISSÃO,   .V.  f.  Nova  admissão. 

REAFIRMAR,  ou  REAFFIRMAR,  v.  a. 
Aflirmar  de  novo.  =  Termo  pouco  em 
uso. 


—  Firmar,  dar  mais  tinneza. 
REAGENTE,    adj.   2   gen.   Que    reage, 

que  i'iii  p  acção.  —  Eorçn  reagente. 

—  J'ajjKl  reagente. 

—  S.  VI.  Termo  de  chlmica.  Nome 
dado  aos  corpos  quo  jjor  sua  energia  c 
diversos  phenomenos  manifestam  em  pou- 
co tempo  a  existência  do  alguns  outroa 
corjjfjs  desapercebidos.  —  A  pvtaisa  t  um 
reagente. 

REAGGRAVAÇAO,  s.  f.  Acto  de  reag- 
graviir. 

REAGGRAVADO,  /'urt.  pcwi.  de  Reag- 
gravar. 

REAGGRAVAR,  v.  a.  Tomar  a  aggra- 
var,   fa/.i:r  novo  aggravo. 

REAGIR,  V.  H.  ("Do  latim  reagere.. 
íOxercer  a  reacção,  oppôr  a  uma  acçào 
uma  outra  contraria  sobre  um  outro  cor- 
po cuja  acção  recebeu.  —  Tudo  está  rm 
movimento,  tudo  actua,  e  tudo  reage  n/t 
natureza. 

—  Termo  de  chimiea.  Diz-se  da  reac- 
ção que  os  corpos  combinando -se  exercem 
uns  sobro  os  outros. 

REAGRADECER,  v.  a.  Tornar  a  agra- 
decer. 

—  .\gradecer  frcqnentemonter 

1.)  REAL,  adj.  2  gen.  (Do  latim  re/fn- 
lis,  de  rex).  De  rei,  ou  soberano.  — Au- 
ctoridade  real.  —  «E  sendo  isto  assi  bem 
se  deixa  ver  como  não  avia  congregações 
de  Concilio.-»,  nem  erecçoens  de  novos 
Bispados,  sem  authoridade,  o  particular 
assenso  da  Sè  Apostólica,  como  jà  to- 
qucy  acima,  contra  opinião  de  algtm» 
que  imaginào  se  fazia  tudo  por  authori- 
dade Real,  e  dissimulação  dos  Summr>3 
Pontiticcs,  contemporizando  com  a  ne- 
cessidade do  tempo.»  Honarchia  Lusita- 
na, liv.  6,  cap.  19. 

Vi  ase  alli  nos  ares  a  rtal  auc 
Que  a  luppitor  leuou  o  -bcUo  moço. 
Das  aguda,^,  crucia,  vnhas  soltando 
Xo  miscro  castello,  huma  fresca  Truta. 
Pergunta  o  Capitão  aquella  estranha 
Millagrosa  auentnra,  e  que  lhe  diga 
O  succ^âso  que  teve  aquclle  duro 
Espantoso,  apertado :  estreito  cerco. 

COHTK  BE.VL,  SAITEAGIO  DE  SEPVLVEOA ,  C*nt.  13. 

—  iX-i  denotação  da  Real  dignidade 
quo  somente  cõpete  á  pcsso.i  do  Rey, 
donde  ao  que  ora  reina  na  Pérsia  sendo 
seu  próprio  nomo  Tamáz,  antcpíie  c*ta 
piírte  Xá.  dizendo  Xatamáz,  como  se  dis- 
scs.sem  o  senhor  Tamáz,  ou  como  dizem 
a  el-Rev  de  França.  Xira.»  João  de  Bar- 
ros, Década  4.  liv.  2,  cap.  4.  —  •  Porque 
onde  entra  esta  palaura-Raja-,  que  he 
deriuado  do  nouu»  real,  tica  na  peá.soa  a 
quem  o  Rcv  dá,  como  acerca  de  nôs  o 
titulo  de  conde  :  o  e-ta  denotação-Tuam- 
como  cá  dizemos :  Dom,  e  este  ee  põem 
ante  do  nome  próprio  da  pessoa,  e  o  ou- 
tro no  tim  delle,  segundo  vemos  nestes 
dous  laos  Vtimnti  Raja.  e  Tuam  Colas- 
car.»  Idem,  Década  6,  lir.  2,  cap.  3. — 


liEAL 


REAL 


REAL 


99 


II  No  estrado  de  todo  cima  estava  huma 
imagem  de  mulher  feita  de  prata  assen- 
tada em  huma  cadeira  Real,  e  na  cabeça 
tinha  coroa  d'oiiro  a  moda  de  Empera- 
triz.»  Barros,  Clarimundo,  liv.  2,  cap. 
2õ.  —  «Andando  assi  trauada  a  pelleja, 
deu  a  maré  lugar  as  duas  gales  pêra 
chegarem  a  força  do  combate,  onde  o 
Vicerei  deceo  em  terra,  com  a  bandeira 
Real,  acompanhada  da  sua  gente,  e  da 
de  Tristão  da  Cunha,  que  por  andar  mal 
disposto  ficou  na  gale.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  2,  cap.  24. 

—  «Emparelhadas  as  gales  com  hum  ba- 
luarte, e  tranqueiras  que  era  o  mais  for- 
te da  cidade,  se  começou  de  huma,  e  de 
outra  parte,  hum  medonho  jogo  dartelha- 
ria,  e  o  mesmo  se  fez  das  carauellas,  e 
nãos  depois  que  chegaram,  no  qual  ins- 
tante teue  o  Vicerei  tempo  pêra  dos  ba- 
teis sair  em  terra,  elle  primeiro  com  a 
bandeira  real,  que  assi  o  tinha  ordena- 
do.» Ibidem,  part.  2,  cap.  38.  —  «Sai- 
ram  em  terra  com  a  bandeira  Real,  e  por- 
que estaua  ordenado  que  se  cometesse 
huma  tranqueira  que  estaua  de  longo  da 
praia  per  três  lugares,  e  que  Afonso  dal- 
buquerque  fosse  cometer  a  porta,  que  se 
agora  chama  dos  Bacharéis,  que  he  da 
banda  do  sertam.»  Ibidem,  part.  3,  cap. 
11.  — •  «Feita  esta  presa,  Xuuo  fernandcz 
tomou  seu  caminho  pêra  çaíim  leuando  a 
dianteira  o  Adail  Lopo  barriga,  e  ha 
bandeira  real  Aluaro  dataide,  e  em  boa 
ordenança,  com  toda  sua  companhia.» 
Ibidem,  part.  4,  cap.  6. 

Eutrou  ha  inais  triumpliosa, 
mais  real,  mais  grandiosa, 
que  nunca  se  ^^o  entrada, 
sahio  mnv  desesperada, 
muy  tristOv,  muvto  chorosa. 

G.iRCI.4.  DE  REZEXDE,  MI5CELL.VSEA. 

—  «E  0  Conde  de  Penamacor  se  aco- 
Iheo,  e  lançou  logo  na  dita  sua  Yilla.  E 
quando  el  Rey  hia  ao  Sabugal,  como  ao 
diante  se  dirá,  tornandose  el  Rey  de  Cas- 
tello  branco  para  Santarém,  o  dito  Conde 
com  seguro  real  lhe  revo  falar  no  lugar 
das  Cortiçadas,  que  se  ora  chama  Pi-oen- 
ça  a  nona,  e  porque  se  não  quis  por  a 
direyto  como  el  Rey  queria  se  despe- 
dio  delle,  e  de  seus  Reynos,  e  com  sua 
molher,  e  filhos  se  foy  pêra  Castella.» 
Liem,  Chronica   de  D.   João  II,  cap.  54. 

—  «O  qual  recado  veo  a  el  Rev  es- 
tando em  Santarém,  que  foy  disso  con- 
tente, e  lhe  deu  sua  bandeyra  real,  e 
em  tudo  se  fizerão  firmes  contratos,  que 
muyto  inteyramente  cumprirão  sempre 
em  quanto  el  Rey  viueo.»  Idem,  Ibidem, 
cap.  60. —  «Chegando  assim  ao  Paço, 
entraõ  na  Salla  Real,  onde  ElRey  está 
em  seu  Troaio,  e  lhe  fazem  Imma  pratica 
em  seu  louvor ;  dando  as  razoens  poi-que 
ElRey  lhe  concede  aquella  dignidade : 
depois  pondo-se  o  novo  Duque  de  joelhos 
diante  d'ElRev,  lhe  mete  a  bandeix'a  na 


mão,  e  lhe  põem  o  Coronel  na  cabeça.» 
Severim  de  Faria,  Noticias  de  Portugal, 
Disc.  3.  —  «Posto  na  dignidade  real,  Diz 
Beroso  que  o  principio  de  seu  Reyno  foy 
no  anno  cento  e  trinta  e  hum  depois  do 
Diluuio  em  Babylonia  primeira  Cidade 
Tretrapóly;  que  quer  dizer  quadrada.» 
Fr.  Gaspar  de  S.  Bernaixlino,  Itinerá- 
rio da  índia,  cap.  18.  —  «E  se  o  delicto 
fosse  contra  a  mesma  pessoa  Real,  parece 
que  nem  a  pena  de  morte  seria  propor- 
cionada a  tal  delicto.»  Padre  Manoel 
Bernardes,  Exercícios  espirituaes,  pa- 
gina 91. 

Um  só  do  hom'ada  fama,  inda  virtuoso 
E  portuguez  ainda,  conservava 
No  ânimo  real  leve  influencia. 
GARRETT,  CAMÕES,  caut.  6,  cap.  5. 

—  Fazenda  real. — «Olhaõ  para  o  ap- 
plauso  da  valentia,  e  as  medi-as,  dos  que 
se  empenhaõ  nellas,  lancaõ  hum  véo  pe- 
los olhos  de  bizarria  a  todos,  e  outros 
de  lizonja  sobre  a  ruina  da  fazenda  Real, 
que  paga  as  custas  ;  e  os  lavradores  cho- 
rão, o  de  que  se  fieaõ  rindo  os  pilhantes, 
que  nesta  agoa  envolta  saõ  os  que  mais 
pescaõ.»  Arte  de  furtar,  cap.  56. 

—  Veado  real ;  veado  grande. —  «Achei 
hum  veado  real  com  huma  cornadura, 
muy  bem  esgalhada.»  Galvão,  Tratado 
da  gineta,  pag.  323,  em  Bluteau. 

—  Estandarte  real.  • —  «Com  os  que 
mandou,  e  com  os  que  vieraõ  das  outras 
Provindas  sahio  em  campanha  o  Conde 
de  Yilla-Flor,  e  buscando  os  inimigos  os 
desbaratou,  e  venceo  ganhando  huma 
completa  victoria  com  grande  mortanda- 
de, e  maior  numero  de  prisioneiros,  fi- 
cando-nos  também  o  Estandarte  real  de 
Castella.»  Frei  Bernardo  de  Brito,  Elo- 
gios dos  reis  de  Portugal,  continuados 
por  D.  José  Barbosa. 


Que  tive  agora 
00 'o  senhor  Thomaz  de  Lemos 
real  passo,  entrudo  fora. 

ASTOOTO  PRESTES,  AUTOS,  pag.    119. 

— -  Figuradamente  :   O  throno  real   do 
entendimento. 


Lembra-me  aquclle  ousado  pensamento 
Que,  como  Joroboão,  se  alevautou 
Contra  o  throno  real  do  intendimento. 

FERNÃO  SOROPITA,  POESIAS  E  PROSAS  ISEMTAS. 


—  Armada  real.  —  «De  Santo  Antó- 
nio de  Pádua  D.  Fernando  Mascarenhas 
Marquez  de  Fonteira,  e  Conde  da  Tor- 
re. De  S.  Francisco  de  Borja  Yictorio 
Zagallo  Almirante  que  havia  sido  da 
Armada  Real;  e  de  Santo  António  de 
Flores  D.  Joaõ  de  Castro.»  Frei  Bernar- 
do de  Brito,  Elogios  dos  reis  de  Portu- 
gal, continuados  por  D.  José  Barbosa. 


—  Galé  real ;  a  de  maior  porte  da  ar- 
mada. Vid.  Bastardo. 

—  Ovos  reaes,  manjar  real,  salsa  real ; 
guisados  de  confeitaria,  e  cozinha,  co- 
nhecidos por  este  nome. 

—  Próprio  de  rei,  peculiar  a  elle,  gran- 
de, generoso. 

—  Termo  antiquado.  Doença  real;  icte- 
rícia. 

—  Foi-te  real,  apparelho  real,  com- 
boyo  real ;  conduzido  por  forças  maio- 
res. 

—  Da  casta,  da  progénie  dos  reis. 


O  marqucz  de  Villa  Eeal 
Diria  lagrimejando : 
O  neto  dElEei  í'crnando, 
Todo  de  sangue  I/eal, 
Fera  bem  vos  seja  o  mando. 

GIL  VICEXTE,  OBRAS  VARIAS. 


—  «Acabada  venturosamente  esta  em- 
presa, fez  elRey  outra  contra  os  Vas- 
cons  onde  alcançou  riquos  despojos,  en- 
tre elles  huma  donzella  nobre,  e  de  san- 
gue real,  chamada  Dona  Munia,  com 
quem  depois  se  casou.»  Monarchia  Lusi- 
tana, liv.  7,  cap.  8.  —  «Por  certo,  don- 
zella, disse  o  imperador,  sempre  eu  da 
senhora  Targiana  cri  essa  virtude ;  e  se 
os  serviços  que  em  minha  casa  lhe  fize- 
ram, foram  poucos,  ao  menos  cuidarei 
que  foram  bem  empregados.  Este  aviso 
que  me  dà,  lhe  tenho  muito  em  mercê, 
que  de  tão  real  condição  e  sangue  não 
se  pode  esperar  outra  cousa ;  seu  conse- 
lho tomarei  eu,  porque  dado  de  tal  pes- 
soa e  com  tal  vontade  não  se  deve  d'en- 
geitar,  e  mais  sendo  tanto  em  meu  pro- 
veito e  honra.»  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  112.  —  «A. 
disse  o  das  Donzellas,  que  bem  sei  que 
esse  é  vosso  costume,  e  de  tão  real  con- 
dição não  se  pôde  esperar  ai.  Então,  to- 
mando nas  mãos  uma  lança,  das  que  so- 
bejaram da  justa,  abaixou  a  cabeça  em 
signal  de  cortesia,  e  fazendo  também  seu 
acatamento  á  rainha,  se  despediu  em 
companhia  de  suas  donzellas,  que,  ven- 
do sua  valentia,  cada  uma  se  perdia  por 
elle  e  elle  por  todas,  que  assim  era  seu 
costume.»  Ibidem,  cap.  124. 

—  Canas  reaes.  —  «E  dia  de  Sam 
loam  ouue  singulares  e  muyto  ricas  ca- 
nas reaes,  em  que  jugou  el  Rey,  e  o 
Príncipe,  e  todolos  senhores  que  na  cor- 
to estauão,  e  niuytos  fidalgos  que  passa- 
ram de  duzentos  de  cauallo  com  riquíssi- 
mos arreos,  c  atauios,  todos  vestidos  de 
brocados,  e  de  ricas  sedas,  muytos  bor- 
lados,  antretalhos,  e  canotilhos,  com  muy- 
ta  galantaria,  e  muy  gentis  inuenções.» 
Garcia  de  Rezende,  Cíironica  de  D.  João 
II,  cap.  131. 

—  Insigiiias  reaes. 

Vendo  este  bellicoso  ousado  Mouro 
Morto  o  uatiu-al  Rei  datjuella  terra, 


100 


RKAL 


UKAL 


UEAL 


Com  ajuda  (rulRuns,  tointt  o  thoMOuro 
QiKi  clli'  tinliii  iilli  junto  paru  a  giinrra  ; 
O  ijUiil  Hiiria  um  couto  c  moio  (rouro, 
S<;  a  fama  no  qui;  diz  dinto  uiln  kitu, 
IJttH  iiutigiiias  rcíjcit  itti  Hcrilioruia 
K  Rei  da  grilu  ('anihaiu  Hu  iiomniu. 

r.  D'AtiDaAui:,  puimkibo  cebcodk  dio,  cant.  8, 
C8t.  74. 

—  Forqna  reaes ;  força  do  rei,  força 
do  estado. —  «E  que  «a  forçua  Reaes 
acodem  a  mil  soccorros  de  úlem-mar,  de 
doudo  estaõ  outros  tantos  Portuf^juezcs, 
eomo  ha  no  Ileyuo  pouco  monos,  pedin- 
do eontlnuamonte  auxílios,  e  <|U0  naõ  lie 
bem  lhos  neguemos.»  Arte  de  furtar,  ca- 
pitulo G.'5, 

—  Segredos  reaes;  segredos  d'estado. 
■ — •  «Mas  eomo  os  segi^edos  Reaes  saõ 
grandes,  o  seus  intentos  governados  por 
vias  pouco  vulgares  na3  se  pôde  clara- 
mente eondemnar  sua  tcnçaõ,  posto  que 
lhe  naõ  approvomos  a  obra.»  Frei  Ber- 
nardo de  ]}rito.  Elogios  dos  reis  de  Por- 
tugal, continuados  p  >r  D.  José  Barbosa. 

—r  Direitos  reaes ;  as  rendas  da  co- 
roa. —  «E  trabalha  cada  hum  de  buscar 
ha  vida,  porque  ho  que  ganha  livremen- 
te ho  goza  o  gasta  na  sua  vontade,  e  ho 
que  lho  fica  per  morte  hc  dos  filhos  e 
netos,  pagando  soomente  direitos  reais, 
assi  dos  frutos  que  colhem  como  das  fa- 
zendas cm  que  tratam,  que  nam  sam  pe- 
sados.» Frei  Gaspar  da  Cruz,  Tratado 
das  cousas  da  China,  cap.  10.  —  «Mas 
estes  como  seja  gente  popular,  ainda  que 
ocupada  n<is  tratos  da  terra,  parece  que 
nam  devem  bem  saber  ha  verdade  disto, 
c  que  niayor  deve  ser  ha  suma  que  se 
colhe  dos  direitos  reaes,  porque  he  ha 
terra  muy  grossa,  c  as  mercadorias  mui- 
tas e  muito  grossas.»  Ibidem,  cap.  11. 
—  «Primeiramente,  que  EUlev  lhe  daria 
huma  Yilla,  c  de  presente  lhe  deo  logo 
o  lugar  da  Pereira  com  todos  os  direitos 
Reaes,  que  nolle  tinha.»  Severim  do  Fa- 
ria, Noticias  de  Portugal,  Disc.  2. 

2.)  REAL,  (idj.  'J  gcn.  (Do  latim  rea- 
lis,  de  res).  Que  tem  existência  verda- 
deira, que  tom  ser,  que  niío  é  imaginá- 
rio. 

Pcço-vo9,  pois  que  o  paristes 
Ucos  o  houieni  natural, 
Que  a  esta  alma  Heal 
Deis  o  bom  que  descobristes 
Etornal. 

GIL  VICENTE,  OBBAS  VABU6. 

—  «E  quanto  a  dizer,  qnc  está  de  pos- 
se, a  sua  mental,  o  civil,  e  a  minha  real, 
actual,  pessoal,  c  corporal ;  e  cm  quanto 
de  mim  a  niio  teve,  a  sua  posse  era  ne- 
nhuma, porque  de  mim  a  houvera  de  ha- 
ver.» Diogo  de  (,'outo.  Década  4,  liv.  2, 
cap.  10.  —  «Nos  quaos  todos  em  caual- 
los,  arnosos,  paramentos,  cimeiras,  le- 
tras, e  lanças,  moços  dcsporas,  e  todalas 
outras  coiusas  de  justa,  ouue  tant;v  rique- 
za, galantaria,  iuuenções,  tudo  em  tanta 


pcrfeiçilo,  quo  muyto»  justadorcB  velhos, 
e  de  muytas  partoN  que  ahy  erilo,  que 
j;i  viríio  outras  muytas  justas  reaes,  ne 
maraiiiliiar.^o  muyto  destas,  e  doziiUj  que 
nuuea  tal  cuidar.ío  de  v(!r.»  liarcia  de 
liezende,  Cbronica  de  0.  João  II,  cap. 
12^.  —  «Se  08  vaticioioa  que  »c  imagi- 
utto  certos  tom  tantos  incoavonientes, 
quantos  devemos  supor  nos  que  silo  fal- 
sos podendo  elles  causar  hum,  e  muytoi 
dannos  reaes,  o  venladevrosVii  (lavalloi- 
ro  d'<)liveira.  Cartas,  liv.  1,  n."  44.  — 
oE  inda  que  ouue  alguns  Portugueses 
quo  quiseram  dizer  sem  certeza  que  ou 
Chinas  aprendiam  philosophia  natural, 
ha  verdade  he  que  nam  ha  nella  outros 
estudos  nem  escolas  gerais  nem  paiticu- 
lares,  senam  soo  o^  estudos  reais  das 
leys  do  reyno.»  Frei  Caspar  da  ("ruz. 
Tratado  das  cousas  da  China,  cap.    17. 

'^.1  REAL,  *.  »i.  iloeda  d'ouro,  prata 
e  cobre.  O  real  d'ouro  é  dos  principios 
da  monarchia,  assim  como  a  mealha  de 
ouro ;  c  dizem  80  lhe  deu  este  nomo  por 
nelle  se  achar  o  real  escudo  das  armas 
portuguezas.  O  real  de  prata  lavrou-o 
el-rei  D.  Joiio  i,  sempre  com  o  mesmo 
preço,  porém  cada  vez  menor  no  peso. 
Seus  succcssores  os  continuaram  até  D. 
Manoel,  cm  cujo  tempo  havia  reaes  de 
prata  com  o  valor  de  vinte  reis,  e  outros 
valiam  trinta  reis.  El-rei  D.  João  iii  con- 
tinuou os  reaes  de  prata,  mas  com  o  va- 
lor de  quai-enta  reis.  Tinham  os  mesmos 
cunhos  que  as  suas  moedas  de  quatro 
vinténs,  mudado  scimente  o  80  em  40. 
Lavrou  também  esta  moeda  el-rei  D. 
Joào  IV,  e  é  o  meio  tostão  que  no  pre- 
sente corre.  Na  camará  do  Porto  se  con- 
serva uma  carta  de  el-rei  D.  Joào  ll,  so- 
bre o  valor  das  moedas  d'ouro,  e  do  prata, 
que  mandara  la\Tar  no  anuo  de  1489,  e 
pela  qual  manda  que  o  real  de  prata 
fosse  de  vinte  reis,  e  o  meio  real  de  dez 
reis.  E  que  em  cada  marco  de  prata  haja 
114  peças  dos  ditos  reaes,  o  228  dos  di- 
tos meios  reaes.  E  que  fosse  o  preço  do 
marco  de  prata  1:280  reis,  que  é  o  preço 
de  seis  cruzados.  Também  havia  reaes 
antes  d'el-rei  D.  Affonso  v,  um  dos  quaes 
fazia  o  valor  de  3  livras  e  meia  das  an- 
tigas, que  sendo  de  3G  reis,  valia  o  dito 
real  126  reis.  E  deste  real  se  faz  ex- 
pressa menção  em  uma  carta  de  compra 
do  cabido  do  Ijamego  pelos  annos  de 
1404. 

Dos  reaes  de  cobre  uns  se  chamaram 
brancos,  e  outros  pretos.  Os  primeiros  fez 
lavrar  el-rei  D.  Duarte  c  D.  Affonso  v, 
o  se  disseram  brancos  pela  muita  liga  de 
estanho.  Os  quo  se  bateram  antes  de  1440, 
valiam  dez  ceitis,  e  três  quartos  do  cei- 
til ;  os  que  se  se  lavraram  até  o  anno  de 
1403,  valiam  um  real  e  dous  ceitis,  c  dous 
quintos  do  ceitil;  os  que  depois  se  la^^•a- 
ram  até  o  anno  de  14l>2,  valiam  um  real, 
um  ceitil,  e  um  quinto  do  ceitil;  e  tinal- 
mcnte  os  que  se  lavraram  desde  então, 


valem  seis  ccitÍR,  e  este  é  o  valor  do  prc- 
borite  real.  Porém  nos  contractos  de  com- 
pras, vcuda»,  obitoM,  etc,  os  contratantes 
se  faziam  uma  lei  ['articular  sobre  o  valor 
•Io  real,  e  ansim  como  algumas  vezes  de- 
claram, que  o  real  valia  3;"»  livras,  dizem 
outros,  que  o  real  constava  de  cinco  cei- 
tis. 

O  real  preto,  cUama<lo  a«HÍm  |jor  »er 
de  puro  cobre,  ffz  lavrar  el-rei  D.  Duar- 
te: dez  d'estc»  pretos  faziam  um  real 
branco.  E  d'aqui  vem  nos  pra»os  de  Al- 
macave,  e  outros,  e  já  nos  principioi»  do 
«eculo  XVI  SC  fez  larga  mençito  do  real 
de  det  pmlot.  \'alia  cada  um  jkjuco  mais 
de  um  Ceitil;  porém  os  que  se  lavraram 
no  anno  de  1473  valiam  Bi'imentc  in^ 
quintos  do  ceitil.  Para  evitar  tanta  con- 
fusão, desde  el-rei  D.  Joào  ll  até  D.  Joào 
III  se  lavraram  os  reaes  preto»  de  seis 
C'-itis.  Tinliam  do  uma  parte  um  Jíe  de- 
baixo de  uma  coroa,  e  de  outra  o  escu- 
do do  reino,  com  o  nome  do  rei  na  orla. 
D'esta  moeda  lavrou  também  meios  reaes 
el-rei  D.  Sebastião  com  valia  de  três  cei- 
tis; tinham  de  uma  parte  um  <S'  coroado, 
que  queria  dizer  Sebastiunus ;  da  outra 
um  ]i't  entre  dous  pontos  no  alto,  e  a  le- 
tra Stbastianus  I.'"  —  •  E  assy  mandamos 
quo  seja  quite  o  devedor,  que  offereceo, 
e  consinou,  e  dejKise  o  que  devia  da  moí- 
da antigua,  ou  nova,  como  dito  he,  a 
quinze  libras  por  huma,  per  estaa  nosi^as 
moedas,  que  se  fezcrom  dês  primeiro  dia 
de  Janeiro  da  Era  de  mil  e  quatrocentos 
e  trinta  e  seis  annos,  de  real  de  três  li- 
bras e  meia,  nos  casos  d 'atToramentos, 
emprazamentos,  arrendamentos,  censos, 
e  tributos,  e  outros  direitos.»  Ord.  Af- 
fons.,  liv.  4,  tit.  1,  §  12. —  «Mandamos 
que  as  penas,  em  que  encorrerem,  se  pa- 
guem pela  moeda  antigua,  ou  nova,  que 
so  fez  ataa  primeiro  dia  de  Janeiro  da 
Era  de  mil  e  quatrocentos  e  vinte  e  qua- 
tro annos,  ou  a  ([uinze  libras  por  huma 
desta  moeda  de  real  de  três  libras  e  meia, 
com  tanto  que  estas  penas  nom  possam 
crecer  mais  que  o  principal.»  Idem. — 
«E  se  forem  penas  postas  por  Foraacs, 
ou  Estatutos,  por  maleficios,  e  dapnos, 
que  se  comettem,  mandamos  que  pagnem 
per  moeda  antigua,  ou  nova,  como  dito 
he,  ou  cincoenta  libras  por  huma  desta 
moeda  de  real  de  três  libras  c  meia.* 
Idem,  ^  13.  —  tPero  se  alguum  deve- 
dor dos  contrautos  snso  ditos  se  obrigou 
expressamente  a  p.agar  moeda  antiga,  ou 
seu  vcnladeiro  valor,  em  e^ste  ca^o  man- 
damos que  pague  da  moeda  antigua,  ou 
nova,  que  foi  feita  ataa  postumeiro  dia 
de  Dezembro  da  Era  de  mil  e  quatro 
centos  e  vinte  e  três  annos,  ou  desta 
moeda  de  real  de  três  libras  e  meia,  oi- 
tenta libras  por  huma,  qual  o  devedor 
mais  quiser.»  Idem.  ij  IS.  —  «Em  todos 
os  contrautos.  que  forom  feitos  des  pri- 
meiro de  Janeiro  Era  de  quatrocentos  e 
trinta  e  seis  annos,  ataa  a  feitura  desta 


REAL 


REAL 


REAL 


101 


Ley,  pagTiem  liuma  libra  por  outra  des- 
tes reaes  de  três  libras  e^meia,  sem  fa- 
zendo differeuça  da  dita  moeda,  nem  da 
bondade  delia.»  Idem,  §  21.  —  «Item. 
Por  qualquer  cousa,  que  pag^avam  cor- 
rendo os  reaes  de  três  libras  e  meia,  an- 
te que  se  começasse  de  lavrar  a  moeda 
de  dez  reaes  huma  libra,  paguem  da- 
qui em  diaijte  cinquo  "libras.»  Idem,  § 
30. —  «Em  que  se  obriguarora  por  estas 
mediçoões  a  pagar  certos  dinheiros,  ou 
ouro,  ou  prata  pelas  moedas,  que  cor- 
riam nos  tempos  passados  ataa  primeiro 
dia  de  Janeiro  da  Era  de  mil  e  quatro- 
centos cincoenta  e  três  annos,  em  que 
se  começou  a  lavrar  a  moeda  de  dez 
reaes,  mandamos,  que  aquello,  por  que 
se  pagava,  correndo  a  moeda  de  reaes 
de  três  libras.»  Idem,  §  34.  —  «E  antes 
desta  Hordecaçom  soiam  de  pagar,  e  pa- 
gavam per  reaes  de  três  libras  e  meia 
huma  livra,  paguem  per  esta  moeda,  que 
ora  corre  de  dez  reaes  o  real,  três  libras 
e  meia  por  huma,  e  assy  do  mais,  e  do 
menos.»  Idem,  §  48. —  altem.  Manda- 
mos que  as  penas,  que  se  per  a  Horde- 
naçom  pagavam  cento  e  cincoenta  por 
huma,  se  paguem  per  esta  guisa,  a  sa- 
ber, 08  que  eram  per  moeda  antigua,  pa- 
guem quinhentas  por  huma,  e  os  que 
som  per  moeda  de  três  libras  e  meia,  pa- 
guem real  branco  por  real  de  três  li- 
bras e  meia.»  Idem,  §  Õ6. —  «E  segun- 
do as  pessoas  hv  moradores,  e  despesa 
suso  dita,  a  nós  parece,  que  os  vinte 
reaes,  que  a  cada  huma  pessoa  manda- 
vees  pagar,  era  em  tamanha  miútiplica- 
çom,  que  bem  se  mostra  esses  que  pa- 
gavaò  serem  aggravado?.»  Idem,  §  20. 
—  «Cóge  Atar  como  soube  que  os  nos- 
sos andauào  de  dous  em  dous  pela  cida- 
de comprando  estas  cousas,  mandou  cin- 
co ou  seis  homens  com  'algumas  linguoas 
com  xarafijs  de  ouro,  que  he  huma  moe- 
da que  vai  trezentos  reaes  dos  nossos.» 
Barros,  Década  2,  liv.  2,  cap.4. —  «Item. 
Que  por  sua  alma,  logo  quomo  falecesse, 
mandasse  dizer  três  mil  Missas,  pêra  que 
deixou  três  reaes  de  prata  de  lei  de  onze 
dinheiros,  de  que  cento,  e  dezasete  fa- 
zem hum  marco,  hos  quaes  reaes  sam 
hos  vinténs  de  prata,  que  agora  correm 
restes  Regnos,  que  vai  cada  hum,  vinte 
reaes,  de  seis  ceptís  de  cobre,  sem  liga, 
cada  real,  a  que  chamam  reaes  brancos. » 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Ma- 
noel, part.  1,  cap.  1.  —  «Mandou  forjar 
de  nouo  os  tostões,  que  saõ  os  quartos 
dos  Pertugueses  de  prata  com  a  mesma 
diuisa,  escudo,  letreiro  dos  Portugueses 
douro,  de  que  cada  tostam  vale  cinco 
vinténs  e  cada  vintam  vinte  reaes  bran- 
cos.» Ibidem,  part.  4,  cap.  86.  —  «Tem- 
se  isto  por  prodígio  grande,  e  por  mavor 
se  deve  ter,  que  aturem  os  soldados  me- 
zes,  e  mezes,  sem  receberem  hum  real 
de  soldo,  para  se  vestirem,  e  manterem.» 
^rte  de  furtar,  cap.  22. 


—  Real  e  vieio;  moeda  d'el-rei  D.  Se- 
bastião :  valia  nove  ceitis. 

—  O  mesmo  que  exercito,  ou  arraial, 
em  que  está  o  rei,  ou  o  general,  ou  a 
bandeira,  e  estandarte  real.  ■ 

—  O  mesmo  que  reis. 

—  Real  d' agua;  tributo  dum  real  que 
se  tira  na  carne,  vinho,  etc.,  para  os  ea- 
aos,  fontes,  e  seu  reparo. 

—  Termo  usado  nos  brados  da  accla- 
maçjvo  dos  reis.  —  Real,  real,  por  D.  Ma- 
ria II,  rainha   de  Portugal. 

—  Adágios  e  provérbios: 

—  O  avarento  por  um  real,  perdeu 
cento. 

—  O  escaco  do  real  fez  ceitil ;  e  o  li- 
beral de  um  ceitil  faz  real. 

REALÇADO,  part.  pass.  de  Realçar. 
Relevado,  que  sobresahe. 

—  Levantado,  superior. 

—  Emprega-se  também  no  sentido  íi- 
gurado. 

— ^  Termo  de  botânica.  ^  id.  Remon- 
tante. 

REALÇAR,  r.  a.  Avivar  a  cor  da  pin- 
tura, tornaudo-a  mais  clara,  como  acon.- 
tece  nas  partes  onde  dá  a  luz,  em  oppo- 
siçào  a  af.^ombrar  ou  a  escui-ecer, 

—  Figuradamente :  Dar  mais  realce, 
maior  apreço ;  elevar  a  mais  alto  grau. 

Pomposas  vestes  ao3  Monarcas  teces  ; 
Realças  com  tcug  dous  a  formosura ; 
De  imperceptível  fio  o  alcaçar  fúrmas. 

J.  A.   DE  MACEDO,  MEDITAçlo,  Cant.    3. 

—  Bordar  de  1'ealce. 

—  Realçar-se,  r,  refl.  Sobresahir. 
REALCE,   ou  REALÇO,  s.  m.  Termo  de 

pintiua.  A  parte  mais  avivada,  onde  fere 
mais  a  luz,  e  se  tem  feito  o  lavor  de  real- 
çar. 

—  Bordar  de  realce  ;  ftcar  o  bordado 
resaltado  sobre  o  panno,  ou  campo  em 
que  se  borda. 

—  Figuradamente  :  Luzimeuto,  lustre. 


Do  mais  realce  á  luz,  á  Formosura, 
Qu'cm  suas  Leis  imiolaveis  mostra. 
Mas  este  fogo  elementar,  qu'hc  sempre 
Na  sua  essência  incógnito  aos  humanos. 

J.   A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Cant.  2. 


Appcllidaes...  que  dizes!  — Toda  a  pompa 
Triumphal  de  Koma,  todo  o  brilho  antigo 
De  sua  gloria,  ao  senado  nunca  deram 
Tam  solemne  realce  e  majestade 
Quanto  a  presença  de  Catão. 

GARRETT,    CATÃO,    aCt.     1,    8C.    Õ. 

—  A  cor  com  que  o  pintor  faz  sobre- 
sahir os  escuros  do  painel. 

REALEGRAR,    v.   a.   Tomar  a  alegrar. 

—  Realegrar-se,  i-.  re/.  Tomar  a  ale- 
gra r-se. 

REALEJO,  s.  m.  Orgao  musico  manual 
e  pequeno,  que  se  faz  soar  dando  a  uma 
manivella ;  tem  cylindro   de  pau,  cujoa 


cravinhos  levantam  a  tapadoura  dos  ca- 
nudos para  sahir  o  som  que  o  folie  ins- 
pira. 

REALENGAMENTE,  adv.  iDe  realengo, 
com  o  suffixo  (1  mente»}.  Como  rei,  com 
grandeza  real. 

REALENGO,  A,  adj.  Real,  com  genero- 
sidade de  rei,  e  espiritos  reaes. 

—  Do  rei,  do  soberano. 

—  Vid.  Reguengo. 

• — Terra  realenga;  reguenga,  que  os 
reis  tem  para  mantença  do  seu  estado 
real,  e  são  as  adquiridas  para  a  coroa  até 
o  reinado  de  D.  Pedro  i. 

—  Devasso,  em  opposição  a  vedado,  de- 
feso, coutado,  cercada. 

—  Adagio: 

—  Em  lugar  realengo  faze  teu  assento, 
e  em  terra  de  senhorio  não  faças  teu  ni- 
nho. 

REALETE,  s.  m.  Tributo  de  um  real 
que  se  paga  de  cada  canada  de  vinho. 

REALEZA,  s.  /.  Grandeza,  ostentação 
digna  ou  própria  de  rei. 

—  O  estado,  e  ser  real,  de  rei,  sobe- 
rano. 

—  Dito  ou  feito  de  grande  bondade, 
digna  e  privativa  do  rei. 

REALIDADE,  s.  f.  Do  latim  realitas). 
Excellencia  real,  caracter  real,  cousa  real. 
— «  Duvidar  da  realidade  do  systema  se- 
ria um  scepticismo  escandaloso  ou  uma 
loucura  rematada.  D.  Cypriana,  era,  po- 
rém, pessoa  sisuda  e  que  sabia  como  ha- 
■^-ia  de  pensar :  por  isso  a  mudança  do  al- 
madraque  e  da  poln-ona  foi,  em  nosso 
entender,  de  uma  finura  admirável.» 
Alexandre  Herculano,  Monge  de  Cis- 
ter, cap.  21. 

—  A  realidade  do  corpo  de  Jesus  Chris- 
to  lia  Eucharistia ;  a  presença  real. 

—  Realeza,  opulência,  grandeza  e  vir- 
tudes convenientes  ao  rei.- — -«Pelo  qual, 
vistas  e  consideradas  bem  todas  estas  cou- 
sas, naõ  torcendo  por  nenhuns  respeitos 
humanos  cousa  alguma  do  que  direyta- 
mente  se  deve  julgar,  conforme  á  deter- 
minação das  leys  aceitada  pelos  doze 
Chàes  do  governo  no  quinto  livro  da  von- 
tade do  filho  do  Sul,  que  neste  caso  pela 
sua  grandeza  e  realidade  se  inclina  mais 
ao  clamor  dos  pobres  que  ao  bramido  dos 
inchados  da  terra,  mando  que  estes  nove 
estrangeyros  sejaõ  assoltos  de  tudo  o  que 
contra  elles  requereo  o  Continào  Prome- 
tor  da  justiça.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  103.  —  «Mas  á  me- 
nham  Deos  querendo,  eu  lhe  farev  lem- 
brança de  vós,  de  vossa  pobreza,  e  da 
orfindade  de  vossos  filhinhos,  como  por 
algumas  vezes  me  tendes  dito,  porque 
quiçá  se  moverá  a  pôr  os  olhos  em  vós, 
como  por  sua  realidade  e  grandeza  cus- 
tuma  a  fazer  em  casos  semelhantes  a  este 
vosso.»  Ibidem,  cap.  125.  —  «  Peço- vos 
por  mercê,  pois  nesta  batalha,  que  foi  a 
primeira,  que  ante  vós  fiz,  quizestes  usar 
da  realidade  e  grandeza  de  vosso  sangue 


102 


REAL 


em  «er  sc^tinulorii  do  cum]»),  qiio  (ríU|iii 
por  diaiit(3  me  tenliíif-rf  por  vomho,  ijcra  v(h 
Bcrvinles  (1«;  mim;  porqui;  já  o.s  4110  hou- 
biinMii  í|uc.  o  H<»u,  tr;itiir-ni(i-lií1i)  coiin)  V(n- 
Ho.»  Francisco  lU-  .MoriM--.-",  Palmeirim  de 
Inglaterra,  cap.  HO.  «O  v.-lho  ho  iuii- 
çoii  110  cliito,  (pi<M-(iiulti-llic  boijar  08  pÚH 
por  tamaiiliii  morcò,  dizunJo:  l'or  corto 
a  fama  do  vo.í»a  bonevoloricia  c  realida- 
de nito  é  errada;  antes  aj^ora  acabo  dn 
crer  que  tudo,  o  cpio  de  vossa  virtude  se 
diz,  é  menos  do  que  8e  devo  di/.or.»  Ibi- 
dem, cap.   11!?. 

-Qualidade  do  que  é  real,  e  verda- 
deiro, e  nilo  imaginário. 

Loc.  ADV, :  Na  realidade  ;  realmen- 
te, na  verdade.  —  Feliz  na  (ippnrencia, 
não  o  é  na  realidade.  —  «  Díro  que  saò 
Buaves  as  razoons  que  díío,  porqui  naõ 
ha  couza  mais  suave,  que  recolher  dinhei- 
ro; o  digo  quo  silo  sofisticas,  porque  as 
yestein  (lo  apparencias  do  zelo  do  bem 
commum,  o  na  realidade  saõ  cutelos,  (pic 
degolào  as  Republicas.»  Arte  de  furtar, 
ca|).  íM. 

REALISMO,  s.  m.  Termo  de  philosophia 
escolástica.  Systema,  seita  dos  realistas. 
Doutrina  que  siippòe  que  nós  conhecemos 
o.  mundo  exterior  como  uma  realidade 
objectiva,  era  opposiçílo  á  doutrina  de 
Berkeley. 

— Neologismo.  LigaçSo  á  reproducção 
da  natureza  sem  ideal.  —  O  realismo  na 
jiotsia,  iKi  pintura. 

REALISSIMO,  A,  aiJj.  Superlativo  de 
Real. 

REALISTA,  s.  m.  Termo  de  philosophia. 
Philosopho  que  considera  as  idêas  abstra- 
ctas como  entes  reaes. 

—  Termo  de  litteratura  e  de  bellas- 
artes.  Partidário  do  realismo. —  Os  rea- 
listas. 

—  Adjectivamonte:  A  ihmtrina  rea- 
lista. —  Kscóla  realista.  —  Pintor  realis- 
ta. 

REALIZAÇÃO, ou  REALISAÇÃO,  s. /.  (De 
realizar,  com  o  suffixo  «ação»).  Acto  de 
realizar.  —  A  realização  '/«'  jn-omessas. 

REALIZADO,  ouREALISADO,  pnrt.pnss. 
de  Realisar.  Tornado  real. 

REALIZAR,  ou  REALISAR,  v.  a.  Tornar 
j.,,al.  —  a  Eram  mostre  Alberte  e  .loiío 
Pires,  que  faziam  estas  imagináveis  otVer- 
tas  de  intervenção.  O  grupo  judaico  deu 
meia  volta,  como  se  todos  se  houvessem 
combinado  n'um  movimento  si'>.  O  aspe- 
cto athletieo  dos  dous  alliados  indicava 
que  a  otTerta  não  lhe  custaria  a  realisar. 
As  for<;as  equilibravam-se.»  Alexandre 
Herculano,  Monge  de  Cister,  cap.  18. 

—  Termo  de  plíilosophia.  Considerar 
como  reaes  os  seres  abstractos. 

—  Realizar-se,  f.  reji.  Cumprir-se,  exe- 
cutar-se,  pôr-se  em  effectividade. 

Syn.:  Realizar,   effectuar,  executar. 

Realizar  é  tornar  real  e  effeetiva  uma 
cousa  que,  segundo  as  apparoneias,  de- 
vemos esperar  que  assim  seja.  Dizemos: 


REAP 

A  vida  nilo  dura  baatautc  para  realizar 
a»  grandes  esperanças. 

Ji[f'i:ctuar  iiidicii  mais  solidez  que  appa- 
rencia.  C^uaudo  se  r.JJKctua  o  promettido, 
acliamiM  que  era  sincera  e  verdadeira  a 
palavra  de  (piem  promcttia. 

Kxecular  suppòc  um  projecto,  um  pla- 
no anteriormente  formado ;  assim  (jue  txt- 
cutar  representa  a  ac^ào  determiuadumen- 
to  com  relayào  a  outra  ac(,'rio  anterior,  á 
resolu<;ão,  á  ordem,  á  idéa  que  precedeu 
a    execu<;i\o. 

Reaiizam-se  as  esperanças  com  as  ap- 
parencias. Ejjecluam-ne  as  obriga(;5es  for- 
maes,  com  cujo  cumprimento  devemos 
contar.  Executa-ae  um  projecto,  a  seu- 
ten(;a,  a  determinação. 

—  Sv.v.:  Realizar,  verificar. 
Realizar  í  tcjrnar  etfectiva  uma  cousa, 

ii  dar  realidade  áquillo  que  d'antes  nào 
tinha  existência  real. 

Verificar  é  mostrar  que  a  cousa  6  ver- 
dadeira, examinando-a  em  si  e  suas  rela- 
ções. 

Tudo  que  pertence  ao  futuro,  ou  exis- 
te em  projecto  quando  chega  a  ter  exis- 
tência, realiza-se.  Tudo  o  que  se  conta, 
allega-se  ou  annuucia-se  como  existindo, 
e  se  se  aclia  ser  verdadeiro,  verifica-se. 

Diz-se  que  uma  prophecia  realiza-se 
com  relação  a  ser  predicta  tempo  antes,  e 
que  se  verifica  por  se  haver  cumprido  co- 
mo o  propheta  o  havia  predicto. 

REALIZÁVEL,  aJj.  2  gen.  Que  ti  susce- 
ptivel  de  se  realizar.  —  Fortuna  facil- 
nu:nti_-  realizável. 

REALMENTE,  adv.  [De  real,  com  o  suf- 
fixo «mente»).  Etfeetivamente,  verdadei- 
ramente, na  realidade.  —  «  Dizia  mais  por 
lhes  aliuiar  a  grande  pena,  com  que  real- 
mente tlcauam,  que  elle  hia  a  espiar  a 
terra  de  lapam,  e  que  pêra  isso  os  me- 
nos bastauam :  mas  que  abrindo  hl  Deos 
as  portas  a  sua  sautissima  fé,  como  se  es- 
peraua,  todos  se  fizessem  prestes,  pêra  o 
ir  ajudar  quando  os  chamasse.  1  Lucena, 
Vida  de  S.  Francisco  Xavier,  liv.  G,  cap. 
12. —  «Este  he  o  principal,  e  mais  exce- 
lente de  todos  03  Sacramentos  :  porque  nos 
outros  esta  somente  a  virtude  de  nosso 
Senhor  Jesus  Christo,  mas  neste  ii3o  sai- 
mento a  virtude  mas  elle  mesmo  realmen- 
te, e  substancialmente,  Dous  e  homem 
verdadeiro,  fonte  de  todas  as  graças,  e 
bens.»  Fr.  liartholomeu  dos  lilartyres, 
Catecismo  da  doutrina  christã. 

—  Com  grandeza  e  ostentação  de  rei, 
com  modo  de  rei. 

REAME,  s.  in.  Termo  antiquado.  Reino, 
governo  do  reino. 

REANIMADO,  part.  2>c^^-  ^^  Reani- 
mar. 

REANIMADOR,  A,  adj.  e  s.  Quo  reani- 
ma. —  Knjnrit')  reanimador. 

REANIMAR,  v.  a.  Animar  de  novo. 

—  Reanimar-se,  v.  refi.  Tornar  a  ani- 
mar-se.  receber  animo. 

f  REAPPARIÇÃO,  5.  /.  Acto  de  appa- 


RElíA 

recer  de  novo.  —  A  reapparíção  de  sipn- 
pt<jnitu>  aiêustadores . 

—  Em  UHtronomia.  Vista  de  um  astro 
(jue  t<trria  a  appan-cer. 

f  REAPPARECER,  v.  u.  Apparecer  de 
novo. 

REAQUISTAR,  v.  a.  (De  re,  «•  aquis- 
tar  .  'r'>n..tr  a  ailquirir. 

REASSUMIDO,  part.  pa»*.  de  Reasstunir. 
Recobradii,  r<ci-l>ido  novamente  á  p<j»Be. 

REASSUMIR,  1-.  a.  iDo  latim  re^istu- 
vierfi.  Tomar  de  novo,  tornar  a  tumar 
alguma  cousa  ;  tornar  a  exercer  funcçâu, 
ou  direito  <|U>-  se  tinha  largado. 

REASSUMPÇÃO,  n.  f.  Acto  do  reassu- 
mir. 

REASSUMPTO,  part.  yam.  de  Reassu- 
mir. \'id.  Reassumido. 

REATA,  .s.  /.  Vid.  Arreata. 

—  1'lur.:  Voltíis  do  cabo  forte,  cora 
que  se  ri.'atam  peça»  em  torno. 

REATADO,  part.  pass.  de  Reatar. 

—  Emprega-se  também  no  sentido  fi- 
gurado. 

REATADURAS,  s.  f.  pi.  VolUs  de  rea- 
ta. Vid.  Reata. 

REATAR,  r.  a.  Tomar  a  atar,  atar 
bem,  atar  de  novo. 

—  Dar  reatas  ao  mastro,  aspaa  rendi- 
das. 

REATE.  Vid.  Arreate. 

REATO,  s.  m.  (Do  latim  reatus).  O  es- 
tado d'aquelle  que  foi  accusado  em  juizo, 
e  anda  era  livramento,  ou  dizendo  de  sua 
justiça ;  o  que  jaz  em  culpa  obrigado  á 
pena  ou  .«atisfação. 

REAVISADO,  part.  pass.  de  Reavisar. 
Resabido,  mais  que  avisado. 

REAVISAR,  V.  a.  Tornar  a  avisar,  fa- 
zer scieute,  s.ibido  á  força  do  ensino,  avi- 
sos repetidos  e  documentos. 

REBADILHA.  Vid.  Rabadilha. 

REBAIXAMENT*0,  s.  ni.  O  acto  de  re- 
baixar. 

—  < )  Citado  da  cousa  rebaixada. 
REBAIXAR,   r.  a.    Tomar  mais  baixo, 

cavando,  abatendo. 

—  Rebaixar-se,  v.  refi.  Abater-6e. 

—  V.   ti.  Vilipcndiar-se,  abater-sc, 

REBAIXO.  Vi  1.  Rebaxo. 

REBALDE.  Vid.  Arrebalde. 

REBALDIO,  wlj.—Figo  rebaldio;  es- 
pécie de  figo  de  figueira  brava,  ou  figos 
amansados  que  os  marotos  comem,  e  ven- 
dem-se  pisados  era  grandes  cestos,  e  nSo 
inteiros  em  cabazes  limpos, 

REBALSADO,  particip.  pass.  de  Rebal- 
sar-se. 

—  ^<7iirt,  charco  rebalsado;  agua,  char- 
co de  agua  parada  sem  movimento  em  lo- 
gar  balseiro,  sujo  de  folhas  cahidiçaí, 
ou  de  hervagera  podre  de  paiiea. 

—  Emprega-se  também  no  sentido  fi- 
gtirado, 

REBALSAR-SE,  t-,  refi.  Parar  a  agua 
que  corria,  ficar  estagnada,  fazendo  bal- 
sa ou  balsein.», 

—  Emprega-se  também  figuradamente, 


REBA 

REBANADA,  s.  /.  Vid.  Rabanada. 

REBANHADO,  part.  pass.  de  Rebanhar. 

REBANHAR,  '•.  a.  Vil.  Arrebanhar. 
"     REBANHIO,  A,    aãj.    Que  anda  em  re- 
banho. 

REBANHO,  s.   m.  Multidão  de  gado. 

Porem  hoje  que  o  dercjo 
Xào  acba  quem  lhe  resista, 
Pois  que  te  perdeu  de  vista 
Sente  o  mal  em  que  me  vejo  : 
Deixa,  deixa  o  pasto  estranho, 
Torna  ao  teu  natural ; 
Se  não  te  obriga  meu  mal, 
Lembre-te  o  do  teu  rebanho.. 

F.    BODEIGCES  LOBO,  PBIMA\'EKAS. 

—  «O  mesmo  se  vè  na  Estremadura  de 
Castella,  cujas  terras  naõ  sei-vindo  mais, 
que  de  pastos  aos  rebanhos  de  Pastores, 
que  là  chamaò  de  la  Mesta,  daõ  grossís- 
simas rendas  aos  senhores  daquelles  lu- 
gares.» Manoel  Severim  de  Faria,  Noti- 
cias de  Portugal,  liv.  1,  cap.  5. 

Mas  por  ora  deixemos  estas  cousas. 

Que  O  mundo  corrigir  a  nós  naõ  toca. 

Este  icomo  dizia  í  foi  Troyano, 

E  nos  Campos  que  o  Phrygio  Xantho  corta. 

Guardando  em  doce  paz  o  seu  rebanho, 

Eleito  foi  Juiz  do  grande  pleito. 

A.    D.    DA    CECZ,  HTSSOPE,    Cant.    5. 

— -  (iN'e33e  paiz  nào  encontrei  outros 
homens  senão  alguns  guardadores  tam 
agrestes  como  o  mesmo  terreno.  Consu- 
mia as  noites  carpindo  minha  desventu- 
ra, e  03  dias  guardando  um  rabanho,  pa- 
ra assim  me  salvar  do  brutal  furor  do 
escravo  maioral,  que  esperando  obter  a 
liberdade,  malquistava  todos  os  mais  com 
seu  senhor,  para  por  este  modo  fazer 
alarde  de  seu  zelo  e  desvelo :  chama- 
vam-lhe  Butis.»  Telemaco,  traducçào  de 
Manoel  de  Sousa,  e  Francisco  Manoel  do 
Nascimento,  liv.  2. 

De  lá,  não  deslumbrada,  o  campo  espia, 
Cabe  no  disperso,  e  timido  rebanho. 
Do  Pastor  assustado  á  vista,  empolga 
Aduncas  prezas  no  cordeiro  imbelle  ; 
Leva  pendente  o  corpo  atassalhado. 
Mimoso  pasto  de  cruentos  filhos. 

J.    A.    DE    5IACED0,    MEDITAÇÃO,    Caut.    -3. 

Co'  a  orelha  fita,  os  olhos  vigilantes 
Põe  no  férreo  arcabuz  estrepitoso. 
Sente  no  ar  zunindo  a  plúmbea  péla, 
E  já  torna  veloz  co'  a  preza  ovante. 
He  do  pastor  defensa,  e  do  rebanho 
Com  latido  feroz,  com  lizo  dente 
Ou  atfugenta,  ou  despedaça  o  Lobo. 


Imagem  viva  dos  rebanhos  nossos, 

Que  pelo  prado  heri"oso  alegres  pascem. 

Só  nào  vejo  Protheo,  Glauco  cerúleo. 

Qual  agradável  Fabula  nos  pinta, 

Qu'  ao  som  do  rouco  búzio  o  gado  ajunte. 

IDEM,  A  SATCBEZA,   Caut.    .3. 

Inda  da  cxtausa  America  opulenta 
Não  apartes  a  vista,  attenta  observa 
Sahir  do  seio  das  profundas  agoas 


REBA 

Pacifico  rebanho,  ao  longe  os  mares 
Co"  03  duros  ecoos  dos  mugidos  soão. 


—  Figuradamente  :  Vil  rebanho  dos 
mais   vis  escravos. 

Esse  senado 
E'  ríl  rebanho  dos  mais  vis  escravos  : 
Nem  ás  margens  do  Tibre  existe  Roma. 
Eu  e  os  que  ves,  nós  somos  o  senado : 
E  em  nossos  corações  é  que  está  Roma. 
GAKBETT,  catão,  act.  2,  sc.  5. 

REBANQUIO,  arlj.  m.  —  Figo  reban- 
quio.    Vid.  Ribranquio. 

REBÃO,  s.  m.  Piloto  com  experiência 
bastante  para  metter  e  tirar  os  navios  no 
estreito  do  mar  Roxo. 

REBAPTIZADO,  part.  pass.  de  Reba- 
ptizar.    Vid.  Rebatizado. 

REBAPTIZAR,  r.  a.  Vid.  Rebatizar. 

REBARBA,  «.  /.  A  peça  do  engaste, 
que  se  dobra  sobre  a  pedra  para  a  pren- 
der n'ella. 

REBATADO,   part.   pass.   de    Rebatar. 

REBATADOR.  Vid.  Arrebatador. 

REBATAMENTO,  «.  m.  Enlevação,  ex- 
tasis. 

REBATAR,  r.  a.  Vid.  Arrebatar. 

REBATE,  s.  m.  Ataque,  assalto,  ac- 
commettimento  súbito,  e  inesperado,  in- 
cursão. —  Os  inimigos  esperavam  algum 
rebate. 

Ao  rebate  improuiso  acode  a  turba 
Traspassada  de  hum  vil,  e  torpe  medo 
Alção  clamor  horribel  nào  com  ^^uo 
Espirito,  mas  mortal,  e  afadigado. 
Despois  que  mais  em  si  tomào  e  a  fúria 
Aos  membros  concedeo  vigor  e  forças, 
Voltào  ao  esquadrão,  e  os  grossos  arcos 
Curuados  as  mortaes  frechas  despedem. 

COBTE  real,    naufrágio  DE  SEPÚLVEDA, 

cant.  12. 

—  «Mas  elle  nào  contente  com  esta 
vez,  mandava  daquella  gente  que  tinha 
per  esses  duções  de  Quelijs,  com  que  fa- 
zia grão  damno,"  e  assi  naquella  parte  da 
Cidade,  dando  de  súbito  alguns  rebates, 
de  que  os  Malaios  andavam  assombrados, 
por  temerem  muito  a  estes  Jáos  como  a 
gente  desesperada  que  nào  temem  mor- 
rer com  tanto  que  satisfação  sua  vingan- 
ça.» João  de  Barros,  Década  2,  liv.  6, 
cap.  7.  —  «O  qual,  ainda  que  antes  de 
alojado  não  deyxára  de  inquietar  aos  nos- 
sos com  alguns  rebates,  depois  de  o  es- 
tar eram  continues  os  assaltos  que  dava, 
escolhendo  de  ordinário  noytes  escuras, 
e  de  tempestades,  para  que  menos  dano 
lhe  tízessem  as  balas  das  escopetas,  e  al- 
cansias  de  pólvora,  único  remédio  dos 
Portuguezes  no  Oriente.»  Conquista  do 
Pegú,  cap.  6. 

—  Noticia. —  «Succedeo  isto  no  anno 
de  vinte  e  cinco  atrás  passado.  O  Bador, 
como  eramáo,  cruel,  e  fraco,  (cousas  que 
andam  sempre  juntas  fraqueza  a  crueza), 
começou  a  matar  todos  os  Capitães  [que 


REBA 


103 


favoreceram  o  irmão,  e  o  quiz  fazer  a 
outro  só  que  lhe  ficava,  que  era  o  menor 
de  todos,  que  por  ser  avisado,  se  acolheo 
em  trajos  mudados,  e  se  foi  por  essa  ter- 
ra dentro,  e  dahi  a  alguns  annos  por  via 
do  Cinde  foi  ter  a  Ormuz,  sendo  Capitão 
daquella  fortaleza  António  da  Silveira, 
que  teve  rebate  delle,  e  o  tomou,  e  em- 
barcou pêra  Goa,  e  o  mandou  ao  Gover- 
nador Nuno  da  Cunha,  como  na  quinta 
Década  diremos.»  Diogo  de  Couto,  Dé- 
cada 4,  liv.  1,  cap.  7. —  »0  Sangue  de 
Patê  Capitão  dos  Jáos  teve  logo  rebate 
daquelle  negocio  pelos  que  escaparão  fu- 
gindo, e  sahindo  das  estancias  com  dous 
mil  homens,  deu  nos  nossos  que  tinhão 
jà  a  peça  da  artelharia  no  lugar  em  que 
hoje  está  a  Alfandega,  e  com  aquella  fú- 
ria começarão  os  soldados  de  D.  Garcia 
a  se  desmandar,  e  recolher  pêra  a  pon- 
te.» Idem,  Década  G,  liv.  9,  cap.  7.  — 
a  Os  Japoens  vendo  aquelle  novo  modo 
de  tiros  que  nunca  até  então  tinhão  vis- 
to, derão  rebate  disso  ao  Nautaquim  que 
neste  tempo  estava  vendo  correr  huna 
cavallos  que  lhe  tinhão  trazido  de  fora, 
o  qual  espantado  desta  novidade,  man- 
dou logo  chamar  o  Zeimoto  ao  paul  onde 
andava  caçando.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  134. 

—  Diminuição,  desconto. 

—  Rebate  falso;  o  que  se  toca  antes 
de  vir  o  inimigo,  para  ver  se  todos  aco- 
dem com  diligencia  e  boa  ordem  aos 
pontos. 

—  Rixa,  briga  súbita  e  inesperada. 

—  Ataque,  ou  ameaça.  —  «E  por  ser 
por  este  caso  sentido,  e  os  mouros  que 
íbgiram  terem  dado  rebate  aos  Aduare^, 
se  tornou  pêra  Azamor,  e  logo  aos  xxviii 
deste  mes  foi  sobre  huns  Aduares  que 
estauam  pela  Enxouuia  treze  legoas,  mas 
antes  de  la  chegar  achou  hiuna  grossa 
companhia  de  mouros  de  cauallo  sobre 
hum  coual  a  três  legoas  dos  aduares  a 
que  hia.n  Damião  de  Góes,  Chronica  de 
D.  Manoel,  part.  4,  cap.  39. —  «Deu  o 
Padre  rebate  ao  Rey  da  Cidade,  pedin- 
dolhe  nos  quisesse  festejar,  e  vir  rece- 
ber tãto  que  chegássemos.»  Frei  Gaspar 
de  S.  Bernardino,  Itinerário  da  índia, 
cap.  6. 

—  Tomar  rebate ;  ter  sentimento,  no- 
ticia, susto  com  rebate  de  inimigos. 

—  No  jogo  da  pella,  c  a  que  já  deu 
na  parede. 

Aquilo,  Noto,  e  Euro  com  braucza 
Contra  a  misera  nao.  todos  se  esforçào 
Das  espantosas  ondas  leuemcnte 
Aqui,  e  alli  a  deitào,  e  afadigão. 
Como  acontece  a  vsados  jugadores 
Que  na  peLla  se  querem  mostrar  dcatros, 
Huns  rebate,  ou  boléo,  com  rcues,  outros, 
litros  com  duros  punhos  a  combatem. 

COETE  BEAL,  NAUFRÁGIO  DE   SEPÚLVEDA,    CaUt.    7. 

—  O  que  se  subtrahe  do  preço  das 
cousas,  que 'por  uso  se  vendem  com  es- 


104 


REBA 


RKHK 


REÍIE 


pcra,  riuandd  o  comprailnr  ;i.s  [lap/i  á  vis- 
ta, a  ílinhoiro  corriílo. 

—  íSipnal  com  sino,  caixa,  (irrito  a  ap- 
pollido  fia  viniia,  ou  irriip^-ilo,  ou  sultito 
ataquo  <lo  iiiiiiii^o.  —  Tucar  et  rebate. 

—  Ropiírciisrt.^o,  rcflfXJlo  ilo  corpo  elás- 
tico da'l<)  (Mil  outrii. 

—  Repiil.Hflo.  —  Rebate  '/o   vittr. 

—  FifíurailaiiKiiitd  :   Susto. 

—  Loc.  ADV.  :  /)(?  rebate  ;  do  «ubito, 
do  sobrosalto. 

—  -  Torino  antiquado.  Poya  de  cortina- 
do do  cama,  (|uc  parece  kít  sanefa,  ou 
aiparavMz. 

REBATEDOR,  *.  m.  1  l(inic>in  quo  reba- 
to letras,  ordens  a  pa;.,''ar,  billiotes  oxi- 
pivcis,  tenças  a  cobrar,  adiantando  o  di- 
nheiro ou  valor  ao  dono  des.so.s  titulos, 
e  lucrando  d'elli's  um  preço,  ou  premio 
convencional  peia  demora,  e  risco  do  niio 
pagamento  do  dovinlor  exifrivel  ao  termo 
do  vencimento,  e  dia  da  solução. 

REBATENTE,  pnrf.  act.  de  Rebater. 

—  Substantivamente  :  Termo  de  me- 
dicina. E.icel/ente  rebatente  em  as  stijfo- 

REBATER,   v.  a.   Abater,  derribar, 

—  Tornar  a  bater,  calcar,  pizar. 

—  Rebater  razões  ;  refutar. 

—  Rebater  letras,  escriptos  de  paga ; 
dal-os  por  menos  de  seu  valor  a  quem  os 
paga  ao  dono  da  letra,  etc.  Vid.  Rebate. 

—  Rebater  fwça  coou  força;  rechayar, 
repoUir,  resistir. 

—  Rebater  as  frechas;  repellil-as. — 
II  Porque  nSo  semente  a  vela  impedia  o  Sol, 
mas  ainda  como  a  viraçílo  quando  corria 
viuha  cnriada  pelo  rio,  fazia  duas  obras, 
refrescar  a  frente  com  o  movimento,  e 
abanar  da  vela,  e  mais  rebatia  as  fre- 
chas, que  n.ao  viessem  ferir  a  gente.» 
Barros,  Década   2,  liv.  6,  cap.  5. 

—  Rebater  alguma  accusação,  crime 
para  outrerti;  repellil-o  de  si  e  imputal-o 
a  outro. 

—  Rebater  encantos,  feitiços,  as  qua- 
lidades malignas,  a  peste ;  fazer  que  não 
entrem. 

—  Rebater  ot  golpes  ;  aparal-os  de  ma- 
neira que  nSo  alcance  o  corpo,  desvian- 
do a  espada  contraria. 


Annão-so  todos  do  duroza,  r,  bu8cào 
Seus  goli>oa  rebater,  mas  crcâco,  o  brame 
A  voz  do  fero  assalto,  c  triunfante 
Doixa  nogi'os  carvões,  ou  cinza,  ou  rtada. 

J.   A.  DE  MACEDO,  A  MATUBEZA ,  Caut.  2. 

—  Rebater-se,  r.  ri'fl.  Recuar,  retro- 
gradar conu)  ropcllido. 

REBATIDO,  part.  pass.  de  Rebater. 
Repellido,  rochaçndo. 

—  Corfczia  rebatida  ;  eortczia  mui  bai- 
xa e  profunda. 

—  Rebatidas  as  despezas.  ■ —  «Que  lhes 
fazia  mercê  dos  quintos  de  todo  o  que 
trouxessem  nesta  primeira  armada  reba- 


tidas as  df-ipivan.  d  DamiSo  d(3  Ooch,  Chro- 
nica  de  D.  Manoel,   part.  4,  cai».  37. 

—  Repercutido. 

—  Calcado  a  j)il.lo. 

—  Com  a  borda  dobrada  sobre  outra 
pe(;a. 

Eujprc;ía-sc  tambom    no   sentido  fi- 

REBATIMENTO,  ».  j/i.  Vid.  Rebate. 

REBATINHA,  s.  f.—  Deitar  dhifw.iro 
li  rebatinha  ;  deitar  diidieiro  a  ;;cnte  jun- 
ta para  iicar  de  quem  o  ap.anliar. 

—  Vender-se  áx  rebatinhas ;  vcnder-se 
em  concurso  de  muitos  compradores,  que 
disputavam  sobro  quem  havia  do  com- 
prar primeiro,  mais  ;i  mim,  mais  a  mini. 


Pac  rico  vão  ás  inâos  a  ollo, 
são  rehat l iilia»  a  ollo 
como  tramoi,o«  em  võda. 
Kstas  tfi\o  HRora  as  d'(^lle, 
depois  serei  filho  d'Kva  ; 
vou  pela  hospeda,  irei  IA. 

ANTÓNIO  PRESTES,   AUTO»,   pftg.    27.^. 

REBATIZAÇÃO,   s.  /.   Ac^ào  de  rebati- 
zar.  —  .1  disputa  da  rebatização  />rinci- 


l"'í' 


ido  de  tíaiitij    Kstevão. 


REBATIZADO,  part.  pass.  de  Rebati- 
zar. 

REBATIZAR,  v.  a.  (Do  latim  rehapti- 
zare).  Baptizar  de  novo,  tornar  a  })apti- 
zar. 

—  Lavar  as  culpas  depois  do  baptismo. 
REBATO,  s.   »>i.   O   mais   baixo,    a   so- 
leira. 

Rebato  ;  assalto  súbito  e  inesperado, 
REBAXO,  ou  REBAIXO,  s.  m.  Abertu- 
ra, janella   posta  em  baixo  para   a   agua 
da  chuva  sabir  para  fiíra,    onde  ha  muro 
(pie  possa  impedil-a. 

REBEBER,  v.  a.  Tornar  a  beber,  be- 
ber de  novo. 

REBECA,  *•.  /.  Instrumento  de  musi- 
ca. Vid.  Rabeca. 

—  EnxerírSo  de  palha,  calha  de  gente 
vulgar  e  pobre. 

—  Termo  de  marinlia.  Vela  que  enfia 
no  estai  d'este  nome,  o  qual  vai  por  ci- 
ma da  mezena  a  coser  por  ante  a  ré  do 
calcez  do  mastro  respectivo ;  a  amura 
cose  no  sapatilho  da  alça,  por  onde  en- 
fia o  esfcn  da  mezena,  ou  em  um  sapati- 
lho aguentado  em  alça  própria  cosida  ao 
mastro  fjraude,  caça  na  amurada  do  so- 
tavento. 

REBEÇAR,  1-.  a.  Vid.  Vomitar,  ou  Re- 
vessar,  (pie  6  o  termo  mais  correcto. 

REBEIJAR,  1-.  a.  Tornar  a  beijar,  bei- 
jar de  novo. 

REBEL.  Vid.  Revel,  e  Rebelde. 

REBELÃO.  Vid.  Rebelião. 

REBELAR.  Vid.  Rebellar.  —  «E  que- 
brantados cõ  tantos  males,  fiearito  al- 
guns Judeus  vivendo  na  terra  sojjeitos 
ao  cativeiro  Romano,  ate  o  tempo  de 
Adriano,  que  tomarito  a  rebelar,  o  ven- 
cidos   novamente    se    execiitJirSo    nelles 


mortos    o    desterrei    eruei".»    Monarchia 
Lusitana,  liv.  5,  cap.  14. 

REBELDE,    adj.  2  gen.     Do    latim    re- 
heUini.  Que  faz  ou  entrou    em    robelliSo. 

Não  fwii.  Ku  110  tropel  imbaralhado 
De  tropas  fugitiva»,  d'-  rrhelilrji. 
Dl-  eoiiibatentes,  inortOM.di)  fi-rídiM, 
N.iiln  vi,  nada  sei.  So  m-i  i|u<!  o  forro 
S(ihi'jott  iiiiiiiiiloii  H  liberdadr  : 
So  vi,  pura  Oii  ferir,  |>eit<js  c<jVard<M. 
uABuKri,  CATÃO,  act.  4,  RC.  3. 

—  Que  nSo  obedece,  nem  codo. 

Porque  das  rpieixas  no  maior  estrago, 
Sc  alguma  inaiii  rrhrJilr  mo  amotina, 
Vou-me.  deitar,  tomo  huma  ajuda  i:  cago. 

ABRAIIK    DE    JAZENTK       ■■..'•-".<      tom .    2,     pBg.     l"! 

(cdic;.  1787). 

Nas  mãos  do  Lavrador,  reWdr  a  terra 
Sem  fogo  o  fructo  ni'ga,  e  j-i  não  vente 
C)  verde  manto  que  tapizio  floro*. 

J.  A.   DE  MACEDO,  A  HATUBEZA,  (»nt.  2. 


—  Substantivamente:   Um  rebelde. 

—  S\'>-.  :  Rebelde,  insurgenie.  Vid.  es- 
te termo. 

REBELDIA,  «.  /.  A  culpa  do  rebelde, 

—  Termo  de  direito  maritimo.  Vid. 
Barataria. 

—  Rebeldia  de  fazer  camará ;  dureza 
do  ventre,  ([ue  impede  a  sahida  das  ma- 
térias excrementicias  de  maior  volume. 

—  Fiícuradamente :  Renitência. 

■}■  REBELIÃO,  s.  f.  Vid.  RebelUâo.  — 
«Mas  porem  ci~>sola  clle  a  si  nie-smo,  e  a 
todos  o.!  valentes  caualeiros  Chri  tâos,  di- 
zenib),  que  nani  temam  ser  c3<lenado3  por 
estas  rebeliões,  e  màs  inclinações,  que 
em  sua  carne  sintem,  so  nam  ci5sintem 
nellas :  antes  cofiem,  que  quanto  a  guer- 
ra for  mais  braua.  tanto  a  victoria  será 
difrna  de  mayor  coroa.»  Frei  Bartholo- 
in -u  dos  Martyres,  Catecismo  da  doutri- 
na christâ. 

REBELIM.  Vid.  Revelim.  —  «Nelle  ha 
coreiíta,  e  oyto  baluartes,  todos  muy  for- 
tes, com  suas  torres,  ameas,  rebelins, 
couraças,  estribi»*,  e  pontões :  sobre  os 
muros  vigi.ào  toda  a  noyte  corenta,  e 
quatro  homens  de  guarda,  que  nos  três 
quarti.>s  fazem  cento  e  trinta  e  dous  ho- 
niens,  estes  est.ào  toda  a  noite  responden- 
do, huus  aos  outros,  com  tam  grande» 
gritos,  e  alaridos,  que  parece  estarem  de 
eontino  peleyjando  com  os  inimifros.»  Fr. 
Oaspar  de  S.  Bernardino,  Itinerário  da 
índia,  eap.  K>. 

I  REBELLADO,  part.  pass.  de  Rebel- 
lar. 

Ouvio  a  Kuria  o  rehtltndn  grito : 

Sentada  estava  do  ("ocyto  horrendo 

Na  margem  nogrsí,  (M^niiittindo  As  ci^braa 

I  Da  espcíisa  grenha  funeral  toucado  !  I 

Que  hum  pouco  lambão  as  sulfun^as  ondas : 

Ou\-iu,  e  erguendo  a  frente  a»  serpes  silvão. 

1.    A.    DE   MACEDO,   MEDIT.VÇÂú,  Caut.    2. 


REBE 


REBE 


REBI 


105 


—  «No  temjDO  que  estine  em  Babylo- 
nia,  estaua  o  Baxà  rebellado  contra  o 
Turco,  o  que  sabido  do  grào  senhor, 
mandou  sobre  elle  três  mil  lanças  de  ca- 
ualo ;  mas  porque  sua  vinda  nào  foy  tào 
secreta,  que  a  noua  delia  nã  chegasse 
primeiro,  que  o  nouo  Baxà.»  Fr.  Gaspar 
de  S.  Bernardino,  Itinerário  da  índia, 
cap.  19. —  «Tem  muytos  teares  de  seda, 
damasco,  brocado,  e  telilhas.  Quãdo  aqui 
chegamos,  nos  contarão  os  Frades,  que 
auia  pouco  tempo,  que  o  Baxà  dera  em 
Damasco,  e  se  fizera  chamar  Rey  dam- 
bas  as  Cidades,  a  pezar  do  Grào  Tiu'co, 
contra  quem  estaua  rebellado,  como  o  de 
Babvlonia.»  Ibidem,  cap.  22. 

RÉBELLADOR,  A,  s.  iDo  latim  rebella- 
tor).  Bes.íoa  que  excita  á  rebelliào. 

REBELIÃO,  ONA,  ou  ÔA,  adj.  Que 
não  obedece  á  rédea,  e  recua  quando  o 
esporêam,  fallando  das  cavalgaduras. 

—  Homem  rebelião ;  homem  que  não 
obedece  á  razão;  homem  pertinaz  que  faz 
o  contrario  do  que  deve  por  teimosia. 
Vid.  Revelão,  e  Revelôa. 

REBELLAR,  r.  a.  (Do  latim  rebellare). 
Tornar  rebelde,  excitar  á  rebelliào .  — 
Rebellar  os  vassallos. 

—  V.  n.  Tornar-se  rebelde,  ser  rebel- 
de. —  «Pelo  que  determinou  de  se  vingar 
delles,  pêra  o  que  se  lhe  oflereceo  logo 
boa  occasiam  de  dons  Garabis  da  mesma 
companhia  que  lhe  prometerão  de  matar 
hum  alcaide  dei  Rei  de  Fez  que  andaua 
com  estes  de  Garabia,  e  fora  a  causa 
única  de  rebellarem.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  4,  cap.  43. 

—  Rebellar-se,  v.  reji.  Tornar-se  rebel- 
de. —  «Fera  verem  a  conclusam  que  Abi- 
da  queria  tomar  a  qual  foi  tornarensse 
pêra  elle,  ccim  os  de  xiatina  que  se  re- 
bellaram,  e  deixarão  o  seruiço  dei  Rei 
de  Fez,  em  que  ja  andavam,  per  dadi- 
uas,  «  vestidos,  que  lhe  mandara  per 
seus  messageiros.»  Damião  de  Góes,  Chro- 
nica de  D.  Manoel,  part.  4,  cap.  Õ6.  — 
«Depois  com  o  soccorro  de  alguns  Portu- 
guezes  conquistou  parte  dos  Re\Tios  Bra- 
mas, e  estando  nesta  gloria,  a  qual  de 
ordinário  dura  pouco,  se  lhe  rebellou  o 
Governador  do  Reyno  de  Tangut  Brama 
de  naçaõ,  o  qual  com  a  mesma  gente,  a 
mais  bellicosa  entre  aquellas  nações,  o 
despojou  do  Reyno,  e  da  vida. »  Conquis- 
ta do  Pegú,  cap.  1. 

—  Figuradamente:  Teimar. 

—  Figuradamente  :  Rebellar-se  o  cora- 
ção. 

Basta,  Manlio,  basta:  esses  discursos 
Seiào  prudentes,  mas  oftendem-me  alma, 
K  o  coração  rebella-se  de  ouvi-los... 
(Uha,  vês  tu  a  aurora?  —  despontando 
Eila  ahi  vem  no  borisonte  carregado. 

GARRETT,   CAtIo,   aot.    1. 

REBELLIA.  .5-.  /.  Yid.  Rebelliào. 
REBELLIÀO,  s.  /.  (Do  latim  rebelUo). 
Acto  de  rebellia. 

VOL.  V.  — 14. 


—  Levantamento  de  vassallos  contra 
seu  soberano. 

—  Figuradamente:  Quebrar  a  rebel- 
liào da  carne. 

REBELLIONADO,  part.  imss.  de  Rebel- 
liouar.  i'u.sto  em  rebellião. 

—  Rebellado. 

REBELLIONAR,  v.  a.  Pôr  em  rebellião, 
fazer  entrar  em  rebellião. 

—  Rebellar. 

I  REBELLIONARIO,  s.  m.  Termo  de 
jurispiHidenoia.  Homem  que  faz  rebelliào. 

REBELLIOSO,  A,  adj.  Termo  de  me- 
dicina. Rebelde,  pertinaz.  —  Humor  re- 
bellioso. 

1.)  REBEM,  adv.  comp.  Duas  vezes 
bem. 

2.1  REBEM,  s.  »i.  Termo  de  marinha. 
Vid.  Arrebem. 

EEBENTA-BOI,  s.  vi.  O  fructo  da  sil- 
va macha. 

REBENTÃO,  s.  m.  Yid.  Arrebentão. 

f  REBENTADO,  part.  jxiss.  de  Reben- 
tar. —  «Sem  gastarem  mais  palavras  com 
as  lanças  baixas,  cubertos  dos  escudos, 
remetteram  um  a  outro ;  e  os  encontros 
foram  tão  bem  acertados  que  o  cavalleiro 
das  Donzelias  perdeu  os  estribos,  e  Al- 
mourol  com  a  cilha  rebentada  cahiu  no 
ckão,  pouco  contente  de  si,  polo  desejo, 
que  teve,  de  não  parecer  mal  a  seus  amo- 
res novos.»  Francisco  de  Moraes,  Palmei- 
rim d'Inglaterra,  cap.  127. 

REBENTAR,  v.  act.  Vid.  Arrebentar, 
muito  embora  seja  orthographia  mais  an- 
tiga.—  «Poder  pouco  e  sentir  muito  es- 
traga a  natureza,  é  apostema,  que  se  ar- 
rebentasse poios  olhos  rebentaria  quem  a 
tem.»  D.  Joanna  da  Gama,  Ditos  da 
freira,  pag.  53  (ult.  ediç.).- — «A's  vezes 
se  travavam  a  braços  por  se  deiTubar ; 
provando  todas  suas  forças ;  porém  tudo 
era  em  vão,  antes  a  força  que  nisso  pu- 
nham, fazia  rebentar  as  feridas  com  mór 
damno  do  que  os  golpes  fizeram.  O  dia 
se  ia  gastando,  e  nelles  não  se  conhecia 
qual  levasse  o  melhor.»  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  36. — 
«A  imperatriz  e  Gridonia  por  nào  ver  o 
fim  da  batalha  se  tiraram  das  janellas. 
Pois  elles  ás  vezes  se  deixavam  de  ferir 
e  travava-se  a  braços  espeiúmentando  suas 
forças  por  se  derribar,  tudo  pêra  mais 
seu  dano,  que  faziam  rebentar  o  sangue 
em  tanta  quantidade,  que  parecia  que 
dentro  delles  não  ficava  nenhum.»  Ibi- 
dem, cap.  89.  —  «Então  deixando  cahir 
o  escudo,  o  tomou  polas  enlazaduras  do 
elmo,  e  lh'o  arrancou  da  cabeça^  e  lhe 
deu  com  elle  outra  pancada,  de  que,  per- 
dido todo  o  acordo,  foi  ao  chão  rebentan- 
do-lhe  o  sangue  pola  boca,  e  narizes.» 
Ibidem,  cap.  127.  —  «Era  o  Hidalcão  li- 
beral, e  valoroso,  e  sem  duvida  fora  hum 
grande  Príncipe,  se  conservara  o  Reino 
com  as  mesmas  virtudes  com  que  soube 
adquirillo ;  porém  logo  que  se  vio  obede- 
cido, cessarão  aquellas  artes  fingidas,  co- 


mo nào  tinhão  movimento  natural,  e  re- 
bentarão a  ambição,  e  soberba,  como  vi- 
dos de  casa.»  Jacintho  Freire  d'Andra- 
de,  Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv.  1. — 
«Que  considerasse,  que  era  mais  impor-. 
tante  a  Portugal  a  paz  do  Emperador, 
qiie  o  cravo  de  Maluco,  porque  estas  dis- 
sensões entre  vassallos  podiào  vir  a  ter 
os  effeitos  das  minas,  que  rebentão  mui- 
to distantes  donde  se  pega  o  fogo.»  Ibi- 
dem, liv.  2.  —  «Embarcou-se  alguma  ar- 
telharia  miúda,  e  rebentou-se  a  grossa, 
sendo  esta  facção  tào  celebre  entre  os 
nossos,  que  fizerào  tomasse  o  appellido 
de  Baroche,  quem  tinha  o  de  Menezes, 
como  já  as  ruinas  de  Carthago  derào  a 
Scipiào  o  nome  de  Africano.»  Ibidem, 
liv.  4. 


Tal  relenta  do  frígido  Nifate 
O  Tigris  velocíssimo,  que  outr'ora 
Vio  na  carreira  immcnsa  Impérios  va.5tos, 
Kuinas  hoje  encontra,  c  os  campos  corta, 
Onde  foi  Babvlonia,  onde  Palmyra. 
j.  A.  DE  MACEDO,  MEDiT.vçÀo,  cant.  2. 

nào  vos  faça  o  que  diz  nojo 
que  a  tudo  cbega  quem  ama  ; 
não  rebenteis  pelo  estojo, 
barbeae-me  o  meu  Fernando, 
que  o  quero  casar,  e  logo. 

AXTOXIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  3i3. 

Como  cm  vasto  deposito  se  ajunta, 
Pouco  a  pouco  filtrando-se  rebenta 
Das  raízes  d'alpestre  serrania. 
Borbulha  pouco  a  pouco  entro  rochedos. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Cant.  2. 

Assim  rebentão  borbulhantes  fontes, 
Cascatas  naturaes,  que  se  despenhão 
Das  escarpadas  rochas,  e  mais  gratas 
Qu'e3sa3,  qu"entrc  copados  arvoredos 
A  mào  do  luxo  em  Tivoli  formara. 


REBENTINA,  5.  /.  Termo  antiquado. 
Ira,  fm'or,  raiva,  cólera,  desesperação. 
—  Cresceu-Jhe  a  rebentina. 

REBENTINHA,  s.  f.  Vid.  Rebentina. 

Inez.    Nem  cantar  presente  mi, 

Pois  Deos  sabe  a  retjetitinha 
Que  me  fizestes  então. 
Ora,  Inez,  que  hajais  benção 
De  vosso  pae  e  a  minha. 
Que  venha  isto  a  concrusão. 
Viste  tão  parvo  villào  ? 
Eu  imnca  tal  cousa  vi 
Nem  tanto  fora  de  mão. 
oiL  ^^CE^"TE,  f.írças. 

REBENTO,  «.  m.  Vid.  Arrebento. 

REBESBELHAR,  v.  a.  Termo  da  pro- 
víncia da  Beira,  e  pouco  usado.  Vid.  Re- 
verberar. 

REBETE.  Vid.  Ribete. 

REBICAR.  Vid.  Arrebicar,  ou  Arrabi- 
car. 

REBIMBA,  s.  /.  Termo  popidar.  Ne- 
gligencia, preguiça,  phlegma,  ignayia. 


106 


líKlK» 


RKHO 


YiF.nO 


REBIQUE,  s.  m.  YiA.  Arrebique,  ou 
Arrabique. 

REBISCAR,  r.  ti.  Vi.l.  Rebuscar. 

REBITADO,  j"i)i.  />'ts.i.  iU-,  Rebitar. 

REBITAR,  i".  11.  Termo  do  constriicyito 
iiítviíl.  Ndltiir  íi  iioiita  il(t  j)roffo,  para  mv- 
Ihor  rtcíTiirar. 

—  Fi;,'nra(Janioiitc  :   I  )(;sap])ri)var. 

—  Rebitar  "  n/iri::;  cucrospal-o:  (liz-.'4e 
(las  bcstajt  (|iiaii(lo  cheiram  a  natura,  ou 
cousa  (l(v-<a^'ra(lavcl.  \'iii.  Arrebitar. 

—  Rebitar  o  chupi'') ;  fazer-llio  um  tiico. 
REBITE,  ■«.  m.  A  juinta  do  cravo  quo  o 

ferrador  dobra  .sobro  o  casco,  c  corta. 

—  Pequena  arpola. 

REBO,  .«.  )(í.  Cascalho  de  pedras  ou  te- 
Uias  ((uiln-.^i^la.-í. 

REBOANTE,  jiftri.  acf.  de  Reboar.  Re- 
tiiiiil>.iiitr,  ijue  reboa,  (jue  faz   cclio. 

REBOAR,  c.  a.  (Uo  Jatim  reboare).  Re- 
tumbar, fazer  som,  estrondo,  ccho. 

— -  Atroar. 

REBOCADURA,  s.  /.  AcçHo  de  rebo- 
car. 

REBOCAR,  r.  rt.— Rebocar  a  pnrcjk ; 
cobril-a  cum  cal,  para  lhe  aplanar  a  .iu- 
pcrticie. 

—  Termo  de  marinha.  Puxar,  levar  á 
toa,  ;'i  sir2:a.  —  Os  escaleres  rebocam  o 
naviíi  jiitra  evitar  algum  perigo,  ctc. 

REBOCO,  s.  m.  A  cal  amassada  posta 
nas  paredes,  com  que  so  rebocií. 

—  O  acto  do  rebocar. 

REBOLADO,  s.  m.  Bainbaleio,  movimen- 
to indecoroso  que  se  faz  com  as  nádegas, 
quando  se  dança. 

—  Part.  pass.  ile  Rebolar. 
REBOLÃO,   ailj.  Que  diz  rabularias. 

—  Que  faz  rabularias. 

—  Substantivamentck:   Um  rebolão. 
REBOLAR,  V.  n.  Bambalcar,  mover  in- 

dccorosamcnte  as  nádegas  no  acto  de  dan- 
^■ar,  saracotear. 

—  Rebolar  a  oliveira;  adoecer  de  re- 
bolo. 

REBOLARIA,  .-■.  /.  Dito  ou  acto  do  re- 
bol.ào. 

—  Termo  antiquado.  Pompa  viciosa, 
ornato  escandaloso. 

REBOLCAR-SE,  v.  reji.  Rovolver-se;  acto 
dos  aniníaes  qiiando  se  espojam  sobre  a 
terra,  ou  na  lama,  revolvcndo-sc  o  vi- 
rando-se  d'uma  parte  para  a  outi'a. 

REBOLEIRA,  .•-•.  /.  A  terra  ou  lama 
cxistentr  no  fundo  do  coche,  onde  anda 
o  rebolo.  Vid.  Molada. 

—  Estacas,  cjuo  se  tomam  dos  soutos 
para  se  fazerem  castanheiros;  tanchões 
de  castanheiros. 

—  Nas  searas  c  mattas,  é  a  parte  mais 
basta,  c  em  quo  ha  menos  claros.  Vid. 
Roboleira. 

REBOLEIRO,  í.  m.  ( "luu-alho  grande. 

— -Vid.  Reboleira  de  arvores,  ou  Robo- 
leira. 

REBOLIÇO,  s.  »i.  Susurro  de  gente  que 
anda  em  ;novinii>nt.i,  que  est:í  inquieta, 
sem  socego. 


—  Tumulto,  alvoroço  do  gonto  em  des- 
ordem. 

REBOLINDO,  j»nf.  ,1,1.  d,-  Rebolir. 

-  l.íic.  u«v.  i:riii>.:  A-^  ou  1 /c  rebolin- 
do ;  ir,  ou  vir  com  muita  pressa. 

REBOLIR,  '•.  a.  'J'(!rmo  p<q)ular.  Jlovor 
os  quadris,  bambalcar,  rabear,  Haraco- 
tear. 


Armudo  di;  ponto  em  branco 
N'oiili;i  o  Cyrfuc  rfhnUiulo, 
Poiíi  sempre  cantou  do  rcquicm, 
Vcnhii  fiuor  os  oificioA. 

JERO.NVMO    OAIIIA,   A    IH   PINTA8ILOO   UOBTO 
POIl   LM   OATO. 


—  Fazer  alguma  cousa  depressa. 

—  Rebolir  a  conta;  revêl-a,  examinal-a. 

—  Rebolir  alguma  cousa;  tratal-a  de 
novo. 

REBOLO,  s.  m.  Pedra  redonda  que  gira 
sobre  um  veio  dentro  de  um  coche  com 
agua,  cm  que  se  amolam  instrumentos 
cortantes,  ferramentas,  ete. 

—  Doença  da  azeitona,  que  niío  vinga, 
mas  faz-so  em  um  grão  redondo  como 
ervilha,  quasi  sem  caroço  e  sem  óleo  al- 
gum. 

REBOMBAR,  r.  a.  Repetir  o  grande  tom, 
echo,  fragor  do  trov.^io. 

—  Figuradamente  :  Rebombar  horriso- 
nos  bramidos. 


Então  rehomhatn  nos  profundos  vales 
]Iorriâono3  bramidos:  vacillante 
SoI)re  03  ci-xos  a  terra  abre  as  gargantas, 
K  no  bojo  outra  vez  sepulta  09  montes. 
Que  do  si  já  lançou,  (se  a  voz  das  Musas 
luda  devo  seguir,  tíuftbn,  teus  sonhos  !) 

J.  A.   DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  CUUt.   2. 


REBOMBO,  s.  m.  O  echo  forte  de  som 
também  forte.  —  O  rebombo  do  trovão. 

Larga-sc  a  branca  vóla.  e  a  forte  Armada 
8e  retratava  na  corrente  fria, 
Nunca  em  socego  tal,  tanto  espelhada. 
O  Estio  a  vira  uo  despontar  do  dia  ! 
Troa  o  cavado  broiue ;  e  a  conglobada 
Nuvem,  que  exhala  a  negra  artillieria. 
Na  superfície  8'e9tcndeo  dos  mares, 
Fica  o  reliombo  do  trovão  nos  ares ! 

J.    A.    DE  MACEDO,  O  ORIENTE,  Caut.    '2,   CSt.    liO. 

>ías  ah!  que  dentro  em  si  respeita,  escutn 
Huma  voz,  que  o  sustem  !  Junto  ao  dolicto, 
Jieliombo  dhum  trovão,  i|u'intcrno  brame, 
Com  feio  espanto  o  coração  lhe  aperta. 

IDEM,   MEDITAÇÃO,   CllUt.   4. 

o  Dauubio  d'hum  lado,  c  doutro  o  Sena, 
Correm  tintos  de  sangue,  o  mar  sespanta 
I1"ouvir  continuo  os  hórridos  rfhomliof 
l>os  \-ulc;xneos  trovões  ;  ficào  cubertas 
De  tristes  restos  náufragos  as  praias. 

IDEM,  A  NATCREZA,  Caut.    1. 


REBONISSIMO,  A,  a.lj.  sup.  comp.  Duas 
vezes  muito  bom. 

REBOQUE,  s.  m.  O  acto  de  rebocar. 


—  Termo  de  marinlia.  A  toa  ou  eirga 
com  qtu'  se  fuixa  o  navio. 

—  fJar  reboque ;  rebwar  o  navio.  Vid. 
Rabote,  ou  Rebote. 

REBOQUEAR.  r.  a.  Vid.  Rebocar. 

REBORA,  n.  /.  Termo  antiquado.  l*or 
esta  palavra  se  entendia  o  priísente, 
luvas,  donativo,  ofireçSo  ou  mimo,  que, 
além  do  preço,  se  dava  nas  comprat  e 
vendas,  trocas,  escambos,  o  também  naa 
doaçòes  a  costumava  uar  o  donatário  ao 
doaiite.  Umas  vezes  eram  esta^  reboras 
a  causa  total  das  doaçrtes,  outras  «4')  a 
causa  impulsiva.  E  nas  cartas  de  liber- 
dade, isenç.^o,  venda  ou  escambo  nSo 
poucaa  vezes  fazia  parte  do  preço,  ain- 
da que  nem  sempre  se  exprcs8a«ge.  =  Em 
Viterbo,  Elucidário. 

—  Termo  antiq\iado.  Idade  capaz  de 
razão,  tempo  do  um  pupillo  sahir  de  tuto- 
rias, e  de  se  governar  por  si  mesmo,  ad- 
quiridas j.á  aquellas  forças  e  luzes  que 
são  indispensáveis  para  dirigir  com  saga- 
cidade e  prudência  as  suas  acções.  Treze, 
qiiatorze  ou  quinze  annos  alguma  vez  se 
julgaram  bastantes  para  adquirir  e«ta  re- 
bora  ou  força  do  corpo  e  espirito :  porem 
as  leis  que  se  bascam  no  que  vidgarmente 
succede,  c  não  em  factos  particulares,  es- 
tabeleceram mais  largo  espaço,  para  que 
o  homem  e  a  mulher  podessein  viver  sem 
guardas  c  tutores,  como  capazes  de  ad- 
ministrarem por  si  suas  ca.sas.  rendas  e 
morgados.  =  Em  Viterbo,  Elucidário. 

—  Contirmação,  outorga. 

—  Rebora  comprida ;  é  o  tempo  da  pu- 
berdade, que  nas  mídhore^  ò  aos  doze,  e 
nos  liomens  aos  quatorzc  annos. 

REBORADO,  part.  pms.  de  Reborar. 

—  N.  m.  Termo  da  província  da  Beira. 
Matéria  de  chaga,  ou  leicenço. 

REBORAR,  r.  a.  Firmar  de  novo,  con- 
firmar por  um  instrumento  publico  o  que 
já  se  tinha  dito,  feito  ou  pactuado  por  uma 
escriptura.  ]iartieular  ou  só  de  palavra. 

REBORDÃO,  Ã,  ÃA,  ou  AN,  fi^J._(Vw- 
tanheiro  rebordâo;  castanheiro  bravo,  n.ão 
enxertado. 

—  Cai<faiih'is  rebordas ;  castanhas  de 
castanheiro  bravo  mais  grossas  e  redon- 
das que  as  loiígais.  —  «  Ha  muitas  nozes 
e  muito  boas  e  muitas  ca.stanlias  assi  cu- 
Iharinhas  como  rebordas  muito  grandes 
c  muito  boas,  e  as  rebordas  sam  niilho- 
res  que  as  nossas,  porque  tieixam  de  to- 
do ha  casca,  ho  que  as  nossas  nain  fa- 
zem.» Frei  Gaspar  da  Cruz,  Tratado  das 
cousas  de  China,  cap.  12. 

REBOTADO,  j-art.  pass.  de  Rebotar. 
Embotado. 

—  Repellido,  rechaçado   bellicamente. 

—  Clio  rebotado,  cavallo  rebotado : 
cão,  cavallo  que  não  p«>de  comer,  nem 
beber. 

—  Enfastiado,  desiilentado. 

REBOTALHO,  .••.  m.  A  fructa  ou  fazen- 
da que  Hca,  depois  de  encolhida  a  de  me- 
lhor sorte. 


I 


REBU 


REBU 


REGA 


107 


—  Refu.ço. 

REBOTAR,  V.  a.  Embotar  o  fio. 

—  Repellir,  rechaçar  bellicameute. 

—  Reboíar-se,  v.  rejí.  Enfastiar-se, 
enfadar-se,  uSo  proseguir  com  a  mesma 
acriraonia  como  a  principio. 

REBOTE,  .s\   Ȓ.  Vid.  Rabote. 

REBOTO,  A,  adj.  Muito  boto,  rude, 
ignorante,  estúpido. 

REBOUTALHO,  s.  m.    Vid.   Rebotalho. 

REBRAÇO,  s.  m.  A  parte  da  armadura 
que  cobria  o  braço  do  meio  para  o  hom- 
bro,  em  opposiçao  a  avanòraço. 

REBRAMADO,  pari.  ^^ass.  de  Rebra- 
mar.    Retumbado,  rebombado. 

REBRAMAR,  i'.  n.  Retumbar,  repetir 
o  bramido. 

Se  troa,  se  rehrama  o  escuro  inferno 
Dentro  do  bojo  do  Vesúvio,  e  cxhala 
O  fumo,  que  se  espaude,  e  o  Coo  nos  rouba ; 
E  o  diurno  clavão  transforma  em  noite, 
E  aquella  chamma,  que  conduz  estragos, 
(Foi  destes  o  maior  de  Plinio  a  morte) 
Aqui  desviobre  o  iáabio  Electricismo. 

J.   A.   DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Caut.    1. 

A  Tei-ra  rebramando  abre  a  garganta, 
Entre  horrendos  trovões  vomita  a  morte  ; 
Ou  na  escura  vorage  engole  os  muros, 
Ou  pelos  árcs  aluídas  pedras 
Com  destroncados  corpos  se  deiTamão  •, 
Cuberto  fica  ao  longe  o  campo  extenso 
De  vestígios  da  raiva,  ou  da  victoria. 

IDEM,  MEDITAÇÃO,   CaUt.    2. 

Engrossa  o  furacão,  rebrama,  e  tòa, 
O  medo  o  precedco,  o  estrago  o  segue, 
A  luctuosa  tempestade,  a  chuva  ; 
Tristes  vestígios  de  seus  passos  deixa. 

IDEM,  A  NATUREZA,  CaUt.    2. 

—  Produzir  som  forte,  continuo. 
REBROTAR,.  v.  a.    Tornar   a   brotar, 

brotar  de  novo. 

1.)  REBUÇADO,  s.  m.  Pellotas  de  as- 
sacar em  ponto  de  quebrar  que  se  tra- 
zem na  bocca  para  derreter. 

—  Homem  que  traz  carapuça  de  rebu- 
ço, ou  similliante  encoberta  do  rosto. 

2.)  REBUÇADO,  i^art.  pass.  de  Rebu- 
çar. Vid.  Embuçado. 

—  Figuradamente  :  Encoberto,  dissi- 
mubxdo,  disfarçado.  —  «Vinha  rebuçada 
com  huma  carta  a  modo  de  embaixada, 
acompanhada  de  hum  presente  de  boas 
peças,  mandadas  em  nome  dei  Rey  nosso 
SenJior,  e  á  custa  de  sua  fazenda,  como 
he  custume  fazerem  os  Capitães  todos 
naquellas  partes.  Este  António  de  Faria 
trazia  huns  dez  ou  doze  mil  cruzados  em 
roupas  da  índia  que  em  Malaca  lhe  em- 
prestaram.» Fernão  Mendes  Pinto,  Pere- 
grinações, cap.  36. 

REBUÇAR,  V.  a.  Cobrir  com  rebuço. 
—  Rebuçar  o  semblante. 

—  Figuradamente :  Encobrir,  dissi- 
mular, disfarçar. 


Com  devota  oblação  (quem  tal  diria  ?) 
A  Palas  oliieceu  traidorameuto 


De  madeira  um  Cavallo,  e  o  bojo  ardente 
llebiíçava  a  traição  na  offcrta  ímpia. 

ABBADK    DE    JAZENTE,    POESIAS,    tOin.    2,  pag.    51 

(cdiç.  1787). 


—  Rebuçar-se,  v.  reji.  Cobrir  metade 
do  rosto  com  o  capote,  ou  capa,  manti- 
llia,  ou  carapuça  de  rebuço  para  se  en- 
cobrir, e  disfarçar,  ou  evitar  o  mormaço 
do  sol  no  rosto. 

—  Disfarçar-se,  dissimular-se,  euco- 
brir-sc. 

REBUCHUDO,  A,  adj.  Vid.  Rechonchudo. 
REBUÇO,  s,  í/í.  Traste  de  cobi-ir  o  ros- 
to, ou  parte  d'elle. 

—  CahLr  o  rebuço;  a  mascara,  o  fin- 
gimento do  hypocrita,  e  apparecer  a  ver- 
dade. 

— •  A  parte  da  capa  que  cobre  meio 
rosto  para  se  não  conhecer  quem  sabe 
rebuçado. 

—  Figuradamente :  Dissimulação,  dis- 
farce. 


Mas  f aliemos,  Paulino,  seriamente ; 
Deixemos  dos  rebuços  a  destreza : 
Eu  discorro,  que  a  tua  sutileza 
Alguma  idèa  encobre  delinquente. 

ABBADK  DE  JAZENTE,  POESIAS,  tOm.  1  ,  pag.  59 

(cdiç.  do  1787). 

O  rebuço  foi  somente 
pcra,  senhor,  de  regalo 
onde  não  sorve  o  cavallo 
n'um  negocio  d 'acidente. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  159. 


• —  Mulher  de  rebuço  ;  mulher  embu- 
çada, mídher  publica,  mundana,  puta, 
prostituta. 

—  Carapuça  de  rebuço  ;  carapuça  que 
tem  abas  que  se  atam  diante  do  meio 
do  rosto,  e  o  encobrem. 

f  REBULIÇO,  s.  m.  Vid.  Reboliço. 

Cos  braços  nús  aparta,  os  espinhosos 
Ramos,  fazendo  hum  áspero  caminho, 
O  veloz  animal  ganchoso,  salta. 
Foge  a  lebre  espantada  do  rugido. 
Sobrcsaltado  fica  o  varão  nobre 
Do  estrondo,  e  ramoso  rebuliço, 
Cuida  ser  por  ventura  algum  soberbo, 
Brauo  Leão,  ou  fero  Hyrcano  Tygre. 

CORTE  REAL,  NAUFRÁGIO  DE  SEPÚLVEDA,  CaUt.  Ití. 

Virara  todos  o  rosto  aonde  havia 
A  causa  principal  do  rebuliço ; 
Eis  entra  um  cavalleíro,  que  trazia 
Armas,  cavallo,  ao  boUico' serviço. 
cAM.,  Lus.,  caut.  6,  est.  62. 

—  «Este  dom  Aluaro  foi  homem  paci- 
fico, e  de  muita  substancia,  e  mui  fora 
de  rebuliços,  pelo  qual  respeito  o  Duque 
dom  Fernando  seu  irmão,  nem  os  que 
entrarão  na  conjuraçam  feita  contra  el 
Rei  dom  loam,  lhe  não  ousarão  descobrir 
o  erro  em  que  os  o  demónio  trazia  ce- 
gos.» Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  3,  cap.  45. 


REBUSCA,  s.  f.  A  acção  de  tornar  a 
buscar.  Vid.  Rebusco. 

—  Alguns  dizem  Rabisco. 
REBUSCAR,  V.  a.  Buscar  segunda  vez 

para  achar  o  que  escapou  da  primeira. 

—  Rebuscar  «  vinha;  i-abiscar. 

—  Procurar,  investigar  miudezas,  cou- 
sas de  pouca  monta. 

—  Figui-adamente :  Revolver  na  me- 
moria. 

—  Inquirir  miudamente,  indagar,  bus- 
car com  repetidos  esforços. 

REBUSCO,  s.  VI.  Vid.  Rebusca. 

REBUSNAR,  v.  a.  Termo  pouco  em 
uso.  Vid.  Zurrar. 

f  REBUSTO,  A,  adj.  Vid.  Robusto.— 
«Foi  el  Rei  D.  Joaij  de  meã  estatuída, 
mui  gentil  homem  antes  das  bexigas,  que 
alguma  cousa  lhe  diminuirão  este  dote ; 
teve  o  cabello  louro,  olhos  azues,  alegres, 
e  agradáveis,  a  barba  mais  clara,  que  o 
cabello,  o  corpo  grosso,  e  taõ  rebusto, 
que  só  lhe  veio  a  prejudicar  a  desordem 
do  alimento.»  Fr.  Bernardo  de  Brito, 
Elogios  dos  reis  de  Portugal,  continua- 
dos por  D.  Jo.sé  Barbo.^ia. 

RECABDADO,  par^  pass.  de  Recabdar. 

—  Termo  antiquado.  Mullier  recabda- 
da;  mulher  recebida  na  face  da  igreja, 
e  com  todas  as  solemniJades,  que  os  di- 
reitos prescrevem  e.  determinam. 

RECABDAR,  v.  a.  Termo  antiquado. 
Recadar,  ou  arrecadar,  receber. 

RECABDO,  s.  rn.  Termo  antiquado.  Re- 
cebimento solemne  em  face  da  igreja,  e 
na  fjnna  dos  sagrados  cânones,  santifi- 
cado com  a  benção  do  sacerdote. 

RECABEDAR,  V.  a.  Vid.  Recabdar. 

RECABEOO,  s.  m.  Termo  antiquado. 
Recai  )do. 

—  Instrumento,-  ou  escriptura  de  reca- 
bedo ;  escriptura  de  arrhas,  que  se  fazia 
a  uma  esposa,  que  com  toda  a  solemni- 
dade  se  esperava  receber.  Tal  é  uma  as- 
sim intitulada,  e  escripta  em  portuguez 
no  anno  de  1270,  pela  qual  um  marido 
consigna  a  sua  mulher  futura  certos  ca- 
saes  em  terra  de  Alaíoes. 

—  Recibo,  escripto,  bilhete  ou  quita- 
ção, pela  qual  se  declara  ter-se  recebido 
alguma  sonima,  de  que  o  devedor  fica 
desobrigado. 

—  Livro  de  recabedo ;  era  propria- 
mente o  livro  de  receita,  pelo  qual  se 
manifestava  o  quanto  se  havia  recebido, 
e  o  que  ainda  ficava  em  aberto. 

RECABITA,  s.  m.  Religioso  da  lei  an- 
tiga, assim  chamado  de  Recahb  seu  fun- 
dador. 

RECABITO,  s.  VI.  Termo  antiquado.  Vid. 
Recebido. 

RECACHADO,  í'»»"''  1'«^^'  t'e  Reca- 
char-se. 

RECACHAR,  v.  n.  Fazer  ou  responder 
com  cacha,  a  quelu  a  fez  primeiro. 

—  V.  a.  Levantar. 

—  Recachar-se,  v.  rcjl.  Entonar-se, 
dar  ao  collo  e  corpo  uma  postura  soberba. 


108 


IIKCA 


RECA 


RECA 


RECACHIO,  «.  111.  Vifl.  Recacho. 

RECACHO,  s.  VI.  O  ciitiiiio  do  collo,  a 
po.Uiira  (lo  corpo  j)iirít  cima  nmi  teso, 
com  a  cabfça  lev/iutaila,  <;  ospctaila,  at- 
Ibctanílo  fjraviílíulií. 

—  Um  iiiodi)  d(!  ret)ii^'o  com  a  capa, 
tm  r()U|)!i  (|uo  f^mhriillia  o  corpo,  dííixaii- 
do  j)iutc-f  (K'scol)<Tt;n  ;  o  recacho  6  o  quo 
cobro  C!il)Of;a  ou  lioiiibros. 

RECADAÇÃO,  K.  f.  Vid.   Arrecadação. 

—  Acto  d«-  recolher  em  caixa,  cofre, 
ctc. 

—  Rol,  memorial  de  cousas  requeridas 
e  diligencia»  feitas  para  arrecadar. 

—  Custodia,  prisão  ou  fcuarda  de  réo. 

—  Attestaçito  de  como  pa^^ou  »isa,  ou 
imposto,  o  éflcito  ou  cousa,  que  o  deve 
na  entrada  pelos  portos,  c  se  leva  de 
umas  terras  para  outras. 

—  Receita  cm  livros  de  contas,  os  ar- 
tigos ou  addições  do  recebido. 

—  Pessoa  que  vif?ia  ;  ou  melhor,  a  vi- 
gia de  ífuanlas,  para  í/bstar  a  desencami- 
iilios,  contral)andos. 

RECADAÇOM,  s.  /.  Vid.  Recadação.  — 
u()  E.-icrii)vào  das  malfeitorias  ha  do  es- 
crepvcr  o  poer  em  recadaçom  citaçoões, 
e  recadaçoões,  e  pregoões,  e  proeuraçoões, 
e  requesiçoões,  e  dizimas  d'Alvaraaes, 
que  so  perante  o  Corregedor  passam,  pê- 
ra Nós  havermos  boa  recadaçom  do  Nos- 
so.» Ord.  Affons.,  liv.  1,  tit.  15,  §  1.— 
«Se  na  Corto  som  presos  barregueiros, 
ou  barreguelras.  Nós  levamos  dellcs  cer- 
tas pensões,  as  qiiaes  o  Escripviío  das 
malfeitorias  teerá  carrego  de  as  poer  em 
recadaçom;  e  para  esto  o  quo  sobre  ello 
ordenar  o  (l)orrogodor,  ho  Escripvam  das 
malfeitorias  a  cscrcpva.»  Ibidem,  liv.  1, 
tit.  l."i,  §  C. 

RECADADO,  pavt.  prt.ss.  de  Recadar. 

RECADADOR,  A,  ailj.  e  s.  Vid.  Arre- 
cadador. 

RECADAR,  r.  a.  Vid.  Arrecadar. 

—  rrouder. 
RECADISTA, 

rccatlos. 

RECADO,  s.  Hl.  Mandado,  ordem,  men- 
sagem, sci'viço  de  que  se  encarrega  al- 
guém para  o  fazer,  levar,  ou   executar. 


2  gen.  Pessoa  que  faz 


Haf. 
Beli. 


Sat. 


Como  vonâ  nssi  turvado  ? 
C"hcgou-iioa  111  hum  recado 
De  Jesu  de  Nazaró, 
Mui  tcrrivol  c  apertado. 
Quo  recado  ? 

OIL  >aCE>!TE,  ArXO  DA  C4NASÉA. 


—  «E  posto  que  os  cavalloiros  do  Fi- 
listor,  que  eram  quatro,  tivessem  por  or- 
denação u.ão  saírem  do  castello  por  ne- 
nhuma via,  sem  seu  mandado,  nem  o 
abrirem  senão  a  sua  pessoa,  ou  recado 
certo  ;  houveram  ])or  tamanha  injuria  vòr 
que  um  sii  cavalleiro  se  atrevia  tanto,  o 
assim  os  maltratava  com  suas  palavras.» 
Francisco  do  Jloraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  lOõ.  —  <iEnt.^io  so  despediu, 
e  levou  recado  a  sua  senhora ;  e  como  o 


natural  das  mulheres  6  n.lo  querer  ne- 
nhuma desculpa  nas  cousas  feitas  a  seu 
desgosto,  houve  tamanha  iiienencoria,  que 
nem  quiz  escutar  a  donzella,  nem  con- 
sentir que  outrem  lhe  failasso.»  Ibidem, 
cap.  110.  — «Com  isto  lieou  a  corte  hi) 
c  o  imperador  descontente  do  m:lo  re- 
cado, qu(!  tivera  na  partida  de  seu  ne- 
to, tomendo-se  dalli  lhe  nascer  algum 
daumo,  quo  O  coraçjlo  lhe  revelava.» 
Ibidem,  cap.  113.  —  «E  mandando  reca- 
do aos  cavalleiros  que  as  livrassem  de 
quem  as  trazia  forçadas,  pozeram-se  ein 
ordem  de  justa  nSo  com  tençSo  de  ca- 
sar com  cilas,  ainda  que  vencessem,  que 
outro  era  o  modo  de  sua  demanda.»  Ibi- 
dem, cap.  12'.l. 


A  ira,  com  que  súbito  alterado 
O  coração  dos  deose.?  foi  n'hum  ponto. 
Não  sortreo  mais  conselho  bem  cuidildo. 
Nem  dilação,  nem  outro  alpum  desconto. 
Ao  grande  Eolo  mandão  ja  reaulo 
Da  parte  de  Neptuno,  que  sem  conto 
Solte  as  farias  dos  ventos  repugnantes ; 
Que  não  haja  no  mar  mais  navcgautcs. 
cAM.,  Lus.,  cant.  6,  e.st.  35. 

Ilum  navio  he  ja  chegado 
A  barra,  que  vem  de  lil ; 
Traz  de  Amphitrião  recado, 
Diz  que  o  deixa  embarcado 
Para  se  vir  para  cA. 
Tem  vencido  aquclle  TJci ; 
F,  diz,  3i'guudo  lhe  ouvi, 
Qu'esta  noite  será  aqui. 

IDEM,   AHriIYTBlÔES. 


—  íE  tribem  por  lhe  nSo  dar  nellas  con- 
fiança pêra  poderem  pelejar,  somente  Ic- 
uarão  lanças  e  espadas:  e  recado  que  não 
fizessem  mães  que  descobrir  a  terra,  e 
isto  sem  se  apartar  hum  do  outro,  nem 
menos  so  apeassem,  c  porem  vendo  algu- 
ma pessoa  que  elles  sem  seu  perigo  po- 
dessem  prender  que  o  fizessem. n  Barros, 
Década  1,  liv.  1,  cap.  õ.  —  «Cõ  o  qual 
recado  Vasco  da  ( íamma  ficou  mui  satis- 
feito, principalmente  na  mudança  dos 
nauios  d'aquella  costa  a  lugar  mães  se- 
guro :  porque  nisto  mostraua  elRey  per 
obra  o  que  lhe  mandaua  dizer  per  pala- 
ura,  acerca  do  contentamento  que  tinha 
de  sua  vinda,  e  quo  de  tal  acolhimento 
do  primeiro  recado  que  lhe  mandaua  po- 
dia esporar  ser  bem  despachado.»  Ibi- 
dem, liv.  4,  cap.  8. — «(O  qual  ja  r.este 
tempo  escondidamente  vinha  communicar 
com  elle :)  todavia  porque  estando  mães 
perto  delRey  per  meio  do  mesmo  Mon- 
çaide  lhe  poderia  mandar  algum  recado, 
e  mães  saber  o  que  so  fazia  com  Diogo 
Diaz,  o  Álvaro  do  Braga,  foise  com  os 
navios  poer  ante  a  cidade  do  Calecut.» 
Ibidem,  cap.  10.  —  «Partida  a  nao  cõ 
este  recado,  quando  Aftonso  d'Alboqucr- 
que  chegou  a  cila,  tinha  já  reteudos  dous 
pilotos  :  per  a  pilotagem  dos  quaes  toda 
a  armada  tomou  pouso  em  hum  porto  lo- 
go á  entrada  da  porta  do  estreito  da  par- 


te de  Arábia,  porque  este  canal  ho  o 
mães  geral.»  Idem,  Década  2,  liv.  7,  cap. 
10.  —  «E  logo  teve  o  Visorey  o  recado 
d(!  Martiin  (^"orrea  da  Silva.  K  sabendo 
estar  cm  Angediva,  dcepedio  apressada- 
incnto  alguns  navios  de  remo  com  to^iaa 
as  cousas  que  Martim  Corrêa  lhe  j>edia, 
e  muitas  esquijiaçoeus  novas.»  I)iogo  de 
Couto,  Década  <>,  liv.  O,  cap.  H. —  tHo 
que  sabendo  os  capitães  dannadu  niAnda- 
ram  lho  de  noite  mny  secretamente  hani 
recado,  que  se  queriam  que  lhe  vieiwe 
fazenda,  que  lhe  mandassem  alguma  cou- 
sa. Folgando  muito  os  Portugnese»  com 
este  recado,  fizeramlhe  hum  grosuo  e  hon- 
rado presente,  c  mandaram  lho  de  noite 
por  assi  serem  avisador.  >.  Fn-i  Caspar  da 
Cruz,  Tratado  das  cousas  da  China,  ca]>. 
23.  —  «Juro  assim  mesmo,  que  era  todas 
as  mesagens,  recados,  embaixadas,  de 
que  for  encarregado,  assim  pelo  dito  Rey 
Nosso  Senhor,  como,  pelos  que  seu  lagar, 
e  mandado  para  ellcs  tiverem,  como  de 
qualquer  outro  Rey,  ou  Príncipe;  posto 
que  este  em  imizade  com  o  dito  Rey  Nos- 
so Senhor,  farei  verdadeiríus,  e  fieis  rela- 
çoens. »  Severim  de  Faria,  Noticias  de  Por- 
tugal, liv.  3,  cap.  19. 

—  Loc.  POP. :  Eíte  comer  manda  reca- 
dos á  bocca;  este  comer  é  indigesto. 

—  Pôr  as  cousas  a  bom  recado,  ou  a 
recado ;  pôr  as  cousas  em  logar  seguro, 
em  cobro,  com  caução  de  indemnisação, 
seguras  de  perigo  e  risco,  e  livres  de  dam- 
no.  —  aE  se  depois  se  mudou  a  sorte  das 
prisoens,  foi  por  culpa  d'ElRey  D.  (J ar- 
eia, que  naõ  poz  a  seu  irmaõ  a  bom  re- 
cado, e  se  foi  só  seguindo  o  alcance.  El- 
Rey D.  Afonso  Henriques  desbaratou  a 
ElKey  D.  Afonso  seu  primo  nos  Arcos 
de  Valdcvès.»  Severim  de  Faria,  Noti- 
cias de  Portugal,  Disc.  2. —  «A  donzel- 
la tanto  que  teve  a  carta  dei  Rey  na 
mão,  não  se  deteve  mais  que  em  quanto 
se  despidio  de  sua  tia,  e  caminhou  com 
tanta  pressa  que  em  pouco  tempo  chegou 
á  cidade,  e  deu  a  carta  ao  Broquem,  o 
qual  logo  em  a  vendo  ajuntou  tixlos  os 
Peretandas,  c  Chumbins  da  justiça,  e  se 
foi  á  prisaõ,  na  qual  ja  naquelle  tempo 
estávamos  a  muyto  bõ  recado. »  Femâo 
Mendes  Pinto.  Peregrinações,  cap.  142. 
—  «  Em  que  lhe  mandava  oftVrecer  mur- 
ta gente  contra  o  Rey  do  Bramaa,  por 
quem  a  terra  então  estava,  para  fazer 
fortaleza  em  Marta  vão,  e  lançar  os  Bra- 
maas  fora  do  reyno,  e  outras  tantas  cou- 
sas a  esto  modo,  que  o  Governador  me 
mandou  logo  prender,  e  despois  de  me  ter 
posto  a  bom  recado,  se  foy  ao  junco  em 

que  cu  tinha   vindo  de  Malaca.»  Ibidem,  11 

cap.  Iõ3. —  «Tanto  que  cstea  Louthi.as  I 
acabaram  de  tirar  ha  devassa  no  Chin-  •' 
cheo,  como  por  cila  souberam  ha  verdade 
do  que  os  Portugueses  deziam,  e  as  men- 
tiras do  Luthissi  e  do  Aitao,  despacha- 
ram logo  hum  correo  om  que  mandaram 
põer  ho  Luthissi  e  ho  Aitao  lun  prisões  a 


REGA 


REGA 


REGA 


109 


111  uv  bom  recado.»  Frei  Gaspar  da  Gruz, 
Tratado  das  cousas  da  China,  cap.  25.  — 
«E  sabendo  cl  Rey  tudo  isto  tão  meuda- 
meiíte  por  taes  duas  pessoas  o  dissimulou 
de  maneira,  que  nunca  fby  sentido,  por 
esperar  mais  inteira  proua,  e  porem  an- 
daua  uiuy  a  recado  armado  muy  secreta- 
mente, e  sempre  com  espada,  e  punhal, 
e  acauallo,  e  nunca  em  mula,  porem  tu- 
do fevto  com  tanta  prudência,  e  dissimu- 
lação, que  nunca  sentirão  o  que  elle  sen- 
tia.» Garcia  de  Rezende,  Chronica  de  D. 
João  II,  cap.  53. —  «E  depois  do  Gapitam 
deixar  os  nauios  a  bom  recado,  partio  por 
terra  com  duzentos  negros,  que  leuauam 
todas  as  cousas,  e  outros  muytos  pêra  se- 
gurança de  tudo,  e  leuauam  muytos  man- 
timentos.» Ibidem,  cap.  157. 

—  Mandar  recado  «  aZ^wem;  mandar 
ordem,  mensagem  a  elle.- — «E  ainda  te- 
ue  tal  modo  que  fez  com  o  Gamorij  que 
mandasse  hum  recado  a  elle  Aires  Gor- 
rea  sobre  este  elefante,  dizendo  quanto 
contentamento  teria  de  o  auer.»  João  de 
Barros,  Década  1,  liv.  5,  cap.  6.  —  «Gõ- 
sultarão  de  mandar  com  recado  ao  Viso- 
Rey  a  Rui  Soarez  commendador  de  Ro- 
des, que  ali  iicara  da  armada  de  Tristão 
d'Acunha,  esperando  pelo  nauio  de  Pêro 
Quaresma  pêra  se  ir  nelle,  andar  com 
Affbnso  d'Alboquerque  como  el-Rey  man- 
daua :  a  qual  viagem  elle  acceptou,  peró 
que  fosse  de  muito  risco,  porque  alem  de 
ser  seruiço  d'elRey,  era  elle  da  criação 
do  Prior  do  Grato  dõ  Diogo  d'Almeida 
irmão  do  VisoRey  dom  Francisco,  e  fol- 
gou d©  se  ir  para  elle.»  Idem,  Década  2, 
liv.  1,  cap.  6.  —  «E  como  ao  tempo  que 
Aífonso  d'Alboquerque  mandou  este  re- 
cado, era  jà  no  fim  de  Mayo,  em  que  na- 
quellas  partes  se  começaua  o  inuerno,  e 
o  Hidalcão  tinha  abalado  com  seu  exer- 
cito pêra  vir  cercar  a  cidade,  do  poder  e 
apparato  do  qual  erão  as  estradas  cheas 
com  nona,  á  qual  por  ser  per  boca  de 
Mouros  Aftbnso  d'Alboquerque  daua  pou- 
co credito.»  Idem,  Ibidem,  liv.  5,  cap. 
4. —  «E  deteueraose  em  subir  acima  per 
tantos  dias  atoandose  de  vagar  pouco  e 
pouco  em  espaço  de  huma  leguoa  sem 
chegar  á  estacada,  que  cansado  Aífonso 
d'Alboquerque  dos  recados  que  lhe  man- 
daua,  e  desculpas  de  não  poderem  mães, 
determinou  per  se  ir  ver  este  vagar.» 
Idem,  Ibidem,  liv.  7,  cap.  5.  —  «Quan- 
do el  Rei  mandou  este  recado  a  Pedi-al- 
urez,  esta  nao  era  Ja  à  vista  da  Gidade 
de  Galecut,  pelo  que  Pêro  Datai  de  se  fez 
logo  à  vela,  e  a  foi  cometer  dando-lhe 
caça,  e  sem  a  querer  abalroar,  por  a  sua 
nao  ser  muito  somenos  que  a  dos  Mou- 
ros, que  era  de  mais  de  seiscentos  toneis, 
lhes  mandou  que  amainassem,  do  que  se 
elles  rindo  e  zombando  começarão  a  dar 
gritas,  e  tirar  frechas,  e  descarregar  al- 
gumas bombardas  de  ferro  que  traziao.» 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  1,  cap.  58.  —  «  Dom  Vasquo  deter- 


minou de  o  fazer,  posto  que  fosse  contra 
uontade  de  todolos  outros  capitaens,  com 
tudo  para  sua  segurança,  mandou  deter 
o  Bramana  na  nao  Desteuam  da  Gama, 
a  quem  deixou  cargo  de  toda  a  frota,  e 
elle  com  a  sua  nao,  e  huma  caravelia 
se  foi  a  Galecut,  levango  consigo  o  fi- 
lho, e  sobrinho  do  Bramana,  onde  depois 
surto  lhe  mandou  el  Rei  muitos  recados 
de  paz,  e  amizade.»  Ibidem,  cap.  69. — 
«  A  qual  peleja  durou  desde  pela  manhãa 
ate  horas  de  véspera,  no  qual  ponto  o 
Principe  de  Gochim  chegou  ao  passo  sem 
saber  nada  do  combate,  porque  o  recado 
que  lhe  mandara  Duarte  Pacheco  pelo 
Bramana,  que  auia  de  ser  naqueile  dia 
cometido  dei  Rei  de  Galecut,  lhe  não  foi 
dado.»  Ibidem,  ca.p.  89.  —  «O  que  sabi- 
do per  Afonso  Dalbuquerque,  mandou 
recado  a  George  da  Gunha,  qvie  pois  a 
gente  do  Çabaim  dalcão  ja  entrara  nas 
terras  de  Gondal,  que  se  tornasse  pêra 
Goa,  porque  tinha  por  noua  certa  serem 
tantos,  que  per  nenhum  modo  lhes  pode- 
ria resistir.»  Idem,  part.  3,  cap.  4. — 
«  Depois  desta  visitação,  mandou  Çufala- 
rim  recado  a  Afonso  Dalbuquerque  de 
parte  de  Çabaim  pêra  tratarem  pazes,  ao 
que  ordenou  que  fosse  o  Ouuidor  Pêro 
dalpoem,  e  nisso  fallaram  ambos  assaz, 
sem  se  poderem  concertar.»  Ibidem,  cap. 
8.  —  «Pellas  quaes  razões  por  se  vingar, 
e  lhe  ficar  melhor  azo  pêra  seus  amores, 
mandou  per  muitas  vezes  recados  a  Au- 
costaõ  apontandolhe  os  erros  de  Fernam 
caldeira,  pedindolhe  que  lho  entregasse, 
pêra  delle  mandar  fazer  justiça,  do  que 
Ancostam  se  escusou  sempre  pelas  me- 
lhores palauras,  e  modos  que  pode.»  Idem, 
part.  4,  cap.  17.—  «Quisera  fazer  outra 
em  Tagroz,  no  porto  de  Sacam  junto  de 
Meca,  no  que  em  tudo  despendeo  muito 
de  sua  fazenda,  assi  com  mouros,  com 
quem  sobrestes .  negócios  tractaua  secre- 
tamente, como  com  criados  seus  por  quem 
mandaua  estes  recados.»  Ibidem,  cap.  85. 

O  valcroso  Cunha  a  que  o  malvado 
Enganoso  Baudur  soUicitava, 
Lhe  manda  hum  d'alli  logo  com  recado 
Que  Diogo  de  Mesquita  se  chamava : 
Este  cm  Cambaia  já  tinha  provado 
Quanto  a  braga  nas  pernas  carregava, 
E  da  linguagem  tinha,  c  da  malícia, 
E  das  cousas  da  terra  grãa  noticia. 

FRANCISCO  DE  ANDEADE ,  PRIMEIRO  CERCO  DE  DIU, 

cant.  6,  est.  30. 

Tendo  o  SuItSo  comsigo  já  assentado 
Que  por  este  caminho  que  levava 
Daria  fim  mais  prospero  e  apressado 
A  isto  que  unicamente  desejava, 
Ao  nobre  jManocl  Manda  hum  recado 
Que  a  nova  fortaleza  governava, 
Para  que  ao  galeão  vão  juntamente 
Vêr  o  Governador,  que  está  doente. 
IBIDEM,  cant.  6,  est.  65. 

E  vós  ficai  d'aqui  bem  avisado 
(Sc  não  vos  quereis  vêr  cm  grão  perigo) 
Que  não  me  mandeis  outro  tal  recado, 
Xcm  m'o  tragacs  por  vós  com  som  d'amigo, 


Porque  sereis  do  mi  tão  maltratado 
Quanto  o  fora  o  cruel,  mortal  iraigo, 
E  como  a  tal  farei  que  a  brava  e  horrenda 
Bombarda  a  sua  fúria  em  vós  dispenda. 
IBIDEM,  cant.  15,  est.  35. 

Com  isto  o  baluarte  em  tempo  breve 
Foi  do  soberbo  imigo  despejado, 
E  com  grão  damno  seu  também  fim  teve 
O  assalto  tantas  vezes  revezado. 
Sousa  porém  na  cava  se  deteve 
Em  quanto  ao  general  manda  hum  recado, 
Avisaudo-o  de  cousa  que  cntào  sente 
Sor  ao  tempo  era  que  estão  conTcniente. 
IBIDEM,  cant.  16,  est.  138. 

—  Recado  de  escrever;  tinteiro,  papel, 
etc. ;  apparelho,    apparato,   o  necessário. 

—  Levar  recados  o  alguém;  levar  lem- 
branças demonstrativas  de  amizade,  me- 
morias.—  «Negrinhos,  niulatinhos  filhos 
d'estas,  são  os  mesmos  diabos,  ladinos,  e 
chocarreiíos,  por  castanhas  trazem,  e  le- 
vam recados  ás  moças,  e  são  d'ellas  favo- 
recidos. Ciganas,  ermitosas,  adelas,  mu- 
lheres que  vendem  garavins,  e  bolotas 
para  lenços ;  outras  que  trazem  doces,  e 
os  dão  mais  baratos  do  que  valem,  tudo 
é  malissimo.  Mudas  é  peçonha.»  Fernão 
Rodrigues  Lobo  Soropita,  Poesias  e  pro- 
sas inéditas,  pag.  82. 

—  Tomar-lhe  o  recado. 

FUh.    E  a  que? 

Phil.    Tomar-lhe  o  recado : 

cu  não  quiz,  porque  um  mau  tiro 

sempre  tem  seu  laço  armado. 
FUh.    Mas  foreis.la,  vistes  tal ! 

airoso  ^^uha  o  pardal. 

AKTOSIO  PRESTES,  ACTOS,  pag.  135. 

—  Trazer  recado. —  «E  com  este  re- 
cado, que  Ruy  de  Sande  trouxe,  ouue  el 
Rey  muyto  grande  prazer,  e  contenta- 
mento, e  logo:  foy  certeficado  que  no  an- 
uo que  vinha  te  auia  de  fazer  o  dito  ca- 
samento. Pêra  o  qual  el  Rey  logo  come- 
çou de  dar  ordem,  e  auiamento  pêra  as 
grandes  festas  que  ordenou  fazer,  e  pêra 
todalas  outras  cousas  necessárias.  E  de 
Almada  no  Setembro  logo  seguinte  com 
toda  sua  Gorte  se  partio  pêra  Setuuel.» 
Garcia  de  Rezende,  Chronica  de  D.  João 
II,  cap.  73.  —  «E  se  cada  hum  fazer 
prestes,  ou  pêra  defender  a  cidade  se 
lhe  posessem  cerco,  ou  pêra  sair  ao  cam- 
po buscar  os  imigos,  segundo  o  recado 
que  trouxesem  os  escutas,  dos  quaes,  qiie 
tornarem  no  romper  dalua,  soube  dom 
Duarte  (que  os  estaua  esperando  fora  da 
cidade)  como  os  de  cauallo  jaziam  junto 
com  os  fachos,  e  que  a  companhia  lhes 
parecia  gente  grossa.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  31. 

—  Dar  recado;  responder,  dar  conta. 
—  «E,  sem  fazer  mais  detença,  se  foi  ao 
castello,  onde,  depois  de  darem  seu  re- 
cado a  Miraguarda,  entrou  dentro  em 
uma  camará  do  seu  apousentamento,  que 
caia  sobre  o  rio,  e  ainda  que  nas  obras 
e  concertos  da  casa  houvesse  cousas  pêra 


110 


KECA 


RECA 


RECA 


vôr,  acabado  do  pôr  o»  olhos  na  senhora 
delia,  tudo  o  ai  ()S<(iiecia. »  Francisco  de 
Jloracs,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  110. 

—  «Ao  (|uh1  l)iiurti!  J'iiclioco  dano  judo 
pêra  tardaii(;a,  e  t'ii};ida  dos  hcus  Nairus 
da  e-)ta(|iiada,  nào  (|iii.scra  fallar,  com  tu- 
do o  1'riiicipo  apertou  tanto  com  olle, 
que  lho  ouvio  sua*  disculpas,  e  as  rece- 
btío,  o  que  Duarte  Paclieco  vondo  lhe  di- 
xe, que  a  fufjida  dos  seus  Nairus,  o  nJlo 
lhe  ser  dado  o  recado  que  lhe  mandara, 
tudo  forSo  artes,  c  treii;!io  do  Man{;ate, 
que  viíse  daili  por  diante  o  (|ue  fazia,  e 
se  não  liasse  ilidlc»  Damião  de  (locs, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  H\K 

—  «Ao  outro  dia  depois  disto  passar,  che- 
gou ii  fortaleza  o  Padre  Vif^airo,  que  co- 
mo dissemos  no  Capitulo  terceiro  d'este 
liuro  segundo,  foy  a  Ba^-aim,  o  Chàul  a 
pedir  soccorro,  que  deu  o  recado  àquelles 
Capitaens,  que  logo  despedirão  as  cartas 
pêra  o  Governador,  e  comei,'àraõ  a  fazer 
prestos  gente,  e  )iavios  pêra  mandarem 
de  soccorro,  acodindo  todos  a  Baçaim 
porá  dalli  atravessarem  como  lhes  o  tem- 
po desse  Jazigo. »  Diogo  de  Couto,  tiecada 
Õ,  liv.  2,  cap.  H. —  «Despedida  esta  em- 
barcação, logo  o  Governador  se  embar- 
cou, e  deu  à  vela  pêra  Goa.  E  chegando 
defronte  da  Cidade  de  Dabid,  que  he  a 
principal  escalla  que  o  Idalxà  tem  na- 
quella  costa,  determinou  tomar  nella  vin- 
gança do  atrevimento  que  teve  em  man- 
dar seus  Capitaens  sobre  as  terras  (jue 
eraõ  de  Ellley  de  Portugal,  e  deu  reca- 
do aos  Capitaens  da  Armada,  pêra  que 
80  íizossem  prestos  pêra  o  outro  dia,  fi- 
cando fora  aquella  noite.»  Ibidem,  liv.  5, 
cap.  í>. 

Irmã.  Agastado 

é  cUe,  estava  já  morta  : 

e  que  quor  ? 
Confi.  Deu-inc  um  reciulo 

de  mou  pao. 

ANTOHIO  PBF.STES,  AUTOS,  pag.  283. 

—  lieceber  o  recado  e»i  jodíios ;  rece- 
bel-o  com  submiss-ão.  —  « E  no  mesmo 
continente  veo  hum  caixõzinho  e  logo 
metido  dentro  foy  tapado,  e  sobre  ho 
tampão  lançado  hum  papel  grudado,  c 
encima  ho  sinal  do  Ponchassi :  e  logo 
chegou  hum  Louthia  pequeno  capitam 
darmada  com  seus  soldados,  e  todos  lon- 
ge se  puicram  de  joelhos,  e  alli  recebeo 
este  capitam  ho  recado  em  joelhos,  dizen- 
do a  cada  palavra  Quoo,  que  quer  dizer 
si,  abaixando  ha  cabeça  e  mãos  ate  ho 
chão.»  Frei  Gaspar  da  Cruz,  Tratado  das 
cousas  da  China,  cap.  19. 

—  Esperar  por  recado  liaíguem;  espe- 
rar por  alguma  resposta.  —  «Dalli  des- 
pedio  huns  Arábios  da  companhia  do  Em- 
baixador de  ElRey  de  Baçoríi  (que  forào 
a  Goa)  com  cartas  assim  pêra  ElRev,  co- 
mo pêra  os  Senhores  Gizares,  em  que 
lhes  dava  conta  de  sua  chegada  « e  que 


ficava  esperando  por  recado  «eu  pcra  sa- 
ber o  modo,  e  ord(íin  que  iiavia  de  ter 
no  cometer  aquella  fcrtaleza.»  Diogo  de 
(Jouto,  Década  •<,  liv.  'J,  cap.  Iíj. —  «D 
(Japitaõ  mor  manilou  gente  a  terra  que 
entrou  dentro,  e  o  achou  v:i/.in  :  u(|ui  fi- 
cou e-iperamlo  por  recado  de  KlKey  de 
Baçorà,  o  dos  (iizares.»  Ibidem. 

—  Tardar  o  recado ;  ter  demora  a  res- 
posta. —  «Ficou  Bernaldim  de  Sousa  nmi- 
to  enfailado  de  lhe  tardar  recado  da  ín- 
dia, e  despedio  duas  Coroeoras,  em  que 
hia  Rafael  Carvalho,  pêra  (pie  fosse  a 
Banda  a  saber  se  havia  algum  recado  da 
Índia,  e  elle  ficou  entendendo  em  derri- 
bar a  fortaleza  de  Tidore,  o  que  acabou 
com  muito  trabalho.»  Diogo  de  Couto, 
Década  tí,  liv.  9,  cap.  20. 

—  Ordem  superior.  —  «O  Governador 
despedio  o  homem  com  recado  a  ElRey 
de  Tauòr,  dizendolhe  «que  por  amor  del- 
le  esperava  que  so  visse  com  elle  depres- 
sa, e  se  determinassem  que  elle  não  se 
podia  alli  deter  muito.»  Ibidem,  liv.  8, 
cap.  i;}. 

—  Dar  o  vento  a  recados. — «Depois 
da  cidade  sor  de  todo  abrasada  Lopo  soa- 
rez  se  fez  a  vela  caminho  de  Adem,  on- 
de Miramirjam  capitão  delia,  sabendo 
que  vinha  destroçado  do  caminho,  e  mui- 
to falto  de  agoa,  e  mantimentos,  o  nam 
(|uis  recolher,  nem  dar  vento  a  seus  re- 
cados.» Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  4,  cap.  14. 

—  Fazer  mão  recado ;  fazer  damno, 
perda,  prejuízo,  desordem. 

—  Receber  alguma  cousa  por  contu  e 
recado  ;  fazendo-se  descripção,  e  inventa- 
tario  do  numero,  peso,  medida,  qualidade, 
e  com  clarezas,   recibos,    qnitaçijes,   etc. 

—  Figuradamente:  Caução,  seguran- 
ça, fiança. 

—  Ter  a  grande  recado  ;  ter  preso,  em 
custodia  com  segurança. 

—  Fazer  as  cousas  a  recado ;  fazel-as 
com  tento,  prudência,  cautela,  segurança. 

—  Provisão  do  necessário. 

—  Recibo,  clareza.  Vid.  Ovençal. 

—  Homem  de  bom  recado ;  homem  que 
dá  boa  conta  de  si,  homem  de  confiança. 

—  Anilar  a  recado ;  vigiado,  acautela- 
do de  inimigos. 

—  Pòr-se  em  recado ;  fugir  para  logar 
de  asylo,  seguro  de  quem  quer  prender, 
ou  fazer  mal. 

—  Lavar  mão  recado;  levar  mão  des- 
pacho, má  resposta  do  requerimento. 

—  Dar  recados  a  alguém ;  reprehen- 
del-o,  dar  palavras  reprehensivas. 

—  IVazer  a  recado ;  trazer  em  salvo, 
livre,  resguardado. 

—  Tontar  bem  o  recado ;  consideral-o 
bem,  pesal-o  bem  para  poder  dar  a  res- 
posta convenientemente.  —  «Fornaõ  Mar- 
tinz  em  chegando  a  el  Rei  lhe  dixe  per 
outro  lingoa,  com  quem  ilonçaide  falaua, 
que  o  capitão  daquellas  nãos  lhe  maudaua 
pedir  licença  pêra  o  ir  visitar,  e  llie  dar 


carta»  que  lhe  trazia  dei  Rei  do  Portu- 
tugal  seu  senhor,  cl  Rei  tomou  bem  o 
recado,  e  antes  que  respondesse  lhes  man- 
dem <iar  a  cada  hum  Heu  pano  dalgodatJ, 
e  seda  muito  fino.^.»  JJainiào  de  Goea, 
Chronica  de  D.  Manuel,  part.  1,  cap.  39. 

—  Al)A(il(J>   K   l'UOVtUlUOS  : 

—  Em  maio  vai,  e  torna  ojm  recado. 

—  A  moça  no  telhado  não  anda  a  bom 
recado. 

—  A  mulher  de  bom  recado  euche  a 
casa  até  ao  telhado. 

RECAHIR,  e  derivados,  r.  a.  Vid.  Re- 
cair, e  cierivados. 

RECAIOA,  s.  f.  Acção  de  tornar  a  cair, 
reincidência. 

—  Repetição  da  doença,  de  que  o  re- 
caído tinha  melhorado. 

—  Emprega-8u  também  no  sentido  figu- 
rado. 

RECAIDIÇO,  A,  a<lj.  Que  rccáe  sem 
difliculdaili-,  sujeito  a  recair. 

RECAÍDO,  part.  puas.  de  Recair.  Que 
recaiu. 

RECAIMENTO,  ».  m.  Acção  de  recair. 

—  Nova  queda,  reincidência  ao  crime, 
no  peecado. 

RECAIR,  f.  n.  Tornar  a  cair. 

—  Vir  de  novo,  devolver-se. 

—  Carregar  sobre. 

—  Recair  na  doença ;  tomar  ao  estado 
da  doença  de  que  o  recaido  tinha  melho- 
rado, e  ia  convalescendo, 

—  Recair  na  culpa;  reincidir,  tornar 
a  onnmitir  outra  tal. 

RECALCADAMENTE,  adv.  (De  recalca- 
do, e  suíSxo  «mente»).  Bem  cheio  e  cal- 
cado ;  que  não  caiba  mais. 

RECALCADO,  part.  pass.  de  Recalcar. 
Calcailii  novamente. 

—  Toma-se  também  figuradamente. 
RECALCADURA,  s.  /.  Acção  de  calcar 

segunda  vez. 

RECALCAR,  i-.  a.  (Do  latim  recalcare). 
Calcar  ás  camadas,  ou  porções  para  en- 
cher, e  atacar  bem,  ou  para  accomniodar 
maior  porção. 

—  Calcar  de  novo,  pizar  segunda  vez. 
—  «O  sibillar  das  rajadas  também  cessou 
completamente.  Parado  sobre  a  face  da 
terra,  o  ar  era  semelhante  ao  lençol  do 
finado  a  quem  recalcaram  a  gleba  que  o 
cobre,  frio,  húmido,  pesado,  sem  ranger, 
sem  movimento,  cosido  sobre  o  peito, 
onde  acíibou  o  bater  do  coração  e  o  aríar 
compassado  dos  pulmões.»  Alexandre 
Herculano,  Eurico,  cap.  7. 

RECALCAR,  r.  a.  Tornar  a  calçar. — 
Recalcar  a  estrada.  —  Recalcar  as  bota». 

RECALCITRADO,  part.  pass.  de  Recal- 
citrar. Ropeliido  com  despeito. 

RECALCITRANTE,  part.  act.  de  Recal- 
citrar. Que  recalcitra. 

RECALCITRAR,  r.  n.  (Do  latim  recal- 
citrare:  de  n .  e  calcitrare).  Ropellir  com 
despeitt>. 

—  Figuradamente :  Resistir,  desobede- 
cer dando  e  obrando  contra  o  superior. 


RECA 

—  Atirar  couces,  respingar  á  espora, 
ao  chicote,  etc,  fallando  das  bestas. 

RECAMADO,  part.  pass.  de  Recamar. 
Bordado  de  realce.  —  Vestidos  recamados 
de  ouro. 


De  estrclias  recamada  a  noute  umbrosa 

Cedia  o  campo  azul  do  immenso  eapa(;o 

A  doce  luz  da  matutina  Aui'ora, 

De  sou  rosto  purpúreo,  o  màos  de  neve. 

Como  brilhantes  pérolas,  cahião 

Do  fresco  orvalho  transparentes  gotas 

Sobre  os  risonhos  prados,  que  parece 

Darem  maior  realce  ao  verde  esmalte, 

Com  que  opulenta  Natiu'cza  os  veste. 

J.   A.   I)K   MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Caut.    1. 

RECAMADURA,  s.  f.  Vid.  Recamo. 

RECAMAR,  V.  a.  (Do  hebraico  rekam). 
Bordar  de  realce,  ou  de  altos;  relevar  a 
superticie  da  roupa  com  ornatos,  com 
bordados. 

—  Figuradamente  :  Recamar  os  véos  da 
fvanquilla  noute. 

Sou  pequena  partícula  do  Globo, 

Que  o  orgulho  chama  Terra,  e  chama  grande. 

Ténue  por(,'ào  do  Planetário  Mundo 

A  Terra  apenas  he,  o  este  pasmoso 

Nào  conhecido  circulo  que  os  Globos 

Formão,  do  claro  Sol  gyrando  em  tomo, 

Minima  parte  faz  deste  Universo, 

Desta  congerie  de  luzentes  pontos. 

Que  da  tranquilla  noite  os  véos  recamão. 

J.   A.  DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Cant.  4. 

—  Figuradamente:  Recamar  os  céos 
azues  de  purpura. 


Ou  venha  desvelada  Aurora  abrindo 
Com  roscas  màos  as  portas  dOriente 
Auriroxos  listões  no  Ceo  lançando, 
Ou  desça  ao  mar  a  alampada  do  dia, 
E  03  Ceos  azues  de  purpura  recame. 

J.   A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Caut.  2. 

RECAMARA,  s.  /.  Guarda-roupa,  casa 
por  detraz,  ou  depois  da  camará  para 
guardar  vestidos,  jóias,  etc. 

—  A  roupa  e  apparelho  de  serviço,  que 
se  leva  em  jornadas,  ou  se  tem  de  as- 
sento. Vid.  Camará  cerrada. 

—  Camará  mais  interior. 
RECAMBAR,  v.  n.  Termo   do  jogo  do 

voltarete.   Mudar  de  logar  os  jogadores 
depois  de  estar  levantado  o  recambó. 

RECAMBIAR,  v.  a.  Fazer  segundo  cam- 
bio ou  troca. 

—  Tornar  a  mandar  a  cousa  a  quem  a 
remettera. 

RECAMBIO,  s.  m.  Segundo  cambio  ou 
troca. 

—  A  despeza  do  protesto  da  letra,  e 
da  remessa,  e   o  interesse  de  nào  paga. 

—  Remessa  da  letra  nào  aceita,  ou  não 
paga. 

—  Usura  junta,  accrescentada  ao  in- 
teresse do  cambio  nas  letras. 

RECAMBÓ,  s.  m.  Termo  do  jogo  do 
voltarete.    Deposito,    diíFerente   do   bolo, 


RECA 

no  qual  o  feito,  quando  ganha,  põe  de 
cada  vez  um  tento,  ou  o  seu  valor,  con- 
forme as  convenções  dos  que  jogam ;  ha- 
vendo juntos  dez  tentos,  mettem-se  na 
mesa,  e  logo  que  os  ganha  um  dos  par- 
ceiros, recambam  todos,  e  começam  novo 
recambó. 

RECAMO,  s.  m.  Bordado  de  realce  ou 
de  alto. 

RECANTAÇÃO,  s.  f.  Acto  de  recantar. 

—  Termo  eui  uso.  Retractaçào  publica. 
1 .)  RECANTAR,  r,  «.  —  Recantar  os  seus 

erros ;  retractal-os,  reproval-os  publica- 
mente. 

2.)  RECANTAR,  v.  a.  (Do  latim  recan- 
tare).  Cantar  segunda  vez,  tornar  a  can- 
tar, cantar  de  novo. 

RECANTO,  s.  m.  Canto,  sitio  recôndito, 
escondrijo. 

—  Recantos  do  coração;  escondrijos  oc- 
cultos. 

RECAPACITADO,  part.  pass.  de  Reca- 
pacitar.  Diz-se  daquelle  a  quem  se  rcca- 
pacitou,  ou  fez  novamente  entender  a 
razão,  e  cair  n'ella,  admittil-a. 

RECAPACITAR,  v.a.  Tornar  a  reflectir 
no  que  se  sabia  para  que  nào  esqueça, 
ou  para  se  trazer  na  memoria  e  lembrar. 

—  Tornar  a  persuadir  alguém,  abrin- 
do-lhe  08  olhos. 

RECAPITO,  s.  m.  Termo  antiquado.  Re- 
cado que  se  manda  por  algum  mensa- 
geiro. 

RECAPITULAÇÃO,  s.  /.  (Do  latim  reca- 
pitulatio).  Repetição  summaria  do  que 
já  se  disse.  —  Fazer  uma  recapitulação. 

—  Termo  de  rhetorica.  Parte  da  pe- 
roração que  consiste  n'uma  enumeração 
curta  e  precisa  dos  pontos  nos  quaes  tem 
insistido  mais  no  discurso,  a  íim  de  fazer 
uma  viva  impressão  no  auditório. 

—  Operação  pela  qual  o  espirito  se  re- 
corda de  muitas  idêas  ou  muitos  actos 
passados.  —  Fazer  a  recapitulação  da  mi- 
nha vida. 

RECAPITULADO,  part.  pass.  de  Reca- 
pitular. Resumido,  epitomado. 

RECAPITULAR,  v.  a.  (Do  lat.m  recapi- 
tulare).  Resumir,  dizer  summariameute, 
compendiar. 

t  RECARBONISADO,  piart.  pass.  de  Re- 
carbonisar. 

t  REGARBONISAR,  v.  a.  Termo  de  Me- 
tallurgia.  Restituir  o  carbone  ao  aço,  quan- 
do o  perde. 

RECARGA,  s.  f.  Termo  de  marinha.  O 
acto  de  tornar  a  carregar  o  que  se  havia 
descarregado. — Recarga  do  navio. 

RECARTILHA.  Termo  que  assim  se  pro- 
nuncia erradamente.  Vid.  Recortilha. 

RECASADO,  A,  adj.  Termo  de  comedia. 
Bom  casado,  ou  casado  segunda  vez. 

RECATA,  s.  /.  Segunda  cata,  e  rebus- 
ca no  casiello. 

—  Usa-se  também  no  sentido  figurado. 

RECATADAMENTE,  adv.  (De  racato, 
com  o  suffixo  «mente»).  De  um  modo  re- 
catado, acauteladamente,  com  cautela. 


REÇA 


111 


RECATADO,  part.  pass.  de  Racatar. 
Posto  em  recato,  acautelado,  precatado. 
—  As  recatadas  portas. 

Tu  puderas  melhor  o  aspeito  horrendo 

Ir  atfroutar  de  horrisonas  tormentas 

Xo  Cabo  Austral,  que  fecha  a  Africa  ardente ; 

Cortarias  ao  largo  o  intacto  Oceano  ; 

Mas  para  abrir  as  recatadas  portas, 

Puniceo  berço  da  orvalhada  Aurora, 

Foi  Pólo  o  teu  valor,  teu  peito  os  Astros. 

J.    AGOSTINHO  DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Caut.  2. 

Mas  quanto  a  recatada  Natureza 

Em  seu  Sacrário  esconde !  Os  bens  gozemos, 

E  deixa  as  Causas  ao  Motor  Supremo. 

IDEM,  A    NATUREZA,  Caut.    2. 

—  Avisado,  circumspecto,  prudente. 

—  Homem  recatado  ;  homem  vigiado  de 
assalto  e  de  perigo. 

RECATAR,  V.  a.  Pôr  a  recato,  acaute- 
lar, guardar. 

Se,  os  tubos  astronómicos  depondo. 

Deixas  de  ir  ver  nos  Ccos  rodando  os  Globos, 

Nào  satisfeito  do  rasgar  o  obscuro 

Véo,  que  in volve,  e  recata  a  Natureza, 

Pelos  sombrios  pcnctraes  entrando 

Com  facho  luminoso,  e  nunca  extincto. 

J.    A.    DE   MACEDO,    VIAGEM  EXTÁTICA,  Caut.    3. 

—  Recatar-se,  v.  rejl.  Acautelar-se  pru- 
dentemente contra  o  danim»,  perigo. 

RECATO,  s.  m.  Cautela  prudente  para 
evitar  perigos,  damnos  e  prejuízos. 

—  Vive  esta  mulher  com  recato ;  vive 
com  o  fim  de  segurar  sua  honra,  e  boa 
reputação. 

—  Syn.  :  Recato,  decência.  Vid.  este 
ultimo  vocábulo. 

RECAVEM,  s.  m.  A  parte  trazeira  do 
leito  do  carro. 

f  RECAYDO,  part.  pass.  de  Recayr. 
Vid.  Recaído. — «Não  vê  nenhum  peccador 
a  se  disoluer  em  blasfémias,  senam  por 
ser  dissoluto  nos  outros  viços  e  peccados, 
e  auer  primeiro  recaydo  muitas  vezes  nel- 
les  :  pello  qual  merece  ser  desemparado 
da  mão  do  Senhor,  e  deyxado  em  poder 
do  demónio  que  vsa  de  sua  lingoa,  como 
espada  pêra  cortar  por  onde  quiser. »  Frei 
Bartholomeu  dos  Martyres,  Catecismo  da 
doutrina  christã. 

RECAYO,  s.  ;».  =  Significação  incerta. 

RECAYR,  i'.  a.  Vid.  Recair. 

REÇAFA,  s.  f.  Termo  antiquado.  Vid. 
Resaca. 

REÇAGA,  #.  /.  Termo  antiquado.  A 
parte  posterior.  Dizia-se  outr'ora  ao  que 
nós  hoje  chamamos  retaguarda  de  um 
exercito,  batalhão  ou  armada.  —  «  Logo 
após  esta  desconsolada  companhia  vinha 
outra  guarda  de  gente  de  pé,  e  na  reça- 
ga  de  tudo  vinhão  obra  de  quinhentos 
Bramas  de  cavallo.»  Fernão  Mendes  Pin- 
to, Peregrinações,  cap.  150. 

REÇANFONINAR,  v.  n.  Termo  popular. 
Repetir  muitas  vezes  com  escarneo  cousa 
que  importuna. 


112 


UECE 


RECE 


ttECE 


—  Fazer  feitas,  alcgrian,  funcçõcs  fiíra 
fio  totri])?). 

REÇAO,  .•».  /.  \'iil.  Raçáo,  <)rtlii)í,'iii|)!iia 
j)r('t'i'rivi!l. 

RECEADO,  iinri.  iihsk.  de  Recear,  (^lo 
rocoia,  rccijaiito.  , 

—  Que  tiim  receio.  —  »  O  doo.so»,  e  6 
vordado  quo  a  íortaluza  de  líarrocante., 
Albiizarco  o  y\.lljari'oco  tilo  temida  o  re- 
ceada polo  iiimido  lia  d(!  .ser  denl)arataila 
e  denteita  |mla  torra  d'iiiii  Ho  pfifíaiite  e 
doiiM  eiivalIciroM  y  .1  {''raneisco  do  Moraes, 
Palmeirim  de  Inglaterra,  eap.  !U. 

RECEANÇA,  s.  f.Trvuw  autii[tiado.  Vid. 
Receio. 

RECEANTE,  /"ni.  art.  de  Recear.  Re- 
ceando. 

RECEAR,  V.  n.  Temer  perigo  premente,  ou 
remoto.  —  »  IO  pori(Lio  vira  Floriano  iiuiito 
moyo  o  pcntil  homem,  e  Aiulerramete  ro- 
busto o  do  mais  idade,  receava  a  batalha, 
parecoudo-lhe  que  Floriano  a  mio  podia 
softrer:  o  chegada  a  guarda  do.s  quinhen- 
tos cavalleiros,  c  o  gram  turco  posto  com 
Bua  filha  na  mesma  janella,  que  já  sabia 
o  quo  passava,  Auderrameto  lançando  o 
cavallo  a  uma  e  outra  parte,  brandindo 
a  lança,  comceou  a  «lizer. "  Francisco  de 
Morae.^í,  Palmeirim  de  Inglaterra,  eap.  80. 

—  «  E  passando  primeiro  alf^uus  dias  o 
anno.i,  porque  sua  mãi  lhe  imjiedia  o  ca- 
minho, receando  os  desastres  quo  lho  po- 
diam acontecer,  no  tim  dellcs,  embarca- 
dos era  uma  galle  com  alguns  cavalleiros 
da  sua  criaç.ão,  se  partiram  a  via  da  Ir- 
landa.» Ibidem,  eap.  106. —  «Florondos, 
quo  receava  .«ua  valentia,  trazia  o  tento 
cm  seus  golpes,  esperando  que,  gastada 
alguma  parte  da  fúria,  bcariam  mais 
brandos,  e  olle  tão  cançado,  quo  fosse 
mais  levo  do  vencer,  n  Ibidem,  eap.  110. 

—  «  Este  encontro  foz  ao  imperailor  ter 
menos  gosto  da  Justa  que  antes  mostra- 
va, porque  receava  a  força  do  cavalleiro, 
e  temia  que  daquelle  prazer  redundasse 
algum  posar.  N'isto  saiu  D.  Rosnei,  quo 
antre  os  bons  era  extremado ;  e  posto  quo 
sua  confiança  o  ensinasse  a  perder  o  me- 
do, por  derradeiro  ficou  enganado  delia, 
que  á  segunda  carreira  foi  ter  compaidiia 
a  sons  companheii"os ;  perdendo  o  dos  tVei- 
xes  03  estribos,  de  que  ficou  coi-rido  por 
ser  em  tal  parte.»  Ibidem,  eap.  111. — 
«  E  o  das  DonzcUas  também  mui  des- 
contente do  ter  começado  aquella  justa, 
polo  quo  nella  podia  acontecer,  nTio  esti- 
mando tanto  seu  desgosto  como  o  de  Flo- 
rondos, receando  a  condição  de  ^lira- 
guarda;  e  quiz  vôr-se  por  alguma  via  a 
podia  estorvar,  dizendo.»  Ibidem,  cai>. 
127. —  «Mas  que  ello  receaua  segundo 
o  que  ja  via  em  alguns,  principalmente 
em  os  Mouros  quo  viuiaõ  om  seu  remo : 
naõ  achar  tanta  lealdade  uollcs,  quanta 
fee,  amizade  e  soruiço  lhe  auiaõ  de  guar- 
dar c  fazer  os  1'ortuguezes.»  João  de  Bar- 
ros, Década  1,  liv.  7,  eap.  ò.  — «  E  ante 
que  dalli  sahisaem  com  o  temor  do  alvo- 


roço dos  nosso»,  mandou  Roztomocan  ar- 
vorar hunuHjaiidoira  branca  uaquclla  par- 
to ondo  \).  (larcia  estava,  quo  era  a  que 
olles  mais  receavam,  e  o  arrenegado  (pio 
a  trazia  começou  a  chamar  por  .Jo.lo  M.-v- 
chado.i.    Idem,  Década   2,   liv.  7,  eap.  f). 

—  «  < )  ( !apitão  iniir  da  Armada  fez  a(|uel- 
bi  diligencia  tanto  por  recear  aconloccr- 
Ihe  outro  desbarate,  (piai  o  pasnado,  (ju.'iu- 
to  por  lhe  encoiuniendaj-  lOilíid  nuiito  (pio 
Uie  levasse  toilos  a(piellifs  rorluguezes  vi- 
vos, do  que  ello  hia  deseontiadu,  píjrque 
bem  sabia  quo  clles  nào  so  entregavam 
a  ningui  in  senão  despedaçad<  8.  »  Diogo  de 
( '(juto,  Década  4,  liv.  4,  eap.  7.  —  o  (Jom 
o  (jue  o  rrincipo,  e  o»  irmãos  jà  não  re- 
ceavaõ  os  imigos,  fazendo  tudo  o  quo  lhes 
parecia  necessário  para  defensai"!  daquella 
01(^lade,  ropairando-a,  e  reediticando-a  o 
melhor  quo  podiaij,  pelejando  em  todos 
os  assaltos  muy  esforçadamente,  não  os 
largando  nunca  o  Manoel  1'creira,  quo 
ora  todo  o  seu  conselho,  por(juc  nada  fa- 
ziaõ  sem  elle.»  Idem,  Década  (3,  liv.  tí, 
eap.  5.  —  (t  O  (iovernador  receando  que 
os  inimigos  lhe  fugissem  porá  o  rio  de 
Bandora,  quo  estava  diante  meia  légua, 
mandou  a  hum  Capitão,  que  tanto  que  a 
batalha  so  travasse,  fosse  com  oito  na- 
vios, (que  ilie  nomeou,  e  a  quem  mandou 
recadoj  e  tomasse  a  boca  daquelle  rio.» 
Idem,  Década  4,  liv.  .õ,  eap.  õ.  —  («O 
(jue  nem  receou  fazer,  porque  sahio  a  el- 
los  Com  obra  de  oitenta  lancharas  c  mais 
do  seis  mil  homens,  vindo  o  mesmo  Rei 
de  Liugua  diante  em  hunia  lanchara  ta- 
manha como  a  grande  gale  apadesada,  o 
artilhada,  em  que  trazia  duzentos  homens 
nobres  seus  familiares.»  Damião  de  Goos, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3,  eap.  tíi). 

—  «  Este  jogo  se  via  da  nossa  frota,  pelo 
que  António  corroa  receando  que  tomas- 
sem os  imigos  o  baluarte,  posto  que  te- 
uesso  assaz  que  fazer  com  as  fustas  do 
Ilagamaliamed,  com  quem  cstaua  as  bom- 
bardadas.»  Ibidem,  part.  4,  eap.  74. — 
«  E  porque  ja  se  sabiaõ  por  totla  a  terra 
os  males  que  nos  tinha  feitos,  receando 
poder  encontrar  com  algiuna  força  nossa, 
se  viera  a  esta  caseada  da  Cauchenchina, 
onde  como  mercador  fazia  fazenda,  e  co- 
mo cossayro  também  salteava  os  cò  que 
se  ati"evia. »  Fernão  Mendes  Pinto,  Pere- 
grinações, eap.  46.  —  «  E  ainda  agora  to 
torno  a  dizer  que  se  te  arrependes  ou  re- 
ceas  passar  avante  pelo  que  os  teus  te 
dizem  do  mim  continuaniente  á  orelha, 
como  eu  muvto  bem  tonho  visto  e  ouvido, 
manda  o  que  quiseres,  porque  prestos  es- 
tou para  cm  tudo  te  fazer  a  vontade.» 
Ibidem,  eap.  71. —  «  S.  Agostinho  contJi 
luuna  grande  briga,  que  ouuo  dentro  em 
sua  alma,  antre  o  mao  costume  da  dcs- 
honestidaile,  em  que  (piãdo  mãcebo  e  ma- 
uicheo  andou  enfrascado,  o  o  desejo  da 
castidade,  a  (pie  Deos  o  chamaua,  e  que 
receaua  nuiyto  de  cometer.  >-  1'aiva  de  An- 
drade, Sermões,  pag.  1l'1. 


O  Tur(!0,  quo  oiito  iiittl  uSo  rafava, 

A  (|il<:  o  diurno  pci,o  tralj:ilho<f> 

!•;  II  frcHcurii  denta  hor»  cijiividava 

A  liuin  liiando  HOiniio,  dwM!  c  Haboroso, 

Sàt>  HOiitc  hum  mal  f|U<:  tauUt  o  maltratava 

Si;imo  dcjMjjrt  (juii  o  bra<,'u  valcnjrio 

Do  cHiiundríio  l^urtitaiio  oiutudo  p  forb- 

Kiiclico  tudo  de  fogo,  Kati^^uo  o  uiurtc. 

F.    I>K    A!ltlKADI!,   rRIHKlm»    CKaCO    DB   DIU,    tUitlt. 

17,  cHt.  70. 

1'eiidn  da  iiiit<!nnu  dcafraldiulo  o  pauiio, 
ilw,  batido  doii  Ziifyron  ondêu -, 
Côas  aiicorait  a  |ii<{U<.-  o  Luiiitauo 
Ia  roíii]»'!-  do  novo  a  (;i|Uorca  véa: 
Nem  mal  m-f^iirti*  caiii|>oii  dOccano, 
N(;iii  dura  guorra  dos  tufociin  rrrfa; 
Indo  mostrar  da  í!uropa  á  gciito  ubmrta,. 
Peio  mar  d'Orit'iit<!  aberta  a  píjrta. 

J.   K.   DR  MACKDO,  ORIKKTK,  (Sailt.    11,  Cllt.   43. 

— Recear-se,  i'.  rejl.  Tcmer-sc. — (£»ta 
eleição  fez  porque  era  hum  Figalgo  de 
muita  arto  e  de  muito  aviso,  e' letrado, 
agraduado  cm  Canoaee,  porque  tinlia  o 
pay  mandado  aprender  letra«  pêra  o  fa- 
zer Clérigo,  e  vindo  dos  estudos  ii  Corte 
Se  namorou  de  huma  dama  lil.ia  de  hum 
Fidalgo  muito  honrado,  com  que  foy  acha- 
do, e  receando-se  tanto  do  pay  delle,  co- 
mo do  delia,  se  embarcou  escondidamente 
pêra  a  índia  r.a  nào  do  Visorcy.»  Diogo 
de  Couto.  Década  6,  liv.  2,  eap.  14. — 
<(Com  tudo  receando-se  d(jm  Frâcisco  que 
fosse  cilada  não  quiz  desembarcar  senão 
em  amanhecendo,  então  sahio  em  terra 
com  a  bandeira  Real  qm-  leiíaua  Pêro 
Cão.»  Damião  de  Goos,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  2,  eap.  3. 

—  V.  n.  Ter  receio,  temer,  temer-se. 
—  hto  era  muito  para  recear.  —  Nada 
tenho  que  recear. 

Mas  isto  nic  atalhou  a  desucntura 
Tudo  SC  me  desfez  quanto  cuidaua 
(Juc  vos  tinlia  obrigada,  o  mais  sof^ura. 
Ali  ([uanto,  Ah  quanto  triste  me  cnganaua 
Com  muito  que  este  .\nior  voa  merecia 
Quam  depressa  cheguei  ao  que  receaua. 

COBTK  BEAI,,  NAUFBAOIO  DE  gEPlXVEDA,    Cant.   2. 

—  «Porém  isto  hé  natural  das  mulhe- 
res, ser  tão  descontiadají.  que  qualquer 
cousa  as  move;  que  Polinarda  era  tão 
fermosa,  que  não  tinha  de  que  recear. 
Miraguarda  era  tanto  que  cada  unia  p<v 
dia  estar  contente  de  si  sem  a  outra  a  fa- 
zer triste.»  Francisco  de  Moraes,  Palmei- 
rim d'Inglalerra,  eap.  S2.  —  íA  donzelLi 
se  tornou  com  seu  recado,  e  o  cavalleiro 
sem  outra  differença,  depois  de  se  despe- 
dir de  sua  senhora,  saltou  cm  terra  lào 
airoso  e  bem  jiasto.  que  só  aquella  mos- 
tra era  muito  pêra  recear  ;  e  acompanha- 
do de  dons  escudeiro.'»,  .«e  foi  contra  onde 
estava  Florendos  com  um  passeio  ousado 

e  vagaroso.»  Idem.  Ibidem,   eap.  110.  m 

RECEBEDO,    .<•.    /(.    Termo   antiquado.     M 

Recibo,  ipiitaçào.  * 

—  Cédula  do  recabdo,  ou  recado  quo 

dil  o  receliedor. 

RECEBEDOR,  «.  »i.  Homem  que  recebe, 


EECE 


REGE 


RECE 


113 


cobrador. —  «E  per  este  guisa  manda- 
mos que  paguem  quaeesquer  nossos  Ren- 
deiros, e  outras  quaeesquer  pessoas,  que 
em  as  ditas  moedas  sejaõ  devedoras,  e 
obrigados  a  Curadores,  e  Ameuistrado- 
res,  e  Almoxarifes,  e  Recebedores.»  Or- 
denações Affonsinas,  liv.  4,  tit.  1,  §  45. 
—  «Sc  al^um  recebeo  da  moeda  de  reaes 
de  três  libras  e  meia,  e  cruzados  por  al- 
guns contrautos,  ou  moordomados,  ou  em- 
prestidos,  ou  depósitos,  ou  Tetores,  ou 
Cuvadores,  Ministradores,  e  Almoxarifes, 
ou  Recebedores,  ou  per  outro  qualquer 
contrauto,  ou  casi  contrauto,  que  depois 
seja  annullado,  pague  pelas  ditas  moedas 
de  reaes  do  três  libras  e  meia,  e  cruza- 
dos.» Ibidem.  —  «E  tanto  que  tirados  fo- 
rem, entrega-los-ba  a  hum  Recebedor, 
que  pêra  esto  hordenardes,  abonado,  e  de 
prazimento  destes  que  assy  paguã,  pre- 
sente o  Escripvaõ  da  Gamara,  a  que  man- 
damos que  esto  escrepva  e  faça  hum  li- 
vro apartado,  em  que  escrepva  a  recepta, 
e  a  desposa  destes  dinheiros,  e  seja  a  ello 
bem  diligente.»  Ibidem,  tit.  20,  §  3. — 
«E  para  bom  governo  da  Milicia  tinha  o 
Gapitaõ  Miir  seu  Regimento,  que  man- 
dava executar  pelos  Ministros  das  Gom- 
panhias,  em  cada  huma  das  quaes  havia 
seu  ]\Ieirinho,  Escrivão,  e  Recebedor.» 
Severim  de  Faria,  Noticias  de  Portugal, 
Disc.  2,  §  10. 

—  Arrecadador. 

RECEBEDORIA,  s.  f.  Officio  de  recebe- 
dor. 

—  Gasa  onde  se  recebe  o  pagamento 
das  rendas,  sisas,  etc, 

RECEBENTE,  ^^«rt.  act.  de  Receber. 
Que  recebe. 

—  Aceitante. 

RECEBER,  V.  a.  (Do  latim  recipere). 
Tomar  o  que  se  dá,  o  que  se  entrega  em 
pagamento,  ou  guarda.  —  «E  se  os  deve- 
dores de  cada  um  dos  casos  dos  ditos  Ga- 
pitulos  pagarom  o  que  deviaõ  per  estas 
nossas  moedas,  e  os  creedores  receberem 
as  pagas  com  protestaçom  de  lhes  ser  pa- 
gada a  maior  valia  da  moeda,  que  lhes 
era  devuda,  mandamos  que  taaes  devedo- 
res sejaõ  quites,  sem  embargo  de  protes- 
taçom: e  esto  por  nom  darmos  lugar  aas 
demandas.»  Ordenações  Affonsinas,  liv. 
4,  tit.  1,  §  2.  —  «E  as  façam  dispender 
nas  Fortalezas  dessas  Gomarcas,  honde 
esto  acontecer,  como  nós  mandamos,  fa- 
zendo escrepver  aos  Taballiaaes  de  cada 
hum  dos  ditos  lugares  como  as  recebe- 
rem, e  despenderõ :  e  os  nossos  Gorrege- 
dores,  quando  per  hy  chegarem,  tomem- 
Ihes  doUo  conta.»  Ibidem,  §  26. — «E 
qualquer  pessoa,  de  qualquer  estado  e 
condiçom  que  seja,  que  o  dito  empraza- 
mento, ou  arrendamento,  ou  afforamento 
em  si  tomar,  ou  receber,  perca  a  dizima 
de  todo  aquello,  qixe  assy  a  montar  na- 
quello  que  assy  arrendar,  afforar,  ou  em- 
prazar ;  e  que  esso  meesmo  aja  a  terça  par- 
te o  que  o  accusar,  e  as  duas  partes  sejam 

VOL.  V.  —  15. 


pêra  Nós,  e  pêra  a  nossa  Gamara.»  Ibi- 
dem, tit.  2,  §  7.  —  «Outro  sy  se  o  con- 
trauto, ou  promittimento  for  sem  dinhei- 
ros, assy  como  nos  emprazamentos,  ou 
nos  escaimbos,  ou  em  outro  qualquer  con- 
trauto similhante  a  estes,  o  contrauto  nom 
valha,  e  aquelles,  que  o  fezerem,  percam 
todas  as  cousas,  que  receberom,  ou  en- 
tenderem de  receber  por  esta  guisa,  e 
razom.»  Ibidem,  tit.  (3,  §3.  —  «Aprouve 
também,  que  as  Missas  se  celebrem  de 
todos  pela  mesma  ordem  que  Profuturo, 
Bispo,  hum  tempo  desta  Igreja  Metropo- 
litana, recebeo  em  escrito  por  authorida- 
de  da  mesma  Sè  Apostólica.»  Menarchia 
Lusitana,  liv.  6,  cap.  13. 

Que  as  manhosas  maldades  estão  certas, 
NaqucUes  onde  o  auimo  fallccc : 
A  estes  falta  esfoi-ço  claro  consta, 
Que  lhe  sobejarão  ardis,  e  enganos. 
Ditas  estas  palauras  lhe  responde 
O  Capitão,  e  diz :  O  gazalhado, 
Que  de  ti  recebemos  c  a  vontade 
Verdadeira  serii  do  mim  seruida. 

COBTE  REAL,  NAUFBAOIO  DE  SEPÚLVEDA,  CaUt.  12. 

— « Gomtudo,  os  do  esforçado  caval- 
leiro  do  Salvage  eram  também  taes,  que 
pagaA'am  a  seu  contrario  os  que  delle  re- 
cebia. Assim  se  começaram  a  tratar  de 
maneira,  que  já  não  se  esperava  que  ne- 
nhum podesse  sair  com  vida.»  Francisco 
de  Moraes,  Palmeirim  de  Inglaterra,  cap. 
39. — ■  «Porém  não  foi  tanto  a  seu  salvo, 
que  o  principe  Vernao,  Tenebror,  e  Tre- 
merão não  fossem  a  força  de  braços  tira- 
dos delle  quasi  mortos  polas  muitas  feri- 
das, que  de  suas  mãos  receberam.»  Ibi- 
dem, cap.  46.  —  «O  imperador  lhos  pre- 
sentou,  e  ella  os  recebeu  cora  mais  lagri- 
mas do  que  elle  fizera ;  porque  também 
nas  mulheres  qualquer  destes  accidentes 
faz  muito  maior  abalo.»  Idem,  Ibidem, 
cap.  94.  —  «Senlior  cavalleiro,  se  neste 
vosso  soccorro  cuidais  que  me  fazeis  mer- 
cê, eu  o  recebe  por  injuria :  deixai-me 
acabar  minha  batalha,  e  se  me  virdes 
vencido,  matai  vós  quem  me  vencer,  que 
antes  quero  dever-vos  esse  amor  e  von- 
tade na  morte,  que  ficar-vos  ness'outra 
obrigação  com  deshonra  de  minha  vida. » 
Idem,  Ibidem.  —  «Homem  de  bem,  disse 
o  imperador,  inda  que  nestes  casos  se  não 
deve  confiar  de  qualquer  pessoa,  o  dó 
que  recebo  dessas  lagrimas  e  idade  can- 
sada, me  faz  sahir  um  pouco  fora  do  or- 
dinário, porque  não  creio  que  em  tantos 
annos  e  tão  alvas  cãns  possa  haver  enga- 
no.» Idem,  Ibidem,  cap.  113.  —  «Gom 
este  contentamento  mandaram  tirar  man- 
timentos do  navio,  e  curaram  Beroldo  de 
uma  ferida  pequena,  que  recebera  n'um 
braço.  O  do  Tigre  quizera  que  por  caso 
delia  não  entrasse  outro  dia  na  batalha, 
e  não  se  pode  acabar  com  elle.»  Idem, 
Ibidem,  cap.  117.  —  «Elles  a  receberam, 
porque  cuidaram  seria  assim,  ou  porque 
conheceram  delle,  que  seu  desejo  era  an- 


dar desacompanhado.  Embarcando-se  na 
outra  gallé,  em  que  vieram,  se  foram  a 
via  de  Gonstantinopla,  e  em  pouco  tempo 
tomaram  terra,  onde  desembarcaram  e 
seguiram  sua  viagem.»  Idem,  Ibidem, 
cap.  120.  —  «Com  tudo,  alem  dos  mais 
aggravos  que  me  tendes  feito  em  não  me 
dizer  isto  mais  cedo,  não  me  façais  outro 
maior,  que  será  não  repousar  aqui  algum 
dia,  que  alem  de  querer  saber  mais  de 
vós,  será  saúde  pêra  as  feridas  d'Almou- 
rol  saber  que  as  recebeu  de  vossa  mão.» 
Idem,  Ibidem,  cap.  127.  —  «Conhecendo 
então  a  Nancaa  que  era  aquillo  hum  muy- 
to  grande  mysterio,  recebeo  esta  mercê 
da  mão  do  Senhor  com  muytas  lagrimas, 
e  lhe  deu  por  ella  muytas  graças  com 
todos  os  seus.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  93.  —  «E  que  alem 
deste  beneficio  que  recebia  de  Mafamadc 
Anconij  sentia  delle  ser  homem  fiel  a 
nossas  cousas :  por  muitas  de  que  lhe 
daua  conta  que  faziaõ  ao  bem  e  fauor 
delias,  e  que  isto  sentia  delle  Pedralua- 
rez  Cabral  os  dias  que  ali  estiuera.»  João 
de  Barros,  Década  1,  liv.  5,  cap.  10.  — 
«Passado  aquelle  dia,  e  o  seguinte  de 
sua  chegada,  que  tudo  forão  visitações, 
ao  terceiro  per  ordenança  de  elRey  posto 
elle  em  modo  de  receber  a  embaixada, 
que  Diogo  Lopez  dizia  que  lhe  leuaua: 
mandou  cm  seu  lugar  Hieronymo  Tei- 
xeira com  nome  de  seu  irmão,  tomando 
por  desculpa  de  não  ir  em  pessoa  por  vir 
mal  tratado.»  Idem,  Década  2,  liv.  4, 
cap.  3.  —  «Que  mandasse  quem  auia  de 
receber,  e  fossem  homens  ordenados  pêra 
quatro  partes  por  estar  em  quatro  mãos, 
mostrando  ser  necessário  per  este  modo 
o  seu  despacho  por  se  receber  tudo  em 
hum  dia :  porque  sendo  per  muitos,  es- 
candalizaria a  alguns  mercadores  estan- 
tes ali,  vendo  que  se  negara  a  elles  car- 
regar primeiro.»  Idem,  Ibidem,  cap.  4. 

Agora  quer  ir  vêr  este  meu  canto 
O  efleito  do  que  o  Turco  em  si  concebe 
Que  se  embarcou  pouco  antes,  e  entretanto 
Deixarei  o  Christão,  que  se  apercebe. 
Logo  como  o  cstrcllado,  escuro  manto 
Pola  ausência  do  Sol  o  Ceo  recebe, 
O  Turco,  que  do  engano  não  se  esquece, 
Das  galés  outra  vez  á  terra  dcce. 
r.  d'andbade,  fbiueibo  cebco  de  d!C,  cant.  19, 
est,  22. 

—  Receber  alguém  com  festas  e  ale- 
grias; recebel-o  com  fausto  e  pompa. 

Começa  a  embandcirar-se  toda  a  armada, 
E  de  toldos  alegres  se  adornou, 
Por  receber  com  festas  e  alegria, 
O  Regedor  das  Ilhas,  que  partia. 
CAM.,  Lus.,  cant.  1,  est.  59. 

—  Receber  alguém  com  cortezia  e  amor' 
tomal-o  em  seus  braços  cortez  e  amoro- 
samente. —  «Elle  lhe  fez  serviço  de  to- 
dolos  presos,  que  trazia,  de  que  o  gram 


114 


RECE 


RECE 


RECE 


turco  se  mo»trou  contento,  e  lhe  ren- 
deu praça»,  que  tainboni  o  recebeu  coin 
iniiitii  cortcziíi  o  iiiiior,  e,  dopui.s  ile  [iiis- 
s!ir  alpuuia.s  palavras  de  cumprimentos, 
llic  dirtse:  Senhora,  depois  (|ue  d'a(|ui 
parti,  corri  prande  parte  do  mundo  em 
busca  d'Albay/,ar,  meu  senlior.»  Fran- 
cisco do  Moraes,  Palmeirim  diaglaterra, 
cap.  80. 

—  Receber  a  a/jsohicão;  tonial-a. — 
(I E  a  cousa  que  dava  por  sy  era  confor- 
me ao  peccailo  que  tinha  cometido.  l'or- 
que  os  (jue  se  sentiào  eulpa'ios  no  pceca- 
do  da  Kii''>)  c  "iio  tinliai">  leito  naquelle 
anno  abstinência  nenhuma,  se  pesav.ào  a 
mel,  açúcar,  ovos  e  nianteiíija,  por  serem 
cousas  agradáveis  aos  Sacerdotes  de  quem 
avião  de  receber  a  absolvição.»  Fernào 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.   101. 

—  Receber  mercS.  —  « Concedei  no  que 
vos  o  gigante  pede,  que,  alem  de  nisso 
fazerdes  as  vontades  a  clle,  e  nós  rece- 
bermos grani  mercê,  por  derradeiro  todo 
o  louvor  e  honra  é  vossa.  Pois  assim  que- 
reis, disse  eile,  seja  como  ordenardes.» 
Francisco  de  iloraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  117. 

—  Receber  al<jnem  com  ambas  as  mãos. 
—  «E  vendo  que  lialeato  remettia  a  elle 
com  outro  golpe  de  toda  sua  força,  to- 
mando o  escudo,  que  fora  de  Bracolão, 
com  ambas  as  màos  o  recebeu,  e  entrou 
tanto  a  espada,  que  chegou  ás  embraça- 
duras,  e  soltando-as  das  màos,  Balleato 
o  levou  pegado  n"ella.»  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim   d'Inglaterra,   cap.    107. 

—  Receber  com  ijrande  apparato  ;  ad- 
mittir,  esperar  ostentosamente.  —  «O  tur- 
co como  lho  foi  nova  que  o  Xeque  Ismael 
era  tomado,  ordenou-se  pêra  o  receber 
com  grande  apparato,  mandando  muitos 
Capitães  seus  que  lho  trouxessem  em 
modo  de  triunfo.»  Barros,  Década  2,  liv. 
10,  cap.  6. 

—  Receber  posse;  tomar  posse.  —  «Da 
qual  recebeo  posse  pelo  ceptro  delia  que 
lhe  foi  eutreguc  em  Alcácer  do  sal,  a  vin- 
te sete  dias  de  Octubro  do  anno  de  nos- 
sa redempção  de  mil  quatro  centos  no- 
uenta  e  cinquo.»  Barros,  Década  1,  liv. 
4,  cap.  1. 

—  Softrer,  supportar,  tolerar.  —  «É 
desastre  de  onze  milhas  de  comprido ; 
porque  além  das  perdas  c  damnos  que 
recebe  em  sua  pessoa,  rapa-lhe  a  boa  da 
trovoada  todo  o  segi-odo  do  negocio  o 
nào  torna  a  levantar  sobrado  dalii  a  cin- 
co annos.»  Fernão  Soropita,  Poesias  e 
prosas  inéditas,  pag.  liHn  —  «Recebem 
grande  agravamento  em  razom  das  ca- 
zas,  e  roupas  que  lhe  som  tomadas  gram 
tempo  ha  pêra  os  nossos  Escudeiros  que 
mandamos  e^tar  na  dita  Villa  em  as  tee- 
rem,  e  lograrem  contra  talantos  daqucl- 
les  cujas  som.»  Cortes  de  Coimbra,  jan. 
de  149ã.  —  «A  imperatriz  com  (iridonia, 
depois  de  o  apertarem  comsigo.  lançando 
muitas  lagrimas,   estiveram   presentes  á 


cura  do  suas  feridas,  n3o  recebendo  me- 
nos dôr  dos  pontos,  que  ce  nellas  davam, 
que  se  foram  suas  pro[)rias.n  Francisco 
<lo  Jloraes,  Palmeirim  dlnglaterra,  cap. 
*^!'.  —  "E  inil;ique  Albarroco  do  encon- 
tro licasse  maltratado,  a  paixilo  í|ue  re- 
cebeu, llie  deu  tamanhas  forças,  alem  da 
que  elle  tinha,  que  parecia  impjssivel 
outra  nenhuma  força  a  poder  desbara- 
tar.» Ibidem,  cap.  94.  —  «Palmeirim  tem 
um  irniSo  tào  gentil  homem  como  elle, 
tào  bom  cavalleiro  como  elle  c  tilo  livre 
na  condição,  (pie  na  experiência  da  co- 
jja,  alem  de  nrio  fazer  nenhuma  mostra 
de  namorado,  escureceu  as  que  os  outros 
fizeram.  Este  poile  cazar  comvosco,  e 
alem  de  nisto  satisfazer  o  que  mereceis, 
nào  lhe  podo  lembrar  cousa,  com  que 
recebais  paixão,  pêra  as  virtuosas  nenhu- 
ma é  tamanha,  como  a  que  destes  casos 
nasce.»  Ibidem,  cap.  101. —  «E  posto 
que  os  cavalleiros  no  esforço  e  destreza 
•las  armas  fossem  os  melhores  de  toda 
Navarra,  nào  poderam  tanto  defender-se 
da  fúria  de  Florendos,  que  em  pouco  es- 
paço deixassem  de  andar  maltratados  e 
feridos,  e  um  já  estirado  no  campo  de 
uma  ferida,  que  recebera  na  cabeça,  que 
lhe  chegou  aos  mioUos.»  Ibidem,  cap. 
102.  —  «E  por  não  gastar  tudo  em  en- 
contros, baste  que  Pompidcs  e  Blandi- 
dom  fizeram  companhia  aos  outros,  rece- 
bendo o  do  valle  alguns  revezes,  e  per- 
dendo os  estribos  :  e  vendo  que  não  ha- 
via mais  que  fazer,  tirado  o  elmo  se  foi 
ao  imperador  por  lhe  beijar  as  mãos. 
Elle  o  levou  nos  braços,  vendo  que  era 
seu  neto  Floriano,  tão  contente  de  sua 
victoria,  como  antes  estava  triste  e  des- 
contente de  lha  ver  ganhar.»  Ibidem, 
cap.  111.  —  «Também  receberam  des- 
contentamento do  vencimento  de  Albav- 
zar,  que,  pola  conversação  do  tempo  (|ue 
alli  estivera,  lhe  desejavam  victoria,  alem 
d'o  elle  merecer  por  obras.»  Ibidem,  cap. 
124.  —  «Digo-vos  eu,  disse  o  das  ]>on- 
zellas,  que  esse  que  inda  bole,  quizera 
levar  o  escudo  do  vulto  da  senhora  Mi- 
raguarda,  e  ambos  tinham  o  parecer  nis- 
so conforme,  não  lhe  lembrando,  que 
quem  aquellas  mostras  ha  de  lograr  ha 
de  ser  com  algum  trabalho,  nem  a  of- 
fensa  que  recebíeis :  eu,  polo  que  vos 
nisso  ia,  acudi ;  crede  que  ou  o  favor  da 
senhora  Miraguarda,  ou  a  mofina  delles, 
os  chegou  ao  estado  em  que  os  achastes. » 
Ibidem,  cap.  127.  —  «Assi  que  com  a 
vinda  destes  dous  Capitães  começaram 
os  nossos  tomar  algum  animo,  com  que 
fizeram  sabidas  contra  os  Mouros,  em 
huma  das  quaes  receberam  muito  dam- 
no.  porque  mataram  D.  António  de  Li- 
ma filho  de  D.  Kodi'igo  de  T^ima,  e  An- 
tónio de  Sá  Capitão  do  navio  Rosairo, 
natural  d'Alhandra,  e  outros  dou*,  c  fe- 
riram Manuel  de  Sousa  Tavares,  Diogo 
Fernandes  de  Beja,  e  outros.»  Barros, 
Década  2,  liv.  t>,  eap.  10.  —  «E^por  se- 1 


rcm  alimárias  mui  esquivas,  e  qne  esfar- 
rapam muito  com  as  uidwiri,  e  denten  a 
proa,  c  os  cavallos  as  nào  recebem  bem 
nas  ancas  onde  as  trazem  no  monte,  fa- 
zem-lhe  per  aquftllc  lugar  hunia  maneira 
de  coprào  de  cubert;w  do  ann:is,  por  iiâo 
eseandalizar  com  as  unlias  o  c.-ivalio.  > 
Ibidem,  liv.  7,  cap.  i>.  —  «Porém  ncí^te 
acto  dr)  combater  muito  maior  dauino  re- 
ceberam os  níwsos,  que  o  muro ;  |)orque 
como  per  <l(;ntro  era  maciço  té  quaiii  m 
ameas,  toda  nossa  artilheria  eiiibaçava 
nelle,  o  nos  baluartes  onde  elles  tinham 
assestaflo  a  sua,  que  varejava  bem  em 
as  nossas  estancias,  e  navios.»  Ibidem, 
cap.  :").  —  «Mas  fora  impediíla  com  ven- 
tos contrários,  o  que  Deos  pcrmittira 
por  méritos  do  seu  profeta  Mahamed, 
por  sua  santa  casa  de  Meca  não  receber 
alguma  offensa ;  e  que  estas  cousas  <la 
ousadia  nossa  tudo  eram  descuidos  de 
tanto  Rey,  e  Principc,  como  liavia  na- 
quellas  partes.»   Ibidem,    liv.  8,  cap.  (J. 

Soccorrc  Eterno  Pao,  Senhor  Supremo, 
l'or<|ue  ou  cm  mar  tão  largo  desatino, 
Ondhuni  naufrágio  certo  espero  c  tomo 
Se  me  faltar  o  teu  favor  di\nno : 
Nom  m'atrcvo  chopar  a  tanto  estremo 
Dalto  verso,  sem  ti,  que  o  faça  dino 
l)a<(uclles  que  por  ti  com  peitos  fortes 
Derão,  e  recMrào  crucia  mortes. 

FEAXCISCO  DE  ASniUnE,    PBIXEIBO    CKBCO    DK   DIC. 

cant.  1,  est.  2. 

Rerehe  agora  a  cura  juntaracnt*' 
A  três  mortiies  cucimtros  bem  denda. 
K  delia  coo  favor  Oinuiiwtcnte 
Recebe  desta  vez  saúde  e  vida. 
Este  quo  d  "entre  o  imigo  fogo  ardente, 
D 'entre  o  ferro  infiel,  duro,  homccida, 
Mil  vezes  escapou,  depois  o  vento 
E  o  mar,  o  consumirão  n'hum  momento. 
IBIDEM,  cant.  18,  est.  7T. 

—  «Rumecan  acodio  logo  áquella  par- 
te, e  mandou  trazer  outro*  mastos,  e  ta- 
boas,  de  que  ordenou  outras  pontes  que 
se  lançíiraõ  no  mesmo  lugar,  sobre  o  que 
se  ateou  hum  grande  jogo  de  bombardas. 
e  espingardadas,  de  que  os  imigos  rece- 
beram muy  grande  dana,  matandolhes.  e 
derribandolhes  muitos  dos  que  andava"^ 
em  o  trabalho,  cujos  lugares  se  toma- 
vaõ  a  encher  logo  de  outros  de  refresco.» 
Diogo  de  Couto,  Década  ti,  liv.  2.  cap. 
3.  —  «Achou-se  cl  Rei  sendo  Príncipe 
na  conquista  de  Arzila,  onde  fez  por  seu 
braço  obras  maravilhosas,  o  foi  armado 
Cavalleiro  por  el  Rei  seu  Pai.  dentro  na 
Mesquita  da  própria  Cidade,  tendo  junto 
de  si  o  corpo  de  D.  Joaò  Ctmtinho,  Con- 
de de  Marialva,  tresjiassiido  de  muitas 
feridas,  que  recebera  no  combate  da  Ci- 
dade, por  honra  das  quaes  disse  el  Rei 
ao  Príncipe  cingindo-lhe  a  csptada,  que 
o  fizesse  Deos  taõ  b<>m  cavai lein>  como 
o  Conde.»  F'rei  Bernardo  de  Brito,  Elo- 
gios dos  reis  de  Portugal,  continuados 
por  D.  José  Barbosa. 

—  Receber  saúde;  recuperal-a.  — « Pois 


RECE 


RECE 


RECE 


115 


Flerida,  os  dias  e  noites  acompaniitava  o 
leito  de  seu  filho,  como  quem,  em  quan- 
to suas  feridas  nào  recebiam  saúde,  ne- 
nhum descanso  lhe  ficava.  Elrei  fez  mer- 
cê e  honra  aos  cavalleiros  dos  gigantes, 
por  satisfazer  a  vontade  a  seu  neto.  met- 
teudo-os  no  conto  dos  de  sua  casa. »  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  de  Inglater- 
ra, cap.  HtS. 

—  Receber  mau  trato  de  alguém;  ser 
maltratado  por  elle.  —  «Dalli  tomou  Vas- 
quo  da  Gama  sua  derrota  caminho  de  ile- 
linde,  mas  antes  de  sair  da  costa  do  Ma- 
labar screueo  huma  carta  a  el  Rei  de  Ca- 
lecut, em  que  lhe  contaua  todalas  trei- 
çoens,  que  lhe  os  Mouros  da  terra  tinham 
ordenadas,  e  mao  trato  que  recebera  do 
Catual,  e  doutros  officiaes,  pelo  que  se 
partira  sem  se  despedir  delle,  com  tudo 
que  hia  muito  desejoso  de  o  servir.»  Da- 
mião de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  1,  cap.  43. 

—  Receber  a  agua  do  santo  baptismo; 
tomal-a,  baptisar-se.  —  «E  que  não  po- 
dia ser  que  o  criador  criaria  cousa  tào 
grande,  tào  boa,  e  tào  perfeita  como  elle 
era,  pêra  o  condenar,  e  que  portanto 
cria  o  que  lhe  dizia,  e  desejaua  de  von- 
tade de  o  fazer,  pelo  qual  lhe  pedia  muv- 
to  por  mercê,  e  pollo  de  Deos,  que  aquil- 
lo  pêra  que  o  conuidara,  que  era  receber 
a  agoa  do  santo  bautismo,  nào  lhe  tar- 
dasse mais.»  Garcia  de  Rezende,  Chro- 
nica de  D.  João  II,  cap.  56. 

• —  Receber  i(//i«  noticia  com  palavras 
de  muita  paciência.  —  «Onde  o  Duque 
conheceo  a  verdade,  que  logo  claramente 
lhe  foi  deseuberta  por  o  padre  Paulo  seu 
confessor,  que  o  estaua  ja  esperando,  e 
lhe  deu  com  muytos  confortos,  e  esfor- 
ços, a  muy  triste,  e  muy  desconsolada 
noua,  a  qual  o  Duque  recebeo  com  pa- 
lavras de  muyta  paciência,  e  muy  em 
si,  como  homem  esforçado.»  Garcia  de 
Rezende,  Chronica  de  D.  João  II,  cap.  4G. 

—  Receber  prazer  com  alguma  cousa; 
tel-o,  regosijar-se  com  ella,  encher-se  de 
jubilo.  —  o  E  vieram  logo  ver  a  Raynha 
o  Duque  de  Viseu  seu  irmào,  que  já  era 
vindo  de  Castella,  e  o  Duque  de  Bragan- 
ça, e  outros  muytos  senhores  e  senhoras 
do  Reyno,  e  com  a  vinda  dos  Duques  el- 
Rey  recebeo  muyto  prazer,  o  lhe  fez 
muyta  honra,  e  deu  de  si  muyta  parte.» 
Garcia  de  Rezende,  Chronica  de  D.  João  II, 
cap.  3G. 

• — Não  receber  com  bons  ouvidos  qual- 
quer cousa;  soar-lhe  mal,  nào  gostar 
d'ella. 

E  SC  este  llic  nào  dá,  que  dar-lhc  queira 
Mil  homens,  entre  aqucOes  escolhidos 
Que  seguem  a  temida,  alta  bandeira 
Do  Lusitânia,  e  lá  foram  nascidos. 
Nem  esta  petição,  nem  a  primeira 
O  Cunha  receheo  com  bons  ouvidos, 
Suspenso  fica  assaz,  porque  nem  ousa 
Mandar  aqueUa  gente,  nem  o  Sousa. 
'PBAScisco  d'asdrade,  peimeibo    cebco  de  cic, 
cant.  5.  est.  69. 


—  Receber  alguém  com  muita  honra,  e 
gasalhado  ;  recebel-o  magnificamente.  — • 
«  E  assi  forão  ante  el  Rey,  que  com  muy- 
ta honi"a  os  recebeo,  e  elles  em  suas  pa- 
la uras  e  obras  mostrarào  serem  em  tudo 
gente  nobre,  e  bem  agradecida,  e  com  pa- 
lauras  de  homens  prudentes  derào  couta 
a  el  Rei  de  sua  perda,  e  estrema  neces- 
sidade.» Garcia  de  Rezende,  Chronica  de 
D.  João  II,  cap.  58.  —  «  E  com  este  as- 
sento concertado  tomarão  os  ditos  Em- 
baixadores no  mes  de  lulho  do  dito  anno 
a  Setuuel,  onde  el  Rey  estaua,  que  com 
sua  vinda  foy  alegi'e,  e  os  recebeo  com 
muyta  honra,  e  gasalhado,  per  que  todos 
erào  muy  aceytos  a  elle.»  Ibidem,  cap. 
167.  —  «O  imperador  teve  por  cousa  no- 
va ver  nomear  o  sábio  Daliarte;  porque 
té  li  nunca  ouvira  falar  n'elle,  e  dando 
o  agradecimento  daquella  vontade  a  sua 
donzella,  com  palavras  de  tanto  amor  e 
verdade,  como  sempre  costumava,  a  man- 
dou á  imperatriz  e  Gridouia,  que  a  rece- 
beram com  o  agasalhado  que  merecia  a 
esperança  em  que  sua  embaixada  as  pu- 
nha.» Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
de  Inglaterra,  cap.  13.  —  «Grande  alvo- 
roço e  contentamento  fez  a  sua  vinda.  O 
imperador  a  recebeu  com  amor  e  gasa- 
lhado, desejoso  de  saber  a  que  vinha  e  o 
qCle  acontecera  a  Palmeií-im  na  aventura 
de  Lionarda.»  Ibidem,  cap.  104. —  «O  im- 
perador, ainda  que  já  naquelle  tempo  fo.s- 
se  velho,  ataviou-se  como  mancebo ;  e  de- 
pois de  receber  Lionarda  com  o  gasalha- 
do, que  sempre  costuDiava,  tomou  o  lugar 
a  Primaliào  seu  filho,  que  vinha  fallaudo 
CO 'ella.  E  assim  a  veio  acompanhando  tào 
contente  e  namorado,  que  de  muito  rifa- 
no  e  sôfrego  nào  deixava  chegar  ninguém, 
nem  olhava  por  todos  aquelles  priucijJes, 
que  tirados  os  elmos  se  chegavam  pêra 
lhe  beijar  a  mão.»  Ibidem,  cap.  111. — 
u  E  como  ellas  fossem  gentis  mulheres  e 
o  recebessem  com  gasalhado,  e  elle  fosse 
inclinado  a  folgar  com  aquellas  compa- 
nhias, ia  tào  ledo,  que  nenhum  perigo 
lhe  lembrava  nem  lhe  parecia  que  o  po- 
dia haver.  Assim  punha  os  olhos  em  umas 
como  em  outras,  porque  a  todas  lhos  guia- 
va a  vontade,  que  isto  é  natural  de  ho- 
mens de  condições  isentas.»  Ibidem,  cap. 
113.  —  «O  Governador  tanto  que  lhe  de- 
raõ  novas  da  nào  do  Reino  na  barra,  man- 
dou com  muita  pressa  muitos  navios  pêra 
a  descarregarem,  e  meterem  dentro,  e 
desembarcar  a  Christovam  de  Sà,  qixe 
recebeo  com  muitos  gasalhados,  e  lhe  deu 
a  via  de  ElRey,  que  o  Governador  abrio, 
e  achou  as  Provisoens,  e  Alvarás  das  hon- 
ras, e  mercês  que  lhe  fazia  a  elle,  e  a  seu 
filho,  o  que  estimou  muito,  por  ver  que 
tinha  ElRei  conta  com  seus  serviços.» 
Diogo  de  Couto,  Década  6,  liv.  6,  cap.  7. 

—  Admittir.  —  «  Este  embaixador  que 
se  chamaua  Peirim  bonat,  homem  nobre, 
e  muito  acepto  ao  Xeque  Ismael,  chegou 
com  Miguel  ferreira  a  Ormuz  pouco  an- 


tes da  vinda  de  Afonso  dalbuquerque, 
onde  despois  de  ser  entregue  da  fortaleza, 
o  recebeo  em  huma  praça  publica  em  ca- 
dafalso alto,  em  lugar  donde  el-Rei  Dor- 
muz  podia  ver  tudo,  de  huma  janella  dos' 
seus  Paços.»  Damião  de  Góes,  Chronica 
de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  39. —  «Nas 
Cortes  tem  lugar  os  Alcaides  Mores  dos 
Castellos  d'ElRey,  a  quem  daõ  omena- 
gem,  e  os  mais  a  fazem  aos  vSenhores, 
de  quem  os  recebem.»  Severim  de  Fa- 
ria, Noticias  de  Portugal,  Disc.  2. 

—  Figuradamente :   Receber    a    lua   o 
nocturno  clarão  do  sol. 

Acima  delia  brilha  argêntea  Lua, 
Que  o  noctiu-uo  clarão  do  Sol  recebe. 

J.    A.    DE  MACEDO,  \'IAGEM  EXTÁTICA,   Caut.    3. 

—  Receber  grandes  palmadas  de  nação 
castrada. 


Aqui  I  cousa  piedosa  !  j  alçou  a  fronte 
A  insípida  Burlcta,  que  tyranna 
Do  Thcatro  desterra  indignamente 
Melpomeuc,  c  Thalia  ;  e  que  recebe 
Grandes  palmadas  da  Nação  castrada. 

A.   DINIZ  DA  CRUZ,  HYSSOPE,  Caut.    1. 


—  Figuradamente :  Receber  o  calor  do 


sol. 


Do  frigido  Saturno  o  globo  ingente, 
O  portentoso  anuel,  que  o  fecha,  e  cinge, 
E  as  frouxas  luas,  que  cm  continuo  moto, 
Qual  brilha  a  nossa  aqui,  também  lá  brillião ; 
Aivo,  immenso  calor  do  Sol  recebem, 
E  a  viva  força  da  attiacçâo  lhe  sentem, 
Qual  sentirão  no  instante,  em  que  do  Xada 
O  quiz  chamar  Architcctor  Supremo. 

J.    A.    DE  MACEDO,  MEDITAÇ.to,     Caut.   2. 


■  Receber  as  im2jressões  do  frio  e  do 


calor. 


Formào-se  delle  acastelladas  nuvens; 
Côas  varias  estações  s'altera,  e  muda  ; 
Alternativas  impressões  recebe 
Do  frio,  e  do  calor.  Oh  massa  enorme, 
Que  immenso  pezo  tens  !  E  nào  se  esmaga 
Com  tamanha  pressão  meu  frágil  corpo ! 
Que  dique  se  lhe  oppõe,  que  laço  o  prende? 

J.    A.    DE  MACEDO,  MEDITAÇÕES,   Cant.    2. 


—  Receber  os  embargos,  a  appellaçSo; 
admittil-a.  tomar  conhecimento  d'ella,  e 
sua  discussão. 

—  O  fi/ra  recebeu  os  noivos;  casou-os. 

—  Recebeu-te  o  cura  grulha;  casou-te. 

Isso  é  corpo  para  alma, 
pareces  alma  de  tulha. 
Yillão,  lanço-te  uma  pulha 
que  és  marido  da  calma  ; 
recebeo-te  a  cura  grulha. 

ASTOXIO  PRESTES,  AITTOS,  pag.  4ÕÍ». 

—  Receber  prémios.  —  «  Estas  são  as 
obrigaçoens  dos  Reys  de  Armas,  muitaa 


llfi 


UECE 


IIECE 


REGE 


(las  quací  na5  sei  se  se  cumjirc,  <;  ki;  ln' 
por  descuido,  ou  pelon  jjoucos  prémios, 
que  recebem  de  sou  tralwlho.»  Siiveriín 
de  Faria,  Noticias  de  Portugal,  I>ise.  H. 

—  Receber  dmlivn,  honra,  bem  (/«  «/- 
gxiem.  —  «  Juro  assim  mesmo,  que  qual- 
quer dadiva,  bem,  ou  honra,  que  rece- 
ber de  qualquer  líey,  Principe,  ou  Se- 
nhor, a  que  por  Eilley  "Nosso  Senhor  for 
cnTiado,  ou  por  quem  sou  lupir,  e  man- 
dado para  clic  tiver,  o  direi  a  ElRey 
Nosso  Senhor.»  Ibidem. 

—  Receber  grandes  impressues ;  sen- 
til-as,  soffrol-as  em  {grande  praduaçilo.  — 
<í  Sendo  ella  na  minha  opini.lo  mais  cons- 
tante do  que  o  homem  he  cin  amar,  rece- 
be com  essa  qualidade  muito  niayoros 
impressoen»  do  que  nós  dos  movimentos 
do  amor,  e  do  Ciúme. »  Cavalleiro  de  t)li- 
veira,  Cartas,  liv.  1,  n."  \^. 

—  Fifíuradamente:  eceber  da  terra  o 
Deu  riquíssimo  j>resente,  —  «Logo  o  Ceo 
com  o  prazer,  e  aluoro(>o  do  requissimo 
presente  que  da  ten-a  recebia,  niio  pode 
mais  ter  suas  riquezas  cerradas  ao  género 
liumano,  mas  abundantissimamente  lhas 
comunicou  ojc,  enchendo  as  almas  da- 
quelles  priraeyros  Christãos  de  todos  os 
does  celestiaes,  assi  como  nos  conta  o 
glorioso  Evangelista  S.  Lucas,  na  Epis- 
tola deste  dia,  dizendo  em  summa.»  Fr. 
Bartholomeu  dos  Martyres,  Compendio  da 
doutrina  christã,  liv.  2. 

—  Figuradamente  :  Os  povos  da  Euro- 
pa recebiam  do  seio  da  Lysia  o  perpetuo 
clarão. 

Tal  do  seio  de  Lisia  a  luz  emerge, 
De  que  os  Povos  da  Europa  receberão 
O  perpetuo  clarão,  com  ([uc  hoje  médrão. 

J.  A.   DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Caut.  4. 

—  Receber  da  terra  galardão. 

He  teu  calor  manancial  pcronnc 

Dos  thesouros,  o  bens,  que  a.  Terra  ostenta ; 

Tu  lho  envias  mil  dons,  tu  não  recebes 

Da  Terra  palardào  ;  renasce,  vive 

A  Natureza  amortecida,  quando 

A'8  cavernas  do  Polo  o  Inverno  foge, 

E  do  throno  dos  ares  desce  é  Terra 

A  Primavera  envolta  cm  rosca  nuvem. 

J.  A.  DG  MACEDO,  HEDITAçÃO,  Cant.  2. 

—  Recebeu-0  por  seu  marido;  deu-lhe 
a  miJo  de  mulher.  —  «  Octávio  amante  de 
Poncio  Posthumia  lhe  tirou  a  vida,  por 
que  oUa  duvidou  de  o  receber  por  seu 
marido.  NSo  pode  chegar  a  mais  cruel- 
dade o  civmie  quando  chega  a  converter 
cm  ódio  o  mesmo  Amor.»  Cavalleiro  de 
Oliveira,  Cartas,  liv.  1,  n."  13. 

—  Receber  as  cousas  da  mão  do  Padre 
celestial,  —  « E  nesta  pctiçam  o  confessa- 
mos, o  protestamos  que  da  milo  do  Padre 
celestial  recebemos  todas  as  cousas,  c 
que  de  nós  nada  tomos,  assi  como  filhos 
nam  mancipados  que  nam  sayram  ainda 
do  casa  do  pay,  mas  de  sua  milo  viuem, 


de  cuja  prouidencia  cstam  todos  depen- 
durados.» Fr.  Hartholomeu  dos  Marty- 
res, Catecismo  da  doutrina  christã. 

—  Receber  a  JV;  de  Cluisto ;  entrar  no 
grémio  da  igreja  catholiea,  recebendo  o 
sacramento  do  baptismo,  e  outros.  — 
"Fora  desta  igreja  estam  todos  pagilos  e 
infiéis,  que  nunca  receberam  a  feo  de 
Christo,  e  assi  todolos  herejes  que  des- 
j)ois  de  recebida  a  deixaram,  ou  corrò- 
poram,  e  todolos  scismaticos  que  rom- 
peram a  paz  e  vnidade  da  igreja,  e  fi- 
nalmente também  estam  fora  delia  todo- 
los excommungados  que  a  igreja  cortou 
e  lan(,'OU  do  si  como  membros  podres,  e 
perniciosos,  corrompedores  dos  membros 
saõs.»  Fr.  Bartholomeu  dos  Martyres, 
Catecismo  da  doutrina  christã. 

—  Receber  os  peccadorcs  o  divino  Lo- 
cado; commuiigarem,  receberem  o  prio 
eucharistico.  —  « Mas  porem  assi  como 
exorto  a  receberem  este  diuino  bocado 
os  poccadores  aparelhados,  e  arrependi- 
dos, assi  mando  que  fujam  delle  os  car- 
naes  e  endurecidos.  Porque  assi  como 
nam  ha  cousa  mais  proueitosa  pêra  a  al- 
ma que  huma  comunhão  recebida  com  a 
alma  verdadeyramente  arrependida  e  con- 
fessada: assi  nam  ha  peçonha  mais  per- 
niciosa e  danosa  pêra  a  mesma  alma,  que 
huma  communham  tomada  em  peccado 
mortal  com  consciência  nam  ennuendada, 
nem  arrependida.»  Fr.  Bartholomeu  dos 
JMartvres,  Catecismo  da  doutrina  christã. 

—  Receber  furtos  em  casa ;  ser  rece- 
ptador  d'ellos. 

Receber  alguma   lei,  xiso,  costume ; 

adoptar,  estar  por  elle. 

—  Receber  alguém  de  paz,  ou  de  guer- 
ra; recebcl-o  pacifica,  ou  bcllicosamente. 

—  Adquirir,  obter,  alcançar.  —  «Com 
o  sangue  de  Badur  receberão  as  armas 
Portuguezas  a  maior  fama  do  mais  atroz 
delicto,  deixamos-lhes  na  mrio  a  espada, 
com  que  nos  degoUárào  o  Rei,  para  que 
com  ella  mesma  nos  usurpem  o  Reino; 
tiremos  pois  dentre  nós  estas  vibonis  nas- 
cidas no  ultimo  Occidente  para  inficionar 
a  Ásia  toda,  como  se  verá  discorrendo 
por  seus  estragos,  que  elles  chamào  vi- 
ctorias.)'  .Tacintho  Freire  de  Andrade, 
Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv.  2.  — 
«Estas  palavras  receberão  credito  da  se- 
gurança com  que  se  disserão,  fioíindo  o 
Mouro  crédulo,  e  descontente  no  esforço 
do  Capit.ào,  na  victoria  da  armada;  le- 
vando aos  seus  por  reposta,  que  o  Capi- 
tito  Mór,  ou  entendera  o  ardil,  ou  des- 
prezara o  medo.»  Idem,  Ibidem,  liv.  4. 

—  Receber  as  desculpas  que  se,  dão; 
estar  por  ellas,  admittil-as. 

—  Receber  alguém  nos  braços ;  rece- 
bCd-o  com  abraços. 

• —  Esperar,  guardar.  —  «Polendos  o 
recebeu  com  aquolle  animo  de  que  sem- 
pre andava  acompanhado,  ferindo-o  tiío 
brauamcnte,  que  cm  pouco  espaço  se  fez 
verdadeiro   o   conselho,   que   lho  d'aute^ 


dava,  tratando-o  de  sorte  que  deu  com 
elle  no  ch3o  quasi  sem  acordo. »  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  dloglaterra, 
eap.  1;").  - —  «Então  mo.->trando-liie  o  prin- 
cijie  Prinialijlo,  a  rainlia  o  recebeu  como 
a  tilo  gram  pf^ssoa  convinha ;  e  logo  a 
Vernao,  ei-rei  Polendos,  e  rei  Hecindos, 
e  Arnedos  com  os  outros  princi]j08  e  ca- 
valleiros  mancebos.»  Idem,  Ibidem,  cap. 
43.  —  «A  esta  hora  já  o  imperador  era 
no  terreiro  com  toda  sua  corte,  e  que- 
rendo receber  o  cavalleiro  negro,  e  saber 
quem  era,  c  mandar  levar  também  Al- 
bayzar  a  seu  apousento,  elle  tirou  o  elmo 
pêra  lhe  beijar  as  mitos,  dizendo.  •  Idem, 
Ibidem,  cap.  89.  —  «Chegados  a  Alema- 
nha, inda  que  a  morte  do  imperador  fos- 
se mui  sentida  dos  seus,  por  ser  um  dos 
mais  benignos  príncipes  do  mundo,  o  po- 
vo, que  sempre  folga  cora  novidades,  re- 
ceberam seu  filho  com  tamanhas  festas, 
que  parecia,  que  de  todo  eram  esqueci- 
dos da  morte  de  seu  pai.  Foi  coroado  na 
cidade  de  Colónia  com  maior  triumpho, 
que  té  entTio  o  fora  nenhum  imperador.» 
Idem,  Ibidem,  cap.  95.. —  «De  que  o  ca- 
valleiro do  Salvagem  não  ficou  nada  con- 
tente, temendo  que,  se  muitos  daquelles 
recebesse  sua  vida  corria  risco.»  Idem, 
Ibidem,  cap.  lOG.  —  «O  ermitAo,  posto 
que  estivesse  descontente  do  cavalleiro 
do  Salvage  polo  vêr  tão  entregue  nas 
cousas  do  mundo,  recebeu-o  com  o  amor 
e  caridade,  que  sua  ordem  requeria.  Ven- 
do-o  trio  maltratado  de  suas  ferida-»,  o 
curou  como  quem  daquoUe  mister  .«abia 
alguma  cousa;  dando-lhe  um  pobre  leito, 
que  na  ermida  costumava  ter  pêra  hos- 
pedes, qne  o  seu  era  muito  mais  pobre.» 
Idem,  Ibidem,  cap.  107.  —  íE  porque 
este  desejo  ha  muito  tempo  que  a  segne, 
partiu  de  sua  casa  com  menos  companhia 
do  que  a  seu  estado  convém,  a  vos  vêr. 
Fica  ao  pé  deste  vosso  castello  mettida 
em  um  batel  esperando  por  mim,  «jue» 
rendo  que  primeiro  saibaes  de  sua  vinda, 
jiera  que  com  menos  pejo  a  recebaes.» 
Idem,  Ibidem,  cap.  110.  —  «Depois  de 
fazerem  cortesia  ao  imperador,  c  elle  os 
receber  como  quem  eram,  e  pessoas,  a 
que  sempre  tratara  com  amor,  lhe  deu 
conta  do  caso,  pcdindo-lhcs  quizessem 
franquear  a  senhora  Lionarda,  pois  que 
niio  havia  outrem  de  quem  o  esperassem.» 
Idem,  Ibidem,  cap.  111. —  «  Polinarda 
desejando  que  aquella  pratica  n3o  fosse 
mais  avante,  pêra  se  niio  lembrar  de  ta- 
manha divida,  a  mudou,  perguntando-lhe 
miudamente  por  Targiana :  porém  como 
a  este  tempo  dissessem  ao  imperador, 
que  o  embaixador  do  turco  era  já  pegado 
com  a  cidade,  o  mandou  receber ;  o  todos 
os  prineipae^  da  corte,  e  elle  o  es}K>r<ni 
naquclle  próprio  lugar.»  Idem,  Ibidem, 
cap.  112.  —  «E  se  o  damno,  que  delle 
tenho  recebido,  fora  algum  tanto  menos, 
eu  o  perdoara;  mas  quem  ha  de  sentir 
trio  pouco  a  morte  de  taes  irmitos;  c  o 


REGE 


REGE 


REGE 


117 


contentaiucnto  que  minha  mãe  e  sua  del- 
les  pode  receber  de  ver  em  seu  po.ler  o 
matador  de  seus  fillios?»  Idem,  Ibidem, 
cap.  113.  —  «Ao  qual  cliegando  Pedral- 
uaiez  elle  se  leuantou  em  pee  de  liuma 
cadeira  em  que  estaua  chapada  de  ouro 
cõ  alguma  pedraria,  e  o  veo  receber : 
fazendolhe  muito  acatamento  té  o  lugar 
onde  se  assentarão.»  João  de  Barros, 
Década  1,  liv.  5,  cap.  5.  —  «Clicgado 
ElRey  á  porta  das  suas  casas,  sahio  ao 
receber  Abrahem  Bec  o  Gapitão  do  Xe- 
que Ismael,  e  o  seu  Embaixador,  e  de- 
ram também  muitas  graças  a  Affonso 
d'Alboquerque  do  modo  que  tivera  de  li- 
bertar aquelle  Príncipe,  e  da  honra  que 
lhe  fazia.»  Idem,  Década  2,  liv.  10,  cap. 
5.  —  «Aos  quae?  líaez  Nordim,  que  os 
veio  receber  á  porta,  disse,  pêra  que  era 
tanta  gente  de  armas  como  o  Gapitão 
mór  tinha  comsigo  ?  Ao  que  Pêro  d'Al- 
poem  respondeo,  que  elle  não  tinha  com- 
sigo senão  gente  desarmada,  e  que  a  ou- 
tra de  fora,  posto  que  armada  estivesse, 
elle  o  podia  fazer,  porque  assi  se  assen- 
tou, e  que  outro  tanto  podia  ElRey  fa- 
zer, scunente  os  que  entrassem  com  elle.» 
Idem,  Ibidem.  —  «De  que  era  Gapitão 
hum  Brainaa  tio  dei  Rcy  por  nome  ]Mõ- 
pocasser,  Bainiaa  da  cidade  de  Meleitay 
no  reyno  do  Ghaleu.  Detrás  desta  guar- 
da dos  elifantes  dez  ou  doze  passos  vi- 
nha3  muytos  senhores  por  quem  el  Rey 
o  mandou  receber,  entre  os  quaes  vinhaõ 
os  que  se  seguem.»  Fernão  Mendes  Pin- 
to, Peregrinações,  cap.  15. —  «Gonsalo 
Pacheco,  c  Nuno  Fernandes  cos  mais 
Portuguezes  chegarão  ao  arrayal  jâ  com 
huma  hora  de  Sol,  e  ElRey  os  mãdou 
receber  por  Gibraydaõ  Seda  senhor  do 
Meydu,  hum  dos  principaes  Gapitães  Bra- 
mas, que  alli  tinha  comsigo,  e  de  que 
muyto  se  fiava,  o  qual  vinha  acompanha- 
do de  mais  de  cem  de  cavallo  com  seis 
porteyros  de  maças.»  Idem,  Ibidem,  cap. 
196,  —  «Luís  de  Sousa,  D.  Fernando  de 
Gastro  com  seus  Gapitaens,  e  Dom  Fran- 
cisco de  Almeida,  que  Dom  Joaõ  Masca- 
renhas mandou  aquelle  dia  passar  pêra 
alli,  receberão  os  imigos  como  sempre, 
quebrandolhe  log.)  aquelle  furor,  e  orgu- 
lho que  levavaõ,  lançando  todos  os  que 
alcançarão  das  paredes  abaixo  feitos  em 
pedaços.»  Diogo  de  Gouto,  Década  6,  liv. 
2,  cap.  8.  —  «O  que  feito  se  partio  pêra 
Gochim,  leuando  consigo  Afonso  Dalbu- 
querque,  onde  depois  de  chegada,  o  Vi- 
cerei  o  veo  receber  a  praia  com  sua 
guarda  ordinária,  de  cem  alabardeiros. 
Ghegado  o  Marichal  a  Gochim,  trabalhou 
quanto  pode  em  concertar  o  Vicerei  com 
Afonso  dalbuquerque,  e  assi  o  fez.»  Da- 
mião de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  2,  cap.  41.  —  «El-Rei  de  Gananor 
o  veo  receber  à  praia,  acompanhado  de 
muitos  Gaimaens,  e  Naires,  e  com  elle 
Lourenço  de  brito  capitam  da  fortaleza.» 
Idem,  Ibidem,  part,  2,  cap,  40. 


—  Receber  bem  a  alguém ;  recebel-o 
com  todo  o  acatamento.  —  «As  gal cotas 
dos  Turcos  os  foraõ  seguindo  :  (J aspar 
Nunes  tanto  que  sahio  do  Estreito  tor- 
nou a  voltar  pêra  a  outra  banda  do  Abe- 
xim, 6  foy  demandar  Maçuà,  e  tendo 
vergonha  de  hir  à  Índia,  por  ver  matar 
o  seu  Gapitaõ  mòr,  deitou  a  artelharia 
no  mar,  e  com  os  seus  soldados  se  foy 
por  terra  pêra  o  Preste  Joaõ,  e  no  Mos- 
teiro de  Baroà  achàraõ  o  Barnagais  que 
os  recebeo  bem,  e  os  encaminhou  pê- 
ra o  seu  Rey:  estes  todos  morrerão  por 
1;\.»  Diogo  de  Gouto,  Década  4,  liv.  9, 
cap.  3. 

— ■  Receber  contentamento  de  alguém^ 
ou  de  alguma  cousa.  ■ —  «Ghegando  mais 
ao  perto  ouviu  gram  ruído  darmas,  e 
correndo  contra  aquella  parte  chegou  á 
borda  d'agoa  onde  vira  um  navio  anco- 
rado posto  de  largo,  e  na  praia  comba- 
tiam dez  cavalleiroá  com  três,  que  co- 
nheceu serem  Platir,  Beroldo  e  Daliarte, 
de  que  recebeu  novo  contentamento,  lem- 
brando-lhe  que  pêra  soccorro  da  vida  de 
seu  irmão  eram  alli  vindos.»  Francisco 
de  Moraes,  Palmeirim  d'Iuglaterra,  ca- 
pitulo 117. 

— Receber  alguém  seccamente ;  recebêl-o 
com  desabrimento.  —  «O  Governador  as- 
sim o  fez,  e  desembarcou  em  Gochim,  e 
foy  visitar  o  Visorey  que  o  recebeo  se- 
camente, e  alli  lhe  fez  entrega  da  Índia, 
e  se  recolheo  pêra  sua  casa,  mandando 
logo  navios  a  Goa  em  busca  de  sua  mvi- 
Iher  pêra  se  embarcar  pêra  o  Reino.» 
João  de  BaiTOS,  Década  6,  liv.  9,  cap,  1. 

—  Receber  alguém  honradamente ;  re- 
cebêl-o com  honra.  —  «Ghegado  este  em- 
baixador ao  Achem,  elle  o  mandou  rece- 
ber honradamente,  e  lhe  tomou  a  carta 
que  lhe  trazia,  porem  despois  que  a  man- 
dou ler  e  vio  o  que  vinha  nella,  o  quise- 
ra logo  mandar  matar,  se  alguns  dos 
seus  lhe  não  foraõ  á  mão,  dizendolhe  que 
se  o  fizesse  seria  infâmia  sua  muvto  gra- 
de,» Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  31, 

—  Receber  alguém  affavelmente;  rece- 
bêl-o com  aíFabilidade.  —  «A  esta  mollier 
foraõ  ver  os  embaixadores,  e  lhe  beija- 
rão o  pé  como  a  santa,  e  ella  os  recebeo 
afabelmente,  e  com  palavras  discretas 
lhes  perguntou  miuilamcnte  por  algumas 
cousas  de  que  lhe  elles  dera»  razaõ.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações,  ca- 
pitulo 128, 

—  Receber-se,  v.  refl.  Enlaçar-se,  tra- 
çar o  elo  conjugal,  —  «Os  frades  nam  ca- 
sam, e  quanto  aos  clérigos,  assi  elles  co- 
mo leigos  não  podem  ter  mais  que  huma 
so  molher,  os  que  casam  nam  se  recebem 
a  porta  da  Egreja,  senão  em  casa  de  seus 
pais  ou  parentes,»  Damião  de  Góes,  Chro- 
nica de  D.  Manoel,  part.  3,  cap,  61. 

—  Adágios  e  provérbios  : 

—  Gale  o  que  deu,  e  falle  o  que  re- 
cebeu. 


—  Quem  paga  o  que  recebeu,  o  que 
lhe  fica  é  seu.. 

—  SrN. :  Receber,  tomar.  Vid.  este  ul- 
timo vocábulo. 

RECEBIDO,  'p»rl.  p«ss.  de  Receber.  — 
«E  a  o«te,  que  lhe  decinge  a  espada,  cha- 
mam-lhe  padrinho,  ca  bem  assy  como  os 
padrinhos  ao  bautizado  ajudam  a  confir- 
mar seu  afilhado,  como  seja  christam, 
bem  assy  o  que  he  padrinho  do  Gavallei- 
ro  descingindo-lhe  a  espada  confirma,  c 
outorgua  a  Gavallaria,  que  ha  recebida. » 
Ord.  Affons.,  liv.  1,  tit.  63,  §  24. —  «E 
seja  primeiro  recebido  a  demandar  as  di- 
tas penas  o  Procurador  do  dito  Goncelho, 
e  leve  a  pena  dos  ditos  dinheiros  pei-a  o 
Goncelho;  e  se  as  demandar  nom  quiser, 
entom  as  demande  o  dito  meu  Almoxari- 
fe, 6  Escripvam,  e  levem  as  ditas  qui- 
nhentas libras  pêra  mim.»  Idem,  liv.  4, 
tit.  5,  §  16.  —  «E  nos  outros  casos,  hu 
dissemos  que  o  creedor  aja  de  provar  a 
confissom  do  devedor  seer  verdadeira, 
Mandamos  que  a  possa  provar  per  teste- 
munhas, ou  per  qualquer  outro  modo,  sem 
embargo  da  dita  Hordenaçom ;  porque 
pois  já  elle  por  si  tem  Escriptura  pruvi- 
ca,  e  sem  embargo  delia  ainda  he  cons- 
trangido a  provar,  que  a  confissom  do 
devedor  foi  verdadeira,  com  justa  razom 
deve  seer  recebido  a  provalla  per  qual- 
quer maneira  de  prova.»  Ibidem,  tit,  Õ5, 
8  8, 

Anthcvos  so  adianta  como  aquelle 
A  quem  a  execução  era  otorgada ; 
E  auia  de  vingar  com  triste  morto 
Esta  injuria  que  Amor  tem  recebida. 

CORTE  KEAL,    NAUFKAQIO  DE  SEPÚLVEDA,   Cant.    3. 

Quanto  devem  do  ser  auorrecidos 
De  todos  03  que  são  mal  inclinados. 
Dos  taes  era  nenlmm  tempo  recebidos 
Scjào  os  Ímpios  votos  doprauados. 
Que  de  humor  diabólico  mouidos  : 
Se  mostrão  ao  pior  atteiçoados, 
Sc  a  bibera  veneno  dá  mortal, 
Os  mãos  que  podem  dar,  se  não  for  mal. 
IBIDEM,  cant.  13. 

—  «E  posto  que  o  turco  meu  senhor 
tem  recebido  de  vossos  vassallos  algumas 
injurias,  que  se  bem  poderão  vingar  com 
morte  destes  presos,  usando  de  sua  real 
condição  e  dos  rogos  de  sua  filha,  lhe  deu 
vida.  Agora,  querendo  mais  chegar  ao 
cabo  com  sua  nobreza,  ha  por  bem  de  os 
dar  a  troco  d'Albayzar  seu  genro,  que 
por  mandado  de  Miraguarda  anda  preso 
na  corte  d'ol-rei  de  Hespanha.»  Francis- 
co de  Moraes,  Palmeirim  dlnglaterra, 
cap.  112. —  «O  das  Donzellas  se  escu- 
sava com  ser  tarde;  e  porque  Lustramar 
todavia  porfiava,  Polifema,  uma  das  don- 
zellas, lhe  disse:  Peço- vos,  senhor  caval- 
leiro,  que  do  mal  queiraes  o  menos,  e  voa 
contenteis  com  o  que  tendes  recebido,  que 
este  nosso  guardador  é  tào  costumado  a 
o  não  vencer  ninguém,  que  nirguem  re- 
cebe quebra  de  ficar  vencido  delle.»  Ibi- 


118 


KKCK 


RECE 


RECE 


dem,  cap.  121).  —  oDtupididoa  orf  ciiibui- 
xadorc.s  delia,  Hufíuiraò  sua  derrota  jior 
esto  rli)  abaixo,  <;  a  cabo  rle  eirico  dias 
ciie<;amos  a  luiina  fri'aude  cidade  por  no- 
me Kcndacaleiíi  que  estava  no  estremo 
dci  royno  da  Tartaria,  e  daly  por  diante 
itimeça  o  senhorio  do  Xinalevffrau,  pelo 
()ual  caniinhanioí  inais  quatro  dian,  até 
cliofi^arnios  a  Ininia  jiovDaeào  (pie  se  dczia 
V'ouleni,  onde  (k  embaixadores  andjos  fo- 
raõ  hcin  recebidos  do  senhor  da  terra,  e 
))rovidos  do  necessário  para  sua  viagem, 
e  d(!  pilotos  para  aquidíes  rios.»  Fernão 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,   cap.    128. 

—  «De  modo  que  por  esta  só  que  o  Zei- 
moto  aquy  <loa  ao  Nautoquim  com  boa 
teneaò  e  por  boa  amizade,  c  por  lhe  sa- 
tisfazer ))arte  das  honras  e  mercês  que 
tinha  recebido  dellc,  como  atrás  fica  di- 
to, se  (uichoo  a  terra,  delias  em  tanta 
(piantida  le  que  não  ha  ja  aldeã  nem  lu- 
<;ar  por  pequeno  que  seja  donde  nào  sayão 
de  cento  pai-a  cima,  e  nas  cidades  e  vil- 
las  notáveis,  não  se  fala  senão  por  muy- 
tos  milhares   delias.»   Ibidem,    cap.   134. 

—  «E  velejando  por  nossa  derrota,  prou- 
\-e  a  Deos  quo  chegámos  a  ellc  a  salva- 
mento, aonde  dos  moradores  da  terra  fo- 
mos muyto  bom  recebidos,  os  qnaes  ha- 
vendo por  causa  nova  virmos  nòs  daquel- 
la  mancyra  eutregues  :i  pouca  verdade 
dos  Chi-.is,  nos  perguntarão  de  que  terra 
vinhamos.»  Ibidem,  cap.  137.  —  «Os  JIou- 
ros  das  quaes  e  assi  os  da  cidade  temen- 
do que  podião  receber  algum  duuo  delle 
pola  artilheria  quo  lhe  ouuirão  quando  os 
saluou :  foi  de  todos  mui  bem  recebido 
dandolhe  muitos  mantimentos  e  refrescos 
da  terra.»  Barros,  Década  1,  liv.  õ,  cap. 
'••.  —  i( Desombai'eou  uo  cães,  e  foy  rece- 
bido da  Cidade  com  as  ceremonias  acos- 
tumadas, e  com  grande  aplauso,  o  con- 
tentamento do  povo,  ficando  correndo 
cora  suas  obrigaçoens,  aonde  os  deixare- 
mos ])or  continuarmos  com  as  cousas  de 
Còchim.»  Diogo  de  Couto,  Década  O,  liv. 
W  cap.  2.       ' 

pile  a  ol  Eoy  ha  mão  beijou, 
c  com  elle  si'>  falou, 
foy  dclRey  boui  recebido, 
cò  gr.iude  honra  dcsiedido, 
ricas  joyas  lhe  mandou. 

GARCIA  I>K   HF.ZEXDE,   MISrF.LI.AXKA. 

—  « Isso  acabado  António  corroa  fez 
gouernador  de  Babarem  cm  nome  dol 
Rei  Dormuz  Raix  bueat  multo  bom  ca- 
uallciro  do  que  todolos  da  ilha  iicaram 
mui  contentes,  e  elle  se  partio  pêra  <->r- 
muz  aos  doze  dias  Dagosto,  onde  f.)l  bem 
recebido.»  Damião  de  (iões,  Chrouica  de 
D.  Manoel,  part.  4,  cap.  G3.  - — «Entra- 
dos estes  Religiosos  lia  Ilha,  forão  rece- 
bidos dei  Rei  de  Cotta  com  benigna  hos- 
jiedagem ;  conjeçando  a  nascer  segunda 
vez  uo  Oriente  o  Sol  Divino.  Ouvio  aquel- 
la  Gentilidade  a  voz  do  Ceo:  c  ao  bene- 


ficio da  terra  inculta  resjiondia  o  ft-uto, 
oncamiidianrlo  ao  curral  da  Igreja  infini- 
tas ovelhas.»  .laeiíilho  Friíire  de  Andra- 
de, Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv.  4. 

—  Recebidos  ou  noivos;  casados. 

—  Coniumt:,  li:i  recebida  ;  costume,  lei 
adoptada. 

—  Grandes  vtercês  recebidas.  —  «Por- 
que na  verdade  niuvto  menos  culpa,  e 
caso  era  estar  dom  Aluaro  em  Saiitarem, 
posto  que  estiuesse  ])or  parte  do  Duque, 
e  cm  ajuda  sua,  que  a  dos  outros  que 
com  suas  jn-opias  mãos  querião  matar  seu 
Rey,  e  senhor,  de  quem  niuytas  e  gran- 
des mercês  tinhào  recebidas,  que  dom 
Aluaro  ainda  que  consentisse  em  o  faze- 
rem, não  no  quis  elle  fazer,  nem  ver  fa- 
zer, e  j)or  isso  estando  el  Rey  em  Setu- 
uel  estaua  elle  em  Santart^m.»  <!arcia  de 
Rezende,  Chronica  de  D.  João  II,  cap.  õ4. 

—  Ilúineiu  recebido  iK/nindíiincnte;  re- 
cebido com  honra.  —  "Da  viagem  do  qual 
nós  não  faremos  relação,  por  ser  grande, 
e  miúda,  e  dia  pos  dia,  segundo  a  escre- 
veo  Gil  Simões  Escrivão  desta  embaixa- 
da, stmiente  o  que  convém  á  nossa  his- 
toria, como  Fernão  Gomes  de  Lemos  foi 
recebido  honradamente,  e  despachado  cora 
favor,  o  qual  tornou  á  índia,  sendo  Af- 
fonso  d'Alboquerque  já  fallecido,  e  go- 
vernar Lopo  Soares.»  Barros,  Década  2, 
liv.  10,  cap.  5. 

—  Recebido  com  amor;  recebido  arao- 
rosamente.  —  «Chegou  á  Cidade  de  Tou- 
ro, onde  el  Rey  seu  pay,  e  a  Raynha,  e 
toda  sua  gente  estaua,  e  foy  recebido  dei 
Rey  com  grandissimo  amor,  e  muytas  la- 
grimas de  prazer  de  liuma  parte  e  da  ou- 
tra, e  assi  da  Raynha,  e  de  todolos  Por- 
tugueses com  tanto  contentamento  que 
mais  não  podia  ser,  porque  toda  a  espe- 
rança dei  Rey  dom  Affonso,  e  dos  seus, 
era  só, na  vida  do  Príncipe.»  Oarcia  de 
Rezende,  Chrouica  tíe  D.  João  II,  capitu- 
lo 12. 

—  Recebidos  os  sacramentos  da  eijreju ; 
tomados  os  sacramentos.  —  «Como  nào 
adquirio  riquezas,  de  que  dispor  de  no- 
vo, nào  fez  outro  testamento,  que  o  que 
deixou  uo  Reino,  quando  passou  a  gover- 
nar a  índia,  em  mãos  do  Bispo  de  An- 
gra D.  Rodi'igo  Pinheiro,  com  quem  tinha 
communicado.  E  recebidos  os  Sacramen- 
tos da  Igreja,  rendeo  a  Deus  o  espirito 
em  seis  de  Junho  de  mil  quinhentos  qua- 
renta e  oito,  aos  (juarenta  e  oito  de  sua 
iilado,  e  quasi  três  de  Govei-no  daqucUe 
Estalo.»  Jacintlio  Freire  d'Andrade,  Vi- 
da de  D.  João  de  Castro,  liv.  4. 

—  Recebido  coui  amor  e  gasaUiado  ;  re- 
cebido amorosa  o  gasalhadaraente.  —  «O 
qual  vindo  fugido  deste  tyranno,  que  o 
queria  matar  por  elle  defender  a  justiça 
do  seu  Príncipe,  o  seudo  recebido  com 
amor.  c  gazalhado  dElRey  Sangesinga 
de  Cingápura,  qne  elle  foi  buscar  por 
amparo,  e  refugio  de  seu  desterro.»  Bar- 
ros, Década  2,  liv.  6,  cap.  1. 


—  Sofirido.  —  «Té  que  no  tini  destes 
dia«  era  já  tanto  o  damno  que  os  Mouro» 
tinham  recebido,  que  dos  mortos,  fcriílos, 
e  fugidoH  licou  a  (.'idadu  meia  despejada, 
recolhcndo-se  pelo»  nmtox,  e  nos  m-us  du- 
ções  aquelles  (jue  us  tinham.»  Ibidem, 
cap.  H. 

RECEBIMENTO,  «.  m.  Acçào  de  rece- 
ber.— •■/(»  (juarlo  (Japitulo  lie:  Que  os 
coutrautos  da»  compras  e  vendai),  loca- 
ções, emprestido»,  estipulaçuões,  proraiií- 
Hoòes,  companhias,  doaçoõei*,  afloramen- 
tos, arrendamentos,  depósitos,  guarda,  e 
condecilho,  recebimentos  de  Tetores,  e 
Curadores,  c  Eixecutores  de  testamentos, 
ou  d'outra  postumeira  voontade.  Negocia- 
dores, Aministradores,  e  outros  quaees- 
quer, »  Ord.  Atfons.,   liv.  4,  tit.  1,  §  14. 

—  «()  Princijie  veo  de  Moura  dormir  ao 
lugar  da  Vera  Cruz,  onde  chegou  a  elle 
muyta  e  muy  nobre  gente  da  (Jorte,  e  o 
outro  dia  nào  pa.ssou  do  Portel  por  o  re- 
cebimento, festas,  e  banquetes  que  Ibe  o 
Duque  de  Bragança  ahy  fez  em  muyta 
perfeição,  que  o  Duque  era  muy  largo, 
e  abastado  em  suas  cousas,  e  trazia  muy 
honrada  casa.»  darcia  de  Rezende,  Chro- 
nica  de  D.  João  II,  cap.  43.  —  «Despíds 
de  cl  Rey  saber  o  dia  em  que  a  Prince- 
sa auia  de  ser  entregue  em  Portugal,  or- 
denou que  cm  seu  recebimento  e  entre- 
ga, que  no  estremo  dos  Reynos  se  auia 
do  fazer,  fosse  cm  nome  do  Príncipe  o 
Duque  dom  Manoel  primo  com  irmão  dei 
Rei,  e  irmão  da  Raynha,  filho  do  Infante 
dom  Fernando,  e  primo  com  irmão  iLi 
Raynha  dona  Isabel  de  Castella,  que  le- 
uaua  poder  especial  do  Príncipe.»  Ibi- 
dem, cap.  121.  —  «Onde  steue  alguas 
dias  ordenando  cousas  que  compriào  pê- 
ra seu  recebimento,  o  que  acabado  se  foi 
pcra  alnieirini,  e  deixando  neste  lugar  os 
infantes  seus  filhos,  e  filhas,  se  foi  com 
o  Príncipe  ao  Crato,  pcra  ahi  sperar  a 
Rainlia  sua  molher.»  Damião  de  Góes, 
Chrouica  de  D.  Ifejioel,  part.  4,  cap.  34. 

—  «Este  Talapicor  entre  algumas  honras 
e  mercês  que  fez  aos  moradores  desta  ci- 
dade para  lhes  satisfazer  o  muyto  que 
gastarão  no  recebimento  que  lhe  fizerão, 
foy  concedcr-lhes  (jue  pudessem  todos  ser 
sacerdotes,  e  ministrar  sacrificios  onde 
quer  que  se  achassem  para  Ihè  darem 
por  isso  seu  estipendio  como  aos  outros 
que  forão  feitos  por  exame,  e  que  pudes- 
sem tanibem  passar  escritos  como  letras 
de  cambio  para  no  Ceo  darem  dinheyro 
aos  que  lhe  cá  fizessem  bem.»  Fernão 
Jlencles  Pinto.  Peregrinações,  cap.   127. 

—  «E  ao  outro  dia  pela  menhan  cedo  se 
partio  para  Mecuy,  donde  aforrado  cò  sos 
três  mil  do  cavallo  se.guio  seu  caminho 
por  espaço  de  nove  dias,  p.issando  por 
muvtos  o  nmyto  nobres  lupireí,  segundo 
mostrava  a  apparencia  tle  fira,  sem  que- 
rer aceitar  recebimento  nem  festas  era 
nenhum  delles,  daudo  por  razão  que  fes- 
tas de  povo  eraS  occasiSo  para  officiaea 


REGE 


RECE 


RECE 


119 


tyranuos  roubarem  os  pobres,  do  qual 
Deos  se  avia  por  muyto  disservido. »  Ibi- 
dem, cap.  131. 

—  A  acção  de  se  receberem  os  noivos. 
—  «E  para  os  mais  atraher  a  quererem 
íicar  na  cidade,  lhes  fazia  muitos  favo- 
res, visitandoos  em  suas  casas,  chaman- 
dolhes  íillios,  e  íillias,  fazendollies  a  des- 
peza  das  vodas,  acompauhandoos  no  dia 
do  recebimento  a  egreja,  com  trombetas, 
e  ata  bales,  de  maneira  que  conuertiam 
outras  moíberes  da  terra  a  sé  fazerem 
Christas,  e  aos  Portugueses  a  lhas  pedi- 
rem em  casamento.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  16. 

—  Recebimento  apparatoso  ;  recebimen- 
to que  se  faz  indo  espei'ar  o  hospede  ao 
caminho,  etc. 

—  Recebimento  avantajado;  recebimen- 
to superior.  —  «Ao  embaixador  deste  prín- 
cipe Carão  se  fez  muyto  mais  avantaja- 
do recebimento  que  a  todos  os  outros  : 
este  trazia  comsigo  cento  e  vinte  homens 
de  guarda  de  frechas  e  panouras  tauxia- 
das  douro  e  prata,  vestidos  todos  de  cou- 
ro escodado  roxo  e  verde,  e  doze  portey- 
ros  a  cavallo  com  maças  de  prata,  e  do- 
ze quartaos  a  destro.»  Fernão  Mendes 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  124. 

—  O  recebimento  cortez  da  visita;  con- 
siste em  sair  fira  da  sala  para  dar  a  pri- 
meira entrada  ao  hospede. 

—  Recebimento  mui  honrado;  recebi- 
mento feito  com  as  devidas  honras.  — -  uE 
ao  despedir  do  dito  capitão,  e  capitães, 
el  Rey  lhe  fez  a  todos  para  ajuda  do  ca- 
minho mercê  em  muvta  abastança.  E 
neste  tempo  era  vindo  de  Roma  o  mor- 
domo mor  de  dar  a  obediência  como  atras 
se  disse,  e  veo  por  Veneza  polia  ver,  e 
a  Senhoria  sabendo  que  era  embaixador 
dei  Rey  lhe  fez  muy  honrailo  recebimen- 
to, e  murtas  festas.»  Garcia  de  Rezen- 
de, Chronica  de  D.  João  II,   cap.  58.  • — 

—  Recebimento  solemne ;  recebimento 
feito  com  toda  a  solemnidade.  —  «Xa 
sabida  do  qual  em  terra  a  Cidade  lhe  ti- 
nha feito  hum  solemne  recebimento;  e 
quando  foi  á  entrada  da  porta  da  Cida- 
de, hum  Mestre  Aflbnso  homem  letrado 
Fysico,  que  servia  de  Juiz  ordinário,  lhe 
fez  huma  Oração.»  Barros,  Década  2,  liv. 
7,  cap.  4.  —  «El  Rei  dom  Emanuel,  e 
ha  Rainha  dona  Isabel  sua  molher  dece- 
rào  em  huns  paços,  que  hos  Reis  Dara- 
gão  tem  fora  da  cidade,  a  que  chamaõ 
Aljoufaria,  e  alli  jeutarão,  "e  no  mesmo 
dia  a  horas  de  véspera  entrarão  na  cida- 
de, onde  lhes  foi  feito  lium  solemne  re- 
cebimento, com  muitas  cerimonias  ao  mo- 
do do  regno  Daragão,  que  nestes  actos 
has  tem  demasiadas.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  30. 

—  Grande  recebimento;  recebimento 
pomposo,  fastoso,  cheio  de  pompa.  — 
«Depois  deste  veo  hum  embaixador  dei 
Rei  de  Campar,  que  fora  genrro  dei  Rei 
de  Jlalaca,  e  outro  de  hum  dos  Reis  da 


ilha  de  çamatra  mais  visinho  aquella  ci- 
dade, com  recado  a  Afonso  dalbuquer- 
que,  como  o  queria  vir  visitar  em  pes- 
soa, e  fazerse  vassallo  dei  Rei  de  Portu- 
gal, pêra  o  que  lhe  deu  seguro  com  que 
se  logo  veo  a  Malaca,  onde  se  lhe  fez 
grande  recebimento.»  Damião  de  Ctocs, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  19. 
—  « Sabendo  o  Governador  da  sua  che- 
gada, lhe  mandou  ordenar  grande  rece- 
bimento, como  se  lhe  fez,  e  o  recebeo 
em  sala  cõ  grande  aparato  :  e  depois  de 
passadas  as  palavras  da  visitação  lhe  deu 
as  cartas  de  ElRey,  e  algumas  joyas  ri- 
cas, e  curiosas  que  lhe  mandava  de  pre- 
sente.» Diogo  de  Couto,  Década  6,  liv. 
5,  cap.  4.  —  «D.  Álvaro  chegou  alguns 
dias  depois  de  D.  Payo,  e  o  (Jovernador 
lhe  fez  hum  grande  recebimento.  E  por- 
que sabiaõ  todos  quanto  folgava  o  Go- 
vernador de  lhe  engrandecerem  o  nego- 
cio de  Xaèl,  não  se  falava  em  Goa  em 
outra  cousa,  sendo  ella  em  si  taõ  peque- 
na como  temos  dito.»  Ibidem,  liv.  6, 
cap.  7.  —  «Surto  o  Visorey  com  toda 
sua  Armada  no  porto  de  Columbo,  ao 
outro  dia  desembarcou,  e  ElRey,  e  Gas- 
par de  Azevedo  Alcaicle  mor  lhe  fizeraõ 
hum  muito  grande  recebimento,  porque 
por  alguns  navios  de  remo  que  forào 
diante,  tiveraõ  aviso  de  sua  vinda,  e  lo- 
go o  forão  esperar  a  Columbo,  levando 
ElRey  comsigo  seu  pay,  e  os  principaes 
de  sua  Corte.»  Ibidem,  liv.  9,  cap.  17. 
—  Termo  antiquado.  Alpendre  coberto. 
RECEBONDO,  A,  adj.  Termo  antiqua- 
do. Capaz  de  ser  recebido  em  paga,  e 
satisfação  de  dar.  ou  manter  por  obriga- 
ção. —  Eifua  recebouda. 

f  RECÉBUDO.  Vid.  Recebido.  —  «Po- 
rem Estabelecemos,  que  se  algum  con- 
fessar que  recebeo  algum  emprestido,  e 
ataa  sessenta  dias  queira  dizer  que  o 
nom  recebeo,  posto  que  o  confessasse. 
Mandamos  que  o  possa  dizer,  e  que  seja 
a  ello  recebudo,  segundo  já  per  Nós,  e 
per  Xosso  Padre  foi  esto  mandado.»  Ord. 
Affons.,  liv.  4,  tit.  5õ,  §  1. 

RECECEAR,  v.  a.  Vid.  Recencear. 
RECEIAR,  f.  a.  Vid.  Recear. —  «Dra- 
musiaudo,  a  que  a  empresa  daquelle  dia 
custara  mais  sangue  que  a  nenhum  de 
seus  companheiros,  vendo  seu  imigo  tão 
temeroso  e  forte,  não  achava  o  espirito 
tão  descançado,  que  deixasse  de  receiar 
o  lim  de  seus  dias.»  Francisco  de  j\lo- 
raes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  94.  — 
«E'  cousa  que  os  homens  tanto  receiam, 
disse  a  donzella,  que  primeiro,  que  se 
lhe  descubra,  o  hão-de  jurar,  que  depois 
nenhum  o  quer  prometter,  e  se  o  pro- 
mettem  não  o  cumprem.»  Ibidem,  caj). 
102.  —  «Porem  como  o  cavalleiro  do  Sal- 
vagem,  alem  de  temer  e  receiar  os  gol- 
pes de  Bracolão,  tivesse  outros  receios, 
que  lhe  punham  maior  medo.»  Ibidem, 
cap.  106.  —  «O  cavalleiro  do  Salvage  se 
recolheu  á  camará  d'Arlança,  e  sentado 


junto  delia,  vendo-a  vencida  do  medo, 
lhe  disse  :  Senhora,  não  temais  tão  pe- 
quenos desastres  ;  deixai  esse  temor  pêra 
quem  se  vir  vencido  de  vossas  mostras, 
que  este  tcr;i  que  sentir  e  receiar.»  Ibi-. 
dem. 

A  bcUissima  Moiu-a,  que  a  vontndo. 

Twii  tambcm  ao  marido  tão  sujeita, 

Que  uem  vida,  nem  gosto,  ou  liberdade 

Sem  elle  lhe  podia  ser  aoceita, 

Jlonoã  sente  envtào  fresca  o  tcni-a  idade, 

E  tal  que  o  mesmo  amor  solhe  sujeita, 

D'arrcceio9  de  morto  vêr-sc  cheia 

Que  o  mal  que  ao  charo  esposo  então  receia. 

F.   D'ANr)RADE,  PBIMEIKO    CEBCO    DE    DIU,  Caut.   9, 

est.  40. 

Tendo  o  Silveira  ja.  determinado 
Que  este  artelicio,  que  ellc  nào  recria. 
Sinta  o  furor  em  si  que  foi  tirado 
Com  força  do  fuzil,  da  dura  veia, 
O  cargo  disto  logo  cucommcndado 
Foi  por  elle  a  fraucisco  do  Gouveia , 
Nobre  varão,  cujo  esforçado  peito 
Mais  se  alegra  que  espanta  co'o  grão  feito. 
IBIDEM,  cant.  13,  est.  82. 

Agora  sim  fallar  pertendo  ouzado, 
Depois  que  só  me  resta  a  sepultura  ; 
Porque  em  fim  pouco  ou  nada  se  aventura. 
Quando  ja  se  receia  a  lei  do  Fado. 

ABB.4DE  DE  JAZENTE,  POESIAS,  toUl.    l,pag.    0!t 

(ediç.  do  1787). 

Esta  vnda  mortal  de  males  cheia, 
AfiucUe  que  hc  feliz,  que  a  estime  embora  ; 
Que  a  dilate,  (luem  nunca  as  faces  cora, 
Quem  de  nada  se  doe,  nada  receia. 
IBIDEM,  pag.  127. 

Jlais  me  temo  a  mim  mesmo  do  que  ao  fado, 
meio  tanto  o  excesso  de  constante, 
que  degenera  o  firmo  em  obstinado. 

IIISPO  DO  GRÃO  PARÁ,  MEMORIAS,  pag.    152. 

—  íluito  illustrc  Senhor,  taõ  grande  empresa 
Minhas  forças  excede  :  o  mesmo  Achilles, 
SIandrioardo,  Cxradasso,  Sacripante 
t'pnmiette-la,  por  certo,  receiaraõ, 
E  Orlando,  inda  que  fora  verdadeiro. 

DINIZ   DA   CRUZ,    HYSSOPE,  Ca.Ut.    5. 

O  Céo  (irado?  —  ou  brando?)  pôz  limite 
A  minha  perplexào.  Para  o  Poente 
Já  03  Astros  propendiào  :  já  reeeiào. 

FRANCISCO    MANOEL  DO  NASCIMENTO,  OS   MARTYBES, 

liv.  9. 


—  «Cuido  sempre  que  te  vejo  nessa 
distracção,  que  tantas  lágrimas  me  cus- 
tou ;  considéra-o  bem :  os  tens  assomos 
são  toda  a  minha  infelicidade ;  mas  se- 
rião  todo  o  meu  ódio,  se  os  eu  devesse  a 
outro  motivo,  que  não  fosse  o  movimento 
natural  do  teu  coração.  Receio-me  de 
acções  que  vem  estudadas,  mais  ainda 
que  da  tibieza  da  minha  compleição :  pa- 
ra almas  grosseiras  o  exterior  c  laço ; 
mas  não  o  é  para  quem  no  animo  fineza 
tem.»  Idem,  Successos  de  madame  de  Se- 
neterre. 


Sc  tu  me  affinas  Cithara  toante, 

Para  o  Templo  Celeste  apresso  os  passos, 


120 


líEOE 


K  de  línguas  mordazcii  não  rr.cc.io 
O  fundo  gi)l|in,  o  Jivido  vcnono. 

j.  A.  DK  MACEDO,  vuoEM  uxrAiioA,  cant.  1. 

J;i  —  ii:i...da 
'JViiho...  quo...  rn:ei(ir...  do...  Muarí...  irim... 
Noin...  de...  8CU»...  bcncficio.s...  — Muh,  ainigo.s, 
Vi^H  trahÍ!i-inu  !  I^orquo...  vodar-inc  o  sangue? 
Doixao-mo  —  ou  «ci  morrer. 
aARRKTV,  CAT.vo,  act.  5,  BC.  11. 

RECEIO,  s.  III.  Vkl.  Recêo.  —  «Como 
co'i;.stin  razòos  adia.sso  o  coniy.ào  íicoiu- 
pnnliado  d'i!siforyo  c  dcsacoinpanliado  do 
todolos  tcmoro-s,  quo  d'imtcs  rccciava, 
som  outra  delibcrayào  uoin  receio  se  lan- 
hou pela  lafje  abaixo.»  Frauei.sco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  d'Inglaterra,  cap,  5)9.  — 
«E  poi.s  e-:te.s  receios,  tiue  o  mundo  traz 
a  quem  nolle  vive,  se  podem  apaj;ar  com 
bens  do  fortuna  certos,  antes  que  com 
suas  esperanças  incertas,  oliiai  o  que  ten- 
des na  m<ão,  o  estado,  que  se  vos  apparo- 
Iha,  alem  dos  mais  (jue  por  vossa  natu- 
reza real  desde  o  principio  do  vo.sso  nas- 
cimento vos  está  apparelkado. »  Ibidem, 
cap.  101.  —  «Porém  como  Florendos  es- 
tivesse cheio  de  ira  e  manencoria,  vendo 
que  já  com  menos  receio  os  podia  espe- 
rar, remetteu  a  todos  com  tamanlio  Ím- 
peto como  o  fazia  levar  sua  vileza  delles, 
ferindo  a  uma  e  outra  banda  com  golpes 
tào  temerosos  c  grandes,  que  em  peque- 
no espaço  os  fez  arrepender  de  se  terem 
descido.»  Ibidem,  cap.  102.  —  «A  don- 
zella  vendo-o  naíjuclla  pressa,  desconfia- 
da de  acabar  tamanha  cousa,  e  também 
com  receio  de  a  matarem,  desviou  as 
rédeas  ao  palafrem,  e  se  mettou  no  mais 
espesso  da  tioresta.»  Ibidem,  cap.  10.5. 
—  «Chegados  a  vista  dos  arvoredos  do 
Tejo,  vendo  por  antr'elles  a  muralha  do 
gueiToiro  castello  d'Almourol,  o  coração 
de  Florendos  foi  atormentado  de  maiores 
receios,  que  isto  tem  sempre  a  hora  do 
derradeiro  temor  nos  corações  entregues : 
entSo  lhe  chegaram  saudades  dos  dias 
passados,  receios  dos  perigos  presentes, 
lembranças  do  seus  aggravos  e  tudo  pêra 
o  mais  atormentar.')  Ibidem,  cap.  108.— 
«Desta  maneira  sereis  servido  com  amor, 
e  ao  contrario  vivireis  em  ódio  dos  vos- 
sos, cousa  que  faz  damno  á  fama,  e  pas- 
sa a  vida  em  receio.  E  se  alguns  que  ti- 
verem as  condições  dadas  a  seus  respei- 
tos, vos  desviarem  d'isso,  trabalhai  que 
antes  por  bom  sejaos  tachado  dos  máos, 
que  por  m:lo  vivaes  em  ódio  com  os 
bons.»  Ibidem,  cap.  133. 


Dcixtnno-lo  agora  ir,  porque  o  receio 
Faz,  que  uào  so  a8^egure,  ou  assocogue : 
Vojamo.í  o  Mogor,  que  todo  cheio 
Do  soberba  o  ousadia  iuda  o  persegue : 
Tauto  que  a  Champanel  inostrar-sc  veio 
Ix>go  sem  defensão  lhe  foi  entregue, 
O  copioso  tliesouro,  e  a  nicsnia  terra, 
Coui  tudo  o  mais  que  dentro  em  si  encerra. 

r.   DE  ANDRADE,  PRIMF.ISO    CERCO  DE  DIU,  Caut. 

3,  est.  61. 


RECE 

—  «o  que  entendido  por  Fernão  do 
Sousa,  e  o.i  inai.s,  que  seguiSo  sua  voz,  oh 
asrio^'urou  nesta  parto  de  todos  scu«  re- 
ceios, e  como  o  brio  dos  Castelhanos  ser- 
via de  cuberta  ao  inturosne,  se  vicrâo  ao 
outro  dia  nietter  na  fortaleza,  esquecido 
dos  brios  com  que  bizarreavào.»  .lar-in- 
tho  Freire  do  Aiidrade,  Vida  de  D.  João 
de  Castro,  liv.  •>.—  «,\qiii  lizerão  <«  ini- 
migos rosto,  impedindo,  ou  retardando  a 
passagem  doí  nossos ;  esteve  a  batalha 
igual  Inim  largo  espaço,  fazendo-os  ousa- 
dos na  peloija,  o  lugar,  o  a  causa  ;  as  vo- 
zes das  nnilheres,  e  filhos  que  ouviào  llies 
tazia  roceljer  as  feridas  sem  dór,  e  sem 
receio  :  os  mortos  que  cabido,  nào  lhes 
faziào  cxenipid  ao  temor,  senJlo  á  vin- 
gança.» Idem,  Ibidem,  liv.  4. 

Sc  ho  verdade  isto,  que  leio? 
So  em  sombra  se  me  alligura, 
Darci  credito  á  ventura, 
Ou  darei  fé  ao  receio. 

IIODRKUJES  LOBO,  DESENGANADO. 

De  tanta  confusão  fica  então  cheio 

Cada  hum,  quanta  o  Cunha  antes  ja  tinha, 

Que  de  tentar  o  Sousa  tem  receio. 

E  mandar  os  mil  homens  não  convinha. 

Quando  o  animoso  Sousa  posto  cm  meio 

Vendo  quo  sú  por  cUe  se  detinha 

Isto  que  tanto  imi)orta,  ousado  c  forte 

S('>lta  a  voz  para  o  Cunha  desta  sorte. 

K.    DE   ANDRADE,  PRIMEIRO  CERCO  DE  DIl«,  CaUt.    ■), 

est.  71. 


Aftirma-se  também  (vou  com  receio 
D'escrupulo.sa8  liiiguas  maldizentes) 
Que  quatro  ou  cinco  vezes  neste  meio 
Lhe  dera  a  natureza  novos  dentes. 
Estraidia  cousa  assaz,  mas  nisto  creio 
O  fiue  atíirnião  passados  c  presentes. 
Que  então  dellc  inda  outra  mais  estranha 
Cousa,  cora  ser  tão  nova  esta  c  tamanha. 
IBIDEM,  cant.  8,  est.  G3. 

De  novo  olha^  de  amor  e  temor  cheio 
Aquellcs  olhos  antes  Wvos  raios, 
E  como  de  os  salvar  nào  vê  então  meio 
Lhe  causào  não  hum  si^,  mas  mil  desmaios. 
Agora  teem  da  morte  niór  receio 
Que  entro  os  mais  duros  golpes  dos  Cambaios, 
Porque  menos  mortal  o  imigo  achava 
CJue  o  perigo  de  quem  vida  lhe  dava. 
IBIDEM,  cant.  9,  est.  31). 

Coutado  tenho  atraz  que  o  miserável 
liaudur,  quando  \ivia,  com  r&eio 
Que  lhe  hia  sendo  o  l"co  mal  favorável, 
1'resago  ja  do  mal  que  depois  veio. 
Mandou  de  ouro  huma  c>^pia  iniiumcravcl, 
AHirmão  (|ue  três  contos  são  e  meio, 
A  ,Tudá,  porque  alli  determinava 
Fugir  ao  mal  que  quasi  ad\-iiihava. 
IBIDEM,  cant.  1"2,  est.  GG. 


Faz-me  isto  quo  deseje  vèr-vos  ida 
Onde  eu  possa  perder  este  receio. 
Porque  pondo  eu  cm  salvo  a  vossa  vida 
Kn  do  maior  perigo  fico  alheio ; 
Mas  se  torno  a  cuidar  na  despedida, 
E  qu(í  fica  sem  v/^s  hum  poito  cheio 
D'ainor  vosso,  e  lembrança  também  vossa. 
Também  temo  outro  mal  com  que  cu  não  possa. 
IBIDEM,  cant.  IG,  est.  lõ. 


RECE 

O  Silveira,  que  v6  quão  iin|K>rtante 
Lhe  he  que  hc  e«to  rei-eio  verifique, 
Ordnm,  :iut<-s  que  o  mal  vá  mais  ávanti- 
Hum  ni.'if)  (luc,  a  certeza  llie  publique: 
.Manda  lium  <|ue  com  grand'!  animo  e  coniitantc 
As  estancias  salteie  c  daiiitictíi|ue. 
Porque  ciitretiiiito  veja  so  be  ja  fciUi 
A  mina,  ou  f|uii;á  o  e;ig,-ina  c»ta  «uí  ifita. 
MUDEM,  cant.  17,  ejit.  02. 


Esta  fúria  c  braveza  com  (|uc  veio 
'  M  Turcos  commetter  o  Sou.sa  forte, 
Os  pí'>z  cm  grão  temor,  i:  em  grão  recrio 
í^ue  lhes  vie.^se  a  «it  imiga  a  sorte : 
Também  disto  o  Cbristão  não  fica  alheio 
Vendo  que  a  larga  pierra,  e  a  cruel  Diortc 
I..he  vão  giMuprc  os  luelhorcs  consumindo 
Com  que  as  for<;a8  lho  vão  diminuiiulu. 
inioKM,  cant.  4,  est.  94. 
« 

(^ue  Deos,  oh  filha,  ao  sevo  meu  te  v<ílveV 
Como  é,  que  ir  te  deixei,  »cm  mim  ao  templo 
Quantos  frios  rereion,  quantos  sustos. 

r.  MANOEL   DO   NASCIMESTO,   OS  MABrVBEB,  1ÍV.    1. 

Pois  c  portanto  achaca 
dizcr-me  o  que  llie  quereis ; 
olhae  cA,  <4  senhor,  o  receio 
sabereis  rpic  está  no  ante 
por  porteiro  do  adiante. 

ANTÓNIO  PRESTES,  ACTOS,  pag.    437. 

RECEITA,  s.  f.  (Do  latim  recepta),  (h 
rcnielios  com  as  doses,  e  modo  de  os 
preparar  c  dar,  que  o  medico  prescreve 
por  escripto.  —  «Se  por  esta  receita  obra- 
ram as  outras  mulheres,  bem  se  lhe  po- 
deram  confiar  as  tiihos  que  chamam  de 
ganância :  visto  porém  que  nào  é  a.«sim, 
seria  acordo  crial-os  sempre  n3o  si'>  lV>ra 
de  casa,  mas  do  lugar  om  que  se  vive.  • 
Francisco  ilanoel  de  Mello,  Carta  de 
guia  de  casados. 

Fizicos  vão, 

fizicos  vem,  chove  fizica 
em  casa  inverno  e  verào ; 
as  despezas  passarão, 
a  receita  tem-na  tísica. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AVTOS,  pag.  499. 

—  O  dinheiro  ou  renda  que  algumas 
pessoas  tem  para  sua  despeza.  —  A  re- 
ceita nem  setjuer  eijuilibra  a  despezn. 

—  Cftrregar  alguma  itomma  em  receita; 
assentar  o  que  se  recebeu.  —  «Estas  ta- 
l)oas  fiirào  carregadas  em  receita  sobello 
mesmo  Poro  de  Sequeira,  e  depois  sobello 
thesoureiro  que  o  succodeo.  onde  ao  pre- 
sente devem  ainda  destar,  o  treslado  das 
quaes  mandou  Pêro  Sequeira  em  lingoa- 
jeni  Portuguesa,  a  el  Rei  dom  loam  ter- 
ceiro, que  sancta  gloria  .ija.  e  lhe  f>i 
dado.»  Daniiiio  de  Góes.  Chroaica  de  D. 
Manoel,  part.  1,  cap.  'J.S. 

—  O  niethodo  e  ingredientes  para  fa- 
zer alguma  tinta,  doces,  gelêas,  chouri- 
ços, c  mesmo  algu.is  remédios  caseirt>s. 

—  Aú  IV)  <la  receita  ;  livro  cm  que  se 
lav.çam  por  escripto  as  souimas  que  se  re- 
cebem e  entram.* 

—  O  acto  de  receber  dinheiro  devido. 


RECE 


REGE 


RECE 


121 


RECEITADO,  inni.  pass.  de  Receitar. 
rrescripta  pelo  medico. 

—  Laiu/ado  em  receita  a  alguém. 
RECEITAR,  V.  a.  Prescrever  um  remé- 
dio, ou  medicina  ao  doente  por  escripto. 

—  Lauyar  alguma  somma,  carregal-a 
no  livro  da  receita. 

—  Emprega-se  também  no  sentido  fi- 
gurado . 

—  Receitar-se,  v.  refl.  Consultar  o  me- 
dico. 

— Figuradamente:  Receitar-se,  fallau- 
do  a  respeito  do  pcccados,  no  sentido 
moral. 

RECEITARIO,  s.  m.  Fio  de  arame,  ou 
cordel,  era  que  o  boticário  entia  as  recei- 
tas para  se  Ibe  nào  perderem. 

RECEITUÁRIO,  s.  m.  Livro  de  receitas 
medicas,  ovi  de  formulas  de  remédios  para 
as  doenças. 

—  As  prescripções  do  medico  no  de- 
curso do  ti-atamento  de  uma  doença. 

REGEM,  (tdv.  (Do  latim  recens).  De 
pouco,  recentemente. 

—  Recem-iiascirfo;  nascido  de  ha  pouco. 

—  B.ecem-coiicehião ;  recentemente  con- 
cebido. 

—  Termo  de  poesia.  Recente.  —  A  re- 
cem-cidade. 

RECEM-CONVERTIDO,  A,  adj.  Conver- 
tido recentemente,  de  pouco  tempo. 

RECEM-DEFUNTO,  ou  RECEM-DEFUN- 
CTO,   A,   adj.   L)cfunto  de  pouco    tempo. 

RECEM-NASCIDO,  A,  adj.  Vid.  Recém. 

■}■  RECEM-PARIDO,  A,  adj.  Parido  de 
lia  pouco,  recentemente. 

Dispòz  a  Providcueia,  que  cu,  na  Campa 
Do  Ovídio,  a  Libeidado  recobvasso. 
Qiiaudo,  á  volta  costeámos  o  Moimouto, 
Èecem-pSLvida.  Loba  atira  o  píilo, 
Desatinada,  ao  Rei,  acudo,  c  matto-a. 

F.    M.    DO  NASCIMENTO,  OS  MARTYKES,  1ÍV.    7. 

RECENDENTE,  ^j«í-í.  acf.  de  Recender. 
Que  recende. —  Os  recendentes  bálsamos 
das  plantas. 


A  humana  habitação  !  Correra  ao  clima 
Da  cheirosa  C(àlào,  de  estranhas  plantas 
Oa  recendentes  bálsamos  colhera  ; 
E  nas  margens  do  Indo,  e  fulvo  Hydaspos 
Yira  08  troncos  da  quente  especiaria. 

J.   A.    DE   MACEDO,   MEDITAÇÃO,  Caut.    3. 


Eu  vejo  hum  Ceo  mais  puro,  c  vejo  eterna 
Mais  doce  Primavera,  c  mais  viçosa, 
Mais  recendentes,  variadas  flores, 
Deliciosa  sombra,  amenos  bosques, 
Onde  habita  o  prazer,  onde  o  susurro 
De  equilibrado  Zéfiro  suave 
Socogo,  e  paz  ins(nra,  e  a  mento  eleva 
Do  Poeta,  e  Filosofo  á  s\iblime 
Contemplação  do  maravilhas  tantas. 

IDEM,    VIAGEM   EXTÁTICA,    CaUt.    1. 


—  Termo  pouco  em  uso.  Com  mau 
cheiro. 

RECENDER,  ou  RESCENDER,  v.  n.  Chei- 
rar muito  e  bem. —  «Mas  logo  Apollo 
voL,  V.  — 16. 


patonteiou  áquelles  OTelIíeiros  a  brandura 
da  vida  rural,  cantando-lhes  as  flores  de 
que  se  arreia  a  primavera,  os  perfumes 
que  recende,  e  a  verdura  que  de  suas  pe- 
gadas brota.  Celebrou-lhes  depois  as  mi- 
mosas noites  d'estio ;  os  zephyros  refres- 
cando os  viventes;  e  o  rocio  consolando 
a  terra  sequiosa.»  Francisco  Manoel  do 
Nascimento,  Telemaco,  liv.  2. 

■ —  Figuradamente  :  Recender  nos  chei- 
ros de  todas  as  virtudes. —  «E  assi  vay 
recendendo  nos  cheiros  de  todas  as  virtu- 
des, e  merecimentos,  que  se  parece  com 
a  vareta  de  fumo  que  sae  de  piuete  com- 
posto de  todas  as  espécies  aromáticas,  e 
cheirosas,  e  como  mirrha,  e  bálsamo  muy- 
to  escolhidos.»  Frei Bartholomeu  dos  llar- 
tyres,  Catecismo  da  doutrina  christã. 
— «Outras  ha,  que  são  uma  perpetua  pas- 
tilha, e  uma  caçoula  perenne.  Muito  con- 
forme cousa  é  com  ellas  o  cheiro  ;  mu- 
lheres, e  pei"fumes,  tudo  são  fumos.  E  se 
elles  fossem  bem  adubados  da  discripção, 
eu  iíco  que  recendessem  mais  ainda.» 
Francisco  Manoel  de  Mello,  Carta  de 
guia  de  casados. 

— ^Toma-se  também  por  rescindir.  Vid. 
este  vocábulo. 

— Termo  antiquado.  Recender,  por  des- 
cender. 

RECENHAR.  Vid.  Resenhar. 

RECENNAR,  v.  a.  Termo  de  dourador. 
Cobrir  com  bocadinhos  de  pão  de  ouro 
ou  prata  aquellas  partes  onde  ficou  falta 
da  primeira  vez,  que  a  peça  se  cobriu. 

—  Toma-sc  também  no  sentido  figu- 
rado. 

RECEN-NASCIDO,  A,  adj.  Vid.  Recem- 
nascido. 

RECENSÃO,  s.  m,  Vid.  Recenseio,  e  Re- 
censeamento. 

RECENSEADO,  part.  pass.  de  Recen- 
sear, llevisto,  cotejado. 

RECENSEADOR,  A,  s.  Pessoa  que  re- 
censeia. 

RECENSEAIVIENTO,  s.  m.  Acção  de  re- 
censear. 

—  Recenseio. 

RECENSEAR,  v.  a.  (Do  latim  recensere). 
Rever,  examinar  a  exactidão,  ou  defeito. 

—  Fazer  alistamento  do  numero,  ida- 
des, sexos  do  povo  ou  nação. 

— -  Contar,  numerar. 

—  Emprega-se  também  figuradamente. 
RECENSEIO,  s.  m.  Acção  de  recensear 

contas. 

—  Recenseamento. 

—  Exame  de  contíis. 

—  Recenseamento  estatístico  do  povo, 
por  idades,  sexos,  posses,  alistamento 
para  diversos  fins  governamentaes. 

RECENTAL,  s.  m.  (Do  latim  recens). 
Cordeix-o  de  três  ou  quatro  mezes,  que 
nasce  tarde  por  abril  ou  maio;  cordeiro 
tenro. 


Quanto  me  apraz,  em  plácidas  campinas. 
Matiz  de  Flores,  trépido  Ribeiro  ! 


Dái-me,  que  cu  volva  a  vida,  cm  selva  opaca. 

Que  posto  !  ir-me,  entre  prados,  após  Delia, 

O  Anho  levar-lhe,  recental,  ao  colo  ! 

E  SC,  á  noite  a  Cabana  me  estremecem. 

Com  refregas,  qs  Ventos  iracundos : 

Sc  a  chuva,  cm  lanças  de  ;i,gua  fere  o  Colmo...    . 

P.   M.   DO  NASCIMENTO,  OS    MARTYKES,  1ÍV.   5. 

RECENTE,  adj.  de  2  gen.  (Do  latim 
recens).  De  pouco  tempo;  novo,  fresco. 
—  O  recente  comhafe. 

■ — Si'X. :  Recente,  novo.  Vid.  este  ul- 
timo vocábulo. 

RECENTEMENTE,  adv.  (De  recente,  e 
o  sufHxo  «mente»).  De  um  modo  recente, 
de  pouco  tempo,  proximamente. 

RECÊO,  s.  m..  Temor,  medo.  —  «De- 
pois do  Infante  dom  Aftbnso  assi  estar 
era  terçarias  na  villa  de  Moura  em  poder 
da  Infanta  dona  Beatriz  sua  auó,  como 
dito  he,  ho  Príncipe  e  a  Princesa,  pollo 
grandíssimo  bem  que  ao  Infante  queriào, 
por  ser  tão  excellente  criatura,  e  nào  te- 
rem outro  filho,  nem  filha,  e  pollo  grande 
receo  que  tiuhão  á  sua  saúde,  por  a  villa 
de  Moura  ser  muyto  doentia  nos  verãos, 
ficarão  em  Beja  para  daliy  cada  dia  sa- 
berem nouas  do  filho,  que  em  estremo 
muyto  amauão. »  Garcia  de  Rezende,  Chro- 
nica  de  D.  João  II,  cap.  22.  —  «Mas  os 
mouros  que  se  acolheram  a  serra  voltaram 
com  tanto  Ímpeto,  que  sem  nenhum  receo 
cometeram  dom  loao  de  meneses,  e  lhe 
fezeram  forçadamente  tornar  a  passar 
este  canal  da  ribeira  seca,  posto  que  em 
sua  companhia  estiuessem  Rui  barroto, 
loam  soares,  Aluaro  de  carualho,  loam 
gonçaluez  da  camará,  loam  da  sylua,  c 
outros  fidalgos  com  toda  sua  gente,  em 
que  darabalas  partes  ouue  mortos,  e  feri- 
dos.» Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part,  3,  cap.  50.  —  «Mas  por- 
que ja  era  forçado  fazer  da  necessidade 
virtude,  cheo  de  receos  por  dentro,  e 
com  mostras  de  alegria  por  fora;  cheguey 
aquelle,  que  de  todos  me  pareceo,  seria  o 
Capitam,  e  sem  lhe  dizer  palaura  algíia, 
com  toda  a  humildade  que  me  foy  possi- 
uel,  lançandome  a  seus  pès  o  abracey.» 
Fr.  Gaspar  de  S.  Bernardino,  Itinerário 
da  índia,  cap.  10. 

—  Syn.:  Recêo,  liíec/o.  Vid.  este  ultimo 
vocábulo. 

—  Recêo,  desconfiança.  Vid.  este  termo. 
RECEOSO,  A,  adj.  (De  recêo,  e  o  suf- 

fixo  «oso»).  Que  tem  receio,  que  tem 
medo,  cheio  de  medo. —  «E  se  na  vossa 
terra  irmaijs  meus  se  não  usa  isto,  deveis 
todos  de  andar  muyto  receosos  do  castigo 
do  Ceo,  porque  Deos  lá  não  tem  noite  em 
que  lhe  seja  necessário  cerrar  os  olhos 
para  dormir,  como  cá  fazem  os  Reys  da 
terra.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  102.  - —  «E  teue  maneira  que 
estando  o  dito  Lopo  Vaz  em  Moura  bem 
receoso,  e  guardado  delle,  por  certos  ca- 
ualleií-os,  que  manhosamente  lá  mandou, 
dizendo  que  hiam  fogidos,  o  mandou  ma- 
tar, e  o  matarão  no  campo  indo  com  elles 


122 


RECE 


á  ciicií..'  «larciu  de  Uezcnde,  Chronica  de 
D.  JÔào  II,  Cfiii.  20.  —  «(Join  ;i  clngiidíi 
(1(1  iiinrichal  foi  Afonso  .l!ill»U'iui'r«iiiu  iimi 
íil«';ín;,  mas  iiuin  LoureiK.-o  de  In-ito,  por 
tur  a  parto  do  Viccroi,  o  (|ual  como  souho 
íi.s  nona.-*  da  vinda  do  Maricliai,  ((uo  era 
muito  paroiiti!  de  Afonso  (ljill)iU|mrilU(j, 
receoso  <iuo  liie  fczusso  alguma  nem  ra- 
zain,  cuti-e^'»)!!  a  fortaleza  ao  alcaide  mor, 
c  elle  .se  foi  pêra  ( '.leliim. »  Damião  de  (ioo.!, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  2,  cap.  41. 

„()  eoiitador  Xuuo  fíato  nam  foi  uesto 

nc;;-oei<),  porcino  Nnno  fornandcz  o  doixoti 
na^^cidadc  por  capitam  da  Ki"itL-  ([ne  iiella 
iicana,  receoso  «pie.  a  do  UUedambrào  (pie 
Catana  a  diiaa  Icfíoas  dalli,  viesso  corror, 
o  (pio  posto  <pio  nam  fez,  eui  elle  tornan- 
do  llio  saliio  ao  caminlio  luuna   logoa,  e 
mca  da  cidade,  sefíuindoo  ainda  o.s  outros 
Mouro.s,    dos    quaes   todos  se  desfez   com 
assaz  trabalho.»   Idem,  Ibidem,   part.  3, 
cap.    13.  —  «K   porque   estaua    receoso, 
assi  pelas  nonas  que  tone  da  viaí^em  quo 
Afonso  dalbnqnorquc  fez  ao  mar  Darabia, 
como   por  cartas   que  lho  vieram  do  llo- 
des,  quo  maudaaa  o  Soldam  de  Babilónia 
lazer  em  Suez,  e  no  Thor  nãos,  e  t;ales 
j)era   mandar   a    índia.»    Idem,    Ibidem, 
part.  4,  cap.    77.  —  «Neste  anno  de  de- 
zasete  no   mes   de   lanciro   venceo   Soly- 
mam  Othomão  Emperador  de  Turquia  o 
Soldam  de  Babilónia,   o  se  apoderou  do 
Cairo,  e  de  todalas  terras  do  quo  o  Sol- 
dam  era   senhor,    pelo    que   el  Rei   dom 
Emanuel  receoso  que  as  cousas  do  Turco 
cada  dia  fossem  em  erecimento.»   Idem, 
Ibidem,    part.  4,  cap.  20.  —  » E^  porípie 
estes  três  do  outeiro  se  comeijaraõ  de  des- 
pejar, receoso   dom  Nuno,    que   ao   sair 
deile    lhe    desse    a    peonagem    trabalho, 
ouue  por  mellior  dar  de  caminho  em  hum 
destes,  o  sem  fixzer  mais  detem^a  que  es- 
perar pela  bandeira  que  ja  vinha  porto, 
o  cometeo  em  que  matou  muitos  mouros, 
o  captiuou  setenta,    e  ao  gado,  cauallos, 
camoUos,    e   outras   alimárias    que   eram 
sem  conto.»   Idem,    Ibidem,  cap.   44. — 
«I)c  ahi  a  alguns  dias  chegou  Kaix  xara- 
pho  a  cidade,  pelo   qual  António  Corrêa 
nam   quis  esperar  cm  Babarem,  receoso 
quo   nam   achasse  ja  Diogo  lopez  de  se- 
queira em 'Ormuz,  pelo  que  tinha  assen- 
tado como  lica  tlito,  que  era  ir  fazer  em 
Diu   a   fortaleza  de  Modrefaba,  no  qual 
negocio,  por  saber  quo  se  nam  comeearia 
se   nam    com  armas  vestidas  lhe  pesara 
muito  do  so  nam  achar.»  Idiin,   Ibidem, 
cap.  lio. —  «Porque  os  Camelevros  cujos 
eram  os  Caualos,  o  Camelos,  receosos  de 
lhos  matarem  os  liiiigos,  lani,'auamse  da 
sua  parte,  e  como  era  mavor  a  perda,  de 
iiearem  as  fazendas  no  Deserto,   que  sa- 
tistazorem  âquella  canalha;  foy  for(;ado, 
juntarem  dez  mil  cruzados,  os  quaes  pa- 
gos, tornamos  a  caminhar.»   Fr.  tiaspar 
do  S.   Beriuu"dino.    Itinerário  da  índia, 
oap.  2. 

—  Que  causa  receio. 


RECE 

RECEPÇÃO,  a.  /.  (Do  latim  receptio). 
Ac(;ao  do  receber.  —  Recepção  do»  eacra- 
mtiUou, 

—  Termo  du  astrologia.  Â  communica- 
(;ào  tlíirt  dignidades  csHonciaes  de  dons 
planetas,  que  estilo  reei])rocamente  no 
(iouucilio  o  exaltai.-ào  um  do  outro. 

—  U  recebimento  que  se  faz  a  quem 
nos  vem  visitar,  vêr,  ou  buscar. 

RECEPTACULACEO,  A,  udj.  Termo  de 
bouiiiiea.  C^iie  ('•  euncerneuto  ao  receptá- 
culo, ou  adherente  a  elle,  lallaudu  do 
neetario. 

f  RECEPTACULAR,  ailj.  2  (jen.  Termo 
de  bolaniea.  l^iie  está  Collocado  sobre  o 
recej)taeulo. 

RECEPTÁCULO,  s.  m.  (Do  latim  rece- 
Ijtaculusi.  Logar  onde  so  reúnem  muitas 
cousas  de  diversos  sitios. —  A  mia  cava 
é  o  prindijul  receptáculo  de.  tixlfu  aa 
aguas,  —  A  atnwsijhera  t  o  receptáculo 
geral  de  iodas  as  matérias  voláteis. 

—  Nas  machinas  a  vapor,  receptáculo 
do  vapor,   camará  que  contém   o  vapor. 

—  Termo  do  botânica.  A  cavidade  cen- 
tral do  calvx,  e  assento  das  partes  da  tlor, 
ou  do  fructo,  separada  ou  conjuncta- 
mente. 

—  Nome  dado  aos  órgãos  de  fórmas  di- 
versas que  contém  os  corpúsculos  repro- 
ductores  das  plantas  cryptogamas. 

RECEPTADOR,  A,  *.  iDo  latim  recepta- 
tor).  i'ossoa  ([ue  recolhe,  guarda,  e  es- 
conde.em  sua  casa  furtos,  roubos,  ladi'õe8, 
desertores,  ete. 

RECEPTIBILIDADE,  «.  /.  Poder  da  nossa 
seiísibilidade  receber  impressões. 

—  Aptidão  que  tem  certos  orgiíos  para 
receberem  os  agentes  morbiticos. 

RECEPTIVEL,  adj.  2  gen.  (Do  latim  )<;- 
ceptiòilisi.  Digno  de  se  receber.  —  Des- 
cidpa  receptivel.  —  Embargos  recepti- 
veis. 

RECEPTIVO,  A,  adj.  Que  recebe. 

—  (.^tuc  recebeu  impressões  das  letras 
que  representam  os  sons. 

RECEPTOR,  s.  m.  ^Do  latim  receptor). 
Recebedor,  thesoureiro,  depositário. 

—  Diz-se  de  uma  machina,  de  um  vaso 
destinado  a  receber  aguas  superabun- 
dantes. 

—  Apparelho  de  tclegrapbia  eléctrica 
que  recebe  o  aviso  enviado  pelo  manipu- 
lador. 

RECESSO,  #.  m.  i  Do  latim  recesaus),  Lo- 
gar remoto,  retiro. 

—  Termo  de  astronomia.  O  aparta- 
mento que  o  astro  fiiz  do  nós.  — Recesso 
do  sol. 

RECETACULO,  «,  )n.  Vid.  Receptáculo. 

RECEYAR,  r.  «.  Vid.  Recear.  —  «O  qual 
tinha  hnnia  cerciv  que  seria  de  mais  de 
huma  legoa  em  roda,  dentro  da  qual  cs- 
tavào  fabricadas  cento  e  sessenta  e  quatro 
casas  nmvto  compridas  e  largas  a  modo 
de  terecenas,  todas  clieyas  até  os  telha- 
dos de  cavcyras  de  gente  morta,  as  quaia 
er.MÍo  tantívs  em  Umta  quantidade  que  re- 


BECH 

ceyo   muyto  dizello,   anal   por  ser   cousa 
(|ue  se  poderá  mal  crer,  com'j  pelo  abuso 
o   ceguevra    destes    mi^el■avei«.»    FernAo 
Mendes   l'into.  Peregrinações,  cap.  12(3. 
RECEYO,   *.   III.  \\,l.  Receo,  que  é  a 
orthíjgraphia  mais  seguida.  -     «  Nove  dias 
havia   <|ue  com    a.-sàs  de  receyo  estáva- 
mos esperando  a  publieai;ars  da  nossa  sen- 
ten<;a,    ([iiãdo  bum   Subbado  pela   mauhi 
nos   vieraõ   buscar  á  pris3<>  duus  ChuDi- 
biiis    da    .Justiça    aeòpanhados    de   vinte 
upori  cõ   labarda»,   chuças,  o  barretes  de 
malha,  e  outras  cousjts  a  este  modo  que 
os    faziaõ    temerosos    á    vista,    c«    quacs 
nos   metccjKj  cm   assas  de  medo,  u  ago- 
nia.»   Fernão    Mendes    Pinto,    Peregri- 
nações,   cap.    1<>;5.  —  «Os  quais  lhe  re«- 
pondcraõ  que   elb^  estavSo  todos  muyto 
prestes  para  servirem  el  R^y  nosso  senhor 
em  tudo  o  que  se  ofterecesse,   porem  que 
))ois  a  carta  de  Pêro  de  Faria  capitSo  de 
Malaca  vinha  toda  funda<la  no  receyo  que 
tinha  de  os  Aches,  e  a  armada  das  cento 
e  trinta  vellas  que  esperava,  de  que  era 
general  o  Bijayaa  sora  Uey  de  Pewlir,  e 
Almirante  do  Aachem  vir  a  Tanauçarim. » 
Idem,  Ibidem,  cap.  148.  —  «Paraquo  este 
(.'alaminhan  entretrvesse  com  guerra  ao 
Siammon  o  verão  seguinte,  com  que  nâo 
pudesse  soccorrer  o  Rey  do  Avaa,  e  lhe 
ticasse  a  elle  mais  fácil  poder  tomar  e«t* 
cidade,  sem  receyo  deste  socorro  de  que 
se   temia.»    Idem,    Ibidem,  cap.   157. — 
«Semelhante  receyo  enfrt!ou  ao  Rey  de 
Tangut,  que  como  mais  visinho,  e  verda- 
deyro   hcrdeyro    de    Pegii,    determinava 
com   bastante  poder  tomar  posse  do  que 
por  verdade vro  direyto  lhe  era  devido.» 
Conquista  do  Pegú,  cap.  7. 
RECHABITA.  Vid.  RecabiU. 
RECHAÇADO,  part.  pass.  de  Rechaçar. 
Rcpellido. 

RECHAÇAR,  c  a.  Oppôr-se  ao  c-.rp.. 
que  se  move.  c  fazel-o  retn>coder. 

—  Rechaçar  o«  «««uZíoí;  resistir  a  el- 
Ics. 

—  Rechaçar  a  alguém  tm  cara;  res- 
pondcr-lhc  com  doscortezia,  com  aspe- 
reza. 

—  Rechaçar  o  dicto,  d^xutires,  zvniba- 
ri'is:  revirar  com  outro,  que  desfez  o  as- 
serto, ou  a  zombaria,  motejo,  toque  dado 
a  quem  rechaça. 

—  Figuradamente:  Rechaçar  a  conver- 
sarão: evital-a  com  má  resposta,  ou  com 
outra  cousa  similhante. 

—  Rechaçar  o  inimigo  que  veio  accom- 
metier;  fazel-o  retirar. 

—  Rechaçar  os  a^altos :  resistir  a  el- 
les. 

RECHAÇO,  *.  »'i.  Reflexão  do  corpo 
elástico,  que  batendo  em  outro  torna  pa- 
ra d'onde  vei<>. 

—  Resistência,  repulsão. 

—  Estorvo  dt>  progresso. 

—  Dança  conhecida  por  este  nome. 

—  Resposta  ou  replica,  com  que  al- 
çuem  tiea   atalh.ndo,   enleado,  sem  dizer 


RÉCH 

ou  continuar  o  que  ia  a  dizer,  ou  a  fa- 
zer;  rerirete,  retruque. 

—  Emprega-se  também  figuradamen- 
te. 

RECHÃ.  y.  f.  Campo,  planície. 
RECHANO,    5.    m.    Termo    antiquado. 
Planície,  clià  em  alto. 

-J-  RECHASSAR,  r.  a.  Vid.  Rechaçar. 

Já  suppliccs  nos  crês  aos  pés  de  César  ? 
Ja  por  escravos  teus  nos  imaginas? 
De  nossas  forças  quem  te  disse  o  estado '? 
Temos  armas,  e  braços  de  sobejo 
Que  essas  temidas  legiões  recka-ssem. 

GABBETT,  CAlIO,   aCt.   2,  SC.   Õ. 

RECHATAS.  Vid.  Regatas. 
RECHEADAMENTE,  alv.  i  De  recheado, 
e  o  suffiso  cimente»).  Com  recheio. 

—  Figuradamente  :  Com  gi-ande  abun- 
dância. 

RECHEADO,  pcni.  pass.  de  Rechear. 
Cheio  de  recheio,  que  tem  recheio. 

—  Figuradamente :  Que  tem  grande 
abundância. — ^«0  qual  na  mesma  hora 
despachou  seu  sobrinho  com  doze  torra- 
das, que  sem  difficoldade  tomou  o  corpo 
do  tvrano  !Mocri.  e  o  trouxe  a  Babarem 
onde  Raix  xarapho  lhe  mandou  cortar  a 
cabeça,  de  que  António  correa  mandou  a 
pelle  recheada  dalgodam  a  el  Rei  de  ( )r- 
muz  per  Balthesar  pessoa,  e  Rui  correa. 
com  que  assi  el  Rei,  como  Diogo  lopez 
foraõ  mui  alegi'es,  e  se  fezeram  muitas 
festas.»  Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  4,  cap.  63. 

Recheada 
logo  cheia  aqui  darêa. 
Arèa,  cofre  c  martelo? 
vós  quereis  trazer  Vulcano 
do  inferno  ? 

Axrosio  PRESTES,  ACTOS,  pag.  279. 

—  Substantivamente:  Vid.  Recheio. 
RECHEADURA,  í.  f.  Recheio. 
RECHEAR,  ou  RECHEIAR,  v.  a.  Encher 

de  recheio,    ou   de    picado,    o    ventre    da 
gallinha,  leitào.  etc. 

Eil-o  amoedado,  a  eito 
rechear  bem  este  peito 
de  pCiOs  dafazcndando. 

AXTo.vio  PRESTES,  AUTOS,  pag.  407. 

—  Figtiradamente  :  Encher  muito. 

—  Rechear-se,  v.  refl.  Encher-se  mui- 
to. 

—  Emprega-se  também  no  sentido  fi- 
gurado. 

RECHEGO,  s.  »i.  Termo  de  caça.  Abri- 
go, resguardo. 

—  Logar  occulto  entre  junco  ou  her- 
vas  para  vigiar  as  adens. 

RECHÊO,  ou  RECHEIO,  s.  m.  Picado, 
ou  massa  com  que  se  enche  a  barriga  da 
gallinha,  leitào,  ou  peixes  assados  ou  fri- 
tos. 

—  Picado  de  que  se  enchem  paios, 
chouriços,  pepinoSj  etç. 


RECI 

—  Aquillo  que  enche  algum  vào. 

—  Figuradamente:  Grande  abundân- 
cia. —  «AUi  lhe  foi  cahir  huma  nas 
unhas,  que  logo  foi  rendida,  poíto  que 
com  trabalho  por  ir  forte,  e  com  muita 
gente,  e  foi  tomada  com  todo  seu  recheio, 
e  os  que  escaparam  vivos  foram  cati- 
vos.» Diogo  de  Couto,  Década  4,  liv.  8, 
cap.  .'i. 

RECHINANTE,  part.  acf.  de  Rechinar. 
Que  reehina. 

RECHINAR,  1-.  a.  (Do  framcez  rechi- 
gnevj.  Ranger,  fazer  sussurro,  ruido. 


Cen-a  com  cUe  a  tempo,  que  assestaua 
Coutra  elle  o  fiu-ioso  mortal  tiro, 
A  frecha  sacudida  chega,  e  toca 
A  rodolla,  que  de  aço  he  guarnecida. 
Eesualla,  e  vai  com  forçii  rechinando 
Por  meio  dos  sutis  delgados  ares, 
Mas  elle  nas  entranhas,  polia  parte 
Do  viuo  coração  a  espada  esconde. 

CORTE   REAL,  X.^rFKAGIO  DE   SEPÚLVEDA,  CBUt.    9. 


—  Produzir  som  agudo,  e  forte. 
RECHINO,  s.  /;(.  O  susurro,  ruido  agu- 
do, e  fute. 

RECHONCHÃO.  =  Significação  incerta. 
RECHONCHUDO,  A,   adj.  Termo  popu- 
lar.  <Tordo,  roliço. 

—  Criança  rechonchuda;  criança  gor- 
da. 

RECIARIO,  í.  m.  'Do  latim  refiarms). 
Gladiador,  que  procurava  envolver  o  con- 
tendedor  no  combate  com  uma  rede 
n'iima  mão.  e  na  outra  uma  fisga.    " 

f  RECIBIMENTO,  s.  m.  Yid.  Recebi- 
mento. —  O  recibimento  da  primeira 
entrada  todo  fechado  em  roda  com  çjrades 
de  latão  mui  grossas.  —  <tE  passando  nós 
por  huma  ponte  que  atravessava  a  lar- 
giira  da  cava,  chegamos  a  hum  grande 
terreyro,  que  estava  no  recibimento  da 
primevra  entrada  todo  fechado  em  roda 
cõ  grades  de  latão  muyto  grossas,  e  la- 
geado  todo  de  lageas  brancas  e  pretas 
assentadas  a  maueyra  de  enxadrez,  tào 
lisas  e  tào  bem  lustradas  que  se  via  huma 
pessoa  nellas  como  num  espelho.»  Fer- 
não Mendes  Pinto.  Peregrinações,  cap. 
109. 

RECIBO,  í.  7)i.  Escripto  em  que  alguém 
declara  ter  recebido  algum  dinheiro,  ou 
cousa  em  pagamento,  deposito,  ou  para 
entregat-  ou  remetter  a  outrem. — Pas- 
sar recibo.  —  Os  livi-os  de  recibo.  • — 
oXunca  faltaõ  aos  Reys  traças,  e  modos, 
para  evitar  damnos,  mas  que  pareçaõ  in- 
separáveis por  invisíveis.  Taes  foraõ,  os 
que  padeceo  a  Alfandega  de  Lisboa  mui- 
tos annos  nos  direitos  Reaes  com  hum 
Ministro,  que  tirava  folhas  dos  livros  do 
recibo  tau  subtilmente,  que  ficava  invi- 
sível a  falta.»  Arte  de   furtar,  cap.  Õ4. 

RECIDIVA,  s.  /.  Tétmo  de  medicina. 
Reappariçào  de  uma  doença  depois  do 
restabelecimento  completo  da  saúde,  no 
fim  de  um  lapso  de  tempo  indefinido  que 


RECI 


123 


algumas  vezes  se  conta  por  annos.  —  A 
recidiva  de  lun  tumor  que  já  se  tinha  ex' 
t  ir  pado. 

—  Acçào  de  cahir  na  mesma  falta,  no 
mesmo  delicto,  ou  crime. 

RECIFE,  s.  m.  Serie  de  rochedos  á  flor 
da  agua. 

—  Lanço  de  penedia  ao  longo  da  cos- 
ta, mais  ou  menos  alto  que  o  nivel  do 
mar,  entre  o  qual  e  a  praia,  corre  um 
esteiro  dagua  ou  praia  nua.  Vid.  Arre- 
cife. 

RECIFOSO,  A,  adj.  Em  que  ha  recife. 
— •  Piai<'!<  recifosas. 

RECINDIR,  r.  a.  Vid.  Rescindir. 

RECINGIR,  V.  a.  Tornar  a  cingir,  cin- 
gir de  ni.vo. 

RECINTO,  s.  ni.  O  circuito,  o  espaço 
compreheudido  dentro   de   certos  termos. 

—  Circulo,  cerco  de  defeza. 

—  Figuradamente :  O  recinto  do  ro- 
sário de  Nossa  Senhora. 

RECIO,  s.  J/i.  Praça,  logar. 

—  Alguns  escrevem  Rescio,  e  outros 
Roscio. 

RECIPE,  .«.  m.  Do  latim  recipe).  Pala- 
vra latina  significando  tornai,  e  pela  qual 
o  medico  começa  uma  fórmula. 

—  Ordem  ou  fórmtda  medicinal  indi- 
cando o  remédio  que  deve  tomar  um 
doente. 

—  Por  extensão,  toda  a  espécie  de  re- 
ceitas oti  firmula  de  remédios. 

f  RECIPIANGULO,  s.  m.  Termo  de  geo- 
metria. Instrumento  para  medir  os  ân- 
gulos dos  sólidos. 

"  RECIPIENTE,  s.  m.  /Do  latim  reci- 
piens).  Vaso  adaptado  ao  alambique,  pa- 
ra receber  os  gazes  que  se  evaporam,  ou 
os  líquidos  que  se  dístillam. 

—  Recipiente  jlonmtino ;  recipiente  que 
se  emprega  para  a  distillaçào  das  essên- 
cias mais  ligeiras  que  a  agua. 

—  Campamda  de  vidro  que  se  colloca 
sobre  o  prato  de  uma  machina  pneumá- 
tica, e  onde  se  encei-ram  os  corpos  qtie 
se  querem  jiôr  no  vasio. 

RECIPROCAÇÃO,  5.  /.  (Do  latim  reci- 
procatio).  Mutua  correspondência,  reci- 
procidade, correspondência  de  deveres, 
correlação. 

—  Antigo  termo  de  phvsica.  Recipro- 
cação  do  pêndulo  ;  movimento  que  certos 
philosoplios  julgavam  serem  communica- 
dos  ao  pêndulo  pelo  movimento  da  terra. 

RECIPROCAMENTE,  adv.  (De  recipro- 
co, e  o  .suffixo  «mente»).  De  um  modo 
reciproco,  mutuamente. 

—  A  revezes. 

—  De  parte  a  parte,  com  igual  coitcs- 
pondencia. 

RECIPROCAR,  V.  a.  /Do  latim  recipro- 
care  .   ('omniunicar  muttiamente. 

—  Reciprocar-se,  v.  rejl.  Communiear- 
se  reciprocamente,  com  reciprocidade. 

Ali  verão  as  setas  estridentes 
licciprocar-ee,  a  ponta  no  ar  virando 


1J4 


\i\'j:\ 


UECf. 


HKCL 


( 'mitru  ()uniii  as  tirou  ;  que  VfOA  ))i;l(ij» 
IV  ((uiMU  Oritcudc  a  tV;  da  iimdro  I;írcjii. 

<AJI.,  LLS.,  Cimt.   10,  Ortt.    10. 

RECIPROCIDADE,  «. /.  (Do  latim  rcci- 
■jn-orilits).  (,>ii.iliiljulo,  CiU-íiL-tor  do  que  é 
meiíiroci).  —  A  reciprocidade  dos  Ljuh 
iijjicws, 

—  A  ncçào  qiio  rociprocaiuento  bo  fa- 
zciu  iliiiis  possoiís,  unia  á  outra. 

—  iti-ci])r(ieii<;íli). 

RECIPROCO,  A,  wlj.  (Do  latim  )v;ct>n<- 
(■((.si.  Miituii,  cni  quo  ha  correspondência 
lie  [larte  a  parte. 


roi"óiii  com  ((uanto  luun  o  outro  iíto  quo  ouviru 
'i'or  H0Ui4  olhos  ja  tom  visto  pi-imoiro, 
I  )uvo  as  novas  porím  do  ((uu  bnin  vira 
Com  prão  pra/.or,  do  amij^o  c  compauliciro, 
.lulgando  (juc  o  quo  vio  nao  liu  niontira, 
l'(iis  outro  o  vio  tambora,  mas  vordadoiro, 
Vj  assi  osta  reciproca  alcp;ria 
J)obra,  o  acredita  o  bom  daqucUe  dia. 

Kn.VNCI8C0  nE  ANDBAPK,  PllllIKIlíO  IKltCO  PE  DtU, 

cant.  20,  est.  50. 


l'a.S3a  o  homom  do  bosque  á  Bocicdado; 
As  precisões  reciprocas  soccorro 
IVdirào  aos  iuort:ies,  c  ocoulta  força 
Irresistível  sympatliia  os  la(;os 
i)a  ventara  commuiu  com  leis  aperta. 

J.    A.    1)R   MACEDO,   MEDITAÇÃO,  Cailt.    1. 

llllo  a  prova  te  dêo,  ncUe  encontraste 
Jícciproca  attraoi;ào  dos  Corpos  todos. 

IDKM,  VIAOEM  EXTÁTICA,  cailt.  3. 

l'or(;a  de  antigos  ovos  ignorada 
1'oi  attracçilo  rce.iproca.  c  foi  sempre 
Centri-fuga,  o  coutri-pcta  esquecida, 
k\m\  ([uo  estranhos  feuoincnos  8'e.tplioão. 


Aqui  buscamos  os  brazucs,  as  honras, 

Nelhi  com  sangue  se  disputa  hum  Throuo, 

Se  ambiciona  o  jioder,  sempre  agitada 

A  mortal  gorai,"!io  tum\iltuosa 

Da  guerra  accende  o  fogo,  o  chama  as  Knvias, 

E  com  fatal  reciproca  viugan(;a 

Vazia  a  dei.\a  mais  :  nestes  limites 

listrei  tos  na  razão,  no  eugano  grandes. 

IDEM,  A    N.VriREZA,  Caut.   2. 

—  Termo  de  Idiíiea.  Praposicues  reci- 
procas ;  duas  proposiçõe.s  taes  que  o  su- 
jeito de  lima  pôde  tornar-se  o  attributo 
da  outra,  e  o  attributo  de  uma  o  sujeito 
da  outra. 

—  Termos  recíprocos  ;  termos  que  tem 
a  mearaa  si<ínitiea(;ào,  e  que  so  podem  to- 
mar um  pelo  outro,  por  exemplo  homem 
o  animal  racional. 

—  Termo  de  mathematica.  Fif/uras  re- 
ciprocas ;  a(|uellas  cujos  lados  se  podem 
comparar  de  modo  que  o  antecedente  de 
lima  razào,  e  o  eousequente  de  outra  se 
acham  na  mesma  figura. — ^1  grai-itacão 
exeixe-se  na  razão  reciproca  do  quadrado 
das  distancias. 

—  Termo  de  grammatica.  Verbos  recí- 
procos ;  \erbos   quo   exprimem  a   ac^-rto 


mutua  de   muituM   Bujcitoti    uuh   Hobre   os 
outros.  —  Ferem-se,  auiam-íc. 

—  SvN.  :  Reciproco,  muino.  \'id.  crtte 
ultimo  termo. 

RECISÃO,  »./.  (Do  latim  recisio).  AcySo 
do  reseiíniir,   aunullar. 
RECITA,  ■•<.  f.  K:;eitativo. 

—  l{ij)rc!Siiiia^'ài)  theatral  de  uma  noite. 
RECirAÇAO,  «. /.  Acvào  de  recitar. 

—  .íVcto  de  dizer  os  pape  h  do  drama, 
e  ordinariamente  do.s  cantado.i  em  reci- 
tativo. 

RECITADO,  i>art.  pass.  de.  Recitar. 

—  Diz-.se  da  memoria.  —  Li<;iks  reci- 
tadas. 

—  Contado. 

—  Sub.staiitivamente  :  Recitativo. 
RECITADOR,  A,  adj.   e  a.    Tessoa   que 

recita. 

RECITANTE,  part.  uct.  de  Recitar. 
(.^uo  recita. 

—  Substantivamente  :  Termo  pouco 
usado,  lleeitador. 

JIECITAR,  i'.  (í.  (Do  latim  recitarei.  Fa- 
zer em  voz  alta  a  leitura  do  qualquer 
obra,  referir,  contar.  —  «  Das  quaes  coii- 
clusòes,  o  das  outras  que  uào  recitamos, 
porque  bastam  estas  pêra  oxempliriear, 
sempre  os  Mouros  letrados  da  l'i;rsia  en- 
tre si  trouxeram  e.stas  máximas  de  sua 
seeta,  nào  ousando  sahir  mui  a  campo 
com  ellas  ;  porque  como  o  mais  do  tem- 
po foram  governados  per  Califas  Arábios, 
(pie  tem  o  contrario,  eram  havidos  por 
heréticos,  e  castigados  por  isso.»  Barros, 
Década  2,  liv.  10,  cap.  0. 

—  líepetir  o  recitativo  nas  operas. 

—  Iveiatar. 

—  Recitar  de  cór  a  Fscriptura  tío.gra- 
da.  —  «Clemente  Sixto  tudo  aquillo  que 
huma  vez  leo,  sempre  fclixmente  o  con- 
servou. Valente  Diácono  recitava  de  còr 
toda  a  Escriptura  sagrada.  Joào  Palesti- 
no Cego  perguntado  do  repente  sobre 
qualquer  matéria,  que  tivesse  lido  em 
qualquer  Author,  uo  mesmo  poato  repe- 
tia por  formais  palavras  o  (jue  lera. 
Quem  quizer  uiavor  noticia  de  lueuiorias 
prodigiosas  consulte  o  Theatro  da  Vida 
llumaua  de  Laurencio  Beyerliuch,  c  as 
( (fficinas  de  llavisio  Textor,  c  de  Joaõ 
Fclix  iVstolpho.»  Braz  Luiz  d'Abreu, 
Portugal  medico,  pag.  IO,  §  õ3. 

—  V.  n.  Ivezar  em  voz  alta  os  officios 
divinos  da  igreja  uo  coro. 

recitativo",  s.  m.  Termo  de  musica 
dramática.  Canto  em  quo  se  repete  a 
maior  jiarte  da  letra  das  operas  ;  é  di- 
verso do  quo  se  usa  nas  árias,  e  mais 
simples.  Vid.  Melopéa. 

RECLAMAÇÃO,  s./.  (Do  latim  reclama- 
tio<.  Aci,'ào  de  i-eclamar,  de  reivindicar 
alguma  cou.^a. 

RECLAMADO,  part.  pass.  de  Reclamar. 
—  ^oiCM/ro  reclamado  com  urgência. 

—  Adornado  de  reclamos. 
RECLAMADOR,  A,  adj.  Quo  reclama. 

—  fcjttbstantivamente :  Um  reclaiuador. 


RECLAMANTE,  j>arl.  ad.  de  Reclamar. 

--S.  l'.-^,..;i  (jiio  iipreseiita  uma  re- 
elamai.à". 

RECLAMAR,  i.  n.  Do  latim  rechtmu- 
rc).  Oppôr-«<!,  contra<lizer,  contraxtar. 

—  Fazer  uma  reclama^-ilo. 

—  Ucstiar,  retumbar,  roj>elir. 

—  Figuradamente  :  Ilegiatir,  £allaudo 
das  cousas. 

—  V.  a.  Implorar,  pedir  com  instan- 
cia. —  Kn  reclamo  n  fim  Ijc.nfcnieneia  c 
indulgência. 

Que  iiilo  M  dovo  onojar, 
Mas  antos  muito  folgar 
Msitnr  os  de  qualquer  idulo. 
V.  »c  reclama 
Que  sendo  tào  linda  dimH 
Por  «er  velho  in'alK)rrcce, 
l)Í7.ei-lhe  (|ue  mnl  dcdania. 
Porque  minh'alma,  quo  a  ama, 
Nào  envelhece. 

OlI.  VICKSTE,   PARÇAB. 

—  Reclamar  os  saiitos ;  invocar  o  seu 
auxilio. 

—  Pedir  uma  cousa  devi<la  e  justa.  — 
Reclamar  o  preço  de  uma  oftra  fjual>juer. 

—  líecusar. 

—  (Jiiamar  as  aves  com  o  reclamo. 

—  Figuradamente  :  Chamar,  conviílar 
fraudulentamente  para  mal  como  o  recla- 
mo as  aves. 

—  C  lamar  a  ave  uma  por  outra. 

—  Vid.  Recramar. 

1.1  RECLAMO,  s.  hl.  Ave  ensinada,  qne 
chama,  cantando,  outras  para  os  laeos, 
ou  redes.  —  Ave  que  vem  ao  reclamo. 

—  Assobio  com  que  o  caçador  imita  a 
voz  de  algumas  aves  para  acudirem  onde 
ello  tem  o  laço,  rede,  ou  está  pira  lhe 
atirar. 

—  lia  também  reclamos  ou  vozes,  a 
que  acodem  animaes. 

—  Figuradamente :  Cousa  que  attrahe, 
o  convida. 

—  Figuradamente :  Diz-se  também  das 
pessoa^. 

2.1  RECLAMO,  s.  m.  Termo  de  impres- 
são. A  palavra  ou  siimente  a  syllaba,  que 
se  imprimo  abaixo  da  iiltimjl  linha  d^unia 
pagina,  e  é  a  primeira  da  pagina  se- 
guinte. 

—  O  signal  posto  na  escriptura  pani 
onde  clle  está  se  lêr,  ajuntar  alguma 
clausula  ou  addiçSo,  que  está  á  margem; 
para  rometter  o  leitor  a  cila  ou  ás  notas. 
Vid.  Chamada. 

—  Acudir  ao  reclamo ;  onde  se  falia 
ou  ha  alguma  cousa  do  interesse  de  qncni 
acode. 

—  Termo  antiquado.  Ornato  dos  tra- 
jos antigos. 

—  Termo  de  marinha.  Gome  com  sua 
roda,  que  se  pratica  nas  rom.^is  dos  nias- 
taróos,  c  laizes  das  vergas. 

—  tíou  um  reclamo  dt:  vossa  rfputaçSn  ; 
sou  um  echo,  sou  o  que  a  espallia,  ou 
vol-a  gratigcio. 


líECO 


RECO 


EECO 


125 


—  Diz-se  também  as  pessuas  que  bus- 
cam amantes  para  as  meretrizes. 

RECLINAÇÃO,  s.  /.  Termo  de  gnomoni- 
ca.  Situaçào  de  um  plano  que  em  vez  de 
ser  aprumado,  inclina-se  para  o  horizon- 
te ;  numero  de  graus  de  que  este  plano 
se  afasta  da  vertical. 

—  Termo  de  cirurgia.  Reclinação  da 
catarata;  abaixamento  da  catarata. 

RECLINADAMENTE,  adv.  (De  reclina- 
do, com  o  suflixo  «mente»).  Como  recli- 
nado sobie  alguma  cousa. 

RECLINADO,  part.  pass.  de  Reclinar. 
Deitado,  recostado. 

—  Termo  de  botânica.  Recurvado  um 
tanto  para  fora,  ou  para  baixo. 

—  Tronco  reclinado ;  tronco  que  levan- 
tando-se  primeiro  mu  tanto  de  esguelha, 
começa  a  descahir  para  a  terra,  prolon- 
gando-se  em  arco,  ou  formando  uma  cur- 
va bastante  aberta. 

—  Pulhas  reclinadas ;  folhas  que  se 
debruçam  para  baixo  de  esguelha,  ou  em 
arco,  rebitando  algumas  vezes  a  ponta 
pai-a  cima,  e  ficando  tanto  o  lombo  do 
arco,  como  a  ponta  mais  baixa  que  o  pon- 
to do  apego. 

RECLINAR,  V.  a.  (Do  latim  recUnare). 
Abaixar,  dobrar,  desviar  da  perpendicu- 
lar. 

— ^  Reclinar  a  cabeça;  deital-a,  encos- 
tal-a. 

—  Reclinar-se,  c  re.fl.  Abaixar-se,  en- 
costai'-se,  deitar-se. 

RECLINATORIO,  s.  m.  (Do  latim  recli- 
natorimn).  Almofada  ou  travesseiro  de 
descançar  a  cabeça  na  cama. 

RE  "-LUIDO,  part.  pass.  de  Recluir. 

RECLUIR.  i'.  a.  Encerrar,  clausurar. 

RECLUSÃO,  s.  f.  Clau5ura  voluntária, 
ou  firea^la  no  convento,  ou  cárcere. 

RECLUSAR,  V.  a.  Termo  pouco  usado. 
Encerrar,  clausurar,  fechar. 

—  Reclusar-se,  v.  re.fl.  Encerrar-se,  fe- 
char-se. 

RECLUSO,  part.  pass.  irreg.  de  Recluir. 
(Do  prefixo  re,  e  do  latim  clusus,  fecha- 
do). Encerrado. —  Um  penitente  recluso 
e)ii  uma  casa  religiosa. 

—  Preso,  encarcerado.  —  «Assim  se 
executou,  e  em  vinte  e  três  de  Novem- 
bro de  mil  seiscentos  e  sessenta  e  sete 
ficou  recluso  el  Rei  D.  Aftbnso  em  hum 
quarto  do  Paço,  e  tomou  seu  Irmào  o  go- 
verno como  titulo  de  Príncipe  Regente.» 
Frei  Bernardo  de  Brito,  Elogios  dos  reis 
de  Portugal,  continuados  por  D.  José 
Barbosa. 

—  Termo  de  botânica.  Diz-se  do  em- 
bi"yào,  quando  e-itd  encerrado  no  peri- 
sperma. 

—  Que  vive  no  retiro.  —  Este  homem 
ficou  recluso  todo  o  inverno. 

RECLUTA,  «.  /.  Yid.  Recruta. 
RECLUTAR,  v.  a.  Yid.  Recrutar. 
RECOA,  ou  RECUA.  Yid.  Recova. 
RECOBRAMENTO,  s.  m.  Acto  de  reco- 
brar. 


—  Recuperação . 

RECuBRAR,  i'.  a.  Tornar  a  cobrar  o 
peruido. 

—  Recobrar  a  saúde;  recuperal-a,  de- 
pois de  perdida. 

—  Recobrar  as  forças ;  recuperal-as. — 
«Subitamente  se  unirão  conformes,  e  reco- 
brando forças,  mais  forão  os  instrumen- 
tos da  victoria,  que  os  authores  delia.  Ru- 
mecão  se  retirou  desbaratado,  e  D,  Ál- 
varo baralhado  com  elie,  entrou  de  en- 
volta na  Cidade,  achando  já  maior  estor- 
vo nos  mortos  que  cahiào,  que  resistên- 
cia nos  vivos,  que  se  n,ào  defeudiào. »  ,Ta- 
cintho  Freire  de  Andrade,  Vida  de  D. 
João  de  Castro,  liv.  3. 

—  Recobrar  o  somno ;  continuar  a  dor- 
mir depois  de  acordar. 

—  Recobrar  uma  herdade  em  vinhas; 
replautal-a,  estando  desafruitada,  ou  sem 
arvores,  etc. 

—  Recobrar  os  sentidos;   recuperal-os. 
RECOBRAVEL,  adj.  2  yen.  Que  se  pôde 

recobrar. 

RECOBRO,  s.  m.  Acção  de  recobrar,  e 
restituir-se  do  perdido. 

RECOCHILHADO,  A,  adj.  Que  foi  acuti- 
iado  mais  de  uma  vez. 

—  Figm'auamente :  Escarmentado  por 
damnos  repetidos. 

RECOCTO,  A,  adj.  (Do  latim  recuctusj. 
Terino  pouco  usado.  Recozido. 

RECOITAR,  c.  «.  Termo  de  oiuãvesa- 
ria.  Abrandar  o  metal  ao  fogo,  fazendo-o 
em  braza. 

—  Requeimar. 

RECOIfO,  A,  adj.  (Do  prefixo  re,  e 
coito  i.  Requeimado,  ou  tornado  brando, 
fazeudo-o  em  braza  no  fogo. 

RECOLEGIR,  i-.  a.  Yid.  Recolligir. 

RECOLEIÇÃG,  s.  m.  Yid.  Recolieição. 

RECOLETA,  s.  /.  Casa  religiosa  reíbr- 
mada. 

—  Figuradamente  :  Reforma   de  vida. 
RECOLETO,  A,  adj.  e  s.    (Do   francez 

rccolleti.    Religioso   reformado,   que  vive 
em  reculeta  ua  sua  ordem. 

RECOLHEDOR 
lhe. 

RECOLHEITO, 
Recolhido. 

RECOLHER,   v.  a.    (De  re,   e  colher) 
Tornar  a  colher,  receber  para  casa. 


A,  «.  Pessoa   que   reco- 
part.    pass.    aiit.    Yid. 


O  Sousa  llio  agardcce  o  claro,  e  limpo 
Coração,  que  lhe  mostra,  e  a  vontado 
Quo  pêra  o  recolher  ncllo  enxcrgaua, 
Sem  artificio  algum,  singollo  e  fácil. 
Mas  desejando  ver  o  que  o  segando 
Soberbo  templo  tem,  o  gasalhado 
Por  eiitao  nao  lhe  acceita,  o  despedido, 
Segue  a  \ia  que  ao  monte  vai  direita. 


COETE   REAL, 

cant.  10. 


NAUFRÁGIO  DE  SEPÚLVEDA, 


—  «Nesta  porfia  duraram  tanto,  que  a 
noite  sobreveio  tão  escura,  que  lhe  foi 
necessário  apartar-se  sem  nenhum  ficar 
com  mais  que  muitas  feridas,  e  desejo  de 


victoria.  C  imperador  mandou  tocar  as 
trombetas,  e  recolher  cada  um  a  sua  ca- 
pitania.» Francisco  de  Morae-,  Palmei- 
rim d'Inglaterra,  cap.  12.  —  «Yós,  se- 
nhor, sabereis  que  por  morte  d'el-rei  meu 
pai  fiquei  encommendada  a  alguns  prin- 
cipaes  do  reino,  que  ficaram  por  gover- 
nadores delles,  que  me  casassem  a  meu 
contentamento:  em  tanto  que  se  isto  fa- 
zia, por  maior  honestidade  minha  me  re- 
colhi em  um  castello,  que  d'aqui  quatro 
léguas  está,  cm  um  lugar  gracioso  e  ale- 
gre, fora  da  conversação  de  gente.»  Ibi- 
dem, cap.  102. —  «Com  isto  o  fez  reco- 
lher á  fortaleza,  onde  foi  curado  por  imia 
donzella  sua:  e  as  feridas,  que  lhe  achou, 
foram  de  tcào  pequeno  perigo,  que  nào  to- 
lhiam o  caminho  pêra  o  outro  dia.»  Ibi- 
dem.—  «Como,  alem  de  bom  cavalleiro, 
fosse  moço  e  gentilhomem,  pareceu  tào 
bem  a  Arnalta,  que  o  recolheu  ao  castel- 
lo, fazendo-lhe  muita  honra  e  gasalhado, 
como  costumava  fazer  ás  pessoas,  que 
tao  bem  lhe  pareciam.  Dragonalte  vendo 
Arnalta  tào  fermosa  e  informado  do  seu 
estado  e  senhorio,  como  tivesse  a  idade 
tenra  e  o  coraçào  desaoccupado  d'outros 
cuidados,  assim  se  namorou  de  suas  mos- 
tras, que  lhe  parecia  alli  estar  certa  sua 
perdição  ou  gloria.»  Ibidem,  cap.  111. 

—  Guardar  na  memoria. 

—  Receber,  aceitar. —  «E  porque  (co- 
mo vimos)  Simào  de  Sliranda  Capitão'  de 
huma  não  vinha  pêra  Capit.âo  da  fortale- 
za de  Çofala,  Jorge  de  Mello  o  espedio, 
e  mandou  Provisões  a  António  de  Salda- 
nha que  naquella  náo  se  viesse,  e  passas- 
se per  a  fortaleza  de  Quiloa,  onde  estava 
por  Capitão  Francisco  Pereira  Pestana, 
e  o  recolhesse  com  toda  a  gente  delia.» 
Barros,  Década  2,  liv.  7,  cap.  2.  —  «Tor- 
nad(js  pêra  dar  esta  nova  a  Pêro  Masca- 
renhas, andava  o  mar  de  maneira,  que 
nào  os  pôde  recolher,  e  escassamente  ou- 
vir o  que  lhe  disseram,  e  mandou-lhes 
que  fossem  abaixo  onde  se  mostrava  hu- 
ma ponta,  em  que  parecia  podellos  reco- 
lher, e  nunca  mais  apparecêram,  e  sus- 
peitaram que  os  Cafres,  ou  alguns  ani- 
maes  da  terra  os  matariam;  mas  depois 
houve  mais  certa  suspeita  que  os  mata- 
ram os  Mouros.»  Ibidem.  ^ — «E  porque 
partindo-se  elle  sem  leixar  algum  recado 
poderia  danar  aos  nossos  que  ficauSo, 
tanto  que  recolheo  em  o  nauio  quatro 
homens  delles :  disse  aos  outros  per  seus 
acenos  que  elle  se  partia  pêra  leuar  a 
mostrar  ao  seu  Rey  aquelles  homens  por- 
que os  desejaua  ver  e  que  dahi  a  quinze 
luas  elle  os  tornaria.»  Idem,  Década  1, 
liv.  3,  cap.  3. —  «Concluídos  nisto,  sa- 
bendo que  Lopo  Vaz  hia  pêra  aquella  Ci- 
dade, assentaram  de  o  nào  recolherem,  e 
de  lhe  fazei-em  seus  protestos,  porque  o 
nào  conheciam  por  Governador,  porque 
nào  estavam  obrigados  nem  por  juramen- 
to, nem  por  alguma  outra  cousa' a  isso,  e 
assi  fecharam  as  portas  da  Cidade,  e  pu- 


126 


RECO 


Zííi-am  iicUíH  f,n-iurloH  guarlas,  c  vif^ias, 
o  míindiíi-ain  pôr  li  uma  ftiMti  na  harra 
com  hiiiii  Tal)i'lli?l')  pcm  notificar  a  Lopo 
Vazo  (|iin  Citava  asHciitado. »  Diogo  <l(! 
(joiíto,  Década  4,  iiv.  I,  cap.  15. —  «Ho 
Marques  voo  por  l'ortcl,  i;  kc  (iiiiHcra  lan- 
çar na  fortaleza  do  (pio  ora  Alcayde  do 
Duque  Nuno  1'oreyra,  quo  por  ja  do  ea- 
flo  anisa  lo  o  niTo  quis  aiiy  recolher,  o  o 
Marquez  hc  foy  logo  a  terra  d<!  canipoH 
em  Oastella,  o  (hqiois  refollioo  a  Manpie- 
sa  sua  mollier  em  Scuilla.»  (larcia  de  Re- 
zende, Chronica  de  D.  João  II,  caj).  44. 
—  «Katre  os  quacs  se  eunservou  neu- 
tral, naò  Moni  alguma  nota  d(^  nspero  para 
com  ol  Ufi  D.  l'e  Iro,  a  quo  naõ  quiz  re- 
colher em  Portugal  vindo  desbaratado, 
nom  conceder-llie  mais  que  hum  passo 
menos  que  livro  para  ir  a  Inglaterra.» 
Fi-ei  Rrrnardo  de  Brito,  Elogios  dos  reis 
de  PorUigal,  continuados  j)or  D.  .José 
Barbosa . 


Com  osta  companhia  iloixa  a  torra 
Do  Constantino,  o  ao  i':\'wo  faz  a  via, 
E  recolhe  também  para  esta  pucrra 
Outros  tros  mil  á  sua  oompanliia  ; 
Iluns  (los  (|U0  Daniiatn  ilonti-o  enepn-a, 
Outros  dos  quo  crpou  AU'x;nuli'in, 
Outroa  dos  quo  outros  portos  liabitavào 
Do3  quo  as  Mediterrâneas  ondas  lavão. 

P.   D'ANDnAnE,  I-RIMKIRO  CF.IICO  nV.  DHíjCaUt.    1"J, 

ost.  110. 


—  ((  E  isto  era  ja  no  anno  do  51.  D.  vii. 
os  quaes  indo  assi  a  traucs  da  iliia  Dani- 
goxa,  toparam  eoni  Lucas  da  Fonse- 
ca, que  vinha  da  Índia  com  a  sua  ca- 
rauílla  carregada  pêra  Cofala,  e  trazia 
consigo  loaõ  Vaz  Dalniada,  quo  o  Vice- 
rei  mandaua  pcra  ser  feitor,  dei)ois  que 
Emanuel  Earnandcz  fora  ter  a  índia,  co- 
mo ja  dixe,  o  qual  Ijucas  da  Fonseca  os 
recolheo  na  (.'arauolia,  o  leuou  consigo  a 
(Jofala,  e  tro.ixe  a  ]Mo(^'ambique,  onde  ja 
nam  acharam  Tristam  da  Cuidia,  o  dalli 
se  foram  perà  índia.»  Damião  de  Goos, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  2,  cap.  21. 
• —  «Luis  Coutinho  se  lançou  logo  com  toda 
a  mais  gente  no;  outros,  o  o  mestre  che- 
gou a  fusta,  posto  que  com  trabalho,  c  os 
recolheo,  saluo  loTio  diMras,  que  se  lançou 
eom  os  imigos.»  Ibidem,  part.  ií,  eap.  7.  — 
«  E  delia  vinte  legoas  na  Arábia  Pétrea 
tem  03  Monros  na  Cidade  Medina,  hum 
sepiílchro,  ou  cayxa  que  nos  ares  so  sus- 
tenta com  pedras  de  ceuar,  na  qual  af- 
firmão  foy  sepultado  Mafoma,  nem  eu 
duuido  disto,  porque  bem  era,  quo  a  hum 
tam  grande,  e  infernal  ministro  de  Sa- 
thanas,  qual  outro  falso  ludas,  ate  a  ter- 
ra lhe  faltasse,  e  o  nam  recolhesse  em 
si.«  Fr.  (raspar  de  8  Bernardino,  Itine- 
rário da  índia,  eap.  8. 


Filha,  meu  ouro  macii;o, 
maadac  lá  recolher  isso, 
fugi  azinha  do  aceidentos; 
como  aqui  entram  pvosontes 


RECO 

tenho-a  morta  :  este  Borviço 
ao  HOiiliur  dom  Braz  dizni. 

AN  10X10  I-IIKHTB»,  AIÍTO»,   pUg.    IÕ7. 

o  bom  d 'isto  (:  já  HolVror  : 
iiiiiiulc  os  Honhoi^os  recolher, 
vistiim-nos,  deixo  pontinlioH. 
/'/•<!(■ .  Senão  falaram  ratinhos 
monos  mal,  menos  duor. 
iiiiDF.M,  pag.   Kiít. 

--Abrigar,  agasalhar,  dar  pousada. — 
«Mas  forào  socorridos  i)er  Diogo  Fernan- 
dez  de  Beja,  que  com  sua  galé,  peró  que 
os  njlo  podesso  tomar,  numdou  per  hum 
batel  que  os  recolheo,  e  a  fusta  todauia 
Hcou  em  poder  dos  Mouros ;  os  quaes  por 
ficaren»  bem  sangrados  dos  nossos,  por 
aípiella  vez  desistir.lo  do  que  tinhilo  or- 
denado.» Barros,  Década  2,  Iiv.  1,  cap. 
7.  —  «E  os  Capitães  com  toda  a  gento 
de  armas  se  apousentáram  em  outras  ca- 
sas, 6  dentro  da  tranqueira  nos  lugares, 
que  lhe  deram  por  estancia,  t&  se  acabar 
a  obra  da  fortaleza,  cm  qu3  se  haviam  de 
recolher.»  Idem,  Década  2,  Iiv.  10,  cap. 
ii.  —  «  E  que  por  isso  os  dias  passados 
recolherão  a  artelharia,  que  aquellas  cou- 
sas estavaij  em  segredo  por  n,ào  haver  al- 
teração, mas  que  os  Capit.aens  tinha(")  de- 
terminado de  dar  hum  muito  ciniel  assal- 
to íl  fortaleza,  primeiro  que  .se  partissem 
daquella  Ilha  por  verem  se  a  podião  to- 
mar e  que  já  se  preparavão  para  elle.» 
Diogo  do  Couto,  Década  6,  Iiv.  2,  cnp. 
í).  —  «E  chegando  nòs  à  prava  aonde  os 
dous  do  cavallo  jà  estavaõ,  hum  delles, 
que  parecia  ser  o  mais  honrado,  me  dis- 
se :  Porque  o  tem])0  senhor  naõ  sofre 
muyta  dilaeaij,  porque  me  temo  de  muy- 
ta  gente,  que  vem  atrás  de  mim,  te  peço 
pela  bomla  le  do  teu  Deosque  sem  pores 
diante  duvida,  ou  inconveniente  algum, 
me  recolhas  comtigo.»  Fern.ão  Mendes 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  202. 

—  Recolher  alguém  em  sua  casa;  dnr- 
Ihe  pousada,  agasalhal-o. —  «O  qual  Un- 
gindo que  hia  dcsauindo  de  dom  (roter- 
re,  se  lançou  em  Po  Lida,  onde  por  ser  a 
pessoa  que  era,  c  dolle  Fernão  caldeira 
ter  conhecimento,  o  recolheu  em  sua  ca- 
sa, dandolho  tudo  o  que  lho  era  neces- 
sário, per  cujo  respeito  lhe  fez  Ancostam 
boa  companhia.»  Damião  de  Góes,  Chro- 
nica de  D.  Manoel,  pai*t.  4,  cap.  17. 

• — ■  Reconduzir.  —  «  Com  tudo  ellc  se- 
guio  a<liante,  fazendo  recolher  Duarte 
varolla  pêra  a  fortaleza,  o  qual  por  se 
ver  muito  apertado  fez  volta  aos  imigtw, 
na  qual  hum  espingardeiro,  per  nome 
Symam  Aluarez  vazou  de  um  tiro  am- 
balas  coxas  a  Pulagoripo,  de  que  logo 
eahio,  ao  quo  acodirain  Duarte  varella, 
Luiz  aluarez  escriuam  da  feitoria,  Antó- 
nio ferraz,  António  da  costa,»  Damião 
de  Goos,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  4, 
cap.  53. —  «  l>s  quaes  depois  de  serem  no 
campo  mouidos  do  anu>r  das  mulheres,  e 
filhos  quo  lho  la  ficaram,  voltaram  com 


RECO 

tanto  ímpeto  sobre  I^opo  de  brito  que  o 
fezeram  recolher  pêra  a  tVjrtaleza  coiu 
mais  de  triota  ferido^.  <;  feriram  muitos 
mais  se  os  nam  embaraçara  o  fogo.»  Ibi- 
dem, part.  4,  cap.  02, 

—  (Joilier,  tomar. —  Recolher  a  sernenle. 
—  <  Como  se  dissesse,  minha  ulma  nam 
tem  vossos  palauras  à  face  de  cima,  cumo 
estrada  endurecida,  quo  nam  recolhe  a 
semente  <piu  nella  cat),  mas  estaa  t(xla 
aberta  e  regada  com  des(íjos  de  entender 
e  cumprir  V(issa  vontade  :  e  jKjr  isso  vos- 
sos mandamentos  o  palavra»  tenho  meti- 
das no  meio  das  minhas  entranhas,  nSo 
somente  na  memoria,  mas  na  aíFeiçam  e 
continua  meditação.»  Frei  Bartholomeu 
dos  Martyres,  Catecismo  da  doutrina 
christã.  —  *  Vj  isto  ho,  o  que  ehamij 
unhas  confiadas,  sem  serem  confidentes : 
e  destas  ha  muitas  a  cada  passo,  e  no 
serviço  delRey  nã(j  falta.T;  mas  falta-me 
a  mim  coragem  para  mostrar  aqui,  o  que 
recolhem,  como  se  fora  seu,  com  tanta 
confiança,  como  se  o  cavarão,  e  o  roça- 
rão, ou  o  herdarão  dos  senJiores  seus 
avós.»  Arte  de  furtar,  cap.  62. —  «Uma 
nuvem  de  settas  i-cspondeu  ao  subillar 
das  dos  esculcas  árabes :  algumas  das  fi- 
tas de  escuma,  ondeiaram,  derivaram  pela 
corrente  e  dcsvarieceram-se  no  dorso  es- 
curo e  scintillanto  das  aguas.  O  (Jhrys- 
sus  recolhia  os  primeiros  despojos  de  um 
terrível  ciunbate.»  Alexandre  Herculano, 
Eurico,  ea]>.  '.'. 

— -Recolher  «'  baiuleira. 


Sentindo  isto  o  Silveira  ja  no  imigo 
Manda  o  Lopo  de  Sousa  que  descesse 
A  cava,  coos  que  tom  alli  comsipo, 
E  os  Turcos  com  gràa  fúria  nccommettcsse. 
Pouco  duvida  o  Sousa  o  grão  perigo 
Inda  ((uo  então  bem  c'aro  o  conhecesse. 
Faz  recolher  os  sens  logo  i  bandeira 
Vai  cumprir  o  mandado  do  Silveira. 
F.  d"ani>rade,  primeiro  ckbco  de  dic,  cant.  Iti, 
est.  128. 


—  Recolher  «  vela.  —  «Desejávamos 
tãto  chegar  a  Patê.  que  em  amanhecendo 
demos  à  vela,  e  dalli  a  seys  horas  a  re- 
colhemos estando  ya  ancliorada*  no  Por- 
to da  Ilha.  E  como  a  nossa  embarcaçilo 
fov  a  primcyra  que  com  ponentes  a  ella 
vevo  aquelle  anno,  concorrei)  a  Temos 
quasi  todo  o  pouo,»  Fr.  tiaspar  de  S. 
Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap.  6. 

—  Guardar,  arrecadar.  —  «  Escorcha- 
da^  ao  nãos  de  mui  rica  fazenda  que  tra- 
ziào,  parte  da  qual  recolherão  os  nauios 
pequenos  que  fieauão  em  baixo:  começa- 
rão alguns  Mouros  mercadores  de  Chanl 
mouer  compra  dos  cauallos  que  as  nãos 
traziào,  que  era  mayor  p,artc  da  sua  car- 
ga.» Barros,  Secada  2.  Iiv.  l.cap.  4. — 
« Acertou  estarem  em  Lisboa  dez  nãos 
de  França  grandes  e  de  boas  mercado- 
rias, mandonas  tomar  logo  tod.is.  e  reco- 
lher com  muyto  recado  as  mercadorias 
na  alfandega,  e  tirar-lhe  as  vergas  e  go- 


RECO 


"RECO 


RECO 


127 


uernalhos,  e  meter  nellas  homens  que  as 
guardassem,  e  lançar  os  Franceses  fora 
delias.  E  mandou  logo  a  grande  pressa 
com  grandes  prouisões  e  poderes  a  Setu- 
uel,  e  ao  Reyno  do  Algarue  Vasco  da 
CTama,  tidalgo  de  sua  casa,  que  depois 
íby  Conde  da  Viiligueira,  e  Almirante 
das  índias,  homem  de  que  elle  contiaua, 
e  seruia  em  armas  e  cousas  do  mar,  a 
fazer  outro  tanto  a  todas  as  que  la  esti- 
uessem,  ho  que  fez  com  muvta  breuida- 
de.»  Garcia  de  Rezende,  Chronica  de 
D.  João  n,  cap.  146.  —  «  Cide  Iheaben- 
tafuf  per  huma  parte,  e  Lopo  barriga  pela 
outra  que  então  tinha  consigo  duzentos, 
oincoenta  de  cauallo  Portugueses,  na  qual 
volta  mataram  xxv  de  cauallo  doa  imi- 
gos,  entre  os  quaes  morreo  hum  filho  de 
Mezea2'a  Rei  de  Dará,  o  que  vendo  os 
do  Ssrife  se  retiraram  pêra  o  arraial  dei- 
xando no  campo  trinta  e  seis  cauallos 
que  os  nossos  recolheram.»  Damiào  de 
(roes,  Chrouica  de  D.  Manoel,  part.  3, 
cap.  35.  —  «  Ganhada  assi  a  cidade  man- 
dou Lopo  soarez  recolher  alguns  manti- 
mentos, de  que  auia  muitos  do  que  se 
elle  depois  bem  arrependeo  por  nam  to- 
mar mais,  e  aos  que  ficai'am,  e  a  mesma 
cidade  mandou  poer  o  fogo,  que  laurou 
quatro  dias,  antes  de  se  acabarem  de 
queimar  todahxs  casas,  e  fermosas  mex- 
quitas,  com  outros  ediíicios,  que  nella 
auia,  sem  ficar  nenhum.»  Ibidem,  part. 
4.  cap.  14.  —  «  Despejada  a  cidade  os 
nossos  sahiram  a  roubar  o  que  nella 
auia,  e  apagar  o  fogo,  o  que  posto  que 
de  todo  nam  podessom  fazer  foram  com 
tudo  causa  que  nam  fezesse  mais  damno 
do  que  já  tinha  feito,  e  recolherão  na 
fortaleza  muitos  mantimentos,  e  aguoa 
de  que  tinhaõ  bem  necessidade.»  Ibi- 
dem, part.  4,  cap.  80.  —  «  Bem  se  vé, 
que  isto  he  estafa,  pois  nunca  o  vio  em 
sua  vida,  senaõ  aqiiella  vez;  e  para  lhe 
aguçar  a  liberalidade,  mostra-llie  um  li- 
vro muito  grande,  e  o  muito  que  nelle 
se  rabiscou,  etc.  Pasma  o  suplicante, 
lança-lhe  hum  par  de  patacas  Mexica- 
nas, onde  só  devia  dous  vinténs :  reco- 
Ihe-as  o  senhor  escriba,  de  prata  Fari- 
seo,  e  despacha-o  com  aqui  me  tem  v. 
m.  a  seu  serviço  taõ  certo,  como  obri- 
gado.» Arte  de  furtar,  cap.  59. 

—  Recolher  o  ar;  respiral-o. 

—  Recolher  alguém  a  si ;  tomal-o  ao 
seu  serviço. 

—  Recolher  nos  braços;  receber,  abra- 
çar. 

—  Recolher  o  r/ado  )ws  curraes ;  pren- 
del-o. 

—  Recolher  i)eíxe  nas  redes;  apanhar 
nos  lanços. 

—  Recolher  a  mão ;  retii^ar  a  esten- 
dida. 

—  Encerrar,  introduzir,  metter.  —  «A 
qual  fortaleza  vendo  o  Vicerei  quam  tra- 
balhosa era  de  sostentar,  por  estar  longe 
de  Cochim,  per  conselho  de  todolos  capi- 


tães, o  pessoas  de  calidade,  mandou  dahi 
a  poucos  dias  derribar,  ao  que  ordenou 
que  fosse  dom  Lourenço  com  a  armada 
que  trazia,  pêra  que  nella  recolhesse  a 
gente,  e  a  trouxesse  a  Cochim,  e  assi 
ficou  a  ilha  de  Anchediua  na  mesma  li- 
berdade qxie  dantes  tinha,  de  ser  com- 
mua  a  Christãos,  Mouros,  e  Gentios.» 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  2,  cap.  12.  —  «Com  tudo  os  de 
dentro  lhe  respondiam  de  maneira  que 
matauaõ,  e  leriam  muitos  delles,  ponjuo 
varejauam  os  tiros  pelo  campo,  onde  ain- 
da andauam  a  descuberta,  por  nam  te- 
rem acabadas  as  cauas,  e  fossados,  em 
que  se  auiam  de  recolher.»  Ibidem,  part. 
4,  cap.  53. —  «E  que  multiplicandose 
pela  corrupção  da  natureza  os  peccados 
dos  homens  no  mundo,  alagara  Deos  to- 
da a  terra,  com  mãdar  ás  nuvens  do  Ceo 
que  chovessem  sobre  ella,  e  afogassem 
toda  a  cousa  viva,  que  nella  ouvesse,  e 
se  salvara  somente  um  justo  com  sua  fa- 
mília que  Deos  mandara  recolher  numa 
grande  casa  de  pao,  do  qual  depois  pro- 
cederão todos  os  outros  que  habitào  a 
terra.  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  163. 


Sendo  já  chegada  a  hora  da  partida 
Hum  manda,  outro  executa  o  mandamento, 
Salui  logo  a  ancora  curva  constrangida, 
Do  duros  braços,  lá  do  fundo  assento, 
Subo  a  entena  ao  mais  alto,  onde  estendida 
A  vcUa,  em  si  recolhe  hum  manso  vento, 
O  remo  cahe,  e  as  ondas  revolvendo 
Faz  com  que  a  aguda  proa  as  vá  foudoudo. 

F.    DE    ANDRADE,  PRIMEIRO     CEKCO     DE    DIB,    Cant 

14,  est.  21. 


—  « Aquelle  Ai-tifice,  que  e.screveu  a 
Illiada  de  Homero  com  tanta  miudeza, 
que  a  recolheo  em  huma  noz,  assombrou 
mais  o  mundo,  que  se  a  escrevesse  com 
muitas  laçarias  em  grandes  laminas  de 
ouro.»  Arte  de  furtar,  cap.  21. 

—  Recolher  os  livros  que.  corriam;  sup- 
primil-os. 

—  Recolher  a  rédea;  colhel-a,  encur- 
tal-a. 

—  Encolher. 

—  Concluir,  tirar  noticias,  informa- 
ções. 

—  Deduzir,  colligir. 

—  Recolher  a  pratica  que  ia  diffusa ; 
fazel-a  mais  concisa,  mais  curta. 

—  Entrar  em  alguma  parte. —  «  Xo 
mesmo  dia  que  ellcgerão  por  capitão  Dio- 
go mendez  de  vascogoncelos  lhe  veo  fal- 
lar  Crisna,  e  pedir  que  o  deixasse  reco- 
lher na  cidade  com  todos  os  seus,  e  al- 
guns outros  nossos  amigos,  antes  que  Pu- 
latecão  de  todo  ganhasse  a  Ilha,  o  que 
lhe  Diogo  mendez  concedeo,  dandolhe 
casas  em  que  se  agasalhasse  com  toda 
sua  fixmilia.»  Damião  de  Góes,  Chronica 
de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  20. 

—  Receber.  —  «O  que  dito  começaram 
todos    a   decer  pelo  outeiro  abaixo:    os 


quaes  depois  de  serem  do  campo  foram 
cometer  os  imigos  com  tanto  impeto  que 
03  constrangeram  a  se  retirarem  pêra 
junto  da  praia  onde  Pulatecào  estaua  re- 
colhendo 05  que  ainda  passauam  nas  jan- 
gadas, os  quaes  vendo  fogir  estes  come- 
çaram fazer  o  mesmo,  lançandose  ao  mar, 
assi  huns  como  os  outros,  pêra  se  salua- 
rem  r.as  jangadas.»  Damiào  de  Góes, 
Chrouica  de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  20. 
—  «  E  a  hum  milhaõ  de  emprego  claro 
está  que  deve  corresponder  hum  grandio- 
so lucro;  e  tal  lho  deixaõ  recolher,  sem 
se  advertir,  que  he  major  o  arruido  que 
as  nozes:  porque  cem  mil  cruzados,  que 
teuhaõ  de  cabedal,  bastaõ,  e  sobejaò  para 
todo  o  menèo  de  dous  milhoens.»  Arte  de 
furtar,  cap.  20. 

—  V.  H.  Estreitar,  em  opposiçao  a 
alargar. 

—  Retirar.  —  «Entre  os  quaes  foi  seu 
filho  Simam  soeiro  pior  que  todos,  por 
ser  o  primeiro  que  a  elles  chegara,  mas 
com  tudo  o  Adail  deu  uelles  com  tanto 
impitu  que  os  fez  recolher,  sem  poderem 
tomar  as  armas  dos  cinco  que  ja  ficauaõ 
mortos.»  Damiào  de  Góes,  Chronica  de 
D.  Manoel,  part.  4,  cap.  76. 

—  Tocar  a  recolher;  fazer  signal  aos 
que  seguem  o  alcance  do  inimigo,  para 
o  deixarem  e  tornarem  ao  corpo  do  exer- 
cito, ou  paia  a  praça,  o-a  arraial.  —  «An- 
tónio da  Silveira  chegando  á  entrada  da 
Cidade,  porque  não  acontecesse  algum 
desarranjo,  fez  alto  com  a  bandeira  de 
Christo,  6  tocou  caixa  a  recolher,  o  que 
todos  logo  fizeram.»  Diogo  de  Couto, 
Década  4,  liv.  6,  cap.  9. 

—  Figuradamente :  Tocar  a  recolher  ; 
desistir  do  começado. 

—  Recolher-se,  i'.  refí.  Retirar-se,  re- 
fugiar-se,  acolher-se  a  alguma  parte.  — 
«Só  em  Laymundo  acho  nomeado  por 
estes  annos  hum  Procônsul  de  Lusitânia, 
chamado  A"oluencio,  e  diz,  que  favorecia 
muito  alguns  Bispos  Hereges,  que  con- 
turbavaò  a  paz  e  religião  de  Espanha,  e 
recolhendose  com  esta  brevidade  nem 
declara  qual  fosse  a  heresia,  nem  os  no- 
mes dos  Bispos  perseguidos  por  ella,  mas 
Severo  Sulpicio  nomea  a  Voluencio  ge- 
ralmente Procônsul  de  Espanha,  e  diz, 
que  movido  com  dadivas,  favoreceo  mui- 
to a  sevta  de  Prisciliauo,  de  que  falare- 
mos adiàte. »  Monarchia  Lusitana,  liv.  5, 
cap.  26. 


Depois  do  ja  acabado  o  copioso 
Esplendido  banquete  se  recolhem 
Para  onde  aparelhado  estaua  hum  nobre 
Bom  laurado,  custozo,  rico  leito. 

CORTE  REAL,  NAUFRÁGIO  DE  SEPÚLVEDA ,  Caut.  4. 

—  «A  imperatriz  com  sua  nora  não 
lhe  bastaram  os  ânimos  pêra  ver  tama- 
nha crueza,  antes,  tirando-se  da  janella, 
se  recolheram  pêra  dentro.»  Francisco 
de  Moraes,  Palmeirim  dluglaterra,  cap. 


128 


IIKCO 


RECO 


RECO 


04.  —  «Acab;i'la  a  prova  da  copa,  o  im- 
perador Be  recolheu  a  hcu  apouHi;iiti),  to- 
mando primeiro  palavra  d  iloii/cdla,  <pio 
80  nílo  l'o.^^n  «om  nua  iici'.iii;a,  poripi",  <|Uo- 
ria  fpio  Ali>a\'z:ir  o  FloromlcM  j)rovasHuiu 
a  aventura,  croiido  qiiu  (sin  J-Morcndon 
Oitava  o  liiii  do  tildo.»  Idem,  Ibidem, 
cap.  !M .  "A  dima  se  recolheu  ao  cas- 
tello  csjiantada  da  iortaloza  do  rioii  vaio- 
dor,  o  duHoontijnto  do  n<ào  tor  com  (|uo 
lho  pa'<ar  títo  f^raudos  inorcÔH.»  Idem, 
Ibidem,  rap.  Il>.").  —  «Assim  amlainto, 
aiioitcecMi,  o  se  recolheram  ao  suu,  por- 
((uo  oin  torra  nílo  mo  tiaiiam  por  8o;:^ui'o.í, 
lomhrando-so  (juo  Har-so  na  vcrdado  do 
<|ii(Mii  a  iiilo  tom,  ó  poua  ou-salia.»  Idom, 
Ibidem,  cap.  117.  —  «FJ-roi  se  recolheu 
com  Albayzar,  quo  do  dcscontoiíto  nTio 
fallava  iicin  (picria  lho  falias.-<om;  quo 
isto  ó  condi(;ão  do  homons  afiastados.  A 
raiuUa  quizera  quo  cl-roi  nio  doixúra  ir 
o  cavalloiro  das  Doiizollas  :  o  ás  damas 
pesou  muito  mais;  porque  todas  sào  attoi- 
çoaclas  a  cousas  novas.»  Idom,  Ibidem, 
cap.  124.  —  «Por .Mil  dospois  que  olle  vio 
o  peso  da  gent'3  que  carre.njaua  .sobre  elle 
por  80  recollier,  vindo  aguillic)a  la  de  al- 
guns capitães  nossos  que  a  perseguia : 
não  a  po  lo  mães  entrot  ir,  e  p;)r  segurar 
sua  po>soa  dentro  dos  Jlouros  dan  lo  a  ri- 
beira por  arromba  la  de  todo,  recolheose 
pola  porta  da  cida  le  j:l  com  huma  lan^'a- 
da  no  ro.sto.»  João  de  Uarros,  Década  2, 
liv.  õ,  cap.  'J.  —  «Com  o  qual  cUe  man- 
dou o  adail  a  ver  vista  da  gente,  o  sobre 
este  homoin  chegou  outro,  e  disse  que  em 
outra  parte  macs  perto  vira  alguns  ho- 
mons que  se  recolhião  a  hum  teso  junto 
da  aguoa,  como  geito  que  não  ousaua  do 
sair  dali,  a  qual  toda  em  stni  trajo  erào 
dos  principaes,  que  lhe  parecia  poderem 
logo  sor  tomados.»  Idem,  Ibidem,  liv.  6, 
cap.  8.  —  «Porém  depois  que  vio  que 
sua  cHada  era  ociosa,  e  que  mais  damna- 
va  a  si,  do  que  aproveitava  aos  outros, 
tornoií-se  recolher  com  perda  do  alguma 
gente,  que  lhe  a  artilheria  dos  navios 
matou.»  liem,  Ibidem,  liv.  7,  cap.  õ. — 
«Ao  encontro  do  qual,  depois  que  foi  em 
torra,  (porque  de  industria  ao  desembar- 
car não  o  quizeram  impelir,)  sahiram 
liuns  poucos  do  Jáos  ao  modo  do  cilada 
do  denti'o  do  hum  palmar,  os  quaes  tan- 
to que  os  nossos  começaram  ferir,  fjram- 
se  recolhendo  pêra  o  palmar,  mostrando 
temor.»  Idem,  Ibidem,  liv.  O,  cap.  7. — 
«Feito  isto  por  se  vir  chegando  o  inver- 
no, recolheu-se  a  invernar  cm  Chaul, 
pelo  assi  mamlar  o  liovernador.  E  con- 
tinuando com  Diogo  da  Silveira,  foi  se- 
guindo sua  viagem  até  o  Oabo  de  (luar- 
dafúi,  onde  as  náos  que  vam  de  Achem 
pêra  Sloca  sempre  vam  demandar.»  Dio- 
go de  Couto,  Década  4,  liv.  8.  cap.  .'). 
—  «E  depois  de  ter  tu  lo  euibarea'lo, 
mandou  dar  fogo  á  tranqueira,  em  que 
toda  se  consumio.  Feito  isto,  recolhè- 
ram-se  pêra  Goa,   e   o  Acccdeean  man- 


dou logo  todos  os  Portuguozcs  quo  lá  ti- 
nha.» I  Icm,  Ibidem,  liv.  I(t,  cap.  í),  — 
«Jhn  ein  se  recolhendo  Hum  «airSo  do 
arraial  nuiitos  do  cauallo,  c  de  pi;,  (|ue  o 
seguiram  ate  ser  manhã,  tratindo  mal 
tola  a  compauiiia  despi nganladas,  seta- 
das,  o  sobro  tudo  do  pedradas,  que  fo- 
laõ  tantas,  que  ficou  aqu(dla  entrada  o 
nome  (ia<  ])o  Iradas.»  í! areia  de  Hezen- 
de,  Chronica  de  D.  João  II,  cap.  ^4.  — 
«S-iiào  que  chu  trinta  mil  Moens  nfín 
escaparão  mais  que  siis  oitocentos,  m 
quais  assi  feridos  e  desbaratados  se  reco- 
lherão ao  Meleytay,  deixando  no  campo 
dos  (iuzoiíto?  mil  do  lloy  do  líramaa  os 
cento  c  quinze  mil  mortos,  e  oi  outros 
quasi  todos  feridos.»  Fernão  Mondes  Pin- 
to, Peregrinações,  cap.  !.')().  —  «/Vs  fus- 
tas de  3Iiliquiaz  se  recolheram  pêra  den- 
tro o  que  também  fe/.eraõ  as  gales  de 
Jlirhocem,  o  que  vendo  o  comendador 
liai  soarez,  as  seguio,  com  a  sua  cara- 
uoUa  por  lho  seruir  a  viraçaiò,  c  maré,  e 
se  meteo  antro  duas  delias,  que  hiani 
juntas,  nas  quaes  mandou  lançar  em  ca- 
da huma  sua  ancora,  e  as  teue  aferradas 
ate  que  as  despejou  de  todo,  e  as  trouxe 
ambas  atoadas  a  nao  do  Vicerei,  e  assi 
se  acabou  de  desbaratar  de  toilo  a  ar- 
mada de  .Mirhocem.B  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  2,  cap.  30. 
—  «Ordenou  a  D.  Manoel  de  Lima,  que 
com  trinta  navios  avistasse  os  lugares  da 
Costa  de  Cambava,  e  os  abrazasse  todos, 
mostrando  ao  8oltão,  que  a  vingança  não 
acabara  na  victoria;  porém  que  na  Ci- 
dade do  (ioga  não  entrasse,  por  ter  avi- 
so, que  a  cila  se  recolhera  toda  a  gente 
que  escapou  da  batalha."  Jacintho  Frei- 
re d'Andralc,  Vida  de  D.  João  de  Cas- 
tro, liv.  3. 

—  Cobrir-sc. 

—  Recolher-se  em  si  mesmo;  abstrahir- 
se  das  cousas  externas. 

—  Contemplar. 

—  Communicar-se  menos,  a  poucos ; 
não  sabir  frequentemente. 

—  Acabar  de  fallar. 

—  Recolher-se  </  alma  a  si;  encolher- 
se  o  animo,  meíter-se  por  dentro. 

—  Ir-se  deitar  a  clormir.  —  «Porém 
temendo  que  no  modo  de  a  leixar,  acon- 
tecesse algum  desmancho  polo  desejo  que 
toda  a  gente  tinha  de  se  recolherem  ás 
nãos,  secretamente  o  comunicou  cõ  dõ 
António  de  Noronha,  e  com  alguns  capi- 
tães do  seu  voto:  e  despois  a  noite  ante 
de  se  recolher,  teue  g(*ral  conselho  cõ  to- 
dos, onde  lhe  propôs  o  que  elles  tinhão 
visto  e  passado.»  João  do  Barros,  Déca- 
da 2,  liv.  r>,  ea)i.  õ. 

—  Recolher-se  da  vista  de  ahjueut; 
perder-se  quasi  da  vista  dclle.  -^  «Re- 
colheose da  vista  d'aquella  ninUidào  de 
pouo  jiera  os  seus  paços,  que  erào  de  ma- 
deira laura  la  no  cabo  d'aqnelle  grão  ter- 
reiro, onde  outra  vez  com  sua  molhcr, 
filhos,    e   alguns  fidalgos   mães  acceptos. 


quis  de  vagar  vor  esta*  peça*.»  Joio  de 
Barros,  Década  1,  liv.  3.  cap.  0. 

--Recolher-se  jiara  o  cajtitwt-mór ; 
o  que  foi  destacado  a  alguma  diligencia, 
tornar-se  para  elle.—  «(.'oní  cr.ta'»  ava- 
lias se  recolherão  os  mais  pcra  u  Capitão 
niòr  que  sentio  em  estremo  aquelle  n<'go- 
cio,  e  o  houve  por  grande  mofina  «iia.» 
Diogo  de  ('o  ito.  Década  fi,  liv.  8,  cap.  12. 

—  Recolher-se  cnuuiitjo  lui  camum  do 
vosso  cotarão.  --  «Nam  hc  outra  com» 
entrar  no  deserto  i^ciiam  mctcrnos  p'ir 
dentro,  e  recolhemos  com  voico  na  ca- 
mará de  vosso  coraç.-im,  c  alli  deligente 
escodriídiardc',  e  trazerdes  aa  memoria 
todolos  vo-sos  peccado»  grandca  e  peque- 
nos, interiores  e  exteriores,  pêra  do  to- 
dos vos  doer  e  arrepender,  e  dcUes  fazer 
huma  inteyra  e  vordadovra  confissam.» 
Frei  Barthidomcu  dos  Jlartvre',  Catecis- 
mo da  doutrina  christã. 

—  Recolher-se  ao  Kmpi/reo;  ir  para  o 
Empyreo.  —  «Senhor  Jesus,  y'>é  viestes 
á  terra  evangelizar  o  Reyno  dos  Ceo»  : 
e  havendo  encommcmla  lo  a  vossos  Após- 
tolos, que  ])régassem  o  mesnio  a  toda  a 
creatura,  vos  recolhestes  ao  Empyreo. 
prometendo  tornar  no  ultimo  dia.»  Pa- 
dre Manoel  Bcrnarde-».  Exercícios  espiri- 
tuaes,  tom.  2,  pag.  30. 

—  Recolher-se  aos  bafeis.  —  «Auida 
esta  vitiiria,  da'ii  a  poucos  dia»  foi  Fer- 
nani  perez  cometer  o  lugar,  onde  se  Pa- 
ti-catir  fezera  forte,  de  que  ganhou  a 
primeira  tranqueira,  de  quatro  que  eram, 
man<!andolhe  logo  poor  fogo,  o  alguma» 
lancharas  que  ahi  estauam,  ao  que  acu- 
diram tantos  dos  de  Patecatir,  e  doutros 
que  lhe  tinha  mantbído  o  Príncipe  que  se 
tlesia  de  Malaca,  que  foraõ  constrangido* 
03  nossos  a  se  recolherem  aos  bateis.» 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  3.  cap.  28. 

—  Recolher-se  toda  a  gentt  aos  seu» ; 
acolher-se  aos  do  seu  bando,  ir  bu''cal-08 
para  fazer  corpo,  ou  para  se  defender 
com  elles.  —  «E  a  gentcib»  batalha  dei 
Rey  dom  Aftonso,  que  pollo  campo  anda- 
iia  perdida,  ounindo  as  trombetas,  o  tam- 
bores do  Prineipe,  e  vendo  as  fuirueyras 
que  no  cíim])o  mandou  fazer,  se  reco- 
Iheo  to  la  a  elle,  com  que  fez  huma  muv- 
to  grossa  batalha,  com  que  aquella  noite 
ficmi  pacifico  senhor  do  campo,  no  qual 
nào  ficou  nenhum  dos  Reys,  cuja  ha  cau- 
sa era.»  (Garcia  de  Rezende,  Chronica 
de  D.  João  II,  cap.  13. 

—  Recolher-se  "'  -*'"^i  pousada;  ir  para 
ella,  rcfugiar-se  ii'ella.  —  «Senhores,  e 
nobre  gei  to,  e  muytas  trombetas,  e  cha- 
ramellas,  e  sacabuxas,  se  recolhe©  a  sua 
pousada.  E  depois  ouue  em  casi»  do  mar- 
que/, muytos  diíis  de  festas  do  dança.«.  e 
muv  abastados  banquetes.  E  como  no- 
bre e  grande  senhor,  deu  algumas  da- 
diuas  honradas  aos  offioiaes  que  fizerRo 
seus  despachos. »  Garcia  de  Rezende, 
Chronica  de  D.  João  n,  cap.  70. 


RECO 


EECO 


RECO 


129 


—  Recoiher-se  para  o  fagode  otide  'pou- 
sava; ir  para  elle.  refiigiar-se  n'elle. — 
«Apo3  isto  se  recolheo  o  Talapieor  para 
o  pagode  onde  pousava,  acompanhado  de 
toda  a  gente  honrada  e  dos  embaixado- 
res, e  de  caminho  foy  gabando  a  deva- 
çào  do  Portuguez,  dizendo,  até  estes, 
ainda  que  bestiais,  e  sem  conhecimento 
da  nossa  verdade,  não  deixão  de  sentir 
que  he  cousa  santa  o  que  me  ouviaõ,  a 
que  todos  responderão  que  era  assi  sem 
falia  nenhuma.»  Fernào  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  127. 

—  Recolher-se  á  embarcação.  —  «E 
passada  huma  hora  de  tempo  ou  aquelle 
espaço  em  que  lhe  a  elle  parece  pouco 
mais  ou  menos  que  ellas  po  tem  ter  pos- 
to, torna  a  tocar  no  tambor,  e  ellas  se 
toroão  logo  todas  muy  depressa  a  reco- 
lher á  embarcação,  sem,  como  digo,  fi- 
car huma  sá  no  campo.»  Fernão  Mendes 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  97. 

—  Mesurar-se,  comedir-se  nas  preten- 
ções,  obrar  com  menos  soltura,  dissolu- 
ção. 

—  Recolher-se  wis  promessas,  despe- 
zas ;  restringir  as  que  ao  principio  se  fi- 
zeram com  largueza. 

—  Recolher-se  wj  hospital ;  ir  para  lá, 
acolher-se  nelle.  —  «Ha  também  na  Ci- 
dade hum  Sprital  em  que  se  recolhem,  e 
curam  muitos  pobres,  e  fora  delia  ha 
muitos  jardins  de  ortaliça,  e  boas  fruitas, 
a  terra  he  tam  fértil  que  ordinariamente 
colhem  de  hum  alqueire  de  paõ  que  se- 
nieam  tri-;ta.»  Damião  de  Góes,  Chroni- 
ca  de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  70. 

• —  Recolher-se  ao  navio;  entrar  n'elle. 

Traz  isto,  porque  ja  no  senhorio 
Entrava  pouco  a  pouco  do  Oriente 
O  tormeutoso  inverno,  húmido  e  frio, 
E  o  formoso  verão  lá  no  Occidonte, 
O  Cuuha  se  recolhe  ao  seu  navio, 
E  dividindo  o  mar  prosperamente, 
Ajudada  do  vento,  a  aguda  proa 
Sc  vai  passar  o  inverno  á  real  Goa. 

FRASCISCO  DE  ASDEADE,   PKIMEIBO  CERCO  DE  DIU. 

eant.  9,  e.st.  87. 

—  Recolher-se  ás  naus ;  entrar  nellas. 
^-  «O  bombardeiro  se  lançou  da  mesma 
maneira  com  huma  besta  debaixo  do  bra- 
ço, e  cahio  sem  perigar.  Acabado  este 
negocio  com  tanta  afronta  dos  nossos 
Afonso  dalbuquerque  se  recolheo  as  nãos, 
com  a  mais  gente.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  43. 

—  Recolher-se  para  suas  estancias.  — 
«Deuse  este  combate  desde  pela  manha 
ate  o  meo  dia,  a  qual  hora  os  imigos  se 
recolherão  pêra  suas  estancias,  ficando 
os  nossos  dando  muitas  graças  a  Deos 
pola  grande  mercê  que  lhes  fezera.»  Da- 
mião de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  2,  cap.  16. 

—  Recciher-se  em  boa  ordem;  retirar- 
se  ordeaadamente.  —  «Esta  peleja  du- 
rou mais  de  quatro  horas,   e  foi  tanta  a 

VOL.   V. 17. 


multidam  de  gente  de  pe,  e  cauallo  que 
sábio  da  cidade,  que  Nuno  feraandez,  e 
dom  Pedro  tomarão  por  partido  recolhe- 
rensse  em  boa  ordem  a  hum  porto  do 
rio  que  esta  junto  da  cidade,  com  todo- 
los  ilouros  de  pazes,  em  que  ouue  mui- 
tas voltas,  de  huma,  e  da  outra  parte 
com  mortos,  e  feridos  de  cada  huma  del- 
ias.» Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  3,  cap,  74. 

—  Figuradamente  :  Recolher-se   o  sol 
ao  leito  marinha;  pôr-se  o  sol. 

Outi'a  vez  aqui  faz  que  se  encolhesse 
O  Turco  Marinheiro  o  inchado  linho. 
Porque  quando  depois  .«e  recolhesse 
O  Sol  ao  usado  seu  leito  marinho. 
Quando  a  maré  vasava,  elle  podcsse 
Seguir  prosperamente  este  caminho 
Tanto  de  toda  a  gente  desejado, 
E  duas  vezes  já  cm  vào  tentado. 

FRANCISCO  d'axI)RADE,   PRIMEIRO  CERCO  DE  DIU, 

cant.  20,  est.  81. 


—  Recolher-se  a  frota. —  «Os  nossos 
estauão  ja  neste  tempo  mui  apertados, 
sofi-endo  muito  trabalho,  e  sobre  todos 
Afonso  Dalbuquerque  que  de  noite  nem 
de  dia  repousaua,  pêra  consolaçam  do 
que  lhe  começarão  George  da  cunha,  e 
Francisco  de  sousa  maneias  damutinar 
de  nouo  a  gente,  dizendo  que  era  por 
demais  querer  defender  a  cidade,  que 
pois  a  auia  de  perder  per  combate,  que 
melhor  era  deixala  sem  perder  gente,  e 
recolhersse  a  frota.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3,   cap.  5. 

—  Recolher-se  o  peixe  para  desovar 
nas  enseadas  ;  refugiar-se  n'ellas.- — «Por 
remos  trazem  huma  taboa  de  três  pal- 
mos, e  sem  mais  inuençào  tomão  infinito 
peyxe,  dentro  nas  enceadas  onde  elle  se 
recolhe  pêra  desouar.  Saõ  os  mares  de 
contino  nesta  paragem  grandes,  por  cau- 
sa das  correntes  do  Mar  Roxo,  e  conti- 
nuas as  tempestades  que  ja  mais  aqui 
faltão.»  Fr.  Gaspar  de  S.  Bernardino, 
Itinerário  da  índia. 

—  Recolher-se  com  Deus;  meditar  n'el- 
le  profundamente. 

—  Substantivamente  :  Facto  aconteci- 
do ao  recolher.  —  «O  qual  feito  assi  aos 
Mouros,  como  aos  ncssos  custou  mui- 
to sangue,  e  da  nossa  parte  morreram 
dezesete,  e  delles  ficaram  no  campo  mui- 
tos mortos,  assi  ás  lançadas,  como  da 
artilheria  que  lhe  tirou  do  muro  ao  reco- 
lher dos  nossos.»  Barros,  Década  2,  liv. 
6,  cap.  10.  —  «E  logo  aquella  noite,  no 
quarto  da  prima  per  auiso  dos  espias  que 
trazia,  foi  dar  em  hum  lugar  muito  gran- 
de dos  imigos,  o  qual  queimou,  e  matou 
muitos  dos  que  nelle  moravam,  com  tudo 
ao  recolher  que  era  ja  no  romper  da  al- 
ua achou  alguma  resistência  de  Xaires, 
de  que  matando,  e  ferindo  alguns  delles 
fez  fugir  os  outros.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  87. 
—  « E  por  se   desmandarem    alguns   que 


chegaram  ao  pé  do  castello  foi  necessá- 
rio socorreremnos,  por  ja  andarem  mal- 
tratados da  gente  do  Serife,  de  que  fo- 
ram postos  em  tanto  aperto  ao  recolher, 
que  a  mor  parte  assi  dos  christãos  como 
dos  mouros  de  pazes  se  começaram  a 
desbaratar.»  Ibidem,  part.  3,  cap.  73, 

RECOLHIDA,  s.  f.  Acção  de  se  reco- 
lher, retirar  em  feito  de  guerra;  reti- 
rada. 

—  S.  f.  plur.  Mulheres  que  vivem 
reclusas,  em  clausura  voluntária,  ou  obri- 
gada. —  As  recolhidas  das  orphSs. 

'  REGOLHIDAMEOTE,  adv.  (De  recolhi- 
do, e  o  suífixo  « mente) j.  De  um  modo 
recolhido. 

—  Em  recolhimento,  retiro.  —  Viver 
recolhidamente. 

RECOLHIDO,  part.  i)ass.  de  Recolher. 
Retirado,  refugiado.  —  «Pois  Palmeirim, 
vendo  que  sua  partida  se  chegava,  não 
passou  aquelle  dia  em  contentamentos  ; 
antes  da  própria  maneira,  recolhido  em 
sua  pousada,  só  com  Selvião,  dizia  cou- 
sas muito  pêra  haver  dó  delle.»  Fi-ancis- 
co  de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  95.  —  «Garcia  de  Sousa,  que  esta- 
va no  cubello  recolhido,  quando  vio  vir 
estes  Fidalgos  que  aqui  escaparam,  e  se 
acolhiam  ao  sob  pé  do  seu  cubello,  hou- 
ve que  tivera  bom  conselho  em  não  sair 
dalli.»  Barros,  Década  2,  liv,  7,  cap.  9. 
—  «Onde  steve  quatro  dias,  acabados  os 
quaes,  tendo  os  de  Tanger,  e  Darzilla 
descuberto  o  campo,  sendo  certificados 
per  alguns  mouros  que  tomarão,  que  toda 
aquella  gente,  que  andaua  esperando 
dom  Duarte,  era  recolhida  elle  se  foi 
pêra  Tanger  em  paz,  com  ha  parte  que 
lhe  coubera  da  caualgada.»  Damião  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  4, 
cap.  22. 


Com  alvoroço  grande,  e  com  grào  gosto 

Este  recado  entào  foi  recebido 

Do  Cambaio  esquadrão,  porque  disDOSto 

Cuida  que  tem  o  imigo  a  ser  vencido. 

Logo  para  a  Cidade  muda  o  posto, 

Onde  foi  dos  de  dentro  recolhido 

Cora  cousas  que  á  tristeza  são  contrarias, 

Tanger,  cantos,  folias,  luminárias. 

F.  d'axdbade,  prlmeiko  cebco  de  DIU,  cant.  11, 
est.  68. 


—  Recolhido  dentro  cVella;  mettido  den- 
tro. —  «Elle  porque  a  agua  lhe  começa- 
va a  fallecer,  conveio-lhe  arribar  á  Ilha 
Gamaram,  onde  achou  duas  náos  chega- 
das á  terra  firme  despejadas  de  quanto 
tinham,  e  recolhido  tanto  dentro  delia, 
que  não  pudessem  os  nossos  lá  ir.»  Bar- 
ros, Década  2,  liv,  8,  cap.  2. 

—  Recolhido  em  taes  idêas ;  concentra- 
do n'ellas. 


Em  taes  idéas  recolhido  estava, 

Dentro  em  mim  mesmo  contemplando  o  Quatho, 

Que  hc  sempre  antigo,  e  novo,  e  sempre  hebello  ; 


1:50 


IIKOO 


UECO 


REC(J 


PoÍ8  lin  obru  de  hum  Dciih  ii  Nuturczií. 
lio  e»ttí  o  meu  pruíor,  o  «rttiido  lio  eiito  ! 

J.  A.  Dl',  UACKDO,    VIA<ii:U  KXrArli;A,  cuiit.    I. 

—  Encerraílo,  incttiilo,  introfluzido.  — 
«O  pccciído  (lo  lium  ( 'lirintílo  he  mais 
f^ravo  :  jjor(|U()  levando  diaiiti;  a  luz  da 
Fé,  ainda  tmjxira ;  o  recolhido  dentro 
da  arca,  ainda  naufraga  ;  e  eonliocendo 
a  ( 'lirinto,  o  crucilica  eonio  os  Judeos, 
que  o  naõ  conluicoraõ.»  Padre  Jlanofl 
Bernardeíi,  Exercícios  espirituaes,  jiart. 
1,  pa^'.  214. 

—  (iuardado,  arrecadado.  —  «Reco- 
lhidos 09  mantimentos  necessários  á  fro- 
ta, ([ue  foi  o  mor  despojo  ([uo  aeliaram, 
Afonso  Dalbuquerque  mandou  cortar  as 
orelhas,  e  narizes  a  todolos  mouros  que 
se  alli  tomaram,  c  os  deixou  em  terra, 
c  fez  poer  fo;^o  a  cidade,  e  a  mesquita, 
que  era  Imma  fermosa  casa  c  a  xxvij 
nãos  antre  grandes,  e  pe([uenas.»  Da- 
mião de  does,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  2,  cap.  36. 

Chegando  ao  galeão,  ja  apercebido 
Está  o  Cunha,  e  com  boa  companhia, 
Al)  bordo  o  vai  tomai*,  o  co"o  devido 
(iiizalhado  o  recebe,  e  cortczia. 
'J'ambcai  no  galeão  foi  recolhido 
Qualipier  dos  que  na  fusta  ElRei  trazia, 
Antes  todos  diante  cntrão  agora 
E  todos  os  barretes  levão  fura. 

FRANCISCO    DU    ANDKADK,    PRIMEIRO    CERCO  DE  DIU, 

cant.  G,  est.  lí>. 

—  Recolhido  nas  embarccK^Ties ;  mettido 
n'ella9. —  «E  tornandose  António  de  Fa- 
ria a  recolher  muyto  depressa,  os  dons 
ermitães  quasi  a  rasto,  e  com  as  bocas 
tapadas,  chegou  onde  as  embarcações  es- 
tavào,  e  recolhido  nellas  se  fez  logo  á 
vcUa  com  muyta  pressa,  e  se  foy  pelo 
rio  abaixo.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pere- 
grinações, cap.  78. 

—  Recatado,  retirado.  —  «Usam  de  ar- 
rebique e  alvayade  muito  bom  assentado. 
Sam  comnnmente  muito  recolhidas,  do 
maneira  que  por  toda  ha  cidade  de  Can- 
tam nam  parecia  nhuma  molher,  se  nam 
eram  algumas  estalajadeiras  e  mulheres 
baixas.»  Frui  (íaspar  da  (?ruz,  Tratado 
das  cousas  da  China,  eap.  15. 

—  Figuradamente:  Recolhido  cm  seus 
olhos;  modesto,  composto,  não  ciumoso  de 
olliar. 

—  Recolhido  na  cadèa;  preso,  cncar- 
cei*ado. 

—  Colhido,  apanhado,  tomado. 

—  CabeUo  recolhido ;  cabello  em  rede, 
coifa. 

—  Substantivamente :  Pessoa  que  vive 
cm  um  mosteiro  como  secular,  aggregado 
a  elle. —  Um  recolhido.  —  As  recolhidas. 


Foz  isto  o  Capitão  por  ter  sabido 
(Se  eu  mal  não  adx-inho  o  seu  intento) 
Quo  estando  na  abertxira  hum  recolhido 
Não  pi5do  outro  lá  ter  recolhimento, 


1'  ^110  o  que  lá  estiver  dentro  mettido 
SiMii  ncuhuiii  ri«<»  *;u,  ou  detrimento. 
Dl',  lá  fará  f,'rão  dainiio  á  gciito  imiga 
No  meio  da  cruel,  áS|K'ra  briga. 

rilASrlSCO   I)K  AMillAn)-      lumi  liin  (  i  |i<  m    !.K    DIU, 

cant.  1'J,  08t.  21. 

—  «O  qnal  no.s  acompanhou  sempre 
pelo  rio  Acará,  até  nos  recolhermos. 
N'este  sitio  d(!scançamos  um  dia;  e,  no 
seguinte,  depois  do  fallarmos  á  senhora 
do  Balthasar  do  Kego  e  a  suas  lilhas, 
lionrada  iii.itroiia  e  perfeitas  damas,  e  ai 
mais  recolhidas  que  ha  cm  o  Pará,  sem 
que  admitam  visita  alguma,  nem  de  seus 
primos  e  menos  do  padres ;  tal  foi  a  cau- 
tella  de  seu  pao,  que  achou  a  cidade  n'a- 
quelle  tempo  adultera,  incestuosa  o  sa- 
erilega.»  Bispo  do  Orào  Pará,  Memorias, 
publicadas  por  Camillo  Castello  Pranco, 
pag.  2n<(. 

RECOLHIMENTO,  s.  m.  AcçSo  de  re- 
colher, de  retirar. 

—  Acto  do  i-ecolher-se,  de  retirar-se. 

—  Casa  de  morar. 

Fronteiro  a  esta  Cidade  que  nomeio 
Lá  da  parte  onde  a  tirmo  terra  fica. 
Está  hum  logar  de  branca  areia  cheio, 
Iluma  Villa  aqui  o  Tártaro  edifica; 
A  qual  para  de  nada  ter  receio 
Com  grosso  muro  cerca  e  fortofica, 
E  tal  foi,  (|uo  podião  neste  assento 
]>cm  mil  visinhos  ter  reeolliimento. 

FRANCISCO  d'anDBADE,  PRIMEIRO  CEBCO  DE  DR", 

cant.  5,  est.  30. 

Manda  a  João  da  Costa  que  cm  si  tinha 
Os  segredos  do  Reino  do  Oriento, 
Que  a  hum  negocio  quo  muito  lhe  convinha 
Vá  co"os  dous  companheiros  juntjimentc. 
I)iz-lhes  que  vão  ás  casas  da  Rainha 
Jlàc  do  Sidtào,  que  estava  dalli  ausente, 
E  que  entrem  também  lá  nesse  aposento 
Que  dava  ao  morto  Rei  recolhimento. 
IBIDEM,  cant.  8,  est.  50. 

—  Encerramento,  recato,  sem  conver- 
saçijes,  sabidas,  passeios  c  outras  distrac- 
yÕes.  —  d  E  conhecendo  a  Kainha  que  o 
peso  do  gouerno  do  regno  era  mui  traba- 
lhoso, e  que  por  suas  mas  disposiçoens  o 
nam  podia  sofrer,  desejosa  de  sua  conso- 
lação, e  recolhimento,  nas  cortes  que  se 
fezeram  cm  Lisboa  no  anuo  de  mil,  e 
quinhentos,  e  sessenta,  e  dous  o  renun- 
ciou neste  esclarecido  Príncipe,  o  qual 
olle  aceptou  com  muito  amor  do  seniiço 
de  Deos,  e  dei  Rei  seu  sobrinho.»  Da- 
mião de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  3,  cap.  27. 

—  Logar  onde  se  recolhe,  guarda,  ou 
encerra  alguma  cousa,  receptáculo.  —  »0 
qual  negocio  se  fjxzia  em  hum  recolhi- 
mento de  madeira  tão  perto  das  nãos, 
que  ainda  que  a  terra  fosse  suspeitosa,  o 
sitio  do  lugar  e  favor  delias  os  segunma 
de  qualquer  temor.»  Barros,  Década  1, 
liv.  G,  civp.  7. 

—  Casa  de  religião,  ou  retiro  do  mun- 
do, sem  votos  religiosos. 

—  Abstracção  das   cousas,   quo  o  dis- 


trahiam,  ou  meílitação  e  ponderação  pro- 
funda sem  distracção.  —  « < »  ditof^a  alma 
que  eontinuamento  se  ap|iliea  a  guar- 
da do  eoraç?lo  i)uro,  e  recolbimeato  san- 
eio, e  a  mortificação  do  amor  projjrio,  o 
de  sua  própria  vontade  uegundo  a  parto 
inferior,  coiitrastandoa,  ]>urqui5  a  tul  al- 
ma cada  dia  mais  ce  chega  a  De<jK,  bwus 
potencias  se  cifnrçAo  maiu,  e  rc«iplande- 
crm  como  estreitas,  e  se  faz  apta,  e  idó- 
nea pêra  contemplar  a  alteza  da  diuindade 
com  a  vi.-ita  intellectual  sincera,  e  gf>zo- 
■sa.»  Fr.  Barthohinieu  df>s  Martvres,  Com- 
pendio de  espiritual  doutrina,  enp.  11.  — 
'.Mas  o  pen.samento  anda  destrabido  em 
varias  partes  sem  trabalho,  sem  recolhi- 
mento, e  sem  fruito,  porque  facilmente  he 
leuado  de  varies  objeet"«,  o  representa- 
çijes  de  parte  pêra  outra  destrabido.  >  Ibi- 
dem, cap.  12. 

—  Recolhimento  rios  fructos ;  colhimen- 
to,  colheita  d'elles. 

—  Retirada.  —  Recolhimento  do  exer- 
cito francez. 

—  Recolhimento  do  porto  de  mar  a 
corsários;  abrigo,  estada,  acolhimento. 

—  Figuradamente :  Recolhimento  dos 
olhos;  baixos,  que  não  se  empregam  em 
objectas  euriíisos. 

—  Recolhimento  de  ladroes;  a  colheita 
d'elles. 

—  Asylo,  abrigo,  refogio,  conto,  aco- 
lhida, acolhimento. 

Fez-se  isto  entrando  o  mez  que  a  fiel  gente 
Do  Eterno  Rei  celebra  o  nascimento, 
CorUindo  o  mar  a  armada  vai  contento 
Com  grão  favor  das  ondas  c  do  vento : 
E  tal  foi,  que  tomou  mui  brevemente 
Lá  dentro  em  Baçaim  rerothimfnJo. 
Cahe  a  ancora  da  proa,  o  fimdo  atVarra. 
Soa  o  canhão  no  mar,  soa  na  torra. 

FBASCISCO  DE  AXDtt.VDE,  PRIMEIRO  CEBCO  DE  DIC, 

cant.  (5,  est.  29. 


=  Termo    pouco    em 
refugio. 


RECOLHO,   s.  m. 
uso.  Recolhimento. 

—  Abiiiro,  asvlo, 
RECOLLEIÇÃO,  .'.  /.  Vida  recolhida. 

—  Ca-a.  niigiào,  ordem  de  recolhidos. 
RECOLLIGIR,    v.  a.    Colligir  de  novo, 

colligir  segunda  vez. 

—  Recolher,  compilar,  ajuntar  cm  col- 
lecçào. 

RECOMEÇAR,  r.  a.  Tornar  a  começar, 
comeear  d.'  novo,    eomeç.ar  segunda  vez. 

RECOHER,  V.  <í.  Rmniar. 

RECOMIDO,  )''irt.  pass.  de  Recomer. 

RECOMMENDAÇÃO,  s.  f.  Acção  de  re- 
commendar  alguém. 

—  Caracter  que  torna  recommendavcl. 

—  Diz-se  também  d.-is  cousas  que  ser- 
vem de  recommendaçào. 

—  Em  recommendaçào;  digno  de  ser 
estimado,  fallando  da^  cousas.  —  Tomo 
e^ta  carta  em  recommendaçào. 

—  Caiia  de  recommendaçào  ;  carta  a 
favor  d'al,gtiem. —  «Ao  outro  dia  tornou 
o  Christào  Arábio,  porá  coelle,  meu  com- 


RECO 


EECO 


KECO 


131 


panlieiro,  e  eu,  e  o  nosso  lingoa,  liirmos 
visitar  el  Rey,  pêra  quem  eu  trazia  liu- 
ma  carta  de  recommendação,  a  qual  Do 
Pedi-o  Coutinho  me  dera  em  (Jrmus,  quan- 
do delle  me  despedi.»  Fr.  Gaspar  de  S. 
Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap.  17. 

—  Plur.  Lembranças  que  se  mandam 
a  alguém,  recommendando-se  em  seu  fa- 
vor, graça,  amizade. 

RECOMMENDADO,  ;>arf.  pass.  de  Re- 
commendar. 

—  Recommendado  na  cadèa ;  embarga- 
do n"ella  por  causa  differente  d'aquella 
por  que  estava  preso. 

—  Recommendado ;  protegido. 

—  .'substantivamente :  O  meu  recom- 
mendado; o  meu  protegido,  o  meu  afi- 
lhado. 

RECOMMENDADOR,  A,  s.  Pessoa  que 
recommeiida. 

RECOMMENDAR,  v.  a.  (Do  prefixo  re, 
e  do  latim  commendare).  Pedir  para  ser 
prospere,  fallando  das  pessoas  por  quem 
se  interessa.  —  Recommendam-se  algumas 
vezes  jtessoas  que  não  ruereceni  ser  recorn- 
mendadas. 

—  Recommendar  a  alma  a  Deus;  en- 
commendal-a,  pedir-lhe  que  tenha  pieda- 
de d'ella. 

—  Louvar. 

- —  Tornar  recommendavel. 

—  Diz-se  dai  cousas  pelas  quaes  se 
pede  que  se  preste  attençào,  e  se  tome 
na  devida  consideração. 

—  Ordeuar  a  alguém,  encarregal-o  de 
fazer  alguma  cousa. 

—  Exhortar.  ac  inselhar  fortemente.  — 
Recommendo-vos  que  sejaes  prudente. 

—  Recommendar  um  segredo  a  alguém; 
pedir-lhe  para  o  guardar,  e  não  o  reve- 
lar. 

—  Recommendar-se,  v.  re^^.  Reclamar 
o  soccorru.  a  protecção,  os  bons  serviços 
d 'outrem . 

—  Tomár-se  recommendavel.  ■ — •  Este 
homem  não  se  recommenda  por  nada. 

—  Merecer  apreço,  estima,  ser  atten- 
divel._ 

—  É  também  uma  expressão  de  delica- 
deza e  civilidade.  Vid.  Recommendação 
(jjlural  . 

RECOMMENDAVEL,  adj.  2  gen.  Que  é 
digno  de  recommendação,  estimável. 

—  Diz-se  também  das  cousas.  —  A  no- 
breza ê  recommendavel. 

-;-  RECOMMENDAVELMENTE,  adv.  (De 
recommendavel,  e  o  suífixo  «mente»).  De 
um  modo  recommendavel. 

RECOMPENSA,  s.  f.  Reconhecimento 
de  um  serviço.  — Em  recompensa  de  sua 
dedicação.  —  «Contra  o  voto  do  qual  hou- 
ve outros,  que  eram  remirem  este  nego- 
cio por  alguma  boa  somma  de  dinheiro, 
dizendo,  que  entregues  os  cativos  com 
mais  este  dinheiro  em  recompensa  do 
damno  que  era  feito  ao  primeiro  Capitão 
que  alli  veio,  seriamos  satisfeitos.»  João 
de  Barros,  Década  2,  liy.  6,  cap.  3. 


—  Em  sentido  contrario,  castigo.  — 
Receber  a  recompensa  do  seu  crime. 

—  Compensação,  resarcimento,  repara- 
ção. —  Para  recompensa  de  seus  serviços, 
concedeu-lke  uma  pensão. 

—  Encontro,  desconto  de  dividas. 
RECOMPENSAÇÃO,   s.  f.  Recompensa. 

—  Figiu-adamente  :  Indemnisação,  sa- 
tisfação, emenda. 

RECOMPENSADO,  part.  pass.  de  Re- 
compensar. 

—  Figuradamente :  Amor  mal  recom- 
pensado ;  amor  mal  retribuído. 

RECOMPENSADOR,  A,  s.  Pessoa  que  re- 
compensa, remunerador. 

—  Adjectivam  ente:  Deus  recompensa- 
dor. 

RECOMPENSAMENTO,  s.  m.  Termo  an- 
tiquado. Keconipensaçâo,  remuneração. 

■ —  Premio,  galardão. 

RECOMPÈNSÃO,  s.f.  Recompensa,  pre- 
mio, recompensamento. 

RECOMPENSAR,  v.  a.  Dar  uma  recom- 
pensa a  alguém. 

—  Fazer  alguma  cousa  por  uma  recom- 
pensa. —  Recompensar  o  trabalho,  a  pe- 
na. —  As  honras  são  instituídas  para  re- 
compensar o  mérito. 

—  Por  antiphrase :  Castigar. 

—  Indemnisar,  compensar. 

- — Recompensar  o  tempo  perdido;  re- 
cuperal-o.  reparal-o. 

RECOMPOR,  1-.  a.  (Do  latim  recompone- 
re).  CompOr  de  novo.- — A  natureza  de- 
compõe, constroe,  ordena,  etc,  e  neste  gran- 
de cimos  recompõe  os  mundos. 

—  Termo  de  chimica.  Reunir  os  ele- 
mentos separados.  —  Recompor  a  agua 
com  oxygeneo  e  hydrogeneo. 

RECOMPOSIÇÃO,  s.  /.  Acto  de  recom- 
por uiua  pagina  ou  uma  folha  de  impres- 
são. 

—  Termo  de  chimica.  Acto  de  recom- 
por uma  substancia  ;  resultado  d'este  acto. 
—  As  fiincções  da  nutrição  são  productos 
ou  resultados  de  verdadeiras  operações  de 
chimica,  de  composições  e  recomposições 
devidas  ás  forças  de  attracçòes  eléctri- 
cas. 

RECOMPOSTO,  part.  pass.  de  Recom- 
por. —  A  agua  decomposta,  e  depjois  re- 
composta. 

RECÔNCAVO,  s.  m.  O  espaço  gi-ande  da 
terra  que  f  Jrma  tuna  espécie  de  figura 
concava  ou  semi-circular. 

—  A  comarca  ou  terra  circumvisinha 
de  uma  cidade,  ou  porto. 

RECONCENTRAÇÃO,  s.  /.  Acção  de  re- 
coucentrar-se,  de  recolher-se  no  centro  e 
interior. 

—  Emprega-se  também  no  sentido  fi- 
gurado. 

RECONCENTRADO,  part.  j^ass.  de  Re- 
concentrar.  Recolhido,  profundamente  es- 
condido no  centro,  ou  no  interior.  — Eaii- 
cor  reconcentrado. 

—  Homem  reconcentrado;  liomem  re- 
trahido. 


—  Termo  de  chimica.  Excessivamente 
forte. 

— Espíritos,  licores  reconcentrado s ;  es- 
pirites, licores  que  são  segiinda  vez  dis- 
tillados,  ou  sublimados. 

RECONCENTRAR,  v.  a.  Recolher  no  cen- 
tro, no  interior. 

—  Occultar  profundamente,  ou  pene- 
trar muito. 

—  Reconcentrar-se,  f.  rejl.  Recolher- 
se  no  centro,  no  intimo. 

■ —  Emprega-se  também  no  sentido  fi- 
gurado. 

RECONCILIAÇÃO,  s.  m.  (Do  latim  re- 
conciliatio) .  Restabelecimento  da  amiza- 
de entre  pessoas  inimigas.  ■ —  «Passados 
estes  vinte  dias  em  que  os  feridos  guare- 
ceraõ  sem  em  todo  este  tempo  aver  entre 
nós  reconciliação  da  desavença  passada, 
nos  embarcamos  ainda  assi  malavindos 
com  este  cossayro,  os  três  no  junco  em 
que  elle  hia,  e  os  cinco  no  outro  de  que 
era  Capitão  himi  seu  sobrinho,  e  partidos 
daquy  para  hum  porto  que  se  chamava 
Lailoo,  avante  do  Chincheo  sete  legoas, 
e  desta  ilha  oitenta,  seguimos  por  nossa 
derrota  com  ventos  bonanças  ao  longo  da 
costa  de  Lamau,  espaço  de  nove  dias.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações,  ca- 
pitulo 132. 

—  Termo  de  religião.  Acto  pelo  qual 
Jesus  Christo  reconciliou  os  homens  com 
Deus. 

—  Acto  solemne  pelo  qual  um  herege 
é  recebido  no  seio  da  Egreja. 

—  Xova  benção  de  uma  egreja  profa- 
nada. 

- —  Confissão  que  suppre  o  defeito  da 
que  se  fez  mal  por  algum  esquecimento. 

RECONCILIADO,  part.  pass.  de  Recon- 
ciliar. Coi.duzido  á  amizade,  á  paz. 

—  Inimigos  reconciliados;  inimigos  que 
renunciaram  reciprocamente  á  sua  inimi- 
zade. 

—  Que  fez  a  paz  com  Deus.  —  «E  to- 
dos estes  ditos  que  dizemos  estarem  fora 
da  vnidade  da  igi'eja,  e  em  nenhuma  ma- 
neira se  podem  saluar,  e  receber  a  graça 
do  Senhor,  se  primeiro  nam  fora  recon- 
ciliadados,  e  restituydos  à  mesma  vni- 
dade da  igreja,  porque  como  disseram 
sam  Cypriano  e  sam  Augustinho,  Xam 
terá  a  Deos  por  padre,  quem  não  quiser 
ter  a  igreja  por  madre.»  Frei  Bartholo- 
meu  dos  Martyres,  Catecismo  da  dou- 
trina christã. 

RECONCILIADOR,  A,  adj.  Que  produz 
reconciliação.  —  Modos    reconciliadoras. 

—  Substantivamente :  Pessoa  que  re- 
concilia.—  Offcrece-se  como  reconciliador. 

RECONCILIAR,  v.  a.  (Do  latim  recon- 
ciliare).  Restabelecer  a  amizade  entre 
pessoas  inimigas,  a  paz  entre  inimigos.  — 
«O  que  feito  se  fez  a  vela  para  Cochim, 
mandando  diante  loão  homem  com  a  no- 
va do  que  fezera,  cuidando  que  por  alui- 
çara.s  delia  o  reconciliasse  com  seu  pai, 
mas  isto  Ihç  .íoççdeo  ao  contrario,  porquo 


Vi-2 


KECO 


UKCO 


Ri:c(j 


o  Vicorci  otn  lugar  da»  alviBarao  Uio  ti- 
rou ;i  capitíiniii  da  faríiiiclla,  (!  iloii  a 
Niliif»  va/,  |ii'i'(!Íi;i.  II  Daiuiilo  <li;  'íoCH, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  2,  capitu- 
lo 7. 

--  Tormo  do  rcligijlo.  Fazor  a  ]iaz  do 
homem  com  Deus.  —  Reconciliamos  os 
•pticcadores  no  tribunal  da  jicuitenrid.  — 
«10  daqui  collip;irils  duas  cousas  :  primei- 
ra ;  (piam  miserável  era  o  estado  de  tua 
alma:  sofíunda;  (piauta  demonstração  foy 
da  piedade  desta  Senhora  ])ara  eoiitif^o, 
di^nar-so  de  jiôr  cm  ti  os  olhos  para  re- 
conciliar-te  com  s<!u  Fillio.»  Tailie  Ma- 
iiocd  liernardes,  Exercícios  espirituaes, 
part.  1,  pag.  122. 

—  Entre  os  catholicos:  Reconciliar  »»i 
hcrc.fid,  um  peccador;  dar-lhe  a  absolviçilo, 
depois  (jue  abjurou  ou  fez  penitencia. 

—  Reconciliar  uma  ec/nja ;  abençoal-a 
quando  se  ])rofanou. 

—  Pôr  d'accordo,  conciliar,  fallando  de 
cousas. 

—  Admittir  de  novo  il  communhão. 

—  Reconciliar-se,  i".  rejí.  CWciliar-sc 
de  novo,  ganhar  novamente  seu  favor. 

—  Pra"-se  bom  com  alguém.  —  «E  que 
também  se  queria  reconciliar  com  seu  íi- 
Iho,  e  que  assim  esperava  em  Deos  do 
])ouco,  o  pouco  hir  nioveuilo  os  seus  vassal- 
lo3,  pêra  que  se  rizessem  Cbristàos.»  Diogo 
de  Couto,  Década  G,  liv.  8,  cap.  6.  —  «Este 
IMolei  beua.luxera  andando  assi  no  aeruiço 
dei  liei  dom  Emanuel  toue  modos,  o  meos 
de  se  reconciliar  com  ol  Rei  de  Fez,  o 
se  otlereceo  a  lhe  leuar  jior  engano  huma 
boa  companhia  do  Christãos  captiuos,  do 
que  dom  Aluaro  tendo  suspeita  nam  quis 
dar  mais  licença  a  Diogo  de  mello  pura 
ir  com  elle  fazer  entrada.»  Dami.ão  de 
Ooes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  4, 
cap.  59. 

—  Tornar  si  amizade  antiga. —  «Neste 
tempo  lhe  cscreuoo  Moleinacer,  por  mes- 
sageiro  expresso,  dizendo-lho  que  lhe  de- 
ram nouas  daquella  sua  ida,  quo  se  de- 
torminaua  de  se  reconciliar  com  el  Rei  de 
Fez  seu  irmam,  quo  aqucUo  era  ho  tem- 
po, que  lançasse  niam  dos  Chi-istàos  quo 
com  elle  estanam,  e  contra  os  outros  co- 
meçasse de  fiizor  guerra,  senam  que  se 
ouuesse  por  destroido,  porque  elle  o  hauia 
logo  de  vir  buscar,  e  quo  nesta  demanda 
era  forçado  pcrdorsso  hum  dclles.»  Da- 
mião de  Ooes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  4,  cap.  (54. 

—  Reconciliar-se  com  Deus ;  pedir  a 
Deus  perdão  dos  peccados,  e  receber  a 
absolvição  das  faltas  commettidas, 

—  Entre  os  eatholicos,  diz-se  quando 
pouco  tompo  depois  do  se  confessar,  volta 
ao  confessionário  para  se  accusar,  antes 
de  eonnnungar,  de  algumas  faltas  leves 
commettidas  no  intcrvallo,  ou  de  pecca- 
dos quo  tenham  esiniecido. 

f  RECONCILIATORIO,  A,  adj.  Que  tem 
a  virtudi"  do  reconciliar.  —  Os  meios  rc- 
conciliatorios. 


RECONCILIAVEL,  odj.  2  «/./<.  Que  «e 
p()do.  )'o((iiicili.ir. 

RECONCOVIO,  ».  7/1.  Termo  p(q)alar. 
Esconiji-ijo  o  mais  intimo  c  interior  de 
alguma  cousa. 

—  Tormo  usado  pela  populaça  para 
denotar  oh  gesto»  e  modo»  de  quem  na- 
mora e  ri -(j nesta. 

RECÔNDITO,  A,  adj.  (Do  latim  vecon- 
dÀlusi.  Occidto,  encoberto. 


(^uo  nos  vcioa  recomlilos  da  pcdru 

Occiílta  jsu,  muH  Mubito  Hciíitilla 

Do  rijo  forro  iio  polpo  rc|ioti(lo  ; 

Tal  da  liiunaiia  razáo  o  ctlii'-roo  r^uiiic 

l'(iniiaiicceo  por  bcuuIos  h  in  brillio ; 

Mas  cm  cm  fim  ra/.iio,  biMii  como  lic  fof^o 

O  sol  ilida  ([im  envolto  oin  pardas  nuvons. 

J.   A.   DE  MAOKDO,  MEDITAÇÃO,  Cant.    1. 


A  conhecer  recônditos  priucipioa 
Das  cousas,  c  seus  grilos,  seu  tempo,  c  marcha, 
Que  ás  cousas  tom  marcado  a  Mão  do  Eterno, 
Deste  Nume  Imraortal  lhe  aponto  a  Essência, 
Quo  Elle  faz  conhecer  nas  obras  suas. 

IDEM,  VIAGEM   EXTÁTICA,  Cant.    2. 


Desta  esfera  naquella  ousado  foste 
Correr  de  Sol  em  Sol,  sem  deslumbrar-to. 
A  recniidita  Lei  tu  nos  revelas, 
A  sempiterna  Lei,  que  chama  os  Astros 
Para  hum  centro  coinmum  ;  a  Lei  que  os  força 
A  descrever,  sem  descançar,  a  Curva, 
Com  que  cm  torno  do  centro  o  giro  absolvem. 
IBIDEM,  cant.  3. 


Então  lhe  manda  o  Samorim  que  ouvisse 
A  recôndita  voz  do  immobil  Pado  ; 
Que  o  subterrâneo  pavoroso  abrisse. 
Do  povo  aos  olhos,  e  dos  Reis  vedado : 
t>ue  do  novo  no  altar  sangue  espargisse, 
Com  ([uo  lie  do  Inferno  Lúcifer  diamado ; 
Que  ouvir-lhe  faça  o  oráculo  recluso, 
Que  a  sorte  exponha  do  potente  Luso. 

IDEM,  OUIENTE,  Cailt.    IL 


—  Não  vulgar,  profundo.  —  òVíier  re- 
côndito. 

—  Sertão  recôndito ;  sertão,  cujo  in- 
terior c  desconhecido. 

—  Tambcin  se  usa  substantivamente. 
—  O  recôndito  dn  luinha  vontade. 

RECONDirORIO,  .«.  m.  Local  onde  sa  es- 
conilo.  euardn,  ou  occulta  alguma  cousa. 

RECONDUCÇÃO,  «.  /.  Prorogaç.^io  do 
j,uiz,  ou  magistrado  na  mesma  magistra- 
tura, ou  logar  que  occupava. 

—  Reforma  do  contracto  para  outros 
prazos. 

RECONDUZIR,  v.  a.  (Do  latim  recon- 
duccn).  Tornar  a  prover  ou  a  fazer  no- 
va incrcò  (lo  officio,  ou  magistratura  tem- 
poral, cujo  tempo  acabara,  á  pessoa  que 
acabou  de  scrvil-o.  —  «Se  a  meus  nígos 
inclina  o  Vvo  ouvidos,  elle  me  recondu- 
zirá digno  de  appreciar  o  que  vi'is  jul- 
gastes devido  fazer  a  bem  da  minha  fe- 
licidade, e  de  quo,  sem  murmurar,  mo 
estil  gemendo  o  coração.  Se  escntassc  o 
Céo   meus   votos...    Ah!    continuai,    oh 


Mae,  a  la»tiinar  este  filho  vosso. »  Fran- 
cisco .Manoid  do  Nascimcntij,  Successos 
de  madame  de  Seneterre. 

—  Reduzir,  o  trazer  |>ara  o  exereicio, 
ou  para  seus  regimentos  os  soldados  au- 
sente». 

—  Acompanhar  p(jr  civilidade  até  á 
porta  unm  jicssoa  que  se  retira  dvjxn»  de 
uma  visita. 

—  Reconduzir  um  enlrmií/eiro  á  fron- 
teira ;  c.xjml-al-o  do  tcnit(jrio,  o  fazel-o 
conduzir  .1  fronteira  jM»r  força  publicd. 

RECONECER,  r.  a.  Termo  antiquado. 
Vi<l.  Reconhecer. 

RECONFESSAR,  v.  a.  Confessar  de  no- 
vo, tornar  a  confcssar-se. 

—  Reconfessar  ronjissues  ;  repetir,  nas 
posteriores,  as  culpas  de  que  se  accusoa 
na»  antecedentes  coniissSes. 

—  Reconfessar-se,  r.  rejL  Tomar  a 
conf(!-;sar-si'.  confe.ssar-se  de  novo. 

RECONGRAÇAR,   r.  a.  Reconciliar. 

—  Recongraçar-se,  f.  rejt.  Tornar  ã 
antiga  graça. 

—  Recongraçar-se  com  alguém ;  tomar 
á  antiga   amizade. 

RECONHECENÇA,  .«.  /.  Vid.  Reconhe- 
cimento. 

—  < '  que  se  paga  em  reconhecimento 
da  vassallagem. 

—  Gratidão,  reconhecimento,  ás  vezes 
em  prestaçí^es  pecuniárias,  similhantes  ás 
que  se  faziam  aos  bispos  pelas  igrejas 
que  libertaram  de  pagar  as  terças  ponti- 
licaes. 

RECONHECENTE,  part.  act.  de  Reco- 
nhecer. 

RECONHECER,  v.  a.  Conhecer  nova- 
mente renovar  o  conhecimento  d'alpnem, 
ou  d 'alguma  cousa  que  so  conhece.  — 
Reconhecer  as  pessoas  pela  voz,  pelo  an- 
dar. 

—  Conhecer  por  algum  signal,  por  al- 
guma indicação,  uma  pessoa  ou  cousa  que 
nunca.se  viu.  —  Pelo  andar  feconhecen- 
se  ser  uinn  deusa.  —  Reconhecer  uma 
planta  depois  da  descripção  feita  pelos 
escriptores. 

—  Chegar  a  de-^colirir  a  verdade  de 
qualquer  ei)u>a.  —  Reconheceu-se  sua  in- 
iiocencia.  —  Reconheceu-se  -•■'ik'  má  fé. 

—  Fazor  acto,  que  demonstre,  que  co- 
nhecemos e  confessamos.  —  « PertenderaíJ 
03  Emperadores  de  Alomanha,  qne  todos 
os  Reys  do  Europa  se  reconhecessem  por 
seus  vassallos;  e  havendo  em  Roma  hum 
C.avalleiro  Alema('i,  que  pelas  armas  de- 
fendia e>tc  Direito.!  Severim  de  Faria, 
Noticias  de  Portugal,  PUsc.  i\.  pag.  16. — 
uOs  (irous  seguem  hum  quo  os  guia;  ívs 
abelhas  tem  huma  que  as  governa  :  e  to- 
dos os  animaes  reconhecem  dominio  em 
outros,  (^s  homens  levados  deste  dicta- 
nio  da  natureza,  quo  ho  ley  muito  forço- 
za,  para  não  serem  mais  e«tolido?,  que 
08  brutos,  tízcra»"  R<\vs,  e  escolheraíT  Jla- 
gistrados.  a  quem  se  siibmeterarl.  jiara 
serem  rcyidoj.»  Arte  de  furtar,  c^p.  JU. 


RECO 


RECO 


RECO 


133 


—  «Isto  feyto  sahio  hum  Elephaute,  apa- 
ratado cõ  panos  de  brocado,  com  as  lim- 
brias,  e  cadilhos  cheas  de  campaynhas 
de  prata,  fazendo  hum  experto  som.  O 
Nayre  que  vinha  nelle,  se  chegou  a 
(Jchaã  onde  o  fez  ajiolhar,  e  dar  três 
grandes  berros,  como  quem  reconhecia 
senhorio,  e  lhe  fazia  sala,  e  cortesia.» 
Frei  (laspar  de  S.  Bernardino,  Itinerá- 
rio da  índia,  cap.  14.  —  «Na  segunda 
exercita  actos  de  agi'adecimento,  reco- 
nhecendo, que  se  naõ  tiveras  taõ  efficaz 
valedoriv,  era  quasi  certa  tua  perdição 
eterna  :  Memento  quoniam,  nisi  per  illos^ 
nnfiis  non  fuisses.»  Padre  Manoel  Ber- 
nardes, Exercicios  espirituaes,  part.  1, 
pag.  123. 

—  Vêr,  examinar. —  «Os  Mouros  lhe 
chamão  Madagáscar,  e  sendo  no  anno  de 
l.õOS.  descuberta  por  fora,  de  Fernão 
Soares,  como  diz  Damião  de  (iões,  dali 
a  pouco  tempo,  o  foy  pola  de  dentro  por 
Ruy  Bireyra  Coutinho,  e  Tristão  da  Cu- 
nha a  reconheceo  toda  em  roda,  por  man- 
dado de  Afonso  de  Albuquerque ;  e  por- 
que se  descobrio  em  dia  de  Sam  Louren- 
ço lhe  poserão  este  nome  que  hoje  tem.» 
Frei  (Jaspar  de  S.  Bernardino,  Itinerário 
da  índia,  cap.  2. 

—  Admittir,  acceitar  como  verdadeiro, 
e  incontestável. 

—  Reconhecer  benefícios ;  agradecel-os. 
— •  Reconhecer  a  ferida;   no  jogo   da 

espada,  dar  signal  que  a  recebeu. 

—  Reconhecer  a  ferida;  na  linguagem 
cirúrgica,  sondal-a,  tental-a, 

—  Confessar. 

— ■  Reconhecer  a  obrigação,  ou  signal ; 
dizer  se  é  seu,  ou  não  (em  juizo  ou  fora 
d'elle),  e  se  ainda  deve  o  que  a  obriga- 
ção confessa,  promette. 

—  Declarar. 

—  Vir  no  conhecimento. 

—  Reconhecer  xim  Deus. 

—  Reconhecer  um  governo;  reconhecer 
que  está  legitimamente  estabelecido. 

—  Reconhecer  um  filho;  confessar-se 
authcntieauiente  por  pae  ou  mãe  de  seu 
íillio  natural. 

—  Reconhecer  uma  assignatnra,  íima 
carta,  um  bilhete;  reconhecer  que  effe- 
ctivamente  se  assignou  a  letra,  o  bilhe- 
te, ete. 

RECONHECIDO,  2>«''<-  P««s.  de  Reco- 
nhecer. —  «  A  quem  segue  Estrabaõ :  5. 
Ad  rationale  animal  proxime  accedit.  Naõ 
se  esqueceo  desta  excellencia  a  reconhe- 
cida ellegancia  de  Cicero:  6.  Eiephanto 
Oellaarumnulla  prudenfior.  E  ultimamen- 
te Eiiano:  7.  Cceteris  animantibus  sagaci- 
tate  antecellere  compertum  est.»  Braz  Luiz 
d'Abreu,  Portugal  medico,  pag.  97,  §  12. 

—  De  que  se  rej)ôz  r.o  espirito  a  ima- 
gem, a  idra.  —  Reconhecido  por  seus 
amigos. 

—  Admittido  como  verdade.  —  Está  re- 
conhecido <jiie  a  tfrra  gira  e  não  o  sol. 

—  Declarado,    confessado.  —  Eriv  re- 


conhecido. —  «  Ah  meu  Deos  !  Do  mou 
erro  já  estou  reconhecido :  do  vosso  re- 
médio estou  agora  necessitado.  E  pois 
vós.  Senhor,  vos  prezais  de  dar  bem  por 
mal:  já  que  dous  foraõ  os  meus  males, 
que  cometi  contra  vós;  dous  haõ  de  ser 
os  bons,  com  que  me  remedíeis.»  J*adre 
Manoel  Bernardes,  Exercicios  espirituaes, 
part.  1,  pag.  96. 

—  Agradecido,  obrigado. 

—  Recompensado.  — Este  favor  tão  ple- 
no, e  tal  mal  reconhecido. 

RECONHECIMENTO,  s.  m..  Acção  de  re- 
conhecer, de  repor  no  espirito,  a  idôa,  a 
imagem  de  uma  pessoa  ou  de  uma  cousa. 

—  Exame,  verificação  de  certos  obje- 
ctos para  determinar  o  numero,  a  espé- 
cie. — Fazer  o  reconhecimento  dos  lagares. 

—  Signaes  de  reconhecimento ;  signaes 
pelos  quaes  se  conhecem  os  navios  que  se 
enconti-am  no  mar. 

—  Acto  de  reconhecer  um  governo. 

—  Acção  de  confessar,  de  reconhecer 
um  facto. 

—  Confissão  de  uma  falta. 

—  Fazer  o  reconhecimento  de  um  bi- 
lhete; verificar  se  um  bilhete  que  um  ho- 
mem nega  ser  d'elle,  o  é  na  realidade. 

—  Lembrança  aftectuosa  de  um  bene- 
ficio recebido,  com  a  intenção  de  o  retri- 
buir no  mesmo  sentido,  agradecimento. 
—  «  E  se  deyxa  isto  ver  claramente  dos 
muytos  que  se  celebrarão  no  tempo  de 
sua  tutoria,  e  como  em  reconhecimento 
e  lembrança  desta  liberdade  o  nonieaô 
no  principio  de  cada  Concilio,  e  lhe  assi- 
não  o  anno  que  entaõ  corria  de  seu  Rey- 
no,  como  he  o  Concilio  de  Tarragona,  no 
proemio,  onde  se  dizem  estas  palavras.» 
Monarchia  Lusitana,  liv.  6,  cap.  10, 

—  Prestação,  serviço  em  reconhecimen- 
to de  obrigação,  vassallagem,  senhorio, 
sujeição. 

—  Syn.  :  Reconhecimento,  gratidão. 

Indicam  ambas  estas  palavras  a  memo- 
ria do  beneficio  recebido ;  porém  reconhe- 
cimento só  dá  a  conhecer  que  não  se  es- 
quece, e  se  confessa :  gratidão  exprime  o 
sentimento  habitual  que  nos  inclina  a  dar 
graças  polo  bem  que  se  nos  fez. 

Uma  alma  sensível  não  se  contenta 
com  ser  reconhecida,  quer  ser  grata;  o 
reconhecimento  S()  lhe  desperta  a  idêa 
do  beneficie),  e  a  gratidão  aviva-lhc  a 
lembrança  do  bemfeitor. 

()  reconhecimento  paga  beneficio  com 
beneficio.  A  gratidão  conserva  a  doce 
lembrança  de  uma  boa  acção  com  um  vi- 
vo sentimento  de  carinho  para  com  a  pes- 
soa que  lhe  fez  bem, 

O  reconhecimento  é  o  principio  da  gra- 
tidão. A  gratidão  é  o  complemento  do  re- 
conhecimento. 

RECONHECÍVEL,  adj.  2  gen.  Fácil  de 
reconhecer,  fallando  das  pessoas  e  das  cou- 
sas. 

RECONQUISTA,  s.  /,  Acto  e  efleito  de 
reconquistar. 


RECONQUISTADO,  part.  pass.  de  Re- 
conquistar. —  Meu  sc<ptro  reconquistado 
me  põe  em  liberdade. 

RECONQUISTAR,  v.  a.  Conquistar  no- 
vamente. 

— Figuradamente  :  Reconquistar  a  ami- 
zade, a  estima ;  recobrar  a  amizade,  a  es- 
tima. 

RECONSTRUCÇÃO,  .■'./.  Acto  de  recons- 
truir.— ^l  reconstrucção  da  casa. 

RECONSTRUÍDO,  part.pnss.  de  Recons- 
truir. —  *4  Igreja  queimada  foi  recons- 
truída no  mesmo  sitio. 

RECONSTRUIR,  v.  a.  Reedificar,  tornar 
a  construir. 

RECONTAEOR,  s.  m..  Officio  que  havia 
na  repartição  do  terreiro  do  trigo  de  Lis- 
boa, chamado  recontador  de  cobre. 

—  Diz-se  da  pessoa  que  refere  ou  nar- 
ra de  novo  alguma  cousa. 

RECONTAMENTO,  s.  m.  Relação,  infor- 
mação, 

—  Relatório,  reconto. 

RECONTAR,  v.  a.  Contar  de  novo  um 
facto,  uma  historia,  ete.  —  «E  o  que  nom 
parecesse  pessoalmente  ao  dia  per  Nós 
assinado,  nem  mandasse  por  si  escusa- 
dor,  que  allegasse  por  ello  o  embarguo, 
e  necessidade,  que  houve  a  nom  vir,  de- 
vemo-lo mandar  empi-azar  oiitra  vez  pe- 
rante Nós,  recontando-lhe  na  carta  do 
emprazamento  toda  a  couza  como  se  pas- 
sou;  e  nom  vindo  o  retado  ao  prazo,  que 
lhe  for  assinado,  devemos  dar  contra  el 
sentença  á  sua  revelia  em  esta  forma.» 
Ord.  Affons.,   liv.  1,  tit.  «4,  g  7. 


Ferida  de  outro  amor,  com  farpões  de  ouro. 
Em  Eudóro,  olhos  fitos,  que  aventuras 
VAI  recontando  suas,  que  de  zelos 
Na  alma  do  Auti-Christão,  não  se  atearião ! 

FRANCISCO    MANOEL  DO  NASCIMENTO,  OS  MAHTYRES, 

liv.  10. 


Valem  mais  do  que  os  feitos  portuguezes 
Og  de  Gregos,  Romanos?  Mais  victorias. 
Mais  tropheus,  mais  virtudes  nos  reconta 
Sua  fallada  historia  ? 
oAiiRETT,  CAMÕES,  cant.  G,  cap.  7. 

Kutão  reconta  o  sonho  mysterioso 
Do  venerando  Ganges,  do  rei  Indo 
Que  ao  ditoso  mouarcha,  ao  romper  d'alva, 
Em  visão  bomfadada  appareoerani. 
IBIDEM,  cant.  8,  cap.  9. 

—  Recontar-se,  v.  refl.  Numerar-se.  — 
Recontar-se  entre  os  homens  insignes  nas 
letras. 

f  RECONTENTAMENTO,  s.  m.  Termo 
antiquado.  Relações  circumstanciadas. 

RECONTENTE,  adj.  2  gen.  Duas  vezes 
contente,  muito  contente. 

RECONTO,  s.  m.  Vid.  Recontamento. 

—  O  segundo  conto  da  lança  que  tem 
no  reverso  da  hastea. 

RECONTRO,  s.  m.  (Do  fiancez  rencon- 
tre).  Encontro,  confíicto,  peleja  não  atu- 
rada.—  Haver  muitos  recontros  u'ci>tc  lo- 


]:u 


KKCO 


RECO 


RECO 


cal.  -r-  a  Em  que  foz  uiuito  duinno,  qu<."i- 
nuindo  os  jiSos  afiucllo»  <\iu.:  crnin  vasMal- 
lort,  o  tril)Ut,:iri().H  dul  Uci  «loiíi  Emaimul, 
o  cm  Bpeciíil  foi  mAivr.  <,'ai(lc  boa^íiiz  iiia- 
lio,  com  qiii'iii  oiuio  Imm  recontro  om  que 
lho  matou  trinta  liouieim,  o  xxv  caual- 
ios.»  Daiiiiilo  de  (iões,  Chroiiica  de  D. 
Manoel,  part.  4,  cap.  21.-  "I>'>s  i'(>rtu- 
guose»  foriram  os  mouros  iKjMtc  recontro 
três,  de  quem  hum  foi  loiVo  loiti',  criado 
(luo  fora  de  dom  l'ero  vaz  Hlspo  da  (luar- 
da,  o»  outros  dous  craõ  moradores  da  cida- 
de, a  dom  Ilierouymo  matarào  dous  mou- 
ros de  pe  o  cauallo,»  Ibidem,  cap.  2;5. — 
«  Quebrando-lhe  as  for(;as  em  muitos  re- 
contros, e  partieularmeute  nas  duas  ba- 
taliias  dos  (iararapes,  veio  a  tiear  pacifi- 
co Senhor  de  toda  afjuella  (.Capitania  em 
vinte  o  sete  de  Janeiro  de  mil  seiscentos 
e  cincoonta  e  quatro.»  Frei  Hernardo  de 
Hrito,  Elogios  dos  reis  de  Portugal,  con- 
tinuados por  D.  .losé   iiarbosa. 

—  Encontro  casual,  acaso,  acerto. 

—  Fifíuradaraeutc  :  Os  recontros  da 
adversidade,  da  tempestade. 

—  Ad.vuio  : 

—  Recontros  muitos,  mas  a  batalha  es- 
cusada. 

RECONVALECER,  ou  RECONVALESCER, 
r.  )i.  Tornar  a  convalescer,  convalescer 
segund:i  vez. 

RECONVENÇÃO,  n.  /.  (,l)o  latim  recon- 
ventim.  'rormo  do  foro.  Acto  pelo  qual  o 
que  era  demandailo,  ou  reu,  peile  ao  au- 
ctor  na  mesma  causa,  e  denumda  ou  con- 
trariedade, a  satisfarão  do  alguma  obri- 
gação. 

—  Novo  concerto,  arrendamento  ou  os- 
criptura,  em  que  se  muda,  ou  altera  o 
preço  em  que  se  tinha  convindo. 

RECONVENCER,  v.  a.  Convencer  de 
novo. 

RECONVIDO,  s.  m.  Vid.  Reconvimento. 

RECONVIMENTO,  s.  m.  Vid.  Reconveu- 
ção. 

RECONVINDO,  part.   act.  de  Reconvir. 

—  Pis.sdii  reconvinda ;  pessoa  contra 
quem  se  intenta  a  recouvenerio. 

RECONVIR,  r.  a.  iDu  prefixo  re,  e  do 
latim  cdiivenin').  Termo  do  foro.  Deman- 
dar o  reu  ao   author,   que  o  demandava. 

RECOPILAÇÃO,  .f.  /.  Acto  do  recopilar. 

—  Svnop^e,  resumo,  epitome,  comjien- 
dio,  summa,  anacephaleose, —  «Dos  quaes 
se  eomposerào  seis  liuros  em  hum  volu- 
me, a  que  de  comum  consentimento  cha- 
marão Alchoriío  que  signitíc;i  recopilação 
da  secta,  e  lev:  o  queymando  toilos  os 
mais  se  mandou  sob  grandíssimas  penas, 
o  guardassem  todos,  e  quem  po5es>e  glo- 
sa, ou  tacha  ficasse  dos  mais  auido  por 
herege,  e  Intame.»  Fr.  (1  aspar  de  S.  Her- 
nardino.  Itinerário  da  índia,  cap.  20. 

RECOPILADAMENTE,  adv.  (De  reco- 
pilado, com  o  sutlixo  «meute»'!.  De  ura 
modo  recopilado. 

—  Em  resumo,  synopticamente. 

—  De  um  modo  breve  e  conciso. 


RECOPILADO,  purt.  pasn.  de  Recopi- 
lar. AbiiíVÍa'lo,  resuMMiJo. 

RECOPILADOR,  A,  «.  Abreviador,  com- 
pilador. 

—  iV'SHoa  que  resume. 
RECOPILAR,  1-.  a.  iDo  prefixo  re,  e  de 

copilan.  Abreviar,  compendiar  a  obra,  ou 
escriptura  ditfusa,  ou  mais  larga  e  volu- 
mosa. 

Recopilar  leis;  ajuntar  as  volantes 
ou  disjiersas  em  um  corpo,  tomo  ou  col- 
leeçào;  colligir, 

—  Uesiunir,  cifrar. 
RECOPTO.  \'iil.  Recoto. 
RECORDAÇÃO,  .s./.  Acção  de  recordar. 

—  Lembrança  da  cousa,  do  que  per- 
dêramos a  memoria. 

—  Príncipe  de  feliz  recordação ;  prín- 
cipe de  quem  nos  lembramos,  havendo- 
rios  por  felizes  uo  seu  tempo,  com  o  seu 
governo,  otc. 

—  Fazer  recordação ;  fazer  memoria, 
recenseamento. 

—  .Svx. :  Recordação,  memoria.  Vid. 
este  ultimo  termo. 

1  RECORDADO,  part.  pass.  de  Recor- 
dar. 

RECORDADOR,  A,  adj.  Que  recorda. 

—  <  ^ue  excita  lembrança,  e  recorda- 
ção. 

RECORDAMENTO,  .v.  m.  Termo  anti- 
quado. Vid.  Recordação. 

RECORDAR,  v.  a.  (\)o  latim  recordari). 
Tornar  a  trazer  á  meuioria,  passar  pela 
memoria.  —  Recordar  as  //çòes  para  a 
aula. —  a  Dai'-te  a  saber  que  só  de  ti  me 
lembro,  quando  recordar-te  quero.  Cou- 
veuho  que  em  muito  me  levavas  vanta- 
jem,  e  que  infiuiste  unui  aífeiçào  enlou- 
quecida ;  de  (jue  não  tens  comtudo  de  ti- 
rar grande  vaidade.»  Francisco  Manoel 
do  Nascimento,  Successos  de  madame  de 
Seneterre. 


Tal  lip  d'iilma  o  poder,  substaucia  ethcrca, 
Qi\o  1109  cnducos  véos  ilida  imtilvida. 
Da  oiiiííin  se  recorda,  iiida  consorvii 
Uiiin  habito  divino,  e  só  uliuin  pouto 
Som  iiuidar  de  lujíar,  gyra  volautc, 
So  muda  o  iiciisainento !  EUa  nas  tristes 
fasaa  penetra  da  e.spantosa  morto, 
j.  AoosTnino  de  macedo,  ueditação,  caiit.  2. 


So  o  homem  vò  cliepir  (terrivel  vista 
Que  lhes  recorda  império  o  tiraimia*, 
Tom  trémulo  elauior  rompe  o  silencio. 

IDKM,    A   NATIRKZA,   Caut.    3. 


Ah,  quom  sabe  se  é  esta  a  vez  extrema 
Que  me  ó  dado  ante  vós  o  recordál-as, 
E  a  derradeira  vez  góso  a  ventura 
De  olhar-vos  junctos  c  vos  ver  Eomanoa  ! 

OABRETT,   CATÃO,    aCt.    2,    8C.    1. 


—  Dosculpao-me  o  aNnvar  chapas  que  siuigram, 

liecordar  09  horrores  do  Pharsalia  ! 

Esse  dia  fatal  lhe  intregou  Roma, 

E  a  morte  de  Pompeu  o  Egypto  c  o  Nilo. 


I.onibru-tfl,  ó  Marco, 
Da  carta... 

yuc  vieatc  recordur-me  '. 
luiDKM,  act.  5,  K.  11. 

RECORDO,  s.  m.  Uecordaç.^o,  excita- 
mcnto. 

—  ExhortaçJlo  prudencial,  que  excita 
á  virtude,  o  á  eontriçilo,  etc. 

RECORPORAÇÃO,  *.  /.  Tenno  de  me- 
dicina. Ueeomposiçilo,  nova  compoBÍçlto, 
O  ajuntamento  da^  ])artes  doB  corp<^M)  ao 
priuiciro  estado,  quando  cilas  ho  touLani 
desunido.  Vid.  Hetasjrncrise,  que  é  o 
termo  tochnico. 

RECORPORAR,  r.  «.  (Do  latim  reeorpo- 
ran  .  T.inin  ib;  medicina.  Tornara  com- 
por o  corpo  viciado,  e  cujas  partes  se  des- 
uniram. 

RECORPORATIVO,  A,  adj.  Termo  de 
medicina.  Que  ]>õe  o  corpo  no  «eu  pri- 
meiro estado  de  samle,  que  renova  o 
corpo.  —  Cyclo  recorporativo  ou  metaêi/n- 
critico. 

RECORREICÃO,  RECURRIÇÃO,  RECOR- 
RICIO,  ..u  RECORRLNTIA,  >.  /.  Termos 
antiquados.  <  *  mesmo  que  parociíia  ou 
freguezia,  a  que  também  cliamavam  c"/- 
Zrtção. 

RECORRENTE,  part.  act.  de  Recorrer. 
Que  interpõe  recurso. 

—  Emprega-se  também  Bubstantiva- 
mente. 

RECORRER,  v.  n.  (Do  latim  rtcurrere^i. 
Correr  de  uuia  parte  a  outra,  vendo,  exa- 
minando. 

—  Recorrer  a  alguém;  acudir  a  clle 
por  soecorro,  soccorrer-se-Ihc  pedindo  pro- 
vimento, despacho,  mercê,  favor,  etc.  — 
«Que  se  fossem  valer  dos  (iodos,  e  pe- 
dirlhe  favor  e  soecorro,  contra  os  Roma- 
nos, porque  Blondo  niio  diz  claramente, 
que  saissem  de  Portugal  em  grade  nu- 
mero como  os  Alanos,  scnào  que  recor- 
rerão ao  favor,  e  amparo  dos  (iodos,  se- 
guindo nisto  o  conselho  dos 'Alanos,  suas 
palavras  saõ  as  seguintes.»  Honarchia 
Lusitana,  liv.  O,  cap.  (>.  —  «He  erro 
grande,  diz  Ovidio.  recorrer  aos  encan- 
tos para  nos  fazermos  amar,  ou  empre- 
gar para  o  mesmo  fim  bebidas  amorosas 
a  que  se  chama  Feytiços.»  Cavalleiro  de 
Oliveira,  Cartas,  liv.  1,  n."  29. 

—  Figuradamente  :  Recorrer  <f  memo- 
ria; examinar,  trabalhar  por  lembrar-se, 
recorrer  com  ella  os  tempos,  e  sncoessoB, 
para  se  lembrar  de  algum. 

—  Tornar  a  correr  ou  passar. 

—  Acudir. 

—  Recorrer  com  os  olhos;  tornar  a  vêr, 
reler. 

—  Recrescer,  vir  correndo  para  ou- 
tros. 

—  Recorrer-se,   '.    rcji.  —  Recorrer-se 
aos  deuses.  —  *  Não  lhes  vejo  remédio:  e, 
quando  a  medicina  os  não  tem,  diz  Hi- 
pócrates que  se  recorra  aos  deuses:  Adj 
Deos  recurreiuJum.9  Bispo  do  GrRo  Pa 


RECO 


RECO 


RECR 


135 


Memorias,   publicadas  por   Camillo  Cas- 
tello  Branco,  pag.  59. 

—  Recorrer-se  ao  juiz  siípcrior;  soc- 
correr-se  a  elle. 

—  Recorrer-se  d  justiça;  goccorer-se, 
recorrer  a  ella. 

RECORRIDO,  parf.  pass.  de  Recorrer. 

—  Pesfoa  recorrida ;  pessoa  contra 
fjuem  se  interpõe  recurso — O  juiz  re- 
corrido. 

RECORTADO,  s.  m.  Obra  e  adorno  que 
se  faz  recortando,  e  talvez  em  figura- 
rias. 

—  Parf.  pass.  de  Recortar. 

RECORTAR,  v.  a.  Cortar,  fazendo  va- 
rias figuras.  —  Recortar  pajjeis  com  te- 
soura para  cobrir  doces,  amar  velas, 
ete. 

—  Termo  de  pintura.  Applicar  a  cor 
ao  redor  da  figura,  para  que  appareçam 
todas  as  partes  d'ella  no  seu  ser. 

RECORTE,  s.  m.  O  lavor,  e  figuraria, 
que  se  faz  recortando  papeis  para  cobrir 
caixas,  e  pratos  de  doce,  e  para  outros 
enfeites;  recortando  certas  plantas  para 
ornar  canteiros  de  jardins,  e  figuras,  que 
d'ellas  se  talham,  tecendo  e  recortando 
os  ramos  nos  jardins. 

—  Fazem-se  também  recortes  em  pan- 
nos  de  lavor,  e  costuras. 

RECORTILHA,  s.  /.  Termo  de  pastelei- 
ro. Certo  instrumento  com  dentes,  para 
recortar  a  massa,  para  llie  fazer  flor&s, 
etc. 

RECOSER,  V.  a.  Tornar  a  coser  com 
agulha.  Yid.  Coser. 

RECOSO,  s.  «i.  =  Significação  incerta. 

RECOSSO,  s.  w.  Vid.  Recoso. 

RECOSTADO,  parf.  pass.  de  Recostar. 
Encostado. 

Xo  recostado  gesto  se  assinala 
Hum  venerando  e  próspero  senhor  ; 
Hum  panno  de  ouro  cinge,  e  na  cabeça 
De  preciosas  gemmas  se  adereça. 
CAM.,  Lus.,  eant.  7,  est.  57. 

Mas  de  todos  tu  foste,  oh  gram  Gonçalves, 

Quem  as  primícias  colhe  :  todos  brindão 

A  teu  grande  valor,  á  tua  astúcia  : 

Em  quanto  tu,  no  collo  recostado 

Da  prezada  Consorte,  entre  os  seus  mimos, 

Do  Bispo,  c  do  Deão  te  estavas  rindo. 

DISIZ  DA  CRUZ,  HTSSOPE,  Caut.    7. 

RECOSTAR,  V.  a.  Encostar.  —  Recos- 
tar (t  cabeça. 

—  Emprega-se  também  no  sentido  fi- 
gurado. 

—  Recostar-se,  v.  reji.  Pôr-se  meio 
deitado,  de  ilharga,  encostar-se  sobre  o 
cotovelo. 

—  Emprega-se  também  figuradamente. 
RECOSTO,  s.  m.    Terra   levantada    em 

encosta. 

—  Ladeira,  declive. 

RECOUTO,  part.  pass.  irreg.  de  Reco- 
zer.  =  Termo  antiquado. 

RECOVA,  s.  f.  Grupo  de  bestas,  bur- 
ros, e  gado   muar   com   carga.  —  «E   os 


Alarves  com  a  mayor  parte  da  recova 
carregada  foram  polo  caminho  que  elles 
sabiam,  onde  avia  mais  poços  dagoa,  e 
nam  por  este,  E  chegaram  a  Bacoraa  os 
mercadores  com  suas  mercadorias  pacifi- 
camente, ainda  que  mal  tratados  das  fo- 
mes, sedes,  e  trabalhos  do  dito  deserto.» 
António  Tenreiro,  Itinerário,  cap.  Õ7. 

—  Figiu-adamente  :  Cirande  recova  de 
mouros.  —  «E  em  muytos  passos  deste 
caminho  tivemos  grande  arreceo  de  la- 
drões, e  porque  se  ajuntou  com  ho  Em- 
baixador grande  recova  de  mouros,  e 
levávamos  dez  oii  doze  espingardeyros 
Portugueses,  nunca  nos  ousaram  come- 
ter.» António  Tenreiro,  Itinerário,  cap.  7. 
.    RECOVADO,  part.  jiass.  de  Recovar. 

—  tí.  m.  Recovo. 

- —  Acto  de  estar  encostado  sobre  o  co- 
tovelo. 

—  Viver  de  recovado ;  viver  de  assen- 
tado, descançado. 

RECOVAGÉM,  s.  /.  Multidão  de  reco- 
va, e  bagagens  ou  cargas  que  ella  leva, 
fardagem,  frasca,  trem. 

—  Conducção  por  bestas  de  carga,  e 
transporte  de  umas  terras  para  outras, 
que  partem  de  certa  casa  publica,  onde 
se  receba  a  peso  o  que  queremos  enviar 
a  outra  terra,  e  se  paga  a  tanto  por  ar- 
rátel ou  arroba. 

RECOVAR,  i'.  a.  Conduzir  em  recova 
de  cavalgaduras  alguma  cousa. 

—  Ter  o  officio  de  recoveiro. 
RECOVEIRO,  s.  »i.  Almocreve. 

—  Homem  que  traz  a  ganho  bestas  de 
carga  de  umas  terras  para  as  outras.  — 
«E  chegando  em  cima  da  dita  serra,  que 
he  muy  chaà  e  larga,  me  amostraram  se- 
pulturas de  mouros  recoveiros,  que  os 
ladròis  ali  mataram  por  defenderem  suas 
bestas.»  António  Tenreiro,  Itinerário, 
cap.  65. 

—  Homem  que  leva  viveres  pelas  ter- 
ras, e  negoceia  n'elles  comprando  e  ven- 
dendo de  uns  legares  em  outros. 

—  Termo  de  jogo.  Vid.  Cró. 
RECOVO,    s.    »i.   Termo    usado    n'esta 

phrase :  Eatar  de  recovo  ;  estar  recostado 
sobre  um  dos  cotovelos. 

RECOZER,  V.  a.  Tornar  a  cozer  ao 
lume. 

—  Recozer  metaes,  ou  arames ;  tor- 
ual-os  em  braza,  recoital-os,  requeimal-os. 
Vid.  Cozer. 

RECOZIDO,  part.  pass.  de  Recozer.  Co- 
zido segunda  vez   ao  lume,   requeimado. 

• —  Recozido  em  malicia  ;  que  sabe,  que 
é  muito  esperto  n'ella,  repassado  na  mal- 
dade, teimado  n'ella. 

RECOZIMENTO,  s.  m.  O  estado  da  cou- 
sa recozida. 

REÇOAR,  v.  a.  (Do  francez  ranqonner). 
Termo  antiquado.  Livrar  do  captiveiro, 
resgatar. 

REÇOEIRO,.s.  m.  Homem  que  tem  re- 
çào,  ou  a  cobra  por  algum  titulo. 

—  Outr'ora  dizia-se  racoeiro. 


REÇÕES,  s.  f.  plur.  Termo  antiquado. 
Resgates,  livramentos  de  captiveiro. 

—  Razões,  razoameutos,  discursos. 
RECOLHO,  s.  m.  Respiração  forte,  res- 
folego. 

RECRAMAR,  r.  a.  Termo  antiquado. 
Fazer  em  pregas. 

RECRAMO,  s.  m.  Termo  antiquado. 
Pregas  nos  vestidos. 

—  Recramo  de  cabello;  anneis,  riçados, 
e  mais  concertos. 

—  Vid.  Reclamo,  que  diverge. 
RECRAVA,   s.  f.   Termo    de   canteiro. 

Entalho  que  se  faz  nas  peças  de  canta- 
ria, que  forma  o  portal  de  um  armário, 
para  n'elle  se  embeber  o  caixilho  em  que 
se  firmam  e  trabalham  as  portas. 

RECREAÇÃO,  ?.  /.  Acçào  de  recrear- 
se,  de  recrear. 

—  Prazer-,  passatempo,  allivio  do  des- 
gosto, trabalho.  —  «Sinto  que  elle  não 
se  queyra  redusir  a  faser  hoje  compa- 
nhia a  V.  A,  porem  diga-lhe  V.  A.  da 
minha  parte,  que  nào  espere  que  o  mun- 
do o  tenha  agora  por  mais  sábio  negan- 
do-se  ás  recreaçoens,  de  que  o  mesmo 
mundo  imaginará  que  elle  se  aparta  por 
lhe  uiio  poder  tomar  o  gosto  que  lhe 
achava  nos  annos  da  mocidade.»  Caval- 
Iciro  d'01iveira.  Cartas,  liv.  1,  n."  Õ6. 

tal  amigo 

que  fale  amores  commigo 
e  eu  amores  com  elle  : 
ter  esta  ahna  lá  comsigo, 
fiz  conta.  Fazem  possantes 
quintas  sombras  para  a  calma 
c  recrew.ões  galantes ; 
eu  quero  castello  antes 
Que  é  mais  salvação  da  alma. 
ASTOhno  PRESTES,  ACTOS,  pag.  12. 

—  Eicriptos,  obra  para  recrear  o  ani- 
mo. —  ^4  recreação  doutrinal. 

\  RECREADO, 'yxH-í.  pass.  de  Recrear. 

—  Recreado  por  uma  agradável  musica. 

—  «Pêra  atalharmos  as  tristezas,  que 
sam  anexas  á  humanidade,  ha  mister  re- 
creada com  exercícios  conformes  á  nossa 
incrinaçam,  pêra  forrarmos  alguns  nojos, 
aliviai-mos  desgostos  com  defensivos,  que 
não  toquem  em  specie  de  vicios,  que  el- 
les e  as  virtudes  nam  se  habitam  nem 
servem  por  uma  porta.»  D.  Joanna  da 
Gama.  Ditos  da  freira,  cap.  58. 

RECREADOR,  A,  adj.  Que  recreia,  que 
dá  allivio,  prazer. 

—  Recreativo,  que  dá  novos  espíritos. 
RECREAR,  V.  a.    (Do   latim    recreare). 

Tornar  a  crear,  crear  de  novo. 

—  Alliviar  do  trabalho,  divertir  do 
enfado,  cançaço,  com  cousa  de  prazer, 
que  restitua,  e  reforme  o  animo  lasso,  e 
abatido,  o  vigor,  as  forças,  o  alento,  etc. 


Hum  murmiireo  formai,  nelles  suaue, 
E  recreay  com  brando  fresco  assopro 
Os  acesos  ardores  do  molesto 
Intollerauel,  duro,  secco  Estio. 


vm; 


RECf^ 


ItECK 


HPXJR 


Diii  II  lioiiru  de  tal  fnito,  a  quom  ju»toii, 
K  rliiiido.s  llm  >^■.i'>  cnàni  iniiyiirc.5. 
cuarK  iirAi.,  n.ickraoi»  ur.  hki-ui.vku.i,  cuiit.  7. 

—  Recrear  n  vilu.  —  «l'or(|uo  «j.sta 
goiítc  ilal;i\a,  como  tuda  vivo  do  trati), 
i:  nào  do  (lutro  luo,  oiii  o  Hojíocio  do  re- 
crear :i  vidii,  lio  a  };ciiti3  mais  iiiiino.-ta 
dai|iK'llaM  iiartos,  o  a  luai.s  altiva  oiu  opi- 
nião :  tudo  ho  l-^idal^íuia,  o  tào  vil  iiosta 
parte,  "Hio  so  nito  aclia  liuiii  hoiiiooi  na- 
tural Jlalayo,  \)W  pobro  <iue  soja,  ipio 
(|uoira  lovar  As  costas  cousa  própria,  ou 
allioa,  por  nuiito  (|uo  llio  dciu  por  isao, 
todo  o  scrvi(;o  dtdlos  lio  por  escravos.» 
]5ano.^.  Década  2,  liv.  (>,  cap.  J. 

—  Fiffuradaiiiciito  :  Causar  prazer. 

—  Recrear-se,  c  y<jl.  Divertir-se,  de- 
leitar-s(í. 


Aiiinias  pocus  os  pós  ncsto  montado, 
Todo  o  Zagal  comtigo  .«?  recreu. 
Jogando  a  luta  sobre  a  branda  aréa, 
LaiKjaiido  a  barra  sobre  o  vordo  prado. 

ABDADK   DE  JAZKNTK,   POESIAS,  tOIIl.    1,     pag.    187 

(odit;..  1787). 


—  Cobivir  vida,  ali'ntos,  o  (juc  está 
mortal  do  paixào. 

—  Re-<taurar-«c,  crear  forya,  vi^or. 
RECREATIVO,  A,  a  Ij.  Que  recreia,  re- 

crvador,  i|uc  diverte.  —  Z.et7iír«  recrea- 
tiva.    -  Ií'>iih  Ni  recreativo. 

RECRECENTE.  Vid.  Recrescente. 

RECAECER,  v.  a.  Vid.  Recrescer,  ortUo- 
prapliia  pit-ferivcl.  —  aE  seendoo  creedor 
fora  da  terra,  ou  escondeudo-sc  em  tal 
maneira,  que  nom  possa  ligeiramente  seer 
aeliado,  podo  fazer  esse  devedor  sua  pro- 
tcstaçom  perante  o  Juiz  soomente :  e  faya 
todo  assi  escrepvor  pêra  ódespois  nom 
recrecer  alj^uà  duvida,  o  pêra  se  poder 
provar  cm  certo  o  tempo  da  protestaçoin.» 
Ordenações  Affonsinas,  liv.  4,  tit.  55, 
§  4.  —  «Bem  cuidou  nosso  lleciario,  que 
tivesse  no  cunliado  os  mesmos  favores,  e 
socorros  que  achara  sempre  no  sogro,  e 
com  esta  contiança  liia  continuando  com 
a  conquista  das  terras  do  Império,  e  co- 
mo Theo  lorieo  tivesse  amizade  cõ  os  Ro- 
manos, e  tjmesse,  que  a  desordenada  am- 
bii^ào  do  cu  liiado,  excitasse  novos  ódios, 
o  llie  recrecesse  alguma  guerra  em  que 
perdesse  as  torrai,  (juo  tiniuv  como  pró- 
prias.» Monarchia  Lusitana,  liv.  li,  cap.  7. 

— Figuradamente :  Recrecer  muita  <jen- 
te.  —  «O  que  assi  feito,  dom  loão,  por- 
que reorecia  muita  ge.ite  dos  mouros,  ser- 
nindoUie  a  maré  mandou  reeolker  os  sous, 
e  o  mo.-imo  fez  (< areia  de  MoUo,  e  assi  se 
sairaiu  do  rio  a  seu  saluo,  sem  lho  mata- 
rem mais  que  hum  si>  homem,  com  a  qual 
victoria  pos  muito  espanto  aos  mouros, 
porque  a  dom  loào  ato  ontrio  nu.ica  lhe 
tal  aeontejora  naquelle  purto,  nem  sei 
se  acontvjceo  depois.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  83. 


RECRECIMENTO,  *.  »i.  Vid,  RecreBci- 
meulo. 

RECREMENnCIO,  A,  ailj.  Termo  do  me- 
dicina. 1  )i'.  nu  Tiiuciiio.  —  JlumiJit»  recre- 
meuticios. 

RECREMENTO,  n.  m.  íDo  latim  rtcre- 
iiiKuUiii,,.  Diz-so  das  im|iuruzuii  uiintura- 
das  de  diversa-i  substancias. 

—  Km  pliysiologia,  humor  quo  dc|ioÍ8 
do  80  ter  Buparudo  do  sangue  jior  um  oi- 
gSo  Becrctor,  ó  levado  para  o  eaiiguu  pola 
via  de  absor))i;.n'>. 

RECRÊO,  ou  RECREIO,  *.  „i.  liocrcavào. 

—  frazor,  paspatempo. 

No  grào,  ((uo  á  vUta  lie  morto,  e  morto  ao  tacto, 
Mora  germoii  vital,  rnj  á  dura  terra 
Ks,>i'r:iii.;(Mo  agricultor  o  laui;a. 
Vai  rotalbaiido  o  campo  o  lizo  arado ; 
Nào  cAva  melancólico  sepulcro, 
.Mas  fecunda  matri>;.  ,Iá  delia  brotão 
( yuo  profundo  m ysterio  !  i  as  plantas  todai^ ; 
AVíTCÍo,  c  nutrii;ão  d'Eutes  mais  nobres, 
j.  A.  DF.  ílvcedo,  MUDiTAvÂo,  cant.  3. 

RECRER,  V.  f(.  Tornar  a  crer. 

—  V.  n.  ( 'ii-r-sc  seguuda  vez. 
RECRESCENTE,  [Mit.  mt.  de  Recrescer. 

Que  succes.slvamente  recresce  e  reproduz, 
renova,  ajunta,  accuinula,  sobroveui.  — 
Os  recrescenles  trabalhos. 

RECRESCER,  v,  ii.  iDo  latira  recresce- 
rc).  Crescer  de  novo.  —  ..4  herva  cortada 
recresce  mais  endurecida. 

—  l\tíformar-sc,  renovar-se. 

—  8obi"ar,  sobejar.  —  O  tempo  me  re- 
crescia dvs  meus  afazeres, 

—  Sobrevir,  vir  depois  de  outros,  c 
angmentar  o  numero  ou  qualidade.  —  Re- 
crescer um  trabalh')  a  outro. 


Hrotão  das  plantas  fructos  espontâneos, 
A  industria  os  amacia,  os  multiplica  ; 
Crescem  as  precis'>es,  e  á  luz  rrcrence 
Frouxa,  dcbil  to  alli,  de  humano  engenho. 

J.    A.    DE  M.tCEDO,   MEDITAÇÃO,  Caut.    1. 

Xas  ondas  leva  o  Kbro  extiuctos  corpo.^, 
Corre  turvo  de  sangue  o  Ti^jo.  o  Douro, 
E  dosdo  o  Tibre  ao  A'istula  gelado. 
Das  boccas  do  Danúbio  ao  mar  d  "Atlante, 
Tantos  recrescem  batalhões  cerrados. 
Que  scncontrào  no  ár  contrarias  bailas. 
IBIDEM,  cant.  3. 


—  Emprcga-se  também  no  sentido  fi- 
gurado. 

—  Recrescer-se,  v.  reji.  Accrescer,  au- 
gmentar-se. 

RECRESCIMENTO,  s.  m.  Acvào  de  re- 
crescer, jobrovir,  angmeutí»r-se  em  nu- 
nieiM. 

RECRESTADO,  part.  pass.  dcRecrestar. 
Tomado  a  crostar,  crestado  de  novo, 
crestado  segunda  vez.  , 

RECRESTAR,  v.  a.  Tornar  a  crestar, 
crestar  de  novo. 

t  RECRIAR,  r.  a.  Vid.  Criar.  — 
«Quando    algum  homem  encontra  al::um 


seu  conhecanto  que  vem  do  fora,  ou  que 
ha  dia«  que  nam  vio,  huudaudo  6C  hum  a 
outro  logo  llie  |)ergunta  be  couieo  c  ne 
responde  quu  iiâo  ho  leva  a  hum  dwttc* 
CHtalagcuH  e  couieui  amb<M  ctc-oiidiíl.-unente 
o  bebem,  porque  ha  muito  vi..!. o  <•  milhor 
quo  cm  todas  as  parte»  da  india.  ho  qual 
lazem  do  eoiifcv^-õch :  »e  rcíijK»;iJe  que  ja 
tom  Comido,  levao  a  hum  cutalageni  o..du 
somente  ha  vij^ho  >•  mari.-co  líobr'-  que  be- 
bem, das  quaes  taudjcm  lia  muitas,  e  alli 
ho  recria.»  Frei  Ca-par  da  Cruz,  Trata- 
dos das  cousas  da  China,  c-i]).  12. 

RECRIMINAÇÃO,  «.  /.  Ac^-lo  do  rocri 
minar. 

—  Injuria,  accu.sa\;iio  contra  o  accu*a- 
dor. 

— -  Termo  di-  r^etorica  P^igura  pela 
qual  sr  n  tM!i|iii-  un.a  aceu«a^'ào. 

j  RECRIMINADO,  i>art.  pata.  de  Recri- 
minar. 

-;-  RECRIMINADOR,  A,  ndj.  Que  recri- 
mina.—  Caracteres  recriminadores  e  acri- 
moniotijs. 

RECRIMINAR,  v.  n.  Lau^ar  o  crim. 
contra  o  accu.sa  lor. 

—  I!t_-s|Mi:i(h'r  a  aecusações  por  outra-;. 
—  Recriminar  •■'■^i'ia  alifuem. 

RECRIMINATORIO,  A,  aJj.  Que  coi.- 
téui  uuia  reerimiuatj-ào.  —  Desculpa  re- 
crimiaatoria.  —  «A  preesa  com  que  a  cha- 
mavam era  uma  excellente  desculpa  re- 
criminatoria  para  quando  appareces-' 
qnelradu.ii  Alexandre  Herculano,  Monge 
de  Cister,  cap.  14. 

RECROBRAR,  r.  a.  Plantar,  cultivar, 
relaícr,  aproveitar.  Vid.  Recobrar. 

RECRÚ,  a  ij.  2  gen.  Termo  de  ourive- 
saria. Fio  recrú ;  tio  de  prata  ou  de  ou- 
ro, que  nfio  ficou  bem  recoito,  ou  re- 
queimado,  e  niio  é  tão  tlexivel  como  o 
recoito ;  serve  em  trcninlas,  etc. 

—  Fsa-se  também  como  substantivo. 
RECRUDESCÊNCIA,  s.  /.     Do  latim  re- 

crudcsctiilia  .  Termo  de  medicina.  A  volt» 
dos  symptiimas  de  uma  doe;  ya,  com  unia 
nova  intensidade,  depois  de  uma  remis.sào 
momentânea. 

—  Por  extensAo :  Recmdescencia  do 
frio. 

—  Figuradamente:    ..4   recrudescência 

daf  jii  rltnliat;^»s  civis. 

RECRUDESCENTE,  part.  act.  de  Recru- 
descer. Quo  se  manifesta  novamente  ct>in 
svuii  toni.is  ni;iis  assustjidores. 

RECRUDESCER,  v.  n.  (Do  latim  rerr,'- 
desccrc  ■.  Termo  de  metlitina.  Encruar-.*-  . 
u.ào  sair   bem   cozido.  —  Recrudescer 
uiiiM,   as  materitís. 

—  As#an!iar-se. 

RECRUTA,  #.  /.   (Do  f rances   rtcnir  . 
Niiva  Uva  de  sold.ados  para  áubstituir  < 
que  faltam. 

—  Novos  soldados,  —  Exercito  de  re- 
crutas. 

—  Um  recruta ;  um  soldado  recmtado. 

—  Uma  recruta ;  a  gente  que  se  recru- 
tou, leva  de  soKlalos;  a  conducta  d'elles. 


RECT 


EECT 


RECT 


137 


-j-  RECRUTADO,  part.  pass.  de  Recru- 
tar. —  Huin,:u-<  recrutados  á  pressa. 

RECRDTADOR,  s.  m.  Homem  encaiTe- 
gaclo  de  recrutar  ;  homem  que  recruta. 

—  Vid.  Acontiador. 

RECRUTAMENTO,  í.  )/(.  Acto  de  recru- 
tar. —  Recrutamento  feito  com  extremo 
rigor.  —  O  recrutamento  do  exercito.  — 
A  lei  do  recrutamento. 

—  Acto  de  buscar  homens  para  se  lhes 
assentar  praça  de  soldados. 

RECRUTAR,  r.  a.  (Do  fraucez  recrutar). 
Fazer  levas  de  gente  de  guerra. 

—  Formar  novos  regimentos,  fazer  gen- 
te nova  para  o  serviço  militar. 

RECRUZETADO,  A,  >vlj.  Termo  do  Bra- 
zil.  —  Cruz  recruzetada ;  cruz  que  na 
extremidade  dos  braços  tem  outra  cruz, 
que  atravessa,  ou  que  vem  a  formar  qua- 
tro cruzetas. 

-j-  RECTA,  s.  /.  A  linha  que  está  egual- 
mente  posta  entre  as  suas  extremidades 
(segundo  Euclides,  pai  da  sciencia  ma- 
tbematica). 

Do  labvrintho  de  infinitas  Curvas, 
Pois  se  a  recta  diverge,  eut-^o  se  forma 
Sempre  em  curva  infiuita. . .  O  sombra  !  As  Musas, 
Em  te  encarando,  tímidas  3"espantão. 

J.   A.   DE  MACEDO,   VIAREU  EXTÁTICA,   Cant.    3. 

—  A  propriedade  da  recta  é  marcar  o 
mais  curto  caminho  que  existe  entre  dous 
pontos. 

-j-  RECTAL,  adj.  2  gen.  Que  pertence 
ao  recto.  —  Veias  rectaes. 

RECTAMENTE,  adv.  De  recto,  e  o  suf- 
tixo  «mente»  .  De  luua  maneira  recta. 

—  Com  rectidão. 

—  Proceder  rectamente  ;  proceder  bem, 
como  convém,  conforme  o  seu  dever. 

—  Em  linha  recta,  em  linha  direita. 

■J-  RECTANGULAR,  adj.  2  gen.  Termo 
de  geometria.  Que  tem  a  forma  de  um 
rectângulo,  isto  é,  de  um  paraUelogram- 
mo  cujos  ângulos  sào  rectos.  - — Solução 
geral  da  questão  da  propagação  uniforme 
do  calor  numa  lamina  rectangular. 

—  Coordenadas  re:tangulares  ;  coorde- 
nadas que  sào  perpendiculares  entre  si. 

—  Secção  rectangular  do  cone ;  nome 
que  05  antigos  davain  á  parábola. 

f  RECTANGULARIDADE,  5.  /.  Forma 
rectangular.  — O  ^íêjueiicí  volume  dos  crys- 
taes  bem  limpidos  faz  com  que  se  não  pos- 
sa jamais,  polindo-os.  conservar  rigorosa- 
mente suo  rectangularidade. 

RECTÂNGULO,  A,  adj.  Do  latim  rectân- 
gulas, de  rectus,  e  angulas).  Termo  de 
geometria.  Que  tem  os  ângulos  rectos.  — 
Uma  figura  rectângula. 

—  S.  m. —  Um  rectângulo;  um  paral- 
legn^ammo  rectângulo.  —  Traçar  um  re- 
ctângulo. 

—  Producto  de  duas  linhas  quaesquer 
de  gran']ezas  differentes. 

RECTAR.  Vi4.  Reptar. 
t  RECTICORNE,  adj.  Termo   de  zoolo- 
gia. Que  tem  as  antennas  direitas. 

TOL.  V.  — 18. 


RECTIDÃO,  í.  /.  Postura  recta,  era  op- 
posiçào  á  curvatura,  ou  inclinação. 

—  A  dii-eiteza  ou  cuidado  do  que  acer- 
ta, ou  obra  bem,  ao  menos  o  desejo  d'is- 
so.  —  A  rectidão  dos  seus  desejos, 

—  Conformidade  da  intenção,  e  da  obra 
com  a  lei,  com  o  dever.  —  Obrar  com  re- 
ctidão. 

—  Plur.  Dava-se  este  nome  a  tudo  o 
que  por  direito  eram  pertenças  de  uma 
herdade  ou  ca<al. 

RECTIFICAÇÃO,  s.  f.  Acto  de  rectifi- 
car, de  tornar  recto.  —  A  rectificação  de 
uma  roda. 

—  Acçào  de  corrigir  o  que  é  incorre- 
cto. —  A  rectificação  de  um  erro. 

—  Termo  de  geometria.  Rectificação 
de  uma  curva;  operação  pela  qual  se  acha 
uma  linha  recta  egual  em  comprimento 
á  curva  dada. 

—  Termo  de  chimica.  Espécie  de  dis- 
tillação  pela  qual  se  purificam  os  liquidos, 
umas  vezes  separando  os  mais  voláteis 
que  os  alteram,  outras  vezes  volatilisan- 
do-os  para  os  isolar  das  matérias  fixas 
que  lhes  tiravam  sua  pureza. 

RECTIFICADISSIMO,  A,  adj.  superl.  de 
Rectificado.  Mui  rectificado. 

—  Termo  de  chimica.  Distillado  duas 
ou  mais  vezes. 

RECTIFICADO,  ^Ja^.  2}ass.  de  Rectifi- 
car. Tornado  recto.  —  A  estrada  rectifi- 
cada pelos  engenheiros. 

—  Termo  de  chimica.  Apurado. —  Es- 
piritos  rectificados. 

7  RECTIFICADOR,  A,  í.  Pessoa  que  re- 
ctifica. 

—  Apparelho  que  serve  para  rectificar 
03  licores,  e  distillal-os  segunda  vez. 

RECTIFICAR,  v.  a.  Tornar  recto.  —  Re- 
ctificar o  traçado  de  uma  estrada. 

—  Termo  militar. — Rectificar  um  ali- 
nhamento; tomar  recta  a  frente  de  imi 
exercito  cuja  ordem  está  desarranjada. 

—  Figtu-adamente :  Corrigir,  emendar, 
dirigir. 

—  Termo  de  geometria.  Rectificar  uma 
curva;  achar  imia  linha  recta  que  lhe 
seja  egual  em  comprimento. 

—  Termo  de  chimica.  Rectificar  um 
licor ;  tomal-o  mais  puro  distUlando-o  de 
novo. 

—  Rectificar  tratados;  em  vez  de  rati- 
ficar. 

—  Rectificar  as  observações;  corrigir 
algiima  falta,  menos  exacção  que  houve 
n'eilas. 

—  Termo  de  náutica.  Rectificar  o  oi- 
tante;  corrigil-o,  emendal-o  para  que  fi- 
que sem  defeito. 

BECTIFICATIVO,  A,  adj.  Que  rectifica. 
Artigo  rectificativo. 

—  Termo  de  chimica  e  de  pharmacia. 
Correctivo. 

—  Usa-se  também  como  substantivo. 
—  Um  rectificativo. 

■f  RECTIFICAVEL,  adj^  2  gen.  Que  se 
pôde  rectificar.  —  Erro  rectificavel. 


—  Termo  de  geometria.  Que  se  pôde 
tornar    equivalente   a   uma   linha   recta. 

—  Curvas  reC.ificaveis. 

f  RECTIFLOR,  adj.  2  gen.  Termo  de 
botânica.  Que  tem  fl  u-es  rectas. 

-f  RECTILINEAMENTE,  adv.  (De  recti- 
líneo, com  o  suflixo  «mente»).  Em  linha 
recta. 

RECTILÍNEO,  A,  adj.  Termo  de  geo- 
metria. Que  está  em  linha  recta.  —  O 
movimento  rectilíneo  é  o  que  se  fazem  li- 
nha recta, 

—  Triangulo  rectilíneo;  ti-iangnlo  ter- 
minado por  linhas  rectas,  em  opposição  ao 
triangulo  espherico,  cujos  lados  sào  ar- 
cos de  circulo. 

—  Cartas  rectilíneas ;  diz-se  em  oppo- 
sição ás  cartas  globtdares,  ou  curvilineas. 

—  Termo  de  botânica.  Que  se  estende 
em  linha  recta,  e  não  offerece  nem  cur- 
vaturas, nem  sinuosidades. 

f  RECTINERVO,  A,  adj.  Termo  de  bo- 
tânica. Que  tem  as  nervuras  rectas ;  taes 
são  as  folhas  das  gramíneas. 

f  RECTIROSTRO,  A,  adj.  Termo  de 
zoologia,  '^ue  tem  o  bico  direito. 

RECTÍSSIMO,  A,  adj.  superl.  de  Recto. 

t  RECTITE,  s.  f.  Termo  de  medicina. 
Intiammaçào  do  reeto. 

RECTITUDE,  s.  f.  (Do  latim  rectitiião). 
Qualidade  de  ser  direito  e  não  cm^vo.  — 
A  rectitude  do  movimento  do  sol. 
■  — Figuradamente:  Conformidade  com 
a  razão,  com  a  regra,  com  o  dever.  — 
Rectitude  do  juizo,  da  intenção. 

j  RECTIUSCULO,  A,  adj.  Termo  de  his- 
toria natural.  Que  é  pouco  mais  ou  me- 
nos recto,  sem  comtudo  o  ser  completa- 
mente, 

l.;i  RECTO,  A,  adj.  (Do  latim  rectus). 
Direito,  nào  curvo,  que  não  propende  mais 
para  um  lado  que  para  o  outro.  —  Uma 
linha  recta. 

—  Homem  recto ;  homem  que  procede 
como  é  de  justiça  e  de  razão,  e  segundo 
o  seu  dever. 

—  Angulo  recto  ;  angulo  formado  por 
duas  linhas  rectas,  uma  das  quaes  é  per- 
pendicular á  outra,  e  forma  com  eUa  dons 
ângulos  eguaes,  ou  cada  um  de  noventa 
graus. 

- — Recta  intenção,  ou  recto  viver  ;  o 
desejo  e  intenção  de  proceder  bem  e  acer- 
tar. 

—  A  estatura  recta  do  homem;  diz-se 
em  opposição  á  do  quadrúpede,  propensa 
e  inclinada  para  a  terra. 

—  Figuradamente:  Recta  vara;  jus- 
tiça. 

—  Pagina  recta ;  a  pagina  que  fica  á 
direita :  é  a  primeira  da  folha. 

2.J  RECTO,  s.  rn.  Termo  de  anatomia. 
O  ultimo  dos  intestinos,  o  que  vae  ter  ao 
anus. 

—  A  primeira  pagina  de  rmia  folha, 
em  opposição  a  verso,  que  é   a  segunda. 

—  E  mister  refazer  todos  os   rectos   das 
primeiras  folhas.  Vid.  Folio. 


]?,H 


11  ECU 


RECU 


IIKCU 


—  Pôr-se  no  recto;  no  jo;;o  da  ospail/i, 
pôr-.so  de  manciríi  fpio  o  ljra<;o  (rHti;ii<li- 
do  com  a  espada  tV)nno  um  aiifíulu  recto 
com  o  corpo. 

RECTOR,  .V.  i'i.  (Do  latim  re.ctov).  Vid. 
Reitor. 

—  Adj.  Termo  de  cliimicii  antiga.  Ks- 
jilvitti  rector  ;  a  jiartc  aromática  do  uma 
plantii. 

f  RECTO-VAGINAL,  adj.  2  (jcn.  Termo 
do  iiiiatoniia.  i^w.  diz  respeito  ao  recto 
o  il  v:i;;inM. 

f  RECTO-VESICAL,  aãj.  2  gen.  Termo 
de  anatomia.  Que  diz  respeito  ao  recto 
c  á  bcxi;;a. 

—  tí<'i)am(:ão  recto-vesical ;  separação 
que  resulta  da  ai)])roximaç.ão  c  da  adlie- 
rencia  das  paredes  corrcf^pomlentes  da 
bexip;a  o  do  recto. 

RECTRIX.  Termo  usado  no  plural  Re- 
ctrices.  Termo  de  historia  natural.  As 
pcnnas  das  caudas  das  aves,  com  que 
pjovernam  o  seu  rumo,  ou  direcção  que 
levam,  como  o  leme  serve  aos  barcos, 
além  de  as  ajudar  a  sostcr-se. 

RÉGUA,  s.  /.  Círupo  de  cavalgaduras. 
Yid.  Recova,  ou  Récoa. 

RECUADEIRA,  .s.  /.  Correia,  que  pren- 
de na  ponta  do  varal  da  sege,  e  serve 
para  a  lazer  recuar. 

RECUADO,  jifirt.  pnss.  do  Recuar.  Que 
recuou,  ou  fez  recuar. 

—  Figurada  c  popularmente  :  Atraza- 
do,  ou  que  foi  a  pcor  de  fortuna,  deca- 
dente, descaliido. 

RECUAMENTO,  s.  m.  Acção  de  re- 
cuar. 

RECUAR,  r.  a.  (Do  francoz  rrruJer). 
Fazer  andar  para  traz.  Vid.  Encolher. 


Instantânea  fiigio  HarbiiiiJado, 

Vem  o  Keino  da  Paz,  com  cila  as  Avtcs : 

Já  fez  do  Cabos  remar  o  linpcvio  : 

Hum  dia  proinctteo,  que  traga  ao  Mundo 

A  luz,  que  a  Crvecia  \'io,  quando  na  Escola 

O  Génio  de  Estagira  absorta  ouvia, 

E  Platão  facundissimo  Ibo  expunba. 

J.   A.    DE  MACEnO,   VIAOEM  EXTÁTICA,  Cant.    4. 


o  sombra  aiiç;u9ta,  escuridão  profunda, 
He  Newton  junto  a  ti,  qual  cu,  quacs  todo» 
lluiis  ÍMipal|)avi'is  lUomos  obtusos. 
Se  l'i  chefia  a  Kazào,  pára,  o  recua, 
Como  iisítustiulus  retrocedem  fi-ias, 
Sc  a  arêa  vão  tocar,  quebradas  ondas. 

IDEM,  MEDITAÇÃO,  Caut.   1. 


CV  este  tartavco  oráculo  medonho. 
Tremendo  recuei,  senti  na  fronte 
Hum  pelado  suor  correndo  em  bagas; 
Ccrrou-mc  o  coração  súbito  susto. 
IBIDEM,  cant.  4. 


—  V.  n.  Andar  para  traz,  sem  voltar 
o  rosto  para  essa  parte  d'onde  veio. 

—  Emprega-se  também  no  sentido  fi- 
gurado.—  «A  concepção  humana  recua- 
ria aterrada,  se  podessc  obsci-var  nesse 
momento  a  alma  tenebrosa    do   monge, 


rcvcndo-80  com  acro  o  phronetico  deleite 
nas  Hcnsações  de  um  ódio  encanecido, 
ismfim  satihfeito,  satisfeito  além  de  tudo 
o  fpie  e.^p(■rilva.»  Alexandre  Herculano, 
Monye  de  Cister,  cap.   2H. 

RECUBITO,  s.  "1.  (IJo  latim  rfíctiòilus). 
Termo  pouco  usado.  Acto  de  estar  recos- 
tado, i-ecovado. 

—  l)iz-80  do  que  está  encostado  soVjre 
o  cotovelo,  como  os  antigos  lançados  cm 
leifoí  eo<tiiuiavam  cear  á  roda   da  me.sa. 

RECUCHILHAR,  v.  a.  Termo  antiqua- 
do. Acutilai'. 

RECUDAR,  V.  a.  Termo  antiquado.  Ne- 
gar-se  ;i  jietiçào  de  alguém.  Vid.  Re- 
cusar. 

RECUDIR,  r.  II.  Termo  antiquailo.  Sa- 
hir,  vir  a  sor  para  o  futuro.  —  «i^ela 
qual  razom  nasce  na  Igreja  de  Deos 
grande  escândalo,  c  muitas  vezes  acon- 
tece, que  he  embargado  o  serviço  de 
Deos,  e  o  Saerificio,  se  ha  de  fazer,  e 
antre  os  outros  Christaão.s,  do  que  de- 
vera seer  esquivados,  recudem  grandes 
ódios,  e  infâmias  nas  pessoas,  e  gi-andes 
perdas  nos  seus  direitos,  e  nos  outros  au- 
tos lydemos,  que  lhes  por  esso  som  em- 
bargados.» Ord.  Affons.,  liv.  ò,  tit.  27, 
§3. 

—  Tornar  a  acudir,  voltar  para  algu- 
ma parte. 

—  Acudir  a  serviço. 

RECUICAS.  Termo  usado  por  Diogo  de 
Couto,  Década  10,  liv.  3,  cap.  b. 

RECUIDAR,  V.  a.  Tornar  a  cuidar. 

RECUMBIR,  i'.  n.  (Do  latim  recumbire). 
Estar  encostado. 

RECUNHAR,  v.  a.  Cunhar  segunda  vez, 
cunhar  de  novo. 

RECUO,  .s.  m.  Acto  de  recuar. 

—  Termo  de  artilheria.  O  espaço  que 
a  peça  retrocede  ao  disparar  o  tiro.  Vid. 
Repuxo. 

RECUPERAÇÃO,  s.  f.  (Do  latim  recu- 
jierafio).  Acto  de  recuptu-ar. 

—  Restauração. 

1  RECUPERADO,  parf.  p„ss.  do  Recu- 
perar.—  Diiihrn-i)  recuperado. 

RECUPERADOR  A,  s.  (Do  latim  recu- 
perntor).    Pessoa  que  recupera. 

—  Kestnnrador. 

RECUPERAR,  v.  a.  (Do  latim  reaijye- 
rare).  Recobrar,  tornar  a  cobrar  o  per- 
dido. —  «.\.  primeira  empresa  de  Cláu- 
dio, fov  recuperar  Jlilaò,  com  morte  de 
Auteolo,  depois  de  ser  recebido  em  Ro- 
ma, com  exquisitas  dcmostraçoens  de  con- 
tentamento, tomou  a  segunda  contra  os 
(iodos,  que  em  companhia  de  outras  Na- 
çoons  Septentrionaes  dctorminaraõ  vir  so- 
bre Itália. n  Monarchia  Lusitana,  liv.  õ, 
cíip.  17.  —  «Ds  Reis  visiuhos  procuraram 
recuperar  o  que  o  tyranno  lhe  tinha  to- 
mado em  diversos  tempos,  entre  os  quaes 
o  de  Arracaõ,  e  Tàgut  (que  era  cunhado 
do  cercado"!  seguindo  o  discurso  do  de 
Siaõ,  vinham  com  grandes  exércitos  por 
apoderarse  do  thesouro,  c  juntamente  da 


occasiail  de  ficmclliantc  desgraça.»    Con- 
quista do  Pegú,  cap.  2. 

-  Recuperar-se,  v.  reji.  Indcmnigar-se. 
—  Recuperar-se  '/<;  ««</»  pi-nluii. 

RECUPERATIVO,  A,  'i.lj.  qn,;  tem  a 
fori;.i  <\r  r'i  ii|  1  rar. 

RECUPERATORIO,  A,  ailj.  iDu  latim 
1-ertipcnil'uitis  .  Termo  do  jurisprudên- 
cia. Inti.rilicto  rccuperatorio ;  mandado 
pido  qual  o  juiz  jiroce  lendo  summariu- 
mcnte  ordena  quo  «e  ponham  no  primei- 
ro estado  todos  os  actos  feitos  c  attcsta- 
dos. 

RECUPERAVEL,  n.lj.  2  ijen.  Quo  é  jx.s- 
sivil  I u|  irar,  recobrar. 

RECURÇÃO,  ». ./'.  Termo  antiquado.  Li- 
mit'',  fVe^ruezia,  termo,  território.  Vid. 
Recorreição. 

-{-  RECURRENCIA,  ».  /.  Termo  de  ana- 
tomia. lv-itadi>  do  ([ue  é  recorrente.  —  A 
recorrência  dos  nervos  inferiorej  da  la- 
rvnge. 

"  RECURRENTE,  n<lj.  2  gen.  iDo  latim 
rerinrens'.  Termo  de  anatomia.  Que  sobe 
á  sua  origem. 

—  Artérias  recurrentes ;  nome  dado  a 
muitas  artérias  do  antebraço,  e  a  uma  ar- 
téria da  perna,  assim  chamadas  por  pare- 
cerem subir  para  a  origem  do  tronco  que 
lhes  deu  principio. 

—  Nervos  rectírrentes ;  nervos  inferio- 
res da  larvnge. 

—  Termo  de  philosophia.  Sentibilidade 
recurrente ;  sensibilidade  'observada  nas 
raizes  anteriores  dos  nervos  rachidianos ; 
se  se  corta  uma  d"estas  raize.s,  a  extre- 
midade cortada  correspondente  á  modulla 
especial  é  insensível,  ao  passo  que  a  quo 
corresponde  .•l  periphcria  do  corpo,  nilo 
communicando  mais  com  o  encephalo,  c 
sensível. 

—  Termo  de  álgebra.  Serie  recurren- 
te ;  toda  a  serie  em  que  cada  termo  é 
formado  com  um  certo  numero  de  termos 
que  o  precedem  combinados  segundo  uma 
e  mesma  lei. 

—  Pulso  recurrente;  pulso  que  se  tor- 
na a  fazer  tão  largo,  e  accelerado  como 
d'antes. 

— Vid.  Recorrente. 

RECURSAR,  V.  n.  (Do  latim  recvirsare\. 
Recursar  o  entendimento ;  tomar  a  refle- 
ctir, ou  passar  pela  retlexào,  fazer  vir 
atra?;. 

RECURSO,  .».  )'i.  ;Do  latim  recwn»»). 
A  acção  lie  recorrer. 

—  O  acto  de  appellar.  soccorrer-sc,  ou 
buscar  remédio  em  alguma  necessidade, 
refugio.  —  «Os  Christàos  (como  jii  to- 
queyl  tinhaõ  seus  S.iccrdote.",  e  Bispos, 
e  govemavaõse  por  Còdes  nas  Cidades 
principaes,  e  nos  povos  de  menor  conta 
por  Juizes,  ou  Aguazis,  que  cm  tU'lo  os 
regiaõ  pelas  leys  dos  (íoilos,  sem  mais 
recurso  aos  íl.uiros.  que  era  casos  de 
morte.  !•  Monarchia  Lusitana,  liv.  7,  ca- 
pitulo 7. 

RcoTCsso.    por   exemplo,    do   tíador 


IIECU 


REDA 


REDE 


13U 


que  pagou  pelo  seu  fiado,  contra  os  bens 
d'e3te  para  se  indemnisar  por  elles. 

—  Acção  de  tornar  a  correr  para  d'on- 
de  correra,  ou  saliira. 

—  Appellação  extraordinária  ao  supe- 
rior, que  emende  a  iniquidade,  ou  vexa- 
me do  inferior. 

—  Ter  recurso  «  aJguem;  soccorrer- 
se  a  elie,  pedir-liie  auxilio,  valer-se 
d'elle. 

—  Recurso  «  coroa;  o  aggravo  que  nos 
juizes  da  coroa,  e  d'el-rei,  ou  ás  juntas 
de  justiça  se  interpõe  das  violências  dos 
juizes  ecclesiasticos  que  usurpam  direitos 
do  soberano,  ou  infringem  as  leis  canó- 
nicas, de  que  el-rei  é  defensor  e  prote- 
ctor. Mais  precioso  é  o  recurso  imme- 
diafo  á  pessoa  do  soberano  em  audiên- 
cia, ou  por  requerimento,  de  que  ne- 
nhum vassallo,  nem  o  escravo  é  visto 
ser  privado  em  nenbum  tempo,  nem 
caso,  e  é  o  direito  mais  sagrado  da  na- 
ção portugueza. 

—  Remédio  para  emendar  o  mal,  per- 
da ou  damno,  moralmente  fallaudo. 

—  Syn.  :  Recurso,  expediente.  Vid  este 
ultimo  termo. 

RECURVADO,  part.  ijass.  de  Recurvar. 
Encurvado,  inclinado. 

■ — Emprega-se  também  no  sentido  fi- 
gurado. 

RECURVAR,  i".  a.  (Do  latim  reciirvare). 
Encurvar,  inclinar. 

1  RECURVIFOLIO,  adj.  Termo  de  bo- 
tânica. Que  tem  as  folhas  curvas  de  den- 
tro para  fira. 

RECURVO,  A,  adj.  (Do  latim  recurvus). 
Curvo,  torcido. 

RECUSA,  s.  /.  Vid.  Recusação. 

—  Syn.:  Recusa,  desculpa.  Vid.  este 
ultimo  vocábulo. 

RECUSAÇÃO,  s.  /.  (Do  latim  recusa- 
tio).  A  acção  de  recusar. 

RECUSADO,  part.  pass.  de  Recusar. 
Refusado,  não  acceitado. 

—  Talho  recusado ;  desviado,  no  jogo 
da  espada. 

RECUSADOR,  A,  s.  Pessoa  que  re- 
cusa. 

RECUSANTE,  part.  act.  de  Recusar. 
Que  recusa,  que  recusou. 

—  Substantivamente :    Um   recusante. 
RECUSAR,    V.    a.  (Do  latim  recusare). 

Refusar,  não  acceitar  o  que  se  dá,  ou  of- 
fereee,  rejeitar.— «E  se  alguém  recusava 
aos  pagar,  resgatava-lhe  também  a  vida 
e  a  pessoa  com  imposições  feitas  a  sua 
vontade :  finalmente  foi  cruel  e  tirano 
sobre  todos  os  nascidos.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  de  Inglaterra,  capi- 
tulo 117. 

Eate,  sendo  também  indignamente 
Pelo  orfTiiIlioso  Bispo  injuriado, 
Porque  á  porta  recusa  do  Caljido 
Ir,  como  tu,  a  oli''rcccr  o  Hyssope, 
Para  em  salvo  se  pôr  de  seus  insultos. 
Deixando,  sabiamente  aconselhado. 
Disia  px  OBCz,  uYssoPE,  caat.  8 


Indócil  presumpçào  recusa  um  jugo  ; 
Mas  a  despeito  da  soberba  entende 
O  misoro  mortal,  que  cLle  nascera 
Siímcnto  para  obrar ;  não  he  seu  dote 
Té  do  que  palpa,  c  vê,  saber  as  Causas  ; 
A  Scicncia  o  deslumbra,  e  sempre  illudc 
A  infatigável,  vívida  esperança. 

J.  A.  DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Caut.  4. 

—  «O  privado  lançou-se-lhe  aos  pés, 
agarrou-lhe  na  mão  e  beijou-lh'a.  Depois 
ergueu  para  elle  os  olhos,  dos  quacs  de- 
sejaria nesse  momento  espremer  duas  la- 
grymas,  que  o  coração  frio  e  árido  lhe 
recusava.»  A.  Herculano,  Monge  de  Cis- 
ter, cap.  15. 

—  Recusar  alijuem;  não  attender  ao 
que  elle  pede. 

—  Recusar  o  ju  iz ;  não  o  acceitar  por 
julgador  dando-o  por  suspeito. 

—  SiX.:  Recusar,  refusar.  Vid.  esta 
ultima  palavra. 

RECUSAVEL,  adj.  2  gen.  Que  pôde  ser 
recusado.  —  l^stcnmnha  recusavel. 

— ■  Diz-se  algumas  vezes  das  cousas. 
—  Auctorídade  recusavel. 

REÇUMAR,  V.  n.  (Joar,  ou  dar  passa- 
gem pelos  poros  ao  licor  contido  no  vaso. 

—  Vid.  Reçumbrar,  e  Ressumbrar. 
REÇUMBRAR,  i'.   «.  Significa  o  mesmo 

que  Reçumar. 

—  Emprega-se  também  no  sentido  fi- 
gurado. —  Soffrer  que  rsçumbra  do  inte- 
rior. 

—  Vid.  Resumar,  que  é  termo  mais 
próprio,  e  talvez  mais  correcto,  ortho- 
graphicamente  fallaudo,  porque  o  s  não 
SC  dobra  depois  de  re  nos  compostos  d'es- 
ta  preposição. 

REDACÇÃO,  s.  /.  Acção  e  efteito  de 
redigir. 

—  Logar,  casa  onde  se  redige. 
REDACTOR,  s.  m.  O  que  redige. 

—  Collaborador  de  qualquer  obra  lit- 
teraria,  ou  scieutifica,  de  qualquer  pe- 
riódico ou  outro  género  de  escriptos. 

REDADA,  s.  /.  Lanço  de  rede. 

—  Figuradamente :  Prisão  de  muita 
gente,  ou  grande  numero  de  cousas  que 
se  tomam  ou  apanham  de  uma  vez. 

REDADEIRO.  Vid.  Derradeiro. 

REDADO,  part.  pass.  de  Redar. 

EEDAMENTO,  s.    m.   ant.  Rendimento. 

REBANHO.  Vid.  Redenho. 

REDAR,  V.  a.  ant.  Tornar  a  dar,  dar 
segunda  vez.  Vid.  Redrar. 

REDARGUIÇÃO,  s.  f.  Acção  de  redar- 
guir, replicar,  ou  retorquir  o  argumento. 

REDARGUIDOR,  s.  m.  O  que  redargue, 
recriuiinador. 

REDARGUIR,  v.  a.  Replicar  argumen- 
tando, converter,  retorquir,  voltar  o  ar- 
gumento contra  quem  o  dirigiu.  —  «Es 
um  parvo,  homem !  —  redarguiu  estimu- 
lado o  armeiro.  —  ííão  falarias  assim,  se 
visses  o  que  eu  vi  em  Valverde.»  Ale- 
xandre Herculano,  Monge  de  Cister,  ca- 
pitulo 27, 

—  Figuradamente :    Combater,   crimi- 


nar alguém,  valendo-se  das  suas  próprias 
razões,  e  até  das  suas  próprias  palavi'as. 

—  Termo  forense.  Accusar,  contradi- 
zer, impugnar  uma  cousa  por  algum  de- 
feito ou  irregularidade  que  contém. 

REDDITO,  s.  m.  (Do  latim  redditus). 
Renda,  rendimento,  lucro  do  capital. 

REDE,  s.  f.  (Do  latim  rete,  retis).  Te- 
cido de  malha  mais  ou  menos  larga  com 
que  se  apanha  peixe  e  se  arma  ás  aves, 
—  «Ho  qual  foi  sem  outras  redes,  nem 
varães,  que  esta  gente,  a  qual  bateo  ho 
monte  ate  trazerem  a  caça  a  hum  es- 
campado que  auia  entrestas  serras,  on- 
de ficou  toda  cercada  da  gente  como  se 
estiuera  cerrada  em  hum  curral.»  Da- 
mião de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  4,  cap.  10.  —  «Ko  qual  instante 
andando  huns  pescando  com  redes,  e  ou- 
tros lanando  os  cauallos,  eram  ja  os  mou- 
ros tam  junto  delles,  que  nam  tiueram 
mais  tempo  que  pêra  assi  nu.s  como  an- 
dauam,  sem  poderem  tomar  as  camisas, 
nem  enfrear  os  caualos,  nem  lhe  porem 
as  sellas  se  lançarem  ha  elles  em  osso, 
com  SOS  os  cabrestrillos, »  Idem,  Ibidem, 
cap.  47, 

Cumprem  fieis  a  lei,  enchem,  e  povoào 
De  immensa  prole  as  liquidas  campinas 
Do  cerúleo  Nereo,  e  a  cada  instante 
Nas  redes  encontrada  a  nova  espécie 
Do  antigo  pescador  confundo  á  mente  ; 
Observa  o  mesmo  numero  naquelles 
Quasi  insectos  qu'  o  mar  no  seio  encerra. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Caut.  3. 

Pelas  Costas  maritimas  cm  chusma 
D'exquisito  sabor  peixes  observa 
Sobre  as  arcas  fiilgidas  do  Tejo, 
Cativos  pulào  nas  miúdas  redes  . 


—  Qualquer  tecido  de  malha  feito  de 
diíFerentes  matérias  e  para  diversos  usos. 

—  Tecido  de  malha  com  ramaes,  que 
se  atam  nos  extremos  de  uma  vara,  ou 
a  duas  argolas,  e  qu^e  serve  para  se  dei- 
tar a  dormir,  ou  são  levados  ás  costas 
de  pretos,  que  susteem  cada  um  no  hom- 
bro  o  extremo  da  vara,  espécie  de  canna 
maciça  de  Angola,  —  «Despedido  da  vil- 
la  de  Ourem  com  o  ultimo  sei-mão,  que 
foi  o  do  menino  perdido,  cm  acto  de  chris- 
ma,  aos  10  de  Janeiro  partimos  de  ma- 
di-ugada  para  o  Caite  e  nos  embrenhá- 
mos no  matto,  que  atravessamos  ora  a 
pé,  ora  a  cavallo,  e  o  mais  tempo  em 
rede.»  Bispo  do  Grão  Pará,  Memorias, 
publicadas  por  Camillo  Castello  Branco, 
pag,  188. 

—  Tecido  mui  fino,  feito  de  fio  de  li- 
nho, de  seda,  ou  algodão,  formando  ma- 
lhas muito  subtis,  para  ornato  de  roupas, 
de  véos,  etc. 

—  Figuradamente  :  Laço,  armadilha, 
esparrella,  ardil,  engano,  logração. 

—  Rede  do  ar;  a  que  se  arma  suspen- 
dendo-a  de  uma  arvore  a  outra,  de  sorte 


140 


KKDH 


iu:i)K 


REDE 


f|uo  11'^  avos  quando  paMíani  íiijiicin  itnv 
h;h  ii'i'lla. 

—  Rede  '?«  pn-ssams,  on  de  jiurdacs ; 
í|ii;iltjiicr  fazenda  ou  tucido  muito  ralo, 
e  mal  fabricado. 

—  (Joifa  om  que  se  metto  o  cahollo. 

—  Deiliir,  lanc/ir  u  rede;  fazer  tuda» 
as  dilifíoncias  para  coiist-fíuir  alf^um  liiii. 

—  kstiiwlnr  as  redes ;  lançal-as  ao  mar 
para  pescar. 

—  Estender,  lancear  as  redes ;  usar  de 
meios  Dpportunos  para  conseguir  uma 
cousa. 

—  Rede  varreãijura,  de  rasto,  de  ar- 
rastar, ou  rede-/x';  rode  de  malhas  mui- 
to e.-ítroita-j  e  aportadas  para  uào  deixar 
escapar  os  peixes  pequenos. 

—  Rede  de  tombo ;  com  que  se  arma  ás 
aves,  fazendo-a  cahir  sobre  cilas,  quando 
estiío  juntas  cm  alguma  pousada. 

—  Rede  folie,  e  tombo ;  outras  espécies 
de  redi!s. 

—  Vahir  na  rede;  cahir  em  poder  do 
que  se  faz  espera,  e  armou  a  colher  al- 
guém. 

—  Figuradamente :  Prender  o  vento 
com  redes ;  trabalhar  em  vão. 

—  Termo  do  náutica.  Rede  de  aborda- 
gem ;  a  que  rodeia  o  costado  por  cima  dos 
bordos  para  defeza  durante  a  abordagem, 
c  impedir  a  passagem  dos  inimigos. 

—  Rede  de  combate ;  a  que  se  estica  de 
bombordo  a  estibordo,  por  cima  da  bor- 
da, para  que  n'ella  liquem  em-edados  os 
estilhaços  da  mastrcaeào,  nos  navios,  cu- 
ja artilhoria  joga  descoberta. 

—  Andar  ás  redes ;  fazendo  bordos, 
ou  batendo,  o  espancando  o  mar.  —  «E 
neste  caminho  toparão  com  lorge  de  Mel- 
lo, que  andaua  entre  aquellas  ilhas  bem 
trabalhado  com  mao  tempo,  e  todos  ali 
andarão  (como  dizem)  às  redes  té  que 
a  vinte  do  Septembro  entrarão  todos  cm 
Moçambique,  Martim  Coelho  e  Diogo  de 
Llello  com  lorge  de  Mello  sem  ainda  là 
serem  Fernão  8oaroz,  e  Philippe  de  Cas- 
ti-o.n   Barros,  Década  2,  liv.  1,  cap.  6. 

RÉDEA,  s.  /.  Correias  presas  do  freio 
do  cavallo,  e  que  o  cavalleiro  leva  na 
mão  para  o  governar.  —  «Porem  este  foi 
a  terra  ssm  encontro  por  culpa  do  caval- 
lo, que,  por  não  ser  acostumado  naquel- 
les  passos,  houve  medo  á  ponte,  que  era 
de  pao  e  mui  alta,  de  maneira  que  fur- 
tando o  corpo,  tlcou  seu  senhor  fora  del- 
le :  o  terceiro  poz  as  pernas  ao  seu  e  en- 
contraram-se  com  tamanha  força,  que 
ambos  ticaram  a  pé  no  moio  da  ponte ; 
mas  o  que  a  guardava  levou  as  rédeas  em 
a  mão,  o  tornou  cavalgar  tão  prestes  co- 
mo se  não  cahira.i)  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  d'Iuglaterra,  cap.  '20.  —  «E 
depois  do  atravessar  todo  o  reino  d'Hun- 
gria,  caminhando  polo  pó  de  um  outeiro 
alto  viu  vir  contra  si  um  cavalleiro  bem 
posto  cm  cima  de  um  bom  cavallo  arma- 
do d'arma3  do  negro,  tão  descuidado  e 
triste,   que  trazia  as  rédeas  perdidas,  e  j 


elle  lançado  nobre  o  arção  dianteiro,  co- 
nu)  juoni  d'outra  sorte  não  «e  jioiia  ter.» 
Idein,  Ibidem,  cap.  Hl.  —  «Max  como 
nas  cousas  da  honra  os  que  a  buscam 
não  teiniMn  os  perigo)  da  pessoa,  esque- 
cidos lio  (|ue  tinham  ante  si,  cada  um 
trabalhava  por  não  ser  o  derradeiro  que 
sua  pessoa  n\  jnturasse.  Antre  estcii  o 
que  primeiro  baixou  a  lança  foi  Frisol,  a 
que  aconteceu  como  ao  outro.  O  dos  frei- 
xos passou  adiante  tão  airoso,  como  a 
primeira  vez,  e  voltando  as  rédeas  ao 
cavallo,  tomou  outra  lança  das  nmitas, 
que  a  um  delles  estavam  encostadas,  que 
mandara  trazer,  por  se  não  ver  cm  ne- 
cessidade delias.»  Idem,  Ibidem,  capitu- 
lo 111. 

—  Figuradamente  :  Freio,   moderação. 

—  A  vteia  rédea ;  a  pequeno  galope. 

—  A  rédea  solta ;  de  uma  maneira  in- 
tcii'amçute  livre,  ou  independente. 

—  A  rédea  solta;  com  toda  a  celeri- 
dade. 

—  Correr  á  rédea  solta ;  a  toda  a  bri- 
da, soltar  o  cavalleiro  as  rédeas  ao  ca- 
vallo para  que  corra  quanto  possa. 

—  Figuradamente  :  Correr  d  rédea  sol- 
ta;  entregar-se  sem  i*eserva  ao  exercício 
de  alguma  cousa,  especialmente  ás  pai- 
xões. 

—  Soltar  a  rédea;  dar  livre  cui-so. 

—  Falsa  rédea  ;  correia  que  prende  o 
focinho  da  besta  ao  peitoril,  para  lhe  re- 
colher ou  sujeitar  a  cabeça. 

—  Deitar  a  mão  ás  rédeas;  tomar  a 
rédea  a  um  cavallo,  para  deter  o  caval- 
leiro. 

—  Virar  as  rédeas ;  voltar  o  cavallo, 
mudal-o  de  direcção. —  «Agora,  senhora 
Targiana,  quero  que  vejaes  que  vassal- 
los,  os  vossos  vassallos  tem :  e  virando 
as  rédeas  contra  Floriano,  que  o  estava 
olhando,  abaixou  a  lança,  e  coberto  do 
escudo  remetteu  a  elle  com  toda  a  força, 
que  o  cavallo  podia  levar.»  Francisco  de 
■Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  80. 
—  «N'isto  virou  as  rédeas  polo  caminho 
que  os  outros  levavam.  Ora  is  bem  avia- 
do, disse  o  cavalleiro :  cuida  c<ida  um 
dos  que  lá  vão,  que  é  pêra  cento  taes  co- 
mo vós :  e  vós  quereis  pelejar  com  todos : 
folgo,  que  quando  chegar,  acharei  já  a 
vós  com  vossa  soberba  perdida,  e  o  vos- 
so cavallo  esperando  por  mim ;  e  então  fi- 
careis sem  elle,  e  eu  terei  menos  que  vos 
agradecer.»  Ibidem,  cap.  lO-l. 

—  Figuradamente:  Puxar,  apertar  as 
rédeas ;  cohibir,  sujeitar. 

—  Dar,  ou  alargar  a  rédea;  largal-a, 
colhel-a,  recolhel-a,  tomal-a. 

—  Dar  de  rédea  ao  cavallo;  fazel-o  an- 
dar. 

—  Ter  a  rédea  curta,  bater  as  rédeas; 
fazer  correr  o  cavallo. 

—  2\r  a  rédea  curta  a  alguém;  tel-o 
muito  apertado. 

—  Dar  rédea  á  paixão;  desafogai -a, 
ou  doixal-a  obrar  lirremento. 


—  Rédea  de  uvas;  restea  de  (•.•■chos  de 
pendura. 

—  Plur.  Rédeas,  (ioverno,  direcção  de 
alguma  cou^a.  —  Ai  rédeas  do  governo. 

A»  rnluu  trazem  na  iiiào 
Oi)  HW.  TvdciU  não  tivcráo : 
Vendo  ijuiiiito  iiiiil  iizcr&o 
A  (Vibi^-a  (•  iiiiibi<,'ão, 
Dirifftr«,-a(k)ii  se  acolhêrto. 

CAMUEg,   BEDOXDILUAS. 

REDEFOLLE.  Vid.  Rede,  e  RodofoUe. 
REDEIRO,  v.  (//.  O  qu-   faz  redes. 

—  Anii.-i'iilha  de  caçar. 
REDEMIDO,  part.  y>ax».  de  Redemir. 
REDEMIR.  \i.l.  Redimir. 
REDEMOINHO.  A.   pala^Tas  que  come- 

çani   ijor   Redemoinh...,  busquem-se  com 
Redomoinh... 

REDEMPÇÃO,  s.f.  (Do  latim  redemptio- 
nem).  Acção  e  efleito  de  remir. 

—  Resgate,  recuperação  da  liberdade 
perdida. 

—  Por  antonomásia  ontende-se,  segun- 
do a  religião  christã,  o  resgate  que  Jesus 
Christo  fez  do  género  humano,  por  nn-io 
da  sua  Paixão,  e  morte.  —  cE  porque  no 
feito,  que  João  Machado  no  dia  seguinte 
fez,  que  foi  sesta  feira  da  Redempçâo 
nossa,  salvou  a  Cidade  Goa  de  ser  toma- 
da pelo  qiie  estava  ordenado  per  alguns 
máos  Christãos,  e  delle  fizemos  já  men- 
ção, por  memoria  de  tão  catholieo  barão, 
e  esforçado  cavalleiro,  como  elle  mostrou 
ser  neste  dia,  peri'i  que  per  fortuna  de 
degredo  foi  áqucUas  partes,  diremos  a 
causa  deste  trabalho,  que  o  poz  em  esta- 
do de  andar  tanto  tempo  entre  os  Mou- 
ros.» Barros,  Década  2,  liv.  6,  cap.  í*. 
—  «A  segunda  rezão  he:  pêra  de  mos- 
trar a  certa  esperança  e  confiança  que 
tenhamos,  que  em  nos  ae  cimiprirà  e  exe- 
cutaraa  a  redempçam  e  remissam  dos  pec- 
cados  pello  sangue  de  CHRISTO,  a  san- 
ctificaçam  e  glorificaçam  de  nossas  almas 
e  corpos,  como  estaa  dito.  E  por  isso  con- 
cluymos  dizendo,  Amcn,  como  se  dissés- 
semos, Assi  certamente  se  faça  e  se  cum- 
pra em  nòs.»  Fr.  Bartholomeu  dos  Mar- 
t>Tes,  Catecismo  da  dontrina  christã,  part. 
1,  cap.  24. 

—  Remédio,  recurso,  rcfiigio. 
REDEMPTOR,  s.   m.  (Do  latim  reiem- 

pti,r,.  1.»  que  resgatou  ou  remiu.  —  Jesus 
Christo  Redemptor  nosso. 

And.    Que  noâ  quereis,  csoudeiros? 
Anjo.  Chama  todos  tíus  parcciroa. 

Vereis  vosso  Hfdemplor. 
Aud.-   Não  dumiaes  mais.  Favo  Var, 

Ouvireis  cautar  aqaillo. 

ou.  VIGESTE,    ACrO  DA  UOTTSX  KSXDBS. 

—  «Se  meus  peccados  forai5  leves,  se 
foraí)  poucos,  se  nascerão  somente  de 
ignorância,  se  o  olTendido  na3  fora  meu 
Redemptor,  que  niorreo  por  mim :  já  o 
pejo  fora  mais  tolerável.»  Padre  Manoel 
Bernardes.  Exercicios  espirituaes,  part.  1 , 


REDH 


REDI 


REDO 


Ul 


§  13.  —  «Bento  'ne  aquelle  omga:iito  fi- 
liio  teu,  e  Redemptor  nosío,  que  em  teu 
Borae  vevo  às  terras  a  nos  saluar.  Estas 
pahuiras  (juis  aqni  referir,  porque  evitea- 
daes  ii'mào3  o  que  prometeis  ou  affirmaes 
estando  à  Missa,  e  trabalheis  de  o  cum- 
prir.» Frei  Bartholomeu  dos  Jlartyres, 
Catecismo  da  doutrina  christã,  part.  1, 
cap.  43.  —  «Nào  ha  couza  mais  ordinária 
que  dizer-se,  que  a  flor  chamada  Marty- 
rio,  encerra  em  si  todos  os  instromcntos 
da  payxào  sacratissima  do  nosso  Redem- 
ptor.» Cavalleiro  de  Oliveira,  Cartas, 
liv.  1,  n."  24. 

Pelo  seu  Redemptor  softreu,  foi  Martyr; 
Mas  declina,  por  ora  o  Arbitro  summo 
Hoâtía  encetada  :  olfreuda  requer  solida. 

F.   M.   DO  NASCIIIEXTO,  08  MAKTYRES,  1ÍV.    3. 


—  Diz- 

Christo. 


por 


escellencia    de    Jesus 


Ovelhas  e  cordeirinhos 
He  o  meu  gado  maior  ; 
Muito  humildes  e  mansinhos, 
E  pascem  poios  caminhos 
E  montes  do  Redemptor ; 
Elle  lie  o  summo  pastor  ; 
E  vós  escusae  a  guerra, 
Queu  sam  a  flor  desta  serra. 

GIL  VICENTE,   ACTO  DA  CANANÉA. 


E  graças  ao  Redemptor, 
Pois  fostes  meus  rogadores 
Até  tim  de  minha  dor. 


—  Religioso  da  mercê,  e  trindade,  nO' 
meado  para  fazer  o  resgate  dos  christãoi 
captivos  que  estavam  em  poder  dos  sar 
raceuos. 

REDEMUINHAR,  ou  REDEMOINHAR,  r. 
11.  Remoinhar,  fazer  fazer  movimento  em 
redor  ;  circular  sobre  si,  ou  no  mesmo  le- 
gar. 

REDEN...  As  palavras  que  principiem 
por  Reden...,  busquem-se  com  Redemp... 

REDENHO,  íí.  í/i.  Zirbo,  epiploon,  emen- 
to:  prolougaçào  do  peritoneo  que  cobre 
por  diante  os  intestinos,  foi'mando  uma 
espécie  de  bolsa  adherente  ao  estômago 
e  ao  intestino  cólon,  e  solta  por  baixo. 

REBENTES,  s.  m.  Termo  de  fortifica- 
ção. Obras  feitas  á  feição  da  serra,  com 
ângulos  reintrantes,  e  salientes,  que  se 
defendem  reciprocamente. 

—  Perfil,  feitio  serreo. 
REDEPÉ.  Yid.  Rede. 
REDERAR,  ant.  Vid.  Redrar. 
REDHIBIÇÃO,  s.  /.  .Do  latim   redhiU- 

tionem).  Termo  forense.  AnnuUaçào  da 
venda  que  pôde  intentar  o  comprador, 
restituindo  ou  encampando  ao  vendedor 
a  cousa  vendida  com  dolo  ou  fraude. 

REDHIBIR,  1-.  a.  (Do  latim  redJiibere). 
Termo  forense.  Restituir,  encampar,  tor- 
nar ao  vendedor  a  cousa  defeituosa,  que 
se  nos  vendeu,  encobrindo  o  defeito  que 


devia  declarar ;    exigindo   d'elle  o  preço  i 
que  se  lhe  pagou. 

REDHIBITORIO,  aJj.  (Do  latira  reãhi- 
bitoriubi.  Termo  forense.  Diz-se  da  acção 
que  compete  ao  comprador  para  desfazer 
a  venda,  por  não  ter  o  vendedor  mani- 
festado o  vicio  ou  defeito  da  cousa  ven- 
dida. 

—  Que  pôde  operar  a  redhibição. 
REDIÇOM,  s.  f.  (Do  latim  reditiomm). 

Volta,  tornada. 

REDICTO.  Vid.  Redito. 

f  REDICULO.  Vid.  Ridiculo.  — (.  O  tri- 
buto do  bagaço  da  azeitona,  quem  ha 
que  o  naò  julgasse  por  tyrannico,  alem 
de  rediculo:  e  ainda  mais  rediculo,  o  das 
maçarocas,  cujos  executores  apedrejarão 
as  mulheres  no  Porto.»  Arte  de  furtar, 
cap.  17. 

REDIGIR,  V.  a.  (Do  latim  redigere). 
Pôr  em  ordem,  e  por  escripto  o  que  foi 
deliberado,  i-esolvido  ou  pronimciado  em 
algum  discurso. 

—  Resumir,  recopilar,  reduzir  a  me- 
nos um  discurso  mui  longo. 

—  Compilar,  recopilar  noticias  publi- 
cas, etc.  Vid.  Redactor. 

REDIL,  s.  m.  Curai  de  gado,  sebe  para 
encerrar  e  guardar  ovelhas  ou  cabras. 

—  Figuradamente  :  Logar  para  onde 
se  retiram  os  fieis  que  vivem  debaixo 
da  conducta  de  um  pastor. 

Illustres  moradores  deste  excelso 
Magnifico  Palácio,  bem  sabido 
Já  ha  muito  tereis  o  quanto  deve 
O  meu  augusto  Génio,  a  nossa  Corte 
Ao  grão  Prelado,  que  as  ovelhas  pasce 
Dos  Elvenses  redis. 

DINIZ  DA  CBUZ,  HTSSOPE,  CEnt.   1. 

REDIMIMENTO,  s.  m.  ant.  Redempçào, 
remimento. 

REDIMIR,  i'.  a.  (Do  latim  redimere) . 
Remir,  tirar  da  escravidão  o  captivo, 
mediante  cei-to  preço. 

—  Tornar  a  comprar  alguma  cousa 
que  se  tinha  vendido  ou  possuido. 

REDINGOTE,  s.  m.  ant.  Espécie  de 
casaeão  ou  capa  de  pouca  roda,  algum 
tanto  justa  ao  corpo,  com  mangas  largas. 

REDINHA,  s.  /.  Diminutivo  de  Rede. 

—  Certo  panno  mui  ralo. 
REDINTEGRAÇÃO,  s.  /.  O  acto  de  re- 

dintegrar,  de  restituir  á  inteireza  o  que- 
brado,  desmembrado. 

REDINTEGRAR,  v.  a.  (Do  latim  redin- 
tegrare  .  Inteirar  o  que  se  quebrara. 

—  Repor  no  antigo  estado,  na  posse 
que  tinha,  restituir  no  direito,  ou  acção. 

REDISSOLVER,  i-.  a.  (De  re...,  e  dis- 
solver;. Dissolver  de  novo,  tornar  a  dis- 
solver. 

—  Redissolver-se,  v.  refl.  Tornar  a 
desfazer-se  o  corpo  solido  em  liquido. 

REDITO.  Vid.  Reddito.  —  «  Chegou-lhe 
á  minha  fortuna  a  sua  hora :  ordenando 
que  huma  escrava  de  casa,  espanando- 
Ihe   o  ve.stido,  me  espanasse  a  mim  do 


beicinho  de  meu  amo  para  contribuir  com 
os  reditos  a  hum  rascào  musico,  que  a 
poder  de  .caçaras,  e  seguidilhas,  a  trazia 
aniartellaia.n  Francisco  Manoel  de  Mel- 
lo, Apoíogos  dialogaes,  pag,  72-73. 

REDITO,  ou  REDICTO,  part.  2^a^^s.  de 
Redizer. 

REDIZER,  V.  a.  (De  re...,  e  dizer). 
Tornar  a  dizer,  repetir. 

REDIVIVO,  adj.  iDo  latim  redivivas). 
Resuscitado. 

EEDIZIMA,  s.  f.  (De  re...,  e  dizima). 
Dizima  dos  fructos  já  dizimados. 

—  Nova  parte  dos  fructos  já  dizima- 
dos, ou  outra  qualquer  porção  que  se 
exigir  d'elles,  depois  de  se  ter  pago  o 
dizimo. 

REDIZIMAR,  V.  a.  (De  re...,  e  dizimar). 
Dizimar  segunda  vez,  cobrar  nova  dizi- 
ma dos  fructos  já  dizimados. 

REDOBRADO,"  part.  pass.  de  Redobrar. 

REDOBRADURA,  s.  f.  ant.  Acção  de 
redobrar. 

REDOBRAR,  v.  a.  Be  re...,  e  dobrar). 
Reduplicar,  augmentar  uma  cousa  outro 
tanto  ou  o  dobro  que  antes  era. 

Oiço  a  cada  instante 

Redobrar  o  conflicto...  E  cu  longe  d'clle  ! 

Que  dirá  de  mim  Numida  e  Romano  ? 

GARRETT,  CAtÀO,  act.    5.   SC.    õ. 

—  Figuradamente:  Redobrar  as  penas. 

—  Reduplicar,  reiterar,  repetir  a  miú- 
do, toi-nar  a  fazer  alguma  cousa. 

Soão  em  torno  os  éccos,  que  redohrão 
O  som  magoado,  se  o  robusto  braço 
Do  rústico  esquadrão  redobra  os  golpes 
Da  severa  bipcnnc,  e  abate  os  troncos ; 
Já,  das  altas  montanhas  ai'rancado3, 
Gemem  com  elles  os  sonoros  eixos. 

J.    A.    DE    MACEDO,    MEDIT.AÇÃO,    Cant.    3. 

—  Grargantear,  gorgear  muito,  regor- 
gear. 

—  V.  a. —  Redobrar  sobre  alguma  ma- 
téria; recursar,  trazer  á  memoria. 

REDOBRE,  s.  m.  A  repetição  das  arca- 
das na  rebeca  para  fazer  como  uma  es- 
pécie de  trinado. 

—  Forro,  cousa  que  cobre. 

—  Figuradamente :  Fazer  redobre  ;  ve- 
Ihacarias,  haver-se  com  dolo. 

—  Termo  de  equitação.  Certo  manejo 
do  cavallo. 

REDOBRO.  Vid.  Redobre. 

REDOLENTE,  adj.  2  gen.  iDo  latim  re- 
dolenttiuj.  Mui  cheiroso,  rescendente. 

REDOMA,  s.  f.  Vaso  de  vidro  com  bo- 
jo e  gargalo  cylindrico  ou  afunilado. 

REDOMINHÁ,  s.  f.  Diminutivo  de  Re- 
doma. 

REDOMOINHAR.  Vid.  Redemuinhar. 

REDOMOINHO,  s.  m.  Movimento  em 
giro  que  faz  a  agua  nos  rios  ou  mares 
encontrando-se  duas  correntes,  etc. 

—  ^  oragem,  sorvedouro,  rilheiro. 

—  Redomoinho  de  cabeUos;  os  cabellos 


142 


IIKUO 


(lÍHl)o«tort   como   cm    u.sijiral   n<«  homenH, 
L-tc. 

REDONDAMENTE,  ndv.  (Uo  redondo, 
cimi  (1  sullixo  "meute»j.  Km  clcuinto- 
ronciii,  {)ii  ao  redor. 

—  Claramonto,  alisolutiuiuMitc,  iiositi- 
vamonto,  (UMcnííanadaiiHinto,  sum  liesita- 
çilo.  —  Dizer  que  não  redondamente. 

—  ]\'.  i.;iuc:ul;i,  do  eiinfrc,  sciu  ampa- 
ro.   ( 'iihir  ii"  c/tuo  redondamente. 

REDONDEAR,  r.  <i.  Arredondar,  fazor 
reJondo,  dar  tigura  redonda  a  alguma 
cousa. 

—  Redondear  «  sua  herdíuh ;  adquirir 
terreno  ao  re  lor,  de  modo  a  tornal-a  re- 
donda, som  ângulos. 

REDONDELLA,  s.  /.  Roda  pequena. 

—  Loc.  Aiiv.  A  redondella ;  á  roda. 
REDONDEZ.  N'id.  Redondeza. 
REDONDEZA,  s.  ./'.  i  De  redondo).  Qua- 
lidade, IVtrma  do  eorpo  redondo. 

—  Âmbito,  eirculo,  circuito,  circumfe- 
rencia,  extensão.  — «  A  qual  casa  o  Apos- 
tolo edijicou  no  lugar  que  lae  aquelle 
Kei  deu,  que  hc  no  sitio  onde  agora  estiV 
a  nossa  fortaleza  declarando  mai.s  que 
todolos  Christiios  que  naquella  redondeza 
edificassem  casas,  nào  ])aga3sem  nenhum 
tributo  aos  Reis  daquelle  regno.»  Da- 
mião de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  1,  cap.  98. 

QuauJo  uo  cliiro  Orieutc  a  fresca  Auvora 
Iluinu  ro3iida  luz  mostrou,  e  03  arcâ 
Ofu3c:idos  CO  a  uoito,  varias  flórea 
Por  toda  a  redondeza  descobriào 
A  Lusitana  dobil,  fraca  esquadra 
Deixa  o  c.s.-|uiuo  lugar,  c  ja  caminha, 
A  marítima  costa  vai  direita  : 
Tornando  atras  de  terra  hum  grand'cspa(;o. 

OORTE   RE.VLj   NAff-RAOIO  DE  SEPCLVEDA,  Cant.  9. 

—  « Destas  grades  a  dentro  hia  liuma 
filoyra  de  grandíssima  quantidade  de 
monstros  de  ferro  coado,  que  a  modo  de 
dança  com  as  mãos  dadas  de  huns  aos 
outros  fecliavào  toda  a  redondeza  da  ilha, 
que,  como  digo,  seria  de  quasi  huma  le- 
goa  em  roda.»  Fernão  Mendes  Tinto, 
Peregrinações,  cap.  75. 

Nisto  trabalha  só  :  que  bem  sabia, 
CJue  despois  que  levasse  esta  certeza, 
Aruias,  c  nãos,  c  gente  mandaria 
Manoel,  que  exercita  a  summa  alteza. 
Com  que  a  seu  jugo  a  lei  submctteria 
Das  torras  o  do  mar  a  redondeza: 
Que  elle  não  era  mais  que  hum  diligente 
Descobridor  das  terras  do  Oriente. 
CAM.,  Lvs.,  cant.  8,  est.  57. 

—  Redondeza  da  ferra ;  toda  a  sua  ex- 
tensão, ou  supei-iicie ;  o  xuiiverso.  — 
«Fotentissimo  monarca  de  toda  a  redon- 
deza da  terra,  de  Oriente  a  Poente,  sem 
que  outro  l'rincipe  Christào  (salvo  o  que 
possue  o  Abexim)  em  tudo  o  que  Deos 
Omnipotente  pOs  entre  os  trópicos  de 
Cancro,  e  Capricórnio  tenha  dominio  do 
bum  palmo  de  tsrra,  seuaõ  o  nosso  Rey, 


líEDO 

u  Sunhor,  c  os  iutieis,  Mouro.s,  e  ííentios, 
que  tão  dilatadas  regiòes,  c  differentcs 
climas  Liabitaò  como  vassallos,  ou  confo- 
deiailos  reverenceam,  o  tremem  de  seu 
glorioso  nome.»  Conquista  do  Pegii,  cap. 
1.  —  «Quem  vira  o  nomo  de  Deus  co- 
nhecido, c  respeitado  por  toda  u  redon- 
deza da  terra  !  <Jh  so  na  terra  ae  fizera 
a  vontade  de  Deos  como  no  (Jeo!»  l'a- 
dre  Jlanoel  Hciiiardes,  Exercícios  espiri- 
tuaes,  part.  1,  pag.  :')?. 

—  A  terrestre  redondeza  ;  vid.  Redon- 
deza da  terra. 

O  dourado  aposento  o  Sol  deixando 

C'o'  a  Bua  costumada  ligeireza, 

(Jom  a  Aurora  diante,  vinha  dando 

Xova  luz  á  terrestre  redondeza. 

E  desterrar  a  escura  noite,  (|uando 

Sc  tornou  Sousa  A.  sua  fortaleza. 

Mas  nào  se  abala  a  armada  até  áquclla  hora 

Que  apparecco  no  Cco  de  novo  a  Aurora. 

FRANCISCO  D°ANnKADE,   rBlMElBO  CKBCO  DE  DIU, 

cant.  t!,  est.  51. 

REDONDILHA,  «.  /.  Termo  poético. 
Estancia  do  quatro  versos  de  oito  sylla- 
bas,  em  que  o  primeiro  rima  com  o  quar- 
to, e  o  segundo  com  o  terceiro ;  outras 
vezes  rima  o  primeiro  com  o  terceiro  e  o 
segundo  com  o  quarto. 

REDONDILHO.  Vid.  Redondilha. 

REDONDINHO,  *.  m.  Diminutivo  de  Re- 
dondo. 

REDONDO,  adj.  (Do  latim  i-otundus). 
De  figuia  circular,  rotundo. —  «Destas 
grades  para  dentro  estrio,  por  mu\-to  boa 
ordem,  cento  e  treze  capellas  a  modo  de 
baluartes  redondos,  em  cada  huma  das 
quais  estava  huma  rica  sepultura  de  ala- 
bastro, assentada  com  mu\to  artificio  so- 
bre duas  cabeças  de  serpentes  de  prata, 
que  por  estarem  enroscadas,  e  terem  muv- 
tas  voltas,  parecião  sor  cobras,  inda  que 
tiuhaò  03  rostos  de  molheres,  com  três 
cornos  nas  testas,  que  nào  soubemos  deter- 
minar o  «jue  signiticavào.»  Fernão  Men- 
des I*into,  Peregrinações,  cap.  3.  —  «Es- 
tes ladrões  sam  Turquimàis  naturaes  do 
senhorio  do  Sufi,  andam  sempre  em  cam- 
po em  Aduares  trazem  humas  tendas 
brancas  redondas  de  lenço  sobre  outras 
de  feltro  de  Iam.»  Tenreiro,  Itinerário, 
Ciip.  4. —  «A  primeira  cousa  que  se  fez 
fov  estender  no  chão  huma  grande  estei- 
ra, e  encima  huma  mesa  de  coyro  re- 
donda a  modo  da  dos  irmãos  da  Miseri- 
córdia :  nella  se  poserão  iguarias  pêra  o 
Capitão,  o  nosso  iingoa,  meu  companhei- 
ro, c  eu,  que  fomos  os  que  sò  comemos 
nella,  no  restante  da  csteyra  sobre  huns 
panos  pintados  comerão  até  os  catiuos.» 
Frei  (i aspar  de  S.  Bernardino,  Itinerá- 
rio da  índia,  cap.  12.  —  «Xech  Vmba- 
roch  Uey,  o  qual  selou  de  suas  armas,  e 
seilo  pequeno,  que  era  huma  chapa  re- 
donda com  humas  letras  Arábigas  cm 
que  estaua  o  seu  nome.  Agardeeilhe  muy- 
to  este  fíiuor,  posto  que  iiào  nos   seruio. 


RE  DO 

nem  foy  ncceimario.»  Idem,  Ibidem,  cap. 
17.  —  «A  interna,  que  be  o  verdadeiro 
<  )rgão  do  Hcntidu  audiu^rio  c.stà  funda<ia 
no  usso  l'etroAo;  e  hu  coustituhe  de  qua- 
tro oriticios,  ou  cavidades.  A  primeira, 
<pie  he  a  que  se  ofTerece  á  vLíta,  se  clia- 
ma  Meatij  anditijrio ;  o  qual  lie  tortuoso, 
e  esguelliado  para  binia,  redondo,  e  aper- 
tado.» liraz  Luiz  d'Abreu,  Portugal  me- 
dico, jtag.  7it,  §  KM.  —  €Vê-«e  esta  Ef- 
ligio  no  ineyo  de  huma  figura  triangular, 
cujo.s  ângulos  tsão  redondos,  e  curcado4 
da  representação  da  tlloria.»  <,'avalleiro 
de  Oliveira,  Cartas,  liv.  1,  n."  24. 

—  De  fi'inna  espherica. —  «Sobre  a  qual 
hião  assentiidas  huuiiM  grades  de  latilo 
feitas  ao  torno,  (jue  jxir  quartfiis  de  seis 
em  seis  braças  fechavào  nuuB  balaustes 
do  mesmo  lataò,  cm  cada  hum  dos  quais 
estava  hum  idolo  de  molher  com  huma 
bolla  redonda  nas  maòs,  que  por  então 
se  não  pôde  entender  o  que  isto  BÍgniti- 
cava.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  75.  —  •  Passada  esta  caaa  atra- 
vessamos por  huma  cumprida  ponte  a 
modo  de  rua,  to<la  com  arcos  de  obra 
muyto  rica  e  custosa,  e  fechada  toda  com 
grades  de  latão  com  suas  cimalhas  de 
prata,  e  escudos  darmas  cò  letreyros  dou- 
rados, 03  quais  encima  nas  voltas  dos  ar- 
cos tinhaõ  por  timbre  mapas  redõdos,  de 
prata,  de  mais  de  seys  palmos  era  roda 
feitos  com  grande  primor  e  custo.»  Idem, 
Ibidem,  cap.  lt)2. 

—  Diz-se  da  letra  commum  para  dis- 
tincção  da  bastarda,  ou  cursiva. 

—  Letra  redonda;  letra  de  imprensa. 
—  «A  vocês,  inimigos  da  letra  redonda, 
dirigem  minhas  vozes  seu  Ímpeto,  com 
susto  de  que  no  lethargo  em  que  se 
acham,  nem  voz  de  Estentor  os  esperta- 
rá.» Bispo  do  (irão  Pará.  Memorias,  pu- 
blicadas por  Camillo  Castello  Branco, 
pag.  4ít. 

—  O  que  é  bem  feito. 

—  Cheio. 

—  Termo  poético.  O  redondo  ferro  ,• 
as  balas,  bomba,  granada,  pelouro,  bom- 
barda, etc. 


Deste  esforço  leal  estimulados 

Km  tumanho  furor  todos  so  acccndcm, 

C^ue  em  meio  surgem  dos  Chriâtãos  soldador 

E  com  tudo  o  que  podem  os  offcndem. 

Ja  os  duros  fortes  ossos  encurvados 

("om  mil  frechas  subtis  os  aros  fendem, 

Salie  o  redondo  ferro  da  bombarda, 

Sahe  o  chumbo  subtil  1:4  da  espingarda. 

FRANCISCO  d'aXDRADE,    rSUlEIRO  CERCO  DB  DIC, 

cant.  T,  est.  54. 


Mas  o  redondo  forro  que  sabia 
I.á  do  concJívo  bronze  Lusitano. 
Com  quanto  ardendo  em  fogo  r  fúria  liia, 
Faz  nos  imigos  muros  pouco  dano : 
Mas  a  armada  Christãa  grave  o  sentia 
Do  canhão  furioso  Mauritano, 
Que  do  fixo  logar  faz  sou  serviço, 
E  o  Tortuguei  o  fai  de  movediço. 
IBIDEM,  cant.  '2,  est.  49, 


I 


REDO 


REDO 


REDU 


143 


—  Diz-se  dos  números  dciiarios  nas 
quantidades,  para  distincçào  dos  outros, 
que  formam  as  fracçòes. 

—  Um  não  redondo ;  desenganado,  de- 
cidido. 

—  BataJhào  redondo ;  formado  em  cir- 
culo, de  modo  a  apre>entar-ss  sempre  de 
face  ao  inimigo. 

—  CaiHi,  vestido  redondo ;  sem  cauda. 

—  Chaga  redonda  ;  a  que  nào  tem  cau- 
tos. 

— •  Navio  redondo  ;  o  que  tem  a  proa 
redonda  como  a  charrua,  nào  afragatado. 

—  Navio  de  vela  redonda ;  não  la- 
tina. 

—  ScUo  redondo ;  o  que  se  imprime 
nas  cartas,  e  nào  é  pendente. 

—  Trovas  redondas  ;  em  verso  hrico; 
ou  arte  menor. 

—  Ave  redonda  jw  voar ;  a  que  nào 
YÔa  á  tira,  ou  em  linha  recta,  mas  fa- 
zendo voltas. 

—  Ser  redondo  no  contar;  usar  de  ro- 
deios, e  ambagens. 

— -  Trazer  alguém  redondo ;  macio,  fei- 
to á  mào. 

—  Loc.  ADV. :  Em  redondo ;  em  cir- 
cuito, circularmente,  em  cii-cumferencia, 
ao  redor.  —  Uma  volta  em  redondo. 

REDOPIO,  s.  m.  —  Andar  ao  redopio  ; 
á  roda. 

REDOR,  í.  m.  Arredor,  contorno,  cir- 
cuito, exteusào  que  cerca  algum  logar. 

—  Loc.  ADV. :  Em  redor,  ao  redor ; 
em  roda,  em  volta,  em  torno.  —  «E  no 
tempo  que  se  esta  obra  fazia,  mandou 
afastar  o  arraial  contra  a  parte  da  cida- 
de o  que  vendo  Lourenço  de  Brito,  e 
que  el  Rei  nam  daua  licença  a  gente  de 
guerra,  mas  antes  a  tinha  toda  ao  redor 
da  cidade,  desejou  muito  de  avcr  lingoa 
pêra  se  informar  do  que  passaua,  ao  que 
se  lho  offereceo  hum  carpinteiro  da  for- 
taleza, pêra  o  que  logo  fez  hum  cepo  que 
armou  fora  da  tranqueira  defronto  da 
porta.»  Damiào  de  Góes,  Chronicã  de  D. 
Manoel,  part.  2,  cap.  16.  —  «E  o  mes- 
mo alcançou  do  senhor  de  Menancabo, 
que  he  quasi  na  ponta  da  ilha  de  Sama- 
tra,  defronte  de  Malaca,  da  banda  do  Sul 
donde  vem  aquella  cidade  ouro  do  hu- 
mas  minas,  em  que  a  boa  cantidade  del- 
le,  o  que  também  fezerào  por  amor  delle 
outros  senhores  daquellas  comarcas  ao 
redor,  de  maneira  que  assi  as  mercado- 
rias, como  as  vitualhas  tornaram  em  pou- 
cos dias  ao  preço  que  dantes  tiuhào.» 
Idem,  Ibidem,  part.  3,  cap.  79.  —  «E 
por  isso  t.idolos  seus  trabalhos  sam  em 
vam,  assi  como  vaàmente  se  can.sa  quem 
anda  no  redor,  porque  torna  onde  come- 
çou sem  yr  por  diante.  Por  tanto  Ir- 
mãos, ainda  que  nossos  corpos  cada  dia 
tenham  muvtas  mudanças,  e  dem  muvtas 
voltas  segundo  a  variedade  dos  tempos, 
e  acontecimentos,  nossos  spirltos  estam 
tixo»  em  o  seu  centro  que  he  Deos  eter- 
no.» Frei  Bartholomeu  dos  Mart\Tes,  Ca- 


0'  redor.  Yid.  Ao  redor. 


Cercai-mo  sempre  ó  redor, 

Porque  vou  miú  temerosa 

Da  coutenda. 

O  precioso  defensor 

5Icu  favor ! 

Vossa  espada  himiosa 

Me  defeuda. 

GIL  ^^CESTE,  ACTO  DA    ALMA. 


Arredor, 
\\(\.    Arredores, 


tecismo   da  doutrina    christã,    part.    2,  I  sentidos.»  A.  Herculano,  Monge  de   Cis- 
cap.  b3.  —  «Em  quanto  estes  Chins  nos    ter,  cap.  28. 
forào  contando  isto,  dobi-amos  nós  huma 
ponta    da   terra,    e  vimos    hxim  terreyro 
pequeno    cercado    de    arvores    ao   redor, 
em  meyo  do   qual  estava  huma  Cruz  de 
pedi-a   muyto  grade,  e  muyto  bem  feita, 
com  cuja  vista  certilico  em  verdade   que 
faltão   pala^Tas   para   dizer   o  que   Deos 
nosso  Senhor  aly  nos  deu  a  sentir. »  Fer- 
não Mendes  Pinto,  Peregrinações,   cap. 
96.  —  «O  Chaem  estava, vestido  de  hu- 
mas  vestiduras  de  citim  roxo  muyto  com- 
pridas, franjadas  de  ouro    e  verde,  com 
hum  bentinho  como  fi-ade  lançado  ao  pes- 
coço,  que   tinha  huma    grande  chapa  de 
ouro  no  meyo,   na  qual  estava  esculpida 
huma  mào  cò  huma  balança  muyto  direy- 
ta,  e  huma  letra  ao  redor  que  dezia.  Pe- 
so, e  conta,  e  medida,  tem  a  natureza  do 
alto    Senhor   em   sua  justiça,   e  por  isso 
olha  o  que  íazes,  porque  se  peccares  has 
de  pagar  para   sempre  sem  tim.»    Idem, 
Ibidem,  cap.  103.  —  «Xo  meio  desta  tri- 
buna   estava   huma    grande    estatua    de 
prata   deitada  em  hum  leyto  do  mesmo, 
que    se    caamava    Abicau   nilancor,    que 
quer  dizer,  deos  da  saúde  dos  Reys,  que 
tàbem   se   tomara  no  templo  de  Àngica- 
moy  de  que  atrás  fiz  menção,  e  ao  redor 
desta  estatua  estavào  trinta  e  quatro  Ído- 
los, do  tamanho  de  memnos  de  cinco  até 
seis  annos,  postos  todos  por  duas  tileyras 
em  joelhos,  e  com  ambas  as  màos  levan- 
tadas para  ella  como   que  a  veneravào.» 
Idem,    Ibidem,    cap.    122.  —  «E   nós  os 
seus  também  fomos  muyto  bem  providos 
de    tudo    o   necessário    em   muvta  abun- 
dância, e  em  todos  estes  dias  ouve  sem- 
pre muytos  passatempos  de  pescarias,  ca- 
ças, e  outros  muytos  de  diversas  maney- 
ras,  e  por  toda  a  cidade,  e  ao  redor  del- 
ia vimos  alguns  edifícios  notáveis,  e  tem- 
plos   de   pagodes    sumptuosíssimos,   e  de 
oiScinas  e  obras  muito  ricas.»  Idem,  Ibi- 
dem,   cap.    16o.  —  «Xo    inverno  trazem 
meãs  calças  de  feltro,  ou  grossas  ou  del- 
gadas,   mas   ho  pano  he  feito  de  feltro: 
também    usam    no   inverno    de    vestidos 
forrados    de    mar  tas,    principalmente    ao 
redor  do  pescoço :  usam  também   de   Ca- 
bayas  acolchoadas,  e  alguns  usam  de  Ca- 
bayas  de   feltro   no  inverno  debaixo  do 
pelote.»  Tenreiro,  Itinerário,  cap.  13. 


Umas  SC  chamaõ  Mais,  as  outras  Filhas, 
Testemunhas,  e  Árbitros ;  isto  feito, 
Diversas  hervas  queima,  e  murmurando 
Três  vezes,  ao  redor,  certas  palavras, 
Começou  a  tremer  toda  a  montanha. 
Cem  espantosas  feras,  cem  serpentes 
Sc  ouvem  bramir,  silvar  ao  mesmo  tempo. 

A.    D.    DA    CBCZ,   HYSSOPE,    Caut.    8. 


—  «A  igreja  dançava-lhe  em  roda,  co- 
mo estonteiada  :  o  silencio  zumbia-lhe 
nos  ouvidos,  como  enxame  que  volteia 
ao  redor  do  cortiço.    Por  fim  perdeu   os 


—  A  redor,  de  redor.   X\A. 
e  Derredor. 

—  PJur.    Redores, 
e  Derredores. 

REDOUÇA,  ou  ARREDOUÇA,  s.  /.  Cor- 
da suspensa  das  duas  portas,  fazendo  seio 
no  meio,  onde  se  sertã  alguém  para  se 
embalançar. 

REDOUÇAR-SE,  v.  ref.  Balançar-se  na 
redouoa. 

REDRAR,  V.  a.  —  Redrar  a  vinha;  ca- 
val-a  segunda  vez,  e  chegar  terra  ás  ce- 
pas: amotal-as. 

REDUCÇÃO,  s.  /.  (Do  latim  reducfio- 
nem'}.  Accào  e  efteito  de  reduzir. 

—  Conversão,  mutação  de  uma  em  ou- 
tra cousa  equivalente. 

—  Cambio,  troca  de  uma  moeda  por 
outra. 

—  Divisão  de  um  todo  ou  de  um  cor- 
po em  partes  miúdas. 

—  Passagem  de  um  corpo  do  estado 
solido  para  o  liquido  ou  vaporoso. 

—  Submissão,  sujeição  de  algum  rei- 
no, logar,  etc,  por  meio  do  poder. 

—  Persuasão  efficaz  com  argumentos  e 
razões. 

—  Povoação  de  indios  reduzidos,  con- 
vertidos á  verdadeira  religião. 

—  Termo  de  philosophia.  Reducção  ; 
conversão  de  um  syllogi,?mo  imperfeito 
em  outro  perfeito. 

—  Termo  de  mathematica.  Equivalên- 
cia que  se  procura  da  quantidade  eui 
uma  época  com  a  de  outra  distincta. 

—  Termo  de  chimica.  Decomposição 
de  um  corpo  em  seus  principies  ou  ele- 
mentos. 

—  Resolução  ou  restituição  dos  corpos 
mixtos  ao  seu  estado  natural. 

—  Operação  pela  qual  se  separa  um 
corpo  dos  demais  com  que  está  combina- 
do, para  ficar  inteiramente  puro. 

—  Termo  de  cirurgia.  Operação  pela 
qual  se  repõe  no  seu  logar  o  osso  deslo- 
cado. 

REDUCTIVAMENTE,  adv.  (De  reducti- 
vo,  com  o  suflixi.i  «mente»).  Restricta- 
niente.  liinitailameute. 

REDUCTIVEL,  udj.  2  gen.  Que  se  pôde 
reduzir. 

REDUCTIVO,  adj.  Que  reduz,  que  re- 
põe no  seu  locar. 

REDUCTO.  Vi.l.  Reduto. 

REDUNDÂNCIA,  s.  /.  (Do  latim  rednn- 


144 


REDU 


REDU 


reí:d 


dantiaj.  Siiponiljiiiidiincia,  «obiíjlJJio,  ni- 
niiíi  eojiiíi. 

—  iSu|)ciitiii"liiilo,  niniii';il)iiiiil;iiR'iíi  de 
palíivr.is. 

REDUNDANTE,  'i,lj.  2  ;/n,.  iViirt.  iict. 
fio  Redundai''.  .Sobdjd,  cxe(HHÍvo. 

—  Que  triuiubunlfi ;  i1íz-hc  de  rio,  fon- 
te, otc. 

—  SiiperUiio,  desnecessário;  diz-so  dat» 
palavras  no  diífenrso,  otc. 

REDUNDANTEMENTE,  ndi-.  (Do  redun- 
dante, cMiiri  (I  siiflixu  "menteu).  CJoni  re- 
dumlaiiri:!,  lie  modo  rodundaiito. 

REDUNDAR,  r.  n.  iDo  latim  vndundd- 
jvi.  Transbordar,  <lcitar  por  tVira ;  diz-sc 
regularniento  dos  liqiiidos. 

—  Resultar,  ter  por  effeito  ou  resulta- 
do, vir  a  dar  uma  cousa  em  beneíicio  ou 
damno  de  outrem.  —  «Antes  o  encomen- 
dou aos  criados  do  sua  camará,  para  que 
tratando  com  oUo  o  fossem  abrandado,  e 
persuadindolhe,  (jue  coiulucendcsse  com 
sua  vmitado,  pois  de  o  fazer  lhe  redun- 
davãõ  tanuinhos  interesses,  o  do  contra- 
rio se  podiaõ  seguir  desgrai^as,  a  que  o 
remédio  fosso  niuy  diftieultoso.»  Monar- 
chia  Lusitana,  liv.  7,  cap.  19. 

Fal-o  n'iiíita  uma  scitii ; 
que  tudo  cm  quo  se  deleita 
hoiu-a,  ter,  n'iâto  redniuhi. 

AXTONIO    TRBSTES,    AUTOS,    pag.    301. 

REDUPLICAÇÃO,  s.  /.  (De  re...,  e  du- 
plicaçãoj.  Rriieti(;<ào  da  mesma  cousa. 

—  Termo  de  rlietorica.  Figura  de  es- 
tylo  que  consiste  em  repetir  consecuti- 
vamente no  mesmo  membro  de  uma  plira- 
so  certas  palavras  de  um  interesse  mar- 
cado. 

f  REDUPLICADO,  pnrf.  pass.  do  Re- 
duplicar. 

REDUPLICAR,  v.  a.  Redobrar;  repetir 
a  niiu  lo,  ihi]iliear  de  novo. 

REDUPLICATIVO,  adj.  Que  denota  re- 
dujilicav.Ho. 

—  Termo  de  philosophia.  Proposição 
reduplicativa ;  a  que  contém  uma  res- 
tricç.^o,  para  indicar  a  maneira  como  se 
tem  con^^iderado  o  assumpto. 

REDUTO,  ou  REDUCTO,  s.  m.  Termo 
de  furtitiea<;,uo.  Nomo  genérico  de  muitas 
obras  de  fortitieatjào  permanente  e  pas- 
sageira, de  difForentes  formas  e  tania- 
nho ;  são  construidas  do  ordinário  nas 
linhas  de  circunivallaçào  e  nos  aproxes 
e  algumas  vezes  nos  retornos  das  trin- 
cheira^,  fossos,  etc. 

—  Espécie  de  cidadella  pequena  que 
se  construe  ás  vezes  em  um  baluarte, 
fortificando  a  sua  gola  até  ao  interior,  da 
praça. 

—  Espécie  do  revelim  que  se  construe 
dentro  dos  revelins  eommuns. 

REDUZIÇÃO.  Vid.  Reducção. 

REDUZIDO,  ;"((•/.  p,(»s.  ,íc  Reduzir.  — 
«A  primeira,  para  que  reduzidas,  o  de- 
terminadas a  certos  números,  as  podes- 


80  comprohondor  a  curta  capacidade  do 
nosso  entendinuitito.»  António  Vieira, 
Sermões  do  Rozario,  part.  2,  8  317. — 
«Veo-lho  Embaixada  do  Oraõ  Soplii  da 
l'ersia  sobre  confeilcraeaò  contra  o  (íraò 
Turco  inimigo  comnuim,  c  sobre  outras 
cousas  de  imporrancia,  o  honra  da  Chris- 
tandade.  Deo  soccorro  aos  Catliolicos  de 
Irlanda  com  grande  zelo  do  v^r  aquolla 
Ilha  reduzida  ao  grémio  da  Igreja,  e  li- 
vre das  heresias,  que  se  j)régaõ  neila  por 
ser  sugcita  ao  Reino  de  Inglaterra.»  Fr. 
Bernardo  de  lii-ito,  Elogios  dos  reis  de 
Portugal,  contiiui.idos  por  D.  .lom'-  liar- 
boza.  —  kAs  Unhas;  para  os  insultos 
epilépticos  tem  o  segundo  lugar  abaixo 
<la  unha  de  gram  bosta :  cxhibese  em 
cosimento  de  pconia  athe  meya  onça  es- 
pado de  um  mez,  ou  feitas  em  pó,  ou 
redusidas  a  cinza.  Alguns  da  mosiiia 
sorte,  e  para  as  mesmas  queixas  uz.ào  de 
(';'iv(!Íra.j>  Braz  T.uiz  d'Abreu,  Portugal 
medico,  J'ag.  (IGd.  —  «lie  certo  porem 
qui!  trata  do  incêndio  de  liuma  molher 
reduzida  a  cinzas,  pelo  fogo  que  no  seu 
corpo  se  accndoo  interiormente.»  Caval- 
leiro  d'()liveira.  Cartas,  liv.  1,  n."  lõ. 
—  «A  achárào  hum  dia  pela  manhã  re- 
duzida a  cinzas  exceptuado  o  craneo,  e 
as  extremidades  dos  dedos.»  Ibidem.  — 
«Ey-las  vão,  o  hiri.ào  todas  se  estivessem 
todas  em  Italiano,  jiorem  como  as  que- 
reis reduzidas  a  esta  lingoa  vào  somente 
U8  i|ue  clrtcrminaes.»  Ibidem,  n."  23. 

REDUZIR,  !'.  o.  (Do  latim  rediicere). 
Reconduzir  ao  mesmo  logar,  ou  no  anti- 
go estado. 

—  Diminuir,  limitar,  estreitar,  cir- 
cumscrever. 

—  Converter,  nnular  uma  cousa  em 
outra  equivalente. 

Ella,  co'o3  olhos  nellc,  contemplava 
A  quanto  estrago  o  nunido  reduzia  : 
Ellc  porém,  sonhando,  lhe  dizia 
Que  todo  aqucUe  mal  cila  o  causava. 

CAM.,  SONKTOS. 

Dhuni  Dominante  universal  conhecem 
A  mão,  o  império,  a  lei;  se  ellc  não  fora, 
Tu  a  vira»  correr,  cahir  na  Torra, 
Qual  raio  accezo,  c  rediizilla  a  cinzas. 
j.  A.  DK  MACEDO,  MKDrrAÇÃo,  caut.  4. 

AUi  Monimo  admiro,  o  grande  Ilyparco  : 
Na  abobada  dos  Ceos  Novas  Estrcllas 
IVide  descortinar,  viaiveis  Astros  ; 
Nessas  imraensiis  solidões  do  «tpa<;o 
A  numero  os  reduz  nas  classes  suas. 

IDEM,   VIAGEM   EXTÁTICA,   Caut.    2. 

So  d'es30  coração  faiscar  podcssc 
Scintilla  que  accendcsse  a  morta  cinza 
Em  que  toda  esfriou,  de  consummida, 
A  virtude  latina  !  —  Mas  tu  mesmo. 
(_'iitào  próprio  o  confessa :  a  nós  c  a  poucos, 
A  poucos  mais,  os  deuses  reduziram 
Da  tviste  liberdade  os  defensores. 
GAitnKTr,  cAiÂo,  act.  1,  se.  1. 

—  Cambiar,  trocar  uma  moeda  por  ou- 
tra. 


—  Compendiar ;  resumir  um  discurso, 
narraçilo,  etc. 

—  Dividir  um  corpo  cm  partes  miú- 
das. 

—  Resolver,  fazer  que  um  corpo  paMM 
do  estado  Holidu  ao  liquido,  ou  ao  de  va- 
por. 

—  Comprehcnder,  incluir  debaixo  de 
certo  numero  ou  quantidade. 

—  Sujeitar  á  obediência  os  rebeldes, 
etc. 

—  Persuadir,  wjnvencer  com  razoes,  o 
arguui<!iitos. 

—  Encorporar. 

—  Reduzir  it  cinzu» ;  abrazar  de  todo. 

—  Reduzir  n  dinheiro;  vender. 

—  Reduzir  «  deuffeza  ;  diminuir. 

—  Reduzir  <í  pratica;  pôr  em  pratica. 

—  (,'onvi'rter  á  fé. 

—  Termo  de  philosophia.  Converter  um 
syllogismo  imperfeito  em  outro  perfeito. 

—  Termo  líe  matiematica.  ^'onvertcr 
um  numero  em  outro,  ou  uma  figura  ou 
solido  geométrico   em   outro  equivalente. 

—  Fazer  uma  figura  ou  desenho  mais 
pequeno,  guardando  a  proporçSo  nas  me- 
didas. 

—  Termo  de  chimica.  Resolver,  de- 
compor um  corjx)  em  sens  princípios  ou 
elementos. 

—  Depurar ;  separar  um  corpo  dos  de- 
mais com  que  está  combinado,  para  que 
fique  inteiramente  puro. 

—  Reduzir-se,  v.  rrji.  Converter-se. 
trausforniar-se.  —  tOs  seguintes  pós  que 
saò  de  Hconiio  saõ  de  boa  efficacia :  d^. 
Castoreo  drachm.  j  de  helleòoro  branco 
borrifado  com  agoa  ardente,  e  secco  scrup. 
ij.  de  pimenta  gr.  v.  Reduz-se  tudo  a  p<j 
e  introduz-se  no  nariz  por  hum  canudo 
de  penna ;  c  se  o  enfermo  naõ  espirrar 
com  elle,  hc  o  cazo  deplorado,  jtois  signi- 
fica hunia  insigne  exsoluvaõ  do  Cérebro.  • 
Braz  Luiz  do  Abreu,  Portugal  medico, 
pag.  467. 

—  Resumir-se,  limitar-se.  —  •  Estes 
commummente  se  reduzem  a  quatro,  que 
saõ  Agricultura,  para  a  sustentação  ne- 
cessária ás  Artes  mechanicas,  para  a  vi- 
da jiolitica,  c  á  Mercancia,  para  levar  os 
frutos  jiroprios  às  Províncias  alheias,  e 
trazer  das  alheias,  os  qiie  nos  faltaò,  e  à 
ililíeia,  para  defensai  da  ()atría.>  Seve- 
rim  do  Faria,  Noticias  de  Portugal,  Disc. 
1,  pag.  81. 

—  5Ioderar-se,  limitar-se  na  maneira 
de  viver. 

—  Resolver-se  por  motivos  poderosos 
a  executar  algiuna  cousa. 

REDUZIVEL,  adj.  J  ,,e,i.  Que  se  pôde 
redn/.ir. 

REEDIFICAÇÃO,  ,-.  /.  Acção  c  effeito 
de  riTMÍticar. 

REEDIFICADOR,  .*.  m.  O  que  reedifica. 

REEDIFICAR,  r.  a.  ,Do  latim  reicdiji- 
cari  .  l!eei'ustruir,  tornar  a  edificar,  cons- 
truir de  novo  um  edifício.  —  «  Paguei  os 
ordenados  aos  Capitães,  e  Feitores;  gaa- 


REEX 


REFA 


REFE 


145 


tei  muito  dinheiro  em  reedificar  as  forta- 
lezas todas,  sem  tirar  do  cofre  de  Y.  A. 
hum  sô  real.  e  tudo  das  mercadorias,  pre- 
zas, páreas,  dinheiro  dos  cavallos,  e  rendas 
de  (joa;  e  mandei  a  Cochim  por  vezes 
dinheiro  pêra  as  obras,  por  não  bolirem 
no  cofre,  que  foram  mais  de  cincoenta 
mil  pardáos.»  Diogo  de  Couto.  Década  4, 
liv.  6,  cap.  7.  —  «Aos  três  dias  depois 
do  falecimento  dei  Rei  D.  Affonso  Hen- 
riques, que  foraõ  nove  de  Dezembro  do 
anno  de  mil  e  cento  e  oitenta  e  cinco,  foi 
o  Infante  levantado  por  Rei  na  Cidade 
de  Coimbra  em  idade  de  trinta  e  dous 
annos,  e  a  primeira  cousa  em  que  enten- 
deo  foi  em  reedificar  lugares,  e  fortale- 
zas damniticadas  do  tempo,  e  povoar  ou- 
tras de  novo.»  Fr.  Bernardo  de  Brito, 
Elogios  dos  reis  de  Portugal,  continua- 
dos por  D.  José  Barbosa.  , 

—  Figuradamente  :  Reformar,  regene- 
rar, restaurar. 

—  Reedificar-se,  v.  ref.  —  Reedificar- 
se  o  templo  pela  resurreiçào ;  reunindo-ie 
o  corpo  com  a  alma. 

REELEGER,  u.  a.  (De  re...,  e  eleger). 
Tornar  a  eleger  o  que  já  fora  eleito. 

REELEGIDO,  part.  paus.  de  Reeleger. 

REELEGIVEL,  adj.  2  gen.  Que  pôde  ser 
reeleito. 

REELEIÇÃO,  s.  f.  Acyào  e  effeito  de 
reeleger. 

REELEITO,  part.  pass.  irreg.  de  Reele- 
ger. 

REEMBOLSAR,  v.  a.  (De  re...,  e  em- 
bolsar'. Cobrar  a  quantia  que  se  tinha 
emprestado  ou  desembolsado. 

—  Reembolsar-se,  v.  rejl.  Rehaver,  re- 
ceber o  dinheiro  desembolsado,  empresta- 
do,  etc. 

REEMBOLSO,  «.  m.  Acção  e  effeito  de 
reembolsar. 

—  Dinheiro  que  se  reembolsa. 

—  Pagamento  de  divida. 
REENCHER,  r.  a.  (De  re...,  e  encher i. 

Tornar  a  encher. 

—  Tornar  a  preencher  o  numero. 
REENCHIMENTO,  s.  m.  O  acto  de  reen- 

cher. 

REENCONTRO,  s.  m.  Sào  dous  matra- 
zes  com  o  collo  de  um  encaixado  no  do 
outro ;  é  empregado  para  fazer  circular 
algum  espirito. 

REENVIDAR,  v.  a.  Tornar  a  envidar, 
dobrar  a  parada  ao  que  envidou. 

t  REENVITE,  s.  m.  Segundo  envite, 
retruque. 

REESPERAR,  v.  a.  (De  re...,  e  espe- 
rar. Tornar  a  esperar. 

REESPUMA,  s.  f.  O  assucar  feito  da 
escuma  da  primeira  escuma. 

REESTABELECER.  Vid.  Restabelecei-. 

REEXPORTAÇÃO,  .«.  /.  (De  re...,  e  ex- 
portação i.  Termo  de  commercio.  Aeç-ào 
e  effeito  de  tornar  a  exportar. 

REEXPORTADOR,  s.  m.  Pessoa  que  re- 
exporta. 

REEXPORTAR,    i-.  a.    (De  re...,  e  ex- 

VOL.    V. 19. 


portar).  Termo  de  commercio'.  Tornar  a 
exportar. 

REFACIMENTO.  Vid.  Refazimento. 

REFALSADAMENTE,  adv.  Dolosamente, 
com  m:'i  astúcia. 

REFALSADO,  pai-t.  pass.  de  Refalsar. 

Do  Escnrial  a  onça  refalsada 
Os  negros  fios  da  ambição  urdia 
Qiie,  por  mãos  de  vendidos  conselheiros. 
Em  labyrintho  escuro  inrevezavam 
Os  descuidados  passos  do  monarcha. 

GABEETT,  D.  BRASCA,  CaUt.  6,  Cap  2. 

Xas  cavernas  do  peito  refalsado 
Ódio  cego  lh'entrou  ;  os  beiços  roxos. 
Áridos  com  a  sedo  da  vingança. 
Mordem  convulsos.  Nunca  tam  terrivel, 
Nua  a  verdade  lhes  mostrou  seus  crimes, 
Como  na  bõcca  d'es3e  vate  ousado. 
IDEM,  CAMÕES,  caut.  10,  cap.  2. 

Nunca  me  inganei  eu.  — Erguei-o,  amigos, 
Desse  lodo  em  que  jaz...  insovalhando 
Em  sangue  e infâmia  ascans...  as  cans  traidoras 
Do  refalsado  velho  !  —  O  que  eu  de\na 
C"o'ést3  espada...  Não;  vive,  miserável, 
E  arrastra  ao  sepulchro  essa  vergonha. 
IDEM,  CATÃO,  act.  4,  SC.  2. 

REFALSAMENTO,  s.  m.  Dolo,  engano, 
falsidade. 

REFALSEADO.  Vid.  Refalsado. 

REFAZEDOR,  adj.  Que  refaz,  ou  res- 
taura. 

REFAZER,  V.  a.  (De  re,  e  fazer).  Tor- 
nar a  fazer  o  que  se  tinha  desfeito. 

pôde  matar,  enforcar, 
desfazer  e  refazer; 
tem  poder, 
para  que  é  desorelhar. 

AXTOKIO  PBESTKS,  ACTOS,  pag.  427. 

—  Reformar,  reparar,  restabelecer.  — 
«A  qual  ja  ahv  viera,  e  fora  desbarata- 
da pela  gente  da  terra,  com  perda  de 
setenta  lancharas,  e  de  cinco  mil  homens, 
aviào  a  sua  yda  entào  por  desnecessária, 
porque  segundo  o  que  elles  tinhào  visto, 
hia  este  inimigo  taõ  quebrado  das  forças, 
que  lhes  parecia  que  em  dez  annos  se 
nào  poderia  tornar  a  refazer  do  que  ti- 
nha perdido.»  Fernào  Mendes  Pinto,  Pe- 
regrinações, cap.  148. 

—  Restabelecer,  reunir,  ajuntar  de  no- 
vo a  tropa  desbaratada.  —  «  Pela  qual 
razam  Diogo  lopez  assentou  de  se  nam 
partir  ate  refazer  de  nouo  a  armada  que 
alli  auia  de  ficar,  pelo  que  despachou  lo- 
go dom  Aleixo  de  meneaes  pêra  Cochim 
a  dar  conta  a  dom  Duarte  do  que  pas- 
saua,  pedindolhe  lhe  mandasse  ordenar 
sua  embarcaçam,  porque  tinha  tanto  que 
fazer  nas  cousas  de  Chaul,  que  quando 
chegasse  a  Cochim  nam  teria  tempo  pêra 
mais,  que  pêra  se  passar  da  nao  em  que 
hia,  pêra  a  em  que  auia  de  tornar  pêra 
o  regno.»  Damiào  de  Góes,  Chronica  de 
D.  Manoel,  part.  4,  cap.  73. 


—  Refazer  o  ãamno;  emendal-o,  repa- 
ral-o,  pagal-o. 

—  Refazer  a  quebra,  etc. ;  suppril-a, 
inteiral-a  de  outra  parte,  por  outros  meios; 
indemnisar.  saldar. 

—  Refazer  o  justo  preço;  pagar  o  que 
a  cousa  mais  vale;  e  nào  se  dera  a  prin- 
cipio, com  lesào  do  vendedor. 

—  Refazer  o  gado;  trazel-o  a  pasto  para 
engordar,  principalmente  o  gado,  que  se 
sentiu,  e  descahiu  por  causa  da  mudan- 
ça para  outra  terra. 

—  Refazer-se,  v.  rejl.  Cobrar,  ou  re- 
cobrar f  rças,  ou  saúde. 

—  Reparar-se  da  falta  de  alimentos, 
saúde,  forças. 

—  Refazer-se  da  fome;  comendo. 

—  Refazer-se  do  trabalho;  descançando. 

—  Refazer-se  da  calma;  abrigar-se  á 
sombra. 

—  Refazer-se  de  gente  e  munições ;  tor- 
nar a  prover-se.  —  «Alguns  vintaneiros 
dos  homees  do  mar  de  Lixboa,  e  de  Se- 
ta vai,  e  dos  outros  lugares  da  costa  do 
mar  dantes  feitos  fezerom  suas  vintenas 
de  vinte,  segundo  em  a  vossa  Hordena- 
çom  he  contheudo ;  e  porque  destes  ho- 
mens parte  delles  som  mortos,  e  fogidos 
da  terra,  as  vintenas  ficam  minguadas. 
Seja  vossa  mercee  de  mandar-des  se  o 
refarom  de  vinte  homees,  humas  polas 
outras,  se  os  vintaneiros  cada  hum  per 
sy  nom  poder  fazer  comprida  de  vinte 
homees  conhecidos.»  Ord.  Affons.,  liv.  1, 
tit.  69.  §  9. 

—  Refazer-se  de  industrias  e  astúcias; 
prover-se,  armar-se  d'ellas  para  novo  ata- 
que, ou  tentativa. 

—  Refazer-se  d'aquillo  que  se  perdeu; 
prover-se  de  outra  tal  cousa. 

REFAZIMENTO,  s.  m.  Acçào  e  effeito 
de  refazer  ou  refazer-se. 

—  Compensação,  indemnisaçào. 
REFEGAR.  Vid.  Arrefecer. 
REFECÇÃO.  Vid.  Refeição. 
REFECE,  adj.  2  gen.  ant.  Que  não  está 

na  maior  força,  que  declina. 

—  Mulher,  homem  refece ;  de  baixa 
condição. 

—  Moeda  refece ;  de  baixa  lei,  que  tem 
maior  titulo,  ou  valor  externo,  e  legal,  que 
intrínseco,  por  diminuta,  e  fallida  no  pe- 
so, ou  por  mui  ligada. 

—  Vender  a  refece;  por  baixo  preço, 
barato. 

REFECER,  V.  a.  Esfriar. 

—  V.  ii.  Arrefecer. 

■ —  T''.  /•<//.  Esfriar-se. 

REFECTÍVO,  adj.  Termo  de  medicina. 
Que  conforta,  corrobora,  refaz  as  forças. 

REFECTOREIRO.  Vid.'  Refeitoreiro.' 

REFECTORIO,  adj.  —  Cura  refectoria; 
a  que  se  faz  dando  os  remédios  no  comer, 
ou  alimento. 

—  Viil.  Refeitório. 

REFEGA,  s.  f.  Golpe  ou  pé  de  vento 
forte  que  dm-a  pouco,  e  é  continuo.  Vid. 
Rajada. 


146 


UKKK 


KEFE 


UEFE 


—  J''ifíitríulameato :  Sobrcsalto. 
REFEGADO,  ndj.  (^110  tciii  refogo. 
REFEGÃO,  «.  III.  Augmoutativo  do  Re- 
fega. 

REFEGO,  8.  m.  Propa  que  se  taz  nas 
saias  para  bc,  desdobrar,  o  iicrescentar  u 
altura,  q\iando  o.stas  so  tornam  curtas. 

—  Fera  de  refego  ;  uma  certa  casta  do 
porás. 

REFEIÇÃO,  s.  f.  (Do  latim  refectionem). 
Alimento  moderado  qno  so  toma  para  re- 
j)arar  as  tbr(;iis  ;  o  acto  de.  refazer  a  fo- 
me, ou  fraqueza,  com  alimento  ou  comer, 
que  se  toma. 

—  Supprimonto,  reenchimonto. 
REFEITEIRO.  Vid.  Referteiro. 
REFEITO,  /"irf.  iHuss.  d(!  Refazer. 
REFEITOREIRO,  ».   m.  O  religioso  que 

cuida  dl)  letcitorio,  e  seu  concerto. 

REFEITÓRIO,  s.  m.  (Do  latim  refecto- 
riuin).  Casa  de  jantar  nos  conventos  e 
communidades.  —  «Onde  ella  jaz  sepul- 
tada, na  crasta,  junto  da  porta  ilo  refei- 
tório em  sepultura  siniplez,  raza  igoal 
com  o  cham,  e  porque  era  muito  deuota 
da  bemauonturada  sancta  Úrsula  guia,  e 
capitoa  das  virtuosas  martyros  onze  mil 
virgens,  pedio  per  suas  cartas  ao  Empe- 
rador  Jlaximiliano,  seu  primo  cora  ir- 
mam,  que  quisesse  mandar  algumas  relí- 
quias destas  sanctas  virgens.»  Damião 
de  Go63,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  d, 
cap.  20. 

REFÉM.  Vid.  Arrefem. 

REFENDER,  i-.  a.  (De  re...,  e  feuden. 
Tornar  a  tender. 

REFENDIDO,  part.  pass.   de  Refender. 

REFENDIMENTO,  s.  m.  Abertura  na 
obra  refendida. 

REFÉNS,  *'.  2  (lea.plur.  Vid.  Arrefens. 
—  «Finalmente  tàto  aporfiarão  sobre  o 
varar  dos  nauios,  ou  que  lelxasse  em  ter- 
ra alguns  homens  cõ  mercadorias,  e  isto 
cm  modo  de  reféns  em  quanto  o  Çamo- 
rij  o  naõ  despachaua,  dizendo  que  a  gen- 
te do  mar  lho  requeria,  pêra  poderem  hir 
pescar  seguramente  doUes.»  BaiTOs,  Dé- 
cada 1,  liv.  4,  cap.  10. —  «Gabriel  Ra- 
bello  apertou  muito  com  o  Sangago  pêra 
que  fosse  ver  o  Capitão  «e  que  elle  fica- 
ria alli  em  reféns,  c  que  lhe  cortasse  a 
cabeça,  se  delle,  nem  dos  seus  recebesse 
cllo,  nem  cousa  sua  algum  agravo. »  Dio- 
go de  Couto,    Década  (i,   liv.  9,  cap.  \?y. 

REFERENCIA,  s.  /.  Narra(;rio,  ou  rcla- 
çiío  de  alguma  cousa. 

—  Connexão,  dependência  ou  .similhan- 
Ça  do  uma  cou'a  com  outra. 

REFERENDADO,  part.  pass.  de  Referen- 
dar. 

REFERENDAR,  i'.  a.  Rubricar;  legaiisar 
uma  escriptura  ou  documento  publico  por 
meio  da  tirma  authorisada  para  isso. 

—  Rever,  examinar  os  passaportes  e 
anuotar  a  sna  apresentação. 

REFERENDÁRIO,  .>•■.  1».  O  que  referen- 
da documento  publico. 

—  Relator  de  alguma  supplica . 


REFERIDO,  part.  pass.  de  Referir.  — 
"  E  assi  Vemos  (da  .sentença  referida  aci- 
ma) como  no  aiino  seguinte  do  mil  e 
hum  80  tornàrars  a  povoar  a»  terraa  de 
Arouca;  e  assi  seriaò  todas  as  mui»  da- 
qu(;lla8  partes,  pois  ticavmT  taõ  do'«!m- 
baraçadas  do  inimigos.»  Monarchia  Lu- 
sitana, liv.  7,  cap.  20.  —  «Ao  ceguinto 
dia  dejiois  do  assalto,  entrárrio  pela  bar- 
ra D.  António  de  Attayde,  c;  Francisco 
(iuilherme,  que  n3o  aclidrilo  menos  bra- 
vos os  mares,  que  os  outros  que  temos 
referido.  DissérJIo,  que  nilo  podia  tardar 
hum  dia  D.  Álvaro  de  Castro,  porque  so 
tinha  jil  levado  a  armada,  com  ordem 
q>ic  nenhum  navio  esperasse  por  outro. 
( >s  soldados  festejárSo  a  nova,  e  o  boc- 
CfUTO,  com  musicas,  e  folias  continuas, 
eoin  que  já  parcci.ão  passatempos  os  peri- 
gos do  cerco. »  .Tacintho  Freire  d'Andra- 
dc,  Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv.  2.  — 
n  i*ordêrão-se  nesta  desgraça  trinta  c  cin- 
co pessoas,  cm  que  entrarão  os  Fidalgos, 
que  temoa  referido,  e  foram  mais  de  cem 
os  feridos ;  mas  em  tFío  desordenada  em- 
prcza,  ainda  se  teve  a  desgraça  por  me- 
nor que  o  erro.  O  Capitão  Mi'>r  foi  logo 
denuxndar  a  D.  Álvaro,  que  ainda  achou 
sem  falia,  6  a  juizo  doíi  Cirurgiões,  mui 
contingente  a  vida,  cujo  perigo  durou 
aquelles  dias  que  a  fdosofia  chama  de- 
eretorios  ou  críticos.»  Ibidem.  —  (lEntre  o 
llidaleào,  e  o  Estado  deixou  jNIartim  Af- 
fonso  de  Sousa  vivas  as  causas  dos  ódios 
que  tomos  referido,  de  que  D.  João  de 
Castro  lhe  não  podia  dar  satisfação,  sem 
aftronta,  nem  negar-lha,  sem  guerra.  Com 
a  retirada  dos  Jlouros  estavão  á  nossa 
obediência  as  tendas  de  Bardez,  e  Salsc- 
te,  nascendo  os  fructos  da  agricultiu-a, 
quasi  debaixo  das  armas  com  que  os  de- 
fendíamos.» Ibidem,  liv.  4.  —  «Estando 
as  cousas  de  Adem  na  contingência  que 
temos  referido,  appartceo  a  armada  dos 
Turcos,  que  constava  de  nove  galés 
Reaes,  e  algumas  galeotas,  as  quacs  de- 
rão  vista  á  Cidade,  e  surgindo  f/ira  da 
enseada,  armarão  tendas,  e  fortificarão 
alojamento,  avisando  ao  Baxá  se  lhes  ag- 
gregasse  com  a  gente  que  tinha.»  Ibi- 
dem. —  «Aportou  nesta  occasiào  Diogo 
Soares  de  Mello  com  as  duas  galeotas, 
que  temos  referido,  como  trazidas  por 
nossa  fortuna  a  ajudar  a  victoria.  No- 
meou a  D.  Francisco  Déça  por  Cabo  des- 
ta esquadra,  o  qual  ainda  mal  armado, 
com  a  pressa  de  quem  acodia  a  pendên- 
cia súbita,  se  fez  na  volta  do  mar,  com 
instrucção  que  se  em  dez  dias  não  achas- 
se o  inimigo,  se  recolhesíie  ao  porto ;  por- 
que não  hia  bastecido  para  mais  largo 
tempo.»  Ibidem.  —  «As  I^ys  Militareis 
que  antigamente  so  guardavaõ  nos  Exér- 
citos, estaõ  ao  largo  referidas  no  Rcgi- 
nu'nti>  da  guerra.»  Sevcrim  de  Faria, 
Noticias  de  Portugal,  Dlse.  2,  pag.  8.  — 
«E  dtqiois  de  lhe  darem  a  toalha  na  for- 
ma referida,  os  OflSciaes  da  Nobreza  pu- 


IjIicaO  logo  o  nome  do  novo  Rey  de  Ar- 
uias,  o  recebe  a  copa,  que  teve  a  agoa, 
da  mão  do  Cop<;iro  .Mór,  e  u  leva  por 
sor  gaja  sua.»  Ibidem,  iJi.sc.  '.i,  §  19.  — 
«E  da  outra,  que  rò  a  fcicncia  da  nalua- 
çAo,  e  Hapioncia  CkristaJ,  Lc  Bolida,  c 
tinne ;  p(ús  no  ineHmo  lugar  a"»  tre»  de 
Mayo  do  auno  referido,  como  diz  Zapu- 
Iho,  foy  ondo  o  Senhor  deu  a  Iaív,  e 
MandamcntoH  a  eeu  amigo,  Moy»»ii».»  Fr. 
(ia-;|)ar  de  S.  Bernardino,  Itinerário  da 
índia,  caj».  H.  —  «E  diz  Eliano  no  capi- 
tolo  acima  referido,  quo  tem  religiJo,  c 
que  quando  nasce  o  Sol  o  adorãu,  e  no 
cap.  y.  e  19.  aflirnui  que  offcrecem  re- 
inos verdes  k  Lua  cm  sua  crescente  em 
lugar  de  sacrLficio. »  Ibidem,  cap,  15.  — 
«Agora  mo  direis  «juanto  cpiizerea  que 
contra  o  goato  se  n3o  disputai,  e  eu  voa 
dircy  qu»  estou  tão  longe  do  disputar  os 
gostos  que  tenho  referido,  que  uilo  faço 
mais  do  que  condenna-los,  c  maldizel-os.> 
Cavalleiro  de  Oliveira,  Cartas,  liv.  1 . 
n."  10.  —  «A  vista  do  referido,  parece- 
me  que  podeis  mostrar  quo  ha  Gigantes, 
aos  mesmos  que  duvidào  de  que  os  hou- 
vesse, e  supondo  que  t'inho  satisfeito  as- 
sim á  ordom  que  uie  mandastft-i,  acabo  a 
Carta  com  pressa  para  hir  sati^faser  prom- 
ptamcnte  outra  ordem,  que  agora  recebi 
para  me  achar  pelas  três  horas  em  Gu- 
pemford.»  Ibidem,  liv.  1,  n."  49.  —  lEs- 
te  caso  referido  por  Jlonconis  he  confir- 
mado por  Becher,  o  qual  acrescenta  que 
a  dita  transmutação  so  fizera  em  casa  do 
Eleytor  em  presença  de  hnma  Assemblca 
muy  numerosa,  e  que  conservando-se  em 
barra  uma  parte  deste  ouro,  de  outra 
parte  se  fizerSo  moedas.»  Ibidem,  liv.  3, 
n."  S. 

REFERIMENTO,  s.  wi.  Acção  do  referir 
ou  ri'iiiiitar-se  ao  dito  de  outro, 

REFERIR,  r.  a.  íDo  latim  reftrre}. 
Narrar,  contar,  relatar, — «Concluem  os 
Authores  a  historia  dizendo,  que  desta 
Cidade  se  ])artirão  os  Santos  por  diver- 
sas de  Espanha,  de  modo  que  S,  Torca- 
to  voyo  a  Citania,  se  jà  nâo  foy  o  quo 
referimos  acima  de  ficarem  a  hum  mes- 
mo tempo,  S.  Pedro  em  Braga,  e  nosso 
Santo  nesta  Cidade,  donde  a  tradiça«5 
commua  o  tem  por  natural,»  Monarchia 
Lusitana,  liv.  5,  cap.  5,  —  «Refiro  o 
que  híi,  que  affirmar  isto  com  certeza 
não  mo  còsonte  a  pouca  evidencia  da 
historia.»  Ibidem,  cap,  24, —  «As  quaes 
jialavras  me  ji.ireceo  justo  referir  em 
fònna,  p;ira  delias  se  coligir  a  efficacia, 
c  grande  zelo  com  que  cstca  Principea 
abraçarão  a  Fé  Catholica,  a  quejn  logo 
o  Concilio  louvou,  e  cngrandeceo  c3  pa- 
lavras, e  aclamações  dignas  de  tal  acto,  p 
Ibidem,  liv.  6.  cap.  19,  —  tlnd»  quo 
para  vermos  quào  estendida  ^  foy  pólo 
Mundo  semj^rc  esta  oxperioncia,  nào  dci- 
xarcv  do  contar  o  caso,  que  no  auno  de 
Chiisto,  mil  o  quinhentos  o  noventa  e 
oito,   acontece©  a  huma  índia  Malabar, 


EEFE 


REFE 


REFE 


147 


dos  Cliristãos  de  S.  Tliomc,  chamada 
Achar,  na  forma  que  se  refere  no  livro 
que  se  compoz  da  jornada  verdadeira- 
mente Apostólica.»  Ibidem,  liv.  7,  cap. 
10.  —  «Ê  andando  a  gente  ocupada  em 
reparar  as  muralhas  caydas,  e  levantar 
as  casas  danificadas,  se  achou  dentro  em 
huma  Igreja  dos  arrebaldes  a  sepultura 
dei  Rev  Dom  Rodrigo,  com  as  letras 
que  jà  referi  acima,  sendo  esta  a  primei- 
ra vez  que  depois  de  sua  destruição  se 
teve  noticia  do  lugar  cm  que  jazia.» 
Ibidem,  liv.  7,  cap.  14.  —  «Informouse 
de  cujos  os  meninos  fossem,  a  terra  don- 
de a  mãy  era  natural  e  o  estilo  por  onde 
se  casara:  e  como  Tello  lhe  referisse  a 
certeza  de  tudo,  entrou  em  sospeita  de 
ser  aquella  sua  filha,  e  se  acabou  de  cer- 
tificar quando  cuberta  de  lagrimas  a  vio 
postrada  a  seus  pés,  pedindo  j^rdSo  do 
desconcerto  passado.»  Ibidem,  cap.  17. 
—  «Isto  de  balanças  deve  andar  sempre 
muito  vigiado,  e  naõ  exclua  daqui  a  ca- 
sa de  Moeda :  pudera  referir  aqui  mui- 
tos modos,  que  ha  de  furtar  neJlas,  e 
deixo,  porque  naõ  pertencem  a  este  Ca- 
pitulo, seu  lugar  tei"aõ.n  Arte  de  furtar, 
cap.  32.  —  «E  aquelloutro  que  refere  S. 
Antonino  de  hum  usurciro,  que  ua  hora 
da  sua  morte  mandou  trazer  a  sua  pre- 
sença muita  prata,  e  ouro,  e  tudo  o  pre- 
cioso que  tinha,  e  fallando  consigo,  dis- 
so :  Alma  minha,  ficate  comigo,  e  todas 
estas  cousas  te  darei,  e  muitas  mais,  que 
posso  adquirir.»  Padre  Manoel  Bernar- 
des, Exercícios  espirituaes,  part.  1,  pag. 
4(i7,  —  «Porém  a  Historia  nos  mostrará 
nào  leves  argumentos  de  seu  zelo,  grati- 
ficado do  Cao  com  sinaes,  e  maravilhas, 
de  que  referirei  huma,  que  aconteceo 
nas  Malucas,  que  por  ter  a  direcção  de 
seu  (loverno,  substanciarei  o  caso  bre- 
vemente, como  lie  meu  costume.»  Jaciíi- 
tho  Freire  d'Andrade,  Vida  de  D.  João 
de  Castro,  liv.  1.  —  «Mahamud  Rey  de 
Cambava,  herdeiro  da  Coroa,  e  da  inju- 
ria de  Badur,  cuja  morte  succedida  no 
governo  do  grande  Nuno  da  Cunha  refe- 
rem nossas  Chronicas,  inflammado  igual- 
mente da  gloria,  e  da  vingança,  em- 
prehendeo  tomar  aos  Portuguezes  Diu,  e 
com  liga  de  outros  Príncipes,  lançallos 
da  índia.»  Ibidem,  liv.  2.  —  «Referio, 
que  o  Governador  se  aprestava  com  vi- 
vas diligencias  para  acodir  ao  cerco,  e 
os  grossos  soccorros,  que  já  tinha  envia- 
do. Que  em  Baçaim  ficavào  quinhentos 
homens,  que  com  o  primeiro  tempo  espe- 
ravão  ati-avessar  o  golfão  ;  e  que  muito 
impacientes  na  tardança  tinhão  tentado 
03  mares.»  Ibidem.  —  «E  como  esta  voz 
recebia  credito  de  tao  grandes  victorias, 
huns  aos  outros  a  referião  os  Mouros  te- 
merosos, ou  crédulos.  (J  Governador  por 
íiizer  appai-ente  o  medo,  ou  a  galantaria, 
mandou  lavrar  huns  espetos  grandes,  co- 
mo quem  para  deseançar  dos  negócios 
inais  graves,  se  deleitava  em  diversões 


briosas.»  Ibidem,  liv.  4.  —  «O  mesmo 
refere  Dom  Martinho  de  Bolèa  em  sua 
historia ;  que  por  tal  a  tenho.  Eu  a  vi  ja 
pintada,  mas  nào  viua.  Nas  frutas,  assi 
doces,  como  de  espinho  he  tão  abundan- 
te que  os  matos  estão  cheos  delias.»  Fr. 
Gaspar  de  S.  Bernardino,  Itinerário  da 
índia,  cap.  2.  —  «E  que  agora  naõ  tem 
mais  do  1,!$Í200.  E  de  Salamanca  refe- 
re, que  havia  na  Universidade  mais  de 
lõíiOOO.  Estudantes ;  e  agora  naõ  che- 
gaõ  a  2,*)».»  Sevefim  de  Faria,  Noticias 
de  Portugal,  Disc.  2,  §  9.  —  «Exemplo 
seja  disto  Memmonis,  que  acompanhou 
ao  Infante  D.  Sancho,  quando  foi  na  ba- 
talha de  Sevilha,  do  qual  se  conta  na 
Chronica  d'ElRey  D.  Afonso  Henriques, 
e  o  refere  Duarte  Nunes  na  mesma,  foi. 
.01.  vers.  que  este  Fidalgo  tomou  a  ban- 
deira d'ElRey  de  Sevilha,  na  qual  tinha 
pintado  cinco  Estrellas,  como  refere  Gon- 
çalo Argòte  de  Molina  lib.  i.  c.  44.  da 
Nobreza  de  Andaluzia,  e  assim  tomou 
por  armas  as  mesmas  cinco  Estrellas.» 
Ibidem,  Disc.  3,  §  10. —  «O  qual  co- 
mo consta  do  Conde  D,  Pedro,  quando 
falia  da  batalha  d'ElRey  D.  Garcia,  e 
D.  Sancho  sobre  Santarém,  refere  que 
vendo  EIRey  de  Castella  hum  pendão 
verde,  disse,  que  tinha  em  sua  ajuda  o 
Cid,  por  ser  mui  conhecida  esta'  divisa 
por  sua,  e  os  S.  S.  trazem  por  fuziz  de 
ceda,  como  descendentes  dos  Furtados 
de  Mendonça,  que  em  Castella  trazem 
sobre  o  Escudo  as  cadeas,  que  tomarão 
no  rompimento  da  batalha  das  Navas  de 
Tolosa,  e  as  folhas  de  golfão  por  outra 
grande  vitoria,  que  alcançarão,  tomando 
por  armas  estas  hervas  do  campo,  como 
refere  Argòte  de  Molina  1.  2.  c.  110.  da 
Nobreza  de  Andaluzia.»  Ibidem,  §  15. 
—  «Bramando  como  Touro  por  Europa, 
voou  como  Cisce  por  Leda,  desfez-se  cm 
chuvas  de  ouro  por  Danae,  e  transfor- 
mou-se  em  outras  monstruosidades,  que 
até  a  acção  de  referi-las,  he  vergonho- 
sa.» Cavalleiro  d'01iveira,  Cartas,  liv. 
1,  n."  29;  —  «Hakewil,  já  citado  n'esta 
Carta,  he  hum  Autor  de  spirito  tão  cu- 
rioso, e  de  coidiecimento  tão  dilatado, 
que  ordinariamente  refere  a  mayor  par- 
te dos  exemplos  que  se  podem  descobrir 
sobre  as  matérias  de  que  trata.»  Ibidem, 
n.°  50. 


Dou-mc  a  mão ;  quiz,  na  salla  do  Concelho, 
Que  lho  eu  refira  o  que  passei  c'os  Francos. 
Folgou, que  áa  armas  dcm  repouso  os  Bárbaros; 
E  a  ferir,  có  cllcs  Paz,  mauda  um  Ccnturio. 
Com  mágoa  alli  notei  muito  medradas, 
No  César,  a  md  cõr,  e  a  gran  franqueza. 

FKASCISCO    MANOEL  DO  NASCIMENTO,  OS  MARTTKES, 
liv.  10. 

Mostrou-so-rao  o  mystcrio,  ao  referi-lo 

D'assoinbro  cm  mim  trasborda  a  larga  enchente; 

Eu  fui  diguo  do  o  vêr,  diguo  d'ouvi-lo 

(Era  por  certo  a  voz  d'Omnipotentc : ) 

Celeste  a  frase,  divinal  o  estilo, 

Qual  uoâ  Vates  ao  ouviu  da  Ebréa  gente  ; 


Que  do  porvir  rompendo  a  sombra  escura, 
A  nosria  gloria  nos  mostrou  futui-a. 

J.  A.   DE  MACEDO,  O  ORIENTE,   Caut.    1,   CSt.    G7. 

—  Dirigir,  encaminhar,  ordenar  algu- 
ma cousa  para  certo  e  determinado  fim. 

—  Referir-se,  v.  refl.  Contar-se,  narrar- 
se,  relatar-se.  —  «O  que  fez  no  Peru,  no 
México,  e  Flórida,  naõ  he  para  se  refe- 
rir: dos  braços  das  mãys  tirava  as  crian- 
ças, e  feitas  em  quartos  as  dava  a  caens, 
com  que  andava  á  caça.»  Arte  de  furtar, 
cap.  69.  —  «  Segundo  estes  exemplos,  po- 
demos ter  por  certo,  que  havendo  Rey 
em  Portugal,  tinham  conhecido  os  Caste- 
lhanos clai-amente,  que  naõ  podiaõ  sahir 
com  esta  empresa,  como  se  refere  na 
Chronica  d'ElRey  D.  Fillippe  o  Pruden- 
te de  Castella  lib.  12  cap.  9.»  Severim 
de  Faria,  Noticias  de  Portugal,  Disc.  2, 

§^-      .  . 

■ —  Dizer  respeito,  ter  relação  uma  cou- 
sa com  outra. 

—  Reportar-se,  remetter-se  ao  que  se 
disse  antecedentemente. 

—  Reportar-se  aos  documentos  escri- 
ptos,  cm  contraposição  ás  asseverações 
verbaes. 

—  Importar,  ser  útil,  dizer  respeito. 

—  Referir-se  ao  testemunho  de  outrem; 
dal-o,  nomeal-o  como  auctor,  e  testemu- 
nho do  que  diz  o  referente. 

REFERMENTAR,  v.  n.  (De  re...,  e  fer- 
mentar). Fermentar  segunda  vez,  entrar 
em  segunda  fermentação. 

REFERRAR.  Vid.  Ferrar. 

REFERTA,  s.  f.  ant.  Contenda,  dispu- 
ta, altercação,  resistência. 

Mandai  senhor  chamar  com  brevidade 
Esse  fronteiro  mòr  que  desterrado 
La  em  Tauira  está,  cuja  bondade, 
C!ujo  valor  nas  armas  he  estremado. 
Que  sabendo  do  caso  a  qualidade 
Virá,  c  esto  cartel  seríi  aceitado, 
Eu  seroi  o  segundo  sem  referta, 
Que  a  victoria  co  clle  tenho  certa. 

CORTE  REAL,  NAUFRÁGIO  DE  SEPUMTJDA,  Cant.  13. 

—  Contenda,  resistência  com  armas, 
briga. 

Vendo  o  Turco  quão  bem  o  tiro  acerta 
Os  do  baixo,  e  também  quão  mal  os  trata, 
E  que  o  Christào  lá  em  cima  tanto  aperta 
Os  imigos,  que  quasi  os  desbarata. 
Pois  ja  lhes  derrubou  nesta  referia 
As  outras  duas  bandeiras,  e  lhes  mata 
Os  Alferes  que  as  tem,  se  esfria,  e  desce 
O  furor  que  até  então  se  acende  e  cresce. 

F.  d'andrade,  PRIMEIRO  CERCO  DE  DIU,  cant.  19, 
est.  119.  ' 


—  «  Em  fim  a  referta  foy  grande,  e  os 
Fartaquins  com  serem  taõ  poucos  peleja- 
rão esforçadamente,  mas  como  o  numero 
era  tão  desigual,  forão  entrados  nos  cu- 
bellos,  e  mortos  todos  à  espada,  custan- 
do esta  cavalgada  cinco  dos  nossos,  que 
ficarão  mortos,  e  mais  de  quarenta  feri- 


148 


REFE 


REFI 


REFL 


(los  ílo  espingurdailaa.»  Diogo  de   Couto, 
Década  G,  liv.  O,  cap.  ti. 

—  Repugnância,  oppoíiçilo,  contradic- 
ySo,  contfínilft  Pm  juizo. 

REFERTADAMENTE,  mlv.  Com  repu- 
gnância,   riMiitiini'i;i. 

REFERTAMENTO,  «.  m.  ant.  Contesta- 
çHo,  iinpugMa(,'ào. 

—  Rtv|iioriiiionto   afincado,    instancias. 
REFERTAR,  v.  a.  ant.  Contender,  con- 
troverter, rediátir  com  razões. 

Ora  lii,  iifto  refe.rlein. 
Uofé,  quo  \ôa  mo  mandaoí), 
c  cntrcgacs 
iião  já  como  a  Dcos  ilcvcis. 

ANTÓNIO  PBF.STKS,  AUTOS,  pag.   397. 

—  Demandar,  requerer. 

—  Contradizer,  impugnar. 

—  Refertar-se,  v.  yjl.  Altercar  com 
alguém. 

REFERTEIRAMENTE,  <4<lv.  (Ue  refer- 
teiro,  com  o  f>uftlxo  omeute»».  Com  perti- 
nácia, cantoiíílcndo. 

REFERTEIRO,  wlj.  ant.  Buliçoso,  bu- 
Ihcnto,  rixador. 

—  Altercador,  pendeuciador,  disputa- 
dor. 

—  Ant.  Dizia-se  da  pessoa  quo  se  fa- 
zia rogar,  esquivosa,  desdeuliosa. 

1.)  REFERTO,  s.  m.  ant.  Vid.  Referia. 
2.1  REFERTO,  adj.  Muito  cheio. 
REFERTORIO,  s.  m.  ant.  Refeitório. 
REFERVER,  r.  a.  (De  re...,  e  ferven. 
Tornar  a  ferver. 


Diz  quo  lie  das  fixas  buma  Estrella  immovel ! 
Diz  que  lie  de  fogo  liuiii  pélago  iiiâoudavcl ; 
Na  superfice  as  ondas  lho  refervem, 
E  por  cila  ondeando  ospcssas  manchas 
De  hum  limbo  a  outro  rápidas  se  volvem. 

J.  A.   D£  MACKDO,  TIAOGU  EXTÁTICA,  Cant.  2. 


E  por  entro  oscarcéos  do-  vagas  negras 
Levando  a  salvo  o  lenho  fluctuautc, 
]nda  que  o  solto  vento  os  ares  tolde, 
E  as  nuvens  rasgue  o  raio  estrepitoso, 
E  ás  nuvens  refervendo  as  ondas  subão, 
E  abertas  deixem  ver  o  escuro  abysmo. 

lUEU,   MEDITAÇÃO,    CaUt.    1. 


Então  inugo  o  Vesúvio,  c  da  espumante. 
Boca  vomita  refervenle  lava. 
Do  fumo  espesso  nuvens  enroladas, 
Grossos  chuveiros  de  cstuantcs  cinzas, 
Quo  a  mentirosa  Grécia,  oatr'ora  disse 
Serem  raios,  que  Encélado  arremoça 
Quando,  movendo  a  hum  lado  o  corpo  opresso, 
Faz  oscilar  a  iguifera  montanha. 
IBIDEM,  caut.  2. 

—  Figuradamente:  Arder,  inflammar- 


Eompc  as  barras  dos  Cárceres  profundos 
Pierio  fogo,  quo  referve  u'alma ; 
Cantor  da  Natureza,  em  seu  império 
Afouto  hei  de  girar,  nada  lhe  usurpa 
A  livre  Musa,  quos  mortaes  desdenha. 

J.  A.   DL  MACEDO,  A  >'ATCaEZA,  Caut.   2. 


—  V.  n.  Fermentar-»e,  azedar-se,  al- 
terar-se,  fazer-se  azedo.  —  J'Jiite  doce  re- 
ferveu. 

REFERVIDO,  ]j<irt.  paus.  de  Referver. 

REFESTELLA,  ».  /.  ant.  Fe.stividade, 
alegria  fiu  ijaiics,  dança.s,  festiim. 

REFESTELLADO,  adj.  Termo  popular. 
De  festa,  galhotjiro,  brincalbilo,  folgazSo, 
foliAo. 

REFESTELLO.  Vid.  Refestella. 

REFEZ,  adj.  2  ijen.  Arefcçado,  vil, 
baixo,  abatido,  aviltado,  desprezível. 

—  Loc.  ADV. :  JJe  refez  ;  facilmente, 
com  facilidade. 

t  REFFENS.  Vid.  Arrefens.  — «  Deri- 
vando da  qui  a  moralidade,  de  quo  nem 
sempre  o  ucnusto  da  forma  pode  tomarse 
em  refíeiís  da  discripçilo.  Ainda  (jue  he 
lastima,  que  uma  Cabeça  bem  ornada  jior 
fora,  uaò  esteja  bem  disposta  por  den- 
tro; Bupposto  que  era  justo,  que  huma 
Cabeça  cbeya  de  vento  por  dentro,  naò 
tivesse  nem  hum  íir  de  graça  por  fora. 
Porque  segundo  os  Latinos:  Ridiculum 
caput,  nihilo  ortuitur.  K  na  opiniaij  do 
nosso  Portugal  o  velho :  8.  Cabeqa  louca, 
não  hà  inisttr  touca.  Destas  Cabeças  dis 
ellegantemente  o  Cordovense  Séneca:  ti. 
ErraSf  si  istorum,  qui  tibi  occurunt  vul- 
tiòus  credis ;  h&7ninis  ejfigies  habent,  mo- 
res autemferarum.il  Braz  Luiz  d'Abreu, 
Portugal  medico,  pag.  4õ2,  §  4. 

REFIÃO.  Vid.  Rufião. 

REFIAR.  Vid.  Rufiar. 

REFILADO,  part.  pass.  de  Refilar. 

REFILADOR,  adj.  Que  refila. 

REFILAR,  V.  n.  (De  re...,  e  filar).  Tor- 
nar a  tilar,  remorder. 

—  Refilar  o  lutvio,  que  está  fundeado; 
voltar  a  proa  para  onde  a  maré  enche, 
ou  vasa.  para  soôrer  menos  impressiio. 

REFILHAR,  v,  a.  e  n.  Lançar  renovos, 
abrolhos,  novedios. 

REFILHOS,  s.  m.  phir.  Novos  filhos  que 
lançam  as  plantas,  abrolhos,  renovos. 

REFINAÇÃO,  A'.  /.  Acç.ào  e  effeito  de 
rctiiKir. 

—  ( 'asa  onde  se  refina  o  assucar. 
refinadíssimo,  adj.  superl.  de  Refi- 
nado. 

REFINADO,  pnrt.  pass.  de  Refinar.  — 
«  Uns  tregoitadores,  outros  que  fazem 
pregações,  que  arremedam  animaes,  e 
gentes,  são  peçonha  refinada :  e  as  que 
em  tudo  o  sào,  sào  umas  que  vendem 
dixes,  aguas  de  rosto,  tiram  pano,  fazem 
sobrancelhas  com  linha,  alimpam  o  car.^o 
com  vidro  ,  homens  de  linhas,  botirinhei- 
ros,  mulheres  que  pedem  para  uma  certa 
missa  de  esmolas,  outras  para  amp:u-ar 
uma  orfà.»  D.  Francisco  Manoel  de  Mel- 
lo, Carta  de  guia  de  casados. 

REFINADOR,  s.  /.  (Do  thema  refina, 
de  refinar,  com  o  suflSxo  «dor»).  O  que 
retina. 

— ^-Apurador,  especialmente  de  licores 
e  metaes. 

REFINADURA,  *•.  /.  ^Do  thema  refina, 


de  refinar,  com  o  BufRxo  «durax.  Acção 
de  refinar,  retinaçào. 

REFINAMENTO,  «.  7,1.  Refinação. 

■ —  Fi^'uradaiu<;nte :  .Subtileza  excessiva. 

REFINAR,  i.  a.  Apurar,  depurar;  fa- 
zer mais  fina,  ou  mais  pura  uma  coumi, 
separando-lhe  a^  fezc«  e  maturia-s  hetero- 
géneas. 

—  Figuradamente:  Requintar,  apurar; 
reduzir  uma  cousa  á  maior  perfoiçào. 

—  Refinar  o  ódio,  óamor,  etc;  t<imar- 
se  mais  forte. 

—  I.ançar  com  impeto. 

—  Refinar-se,  i-.  re//.  Apurar-se,  eame- 
rar-H<í. 

REFINARIA,  *.  /.  Fabrica,  trabalho  de 
refinar  as-ucar,  etc. 

REFINCAR,  1-.  «.  (De  re...,  e  fincar/. 
Tornar  a  fincar  o  que  se  arrancou. 

REFINP,  s.  m.  Vid.  Refinaria,  e  Refina- 
ção. 

REFINTA,  s.  /.  Repetição  da  finta,  se- 
gunda tinta. 

REFINTAR,  r.  a.  I.ançar  segunda  fin- 
ta, ri-pftir  nova  contribuição. 

REFIRMA,  s.  f.  ant.  Nova  prova  p<jr 
testfiiiunhd  da  matéria  das  reprovas. 

REFLECTIDO,  part.  pats.  de  Reflectir. 

REFLECTIR,  v.  a.  (Do  latiur.  reflectere). 
Projectar  um  corpo  a  luz  ou  o  raio  lumi- 
noso que  recebeu  de  outro. 

—  V.  n.  Fazer  a  luz  a  sna  reflexão 
encontrando  algum  objecto. 

—  Figuradamente :  ileditar,  ponderar, 
con.siderar,  reparar,  advertir,  observar. 

Etherco  sopro  a  maquina  dirige, 

Assopro  animador,  simples,  c  activo.  • 

Produzido  huma  vez,  eterno  existe  : 

Pensa,  previ-,  recorda-sc,  reflecte; 

Nhum  ponto  sobe  aos  Ceos,  desce  n^ttm  ponto. 

J.  A.  DE  MACEDO,  MEOrTAçÂO,  Cant.  4. 

—  «Na  minha  primeira  edição  le-se  — 
«Por  vida  vossa»  :  o  que  agora,  novamen- 
te reflectindo,  me  parece  melhor  e  mais 
certo.»  (iarrett,  Camões,  nota  O  ao  can- 
to 1. 

REFLECTIVO,  adj.  Que  reflecte,  pensa. 
REFLEXAMENTE,  adv.  Com  movimen- 
to reflexo. 

—  Com  retlexílo,  advertência,  medita- 
damonte,  acinte. 

REFLEXÃO,  s.  f.  (Do  latim  rejiejcio- 
nenr.  Termo  de  phvsica.  Repulsão  de  um 
raio  luminoso,  calorífico,  ou  sonoro. 

Sc  d  "outro  lado  absorto  os  olhos  volvo. 

De  multi-forrae  o^r  descubro  a  Nuncia 

De  áurea,  serena  paz,  Íris  formosa. 

A  doce  rc/fíjrlo  de  accoz-is  luzes. 

l"nida  á  refrac<;ão  sobre  as  miúdas 

Da  fria  chuva  gotas  transparentes, 

A  scpti-forme  cõr  promptas  lhe  imprimem. 

J.  A.  DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  CAnt.   1. 

—  Acçíio  de  reflectir,  consideração  at- 
tenta  sobre  alguma  cousa,  meiitaçSo,  pon- 
deração; advertência,  rejaro.  —  «Dej-tas, 


REFL 


REFO 


REFO 


U9 


e  outras  miiytas  implicâncias,  que  naõ 
permitte  referir  a  brevidade  da  reflexão 
se  originarão  tantos  cômputos  errados, 
tantas  noticias  incertas,  tantos  juizos  apo- 
crvfos,  e  tantos  prognósticos  mentidos ;  e 
isto  ainda  denti'0  dos  limites  da  Astrono- 
mia licita,  e  nataral.  Mas  porque  de  to- 
da ella,  demos  huma  bem  concinnada  no- 
ticia, sem  nos  confundirmos  com  a  varie- 
dade de  tantas  Máximas,  passaremos  a  fal- 
lar  da  natureza,  numero,  movimentos,  e 
influxos  dos  Planetas,  dos  signos,  e  ima- 
gens em  que  entraõ,  e  das  mais  partes 
integrantes  dos  Ceos,  tudo  em  ordem  ao 
uso  Medico ;  porque  sò  escrevemos  nos 
preceitos  desta  Sciencia,  para  complectar- 
mos  os  dogmas  da  Faculdade  Apollinea.» 
Braz  Luiz  d' Abreu,  Portugal  medico, 
pag.  õll,  §  44.  —  «Offerecendo-se-me 
bastantes  reflexoens  para  fazer  nesta  ma- 
téria, permitti  que  divida  a  minha  carta 
em  duas  partes;  e  dando-vos  tempo  para 
criticares  esta  primeyra  que  vos  invio, 
tomarey  pouco  para  fazer  a  segunda,  que 
vos  maudarey  depois  de  amanha.»  Caval- 
leiro  de  Oliveira,  Cartas,   liv.  1,  n."  29. 

Mas  se  com  reflexão  pouco  violenta 
Contar  quer  a  ruina  dos  meus  ânuos, 
Mais  coutará  em  quinze,  que  em  setenta. 

ABBADi:  DE  JAZESTE,   POESIAS,   tOm.    1,  pag.    53 

(ediç.  de  1787). 

—  «Dei  parte  da  minha  reflexão  ao  ji)- 
ven  meu  vizinho,  e  com  ella  lhe  avivei  a 
esperteza,  de  sorte  que  rompeo  em  bons 
dittos,  e  rimos  ambos  tào  folgado,  que 
todas  as  mulheres,  e  mormente  a  que  eu 
tivera  por  sua  Màe,  quizérào  saber  o  as- 
sumpto do  nosso  rlso.i)  Francisco  Manoel 
do  Nascimento,  Successos  de  madame  de 
Seneterre. 


Os  troncos  dhera,  e  mnsso  acobertados, 
Alguns  ramos,  que  o  vento  açouta,  c  quebra, 
Forção  a  reflexão,  e  alma  medita 
Sobre  o  férreo  poder  do  tempo  avaro. 

J.  A.   DE  M.ICEDO,  A  SATCREZA,  Caut.    1. 


REFLEXAR.  Vid.  Reflectir. 

REFLEXIBILIDADE,  s.  /.  Propriedade 
de  um  corpo  susceptível  de  reflexão. 

REFLEXIONAR,  v.  a.  Considerar  nova 
e  detidamente  uma  cousa:  pensar  acerca 
de  alguma  cousa,  examinar  ou  ponderar 
attentamente  o  que  se  faz  ou  se  trata  de 
fazer. 

REFLEXIVEL,  adj,  2  gen.  Termo  de 
phvsica.  Capaz  de  reflectir,  próprio  para 
se  reflectir. 

REFLEXIVO,  adj.  Que  se  reflecte  ou 
reverbera. 

—  Meditativo,  costumado  a  fallar  e  a 
obrar  com  reflexão. 

—  Termo  de  grammatica.  Verbo  refle- 
xivo; exprime  que  alguém  recebe  em  si 
a  mesma  acçào  que  obra ;  como :  Amar- 
íe,  dtgolar-Èc,  dtdavar-se. 


REFLEXO,  adj.  iDo  latim  rejiexus).  Re- 
flexivo. —  Verb:)  reflexo. 

—  Visão  reflexa ;  a  que  se  faz  nos  cor- 
pos lisos,  e  polidos  ou  por  natureza,  ou 
j)0r  arte,  como  os  espelhos,  onde  dá  o 
raio,  e  logo  vira  ao  olho.  —  «O  modo  de 
ver  he  de  três  sortes,  por  visào  dyreita, 
ou  reflexa,  ou  refracta,»  Arte  da  pintu- 
ra, pag.  44. 

—  Consoantes  Teiíexos;s^o  as  vozes, 
cujas  ultimas  syllabas  tem  sentido,  e  si- 
gnificam cousa  diflerente  da  voz  inteira, 
d'onde  sahiram.  Agrada,  é  consoante  re- 
flexo de  sagrada :  Dado,  é  consoante  re- 
flexo de  cuidado. 

—  S.  m.  A  reflexão. 

Eis  me  aparto  da  Terra,  eis  se  esvaece 
Engolfada  no  ar...  Euthusiasmo, 
I'ára,  dotem-te  aqui,  admira  hum  pouco 
Ceo  q'outro  Ceo  circunda,  e  todos  cheios 
De  immensa  luz,  reflexo  immediato 
Da  Gloi'ia  do  Immortal ;  eu  vos  saúdo. 
Claras  Esferas,  que  cercaes  seu  Tlu-ono. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  KATLKEZA,  Caut.  1. 

—  Termo  de  pintura.  E  a  parte  da 
pintura,  que  participa  da  claridade  nos 
extremos  da  sombra,  oppondo-se-lhe  cor- 
po claro. 

—  Reflexos  da  gluria;  que  se  attribue 
a  quem  foi  causa,  author  da  maravilha, 
ou  acçào.  de  que  ella  resulta. 

REFLORECER,  ou  REFLORESCER,  r.  a. 
e  n.  Tornar  a  florescer  os  campos,  ou  a 
produzir  flores  as  plantas. 

—  Figuradamente :  Tornar  uma  cousa 
ao  seu  antigo  luzimento,  prosperar  de 
novo. 

REFLORECIDO,  part.  pass.  de  Reflore- 
cer. 

REFLUIR,  V.  n.  (Do  latim  refluere). 
Retroceder,  tornar  atraz  algum   liquido. 

REFLUXO,  s.  m.  Yasante  da  maré. 

—  Figuradameote :  Vicissitude,  alter- 
nativa, mudança  das  cousas  humanas. 

REFOCILLADO,  part.  pass.  de  Refocil- 
lar. 

REFOCILLAMENTO,  s.  m.  Aceào  de  re- 
focillar  e  refocillar-se. 

—  Alento,  allivio,  recreio. 

—  O  estado  do  que  se  refocillou. 
REFOCILLANTE,  adj.  2  gen.  Que  refo- 

cilla,  restaura,  vigora. 

REFOCILLAR,  v.  a.  (Do  latim  refocil- 
lare).  Reaientar,  revigorar,  recrear. 

REFOGADO,  part,  pass.  de  Refogar. 

—  .S'.  í/í.  A  comida  que  se  refuga. 
REFOGAR,    1-.   a.    Termo    de    cozinha. 

Frigir  em  manteiga,  ou  gordura. 

REFOLHADO,  adj.  Dissimulado,  dobra- 
do :  embusteiro,  engadador,  velhaco. 

REFOLHAMENTOr  Vid.  Refolho. 

REFOLHO,  .«.  ííi.  Dissimulo,  dobrez, 
fingimento,  rebuço,  velhacada,  impos- 
tura. 

REFORÇADAMENTE,  adv.  <De  reforça- 
do, com  o  suffixo  «mente»).  De  modo 
reforçado,  com  dobradas  fortas. 


REFORÇADO,  part.  pass.  de  Reforçar. 

Em  dura  lança  além  se  alonga  o  ferro, 
Além  se  erguiào  reforçados  muros. 
Pelo  ar  vào  rompendo  as  grossas  Torres... 
Ah  !  Gozava  o  mortal  ócio  tranquillo  ! 

J.    A.    DE   SLiCEDO,   VIAGEM   EXTÁTICA,   CaUt.    1. 

REFORÇAR,  r.  o.  E.?forçar,  dar  forcas, 
fortificar  mais.  —  Reforçar  o  campo.  — 
Reforçar  o  corpo.  —  «Partido  el  Rei  do 
arraial,  mais  bellicoso  na  paz,  que  no 
contiicto,  retirando-se  na  mesma  Ilha  á 
quinta  de  Melique  dava  calor  aos  soccor- 
ros,  que  cada  dia  reforçavão  o  campo.» 
Jacintho  Freire  dAndrade,  Vida  de  D. 
João  de  Castro,  liv,  2.  —  «Estamos  como 
no  tempo  em  que  D.  Gonsalo  Coutinho 
procurava  a  ja  esquecida  primeira  sepul- 
tura do  poeta ;  acham-se  difiiculdades  que 
fazem  hesitar,  mas  que  sào  muito  vencí- 
veis :  nenhuma  razào  se  ofterece  contra  a 
probabilidade,  e  todas  a  reforçam.»  Gar- 
ret,  Camões,  nota  E  ao  cant.  10. 

—  Reforçar-se,  v.  reji.  Ser  reforçado. 

Profano  Mirabaud,  que  ousas  impresso 

O  sinete  de  Athéo  trazer  na  face. 

Escuta,  escuta  a  voz  da  Natureza, 

Que  contra  o  teu  Systema  se  reforça 

Dentro  em  teu  coração :  dalli  te  clama 

Que  existe  hum  Deos  eterno,  e  os  Ceos  o  dizem ; 

Ouve  o  clamor  do  Ceo,  vè  seus  prodígios. 

J.   X.   DE   M.iCEDO,   MEDIT.AÇ.to,     Cant.   4. 

REFORÇO,  ».  m.  Cousa  que  se  põe  pa- 
ra fortalecer  e  firmar  outra  que  pôde 
ameaçar  ruina. 

—  Soccorro,  ajuda  ou  adjutorio. 

—  ilaior  espessura  de  metal  no  ca- 
nhão e  demais  armas  de  fogo. 

—  Termo  militar.  Cada  uma  das  três 
circumferencias  da  peça  de  artilheria. 

REFORMA,  s.  f.  O  acto  de  reformar,  de- 
mudar  para  melhor  o  que  ia  em  decadên- 
cia, ou  a  mal.  —  «O  qual  senão  morreo 
cego,  acabou  todavia  preso,  mantendose 
de  esmolas,  que  algumas  pessoas  nobres 
lhe  mandavão,  deixando  aos  Portugueses 
exemplo  de  virtude  invencível,  aos  Es- 
trangeiros de  invejoso  espanto,  aos  Keys 
de  satisfação  injusta,  e  ao  Mundo  todo, 
das  inconstancias  da  reforma.»  Monar- 
chia  Lusitana,  liv.  6,  cap.  11. —  «Porem 
considerando  na  misericórdia  de  Deos,  e 
merecimentos  de  Chi-isto,  pediremos  a 
este  Summo  Sacerdote,  que  oflereça  por 
nòs  estes  para  alcançar-mos  aquella :  e 
proporemos  viver  com  a  reíórma,  que 
pede  taõ  alto  estado.»  Padre  Manoel  Ber- 
nardes, Exercicios  espirituaes,  part.  1, 
pag.  214. 

—  Deposição,  privação  do  exercício  de 
algum  emprego  que  se  tinha,  e  por  ex- 
tensão das  cousas  que  se  deixam  de  usar. 

—  Restituição  de  uma  ordem  religiosa 
á  sua  antiga  disciplina. 

—  Qualquer  religião  refonra''a.  —  Os 
conventos  da  reforma. 


150 


RICFO 


RKFO 


REFO 


—  Diiiiinuivílo,  rcilucyjlo  das  dcspezas 
de  uiua  cíhíi,  ctc.  • 

—  Raixii  do.í  cavallos  do  exercito, 
Bubstituindo-o.s  por  outros. 

—  Liconccainento  do  tropas. 

Reforma  de  solando;  deminsíto  lio- 

nesta  do  «orviyo,  coiiservando-llie  certo 
BOldo,  80111  exercício. 

—  Termo  do  hi.^^toria.  l)ii-so  este  no- 
me á  ros'(iliu;ilo  o])cnid:i  na  cliristaudade 
no  século  xvi  por  ijuthoro,  e  <|uu  sepa- 
rou da  ijíroja  romana  grande  jiarte  da 
Europa. 

—  Direito  de  reforma;  direito  pelo 
qual  03  priucipos  allemãcs  declararam  (jue 
adoptavam  o  protestantismo. 

Termo   do   conimercio.  Reforma  de 

letra;  o  acto,  por  convcin;ão,  entre  o 
portador  de  uma  letra  da  terra,  e  o  que 
a  devo  pagar,  de  ibruiar-so  nova  letra 
pela  mesma  quantia,  mas  com  novo  pra- 
zo de  vencimento  ;  renovação  de  um  con- 
tracto. 

REFORMAÇÃO,  s.  /.  Reforma.— «E 
porque  poderá  acontecer,  que  despois  que 
com  a  graça  do  Deos  viermos  a  tal  hi- 
dade,  que  bem  possamos  aver  o  Regi- 
mento de  Nossos  Regnos,  acordemos  i)or 
Nosso  Serviço  de  conilrraar  a  dita  Ilor- 
denaçom  feita  i)er  o  dito  Rey  Nosso  Avoo, 
mandauiola  encorporar  em  esta  nova  re- 
formaçom  das  Hordenaçoões  por  tal,  que 
a  todo  o  tempo  se  possa  veer,  e  aver  sem 
outra  defcculdade,  da  qual  o  tlieor  he 
este,  que  se  adianto  segue.»  Ord.  Affons., 
liv.  1,  tit.  31,  §  3. —  «Aristóteles,  que 
sempre  contradiz  a  seu  I\Iestre  Platuò, 
affirma  que  mais  mal  fazem  á  Republica 
os  ricos  no  tempo  da  paz,  que  os  jiobres  ; 
porque  com  o  poder  se  eximem  da  obe- 
diência das  leys,  e  com  a  ociosidade  es- 
tiio  prestes  para  motins,  e  com  as  ri- 
quezas aptos  liara  os  sustentar  :  impedem 
a  reformação  dos  costumes,  rolaxaõ  a 
modéstia  do  povo  com  gastos  superHuos 
no  comer,  e  vestir,  incitando  o  vulgo  a 
desobedecer.»  Arte  de  furtar,  cap.  19. 
—  «O  que  cm  mis  oxccutaõ,  bom  se  dei- 
xa ver  na  reformação  dos  vícios,  na  ex- 
tinção das  heresias,  e  no  augmento  das 
virtudes.  Seria  Portugal  huma  charneca 
brava  de  maldades,  seria  huma  sentina 
do  vícios,  seria  huma  Habilonia  de  erros, 
Be  o  Santo  Officio  nào  vigiara  as  malda- 
des, naõ  castigara  os  vicies,  e  naõ  extin- 
guira os  erros.»  Ibidem,  cap.  40.  — 
«Com  que  nogoceou  com  Deos  c  com  ho- 
mens remédio  do  glorioso  i*adre  Santo 
Agostinho,  pjvra  mostrar  que  o  principio 
da  reformação  do  mundo,  he  ter  opinião 
das  cousas  acertada,  o  ostimallas  no  que 
saõ.B  Paiva  de  Andrade,  Sermões,  part. 
1,  pag.  209.  —  «A  reformação  dos  cos- 
tumes cousa  ó  boníssima,  e  santíssima. 
Tem  pordnn  nas  casadas  sou  limite  ;  de 
maneira  que  por  se  darem  de  todo  a 
aquelles  lions  exercícios,  nào  descmpa- 
rem  os    da  obrigaç.ào  de  seu  estado;  no 


qual  Deu»  deixou  virtude  o  Bantidadc 
bastante  para  que.  Bem  naliirem  d'clle, 
se  possam  salvar  todos,  e  todas  a  quem 
coiupronile, »  Francisco  Manoel  de  ilol- 
o,  Carla  de  guia  de  casados,  cap.  2r>. 

—  itoparo,  concerto.  —  A  reformação 
dii  fiiildliza. 

REFORMADAMENTE,  adv.  (Do  refor- 
mado, com  o  .-.uflixo  unieate»;.  Com  emen- 
da de  costumes,  de  uui  modo  regenera- 
do, corrigido. 

REFORMADISSIMO,  adj.  Superlativo  de 
Reformado. 

REFORMADO,  part.  paus.  de  Reformar. 
—  "Nem  ha  no  mundo  interesse,  com 
que  SC  possa  gratificar,  o  que  este  Santo 
Tribunal  obra  em  si,  e  executa  em  ni'is. 
C)  que  obra  em  si,  he  huma  observância 
de  modéstia,  e  inteireza,  que  assombra, 
e  confunde  aos  mais  reformados  talen- 
tos.» Arte  de  furtar,  cap.  40.  —  «E  por 
isso  diz  o  Pruijhcta.  Que  Deoa  ho  mara- 
uilhoso  em  seus  sanctus.  E  aesi  como  o 
Senhor  he  engrandecido  em  a  alma  vir- 
tuosa cuja  imagem,  c  semelhança  de 
Deos  está  reformada  polia  graça,  e  does 
sobre  naturacs  ;  assi  pollo  contrairo  em 
a  alma  viciosa  quàto  em  si  he  JJcus  aba- 
tido, porque  sua  imagem  esta  nella  af- 
feada,  e  escurecida.  O  miserauel  pecca- 
dor  isto  deuia  bastar  pêra  te  còfundir, 
e  fazer  tornar  cm  seu  acordo.»  Fr.  Bar- 
tholomeu  dos  Martvres,  Catecismo  da 
doutrina  christã.  —  «O  mesmo  a  seu 
confessor,  ao  prelado  conhecido  do  con- 
vento reformado.  Fez  Deus  aos  ricos 
thesoureiros  doj  pobres,  e  assim  é  razào 
que  se  deixem  usar  d'elles,  como  de 
acrcdores  seus.»  Francisco  Jlanocl  de 
Mello,  Carta  de  guia  de  casados. 

—  tí.  m.  Diz-so  do  militar  que  obteve 
a  reforma. 

REFORMADOR,  s.  vu  (Do  thema  refor- 
ma, do  reformar,  com  o  suffixo  «dõr»). 
Pessoa  que  reforma. 

REFORMAR,  f.  a.  (De  re...,  e  formar). 
Reparar,  restaurar,  restabelecer,  formar 
de  novo.  —  «Com  a  informaçam  que  dom 
Vasquo  da  Gama  deu  a  el  Rei  das  cou- 
sas da  Intlia,  e  da  Ethiopia,  modo,  e  tra- 
to da  gente  destas  prouincias,  assentou 
de  ordinariamente  mandai-  cada  anno 
huma  armada  aquellas  partes,  e  poniue 
ha  de  que  fora  por  capitam  Pedralurez 
Cabral  lhe  pareceo  sufficionte  pêra  se  as 
cousas  de  Calecut  appaciticarem,  e  refor- 
marem as  amizades  com  o  Rei  da  terra. n 
Damiào  de  Coes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  1,  cap.  03.  —  «Começou  a  gover- 
nar com  applauso  commum,  porque  re- 
formou 03  Concelhos,  pronuilgou  noviW 
Leis  para  melhor  administraç.aõ  da  Re- 
pública, castigou  con»  exemplo  poucas 
vezes  visto  alguns  Ministros  culpados,  e 
mandou,  que  todos  geralmente  iizcsscm 
inventários  das  fazendas,  qu.-.  possui.ío 
ao  tempo  quo  cnti\avaõ  a  scrvillo.»  Fr. 
Bernardo  de  Brito,   Elogios   dos  reis  de 


Portugal,  continuadoH  por  D.  José  Bar- 
bosa. - —  «Eu  cerca  da  (Jidade,  que  era 
muito  grande,  mandou  renovar  por  al- 
gumas partes,  e  reformar  as  guarita», 
(|ne  proveo  de  Boldado».  Ho  esta  cerca 
de  tai)<a  à  antiga,  c  pela  banda  de  den- 
tro tem  unia  tranqueira  de  madeira  en- 
tulhada ati-  a  taijia,  de  feição  que  deixa- 
va hum  andaimo  de  quatro  paaiius  pêra 
serviço  da  gente,  e  á  roíla  delia  tom 
omitas  guaritas,  a  fiíra  ob  baiuartoa:  o 
que  tudo  o  Capitilo  proveo,  e  repairou 
muito  bem.i  Diogo  de  Couto,  Década  G, 
liv.  9,  cap,  6.  —  «E  em  Setuval  a  For- 
taleza de  S.  Felippe,  e  reformou  a  Tor- 
re de  Outaõ;  e  em  Aveiro,  \'illa  do  Con- 
de; no  Porto,  c  Viami,  Ijagos,  e  Villa 
Nova  de  mil  Fontes,  fez  novíis  fnrtitica- 
çocns.n  .Scverim  de  Faria,  Noticias  de 
Portugal,  Disc.  2,  S  12. 

—  Dar  nova  firma,  roBtituir  ú  primei- 
ra f()rma,  refazer. 

—  Corrigir,  emendar,  pôr  em  ordem. 

—  Reduzir,  ou  restituir  uma  ordem 
religiosa,  etc,  á  sua  primeira  observân- 
cia ou  instituto. 

—  Privar  do  exercício  de  algum  em- 
prego. 

—  Reduzir,  diminuir  o  numero,  a  qua- 
lidade. 

—  Supprimír,  reduzir  as  tropas  a  me- 
nor numero ;  licencear,  despedir  parte 
delias: 

—  Reformar  a  guerra  intenxnnpida ; 
recomeçal-a:  renoval-a. 

—  Reformar  a  gente  com  refresco  e  ar 
sadios ;  dar,  prover,  deixar  restabelecer 
forças  e  saúde. 

—  Confirmar  o  que  estava  feito  por 
outrem. 

—  Reformar-se,  v.  rejf.  Tomar  nova 
fiirma. 

—  Provêr-se,  refazer-sc,  guarecer.  — 
«E  partida  esta  frota  a  nove  dias  do  mea 
de  Março  do  anno  de  1545  pelo  rio  de 
Ansesedaa  acima,  foy  ter  a  Danapluu, 
onde  se  esteve  reformando  de  alguns 
mantimentos  de  que  hia  falta.»  Fcrufio 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.  153. 
—  «Nos  nossos  havia  ditierente  pensa- 
mento, porque  se  reformarão  o  melhor 
que  poderiío,  e  se  preparár.^io  pêra  os  es- 
perar, e  desenganar,  porque  bem  enten- 
diaõ  que  o  Rumecan  os  havia  de  come- 
ter com  toda  sua  potencia.»  Diogo  de 
Couto,  Década  U,  liv.  2,  cap.  4. 

—  Emendar-se,  tomar  emenda,  corri- 
gir-se. 

—  Reduzir-se,  restituir-se  uma  ordem 
religiosa,  etc,  á  sua  primitiva  observân- 
cia, ou  instituto.  —  «Em  seu  tempo,  por 
ordenança  dei  Rei  seu  irmam  se  refor- 
mou em  obseruancia  o  dito  mosteiro,  e 
se  fez  mui  p-ande  despe-sa  cm  obras  da 
casa,  e  so  tirou  muita  parto  da  renda  do 
priorado  pêra  os  cónegos,  no  que  tudo 
elle  nào  somente  consentio  mas  teve  dis- 
so   muito    contentamento.»    Damiào    de 


REFR 


EEFR 


REFR 


151 


Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3, 
cap.  27. 

—  Turnnr  a  uascer,  reproduzir-se. 

REFORMATIVO,  adj.  (Do  thema  refor- 
ma, de  reformar,  com  o  suffixo  «ativo"^. 
Que  reforma  ou  è  capaz  de  refjrmar, 
emendar. 

—  Pertencente  á  reforma. 
REFORMATORIO,  s.  m.  Directório,  ins- 

trucçòes,  regimento  dado,  traçado  para 
se  faxer  alçunia  reforma. 

REFORMAVEL,  (nlj.  2  gen.  (Do  tlaema 
reforma,  de  reformar,  com  o  suffixo 
«avel»).  Que  pude  ou  que  deve  ser  re- 
formado. 

REFOSSETE,  s.  m.  Termo  de  fortitica- 
çào.  Pequeno  fosso,  praticado  de  ordiná- 
rio em  meio  de  fosso  secco,  até  que  se 
encontre  agua  ;  estorva  mais  a  passagem 
ao  inimigo. 

REFOUCINHADO,  adj.  Crespo,  carran- 
cudo ;  verstido,  riçado. 

REFOUCINHAR,  v.  n.  Termo  antiqua- 
do. Inclinar  a  cabeça,  o  focinho. 

REFOUFINHADO,  adj.  Riçado,  encres- 
pado, encarapiuliado.  —  Cabello  refoufi- 
nhado. 

REFRACÇÃO,  s.  /'.  (Do  latim  refractio- 
nem).  Termo  de  pliysica.  Desvio  da  linha 
recta  que  softre  a  luz,  passando  de  um 
meio  a  outro  de  diíferente  densidade. 

Unida  á  refrMção  sobre  as  miudaa 
Da  fria  chuva  gotas  trasparcntes, 
A  septi-forme  côr  promptas  lhe  imprimem. 

J.  A.    DE  MACEDO,  VIAGEM    EXTÁTICA,  Cant.    1. 

Combinação  das  refraeções  diversas 
Da  portentosa  luz  nos  corpos  vários, 
Da  Eterna  Sapiência  apuro  extremo  ; 
E  n'hum  Eubim,  com  destra  mão  gravado, 
Este  não  visto  Oráculo  se  admira. 
IBIDEM,  cant.  3. 

Talvez,  douto  Mairan,  que  esse  abrazado 
Assombroso  clarão,  que  surge  ao  pólo, 
Que  ao  gelado  Lapão,  e  Islândia  triste 
Supprè  da  sombra  prolongada  hum  dia, 
Beja  de  Fobo  a  refraccào,  que  fique 
Preza  nos  ares  liquides  hum  pouco. 

IDEM,  MEDITAÇÃO,  Caut.    2. 

EUe  primeiro  o  disse,  que  as  vistosas 

Cores  morào  na  luz,  na  luz  existem. 

Da  luz  diversas  refraeções  nos  corpos 

Formão  das  cores  o  matiz  diverso. 

Ah  !  s'hum  Anjo  invejar  pudera  os  homens. 

Tão  profundo  mortal  certo  invejara ! 

IBIDEM. 

Tem  principio  no  ar.  Quanto  aproveitão 
Ao  nosso  Globo  refracçòens  tão  bellas  ! 

IDEM,  A   NATUREZA,  Cant.   2. 

—  Refracção  astronómica ;  é  aquella 
pela  qual  o  astro  parece  mais  levantado 
sobre  o   horisonte,   do   que  realmente  é. 

REFRACTÁRIO,  adj.  (Do  latim  refra- 
ctarius).  Diz-se  da  pessoa  que  falta  á 
promessa  ou  pacto,  ou  que  se  recusa  a 
obedecer  ás  leis  ou  aos  superiores. 

— ^  Termo  de  chimica  e  phjsica.  Diffi- 


cil  de  fundir,  que  resiste  ao  fogo  sem  se 
derreter. 

REFRACTIVO,  ailj.  Termo  de  physica. 
Que  tem  a  propriedade  de  refranger  a 
luz. 

—  Figuradamente:  Refrangente. 
REFRACTO,   part.  pass.   irreg.  de  Re- 
franger. 

REFRANGENTE,  adj.  2  gen.  (Part.  act, 
de  Refranger).  Que  refrange  ou  causa  re- 
fracçào. 

REFRANGER,  v.  a.  (Do  latim  refran- 
gere).  Desviar  os  raios  da  hxz  da  sua  di- 
recção rectilínea,  como  faz  o  prisma,  o 
crystal,  a  agua. 

oh  !  da  Divina  mão  alto  infinito 
Poder  sempre  sentido!  Se  atmosfera 
Não  refrangesse  em  si  do  Sol  os  raios, 
Não  se  virão  brilhar  u'azul  campina 
N'huma  distancia  indifinita  os  Astros ! 

J.    A.    DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  CaUt.    1. 

—  Refranger-se,  i-.  j-eji.  Padecer  re- 
fracção. 

Se  refrange  instantâneo,  em  parte  opposta 
Quadri-longo  se  vê,  posto  que  fosse 
E.*fe.-ico  ao  sahir  da  Origem  sua. 
Diversos  grãos,  e  proporção  distiucta 
As  coros  entre  si  guardão,  conservào. 

J.    A.    DE  MACEDO,   VIAGEM  EXTÁTICA,  CaUt.  3. 

o  horizonte  do  purpura  se  arroa, 
Ou  ([uando  nasce  o  dia,  ou  quando  expira ; 
Do  Sol  03  raios  se  refrangem,  brilhão 
Na  relva  humedecida,  c  quando  sobe 
Com  suave  calor  aviva  a  Terra. 

IDEM,  A   KATUBEZA,   Cant.    1. 

Dos  sinuosos  tectos  espelhados. 
Onde  a  luz  se  refrange,  e  de  mil  oôrea 
O  vivo  esmalte  sáe:  diversas  formas 
Que  deu  a  Natureza  a  cada  espécie, 
Qu  infinda  so  produz,  se  multiplica. 
IBIDEM,  cant.  3. 

REFRANGIBILIDADE,  s.  /'.  Termo  de 
physica.  Proprielade  refrangivel. 

REFRANGIVEL,  adj.  2  gen.  Termo  de 
physica.   Capaz  de  sofírer  refracç.ão. 

REFRANSEAR,  v.  n.  (De  re...,  e  fran- 
sear).  Fransear  muito. 

REFRÃO,  s.  7ii.  Rifão,  provérbio,  ada- 
gio; dito  agudo,  e  sentencioso  de  uso 
commuui . 

REFREADAMENTE,  adv.  (De  refreado, 
com  o  suffixo  «meiíte»).  Com  modera- 
ção. 

REFREADOIRO,  s.  m.  ant.  Instrumento 
de  refrear,  ou  cohibir. 

REFREADOR,  adj.  (Do  thema  refreia,  de 
refrear,  com  o  suffixo  dôr).  Que  refreia. 

REFRE AMENTO,  s.  m.  (Do  thema  re- 
freia, de  refrear,  com  o  suffixo  «mento»). 
Acçào  e  effeito  de  refrear,  reprimir  ou 
cohibir. 

REFREAR,  ou  REFREIAR,  v.  a.  (Do  la- 
tim refrenare).  Sujeitar,  á-eduzir,  subju- 
gar o  cavallo  com  o  freio. 


—  Figuradamente:   Enfrear,  reprimir, 
domar,  conter,  cohibir. 


Sc  o  peito,  ou  de  ocioso  ou  do  modesto, 
Ou  de  usado  a  crueza  fera  c  dura, 
Co 'os  seus  uma  ira  insana  não  refreia, 
Põe  na  fama  alva  noda  negra  c  feia. 
CAM.,  LOS.,  cant.  10,  est.  47. 


Canta  o  caminhante  ledo 
Xo  caminho  trabalhoso 
Por  entre  o  espesso  arvoredo  ; 
E  de  noite  o  temeroso 
Cantando  refreia  o  medo. 

IDEM,  BBDONDILHAS. 


— «  E  se  acerta  algum  anno  de  aver 
fome,  he  necessário,  assi  polia  terra  den- 
tro como  áo  longo  do  mar  continuamente 
aver  muitas  armadas,  pêra  refrear  as 
solturas  dos  muitos  ladrões  que  se  ale- 
vantam.»  António  Tenreiro,  Itinerário, 
cap.  26.  —  «  Porque  cousa  certa  he,  que 
se  lhe  estranharem  ou  fecharem  os  ouui- 
dos,  se  enuergonhara  de  si  mesmo,  e  re- 
freara sua  mà  lingoa,  e  a  este  propósito 
declara  o  mesmo  S.  Hieronimo  aquelle 
lugar  do  psahno  setenta,  e  sete.»  Fr. 
Thomaz  da  Veiga,  Sermões,  part.  1, 
foi.  103. 

Seja  quem  fôr,  refreemos 
mormuração. 
AsroNio  PRESTES,  AUTOS,  pag.  61. 

—  Refrear-se,  r.  rejl.  Conter-se,  repri- 


Este  gosto  geral,  com  triste  manto 
De  geral  dor  so  cobre,  e  se  refreia, 
Porque  logo  dos  trcs  vêem  correr  tanto 
Sangue,  qual  sahe  da  fonte  a  viva  veia : 
Sente  disto  Neptuno  um  grande  espanto, 
Não  sabe  então  que  toma,  nem  que  creia. 
Pergunta  aos  três  a  causa,  e  não  lh'a  encobrem 
Mas  tudo  por  extenso  lhe  descobrem. 

KRANCISCO  DE  ANDRADE,    PRIMEIRO    CERCO    DB   DIU, 

Cfint.  7,  est.  44. 


—  Refrear-se  de  fazer  alguma  cousa; 
abster-se. 

—  Usar  moderação,  conter-se  nos  limi- 
tes do  dever. 

REFREGA,  s.  f.  Refega. 

^  Figui-adamente :  Briga,  batalha,  con- 
ílicto. 

REFRENDAR.  Vid.  Referendar. 

REFRÊO,  ou  REFREIO,  í.  m.  Freio, 
cousa  que  refreia,  contém,  reprime. 

—  Grande  abstinência,  ou  poder  que 
alguém  tem  em  si  para  se  abster  de  fa- 
zer alguma  cousa. 

REFRESCADA,  s.  f.  Cousa  que  serve 
como  lie  refresco,  e  soccorro. 

REFRESCADO,  part.  pass.  de  Refres- 
car. 

REFRESCAMENTO,  s.  w.  Refresco. 

REFRESCAR,  r.  a.  Moderar,  temperar, 
diminuir  o  calor  de  alguma  cousa;  refri- 


152 


KKKR 


REFR 


RKFR 


geivir.  —  Efla  vii-nr/i'/  refresca  o  ar  e.  ou 
corpus. 

I)ii  Niituroza  todo  o  oshido  a  fori;a 

K(i  cinprORa  nin  IVciindai-,  snrvir  a  TiTni ; 

IJc»|)r)dn  o  claro  Sol  sobro  (ília  os  raioit ; 

Ah  lliuituantiiH  mivciím  Hm  dorraiiuio 

f)  l)p.infazi;jo  liiuiior ;  li'iiiidart  apiias 

Lho  «ynio  como  saiiguo  a>i  lar^^ujt  voia«  ; 

l'clo!)  ároH  diáfanos  brincando 

So  nfçita  o  vouto,  '\w,  a,  re.frMr.a,  c  nutro. 

J.    A.    UK   MACIÍDO,   MEDITAÇÃO,  Cant.    1. 

—  Jlodorar  o  cíiIdv,  toiímiulo  refrescos, 
bo1)ida»  refrifíeranto.-». 

—  Fazor,  liavor-so  com  mal.-)  anlor  de 
novo. 

—  Renovar,  pôr  cousa  nova  em  lof;Hr 
do  ontra  vollia,  ou  gastada. 

—  Refrescar  a  nimnorid;  renovar,  la- 
zondo  vir  ;i  memoria. 

—  Refrescar  o  e.vurcito,  avmadn,  bata- 
lha;  faziMido  ir  maÍ3  goato,  tropas  quo 
reforce,  renovo. 

—  V.  n.  Tomar  mantioieatos,  tomar 
porto  ou  ancoradouro,  doscan^^ar  u'cllo 
alguns  dias,  dopois  do  uma  longa  via- 
gem, o  tomar  refresco  do  agua  o  vitua- 
lhas. 

—  Tomar  forças,  vigor  ou  alonto. 

—  Refrescar  o  vento ;  fazer-so  mais 
forte. 

—  Refrescar-se,  r.  rej{.  Moderar  o 
próprio  calor,  ttmiar  o  fresco,  ou  descan- 
sar dl!  alguma  fadiga. 

—  Tomar  refi-oscos  de  mantimentos. 

—  Refrescar-se  a  gente ;  revezar  suc- 
ccdendi)  uns  aos  Dutros. 

REFRESCATIVO,  adj.  (Do  tliema  refres- 
ca, de  refrescar,  com  o  suffixo  ativo). 
Que  refresca,  refrigera. 

REFRESCO,  *•.  »i.  Qualquer  bebida  fria 
ou  refrigerante;  refrigera(;ào,  refrigério; 
vitualiias  frescas.  —  «Neste  porto  seguro 
fczeraõ  as  nãos  augoada,  cariiagein,  e  to- 
maram outros  mantimentos,  e  refrescos, 
que  os  da  terra  danam  por  cousas  ile 
pouca  valia.»  Damião  do  (loes,  Chronica 
de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  55.  —  «O 
qual  Galego  saindo  com  outros  em  terra 
quando  veo  ao  recolher,  se  leixou  ficar 
como  homem  que  queria  saber  o  que  là 
passaua :  mas  logo  fii  tomado  o  trazido 
ao  capitão  da  fortaleza,  que  ordenou  de 
o  inuiar  com  hum  presente  de  refresco 
a  dom  Francisco  com  titulo  do  visitação.» 
Barros,  Década  1,  liv.  8,  cap.  9. 

AUi  com  mil  refrencos  e  manjares, 
Con»  vinhoá  odoriforos  o  rosas, 
Era  crystallinos  pai;os  singulares, 
Formosos  leitos,  e  cilas  mais  formosas; 
Erafim,  cora  mil  deleites  não  vulgares. 
Os  osperom  as  njaiioliaa  amorosas, 
D'amor  feridas,  para  lho  cntrcf;arcm 
Quanto  d'cllas  os  olhos  cubii;areni. 
OAM.,  n's.,  caut.  '.1,  est.  41. 

—  «E  coucluvdo  por  tim  de  todos  estes 
vários  pareceres,  no  millior  c  mais  segu- 


ro, mandou  levantar  baiideyra  de  venia- 
ga ao  cuHtumc  da  (Jliina,  polo  que  logo 
vierílo  da  torra  duas  lanteaas,  que  saõ 
como  fu)*ta.i  com  miivto  refresco,  e  o« 
(|uo  vinli.^iK  111'llas.»  Fernão  iMendes  fin- 
to, Peregrinações,  cap.  44. —  «Nos  com 
ente  alvoroço  levamos  logo  as  amarras,  o 
nos  fomos  eo  batel  pela  proa  meter  em 
Ininia  calheta  que  a  terra  fazia  da  banda 
do  Sul,  ondo  estava  liunia  grande  povoa- 
ção (]ue  se  tlezia  Miayginiaa,  da  (|ual 
logo  nos  vieraõ  a  bordo  muvtos  paraoos 
com  refresco  «juo  lhe  compramos.»  Idem, 
Ibidem,  cap.  Ii32.  —  «E  fazendo  assi  nos- 
sos pousos  em  terra  cada  dia,  onde  nos 
proviamos  de  bòs  refrescos,  chegamos  a 
huma  fort.iloza  dei  Uey  do  Bungo  chama- 
da ()s([u\-,  soto  legoas  da  cidade.»  Idem, 
Ibidem,  cap.  l."]5.  —  «Os  Mouros  da  ter- 
ra, que  nos  dias  do  alijamento  anda- 
rão pela  prava  furtando  o  facto,  vondo- 
nos  ya  f  )i'a  do  tam  temeroso  perigo,  vie- 
rào  a  nao  em  duas  embarcações  trazer 
refresco  de  Cabras,  Galinhas,  Peixe,  e 
Figos  da  índia.»  Fr.  (ías])ar  de  8.  Ber- 
nardino,  Itinerário  da  índia,  cap.  2. 

—  Refresco  da  terra;  vitualhas  fresc-as 
próprias  ilo  j)aiz.  —  «Dalli  foi  surgir  hu- 
ma segunda  feira  sete  dias  de  Feucreiro 
diante  da  cidade  do  Jíolindo,  onde  antes 
de  ter  lançado  ancora  o  mandou  el  Rei 
visitar  com  refresco  da  terra,  seguindo 
logo  o  Principo  que  veo  ver  a  bordo, 
o  por  sinal  de  amizade  mandaram  com 
elle  iuini  embaixador  a  cl  Key  dom  Ema- 
nuel.» Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  1,  cap.  44. — «Despedi- 
do o  moço  se  fez  Lopo  soares  a  vela, 
e  a  hum  sábado  sete  do  Septembro  de 
M.  D.  iiij.  surgio  diante  da  barra  de  Ca- 
lecut, onde  logo  os  gouernadoros  da  Ci- 
dade o  mandarão  visitar  per  hum  Mou- 
ro honrado,  em  cuja  companhia  vinha  o 
mesmo  moço  Português,  per  quem  lhe 
mandaram  hum  presente  de  refresco  da 
terra,  o  dizer  que  se  quizesse  dar  seguro 
a  Cojebequij  que  lho  iria  fallar  sobre  con- 
certo de  paz,  pêra  o  que  ja  tinha  com- 
missaõ  dei  Rei  de  Calecut.»  Idem,  Ibi- 
dem, cap.  96.  —  «O  que  acabado  se  abra- 
çaram, c  apertaram  com  muito  amor,  re- 
colhendosse  o  Barnegaes  na  villa.  e  Dio- 
go lopez  a  fi'ota,  donde  mandou  hum  pre- 
sente darmas,  c  outras  peças  de  Portu- 
gal, o  da  Índia  ao  Barnegaes,  e  elle  lhe 
mandou  no  m,'smo  dia  hum  cíinallo,  o 
huma  mula  de  muito  preço,  com  huma 
grande  cantidade  do  refrescos  da  terra.» 
Idem,  Ibidem,  part.  4,  cap.  45.  —  «O 
qual  naõ  poderia  muito  tardar  que  com 
ujantimentos  e  refresco  da  terra  que  de 
mui  boa  vontade  o  seruiriaõ  por  saberem 
•juanto  prazer  elRey  seu  senhor  teria  de 
o  ellcs  assi  fazerem.»  Barros,  Década 
1,  liv.  S,  cap.   10. 


Partia,  aleirremontc  iiavoLTiindo, 
A  ver  as  Náos  ligeiras  lusitanas. 


Com  rf/rftco  da  torra,  em  «i  cuidand') 
Qnií  HÍ<)  aqufllait  (çpnt<'»  inhumanii«, 
í^ui!  os  upo.scntoH  Canpioí  habitando, 
A  Cíin'|UÍHtar  as  t<"rraii  Ani«nafi 
Vieram  ;  c  por  ordrm  do  diu*tino, 
O  Iinjiorio  tornar  a  Countauliiio. 
UAM.,  LL'i.,  caut.  1,  oat.  tH). 

—  Refresco  da*  rasag  ;  cinn  ar  novo. 

• — Refresco  de  viveiroi;  com  agiui  no- 
va do.s  niaros. 

—  Refresco  djt  prar^a ;  borrifada  com 
agua. 

—  Reforço,  auxilio  de  gente  nova  o 
sã.  —  «Ao  qu<!  o  Mouro  rcHpondeo,  quo 
iliramir/.an  não  «ónientc  lho  offerecia 
aquollo  refresco,  maA  to'la  a  Cidade,  i«c 
cumprisse  a  serviço  dEIRey  de  Portu- 
gal, jiolo  desejo  que  elle  tinha  do  8ua 
annz;.'ide.»  Barros,  Década  2,  liv.  7,  cap. 
7.  —  «Este  cerco  se  còtinuou  sete  dia« 
em  que  os  de  f/ira  lhe  der3o  cinco  amal- 
to»,  e  08  oitocentos  so  defenderão  sempre 
valerosamcntc  ;  porem  vendo  que  era  che- 
gada a  derradeyra  hora  do  suas  vidas,  e 
(|ue  nào  podiào  sustentar  por  seu  Roy  a 
fortaleza  como  sempre  cuydaraõ,  pelo  »o- 
corro  (la  gente  de  refresco  que  o  liramaa 
trouxera  na  armada.»  FernSo  Mondes 
Pinto,  Peregrinações,  cíip.  156.  —  «An- 
tónio CorT(!a  lho  resp(mdeu  a  tudo  muito 
differente  do  (|ue  o  Mouro  desejava,  aftir- 
mandolhe  que  na  fortaleza  havia  quatro- 
centos homens  e  que  tinha«"j  de  refresco 
muitas  muniçoens,  c  que  até  o  outro  dia 
se  esperava  pelo  filho  do  (4overna'lor, 
que  já  era  partido  de  Baç.aim  cf)m  seis- 
centos homens,  e  que  o  (jovemador  em 
(ioa  fazia  huma  grande  Armada.»  Diogo 
de  Couto.  Década  (j,  liv.  3,  cap.  9. — «O 
Visorey  mandou  governar  pêra  Columbo, 
e  surgio  fira.  Os  da  terra  conhecendo  a 
nào  ser  do  R^-ino,  foraõ  logo  a  cila  alguns 
navios  quo  alli  ficàraò  da  companhia  do 
D.  Jorge  de  Castro,  c  sabendo  ser  o  Vi- 
sorev  despedirão  logo  recado  a  Cota  a 
EIRev,  e  a  (íaspar  de  Azevdo  Alcaide 
niòr,  que  logo  acoliraò  a  Columbo,  vindo 
ElRcv  muito  bem  acompanluido,  que  man- 
dou visitar  o  Visorev  com  muito  refresco, 
e  algumas  peças.»  Idem,  Ibidem,  liv.  9, 
cap.  1. 

Neste  tempo  ja  toda  a  grossa  annada, 
Quo  sentira  o  favor  do  amigo  vento, 
Rocolhondo  no  porto  a  vcUa  inchada 
Imprimira  hum  frcral  contoutamonto. 
Ja  com  vário  refrffco  he  visitada, 
Ja  se  lhe  enche  o  pavol  di-  mantimento. 
Recebe  o  triste  Rei  com  alvoroço 
Huma  morte  cruel,  hum  grão  destroço. 

FRANCISCO  nr.  anpbvpk,  priueibo  ckbco  db  oic, 
caut.  !•.>,  est.  i:i8. 

—  .clfi((/tr  de  refresco  aos  <^ue  peleja- 
vam ;  a  soccorrel-os,  c  deixal-o«  descan- 
çar. 

—  Subir  (/<•  refresco  ao  muro ;  para 
ajudiír  c  dar  mais  calor  ao  escalar  a  pra- 
ça,   e    defendcl-a.  —  «Estes    subirão    de 


REFU 

refresco,  favorecidos  da  Escopetaria  do 
oxcrcito.»  Jn  cintilo  Freire  d'Andrade, 
Vida   de   D.   João  de  Castro,  liv.  2. 

REFRETAR.  Viá.  Refertar. 

REFRICAR,  V.  a.  (Do  latim  refricavc). 
Disputar,  duvidar,  altercar  outra  vez,  ou 
de  novo  sobro  questàe. 

REFRIGERAÇÃO,  s.  /.  (Do  latim  refri- 
geratione).  Acçào  e  eftoito  de  refri,e;erar. 

—  Resfriamento  forte,  privação,  ausên- 
cia abí^oluta  de  calor. 

REFRIGERANTE,  arij.  2  f/m.  (Part. 
act.  de  Refrigerar).  Que  refrigera,  re- 
fresca. 

•^ —  S.  m.  Termo  de  cbimica.  Vaso  cbeio 
de  agua,  com  que  se  tapa  a  parte  supe- 
rior de  um  alambique,  para  favorecer  a 
condensação  dos  vapores  que  se  elevam 
das  matérias  subníettidas  á  acção  do  fogo. 

REFRIGERAR,  v.  a.  (Do  latim  refrufe- 
rare).  Refrescar,  temperar  ou  dimiiutir  o 
calor  de  alguma  cousa.  —  «E  aquelle 
piedosíssimo  8enbor,  que  por  bum  púcaro 
de  agua  dado  por  seu  amor,  proniettia,  e 
dava  gloria  eterna  :  agora  por.  todos  os 
nuírecimeiítos  antigos  nau  dará  nem  bu- 
nia  gota  de  agua  para  refrigerar  o  ardor 
das  labaredas  irfernaes.»  Tadre  ]\Ianoel 
Bernardes,  Exercícios  espirituaes,  part. 
1,  pag.  119. 


Sustento  do  mortal,  dádiva  augusta, 

De  hum  Deus,  que  abasta  o  domicilio  nosso, 

Vejo  oudeante  na  campina  extensa, 

Ora  dobrar-se,  e  desdobrada  a  messe. 

Ao  leve  toque  do  animantes  sopros, 

Que  os  calmorosos  aves  refrigerno; 

Kis  a  mais  rica  producçào  da  Terra. 

J.    A.    DK   MACEDO,    MKDITAçXo,    Cant.    3. 

Pa  fatídica  vara  a  lium  leve  ti'>que 
Kis  se  fende,  eis  burbulha,  eis  corre  a  lynfa. 
Que  a  ardente  sede  ao  povo  refrigera  : 
Do  adustos  areaes  no  vasto  oceano, 
Uniforme  planicio,  horrenda,  e  triste, 
Nào  tem  baliza  as  Legiões,  que  sigào. 
IBIDEM,  cant.  4. 


• —  Figuradamente  :  Desafogar ;  alli- 
viar  de  algum  modo  os  padecimentos 
pbysieos,  ou  moraes. 

—  V.  n.  Sentir  refrigério. 

—  Refrigerar-se,  v.  refl.  Tomar  refres- 
co, beber  um  copo  de  vinbo,  e  comer 
um  poncci. 

REFRIGERATIVO,  arij.  iDo  thema  re- 
frigera, de  refrigerar,  com  o  sufíixo 
«aíivo»).  Refrigerante,  que  refrigera,  re- 
fre-ca. 

REFRIGERATORIO,  aclj.  (Do  latim  re- 
fri(jerat(irius>.  Que  refrigera. 

REFRIGÉRIO,  s.  m.  (Do  latim  refri- 
gerium).  Refrigeração,  refresco;  bene- 
ticio  ou  aliivio,  que  se  sente  com  o  fresco. 

—  Figuradamente:  Aliivio,  desafogo; 
cousa  que  i-efrigera,  allivia,  consola. 

FEFUGADOR,  adj.  (Do  tbema  refuga, 
de  refugar,  com  o  sufíixo  «dôr»).  Que 
refuga. 

voL.  V.  — 20. 


REFU 

REFUGAR,  V.  a.  Separar  o  mau  do 
bom. 

REFUGIAR,  V.  a.  (De  refugio).  Aco- 
lher, amparar  alguém,  dando-lhe  agasa- 
lho, e  asyla. 

—  Refugiar-se,  i^.  rejl.  Acolliei'-se,  bus- 
car asylo,  abrigar-se. 

REFUGIO,  s.  m.  (Do  latim  refugium). 
Asylo,  acolhida,  amparo,  acolheita,  logar 
seguro.  —  «Mas  com  ser  tanto,  todo  he 
necessário  por  a  grande  variedade  de  na- 
ções que  cor.corre  a  esta  Cidade,  como 
centro,  e  refugio  de  todas  aquellas  Ará- 
bias, e  desertos,  na  qual  achey  dons  Por- 
tugueses, e  oyto  Venezianos,  todos  os 
mais  erão  ivirieis.»  Frei  Gaspar  de  S. 
Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap.  19. 

—  Figuradamente  :    Escusa,    pretexto. 

—  Irmandade  em  Hespanha,  dedica- 
da exclusivamente  ao  serviço  dos  pobres. 

REFUGO,  s.  7n.  A  porção  má  que  se 
rejeita,  qualidade  inferior. 

REFULGENCIA,  s.  f.  (Do  latim  reful- 
gentia).  Brilho,  resplendor  do  corpo  lu- 
minoso, ou  resplandecente. 

REFULGENTE,  adj.  2  gen.  (Part.  act. 
de  Refulgir).   Brilhante,    resplandecente. 

Da  iguivoma  montanha  não  soujjerão 
A  causa  natural,  são  fumo,  e  brazas 
i)\V  o  sepultado  Kncélado  arremessa. 
Gigante  audaz,  qu'  o  refulgente  Olimpo 
Quiz  escalar,  desconhecendo  os  Numes. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Cant.  2. 

REFULGIR,  V.  n.  (Do  latim  refulgere). 
Resplandecer,  brilhar,  lançar  luz  bri- 
lhante. —  «Ambos,  despertos  por  cuida- 
dos acerbos,  tinham-se  erguido  com  o 
dia;  mas  o  refulgir  do  sol  haviam-no 
visto  só  nas  faixas  de  luz  que  se  iam  es- 
tirando pelo  pavimento  das  suas  cellas.» 
Alexandre  Herculano,  Monge  de  Cister, 
cap.  24. 

REFUNDADO,  jjarf.  pass.  de  Refundar. 

REFUNDAR,  r.  «.  (De  re...,  e  fundar). 
Tornar   a   fundar,    rebaixar,    profundar. 

—  Tornar  a  fundar,  edilicar,  recons- 
truir. 

REFUNDIÇÃO,  s.  /.  (Do  thema  refun- 
de, de  refundir,  com  o  suffixo  «ição»). 
Acção  e  efleito  de  x-efundir. 

REFUNDIR,  V.  a.  (Do  latim  rejunclere). 
Tornar  a  fundir. 

—  Figiu-adameute :  Recompor,  corri- 
gir, emendar;  dar  nova  forma  e  dispo- 
sição a  uma  obra  litteraria,  como  discur- 
so, comedia,  etc. 

—  Passar  o  licor  de  um  vaso  para  ou- 
tro. 

—  V.  )i.  Reunir-se. 

—  Refundir-se,  v.  rejí.  Sumir-se,  des- 
appareccr. 

REFUSAÇÃO,  s.  /.  (Do  thema  refusa, 
de  refusar,  com  o  sufíixo  «ação»j.  O 
acto  de  refusar. 

BEFUSADO,  part.  pass.  de  Refusar. 

REFUSADOR,  s.  m.    (Do  thema  refusa. 


REFU 


1Õ3 


de  refusar,  com  o  suffixo  «dôr»).  O  que 
refusa. 

REFUSAR,  V.  a.  Recusar,  oscusar; 
não  querer,  ou  não  acceitar  alguma  cou- 
sa, não  conceder  o  que  se  pede. 

Rem  sei  que  a  condição  isenta,  e  seca, 
Oom  que  me  tratas  sempre  isto  refusa, 
E  que  a  satisfação  impia  que  peço  : 
Porque  he  dar  te  sor.í  molesta,  e  graue. 
Que  por  me  negar  tudo,  até  alegrartc 
Uo  meu  tormento  esquiuo,  c  morte  aflicta 
Me  negaras  ò  bella,  ingrata  c  dura 
Em  fim  cumprasc  cm  mim  a  tua  vontade. 

CORTE  REAL,  NAUFRÁGIO  DE  SEPÚLVEDA ,  Caut.    10. 


Ligeiro,  c  faeil  foy  o  que  pedia 
Do  ser  por  este  Eey  logo  otorgado. 
Que  tendo  o  coração  liurc  de  engano, 
O  que  o  Sousa  lhe  pede  nào  refusa, 
Despedido  ao  lugar  se  torna  e  leua 
Consigo,  03  que  saõ  causa,  do  receyo. 
Os  que  uauegão  deixa,  e  u  estes  manda, 
Que  obedeçào  cm  tudo,  e  em  tudo  o  siruão. 
IBIDEM,  cant.  14. 


Pois  vendo  a  oceasiflo  não  na  refusaò, 
Nem  na  deixão  passar,  antes  aferrão 
A  cabcUuda  fronte,  e  com  violenta 
Fúria  cometem  logo  o  cruel  insulto. 
Alarido  horrendíssimo  leuantào 
Que  atroa  campo,  c  montes,  e  o  ceo  toca. 
Acodem  num  momento  espessas  bandas 
De  barbara,  tostada  imiga  tiu-ba. 
IBIDEM,  cant.  1(5. 

Primeiro,  assentac  protesto 
a  refusar, 

quem  o  ha  de  saltear  ? 
Jejum  com  vêr  deshonesto 
Jejum  que  dobra  o  jantar  ; 
Jejum  <[ue  fere  outra  alheia. 
Jejum  com  sensualidades. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  91. 

Vos  vera  desfazendo,  o  vosso  depois. 
Pois  voto  a  sào 

(|uo  bom  foi  cairem  ;  já  o  meu  picão 
ia  zunindo  como  abelha  brava. 
Hofá  que  o  meu  nào  lhe  refiisava. 
Nem  tão  pouco  o  meu  dissera  de  não. 
IBIDEM,  pag.  99. 

Este  é. 

E  traz  dinheiro  ? 
Si,  que  é  cousa  de  dar; 
e  se  refvsar  quizer 
saltem  com  eUe 

faustos,  que  oram  melhor  n'clle, 
que  estes  se  bem  comprehender 
sao  os  matadores. 
IBIDEM,  pag.  83. 

— •  Refusar  a  batalha ;  não  sahir  a  ba- 
talhar. 

• — Refusar   o   remo;   remar  para  traz. 

—  Refusar  o  caraUo  o  estribo;  recuar 
quando  o  cavalleiro  quer  metter  o  pé  no 
estribo  ;  negar  o  estribo. 

—  Refusar-se,  r.  rej{.  Recusar-se,  es- 
cusar-se. 

—  Termo  de  náutica.  Refusar-se  o  na- 
vio;  fugir  do  vento,  propendendo  a  an-i- 
bar,  ou  resistindo  a  orçar. 


1:>Í 


REUA 


REGA 


ri:<;a 


REFUTAÇÃO,  *.  /.  (Do  latim  refula- 
tiúiwjn).  Aifíuiiiento  ou  prova,  cujo  ob- 
jecto  ó    ileHtruir  as   ra/.õus  do  contrario. 

—  Termo  do  rhctoriea.  Farte  do  dis- 
curso, cm  quo  SC  rebatem  a»  razões  quo 
podem  oppôr-.se  contra  aquillo  que  o  ora- 
dor 8ust(;iit;i  nu  deieude. 

REFUTADOR,  s.  m.  (Do  tliema  refuta, 
de  refutar,  com  o  siiftixo  odor»).  O  que 
refuta. 

REFUTAR,  V.  a.  (Do  latim  re.futarc). 
Contradizer,  ou  reprovar  alf,nima   cousa. 

—  Confutar,  combater  com  razões,  ar- 
gumentos ou  objecções,  convencer  de 
falso. 

REFUTATORIO,  adj.  Que  refuta,  pró- 
prio )).ii'a  rctutar. 

REFUTAVEL,  adj.  2  gan.  (Do  tliema 
refuta,  de  refutar,  com  o  suffixo  «avel"). 
Que  se  póile  refutar,  ou  que  admitte  re- 
futa (.'ão. 

REGA,  s.  f.  Acçilo  de  regar,  regadia, 
regadora. 

—  Termo  antiquado.  Instituto,  regra.' 
REGABÓFE,  s.  m.  Termo  popular.  Gran- 
de prazer.  —  Hoje  é  dia  regabófe. 

—  Viil.  Regar-se. 
REGAÇA,  s.  ./".  Vid.  Regaço. 
REGAÇAR.  Vid.  Arregaçar. 
REGAÇO,  s.  m.  O  saceo  que  faz  a  saia, 

ou  roupa  talar  c  fraldada  entre  as  coxas 
de  quem  a  traz,  e  está  sentado.  —  «Po- 
lendos,  filho  do  imperador  e  rei  de  The- 
salia,  o  principe  Ditrco,  fillio  d'el-roi  Fri- 
sol  de  Hungria,  Belcar  seu  irmão,  Vcr- 
nao  principe  d'Allomanha,  rilho  do  impe- 
rador Trineo,  que  esto,  ainda  quo  aquel- 
les  dias  passasse  no  regaço  da  formosa 
Valerisa,  filha  menor  do  imperador  Pal- 
meirim, com  quem  era  esposado,  tovc  cm 
menos  aquelle  gosto,  que  o  quo  <levia  fa- 
zer.» Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
dlnglaterra,  cap.  5. 

Meiga  Mãy  N.ituvoza  os  olhos  fecha : 
Debalde  em  seu  re<ia':o  o*  filhos  fuiartla 
Para  os  dar,  mas  em  tompo,  á  morte  esevira. 

J.    A.    DE  MACKnO,  A  NATUBEZA,  Cailt.    2. 

—  o  seio  que  faz  a  fralda  da  roupa 
talar  por  diante,  apanhada  com  as  mãos 
para  a  cintura. 


Tinha  f<Va  do  çurraõ 

Muitas  flores  no  regaço, 

A  cabeça  sobro  o  braço, 

E  03  claros  olhos  uo  chaõ  ; 

Dalli  mil  auapiroa  dava, 

Como  a  compassos  cantando, 

E  cutrc  elles  do  quando  em  qviando 

Formozas  perlas  chorava. 

F.  RODBIQIES  LOllO,  PRIMAVERA. 


Molh.  E'-me  devasso  ? 

Cioso.  E,  mais  lasso, 

nào  quero  que  o  sol  por  ella 
vos  lance  ouro  no  r('gni;o. 

Molh.  Mettor-mc-hci  n"uraa  panela. 

ANTÓNIO  TBESTES,  AUIOS,  pag.  243. 


—  Figuradamente:  O pallido  regaço  do 
enlutado  Occideide. 


Surgia  ontilo  do  pálido  ref/nro 
Do  enluctado  Occidento  a  noite  fria, 
Feia  iinui(;n;ta  cxteuaáo  do  ctlicroo  espaço 
Dos  áureos  Astros  o  esquudnio  roíiiiiia  ; 
O  soiiiMO  lirtfniK"i"o  "'"  doo  laço 
('ançados  olhos  d  )rt  mortues  prendia  ; 
Da  Natureza  dom,  que  o  mal  atalha, 
Qu'cni  dôr  acerba  bálsamos  espalha. 

J.   A.  DF.  MACEDO,  OKIENTE,  CUnt.    G,  CSt.  0. 

—  Figuradamente :  O  logar  do  repouso, 
ou  estado  de  descanyo. 

—  Figuradauiento  :    O  regaço   da  Au- 
rora. 


Nem  tu,  ditosa  China,  no  rer/(u;o 
Posta  d'Aurora,  c  do  nascente  dia, 
A  meus  sublimes  êxtases  fugiras. 

J.    A.    DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Caut.    3. 

—  o  regaço  da  Primavera. 

Em  tanta  multidão  se  perde  a  ^ista, 

K  se  confunde  a  mente  extasiada : 

Todos  pedem  meu  cauto,  e  em  dons  tão  vários 

Ii-resoluta  a  escolha  se  suspende. 

Tiulo  no  império  vegetal  hc  grande, 

Tudo  serve  ao  mortal !  Ora  <(uo  volve, 

Da  Primavera  no  rer/aço,  Maio, 

Tudo  no  alvcrguc  humano  hc  formosura. 

J.  A.  DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Caut.  3. 

—  Pôr  o  crime  em  meu  regaço. 

—  Mas  tu,  tu  es  também  meu  filho...  filho 
Da  minha  escolha,  mais  querido  ainda, 

Que  orpham  te  puz  o  crime  em  meu  retjaro.  , 

GARRETT,  CATÃO,   act.    Õ,   SC.    7. 

—  Quasi  berço.  —  Regaço  florido. 

—  Figuradamente  :   A  philosoiihia  tem 
em  seu  regaço  a  Séneca. 

Fazes  do  grande  Sábio  homem  pequeno  ! 

Nào  vejo  grande  a  Séneca  nas  obras. 

Pois  a  vida  antepoz  ao  justo,  ao  pejo ; 

Por  ella  perde  de  viver  as  causas. 

Em  seu  regaço  o  tem  Filosofia, 

Só  porque  disso,  que  As  acções  internas 

He  presente  hum  Juiz,  presente  hum  Nume. 

J.    A.    DE  MACEDO,  VIAOEM   EXTÁTICA,  Cant.    2. 

—  Figuradamente :  O  logar  médio. 

—  A  parte  do  corpo  quo  o  regaço   da 
saia  cobre. 

—  A  parto  longa,  profunda,  e  interior. 

—  Figuradamente :    O  regaço  da  pá- 
tria. 

E  até  ao  triste,  ao  infeliz  prcscripto 

—  Dos  entes  o  misérrimo  na  terra  — 
Ao  regaço  da  pátria  em  sonhos  levas, 

—  Sonhos  que  são  mais  doces  do  íiue  amargo, 
Cruel  c  o  dcspert;ir  !  —  Celeste  nunicu. 

GARRETT,  CVMÕeS,    Cailt.    1,  Cap.    1. 

—  Figuradamente :  Reclinar  alguém  em 
seu  regaço. 

Entre  clarões  de  luz  marcha  Zanotti, 
Da  Fvsica  Scicucia  o  Império  estendo. 


Curvo,  o  velho  Hie.ttti  abstracto,  o  mudo 
Em  Bcu  ret/aço,  llrauia  o  reclinava. 

J.    A.    DE  MACKIKl,   VIAUEM   CXrATICA,  CSnt.    4. 

—  Figuradamente:    O   regaço  da  paz 
serena  e  doce. 


No  rf.garo  da  paz  Hcrona,  n  docfl 
Sc  me  ant/)llia  voar  no  espaço  ignoto, 
Entre  «ublimes  cxtasis  bradando: 
Nào  he  este,  nào  lie  terreno  alvcr(fUO 
Do  Ente  pensador  mosquiiiha  oHtancis. 

J.   A.    DE  MACEDO,  VIAOEM  EXTÁTICA,  Cattt.    1. 


—  Plur.  Dava-se  outr'ora  este  nomo 
áquelles  pedaços,  06  tiras  de  BÔda  ou  de 
outra  droga,  que  se  cosiam  por  diante,  e 
por  detraz  das  alvas  do  que  se  uca  no 
sacrificio  do  altar.  E  porque  estes  peda- 
ços eram  quailrados,  lhe  chamaram  quu- 
dratos.  Igualmente  se  costumava  ornar 
as  mangas  das  mesmas  alvas  com  véos 
como  manguitos,  a  que  chamavam  mani- 
ijuetes,  ou  bocaes,  como  se  vê  nas  mui  an- 
tigas, que  tem  os  bocaes  das  mangas  co- 
bertos de  rendas  até  o  cotovelo. 

Em  Santa  Cruz  de  Coimbra  se  guarda 
a  planeta  e  alva  com  que  os  martyres 
de  Jlarrocos  diziam  missa;  na  dita  alva 
se  acham  os  taes  regaços,  ou  quadratos, 
e  nas  bocas  das  mangas  os  taes  mani- 
quetes  ou  bocaes,  nào  inteiros,  e  de  mo- 
do que  rodêem  o  braço,  porém  só  como 
tiras,  ou  canhões,  pela  parte  de  cima. 
Elrei  D.  Jo.ho  v  mandou  usar  d'estes  re- 
gaços, c  maniquet^s,  nas  alvas  de  Mafra, 
e  lia  Patriarehal. 

REGADEIRA,  s.  /.  Enxurrada.  —  A  tb- 
gadeira  da  rua. 

—  Rego,  regueira. 
REGADIA,  s.  f.  O  acto  de  regar. 

—  Traballio  de  regar. 

—  Ruga. 

—  Vid.  Regadio,  Rego,  e  Regadura. 
REGADIO,  A,  adj. —  Teria  regadia;  ter- 
ra que  se  roga  para  lavoura. 

—  Penedos  regadios;  penedos  que  o 
mar  lava,  e  banha,  onde  se  criam  maris- 
cos. 

—  Substintivamente :  Regadios  ;  terre- 
nos para  prio,  linho,  ctc. 

REGADO,  part.  p(uss.  de  Regar.  —  «E 
m  ste  tompo  cu.-itumam  vir  muito  grande 
soma  dembarcações  de  todas  as  partes  da 
China  da  terra  dentro,  que  ja  disse  que 
toda  ha  China  se  navega  por  rios,  porque 
toda  he  cortada  e  regada  de  rios  gran- 
des, e  trazem  estas  embarcações  muitos 
cestos  por  dentro  e  por  fora,  os  quaes  to- 
dos vem  forrados  de  papel  passado  pelo 
azevte.  pcra  que  v\Ão  ho  passe  ha  ngoa, 
antes  ha  possa  reter,  e  compra  cada  hum 
destas  embarcações  ho  peixe  que  h.-»  mis- 
ter pêra  conforme  aos  cestos  que  traz.t 
Frei  Gaspar  da  Cn^z,  Tratados  das  cou- 
sas da  China,  cap.  12. 

—  Figuradamente:  Regadas  de  saitgue 
as  terras  de  Bardtz. —  tÇamorim  depois 


REGA 


REGA 


REGA 


155 


que  entrárào  os  Portuguezes  no  Oriente, 
nào  tem  porto  que  nào  fosse  theatro  de 
victorias  suas ;  e  apenas  tem  vasallo  que 
nào  fosse  cortado  de  seu  ferro.  O  Hidal- 
cào  cada  dia  vê  regadas  de  sangue  as 
terras  de  Bardez,  e  Saisete;  e  depois  de 
o  Governa  lor  lhe  ía^ier  injusta  guerra, 
trouxe  Meále  a  (^oa,  querendo  honestar- 
Ihe  sua  ruina  com  a  justiça  alheia.»  Ja- 
cintho  Freire  de  Andrade,  Vida  de  D. 
João  de  Castro,  cap.  2. 

—  iSer  da  ordem  dos  regados. 

Críad.  Dois  bocados 

fartam  d'aquem  e  d'além, 

sou  da  ordem  dos  regados. 
Pae.  São  horas  de  te  ir  geitar. 
Criad.  E  vós,  pae  velho? 

ASTOSIO  PSESTES,  ACTOS,  pag.  2Õ7. 

—  Adagio  : 

—  Mais  vale  agua  do  eéo,  que  todo  o 
regado. 

REGADOR,  í.  m.  Vaso  de  lata,  que  se 
enche  de  agua  para  regar  as  plantas;  a 
agua  sahe  por  um  ralo  que  tem  um  fundo 
largo,  da  biqueira. 

—  Aguauor. 

REGADURA,  s.  /.  Acto  de  regar,  rega- 
dia. 

REGAENDO.  Termo  antiquado.  Vid. 
Reguengo. 

REGAENGO,  ou  REGALENGO,  adj.subst. 
.Signitica  o  mesmo  que  Reguengo.  Vid. 
este  termo. 

—  Todos  os  direitos,  pensões  e  rega- 
lias annexas  ás  terras  reguengas  ou  re- 
galengas. 

REGAGLISTA.  Vid.  Regalista. 

REGALADAMENTE,  ah.  ,De  regalado, 
e  o  suffixo  «mente»).  De  um  modo  rega- 
lado. 

—  Com  reíralo. 
regaladíssimo,  a,   adj.  Superlativo 

de  Regalado,  iliúto  regalado. 

regalado,  parf.  pass.  de  Regalar. 

—  Homeia  regalado ;  homem  que  se 
trata  com  regalo ;  homem  amigo  de  se 
regalar. 

—  Olhos  regalados  ;  olhos  arregalados. 
Vid.  Arregalado. 

—  Mesa  regalada ;  mesa  em  que  ha 
regalos,  e  manjares  delicados. 

—  Somnos  regalados  ;  somnos  de  gran- 
de prazer. 

Meu  Doutor,  se  essa  regra  é  verdadeira. 
Fique  O  malvado  Acórdão  subsistindo, 
Chovào  embora  sobre  mim  as  multas, 
O  vestido  de  soda,  a  loba,  a  murça. 
Pela  agua  abaixo  vá,  tudo  se  perca, 
Com  tanto  que  eu  nào  perca  um  só  instante 
Dos  meus  suaves,  regalados  somnos. 
Dixiz  DA  CRUZ,  HYssoPE,  cant.  4. 

—  Iguaria,  vianda  regalada;  ig-uaria, 
vianda  gulosa,  capaz  de  regalar. 

REGALADOR,  A,  aJJ.  Que  regala. 

—  Substantivamente  :  Pessoa  que  re- 
gala, que  causa  prazer. 


REGALÃO,  ONA,  adj.  Que  se  trata  com 
regalo,  mormente  no  comer.  Vid.  Rega- 
lona. 

REGALAR,  i*.  a.  Tratar  alguém  com 
regalo. 

—  Produzir  immenso  prazer. 

—  T'.  n.  Regalar  com  Deus. 

—  Regalar-se,  i-.  ref.  Tratar-se  rega- 
ladamente, viver  vida  regalona. 

REGALARDOAR,  r.  a.  Recompensar  no 
dobro. 

REGALENGO.  Vid.  Realengo. 

REGALEZA.  Vid.  Regalice. 

REGALIA,  s.  f.  (Do  latim  regalis).  Di- 
reito magestatico  e  de  soberano.  —  As 
regalias  d/el-rei. 

—  A  dignidade  e  jurisdicção  real. 

—  Privilegio,  prerogativa.  —  «íí'esse 
cazo  se  começa  a  ensayar  na  creaçào  de 
hum  Condado  em  Reyno,  e  nisso  mostra 
que  virá  a  ser  hum  daquelles  Cezares 
famozos,  que  souberão  defender,  e  sus- 
tentar a  sua  jurisdição,  e  regalia.»  Ca- 
valleiro  d'01iveira,  Cartas,  liv.  1,  n."  17. 

REGALICE,  s.  f.  (Do  fi-ancez  reglisse). 
Alcaçuz. 

REGALINDO,  s.  m.  Termo  antiquado. 
Reguengo. 

REGALISTA,  s.  m.  Defensor  dos  direi- 
tos e  regalias  dos  soberanos. 

— :  Homem  provido  de  um  beneficio 
por  regalia  do  rei. 

REGALITO,  s.  m.  Diminutivo  de  Re- 
galo. 

REGALIZ,  s.  f.  Vid.  Regalice. 

REGALO,  í.  vu  O  prazer,  que  produz 
o  mimo  e  delicia  do  tratamento  luxm-io- 
so,  na  mesa,  e  no  que  é  de  prazer. —  «E 
para  este  effeito  nsavào  de  cama  dura 
em  traves,  ou  sexos  do  rio,  ou  espinhos 
do  matto ;  e  de  meza  parca,  e  de  man- 
jares ordinários,  e  sem  regalo ;  e  jejua- 
vào  dous  dias  cada  sabbado  ;  isto  he  ca- 
da semana  ;  que  era  ás  segundas,  e  quin- 
tas feiras  :  e  ainda  quando  casados  nào 
se  chegavào  a  suas  mulheres  quàdo  pe- 
jadas.» Padre  Manoel  Bernardes,  Flo- 
resta, part.  1,  pag.  4. 

—  Prazer.  —  «E  se  algum  entreteni- 
mento tem,  he  muito  licito,  e  só  lhe  dá 
as  horas,  que  furta  do  desífenço,  que  lhe 
era  devido  ;  e  o  mais  todo  o  gasta  no 
expediente  das  guerras,  e  em  compor  as 
tormentas  de  negócios  innimieraveis,  sem 
admittir  regalos,  nem  ostentaçoens  de 
festas,  que  o  devirtaõ.»  Arte  de  furtar, 
cap.  48. 

—  Manguito  de  pelles  de  seda,  ou  se- 
tim  acolchoado,  de  que  usam  as  senho- 
ras para  metter  as  màos  durante  o  in- 
verno por  causa  do  frio. 

—  Presente,  mimo  com  que  se  brinda 
alguém.  - —  «Longe  de  me  queyxar  vos 
agradeço  o  regalo,  e  o  livrinho  que  me 
remeteste:  ao  mesmo  tempo.  Digo-vos 
sem  mentir  que  nào  podieis  escolher  cou- 
sa melhor  para  me  mandar,  se  he  que  o 
fisestes  com  intenção  de  que  eu  o  guar- 


de por  amor  de  vós  até  á  hora  da  minha 
morte.»  Cavalleiro  d'01iveira,  Cartas,  liv, 
3,  n."  49. 

Que  assim  paguei,  por  justa  Providencia 
Os  regalos  de  Keápoli,  e  os  aromas, 
E  as  delicias,  que  lá  me  embevecerão  ! 

F.   M.  DO  KASCI5IEST0,  OS  MABTYBES,  1ÍV.   7. 

—  Um  cavallo  ginetado  de  regalo. 

Eufronhae-vos  n'um  capuz 
com  seu  habito  de  cruz, 
vossos  pagens,  um  cavallo 
ginetado  de  regalo, 
chamai-vos,  que?  dom  Cusciis, 
que  achareis  muito  barato 
sabeis  quanto  ;  que  n'um  cabo 
jantei  hontcm,  e  vos  gabo 
que  por  trazer  apparato 
me  soube  um  nabo  a  dom  nabo. 
AKioxio  PEEsiES,  Acios,  pag.  123. 

—  A  iguaria  gulosa,  ou  cousa  análo- 
ga, que  produz  grande  prazer. 

REGALONA,  s.  f.  de  Regalão.  Vid. 
este  vocábulo.  —  Viver  á  regalona. 

REG'AMARGEM,  s.  m.  Um  ou  dous  regos 
que  se  dào  em  baixo  no  fim  da  terra  de- 
pois de  lavrada,  que  a  tomem  toda,  e 
recebam  a  agua  dos  regos  que  ella  tem, 
para  por  elles  vasar  a  agua  da  chuva. 

—  Rego  de  agua. 

REGANHAR,  v.  a.  Vid.  Arreganhar. 

—  Tornar  a  ganhar,  ganhar  novamente. 

7  REGANHO,  s.  m.  Euro,  aquilào. 

REGAR,  1-.  a.  iDo  latim  rigare).  Ba- 
nhar a  terra  com  regadeira,  ou  por  ou- 
tra qualquer  maneira. 

Alguns  soldados  manda  que  se  arriscão 
Duas  legoas  tornar  atras,  e  a  parte 
Onde  huma  cristallina  fonte,  as  heruas 
Com  suaue  murmm-eo  rega  c  banha. 
Mas  esta  de  espantosos  Tigres  ora 
E  de  bravos  Liões  muy  frequentada. 
Grande  preço  dá  o  Sousa  ao  que  trouuesse 
Desta  fonte  um  pequeno  vaso  de  agua. 

COBTE  EEAL,  SACFBAGIO  DE  SEPCL^-EDA,  Caut.  14. 

—  «Os  que  nascem  das  serranias,  que 
correm  ao  longo  deste  mar  da  parte  da 
Abasia,  a  Katureza  provida  os  mais  no- 
táveis, e  cabedaes  encaminhou  que  fos- 
sem entrar  em  o  rio,  a  que  os  da  terra 
chamam  Tagazij,  que  se  vai  metter  em 
outro  maior  chamado  per  elles  Abauhij, 
que  quer  dizer  pai  das  aguas,  e  ambos 
já  em  hum  corpo  entram  em  o  Kilo  pêra 
regarem  a  terra  do  Egypto.»  Barros, 
Década  2,  liv.  8,  cap.  1.  —  «He  habita- 
da de  mouros  Alarves,  e  seraa  de  qui- 
nhentos, seis  centos  moradores  que  vivem 
per  lavoiras  e  sementeiras  de  trigo,  ceva- 
da, e  legumes,  que  aqui  lavram :  por  vir- 
tude de  himi  olho  de  augoa  doce  que  em 
ella  nace,  com  que  regam  huma  quanti- 
dade de  terra  quanto  ella  pode  abracger.» 
António  Tenreiro,  Itinerário,  cap.  54. — 
«Desta  paragem  vay  virando  a  terra  dè 


lõd 


IUmíA 


UEiJA 


UKGK 


AíViea,  porá,  u  parto  do  Sul  diiiidinddíi 
da  Amorica  o  grande  Oeceaiio,  f|iic  a  re- 
ga, o  cerca  toda;  e  por((uo  tanto  beneti- 
cio  nam  tícaise  dosa;^radecido,  llic  o.stà 
pagando  com  o  rio  Negro,  ontraado  còti- 
niiainoiíte  por  anys  bocas  no  largo  Atli- 
lantico,  on<le  noa  agora  dizemos  Cabo 
Vordo.»  Fr.  (iaspar  de  S.  liernardino, 
Itinerário  da  índia,  cap.  7,  —  «A  muita 
abuudaucia  de  agoa  cõ  que  os  laurado- 
res  o  regão.  A  nouidade  que  produs,  a 
copia  de  gado  que  nclle  se  cria,  c  pace, 
e  a  maldição  dos  pássaros  que  nelle  iia, 
quo  saõ  tantoa  cm  numero,  que  por  senão 
multiplicarem  mais,  não  ousão  os  laura- 
dores  a  plàtarem  aruoi-e  alguma,  por  ti- 
rarem a  ocasião  de  criarem  ucilas.»  Ibi- 
dem, cap.  IG. 

—  Regar  us  faces  de  lagrimas ;  ba- 
nhal-a-». 

—  Figuradamente  :  Banhar  em  grande 
abxiadancia. 

D;i  liberdiítlc  a  arvore  não  cresce, 

fie  a  mio  rer/ar  dos  dcsi)otas  o  sangue : 

Embora  a  plantes  ;  nào  lhe  ves  o  fructo. 

OiERF.TT,   CATÃO,   UCt.   4,   SC.    3. 

—  Regar-se,  v.rejl.  Ser  regado.  —  «Es- 
ta villa  lie  mais  abastada  de  mantimen- 
tos, e  muito  bõs,  e  assi  também  de  tâma- 
ras, que  a  de  detrás:  que  se  rega  com 
outro  olho  do  agoa  mais  copioso,  e  toda 
a  mais  terra  logo  he  esterile  e  deserta.» 
António  Tenreiro,  Itinerário,  cap.  56. — • 
«Eila  passada,  estando  á  vista  de  Ilomus, 
topamos  cõ  o  rio  Ruganto,  tão  caudalo- 
so, como  o  nosso  Tejo  em  Abrantes :  e 
por  esta  caiua  diuidiJo  em  dczasete  ri- 
beií-as,  cõ  as  quaes  se  regão  os  espaço- 
sos, e  largos  càpos  de  Romus,  mais  fer- 
tis,  c  playnos,  que  os  nossos  de  Sancta- 
rem,  pois  alem  da  novidade  dos  legu- 
mes :  dão  cada  anno  duas,  huma  de  ai"- 
ros,  outra  de  trigo.»  Fr.  Gaspar  de  S. 
Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap.  16. 

—  Regar-se  com  os  males  d'ahjuem;  ter 
grande  prazer  com  ellcs. 

—  Regar-se  deprazev;  ter  grande  pra- 
zer. 

REGARDAR,  v.  a.  (Do  francez  regar- 
der).  Termo  antiquado.  Voltar  os  olhos, 
olhar  para  traz,  ter  i-cspeito,  respeitar. 

REGARDO,  s.  m.  Termo  antiquado.  Res- 
peito, contemplação. 

—  Viil.  Resguardo,  no  mesmo  sentido. 
REGATA,    .V.  /.    Desatio,  e  corrida   de 

botes,  escaleres,  etc,  á  vela  ou  a  remos, 
no  mar  ou  rios,  disputando  prémios  ou 
recompensas,  que  ganham  os  que  nave- 
gam com  mai>  velocidade. 

1.)  REGATÃO,  s.  m.  Homem  que  com- 
pra por  grosso  para  vender  por  miúdo. 

2.)  REGATÃO,  ÒA,  adj.  Que  regateia 
muito. 

—  Que  quer  vender  mui  caro;  vende- 
dor mui  difficil  e  duro. 

■ —  Emproga-se  também  figuradamente. 


REGATAR,  i;,  n.  Nogociar,  traficar. 

—  V.  n.  Vender. 

—  Fazer  o  officio  de  regateira,  tratar, 
negociar  com  cila,  comprar  para  vender. 

REGATARIA,  ».  /.  Vid.  Regalia. 
REGATAS,  s.  f.  2'lur.  Ciiitas  da  Índia. 

—  \'id.  Regata,  que  diverge. 
REGATEADOR,  A,  «.  Pessoa  que  rega- 
teia . 

REGATEAR,  v.  n.  Porliar  sobre  o  pre- 
ço, xrr  (litiieil  no  ajusto  do  preço  daquil- 
lo  que  80  compra,  promcttendo  pouco  c 
pouco.  —  «Encíiixaò-lho  em  huma  dobra 
a  Hóstia  dissimuladamcnte,  mostraõ-sc 
descontentes  da  cór,  e  pedem  outra :  vis- 
tas assiui  algumas,  appelaõ  para  a  pri- 
meira, c  mandaõ  medir  vinte  cevados, 
regateando-lhe  primeiro  muito  bem  o  pre- 
ço, como  he  costume.»  Arte  de  furtar, 
cap.  39. 

—  Vender  por  muito. 

—  Loc.  :  Regatear  nas  cousas  d' alguém; 
procurar  diminuir  a  sua  gloria,  deprimir 
as  Cousas  que  podem  acrescentar  o  cre- 
dito. 

—  Regatear  com  outrem  em  cousas  de 
hagatclla;  altercar  cora  elle. 

—  1'.  a.  Conceder  escassamente.  — 
Regatear  honras  a  alguém, 

REGATEIRA,  s.  f.  Mulher  que  compra 
pescado,  hortaliça,  fruta,  e  outros  vive- 
res para  tornar  a  vender. 

Vedes  a']ui.  Senhor  Mundo,  a  nossa 
Parteira  da  terra,  herdeira  das  vidas, 
Senhora  dos  vonncs,  guia  das  partidas, 
Rainha  dos  prantos,  c  nunca  ociosa, 
Adcla  das  dores, 

A  cinbaladcií-a  dos  gi-andvis  senhores, 
Cruel  regateira,  quo  a  todos  enleia. 

GIL  VICEXrK,   ACrO  DA   HISTORIA'  DE   DELS. 

—  «U  Escripvào  da  Almotaçaria  es- 
creverá todallas  cooimas  achadas,  assy 
de  guados,  e  bestas,  como  dos  Mestei- 
raaes,  e  carniceiros,  e  paateiras,  e  rega- 
teiras,  e  enxerquelras,  que  pelos  Jura- 
dos forem  acooimados, -e  os  que  elle  po- 
der saber,  que  vaaõ  contra  as  po^tuilTs, 
e  cada  mez  as  mostre  aos  Almotacees;  c 
se  03  Almotacees  nom  tornarem  a  esto, 
mostre-as  aos  Juizes,  e  aos  homens  boòs 
da  Camará,  para  saberem  quaes  som  os 
dapninhos,  e  fazer  com  elles  cumprir  as 
posturas,  e  Hordenaçooeus.»  Ord.  Affons., 
liv.  1,  §  22.  —  «E  como  todas  as  rega- 
teiras  haviaõ  medo  do  amo,  por  uaò  o 
aggravarem,  taziaõ  da  necessidade  corte- 
zia,  e  diziaò,  que  naõ  tinhaõ  troco,  que 
outro  dia  fariaõ  contas,  como  o  tivessem ; 
e  este  dia  nunca  chegava,  porque  naõ 
era  do  Kalendario.  Mas  tomaria  a  bulia 
da  composição  na  Quaresma,  que  he  de 
temer  lhe  naõ  valesse,  visto  serem  vivos, 
e  conhecidos  os  acrédores.»  Arte  de  fur- 
tar, cap.  14. —  aMais  occultas  tem  as 
unhas  outro  exemplo,  que  teia  feito  va- 
riar no  expediente  dello  muitos  Theolo- 
gos.  Dey  a  vender  huma  pipa  de  vinagre; 


e  a  regateira  foy  taò  ardilosa,  que  a  fov 
cevando  com  agua  pelo  batoque  ao  com- 
passo, que  a  hia  aquartiihando  pela  tor- 
neira.» I<iem,  cap.  5;'). 

REGATEIRAMENTE,  wl,-.  <]).,  regatei- 
ra, c(ini  o  -liflixo  «mente»  .  A  maneira 
de  re^rateira. 

—  ( iro-iseiramente. 

-J-  REGATEYRA,  «.  /.  Vid.  Regateira. 
—  «E  se  saò  mudos,  também  se  recolheuj 
em  outra  cii-sa  como  hospital,  e  para  sua 
sustentação  lhe  applicão  todas  as  f>ena8 
das  regateyras  e  nuducrc  bravas  que  se 
desiionraõ  em  publico.»  Fernão  Mendes 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  112.  —  «Vie- 
rào  a  casa  doiu  dos  nove  que  éramos  a 
travarse  em  palavras  sobre  qual  geração 
tinha  milhor  moradia  na  casa  dei  lít;y 
nosso  Senhor,  se  os  Madureyras  se  os 
Fonsecas,  e  de  palavra  em  palavra  veyu 
o  negocio  a  chegar  a  tanto  que  vieraõ  a 
usar  dos  baixos  termos  das  regateyras, 
dizendo  hum  para  o  outro  quem  sois  v<'>s  y 
mas  quem  sois  vós?  cò  por  ventura  cada 
hum  delles  ter  pouco  mais  de  nada.» 
Ibidem,  cap.  llõ. 

REGATÍA,  >.  f.  Officio  de  regateira,  ou 
regatiim.  Vid.  Regataria. 

REGATINHO,  .'.  m.  Diminutivo  de  Re- 
gato. Uejato  pequeno. 

REGATO,  s.  m.  Porção  de  agua  cor- 
rente; é  mais  que  ribeirinho,  e  menos 
que  ribeiro;  secca  em  breve,  e  não  é  pe- 
renne  como  a  fonte.  —  Incógnitos  rega- 
tos. 

Pobres,  sem  nome,  incógnitos  rerjaton 
Por  entre  as  pedras  murmurando  correm, 
Vê-se  no  fundo  d'agoa  a  inolle  arca. 
Preguiçosa  torrente  os  troncos  beija, 
Mas  bem  depressa  s"cntumpcp,  e  brame 
Pelos  hervosos  campos  derramada. 

J.    A.    DE  MACEDO,   A  NATCBEZA,  CAnt.   2. 

Límpida  fonte,  o  serpeando  o  campo. 
Por  entre  as  ncdras  vai  com  doce.  e  prato 
Sussurro  dando  viço  á  planta.  As  flores, 
E  o  feudo  pouco  a  pouco  recebendo. 
Agora  d"luima  fonte,  agora  d'ontra. 
Mas  se  lhe  engrossa  a  vêa  cristalina, 
Já  corre,  c  freme  rápido  regato. 

IDEM,   VIAGEM  EXTÁTICA,  Cdut.    1. 

—  Plur.  Os  ciirtes  que  o  regato  faz 
por  onde  passa,  na  terra,  e  ficam  aber- 
tos. 

REGATÔA,  .«.  /.    Jlulher  que  regateia. 

REGEDENTE,  V.  m.  Termo  antiquado. 
Homem  que  reside,  assiste,  mora,  ou  es- 
tá de  .-issento  cm  alguma  parte. 

REGEDOR,  A,  adj.  Que  rege,  que  diri- 
ge, que  governa. 

—  /S.  m.  —  Regedor  da  justii;a;  é  o 
chefe  da  Relação  de  Lisboa. 

—  Regedores  dus  Ixjares ;  as  camarás, 
e  magistrados. 


O  líffiedor  lhe  dii-ia. 
Também  o  Governador 
Iscite  dia  :  O  Senhor 


IIEJE 


REGE 


REGE 


157 


Do  inundo  de  vós  confia 
Os  gados  de  que  he  pastor. 

GIL  VICEXTE,  OBRAS  VABUS. 

—  «Alem  destas  casas  principaes  dos 
priucipaes  regedores,  ha  em  Cantam  ou- 
tras muitas  que  inda  que  nam  sejam  de 
tanta  mag-estade  como  estas,  sam  toda 
via  muito  grandes  doutros  oticiaes  meno- 
res, principalmente  as  do  tronqueiro  moor 
que  sam  muito  grandes.»  Fr.  Gaspar  da 
Cruz,  Tratado  das  cousas  da  China,  cap. 
ti.  —  «As  casas  dos  regedores  nas  cida- 
des nobres,  primeiro  que  se  chegue  onde 
estam  os  regedores  tem  dons  pateos  mui- 
to largos  e  compridos,  que  cada  hum 
deiles  será  de  grande  carreira  de  cavai- 
lo.»  Ibidem,  cap.  8.  —  «Depois  de  lhe 
Diogo  fernandez  dar  ha  carta  de  Afonso 
dalbuquerque,  mandou  a  Mellquequadra- 
gi,  filho  do  regedor  de  çurrate  que  desse 
ao  embaixador  a  cabaia  e  assi  a  todolos 
outros  p(»r  sua  ordem,  o  que  feito  os  des- 
pedio,  dizendo  a  Diogo  fernandez  pelo 
seu  lingoa  a  que  o  a  que  vinha  dixe-sse 
a  Codamaçào  seu  guazil,  e  que  logo  o 
despacharia.»  Damiào  de  Góes,  Chronica 
de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  64.  —  «E 
mandou  a  todos  muj  largamente  apo- 
sentar, e  lhe  mandou  ricas  dadiuas,  tudo 
inuy  perfeitamente,  e  com  muvtas  pala- 
uras  de  grande  amor,  e  muyto  conheci- 
mento das  grandes  mercês  que  os  .seus 
capitães  em  Portugal  receberão  dei  Rey, 
dizendo  o  Duque  e  todos  os  regedores 
que  o  estimauào  tanto,  que  nunca  em 
Siias  vontades  o  acabarião  de  seruir. » 
(Tareia  de  Rezende,  Chronica  de  D.  João 
II,  cap.  58.  —  «No  qual  estauam  os  Re- 
gedores da  villa,  e  ao  sahir  dagoa  foy 
feita  huma  pratica  em  nome  da  villa,  e 
acabada  o  1'rincipe  e  a  Princesa  se  po- 
seram  debaixo  de  hum  paleo  de  rico 
brocado  que  os  Regedores  leuauam.  E 
com  gi"ande  estrondo  de  trombetas,  e 
atabales,  charamellas,  e  sacabuxas,  e 
muytos  tvi-os  de  fogo  do  rio,  e  outros 
muvtos'que  estauam  no  muro,  e  torres 
dalcaçoua,  começaram  dandar.»  Ibidem, 
cap.  131.  —  «E  abaixo  destes  doze  ha 
quarenta  Chaens,  que  saõ  como  Yisor- 
reys,  a  f'>ra  outras  muvtas  digniJades 
mais  inferiores,  que  saõ  como  Regedores, 
Governadores,  Veadores  da  fazenda,  Al- 
mu-antes,  Capitaens  mores,  que  se  no- 
meào  por  Anchacys,  Aytaos,  Põchacys, 
■Lauteaas,   e    Chúbins. »    Fernão   Mendes 

Pinto,  Peregrinações,  cap.  114.  —  «Xa 
cidade  de  Caiisi,  que  como  dissemos  he 
cabeça  da  província  de  Cansi,  ha  mil 
casas  em  que  se  apousentam  os  parentes 
dei  Rey,  e  sam  mui  grandes  e  muy  aven- 
tajadas  em  nobreza  e  fermosura  das  ca- 
sas dos  regedores.»  Frei  Gaspar  da  Cruz. 
Tratado  das  cousas  da  China,  cap.  8. 

—  Regedor  Jo  elephanfe.  Vid.  Cornacà. 

—  Outr^ora  houve  regedores  da  jus- 
tiça das  comarcas. 


REGEDORA,  s.  f.  Termo  antiquado. 
Mulher  do  regedor. 

—  Mulher  do  regente,  ou  a  que  por 
si  mesma  é  regente  do  reino. 

f  REGEIRA,  s.  f.  Termo  de  marinha. 
Virador  dado  ao  anete  da  ancora,  que 
está  fundeada,  ou  em  um  ancorete,  es- 
piado convenientemente,  e  cujo  chicote, 
entrando  pela  idtima  portinhola  da  ré, 
serve,  alando-se,  para  que  o  navio  dê 
costado  a  qualquer,  posto  que  se  queira 
bater,  ou  faça  cabeça  para  velejar,  quan- 
do não  convenha  desviar  um  ápice  do 
ponto  em  que  se  acha,  e  se  quer  fazer 
de  vela. 

—  Plur.  Sào  as  escoras  que  vão  de 
encontro  ao  segundo  pródigo  do  berço 
em  que  o  navio  vai  ao  mar :  servindo  de 
o  demorar  na  carreira  o  tempo  necessá- 
rio, emqdanto  se  cortam  as  idtlmas  ata- 
carias. 

RECEITAR,  V.  a.  Vid.  Rejeitar. 
REGEirO,  «.  m.  Vid.  Rejeito. 
REGELADO,    part.   pass.    de    Regelar. 
Congelado,  convertido  em  caramelo. 


Entam  á  névc  arremessando  o  feixe. 
Nos  ramos,  que  lhe  arranca,  lume  aceende, 
E,  a  seutar-me  ao  pé  deUe  me  convida. 
Em  quanto  as  mãos  aqueço  regeladas, 
Assim  me  dá  razão  dos  seus  successos. 

r.   M.   DO  K-VSCIUESTO,  OS  MAKTTRES,  liv.    7. 


Tal  de  Hiperboreos  montes  regelados 

Se  precipita  o  solitário  Tolga, 

Corta  infecundo  campo,  onde  parece 

Que  a  Natureza  esmorecera  toda  ; 

Nem  verde  musgo  o  cobre,  e  assim  cançado 

Entra  nas  margens  barbaras  do  Caspio. 

J.   A.   DE  MACEDO,  UEDITAÇÃO,  Caut.    2. 


Tal  de  Hiperboreos  montes  regelados 
Se  precipita  o  solitário  Volga, 
Té  mistiirar-se  rápido,  espumante, 
Nas  ondas  do  Mar  Caspio.  O  Don  correndo 
Desde  os  montes  Eifeos,  e  o  Tanais  frio 
Na  alagOa  Meotide  se  lança. 
IDEM,  A  s.vrcBEZA,  caut.  2. 


—  Emprega-se  também  no  sentido  fi- 
gurado. 

—  Vid.  Regelar-se. 

REGELADOR,  A,  aJj.  Que  regela.  — 
Frio  regelador. 

REGELANTE,  part.  act.  de  Regelar. 
Que  regela. 

REGELAR,  v.  a.  Congelar,  converter 
em  caramelo. 

—  Emprega-se  também  figuradamente. 

—  V.  n.  Endurecer  como  regelo. 

—  Regelar-se,  v.  refl.  Congelar-se. 

—  Figuradamente :  Regelar-se  de  medo. 
REGELO,  í.  m.  Gelo  coalhado,  crystal- 

lisado,  caramelo. 

—  Figuradamente  :  Constância,  firme- 
za,  insensibilidade. 

REGÊNCIA,  «.  /.  Acto  de  reger  o  es- 
tado, ou  communidade,  como  regente; 
regimeato. 


—  Dignidade  da  pessoa  que  governa 
um  estado  dirrante  a  ausência  ou  a  mi- 
noridade  de  um  soberano. 

—  ÍTOverno. 

—  Funcção  de  regente. 

—  Tempo  que  dura  a  regência.  —  As 
perturbações  de  uma  regência. 

—  Governo  de  certos  pequenos  esta- 
dos musulmanos,  assim  chamado  porque 
ahi  estavam  investidos  pelo  sultão  de 
Constantinopla,  e  subordinados  á  sua  au- 
thoridade.  —  As   regências    harlarescas. 

—  Funcções  de  regente  n"um  colle- 
gio. 

—  Termo  de  grammatica.  Dependên- 
cia que  existe  entre  os  membros  de  uma 
phrase,  consistindo  em  que  uma  parte  da 
oração  faça  com  que  outra,  que  a  deter- 
mina ou  explica,  varie  de  maneira  que 
appareça  a  correlação  que  ha  entre  am- 
bas. A  svntaxe  que  ensina  estas  varia- 
ções é  denominada  syntaxe  de  regência. 
Vid.  Reaer. 

REGENERAÇÃO,  «.  /.  (Do  latim  regt- 
neraii(j).  Reproducçào  de  uma  parte  des- 
truída. 

—  Reproducçào.  —  A  continua  rege- 
neração do  humor  medicai  que  dá  origem 
á  d&r. 

—  Reproducçào  de  um  objecto  sob  a 
sua  primeira  forma.  —  Regeneração  dos 
mefaes. 

—  Renascimento,  fallando  do  baptis- 
mo. 

—  Figuradamente  :  Reformação,  reno- 
vação nicaai. 

REGENERADO,  pi^rt.  pass.  de  Regene- 
rar. Reproduzido.  —  A  casca  regene- 
rada. 

—  Que  recebeu  um  novo  nascimento 
pelo  baptismo.  —  «Por  tanto  assi  como 
pello  Baptismo  somos  regenerados,  assi 
pela  còfirmaçà  somos  armados  em  caua- 
leiros  de  Christo,  postos  no  capo  deste 
mundo  pêra  nos  deffender  de  todos  aquel- 
les  que  nos  quiserem  fazer  perder  sua 
fè,  ou  seu  amor.  D  Fr.  Bartholomeu  dos 
Martyres,  Catecismo  da  doutrina  christã. 

—  Que  recebeu  nova  vida.  —  O  ar 
regenerado.  —  «Segue-se  logo  a  segun- 
da, a  que  chamào  C  chlea,  ou  Pelvi ; 
aonde  esta  o  ar  ja  regenerado,  puro, 
subtil,  6  immovel,  que  he  o  principal 
orgaõ  do  sentido  auditório,  is  esta  cavi- 
dade se  achaò  algumas  partículas,  que 
servem  de  instromentos  para  melhor,  e 
mais  distinctameiite  se  perceber  a  diver- 
sidade dos' sons.»  Braz  Luiz  d'Abreu, 
Portugal  medico,  pag.  79. 

—  Xaçào  regenerada ;  nação  a  quem 
se  fizeram  bens,  reformando  os  defeitos 
do  governo,  restaurando-a  do  abatimento, 
decadência,  ruina,  pobreza,  miséria  pu- 
blica, despovoaçào,  etc. 

REGENERADOR,  A,  aJJ.  Que  regenera. 
—  Principio  regenerador. 

—  Substantivamente :  Pessoa  que  re- 
genera. 


ir)8 


REGE 


—  Regenerador  da  naqcio ;  homem  quo 
rcformii,  c  qiiasi  qiio  formou  de  novo, 
dando  lt;i^^,  iioliciaiido,  introduzindo  as 
iirtos,  reformando  o  commorcio,  u  agri- 
cultura, u  tudo  o  que  faz  o  bom  go- 
verno. 

REGENERANDO,  A,  nlj.  Que  está  para 
rcctdjer  nni  udvo  nascimento  pelo  baptis- 
mo. 

REGENERANTE,  j)art.  act.  de  Regene- 
rar. Qili;  ro;;o   eia. 

REGENERAR,  i'.  a.  (Do  latira  regene- 
rarei. Triduzir  por  uma  nova  geraçào. 

—  Termo  mystico.  Dar  uma  nova  ori- 
gem. 

—  Figuradamente :  Reformar,  melho- 
rar, restaurar. 

REGENERATIVO,  A,  aãj.  Que  tem  a 
virtude  de  roííeiíorar. 

—  Figuradamente:  Baptiumo  regene- 
rativo. 

REGENTAR,  v.  a.  Reger,  dirigir  qual- 
quer c.i  leira  de  ensino. 

REGENTE,  s.  2  gen.  (Do  latim  regens). 
A  pessoa  que  exjrce  a  regência.  —  O  re- 
gente, a  regente  do  reino.  —  «  Esta  vir- 
tuosa, o  Catliolica  Rainha  instituio  a  con- 
fraria da  Jlisjrleordia  nestes  regnos,  sen- 
do regente  delles  no  tempo  quo  cl  Rei 
dom  Emanuel  seu  irmam  era  Ãlo  a  Cas- 
tella,  com  a  Rainha  Triacesa  doiina  Isa- 
bel, sua  niolhor,  a  fazeremsc  jurar  por 
Priucipes  d'aquellcs  regnos.»  Damiào  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  4, 
cap.  26. 

—  Figuradamente :  Mulher  que  é  ca- 
paz de  reger,  que  dirige. 

—  Regente  da  cadeira.  Vid.  Cathedra- 
tico. 

—  Termo  pouco  iisado.  Regente  do  re- 
banho; o  guardador  d'clle. 

—  A  regente  de  nm  recolhimento,  ou 
casa  2>^c ;  mulher  que  governa  os  alum- 
nos. 

—  Adj.  Que  exerce  a  regência.  —  O 
pnnc']>e  regente. — A  rainha  regente. 

REGER,  f.  a.  (Do  latim  regere).  Go- 
vernar como  rei  com  direito  e  justiça. 

—  Governar,  dirigir.  —  «  Outro  dia 
depois  de  sua  parti  la,  chegaram  dons 
senhores  alemães  á  corte  em  busca  de 
Veruao,  que  fosse  tomar  o  septro  e  re- 
ger seu  império,  que  o  imperador  Trineo 
era  morto.  Estas  novas  tizcram  algum 
abalo  de  pesar,  principalmente  no  impe- 
rador, que  era  muito  amigo  seu.  Dalli 
por  diante  esperava  pola  sua  hora,  que  a 
idade  em  que  estava,  o  punha  neste  re- 
ceio. A  imperatriz  fez  gram  pranto  per 
sen  irmão.»  Francisco  de  Moraes,  Pal- 
meirim de  Inglaterra,  cap.  95. 


Pom  Nuno  Alvares  digo,  verdadeiro 
Açoute  do  3iiberbo3  Castelhanos, 
Como  ia  o  fero  Hiumo  o  foi  primeiro 
Para  Frauce/.es,  para  Italianos. 
Chitro  também  famoso  cavalloiro, 
yue  a  ala  direita  tem  dos  Lusitanos, 


REGE 

Apto  para  maadá-los  c  rrtjt-lof, 
Mom  líodrigiics  se  dix  de  Vascoacelloa. 
cAM.,  i.t'8.,  caut.  4,  est.  2-1. 

Estava  hum  grande  exército  que  pisa 
A  terra  Oriental,  i|ue  o  llydaspc  lava  ; 
llejf-o  liuin  capitão  de  fronte  lisa, 
(^ue  com  frondontes  thyrsos  pelejava : 
Tor  elle  edificada  citava  Nysa 
Nas  ribeiras  do  rio,  quo  manava : 
Tao  próprio,  que  SC  alli  estiver  Scmclc, 
Dirá  por  curto,  quo  hc  seu  filho  aquclle. 
luiDEM,  caut.  7,  est.  52. 


1  Ia  la  Rcya  de  grão  poder, 
de  grandes  gentes,  c  terras, 
que  sabem  nuiy  bem  reger, 
o  grandes  tesouros  ter, 
juntos  na  paz  para  as  guerras. 

GAKCIA  DE   U£ZF.>'DE,   UISC£LLAXEA. 


também  nos  mandos,  poder, 
cm  seus  nojos,  c  plazcr, 
em  reger,  c  gouernar, 
das  quaes  por  non  enfadar, 
nmvto  deixo  d'cscrcucr. 


—  «  Antigamente  tiueram  os  Ethiopes, 
que  ahi  dous  dooses,  hum  immortal,  que 
he  criador  de  todalas  cousas,  e  as  rege 
sem  nellas  auer  nenhum  defeito,  e  outro 
mortal  que  tem  por  incerta,  assi  a  elle, 
como  as  cousas  que  se  por  elle  regem,  e 
gouernam.»  Damião  de  Góes,  Chronica 
de  D.  Manoel,  part.  2,  cap.  10.  —  « Aos 
quaes  respondeu,  que  elles  erão  tam  bons 
canal leiros,  cada  hum  per  si,  que  quando 
elle  falecesse  o  somenos  delles  abastaua, 
nam  somente  pêra  reger  aquella  armada, 
mas  ainda  todo  o  impei-io  da  Forsia,  e 
da  índia,  que  elle  estaua  tão  magoado 
dos  de  (xoa,  que  não  teria  por  victoria 
tomarse,  sem  se  sua  pessoa  nisso  auen- 
turar,  pelo  que  lhes  pedia,  que  cada  hum 
se  fosse  a  seu  batel,  porque  elle  sem  to- 
mar outro  parecer  se  hia  meter  no  seu. 
Ibidem,  part.  3,  cap.  11.  —  «O  que  sa- 
bendo Afonso  Dalbuqnerque  mandou  pa- 
ra o  jungo  Dinis  fornandez  de  mello,  e 
Fero  dalpoem,  para  nelle  ficarem  em  seu 
lugar  o  que  elle  uaò  quis  consentir  di- 
zendo que  ainda  tinha  pes  pêra  andar, 
e  mãos  para  pelejar,  e  lingoa  pêra  fallar, 
e  siso  para  reger  e  esforço  pêra  mandar 
ainda,  que  fosse  de  cama,  que  em  quan- 
to teuesse  vida  não  hauia  de  ninguém  de 
mandar  no  jungo.»  Ibidem,  part.  o,  cap. 
19.  —  «Em  muitas  cidades  das  princi- 
pais principalmente  desdo  cavs  donde 
desembarcam  os  que  governam  e  regem 
a  terra  até  ha  casa  do  vecdor  da  fazenda 
as  ru.".3  sam  tam  nobres  e  largas,  que 
podem  hir  por  ellas  emparelhados  dez. 
quinze  homens  a  cavallo.»  Frei  (Jaspar 
da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da  China, 
cap.  7, —  «Os  que  regem  ha  terra,  que 
sam  principaes  no  rcvno,  tem  vaãa,  hum 
limitada  ha  renda  segundo  ha  calidade 
de    sua  pessoa  e  oficio  requere :  de  ma- 


REGE 

ncira  que  a  elle  o  aos  seus  nada  falta, 
mas  nam  lhe  sobeja  tanto  que  com  isso 
se  possam  engrossar,  i  Ibidem,  cap.  8. — 
•  E  daquy  vereis  que  por  isso  diz  que  o 
reyno  he  de  casa  de  Jacob,  para  mostrar 
a  força  dos  que  reconhecem  vassallagem 
a  este  Senhor  o  que  estaõ  ombro  com  om- 
bro com  os  Anjos,  e  podem  prouar  força 
com  clles,  porque  o  mesmo  espirito  rege 
a  todos,  e  os  alenta  a  todos.  •  Paiva  de 
Andrade,   Sermões,  part.  1,  pag.  207. 

IIc  bem  feliz  por  certo,  o  que  gómcnto 
Ao  rústico  lavor  acostumado 
Conduzir  sabe  os  bois,  reger  o  arado, 
E  dar  á  terra  a  provida  semente. 

AOBADE    DG    JAZENTE,    FOESLA.S,    tOm.    1,   pag.    10 

(ediç.  1787). 

Quatro  vezes  o  pac  desse  atrevido 
Moço,  que  o  carro  ardente  rnal  regira, 
Na  terra  a  sua  luz  tinha  estendido 
Antes  que  o  Escorpiiio  o  recebera, 
Quando  no  porto  ja  bem  conhecido 
De  Diu  a  vella  inchada  recolhera 
O  Marinheiro,  c  faz  com  que  se  esconda 
O  curvo  ferro  lá  na  salgada  onda. 

F.  dVkdbade,  fbuieibo  cebco  de  dic,  cant.  4, 

est.  et). 

Vi  que  de  ícaro  o  voo,  c  a  queda  acerba 
Desse  soberbo,  e  deslumbrado  moço, 
Que  mal  regera  igni-pedes  Ethoates, 
Eu  ia  a  renovar.  Meu  alto  as.sombro 
Descobre  a  Dcosa,  c  se  doeu  de  vcr-mc  ; 
Dêo-me  a  benigna  mào,  e  eu  fixo  o  paaao 
Sobre  o  iuimovel  pavimento  immcnso. 

j.  A.  de  uacedo,  vlagex  extática,  cant.  1. 

N'ura  magestoso  Alciçar,  que  se  eléva. 
Cora  estranha  structura,  até  ás  nuvens. 
Assiste  o  grande  Nume  ;  e  dalli  n-ge 
A  Luuática  gente  a  seu  arbitrio. 
mxu  da  crcz,  htssope,  cant.  1. 

Rege  a  manobra  fallador  apito  : 

—  «Ala...  amaina  '.<  Eis  passada  a  estreita  boca 
Por  onde  seus  tributos  dagua  e  douro 

Leva  ao  Oceano  o  rio  dL^lyssea: 
Junto  da  torre  antiga  e  veneranda, 

—  IIojc  tam  profanado  monumento 
Das  glórias  de  Manoel  ánchora  desce. 

G.4BBETT,  caxOes,  caot.  1,  cap.  8. 


—  Ter  o  império  do  mar,  dlrigil-o.  — 
«Visinha  a  esta  bella  costa  está  situada 
a  cidade  de  Tjro.  Esta  grande  cidade 
parece  estar  boiando  sobre  as  aguas,  e 
reger  o  mar  todo:  a  ella  concorrem  ne- 
gociantes de  todas  as  partes  do  mundo ; 
e  seus  habitantes  s.lo  os  mais  acreditados 
mercadores  que  ha  no  universo.»  Fran- 
cisco Manoel  do  Nascimento,  Telemaco, 
liv.  o. 

—  Reger  um  exercito;  dirigil-o,  gover- 
nal-o. 

Quando  aos  ares  defralda  a  alva  Bandeira, 
E  os  Sicambros  Marciúes  Merovco  chama. 
Nada  os  atalha,  em  disfcrir  clamores 
De  Guerra,  e  de  Affoição.  Tanto  os  admirão 
Tri's  gerações  de  Hen^es,  regendo  o  Exercito. 

F.    MAXOEL    DO    KASCIMKSTO,    OS  MARTTRES,  1ÍV.   6. 


REGE 


REGI 


REGI 


159 


—  Os  astros  regem  as  leis  eternas. 

Oh!  Feliz  Albion,  berço,  c  morada 

Do6  Sábios  immortacs,  que  o  Mundo  assombi-ào, 

Tu  das  Scionoias  magcstoso  asilo, 

Ouve  a  voz  de  hum  mortal,  quo  exalta  o  grande 

Alumno  teu,  que  interprete  seguro 

Foi  das  eternas  leis,  que  os  Astros  regem. 

J.   A.   DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Caut.    3. 

—  Termo  antiquado.  Manter,  susten- 
tar, prestar  alimentos,  assim  na  saúde, 
como  na  enfei-midade. 

Porque  discorro,  existo;  eu  sinto  dentro 
De  mun,  quo  pouso,  sensações  diversas. 
Quando  incorpóreo  ser  dalma  contemplo, 
Do  Supremo  Motor  vejo  huma  imagem  ; 
E  não  direi,  que  me  sustenta,  e  rege. 

J.   A.   DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Caut.    1. 

—  Reger  a  estante ;  fazer  officio  de 
chantre  nos  coros. 

—  Dirigir  por  leis,  máximas,  costumes 
e  dictam3s. — -«O  que  feito,  para  que  os 
moradores  estrangeiros  da  cidade  a  tor- 
nassem a  pouoar,  e  se  viessem  pêra  ella, 
sem  meio,  deu  Afonso  dalbuquerque  a 
gouernança  dos  Gentios  a  Ninachetu,  e  a 
dos  mouros  a  Vtetimutaraja,  pêra  os  jul- 
garem, e  regerem  a  cidade  per  suas  leis, 
e  costumes,  reseruando  apellaçam,  e  alça- 
da peras  justiças  dos  Reis  de  Portugal,  e 
assi  se  tornou  muita  gente  desta  pêra  Ma- 
laca, saluo  os  Malaios,  porque  a  estes  man- 
daua  fazer  guerra,  e  matar  todos  onde 
quer  que  os  achauam.»  Damiào  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  19. 

—  Reger  um  cavallo  com  o  freio ;  diri- 

gil-o- 

—  Administrar  o  reino  na  minoridade, 
ou  demência,  ou  outro  impedimento  do 
rei. 

—  Reger  a  mão  o  Todo ;  dirigir  a  Omni- 
potência o  universo. 

Ou  porque  o  cego  Poripato  as  luzes 

Demorava  continuo,  ou  porque  ainda 

O  marcado  Período  não  vinha. 

Na  activa  succossào  dos  tempos  todos, 

Que  a  mão,  que  o  Todo  rege.  ás  Artes  marca. 

Qual  do  seio  do  Nada,  a  voz  do  Eteimo 

Chama  á  vida  politica  os  Impérios, 

E  outra  vez  aa  existência  os  leva  ao  Nada. 

J.  A.    DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Caut.   4. 

A  Terra  que  te  nutre,  e  que  tu  pizas, 
O  ar  que  teus  pulmões  dilata,  e  move, 
Inda  quando  sacrílego  conjuras 
Contra  o  Di\'ino  Author,  que  rege  o  Todo, 
Conspirão  contra  ti :  por  toda  a  parte 
Te  vão  mostrando  hum  Deos.  Esta  harmonia, 
Este  da  Natu'-eza  eterno  brado. 
Não  he,  quaes  somos  u<5s,  sujeito  a  engano. 
IDEM,  MEDITAÇÃO,  cant.  4. 

—  Absolutamente  :  Governar,    dirigir. 

Té  agora  as  bronseas  fei-rolhadas  portas 
De  crença,  a  cuja  luz  não  seja  avara 
A  turba  indócil  de  inconstante  Vulgo ! 
Longe  de  mim  profanos !  Se  tu  reges. 
Se  tu  mesma,  ô  Verdade,  o  Canto  animas. 

J.  A.   DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  CaUt.    1. 


• — Reger  u/na  caieira  na  universida- 
de ;  ser  lente  ou  substituto  d'ella,  e  fa- 
zer as  lições. 

— -Termo  de  grammatica.  Ter,  exigir 
para  complemento,  fallando  de  um  verbo 
ou  de  uma  preposição;  exigir  tal  caso 
de  um  nome,  tal  modo  de  ura  verbo.  — 
A  lyreposicão  latina  cum  rege  o  ablativo. 
—  Esta  conjuncção  rege  o  subjitnctivo. 

—  Reger-se,  v.  reji.  Governar-se,  diri- 
gir-se,  guiar-se. 

E  já  que  a  gentilidade 
tanto  se  regeu,  por  vós, 
mais  vem  rcgermo-nos  nós 
que  em  nós  pòz-vos  a  verdade 
(jue  ella  em  si  por  vós  não  pôz. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  24. 

— « Os  Pilotos  começaram  seu  cami- 
nho, indo  diante  de  nòs  hum  bom  peda- 
ço, leuando  sempre  o  tento,  no  nasci- 
mento do  Sol,  e  pêra  onde  declinaua,  e 
lhes  licaua  a  sombra,  porque  esta  era  a 
agulha,  e  Norte  por  onde  se  regiam,  sem 
falar  hum  com  o  outro,  o  que  deuia  ser 
por  nam  perderem  o  tino  de  derrota  que 
leuauam.»  Frei  Gaspar  de  S.  Bernardi- 
no, Itinerário  da  índia,  cap.  16. 

REGERAR,  v.  a.  Tornar  a  gerar.  Vid. 
Regenerar. 

REGESTO,  s.  m.  Termo  antiquado.  Vid. 
Registo,  e  Bulia. 

REGIA,  s.  /.  (Do  latim  rer/ia).  Termo 
de  poesia.  Palácio,  paço,  ou  casa  real. 

REGIAMENTE,  adv'.  (De  régio,  e  o 
suftixo  «mente»).  De  um  modo  régio. 

—  Com  magnificência  e  grandeza  de 
rei. 

REGIÃO,  s.  f.  (Do  latim  régio).  Grande 
extensão  de  paiz.  —  As  regiões  ao  oeste 
do  Mississipi,  —  «Dentro  da  qual  há 
três  Regioens  notáveis,  chamadas  Gothia, 
Suécia,  e  Noroega,  da  primeyra  das  quaes 
forào  natura  es  os  Godos  (tcào  celebrados 
no  Mando,  pelas  terras  que  ocuparão  e 
batalhas  que  vencerão)  da  segunda  os 
Suevos  que  senhorearão  grande  parte  da 
Lusitânia,  como  adiante  veremos.»  Mo- 
narchia  Lusitana,  liv.  6,  cap.  1.  —  «Por 
tanto  lhe  pedia  como  a  Emperador  de 
toda  aquella  região  Malabar,  pois  Deos  a 
elle  Vasco  da  Gamma,  e  aos  seus  compa- 
nheiros tinha  feito  tãta  mercê  que  fossem 
os  primeiros  que  vierão  antelle,  quisesse 
meter  a  maõ  de  seu  poder  neste  ódio  que 
lhe  os  Mouros  tinhaõ.»  João  de  Barros, 
Década  1,  liv.  4,  cap.  9. 

Mas  antes,  valeroso  Capitão, 
Nos  conta,  (lhe  dizia)  diligente. 
Da  terra  tua  o  clima  c  regi'io 
Do  mundo,  onde  moraea,  distinctamente ; 
E  assi  de  vossa  antigua  geração, 
E  o  príncipe  do  reino  tão  potente, 
Co 'os  successos  das  guerras  do  começo ; 
Que  sem  sabel-as,  sei  que  são  de  preço. 
CAM.,  Lcs.,  cant.  2,  est.  109. 

Quando  os  ventos  formou,  não  quiz  por  certo 
Qu"a8  legiões  armigeras  levassem 


A  devastar  os  íncolas  tranquillos 
Destranha  região  qu'o  mar  divide. 

J.  A.  DE  MACEDO,  NATUBEZA,  CaUt.  2. 

—  A  região  celeste ;  espaço   que  apre- 
senta o  céo. 


Co'o3  corpos  em  pedaços,  vão  buscando 
As  almas,  o  logar  de  gloria,  ou  pena. 
Que  conforme  ao  que  nesta  vida  obrando 
Merecerão,  lá  na  outra  se  lhes  ordena. 
A  Regiào  Celeste  penetrando 
Vai  então  dos  fieis  parto  pequena, 
E  de  infiéis  hum  numero  infinito 
Entra  lá  no  immortal,  negro  conflicto. 

F.  d'asdrade,  primeiro  cerco  DE  DIU,  cant.  10, 
est.  98. 


—  As  regiões  septemtrionaes'  da  Hes- 
panha;  as  porções  de  terra  do  norte  de 
Hespanha. —  «Após  ella,  cubertos  dos  seus 
saios  de  malha,  mas  sem  armas,  os  solda- 
dos de  Atanagildo  seguem  com  rosto  me- 
ianchoiico  as  mesmas  trilhas  por  onde  se 
vai  escoando  a  turba,  até  que,  também 
como  esta,  se  derramam  pelas  selvas  den- 
sas dos  montes  e  pelos  barrancos  escar- 
pados que,  retalhando  os  Nervasios,  dão 
passagem  através  delles  para  as  regiões 
septemtrionaes  da  Hespanha.»  Alexandre 
Herculano,  Eurico,  cap.  12. 

—  A  região  stygia  e  escura. 

Durou  esta  contenda  furiosa 

(Tão  desigual  na  gente  e  na  ventura, 

Porque  muitos  da  imiga  e  numerosa 

A  regiào  descerão  stigia  e  esciu-a, 

iMas  a  pouca  fiel  victoriosa 

Toda  em  salvo  ficou, livre  e  segura) 

Até  que  o  mar  tornou  a  entrar  no  Pio 

E  fez  com  que  nadar  pôde  o  navio. 

P.    r>'ANt)RADE,   PRIMEIRO  CERCO  DE  DIU,  Caut.  11, 

est.  39. 

—  Termo  de  physica  antiga.  Alturas, 
camadas  differentes  de  atmosphera. 

—  A  baixa  região ;  aquella  que  toca  a 
terra  immeJiatamente. 

—  A  media  região ;  aquella  que  se  sup- 
põe  começar  acima  das  mais  altas  mon- 
tanhas. 

—  Região  botânica;  extensão  de  terre- 
nos caracterisados  por  uma  vegetação  par- 
ticular, ou  pela  presença  de  espécies  ve- 
getaes  predominantes. 

—  Região  dos  bosques,  das  neves ;  diz- 
se  das  montanhas,  das  zonas  occupadas 
pelos  bosques,  e  pelas  neves. 

—  Fallando  de  cidades,  diz-se  do  que 
por  outro  nome  chamamos  bairro. 

—  Região  do  fogo;  região  acima  da 
do  ar. 

—  ^1  região  efherea,  ou  o  ether;  a  re- 
gião superior  á  do  fogo  e  onde  se  mo- 
viam os  astros. 

—  Diz-se  das  diversas  phases  da  super- 
fície visível  da  lua. 

—  Figuradamente:  Diz-,se  do  que  se 
compara  a  uma  região.  —  As  regiões  do 
frio.  —  As  regiões  da  morte. 


160 


RHdl 


UVAll 


Rp:or 


E,  r|tiando  mirfço  o  Sol,  nn  apapi  a  r.liaiiiina, 
K  iiuvnin  cari-itgiida  »i4  paHiujA  f;uia 
IVlas  inndoiilm»  to/iV5m  da  iiioitu. 
SiitVocaiiti!  calor  tirra  nu  canijiiinm, 
Nem  brota  u  viirdn  planta,  ou  viii;<a  o  friicto. 
j.  A.  nK  MVfKiio,  MriiirAfÃo,  caiit.  i. 

T)o  Polo  o  Cidadão  d''9triío  com  n'lii 
("iiiim(!riaii  BDiiibras  do  nloii^ada  noito, 
Qu 'abafa  n^  rc/z/W^  do  frio,  o  morto. 

IDKM,     A    NATirUKZÁ,    Cailt.    'i. 

—  ftrnn,  ponto  a  qiio  se  eleva;  íallan- 
(lo  (la  pliilosopliia,  ilas  yciciicias,  ete. — 
I'eyiler-si;  na  região  dd  h>//)<i(futse.  —  As 
altas  regiões  ila  philiisoithin. 

—  Termo  ilc,  aniitoiíiia.  Nomo  dado  ;is 
extensões  eirouni.<ei-iptas  da  massa  do  eor- 
po  011  da  superlicie  dos  oriccãos.- — A  hai.rn 
região. — A  região  umbilical. -~  A  re- 
gião craneann,- — ^«Ve,  que  o  craneo  se 
compõem  de  outo  diversos  ossos;  o  que 
nesta  Regiaõ  tem  a  sua  origem  os  ner- 
vos;  como  ja  doutamente  ponderou  o 
nosso  Preclarissimo  Menistro  da  JMonar- 
chia  Jlcdieo-ryusitaua ;  do  que  naõ  faze- 
mos aqui  menyaõ,  por  naõ  rçpetir  o  que 
ja  fica  dito.»  Hraz  I^uiz  d'Alireu,  Portu- 
gal medico,  pag,  87,  ij  170. 

—  Trovincia.  —  A  região  do  Alemteju. 
REGICIDA,   s.  2  t/en.  (Do  latim  re.«,  e 

ca'ilerc).  i'essoa  que  matou  algum  rei. 

—  Adjectivamento :  Alma  regicida  ;  al- 
ma disposta  ao  regicidio. 

regicídio,  s.  )ii.  a  aeyão  de  assassinar 
um  rei. 

—  Assassinato  de  um  rei, 

—  <  hitros  dizem  reicidio. 
REGICISMO,  s.  »i.    A  seita,   e  doutrina 

dos  que  pensam  que  a  autlioridade  e  go- 
verno dos  reis  se  deve  abolir,  bem  co- 
mo devem  ser  todos  extinctos  e  mortos ; 
e  por  tanto  approvam  o  regicidio.  —  A 
doutrina  do  regicismo. 

1.)  REGIDO,  pavt.  pnss.  de  Reger.  Go- 
vernado, dirigido.  —  «Nam  tam  soomente 
ha  do  trabalhar  e  cuidar  pêra  fazer  Hor- 
donaçoões  o  Costituiçoões  justas,  e  san- 
tas, e  boas,  pelas  quaees  o  seu  povoo, 
que  ha  de  reger,  o  cujo  regimento  llie 
per  DEOS  he  eomettido,  seja  bem  e  di- 
reitamente regido  o  mantheudo  em  di- 
reito e  justiça.»  Ordenações  Affonsinas, 
liv.  4,  tit.  4,  i?  l.  —  «Riquezas  d.iui  cuv- 
dados,  e  atravessarPio-se-lhe  mil  desven- 
turas que  lhe  quebrarão  o  tio  do  gosto 
que  parece  que  tem  o  tempo :  hc  azado 
pcra  se  nam  azar  descanço.  A  natureza 
bem  regida  pouco  ha  mister,  mas  á  am- 
bição e  avareza  tudo  lhe  parece  pouco, 
6  negam  os  avarentos  a  si  mesmos  o  que 
ham  mister.»  D.  .Toanna  da  tiama,  Ditos 
da  Freira,  pag.  !t. 

—  C'íi*'<(  hem  regida  ;  casa  bem  gover- 
nada. 

—  ITomem  bem,  ou  mal  regido  ;  homem 
bem  ou  mal  governado.  ^ 

—  Cidade  regida  j>or  communidade, — 
«  E  por  que  esta   cidade   era  regida  per 


communidade  do  que  dftna  doze  M(mro« 
eraò  a»  piiiicipacH  eabeceiras  do  gouerno 
delia,  naò  Honiente  resgatarão  Huas  pes- 
soas e  hiima  rlostas  naou  tomadas,  dizen- 
do ser  liaqucjla  sua  cidade.»  Barros,  Dé- 
cada I,  liv.  7,  ca)).  4. 

:.'.)  REGIDO,  X.  m.  Termo  aitiquado. 
Vid.  Resíduo. 

REGIFUGIO,  s.  m.  íDo  latim  rr.fjlfa- 
f/iuiii).  I'"esta  que  se  celebra  em  Houia  em 
niemori.i  da  fuga  dos  reis,   por  outro    no- 

m<'   eliMni;id;i    fiKjiiliití. 

REGIMEN,  ouREGIME,  s.  m.  (Do  latim 
reijimeii).  Acç.uo  de  governar,  de  reger, 
de  dirigir. 

—  l\Io:lo  de  governar,  de  administrar 
um  estalo.  —  Regime  despótico. 

—  Regime  n-jireurtitativo ;  governo  em 
que  08  representantes  fia  naçào  tomam 
parte  no  jwder  legislativo. 

—  Administração  de  certos  estabeleci- 
mentos públicos  e  das  casas  religiosas. — 
<i  regime  das  prisòes,  dos  hospitaes.  — 
Regime  ptnite,uciario. 

—  Regime  Kanitarin-  eonjuncto  das  me- 
didas e  regulamentos  (pie  tom  jior  objecto 
prevenir  o  desenvolvimento  e  impedir  a 
propagaç."io  das  doenças  re])utadas  ])esti- 
lenciaes,  principalmente  a  peste  do  <  )rien- 
te,  a,  febre  ainarella,  e  a  cholera-niorbus. 

—  Termo  de  jurisprudência.  Regime 
dotal :  aquelle,  sob  o  qual  os  bens  trazi- 
dos pela  mulher  podem  ser  constituídos 
como  inalienáveis  pelo  contracto.  —  Re- 
gime da  communhão ;  aquelle  que  gover- 
na a  sociedade  conjugal  em  connnunhào 
de  bens. —  Casar-se  sob  o  regime  ilotal ; 
sob  o  regime  da  coninuinh.ão. 

—  Regime  hypotlwxario ;  o  eonjuncto 
das  leis  relativas  ás  hypotheeas. 

—  Uso  provado  e  methodico  dos  ali- 
mentos e  de  todas  as  cousas  essenciaes  A 
vida,  tanto  no  estado  de  saúde,  como  no 
de  doença. 

— -Termo  de  graniniatica.  Dependên- 
cia de  um  nome  ou  de  um  pronome,  em 
rclaçiio  a  uma  outra  palavra  da  mesma 
phrase.  —  De  todos  os  substantivos  só  lia 
os  pronomes  que  podem  repularmeute  pre- 
ceder o  verbo  de  que  sào  o  regime  sim- 
ples. 

—  Regime  directo:  regime  no  qual  re- 
calie  immediatamente  a  acç.ão  do  verbo. 
Ku  leio  um  livro,  livro  <;  o  regime  di- 
recto. 

—  Regime  indirecto;  aquelle  sobre  o 
qual  a  acçào  do  verbo  nào  recaho  dife- 
ctamente,  isto  é,  necessita  do  uma  pre- 
posiç.MÍo,  ou  de  um  caso  idêntico  a  essa 
preposiçito.  —  Dou  um  livro  a  I^edro,  Pe- 
dro «'  o  regime  indirecto. 

—  Regime  simples;  aquelle  que  é  re- 
presentado si'i  p(u-  uma  palavra. 

—  Regime  composto;  aquelle  que  é  re- 
presentado por  muitas  palavras. 

—  Modo  como  se  faz  o  escoamento  da 
agua  corrente,  —  Os  cursos  d' agua  de 
regime  uniforme. 


REGIMENTAL,  a^j.  2  fjen.  T.-i-mo  de 
niiliei.i.  <,|iie,  ,!i/,  respeito  a.>  reginient<j, 
—  Ilu.-pliol  regimental, 

REGIMENTO,  «.  m.  ('orjx)  de  gente  do 
guerra,  composto  de  muitos  liatalhòeii,  ou 
esquadrões,  sub  iividirlo*  cm  comjianhiaJS, 
e  cujo  clicfi!  se  chama  coronel.  —  Regi- 
mento de.  iiijaiitfria,  de  ravatlaria,  de 
arlil/ieria. —  «  K-tes  ^'apitaetis  n:  foraò 
lofro  endiarcjir,  e  o  ('a|)it.iõ  D,  1'edro  da 
Silva  lhos  deu  hum  regimento  «errado,  e 
no  Hobree.scri|)to  de  fira  lhes  dizia  €  que 
abrissem  aquelle  tanto  qiio  fossem  f'>ra 
dos  Estreito»,  e  que  fizessem  o  que  nelle 
lhes  nuindava  »  :  e  embarcados  todos  de- 
raò  as  velas.»  Diogo  de  Couto,  Década 
<),  liv.  !t,  cap,  ÍJ,  —  f Que  as  entra/las 
que  se  fizciem  ao  sorteio,  as  façam  «•'»- 
mente  pesso.as  ecelesia-ticiís,  como  vossa 
magestade  tem  ordenado  aos  oapitScs- 
nn'ii-es,  sob  pena  de  caso  maior  em  seus 
regimentos,  e  que  os  religiosos  que  fize- 
rem as  ditas  entradas,  sejam  os  mesmos 
que  administrem  os  iudios  em  sua.*»  al- 
deãs. Porque  sendo  da  mesma  sujeiç.lo  e 
doutrina,  melhor  os  obedecerão  e  respei- 
tarPio,  e  ir.MO  com  elles  mais  seguros  de 
alguma  rebelli.ào  ou  traiç.ío.»  Padre  An- 
tónio Vieira,  Cartas,  cap,  1.3  íediç.  de 
1587). 

—  Governo,  direcçHo. —  «Sabeíe,  que 
nós  querendo  manteer,  e  governar  em 
boa  hordcnança,  segundo  somoa  theudo 
jior  bem  ile  nosso  povoo,  e  por  bíK)  re- 
gimento, e  esguardando  como  em  algu- 
mas \'illas,  e  Lugares  dos  nosãos  Reguos, 
e  Senhorio  alguns  moradores  delles  fa- 
zem Cartas  em  nome  ilos  Concelhos  das 
Villas,  em  que  som  moradores.»  Ord. 
Affons.,  liv,  4,  tit.  24,  §  1.  —  €  Pêro  Cor- 
rêa filho  de  dom  frei  Payo  Corrêa  bailio 
da  ordem  de  S.  Io3o,  e  Diogo  Corrêa  seu 
irm.no.  E  alem  de.«tas  cinco  velas  que 
com  elle  auião  de  ficar,  Aflbnso  d'Albo- 
querquc  lhe  auia  de  mandar  outras,  em 
que  ctrau.^o  nauios  de  remo  pela  ordem 
que  clKey  maudaua  em  seu  regimento.» 
Harros,  Década  2,  liv.  3,  cap.  1.  — «Por 
quanto  além  de  pôr  ora  libeniade  hum 
vassallo  d'Ell{ey  seu  Senhor,  como  era 
ElKev  de  (.>rnuiz,  huma  das  cousas  que 
lhe  mandava  em  seu  regimento  era,  que 
favorecesse  todolos  Rcys,  e  Príncipes  da- 
quellas  partes,  que  sua  amizade  quizr>- 
sem  ter,  e  n.^io  consentisse  que  Ike  fo.-- ■ 
feita  traição  pehis  seus  naturaes,  ntin 
aggravo  dos  vizinhos,  e  que  pêra  isto 
quando  cumprisse  se  oppuzesse  com  toda 
su.i  gente  em  armas.»  Idem,  Década  2, 
liv,  10,  cap,  :t.  —  «Item.  Jlandou  que  se 
acabasse  ho  Spritral  de  Lisboa  da  inu<v 
CAçam  de  todolos  Sanctos,  na  maneira, 
que  era  c<unev.'ido,  encomendandolhc,  que 
lio  gouerno.  ordem,  e  regimento  delle 
fosse  ho  que  se  tirha  ertam  no  Sprita! 
de  Florença,  c  que  todolos  Spritaes  de 
Lisboa  se  conuertessem  a  este  com  todaa 
suas  rendas,   propriedades,   e  cousas,  do 


REGI 


REGI 


REGI 


IGl 


modo  que  lho  ho  Sancto  Padre  tinha  ou- 
torgado per  Bulia  Apostólica,  que  disso 
tiuba.»  Damião  de  Gocs,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  1,  cap.  1. —  «Pedindo-lhe 
de  parte  dos  Reis,  que  por  seruiço  de  Deos 
quisesse  poer  boa  ordem,  e  regimento  na 
gouernança  do  Ecclesiastieo,  e  nos  mãos 
costumes, '  e  viços  em  que  ha  corte  de 
Roma  estaua  habituada,  por  falta  de  cas- 
tigo, emmenda,  e  punição  que  hos  taes 
viços,  tanto  pelas  leis  humanas,  quomo 
diuinas  mereciao.»  Ihidem,  cap.  33.  — • 
«Da  dita  villa  Darronches  entrou  el  Rey 
em  Castella  com  cinco  mil  e  seiscentos 
homens  de  cauailo,  e  catorze  mil  de  pé, 
e  todos  bem  armados,  afora  ha  carrua- 
je.m  que  era  muvta.  E  o  Príncipe  fov 
cora  eile  falando  na  maneira  que  auia  de 
ter  no  regimento  do  Reyno,  e  em  outras 
muytas  cousas,  até  o  lugar  de  Pedra  boa.» 
Garcia  de  Rezende,  Chronica  de  D.  João 

11,  cap.  9. 

—  Forma  do  governo. 

—  Termo  antiquado.  Reinado,  gover- 
no, administração  do  estado. 

—  Norma,  ou  directório,  em  que  se 
declaram  as  obrigações  do  cargo,  officio, 
ou  commissão.  —  O  regimento  dos  capi- 
tães, dos  deseniòargadores,  etc.  —  «E  pê- 
ra que  se  milhor  fezessem  as  cousas  que 
leuaua  por  regimento,  e  mais  facilmente 
se  emposasse  da  cidade,  antes  que  par- 
tisse du  regno,  screveo  el  Rei  a  Garcia 
de  Mello  que  andaua  darmada  no  estrei- 
to, que  se  fosse  a  Çafim  pêra  o  ajudar 
em  tudo  o  que  lhe  fosse  necessário,  Gar- 
cia de  Mello,  posto  que  entam  estiuesse 
muito  doente,  e  quasi  desesperado  dos 
médicos. u  Damião  de  Góes,  Chronica  de 
D.  Manoel,  part.  2,  cap.  18.  —  «A  quem 
lior  vil-  prouida.  da  capitania  do  mar  da 
índia  entregaria  a  frota  que  lhe  deixa- 
ua,  o  que  concluído,  dandolhe  regimento 
do  que  auia  de  fazer,  partio  de  Chaul, 
aos  vinte,  e  sete  do  mes  de  Dezembro 
deste  anno  de  M.  D,  xxi.»  Ibidem,  part. 
4,  cap.  73. 

—  Procedimento  prudencial,  ou  moral, 
conducta,  governo.  —  «E  dahv  foy  ter 
junto  com  Ledesma,  que  seudo  contraria 
deu  ao  arrayal  por  dinheyro  mantimen- 
tos, e  prouisões.  E  dahy  por  suas  jorna- 
das foy  com  sua  gente  tão  concertada,  e 
em  tanta  ordem  e  regimento,  que  nunca 
ninguém  ousou  de  o  acometer.»  Garcia 
de  Rezende,  Chronica  de  D.  João  II,  cap. 

12.  — •  «As  quaes  se  fizerào  em  huma 
sala  grande  dos  paços,  com  nuiyto  gran- 
de solemniilade,  ordem,  regimento,  com 
muyto  ricos  concertos,  tudo  em  muvto 
grande  perfeição.  El  Rey  em  alto  estra- 
do, e  sua  cadeira  Real  com  dorsel  de  bro- 
cado, e  elle  vestido  de  opa  roçagante  de 
tclla  douro  forrada  de  ricas  martas  com 
o  ceptro  na  mào.»  Ibidem,  cap.  20. 

porto  o.  tracto  nào  ha  tal 
-  lia  terra  nou  tem  ygual 

VOL.  V.  — 21. 


nos  fructos,  nos  mantimentos, 
goucrno,  bons  rerjimeiítos 
lhe  fallescc,  e  nou  ai. 

IDEM,  MISCELLANEA. 

—  Administração.     • 

—  Regimento  da  guerra.  —  «E  confór- 
ao  seu  titulo,  que  esta  no  Regimento  da 
guerra;  a  elle  dà  ElRey  as  ordens  do 
que  se  deve  fazer  no  Exercito,  e  elle  as 
cumette  ao  j\Iarichal  para  que  as  execu- 
te, e  a  elle  pertence  fazer  os  Coudeis  dos 
Besteiros,  e  dos  homens  de  pè,  cada  hum 
com  30.  soldados.»  Severim  de  Faria, 
Noticias  de  Portugal,  Disc.  2,  §  2.  — 
«Como  o  Coudel  Mòr  por  o  Regimento 
da  guerra  ficava  capitaneando  a  gente  de 
cavallo ;  depois  se  veio  a  encarregar  ao 
Coudel  Mòr  a  execução  das  leys,  que  se 
fizeraõ  para  conservar  as  boas  raças  dos 
cavallos  do  Reyno,  como  adiante  vere- 
mos.» Ibidem,  §  õ. 

—  Regulamento,  ordem.  —  «Pêra  mòr 
segurança  dos  lugares  marítimos  manda- 
va o  Regimento,  que  tanto  que  chegasse 
qualquer  Xavio  Estrangeiro,  o  Alcaide 
pequeno,  e  seu  Escrivão  fossem  a  elle,  e 
escrevessem  as  armas,  que  trazia.»  Ibi- 
dem, §  12. —  «Neste  Regimento  mandou, 
que  todos  os  Navios  Portugueses,  que  par- 
tissem deste  Reyno,  ou  de  suas  Conquis- 
tas, ao  commercio,  fossem  armados  de  ar- 
mas, e  de  gente  para  sua  defensão.»  Ibi- 
dem, §  16. 

—  Instrucções  escriptas,  ordens,  man- 
dados. —  «E  depois  de  passarem  algumas 
palavras  desviadas  do  propósito,  o  duque 
começou  de  dizer.  Esforçado  príncipe, 
porque  cuido  que  vos  é  notório  o  regi- 
mento que  Sardamanto  nosso  rei  deixou 
acerca  do  casamento  da  princeza  Liouar- 
da,  nossa  natural  senhora  e  sua  neta,  se- 
rá escusado  trazer-vol-o  á  memoria.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  101.  —  «E  que  a  lhe  descu- 
brir  o  que  passava  em  verdade,  elle  o 
achava  rebel  aos  regimentos,  e  manda- 
dos do  Hidalcão,  a  qual  cousa  elle  dissi- 
mulava té  saber  delle  Diogo  Mendes  o 
que  lhe  determinava  sobre  o  negocio  des- 
ta paz,  que  lhe  o  Hidalcão  mandava  di- 
zer.» Barros,  Década  2,  liv.  tí,  cap.  9. 
—  «E  quanto  ao  modo  que  se  ha  de  ter 
na  entrega  disto,  que  peço  se  fará  pela 
forma  do  regimento  que  Siribicão  meu 
Embaixador  te  mostrará,  e  não  o  fazen- 
do assi,  conforme  ao  que  por  ley  de  jus- 
tiça te  peço,  me  ey  por  declarado  comti- 
go  por  parte  desta  senhora,  á  qual  por 
dote  me  obriguey  com  juramento  solem- 
ne  a  defender  a  causa  de  seu  desempa- 
ro.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  31. —  «Nesta  prisaò  ha  conti- 
nuamente, por  regimento  dei  Rey,  tre- 
zentos mil  homens,  de  dezassete  annos 
até  cinquenta,  de  que  nós  recebemos  ta- 
manho espanto,  quanto  nenhuma  cousa 
tão  nova  e  tão  desacustumada   se  reque- 


ria.» Ibidem,   cap.  108.  —  «E  marchado 
com   esta   ordenança,    chegou  ja  quasi  á 
véspera  a  huma   cidade   que  se  chamava 
Guijampee,  a  qual  achou  de  todo  despe- 
jada, e  como  a  gente  repousou  huma  ho- 
ra e  meya,  que  era  o  que  tinha  por  re- 
gimento, se  levantou  daly  o  campo,  e  tor- 
nou a  marchar  com  passo  cheyo,  e  se  foy 
alojar  ao   pé  de   huma  grande   serra  que 
se  dezia  Liampeu,  donde  também  se  aba- 
lou logo  no   quarto  dalua.»   Ibidem,  cap. 
123. —  «E  despois  de  sermos  fora  delles 
inda   que   com    trabalho,    vellejamos  por 
nossa  derrota  até  as  ilhas  de  Pullo  Çam- 
bilão,  onde  me  mety  numa  manchua  bem 
esquipada  que  levava,  e  navegando  sempre 
nella  por  espaço  de  mais  de  doze  dias,  cõ- 
forme  ao  regimento  que  levava  de  Pêro  de 
Faria,  espiey  toda  a  costa  deste  Malayo, 
que  saõ  cento  e  trinta  legoas  até  Junça- 
lão.»  Ibidem,  cap.  144.  — «Daquy  desta 
paragem    vellejamos    por    nossa    derrota 
mais  quatro  dias   em  que  prouve  a  nosso 
Senhor  que  huma   menham  nos  achamos 
entre   cinco    nãos    Portuguesas   que  hião 
de  Bengala    para  Malaca,  ás  quais  todas 
mostrey  o  regimento  que  levava  de  Pêro 
de  Faria,  e  lhes  fiz  requerimento  que  fos- 
sem   todas  juntas    por   causa  da  armada 
dos  Aachès  que  andava   na  costa.»    Ibi- 
dem, cap.  147.  —  «E  el  Rey  deu  ao  dito 
Bemohi  de   socorro,  e  ajuda,  vinte    cara- 
uellas  armadas,  e  por  capitão  mor  delias 
Pêro  Vaz  da  Cunha,   que  leuaua  por  re- 
gimento de  fazer   huma   fortaleza  na  en- 
trada do  rio   de  Cenaga,  a  qual   auia  de 
estar  sempre  por  el  Rey.»  Garcia  de  Re- 
zende,  Chronica  de   D.  João  II,  cap,  78. 
—  «Partido  António  da  .Silveira   de  Goa 
com   a   Armada,    entrou   na    enceada  de 
Cambaya   pêra   fazer  toda   a  guerra  que 
pudesse  áquelle  Reyno,   como  levava  por 
regimento.»  Diogo  de  Couto,   Década  4, 
liv.  6,  cap.  9.- — «Isto  estimou  o  Gover- 
nador muito,  e  deu  por  regimento  a  D. 
Jorge  de  Castro  «que  tanto  que  acabasse 
as  cousas  de  Ceitavaca,  passasse  ao  Rei- 
no de  Candea,  e  castigasse  aquelle  Rey, 
pela  traição  de    que   usou    cora    António 
Moniz  Barreto.»  Idem,  Década  G,  liv.  8, 
cap.  4.  —  «Depois  da  fortaleza  de  Catifa 
ser  posta  por  terra,  e  arrazada,    não  ha- 
vendo alli  mais  que  fazer,  determinou  D. 
Antaõ  de  Noronha    passar  a  Baçorà,  co- 
mo levava  por  regimento  pêra  favorecer 
aquelle  Rey  que    esperava  por    elle  pêra 
com  03  da  sua   liga  cometer  aquella  for- 
taleza.» Ibidem,  liv.  9,  cap.  13.  —  «Da- 
da a  vela  foraõ  correndo  a  costa  de  Ará- 
bia,   e   chegando  à   fortaleza    de   Dofar, 
surgiu  com  toda  a  Armada,  porque  leva- 
va D.  Fernando  por   regimento   de  seu 
pay  «que  lançasse  delia    os    Fartaquins, 
que    se    tornarão    a   meter  dentro.»  Ibi- 
dem, liv.  10,  cap.  18.  —  «No  regimento 
quo  el  Rei  deu  a  pedralures  Cabral,  hora 
dos  pontos  mais  substanciaes  era,  que  tra- 
balhasse  muito  pela  amiaade  dei  Rei  de 


162 


IIKCI 


REGI 


l{K(iI 


Calecut,  porquo  sua  vontailc  era  fazer 
huma  fortaleza  naquolla  CMa-le,  ondo 
HCU8  naturacs,  o  officiaua  cstiuossetn  se- 
guros dos  da  terra,  o  mouros,  e  podessem 
fazer  as  cousas  quo  comprissem  a  «eu 
Bcruiço. »  DaniiJo  de  (Joos,  Chronica  de 
D.  Manoel,  part.  1,  cap.  54.  —  «1'roueo 
a  Se  fii'  pessoas  muito  edoneas,  o  do  lio- 
mons  virtuosos  o  letrados,  o  assi  touc  mui- 
to bom  Cabido,  o  que  muito  bem  fazia 
seu  officio,  c  o  ajudaua,  e  assi  traballiou 
do  proucr  sempre  todos  os  mais  dos  bc- 
ncficios  quo  prouco,  c  a  Se  de  todo  ne- 
cessário, e  do  muitos  regimentos  pcra  os 
officios  diuiuos  se  fazoreiíi  ncllc  eomo 
compria.»  Ibidem,  ])art.  .">,  cap.  27. — 
nlla  hum  regimento  naquelle  despacho, 
quo  fiquem  as  eapas  dos  fardos,  que  so 
abrem,  para  os  offieiaes,  que  assistem  a 
estas  vóstorias :  abrirão  os  escritórios  até 
a  ultima  gaveta,  e  dados  por  livres,  lan- 
çar/lo màos  dos  godrins  ehamandolhes  ca- 
pas, c  com  elles  se  ficarào,  que  bem  va- 
iiilo  vinte  mil  reis.»  Arte  de  furtar,  cap. 
V)ii.  —  «E  deu  comprido  Regimento  aos 
Offieiaes  do  Armaria  para  a  eoiiservai,aõ 
da  Nobreza,  e  armas  das  Eamilias,  de 
modo  que  uaò  houvesse  mais  a  confusão 
antiga.»  Severim  de  Faria,  Noticias  de 
Portugal,  Disc.  3,  §  18. —  «A  Capitay- 
na  nossa  Senhora  de  Betanchor  Capitito 
j\Iòr  Brás  Telles  de  Menezes,  e  a  nào 
Sam  lacinto  Capitão  Poro  da  Sylua  de 
Menezes,  dos  quaes  o  ViceRey  se  yeyo 
despedir  a  bordo  delias,  mandando  dar  a 
cada  hum,  o  Regimento,  e  ordem  confor- 
me à  que  sua  Magestadc  lhe  tinha  dado, 
e  aos  Fillotos,  e  OtTiciaes  das  nàos  apres- 
tar todas  as  cousas  necessárias,  como  era 
fazer  aparelhos  lestes,  cortar  as  amarras, 
desfraldar  velas.»  Fr.  (!aspar  de  S.  lier- 
nardino.  Itinerário  da  índia,  cap.  1. 

—  Termo  de  medicina.  Uieta. 

—  Guardar  o  regimento;  observal-o. 

—  Dias  da  regimento  ;  dias  de  conva- 
lo8cen^'a  dos  doentes,  das  paridas,  etc. 
Vid.  Resguardo. 

—  Figurada  e  popularmente  :  Grande 
numero,  multidão.  —  Esta  senhora  tem 
ttin  regimento  de  filhos. 

—  Termo  de  grammatica.  Vid.  Regên- 
cia. 

REGINAL,  adj,  2  gen.  e  s.  Original, 
exemplar  de  escriptura,  feito  pelo  mes- 
mo notário  ou  escrivão,  o  dado  a  uma 
das  partes,  que  nella  tiguram  eomo  con- 
tratantes, e  interessadas,  firmado  com  os 
sellos,  ou  sinaes,  segundo  os  logarcs, 
tempos  c  costumes. 

—  Vid.  Original. 

RÉGIO,  A,  adj.  ^Do  latim  regius).  Real, 
de  rei.  —  Carta  regia. 

Muda  de  aspecto  n  inisora,  c  8'espauta: 
O  Roi  contemphi  o  Coo  de  fogo  armado, 
Qu'  03  raios  vibra,  porqu'  a  loi  (\ucbniuta, 
Que  nega  á.  ReffUi  esposa  o  Rogio  estado : 
Do  Throiio  oiitão  trcmeudo  ao  lovauta, 
Como  da  inortc  horrífica  assaltado  •, 


Maia  BC  condoiisa  a  sombra  escura,  e  fea, 
O  Coo  fuzila,  a  torra  balaiicea. 

j.  A.  DF.  MACF.Do,  O  ouiENrK,  caiit.  5,  est.  48. 


S(>rá  iiiiiior  teu  Ilodiicy.  ou  teu  Nelson? 
Nem  ti'u  MoiiUe  lur  maior,  ne  o  Sccptro  onjcifci. 
Firmando  o  Diadouia  em  Uryia  fronte. 
lUKM,  viAOKu  kxtatica,  cant.  2. 

—  Aíjua  regia ;  agua  forte  com  sal  am- 
moniaco;  menstruo  que  dissolvo  o  ouro, 
etc.  Vid.  Agua. 

—  Acto  régio;  antes  da  reforma  da 
Universidade,  era  um  dos  dons  que  fa- 
ziam os  lieenciados  em  incdieina. 

REGIONAL,  adj.  2  fjm.  (Do  latim  re- 
(lionnlh,  de  rcgio).  Que  pertence  a  uma 
regirio.  —  Doriirns  regionaes. 

—  De  um  bairro  da  cidade. 
REGIONARIO,  A,  <idj..  WA.    Regional. 
REGIRAR,  uu  REGYRAR,  v.  a.  (Do  la- 
tim rcijip-avei.   Fazer  mover  em  giros. 

—  Kegirar  letras  de  cambio;  fazer  tor- 
nar aos  primeiros  passadores,  talvez  com 
fraude  por  se  retardar  o  pagamento,  ou 
a  outros  saccados,  com  o  mesmo  mau  in- 
tuito. 

—  Regirar-se,  v,  rejl.  Mover-se  para 
todos  os  rumos,  correr  todos  os  rumos  de 
entorno,  ;l  maneira  do  tufão  que  venta 
instantaneamente  em  todas  as  direcções 
da  agulha.  \'id.  Tufão. 

REGIRO,  ou  REGYRO,  s.  m.  Segando 
giro. 

—  Regiro  de  cambio;  vid.  Regirar. 

—  Figuradamente  :  Rodeio,  eireumlo- 
quio,  ambagens.  — Regiro  de  aríjumentos . 

REGISTADAMENTE,  adv.  De  um  modo 
registado. 

—  Parcamente,  ou  parcimonia,  frugal- 
mente. 

—  Rcgradamente,  economicamente. 
REGISTADO,  part.  pass.   de  Registar. 

Vid.  Registrado. 

—  Regido,  dirigido,  governado. 

—  Figuradamente  :  Regrado,  tempera- 
do, moderado.  Vid.  Regrado. 

—  Posto  em  eseripto;  memorado. 
REGISTAR,  r.  a.  Vid.  Registrar.  — «E 

nom  embargante,  que  estiis  Cart<as  assy 
passassem  pelos  Corregedores,  mandamos- 
vos  que  façaes  registar,  c  assentar  esta 
Carta  toda  de  verbo  a  verbo  em  o  Nosso 
Livro  da  Chancellaria  pêra  mais  seer  de- 
vulgado,  e  poblieailo  esto,  que  assy  hor- 
denamos,  e  Mandamos,  como  dito  he.» 
Orden.  Affons.,  liv.  2,  tit.  30,  §  6. 

Que  Icvaes  ? 
Que  levo  não  sei. 

Negaes  ? 
São  camarões  do  Tcrul. 
Pois  porque  os  luio  rc</Utaeíf 

ANTOXIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  SO. 

— •  Termo  do  náutica.  Exaniinar,  lan- 
çar por  eseripto  nos  livro  dos  registos, 
combinar   se   está  uniforme   a    matricula 


do    navio  com  o  estado  effectivo  da  sua 
tripula<;.^((. 

REGISTO.  «.  »/i.  Vi.l.  Resisto,  <■  Regis- 
tro. <  "pia,  tranlado  de  papel  registrado. 
—  «Este  auto  se  fez  logo,  e  hoje  está  o 
próprio,  em  que  todiui  as  pessoas  nomea- 
das se  assinarão  em  hum  livro  dou  re- 
gistos da  fazetida  dos  Contos  de  <  loa, 
donde  o  nós  tiramos,  e  trasladámos.  E 
certo  ípie  assim  devia  de  andar  e»crit<> 
nos  ânimos  de  tudos  os  (Jovernadore»,  e 
\'isoreis  da  índia. •  Diogo  do  Couto,  Dé- 
cada O,  liv.  (j,  cap.  V. 


Ksto  leva  este  rf^iin, 

de  Hanto  vos  dá  no  goto, 

faz  lá  das  ermidas  quintas, 

fez  um  orago  devoto, 

em  que  cstl  conip  minhoto 

convertendo  orfíios  em  pintas. 

ANTÓNIO  PRE.STFJ,  ACTOS,  pag.    14.3. 

Moço,  isto  o  que  quer  ser? 
teu  senhor  não  vem,  que  é  isto  ? 
Meu  senhor  é  mui  previsto, 
nunca  o  pudo  bom  fazer ; 
puzera-lhe  cUa  ura  rrj/islo 
e  soubera  já  de  côr 
onde  vac  c  a  quantas  folhas. 
IBIDEB,  p.Tg.  315. 


—  Dar  fio  registo ;  manifestar  qual- 
quer cousa  que  deve  passar  por  alfande- 
ga, ou  casa  de  officio  onde  se  deve  ma- 
nifestar. 

—  Termo  de  marinha.  Embarcação  ou 
fortaleza  (jue  nas  eptradas  ou  »ihidas 
dos  portos  se  acham  incumbidas  de  regis- 
tar as  embarcações,  manifestar  qualquer 
objecto  que  tenha  de  passar  pela  alfan- 
dega, ou  casa  de  officio  onde  deve  mani- 
festar-se. 

—  Memorial.  —  Eis  o  registo  d^is  que 
prestaram  serviços  á  pátria.  Vid.  Regis- 
tro. 

REGISTRADO,  j>art.  jtass.  de  Registrar. 
Vid.  Registado.  —  «levantando  mil  fal- 
sos testemunhos  ao  regimento,  ,que  na 
verdade  só  as  capas  de  couro,  e  lona  lhes 
concede,  e  n.lo  o  mais,  que  vem  regis- 
trado, como  fazenda.»  Arte  de  furtar, 
cap.  rt'ò. 

—  Pcupado. 

REGISTRADOR,  s.  m.  Homem   que   re- 
gistra ou  lança  por  eseripto  alguma  cou-      ■ 
sa    no    livro    dos   registros,    como  ha   na     ■ 
cúria  romana.-  * 

REGISTRAR,  v.  a.  (Do  latim  registra- 
rei. Lançar  jior  eseripto  no  livro  dos  re- 
gistros quaesquer  cartas,  cédulas,  alva- 
rás, bilhetes,  conhecimentos  quo  devem 
ser  registrado*. 

—  Mostrar,  dar  ao  registro,  manifes- 
tar cousa  que  n.ào  entre  sem  ir  a  certas 
casas. 

—  Manifestar,  lealdar  na  aduana,  e 
casas  de  arrecadaç.^io  de  impostos. 

—  IVt  em  memoria  por  eseripto,  his- 
toriaudo. 


REGI 


KEGN 


REGN 


163 


—  ]Marcar  o  livi-o  com  registro. 

—  Figuradamente :   Moderar,    regular. 

—  Dirigir,  governar,  gerir  convenien- 
temente. 

—  Vêr,  examinar. 

—  Consultar,  tratar. 

REGISTRO,  s.  m.  i  Do  latim  registrum). 
O  livro  em  que  se  inscrevem  os  actos,  os 
afazeres  de  cada  dia. —  Os  registros  do 
estado  civil. 

—  O  livi-o  em  que  se  lança  por  escri- 
pto,  e  faz  memoria  de  mercadorias,  ou 
fazendas  que  entram  ou  sahem.  —  O  li- 
vro lios  registros.  —  «Fez  ainda  Gomez 
eanes  outra  obra  no  tombo  deste  Reyno 
que  alumiou  muito  as  cousas  delle,  que 
foraõ  os  livros  dos  registros,  recopilando 
em  certos  volumes  as  forças  de  muita 
scriptui'a  que  andaua  solta,  começando 
em  elRey  dom  Pedro  te  elRey  dõ  loaõ 
de  gloriosa  memoria.»  João  de  Barros, 
Década  1,  liv.  2,  cap.  2. 

—  Figuradamente  :  A  casa  onde  se 
examina  e  registra. 

—  Escriptura  d'onde  consta  que  se  re- 
gistrou nos  livi'03  próprios  a  mercadoria 
que  se  saeca,  exporta  ou  importa. 

—  Exame  feito  nas  casas  da  alfandega 
ou  do  registro. 

—  Figuradamente :    Qualquer    exame. 

—  A  acção  de  registrar  ou  lançar  por 
escripto. 

—  Registro  na  ãespeza  ;  bom  governo 
do  que  poupa. 

—  Conta,  tento  e  parcimonia,  boa 
economia  e  regra. 

—  Registro  do  livro;  peça  de  iita 
pregada  á  mai-gem  da  folha  para  se 
abrir  onde  está  o  registro ;  talvez  se  mar- 
ca o  livro  com  a  imagem  de  algum  santo 
pintado  em  papel,  ou  pergaminho,  cuja 
imagem  se  chama  por  isto  um  registro, 
ou  resisto. 

—  Registros  no  órgão ;  peças,  que  fe- 
chando-se,  ou  embebendo-se  no  seu  vão, 
ou  tirando-se  fora,  tapam  ou  abrem  a 
passagem  a  certas  vozes  que  se  imitam  ; 
ou  tornam  a  voz  mais  forte,  ou  mais  pia- 
na. 

—  Figuradamente:  Tocar  todos  os  re- 
gistros ;  faliar  em  tudo,  e  em  todos  os 
sons,  ou  tons. 

—  A  chave  da  bica,  ou  torneira  de 
bronze  das  fontes. 

—  Termo  de  impressão.  A  correspon- 
dência das  regras  de  uma  pagina  com  as 
outras,  que  lhe  ficam  nas  costas, 

—  Peça  dos  pianos  ou  cravos,  que  ser- 
ve para  que  os  sonâ  saiam  mais  ou  me- 
nos fortes. 

—  Figuradamente :  Tocar  nos  regis- 
tros ;  faliar  a  propósito,  acertar  no  que 
diz. 

—  Registro  do  açude ;  a  taboa  que  se 
tira  e  põe  para  dar  passada  á  levada,  ou 
agua ;  ao  que  no  império  do  Brazil  cha- 
mam porta  da  agua. 

—  Vid.  Registo,  e  Resisto. 


f  REGLADO,  íxícf.  pass.  de  Reglar. 
Vid.  Regrado,  e  Regulado. 

em  jogos  muy  temperado, 
em  comer  muyto  reglado, 
bom  salado,  bem  regido, 
muy  sotil,  Icido,  sabido, 
humano,  muy  anisado. 

GABCI.i  DE  BEZENDE,   MISCELL.\2iE.\. 

7  REGLAR,  i-.  a.  Vid.  Regrar,  e  Re- 
gular. 

■j-  REGNADO,  part.  pass.  de  Regnar. 
Vid.  Reinado. 

—  íjubstautivamente:  O  seu  regnado. 
^  id.  Reinado.  —  «Esta  foi  a  mor  perda 
de  gente,  e  munições  de  guerra  que  el 
Rei  dom  Emanuel  ouue  em  todo  ho  tem- 
po de  seu  regnado,  ha  qual  noua  lhe  foi 
dada  em  Lisboa.»  Damião  de  Góes,  Chro- 
nica  de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  76. 

REGNANTE,  part.  act.  de  Reguar.  Ter- 
mo antiquado.  Vid.  Reinante. 

REGNAR,  V.  a.  Termo  antiquado.  Vid. 
Reinar.  —  «Que  aas  ditas  Cidades,  Vil- 
las,  ou  Lugares  perteencerem,  assv  de 
rendas,  como  de  direitos,  como  de  privi- 
légios, que  lhes  perteencerem,  como  de 
sentenças,  e  mereces,  e  graças,  que  ouve- 
rom,  ou  ouverem  daqui  em  diante,  e  to- 
dalas  outras  cousas,  que  aas  ditas  Cida- 
des, Villas,  e  Concelhos  perteencerem,  e 
as  asseentem  em  o  dito  livro  per  esta 
guisa,  veendo  o  tempo,  em  que  cada  hum 
dos  Reyx  nossos  antecessores  regnai'aõ, 
e  as  mercees,  e  graças,  e  privilégios,  que 
de  cada  hum  delles  ouverom.»  Ordenações 
Afonsinas,  liv.  4,  tit.  24,  §  3.  —  «Em 
que  começou  a  regnar,  proueo  em  muita 
abastança  todolos  lugares  dalém,  assi  de 
mantimentos,  quomo  de  gente  de  pè,  de 
cauallo,  artelharia,  e  outras  munições, 
acrecentando  hos  ordenados,  soldos,  e 
mantimentos,  aos  capitães,  adais  e  outros 
officiaes,  e  assi  aos  moradores,  e  outra 
gente  de  guerra.»  Damião  de  Góes,  Chro- 
nica  de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  11. — 
«Foi  casado  com  donna  Guiomar  Conti- 
nha, filha  de  dom  Francisco  Coutinho, 
conde  de  Marialva,  e  da  Condessa  de 
Loulé  sua  mulher,  o  qual  casamento  se 
tratou,  e  capitulou  em  vida  dei  Rei  seu 
pai,  e  do  Conde,  mas  por  elle  ser  ainda 
entaõ  muito  moço  se  naõ  consumio  o  ma- 
trimonio, senão  depois  da  morte  delles  am- 
bos, regnando  ja  el  Rei  dom  loaõ  seu  ir- 
mão.» Idem,  Ibidem,  part.  2,  cap.  19. — 
«O  que  querendo  saber  lhe  foi  dito  pelos 
da  terra,  que  alli  ouuera  o  grande  Hercu- 
les duas  batalhas  com  o  Rei  que  entam  re- 
gnaua,  em  que  Hercules  fora  desbaratado, 
e  lhe  mataram  toda  a  gente  de  guerra 
que  consigo  tinha,  e  que  por  memoria  se 
poseram  aquellas  cabeceiras,  o  que  parece 
concordar  com  Heródoto,  que  diz,  que 
Hercules  escapou  da  índia  de  todo  desba- 
ratado.» Idem,  Ibidem,  part.  2,  cap.  38. 
—  «Para  mais  a  sua  vontade  tyranniza- 
rem  tudo  ellegerem  muito  moços,  e  co- 


mo estes  regnauam  cinco,  seis  meses,  ou 
hum  anno  ao  mais  os  cegauam,  pondoos 
todos  em  boa  guarda  por  lhos  naõ  furta- 
rem, e  assi  cegos  lhes  dauam  tudo  o  que 
lhes  era  necessário,  da  renda  do  regno.» 
Idem,  Ibidem,  part.  3,  cap.  80. —  «O 
qual  morto  fez  Raix  xarafo,  Rei  Dormuz 
Patxa  mahametsa  filha  do  çafardim,  que 
regnaua  em  Ormuz  ha  primeira  vez  que 
la  foi  Afonso  dalbuquerque,  e  assim  ficou 
Raiz  xarafo  alguns  dias  no  gouerno  do 
regno,  com  mais  licença  e  liberdade  do 
que  o  dantes  fazia.»  Idem,  Ibidem,  part. 
4,  cap.  80. 

REGNATIVO,  A,  adj.  Que  respeita  ao 
reinar. 

REGNO,  Í-.  m.  Termo  antiquado.  Vid. 
Reino.  —  «As  cartas,  perque  se  daô  Es- 
cripvaães  aos  Chancelleres,  e  Escripvaães 
das  Correições  por  mercees,  que  Xós  que- 
remos fazer.  H.a  de  dar  todas  as  Cartas 
de  Escripvaninhas  de  todo  o  Regno,  de 
que  nós  fazemos  merece,  com  que  os  Es- 
c»pvaães  nom  ham  nosso  mantimento,  ca 
onde  os  Escripvaães  ham  mantimento  nos- 
so, em  tal  caso  as  Cartas  devem  passar 
pelos  Veedores  da  Fazenda.»  Ord.  Affons., 
liv.  1,  tit.  2,  §  9.  —  «Ao  seu  officio  per- 
teence  de  teer  cadea,  e  Ouvidores,  e  Al- 
quaides,  e  Meirinhos,  Poi-teiros,  e  Escri- 
pvaaens,  e  seu  officiaaes  em  todolos  luga- 
res dos  nossos  Regnos,  onde  houver  ho- 
mens de  Vintenas  do  mar,  que  os  Ouvi- 
dores, e  Alquaides  do  dito  Almirante  ou- 
çam, e  livrem  todos  os  feitos  dos  sobredi- 
tos.» Ibidem,  liv.  1,  tit.  õ4,  §  19.  — «A 
saber,  que  os  Juizes,  e  Vereadores,  e  ou- 
tros officiaaes  sejam  enlegidos  pelos  ho- 
mens boõs  dos  lugares,  assy  como  ataaqui 
forom,  e  he  contbeudo  nas  Hordenaçoões 
do  Regno  sobre  ello  feitas.»  Ibidem,  liv. 
2,  tit.  40,  §  3. — «Sabede,  que  alguns 
de  meu  Regno  xe  me  queixarem,  que  per- 
dem suas  aves,  e  aquelles  que  as  acham 
amooram-nas,  e  escondem-nas  e  alguns  as 
fuitam,  de  guisa  que  as  nom  podem  aver 
seus  donos.»  Ibidem,  liv.  5,  tit.  54,  §  1. 
—  «Outro  sy  os  ditos  ilercadores  Estran- 
geiros trazendo  panos,  ou  outras  merca- 
darias  de  fora  de  nossos  Regnos,  e  des- 
carregando no  dito  nosso  Regno  do  Al- 
gai-ve,  quando  venderem  os  ditos  panos, 
e  mercadorias  no  dito  Regno,  que  possam 
vender  os  ditos  panos  em  grós,  e  a  peças 
inteiras,  pela  guisa  que  suso  dito  he,  e 
mandamos  que  as  vendam  na  Cidade  de 
Lixboa.»  Ibidem,  liv.  4,  tit.  4,  §  15. — 
«E  por  quanto  a  Nós  he  dito,  que  das 
faquas,  que  vem  a  esta  Cidade  de  Lis- 
boa, e  a  alguns  outros  lugares  do  nosso 
Regno,  de  Imgraterra,  e  Irlanda,  alguns 
as  querem  comprar  pêra  as  levarem  fora 
de  nossos  Regnos,  de  que  nos  naõ  praz.» 
Ibidem,  tit.  5,  §  1. —  «E  aquelle  nosso 
irmão,  que  nossa  sobcessão  indiuidamente, 
e  contra  justiça  nos  occupaua,  posto  em 
armas  com  numero  infindo  de  gente,  e 
apoderado  de  todo  nosso  regno,  e  senho» 


164 


REGN 


REGO 


ui:(;o 


rio.»  Damijlo  de  Góes,  Chronica  de  D.  Ma- 
noel, ]),irt.  ;5,  cap.  3H.  —  «Ah.sí  creo  que 
Bíiin  i'oilro  lu!  jioilni  da  lei,  a  (|iuil  lei  lie 
cditicada  sobolo.s  Troplietas,  fiiinlanii^nti), 
e  cabeça  da  Jfírcja  (Jatholica,  Oriental,  e 
Occidental,  onde  se  conhece  o  nomo  de 
nosso  Seidior  Icsii  Cliristo  do  cuja  E^ijreja 
sain  Podro  Apostolo  tem  o  poder,  e  as 
chaues  do  regno  do  Coo,  com  <iiie  pode 
abrir,  o  fccliar,  ligar,  o  deslif(ar. »  Ibidem, 
cap.  ()0.  —  «Fez  lei  per  que  deuassim  to- 
dolos  lidalfcos  cavaleiros,  e  scudeiros  do 
regno  pêra  pagarem  jugada,  o  que  dantes 
liam  pagauam  elles,  nem  seus  parceiros, 
ordenou  que  todalas  sesmarias  que  eram 
dadas  com  alguma  obrigaram  do  foro 
pêra  coroa  o  naõ  pagassem  os  que  traziam 
estas  sesmarias  foreiras  por  assi  iicarem 
obrigadas  a  pagarem  jugada  do  que  no 
aproveitado  delias   semeassem.»    Ibidem, 

£art.  1,  cap.  80.  —  «Dauid  amado  de 
>cos,  eohimna  da  Fé,  do  sangue  da  Stir- 
po  de  ludà,  fillio  do  Dauid,  tillio  de  8a- 
íamão,  tillio  da  cokimna  iSyon,  filho  .da 
semente  do  lacob,  tilho  da  mam  de  JLa- 
ria,  tilho  de  Nau  per  carne,  Emperador 
da  grande,  c  alta  Ethlopia,  de  todos  seus 
grandes  regnos  e  prouincias,  Rei  de  Xoa, 
do  Cafate,  de  Fatigar,  de  Augotc  de  Ba- 
ru,  de  Baaliganzi,  do  Adea,  de  Vangue, 
de  Gojane.»  Ibidem,  part.  3,  cap.  (52. — 
«Depois  da  morte  de  Afonso  dalbuquer- 
quo  chegou  à  índia  Afonso  lopez  da  cos- 
ta, que  cl  Roi  dom  Emanuel  despachara 
do  regno  na  fim- do  mes  Dabril  com  car- 
tas per  elle,  porque  lhe  escreuia  que  es- 
taua  arrependido  de  o  mandar  vir,  que 
se  fosse  sua  vontade  podia  ficar  na  índia 
em  qualquer  fortaleza  das  que  quizesse, 
isscnto  de  Lobo  soarez,  c  que  na  sua 
vagante  lhe  mandaria  a  gouernança  da 
Índia,  com  titulo  de  Vicerei.»  Ibidem, 
cap.  80.  —  «Donde  dalli  a  poucos  dias 
partio  dom  Garcia  de  Noronha  com  as 
nãos  que  tornaram  pêra  o  regno,  de  que 
erão  capitães  elle  de  huma,  c  das  outras 
quatro  dom  loam  deça,  George  de  mello 
pereira.  Fero  mascarenhas,  e  Francisco 
nogueira,  que  todos  vieram  ha  saluamen- 
to. »  Ibidem,  part.  4,  cap.  2. —  «Era  ho- 
mem nobre,  e  de  que  ei  Rei  ^Vnrrique  de 
Inglaterra  fez  tanto  caso,  que  lhe  deu  a 
«ipitania  de  Cales,  que  era  huma  das 
cousas  de  mor  confiança  do  quantas  na- 
quelle  regno  auia  de  sua  calidade,  o  qual 
cu  conheci,  e  fomos  amigos,  c  sua  amiza- 
de me  aproueitou  pêra  negócios  que  tra- 
tei em  Inglaterra  do  scruiço  dei  Rei  dom 
loam  terceiro.»  Ibidem,  cap.  20.  —  «O 
qual  lhe  mandou,  de  muita,  e  boa  gente, 
entre  os  quaes  foi  Gonçalo  mendoz  çaco- 
to,  hum  dos  bons,  e  esforçados  caualeiros 
que  do  seu  tempo  ouue  nestes  regnos,  c 
porque  estas  nouas  nam  sairaõ  certas. 
Gonçalo  mendez  çacoto  depois  dcstar  al- 
guns dias  em  çafim,  pedio  licença  a  dom 
Nuno  pêra  se  tornar  ao  regno.»  Ibidem, 
cap.  23,  —  «O  qual  Poro  Cíirualho  foi  de- 


pois guardaroupa  dei  Rei  dom  loaíS  ter- 
ceiro, c  ])rouodor  mor  das  obras  -do  re- 
gno, a  porta  tinha  (iaspar  gonçaluez  de 
riba  fria,  porteiro  da  camará  dol  Rei, 
que  despois  em  tempo  do  mesmo  Rei  dom 
loito  torcuiro  voo  a  ser  alcaide  mor  da 
villa  de  Sintra  de  juro.»  Ibidem,  cap. 
;«4. —  a  Em  que  o  parecer  djjl  Rei,  do 
Duque,  e  do  Cnnde  foi  que  nam  mandas- 
sem chamar  Femam  de  magalhíles,  por 
nam  dar  ocasiam  de  outros  fazerem  o 
mesmo,  mas  o  bispo  dixe  que  seu  pare- 
cer era,  que  o  mandasse  cl  Rei  chamar, 
c  lhe  fizesse  meree,  ou  o  mandasse  ma- 
tar, porque  o  negocio  que  começaua  ora 
muito  prejudicial  ao  regno.»  Ibidem,  cap. 
37. —  «Jlas  passando  por  esta  obrigação 
começarei  de  tratar  da  que  todos  tOmos  a 
Fornam  lopez  Chronista  destes  regnos,  e 
guarda  mor  da  Torre  do  Tombo,  escriuão 
da  puridade  que  fui  do  Infante  dom  Fer- 
nando que  inorreo  captiuo  em  Fez.»  Ibi- 
dem, cap.  38. —  oDondo  se  veo  ao  Re- 
gno a  lhe  dar  a  relaçam  do  que  passara 
nesta  viagem,  aho  qual,  em  chegando, 
deu  el  Rei  ha  Capitania  das  gales,  e  ga- 
leoens  do  regno  pêra  hir  guardar  a  costa 
do  estreito,  onde  andou  até  fim  do  ve- 
ram.»  Ibidem,  cap.  4>>.  —  «Diogo  lopez 
antes  de  partir  de  Coehim  despachou  has 
nãos  que  aquelle  anno  auiam  de  ir  pêra 
o  regno,  de  que  era  capitam  António  de 
Saldanha,  o  que  feito  se  foi  a  (ioa,  e  dahi 
a  Chaul  levando  consigo  António  correa 
que  entào  chegara  de  Jlalaca.»  Ibidem, 
cap.  tiO. 

REGNICOLA,  adj.  2  gen.  (Do  latim  re- 
gnicola}.  Reinicola,  um  habitante  reini- 
cola. 

—  S.  m.  Termo  de  jurisprudência. 
Diz-se  dos  habitantes  naturaes  de  uni 
reino,  de  um  paiz,  considerados  em  rela- 
ção aos  direitos  de  que  podem  gozar. 

—  Por  extensão,  diz-se  dos  estrangei- 
ros naturalisados  a  quem  estes  mesmos 
direitos  são  concedidos. 

REGO,  s.  m.  O  sulco,  a  abertura  que 
deixa  na  terra  o  ferro  do  arado  entre 
leiva  e  leiva. 

—  Trabalho  de  regar  plantas. 

—  O  sulco  que  se  abre  em  algum  ta- 
boleiro  de  lavoura,  mais  baixo  para  dar 
escoamento  ás  aguas,  que  não  empocem 
nelle,  e  não  resfriem  as  plantas. 

—  Figuradamente :  O  rego  que  fez  a 
roda  lie  carro. 

—  Rego  de  Vénus;  nome  de  uma  con- 
cha. Vid.  Porcelana. 

—  O  que  SC  abre  para  derivar  aguas, 
e  as  que  correm  pelos  regos  derivadas 
das  fontes. 

—  Adágios: 

—  Rego  aberto,  meia  geira  c. 

—  Rego  vai,  rego  vem. 

REGOA,  s.  /.  Vid.  Régua,  orthographia 
proferi  vol. 

REGOADURA,  s.f.  O  trabalho  de  abrir 
regos. 


-  l'ltir.  Gretas  nas  mAos,  ou  nos  pés. 
REGOAR,  V.  a.  Fazer  regos,  abril-o-í. 

—  Regoar-se,  i-.  n-jl.  —  Regoar-se  n 
terra  rniit  a  koI ;  abrir  uns  r-gos  fun- 
dos. 

—  Regoar-se  "  j/el/e  do  cr/rjm;  abrir-se 
por  algUMia-i  doenças. 

—  Regoar-se  "  Ji<jo  maduro;  abrir-se 
a  pelle. 

REGOLFO,  s.  Ill,  Retrocesso  da  a^^iui. 

—  Moinhos  d':  agua,  de  regolfo ;  moi- 
nhos, cuja  agua,  que  oe  move,  toma  a 
retrfieedi-r  contra  a  sna  corrente. 

REGOLIZ,  s.  m,  Vid.  Regalice. 

REGOMARGEM,  «.  /.  Vid.  Reg'amar- 
gem. 

REGORGEAR,  ou  REGORGEIAR,  r.  a. 
Tornar  a  gorgear,  gorgear  seo^n'la  e 
mais  vezes.  \'id.  Redobrar,  e  Gorgear. 

REGOUGADO,  yuV.  pmn.  de  Regougar. 
—  Lilij  regougado;  cão  que  volta  o  rabo 
solire  as  ancas,  á  maneira  de  rapoza. 

REGOUGAR,  v,  n.  Diz-ee  da  voz  pró- 
pria lias  rapozas. 

—  Regougar  o  cão.  Vid.  Regougado. 

—  Uivar  arremedando  o  grito  das  ra- 
pozas. 


São  n<5t;i3  de  Astronómicos  arcanos? 
Mystório:!  de  Deos  suuuno  ?  Ninguém  sabe. 
L:í,  nuuca,  sem  terror,  os  Gallos  chegno; 
I,á  aci-editão,  que  vagos  fi>g09  luzem. 
Que  fuueljrc  clamor  Spcctros  regongUo. 

>HANCISl'0    UÀNOEL   DO  NASCIMENTO,  OS  ILIBTTKEJ. 

liv.  10. 


REGOUGO,  .«.  m.  A  voz  própria  das  ra- 
poiías. 

—  Diz-se  também  do  uivo  arremedando 
a  voz  dos  rapozas. 

REGOZIJADO,  ijart,  pasi.  de  Regozi- 
jar. Em  (|ue  ha  regozijo,  precedido  d'el- 
le.  —  Dia  regozijado.  —  Sardo  regozija- 
do.—  7•\\«^f  regozijada.  _ 

REGOZIJAR,  r.  a.  Produzir,  causar  re- 
gozijo. —  Este  dia  regozija. 

Tem  isto  grão  magestadc  ; 
por  certo  que  rfijozija 
pêra  qvie  é  senão  verdade. 
Isto  ó  bom,  citk  st^vero. 

AXTOKio  PRESTES,  ACTOS,  pag.  T5. 

—  Regozijar-se,   v,  refi.  Ter  regozijo,      ^1 
gosto,  prazer.  —  «  A  tua  rigorosa  aosen-       ■ 
cia  iquem  me  diz,  que  n.lo  será  eterna'' 
nada  desfalca  dos  impulsos  do  meu  amor; 

e  quero  que  todo  o  mundo  saiba,  que  não 
faço  mvsterios  delle,  antes  me  regozijo 
de  quanto  contra  o  civil  decoro,  a  ten 
respeito  fiz ;  nem  minha  honra,  nem  meus 
scrupiilos  emprego  senào  em  te  amar  os- 
tremecidamente  a  minha  vida  toda,  visto 
que  por  ti  comecei  a  tomar  liçSes  de 
amor.»  Frar.cisco  Manoel  do  Nascimen- 
to. Successos  de  madame  de  Seneterre. 

REGOZIJO,  .«.  m.  Cousa  que  se  faz  por 
divertimento  c  festa. 


REGR 


REGR 


REGR 


165 


—  Gosto,  prazer,  alegria  causada  por 
festas,  joíTOS,  brincadeiras  e  bailes. —  «A 
qual  nós  vimos  muvtas  vezes  nesta  cida- 
de em  festas  notáveis  que  esta  gente  cus- 
tuma  fazer  em  alguns  dias  abalisados  do 
auno,  em  que  teui  muytos  regozijes  e 
passatempos,  porem  ao  modo  gentilico, 
quais  saò  todos  os  seus  custumes.»  Fer- 
não Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap. 
124.  —  «  ElRev  se  despeuiu  de  Rólim  já 
sobola  tarde,  e  veyo  dormir  á  Cidade,  e 
como  ao  outro  dia  foy  maahàa  separtiu 
para  a  Cidade  de  Pegú,  que  estava  dalli 
dozoyto  legoas,  aonde  chegou  ao  outro 
dia  com  duas  koras  da  nojte  sem  rego- 
zijo, nem  fausto  nenhum,  por  mostiar 
sentimento  pela  morte  do  Róliia  passado, 
de  que  se  dizia  que  fora  muyto  devoto.  »• 
Ibidem,  cap.  169. 

REGOZILHO,  s.  m.  Yid  Regozijo. 

REGRA,  s.  f.  Preceito  que  ensina  a  fa- 
zer alguma  cousa.  —  A  regra  que  ensina 
a  contar  —  «E  com  dizerem,  que  se  ar- 
riscaõ  a  perder  mais  nos  duzentos,  gual- 
dripaõ  os  cento,  a  que  chamamos  meuos, 
e  ticaò  muito  serenos  na  consciência,  pela 
regra  dos  contratos  onerosos ;  como  se  no 
seu  houvera  algum  risco  quando  elles  tem 
todo  o  jogo  na  sua  maò,  e  baralhaõ  as 
cartas,  e  fazem  a  que  querem  à  dtxtris, 
c  à  sinistris.t  Arte  de  furtar,  cap.  2õ. 
—  «Se  he  Letrado,  todas  as  regras  da 
Politica  vaõ  dar,  em  que  favoreçaõ  as 
letras,  que  tudo  o  mais  é  aire :  Se  pro- 
fessa armas  o  Autor,  lá  arruma  tudo 
para  Marte,  e  Belona,  e  deixa  tudo  o 
mais  á  porta  inferi.  E  se  he  Fidalgo, 
tudo  apoya  para  nobreza,  e  que  tudo  o 
mais  he  vulgo  inútil,  de  que  se  não  deve 
fazer  conta.»  Ibidem,  cap.  60.  —  «Saò 
as  regras  da  milicia  muito  ajustadas  com 
o  bem  publico  ;  e  se  os  Cabos  (que  sem- 
pre sáõ  homeus  escolhidos)  as  fizerem 
guardar,  como  tem  de  obrigação,  tam- 
bém os  soldados  fazem  a  sua,  de  anda- 
rem compostos,  ou  por  medo,  ou  por  pri- 
mor.» Ibidem,  cap.  68. —  «A  tal  sen- 
tença digo  ser  confirmada  no  Ceo,  se  o 
confessor  a  deu  prudentemente  e  como 
Deus  manda,  porque  se  elle  deu  tal  sen- 
tença sobre  o  peccador  obstinado  que 
nam  estaa  emmendddo,  nem  arrependido 
de  seus  peccados,  nam  he  valiosa  a  tal 
sentença,  nem  he  confii-mada  no  Ceo : 
porque  vay  contra  regra  que  o  supremo 
luyz  lESV  Christo  nosso  Senhor  deixou 
a  seus  Vigayros,  que  sam  os  confesso- 
res.» Frei  Bartholomeu  dos  Martyres, 
Catecismo  da  doutrina  christã,  liv.  1. — 
4  Quem  duvida  se  deve  muito  maior  agra- 
decimento ao  medico  que  nos  dá  regras 
pai'a  nào  perder  a  saúde,  que  ao  que  nos 
dá  mezinhas  para  que  depois  de  perdida 
possamos  cobral-a.»  Francisco  Manoel  de 
Mello,  Carta  de  guia  de  casados.  —  «Das 
quatro  exposições,  sõ  a  de  Ale,  diflere 
mais  das  outras  três,  por  ter  muvtos  ar- 
tigos, regras,  capitolos,  e  preceptos,  muy 


dessemelhantes  dos  outros.  Desta  fonte, 
e  origem  procede  a  gi-ande  corrente  de 
ódios,  e  guerras,  que  ha  entre  Turcos,  e 
Persas  tendose  huus  aos  outros  por  He- 
reges.» Fr.  ÍTaspar  de  S.  Bernardino, 
Itinerário  da  índia,  cap.  20. 

—  O  que  está  disposto  na  lei,  ou  uso, 
em  opposiçào  á  excepção.  —  «Os  feitos, 
que  nas  terras,  ou  perante  o  Arraby 
Moor  forem  ordenados,  mandamos  que  se 
tenha  em  elles  tal  regra,  a  saber.»  Ord. 
Affons.,  liv.  2,  tit.  81,  §  30.  —  «Que 
fizeras  por  ter  exceiçaõ  que  oppor  a  esta 
regra?  naô  ha  duvida  que  fizeras  da  tua 
parte  todo  o  possível.  Pois  nào  te  pedem 
que  faças  senaò  o  fácil,  e  raciona vel.» 
Padre  Manoel  Bernardes,  Exercícios  es- 
pirituaes,.part.  1,  pag.  402. —  «Sou  do 
mesmo  parecer,  e  assento  em  que  he  re- 
gra admirável  ler  os  discursos  em  vozes 
altas  depois  de  feitos,  consultando  os  ou- 
vidos sobre  aquillo  mesmo  que  os  olhos 
já  aprovarão.»  Ca valleiro  d'01iveira.  Car- 
tas, liv.  1,  n."  14. 

nem  com  fui-ào  ih  "a  acharão. 
Na  sentença  voa  leixou  ? 
Na  tença  me  deu  de  mão, 
e  o  seu,  sem  regra  fica. 

AKTOsio  PKESTEs,  ACTOS,  pag.  187. 

Maa  por  vêso  á  regra  vossa 
que  já  em  mi  nào  farào  mossa 
passas  com  senhor  biscouto. 
IBIDEM,  pag.  189. 

—  Instituto  regular  religioso,  norma 
de  viJa  dada  pelo.s  instituidores.  —  «Pel- 
lo  qual  vos  encomendo  muytJ  que  va 
em  crecimento,  e  cumpraes  as  regras 
da  dita  confraria  e  vos  prezeis  muyto 
de  procuradores  da  honra  do  nome  de 
DEuS.»  Frei  Bartholomeu  dos  Marty- 
res, Catecismo  da  doutrina  christã. 

—  Entrar  em  regras ;  seguu-  a  lei  ou 
a  regra  geral.  —  Não  entrar  em  regra; 
não  seguir  a  lei  nem  a  ordem  geral,  mas 
sim  a  excepção. 

—  Nào  entrar  n'esta  regra ;  nào  abran- 
ger os  preceitos  d'ella  nisso,  que  se  diz 
não  entrar  n'ella. 

—  Regra  de  três ;  aquella  que  tem  por 
objecto  a  resolução  de  uma  questão,  de- 
pendente de  uma  ou  mais  proporções. 
Divide-se  em  simples  e  composta  /  sim- 
ples, quando  depende  de  imia  só  pro- 
porção ;  composta,  quando  depende  de 
mais. 

—  Regra  de  companhia ;  geralmente 
fallando,  é  a  que  tem  por  objecto  dividir 
um  numero  em  partes  proporcionaes  a 
outros  números  dados  :  e  commercialmen- 
te  fallando,  tem  por  objecto  dividir  a 
perda  ou  ganho,  resultante  de  uma  es- 
peculação, em  que  entraram  muitos  só- 
cios, e  proporciaimente  ás  suas  entradas, 
e  aos  tempos  d'essas  entradas.  Divide-se 
em  simples  e  composta.  Simples,   quando 


o  tempo   das   entradas  é  o  mesmo  ;  com- 
posta,  quando  é  difíerente. 

—  Regra  de  Juros;  aquella  que  tem 
por  objecto  achar  uma  das  quatro  quan- 
tidades, capital,  juro,  taxa  e  tempo,  sen-' 
do  dadas  as  outras  três.  Divide-se  em 
simples  e  composta :  simpleí;,  quando  o 
tempo  é  um  anno ;  composta,  quando 
o  tempo  é  mais  ou  menos  do  que  um 
anno. 

—  Regra  de  desconto ;  aquella  que  en- 
sina a  achar  o  desconto  ou  abatimento 
que  sofEi-e  a  importância  de  uma  letra  de 
cambio,  quando  se  antecipa  o  praso  do 
seu  vencimento.  Ha  duas  espécies  de 
regras  de  desconto,  a  saber:  para  dentro 
e  piara  fora. 

—  Regra  de  liga;  aquella  que  tem  por 
objecto  determinar  o  valor  de  toda  e 
qualquer  mistura  de  substancias  susce- 
ptíveis de  se  reunirem.  Pode  ser  directa 
e  inversa;  directa,  quando  sendo  dados 
os  valores  e  quantidades  das  matérias 
componentes,  se  quer  determinar  o  valor 
da  unidade  da  mistura ;  inversa,  quando, 
sendo  dado  o  valor  da  mistura,  e  egual- 
mente  os  das  substancias  componentes, 
se  quer  determinar  as  quantidades  d'es- 
sas  substancias. 

—  Regra  de  falsa  posição;  a  operação 
que  tem  por  fim  resolver,  simplesmente 
pelos  meios  arithmeticos,  todos  os  pro- 
blemas determinados  a  uma  só  incógnita, 
que  dizem  respeito  ás  quantidades  numé- 
ricas. Para  isto  subst;tua-se  pela  incógni- 
ta do  problema  dous  valores  tomados  in- 
teiramente ao  acaso,  que  em  geral  não 
satisfarão  á  condição  enunciada,  e  vendo 
as  difí"erenças  que  resultam  de  não  ser 
satisfeita  aquella  condição,  teremos  duas 
quantidades  expressas  em  números,  que 
se  chamam  os  eiTOs  das  falsas  posições ; 
erros  que  podem  ser  positivos  ou  nega- 
tivos. Feito  isto,  fórma-se  o  producto  do 
primeiro  erro  pela  segunda  hypothese, 
diminuído  do  producto  do  segundo  erro 
pela  primeira  hj-pothese,  e  dividindo  o 
resto  pela  diÔerença  dos  erros,  teremos 
o  valor  da  incógnita. 

—  Termo  de  náutica.  A  ração  ou  pi- 
tança,  que  se  dá  nas  naus. 

—  Uma  porção  de  escriptura  que  che- 
ga de  uma  margem  a  outra  em  uma  só 
linha,  ou  de  uma  margem  da  columna  á 
outra.  —  «E  quanto  he  aas  apellaçooens, 
façam-nas  todas  em  processo,  e  nom  em 
Estormentos  de  longo,  ainda  que  sejam 
tam  pequenas,  que  nom  passem  huma 
folha ;  e  fazendo-o  em  outra  guisa,  seja- 
Ihes  contada  a  dita  escriptui^a  aas  re- 
gras, como  em  processo,  e  o  mais  di- 
nheiro, que  for  achado,  que  levou  da 
parte,  façã-lho  tornar  em  dobro  :  e  esta 
pena  ajam  pola  primeira  vez,  que  esto 
fezerem,  e  por  a  segunda,  e  por  a  ter- 
ceira vez  tornem  os  dinheiros,  que  assy 
levarem.»  Ord.  Affons.,  liv.  1,  tit.  36, 
§  ã.  —  aE  assy  per  bordem,  e  regra  di- 


166 


RECíR 


REGU 


EEGU 


roita  o  assc-.iitciii  no  liiti»  livro,  pooiulo  a 
cni,  o  tempo,  oin  quis  lho  tbrain  outorfía- 
tl.ts ;  o  ai.iv  fayaõ  om  todala.s  outras  Ks- 
cripturas,  quo  aas  ditas  (Jida'lu-i,  Villas, 
c  IjiiiíanM  portooacorem.B  Ibidem,  liv. 
4,  tit.  24,  §  ii.  —  «i'or  ondo  mm  o  poi'- 
mitir  a  ventado  corte  o  entondiíiiento,  o 
que  mou  curto  eiifícuiio  iiilo  alcanya;  c 
se  ouuer  quem  jul^ií  tí^^tas  regras  por  cs- 
cusati,  tirando  o  nouoovro  da  (laixao  do 
ontcndiíuento  jnlfíue  qual  ho  inais.»  Fr. 
(laspar  de  8.  Bernardino,  Itinerário  da 
Ilidia. 

—  Menstruo  das  mullieres. 

—  Regra.  Vid.  Lesbio. 

—  Regra.^  Vid.  Régua. 

—  Regras;  taboas  em  (jue  corre  o  fer- 
ro de  aparar  os  livros. 

—  Moderação,  econou\ia,  jjareimonia. 
—  Despeiiiler  com  regra. 

REGRACIAR,  f.  «.  Tornar  a  agraciar, 
agraciar  si\^'unda  vez,  agraciar   de  novo. 

—  Agradecer  ntivamentc. 
REGRADAMENTE,  wlv.  (Ue  regrado,  c 

o  suflixo  «mente»).  De  um  modo  regra- 
do, com  regra.  —  Despender  regrada- 
mente. 

HEaRADO,  i>nrt.  [inas.  de  Regrar.  — 
Homem  regrado  ;  homem  económico. 

—  Temperado,  nmderado.  —  Comida 
muito  regrada. 

—  Vidii  regrada ;  vida  regulada  phy- 
slca  ou  moralmeiíto. 

—  Homem  regrado  ;  liomem  (pie  faz  as 
cousas  a  sou  tempo,  que  tem  as  suas  ho- 
ras certas  para  a  ordem  da  sua  vida. 

REGRADOR,  s.  m.  Ponteiro ;  instru- 
nientíj  para  regrar  papel. 

REGRAL,  adj.  2  gen.  Regular,  perten- 
cente :i  regra  c  ordem  monástica. 

REGRANTE,  pnrí.  act.  de  Regrar. 

—  l  'oncijo  regrante  ;  cónego  que  vive 
cm  eonuniiniilado  religiosa.  —  Os  cone- 
(/(«  regrantes  ile  Santo  Agoatinho. 

—  Regular. 

REGRÃO,  s.  7(1.  Angment.ativo  de  Re- 
gra, tirande  regra.  Vid.  Regrador. 

REGRAR,  i'.  rt.  Traçar  uma  linha  no 
papel  com  um  ponteiro  ou  lápis. 

—  Termo  .antiquailo.  Reger,  reinar, 
governar  lun  reino. 

—  Figuradamente  :  Regrar  o  papel  com 
pauta ;  imprimir  as  liniias  que  tem  a 
pauta  de  aramo,  ou  cordas  de  viola,  aper- 
tando o  papel  sobre  ellas. 

—  Regular,  moderar,  temperar.  —  «O 
acaso,  ou  antes  o  Oco  me  enviou  a  mi- 
nha Bemfeitora,  e  agora  é  que  conheço 
o  que  as  riquezas  valem:  Sim,  Madania, 
que  sereis  viSs  quem  me  ensine  o  moilo 
de  me  regrar  n'uma  situação  para  mim 
tão  nova.»  Fr.uiclsco  Jlanoel  do  Nasci- 
mento, Successos  de  madame  de  Sene- 
terre. 

—  Regrar  a  vida.  Vid.  Regrado. 

—  Regrar-se,  v.  rejl.  Regular-se,  mo- 
derar-se. 

REGRAXAR,  c  a.  Termo  de  pintura. 


I)Í7.-so  da  opcraçilo  da  pintura  para  ap- 
plicar  a  tinta  de  certo  modo. 

REGRESSÃO,  s.f.  (Do  latim  regreatio). 
Regres.io. 

REGRESSAR,  v.  n.  (Do  latim  regres- 
í:hiii,  i\r,  ici/nulior).  Voltar,  tornar  á  par- 
te, d'imde  sahiu. 

REGRESSO,  6'.  w.  'Do  latim  regresma). 
Tornada  atraz,  ao  logar  donde  aaliiu 
quem  r(;gressa. 

—  Regresso  do  que  era  religioso,  e  te 
secularisa;  volta  para  o  século. 

—  Loc. :  O  tempo  passado  não  tem  re- 
gresso ;  o  tempo  passado  não  torna  a 
passar. 

—  Termo  de  jurisprudência.  Acto  que 
.se  dá  contra  alguém,  por  quem  pagamos, 
como  se  faz  ao  iiador,  que  pagn  pelo  Ha- 
do,  que  se  dá  regresso  contra  este. 

—  O  impulso  (jue  faz  voltar  atraz. 

—  Regresso  ao  henejicio;  tornada  ou 
restituição  á  posse  d'elle. 

REGRETA,  s.  /.  Termo  de  impresscão. 
Peque  1  ia  legra  de  páo,  com  que  se  tiram 
as  letras  do  componedor. 

—  Serve  também  para  a  distribuição 
u  paginar. 

RÉGUA,  s.  /.  (Do  latim  regula).  Taboa 
estreita  e  plana,  terndnada  na  sua  lon- 
gura  por  duas  supcrticies  parallelas,  por 
meio  da  qual  se  traçam  linhas  rectas, 
com  la]iis,  (lu  tinta. 

REGUACHO,  s.  m.  Vid.  Recacho. 

REGUADEIRO,  s.  m.  Termo  antiquado. 
Arrecadador,  recebedor,  official  da  arre- 
cadarão de  alguns  direitos  reaes. 

REGUANTE,  ailj.  2  gen.  Termo  anti- 
quado. Regrante,  fallando-se  dos  cónegos 
regrantes,  e  que  vivem  nos  mosteiros,  e 
em  eonmium. 

REGUARDA,  s.  f.  Termo  antiquado.  O 
mesmo  que  retaguarda,  que  é  O  ultimo 
esquadrão  da  batalha.  N'elta  costumavam 
pôr  03  soldados,  de  que  se  fazia  menos 
confidencia.  —  «  As  bandeiras  dos  fidal- 
gos ally  na  avanguarda,  como  na  re- 
guarda,  nom  devem  ser  tiradas  das  fun- 
das, salvo  quando  for  tirada,  e  estendida 
a  nossa :  e  esta  nom  deve  secr  tirada,  e 
stendida,  salvo  ao  tempo  de  pelejar:  e 
quanto  aos  balsoõcs,  estes  podem  sempre 
hir  estendidos,  porque  tal  foi  sempre  a 
usança  da  guerra.»  Ord.  Affons.,  liv.  1, 
tit.  .-.1,  tj  •-'■-'. 

REGUARDAMENTO,  s.  m.  Attenção,  res- 
peito e  beneficio. 

REGUARDO,  s.  m.  Vid.  Resguardo. 

—  Segurai\ça,  clareza. —  «A  tempe- 
rança he  virtude,  e  muito  aplaz  em  todas 
as  cousas  :  o  trautarem  bouinamente  todo 
o  que  de  fazer  houverem  com  reguardo 
do  serviço  do  Rey  com  honesto  asscsse- 
go,  e  temperamento,  que  pareça  a  todos 
os  que  os,  virem,  que  teem  cuidado,  e 
sentimento  do  bem  obrai"em,  assy  acerca 
dos  feitos  do  Rey.  como  da  Repruvica.» 
Ordenações  Affonsinas,  liv.  1,  tit.  õO, 
§  13. 


Xam  Bcr  o  diantcyro, 

por  ra/nardo  dan  (lueixudaf. 


147. 


REGUATÃO.  Vi'l.  Regatào. 

BEGUATAR.  \'id.  Regatar. 

REGUÇAR,  1-.  «.  Tornar  a  aguçar, 
aguçar  de  novo,  aguçar  segunda  vez. 

REGUEIFA,  8.  /.  Rolo  ou  pão  do  beijo 
da  farinha. 

—  ]'ài>  lie  trigo  feito  em  rogea,  ou  de 
fiirma  orbicular,  a  que  ainda  em  algumati 
terras  da  jjrovincia  do  Minho  dSo  O  nome 
de  /".'/'";"• 

REGUEIFEIRA,  s.  f.  Amassadeira,  mu- 
lher que  outrora  se  occupava  em  amas- 
sar e  cozer  o  pão  para  a  ca.sa  e  famili'a 
real. 

—  A   mulher  que   faz   regaciísL»  ou  as 

VCTldi:. 

REGUEIME,  s.  m.  Vid.  Requeime. 
REGUEIRA.  Vid.  Rageira. 
REGUEIRO,  *.   m.  Sulco  j.or  onde  vai 
agua  de  regar. 

—  Armio.  Vid.  Rego. 

1.)  REGUENGO,  s.  /.  Com  este  nome 
se  di.stinguiu  desde  o  rei  das  Asturia-s  até 
ao  reinado  de  D.  Fernando,  toda  aquella 
terra  que  fizera  parte  do  património  real, 
Passando  á  corôa,  ou  por  direito  da  guer- 
ra ou  confiscação,  herança,  escambo,  etc, 
ficava  retendo  o  nome  de  reguengo,  como 
cousa  aftecta  ao  real  throno;  e  os  que 
n'ella  povoavam  e  residiam,  ficavam  res- 
ponsáveis das  jugadas  e  outros  foros,  em 
que  pelo  seu  foral,  couto  de  povoaç.no 
ou  prazo  se  haviam  compromettido.  De 
muitos  d'esse3  reguengos  fizeram  mercês 
03  nossos  augustissimos  soberanos,  dotan- 
do e  enriquecendo  igrejas,  mosteiros  e  os 
seus  fieis  vassallos;  mas  nos  que  actual- 
mente estão  na  corôa,  nem  clérigos,  nem 
ordens,  mosteiros,  fidalgos  ou  cavallei- 
ros  podem  iiaver  ou  ganhar  porção  al- 
guma; e  isto  já  desde  os  princípios  do 
reino.  Com  tudo  os  cistercienses  parece 
foram  dispensados  n'esta  lei,  ao  menos 
em  uma  grande  parte  do  seu  rigor. 

—  Deu-so  também  este  nome  ás  terras 
ou  logares  que  eram  do  património  real, 
como  por  innumeraveis  documentos  se 
poderia  mostrar;  mas  também  se  empre- 
garam para  explicar  os  foros,  direitos 
ou  regalias  que  em  qualquer  território, 
cidade,  villa  ou  couto  pertencia  á  co- 
roa. 

—  Nenhuma^mão  morta  pódc  ter  bens 
cm  reguengo,  ainda  que  pague  o  devido 
foro,  por  ser  contra  o  direito  commum  o 
particular  d'este  reino,  conforme  o  que 
se  accordou  entre  el-rei  D.  João  i  e  a 
cleresia,  nas  cortes  de  Santarém  de  1427, 
art.  30.°,  que  se  encontra  no  Código  Af- 
fonsino,  liv.  2,  tit.  7.  =  Em  Viterbo, 
Elucidário. 

•1.'  REGUENGO,  A,  adj.  Real,  realen- 
go cm  propriedade,  doação,  commiss.-ío 
como  o  mando,  encommcnda  que  el-rei 


HEGU 


REGU 


REGU 


167 


dava  aos  que  por  elle  tinham,  governa- 
vam e  defendiam  os  condados,  commen- 
das  e  quacs  terras  com  poder  judiciário, 
militar  e  econouiico.  'Vid.  Reguengueiro. 

■ —  Maçãs  reguengas  ;  niacãs  azedas, 
dos  termos  de  <  >biilos  e  Alcobaça. 

KEGUENGUEmO,  A,  adj.  De  reguengo. 

—  Homem  reguengueiro;  homem  que 
tom  alguma  herdade  de  reguengo,  e  mora 
dentro  n'ella;  eram  obrigados  a  pagar  o 
quarto  ou  oitavo.  Vid.  Jugada. 

—  Terra,  ou  hurdade  reguengueira;  a 
que  c  reguengo  propriamente. 

REGUINGOTE.  Vid.  Rediugote. 
REGULAÇÃO,  s.  /.  Acçào  reguladora. 

—  Regulamento,  ordem  estabelecida, 
conforme  a  qual  se  deve  fazer  alguma 
cousa. 

REGULADISSIMO,  A,  adj.  sup.  de  Re- 
gulado. Em  que  nada  ha  fora  da  devida 
ordem  ou  regra. 

REGULADO,  part.  pass..  de  Regular. 
Dirigido. 

— -Ser  mui  regulado  em  fazer  alguma 
cousa;  regular-se  muito  pela  lei,  regra. 

—  Regular,  conforme  á  regra. 
REGULADOR,  A,  s.  Pessoa  que  regula. 

—  Regulador  do  relógio.  Vid.  Pêndula. 

—  A'lj.  (^ue  regula,  que  regularisa. — 
Força  reguladora.  —  Mão  reguladora. 


Sc  não  prendera  a  mão  rerjnladora 
Do3  Elementos  a  discórdia,  c  gncrra, 
Então,  perdida  súbito  a  harmonia. 
Na  antiga  coufusào,  no  antigo  nada 
Tão  formoao  espectáculo  cahira. 

J.   A.   DE  MACEDO, -MEDITAÇÃO,  Cant.   2. 

Se  não  contem  a  mão  reguladora 
Dos  Elementos  a  discórdia,  e  gnorra, 
Eutào,  perdida  súbito  a  harmonia, 
Na  antiga  confusão,  no  antigo  nada 
Tão  formoso  Espectáculo  caliíra. 

IDEM,  A  NATUREZA,  Caut.   2. 


REGULAMENTAR,  adj.  2  gen.  Da  na- 
tureza de  regulamentos,  de  leis  particu- 
lares. 

REGULAMENTARIO,  A,  adj.  O  mesmo 
que  regulamentar. 

—  Systema  regulamentario ;  diz-se,  á 
má  parte,  o  systema  dos  governos  que 
tudo  sujeitam  a  minuciosos  regulamentos, 
vexativos  á  liberdade  coramercial,  indus- 
trial, etc. 

REGULAMENTO,  s.  m.  Código  de  leis 
militares  em  fu-ma  legislatoria ;  no  que 
diverge  das  leis,  ou  ordenações  extrava- 
gantes, regimentos,  etc. 

—  Lei  particular. 

1.)  REGULAR,  adj.  2  gen.  (Do  latim 
reguhiris).  Conforme  ás  regras  naturaes. 
—  O  Jla.vo  e  rejíuxo  do  mar  tem  seus  pe- 
r iodos  regulares. 


No  Firmamento  súbito  so  espalha 
Nova  luz,  nova  pompa  ;  ao  longe  os  Globos 
Formão  cm  torno  dV.ilc  o  gyro  ctcruo, 
Que  incessante  produz  a  opposta  força. 


O  Sol  os  charama  a  si,  do  Sol  se  apártão, 
E  assim  descrevem  rer/idures  curvas. 

J.    A.    DE    MACEDO,    MEDITAÇÃO,    Caut.    4. 

Pelo  espaço  s'cstende,  o  espaço  cinge 
No  portentoso  circulo,  que  forma  ; 
Doze  porções  iguacs  marcào  acns  signos. 
Por  onde  03  olhos  crêm  que  o  Sol  brilhante 
Absolva  a  regular  supposta  marcha ; 
Ao  longe  os  claros  Ceos,  ao  longe  o  Espaço 
Mil  thesouros  do  luz  guardão  no  seio. 


Sonha,  inventa,  animoso  oppostas  forças, 
Da  fuga  da  tangente  os  Globos  tirão, 
E  a  curva  regular  descrevem  sempre, 
Dá-lhes  por  centro  o  Sol,  e  o  Sol  abrange 
Dentro  cm  seu  turbilhão  Astros  menores. 

IDEM,  A  KATCREZA,  CaUt.   1. 

—  Conforme  ás  regras  convencionaes. 
—  Um  edificio  regular. 

—  Termo  de  musica.  Diz-se  de  tudo  o 
que  está  incluido  nas  regras  e  nos  justos 
limites,  ou  que  segue  uma  progressão 
uniforme.  —  Cadencia,  marcha  regular. 

—  Termo  de  grammatica.  Verbos  re- 
gulares ;  aquelles  que  seguem  na  forma- 
ção dos  seus  tempos,  as  regras  geraes  da 
conjugação. 

—  Nomes  regulares ;  diz-se  dos  nomes 
gregos,  latinos,  etc,  que  seguem  uma 
das  declinações  ordinárias. 

—  Termo  de  geometria.  Figura  regu- 
lar; aquella  de  que  todos  os  lados,  e  to- 
dos os  ângulos  são  eguaes.- 

—  Corpos  regulares ;  os  sólidos,  cujas 
superiicies  são  compostas  de  figuras  re- 
gulares. 

—  Termo  de  mineralogia.  Diz-se  do 
prisma  cuja  copa  perpendicular  ao  eixo 
é  um  hexágono  regular. 

—  Termo  de  botânica.  CoroUa  regu- 
lar ;  corolla  symetrica  de  uma  certa  es- 
pécie, de  que  todas  as  partes  são  syme- 
tricas  com  respeito  ao  eixo. 

—  Diz-se  do  pulso,  quando  apresenta, 
entre  suas  pulsações,  intervallos  peifei- 
tamente  eguaes. 

—  Termo  de  chronologia.  Numero  re- 
gular ;  diz-se  dos  liumeros  mensaes  que 
se  ajuntam  á  epacta  do  anuo,  para  achar 
em  que  dia  de  semana  cáe  o  primeiro 
dia  de  cada  mez.  Os  doze  regulares  so- 
lares são:  2,  5,  5,  1,  3,  6,  1,  4,  7,  2, 
õ,  7. 

—  Regular  lunar;  diz-se  dos  números 
mensaes  que  se  ajuntam  á  epacta  do  an- 
uo, para  conhecer  em  que  dia  da  lua  cáe 
o  primeiro  dia  do  mez.  Os  doze  regula- 
res lunares  são:  9,  10,  9,  10,  11,  12, 
13,  14,  16,  16,  18,  18. 

—  Bem  proporcionado.  —  FeiçTies  hei- 
las  e  regulares. 

—  Que  se  conforma  com  os  deveres 
da  moral,  fallando  das  pcsíoas.  —  Almas 
regulares. 

—  Diz-se  também  das  cousas.  —  Cos- 
tumes regulares. 

—  Exacto,  pontual. 


—  Diz-so  em  opposição  a  secular,  fal- 
lando das  ordens  religiosas.  —  Cónego  re- 
gular. —  «  Soube-se  no  Santo  officio.  Um 
inquisidor,  nosso  amigo,  escreveu  ao  ge- 
ral que  mandasse  aquoUe  padre  para  o 
Brazii.  O  mesmo  íavor  se  fez  a  um  có- 
nego regular,  sendo  geral  meu  tio  D. 
Pedro  da  (iloria.»  Bispo  do  Grão  Pará, 
Memorias,  publicadas  por  Camillo  Cas- 
tello  Branco,  pag.  90. 

—  Movimento  regular ;  movimento  uni- 
forme. 

2.)  REGULAR,  v.  a.  (Do  latim  regula- 
re).  Regrar,  dirigir. 

—  Emprcga-se  também  figuradamen- 
te. 

—  V.  n.  Andar  regular. 

—  Andar  certo,  exacto, 

—  Servir  de  norma,  de  regra. 

—  Regular-se,  v.  refl.  Dirigir-se,  go- 
vernar-se,  reger-se. 

—  Regrar-se. 

REGULARIDADE,  s.  f.  (Do  latim  regu- 
laris,  com  o  sufBxo  «idade»).  A  qualidade 
do  que  c  regular.  —  ^1  regularidade  do 
curso  do  sol. 

—  Termo  de  geometria.  Regularidade 
numa  figura;  egualdade  de  todos  os  seus 
lados  e  de  todos  os  seus  ângulos. 

—  Proporção,  harmonia. 

—  Exacta  observação  dos  deveres. 

—  Conformidade  com  as  regras.  —  A 
regularidade  de  um  processo,  de  um  edi- 
ficio, de  uma  tragedia. 

—  Particularmente,  exacta  submissão 
ás  regi'as  de  uma  ordem  religiosa.  —  Os 
monges  vivem  na  regularidade. 

f  REGULARISADO,  part.  pass.  de  Re- 
gularisar. 

f  REGULARISAR,  v.  a.  Tornar  a  re- 
gular o  que  não  é  conforme  ás  regras. — 
Regularisar  uma  despeza. 

REGULARMENTE,  adv.  (De  regular, 
com  o  sufíixo  « mente  »\  De  um  modo 
regular.  —  Viver  regularmente. 

—  Exactamente,  pontualmente,  uni- 
formciiiento.  —  Jantar,  trabalhar  regu- 
larmente. 

—  Por  via  de  regra,  ordinariamente, 
commummente.  —  « As  da  entrada  da 
Cidade  eram  da  Alfandega,  que  regu- 
larmente naquelle  tempo  andava  em  cem 
xarafins,  que  são  da  nossa  moeda  trinta 
contos,  e  as  outras  da  Cidade  andavam 
em  quarenta  e  hum  mil  e  trezentos  xa- 
1  afins.»  João  de  Barros,  Década  2,  liv. 
10,  cap.  7. 

—  Periodicamente,  sem  interrupção, 
ou  varie  lade.  —  «  E,  bem  qiie  coxo,  sobe 
accelerado  ao  Olympo,  chega  lavado  em 
suor,  e  coberto  de  negra  poeira  á  assem- 
bleia dos  deuses,  a  quem  faz  amargos 
queixumes.  Júpiter  agastado  contra  Apol- 
lo,  arroja-o  do  Olympo,  e  o  despenha  na 
terra.  Sua  carroça  dava  por  seu  instincto 
o  quotidiano  gyro,  distribuindo  regular- 
mente aos  mortaes  os  dias,  as  noites,  e 
o  alternado  das  estacões.»  Francisco  Ma- 


168 


ILKIIA 


REI 


REI 


110(1  d»  Níit<cinicnto,  Aventuras  de  Tele- 
maco,  liv.  ■_'. 

REGULINO,  A,  ailj.  Tmiio  antifíd  de 
cliiiiiica.  (^110  tom  o  cíir.ictcr  <lc  mu  re- 
piilo,  ou  i|iK)  diz  rc.s|ioit(i  il  |iarto  piira- 
iiioiito  mctallicii  (te  um  wcnii-metal.  —  O 
enfdil.d  regulino  '/«  mu  vikIhI  <■  um  estado 
de  pnrrzii  /ifrjuili). 

REGULO,  "í.  iii.  (Do  latim  reijulus).  Rei- 
siiilio,  j)o(|iiciio  roi. 

—  Nomo  ([uc  antigos  chimicos  ciavam 
ils  sulutaueias  mctallicas  níSo  ductis  ex- 
trahida^  dos  niineraes. 

—  Regulo  do  aiitinwiiiu ;  nntimonio 
]>uro. 

—  Regulo  de  arsénico;  arfcuico  mctal- 
liuo,  ai-sfiiico  uefjro. 

—  Regulo  jovial;  liga  d'antimonio  com 
cstanlio. 

—  Regulo  de  Vénus;  liga  do  antimonio 
c  do  cobro. 

—  Basili.^^co. 

—  Estrella  de  primeira  grandeza,  que 
faz  jyarto  da  conte! lacção  de  Leo. 

REGURGITAÇÃO,  s.  /.  Acção  pela  qual 
um  canal  uu  um  reservatório  se  desem- 
baraça das  matérias  que  alii  se  amon- 
toam, e  que  reHuem  por  sua  abertura. 

—  Tormo  de  medicina.  Vomito  natu- 
ral e  de  nenhum  moilo  penoso,  pelo  qual 
a  creança  rejeita  por  gides  os  alimentos 
que  sobrecarregam  seu  estômago. 

—  jModo  de  digestiva  privativa  dos  ru- 
minantes, pelo  qual  os  alimentos  são  me- 
xidos para  serem  mastigados,  e  engulidos 
segunila  vez. 

REGURGITADO,  pnvt.  pass.  de  Regur- 
gitar, t-iue  saiu  outra  vez  pela  garganta, 
ou  bocca  por  onde  entrou,  por  não  ca- 
ber dentro. 

REGURGITAR,  v.  a.  Termo  de  medici- 
na. Fazer  sair  o  nuiito  clieio  pela  aber- 
tura de  um  canal,  de  um  reservatório. — 
O  doente  regurgitava  alimentos  mal  dige- 
ridos. 

—  V.  n.  Sair,  ou  trasbordar  do  vaso  o 
licor,  que  i:i  não  cabv  n'ellc. 

REGYRÀR.  Vil.  Regirar. 

REHABILITAÇÃO,  a-./'.  (  1)c  rehabilitar, 
com  o  suffixo  «ação»'i.  Termo  de  juris- 
prudência. Acção  de  rohal)ilitar. 

—  Rostabolocimento  ao  primeiro  es- 
tado. 

—  <>  acto  do  tornar  a  ser  habilitado. 
REHABILITADO,  part.  pass.  de   Reha- 
bilitar. —  l'iii  jidaltjú  rehabilitado. 

REHABILITAR,  r.  (T.  Termo  de  Juris- 
prudência. Restabelecer  alguém  n'uni  es- 
tado, nos  direitos  e  prerogativos  do  que 
decahiu. 

" — Figuradamente:  Fazer  recobrar  a 
estima,  a  consideração.  —  Este  acto  reha- 
bilitou-o  na  opinião  publica. 

—  Rehabilitar-se,  v.  refl.  ( tbtcr  uma 
re'vabilit,ioào.  —  Este  fallido  rehabili- 
tou-se. 

REHAVER,  V.  a.  Tornar  a  haver. 

—  Tornar  a  recuperar  o  perdido. 


REI,  «.  m.  (Do  latim  rej"}.  Chefe  Bobo- 
rano  de  cftrtos  (estados.  —  «  E  com  pare- 
cer de  iVimalião  e  alguns  iirincijics,  que 
na  corto  estavam,  iletorminou  mandal-a 
ao  gram  turco  acompanhada  d'cl-rei  i'»- 
Icndos  o  outroH  cavalleiros  de  gram  pre- 
ço.» Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  de 
Inglaterra,  cap.  Sín.  —  «(írandes  mudan- 
ças tem  o  tempo  o  a  aventura :  e  pois 
elles  com  suas  obras  nos  ensinam  a  ser- 
mos confiados,  sinta  cada  um  que  na 
força  do  maiores  dcsaveuturas  devemos 
ter  esperança  de  algum  bem,  pêra  não 
cahirmos  em  tal  desesperação,  que,  além 
de  perecer  o  corpo,  jiercamos  a  alma, 
que  Deos  criou  pêra  outro  fim:  por  toda 
a  cidade  se  faziam  festas  de  muitas  in- 
venções e  galanterias  inventadas  de  povo 
contente  e  amigo  de  seu  rei,  que  quando 
assim  o,  é  incansável  nas  cousas  de  seu 
gosto.»  Ibidem,  cap.  lõií.  —  «A  terceira 
Estrcllante,  rei  d'Ungria,  com  outros  tan- 
tos. A  quarta  Albanis,  rei  (h'  Frisa,  com 
dous  mil.  A  quinta  Drapos,  duque  de 
Normandia,  com  outros  tantos.  A  sexta 
D.  Duardos  com  toda  a  outra  gente.» 
Ibidem,  cap.  1()8. 

>riinda  mais  hum  nn  pvíxtic.i  cloíiantc, 
Que  CO 'o  rei  nobre  as  piizcs  ooiicertaaso ; 
K  quo  de  não  saliir  nai|iii'lli'  instante 
De  suas  uaos  cm  terra  o  desculpasse. 
Partido  assi  o  embaixador  prestante, 
Como  na  terra  ao  rei  se.  apresentasse. 
Com  cstylo  que  Palias  lhe  ensinava, 
Estas  palavras  tacs  fallaudo  orava. 
c.^M.,  Lus.,  cant.  2,  est.  78. 

Ajuntii-se  a  inimiga  multidão 
Das  soberbas  c  varias  fçentes  d"ella, 
Desce  Cadi.x  ao  alto  Pyreneo, 
Que  tudo  ao  rei  Fernando  obedeceu. 
IB1DE.M,  cant.  -i,  est.  57. 

D'c3ta  sorte  o  judaico  povo  antigo 
Não  tocsiva  na  gente  de  Samaria  : 
Mais  c.ttranhezas  ainda  das  que  digo 
N'câta  terra  vereis  de  usani;a  varia : 
Oâ  Naires  sós  são  dados  ao  perigo 
Das  armas,  sós  defendem  da  contraria 
l?anda  o  seu  rei.  trazendo  sempre  usada 
Na  esquerda  a  adarga,  c  na  direita  a  espada. 
iBiDF.M,  cant.  7,  est.  39. 

Não  vês  um  ajuntamento,  de  estrangeiro 
Trajo,  sair  da  grande  armada  nova, 
Qne  ajuda  a  combater  o  Jiei  primeiro 
Lisboa ,  de  si  dando  aauctíi  prova  ? 
iBu>EM,  cant.  8,  est.  18. 

—  «Como  foram  o  de  .langomá,  Prom, 
Tangut,  Arracaõ,  Uvá,  e  Siaií,  esto  ulti- 
mo por  mais  poderoso,  e  o  de  Ová,  como 
Príncipe,  de  cuja  geração  vinham  os  Reis 
Bramas  de  Pegú ;  os  outros  pontos  do  seu 
dircyto  nas  armas,  que  de  ordinário  o 
costumam  dar  a  (piem  as  tom  melhores.» 
Conquista  do  Pegú,  cap.  õ.  —  «Pouco 
tempo  delíeis  das  cortes  acabadas,  e  es- 
tando inda  cl  Rei  cm  Lisboa,  chegou  a 
elle   hum    familiar  do   Papa   Alexandre, 


pelo  qual  fparece  que  por  ihe  gratifi- 
car has  bfiM  amo(í-tta(;õc.s,  que  lhe  fe- 
zcra  per  seus  embaixadores i  IIkí  nianda- 
ua  huuia  espada,  e  Imuia  carajiuça  forra- 
ila,  jicças  que  em  dias  orderiado.s  ao  tal 
aiicto,  hos  i'apiiA  benzem,  c  mandaQ  por 
honra  ao»  Emj)cradore8,  Reis,  e  Prínci- 
pes Ciiristãos.i  Dami.^o  de  (íoi-j*,  Chro- 
nica  de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  iJ4. — 
«De  que  logo  fez  ItT  a.H  scritJin  em  Aia- 
bigi',  (í  nio.-^trou  {.'rai"í  contentamento  do 
conthcu(lo  nelljL-i.  fazendo  grandes  offere- 
eimr-ntiis  a  PedralurfiS,  dizendolbe  (|ne 
dalli  j)or  diante  elle  se  tinha  por  irmaõ, 
e  alliado  dei  Rei  de  Portugal,  e  que  em 
ter  hum  taõ  grande,  e  poderoso  por  ir- 
niaò,  o  amigo  so  tinha  por  mui  ditoflo  nis- 
to, e  em  outras  praticas  e*tiuerai»  hum 
bom  pedaço.»  Ibidem,  cap.  57.  —  «Hu- 
ma  das  cousas  que  mais  espantou  desno 
tempo  que  comecei  a  renoluer  liuros  foi 
a  demasiada  negligencia  dos  Chronistait 
destes  regnos,  e  dos  que  escreueram  o» 
liuros  das  linhagens  no  quo  toca  ha  pro- 
genia  dos  Reis,  assi  da  parte  dei  Rei  dom 
Afonso  Anrriquez  primeiro  Rei  de  Por- 
tugal, como  da  Rainha  donna  Maphalda 
sua  molher.»  Ibidem,  part.  4,  cap.  71. 
—  «Era  el  Rei  D.  Atfonso  de  proporcio- 
nada estatura,  de  excellente  presença, 
alvo,  olhos  azues,  perfeito  nariz,  cabei- 
lo  louro,  o  comprido,  e  de  grande  memo- 
ria, de  que  fez  em  algumas  occaaiõea  no- 
táveis provas.»  Fr.  Bernardo  de  Brito, 
Elogios  dos  reis  de  Portugal,  continua- 
dos ])or  D.  José  Barbosa.  —  «Teve  mais 
a  Infante  D.  Britis,  que  ciísou  com  Car- 
los Duque  de  Sabóia  Príncipe  de  Piamon- 
te,  de  que  nasceo  ilanoel  Filisbcrto,  que 
casou  com  Madama  Margarita  tilha  dei 
Rei  Francisco  de  França,  e  delle^  o  Du- 
que Emnianuel,  que  hoje  possue  o  esta- 
do.» Ibidem.  —  «Que  em  seus  braços  es- 
tava salvar  a  honra  de  seu  Rei,  vingar 
seus  companheiros,  e  deixar  de  si  no 
Oriente  huma  clara  memoria;  que  das 
mercês  do  Soltào  estivessem  seguros,  por- 
(|ue  havia  de  premiar,  e  contar  huma  a 
huma  as  feridas  de  todos:  que  se  algum 
se  atrevia  a  governar  o  bast-ío  de  Gene- 
ral, promettia  como  soldado  ser  o  primei- 
ro que  sobisse  no  niurrj.»  .Tacintho  Frei- 
re de  .\ndrade.  Vida  de  D.  João  de  Cas- 
tro, liv.  '2. 


Km  cjisa  deste  Jtri.  que  .7  binta  altura 
D'buni  est«do  tão  baixo  o  alovantára. 
Se  mostrou  a  fortuna  de  mais  dura 
Do  que  cm  toílas  «s  outras  se  mostrara : 
Mas  como  nenliuma  ha  lirrae  e  si-pura. 
Aqui  lhe  deu  o  fim  quo  lhe  guardara. 
Digno  d"hum  infiel,  malvado  espríto, 
Como  esiwro  que  avante  s<'ja  dito. 

FRANCISCO  i>'asi>r.vi>k,  prixeibo  ctuico  di  div, 
<y»nt.  2,  est.  90. 

Nem  paga  o  triste  liei  s<5  com  a  vid». 
Que  este  s«'>  da  crueza  foi  o  eífeito. 
A  cubi(,-a,  de  bens  que  he  ai  homicJda. 
Também  quer  sua  parte  ncato  feito : 


REI 


REI 


KEI 


169 


Lozo  a  Cidade  a  saque  foi  mettida 
l/om  tal  desejo  em  todos  de  proveito 
Que  nem  a  pobre  presa  nella  fic-a 
Quanto  mais  oaro,  prata,  e  a  jóia  rica. 
IBIDEM,  cant.  13,  est.  14. 


Jrm.     Quem  está  aqui  ? 

J/oç.     Xós  por  agora. 

Irm.     Sois  nós  el  Reif  ora  embora, 
ainda  ha  pé  n"e3ta  casa 
d"esta  tào  gentil  senhora  : 
seute-se  vossa  mercê. 

AKTOXIO  PKESTES,  AUTOS,  pag.  215. 


—  «O  snr.  D.  João  v  nào  gostava  do 
estvlo  de  Vieira;  e  ao  desembargador  Ba- 
calliau,  muito  apaixonado  d'aquelle  ora- 
dor, dizia  o  rei:  «Também  gostas  de  tri- 
que-traques?»  Bispo  do  (Trào  Pará,  Me- 
morias, publicadas  por  Camillo  Castello 
Branco,  pag.  148. 

Galardão,  não  o  queres.  — Fui  ingrato 
Eu,  fui !  Ingrato  re/,  ingrato  amigo. 
E  a  quem !  —  Maiores  de  meu  sangue  ainda 
Ingratos  nascerão.  Tu  serve  a  pátria  •, 
E"  teu  destino  celebrar  seu  nome. 
G.iKBETT,  CAMÕES,  cant.  3,  cap.  21. 

—  Figuradamente :  Viver  como  rei ; 
fazer  uma  despeza  de  rei,  viver,  despen- 
der magnificamente. 

—  O  rei  marinho  ;  o  rei  que  governa 
no  mar;  Neptuno. 


Vendo  o  marinho  Rei  em  tempo  breve 
Desfeitos  os  estrondos  furiosos. 
Com  que  o  cerúleo  mar  fazem  de  neve 
Os  montes  d"agua  erguidos  e  escumosos, 
Pelas  ondas  meneia  o  carro  leve 
Tirado  dos  cavallos  escamosos, 
E  dirá  isempto  ja,  de  prazer  cheio 
Ao  logar  se  recolho  donde  veio. 

FBASCISCO  d'a>;DKADE,  PBIUEIBO  CEBCO  de  DIU, 

cant.  -i,  est.  33. 


Vai-se  logo  o  subtil,  leve  na\-io 
Lá  contra  aquelles  tristes  caminhando 
Que  co'a3  mãos  o  coos  pés  o  senhorio 
Andào  do  Rei  marinho  indo  apartando, 
Por  fugirem  da  Parca  que  ja  o  fio 
Subtil,  para  o  cortar.  Ih  anda  buscando. 
Mas,  tristes,  que  fugis?  que  a  Parca  fera 
N 'outro  maior  perigo  vos  espera. 
IBIDEM,  cant.  18,  est.  48. 

—  O  rei  da  creaçào;  o  homem. 

Se  as  sopêa  a  Razão,  se  a  Graça  as  vence 

I  Si5  ella  a  Xatureza  apei-feiçôai 

São  canáes  da  ventura,  á  vida  servem : 

Assim  sujeitas,  e  concordes  erào 

Do  primeiro  mortal  no  peito  ingénuo, 

Xo  estado  da  innocencia,  antes  que  a  Culpa 

Do  Rei  da  Creaçào  fizesse  hum  servo. 

3.   A.   DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO. 


—  Ter  palavra  de  rei ;  n,^o  desdizer  o 
que  uma  vez  disse. 
^Reis  esci-avos. 
voL.  v.  — ^22. 


Este  horroroso  escândalo  do  Mundo, 

Este  crime  de  purpura  vestido. 

Que  até  de  escravos  Reis  tributo  esige. 

J.    A.   DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Cant.   4. 


—  Ter  jyalavra  de  rei  ;  cumprir  fiel- 
mente o  promettido. 

—  O  mais  forte  e  principal.  —  O  leão 
ê  o  rei  dos  arúmaes. 

—  Peixe  rei;  peixe  como  o  salmão,  ou 
truta ;  tem  a  barriga  e  lados  argentados 
e  luzentes;  a  carne  cheira  a  violeta,  etc. 

—  Figuradamente :  Rei  c/e  si  mesmo  ;  o 
senhor  das  suas  acções  e  paixi5es  para  as 
reger  bem. 

—  O  rei  africano;  o  rei  da  Africa. 


Era  fim  chegado  com  dito.so  auspicio 
As  melindanas  praias,  aqui  finda 
O  illustre  Gama  a  narração  pedida. 
Ja  pazes  firma  c  alliança  amiga 
Com  o  africano  rei;  e  alfim  nos  mares 
Indicos  voga,  demandando  a  terra 
Que  desejada  ja  de  tantos  fc5ra. 
GARBETT,  CAMÕES,  cant.  8,  cap.  11. 


—  Julgar  Eoma  os  reis  da  terra;  tor- 
nar-se  Roma  a  superior  de  todas  as  na- 
ções, attribuindo  a  si  a  prepotência  sobre 
os  reis  das  outras  nações. 

Julgar- te  !  Quem,  aqui  ?  —  Ja  houve  tempo 
Em  que  Roma  julgava  os  reis  da  terra. 

GABKETT,  CATÃO,   act.    4,   SC.   4. 

—  Rei  conquistador;  rei  que  conquista 
muitas  terras. 


Ávidas  mãos,  do  abandonado  leme 
Validos  travam,  não  a  indereçá-lo 
Para  o  rumo  perdido :  mas  cubica 
Treda,  que  os  move,  a  syrthes,  a  naufrágios 
Desarvorada  a  nau  presto  arremessa. 
Em  suas  iras  de  flagello  aos  povos 
Dm  rei  conquistador  lhes  manda  o  Eterno. 
GARBETT,  CAMÕES,  cant.  6,  cap.  2. 


—  Rei  d' armas  ;  official  publico,  encar- 
regado de  escrever  as  genealogias  dos  no- 
bres, e  suas  allianças,  de  explicar  o  que 
toca  aos  brazões  d'ellas,  de  dar  cartas  de 
brazòes,  etc. 

—  A  qiw  d'el-Tei ;  locução  interjectiva, 
indicando  a  necessidade  do  soccorro  d'el- 
rei  ou  seus  subalternos. 


Proc.  Á  que  dei  Rei.  que  me  fórça 
o  senhor  dom  Braz,  que  quer 
fazer-me  sem  merecer 
procui-ador  pata  em  corça. 

AXTOsio  PBESTEs,  AUTOS,  pag.  155. 

—  A  festa  dos  reis  ;  é  no  dia  seis  de 
janeiro,  em  memoria  dos  três  reis  que 
foram  adorar  ao  menino  Jesus  em  Belem  ; 
é  conhecida  esta  festa  também  pelo  nome 
de  Epiphania :  por  esta  occasiào  cantam- 
se  os  7-eis  pelas  portas. 


—  El-Tei ;  o  da  teri*a  que  por  excel- 
lencia  firma  assim,  ou  o  da  nossa  terra, 
ou  d'aquella  de  que  falíamos.  —  «Onde  o 
o  Xeque,  ou  capitão  que  alli  estaua  por 
el  Rei  de  Ormuz  se  concertou  com  elle  ■ 
de  lhe  dar  mantimentos  de  graça,  e  que 
Afonso  Dalbuquerque  se  obrigasse  a  lhe 
nam  fazer  guerra  ate  assentar  seus  ne- 
gocies com  el  Rei.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  2,  cap.  21. 

—  «Os  outros  embaixadores  foram  dei 
Rei  de  Xarsinga  de  Calecut,  de  Cambaia, 
de  Vengapor,  de  Onor,  e  de  outros,  of- 
ferecendosse  todos  a  Afonso  Dalbuquer- 
que, pêra  o  que  lhe  delles  cumprisse,  de 
maneira  que  erão  tantos  os  embaixado- 
res, e  outras  pessoas  principaes  que  cada 
dia  vinhào  a  Goa,  que  parecia  ser  a  cor- 
te de  hum  gi-ande  Rei.»  Ibidem,  part.  3, 
cap.  16.  —  «Ja  fica  apontado  como  el 
Rei  dom  Emanuel  mandou  o  padre  loam 
de  sancta  Maria  da  ordem  de  saõ  loam 
dos  azues,  ao  regno  de  Manicongo,  com 
outros  religiosos,  e  clérigos  pêra  la  ensi- 
narem a  fe  de  ÍT.  Senhor  lesu  Christo 
aos  da  terra,  de  que  ja  eram  feitos  mui- 
tos Christãos,  e  a  pregarem  aos  que  ain- 
da o  não  erào.»  Ibidem,  part.  3,  cap.  37. 

—  «Finalmente  mouido  destas  praticas 
determinou  mandar  hum  embaixador  a 
Afonso  dalbuquerque  com  cartas  pêra  el- 
le, e  pêra  p1  Rei  dom  Emanuel,  cheas  de 
muitos  offerecimentos.»  Ibidem,  part.  3, 
cap.  ôS. —  «Xas  ancas  do  qual  hum  ca- 
çador Pérsio  leuaua  huma  onça  de  caça, 
que  lhe  mandara  el  Rei  Dormuz.»  Ibidem, 
part.  4,  cap.  84. 

—  Rei  do  dinheiro ;  no  jogo  da  gara- 
tusa,  é  o  que  não  tem  carga,  tendo-a  os 
outros  três,  e  assim  se  chama  rei  de  duas 
e  duas  cargas. 

—  Xo  jogo  do  xadrez,  rei,  é  a  princi- 
pal peça. 

—  Xão  ter  lei,  nem  rei,  Jiem  roque; 
diz-se  do  homem  livre,  que  não  tem  te- 
mor divino,  nem  humano. 

—  El-rei  meu  senhor;  formula  dos  reis, 
fallando  dos  pães  e  mães,  e  parentes  que 
forem  reinantes  ou  que  já  o  foram. 

—  Xas  cartas  de  jogar,  é  a  primeira 
das  três  figuras. 

—  Em  Portugal  dá-se  o  nome  de  rei 
ao  marido  da  rainha  soberana,  por  cair  a 
suceessão  em  fêmea. 

—  Parente  de  rei. 


Sabeis  vós  que  se  labuta 
parente  de  Rei  —  dinheiro, 
quem  nào  tem  —  filho  da  puta  ? 
O  que  não  sente  é  o  cego ; 
eu  sou  das  vossas  medalhas, 
mas  por  tirarmos  saralhas 
credo  que  não  faço  pego 
alli  a  lume  de  palhas. 

ASTOXIO  PBESTES,  AUTOS,  pag.  121. 

—  Rei  da  banda ;  o  perdigão,  que  é 
como  um  guia,  ou  chefe  dos  perdigotos 
de  algum  sitio.  Yid.  Garela. 


170 


REI 


REI 


KEIN 


—  Dii  rei;  roal. —  O  fazer  bem,  vir-, 
liuk  é  de  rei. 

—  Rei  do  jugo  de  preiulun ;  o  que  f^a- 
iihoii  o  Joj^o,  o  aoiitoncciii,  condoiiiiia  «os 
que  pordorauí,  8C}íun<lo  fia  leis  tios  jof^os. 

—  Um  rei  (^ue  lanihe  os  dedo»  ao  touci- 
nho. 


Não  80  choRuo  a  ouvir  meu  canto  cengo ; 
do  judicit  tiic  Df.iis  alf^iim  podoiigo  ; 

yiu!  «o  tom  movtiil  ódio 
Ao  Sariipati''!  qiio  é  pao  do  bródio, 

como  tiirào  caritilio 
a  um  rei  que  lambe  03  dedos  ao  toiciíilioV 

nl81'0  DO  OKÃO  I-AkX,  MEMOUIAS,  pag.  Hl). 


—  Coroar-se  rei ;  einpunliar  o  scoptro 
real,  subir  ao  thruiio,  assumir  a  realeza. 
—  «Lembrou  algucm  que  havia  conlolo 
com  03  inglezes,  para  virem  procurar  cora 
poderosa  armada  o  iiiíanto  o  ir  coroar-se 
rei  ao  lírazil,  correndo  a  negociação  en- 
tro America  e  Londres.  Não  tico  por  fia- 
dor da  idéa  :  direi  porém  o  que  se  se- 
guiu.» Bispo  do  Grão  Fará,  Memorias, 
pag.  110. 

—  Entre  reis ;  nas  relações  do  reis  com 
reis,  de  rei  com  rei. —  «Era  o  modo  usual 
de  fechar  cartas.  Muito  tempo  depois  se 
usou  ainda;  e  algumas  cortes  o  conserva- 
ram nas  cartas  de  faire  part  que  se  es- 
crevem cutre  reis  o  príncipes  nas  gran- 
des occasiões.B  Garrett,  Camões,  nota  J 
ao  cant.  3. 

—  A  amiga  do  rei ;  a  amante  do  rei,  a 
sua  concubina.  —  «Em  Londres  vae  Mar- 
tinho de  Mello  para  a  assembleia  da  da- 
ma, amiga  do  rei,  o  esta,  para  o  atacar, 
lhe  diz  gracejando  :  «Dizem  que  já  lá  vao 
a  inquisição  de  Portugal?»  Respondo  o 
Mello:  «Não  sei;  porém,  so  fôr,  haverá 
no  Tejo  o  levantamento  que  houvo  no 
Tamisa,  quando  os  judeus  quizcram  en- 
trar em  Londres.»  Bispo  do  Grão  Pará, 
Memorias,  publicadas  por  Camillo  Castol- 
lo  Branco,  pag.  161. 

—  iSer  levantado  por  rei  da  villa  de 
Alcácer  do  Sal.  —  «Ao  tempo  que  entrou 
na  herança,  e  foi  levantado  por  Rei  da 
Villa  do  Alcacere  do  Sal,  ora  do  vinte  e 
sois  annos  dotado  de  muita  prudência,  e 
mansidão,  e  taõ  mimoso  da  ventura  desde 
sou  nascimento,  quo  para  o  levantar  ao 
mais  alto  lugar  do  prosperidades,  parece 
quo  foi  derrubando  com  precipitada  vio- 
lência, muitos  que  o  precodiaõ  nc^ta  he- 
rança.» Frei  Bernardo  de  Brito,  Elogios 
dos  reis  de  Portugal,  continuados  por  D. 
José  Barbosa. 

—  Adágios  e  provérbios: 

—  O  braço  do  rei,  c  a  lança,  longe  al- 
cança. 

—  Fidalgo  como  el-rei,  dinheiro  não 
tanto. 

—  Rei  moço,  rei  perigoso;  rei  morto, 
rei  posto. 

—  Rei  por  natureza,  papa  por  ventura. 

—  Rei  se  nomoie,  quem  não  tome. 


—  Rogos  de  rei  mandados  são. 

—  Ron  ron,  faça-sc  o  que  el-rei  man- 
dou. 

—  Servo  a  el-rei,  ou  a  ninguém. 

—  Tudo  é  vento,  se  não  lia  rei,  ou 
prior  om  convento. 

—  A  Deus,  o  a  cl-rei  não  errarei. 

—  Quem  a  vacca  d'ol-rei  como  magra, 
gorda  a  paga. 

—  Quereis  quo  vos  sirva,  bom  rei, 
dai-me  do  que  viva. 

—  Do  cem  em  cem  annos  se  fazem  dos 
reis  villãos,  e  aos  conto  c  seis,  dos  vil- 
lãos  reis. 

— ■  Antes  bciui  rei  ijue  boa  lei. 

—  Que  nobreza  do  rei,  que  sem  nos 
conlieecr,  nos  saúda. 

—  Paga-sc  o  rei  da  traição,  mas  do 
traidor  não. 

—  Palavra  do  rei  é  cscriptura. 

—  O  rei  das  abelhas  não  tem  aguilhão. 

—  O  rei  que  não  toma,  quando  do  seu 
não  ha,  a  vós  do  seu  dá. 

— -  Novo  rei,  nova  lei. 

—  Nem  ante  rei  armado,  nem  ante 
povo  alvoraçado. 

—  Não  digas  mal  d'el-rei,  nem  entre 
dentes,  porque  em  toda  a  parte  tem  pa- 
rentes. 

— Não  tem  seguro  seu  estado,  rei  des- 
armado. 

—  Melhor  é  migalha  de  rei,  que  mercê 
do  senhor. 

—  Mau  rei,  bom  rei,  a  toda  a  lei  viva 
el-rei. 

—  Lá  vão  leis,  onde  querem  reis. 

—  El-rei  aonde  pcVle,  e  não  aonde  quer. 

—  El-rei  por  senhor,  e  não  por  deve- 
dor. 

—  Por  teu  rei  pelejaste,  tua  casa  guar- 
daste. ^ 

—  A  voz  de  el-rei  não  ha  cousa  forte. 

—  A  teu  rei  nunca  offendas,  nem  lan- 
ces om  suas  rendas. 

—  Ante  el-rei  cala,  ou  cousas  acceitas 
falia. 

—  Ao  rei  pertenço  usar  da  franqueza, 
])ois  tem  por  certeza  não  cahir  em  po- 
breza. 

—  Este  ó  rei,  que  não  conhece  lei. 

—  Em  sua  casa  cada  (jual  c  rei. 

—  Ao  cabo  de  cem  annos  os  reis  são 
villões,  o  a  cabo  do  cento  e  seis  os  vil- 
lões  são  reis. 

—  Na  terra  dos  cegos,  quem  tem  um 
olho  é  rei. 

—  Não  ha  rei  sem  privado,  nem  pri- 
vado sem  rei. 

—  O  rei  c  como  o  sol,  que  quanto  vè, 
alenta. 

—  Se  não  chover  entro  março  e  abril, 
venderá  el-rei  o  carro  e  o  carril. 

—  Syn.:  Rei,  monarcha,  príncipe,  po- 
tentado,  imperador. 

Rei  vem  do  latim  rex ;  o  conformo  a  sua 
etymologia  ó  o  que  rege,  dirige  o  guia, 
mandando;  e  seu  offieio  c  dirigir,  reger 
o  conduzir  os  povos  quo  lhe  são  confia- 


dos; porém  commummcnte  designa  o  so- 
berano que  rege  o  governa  só  um  "reino. 

Monardm  significa  o  que  governa  só, 
ou,  em  linguagem  moderna,  o  rei  absoluto 
o  indejiondente  que  concentra  em  si  to- 
dos os  poderes;  pelo  que,  os  reis  de  In- 
glatera  o  de  quasi  toda  a  Europa  n.1o 
.são  moimrcluis,  e  sómentes  reis  constitu- 
cionacs. 

1'rincipe  significa  O  primeiro,  o  cabeça, 
e  designa  geralinonte  o  soberano  de  um 
estado  independente,  ainda  que  não  fenha 
o  titido  de  roi  ou  monarclui ;  particular- 
mente significa  o  herdeiro  da  coroa,  por- 
que oiitre  os  filhos  da  coroa  é  o  primeiro 
o  destinado  a  reinar.  Também  so  chama 
príncipe  dos  poetas,  dos  oradores,  dos 
pliilosojihos,  ao  que  entre  ellcs  é  o  pri- 
meiro em  merccimeato,  e  entre  todoe  o 
mais  exiraio. 

Potentado  significa  rei  poderoso,  prín- 
cipe grande  com  poder  absoluto,  ou  tam- 
bém príncipe  com  domínio  absoluto  em 
alguma  província  tomando  investidura  de 
outro  superior. 

Imperador  significa  chefe  militar,  gene- 
ralíssimo ;  porém  somente  se  u^a  na  signi- 
ficação restricta  de  soberano  poderoso  de 
certos  estados,  que  formam  confederação, 
ou  de  um  império. 

BEIGADA,  s.  /.  No  corpo  dos  animaes, 
o  rego  entre  as  nádegas  até  os  membros 
da  geração. 

—  Reigada  dos  lombos. 

—  ..1  reigada  das  azas;  o  meio  entre 
cilas. 

REIGADO,  part.  pass.  Vid.  Arraigado. 

REIGAR,  1-.  a.  Vid.  Arraigar. 

REIMA,  s.  /.  Vid.  Reuma. 

REIMÃO,  í.  m.  Em  Malaca,  animal  se- 
melhante ao  tigre. 

REIMBRANÇA,  s.  /.  Termo  antiquado. 
Vid.  Relembrança,  c  Lembrança. 

REIMBRAR.  t.  a.  Termo  antiquado. 
Lenilirar,  reniembrar. 

REIMOSO,  A,  adj.  Rheumatico,  que 
causa  lluxào,  ou  corrimento  do  humores 
indigesti>>. 

RÍEIMPRESSÃO,  s.  /.  (Do  francez  rtim- 
pression).  Acção  de  reimprimir;  o  resul- 
tado d'esta  acção. 

I  REIMPRESSO,  part.  pass.  irreg.  de 
Reimprimir.  Impresso  de  novo.  —  «Mul- 
tas vezes  reimpresso :  o  geral  das  edi- 
ções contêm,  antes  dos  Lusíadas,  uma 
hitroducção  ;  a  hi<torla  da  doscuberta  da 
Índia  ;  a  historia  do  crescimento  e  que- 
da do  império  portuguez  no  C»riente ;  vi- 
da do  Luiz  de  Camões ;  dissortaçào  sobre 
os  Lusíadas  ;  observações  sobro  a  poesia 
épica.»  Garrett,  Camões,  nota  Z)  ao  can- 
to 7. 

REIMPRIMIR,  V.  a.  Fazer  uma  nova 
impressão. 

—  Imprimir  de  novo,  estampar. 
REINADO,  .«.  1».    O   espaço   de   tempo 

quo  um  príncipe  reinou,  o  tempo  cm  quo 
reina.  —  «Naõ  porem  que  leixassem  os 


I 


REIX 


REIN 


REIN 


171 


nauios  ordinários  de  faserem  suas  uia- 
gens  :  té  que  aprouue  a  Deo3  de  o  leuar 
pêra  si,  e  lhe  succedeo  no  reyno  o  Du- 
que de  Beja  dom  Manuel  seu  primo  que 
(como  veremos)  no  segundo  anuo  de  seu 
reinado  consiguio  na  primeira  viagem  a 
esperança  de  setenta  e  cinquo  annos, 
em  que  seus  antecessores  tiuhão  traba- 
lhado.» Barros,  Década  1,  liv.  3,  cap. 
12.  — -  «E  porque  em  começo  de  cada 
reinado  acustumamos  poer  parte  das  bon- 
dades de  cada  hum  Rei,  nam  nos  des- 
uiando  da  ordem  primeira,  tal  modo  qui- 
zeramos  ter  com  este. »  Damião  de  (tocs, 
Ghronica  de  D.  Manoel,  part.  4,  cap.  38. 

—  O  officio  de  rei. 

—  O  direito  de  reinar. 

—  Figuradameute  :   Dar  um   lençol   a 
alguém  por  reinado. 


Derào-lhc  a  terra  por  corte, 
Do3  cortczàos  apartado, 
E  hum  lençol  por  reinado  ; 
Porque  o  mundo  desta  sorte 
Desengana  o  enganado. 

GIL  VICENTE,  OBRAS  VAKIAS. 


—  Part.  pass.  de  Reinar. 
REINANTE,  2^cirt..  ad.  de  Reinar.  Que 

reina  na  actualidade. 

—  A  epidemia  reinante  ;  a  epidemia 
que  está  fazendo  audaço,  e  que  A'ai  gras- 
sando nas  doenças  geraes  do  tempo. 

—  PeccaJo  reinante  ;  peccado  que  do- 
mina a  alma,  habitual,  apoderado  d'ella. 

REINAR,  V.  n.  (Do  latim  regnare).  Ser 
rei,  guvernar  como  chefe  soberano  de  um 
estado.  —  «Finalmente  elle  rompeo  guer- 
ra com  Rocem  Bec  seu  primo,  que  entào 
se  intitulava  por  Rey  da  Pérsia,  e  por 
elle  andar  em  differenças  com  seus  ir- 
mãos a  quem  reinaria,  teve  Xeque  Is- 
mael melhor  maneira  pêra,  de  doze  que 
eram,  matar  os  mais  delles,  e  per  derra- 
deiro-lhe  íicou  a  requesta  com  hum  cha- 
mado Mara  Bec.»  Barros,  Década  2,  liv. 
10,  cap.  6.  —  «Que  ultimamente  pedia 
a  elle  Governador  lhe  entregasse  Meále, 
porque  na  clemência  que  com  elle  usasse, 
se  visse  que  era  digno  de  reinar  quem 
assim  tratava  seu  maior  inimigo :  que 
seus  Embaixadores  levavão  ordem  para 
assentar  todas  as  conveniências  do  esta- 
do.» Jacintho  Freire  d'Andrade,  Vida  de 
D.  João  de  Castro,  liv.  1.  —  «Neste  fim 
vieraõ  a  parar  aquellas  grandes  esperan- 
ças, que  03  Portuguezes  tinhaõ  em  seu 
Rei,  e  aquelles  bons  intentos  que  o  mo- 
verão a  emprender  esta  jornada  contra 
03  inimigos  da  Fé  Catholica,  tudo  por 
seguir  conselhos  de  quem  os  da^a  enca- 
minhados mais  a  seus  próprios  interes- 
ses, que  ao  bem  commúm.  Foi  sua  per- 
da no  dia,  e  anuo  que  já  disse,  aos  vin- 
te e  quatro  de  sua  idade,  de  que  reinou 
vinte  e  hum.»  Frei  Bernardo  de  Brito, 
Elogios  dos  reis  de  Portugal,  contimia- 
do3    por   D.    José    Barbosa,  —  «Quando 


Witiza  reinava,  na  corte  esplendida  de 
Toletum,  havia  dois  tiuphados  que  a  to- 
dos serviam  d'exempIo  d'intima  e  since- 
ra amizade.  Opiniões  e  intentos,  alegrias 
e  tristezas  eram  communs  para  ambos. 
Chamava-se  Theodemiro  o  mais  velho, 
Eurico  o  mais  moço. »  A.  Herculano,  Eu- 
rico, cap.  8. 

—  Figuradamente  :  Reinar  a  hypocri- 
sia,  a  intriga ;  fazer  grandes  etfeitos  ; 
predominar. 

—  Figuradamente :  Ter  poder,  domi- 
nar, ter  influencia,  fazer  effeitos  gran- 
des. 

—  Reinar  a  pura  fé  dos  thalamos  con- 
jiigaes. 

Xa  tranquilla  familia  as  leis  promulga 

Império  Paternal,  de  Impérios  norma, 

(Que  hum  Rei  he  pai  commum,  familia  o  povo.) 

Reina  a  concórdia  conjugal,  c  reina 

A  piu-a  fé  dos  thalamos  sagrada. 

J.    A.    DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  CaUt.   2. 

—  Reinar  a  paz. 

Reinava  a  doce  paz  na  santa  Igreja ; 
O  Bispo,  e  o  Dcaõ,  ambos  conformes 
Em  dar,  c  receber  o  bento  H_y3sope, 
A  vida  cm  ócio  santo  consumiaõ. 
DINIZ  DA  CRUZ,  HYssorE,  caut.  2. 

Como  implacáveis  Déspotas  polêjão, 
A  paz  então  reinou ;  Zéfyros  meigos, 
Pelos  ares  subtis  equilibrados, 
Da  liquida  campina  a  face  encrcspào. 
Conduz  seu  doce  assopro  as  salsas  ondas, 
Tocào  brandas  na  praia,  c  brandas  fogem. 

J.    A.    DE  MACEDO,    MEDITAÇÃO,    CaUt.   4. 

Salva-03  das  convulsões,  da  crise  horrivel 
Que  as  populares  commoções  arrastram  ; 
Moderação  e  paz  reine  cm  teus  lábios  ; 
Generoso  perdoa,  austero  pune, 
Mas  pelo  orgam  da  lei,  mas  so  com  cUa. 
GARRETT,  catÂo,  act.  4,  sc.  3. 

—  Reinar  a  vaidade. 


Aos  áureos  dias  do  nascente  Mundo 
Fez  succcder  os  séculos  de  ferro. 
A  vaidade  reinou,  deu  Leis  o  luxo ; 
Porém  no  seio  de  ignorados  Campos 
Dos  primeiros  Mortaes  a  imagem  íica. 

J.   A.    DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Cailt.    2. 

—  Reinar  a  traição, 

Armão-3C  occultaa,  pei-fidas  ciladas, 
Ou  corpo  a  corpo  impávidos  se  atacão  ; 
Do  vasto  mar  no  Campo  dilatado 
Vês  da  horrivel  discórdia  amplo  theatro, 
Império  onde  o  mais  forte  o  fraco  opprimc ; 
Xcllc  reina  a  traição,  campéa  o  dolo, 
Ora  cede  ao  contrario,  ora  triunfa  ; 
Eis  o  retrato  do  que  vês  na  Terra. 

J.    A.   DE  MACEDO,  A  KATD8EZA,  Callt.    3. 

■ —  T'.  «.    Termo  pouco   em   uso.    Go- 
vernar, mandar  como  rei. 


—  Reinar  alguma  malícia;  traçar,  or- 
denar algum  engano,  ou  maldade. 

REINCIDÊNCIA,  s.  /.  Recaída.  —  A 
reincidência  no  peccado. 

REINCIDENTE,  piart,  act.  de  Reincidir. 
Obstinado,  que  caiu  novamente  na  pri- 
meira culpa,  ou  erro. 

REINCIDIR,  V.  n.  (Do  prefixo  re,  e  do 
latim  incidere).  Recair.  —  Reincidir  no 
peccado. 

—  Reincidir  na   doença,  Vid.   Recair. 
REINETA,  *.  /.  Vid.  Raineta. 
REINETE,  ,'í.  /.  Vid.  Rainete. 
REINFUNDIR,   v.    n.    Tornar  a  infun- 
dir. 

—  Pôr  novamente  em  infusão. 
REINHA,  s.  f.  (Do  latim  regina).  Vid. 

Rainha. 

REINICOLA,  adj.  2  gen.  Do  reino,  ou 
que  diz  respeito  ao  reino. 

—  Substantivamente  :  Author  jurista 
natural  do  reino.  Vid.  Regnicola. 

REINO,  s.  ?«.  O  estado  de  um  rei  ou 
soberano. —  «E  porque  tudo  me  louva- 
rão e  concederão  ser  muito  bem  aponta- 
do, o  mandei  a  V.  A.  por  escripto,  até 
lhe  Deos  dar  tanto  descanso  e  contenta- 
mento como  em  todos  seus  reinos  he  de- 
sejado pêra  que  por  minha  arte  lhe  diga 
o  que  aqui  fallece.»  Gil  Vicente,  Obras 
varias. 

E  sendo  assi  que  o  nó  d'e3ta  amisade 
Entre  vós  firmemente  permaneça, 
Estará  prompto  a  toda  a  adversidade, 
Que  por  guerra  a  teu  reino  se  oílereça, 
Com  gente,  armas  c  nãos;  de  qualidade 
Que  por  irmão  te  tenha  c  te  conheça  : 
E  da  vontade  era  ti  sobre  isto  posta 
Mc  dês  a  mi  certíssima  resposta. 
CAM.,  Lus.,  cant.  7,  est.  G3. 

—  «E  porque  em  todos  estes  reinos 
não  sei  pessoa,  que  assim  obrigasse,  se- 
não se  fosse  Miraguarda,  a  quem  tão  al- 
tamente louvam,  quiz  mandar  uma  don- 
zella  minha  a  vel-a  ;  porque  se  sua  fer- 
mosura  é  como  dizem,  mandal-o-hei  sol- 
tar ;  e  não  sendo  assim,  castigal-o-hei 
como  merece,  por  não  dar  atrevimento  a 
muitos  tratarem  com  despreso  as  pessoas 
de  tanto  merecimento  como  eu.»  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  66.  —  «Com  este  pensamento  cami- 
nhou tanto  por  aquelle  reino,  que  foi  ter 
á  cidade  de  Limorsão,  onde  o  esperavam 
os  grandes  delle,  que  por  um  coj-reio, 
que  lho  a  donzella  mandara,  sabiam  de 
sua  vinda.»  Ibidem,  cap.  97.  —  «Senho- 
res, disse  Albanis,  eu  vim  ter  a  um  val- 
le  onde  tem  Arnalta  no  reino  de  Navar- 
ra um  assento  dos  mais  graciosos  do 
nnindo  ;  acertei  de  chegar  a  tempo  que 
a  princeza  por  ser  tarde  andava  folgan- 
do á  borda  de  um  rio,  que  o  atravessa.» 
Ibidem,  cap.  103.  —  «E  pois  o  que  vos 
pede,  além  de  o  ser,  é  de  tanta  obriga- 
ção pêra  ella,  e  todo  o  reino  de  Trácia, 
que  lh'o  não  negueis.  Pêra  isto  me  den 


172 


KEIN 


REIN 


ui:iN 


uma  cartíi  de  cren(;a,  quu  vos  dúsHc.o 
Ibidem,  cap.  104.  —  «Aqui  deixu  a  his- 
toria do  fallar  iiolla,  (|U(;  vai  sou  caini- 
iilio,  c  toma  ao  cavallein»  do  Ti^rre  ;  que 
diz  que  d(!|)OÍ»  quo  Haíu  do  reino  do  Trá- 
cia, (|uiz  outra  voz  Hof^uir  via  do  (Joiih- 
taiitiiio])la,  quo  pêra  seu  cuidado  cm  nc- 
iduini  outro  lugar  adiava  repouso  certo. » 
Ibidem,  cap.  10-1.  —  «D.  Antaò  do  No- 
roniia  deu  ordeui  para  a  dcHeuibarca^^aò, 
que  liavia  do  ser  ao  outro  dia,  o  fazendo 
aiardo  da  fícnto  quo  lovava  acliou  mil 
c  cem  1'ortufíuezCM,  o  trea  mil  Farseos, 
o  Araiiui/.aiio;)  debaixo  da  bandeira  de 
Kax  Xarrato  (Uia/,il  de  Ormuz,  c  de  Mir- 
niaxet  (iuazil  do  JMagostaõ,  cm  que  liavia 
íuuitos  j\Iires,  e  Capitaons  do  Reiuo  de  Or- 
muz.» Diogo  de  Couto,  Década  (J,  liv.  9, 
cap.  14.  —  «Alevantado  o  exercito,  de- 
pois de  lhe  fazerem  suas  exéquias,  puzo- 
raõ  o  l'rincipe  Dramabella  na  cadeira 
Kcal,  o  o  levantarão  por  Rey,  dandolbe 
os  grandes  a  obediência  a  seu  modo,  sen- 
do seu  pay  o  primeiro,  e  depois  o  Al- 
caide mór,  e  todos  os  grandes  do  Reino, 
o  quo  so  foz  no  mesmo  dia  sem  festas, 
nem  apparato. »  Ibidem,  cap.  16.  —  O 
Visorcy  deixou  dado  ordem  às  nàos  que 
Lavlào  de  partir  pêra  o  Reino,  e  do  ga- 
leão S.  Jorio,  que  se  estava  concertando 
em  fioa,  ((ue  licou  do  anuo  passado,  deu 
a  Capitania  a  Manoel  de  Sousa  de  Sepúl- 
veda, pêra  se  hir  nelle  com  sua  nuiliíer, 
o  casa  pcra  o  Keino.  E  como  fov  tempo 
partirão  as  nàos  pcra  Còchim  tomar  a 
carga.»  Ibidem.  —  «Mas  eu  verdadeira- 
mente tenlio  por  muite  certo,  ser  a  pi'o- 
pria  natureza  dos  Portuguezes,  mostra- 
rem sua  opiniaã,  e  lealdade  no  serviço 
do  seu  lley,  e  Senhor  :  como  muitas  ve- 
zes so  vio  por  experiência  dos  muy  gran- 
des feitos  quo  nos  Reinos  de  Portugal,  e 
nas  partos  do  Meca,  e  nestas  da  Índia, 
com  muito  valor,  e  esforço  Hzeraõ,  e  aca- 
l)àrai5.i)  Ibidem,  liv.  10,  cap.  5.  —  «E 
por  sabor  que  as  mais  das  igrejas  do 
j'eÍDO  estauam  mal  prouidas  dornamentos 
mandou  no  anuo  de  mil,  e  quatrocentos, 
o  noventa  o  uoue  fazer  vestimentas,  e 
outros  ornamentos  a  sua  custa  quo  lhes 
mandou  dar  pelo  custo  de  quo  doj)ois  pe- 
la mor  parto  lhe  fez  esinolla.»  DamiJío 
do  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part. 
4,  cap.  84.  —  «Doraõ-sc  em  dote  a  D. 
Henrique  as  terras  que  em  Portugal  eraõ 
ganhadas  aos  Mouros  (algumas  das  quaes 
saõ  hoje  do  Reino  de  Caliza)  com  titulo 
de  Condado,  e  a  conquista  das  que  ain- 
da tinhaõ  usurpadas,  quo  era  a  maior 
parto  do  que  hoje  he  Reino  do  Portugal.» 
Fr.  Bernardo  de  Brito,  Elogios  dos  reis 
de  Portugal,  continuados  por  D.  José 
Barbosa.  —  «Como  não  era  D.  Joào  her- 
deiro da  casa  de  seus  pais,  dispunhiiio 
elles  iuclinallo  a  estudos  maiores  :  por- 
que nas  casas  grandes  for."io  sempre  nes- 
te Reino  as  letras  o  segundo  morgado. 
Obodeceo  D.  Joào  emquanto  nrio  tinha 


libordadc  juira  engeitar,  nem  escolha  pa- 
ra tomar  outro  cxcrcicio.»  .lacintlio  Frei- 
re de  Andrade,  Vida  de  D.  Joào  de  Cas- 
tro, liv.  I . 

Kstá  contando 
O  (iuiiia  ao  rei  ainipu  oa  iiiaix  fuiiioHOg 
Keitort  doH  iio»i«)H.  —  l>i/.-lhc  d<!  Kcriiuiido 
Ob  aiiiorcB  iidultcroH,  c  o  tíbio, 
Froixo  (íovôrno  que  indvfcKO  o  Tfino 
Duixii  ao  furor  imigo  CuHtolliniio, 
K  de  totiil  destruirão  oin  pVipo : 
(Juo  utn  fraco  rei  faz  fraca  a  forte  gente. 
OAKUCTT,  CA1IÒK8,  caut.  8,  cap.  4. 

K  mais  lhe  diz,  que  a  terra  se  chamava 
O  Heino  de  Oganó,  grande,  abundono  ; 
C^uu  ao  auritro,  c  pouco  longe  se  edtreuiava 
Co  o  va»to  (JoMgo  fervido,  arenoso  ; 
tjue  os  dilatados  campos  lhe  cortava 
<•  Zaire,  irmão  do  Nilo,  immcnso,  mídoso ; 
Communs  no  ber(;o,  c  na  carreira  8ua, 
Alem  dos  montes  áridos  da  Lua. 

J.  A.    DE  MACKDO,  O  OKIENTE,  Cant.    10,   BSt.    7. 

• —  Os  naturalistas  modernos  dilo  o  no- 
mo de  reino  a  cada  uma  das  classes  a 
que  reduzem  os  seres  do  globo  terrestre, 
e  distinguem  três,  a  saber:  o  reino  uni- 
mal,  vegetal,  e  mineral. 

—  Reiuo  escuro  de  Cocyto;  o  inferno, 
os  demónios. 

E  90  tu  tantas  almas  so  pudeste 
Mandar  ao  reino  osouro  de  Cocyto, 
(Juando  a  sancta  Cidade  dustizeste 
Po  povo  pertinaz  no  antigo  rito, 
Permissão  c  vingan(;a  foi  celeste, 
E  niio  fori^a  de  brai;o,  ó  nobre  Tito ; 
(jue  asâi  dos  Vates  foi  prophuti/.ado, 
E  dcspois  de  Jesu  certificado. 
cAu.,  Lts.,  caut.  3,  est.  117. 

—  O  mancebo  inexperto,  única  esperan- 
ça do  reino. 

—  Dizcm-no?  E'  certo? 
Um  mancebo  inexperto,  unicii  esp'ran(;a 
Do  reino,  que,  inda  mal !  ja  tanto  inclina 
Da  primeira  grandeza  !  —  Ah  !  confiani;a 
Tenho  que  inda  haverá  n'c33c  conselho 
Um  portugucz  quo  portuguez  lhe  fajlo, 
E  com  a  respeitosa  liberdade 
Que  é  nossa  natural  e  um  bom  rei  preza... 
GARRErr,  CAMÕES,  caiit.  4,  cap.  2. 

—  Noro  reino  edi^ficado  entre  gentes  tão 
remotas. 

Ao  pensar  em  tão  ásperas  fadigas. 
Tanto  sangue  perdido,  tanta  morte, 
Tanto  naufrágio  cru,  desgraças  tantas 
tjue  a  dobrar  esse  cabo  nos  custaram 
Para  ir  edificar  sublime  império, 
Novo  reino  entre  gentes  tam  remotas, 
So  me  alargava  o  coração  uo  peito. 
GAKRETT,  cavões,  caut.  4,  cap.  8. 

—  Reino  escuro ;  a  sepultura,  as  re- 
giões da  morte. 

—  Figuradamente:   O  jxidcr  do  rei. 

Dcmova-se  a  terra,  iiaraore-sc  dVlle 
as  gentes  estranhas,  dizei  que  o  senlior 


seu  reitu)  tomou,  ficou  vcncttior 
da  morte,  peccado,  de  tudo  o  contra  ellc, 
Kc2  a  redondeza  daa  tflrraM,  de  tudo 
firme  c  ostiivel,  em  ctcruidadc. 

ANTOXIU   l-UESTKS,  ALTOS,  pag.   t)Ó. 


—  «Nomeou  anteA  de  sua  morte  que 
tivessem  o  Reino  até  «c  sentenciar  cujo 
fosse,  e  fez  outras  cousas,  que  lhe  pare- 
cerão conveuientcH  para  paz,  e  luelhur 
expediente  da  herança.  •  Frei  Bemarilu 
de  Brito,  Elogios  dos  reis  de  Portugal, 
continuados  por  D.  Joi>é  Barbosa. 

—  Mosteiros  do  reino  foram  enriíjueei- 
dos.  —  •  Enriqueceo  el  Rui  com  doa^;<>ea 
muitas  Igrejas,  e  Mosteiros  do  Reino,  e 
ennobrcceo  as  Cidades,  e  Villas  com  mu- 
ros, e  Fortalezas  notáveis.  Fundou  Uni- 
versidade cm  Coimbra  em  que  se  les«eui 
todas  as  sciencias.  Libertou  a  r)rdem  de 
San-Tiago  do  Portugal  da  obediência  doe 
Mestres  de  Castella,  e  fez  por  indulto 
do  Papa  Xicoláo  iv.  eleger  !b[estre  Por- 
tuguez, que  foi  D.  Lfiurencianes.»  Frei 
Bernardo  ile  Brito,  Elogios  dos  reis  de 
Portugal,  continuados  por  D.  José  Bar- 
bosa. 

—  Grande  poder,  império. 

—  Legar,  onde  alguma  coosa  obra 
mui  forte. 

—  Figuradamente :  O  reino  injiel  de 
Prosérpina. 


Forçado  desta  dôr  que  o  desatina 
Dei.xa  o  assalto  cruel,  sanguinolento. 
Mas  no  reino  infiel  de  Prosérpina 
Sua  alma  desta  vez  não  fez  o  ass<;nto, 
Porém  sente  nos  membros  grãa  ruiiuk : 
Da  qual  desaventura,  c  detrimento 
Que  hoje  neste  combato  lhe  acontece 
Sc  jactit  assaz  de|K>is,  c  ensoberbece. 

FRANCISCO  D'A>'DBAnE,  PUMEIBO  CKBCO  DE  DIV , 

cant.  20,  est.  15. 


—  Principe  e  governador  do  reino.  — 
«Deposto  do  Throno  seu  irmiio  el  Rei  D. 
AfTonso  sexto,  foi  jurado  l*rincipe,  o  Go- 
vernador do  Reino  em  vinte  e  sete  de  Ja- 
neiro de  mil  sei.^centos  e  sessenta  e  oi- 
to. »  Frei  Bernardo  de  Brito,  Elogios  dos 
reis  de  Portugal,  continuados  por  D.  Jo- 
sé Barbosa. 

—  Figuradamente  :  O  salgado  reino  ; 
o  vasto  mar. 


E  cinco  dias  antes  que  o  dourado 
Planeta  visitasse  aquclle  sino 
Que  no  salgado  Keino  foi  gerado 
E  no  Ceo  tom  assento  alto  e  divino, 
Surge  o  Governador,  acompanhado 
Do  sou  nobre  apparato,  dollo  dino, 
Meia  lepiia  daqucUa  forte  e  brava 
Cidade,  para  onde  clle  navegava. 

FBAXCISrO  DE  ANDRADE,  rBtUElBO  CBIOO  DS  Ml', 

caut.  2,  est.  18. 
—  O  reino  de  Xeptnno ;  o  oceano. 


No  Reino  do  Neptuno  ambos  entrirào 
E  de  terem  lá  cutrado  9C  entristecem , 


I 


REIN 


REIS 


REIT 


173 


Mas  com  pressa  maior  da  que  levarão 
Soboiagua  ambos  juutos  apparccem. 
Logo  ambos  no  catiir  jiuitos  entrarão 
Coiu  ajuda  dalguns  que  os  favorecem, 
Que  nbum  o  grão  perigo  arreceiavào, 
Noutro  o  grande  valor,  e  amor  louvarão. 
F.  d'axdkade,  pbimeiko  ceeco  de  Dir,cant. 
est.  22. 


—  O  reino  eterno,  e  glorioso;  o  céo. 

Mas  como  este  combate  bravo  e  horrendo 
Foi  mais  que  os  outros  largo  e  furioso. 
Também  para  os  que  esta  vão  defendendo 
Mais  que  nenhum  dos  outros  foi  custoso  ; 
Porque  se  eu  esta  couta  bom  entendo 
Quatorze  ao  Eeino  Eterno  e  Glorioso 
Passào  03  seus  cspritos  não  vencidos, 
E  são  mais  de  duzentos  os  feridos. 

F.   DASDB.tDE,  FBUIEIBO  CEBCO  DE  DIU,  Caut.    20, 

est.  20. 


—  O  estado,  que  tem  rei  particular,  e 
se  annexou  ao  estado  de  um  soberano. 

—  Imposições  e  tributos  dos  povos  do 
reino.  — •  «Aliviou  algumas  imposições,  e 
tributos,  que  tiniiaò  os  povos  do  Reino : 
administrou  justiça  com  grande  inteire- 
za, para  o  que  fez  muitas  Leis  novas,  e 
reformou  as  antigas  do  modo  que  andaò 
impressas.»  Frei  Bernardo  de  Brito,  Elo- 
gios dos  reis  de  Portugal,  continuados 
por  D.  José  Barbosa. 

—  Ter-s6  por  reino  diviso. 


Tem-se  por  reino  diviso 
do  que  o  outro  lá  promette ; 
todo  o  seu  cuidar  compete 
que  o  mesmo  Paraiso 
lhe  ha-de  tirar  o  barrete. 

AíiTOSIO  PBESTES,  AUTOS,  pag.    151. 


REINOL,  adj.  2  gen.  Dava-se  este  no- 
me nas  conquistas  ao  que  lhes  vai  do 
reino. 

—  Ameixa  reinol;  certa  espécie  de 
ameixa  preta,  conLiecida  pelo  nome  de 
reinol,  por  ser  do  reino. 

REINTEGRAÇÃO,  s.  f.  Acção  de  tornar 
novanientt;  inteiro. 

—  Termo  de  Jurisprudência.  Acção 
de  reintegrar;  resultado  d'esta  acção. 

—  Recuperação,  inteira  satisfação  de 
alguma  cousa. 

t  REINTEGRADO,  part.  pass.  de  Rein- 
tegrar. 

—  Reintegrado  )ios  seus  bens,  nos  seus 
emprer/os. 

REINTEGRAR,  v.  a.  Tornar  inteiro  de 
novo. 

—  Termo  de  jurisprudência.  Restabe- 
lecer alguém  na  posse  de  uma  cousa  de 
que  se  havia  despojado. 

—  Restituir,  satisfazer  alguém  do  usur- 
pado. Vid.  Redintegrar. 

—  Reintegrar-se,  v.  refl.  Restituir-se 
totalmente. 

REINTRANTE,  <idj.  2  gen.  Termo  de 
fortilicaçào.  Angulo  reintrante  ;  angulo 
cuja  ponta  ou  vértice  corre  para  dentro 


da  praça,  em  opposição  ao  angulo  salien- 
te. —  «Assim,  o  vão  do  arco  oíierecia 
quatro  ângulos  reiutrantes  assas  esciu-os, 
apesar  de  um  dia  esplendido,  porque  os 
grossos  purtòes  chapeiatlos  de  terro,  abriu- 
Uo  sobre  elles,  obstavam  ainda  mais  aos 
ra.os  dessa  escassa  luz  que  as  duas  por- 
tadas, opprimidas  entre  os  cubellos  e  vi- 
zinhas ue  altas  casarias,  deixavam  pene- 
trar a  custo  naquelia  espécie  de  quadra.» 
Aiexandi-e  Herculano,  Monge  de  Cister, 
cap.  lU. 

REINVITE,  s.  m.  A  acção  de  revidar, 
reviue. 

REIO.  Vid.  Reyo,  e  Arreio. 

REIRA,  s.  /.  Dôr  sobre  a  rabadilha. 

—  ^io  gado  vaccum,  diarrhêa. 

—  Emprega-se  também  no  sentido  fi- 
gurado. 

REIS,  s.  wi.  ]jI.  Significa  o  mesmo  que 
reaes ;  a  ultima  espécie  de  unidade  in- 
teira em  moeda  ideal,  em  que  se  resolve 
o  dinheiro,  e  de  que  usamos  no  nosso 
modo  de  contar,  dizendo  um  real,  e  de 
aki  para  cima,  iazeudo  numero,  dous 
reis,  ou  reats,  ties,  quatro,  cinco  reis, 
etc.  —  «Tem  alcançado  no  Estado  da  Ín- 
dia importantes  victorias  pelos  seus  Vice- 
Reis,  e  Capitães  (jeneraes  Caetano  de 
Meho  de  Castro,  Vasco  Fernandes  César 
Ue  Menezes,  e  outros.  Mandou  fazer  moe- 
das de  ouro  de  oitocentos  reis,  de  mil  e 
seiscentos  reis,  de  três  mil  e  duzentos,  de 
seis  mil  e  quatrocentos,  e  de  doze  mil  e 
oitocentos.  V  Frei  Bernardo  de  Brito,  Elo- 
gios dos  reis  de  Portugal,  continuados 
por  L>.  José  Barbosa.  —  «Ho  mayor  tri- 
buto que  tem,  he  cada  pessoa  casada,  ou 
_que  tem  casa  sobre  si,  cada  hum  anno 
paga  de  cada  cabeça  de  sua  casa  dous 
luazes,  que  sam  sessenta  reis  :  nhuma 
tirania  lue  fazem  mais  que  soo  pagarem 
seus  direitos:  ficam  suas  fazendas  e  tudo 
ho  que  podem  aver  livre  pêra  ho  poderem 
gozar  a  sua  vontade  :  polo  que  todos  tra- 
balham de  ganhar  e  de  lavrar  as  terras 
e  aproveitarias.»  Frei  Gaspar  da  Cruz, 
Tratado  das  cousas  da  China,  cap.  lU. — 
«E  assi  fez  neste  anno  de  oitenta  e  cinco 
no  mes  de  lunho  as  jjrimeiras  suas  moe- 
das, s.  moeda  douro,  a  que  chamou  Jus- 
to, e  era  de  ley  de  vinte  e  dous  quilates, 
e  de  peso  de  seiscentos  reis,  e  tinha  de 
huma  parte  o  escudo  Real  dLreyto  com 
letra  de  redor  do  nome  e  titulo  dei  Rey, 
e  da  outra  parte  el  Rey  armado  de  todas 
armas,  assentado  em  cadeira  Real,  e  o 
cetro  na  mão,  e  a  letra  dezia  :  lustus  si- 
cut  Palma  Jlorebit.v  Garcia  de  Rezende, 
Chronica  de  D.  João  II,  cap.  57.  —  «E 
assi  deu  nouo  crecimento  á  valia  da  pra- 
ta, que  mandou  geralmenta  que  valesse 
ho  marco  dahy  em  diante  a  dous  mil  e 
duzentos  e  oitenta  reis,  e  a  este  preço  se 
fizerão  os  ditos  vinteins.»  Idem,  Ibidem. 
—  « Outros  ha  neste  género  mais  escru- 
pulosos, que  por  naò  serem  homicias 
da    fazenda  Real,   lhes  ataò    sedas    nos 


artelhos  dos  pés,  ou  das  mãos  com  tal 
arte,  que  os  fazem  manquejar,  até  que 
os  provém  de  outros.  E  o  furto  esta  no 
danino,  que  se  dá  a  ElRey,  e  à  milicia ; 
poi-que  se  vende  o  cavallo  manco  por 
dous,  ou  três  mil  reis,  para  huma  atafo- 
na, ou  nora,  tendo  custado  quinze,  ou 
vinte.»  Arte  de  furtar,  cap.  3-1. —  «E 
assim  foy,  que  de  graça  veyo :  contey 
por  graça  isto  ao  matalote  dos  duzentos 
mil  reis,  respondeo  marchando  os  bei- 
ços :  saò  lanços,  que  naõ  tiraò  seus  di- 
reitos aos  homens  de  negocio.»  Ibidem, 
cap.  56.  —  «O  mesmo  consta  dos  privi- 
légios e  em  particular  do  d'ElRey  D. 
Afonso  IV.  que  traz  o  Doutor  Jorge  de 
Cabedo;  porque  nas  aposentadorias,  que 
eutaò  era  costume  dar-se  nos  ilosteiroa 
aos  Fidalgos,  manda  que  se  dem  aos  Ri- 
cos Homens  30.  reis,  e  aos  Infançoens 
lò.  e  aos  Cavalleiros  10. >>  Manoel  Seve- 
rim  de  Faria,  Noticias  de  Portugal,  Dis- 
curso 3. 


Por  dez  reis  de  sem-sentido 
por  \ús  dou  mil  de  scziido. 
Homem,  guardae-vos  d'ahi 
que  isso  de  homens  ser  soi, 
e  mais  eu  que  sempre  ri 
de  palavrinhas  assi, 
vós  da  dõr  que  a  mim  doe. 

AXTOXIO  PRESTES,  ACTOS,  pag 


—  «Hoje  se  tira  algum  em  varias  par- 
tes ;  e  em  Avintes,  junto  a  esta  cidade, 
se  achou  uma  pedra  com  oito  dentro  que 
pesavam  coisa  de  70  a  80  mil  réis,  não 
ha  muitos  annos.»  Bispo  do  Grão  Pará, 
Memorias,  publicadas  por  Camillo  Cas- 
tello  Branco,  pag.  9.  —  «O  duque  do 
Cadaval  D.  Nuno  Alvares  Pereira  não 
quiz  comprar  as  Memorias  genealógicas 
de  Christovão  Alão  de  Moraes  dizem  que 
pela  liberdade  com  que  o  author  qualifi- 
cava as  pessoas  de  quem  escrevia.  Creio 
que  foi  por  não  dar  os  tíOOòOOO  reis  que 
se  pediam.»  Ibidem,  pag.  160.  , 

—  Houve  ceitis,  fracções  de  reaes,  ou 
reis.  —  -^  de  reis. 

REISEUTOS,  s.  m.  plur.  Vid.  Rebutos. 
REISETE,  s.  m.  Regulo. 

—  Rei  de  um  pequeno  estado. 
REISINHO,   s.    m.  Diminutivo  de  Rei. 

Rei  de  pequena  idade. 

REITERAÇÃO,  s.  f.  (Do  latim  reitera- 
tio).  Acção  de  reiterar. 

—  Acto  de  administrar  muitas  vezes  o 
mesmo  sacramento. 

f  REITERADO,  part.  pass.  de  Reiterar. 
—  Ordens  mil  vezve  reiteradas  sem  neces- 
sidade. 

REITERAR,  r.  a.-  Fazer  de  novo  uma 
cousa  que  já  se  fez. 

—  Reiterar  a  confissão  ;  tornal-a  a  fa- 
zer. 

7  REITERATIVAMENTE,  adv.  (De  rei- 
terativo,  e  o  suffixo  «mente»).  De  um 
modo  reiterativo. 


174 


UE.IA 


RK.IO 


UKLA 


REITERATIVO,  A,  a^lj.  1^110  c'  jji(.i)iio 
a  reiterar. 

REITERAVEL,  a //.  2  f/itu.  Su.-coptivol 
de  »u  r(!Ítt;riir.  < 

REITOR,  «.  111.  (Do  latim  redor).  < ) 
cliefti,  011  ro^íento  du  iiiiivorrtidado. 

—  Reitor  il"  li/ceu ;  o  cliele  dV^llo. 

—  Reitor  (/"  seminário. 

—  Reitor  <l(is  (ííiHítH ;  cura,  parocho  de 
iprejm. 

-Reitor  do  mundo;  IJeus,  o  aiitlior 
do  iinlvcTso. 

—  Tmiio  antiquado,  llhctorico. 

—  'ri;niio  !iiiti(|uaJo.  Juiz,  arl)itro. 
REITORADO,  *•.  m.   O  espaço  de  tempo 

que  clurii  .1  reitoria. 

REITORIA,  s.  /.  O  ofiicio  e  direito.s  do 
reitor. 

REIVAS,  s.  /.  jjhir.  Termo  popular. 
Dito  alíiiiiiíi  ost.i  (lt'iionruiai;ào  á  maneira 
do  j)s.iliiiear  da-i  íroiras. 

REIVENDICAÇÃO,  ou  REIVINDICAÇÃO, 
s.  f.  Termo  do  jurisprudência.  U  auto 
que  compete  ao  senhor,  ou  quasi  scniior, 
para  pedir  que  lhes  restitua  o  que  era 
seu  por  direito  das  gentes,  ou  civil. 

f  REIVINDICADO,  j)art.  pass.  de  Rei- 
vindicar. 

REIVINDICAR,  i-.  a.  Intentar  a  reiviu- 
dicai^rio. 

—  Obtor  a  restituirão  do  seu,  por  meio 
da  reivindicação. 

REIXA,  s.  /.  Contenda,  rixa,  briga,  a 
inimizade  originada  por  ella. 

—  De  reixa  velha;  já  manifesta  por 
actos  anteriores. 

—  Doença,  tumor  pequeno  que  nasço 
no  lagrimai,  próximo  do  nariz. 

—  Loc.  pop. :  Não  mette  reixa,  sem 
tirar  reixa;  nào  faz  nada  som  interesse. 

—  Tab.ia  pequena. 

—  Reixa  nova;  briga  súbita  sem  pro- 
pcsito  anterior,  sem  haver  inimizade,  ou 
ódio  anterior. 

—  Reixa  de  cadeado ;  barrinha  de  ferro 
que  o  prende. 

—  Barra,  ou  grade.  —  Janella  tendo 
reixas  de  ferro. 

REIXELLO,  s.  m.  Termo  da  província 
da  Beira.  Vid.  Cabrito. 

REIZETE,  .s\  m.  Vid.  Reisete. 

REIZINHO,  s.  m.  Diminutivo  de  Rei. 
Vid.  Reisiuho. — «ilas  porque  na  carta 
que  esto  Reizinho  mo  mostrara  dos  Por- 
tugueses faziào  elles  mençaõ  de  huma  vi- 
toria que  Deo?  lhos  dera  contra  os  Tur- 
cos o  Aches  desta  costa,  determiney  do 
declarar  aquy  o  como  ella  passou,  assi 
porque  mo  parece  que  nisso  darey  gosto 
aos  leitores,  couio  porque  se  entenda  que 
os  bõâ  soldados  no  tempo  da  necessidade 
não  ha  cousa  que  não  levem  ao  cabo,  c 
que  por  isso  importa  muvto  teronnos 
muyto  mimosos,  e  muyto  favorecidos.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações,  ca- 
pitulo 14ti. 

REJAO,  s.  to.  RojSo. 

REJAS,  s.  /.  2)lur.  Rotulas,  grades. 


REJECTO,  i>arL  j>a«s.  irrejj.  do  Rejeitar. 
REJEIÇÃO,  «./.   íDo  latiiii  rejectio).  A 
ftcçí\o  de.  rejeitar. 

—  líepnlsa.  —  Rejeição  do  voto. 
REJEIRA,  «  .  /.  Vid.  Rageira,  <•  Rajeira. 
REJEITADO,  jxirl.  pafs.  de  Rejeitar.— 

«K  .HO  Kabom  onde  «e  dà,  com  que  ])re«- 
toza,  e  alvoroço  alli  acodem,  por  nam 
ouuireni,  h»;  chegarem  tarde,  que  lhe  di- 
gam, a  oRmola  hc  jiV  dada,  andai  embo- 
ra; a«r<im  o.H  negligentes,  que  perdem  tem- 
po accõmoilado  pêra  a  oraçam  entregan- 
doso  a  cousas  inúteis,  o  impertinerlte^, 
sam  rejeitados  <le  Deus.].  Frei  Bartholo- 
meu  dos  Martyres,  Compendio  de  espiri- 
tual doutrina. 

ne  lium  fillio  teu,  faiuilia  rejelhtfla, 
K('(liviv;i  oiitrii  voz,  na  iiiiirf;eiii  fria 
Do  espraiado  Danúbio  bcUicoso 
Os  vives  ollio.s  para  os  LVoa  so  volvem. 

J.   A.    DK  MACF.UO,  VIAOKM   i;.\TAriCA,  Caut.   2. 

REJEITAR,  V.  a.  [Do  latim  rejicere). 
Atirar,  ferir  com  rejeito. 

—  Termo  de  volateria.  Revessar,  vo- 
mitar. Vid.  Engeitar. 

—  Recusar,  não  acccitar  o  que  fie  lhe 
dá.  — «.Se  outrem  que  mut  vós  (lhe  res- 
pondi eui,  essas  cousas  me  individuasse, 
rejeitaria  de  as  escutar;  mas  quando  Sn- 
zanna  a  si  mesma  se  accnsa,  esperanças 
me  ergue  de  que  destruida  essa  sua  illu- 
pào,  recupera  a  razão  o  império  que  ti- 
nha.» Francisco  Manoel  do  Nascimento, 
Successos  de  madame  de  Seneterre.  — 
1  .'\s  expressões  insolentes  de  alguns  fi- 
dalgos contra  a  quebra  dos  seus  foros,  os 
alvitres  oxeogitados  para  constranger  o 
.soberano  a  rejeitar  as  supplicas  dos  po- 
vos, as  disfarça' las  ameaças,  tudo  foi  tra- 
duzido, interpretado,  envenenado  e  reves- 
tiilo  de  dimensões  extraordinárias.»  Ale- 
xandre Herculano,  Monge  de  Cister,  ca- 
pitulo l.'i. 

REJEITAVEL,  adj.  2  gen.  Que  está  no 
caso  de  se  rejeitar. 

—  Que  so  pinle  recusar,  não  acceitavel. 
REJEITO,  .«.  m.  Arma  do   ferir  atiran- 
do. —  Ferir  ali/nem  com  rejeitos. 

-{-  REJER,  V.  a.  Vid.  Reger. 

Sou  o  cejro  ((ue,  apoz  o  mal  quo  sisro, 
Os  mal  jíuiadoj  p.assos  tão  mal  r<y<) 
Que  do  um  perigo  vou  noutro  perigo. 

FKRNÃO  SOROPITA,   TOESI.VS  E   l'BOSAS   ISEDITAS, 

pag.  153. 

o  Cvsno  altisonanto,  este  o  teu  erro, 
O  tou  Xume  este  foi,  que  os  Ceoa  penetra, 
Que  agita  o  largo  mar,  quo  uiiWe  ft  Terra. 
Que  a  vida  aos  liomons  dá,  e  ás  feraa  bi-utas, 
Que  a  fori;a  vegetjil  ua.s  plantas  móvc  : 
Kste  o  que  aviva  a  máquina  do  Mundo, 
Com  cila  sempre  unido  luim  Todo  firma, 
Além  do  qual  debalde  a  mente  anhéln 
Outro  Sor  que  produza,  o  reja  o*  Eutcs. 

J.   A.    DK   MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Caut.    4. 


REJO, 


Termo  da  província   do 


Minho.  Kspccie  de  Ralmonete.  Vid.  Rei. 

REJUNCAR,  r.  a.  Toruar  a  juncar,  tor- 
nar ;i  <:obrir,  cobrir  de  novo. 

RELA,  *.  Hl.  Hà  verde,  que  vive  entre 
«ilvas  e  valladoR. 

—  Ra  dos  monte».  Vid.  Rabeta. 
RELACIONAR,    v.    a.    Referir,    narrar, 

relat.ir. 

—  ^'azer  uma  relação,  jinta,  etc. 

■ —  Relacionar  (tl<jinii ;  procurar-llie  re- 
lações, correspondcnclaw,  ctc. 

—  Relacionar-se,  v.  rejl.  Adquirir  re- 
lações. 

—  (."onseguir  amizade,  trato. 
--  Aparcntar-se, 

I  RELAÇAM,  «.  /.  Vid.  Relação,  ortho- 
grapliia  ]irc-íerivel. —  «E  na  mesma  noite 
foram  presos  por  mandado  dei  Rey  dom 
Fernando  de  Meneses,  e  dom  fiuterrez, 
e  forão  trazidos  diante  dei  Rey  na  rela- 
çam,  onde  dom  Fern.-mdfi  fez  huma  fala  a 
el  Hey  muy  elegante,  como  homem  nniy 
prudente,  e  esforçado  caualleiro,  e  niuy 
isento,  na  qual  disse  algumas  palauras  a 
el  Rey,  de  que  ouue  desprazer,  e  por  i.sso 
80  nam  ouue  com  elle  piadosaniente  como 
tinha  em  vontade,  e  mandou  que  por  jus- 
tiça 80  determinasse  seu  feito,  e  foy  jul- 
gado a  morte,  e  degolado  na  praça  do 
St!tuuel,»  tiarcia  de  Rezende,  Chronica 
de  D.  João  II,  cap.  ;')4.  —  tHo  que  diz 
ha  relaçam  dos  Portugueses  que  ha  pro- 
víncia de  Sanxi  terá  de  termo  eincoenta 
ou  LX.  legoas  nam  sey  quanta  verdade 
tem,  porque  ha  jirovincia  de  Cantão  que 
he  huma  das  menores  da  China,  alem  de 
ter  debaixo  de  si  ha  ilha  DainSo,  que  he 
de  ciucoenta  legoas  tem  de  costa  mais 
legoas  das  que  diz  este  referimento  de 
Sanxl.»  Frei  (iaspar  da  Cruz,  Tratado 
das  cousas  da  China,  cap.  2ít. —  «As  vir- 
tuilos  que  tem  o  azeyte  da  Palmeyra  porá 
curar  feridas,  tenho  por  impossiuel  con- 
talas  com  facilidade.  Os  coriosos  leio  o 
tratado  das  Drogas  da  Índia,  que  com- 
pôs Curistouào  da  Costa  Affricano,  ou  os 
Colóquios  dos  Simples,  que  assi  intitulou 
Grada  Dorta  hum  IJuro  que  fez  das 
Drogas  da  Índia,  ou  a  Viagem  do  Mala- 
uar  do  Arcebispo  de  tioa.  nos  quaes  acha- 
ram estas  cousas  com  relaçam  mais  larga, 
e  copiosa. i>  Fr.  (iaspar  de  S.  Bernardino, 
Itinerário  da  índia,  cap.  3. 

1 .  RELAÇÃO,  .«.  /.  (,Do  latim  relatio^. 
Narração  de  successos. —  «EnJlosò  ha 
certeza  da  vinda  de  Saõ  Paulo  a  Espa- 
nha, mas  ainda  não  faltão  Authon»8  que 
tenliaõ  jiara  sy  que  foy  visitada  j>or  S. 
Pedro,  o  principal  dos  quaes  he  o  Jleta- 
plirastes,  de  cuja  relação  sabemos  qno 
vindo  o  Santo  Apostolo  a  Espanha,  dei- 
xou nella  por  Bi.spo  a  seu  Discípulo 
Epenoto,  em  huma  Cidade  chamada  Svt- 
mio,  o  mesmo  refere  Liponiano.»  Honar- 
chia  Lusitana,  liv.  ,'>,  cap.  7.  —  «Para  o 
que  fez  ajunt.tr  os  Bispos  de  sua  Provin- 
da, com  os  quae.s  celebrou  Concilio  n* 
Cidade  de  Merida,  aos  dczoyto  annos  do 


RELA 


RELA 


RELA 


17Õ 


Império  de  Recesuintho,  cuja  summa  re- 
ferirev.  por  não  cansar  os  Leytores,  com 
a  relação  extensa  de  cada  cousa  por  si. » 
Ibidem,  liv.  6,  cap.  33.  —  «E  porque  na 
falia  que  BemoiJ  tez  nesta  primeira  che- 
gada e  vista  delRey  segundo  anda  escri- 
pto  per  Riiy  de  Pina  clironista  mór  que 
foi  deste  Reyno:  assi  na  chronica  que 
deste  Rey  compôs,  a  relação  da  fortuna 
deste  Príncipe  Bemoij  está  taõ  curta  quà- 
to  he  copiosa  em  os  louvores  delRey  e 
admirações  que  elle  Bemoij  fazia  de  ver 
seu  estado.»  Barros,  Década  1,  liv.  3, 
cap.  6.  —  «Conuem  pêra  melhor  inten- 
dimento  da  historia  darmos  huma  geral 
relação  do  modo  que  se  naquellas  partes 
de  Ásia  nauegaua  a  especearia  com  to- 
dalas  outras  orientaes  riquezas,  te  virem 
a  esta  nossa  Europa  ante  que  abríssemos 
o  caminho  que  lhe  demos  pêra  este  nos- 
so mar  Oceano :  però  que  em  o  tractado 
do  commercio  copiosamente  o  escreue- 
mos.»  Ibidem,  liv.  8,  cap.  1.  —  «Quanto 
a  outra  guerra  que  temos  com  os  Reys  e 
Príncipes  Mouros,  assi  do  Reyno  Decan 
que  pelejaõ  a  cauallo  como  do  Reyno  de 
Cambava,  Ormuz,  etc.  em  seu  tempo 
daremos  relação  de  suas  cousas.»  Ibidem, 
liv.  9,  cap.  3.  —  «A  justiça  deste,  que  os 
Turcos  saudarão  por  Rei,  escrevem  ou- 
tros em  dilatadas  letras,  cuja  relação  dei- 
xo, por  ser  ao  gosto  importuna,  e  alhca 
da  Historia.»  Jacintho  Freire  de  Andra- 
de, Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv.  3. — 
«Este  discreto  Italiano  nào  se  esqueceo 
de  estabelecer  na  sua  Relação  a  possibi- 
lidade de  semelhante  caso,  dizendo  que  o 
nosso  corpo  he  composto  de  Óleos,  de 
Gordura,  e  de  Licores,  cujos  mixtos  en- 
cerrão  tanta  matéria  própria  para  o  fo- 
go, como  senão  acha  em  outro  algum  dos 
corpos  que  conhecemos.»  Cavalleiro  de 
Oliveira,  Cartas,  liv.  1,  n.°  15.  —  «Para 
não  faltar  o  credito  a  esta  relação  pois 
que  nào  he  certo  que  seja  daquelle  Au- 
tor, digo  a  V.  S.  que  Guilherme  Debram 
na  sua  Theologia  Physica,  L.  4.  Cap.  7 . 
observ.  14,  Pag.  226  diz  que  conheceo 
esta  mesma  molher  viva  muitos  annos 
depois  de  enforcada,  e  que  lhe  segurarão 
que  tinha  tido  muito  tilhos.»  Ibidem,  liv. 
3,  n.°  45. 

—  Fazer  relação ;  narrar,  noticiar.  — 
«Da  viagem  do  qual,  e  do  que  elle,  e 
Francisco  Serrão,  que  hia  em  sua  com- 
panhia passaram,  adiante  faremos  rela- 
ção, quando  começai-mos  a  tratar  em  o 
descubrimento  das  Ilhas  de  Maluco,  on- 
de elles  eram  enviados.»  Barros,  Década 
2,  liv.  9,  cap.  3. —  «Em  quanto  em  Ma- 
laca passaram  as  cousas,  de  que  no  Li- 
vro precedente  fizemos  relação,  as  quaes 
vam  continuadas  do  Janeiro  do  anno  de 
doze,  que  Aftbnso  d'Alboquerque  se  par- 
tio  delia  até  o  fim  do  anno  de  quator- 
ze,  fez  elle  algumas  na  índia,  depois  que 
veio  do  estreito  do  mar  Roxo,  que  con- 
vém enfiarmos  na  ordem  de  nossa  histo- 


ria.» Ibidem,  liv.  10,  cap.  1.  —  «Todas 
as  cousas  da  justiça  e  da  guerra  e  todas 
as  novidades  e  todo  ho  que  he  dino  de 
se  saber  em  cada  huma  das  províncias 
se  refere  pollos  louthias,  e  por  outras 
pessoas  ao  Ponchassi,  e  ho  Ponchassi  faz 
relação  de  tudo  por  escrito  ao  Tutam.» 
Fr.  (raspar  da  Cruz,  Tratado  das  cousas 
da  China,  cap.  22. 

—  Nuticia. — Dar  relação  de  tudo  o 
que  se  quer  saber.  —  «E  assi  mais  lhe 
dey  relação  de  outras  muytas  cousas  que 
soube  do  Rey  dos  Batas,  e  de  mercado- 
res da  cidade  de  Panaajú.»  Fernão  Men- 
des Pinto,  Peregrinações,  cap.  20.  —  «Ha 
outros  que  trazem  grande  soma  de  livros 
que  contaõ  historias  e  daõ  relação  de  tu- 
do o  que  se  quer  saber,  assi  da  criação  do 
mundo,  em  que  dizem  infinitas  mentiras, 
como  das  terras,  reynos,  ilhas,  e  provin- 
das que  ha  no  mundo,  e  das  leys  e  cus- 
tumes  de  cada  huma  delias,  principal- 
mente dos  Reys  da  China  quantus  foraõ, 
e  o  que  fizeraõ,  e  os  que  fundarão  as  ter- 
ras, e  as  cidades,  e  as  cousas  que  acon- 
tecerão em  cada  hum  dos  tempos.»  Ibi- 
dem, cap.  99.  —  «Mas  deixando  ja  ago- 
ra isto,  que  não  toquey  para  mais  que 
dar  relação  dos  embaixadores  que  vimos 
nesta  corte,  e  deste  principalmente,  por- 
que me  pareceo  mais  para  se  notar  que 
todos  os  outros,  me  tornarey  á  matéria 
de  qite  hia  tratado.»  Ibidem,  cap.  124. 
—  «Mas  tomandoo  pela  mão  acompanha- 
do daquelles  senhores  que  com  elle  vie- 
raõ,  o  levou  cõsigo  até  o  meter  na  casa 
onde  el  Rey  estava,  o  qual  inda  que  ja- 
zia na  cama  doente,  o  recebeu  com  ou- 
tra nova  cei-imonia  de  que  me  escuso  dar 
relação  por  não  fazer  a  historia  proluxa.» 
Ibidem,  cap.  135.  —  «Inda  que  o  mais 
era  em  ver,  ouvir,  e  perguntar  de  leys, 
pagodes,  e  sacriticlos  que  viamos  de  gran- 
de temor  e  espãto,  dos  quais  não  darey 
relação  de  mais  que  de  cinco  ou  seys  so- 
mente, como  ja  fiz  em  outros,  porque  me 
parece  que  estes  sós  bastarão.»  Ibidem, 
cap.  159. —  «Passadas  estas  cousas,  e 
outras  muytas  a  este  modo  de  que  se  pu- 
dera dar  relação,  e  na  minha  alçada  e 
engenho  coubera  podelas  aquy  escrever, 
o  Embaixador  se  despidio  deste  grepo 
com  muytas  palavras  de  cortesia,  de  que 
não  saõ  entre  sy  nada  avarentos,  porque 
desta  maneyra  custumão  a  se  tratarem  or- 
dinariamente uns  aos  outros.»  Ibidem, 
cap.  163.. —  «Os  meses  contam  nos  pol- 
ias luas,  de  maneira  ham  de  ser  despe- 
didos, que  cada  principio  de  cada  lua  se 
liam  de  achar  todos  os  correos  de  todalas 
províncias  na  corte,  pêra  que  no  primei- 
ro dia  da  lua  apresentem  ai  Rey  todas  as 
relações  de  todas  as  cousas  de  cada  pro- 
víncia.» Fr.  Gaspar  da  Cruz,  Tratado  das 
cousas  da  China,  cap.  22. —  «Mas  por- 
que destas  cousas,  os  Embayxadores,  que 
vem  da  Pérsia  a  este  Revno  de  Portu- 
gal, nos  dão  muy  largas  relações :  quero 


tomar  ao  fio  da  historia,  que  parece  irse 
desatando. »  Fr.  Gaspar  de  S.  Bernardi- 
no, Itinerário  da  índia,  cap.  20. 

—  Hoje  toma-se  relação  p 'r  lista,  rol, 
etc. 

■ — Sy^.  :  Relação,  memoria.  Vid.  este 
idtimo  vocábulo. 

2.)  RELAÇÃO,  s.  f.  A  consideração  ou 
respeito,  resultante  da  comparação  de 
dous  ou  mais  objectos. 

■ —  Connexão  moral  e  reciproca,  enlace 
de  deveres  e  obrigações. 

A  ignorado  Cantor,  e  a  Lyra  humilde, 
He  milito  huina  porção  :  cu,  no  silencio, 
S<^  medito  o  mortal,  medito  os  Entes, 
Que  tem  com  elle  liabitação  no  Globo ; 
E  as  mais  profícuas  arvores  contemplo, 
Que  mais  estreitas  relações  conservào 
Co'  a  existência  mortal,  e  a  vida  escórão. 

J.   AGOSTISnO  DE  SIACEDO,  MEDITAÇÃO ,  Caut.  3. 

—  Ter  relações  com  alguém,  ou  ein  al- 
guma terra;  ter  parentes,  amigos  e  cor- 
respondentes. 

—  Connexão,  dependência.  —  «  E  por- 
que muytos  Authores,  escreuerão  delia  sò 
de  lerem,  ou  de  ouuida,  não  atentando 
que  pêra  se  verificar  alguma  cousa,  he 
necessário  vella,  e  entendela  sobpena  de 
cahirem  em  faltas  tam  alheas  da  verda- 
de, quanto  muytos  delles  mostrão  esta- 
rem delia  em  suas  relações  ;  me  pareceo 
cousa  conuer.iente,  pois  a  andey  toda  em 
roda,  dar  aqui  huma  breue  conta  delia.» 
Fr.  Gaspar  de  S.  Bernardino,  Itinerário 
da  índia,  cap.  7.  —  «Eu  não  me  espanto 
ver  alguns  Escriptores  hirem  tam  longe 
da  verdade  nestas  relações,  que  como  fa- 
larão de  partes  tara  remotas,  em  tempo 
que  auia  pouca  noticia  delias  nam  tem 
culpa  em  seus  erros.»  Ibidem,  cap.  17. 


Quem  fórraa  as  relações,  c  o  laço  estreito, 
Que  une,  prende,  sustem  corpos  diversos? 
Quem  d'eterno  commercio  as  leis  liie  dieta  ? 
Porque  motivo  os  Ceos,  e  os  Astros  todos 
Em  tão  vasta  extensão  gyi-ando,  animào 
Hum  s')  ponto  subtil,  que  á  viata  escapa? 

J.    A.    DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,   Caut.   4. 

—  Conversação,  trato,  dever,  negocio. 

3.)  RELAÇÃO,  s.  /.  Tribunal  da  justi- 
ça, composto  de  desembargadores,  onde 
vão  por  agga-avo,  ou  appellação  as  cau- 
sas de  ante  as  Relações  subordinadas,  e 
dos  juizes  inferiores.  A  de  Lisboa,  cha- 
mada d'antes  a  casa  da  Supplicação,  é  a 
principal.  Temos  depois  de  Lisboa  a  ca- 
sa da  Relação  do  Porto,  mandada  edifi- 
car pelos  Philipipes. 

Muito  embora  :  quem  o  manda  V 
A  Relação  por  sentença. 
Entre  para  essa,  varanda 
co'esta  gente  que  ahi  anda 
té  satisfazer  a  offoiísa. 

ANTÓNIO  PRESTES,  ACTOS,  pag.    493. 

—  Os  antigos  escreviam  rolação,  e  da- 


176 


YIELA 


vam  ostc  nome  ao  relatório,  que  se  fazia 
(lo  feito  para  hc  (li!H(!iiii)arííar  na  ca-a  da 
Sui)])licu^'!\o,  (lo  eivei,  (;  ató  na»  c-aiiiaran. 

—  Accunliim  em  relação;  conconlam, 
ouvi<la  a  relação  «lo  feito,  o  (|iuí  hc  cMcre- 
vo  quando  o  ncfíocio  so  docido  na  Rela- 
ção, oii  consellio ;  (!  nilo  so  desombarífa 
por  tençõ  'H,  andando  por  casa  dos  juizo8, 
porque  eiitíio  ci)inc(,'a  o  dc-<i)aclio,  acor- 
dam lis  iln  ilf.semòurfio ;  o  assini  os  que 
se  dosi)acbani  na  nio^a  do  dcsoinharp), 
que  Huppre  i)bIo  do  paço  nas  Relações  dos 
dominios.  Os  reis  iam  muitas  vozes  assis- 
tir ás  Relações,  levando  talvez  o  príncipe 
herdeiro  eouisi^ío.  As  partes  oram  cha- 
madas e  ouvidas  dentro  em  alf^uns  casos; 
e  ás  Relações  das  camarás,  ou  vei'oações, 
para  dueidir  ncjioeios  contenciosos,  resto 
dos  antigos  Juízos  dos  concelhos,  podem 
as  partes  sor  presentes,  requerer,  inter- 
por roc'ur-;o->   para  as  alçadas  superiores. 

RELAMBER,  '"•  «.  (Do  latim  relambe- 
re).  Tornar  a  lamber,  lamber  segunda 
vez. 

f  RELAMBIDO,  /lai-f.  pass.  do  Relam- 
ber. 

RELAMBORIO,  A,  adj.  Termo  popular. 
De  má  ([\ialiilade,  sem  graça,  sem  ener- 
gia. 

RELAMPADEJAR,  r.  «.  Haver  relâm- 
pagos  na  atuuis[ihi'ra. 

—  Relanipagucar.  Vld.  Relampear. 

1.)  RELÂMPADO,  A,  a,lj.  Termo  anti- 
quado. Aliiviado,  abolido,  relaxado,  ex- 
tiacto,  relevado.  —  Seria  proveito  á  nos- 
sa terra  taes  degredos  serem  relâmpados. 
Cortes  de  Lisbja,  de  1434.  =  Em  Viter- 
bo, Elucidário. 

•2.)  RELÂMPADO,  s.  w).  Vid.  Relâm- 
pago. —  «Sc  Cl  aguçar  a  minha  espada, 
iazendoa  resplandecente  como  relâmpado, 
e  rainha  mão  tomar  vingança,  darei  o 
pago  a  meus  amigos,  o  aos  que  me  otiou- 
deram  castigarey,  e  embeberei  minhas 
setas  em  sangue  :  e  o  meu  cutelo  despe- 
daçara carnes,  s.  os  que  viuerem  carnal- 
mente.» Frei  Bartholiimeu  dos  Martyres, 
Catecismo  da  doutrina  christã. 

RELÂMPAGO,  >.  m.  É  uma  luz  brilhan- 
te produzida  pela  faisca  eléctrica,  resul- 
tante da  descarga  entre  duas  nuvens  car- 
regadas de  cleetrÍLÍilades  contrarias.  Ha 
quati"o  espécies  ilc  relâmpagos,  a  saber : 
relâmpagos  de  ziguezague,  devidos  á  re- 
sistência do  ar  comprimido  pela  passagem 
de  uma  forte  descarga;  relâmpagos  que 
abraçam  todo  o  horizonte,  que  parecem 
ser  produzidos  no  seio  mesmo  da  nuvem 
e  esclarecer  sua  massa;  relâmpagos  de 
calor,  que  apparecem  nas  noites  de  estio 
sem  haver  nuvens,  devidos  a  dcscai-gas 
eléctricas  entre  nuvens  existentes  abaixo 
do  nosso  liorisonte :  e  relâmpagos  cm  f<>r- 
ma  de  globos  de  fogo,  cuja  origem  é  des- 
conhecida. 


Nuncrt  tão  vivos  raios  fabricou 
Contra  a  fora  soberba  dos  gigantoâ 


RELA 

O  grilo  ferreiro  sórdido,  quo  obrou 
Do  ntitcado  as  ariniis  nuliaiitcs : 
Nom  tiuiti)  o  (irão  ToMiiiitd  arrciiicSHOU 
lielumpiviof  HO  iiiiiiirlo  fulminantes 
No  Rrao  diluvio,  donde  bi'ih  viveram 
Os  dous,  que  cm  gente  as  pedrsB  converteram. 
CAM.,  LUR.,  cant.  (>,  est.  Tb. 

—  «A  noite  esteiio  sempre  resplande- 
cente, e  clara,  nilo  com  o.^  rayos  da  Lúa, 
mas  com  os  infiirnaes,  e  medonhos  relâm- 
pagos em  que  ella  sempre  ardeo,  engros- 
.Mando  por  hiinia  parte  tanto  o  tio  da  eliu- 
ua,  quando  pella  outra,  nos  batdiauào  as 
lagrinuis  mais,  e  mais  sem  descjinsarcm.» 
Fr.  (jaspar  de  S.  Bernanlino,  Itinerário 
da  índia,  cap.  1.  —  «Intiouse  o  Sol,  o 
dia  cobriose  de  luto,  o  o  ar  turbado,  deu 
mostras  de  infelices  daninos,  por<|ne  no 
mesmo  instante,  se  rasgarão  as  nuuens, 
desfazeiídose  em  temerosos  relâmpagos,  e 
trouõcs,  o  o  mar  queyxo.so  deu  bramidos, 
sobindo  com  a  escuma  as  cstrellas.»  Ibi- 
dem. —  «  Uma  densa  nuvem,  que  Júpiter 
formara  nos  ares,  salvou  os  Uaunos;  e 
um  temeroso  trovào  declarou  a  vontade 
dos  deuses;  parecia  que  as  eternas  abo- 
badas do  alto  Olympo  se  desfaziam  sobre 
os  fracos  mortaes :  os  relâmpagos  corta- 
vam as  nuvens  d'um  a  outro  piilo;  e,  no 
momento  em  que  deslumbravam  os  olhos 
co'o  penetrante  clarão,  tornavam  os  vi- 
ventes a  rocahir  em  temerosas  e  noctur- 
nas trevas.  Uma  copiosa  chuva,  que  en- 
tão cfihiu,  separou  os  dous  exércitos.» 
Francisco  Manoel  do  Nascimento,  Tele- 
maco,  liv.  17. 


IJepontino  relâmpago  me  assusta, 

(Jui;ii  Imn-iMido  trovão,  vejo  espantoso 

Tiillio  ahia/.ado  do  sulfúreo  raio, 

Anua  nas  niàos  do  Eterno,  arma  espantosa. 

Que  aeuiprc  aterra  o  niáo,  e  humilha  o  justo. 

Onde  so  forja,  e  se  prepara  a  .seta, 

Quo  tào  rápida  vem,  que  as  nuvens  rasga  ! 

J.   A.    DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  CaUt.    1. 


Os  sulfúreos  relampagnf.  que  acláriío 
De  c3,)a(;o  a  espaço  os  negros  horizontes. 
Mais  das  trevas  o  horror  ao  Kauta  atteiào. 

IDKM,  MEDITAÇÃO,  Caut.    1. 


Só  com  ella  voando  o  homem  dilata 
O  circulo  mortal,  o  alma  levada 
Ko  centro  do  esplendor,  com  cila  oncára 
Luminosos  relanipaifOíi,  que  mostra 
Do  eterna  Sapiência  o  Mundo  impresso. 

IDEM,  A    RATUBEZA,  Caut.    1. 


Ardo  o  ar  om  relâmpagos  medonhos ; 
Antes  da  noite  a  sombra  luctuosa 
Tapa  a  vista  dos  Ceos,  nos  mares  pousa, 
Hranie  o  Tnfáo,  as  ondas  se  amotiniio, 
Humas  nas  outras  embatendo  estiilào. 
IBIDEM,  cant.  2. 

—  Figuradamente:  Appariçào  brovis- 
sinia  do  rcsplrudor,  mostra  instantânea. 

RELAMPAGUEAR,  r.  a.  Haver  ou  fazer 
relâmpagos. 


RELA 

—  Emproga-se  lambem  no  sentido  fi- 
gurado. 

RELAMPEAR,  ou  RELAMPEJAR,  . .  n. 
Vid.  Relampaguear,  '   Relarapadejar. 

RELAMPO,  «.  m.  Do  |.i<tixo  re,  e  do 
grego  liiiiipu..  \'id.  Relâmpago. 

RELANÇAR,  r.  a.  Tornara  lançar,  lan- 
çar   ilc.'    )iO\i). 

RELANCE,  «.  in.  Termo  usado  na  ce- 
guinti-  phrase:  (Janhir  de  relance;  ga- 
nhar lio  primeiro  lance,  ou  horte  no  jogo 
da  banca,  c  cmtros  de  jiarar.  Vid.  Lan- 
ce. 

RELAPSIA,  ».  /.  Reincidência  no  erro, 
ou  luro-ia  aburada. 

RELAPSO,  À,  nlj.  íDo  latim  relaptum. 
Que  cáe  na  heresia,  de|>oÍ8  de  ter  feito  a 
abjuraç.^o  publica.  —  Henrique  IV  herc- 
lico  relapso. 

—  Na  igreja,  aquelle  que  reincide  no 
pcccado,  depois"  de  ter  feito  penitencia. 
—  A  possibilidade  para  o»  peccadores 
mesmo  relapsos. 

—  Substantivamente:  Um  relapso,  nnta 
relapsa. 

RELATADO,  part.  pass.  de  Relatar.  Re- 
ferido. 

—  Termo  antiquado.  Levado,  retirado. 

—  Relatado  >m  numero  dos  <íeu$e$;  con- 
tado entre  elles.  —  Rómulo,  primeiro  rei 
de  Roma,  foi  relatado  pelo  povo  iw  nu- 
mero diis  (li-iises. 

RELATADOR,  A,  .«.  Vid.  Relator. 

RELATAR,  r.  a.  liJo  latim  relatum,  do 
referre\.  Referir,  expor,  narrar  algum 
acontecimento,  facto,  ou  historia  em  pre- 
sença lio  juiz.  —  «Alem  destas  cousas 
ordenou  tiimbem  outras,  taõ  necessárias 
pêra  a  ordem  do  regimento  do  Regno, 
quomo  de  sua  casa,  e  fazenda,  has  quaca 
tenho  por  cxcusadas  relatar  aqui,  quomo 
por  mais  importantes  ao  tempo,  e  ordem 
que  se  entào  requeria  nellas,  que  ao  dis- 
curso desta  sua  Chronica.»  Dauiiào  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1, 
cap.  9.  —  <i  U  Broquem  nos  consolou  en- 
tào com  palavras  noUiveis,  e  de  muyta 
caridade,  e  nos  m.Hdou  logo  aly  tirar  as 
prisões  dos  peis  e  das  m.àos,  e  tirandonos 
para  hum  pátio  que  estava  mais  adiàte. 
nos  relatou  tudo  o  que  era  passado  sobre 
o  no.sso  negocio,  de  que  nós  até  entào 
não  tinbamos  sabido  cousa  alguma,  pela^ 
muitas  guarda-:  que  nos  erào  postas.» 
Fernão  Mendes  l^into.  Peregrinações, 
cap.  142.  —  «E  dalli  a  seis  dias,  que 
foy  logo  a  sesta  feyra  seguinte  jâ  qua.si 
Sol  posto,  chegou  hum  balão  que  fora 
dos  inimigos  nuiyto  bem  esquipado,  em 
que  vinha  hum  soldado  por  nome  Ma- 
noel Godinlui  a  pedir  alviçaras  ao  Capi- 
tão desta  Vittoria.  o  qual  relatando  em 
publico  todo  o  discurso:  e  o  successo 
delia,  disse  que  fora  o  Domingo  de  anUs 
lis  di's  horas  do  dia.  que  pela  conta  se 
acliou  quo  fora  na  ]>nipria  hora.  em  que 
o  Padre  o  disse  no  púlpito.»  Ibidem,  cap. 
l  207.  —  «  E  porque  da  diuisào  desta  costa 


RELA 


RELA 


RELÊ 


177 


trata  Hieronymo  Oísorio ;  e  agora  uova- 
niente  Frey  loão  dos  Santos  na  sua 
Etliiopia  Oriental,  relata  miiy  ao  largo 
suas  particularidades,  ritos,  guerras,  trey- 
ções,  e  costumes,  por  tanto  i"emetto  os 
cm-iosos  a  elle.»  Frei  Gaspar  de  S.  Ber- 
nardino, Itinerário  da  índia,  cap.  7.  — 
«  Soo  lhe  he  licito  navegar  ao  longo  da 
costa  da  mesma  Cliina.  E  ainda  ao  longo 
da  costa,  nem  de  huma  parte  pêra  outra 
na  mesma  Cliina  llie  lie  licito  hir  sem 
cortidam  dos  Louthias  da  terra  donde 
partem:  na  qual  se  relata  pêra  onde  vay  e 
ho  negocio  a  que  vay,  e  os  sinaes  de  sua 
pessoa,  e  ha  idade  que  tem.»  Frei  (ias- 
par  da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da  Chi- 
na, cap.  23.  —  «Rumecão  ainda  que  ex- 
perimentava que  nas  minas  era  menor  o 
fruto,  que  o  trabalho,  ou  por  cansar  os 
nosâos,  ou  por  ter  os  seus  cm  boa  disci- 
plina, começou  a  abrir  outras,  que  sendo 
também  conhecidas  se  atalharão,  as  quaes 
nào  referimos,  porque  nào  iuvo,lvêi'ão  suc- 
oesso  memorável,  como  por  evitar  o  fas- 
tio de  relatar  cousas  tào  parecidas.»  Ja- 
cintho  Freire  de  Andrade,  Vida  de  D. 
João  de  Castro,  liv.  2. 

A  senhora, 
pois  ambos  nos  encontrámos, 
lho  relaie  a  que  chegámos  ; 
seja  ella  falante  agora 
que  lebre  e  filhos  estamos. 
ANTomo  PKESTEs,  AUTOS,  pag.  205. 

—  «Uma  conspiração  de  testemunhas 
para  relatarem  ao  santo  officio  de  um  ca- 
valheii'0,  em  vingança  de  este  ter  feito 
umas  prisões  por  ordem  do  capitão  gene- 
ral, dizendo  que  elle  affirmava  nào  haver 
inferno  ;  vários  incestos  públicos  e  man- 
cebias de  trinta  annos.»  Bispo  do  Grão 
Pará,  Memorias,  publicadas  por  Camillo 
Castello  Branco,  pag.  212. 

RELATIVAMENTE,  adv.  (De  relativo, 
e  o  suffixo  «mente»).  De  um  modo  rela- 
tivo. 

—  Com  respeito,  em  relação. 
RELATIVO,  A,  adj.    (Do  'latim   relati- 

vus).  Que  se  refere  a  alguma  cousa. — 
Esta  clausula  é  relativa  á  successão. 

—  Que  ti-az  á  memoria. 

—  Synonymo  de  contingente,  variável, 
accideutal,  em  opposição  a  absoluto.  — 
As  idêas  relativas.  —  A  jwsição  do  ho- 
mem no  universo  é  Velativa. 

—  Termo  de  grammatica.  Pronome  re- 
lativo ;  aquelle  que  se  refere  a  um  nome 
ou  a  um  pronome  precedente,  chamado 
antecedente.  —  Que,  é  iironome  relativo. 

—  Proposição  relativa  ;  diz-se  em  op- 
posição á  proposição  absoluta,  aquella  que 
está  unida  a  uma  outra,  e  que  fijrma 
com  ella  unia  proposição  composta. 

RELATOR,  A,  s.  (Do  latim  relator). 
Pessoa  que  refere,  historiando. 


Porque  não  pdde  em  Alvito, 
Logo  virá  O  relator, 

-VOL.  T.  — 23. 


Veremos  com  que  primor 
Argumenta  bera  seu  dito. 

GIL   \aCENTE,   FARÇAS. 

—  S.  m.  Homem  que  refere,  expondo 
a  causa  ante  os  juizes :  ordinariamente 
dizemos  o  juiz  relator,  o  que  assoma  o 
feito  quanto  aos  factos,  e  provas,  e  vota 
primeiro  direito  e  sentença. 

RELATÓRIO,  s.  m.  Relação  por  pala- 
vras, que  faz  o  relator. 

—  Exposição,  descripção  narrativa. 
RELAXAÇÃO,  s.  /.  (Do  latim  rela.mtio). 

Termo  de  medicina.  Syuonymo  desusado 
de  rela.caniento,  de  tensão  diminuida.  — 
A  relaxação  das  fibras. 

—  Termo  de  jurisprudência.  A  relaxa- 
ção de  um  prisioneiro ;  relaxação  desre- 
grada. 

—  Em  direito  canónico  :  Relaxação  das 
penas  ,•  diminuição  ou  inteira  remissão 
des  penas. 

—  O  acto  de  dispensar,  ou  afrouxar 
no  fazer  executar  a  lei. 

—  Figuradamente  :  Falta  de  observân- 
cia do  rigor  da  lei,  do  instituto. 

—  Intermissão,  folga,  descanso  do  tra- 
balho, ou  tarefa. 

RELAXADAMENTE,  adv.  (De  relaxado, 
e  o  suflixo  «mente»).  De  um  modo  rela- 
xado, frouxo. 

—  Com  frouxidão,  com  relaxação. 

—  Licenciosamente. 

RELAXADO,  part.  pass.  de  Relaxar. 
Posto  em  liberdade.  —  Um  prisioneiro 
relaxado. 

—  Enfraquecido,  afrouxado. 

—  Relaxado  á  justiça  secular ;  entre- 
gue com  o  processo  e  sentença  para  se 
imporem  ao  relaxado  as  penas  de  sangue 
e  de  morte,  como  fazem  certos  juizes  ec- 
clesiasticos. 

—  Figuradamente  :  Frouxo,  dissoluto, 
sem  observância  exacta,  rígida  das  leis. 
—  Religião  relaxada. 

RELAXADOR,  A,  adj.  (De  relaxar,  e  o 
suffixo  "dôr»"i.  Que  relaxa. 

RELAXAMENTO,  s.  m.  Relaxação  cor- 
pórea. 

RELAXAR,  V.  a.  (Do  latim  relaxare). 
Afrouxar,  diminuir  a  força  e  tensão  dos 
nervos,  ou  músculos  no  estado  sanitá- 
rio. 

—  Relaxar  o  estômago;  destemperal-o. 

—  Relaxar  o  voto;  dispensal-o. 
— ■  Perdoar. 

—  Relaxar  o  juramento,  a  lei;  des- 
atar, soltar  o  vinculo  moral. 

—  Figuradamente  :  Moderar,  abran- 
dar. —  Relaxar  o  animo.  —  «Mas,  sem 
embargo  do  dito,  amplificando  a  matéria, 
visto  herdar  el-rei  nosso  senhor  muito 
menos  do  que  podia,  deviam  os  seus  con- 
fessores dar-lhe  doutrina  de  solida  moral: 
isto  é,  que  um  príncipe  é  verdade  que 
deve  aflrouxar  alguma  vez  as  rédeas  do 
governo,  relaxando  o  animo  para  adqui- 
rir novo   vigor.»   Bispo  do   Grão  Pará, 


Memorias,  publicadas   por   Camillo   Cas- 
tello Branco,  pag.  184. 

—  Relaxar  os  réos  impenitentes  e  obsti- 
nados ao  braço  secular ;  fazer  o  que  se  • 
fazia  na  inquisição,  mandando  entregar 
os  taes  á  Relação,  para  imporem  ao  réo 
as  penas  de  sangue,  e  morte,  remetten- 
do-se  d'antes  com  os  processos,  depois 
com  a  sentença  da  inquisição,  tribunal 
régio,  onde  havia  ministros,  que  podiam 
sentenciar  em  casos  capitães. 

—  Relaxar  o  corpo ;  enerval-o,  enfra- 
quecel-o. 

—  Relaxar  os  costumes ;  apartal-os  do 
rigor  da  lei,  do  instituto. 

—  Relaxar-se,  v.  refi.  Perder  a  tensão, 
a  força. 

—  Relaxar-se  nos  costumes  ;  tornar-se 
dissoluto,  vicioso,  solto  nos  erros,  e  nos 
vicios. 

—  Relaxar-se  o  musculo,  o  nervo ;  en- 
fraquecer-se,  afrouxar-se  a  sua  tensão. 

— •  Relaxar-se  a  moral,  os  costumes ; 
tornar  se  menos   rígido,  severo,   austero. 

—  Figuradamente  :  Relaxar-se  o  ani- 
mo, o  espirito ;  afrouxar,  enfraquecer. 

RELAXO,  A,  adj.  Relapso,  reinciden- 
te na  primeira  culpa.  —  Homens  impeni- 
tentes e  relaxos. 

—  Relaxado  no  peccado,  merecendo 
ser  entregue  á  justiça  punidora,  sem  mais 
recurso. 

RELÊ,  s.  f.  Vid.  Ralé. 

—  Casta,  companhia,  sorte,  espécie, 
raça,  laia. 

Car-tc  já,  madraço. 
Moço ! 
Senhor ! 

Caíste  no  poço? 
vai  á  mula,  má  relê. 
Não  sobe  vossa  mercê  ? 
Matam  negócios  a  coço 
meu  senhor,  que  Ih 'as  rebejo. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  144. 

—  É  guião  de  toda  a  relê ;  diz-se  de 
aquelle  individuo  que  não  escolhe  mulher 
para  objecto  das  suas  concupiscências, 
topa  a  tudo,  rascGas,  rameiras,  prostitu- 
tas relaxadas,  faniqueiras,  cantoneiras, 
etc. 

— ■  Alguns  clássicos  empregam  indis- 
tinctamente  ralé  e  relê,  comtudo  pare- 
ce muito  mais  verosímil  escrever  ralé, 
fallando  de  volateria,  e  relê,  laia,  casta 
de  gente  baixa.  Talvez  de  relê  se  deri- 
va o  adjectivo  popular  reles,  que  quer 
dizer  ordinário,  ridiculo,  baixo. 

RELEGADO,  A,  adj.  Termo  antiquado. 
Pegado,  preso,  unido,  aferrado.  —  Não 
tem  em  cilas  heranças  qve  os  tenham  re- 
legados, e  de  ligeiro  se  vão  quando  lhes 
praz. 

—  Figuradamente  :  Como  arraigado, 
que  tom  cousa  que  o  prenda  na  terra  pa- 
ra não  se  mudar  d'olla. 

—  Vinho  relegado  ;  vinho  que  se  ven- 
de no  relego. 


178 


RCLK 


RELIO 


RELÊ 


RELEGAGEM,  a.  f.  Corta  poiHÍlo,  ou 
lôi'o  <|uo  Hii  paf^avii  do  vinlio  (|Uo  hc  ven- 
dia ])or  íilguin  particulíir  iio  tein|)o,  <jiio 
durava  o  rclíifío  ;  era  de  dez  até  <|uiiiz(; 
Hi»ldo.<  ])ur  tniid.  :  Doe.  da  camará  se- 
cular de  Coimbra,  de  \M'>1.  -  Em  Silves 
Hl!  pafíava  do  relegagera,  do  carga  caval- 
lar  uui  ulniudo,  o  a.snal  moio  almudo. 

RELEGO,  s.  m.  J'ai'occ  sor  contrac^'Jlo 
ou  aljnviatura  do  Regalengo.  E  um  di- 
reito, com  (|U0  o  «oborauo  ou  o  sou  do- 
natário, podcHi  livrcmontc  vender  o  vi- 
nho quo  no.s  sou.s  reguengos,  Jugada»  ou 
coutoa  se  cria ;  e  itiso  cm  certos  mezes, 
c  por  tantos  dias,  nos  quacs  se  nílo  piide 
vender  impunemeate  ruitro  qualquer,  con- 
íonno  o  que  nos  resjieetivos  foraes,  ou 
niorcêâ  se  determina.  D'aqui  proveio  clia- 
mar-so  igualmente  relego  o  lagar,  talha, 
adoga,  celleiro,  em  que  o  tal  vinho  se 
faz,  o  SC  rocollie,  e  mesmo  em  quo  ou- 
tros fructos  do   reguengo    se   depositam. 

—  Imposiyào  antiga. 

—  Pagar  relego  ;  talvez  por  privihv 
gio  da  isonçíio  do  jelcgo  real  nas  tor- 
ras. 

—  Rolcgagem. 

—  Sair  o  relego  ;  acabar-se  o  tempo 
do  monopólio  do  reloguoiro. 

—  Vinho  do  relego  ;  o  privilegiado  pa- 
ra se  vender  sem  concurso,  de  maneira 
que  em  quanto  dura  o  i"elego,  ou  tempo 
tia  venda  assim  privilegiada,  ninguém 
da  torra  p(')de  vender  o  vinho;  taes  são 
os  vinhos  dos  reguengos,  e  jugadas  d'ol- 
rei,  quo  tooni  três  mczcs  de  relego. 

RELEGUEIRO,  A,  s.  Pessoa  quo  cobra 
as  rendas  de  relego. 

—  Rendeiro,  ou  rendeira  de  senhorio, 
que  tem  relego. 

RELEIÇÃO,  s.  f.  A  acção  do  tornar  a 
lêr. 

—  Nova  leitura,  segunda  li(,'ão. 

—  Leitura  mais  estudada  para  corri- 
gir a  composição. 

■ —  Prelecção  feita  pelo  professor. 

f  RELEIXADO,  2"'>'f-  P"^s.  de  Relei- 
xar.  Tornii)  antiquado.  Relaxado,  dispen- 
sado, afrouxado. 

RELEIXAR,  I'.  (I.  Termo  antiquado. 
Rohixar,  afrouxar. 

—  l)is)ionsar. 

RELEIXO,  K.  m.  O  espaço  de  terra  eom- 
prehondido  entro  o  muro  o  a  casa. 

—  Nas  navalhas  do  barbear  d;l-se  esto 
nomo  á  borda  da  folha  iramediata  ao  fio, 
o  quo  forma  o  mesmo  fio. 

—  Releixo  na  parede ;  andito  largo. 

—  \"id.  Berma. 

RELEMBRADO,  part.  pass.  de  Relem- 
brar. 

RELEMBRANÇA,  .-.  /.  jMemoria,  recor- 
dação. 

—  Trazer  em  relembrança  ;  trazer  om 
nicmorin.  recordação. 

RELEMBRAR,  v.  a.  Trazer  á  momoria, 
tornar  a  lon\brar.  —  Relembrar  of  pccaí- 
dos  es(2uecidos. 


RELENTAR,  r.  a.  Amoilecer  com  a  hu- 
midade, com  o  relento,  afrouxar,  amol- 
lontar. 

—  Relentar-se,  v.  rejl.  Cobrir-sc  de 
relento,  aMiDJiooor  com  ellc,  refrescar-HC. 
-  -  Relentam-se  an  plantas  com  os  orva- 
lhos da  huíulià. 

---  liolaxar  com  a  humidade,  com  o  se- 
reno. 

RELENTO,  s.  m.  A  Inimidade  nocturna 
do  ar. 

—  Dormir  ao  relento ;  dormir  exposto 
a  olle,  dormir  em  desabrigo. 

—  A  molleza  produzida  pela  humidade 
nocturna  do  ar. 

—  Sereno,  cacimba  na  costa  africana, 
orvalliada. 

RELEO,  .«.  m.  Vid.  Raleo. 

RELER,  r.  a.  Tornar  a  lêr,  lêr  segunda 
vez,  lêr  de  novo.  —  Li  e  reli  «  sua  car- 
tinha, <jue  muito  apreciei. 

RELES,  adj.  2  (jen.  Termo  popular. 
Ordinário,  ridiculo,  baixo,  grosseiro. 

RELEU,  .«í.  m.  Termo  antiquado.  Ac- 
croscimo,  rosto,  sobejo.  Vid.  Releo. 

RELEVADO,  j'^"''-  ?''««*•  <^(>  Relevar. 
Feito  de  relevo.  —  Imagem  relevada  c/n 
fulgida  esmeralda. 


De  negro  Paragom  moldura  observo, 
Que  em  8Í  coutem  de  lane  a  iuingom  viva : 
IIc  relevada  em  fulgida  Esmeralda : 
Parece  q^ue  iuda  volve,  e  que  inda  alonga 
Oíí  claros  olhos  aos  remotos  Astros, 
E  que  luz  Filosófica  rcspirão. 

J.   A.   DE  MACKDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Ciut.   .3. 


—  Perdoado,  desculpado.  —  Falta  re- 
levada. 

■ —  Convexo,  resaltado.  —  Os  relevados 
peitos  da  mulher. 

—  O  relevado  da  pintura;  diz-sc  cm 
opposição  aos  lizos  c  ao  fundo. 

—  Alliviado,  livre. 

—  Ter  os  membros  relevados ;  ter  os 
membros  carnudos,  que  mostram  bem  a 
feição,  ao  contrario  dos  magros.  . 

—  Emprega-se  também  no  sentido  fi- 
gurado.—  Os  attrihutos  de  Deus  no  sa- 
cramento todos  relevados. 

RELEVADOR,  A,  adj.  Que  releva,  que 
]iordòa. 

—  Substantivamente:  Um  relevador. 
RELEVAMENTO,  s.  m.  A  acção  de  re- 
levar. 

—  A  acção  de  livrar,  do  perdoar,  de 
desculpar  alguma  obrigação,  trabalho, 
prestação  de  facto. 

RELEVÂNCIA,  .•■•.  ./'.  Importância.  — >1 
relevância  do  negocio. 

—  Soòresair  com  relevância;  sobrcsair 
vantajosamente. 

RELEVANTE,  part.  act.  de  Relevar.  Ini- 
portuiito.  (pio  é  de  algimia  monta  e  peso. 

—  Loc.  nK  .icuisrurPKXCU  :  Embar- 
gos relevantes ;  embargos  que  provados 
relevam. 

RELEVAR,    V.   a.   (Do  latim    relcvare''. 


Absolver,  rfímittir,  dispensar,  perdoar. 
—  Relevar  a  falia.  —  Relevar  a  pena.  — 
Relevar  alguma  obriga<;ão. 

Deixa  o  Mogor  o  »cu  honrado  intento  ' 
l'olo  que  á  Hua  gente  rdei-ain, 
Mas  com  dobrada  dôr  c  nentimcuto 
Segue  então  o  caminho  que  levava; 
E  Hcm  ter  iielln  algiun  impedimento 
(!lu'ga  ao  logar  parn  onde  caminhava, 
Tendo  maio  de  ci^m  h^guas  ja  partuada» 
Todatt  de  ricu»  iuiigoH  habitadas. 

ruANciHco  nK  AHnitAiiE,  ruiMKino  ceuco  de  oit', 
cant.  O,  cat.  Wj. 

—  «lia  loy,  que  os  releva  dos  tributos 
e  encargo»  civis,  como  se  mostra  ex  l. 
Médicos  de  Professorih.  et  Media.  Ha 
ley,  que  cíj  os  previlegios  <|ue  lhe«  a«HÍ- 
gna  nobilita  naõ  bò  os  MedicoH,  inas  eaaé 
molheres,  e  filh<«,  como  se  vc  ex  l.  Mé- 
dicos cod.  de  ProfesBsorib.,  et  Medico* 
et  ex  l,  in  fine  de  vac.  et  e.rrusut.t  Braz. 
Luiz  d'Abreu,  Portugal  medico,  pag.  '2iy'à. 

na  mente  tiuiho  por  U: 
que  BC  ha  de  desatinar 
por  cousa  que  relevar, 
pois  que  desatino  «'• 
Iani;ar  agoa  onde  ha  queimar. 
ANTÓNIO  ratsTKs,  AUTOS,  pag.  315. 

—  Relevar  a  figura  na  pintura;  pin- 
tal-a  de  n)anoira  que  pareça  de  vulto,  ou 
dar-lhe  aquelles  traços,  de  que  depende 
parecer  cila  feita  de  vulto  c  relevo. 

—  Alliviar,  livrar.  —  Relevar  o  próxi- 
mo do  trabalho. 

—  Relevar  a  falta,  culpa,  erro,  des- 
cuido; j)assar  por  ella. 

—  Relevar  a  dôr  de  alguém ;  consolal-o. 

—  V.  n.  Importar,  cumprir,  convir. — 
Releva-me  saber  esse  facto  minuciosamente. 

Pag.    Parece  que  adormccco. 
Port.  Pois  jerá  bom  que  nos  vamos. 
Alex.   Senhor,  quer  que  nos  vejamos? 
Port.   Senhor  vir-mc-ha  do  Cco : 
Rfleva-me  que  o  façamo.-(. 

CAMÒKS,   SELEICii. 

—  «Outro  que  se  preza  duns  encres- 
pados bem  feitos,  o,  por  não  estar  á  cor- 
tczia  de  canequi.  manda  engomar  o  man- 
téo  e  compôl-o  de  canudos,  por  que  ao 
oulro  dia  halo  fallar  á  dama,  e  lhe  releva 
ir  bom  enconloado  de  novo.»  Fernão  So- 
ropita.  Poesias  e  prosas  inéditas,  pag. 
120.  —  «E  despois  que  se  informou  dcllc 
de  algumas  cousas  que  lho  relevava  sa- 
ber, lhe  preguntou  tãbem  pelo  .^cu  inimi- 
go onde  estava,  e  quo  poder  tinha,  a  que 
lhe  ellc  respondoo,  que  estiva  daly  pouco 
mais  de  hum  quarto  do  legoa,  era  hunia 
casa  de  palha,  com  S"'>s  trinta  pescadores 
comsigo,  e  os  mais  delles,  ou  qu.isi  todos, 
sem  armas  nenhumas.»  Fernão  ^Icndes 
Pinto,  Peregrinações,  eap.  14.'^. 

»       Xão  releva,  é  tudo  assi ; 
mais  me  pesit 


RELÊ 


RELH 


RELI 


179 


porque  o  inferno  faz  presa 
em  ter  lá  tantos  de  mi  •, 
n'isto  quizera  defesa. 
A  Rasão  desprezada ! 

AXTONio  PRESTES,  Avros,  pag.  79. 

Falia  do  carnaz  virado. 
Não  reU.va  que  dizeis. 
Ora  dizeis  o  que  ciuereis, 
porque  o  senhor  eá  não  está 
c  a  senhora  bastará 
pêra  o  caso  que  trazeis. 
IBIDEM,  pag.  141. 

Amor  me  força  saber 
que  é  amor,  que  postura, 
si  saldrè  d'e3ta  ventura, 
ou  se  u'ella  hei  de  morrer. 
Rdei-a  n'isto  haver  cura 
meu  amor. 

IBIDEM,  pag.  221. 


Ora  vá. 

Em  fim,  a  mim  quem  rae  leva 
para  a  cêa,  embora  eu  vá 
com  taes  filhos,  não  releva. 
IBIDEM,  pag.  273. 

Isso  me  enfada. 
Jluito  me  dará  a  mi  d'Í330 ! 
Acabae,  que  me  releva 
irdes  comigo. 

IBIDEM,  pag.  39Õ. 

Todo  é,  tou  tou, 
não  se  p<5de  comportar  ! 
vistes  como  aqui  chegou  ? 
pois  tudo  nào  relevou 
ura  figo  !  foi-sc  a  jogar. 
IBIDEM,  pag.  411. 

Bofe,  senhora,  bem  raza 
fica  agoro  d'esta  lima  ! 
parece  casa  de  esgrima  ! 
Nào  releva;  olha  esta  casa 
que  me  torno  para  cima. 
IBIDEM,  pag.  45.3. 

Melhor  me  cubram  boas  fadas. 
Releva  mil  hom'as  juntas 
empeshar-lhe  saio  ou  saia. 
Pêra  esmola  de  mais  vaia, 
ou  destoutras ? 
IBIDEM,  pag.  437. 

—  Syn.  :  Relevar,  convir.  ViJ.  este 
termo . 

RELEVO,  s.  m.  A  obi-a  que  sobresahe 
na  matéria  em  que  tíca  lavrada. 

Vi  que  o  rdevo  portentoso,  c  raro. 
Sustido  era  nas  mãos  de  hum  Génio  illustre, 
A  quem  dêo  berço  dAdria  a  Grão  Rainha, 
Que  escrava  vimos  ser  de  escravos  feros, 
E  que  hoje  as  Águias  do  Danúbio  ompolgão. 

J.   A.    DE  MACEDO,  VI.AGEM  EXTÁTICA,  Cant.    3. 

Tem  nas  mãos  do  Filosofo  o  relevo, 
Que  ao  vivo  representa,  ao  vivo  exprime 
Do  grande  E.^:plorador  da  Natureza 
O  respirante,  magcstoso  vulto. 


—  Dlz-.se,  na  pintm-a,  daquella  appa- 
renda  dos  objectos,  que  por  um  prestigio 


da  arte  parecem  sobresaltar  da  superfície 
do  pauno. 

—  Meio  relevo ;  diz-se  a  obra  que  se 
faz  ou  lavra  sobresaíndo  ao  plano,  ou  su- 
perfície da  taboa,  ou  pedra  em  que  é  la- 
vrada, quando  sáe  só  meio  rosto,  e  meia 
grossiu-a  do  corpo  e  membros.  —  «Diz 
Plinio,  que  em  seus  tempos  usavaõ  jà  em 
lugar  destas  imagens,  huns  escudos  de 
bronze,  no  meio  dos  quaes  eutalbavaõ  de 
meio  relevo  em  prata  os  rostos  de  seus 
maiores,  oruando-llies  as  cabeças  com  as 
insignias  triuraphaes,  ou  quaesquer  outras 
Coroas,  que  lhes  competiaS,  como  costu- 
mavaõ  às  imagens  de  vulto.»  Manoel  Se- 
verim  de  Faria,  Noticias  de  Portugal, 
Disc.  1,  §  17. 

—  Relevo  inteiro ;  diz-se  quando  to- 
das as  partes  da  figura  saliem  da  tal 
plana. 

—  Termo  de  esculptura.  Figura  de  re- 
levo ;  figura  que  se  faz  e  lavra  sobre- 
saíudo  ao  plano,  ou  .superfície  da  taboa, 
ou  pedra  em  que  é  lavrada. 

—  Figuradamente :  O  relevo  dos  mem- 
bros torneados. 

—  Bordado  de  relevo,  ou  alto ;  borda- 
do alcachofrado.  Vid.  Realce. 

—  Figuradamente  :  Realce,  adorno  que 
embelleza. 

RELHA,  s.  f.  (Do  francez  antiquado 
reilhe).  —  A  relha  do  arado  ;  o  ferro  que 
abre  a  ten-a. 

—  Plur.  :  Relhas  dos  carros ;  taboas 
que  atravessam  por  dentro  da  madeira  o 
meão,  e  as  caibas,  e  chaços  das  rodas  do 
carro,  e  as  segui"am. 

RELHINQUIMENTO,  s.  m.  Termo  anti- 
quado. Deixat-rio,  demissão,  renuncia.  — 
Este  relhinquimento  faço  ao  ahhade  de 
tírdseila. 

RELHINQUIR,  v.  a.  (Do  latim  relin- 
quere).  Termo  antiquado.  Deixar,  demit- 
tir,  abrir  mào  de  alguma  cousa.  —  Con- 
fesso que  abro  mão,  e  relhinquo 

1.)  RELHO,  s.  m.  Cesto,  cinto  matro- 
nal,  petrina. 

—  Açoute  de  couro  crú  feito  de  uma 
tira  torcida  sobre  si. 

—  Chegar  ao  relho  a  uma  mulher,  ou 
desatar-lhe  o  relho  ;  casar  com  ella,  ou 
gozal-a. 

—  O  fecho,  ou  fívelão  com  que  outr'oi"a 
se  apertavam  os  preciosos  cintos  das  se- 
nhoras portuguezas.  O  serem  de  figura 
triangular,  e  quasi  da  feição  das  relhas, 
que  ainda  hoje  na  província  do  Minho 
estào  em  uso,  dá  o  nome  a  este  ornamen- 
to do  cinto  ou  faxa  peitoi-al. 

—  Se  fulano  vier  ao  relho  ;  se  elle  vier 
ao  que  pretendemos,  se  o  subjugai-inos ; 
diz-se  de  uma  alcoviteira  ou  dama  a  res- 
peito de  um  homem. 

2.)  RELHO,  s.  m.  Nome  dado  a  um 
peixe  que  se  pesca  no  rio  Mondego,  e 
em  outros  rios. 

3.)  RELHO,  A,  adj.  Termo  popular.  Rí- 
gido, duro,  áspero. 


—  Inflexível,  que  não  dá  de  si. 

—  Que  diz  as  verdades,  nuas  e  cruas, 
sem  dissimulações.  » 

RELHOTE,  s.  m.  Um  pedaço  de  relha, 
mais  estreita  e  curta,  embebido  no  chaco- 
do  carro  rústico,  e  o  segura  á  caiba,  pe- 
lo meio  do  chaço,  nos  extremos  do  qital 
também  se  embebem  as  relhas. 

I  RELICAYRO,  s.  m.  Vid.  Relicário.— 
«E  este  relicayro  traz  cada  hum  ao  pes- 
coço por  testemunho  de  suas  virtudes, 
paraque  se  saiba  porque  crime  fov  con- 
denado, e  quando  aly  entrou,  porque  to- 
dos saem  por  suas  antiguidades  conforme 
ao  tempo  em  que  aly  entrarão.»  Fernão 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.   108. 

RELICÁRIO,  s.  hl.   Caixa   de  relíquias. 

RELICITAÇÃO,  s.  /.  Termo  de  juris- 
pnidencia.  Segunda  licitação,  quando  de- 
pois da  primeira,  outro  co-herdelro  rellci- 
ta,  ou  declara,  que  toma  em  sua  sorte 
por  maior  valor,  o  prédio,  ou  movei,  ixma 
vez  licitado  por  outro  co-herdelro. 

f  RELICITADO,  pari.  ^^««s.  de  Relici- 
tar. 

RELICITAR,  1-.  a.  Termo  de  jurispru- 
dência. Fazer  relicltaçào.  Vid.  Relicita- 
ção. 

f  RELIGADO,  2J("'f-  i^"»»-  de  Religar. 
Atado,  ligado  com  novos  vínculos. 

RELIGAR,  V.  a.  Atar,  ligar  com  novos 
vínculos,  ou  multiplicando-os;  reatar. 

RELIGAS,  s.  f.  pi.  Termo  antiquado. 
O  mesmo  que  relíquias  dos  santos.  — 
Mando  as  minhas  religas  a  minha  filha 
D.   Berenqueira.  Vid.    Relíquias. 

f  RELIGIAM,  s.  f.  Vid.  Religião.— 
«Per  caso  das  boas  andanças,  e  successo 
destas  viajens,  fazia  el  Rei,  aliem  de  suas 
acostumadas  esmollas,  outras  de  dinhei- 
ro, e  speclarlas  a  muitas  casas  de  reli- 
giam,  assi  nestes  regnos,  como  fora  del- 
les,  o  mesmo  a  pessoas  particulares,  pê- 
ra que  per  Intercessam  e  oraçam  destes 
prouuesse  a  Deos  lhe  prosperar  seus  ne- 
gócios de  bem  em  milhor.»  Damião  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1, 
cap.  64.  —  «Poucos  dias  depois  destas 
vistas  vieram  a  dom  Vasquo  embaixado- 
res de  certa  gente  Christãa,  que  habita 
nas  terras  de  Cranganor,  pedir-lhe  os 
quizesse  tomar  em  sua  guarda,  e  em  no- 
me dei  Rei  de  Portugal  os  defender  dalli 
por  diante  em  c\xja  vassallagem  se  pu- 
nham do  que  elle  deu  graças  a  Deos,  e 
lhes  prometeo  em  nome  dei  Rei  de  o  fa- 
zer assi  elle  como  todolos  os  outros  capi- 
taens  que  a  índia  ulessem,  dos  costumes, 
e  religiam  dos  quaes  dii-ei  adiante  em 
seu  lugar.»  Idem,  Ibidem,  cap.  69.  —  «A 
primeira  acordaram,  que  os  Revs  de  Cas- 
tella  requeressem  a  el  Rcy,  que  por  quan- 
to a  excellente  senhora  em  nome,  trajos, 
e  seruiço  nam  cumpria  em  sua  religiam 
o  que  por  bem  do  capitulado,  e  seu  ha- 
bito era  obrigada;  que  os  Reys  apertas- 
sem muyto  que  se  entregasse  em  poder 
do  Duque,  ou  de  cada  hum  de  seus  ir- 


180 


RELI 


RKLI 


RELI 


miIo3  pcra  lho  fazerem  cumprir  o  que  fos- 
so honesto,  o  rezílo,  p"ÍH  (jue  eram  hcu.s 
vassalloH,  e  auiito  denlar  em  «cus  Jiey- 
no.i.»  Cinreia  do  Rezende,  Chronica  de 
D.  João  II,  cap.  39. 

RELIGIÃO,  «.  /.  (Do  latim  religio).  O 
culto  a  l)eu8,  e  ao3  seus  santos.  —  «Os 
quaes  posto  que  seguissem  o  error  dos 
Mouros,  como  foraõ  criiidos  naquella  ma- 
neira de  religiào,  o  fé  de  Cliristo  que 
seus  padres  tinhaõ,  ainda  que  n<aõ  con- 
forme a  Igreja  Romana.»  Joílo  de  Bar- 
ros, Década  1,  liv.  4,  cap.  4.  —  «Fez 
mui  grande  despesa  em  obras  mui  neces- 
sárias, deu  ordem  como  aiiula  que  depois 
sucedessem  comondatarios  pouco  deuotos 
da  religião  o  nam  podessem  desbaratar, 
porque,  ouuc  do  saucto  Padre  bulias,  pe- 
las quaes  concede  toda  jurisdiçam  spiri- 
tual  do  dito  mosteiro  aos  Prelados  trieií- 
nios,  alem  de  terem  sua  renda  separada 
da  dos  comendatarios  pêra  o  diante.» 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  3,  cap.  27.  —  «Dali  pur  diante  íf 
dou  mais  á  religião,  e  cousas  que  tiuhrio 
apparencias  de  a  terem,  e  por  se  mostrar 
particular  zeloso  das  trej  Icys  que  auia 
no  mundo  que  erào  a  Ohiistà,  ludayca, 
e  Gentilica ;  fez  huma  teada  misturãdoas 
todas,  e  tomado  de  cada  huma  o  que  lhe 
pareceo  mais  cõforme,  segundo  que  o 
acõselhauiio  Sérgio,  loiío :  e  Ccleno  seu 
criado.»  Frei  Gaspar  de  S.  Bernardino, 
Itinerário  da  índia,  cap.  2.  —  «A  de 
Oduiào,  lUianetia,  que  quer  dizer  ley-de 
religiào,  e  devai^ao,  a  que  interpretou 
Ale,  se  diz  Immemia,  que  signitica  ley 
Põtiíical ;  esta  guardam  os  Persas,  e 
muitos  Arábios  com  muita  parte  da  Mou- 
rama  da  índia.»  Idem,  Ibidem.  —  «Aqui 
se  deu  Ismael  a  todos  os  actos  de  virtu- 
de, pedindo  esmola,  que  todos  lhe  da- 
iião,  assi  por  ser  filho  de  tã  bõs  pays : 
como  porque  a  repartia  cõ  os  outros  po- 
bres, os  quaes  seruia  cõ  tanto  amor,  c 
charidade,  que  todos  se  marauilhau.^o, 
da  madureza,  virtude,  e  religião  que 
naquella  pouca  idade  vião ;  cm  tàto  que 
o  tinhiío  mais  por  homem  do  Ceo,  que 
terreno,  com  que  cobrou  nome  de  virtuo- 
sissimo,  e  sancto.»  Idem,  Ibidem,  cap. 
21.  —  «Entendia  o  Madune  Rei  de  Cot- 
ta,  como  o  de  Candea  buscava  com  a 
mudança  de  Religião,  a  protceyão  do  Es- 
tado; e  como  estos  Gentios  sito  observan- 
tes zeladores  de  seus  erros,  buscou  meios 
para  lhe  persuadir  que  era  a  idolatria  ne- 
cessária á  Coroa.»  .Tacintho  Freire  d'ATi- 
drade.  Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv.  4. 

Ao  Templo  oxcolso  as  bases  se  lançarão, 
Km  ti  fovilo  3\ibiiido,  em  ti  de  todo 
No  maior  lustre  os  séculos  as  \nrào. 
O  Pors!»  adorador  do  Sol,  ou  fogo, 
Em  ti  Seligiiío  buscou  por  corto. 

J.  A.  DE  UACEDO,  ÍIEDITAÇÃO,  COnt.   1. 


divino. 


Vida  de  pessoa  dedicada  ao  culto 


—  Acto  religioso. 

—  Aí  couna»  da  religião ;  as  cousas 
religiosas.  — «Nas  cousas  da  Religião  foi 
zelosíssimo,  o  fez  reformar  quasi  todas 
as  do  Reino,  o  roluzilias  a  seu  primei- 
ro rigor,  e  observância,  e  se  nu  matéria 
das  rendas  do  alguns  Mosteiros  uietteo 
mais  a  maò,  do  que  convinha,  sem  du- 
vida foi  a  culpa  mais  dos  Ministros,  e 
Conselheiros  Reaes  jwr  quem  os  negócios 
oorriaò,  que  do  mesmo  Rei.»  Frei  Ber- 
nardo de  Brito,  Elogios  dos  reis  de  Por- 
tugal, continuados  por  D.  .losé   Barbosa. 

—  A  verdadeira  religião ;  religiilo  do 
verdadeiro  Deus,  em  opposiçrio  á  falsa 
religião.  —  «Porem,  o  mais,  segundo  o 
que  nolles  notamos,  tinha  mais  apparen- 
cia  de  idolatria  e  gentilidade  que  de  ver- 
dadeyra  religião,  e  sobre  tudo  eraò  inuy- 
to dados  á  torpeza  nefanda.»  Fcrnrio  Jlen- 
des  Pinto,  Peregrinações,  cap.  124. 

—  Us  primeiros  povos  que  usaram  re- 
ligião foram  os  ethiopcs,  diz  nm  certo 
autlior.  —  «Diz  Diodoro  Siculo,  que  fo- 
ram 03  ethiope^  os  primeiros  homens  que 
tiveram  conhecimento  de  Deos,  e  primei- 
ro usaram  religião,  e  ceremonias  no  cul- 
to deuino,  e  foram  os  primeiros  que  ach:i- 
raij  o  modo  de  escreuer,  e  que  delles  veo 
o  conhecimento  destas  cousas  aos  Egy- 
pcios  donde  diz  que  elles  descendem,  e 
tomaram  as  leis  porque  se  gouernauam.» 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  2,  cap.  10. 

—  Reverencia  e  acatamento  ás  cousas 
sagradas.  —  «Neste  diabólico  templo  es- 
tão mettidas  em  religião  cm  muytas  ca- 
sas que  vimos  mais  de  cinco  mil  molhc- 
res,  mas  o  que  notey  he,  que  saõ  todas 
velhas,  sem  nenhuma  ser  moça,  e  a  mayor 
parte  delias  muyto  ricas,  as  quais  todas 
por  suas  mortes  fazem  doação  de  seus 
bens  a  este  pagode,  e  por  isso  tem  elle 
tanta  renda.»  Fernào  Jlendes  Pinto,  Pe- 
regrinações, cap.  162. 

—  Casa  de  homens  dedicada  ao  culto 
de  L")eus. 

—  Ordens  religiosas  de  cavalleiros.  — 
«Quem  pois  quizer  alcançar  a  graça  da 
Contemplaçiio  deue  quanto  puder  de.- 
uiarse  de  todas  as  oecupações  exteriores  : 
e  posto,  que  S.  Gregório  diga  que  os 
prelados  das  religiões  deuem  ser  mais 
frequentes  na  contemplação,  que  os  ou- 
tros, cuido,  que  isto  se  ha  de  entender 
daquellcs,  que  antes  de  chegar  a  prela- 
sia  fizeraõ  muitos  progressos  na  contem- 
plação bem  exercitados,  porque  acquiril- 
la  de  nouo  quando  estaõ  occupados  no 
gouerno  dos  súbditos,  como  seja  neces- 
sário attender  ao  aproucitamento,  e  com- 
modo  delles  scrà  mister  grande  fauor,  e 
particular  concurso,  c  beneficio  diuino 
pêra  acquirir  o  dom  de  contemplar.»  Fr. 
Bartholomeu  dos  Martyres,  Compendio 
de  espiritual  doutrina. 

—  Figm-adamente  :  Virtude,  santida- 
de que  se  attribuo  a  alguma  cousa  para 


salvaçSo,  e  por  isso  se  lhe  tem  reveren- 
cia. 

—  Culto  a  falsos  deuses.  —  «Peró  por- 
que ostc  Xeque  Ismael  naquelle  tempo 
em  poder,  c  estado  era  maior  senhor  que 
o  Turco,  e  havia  pouco  tem|K>  que  lhe 
dera  huma  batallm,  e  veio  a  grande  po- 
tencia per  armas,  e  religião  de  secta,  e 
dclle  tem  escrito  alguns  authores.»  Bar- 
ros, Década  2,  liv.  H»,  cap.  õ.  —  «Fez 
(Iregorio  de  Mattos  em  Pernambuco  uma 
satyra  universal  ao  clero  o  religiões. 
Escapou-lhe  um  clérigo,  por  lhe  não  De- 
correr e  viver  fora  da  cidade.»  Bispo  do 
(irào  Pará,  Memorias,  publicadas  por 
Camillo  Castello  Branco,  pag.  130.  — 
«Entretanto,  apparcceram-me  alguns  ve- 
neráveis de  todas  as  religiões  que  fun- 
daram no  Pará  e  que  nmito  digiiamente 
occuparam  as  chronicas  das  ordens  que 
professaram.»  Ibidem,  pag.  1113.  —  «E 
03  Índios  que  lhes  forem  necessários  para 
o  serviço  dos  conventos,  se  lhes  reparti- 
rão na  forma  sobredita,  assim  a  elles, 
como  aos  religiosos  das  outras  religiões, 
conforme  a  necessidade  dos  ditos  conven- 
tos, e  quantidade  que  houver  de  Índios.» 
Padre  António  Vieira,  Cartas,  cap.  13. 
—  «Também  n'esta  de  Bento  Rodriíues 
tinha  ido  um  religioso  de  certa  religião, 
o  qual  trouxe  grande  quantidade  dos  di- 
tos escravos,  e  foi  este  um  dos  grandes 
impedimentos  que  os  padres  acharam 
para  reduzir  estea  Índios.»  Ibidem,  capi- 
tulo 15. 

—  Syx.  :  Religião,  piedade,  deroçÃo. 

Religião  é  a  virtude  moral  com  que  ado- 
ramos e  reverenciamos  a  Deus.  Piedade  é 
a  virtude  que  move  o  homem  a  honrar  a 
Deus :  ajunta  á  primeira  a  idôa  de  zelo 
e  aífeiçào  cordeal ;  é  a  religião  aflcctuo- 
sa  e  amável.  Devoção  é  o  fervor  e  reve- 
rencia religiosa  com  que  fazemos  certos 
exercicios  de  piedade,  que  por  isso  se 
lhes  dá  também  o  nome  de  devoções. 

Na  religião  domina  a  f é ;  na  piedade 
a  caridade ;  na  devoçào  a  esperança  ; 
que  n.^o  sPío  nossas  devoçòe^»,  senão  vo- 
tos a  Deus  pjira  que  nos  ouça,  por  isso 
que  n'elle  pomos  toda  toda  a  nossa  espe- 
rança. 

As  mulheres  sào  chamadas  em  lingua- 
gem ecclesiastica,  o  sexo  devoto,  porque 
nos  exercicios  de  religião  mostram  a  ter- 
nura e  a  sensibilidade,  que  lhes  é  pró- 
pria, e  s.^io,  por  outra  parte,  mais  minu- 
ciosas, c  quasi  ceremoniosas  nas  exterio- 
ridades  do  culto. 

RELIGIONARIO,  A,  í.  (Do  francez  re- 
ligioiíiitiirt  .  Nome  dado  áqaella  pessoa 
que  fazia  profissão  da  religião  refor- 
mada. 

—  Protestante. 
RELIGIOSAMENTE,  adv.  (De  religioso, 

e  o  suffixo    .t  mente  »\    Com   religiào. — 
Viver  religiosamente. 

—  Exactamente,  escrupulosamente,  e 
com  respeito. 


RELI 

—  Coin  modéstia,  e  á  luaueira  de  re- 
liírioso. 

"religiosidade,  s.  /.  (Do  latim  reli- 
giositasí.  Sentimento  de  escrúpulo  reli- 
gioso. 

—  Disposição  religiosa,  conjuneto  dos 
sentimentos  religiosos. 

religiosíssimo,  a,  adj.  Superlativo 
de  Religioso.  Muito  religioso.  —  «Fora 
este  dado  a  travessuras  de  mocidade, 
com  magua  de  seus  religiosíssimos  pães 
e  esposa,  e  com  sentimento  da  vizinhan- 
ça, e  grande  escândalo  de  Lisboa.»  Bis- 
po do  Grào  Pará.  Memorias,  publicadas 
por  Camillo   Castello  Branco,   pag.   132. 

1.)  RELIGIOSO,  A,  aJj.  iDo  latim  reli- 
giosas .  Que  pertence  á  religião.  —  O 
culto  religioso. 

—  Conforme  á  religião.  —  O  sentimen- 
to religioso  une  intimamente  os  homens 
entre  si.  —  Varão  douto  e  de  vida  reli- 
giosa. — •  «Nestas  Armadas  mandou  El- 
Rey  os  primeiros  Frades  da  Ordem  dos 
Pregadores  pêra  na  índia  exercitarem 
seu  officio,  e  xexo  por  Yigairo  geral  de 
todos  o  Padi-e  Frey  Diogo  Bermudes 
Castelhano  varaõ  douto,  e  de  vida  reli- 
giosa, e  exemplar,  e  trouxe  doze  Fra- 
des, que  loraõ  bem  recebidos  em  Coa,  e 
fundarão  o  celebre  Convento,  que  hoje 
tem  naquella  Cidade.»  Diogo  de  Couto, 
Década  6.  liv.  7,  cap.  2. 

—  Exacto,  pontual,  escrupuloso. 

—  Que  vive  conforme  as  regras  da 
religião.  —  «El  Rei  dom  Emanuel  era 
de  sua  natural  condJçam  religioso,  e  em 
todos  seus  negócios  a  primeira  cousa,  de 
que  sempre  trataua,  era  do  serviço  de 
Deos,  e  doctrina  de  sua  sancta  fé,  do 
qual  zello  movido  determinou  no  começo 
do  anno  de  iL  D.  iiij,  mandar  homens 
letrados  na  sacra  Theulogia  ao  regno  de 
Congo.»  Damião  de  Góes,  Chronica  de 
D.  Manoel,  part.  1,  cap.  76.  —  «Esta 
gente  religiosa  ou  que  por  tal  se  tem, 
he  grandemente  vaã  e  soberba  e  vivos 
sam  adourados  por  deoses :  de  maneira 
que  inda  os  menores  danti-elles  adouram 
os  mayores  como  deoses,  rezandolhe  e 
prostrandose  diante  deles  :  e  assi  ha  gen- 
te comum  tem  muito  cre.lito  nelles,  com 
muito  grande  reverença  e  veneraçam.» 
Fr.  Gaspar  da  Cruz,  Tratado  das  cousas 
da  China,  cap.  1.  —  «Falam  a  lingoa  Per- 
siana e  Arábiga,  tr^^tamse  como  homens 
religiosos.  Também  sam  obrigados  a  dar 
de  comer  daquelles  legumes  e  mantimen- 
tos as  catilas  que  ali  vierem  ter  três 
dias.»  Ibidem,  cap.  56.  —  «Tem  mais  o 
vaò  desta  grande  cerca,  segundo  conta 
este  Aquesendoo,  mil  e  trezentas  casas 
nobres,  e  de  ofácinas  de  miivto  custo,  de 
molheres  e  de  homens  religiosos  que  pro- 
fessaõ  as  quatro  leys  principaes  do  nu- 
mero das  trinta  e  duas  que  ha  neste  im- 
pério da  China,  das  quais  casas  dizem 
que  alguns  tem  das  portas  a  dentro  pas- 
sante  de  mil  pessoas,  a  fora   os   servi- 


RELI 

dores  que  ministraõ  de  fora  o  necessário 
para  a  sustentação  delias.»  Fernão  Men- 
des Pinto,  Peregrinações,  cap,  105. 


Aqnelle  Manoel  que  jiinto  estava 
Com  matrimonio  á  Veiga  valerosa, 
Temendo  que  se  o  Ceo  a  mào  voltava 
Contra  a  gente  tiei  rdiíjiosa, 
E  forças  e  poder  ao  imigo  dava, 
D  huma  barbara  mào  (Jespiedosa 
Despojo  venha  a  ser  a  sua  chara 
Esposa,  que  de  si  o  despojara. 

FRANCISCO    DE    ASDBADE,    PBIJLEIBO    CEBCO  DE  DIU, 

eant.  16.  est.  lU. 


—  «Licito  é  que  o  parente  religioso 
veja  a  mulher  ae  seu  parente,  ou  sua 
parenta,  ^'euha  a  casa,  ajude  a  alegrar 
nas  occasiòes  de  contentamento,  e  a  con- 
solar no  desgosto  ;  componha  a  discórdia, 
se  aconteceu  entre  os  casados.»  D.  Fran- 
cisco Manoel  de  Mello,  Carta  de  guia  de 
casados. 

—  Que  pertence  a  uma  ordem  monásti- 
ca. — ■  « Ter  hum  Rey  Mouro,  huma  Yma- 
gem  da  Mãy  de  Deos  em  sua  orta,  ou  hu- 
ma Igreja  em  sua  corte?  e  com  tudo  sa- 
bemos, que  na  sua  Metropoli  que  he  As- 
paam,  tem  a  Religiosa  Urdem  de  Saucto 
Agostiidio,  hum  Coiiuento  que  elle  defen- 
de, e  sustenta  à  sua  cust;i.»  Fr.  Gaspar 
de  S.  Bernardino,  Itinerário  da  índia, 
cap.  lò,  —  «Despoys  Ue  três  jornadas 
chegamos  a  hum  lago  de  agoa  amargoz 
que  estaa  em  a  Arménia  baixa,  antre 
humas  serras  e  montanhas,  que  teraa  de 
comprido  sete  ou  oyto  legoas,  e  de  tra- 
vessa cinco  ou  seys:  estam  dentro  delles 
duas  ilhas  pequenas  habitadas  de  frades 
religiosos  Arménios,  onde  tem  certos 
mosteyros,  e  tem  bôs  pumares  de  fruyto, 
como  em  estas  partes.»  António  Tem-ei- 
ro,  Itinerário,  cap.  22. 

2.)  RELIGIOSO,  A,  s.  Pessoa  que  está 
ligada  per  votos  monásticos,  que  profes- 
sa religião.  —  «Estava  o  Mosteyro  de 
Yieyra  em  sitio  desacomodado  para  Re- 
ligiosas, por  onde  se  passou  a  Sauta  com 
seu  Convento  para  o  Mosteyro  de  Basto, 
que  seus  parentes  lhe  fundarão,  e  como 
nesta  mudança  se  achasse  em  grande  fal- 
ta de  mantimentos,  fazendo  oracaõ  a 
Deos,  se  acharão  ao  dia  seguinte  à  por- 
ta do  Mosteyro  seys  moyos  de  farinha, 
com  que  se  remediarão  por  eutaò  as  ne- 
cessidades do  Convento.»  Monarchia  Lu- 
sitana, liv.  7,  cap.  2õ.  —  «E  já  quando 
lhas  mostrarão  esta  segunda  vez,  assi  lhe 
licou  na  memoria  o  que  os  religiosos  di- 
zião  de  quada  huma,  que  elle  mesmo  de- 
clarou á  Rainha  muitas  cousas  da  si^Til- 
ficaçaò  delias:  e  ambos  receberão  as  que 
viuhào  pêra  suas  pessoas.»  Barros,  Déca- 
da 1,  Uv.  3,  cap.  9.  —  «Rui  de  Sousa 
com  os  sacerdotes  e  religiosos  de  que  o 
maioral  delles  era  fi-ey  loão  da  ordem  de 
saò  Domingos:  (passados  os  primeiros 
dias  de  sua  chegada)  ordenarão  que  se 
fizesse  huma  Igreja  de  pedi-a  e  cal,  se- 


RELI 


181 


gtindo  lhe  per  elRey  dom  loào  era  man- 
dado, pêra  a  qual  obra  traziào  seus  offi- 
ciaes.»  Ibidem. — •  «Despois  que  salmos 
deste  terreyro  onde  vimos  todas  estas 
cousas,  fomos  a  outro  templo  de  religio- 
sas muyto  siunptuoso  e  rico,  no  qual  nos 
disserão  que  estava  a  mãe  deste  Rey, 
que  se  chamava  a  Nhay  Camisama, '  e 
neste  nos  não  deixarão  entrar  por  ser- 
mos estrangevi-os.»  Fernão  ]\Iendes  Pin- 
to, Peregrinações,  cap.  111.  —  «Pêra  os 
que  viessem  acharem  nos  religiosos  con- 
solaçam  peia  suas  almas,  e  consciências 
recebendo  nelle  os  sacramentos  da  Egreja 
e  ouuindo  os  offieios  diuinos.»  Damião  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3.  cap. 
Õ3.  —  «Coi.ta  Jlarco  I\Iatulo  que  indo  hum 
religioso  por  hum  caminho  lhe  pidiraõ 
certos  pobres  esmola,  a  qual  lhe  deu  de 
tudo  o  que  leuaua,  pouco  e  pouco,  até 
ficar  nú  sem  túnica,  cos  panos  menores, 
assentado  em  huma  pedra  cõ  sô  o  liuro 
dos  Euãgelhos  na  mão  lendo  por  elles.» 
Paiva  d'Andrade,  Sermões,  part.  1,  foi. 
166. —  «E  does  da  diuina  graça,  que  di- 
zia o  mesmo  padre  Francisco  podiam  bem 
fazer  santas  inuejas  aos  religiosos  mais 
solícitos  da  perfeiçam.  Todos  liam,  e  es- 
creviam já  o  Português,  e  rezauam  pe- 
las horas  o  officio  de  nossa  Senhora,  e 
as  mais  orações,  e  particularmente  a  pai- 
xam,  da  qual  eram  grandes  deuotos,  afir- 
mando, que  em  a  rezar  a  ella  sentiam 
maior  cousolaçam,  e  alegi-ia  espiritual, 
que  em  tudo  o  mais.»  Fr.  João  de  Luce- 
na, Vida  de  S.  Francisco  Xavier,  liv.  5, 
cap.  13.  —  «O  Elogio  deste  Frade  me- 
rece huma  de  duas  couzas,  ou  que  os  Re- 
giosos  a  quem  elle  quiz  louvar  o  exter- 
minem, ou  que  lhe  facão  mudar  as  ex- 
pressoens.»  Cavalleiro' d'01iveira.  Car- 
tas, liv.  1,  n."  28.— «Os  Religiosos  fo- 
gem da  mentira,  não  só  pelo  daniio  que 
causa  á  consciência,  mas  pela  offensa  que 
ella  faz  á  verdade.»  Ibidem.  —  «Pelo  que 
toca  ás  Freyras  de  Lisboa,  he  melhor  fa- 
lar com  ellas  do  que  falar  nellas.  As  Re- 
ligiosas do  meu  Paiz  são  igualmente  vir- 
tuosas como  as  do  vosso.»  Ibidem,  liv.  1, 
n.°  36.  —  «Por  onde  a  theoriea  he  com- 
mua  a  todos;  e  assim  a  estaõ  lendo  mui- 
tos Religiosos  nas  Escolas  publicas,  naõ 
só  fira  deste  Reyno,  mas  ainda  nelle.» 
]\Ianoel  Severim  de  Faria,  Noticias  de 
Portugal,  Disc.  2,  §  1.  —  «E  dentro  tem 
huma  Ilha  que  he  habitada  de  frades  Ar- 
ménios, e  nella  tem  mosteyros,  e  sam  gran- 
des religiosos,  e  tidos  naquella  terra  em 
gi-ande  veneraçam  porque  me  disseram 
que  em  nome  de  nosso  senhor  Jesu  Clrris- 
to  faziam  muytos  milagres,  e  aqui  se 
criou  com  estes  frades  Arménios  ate  que 
foy  em  boa  idade,  e  delles  aprendeo  as 
cousas  que  costumão  ensinar.»  António 
Tenreiro,  Itinerário,  cap.  5.  —  «Alegres, 
e  contentes  cõ  cortesias  feytas  a  seu  mo- 
do, nos  saudarão  todos  juntos,  e  nos  com 
outra  igual,  os  recebemos  a  bordo.  Man- 


182 


i:i:i 


11 1;  1.1 


iu:li 


dou  lo^o  "  Capitão  pcra  este  row-hiiiicm- 
to  fippai-iitíir  a  popa  da  iiao  de  rican  al- 
catifas (li!  Diáz,  e  porá  «i  liiinia  eadeyi-a, 
na  qual  se  assentou  vestido  á  cortesail 
iudintica  com  m-ai  bastilo,  a  ((ueui  os  fi- 
dalgos, e  Religiosos  lizerào  sua  cortesia.,» 
Fr.  (laspur  do  S.  Boruunlino,  Itinerário 
da  índia,  cap.  2.  —  «Taiubeni  o  st;r  tU-.a- 
cortez  com  <>«  religiosos,  o  estar  como 
potro  ospaiitiulii;o,  tendo  medo  de  (pial- 
quer  arqueiro  que  voa  pelo  ar,  é  andar 
limito  por  elle.  A  mulher  8C  descoiitia, 
vemlo  o  pouco  que  Ham  d'ella,  eacanda- 
daliísa-so  a  casa,  o  senhor  se  affronta,  e 
nada  tiea  melhorado.»  D.  Francisecj  Ma- 
noel de  Mello,  Carta  de  guia  de  casados. 

—  «Outro  mais  escrupulo.so  dizia,  «lue  em 
cm  quatro  parte4  1  le  jiareciam  bem  os 
religiosos :  Altar,  1'ulpito,  Confessioná- 
rio; e  pcrfíuntaudo-lhe  qual  fosse  o  quar- 
to luííari'  Kjspondeu  :  pintados.»  Ibidem. 

—  «  NiXo  me  mandou  vossa  senhoria  o  es- 
cripto  de  frei  Jcào  da  Silveira,  e  só  me 
disse  vossa  senhoria  que  o  livro  estava 
no  coUegio  d'esla  universidade,  mas  sem 
nomear  o  religioso  que  o  tinha.  A  dili- 
gencia em  eonnnum  fez  o  mestre  frei  Isi- 
doro da  Luz,  meu  grande  amigo ;  mas 
responderam-lho  como  avisei  a  vossa  se- 
nhoria, que  não  havia  no  coUegio  tal  li- 
vro, nem  noticia  de  tal  auctor.»  Padre 
António  Vieira,  Cartas,  n."  28. 

—  Um  religioso  de  virtude;  um  reli- 
gioso cheio  de  virtude,  verdadeiramente 
virtuoso.  —  «É  constante  tradi^^ào  que 
sempre  no  convento  de  Alemquer  está 
um  religioso  do  virtude,  mais  que  ordi- 
nária, com  que  a  corte  costuma  ter  gran- 
de devoi,'rio.B  Bispo  do  (irão  Par;i,  Memo- 
rias, publicadas  por  Camillo  Castello 
Brauoi),  pag.  132. 

—  Religioso  (/«  Santo  Ago<!tinho;  fra- 
de da  ordem  de  Santo  Agostinho.  —  «De- 
terminaram embarcarse  em  hum  Pan- 
gayo,  que  pêra  isso  todos  alugai*ão,  no 
qual  chegaram  a  Jtõbaça  em  companhia 
de  hum  Religioso  de  S.uicti  Augustinho 
chamado  Fr.  Itapliacl  líraudam,  que  foy 
o  que  me  deu  as  nonas  da  não  S.  lacin- 
to,  em  que  elle  tãbem  vinha  pêra  o  Rey- 
no.»  Fr.  (raspar  do  S,  Bernardino,  Iti- 
nerário da  índia,  cap.  4.  —  «Tornados 
pêra  casa  mo  cotaram  qiio  dali  duas  le- 
goas,  auia  outra  Cidade  chamada  Ampa- 
za  em  a  qual  estaua  huma  Igreja  adminis- 
trada por  hum  Religioso  de  Saneto  Agos- 
tinho. Festejamos  isto  muyto,  e  logo  lhe 
escreuemos,  que  à  véspera  da  Aseen- 
eão  do  Senhor  o  hiriamos  ver.»  Ibidem, 
cap.  6. 

—  Os  sacerdotes  e  religiosos  i><>r  ojjicin 
anjos.  —  «Saõ  os  Sacerdotes,  e  Religio- 
sos por  õfficio  Anjos :  se  o  naõ  forem  tam- 
bém nas  virtudes,  naõ  há  para  elles  re- 
demçaõ,  como  para  os  outros  homens.» 
Padre  Manoel  Bernardes,  Exercicios  es- 
pirituaes,  part.  1.  pag.  '2W. 

—  Religiosos  de  vida  ai>i>rovada ;  reli- 


giusuii  que  cumprem  bem  a  regra.  —  « E 
tornou  a  aquentar  aquella  (Jhristandade, 
e  augmeiítalla  com  hum  grande  numero  de 
intieis  que  coiiverteo,  e  fundou  por  aquel- 
la  (Jomarca  perto  de  quarenta  templos, 
cm  que  se  lhes  administrasMcm  os  OfTt- 
cios  l)ivin(js,  e  alii  deixou  alguns  Reli- 
giosos de  vida  .ipiirovadtt  pêra  os  dou- 
Iriíiarem,  e  ensinarem  as  ctnisas  de  nos- 
sa Fé.»  Diogo  de  Couto,  Década  (i,  liv. 
7,  cap.  ó. 

—  Os  religiosos  de  tí.  Jeroni/iuo.  —  «E 
na  Eimida  de  líethlem  fundou  hum  ma- 
gnllico  convento  aos  Religiosos  de  Sào 
llieronymo.»  António  Cordeiro,  Historia 
Insulana,  liv.  2,  cap.  1. 

—  JJ.  Joiínna  religiosa  no  mosteiro  de 
Jesus  d' Aveiro;  D.  Joanua  freira  pr()fes- 
sa  no  mesmo  nmstciro.  —  «Teve  da  llai- 
nha  D.  Isabel  o  Príncipe  D.  Joaõ,  que 
morreo  sendo  menino  de  pouca  idade :  A 
Infante  D.  Joanna,  que  foi  Religiosa  no 
Mosteiro  de  Jesus  de  Aveiro,  e  acabou 
seus  dias  com  opiniaij  de  Santa :  ( )  Prín- 
cipe D.  Joaò  que  lhe  sueecdeo  no  líeino.» 
Fr.  Bernardo  de  Brito,  Eiogios  dos  reis 
de  Portugal,  continuados  por  D.  Jtfeé 
Barbosa. 

—  Religiosos  da  ordem  de  S.  Francis- 
co.—  «O  que  feito  Tristam  da  Cunha 
mandou  dizer  aos  da  pouoaçam,  que  com 
elles  nani  queria  senam  paz,  e  amizade, 
como  com  Chvistãos,  de  que  foram  mui 
ledos,  e  a  algumas  molheres  desta  ilha, 
que  eram  casadas  com  os  ilouros,  por 
serem  (Jhristàs,  deu  liberdade,  e  logo  ao 
outro  dia  mandou  sagrar  a  mesquita,  e 
dizer  nella  Missa,  o  qual  officio  fezerani, 
frei  António  de  Loureiro  da  ordem  de 
sam  Francisco,  e  outros  religiosos,  e  clé- 
rigos que  hiaõ  na  frota,  e  lhes  pos  o  no- 
me da  aduocayam  de  nossa  Senhora  da 
Uicturia."  Damião  de  Uoes,  Chronica  de 
D.  Manoel,  jiart.  2,  cap.  23. 

—  Religiosos  da  ordem  da  Caridade. 
—  «l''izenios  orarão,  a  qual  acabada,  e 
saydos  fora  achamos  o  Padre  líeytor 
Fr.  Diogo  tio  Spu  Sãto  (que  este  era  o 
seu  nome)  que  cõ  mostras  de  incrediuel 
amor  nos  leuou  a  ambos  nos  bra(;os,  cò 
excessos  de  tàta  charidade,  quàta  os  Re- 
ligiosos desta  ordem  tem  com  as  outras 
em  quahpier  parte  que  estejão.»  Fr.  (i as- 
par de  S.  Bernardino,  Itinerário  da  ín- 
dia, cap.  ti. 

RELINCHAR,  v.  n.  Vid.  Rinchar. 
RELINCHO,  s.  m.  Vid.  Rincho. 

Belligcro  prazer  me  dóruo  sempre 

Õs  Clarins,  co'  as  festivas  alvoradas, 

yue  rcboao,  nas  eivas  penedias  ; 

(-'avallos,  coa  relinchos,  que  saúdão, 

Km  seu  Oriente  a  Aurora.  —  Era  um  contento 

Ver  os  Quartéis,  no  somuo,  iuja  cmpégados. 

F.   U.   DO  KASCIUENTO,  OS   UABTVKES,  1ÍV.   0. 

RELINGA,  í.  /.  Termo  de  marinha. 
Corda  de  atar  velas.  —  Cortar  com  a  es- 
2)ada  a  reliuga  da  vela. 


RELINGAR,  r.  a.  Termo  de  marinha. 
Pôr  a-i  ndingajt  ás  velas. 

—  Fazer  casa  ao  vento  com  a»  relin- 
ga». 

RELINQUIR,  V.  a.  (Do  latim  rtUiujue- 
rej.  Tl  riuo  antiquado.  Deixar,  abrir  inSo, 
deinitiir.  —  (luiiij-me,   e  relinquo-»».-   d« 

todo  o  meu  tjuiuJião. 

relíquia,  «.  /.  (Do  latim  reliijuia). 
(J  que  nos  restou  de  Chri^to  e  do«  un- 
tos. 

Ainda  que  os  gentios  deram  este  nome 
a  todo  um  corpo  defuncto,  os  cbriíitilos 
deram-n'o  u3o  só  a  um  corpo  inteiro  de 
al;rum  santo,  míxn  ainda  a  t>j<loB,  c  quaes- 
quer  despojos  da  ^umanida<le  d'aquelles 
que  nào  duvida  a  Egreja  t-anta  reinarem 
Com  Christo :  como  eram  cinza?,  ossos, 
vestidos,  ou  qualquer  partícula  d'olle«,  e 
até  as  cousas  inanimadas,  que  immcdia- 
tamente  tocaram  os  seus  corpos,  ou  fo- 
ram instrumentos  dos  seus  martyrios,  e 
aspergidas  do  seu  precioso  sangue.  Este 
culto  relativo,  e  que  verdadeiramente  se 
dirige  a  Deus,  que  é  maravilhoso  nos 
seus  santos,  principiou  com  a  Egreja.  e 
no  concilio  de  Kicêa  de  7^7  se  diz,  que 
Deus  nos  deixou  as  relíquias  dos  santos, 
como  fontes  saudáveis  d 'onde  r3o  cessara 
de  nascer  de  continuo  os  mais  avantaja- 
dos benefícios  para  o  povo  resgatado.  E 
com  efteito  esta  veneração,  que  sempre 
na  ehristandadc  se  deu  ás  relíquias  dos 
santos,  alguma  vez  se  estendeu  ás  mes- 
mas Hôres,  que  haviam  ornado  os  seus 
altares,  e  sepulturas,  em  quanto  obravam 
pela  fé  dos  crentes  assombrosas  maravi- 
lhas, como  diz  Santo  Agostinho.  Cidades 
e  províncias  se  jidgaram  bem  defendidas 
e  seguras  de  seus  inimigos,  só  por  terem 
em  si  as  relíquias  de  alguns  santos.  Sem 
ellas  ainda  depois  se  nào  podiam  consa- 
grar 03  altares,  ilas  nào  ha  palavra-s, 
que  bem  possam  dizer  a  piedade,  a  ter- 
nura, a  devoção  com  que  os  nossos  maio- 
res veneravam  as  relíquias,  com  que  os 
mosteiros  outrora  se  fundavam,  e  as  lar- 
gas doações,  que  em  honra  sua  se  faziam. 
=Em  Viterbo,  Eluc.  —  «E  ás  vezes  que 
sucedia  falar  com  Florcnciano  em  cousas 
de  S.  Jlartinho,  a  quem  venerava  com 
especial  devaçaõ  pela  saúde  que"  no  prin- 
cipio de  sua  idade  alcançara  mediante 
sua  intercessão,  o  relíquias,  lhe  referia 
sempre  este  milagre  das  uvas.»  Honar- 
chia  Lusitana,  liv.  ti,  cap.  l.">.  —  «E  te- 
ve noticia  do  modo  maravilhoso,  com  que 
partira  do  Lev.ante,  no  dia  que  as  relí- 
quias de  Saõ  Martinho  jxirtirào  de  Fran- 
ça, e  aportaía  em  seu  Reyno,  no  mesmo 
dia,  e  lugar  em  que  cilas  tomarão  terra: 
o  venerou,  e  ouvio,  como  dom  particular 
do  Coo,  mandado  para  remédio  da  gen- 
te.» Ibidem,  cap.  is.  —  ijlas  se  o  Bis- 
po quizer  Icvjvr  por  si  mesmo  as  relíquias, 
não  seja  elle  levado  em  eade\Ta  peloa 
Diíiconos,  mas  a  pé  em  companhia  da 
procissão  do  povo,  que  vay  aos  ajunta- 


RELI 


RELI 


RELO 


183 


mentoí!,  que  se  costumão  fozer  nas  San- 
tas Igrejas,  e  deste  modo  seraõ  as  relí- 
quias do  Senhor  levadas  pelo  mesmo  Bis- 
po.» Ibidem,  cap.  27.  —  «Nòs  comtudo 
uào  sabíamos  donde  fosse,  nem  de  que 
parte  tivesse  vindo  esta  Imagem,  mas 
sucedeo,  que  desfazendose  o  altar  pelos 
pedreyros,  foy  achada  uma  arquinha  de 
marfim  antigo,  e  nella  hum  envoltório 
em  que -avia  relíquias  de  alguns  santos, 
c  hum  pergaminho  com  esta  leitura.» 
Ibidem,  lív.  7,  cap.  4.  —  «As  quaes  con- 
tas dizia  serem  tocadas  cm  todalas  relí- 
quias daquella  Cidade  de  Jerusalém,  e  a 
campainha  fora  de  huma  Capella  de  N. 
Senhora,  com  a  qual  se  tangia  ao  alevan- 
tar  a  Deos  á  Missa  quotidiana,  que  se 
naquella  capella  dizia.»  Joào  de  Barros, 
Década  2,  lív,  8,  cap.  tí. 

As  Igrejas  destruídas 
de  todos  foram  roubadas, 
as  relíquias  voudidas, 
as  cruzes  cspcdaçadas, 
entre  ladrões  repartidas. 

GARCIA  DE  BEZEXDE,  MISCELLANEA. 

—  «Xesta  paragem  virão  o  monte  Si- 
nai, onde  com  fabrica  de  Anjos  forão  as 
relíquias  de  Santa  Catharina  collocadas 
em  illustre  deposito;  a  cuja  vista  D.  Es- 
tevão da  Gama  armou  Cavalleiro  a  D. 
Álvaro  de  Castro.»  Jacintho  Freire  de 
Andrade,  Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv. 
1. —  «Concluído  o  negocio  da  embaixa- 
da, quiz  o  Bispo,  pois  estava  em  cami- 
nho, visitar  as  relíquias  dos  Sagrados 
Apóstolos.»  Frei  Luiz  de  Sousa,  Historia 
de  S.  Domingos,  lív.  1,  cap.  2. 

—  Relíquias  dos  santos ;  monumentos 
preciosos  d'elle3,  dignos  de  culto.  — ■ 
((Panchr.  Agora  parecendovos  bem  a 
todos,  ordenase  o  que  convém  fazer  das 
Relíquias,  e  memorias  dos  Sãtos,  princi- 
palmente das  de  nosso  Padre  S.  Pedro 
de  Rates  Apostolo  desta  Província,  que 
Sant-Iago  parente  de  nosso  Salvador  dey- 
xou  nella,  para  salvação  das  almas.»  Mo- 
narchia  Lusitana,  liv.  6,  cap.  2. 

—  Desde  o  século  vii,  e  por  um  ex- 
cesso de  piedade,  que  não  por  desprezo, 
quando  os  ecclesiasticos  e  monges  de 
França  não  podiam  alcançar  justit;a  das 
vexações,  que  lhes  faziam  os  grandes  do 
reino,  e  ás  suas  igrejas,  e  mosteiros,  de- 
positavam no  pavimento  das  igrejas,  e  na 
mesma  terra  as  relíquias  e  as  imagens 
dos  santos,  e  até  a  mesma  cruz  do  Re- 
demptor,  cercanilo-as,  e  cobrindo-as  de 
espinhos,  e  abrolhos,  tapando  as  mesmas 
portas  dos  templos  com  matagaes  espi- 
nhosos, para  que  d'este  modo  provocas- 
sem a  indignação  dos  homens  contra  os 
aggressores  injustos;  e  só  depois  que  as 
injurias,  c  malfeitorias  se  reparav?.m, 
abriam-se  as  portas,  se  levantavam  as 
relíquias,  e  imagens,  se  purificavam  os 
templos,  se  tornavam  a  entoar  os  psal- 
mo3,    e    continuar  as   fnncções  sagradas, 


que,  durante  as  violências,  estavam  co- 
mo interdictas,  e  suspensas.  Ultimamen- 
te se  extinguiu  símilhante  abuso  em  um 
concilio  de  Leão  de  França,  pelos  fins  do 
século  XIII,  e  no  pontificado  de  Gregório 
X.  Slas  não  só  isto  :  avante  passou  a  de- 
voção das  relíquias.  D'ellas  se  serviram 
os  monges,  levando-as  com  grande  pom- 
pa ás  granjas,  e  prédios  dos  mosteiros, 
para  exterminar  os  roubadores  iniquos  : 
verdade  é  que  para  este  fim  usavam 
igualmente  de  certas  preces,  e  proclama- 
ções denti'o  mesmo  do  sacrificio  da  mis- 
sa. Conduzir  as  santas  relíquias  em  cha- 
rolas,  e  andores,  e  também  as  imagens 
dos  santos,  para  ajuntar  dinheiros,  com 
que  se  edificassem  de  novo,  ou  reparas- 
sem as  casas  de  Deus,  ou  se  alliviasse  a 
extremosa  pobreza  dos  seus  ministros, 
foi  cousa  que  viram  sem  grande  escânda- 
lo os  séculos  passados :  e  mesmo  o  levar 
as  relíquias  sagradas  aos  logares,  que  ás 
egrejas  ou  mosteiro;  se  davam,  ou  doa- 
vam, como  para  tomarem  posse  d'elles. 
E,  finalmente,  tempo  houve,  em  que  nas 
outavas  das  rogações  levava  cada  egreja 
as  suas  relíquias  com  procissão  solemne 
a  um  logar  determinado,  em  que  se  ex- 
punham todas  juntas,  para  signal  de  boa 
paz,  e  união  entre  os  moradores  das  res- 
pectivas parochias,  que"  alli  se  reconci- 
liavam de  todas  as  suas  desavenças,  res- 
cindiam-se  as  demandas,  sepultavam-se 
as  discórdias,  e  agradecendo  ás  relíquias 
dos  seus  patronos  tanto  bem,  voltavam 
cheios  de  prazer  a  suas  casas. 

• —  Diz-se  também  entre  os  sectários 
de  outras  religiões.  —  «Porque  os  tinhão 
por  muyto  grade  relíquia,  de  maneyra 
que  andando  estes  malaventurados  em 
pé,  envoltos  no  seu  mesmo  sangue,  e  sem 
narizes,  nem  orelhas,  nem  semelhança 
de  homens,  cahião  mortos  no  chão.»  Fer- 
não Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap. 
160. 

— -  Plur.  :  Restos,  sobejos.  —  «Achou 
porem  a  vida  onde  hia  esperar  a  morte. 
Porque  a  magestade  da  santa  cruz,  e  re- 
uerencia  do  nome  de  seu  seruo  fez  abai- 
xar as  espingardas,  e  trocou  os  corações 
aos  mãos  soldados.  Tais  foram  ainda  de- 
pois de  tantos  annos  as  relíquias  do  fruv- 
to,  que  o  P.  Francisco  fez  nos  naturais 
da  ilha  de  Amboino.»  Lucena,  Vida  de 
S.  Francisco  Xavier,  liv.  4,  cap.  1. 

Não  posso,  oh  leáes  Filhos  de  Teutates, 
Yer-vos,  neste  lugar,  sem  verter  lágrimas, 
Guardar  na  Escrava  Pátria,  Leis,  e  Culto, 
Dos  Avós  nossos,  da  Nação  que  dava 
Ao  Mundo  leis.  Sois  vos  relíquias  delles  ? 

F.    U.INOKL    DO    NASCIMENTO,    OS   MARTYRKS,    1ÍV.    0. 

RELIQUIARIO,  .'^.  m.  Vid.  Relicário. 

f  RELIQUIMENTO,  s.  m.  Termo  anti- 
quado. Xvl.  Relhinquimento. 

RELIQUO,  A,  adj.  (Do  latim  relifiuus). 
Termo  puuco  usado.  Restante. 


—  Emprega-se  também  substantiva- 
mente. 

RELIR,  i'.  11 .  Termo  antiquado  e  popu- 
lar. Rir. 

RELLA,  s.  /.  Armadilha  de  caçar  pás- 
saros. 

—  Vid.  Rela,  que  é  difí'('rente. 
RELOGEIRO,    ou    RELOJOEIRO,    s.    m. 

Homem  que  faz  relógios,  e  os  concerta. 

—  Homem  que  cuida  em  algum  relógio, 
para  que  vá  certo. 

RELOGIARIA,  s.  f.   Arte  do  relojoeiro. 

RELOGINHO,  s.  m.  Diminutivo  de  Re- 
lógio. Rrlogio  pequeno. 

RELÓGIO,  s.  m.  (Do  grego  hõrologion). 
Machiua  ou  instrumento  que  aponta  as 
horas.  —  «E  sentido  no  fallar  nas  qualida- 
des do  chá  de  Macau;  porque  se  se  fal- 
lar no  Ayson,  não  cuidem  que  é  author 
inglez  de  relógios  como  Taylor  e  Mar- 
chan.»  Bispo  do  Grão  Pará,  Memorias, 
publicadas  por  Camillo  Castello  Branco, 
pag.  50. 

—  Relógio  de  a<jua,  ou  de  areia;  am- 
pulheta de  agua,  ou  de  areia  usadas  para 
marcar  o  tempo. 

—  Adiantar-se  o  relógio  ;  apontar  mais 
tempo  do  que  é  passado. 

—  Âtrazar-se  o  relógio  ;  mostrar  me- 
nos tempo. 

—  O  relógio  do  (empo. 


O  tempo,  espera ! 

Este  relojio  não  se  destempera, 

PIc  muito  certo  e  muito  fatundo. 

GIL  VICENTE,    AUTO  DA  HISTORIA    DE   DEUS. 


—  Relógio  de  rodas ;  machina  composta 
de  varias  rodas,  pesos  e  molas,  que  fazem 
mover  regularmente  um  ponteiro  por  certo 
espaço  dentro  de  certo  tempo,  e  serve  de 
nos  mostrar  e  medir  o  tempo,  isto  é,  as 
horas,  que  passaram,  os  minutos,  os  quar- 
tos, etc.  São  de  -parede  os  de  caixa  gran- 
de encostados  ás  paredes  ,•  de  mesa  os  pe- 
quenos, qne  n'ellas  se  põe;  e  do  algibeira, 
os  que  n'ella  se  trazem ;  também  os  ha- 
via peqiienos  que  se  traziam  ao  pescoço,  e 
em  anneis.  —  «Em  Alemanha,  por  haver 
muita  gente,  florece  tanto  a  mechanica, 
que  a  ella  se  attribue  a  invenção  da  im- 
pressão, pólvora,  e  artilheria,  as  maravi- 
lhosas fabricas  dos  relógios,  e  dos  mais 
dos  instrumentos  Mathematicos;  de  entre 
elles  sahio  a  artificiosa  invensaõ  do  papel, 
de  qne  hoje  usamos,  das  quaes  cousas  to- 
dos os  antigos  naõ  tiveraõ  noticia.»  Ma- 
noel Sevei-im  de  Faria,  Notícias  de  Por- 
tugal, Disc.  1,  §  1. 

—  Outros  relógios  ha  em  que  as  horas 
se  nos  mostram  por  meio  da  sombra  que 
um  ponteiro  dá  sobre  o  risco,  onde  está 
marcada  que  hora  seja ;  estes  relógios 
são  os  do  sol,  ou  da  lua,  pela  luz  d'este3, 
c  são  horizor.taes,  verticaes,  etc. 

—  Termo  de  Marinha.  Meia  hora  me- 
dida pela  ampulheta. 

—  Dar  os  relógios  iiuve  horas,  doze  ho- 


184 


UE  LU 


REMA 


lUiMA 


rtiB,  otu.;  fa/.i>r  o«  hciih  hoiis  úh  nove,  <lozc 
Imnin,  <!tc. 

—  I)nr  corda  ao  relógio ;  fazer  onrol.-ir 
ft  eonlji  MH  |)o<,'ii  onílo  m;  onrcila,  o  doudo 
Hn  vai  destiiiriplando  a  niiiJa  do  m;o.  Ha 
relógios  <|iu'.  nv,  inovoín  por  |)(!.soíf  um  cor- 
das, otii  liarni.s  do  inolal,  ou  poiídulan 
para  iiiovor  o  relógio. 

—  l<'if,'uradaiiiiiiiti; :  Andar  o  relógio 
temperado.  —  «  Um  mostre,  outro  resolva ; 
(\\\v,  aiulaiulo  dostii  maneira  temperado  o 
relógio,  todos  o  crêoiii,  toiJos  o  tom  por 
oráculo.  Nào  só  se  concerta  a  si  mesmo, 
mas  faz  andar  aos  outros  concertados.  E 
ao  contrario,  se  so  deseoneerta,  também 
aos  outros.»  1).  l<^rai\eisco  Manoel  dc^  Ahil- 
lo.  Carta  de  guia  de  casados. 

—  Fi^íuradumento  :  Relógio  desconcer- 
tado;  pessoa  que  diz  parvoíces,  e  doscon- 
cortos,  desatinos. 

—  t^ifíuradamente  :  tíer  <i  mulher  como 
a  nuio  do  relogio,  e  o  marido  o  próprio 
relógio. —  «Não  cuide  v.  m.  que  mo  con- 
tradigo, ou  arrependo  do  quo  tenho  cscri- 
pto;  declai'0-me  com  um  bom  scmolhaute. 
Seja  a  mulher  como  a  miio  do  relogio,  c 
o  marido  soja  o  rclojíio.  Aponti^  ella,  e 
800  oile.»  D.  Francisco  Manoel  de  Mello, 
Carta  de  guia  de  casados. 

RELOJARIA,  s.  f.  Vid.  Relogiaria. 
RELOJIO,  .v.  /)/.'Vid.  Relogio. 
RELOJO,  s.  ,a.  Vid.  Relogio. 
RELOJOEIPO,  *•.  m.  Vid.  Relogeiro. 
RELOUCADO,  part.  paus.  de  Reloucar. 
Duas  \c/.câ  louco. 

—  Jlulto  louco,  mais  do  que  louco. 
RELOUCAR,    V.   a.   Fazer    duas    vezes 

louco,  f,i/.tu-  muito  louco. 

RELUCTANCIA,  s.  f.  Repufínaucia,  re- 
8Ísteui'ia. 

—  ( tliposirào  do  forças,  adversão. 
RELUCTANTE,  part.  act.  de  Reluctar. 

Quo  resisto,  que  repugna. 

—  Repugnante,  resistente. 
RELUCTAR,  v.  n.  (Do  latim  rehictare). 

Resistir,   repugnar. 

—  Oppnr  tor(,as,  refertar. 
RELUMBRAR,    r.    n.    Reluzir,    brilhar, 

resplandecer,  seintillar, 

f  RELUME,  s.  «I.  Fogo  vivo. 


E  oscuma  dns  paiiollas, 
ropancUas,  do  relmne 
que  rccozo  outras  mais  que  elhis. 
Dizei-uio  o  que  fiucrois  que  vista 
vossos  paiúnlios  do  lã? 

ANIONIO   THESTES,   ALTOS,   pilg.    iitl . 


RELUZENTE,  part.  act.  de  Reluzir.  »^u 
reluz,  <|ue  resplandece. 
—  íris  reluzente. 

llumas  di>  ('(>r  da  iiurpurs»  se  vestem  ; 
Outras  (lo  verde,  que  tupi/.»  os  campos; 
Outras  ajuutào  uas  uiiuiosas  peuuas, 
Qual  Íris  rehize.itie.  as  cores  todas. 
Das  espécies  carnívoras,  o  bravas 
Seuipre  he  menor  devastadora  turba. 

J.    A.    DK  MACEDO,   MEDITAÇÃO,  Caut.    3. 


REH,  *.  ./.  'inf.  (\)i)  latim  rem,  accus. 
de  réu),  ( 'oUf^a. 

— "(Jom  um  adv.  nugulivo,  HÍgidiica 
liada.  —  Não  calem  rem. 

K  «o  veossoiitra,  quii  llii  diria, 
Se  Miií  (lissessHe:  «t'a,  per  Vcis  perdi 
Meu  aiiiit;o  e  doas  que,  me  traria  ?• 
Ku  uou  sey  rf.m  ipio  lhe  disHrrtsaly. 
Se  nou  foss'esto  de  quo  mo  tem  i, 
Non  vos  di^oru  i|un  o  non  fariu. 

cAMi  ANTiiiii  riiunidiiKsi,  pag.  '2i>,  n,"  'J>>. 

REMACHADO,  adj.  Revirado,  rebitado. 
—  Xoriz  reraachado. 

REMADA,  .V.  f.  ( iolpo  dado  com  o  remo. 

— -  liiiiud.-io  dado  ao  barco,  com  o  remo. 

REMADO,  part.  pasg.  de  Remar.  — 
«Chegado  Aflbnso  d'Alboquerque  a  esto 
j)orto,  por  a  Cidade  ser  per  hum  rio  as- 
sima,  em  que  não  podiam  entrar  nãos 
grossas,  voio  a  elle  huma  lanchara  rema- 
da, em  que  vinham  seis  Jlouros  houra<los 
da  terr;i,  e  hum  1'ortuguez,  per  o  qual  o 
lley  delia  o  mandava  visitar  com  oflertas 
do  que  houvesse  mister  para  provisão  da 
frota,  como  quem  entendia  o  lim  da(|uella 
sua  viagem  a  Malaca.»  Barros,  Década  li, 
liv.  (),  cap.  1. 

REMADOR,  s.  m.  (Do  thema  rema,  de 
remar,  com  o  suffixo  «dÔr»).  U  que  rema, 
renioiro. 

REMADURA,  s.  f.  i  Do  thema  rema,  de 
remar,  com  o  suffixo  «dura»i.  Trabalho 
de  remai'. 

REMAESCER.  Vid.  Remanecer. 

REMAL.  Vid.  Ramal. 

REMANCHADO,  part.  pa>-s.  de  Reman- 
char. 

REMANCHADOR,  adj.  Remanchão. 

REMANCHÃO,  ONA,  adj.  Vagaroso,  ne- 
gligente, ronceiro,  que  tarda  em  fazer 
(pial(]uer  cousa. 

REMANCHAR,  v.  a.  Termo  popular.  De- 
longar, denuirar,  ililatar,  retardar. 

—  Remanchar-se,  v.  rejl.  Tardar  em 
fazer  alguma  cousa. 

REMANCHO,  .-.  m.  neseanyo,  pachorra, 
vauar.   phleunia. 

REMANÇO.  \'u\.  Remanso.  —  «  A  qual 
do  Padrão  pêra  dentro,  tem  de  fundo 
sete  brjiças,  e  jjoueo  mais  atem  hum  re- 
manço  de  vinte  cinco  atè  trinta,  e  neste 
pego  anchoramos.  Bem  ao  Padrão  estoue 
ja  antigamente  huma  Cida<ic,  da  qual  ao 
presente  não  ha  mais  que  huns  longos,  e 
ruynas  do  (]ue  foy.»  Frei  <!aspar  de  S. 
lieri  .irdino.  Itinerário  da   índia,   cap.  õ. 

REMANDIOLA,  .>í.  m.  Termo  populai-. 
Encano  a^Iueioso. 

REMANECENTE,  adj.  2  gen.  (Part.  act. 
de  Remanecer).  Que  sobeja,  restii. 

—  (Jue  persevera,  persiste. 

• — <S.  m.  O  que  resta,  sobeja,  fica. — 
O  remanecente  d<i  lurança. 

REMANECER,  v.  n.  Ficar,  sobrar,  so- 
bejar,  restar. 

—  Porsevoi'ar. 

—  Apparocer  inesperadamente. 


REMANENCIA,    >.  /.   <>  resU),  o  rema- 

M''l'"-|||i-. 

REMANENTE,  <olJ.  2  gtn.  Vid.  Rema- 
necente. 

Aili  .   [).■  romauia,  de  jiancadu. 

REMANGADO,  part.  p,u«.  de  Reman- 
gar. 

REMANGAR,  r.  a.  [..ançar  ui3o  para 
ferir. 

—  Remangar-se,  r.  rijl.  Vid.  Arreman- 
gar  se. 

REMANSADO,  adj.  EsUignado,  detido, 
t-uspen  liilo  o  curHo,  ou  a  cíjrrento  de  al- 
gum;i  coii-í.-i  ii<|uida. 

REMANSO,  ».  m.  (Du  latim  rematttum, 
HUp,  de  reiíianerei.  Dcton(;ão,  stupeiuAo 
da  agiia,  pcfjucna  onseaila,  lago.  —  «Já 
que  acjibava  do  correr,  em  uma  parte, 
que  as  aguai  faziam  remaaso,  viu  um 
batel  com  quatro  remos  e  quatro  onc;a8 
por  remeiros  de  niaravilho«a  grandeza, 
jiresas  a  umas  cadeias  gros.sas,  na  p<'ipa 
por  governador  um  liâo  envolto  eui  can- 
gue, como  que  se  nào  mantinha  d'outra 
cousa  senão  no  dos  p;L<sa;.'eiros.  •  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  de  Inglater- 
ra, cap.  íiy. 

—  Recolhimento,  retiro. 

—  Descanso,  aoccgo.  —  «  Pijrque,  pois, 
nào  aproveitaremos  alguns  instantes;  de 
paz  e  remanso  cm  iniincentcs  pa<«ii^atcm- 
))  sV  Também  cu  vou  sendo  velho,  dado 
que  os  annos  nào  sejam  muitos.  Debaixo 
da  coroa  ainda  estes  eabellos  negrejam ; 
mas  a  alma  sinto-a  encanecer.»  Alexan- 
dre Herculano.  Monge  de  Cister,  cap.  24. 

REMAR,  V.  a.  Mover  o  barco,  dando 
."ios  remos. 

—  Remar  sen  remo ;  supportar  suas  li- 
das, trabalhos. 

—  V.  n.  Dar  aos  remos,  para  mover 
o  barco.  —  « ( ieorge  botelho,  por  o  seu 
nauio  ser  muito  ligeiro  se  a-liantoa  da 
frota,  a  quem  sairão  quinze  calaluzes  doe 
inngos,  per  antre  os  quaes  sem  delles 
fazer  conta,  nem  lhes  querer  tirar  pas- 
sou adiante,  o  que  vendo  Poro  de  faria 
fez  remar  os  da  sua  gale  a  voga  forcada, 
pêra  lhe  acuilir. »  Dami.no  de  (iões,  Chro- 
nica  de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  41. — 
«Vendo  Vaseo  da  tíama  que  com  elles 
nào  auia  meio  de  paz,  mandou  remar 
pêra  os  nauios,  e  porém  à  espedida  al- 
guns besteiros  dos  nossos  empregarão 
nelles  seu  armazém  por  naõ  ficarem  sem 
castigo:  c  dahi  a  dou*  dias  com  tempo 
feito  mandou  Vasco  da  Camma  dar  a 
vela  sem  leuar  alguma  informavào  da 
terra  como  desejada.»  Barros,  Década  1, 
liv.  4.  cap.  ií.  —  •  D.  Vasco  de  Lima, 
com  nniito  grande  animo,  som  lhe  dar 
dos  pohmros  que  choviam  dentro  da  sua 
barcassa,  mandou  remar  avante  c  disse 
ao  patrão  delia,  q\u>  lhe  puzesse  a  pn^a 
no  baluarte,  que  se  nào  contentava  o  seu 
animo  senão  das  cou.<as  que  pareciam  im- 
possíveis, porque  elle  lhas  fazia  t<><lns  fá- 
ceis.» Diogo  de  Couto,  Década  4,  liv.  7, 


REMA 


REilA 


REMA 


185 


cap.  4.  —  « Acabadas  estas  salvas  de 
liuma  2)arte  e  da  outra,  chegou  a  bordo 
do  junco  de  António  de  Faria  huma  la,ii- 
teaa  muvto  bem  remada,  toda  cuberta 
de  hum  fresco  bosque  de  castanheiros 
com  seus  ouriços  assi  como  a  natureza  os 
criara  nelles,  guarnecidos  pelos  troços 
dos  ramos  com  muyta  soma  de  rosas  e 
cravos,  entressachados  com  outra  verdu- 
ra muyto  mais  fresca,  e  de  railhor  chey- 
ro  que  esta,  a  que  os  naturais  da  terra 
chamiío  lechias,  e  a  rama  de  tudo  isto 
era  tão  basta  que  ^e  não  viào  os  que  re- 
mavão,  porque  também  viuhào  cubertos 
da  mesma  libré.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  68.  —  «E  ainda  que 
hiamos  presos  ao  banco  da  lanteaa  onde 
remávamos,  nào  deixavão  os  olhos  de 
ver  cousa  muyto  grandiosa  nas  cidades, 
villas,  e  lagares  que  ao  logo  deste  gran- 
de rio  cstavão  situadas,  das  quais  breve- 
mente direy  alguma  cousa  desse  pouco 
que  vimos,  e  começarey  logo  por  esta  ci- 
dade do  Nanquim  dõde  partimos.»  Ibi- 
dem, cap.  88. 

—  Figuradamente :  Adejar.  —  Remava 
a  ave  com  as  azas. 

—  Remar  para  a  sua  opinião;  fazer 
por  sustental-a. 

—  Vingar,  andar,  adiantar-se. 
• — Remar  com  os  j^ês.;  nadar. 

—  Figuradamente :  Nadar. 

—  Trabalhar  muito  em  qualquer  cou- 
sa, ou  para  qualquer  fim. 

—  Remar  sem  cadeias;  soffrer  traba- 
lhos forçados  por  costume. 

—  Remar  contra  a  agua,  ou  contra  a 
maré;  querer  conseguir  alguma  cousa 
sem  embargo  das  contrariedades,  que  se 
oppõem. 

—  Remar-se,  v.  refl.  Ser  remado.  — 
«Simão  d'An<:b'ade,  ou  porque  ouvio  pri- 
meiro o  recado,  que  os  outros  capit<ães, 
ou  porque  o  seu  batel  se  remava  melhor, 
partiu  diante  de  todos.»  Barros,  Década 
'J,  liv.  8.  cap.  4. 

REMARCAVEL,  clj.  2  rjen.  Vid.  Notá- 
vel, Insigne,  Conspícuo. 

REMASCAR,  f.  a.  (De  re...,  e  mascari. 
Tornar  a  mascar,  remoer,  ruminar. 

REMASSAR.  Yid.  Remaescer. 

REMASSE,  s.  ?//.  Peça  de  ferro  usada 
pelos  esjiingardeiros. 

REMA.STIGAR,  v.  a.  (De  re...,  e  mas- 
tigar'. Jlastigar  outra  vez;  ruminar,  re- 
moer. 

REMATAÇÃO,  ou  REMATAÇOM.  Vid. 
Arrematação.  —  « E  façam  os  ditos  juizes 
em  ello  teer  tal  maneira,  como  se  faça 
venda  e  remataçom  delles  direitamente, 
sem  alguma  arte  ou  conluio  ou  engano, 
em  tal  guisa  que  as  almas  dos  finados,  e 
03  ditos  meores  num  recebam  hv  algum 
dapno.  ou  perjuizo.»  Ord.  Affons.,  liv.  4, 
tit.  41,  §  1.  —  «  Pêro  consirando  Nos 
acerca  desto  a  prol  cumunal  Dizemos, 
que  se  ao  tempo,  que  se  tal  remataçom 
ouver  de  fazer,  passado  o  tempo  que  avia 

TOL.  Y.  — 24. 


d'andar  em  pregom,  o  Porteiro  notificar 
ao  Juiz,  que  manda  fazer,  como  assi 
trouxe  os  ditos  bens  em  pregom  o  tempo 
contheudo  na  Hordenaçom,  e  que  nom 
acha  por  elles  mais  preço  daquelle,  que 
em  elles  he  lançado,  o  dito  Juiz  deve 
novamente  mandar  requerer  ao  devedor, 
que  pague  a  divida.»  Ibidem,  tit.  45,  § 
10.  —  «  Porque  a  razom  da  pena,  que  he 
posta  em  tal  caso  aos  Corregedores,  e 
Juizes,  ha  lugar  nos  outros  officiaaes  da 
Justiça,  que  a  dita  remataçom  fezerem, 
6.»por  tanto  deve  seer  igual  pena  em  el- 
les^) Ibidem,  tit.  Õ2,  §  7.  —  «  E  no  caso, 
houde  pendendo  a  demanda  antre  o  dito 
creedor,  e  devedor,  de  que  ao  despois 
decendeo  a  dita  eixecuçom,  ou  despois 
delia  em  qualquer  tempo  ante  da  dita 
remataçom,  veeo  algum  outro  creedor, 
que  pertendesse  aver  direito  na  dita  cou- 
sa apenhada,  fazendo  sobre  ella  deman- 
da, ou  protestando  por  seu  direito,  di- 
zendo que  sua  divida  era  primeira  que  a 
do  outro.»  Ibidem,  tit.  Ò3,  §  5. 

REMATADAMENTE,  aih.  Totalmente, 
inteiramente,  absolutamente,  completa- 
mente. 

REMATADO,  ixirt.  2^ass.  de  Rematar. 
—  «  E  muitas  vezes  acontece,  que  o  que 
recebe  dinheiro  emprestado  apenha  por 
elle  alguma  cousa  movei,  ou  de  raiz  com 
tal  condiçom,  que  nom  pagando  a  certo 
dia,  que  fique  o  dito  penhor  rematado  ao 
creedor  por  a  divida :  o  que  achamos  seer 
contra  Direito.»  Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit. 
39.  —  « Por  que  xe  lhe  vendem  seus 
beens,  ca  em  outra  guisa  serom  remata- 
dos por  aquelle  preço,  que  em  elles  he 
lançado,  ainda  que  pequeno  seja,  pois 
se  nom  pode  por  elles  mais  achar ;  e  se 
já  feito  o  dito  novo  requerimento,  ataa 
oito  dias  primeiros  seguintes  o  devedor 
nom  pagar  a  dita  divida,  e  o  Juiz  man- 
dar fazer  a  dita  arremataçom,  e  for  feita 
em  pruvico,  e  em  lugar  acustumado,  sem 
outra  alguma  arte,  ou  engano.»  Ibidem, 
tit.  45,  §  10.  —  «  Por  que  a  dita  rema- 
taçom foi  feita,  guardando-se  acerca  dello 
a  Lei  d'ElRsi  Dom  Donis  sobre  tal  caso 
feita  com  limitaçoões,  e  declaraçoões,  que 
despois  sobre  ella  forom  feitas ;  e  a  cousa 
assi  rematada  fique  salva  ao  dito  compra- 
dor, pois  que  a  comprou  em  praça  per 
authoridade  e  mandado  de  Justiça.»  Ibi- 
dem, tit.  53,  §  4. —  «Em  tal  caso  Man- 
damos que  se  faça  a  dita  remataçom,  e 
seja  logo  o  preço,  ou  quantidade  delia 
socrestada,  e  consinada  em  Juizo,  e  se- 
jam ouvidos  esses  creedores  com  seu  di- 
reito sobre  o  dito  preço,  e  quantidade, 
segundo  o  theor  da  dita  Lei  d'ElRey 
Dom  Donis;  e  a  cousa  rematada  fique 
sempre  salva  ao  comprador,  que  a  com- 
prou em  praça  per  authoridade  de  Jus- 
tiça.» Ibidem,  tit.  õo,  §  5. 

REMATADOR,  s.  m.  (Do  thema  rema- 
ta, de  rematar,  com  o  suffixo  «dõr»).  O 
que  remata. 


REMATAR,  v.  a.  Acabar,  concluir,  por 
fim,  terminar.  —  Rematou  o  discurso. 

— -Pôr  remate,  fim,  coroar.  —  Remata 
a  coroa  uma  cruz. 

—  V.  n.,  ou  Rematar-se,  v,  refl.  Ter-  • 
minar-se,  acabar-se,  finalisar.  —  «Ficou 
a  Condessa  Frãdina  (se  o  nome  he  ver- 
dadeiro) cercada  de  angustias,  aborreci- 
da de  todos,  e  mal  respeitada  dos  Bai*- 
baros,  servindolhe  de  alivio  a  breAridade 
com  que  perdeo  í  vida,  comida  de  vene- 
noso cancere,  rematandose  com  isto  as 
principaes  figuras  de  tam  lastimosa  tra- 
gedia.» Monarchia  Lusitana,  liv.  7,  cap. 
G.  —  «Diz  também  Jacobo  Filipo  Bergo- 
nense  no  seu  suprimento  das  Coronicas, 
depois  de  dizer  que  ha  duas  Scythias, 
huma  setentrional  e  outra  oriental,  que 
ha  oriental  se  remata  em  hum  ponto,  e 
que  nas  costas  tem  Ásia.»  António  Ten- 
reiro, Itinerário,  cap.  2.  —  «Bem  junto 
do  olho  se  remata  este  brinco  com  huma 
pérola ;  e  isto  vsam  quasi  todas  ate  as 
pobres.  Mas  as  Turcas  nam  custumam 
trazer  a  tal  inuenção  no  naris,  mas  cm 
lugar  delle  furão  a  barba,  bem  junto 
donde  começa  a  papada,  e  alli  trazem 
humas  argolinhas  do  prata,  ou  ouro,  se- 
gundo a  posse  de  cada  huma.»  Fr.  Gas- 
par de  S.  Bernardino,  Itinerário  da  ín- 
dia, cap.  13. 

—  Vid.  Arrematar.  —  «E  por  aquelle 
preço,  em  que  assy  os  ditos  bens  forem 
avaliados,  dem  elles  sua  autoridade  a  se 
rematarem  aos  ditos  compradores,  se  os 
por  elle  aver  quiserem,  e  em  outra  gui- 
sa non  consentam  per  nenhum  modo  que 
os  ajam :  e  mandem-nos  meter  em  pre- 
gom, e  rematar  a  quem  por  elles  mais 
der.»  Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit.  41,  cap.  1. 

REMATE,  s.  rn.  Ornato  que  finalisa  va- 
rias obras  de  architectura. 

No  meio  buma  Pyramidc  s'c1ct3, 
Jíostrando  cm  seu  triangular  remate 
Do  fogo,  c  clara  luz  o  assento,  c  throno, 
Qual  d'cntro  os  Gregos  o  mais  douto  o  mostra. 
Crendo  que  deste  fogo  a  alma  era  chéa, 
Que  qual  laço  entre  si  sustenta,  e  prende 
Incorpórea  sustancia  ao  corpo  inerte. 

J.   A.   DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Caut.    3. 

—  Conclusão  de  alguma  cousa.  —  «Dio- 
go fernandez  depois  de  ser  em  çurrate 
soube  que  Meliquegupi  andaua  fora  da 
graça  dei  Rei,  pelo  que  como  o  remate 
de  seu  negocio  estaua  neste  homem  que 
entara  andaua  agrauado  de  se  tornar  pê- 
ra índia.»  Damião  de  Góes,  Chronica  de 
D.  Manoel,  part.  3,  cap.  64.- — «E  logo 
estes  dous  membros  de  Satanás  eram  am- 
bos assinalados,  o  Capitam  tartamudo,  e 
o  Piloto  torto,  e  cego  d'hum  olho,  o  qual 
por  bom  remate  dalgumas  obras  tais, 
qual  sua  alma,  furtou,  ou  tomou  per  for- 
ça a  hum  Christam  da  terra  a  própria 
molher;  metemna  no  navio,  afastamse 
do  porto :  he  o  delito  publico,  e  grande 
o  escândalo  em  toda  a  cidade.»   Lucena, 


186 


REJrA 


RKME 


REME 


Vida  de  S.  Francisco  Xavier,  liv.  6,  cap. 
10,  —  «Do  iimiii  (juo  HO  ]iiirtM()U  acerca 
duHtuH  coiisaí),  iicin  lio  ilo  iiiiiilia  oljripi- 
(;aiii  tratalaa,  nem  eu  Huube  mui»  o  liai, 
c  remate  delias.  l'clo  (|uu  cortauiloatt 
a(jui  (<|uo  as  cousa*  diiuiilosa.i,  moliior 
lie  veiidellas  por  taeti,  a  couta  de  if^no- 
rancia,  ([uo  por  verdadeirab  sendo  falsaj*^ 
o  laui,'ando  iiiilo  das  <|Uo  tocilo  ao  cami- 
nho.» Fr.  (iaspjir  do  S.  Hernardiíio,  Iti- 
nerário da  índia,  cap.  12. 

—  Figuradamente :  O  augo,   extremo. 


Porque  BO  a  natureza 

Em  ti  o  rtinale  \mz  da  formosura, 

(iunl  Bcri  a  pndra  dura, 

Qu'  a  teu  valor  resista  brandamente? 

Que  fará  a  fraca  gente, 

So  ao  Imniano  parecer  nâo  so  defende, 

K  a  mesma  Vcnus  deosa,  ao  teu  se  rendo? 

CAM.,  ÉCLOGA   4. 


—  O  remate,  ou  fecho  das  canções ;  os 
versos  com  que  o  poeta  as  concluo. 

—  Fim,  termo,  acabamento,  conclusão. 
—  «Affon3od'Alboiiucriiue,  porque  aquel- 
le  dia  llie  convinha  tomar  conclusão,  e 
remate  deste  negocio,  mandou  logo  ás 
mios  trazer  escadas,  c  todo  o  necessário 
pêra  entrar  as  casas  d'FIRey  per  for^'a.» 
Barros,  Década  2,  liv.  10,  cap.  b. —  «A 
que  agora  quiz  dar  principio  nas  que  la- 
ço a  vós,  o  a  vosso  tilho  D.  Álvaro,  guar- 
dando o  remate  delias  para  o  cabo  de 
vosso  serviço,  que  eu  conti  >,  c  tenho  por 
mui  certo,  que  será  tal,  como  for.ào  os 
que  ate  agora  me  tendes  feito.»  Jacintho 
Freire  d'Andrade,  Vida  de  D.  João  de  Cas- 
tro, liv.  4.  —  «Ao  outro  dia  passamos  por 
huma  ponto  de  duzentos  arcos,  dos  quaes 
SÔ8  vinte  cinco  estauão  inteiros,  e  os 
mais  todos  quebrados,  mas  em  estado 
que  SC  contauam.  No  principio,  e  remate 
delia,  auia  duas  torres  pequenas,  postas 
mais  pêra  gallardia,  e  lustro  da  obra, 
que  pêra  dcfoudella  cm  caso  que  fosse 
necessário.»  H^r.  (iaspar  de  S.  Bernardi- 
no, Itinerário  da  índia,  cap.  12.  —  uEsto 
fo}'  o  remate  de  sua  começada  viagem. 
Muy  descontente,  e  enfadado  liquey  em 
Aleppo,  vondome  entre  gente,  que  quasi 
não  entendia,  nem  oiles  a  mi.»  Ibidem, 
cap.  22.  —  «Estando  nesta  sancta  occu- 
paçam.  Deu  o  vitimo  rayo  cm  dous  ho- 
mens, que  também  passaram  pelo  termo 
dos  outros :  do  modo  que  os  rayos  foram 
cinco,  os  abrazados  outo,  ou  nouo,  os 
atemorizados  todos,  os  emmendados  ne- 
nhum, como  depois  veremos  no  triste 
fim,  o  remate  que  a  nao  teuc,  com  quan- 
tos nclla  hiam,  saUio  eu  que  no  tempo  do 
sua  pcrdiçam  cstaua  ja  em  Ilierusalem, 
ondo  ma  contarão  muy  largamente,  e  ou 
depois  tornando  a  Chypre.  soube  dos  pró- 
prios que  nella  hiam.»  Ibidem,    cap.  22. 

—  Nas  lanças  do  argolinha,  é  a  parte 
onde  so  engasta  a  hastea,  abaixo  dos  raios 
do  toral. 


—  Figurailamentc :  O  summo  grau,  o 
cume,  ou  cumulo. 

—  Loc.  AiJV.  Km  remate  ;  por  lim,  por 
ultimo. 

REMCOM,  «.  in.  nnt.  Vid.  Rincào. 
REMEAÇÃO,  «.  /.  Tornada,  volta,  pas- 

Sílgcill. 

REMEÇ...  Ar  palavras  quo  começam 
por  Remeç...,  Ijusqucm-sc  com  Remess... 

REMECHER.  Vid.  Remexer. 

REMEDADOR.  Vid.  Arremedador. 

REMEDÃO,  ».  m.  Vid.  Ramadam. 

REMEDAR.  Vi.l.  Arremedar.  —  «Feito 
rancho  om  terra,  acesaii  an  fogui;iras, 
prendidas  as  rodes  aoa  troncos,  dormi u- 
se  a  soinno  solto.  Na  madrugada  bramia 
defronte  a  onça;  o  os  indios  som  modo  a 
remedavam.  Nào  vciu  nom  a  vimos.  Cho- 
cando ao  porto,  dormimos  nVlle,  isto  c, 
no  niatto,  e  ao  outro  dia  partimos  para  a 
(.'asa-Forto.»  Bispo  do  (Jrrio  Fará,  Me- 
morias, publicadas  por  (Jamillo  Castello 
Branco,  ]iag.   líl.j. 

REMEDIADO,  iiart.  pass.  de  Remediar. 

REMEDIADOR,  s.  m.  (Uo  thenia  reme- 
deia, df  remediar,  com  o  suflixo  «dôr»,). 
t )  (pic   rcnicileia. 

REMEDIAR,  v.  a.  (Do  remédio).  Dar 
remédio;  prevenir,  evitar,  obviar,  des- 
viar. —  « Jlas  a  gi"ande  providencia  dol- 
Key  Dom  ( )rdonho  bastou  a  remediar  to- 
dos estes  danos,  e  fazer  com  que  se  reti- 
rassem os  inimigos  sem  o  effoyto  que  per- 
toudiaõ,  trás  cuja  ida  repudiou  logo  sua 
mulher  Dona  Urraca,  mandandoa  ao  Con- 
de sou  Pay,  cm  satisfação  do  aggravo, 
que  lhe  lizcra,  quereudoo  excluir  do  Key- 
110.»  Monarchia  Lusitana,  liv.  7,  cap.  22. 
—  "E  pêra  cl  Uey  atalhar,  e  remedear  is- 
to, mandou  logo  iliantc  dom  PeJro  de  No- 
ronha seu  mordomo  mór,  homem  de  muy- 
ta  autoridade,  quo  cercasse  como  logo 
cercou  o  Sabugal,  e  cl  Rey  se  aparelhou 
para  hyr  logo  após  elle,  o  foy  om  pessoa, 
o  chegou  ate  Castello  branco,  onde  com 
oUô  so  ajuiitou  logo  muyto  boa  gente  do 
Rcyno  muy  aparelhada  darmas,  o  bons 
cauallos.»  (!arcia  do  Rezende,  Chronica 
de  D.  João  II,  cap.  i')5. 


O  que  tem  do  prudência  cheio  o  peito 
Seguro  em  tudo  está,  nada  receia, 
Poniue  o  mais  impossivel,  duro  feito 
Elle  »6  co"a  prudência  o  rcmfdeia  : 
r)'onde  se  diz,  que  o  fado  lho  hc  sujeito, 
E  que  elle  ci  na  terra  senhoreia 
Os  celestes  influxos,  soberanos, 
A  que  o  Cco  fez  sujeitos  os  humanos. 

F.  d'akdbade,  primeiro  crbco  de  diu,  cant.  18, 
est.  2. 


Por  onde  inda  que  a  douta  antigniidade 
No  Capitão  perfeito  demandava 
Ousadia,  saber,  folccidade, 
Comtudo  a  experiência  Uie  mostrava 
Que  do  siber  tem  mais  necessidade, 
Pois  a  falta  este  si^  remediava 
Da  fortuna  e  do  esfor>;o,  e  n  falt »  deste 
Faz  que  o  esfori^o  e  a  fortuna  pouco  preste. 
IBIDEM,  cant.  18,  est.  3. 


SoH  douA  deiit«a  lo^arca,  que  aqui  digo, 

' 'udc  maii   i  i.r  uo-  ■•  .tri.,   i  uiia»  hc  rara, 
l.itao  d"  ■■  I)  antigo 

'l'i!iiij)0.  ■  ■lira  ; 

(In  (|uii.i  ,  d"j  iiiitgo 

Mogur,  vci»  lu^tUkiu,  •JU.iicíru, 
Com  que  o  <|ue  crt»u  fracu  a  uaturcza 
ItcccbiM)  do  artcticio  fortaleza. 
iBiDKM,  cant.  10,  eHt.  7i). 


—  «E  no  quo  por  vossa»  cartaa,  e  in- 
formaçõe»  uo*  uvisa-steit  acerca  de  iivnur 
os  pitvod  do  Socotorá  da  mÍ6oravcl  uervi- 
dilo  om  que  vivem,  nus  purec4X)  reine- 
diallo  de  maneira,  quo  u  Turcu,  cujua 
vassallos  sàu,  uiiu  infesto  eMes  mares 
com  suas  armadas,  o  quo  provereis,  co* 
mo  mais  convier,  com  couiK-ibo  do  V^iga- 
rio  Miguel  Vaz,  cuja  ox|joriencla  vos  aju- 
dará muito,  as-im  uosto,  como  em  to<iort 
os  ne^focios  árduos  (juo  se  offiirocerem.» 
.Jacintho  Freire  d°Andrado,  Vida  de  D. 
João  de  Castro,  liv.  1. 

—  Curar  doença,  ferida. 

—  Curar,  emendar,  corrigir. 

—  Soccorror  era  alguma  urgência,  ne- 
cessidade, etc.  —  «Folgara  saber,  dizia 
o  bom  velho  mais  safraz  quo  zolosó,  que 
cousa  ho  hum  Rey  dando  audiência  pu- 
blica? Devia  do  (luerer,  que  lho  respon- 
desse, quo  ora  hum  pai  da  Pátria,  que 
se  expunha  a  todos  para  o-i  amparar,  e 
remediar  como  a  liihos  :  o  fazerme  dest.i 
resposta  alguma  invectiva  para  seu  in- 
teresso :  mas  eu  furteylhe  a  a^ua  ao  in- 
tento, e  respondilho.»  Arte  de  furtar, 
cap.  4.T.  —  «E  isto  fazia  a  diuiua  Mise- 
ricórdia, porque  se  descobrissem  de  ca- 
da vez  mais  as  riquezas  de  homibiado, 
o  feruor  que  ostauão  escijdidas  no  peyto 
delia  :  o  por  isso  quanto  o  senhor  mais 
dissimulaua,  tanto  oUa  mais  alto  brada- 
ua,  Filiio  do  Dauid  remediay  minha  fi- 
lha.» Fr.  Bartholoineu  dos  Jlartvres,  Ca- 
tecismo da  doutrina  christã,  liv.  2.  — 
a^Iartim  AfFonso  acudiu  a  este  negocio, 
defeniloudo  aos  outros  quo  as  niio  come-*- 
sein.  E  porque  iiiio  lia  via  com  que  re- 
mediar os  pacientes,  ticáram  deitados 
por  essa  praia,  esperando  pela  hora  em 
quo  espirassem.!  Diogo  de  Couto,  Déca- 
da 4,  cap.  10. 

—  Remediar-se,  i;.  iv^.  Achar  recur- 
sos para  suas  necessidades,  ctc.  —  «Quo 
era  cuidar  quo  se  d.alli  sahisso  maltrata- 
do, nào  acharia  onde  se  remediar  e  seria 
forçado  cahir  nas  màos  do  outro  gigante 
o  do  seus  cavalleiros,  pelejava  com  ta- 
manho acordo  o  resgiuirdo,  que  os  mais 
dos  golpes  de  seu  contrario  fazia  saUir 
om  vào,  dando  os  seus  tanto  ao  revez, 
que  o  gram  Bracolào  desamparado  das 
forçjis  cahiu  aos  pcs  de  seu  vencedor.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  lOti.  —  «Mas  ainda  quando 
as  repostas  lhe  siiem,  he  cousa  maraui- 
Ihosa,  o  bem  sufticionte  aos  fazer  tornar 
em  si,  o  pouco  quo  lhes  vem  a  valer  sa- 
berem por  tais  vias  o  que  foy   porá  se 


RExAlE 


IIEME 


REME 


187 


remediarem,  e  muvto  menos  o  que  seva 
per;i  se  acautelarem.»  Lucena,  Vida  de 
S.  Francisco  Xavier,  liv.  5,  cap.   15. 

REMEDIAVEL,  adj.  2  gen.  (Do  latim 
remeti iaòilis,  de  remediare).  Diz-se  das 
concas,  dds  males  aos  qnaes  se  pôde  dar 
remédio. 

REMEDIÇÃO,  s.  f.  (Do  prefixo  re,  c 
medição).  Acçào  de  remedir,  de  tornar  a 
medir. 

REMÉDIO,  s.  /.  (Do  latim  remedium, 
de  re,  e  mederi).  O  que  serve  para  cu- 
rar algum  mal,  alguma  doença. 

Cuido  t(iie  Prothoo  vendo  o  que  passaua. 
Do  lastima  inoiíido  apercebia, 
Deste  mariíilio  fruito  a  praya,  c  punha 
Este  remédio  tendo  inda  esperança. 

OOBTE  REAL,  NAUFRÁGIO  DE  SEPÚLVEDA,  Cant.  10. 

Dai  luz  h  treua,  e  sombra  cseurceida. 
Vindo  mancebo  illustrc  sempre  ousado 
Dai  gosto  á  \'iâta  triste  auorrecida 
Do  lugar  solitário  tão  esquiuo, 
Dai  remédio  às  angustias  em  que  viuo. 
IBIDEM,  cant.  12. 

Ah  Senhora,  que  podeis 
Ser  remédio  do  que  peno. 
Quão  mal  ora  cuidareis 
Que  viveis  o  que  cabeis 
N'hum  coração  tão  pequeno  ! 
Se  vos  fosse  apresentado 
Este  tormento  em  que  vivo, 
Crcrieis  que  foi  ousado 
Esto  vosso,  de  criado 
Tornar-se  vosso  captivo  ? 
CAM.,  piLODEMO,  act.  1,  se.  2. 

Que  farei? 

Como  me  descobrirei  ? 
Porque  a  tamanho  tormento 
Mais  remédio  lho  não  sei, 
Que  entregA-lo  ao  softrimento. 
IBIDEM,  act,  4,  SC.  1. 

—  «O  cavalleiro  do  Dragão  andas^a 
tão  envolto  em  ira  e  maneucorio,  vendo 
que  se  lhe  defendia  tanto  um  gigante, 
que  do  primeiro  encontro  derribara,  que 
começou  desíazer-llie  as  armas,  descu- 
brir-lhe  as  carnes  com  feridas  tào  gran- 
des e  perigosas,  que  Albarroco  descoiv 
iiado  da  vida  pelejava  como  morto  :  e 
também  o  fazia,  crendo  que  algumas  ve- 
zes é  remédio  da  vida  não  esperar  ne- 
nhum remédio.»  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  94.  —  «Es- 
ta aífronta,  em  que  agora  a  vejo  aventu- 
rada, é  tamanha,  que  se  não  pode  passar 
sem  algum  soccorro  vosso  :  olhai  o  que 
podeis  perder  em  mim :  e  pois  todolos 
outros  remédios  me  desempararam,  haja 
em  vós  alguma  lembrança  do  que  vos 
mereço,  que  esta  só  me  fará  a  vida  segu- 
ra, ou  ao  menos  morrer  contente.»  Ibi- 
dem, cap.  99.  —  «Em  voltando  os  ou- 
tros sobre  elle,  vendo-o  daquella  manei- 
ra, disse  um  delles :  Não  são  esses  os  re- 
médios, que  vos  a  vós  hão-de  salvar ; 
melhor  é  dardes-vos  á  prisão  primeiro 
ç[ue  vos  custe  mais  sangue  e  trabalho.» 


Ibidem,  cap.  102.  —  «As  donzcllas  de 
Arnalta  desarmaram  Dragonalte,  que  tor- 
nando era  si,  tão  avorrecido  estava  da 
vida,  que  engeitava  os  remédios  delia, 
soltando  palavras  muito  pêra  haver  d(j 
delle,  que  o  amor  fiiz  mostrar  estas  fra- 
quezas a  homens  mui  esforçados  nos  ca- 
sos, que  parece  que  os  desampara,  ou 
lhe  mostra  desfavor.»  Ibidem,  cap.  130. 
- —  «No  remédio  destes  damnos  empenha- 
vão  o  Turco  por  zelo,  e  por  grandeza, 
porque  huns  tocavão  á  Religião,  outros  á 
Magestade  ;  motivos  que  cobrião  a  am- 
bição, e  justitícavão  a  jornada.»  Jacin- 
tho  Freire  d'Andrade,  Vida  de  D.  João 
de  Castro,  cap.  1.  —  «Dui-ou  em  fim  o 
alcance  o  que  durou  o  dia,  sendo  aos  ini- 
migos o  horror  da  noite  remédio  contra 
o  da  victoria.  Recolhidos  os  soldados, 
cheios  de  sangue,  de  gloria,  e  de  despo- 
jos, se  deixou  o  Governador  ficar  no 
campo  ao  seguinte  dia,  sem  arguir  aos 
soldados  a  desordem  que  lhe  deo  a  victo- 
ria.» Ibidem.  —  «Estes  bichos  de  voo,  a 
modo  de  salto,  cação  os  bugios,  e  bichos 
por  cima  das  arvores,  dos  quais  se  man- 
tém. Vimos  também  aquy  grande  soma 
de  cobras  de  capello,  da  grossura  da  co- 
xa de  hum  homem,  e  tão  peçonhentas 
em  tanto  extremo,  que  dizião  os  negros 
que  se  chegavão  com  a  baba  da  boca  a 
quahjuer  cousa  viva,  logo  em  proviso 
cahia  morta  em  terra  sem  aver  contra- 
peçonha,  nem  remédio  algum  que  lhe 
aproveitasse.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pe- 
regrinações, cap.  14.  —  «O  qual  movi- 
do da  sua  infinita  bondade  e  misericór- 
dia, quando  os  trabalhos  e  os  infortúnios 
saõ  maiores,  então  acode  co  remédio  mais 
certo  a  aquelles  que  se  achâo  mais  atri- 
bulados, c  mais  desconfiados  do  remédio 
da  terra,  inda  que  eraò  Gentias  se  en- 
ternecerão tãto.»  Ibidem,  cap.  141. 


Polo  qual  se  esse  amor  sobejo  e  puro, 
Bem  merecido  assaz  do  que  eu  vos  quero. 
Vos  obriga  a  querer  pòr-mc  em  seguro, 
Eu  só  comvosco  estar  segura  espero. 
Nao  queiraes  que  hum  incerto  mal  futuro 
Se  atalhe  co"o  presente  corto,  o  fero, 
Doixai-mc  estar  aqui,  porque  eu  vos  digo 
Que  esse  remédio  me  he  o  múr  perigo. 

P.  d'anDRADE,  PRIMEIRO  CERCO  DB  DIU,  Caut.  10, 

est.  28. 


E  assi  não  esperando  que  lho  soja 
Appiicado  o  remédio  á  grãa  ferida. 
Diz  para  o  Cirurgião  que  outro  proveja 
Que  elle  vai  arriscar  de  novo  a  vida. 
E  correndo  entrou  lá  oude  a  peleja 
Se  mostra  mais  feroz,  o  embravecida  ; 
Porém  lá  muito  nella  não  atura 
Que  com  dobrada  causa  torna  á  cura. 
IBIDEM,  cant.  18,  est.  tíO. 

—  «Mas  crescendo  o  morbo  se  com- 
misturaraõ  o  Oxirrhodino  remédios  que 
attenuem,  aquentem,  e  resolvaõ,  como 
he  o  Castoreo,  e  a  quantidade  do  Óleo 
de  macella  acrescentada  por  esto  modo  : 


fij.  Óleo  liuzado,  e  de  macella  an.  vnc. 
ij  Castoreo  drachm.  j.  vinagre  rozado 
vnc,  j.  misce.  Alguns  acrescentaõ  óleo 
anethino;  mas  como  este  no  sentir  de 
(íaleno  appiicado  á  Cabeça  provoca  so- 
mno,  não  será  taõ  seguro  o  uzar  delle.» 
Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal  medico, 
pag.  464,  §  51. 

Incapaz  de  torcer,  firme,  indomável. 
Não  ve,  não  ouve,  não  attandc  a  nada ! 
E  cmtanto  cresce  o  mal,  e  a  cada  instante 
Foge  o  remédio. 

GARRETT,  CATÃO,   aCt.    1,   SC.    3. 

—  Figuradamente  :  O  que  serve  para 
curar  os  vicios  da  alma,  acalmar  os  sof- 
frimentos  moraes.  —  «E  assi  saberá  vos- 
sa Alteza  em  verdade  que  vai  esta  gen- 
te em  gi-ande  crecimento  em  a  cristan- 
dade, e  em  muita  virtude,  porque  vam 
conhecendo  a  verdade,  por  tanto  vossa 
Alteza  mande  sempre  a  esta  gente,  e  fol- 
gue sempre  de  a  ajudar,  e  lhe  mandar 
remédio  pêra  a  sua  saluaçam,  se.  liura- 
ria  porque  senhor  disto  tem  ca  muita  ne- 
cessidade pêra  sua  saluaçam  que  doutras 
cousas.»  Damião  de  Góes,  Chronica  de 
D.  Manoel,  part.  4,  cap.  3.  —  «Ao  qual 
dissemos  chorando,  pedismoste  senhor, 
pelo  Deos  que  fez  o  Ceo  e  a  terra,  de- 
baixo de  cujo  poder  todos  estamos,  que 
por  elle  te  movas  a  piedade  da  nossa 
triste  fortuna,  porque  ja  que  as  ondas 
do  mar  nos  puseraS  neste  estado  de  ta- 
manha desaventura,  nos  ponha  a  tua  boa 
inclinação  em  outro  milhor  diante  dei 
Rey,  para  que  se  mova  a  ter  piedade  de 
nós,  porque  somos  pobres  estrangej^ros  a 
quem  faltou  o  favor  e  o  remédio  do  nuin- 
do,  por  assi  o  permitir  Deos  por  nossos 
peccados.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pere- 
grinações, cap.  139.  —  «Porque  doutra 
maneira  não  ha  duuida,  senão  que  todos 
acabarião  a  viagem,  e  vidas,  por  ser  seu 
perigo  muyto  mayor  que  o  nosso,  pois 
elles  derão  em  rocha  viua,  e  nòs  em  la- 
ma; elles  cinco  legoas  de  terra,  e  nòs 
pouco  mais  de  meya,  elles  onde  a  salua- 
ção  da  vida  não  tinha  huma  no  remédio, 
e  nòs  onde  por  mercê  de  Deos,  facilmen- 
te o  achamos.»  Fr.  Gaspar  de  S.  Ber- 
nardino, Itinerário  da  índia,  cap.  4.  — 
«Que  remédio  averà  pêra  que  não  pe- 
ques, e  faças  penitencia  dos  peccados  ja 
feitos,  pois  que  nem  como  escrauo  temes 
ameaços,  nem  como  filho  esperas  arden- 
temente a  herança,  de  teu  padre  celes- 
tial? Bem  sey  que  ainda  que  viues,  to- 
dauia  tens  esperança  de  yr  ao  parayso. 
Mas  quam  fria  e  vaã  ella  seja,  tua  vida 
e  obras  dam  testemunho.»  Frei  Bartho- 
lomeu  dos  Martyres,  Catecismo  da  dou- 
trina christã. 

—  Remédios  2^11  rgant es ;  remédios  que 
purgam,  que  limpam  de  mau  humor.  — • 
«No  §  14Õ  aconselha  o  iizo  de  remédios 
purgantes  dispostos  em  forma  de  pirolas. 


li 


REME 


REME 


IIFME 


80  O  humor  bllioao  nílo  for  insignemcnto 
cálido,  o  o  doento  nito  adinittir  as  bobi- 
diis  jmrgauteH.  Nr.stu  caso,  ou  He  polum 
uzar  as  pirolas  que-  o  M.  tra.s;  ou  (luan- 
do  80  quoiraõ  dar  pirola^  oin  uiono.t  quan- 
tidade, c  com  a  mosnia  efficacia,  e  vir- 
tude 80  receitarão  estas  de  quo  tomos 
Lom  uzo.»  Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal 
medico,  pap;.  21. '5,  §  21 G. 

—  Fifíuradamcntu :  Expodiente,  meio 
com  que  so  atalha  ao  mal,  c  se  suppre  a 
falta,  acode  á  neccâsidade,  ou  se  indem- 
iiisa. 

E  a  cachopa  hc  prenliada. 
ÁHÍli  8C  fuz. 

N»o  ha  hi  maia  ? 
E^^»o  lie  o  remédio  que  dais  ? 
Oiii  ostou  bom  aviada. 
Mão,  inào,  ou  nào  sei  que  diga. 

Gir.  VICHNTK,   FARÇ.VS. 

—  «Ao  outro  dia  os  cavalleiros  dos  gi- 
gantes, vendo  seus  senhores  mortos  o  a 
esperança  de  soccorro  perdida,  postos  em 
conselho  sobre  o  que  deviauí  fazer,  tive- 
ram por  melhor  remédio  ir-se  ao  cavallei- 
ro  do  Salvagcui,  o  de  .«^ua  própria  vonta- 
de lhe  entri'g-areui  as  chaves  das  fortale- 
zas.» Francisco  de  jMoracs,  Palmeirim  de 
Inglaterra,  cap.  108.  —  «U  Remédio  pa- 
ra a  segunda  causa,  porque  falta  a  gento 
neste  Keyuo,  será  cxercitarem-se  nclle 
as  artes  mechanicas,  do  que  carece.»  i\Ia- 
noel  Severim  de  Faria,  Noticias  de  Por- 
tugal, Disc.  1,  §  4.  —  aO  mais  efficaz 
remédio  para  a  primeira  causa  da  falta 
da  Nobreza,  hc  fazcr-so  huma  ley,  pela 
qual  se  disponha,  quo  senaõ  possaò  ajun- 
tar dous  Morgados  numa  só  pessoa. »  Ibi- 
dem, §7. —  «Bem  entendeo  a  Naneaa 
quo  nào  erão  estas  embarcações  capazes 
de  toda  a  gente  quo  tinha  cum.sigo,  e  co- 
meçando entiío  a  cuydar  no  remédio  que 
poderia  ter  esta  tamaniia  noeessidade,  iliz 
a  historia  que  tornou  outra  vez  chamar 
a  conselho,  c  descubrinJo  em  publico  o 
recovo  que  tinha,  lhes  pedio  a  todos  .seus 
pareceres.»  Fcrurio  Mendes  Tinto  Pere- 
grinações, cap.  92. 

Tal  hc  esta  força  nunca  resistida 
Que  até  a  mesma  fortuna  lhe  obedece, 
Porque  esta  onde  a  cspcranija  hc  mais  perdida 
Piffcrentcs  remédios  otlorccc ; 
Esta  a  cousa  mais  vil,  bai.\a,  o  abatida 
Mil  vozes  sobro  as  grandes  engrandece, 
Tal  quo  da  y.i  pequena  Aldeia  e  pobre 
Pi5dc  f.azer  Cidade  ilhistro  c  nobre. 

PRANCISCO    d'andR.IDE,    PRIMEIHO     CERCO    DE    DIU, 

caut.  5,  est.  1. 

No  tempo  que  a  outra  gento  forte  e  ousada 
Se  occupa  no  trabalho,  o  na  peleja, 
Toda  a  outra  estancia  deste  ho  rodeada 
E  a  qualquer  dos  que  encontra,  diz,  que  voja 
Quo  pois  a  defensão  bo  ja  escusada 
D'outro  melhor  remédio  se  proveja. 
Que  devia  cntregar-so  em  quanto  espera 
Achar  clcmeutc  a  imiga  geuto  fera. 
IBIDEM,  cant.  17,  est.  H. 


Pouco  o  bom  Capitio  com  isto  se  enleia 
Por(|uc  novo  não  lhe  lio,  mas  esperado, 
E  logo  o.^tn  iIlCl^rteza  rcmeditia 
C'uiii  hum  remédio  ussnz  prompto  o  avisado : 
Manda  que  hua  capaz  paiiellu  cheia 
Do  negro  ruinudor  pi>  salitrado 
Abai.xo  lancem,  cuja  claridadi; 
Descubra  o  que  cncubrio  a  escuridade. 
luiDHM,  cant.  19,  est.  lô. 

—  « E  como  nossa  ley  nam  lhe  he  per- 
juyzo  nenhum  a  seu  dominio  o  governo, 
mas  muita  ajuda  para  que  todos  lio  obe- 
deçam e  guardem  suas  leys.  Este  soo  re- 
médio iui  pêra  na  China  se  poder  fazer 
fiuito,  c  outro  nenhum  nam  (falando  hu- 
uiaiiaiiieutei.i)  Frei  (iaspar  da  Cruz,  Tra- 
tado das  cousas  da  China,  cap.  28.  — 
o  Este  mesmo  remédio  de  asj)ereza  me 
disse  hum  ])rudei>te,  que  se  devera  appli- 
car  ás  unhas  de  llollanda,  e  Inglaterra. 
Ao  ladraò  mostraò-sc  os  dentes,  e  naõ  o 
coração.»  Arte  de  furtar,  cap.  213. 

—  Figuradamente :  Auxilio,  recurso, 
refugio,  soccorro. 

Ve  que  o  cabcllo  do  ouro  espalha  o  cobre 
Co  elle,  o  peito  cburuco,  c  lisos  hoinbros, 
1'^  nào  poduudo  mais  cubrirsc,  toma 
As  lagrimas  por  vitimo  remédio. 
Naquolle  instante  foy  de  amor  ferido 
Com  dourada,  cruel,  aguda  setta. 

COaiB  REAL,   NAUFRÁGIO   DK  SEPÚLVEDA,  CaUt.  10. 

—  «E  conhecendo  polas  palavras,  que 
lho  ouvira,  quo  era  Floreados,  pesou-lUe 
cm  estremo  de  saber  o  que  passava,  cren- 
do quo  a  ira  de  Miraguarda  faria  nelle 
nuiito  damno,  e  que,  se  se  perdesse,  se- 
ria mui  grande  falta  pêra  o  mundo :  e 
nào  sabendo  determinar  o  que  fizesse, 
assentou  em  ir-se,  pois  sua  detença  nào 
aproveitava  ao  remédio  e  vida  de  Flo- 
rcndos.»  Francisco  de  Moraes,  Palmei- 
rim de  Inglaterra,  cap.  (31.  —  «E  com 
sua  resposta  se  foram  á  rainha  Carmelia, 
que,  já  desesperada  delle  nào  acceitar  o 
casamento  de  sua  neta,  contentou-se  do 
outro  derradeiro  remédio,  que  era  a  es- 
perança, cm  que  as  cleixava  com  sua  pro- 
messa ;  e  quo  disto  pesasse  a  todos,  cm 
Litinarda  fez  muito  maior  abalo.»  Idem, 
Ibidem,  cap.  101.  —  «Espedido  ElKey, 
dahi  a  poucos  dias  o  quizera  tornar  a 
ver;  mas  Aflbnso  d'Alboquerque  se  escu- 
sou por  sua  enfermidade  nào  ser  pêra  vi- 
sitaçào  de  Frincipes,  e  como  qu3m  se 
acolhia  ao  remédio  do  mar,  por  na  terra 
o  apertar  muito  a  doença,  hum  dia  pela 
festa  enroladameuto  sem  rumor  se  em- 
barcou cm  a  náo  de  Diogo  Fernandes  de 
Beja.»  João  de  Barros,  Década  2,  liv. 
10,  cap.  8.  —  «Pedindo-nos  por  merece, 
que  lhos  ouvessomos  sobre  ello  remédio 
com  direito,  lhes  mandássemos  guardar 
as  ditas  Cartas,  c  privilégios,  e  que  uzas- 
som  delias,  e  de  scos  boos  uzos,  e  costu- 
mes, de  que  sempre  uzaarom,  o  custu- 
niaarom,  maiormontc  que  os  ditos  albor- 
nozes era  trajo  uzado,  e  costumado  cm 


terra  do  Mouros.»  Ord.  Affons.,  liv.  2, 
tit.  103,  §  1. —  «Alguns  loraò  de  paro-' 
cer  que  (se  cntregas.sem  ai  armai*,  mas 
outros  nSo,  o  destes  foy  Dona  Leonor, 
que  di.sHo  a  seu  marido  quo  nas  armas 
estava  todo  o  seu  remédio,  que  lho  pedia 
por  amor  de  Deos  que  tal  nào  fizesse.» 
Diogo  de  Couto,  Década  <5,  liv.  íl,  cap. 
22.  —  «Hum  destes  qmitro  meteo  a  carta 
no  sevo,  e  nos  dis^c,  qinr  coino  se  apre- 
sentasse )ui  mesa  do  remédio  dos  pobres 
nos  responderiào,  e  nos  proveri.^o  de  to- 
do o  necessário,  e  com  isto  se  despidirão 
de  mis.  Três  dias  passarSo  que  nào  vie- 
raij  visitar  a  prisaõ,  e  ao  quarto  pela  me- 
niiam  tornarão  a  vir,  e  fazendo-nos  por 
hum  rol  que  traziào  mavtas  preguntíis, 
lhe  respondemos  a  todas  còforme  ao  quo 
cada  huma  dezia,  das  quais  respostas  el- 
les  ficarão  muyto  satisfiitos.»  FomSo 
Mendes  Finto,  Peregrinações,  cap.  100. 
—  «Antes  de  ecntenceiír  esta  causa,  cõ- 
deno  o  promotor  da  justiça  em  vinte  taeis 
de  prata,  para  o  remédio  destes  estran- 
gcyros,  visto  nào  provar  cousa  alguma 
do  que  contra  elles  veyo  dizendo,  e  por 
esta  primeyra  vez  seja  su.sponso  do  seu 
officio  até  o  Tutão  prover  nisso.»  Idem, 
Ibidem,  cap.  lOl,  —  «Ao  qual  tisouro  el- 
les  chamào,  Chidampur,  que  quer  ilizer, 
muro  do  reyno,  porque  dizem  elle-s  que 
em  quanto  aquelle  tisouro  estiver  aly  vi- 
vo para  remédio  dos  trabalhos,  a  que  de 
necessidade  se  ha  de  acudir,  n.lo  lançara 
o  Rey  tributo  nem  finta  sobre  os  jwbres, 
nem  os  povos  seraò  avexados,  como  se 
faz  nas  outras  terras  em  que  se  n3o  tem 
esta  providencia.»  Idem,  Ibidem,  cap. 
11;?.  —  «E  com  grande  dôr  e  pouco  re- 
médio chorar  minha  desaventura,  e  te 
affirmo  na  verdade  desta  santa  e  nova 
ley  que  agora  professo,  que  só  por  ser 
Christaõ  e  amigo  de  Portugueses,  me  ve- 
jo perseguido  desta  maneyra.»  Idem,  Ibi- 
dem, cap.  145.  —  «Consolay  os  attribu- 
lados,  alleviay  os  enfennos,  ampíiray  os 
perseguidos,  soeorrey  os  tentados,  man- 
tende os  pobres  c  famintos,  acodi  pela 
causa  das  viuvas  e  orfaòs :  vós  sois  o  re- 
médio de  todos,  e  a  todos  podeis,  e  dcze- 
jais  fazer  bem :  se  eu  sirvo  para  instru- 
mento vosso  nesta  obra,  eu  me  offereço 
com  todo  o  coraçai").»  Padre  Manoel  Ber- 
nardes, Exercícios  espirituaes,  part.  1, 
pag.  40.  —  « Porém  ellos  vendo  que  nSo 
bastava  o  sotlrimento,  eonsultárSo  meios 
de  restituir  Meúle,  huns  por  vingança,  e 
outros  por  remédio.  Fizerào  suas  juntas 
secretas,  onde  tomárào  difforentes  acor- 
dos, os  quacs  lhes  fazia  variar  cada  dia  o 
temor,  e  a  difficuldade  do  negocio,  mais 
árduo  na  execução,  que  no  conselho.» 
Jaeintho  Freire  d'Andrade,  Vida  de  D. 
João  de  Castro,  liv.  1 .  —  «E  pêra  que  os 
homens  trabalhem  milhor  pollo  seu  re-j 
médio  e  de  seus  filhos.  Tam  longe  ho  h»  f 
China  de  ter  cativos  que  de  todo  sejamj 
cativos,  que  nem  os  que  cativam  na  i 


ra  sara  escravos.»  Frei  Gaspar  da  Cruz, 
Tratado  das  cousas  da  China,  cap.  lò. — 
«Diz  pciis  Dali  l  :  Respice  in  tustamentum 
tuum  quia  repleti  sunt  qid  ohscurati  siint 
terrae  domiòtis  iniqidtatuni.  Quer  dizer 
ponde  Senhor  os  olhos  no  concerto  que 
com  este  vosso  pouo  tendes  feito,  porque 
mais  ha  de  poder  elle  com  vosco  para  seu 
remédio,  que  nossos  peccados  para  nossa 
destruição.»  Paiva  d'Andi'ade,  Sermões, 
pag.  '12o. 


ElRei  para  qne  o  tomem  se  convida, 
E  Icvantaudo  a  voz  bem  clara  e  forte 
Por  remédio  tomou  de  sua  vida 
O  qne  mais  certo  o  foi  de  sua  morte. 
Melhor  te  fora,  triste,  ter  perdida 
Agora  essa  alta  voz,  que  tua  sorte 
Por  ministra  guardou,  e  executora 
Do  mal  que  te  guardava  para  esta  hora. 

FBílKCISCO  DE  A>T)R\DE,    PEIMEIRO    CERCO    DE   DIU, 

eant.  7,  est.  72. 

—  «Pelo  que  convém,  que  se  procure 
o  seu  remédio,  applicando  todos  os  meios, 
que  pôde  haver  para  que  estas  Orfas  do 
povo  se  casem :  porque  além  do  grande 
serviço,  que  se  faz  a  Nosso  Senhor  em  se 
tirar  a  occasiaõ  de  se  perderem,  ficase 
alcançando  o  intento  da  multidão  da  gen- 
te com  a  multiplicação  dos  matrimónios. » 
Manoel  Severim  de  Faria,  Noticias  de 
Portugal,  Disc.  1,  §  6. —  «Lançauioslhe 
cabos,  atàdoo  de  huma,  e  outra  parte, 
que  a  necessidade  inuentora  das  ccn^aí. 
como  lhe  chama  Xenophonte,  e  Quinto 
Cursio,  no.s  ensinaua  a  buscar  vários  re- 
médios, sem  nos  aproueitar  algum  del- 
les.»  Frei  Gaspar  de  S.  Bernardino,  Iti- 
Herario  da  índia,  cap.  10. 

5[as  ellcs  tem  desculpa  ;  a  negra  fome 
Os  míseros  mortaes  a  mais  obriga  : 
Sem  saber  o  que  escrevem,  escrevendo, 
Buseaõ  delia  o  remédio,  e  como  lograõ 
Os  fins  dos  sous  intentos,  o  que  escrevem. 
Seja  ou  naõ  Portuguez,  isso  que  monta? 
Quom  desculpa  naõ  tem,  nem  a  merece, 
E"  quem  vedar-lho  deve,  e  naõ  lho  veda. 

A.  DDilZ  DA  CRCZ,  HVSSOPE,  Cant.   5. 

—  Medicamento,  curativo,  cura.  — 
«Xào  sev  se  tinha  remédio  a  doença  de 
Procris  a  quem  seu  marido  Cephalo  ma- 
tou andando  á  Caça.  Também  julgo  ir- 
remediáveis as  enfermidades  de  Thebé,  e 
de  LucuUa.  Ambas  eriío  violentas  por 
força  do  seu  Ciúme.»  Cavalleiro  d'01i- 
veira,  Cartas,  liv.  1,  n.»  13.— «Que 
também  era  bom  untar  as  partes  fendi- 
das cora  a  sahida  da  boca,  e  que  o  nosso 
Hausmisto  se  tinha  achado  bem  com  esse 
remédio.»  Idem,  Ibidem,  n.°  25.  —  «Hu- 
ma generosa  piedade  occupou  o  seu  lu- 
gar, obrigando-o  a  partir  para  os  Paizes 
Estrangeiros  determinailo  a  aprender,  e 
a  consultar  com  os  homens  doutos  o  re- 
médio da  cruel  doença  da  sua  amada.» 
Idem,  Ibidem,  n."  .30.  —  «Assim  como  hi 
remédios  que  amortecem,  e  que  destroem 


REME 

inte^■ramente  o  amor,  assim  os  pode  ha- 
ver para  dispor  as  pessoas  que  os  tomào 
a  seati-lo.»  Idem,  Ibidem,  n."  30.  — 
«Ainda  dizem  os  Medico.-!,  que  ha  mais 
remédios  semelhantes  que  se  podem  to- 
mar interiormente,  e  que  também  ha  ou- 
tros que  se  podem  aplicar  com  bom  effei- 
to  ao  exterior.»  Idera,  Ibidem.  —  «Su- 
põem o  Medico  que  se  satisfaz  á  sua  or- 
dem, e  entende  que  se  emprega  o  melhor 
medicamento.  O  i3oticario  executa  o  con- 
trario, e  dá  hum  remédio  sediço,  débil, 
e  antigo.»  Idem,  Ibidem,  liv.  3.   n.°  51. 

Xào,  de  remédios  taes  cu  não  confio : 

Ou  Kberdade,  ou  morte.  — ■  Este  é  o  men  voto. 

BARRETT,    CAtIo,   act.   2,   SC.   2. 


—  Seia  remédio ;  irremediavelmente. — 
«E  com  todas  estas  cousas  nilo  pode  ven- 
cer e  abrandar  seu  pai,  e  pelos  nào  ver 
morrer,  sem  lhe  poder  valer,  se  desceu 
abaixo,  e  com  as  mesmas  palavras  com 
que  pedira  misericórdia  a  seu  pai,  pediu 
a  Polendos  que  se  quizesse  antes  deixar 
prender  com  seus  companheiros,  que  que- 
rer morrer  sem  remédio.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  d'Iuglaterra,  cap.  96. 

—  Loc:  Não  liavtv  outro  remédio  ;  ser 
indispensável  fazer,  ser  inevitável.  — 
«Tanto  andaram  os  bons  dos  picadeiros 
que  lhes  veio  a  anoitecer  no  caminho 
bem  junto  das  Canárias  a  tempo  que  a 
massada  era  já  feita;  e  por  mais  que  o 
conde  bradou  de  cima  da  portela,  como 
o  alviào  estava  desencavado,  nào  houve 
outro  remédio  senào  deseni-olar  a  ban- 
deira.» Fernào  Rodi"igues  Lobo  Soropita, 
Poesias  e  prosas  inéditas,  cap.  117. 

—  Dar  remédio  a  alguma  cousa;  re- 
medial-a,  auxilial-a.  —  «O  màdou  adver- 
tir branda  e  comedidamente,  que  couten- 
tandose  com  o  muyto  que  já  possuhia,  e 
com  as  destruvçoens  e  males  feitos  nas 
terras  dos  Romanos,  desse  algum  termo 
a  suas  còquistas,  antes  que  coujui-andose 
as  forças  do  Império,  lhe  acontecesse  al- 
guma desgraça,  a  que  nito  pudesse  dar 
mais  remédio,  que  cõ  arrependimento  do 
passado.»  Monarchia Lusitana,  liv.  6,  cap. 
7.  —  «Passados  mais  quatro  dias  em  que 
a  Armada  acabou  de  se  fazer  prestes  de 
todo,  o  Capitão  mòr  D.  Fràcisco  Déça 
se  embarcou  na  fusta  de  D.  Jorge  seu 
irmílo,  porque  a  sua  ficou  alada  sem  se 
lhe  poder  dar  remédio,  e  assim  as  nossas 
velas  forào  por  todas  oyto  fustas,  e  hum 
catur  pequeno,  em  que  hiào  duzentos,  e 
trinta  homens  todos  soldados  muvto  es- 
colnidos.»  Fernào  Mendes  Pinto.  Çere- 
grinações,  cap.  205, 

Slostra-lhe  o  triste  estado  em  que  está  posto 

Isto  que  tem  do  st  bem  entendido. 

Mas  muito  mais  lli'o  mostra  o  grande  gosto 

Que  senria  de  vêr-se  tao  rendido. 

Bem  vê  que  se  d"aqui  nào  muda  o  posto. 

Além  do  ser  cada  hora  mais  perdido. 


REME 


189 


Perderá  a  occasiào  que  o  tempo  dava 

De  dar  remédio  ao  mal  que  o  atormentava. 

F.  DE  AXDE.VDE,  PRIMEIRO  CERCO  DE  DIU,  Cant.  4, 

est.  8. 

Consente  que  Xoto,  Africo  e  Levante 
Me  dêem  nisto  o  remédio  só  que  tenho, 
E  que  comigo  passem  tanto  avante 
Que  vào  lá  ter  á  parte  d'onde  eu  venho, 
E  facão  lá  que  o  mar  sinche  e  levante, 
E  que  a  seu  pesar  volte  a  proa  o  lenho 
Em  que  vai  meu  bem  todo,  e  vá  direito 
Oiid"eu  quietar  possa  o  acceso  peito. 
IBIDEM,  cant.  5,  est.  16. 

Com  grande  festa  forão  recebidos 
Dos  seus,  que  delles  ja  desconfiavão, 
E  quanto  os  mais  haviào  por  perdidos 
Tanto  mais  de  os  ver  vivos  se  alegravão : 
Mas  vendo-os  maltratados  c  feridos 
Só  por  dar-lhes  remédio  procura  vào. 
Porém  nem  isto  lh'cra  impedimento 
Para  continuarem  seu  intento. 
IBIDEM,  cant.  7,. est.  47. 

—  «Acontece  serem  escassas ;  e  dos  de- 
feitos mais  leves,  que  n'ellas  se  acham,  é 
este  um  d'elles.  Xào  julgo  que  seja  de  al- 
gum perigo  (posto  que  pôde  ser  de  des- 
contentamento, e  azo  de  pouca  paz)  por- 
que se  o  marido  é  liberal,  elle  dará  logo 
remédio  á  condição  da  mulher;  se  tiver 
o  mesmo  costume,  viverão  com  miséria, 
mas  cora  contentamento.»  D.  Francisco 
Jlanoel  de  Mello,  Carta  de  guia  de  casa- 
dos.—  «Confesso  que  tora  licito  á  senho- 
ra mandar  sua  encommenda,  fazer  ao 
marido  esta,  e  aquella  lembrança  por  um, 
ou  por  outro  pretendente,  e  ainda  favo- 
recer a  algum  que  o  merecesse,  dando- 
Ihe  uns  longes  de  seu  negocio,  com  que 
lhe  podesse  dar  remédio.»  Ibidem. 

—  Não  ter  outro  remédio ;  ser  indis- 
pensável, ser  inevitável.  • — «É  pois  naõ 
tenho  outro  remédio,  peço  aos  Veadores 
da  fazenda,  e  Offieiaes  de  ElRey  que 
aqui  estaõ,  que  estes  quatro  meze"s  que 
ha  daqui  atè  virem  as  nàos  do  Reino, 
me  queiraõ  ordenar  huma  despeza  ho- 
nesta da  ftizenda  de  ElRey  pêra  os  gas- 
tos de  minha  casa  confonne  a  minha 
qualidade,  e  à  pessoa  que  represento.» 
Diogo  de  Couto,  Década  6,  liv.  6,  cap. 
9.  —  «A  vista  destas  quinze  vellas  me- 
teo  a  nossa  gente  em  muvta  confusão,  e 
por  ja  a  este  tempo  se  não  ati-everem  a 
se  fazer  na  volta  do  mar  por  lhe  ficar  o 
vento  muvto  ponteyro,  se  meterão  detrás 
de  huma  calheta  que  a  ilha  fazia  da  ban- 
da do  Sul  cercada  de  arrecife  de  pedras, 
porque  ja  não  tinhaõ  outro  remédio,  e 
aly  determinarão  de  esperar  o  que  a  for- 
tuna lhe  offerecesse. »  Fernào  Mendes 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  146. 

—  Não  ter  remédio;  ser  irremediável. 
—  «Pois  que  o  negocio  estando  concluído 
nào  tem  remédio,  nào  falemos  nos  males, 
cuidemos  nas  diligencias,  e  nos  meyos  de 
adoçar  os  martyrios  que  se  vos  tem  pre- 
parado.» Cavalleií-o  d'01iveira.  Cartas, 
liv.  1,  n."  32. 


190 


IIEME 


IlEMK 


KKME 


—  Jlumcm  que  tem  remédio  ;  li<»iii<  in 
abastado,  que  nHu  hoHVo  j)1Ívíi(;òi'h,  lu-in 
uecC88Ída(ic8. 

—  Adágios  k  ritovKuitKJs : 

—  Qiiuiii  acliar  remédio  iiriínciro,  aju- 
de parceiro. 

—  Cuiu  má  goutc,  ó  remédio  umita 
terra  eui  meio. 

—  (Jonscllio  sem  remédio,  6  corpo  som 
ahiia. 

—  Quem  dos  seus  se  aparta,  do  remé- 
dio HO  alarga. 

—  O  tempo  dá  remédio,  «mde  falta  o 
conselho. 

—  Do  rico  é  dar  remédio,  o  do  vellio 
conselho. 

—  Svx. :  Remédio,  medicamento. 
Remédio  tem    um  sentido   mais   amplo 

que  iiieilicdineuto.  O  remédio  conipreheií- 
de  tudo  o  ((ue  é  empregado  para  a  cura 
de  uma  docnya;  o  medicamento  é  sempre 
uma  matéria  simpleí  ou  composta  que  se 
administra  tanto  ao  interior  como  ao  ex- 
terior. O  exercício  piide  ser  um  remédio, 
porém  nunca  um  medicamento.  O  sulfato 
de  quinina  ó  um  remédio  ou  um  medi- 
camento, 

O  remédio  refere-se  á  faciddade  cu- 
rativa, ou  á  cura;  o  medicamento  refe- 
re-se a  um  dos  meios  de  a  obter.  A  na- 
tureza facilita  ou  suggere  os  remédios ; 
ha  remédios  caseiros.  A  pharniacia  com- 
põe, e  prepara  os  medicamentos. 

Remédio  é  o  género  de  que  o  medica- 
meiíti)  c  a  espécie. 

REMEDIR,  r.  a.  (Do  latim  remetiri). 
Tornai'  a  medir,  medir  segunda  vez, 

REMEDO,  s.  m.  Apparencia,  arremedo, 
farça,  iniitavào,  ficçào.   • 

1.)  REMEIRO,  s.  m.  Homem  que  rema 
nas  embarcações,  remador.  —  «O  qual 
andando  assi  correndo  esta  costa  com 
desejo  daguoa  fresca,  mandou  o  batei  ha 
terra  com  cinco  Portugueses,  afora  os  re- 
meiros,  e.stes  foi-am  António  paçanha, 
loam  dalnielda  de  quintella  ambos  da 
vil  la  Diilaaquer,  António  de  vera  da  ci- 
dade do  i'orto,  Francisco  gramaxo.  c  o 
barbeiro  da  uao.»  Damião  de  Góes,  Chro- 
nica  de  D.  Manoel,  part.  4,  cap.  52. 

Li  contra  a  Christtia  fusta  vai  direito 
Que  d'eutre  a  cruel  morte  antea  fuj^ira, 
Maa  ucni  isto  tão  pouco  clic^a  a  clVoito, 
Ardo  o  Turco  de  novo  em  ódio  o  cm  ira. 
A  fusta,  que  do  todo  vê  desfeito 
O  perigo  em  que  pouco  autos  se  vira. 
Com  mais  (|uicto  curso  (pie  o  primeiro 
Dá  descanso,  d;i  fôlego  ao  Remeiro. 

FRANCISCO  HE   ANDRADE,   PRIUEIBO  CERCO  DB   DIU, 

oant.  12,  est.  59. 

2.)  REMEraO,  A,  adj.  Que  cede  ao  im- 
pulso do  remo.  —  Fustas  mais  remeiras 
y((«?  ouiraít. 

REMELA,  s.  /.  O  humor  amarollado, 
que  se  aggrega  aos  lagrimaes  dos  olhos, 
quando  estes  se  acham  no  estado  intiam- 
juft  tório. 


REMELADO,  pari.  jjass.  du  Remelar. 
-  líiiiiido.so,  cheio  de  remela,  que  tem 
rciiiil.i. 

REMELAO,  adj.  m.  —  Asxucar  reme- 
lão ;    aiísucar    (|ueimado,    molle    sem    boa 

REMELAR,  v.  n.  Crcar  remela. 

-    'l\;v  remela. 

-—  Fazer  assiicar  remelilo  no.i  cngo- 
uh...s. 

REMELEIRO,  A,  adj.  i  De  remela,  com 
o  ■■-unixii  «eiró»).  Vid.  Remeloso. 

REMELHGR.  Superlativo  composto  de 
re,  e  melhor.  Jlais  que  melhor,  duas  ve- 
ze.s  nifllior. 

REMELOSO,  A,  adj.  (De  remela,  com 
o  sufli.Ko  «oso»).  Que  tem  remelas,  que  as 
produzem.  —  Velhas  remelosas  ;  que  abor- 
recem. 

f  REMEMERADO,  part.  pass.  do  Re- 
membrar.  Termo  antiquado.  Lembrado, 
recordaflo. 

REMEMBRANÇA,  s.  /.  Termo  antiqua- 
do.  Li'iiii)ran(;a,  recordaçilo,  memoria. 

REMEMBRAR,  i-.  a.  Termo  antiquado. 
Leinlirar,  recoròar. 

f  REMEMORAÇÃO,  s.  f.  (Do  latim  re- 
meiíiijratin,  de  rememorarej.  Acçào  de  re- 
memorar. 

f  REMEMORADO,  part.  pass.  de  Reme- 
morar. Tiiniailo  a  lembrar.  —  Os  aconte- 
ciiiifiifcs  rememorados  por  este  velho. 

REMEMORAR,  f.  n.  (Do  latim  rememo- 
rare;  de  re,  e  memorare).  Tornar  de  no- 
vo á  memoria  uma  cousa,  tornar  a  lem- 
brar. 

REMEMORATIVO,  A,  adj.  Que  serve  de 
trazer  á  memoria.  —  As  medalhas  são  re- 
memorativas  de  certos  acontecimentos. 

—  Que  .-lerve  de  fazer  lembrar. 
REMEMORO,  A,  adj.  Termo  de  poesia. 

Que  tem  reminiscência,  que  se  torna  a 
recordar. 

REMENDADAMENTE,  adv.  (De  remen- 
dado, com  o  suflixo  «mente»;.  De  uma 
maneira  remendada,  com  remendos. 

REMENDADO,  part.  pass.  de  Remen- 
dar. Diz-so  d'aquillo  a  que  se  deitou  re- 
mendo. 

—  Mentira  mal  remendada;  mentira 
dissimulada,  encoberta,  dissimulada. 

—  Figuradamente:  Malhado.  —  cE  ia 
em  cima  d'um  palafrem  formoso,  remen- 
dado de  preto  e  branco,  guarnecido  d'ou- 
ro  de  martelo  com  alguma  pedraria  em 
lugares  convenientes ;  em  companhia  do 
cavalleiro  Negro  entrou  pola  cidade,  atra- 
vessando contra  o  paço.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  de  Inglaterra,  capi- 
tulo 89. 

—  Figuradamente  :  Locui;ào  remenda- 
da; locuç.HO  cheia  de  termos  deseguaes, 
estrangeiros. 

—  Cavallo  remendado,  boi  remendado; 
aniniaes  nialhíidos,  maculosos. 

REMENDÃO,  s.  m.  Official  de  ^•apateiro, 
ou  alfaiate,  ete.,  que  deita  remendos  em 
sapatos,  vestidos,  etc. 


—  Figuradamente:  Homem  que  é  in- 
ferior no  Keu  oílicio. 

REMENDAR,  v.  a.  Concertar,  compor 
com  remendo,  deitar  remendo. —  Remen- 
dar um  vestido,  um  sapata. 

—  Figuradamente  :  Remendar  dr:  outro 
paninj;  remendar  coutia  de  outra  origem, 
fi'>ra  do  ansumpto,  do  chão. 

—  Remendar  velas ;  concertal-a«,  com- 
pol-as.  —  «  Em  quanto  os  ofticiaea  se  oc- 
cuparam  em  aparelhar  a  nao,  e  remendar 
velai) :  os  lleligiosos,  e  paiuiagevroii,  noa 
posemos  a  concertar  altares,  e  fazer  pres- 
tes a  c<.»usa8  uececsarias.»  Fr.  (iaspar  do 
S.  Bernardino,  Itinerário  da  índia,  capi- 
tulo 8. 

—  Remendar  gali-s  velha» ;  concertal-a<*, 
compol-as. 

—  Adaoios: 

—  Quem  te  ensinou  a  remendar  tilho.-s 
pequenos,  pouco  p.ào  para  lhes  dar. 

—  Fidalgo  antes  roto,  que  remendado. 

—  Remenda  o  teu  panno,  chegar-te-ha 
ao  anno. 

REMENDARIA,  «.  /.  Um  composto  de 
remtMiilos,  ia|ia  feita  toda   de  remendos. 

REMENDEIRA,  s.  /.  Mulher  que  con- 
certa e  remenda  Vestidos  velhos.  —  A 
remendeira  </-/  estrada,  etc. 

—  L'>a->c  também  adjectivamente. 
REMENDINHO,  s.  m.  Diminutivo  de  Re- 
mendo. Ilemendo  pequeno. 

REMENDO,  s.  »i.  Peça  de  panno,  com 
que  se  compõe  o  vestido  roto. 

—  Peça  de  couro,  com  que  se  concerta 
a  rotura  do  sapato,  da  bota,  etc. 

—  Figuradamente:  Concerto  para  evi- 
tar o  mal  feito,  e  imperfeições. 

—  Lc»c.  :  Fazer  as  cousas  a  remen- 
dos ;  fazer  as  cousas  aos  bocados,  inter- 
rompeudo-as,  e  talvez  sem  ordem  nem 
harmonia. 

—  Figuradamente:  O  remendo  da  vien- 
ttra;  a  sua   dissimulação,  o  seu  disfarce. 

—  Figuradamente:  Macula,  malha  de 
outra  côr  nos  diversos  animaes.  —  Os 
remendos  do  cavallo,  do  boi,  do  gato, 

—  Remendo  de  taboa ;  no  buraco. 

—  Remendo  </<;  couro;  no  surriio. 

—  Figuradamente:  O  remendo  de  uma 
locução;  a  desegualdade  dos  vocábulos 
nella  empregados,  a  sua  nào  nacionali- 
dade. 

—  Figuradamente:  Deitar  remendos  á 
vida;  ir  vivendo  com  necessidade,  e 
custo. 

—  Remendo  no  campo;  monte  de  plan- 
tas, hervas  diversas  das  que  nascem  nad 
mesmas  adjacências,  e  pontos. 

—  Figuradamente :  Remendo  de  outro 
paniw;  cousa  de  outra  origem,  fora  do 
assumpto,  do  caso. 

REMENINECER,  v.  n.  Fazer-8e  criança, 
cair  na  meninice,  na  infância. 

—  Ficar  sem  juizo,  sem  tento.  Vid. 
Emmeninecer. 

REMERCEALO,  part.  past.  de  Remer- 
cear.  Agradecido. 


REME 


REME 


REME 


191 


REMERCEAMENTO,  s.  m.  (Do  francez 
remercinient).  Termo  antiquado.  Agrade- 
cimento. 

REMERCEAR,  r.  a.  (Do  fraucez  remer- 
ciev'.  Termo  antiquado.  Agradecer. 

REMERECER,  r.  a.  (Do  prefixo  re,  e 
merecer).  Tornar  a  merecer,  merecer 
duas  vezes,  merecer  mais  do  que  vale 
aquillo  que  se  dá  em  paga. 

REMERECEDOR,  A,  arlj.  e  s.  Merecedor 
em  duplo,  duas  vezes  merecedor. 

—  Muito  merecedor. 
REMERECIDO,  parf.  pass.  de  Remere- 

cer.  Merecido  dobradamente,  tornar  a  ser 
merecido,  mais  que  merecido. 

REMESSA,  s.  f.  A  acçào  de  remet- 
ter. 

—  A  cousa  remettida,  —  Uma  remessa 
de   frutas,  de  fazendas,  de  dinheiro,  etc. 

REMESSADO,  part.  pass.  de  Remessar. 
Arremessado,  ferido  de  arremesso, 

REMESSÃO,  s.  ííi.  Arma  grande  de  ar- 
remesso. 

—  Emprega-se  também  no  sentido  fi- 
gurado. 

—  Medida  agraria  de  10  palmos  e 
meio. 

REMESSAR,  i;.  a.  Arremessar,  lançar 
arma  de  arremesso,  ferir  de  tiro  de  arre- 
messo. —  « E  forom  a  elles  outra  vez, 
fazendo-lhes  deixar  o  Outeiro,  e  hiam-se 
quanto  podiam,  e  ao  passar  de  hum  máo 
caminho  forom  encalçados  dos  nossos, 
onde  hum  daquelles  Mouros  desviou  per 
hum  só  pee  a  funda  á  mão  esquerda,  e 
Pêro  Yazques  Pinto,  que  hia  perto  do 
Conde  desviou-se  traz  elle,  e  em  o  re- 
messando  errou-o,  e  avisando-se  logo  da 
espada,  deo-lhe  huma  grande  ferida  pela 
cabeça,  e  outra  pelo  ombro.»  Inéditos  de 
historia  portugaeza,  tom.  2,  pag.  358. 

—  Figuradamente:  Esta  praga  nos  re- 
messa nossa  massa ;  esta  praga  nos  lança 
de  arremesso  nossa  massa. 

Esta  praga  nos  remessa 
nossa  massa  :  menos  pressa 
na  obra  mais  proveitosa. 
Tendo  mandado  chamar 
mão  segura 

de  mui  brava  architectura 
que  m'os  venha  aqui  traçar 
por  mui  perfeita  moldura. 

ANTÓNIO  PRESTES,  iUTOS,  pag.  14. 

—  V.  n.  Ir  dar  com  força,  encontrar. 

—  Remessar-se,  i'.  reji.  Fazerem-se  ti- 
ros de  arremesso. 

—  Abalançar-se,  lançar-se.  —  Remes- 
sar-se no  abysnio,  no  precipício. 

REMESSO,  s.  m.  Arma  de  atirar,  de 
arremessar.  Vid.  Arremesso. 

-r-  Figuradamente :  Palavra  com  que 
se  fere  aquelle  com  quem  se  falia,  para  o 
fazer  declarar,  o  que  d'elle  se  pretende 
saber,  para  o  perturbar  no  que  intenta, 
etc. 

REMESTRE,  A,  s.  Termo  cómico.  Pes- 
soa que  é  duas  vezes  mestre. 


REMETER,  v.  a.  Vid.  Remetter. 

Meus  sentidos  prostrados  se  submetem 
Assi  cegos  a  tanta  magcstade  : 
K  da  triste  prisão,  da  escuridade, 
Clieios  de  medo,  por  fugir,  remetem. 

CiM.,  SONETOS,  n."  (55. 

—  «  Hai  muitas  feitas  delles,  e  tantas 
ordens  de  votos  diferentes,  que  seria  fa- 
zer hum  graò  volume,  se  has  quizesse 
dizer  per  extenso,  mas  quomo  meu  ofti- 
cio  seja  screuer  Chi-onica  e  naõ  costumes 
de  gentes,  nem  liistoria  geral,  remeto  ho 
lector  ao  liuro  que  fez  Duarte  Barbosa 
em  lingoa  Portugueza,  dos  costumes  de 
toda  ha  gente  que  ha  do  cabo  de  boa 
Sperança  até  a  China,  e  Lequeos.»  Da- 
mião de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  1,  cap.  42. —  «E  porque  das  de- 
marcações dentre  Portugal,  e  Castella 
dos  termos  que  a  cada  hum  destes  re- 
gnos  cabe  no  que  he  descuberto,  e  esta 
por  descobrir  escreueram  algumas  pes- 
soas hum  em  fauor  de  hum  reguo,  e  ou- 
tros do  outro,  nam  direi  aqui  nada  do 
que  elles  ti-atam  em  suas  alturas  reme- 
tendome  ao  que  se  nisso  achar  na  verda- 
de.» Ibidem,  part.  4,  cap.  37. —  «Ho 
que  vendo  Diniz  de  Mello,  Emanuel  da 
Gama,  Hector  de  Valadares,  e  Francisco 
Bocarro,  remeteram  ha  huma  das  portas 
da  fortaleza  da  banda  donde  se  daua  ho 
combate,  que  logo  arombaram  com  vai- 
uens,  e  entraram  com  outros  de  compa- 
nhia ha  primeira  tranqueira.»  Ibidem, 
part.  4,  cap.  6õ.  —  «O  qual  o  Rey  lhe 
deu  com  muito  gosto,  e  com  ordem,  e 
poderes  pêra  contratar  tudo  o  que  dis- 
semos remetendose,  e  obrigando  se  per 
suas  carta.?  de  crença  a  estar  por  quanto 
neste  negocio  fezessem  elle,  e  o  padre, 
que  despedidos  do  Rey  ambos  se  embar- 
caram, e  chegaram  a  Goa  a  20  de  Jlar- 
ço  de  1Õ48.  auendo  ja  bem  três  annos, 
que  o  padre  M.  Francisco  sahira  da  mes- 
ma.» Lucena,  Vida  de  S.  Francisco  Xa- 
vier, liv.  5,  cap.  24. 

REMETIDO,  part.  jKiís.  de  Remeter. 
Vid.  Remettido. 

REMETTEDURA,  s.  /.  Remettida,  cn- 
vestiila. 

REMETTENTE,  part.  acf.  de  Remetter. 

—  aS'.  2  gen.  Pessoa  que  reraette,  que 
fez  uma  remessa. 

REMETTER,  v.  a.  (Do  latim  remittere). 
^Mandar,  enviar  para  ser  entregue.  —  Re- 
metter uma  carta  por  um  correio  expres- 
so. — ■  «E  antes  que  descansasse,  queren- 
do ver  se  Bracandor  era  morto,  estando- 
Ihe  tirando  os  laços  do  elmo,  chegou  ao 
mesmo  lugar  Astripardo,  sobrinho  de  Bra- 
candor, com  outros  dez  cavalleiros,  que 
vinha  pêra  acompanhar  seu  tio;  e  vendo 
os  seus  todos  mortos,  e  a  elle  em  tal  es- 
tado de  lhe  cortarem  a  cabeça,  sem  ou- 
tra consideração  remetteu  a  Palmeirim.» 
Francisco  de  Jloraes,  Palmeirim  dlngla- 


terra,  cap.  78.  —  «Porém  o  Governador 
escasso  no  nso,  e  dispêndio  de  tão  tieis 
donativos,  lhos  tornou  a  remetter  agra- 
decido, e  pagando-lhes  nas  honras  dos 
maridos,  e  filhos,  tào  liberal,  e  opportuno 
serviço.»  Jacintlio  Freire  de  Andrade, 
Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv.  4. 

—  Dilatar,  difterir,  adiar,  ampliar  por 
mais  tempo. 

—  Remittir,   moderar. 

—  Remetter  o  negocio  a  alguém ;  con- 
.fial-o,  deixal-o  á  sua  conta  e  direcção. 

—  Entregar.  —  «Que  couzas  saõ  as  de- 
moras de  hum  Mini.stro,  que  naõ  despa- 
cha y  Saõ  de  portadores  continues,  de  que 
lhe  deis  alguma  couza,  e  logo  vos  despa- 
chará. E  porque  o  tal  he  pessoa  grave,  e 
que  se  peja  de  aceitar  á  escâncara  dona- 
tivos, remette-vos  ao  seu  official,  quando 
apertais  muito  com  elle.»  Arte  de  furtar, 
cap.  48. 

— ■-  Perdoar. 

—  Remetter  um  homem  ao  outro ;  en- 
vial-o  para  elle  com  recommendaçào. 

— -Remetter  a  causa  ao  juiz  ;  deixal-a, 
e  não  proseguir  a  accusação  o  que  que- 
relou. 

—  Remetter  o  cavallo;  arremessal-o,  fa- 
zel-o  sahir  impetuosamente,  e  paral-o 
quando  vai  na  maior  força  da  carreira. 

— ■  T'^,  n.  Accommetter  impetuosamente. 
—  «E  posto  qiic,  como  se  já  disse,  neste 
dia  fizesse  maravilhas  em  armas,  estava 
tão  fraco  e  cansado,  e  com  tantas  feridas 
e  tanto  sangue  perdido,  que  aquelle  fora 
o  fim  de  seus  dias,  se  alli  não  acertara 
de  passar  aquelle  valente  e  mui  esforçado 
Albaizar,  que  vinha  na  via  de  Constanti- 
nopla, o  qnal  vendo  tào  crua  e  desigual 
batalha  como  era  de  tantos  cavalleiros  a 
um  si'i,  e  conhecendo  que  o  só  fora  o  que 
lhe  dera  a  lança  no  castello  de  Dramo- 
rante,  o  cruel,  remetteu  a  Astripardo  en- 
contrando-o  de  tamanha  força,  que  lhe 
lançou  da  outra  banda  uma  braça  da 
lança.»  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
d'Inglaterra,  cap.  78. —  «Então  não  po- 
dendo softrer  a  ira  que  d'isso  lhe  cresceu, 
remettem  ao  outro,  que  com  a  mesma  ira 
o  recebeu,  e  começaram  ambos  ferir-se 
com  tanta  força,  que  nem  as  armas  de- 
fendiam os  corpos,  nem  a  desenvoltura 
estorvava  o  damno,  que  os  golpes  fa- 
ziam.» Idem,  Ibidem,  cap.  81.  —  «Aca- 
bando estas  palavras  e  remettendo  a  Flo- 
ramão  tudo  foi  um,  porem  como  sua  fra- 
queza fosse  muita  e  a  folta  do  sangue  lha 
acrescentasse  muito  mais,  Floramão  o  le- 
vou nos  braços  e  com  pouco  trabalho  o 
derribou.»  idem.  Ibidem,  cap.  10o.  —  «E 
remettendo  um  ao  outro,  o  primeiro  gol- 
pe, que  o  cavalleiro  do  Salvagem  recebeu, 
foi  dado  com  tanta  força,  que  lhe  cortou 
gram  parte  do  escvido ;  e  a  espada  era  de 
tão  bons  fios,  que,  descendo  ás  armas,  lhe 
desfez  um  pedaço  da  falda  da  loriga,  dos- 
malliando-se  alguma  parte  delia.»  Idem, 
Ibidem,  cap.  106. —  «Tornando  a  elles, 


192 


REME 


REMI 


REMI 


quo  Cíiila  iim  pola  conliançu,  quo  costu- 
iiiuvji  ter,  ostiivii  ineuciicorio  de  iiào  ilor- 
nh-.iv  o  outro,  lí  torccira  carreira  remet- 
terara  com  tanta  Ibri^a,  qiiu,  tkl.-ados  oA 
escmlos  o  armas,  o  cavalleiro  foi  ao  cliào; 
o  Floroudos  pordiíla.s  m  cstribuii-as  so 
ajKif^^oii  ai)  collo  do  cavailo;  o,  tnrnando- 
80  a  eadiroitar,  íicuii  aljíiim  tanto  corrido 
do  aqiadlo  ijozar.»  Jdom,  Ibidem,  caj). 
109.—  «  To  la.s  omitas  cousai  (Hio  pa.ssaiam 
de  parte  a  parte,  ouviram  el-rei  e  Alljay- 
zar,  o  dosíijavaiii  vôr  so  ass  obras  do  ca- 
valloiru  das  douzellas  diziam  coui  as  pa- 
lavras. K  ii'isto  baixas  as  laii(,a<  remet- 
teram  um  ao  outro.»  Idcin,  Ibidem,  cap. 
123.  —  «Tomamlo  outras,  remetteram  se- 
gunda vez,  e  foi  com  tanta  fúria,  quo 
ambos  erraram  o  oncontio;  porom  como 
a  cada  um  naipiollos  tempos  não  costu- 
masse fallecor  acordo  lop;o  tornaram  vo- 
tar com  tenção  do  os  acertar  melhor  a 
tei-ceira  vez.»   Idem,  Ibidem,    cap.    127. 

—  Remetter  a  fazer  ahjuma  cousa;  co- 
meçar a  fazel-a. 

—  Ir  contra.  —  Remetter  a  ah/ueiu  com 
os  braços  abertos. —  «E  vendo  o  escudo  do 
vulto  de  Miraguarda  posto  cm  sou  lugar, 
detove-se  um  pouco,  c  cenhecondo  Flo- 
reados, f(u'estava  c'o  rosto  descoberto, 
lançando  a  lança  no  chão,  remetteu.  a 
cUe  c'os  braços  abertos,  dizendo:  Nunca 
eu  duvidei  o  quo  agora  vejo."  Francisco 
de  Moraes,  Palmeirim  d'Iugiaterra,  cap. 
108.  —  «Não  sei  se  se  agravarão  vossos 
parceiros,  disse  ello,  quos  vejo  estar 
apercebidos  de  Justa,  dcixai-me  cumprir 
co'cllos,  quo  tempo  haverá  porá  fazer  as- 
sim couivoseo ;  c,  sem  mais  detença,  to- 
mada outra  lança,  ([ue  lhe  deu  Armello, 
remetteu  contra  o  quo  trazia  as  armas  de 
branco  e  pardo  e  Apollo  no  escudo,  que 
também  o  sahiu  a  receber.»  idem.  Ibi- 
dem, cap.  109.  —  «Porá  que  vejaes  quão 
pouco  podem  esses  enganos,  disse  o  do 
batel,  olhai  por  vós.  E  remettendo  a  elle, 
lhe  deu  um  golpo  em  descubcrto  do  es- 
cudo por  cima  do  elmo,  c  foi  de  tanta 
força,  quo  além  d'entrar  alguma  cousa, 
lhe  fez  abaixar  a  cabeça  tó  os  peitos,  de 
que  Florendos  ticou  descontente,  e  teve 
em  mais  seu  contrario.»  Idem,  Ibidem, 
cap.  110.  —  «E  saltando  sobre  os  degraos 
remetteu  aos  gigantes,  que  contra  elle 
não  buUirara,  antes  dcixando-se  cahir 
auto  seus  pés,  Ibe  desembaraçaram  a  en- 
trada, e  chegado  mais  a  ella,  contente  da 
obediência,  com  que  o  trataram,  esteve 
vendo  muito  de  vagar  o  lavor  e  obra  do 
portal,  que  oram  do  mesmo  jaez  das  ou- 
tras cousas.»  Idem,  Ibidem,  cap.  120. — 
oE  tomando  outra  quo  lhe  deu  um  escu- 
deiro d'cl-rei,  sem  mais  detença  remetteu 
ao  quinto,  que  o  saiu  a  receber,  e  o  en- 
controu com  tanta  força,  que  fazendo-Uie 
rebentar  as  cillias,  deu  eoni  elle  e  com  a 
sella  por  as  ancas  do  cavaílo;  e  foi  de 
maneira,  que  algum  pouco  esteve  desAcor- 
dado:  e  indo  por  diante,  com  a  fúria  do 


cavailo,  foi  ter  junto  das  janellas  d'el-rci, 
pegado  com  Albayzar.»  Idem,  Ibidem, 
cap.  128. 

—  Enviar,  arreni&sHar  de  um  modo  im- 
petuoso.—  «Aprescntam-nos  a  Acestcs, 
quo,  empunhando  um  Bcej)tro  de  ouro, 
Julgava  os  povos,  c  se  apercebia  para  um 
grande  saerilicio.  luquinu-nos,  com  voz 
severa,  de  que  paiz  éramos,  c  qual  o  mo- 
tivo do  nossa  viajem.  Mentor  adiantou-se 
a  responder,  dizendo:  Vimos  das  costas 
da  grande  Ilesperia,  d'ondo  nossa  pátria 
não  distji  muito :  e  por  este  modo  evitou 
descobrir  sermos  (iregos;  porém  Acostes, 
sem  mais  ouvir,  havendo-nos  por  estran- 
geiros, quo  rT'catavaTnos  nossa  tenção,  or- 
denou nos  remettessem  a  umas  brenhas, 
onde  sorvisscnms,  como  escravos,  aos 
maioracs  do  seus  rebanhos.»  Telemaco, 
traducção  de  jManoel  de  Housa,  e  Fran- 
cisco ]\Ian(icl  d(i  Nascimento,  liv.  2. 

— -  Remetter-se,  r.  mjL  Keportar-se, 
referir-se. 

- — Dav-sc  por  desobrigado  da  pena,  da 
satisfação. 

—  Acíiuiescer,  estar  ])or. — Remetter- 
se  aj)  .SI  V  arbitrio  e  decisão, 

REMETTIDA,  s.  f.  O  impulso  com  que 
se.  accninictte. 

—  Investida,  accommcttimcnto,  assalto. 

—  Remettida  do  touro;  investida  con- 
tra (IS  capiídias  ou  caralloiro. 

REMETTIDO,  part.  jxiss.  de  Remetter. 
Enviado,  mandado  para  entregiir-se. 

—  Entregue. 

—  Dilatado,  ampliado.  —  Questão  re- 
mettida para  outra  uccasião. 

—  Divida  remettida;  divida  perdoada. 

—  Moderado,  remettido.  —  A  cólera  re- 
mettida. 

—  Arremessado,  lançado  com  Ímpeto. 
—  Tinn-n  remettido  contra  alguém. 

REMETTIDURA,  />./.  (De  remettido,  e  o 
suftixo  «ura»).  Uommettimento,  remettida. 

■ — Assalto,  investida. 

REMEXER,  i'.  a.  Mexer  do  novo,  me- 
xer segunda  vez,  tornar  a  mexer. 

—  Remexer  os  ijuadris;  movcl-os  lasci- 
vamente em  certas  danças. 

—  Figuradamente :  luquietiir,  pertur- 
bar. 

—  Adagio  : 

—  Versas  que  não  has-de  comer,  não  as 
queiras  remexer. 

REMEXIDO,  part.  pa.^s.  de  Remexer. 
Tornado  a  mexer,   mexido  se^guuda  vez. 

—  Rcm  mexido. 

—  Figuradamente  :  Calabreado,  mistu- 
rado. 

REMIDA.  Forma  variável  da  terceira 
pessoa  do  singular  do  presente  do  con- 
junctivo  do  verbo  Remedir. 

REMIDO,  part.  pasa.  de  Remir.  Resga- 
tado, livre  do  poder. 

—  l''iguradamcnto:  Restaurado. —  Co- 
roa remida. 

REMIDOR,  s.  »).  Homem  que  remiu, 
que  resgatou. 


—  Homem  que  livrou  do  captiveiro  do 
demónio  os  que  a  elle  estavam  sujeitos 
pola  culpa  «li-  Adão;  redcnqitor. 

t  REMIFERO,  A,  wlj.  íDo  latim  re- 
mun,  c  ferre).  Toruio  de  ZKidogia.  Que 
tem  parte»  em  fiírma  do  remos. 

REMIGES,  adj.  f.  phir.  Termo  rle  his- 
toria I  aturai.  Penrum  remiges  ;  |iennas 
alongadas  das  aza»  das  aves,  que  fazem 
o  offirio  de  remo». 

REMIGIO,  «.  vt.  <Y)o  latim  reniiffium). 
—  O  remigio  das  azas;  o  remar  d'ella«, 
a  ajuila  ou  serviço  que  ellíis  fazem  áa 
vezes. 

REMIGRAÇÃO,  *./.  iDo  latim  remigra- 
re).  Mudança  para  o  logar  d'unde  alguém 
antes  se  tinha  mudado. 

t  REMIGRADO,  part.  pats.  de  Remi- 
grar. 

REMIGRAR,  r.  a.  CDo  latim  remigra- 
rc).  Mudar  para  o  logar  d'onde  outrem 
antes  se  tinha  mudado. 

—  Voltar  para  sua  primeira  reeidon- 
cia. 

REMILHÃO,  s.  ;//.  Termo  do  Brazil. 
(irando  colher  de  cobre  usada  nos  enge- 
nhos fli-  assucar. 

REMIMENTO,  *.  m.  Termo  antiquado. 
R>^nússào,  resgate,  jierdlo.  —  O  remi- 
mento  dr  meus  peccados. 

REMINHOL,  s.  m.  Colher  cova  grande, 
encavada  em  pau,  usada  nas 'casas  de 
caldeiras  des  engenhos  de  assucar,  no 
serviço  das  bacias,  ou  tachos  de  cozer  o 
mel.  que  ha-de  ir  para  as  formas. 

REMINISCÊNCIA,  s.  f.  iDo  latim  remi- 
nisteiitiii  \  A  acção  de  rcpresentar-se  á 
phantasia  a  espécie  de  cousa  que  passou, 
c  não  temos  presente. 

—  Exorcicio  da  nossa  memoria,  facul- 
dade. 

—  Syx.:  Reminisceucia,  memoria.  Vid. 
este  ultimo  vocábulo. 

REMIR,  V.  a.  Comprar  o  que  estava 
em  captiveiro,  ou  poder  do  inimigo.  — 
«Assy  como  se  algum  homem  promettes- 
se  certo  dinheiro  pêra  remir  algum  cati- 
vo, e  alguma  mulher  liasse,  ou  se  obri- 
guasse  por  aquelle,  que  tiil  obrigaçom 
iizesse ;  ca  cm  tal  caso  sor.n  essa  molher 
obrigada  á  tal  fiança,  e  obrigaçom,  assy 
como  qualquer  homem,  sem  gouvindo  do 
dito  beneficio  do  Vallcano. »  Ord.  Affons., 
liv.  4,  tit.  l'^,  S  1. 

—  Tirar  de  grande  trabalho,  opprcs- 
são.  —  Remir  us  captivos.  —  «Succdeo- 
Ihe  Joan  IV.  do  nome,  filho  de  Venân- 
cio natural  de  Dalmácia,  que  por  evitar 
outro  roubo  dos  ber.s  Eclesiásticos  seme- 
lhante ao  passado,  gastou  quantti  ouro  o 
prata  avia  em  remir  cativos,  e  em  obra» 
dignas  do  cargo  que  tinha,  e  morreo  em 
o  Senhor,  avendo  hum  anno,  e  nove  m<^ 
ses  <jue  titdia  o  Pontificado.»  Monarchia 
Lusitana,  liv.  (>,  cap.  24. 

—  Livrar  do  poder.  —  •  Assim  eetes 
valerosos  cavalleiros  Portuguezes,  que 
estavaõ  em  Siaõ,  niandàraõ  dizer  ao  Bra- 


4 


REMI 


REMI 


REMI 


193 


mà  que  os  Portiiguezes  nào  remiaõ  suas 
vidas  se  nào  cõ  as  armas,  nem  vendiaõ 
sua  lealdade  por  todo  o  ouro  do  mundo, 
que  soubesse  em  certo,  que  em  quanto 
elles  fossem  vivos,  nào  entraria  elle  na- 
quella  Cidade.  E  que  ainda  depois  de  to- 
dos mortos,  e  espedeçados  (se  podesse 
ser)  lha  haviaõ  de  defender.»  Diogo  de 
Couto,  Década  G,  liv.  7,  cap.  9. 

Nem  em  déz 
remiras  quem  se  te  entrega. 
No  melhor  teu  gosto  estala, 
não  sei  quem  de  ti  se  apraz. 

ANTÓNIO  PBESIES,  ACTOS,    pftg.    15. 

—  Remir  alguém,  ou  alguma  cousa  com 
dinheiro.  —  «A  clausula  da  doaçào,  que 
manda  pagar  o  foro,  ou  remilo  com  di- 
nheiro decontado,  tica  escura  pelo  nome 
de  tremisses,  que  eu  nào  pudera  enten- 
der, senão  lera  na  vida  de  Masona  Ar- 
cebispo de  Merida,  escrita  por  Paulo, 
Diácono  da  própria  Igreja,  que  tremisse 
era  huma  moeda  que  corria  naquelle  tem- 
po, três  das  quais  faziaõ  hum  soldo.»  Mo- 
narchia  Lusitana,  liv.  7,  cap.  8. 

—  Resgatar,  restaurar. 


Quanta  má  vida  lhe  dou, 
que  nào  remirão  iacões 
minlias  importunações  ? 
mas  eu,  senhor,  cujo  sou... 
Nào,  melhor  pagam  rasões. 

AKTOXIO  PHESTES,  AUTOS,  pag.  19Õ. 

Livrar. 


Pelas  margens  dos  Rios  vou  attento 

Remir  (quanto  é  em  mim)  as  desventuras 

Da  provança  execra vel.  Tem  os  Francos, 

Por  uso,  tentear,  nos  próprios  Filhos, 

Sc  tem  de  ser  valentes.  Sobre  as  ondas, 

Se,  em  broquel  postos,  á  flor  da  agua,  nádâo  ; 

Recolhem-nos,  e  os  salvâo:  os  mais...  morrem. 

r.   M.  DO  NASCIMESTO,  OS  MAKTTRES,  llV.    7. 


— -  Remir  os  peccados  com  esmolas ;  li- 
vrar-se  da  pena  por  elles  merecida. 

—  Livrar  do  captiveiro  do  demónio 
aquelles  que  a  elle  estavam  sujeitos  pelo 
peccado  dos  nossos  primeiros  pães.  — 
Christo  remiu  os  peccados  com  o  seu  pró- 
prio sangue. 

—  Fazer  cessar  a  obrigação  pagando 
por  si,  ou  por  outrem. 

—  Remir  vexame ;  livrar-se  d'elle. 

—  Remir-se,  v.  reji.  Resgatar -se,  res- 
taurar-se,  livrar-se.  —  «Fernão  de  Sou- 
sa, entendendo  dos  rodeios  desta  Carta, 
e  de  outras  noticias,  que  os  Castelhanos 
se  queriào  remir  com  dilações,  respon- 
deo,  que  deixados  argumentos,  tratasse 
de  defender  com  espada  seu  direito.»  Ja- 
cintho  Freire  de  Andrade,  Vida  de  D. 
João  de  Castro,  liv.  2. 

—  Defender-se  do  mal,  do  ataque. 

—  Figuradamente :  Remediar-se  na  ne- 

voT/.  V.  — 25. 


cessidade.  —  Remir-se  com  rim  pequenis- 
simo  ordenado  que  tem. 

— •  Tirar-se  de  grande  trabalho,  de  op- 
pressào. 

REMIRAR,  V.  a.  (De  re,  e  mirar).  Mi- 
rar de  novo,  tornar  a  mirar,  mirar  se- 
gunda vez. 

—  Rever  com  attençào. 

—  Remirar-se,  v.  reJi.  Revêr-se  atten- 
tamente,  tornar-se  a  mirar,  mirar-se  se- 
gunda vez. 

—  Emprega-se  também  figuradamente, 
f  REMISSAM,  s.  /.  Vid.  Remissão.  — 

«Mas  nam  espere  ninguém,  alcançar  es- 
ta remissam  fora  da  igreja  Catholica,  e 
Apostólica,  por  quanto  a  soo  ella  sam 
dadas  as  chaues  do  Reyno  dos  Ceos.  Por 
isso  nenhum  hereje  pode  alcançar  per- 
dam  de  seus  peccados,  ate  que  se  nam 
reconcilie  e  incorpore  com  a  sancta  Igre- 
ja, e  torne  a  cobrar  spiritu  de  vida,  que 
he  fee,  esperança,  e  caridade.»  Fr.  Bar- 
tholomeu  dos  Martyres,  Catecismo  da 
doutrina  christã. 

REMISSAMENTE,  adv.  (De.  remisso,  e 
o  suffixo  « mente »j.  Francamente,  negli- 
gentemente. 

— •  Sem  presteza,  nem  acrimonia,  nem 
alacridade.  — •  ComhaUr  remissamente. 

REMISSÃO,  s.  /.  (Do  latim  remissio, 
de  i-emissus).  Indulgência,  misericórdia 
de  uma  pessoa  para  com  outra. —  «Ne- 
nhum sacerdote  pode  ter  manceba,  se- 
nam  de  todo  deixar  o  officio  sacerdotal, 
ficando  de  todo  inhabil  pêra  nunca  poder 
sacrificar,  nem  tratar  as  cousas  diuinas. 
Se  entre  nos  alguns  dos  Bispos,  ou  sacer- 
dotes tiuer  filho  bastardo,  os  priuão  logo, 
sem  nenhuma  remissão  de  quantos  bene- 
fícios tem,  e  da  dignidade  Episcopal,  e 
sacerdotal.»  Damião  de  Góes,  Chronica 
de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  61.  —  «Os 
quais  presos  se  tem  por  muyto  bem  li- 
vrados quando  os  levão  a  trabalhar  no 
muro,  porque  da  prisão  do  Xinãguiba- 
leu,  nào  podem  por  nenhum  caso  ter  re- 
missão, aem  se  lhe  leva  nenhum  tempo 
em  conta,  nem  tem  outra  nenhuma  espe- 
rança de  liberdade  se  não  a  hora  em  que 
lhe  couber  sayr  daly  para  o  muro  por 
sua  successaõ,  porém  como  saõ  no  muro, 
tem  logo  esperança  certa  de  serem  livres 
conforme  ao  estatuto  que  ja  tenlio  dito.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap. 
108.  —  «E  ainda  então  com  trabalho  che- 
gamos ao  outeyro  onde  elle  estava  fabri- 
cado, no  qual  avia  seys  ruas  muyto  com- 
pridas, cheyas  todas  de  balanças  pindu- 
radas  de  tirantes  de  bronzo,  nas  quais 
se  pesava  infinita  gente  para  cumprimen- 
to de  votos  que  em  adversidades  e  doen- 
ças tinha  feitos,  e  para  remissão  de  quan- 
tas culpas  tinhaõ  cometidas  contra  Deos 
desne  que  souberaõ  peccar  até  aqucUa 
hora;  e  segundo  o  prometimento,  ou  a 
graveza  da  culpa ;  ou  a  possibilidaíle  que 
cada  hum  tinha,  assi  se  pesava.»  Ibidem, 
cap.  Itíl. 


Concrusão, 
que  a  leveis  secretamente 
ao  casal,  como  prudente 
a  mateis  sem  remissão; 
que  eu  por  tapar  bocas  á  gente 
ficarei  cá,  farme-hei  forte. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,    JJag.   491. 

—  Perdão;  n'este  sentido  só  se  diz  em 
termos  de  theologia.  —  A  remissão  dos 
peccados.  —  Obter  de  Deus  a  remissão 
de  seus  peccados.  —  Aquelle  que  conta  com 
a  remissão  de  seus  peccados  não  se  cokibe 
de  os  commetter. 

— -Beneficio  concedido  pelo  príncipe  a 
um  criminoso,  mudando-lhe  a  pena  de 
morte  que  elle  lhe  decretou  segundo  as 
leis,  quando  as  circumstancias  o  tornam 
digno  de  perdão.  —  O  rei  deu-lhe,  conce- 
deu-lhe  a  remissão  de  sua  pena. — Pe- 
diu-se  a  remissão  ao  rei. —  Ohter  a  re- 
missão. 

—  Cartas  de  remissão ;  cartas  paten- 
tes expedidas  em  chancellaria,  e  dirigi- 
das aos  juizes,  pelas  quaes  o  rei  conce- 
dia a  um  criminoso  a  remissão  do  seu 
crime,  no  caso  que  o  que  elle  tivesse  ex- 
posto ao  seu  desencargo,  se  achasse  ver- 
dadeiro. —  Obter  carta  de  remissão.  — 
Sellar  a  remissão  de  um  accusado. 

—  Sem  remissão;  sem  indulgência, sem 
perdão.  —  Ser  despedido  sem  remissão. 

—  A  remissão  produz  o  efteito  de  des- 
encarregar  o  culpado  do  castigo  que  lhe 
tinha  imposto. 

—  A  remissão,  no  sentido  pathologico, 
é  acompanhada  de  phenomenos  pyreticos, 
somente  enfraquecidos;  n'este  sentido  é 
differente  da  intermissão,  que  é  comple- 
tamente isenta  d'esses  phenomenos  pyre- 
ticos, a  ponto  de  simular  o  estado  de 
saúde. 

—  Allivio,  menos  rigor,  —  Remissão 
da  pena. 

—  Por  extensão  :  Mitigação,  correcti- 
vo de  que  se  serve  uma  pessoa  que  tem 
direito,  vantagem  ou  authoridade  sobre 
outra.  —  Usar  de  remissão  jiara  com  al- 
guém. —  Fazer  pagar  sem  remissão.  — 
Não  esperar  remissão  alguma  dos  seus 
credores.  —  Tratar  um  devedor  sem  re- 
missão. —  Não  esperar  remissão  nenhu- 
ma. 

— ■  Um  homem  sem  remissão  ;  um  ho- 
mem implacável,  que  não  perdOa,  que 
exige  ao  rigor  tudo  o  que    lhe  é  devido. 

—  Graça  concedida  a  um  culpado  da 
pena  que  se  pronunciou  contra  elle. 

—  Em  forma  de  theologia,  perdão.  — • 
João  estava  no  deserto,  baptisando  e  pre- 
gando o  baptismo  de  penitencia  pela  re- 
missão dos  peccados.  —  A  penitencia  ob- 
tém a  remissão  dos  peccados. 

—  Termo  de  medicina.  Diminuição 
temporária  dos  symptomas  de  uma  doen- 
ça, quer  aguda,  quer  chronica.  —  Ha  re- 
missão na  febre. 

—  Cessação  mais  ou  menos  completa 
dos  symptomas  febris,   entre  os  accessos 


194 


REMI 


RE.M<  > 


REMO 


iFuma  febre  remittente.    Diz-sc  tainlxjiu 
a  remissão  no  pulso. 

—  Termo  'lo  physica.  EnlVaqucciraen- 
to,  <rmiiniiic;?l')  do  intenHÍfla'lo. 

—  Froiixiilílo  do  animo  remisso. 

—  Remissão  de  phrenesi;  intermissilo, 
iiitcrvailo  do  cossaçào  do  furor,  tendo  di- 
lueidoi  intervalios,  cm  que  íica  livre  to- 
tainionto  do  phrcnesi  ou  dolirio.  Vid,  In- 
termissão. 

— •  Figuradamente :  Quitaçilo  que  se 
dá. 

—  Acçào  de  rcmetter,  de  enviar  para 
ser  cntrepuo. 

—  Remissão  da  embargos ;  remessa  ao 
tril)unal  d'onde  emanou  ordem,  provisão, 
quando  se  oppõe  embargos  de  obrigação, 
etc. 

REMISSIVEL,  adj.  2  gm.  (Do  latim 
remissíOilis,  do  remissus).  Digno  de  se 
perdoar,  perdoável.  —  Uma  pe(iuena  oj- 
ftnm  remissivel. 

REMISSO,  A,  adj.  (Do  latim  remissus). 
Tardio  no  obrar,  no  executar.  —  O  cMfe 
remisso  em  castUjar. 

—  Indolente,  não  executivo. 

—  Conversão  remissa;  conversão  não 
acompanhada  de  fervor  necessário  para 
perseverar. 

—  Tardo,  lento,  vagaroso.  —  «Em  seus 
negócios  sempre  foi  melhor  a  tençaõ,  que 
o  effeito,  na  expediencia  delles  tão  re- 
misso pela  mor  parte,  que  sua  indeter- 
minação lhe  fazia  damno,  como  foi  na 
declaração  do  Suecessor  do  Reino,  com  a 
qual  (se  fora  feita  a  tempo)  se  puderaõ 
evitar  os  grandes  damnos,  que  depois  se 
seguira").»  Frei  Bernardo  de  Brito,  Elo- 
gios dos  reis  de  Portugal,  continuados 
por  D.  José  Barbosa. 

—  Que  não  tom  o  mesmo  grau  de  for- 
ça, ou  de  intensão. 

REMISSORIO,  A,  adj.  Termo  do  foro. 
Carta  remissoria,  ou  letra  remissoria; 
carta,  que  o  juiz  envia  com  a  causa  a 
outro  juiz;  e  também  a  que  o  juiz  pri- 
vativo passa  para  outro  juiz  lhe  rcmet- 
ter 03  autos,  e  as  pessoas  presas  por  ou- 
tra jurisdicção;  taes  são  as  que  passa 
o  conservador  da  universidade  para  os 
juizes  d 'alguma  terra,  onde  está  preso  es- 
tudante, ou  pessoa  que  goze  privilegio  da 
mesma  universidade. 

—  Que  encerra  perdão,  indulgência, 
remissão. —  Ordem  remissoria. 

f  REMITARSO,  adj.  (Do  latim  remus, 
e  tarso).  Termo  de  zoologia.  Que  tem  os 
tarsos  cm  firma  de  remos. 

•}•  REMITTENCIA,  s.  /.  Termo  de  medi- 
cina. Caracter  das  affecçijes  que  são  re- 
mittentes. 

REMITTENTE,  part.  act.  de  Remittir. 
(Do  latim  remittentem,  de  remittere).  Ter- 
mo de  medicina.  Diz-se  das  doenças  que 
tem  remissões,  e  mormente  das  febres,  que 
sem  cessar  de  serem  continuas,  tem  re- 
missões comparáveis,  até  um  certo  ponto, 
ás  remissões  d'uma  febre  intermittente. 


—  As  febres  remittentes  dos  puizes  quen- 
tes. 

—  Febre  remittente  das  creanqas ;  fe- 
bre lenta,  manifostando-so  na  infância,  e 
que  se  assemelha  por  seus  symptomas  ao 
hydroeephalo. 

"  REMITTIDO,  jjart.  pass.  de  Remittir. 
l\-rd(jad(i,  (jiiitido/ — Injuria  remittida  ; 
offensa  remittida. 

—  Afrouxado.  —  Zelo  reraittido. 

■ —  Largado,  cedido.  —  Direito  remit- 
tido. 

REMITTIR,  V.  a.  (Do  latim  remittere). 
Perdoar,  quitar.  —  Remittir  a  offensa,  a 
injuria,  á  divida,  etc. 

—  Largar,  ceder.  —  Remittir  o  direito 
que  tinha  sobre  uma  cousa. 

—  Afrouxar,  não  continuar  com  a  mes- 
ma intensidade.  —  Remittir  o  rigor  com 
que  tratava  esta  creança. 

—  Remittir-se,  i'.  »•«//.  Tornar-se  frou- 
xo, diminuir  da  intensidade  antiga.  — 
Remittirem-se  os  delirios,  os  phrenesis 
com  a  i'Jjicacia  dos  remédios.  —  «\ume- 
rozos  saõ  os  delirios,  e  Phrenesis  a  que 
tenho  assistido;  dos  quais,  muytos  preva- 
lecerão contra  todos  os  auxílios  da  Arte. 
matando  os  doentes,  outros  se  remitirão 
com  a  efficacia  dos  remciios,  diminuindo- 
se  o  perigo.  He  verdade  que  os  mais  des- 
tes afiectos,  ou  quasi  todos  os  que  tenho 
observado  tem  sido  simptonias  de  varias 
febres,  como  ardentes,  malignas,  perni- 
ciozas.»  Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal  me- 
dico, pag.  394,  §  147. 

—  Mitigar-se,  moderar-sc.  —  Remittir- 
se  a  dor. 

—  Svx. :  Remittir,  perdoar,  Vid.  este 
ultimo  vocábulo. 

remível,  aJj.  2  gen.  Que  é  possivel 
remir-sc.  resgatavel. 

REMO,  s.  m.  (^Do  latim  remus).  Termo 
de  náutica.  Vara  de  pau  roliço,  com  cabo, 
e  pé  nos  seus  extremos,  que  se  fixa  na 
borda  da  embarcação,  pciado  por  estropo 
a  um  tolete,  ou  girando  simplesmente  na 
toleteira,  fincando  a  pá  na  agua. 

O  batel  de  Coelho  foi  depressa 
Pelo  tomar ;  mas  antes  que  chegasse. 
Um  K.thíope  ousado  se  arremessa 
A  ellc.  porque  não  se  lhe  escapasse  : 
Outro  c  outro  lhe  saem  ;  vè-se  em  pressa 
VoUoso,  sem  que  alguém  lhe  ali  ajudasse ; 
Acudo  cu  logo,  c  em  quanto  o  remo  aperto. 
Se  mostra  um  bando  negro  descoberto. 
cAM.,  LIS.,  caut.  5,  est.  32. 

Fendendo  as  ondss  vai  a  proa  aguda 
Sem  ter  algum  favor  de  linho  ou  faia, 
Porque  como  cncubrir-sc  o  Sousa  estuda 
Não  quer  que  ou  hum  se  estenda,  ou  outra  caia  ; 
O  curso  da  maré  sií  lhe  d.í  ajuda  ' 

Para  ir  buscar  do  baluarte  a  praia. 
Mas  tão  depressa  vai  co'o  favor  delia 
Que  bem  pódc  escusar  o  remo  o  a  vella. 
iBiPEM,  cant.  14,  est.  G. 

—  «Em  lun  delles  vinham  quatro  don^ 
zellas  sentadas   na  popa,    vestidas  todas 


d'um  trajo  com  instrumentos  nas  mios, 
tangendo  e  cantando  tão  docemente,  que 
poderam  fazer  inveja  aos  três  companhei- 
ros, SC  os  alli  acharam  :  os  remos  rema- 
vam com  um  compasso  tão  quedo,  que 
nenhum  estor\'o  faziam.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  110. 
—  «Finalun-iitc  a.-si  e^tes  nauios  de  remo 
como  as  carauela»,  qtiada  hum  em  eeu 
modo  fez  tanto  per  si  que  difficultosa- 
nientc  se  poderia  julgar  qual  dos  capi- 
taens  nesta  batalha  e  conflicto  teue  me- 
nos que  fazer:  baste  saber  que  pelo  tra- 
balho que  quada  hum  pos  na  parte  que 
lho  coube  por  sorte,  assi  deu  conta  de  si 
que  os  imigos  que  poderão  escapulir  se 
punhão  em  saluo  quanto  podiilo. »  João  de 
Barros,  Década  1,  liv.  10,  cap.  4. — 
«AftVjnso  d'Alboquerque  a  primeira  cou=a 
em  que  entendeo,  como  pos  os  pês  cm 
Cocbij,  polo  estado  em  que  Goa  estaua 
(segundo  teue  nona  por  Patamares,  que 
ião  e  vinhão  com  assaz  perigo  por  terra) 
porque  o  tempo  não  seruia  pêra  nauios 
grandes :  foi  mandar  gente  em  oito  catu- 
res  a  remo,  que  em  seis  dias  chegarão  a 
Goa.»  Idem,  Década  2,  liv.  7,  cap.  1. — 
"Tomou  o  remo  na  maõ  e  foy  demandar 
as  galeotas,  c  como  homem  que  andava 
desconfiado  endireitou  cõ  a  de  Cafar,  que 
vinha  diante,  e  dando-lhe  homa  surriada 
de  arcabuzaria,  e  de  artelharia,  a  inves- 
tio  pela  proa,  e  os  que  hiaõ  no  esporão  do 
navio  se  lançarão  dentro,  e  destes  fica- 
rão dous  soldados  dependurados  dos  re- 
mos, e  com  trabalho  se  subirão  à  galeota, 
aonde  ficàraõ  pelejando  com  muito  valor 
(porque  a  fusta  da  pancada  que  deu,  tor- 
nou a  recuar,  e  ficou  hum  pouco  afasta- 
da'.» Diogo  de  Couto,  Década  6,  liv.  9, 
cap.  3. —  «Luiz  Figueira  mandou  aper- 
tar o  remo,  e  tomou  a  pôr  a  proa  na  ga- 
leota, e  logo  se  baldeou  dentro  com  os 
seus  soldados,  achando  os  outros  que  da 
primeira  pancada  tinhão  entrado,  pele- 
jando com  todos  03  Turcos  valorosamen- 
te.» Ibidem.  — «E  mandou  negociar  dez 
navios  de  remo  elegendo  pêra  esta  jor- 
nada Gil  Fernandes  de  Carvalho,  irmã" 
de  Ruy  de  Sousa  de  Carvalho,  que  «^> 
Sfouros  matàraõ  em  Tangcre.»  Ibidem, 
liv.  8,  cap.  5. —  «Agora  me  quero  tornar 
ao  íjue  hia  tratando.  Sendo  eu  como  jk 
atras  tenho  dito,  convalecido  da  doença, 
que  trouxe  do  cativeyro  de  Siaca,  Pêro 
de  Faria  desejando  de  me  abrir  algum 
caminho,  por  onde  eu  viesse  a  ter  alguma 
cousa  de  meu,  me  mandou  em  huma  lan- 
chara de  remo  ao  Reyno  de  Paõ  com  dez 
mil  cruzados  de  sua  fasenda,  para  os  en- 
tregar a  hum  sen  feytor  que  là  residia, 
por  nome  Thomé  Lobo.»  Fernão  Mendc-s 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  33.  —  «Mas 
como  Deos  nosso  Senhor  por  sua  miseri- 
córdia nos  quiz  fazer  essa  mercê  quasi 
milagrosamente,  ordenou  que  tendo  ja 
caminhado  mais  de  huma  legoa  adiante, 
o  qual  fazia  a  força  do  remo,  e  com  assaz 


REMO 


REMO 


REMO 


195 


de  trabalho,  dessem  naquella  hora  a  sua 
molhei-  que  levara  preuhe  tamanhas  do- 
res de  parir,  que  lhe  foy  forçado  tornar 
daly  a  arribar  ao  lugar  que  abaixo  tínha- 
mos deixado.»  Ibidem,  uap.  96.  —  «As 
cinco  nãos  dos  Guzarates  se  fizeraõ  na 
volta  do  mar,  e  as  dez  vellas  de  remo  se 
foraõ  direytas  á  ilha,  onde  chegarão  quasi 
ás  Ave  Marias,  e  o  Turco  mandou  logo 
espiar  o  porto  onde  tinha  por  novas  que 
os  nossos  estavão,  e  se  veyo  a  remo  pôr 
na  boca  da  angra,  por  lhe  ficar  assi  a 
presa  mais  segura.»  Ibidem,  cap.  146. — 
«As  outras  duas  vindo  ja  sobbla  tarde 
destroçadas  de  toda  a  appellação  dos  re- 
mos, distantes  huma  da  outra  mais  de 
três  legoa=!,  huma  delias  chegou  ao  porto 
ás  Ave  Marias,  que  também  teve  a  for- 
tuna das  outras,  sem  se  dar  vida  a  Mouro 
nenhum.»  Ibidem.  —  «Ao  outro  dia  huma 
hora  ante-menham,  sendo  o  vento  calma 
de  todo,  virào  os  nossos  a  outra  Galeota 
que  andava  maca,  por  ter  alijado  toda  a 
esquipaçaõ  do  remo  ao  mar.»  Ibidem. — 
«E  para  isto  se  fez  á  vella  para  dentro 
do  rio  com  conjuncçaõ  de  vento  e  maré, 
e  dobramos  huma  põta  que  se  dezia  Mou- 
nay,  da  qual  descobrimos  a  Cidade  cer- 
cada toda  em  roda  de  huma  grade  quãti- 
dade  de  gente  que  ocupava  grade  parte  da 
vista,  e  no  rio  quasi  outra  tanta  de  vellas 
de  remo.»  Ibidem,  cap.  168. — -«Estava 
o  mar  coalhado  de  velas,  que  os  ventos 
enfucavam ;  e  o  bracejo  d'innumeraveis 
remos  alastrava  as  ondas  de  escuma :  em 
todos  os  lados  soava  confusa  gritaria.  Via- 
Be  na  parte  dos  Egypcios,  que  corriam 
espavoridos  ás  armas  ;  e  outros  que  dese- 
javam encorporar-se  na  armada  que  viam 
aportar.»  Francisco  Mauoel  do  Nascimen- 
to, Aventuras  de  Telemaco,  liv.  2. 

—  Picar  o  remo  ;  remar  com  força. 

—  Atado  ao  remo  ;  preso  ao  banco  de 
remar  vai  o  galeote,  o  forçado  das  galés. 

—  Tirar  pelo  remo  ;  remar  impetuosa- 
mente. 

—  Embarcações  de  remo.  —  «Ha  tã- 
bem  outros  que  vivem  de  venderem  pes- 
cado vivo  que  tem  em  grandes  tanques  e 
charcos  de  agoa,  dos  quais  carregaò  muy- 
tas  embarcações  de  remo,  onde  em  pavões 
muyto  estanques  o  levào  em  viveyro  para 
diversas  terras  daly  muyto  longe.»  Fer- 
não Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap. 
97. —  «Desta  cidade  de  Xolor  cõtinuamos 
nossas  jornadas  mais  cinco  dias  por  este 
grande  rio,  vendo  sempre  em  todos  elles 
muytos  e  muyto  nobres  lugares  que  ao 
longo  delle  estavão,  porque  ja  aquy  neste 
clima  he  a  terra  muyto  melhor,  mais  po- 
voada, rica,  e  abastada,  e  os  rios  muvto 
frequentados  de  grande  multidão  de  em- 
barcações de  remo,  e  os  campos  cultiva- 
dos de  trigos,  arrozes,  e  de  toda  a  sorte 
de  legumes,  e  cauaveais  daçucar  muvto 
grandes,  de  que  toda  esta  terra  he  muyto 
abundante.»  Ibidem,  cap.  129.  —  «Desta 
jnaneyra  chegou   á  cidade  de  Lingator, 


situada  ao  longo  de  hum  rio  dagoa  doce 
muyto  largo  e  fundo,  frequentado  de  muy- 
tas  embarcações  de  remo,  onde  se  deteve 
cinco  dias  jjor  vir  mal  desposto  do  cami- 
nho. Daquy  se  partio  huma  antemenham 
com  sós  trinta  de  cavallo,  sem  querer  le- 
var mais  companhia.»  Ibidem,  cap.  131. 
—  «  Parecia  que  deviào  de  ser  povos  muy- 
to ricos,  pela  sumptuosidade  dos  edifícios 
que  nelles  se  vião,  assi  de  casas  particu- 
lares, como  de  templos  cõ  curucheos  co- 
zidos em  ouro,  e  pela  grade  multidão  de 
embarcações  de  remo  que  aly  se  viào  com 
toda  a  sorte  de  mercadarias  e  mantimen- 
tos em  muyta  abundância.»  Ibidem,  cap. 
132.  —  «No  rio  avia  infinidade  de  embar- 
cações de  remo,  nas  quais  se  vendiào  to- 
das as  cousas  quãtas  a  terra  produze,  em 
grande  abundância,  das  quais  nosso  Se- 
nhor foy  servido  de  enriquecer  a  gente 
destas  partes  muyto  mais  que  todas  as 
outras  que  se  agora  sabem  em  todo  o 
mundo,  elle  sabe  o  porque. »  Ibidem,  capi- 
tulo lõ8. 

—  Navios  pesados,  ou  leves  no  remo; 
navios  que  se  movem  ligeiramente,  ou 
pesadamente  ao  remo. 

—  Remos  de  pangaio.  Yid.  Pangaio. 

—  Estar  remo  em  punho  ;  estar  prom- 
pto  para  i'emar  ao  primeiro  signal. 

—  Caminhar  a  vela  e  a  remo.  —  «Pas- 
sada toda  esta  distancia  de  terra,  que  po- 
dia ser  de  quarenta  legoas  pouco  mais  ou 
menos,  caminhamos  assi  a  vella  e  a  remo 
mais  dezasseis  dias,  sem  em  todos  elles 
vermos  gente  nenhuma  como  cousa  des- 
povoada ;  só  em  duas  noites  enxergamos 
huns  fogos  muyto  pela  turra  dentro.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações,  ca- 
pitulo 73. 

—  Entrar  a  remo.  —  «D.  João  de  At- 
tayde,  que  .deixámos  no  mar  com  três  na- 
vios, foi  fazendo  viagem,  e  porque  tinha 
ventos  de  servir,  era  poucos  dias  vio  a 
costa  da  Arábia,  e  foi  demandar  a  Cida- 
de de  Adem,  e  entrando  a  remo  na  ba- 
hia,  deo  de  rosto  com  as  galés  que  esta- 
vão surtas  ;  e  pOrque  ainda  cui'savão  os 
Levantes,  se  tornou  a  sahir  para  o  pego. » 
Jaciutho  Freire  de  Andrade,  Vida  de  D. 
João  de  Castro,  liv.  4. 

—  Vir  a  remo  pelo  rio  abaixo.  —  «  As 
sinco  nãos  dos  Guzarates  se  fizeraõ  na 
volta  do  mar,  e  as  dês  vellas  de  remo  se 
foraõ  direytas  à  Ilha  aonde  chegarão  qua- 
si âs  Ave  Marias,  e  o  Turco  mandou  logo 
espiar  o  porto  aonde  tinha  por  novas  que 
os  nossos  estavaõ,  e  se  veyo  a  remo  pór 
na  bocca  da  angra,  por  lhe  ficar  assim 
a  presa  mais  segura,  e  com  tenção  de 
tanto  que  fosse  manhãa  tomar  todos  os 
nossos  ás  mãos,  e  atados  com  cordas  de 
dous  em  dons.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  146.  —  «  Desta  terra 
da  boa  gente  partio  ha  armada  aos  quin- 
ze dias  de  laneiro,  e  aos  vinte,  e  cinco, 
dia  da  conuersão  de  S.  Paulo  chegou  a 
boca  de  um  rio  grande  muito  fresco,  e 


de  muitas  fi-uctas,  e  aruoredos,  onde  an- 
corou já  bem  tarde,  e  loguo  pela  manhã 
viraõ  vir  pello  rio  abaixo  algumas  alma- 
dias  a  remo  com  gente  da  mesma  calida- 
de  dos  do  rio  do  cobre,  e  antrelles  alguns 
mais  baços.»  Damião  de  Góes,  Chronica 
de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  36. 

—  Fincar  o  remo  na  agua;  suspen- 
del-o. 

—  Navios  de  remo.  —  «Os  nauios  de 
remo  dos  imigos  que  estauam  surtos  de 
longo  da  terra,  em  vendo  fazer  a  nao  do 
Vicerei  a  vela,  se  alevantaram,  e  se  fo- 
raõ lançar  a  tiro  de  falcam  da  nossa  fro- 
ta, começando  logo  de  júgar  com  a  arte- 
Iharia,  o  que  também  no  mesmo  instante 
se  fez,  assi  da  cidade,  como  do  baluarte 
do  mar  com  quarenta  bombardas  grossas, 
que  de  uma  e  de  outra  parte  estauam 
assentadas  em  lugar  donde  mui  bem  lhe 
podiaõ  impedir  o  passo. x  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  2,  cap.  39. 
—  «  Por  fora  desta  derradeyra  cerca  vay 
huma  muito  grande  cava  de  agoa,  de 
mais  de  dez  braças  de  fundo,  e  quarenta 
de  largo,  dentro  da  qual  ha  continua- 
mente grande  soma  de  navios  de  remo, 
toldados  por  cima  como  casas,  em  que  se 
vendem  todas  as  cousas  quantas  se  podem 
imaginar,  assi  de  mantimentos,  como  de 
toda  a  diversidade  de  mercadarias  a  que 
se  p/ide  pór  nome.»  Fernão  Mendes  Pin- 
to, Peregrinações,  cap.  94.  —  « E  aos 
que  fizessem  Navios  de  alto  bordo,  ou 
remos  para  andar  na  Costa  do  Algarve, 
e  de  Portugal  em  corso,  lhes  concedia 
também  as  prezas,  justificando  depois, 
que  sahissem  em  terra,  como  eraõ  de 
Cossarios,  e  tomadas  em  boa  guerra; 
para  o  que  haviaõ  de  dar  fianças,  antes 
de  partirem,  diante  dos  Officiaes,  que 
haviaõ  de  visitar  as  mesmas  Embarca- 
çoens.»  Severim  de  Faria,  Noticias  de 
Portugal,  Disc.  1,  §  16. 

—  Figuradamente:  O  meio,  o  esforço 
por  alcançar. 

—  Loc.  FIG.  :  Navegar  á  vela,  e  re- 
mo ;  usar  de  todos  os  meios,  e  fazer  es- 
forços por  obter. 

—  Figuradamente :  Dar  ao  remo  2^<"' 
onde  forem  as  ondas;  ir  com  a  maré,  se- 
guir e  obedecer  ao  curso  favorável  das 
cousas. 

— •  Figuradamente :  Atado  ao  remo ; 
diz-se  do  mau  habito,  da  peita,  vicio, 
etc. 

—  Figuradamente  :  Eenar  seu  remo ; 
passar  a  vida  em  trabalho ;  ou  trabalhar 
muito  para  viver. 

—  Yid.  Surdo. 

REMOÇAR,  V.  a.  Vid.  Remoquear,  dar 
remoques. 

7  REMOÇADO,  part.  pass.  de  Remo- 
çar. Tornado  moço  o  que  era  velho. 

—  Figiu-adamente :  Remoçada  a  natu- 
reza. 

7  REMOÇADOR,   A,  adj.  Que   remoça. 

—  Usa-se  também  como  substantivo, 


196 


IIEMO 


ki:m<j 


KEMO 


Toda  «o  iilvoroçuvu  si  nuturozii 
A  vinda  alegre  d'0HHa  luz  bminfica, 
rcmn<;ailora  (itoriia  da  fixintciicia, 
Cuja»  HÍlo  altiia  o  vida  do  uiiivcroo. 
OAnuKrr,  «amõkh,  caiit.  D,  cap.  9. 


REMOÇANTE,  part.   uct.   de  Remoçar. 

REMOÇÃO,  .S-.  /.  (Do  latim  remoHo). 
A  iic^-rio  de  remover,  ou  de  ser  remo- 
vido. 

REMOÇAR,  V.  a.  Fazer  quo  o  velho  se 
liiya  moro. 

—  Remoçar  as  forças ;  retornal-as  em 
vigor,  quacs  as  tem  os  moços:  fazel-as 
juvenis. 

—  Emprega-sc  também  no  sentido  fi- 
gurado. 

—  Remoçar-se,  v.  reji.  Fazcr-sc  moço. 

—  Usa-sc  também  figuradamente. 

—  V.  n.  Tornar  novo  o  que  é  velho. 

—  Fazer  o  velho  moço. 

—  Einproga-so  também  figuradamente. 
REMOEDURA,  s.  ./'.  llumiadura, 
REMOÉLA,  s.  /.  Termo  popular.  Acin- 
te,   j)irrara,    desfeita,    acompanhando    o 
(|ue   se  faz   com  o  acto  de  remoer  o  pu- 
nho da  iiiào  na  palma  da  outra. 

REMOER,  V.  a.  l\Iocr  segunda  voz,  tor- 
nar a  moer. 

—  Moer  com  trabalho,  c  pouco. 

Anci»  vos  dcm  remoer. 
Eu  ?  seja  cila  quom  quizer  ; 
romoei-  ou?  isso  tom. 
Parcstas,  que  boi  de  cachar. 

ANTÓNIO  TRUSTES,  AUtOS,  pag.   .385. 

Sc  cUc  estivera  cá, 
ou  nós  fôramos  por  lá, 
remoera  cllo,  senhora. 
Dac-Uio,  Senhora,  marido 
acima  do  condo. 
iiuDiiM,  pag.  483. 

—  Remoer  os  dentes ;  diz-se  do  que 
tem  inveja,  ou  paixão  contra  alguém; 
ranger,  fazer  e.-»tridor  com  os  dentes. 

—  Figuradamente  :  Mascar  muito. 

—  Reraoer-se,  v.  rejl.  Raivar,  encher- 
se  de  raiva. 

f  REMOHER,  V.  a.  Vid.  Remoer.  —  Re- 
moher  os  alimentos  ã  maneira  dos  bois. 
—  « Aqua  Pendente  conheceo  cm  Pádua 
hum  homem  de  distinçito,  que  tendo  na 
tosta  hum  corno  muito  duro  do  tamanho 
de  hun\a  azeytona  de  Sovillia,  gerou  luim 
liliio  que  reraohia  os  alimentos  do  mesmo 
modo  que  fazem  os  Bois.»  Cavalleiro  de 
Oliveira,  Cartas,  liv.  1,  n.°  12. 

•}•  REMOIDO,^'rt)í,  2>ass.  do  Remoer. — 
Moido  segunda  vez,  tornado  a  moer. 

—  Jlascado  muito. 

—  Moido  com  ti'abalho. 

—  Ríiivado,  cheio  de  ira,  de  cólera. 
REMOINHAR,  i-.  a.  Fazer  moer  em  re- 

dcmoiniio. 

—  1'.  n.  Fazer  remoinhos. 

—  Mover-se  cm  giro,  em  torno. 


—  Remoinhar   o  fumo;  subir  girando. 

—  Remoinhar  us  ventos  opposto»;  quan- 
do se  encoiiiram. 

—  Remoinhar  o  òarcu ;  quando  o  re- 
mam por  um  s<')  lado,  ou  quando  uus  re- 
mam paru  vingar  avante,  e  outros  para 
retroceder,  ou  mancam  remos  dos  rema- 
dores feriíios,  ou  mortos  ou  intimidados. 

—  Remoinhar  a$  ondas;  diz-se  onde  ha 
sorvedouros  e  voragens. 

—  iSubstantivamente  :  O  remoinhar  t/os 
remadores. —  «Na  qual  por  o  aciíso  ser  sú- 
bito, c  mais  cuidando  que  alli  estava  to- 
da nossa  frota,  por  ainda  nào  dcscubri- 
rcm  o  anco  que  fazia  a  terra,  houve  en- 
tre todos  tanto  temor,  que  do  remoinhar 
dos  remadores  n.ào  sabendo  o  que  iiaviam 
de  fazer,  ficou  a  lanciíara  d'Ellíey  sem 
governo.»  Joílo  de  Bíutos,  Década  2,  liv. 
1),  cap.  7. 

REMOINHO,  s.  VI.  Vid.  Redemoinho. 

—  Remoinho  de  cabellos.  \'id.  Rede- 
moinho. 

—  Usa-se  também  figuradamente. 
REMOINHOSO,  A,   adj.  (De   remoinho, 

com  o  nuftixo  «oso»).  Que  produz  remoi- 
nhos, que  gira  em  remoinho. 

—  tíorvedouro  remoinhoso;  vid.  Vora- 
ginoso. 

—  Vento,  ondas  remoinhosas;  onde  se 
faz  remoinho. 

REMOLHADO,  2}art.  pass.  de  Remolhar. 
Macerado,  jjo.sto  de  remolho. 

—  Molhado  muito,  e  amollecido. 

—  Adagio: 

—  Barl)a  remolhada,  meia  rapada. 
REMOLHAR,    v.   a.   Tornar   a   molliar, 

molliar  de  novo. 

—  IMolhar  muito,  amollccer. 

—  Jlacerar,   pôr  de  remolho. 

—  ^'ill.  Molhar  a  palavra. 

REMOLHO,  *■.  in.  Termo  usado  na  se- 
guinte locuçSo:  Deitar  de  remolho;  met- 
ter  ou  deitar  em  agua  ou  outro  (jualquer 
liquido,  até  ficar  molle,  ou  perder  algu- 
ma parto  lie  si. 

—  Adagio  : 

—  Quanilo  vires  arder  as  barbas  do 
visinho,  deita  as  tuas  em  remolho;  isto 
é,  quando  vires  mal  pelos  outros,  prcvi- 
ne-te  contra  cUe ;  ou  quando  se  demoram 
as  cousas  para  melhor  vez  e  ensejo,  pai- 
rar-lhcs  o  tempo. 

REMONSTRANTES,  s.  m.  plur.  Here- 
ges calvinistas,  sectários  de  Arminio. 

REMONTA,  »■.  /.  (Do  francez  rowmte). 
Acto  de  remontíir  a  cavallaria,  de  lho 
fornecer  cavallos  para  substituir  aquelles 
que  faltam,  ou  que  nào  estão  no  caso  de 
poderem  servir. 

REMONTADO,  parf.  pass.  do  Remon- 
tar. Elevado  ao  alto,  muito  levantado. 

—  iJiscurso  remontado;  discurso  ele- 
vado, sublime. 

—  Distante,  longínquo,  remoto,  afas- 
tado. —  «He  pois  de  saber,  que  os  (io- 
dos ^segundo  opinião  de  Josefo,  o  outros) 
forão  descendentes  de  Jlagog,   tilho  de 


Noe,  primeyro  povoador  da  grande  Ilha 
de  Escandinávia,  de  cujo  bitio  c  grande- 
za os  antigos  tivcrio  mais  opinião,  que 
certeza,  porque  como  t.lo  remontada  de 
Itália,  o  (irecia,  omlc  Horeciào  as  boaa 
letras.»  Honarchia  Lusitana,  liv.  O,  ca- 
pitulo  I. 

—  Termo  militar.  Provido  de  remon- 
tas. —  Troj/rig  remontadas. 

—  Remontado  aos  tirou  da  inveja;  on- 
de elles  nilo  podem  chegar,  fijra  do  seu 
alcance. 

—  Escondido,  fugindo  para  o  monte, 
desviado  da  companhia,  do  rebanho. 

—  Antigo.  —  Emprezas  tão  remonta- 
das. 

—  Car/i  remontada  ;  caça  que  se  fez 
fugir,  ou  vour  jiara  mais  alto. 

—  Termo  lie  sapateiro.  Vid.  Remonte. 
REMONTANTE,    part.   act.   de  Remon- 
tar. Que  eleva  ao  alto. 

—  Termo  de  botânica.  RealçaíJo,  as- 
cendente, quo  se  curva  e  se  levanta  de- 
pois para  cima,  fallando  dos  ramos,  doa 
peciolos,  das  folhas  e  outras  partes  do  ve- 
getal. 

REMONTAR,  v.  a.  Elevar  ao  alto,  le- 
vantar nmito,  subir. 


Ide,  voai.  Do  Povo,  e  Saccrdot«a 
Soprai  o  zelo,  remontai  o  Olympo  ; 
Rcsuscitai  as  Fabulas  dos  Vates. 

F.    >l.    DO  KASCIUENTO,  OS   MAKTYRRS,  1ÍV.   8. 


Entro,  cmiim,  uos  Rhedõns.  Que  me  aftigura 
A  Armórica  ?  Florestas,  Hronlias,  Valles 
Acanhados,  profundos,  retalhados 
De  líiachos,  que  as  l?arcas  nào  remontão, 
Que  ignotas,  no  Oceano,  ondas  desAguão. 
IBIDEM,  liv.  9. 


—  Termo  militar.  Remontar  a  caval- 
laria ;  fornecel-a  dos  cavallos  que  fal- 
tam. 

—  Fazer  desviar,  fugir  para  os  mon- 
tes, ou  lugares  afastados. 

—  Figuradamente  :  Remontar  (ilguem 
suas  acçòes  aos  astros,  ao  templo  da  fa- 
ma, da  memoria,  etc. 

—  Termo  de  sapateiro.  Vid.  Remonte. 

—  Remontar  o  vôu  ;  voar  ao  alto. 

—  Figuradamente  :  Remontar  o   nome. 
-- Remontar-se,  v.    r,jl.   Ausentar-se, 

apartar-sc,  retirar-se  para  logares  afasta- 
dos, longínquos. 

—  Elcvar-se,  subir.  —  Remontar-se  ao 
Olympo. —  «Agastado  o  Amor  de  taes 
palavra.*,  fugiu  :  e  Vénus  remontou-se  ao 
Olvmpo.  Por  grande  espaço  vi  seu  car- 
ro, c  suas  duas  pombas  cm  uma  nuvem 
de  ouro  c  azul ;  depois  dcí^appareceu.  Ao 
baixar  os  olhos  para  a  terra,  ja  não  en- 
contrei Jfincrva.»  Francisco  Manoel  do 
Nascimento,  Telemaco,  liv.  4. 


Mas  de  arco  frouxo  a  despedida  Mtts 

De  Júpiter  a  Apuia, 
Quo  veloz  tt  ranonta,  uaõ  alcauya. 


REMO 


REM(_) 


REMO 


197 


Fica  cm  silencio,  Lyra,  que  as  virtudes 

Da  singular  Princeza 
Saõ  taõ  inaecossiveis,  como  os  Astros. 
QUITA,  OBKvs  POÉTICAS,  odc  2,  cpodon  5. 

A  Fama,  que  olhos  cem,  cem  bocas  conta, 
Q'inda  mais  do  que  a  luz  corre,  e  se  appresa, 
Que  apenas  nasce,  sobe,  c  se  remonta, 
E  altas  nuvens  transpondo  co'a  cabeça. 
Vai  topetar  ecos  Ceos,  e  os  Ceos  aflEronta, 
Espalhada  na  Corte  aUi  começa 
De  publicar  o  esforço,  e  valentia 
Da  estranha  gente,  que  do  mar  surgia. 

J.  A.   DF.  MACEDO,  OBIESTE,  Caut.    4,   CSt.   20. 

Comigo,  e  o  sentes  tu,  do  peso  humano 
Sc  livra,  e  se  desfaz  o  entendimento, 
A"3  i'Cgiões  mais  altas  se  remonta  : 
Comigo  sobe  aos  Ceos,  comigo  entende 
Mysterios  profundíssimos,  e  entra 
No  seio  occulto  d'alma  Xatui-eza. 

IDEM,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Caut.    2. 

Vem  despertar  em  mim  medonhas  massas, 
Como  bases  do  Coo,  c  a  cuja  frente 
Temem,  (que  altura  !  i  remontar-se  as  Águias  ; 
Onde  não  sopra  o  vento,  ou  chega  o  raio. 
Nem  jamais  se  condensa,  e  expande  a  nuvem  ! 

IDEM,  MEDITAÇÃO,  CaUt.   2. 

E  se  hum  defeito  na  belleza  os  julgas 

Da  nossa  habitação,  qu"assombro,  espanto 

Despertarão  em  ti  medonhas  massas 

Como  bases  dos  Ceos ;  e  a  cuja  frente 

Temem,  qu'altura  !  remontar-se  as  Águias, 

Onde  não  chega  a  tempestade,  o  raio. 

Nem  jamais  se  condensa,  e  espande  a  nuvem  ! 

IDEM,  A  NATUBEZA,  Cant.    2. 

—  Remontar-se  aos  séculos  passados  ; 
estudal-os,  revêl-os,  examinal-os  attenta- 

,  mente  na  sua  distancia  grande   dos  nos- 
sos tempos. 

—  Ensoberbecer-se,  orgiUhar-se,  ufa- 
nar-se. 

—  Sublimar-se,   encomiar-se. 

—  Figuradamente  :  Enlevar-se.  —  Re- 
montar-se o  tsinrito  á  contemplação  das 
cousas  sohrenaturaes . 

—  Fugir,  evitar,  desviar-se  para  lon- 
ge, apartar-se  para  melhor. 

—  Remontar-se  narrando,  orando,  etc; 
elevar-se  muito. 

— ■  T^  n.  Elevar-se,  levantar-se,  su- 
bir. 

—  Emprega-se  também  no  sentido  fi- 
gurado. 

1.)  REMONTE,  s.  m.  Elevação  do  que 
se  remonta. 

—  O  sitio  afastado,  distante,  longin- 
quo. 

2.)  REMONTE,  s.  m.  Termo  de  sapa- 
teiro. Concerto  feito  em  calçado,  reno- 
vando todo  o  couro  do  rosto  do  mesmo 
calçado. 

—  Meio  remonte ;  a  renovação  do  cou- 
ro da  extremidade  do  pé,  até  ao  peito 
d'elle  ;  conhecido  também  pelo  nome  de 
gaspa. 

REMOQUE,  s.  í/i.  Termos  que  com  a 
agudeza  do  sentido  occulto  picam  al- 
guém, e  lhe  dão  a  entender  o  que  que- 
remos. 


Sou  boi  garganta. 
E  SC  te  lançar  remoque 
d 'algum  toque 
de  herança  ?... 

AXTONIO  PBESTE3,  AUTOS,  pag.  239. 


REMOQUEADOR,  A,  s.  Pessoa  que  re- 
moqueia.  que  dá  remoques. 

REMOQUEAR,  v.  a.  (Do  francez  mo- 
quer  .  —  Remoquear  alguém;  dar-lhe  re- 
moques. 

—  Remoquear  por  algumas  vezes  ter-se 
arrependido ;  dal-o  a  entender  com  remo- 
ques. Vid.  Remoçar. 

REMORA,  s.  /.  iDo  latim  remora).  Ter- 
mo de  historia  natural.  Peixe,  que  di- 
zem faz  demorar  a  embarcação,  que  Yai 
velejada,  adberindo-se  á  popa. 

—  Termo  de  botânica.  Planta. 

—  Figuradamente  :  Cousa  que  estor- 
va ou  obsta  ao  movimento.  —  A  alma 
neste  niaiido  vestida  de  remoras. 

REMORADO,  A,  adj.  iDo  latim  remo- 
raiusi.  Demorado,  detido  por  pequenos 
obstáculos. 

REMORDAZ,  adj.  2  gen.  Que  remorde. 

—  Kemordedor. 

REMORDEDOR,  A,  adj.  Que  remorde. 

—  Que  atormenta,  que  alHige.  —  Cons- 
ciência remordedora. 

—  Substantivamente  :  Um  remorde- 
dor. 

REMORDER,  i-.  a.  (^Do  latim  remorde- 
re;  de  re,  e  mordere).  Morder  de  novo, 
morder    segunda   vez,    tomar  a  morder. 

—  iSeu  cão  me  mordeu  e  remordeu. 
— -  Morder  a  quem  nos  mordeu. 

—  Figuradamente  :  Produzir  remorsos. 

—  «Siírt  culpa  o  remorde.  —  Nossa  cons- 
ciência nos  remorde. 

—  Morder  muito  censurando,  notando. 

—  V.  n.  Morder  de  novo.  —  Esfs  fi'u- 
cto  ê  tão  áspero,  que  quando  me  viorde 
uma  vez,  não  me  remorde  mais. 

—  Figuradamente :  Atacar  de  novo, 
atacar  segunda  vez.  — •  Este  cão  foi  tão 
maltratado,  que  não  quer  mais  remorder. 

—  Diz-se  também  das  tropas  que  não 
querem  mais  voltar  a  um  ataque  depois 
de  terem  sido  rechaçadas. 

—  Repisar  em  algum  negocio,  desap- 
provando  o  sentimento  dos  contrários. 

I  REMORDIDO,  part.  pass.  de  Remor- 
der, iíordido  segunda  vez,  tornado  a 
morder.  —  Mulher  remordida  por  cão 
damnado. 

—  Atormentado,  afflicto.  —  Consciên- 
cia remordida. 

REMORDIMENTO,  .*.  //;.  Remorso.  — 
O  remordimento  da  consciência. 

REMOROSO,  A,  adj.  (De  prefixo  re,  e 
moroso.  Que  agarra,  demora,  detém, 
prende,  á  maneira  do  peixe  remora,  que 
detém  os  navios. 

REMORSO,  s.  m.  (Do  latim  remorsum, 
supino  de  remordere).  Exprobraçào  que  o 
culpado  recebe  da  sua  consciência.  — 
Um    virtuoso   remorso  não    impressiona 


ainda  minha  alma.  —  Espantosos  remor- 
sos ;  invisíveis  algozes  das  almas  crimi- 
nosas. —  Quando  chegar  o  momento  de  ir 
fazer  companhia  aos  mortos,  terei  vivido 
sem  cuidados,  e  morrerei  sem  remorso. — 
O  remorso  que  sentimos  depois  do  pccca- 
do  é  uma  graça  interior.  —  O  remorso 
que  na  linguagem  da  Escriptura  é  chama- 
do o  verme  da  consciência,  só  é  uma  ver- 
gonha levada  ao  excesso. 

O  convulso  mortal  de  si  fugindo. 

Sem  se  esconder  de  si,  no  horror  das  trevas 

Os  guinchos  melancólicos  escuta 

Das  tristes  aves  producções  da  noite  : 

Elias  lhe  augmentào  mais,  remorso,  e  medo. 

J.  A.  DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Cant.  3. 

• —  Inquietação  ou  guerra  interior  da 
consciência  má,  que  conhece  que  obra 
mal  imputável.  —  Remorso  pungente, 
roedor,  cruel,  miserável,  incorruptivel, 
vingador,  funesto,  importuno,  salutar, 
justo,  longo,  prompto,  tardio,  prematuro, 
vivo,  passageiro,  secreto,  tremendo,  con- 
centrado, infi-uctuoso,  despedaça^Jor.  — 
Um  remorso  pungente,  eterno.  —  Grandes 
remorsos.  —  Remorsos  despedaçadores. 
—  A  voz  do  remorso.  —  Não  ter  mais 
remorsos.  —  Século  em  vão  subtil,  onde 
tantas  almas  insensatas  não  fazem  esfor- 
ço contra  si  mesmas,  senão  para  vencer, 
em  logar  Je  suas  paixões,  os  remorsos 
da  sua  consciência.  —  O  juiz  mau  pecea 
com  consciência,  é  indesculpável ;  o  juiz 
ignorante  pecea  sem  remorsos,  e  é  incor- 
rigível. —  Xào  ha  paz,  nem  felicidade 
para  o  impio,  vós  lhe  fazeis,  Senhor, 
achar  o  seu  snpplicio  no  seu  próprio  pec- 
cado,  entregando-o  aos  remorsos  da  sua 
consciência.  —  O  lisonjeiro  cura  o  re- 
morso da  fraqueza,  e  afouta  a  timidez  do 
crime.  —  A  virtude  fortifica-se  por  um 
remorso  feliz.  —  Embotar  as  pontas  vin- 
gadoi-as  do  remorso.  —  A  termu-a  des- 
perta-se,  e  os  remorsos  renascem. 

—  Por  extensão  :  Vivo  e  forte  arre- 
pendimento. —  Eu  quero  deixar  no  seu 
coração  que  me  amou  o  veneno  do  remor- 
so. 

■ —  O  remorso  representa-se  por  um 
homem  deitado  na  terra,  com  os  vesti- 
dos despedaçados.  Morde-se  nos  punhos, 
uma  serpente  o  cerca,  e  lhe  despedaça  o 
coração.  —  O  abutre  roendo  as  entra- 
nhas de  Pronietheu  é  tomado  também 
por  emblema  do  remorso. 

—  Tormento  forte  do  culpado,  que  o 
não  deixa  socegar.  —  Os  despojos  de 
Germânico,  sem  remorsos,  nem  lagi-i- 
mas,  nem  luto.  —  Depois  do  trabalho 
vantajoso  vem  paz,  mas  não  remorso.  — 
As  tristes  aves  augmentam  mais  o  re- 
morso e  medo.  —  Os  remorsos  da  con- 
sciência apoquentam  a  humanidade. 


Onde  o  cadáver  de  Agripina  encara. 
Onde  vê  de  Germânico  os  despojos 
Sem  remorsos,  sem  lagrimas,  sem  luto. 


198 


ui:.\i<» 


REMO 


REM« » 


Kúncca  o  moiiHtro  louva,  (!  «'cntriíiteoo. 
Dc;(Cii(li!iicia  (IMiuiii  Tliroiio  n  t\\iAiiU>  obriffiiit ! 

J.   A.    DK  UACKDO,    VIAUr.il   KXrATlCA,  cuiit.   2. 

Triotos  filfiort  dii  pompa,  o  da  inollcza, 
Tédioí,  cí)iitimio«  uH  iiilo  doíh  do  Campo, 
Ventajo.-io  trabalho  vou  BUtVoca, 
Dopoii  dello  vciii  paz,  nilo  vem  remoraot. 

lOKM,   A    NAIUUCZA,   Cailt.    1. 

Oh,  80  do  tantas  lidati  c  perigos, 
Sustos,  reinorao!>,  (ai  !  t.imbem  iiiinorsosi 
Quo  t■.^ta  coiis  )ira(;ào  mo  tom  ciistido, 
So  mo  rosta  collièr  o  fructo  amar;;o 
Quo  a  miúdo  vêem  traidores—  o  desprôzo, 
O  castigo,  o  —  ainda  mais  acerbo!  o  cscarnco 
Do  prOjirio  ingrato  que  lucrou  iio  crime ! 
OARRKrr,  CATÃO,  act.  3,  se.  0. 

—  SvN'. :  Remorso,  contrição,  Vid.  es- 
te vocaluílc. 

REMOTAMENTE,  fulv.  (De  remoto,  c  o 
suftixo  «mente»).  Apartailameute,  em  le- 
gar loiífíiiiquo,  eiu  distancia. 

remotíssimo,  a,  aJJ.  superl.  de  Re- 
moto.  -Mui  remoto,  muito  afastado. 

REMOTO,  A,  adj.  Longiuquo,  desvia- 
do, nào  próximo,  distanciado.  —  Remo- 
tas re<jiòes. 

Que  quom  da  Ilcspcria  ultima  alongada, 
Bei  OU  senhor,  de  insânia  desmedida, 
lia  do  vir  couunetter  com  naus  e  frotas 
Tão  incertas  viagens  o  remotas* 
CAM.,  LU3.,  cant.  8,  est.  61. 

—  «Que  agora  tinha  Portugal  seguro 
o  Estado,  em  seus  braços  aeguula  vez 
nascido,  cujas  armas  serviào  tanto  á  Fé, 
como  ao  Império,  obi-audo,  que  em  tào 
remotas  partes  se  ouvissem  os  brados  do 
Evangelho;  que  agora  os  Mouros,  e  Gen- 
tios crerião,  que  nào  podia  deixar  de  ser 
Dôos  grandoj  o  Deos  de  tantas  victo- 
rias.»  Jacintho  Freire  d'Audrade,  Vida 
de  D.  João  de  Castro,  liv.  3.  —  «E  por 
estes  negócios  irem  juntos,  e  inflados  po- 
rei no  capitulo  seguinte  o  treslado  da 
obediência  que  cl  Rei  dom  Afonso  de 
Manicongo'  mandou  ao  Papa  per  dom 
Henrique  seu  tillio,  e  per  dom  Pedro  seu 
primo,  por  ser  de  hum  Rei  da  Etliiopia 
tam  remoto  da  Europa,  e  hum  dos  pri- 
meiros quo  naquellas  partes  recebeo  a 
Fe  de  nosso  Senhor  Jesu  Christo,  e  o 
primeiro  que  nclla  permaneceo,  pela  pre- 
gaçam,  e  ensino  da  nai^am  Portuguesa.» 
Damião  de  Ooes,  ChrQnica  de  D.  Manoel, 
part.  3,  cap.  38.  —  «Porque  num  certo 
dia  em  quo  ellcs  costumiío  fazer  grandes 
esmolas  por  seus  defuntos,  tornou  de  no- 
vo a  ver  a  nossa  sentença^  e  sahio,  que 
avendo  respeito  a  sermos  nós  gente  es- 
trangeyra,  e  de  terra  e  nação  tào  remo- 
ta que  até  entaõ  nào  avia  aly  de  nói  ne- 
nhuma noticia,  nem  livro  ou  escritura 
alguma  que  fizesse  mençào  do  nosso  no- 
me, nem  se  achava  quem  entendesse  a 
nossa  lingoagem,  e  juntamente  por  ser- 
mos custumados  a  sofrer"  a  misera  e  vil 


liobnza.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pere- 
grinações, cap.  1  l.T.  —  «Peio  quo  ainda 
(jue  a  gente  naturalmente  và  em  cresci- 
mento, cumu  teinort  jirovadu ;  com  tudo  a 
no,sRa  naçaõ  Portugueza  depois,  quo  hou- 
ve estas  Conquistas,  se  foi  diminuindo, 
naij  ]ior  falta  <ia  nmitiplicaçaõ  natural, 
se  naõ  por  os  Portuguezfs  se  irem  de 
sua  pátria  a  povoar,  e  fundar  tantas  Ci- 
dades, e  lugares,  como  temos  dito,  em 
terras  taõ  remotas,  o  taõ  lart;as.o  Ma- 
noel Severim  de  Faria,  Noticias  de  Por- 
tugal, Disc.  1,  §  2. 

Iluin  basca  as  Villas  cheias,  c  as  Cidades, 
Outro  os  montes  remotos,  c  espessura. 
Natural  de  queixumes,  e  saudades. 
Goza,  Tirreno,  o  bem  dessa  ventura. 
Mas  naõ  te  esquc(;a  a  pátria  celebrada, 
(Jue  tanto  te  ama,  e  tanto  te  procura. 

BODBIGUr.S  LOOU,  ECLOOAS. 

—  o  A  mesma  ignorância  padece  acer- 
ca das  cousas  que  tem  acima  de  si,  nu- 
vens, Ceos,  estrellas,  Anjos,  etc.  :  por- 
que humas  naõ  se  conhecem  pelos  senti- 
dos, outras  ricaõ  remotas  delles.»  Pa- 
dre Jlanoel  Bernardes,  Exercícios  espiri- 
tuaes,  part.  1,  pag.  32:^.  —  «Aos  estran- 
geiros agasalhava-os  com  affabilidade,  e 
gostava  de  ouvil-os;  por  quanto  tinha 
para  si  que  sempre  aproveitava  com  el- 
les,  informando-se  dos  usos,  e  máximas 
das  nações  remotas ;  e  esta  sua  cui^losi- 
dade  deu  motivo  a  que  nos  levassem  ante 
elle.i)  Telemaco,  traducçào  de  Manoel 
de  Sousa,  e  Francisco  Manoel  do  Nasci- 
mento, liv.  2. 

Distantes  entro  si,  remotos  tanto, 

Qu'  ao  pensamento  as  azas  so  afadigão. 

J.    A.    DK   M.VCEDO,   SATIBEZ.1,  Cant.    1. 

Hum  Icntamento  absorve  a  Ellipsc  iramcnsa 
Em  m.iis  remoto  espaço,  em  Cco  mais  alto, 
Outro  próximo  ao  Sol,  o  espaço  corre 
Com  mais  forto  impulsão,  rápido  vòo. 


Quanto  hc  nellas  sublime  a  Natureza  ! 
O  Viajante  attonito  emmudecc 
Quando  vê  branquejar  ao  longe  a  espuma 
De  NiagAra  nas  remotas  pedras. 
IBIDEM,  cant.  2. 

Já  vai  rápido  o  Sol  no  cthcreo  coche 
Buscando,  Alcipc,  as  ondas  doccauo, 
Jil  brilhào  nos  remotos  horizoutcs 
Purpúreas  nuvens  i-ecamadas  douro. 
IBIDEM,  cant.  3. 

Talvez  que  essa  por  vir  remota  idade 
So  admire,  e  zombe  da  ignorância  nossa. 
Nào  és,  brilhante  Sol,  centro  a  seu  gyro ; 
Das  leis  da  gravidade  aberra,  e  fi^go. 

IDEM,   MEDITAÇÃO,  ClUt.   2. 

Se  hum  throno  se  levanta,  outro  se  abato 
Nos  mais  remotos  ângulos  do  Mundo. 
Nos  ignotos  confins  do  impervios  mares, 
Oude  existem  Naçõos,  a  guerra  exist.', 
Dolla  faz  hum  mister,  faz  gloria  o  homem ! 

ISEM,  riAOEM  CXIATICA,  CUIlt.    1. 


Tal  extático  »ubo,  c  tal  me  elevo 

Onde  não  chega  HurCmindo  a  nuvem. 

Hum  iMaii«  puro  siiibient/'.  c  luz  mais  viva 

Bebo  em  torrentes,  descobrindo,  incerto 

Grossa  sombra  pouHar  na  Terra  iucrU;, 

Que  nas  remota»  solidões  atreus 

Gira  »em  própria  luz,  Planeta  inglório. 

IBIDEM. 


Mas  eu  volto  comtigo  ao  Templo  augusto, 
Que  inda  que  erguido  o  vés,  nio  hc  romolo 
Da  térrea  habitação  do  engano,  e  miaha. 
IBIDEM,  eaiit.  2. 


—  O»  remotos   astros;  os  astros   afas- 
tados, distant.>s. 

Parece  que  inda  volve,  c  que  inda  alonga 
Os  claros  olhos  aos  remotos  Astros, 
£  que  luz  Filosófica  rcspirào. 

J.    A.    DE   MACEDO,    VIAOEM   EXTÁTICA,   CaUt.    1 

—  Tão   remotos   século»;    séculos    tio 
longínquos. 

Logo  apoz  ellc,  fulgurando  cstavio 
Em  menos  Wva  luz  seus  tardos  Netos, 
Que  a  herança  paternal,  pura  doutrina 
A  tão  remotos  séculos  dcii4rào. 

J.    A.    DE   MACEDO,   VIAOEM   EXTÁTICA.   CWnt.    2. 

—  o  berço  da  t^rra  tão  remoto. 


Na  marcha,  que  vai  tendo  a  Natureza, 
Tào  remoto  nào  ser  da  Terra  o  berço ; 
A  base,  as  progressões,  a  gloria,  a  queda 
De  Impérios,  que  ambição  levanta,  e  prostra. 

J.  A.  DE  MACEDO,  >1AOEM  EXTÁTICA,  COnt.  3. 


. —  Os  ângulos  mais  remotos  da  terra ; 
os  ângulos  mais  afastados  da  terra. 

Áureo  Busto  descubro  em  aurca  base. 

Da  Fama  pelas  mãos  lavrado,  e  posto. 

EUa  mesma,  cmbocando  anrea  Trombeta, 

Nos  mais  remotos  angalos  da  Terra 

Faz  ouvir,  e  adorar  hum  nome  :  t  Ao  Tasso.  i 

J.   A.   DE   MACEDO,  VIAOEM   EXTÁTICA,  Cant.    2. 

—  Esquecido,    ou   quasi,   a   pessoa  ou 
coasa,  de  que  se  está  pouco  lembrado. 

Que  mais  remotos  tem  limite,  e  termo, 
Que  infatigável  Calculo  lhes  marca : 
La  Lande  a  imaginou.  La  I.4iDde  a  sente, 
Mas  foge,  foge  ao  numero  das  cifras, 
As  equações  algébricas  se  esconde. 

J.   A.   DE  MACEDO,  VIAOEM  EXTÁTICA,  CAOt.  4. 


—  Se  eu  ttão  estava  remoto;  se  eu  nâo 
estava  fora  de  mim,  ou  muito  distrahido; 
que  nào  dá  fé  das  cousas. 

—  Figuradamente:  6e  eu  itão  estava 
remoto ;  longe  com  aversão,  ou  nenhuma 
vontaile. 

REMOVER,  V.  a.  Do  latim  removere). 
Pass.oi-,  mudiír  uma  cousa  de  um  logar 
para  outro.  —  Remover  o  deposito. 

—  Remover  alguém  do  cargo,  o^io ; 
tirar-lh'o. 


i 


REMU 


RENA 


RENA 


199 


— ■  Apartar,  desviar,   afastar,  alongar. 

—  «E  porque  tinha  por  regimento  de 
ElRey  que  removesse  os  contratos  que 
o  Visorey  D.  Garcia  de  Noronha  tinha 
feitos  sobre  o  cravo,  fez  com  Diogo  de 
Sousa  outros  de  novo.  E  porque  naõ  dê- 
mos em  outra  parte  razaõ  destes  contra- 
tos em  que  falamos  o  faremos  aqui.»  Dio- 
go de  Couto.  Década  6,  liv.  9,  cap.  19. 

—  Tornar  a  mover,  mover  segunda 
vez,  mover  de  novo. 

—  Desviar,    frustrar,    tolher,    afastar. 

—  Deus  remove  as  horríveis  tempestades 
sobre  nós  pendentes. 

—  Remover  os  cathoUcos  a  doutrinas 
más;  desviar  das  boas. 

—  Figuradamente :  Remover  o  temor  ao 
pensamento. 

—  Renovar,  reformar,  recomeçar,  rei- 
terar, repetir. 

—  Baldar,  tornar  inútil.  —  Remover 
tim  coníeiho,  uma  opiniào. 

—  Tolher,  tirar. 

—  Remover  as  objecções;  afastal-as,  des- 
vial-as. 

REMOVIDO,  part.  pass.  de  Remover. 
Passado  ou  mudado  de  um  logar  para 
outro. — Removido  o  deposito. 

—  Tirado.  — Removido  alguém  do  car- 
go, do  oj^iciu. 

—  Apartado,  desviado,  afastado,  alon- 
gado. 

—  Tornado  a  mover,  movido  segunda 
vez,  movido  de  novo. 

—  Desviado,  frustrado,  tolhido,  afas- 
tado. —  Removidas    as   horríveis   tempes- 

-,  tades. 

—  Renovado,  reformado,  recomeçado, 
reiterado,  repetido. 

—  Frustrado,  baldado,  tornado  inútil. 
REMOVIMENTO,  s.  m.  Remoção,  a  ac- 
ção de  remover  ou  de  ser  removido. 

—  Traspasso,  trasfego,  passagem. — 
O  removimento  do  vinho. 

removível,  adj.  2  gen.  Que  é  possí- 
vel remover-se.  desviar-se,  tirar.  —  Em- 
prego removível. 

f  REMDDADO,  part.  pass.  de  Remu- 
dar.  Tornado  a  mudar,  mudado  de  no- 
vo, mudado  segunda  vez. 

REMTJDAR,  r.  a.  Tornar  a  mudar,  mu- 
dar de  novo,  mudar  segunda  vez. 

—  Remudar  roupa;  vestir  outra. 

—  V.  n.  Variar  no  modo  de  obrar. 

—  Trocar,  mudar.  —  Remudar  de  ca- 
vallo. 

—  Mover-se,  abalar  do  logar,  retirar-se. 
REMUINHAR,  v.  a.  Vid.  Remoinhar. 
REMUINHO,  s.  m.  Vid.  Remoinho. 
REMUNERAÇÃO,  s.  /.  (Do  latim  rerau- 

nerafio  .  Recompensa.  —  Justa  remune- 
ração. —  Espierar  de  Deus  a  remimera- 
ção  de  suas  obras. 

f  REMUNERADO,  paii.  pass.  de  Re- 
munerar. —  Ser  remunerado  pelos  seus 
serviços. 

—  Boa  acçào  remunerada. 
REMUNERADOR,  A,  s.  (Do  latim  remu- 


nerator).  Pessoa  que  remiinera,  que  re- 
compensa.—  Deus  ê  o  soberano  remune- 
rador, o  justo  remunerador.  —  Este  prín- 
cipe é  um  justo  remunerador  da  virtude, 
das  grandes  acçàes.  —  E  mister,  grande 
Deus,  que  a  ímpia  idca,  de  que  vós  não 
sois  nada,  seja  destruída  pela  existência 
de  um  vingador  do  vício,  e  um  remune- 
rador da  virtude.  —  O  verdadeiro  remu- 
nerador das  grandes  glorias  litterarios  é 
a  posteridade.  —  A  consciência  é  sobre  a 
terra  a  primeira  e  muitas  vezes  a  única 
remuneradora  das  boas  acções. 

—  Ad lectivamente  :  O  Deus  remune- 
rador e  vingador.  —  Vale  mais,  para  o 
bem  da  humanidade,  reconhecer  um  Deus 
vingador  e  remunerador  que  não  reconhe- 
cer nenhum.  —  Quando  as  nações  esclare- 
cidas annunciarem  um  só  Deus  remune- 
rador e  vingador,  nenhum  homem  sensato 
se  rirá.  tudo  obedecerá. 

REMUNERAR,  r.  a.  (Do  latim  remune- 
rare,  reduplicativo  de  munerare,  fazer  um 
presente).  Recompensar,  galardoar.  —  E 
próprio  de  um  rei  remunerar  as  boas 
acções.  —  Todos  os  povos  crêem  na  exis- 
tência de  um  Deus  que  remunera  a  vir- 
tude e  castiga  o  vicio. 

REMUNERATIVO,  A,  adj.  Termo  didá- 
ctico. Que  serve  de  recompensa. 

—  Que  assigna,  que  dá  uma  recom- 
pensa. 

—  Que  remunera. 

—  Remuneratório. 
REMUNERATÓRIO,    A,   adj.   Termo  de 

jurisprudência.  Que  tem  logar  de  re- 
compensa. —  Contracto  remuneratório. 
—  Doação  remuneratória.  —  Lei  remune- 
ratória. 

—  Feito  a  fim  de  remunerar,  ou  de 
agradecer,  e  recompensar  o  beneficio.  — 
Offerta  remuneratória. 

—  Privíhgio  remuneratório  ;  pri^^legio 
em  compensação  de  doaçào  ao  estado  ou 
serviços. 

REMUNEROSO,  A,  adj.^  Galardoador, 
que  remunera,  que  gratifica,  que  recom- 
pensa. 

— •  Remunerador.  —  Eei  remuneroso  e 
galardoador. 

REMURMURAR,  v.  n.  (Do  latim  renmr- 
murare ;  de  re,  e  murmuraré).  Murmurar 
segunda  vez,  tornar  a  murmurar. —  Onda 
que  remurmura. 

REMURMURIO,  s.  m.  Do  prefixo  re, 
e  murmúrio  .  Termo  de  poesia.  Acto  de 
remunnurar. 

—  O  susurro,  o  estampido  redobrado 
da  agua.  do  vento,  etc.  —  O  remurmurio 
do  curso  da  agua. 

REMUSGAR,  i-.  ;í.  Resmonear. 

—  Dar-se  por  descontente,  exprimir 
mal  o  seu  descontentamento. 

■ — Usa-se  também  figuradamente. 

RENA,  ou  RENNA,  s.  /.  (Do  francez 
renne,  que  provém  do  allemao  renn;  la- 
pão raingo).  Quadrúpede  do  norte  da  Eu- 
ropa, do  mesmo  género  que  o  veado. 


RENAC...  As  palavras  começando  por 
Renac...,  busquem-se  com  Renasc... 

RENAL,  adj.  2  gen.  (Do  latim  renalis). 
Termo  de  medicina.  Que  pertence  ou  res- 
peita aos  rins,  que  existe  nos  rins.  —  Do- 
res renaes.  —  Cálculos  renaes. 

RENASCENÇA,  «.  /.  (De  renascente). 
Segundo,  novo  nascimento.  —  A  renas- 
cença da  phenix. 

—  No  sentido  mystico :  A  renascença 
dos  homens;  a  sua  regeneração  espiritual. 

—  Renovamento.  —  A  renascença  da 
primavera,  da  verdura  dos  pirados . 

—  Figui-adamente  :  Reappariçào  das 
cousas  moraes  ou  intellectuaes. 

—  Absolutamente :  Época  em  que  as 
letras  gregas  entram  no  occidente,  exci- 
tando uma  viva  paixão  pelo  estudo  dos 
monumentos  litterarios  da  antiguidade ; 
essa  época  começa  ema  tomada  de  Cons- 
tantinopla em  1453,  a  qual  causou  a  emi- 
gração de  muitos  gregos  instruídos  para 
Itália.  —  Architecfura  da  Renascença. — 
viuveis  da  Renascença.  —  Sábios  da  Re- 
nascença. —  A  Renascença  e  uina  das  épo- 
cas mais  importantes  na  historia  da  hu- 
manidade.—  Estylo  da  Renascença. 

—  Por  extensão  :  Renascença,  exprime 
um  vivo  movimento  nos  espíritos  depois 
d'um  tempo  d'oppressão.  Na  França  a 
restauração  monarchica  foi  considerada 
como  uma  renascença. 

—  Sts.  :  Renascença,  regeneração.  O 
que  tinha  deixado  d'exlstlr  tem  uma  re- 
nascença ;  o  que,  existindo  já,  entra  n'u- 
ma  phase  de  vida  nova  e  melhor,  tem 
uma  regeneração.  No  sentido  mystico,  re- 
nascença e  regeneração,  são  perfeitos  sy- 
nonymos. 

RENASCENTE,  adj.  2  gen.  (De  renas- 
cer .  Que  renasce. — A  ira  renascente. 
—  O  ódio  renascente  de  duas  famílias 
que  pareciam  já  reconciliadas. —  As  artes 
renascentes.  —  As  letras  renascentes.  — 
A  agricultura  renascente  deixa  já  prever 
a  extensão  dos  seus  beneficies. 

RENASCER,  i-.  «.  iT)o  latim  renasci). 
Nascer  de  novo,  voltar  á  vida.  —  Hyppo- 
lito  renasceu  segundo  conta  a  antiga  my- 
thologia. 

Concentos  Divináes  renascem  —  morrem, 
Qual,  se  Spritos  Celestes  modulassem. 
Vem  longe-rcsoantes,  dcvòlvcndo-se, 
Por  subterreos  trasvios  tortuosos. 

FEASCISCO    MASOEL   DO  NASCIMEKIO,   OS  MABTTBES, 

liv.  5. 

—  Figuradamente :  Renascer  pelo  ba- 
ptismo, por  a  penitencia ;  entrar  no  esta- 
do de  graça. 

—  Dlz-se  dos  seres  animados  que  to- 
mam o  logar  de  ser  semelhantes  aos  mor- 
tos ou  destruídos.  —  Quantos  mais  inse- 
ctos se  matam  ríeste  jardim  tantos  mais 
renascem. 

—  Fallando  do  sol,  tornar  a  apparecer 
no  horisonte,  depois  do  seu  desappareci- 
mento  durante  a  noite. 


2()() 


UKM) 


REND 


REND 


PoriHso,  por  tor  firmo  o  luziínoiíto  ; 
UrHula  niji-cfçia,  Sol  com  (jiro  niro, 
NiiMCOu,  subiu,  girou,  pôz-nn  o  renancr.. 

AnnAliE   DE  .lAZBNTK,   1'OKBIA». 


—  Fíil laudo  dou  vofíctiic»,  tornar  a.  ci-ch- 
ccr.  (Jro.icor  do  novo.  —  Ás  jlôruH  renas- 
cem na  jjrimaveni. 

—  Torniir  !i  vir,  fjilliiudo  dos  dias,  mc- 
zesy  eatayõos.  —  Renasce  u  primavera. 

De  «cu  império  á.  voz,  morroin,  renaicem 
O  (liii,  u  noite,  as  c»tiii;õca,  oa  anno». 

J.    A.    I>i;   MACKUO,   A   NATLMIKZA,   Cilllt.    1. 

—  Keapjiarecer,  fallando  d'iiru  rio,  ctc. 

Polaet  cntraulias  coiieavas  dos  montes 

Se  liltrão  rapidisaimos  :  renascem, 

E  do  novo  outra  vez  nas  ondas  morrem. 

J.   A.    DE   MACKDO,   A   NATUBEZA,   Cailt.    3. 

—  Figuradaracnte:  Diz-se  do  tudo  o 
que  60  compara  a  um  renascimento.  — 
Renascem  as  idêas  de  emancipação  das 
mulheres. 

—  Absolutamente:  Retomar  forijas, 
qualidades  nioraes.  —  Aíjuelle  vrlmiiiosi), 
purijicado  pelo  arrependimento,  renascia 
jHira  a  vida  social. 

—  Em  linguascra  mystica :  Os  homens 
renascem  pelo  baptismo, 

RENASCIDO,  part.  pass.  de  Renascer. 
Que  tornou  a  nascer. 

—  Renovado. 

—  llcapparccido. 

—  Reanimado. 

—  (Jajas  tor^'aa  ou  falcudades  moraos 
foram  n^toniadas. 

RENASCIMENTO,  s.  f.  (De  renascer). 
Vid.  Renascença. 

RENATO,  part.  pass.  irreg.  de  Renas- 
cer. =  Usado  por  Francisco  Manoel  do 
Nascimento. 

RENAVEGADO,  part.  pass.  de  Renave- 
gar.  Tomado  a  navegar,  que  foi  nave- 
gado de  novo. 

f  RENAVEGAR,  v.  a.  o  n.  (De  re,  o 
navegar).  Navegar  do  novo,  tornar  a  na- 
vegar. 

RENCH,  s.  m.  Vid.  Renque.  — «Rench 
por  tca  pai'a  Justa,  donde  dizemos  as  cou- 
sas postas  cm  ordem  ou  ala  estarem  em 
rench.i)  Duarte  Nunes  de  I^^ão,  Origem 
da  lingua  portugueza,  eap.  11. — Nunes 
de  Leão  olha  a  palavra  como  d'origem 
franceza,  mas  vid.  Renque,  na  etymolo- 
gia. 

RENÇO,  s.  VI.  ant.  Vid.  Ranço.  =  Pa- 
lavra coUigida  por  Agostinho  Barbosa, 
Diccionario  portuguez-latino. 

RENCONTRO,  .s.  m.  (Do  francez  ren- 
contre).  Vid.  Recontro. 

1.)  RENDA,  .v.  /.  (l':tymologia  incerta). 
Tecido  transparente  de  varias  larguras  c 
desenhos,  formado  com  tio  de  seda,  li- 
nha, ou  ouro  e  prata,  para  guarniçíles 
de  vestidos,  cabeyòes,  para  punhos,  cha- 


póos    de  mulher,  adornos  do»  lençoes  e 
travosHciroH  de  cama,  ctc. 

—  Termo    d'areliitoctiira.     Denticulo. 
Vid.  esta  palavra. 

2.)  RENDA,  s.  f.  (Do  latim  reddere, 
reudor  (vid.  Render).  Nilo  ó  fácil  deter- 
minar se  renda  é  uma  forma<;!lo  especial 
tiratla  de  render,  se  provém  da  firma 
latina  rcdd.itu ;  o  ti  apparece  nas  outra» 
lingnas  ronumicas:  francez  rente,  provon- 
c;al  ir  ala,  renda;  hespauliol  venta;  italia- 
no rendita).  Producto  annual  de  proprie- 
dades rústicas  ou  urbanas,  d'um  bcneti- 
cio,  ete.,  de  capitães  em  giro.  —  Viver  das 
suas  rendas.  —  Tem  dez  contos  de  reis  de 
renda.  —  «  E  assl  os  filhos  do  Conde  de 
Earão  também  forão  tornados  a  estes  Rey- 
mis  por  el  Rey  dom  Manoel,  e  dado  ao 
niayor  suas  rendas  com  o  titulo  de  Con- 
de de  Mira,  e  em  Castella  ticou  hum  que 
ora  he  Arcebispo  de  Çaragoça,  e  Viso- 
rey  em  Aragào,  homem  de  gr.ào  valia, 
íi  assi  casara  lá  duas  filhas  suas  com  o 
Infante  Fortuna,  neto  dei  Rey  Daragam, 
e  a  outra  com  o  Duque  de  Medina  celi. 
E  outro  iilho  mais  moço  que  hora  he  Mor- 
domo mor  da  Raynha  nossa  .senhora.» 
(íarcia  de  Rezende,  Chrouica  de  D.  João 
II,  eap.  44.  —  «A  qual  renda,  porque  se 
saiba  o  modo  de  serviço  daquelles  Prín- 
cipes, diremos  como  se  despendia,  ainda 
que  miúda,  e  particularmente  vá,  e  ire- 
mos fazendo  a  conta  destas  despezas  per 
leques,  que  é  numero  da  mesma  terra,  e 
xaratins,  azar,  candil,  e  dinar  que  he 
moeda,  por  não  sahir  dos  termos  da  fo- 
lha que  houvemos  destas  cousas,  tiradas 
dos  livros  da  Fazenda  dos  Reys  de  Or- 
muz.» Barros,  Década  2,  liv.  10,  eap.  7. 
—  a  Fundou  de  novo  a  Casa  da  Confra- 
ria da  Misericórdia  da  Cidade  de  Lisboa, 
obra  muito  magnitica,  e  a  dotou  de  hum 
conto  de  renda  cada  anuo  para  entreti- 
mento  dos  orphãos  pobres,  e  demais  qui- 
nhentos mil  reais  cada  anno  pêra  outras 
obi'as  pias  como  tica  apontado.»  Damião 
de  lioes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  4, 
eap.  85.  —  «Que  de  todallas  terras,  e 
ilhas  que  descobrissem  rebatidas  as  des- 
pessas  que  sobrisso  fezessem  lhes  fazia 
mercê  da  vintena,  assi  das  rendas,  como 
dos  direitos,  e  outra  qualquer  cousa  com 
titulo  de  adiantados,  o  regedores  das  ilhas, 
e  terras  que  descobrissem  pêra  elles,  c 
pêra  seus  filhos  ordeiros  de  juro  pêra 
sempre  ficando  o  senliorio  supremo  pêra 
el  Rey,  c  pêra  seus  deseendeutes.»  Ibi- 
dem, eap.  37. —  «  Affirmounos  também 
esto  embaixador  que  somente  das  esmol- 
las,  dos  seus  confra<les  passava  de  du- 
zentos mil  tacis  de  renda  cada  anno,  a 
fora  as  propriedades  das  capellas  dos  ja- 
zigos dos  nobres,  que  separadas  por  sy 
fazião  outra  muyto  mayor  quantiilade  de 
renda  que  esta  das  esmollas.»  Fernão 
Jlendes  Pinto,  Peregrinações,  eap.  V26. 
—  «D  que  parece  cousa  muito  larga,  e 
pouco  contingente:  e  assim  o  vemos,  por- 


que depoin,  que  bc  fez,  atí»gora  naJ5  so 
praticou,  por  haver  muito  pouco»  3Ior- 
frados  neste  I^íyIlo,  que  cheguem  a  ««ta 
quantia  de  renda:  o  alèni  dist'j  aconte- 
cerá poder  hum  mó  particular  ter  quatro, 
o  cinco  Morgado»,  que  cada  hum  d<dle8 
não  chegue  a  4:*t<X)  cruzados  lU-  renda.  • 
Scverim  de  Faria,  Noticias  de  Portugal, 
l^ise.  1,  í?  7.  —  «  E  assim  naõ  ficar  obri- 
gado ;i  deixar  a  teu  irmaõ  mais  moço  ne- 
nhum dfdies,  o  ficar  por  este  modo  frus- 
trado o  intenio  da  ley,  que  foi  nai5  se 
ajuntarem  as  f'asa«,  nem  ser  um  bó  par- 
ticular pos-<uiilor  de  grande,  e  excesfliva 
renda.»  Ibidem.  —  «A  este»  açudem  to- 
das as  rendas  das  ytrovincias  tirando  os 
gastos  ordinários.  E  por  elle  a»gi  o»  ne- 
gócios como  os  rendimentos  todo»  que  »e  j 
recolhem  e  todo  ho  que  se  passa  nas  pro-  ■ 
vineias  lie  referido  e  mandado  aa  corte.»  » 
Frei  (iaspar  da  CJruz,  Tratado  das  cousas 
da  China,  eap.  1  fi.  —  « Em  Baçaim  dan-is 
ordem,  como  se  levante  logo  hum  Tem- 
plo com  a  invocação  de  8.  Joseph,  cina- 
lando-lhe,  por  nossa  conta,  renda  para 
hum  Reitor,  e  alguns  Beneficiados,  e  Ca- 
peilães,  que  nelle  sir\'ão.»  .lacintho  Frei- 
re d'.\ndrade.  Vida  de  João  de  Castro, 
liv.  1.  —  «As  minhas  rendas  mo  permi- 
tem fazer  hum  vestido  novo  quando  a 
necessidade,  ou  a  occasião  o  pede,  porem 
confesso  que  me  não  acho  em  estado  de 
faser  hum  cada  semana,  e  por  Í8.?o  nem 
abraçarey  a  moda  de  Dom  Florêncio, 
nem  desejarey  que  elle  me  abrace  mais 
do  que  uma  vez  cada  anno  para  poder 
mudar  logo  de  vestido.»  Cavallciro  de 
Oliveira,  Cartas,  liv.  8,  eap.  24. 

—  Mullier,  homem  de  renda,  (íe  mttita 
renda;  mulher,  homem  que  tem  grande 
rendimento  annual.  —  tE  desta  maney- 
ra,  com  t^ão  baixo  e  afrontoso  género  de 
morte  acabou  esta  Muhee  Canatoo,  filha 
dei  Rey  de  Peguu  Emperador  de  nove 
revnos,  c  molher  do  Chaubainhaa  Rey 
de  ^lartavão,  princesa  ile  tre^  contos 
douro  de  renda.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  eap.  152.  —  «Desembar- 
cado o  Embaixador  em  terra,  o  Campa- 
nogrem,  que  era  o  Mãdarim  qne  o  tra- 
zia, o  tomou  pela  ni^,  e  assentado  em 
joelhos  o  entregou  ao  outro  que  o  estava 
esperando  no  caiz  com  grande  estado, 
por  nome  Patedacão,  homem  dos  princi- 
pais do  governo  do  reyno,  e  segundo  ,=« 
de/.ia,  de  niuvtii  renda  e  va.ssallos.»  Ibi- 
dem, eap.  lt)2.  —  «  E  porque  o  Principe 
então  entraua  cm  idade  de  qnat'Tze  ân- 
uos, e  a  dita  Infante  dona  Isabel,  não 
era  casada,  quis  o!  Rey  saber  o  qae  nes- 
te caso  faria:  ív^bre  o  qual  acordou  de 
o  fazer  assi  saber  a  el  Rev,  e  a  Raynha 
de  Castella  per  Rey  de  Sande.  qne  en- 
tão era  moço  da  camará,  e  a  el  Rev  muv 
aceyto,  que  depois  foi  dom  Rodrigo  de 
Sande  do  conselho,  e  homem  de  muvta 
valia,  e  de  muvta  renda.»  (íarcia  de  Re- 
zende, Chronica  de  D.  João  11,  eap.  73, 


REND 


REND 


REND 


201 


—  « E  achando  depois  o  sitio  acomodado 
para  Mosteiro,  o  fez  edificar,  e  se  cha- 
ma hoje  Sào  Pedro  de  iloutes  distante 
da  Vilia  de  Ponferrada  sós  três  legoas, 
e  correndo  o  tempo,  fuy  acrescentado  em 
rendas,  e  editicios,  por  S.  Valério  Aba- 
de, e  Saõ  Gemuadio  Bispo  de  Astorga, 
como  se  colige  de  huma  grande  pedra, 
que  cstà  na  porta  da  Igreja.»  Monar- 
chia  Lusitana,  liv.  6,  cap.  23.  —  «Xas 
quaes  fortalezas  assi  nas  Dafrica,  como 
da  índia,  mandon  edificar  Egrejas,  e 
alguns  mosteiros  de  frades  que  dotou 
de  rendas,  e  tenças  pêra  os  clérigos,  e 
frades  que  nellas  administrassem  o  cul- 
to diuino,  e  lhe  deu  muitos,  e  ricos  or- 
namentos, e  as  fortalezas  proueo  todas 
de  artelharia,  e  outras  munições  de  guer- 
ra, com  toda  a  gente  darmas  necessária.» 
Damifio  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  4,  cap.  8.Õ. 

—  Deixar  rendas,  hijnr  rendas;  dei- 
xar para  um  fim  qualquer  ou  a  qualquer 
pessoa  o  rendimento  ou  foros  d'uma  pro- 
priedade. —  «  E  isto  por  ficar  mandado 
e  instituído  per  hum  senhor  mouro,  cuja 
fora  aquella  aldeia,  e  leixara  as  rendas 
delia  pêra  se  dar  de  comer  as  cáfilas  que 
por  ali  passassem,  e  huma  casa  grande 
pêra  se  apousentarem.»  António  Tenrei- 
ro, Itinerário,  cap.  63.  —  «  Estes  edifi- 
cios  mandaram  fazer  mouros  defuntos,  e 
deixar  rendas  pêra  se  trazer  ali  aquella 
agoa,  que  vem  de  carreto  em  Camelos 
de  muyto  longe.  Per  este  caminho  che- 
gamos aa  cidade  de  Alexandria.»  Ibidem, 
cap.  48. 

—  O  que  se  paga  annualmente  pelo 
aluguer  d'uma  casa,  propriedade  rústica, 
etc.  —  Pagar  a  renda  da  casa.  —  As  ren- 
das pagam-se  pelo  S.  Miguel.  —  «Outro  sy 
queremos,  outorgamos,  e  mandamos  que 
e-ta  nossa  Hordenaçom  aja  lugar,  posto 
que  seja  compra  feita  pelos  novos,  e  ren- 
das, ou  foros  dos  ditos  Lugares,  ou  cada 
hum  delles :  com  tanto  que  seja  feita  sem 
engano  desta  nossa  Hordenaçom,  assy  por 
se  nom  dizer  que  seja  arrendamento,  af- 
foramento,  ou  emprazamento ;  ca  nom 
queremos,  posto  que  se  faça  per  nome 
de  venda,  que  esta  nossa  Hordenaçom 
seja  piir  ello  desfraudada,  e  enganada.» 
Ordenações  Affonsinas,  llv.  4,  tit.  2,  §  9. 

—  "  E  esto  se  entenda  nos  nossos  foros, 
e  rendas  e  direitos,  e  da  Ravnha  minha 
molher,  e  dos  Ifantes  meus  filhos,  e  Ir- 
maaòs,  e  Condes,  e  de  Igrejas,  e  moes- 
teiros  e  outras  quaesquer  pessoas,  que 
moram  em  Regueengos,  e  Lugares,  e 
Yillas,  ou  herdades,  que  no  seu  foral  he 
contheudo,  que  paguem  mediçom  de  pam, 
e  vinho  e  legumes. »  Ibidem,  §  64.  — 
« Item.  Se  aquelle.  que  trouxer  alguma 
posissora  por  certo  foro,  ou  prazo  d 'al- 
gum Senhorio,  a  qual  apenhasse  ao  dito 
Senhorio  por  alguma  divida  sob  tal  prei- 
to e  condiçom,  que  o  dito  Senhorio  ou- 
vesse  em   salvo   os  frnitos  e  rendas  da 

TOL.  V.  — 2G. 


dita  possissom  ataa  que  fosse  pagado  da 
dita  divida,  em  tal  caso  poderá  aver  o 
dito  Senhorio  as  ditas  rendas  e  novos  em 
salvo  ataa  seer  pago  da  dita  divida,  sem 
descontar  delia  nenhuma  cousa.»  Ibidem, 
tit,  19,  §  5.  —  «Porque  em  quanto  assi 
ouver  03  ditos  frnitos,  e  rendas  do  dito 
foro,  ou  prazo,  nom  averá  a  pensom,  que 
lhe  he  devnda  em  cada  hum  anno  por 
virtude  do  dito  contrauto  do  afloramen- 
to, ou  emprazamento.»  Ibidem.  —  «  E  por 
conseguinte  o  comprador  perderia  o  pre- 
ço, que  pola  cousa  desse,  e  o  vendedor 
perderia  a  cousa  vendida,  e  deve  seer 
todo  para  a  Coroa  dos  Nossos  Regnos:  e 
aalem  de  todo  esto  o  dito  comprador, 
por  seer  onzaneiro,  deve  perder  todolos 
fi-uitos  e  rendas,  que  ouve  da  dita  cousa 
comprada,  e  tornar  todo  ao  vendedor,  ou 
a  sua  verdadeira  estimacom,  segundo  o 
que  valerom  comnnalmente  ao  tempo 
que  os  colheu,  ou  recebeo.»  Ibidem,  li- 
vro 4,  tit.  40,  §  2.  —  «A  qual  Ley  vis- 
ta per  Nós,  ademdo  em  ella  :  Dizemos, 
que  se  depois  que  esse  Autor,  que  assy 
for  entregue  dalguns  bsns  per  revelia, 
e  receber  delles  algumas  rendas,  fniitos, 
ou  novos.»  Ibidem,  liv.  1,  tit.  47,  §  1. 

—  .ás  rendas  d'um  estado,  d'uma  pro- 
vinda, concelho;  a  totalidade  de  rendi- 
mentos que  entram  annualmente  no  co- 
fi-e  da  provincia,  do  estado.  — ■  «Gs  Reis 
deram  em  casamento  à  Infante  sua  filha, 
dozentas  mil  dobras  douro  da  banda,  de 
trezentos,  e  sessenta,  e  cinco  marauedis 
cada  dobra,  pagas  em  três  annos  seguin- 
tes, despois  do  matrimonio  consumado,  e 
pêra  sustentamento  de  seu  estado,  lhe 
deram  cadanno  quatro  contos  e  meo  de 
marauedis,  assentados  nas  rendas  de  Se- 
uilha.  e  quorao  tiueram  aniso  de  ha  el 
Rei  ter  recebida  por  seu  procurador,  lhe 
ordenaram  sua  casa.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  46. 

—  Rendas  reaes;  a  totalidade  dos  ren- 
dimentos da  coroa.  —  «E  mandou  aper- 
ceber, e  apurar  toda  a  gente  que  pode, 
e  todo  o  dinheyro,  que  das  rendas  do 
Reyno  se  deuia,  e  outro  que  andou  ajun- 
tando, e  pedindo  emprestado  a  pessoas 
que  o  tinhão.»  Garcia  de  Rezende,  Chro- 
nica de  D.  João  II,  cap.  12.  —  «Estas, 
e  outras  mechanicas  se  poderàõ  obrar 
com  grande  utilidade  do  bem  publico, 
assim  para  as  rendas  Reaes,  como  para 
a  multiplicação,  e  sustentação  do  povo.» 
Severim  de  Faria,  Noticias  de  Portugal, 
Disc.  1.  —  «E  esto  meesmo  se  guarde 
em  aquelles,  que  derem  querellas,  como 
dito  he,  se  mostrarem  que  as  non  podem 
seguir  com  pobreza  :  e  façam-se  as  cus- 
tas das  rendas  dos  Concelhos,  hu  os  fei- 
tos dessas  accusaçoões  forem  ouvidos.» 
Ord.  Affons.,  liv.  õ,  tit.  30,  §  6. 

—  Em  economia  politica,  chama-se 
renda  da  terra,  ou,  simplesmente,  ren- 
da, a  parte  dos  productos  afí'erente  ao 
proprietário,  dedncçào  feita  das  despezas 


e  dos  proventos  do  trabalho  e  do  capital 
applicado. 

—  Por  extensão  :  Certos  encargos  im- 
postos a  si  próprio  e  que  sào  quasi  pe- 
riódicos. —  Só  para  divertimentos  é  uma 
renda  o  que  elle  gasta.  —  Nas  suas  es- 
molas  os  pobres  teem  uma  renda. 

—  Arrendar  uma  renda  ;  arrendar  uma 
terra,  tomar  uma  terra  de  renda. 

Elle  dizia  que  o  dia  tercpíro. 
Que  negro  chaiito,  que  guarva  seria  ! 
Nào  falleraos  nisso,  tudo  he  bulraria  : 
Pois  elle  seria  o  Deu  verdadeiro? 
Fallemos  em  ai.  Rabi  Samuel. 
Oitras  lazeiras  ha  hi  que  contar  ; 
Leix"o  jazer.  Queres  arrendar 
Comigo  huma  renda  .^  Se  fores  fiel , 
Arrenda  comigo  esto  anno  que  vem. 

GU,  VICENTE,  DIALOGO  DA    BESUBREIÇÃO. 

—  Ter  renda  ;  gozar  os  redditos  d'uma 
propriedade,  d'um  beneficio. 

Porque  os  capellàes  d'ElEei, 
Que  ca  na  Beira  tem  renda, 
Se  rézão  lá  douti-a  lei. 
Tem  outra  lei  de  fazenda. 
Jlas  Deos  dê  muita  prebenda 
A  Antonc  Alvares,  que  ho  rezào 
Que  elle  c  outros  que  lá  estão. 
Nos  Icixárão  esta  lenda. 
GIL  ^^CE^•TE,  fabças. 

3.)  RENDA,  s.f.  (Da  mesma  origem  que 
rédea,  isto  é,  d'um  baixo  latim  retina, 
do  latim  retinere,  reter).  Termo  antiqua- 
do. Rédea. 

1.)  RENDADO,  adj.  (De  renda  1).  Guar- 
necido de  renda.  —  Um  vestido  rendado. 
—  Um  punho  rendado.  —  Um  'cabeção 
rendado. 

2.)  RENDADO,  adj.  rDe  renda  2).  Que 
tem  renda  ou  rendas.  —  Homem  muito 
rendado. 

—  Que  é  alienado  por  meio  de  renda. 

—  Vid.  Arrendado. 

1.)  RENDAR,  V.  a.  (De  rendai  Termo 
antiquado.  Pagar  renda. 

—  V.  n.  Pagar  renda. 

2.)  RENDAR,  r.  a.  Sachar  pela  segun- 
da vez.  —  Rendar  os  milhos. 

RENDAVEL,  adj.  2  gen.  (De  renda,  o 
o  suffixo  «avel»\  Productivo,  rendoso. 

1.)  RENDEIRA,  s.f.  (De  renda  1).  Mu- 
lher que  faz  rendas  para  guarnições. 

2.^  RENDEIRA,  s.  /.  íDe  renda  2,  com 
o  suffixo  «eira»%  Mulher  que  cobra  ren- 
das. 

—  Rendeira  de  casas ;  aquella  a  quem 
pertencem  os  alugueis. 

—  Rendeira  ;  mulher  que  traz  herdade 
de  renda. 

RENDEIRO,  s.  m.  (De  renda  2,  com  o 
suffixo  «eiró»"!.  O  que  cobra  a  renda  ou 
producto  de  certos  impostos.  —  «Ao  que 
dizem  no  19  Artiguo,  que  foi  mandado 
por  nosso  Padre,  que  nenhu,  que  fosse 
ordenado  de  Ordeens  Menores,  posto  que 
fosse  casado,  não  fosse  Juiz,  nem  Procn- 


202 


REND 


REND 


REND 


rador  ilo  Concelho,  nem  Alniotaccl,  nem 
Rendeiro  <la»  remias  <\n  íloncellm,  nem 
noaHa»,  uom  ouvesio  outros  OfticioH,  (jiio 
em  BHSO  mando  híIo  contlicinlort,  por  (|uo 
nílo  i>()Jiamo.s  per  «lircito  dar-llie  pt'na 
poios  erros  (jue  lii  íaziam.»  Ord.  Affons., 
liv.  :5,  tit.  15,  íj  -U). 

—  O  que  traz  henlado  alheia  o  a  la- 
vra ou  u.-ia  delia  mediauto  pagamento 
de  corta  quantia  ou  f(euero3  ao  dono.  — 
«Segundo  fomos  cntormado,  estabelece- 
rom  os  Sabedores  antigos,  <iuc  compila- 
rom  as  Leyx  Imperiaaes,  quo  se  algum 
homo  veudesise  huã  casa,  ou  herdade,  ou 
quahpier  outra  cousa  d(i  raiz,  a  qual  ao 
tempo  da  venda  ja  tiidia  arrendada,  ou 
alugada  a  outrem  por  tempo,  que  fosso 
monos  de  dez  annos,  nom  lio  o  dito  com- 
prador theudo  de  manteer  o  dito  con- 
trauto  d'alugucr,  ou  arrendamento  ao 
dito  rendeiro.»  Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit. 
4,  §  :5. 

Meu  pac  não  era  do  arto 
Senão  pcra  cavallciro", 
Ou  fidalgo,  ou  rendeiro, 
E  o  cliriâtào  pei-a  alfaiate 
Sem  agulha  c  sem  dinheiro. 
Vosso  pac  hc  ca,  senhora? 
Que  lhe  quereis  v<^3  dizer? 
Pergunto  a  vossa  mercê. 

OIL  VICENTE,  FARÇAS. 

RENDER,  1-.  a.  (Do  latim  reddere;  a 
nasal  encontrando-sc  cm  frauccz  rendre, 
italiano  rendere,  catairio  e  hespanhol  nn- 
dir,  póde-se  concluir  quo  a  nasal  remon- 
ta já  ao  latim  vulgar  n'uma  forma  já 
exiatentc  om  Itália  n'um  periodo  ante- 
rior ao  da  divulgay."to  da  lingua  do  Ro- 
ma nas  outras  províncias  do  império.  Era 
reddere,  composto  de  red  (^que  depois  per- 
doa o  d  ficando  )•?),  ha,  segundo  os  ety- 
mologistas,  a  confusão  homonyma  de  dous 
verbos  formados  um  da  raiz  da,  dar,  e 
é  o  outro  da  raiz  dh~i,  por,  assentar,  fa- 
zer ;  d'ahi  as  duas  séries  distinctas,  mas 
muitas  vezes  confundidas,  das  significa- 
ções de  reddere).  Dar,  entregar,  resti- 
tuir, prestar ;  n'esta  primeira  accepçào, 
a  palavra  é  apenas  usada  n'um  certo  nu- 
mero de  phrases,  como  as  seguintes  : 

—  Render  o  espirito  a  Deus,  ou,  sim- 
plesmente, render  o  espirito  (subenton- 
dendo-sc  a  Deus)  morrer,  entregar  a  al- 
ma a  Deus. 


Entro  esta  alta  abundância,  f[up  aqui  escrito 
Tenho,  a  dos  mantimentos  não  faltava, 
Porque  doâtea  hum  numero  infinito 
Lã  na  Villa  dos  Eumcs  junto  estava  ; 
E  por  serem  do  Rei  que  antes  o  esprito 
Rendco  om  mãos  da  imiga  fúria  brava, 
Arrecada-los  logo  os  três  rierào 
E  depois  por  sobejos  .se  venderão. 

FBASCISCO  DK  ANDRADE,   PBIMEIHÚ  CERCO  DE  DIP, 

cant.  8,  est.  57. 


liaudnr  cmlim  o  triste  osprito  rende 
Que  por  mil  piurtcs  tom  larga  saliida, 


Hobolo  mar  o  morto  corpo  entendo 
(jue  foi  dl!  taiitiM  corpiirt  hoinieida. 
Nisto  vem  a  parar  o  que  pi^rtende 
Segurar  coo»  alheiai  sua  vida, 
Quo  u  l.>iviua  .lustieu  «einprc  ordena 
Que  Hucceda  au  delictu  igual  pena. 
iniDEti,  est.  0. 

—  Render  o  corpo   d   morte ;   morrer, 
deixar-so  vencer  pela  morte. 


Pallido  em  terra  ja  morto  se  estende 
Este,  de  quem  Stí  ii  morte  houve  a  victoria, 
Porém  se  a  morte  he  certo  que  se  rende 
As  obriís  immortaes,  A  immortul  gloria, 
Heróico  varão,  claro  »e  entende 
Do. que  do  ti  cantou  a  minlia  historia, 
Que  ac  á  morte  o  mortal  corpo  reiutente 
Co 'os  teus  imiiiortaes  feitos  a  venceste. 

KHANeiSCO  D'AXDHAnK,    rUIMClUO  CEBCO  DE  DIl', 

ciint.  17,  est.  87. 


—  Render  o  vitimo  arranco  da  vida; 
morrer. 

—  Render  as  armas;  entrcgal-as. 

—  Render  fíVas  ã  morte;  matar. 

—  Termo  de  náutica.  Render  o  bordo; 
voltar  ao  porto.  =  Antiquado. 

—  Render  o  hordo  ao  mar ;  tornar  a 
navegar.  =  Antiquado. 

—  Render  o  quarto;  entregar  o  scrvi- 
(,■0  do  quarto  áqueile,  ou  áquelles  que  se 
seguem. 

—  Por  extcns.^io  e  abstracção  do  sen- 
tido primitivo :  Render  uma  sentinella, 
uma  guarda;  dar  o  posto  da  sentinella, 
da  guarda  a  outro  soMado,   ou  soldados. 

—  Render  cultu,  obediência,  rcsjjeito, 
adoraijues,  obséquios,  etc. ;  prestal-os. 

—  Render  (jra<;as  a  alguém;  agrade- 
cer-lho,  prestar-lhe  graças,  fazer  acção 
de  graç^is.  —  «O  do  Tigre  lhe  tirou  o 
elmo  por  vêr  em  que  disposição  estava, 
e  vendo  que  dera  fim  a  seus  dias,  lim- 
pando a  espada  e  metendo-a  na  bainha, 
com  os  giolhos  em  terra  rendeu  graças 
ao  favorecedor  da  sua  victoria,  crendo 
que  sem  sua  ajuda  nenhuma  força  hu- 
mana bastava  a  desbaratar  tamanha  cou- 
sa.» Fi-ancisco  de  Moraes,  Palmeirim  de 
Inglaterra,  cap.  118. 

Cara  Esposa,  rendamos  a  Dcos  graças. 
Olha  quanto  í  comnosco  providcnte 
Que  nos  manda  estes  Hóspedes  honrados. 

F.   M.    DO  NASCIMENTO,  OS  MARTVRES,  1ÍV.    11. 

—  Termo  de  feudalismo.  Render  prei- 
to, e  hometuigem  ;  reconhecer  na  qualida- 
de de  soberano,  prestar  juramento  de 
vassallo  fiel. 

—  Pagar,  satisfazer.  —  Render  a  di- 
lida.  ^Accepçào  antiquada. 

—  Render  scri-tço,  ou  serviços ;  pres- 
tar, fazer  serviço  ou  serviços  a  alguém. 

—  X"um  .-icntido  irónico:  Render  ser- 
vii;os;  fingir-su  muito  serviçal,  apregoar 
muito  os  seus  serviços,  embora  insignifi- 
cantes. 

—  Dar  de  lucro,   produzir,   ti"azcr  de 


lucro,  do  rendimento.  —  A»  terras  que 
pogjiue  rendem-Z/ui  dou»  conto»  de  rei$ 
por  anno.  —  «(J  principal  doi»  quaes  na 
costa  da  Arábia  hc  a  Nilla  (Jabtyatc, 
que  rende  dczenovo  mil  c  duzonton  xura- 
tíus,  per  Cita  maneira  :  o  nictmu  (Jalaya- 
te  onze,  Ma-^cute  quatro,  S<jar  mil  o  qui- 
nhentos, Orfacam  outro  tanto,  iJaba  qui- 
nhentos, I^açort  hctecentos,  Julíàr,  quQ 
he  outro  (luaziladu  ncHta  parto  da  Axa- 
bi.\  com  toda  sua  Comarca,  rende  seU; 
mil  c  ijuiidientos  xaratins.»  Jo3o  do  IW- 
ro.s,  Década  2,  liv.  10,  cap.  7.  —  iCoin 
o  qual  ouuc  hiuu  recontro  cui  que  o  deA- 
baratou,  junto  das  terras  de  (ioa,  c  lhe 
tomou  as  cidades  de  Rachol,  Bilgam,  e 
outros  muitos  lugares  eui  que  entrauito 
os  Tanadarius  do  lialagatc,  vczinlia«  ha 
(ioa,  (juo  rendiam  umito  dinheiro.»  Da- 
mião de  Coe<i,  Chronica  de  0.  Manoel, 
part.  4,  cap.  61. —  «E  com  muyto  me- 
nos custo,  aesi  de  gente  como  de  tudo  o 
mais,  porque  somento  do  trato  nos  afiir- 
marão  mercadores  com  que  falíamos,  que 
rendiâo  as  três  alfandegas  desta  ilha  Le- 
quia  hum  couto  c  meyo  douro,  a  fora  a 
massa  de  todo  o  revno,  e  as  mina^  do 
prata,  cobre,  latào,  ferro,  aço,  chumbo, 
e  estanho,  que  rendiào  ainda  nmyto  mais 
que  a«  alfandegas.»  Fornào  Mendes  Pin- 
to, Peregrinações,  cap.  143.  —  «O  qual 
nos  affirmarào  os  Chins  que  enchia  e  va- 
zava da  própria  maneyra  que  o  faz  o 
mar,  estando  pela  terra  dentro  mais  de 
duzentas  legoas,  e  que  rendia  tcdiy^  os 
aunos  para  o  Rey  da  China  èó  do  terço 
que  deste  sal  lhe  pagavão,  cem  mil  tacis.» 
Ibidem,  cap.  96. 

—  Absolutamente  :  —  « Em  especial  a 
compra  dos  caualos  rende  notauelmente, 
os  quaes  não  passão  a  índia  sem  ordem 
de  Ormus.  Hum  pouco  fora  da  Cidade, 
está  a  fortaleza  que  el  Rey  Dõ  loào  ter- 
ceyro  deste  nome,  mãdou  fazer  tam  inei- 
pugnauel,  c  forte,  como  ao  Capitào  de 
honra,  e  proueito.»  Frei  <!aspar  de  S. 
Bernardino.  Itinerário  da  índia,  capitu- 
lo 11. 

—  Figuradamente  :  Aproveitar,  dar 
proveito. 


Está  immobil  o  Cunha,  e  do  adversário 
Eng-ita  este  conselho,  que  «traz  digo. 
Também  dizem  que  nisto  por  contrario 
Teve,  todo  o  que  lhe  era  intimo  amigo. 
Que  lhe  diz  que  deixar  lhe  hc  niícoasario 
Hum  feito,  de  que  espem  hum  grio  perigo 
E  proveito  nenhum  do  que  pretende. 
Porém  nenhum  conselho  ao  Cunha  rrndt. 

FRANCISCO  DAKDHADB,  rilMEUtO  CESCO  DB  DIV, 

c*nt.  1,  est.  59. 


—  Fazer  tornar,  ser  causa  que  uma 
cousa  seja  differente  do  que  era. 

—  Render  ètwi.  ==  Pouco  usado  e  mal 
auctorisiido ;  talvez  simplesmente  imiudo 
do  francez. 

—  U brigar  por  moio  da  força,  coagir, 


REND 


REND 


REND 


203 


constranger.  — Render  o  inimigo  ao  aban- 
donar os  postos,  a  praça,  etc. 

—  Submetter. — Render  uma  fortale- 
za. —  «Despejadas  as  quatro  gales,  Paio 
de  Sonsa,  e  Diogo  Pirez  leuaram  as  duas 
que  renderam  atoadas  a  uao  de  dom  Lou- 
renço, que  estaua  as  bombardadas,  com 
Mirhoeem.»  Damião  de  Góes,  Chronica 
de  D.  Manoel,  part.  2,  cap.  2. 

Este  rende  munidas  fortalezas, 
Faz  traidores  c  falsos  os  amigos : 
Este  aos  mais  nobres  faz  fazer  vilezas, 
E  entrega  capitães  aos  inimigos  : 
Este  corrompe  virginaes  puresas, 
Sem  temer  de  honra  ou  fama  alguns  perigos : 
Este  deprava  ás  vezes  as  scicncias, 
Os  juizes  cegando  e  as  consciências. 
cAM.,  tns.,  cant'.  8,  est.  9S. 

—  « Sitiou  Évora,  cabeça  daquella 
Província,  e  rendeo-a ;  o  que  sabido  em 
Lisboa  se  levantou  lium  motim,  de  que 
nascerão  os  effeitos  costumados.»  Frei 
Bernardo  de  Brito.  Elogios  dos  reis  de 
Portugal. 

— :  Figuradamente : 

Verás  03  grandes  feitos  nunca  ouvidos 
Dos  que  se  hoje  a  teu  jugo  sujeitarão, 
Verás  os  braços  fortes,  não  vencidos 
Dos  que  então  largamente  a  pátria  honrarão. 
Verás  que  cm  render  peitos  não  rendidos 
Tu  muito,  e  também  muito  eUes  ganharão : 
Elles.  pois  coube  a  ti  scnhore.allos. 
Tu,  por  seres  senhor  de  taes  vassallos. 

p.  d'andrade,  primeibo  cerco  de  Dir,  cant.  1, 
est.  6. 


—  Tomar,  ganbar  ao  inimigo.  —  Ren- 
deram inaa  grande  presa. 

—  T'.  n.  Quebrar,  cedendo  ao  peso. 
—  Renderam  os  alicerces. 

—  Racbar-se. 

—  Dar  de  si. 

—  Ter  uma  hérnia,  uma  ruptura  qual- 
quer no  corpo.  —  Este  hjmem  caiu  da  av- 
V'jre  abaixo  e  rendeu  pelas  virilhas. 

—  Render  «  verga,  o  mastro  ;  estalar. 

—  Render-se,  v.  ref.  Submetter-se, 
ceder.  —  Rendeu-se  o  espirito  até  alli 
tão  forte.  —  Rendo-me  a  essas  razoes. 

—  Diz-se  do  amor,  da  belleza  victo- 
riosa.  —  «E  se  vós  padie  sentirdes  bem 
o  merecimento  dessa  senbora,  aquella 
graça  no  rosto,  viveza  nos  olhos,  o  ar  na 
disposição,  logo  vereis  que  quem  se  lhe 
nào  render  de  todo,  ou  lhe  vem  de  ser 
pêra  pouco  ou  tem  os  espíritos  tSo  mor- 
tos, que  nào  sabe  sentir  nada.»  Francis- 
co de  Moraes,  Palmeirim  de  Inglaterra, 
cap.  106. 

—  Diz-se  na  guerra,  n\un  combate, 
das  cidades,  das  tropas,  dos  individuos 
que  capitulam  ou  se  deixam  fazer  prisio- 
neiros. —  8  Os  Mouros  parecendolhes  que 
isto  era  huma  honesta  maneira  que  o  ca- 
pitão tinha  de  lhe  pedir  alguma  cousa, 
assentarão  terem  feito  hum  grande  siso 
em  se  render  ao  nauio :   porque  com  al- 


gum presente  que  leuassem  ao  capitão 
mòr  acabarias  tudo,  cã  se  elles  prestmii- 
raõ  o  que  depois  passou,  caro  ouuera  de 
custar  sua  entrega.»  João  de  Barros, 
Década  1,  liv.  6,  cap.  3. —  «Dramusian- 
do  lhe  disse  :  Cavalleiro,  se  quizesseis  ha- 
ver dó  de  vós,  seria  bom  que  vos  ren- 
dêsseis a  mim,  e  curar- vos-hia  de  vossas 
feridas,  ganhadas  com  tanta  honra,  e  que 
vos  põe  a  vida  em  tanto  risco.»  Francis- 
co de  Moraes.  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  10. —  «Auderramete,  vendo-se  de 
todo  perdido,  quizera  render-se ;  depois 
havendo  medo  á  vergonha,  determinou 
antes  morrer  que  ver-se  nella  :  com  este 
propósito  pelejou  até  que  de  cançado 
caiu,  rendendo  o  espirito  aos  pés  de  seu 
vencedor.»  Ibidem,  cap.  80. —  «Nào  sei 
quem  vos  engana,  disse  outro,  que  cada 
um  de  nós  basta  pêra  vos  fazer  render ; 
o  de  o  termos  por  victoria  pequena,  pe- 
lejamos juntamente.  Mas  pois  vos  parece 
que  a  pé  tereis  melhor  partido,  vedes  nos 
descemos  todos  a  pé.»  Ibidem,  cap.  102. 
—  «O  que  ficava,  vendo  seus  companhei- 
ros em  tal  estado,  quiz  antes  morrer  de 
mistura  com  elles,  que  render-se  a  ho- 
mem, que  nào  sahia  se  acharia  n'elle  al- 
guma piedade.»  Ibidem.  —  «Se  isto  vos 
não  parecer  bem,  rendei-vos  em  minhas 
mãos:  e  será  pêra  menos  perigo  do  que 
delias  podeis  receber.  Por  mór  o  haveria 
eu,  disse  o  cavalleiro  do  Salvage,  que  o 
com  que  tu  me  ameaças  ;  pois  é  tanto  a 
teu  salvo  e  não  longe  da  minha  condi- 
ção.» Ibidem,  cap.  39. —  «O  do  Tigre, 
que  assim  a  viu  ir,  sentindo  sita  descon- 
fiança, e  receando  que  lhe  podesse  acon- 
tecer algum  desastre,  se  lhe  não  acudis- 
se com  tempo,  avivou  os  golpes  de  ma- 
neira que  com  morte  de  três  delles  os 
outros  se  pozeram  em  fugida,  e  o  do 
cavallo  manco  se  lhe  rendeu,  pedindo- 
Ihe  que  lhe  perdoasse  alguns  máos  ensi- 
nos ou  desgostos,  se  delle  os  recebera.» 
Ibidem,  cap.  105.  —  «E  porque  nesta 
batalha  houve  pouco  que  fazer,  se  não 
escreve  mais  miudamente  :  baste  que  o 
cavalleiro  do  Tigre  os  desbaratou  todos 
quatro,  com  morte  de  dous  delles,  dando 
vida  a  to^ía  a  outra  gente  que  se  lhe 
rendeu.»  Ibidem. 


D  "esta  arte,  em  fim  tomada  se  rendeu 
Aquella ,  que  nos  tempos  já  passados 
A  grande  força  nunca  obedeceu 
Dos  frios  povos  scvthicos  ousados. 
Cujo  poder  a  tanto  se  estendeu, 
Que  o  Ibero  o  viu  e  o  Tejo  amedrontados ; 
E  em  fim  co"o  Betis  tanto  alguns  puderam. 
Que  á  terra  de  Vandalia  nome  deram. 
CAM.,  i-rs.,  cant.  o,  est.  60. 

—  «Vendo  os  Capitães  destas  tve^  na- 
çoens  amotinadas  a  justificação  delRey, 
e  as  promessas  que  lhes  fazia,  se  lhes 
renderão  todos,  e  lhe  prometteram  de  es- 
tarem pelo  que  elle  quizesse.»  Fernão 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,   cap.  195. 


—  «Pêra  ambos  darem  nas  terras  que  fo- 
ram de  Harduel,  que  a  breues  laços  con- 
quistarão, e  não  podendo  a  Imperial  Ci- 
dade Taitris,  sofrer  o  impetu  de  sua  fut 
ria  se  lhes  rendeo,  e  caminhando  com 
esta  corrente  de  victorias,  chegarão  a 
apresentar  batalha  campal  a  Aluãthe,  a 
quem  vencerão,  e  desbaratarão. »  Fr.  Gas- 
par de  S.  Bernardino,  Itinerário  da  ín- 
dia, cap.  27. 


Porém  nào  sei  se  fora  mais  ditosa 

Em  se  render  de  todo  ao  mar  e  ao  vento 

Ficando  assaz  contente  e  gloriosa, 

E  coo  ganho  d"hum  tão  heróico  intento. 

Que  apoz  via  tão  larga  e  trabalhosa 

Chegar  ao  fim  ao  porto  a  salvamento 

Onde  eu  sei  que  ha  de  ter  e  (não  me  engano) 

Outro  naufrágio  mór  e  de  mór  dano. 

FBAXCISCO  d"axDRADE,    PBIMEIKO  CEBCO  de  DIU, 

cant.  20,  est.  3. 


—  «Deos  he  atalaya  dos  corações,  de- 
mos-lh'o3  desembaraçados,  e  quebremos 
nossa  vontade :  armemo-nos  d'armas  spi- 
rituaes,  nam  nos  rendamos  aos  inimigos.» 
D.  Joanna  da  Gama,  Ditos  da  freira, 
pag.  15  (ult.  ediç.) 

Que  ainda  que  a  dura  fome,  juntamente 
Com  ser  fragoso  e  áspero  o  caminho 
Os  tinha  ja  muy  fracos,  todavia 
Os  viuos  corações  nào  se  lhe  rendem 
Antes  nelles  se  via  aquelle  vsado 
Costume  de  vencer  nações  ferozes. 

COBIE    EEAL,    NArFBAGIO  DE  SEPÚLVEDA,  Cant.   9. 

■ —  Abater,  ceder  ao  próprio  peso,  ca- 
hii".  arruinar-se. 

—  Dar  de  si.  —  As  velhas  paredes  ren- 
deram-se  com  o  tempo. 

RENDIÇÃO,  s.  f.  Redempção;  resgate, 
quantia  por  meio  da  qual  é  resgatada  a 
liberdade. 

RENDIDAMENTE,  adv.  (De  rendido, 
com  o  suffixo  «mente»}.  Com  rendimen- 
to da  vontade. 

RENDIDO,  part.  pass.  de  Render.  Da- 
do, entregado.  —  O  espirito  rendido  a 
Deus.  —  Rendido  o  suspiro  fnal. 

—  Antigamente  :  Pago,  satisfeito. 

■ — Abatido,  humilhado,  deprimido. 

—  Vencido,  derrotado,  submettido. — 
«Mas  he  summamente  difficultoso,  pas- 
sar da  vida  carnal  a  espiritual,  pello  que 
ainda  qtie  muitos  se  esforçaõ  nos  princí- 
pios, rendidos  tornão  aos  costumes  anti- 
gos. Alguns  hai  que  nesta  mudança  de 
vida  trazem  comsigo  guerra  interior,  mtii- 
tas  vezes  cahem,  muitas  se  leuantão,  mui- 
tas fogem,  muitas  tornão  a  batalhar.» 
Fr.  Bartholomeu  dos  ]Martyres,  Compen- 
dio de  espiritual  doutrina. " 

—  Praça  não  rendida ;  praça  que  não 
capitulou.  —  «E  sendo  ja  quasi  véspera, 
chegarão  as  outi-as  duas  fustas  que  forSo 
mãdadas  á  terra  firme,  co  mesmo  descuy- 
do  das  outras,  e  ainda  que  ouve  algum 
pequeno  de   trabalha  em  abalroallas,  to« 


204 


REXD 


UEND 


KKXE 


davia  forito  ambuH  rendidas,  inud  com 
morto  de  dousi  Portu};uuseM,  doí  quais 
Lum  íuv  LojH)  Sanlialia  Feitor  do  Cei- 
lilo.»  Fernilo  Meiídoí  Tiiito,  Peregrina- 
ções, cap.  140. 
—  Figuradamoiite : 


Rdinedio  ác  mcn  mal,  í|uoin  tu  dotem  ? 
QiiPin  U-  fiiz  (|iio  iiào  vciibuH  darmo  vida? 
Quem  lic  o  i\uii  iiic  iitallia  tanto  bem  V 
('oiiio  ostáí  (lo  tou  Protlieo  asni  e.si|Uocida  'í 
Vem  formosa  Lianor,  ali  Lianor  vem 
Alegra  c»t'alma  tridto  a  ti  rtndida, 
Nilo  pagort  tanto  amor  com  crueldade, 
Que  uào  se  espora  tal,  do  tal  beldade. 

UOHrK  IlEAL,  NALFnAOIO  DK  8RPULVKDA,  Caut.  G. 

liuma  voz  imaffino  ja  rendida 
Ifuma  alma  oiid'oâtá  viuo  o  ódio,  e  dureza 
Imagino  remédios  a  meus  danos, 
Olhai  que  tacs  Bcrâo  pois  saõ  enganos. 
iiiiDKM,  cant.  14. 

—  a  Como  o  das  Douzelias  qulzesse  con- 
tentar a  ellas,  parecer  bem  a  Florendos 
e  mostrar  a  Miragiiarda  que  nào  com 
medo  de  seu  cavalleiro  nogíU'a  a  batalha, 
e  visse  Almourol,  que  iiaquella  batalha 
aventurava  perder  ou  ganhar  a  Arlança, 
a  quem  estava  rendido,  começaram  am- 
bos fazer  maravilhas,  experimentando  to- 
ila  a  sua  força,  daudo  golpes  sigualados 
á  custa  de  quem  os  recebia."  Fraucisco 
de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap. 
127. 

Este  meu  rendido  atFecto, 
Esto  meu  prostrado  amor  ; 
Que  este  peito  ho  taõ  constante, 
Quando  amante  se  vê  prezo. 
Que  inda  estima  o  seu  desprezo. 
Que  inda  adora 
O  seu  rigor. 

ABBJt.OE  DB  JA2ENTE,  POESIAS. 


—  Vencido  de  amor. 

—  Adquirido  e  produzido  dos  redditos, 
renda,  imposto  ou  foro. 

—  Mudado,  substituído  por  outro,  fal- 
laudo  do  posto  de  guarda,  seutinclla,  vi- 
gia, etc.  — «E  feito  isto,  se  deu  logo  or- 
dem ao  modo  que  se  avia  de  ter  neste 
negocio,  e  tizeraò  capitão  desta  gente 
hum  tio  da  Ravnha,  por  nome  Manica 
votau,  o  qual  ajuntando  logo  todos  os 
cinco  mil  homens  que  avia  na  cidade, 
aquella  mesma  noite,  despois  do  ser  ren- 
dido o  quarto  da  modorra  saliio  pebiá 
duas  portas  quo  estavao  mais  frontevras 
á  serra,  e  a  cometerão  tào  determinada- 
mente, que  em  pouco  mais  de  huma  ho- 
ra o  ciipo  se  dividio  em  mais  de  cem  par- 
tes.» Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, c.ip.  155. 

—  Em  que  so  dou  relaxação,  ruptura. 
—  Virilha  rendida. 

—  Com  referencia  á  pessoa :  Rendido 
da  virilha;  que  tem   ruptm-a  na  virilha. 

—  Quebrado,  partido,  rachado. 
RENDIDURA,  s.  f.  (De  readido,  com  o 


Buffixo  <ura>j.  A  parto  ou  logar  do  mas- 
tro, pau  ou  aspa  por  (judo  ello  começou  a 
quebrar  e  onde  so  lixam  rocas  ou  talas 
bem  atadas  com  voltas  do  calabre  grosso 
ou  com  preg.iduras  fortes,  a  lim  de  obs- 
tar a  maiur  quebradura. 

RENDILHA,  «. /.  (De  renda  1,  com  o 
sudixu  'ilha»  I.  Diminutivo  de  Renda.  Uen- 
da  cstri'ita.  tina,  delicada. 

f  RENDILHADO,  i>art.  j,uns.  de  Rendi- 
lhar. C^ue  tem  lavores  uemelhantcs  á  ren- 
dilha ou  renda. 

—  Figuradamente :  Em  musica  e  poe- 
sia, que  é  variado  caj)richo3a  c  delicada- 
mente. —  Ou  rendilhados  d' uma  sympho- 
nin  <le  Muzart. 

RENDILHAR,  v.  a.  (De  rendilhaj.  Or- 
nar com  lavor  semelhante  á  renda  ou 
rendilha.  —  Os  artistas  da  idade  media 
sabiam  rendilhar  admiravelmente  an  pe- 
dras das  calhiidraes. 

RENDIMENTO,  s.  m.  (De  rende,  thema 
de  render,  com  o  suffixo  «mento»).  O 
producto  d'um  capital  qualquer,  quer  re- 
presentado em  metal  quer  em  proprieda- 
des rústicas,  urbanas  ou  suburbanas,  ga- 
dos, ete. ;  no  seu  sentido  mais  geral  con- 
funde-se  com  producto  labstrahindo  da 
accepçào  arithmctica  d'esta  palavraj.  — 
O  rendimento  de  20  contos  de  reis  a  S  e 
^/.^  por  ctatu  ao  anno. — Vive  do  rendi- 
mento de  suas  inscripi^Tks. 

—  Cousa  de  bom  rendimento ;  cousa 
que  produz  muito.  —  «O  qual  como  era 
costumado  com  o  grande  número  das  náos 
ter  cada  anno  grande  rendimento,  vondo 
quanto  perdia  por  razào  das  poucas  que 
já  lá  liiauí  com  este  temor,  parece  que 
nestas  poucas  queria  recompensar  a  per- 
da, fazendo  tantos  roubos,  o  tyrannias 
aos  mercadores  residentes  ua  Cidade,  que 
começaram  de  a  despejar.»  Barros,  Dé- 
cada 2,  liv.  G,  cap.  1.  —  «Eraõ  daquel- 
le  Rey,  por  serem  um  importante  rendi- 
mento de  seu  Reino,  e  de  que  ElRey  se 
sustentava,  por  serem  de  palmares  ferti- 
lissimos,  que  era  toda  sua  substancia. 
Com  esta  ultima  resolução  se  levou  o  "\  i- 
sorcy,  o  foy  surgir  no  mar  largo  defron- 
te de  Tecaneute.i)  Diogo  de  Couto,  Dé- 
cada (),  liv.  10,  cap.  15.  —  «Manda,  que 
03  Jiispos  da  Lusitânia,  nào  tomem  dahi 
em  dianto  as  terças  do  rendimento  pró- 
prio das  Igrejas  Farrochiacs  como  costu- 
mavào,  mas  que  fiquem  deputadas  para 
a  fabrica.»  Monarchia  Lusitana,  liv.  ti, 
cap.  22.  —  «As  gentes  que  custumavão 
a  navegar  por  aquella  costa  audav."io  ja 
tào  assombradas  do  nome  Portuguez,  que 
de  todo  deixarão  o  comercio  de  suas  via- 
gens, e  vararão  os  seus  navios  em  terra, 
por  onde  as  alfandegas  destes  portos  de 
Tanauçarim,  Juuçalào,  Jlerguim,  Vaga- 
ruu,  e  Tavay  perdiào  nuiyto  dos  seus 
rendimentos,  polo  que  foy  forçado  a  estes 
pi.ivos  daroni  cota  disso  ao  Emperador 
do  iSoruau  Rey  de  Siào,  que  he  senhor 
supremo   de   toda   esta   terra,  >   Fernão 


Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.  140. 
— ^  «Que  he  hum  ijriiicij)e  de  grade  jki- 
der  que  liabita  no  âmago  deste  sertio 
em  muyta  distancia  de  terra,  do  qual 
adiante  tratarey  hum  pouco  quando  vier 
a  dar  inlormaçaij  dulle,  para  que  por  li- 
ga e  contrato  de  nova  amizade  «e  fizesse 
seu  irmão  cm  armas,  ofTcrecendolhe  por 
isso  certa  (]uantidadc  douro  e  pc<lraria,  e 
rendimentos  de  algumas  ti-rrat  comarcSs 
ai»  seu  reyno.»  Ibidem,  cap.  l.')7. 

—  Figuradamente  :  Resultado  que  se 
alcança.  —  Qual  o  rendimento  da  dedi- 
cação dos  martyrea  das  grandes  iflf<is1 

—  O  acto  de  se  render,  de  dar-se  por 
vencido,  de  capitular. 

—  .Submissão,  sujeiçSo.  —  «As  anti- 
gas armas  da  exccllentissima  caza  de  Tri- 
vulcio ;  assim  chamada  à  (ri^ilici  vultu. 
Eraõ  três  Cabeças  unidas  em  hum  só 
principio  ;  para  mostrar  aquelle  emble- 
ma, o  quanto  importa  para  a  segurança 
da  Jlonarchia,  e  proHigaçaõ  do  poder 
inimigo,  a  concórdia,  e  uniaò  dos  Vassa- 
los com  rendimento,  e  obediência  ao  Prín- 
cipe ;  donde  tomou  occasiaò  o  famoso  An- 
tónio Trivulcio  para  mandar  dibuxar  nos 
seos  estandartes,  e  bandeiras  militares 
estas  três  Cabeças  com  a  leti-a  ao  pè, 
que  dezia.»  Braz  Luiz  d' Abreu,  Portu- 
gal medico,  pag.  3(iU,  §  4. 

—  Relaxação,  ruptura,  desarranjo  das 
juntas  acompanhadas  de  fraqueza,  fadi- 
ga, cançaço,  abatimento,  prostração  de 
forças  phvíicas,   moraes   e   intellectuaes. 

RENDOSO,  adj.  (Do  thema  rende,  de 
render,  com  o  suffixo  <oso><.  Que  ren- 
de, produz  bom  rendimento,  dá  ganho, 
lucro,  beneficio.  —  Offici'/  rendoso.  — 
Í^^Hirt  projjriedade  rendosa.  —  Commercio 
rendoso.  —  « Por  onde  o  mesmo  fora  de 
toda  a  parte,  como  tem  sido  nestes  sí- 
tios :  e  naò  he  menos  rendosa  a  novida- 
de da  cera,  que  qualquer  outra  mercan- 
cia, pois  a  himos  buscar  ao  Cabo-Verde, 
e  a  Berbéria.»  Manoel  Severim  de  Fa- 
ria, Noticias  de  Portugal,  Disc.  1,   §  õ. 

RENEGADA,  í.  /.  Vid.  Arrenegada, 
s.  /•. 

RENEGADO,  j-art.  pass.  do  Renegar. 
(Vid.  Arrenegado  .  Que  renegou. 

—  Infiel  á  lei  religiosa  que  seguia,  que 
deixou  uma  religião  por  outra. 


Entro  este  alto  furor,  que  tanto  dano 

Aos  Cambaios  estava  então  causando, 

Lá  d'entrc  o  ajuntamento  Lusitano 

Acaso  hum  chumbo  ardente  sabe  voando, 

Quo  contra  o  rairiioiio  Italiano 

Os  aros  tão  direito  vai  cortando, 

Que  huma  das  ímpias  màos  lho  rompe,  e  o  deixa 

Cheio  de  grave  dor,  do  gravo  queixa. 

KRASCisco  d'a!ídrade,  pbixeibú  rcR.-ii  nr  nif, 
cant.  10,  est.  Gá. 


Fica  entregue  ao  Latino  rentffodo 
Todo  o  canhão  porém  quo  QnXÁo  nào  hia, 
Quo  dello  e  d;»s  estancias  grão  cuidado 
Toma,  e  do  tudo  o  mais  que  alli  se  via, 


KENE 


KEXi 


KEXO 


205 


Ixigo  em  logar  do  Turco  ja  embarcado 
Põe  a  gente  da  sua  coiuoanhia, 
Porque  o  Cliristào  não  sinta  esta  sua  ida 
Temendo  que  se  a  sente  eiitào  Ih 'a  impida. 
IBIDEM,  cant.  20,  est.  45. 

Xào  me  esquece  que  atraz  deixo  contado 
Que  dos  que  ao  galeão  levou  comsigo 
O  misero  Sultão  desventurado 
Hum  escapou  só  vivo  a  este  perigo : 
Foi  este  o  Italiano  renegado. 
Que  d  entre  a  geral  morte  que  atraz  digo 
Foi  guardado,  quiçá,  porque  ao  diante 
O  nome  Portuguez  hom-e  e  levante. 
IBIDEM,  cant.  8,  est.  22. 

—  «E  ao  pobre  de  mim  quiçá  como 
menos  ditcso  couLe  em  sorte  comprarme 
lium  Cxrego  renegado,  de  que  eu  arrene- 
garey  em  quanto  viver,  porque  me  tra- 
tou de  maneyra  em  sós  três  meses  que 
tiiv  seu  cativo.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  6. 

—  S.  J/i.  O  que  renegou  da  sua  fé. 


Neste  tempo  ja  aquollc  esprito  ousado 
Do  valeroso  Sousa.  iUustro  e  forte, 
A  quem  o  genro  cruel  do  renegado 
Com  vingativo  braço  dera  a  morte. 
No  mar  dei.Kando  o  corpo  sepultado 
Subira  lá  á  Celeste,  Eterna  Corte, 
Com  cantos  e  prazer  dos  que  o  levavào 
Com  lagrimas  e  dõr  dos  que  fica  vão. 

F.  d'akdrade,  rBDiEiKo  cEBCO  DE  Dir   caut.  7, 
est.  31. 


—  «Que  Mafamede  fora  hum  engana- 
dor, infame  por  obras,  e  doutrinas  ;  que 
se  em  Cambava  havia  renegados,  seriào 
de  outras  Nações,  qual  o  fora  seu  Pai 
Coge  Çofar,  que  como  monstro  da  terra 
em  que  nascera,  os  Pais,  e  a  Pátria  o 
negavào  de  lillio.»  Jacintho  Freire  de 
Andrade,  Vida  de  D.  João  de  Castro, 
liv.  2. 

RENEGADOR,  A,  s.  iDo  thema  renega, 
de  renegar,  com  o  suftixo  «dôr»,  expri- 
mindo o  agente).  O,  a  que  tem  por  vicio 
renegar  de  Deus  e  dos  santos. 

ila  nova  he  essa  pêra  mi . 
Se  assi  for  como  dizes. 
Digo  qneramá  ca  \\m. 
Porém  esperae-me  assi, 
Fallarei  tamalavez. 
Deos  não  quiz  hoje  nascer 
Por  remir  os  peccadores  ? 
E  pois  que  queres  dizer  ? 
Que  so  CO  seu  padecer 
Se  salvào  renegadores  f 
A  perneta  me  forçou. 
Que  era  senhora  de  mi. 

on.  ^^CESTE,  Auro  da  babca  do 

PCBGATOBIO. 

RENEGAR,  v.  n,  Vid.  Arrenegar. 

Creio  que  a  vara  ha  d'andar, 
S'Í8âo  vai  dessa  maneira. 
Eu  não  SOU  vossa  oliveira 
Que  a  haveis  de  varejar. 
Renego  destas  respostas  : 
^  ae  muito  asinha. 

GIL  ^^CESIE,  FABÇAS. 


Oh  renego  de  Turquia  ! 
Eu  lhe  dou  meu  coração 
Com  tanta  gloria  e  alegria, 
Que  as  aves  lhe  cantarão 
Continuada  melodia. 
Las  aves  á  la  desposada 
Sabes  que  se  monta  ahi '? 


Nego  tanto  que  renega  : 
mas  SC  me  isso  escorregar  ? 
Levae  na  garganta  pega 
como  boi. 
ASTOsio  PEESTEs,  ACTOS,  pag.  239. 


E  SC  amor  tal  amor  fõr, 
eu  de  tal  amor  renego. 

IBIDEM,  pag.    4:20. 

RENEMBRANÇA,  s.  /.  ^De  re,  e  nem- 
brança  .  Lembrança,  relembrança.=F(')r- 
ma  antiquada. 

RENEMBRADO,  /xa-t.  pass.  de  Renem- 
brar.  Lembrado. 

RENEMBRAR,  v.  a.  ant.  Relembrar, 
lembrar,  fazer  renascer  na  memoria. 

RENETE,  s.  m,  (Do  fi-ancez  renette,  ou 
rainette,  de  i-aineri.  Termo  de  ferrador 
e  alveitaria.  Instrumento  para  cortar  pro- 
fundamente o  casco  das  bestas  a  lim  de 
as  curar  de  certas  doenças  dos  pé?.  — 
«Farào  humas  riscas  com  hum  renete 
desde  o  alto  do  casco  até  a  ferradura.» 
Rego,  Alveitaria,  cap.  6<ò. 

RENGA,  s.  f.  iVid.  Renque I.  Enfiada, 
fileira,  fila.  —  Urna  renga  de  casebres.  — 
Uma  renga  de  pardieiros.  —  Uma  renga 
de  naviot:. 

RENGALHO,  í;.  m.  Fundo  liso  de  um 
bordado. 

—  O  tecido  liso  das  rendas  até  ás  bor- 
das que  teem  lavor. 

—  Substancia  mucosa  que  forra  o  cor- 
po doí  negros ;  corre  entre  a  pelle  e  a 
epiderme. 

RENGE,  s.  m.  ant.  Vid.  Rengo,  e  Ren- 
que. 

RENGER,  ou  RENGIR,  v.  a.  Antiga  for- 
ma de  Ranger. 

RENGO,  s.  ,n.  iViJ.  Renque  .  Ordem, 
fileii'a,   eanada,  tio. 

—  Posto,  classe,  logar  de  cada  um. 

—  Fio  com  que  se  tecem  cassas  ou  te- 
cidos semelhantes. 

RENGRÃO,  s.  m.  Termo  antiquado.  Re- 
gina de  escripta. 

RENHIDO,  paH.  pass.  de  Renhir.  Por- 
fiado, debatido  demoradamente.  —  Guer- 
ra renhida.  —  Luta  renhida. 

—  Uòtar  renhido  com  alguém;  estar  em 
gueria  ;  em  briga  accesa. 

RENHIR,  i*.  n.  (Do  latim  ringi^  ranger ; 
propriamente  ranger  os  dentes :  lucta  re- 
nhida; lueta  em  que  se  rangem  os  dentes). 
Contender,  poi-fiar  em  disputa,  briga,  al- 
tercação. 

RENHUÇAR,  v.  n.  Forma  antiga  de  Re- 
nunciar. =Culligida  por  Viterbo,  Eluc. 

RENIFORME,  adj.  2  gen.  (Do  latim  ren, 


rim,  e  forma).  Termo  de  historia  natural. 
Que  tem  a  forma  d'um  rim. — Anthera 
reniforme.  —  Grão  reniforme.  —  CvtyJe- 
don  reniforme. 

RENITÊNCIA,  s.  f.  iDe  renitente  .  Ter- 
mo didáctico.  Caracter  do  que  é  reniten- 
te. - —  .4  renitência  d'um  tumor. 

—  Xa  linguagem  geral:  Resistência; 
esforço  em  contrario. 

1.)  RENITENTE,  adj.  2  gen.  (Do  latim 
renitens,  de  reniti,  resistir,  de  re,  e  niti, 
esforçar-se).  Termo  didáctico.  Que,  quan- 
do se  comprime,  dá  idêa  de  resistência, 
de  opposiçâo  como  de  mola.  —  Um  ventre 
renitente.  —  Um  tumor  renitente. 

—  Ka  linguagem  geral :  Que  resiste, 
que  se  esforça  cm  sentido  contrario. 

—  Substantivamente  :  Ha  muitos  reni- 
tentes <jue  tornam  vãs  as  tentativas  do 
melhoramento   intellectual. 

2.)  RENITENTE,  adj.  2  gen.  (Do  latim 
renitens).  Brilhante.  =  Pouco  usado  e  só 
em  verso. 

RENITIR,  V.  n.  (Do  latim  reniti,  resis- 
tir, esforçar-se).  Resistir,  oppôr-se  á  for- 
ça, ao  constragimento,  á  coacção  d'ou- 
trem. 

RENNA,  s.  /.  Vid.  Renno. 

RENNO,  s.  m.  iDo  allemão  renn  ;  em  la- 
pão raingoi.  Quadrúpede  do  norte,  do 
mesmo  género  que  o  veado  (servKS  taran- 
dus,  Cu  vier. 

RENOCERONTE,  í.  7>í.  Vid.  Rhinoce- 
ronte. 

RENOME,  s.  m.  ^De  re,  e  nomei.  Opi- 
nião que  o  publico  tem  duma  pessoa, 
d'uma  cousa,  celebridade,  fama,  reputa- 
ção; toma-se  ordinariamente  á  boa  parte. 

Sim,  ó  Padres,  assas  glória  e  renome 
Coube  a  nossos  avós  •,  maior  nos  cabe, 
(Não  duvideis)  maior  nos  cabe  ainda. 

GABBETT,   CATÃO,  act.    2,   SC.    1. 

RENOVA,  s.  f.  (De  re,  e  nova).  Os  ra- 
mos e  tronco  novos  d'uma  planta  que 
tem  só  a  raiz  vivaz. 

—  Planta  nascida  da  raiz  ainda  vivaz 
d'outra  cujo  tronco  e  ramos  aéreos  mor- 
reram. 

RENOVAÇÃO,  «.  /.  (Do  latim  renoia- 
tio,  de  renovare,  de  re,  e  novare,  fazer 
novo).  Acção  de  renovar. — ^renovação 
d'um  costume,  d'uma  moda. 

■ — Figuradamente:  Xa  linguagem  mvs- 
tica.  —  A  renovação  do  homem  pela  graça. 

—  Transformação  em  melhor  pela  no- 
vidade, pela  inno%-açào. 

—  Grande  renovação  (instaiiratio  ma- 
gna); traducçào  do  titulo  da  grande  obra 
philosophica  do  chauceller  dTnglaterra, 
Francisco  Bacon. 

—  Aptigo  termo  de  chimica.  Operação 
pela  qual  se  fazia  passar  um  corpo  do 
chamado  estado  imperfeito  ao  estado  per- 
feito, como  um  oxydo  ao  estado  de  me- 
tal, etc. 

—  Termo   de  ordens  religiosas.   Cere- 


2ori 


RENO 


RENO 


RENO 


nionia  cnnvfíntual  <m  í|ii(!  ea  !a  um  rc- 
n«jva  cm  alta  vo/.  os  cunipniiiiiHsos  ila  Hiia 
profi«sít<i. 

f  RENOVADO,  iKirt.  jiiiHs.  do  Renovar. 
Torna'l()  iidvo.  —  I'iii  fato  renovado.  — 
í/m  e,xi-rclti>  renovado.  —  Uma  moda  re- 
novada ilepois  de  tantas  annos. 

—  linitaílo  do  moldo  antif^o. —  Eis  um 
syatema  j/hiloSDphicOf  mal  renovado  da  es- 
colástica medieval. 

—  Termo  de  duvoção.  Rcfícnerado  cs- 
pirituidmentc.  —  Renovado  pela  graça,  en- 
trou nas  ordens  sacras. 

—  Feito  do  novo,  recomeçado,  repe- 
tido.—  «E  sompro  o  caso  passara  sem 
castigo,  SC  o  Espanhol  seiíilo  embrenhar.a 
em  lugar,  que  sua  aspereza  llin  fez  dey- 
xar  o  cavalo  polo  qual  fov  fácil  eonliccer- 
Ihe  o  dono,  que  preso  e  atormentado  por- 
que descobrisse  os  da  liga,  lhe  não  piidc- 
rilo  tirar  liuma  si»  palavra,  antes  ao  dia 
Beguinto,  temondo  que  renovados  os  tor- 
mentos, lhe  podesso  faltar  a  constância, 
soltando-se  das  niàos  daquelles  que  o  tra- 
ziSo,  deu  cora  a  cabcí^a  em  huma  pedra, 
onde  a  elle  se  lhe  acabou  a  vida,  aos  cul- 
pados o  temor,  e  aos  Romanos  a  espe- 
rança de  saberem  o  que  tanto  desejav.ão. » 
Monarchia  Lusitana,  liv.  5,  cap.  2.  —  «Re- 
nouada  a  guerra,  Koçalcam  voo  algumas 
vozes  cometer  hft  cidade,  de  quem  se  os 
nossos  defendiam  de  maneira  que  nunca 
ousou  de  chegar  aos  muros,  porque  os 
nossos  lhes  sahiam,  poendosse  em  ciladas, 
por  tão  bom  modo  que  hos  dcsbaratauaõ, 
e  faziaõ  sempre  fogir.»  Damião  de  Uoes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  21. 

RENOVADOR,  A,  s.  (Do  thcma  renova, 
do  verbo  renovar,  com  o  sufixo  «dôr»). 
O  que  renova. 

—  l-*artieularmonte  :  O  que  renova  um 
quadro,  pintando-o  de  nouo ;  o  que  reno- 
va um  texto,  mudando-lhe  as  palavras  e 
phrases  antiquadas  u'outras  do  seu  tem 
po,  ete. 

RENOVAMENTO,  s.  m.  (Do  thema  re- 
nova, de  renovar,  com  o  suffixo  omento»V 
Restabelecimento  d'uma  cousa  n'um  esta- 
do novo  ou  melhor.  —  O  renovamento  da 
vegetação  na  primavera.  —  O  renovamen- 
to das  estaçíics. 

—  Época  de  renovamento ;  época  em 
que  as  sociedades  experimentam  uma 
grande  mudança  nas  suas  opiniões,  nos 
seus  costumes,  nas  suas  instituições. 

—  AcçSo  de  fazer  um  novo  tratado, 
um  novo  acto. —  O  renovamento  do  ar- 
rendamento. 

—  Termo  de  devoção.  Regeneração  es- 
piritual. —  Deus  é  o  principio  do  reno- 
vamento da  nlma. 

—  Augmonto,  crescimento.  —  Um  re- 
novamento de  calamidades. 

—  Reiteração. 

RENOVAR,  V.  a.  (Do  latim  renovare, 
de  )•<!,  o  novare,  de  novus).  Tornar  no- 
vo, concertar  ;  tornar  como  novo ;  fazer 
novo,  substituindo  uma  cousa  a  outra  da 


sua  espécie.  —  Renovar  uma  assembléa. — 
Renovar  um  tj-trciío.  —  Renovar  uma  ca- 
sa.— 'Reno\ar  um  vestuário.  —  Renovar 
o  guardu-roupa. 

Viinort  ncu  rdificir, 
iio  Hnviio  (izcr  alçar 
paços,  iprcja»,  inostoiros, 
praiiílo»  poiíoa,  caiiallciro», 
vi  lio  rcyiio  reiionar. 

OAKCIA  I>E  BEZEXDR,  MIgCEI.LANeA . 

lío  »ua  cllipsn  cicontrica  ehcfjado. 
Quanto  parece,  ao  circulo,  que  n  Terra 
No  (íyro  seu  descreve  ao  Sol  cm  torno  : 
Asâim  lonfjos  períodos  renóra 
No  espaço  onde  se  perde  a  mente,  c  a  vista. 

J.    A.    DE    MACEDO,    IIEDITAçÃO,    Cant.    2. 

VÓB  renovai»  o  ár  com  puro  assopro : 
Ilides  depor  nos  campos  ubcrtosos 
Os  férteis  sacs,  os  suecos  creadorcs  : 
Vós  8i'i  fazeis  cortar  liijuidas  agoas, 
Se  as  vMas  enfunais  da  nAo  ligeira. 

IBIDEK. 

Assim  longos  periodos  rtnova 

Do  Etlicr  pelo  Campo  interminável. 

IDEM,    A   KATCBEZA,   Cant.    1. 

—  Renovar  um  texto;  accoramodal-o  á 
linguagem  do  seu  tempo. 

—  Diz-sc  também  das  pessoas  que  se 
substituem  por  outras  nas  suas  fixncções. 
—  Renovar  os  administradores  de  conce- 
lho. 

—  Corrigir,  mudar  para  melhor. 

—  Dar  uma  nova  força.  —  Renovar  a 
coragem.  — Renovar  o  animo  abatido. 

Põe-30  ao  trabalho  a  fraca,  iuhabil  gente 
Para  alentar  os  fortes  ja  cansados, 
De  que  cada  hum  tal  vergonha  sente 
Que  n'huTis  membros  ja  assaz  debilitados 
Ileiwra  tjil  fervor,  c  esprito  ardente. 
Que  da  desconfiança  estimulados 
Kmprelicndem  cousas  taes,  que  a  natureza 
Impossíveis  as  faz  a  tal  fraqueza. 

F.  d"andradf.,  primeiro  cerco  de  DIU,  cant.  15, 
est.  90. 


—  A  volta  da  prímaiera  renova  a  na- 
tureza. 

—  5Iudar  as  instituições,  as  idèas,  os 
governos,  os  costumes,  fallando  d'uma 
revolução.  —  A  i-evolução  franceza  reno- 
vou a  face  da  Europa. 

—  Renovar  o  mal,  a  dôr  d'alguem;  fa- 
zer sentir  de  no^-o  o  seu  mal,  a  sua  dôr. 

—  Renovar  uma  chaga  (no  sentido  pró- 
prio e  no  tigurado) ;  abril-a  de  novo. 

—  Renovar  a  attençíío ;  ter  uma  nova 
attençào,  uma  maior  attenção. 

—  Renovara  memoria;  excital-a,  re- 
frcscal-a,  rcvivel-a. 

—  Renovar  a  lembrança  d'xtma  cousa ; 
lembral-a,  fazel-a  lembrar. 

—  Renovar  um  edito,  uma  hi;  pol-a  de 
novo  em  vigor. 

—  Pôr  de  novo  em  uso,  em  vigor.  — 
—  «E  porque  a  perfídia  dos   An-ianos, 


não  perturba-sse  a  pureza  da  Fè  Catholi- 
ca,  reoovarão  a  conii.>8ari  do  Concilio  Ni- 
ceiío,  para  que  tenilose  nau  Igrejas  de 
Espanliu,  KOubeHKum  os  fieis  o  que  Ibe 
convinha  crir  c  guardar.  Kaò  anda  este 
Concilio  imprenso  era  parte  que  eu  até- 
gora  visHc.»  Monarchia  Lusitana,  liv.  O, 
cap.  2.  —  «MiL-í  ElRey  D.  Fclippe  o  Pru- 
dente mandou  extinguir  ei>ta«  Coudela- 
rías  nas  Cortes  de  Tomar,  as  quaos  Soa 
Jlage.stade,  que  Deo.ij  guarde,  tornou  a 
renovar,  com  que  ha  jii  muitos,  e  bons 
cavai  los  no  Revno,  por  serem  os  desta 
Província  taò  afamados  em  Europa  que 
por  isso  o.s  nomeavaõ  por  filhos  do  Ven- 
to.» Manoel  Severim  de  Faria,  Noticias 
de  Portugal,  Di.sc.  2,  §  10.  —  •E>u  or- 
dem se  guardou  em  tempo  d'ElRey  D. 
Sebastião,  até  todo  o  d'ElRey  D.  Filip- 
pe,  c  depois  se  renovou  algumas  vezes, 
e  de  presente  se  observa  com  cuidado. 
Porém  nos  lugares  maritimos,  e  no  R*y- 
no  do  Algarve  está  isto  em  mais  obser- 
vância.» Ibidem.  — tTerceiro:  excita  em 
ti  hum  etileaz  dezejo  de  andar,  quam 
continuamente  poderes,  na  presença  de 
Deos,  e  faze  por  renovar,  e  confirmar 
este  habito,  porque  he  hum  atalho  breve, 
direito,  e  seguro,  para  chegares  á  per- 
feição.» Padre  Manoel  Bernardes,  Exer- 
cícios espirituaes,  part.  2,  pag.  93. 

• — Renovar  um  contracto,  um  tratado, 
um  arrendamento  ;  pôr  de  novo  em  vigor 
o  antigo,  ou  como  estava,  ou  modificado, 
por  um  novo  lapso  de  tempo. —  «.Sobe- 
las  quaes  o  Vicerei  renouou  o  contrato, 
contentandosse  de  dous  mil  cruzados  ca- 
danno,  porque  soube  que  nam  tinha  Ni- 
zamaluco  poder  para  pagar  os  cinco  mil 
que  lhe  dom  Lourenço  pedira.»  Damião 
de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part. 
2,  cap.  38. 

— ■  Termo  de  theologia.  Regenerar  es- 
piritualmente. 

—  Fazer  de  novo,  recomeçar,  conti- 
nuar.—  «£  tomando  a  remetter  aedo 
Salvagem,  começaram  outra  vez  renovar 
sua  batalha,  que  ao  parecer  de  quem  a 
olhava  era  temerosa  e  grande.»  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  106. 

—  Renovar  conhecimento;  entrar  de  no- 
vo em  relações  com  uma  pessoa  que  se 
tinha  perdido  de  vista. 

—  Fazer  nascer  uma  planta  das  rai- 
zes  velhas ;  fazer  nascer  ramos  n'um 
tronco  velho. 

—  T'.  M.  Augmcntar.  —  A  febre  reno- 
va todos  os  dias. 

—  Tomar  a  succeder  de  novo.  —  Re- 
novam as  cstaçtkí.  —  Renovam  as  feiras. 

—  Renovar-se,  v.  reji.  Tornar-se  novo. 
—  .fl  vegetação  renova-se. 

—  Tomar  sentimentos  novos.  —  O  co- 
ração renova-se  a  esta  idèa. 

—  Termo  de  theologia.  Regenerar-se 
espiritualmente.  —  Os  homens  que  não 
se  renovam  não  se  saham. 


KENU 


RE^'U 


KENU 


207 


—  Renovar-se  na  lembrança,  na  memo- 
ria; ser  recordado. 

—  Apparecer,  mostrar-se  de  novo,  re- 
petir-se,  renascer. 

E  tanta  foi  a  força,  tanta  a  pressa 

Com  que  o  bom  Sousa  e  oâ  seus  os  accommettem, 

E  o  damno  dos  peloiiioâ,  que  arremessa 

O  canhão,  que  dào  mortes  e  as  promettem, 

Que  o  se.ffundo  faror  no  Turco  cessa, 

Rerwva-se  o  temor,  e  lá  se  mettem 

Nas  barcas  outra  vez,  que  o  mal  presente 

Fez  a  vergonha  ao  modo  obediente. 

FBASCISCO  DE  ASDBADE,  PBIMEIBO  CEECO  DE  DIC, 

cant.  19,  est.  30. 

RENOVO,  s.  m.  (De  renovar).  O  ramo 
que  brota  da  planta  podada  ou   cortada. 

—  Figuradamente :  Novo  ramo  n'uma 
familia.  —  O  renovo  òrigantiuo ;  o  ramo 
brigantino  da  casa  real  de  Portugal. 

—  Renovo,  ou,  no  plural,  renovos;  as 
novidades  da  terra,  os  fructo?  comestíveis 
e  gados,  e  em  geral  os  productos  agrí- 
colas. 

—  Os  fructos  a  dinheiro  ou  renda  pe- 
cuniária. 

—  Figuradamente :  O  producto,  resul- 
tado, efíeito. 

—  Planta  nova  para  se  dispor  e  reno- 
var os  plantios  onde  ha  falhas  e  morto- 
rios. 

—  Figuradamente :  Faltanirnos  reno- 
vos de  grandes  homens. 

RENQUE,  s.  /.  (Do  germânico:  antigo 
alto  allemào  hring,  allemão  moderno  ring, 
circulo,  annel,  fileira,  etc. ;  portuguez 
arenga,  íra,vicQZ  harangite,  rang.  etc).  Ala, 
serie,  fila.  fileira,  enfiada,  _  alinhamento. 
—  Uma  renque  de  casas.  —  Renque  de 
arvores  n'uma  alameda, — Renques  de 
homens  armados. 

—  Observ.  gkamm.  :  Ha  quem  empre- 
gue esta  palavra  como  masculino :  um 
renque ;  mas  é  um  uso  vicioso  e  contra- 
rio ao  emprego  clássico  em  que  é  sem- 
pre feminiriO. 

RENTE,  adv.  Cerceo,  pela  raiz,  pelo 
pé.  - —  Cortar  o  cabello  rente.  —  Cortar 
uma  arvore  rente. 

—  Rente  com;  próximo,  junto  a. — 
Andar  uma  ave  rente  com  o  chão.  —  A 
casa  está  rente  com  a  estrada.  —  «Foi 
cortar  o  corno  junto  a  pelle,  na  distan- 
cia da  grossura  de  hum  dedo,  onde  o 
sentimento,  e  a  dor  do  padecente  era  tào 
forte,  que  não  foi  possível  talhar-se  mais 
rente  como  se  inteutou.»  Cavalleiro  de 
Oliveira.  Cartas,  liv.  1,  n."  12. 

RENUIR,  f.  71.  (Do  latim  renuere).  Re- 
cusar, nà',  querer,  rejeitar,  nào  acceitar. 

RENUNÇAR,  v.  n.  Antiga  f  jrma  de  Re- 
nunciar. =  CoUigido  por  Viterbo,    Eluc. 

RENUNCIA,  s.f.  iDe  renunciar).  Acçào 
de  renunciar  a  alguma  cousa.  —  Renun- 
cia do  beneficio. 

—  Particularmente:  Renuncia  de  si 
mesmo;  acto  da  alma  que  se  desinteressa 
dos  seus  próprios  interesses. 


—  Na  historia  d'Inglaterra :  Acto  de 
renuncia  a  si  mesmo;  bill  pelo  qual  a 
camará  dos  communs  determinou  que  to- 
do o  membro  do  parlamento  seria  excluí- 
do das  fuLicções  civis  e  militares  (1G44"). 

—  Na  moral  christã,  acçào  de  renun- 
ciar ás  cousas  do  mundo. 

RENUNCIAÇÃO,  *.  /.  (Do  latim  renun- 
ciatio,  de  renuntiare,  renunciar).  Acçào 
de  renunciar  a  alguma  cousa.  —  n  Acon- 
teceo  Cita  vitoria  quasi  nos  últimos  dias 
delRey  Dõ  Ramiro,  porque  a  renunciaçaõ 
do  Abade  Joaõ  se  fez  entrando  dous  dias 
no  anno  de  Christo,  de  oitocentos  e  cin- 
coenta,  em  que  morreo  no  primeyro  dia 
do  mez  de  Fevereiro  seguinte.»  Monar- 
chia  Lusitana,  liv.  7,  cap.  14. 

—  Particularmente  :  Acçào  de  aban- 
donar um  direito,  uma  posse. 

—  Acto  pelo  qual  se  renuncia  a  uma 
cousa. 

—  No  sentido  espiritual,  abandono  de 
si  mesmo. 

f  RENUNCIAÇOM,  s.  f.  Antiga  forma 
de  Renunciação,   asada  até  ao  século  xv. 

—  «Porem  mandamos,  que  assy  se  guar- 
de, e  seja  avudo  por  Ley  daqui  em  dian- 
te;  e  o  Tabelliam,  que  algum  Estormen- 
to  de  renunciaçom  fezer  doutra  guisa 
contrairá  desta,  perca  o  officio  do  Tabel- 
liado ;  e  porem  mandamos,  que  o  dito 
uso,  e  Hordenaçom  se  guarde,  segundo 
suso  he  escripto,  e  per  nos  declarado, 
como  dito  he.»  Orden.  Affons.,  liv.  4, 
tit.  8,  §  1. 

RENUNCIADOR,  A,  adj.  (Do  thema 
renuncia,  de  renunciar,  com  o  suíBxo 
«dôr»i.  Que  renuncia. 

—  Substantivamente 
cia. 

RENUNCIANTE,  part. 
ciar.  Que  renuncia. 

—  Substantivamente:  O,  a  que  renun- 
cia. 

RENUNCIAR,  v.  a.  (Do  latim  renun- 
tiare; de  rf,  e  nuntiare,  annunciari.  Re- 
signar,  abdicar,   não  querer,  desistir  de. 

—  Renunciar  um  cargo,  um  officio.  —  Re- 
nunciar a  coroa.  —  Renunciar  o  cominan- 
do. —  Renunciar  o  império.  —  «E  se  al- 
euem  promette,sse  em  algum  coutrauto 
pagar,  ou  reponder  em  lugar,  que  nom 
fosse  de  seu  foro,  ou  renunciasse  qual- 
quer privilegio  de  foro,  que  lhe  fosse  ou- 
torgado, geeral,  ou  especial,  ou  d'espa- 
ço,  ou  de  qualquer  outro  privilegio  gee- 
ral, ou  especial,  mandamos  que  em  taaes 
casos  nom  aja  lugar  o  dito  artigo,  mais 
aja  lugar  o  Direito  Comum,  e  as  Horde- 
naçooens  do  Regno  sobre  ello  feitas.» 
Orden.  Affons.,  liv.  4,  tit.  7,  §  2. — 
«Item.  Se  alguma  molher  fiasse  outrem, 
obrigando-se  por  elle  como  fiador,  e  re- 
nunciasse expres.samente  o  beneficio  de 
Yalleano,  declarando  seer  certificada,  e 
sabedor  como  podia  delle  gou^•ir,  e  seer 
relevada  da  dita  fiadoria,  e  obrigaçom,  e 
esso  nom  embargante,  prometteo  de  nun- 


O,  a  que  renun- 
act.    de   Renun- 


ca  se  chamar  ao  dito  benaficio  do  Yallea- 
no, nem  gouvir  delle  em  algum  tempo.» 
Ibidem,  tit.  18,  §  3.  —  «Porque  aquel- 
les,  que  emprestidos  tiram,  ou  fazem  ou- 
tros eontrautos,  por  mui  meesteirosos  que 
sam,  segundo  a  voontade  dos  creedores, 
porque  hajam  razom  de  lhes  acorrer  com 
aquello,  que  lhes  comprir,  fazem  muitas  ve- 
zes confissões  do  que  nom  he,  e  renunciam 
03  direitos,  que  os  ajudam  contra  aquel- 
las  confissoões,  que  fazem.»  Ibidem,  tit. 
55,  §  1.  —  «E  se  acontecer  que  o  deve- 
dor este  mandado  renunciar  dos  sessenta 
dias.  dizendo  ao  tempo  do  contrauto  que 
renuncia  o  direito,  que  diz  que  ante  dos 
sessenta  dias  possam  vir  contra  sua  con- 
fissom.  Mandamos  que  tal  renunciaçom 
seja  nenhuma. »  Ibidem.  —  «Se  algum  Ta- 
balliaõ  renunciar  o  Taballiado,  ou  Escri- 
pvaõ  Escripvaniuha,  com  condiçom  que 
Nós  o  demos  a  outra  certa  pessoa,  ou  el- 
le meesmo  Taballiaõ,  ou  Éscripvaò  po- 
nha seu  OíBcio  em  certa  pessoa,  nom 
dará  o  Chanceller  Carta  em  tal  caso  a 
aquelle,  em  que  o  Officio  seja  posto  pri- 
meiramente, ou  requero,  que  lho  dem ;  e 
quando  tal  Officio  for  sempresmente  re- 
nunciado, e  a- Nós  aprouver,  N(Js  o  dare- 
mos a  quem  Nossa  mercee  for,  e  assy 
dará  o  Chanceller  dello  Carta.»  Ibidem, 
liv.  1,  tit.  2,  §  11. 

—  Deixar,  abandonar  a  posse,  o  dese- 
jo d'alguma  cousa.  —  «Começou  Cons- 
tado a  governar  a  parte  que  lhe  coube 
do  Império,  e  com  cila  nossa  Lusitânia, 
e  parecendolhe  grande  peso  o  de  tantas 
Províncias,  renunciou  a  seu  companhei- 
ro, Africa,  e  Itália,  ficando  só  com  Es- 
panha, França,  InglateiTa,  e  Allemanha, 
que  regeo  com  universal  satisfação  de  to- 
dos, sem  aver  inquietação  de  guerras,  no 
tempo  que  lhe  durou  a  vida  favoreceo  os 
Christãos,  posto  que  elle  o  nào  fosse,  e 
permitia  levantaremse  Igrejas,  e  celebra- 
rem nellas  os  officios  Divinos  publica- 
mente, com  que  tornou  a  respirar  a  ley 
Evangélica  das  cruéis  perseguiçoens  pas- 
sadas.» Monarchia  Lusitana,  liv.  5,  cap. 
24.  —  «Foraõ  a  petição,  e  lagrimas  de 
tanto  effeito  no  animo  de  S.  Rosendo,  que 
lhe  nào  pode  negar  seu  consentimento,  e 
aceitando  o  cargo  Abbacial,  se  vio  o 
Mosteyro  logo  cheode  Cavalleiros,  e  se- 
nhores grades,  que  renunciando  as  pom- 
pas do  Mundo  se  vinhào  dedicar  ao  ser- 
viço de  Christo,  e  muitos  Conventos  do 
Monges,  e  Religriosas  de  Portugal,  e  Gal- 
liza,  lhe  mandarão  dar  obediência.»  Ibi- 
dem, liv.  7,  cap.  24. 

—  Abjurar,  renegar.  —  Renunciar  as 
crenças  i^cj''^- 

—  r.  n .  Renunciar  a ;  desistir  de, 
resignar,  abdicar. 


Perjuros  !  renuncio  ao  vosso  aôccto. 
Desobedientes,  vosso  amor  fingido 
Lanço  de  mim  ;  e  impreco  os  sanctos  deuses 
Que  sobre  vós... 


208 


RÉO 


REPA 


REPA 


Catào,  não  nos  inuldifcan : 
Obodoocinos  jâ. 

oAiiuiírr,  (j.vtIo,  iict.  6,  Hc.  õ. 

—  Turriio  do  dovoí^ilo.  Renunciar  «o 
vuutlo;  co:i>ii^rar-.so  lí  vila  ni  ií,'i()<a. 

—  Turnit)  de  j<>X'^  do  carta-*.  (Jubrir 
uiua  carta  com  outra  (|iio  mio  Hoja  do 
inesino  uaipc  n(!in  trunfo. 

Senhora,  ditamos 

(lillcrciitod  na  triumfuda, 

viis  o  ou  rciiiíiu:iiiiiio/> : 

triuinfu  uu  d'ouro.<,  vóM  dn  copa»; 

íindiino.H  muito  achaco.-io», 

dipo,  «cm  po  ito.í  poiito.-*o-j, 

(|uc  dão  uápo.saa  c.icUopas 

nod  cacliopoa  com  capodoa. 

ANTÓNIO  I-BESTKS,   AUTOS,   pilg.    24."). 

—  Figurailanieuto  :  Renunciar  o  nutlal; 
misturar  cousaa  do  diver.sas  naturezas : 
1ocu<;.m[o  ^quo  .se  explica  pelo  sentido  de 
wiipii  quií  tinli.i  .1  pidavra  metal. 

•f  RENUNCIATARIO,  A,  í.  (De  renun- 
ciar). Aquidlr,  a([uella  a  favor  de  quem 
so  rt-nuiicía. 

RENUNCIÁVEL,  nlj.  2  gen.  (Do  thenia 
renuncia,  de  renunciar,  com  o  suffixo 
ítavel»).  (^110  é  su.iccptivel  de  ser  renun- 
ciado, que  pVle  renunciar-so.  —  Benefi- 
cio renunciável. 

RENUNCaLO,  s.  m.  Vid.  Rainunculo. 

RENUTRIR,  f.  a.  (Do  re,  o  nutrir). 
Dar  ii'iva  nutrirrio;  nutrir  do  novo. 

RENZILHA,  .V.  /.   Brifí-a,  rixa,  lucta. 

—  Ai>.\(;.:  Renzilha  de  S.  Joà'),  paz 
para  todo  o  aimo. 

RÉO,  ou  REU,  s.  ta.  (Do  latim  reiu). 
O  que  é  chamado  a  juizo,  por  acção 
eivei  ou  crime;  criminoso,  culpado. — 
« Quando  naõ  ha  testemunhas  so  o  reo 
quer  que  íiquc  em  seu  juramento,  ho 
por  este  modo :  pisaõ  a  casca  de  hum 
certo  pao  a  qual  moida  lanyaõ  o  pó  delia 
na  agoa  que  bebo  o  se  n.ão  arreuesa  he 
saluo  o  reo  o  arrjuesaudo  he  condomna- 
do.»  Barros,  Década  1,  liv.  10,  cap.  1. 
: —  «  Do  sorta  que  03  maiores  S.TÍtos  por 
hum  só  peccado  mortal,  ticaõ  seRuudo  a 
presente  justiça  tão  reos  da  condem  na- 
ção eterna  como  os  m 'smos  demoniis.» 
Pa  Iro  Manoel  Bernardes,  Exercícios  es- 
pirituaes,  part.  1,  pap.  llll.  —  « Jí  como 
ho  ucsíoeio  era  do  muita  importância  e 
muit)  encomendado,  tudo  ho  que  diziam 
os  reos  c  os  acusadores  escreviam  estes 
officiacs  por  suas  próprias  màos.»  Antó- 
nio Tenreiro,  Itinerário,  pají.  2õ. 


so  vos  cliepavcm  a  citado 
dar-voâ-hei  um  letrado 
Huo  os  fai;a  d'antorc3  r«'o8; 
hoinetu  de  marca  chapado, 
o  mais,  muito  mou  amigo. 

ANTÓNIO  PBKsrKs,  AUTOS,  pa<».  '251. 

—  Réo  (/e  morte ;  eondemuado  á  morte, 
por  haver  commettido  crime. 


—  Réo  de  estado;  que  tem  crimo  com- 
mettido contra  o  estado. 

—  Injustamente  erinúnado. 

—  Figuradamente:  O  que  cominetteu 
uma  acr.Ti)  n.Tli)  meritória,  nilo  apropria- 
da au  si'u  car;ieti;r  (»u  scMitinientos. 

REOBARBO.  Vil.  Rheubarbo. 

REORDENAÇÃO,  ».  /.  (Do  re...,'  o  or- 
den;içaO'.  Acln  peio  qual  se  reordena  o 
p.adre. 

REORDENAR,  v.  o.  De  re...,  e  orde- 
nar). Tornar  a  pôr  em  ordem. 

—  Drdenar  de  novo  o  sacerdote. 

—  ("oiiceder  de  novo  o  exercício  das 
ordins  ao  saecnlote. 

REORDINAR.  Vid.  Reordenar. 

REORGANISAÇÃO,  s.  /.  (De  re...,  e 
organisaçãoi.  .Verào  de  reorjtíanisar. 

REORGANISADOR,  'ilj.  (Do  thema  re- 
organisa,  de  reorgauisar,  com  o  sufllxo 
«dÒr»  .  <i'ii('  rrijr;.;;iiii';i. 

REORGAKISAR,  ou  REORGANIZAR,  i. 
a.   (  >i-i;ani  -ar  ilc  iicivo. 

REOXYDAÇÃO,  REOXYDAR.  Virl.  Oxy- 
dar. 

REPAB,  s.  »í.  Instrumento  musico  ára- 
be, com  duas  cordas. 

REPAGAR,  V.  a.  (De  re...,  e  pagar;. 
Turiiar  a  pa<íar. 

—  Pa.uar  com  excesso,  larj^^amente. 

REPAGO,  [mH.  pa-síf.  de  Repagar. 

REPAIRAR.  Viii.  Reparar.  —  «  E  cor- 
rem lo  com  este  tempo  a  pounaçào  de 
Mclindc  fez  Pedraluare/.  seu  canduho  a 
JMo(;àbiquc,  onde  repairou  as  uaos  d'al- 
gum  díino  que  lenauâo.»  Barros,  Década 
1,  liv.  5,  cap.  9. —  «Morto  este  des- 
avcnturado  Key  de  Aarú  da  maneyra 
que  tenho  dito,  e  toda  a  sua  gente  desba- 
rata-la, logo  a  cidade  e  o  reyno  todo  foy 
tomado  muito  facilmente,  c  o  ileredim 
Mafamede  general  da  frota,  repairou,  e 
furtiticou  a  tranqueira  ile  todo  o  neces- 
sário á  scguiauça  do  mais  que  tinha  ga- 
nliailo.»  Feruào  Mendes  Pinto,  Peregri- 
nações, cap.  l'.s. 

REPAIRO.  Vid.  Reparo.—  «Depois  de 
feitas  as  estancias  plantou  nellas  cinco 
peças  de  bater  com  seus  repairos,  e 
mantas  muito  fortes,  E  teudo  tudo  ne- 
gociado começou  a  dar  sua  bataria  ix  for- 
taleza com  tanta  fúria,  e  força,  que  lhe 
iizeraõ  algumas  ruii.as,  c  lhe  derribarão 
todos  os  altos.»  Diogo  de  Couto,  Década 
G,  liv,  y,  cap.  14.  —  «  E  como  a  fortuna 
nunca  começa  por  pouco,  nilo  faltou  gé- 
nero de  tormento  que  estes  periliilos  nào 
passassem  :  porque  quando  achavaõ  fruv- 
tas  nos  matos,  ou  craiiguejos,  e  peixe  naá 
pravas  que  o  mar  lançava  ftra,  que  elles 
comiaò  por  banquete,  faitavalhes  a  agua, 
que  he  mal  sem  repairo,  e  acoiiteceo  ven- 
clerse  hum  qvnirtillio  delia  por  ilez  cru- 
zados.» Ibidem,  cap.  22. 

REPANÇO.  \  i.l.  Ripanço. 

REPANDIDO,  a,IJ.  Termo  do  botânica. 
Tortuoso.  —  innbruciilii  repaudido. 

—  Fol/iuí!  repandidas ;  as  que  tem  no 


fio  da  margem  elevaçrwjs  um  tanto  con- 
vexas, alt"';rna'las  com  sinuosidades  mui- 
to (ibtu-a-. 

REPANHAR,  i-.  a.  Tirar,  arrebatar  com 
firei  I-   \io|i':icia. 

REPARAÇÃO,  «.  /.  (Do  thema  repara, 
d(!  reparar,  com  o  suffixo  «ação»).  Acto 
de  reparar,  ile  melhorar,  de  renovar. 

—  Satisfaç.^o  completa  de  uifcnsa,  etc, 
— ^O  concerto  que  se  faz  reparando. 

—  A  nossa  reparação  ;  redempçâo. 

—  lleuniflo  de  estudantes  nas  cscijlas, 
para  repetirem  a  liç3o  e  argumentarem 
ás  ve/.c-i  iiii-;  com  08  outros, 

REPARADO,  i>(nt.  pass.  de  Reparar. 

REPARADOR,  s.  m.  (Do  latim  repam- 
t>ir\.  i)  q  le  repara,  reforma,  concerta  al- 
guma cousa. 

—  O  que  censura,  que  critica,  que 
repara,  ou  nota  defeitos  cora  frequên- 
cia. 

—  Reparador  do  geiu-ro  humano;  o  ro 
dcmptor.  .Fesns  Christo. 

REPARAR,  V.  a.  Restituir  ao  primei- 
ro estado,  fallando  em  edifícios  c  ou- 
tras cousas  arruinadas;  concertar,  refor- 
mar, restaurar,  —  «  Suceíleoihe  Honório 
primeiro,  Hlho  de  Petronio  VaraS  Con- 
sular, natural  de  Campania,  que  em  do- 
ze annos,  onze  mezes,  e  dozasete  dia^. 
que  teve  o  Pontiticado  fez  obras  dignas 
de  perpetua  lembrança,  reparando,  edi- 
ficando de  novo,  e  enriquecendo  com  da- 
divas e  ornamentos  quasi  todos  os  Tem- 
plos de  Roma.»  Monarchia  Lusitana,  liv. 
G,  cap.  2i. 


Nestes  dias  porém  não  »c  assegura. 

Nem  SC  descuida  ou  dorme  o  bom  Silveira, 

Xo  muro  rrparna  toda  a  rotura 

Com  que  de  novo  fica  sàa.  c  inteira, 

E  tudo  o  mais  faier  então  procura 

(Que  esta  mostra  não  ha  por  verdadeira) 

Quanto  a  se  defender  lhe  era  imrartante, 

Couio  so  o  Turco  \ira  inda  diauti!. 

F.  DF.  andbadf:,  rsinEiBO   cBBco   DK  DiT,  cant. 
20,  est.  51. 


—  Emendar,  corrigir. 

—  Restabelecer,  instaurar,  emendar  al- 
gum erro  ou  damno. 

—  Satisfazer  ao  otfcndido. 

—  Aparar  um  golpe,  defender-se  d'cUe. 

—  Reme  liar,  prevenir  algum    damno. 

—  Fortalecer  as  forças  próprias,  dar 
vigor. 

—  Dar  a  ultimo  dcraiio  á  obra.  aper- 
feiçoiíl-a. 

—  Ant.  í?occorrer,  supprir  de  muni- 
ções, etc,  para  qualquer  falta,  necessi- 
dade. 

—  Resguanlar.  —  Reparar  o  corpo  dv 
frio. 

—  Reparar-se,  v.  reji.  Abrigar-se  em 
alguma  parte  t>u  ancoiadouro,  alliviar  o 
navio,  c  descansar  a  gente  dos  trabalhos 
sotlridos  com  os  teniporaes. 

—  Concertar-sc.  restaurar-sc. 


REPA 


REPA 


REPA 


209 


Mas  iiostc  tempo  vendo  ja  acabar-sc 
Toda  a  pedra  que  havia  cutão  ua  torra, 
Com  que  ao  Christào  forçado  hc  reparar-se 
P:u-a  se  dofcuder  naquella  guerra, 
Toda  a  casa  se  vê  logo  arrasar-se 
Que  a  fortaleza  dentro  em  si  encerra, 
Porque  co'a  pedra  que  ella  de  si  déaso 
O  reparo  importante  se  fizesse. 

F.  d'andrade,  pbimeiro  cebco  de  Diu,eant.  10, 
est.  81. 

—  Resguardar-se,  abrlgar-se,  cTefen- 
der-se.  —  Reparar-se  do  sol,  da  chuva. 

—  Resarcir-se,  restitiiir-se,  pagar-se, 
satisfazer-se.  —  « Reparando-se  da  perda 
do  naufi-agio. »  Severim  de  Faria,  Noti- 
cias de  Portugal,  foi.  101,  v.,  em  Bla- 
teau.  —  «Para  se  repararem  de  taõ  gran- 
des damnos,  deraõ  com  a  causa  delies 
no  mundo  Novo,  onde  fez  tal  estrago, 
que  só  na  Ilha  de  Cuba,  que  tem  qui- 
nhentas legoas  de  cumprido,  e  duzentas 
de  largo,  matou  mais  de  doze  milhões  de 
índios,  para  se  encher  de  ouro.»  Arte  de 
furtar,  cap.  69. 

—  V.  n.  Olhar  com  cuidado,  notar, 
advertir  alguma  coasa,  censurar ;  consi- 
derar, reflexionar.  —  «E  naõ  hà,  que 
reparar  em  parecer,  que  será  isto  cousa 
diffieultosa,  ou  muito  custosa,  se  naõ  or- 
dinária, e  fácil ;  pois  o  grande  trato  das 
sedas  de  Sicilia  teve  pi-incipio  em  ElRey 
Rogério  trazer  de  Corintho,  o  Athenas, 
quando  as  tentou,  alguns  Officiaes  de  se- 
da para  Sicilia. »  Jlanoel  Severim  de  Fa- 
ria, Noticias  de  Portugal,  Disc.  1,  §  4. 
—  «Reparou  Coge  Çofar  no  damno,  por 
ser  grande,  ordenando  que  na  obra  se 
trabalhasse  de  noite,  para  que  tirando  os 
nossos  com  pontaria  incerta,  e  vaga,  fos- 
se menor  o  effeito,  mandando  fazer  maior 
ruido,  onde  se  obrava  menos,  a  fim  de 
que  03  nossos  artilheiros,  guiados  pelo  ou- 
vido, apontassem  as  peças  ao  tino  do  ru- 
mor, e  dos  eccos.»  Jacintho  Freire  d'An- 
drade,  Vida  de  D.  João  de  Castro,  cap. 
2.  —  «Foi  este  simples  sacerdote  procu- 
rar o  poeta  e  agradecer-lhe  muito  não  o 
metter  na  satyra.  Perguntou-lhe  o  Mat- 
tos o  nome  e  onde  assistia.  E  depois 
accrescentou  :  «Reparou  v.  m.,  na  obra, 
n'um  multitudo  cavaUorum  que  lá  vem?» 
Bispo  do  Grão  Pará,  Memorias,  publica- 
das por  Camillo  Castello  Branco,  pag. 
139.  —  «Houve  ahi  genealógico  que  em 
certa  arvore  de  um  fidalgo,  que  tinha 
uma  filha  dama  do  paço,  notou  a  esta  de 
prostituida. — Como  assim?  —  lhe  per- 
guntava um  amigo ;  e  elle  respondeu : 
«Não  reparaes,  quando  acompanha  a  rai- 
nha, aquelles  movimentos  de  corpo  que 
ella  faz?»  Assim  o  ouviu  o  monsenhor 
Leitão.»  Ibidem,  pag.  153. 

—  Ter  duvida,  repugnância,  contradi- 
zer, não  querer  commetter. 

REPARA VEL,  adj.  2  gen.  Que  se  pôde 
reparar. 

—  Notável,  digno  de  attenção. 
REPARO,  s.  m.  (De  reparar).   Restau- 
ração, remédio. 

TOL.  V. — 27. 


—  Concerto  em  obra  deteriorada. 

—  Observação,  advertência. 

—  Duvida,  difficuldade,  obstáculo. 

—  Confortativo  para  os  doentes. 

—  Inspecção  curiosa,  miúda,  atten- 
tada. 

—  Soccorro,  supprimento  de  munições, 
etc. 

—  Supprimento  das  necessidades  da 
vida,  casa,  mulher  e  filhos. 

—  Termo  de  artilheria.  Machina  de 
madeira  com  rodas  e  taboões  compridos, 
em  se  montam  os  canhões,  e  outras  pe- 
ças. —  Montar  um  canhão  no  reparo. 

—  Termo  de  fortificação.  Qualquer 
cousa  disposta  com  o  fim  de  resguardo 
ou  defeza. 


La  na  entrada  da  porta  esto  profano 
Pelouro  agora  vai  fazer  o  efteito, 
Onde  o  Sousa,  temendo  qualquer  dano, 
Hiun  bom  reparo  tinha  então  ja  feito  ; 
Bato  o  canhão  também  do  muro  o  pano 
Que  para  a  fortaleza  olha  direito, 
E  a  torre  da  menagem  buscar  veio 
Que  está  do  baluarte  posta  em  meio. 

FEANCISCO    DE    ANDHADE ,    PBIMEIRO    CEBCO  DE  DIU, 

cant.  17,  est.  50. 


—  Terreno  levantado  á  roda  da  praça, 
revestido  de  muros  de  pedra  e  cal,  ou  de 
formigão,  adobes,  tepes,  terra  batida, 
salchichos  ou  semelhante  modo,  com  es- 
carpa proporcionada,  para  bem  se  susten- 
tar, sobre  o  qual  terreno  se  assenta  o  pa- 
rapeito. —  Fazer  um  reparo  «  roda  da 
2>raça.  — ■  «Entre  a  Fortaleza,  e  a  Cida- 
de estava  outro  reparo  mayor  que  a  de- 
fendia, que  era  a  fidelidade  Portngueza.» 
Jacintho  Freire  dAndrade,  Vida  de  D. 
João  de  Castro,  liv.  2,  n.°  23,  em  BIu- 
teau.  —  «Com  este  artificio  chegarão  os 
Mouros  a  senhorear  a  cava  da  Fortale- 
za, onde  assentarão  dezoito  basiliscos, 
com  que  tirarão  quinze  dias  continuos, 
fazendo  na  Fortaleza  tal  estrago,  que  os 
nossos,  por  ultimo  remédio,  se  reparavão 
com  suas  mesmas  minas,  fazendo  contra- 
muros,  e  reparos  das  pedras  derribadas.» 
Ibidem. 

Tanto  esta  parede  ao  ar  alçada 
Quanto  tem  qualquer  homem  de  comprido, 
A  qual  lá  pola  borda  vai  lançada 
Do  que  a  Turca  bombarda  tom  batido ; 
Por  dentro  hc  com  degráos  fortcficada 
D'onde  bem  pelejar  pode  o  atrevido  : 
E  este  atalho  e  reparo  a  terça  parte 
Oecupavào  d'aquelle  baluarte. 
IBIDEM,  cant.  15,  est.  65. 

—  Reparo  de  pregador  ;  a  duvida  que 
move  sobre  a  intelligencia  de  algum  lo- 
gar  da  Sagrada  Escriptura,  ou  a  reflexão 
que  faz  sobre  alguma  circumstancia  do 
dia,  tempo,  lugar,  etc,  do  sermão. 

REPARTIÇÃO,  s.  /.  (De  re,  e  do  latim 
partitionem).  O  acto  de  repartir,  distri- 
buição. —  «O  qual  posto  a  cauallo  huma 
quinta  feira  de  Endoenças  saio  da  cidade 


a  espoi-a  fita  publicamente  a  se  lançar  cõ 
os  Mouros,  cõ  este  ardil  cõsultado  pelos 
outros  que  ficauão:  que  logo  á  sesta  feira 
seguinte  a  tempo  que  a  repartição  da 
guarda  e  seruico  da  cidade  cabia  a  estes 
da  consulta  daqucUa  infernal  obra,  Roz- 
tomocan  mandasse  gente  pêra  os  recolher 
ao  tempo  da  sua  saida,  porque  a  gente 
de  cauallo  da  cidade  auia  logo  de  sair 
trás  elles.»  Bai-ros,  Década  2,  liv.  6,  cap. 
9.  —  «E  he  tão  boa  esta  veniaga  entre 
elles,  que  ás  vezes  se  vê  num  porto  de 
mar  entrarem  numa  maré  duzentas  e 
trezentas  vellas  a  carregar  delia,  como 
nesta  nossa  terra  entrão  urcas  a  carre- 
gar de  sal,  e  ainda  se  lhe  dá  muytas  ve- 
zes por  repartição  de  almotaçaria,  con- 
forme á  falta  que  ha  delia  na  terra,  e 
por  ser  este  esterco  taõ  excellente  para 
as  sementeyras,  dá  esta  terra  da  China 
três  novidades  cada  anno.»  Fernão  Men- 
des Pinto,  Peregrinações,  cap.  98.  —  «E 
foy  mandado  aos  soldados  e  á  mais  gen- 
te da  nossa  companhia  que  cada  hum  por 
sy  apanhasse  o  que  pudesse,  porque  não 
avia  daver  repartição  nenhuma,  se  não 
que  o  que  cada  hum  levasse  avia  de  ser 
tudo  seu,  mas  que  lhes  rogava  que  fosse 
muyto  depressa,  porque  lhes  não  dava 
mais  espaço  que  só  meya  hora  muyto  pe- 
quena, a  que  todos  responderão  que  craõ 
muyto  contentes.»  Ibidem,  cap.  65. 

—  Divisão,  parte,  membro. 

—  Partilha,  sorte,  quinhão. 

—  Repartição  de  vedor  da  fazenda ; 
cada  vedor  da  fazenda  tem  sua  reparti- 
ção nos  negócios  tocantes  á  fazenda  real 
e  bens  da  coroa. 

—  Competência  do  juiz,  de  official  pu- 
blico, o  que  diz  respeito  a  seu  cargo. 

—  Termo  moderno.  Casa,  edificio  on- 
de trabalham  os  empregados  públicos, 
incumbidos  da  direcção  dos  negócios  de 
que  se  trata  na  mesma  repartição.  —  Re- 
partição da  marinha.  ■ —  Repartição  dos 
negócios  ecciesiastiros. 

REPARTIDAMENTE,  adv.  (De  reparti- 
do, com  o  suffixo  «mente»).  Por  partes, 
com  repartição. 

REPARTIDEIRA,  s.  f.  Nos  engenhos  de 
assucar  é  como  um  tacho  pequeno  de  co- 
bre com  seu  alvado  encabado  em  haste 
de  pau,  para  repartir  nas  formas  o  me- 
lado ou  mel  apurado,  e  a  ponto  de  se  fa- 
zer assucar  bruto. 

REPARTIDO,  i^art.  pass.  de  Repartir. 
— «Depois  deste  dom  Pedro  ter  negocia- 
do as  cousas  a  que  veo,  el  Rei  o  despa- 
chou mandando  em  sua  companhia  por 
embaixador  a  el  Rei  de  Manicongo  Si- 
mão da  sylua  fidalgo  de  sua  casa  caual- 
leiro  da  ordem  de  Christus,  e  o  filho  dei 
Rei,  e  irmão,  e  moços  nobres  ficaram  ca, 
repartidos  per  mosteiros,  onde  os  ensina- 
ram a  ler,  screucr,  gramática,  e  cousas 
da  Fe  de  que  alguns  delies  sairam  bons 
latinos,  e  theologos.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3,  cap,  37. 


210 


RE1'A 


REPA 


REPA 


—  «Finalmcnto  Iniiií»  per  Iiuma  parto, 
oiitro8  |)cr  outra  era  repartido  o  parocor 
cm  liuni  fçonori)  tlu  coiituííito  8ein  sabor 
tomar  liuma  boa  coiicliiHnio,  com  cpio  a 
Cidade  ardia,  iiíto  hc  Habcndo  dotorini- 
iiar.n    15arnw,   Década   2,  liv.  (5,  cap.  15, 

—  «Já  qiio  a  manbria  esclarecia,  o  diKpio 
mandou  toda  aijiiolla  ^'cntc.,  (pic  repar- 
tidos corrcHKcm  a  floresta,  c  vissem  se  o 
aciíavaiii,  e  toriia.sscm  alli  com  recado; 
ponpie  Florida  tinha  ordenado  nào  fa- 
zer do  si  mudança,  tó  saber  o  quo  delle 
ora  feito.  Pridos,  lillio  do  duque  do  C)a- 
lez,  primo  do  ]).  Duardos  o  grande  sou 
amigo,  se  metteo  polo  mais  espesso  da 
montanha,  contra  onílo  ))alia  o  mar.» 
Francisco  do  iloraes,  Palmeirim  d'lugla- 
terra,  cap.  ii.  —  «Que.  para  qiu!  o.s  Ín- 
dios tenham  tempo  do  acudir  ás  suas  la- 
vouivis  e  familias,  e  possam  ir  ás  jorna- 
das dos  sertões,  que  se  hão-de  fazer  para 
descer  outros,  o  os  converter  á  nossa 
santa  fé,  nenhum  indio  possa  trabaliiar 
fora  da  sua  aldôa  cada  anno  mais  que 
quatro  mezea,  os  quaes  quatro  mezos  nào 
serão  juntos  por  uma  vez,  senão  reparti- 
dos cm  duas,  para  que  desta  maneira  se 
evitem  os  doasorviços  do  Deus  que  se 
seguem  de  estarem  muito  tempo  ausen- 
tes de  sua  casas.»  Padre  António  Viei- 
ra, Cartas,  n.°  13.  —  «A  cada  huma  des- 
tas portas  está  luim  escrivão  com  quatro 
porteyros  do  alabardas  para  darem  razão 
do  que  entra  e  sae  por  cada  liunia  del- 
ias, as  quais  por  regimento  do  Tutão  saõ 
repartidas  por  todos  os  trezentos  e  ses- 
senta dias  do  anno,  de  maneyra  que  ca- 
da dia  por  seu  giro  se  celebra  com  muy- 
ta  solennidade  a  festa  da  invocação  do 
Ídolo  de  cada  luima  das  portas,  de  que 
ella  também  tem  o  nome,  o  disto  ja  atras 
tratey  também  largamente.»  Fernão  jMen- 
dos  Pinto,  Peregrinações,  cap.  107  — 
«Dentro  dos  (piais  disseraõ  ao  Embaixa- 
dor que  tinlia  o  Calamiuham  hum  grosso 
tisouro  dos  vinto  e  quatro  que  cstavão 
repartidos  pelo  rcyno,  de  que  a  mayor 
parto  era  em  jn-ata,  o  qual  teria  de  peso 
seys  mil  caudins,  que  da  nossa  conta  saõ 
vinte  e  quatro  mil  quintais,  o  qiial  todo 
estava  em  poços  debaixo  do  chão.»  Ibi- 
dem, cap.  158.  —  «Dotou  o  Bispo  In- 
quisidor Gorai,  fundador  desta  "Capclla, 
ao  Convento  de  Bemtica,  para  sustento 
dos  Religiosos  que  hão  de  assistir  ás  obri- 
gações delia,  duzentos  e  quarenta  mil 
réis  de  juro  em  cada  anno,  situados  nis 
rendas  da  Camera  desta  Cidade  de  Lis- 
boa, repartidos  pela  ordem  seguinte.» 
Jaciutho  Fi-eire  d'Andi-ade,  Vida  de  D. 
João  de  Castro,  liv.  4.  —  «Tanto  que 
foy  conliecida,  ser  a  Ilha  do  Sam  Lou- 
renço, e  não  a  de  loão  da  Nona,  nem 
o  bayxo  da  índia  que  alguns  imagina- 
iião,  se  deu  ordem  aos  Capitães  da  vigia 
pêra  qtuí  elles  com  toda  a  mais  gente, 
repartidos  de  noyte,  o  de  dia  despejas- 
sem a  níio,  c  aos  Religiosos  que  tiuessem 


a  cargo,  vigiar  o  fogo  como  cousa  no 
mar  de  mais  importância  o  quo  cõ  gran- 
de tonto  HO  fazia,  por  ser  o  mayor  peri- 
go que  ncllí!  poilc  auer.»  Fr.  Caspar  de 
S.  Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap. 
1.  —  «Auia  neste  ti;m])o  na  Arábia  hum 
iiomcm  princij)al  chamado  Abdelmonatis 
seniiiir  ile  vassalos,  e  de  algumas  aldíia», 
e  lugares  grandes;  e  em  casa  de  Abdel- 
talif,  iiunia  íilha  sua  por  nome  IIa>lixa 
dama  de  muytas  jiartes,  com  quem  a  na- 
tureza as  tiniia  bem  repartidas,  a  quem 
M atonia  amaua,  assi  por  se  criar  com 
cila  cm  casa  do  pay  desde  menino,  como 
por  ser  sua  prima  :  esta  casou  com  Abdcl- 
mouaíis.»  Ibidem,  cap.  20. 

Estii  cúpia  do  inortos  c  foridos 
No  baUiíirto  da  barra  bi')  sc  achárSo, 
Mas  o»  fados  cruci»  endurecidos 
Nnsto  rt<^  desastre  hoje  não  pararão. 
Doutros  canliõos  que  cstavão  repartido» 
N  outras  partes,  alguns  arrcbcutárão, 
1''  por  todos  vècra  sete  o  ultiuio  dia, 
Quinze  vão  ter  cm  mãos  da  cirurgia. 

F.    DK  ANDKADK,   miMEIRO    CF.BCO  DE  DIL" ,  Caut. 

H,  est.  -14. 

—  «Passo  também  por  outras  anómalas 
compostas  de  mais  misturas  quo  o  campo 
do  duque  d'Alva,  nos  quaes  achareis  to- 
dos os  signilicados  das  outras  barbas  som- 
madas  por  algarismo ;  que,  se  podesscm 
ser  repartidas  em  redomas  com  seus  ró- 
tulos de  letra  cabidoal,  47  ei"am  bastan- 
tes para  povoar  uma  botica  maior  que  a 
do  Peres  em  seu  tempo.»  Fernão  Rodri- 
gues Lobo  Soropita,  Poesias  e  prosas  iné- 
ditas, pag.  71. 

REPARTIDOR,  s.  vi.  O  quo  reparte, 
distribuo;  distribuidor. 

—  Logar  ou  ponto  em  que  se  dividem 
as  aguas. 

—  Juiz  de  partillias,  ou  official  que  ao 
fazel-as  assiste  ao  juiz. 

—  Repartidor  ile  assucar ;  repartideira. 

REPARTIMENTO,  s.  /)/.  Divis.ão,  separa- 
ção. —  «Eui  outro  repartimento  iiavia  ro- 
chas da  penedia  áspera  e  fragosa  cuber- 
tas  de  era  e  outras  ervas,  conforme  a  sua 
propriedade :  do  mais  alto  d'ellas  desciam 
canos  d'agua,  que  ao  descer  vinham  dan- 
do de  pedra  em  pedra,  e  eram  compostas 
por  tal  arte,  que  o  rugido  dagua  nas  pe- 
dras formava  toda  quanta  harmonia  rou- 
xinoes  e  outros  passarinhos  alegres  podem 
fazer  no  tempo,  quo  mais  são  pêra  escu- 
tar." Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
dluglaterra,  cap.  120.  —  «E  logo  no  ou- 
tro arco  junto  a  esto,  está  D.  Anna  de 
Attaydo  sua  mulher.  No  vão  desta  Ca- 
pclla se  fez  hum  carneiro  com  seis  arcos 
do  pedraria,  em  hum  dos  quaes  ha  Altar 
para  se  dizer  Jlissa ;  e  os  mais  tem  re- 
partimentos  para  os  ossos,  e  córpi>s  dos 
defuntos.»  .Taeintho  Freire  de  Andrade, 
Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv.  4. 

REPARTIR,  V.  <i.  Distribuir,  dividir, 
separar  por  partes. —  «No  que  ouue  assas 


do  resistoncia,  mas  em  fim  depoi*  de  ter 
morto  maÍH  de  HciBcento»,  an  iiaos  forão 
entrada»,  na»  quaeB  «o  achou  alguma 
pouca  despeccaria,  o  outras  mercadorias, 
e  mantimciitoB,  e  três  Elepliante*  quo 
l'edralurez  mandou  matar,  e  salgar  pêra 
prouisão  darniada,  e  alguns  mouros  quo 
achou  escondidos  pela»  nao»  mandou  re- 
partir pela  frota,  pcra  scruirem  no  quo 
fosse  necessário,  por  nella  auer  falta  de 
gente,  pela  muita  que  ja  era  morta.  •  Da- 
mião de  Ciocs,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  1,  cap.  Oti.  —  «Nos.so  pai  quando 
veio  a  hora  de  sua  morte,  porque  nai!»  po- 
dia repartir  o  seu  Con<lado,  nem  se  podia 
determinar  a  qual  de  nú»  por  direito  vi- 
nha, o  derradcirij  dia  de  sua  vida  fez-nos 
huma  falia  dizemlo  :  Filha»  eu  me  parto 
deste  mundo  bem  descontente,  porque 
vos  naõ  leixo  taõ  dcscançadas,  como  qui- 
zera  :  pois  Dcos  he  servido  de  mo  levar 
antes  de  meus  olhos  verem  este  prazer, 
quero-vos  dizer  algumas  cousas  que  cum- 
prem a  vosso  descanço.»  Barros,  Clari- 
mundo,  liv.  2,  cap.  2;}. —  «E  ainda  que 
no  sitio  da  cidade  nào  auia  pedra,  deu 
elRey  cuidado  a  hum  seu  capitSo,  que 
com  toda  sua  gente  donde  quer  que  achas- 
se trouxesse  a  necessária  :  e  a  outro  deu 
da  madeira,  repartindo  o  trabalho  per  to- 
dos pêra  se  fazer  com  mães  breuidade.  > 
Idem,  Década  1,  liv.  3,  cap.  9. 


Cezll.  Nacco  huma  noite  clara 
Quando  a  lua  apparccia, 
E  Vénus  tomava  a  vara 
Com  que  as  graças  repartia, 
Como  em  cllc  se  declara. 

GIL  VICENTE,  FABÇAS. 


—  «Daqui  se  foy  cõ  os  seus  á  Cidade 
de  Tcbico,  onde  lhe  veyo  muita  gente  de 
guerra,  que  repartio  por  dez  Capitães, 
de  que  foy  o  principal  a  Bubequer  seu 
sogro,  e  cõ  elles  moveo  contra  os  Povos 
de  Abul,  Buata,  e  depois  contra  Mecha, 
a  qual  posto  que  nào  rendesse  desta  pri- 
meira vez,  ao  fim  a  veyo  a  conquistar 
com  muitas  Províncias,  e  nações  daquel- 
las  partes.»  Monarchia  Lusitana,  liv.  G, 
cap.  24.  —  «E  mandou  logo  cl  Rey  a  to- 
dalas  fortalezas,  que  o  Duque  tinha  em 
todo  o  Reyno,  que  erão  muytas,  e  muy 
boas,  fidalgos  priucipaes.  c  cauj^Ueiros  de 
sua  casa,  delles  quo  na  Corte  cstauào,  e 
outros  que  erào  ausenteíi,  pêra  com  suas 
cart;is,  e  prouisões,  e  com  outras  do  Du- 
que que  também  leuauào,  as  aucrcm,  ou 
combaterem  logo,  não  se  querendo  entre- 
gar, repartindo  logo  apontadamente  as 
comarcas,  villas,  o  fortalezas  a  que  cada 
hum  com  milhor  disposição  auiào  de  yr.» 
(i  areia  de  Rezcn<le,  Chronica  de  D.  João 
II,  cap.  44. 

Por  60r  a  terra  falta,  estreita  c  scc.a, 
Muy  cstcril,  minguada,  c  desprouida 


i 


REPA 


REPA 


REPA 


211 


Ello  pôde  o  Lianor  cora  seus  meninos 
Alli  ficar,  e  co  cUcs  pouca  gcute. 
E  <iue  esta  fosse  qual  elle  escolhesse, 
A  outra  repartindo  por  lugares 
Que  vizinhos  estào  sendolhe  fácil 
Conjunção  esperar  mais  oportuna. 

COETE  BEAL,  NAUFRÁGIO  DE  SEPÚLVEDA,    Caut.    5. 


—  c(  Mandaudo  repartir  algum  dinheiro 
entre  os  soldados  e  trabalhadores;  e  se 
vossa  alteza  por  sua  mão  o  fizesse  levan- 
do para  isso  quantidade  de  dobrões,  este 
seria  o  meu  voto,  e  que  vossa  alteza  se 
humane  conhecendo  os  homens  e  chaman- 
do-03  por  seu  nome,  e  fallando  nao  só 
aos  grandes  e  medianos,  senào  ainda  aos 
mais  ordinários.»  Padre  António  Vieira, 
Cartas,  n."  5.  —  «Por  vezes  me  disse  que 
os  havia  de  repartir  na  forma  sobredicta, 
offerecendo-me  que  tomaria  d'elle3  para 
as  nossas  aklèas  do  Maranhão  e  Pará  to- 
dos os  que  quizesse,  o  que  eu  de  nenhu- 
ma maneira  aceitei.»  Ibidem,  n."  11. — 
«E  repartindo  a  gente,  pôs  no  junco  de 
Quiay  Paujão  trinta  Portugueses  quais 
elle  quiz,  porque  em  tudo  lhe  fazia  a  von- 
tade, por  ser  assi  necessário,  e  nas  duas 
lanteaas  pôs  seis  em  cada  huma,  e  no 
junco  de  Christovào  Borralho  vinte,  c 
com  elle  ficarão  os  mais  que  eraS  trinta  e 
três,  e  fi'u'a  os  escravos  e  outra  muyta 
gente  Christam  valentes  homens,  e  muyto 
fieis.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  Õ8.  —  «Ao  outro  dia,  logo  em 
sendo  menham  clara,  os  quatro  tanigo- 
res  da  irmandade  que  visitavão  a  prisaõ 
aquella  somana,  nos  mandarão  chamar  à 
enfermaria  onde  estavão  repartindo  o  co- 
mer dos  doentes,  e  nos  deraõ  conta  do 
bom  despacho  que  era  saydo,  com  espe- 
r.viças  de  boa  sentença.»  Ibidem,  cap. 
101,  —  «O  exercito  das  matronas  fez  aqui 
também  seu  officio,  acudindo  aos  baluar- 
tes em  que  pelejavaõ,  carregadas  de  lan- 
ças, dardos,  panelas  de  pólvora,  pedras, 
e  de  outras  muitas  cousas  desta  qualidade 
pêra  empecerem  aos  imigos,  que  repar- 
tiaõ  pelos  que  pelejavaõ.»  Diogo  de  Cou- 
to, Década  6,  liv.  2,  cap.  4. —  «A  Ar- 
mada tanto  que  vio  o  sinal  que  lhe  fize- 
raõ  da  fortaleza,  estando  jà  pi  estes,  e 
negociada,  porque  Nicolao  Gonçalves  (a 
quem  aquelle  negocio  estava  encomenda- 
do) tinha  arvoradas  muitas  lanças  por 
todos  os  navios,  que  estavaõ  fermosamente 
embandeirados,  e  tinha  cortados  muitos 
murroens  em  pedaços,  e  acesos  os  repar- 
tio  pelos  moços,  e  maiúnheiros  pêra  que 
os  imigos  cuidassem  que  eraõ  espingar- 
das.» Ibidem,  liv.  4,  cap.  1.  —  «E  pêra 
isto  repartio  o  anno  era  diuersos  tempos 
conuem  a  saber  ante  Natal  toma  quatro 
semanas  pêra  celebrar  o  mystcrio  da  vin- 
da do  Senhor  em  carne,  e  pêra  aparelhar 
seus  filhos  a  deuotamente  receberem  seu 
senhor  nascido,  o  qual  tempo  chamou 
Adueuto.»  Fr.  Bartholomeu  dos  Martv- 
res,  Catecismo  da  doutrina  christã, 


Dobrar  as  vellas  faz  em  toda  a  parto 
Que  vè  que  delias  tem  necessidade. 
Polo  muro  também  logo  reparte 
De  pedra  solta  grande  quantidade  ; 
Faz  lá  de  Sião  Thomé  no  baluarte 
Logar,  d 'onde  a  fulminea  tempestade 
Hum  camalete  si51te  horrendo  e  forte, 
De  que  o  Turco  receba  espanto  o  morte. 

FB.ASCISCO  DE  ANDRADE,  PRIMEIRO  CERCO  DE  DIU, 

cant.  19,  est.  8. 


—  «Assinaõ  os  Quadrilheiros,  que  hão 
de  de  repartir  depojos  das  batalhas,  e 
sacos  dos  lugares.»  Manoel  Severim  de 
Faria,  Noticias  de  Portugal,  Disc.  2, 
§2.  —  «E  foi  o  primeiro  jMarichal  Gon- 
çalo Vaz  de  Azevedo.  Ao  Marichal  per- 
tence pelo  Regimento  da  guerra  repartir 
03  alojamentos  de  seu  exercito;  depois 
que  pelo  Aposentador  do  Condestable  for 
assinado  o  lugar,  onde  se  houver  de  as- 
sentar.»  Ibidem,  §  3. —  «O  primeiro  foy 
Dom  Pedro  Souto  Mayor  com  seus  solda- 
dos nomeados:  O  segundo  Francisco  Cor- 
rêa da  Costa :  O  terceiro  Martim  da  Cu- 
nha Deça  :  O  quarto  Diogo  Florim  ;  re- 
partindo por  elles  toda  a  gente  necessá- 
ria pêra  este  ministério.»  Fr.  Gaspar  de 
S.  Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap. 
1.  —  «Fuja-se  como  de  peste,  de  repartir 
casa,  e  receber  criados  com  distincção, 
taes  para  o  senhor,  e  taes  para  a  senho- 
ra. Se  o  casamento  é  união,  de  que  serve 
dividil-o?  Este  ponto  é  mais  proveitoso  á 
advertência,  que  agradável  á  especula- 
ção. D'aqui  vem,  que  nem  lhe  fujo,  nem 
a  persigo.»  Francisco  Manoel  de  Mello, 
Carta  de  guia  de  casados. 

—  Assentar,  distribuir  alguma  contri- 
buição, ou  imposto  por  partes. 

—  Applicar. — Repartir  as  horas  a  di- 
versas occui}açues. 

—  Partir,   extremar. 

—  Termo  de  arithmetica.  Dividir  o  di- 
videndo pelo  divisor, 

—  Repartir-se,  v.  rejl.  Dlvidir-se.  — 
Repartiu-se  o  trabalho  por  todos.  —  «Ca- 
minhando por  aquelle  valle  onde  a  estra- 
da se  repartia  em  duas,  se  apartaram  um 
do  outro  tão  contentes  como  o  desastre 
do  cavalleiro  do  Salvagem  os  fazia  ser, 
que  o  amor  onde  é  gi-ande  sempre  cria 
grande  receio.»  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  114. —  «Da 
missão  que  fiz  ao  rio  dos  Tocantins,  já 
vossa  magestade  foi  informado  como  aquel- 
les  Índios  se  repartiram  e  despedaçaram 
por  onde  quiz  a  cubica  de  quem  então 
governava,  agora  achei  que  muitos  esta- 
vam vendidos  por  captivos.»  Padre  An- 
tónio Vieira,  Cartas,  n."  lõ.  —  «Tanto 
que  as  novidades  parece  que  estão  ja  cer- 
tas e  seguras,  se  reparte  o  trigo  velho 
por  todos  os  moradores,  e  gente  dos  lu- 
gares, conforme  á  possibilidade  de  cada 
hum,  e  lho  dão  a  modo  de  empréstimo, 
por  tempo  de  dous  meses,  os  quais  ho- 
mens, acabado  este  tempo  que  pela  jus- 
tiça lhes  foy  posto,  vem  logo  todos  entre- 


gar outro  tãto  trigo  novo  quanto  recebe- 
rão velho.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pere- 
grinaçães,  cap.  113.  —  «Ha  tantos  exem- 
plos disto  oje  no  mundo,  que  tiuera  Só- 
lon pouca  necessidade  deste  estratagema 
para  prouar  o  que  dizia,  pois  que  repar- 
tindose  co  a  multiplicação  dos  filhos  e  do- 
brando-se  o  amor  de  si  mesmo,  faz  que 
sejão  os  cuidados,  os  desejos  e  as  preten- 
ções,  com  que  se  os  homens  perdem  muy- 
to mais  vehementes.»  Paiva  d'Andrade, 
Sermões,  part,  1,  pag,  259.  —  «No  mes- 
mo dia,  que  foi  o  dezessais  de  Agosto, 
sahio  o  inimigo  com  todo  o  poder,  de  seus 
alojamentos,  e  repartindo-se  ordenada- 
mente pelos  baluartes,  deixou  o  maior 
grosso  do  exercito,  para  acometter  o  de 
Sant-Iago,  por  onde  esperavão  abrir  a 
porta  á  victoria ;  ao  qual  se  arrojarão  tu- 
multuariamente,  dando  espantosas  vozes, 
e  tirando  sobre  elles  grande  copia  de  ar- 
mas de  arremesso  para  chamarem  á  de- 
fensa a  maior  força  dos  nossos.»  Jaeintho 
Freire  de  Andrade,  Vida  de  D.  João  de 
Castro,  liv.  2.  —  «Porque  era  ley  entre 
elles,  que  tendo  o  Senhor  de  hum  lugar 
muitos  filhos,  se  repartisse  por  todos  a 
fazenda ;  porem  o  governador  do  lugar 
ficasse  sempre  com  o  mais  velho;  pelo 
que  lhe  chamavaõ  vulgarmente :  Sénior 
illius  loci ;  que  he  o  mesmo,  que  o  mais 
velho  do  lugar;  ao  que  ajuda  o  que  diz 
sobre  esta  palavra  :  Sénior,  Santo  Agos- 
tinho, Epistola  174.»  Manoel  Severim  de 
Faria,  Noticias  de  Portugal,  Disc,  3, 
§  27,  _ 

—  Repartir-se  entre  cuidados j  virtudes; 
applicar-se  em  satisfazer  vários  cuidados, 
virtudes, 

—  Espalhar-se,  derramar-se. 

Desde  que  as  sombras  lúgubres  cahíi-ão 

Do  cima  das  montanhas,  e  que  a  Terra 

Em  negro  manto  3'envolveo,  fulgirão 

Os  fanaes,  com  que  a  sombra  se  desterra : 

Luminosos  faroes  se  re2)artirão 

Pelo  ameno  vergel,  que  em  torno  cerra 

Alta  cebe  de  alegre»  C'>T]araomo3, 

De  flor  cobertos,  que  lhe  suppre  os  pomos. 

J.  A.    DE  MACEDO,  O  ORIENTE,  Caut.    7,   CSt.    103. 

—  Adágios  : 

—  o  que  reparte  toma  a  melhor  parte. 

—  Repartiu-se  o  mar,  o  fez-se  sal. 
REPARTIVEL,  adj.  2  gen.  Que  se  pô- 
de repartir,  dividir. 

REPAS,  s.f.2}hir.  Termo  popular.  Ca- 
bellos  ralos  da  cabeça  ou  da  barba. 

REPASAGE,  s.  /,  Planta,  espécie  de 
almeirão. 

REPASSADO,  part.  p«ss.  de  Repassar, 

REPASSAR,  r.  a.  (De  re,  e  passar). 
Tornar  a  passar. 

Bem  como  no  fecundo  ardente  Estio 
Correm  formigas  próvidas,  lembradas 
Das  agras  privaçoens  do  Inverno  frio, 
Dos  grãos  do  louro  trigo  carregadas : 
Que  nunca  socegado  o  negro  fio 
Passa,  e  repassa  as  veigas  dilatadas, 


212 


REPE 


RE  PE 


REPE 


Tacfi  daa  vertentes  límpida»  voltavilo 

O»  Lu!)o«  para  a»  Nilo.í,  dus  X;'ios  tornavào. 

J.  A.   DK  UACEBO,  O  OllIKNTK,  CUnt.  5,  CUt.   ÓO. 

—  Reler. 

—  ToriKir  ;i  lêr  a  lirào, 

—  Examinar  do  novo,  correr  levemen- 
te polii  virttii  ulf,'U)ii  cscripto. 

—  Repassar  <«  Jit<í,  o  (/aluu ;  fazer  no- 
vas libtiiá  n  pur  da  primeira,  ou  entrela- 
çar as  pontuH,  fazendo  lon^^aria. 

—  Repassar  o  caldo,  ou  molho,  a  fru- 
cta,  conserva,  etc;  erabeber-se,  ensopar- 
80  bem  n'clla. 

—  Repassar-se,    v.  reji.    Embeber-se. 

—  V.  II.  Rever  o  papel,  dar  passagem 
á  tinta,  apitareeondo  da  outra  face. 

f  REPASTADO,  pnrt.  pass.  do  Repas- 
tar. —  «Tem  infinito  gado  de  toda  a  sor- 
te grande,  fcruioso,  c  bem  repastado, 
Elophiltos,  Camellos,  e  outros  animaes  de 
soruiço,  e  graudissima  variedade  de  pas- 
sares, c  aues,  tam  difierentes  na  espécie, 
como  yguaes  na  fermosura.»  Fr.  Gaspar 
do  S.  Bernardino,  Itinerário  da  índia, 
cap.  2. 

REPASTAR.  f.  a.  Tornar  a  pastar,  ou 
a  dar  pa.sto.  Vid.  Apascentar. 

REPASTO,  s.  7/1.  O  pasto  junto  ao  or- 
dinário ou  regular. 

—  Bodo,  banquete. 

REPATRIAR,  v.  h,  (Do  latim  repatria- 
rei. Regressar,  voltar  á  pátria. 

—  V.  a.  Restituir  á  pátria. 

REPEAR,  r.  a.  Vid.  Serpear. 

REPEÇAR,  V.  a.  [De  re,  e  peça).  Ter- 
mo antiiiuado.  Remedar,  cerzir,  cozer  (no 
sentido  próprio  o  no  figurado). 

REPEDAR,  V.  n.  (Do  latim  repedare). 
Recuar,  tornar  pé  ati'az. 

REPEENDIMENTO,  s.  »;.  ant.  Satisfa- 
ção, iuilenuiisai^ào. 

REPEITAR,   V.  a.  Dar  segunda  peita. 

REPELEJAR,  v.  a.  (De  re,  e  pelejar). 
Tomar  a  pelejar. 

REPELLADÒ,  part.  pass.  de  Repellar. 

REPELLÃO,  .«.  m.  EmpusFío,  sacudi- 
diua. 

—  Figuradamente  :  Corrida  prompta 
que  dá  o  cavallo  a  toda  a  brida. 

—  Aos  repellões  ;  por  partes,  com  dif- 
ficuldade,  ou  resistcneia. 

—  De  repellão  ;  á  pressa,  sem  detença. 

—  Ferir  de  repellão  ;  picar  com  as  es- 
poras, abaixando  os  talões,  e  puxando 
pelas  puas  para  cima,  acompanhando  a 
barriga  do  cavallo. 

—  Dar  um  repellão;  reprehensSo  ás- 
pera. 

—  Assalto,  ataque.  —  Deram  outro  re- 
pellão (í   fortaleza. 

REPELLAR.  Vid.  Arrepellar. 

REPELLENTE,  adj.  -J  ,;e„.  ,Part.  act. 
de  Repellir  .  C^hio  repelle. 

REPELLIDO,  part.   pass.  de  Repellir. 

REPELLIR,  V.  a.  (Do  latim  repelhre). 
Lançar  de  >i  alguma  cousa  com  violên- 
cia, impellir,  recliassar,  repulsar. 


—  Exircer  a  força  repulsiva. 
REPELLO,  «.  m.  Pôspello. 

—  A  repello  ;  por  mal,  A  força,    com 
violência. 

REPELUSADO,   udj.  Arripiado  do  me- 
di), assiist.idd.  cs]iavorido. 
7  REPENDER-SE.  Vid.  Arrepender-se. 

viiicm  cm  Kiicra,  e  contenda, 
som  aiicr  quom  sfi  rfptnda, 
de  quanto  mal  faz  fazer, 
nom  lia  aij  satisfazer, 
nem  corrcger,  nem  emenda. 

GARCIA  DE  REZENDE,  MISCELLAXBÁ. 


REPENDIMENTO.  Vid.  Arrependimen- 
to, n  Repeendimento. 

REPENICAR,  V.  a.  Termo  popular.  Dar 
golpes  repetidos,  repicar. 

REPENSÃO,  s.  f.  (De  re,  o  pensão;. 
Segunda  pensão,  imposta  ao  beneficio 
pensionado. 

REPENSAR,  V.  n.  (De  re,  o  pensar;. 
Tomar  a  jionsar,  pensar  de  novo. 

REPENTE,  «.  m.  Acçào,  dito,  succes- 
so  repentino. 

■ — Loc.  ADV.  De  repente;  de  impro- 
viso, repentinamente,  som  pensar,  de  sú- 
bito, inesperadamente. —  «Se  a  dor  de 
Cabeça  forte  se  oecultar,  ou  desvanecer 
de  repente,  sem  subscguir  evacuação  al- 
guma, nem  haver  diminuição  no  morbo, 
de  que  a  dor  depende,  he  signal  funesto, 
e  pella  mavor  parte  mortal ;  porque  ar- 
guo abolição,  ou  esquecimento  da  facul- 
dade animal,  que  ja  nào  sente,  nem  per- 
cebe objecto  algum  dolorifico.»  Fernào 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,  pag.  173. 
—  «lias  quando  naõ  virdes  cousa  mani- 
festamente roim,  nem  enxergardes  cla- 
ramente oftensa  de  Deos  lançai  tudo  a 
melhor  parte,  e  acostumaiuos  a  attribuir 
■13  cousas  a  bem,  se  de  repente  vos  en- 
trar alguma  sospeita,  naõ  consintais  nel- 
la,  antes  lhe  resistireis  com  inteireza.» 
Fr.  Bartholomcu  dos  Jlartyres,  Compen- 
dio de  espiritual  doutrina,  cap.  \h  (ediç. 
de  U)53i.  —  «  Estava  já  com  velas  met- 
tidas  toda  a  .armada,  e  embarcada  muita 
parte  da  Nobreza  do  Roino,  c  os  solda- 
dos na  expectação  de  quem  havia  de  go- 
vernar facçào  tào  importante;  quando  de 
repente  se  divulgou  a  nomeaçito  em  D. 
Joào  do  Castro,  feita  com  geral  satisfa- 
ção, ainda  dos  mesmos  pretendentes.  » 
Jaeintlio  Freire  d'Andrade,  Vida  de  D. 
João  de  Castro,  liv.  1.  —  «Antes  pelo 
contrario,  quem  lhe  abrio  caminho  a  ser 
meu  Esposo  foi  a  constância  na  sua  pri- 
meira inclinação :  cuja  Senhora,  por  des- 
graça delle,  morreo  quasi  de  repente  ;  e 
quem  mo  penetrou  a  alma  foi  a  mágoa 
que  ollc  t.ío  venladeira  sentia,  n  Francis- 
co Manoel  do  Nascimento,  Successos  de 
madame  de  Seneterre. 


Hum  pomo  lhos  lani,-ava,  o  do  repente 
KaqueUa  parte,  c  nesta  esferas  cento, 


E  eonccntricoé  círculos  se  fónniUi ; 
'I'aci  iMjmlhadoA  no  grão  vicub  et<;mo 
Wiyt  ir  rijdaudo  lúcido4  PUiuota*, 
A  quem  dá  luz  do  centro  imuiúbil  Ajitro, 
K  coin  for^a  centrípeta  Oé  rejjúi» ; 
Com  cila  a  curva  cUiptica  descrevem. 

J.  A.  DK  MACEDO,  MEDITAçIu,  CaUt.   2. 

Nem  férc  co'  a  luz  súbita  mcu«  olhou, 
Nom  cálic  doH  4re»  de  repeidt  a  noite  ; 
Mas  propresaiva  escuridío  «'avança, 
(t  Ar  f.iriiia  o  crepúsculo  dii  tarde. 
Quando  pareço,  quu  lui  occidua  Theti» 
Do  Sol  o  disco  fiilgido  se  iinincrgc. 

IBIDlilf. 

Sc  03  nadadores  peixes  á  porfia 
Queres  chamar  do  fundo  ao  lume  d'agoa. 
Hum  pomo  cntâo  Ihoí  lan(,'ai4  de  repente, 
liatido  o  cristal  liquido  se  f'>rinio 
Na<)uella  parte,  c  nesta  eefcrad  cento. 

IDEM,  A  NATUBE2A,  CAnt.    1. 

REPENTINAMENTE,  adi.  iDe  repenti- 
no, eom  o  .sufiixu  «mente»;.  De  repente, 
subitamente. 

En  tudo  via,  c  meditava  absorto ! 
Mas  repentinamente  hum  véo  8'câtcnde, 
Tudo  foge  a  meus  olhos,  e  se  esconde. 
Qual  nos  rouba  da  ^^sta  o  Sol  brilhante 
Hum  grupo  espesso  de  pesadas  nuvens. 

J.   A.   I>T.  MACEDO,  VtAOBM  EXTÁTICA,  Caut.  4. 

REPENTINO,  adj.  (Do  latim  repenti- 
nusi.  Súbito,  imprevisto,  nào  esperado, 
inopinado. 

Chegava 
Elrci  então  ;  signal  de  partir  soa  : 
E  o  vate  c  o  missionário  assim  findaram 
Sua  triste  despedida  •,  —  que  mandado 
Accompanhar  a  armada  o  monge  fora 
liepentino  casa  nouto.  O  tredo  fio 
Descobrira  o  cantor  da  vil  intriga. 

GABBETT,  CAMÕES,  CaUt.  10,  Cap.  7. 

Sorve-lhc  a  terra  os  muros,  c  os  Palácios  ; 

Nem  se  escuta  clamor,  nem  voz,  nem  pranto 

Dos  miseráveis  cngulidos  nella. 

O  sitio  ondo  existio  debalde  inquiro, 

Tào  repentina  sepultura  a  feíha ! 

J.  A.  DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  CaUt.  2. 

Se  nSo  fora  Aristóteles,  nSo  forão 

Honra  da  He->peria.  c  Gallia,  honra  do  Mondo. 

Bem  como  á  voz  omnipotente  surge 

Do  cego  abvsmo  a  máquina  da  Terra, 

E  repentina  a  luz  se  espalha,  e  brilha, 

Assim  das  Artes,  das  Scicneias  todas 

Surge  si  voz  de  Aristóteles  a  base 

Que  jaz6ra  até  alli  na  sombra  involta. 

IDHM,   VIAOEM  EXTÁTICA,  CaUt.   2. 

REPENTISTA,  *.  2  gen.  (De  repente, 
como  .suftixo  íistai).  Improvisador,  o  que 
faz  versos  de  reponto. 

—  O  que  toca.  ou  canta  sem  estado 
prévio.  :i  primeira  vista. 

f  REPERA,  s.  f.  Termo  de  botânica. 
Género  de  plantas  da  familia  das  «ygo- 
phvlleAS,  originarias  da  Nova   HoUanda. 

REPERCUSSÃO,  s.  /".  (Do  latim  reptr- 
cussionfint.  Acto  de  repercutir. 

—  Reverberação,  retlexâo  da  lux,  do 
som. 


REPE 


REPE 


REPE 


213 


—  Embate,  que  causa  um  corpo,  em 
que  outro  topa,  e  pelo  qual  recua. 

—  Figuradamente  :    Rebate,    repulsão. 

—  Termo  de  cirurgia.  O  acto  de  re- 
colher-3e  o  humor  da  superticie  para  o 
centro. 

REPERCUSSIVO,  adj.  Que  tem  a  pro- 
priedade de  repercutir. 

—  Termo  de  medicina.  Adstringente 
que  faz  refluir  os  humores  ao  interior  do 
corpo. 

REPERCUSSO,  s.  m.  Reflexo,  reverbe- 
ração. 

REPERCUTIDO,  part.  pass.  de  Reper- 
cutir. 

REPERCUTIR,  r.  a.  (Do  latim  repercu- 
tere).  Fazer  repercussão,  retroceder,  mu- 
dar de  direcção  um  corpo  chocado  com 
outro. 

—  Reverberar,  reflectir  a  luz,  ou  o 
som. 

—  Termo  de  medicina.  Fazer  que  um 
humor  reflua  para  dentro  do  corpo. 

REPERDER,  v.  a.  (De  re...,  e  perder). 
Tornar  a  perder. 

REPERGUNTA,  *. /.  (De  re..., 
guntai.    Pergunta  repetida. 

REPERGUNTAR,  t;,  a.  (^De  re... 
guntari.  Perguntar  segunda  vez 
mo. 

REPERTÓRIO,  s.  m.  (Do  latim  reper- 
torium).  Index  alphabetico,  ou  livro  abre- 
viado em  que  se  fazem  menções  succin- 
tas.  Vid.  Reportório. 

REPESADOR,  s.  m.  (Do  thema  repesa, 
de  repesar,  com  o  suftixo  «dôr»).  O  que 
repesa  e  mede  o  que  se  vende,  a  pedido 
de  quem  suspeita  ter  sido  enganado. 


per- 


e  per- 
0  mes- 


pesarj. 


pescar, 


REPESAR,  V.  a.    (De   re.. 
Tornar  a  pesar. 

REPESCAR,  1-.  a.    Tornar 
apanhar. 

REPESO,  s.  m.  (De  re...,  e  peso  . 
Acção  de  repesar. 

—  Logar  em  que  se  repesa. 

—  Encargo  de  repesar. 
REPETANADO,    ou  REPETENADO,  aJj. 

Termo  popular.  Insolente,  inchado. 

—  Furioso,  arrebatado. 

REPETÊNCIA,  s.  f.  Termo  de  medici- 
na. Refluxo  de  humores  para  alguma 
parte  do  corpo. 

REPETENTE,  s.  ra.  O  que  faz  repeti- 
ção nas  esciilas. 

REPETIÇÃO,  s.  f.  (Do  latim  repetitio- 
nem).  O  acto  de  repetir,  toruar  a  dizer, 
ou  fazer  o  mesmo.  —  «Mas  parece  que 
pêra  maior  gloria  destas  tão  notáveis  pes- 
soas permittio  Deos  tanto  esquecimento 
em  seus  herdeiros,  porque  o  descuido  seu 
fosse  causa  desta  nossa  repetição.»  Bar- 
ros, Década  2,  liv.  6,  cap.  10. —  «Como 
sej  que  vos  hevde  ver  na  Opera,  ainda 
hoje  hirey  ouvir  a  repetição  das  duas 
Árias  do  Crés,  pro,  Cras,  que  verdadev- 
ramente  me  atemorizão.»  Cavalleiro  de 
Oliveira,  Cartas,  liv.  1,  n."  18. 

—  Lição,  prelecção  doutrinal. 


—  Exame  privado;  exame  de  conclu- 
sões magnas  em  algumas  universidades 
antes  de  se  conferii"  o  grau  de  licenciado. 

—  Machiuismo  do  relógio,  para  que 
dê  as  horas  quando  se  toca  uma  mola. 

—  Termo  forense.  Acção  pela  qual 
pedimos,  se  nos  torne  o  que  déramos,  a 
tim  de  nos  darem,  ou  fazerem  alguma 
cousa  que  não  nos  deram,  ou  fizeram. 

—  Termo  de  artes.  Obra  de  pintura, 
ou  esculptura  repetida  pelo  mesmo  au- 
ctor  original. 

—  Termo  de  rhetorica.  Figura  em  que 
uma  mesma  voz,  ou  phrase  se  repete 
muitas  vezes  em  mn  periodo,  para  dar 
maior  energia  á  expressão. 

REPETIDAMENTE,  adv.  (De  repetido, 
com  o  suitixo  «mente»).  Frequentemen- 
te, de  novo,  com  repetição. 

1  REPETIDO,  pari.  pass.   de  Repetir. 

—  «Mas  porque  os  tais  humores  repeti- 
das vezes  se  encontrarão  em  muytos  so- 
geitos,  e  com  tudo  nem  sempre  produzem 
Convulsão,  julgou  Sennerto,  que  os  hu- 
mores antes  de  romperem  nesta  queixa 
adquiriam  alguma  qualidade  occulta  ini- 
miga dos  nervos,  semelhante  àquella  que 
costuma  produzirse  na  Epilepsia.»  Braz 
Luiz  dAbreu,  Portugal  medico,  pag. 
745.  —  «Sobre  esta  tomadia  ferve  outra 
vez  a  tempestade  repetida,  se  bem  me- 
no-i  escura,  porque  já  corre  vento  para 
ambos  os  piktos,  que  espalha  as  nuvens  : 
e  dahi  vem  que  nem  todos  tomaõ  o  mes- 
mo, e  cada  hum  se  recolhe  livremente  no 
que  lhe  fica  mais  a  geito.  Qual  seja  mais 
seguro  para  escapar,  elles  o  digaò,  que  o 
experimentaõ.B   Arte  de  furtar,  cap.  16. 

—  «Entrou  el  Rei  D.  João  em  conside- 
ração de  buscar  quem  governasse  o  Es- 
tado da  índia,  porque  Martim  Affonso 
tinha  acabado  o  tempo,  e  pedia  vSucces- 
sor  com  repetidas  instancias,  porque  as 
cousas  do  Oriente  estavão  por  vários  ae- 
cidentes  hum  pouco  declinadas,  e  não 
queria  que  a  guerra  com  algum  desar  lhe 
desluzisse  a  gloria  de  seus  feitos,  como 
quem  sabia,  que  dá  a  ignorância  do  Po- 
vo poder  a  huma  desgraça  para  desau- 
thorisar  muitas  victorias.»  Jacintho  Fi-ei- 
re  de  Andrade,  Vida  de  D.  João  de  Cas- 
tro, liv.  1.  —  «Passados  alguns  dias,  pas- 
sava ao  repetido  uzo  das  pirolas  seguin- 
tes :  R.  de  massa  de  pirolas  (Jochias,  de 
Escamonea  an.  drachm.  vj.  de  elleboro 
negro,  e  tártaro  vitriolado  an.  drachm. 
iy.  com  q.  b.  de  xarope  Pérsico  forme 
massa  de  pirolas.»  Braz  Luiz  d'Abreu, 
Portugal  medico,  pag.  302.  —  «E  o  que 
só   distinguia  com   clareza  era  a  pala\-ra 

—  valor  —  muitas  vezes  repetida,  e  ar- 
rancados suspiros  que  me  despedaçavão 
o  coração.  Por  fim  chegou  perto  de  mim, 
e  levando-me  dos  braços  para  me  sentar 
n'uma  cadeira,  ficou  longo  tempo  em  pé 
diante  de  mim,  immovel  como  uma  stá- 
tua.»  Francisco  Manoel  do  Nascimento, 
Successos  de  madame  de  Seneterre. 


REPETIDOR,  s.  m.  (Do  thema  repete, 
de  repetir,  com  o  suffixo  «dôr»;.  O  que 
repete. 

—  O  que  repete  as  lições  aos  alum- 
nos. 

REPETIMENTO,  s.  m.  Repetição. 

REPETIR,  V.  a.  (Do  latim  repefere). 
Tornar  a  dizer,  a  cantar,  a  recitar,  a  fa- 
zer o  mesmo.  —  «  E  porque  desta  vez  que 
Aires  Corrêa  là  foi  repetio  muitas  vezes 
que  os  Mouros  dauaõ  carga  de  noite  às 
nãos  de  Mecha  que  estauaõ  naquelle  por- 
to.» Barros,  Década  1,  liv.  5,  cap.  7. — 
«E  eu  tenho  dado  conta  das  injustiças,  e 
roubos,  que  Castella  executou  em  Portu- 
gal; e  porque  estou  já  rouco  de  repetir 
tantos,  deixo  muitos  mais,  e  concluo  com 
a  minha  consequência,  de  que,  quem  tal 
fez,  que  naõ  faria?»  Arte  de  furtar, 
cap.  18. —  «O  Rey  de  Siaõ  como  lhe 
não  era  possivel  no  Inverno  sustentar  o 
cerco  pela  multidão  de  gente,  que  trazia 
em  seu  exercito,  para  a  qual  não  era 
possivel  haver  mantimentos  no  assolado 
Rey  no  de  Pegú,  e  assim  o  obrigava  o 
tempo  a  recolherse  ás  terras  da  sua  Mo- 
narchia;  e  entrando  o  Yeraõ,  tornava  a 
repetir  o  assedio  com  multiplicadas  for- 
ças.» Conguista  do  Pegú,  cap.  2.  —  «E 
o  repete  Francisco  Pereira  Pestana  em 
um  Discurso  sobre  a  guerra  de  Africa, 
em  que  mostra  ao  mesmo  Rey  quanto 
contra  seu  Estado  era  sustentar  nos  lu- 
gares de  Africa  2:000.  lanças,  que  naõ 
faziaõ  força  mais  que  de  100.»  Severim 
de  Faria,  Noticias  de  Portugal,  Disc.  2, 
§  7.  —  «Os  Senhores,  a  quem  os  Reys 
de  Portugal  deraõ  o  Titulo,  referirei  co- 
mo fiz  nos  passados  sem  repetir  duas  ve- 
zes o  mesmo  Condado;  ainda  que  ao  fi- 
lho, ou  neto  se  tornasse  a  fazer  mercê 
delle.»  Ibidem,  Disc.  3,  §  25. —  «O  que 
repetimos  três  vezes,  a  nao  que  começa 
a  hir  andando,  tè  nos  hirmos  poer  em 
fundo  de  oyto  braças,  sem  leme,  ou  mas- 
to  grande,  sem  forças,  e  sem  fazenda, 
mas  com  tudo  muy  ledos,  e  contentes.» 
Frei  Gaspar  de  S.  Bernardino,  Itinerá- 
rio da  índia,  cap.  2. 

Vasconcellos  porém,  em  quem  o  espirito 
Heróico  eada  vez  mais  se  a-sãventa, 
Ao  Fonseca  repete  o  que  antes  dito 
Lhe  tinha  já  outra  vez,  e  lhe  accrescenta. 
Que  pois  hum  dcsestrado,  c  fortuito 
Caso,  que  assaz  a  todos  descontenta, 
Faz  que  o  direito  braço  cUe  nào  mude 
Lhe  dê  a  elle  o  logar,  pois  tem  saúde. 

F.  DE  ANDRADE,  PBIMEIKO  CEBCO  DE   DIC,  Cant.  16, 

est.  123. 

—  « Como  V.  M,  disse  hontem  em  pu- 
blico, que  dm-idava  da  certeza  dos  meus 
discursos  a  respeito  dos  cornos,  em  que 
y.  M.  principiou  a  falar,  parece  que  sou 
obrigado  a  repetir  por  escripto  o  que  re- 
feri nesta  matéria,  autorizando  as  histo- 
rias que  contey  com  os  Escriptores  que 
as  divulgarão.»  Cavalleiro  de   Oliveira, 


214 


ui;i'i 


KKI'l 


ui:í'L 


Cartas,  liv.  1,  n.°  12.  —  «Faço  escrú- 
pulo do  repetir  a»  oraçooiíH,  porquo  ou- 
toiídr)  qiK!  HO  a.4  aJuntiiSHO  aijui,  que  nito 
faltaria  ainda  hoje  quciii  as  rozaHso  fa- 
zendo .a  exporioncia  djis  coriínonias.» 
Ibidem,  n."  2i). —  «Eu  bom  quizera  ter 
feito  a  Cançilo,  poreui  dií,'o  a  V.  S.  que 
a  foz  o  dito  Matauanii>  na  Liiifíoa  (ire- 
ga,  e  quo  ollo  niosnio  a  traduzio  em 
Francoz  da  fiirma  quo  eu  a  repeti  a 
Sylvia.»  Ibidem,  n."  41. 

Já  não  repitú  as  ilocorf  cantiloiiaH, 
Com  quo  alcgi-e  atequi  pasmava  o  aiino ; 
Poia  8.1  clioi-ando  as  imlgoas,  (|uo  mo  oi-douas, 
So  oscMita  na  campina  o  tristo  Albano : 
A  fraiita,  com  quo  já  fiz  mais  pequenas 
Antijças  Bcim-ra/.ões  de  Amor  tyranno, 
(Porciuo  liojo  allivio  nella  ao  mal  nào  acho) 
Na  lovada  a  deitei  pclla  a^ua  abaxo. 

j.  X.  D1-:  Mirrou,  rimas,  pag.  105  (3."  cdii,'.) 


—  «  Minhas  perguntas, 
Cttvalleiro,  não  sào  do  curioso; 
Outra  voa  o  repito :  um  pobre  mongo 
Tom  uma  pobre  coUa  o  magra  coia. 
Mas  ambas  otlbrecc  d'alma  e  gosto. 
OARRKTr,  CAMÕES,  caut.  1,  cap.  21. 


A  ti,  a  quem  a  vida,  quo  se  me  ia 
Em  desalento,  em  desconforto,  devo, 
A  ti  minhas  ondoixas  mal  cantadas 
Nas  solidões  do  cxilio,  onde  a  repelem 
Os  ermos  cchos  do  cxtrangeiras  gruttas. 
A  ti  meus  versos  consagrei  na  lyra. 
iBiuKM,  cant.  1,  cap.  3. 


Virá  um  dia...  —  Mas  ó  longo  ainda 
Ksso  dia  do  nós.  — Ai !  quantas  vezes 
O  tomos  ditto  ambos  !  Inda  agora 
M'o  repelliste,  Maidio  :  Roma  c  sorva. 
iDSM,  ca.tXo,  act.  5,  se.  7. 

—  «  Ditas  estas  palavras,  o  cavallciro 
negro  cravou  as  esporas  no  ventre  do 
ginete  e  repetiu: — ávanto!»  A.  Hercu- 
lano, Eurico,  cap.  15. 

—  Todir  o  que  se  tinba  dado. 

—  Tornar  a  executar  um  artitice  uuui 
obra  que  originalmente  havia  feito,  ou 
alguma  parte  d'ella. 

—  Nas  universidades,  defender  tkoses, 
conclusõos  magnas  para  receber  o  grau 
de  licenciado. 

—  V.  n.  Reiterar,  segundar,  tornar  a 
vir.  —  Repetir  a  febre,  a  doença. 

—  Repetir-se,  v.  rejl.  Ser  repetido. 

Qual  Natureza  dá,  prazer  ingénuo 
Do  lagareiro  sórdido  se  apossa, 
Da  pacifica  orgia  os  lodos  gritos 
Se  repetem  nos  montes  cavernosos. 

J.    A.    DE   MACr.DO,   X  NATUKEZA,  Cant.    1. 

REPIAR.  Vid.  Arripiar. 

—  Loc.  ADV.  :  A  repia  carreira;  for- 
çado a  retroceder. 

—  A  repia  cabello ;  forçadamente  ;  con- 
tra a  quela,  a  pôspello. 

REPICADOR,  s.   m.   (Do  thoma  repica, 


que 


de  repicar,  com  o  suílixo  «dôr»;.  O 
re|(iea. 

REPICAPONTO,  <idv.  —  De  repicapon- 
to  ;  liem  l''iti),  executado  com  tudo  o  pri- 
mor. 

REPICAR,  V.  a.  (Do  re,  è  picar).  Fe- 
rir batendo  muitas  vezos. 

—  Tanger  os  sinos,  dar  rebato  com 
elles.  —  «  F  »  que  ainda  lhe  doo  pre- 
sumçíTio  desta  ida  foi,  jjonjue  ante  manli.T 
acabada  a  obra,  como  quem  repicava  em 
salvo,  mandou  Laesamana  tanger  todoloe 
seus  sinos,  quo  srio  de  metal  ao  modo  de 
bacias  grandes,  e  delias  taes,  quo  o  seu 
tom  quando  sào  muitas  em  Imma  frota, 
SC  ouvem  no  mar  hunia  légua.»  Barros, 
Década  2,  liv.  í),  cap.  2.  —  a  Pení  quan- 
do chegou  á  porta  ila  fortaleza,  e  soube 
elle  Ser  acolhido,  dissimulou  a  vinda,  di- 
zenilo  de  fjra  a  lluy  do  l»rito,  que  cou.sa 
era  aquella  que  vinha  alli  por  ouvir  re- 
picar, que  mauilava  sua  mercê  que  fizes- 
se com  aquella  gente  que  trazia.»  Ibi- 
dem, cap.  G. 

—  Cortar,  reduzir  a  partes  mui  pe- 
quenas o  ténues. 

—  Fazer  repique  no  jogo  dos  centos 
ou  dos  pitpies. 

—  ]'"'a7,er  mostra  de  alegria. 
REPIMPADO,  2>art.  pass.  de  Repimpar. 
REPIMPAR,   V.  «.   Encher,  entulhar  a 

barriga. 

Dizem  que  farão  de  patos 
gaviães,  de  melões  trigo, 
cm  tanto  repimpam  o  cmbigo  : 
c|nando  olhaea  os  pobatos 
liça  o  trigo  papa-figo. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  p.lg.   73. 

—  Figuradamente : 

E  alma  é  má. 

Mas  repimpa  o  corpo  a  vida 
com  que  está  jurando  ahi  alma, 
(|uc  o  corpo  diz — juro  o  mento  — 
diz  ahi  alma  —  eu  o  amargarei. 

ANTÓNIO  PRESTES,  ALTOS,  pSg.  307. 

—  Repimpar-se,  v.  rejl.  Encher  muito 
a  barriga,  rochear-se  até  ficar  impando. 

REPINALDO,  adj.  Diz-se  d'uma  espécie 
do  pêros. 

REPINCHADO,  adJ.  Ancho,  inchado  de 
vaiilado  ou  de  contentamento. 

REPIQUE,  *■.  ni.  Acçào  e  effeito  de  re- 
picar; toíjue  festivo  de  sinos,  ou  para  dar 
rebate.  —  «Com  isto  so  recolheo  para 
dentro  de  huma  casa,  e  me  mandou  aga- 
salhar em  outra  de  hum  mercador  Vron- 
tio  natural  do  reino  de  Andraguirec,  o 
qual  cm  cinco  dias  quo  cu  aquy  estivo 
me  banqueteou  sempre  esploudidamente, 
iuda  que  naquelle  tempo  tonuira  eu  an- 
tes qualquer  ruim  iguaria  cm  outra  par- 
te onde  me  ouvera  por  mais  seguro,  po- 
ios muitos  repiques  e  rebates  òe  inimigos 
que  aly  avia  cada  hora.»  Fcrnrio  Mendes 
Finto,  Peregrinações,  cap.  22. 


Kra  já  ulto  dia,  c  retumbava 

Km  alegres  repitjuej  Eiva»  toda, 

(guando  o  Deão  acorda  ao  grande  ruido, 

E  chamando  os  ('riudos  Ihi;  pergunta, 

Qual  do  grande  Zào-Zàu  era  o  motivo. 

Eiitào  o  Cozinimiro,  debulhado 

Km  lagrimas,  lhe  conta,  que  a  noticia 

De  t<!r  vencido  o  1Jís|K)  o  graudc  pleito. 

Que  trazia  com  sua  Senhoria, 

Tinha,  ha  jiouco,  chegado  por  um  1'roprio. 

DiaiZ  DA  CBUZ,  IIYaBOPE,  caut.  8. 

—  Altercação,  abalo  súbito. 

—  Acudir  (nj  repique ;  ao  signal  de 
rebato. 

—  Ljinc;  no  jogo  dos  centos. 
REPIQUETE,  «.  //(.  Rebate  repetido  dos 

sinos. 

—  Ladeira  curta,  íngreme,  empinada, 
do  mau  descer,  picada. 

—  Vento  de  repiquetes ;  o  que  salta  e 
corro  03  rumos,  durando  pouco  em  cada 
um. 

REPISA,  8.  /.  iDe  repisar).  O  acto  de 
repisar. 

—  Vinho  de  repisa  ;  o  que  se  faz  das 
uvas  repisadas. 

REPISADO,  part.  pass.  de  Repisar. 
REPISAR,  ou  REPIZAR,  t-.  a.     De  re, 
o  pisar).  Tornar  a  pisar. 
• —  (.'alçar  aos  pés. 

—  Repisar  a  mesma  matéria ;  repetir  a 
mesma  cousa,  tornar  a  fallar  e  tratar 
delia. 

REPLANTAÇÃO,  s.  f.  Acçilo  ou  acto 
de  replantar;  ou  plantar  segunda  vez. 

REPLANTAR,  v.  a.  [De  re,  e  planUr  . 
Tornar  a  plantar,  plantar  do  novo. 

REPLEÇÃO,  s.  /.  (Do  latim  repletio- 
n-eiiij.  Enchimento  dos  vasos  poios  humo- 
res, ou  do  estômago  pelo  comer. 

REPLENADO,  adj.  Cheio,  terraplenado, 
entulhado. 

REPLENO.  Vid.  Terrapleno. 

REPLETO,  adj.  (Do  latim  repletu». 
Muito  cheio.  =  Ápplica-se  á  pessoa  muito 
clieia  de  humores  ou  de  comida. 

REPLICA,  *.  /.  O  argumento  que  se 
faz  contra  o  que  se  respondeu. 

—  Resposta  que  se  dá,  impugnando  o 
que  SC  disse  ou  manda.  —  €  Finalmente 
depois  do  passadas,  de  huma,  e  da  outra 
parte  muitas  replicas,  vendo  Ueorge  dal- 
buqnerque  a  openiara  do  tyrano  determi- 
nou ir  sobrele,  e  lhe  tomar  aquella  for- 
ça, em  que  tinha  toda  a  sua  confiança.» 
Damiiio  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  4,  cap.  06. 

—  Obedecer  sem  replica ;  sem  respon- 
der, sem  refertar,  sem  contradicçào. 

—  Termo  forense.  Articulado  ;  escri- 
pto  do  author  contestando  a  resposta  do 
réo.  —  «Tiram  meus  inimigos  por  teste- 
munhas, e  esteve  ao  porguntíir  delias  Ma- 
noel de  Macedo,  que  descubertamente  he 
meu  inimigo.  Fui  lançado  de  réplica,  c 
de  outros  termos,  quo  tinha  de  Direito 
Divino,  e  Humano.»  Diogo  de  Couto, 
Década  4,  liv.  ò,  cap.  7. 

—  Fazer  uma  replica  ao  juiz  ;  repre- 


REPL 


REPO 


REPO 


215 


sentar  alguma  cousa  acerca  do  seu  des- 
pacho. 

REPLICAÇÃO,  s.  f.  (Do  latim  replica- 
tioiíeinK  Aeyào  e  elfeito  de  replicar. 

REPLICADO,  jKirt.  pass.  de  Replicar. 

—  jS.  wi.  Vid.  Replica. 

Eseuscmoa  )-eplicados. 

Vós  querciâ 

registar  o  que  trazeis  V 

Nào. 

Nào?  Faustos  escusados 

salteae,  nào  perdoeis. 

ANTOSIO  FHESTES,  AUTOS,  pag.  85. 

REPLICADOR,  s.  m.  O  que  replica  fre- 
quentemente, que  contraria. 

REPLICAR,  V.  a.  (Do  latim  replicare). 
Tornar  a  responder.  —  «Os  quaes  casti- 
gariào  do  modo  que  elle  quisesse,  e  llie 
dariào  toda  a  carga  despeciarias  que  lhe 
fosse  necessária,  Diogo  lopez  lhe  respon- 
deo  que  se  lhe  mandasse  Rui  daraujo,  e 
03  maia  portugueses,  que  tornaria  a  en- 
trar no  porto,  ao  que  el  Rei,  e  o  Renda- 
ra replicaram  que  tornasse  a  entrar,  que 
tudo  se  faria  como  elle  quisesse.»  Da- 
mião de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  3,  cap.  2.  —  «Senhor,  tenho  que 
dizer  a  isso,  replicou  o  Conselheiro.  Ca- 
lay-vos,  naõ  me  insteis ;  que  vos  man- 
darey  lançar  hum  grilhão  nessa  lingua  : 
bem  sey  o  quo  quereis  dizer :  naõ  tendes 
que  me  vir  aqui  com  conveniências  de 
cortar  hum  braço,  para  naõ  perdermos  a 
cabeça :  saõ  isso  discursos  velhos,  e  ca- 
ducos.» Arte  de  furtar,  cap.  29.  —  «E 
como  D.  Álvaro  instasse,  que  era  preci- 
so executar  as  ordens  que  levava,  que 
erão  saltar  em  terras,  e  abrazar  os  por- 
tos do  inimigo,  lhe  replicarão  no  Conse- 
lho, propondo  que  se  ticasse  elle  General 
no  mar  mandando,  e  que  os  Capitães  dos 
mais  navios  commetteriào  a  barra.»  Ja- 
cintho  Freire  de  Andi-ade,  Vida  de  D. 
João  de  Castro,  liv.  1.  —  «Replicava  o 
outro,  que  sim  o  era,  porque  conhecera 
em  tal  parte  o  senhor  fulano  seu  marido ; 
e  ella  tornava :  Senhor,  digo-vo-lo  por- 
que eu  casei  por  procuração,  e  fui  casa- 
da por  carta ;  e  isto  é  nào  ser  casada.  E 
era  assim,  que  pelas  ausências  de  seu 
mr.rido  apenas  o  conhecera.»  Francisco 
Manoel  de  Mello,  Carta  de  guia  de  ca- 
sados. 

Nenhum  desses  desastres,  Deos  louvado, 
Me^suceedco :  (o  Lara  lhe  replica) 
Ao  Padre  Guardião  somente  quero 
N'um  negocio  fallar,  se  for  possível. 

DI5IZ  DA  CKUZ,  HTSSOrE ,  caiit.  5. 

Senhor  Deaõ  (replica  entaõ  a  Ama) 
Sc  da  sua  tristeza  é  essa  a  causa, 
Tem  por  certo  razaõ  para  affiigir-se  ; 
Supposto,  que  naõ  é  o  mal  taõ  grande. 
Que  naõ  possa  remédio  ter  ainda. 
IBIDEM,  cant.  8. 

—  Fazer  replica. 


—  Responder  como  impugnando  o  que 
se  disse  ou  manda. 

—  Termo  forense.  Refutar  a  resposta 
ou  defeza  do  reu. 

—  Replicar  ao  juiz ;  representar-lhe 
alguma  cousa  a  respeito  do  seu  despacho. 

—  Replicar  ao  superior ;  f;izer-lhe  al- 
guma retlexào,  representar  alguma  cousa 
acerca  do  que  elle  diz  ou  manda. 

—  Redobrar,  repetir, 
REPOLEGAR,  v.  a.  Dobrar,  fazendo  re- 

polego. 

REPOLEGO,  s.  m.  Filete  retorcido  e 
grosso,  ou  bainha  roliça  á  borda  das  toa- 
lhas de  rosto. 

—  Cordão  de  massa  em  redor  da  em- 
pada. 

REPOLHAL,  adj.  2  gen.  Repolhudo.  — 
Couve  repolhal. 

—  S.  m.  Terreno  plantado  de  repo- 
lhos. 

REPOLHAR,   i'.  n.  Fazer-se  repolhudo. 
REPOLHO,  s.  m.  Espécie  de   couve  fe- 
chada e  redonda  que  não  abre  as  folhas. 

—  Cabeça  ou  volume  roliço,  que  al- 
gumas plantas  formam,  apinhando  suas 
folhas  umas  sobre  outras. 

REPOLHUDO,  adj.  (De  repolho,  com  o 
suffixo  «udo»).  Diz-se  das  plantas  que 
formam  repolho,  como  a  couve  lombar- 
da, a  alface,  etc. 

—  Termo  popular.  Grosso,  muito  gor- 
do, fallando  do  homem. 

REPONCIO,  s.  m.  (Do  latim  rapun- 
tiuin).  Planta  de  flores  vermelhas  e  se- 
mente negra  dentro  de  cabeciuhas  como 
as  da  papoula. 

REPONTA,  s.  /.  (De  re,  e  ponta). 
Nova  ponta  ou  direcção. 

—  ^l  reponta  da  maré ;  é  quando  tor- 
na a  começar  a  encher. 

REPONTAR,  1-.  n.  Vir  apparecendo  de 
novo.  —  Repontar  o  dia. 

—  Repontar  a  maré;  começar  a  encher, 
ou  a  vasar. 

REPOR,  V.  a.  (De  re,  e  pôrl.  Tornar 
a  pôr. 

—  Repor  no  jogo ;  pôr  na  mesa  outro 
tanto  dinheiro,  como  está  no  bolo. 

—  Restituir.  —  Repor  o  dinheiro  que 
se  havia  recebido. 

—  Refazer  o  saldo,  a  falta. 
REPORTAÇÃO,  s.f.  Comedimento,  mo- 
deração, modéstia. 

REPORTADO,  part.  pass.  de  Reportar. 

REPORTAMENTO,  s.  m.  Acção  e  effeito 
de  reportar,  ou  reportar-se. 

REPORTAR,  V.  a.  Fazer  temperado, 
moderado,  comedido. 

—  Alcançar,  obter,  conseguir. 

—  Attribuir,  referir.  —  «A'  experiên- 
cia me  reporto,  sobre  a  qual  nào  será 
necessário  o  favor  que  vossa  senhoria  me 
faz,  o  qual  eu  renunciara  de  boa  vonta- 
de na  pessoa  de  D.  Pedro  para  seus  ac- 
crescentamentoa  quando  elle  o  houvera 
mister  pelas  obrigações  que  lhe  tenho,  e 
pelos  bens  que  lhe  desejo ;  traga-nos  Deos 


boas  novas  de  vossa  senhoria,  a  que  o 
mesmo  Senhor  nos  guarde  para  nosso 
amparo  e  desempenho.  Maranhão  4  de 
Dezembro  de  1660.»  Padi-e  António  Viei- 
ra, Cartas,  n.°  19. 

—  Reportar-se,  v.  re.jl.  Moderar-se, 
comedir-se,  refrear  as  paixões. 

—  Reportar-se  a  alguém,  ou  a  algum 
vionumento ;  remetter-sc. 

REPORTO,  s.  m.  Termo  antiguado.  Ob- 
séquios, favores. 

REPORTÓRIO,  s.  m.  Vid.  Repertório. 
Indicação  dos  dias,  mezes,  e  estações  do 
anno. 

REPOSIÇÃO,  s.  /.  (Do  latim  repositio- 
liem).  Acção  de  repor. 

—  Reposta  de  bolo  em  jogo. 

—  Figuradamente  :  Vomito. 
REPOSITAR,    V.    a.   Repor,    depositar, 

coUocar. 

REPOSITO,  part.  pass.  irreg.  de  Repo- 
sitar. 

• — <S'.  m.  Repositório,  deposito. 

REPOSITÓRIO,  adj.  Termo  de  pliarma- 
cia.  Diz-se  dos  vasos  em  que  se  guardam 
03  medicamentos,  como  bocetas,  frascos, 
garrafas,  etc. 

—  S.  m.  Logar  para  pôr  ou  coUocar 
alguma  cousa. 

1.)  REPOSTA.  Vid.  Resposta.—  «Des- 
pedido Dom  Afonso  da  Sylua  com  ha  re- 
posta, de  sua  embaixada,  e  acabados  ou- 
tros negócios  a  que  el  Rei  quis  dar  fim, 
antes  de  partir  de  Monte  mór,  na  entra- 
da da  Quaresma  do  anno  de  M.ccccxcvj, 
se  foy  a  Setuual  onde  ho  estaua  speran- 
do  ha  Rainha  dona  Leanor,  e  ha  Duque- 
za  de  Bragança  dona  Isabel  suas  irmãs, 
e  ha  Infante  dona  Beatriz  sua  mai  pêra 
tratarem  negócios  que  com  elle  tinham, 
e  alli  tiuerão  todos  Páscoa  da  Resurrei- 
ção.»  Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  1,  cap.  13.  —  «O  que  sa- 
bendo o  senhorio  da  nao  se  foi  logo  a 
queixar  a  el  Rei,  e  após  elle  outros  seus 
achegados,  e  amigos.  Finalmente,  que 
com  ha  reposta  que  acharão  em  el  Rei, 
e  ódio  que  tinhão  aos  nossos  por  serem 
Christaons,  se  ajuntarão  os  mais  dos  Mou- 
ros da  cidade,  e  com  mão  armada  forão 
dar  na  casa  da  feitoria.»  Ibidem,  cap. 
59.  —  «Com  a  qual  determinaçam  res- 
pondeo  a  hum  recado,  que  lhe  Afonso 
dalbuquerque  mandou  de  paz,  e  amiza- 
de, dizendo,  que  elle  lhe  nam  podia  dar 
reposta  sem  ter  recado  dei  Rei  de  Or- 
muz seu  senhor,  do  quo  auia  de  fazer.» 
Ibidem,  part.  2,  cap.  31.  —  «Afonso  dal- 
buquerque respondeo  a  Çufalarim,  que 
elle  lhe  mandaria  a  reposta  ao  outro  dia, 
o  que  assi  fez  per  Fernão  perez  dandra- 
de,  e  nos  apontamentos  que  lhe  deu,  os 
principaes  foram,  que  lhe  desse  o  çabjim 
dalcão  huma  tanadaria  na  terra  íirme, 
das  que  estiuessem  mais  perto  da  cidade 
de  Goa.»  Ibidem,  part.  3,  cap.  6. —  «A 
forma  das  palauras  foram  que  lhe  desse 
conselho  do  que  deuia  de  fazer  neste  ca- 


216 


REPO 


REPO 


REPO 


80,  mcn  irmJto  lho  respondeo,  qiio  elle  bo 
nílo  atrouia  fallar  a  cl  Rei  ftin  cousa  do 
qiui  toilolort  lidalj^os  quu  lho  fallaram,  (?ai- 
ram  com  reposta  ilo  ho  tiulo  coiuetor  a  jus- 
tiça.» Ibidem,  c-ap.  40. —  «Mas  Nuno  fer- 
nandoz  como  maiulou  o.-<tc  roçado  a  dom 
loaõ,  som  mais  e.-jpoiar  reposta,  tondosso 
por  Batisfoito  do  conipriíiicnto,  que  com 
cUc  fczora,  com  cobiça  de  .sor  toda  a 
hoiirra  sua,  partio  lo<,'o  do  Oalim  coin 
sua  {^onto  \wm  ordenada,  o  do  caminho 
foi  tor  com  (lido  Ihcabuntafuf. »  Ibidem, 
cap.  48.  —  «Recolhido  na  nao  do  Vicen- 
te dalbuquorquo  o  sobrinlio  do  Kaix  nor- 
dim  por  arrofons  de  Nicolau  ferreira, 
Afonso  dalbuquorquo  o  mandou  a  el  Rei 
bem  acompanhado  com  a  reposta  de  sua 
embaixada,  quo,  a  naõ  tomou  bem  dollo 
por  se  tornar  Christam,  com  tudo  as  car- 
tas que  lho  leuaua  dol  Rei  dom  p]manuel 
recebeu  com  muita  cortezia,  o  sem  tra- 
tar mais  nada  com  Nicolao  torreira  o  dcs- 
pedio.»  Ibidem,  cap,  (56.  —  «O  (piai  ai'- 
tipo  visto  pin*  nos  com  a  reposta  a  ello 
dada,  dizemos  quo  devo  seer  declarado 
em  esta  f?uisa,  a  saber;  que  se  em  algum 
coatrauto  alguém  promctto  a  dar,  ou  fa- 
zer alguã  cousa,  ou  a  pagar  alguã  quan- 
tidade, ou  qualquer  outra  cou<a  a  tempo 
certo  sobre  corta  poiía,  c  nom  a  dando, 
fazendo,  ou  pagando  ao  dito  tempo.»  Ord. 
Affons.,  liv.  4,  tit.  7,  §  2.  —  «O  qual 
artigo  visto  per  nós  com  a  reposta  a  oUe 
dada  polo  dito  Senhor  Rey,  avemos  por 
boa,  e  mandamos  que  so  guarde  e  cum- 
pra por  Ley,  como  cm  ella  he  conthcu- 
do.»  Ibidem,  tit.  31,  §  2.  —  «E  com  es- 
ta dcclaraçom  Mandamos  quo  so  guarde 
o  dito  artigo,  segundo  em  elle  he  con- 
theudo  com  sua  reposta,  e  per  Nós  de- 
clarado, como  dito  he.»  Ibidem,  tit.  48, 
§  4.  — <iE  no  que  diz  que  na  successaõ 
dos  Roynos  feudaes  naõ  ha  lugar  á  ro- 
presentaçaõ,  ho  commumente  reprovado  ; 
além  do  que  o  Royno  de  Portugal  naõ 
he  feudal,  nem  podem  militar  nello  as 
razoons  das  Concessoens  domiuicafi ;  como 
em  seu  lugar  mo-itrarey  na  reposta  da 
razaõ  X.»  Arte  de  furtar,  cap.  1(5. — 
B IV.  Reposta  contra  a  quarta  razaõ.  Ad- 
mittimos  o  argumento  contra  os  outros 
Oppositorcs,  e  negamo-lo  contra  a  Se- 
nhora Dona  Catharina  por  razaõ  da  me- 
lhor linha,  em  que  se  achava,  com  que 
vencia  a  Pilippe,  como  fica  explicado  na 
reposta  próxima  contra  a  terceira  razaõ. 
V.  Contra  a  quinta.»  Ibidem. 

O  Capitão  lho  diz  quo  da  sua  gente 
A  vitima  reposta  saberia, 
Que  estando  este  varão  ja  transtoniado 
Não  entende  a  trai>;ão  tào  clara  e  vista. 

^OSTG   REAL,  l«A.Ult-B,(.OIO  DE  SEPÚLVEDA,  Cant.  15. 

—  «Mas  direis,  quo  muitas  destas  dá 
aos  mãos,  e  peruersos :  attentai  porá  a 
reposta;  por  causa  dos  bons  premite 
Deos,  que  aja  mãos,    como  por  causa,  c 


seruiço  dos  homens  se  conseruaíí  os  ju- 
mentos, qualquer  mao,  e  peccador,  (diz 
Sancto  Agostinhoj  que  o  permite  ])co.«, 
porque,  ou  lia  de  vir  a  ommendarso,  ou 
pêra  quo  so  exercito  o  justo,  e  tenha  o 
morecimonto  de  sofrello,  donde  ainda  os 
mao»  por  vosso  respeito  viucin. »  Fr.  Har- 
tholomou  dos  Martyres,  Compendio  de 
espiritual  doutrina,  cap.  14. —  «E  fi- 
cando uiis  iium  jK)uco  sobresaltados  com 
esta  sua  reposta,  o  quasi  corridos  do 
moilo  com  <jiic  noia  disscrào,  llie  pedi- 
mos perdTio,  dizendo  que  nossa  ignorân- 
cia nos  desculpava,  assi  para  com  Deos 
como  para  com  elles.»  Fornito  Mendes 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  102.  —  «E 
com  isto  .se  metcrào  om  tanta  cólera,  que 
hum  doUes  deu  ao  outro  huma  gríldo  bo- 
fetada, a  qual  ouve  por  reposta  huma 
grande  cutilada  pelo  rosto  do  quo  a  deu, 
dada  cõ  huma  faca,  que  lhe  derrubou 
meya  face  cm  baixo.»   Ibidem,  cap.  11."). 

—  «Esto,  quando  ouvio  a  nossa  reposta, 
pôs  os  olhos  no  Coo  e  disse,  ó  quem  pu- 
desse preguntar  a  Deos  pela  declaração 
deste  segredo,  a  que  o  nosso  pobre  en- 
tendimento não  pôde  chegar,  que  porque 
causa  que  gente  tão  avessa  do  conheci- 
mento da  nossa  verdade  responda  assi 
improviso  com  huma  doçura  de  palavras 
tão  agradáveis  aos  ouvidos.»  Ibidem,  cap. 
121. —  «Da  qual  reposta  alguns  dos  que 
estavão  presentes,  segundo  dclles  infiri- 
mos,  motejarão  algum  tanto  com  alguns 
ditos  cortesãos  e  galantes,  de  que  el  Rey 
gostava  muyto.n  Ibidem,  cap.  122.  —  «E 
espantada  a  Rayniia  das  repostas  que 
hum  dos  nossos  lhe  dava,  disse,  fabão  co- 
mo homens  quo  so  criarão  entre  gente 
que  vio  mais  do  mundo  que  n(js,  e  des- 
pois  de  se  deter  comnosco  hum  pequeno 
espaço  em  algumas  perguntas,  nos  des- 
pidio  com  boas  palavras,  e  nos  mãdou 
dar  cem  taeis  de  esmola.»  Ibidem,  cap. 
128.  —  «Elle  tomando  ao  Tártaro  quasi 
igual  de  sy,  abalou  por  huma  sala  muy- 
to  comprida  até  huma  porta  que  na  frõ- 
tai"ia  delia  estava,  e  batendo  nella  três 
vezes,  lhe  resp  'uderão  de  dentro  que  era 
o  que  queria,  a  que  elle  respondeo  com 
voz  misuraila,  he  chegado  por  custume 
antigo  de  verdadeyra  amizade  Imm  em- 
baixador do  grão  Xinaraii  da  Tartaria, 
para  sor  aquv  ouvido  do  Prechau  Gui- 
mião  que  todos  temos  por  senhor  de  nos- 
sas cabeças,  com  a  qual  reposta  as  por- 
tas ambas  forão  de  todo  abertas,  e  en- 
trarão  para   dentro.»  Ibidem,  cap.   130. 

—  «A  qual  lhe  ello  não  negou,  e  lhe 
respondeo  por  palavra  que  se  lhe  entre- 
gasse a  Ravnha  primeyro,  com  sua  gen- 
te, tisouro  c  royno,  c  que  elle  a  fatisfa- 
ria  em  outra  cousa  de  que  ella  fosse  cõ- 
tcnte,  e  que  a  isto  lhe  respondesse  logo 
no  mesmo  dia  que  para  isso  lhe  dava  de 
espaço  somente,  porque  com  a  sua  repos- 
ta se  determinaria  no  que  avia  de  fazer.» 
Ibidem,    cap.  154. —  «Chega   a  Baçaim, 


Manda  D,  Álvaro  a  Surratc.  Despede  D. 
Álvaro  a  D.  Jorge,  c  outros  Capitães. 
Que  lhes  suceedo.  Voltào  a  D.  Álvaro. 
Que  fez  o  (íovernador  em  líaçaim.  Ajun- 
ta-secom  seu  filho.  Avista  o  SoltSo.  Apre- 
senta-lho  batalha.  Falia  aos  soas.  Repos- 
ta dos  Fidalgos,  e  Cabos.  Está  no  campo 
tros  horas,  o  fímbarca-se,  Damnos  que 
faz.  Chega  a  Diu.  D,  João  Jlascarcnlias 
faz  dcixação  da  Praça.»  Jacintho  Freire 
d'Andradc,  Vida  de  D.  João  de  Castro, 
liv.  4. 

2.,  REPOSTA,  .«.  /.  (])c  repor).  Ter- 
mo de  jogo.  E  quando  o  feito  não  chega 
a  fazer  as  vasas  necessárias  para  ganhar; 
no  qual  caso  repõo  na  mesa  outras  tan- 
tas polhas  quantas  estSo  no  bolo.  —  Fa- 
zer reposta. 

REPOSTADA.  Vid.  ResposUda. 

REPOSTARIA,  s.  f.  Casa  destinada  nas 
habitações  de  pessoas  ricas,  para  fazer 
doces  e  bebidas. 

—  Todos  08  objectos  e  provisões  per- 
tencentes á  copa,  e  a  gente  que  n'ella  se 
occupa. 

REPOSTE,  s.  í;i.  ant.  Casa  de  guardar 
moveis, 

—  O  que  se  guardava  n'ella. 
REPOSTEIRO,   *,   m.  Official,  qne  tem 

a  seu  cargo  o  reposte,  pratas,  roupas 
guardadas  n'elle,  que  adornam  as  casas, 
o  mesas  reaes  dos  moveis  pertencentes, 

—  O  que  tem  a  seu  cargo  a  copa  nas 
casas  ricas. 

—  Reposteiro^wr  ;  fidalgo  que  tem  a 
seu  cargo  tudo  o  respectivo  ao  ramo  de 
reposte  o  mantearia. 

—  Panno  com  as  armas  da  casa,  que 
serve  para  cobrir  as  cargas  das  azemo- 
las,  ou  para  cobrir  as  portas,  etc. 

—  O  frade  official,  administrador  da 
vostiaria. 

REPOSTO,  i>"rf.  p-ifs.  de  Repor. 

REPOUSADAMENTE,  mlv.  (De  repousa- 
do, cora  o  suífixo  » mente»}.  Em  repouso, 
com  socego. 

REPOUSADO,  part.  pass.  de  Repousar. 
—  Por  isso  trabalhem  por  vida  repousa- 
da e  não  atravessem  tlorestas ;  porque 
inda  (pio  levem  guardador  que  as  segure 
d'outrein,  terão  mister  quem  os  segure 
delle.  Bom  entendeu  seu  cavalleiro  estas 
palavras,  o  ella  pêra  isso  as  disse,  mas 
elle  dissimulou,  como  sempre  costumava. 
Pois  senhor,  disse  o  outro  que  ficava,  a 
mim  que  mandais,  que  eu  uào  tive  tem- 
po de  escolher  n(^nhuma,  porque  o  deixa- 
va em  v<'>s.»  Francisco  de  Moraes,  Pal- 
meirim  d'Inglaterra,  cap,  125. 

Dospois  que  Magalhães  teve  t(?cida 
A  breve  historia  sua.  que  illustrasso 
A  'Ferra  Santj»  Cruz,  pouco  sabida  ; 
Imaginando  a  quem  a  dedicasse, 
Ou  com  cujo  favor  defenderia 
Sou  livro  d'algum  roilo  q<ie  ladrasse; 
Tendo  nisto  occupada  a  phantasia. 
Lho  sobreveio  hum  somno  rfjtoiífiido. 
Antes  que  o  sol  abrisse  O  claro  dia. 

CAMÕES,  ELEGIA  i. 


REPO 


REPO 


REPO 


217 


comei  ora  repoiuado, 
cobri,  que  viiidea  suado; 
oude  está  teu  seulior,  moço? 
Ora,  á  meza  o  seu  bocado 
é  o  vosso,  e  o  vosso  d"ella. 

ANTOmO  PRESTES,  AUTOS,  pag.    111. 

Tranquillo  o  repousado  no  atahudc, 
Como  viajante  reclinado  á  poppa 
Ua  galé  que  em  bonança  vai  ciugrando 
Com  brandos  ventos  para  o  porto  amigo. 
GARKETT,  CAMÕES,  caut.  5,  cap.  2. 


REPOUSAR,  V.  a.  Descançar  o   corpo. 

—  Aquietar,  socegar. 

—  V.  n.  Ter  repouso,  descançar,  so- 
cegar  das  fadigas.  —  «Brandimar,  como 
nestes  dias  o  amor  o  não  deixasse  repou- 
sar, passava-os  todos  no  paço,  occupaudo 
de  continuo  os  lugares  donde  podia  ver 
Braudisia,  e  as  noites  gastava  arredor  de 
seu  apousento,  porque  alli  satisfazia  o  co- 
ração com  ver  as  paredes,  que  seu  bem 
encerravam.»  Francisco  de  Moraes,  Pal- 
meirim d'Inglaterra,  cap.  90.  —  «E  por- 
que a  escuridão  da  uoite  não  deixava 
vel-o,  nào  pode  divisar  as  armas  nem  as 
cores  delias,  e  pôz-se  a  escutal-o,  con- 
tente de  o  ouvir,  porque  um  triste  com 
outras  tristezas  repousa.»  Ibidem,  cap. 
76.  —  «Pas.sados  alguns  dias  depois  da- 
quella  temerosa  batalha,  e  os  feridos  taes 
de  suas  feridas,  que  já  não  havia  que  te- 
mer, Floreudos,  a  quem  a  saudade  das 
aguas  do  Tejo  e  arvoredos  do  castello  de 
Almourol  não  deixavam  repousar.»  Ibi- 
dem, cap.  9.Õ.  —  «E  quando  houverem 
de  fazer  batalha,  que  el-rei  meu  senhor, 
por  me  fazer  mercê,  lhe  mandará  segurar 
o  campo;  e  por  hoje  quizer  repousar,  o 
pôde  fazer,  que  ámanhãa  haverá  tempo 
pêra  tudo.»  Ibidem,  cap.  123.  —  «Mas 
neste  tempo  desceu  el-rei  ao  terreiro,  que 
o  desejo  que  tinha  de  conhecer  o  cavalleiro 
das  Donzellas,  o  nào  deixou  repousar ; 
e  com  sua  authoridade  e  palavras  desviou 
a  batalha,  levando-os  comsigo,  que  tam- 
bém os  outros  eram  merecedores  daquel- 
la  honra.»  Ibidem,  cap.  129.  —  «Porque, 
como  Dauid  auia  pruphetizado)  a  carne 
do  Saluador  nam  auia  de  experimentar 
corrupçam,  mas  em  breue  espaço  auia  de 
repousar  no  sepulchro  em  certa  esperan- 
ça de  resurreiçam.»  Frei  Bartholomeu 
dos  Martvres,  Catecismo  da  doutrina 
christã,  llv.  1,  cap.  12.  —  «Não  procuro 
apparelhar  e  quietar  meu  coração  pêra 
queDeos  uelle  repouse.  Antes  com  o  con- 
tino  arroido  de  destraymentos  e  tumulto 
de  pensamentos  vãos,  nào  permito  que 
elle  ache  repouso  em  mim.  Ay  de  mi 
que  sem  causa  viui  atee  o  presente:  e 
affrontome  porque  assi  viui,  e  mais  qui- 
sera não  ser,  que  ser  tal.»  Ibidem,  cap. 
2.  —  «A  terceira  propriedade  he  satisfa- 
ção, a  saber,  gozo,  e  descanso  da  alma 
em  seu  amor,  porque  esta  lhe  basta,  nem 
de  outra  cousa  alguma  se  lhe  dà,  a  cau- 
sa deste  cabal  descanso,  e  satisfação  está 

•  Tot.  V.— 28. 


patente,  porque  como  quer  que  todas  as 
cousas  repousem  em  seu  centro,  e  perfei- 
ção, e  esta  tenha  a  alma  descansando, 
como  em  seu  centro  na  vniào  cõ  Deos 
summo  bem  seu,  e  que  summamente  a 
aperfeiçoa,  claro  íica  o  fundamento  de 
seu  descanso,  porque  sendo  Deos  o  centro 
da  alma,  estando  nelle,  naõ  lhe  íica  mais 
que  desejar:  antes  tica  cumpridamente 
satisfeita,  e  gozosa  alcançada  a  tal  vniaõ.» 
Idem,  Compendio  de  espiritual  doutrina, 
cap.  12. 

—  Descansar,  socegar,  dormir.  —  «O 
que  feito  dom  Bernardo  se  foi  pêra  a  al- 
deã, em  que  achou  muito  trigo,  ceuada, 
galinhas,  e  outros  mantimentos,  onde  re- 
pousando chegou  Rui  barreto  da  aldeã 
que  ja  tinha  tomada  dom  loam,  que  per 
seu  mandado  hia  recolhendo  a  gente  que 
andaua  espalhada  pelo  campo,  e  de  longo 
do  rio.»  Damião  de  Góes,  Chronica  de 
D.  Manoel,  part.  3,  cap.  48.  —  «Com  tu- 
do depois  de  comer,  e  repousarem  dom 
Bernardo  mandou  tocar  as  trombetas  e 
com  toda  sua  gente  recolhida,  e  oitenta 
almas  que  captiuara,  e  muito  gado  gros- 
so, e  meudo  se  foi  para  dom  Joaõ,  que  o 
recebeo  com  muita  alegria,  lançandolhe 
os  braços  no  pescoço,  c  a  benção,  por 
quão  bem  o  tinha  feito.»  Ibidem,  cap.  48. 
—  «O  que  elle  negociou,  e  sendo  a  duas 
legoas  de  Baluam  com  as  cargas  de  ti-igo 
que  fora  buscar,  estando  repousando, 
chegou  a  elle  o  adail  Dazamor  com  ses- 
senta de  cauallo,  a  horas  de  jantar,  do 
que  os  mouros  sobresalteados,  parecendo- 
Ihe  que  hiam  sobrelles  derào  com  as  ten- 
das no  chão,  pondosse  em  som  de  pele- 
ja.» Ibidem,  cap.  õ4.  —  <tPa.ssado  este 
vao  mandou  dom  Aluaro  descarregar  as 
Azemelas,  e  a  vista  dos  mouros,  que  es- 
tauam  da  outra  banda  do  rio,  jantaram, 
e  repousaram,  per  espaço  de  duas  horas, 
o  que  feito  se  tornarão  perá  cidade  com 
as  almas,  que  leuauam  captiuas  sem 
acharem  outro  nenhum  recontro.»  Ibi- 
dem, part.  4,  cap.  39.  —  «Deu  isto  muy- 
to  em  que  cuidar  a  Maximino,  e  pare- 
cendolhe  cousa  perigosa  meter  tempo  em 
meyo,  se  fez  na  volta  de  Itália,  jurado 
de  assolar  a  Cidade  de  Roma,  donde  sa- 
hio  Pupieno,  para  lhe  fazer  resistência, 
mas  escusaraõ-no  os  mesmos  Soldados  de 
Maximino,  que  aborrecidos  de  suas  tyra- 
nias  o  matàrau,  a  elle  e  seu  filho,  estado 
huma  sesta  repousando  na  tenda,  dando 
traças  no  pensamento  para  tomar  a  Cida- 
de de  Aquileya,  que  tinha  cercada.»  Mo- 
narchia  Lusitana,  liv.  5,  cap.  16.  —  «E 
el  Rey  pollo  grande  bem  que  lhe  queria, 
tanto  que  lhe  a  noua  deram  sem  fazer 
detença  alguma  partio  logo  muyto  de- 
pressa, e  muyto  só  por  mingoa  de  bestas, 
porque  el  Rey  partio  de  Benauente  em 
huma  barca,  e  por  trazer  bom  vento,  e 
boa  viagem  veyo  em  poucas  horas,  e  cui- 
daua  repousar  em  Alcouchete  ate  as  bes- 
tas virem  por  terra,  e  por  isso  fov  nas 


bestas  que  achou  no  lugar,  e  soo,  e  muy- 
tos  íidalgos  foram  após  elle  em  bestas  de 
albarda  por  o  seguirem.»  Garcia  de  Re- 
zende, Chronica  de  D.  João  II,  cap.  180. 
—  «Subi  pêra  cima  e  repousareis,  que' 
cuido  que  vos  é  necessário ;  e  depois  par- 
tiremos quando  ordenardes,  que  em  tão 
má  casa  não  é  necessária  muita  detença. 
Florendos  lhe  agradeceu  a  vontade,  com 
que  o  recebia,  e  repousou  alli  oito  dias 
por  causa  de  suas  feridas,  sem  poder  ver 
a  dona  senhora  do  castello,  que  estava 
encerrada  em  uma  camará,  de  que  nunca 
quiz  sahir  em  todo  aquelle  tempo,  uem 
quiz  que  a  visse  ílorendos  pola  não  co- 
nhecer adiante,  se  alguma  hora  o  encon- 
trasse, p  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
d'Inglaterra,  cap.  74. —  «Assim  se  foram 
ambas  juntamente  ao  cavalleiro  do  Tigre, 
que,  atalhando  suas  palavras,  por  não 
ouvir  seus  louvores,  com  outras  de  cum- 
primentos se  forom  repousar;  e  esteve 
alli  três  dias  pêra  descançar  do  trabalho 
dos  outros  passados,  no  lim  dos  quaes  se 
partiu,  deixando  a  dona  e  sua  íilha  em 
socego  e  paz,  tão  obrigadas  a  seu  serviço 
como  lh'o  elle  por  obras  o  merecia.»  Ibi- 
dem, cap.  105.  —  «E  como  os  tempos  em 
pequeno  espaço  fazem  grandes  mudanças, 
achou  já  estes  castellos  povoados  de  ou- 
tros novos  senhores  ;  e  quei'endo-se  infor- 
mar do  que  passava  por  um  ermitão,  em 
cuja  casa  repousou  uma  noite,  soube  del- 
le  que  do  gigante  Calfurnio  licaram  dous 
irmãos,  que  ao  tempo  da  sua  morte,  não 
tomavam  armas.»  Ibidem,  cap.  106. — 
«Agora,  que  vos  tenho  a  vós,  cuido  que 
tenho  tudo :  por  isso  peço-vos  que  esta 
noite  repouseis,  pois  o  trabalho  do  cami- 
nho vos  pòe  em  necessidade  d'isso,  ama- 
nhã vos  darei  conta  do  pêra  que  vos  hei 
mister.»  Ibidem,  cap.  113.  —  «Alli  re- 
pousou o  que  do  dia  licava  por  gastar,  e 
determinou  passar  a  noite  pêra  se  infor- 
mar do  hospede  de  as  cousas  daquella 
terra.  Estando  sobre  ceia  praticando  em 
algumas,  que  o  tempo  oflerecia,  lhe  pe- 
diu que  lhe  dissesse  cuja  era  aquella 
Ilha  e  o  que  havia  nella  pêra  o  poder  di- 
zer em  outra  parte.»  Ibidem,  cap.  117. 

Eis  aqui,  quasi  cume  da  cabeça 
De  Europa  toda,  o  Reino  lusitano  ; 
Onde  a  terra  se  acaba  c  o  mar  começa, 
E  oude  Phebo  repousa  no  Oceano. 
CAM.,  Lus.,  cant.  3,  est.  20. 

Vamos,  fillio,  para  dentro, 
Em  quanto  a  cama  se  faz : 
Bepousae  como  capaz ; 
Que  a  mi  me  dá  cá  no  centro 
A  pena  que  assi  vos  traz. 

IDEM,   EL-BEI  SELEUCO. 

Activa,  insomne  sentinella  guarda 

Em  torno  aos  arraiaes,  quando  cançado 

O  volante  esqurdrão  repousa,   e  acampa. 

Quem  lhes  prescreve  o  tempo,  c  pódc  a  estrada. 

Que  cUes  devem  seguir,  marcar  sem  erro? 

Que  bússola  os  conduz  transpondo  os  mares  ? 

J.  A.   DE  ÍIACEDO,  MEDITAÇÃO,  Cant.   3. 


218 


REl'() 


—  Jazer,  estar  enterrado. 

—  Repousar  cm  »  Himlinr ;  inorror. 

— -AnHoiitíir,  ])iiriticar-HO  oii  aclarar-sc 
um  liqiiiild,  (lopuiiJíj  as  iinj)Uit!zas  iio 
fundi). 

REPOUSEIRO,  s.  wi.  aul.  Quinta,  casa 
do  roerei". 

REPOUSO,  .".  «i.  Descanso,  socogo. — 
«Os  (|uo  .so  entenilom  bo  acham  com  cul- 
pas, andam  denasosHCgiulim,  íjuc  o  tumor 
Ilie  rompo  o  corayilo  com  imaKinayõcí 
tristos  c  dosifíuaes ;  quo  se  dizoni  com 
huma  potencia  desdizem  com  todas  as 
outras.  Oi  malfeytoros  sempre  andam 
descnquietos  o  dcsapoderados  de  repouso, 
c  o  (pio  fazem  não  iie  a  horas  se  nain  a 
deslioras. »  D.  Joanna  <la  (ííima,  Ditos 
da  Freira,  paj^.  14. —  «Todavia  cm  modo 
de  am()osta(,'ão  disse  áqucllcs  dons  íilhos, 
quo  elie  liie  entrofíava  a  Ci<lade,  que  a 
defendessem  como  diziam,  porque  elle 
n.'ío  tinlia  jd  mais  f(n-(;as  que  as  do  conse- 
lho, e  que  este  naturalmente  nos  homens 
do  tanta  idade,  como  elle  ora,  sempre  se 
inclinava  ao  repouso  da  paz.»  Barros, 
Década  2,  liv.  (i,  cap.  íí. —  «Finalmeute 
com  esta  nova  da  partida  d'El-Rci,  e  des- 
avenças d'antre  elle,  e  seu  lilho,  come- 
çou a  Cidade  tomar  alijuma  maneira  de 
repouso  dos  grandes  trabalhos  que  os  dias 
passados  teve :  no  qual  tempo  Aftouso 
d'Alboquerque  também  começou  a  enten- 
der na  fortaleza  que  queria  fazer.»  Ibi- 
dem, cap.  6. —  «Partida  Targiana  e  o 
imperador  tornado  íI  cidade,  Florendos, 
cm  quem  não  cabia  descanço,  nem  repou- 
so, quiz  também  por  em  obra  sua  deter- 
minação, c  posto  que  a  imperatriz  e  (iri- 
donia  tizeram  o  quo  podoram  polo  deter, 
foi  trabalho  em  vão,  porque  passados  dous 
dias  depois  de  partida  Targina  se  poz  ao 
caminho,  levando  comsigo  Albayzar  em 
ura  palafrem  sem  armas  com  dous  pa- 
gens.» Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
d 'Inglaterra,  cap.  95.  —  «E  porque  já 
queria  ser  manhãa,  e  sou  cavallo  o  o  de 
Solvião  iam  tão  cançados,  que  quasi  se 
não  podiam  mover,  se  desceram  dclles, 
tirando-lhe  os  freios  por  liie  dar  algum 
repouso,  em  quanto  a  manhãa  esclarecia.» 
Ibidem,  cap.  104.  —  « Assim  que  cança- 
dos do  revolver  toda  a  tloresta,  os  valles 
o  outeiros  que  a  cercavam,  lhe  foi  ne- 
cessário desceren\-so  pêra  dar  algum  re- 
pouso ás  bestas,  que  com  o  trabalho  pas- 
sado andavam  tão  caueadas,  que  se  não 
podiam  menear.»  Ibidem,  cap.  10.'i.  — 
«ilas  como  o  somno  não  fosse  com  re- 
pouso, tanto  que  a  mauhã  foi  clara,  o  er- 
mitão, depois  de  rezar,  disse  missa,  a  quo 
o  cavalleiro  do  Salvagera  esteve  presente 
armado  de  todas  as  armas  somente  o  el- 
mo.» Ibidem,  cap.  106.  —  «Baleato,  vendo 
no  vallo  homem  armado,  como  então  sua 
vida  fosse  não  dar  vlila  a  ninguém,  com 
voz  temerosa  começou  a  dizer  :  Quem  és 
tu,  que  na  força  do  minha  ira  buscas  o 
repouso  em  tempo  e  parte,  que  o  não 


IIE1'0 

dou  a  ninguém?»  ibidem,  cap.  107. — 
■iPassaflr)  o-ito  dia,  a«  outro,  tanto  que 
amanheceu ;  Florendos,  a  que  seu  cuiilado 
não  dava  outro  repouso,  se  foi  contra  o 
escudo  do  vulto  do  sua  senhora,  jú  que  o 
original  não  podia  vór:  c  pondo  os  olhos 
nollc,  começou  dizer.»  Ibidem,  caj).  lOli. 
—  «Senhor,  disse  elle,  este  negocio  não 
ó  de  qualidade,  <|fio  soffra  nenhum  repou- 
so ;  por  isso  eu  nào  no  posso  ter  :  antes 
acabado  do  dizer  ao  que  venho,  com  a 
conclusão  quo  so  n'isso  tomar,  me  irei 
dormir  ao  campo,  onde  ticam  minhas  ten- 
das ;  que,  so  d'outra  maneira  o  fizesse, 
não  sei  so  prazoria  ao  turco  meu  senhor.» 
Ibidem,  cap.  112,  —  «O  do  Salvagcm  o 
o  velho  caminharam  todo  o  que  daquelle 
dia  estava  ]ior  passar,  e  a  noite,  .sem  ter 
nenhum  repouso :  e  em  amanhecendo  de- 
ram de  comer  aos  cavallos  c  cUes  repou- 
saram um  pouco ;  porem  o  velho,  que  to- 
do repouso  havia  por  trabalho,  o  fez  logo 
tornar  a  cavalgar.»  Ibidem,  cap.  113. — 
(iPoivni  como  a  contenda  durasse  muito 
tempo,  e  o  cavalleiro  das  Donzellas  qui- 
zesse  mostrar  a  cilas  próprias  que  servi- 
dor tinham,  o  apertou,  som  lhe  dar  um 
momento  do  repouso,  de  sorte  que  do 
puro  cansaço,  mais  que  feridas  nem  perda 
de  sangue,  cahiu  a  seus  pés  quasi  deses- 
perado da  vida.»  Ibidem,  cap.  125. — 
«Aquella  noite  concertou  as  armas,  como 
quem  as  havia  mister  melhores  que  os 
dias  passados.  O  do  valle,  como  natural- 
mente fosse  incansável,  e  a  desesperação 
do  pouco  que  valia  com  aquellas  senhoras 
o  tivesse  morto,  nenhum  socego  nem  re- 
pouso tinha.»  Ibidem,  cap.  144. —  «Fi- 
lho, gerado  em  minha  vontade,  tanto  cui- 
dado me  tem  dado  o  amor,  que  vos  tenho, 
e  o  contentamento  de  vossas  obras,  que 
não  achava  em  mim  nenhum  repouso, 
porque  não  via  onde  as  satisfizesse.»  Ibi- 
dem, cap.  151.  —  «Assi  era  venerado, 
obedecido  e  acatado,  como  se  tivera  in- 
teira disposição  pêra  governar  c  mandar. 
Foram-lhe  feitas  tão  solemnes  obsequias  e 
honras,  como  se  a  fortuna  e  o  tempo  jier- 
mittiram  repouso  pêra  se  poder  fazer.  O 
dia  desta  ceremonia  c  de  seu  enterra- 
mento toda  Constantinopla  saliio  cuberta 
de  dl),  vestiduras  negras  e  tristes.»  Ibi- 
dem, cap.  167. 


Algum  rcpo>iso  era  fim,  com  riuc  poJossc 
Refocilar  a  lassa  humaiiidadc 
Doa  iiavepautes  sciis,  como  iiitoreasc 
l")o  trabnlho,  que  encurta  n  breve  idade. 
Pareco-Uio  razão,  quo  eontji  dóaso 
A  seu  filho,  por  cuja  potestade 
Os  dcoses  faz  descer  ao  vil  terreno, 
E  03  humanos  subir  ao  eco  sereno. 
cxM.,  Lus.,  cant.  9,  est.  20. 


—  (i(h'denou  logo  o  Capitão  .Mi'>v  Innna 
fraca  trincheira,  que  mais  no.s  devidia, 
quo  amparava  do  inimigo ;  a  qual  se  obrou 
com  as  armas  nas  mãos,  quasi  furtirn, 


HE  PO 

ficando  por  alojamento  dos  soldados  o  lu- 
gar da  batalha;  onde,  nem  sobre  as  ar- 
mas, podi.^o  ter  seguros  hum  pequeno  re- 
pou.-io,  por(|uo  nem  inira  curar  lu  feridas 
tinhão  tenípo,  ou  lugar  opjxjrtuno.»  Ja- 
cintho  Freire  de  Andrade,  Vida  de  D. 
Joáo  de  Castro,  liv.  2.  —  tEstci*  estrur 
nlios  effiMtos  da  imaginação  noa  cni)ÍDrio, 
que  o  cuiilado  do  nosso  repouso  deve 
concorrer  com  a  submi.ssão  que  devumos 
a  Ocos,  e  á  Igreja  para  dominar  a  curio- 
sidade de  investigar  o  futuro.»  Cavalleiro 
do  Oliveira,  Cartas,  liv.  1,  n."  44. 


Se  a  relva  dava  cntào  tranquillo*  emr.rum 
A  fV)mbra,  que  esp:ilhava  o  Fr<>ixo  nnnoM, 
R  sn  cHtancnva  a  m-àn  a  lympha  purm 
Do  serpeanto  linipido  rejíato, 
O  vello  se  arranou  do.  iiiuniío  armciilo. 
Que  ao  can(;ado  mortal  repouso  prRSta. 

J.    A.    DF.  liACKDO,  VIAGEM    KXTÀTirA,  CAnt.    1. 


A  abobada  do  Coo,  da  Terra  o  (rlobo, 
Eu  roubo  á  noutc  ag  horas  do  rrpoiun. 
A  solidão  me  apraz,  c  alheio  ao  Mundo, 
Entro  o  fragor  da  guerra,  escuto  aa  Blosaa. 

IDEM,  MEDITAÇÃO,  Cant.   1. 


—  «Como  assim! — exclamou  o  man- 
cebo—  ainda  nào  buscastes  o  repouso? 
Depois  de  tão  larga  correria,  não  imagi- 
nava achar-vos  ao  pé  de  mim,  que  vôlo 
porque  a  amargura  nào  consente  que  o 
somno  mo  cerre  as  pálpebras.  Tendes, 
acaso,  uma  írman  querida,  uma  esposa 
que  muito  ameis,  por  quem  devais  tre- 
mer, e  que,  talvez,  neste  momento  seja 
victima  das  paixijos  descnfreiadas  dos  in- 
fiéis.» Alcxandie  Herculano,  Eurico,  ca- 
pitulo 13. 

—  Tranquilidade,  socego  de  espirito. — 
«Dous  annos  viveo  a  Santa  donzela,  de- 
pois de  passado  este  primeiro  tranco,  om 
grande  quietação  e  repouso  do  ospiritu, 
aproveitando  no  caminho  do  Senhor,  de 
quem  era  espiritualmente  visita-la  com  Di- 
vinas consolações.»  Monarchia  Lusitana, 
liv.  6,  cap.  24.  —  «Não  é  muito  que,  no 
que  tanto  vos  releva,  csteis  t.lo  cego,  pois 
é  certo  que  poucas  vezes  em  coraç5o  sem 
repouso  se  acha  juizo  claro.»  Francisco 
de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap. 
101.  —  «O  alma  que  dormes  em  a  noytc 
do  peccado,  aleuantate  e  allumiarteha 
Christo,  e  ficaras  verdadevra  lemsaleni 
ique  quer  dizer  vista  de  paz)  csperimen- 
tãdo  em  ti  quam  doce  cousa  ho  a  paz  de 
conciencia,  e  qnietaç.im  e  repouso  da  al- 
ma com  Doos."  Fr.  Bartholonieu  do  Mar- 
tyres.  Catecismo  da  doutrina  christá,  ca- 
pitulo 2. 

—  Repouso  absoluto;  persistência  de 
um  cor]  o  na  mesma  parte  do  espaço. 

—  Repouso  re/dtivo;  o  mesmo  quo  re- 
pmisn  a/isoluf'^,  mas  com  referencia  aos 
corpos  que  o  rodeiam. 

—  O  repouso  eff»'-'.  ^if^rtnl  ,•  a  vida 
eterna. 


REPR 


REPR 


REPR 


219 


—  Logar  onde  alguém  repousa. 

REPOVOAR,  1-.  «.  (De  re,  e  povoar). 
Tornar  a  ]iovoar. 

REPRAZER,  V.  a.  ant.  Aprazer,  agra- 
dar, folgar. 

REPREGADO,  part.  2)f-(ss.  de  Repregar. 

REPREGAR,  v.  a.  (De  re,  e  pregar). 
Pregar  de  novo,  segurar  bem  com  pre- 
gos. 

REPREGO,  s.  m.  O  trabalho  de  repre- 
gar o  que  so  despregou. 

REPREHENDEDOR.   Vid.  Reprehensor. 

REPREHENDER,  v.  a.  (Do  latim  repre- 
liendere).  Dar  repi-ehensão,  exprobi-ar,  ar- 
guir; censurar.  —  «Estes,  porque  os  re- 
prehendem  com  sua  modéstia;  e  aquelles, 
porque  os  convencem  com  sua  doutrina. 
E  o  certo  he,  que  esses  mesmos  Zoilos, 
que  murmuraõ,  quando  querem  a  sua  fa- 
zenda segura,  ou  o  seu  dinheiro  bem  guar- 
dado, que  nas  mãos  destes  Anjos  da  guar- 
da depositaõ  tudo.»  Arte  de  furtar,  cap. 
39.  —  «  li.  Eu  Senhor,  nunca  lhe  vi  di- 
zer cousa  que  cumprisse  a  serviço  de  V. 
A.,  mas  sempi-e  a  contrario,  porque  sem- 
pre foi  medianeiro  em  pendenças ;  e  por- 
que disto  o  reprehendia  muitas  vezes,  e 
de  acceitar  tantos  convites,  que  não  era 
de  seu  cargo,  dizia  que  o  deshonrava.» 
Diogo  de  Couto,  Década  4,  liv.  6,  cap.  8. 

■ — ■  Corrigir.  —  «Mas  hei  medo  que  pê- 
ra repreheuder  vicios  alheios  bastamos 
todos  e  pêra  nos  apartar  dcUes  ou  as 
vontades  não  consentem  ou  damnos  cul- 
pa ti  fraqueza  da  carne,  podendo-se  re- 
sistir com  bem  pequenas  forças.»  Fran- 
cisco do  Moraes,  Palmeirim  d'Inglater- 
ra,  cap.  106. —  «Foi  também  compara- 
do ao  Leaõ  na  sua  pregação,  pois  sem 
temor  dos  Escribas,  e  Phariseos  repre- 
hendeo  os  seos  vicios,  e  os  lançou  do 
Templo,  aonde  os  commetiaõ,  cora  huma 
fortalesa  do  Leaõ;  e  por  isso  disse  o  Pro- 
pheta  Oseas:  I.  Quasi  Leo  ruqivt ;  quia 
ipse  rugiet,  et  formidahunt  Jilij  nutris. v 
Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal  medico, 
pag.  231,  §  13. 

REPREHENDIDO,  part.pass.  de  Repre- 
hender.  —  «Tornados  a  cidade,  por  pare- 
cer de  todos,  e  por  assi  se  ter  por  costu- 
me ellegerão  por  capitão  Francisco  pan- 
toja,  que  era  alcaide  mor,  o  que  clle  nam 
quiz  aceptar,  dizendo  que  nam  queria 
ser  capitam  de  huma  cidade  que  tam  ju- 
gada  estaua  aos  dados,  como  aquella  do 
que  publicamente  mui  reprehendido  de 
todolos  que  alli  estauam.»  Damião  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3, 
cap.  20.  —  «O  qual  Principe  foi  mui  in- 
clinado a  letras  e  armas,  grande  caçador, 
e  montoiro,  e  muito  musico,  era  tam  da- 
do ao  monte  que  por  matar  hum  porco 
montes,  ou  hum  veado  dormia  muitas  ve- 
zes vestido  no  campo,  do  que  reprehen- 
dido per  hum  seu  familiar,  lhe  respondeo 
que  03  homens  não  podiaõ  bem  exercitar 
a  guerra  se  na  mocidade  senão  acostu- 
massem ao  trabalho  da  caça,  porque  com 


este  se  faziam  abiles  pêra  poderem  so- 
frer todolos  outros.»  Ibidem,  cap.  78,  — 
«Quem  ha,  que  deuendo  ser  reprehendi- 
do, ao  menos  por  si  mesmo  não  deua  ser 
castigado?  não  quer  Deos  que  os  pecca- 
dores  tomem  a  morte  por  suas  maõs,  po- 
rém quer  que  por  suas  maõs  tomem  o 
castigo.»  D.  Fernando  Corrêa  de  Lacer- 
da, Carta  pastoral,  pag.  87. 

REPREHENDIMENTO.  Vid.  Reprehen- 
são. 

REPREHENSÃO,  s.  /.  (Do  latira  repre- 
hensiuiíeiu).  Palavras  em  que  dizemos  a 
alguém  que  errou  ou  obrou  mal,  moral 
ou  injudiciosamente. 

—  A  culpa  que  a  merece. 
REPREHENSIVEL,    adj.   2  gen.   Digno 

de  reprehensão.  —  «Se  eu  lhe  ensiney  o 
termo,  minha  Senhora,  esteja  V.  S.  cer- 
ta em  que  lhe  não  aconselhey  o  uso  que 
faz  delle.  O  termo  he  próprio,  e  eu  não 
posso  ter  culpa  que  o  uso  que  se  lhe  dá 
seja  reprehensivel.»  Cavalleiro  d'01ivei- 
ra.  Cartas,  liv.  3,  n."  2. 

REPREHENáOR,  s.  m.  (Do  latim  repre- 
hensor).  Ruprcliondedor,  o  que  reprehende. 

—  ( )  que  critica,   censura. 
REPREHENDEDOR.  Vid.   Reprehensor. 
REPRENDER.  Vid.  Reprehender.  — «O 

Mordomo  mor  dom  loam  de  Meneses  so- 
bre hunias  pousadas  disse  maa  palauras 
a  Aluaro  Rodriguez  aposentador,  que  foy 
logo  fazer  queixume  a  el  Rey,  que  o 
mandou  logo  chamar,  e  estaudolho  per- 
guntando por  o  caso,  e  reprehendeoo 
muyto  disso,  o  Mordomo  mor  lho  disse.» 
Garcia  de  Rezende,  Chronica  de  D.  João 
II,  cap.  195. 


Kiiiq.  Buscas  outro  mor  bem  qu'c3sc ': 
Todo.  Busco  mais  quem  me  louvasse 

Tudo  quanto  eu  fizesse. 
Kinr/.  E  ou  quem  me  reprenãesse 

Em  cada  cousa  que  errasse. 
Dcrz.  Escreve  mais. 

GIL  VICENTE,  FARÇAS. 


—  «E  reprendendo  elles  o  povo  por 
isto  que  dezia,  lhe  disseraõ  que  naõ  dis- 
sessem aquillo  que  era  grande  peccado, 
nem  ouvessem  medo,  porque  elles  lhes 
prometiaõ  de  pedirem  todos  ao  Quiay  Ti- 
guarem  deos  da  noite,  que  mandasse  á 
terra  que  não  fizesse  mais  do  que  tinha 
feito,  porque  lhe  não  dariaõ  esmollas.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap. 
96. —  «Vida  activa  he  empregar-se  hu- 
ma pessoa  no  exercício  das  obras  de  mi- 
sericórdia, assi  corporaes,  como  espiri- 
tuaes,  socorrendo  ao  que  padece  fome, 
ou  sede:  vistindo  o  nuu,  curando,  ou 
seruindo  os  doentes,  reprendendo  os  pec- 
cadores,  ensinando,  e  aconselhando  os 
ignorantes,  consolado  os  tristes,  e  as  ou- 
tras mais.»  Fr.  Partholomeu  dos  Martv- 
res,  Catecismo  da  doutrina  christã. 

REPRENDIBO,  part.  pass.  de  Repren- 
der. 


quem  deuc  ser  insinado, 

reprendido,  castigado, 
muyto  mal  podo  ensinar, 
casa  c  filhos  gouornar, 
se  deuc  ser  goucrnado. 

GARCIA  DK  REZENDE,  MISCELLANEA. 


Din.     Que  tons  sabido? 

jBere.    Que  quer  em  extremo  grado 
Todo  o  Mundo  ser  louvado 
E  Ninguém  sor  reprendido. 

King.  Buscas  mais,  amigo  meu? 

Todo.  Busco  a  vida  o  quem  m'a  dè. 

Nin(/.  A  vida  nào  sei  que  he, 
A  morto  conheço  eu. 

Bers.   Escreve  lá  outra  sorte. 

GIL  VICENTE,  FABÇAS. 


REPRENDOIRO,  adj.  ant.  Reprehensi- 
vel. 

REPRENSÃO.  Vid.  Reprehensão.—  «El 
Rey  ficou  muy  espantado  de  tamanha  des- 
onestidade, e  ouue  disso  muyto  despra- 
zer, e  porque  as  cousas  mal  feitas  não 
deixaua  passar  sem  repreiísam,  ou  casti- 
go, mandou  logo  dizer  ao  Marquez,  que 
se  lhe  lembraua  a  elle  que  o  Rey  por 
quem  trazia  tal  do  o  fizera  Marquez,  e 
lhe  dera  Montemor,  e  lhe  fizera  sempre 
muytas  honras,  e  mercês.»  Garcia  de 
Rezende,  Chronica  de  D.  João  II,  cap.  30. 


Elles  te  castigarão. 
Mâe,  a  muita  reprensão 
Busca  mui  poucos  amigos ; 
E  esta  he  a  concrusão, 
Eis  ca  vem  hum  caçador  ; 
Generoso  representa, 
E  traz  ar  de  gran  senhor. 

GIL   VICENTE,  FABÇAS. 


Vio  que  outros  encarecem  cousas  dignas 
De  grando  reprensaS,  vio  que  as  vontades 
Inclinadas  a  mal  outros  aprouão. 
Com  nome  de  justiça,  e  sancto  zello. 
Tanta  era  a  multidão  da  falsa  gente, 
Que  no  tenijilo  não  cabe,  o  aguardão  tempo 
Os  quo  vinlião  detrás,  em  que  pudessem 
Entrar  mais  a  sou  saluo  e  sem  perigo. 

CORTE  REAL,  NAUFRÁGIO  DE  SEPÚLVEDA,  CaUt.  11. 


— ■  «E  porque  nesta  se  atreueo  o  de- 
mónio dizer  huma  palaura  tam  descortês 
contra  DEOS  pedindo  ser  adorado,  nam 
quis  o  Senhor  que  mais  fosse  por  diante, 
mas  mostrando  que  o  conhecia  o  lançou 
de  si,  com  áspera  reprensam  dizendo. » 
Fr.  Bartholomeu  dos  Martyres,  Catecis- 
mo da  doutrina  christã,  liv.  2.  —  «Cau- 
sou em  todas  as  mulheres  delia  tamanho 
espanto,  que  as  mais  delias  se  sayrão  de 
suas  casas  assi  como  naquella  hora  se 
acharão  cos  filhos  e  filhas  pelas  mãos, 
sem  porem  diante  as  reprensoens  que  lho 
podiaõ  dar  seus  maridos,  nem  arrecearem 
as  más  lingoas  da  gente  praguenta  e  ocio- 
sa, que  movida  da  sua  má  inclinação  e 
natureza  tem  por  custume  fallar  mal  de 
muytas  cousas  que  pela  singelleza  e  boa 
tenção  com  que  saõ  feitas,  as  aceitara 
nosso  Senhor  muytas  vezes  em  serviço,» 


220 


KEPR 


KEPK 


UEPK 


Fornao Mendes  Pinto,  Peregrinações,  c;ip. 
141. 

Sniiliorn,  entre  vóit  c  cu, 
<i  ptirftiitn  Joílo  Aiitlo, 
me  HolVro.i  uma  reprnia!\o  ; 
i[uc  ((liem  II  iiAo  hoIIVc,  dco 
«cmpro  coiico  iio  upiilliilo. 

ANTÓNIO  PKKSTKS,  AUTOS,  pag.  455. 

REPRENSOR.  Vid.  Reprehensor. 
REPRESA,  s.  /.  Suspuiwito,  interrupi;à() 
do  nioviínouto. 

—  Koprosadura,  represália. 

—  Termo  do  uTchitecturií.  Assentos  ar- 
rimados á  obrn. 

—  Termo  de  náutica.  Navio  que  so  to- 
mou da  niào  do  inimigo  que  o  havia  apre- 
sado. 

REPRESADO,  part.  pass.  de  Represar. 
—  «As  Catilias  tornarito  a  correr  de  no- 
no como  de  primeiro,  cõ  fjosto  gi-ral  dos 
mercadores,  c  vindo  em  iiuma  delias  al- 
guns Cliristàos  Venezianos  com  dinheiro, 
c  algumas  pe(>'as  de  preço;  foy  Abrahi 
Moehon  anisado  delias,  por  alguns  Mou- 
ros da  companhia,  e  tanto  lho  atiçou  o 
Dcnion'o  a  vontade,  que  tinha  de  os  rou- 
bar, (jue  logo  a  cobiça  que  nos  dias  atras 
ncUe  andaua,  eomo  reprezada,  tom  o  Ím- 
peto de  sua  tyrania,  e  dcshumanidade 
deu  mostras  da  internai  eondiçrio  cm  que 
andai'a  cufroi ilíada.»  Fr.  (laspar  de  S. 
Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap.  13. 

REPRESADOR,  adj.  Que  represa. 

REPRESADURA,  s.  /.  O  acto  de  repre- 
hender,  e  apoderar-se  dos  bens  e  vassal- 
los  do  inimigo  para  compensação  dos  que 
elles  nos  tomaram  em  guerra,  oii  hostil- 
mente. 

—  Ju  izo  dos  represadores  ;  qnc  decide 
da  justiça  das  presas,  c  represálias. 

REPRESÁLIA,  s.  /.  Direito  de  tomar  ao 
inimigo  alguma  cousa  em  compensação 
do, que  elle  tomou. 

—  Tci'mo  familiar,  e  por  extensão, 
qualquer  despique  cm  vingança  de  uma 
òfifensa. 

—  Contísco  de  bens  dos  que  ficaram 
011  se  acolheram  a  paiz  inimigo,  ou  dos 
vassallos  de  inimigos  que  nào  observa- 
ram com  os  nossos  o  que  estipularam  a 
beneficio  dos  sens  estantes  entre  nós,  e 
a  quem  se  guardara  o  outhorgado  por  nós, 
em  indemnisações,  c  composições,  e  sa- 
tisfações de  perdas  e  damnos,  em  casos 
de  Iwstilidades  confinaes  c  esti'emenhas, 
ou  do  (Ultras  naç('íes. 

REPRESANIA.  Vid.  Represália. 
REPRESAR,  I'.  a.  Deter    o    ciu"so    das 
aguas. ^ 

—  Figuradamente  :  Atalhar,  suspen- 
der, deter,  suster. 

—  Reter,  embargar  os  navios,  ou  gen- 
te que  o  represador  tem  no  seu  porto, 
terra  ou  poder. 

—  Termo  do  nauticíi.  Retomar  ao  ini- 
migo a  embaroaçrio  por  elle  apresada. 

REPRESARIA,  í.  /.  ant.  Vid.  Represá- 


lia. —  «E  BC  ora  como  represaria  j)cra 
auer  o  que  dizia  terem  jiordido  os  Por- 
tugueses no  aleuantamento  passailo,  (jue 
ju  lhe  tinha  inuiado  dizer  quãto  niues 
ditno  e  mães  fazenda  elle  Almirante  ti- 
nha auido  (pie  perdido  cm  Calecut,  e 
(pui  f(iss(!  huma  nerda  por  outra.»  JJar- 
ros,  Década  I,  liv.  (i,  cap.  :'>. 

REPRESENTAÇÃO,  «.  /.  (D(j  latim  re- 
jmrsenfittiijiwm).  Acç2o  do  representar, 
de  exhibir. 

—  Acção  do  representar  no  tlieatro  al- 
guma peça. 

—  Poema  dramático. 

K  vimo»  singularmente 
fiizcr  rej>reseniac,òeii 
destilo  niuy  cluqucnte, 
de  muy  nouas  invcníjõca, 
c  feitas  por  tíil  Vicente. 

GARCIA   DE   REZENDK,   HISCKI.LANEA. 

—  Apparencia,  mostra. —  dO  qual  mo- 
do de  Payo  do  Sousa  em  ir  e  vir  per 
maõ  daquelles  Mouros,  e  chegada  a  este 
lugar,  e  pratica  que  teue  com  esta  pes- 
soa que  lhe  diziaõ  ser  d'elRey  de  Cedaõ, 
tudo  foi  artitieio  d'elles  e  quasi  huma  re- 
presentação de  cousas  que  naõ  eraõ : 
parte  das  quaes  Payo  de  Sousa  entendeo 
e  despois  se  souberaõ  em  verdade.»  Bar- 
ros, Década  1,  liv.  10,  cap.  õ.  —  «Po- 
rem como  aquellcs  medos  não  tivessem 
mais  damno  do  que  mostrava  a  represen- 
tação dcUes,  chegou  á  borda  dagua  sem 
receber  nenhum ;  e  vendo  quos  romeiros 
do  batel  desamarravam  da  outra  banda 
por  se  vir  a  elle,  começou  fazer-se  pres- 
tes, e  tendo  a  espada  na  mão  e  o  escudo 
no  braço,  com  os  mais  avisos  que  o  me- 
do e  a  necessidade  Jhe  emprestavam.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Iu- 
glaterra,  cap.  90. 

—  Authoridadc,  dignidade,  caracter  rc- 
commendavel.  —  Homem  de  representa- 
ção. 

—  Figura,  imagem,  idêa  que  substi- 
tuo muitas  vezes  a  realidade.  —  «Por 
certo  (disse  o  companheiro!  que  só  com 
a  reprezeutaçaõ  do  que  hias  dizendo, 
sentia  na  alma  huma  alegria  tão  conten- 
te, que  se  via  a  vontade  nella  como  en- 
leada ;  c  bem  folgara  eu  de  ouvir  o  que 
tu  alli  cantaste,  mas  ainda  terei  outro 
tempo  em  que  te  naõ  valha  escnza. » 
Francisco  Rodrigues  Ix)bo,  Primaveras, 
pag.  254. 

—  Exposição  de  tazões,  factos,  ou  di- 
reito, requerimento  ao  rei,  ou  a  supe- 
rior. —  «Jlas  esta  resposta  se  desfaz, 
como  névoa  ii  vista  do  Sol,  com  a  ley.  e 
razaõ  da  representação,  que  já  discuti- 
mos. II.  C'ontra  a  segunda.  Admito,  que 
podia  Portugal  hazer  ley,  que  e^trangc- 
ros  nii  le  bordassem  :  mas  niego,  que  la 
hizo.  v  lo  prucvo  com  exonplo  de  la  Rev- 
na  de  Castilla  Dona  Beatriz,  hija  union 
dolRey  de  Portugal  D.  Hernando. »  Arte 
de  furtar,  cap.  Ití. 


—  Tíirmo  forense.  O  direito  de  repre- 
sentar algunia  pessoa,  o  usar  do  direito 
que  lhe  competia.  —  «Segunda,  jwr  fal- 
ta da  representação,  que  h<'>  bc  admitte 
nos  descendentes  immediatos  do  primeiro 
gráo,  e  elle  era  já  bisneto  delKey  L). 
Matioel,  em  comparai/aõ  da  Senhora  iJo- 
^na  Catharina,  (jue  era  neta  pela  mesma 
linha  do  Infante  D.  Duarte.»  Arte  de 
furtar,  cap.  KJ. 

—  Representação  naciwuxl;  corpo  de 
deputados  de  uma  naçSo  rcunidoB  em 
cortes. 

REPRESENTADO,  j>arf.  jjftês.  de  Repre- 
sentar. —  «Cuidar  (|Ut!  eiu  mim  nâo  l»a- 
via  as  qualidades,  que  cumprem  aoi  Go- 
vernadores, mas  porque  nunca  fui  tâo 
esquecido  de  minha  honra,  nem  tilo  min- 
guado d(;  juizo,  que  nào  tivesse  sempre 
representado  diante  de  mim,  que  onde 
tão  honrados  Capitães...»  Diogo  de  (Jouto, 
Década  3,  liv.  ti,  caji.  7. —  «Ouve  tam- 
bém outras  três  ou  quatro  comedias  ao 
modo  desta,  representadas  por  molhcres 
moças  muyto  nobres  com  tanto  apparato, 
primor,  e  riqueza,  e  com  tanta  jn-rfeiçaõ 
em  tudo  que  os  olhos  não  desejavão  de 
vêr  mais.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pere- 
grinações, cap.  Iti;').  —  «Acabado  isto 
ouve  huma  comedia  representada  jjor  do- 
ze molheres  muyto  fL-rmosas,  e  muyto 
bem  vestidas,  na  qual  veyo  huma  filha 
de  hum  Rey  atravessada  na  boca  de  hara 
peixe,  que  despois  aly  em  publico  pe- 
rante todos  foy  engulida  do  mesmo  pei- 
xe, o  que  vendo  as  doze,  se  foraõ  com 
muyta  pressa  e  muytas  lagrimas  fugindo 
para  huma  hermida  que  estava  ao  pé  de 
hum.i  serra,  donde  tomarão  com  hum  er- 
mitão cimisigo.í  Ibidem. 

REPRESENTADOR,  .«.  m.  (Do  thema 
representa,  do  representar,  com  o  suf- 
fixo  «dór"  .  '•  que  representa. 

REPRESENTANTE,  u-lj.  2  gan.  iPart. 
act.  de  Representar!.  A  pessoa  que  re- 
presenta no  theatro. 

—  O  que  representa,  e  faz  as  vezes 
de  ontrem,  e  por  elles  obra  e  requer  o 
que  é  seu  direito  e  razão. 

—  Doputadii  da  naçào. 
REPRESENTAR,  v.  a.  e  n.    (Do  latim 

reprívsentarei.  Parecer,  semelhar.  —  «Se- 
ria oste  Rey  de  trinta  o  cinco  annos  de 
idade,  na  condição  manso,  como  todos  o 
gabauão,  de  rostro  alegre,  na  pratica 
grane,  nos  moneos  modesto ;  e  finalmen- 
te pêra  representar  hum  Principe  per- 
fevto,  sò  lho  faltava  o  nome  de  verda- 
devro  Christ.^io.»  Fr.  dasjwr  de  S.  Ber- 
nardino, Itinerário  da  índia,  cap.  6. 

—  Descrever,  imitando  alguns  •  obje- 
ctos com  palavras,  tintas  ou  figuras.  — 
«E  quanto  gosto  tinha  de  dizer  isto  tan- 
to lhe  aborrecia  comer,  e  todalas  cousas 
de  folgar,  e  prazer,  que  Diogo  Fernan- 
des, e  Poro  d.Vlpoom  lhe  representavam, 
por  lhe  verem  enfraquecer  muito  os  es- 
píritos, assi  com  a  enfermidade  como  com 


REPR 


REPR 


REPR 


221 


as  novas  que  lhe  deram,  esperando  elle 
outras  cousas  de  seu  galardão.»  BaiTOs, 
Década  2,  liv.  10,  cap.  8. 


O  teu  Sermaõ  ao  vivo  representa 

Da  morte  o  desengano  :  c  era  cordura, 

Que  a  amboâ  nos  lembrasse  esta  tormenta. 

ABBADE  DE  JAZESTE,  POESIAS,  tOm.  2,  pag.  49 

(ediç.  1787). 


—  Declarar,  informar,  referir. 

—  Fazer  vèr.  —  «Que  em  elle  dizer 
isto  compria  com  a  obrigação  que  lhe  de- 
uia,  que  era  representar  lhe  as  cousas 
de  seu  seruico  :  que  alem  do  seu  deuia 
tomar  parecer  doutras  pessoas,  apon- 
tando lhe  logo  em  alguns  seuí5  ofiiciaes 
que  elle  Catual  sabia  jà  estarem  da 
parte  dos  Mouros,  cà  pelo  testemunho 
destes  iicauaõ  suas  palauras  com  maior 
fé.»    Barros,    Década    1,  liv.  4,    cap.  9. 

—  Recitar  em  theatro.  — Hoje  repre- 
senta a  Emilia  das  Neves  a  Medêa. 

—  Fazer  as  vezes  d'alguem. 


Vês  o  Conde  Dom  Pedro,  que  sustenta 
Dous  cercos  contra  toda  a  Barbaria  ? 
Vês  outro  Conde  está,  que  representa 
Em  terra  Marte,  em  forças,  c  ousadia? 
De  poder  defender  se  não  contenta 
Alcacero  da  ingente  companhia  ; 
^fas  do  seu  Bei  defende  a  chara  ^ida, 
Pondo  por  muro  a  sua,  alli  perdida. 
cAji.,  Lus..  cant.  8,  est.  38. 


—  «A  sua  magestade  represento,  que 
importará  ainda  para  seu  serviço,  que  os 
d'esta  qualidade  se  premêem  como  mere- 
cem, para  que  haja  quem  continue  o  que 
D.  Pedro  tem  começado ;  e  que  venha 
8ucceder-lhe  tal  pessoa,  que  nào  desman- 
che o  que  com  tão  bom  zelo  e  com  tào 
bons  trabalhos  se  vae  fazendo.»  Padre 
António  Vieira,  Cartas,  n."  19.  —  An- 
da3  na  sua  terra  matando  caens,  e  es- 
crevem a  seu  tempo  ao  amigo,  que  os 
approvem  lá  na  matricula,  representan- 
do suas  iiguras,  e  nomes  :  e  daqui  vem 
as  sentenças  lastimosas,  que  cada  dia 
vemos  dar  a  Julgadores,  que  naõ  sabem 
qual  é  a  sua  maõ  direita,  mais  que  para 
embeiçarem  com  ella  espórtulas,  e  orde- 
nados, como  se  foraõ  Bartholos,  e  Covas- 
Rubias.»  Arte  de  furtar,  cap.  32. 

—  Fazer  tigura  pela  sua  posição,  re- 
presentação, dignidade,  graduação. 

—  Manifestar  no  exterior  os  sentimen- 
tos de  affecto  de  que  se  está  possuído. 

—  Mostrar,  indicar,  significar.  —  «  E 
derredor  de  cada  um  destes  meninos  vão 
seis  moços  até  quinze  annos  com  maças 
de  prata,  de  mane\Ta  que  não  ha  pessoa 
que  isto  veja,  que  por  uma  parte  lhe  nào 
tremão  as  carnes  de  medo,  e  por  outra 
não  fique  pasmado  da  grandeza  e  mages- 
tade que  isto  representa.»  Fernão  Men- 
des Pinto,  Peregrinações,  cap.  lOG. 


Nem  tiuha  ainda  chegado  bem  ao  meio 
Do  arrebatado  seu  curso  ligeiro. 
Quando  da  parte  lá  de  fora  veio 
Da  fortaleza  aquello  mão  Faleiro, 
No  trajo,  o  na  arte  ja  de  todo  alheio 
Do  que  representando  hia  primeiro, 
De  brocadilho  ornado,  e  de  grãa  fina, 
Cortados  á  feição  que  o  Turco  ensina-. 

F.  d'asdr.adb,  pbiheieo  cerco  de  DIU,  cant.  15, 
est.  17. 


— « E  assim  este.«,  e  aquelles  (como 
comediantes)  cada  qual  em  seus  trajes 
próprios,  se  recolham  a  sua  própria  casa, 
que  Vem  a  ser  a  sepidtura,  donde  cada 
qual  vay  então  só  com  o  cabedal,  que 
lhe  deu  a  natureza,  despindo  os  faustos, 
as  tramojas,  com  que  para  representa- 
rem suas  figuras,  os  adornou  a  ambição, 
com  a  soberba.»  Francisco  Manoel  dé 
Mello,  Apologos  dialogaes,  pag.  30.  — 
« Uma  árvore  tinha  por  baixo  um  A . 
uma  Besta  tinha  por  baixo  um  B.  et  sic 
de  cceteris  até  ao  Z,  que  tinha  por  cima 
um  Zodíaco,  a  que  nijs  chamávamos  Z 
pandeiro,  pela  miiita  parecença  que  com 
o  pandeiro  tinha ;  pois  que  até  os  doze 
signos  nos  representavão  as  soalhas.» 
Francisco  Manoel  do  Nascimento,  Fa- 
bulas  de  Lafontaine,   liv.    1,    cap.   14, 

—  Paris,  e  naõ  Pariz.  diz  o  letreiro, 
(Circunspecto  lhe  volve  o  Padre  Mestre) 
Nem  Francez,  como  crê.  Cabelleirciro, 
A  personagem  foi,  que  representa: 
Mas  em  Trova  nasceo  de  estirpe  regia. 

DISIZ  DA  CRUZ,  HTSSOPE,  Cant.   5. 

—  «  Fernando  iii  ordenou  que  se  fi- 
zesse uma  medalha  deste  ouro  Philoso- 
phico,  a  qual  representa  de  huma  parte 
hum  Moço  nú  com  hum  sol  em  lugar  de 
cabeça,  tendo  na  mão  direyta  huma  Lv- 
ra,  e  na  esquer.la  hum  Caduceo  com  es- 
ta letra.»  Cavalleiro  de  Oliveira,  Cartas, 
liv.  3,  n."  8. 

—  Afigurar-se  á  imaginação,  á  phan- 
tasia;  apresentar-se  a^iS  olhos.  — ■  a  E  au- 
tes  que  a  alva  esclarecesse,  mandando 
enfrear  seu  cavallo  se  tornou  a  seu  cami- 
nho, desejoso  de  se  vêr  já  na  corte  do 
imperador  seu  avô,  e  passar  poios  medos, 
que  lhe  o  amor  representava.  Porque 
quando  elles  são  grandes,  passal-os  de- 
pressa os  faz  parecer  menos.»  Francis- 
co de  Moraes,  Palmeirim  de  Inglaterra, 
cap.  76.  —  «Ao  pé  d'um  daquelles  frei- 
xos estava  lançado  um  cavalleiro  grande 
de  corpo,  sem  outra  nenhuma  companhia, 
porque  seu  escudeiro  sempre  nos  lugares 
solitários  o  apartava  de  si,  pêra  maior 
contemplação  das  cousas,  que  naquelles 
dias  lhe  representava  a  memoria.»  Ibi- 
dem, cap.  87.  —  «Antre  algumas  pala- 
vras, que  a  dor,  e  ira  lhe  representa- 
vam, começou  dizer:  Xào  sei  pêra  que  é 
crer  na  ajuda  de  tão  fracos  valedores 
como  são  estes  deuses  vãos,  em  que  té- 
gora  cri,   pois  sua  potencia  é  pêra  tão 


pouco,  que  não  pode  resistir  a  tão  gran- 
des acontecimentos,  como  é  vêr  destruída 
força  de  meus  irmãos  Calfurnio  e  Cam- 
boldão  por  mào  de  tào  fraca  cousa  como 
é  um  só  cavalleiro.»  Ibidem,  cap.  107. — 
«E  se  a  ventura  consentir  que  sejam 
más,  torna-te  a  Constantinopla,  e  dize  á 
senhora  Polinarda,  que  ainda  que  com 
perder  a  vida  se  segurassem  meus  tra- 
balhos, não  recebo  nisso  gloria  que  o 
meu  verdadeiro  contentamento  nào  con- 
sistia em  mais  que  na  lembrança  de  os 
passar  por  elia,  e  com  este  desbaratava 
todolos  receios,  que  o  amor  e  o  tempo 
me  representavam :  mas  agora  que  a  mor- 
te me  privou  do  bem  que  minha  vida  me 
dava,  não  sei  que  descanço  me  tique,  que 
me  faça  descançado.»  Ibidem,  cap.  llõ. 
—  «  Tudo  isto  parecia  pouco  a  quem  mais 
estima  as  cousas  conformes  a  seu  desejo, 
do  que  cobiça  thesouros  d'outra  qualida- 
de; que  em  torno  da  casa  no  alto  das 
paredes,  onde  a  livraria  não  chegava,  es- 
tavam imagens  de  vulto  tiradas  ao  na- 
tural das  outras,  que  alli  se  represen- 
tavam, que  eram  as  mulheres  mais  assi- 
nadas em  foi-mosura  e  parecer,  que  té 
aquelle  tempo  houvera  no  mundo.»  Ibi- 
dem, cap.  120.  —  «Porém  representa-me  a 
memoria  ser  vencido  em  vos.-a  corte :  a 
quebra  que  n'ella  recebi:  sobretudo  pêra 
mais  ter  que  sentir  vi  nella  a  princeza 
Targiana  furtada  de  vosso  neto,  o  caval- 
leiro do  Salvage,  que  sendo  caso  tanto 
pêra  castigar,  nunca  valeu  razão,  nem 
justas  amoestaçoes  offerecidas  polo  turco, 
pedindo-vos  que  fizésseis  justiça  delle, 
ou  lh'o  entregásseis  pêra  se  fazer  em  sua 
corte;  antes  n'isso  negastes  o  direito  que 
costumaes  guardar  a  todos,  não  tão  so- 
mente desprezando  quem  vol-o  pedia,  mas 
ainda  ouvindo  quasi  por  escarneo  as  em- 
baixadas que  sobre  isso  vos  deram.»' Ibi- 
dem, cap.  131.  —  «E  tiquey  fora  de  al- 
guns rfceyos  que  antes  se  me  represen- 
tavão pelo  pouco  conhecimento  que  até 
então  tinha  desta  gente,  e  me  mandou 
dar  duzentos  taeis  para  o  caminho,  cos 
quais  me  fiz  prestes  o  mais  depressa  que 
pude,  e  nos  partimos  o  Fingendono  e  eu 
em  huma  embarcação  de  remo  a  que  elles 
chamào  funce.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  135.  —  «A.ssi  que  a 
prymeira  cousa  em  ordem,  que  no  enten- 
dimento de  Deos  se  representou  fov  seu 
filho  homem  e  por  elle  como  por  hum  re- 
trato fez  e  tirou  os  outros:  E  antre  ou- 
tras rezõens  que  para  isto  pode  auer,  a 
que  se  me  amym  representa  mais  pró- 
pria, he  que  como  sabia  os  peccados  que 
no  mundo  auia  de  auer,  e  as  misérias  e 
perigos  em  que  os  homens  auiâo  de  cair, 
quis  antes  que  os  criasse  tratar  do  remé- 
dio delles,  o  qual  foy  fazellos  à  imagem 
de  seu  filho  unigénito,  por  cujos  mereci- 
mentos se  auia  de  remedear  o  mundo, 
para  que  ella  tiuesse  mais  força  para  o 
prouocar  a  misericórdia,  que  os  peccados 


222 


IIEPR 


a  ira  o  iiiJinaçilo.»  Diogo  Paiva  iVAn- 
drade,  Sermões,  imit.  1,  paf,'.  '22'.i. — 
«  Aborruuido  ja  dci  andar  cin  »U9))Ciisrios 
e  incertezas,  doliborei-nic  ir  á  Sicilia, 
para  onde  me  liaviauí  dieto  qiio  os  vonto.s 
o  tinham  lançado;  desifínio  a  quo,  por 
temonirio,  .se  ojipiinlia  o  nublo  Mentor, 
aqui  presente:  representa-me  d'unia  par- 
to o.s  (Jyelopo-»,  pKaiitrs  nionHtruo.sos  (pie 
trap;am  os  liumanos.u  Telemaco,  traduc- 
\'!lo  de  Manoel  do  Sousa,  e  Francisco 
Manoel  do  Nascimento,  liv.  1. 

—  Sor  imafíom,  symbolo,  emblema  de 
outra  ])essr);i  ou  cdusa,  parecor-so-lhc. 

REPRESENTATIVO,  adj.  (Do  latim  re- 
presentntu.i,  com  o  suffixo  «ivo»).  Que 
tem  a  virtude  do  representar.  —  Os  em- 
baixadores tem  o  cdi-acler  representativo. 

—  Palavras  representativas  '/t  ntíxeria 
de  quem  falia.  —  Os  deputados  são  re- 
presentativos da  narài). 

—  Esjiecie,  ima(/ein  representativa;  es- 
pécie, imafrem  typica. 

—  Governo  representativo;  governo  se- 
gundo o  qual  a  nação  nomeia  represen- 
tantes encarregados  de  concorrer  ;l  for- 
mnçílo  das  leis  e  de  votar  o  imposto. 

—  Assembleia  representativa;  assem- 
bleia composta  de  reprcseutuntes. 

—  Substantivamente  :  O  representati- 
vo ;  o  que  representa. 

—  Figura,  in\agoni. 

—  Particularmente  :  (J  governo  ropre- 
seiítativ". 

REPRESENTAVEL,  adj.  2  gen.  Susce- 
ptível de  ser  representado,  que  podo  ser 
representado.  —  Deus  é  reprensentavel 
2ior  mei^  tia  hóstia. 

REPRESO,  adj.  (Do  re,  e  preso).  Que 
ó  preso  pela  segunda  vez,  novamente. 

—  Que  ó  preso  depois  de  ter  fugido 
da  prisilio  onde  se  adiava. 

—  Por  extensão :  Detido,  embargado 
om  represália. 

REPRESSÃO,  s.  f.  (Do  latim  repressio, 
de  /•(fyj/i jísKí,  part.  pass.  de  reprimere). 
Aeeào  de  reprimir.  —  A  repressão  dos 
almsos. 

REPRESSIVO,  adj.  (Do  latim  rcpressus, 
part.  pass.  de  reprimere,  com  o  suffixo 
«ivo»).  Qiic    tem    o    poder   de   reprimir. 

—  Leis  repressivas.  —  O  espirito  repres- 
sivo dos  antigos  tempos. 

REPRICA,  s.  /.  Forma  antiga  e  popu- 
lar de  Replica.  —  «  Setembro  deste  anno 
tíirnou  el  lley  a  mandar  o  dito  Rey  de 
Pina  ós  lleys  de  Ca^tella,  que  estauam 
no  Mosteiro  de  nossa  Sonliora  de  Cuiado- 
lupo,  com  respostas  e  repricas  da  embai- 
xada a  (|ne  o  Barão  fora.  Apertando  com 
rezBes  muy  ouidcntes,  e  com  fundamento 
de  mais  amizades,  o  amor  entro  elles,  e 
que  as  terçarias  todauia  se  mudassem, 
ou  desfizessem,  e  também  que  acerca  da 
excellente  senhora  n.ío  requei"essem  mais 
nouidades,  nem  estreltezas  das  que  acer- 
ca delia  erão  ja  concruydas,  assi  por  n.MÍo 
parecer  que  as  pazes  e  ccjisas  passadas 


REPR 

cntrellcs  não  forSo  feitas  cora  aquella  fir- 
meza que  deuião,  c  também  porque  da 
maneyra  cm  que  ellas  oatauào  seria  bem, 
c  sossego,  c  asui  Hcgui-o  do  liuma  parto  e 
da  outra.»  (iarcia  de  liezende,  Chronioa 
de  D.  João  II,  c.ip.  iiõ. 

REPRICAR,  f.  a.  Antiga  forma  do  Re- 
plicar. 

f  REPRIMIDO,  iHirt.  pass.  de  Repri- 
mir. 

Poróm  tio  cheios  ja  todoâ  nndavão 
D'liiiin  aceso  furor  não  reprimulo, 
C^uo  iicra  polo  Uoiuiugo  ja  osi)cravão 
Ncin  aor-lhes  do  Sil-vcira  concedido, 
Mas  em  iiualriucr  logar  (juc  su  topavâo 
()u  fosse  descubcrto,  ou  escondido, 
(,!uaos'|uer  que  orào  então,  hc  accoinmettiSo 
Com  armas  que  alli  so  offcreciáo. 

lUAXCISCO   DU  AIIDnA.DB,   PUIUHIBO  CUBCO  1>H   DIU, 

cant.  IO,  est.  -G. 

REPRIMIDOR,  A,  adj.  (De  reprime, 
thema  de  reprimir,  com  o  suHixo  ador»). 
Que  reprime. 

—  Suijstantivamèute:  U,  a  que  repri- 
me. —  Reprimidores  de  motins. 

REPRIMIR,  V.  a.  (Do  latim  reprimere; 
de  re,  e  premerei.  Conter  o  etieito,  a 
marcha  d'uma  cousa.  —  Reprimir  o  des- 
envolvimento d'um  tumor. 

—  Diz-se  das  cousas  que  fazem  uma 
acção  semelhante. 

Nem  foi  isto  escondido  i  imiga  gente 
Que  mais  de  mil  lhe  tem  direita  a  fronte, 
K  qual  soe  o  libré  que  o  touro  sente, 
Ou  seiite  o  javaly  correr  no  monte, 
Salta  de  cá  e  de  lá,  feroz  e  ardente 
Por  ferrar  o  animal  (jue  tem  defronte, 
Mas  rejiriíne-o  a  tosa  c  dura  trella, 
E  o  astuto  ca(,-ador  que  affcrra  uelia. 

FBAKCISCO    d'aNDB.VDE,    PUIMKIUO     CEllCO    DE    DIU, 

caut.  n,  est.  00. 

—  Conter,  não  deixar  transparecer, 
revelar-se  exteriormente. 

—  Impedir  que  se  faça  mal  com  amea- 
ça ou  castigo.  —  Reprimir  os  revoltosos. 

—  Reprimir-se,  v.  rejl.  Couter-se,  mo- 
derar-se. 

—  Ser  contido. 

—  Parar,  detor-sc.  =  Pouco  usado  e  de 
mau  emprego  neste  ultimo  sentido. 

reprimível,  adj.  2  tjen.  ^Do  reprime, 
thema  de  reprimir,  com  o  suffixo  «ivel»). 
Que  pi)de,  deve  .ser  reprimido. 

RÉPROBA...  As  palavras  começando 
por  Réproba...,  busquem-se  com  Repro- 
va... 

RÉPROBO,  adj.  c  s.  (Do  latim  repro- 
Ous,  de  reprobare;  vid.  Reprovar "i.  Con- 
demnado  por  Deus  ás  penas  eternas.  — 
Os  réprobos  e  os  escolhidos. 

—  ilalvado.  * 

—  Coudemnado  pela  sociedade  como 
malvado. 

REPROCHADO,  part.  pass.  de  Repro- 
char.—  ressoa  reprochada.  —  Cousa  re- 
prochada. 


UEPU 

REPROCHAR,  v.  a.  (l)u  francez  repr</- 
dier,  lic.-jjunhol  repruc/utr.  U  he«pauhol 
provém  muito  provavelmente  du  francess 
e  o  portuguez  tanibcm  d'eiite,  quer  dire- 
ctamente, quer  por  intermédio  do  besjja- 
nhol^.  Objectar  a  alguém  uma  cousa,  ou 
censurável  ou  dr.-sairosa. 

—  D.  Fiei  Francisco  do  S.  Luiz,  no 
seu  Glossário  de  termos,  etc,  introduzi- 
dos do  francez,  eondemna  o  uso  d'esta  pa- 
lavra como  gallicismo;  elia  está  hoje  fora 
d'u.-o,  mas  o  seu  emprego  {xxler-fie-hia 
defender  com  o  facto  <í'ella  ter  sido  ap- 
plieada  já  no  seenln  .\v  por  Azurara,  no 
Cancioneiro  de  Rezende,  etc. 

REPROCHE,  s.  w.  'Do  francez  repro- 
c/tet.  <)  (pie  se  diz  a  uma  pessoa  para  a 
censurar,  para  a  criticar. 

—  tíem  reproche;  em  que  nada  piíde 
ser  censurado. 

—  Loc.  ADV. :  Hem  reproche  ;  sem 
pretender  fazer  reproche. 

REPRODUCÇÃO,  8.  /.  (De  re,  e  pro- 
ducção  .  Aer.H(j  de  reproduzir.  —  A  re- 
producção  das  idêas. 

—  Acção  pela  qual  os  corpos  organisa- 

dos,  animaes  e  vegetaes,  produzem  seres         ■ 
semelhantes  a  si,  seja  qual   fír  o  modo        1 
por  que  essa  acção  se  exerça.  —  A  repro-        ■ 
ducção  natural  das  plantas  por  mtio  xUu 
sementis, 

—  Diz-se  tambcm  dos  meios  artificiaes 
pelos  quacs  se  multiplicam  os  vegetaes. 
—  Os  eiijvrtos,  as  mergulhias  são  meios 
d<-  reproducção. 

—  Partes  que  succedem,  se  criam  em 
substituição  das  que  foram  arrancadas, 
ou  mutiladas. 

—  Acção  pela  qual  se  conserva  na  in- 
dustria, na  agricultura  a  somma  dos   va- 
lores, c   se   reproduz  o  que  foi  consum-       m 
niido.  \ 

—  Acção  de  reproduzir,  do  publicar 
segunda  voz  por  contrafacção,  ou  doutro 
modo.  um  livro,  uma  obra  d'arte. 

REPRODUCTIVEL,  adj.  2  gau  Vid.  Re- 
produzível. 

REPRODUCTIVO,  adj.  (Do  latim  re,  e 
p/roductus.  part.  pass.  de  producere,  pro- 
duzir». Que  produz  de  novo.  —  As  forqas 
reproductivas  da  natureza. 

REPRODUZIR,  f.  a.  (De  re,  e  prndu- 
Cf'?-(  .  l'roduzir  de  novo.  —  Reproduzir 
plantas  por  sementeira,  de  mergulhia,  de 
enj:erto. 

—  Apresentar  de  novo,  mostrar  de 
novo. 


IVncficios  8cm  numero,  que  scuiprc 
Vejo  reproduzir,  porque  lhe  demos 
O  nosso  coraijfto,  o  amor,  o  incenso: 
Urafartc  os  vastos  campos  fortiliza 
Porque  ás  fadigas  dos  mortacs  rcápondâo. 

1.   1..  DK  UACl^DO,   A  NAIUBKZA,   C4Ult.   3. 


—  Imprimir  n'uma  publicação  cm  toda 
ou  cm  p.arte  uma  publicaç-ào  anterior.    ^ 

—  Reproduzir-se,  r.  reJl.  Pirpetuar-se 


REPR 


REPR 


REPT 


223 


por  geração.  —  Os  animnes  de  differentes 
espécies  não  se  reproduzem ;  para  haver 
reproducção  ó  mister  que  o  macho  e  a 
fêmea  sejam  da  mesma  espécie. 

—  Ser  produzido,  creado  de  novo. 

—  Ser  apresentado,  mostrar-sede  novo. 

Oh  imagem  feliz,  qu"inda  hoje  p6de 
Eeprodtizir-se  em  solitária  Aldêa 
Do  inculto  Senegal,  qu*  cu  roubo  ousado 
Do  mudo  esquecimento  ás  sombras  frias. 

J.  A..   DE  UÀCEDO,  A  MATUBBZA,  Caut.  2. 

reproduzível,  adj.  2  gen.  (De  re- 
produzir .  Que  se  pôde  reproduzir,  sus- 
ceptivel  de  sor  reproduzido. 

REPROFUNDAR,  v.  a.  (De  re,  e  pro- 
fundar). Termo  didáctico.  Tornar  a  pro- 
fundar. 

REPROMETTER,  v.  a.  (De  re,  e  pro- 
metteri.  Prometter  de  novo;  tornar  a 
promctter  :  prometter  varias  vezes. 

REPROMISSÃO,  s.  f.  (Do  latim  repro- 
missio,  de  re,  e  promittere,  prometter). 
Promessa  reciproca,  mutua. 

—  Promessa  reiterada,  repetida. 

REPROVA,  s.  /.  (Contracção  de  Repro- 
vação, segundo  Moraes,  que  ignorava 
completamente  que  d'um  verbo  se  deriva 
immediatamente  um  substantivo  verbal 
sem  suffixo,  como  estima  de  estimar,  pio 
de  piar,  etc. ;  assim  reprova  de  repro- 
var). Rejeição,  reprovação.  —  Reprova  de 
testemunhas,  de  provas,  de  atfenuantes. 

REPROVAÇÃO,  s.  f.  (Do  latim  rejjro- 
batio,  de  reprobare,  reprovar;  vid.  Re- 
provar i.  Acção  de  reprovar.  —  A  repro- 
vação dos  examinandos. 

—  Particularmente :  Juizo  dado  por 
Deus  de  toda  a  eti^rnidade  contra  os  pec- 
cadores  que  morrerem  impenitentes. 

—  Simplesmente  :  Censura  severa.  — 
Merece  a  reprovação  dos  homem  hcmra- 
dos. 

REPROVADAMENTE,  adv.  Com  repro- 
vação. 

REPROVADO,  part.  pass.  de  Reprovar. 
Rejeitado,  condemnado.  — -Estas  idms  são 
reprovadas  pela  opinião  piihlica. 

—  Substiintivamente:  O  que  é  rejei- 
tado pela  sociedade  como  os  parias. 

—  Particularmente :  Rejeitado  de  Deus. 

—  8.  m.  O  que  é  destinado  ás  penas 
eternas ;  réprobo. 


Abel  Bic  disse  :  Confusão  tão  nova 
Bem  he  que  n'alma  tal  cffeito  obrasse, 
Que  fazendo  da  dor  inteira  prova 
De  lagrimas  a  ^-ida  sustentasse  ; 
Resta  sc5  que  te  diga  como  a  cova 
Que  aqui  nos  trouxe  se  communicasse 
C'os  logares  A  pena  repartidos 
Para  esses  reprovados,  e  escolhidos. 
BOLiM  DE  Mona.^,  Nov.  DO  HOMEM,  caut.  3 
est.  63. 


REPROVADOR,  A,    adj.   e  s.   Que    re- 
prova. 


REPROVAR,  V.  a.  (Do  latim  reprobare, 
de  re,  e  probare).  Não  approvar;  rejei- 
tar. 


Eu  digo,  senhor,  que  não 
que  lh'o  quero  reprovar, 
e  amostrar. 

AXTOSIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  423. 

Hei-o  por  bom  tão  jocundo 
que  dcs  agoro  me  fíindo 
reprovar  quem  mo  provar, 
que  fica  ao  mundo  que  dar, 
pois  me  cm  vós  dão  todo  mimdo. 
N'isso  nada  me  ganhaes. 
IBIDEM,  pag.  Ití3. 

Não  move  hoje  arreceio  aquelles  peitos 
Que  nunca  a  mesma  morto  an-eccárào. 
Mas  por  justas  rasões,  justos  respeitos 
Defender  a  Cidade  reprovarão. 
Somente,  aquelles  são  illustres  feitos, 
Aquelles  seu  autlior  somente  honrarão 
Que  a  rasào  e  a  prudência  tem  por  guia. 
Não  huma  temerária  valentia. 

F.  d'asdrade,  pbimeibo  cebco  de  DIU,  cant.  11, 
est.  ÕO. 


— ■  «Tendo  o  Governador  recolhido  na 
Fortaleza  já  todos  os  soldados,  achou  so- 
bre acometter  o  inimigo  opiniões  diver- 
sas ;  e  como  as  razões  de  huns,  e  outros 
cahião  sobre  a  contingência  do  snccesso 
não  se  podia  escolher,  nem  reprovar,  sem 
o  conhecimento  do  futiu-o  a  todas  escon- 
dido.» Jacintho  Freire  de  Andrade,  Vida 
de  D.  João  de  Castro,  liv.  3.  —  «Orde- 
nou-se  a  partida  cora  grande  repugnância 
dos  Fidalgos  antigos,  que  tinhaõ  expe- 
riência das  cousas  da  guerra,  e  muito 
applauso  dos  que  viaõ  agradar-se  el  Rei 
de  suas  confianças,  e  abonações,  mas  já 
se  faziaõ  de  modo,  que  se  deixava  vêr 
nelles  uma  tristeza  manifesta,  porque  nun- 
ca se  persuadirão,  que  a  jornada  viesse  a 
effeito,  nem  se  executassem  seus  conse- 
lhos, mas  quando  já  viraõ  o  fructo  delles 
dissimulavaõ  com  sua  magoa  naõ  se  atre- 
vendo a  reprovar,  o  que  elles  próprios 
tinhaõ  ordenado.»  Fr.  Bernardo  de  Brito, 
Elogios  dos  reis  de  Portugal,  continua- 
dos por  D.  José  Barbosa.  —  «Entre  tan- 
tas qualidades  de  um  grande  capitão, 
é  accusado  de  cuidar  mais  em  ganhar  ba- 
talhas, ainda  que  sem  consequência  do 
que  em  conservar  as  tropas  por  occasiões 
de  maior  utilidade.  E  também  lhe  repro- 
vam ter  o  coração  tão  endurecido  nas 
crueldades,  que  nenhuma  o  move  á  com- 
paixão.» Bispo  do  Grão  Pará,  Memorias, 
publicadas  por  Camillo  Castello  Branco, 
pag.  18.  —  «O  dictame,  e  acordo  de  hum 
Rev  vale  mais  que  mil  alhevos,  não  re- 
provo conselhos  :  anteponho  'o  do  Rev  a 
todos,  porque  he  menos  arriscado  a  erros: 
esta  resolução  para  mim  he  evidente.» 
Arte  de  ^furtar,  cap.  4õ.—  «Xào  lhe  pa- 
reça a  V.  M.  que  eu  reprovo,  ou  que  cri- 
tico a  Ortographia  que  V.  JI.  determina 
aos  nossos  filhos;  eu  a  venero,  e  elles  a 


devem  respeitar  só  porque  he  sua.»  Ca- 
v,illeiro  d'01iveira.  Cartas,  liv.  1,  n.°  7. 

—  Termo  de  theologia.  Condemnar  ás 
penas  eternas. 

REPROVÁVEL,  adj.  (Do  thema  reprova, 
de  reprovar,  com  o  sufiixo  «avel»j.  Que 
merece  ser  reprovado. 

REPROVIR,  V.  n.  (De  re,  e  provir). 
Tornar  a  provir.  =  Pouco  usado. 

REPRUIR,  V.  a.  (De  re,  e  pruir).  Tor- 
nar a  pruir. 

—  Coçar  brandamente ;  fazer  cócegas 
brandas. 

—  Figuradamente:  Lisonjear. 

—  V.  n.  Estar  em  estado  de  comichão. 

—  Figuradamente  :  Estar  concupiscen- 
te, luxurioso.  —  Quando  ha  remoqamento 
nos  velhos  reprue-lhe  a  carne. 

1  REPTAÇÃO,  s.  f.  (Do  latim  reptatio, 
de  reptare,  frequenta tivo  de  repere;  vid. 
Reptil  I.  Termo  didáctico.  Acção  de  arras- 
tar-se. 

j  REPTADO,  part.  pass.  de  Reptar. 
Accu-ado  de  desleal,  aleivoso  ao  rei. 

REPTADOR,  .?.  m.  O  que  repta. 

REPTAMEKTO,  s.  vi.  (Do  thema  repta, 
de  reptar,  com  o  sufiBxo  «mento»).  Acção 
de  reptar. 

REPTANTE,  adj.  2  gen.  (Do  latim  re- 
ptans,  part.  act.  de  reptare,  frequenta- 
tivo  de  repere;  vid.  Reptil).  Reptil,  re- 
ptilia. 

REPTAR,  V.  a.  (Do  latim  reptare;  vid. 
Reptação  .  Accusar  fidalgo  ou  cavalleiro 
perante  o  rei  por  desleal,  aleivoso,  trai- 
dor á  sua  real  pessoa  e  estado,  oíFerecen- 
do-se  a  provar  a  accusação  em  juizo  ou 
por  meio  de  duello. 

REPTIL,  adj.  (Do  latim  reptilis,  de  re- 
ptus,  part.  pass.  de  repere,  arrastar-se). 
Que  se  arrasta,  rasteja.  — /níecfo  reptil. 

—  aS',  m.  Xa  linguagem  commum,  todo 
o  animal  que  não  tem  pés  e  marcha  arras- 
tando-se,  e  todo  animal  que  tem  os  pés 
tão  curtos  que  parece  arrastar-se  sobre  a 
barrica. 


Desgi-aça  ao  gado  misero  que  pasce ! 
O  sanhudo  Dragão  lhe  enlaça  o  corpo, 
E  c.\hala  o  Toiu'o  os  últimos  arrancos. 
Não  sequaz  dOptimismo  o  mal  conheço. 
Que  hediondos  reptis  na  terra  espalhão  ; 
São  flageUos  da  cólera  divina. 

J.  A.   DE  M.4CED0,  MEDITAÇÃO,  Caut.   3. 

Mais  humildes  reptis  no  campo  gyrão, 
Sem  veneno,  sem  pérfidas  ciladas. 
Que  innocentes  nas  plantas  se  apascentão. 
!\Iilagre3  são  da  Eterna  Omnipotência. 


—  Figuradamente :  Pessoa  que  se  serve 
de  meios  vis  para  alcançar  seus  fins. 

—  Em  zoologia :  Animaes  vertebrados, 
oviparos,  de  sangue  frio,  de  pulmão  ve- 
siculoso,  que  tem  um  coração  d'um  ou 
dons  amiculos,  mas  sempre  d'um  só  ven- 
trículo, divididos  em  quatro  ordens  dis- 
tictas  :  1.*  Oaícheledonios:  ex. :  as  tarta- 


224 


REPII 


RE  PU 


BEFU 


rupas;  2.*  os  saurianos ;  ex. :  os  lagartos; 
;i."  ort  (i|)liiiliu8 ;  t;x.:  ha  serpentes;  4."  os 
batríicliios  ;  ex.  :  a  rS. 


O  (loborbo  Quadriiprdn  oainpôn 
K  bato  n  torra,  o  curro  impotuouo, 
O  ignorado  rrptil  acii  cor|M>  urrustra 
('oiii  t(irCiioda.'4  voltiiA  coinplicadurt, 
Levo»  iizart  dcsprcgão  brandas  Aves, 
E  a  diverso  oloinciito  o  Corpo  cntrpgào. 

J.   A.   DK  MACEDO,  A  NATUBCZA,    Cailt.    1. 


REPTILIA,  .S-. /.  Via.  Reptil).  Animal 
roptil.        {'mieo  iisa'l(). 

j-  REPTILIVORO,  «(//.  (Do  reptil,  o  do 
latim  vniare,  comeu).  Termo  do  zoolo^íia. 
C^iie  so  alimenta  de  reptis. — AUjnns  re- 
ptilivoros  sào  muito  úteis  á  agricultura. 

REPTO,  .>..  m.  (Vid.  Reptar). —Desatio 
proposto  por  quem  repta. —  «Repto  he 
hum  acciísamonto,  quo  fazem  os  tilliodal- 
gos,  e  os  cavallieiros  hum  ao  outro  per 
corte,  accusando-o  do  treiçom,  que  fez 
contra  el-rei,  o  sou  real  estado.»  Ord. 
Affons.,  liv.  1,  tit.  04. 

—  Entrar  eni  repto ;  intentar  e  provar 
a  aceusai,ão  de  traii^'ão.  —  Desafio,  para  um 
jof^o,  uma  corrida  a  vôr  qual  chega  pri- 
meiro, uma  disputa  litteraria. 

REPUBLICA,  s.f.  (Do  latim  respuòlica\ 
Estado  cuja  constituii,'ão  c  democrata,  em 
que  o  povo  se  governa  a  si  mesmo,  quer 
immediatamente,  quer  por  seus  delega- 
dos. 

Distinguem-se  três  espécies  de  republi- 
cas :  as  aristocracias,  nas  quaes  o  gover- 
no existe  entre  as  mãos  da  alta  classe  dos 
cidadãos;  as  vligarchias,  nas  quaes  o  go- 
verno existo  outro  as  mãos  do  menor  nu- 
mero ;  o  as  democracias,  em  que  a  maioria 
da  nação  toma  parte  no  governo.  Poder- 
se-hia  accrescentar  a  estas  republicas  as 
federativas,  compostas  de  muitos  estados, 
toudo  cada  um  sua  constitui(;ào  differente. 
—  As  republicas  antigas.  —  As  republicas 
iwnlcninn.  —  A  republica  roíuana.  —  .1 
republica  de  Athcitas,  de  Veneza,  (/<?  Gc- 
iiova,  da  Suissa.  —  Estabelecer  uma  re- 
publica. —  Formar  uma  republica.  —  Dc- 
dicar-se  j/ela  republica.  —  «Embaixador 
foy  muito  bem  recebido  de  ElRey,  que 
jurou  perante  elle  as  pazes,  e  as  mandou 
apregoar  por  seus  Reinos,  c  lhe  fez  en- 
trega do  Embaixador,  e  Portuguezcs.  O 
Clovernador  entendeo  o  que  faltava  do 
inverno  em  algumas  cousas  do  governo 
da  Republica. »  Diogo  de  Couto,  Década 
6,  liv.  7,  cap.  1. —  «Nesta  cidade,  po;- 
ordom  do  Aitao  da  Bitampiua,  que  como 
ja  disse,  he  o  supremo  Presidente  sobre 
todos  03  trinta  e  dous  almirantes  dos  trin- 
ta o  dous  reynos  desta  monarchia,  ha  ses- 
senta capitães,  trinta  do  governo  da  re- 
publica desta  cidade,  e  que  tom  cargo  de 
a  porem  por  sua  ordem,  e  ouvirem  as 
partes  de  sua  justiça,  c  outros  trinta  para 
guarda  dos  mercadores  que  vem  de  f/ira. » 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações,  ca- 


pitulo 98.  —  «E  80  alguns  por  defeito  da 
naturi-za  nâo  saiT  para  ai)reader  oilicioH, 
também  se  laes  dá  outro  remédio  do  vi- 
da, conforme  á  necessidade  do  cada  hum, 
HO  saõ  cegos,  rlão  a  cada  atafoneyro  que 
tem  engenlio  do  milo,  tros,  dous  para 
moerem,  e  hum  para  peneyrar,  e  oste  hc 
o  modo  que  as  Republicas  tem  para  jtro- 
verem,  assi  os  cegos  como  os  outros  ne- 
cessitados, i  Ibidem,  cap.  112. — «Vinhào 
também  muytos  tidalgos  e  pessoas  no- 
bres, de  muy  honrado  termo,  e  modéstia, 
sem  que  ouuessc  escândalo,  ou  dilTeren- 
ça  alguma,  nem  inda  na  gente  commúa, 
e  do  couuès :  sendo  os  oftieiaes  da  niio 
também  criados,  c  entendidos  que  o 
menos  cm  que  o  pareciào,  era  nas  cou- 
sas de  sua  obrigação,  que  eorto  llio 
podia  ter  cuueja  hiima  Republica  nmy 
concertada. D  Fr.  íiaspar  de  S.  Bernar- 
dino, Itinerário  da  índia,  capitulo  1.  — 
«Isto  misce  da  multidão  da  gente  de  Ale- 
manha, que  por  ser  muita,  cada  hum 
busca  por  sua  industria,  e  arte  seu  me- 
lhoramento, e  de  maneira  tem  em  honra 
esta  occupaçaõ,  que  desde  o  Emperador, 
atè  o  ultimo  homem  da  Republica  se  pro- 
fessa algum  officio  mecliauico,  e  se  pre- 
za muito  de  fazer  obras  de  maior  preço.» 
Manoel  Severim  de  Faria,  Noticias  de 
Portugal,  Disc.  1,  §  1.  —  o<.>s  successo- 
res  de  Alexandre,  que  podemos  dizer  fo- 
raõ  os  possuidores  da  Monarquia  Grega, 
também  se  valerão  de  exércitos  grossis- 
simos,  e  a  Republica  Romana  adquirio  o 
senhorio  do  mundo,  naõ  menos  com  o 
grande  numero  das  suas  Legioens,  que 
com  sua  prudência,  e  valor.»  Ibidem.  — 
«Porque  em  huma  Republica  mais  con- 
vém (assim  para  haver  muita  gente,  co- 
mo para  defensão  delia,  e  bom  serviço 
do  Rey)  haver  muitos  Morgados,  e  Ca- 
sas, que  commodamente  se  possaõ  sus- 
tentar, que  haver  poucos,  que  teuhaõ 
cm  si  muitas  Casas  destiis,  e  sejaõ  por 
isso  muito  ricos.»  Ibidem,  §  7.  —  «Dcu- 
Ihes  Deos  instrumentos  para  as  monda- 
rem ;  deu-lhes  a  enxada  para  arrancar 
as  hortigas,  e  abrolhos,  deidhes  a  fou- 
ce para  cortarem  os  sylvados,  e  todas  as 
malézas ;  e  ás  Republicas  nenhum  ins- 
trumento deu  acomodado,  nem  se  quer 
hum  ancinho,  para  as  podermos  mondar, 
e  alimpar  de  tantos  ladroens,  que  nos 
destroem,  o  de  tantos  males,  que  nos 
causaõ  sem  remédio  I »  Arte  de  furtar, 
cap.  68.  —  «Vendo  primevro  a  Republi- 
ca quem  cscollio  para  procurar  por  ella, 
e  curar  delia.»  Francisco  Manoel  de 
Mello,  Apol.  Dial-,  pag.  187.  —  «Está 
bem  quanto  ao  entre  o  Rey,  e  o  Reyno; 
mas  quanto  a  huma  Republica,  sem  Pro- 
curador, e  Curador,  como  se  acomoda- 
ria V»  Ibidem.  —  «Republica  discursiva,  ou 
Cidade  Vivente  na  Terra  o  define  enge- 
nhosamente o  profundo  Azoliiío.  Nelle, 
saõ  mármores  tundamentaos,  os  ossos ; 
e  tantos  os   Palácios  particulares,  quan- 


tas as  oflieiua«,  e  membros. i  Braz  Luiz 
dAbrou,  Portugal  medico,    pag.   ;'),  §  8. 

—  «Mousieur  do  la  llaie  \'entel<t  residi» 
na  Porta  Ottomaiia  com  o  caracter  de 
Embayxador  da  Corte  de  França.  Sendo 
accusado  em  Constantinopla  de  faser  nào 
sey  que  Xegociaç.ío  eoui  a  Republica  de 
\'ene.-a  do  interesse  de  seu  Amo.»  (.'aval- 
leiro  de  Oliveira,  Cartas,  liv.   '.\.  n."  •2'.i. 

—  «Quando  se  disse  que  a  Republica  tinha 
sido  castrada  pela  morte  de  Scipiâo  Afri- 
cano, jmreceo  a  idca  t.^o  vilàa  que  fui 
condomnada  a  dita  Metaphora  por  Cice- 
ro,  e  depois  por  Quiutiliano.»  Ibidem, 
liv.  1,  n.°  :iO. 

Ou  liberdade  ou  morte  !  —  é  voto  nnaniiiM 
Uo  soiiudo.  Qomaiius  aoioos  todon: 
K  que  Romano  a  discrepar  se  atreve 
I.)c  ttia  8c!nteni;a,  de  teu  nobre  voto, 
O  Catão  ?  Tu  es  a  alma  da  rrpiMica, 
O  gcuio  que  preside  a  seu  di^tino. 

OÂBECTT,  CATÃO,  act.  2,  SC.   2. 

Um  tyranno  (•,  sem  duvida,  Oii  terra 
C)  malv:ido  maior :  loas  nem  por  isso 
Te  é  licito  puni-lo.  Magistrados 
Que  o  julguem,  leis  que  o  punam — com  algOMS 
Para  as  executar — tem  a  republica. 
IBIDEM,  act.  4,  BC.  3. 

Deuses,  guardaveis-mc  inda  o  trago  acerbo 
Para  a  meu  corarão  I  —  Fado  inimigo, 
Ja  uào  consegues  abalar-mc  o  peito. 
Vi  desertar  da  causa  da  republica 
Seus  mais  strcuuos  fautores. 
IBIDEM,  act.  4,  SC.  3: 

Os  meus  soldados 
Sào  auxiliares  teus  c  da  repuUica. 

IBIDEM,  SC.  4. 

—  Todo  o  estado  que  não  é  submetti- 
do  ás  leis,  qualquer  que  seja  a  forma  do 
seu  governo.  —  aparta  com  doue  rei»,  e 
Roma  com  dous  cuntuU*,  eram  republi- 
cas. 

—  Os  antigos  davam  este  nome  aos 
estados  oligarchicos  nos  quaes  a  massa 
micioual  não  tinha  poder  algum,  porque 
cUes  não  reconheciam  senão  duas  espé- 
cies de  governo,  o  de  um  s<i,  ou  o  de 
muitos. 

—  Toma-se  algumas  vezes  por  toda  a 
sorte  de  estados,  de  governos.  —  O  des- 
prezo das  leis  é  a  peste,  o  jlageílo  da  re- 
publica. —  Os  Césares  destruíram  a  re- 
publica roínaim,  mas  deixaram  subsistir 
o  nome. 

—  Figuradamente  :  A  republica  das 
letras ;  os  homens  de  letras,  os  sábios  em 
geral,  considerados  como  se  formaasem 
uma  nação.  —  ^>er  conhecido  tia  republi- 
ca das  letras. 

—  Figuradamente  :  Ê  uma  peqvêna 
republica  ;  diz-se  de  uma  pequena  famí- 
lia, de  uma  communidade,  de  luna  socie- 
dade numerosa. 

—  Tenno  de  philologia.  Republica  de 
Platão ;  obra  em  que  ee  conta  sua  poli- 
tica. Nella  enumera    e   classifica   ;is    di- 


REPU 


REPU 


EEPU 


versas  termas  de  governo,  e  reconhece 
ciuco  iVellas :  a  aristocracia,  a.  democra- 
cia, a  oligarchia,  a  temocracia  ou  gover- 
no dos  ambiciosos,  e  a  tvrannia.  É  á  pri- 
meira que  elle  dá  a  preferencia. 

REPUBLICANISMO,  s.  m.  AíFectação  de 
opiniões  republicanas.  —  O  republicanis- 
mo de  mintas  j^essoas  não  ê  senàu  um  vio- 
lento amor  do  domínio  exercido  em  nome 
da  pátria. 

—  Opinião,  qualidade,  virtude  de  um 
republicano.  —  O  republicanismo  é  inse- 
parável das  virtudes  ;  só  piide  subsistir 
nas  nações  agrieolas.  —  O  verdadeiro 
republicanismo  nào  existe  na  forma  do 
goverr.o,  mas  nos  respeitos  dos  direitos 
nacionaes  particulares. 

REPUBLICANO,  A,  adj.  Da  republica, 
que  pertence  á  republica.  ■ —  Governo 
republicano.  —  Forma  republicana.  — 
Coniítitinção  republicana. 

—  Que  favorece  o  governo  republica- 
no. —  Ahna  republicana.  —  Espirito  re- 
publicano. —  Máximas  republicanas. 

—  Substantivamente :  Pessoa  apaixo- 
nada do  governo  republicano.  —  Gran- 
de republicano.  —  Verdadeiro  republica- 
no. —  Republicano  austero,  fogoso.  —  O 
verdadeiro  republicano  nào  deve  ter  ou- 
tros senhores  senào  a  Deus,  a  lei  e  as 
necessidades. 

Mas  a9  bênçãos  d'um  povo  agradecido 
São  melodia  de  suavca  notas 
Que  por  eras  e  eras  se  prolonga 
A"3  gerações  por  vir.  Um  rei  eomo  este, 
Dae-lhe3  um  rei  como  João  segundo  ; 
E  esquecido  o  tenaz  republicano 
Do  Brutos  e  Catões,  ajoelha  ao  sceptro. 
GABBETT,  CAMÕES,  cant.  8,  cap.  9. 

REPUBLICIDA,  s.  2  gen.  Destruidor  de 
uma  republica,  de  um  governo  republi- 
cano. 

t  REPUBLICISMO,  s.  m.  Emprega-se 
como  syuonymo  de   Republicanismo. 

REPÚBLICO,  A,  adj.  e  s.  Zeloso  do  bem 
publico. 

7  REPUBLICOLA,  s.  2  gen.  Termo  de 
politica.  Membro  de  uma  republica. 

7  REPUBRICA,  s.  /.  Antiga  forma  de 
Republica.  —  «E  daqui  hé  (diz  o  mesmo 
autor  I  que  para  se  mostrar  que  a  estra- 
da por  onde  os  homens  caminhão  a  to- 
das as  cousas  boas,  saõ  esperanças  :  na 
lingoa  Caldea  o  próprio  nome  Enos,  que 
significa  homem,  significa  esperança,  por- 
que não  se  pôde  chamar  o  que  nào  riue 
d'e5perança  nem  repubrica  de  homens  a 
que  senào  sustenta  e  gouema  com  espe- 
ranças, de  que  se  ha  de  fazer  muvta 
prouisaõ.B  Paiva  de   Andrade,  Sermões. 

REPUDIAÇÃO,  s.  f.  (Do  latim  repudia- 
'íVi.  Acção  de  repudiar  uma  successào, 
de  a  renunciar. 

—  Recusa  de  uma  mulher  com  quem 
se  vivia  unido.  —  ã  repudiação  é  em  ge- 
ral permiftida  em  todos  os  povos  não  chris- 
tãos. 

voL.  V.  — 29. 


REPUDIADO,  pa)•^  jmss.  de  Repudiar. 

Olímpias  aqui  cstaua  repudiada 
Do  grão  Philipo  Rcy  da  Macedónia 
Ca?ado  com  Cleópatra,  e  por  Pausanias 
Da  geração  de  Orestes,  alli  morto. 
Tàbem  sogro,  c  molher  que  descuidados 
Xas  adulteras  vodas  so  mostrauào 
Estaua  aqui  huma  alta  forca,  o  nella 
Tinha  esse  matador  coroa  de  ouro. 

COBTE  KE.U.,  NACFBAGIO  DE  SEPCLVEDA ,  Cant.  3. 


Mulher  repudiada  por 
E   uma    doutrina 


—  Rejeitado 
seu  marido. 

—  Figuradamente 
repudiada  geralmente. 

REPUDIÁNTE,  part.  act.  de  Repudiar. 
Que  rejeita,    que  abandona  a  mulher. 

—  ò'.  2  gen.  Cônjuge  que  repudia  o 
outro. 

REPUDIAR,  r.  a.  (Do  latim  repudiarei. 
Rejeitar  a  mulher  segundo  as  £'>rmas  le- 
gaes.  —  Os  hebreus  e  os  romanos  tinham 
direito  de  repudiar  suas  mulheres  em  cer- 
tos casos.  —  « Cego  Pygmaliào  com  o  vio- 
lento amor  que  lhe  tinha,  repudiou  a  rai- 
nha Topha,  sua  esposa ;  e  so  se  esmera- 
va em  satisfazer  as  paixões  da  ambicio- 
sa Astarbé,  cujo  amor  lhe  não  era  me- 
nos fatal,  que  sua  infame  cubica.»  Fran- 
cisco Manoel  do  Nascimento,  Telemaco, 
liv.  3. 

—  Diz-se  do  marido  que  faz  divorcio 
com  a  mulher. 

—  Figuradamente  :  Rejeitar,  deixar, 
abandonar.  —  Repudiar  seus  principios. 
—  Repudiar  sua  doutrina.  —  Repudiar  a 
crença,  a  gloria  de  seus  pães. 

—  Desamparar. 

REPUDIO,  s.  m.  iDo  latim  repudiurn  . 
Termo  de  direito  romano.  Retractaçào 
de  uma  das  duas  partes,  entre  os  espon- 
saes  e  a  celebração  do  casamento. 

—  A  acção  de  repudiar  a  mulher,  de 
se  divorciar,  de  se  desquitar  d'ella,  dis- 
solvendo o  casamento  como  era  uso  en- 
tre os  romanos  e  judeus. 

—  Acção  de  rejeitar  com  desprezo. 

—  Desdém,  esquivança. 

—  Stx.  :  Repudio,  divorcio.  Vid.  este 
ultimo  termo. 

REPUGNADO,  part.  pass.  de  Repugnar. 
Impugnado,  resistido  com  razões.  Vid. 
Impugnado. —  Casamento  repugnado. 

REPUGNADOR,  A,  adj.  De  repugnar, 
com  o  sufSxo  «dor»'.  Que  peleja,  resis- 
tindo contra  o  que  accommetteu. 

—  Que  refusa  com  esquivança. 

—  Que  sente  repugnância,  que  resiste, 
que  faz  difficuldade. 

— ■  Usa-se  também  substantivamente. 

REPUGNÂNCIA,  s.  f.  «Do  latim  repu- 
gnantia^.  Espécie  de  aversão  por  alguém, 
por  alguma  cousa.  —  Ter  uma  gi-ande  re- 
pugnância em  tomar  este,  ou  aquelle  par- 
tido;  ter  grande  repugnância  n'isso. — 
Vencer  uma  repugnância.  —  Consentir 
numa  cousa  com  repugnância.  —  Ter  re- 
pugnância para  casar-se.  —  Insjpirar  re- 


pugnância. — •  Um  sentimento  de  repugnân- 
cia. —  A  própria  piedade  tem  suas  repu- 
gnancias  e  seus  desgostos. 

—  Objecções,  obstáculos,  estoi-vos. 

Cahe  o  assento  também,  que  em  si  encerra 
O  Silveira,  e  a  parede  lá  da  estancia 
Do  Sousa  Lopo,  vera  também  a  terra, 
Sam  poder  o  canhão  ter  repttgnancia ; 
Ordena  apoz  isto  hum  ardil  de  guerra 
Que  derrube  a  Christãa  dura  coastancia 
O  Turco,  que  co'a  força  não  se  atreve. 
Mas  este  Canto  he  ja  m<5r  do  que  deve. 

FEA>XISCO  DE  ASDBADE,    PBIiEEIBO    CEBCO   DE  DIT, 

cant.  18,  est.  107. 

—  Contrariedade  nas  leis. 

—  Antipathias,  opposições,  contrarie- 
dades. 

—  Incompatibilidade. 

—  Syx.  :  Repugnância,  antipathia.  Vid. 
este  ultimo  termo. 

REPUGNANTE,  part.  act.  de  Repugnar. 
Que  repugna.  — ■  Comida  repugnante. 

—  Contrario,  opposto.  —  Proposição 
repugnante  á  razão,  d  lei. 

—  Os  ventos  repugnantes  ;  os  ventos 
que  resistem  contra. 

Ao  grande  Eolo  mandam  já  recado 
Da  part«  do  Neptuno,  —  que  sem  conto 
Solto  as  fúrias  dos  ventos  repugnantes, 
Que  nào  haja  no  mar  mais  navegantes. 
CAM.,  Lcs.,  cant,  tí,  est.  35. 

—  Ajustar  cousas  repugnantes  ;  ajus- 
tar cousas  incompativeis,  inconsistentes 
umas  com  as  outras. 

—  Diz-se  também  qualidades  repu- 
gnantes. 

—  Sizanias  repugnantes  ;  sizanias  que 
excitam  dissensões,  discórdias. 

REPUGNAR,  V.  a.  (Do  latim  repugna- 
re).  Ser  mais  ou  menos  opposto,  con- 
trario. —  Esta  nova  proposição  repugna 
á  primeira.  —  Estas  cousas  repugnam 
umas  ás  outras.  — •  Sua  vida  repugna 
d  sua  doutrina. — Isso  repugna  ao  senso 
comnuDU,  repugna  á  religião  christã. — 
Isso  repugna  aos  principios  da  mechani- 
ca.  —  o  Cuidarmos,  que  toda  a  gloria  he 
como  esta,  e  que  naõ  ha  outra,  será  en- 
gano, que  até  ao  lume  natural  repugna; 
porque  a  grandeza,  constância,  e  formo- 
sura do  Ceo  nos  testemunha,  e  assegura, 
que  ha  outra  couza  melhor,  que  isto  que 
cá  vemos,  e  que  ha  bemaventurança  so- 
lida, e  verdadeira. »  Arte  de  furtar,  capi- 
tulo 70. 

—  Experimentar  um  sentimento  de  re- 
pugnância. • — •  Meu  gosto  repugna-lhe, 

—  Resistir,  sentir  repugnância,  não 
acquiescer.  —  «Apeámo-nos  no  Palácio 
Egalité,  onde  fizemos  quantiosas  compras, 
e  de  lá  fomos  ás  lóges  de  Le  Roy,  e  des- 
sa demoisella  Despeaux  em  quem  na  vés- 
pera me  fallárão;  e  de  lóge  em  lóçe,  e 
sempre  comprando,  empregámos  quatro 
horas  boas.   Não,  que   eu  me  desse  por 


220 


IIKPU 


REPU 


HEPU 


mui  s.itinfcita  cm  mou  interior  do  que 
mo  iuclinavào  a  fiizor;  inaj  não  me  Hcn- 
tia  com  fôri;!i,  iioiii  com  vontailo  bem  de- 
clarada (lo  repugnar.»  Francisco  Manoel 
do  Nas(-iinoiiti>,  Suocessos  de  Madame  de 
Seneterre. 

—  Causar,  Ins]>irar  repugnância.  — 
Este  homilia  repugna.  —  Eata  mulher  re- 
pugna-rae. 

—  Repugnar  uma  cousa  com  outra;  não 
Bo  conformar,  não  acquicsccr. 

—  Repugnar  aos  appetites.  Vid.  Repu- 
nhar. 

—  Repugnar-se,  v.  rcjl.  Resistir  a  si 
mesmo,  c  ordinariamente  ás  suas  más 
afFeiçõcs. 

—  Sor  contrario  a  si  mesmo. 

—  Pensar,  crôr  n'unia  cousa,  c  obrar 
outra. 

•  —  V.  a.  Pelejar,  resistimlo  contra  o 
quo  aceommettcu.  —  «E  por  isso  o  princi- 
pal exorcicio  deste  sagrado  tempo  ha  do 
ser  repugnar,  contrariar,  e  quebrantar 
nossas  más  inclinações,  o  desejos,  c  a 
este  intento  se  cnderença  a  doutrina  que 
a  Sancta  ]\[adre  Igreja  vos  dá  neste  Do- 
mingo, trabalhando  de  esforçar,  e  acen- 
der nossos  corações  a  pelejar  fortemente 
esta  celestial  |>cloja  atoe  alcãçar  vieto- 
ria.»  Fr.  Bartholonieu  dos  Jlartyres,  Ca- 
tecismo da  doutrina  christã. 

—  Kofasar  com  esquivança,  esquivar, 
não  querer  com  resistência. 

REPULEGO,  .V.  VI.  Vid.  Repolego. 

REPULGAR,  r.  «.  Vid.  Repolegar. 

REPULGO,  s.  m.  Vid.  Repolego. 

REPULHÃO,  s.  »!.=  Signitioação  incer- 
ta. 

REPULHAR,  i'.  (í.  Em  vez  do  Repullu- 
lar. 

f  REPULLULAÇÃO,  s.  /.  Acção  de  re- 
bentar de  novo.  —  As  repullulações  sus- 
peitas que  sobrevem  tão  frequentemente 
no  curso  da  cicatrisação  de  uma  chaga 
mais  ou  menus  extensa. 

1  REPULLULADO,  part.  i^dss.  de  Re- 
pullular. 

REPULLULAR,  v.  a.  (Do  latim  repuUu- 
larc).  Kouasecr  em  grande  quantidade, 
brotar  de  novo.  —  Os  insectos  repuUula- 
ram  durante  estes  rp-andes  calores.  —  As 
más  hervas  repullulam  incessantemente 
ii'este  jardim. 

—  Figuradamente  :  Os  erros  repullula- 
ram  depois  pouco. 

REPULSA,  s.  /.  (Do  latim  repulsa).  A 
«vcção  de  dar  repulsa,  de  negar  a  alguém 
o  quo  se  pode,  de  lançar  de  si  sem  des- 
pacho. 

—  A  acção  de  ropellir,  —  A  repulsa 
da  injuria. 

REPULSÃO,  s.  /.  (Do  latim  repulsio). 
Termo  de  physica.  Força  em  virtude  da 
•íjual  os  corpos  ou  suas  moléculas  se  re- 
pellem  mutuamente.  — -  A  atti-accão  e  a 
repulsão.  —  A  repulsão  dos  corpos  elás- 
ticos. —  A  attracção  e  a  repulsão  mutua 
dos  corpos  electrisados. 


—  Repulsão  do  MUfjnete;  propriedade 
quo  tem  um  magneto  de  re|)ollir  um  ou- 
tro magneto,  quando  se  apresentam  um 
ao  outro  pelos  poios  do  mc-tnio  nome. 

—  Repulsão  eléctrica;  propriedade  que 
tom  um  corjio  actualmente  clectrisado, 
de  rcj)ollir,  depois  de  o  ter  alterado,  os 
corjios  ligeiros  qao  se  lhes  apresentam  a 
uma  certa  distancia. 

—  Repercussão. 

—  Eniprega-sc  também  no  sentido  ti- 
gui-ado. 

REPULSADO,  pari.  pass.  de  Repulsar. 
Ri'pi'lliiiii,  rejeitado. 

REPULSAR,  V.  a.  (Do  latim  repulsare). 
Dar  repulsa,  negar  o  que  se  lhe  petlo, 
lançar  do  si  sem  despacho. 

Qiicin  liil,  que  repulsar  tács  riifjos  valha? 
(ilicm  deslembre  o  piedoso  Zacliarias  V 
Eu,  por  amor  do  Christo  vos  pcrduo, 
Do  Cliristo,  meu  Senhor,  c  Senhor  vosso. 

K.   M.    no   NASCIMENTO,   03  MARTVBES,   1ÍV.   9. 

—  Repulsar  o  som;  reflectir,  fazer  re- 
soar. 

—  Repellir,  rejeitar. 

Dizem  qu'a  forte  exhalação  da  Terra 

(.'omsigo  aos  aros  liquides  atira, 

O  Sol  a  cliaraa,  os  ares  a  repulsão, 

Da  rija  coUisào  se  forma  o  vento 

Mais  forte,  se  lie  vapor  mais  grosso,  c  denso, 

E  d'um  ténue  vapor  Zéfiro  nasce. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Caut.  2. 

REPULSIVO,  A,  adj.  Termo  de  phvsi- 
ca.  Que  repelle.  —  Virtude  repulsiva.  — 
Força  repulsiva.  —  Está  provado  que  o 
calor  ampueuta  a  forra  repulsiva. 

—  Refraccão  repulsiva;  diz-se  da  du- 
pla refracção,  quando  o  raio  extraordi"- 
nario  se  desvia  mais  do  eixo  que  o  raio 
ordinário,  e  que  este  está  situado  entre 
elle  c  o  eixo. 

REPULSO,  part.  pass.  irreg.  de  Repul- 
sivo. Vid.  Repellido. 

REPUNAR,  f.  rt.  Vid.  Repugnar,  termo 
profei-ivol. 

REPUNHADO,  pai-í.  pass.  de  Repunhar. 
Vid.  Repugnado,  tirmo  mais  em  uso. 

REPUNHANTE,  part.  act.  de  Repunhar. 
Vid.  Repugnante,  termo  mais  correcto. 

REPUNHAR,  V.  a.  Vid.  Repugnar,  or- 
thograpliia  preferível. 

REPURGAÇÃO,  s.  /.  iDo  prefixo  re,  e 
do  latim  piir,iatio'\.  ísova  purgação. 

—  ( )  tornar  a  purgar. 

—  Aci.'ào  do  alimpar. 

f  REPURGADO,  part.  pass.  de  Repur- 
gar.  Tornado  a  dar  purga. 

—  Tornado  a  purgar. 
REPURGAR,  V.  a.  (Do  latim  repurgare). 

Purgar  do  novo,  tornar  a  purgar. 

—  Tornar  a  dar  purga. 
REPUTAÇÃO,  .«.  /.   O  renome,  estima, 

opinião  quo  o  publico  tom  de  uma  pes- 
soa. —  Uma  boa  reputação.  —  Uma  iná 
reputação.  —  Uma  (fraude  reputação.  — 
Uma  reputação  duvidosa,  equivoca,  usur- 


pada, òril/iftnle,  ephimera,  —  Ter  uma 
ijraule  reputação.  —  Ter  a  reputação  cie 
um  /fjmeiíi  fran<o  e  leal.  —  Um  homem 
de  uma  reputação  exrellenfe.  —  Ama-te 
mais  a  grawh  reputação  <yi<e  a  boa.  — 
«  Com  homens  experimenta  los  na  guerra 
falo,  c  da  experiência  que  jiclla  tenho 
deveis  estar  bem  satibfeitos,  sobre  o  quo 
vos  ouso  aíTirmar  com  toda  coiitiança, 
que  presteza,  e  reputação  í^duas  cousas 
do  grande  poilcr  na  guerra)  scrílo  as  que 
dem  venturo.so  remate  a  esta.  A  quem 
não  causarii  lastima,  o  que  padecem  por 
meu  respeito  naquella  terra,  os  que  pcr- 
severaõ  cm  ser  Icaes?  c  dilatarfhe  hum 
SI)  dia  neste  soccorro,  seià  a  multiplicar- 
Ihe  mais  suas  misérias.»  Honarchia  Lusi- 
tana, liv.  G,  cap,  2:'). —  €  Sentiu  Henii- 
quc  este  golpe  mais  pela  reputação  <!o 
mundo,  quo  por  escrúpulo  que  tivesse  de 
SC  ver  escomungado,  e  posto  que  com 
mostras  de  penitencia,  e  humildade  pe- 
disse perdão,  e  fosse  a'lmitiilo  â  peniten- 
cia no  lugar  de  Canusio.»  Ibidem,  liv.  7, 
cap.  30. 

Este  depois  que  a  sua  nutlioridado 
(Como  ja  atraz  a  minha  hi.storia  escreve) 
Fez  quietar  a  gente  da  Cidade, 
E  dentro  dos  seus  muros  a  deteve, 
A  re]iiitar'io  mesma,  c  dignidade 
Na  torra  lhe  ficou  que  sempre  teve, 
Agora  o  acata  mais,  mais  o  venera 
A  gente,  do  que  nunca  antca  fizera. 

F.    DE  ANDRADE,  PRIMEIRO  CERCO  DE   DIC,  CaUt.    9, 

est.  116. 

—  «  EUes  mesmos  imprimem  na  sua 
reputação  a  marca  do  labèo  eterno  da 
sua  deshonra,  ticando  então  culpados  na 
infâmia  que  não  tinhão  antecedentemen- 
te.» Cavalleiro  d'(.>liveira,  Cartas,  liv.  1, 
n.°  13. —  «Acena-lhe  quem  pxle  com  a 
bengalla,  mostra-lhe  vestido  ou  sustento; 
acode  logo  e  deixa-se  como  toiro  agarro- 
char  na  alma  c  na  reputação.»  Bispo  do 
Grão  i'ará,  Memorias,  publicadas  por  Ca- 
millo  Castello  Pranco,  pag.  104. 

—  Absolutamente,  e  sem  epitheto,  to- 
ma-so  sempre  em  boa  parte.  —  Estar  em 
reputação.  —  Ter  muita  reputação.  —  <!?<.'r 
forte  em  reputação  entre  os  sábios.  —  Per- 
der a  sua  reputação.  —  Fazer  uma  nmloa 
na  reputação.  —  Dar  reputação  ás  suas 
armas.  — tíubscrtver  á  sua  reputação. — 
Descahir  da  sua  reputação.  —  -1  reputa- 
ção é  a  obra  do  tempo. 

—  Fama. 

—  Loc. :  Pôr-se  em  reputação  com  al- 
guém :  grangear  o  l)om  conceito  d"elle. 

—  Perder  a  reputação ;  perder  a  boa 
fama. 

—  Diz-so  também  das  cousas  que  tem 
o  renome  de  serem  excellentes  na  sua 
espocic.  —  Poesias  que  estão  em  grande 
reputação.  — Vinho  qite  tem  reputação.  — 
Os  cavallos  inglezes  estõo  em  reputação. 
—  A  reputação  de  nossas  anmis.  —  A 
santidade  e  a  reputação  do  seu  templo. 


I 


REPU 


EEPU 


REQU 


227 


—  Termo  de  iconologia.  Representa-se 
sob  a  figura  de  uma  mulher  vestida  de 
estofos  leves,  e  transparentes,  na  acçào 
de  correr,  tendo  duas  grandes  azas  bran- 
cas, e  em  cada  penua  olhos,  boccas,  ou- 
vidos, e  tendo  uma  trombeta:  a  estes 
emblemas  accrescentam-se  também  flores 
odoríferas  que  se  escapulam  pelo  seu 
vestido. 

—  Ser  tido  em  reputação  ãe  santo ; 
considerar-se,  reputar-se  como  tal. —  «E 
querendose  estes  embaixadores  partir,  fo- 
raõ  visitar  o  Talapicor  a  hum  pagode 
onde  estava  aposentado,  porque  por  ser 
gi-andioso  e  tido  em  reputação  de  santo, 
não  podia  pousar  cõ  nenhum  homem  se- 
não cõ  el  Rey  somente,  porem  elle  lhes 
mandou  que  se  não  fossem  aquelle  dia, 
porque  avia  elle  de  pregar  em  hum  tem- 
plo de  religiosas  da  invocação  de  Ponte- 
maqueu.B  Fernão  Mendes  Pinto,  Pere- 
grinações, cap.  127. 

—  Svy. :  Reputação,  consideração;  vid. 
este  ultimo  termo. 

,  REPUTADO,  parf.  imss.  de  Reputar. — 
É  reputado  mui  rico.  —  E  reputado  por 
homem  de  bem. — -«Era  el  Rei  D.  Diniz 
taõ  reputado  por  sábio,  e  justiçoso,  que 
el  Rei  de  Castella,  e  o  Infante  D.  Affon- 
so  de  Lacerda,  qne  pertendia  ter  direito 
no  Reino,  por  ser  iilho  de  D.  Fernando 
de  Lacerda,  primogénito  dei  Rei  D.  Af- 
fonso,  que  morrera  vivendo  o  pai,  se  lou- 
varão na  determinação,  que  elle,  e  el  Rei 
de  Aragão  tomassem  jurando  de  estar 
pela  sentença  que  dessem,  e  desistir  do 
nome  real  qualquer  delles  que  se  julgas- 
se ter  pouca  justiça.»  Frei  Bernardo  de 
Brito,  Elogios  dos  reis  de  Portugal,  con- 
tinuados por  D.  José  Barbosa. 

REPUTAR,  1-.  a.  (Do  latim  reputare, 
de  re,  e  pufai-e).  Estimar,  prezar,  ter  em 
conta. — Reputar  algum  homem  sábio.  — 
Não  reputar  alguém  capaz  de  occupar 
um  logar.  —  Reputar  algum  homem  d'hon- 
ra.  —  «Falleceo  brevemente  D.  Garcia, 
a  quem  succedeo  D.  Estevão  da  Gama, 
que  na  índia  teve  os  brios  dos  de  seu 
appellido,  e  parece  que  tivera  a  fortuna, 
se  não  fora  tão  breve  o  seu  Governo. 
Emprehendeo  huma  facção,  no  perigo,  e 
na  gloria,  grande ;  qual  foi  embocar  o 
Estreito  do  mar  Roxo,  e  queimar  as  ga- 
lés dos  Turcos,  que  no  porto  de  Suez  se 
fabricavão,  com  voz  de  lançar  os  Portu- 
guezes  da  índia ;  empreza  que  o  Turco 
reputava  por  digna  de  seu  poder.»  Ja- 
cintho  Freire  d'Andrade,  Vida  de  D.  João 
de  Castro,  liv.  1. —  «O  Governador  en- 
tendendo que  estes  soccorros  reputavão 
nossas  forças,  e  criavão  amigos  ao  Esta- 
do, assentou,  que  com  a  mesma  armada 
se  desse  favor  ao  de  Caxem,  visto  ser 
huma  mesma  a  \-iagem,  e  a  despeza,  com 
que  se  podia  obrar  huma,  e  outra  em- 
preza.» Ibidem,  liv.  4. 

—  Grangear  reputação  para  outrem, 
ou  dar-lh'a. 


—  Considei'ar,  julgar,  crer.  —  «A  per- 
da que  elle  fez,  e  que  reputou  grande, 
ou  fisesse  bem  ou  mal,  o  determinou  a 
renunciar  á  sociedade  do  mundo  dedi- 
cando-se  elle,  e  seu  filho  ao  serviço  de 
Deos.»  Cavalleiro  d'01iveira.  Cartas,  liv. 
3,  cap.  36. 

—  Reputar-se,  v.  rejl.  Considerar-se, 
julgar-se,  ter-se  por.  —  «Hora  he  que  se 
poderá  reputar  a  descuido  não  dizermos 
que  causa  houue  pêra  el  Rei  mandar  to- 
mar hos  filhos  dos  ludeus,  e  naõ  hos  dos 
mouros,  pois  assi  huns,  quomo  hos  outros 
se  sahiaõ  do  Regno  por  nào  quererem  re- 
ceber ha  agoa  do  Baptismo,  e  crer  ho 
que  cre  ha  EgTeja  Catholica  Christãa.» 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  1,  cap.  20.  —  «Desta  forma  em  to- 
da a  força  da  equidade,  não  se  deve,  nem 
se  pôde  julgar  mal  de  hum  homem  que 
se  visse  jnuitas  veses  em  taes  casas,  ain- 
da que  seguramente  se  reputa  esta  acção, 
e  estes  passos  como  cousas  muy  escanda- 
losas.» Cavalleiro  d'01iveira,  Cartas,  liv. 
3,  cap.  27.  —  «Naõ  ha  também  duvida, 
que  03  Cyrurgioens,  e  Boticários  peritos 
no  seo  officio,  e  estudiozos  da  sua  obri- 
gação, devem  justamente  gozar  de  no- 
breza, e  reputarse  por  dignos  de  mayor 
estimação  que  os  mais  Artistas;  naõ  só 
porque  costumaõ  tractar-se  como  Nobres 
em  todas  as  acçoens,  vivendo  com  estado 
distincto  dos  Peaons ;  mas  porque  o  seu 
emprego  he  grandemente  útil,  e  necessá- 
rio á  Republica  para  conservação,  e  re- 
paro da  vida  Jiumana.»  Braz  Luiz  de 
Abreu,  Portugal  medico,  pag.  260,  §  113. 

j  REPUXADO,  part.  pass.  de  Repuxar. 
Puxado  para  traz. 

—  Repellido.  —  «Pelo  que  se  poseram 
outra  vez  a  cauallo  emcaminhando  para 
a  banda  per  onde  se  a  gente  saluaua,  ate 
chegarem  as  tranqueiras,  onde  plejaram 
sobela  entrada,  com  cento,  e  cincoenta 
de  cauallo,  e  duzentos  de  pe,  que  empu- 
xaram duas  vezes  pêra  dentro  e  outras 
tantas  foram  elles  repuxados  pêra  fora, 
ate  que  a  segunda,  sendo  ja  os  nossos 
juntos,  os  entraram  matando  os  mais 
delles.»  Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  3,  cap.  72. 

REPUXAR,  V.  a.  (Do  francez  repousser). 
Puxar  para  traz.  —  Repuxar  a  chuça. — 
«Dos  quaes  Dinis  fernandez  de  mello, 
que  hia  na  dianteira,  meteo  huma  chuça 
perantrellas,  sobelo  que  tiuerào  huma 
grande  pertia,  elles  a  repuxar  a  chuça, 
e  Dinis  Fernandez,  e  Diogo  fernandez 
de  Beja,  que  lhe  logo  acudio  a  ter  mão 
nella,  ate  que  chegou  a  mais  gente,  que 
vinha  aos  botes  com  os  imigos,  que  fica- 
ram fora,  que  tomaram  por  partido  ts- 
coarensse  poucos,  e  poucos  de  longo  do 
muro  contra  a  porta  dos  Bacharéis.»  Da- 
mião de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  3,  cap,  11. 

—  Ripellir,  rechaçar  a  quem  ataca 
hostilmeníe. 


—  Fazer  repuxo  ao  miu'o. 
REPUXO,  s.  m.  O  pendor  que  se  dá  ao 

muro,  o  alambor,  a  escarpa,  que  nos 
reparos  se  aparta  um  pouco  da  perpen- 
dicular, para  o  fortificar  mais.  —  «De-' 
rão-lhe  os  Mouros  fogo,  o  qual  achando 
resistência  nos  repuxos,  e  escarpas  do 
muro  que  lhe  conírapuzerão,  rebentou 
pela  face  de  fora  retrocedendo ;  e  voando 
a  cortina  do  muro,  a  lançou  sobre  os 
Mom-os  com  tão  grande  violência,  que 
matou  mais  de  trezentos,  e  muitos  mais 
ficarão  estropeados.»  Jacintho  Freire  de 
Andrade,  Vida  de  D.  João  Castro,  liv.  2. 

—  Fazer  algum  repuxo ;  lançar  espa- 
danas dagua  para  cima. —  «Causa  este 
milagre  a  meu  parecer,  serem  estes  rios 
muito  largos  e  grandes,  polo  qual  quando 
as  agoas  sam  vivas  no  mar  entre  tanta 
força  dagoas  do  mar  com  as  marees  por 
elles  acima,  que  faz  algum  repuxo  a  es- 
toutras da  corrente  com  que  corre  no 
rio  de  Loech  pêra  cima,  por  sua  corrente 
nam  ser  tam  impetuosa  como  he  ha  do 
rio  de  Sistor,  e  dos  dous  de  Chudurmuch 
pêra  baixo,  polo  que  aas  vezes  corre  com 
mais  força,  aas  vezes  com  menos  segun- 
do as  marees.»  Frei  Gaspar  da  Cruz, 
Tratado  das  cousas  da  China,  liv.  3. 

—  Termo  de  náutica.  Ferro  de  cala-- 
fate  com  que  se  embebem  as  tarrachas  na 
madeira;  peça  que  se  bate  com  vaivém 
para  a  fazer  entrar  em  outra. 

—  Parede  com  pendor,  ou  base  mais 
larga  e  gi-ossa,  que  se  encosta  nos  arcos, 
e  nos  fundos  das  minas  para  os  suster 
contra  a  força  que  pietende  dembal-os. 
Também  se  fazem  repuxos  nas  minas 
para  o  fogo  rebentar  para  cima  com  as 
resistências  dos  lados,  ou  para  dirigir  a 
explosão  contra  o  lado  opposto  ao  repu- 
xo, que  deve  ser  mais  forte  que  o  panno, 
que  queremos  derribar. 

—  Fonte  de  repuxo ;  fonte  que  lança 
espadanas  d'agua  para  cima. 

—  Termo  de  marinha.  Tira  de  couro 
unida  pelos  extremos,  que  os  marinheiros 
introduzem  na  mão  direita,  sahindo  o  de- 
do pollegar  por  um  furo  praticado  na 
mesma  tira ;  serve  para  n'elle  se  cozer 
um  dedal  chato  que  empurra  a  agulha, 
quando  se  cose  o  panno. 

—  Termo  de  architectura.  Encosto, 
obra  que  sustem  um  pé  de  arco,  e  o  es- 
triba para  este  supportar  o  peso,  a  pare- 
de opposta. 

—  O  repuxo  de  artilheria;  o  recuo,  ou 
movimento  para  traz  que  faz  o  couce,  ou 
culatra  das  armas  de  fogo  em  geral. 

REQUA,  s.  /.  Yid.  Recua,  orthographia 
preferirei. 

REQUEBRADO,  part.  p,ass.  de  Reque- 
brar. Tcrcido,   inclinado. 

—  Olhos  requebrados  ;  com  o  geito  que 
faz  o  namoro,  ou  quem  quer  inspirar  o 
amor. 

—  Algumas  vezes  é  synonymo  de 
amante. 


228 


REQU 


REQU 


REQU 


—  Com  gesto  o  ar  affectado  de  quem 
namora,  ou  com  qucbros  c  requebroH  da 
voz. 

—  Termo  do  botânica.  Curvado  para 
baixo  ou  para  ílra,  e  formando  .simulta- 
ncamoiite  um  aiif^ulo,  ou  cotovelo  na  sua 
curvatura,  tallaudo  do  foliolo,  do  pe- 
dúnculo, (Ids  lanios,  etc. 

REQUEBRADOR,  A,  adj.  Que  faz  roque- 
bror),  fícstos  (lu  namorado. 

—  (ialanteador,  namorador. 

—  Substantivamente  :  Um  requebra- 
dor. 

REQUEBRAR,  v.  a.  Torcer,  inclinar, 
dar  um  f^rito  namorado  ou  lascivo.  —  Re- 
quebrar us  olhus.  — Requebrar  «  voz  can- 
tíuulo. 

—  Dizer  finezas,  e  amores,  galanteando. 

Tid.     Isto  quanto  o  que  cu  conheço, 
Diab.  Pois  fâtiiiido  tu  s;>irando, 

!sc  estava  cila  requebrando 

Com  outro  de  mcnoa  preço. 

GIL  VICENTE,  ACTO  DA  DAHCA  DO  ISFEBSO. 

—  Requebrar-se,  v.  rejl.  Mover  o  cor- 
po affectadamentc. 

—  Namorar-se. 

REQUEBRO,  s.  m.  Movimentos  lasci- 
vos, iutloxõos  lascivas  dos  olhos,  do  cor- 
po, voz  c  gestos.  —  Dizer  requebros  com 
a  voz,  com  os  olhos, —  «Aehava-se  na 
mesma  casa  um  dos  convidados,  mance- 
bo bem  illustro,  mas  muito  dado  aos  cos- 
tumes da  terra;  e  como  todos  estivésse- 
mos sobre  ceia  (o  que  n'cste  se  enxei'ga- 
va  melhor  que  nos  outros)  deu-lhe  na  ca- 
beça levar  da  mào  ao  simples  do  marido 
o  retrato  da  mulher,  que  beijava,  c  abra- 
çava mais  francamente,  que  .se  fosso  sua, 
dizendo-lhe  :  O'  alferes  mio!  O'  alferes 
viio,  e  mil  requebros  descompostos.»  D. 
Francisco  Jlanool  de  Mello,  Carta  de 
guia  de  casados. 

—  Expressões  amorosas. 

REQUEIJÃO,  s.  »í.  A  tlor,  nata  do  lei- 
te, coalliada  ao  lume.  Outros  inferiores 
sào  do  segundo  coalho  do  soro,  depois  de 
feito  o  queijo. 

—  Adagio  e  piíoverbio: 

—  Não  fartes  o  criado  de  pão,  não  te 
pedirá  requeijão. 

REQUEIMAÇÃO,  *.  /.  Acção  do  requei- 
mar.  e  etVcito  dV-sta  acção. 

REQUEIMADO,  pari.  pass.  de  Requei- 
mar.  ^luito  sceeo. 

—  Queimado  com  os  ardores  do  sol,  ou 
pclú  muito  calor. 

—  Termo  de  medicina.  Humor  requei- 
mado. 

—  Carroíado  na  cor  escura. 
REQUEIMAR,  r.  a.  Seccar  muito,  fazer 

evaporar  o  luuuido,  ou  parte  aquosa. 

—  Requeimar  o  fo  de  ferro ;  tornal-o 
vermelho  ao  fogo  para  não  se  tornar  que- 
bradiço, quando  o  dobram  ou  tecem. 

—  Requeimar-se,  r.  >v//.  Sentir-se  sem 
o  dar  a  enteuder. 


—  V.  n.  Figuradamente^  Pungir,  ar- 
der. 

—  Diz-se  tauibcm  fallaudo  das  drogas 
aromáticas  o  ardentes :  Requeima  a  mo»- 
tariln,  II  /liiiienta,  etc. 

REQUEIME,  «.  m.  Termo  de  zoologia. 
Um  piixe  marinho,  que  tem  dous  ferroes 
próximo  dos  ouvidos.  Não  é  grato  ao  pa- 
ladar do  umbigo  para  a  cabeça,  e  por  í.hso 
faz-se  Siuneiite  u.-jo  d'elle  para  alimento 
do  umbigo  para  baixo. 

—  O  sabor  das  especiarias  ardentes, 
do  gyrofe,  da  canolla,  das  pimentas  das 
duas  Índias;  a  impressão  quo  i>roiluzem 
na  iingua  estas  dj'ogas. 

REQUEIXADO,  A,  adj.  Termo  antiqua- 
do. Aeaidiado,  estreito,  opprimido,  e  des- 
povoado. 

REQUEIXARIA,  s.  f.  Tudo  o  quo  per- 
tence a  ([ucijoâ  e  lacticinios. 

—  ( )lTici^i  do  requoixeiro. 
REQUEIXEIRO,  s.  m.  e)ffieio  antigo  da 

requeixaria. 

REQUEJÃO,  s.  Hl.  Vid.  Requeijão. 

REQUENTADO,  part.  pass.  de  Requen- 
tar. yVqueutado  segunda  vez. —  Comida 
requentada. 

—  Figurada  e  populai-mente :  C&mer 
requentado ;  satisfações  más  de  uma  of- 
fcnsa. 

—  Adagio  e  provérbio: 

—  De  amigo  recouciliailo,  e  de  caldo 
requentado  nunca  bom  bocado. 

REQUENTAR,  i\  a.  Aquentar  segunda 
vez,  tornar  a  aquentar.  —  Requentar  a 
comida. 

—  Requentar-se,  v.  rejí.  Aquentar-se 
de  novo,  tornar  a  aquentar-se. 

'  REQUEREÇÃO,  s.  f.  Em  vez  de  Requi- 
sição. 

REQUEREDOR,  A,  adj.  c  í.  Que  requer, 
que  supplíca,   (pie  pede. 

—  Requeredor  da  alcaidarin ;  o  que 
cobra  as  rendas,  e  coimas  applicadas  pa- 
ra o  alcaide. 

—  O  que  pede  muitas  vezes.  —  O  re- 
queredor de  mercês  e  òeneficios. 

—  Hoje  diz-se  requerente. 
REQUERENTE,  part.  act.  de  Requerer. 

Que  requer,  que  pede  em  juizo. 

—  Que  revê,  que  dá  busca. 

—  Que  demanda. 

—  tí.  2  gen.  Pessoa  que  vai  ás  audiên- 
cias, e  cuida  nos  despachos  das  causas 
alli,  e  por  casa  dos  letrados,  ou  nas  se- 
cretarias e  outras  repartições. 

—  Pessoa  que  pode  e  sollicíta  para  ou- 
trem. - 

—  Pessoa  que  requer  ou  traz  algum 
negocio  cm  alguém.  —  «Debaixo  do  qual 
estava  o  Chaem  com  grande  aparato  e 
magestade,  assentado  n'uma  rica  cadey- 
ra  de  prata,  e  hnma  mesa  pequena  dian- 
te de  sy,  com  três  meninos  ao  redor  as- 
aentatlos  em  joelhos  ricamente  vertidos,  e 
com  cadeas  douro  aos  pescoços,  hum  dos 
quais  que  estava  no  mevo,  servia  de  dar 
a  penna  ao  Chaem  com  que  assinava,  e 


os  douH  dos  cabos  tomavão  as  petições 
aos  requerentes,  e  as  apresentavão  u  a 
uiesa  para  se  lhes  dar  de-pacLo.»  h^r- 
nSo  Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap. 
1<J3.  —  «A  outra  parte  requeria  forte- 
mente, que  naò  tinha  o  f-jito  que  ver,  e 
que  em  hum  quarto  de  hora  o  po<iia  des- 
pachar: agastava-se  o  Dezembargador 
com  tanta  importunação,  e  ameaçava  o 
requerente,  que  o  mandaria  metter  no 
Limoeiro,  se  mais  lhe  fallava  no  feito, 
que  era  de  qualidade,  que  harfa  mister 
mais  de  hum  mez  de  estudo,  e  que  por- 
is80  o  tinha  guardado  para  as  ferias.» 
Arte  de  furtar,  cap.  48.  —  <Res])onde- 
Ihe :  de  graça  dezejara  servir  av.  m. 
mas  vive  hum  homem  alcançado,  e  sus- 
tenta casa  com  este  ofiicio,  dê  v.  m.  o 
que  quizer.  E  se  o  requerente  insta,  que 
lhe  diga  ao  certo  o  que  deve,  por  que 
naõ  traz  ordem  para  dar  mais,  nem  h.- 
bem  que  dê  menos.»  Ibidem,  cap.  59. 
REQUERER,  i-.  a.  i Do  latim  re>j u irerê  . 
Pedir  ao  soberano,  ao  magistrado,  ao  bu- 
peri  T,  o  que  segundo  a  lei  nos  deve  ser  J 

concedido.  —  «Primeiramente   tanto   que  % 

chegardes  a  cada  huum  lugar,  requeree 
ao  Coudel,  que  achardes  cm  posse  do 
officio,  e  dizee-lhe  que  vos  dê  em  escri- 
pto  todolos  acontiados,  que  tem  em  seu 
livro,  assy  de  cavallo,  e  armas,  como  de  - 

cavai  lo  sem  amms,  e  armas  sem  cavai-  È 

lo;  e  também  de  beesteiros  de  coiito,  co-  ■ 

mo  d'homen3  de  pee.»  Ord.  Affons.,  liv. 
1,  tit.  71,  cap.  19,  §  5.  —  «Em  tal  ca- 
so nom  ha  lugar  o  dito  costume,  nem  fi- 
cará a  molher  em  posse  de  taaes  beens, 
que  o  marido  ouvesse,  e  possuísse  em  sua 
vida,  nem  esso  meesmo  o  marido  per 
morte  da  molher  dos  beens,  que  pelo  di- 
to modo  a  ella  perteenceísem,  mais  re- 
quere-se  que  pêra  cada  huum  delies  aver 
gaançada  tal  posse,  que  a  tome  autual- 
meute  depois  tia  morte  de  cada  hum  del- 
ies.» Ibidem,  liv.  4,  tit.  12,  §  1.  —  «Se 
o  turco  ou  o  seu  embaixador  dizem  que 
o  partido  que  vos  commettem  nasce  da 
sua  virtude  e  real  inclinação,  eu  hei  que 
lhe  nasce  da  muita  necessidade  que  tem 
de  o  fazer ;  que  os  vassallos  de  Albayzar 
lh'o  requerem  pela  salvaçJlo  de  seu  se- 
nhor, n  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
dlnglaterra,  cap.  112. —  «Poucos  dias 
depois  chegou  Vicente  da  Fonseca,  que 
hia  pêra  Malaca  c  m  as  cartas  de  D. 
Jorge,  com  os  autos,  e  papeis  contra  D. 
Garcia,  e  foi  agazalhar-se  com  Gonçalo 
Gomes,  a  que  também  contou  ao  que  hia 
pêra  Malaca,  requerendo-lhe  que  pren- 
desse D.  (iarcia.  do  t|ue  se  elle  escusou; 
niíis  disse  que  lhe  tomaria  o  navio  por 
ser  da  obrigação  da  fortaleza.»  Diogo  de 
Couto.  Década  4,  liv.  4,  cap.  8.  —  «O 
Caciz  Moulana  que  ja  ahy  era  chegado 
cõ  mais  outros  dez  ou  doze  seus  inferio- 
res também  Cacizes  da  maldita  seita, 
requereo  ao  lleretlim  Sofo  Capitão  da 
cidade,  que  nos   mandasse  de  esmola  á 


REQU 


REQU 


REQU 


229 


casa  de  Meca  para  onde  elle  estava  de 
caminho,  para  que  em  nome  daquelle 
povo  fizesse  aquella  romaria. »  Fernão 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.  6.  — 
«relo  que  Diogo  Dazambuja,  e  Garcia 
de  Mello  se  quiseram  declarar  com  Ha- 
liadux  e  Iheabeutafuf,  requerendolhes 
que  hum  delles  regesse  a  cidade  em  no- 
me dei  Rei  dom  Emanuel,  porque  ja 
sentiam  auer  antre  elles  ambos  discór- 
dias secretas,  buscando  modos,  e  meos 
para  hum  matar  o  outro,  e  se  fazer  se- 
nhor.» Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  2,  cap.  18.  —  «O  que  que- 
ria ser  feito  Almocadem,  requiria  ao 
Adail,  e  o  fazia  certo  das  qualidades, 
que  para  isso  tinha,  que  havia  de  ser 
pratica  da  guerra,  e  noticia  da  terra,  e 
esforço,  ligeireza,  e  lealdade.»  Manoel 
Severim  de  Faria,  Noticias  de  Portugal, 
Disc.  2,  §  6. —  «Quando  pedirdes  mer- 
cê não  lembreis  nenhuns  agrauos :  que 
não  se  contentaua  fazer  mercê  aos  ho- 
mens, mas  ainda  lhes  ensinaua  como  a 
auiam  de  pedir.  E  Duarte  do  Casal  era 
valente  homem  de  sua  pessoa,  e  mandou 
requerer  huma  cousa  a  el  Rey,  e  não 
lhe  falaua  nisso,  e  vindo  el  Rey  hum 
dia  pêra  comer  em  Euora  na  sala  o  vio, 
e  perante  muytos  o  chamou.»  Crarcia  de 
Rezende,  Chronica  de  D.  João  II,  cap. 
85.  —  «E  pelos  de  seu  pay  quer  lhe  dém 
huma  tença  grossa  para  sua  mãy,  que 
está  viuva;  e  quer  por  contrapezo  sobre 
tudo  isto,  que  lhe  dê  Sua  Magestade  pa- 
ra duas  irmans  dous  lugares  em  hum 
Mosteiro.  Toma  este  tal  o  pulso  ás  vias, 
por  onde  ha  requerer ;  informa-se  das 
valias  dos  Ministros,  corre-os  todos  com 
memoriaes. »  Arte  de  furtar,  cap.  47. 
—  «Porem  perseguil-o,  e  obriga-lo  para 
hir  requerer,  e  pertender  o  que  importa 
á  sua  casa,  e  o  que  convém  á  sua  pes- 
soa, alem  de  ser  affecto  de  Criado  que 
merece  estimação,  he  conselho  de  Com- 
padre que  deve  ser  obedecido,  não  por 
ser  affecto,  e  conselho  de  Criado,  e  do 
Compadre,  mas  por  ser  amor,  e  ordem 
da  Princesa  May,  e  da  Esposa  de  V. 
A.  que  hontem  me  recommendárão  quan- 
do parti  de  llsdorf  que  lhe  fisesse  exe- 
cutar.» Cavalleiro  d'01iveira,  Cartas,  liv. 
3,  n.»  14. 

—  Reclamar,  pedir,  —  Requerer  auxi- 
lio e  assistência. — Requerer  a  força  pu- 
blica.—  Requerer  o  ministério  de  um  of- 
ficial  iniblico.  — •  «E  vendo  elle  que  per 
si  o  não  podia  ja  fazer  por  estar  de  ca- 
minho pêra  Portugal,  leixaua  este  cuida- 
do a  hum  capitão  que  hauia  de  ficar  na- 
quellaâ  partes  com  huma  armada,  o  qual 
ao  presente  estaua  em  Cananor  com  ella  : 
e  a  elle  quando  tiuessem  necessidade  po- 
dião  requerer  qualquer  ajuda  e  fauor 
porque  elle  o  faria  com  tàto  amor  como 
aos  próprios  Portugueses  que  auia  de  lei- 
xar  em  Cochij  e  Cauanor.»  João  de  Bar- 
ros, Década  1,  liv.  6,  cap.  6.  —  «Para  o 


que  escolhereis  Ministros  em  que  haja  as 
partes  que  semelhante  ministério  requer. 
E  porque  sobre  tudo  grandemente  dese- 
jamos, que  nesse  Estado  seja  o  nome  do 
Senhor  Deos  conhecido,  e  reverenciado, 
e  sua  Santa  Fé  recebida,  queremos  e  he 
nossa  vontade,  que  em  todas  as  terras  de 
Salsete,  e  Bardez,  sejão  de  raiz  arranca- 
dos todos  os  Ídolos,  e  o  culto  infernal, 
que  nelles  ainda  se  lhes  faz.»  Jacintho 
Freire  d'Andrade,  Vida  de  D.  João  de 
Castro,  liv.  1. 

—  Pedir  alguma  cousa  em  juizo.  — Re- 
querer sua  justiça.  —  «  E  mandando  cha- 
mar o  escrivão  que  tinha  a  nossa  appel- 
lação,  se  enformarão  delle  muy  miuda- 
mente, e  lhe  pedirão  cõselho  no  modo  que 
terião  em  requererem  nossa  justiça,  e  to- 
mando por  item  as  cousas  que  fazião  ao 
bem  do  nosso  direyto,  disseraõ  que  lhes 
deixasse  levar  o  feito,  porque  o  queriaõ 
ver  todos  juntos  na  mesa  cos  procurado- 
res da  casa,  e  que  ao  outro  dia  lho  ter- 
nário á  mão  para  o  levar  ao  Chaem  como 
estava  determinado. »  Fernão  Mendes  Pin- 
to, Peregrinações,  cap.  100. —  «E  elle 
despois  de  estar  hum  pouco  calado,  res- 
pondeo,  não  he  necessário  dizerdes  mais, 
basta  serdes  pobres  para  que  isso  corra 
por  outra  via  differente  da  que  correo  até 
agora.  Mas  eu  pelo  ofiicio  que  tenho  vos 
dou  de  espaço  cinco  dias,  confonne  á  ley 
do  terceyro  livro,  para  que  façais  vossos 
procuradores  que  requeyraõ  vossa  justi- 
ça, e  de  meu  conselho  deveis  de  fazer 
petição  aos  Tanigores  do  santo  officio, 
para  que  elles  por  zelo  da  honra  de  Deos 
tomem  a  seu  cargo  vossos  trabalhos.» 
Ibidem.  —  «Desta  petição  se  mandou  dar 
vista  ao  prometor  da  justiça  que  era  o 
que  requeria  contra  nós,  o  qual  veyo 
dizendo  nuns  artigos  que  fez,  que  elle 
provaria  por  testemunhas  de  vista,  assi 
naturais  como  estrangeyras,  que  nós  éra- 
mos públicos  ladrões,  roubadores  das  fa- 
zendas alheyas,  e  não  mercadores  como 
deziamos,  porque  se  viéramos  de  bom  ti- 
tulo á  costa  da  China,  e  com  tenção  de 
pagarmos  os  diro-tos  a  el  Rey  nas  suas 
alfandegas,  que  nós  nos  metêramos  nas 
colheitas  dos  portos  onde  ellas  estavâo 
postas  por  ordem  do  Aytao  do  governo.» 
Ibidem,  cap.  101.  —  « Ja  que  por  tuas  ca- 
tivas nos  embarcamos  comtigo  nestas  tris- 
tes casas  da  morte,  consolanos  com  a  vis- 
ta da  tua  presença,  para  que  partamos 
cõ  menos  dôr  desta  carne  penosa  a  ver 
o  justo  Juiz  da  mão  poderosa,  diante  do 
qual  protestamos  com  lagrimas  requerer 
tua  justiça  cõ  vingança  perpetua  da  sem 
razão  deste  crime.»  Ibidem,  cap.  151. 

—  Pedir  alguma  mercê,  graça,  despa- 
cho. —  «Feitas  todas  estas  arengas,  e  ce- 
remonias,  sendo  ja  todos  juntos  a  tiro  de 
besta  da  porta  da  cidade,  sahio  o  Gouer- 
nador  de  Roma  com  todolos  Prelados,  e 
família  do  Papa,  e  alli  fez  huma  arenga 
em  nome  da  sua  Santidade  a  Tcistam  da 


Cunha,  dandolhe  da  sua  parte  a  bem 
vinda,  com  grandes  offerecimentos,  e 
mostras  da  boa  vontade  que  tinha  a  to- 
dalas  cousas  dei  Rei,  ao  que  o  doutor 
Diogo  pacheco  respondeo  o  que  taes,  e 
tam  bons  offereciuieutos  requerião.»  Da- 
mião de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  3,  cap.  55. 

—  Demandar,  pedir.  —  Requerer  di- 
vidas, impostos,  tributos. — -«Em  que  pe- 
la dita  Hordenaçom  mandámos  pagar  por 
huma  quatro,  mandamos  que  paguem  dez 
por  huma ;  pêro  se  esses  devedores  reque- 
rerom  com  as  pagas  a  seus  ereedores,  e 
as  nom  quiserom  receber  ataa  ora,  posto 
que  nom  fezessem  outra  consinaçom,  man- 
damos que  nom  sejam  theudos  a  pagar 
mais  de  quatro  por  huma.»  Ord.  Affons., 
liv.  4,  tit.  1,  §  55. 

—  Figuradamente :  Demandar,  impor- 
tar comsigo. 

—  Exigir,  demandar.  —  Requerem-se 
boas  qualidades  piara  este  emprego.  —  «Flo- 
rentina Virgem  de  Christo  viveo  vinte  e 
hum  anno,  e  nesta  vida  tào  breve,  fez 
obras  para  que  se  requeria  largo  discur- 
so de  annos,  dormio  na  paz  de  lesv,  a 
quem  amou  vivendo,  ao  primeiro  de  Abril, 
da  era  de  seiscentos  e  vinte  e  seis,  que 
he  anuo  de  Christo,  quinhentos  e  oitenta 
e  oito.»  Monarchia  Lusitana,  liv.  6,  cap. 
17.  —  «Era  a  parte  uiuy  dura,  porque 
com  suas  riquezas  e  muito  poder,  não 
avia  oíEcial  de  justiça  que  não  atrahisse 
a  seu  parecer,  e  sobre  todos  a  el  Rey  de 
cujo  serviço  era;  do  que  lastimado  Saõ 
Fructuoso,  quanto  requeria  o  caso,  e 
vendo  que  sua  modéstia  e  termos  de  Re- 
ligião, não  convencias  o  animo  endure- 
cido do  cunhado,  recorreo  a  Deos,  em 
quem  nunca  faltou  socorro.»  Ibidem,  cap. 
23.  —  «Deixava  pêra  quem  suas  qtiali- 
dades  requerem,  não  desejeis  empregar 
tão  mal  quem  a  fortuna  guarde  u  pêra 
maior  bem.  Ja  sei,  disse  a  donzella  de 
Trácia,  que  sempre  na  sua  camará  esta- 
va e  a  estas  palavras  fora  presente,  que 
não  tem  o  amor  tão  pequena  parte  em 
vós,  que  vos  deixe  lograr  o  que  vossas 
obras  merecem.»  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  101.  —  «E 
dandolhe  conta  do  que  passava,  ficarão 
elles  todos  tão  sobi-esaltados,  quanto  a 
qualidade  do  caso  requeria,  e  logo  na- 
quella  noite,  e  no  dia  seguinte  espalma- 
rão 03  navios,  e  os  lançarão  ao  mar,  e 
embarcarão  mantimentos,  agoa,  artilha- 
ria, e  munições,  e  se  puseraõ  co  remo 
em  punho,  com  tenção,  segundo  me  el- 
les despois  contarão,  de  se  irem  para 
Bengala  ou  para  Racaõ,  por  se  não  atre- 
verem a  pelejar  cõ  armada  tão  grossa.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap. 
146.  —  «E  a  substancia  de  sua  embaixada 
era  resposta  ao  Xeque  Ismael  do  que  lhe 
o  seu  Embaixador  da  sua  parte  requere- 
ra, e  o  lugar  onde  o  achara,  que  era  to- 
mando posse  do  Re%-no  de  Ormuz,  e  que 


230 


REQU 


REQU 


REQU 


Liivia  aiinos  quo  ellc  tinha  coiu|iii.sta'I() 
o  anui  tirar  ElKoy  'Ia(|iiollo  tyniMni'  qntí 
o  tiulia  quasi  [irc/,!).»  Joili»  de  JJarrus, 
Década  2,  liv.  10,  i;ap.  5.  —  «K  lios  ( !au- 
(liliio.s  trata  o  livro  4.  tit.  j!.'J.  das  Parti- 
das lio  (Jastoiia,  onde  hc  apoiítaò  as  qua- 
lidade.'!, quo  para  os  (Jaiidillios  no  reque- 
rem.» Manoel  Suvcrim  de  Faria,  Noti- 
cias de  Portugal,  Disc.  2,  §5. —  uPuzo- 
raõ  por  \'icc-licy  a  IJuqiicza  de  Mai.tua 
estrangeira,  o  (jue  naõ  era  parenta  do 
Koy  no  gráo,  quo  so  requeria  para  tal 
governo  :  puzerau-llio  (JoUatcrai^s,  o  Con- 
sollioiros  Ca-stelliaiioí,  quo  se  uaõ  does- 
80ni  do  uóá  depondentoí»,  para  que  sugei- 
tassem  seus  voto.s.»  Arte  de  furtar,  cap. 
17.  —  «O  bom  namorado  ha  do  cometer 
alem  do  quo  lho  sua  possibilidailu  reque- 
re,  nada  temer  por  mais  ga  laniios,  (pio 
luo  a  razão  tai^a.»  Jorge  Ferreira  de  Vas- 
concollos,  Eufrosina,  aet.   1,  se,  1. 

—  ]}ascar  varias  vezes,  trabalhar,  di- 
ligenciar repetidamente,  conseguir  algu- 
ma cousa,  empreza. 

Se  na  fala  vos  conheço 
não  achegarei  a  vov-vo3. 
Não  me  bu3':|ueis  defender- vo3 
com  tornai'-voí  no  exceáso. 
Quo  requero  obcdccor-vo3. 

AXIONIO  PRESTES,  ALTOS,   pag.   211. 

—  Accusar  alguém  em  juizo.  —  «E 
querendo  elle  insistir  no  que  tinha  pedi- 
do, sem  mostrar  causas  justa:-,  nem  pro- 
va suílieiente  para  o  que  requeria  còtra 
estes  homens  estrangoyros,  foy  condena- 
do por  mym  em  vinte  tacis  de  prata  pa- 
ra o  remédio  dellcs.»  Fernão  Mendes 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  103. 

—  Examinar,  infonnar-so  de  alguma 
cousa. 

—  Requerer  mcsteiraes  e  obreiros;  pro- 
cural-o?,  buscal-os. 

—  Rover,  dar  busca. 

—  Requerer  a  sentença  aos  juizes,  ou 
algum  despacho. 

—  Requerer  de  autores  uma  dama;  sol- 
licital-a. 

—  Loc,  AXT. :  Requerer  as  velas;  ron- 
dar as  sentincUas,  vigias,  guardas. 

—  Requerer  a  paz;  pcdil-a.^ — «E  che- 
gou este  negocio  dos  eavallos  a  tanto,  que 
não  somente  os  Mouros,  mas  ElRey  de 
Narslnga  Gentio,  e  ElRey  de  Bisa  por 
ser  seu  vassallo,  onviáram  logo  seus  Em- 
baixadores visitar  Aftbnso  d'Alboquer- 
(jíie,  requerendo-lhe  paz,  e  amizade  com 
alguns  :>po\itanientos  sobre  a  entrada  des- 
tes eavallos  per  seus  portos.»  João  de 
Barros,  Década  l',  liv.  7,  cap.  7. 

—  Pedir,  suppliear.  —  «Item.  Citará 
aquelles,  que  o  Corregedor  mandar  citar, 
e  outros  nora,  salvo  se  alguns  estevereni 
porá  se  partir,  que  seria  perigo  requere- 
rem o  Corregedor,  possa  citar  per  sy  ;  e 
se  alguma  parte  qui/.er  citar  per  palha, 
e  nom  per  Porteiro,   deve  requerer   ao 


Corregedor,  e  ollo  lho  dará  palha  pcra 
citar.»  Ord.  Affons.,  liv.  1,  tit.  l!l,  § 
1.  — «Item.  N«jm  ahasta  pêra  desfazer  a 
dita  Venda  dizer  o  vendedor  dcspois  da 
venda  fbita,  o  do  todo  acabada,  que  quer 
tornar  ao  compiador  todo  o  preço,  quo 
dclle  ouve,  com  outro  tanto,  mais  reque- 
re-se  que  seja  enganado  na  dita  venda 
aalein  da  moetade  do  justo  preço,  que 
valia  ao  tom])o  que  a  venda  f(ji  feita:  e 
cm  outra  guita  nom  se  podenl  a  dita 
venda  desfazer.»  Ibidem,  liv.  4,  tit.  4."), 
§  ti.-^aE  posto  que  Aftonso  d'Alboquer- 
que  eentio  estas  cousas,  levemente  as 
concedeo,  com  o  mais  que  o  Embaixador 
requereo,  c  logo  dalli  o  quizera  espodir, 
mas  elle  não  se  quiz  ir,  dizendo  que  El- 
Rey seu  Senhor  lho  mandava  que  se  nào 
fosse  sem  levar  a  náo  Merij.»  João  de 
Barros,  Década  2,  liv.  8,  cap.  õ.  —  «Mas 
nenhum  delles  03  houve  da  maneira  que 
requeriam,  porque  nenhum  concedeo  o 
que  Ationso  d'Alboquerque  pedia;  e  isto 
causou  andar  João  (íonçalves  com  o  Hi- 
dalcão  muito  tempo  sem  trazer  alguma 
conclusão,  que  aprouvesse  a  elle  Alfonso 
d'Alboquerque.B  Ibidem,  liv.  10,  cap.  1. 

—  «Sabendo  Eitor  da  Silveira  que  Paro 
de  Faria  estava  á  sua  porta,  assomoii-se 
a  hum  balcão  que  íiizia  a  escada  pêra  a 
bíiuda  de  fora,  e  perguntou-lhe  quo  que- 
ria: elle  lho  disse,  o  Governador  o  man- 
dava prender,  e  que  lhe  requeria  da  par- 
te d'ElRey  que  lhe  desse  a  menagem  : 
ao  que  lhe  elle  respondeo  que  subisse 
assima  a  lha  tomar,  que  elle  lhe  faria  o 
quo  elle  merecia,  pois  era  tão  roim  Fi- 
dalgo que  acceitava  illo  prender.»  Dio- 
go de  Couto,  Década  4,  liv.  2,  cap.    11. 

—  oE  vendo-se  com  ElRey  lhe  pódio,  e 
requereo,  que  mandasse  vir  seu  pav  a 
Cota,  porque  tinha  que  falar  com  elles 
ambos  cousas  que  compriaõ  ao  serviço 
de  ElRey  de  Portugal.  ElRey  havendo 
que  Diogo  de  Mello  não  buliria  com  elle, 
mandou  chamar  o  pay,  que  veyo  logo  a 
Cota.»   Idem,  Década  li,  liv,  10,  cap.  7. 

—  «ElRei  como  foi  adcparte  com  o  bis- 
po, desvestiosso  logo  e  ticou  em  huuma 
saya  dezcarllata,  e  por  sua  maão  tirou 
ao  bispo  tolas  suas  vestiduras,  e  come- 
çou do  o  requerer,  quo  lho  confessasse  a 
verdade  daqucl  maleticio  em  que  assi  era 
culpado.»  Fernão  Lopes,  Chronica  de  D. 
Pedro  I,  cap.  7. —  «E  com  quanto  na 
lancliara  não  éramos  mais  que  quatro 
Portugueses,  os  pareceres  foraõ  muvtos 
c  muyto  ditVercntes  huns  dos  outros,  em 
que  ouve  requereremme  quo  nào  quises- 
se saber  o  que  me  nào  revelava,  o  me 
fosso  para  onde  me  mandava  Poro  de  Fa- 
ria, porque  perder  huma  só  hora  daquel- 
lo  tempo,  era  pôr  a  viagem  em  ventura, 
e  a  fazenda  em  risco,  o  cu  iicar  dado 
m;i  conta  de  mim  se  me  acõtecosso  al- 
gum desastre.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  ;'i3.  —  «O  segundo 
lilho  dei    Rey,   por  nome   Aricbandono, 


moço  de  dczaRseis  até  dezassete  annon,  e 
a  quem  cllo  era  muyto  affeiçuado,  mo 
requereo  alguma»  vezes  que  o  quiseeso 
insinar  a  tirar,  do  que  me  eu  escusey 
sempre,  dizendo  que  avia  mister  mnyto 
tempo  para  o  aprender,  |K)rein  elle  nSo 
aceitando  esta  minha  ruzáo,  fez  queixu- 
me de  mym  a  «eu  Jiay.»  Ibidem,  cap. 
13'».  —  «E  mai«  por  essa  vontade,  c  la- 
grimas que  to  vejo,  mo  lemi)rarey  «em- 
j)rc  de  ti,  e  servindo  tu  a  meu  filho  ser- 
ucrf  a  mim,  e  o  empedimento  de  teu  tio 
he  nenhum,  jK)rque  meu  filho  n3o  no  ev 
de  apartar  de  mi,  e  mais  he  milhor  pêra 
vos  outros,  ponjue  teu  tio  requerera  a 
mi  por  ti,  e  tu  a  U)eu  filho  jior  elle.» 
Garcia  de  Rezende,  Chronica  de  D.  João 
II,  cap.  201. 

A  tonçio  d'cUa  se  infere 
pin  obrarmoB 

com  aqucllas  trca,  c  darmos 
o  que  cada  uma  requere 
8ú  a  Deus  pcra  acertarmos. 

ANTÓNIO  PBESTES,  AUTOS,  pag.  21. 

—  «Esta  nesta  terra  de  todos  os  offi- 
cios  muita  cantidade  de  officiaes,  e  mui- 
ta abundância  de  todas  as  cousas  pêra  ho 
uso  comum  necessárias,  e  assi  se  requere 
porque  ha  gente  he  muita.  E  porque  ho 
calçado  he  c^uisa  que  mais  se  gasta,  de 
çapateiros  ha  mais  oficiaes  que  dos  ou- 
tros ofícios.»  António  Tenreiro,  Itinerá- 
rio, cap.  11.  —  ilrá  Suzanna  lançar-se 
a  vossos  pés,  e  dar-vos  03  agradecimen- 
tos de  vossos  benefícios :  e  so  vos  não 
parece  estranho  que  eu  requeira  vosso 
filho  de  que  me  nào  espere,  pedir-vos-hia 
que  viésseis  até  Londres  a  meu  encon- 
tro; porquanto  necessito  de  me  vera  siis 
comvosco,  ao  menos  para  a  visita  que 
farei  a  M.  Birton  c  sua  familia.  >  Fran- 
cisco Manoel  do  Nascimento.  Successos 
de  madame  de  Seneterre.  —  «Vinde,  ami- 
ga minha,  receber  ao  pé  dos  altares  um 
nome,  que  vos  deo  ha  muito  tempo  a  mi- 
nha gratidão.  Não  vo-los  requeremos, 
Suzanna,  cabedáes,  nem  no-los  pede  a 
vontade.»   Ibidem. 

—  Requerer  com  muita  itistancia;  sup- 
pliear muito,  pedir  cora  eftícacia.  — «Ao 
qual  andando  assi  occupado  nestes  tra- 
balhos, vco  falar  secretamente  loam  ma- 
chado auisandoo  que  tiuesse  boa  vigia 
na  sua  frota,  porque  Pulatec5o  tinha  de- 
terminado de  lha  mandar  queimar,  a  es- 
tes trabalhos  se  lhe  acreecntaram  logo 
protestos  de  Georgc  da  Cunha,  Francis- 
co pereira  Coutinho.  Francisco  de  sousa 
maneias,  c  outras  pe>so;»s,  que  lhe  cara 
muita  inst.incia  requeriam  que  deixasse 
a  ciilade,  e  se  fosse  antes  que  os  matas- 
sem a  todos.»  Damião  de  Góes,  Chroni- 
ca de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  5. 

—  Syx.  :  Requerer,  padir.  Yid.  este 
idtinio  terHio. 

REQUERIDO,  part.  pass.  de  Requerer. 


REQU 

Pelido. —  «E  depois  desto  o  dito  Sealior 
Rey  fez  Cortes  na  Cidade  de  Coimbra,  e 
antre  03  Capitules  geraaes,  que  lhe  por 
parte  dos  Concelhos  forom  requeridos, 
foi  este  que  se  segue,  com  a  reposta  a 
elle  dada  na  forma  que  se  segue.»  Ord. 
Affons.,  liv.  2,  tit.  29,  §  7.  —  «Elrei 
Dom  Fernando  da  gloriosa  memoria  em 
seu  tempo  fez  Cortes  geraaes  na  Cidade 
de  Lixboa,  em  as  quaees  lhe  forom  re- 
queridos certos  artigos  por  parte  dos  Con- 
celhos de  seus  Regnos,  antre  os  quaees 
foi  hum  acerca  dos  servidores,  como  lhe 
aviaõ  seer  pagadas  suas  soldadas,  de  que 
o  theor  com  a  reposta  a  eUe  dada  pelo  dito 
Senhor  he  em  esta  forma  que  se  segue.» 
Ibidem,  liv.  4,  tit.  29.  —  «E  depois  desto 
o  dito  Senhor  Rey  fez  outras  Cortes  Ge- 
raaes na  dita  Cjdade  de  Coimbra,  e  foi- 
Ihe  pola  parte  dos  Concelhos  requerido 
acerca  dos  sarviçaaes  outro  artigo,  o 
qual  com  a  reposta  a  ellj  dada  pelo  dito 
Senhor,  he  em  esta  forma  que  se  segue.» 
Ibidem,  §  16.  —  «ElRey  Dom  Joham  de 
louvada  memoria  em  seu  tempo  fez  Cor- 
tes geraaes  na  Cidade  d'Evora,  e  antre 
os  Capitules,  que  lhe  pola  parte  dos  Con- 
celhos geeralmente  forom  requeridos,  foi 
hum  com  a  reposta  a  elle  dada  em  esta 
forma,  que  se  segue.»  Ibidem,  tit.  30. 
—  «ElRey  Dom  Joham  de  gloriosa  me- 
moria em  seu  tempo  fez  Cortes  Geraes 
na  Cidade  d'Evora,  nas  quaees  lhe  fo- 
rom por  parte  dos  Povoos  requeridos  cer- 
tos artigos,  antre  os  quaees  lhe  foy  re- 
querido hum,  do  qual  o  theor  tal  he  com 
a  reposta  a  elle  dada.»  Ibidem,  §  34.  — 
«Quando  os  homens  som  postos  em  ne- 
cessidade d'aver  mester  dinheiro  empres- 
tado, ligeiramente  outorgam  qualquer 
cousa  que  lhes  he  requerida,  por  averem 
emprestado  o  que  ham  mester,  por  saí- 
rem de  necessidade  em  que  som  postos.» 
-Ibidem,  §  39.  —  «O  qual  polia  muyta 
lealdade,  e  amor,  e  muy  grande  obe- 
diência que  como  próprio  iilho  a  el  Rey, 
tinha,  fosse  de  crer  que  consentiria  nis- 
so, e  em  qualquer  outra  cousa  que  fosse 
da  Tont:ide  dei  Rey,  a  Ravnha  sua  irmàa 
com  muyta  bondade,  virtude,  e  consciên- 
cia sosteue  sempre  a  honra  do  Duque,  a 
qual  se  aífirma  ser  dei  Rey  murtas  ve- 
zes pêra  isso  requerida,  e  por  nào  con- 
sentir, sofrer  muytas  paixões,  desfauo- 
res,  e  esquiuanças,  que  com  muvta  pa- 
ciência, dissimulaçam,  e  prudência  sofria, 
sem  nunca  querer  nisso  outorgar. »  Gar- 
cia de  Rezende,  Chronica  de  D.  João  II, 
cap.  133.  — •  «Depois  que  hos  Rsis  de 
Castella  lançarão  hos  ludeus  fora  de  seus 
regnos,  e  senhorios,  quomo  atras  fica  di- 
to, el  Rei  dom  Emanuel  requerido  per 
cartas  dos  mesmos  Reis  determinou  de 
fazer  ho  mesmo,  mas  quomo  ho  negocio 
fosse  de  qualidade  pêra  se  delle  não  to- 
mar resolucà'),  sem  bom  conselho.»  Da- 
mião de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.   1,    cap.    18.  —  «Estando   em   tudo 


BEQU 

seu  siso,  e  entendimento,  e  depois  das 
cousas  que  cumpriam  a  saluaçam  de  sua 
alma,  a  qual  deu  a  Deos  cuja  era  huma 
segunda  feira  quinze  dias  de  Maio,  des- 
te anno  de  M.  D.  xiiii,  seu  corpo  foi  en- 
terrado na  Se  da  mesma  cidade  de  Aza- 
mor,  com  tolalas  solemnidades,  e  honr- 
ras  requeridas  a  huma  tal  pessoa,  com 
muita  dor,  e  tristeza  de  todolos  que  se 
entào  alli  acharão.»  Ibidem,  part.  3, 
cap.  õl. 

—  Exigido,  demandado.  —  «El  Rey 
Dom  Fernando  de  louvada  memoria  em 
seu  tempo  fez  Cortes  geraaes  na    Cidade 

■de  Lisboa,  nas  quaaes  lhe  forom  reque- 
ridos por  parte  do  povoo  certos  artigos, 
entre  os  quaaes  lhe  foi  requerido  hum, 
de  que  o  theor  tal  he  com  a  reposta  a 
elle  dada  pelo  dito  Senhor.»  Ord.  Affons., 
liv.  4,  cap.  47.  —  «El  Rey  Dom  Fer- 
nando da  famosa  e  louvada  memoria  em 
seu  tempo  fez  Cortes  Geraaes  na  Cidade 
de  Lisboa,  nas  quaaes  lhe  forom  reque- 
ridos por  parte  dos  Conselhos  certos  ar- 
tigos, antre  os  quaaes  foi  este,  que  se 
adiante  segue,  com  a  reposta  a  elle  dada 
pelo  dito  Senhor.»    Ibidem,    cap.   48. 

—  Buscado  muitas  vezes. 

—  Citado. 

REQUERIMENTO,  s.  m.  Petição  verbal 
ou  por  escripto.  —  Fazer  um  requeri- 
mento. —  «Visto  este  protesto,  e  reque- 
rimento pelos  Fidalgos  todos,  o  manda- 
ram também  notificar  á  Camará  de  Goa, 
e  visto  pelos  Vereadores,  mandaram  re- 
cado a  Lopo  Vaz,  que  eíles  tinham  hum 
protesto  pêra  lhe  notificar,  por  ser  cou- 
sa do  serviço  d'EiRey,  qne  houvesse  por 
bem  que  lho  lessem;  ao  que  Lopo  Vaz 
disse,  que  lho  fizessem,  que  elle  lhes  res- 
ponderia.»   Diogo  de   Couto.    Década  4, 


REQU 


231 


liv.  2, 


cap. 


«Este    Diogo   Botelho 


Pereira^  por  aquella  hida  que  fez  ao  Rei 
no  na  fusta,  naò  lhe  quiz  ElRey  respon- 
der muitos  annos  a  seus  requerimentos, 
e  depois  liie  deu  a  Capitania  de  S.  Tuo- 
mè,  onde  adoeceo  de  hydropesia,  e  en- 
grossou tanto  como  hum'  tonel,  e  se  fov 
pêra  o  Reino.»  Idem,  Década  6,  liv.  8, 
cap.  1.  --  «E  como  elle  era  homem  de 
muitos  primores  acerca  de  pontas  de  hon- 
ra :  teue  sobre  este  negocio  alguns  re- 
querimentos a  que  el  Rey  lhe  não  satis- 
fez.» Joào  de  Barros,  Década  1,  liv.  6, 
cap.  2.  —  «Finalmente  depois  que  per- 
guntou e  deo  audiência  a  outros  de  tanto 
tempo  como  havia  que  dalli  era  partido, 
contentando  a  todos  delles  com  mercê  em 
nome  d'ElRey,  outros  com  palavras,  e  a 
muitos  com  esperança  de  seus  requeri- 
mentos, começou  entender  em  o  modo 
que  havia  de  ter  no  commettimento  da- 
quella  fortaleza  Benestarij  ;  cá  segundo 
a  informação  que  teve,  era  cousa  mui  du- 
ra de  commetter.B  Idem,  Década  2,  liv. 
1,  cap.  4. —  «Finalmente  os  que  erào  que 
elle  não  entrasse,  debaterão  tanto  n'isso, 
que  chegarão   a  modo   de   requerimento 


por  parte  do  seruiço  d'elRey,  a  que  os  ho- 
mens em  casos  são  mães  obrigados  que  a 
sua  honra:  com  que  dom  Lourenço  se  par- 
tio  dali  bem  agastado. » Ibidem,  liv.  4,  cap. 
4.  —  «Antes  incitados  e  estimulados  pela 
mãy,  não  desistindo  do  requerimento, 
apertarão  tanto  com  elle,  que  elle  por  se 
escusar  de  fazer  o  que  não  era  sua  vonta- 
de, com  tenção  de  legitimar  o  filho  mais 
velho  que  tinha  da  Nancaa,  e  deixarlhe 
o  reynO;  se  meteo  em  religião  em  hum 
templo  que  se  chamava  Gizoni,  que  se- 
gundo parece  foy  idolo  e  seita  que  tive- 
rào  os  Romar.os.B  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  92.  — »«E  porque  os 
Reys  de  Cav^tella  tinhão  dei  Rey  muytas 
sospeitas  como  nào  deuião,  e  porisso  cui- 
dauão  que  o  fundamento  de  seus  reque- 
rimentos era  cauteloso,  e  com  respeito  de 
nouidades,  e  não  para  bom  fim  como  o 
embaixador  lhe  dizia,  em  quantas  cousas 
requereo  não  tomou  concrusão  alguma, 
que  fosse  para  aceitar.»  Garcia  de  Re- 
zende, Chronica  de  D.  João  II,  cap.  35. 
—  «Ruy  Dabreu  Alcayde  mor  Deluas 
era  homem,  que  el  Rey  estimaua,  e  fa- 
zia muyta  honra,  por  ser  muyto  bom  ca- 
ualleiro,  e  homem  de  que  el  Rey  confia- 
ua,  e  falandolhe  hum  dia  Ruy  Dabreu 
em  hum  seu  requerimento  se  agrauou 
delle,  el  Rey  lhe  disse :  Ruy  Dabreu, 
tomay,  tomay  huma  cousa  de-  mi  como 
damigo.»  Ibidem,  cap.  85.  —  «O  qual 
requerimento  lhe  el  Rei  dilatou  o  mais 
que  pode,  mas  vendo  que  insistia  nelle 
lho  concedeo,  com  condição,  que  não  en- 
trasse na  corte  de  Castella,  nem  na  de 
Roma,  nem  se  detiuesse  em  Veneza.» 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  3,  cap.  45.  —  «E  só  hum  bem  tem, 
que  he  estarem  quasi  todos  juntos  den- 
tro de  hum  paíeo,  com  que  ficaõ  menos 
trabalhosos  os  requerimentos  das  partes, 
para  forrarem  de  tempo,  e  passadas  na 
busca  dos  Ministros ;  que  também  fora 
bom  viverem  arruados  todos,  e  naò  taõ 
espalhados,  e  remotos  huns  dos  outros, 
que  fará  muito  hum  requerente  muito  li- 
geiro, se  dêr  caça  a  dons,  ou  três  no 
mesmo  dia,  para  lhes  lembrar  o  seu  ne- 
gocio.» Arte  de  furtar,  cap.  30.  —  «Hum 
lhe  diz,  que  traz  sua  mercê  requerimen- 
tos para  três  annos  :  e  falia  verdade ; 
mas  que  forrará  tempo,  se  souber  con- 
tentar os  Ministros  :  e  falia  verdade.» 
Ibidem,  cap.  47.  —  «Este  tal  requeri- 
mento deve  com  mais  razão  fazer  o  ma- 
rido a  sua  mulher,  e  quando  ella  não 
convenha  n'elle,  outro  tal  castigo  lhe 
merece.»  D.  Francisco  Manoel  de  Mello, 
Carta  de  guia  de  casados. 

—  Cobrança,  exacção  de  impostos,  de 
tributos. 

—  Figuradamente :  Requerimentos  da 
carne,  da  concupiscência ;  tentações  repe- 
tidas. 

—  Pedido,  exigência. —  «E  com  estas 
e  outras   cousas  em  que  elRey  via  com 


232 


REQU 


REQU 


UEQU 


quanta  vontade  o  VisoRcv  o  f|ucria  com- 
prazer cm  HciiH  requirimentos,  tr.iliallia- 
va  cllo  tambíini  por  Ília  pairar,  inamlando 
fazer  com  diligencia  tudo  o  (pio  ello  quo- 
rla.»  JoSo  do  Harros,  Década  1,  liv.  íl, 
cap.  4.  —  o  E  com  estoutros  requerimen- 
tos, que  dortsc  dlo  hifíar  a  m  fazer  huma 
fortaleza  cm  J5aticaiá  por  ser  terra  sua, 
requirimento  quo  já  dependia  do  tempo 
do  \'^i->()-K(n-  dum  Francisco  d'Alnioida: 
a  (piai  ida  nilío  fundio  macs  que  palavras 
gcracíí,  que  clRoy  de  Nartíinga  deu  de  si, 
posto  qno  rccebco  esta  embaixada  com 
solomnidade.»  Idem,  Década  2,  liv.  5, 
cap.  3.  —  «  Com  esta  resposta  vinham  os 
Bens  requirimentos,  o  eram,  que  elle  Af- 
fonso  (TAlbuqucrque  lho  havia  de  man- 
dar tamboni  dar  lugar  em  Malaca  onde 
os  Mouros  (tuzaratos  de  seu  Royno  tives- 
sem uma  casa  forte  pcra  guarda  de  suas 
mercadorias  quando  lá  fossem,  c  assi  que 
lhe  mandasse  dar  a  não  McriJ,  que  lhe 
fora  tomada.»  Ibidem,  liv.  8,  cap.  b. — 
(t  E  a  causa  de  sua  ida  ora  sobre  as  ter- 
ras firmes  de  Ooa,  que  lhe  Affonso  ({'Al- 
boquerque  pedia  a  troco  doutro  requeri- 
mento da  entrada  dos  cavallos  da  Pérsia, 
que  elle  llidalcão,  queria  temendo  que 
ElRoy  de  Bisnaga,  com  que  elle  tinha 
guerra,  houvesse  esta  entrada  per  Bati- 
calá,  que  era  sem  porto,  sobre  o  qual 
negocio  commettr^ra  j;l  grandes  partidos 
a  elle  Afi'on80  d'Alboquerque,  e  elle  tra- 
zia-os  ambos  suspensos  neste  requerimen- 
to pêra  o  conceder  a  quem  lho  fizesse 
melhor  partido.»  Ibidem,  liv.  10,  cap.  1. 
—  (t  Jaz  mais  ao  Noruorooste  desta  terra 
Loquia  hum  grande  arcipelago  de  ilhas 
pequenas,  doudo  se  traz  niuyto  grande 
quantidade  de  prata,  as  quais  segundo  pa- 
reço, e  eu  sempre  sospeitcy  pelo  que  vV 
cm  Maluco  nos  requerimentos  que  Ruy 
Lopez  de  Vilhalobos  general  dos  Castelha- 
nos fez  a  dõ  Jorge  de  Castro  capitão  que 
entaõ  era  da  nossa  fortaleza  Ternato,  de- 
vem de  ser  as  do  que  esta  gente  tem  al- 
guma noticia,  as  quais  nomeavão  por  is- 
lãs plataiias.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pe- 
regrinações, cap.  143. 

REQUERIZ.  Vid.  Regoliz,  e  Glycyrrhi- 
na. 

REQUESTA,  s. ./'.  Petição,  requerimen- 
to, supplica  com  instancia. 

—  Contenda,  disputa,  briga. 

—  Protcnsijes  e  sollicitações  de  dama. 

—  Briga,  combate. 

—  Defeza,  fortiticaçSo. 

—  Tornar  á  requesta;  aceitar  o  des- 
afio. 

—  Termo  pouco  em  uso.  Desafio,  bri- 
ga, duoUo. 

—  Peleja. 

—  Bulha,  refrega. 

—  Combater  a  to<hx  a  requesta,  e  a  to- 
do o  transe ;  estar  prestos  para  fazer  duel- 
lo  com  todas  as  condições,  que  se  propo- 
zerem,  ató  rcmettcrcm,  ou  chegarem  ao 
extremo  da  vida. 


—  Porfia,  demanda,  desafio. 

—  Contenda  com  contrários  prctenso- 
ro». 

—  Requesta  entre  ihtas  náos ;  briga. 

—  Tomar  a  requesta  jjor  outrem;  ser 
seu  camiieílo,  defensor,  sair  a  campo  por 
elle. 

—  f  Inorra.  —  Fazer  a  algnevi  uma  ilen- 
m  requesta. 

REQUESTADO,  purt.  pass.  de  Reques- 
tar. Buscado,  sollicitado  muitas  vezes, 
pretendido. 

—  Provocado,  tentado. 

—  Desafiado,  reptado. 

—  Defendido  com  fortificações. 

—  ticnhora  requestada ;  senhora  pre- 
tendida de  naiitos,  requerida  de  preten- 
dentes, sollicitaila. 

—  Praça  requestada;  praça  atacada 
])or  vezes,  varia-i  vezes  combatida. 

REQUESTADOR,  A,  s.  c  aclj.  (De  re- 
questar, com  I)  snffixo  «dor»).  Que  re- 
questa, que  Hollicíta,  que  pretende,  que 
busca. 

—  Que  desafia,  que  repta. 
REQUESTAR,    i-.    a.  Buscar,   soUicitar 

duas   vezes,   e  diligenciar  por  consegiiir 
e  alcançar,  e  possuir. 

—  Requestar  uma  dunzella;  sollicital-a, 
tental-a,  desafial-a,  pretcndcl-a.  —  <(  De- 
pois de  estar  alguns  annos  na  sua  ordem, 
succedeu  ir  visitar  uma  senhora  sua  ir- 
mã, e  não  a  encontrando  em  casa,  achou 
um  fidalgo  requestando-lhe  dcshoncsta- 
raente  uma  sobrinha,  tillia  de  sua  irmã.» 
Bispo  do  (ír.HO  Pará,  Memorias,  publica- 
das por  Camillo  Castello  Branco,  pagi- 
na 126. 

—  Dar  logar  a  se  fazerem  armas  de 
jogo,  ou  de  sanha  entre  os  requestados. 

—  Aceommetter,  defender.  Vid.  Re- 
questado. 

REQUIA,  s.  /.  Vid.  Requie. 
REQUIE,  *'.  /.  (Do  latim  requies).  Des- 
canço,  repouso. 

—  Oração  que  a  igreja  faz  pelos  mor- 
tos. —  Cantar  o  requie. 

—  Termo  de  musica.  Uma  das  partes 
da  missa  dos  mortos  postas  em  musica. 

—  Missas  de  requie ;  missas  que  se  di- 
zem pelo  descanço  de  aigum  defunto.  — 
Missa  de  requie  executada  a  grande  or- 
chesfra. 

REQUIFE,  s.  m.  Termo  de  sirgueiro. 
Lavor,  tecido  estreito  que  serve  para 
guarnição  de  vestidos  e  paramentos  de 
igreja. 

—  Dá-so  também  este  nome  a  certos 
biscoutos  com  recortes,  e  de  um  sabor 
delicioso.  —  Biscoutos  de  requife. 

REQUIN,  s.  m.  Termo  da  Ásia.  Licor 
espirituoso  da  índia. 

REQUINTA,  s.  /.  Instrumento  de  mu- 
sica, espieie  de  pequeno  clarinete. 

REQUINTADO,  i>art.  juiss.  de  Requin- 
tar. Apurado,  levado  ao  seu  auge. 

—  Nimiii,  alTeetado.  —  Devoção  requin- 
tada. 


—  Elegância  requintada  ;  elegância  su- 
bida a  muitos  c  exqui>ito9  objecto»,  e  de 
bom  jtreço. 

—  Fino,  aprimorado. 
REQUINTAR,    v.   a.   Apur.ir   quanto   é 

poHsivi-l,  levar  m>  maior  grau.  --Requin- 
tar Jini  zan. 

—  Requintar-se,  v.  rejl.  Apurar-s«. 

—  V.  n.  líaver-fie  com  aftcctado  pri- 
mor e  curiosidade. 

—  Requintar  em  alguma  cotiêa ;  che- 
gar ao  auge,  ao  mais  elevado  ponto,  ao 
maior  extremo,  perfeiçSo,  talvez  com  ex- 
cesso, e  grande  aifectaçlo.  —  Requintar 
no  esti/lo. 

—  Requintar  na  censura;  ser  nimio  e 
miúdo. 

—  Ser  excessivo  no  desejo  da  perfei- 
ção, e  singularidade. 

—  Requintar  no  tratamento ;  baseando 
cousas  excdientes  e  esquisitas. 

REQUINTE,*,  m.  Cou.sa  exquisita,  maior, 
mais  elevada  no  seu  género. 

—  Nimiedade,  excesso. 

—  Augmento,  elevaçSo  ao  mais  alto 
grau. 

—  Viola  de  cinco  requintes. 

—  Requinte  do  amor,  da  tyrannia,  da 
aleivosi'1,  ctc. 

REQUIRIR,  v.  a.   Termo  pouco  usado. 

Reviuerer.  ]K'dir,  demandar,  exigir. 

REQUIRIZ,  s.  m.  Vid.  Requeris.  J 

REQUISIÇÃO,  í.  /.  (Do  latim  requisi-      \ 

tio).  Termo  de  jurisprudência.  Acção  de 

requerer. 

—  Pedido  evidente  formado  na  audiên- 
cia,   quer   pelo   ministério   publico,    quer 
pelo  advogado  de  uma  das  partes,  quer       ■ 
finalmente  pela  própria  parte.  ■ 

—  Requerimento  que  faz  a  authorida-       ■ 
dade  publica  de  pôr  á  sua  disposição  pes- 
soas ou  cousas.  —  Fazer  uma  requisição 

cios  mancebos  dfsde  a  idade  dos  diizoito 
annos  até  aos  vinte  e  cinco,  para  ot  man- 
dar  assentar  praça. 

—  A  requisição  da  força  armada;  o 
direito  de  exercer  esta  requisição  s<5  per- 
tence ao  magistrado  ao  qual  tem  a  lei 
delegado  para  a  segiu-ança  das  pessoas  e 
suas  ])ropriedadcs. 

—  Exacção,  cobrança  por  authoridade 
publica. 

REQUISIR,  1'.  a.  Termo  antiquado.  Ro- 
gar, i>i'dir.  soUicitar  com  instancia. 

REQUISITAR,  v.  a.  Exigir  por  authori- 
dade publica,  supplicar-lhe,  pedir-lhe. 

REQUISITO,  f.  "I.  Cousa  que  se  requer 
paia  se  conseguir  algum  fim,  ou  fazer 
alguma  cousa  segundo  as  leis.  —  O»  re- 
quisitos necessários  para  qvé  seja  um 
perfeito  orador.  —  «  E  porque  sabiaõ,  que 
era  homem  de  capricho,  e  brios^  que  naC 
havia  de  evitar  a  cmpreza,  sem  os  requi- 
sitos para  cila;  e  para  seu  credito,  c 
honra  navegar  direito,  accrescer.taraS  que 
naò  convinha  dar-lhe  Beca.  nem  Habito 
de  Christo  antes  de  hir.»  Arte  de  furtar, 
cap.  13. 


RESA 


RESA 


RESA 


2'òí 


—  Tudo  o  que  é  mister  para  comple- 
meuto  da  pessoa,  cousa  ou  acção,  que 
possa  chamar-se  perfeita,  legal  e  regu- 
lar. 

—  Este  documento  tem  todos  os  requi- 
sitos. 

—  Adj.  Requerido,  devido.  —  liepu- 
blíca  com  as  condições  requisitas.  — 
«Guerra  Ciril  entre  duas  partes  da  mes- 
ma Republica  nunca  he  licita  da  parte 
aggressiva;  e  muito  menos  contra  o  Prín- 
cipe, se  nao  for  tyranno :  porque  falta 
em  ambos  os  casos  a  potestade  da  juris- 
dicção;  e  daqui  se  segue,  que  pôde  o 
Príncipe  fazer  guerra  contra  a  sua  Repu- 
blica com  as  condiçoens  requisitas,  que 
temos  dito.»  Arte  de  furtar,  cap.  21. 

REQUISITÓRIA,  s.  f.  Carta  de  um  juiz 
pai'a  outro,  rogando-lhe  com  a  devida 
delicadeza,  que  mande  executar  algum 
mandado  d'esse  que  envia  a  requisitó- 
ria. 

—  Deprecatoria,  ou  precatória. 

—  Adj.  f.  —  Carfa  requisitória. 

f  REQUisITORIAL,  adj.  2  gen.  Que 
tem  requisitório. 

REQUISITÓRIO,  s.  m.  Requisição  feita 
por  escripto  por  aquelle  que  preenche 
n'um  tribunal  as  funcções  do  ministério 
publico.  —  Longo  requisitório.  —  Requi- 
sitório pouco  favorável  ao  accusado.  — 
Que  doutrina  abominável  como  a  d'este 
requisitório ! 

1.)  RES.  Partícula  reduplicativa,  que 
se  usa  em  muitas  palavras  da  nossa  lín- 
gua, taes  como  resguardar,  resfriar,  etc. 
Outras  vezes  supprime-se  ou  elide-so  o 
s,  e  fica  somente  re,  taes  como  resalvar, 
resaltar,  etc.  Víd.  Re. 

2.)  RÊS,  s.  /.  Vid.  Rez,  orthographia 
preferível.  —  Mercado  de  reses. 


Outros  era  fundas  couas  cauernosas 
Com  toruação  se  metem  sem  ter  couta 
Com  mais  que  com  sahiarse,  vào  seguindo 
Os  bra(;os  victoriosos  cate  alcanso  : 
Mil  manadas  de  reses  tomaõ  grossas, 
E  tomào  de  innoceuto  manso  gado 
Hum  numero  infinito,  com  tal  presa 
Se  tornào,  mas  primeiro  as  casas  ardem. 

CORTE  REAL,  NAUFRÁGIO  DE  SEPÚLVEDA,  CaUt.  12. 


f  RESA,  s.  f.  Vid.  Reza,  melhor  or- 
thographia e  mais  em  uso.  —  «  Entrando 
pelo  Acará  dentro,  rio  alegre  e  de  boas 
terras,  occupando  o  tempo  em  rasa,  lição 
e  outros  exercícios,  para  o  que  folgáva- 
mos de  ir  solitário,  e  a  que  o  génio  nos 
inclinou  desde  os  primeiros  annos. »  Bispo 
do  Grão  Pará,  Memorias,  publicadas  por 
Camillo  Casteílo  Branco,  pag.  209. 

RESABER,  i'.  a.  Saber  perfeitamente, 
saber  muito  bem. 

RESABIADO,  A,  adj.  Espantadiço,  ma- 
nhoso. —  Cavallo  resabiado. 

—  Desgostoso,  anojado. 

RE3ABIAR,  v.  a.  Fazer  tomar  resaíbo, 
vicio  ou  mau  costume. 

VOL.  T.— 30. 


—  Fazer  ganhar  desaffeição,  desagra- 
do. 

—  Resabiar-se,  v.  i-efl.   Ganhar  resaí- 
bo, desagrado,  desaffeição. 

—  Desgostar-se. 

RESABIDO,  A,  adj.  Muito  bc-m  sabido. 

—  Esperto,  muito  fino,  íntellígente. 

—  Parf.  pass.  de  Resaber. 
RESABIO,  s.  m.  Vid.  Resaibo. 


Técem-lhe,  em  torno  do  jazigo,  dansas, 

E  tem  do  seu  fallar,  resábio  ainda. 

Tam  meigo  lhe  é  de  0%idio,  inda,  lembr.ar-gc  ! 

Com  d(3r  se  erguia  o  Vate,  eutam,  dos  Bárbaros 

Xáo  o  comprender  :  e  inda  hoje  o  chúrão  Sarmatas. 

FR.Í.NCISCO    MANOEL  DO  NASCIMENTO,   OS  MAHTYRES, 

liv.  7. 


RESACA,  s.  /.  O  movimento  feito  pelo 
rolo  do  mar,  recuando  da  praia.  Vid.  Res- 
saca. 

—  Porto  formado  da  enchente  do  mar. 
Vid.  Saco. 

—  Emprega-se  também  figuradamente. 
RESACAR,  V.  a.  Fazer  resaque. 

—  Reexportar.  Vid.  Sacar. 
RESAIBIAR,  1-.  a.  Vid.  Resabiar. 
RESAIBO,   s.  m.   (De  re,  e  saibo).  Sa- 
bor que  fica  adherente  a  algum  vaso. 

—  Vício,  manha  ou  doença  das  caval- 
gaduras. 

—  O  sabor  mau,  e  para  mal  do  refina- 
do, e  resabído;  o  ser  resabido. 

—  P^iguradamente :  Semelhança  ou  res- 
to de  uma  cousa,  que  se  communicou  a 
outra,  ou  que  se  possuiu,  e  teve  antes  ou 
em  outro  estado. 

RESAIR,  r.  n.  Tornar  a  sair,  sair  se- 
gunda vez,  sair  de  novo. 

RESÁIU,  s.  m.  Termo  antiquado.  Vid. 
Rocio. 

RESALGAR,  s.  m.  Termo  de  Botânica. 
Planta  veneno.?a,  que  até  com  o  contacto 
mata  a  quem  a  tem  por  muito  tempo  fe- 
chada na  mào. 

RESALTADO,  part.  pass.  de  Resaltar. 
Relevado. 

—  Saltado  aos  olhos. 

—  Díz-se  de  tudo  o  que  sobresáe,  e 
fica  mais  elevado  que  o  fundo,  plano  ou 
superficíe.  —  Olhos  resaltados. 

—  Feições  resaltadas ;  feições  avulta- 
das. 

RESALTAR,  v.  a.  (De  re,  e  do  latim 
salfuin,  de  salire).  Relevar,  fazer  sobre- 
saír  ao  nível,  ficar  mais  alto. 

—  V.  n.  Saltar  aos  olhos,  por  mais  ele- 
vado,  saliente,   prominente,    e  resaltado. 

—  Saltar  reflectindo. 

—  Sobresaltar  fora  da  superficíe,  fun- 
do, ou  de  outro  corpo  a  que  está  unido 
por  o  lado  de  baixo. 


Entào  sahindo  súbito  do  seio, 
Onde  até  alli  vivoo,  resaIJa,  e  brilha 
A  lúcida  faisoa,  e  se  outro  corpo 
Junto  acaso  encontrou,  se  prende,  c  atea. 

J.  A.  DE  MACEDO,  NATUREZA,  Cant.  2. 


—  Emprega-se  também  no  sentido  fi- 
gurado. 

RESALTEAR,  v.  a.  Tomar  a  saltear, 
saltear   segunda   vez,    saltear    de    novo. 

RESALTO,  s.  m.  A  prominencía,  a 
saliência  da  cousa  que  se  eleva  sobre  o 
nível  de  alguma  superficíe,  onde  está 
embebida  o  d'onde  nasce.  —  Resalto  dos 
olhos. 

—  Salto  dado  pelo  corpo  elástico,  quan- 
do estendendo-se,  e  largando-se,  em  se- 
guida voltou  ao  seu  estado  primitivo. 

RESALVA,  s.  f.  Declaração  por  escri- 
pto para  segm-ança  de  alguém. 

—  Cautela  para  evitar  prejuízos. 

—  Resalva  da  entrelinha ;  é  a  declara- 
ção feita  pelo  tabellião,  de  que  a  entreli- 
nha foi  posta  por  elle,  e  diz  alli  o  mes- 
mo que  pOz  na  entrelinha,  e  firma  a  re- 
salva. 

—  Excepção,  reserva. 
RESALVADO,  part.  pass.  de  Resalvar. 

Exceptuado,  reservado  como  excepção. 

—  Declarado  com  resalva. 

—  Livre  do  mal,  seguro. 
RESALVAR,    v.    a.   Fazer  ou   dar  re- 
salva. 

— •  Declarar  com  resalva. 

—  Livrar  de  damno,  mal,  segurar.  — 
«  Mas,  para  resalvar  de  escândalo,  des- 
empenharei o  caracter  especial  prologe- 
tico.  Ahi  vai :  A  quem,  se  não  a  vossês, 
na  ociosidade  heroes,  se  devia  offerecer 
este  bazulaque  em  ócio  concebido  e  em 
ócio  guisado?  Defendam-no,  pois,  de  den- 
tes e  línguas  inimigas  e  malignantes.» 
Bispo  do  Grão  Pará,  Memorias,  publica- 
das por  Camillo  Casteílo  Branco,  pag.  57. 

—  Exceptuar,  reservar  como  exce- 
pção. 

—  F.  rejl.  Resalvar-se ;  tomar  resal- 
vas,  prevenir  accusações  com  razões,  des- 
culpas, ordinariamente  antecipadas. 

■ — Figuradamente:  Resalvar-se  da  sua 
inépcia  e  descuido. 

RESAMPHONINAR,  ou  RESANFONINAR. 
Vid.  Reçanfoninar. 

RESÃO,  s.  f.  Vid.  Razão. 

RESAQUE,  s.  m.  A  acção  de  sacar  uma 
nova  letra  de  cambio,  por  meio  da  qual 
o  portador  se  reembolsa  sobre  o  sacador, 
ou  sobre  um  dos  endossadores  do  princi- 
pal da  letra  protestada,  e  suas  despezas. 
Vid.  Recambio. 

f  RESAR,  V.  a.  Vid.  Rezar. 

tem  por  dcvação  resar  cada  dia 

muito  devoto  uma  Ave  Maria, 

que  lhe  eu  bem  desejo  ficar  no  tinteiro. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  9. 

—  «  E,  com  effeito,  assistindo  eu  a  um 
moribundo  de  primeira  plana  em  Lisboa, 
parecou  notável  a  casualidade  de  chegar 
o  padre  da  benção  de  Alemquer,  a  tem- 
po que  poude  ajudar-me,  resando  o  ofti- 
cio  da  agonia,  emquanto  eu  auxiliava  o 
moribundo  com  actos  próprios  d'aquelle 


234 


RESO 


RESE 


RESE 


instante»  Bispo  do  GrUo  Pará,  Memo- 
rias, publicailaH  por  Caniillo  Cantello 
]>rancii,  pai;'.    I-"!-. 

•  RESARCIMENTO,  *-.  m.  A  acçào  de  re- 
Barcir  e  o  olloito  d'o.íta  acçito. 

—  SatÍHta(,:ilio,  reparo,  emenda.  —  O  re- 
sarcimento  </«  perda. 

RESARGIR,  '■.  «.  (L)t)  latira  resarcire). 
Rjparar,  .satisfazer,  emendar.  —  Resarcir 
a  perda  de  algum  dumno,  que  se  tenha 
tausado. 

RESAUDAR,  r.  a.  Responder  á  sauda- 
do do  alguém  com  outras  tacs  palavras, 
o  eortczia. 

RESBALAR,  r.  a.  Vid.  Resvalar. 

•  RESBORDO,  s.  m.  (Do  franco/-  rehord). 
Temio  do  niai-iuha.  Soííundo  .solho  do  na- 
rio,  n;i  co-Uiira  da  tahoa  <lo  resbordo. 

RESBUTOS,  ou  REISBUTOS,  s.  m.  plur. 
íioutio.s  d(!  (j.-unbaya  ou  tiuzarato. 

RESCALDADO,  i>art.  pass.  de  Rescal- 
dar. JMuito  escaldado. 

—  Muito  (piriite. 

RESCALDAMENTO,  s.  m.  Termo  anti- 
quado. Acto  vio  escaldar,  cffeito  d'esto 
Acto. 

—  Abrazanicuto. 
RESCALDAR,  r.  a.  Escaldar  muito. 

■  RESCALDEIRO,  s.  in.  Prato  furado  com 
íescaldo,  para  ter  quentes  no  de  cima, 
A  mesa,  guisados  do  molhos,  que  se  en- 
grossam quando  frios. 

—  Vasilha  de  cobre,  á  maneira  de  tu- 
bo com  tampa  do  mesmo,  e  cabo  do  páo 
Ond^ebido  no  alvado  pegado  ao  rcscaldei- 
ro ;  collocam-30  n'ella  as  brazas  ou  res- 
òaldo  para  aquecer  a  cama,  correndo-a 
entro  os  lonçocs,  em  tempo  frio.  Os  po- 
bres, nos  paizos  frios,  servem-se  de  res- 
caldeiros  de  barro,  para  baixo  dos  pés. 
Ou  aquecer  as  mãos;  brazeirinhos,  estuti- 
libas  cobertas  com  testos  gretados  ou  fu- 
rados. Vid.  Comadre,  c  Esquentador. 

RESCALDO,  *'.  m.  O  borralho,  ou  cinza 
com  algumas  brazinhas. 

•  —  As  cinzas  quo  lançam  os  respira- 
douros do  fogo,  ou  vulci3os. 

—  Figuradamente :  O  rescaldo  da  ira, 
do  ódio. 

—  As  fezes  que  íieam  no  estômago  de 
comeres  que  as  deixam.  —  «  Onde  acha- 
tam cangrejos,  o  lapas,  que  por  razão  da 
humidade  quo  ao  comer  lhe  achavam,  por 
matar  a  sede,  mcttòram-so  tanto  nelles, 
que  houveram  do  morrer,  como  o  estô- 
mago começou  entrar  no  rescaldo  do  sal 
que  levava  aquella  humidade.»  João  de 
Barros,  Década  2,  liv.  8,  cap.  4. 

—  Figuradamente :  O  rescaldo  do  vi- 
nho, que  esquentara;  restos  dos  seus  eflfei- 
tos. 

RESCAMBO,  s.  »i.  Termo  antiiiuado. 
Troca,  mudança,  permutação. 

RESCÃO,  .<!.  /.  Vid.  Rascão. 

RESCENDER",  r.  a.  Vid.  Recender. 

RESCINDIMENTO,  s.  »i.  Acto  de  res- 
cindir, c  ctVeito  d'esta  acção. 

—  AunuUação. 


RESCINDIDO,  part.  pasn.  de  Rescindir. 
Coilado,   i'(iti). 

—  Aiuiullado,  invalidado. 
RESCINDIR,  c.  a.  (Do  latim  rescindere). 

Quebrar,  aunuUar,  invalidar.  —  Fazer 
rescindir  um  acta,  uma  ohrigar^ão,  um 
contracto,  uma  partilha,  etc. 

—  Figuradamente :  Rescindir  o  cam- 
mento. 

—  Cortar,  romper. 

RESCISÃO,  s.  f.  (Do  latim  rencisioj.  A 
acção  do  rescindir,  e  o  cfleito  d'e8ta  ac- 
ção. 

—  Annullação  de  um  acto,  de  uma 
partilha.  —  Erigir  a  rescisão  de  um 
acta. 

I  RESCISÓRIO,  A,  adj.  Termo  de  ju- 
risprudência. Que  dá  logar  á  resci.sào. 

RESCREVER,  v.  «.  (Do  latim  rescriòc- 
re).  Escrever  de  novo,  escrever  segunda 
vez. 

— •  Dar  um  rescripto. 

—  Responder  por  escripto. 
RESCRIPÇÃO,    s.    f.    (Do    latim    res- 

cripfio).  Mandado  para  se  pagar  certa 
somma. 

RESCRIPTO,  s.  m.  (Do  latim  rescrip- 
tam).  Ordem  por  escripto,  mandato  por 
occasião  de  alguma  consulta,  suppliea,  ou 
requerimento. 

—  Resolução  regia. 

—  Resposta  dos  imperadores  romanos 
lis  questões  em  que  eram  consultados  pe- 
los governadores  das  províncias,  pelos 
juizes,  ou  pelos  particulares  nos  seus  de- 
bates. Ha  muitos  rescriptos  dos  impera- 
dores que  fazem  parto  do  direito  romano. 
—  Nos  rescriptos  impcriacs,  os  impera- 
dores não  interpretavam  simplesmente  as 
leis,  mas  applicavam-n'as  a  casos  particu- 
lares, assimilando  assim  as  funcções  de  le- 
gisladores e  do  juizes.  —  O  uso  dos  res- 
criptos, que  parece  datar  do  reinado  de 
Adriano,  prevaleceu  depois  de  Alexan- 
dre Severo. 

—  Resposta  do  papa  sobre  algumas 
questões  do  thcologia,  para  servir  de  de- 
cisão ou  de  bulia. 

—  Lei,  ordem  do  certos  juizes. 
RESCRITO,  s.  «i.  Vid.  Rescripto. 
RESECCAÇÃO,  s.  /.  Acção  de  rcscccar. 
f  RESECCADO,  part.   jkíss.  de  Resec- 

car.  Socco  novamente. 

—  Muito  seccií. 

RESECCAR,    V.  a.   Scccar  novamente. 

—  Fazer  evaporar  o  húmido  ou  a  parte 
aquea. 

—  Reseccar-se,  v.  refl.  Tornar-se  re- 
secco. 

RESECCO,  A,  adj.  Que  está  muito  sec- 
co,  que  está  secco  do  mais. 

RESEDÂ,  s.  /.  (Do  fi-anccz  reseda^. 
Termo  de  botânica.  Planta,  tvpo  da  fa- 
mília das  resedaceas,  que  abrange  mui- 
tas espécies  annuaes  e  vivazes,  cuja  es- 
pécie a  mais  geral  é  a  resedà  odorifvra, 
originaria  da  Barbaria  e  do  Egypto,  cu- 
jas tlores  esbranquiçadas,  com  as  anthc- 


ras  cór  de  tijolo,  oxlialam  um  cheiro 
nmi  agraria vei. 

f  RESEDACEO,  A,  adj.  Que  se  aseo- 
melha  á  rc;-edá. 

—  )S.  f.  plur.  Familia  de  plantas  que 
tem  por  tv|io  o  género  rimiAii. 

f  RESEGAL,  ou  RESIGAL,  «.  m.  Termo 
de  miiH:jaio;:ia.    Synonvnio  de  Rosalgar. 

RESEGUNDAR,  J»  «.Tornar  a  segun- 
dar, nsduplicar,  redobrar. 

RESELLAR,  t.  a.  Pôr  segundo  sello, 
ou  oiiirn  scljii.  --  Resellar  a.i  fazenda» . 

■\  RESEMEADO,  part.  pas».  de  Rese- 
mear.  Tornado  a  Benicar.  —  I^ão  rese- 
meado. 

RESEMEADURA,  «.  /.  Nova  semeadura, 
segunda  .-^oiiiradura.  Vid.  Semeadura. 

RESEMEAR,  v.  a.  Tornar  a  semear,  se- 
mear segunda  vez.  —  Resemear  o  aimyo. 

—  Figuradamente  :  Resemear  a  fé. 
RESENHA,  s.  f.  Enumeração,   revista, 

alardo,  mostra  que  se  faz  das  tropas,  pa- 
ra se  vêr  de  que  numero  constam.  —  Fa- 
zer resenha. 

c  v<á  esta  s/i  para  mim, 
ha  \'ilào  que  faz  retenha 
do  nobre,  me  dirão,  faz, 
li  lhe  jaz 

antro  artéria  uma  y\\.  grenha, 
vil,  que  do  longe  lhe  traz 
o  âo  como  agua  d'azcnba. 

ANIONIO  PBESTB8,  AUTOS,  pag.  253. 

RESENHADO,  jmrt.  pass.  de  Resenhar. 
—  Trupas  resenhadas. 

RESENHAR,  v.  a.  Fazer  resenha. 

—  Reconhecer,  vêr  o  numero,  se  está 
completo,  e  assim  as  cousas  se  tem  as 
qualidades  requeridas. 

RESENHOR,  s.  m.  Termo  de  comedia. 
Duas  vezes  senhor,  segunda  vez  senhor. 

Mo<;o.  Cadeira  eu? 

guardc-vo3  Deos  não  me  ponha 

m.au  vezo. 
Dese.   Eu  sou  todo  seu. 
Moi;o.  Não,  mas  mui  resenhar  meu. 
Dcse.    Assonte-sc. 
iloço.  Hei  vergonha. 

AÍTOSIO  PRESTES,  ACTOS,  pag.  185. 

RESENTIDO,  2^<^''f-  y^"**-  «le  Resentir. 
Tornado  a  sentir,  sentido  vivamente. 
--Oâendido,  irritado. 

—  Despertado,  excitado. 

—  Advertido. 

—  Prescntido,  que  prevê  o  seu  futuro. 

—  Figuradamente:  Tocado,  qussi  po- 
dre. 

—  Scntid<\  desgostoso. 
RESENTIMENTÒ,  «.  m.  (Do  francez  re,«- 

scntiment).  OfiFensa  leve,  ou  que  se  enco- 
bre. 

—  Sentimento  produzido  por  esta  of- 
fonsa. 

RESENTIR,  V.  a.  Tornar  a  sentir,  sen- 
tir segunda  vez,  sentir  com  força,  viva- 
mente.—  Resentir  a  morte  dalguem. 

—  Resentir-se,  v.  njl.  Offender-se,  ir- 


RESÉ 


RESE 


RESP 


?3á 


ritar-se,  mostrar  algum  sentimento,  ou 
pezar.  —  Resentir-se  íV alguém,  que  of- 
fende. 

—  Advertir,  dar  fé.  —  Resentir-se  do 
mal  que  fez. 

—  Despertar,  exeitar-se. 

—  Resentir-se  d' alguma  cousa;  sentir 
o  effeito  d'eila. 

RESEQUIDO,  A,  adj.  Secco,  exhausto 
de  sueco,  e  humidade.  —  Ameixas  rese- 
quidas.  Vid.  Resecco,  que  é  difFerente. 

RESERAR,  i>.  a.  (Do  latim  reserare). 
Abrir. 

RESERVA,  s.  /.  Acçíto  de  reservar.  — 
Fazer  reserva  n'um  contracto.  —  Fazer 
doação  dos  seus  bens  sobre  a  reserva  de 
uma  pensão. 

Porém  seja  o  que  for,  a  nossa  idade 
Passará  pelo  tempo  sem  desmaio  ; 
Mas  sempre  com  reserva  na  igualdade. 

ABBADE  DE  JAZENTE,  POESIAS,  tOm.    l,pag.    59 

(ediç.  de  1787). 

—  A  parte  que  se'  guarda,  poupa,  não 
gastando,  dando  ou  empregando  tudo.  — 
«Nos  exércitos,  e  campanhas  se  experi- 
menta o  mesmo,  que  por  falta  de  corda, 
ou  de  bala,  ou  de  pólvora,  se  perdem 
vitorias ;  e  por  naõ  meterem  mais  ceva- 
da nas  garupas,  ou  mais  mantimento  na 
bagagem,  se  recolhem  sem  concluírem 
a  empreza,  que  era  de  mais  ganho,  e 
proveito,  que  o  que  se  poupa  na  reser- 
va.» Arte  de  furtar,  cap.  52.  —  «E  como 
os  mandados  dos  Reys  inteiros  saõ  leys 
invioláveis,  assim  vieraõ  todos :  foy-lhe 
vendo  as  capas,  e  poz  de  reserva  todas, 
as  que  achou  feridas,  para  p<jr  a  seus 
donos  de  dependura.  E  assim  passou  o 
negocio,  que  com  tesouradas  invisíveis 
assegurou  thesouros,  que  unhas  invisíveis 
lhe  roubarão.»  Ibidem,  cap.  54. 

—  Termo  de  jurisprudência.  Reserva 
legal;  parte  dos  bens  que  a  lei  declara 
nào  disponíveis,  reservando-os  a  certos 
herdeiros. 

—  Corpo  de  reserva;  tropas  que  o  che- 
fe de  um  exercito  defensivo  reserva  para 
um  dia  de  batalha,  a  fim  de  as  fazer  dar 
quando  a  occasião  o  exigir. — Fazer  avan- 
çar a  reserva. 

—  Corpo  de  reserva ;  parte  de  um  gran- 
de exercito  destinado  a  supprir  a  insuffi- 
ciencia  das  tropas  alistadas,  ou  a  pres- 
tar-lhcs  auxilio. 

—  Tudo  o  que  alguém  guarda  do  capi- 
tal não  o  mettendo  todo  a  ganho,  em  em- 
prezas  commerciaes,  etc,  nem  expondo-o 
todo  a  risco. 

—  Figuradamente:  CircumspecçSo,  dis- 
crição, retenção. — Não  f aliar  senão  com 
muita  reserva.  —  Mostrar  uma  grande  re- 
serva.—  Usar  de  reserva.  —  Para  commi- 
go  não  tens  reserva. 

—  Gente  de  reserva ;  gente  que  está 
sobreselente  para  servir,  e  acudir  onde 
houver  necessidade.  Também  se  lhe  cha- 


ma   retaguarda,    por    ir    atraz    da   bata- 
lha. 

—  Não  ter  reservai  para  com  ninguém; 
depositar  em  toda  a  gente  uma  confiança 
cega. 

—  Ficar  de  reserva ;  ficar  guardado, 
ftra  do  serviço,  para  alguma  cousa  ex- 
traordinária,  sobreselente. 

—  Ter  de  reserva;  ter  guardado, 

—  Syx.  :  Reserva,  decência.  Vid.  este 
ultimo  tei'mo. 

RESERVAÇÃO,  s.  /.  Acto  de  reservar, 
acçào  pela  qual  se  reserva. 

—  Condição  posta  na  doação,  que  res- 
tringe e  limita  o  seu  beneficio  a  certos 
usos. 

—  Reservação  de  peccados ;  restricçào 
imposta  para  que  só  os  possa  absolver 
certas  pessoas. 

—  Diminuição  feita  aos  fi'Uctos  do  be- 
neficio, reservando  parte  d'elles  para  si 
a  pessoa,  que  o  renuncia  em  outrem,  ou 
lh'o  confere,  ou  a  beneficio  de  um  ter- 
ceiro. 

RESERVADAMENTE,  adv.  (De  reserva- 
do, com  o  suílixo  «mente»).  Com  reser- 
va, com  circumspecçào. 

RESERVADO,  pari.  pass.  de  Reservar. 
Guardado,  posto  de  parte. 


^leM.  Easa  lavre  Bom  Cuidado  ; 
que  o  bo!n  cuidar 
i'  cuidar  que  o  descançar 
no  céo  ficou  reservado, 
que  o  do  cá  ha  de  acabar. 

A5T0NI0  PRESTES,  AUTOS,  pag.  27. 

Kào  diga,  Seuhor,  tal,  que  neste  tempo, 

Oh  Tempo,  oh  Costumes!  (diz  o  Padre) 

O  sabor  o  Francoz  é  saber  tudo, 

E'  pasmar!  ver,  Senhor,  como  um  Pascazio, 

De  Franeez  com  dous  dedos  se  abalança. 

Perante  os  homens  doutos,  c  sizudos, 

A  fallar  nas  scieucias  mais  profundas, 

Sem  que  lhe  escape  a  Santa  Thoologia, 

Alta  seiencia,  aos  Claustros  reservada, 

Quo  tanto  fez  suar  ao  grande  Scoto, 

Aos  Bocouios,  aos  Lclios,  e  a  mim  próprio  ! 

DINIZ  DA  CKCZ,   nYSSOPE,   Caut.   Õ. 


• —  Circuraspecto,  discreto,  cauteloso, 
retrahido,  refolhado,  —  Ser  mtii  reserva- 
do em  fallar  de  si,  e  em  criticar  os  ou- 
tros. —  Reservado  em  palavras.  —  Um 
jjrocedimento  reservado. 

—  Preservado,  livre  do  mal,  da  inju- 
ria. 

'■ —  Caso,  peccado  reservado ;  caso,  pec- 
cado  de  que  de  ordinário  não  absolve  se- 
não a  pessoa  a  quem  é  reservado. 

RESERVADOR,  A,  adj.  e  s.  (De  reser- 
var, com  o  sufiixo  «dor»).  Que  reserva, 
que  guarda,  que  põe  de  parte. 

—  Que  preserva,  que  livra  do  mal. 
RESERVAR,  v.  a.  (Do  latim  reservare). 

C4uardar,  reter  uma  cousa  entre  muitas. 
—  Reservar  o  usufructo,  o  gozo  de  um  do- 
minio.  —  Reservar  os  fundos.  —  «Porque 
nam  seria  rezam  que  descobrindo  elles 
ilhas,    e   terras  se  lhes  atrauesassem  ou- 


tros a  fazer  o  mesmo  que  era  sua  mercê 
de  por  tempo  de  dez  annos  nam  dar  li- 
cença a  pessoa  nenhuma  pêra  ir  desco- 
brir pelo  caminho,  e  derrota  que  elles 
fezessem,  reseruando  que  seus  capitães 
que  tinha  nas  prouincias  do  mar  do  Sul 
podessem  ir  buscar  o  estreito  daquelles 
mares  dandolhes  elles  para  isso  licença.» 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  4,  cap.  37. —  «Dizia  elle :  «Então 
estarei  morto!  Foi  destresa  d'el-rei  para 
me  tirar  os  novos  direitos.  Lá  vae  o  di- 
nheiro que  eu  reservava  para  o  meu  en- 
terro.» Bispo  do  Grão  Pará,  Memorias, 
publicadas  por  Camillo  Castello  Branco, 
pag.  164. 

—  Preservar,  livrar  do  mal,  da  inju- 
ria. 

—  Guardar  muito,  e  para  si  só.  —  «O 
segi-edo  disto  deuia  a  natureza,  reseruar 
pêra  si,  como  fez  ao  de  outras  muytas 
cousas,  a  que  as  razões  naturafls  nam 
chegam.»  Fr.  Gaspar  de  S.  Bernardino, 
Itinerário  da  índia,  cap.  21. 

—  Tirar  ao  beneficio  parte  dos  fructos, 
pensionando-] he  o  beneficio. 

—  Reservar  peccados ;  restringir  a  cer- 
ta pessoa  ou  pessoas  o  poder  de  os  absol- 
ver. 

—  Reservar-se,  v.  refl.  Guardar,  pôr 
alguma  cousa  de  parte  para  si. 

—  Ficar  de  reserva.  Vid.  Reserva. 

—  Ser  circumspecto,  discreto  na  sua 
linguagem,  em  transmittir  seus  segi-edos, 
pensamentos,  etc. 

RESERVATARIO,  A,  adj.  Que  recebe 
reserva. 

—  Cónego  reservatario ;  cónego  que 
renuncia  o  beneficio,  reservando  para  si 
uma  pensão  aniiual. 

RESERVATÓRIO,  s.  m.  Recipiente  que 
contém  uma  quantidade  de  agua  quaU 
quer,  onde  a  conserva,  e  d'onde  se  dis- 
tribuo para  diversas  partes  e  difieren- 
tes  usos.  Vid.  Recipiente,  Receptáculo, 
Reconditorio. 

RESERVIDO,  part.  pass.  de  Reservir, 
Servido  do  novo,  servido  segunda  vez. 

RESERVIR,  V,  a.  Servir  de  novo,  tor- 
nar a  servir. 

I  RESFOLEGADO,  jmjí.  pass.  de  Res- 
folegar. Respirado,  lançado. 

—  Descançado. 
RESFOLEGADOURO,  s.  m.   Orifício  por 

onde  se  respira. 

—  Respiradouro,  aberta,  por  onde  se 
respira,  e  inspira  o  ar  puro,  ou  os  vapo- 
res e  exhalações  de  canos,  poços,  ade- 
gas, machinas  em  que  o  fogo  e  vapor 
entram,  como  moveis,  etc.  •    ■ 

RESFOLEGAR,  v.  a.  Respirar,  lançar. 

—  V.  n.  Respirar. 

—  Figuradamente  :  Descançar,  tomar 
respiração,  fôlego, 

RESFOLEGO,  s.  m.  Anhelito,  respira- 
ção. 

RESFOLGADOURO,  s.  m.  Vid.  Resfole- 
gadouro. 


236 


RESCI 


RESfi 


RESG 


RESFOLGADO,  jmrt.  jiriss.  <lo  Resfol- 
gar. Viil.  Resfolegado. 

RESFOLGAR,  v.  a.  o  íí.  Vid.  Resfole- 
gar. 

1.)  RESFRIADO,  yurt.  pms.  >kt  Res- 
friar. Toriiiid»  !i  esfriar,  osfriado  outra 
vez. 

—  Des.aniinado. 

— •  Doento  do  resfriado. 

—  Fif^uradamciito  :  Fazer  resfriado  ; 
fazer  donanimar  tratando  eoin  frieza,  com 
iiidifforonra,  uoin  do.sfavor. 

2.)  RESFRIADO,  ».  m.  Docnya  produ- 
zida peia  obstrucyjlo  do.s  poros,  e  falta  do 
rcspirayiio. 

1.)  RESFRIADOR,  A,  ndj.  (Do  resfriar, 
e  o  siiílixii  «dór).  Quo  resfria.  —  Tunipn 
resfriador. 

■ —  Figuradamente  :  Quo  desanima. 

2.)  RESFRIADOR,  s.  m.  Vasilha  cheia 
do  agua  fria  para  resfriar  vinlios,  ou  ou- 
tras bebidas. 

—  Vaso  cheio  de  agua  fria  ou  gelada 
para  mctter  as  serpentinas,  ou  canos  dos 
alambiques,  para  que  o  liquido  quo  se  dis- 
tilla  saia  frio,  o  se  não  oxhale  com  o  ca- 
lor a  parte  mais  volátil  e  espirituosa. 

RESFRIAMENTO,  s.  m.  Acção  de  tor- 
nar frii)  aíjuillo  ([ue  ei"a  quente. 

—  Figuradamente  :  Subtracção  de  ca- 
lor, furor,  paixão,  energia,   e  aci-imonia. 

RESFRIAR,  II.  a.  Esfriar  de  novo,  tor- 
nar a  esfriar. 

—  Figuradamente  :  Desanimar,  des- 
alentar. —  Resfriar  o  animo. 

—  Fazer  cessar  o  calor,  e  ser  frio.  — 
Resfriar  o  corpo. 

—  Resfriar-se,  v.  rejl.  Tornar-sc  frio. 

—  Adoecer  de  refriado. 

—  Entibiar-se. 

—  Figuradamente :  Abater-sc,  ou  aca- 
bar. 

RESGALAR,  v.  a.  Vid.  Arregalar. 
RESGATADO,  part.  pass.  do  Resgatar. 
Remido  com  dinheiro. 

—  Comprado  ou  permutado. 

—  Figuradamente  :  Salvo  do  captivci- 
ro  do  diabo. 

—  Vendido  por  resgate. 
RESGATADOR,  A,  s.  (De  resgatar,  e  o 

suffixo  udõr»).  Pessoa  quo  resgata,  que 
vende  por  resgate. 

RESGATANTE,  part.  act.  de  Resgatar. 
Vid.  Resgatador. 

RESGATAR,  v.  a.  Remir  por  dinheiro 
a  cousa  vendida. 

—  Resgatar  a  vida ;  remil-a  dando  di- 
nheiro, a  quem  lh'a   deixa   ou    conserva. 

—  Vender  por  resgate. 

—  Resgatar  a  obra,  ou  escripfura ;  ti- 
ral-a  ;l  luz,  livrando-a  do  esquecimento, 
ou  ruina  a  que  estava  exposta. 

— ■  Dar  liberdade  o  prosador,  a  quem 
tem  preso,  o  lhe  paga  o  resgate. —  «So- 
mente pareço  que  deu  nona  nas  povoa- 
ções da  chegada  do  nauio,  c  como  trazia 
os  moços  pcra  resgatar  :  porque  sendo 
ja  passados  oito  dias  vierão  macs  de  cem 


pesHoas  ao  resgato  delles,  por  serem  fi- 
llios  dos  iiiaes  nobres  daqueíles  Alarues.» 
Barros,  Década  1,  liv.  1.  cap.  7. —  «Na 
qual  cart.i  clle  Alloiiso  d'Alboqucrque 
escrevia  ao  Xeque  como  tinha  sabido 
que  em  sou  poder  estavam  cativos  certos 
Tortuguezes,  que  vieram  ter  ao  seu  por- 
to que  lho  pedia  houvesse  por  bem  do 
os  resgatar.»  Idom,  Década  2,  liv.  8, 
cap.  o, — «Muitos  j)ays  houve,  que  li- 
vrarão seus  filhos  seis  c  sete  vezes  dostu 
modo,  em  diíFerentes  annos ;  com  que 
lhes  vieraò  a  custar  tanto  como  se  os 
resgatarão  do  Turquia.»  Arte  de  furtar, 
cap.  8.  —  «A  este  tempo  viraõ  os  nos- 
sos caliir  Luiz  Figueira  de  uma  espin- 
gardada  de  que  logo  morroo,  tendo  feito 
taes  cousas  que  os  Turcos  ficíiraõ  pasma- 
dos, c  o  Cafar  disse  aos  soldados  que  alli 
licàraõ  cativos  (segundo  elles  depois  que 
os  resgatarão  dissoraò)  que  se  Luiz  Fi- 
gueira não  morrera  da  espingardada,  sem 
duvida  ellc  ticàra  o  rendido.»  Diogo  de 
Couto,  Década  (i,  liv.  O,  cap.  ?>. 

—  Figuradamente :  Resgatar  o  tempo ; 
dar  o  tempo  gastado  em  boas  obras,  dal-o 
por  mal  gasto. 

—  Figuradamente :  Salvar,  livrar  da 
escravidão  do  demónio,  do  captiveiro  do 
peccado. 

—  Comprar,  permutar.  —  «Acabada  a 
obra  e  a  tcri-a  corrente  e  resgate,  espe- 
dio  Diogo  d'Azambuja  os  nauios  e  a  gen- 
te sobreselente  que  se  veo  pêra  o  Keyno 
com  boa  copia  d'ouro  que  resgatarão,  e 
elle  ficou  cõ  sesenta  homens  ordenados  A 
fortaleza  segundo  hia  per  regimento  dcl- 
Rcy.»  Barros,  Década  1,  liv.  3,  cap.  2. 
—  «As  nãos  <iue  foraij  esperar  os  juncos 
de  Jaoa  aos  Estreitos,  recolherão  a  si  to- 
dos os  que  vieraõ,  e  com  elles  resgata- 
rão todos  os  mantimentos  quo  traziaõ,  a 
troco  de  roupas,  c  carregados  delles  se 
tornarão  pêra  Malaca,  com  o  que  a  vi- 
toria se  acabou  de  arrematar,  porque  jà 
tiuhaõ  que  comer.»  Diogo  de  Couto,  Dé- 
cada (5,  liv.  í',  c<ap.  9.  —  «E  assy  man- 
dou logo  com  clle  feytores,  o  officiaes  pê- 
ra lá  estarem,  e  resgatarem  a  dita  pi- 
menta, c  outras  cousas  que  na  torra  auia. 
E  depois  por  ser  muyto  doentia,  e  o  tra- 
to não  ser  do  muyto  proueito  como  se  es- 
pcraua,  a  feytoria  se  desfez,  o  os  officiacs 
so  vieram.»  (í areia  de  Rezende,  Chroni- 
ca  de  D.  João  II,  cap.  (i5. 

—  Resgatar  cnptivos;  remil-os.  —  «Que 
nam  tem  remédio,  faz  muitjis  osmollas 
pcra  casamentos  de  orphans,  ou  pcra  se- 
rem tonuidas  para  freiras  cni  mosteiro. 
Quando  se  tomou  o  cabo  do  Cue  deu 
hunia  grão  somnm  de  dinheiro  para  res- 
gatar captiuos,  principalmente  mininos, 
pelo  perigo  da  idade  tonrra  aparelhada 
pêra  facilmente  perder  a  fc.»  Damião  de 
Gocs,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3, 
cap.  27. 

—  Resgatar-se,  c.  rojl.  Remir-se.  — 
«E  depois  mandou  Estcuão  Vaz  sou  es- 


criuão  da  camará,  quo  depoia  foy  fcytor 
das  casas  da  Índia  o  da  Mina,  homem  de 
quo  cl  Rey  coníiaua,  que  com  o  dito  dom 
loam  ontondesHc  no  roí-j^att;  do  dito  Bar- 
caxe,  o  qual  se  concertou  com  cUea  de 
se  resgatar  por  quinze  mil  dobras  de 
banda,  c  dez  catiuoB  Clm«t3o«,  e  vinte 
caualloH  bons,  pêra  que  logo  deu  íilhoB 
seus,  e  outras  pessoas  príncipaea  por  aeui) 
arrefcns.»  (larcia  do  Rezende,  Chronica 
de  D.  João  II,  cap.  08. 

RESGATA VEL,  af)j.  2  (ji:n.  Que  se  pôde 
ou  ha  de  resgatar,  dando-se  o  valor  da 
cousa  quo  se  resgata,  fallando  dos  bilhe- 
tes de  credito,  quo  circulam  como  di- 
nheiro ou  acções,  e  titulo  do  sommas 
exigíveis,  os  quaes  se  resgatam  dando  o 
seu  valor  ao  apresentante,  ou  tomando- 
lh'o3  como  dinheiro.  —  Os  objectoa  pe- 
nliorados,  hypothccados,  e  vendidos  a  re- 
tro são  resgatáveis,  dando-se  ao  credor, 
ou  Vendedor  o  valor  dos  seus  créditos, 
ou  do  que  venderão.  Vid.  Remir. 

RESGATE,  8.  VI.  A  acção  do  resgatar, 
de  remir  com  dinheiro  a  couaa  vendida 
ou  empenhada.  —  «Entre  os  mais  cati- 
vos, que  se  perderão  nosta  jornada  for2o 
Dulcidio  Bispo  de  Salamanca,  e  Henno- 
gio  de  Tuy,  cujo  resgate  senão  dilatou 
muyto  tempo,  por  se  dar  a  contia  de  di- 
nheiro em  que  o  de  Salamàca  foy  apres- 
sado, e  ficar  em  refons  pelo  de  Tuy,  hum 
seu  sobrinho,  chamado  Pelayo.»  Monar- 
chia  Lusitana,  liv.  7,  cap.  17. 

—  CúUHa  de  pouco  resgate  ;  cousa  de 
pouco  preço. 

—  O  logar  onde  se  faz  o  resgate  de 
mercadorias,  escravos,  captivos  ;  feira ; 
mercado  nas  costas  da  Cafraria,  e  seme- 
lhantes. —  «Postos  todos  cm  terra,  ven- 
do Jlanoel  de  Sousa  perdidas  as  espe- 
ranças de  poder  fazer  o  caravelão,  por 
não  haver  de  que,  porque  o  mar  destro- 
çou a  nào,  como  dissemos,  assentou  por 
conselho  de  todos  hirem  buscar  o  rio  de 
Lourenço  ilarques,  aonde  todos  os  annos 
vinhão  navios  de  Moçambique  ao  resga- 
te do  marfim.»  Diogo  de  Couto,  Década 
U,  liv.  9,  cap.  22. 

—  O  preço  por  que  se  resgata.  —  «E 
porque  quando  deste  Reyno  partio,  cl- 
Rey  dõ  Manuel  ordenou  que  Bartholo- 
meu  Diaz  e  Diogo  Diaz  seu  irmào  fossem 
a  Mina  do  Çofala  descobrir  e  assentar 
aquelle  resgate,  o  qual  negocio  nSlo  ouue 
eftecto  por  se  perder  Bartholomeu  Diaz 
no  dia  que  se  perderão  outras  três  velas, 
e  Diogo  Diaz  era  desaparecido.»  Barros, 
Década  1,  liv.  ."■>,  cap.  7.  —  «Manoel  Ro- 
drigues Coutiniio  despcdio  recados  muy 
apressados  a  Còchim,  tratando  de  seo 
resgate  com  o  Naique  (que  porque  se 
resgatassem  mais  depressa,  e  melhor,  os 
tratou  muito  mal,  c  lhes  estreitou  as  pri- 
zoens\  Os  recados  que  partirão  pêra  Cò- 
cliim.  foraõ  cm  poucos  dias  na  Cidade,  e 
se  dcraõ  no  Capitão.»  Diogo  de  Couto, 
Década  G,  liv.  10,  cap.  8.  —  «0<jucac»- 


RESG 

bado  estancio  o  Vicerei  ainda  era  Dabul 
lhe  deraõ  cartas  de  offerecimentos  de  Mi- 
lifj^uiaz,  e  outras  dos  Portugueses  que 
captiuara  em  Cliaul,  em  que  lhe  scre- 
uiam  sobelo  resgate  de  suas  pessoas,  e 
quão  bem  de  tratados  delle  eram,  mas  a 
visitaçam  de  Miliquiaz  era  mais  para 
pelo  mesageiro  saber  o  que  o  Vicerey 
fazia,  que  naõ  por  desejo  que  tiuesse  de 
sua  amizade.»  Damião  de  Góes,  Chroni- 
ca  de  D.  Manoel,  part.  2,  cap.  38.  — 
«Andando  assi  ocupado  nestes  negócios 
mandou  el  Rei  de  Bintam  dizer  per  hum 
messageiro  ao  Senhor  de  Siaca  seu  vas- 
sallo,  que  se  lhe  desse  a  cabeça  de  Geor- 
ge  botelho,  o  casaria  com  huma  sua  fi- 
lha, porque  elle  era  o  que  lhe  fazia  a 
guerra  mais  que  nenhuma  outra  pessoa, 
o  que  quisera  poer  em  obra,  mas  a  trai- 
ção lhe  foi  descuberta  per  hum  homem 
daquella  comarca  que  fora  seu  captiuo,  e 
elle  soltara  sem  lhe  leuar  resgate.»  Ibi- 
dem, pait.  3,  cap.  79. —  «E  em  este 
tempo  estava  aqui  huma  armada  de  Bar- 
ba roxa,  em  que  vi  muytos  Christãos  com 
ferros,  e  mal  tratados  dos  Turcos,  que 
vinham  falar  com  os  mercadores  a  dita 
cidade  sobre  seus  resgates.»  Tenreiro, 
Itinerário,  cap.  49. 


Na  tua  edadc 
Rcspeitam-se  os  anciãos,  ouvc-se  e  apprcnde-se. 
Mancebo,  escuta:  —  Libertar  a  pátria, 
E  dar  pelo  resgate  a  própria  \-ida, 
Não  é  mais  que  dever  ;  grande  heroísmo, 
Acções  de  glória,  n'Í380  não  as  vejo. 

GABBETT,    CATÃO,  act.   4,   SC.    3. 


—  Resgate  dos  altares ;  certa  e  deter- 
minada pensão  que  os  mosteiros  paga- 
vam aos  bispos  todas  as  vezes  que  aos 
monges  sf!  davam  ou  doavam  algumas 
igrejas  parochiaes,  e  mormente  quando 
eram  doadas  por  pessoas  seculares.  Paga- 
va-se  este  resgate  todas  as  vezes  que  n'el- 
las  entravam  a  servir  de  novo  parochos 
monges ;  ou  fosse  quando  pela  primei- 
ra vez  os  mosteiros  a  entravam  a  paro- 
chiar,  ou  quando  por  ausência,  remoção, 
demissão  ou  morte  do  primeiro  parocho, 
succedia  outro  monge  no  seu  lugar. 

RESGUARDA,  s.  f.  Termo  antiquado 
de  milicia.  Rectaguarda.  Vid.  Reguarda. 

RESGUARDADO',  2>a)-í.  pass.  de  Resguar- 
dar, (juardado  com  cautela  e  vigilância 
para  evitar  damnos  e  perigos. 

—  Olhado,  visto,  attendido,  conside- 
rado. 

—  Resalvado,  reservado. 

—  Defendido,  vigiado. 

—  Casas  resguardadas  do  frio. 

—  Acautelado,  circumspecto. 
RESGUARDAR,  v.  a.  (De  re,  e  esguar- 

dar).  Guardar  cautelosa  e  vigilantemen- 
te para  obstar  aos  damnos  e  perigos. 

ifas  o  alto  Deos,  que  para  longe  guarda 
O  castigo  d'aquclle  que  o  merece  ; 


RESG 

Ou  para  que  se  emende  ás  vezes  tarda, 
Ou  por  segredos  que  o  homem  não  conhece  ; 
Se  até  aqui  sempre  o  forte  Rei  resguarda^ 
Dos  perigos  a  que  cilc  se  otferece, 
Agora  lhe  não  deixa  ter  defesa 
Da  maldição  da  mão  que  estava  presa. 
CAM.,  Lus.,  cant.  3,  est.  69. 


Nunca,  nunca  tão  alto  me  clamaram 
Que  sós  som  Deus,  sós  pelo  esforço  humano 
Não  fariam  jamais  os  portuguezos 
O  que  hão  feito  no  mundo...  Dei  c'o  tumulo 
De  custoso  lavor  que  ahi  resguarda 
As  cinzas  do  monarcha  afiortunado. 
GARRETT,  CAMÕES,  cant.  3,  cap.  19. 


—  Olhar,  vêr,  attender,  considerar. 
Vid.  Esguardar. 

—  Reservar,  resalvar. 

—  Resguardar-se,  v.  refl.  Defender-se, 
acautelar-se,  vigiar-se.  —  «E  se  he  fa- 
mosa a  arte,  que  do  centro  da  terra  des- 
entranha o  ouro,  que  se  defeude  com 
montes  de  difficuldades,  naõ  he  menos 
admirável  a  do  ladraõ,  que  das  entranhas 
de  hum  escritório,  que  fechado  a  sete 
chaves  se  resguarda  com  mil  artiiicios, 
desencóva  com  outros  mavores  o  thesou- 
ro,  com  que  se  melhora  de  fortuna.»  Ar- 
te de  furtar,  cap.  1.  —  «E  porque  estes 
comunmente  sam  muito  rigurosos,  e  le- 
vam todo  por  rigor  de  justiça,  destes  tra- 
balham mais  os  Louthias  de  se  resguar- 
dar que  os  nam  comprendam  em  culpas.» 
Frei  Gaspar  da  Cruz,  Tratado  das  cou- 
sas da  China,  cap.  17. 

E  o  Pastor  ocioso  na  choupana, 

Alverguo  da  innoconcia,  imper^-io  ao  crime. 

Mal  se  resguarda  do  entranhado  Inverno. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Caut.  1. 

—  Resguardar-se  dos  inimi/jos ;  yigiar- 
se  d'elle3. 

—  Resguardar-se  de  alimentos  insalu- 
bres; ter  resguardo,  ter  dieta. 

RESGUARDO,  s.  m.  Cuidado  cauteloso, 
precaução,  vigilância  que  se  põe  em 
evitar  algum  damno,  mal,  perda,  erro 
ou  perigo.  —  Ter  grande  resguardo.  — 
«Orlanda  que  era  a  mais  velha  d'ellas, 
e  gram  sabedora  n'aquella  arte,  a  curou 
com  tanto  resguardo,  como  a  pessoa  a 
que  o  já  devia,  provendo-se  do  necessá- 
rio d'uma  botica  que  o  gigantfe  costuma- 
va ter.»  Francisco  de  Moraes,  Palmei- 
rim d'Inglaterra,  cap.  28.—  «Daili  le- 
vado ao  castello  o  curaram  com  todo  res- 
guardo, inda  que  o  maior  mal  que  sen- 
tia, e  a  ferida  que  o  mais  atormentava, 
era  cuidar  que  de  todo  o  desamparava  a 
esperança  de  poder  cobrar  sua  senhora.» 
Ibidem,  cap.  130.  —  «E  como  nesta  se- 
gurança de  que  elle  quis  vsar  o  maior 
risco  era  sua  fjizenda,  e  não  em  cousas 
de  que  pudesse  dar  conta  que  teuera 
pouco  resguardo  em  se  confiar,  no  tem- 
po que  andarão  estes  recados  de  suas 
vistaíi    depois   que    assentou  com  elRey 


RESG 


237 


onde  auião  de  ser.»  Barros,  Década  1, 
liv.  5,  cap.  4.  —  «Com  regimento,  que 
em  nenhuma  maneira  fizessem  preza, 
nem  tomadia,  ante  procurassem  paz,  dan- 
do do  seu  per  onde  quer  que  fossem,  e 
assentassem  padrões,  e  as  terras  nas  car- 
tas, e  outros  muitos  avisos,  e  resguar- 
dos, que  convinham  pêra  tão  novo  des- 
cubrimento.»  Idem,  Década  2,  liv.  6, 
cap.  7.  —  «Mas  com  todo  este  resguardo 
o  Piloto,  e  officiaes  da  náo  a  mettêram 
nas  correntes  das  Ilhas  de  Maldiva,  e 
foram  dar  com  ella  em  huma,  a  que  cha- 
mam Candaluz.»  Ibidem,  liv.  7,  cap.  1. 
—  «E  com  quãto  isto  se  fez  com  todo  o 
tento  e  resguardo  possível,  nào  pôde  ser 
tanto  a  nosso  salvo  que  a  arvore  grande 
nào  levasse  debaixo  de  sy  quatorze  pes- 
soas, om  que  entrarão  cinco  Portugue- 
ses, os  quais  todos  ficarão  aly  amassados, 
arrebentando  cada  hum  dèlles  por  mil 
partes,  que  foy  huma  cousa  lastimosíssi- 
ma de  ver,  e  que  a  todos  nos  derrubou 
os  espritos  de  tal  maneyra,  que  ficamos 
como  pasmados.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  137.  —  «Mas  nem 
assi  se  pode  fazer  com  tanto  resguardo 
que  os  moradores  do  lugar  o  não  soubes- 
sem, e  se  saíssem  com  suas  molheres,  fi- 
lhos, e  o  melhor  de  suas  fazendas,  coiiã 
tudo  Nuno  fernandez  que  leuaua  a  dian- 
teira, captiuou  cincoenta  almas,  e  dalli 
se  tornarão  aos  aduares  de  Cide  Ihea- 
benfuf,  com  tenção  de  irem  todos  a  Mar- 
rocos.» Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  3,  cap.  49.  —  «Ho  anno 
seguinte  que  foy  de  quoarenta  e  nove  foy 
mais  riguroso  resguardo  na  costa  pollos 
capitães  darmada,  e  mayor  vigilância  nos 
portos  e  entradas  da  China,  de  maneira 
que  nem  fazendas,  nem  mantimentos  vi- 
nham aos  Portuguezes.»  Frei  Caspar  da 
Cruz,  Tratado  das  cousas  da  China,  cap. 
24.  —  «ilostciros,  recolhimentos,  e  ou- 
tros resguardos  semelhantes,  em  que  os 
homens  depositam  suas  nudheres,  não 
deixam  do  ser  arriscados  ;  e  de  certo, 
quando  a  occasião  não  seja  muito  urgen- 
te, é  usar  com  as  mulheres  ruim  lei,  e 
fixltar-lhes  com  a  fé,  e  companhia  devi- 
da; porque  se  cada  uma  d'aquellas  qui- 
zera  ser  freira,  bem  escusara  de  se  ca- 
zar.»  D.  Francisco  Manoel  -de  Mello, 
Carta  de  guia  de  casados. 

—  Gente  ou  diligencia  que  se  põe  para 
vigiar  e  acautelar  o  mal. 

—  Dar  resguardo  ;  levar  em  vigia. 

—  Prevenção  para  segurar  a  consecu- 
ção de  algum  fim. 

—  Balaustres,  grades,  redes  de  arame 
e  tudo  o  que  cobre  e  evita  a  chegada  a 
alguma  cousa  para  lhe  não  causar  damno. 

—  Dar  resguardo  ;  evitar,  desviar  o 
damno  a  alguém,  fazer  signal  que  o 
evite. 

—  Resguardo  do  segredo ;  cuidado,  pre- 
caução para  que  elle  se  não  revele. 

—  Respeito,  attenção,  acatamento. 


238 


RESI 


—  No  sentido  moral,  tudo  o  quo  serve 
para  resguardar  alpunia  pessoa  de  alfíuin 
inconveniente.  — Jlapuriíjas  sew  resguar- 
do, nem  ilecuro. 

—  De  resguardo;  de  reserva,  sobrese- 
lente. 

—  Cuidado  quo  o  doente  deve  ter  na 
dieta,  e  ])recanv(')03  para  evitar  rocaliida. 
—  Ter  resguardo  non  iloentes. 

—  Al)A<ilO  K   PUOVKUBIO  : 

—  Na  hacca  do  sacco  está  a  rc^'ra,  o 
o  resguardo. 

f  RESGUATE,  «.  m.  Vid.  Resgate.  — 
«E  foy  wolto  fazendo  a  el  Rey  concerto, 
e  capitulação  do  sempre  ser  a  seu  serui- 
ço,  porque  ao  tal  temiio  oUe  estaua  mal, 
e  eia  iini^o  de  Jloleyxeque  Rey  do  Fez, 
o  tinha  cora  elle  gu  rra,  o  sabia  que  el 
Rey  continuamente  Ília  mandaria  fazer 
como  fazia.  E  c<to  resguale  nào  ouue 
ctfcvto,  porque  daiiy  a  poucos  dias  for.Mio 
liurcmontc  soltos  os  fillios,  e  arrefens  de 
Barraxe,  c  dados  por  dom  António,  filho 
do  Conde  de  ViUa  Real,  que  sendo  Ca- 
pitSo  em  Ceyta  por  seu  pay  foy  dos  Mou- 
ros em  hunia  peleja  muy  ferido,  e  cati- 
uo,  como  ao  diante  so  ilirá.»  (iarcia  de 
Rezende,  Chronica  de  D.  João  II,  capitu- 
lo GS. 

"  RESICAÇÃO,  s.  /.  O  estado  do  que  es- 
tá rusicado. 

RESICADO,  parf.  pass.  de  Resicar.  Mui- 
to seei'o,  mirrado. 

—  Falto  de  líquidos. 

RESICAR,  ou  RESIGCAR,  i'.  a.  ^De  re, 
e  do  latim  siccare).  Termo  de  medicina. 
Secc.ar  muito,  queimar.  —  Resicar  as  en- 
tranliaí!. 

RESIDÊNCIA,  s.  /.  Morada  continua, 
em  alííum  logar,  em  alguma  cidade,  em 
algum  paiz.  —  «Que  os  Grandes  vem  vi- 
sitar 03  Religiosos  ás  suas  Cellas,  onde 
fazem  gostoza,  e  continuada  residência.» 
Cavallciro  d'01iveira,  Cartas,  liv.  1,  n.» 
28.  —  «Sabe  a  mesma  alma  que  esta  re- 
sidência não  he  mais  do  que  huma  pas- 
sagem para  a  viagem  eterna,  e  quo  nào 
tem  mais  tempo  para  preparar-^e  quo 
aquelle  pouco  que  dura  a  vida.»  Ibidem, 
liv.  ;5,  cap.  40. —  «íiivreuos  Dcos  a  to- 
dos de  otlereoimentos  secretos,  que  cor- 
rem sua  fortuna  sem  testemunhas,  acei- 
tos torcem  logo  as  meadas  até  quebrar  o 
fiado  polo  mais  fraco;  e  a  poder  de  nós 
cegos  o  fazem  parecer  inteiro;  até  nas 
residências,  onde  so  daõ  em  se  fazerem  as 
barbas  huns  aos  outros,  fica  tudo  sem 
remédio,  e  com  a  mayor  parte  da  preza 
em  Imm  momento,  quem  nos  hia  restau- 
rar dos  damuoâ  de  hum  triennio.»  Arte 
de  furtar,  cap.  4.  —  «N'estas  quatro  co- 
lónias, que  se  estendem  por  mais  de  qua- 
trocentas léguas  de  co-sta,  tem  a  compa- 
nhia dez  residências,  que  sSo  como  ca- 
beças de  ditferentes  ehristandades  a  ellas 
annexas,  a  que  acodem  os  missionários 
de  cada  uma  em  continua  roda,  segundo 
a  necessidade  e  disposição  que  se   lhes 


RESI 

tem  dado.»    Padre    António   Vieira,  Car- 
tas, n."  17. 

—  OÍTicio  de  residente.  Vid.  Amaro. 

—  Fitzcr  residência  fm  alguma  parte; 
estacionar  alli,  fazer  alli  a  sua  morada. 
—  aE  com  elle  tornou  a  Portugal,  quan- 
do lio  (licto  Du(jue  dõ  Diogo,  depois  de 
conualocer  da  djença,  que  Uic  ostoruou 
sua  ida,  foi  fazer  residência  em  Castella 
per  caso  das  ti^rçarias  do  1'rincipe  dom 
Afonso,  e  da  Princesa  duna  Isabel,  das 
quaes  terçarias,  c  da  causa  porque  se 
ordenaram,  e  desfezeram,  se  trata  copio- 
samente na  Chronica  dei  Rei  dom  Afon- 
so, pelo  que  tenho  por  cxcusado  fallar 
aqui  nellas,  por  ser  fora  de  seu  lugar.» 
Damião  de  Coes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  1,  cap.  5. 

—  Comparecimento  do  réo,  que  está 
seguro  em  juizo,  e,  se  nào  comparece, 
quebra  a  residência. 

—  Exame,  ou  informação  que  se  tira 
do  procedimento  do  juiz,  ou  governador 
a  respeito  de  como  procederam  nas  cousas 
do  seu  officio,  durante  o  tempo  que  resi- 
diram na  terra  onde  o  exerceram. —  Tirar 
residência.  —  «E  porque  lhe  tinhão  che- 
gado novas  da  morte  de  D.  Joaõ  Henri- 
ques (iipitaõ  de  Ceilaò,  despachou  pêra 
aquilia  fortaleza  Dom  Duarte  Deça,  e 
assim  o  fi'z  também  às  nãos  de  Jlalaca, 
em  que  mandou  o  Licenciado  Fiancisco 
Alvarez  pêra  hir  tomar  residência  a  D. 
Pedro  da  Silva  da  Gama,  e  pêra  fazer 
outras  cousas  que  conviniiaõ  ao  serviço 
do  EiRey.»  Diogo  de  Couto,  Década  (i, 
liv.  10,  cap.  0. 


Cria.   E  cu  tomár.i  residência 

:io  corregedor  •,  pào  d'arca 
n;i  cominarca 

diintre  r|ueijo  e  consciência •, 
não  iiietter  agora  cm  barca 
j;nitav  piroz  ou  prudência. 

.\2iX0MI0  PBESTE9,  ACIOS,  pSg.  275. 


—  o  tempo  que  dura  a  residência. 

—  Loc.  FiG.:  í)rtr  íKfí  residência ;  dar 
conta  da  vida  c  acções  em  juizo  a  Deus. 

—  Di'purar  puv  residência;  deixar  re- 
pousar o  liquido  para  as  impuridades  as- 
sentarem no  fundo  do  vaso. 

—  Dar  residência;  entregar  um  go- 
vernador, ou  capitão  as  chaves  da  cida- 
de, ou  praça,  ao  menos  da  principal,  ao 
successor. 

—  Casa  i-eligiosa,  que  não  era  eolle- 
gio,  nem  casa  professa,  nem  granja,  nem 
casa  de  prazer, 

—  O  logar  da  residência. 

—  Syx.  :  Residência,  domicilio.  Vid. 
este  ultimo  vocábulo. 

RESIDENCIAR,  v.a.  Tomar  residência. 

. —  Indairar,  informar,  examinar. 

1.)  RESIDENTE,  part.  act.  de  Residir. 
Que  resido,  que  está  de  assento  em  al- 
gum logar,  cidade,  casa. 

2.)  BlESIDENTE,  5,  1/1.  Miuistro  que  as- 


RESI 

siste  em  corte  estrangeira,  e  que  é  me- 
nos qu»)  um  embaixador,  jx^rém  mais  que 
um  ;i;;(-nte. 

RESIDENTEZA,  «.  /.  Mulher  do  resi- 
dente. 

RESIDIDO,  part.  paus.  de  Residir.  Clo- 
rado, halntado. 

RESIDIR,  V.  a.  (Do  latim  ruidere).  Fa- 
zer uma  morada  cm  algema  parte.  — 
Residir  ;í'iihi  lugar.  —  Residir  em  Liê- 
òíMt.  — Residir  'juasi  ncmprt  na  sua  terra. 

—  «Residio  todo,  ou  o  mais  do  tempo  em 
Roma,  desaprovando  nisto  o  conselho  de 
seu  antecessor;  mas  com  madura  consi- 
deração, dizendo  que  além  do  Príncipe 
ser  pesado  aos  lugares,  por  onde  passa 
com  a  muita  gente  que  de  ordinário  se- 
gue a  corto  Honarchia  Lusitana,  liv. 
,"),  cap.  \?>.  —  « l'ara  Vcador  do  Duque 
do  Sabóia  lua  D.  Juaò  de  Almeida  de- 
pois Conde  de  Assumar,  Embaixador  do 
imperador  Carlos  sexto,  quando  residio 
em  Barcelona,  e  do  Conselho  de  Esta- 
do. «  Frei  Bernardo  de  Brito,  Elogios  dos 
reis  de  Portugal,  continuados  por  D.  Jo- 
sé Barbosa.  —  «E  quo  esta  era  a  cansa 
porque  mandaua  fazer  fortiileza  em  So- 
cotorâ,  pêra  ali  residir  huma  armada, 
que  defendesse  a  entrada  e  saída  do  es- 
treito do  mor  Roxo  a  esta  gente.»  Bar- 
ros, Década  2,  liv.  4,  cap.  2.  —  «O  Rey 
da  China  reside  o  mais  do  tempo  nesta 
cidade  do  Pequim,  por  assi  o  prometer  e 
jurar  no  dia  da  sua  coroação,  era  que  lho 
metem  na  mão  o  cetro  de  todo  o  governo, 
do  qual  ao  diante  ti"atarcy  hum  pouco. » 
F.rnào  Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap. 
112.  —  «O  Rei  he  rico,  e  })oderoso,  pur 
caso  dos  muitos  portos  do  mar  quo  tem 
onde  ordinariamente  entram  muitas  naoa 
carregadas  de  mercadorias,  de  que  lhe  pa- 
gam dii'eitos  :  traz  sempre  muita  gente  a 
soldo,  tem  muitas  vezes  guerra  com  os  de 
Narsinga,  o  mais  do  tempo  reside  nas  ci- 
dades do  sertam,  e  na  de  Coulam  tem  sem- 
pre por  regedores,  e  gonernadores  pessoas 
prineipaes  de  seu  regno. »  Damiiío  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  79. 

—  «Nuno  fernandez,  como  teue  pelos 
mesmos  mouros  da  terra,  a  noua  deste 
cerco,  anisou  el  Rei  per  via  de  mercado- 
res Christaõs  que  residião  em  Azamor, 
e  assi  per  via  do  Ci\stello  do  loiio  lopez 
de  Siqueira,  que  he  o  do  Sancta  Cruz, 
como  per  via  de  Calez.»  Ibidem,  part. 
:>,  c.rp.  11.  —  «E  com  elles  tomou  todo- 
los  merciídores  christ.ão3  que  alli  resi- 
diam, de  que  os  mais  er.am  Genoeses,  o 
Castelhanos,  os  quais  todos  trouxe  ao 
castello  de  Sancta  Cruz.»  Ibidem,  part. 
4,  cap.  51. —  tDa  cidade  Doucheo,  qno 
he  onde  reside  ho  governodor  de  Cansi 
o  Cantam  ate  ho  estremo  da  provincia 
de  Cansi,  que  sam  lugares  mais  perigo- 
sos: ha  continuamente  armadas  de  co- 
renta  cincoenta  emb.arcaçòe^ :  tod.os  es- 
tas guardas  c  vigias  so  p.agam  das  ren- 
das comuas  do  re_\Tio. »  Fr.  Gaspar  da 


RESI 


RESI 


RESI 


239 


Cruz,  Tratado  das  cousas  da  China,  liv. 
9.  —  «E  deixado  o  Keyno  Abel,  que  Lhe 
fica  mais  vizinho,  damos  na  sua  metropô- 
Iv,  que  he  a  Cidade  Zevla,  em  que  os 
Rers  deste  Reyno  sempre  residem,  a 
qual  fica  antes  das  portas  do  Estreito 
26.  legoas  alem  da  qual  está  a  boca  do 
sino  Arábico,  que  tem  de  lai'go  três  e 
mea,  ficando  bem  na  sua  gargàta  huma 
Ilha  chamada  Babel  Maudel.»  Fr.  Gas- 
par de  S.  Bernardino,  Itinerário  da  ín- 
dia, cap.  7.  —  «Nella  residem  continua- 
mente, quinhentos  Portugueses  de  paga, 
cõ  sua  praça  darmas,  e  corpo  de  guar- 
da. Dentro  nella  ha  três  cisternas  muy 
grandes,  das  quaes  senão  gasta  mais  que 
em  tempo  de  cerco,  e  extrema  necessi- 
dade, e  por  esta  causa,  estào  sempre  qua- 
si  cheas.p  Ibidem,  cap.  11. —  «O  D.  Ma- 
noel Lobo  da  Costa  Practico  prudente, 
experto,  e  estudiozo  residindo  na  Yiila 
de  Ourem  assistio  a  António  Homem  de 
Magalhaeas  Cavalliero  principal  daquel- 
la  Terra;  o  qual  padeceo  por  largos  tem- 
pos o  mesmo  achaque  da  propensão  ao 
somno,  que  nelle  era  de  sorte  invencível, 
que  muytas  vezes  ate  com  o  bocado  na 
boca  se  esquecia:  e  dormitava.»  Braz 
Luiz  d'Abreu,  Portugal  medico,  pag.  488, 
§  166.  —  «Colomb  residiu  algum  tempo 
em  Islândia,  cujos  nauegadores,  está  ho- 
je fora  de  toda  a  dúvida,  conheciam  o 
norte  da  America  muito  antes  d'elle.» 
Garrett,  Camões,  nota  A  ao  canto  4.  — 
«Foi  ministro  e  logo  embaixador  de  In- 
glaterra em  Lisboa,  e  n'este  character 
residia  quando  se  concluiu  o  casamento 
d'el-rei  Carlos  U  com  a  infanta  D.  Ca- 
tharina.  Foi  depois  embaixador  em  Ma- 
drid onde  morreu  em  1666.»  Ibidem,  no- 
ta D  ao  canto  7. 

—  Diz-se  de  Deus.  —  Deus  está  pre- 
sente por  toda  a  parte,  porém  reside  de 
um  modo  particular  nos  templos. 

—  Figuradamente :  AUi  reside  a  inno- 
cencia  e  a  paz.  —  No  palácio  dos  reis, 
onde  a  felicidade  parece  residir. 

—  Existir  em  alguma  parte.  —  A  so- 
berania reside  no  povo. 

—  Figuradamente:  Consistir. — A  ques- 
tão, a  dijiculdade  reside  n'isto.  —  Eis 
onde  reside  a  questão,  a  dijiculdade. 

—  Assistir  pessoalmente.  —  Os  bispos 
devem  residir.  —  Ha  beneficios  que  obri- 
gara a  residir. 

resíduo,  s.  m.  (Do  latim  residuum). 
O  restante,  o  sobejo,  o  excesso,  o  resto. 
—  Um  fraco  resíduo. 

—  Termo  de  arithmetica.  Numero  que 
fica  de  uma  divisão.  —  O  resíduo  d'esta 
divisão  é  de  tanto.  —  Diz-se  de  ordinário 
resto. 

—  Termo  de  chimica.  O  que  fica  de 
uma  ou  mais  substancias,  solidas  ou  li- 
quidas, submettidas  a  uma  operação  me- 
chanica  ou  chimica. — Fraco  resíduo. — 
Resíduo  inodoro,  terroso. 

—  O  officio  do  provedor  do  resíduo,      j 


—  O  que  fica  no  alambique  depois  da 
distillaçào,  ou  de  corpos  descompostos, 
que  se  resolveram  em  outros. 

—  O  resíduo  da  noute. 

—  O  resíduo  da  febre, 

—  Casa  dos  resíduos;  casa  composta 
de  vários  officiaes,  que  arrecadam  o  di- 
nheiro, que  o  defunto  deixou  para  obras 
pias;  que  revêem  as  contas  que  dão  aos 
juizes  dos  orphàos;  que  provêem  sobre 
capellas,  albergarias,  confrarias,  etc. 

—  Os  resíduos  das  matérias  vegetaes, 
e  animaes, 

RESIGNAÇÃO,  s.  f.  Demissão  de  um 
beneficio. — Resignação  pui-a  e  simples. 
—  Resignação  em  favor  de  alguém. 

—  Submissão  á  sua  sorte,  á  sua  des- 
graça. —  Sojf-rer  sua  sorte,  sua  desgraça, 
seu  êxito  com  resignação.  —  Mostrar  mui- 
ta resignação. 

—  Xo  sentido  moral :  Submissão  á  Pro- 
videncia, á  vontade  de  Deus.  —  Morrer 
com  uma  grande,  uma  inteira  resignação 
d  vontade  dos  céos. —  Morrer  com  uma 
resignação  muito  edijican>e.  —  Não  tem 
consolação  senão  nfurna  resignação  inteira 
á  vontade  do  Ente  Supremo.  —  «  E  do  tal 
modo  vos  alheai  de  vos,  e  de  todo  o  mais 
como  se  nunca  viuereis.  ou  fôreis  ja  mor- 
to :  em  todas  as  cousas  buscai,  e  procurai 
a  hom-a  de  Deos,  com  grande  attenção, 
ao  cumprimento  de  sua  diuina  vontade 
de  sorte,  que  com  vossos  desejos,  e  ora- 
ções ajunteis  resignação  de  vossa  vonta- 
de na  do  Senhor,  e  affectuoso  rogo,  que 
a  sua  se  laça.»  Frei  Bartholomeu  dos 
Martyres,  Compendio  de  espiritual  dou- 
trina. —  «  Xào  vos  queixeis  da  severida- 
de de  minhas  máximas;  que  são  as  má- 
ximas christans  quem,  meu  filho,  me  con- 
servarão esta  vida;  e  a  minha  resigna- 
ção na  vontade  celeste  me  deo  a  força 
com  que  sobrevivi  á  morte  de  vosso 
Pae.B  Francisco  Manoel  do  Nascimento, 
Successos  de  madame  de  Seneterre. 

—  Resignação  da  própria  vonUide;  con- 
formaado-se  com  u  que  lhe  é  adverso. 

RESIGNADAMENTE,  adv.  (De  resigna- 
do, com  o  suffixo  «mente»}.  De  um  mo- 
do resignado. 

—  Com  resignação,  submissamente. 
RESIGNADÍSSIMO,  A,  adj.  Superlativo 

de  Resignado.  Mui  resignado. 

RESIGNADO,  part.  pass.  de  Resignar. 
Renunciado. 


A  calva  occasião  é  esta  agora. 
Corramoá-lhe  ao  incontro :  generoso 
E  magnânimo  é  Júlio  :  hade  qucbrar-llie 
As  iras  todas  submissão  tam  piompta, 
Tani  resignada  :  —  e  nós  salvoí,  bcmquistos 
Do_  Senhor  do  universo,  porventura 
Qujnhoaremos  também  nos  seus  despojos. 

GABBETT,  CATÃo,   act.    1,   SG.   3. 


—  Resignado  com  a  sorte;  ter  a  pró- 
pria vontade  sujeita  á  sorte.  —  «  Muito 
me    consola    essa   vossa    gratidão,    e    de 


mim  mesma  me  envergonhara,  se  experi- 
mentasse a  menor  repugnância  a  d'ella 
me  aproveitar.  Mas,  Suzanna  minha,  os 
effeitos  delia  convém  que  os  limites;  que 
resignada  estou  já  co'a  minha  sorte,  e 
mais  carência  tenho  de  socego  que  de 
opulências.»  Fr.ancisco  Manoel  do  Nasci- 
mento, Successos  de  madame  de  Sene- 
terre. 

—  Resignado  com  os  trabalhos,  nas 
doenças,  etc;  ter  a  própria  vontade  su- 
jeita aos  trabalhos,  ás  doenças,  etc. 

RESIuNANTE,  part.  act.  de  Resignar. 
Que  se  resigna. 

—  Que  renuncia. 

—  >S'.  2  geyi.  Pessoa  que  resigna. 
RESIGNAR,  V.  a.  (Do  latim  resignare). 

Renunciar.  —  Resignar  o  beneficio. 

—  Demittir-se  de  um  officio. 

—  Resignar  a  própria  vontade ;  sujei- 
tar, limitar  a  sua  vontade  a  algum  res- 
peito, conformar-se  á  vontade  dos  ou- 
tros. 

—  Resignar-se,  v,  rejl.  Render-se,  en- 
tregar-se  á  vontade  d'outrem.  —  « Essa 
Suzanna  me  careou  o  animo  de  maneii'a, 
e  tanto  de  mim  se  deo  a  amar,  que  eu 
ante-poséra,  sem  a  menor  dúvida,  viver 
pobre  com  Suzanna  e  com  meu  filho,  a 
essas  opulências  sem  um  dos  dous ;  nem 
o  meu  coração  sabia  fazer  entre  elles 
differença.  Que  alma  tão  nobre!  Como 
ria  sua  sorte  se  sabia  resignar!»  Fran-. 
cisco  Manoel  do  Nascimento,  Successos 
de  madame  de  Seneterre. 

—  Submetter-se. 

—  Entregar-se  nas  mãos  de  Deus. 
RESIGNATARIO,  s.  m.  Homem  em  que 

se  resigna  o  beneficio. 

RESILIAÇÃO,  s.  f.  A  acção  de  resilir. 

—  Termo  de  jurisprudência.  Annul- 
laçào  de  um  acto.  —  Resílíação  de  um 
contracto. 

f  RESILIDO,  2J«/-í.  pass.  de  Resilir. 
luvaliiiado,  rescindido. 

RESILIR,  V.  a.  e  ?;.  (Do  latim  resilire). 
Termo  de  jurisprudência  e  de  theologia. 
Arrepender-se,  negar-se  ao  cumprimento 
do  contracto  estipulado,  e  mormente  dos 
esponsaes,  para  o  que  em  direito  canóni- 
co se  apontam  caiLsas  legitimas. 

■ —  Tornar  nuUo,  resciso  qualquer  con- 
tracto. 

RESINA,  s.  f.  (Do  latim  resina).  Termo 
de  chimica.  Matéria  inflammavel,  gorda 
e  unctuosa,  de  um  cheiro  e  de  um  sabor 
mais  ou  menos  pronunciado,  semi-trans- 
parente,  de  uma  côr  amarellada,  ardendo 
com  uma  chamma  amarellada  e  fumara- 
da  negra,  e  dimanando  de  certas  arvores, 
taes  como  o  pinheiro,  o  terebintho,  o  la- 
rix  e  a  aroeira,  etc.  Ha  umas  resinas  mais 
liqiddas  que  outras.  —  A  resina  dissolve- 
se  em  espirito  de  vinho  e  electrisa-se  pelo 
attrito. 

—  E  o  nome  collectivo  de  um  grande 
numero  de  productos  vegetaes,  que  go- 
zam da  propriedade  dos  ácidos,   isto  é, 


240 


RESI 


RESI 


RESI 


qiio  poflcni  combinar-se  com  as  basos  Boli- 
dificaveirt.  Sua  natureza  nilo  ó  aitiila  bom 
conlicoida;  pároco  «or  o  jiroducto  tio  oloo 
votatil  coiidoiiHado  nas  celliilas  d'cf(tes 
corpofl  orpaiiicoH. 

—  Na  liiipiiafíem  ordinária,  dá-so  esto 
nomo  ao  rosidiio  da  di»tilla(;rio  do  tero- 
binthina. 

—  Diz-rto  particularmonte  da  resina  ex- 
traliida  dos  pinlielros.  —  Um  archote  de 
resina. 

—  Diz-so  também  uma  mistura  do  três 
])art08  do  alcatrjlo  sccco,  o  do  uma  parto 
do  .galipodio,  quo  se  afuudam  juntamon- 
to,  o  ([uo  se  passam  atravoz  do  uma  es- 
teira do  palha, 

—  Ti;rmo  de  botânica.  Resina  elástica; 
gomma  elástica  ou  caoutcbuc. 

—  Resina  hiUaria ;  substancia  resino- 
sa, extraliida  da  distilla^'rio  da  bills. 

—  Resinas  animaes;  substancias  resi- 
nosas que  se  encontram  nos  corpos  orga- 
nisados  dos  animaes.  Suas  propriedades 
difFerem,  em  certas  relações,  das  resinas 
vcgctaes,  e  representam  um  grande  papel 
em  medicina. 

—  Resina  da  terra;  o  enxofre. 
RESINADO,  i>nrt.  pass.  de  Resinar. 

—  Kcsineuto,  da  naturc2a  da  resina. 

—  Termo  do  pharmacia.  Vinho  resi- 
nado; vinho  saturado  do  resina  de  pi- 
nheiro. 

RESINAR,  V.  a.  Vid.  Resignar. 

RESINATO,  s.  m.  (Do  latim  resina). 
Termo  do  chimica.  Nome  dado  ás  com- 
bÍMa(,'õos  das  resinas  com  as  bases  solidi- 
licavois. 

f  RESINEINA,  s.  f.  Termo  do  chi- 
mica. Olco  obtido  pela  distillaç.ão  da  co- 
lophonia. 

RESINENTO,  A,  adj.  Que  tem  resina, 
da  naturoza  da  resina. 

t  RESINEONE,  s.  /.  Termo  de  chimi- 
ca. Um  dos  productos  da  distillação  da 
osse.ncia  de;  tercbinthiua. 

RESINETE,  s.  m.  Vid.  Hydrophane. 

RESINGA,  s.  /.  Termo  popular.  Dis- 
puta, altorração. 

RESINGAR,  u.  n.  Termo  popular.  Dis- 
putar, altercar,  ter  razões. 

—  V.  a.   Pleitear  ralhando,  altercar. 
RESINGUEIRO,  A,  adj.  Habituado  a  re- 

singar,  a  disputar. 

RESINHAR,  V.  a.  Vid.  Resignar. 

f  RESINIDE,  adj.  2  gen.  Termo  de 
chiniic-a.  Que  se  assemelha  á  resina. 

RESINIDEOS,  s.  m.  plur.  Vid.  Polydeo- 
teos. 

t  RESINIFERO,  A,  adj.  (Do  latim  »e- 
sinifcriif:).  Termo  do  botânica.  Que  for- 
ucoe  a  resina. 

RESINIFICAR-SE,  v.  rejl.  Converter-sc 
em  resina. 

RESINIFORME,  adj.  2  gen.  (Do  latim 
resinijormis,  de  resina,  o  forma).  Que 
tem  a  apparencia,  o  aspecto  de  uma  re- 
sina. 

RESINI-GOMMA,  s.  f.  Nomo  dado  a  cor- 


tas  substancias  quo  participam  da  natu- 
reza das  ri'8Íiias  o  das   goiíimas. 

RESINITE,  adj.  2  fjen.  Termo  de  uii- 
neralogia.  (}w:  tom  o  aspecto  de  uma  re- 
sina.    -  (iiKiriz  resinite. 

RESINO  AMARGO,  *.  m.  Termo  de  chi- 
ndca.  NoNii!  dado  ao  aloé,  que  constituo 
eflVctivaineiitc  lima  substancia  particular. 

RESINOCERUM,  s.  vi.  Termo  de  phar- 
maciji.  Medicamento  composto  de  uma 
mistura  dn  resina  o  de  cera. 

t  RESINO-EXTRACTIVO,  adj.  Termo  de 
chimica.  (lUie  participa  das  propriedades 
fias  i(^siiias,  e  das  dos  extractos. 

RESINO-GOMMOSO,  A,  adj.  Termo  de 
chimica.  i^yv\  ])articipa  das  j)ropriedade8 
da  gomma,  o  da  das  resinas. 

RESINOIDE,  ou  RESINOIDEO,  A,  adj. 
( I  )i)  latim  resina,  e  do  grego  eid<js).  Ter- 
mo de  chinúca.  Que  tem  -a  apparencia 
de  uni;i  rtísina. 

•j-  RESINOMA,  s.  /.  Termo  de  chimica. 
Producto  difieronte  da  resineone  obtido 
da  mesma  f('irma  pela  distillayão  da  es- 
sência de,  terebinthina. 

RESINOSO,  A,  adj.  (De  resina,  com  o 
suffixo  «oso»).  Que  produz  a  resina,  que 
tem  d'ella  algumas  qualidades.  —  Arvo- 
re resinosa.  — ■  Pão  resinoso.  —  Gosto 
resinoso.  —  Cheiro  resinoso. 

—  Diz-se  das  plantas  que  são  cobertas 
de  um  sueco  viscoso  de  natureza  resinosa ; 
ou  dos  cogumelos  que  crescem  nos  tron- 
cos dos  pinheiros.  —  Poh/poro  resinoso. 

—  Termo  de  phvsica.  Electricidade  re- 
sinosa ;  aquella  que  so  desenvolve  quan- 
do SC  roça  a  resina,  e  outras  substancias 
análogas. 

RESINULA,  s.  /.  Termo  de  chimica. 
Nome  sob  quo  se  designam  algumas  ve- 
zes 03  corpos  chamados  suli-resinas. 

RESIO,  s.  m.  Vid.  Recio,  Ressio,  e  Ro- 
cio. —  « Começaram  a  matar  todoUoa 
christãos  novos  que  achauam  pelas  ruas, 
o  os  corpos  mortos,  e  meos  viuos  lança- 
uam,  e  queimauão  cm  fogueiras  que  ti- 
nhão  feitas  na  ribeira,  e  no  resio  ao  qual 
negocio  Ihts  seruiào  escrauos,  o  moços, 
que  com  muita  diligencia  acarrctauào  le- 
nha, e  outros  materiaes  pêra  acender  o 
fogo,  no  qual  domingo  da  Pascoclla  ma- 
tarão mais  de  quinhentas  pessoas.»  Da- 
mião de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  1,  cap.  102. 

—  Fiíur.idamonte:  Prazer,  deleite. 
RESIPISCENCIA,  s.  /.    (Do  latim    resi- 

piscentia).  Kcconhocimento  da  falta  com 
A  emenda.  —  Chegou  em  Jim  á  resipis- 
cencia. 

—  Emenda  que  toma  o  que  ia  errado, 
e  mal  moralmente. 

RESISTADO,  part.  pa.''s.  de  Resistar. 
A'il.  Registado,  e  Registrado. 

RESISTAR,  V.  </.  \id.  Registar,  c  Re- 
gistrar. 

RESISTÊNCIA,  s.  f.  (Do  latim  resisten- 
tia).  Qualidade  pela  qual  um  corpo  re- 
siste á  acção  de  um  outro  corpo. 


—  A  reacção,  força,  obstáculo,  quo 
uma  couf^a  ojipòe  a  outra,  que  bc  movo 
contra  cila. 

—  Resistência  da  vontade  ;  que  nega, 
o  repugna  cfmseutir,  soffnr,  obedecer. 

—  Embaraço,  diflicubiadc,  obstáculo. 
—  «Na  qual  estes  inimigos  eruevs  c  des- 
humanos  fazi.^o  tamaidio  estrago,  «em 
acharem  resistência  <m  contradição  algu- 
ma, que  em  s<')S  cinco  dias  se  disse  que 
matarão  quatorze  mil  pe.SHoas,  e  toila«  es- 
ta», ou  a  mayor  parte  delias  foraò  mo- 
Iheres  e  criãçaa  e  homens  velhos  que  nâo 
podiSo  tomar  arma«.  E  desengan&do  o 
Koolim  que  trouxera  a  carta  das  falsaa 
promessas  deste  tyrSno,  e  assaz  descon- 
tonte  do  pouco  respeito  que  se  lhe  tive- 
ra, lhe  pedio  licença  para  se  tornar  á  ci- 
dade.» Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  154. 

Nisto  põe  o  Falcão  sua  cloqucncia, 
Sou  mando,  sou  poder,  sua  valia, 
Mas  aclia  no  temor  grãa  rtfistencia 
Que  então  a  si  g/iraontc  obedecia : 
E  vendo  que  nenhuma  diligencia 
Lhe  basta  a  dar  otFeito  ao  que  queria, 
Pondo  fogo  aos  oaiiOcs  d'alli  gc  parte 
E  deixa  quanto  podo  o  baluarte. 

F.   D'A!(nRADE,  FBIilEIBO  CEBCO  DE  DIU,  Cailt.  II, 
est.  15. 


—  «Porque  acontecendo,  que  duas  pes- 
soas de  igual  caridade  sejão  exercitadas 
huma  em  sentimcito  de  deuação,  e  ou- 
tra do  tentação,  e  tral.alho,  com  que  so- 
portc  alguma  intirmidade,  e  faça  diligen- 
cia e  guerra  por  vencer  alguma  imper- 
feição, naõ  menos  se  merecerá  neste  con- 
flicto,  que  na  presteza,  e  suauidado  da 
deuaçaõ:  mas  antes  na  paciência  da  ad- 
uersidade,  e  resistência  do  mal  auera 
mais  merecimento  se  legitimamente  se 
pelejar.»  Frei  Bartholomeu  dos  ilarty- 
res.  Compendio  de  espiritual  doutrina. 
—  «I  )cpois  de  biverem  transpost-:.  as 
montanhas  que  so  alteiam  desde  as  ribas 
septemtrionaes  do  Belon  até  Lastigi,  on- 
de a;  serranias  se  enlaçam  com  a.í  altu- 
ras de  Nescania,  tinham-se  assenhoreia- 
do  sem  resistência  da  cidade  episcopal 
d'Asido,  e,  descendo  dalli  para  os  val- 
les  quo  serpeiam  de  Gades  a  Segoncia, 
haviam  assentado  as  tendas  do  Islam  nas 
margens  do  Chí-vssus.»  Alexandre  Her- 
culano, Eurico,  cap.  9. 

—  Fazer  resistência  a  alguém ;  reais- 
tir-lho,  oppòr-se-Uie.  —  «Idacio  contan- 
do esta  entrada  dei  Rey  Rechila  cm  Me- 
rida,  diz,  que  hum  Conde  chamado  Cen- 
surio,  que  viera  por  Embaixador  .aos  Sue- 
vos, tornandose,  foy  cercado  em  Merto- 
la,  chamada  antigamente  Júlia  Mirtilis, 
índa  que  Idacio  corruptamente  lhe  cha- 
ma Misertilis,  e  que  sem  fazer  muyta  re- 
sistência so  entregou  pacificamei.te  a  Re- 
chila.» Monarchia  Lusitana,  liv.  O,  cap. 
G.  —  «E  a  gente  Eclesiástica  e  Secular 
costumada  iis  liberdades   e   solturas  em 


RESI 


RESI 


RESI 


241 


que  viviaõ  tinhaõ  o  animo  tào  debilita-lo, 
e  pouco  vigoroso  para  fazei-  resistência 
aos  vicios  que  permanecerão  na  ordem 
de  vida  passada,  dando  com  isto  pressa 
ao  castigo  Divino,  e  chamando  com  seus 
peccados  as  gentes  Barbaras  para  exe- 
cutores da  lastimosa  vingança,  que  cedo 
cahio  sobre  toda  Espanha.»  Ibidem,  liv. 
6,  cap.  30.  —  «Mas  como  desfavorecido 
dos  Lioneses,  naõ  podia  com  suas  forças 
fazer  tàta  resistência,  que  deixasse  de 
perder  muitas  Villas,  e  lugares  princi- 
paes  de  seus  estados.»  Ibidem,  liv.  7, 
cap.  25.  —  «Frey  loào  de  Sam  Genii- 
niano  diz  que  foy  ja  este  mar  de  tanta 
grandeza,  que  alagaua  toda  a  prouincia 
do  Egvpto,  e  com  sua  humidade,  fazen- 
do resistência  ao  Sol,  tomaua  a  côr  das 
eruas,  o  por  esta  causa  se  chamaua  o  5Iar 
Yenle.»  Fr.  Gaspar  de  S.  Bernardino, 
Itinerário  da  índia,  cap.  8. 

EUe  mudável  he. :  e  contra  o  fado 
Naõ  valo  dos  mortaes  a  diligencia ; 
Pois  8Ó  pôde  fazcr-lho  resistancia 
No  mudo  sofltimento  hum  desgraçado. 

ABBADE  DE  JAZESTE,  POESIAS,  tOm.  l,pag.  116 

(odiç.  de  1787). 

A  continuação  da  longa  guerra, 
E  dos  bravos  assaltos  a  frequência, 
Cubrírào  cincoenta  ja  de  terra 
Dos  que  fizerão  ja  mais  resistência : 
Dos  mais  que  a  fortaleza  cm  si  encerra 
Quasi  todos  sentirão  a  violência 
Do  imigo  aço,  de  que  huns  ja  sãos  estavão, 
Outros,  iuda  que  enfermos,  ajudavão. 

P.    DE    ANDRADE,  PRIMEIRO     CEBCO     DE   DIU,    Caut. 

18,  est.  74. 

—  Opposição  da  força  armada,  ou  ata- 
que, ou  de  força  a  qualquer  violência. — 
aE  vendo-se  assim  ferido  e  maltratado  e 
a  seu  contrario  em  melhor  disposição,  se- 
nhoreado da  ira  e  manencorio,  começou 
dizer :  Como,  e  é  possível  que  um  só  ca- 
valleiro  se  me  defenda  tanto  espaço,  e 
que  minhas  forças  e  e.^forço  nào  baste 
pêra  confundir  tão  pequeiia  resistência?» 
Francisco  de  Jloraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  106. —  aO  ermitão,  temorisa- 
do  da  ferocidade  e  braveza  de  Bracolào, 
posto  de  joelhos,  pedia  a  Deus  que  favo- 
recesse 03  seus.  O  do  Salvagem,  posta 
sua  derradeira  esperança  na  misericórdia 
divina,  ajudava-se  de  sua  ligeireza,  cren- 
do que  mais  delia  que  de  sua  força,  lhe 
era  necessário,  que  a  diabrura  dos  gol- 
pes de  seu  contrario  nenhuma  resistên- 
cia sofFriam.»  Ibidem,  cap.  106. 

Mas  O  leal  vassallo,  conliecendo 
Que  o  seu  senhor  não  tinlia  resistência, 
Se  vae  ao  Castelhano,  promctteudo 
Que  ellc  faria  dar-Um  obediência. 
CAM.,  Lus.,  cant.  3,  est.  315. 

Quem  viu  iim  olh;\r  seguro,  um  gesto  brando, 
Uma  suave  c  angélica  exeollencia 
Que  cm  si  está  sempre  as  almas  transformando, 
Que  tivesse  contra  ella  resistência? 

■    VOL.  V.  — 31. 


Desculpado  por  certo  está  Fernando 
Para  quem  tem  de  amor  cxpcricncia : 
Jlas  antes,  tendo  livre  a  phantasia, 
Por  muito  mais  culpado  o  julgaria. 
IBIDEM,  cant.  3,  est.  1-13. 

Porém  maior  foi  a  gloria 
De  me  vêr  de  vós  vencido. 
Sem  me  terem  resistência, 
Os  Grandes  me  obedecerão, 
Como  ElEei  morto  tiverão  : 
Em  sinal  de  obediência 
Esta  copa  me  trouxerão. 

IDEM,  AMPHITKIÕES,   act.   2,   SC.   2. 

—  «Passando  daquy  para  diante  che- 
gou aos  muros  de  Singrachirau,  que  .saõ 
os  de  que  atrás  disse  que  dividem  estes 
dous  impérios  da  China  e  da  Tartaria,  e 
nào  achando  nelles  resistência  alguma 
se  foy  alojar  da  outra  banda  em  Pam- 
quinor,  que  era  a  primeyra  cidade  sua, 
que  estava  três  legoas  deste  muro  de  Sin- 
grachirau, e  ao  outro  dia  chegou  a  Xi- 
pator  onde  despidio  a  mayor  parte  da 
gente.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregri- 
nações, cap.  123.  —  «E  para  isto  se  co- 
meteo  a  cidade  toda  em  roda  a  escalla 
vista,  e  achando  nella  fraca  resistência, 
em  pequeno  espaço  foy  entrada  e  meti- 
da a  saco,  com  hum  cruel  estrago  dos 
miseráveis  moradores  delia,  de  que  nós 
os  nove  companheyros  andávamos  como 
pasmados.»  Ibidem.  —  «E  posto  que  acha-' 
ram  nos  inimigos  grande  resistência,  to- 
davia escandalizados  do  fogo,  e  do  ferro, 
largaram  tudo,  e  foram  fugindo  pêra  a 
Cidade,  ficando  o  baluarte  despejado,  a 
que  logo  puzcram  fogo,  que  ardeo  com 
braveza.  Sina  Raja  o  nosso  Capitão  Ma- 
layo,  que  estav*.  na  praia,  em  vendo  o 
fogo,  começou  a  bater  a  Cidade,  e  com 
grandes  gritas,  e  estrondos  fez  que  com- 
mettia  a  entrada.»  Diogo  de  Couto,  Dé- 
cada 4,  liv.  2,  cap.  3.  —  «Alixá  vendo 
o  galeão  todo  arrazado,  determinou  de  o 
abalroar,  e  entrar,  o  que  accommetteo 
com  grandes  gritas;  mas  custou-lhe  caro 
este  accommettiuiento,  porque  achou  nos 
nossos  tal  resistência,  que  com  morte  de 
muitos  o  fizeram  aflastar,  e  assi  por  ou- 
tras algumas  vezes  que  os  tornaram  a 
commetter.»  Ibidem,  liv.  4,  cap.  9.  — 
«Receberão  os  ilouros  grande  damno  na 
fugida,  nenhum  na  resistência.  Forão  os 
nossos  duas  legoas  executando  as  licen- 
ças, e  crueldades  da  victoria,  recolhen- 
do as  armas  que  miseráveis  largavão  co- 
mo carga,  e  não  como  defensa.»  Jacin- 
tho  Freire  d'Andi-ade,  Vida  de  D.  João 
de  Castro,  liv.  1. —  «Cousa  certo  de  muv- 
to  louuor,  e  espanto,  entregaromse  assi 
leuemente,  e  tão  sem  duuida  vinte  e  cin- 
co villas,  e  fortalezas  do  Duque,  so  por 
mandado  dei  Rey,  sem  vista  de  sua  pes- 
soa, neui  resistência  alguma  dos  alcay- 
des,  que  foy  muvto  de  louuar  sua  muyta 
obediência,  e  grande  lealdade  a  el  Rey, 
e  parece  cousa  de  mysterio  de  Deos.» 
Garcia  de  Rezende,  Chronica  de  D.  João 


II,  cap.  44.  —  «Antes  que  o  fogo  se  po- 
sesse  ouue  assaz  de  resistência  da  parte 
dos  imigos,  em  que  morrerão  delles  mais 
de  setenta,  e  dos  nossos  morrerão  huni 
criado  de  dom  Francisco,  per  nome  Fran- 
cisco Serrão,  e  hum  bombardeiro,  e  fo- 
ram muitos"  feiidos.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  2,  cap.  3. 
—  « O  que  feito  se  partio  aos  xxx  dias 
Dagosto  pêra  Teuhij,  quatro  legoas  de 
Calaiate,  onde  tomou  agoa  com  trabalho, 
por  achar  resistência  nos  mouros  do  lu- 
gar, com  fauor  dalguns  que  alli  vieraõ 
ter  de  Calaiate.»  Ibidem,  part.  2,  cap. 
36.  —  «Nestes  adargados  deu  dom  Ber- 
nardo, indo  em  sua  companhia  Afonso  Te- 
lez  seu  primo,  loam  dornellas,  Rui  de 
miranda,  (^eorge  rodriguez  pinto,  Antam 
tellez,  e  Duarte  do  quintal,  os  quaes  pos- 
to que  nelles  achassem  assaz  de  resistên- 
cia, desbaratarão,  sem  captiuarem  mais 
que  dous.»  Ibidem,  part.  3,  cap.  48. — 
«E  como  sendo  entrada  a  Cidade,  os 
Mouros  se  fizessem  fortes  na  Mesquita, 
donde  faziaõ  grande  resistência,  sem  po- 
derem ser  entrados.»  Manoel  Severim  de 
Faria,  Noticias  de  Portugal,  Disc.  3, 
§16. 

E  porque  com  pacifica  apparencia 

Dar  alguns  sobresaltos  intentarão, 

Logo  o  Silveira  pôz  tal  diligencia 

Que  as  armas  lhe  tomou,  quantas  lh'achárão ; 

E  sem  nunca  achar  n"elle8  resistência 

Em  ásperas  prisões  alguns  ficarão, 

Por  causarem  na  ten'a  alguns  insultos 

Alguns  ajuntamentos  e  tumultos. 

F.  d"andb.vde,  peimeiko  cerco  DE  DIU,  cant.  10, 
est.  74. 

Esta  geral  suspeita  tanto  esperta 
O  prudente  Silveira  neste  ensejo, 
Que  tendo  elle  também  por  cousa  certa 
Que  d'euganá-lo  o  Turco  tem  desejo. 
Esse  pouco  que  tem  tào  bem  concerta 
Que  parece  que  tudo  tem  sobejo  : 
Tal  era  o  grande  esforço,  a  grãa  prudência 
Com  que  oídeuava  então  a  resistência. 
IBIDEM,  cant.  20,  est.  28. 

—  Termo  de  physica.  Resistência  dos 
sólidos ;  a  força  pela  qual  elles  resistem 
ao  choque,  á  impressão  de  irm  corpo  em 
movimento. 

—  Resistência  dos  líquidos ;  a  forca 
pela  qual  os  corpos  que  se  movem  nos 
meios  fluidos  são  retardados  nos  seus  mo- 
vimentos. 

—  Termo  de  mechanica.  Toda  a  força 
que  não  se  pôde  equilibrar  nem  vencer 
senão  empregando  uma  outra  força  de 
que  se  disponha. 

—  Solido  de  menor  resistência  ;  solido 
descripto  pela  revolução  de  uma  curva 
em  volta  do  seu  eixo,  e  que  se  move  em 
um  fluido,  encontrando  menos  resistência 
que  qualquer  outro  solido  circular  da 
mesma  base.  -    . 

—  Xas  machinas  distinguem-se  duas 
espécies  de  resistências :  a  resistência 
útil,  e  a  que  o  nào  é.   A   primeira  cons- 


242 


RESI 


tituo  um  trabalho  a  fazer ;  a  segunda  ó 
quo  ó  orif^iuada  dos  attritos  o  doB  cho- 
queis das  (liffcreiítus  poças  da  luachina 
empreitada  jKira  o  trabalho,  o  que  absor- 
vo em  pura  perda  uma  porçiío  da  for(;a 
do  motor. 

—  Fifíuradamento  o  no  sentido  moral: 
Opposivilo  aos  dosiynios,  ás  vontades,  aos 
sentimentos  do  um  outro.  — •  Obedeci:!- 
sem  resistência.  —  Encontrar  muita  re- 
sistência. —  Haverá  resistência  da  ■mi- 
nha parte.  —  Os  sitiados  jiztram  resis- 
tência. —  A  ameaça  inspira  o  temor,  e 
provoca  a  indi(jnai;ão  e  a  resistência. 

Porém  pouco  ja  vai  íi  rcsiitlencia 
l)'aloiito  o  forças  ja  clcibilitadas, 
doutra  os  que  o  vão  buscar  a  competência 
(Jom  for(;,a3  uovas  sompro,  c  revezadas; 
K  asai  de  todo  deu  a  obediência 
As  iuiigas,  cruéis,  duras  espadas, 
Que  llio  derão  por  mil  partos  sabida 
Não  ao  sauguc  siSmeute,  mas  á  vida. 

F.  d'andrade,  paiMEino  cebco  db  Diu,caut.  17, 
oat.  80. 

—  «Consta  a  Rhetea  o  tra,í,'lco  succes- 
so,  e  parto  subitamente  de  Eebataue  pa- 
ra Roxanace.  Conta-lhe  Zarina  tudo  o 
que  se  tinha  passado,  sem  lho  encobrir 
nem  a  sua  fraquosa,  nom  a  sua  resistên- 
cia.» Cavalleiro  d'01ivoira,  Cartas,  liv. 
a,  n.o  2. 

—  Defoza  que  fazem  os  homens    o   os 
animaes  contra  atiuelles  quo    os   atacam. 
— -  Uma  resistência    vigorosa,  fraca.  — 
Fazer  muita,  pouca  resistência.  —  Op- 
pôr  uma   loivja  resistência.  —  «Manoel 
de  Sousa  arremcttco  com  as   tranqueiías 
com  grandes  gritas   cluunando   por  Sant- 
iago, descarregando  sua  arcabuzaria  nos 
que  a  defendiam,   quo    pnr    hum   grande 
espaço   fizeram   brava  resistência ;    mas 
não  podendo  sofiVer  mais  o  estrago   que 
03  nossos  nolles  fizeram,   largando   tudo 
se  recolheram  ;V  Cidade.»  Diogo  de  Cou- 
to,   Década   4,   liv.   G,   cap.   9.  —  «Ini- 
portunavíto  os  novos  hospedes  a  D.  João 
Mascarenhas,  que  os  deixasse  vêr  o  ros- 
to ao  inimigo,  tentando  deitallo  fora    do 
baluarte  Sant-Iago,  o  quo  ellc  concedeo 
Icvcraento,    querendo    também    acompa- 
nhallos.  AprestárSo-se  para  o  outro  dia, 
c  em  amanhecendo    subir.lo   pelos   muros 
com  que  o  inimigo   se   cubria,  lançando- 
se  aos  Mouros  tão  impetuosamente,    que 
os  deitarão  f  u-a,  sem  lhes  valer  o  esfor- 
ço,  e  resistência   com   quo  se  defende- 
rão.»   Jacintho    Freire    d'Andradc,   Vida 
de  D.  João  de  Castro,  liv.  2.  —  «Chega- 
do a  cidade  de  Almedina  a  tomou  com 
pouca  resistência,    e  mandou  cortar  as 
cabeças  a  trcs  dos  principaes  delia,   que 
ftUi    quiseram    ficar,    contra    parecer    de 
Alemeimam,  que  sabendo  o  poder  com  quo 
cl  Rei  vinha,  se  acolheo  com  hum  seu  fi- 
lho molhercs,  e  casa  a   Çafira.»    Damião 
de  Croes,  Chronica  de   D.   Manoel,   part. 
3,  cap.  31.  —  «Najqual  frota  liião  dons 


RESI 

mil  homens,  o  não  mais  quo  cento  e  cin- 
coenta  de  cauallo.  E  dom  Fernando  man- 
dou «ahir  a  gente  em  terra  em  tilo  boa 
ordem,  e  regimento,  (|uc  a  villa  foy  logo 
entrada,  e  «em  nenhuma  resistência  to- 
mada, j)i)rque  os  mouros  tanto  que  virão 
que  a  dita  frota  hia  sobre  ellcs,  os  luais 
-o  acolherão  logo  ás  serras  onde  se  sal- 
uarão,  o  j)orem  alguns  forão  mortos,  o 
captivos.  II  (larcia  de  Rezende,  Ch)'onica 
de  D.  João  II,  cap.  111, 

Dúmos  sobro  o  traidor  o  sobre  as  hostes 
Do  tyrauuo  do  Roma,  —  que  ingodada» 
Ua»  promessas  do  indigno,  mal  cuidavam 
lucoutrar  tam  porliada  resistência. 

OABBETI,  CATÃO,  UCt.  4,  8C.   4. 

RESISTENTE,  part.  act.  de  Resistir. 
Que  resisto. 

—  Que  oppije  resistência. 

—  Que  80  oppõe  ao  movimento  de  um 
outro  corpo,  tenaz.  —  «Os  Chaldeos,  Gre- 
gos, Egypcios,  Árabes  e  Latinos  onten- 
derai),  que  os  Ceos  eraõ  corpos  densos, 
sólidos,  espessos,  duros,  c  resistentes;  e 
os  dividirão  em  outo  Orbes,  aceommo- 
dando  aos  primeiros  sette,  os  sette  Pla- 
netas ;  e  eollocando  no  outavo  a  multi- 
dão das  Estrcllas  fixas.»  Braz  Luiz  de 
Abreu,  Portugal  medico,  pag.  508,  §  3(3. 

RESISTIBILIDADE,  s.  /.  Termo  neolo- 
gico.  Propriedade  de  resistir,  inherente 
e  jiarticuhír  dos  corpos  vivos. 

RESISTIDO,  part.  paus.  do  Resistir. 
Repellido,  a  que  se  oppoz  resistência. 

Tanto  tempo  esta  baixa  c  vil  canalha 
Daquelle  alto  temor  foi  comb;itida. 
Quanto  nesta  cruel,  dura  batalha 
Teve  settas  o  mocjo,  o  teve  vida; 
Porque  e  chumbo  subtil,  que  no  ar  espalha 
A  fon;a  do  arcabuz  mal  rexistida, 
Tirou  ao  moi;o  a  vida  nhum  momento 
E  aos  Kcmciros  aqucllc  impedimento. 

FBAJICISCO  DK  ANDRADE,  PUI.MKI110  CERCO  DE  DIU, 

cant.  7,  est.  37. 

Era  três  firaudes  batalhas  repartida 
A  gente,  iV  fortaleza  se  apresenta, 
Tào  ufana,  lustrosa,  e  tão  luzida 
Que  o  Turco  Capitão  comsigo  assenta 
Que  não  jicdorã  então  ser  resistida, 
E  tanto  da  victoria  se  contenta 
Quo  os  despojos  (Jhristàos  ja  então  reparte 
Dando  a  qualquer  dos  seus  ja  sua  parte. 
IBIDEM,  caut.  19,  est.  26. 

RESISTIDOR,  A,  adj.  Vid.  Resistente. 

RESISTIR,  r.  n.  i  Do  latim  rcsistereK 
Não  ceder,  ceder  difficilmente  á  impres- 
são de  um  outro  corpo.  —  Um  chapéo  que 
resiste  <í  chuva. 

E  vendo  o  Capitão  quo  lhe  ho  forçado 
A  fúria  residir  a  seu  imigo, 
Com  animo  feroz  comete,  c  arranca 
A  curta  espada,  a  coUera  uiouido. 

COBIE  REAL,  XAVFHAC.IO  DE  SEPULX-ED  V.,  CaUt.  12. 

Nenhum  rumor  da  serra  lho  resiste : 
Nenhum  pássaro  vôa,  mas  parece 


RESI 

Que,  do  canto  vencido,  lhe  oWdecc. 
Porém,  irmão,  melhor  me  parecia 
Que  não  fò»Hfimo4  lá  ;  que  i-itorv.irenjog ; 
Mas  Hohidos  n'(í*t'ArTori.'  sombria, 
Ti^o  o  vallo  do  aqui  dcDcobrireiuos. 

CAM.,  eoi.'iUA    1. 

—  Oppôr-se,  fazer-lhe  reoistencia  phy- 
HÍca  ou  moral. 


Com  raiua  e  com  furor  mortal  inuÍHt<sm 
As  r|uc  porá  defensa  não  tem  gente, 
E  com  Ímpeto  c  fori;a  entrar  insistem  : 
Achando  a  cOMJunc<,ão  tão  conuenientc. 
Oh  poucos  I'ortuguese3  bem  resittem, 
l?em  mostrão  ser  na<;io  fera  c  valente, 
Mas  03  muitos,  c  armados  ja  tcdcíío 
Os  poucos,  c  som  armas  que  morríâo. 

COBTE  BKAL,   HAUrBAOIO  DE  SErCLVEDA, 

cant.  13. 


Ifunfl  dizem  que  entregar  as  armas,  era 
Engano  conhecido,  e  mao  onselho, 
K  que  esperar  Wrtiidc  cm  gente  falsa, 
Era  vão  fundamento,  e  fraco  juizo. 
Outros  dizem  que  com  tiil  c;ilamidade 
Aos  Cafres  remstir,  era  perigo, 
Que  era  muito  melhor  d'cl  Rcy  fiar-BC, 
Que  negandolhe  as  armas  ser  lhe  imigoa. 
IBIDEM,  cant.  13. 

Como  geral  enchente  quo  saindo 
Do  curso  costumado  na  inuemada, 
Irão  03  foro3  Bárbaros  cobrindo 
A  Portuguesa  gente  ja  cansada 
A  permissão  do  ceo  não  renistindn 
Será  a  triste  demanda  alli  ac^ibada 
E  ainda  que  vencida  a  empresa  honrosa 
Tal  gente  ficara  victoríosa. 
IBIDEM,  cant.  14. 

— ^  «E  posto  que  do  seu  encontro  der- 
ribou um  delles  atravessado  na  lança,  e 
com  a  espada  na  mão  esperasse  resistir 
aos  outros,  viu  que  já  os  cinco  outra  vez 
faziam  volta  assim  a  cavallo  com  tençlo 
de  o  atropellar,  de  quo  Albayzar,  que  a 
isto  era  presente,  recebeu  tamanha  dôr, 
que  se  não  podia  soffrer,  vendo  vileza 
tão  grande  de  tantos  contra  um  só  :  e 
sentia  mais  aquella  hora  não  ter  armas, 
que  se  perdera  a  metade  do  todo  seu  se- 
nliorio.»  Francisco  de  Moraes,  Palmei- 
rim d'Inglaterra,  cap.  102. 

Que  cidado  tão  forte  por  ventura 
Haverã  que  resista,  se  Lisboa 
Não  pode  resistir  A  força  dura 
Da  gente,  cuja  fama  tanto  v^a  ? 
,Iá  lhe  obedece  toda  a  Estremadura, 
Óbidos,  Aleraquer,  por  onde  S'!'a 
O  tom  das  frescas  aguas  entre  as  pedras, 
Que  murmurando  lava,  c  To^^cs-^  cdras. 
CAM.,  Lcs.,  cant.  3,  est.  61. 

Olha  nm  Mestre,  que  desce  de  Castella, 
Portuguez  de  na<;ão,  como  conquista 
A  terra  dos  Algarves,  c  já  n°cUa 
Não  aoha  quem  por  armas  lho  resista ; 
Com  manha,  esforço  c  oom  benigna  ostrella 
Villas,  castellos  toma  á  escala  >-ista: 
Vês  Tavira  tomada  aos  moradores. 
Em  \'ingança  dos  sete  caçadores? 
IBIDEM,  cant.  8,  est.  25. 

—  «E  segundo   ditos   dalguns,   que   a 


RESI 


RESI 


RESI 


243 


isto  foram  presentes,  alli  tomarão  todos 
por  concrusào,  e  determinação  de  não 
consentirem  a  entrada  dos  corregedores 
em  suas  terras,  e  que  com  todo  o  risco 
lhe  resistissem,  e  sobre  isto  o  Marquez 
de  Montemor,  o  Conde  de  Faram,  e  o 
senhor  dom  Aluaro  se  viram,  e  ajunta- 
ram algumas  vezes  no  mosteiro  de  Santa 
Maria  do  Espinheiro  em  Euora.»  Garcia 
de  Rezende,  Chronica  de  D.  João  II,  cap. 
39.  —  aQuem  jamais  vos  resistio,  que 
tivesse  paz?  Naõ  quero  i-esistir  a  vossos 
preceitos,  e  conselhos  ;  resistir  sim  a  vos- 
sos inimigos,  que  o  saõ  também  da  mi- 
nha alma.»  Padre  Manoel  Bernardes, 
Exercícios  espirituaes,  tom.  1,  pag.  118. 
—  «O  feitor  sem  cuidar  no  que  se  dalli 
podia  recrecer,  consentio  no  que  loam 
homem  fez  o  que  poseram  em  obra  com 
ajuda  de  Pêro  Raphael  que  ahi  estava 
com  a  sua  carauela,  sem  os  mouros  ou- 
sarem de  lhe  resistir  com  medo  que 
lhes  meitessem  as  nãos  no  fundo.»  Da- 
mião de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  2,  cap.  5.  —  «O  que  feito  se  reco- 
lheram, assi  03  dos  barcos,  como  os  ir- 
mãos dei  Rei  de  Fez,  correndo  de  cami- 
nho a  Arzilla,  donde  leuaraõ  mais  de 
setecentas  cabeças  de  gado,  ao  que  os 
da  villa  nam  poderam  resistir  pola  gros- 
sa companhia  que  era.»  Ibidem,  part.  3, 
cap.  52.  —  «Isto  confo  fica  dito,  foi  no 
anno  de  M.  D.  xi,  e  no  de  doze  tornou 
o  mesmo  Rei  de  Fez  em  pessoa  sobre 
Arzilla,  e  assentou  o  arraial  no  facho, 
donde  seus  alcaides  correrão  ate  a  tran- 
queira do  Anjo,  sem  lhe  o  Conde  poder 
resistir.»  Ibidem,  cap.  36.  —  «O  que  sa- 
bendo el  Rei,  e  vendo  que  nam  podia  re- 
sistir ao  Gouernador  se  alli  quisesse  fa- 
zer fortalleza,  se  lhe  mandou  desculpar 
do  erro  passado,  e  offerecer  ajuda  pêra 
se  fazer  fortaleza,  Lopo  soarez  lho  agra- 
deceo.»  Ibidem,  part.  4,  cap.  32. 


Que  eu  03  espero  forte  ; 

Não  para  resistír-Ute  confiado, 

Mas  a  seus  pés  prostrado, 

Para  a  mortal  ferida, 

(Inda  quando  me  custe  a  doce  vida) 

De  uovo  o  triste  coração  lhe  oSorto 

A  peito  descuberto. 

J.   X.   DE  MATTOS,  BIMAS. 


Mas  para  dar  a  esta  obra  segurança. 
Porque  do  novo  amigo  não  se  fia, 
A  Manoel  de  Sousa  (a  quem  a  lança 
Imiga,  pouco,  ou  nunca  resistia) 
Da  fortaleza  deu  a  governança, 
E  oitocentos  lhe  deixa  om  companhia 
Portuguczes,  d'esforço  grande  c  raro, 
Muitos  de  sangue  illustrc,  antigo  e  claro. 

FKAXCISCO  d'aNDRADE,  PBISIEIBO  CEBCO  DE  DIU, 

cant.  5,  est.  91. 


Toma  a  subir  de  novo  alvoroçado 

E  cm  entrar,  com  gràa  força  dura  e  insiste. 

Porém  acha  diante  o  Sousa  ousado 

Que  agora  como  sempre  lhe  resiste. 

Do  qual  cmfim  se  vê  tão  maltratado 

Que  outra  vez  desta  empresa  já  desiste, 


Outra  voz  desce  abaixo  com  grão  pressa 
E  dentro  lá  nas  barcas  se  arremessa. 
IBIDEM,  cant.  18,  est.  24. 


Quem  me  resistirá  f  Kinguem.  Nos  raios 
Da  Lua  me  deslizo,  e  em  casa  te  entro. 
D'um  trocáz  Pombo  hci-de  tomar  a  forma. 
Ir-me-hei,  voando  á  ameia  do  Castéllo. 

F.    M.    DO  If.VSCIMEXTO,  OS  MABTYBES,  1ÍV.    10. 


Que  fazias  aqui? 

Eu  !  — esta  carta... 
Não  a  quiz  —  resisti  —  foi  quasi  á  força.. 
Começada  a  rasgar... 

GAEETT,  CATÃO,  act.    3,  SC.    3. 


Eu  resisti  por  honra,  por  estricto 
Civico  pundonor,  —  não  que  esperasse 
Friicto  da  resistência  :  fructo,  digo, 
Para  o  colhermos  nós ;  que  a  resistência 
Do  povo  a  seus  tyrannos  e  oppressores. 
IBIDEM,  act.  5,  SC.  7. 


—  Emprega-se  muitas  vezes  fallando 
do  amor.  —  Ao  poder  do  amor  é  era  vão 
que  se  resiste. 


Quanto  então  pôde  em  consola-la  insiste. 
Dizendo :  Se  o  que  mais  Amor  inflama 
A  desesperação  do  Amor  resiste 
Esperando  abrandar  quem  o  desama, 
Contente  deveis  vós  ser,  e  não  triste, 
Pois  amacs  a  quem  mais  que  a  si  vos  ama, 
E  do  quem  corta  estaes  (pois  deveis  crê-lo) 
Que  mui  cedo  comvoseo  haveis  de  vê-lo. 

F.  d'axdrade,  pbimeibo  cerco  de  dic,  cant.  4, 
est.  68. 


Em  quanto  estas  palavras  solta  o  triste 
E  sollicito  amante,  desejando 
Dar  vida  ao  seu  amor,  de  novo  insiste, 
E  ao  postigo  outra  voz  so  vai  chegando : 
EUa  que  ao  seu  amor  menos  resiste 
Quanto  mais  amor  nolla  está  enxergando, 
Das  suas  rasõcs  mesmas  contra  elle  usa 
E  com  ellas  d'cntrar  então  se  escusa. 
IBIDEM,  cant.  9,  est.  64. 

—  Supportar,  tolerar  facilmente  o  cas- 
tigo, o  trabalho,  fallando  dos  homens  e 
dos  animaes.  —  Resistir  a  todas  as  fadi- 
gas. —  Resistir  a  um  grande  calor,  a  um 
grande  frio.  —  Resistir  d  dor. 

E  ainda  que  pudera 
Besistir  contra  o  mal  meu. 
Saiba  que  o  não  fizera  •, 
Que  pouco  valera  cu, 
Sc  contra  vós  me  valera. 

CAM.,  FILODEMO,  act.    4,  SC   6. 


—  Defeuder-se,  oppôr  força  a  força.  — 
Resistir  aos  agentes  da  for(^a  publica.  — 
Resistir  animosamente.  —  Nào  -poder  já 
resistir. 

Nem  basta  que  nos  bens  os  tristes  preme 
Mas  também  aos  seus  corpos  volta  a  folha, 
Porque  como  ás  gaiés  falte  quem  reme 
Quantos  ha  mister  toma,  e  os  aferrolha : 
Nào  vai  ao  que  resiste,  ou  roga,  ou  geme. 
Para  que  este  trabalho  entào  lhe  tolha. 


Que  contra  o  duro  peito  inexorável 
Do  Baxá,  tudo  fica  indefensável. 

F.  d'andeade,  pbimeibo  CEBCO  DE  DIU,  Cant.  12, 
est.  113. 


Que  vão  contra  os  Christãos,  para  impcdir-lhes 
Mostrar-se  aos  infiéis,  e  resistir-lhes. 
IBIDEM,  cant.  14,  est.  59. 

Não  pude  resistir...  Cuidei...  — Occulto 
Vigiava  d'alli...  Mas  já  é  tarde. 
Meu  amigo,  estão  ja  n'es9e  átrio...  Foge, 
Foge,  ou... 

GARRETT,  CATÃO,  SCt.    5,  SC.    10. 

—  Figuradamente :  Oppôr-se  aos  desí- 
gnios, á  vontade  de  outrem,  conser%-ar-sa 
firme  contra  alguma  cousa  de  potente. 
—  Resistir  á  seducção,  á  tentação.  ■ —  Re- 
sistir ás  paixões,  —  Resistir  á  adversi- 
dade. —  Resistir  ás  orações  de  alguém. 


O  omnipotente  padre  não  resiste 
Aos  feitiços  do  angélico  semblante, 
AqucUa  doce  nuvem  de  tristeza 
Com  riso  misturada :  —  qual  a  dama 
Em  amorosos  brincos  maltrattada. 

FRAXCISCO  DE  ANDRADE,  PRIMEIRO  CEBCO  DE  DIU, 

cant.  7,  est.  18. 


Mysterioso,  o  diz-mc :  Certa  eu  stava 
De  accarear-te  aqui.  Nada  resiste 
Aos  escoujuros  meus.  E  logo  canta : 
Desceste,  Alcides,  a  Aquitania  relva. 

F.   M.    DO  KASCIMEXTO,  OS    MARTVRES,  1ÍV.    10. 

E  a  cuja  virulência  nem  resiste 
O  de  Fabrício  e  Cincinnato.  Iniamcg 
De  gárrulos  sophistas,  de  grammaticos 
Vieram  corromper  a  incauta  prole 
De  Poma  :  seus  theatros  e  palestras. 

GAEREIT,   CATÃO,  aCt.    3,  SC.    1. 


—  Fazer    resistência,    tornar-se   mais 
forte. 


O  sexo  feminil,  enja  fraqueza 
líesisfe  mais  que  os  duros  peitos  fortes, 
Nào  pôde  resistir  a  esta  braveza, 
Que  so  mantinha  só  de  humanas  mortes ; 
Pois  também  fez  sentir  sua  crueza 
Aquellas,  cujas  duras,  tristes  sortes 
Com  firme  c  conjugal  nó  lhe  juntarão, 
Que  com  seu  próprio  sangue  desatarão. 

F.  d'aXDEADE,  PBIMEIBO  CEBCO  DE  DIU,  Cant.   1, 
est.  11. 


—  Resistir  alguma  cousa  ao  esqueci- 
mento; não  esquecer. 

Presististe,  venceste,  c  hum  monumento 
A  teu  nome  já  celebre  prepara, 
Capaz  de  resistir  ao  esquecimento. 

ABBADE  DE  JAZEXIE,  POESIAS,  tOm.    1,     pig.    121 

(cdiç.  1787). 

—  Resistir  aò  diabo;  oppôr-se-lhe  ás 
suas  tentações,  á  sua  vontade,  aos  seus 
desígnios, —  «  Mas  com  esta  advertência, 
que  para  resistir  ao  diabo,  he  necessário 
resistir  cada  hum  a  si  mesmo:  porque  se 


244 


KESO 


UESO 


UKSO 


Cíidíi  liuin  SC  deixar  lov;ir  da  sua  concu- 
pÍHconcia,  (Jíta  o  (iiitrií^Mi-á  nas  initos  de 
HoiH  iniiiii^'(w.»  Tadrc  Maiiool  líoriiardos, 
Exercícios  espirituaes,  iia;;.  l.V.t. —  oEs- 
ta  lio  a  rtcxta  i)cti<;am :  Na  qtial  pedimos 
nani  sor  voiicldon,  o  «opuados  nas  tcata- 
çrjo»  do  que  contimiaiueiito  somos  com- 
batidos do  mundo,  da  carno,  o  de  Sata- 
nás :  mas  quo  nos  dee  o  Sonhor  ajuda  do 
sua  fcraça  pêra  Ibrtomonto  resistir  ao  de- 
mónio, porá  desprezar  ao  mundo,  pcra 
castigar  a  carno,  pêra  (jue  final  mento  se- 
jamos coroados  como  c.iualleyros  vitorio- 
sos.» Frei  l'iart'iol()iiK'u  do-i  Martvres,  Ca- 
tecismo da  doutrina  christã. 

—  Resistir  o  puder  Woutrem;  impc- 
dil-o. 

—  Resistir  a  audácia. 

—  OHorecer  resistência.  —  «  Esta  moe- 
da, e  as  nossas  patacas  de  Espanha,  va- 
lem em  todo  o  mundo,  c  em  particular  a 
pataca,  quanto  mais  lõgc  antla  do  Espa- 
nha, tàto  uuiyor  prc^-o  tem,  o  que  não 
sabemos  do  alguma  outra  moeda,  llc 
notauol  a  renda  da  Alfandega  desta  (.'i- 
daile,  porque  iodas  as  cousas,  que  passào 
da  Europa  pcra  A^ia,  ou  pelo  contrario : 
de  forcado  resistem  nclla.»  Fr.  Gaspar 
de  S.  Bernardino,  Itinerário  da  ludia, 
cap.  11. 

—  Pôr  estorvo  á  forca  para  mover, 
romper,  desf;izer-se. 

—  Resistir  d  justiça;  não  lhe  obede- 
cer, usar  de  fornia,  estorvando  as  suas 
diligencias. 

—  Figuradamente:  Resistir  ás  leis; 
oppôr-se-lhes. 

—  Resistir-se,  v.  rcji.  Fazer  resistên- 
cia a  si  nie^nio. 

RESISTÍVEL,  aãj.  2  gen.  A  que  se 
pôde  resistir. 

—  Que  tom  força,  meios  para  resistir. 
RESISTO,  s.  m.  Vid.  Registo,  e  Regis- 
tro. 

RESLUMBRAR,  v,  n.  Transluzir,  dar 
passaircni  á  luz. 

—  Kinproga-so  tambcm  figuradamente. 
RESMA,  s.f.  O  conjunto  de  vinte  mãos 

de  papel,  ou  a  reunião  de  quinhentas  fo- 
lhas. —  Uma  resma  </'■  papel. 

RESMONEAR,  c  a.  Vid.  Remusgar. 

RESMONINHADOR,  A,  adj.  e  s.  Que 
rcsmoninha. 

RESMONINHAR,  v.  a.  Vid.  Remusgar. 

RESMUDA,  -v.  /.  Termo  popular,  ilu- 
danij-a,  determinarão  avessa  do  quo  esta- 
va ordenado. 

RESMUGAR,  i-.  n.  Vid.  Remusgar. 

RESMUNGAR,  v.  a.  Vid.  Remusgar. 

RESOANTE,  part.  act.  de  Resoar.  Que 
resòa,  que  retumba,  que  faz  echo. 

RESOAR,  V.  a.  (Do  latim  resonare). 
Tornar  a  soar,  repetir  o  som,  o  cântico, 
louvor  cantado. 


O  matutino  Si>l,  abrindo-so  ároa 

Pelos  seios  d:is  mivcna  de  ouro,  as  Inzes 

Nas  Florestas,  uo  Mar,  uoa  deus  Exércitos, 


Disparava  do  Hiiliito.  A  c:iiiii)inu 
(''o  fu/,iliir  dan  laiiuas,  das  ciinciraH, 
Atligurava  urdor.  riariíis  Mavórcio* 
'Umoíiiulo  o  (Jo4iiroo  autifjo  C*atito 
LtMiibravão  o  como  k  Gallia  uncetou  via. 
F.  U.  DU  NAHl;lSIKXrO,  ÚB  UAUirBKH,  liv    6. 

—  Resoar;  por  razoar.  Vid.  Razoar. 

—  V.  II.  Retumbar,  fazer  echo. 

Que  agasalho  pedia  a  povo  c  povo, 
("ego,  os  1'oHmaa  8CU3,  A  sombra  do  Álamo 
|)c  llylc,  com  estro,  rfjtonn,  Divuio. 
Cego,  cm  Chio,  passou,  na  praya,  a  noite, 
K  azar  lho  aconteceu,  cos  Cães  do  fíhUico. 
t^hianto  peregrinou,  por  longes  Tirrras  ! 
Vagou,  do  Tlci  do  Kubra,  ao3  ludiM  fúnebres. 
Onde  llcsyodo  ousou  pleitear  a  Homero, 
A  palma  da  Poesia. 

r.  U.  DO  NASCIUCNTO,  OS  UABTYBEg,  1ÍV.  2. 

Do  Gcnto  cm  Gente  renoou  preclara 
A  vóz,  i]ue  prenunciava  Hrcmio,  ein  Homa, 
E  clamava  a  Ccdicio,  na  alta  noite : 
Vái-to  aos  Tribunos,  dize,  que  infalliveis 
Toui,  de  ámanlian,  os  Galloí  ser  comvosco. 
iBiDKM,  liv.  7. 

—  «  Calypso  vivia  inconsolável  da  au- 
sência d'Ulysses:  sua  alHicção  tornava- 
Ihe  pesada  a  imortalidade.  Já  sua  grut- 
ta  não  resoava  com  os  suaves  accontos 
de  sua  voz:  as  nymphas  que  a  serviam 
não  ousavam  fallar-lhe.  Repetidas  vezes 
passeiava  melancólica  por  entre  as  flori- 
das leivas,  com  que  uma  continua  pri- 
mavera matizava  sua  ilha ;  mas  estes  de- 
liciosos sitios,  longe  do  mitigar-lhe  a  dòp, 
avivavam-lhe  a  triste  saudade  d'Uly3ses, 
que  tantas  vezes  tivera  junto  a  si.»  IJem, 
Telemaco,  liv,  1. 


Dentro  dos  negros  cárceres  resoa 
Doloroso  clamor,  so  move  o  corpo 
A  niontauha  se  inclina  a  hum  lado  e  outro, 
Rebenta  novo  incêndio,  ao  longo  tremem 
Espavoridas  de  Trinacria  as  praias. 

J.    A.    DE  MACEDO,   A  X.VTCREZA,  Caut.    1. 


RESOBRADO,  part.  pass.  de  Resobrar. 
Quo  recobrou  muito,  com  grande  vanta- 
gem. 

RESOBRAR,  v.  n.  Sobrar  muito,  com 
vantagem  ao  necessário. 

RESOCAS,  s.  Termo  do  Brazil.  Vid. 
Refilhos. 

RESOLTO,  ^Jfirí.  pass.  img.  de  Resol- 
ver. Desfeito,  dissolvido. 

—  Reduzido,  convertido. 

—  Vid.  Resoluto,  que  diverge. 
RESOLUÇÃO,    s.  /.    (Do    latim    reí>ohi- 

tio).  Cessai;ão  total  da  consistência,  re- 
ducção  de  um  corpo  em  seus  primeiros 
princípios.»  - —  -4  resolução  ihi  agua  cm 
vapor. — A  resolução  il«  imie  em  agua. 
—  A  resolução  dos  corpos  em  seus  ele- 
mentos, e  geus  principius. 

—  Termo  de  pathologia.  Acçào  pela 
qual  uma  parto  tumcticada,  volta  pouco 
a  pouco  o  sem  suppuração  ao  sou  estado 
primitivo.  —  Resolução  de  um  tumor. 


—  Resolução  do»  vienthroi;  paralvsÍA 
quc  impressiona  os  membros  no  curso  de 
uma  doen<;a. 

—  Termo  de  jurisprudência.  Kescit-So 
de  um  contracto,  cjucr  |><jr  conseutiiiieuto 
das  partei»,  quer  por  authoridadc  dos  Jui- 
zes. 

-^  Decisão  de  uma  quentão,  de  uma 
difficuldade,  —  A  resolução  df  um  pro- 
blema. —  A  resolução  </«■  um  cato  tU  cotta- 
ciencia.  —  Dar  uma  resolução  soòre  uma 
(jneulão  (qualquer,  —  f  A  resolução  da  qual 
crttaua  em  trcs  pontos,  ua  oljriga<,'So  que 
tinha  de  fazer  pelas  cousas  dos  Mouros, 
c  no  dano  que  eiles  o  ellc  tinha  recebido 
de  nós,  e  na  pouca  obediência  que  lhe 
eIRey  de  Cocliij  tinha  sendo  elle  Camo- 
rij  do  Malabar  e  tudo  cnu  fauor  de  nos- 
sas armas.»  Barros,  Década  1,  liv.  7, 
cap.  1. 

—  Termo  de  mathcmatica.  Geralmen- 
te, designa  a  divisão  ou  separação  de 
qualquer  quantidade  composta  n'eaaa8 
partes  constitutivas. 

—  Em  álgebra :  Resolução  da»  equa- 
ções; da  determina^rio  dos  valores  das 
quantidades  desconhecidas  de  que  estas 
equaçijes  são  compostas. 

—  Desígnio,  propósito,  animo,  valor 
deliberado.  —  «E  a  ultima  resolução  que 
se  tomou  nclle,  por  parecer  de  todos  os 
seus,  foy,  que  ante»  de  entender  em  cou- 
sa alguma,  mandasse  notificar  ao  Rev  do 
Achem  o  direito  que  tinha  novamente  no 
reyno  de  Aarú,  por  parte  do  casamento 
com  a  Raynha  delle,  sua  nova  molher,  e 
que  segundo  lhe  elle  respondesse,  assi  se 
determinaria.»  Fernão  Jíendes  Pinto,  Pe- 
regrinações, cap.  31. —  «E  maudandoo 
sayr  para  fira  da  tenda  se  praticou  so-  • 
bre  a  resolução  deste  feito,  em  o  qual  ■ 
por  peccados  nossos  se  não  tomou  nenhu-  • 
ma,  por  aver  nesta  janta  tantas  diversi- 
dades de  opiniijes  e  de  p.treceres,  que 
Rabylonia  cm  seu  tempo  não  lançou  de 

sy  mais  variedades  de  lingoas.»  Ibidem, 
cap.  148.  —  «Com  esta  resolução  so 
mandou  António  de  Faria  levar,  e  sem 
estrondo,  nem  rumor  algum  se  chegou 
bem  á  terra,  e  rodeando  toda,  A  sua  von- 
tade, e  notou  particularmente  nella  tudo 
o  que  a  vista  podia  alcançar.»  Ibidem, 
cap.  74,  —  «Depois  alguns  movimentos 
políticos  tizeraõ,  quo  se  tomasse  a  reso- 
lução de  o  mandarem  para  o  Castello  da 
Ilha,  e  cidade  de  Angra,  donde  foi  tra- 
zido para  o  Palácio  de  Sintra,  em  que 
acabou  a  vida  de  hum  accidcnte  de  apo- 
plexia a  doze  de  Setembro  de  mil  seis- 
centos c  oitenta  e  tivs.»  Fr.  Bemanlo 
de  Brito,  Elogios  dos  reis  de  Portugal, 
continuados  por  D.  .Tose  Barbosa.  — 
«Este  bom  Ecclesiastieo  em  hum  quarto 
de  hora,  toma  mais  resqluçoens  do  que 
muitos  homens  juntos  podem  tomar  em 
toda  a  vida.»  Cavalleiro  dOliveira,  Car- 
tas, liv.  1,  n."  22.  —  «Sendo  necessário 
tomar  a  sua  resolução,  chamou  a  conse- 


RESO 


RESO 


RESO 


245 


lho  o  sou  desgosto,  e  ainda  que  as  deter- 
rainaçoem  deste  forào  violentas  nào  áey- 
xárào  de  esecutar-se.»  Ibidem,  liv.  1, 
n.o  40. 

—  Firmeza,  coragem,  desembaraço. — 
Mostrar  muita  resolução.  —  A  resolução 
afasta  o  perigo.  —  «Em  conclusão:  as 
Republicas  ricas  devem  mostrar  sua  grau- 
deza  na  niagestade  de  seus  Tribunaes 
com  casas  amplas  de  frontispícios  magní- 
ficos, e  bem  guarnecidos  por  dentro,  cla- 
ras, e  sumptuozas;  porque  a  excellencia 
dos  apparatos  exteriores  esperta  no  inte- 
rior dos  ânimos  espíritos  grandiozos,  e 
resoluçoens  alentadas.»  Arte  de  furtar, 
cap.  30. 

—  Resolução  de  forças ;  frouxidão. 

—  Parecer,  ultima  determinaçào  toma- 
da em  conselho,  e  previa  deliberação.  — 
«D.  Álvaro  de  Castro  acodio  a  detellos, 
estranhando-lhes  resolução  tão  fea,  di- 
zendo, que  el  Rei  sentia  mais  a  desobe- 
diência de  hum  soldado,  que  a  perda  de 
huma  Fortaleza;  que  ao  Capitão  Mór  só 
tocava  o  governar, '  a  elles  obedecer,  e 
peleijar.i)  Jacintho  Freire  d'Andrade,  Vi- 
da de  D.  João  de  Castro,  liv.  2.  —  «Mas 
quem  se  enche  de  razão  vem  a  cabo  de 
quanto  quer.  Tudo  puz  em  mão  de  D. 
Brites.  Mas  que  lágrimas  me  nào  cus- 
tou essa  "resolução !  Depois  do  mil  mo- 
vimentos, mil  incertezas,  que  tu  não 
conceituas,  e  de  que  eu  por  certo  não  te 
darei  noticia,  lhe  pedi  juramento  de  que 
nunca  mais  m'as  tornasse,  ainda  quando 
eu  para  as  ver  uma  vêr  uma  vez,  lhas 
pedisse;  antes  que  sem  me  dar  parte, 
t'a3  remettesse.»  Francisco  Manoel  do 
Nascimento,  Successos  de  madame  de 
Seneterre. 

—  Fluxo,  soltura  de  ventre,  a  magre- 
za, e  fraqueza,  que  a  continuação  pro- 
duz. 

—  Stn.  :  Resolução,  decisão.  Yid.  este 
idtimo  termo. 

RESOLUTAMENTE,  adv.  (De  resoluto, 
com  o  siiffixo  «mente»).  Com  uma  reso- 
lução fixa  e  determinada. 

—  Com  resolução,  com  valor  delibera- 
do, peremptoriamente,  com  coragem,  al- 
tivamente. —  Passar  resolutamente  atraz 
dos  perigos. 

resolutíssimo,  a,  adj.  superL  Mm 
resoluto. 

RESOLUTIVO,  A,  adj.  Termo  de  phar- 
niacia.  Diz-se  dos  remedins  que  determi- 
nam a  resolução  dos  tumores,  inflamma- 
ções,  etc.  —  Unguento  resolutivo.  —  Aguas 
minerar s  resoiutivas.  Vil.  Resolvente. 

—  Metkodo  resolutivo  ;  o  methodo  ana- 
lytico,  em  opposiçào  ao  methodo  syntfie- 
tico. 

—  Substantivamente  :  Um  resolutivo 
formidável.  —  Os  resolutivos  sào  toma- 
dos ora  na  classe  dos  emoUientes,  ora  ra 
dos  excitantes  e  tónicos,  segundo  o  tu- 
mor é  de  natureza  inflammatoria  ou  ato- 
uica. 


RESOLUTO,  p«ií.  l^ass.  irreg.  de  Re- 
solver. Desfeito,  derretido,  dissolvido, 
desatado.  Vid.  Resolto. 

—  Resolvido,  determinado. 


Xesta  determinação  ja  resoluto 
A  espada  aperta,  e  dentro  so  aballança 
Mas  entrando  ficarão  em  silencio 
Aquelle  fero  estrondo,  e  gritos  altos. 

COBTE  BEAL,  SADFRAGIO  DE  SEPCLVEDA,  Cant.    12. 

—  «Mandí  u  recado  a  Afonso  Dalbu- 
querque,  pedindolhe  seguro  pêra  se  vir 
pêra  elle,  e  o  seruiv  com  a  armada  que 
tinha,  como  o  fezera  a  el  Rei  Mahamed 
ja  defunto,  o  qual  seguro  lhe  logo  man- 
dou, mas  estando  resoluto  em  se  vir  pê- 
ra a  cidade  lhe  screuej-ào  alguns,  que  o 
não  desejauão  nella,  que  o  nào  fezesse.» 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  'ò,  cap.  19. —  «Do  que  nam  con- 
tente escreueo  sobrestes  desgostos  cartas 
a  el  Rei  cheas  de  culpas  do  mesmo,  pe- 
dindolhe que  lhe  nam  desse  tunto  credi- 
to, como  o  ate  entam  fezera,  porque  pe- 
las culpas  que  lhe  achaua,  e  intelligen- 
cias  que  deziam  ter  com  el  Rei  de  íez, 
elle  estaua  resoluto  em  se  nam  fiar  del- 
le,  e  sobre  tudo  em  lhe  nam  consentir 
que  leuasse  nenhuns  Portugueses  nas  en- 
tradas que  fasia,  porque  tinha  por  certo 
que  se  lhos  pedisse  que  auia  de  ser  pêra 
os  entregar  aos  mouros.»  Ibidem,  part. 
4,  cap.  5õ.  —  «Forão  os  Mouros  sabedo- 
res das  novas  do  soccorro,  e  antes  que 
os  nossos  se  engrossassem  com  as  forças 
qae  esperavão,  dispuzerão  hum  assalto 
geral,  resolutos  a  entrar  a  Fortaleza,  ou 
dar  ao  Mundo,  e  ao  Soltào  desculpa  com 
as  mortes,  com  o  sangue,  e  com  as  mi- 
nas.» Jacintho  Freire  de  d'Andrade,  Vi- 
da de  D.  João  de  Castro,  liv.  2.  —  «E 
logo  ou  incauto,  ou  violentado  conspirou 
na  traição  do  Madune,  como  enfermo 
fc-enetico  contra  os  instrumentos  da  saú- 
de indignado :  esperarão  em  fim  ds  hos- 
pedes, resolutos  em  executar  a  maldade 
que  tinhào  concebido.»  Ibidem,  liv.  4. 
—  «Confio  tanto  na  vontade  que  de  com- 
prazer-me  em  vós  conheço,  a  este  respei- 
to, que  nem.  mesmo  aguardo  a  vossa  res- 
posta; e  como  não  me  atrevo  a  antever 
o  que  fará  M.  de  Seneterre,  mais  reso- 
luta estou  a  não  lhe  declarar  o  porto  do 
meu  embarque :  além  de  que,  elle  obra- 
ria mui  desacertado  em  vii-  a  Paris  bus- 
car-me,  aonde  é  certo  que  me  não  achas- 
se; pois  que  eu  mesma  nào  sei  quando 
lá  tornarei,  nem  ainda  tornarei  antes  da 
minha  partida.»  Fiancisco  Manoel  do 
Nascimento,  Successos  de  madame  de 
Seneterre. 

—  Que  recebeu  iima  solução.  —  O  pro- 
blema politico  está  resoluto. 

—  Determinado,  altivo,   corajoso,  ani- 
moso.—  Iloinem  resoluto.  —  Mulher  re- 
soluta. —  «O    snr.    Antas,    arcebispo  de  j 
Lacedemoniaj  me  coutou  que   certo  mi-  | 


nistro  detivera  os  autos  de  um  pobre, 
mas  resoluto  homem,  dois  annos  em  Lis- 
boa. Desobrigava-se  o  ministro  na  Qua- 
resma com  o  padre  Alexandre  Duarte 
da  compaahia,  em  Santo  Antão.»  Bispo 
do  Grão  Pará,  Memorias,  publicadas  por 
Camillo  Castello  Bra.ico,  pag.  149. 

—  Conclusão  resoluta  ;  deliberação  fir- 
me; deliberação  que  termina  o  negocio, 
ou  mostra  o  animo  determinado  finalmen- 
te. —  a  O  bom  conselho  era  perder  ha 
saudade  a  todolos  proueitos,  e  tributos 
que  se  desta  gente  tii-auaò,  e  por  o  in- 
tento em  só.  Deos,  e  na  sua  Sancta  Fê, 
porque  elle  dobraria  com  suas  mercês  o 
que  se  nisso  perdesse,  e  que  pois  este 
negocio  per  sua  vontade  viera  a  se  por 
em  determinação  de  conselho,  que  ha 
resoluta  conclusão  delle  fosse  lançarem 
logo  do  regno  aquelies  que  não  quises- 
sem receber  ha  agoa  do  baptismo,  e  crer 
ho  que  cre  ha  Egreja  Catholica  Chris- 
tàa.»  Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  1,  cap.  18. 

—  Desfeito,  desatado,  não  obrigatório, 
sem  eâeito. 

—  Humem  resoluto  emnegocios ;  homem 
pratico  n'elles,  exercitado. 

—  Vir  resoluto ;  o  que  está  cei*to  do 
que  ha  de  decidir  em  doutrina,  do  que 
ha  de  obrar,  determii  ado. 

—  Firme,  determinado  depois  do  con- 
selho e  reflexão. 

—  Resolvido,  decidido.  —  «E  destrinça- 
do o  caso,  fica  a  cousa  occulta,  e  em  opi- 
n.aò;  e  quem  a  quizer  ver  decidida  veja 
o  Doutor,  que  já  toquev,  que  eu  nàõ 
professo  aqui  ensinar  casos  de  consciên- 
cia ;  ainrla  que  sey,  que  a  praxe  deste 
está  resoluta  nos  ceUeiros  do  Estado  de 
Bragança,  '  onde  se  pedem  as  crescen- 
ças  aos  Almoxarifes.»  Arte  de  furtar, 
cap.  õó. 

RESOLUTORIO,  A,  adj.  Termo  de  ju- 
risprudti.cia.  Que  tem  por  efteito  resol- 
ver algum  a.to.  —  Acto  resoiutorio.  — 
Convenção  resolutoria.  —  Clausula  reso- 
lutoria. 

REiOLUVEL,  adj.  2  gen.  Que  se  pôde 
resolver. 

—  Termo  de  mathematica,  Diz-se  das 
questões  e  dos  problemas  de  que  se  pode 
achar  a  solução  por  algum  methodo  co- 
nhecido.— Eis  o  problema  da  quadratura 
do  circulo,  procurado  desde  ha  tanto  tem- 
po, demonstrado  impossível  por  um  me- 
thodo que  se  teria  resolvido,  se  elle  fosse 
resolúvel,  o  que  se  pôde  chamar  uma 
residuçào  real. 

RESOLVENTE,  part.  act.  de  Resolver. 
Que  resolve. 

—  Que  dissolve,  que  desfaz. 

—  Termo  de  medicina.  Que  pôde  re- 
solver :  Etmedio  resolvente. 

—  Emprega-se  também  substantiva- 
mente:    ['/ií  resolvente. 

RESOLVER,  V.  a.  Do  latim  resolvere). 
Destruir  a  união  que  existe  entre  as  par- 


246 


RESO 


tes  do  um  todo.  —  Resolver  um  corpo  em 
pú.  —  O  fiiju  resolve  a  inmleira  em  ciii- 

ZC18  6  funil). 

—  Tonao  d»)  nielicina.  Fuzor  dcsap- 
pareccr  i);iul;itÍMaiiiontc  e  sem  sujjpura- 
çilo.  —  Resolver  um  tumor.  —  As  fric- 
ções e  as  f,menlu(jòes  resolvem  os  tumores. 

—  Deci  lir  um  ufiso  duvidojio,  uma  ques- 
tão. —  Resolver  um  problema.  —  Resol- 
ver uma  oòjecção.  —  Resolver  um  amo 
de  consciência.  —  Resolver  ama  dijficul- 
dade. 

—  Tonno  do  juri.sprudoucia.  Destruir, 
annuUar  um  acto  por  um  outro  contrario. 
—  Resolver  um  contracto. 

—  Determinar,  decidir  uma  cousa. 

—  Toriuo  de  cliimica.  Decompor,  ana- 
lysar  os  corpos,  e  reduzil-os  a  seus  ele- 
meutoa. 

—  Figuradaraeutc  :  Desfazer. 

Na  luz  crástiua,  em  f|iie  trajava  a  Lua 
Todo  o  âplciidor,  pausados  resolverão, 
Quanto  ibiioj  altercarão  furiosos. 

F.    M.VNOEL    no    SASCIMEÍirO,    03   MARTYBES,  1ÍV.    7. 

—  Dissolver.  —  A  agua  em  ebuUiqão 
resolve  mais  rapidamente  o  sol,  do  que 
no  estado  natural. 

—  Rasumir. 

—  Tirar  por  conclusão. 

—  Determinar  alguém  a  fazer  alguma 
cousa.  —  Resolver  ahjuem  a  empreliunder 
uma  viagem.  —  «Nem  foi  o  infante  nem 
seu  irmào  el-rei  D.  Duarte,  mas  sim  as 
Cortes  que  resolveram  se  não  dósse  Ceu- 
ta pelo  resgate  do  infante.  O  que  elrei 
sentiu,  mas  não  ousou  contestar.»  Gar- 
rett, Camões,  nota  E  ao  cant.  i).  —  sO 
Calliariz  foi  quem  persuadiu  a  Manuel 
de  .Saldanha  que  não  recebesse  em  Se- 
túbal a  rilha  do  Quevedo  ou  Cabe  lo,  co- 
mo devia,  e  o  resolveu  a  fugir  para  Ale- 
manha.» Bispo  do  Grão  Pará,  Memorias, 
publicadas  por  Camillo  Castello  Branco, 
pag.  lOõ.  —  «Estiveram  sempre  os  je- 
suítas de  mii  fó  com  a  inquisieão,  depois 
da  prisão  do  Vieira,  c  resolveram  fazer 
uma  opera  ou  dialogo  cm  que  o  Vieira 
apparccia  no  theatro  preso  com  cadeias, 
e  um  anjo  inspirai\do-lhe  as  respostas  o 
razões.  Fez-so  isto  n'aquclle  deserto  de 
Coimbra !  Não  assistiram  inquisidores. 
Desaforo!»  Ibidem,  pag.  160.  —  «Mor- 
tificaram-nos  muito  por  espaço  de  quin- 
ze dias.  Assim  mesmo,  não  obstante  as 
persuasSes  em  contrario,  resolvemos  ir 
chrisraar.i>  Ibidem,  pag.  20b. 

—  Resolver-se,  i'.  rejl.  Roduzir-se,  con- 
verter-se.  —  O  pau  que  se  queima  resol- 
ve-se  em  fumo  e  cinzas.  —  A  agua  resol- 
ve-se  e»i  vapor.  —  Os  vapores  resolvem- 
se  em  chuva.  —  As  resinas  resolvem-se 
no  álcool. 

—  Mudar-se,  convorter-se. —  Uma  pro- 
posição negativa  pôde  resolver-se  em  af- 
jirmativa. 

—  Reâumir-se.  —  aO    Israel,    ô    povo 


RESO 

Catholico,  que  outra  cousa  te  pele  o  Se- 
nhor teu  DE(  )S  se  nain  que  o  tciuas,  e  an- 
des cm  seus  caminhos,  o  sigas  a  ellc  teu 
DEOS  e  Seuiior  com  todo  teu  coraçam,  e 
tua  alma,  e  guardes  seus  mandamentos V 
do  maneira  ([ue  todas  a»  cousas  trabalho- 
sas que  DE(JS  me  manda  fazer,  se  resol- 
uem  e  assomam  em  amor :  porque  quem 
o  tem,  nenhuma  cousa  de  seruiço  de 
Dcos  acha  diflieultosa,  e  trabalhosa.»  Fr. 
Bartholomou  ilos  Martyres,  Catecismo  da 
doutrina  christã. 

—  l''iguradameuto  :  Ioda  a  philosophia 
se  resolve  na  pratica  da  virtude. 

—  Determiuar-se  a  fazer  uma  cousa. 
—  o  O  Infante  D.  Luiz,  Frincjpe  digno 
de  omprezas  iguaes  a  seu  valor  se  resol- 
veo  acliar  nesta  jornada  com  o  Empera- 
dor  seu  cunhado ;  e  ainda  que  de  el  Rei 
D.  João  mui  dissuadido  com  razões  dif- 
fereutes,  humas  que  topavão  no  amor  de 
sangue,  e  outras  no  respeito  da  Pessoa.» 
Jaeintho  Freire  d'Andradc,  Vida  de  João 
de  Castro,  liv.  1.  —  «O  softVimento  dos 
miseráveis  era  melhor  para  virtude,  que 
para  remédio ;  porque  até  da  paciência 
servil  dos  innoceiítes  se  cansava  o  tyran- 
no.  No  domínio  da  Cidade  lhe  succedeo 
Marzào,  e  também  nos  in.sultos  tão  cruéis, 
que  apiu-arão  de  todo  a  paciência  dos 
pobre  moradores,  resolvendo-se  a  podei- 
lo  soffrer  como  inimigo,  mas  não  como 
Senhor.»  Ibidem,  liv.  4.  —  «Com  este 
pensamento  resolveu-se  a  perder  antes 
o  Reyno,  c  com  elle  a  vida,  do  que  viver 
sem  honra  infamado,  e  abatido;  negou  o 
tributo  que  costumava  pagar,  e  preven- 
do o  que  lhe  havia  de  succeder,  ajuntou 
o  melhor,  e  mais  copioso  exercito,  que 
lhe  foy  possível.»  Conquista  do  Pegú, 
cap.  2.  —  í Poucas  vezes  acontece,  que 
concorraõ  na  mesma  pessoa  engenho  pa- 
ra discorrer  sobre  o  que  se  consulta,  e 
juizo  para  obrar,  o  que  na  consulta  se 
determina :  muitos  são  de  fraco  juizo 
consultados,  mas  para  executar,  o  que 
se  resolve,  saõ  destríssimos.»  Arte  de 
furtar,  cap.  oO. 

—  Termo  de  medicina.  Desappareccr 
pouco  a  pouco,  e  sem  suppurayão.  —  Es- 
te tumor  não  se  resolve  facilmente. 

—  Resolvem-se  os  perigos ;  desfazem-se. 

—  Padecer  resolução,  por  gi-audes  sol- 
turas de  ventre,  e  taes  evacuçòes  exces- 
sivas que  consomem  o  corpo  e  enfraque- 
cem. 

—  T'.  n.  Decidir,  tomar  propósito,  de- 
liberação cm  alguma  cousa.  —  Resolvi 
■marciutr  hoje  para  a  capital. 

RESOLVIDO,  part.  jiass.  de  Resolver. 
Dissolvido,  desfeito. 

—  Decomposto. 

—  Problema  resolvido  ;  questão  cuja 
solução  ost:l  feita. 

—  Z)uf((7a  resolvida  ;  duvid.a  que  já 
está  decidida. 

—  Eoi  resolvido  <;iii'  se  fizc-sse  isto  ;íoi 
concluído  sobre  deliberação. 


RESP 

—  Vid.  Resoluto. 

RESONANCIA,  s.  f.  Do  latim  resotian- 
lin  .  Jvlio,  hom.  —  A  resonancia  da  voz. 

RESONANTE,  part.  act.  de  Resonar. 
Que  resóa,  que  redobra,  que  repete  ofl 
SOU.S,  retumbante. 


JA  piío  o  tUtio  Cume,  c  Luz  immetiM 

J4  ii<;  diliuudo,  c  éii  in'csi>allia  em  tomo. 
Como  do  mfiio  do  profundo  Decano 
Costuma  al(;ar-so  escolho  alto,  c  fragoso. 
Que  vA  na  otcrna  base  e«|K-d»<;ar-8C 
Com  fúria  ioutil  resonanit  vaga. 

J.  1..   DE  MACEDO,    TIAOBU  EXTÁTICA,  CAOt.   1. 


RESONAR,  ' .  a.  (Do  latim  retonare). 
Redobrar,  resoar,  repetir  o»  son^. 

—  liespirar  com  ruído  quando  se  dor- 
me. 

—  Fazer  echo. 

o  caualo  de  cor  natiua  esicnro, 
Ia  de  espesso  suor  branco  se  mostra : 
O  teuido  dosporaa,  c  a  contínua 
Grita,  faz  resonar  as  altas  nuues. 

CORTE  REAL,  NAUFRÁGIO  DE  SEPUMT.DA,  Cant.  4. 

RESOPRAR,  V.  a.  Tomar  a  soprar,  so- 
prar de  novo. 

—  Resoprair  fob  a  colla  ;  traquear,  fal- 
lando  de  uma  besta,  sendo  n'este  caso 
colla  svnonvmo  de  cauda  ou  raòo. 

RESORBER,  ou  RE30RVER,  v.  a.  Sor- 
ver do  novo,  Sorver  segunda  vez,  tomar 
a  sorver. 

RESPALDAR,  v.  a.  Termo  de  encader- 
nador. Solfar. 

RESPALDO,  s.  m.  O  encosto  das  cadei- 
ras de  espaldar,  e  a  parte  trazeira  da 
sege  ou  coche,  onde  se  encosta  quem  vai 
sentado  dentro. 

—  Respaldo  nos  cavallos ;  defeito  pro- 
cedido talvez  de  se  carregar,  ou  magoar 
cem  o  arção  trazeiro  da  sclla. 

RESPANÇADO,  A,  adj.  líaspado  onde 
estava  escripto. 

—  Pergaminho  respançado  ;  pergami- 
nho que  se  prepara  p;vra  n'eUe  se  escre- 
ver, c  fazer  illuniinações. 

RESPANÇADORA,  s.  /.  Vid.  Raspadu- 
ra, termo  preferível. 

RESPANÇAMENTO,  *.  ni.  A  raspadura 
que  se  faz  nas  cartas  e  escripturas,  para 
apagar  alguma  palavra,  e  escrever  outra 
no  mesnii)  loirar. 

RESPECTATIVO,  A,  adj.  Liwnjeiro, 
adulaiior,  que  guarda  respeito.  Vid.  Res- 
peitativo. 

RESPECTIVAMENTE,  adv.  (De  respe- 
ctivo, e  o  .suffixo  fmente»^.  De  uma  ma- 
neira respectiva,  reciproca. — -45  ftartcs 
adversas  tem  apresentado  respectivamen- 
te suas  rcrjuestas. 

RESPECTIVO,  A,  adj.  Que  diz  respeito 
a  caiia  um  em  particular,  quo  pertence 
reciprocamente  ás  partes  interessadas,  as 
cousas   correspondentes.  —  Direitos  res- 


RESP 


KESP 


RESP 


241 


pectivos.  —  Servidues  respectivas.  —  In- 
teresses  respectivos. 

—  Que  respeita,  venera  e  acata. 

—  Que  guarila  respeitos,    respeitador. 

—  Homem  respectivo.  Vid.  Respeitativo. 

—  Homem  respectivo  dos  templos ;  lio- 
mem  venerador,  cultor,  respeetuoso. 

—  Que  guarda  respeitos,  que  é  par- 
cial. 

—  Que  guarda  proporção. 

—  Valor  respectivo  ao  tempo;  valor 
que  tem   segundo  a  circumstancia  d'elle. 

RESPECTÕ,  s.  m.  Termo  antiquado. 
Yid.  Respeito. 

RESPECTUOSO,  A,  adj.  (De  respecto, 
com  o  suffixo  «oso»).  Que  merece  respei- 
to. —  Homem  respeetuoso.  —  Uma  senho- 
ra respectuosa.  —  Meninos  respectuosos. 

—  Os  filhos  devem  ser  respectUOSOS  para 
com  seus  j)(t^s>  ^  mestres. 

—  Acompanhado  de  respeito,  cheio  d'el- 
le.  —  Tinha  uma  ternura  respectuosa  pa- 
ra com  sua  esposa. 

—  Que  indica  respeito.  —  Um  ar  res- 
peetuoso. —  Postura  mui  respectuosa.  — 
Guard.ar  um  silencio  respeetuoso.  —  Es- 
crever, fallar  em  termos  respectuosos. 

— •  Vid.  Respeituoso,  termo  mais  em 
uso. 

RESPEITABILIDADE,  s.  f.  Qualidade 
de  uma  pessoa,  que  pela  sua  posicào  so- 
cial, merece  ser  respeitada. 

RESPEITADO,  part.  pass.  de  Respeitar. 
A  que  se  tem  respeito,  tratado  com  res- 
peito, e  consideração.  —  Um  nome  res- 
peitado. —  Um  titulo  respeitado.  —  « Foy 
pois  este  Sãto  Varão  (como  cota  o  Diáco- 
no de  Merida)  de  nação  Godo,  nacido  de 
geração  muy  nobre,  e  antes  de  subir  à 
dignidade  de  Bispo,  teve  a  seu  cargo  a 
Igreja  de  Santa  Eulália,  onde  suas  vir- 
tudes o  fizeraõ  tão  conhecido  e  respeita- 
do, que  morrendo  o  Sãto  Varaõ  Félix 
Pastor  da  Igreja  de  Merida.  foy  de  com- 
miim  consentimento  sublimado  naquelia 
dignidade.»  Monarchia  Lusitana,  liv.  6, 
cap.  20.  —  « Lembro-vos  que  El-Rey 
Xerxes,  que  pelo  seu  grande  poder,  e 
pela  sua  bella  presença,  foi  respeitado 
como  o  mesmo  Júpiter,  vendo  arruinar- 
se  pelo  Ímpeto  das  ondas,  a  famosa  Ponte 
que  tinha  mandado  fèibricar  sobi-e  o  Es- 
treyto  do  Hellesponto.»  Cavalleiro  d'01i- 
veira.  Cartas,  liv.  1,  n.''-18.  —  «Aqui 
encontramos  um  mulato  ou  cafuz  cego 
chamado  Ignacio,  que  foi  criado  do  pa- 
dre António;  e  pela  confrontação  dos  go- 
vernadores e  capitães  mores,  seguia  a 
chronologia  direita  e  sem  anachronismo, 
de  que  se  colhia  ter  mais  de  120  annos; 
e  de  robusta  compleição,  voz  forte,  tino 
excõUente,  sacristão  da  egreja,  e  cathe- 
quista  dos  mais,  ensinando-lhes  a  dou- 
trina, 6  muito  respeitado  dYdles.»  Bispo 
do  Grão  Pará,  Memorias,  publicadas  por 
Camillo    Castello    Branco,    pag.    208. 

—  Que  se  trata  com  respeito,  e  at- 
tençào,  ao  que  é  de  razão  e  justiça,  fal-  | 


tando-se  por  contemplação,  e  a  respeito 
d'elle, 

—  Respeitada  a  necessidade ;  attenta, 
attendida. 

—  Emprega-se  também  como  substan- 
tivo: Os  respeitados. 

RESPEITADOR,  A,  s.  (De  respeitar, 
com  o  suffixo  «dor»).  Pessoa  que  respei- 
ta, que  tem  respeito,  que  attende  a  al- 
guma cousa.  —  Respeitador  dos  templus. 

—  Usa-se  também  como  adjectivo  :  Ho- 
mem respeitador  das  leis  sagradas. 

RESPEITAR,  V.  a.  Hom-ar,  reverenciar, 
ter  respeito.  —  Respeitar  a  velhice.  — 
Respeitar  os  logares  santos.  —  Respeitar 
o  caracter,  a  qualidade  de  alguém.  — 
Não  respeitar  ninguém.  —  «  E  como  sem 
cabeça  a  quem  respeitar  fossem  os  con- 
selhos de  pouco  efeyto,  determinaram  ele- 
ger dentre  si  Rey,  e  seguir  as  mesmas 
passadas  que  os  Asturianos  tiveram  na 
escolha  de  Dom  Pelayo.»  Monarchia  Lu- 
sitana, liv.  7,  cap.  15.  —  «  D.  Duarte  de 
Menezes  o  respeitava,  como  se  houvera 
lido  nesta  Historia  as  victorias  da  Ásia, 
que  estamos  escrevendo.  Por  suas  mãos 
lhe  quiz  dar,  e  receber  a  honra  de  o  ar- 
mar Cavalleiro,  gloriando-se  tão  anteci- 
padamente no  hlho  de  sua  disciplina.» 
Jacintho  Freire  de  Andrade,  Vida  de 
D.  João  de  Castro,  liv.  1. 

Daga-se  tudo  pois ;  e  por  piedade 

O  Mundo  ou  me  respeite,  ou  me  suporte 

Por  devida  atenção  á  larga  idade. 

ABBADE  DE    JAZEKTE,  POESIAS,  tOm.    1,    paff.    99 

(ediç.  1787). 

—  d  Deos  se  lembre  de  mim,  pois  que 
até  as  Ortographias  de  Lisboa  se  vão  le- 
vantando contra  este  pobre  Ulysiponen- 
se.  Vamos  ás  Molheres.  Sendo  as  damas 
as  Creaturas  que  mais  respeito,  o  juizo 
com  que  V.  M.  lho  dá  he  o  que  mais  ve- 
nero.» Cavalleiro  d'01iveira.  Cartas,  li- 
VTO  1,  n."  7.  —  «Professo  huma  Ordem 
que  me  impõem  a  obrigação  de  defender 
o  mesmo  ponto,  que  venero,  e  respeito 
por  devoção  particular.»  Ibidem,  liv.  1, 
n.°  53. 


Ligeira  se  mudou  do  Mundo  a  sccna, 
Qual  dava,  e  quer  a  ingénua  Xatureza ; 
A  mão  do  Luxo  abate  a  choça  humilde. 
Que.  ou  respeita,  ou  ignora  o  raio  accezo, 
E  vai  tirar  dos  montes  empinados 
Com  sacrílego  insulto  as  duras  pedras. 

J.    A.   DE  SIACEDO,  A  XATCHEZA. 


V0S.S0S  dias  — 6  03  teus,  glória  de  Roma, 
Esplendor  derradeiro  de  seu  nome, 
Catào,  esses  teus  dias  preciosos, 
Oh,  nào  os  barateies  tam  sem  fructo ! 
César  teme,  respeita  essas  \-irtude3 
Que  adornam  o  mais  digno  dos  Eomanos. 

GABRETT,  CATÂO,  act.   2,  SC.    2. 


Mas  uma  lei,  6  pae,  tu  me  insinaste 
Que  sobre  todas  respeitar  se  deve  : 


Mais  veneranda  c  antiga  m'a  dizias 
Que  todas  essas  leis. 

IBIDEM,  act.  4,  SC.   3. 

—  Considerar,  attender.  —  «  Mas  como 
ás  cousas  da  vontade  pola  maior  parte 
as  outras  obedecem,  e  a  sua  estava  tão 
affeiçoada,  que  por  nenhuma  via  .se  podia 
apartar,  obedecia-lhe  a  razão  pêra  consen- 
tir sua  pena  :  os  outros  sertidos  consen- 
tiram, uns  pêra  consentir  seu  mal,  outros 
pêra  ser  contentes  delle  o  juizo  respeita- 
va a  causa  onde  estes  males  nasciam,  e 
havia-os  por  bem  vindos.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  de  Inglaterra,  cap.  56. 

- —  Figuradamente  :  Respeitar  nma  or- 
thographia  nova. — Respeitar  !';n  escripto. 
—  «  Ao  Canto  de  V.  M.  cede  tudo  o  que 
a  Musa  antiga  canta  :  isto  he  sem  falar 
na  Ortographia  nova  que  estimo,  venero, 
e  respeito  sem  seguir.»  Cavalleiro  d'01i- 
veira,  Cartas,  liv.  1,  n."  7. 

O  mar  que  ha  tantos  sceiúos' respeita 
Na  molle  arêa  os  términos  cscriptos. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  XATCEEZA,  Cant.  1. 

—  Reparar  em  alguma  cousa.  —  O 
amor  nunca  respeita  inconvenientes. 

—  Respeitar  authoridade,  dignidade, 
pessoa  ;  accommodar-se,  desviar-se  do  que 
deve  ser  em  razão  da  authoridade,  pes- 
soa, dignidade.  —  «  Queixou-se  o  Procu- 
rador do  Convento  á  justiça,  tirou -se  de- 
vaça,  6  como  tinhaõ  contado  em  banque- 
tes, o  que  depennaraS,  foy  fácil  apanha- 
los  a  todos ;  e  chorarão  as  penas,  que 
mei"eciaõ,  e  se  lhes  perdoarão  pur  mise- 
ricórdia, respeitando  sua  authoridade,  e 
nobreza.»  Arte  de  furtar,  cap.  60. 

—  Respeitar  em  si ;  considerar,  ponde- 
rar. 

—  Attender,  proporcionar. 

—  Olhar  á  importância  e  consequên- 
cias. 

—  Olhar,  estar  voltado  para  alguma 
parte. 

—  V.  n.  Tocar,  dizer  respeito.  —  «  Pelo 
que  me  respeita  digo  outra  vez  a  V.  S. 
que  não  conheço  alguma  que  possa  servir 
de  prova,  ou  de  exemplo  á  opinião  em 
que  estou,  de  que  se  não  pode  formar  hu- 
ma idea  mais  vantajosa  das  Damas  do 
nosso  século.»  Cavalleiro  d'01iveira.  Car- 
tas, liv.  1,  n.°  35. 

—  Referir-se  a  alguém,  tel-o  em  con- 
sideração, em  conta. 

RESPEITATIVO,  A,  adj.  —  Conselho,  pa- 
recer respeitativo ;  conselho,  parecer  que 
se  dá  respeitando  pessoas,  e  interesses. 

—  Conselheiros  respeitativos ;  conse- 
lheiros que  dão  conselhos  respeitando  as 
pessoas,  e  não  a  verdade.  A^^id.  Respe- 
ctivo. 

RESPEITÁVEL,  adj.  2  gcn.  Que  mere- 
ce respeito.  —  Pessoas  respeitáveis.  — ■ 
Seu  nome  é  respeitável,  mas  deshonra-o 
por  seu  procedimento.  —  Os  grandes  c/e- 


248 


RESl' 


RESP 


RESP 


vem  raupcilnr  a  reli(jião,  única  'jnc  ou  lur- 
ua  respeitáveis. 

f  REoPEITAVF.LMENTE,  mlv.  (De  res- 
peitável, <■'!  M  o  «iiílixu  'unente»).  ]>e  um 
luoilii  nspcitiivol, 

RESPEITO,  ».  »í.  (Do  liitim   respectim), 
Vener!ii;?ío,    difcroiicia  qiio  «o   tom   paru 
coin  iilfíiiom,  piíifi  CDU)  iilsmiia  cousa,  oui 
virtuile  tia   sua  oxcolleucia,  do  weu  cara- 
cter, lia  »ua  (jualiilado,  da  sua   idadu.  — 
Um    (/raude    respeito.   —    Um    profundo 
respeito.  —   l^m-   respeito   rduiinsit.  — 
Respeito  fdial.  —  Te.r  respeito  ixtra  com 
as  cousas  sufjradas.  —  Dour  respeito  a 
alfjueiii.  —  Aitriihir  o  respeito.  —  Impor 
respeito.  —  Faltar  ao  respeito  devido  a 
ahpicm.  —  Perder  o  respeito.  —  tíaír  do 
respeito.  —  O  respeito  do  lugar,  da  pes- 
soa, —  O  respeito  das  leis,  dos  costumes. 
—  «O  cavalleiro  do  Salv<ag-em  ergueu  os 
olhos,    e   vendo   não  ser    Arlanya,  se  le- 
vantou om  pé :  e  como  osta  douzella  an- 
tro todas  fosse  a  que  melhor  lhe  luiroccs- 
se,    a   rocebeu   eoin    palavras  difteroutcs 
das  outras  passadas,  que  eram  clieias  de 
seu  respeito,   forjadas   todas  de  enganos 
compostas  de  seu  desejo.  Mas  antes  que 
despendesse  muitas  a  donzella  lhe  disse.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
teri'a,    cap.    124.  —  «A   iudi^naeào   do 
mancebo,    entendeo    o  pouco   fiuyto  (|ue 
se  podia  tirar  desta  jornada,  e  manda  Jo 
pessoas  de  sua  casa  que  estranhassem  à 
Inf<ãta  o  modo  de  sua  parti  la,  e  lhe  per- 
suadissem que  tomasse  marido,  o  deixas- 
se 03  pensamentos  do  Clu-istã,  que  a  tra- 
zlaõ   alienada  do  respeyto  que  devia  a 
seu  estado,  fez  com  Germano,  que  sobrc- 
estivesso  na  partida    atè  seus  mensagei- 
ros  tornarem  cõ  a  resposta.»    Monarchia 
Lusitana,  liv.   5,   cap.   19.  —  «Aceittir.ào 
os  Bi  poi  a  jornaila,  e  chegados  a  Fran- 
ça foraõ   recebidos  de  Theodorico  com  a 
veneração  o  respeyto  devido  a  sua  digni- 
dade, porquo    inda  que  tivesse  a  heresia 
de  Arrio,  era  todavia  taõ   modesto  o  co- 
medido, que  a  ninguém  negava   o  termo 
e  bom  aci)lhimento,    próprio  a  seu   esta- 
do.»  Ibidem,    liv.  6,  cap.  7.  —  «O   (Jo- 
vornador    porque    sabia    que    Jordão    de 
Freitas  viera  de  Maluco  muito  quebrado 
com   Bernaldim    do    vSousa,    a   quem  por 
suas    partes,  e    qualidades   quiz   mostrar 
respeito,  o  evitar  escândalos,  despachem 
Oliristovíiõ  de  Síi  seu  sobrinho  por  Capi- 
tão de  huma  caravela  pêra  hir  a  Jlaluco, 
e  lho  dou  huma  provisão  em  segredo,  pê- 
ra  Bernaldim   de    Sousa   lhe    entregar  a 
cUe  a  fortaleza.»  Diogo  de  Couto,  Déca- 
da 6,  liv.  7,   cap.  6.  —  «E   riscadas   em 
publico  suas  razões,  por  virem  fumbvlas 
em  mau  zelo  e  inclinação,  e  fAra  dos  res- 
peitos  justos  e  agradáveis  a  Deos,   cuja 
misericórdia    sempre  se  inclina  aos  mais 
fracos  da  turra    quando   lhe   chorão,  se- 
gundo parece  pelos   cfFoitos   piadosos  de 
sua  grandeza.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pe- 
regrinações,   cap.    103.  —  «E    como    a 


santa  justiça  do  respeitos  limpos  c  agra- 
dáveis a  iJcos,  iiaõ  aceita  razões  de  par- 
tes contrarias  sem  aver  clara  prova  no 
([uo  dizem,  parcceoMic  nilo  m-a-  justo  acei- 
tar o  libuilo  do  promotor,  pois  naõ  pro- 
vava o  que  nclle  dczia.»  Ibidem. — «En- 
tre os  lioiuons  que  então  acompanliavão 
o  Mita(|uer,  estava  hum  por  nome  Bon- 
quinadau,  homem  ja  de  dias,  e  dos  prin- 
cipais senhores  do  reyno,  o  que  aly  era 
(japitão  fia  gente  citrangevra,  c  das  ba- 
das  da  gua)'da  do  cripo,  a  quem  se  tinha 
nuiis  respeito  ijue  a  todos  os  outros  que 
cstavão    presentes.»    Ibidem,    cap.    121. 

—  «Duarte  da  Uama  lhe  respondeu  com 
todo  o  respeyto,  e  cortesia  devida  ao  re- 
cado, e  aos  oílerecimentos  que  lhes  tize- 
ra,  e  lhes  disse  qne  festejávamos  a  che- 
gada do  Padre  por  ser  homem  santo,  e 
a  quem  Elliey  de  Portugal  tinha  muyto 
respeyto.»  Ibidem,  cap.  2(10.  —  «Antes 
trabalhai  quanto  em  vos  for  polo  fazer- 
des vosso  amigo  a  tim  de  Uie  dardes  os 
exercicios  espirituais,  ao  menos,  quando 
mais  não  podesseis,  os  da  primeira  soma- 
na,  que  atras  apontaua.  L)a  mesma  ma- 
neira vos  auercis  com  os  sacerdotes  da 
terra,  procurando,  e  consoruando  a  ami- 
zade de  to  los,  teadolhe,  e  mostrandolhe 
muyto  respeito,  e  trazendo-os  a  que  se 
recolham  per  alguns  dias  a  tomar  as  mes- 
mas meditaçòes.»  Joào  de  Lucena,  Vida 
de  S.  Francisco  Xavier,  liv.   15,  cap.  11. 

—  «A  lasciva  he  também  huma  poderosa 
causa  do  excesso  desta  payxào,  e  como 
a  niolher  (falando  com  o  devido  respeito) 
lie  mais  lasciva  do  que  nós  por  naturesa, 
essa  a  obriga  como  por  força  a  ser  muito 
mais  ciosa.»  Cavalleiro  d'Oliveira,  Car- 
tas, liv.  1,  n."  i:5. —  «Ver  a  Madre  de 
Deos,  e  estar  na  gloria  he  o  mesmo.  Ver 
Carnide  he  estar  com  os  Anjos,  Para  ver 
o  Saerameuto  he  necessário  tremer  de 
respeito.»  Ibidem,  liv.  1,  n."  36. 

Este  o  feudo  da  estima,  o  do  rcjtfito, 
Que  eu  primeiro  paguei,  Xai;ào  soberba, 
Quo  asiiiras  a  empunhar  uo  vasto  Occauo, 
Soui  conhecer  rival,  o  azul  Tridente. 

J.   A.    DE  MACEDO,   VIAGEM   KXTATICA,   Caut.   2. 

—  A  este  respeito ;  a  este  lado,  ou  fa- 
ce do  negocio,  da  cousa. 

—  Attcução,  dever,  consideração,  con- 
templação. —  «E  Eutropio  diz,  que  o  ca- 
nonizarão por  Sãto,  que  iie  relaçafí  bem 
diferente,  dos  que  o  calumniavào  por  Ar- 
riano,  sem  respeito  do  muito  que  traba- 
lhou, por  apurar  a  verila  le  da  Fè  no  Cõ- 
eilio  Niceno,  cujas  particularidades  con- 
taremos logo.  eivni  as  de  sua  mày  Santa 
Elena.»  Monarchia  Lusitana,  liv.  5,  cap. 
24.  —  «O  Godo  que  não  era  costumado 
a  sofrer  estas  afrontas,  vendose  ter  em 
pouco  do  cunhado,  a  quem  elle  aconse- 
lhava com  bom  zelo,*  pospondo  todo  res- 
peito de  amor  e  parentesco,  ajuntou  o 
mais  poderoso  campo  que  lhe  foy  possível 


e  com   Boccorro  dos  RevB   de  França,  e 

I5orgonha,  entrou  em  E«panba  buscando 
a  Ueciario,  por  não  ooperar  que  ellc  o 
fos.se  demandara  ToioHa.»  Ibidem,  liv. 
(i,  cap.  7.  —  «E  porque  V.  A.  era  obri- 
gado a  liia  dar,  e  elle  so  houve  nas  pcn- 
dença»  d'EIUey  do  f^rmuz  muit<i  a  ser- 
viço de  V.  A.,  liavendo  respeito  a  tudo, 
lhe  tiz  mercê  desse  dinheiro,  f  Diogo  de 
Cr)uto,  Década  4,  liv.  (j,  cap.  8.  —  lEm 
a  justiça  he  tão  inteiro  que  nunca  per 
nenhum  respeito,  ou  alfeição  se  inclinou 
mais  a  hun>a  parte  que  a  outra.»  Damião 
de  Gocs,  Cbronica  de  D.  Manoel,  part.  3, 
cap.  27.  —  «O  que  vendo  o  Conde  de 
Borba  pedio  liccnea  ao  Duque  pêra  lhes 
>-air,  mas  per  respeitos  que  a  i^so  teue 
lho  nain  (|uis  consentir,  porquo  seu  in- 
tento era  mais  om  tomar  a  cidade,  que 
liam  em  cometer  cousa,  que  lho  podesse 
estornar,  pelo  que  os  Mouros  se  foram 
sem  ousarem  de  chegar  mais  perto  do 
arraial  do  que  estauain.»  Ibidem,  cap. 
47. —  «E  vindo  ás  <  •ricntaes  de  nosso 
instituto,  (que  em  respeyto  do  interior 
do  Reyno  estaò  ao  Oceidcnte)  he  de  sa- 
ber que  a  parte  interior  desta  enseada, 
que  he  a  mais  Boreal  delia,  regaa  o  fa- 
moso rio  Ganges,  que  cortar.do  por  muy- 
tas  partes  os  Reynos  de  Bengala  com 
seus  inchados  braços,  parece  que  quer 
fazer  guerra  ao  mar,  como  iudifrnado  de 
([uc  r.elle  feneça  o  seu  nome.»  Conquista 
do  Pegú,  cap,  1.  —  «Tem  todavia  ima- 
gens de  Loutliias  que  adouram  por  ave- 
rcm  sido  em  alguma  cousa  ou  cousas  in- 
signes. E  assi  estatuas  e  imagens  dal- 
guns sacerdotes  dos  idolos  e  algiunas 
doutros  homens  por  alguns  respeitos  par- 
ticulares.» Fr.  (íaspar  da  Cruz,  Trata- 
do das  cousas  da  China,  cap.  27.  —  «.V 
luiarua  dos  Ala'.>ardeiro3  introduzio  f'l- 
Itev  1).  Seba*tiaõ,  assim  para  respeito 
dii  Pessoa  Real,  como  para  segurança 
delia,  pelos  muitos  Estrangeiros  Here- 
ges, que  havia  em  Lisboa,  mas  naS  eraõ 
de  Tudescos,  senaõ  de  Portuguezes,  e 
foi  seu  Capitão  da  Guarda  Francisco  de 
Sà  Camareiro  M«ir  d'ElRey  D.  Henri- 
que, e  Coiíde  de  M.itozinhos.»  Maníx;! 
Severim  de  Faria,  Noticias  de  Portugal, 
Disc.  2,  §  4. 

Fosses  quem  fosses  tu,  digno  ós  por  c^rto 
]>o  respeito  dos  séculos,  mais  qu'e&M», 
Que  fizerào  pcmer.  curvar  co'o  pczo 
De  Impérios  vastos  .•»  mesquinha  Terra ! 

J.    A.    nE    JIACBDO,    MEnlTAÇÂO,    Cflllt.    1. 

He  esta  a  fonte  de  rexjf^lto,  e  estima, 
Que  eu  Vate,  que  cu  filosofo  consagro 
A  ti,  graude  Na<;So.  soberba,  c  forte. 
iDEV,  vi.vGEM  ExrAricA,  cant.  2. 

—  «Senhor,  saiba  v.  m.  qne  á  sua  al- 
ma se  acrescenta  outra  alma  de  novo;  á 
sua  obrigação  se  ajunta  outra  obrigaç3o. 
Assim  devem    crescer  seus   cuidados,   e 


RESP 


RESP 


RESP 


249 


seus  respeitos.»  D.  Francisco  Manoel 
de  Mello,  Carta  de  guia  de  casados.  — 
« Acerca  do  tiro  que  se  deu  em  Lisboa 
sobre  Fernando  da  Costa,  e  cuidaram 
ser  D.  Manuel  de  Souza  Calhariz  o  ho- 
micida por  zelos  da  princeza  de  Holstein 
sua  infeliz  mulher,  hoje  sabe-se  ter  sido 
o  assassino  um  criado  do  conde  de  S.  Vi- 
cente, pae,  em  respeito  de  sua  filha  a 
condessa  de  Avintes,  que  era  donzella  ; 
e  ficava-lhe  defronto  Fernando  da  Costa, 
por  morarem  os  srs.  de  S.  Vicente  por 
então  junto  aos  Cardaes.»  Bispo  do  Grão 
Pará,  Memorias,  publicadas  por  Camillo 
Castello  Branco,  pag.  105. 

• — ■  O  lado,  ou  face  por  onde  se  olha,  e 
considera  alguma  cousa. 

o  que  por  mim  ha  de  ser, 
Deiia  o  toma  a  bom  respeito. 
Esmolar,  estaca  na  raia, 
d 'onde  não  podeis  passar 
som  primeiro  rcg;Í8tar 
vossa  bolsa ;  registae-a 
se  não  podeis  perdoar. 

ANTÓNIO  PBESTES,  AUTOS,  pag.  85. 

—  Motivo,  razão,  causa,  consequência. 

—  «  E  per  non  cairem  nas  penas  que  teera 
promettidas  nom  pagando  aos  ditos  ter- 
mos as  ditas  sommas  d'ouro  ou  prata,  em 
que  sam  obrigados  dão  mais  da  dita  nos- 
sa moeda,  por  o  dito  ouro  ou  prata,  do 
que  he  o  seu  verdadeiro  valor  per  res- 
peito da  prata  que  teem,  e  assy  fica  a 
no.ssa  moeda  viltada,  e  desperçada,  e  abai- 
xada :  a  qual  cousa  he  grande  perda,  e 
danno  a  nós,  e  aos  nossos  Regnos,  e  se- 
nhorio, ea  todo  nosso  povo.»  Ord.  Affons., 
liv.  4,  tit.  2,  §  3.  — •  «Em  tanto  que  dan- 
do, ou  offerecendo  o  dito  comprador  o  dito 
preço,  que  seja  seu  ao  vendedor,  será  elle 
theudo,  e  obrigado  de  lhe  entregar  a 
cousa  assy  vendida,  se  for  em  seu  poder; 
e  se  em  seu  poder  nom  for,  deve-llie  de 
pagar  todo  interesse,  que  lhe  perteencer, 
assy  per  respeito  de  gaança,  como  por 
respeito  da  perda.»  Ibidem,  tit.  4,  §  36. 

—  «A  terceira  fica  ao  Norte,  e  se  chama 
a  porta  de  Magdam,  e  sobre  ella  está  o 
Castelo,  e  casa  do  Baxâ.  A  quarta  ao 
Oriente,  esta  se  diz  a  porta  do  meyo,  na 
qual  ha  meno.s  concurso,  por  cuyo  res- 
peyto'  se  fecha  huma  hora  antes  de  se 
poer  o  Sol ;  nas  quaes  ha  de  cõtino  pre- 
sidio de  soldadesca  com  seus  Capitães 
Genizaros.»  Fr.  Gaspar  de  S.  Bernardi- 
no, Itinerário  da  índia,  cap.  19.  —  «To- 
dolos  outros  rebates  que  tiveram  d'ElRey 
Mahamud  pelo  tempo  em  diante,  tiveram 
em  pouco  em  respeito  do  perigo  que  pas- 
saram por  causa  destes  dous  Jáos  Patê 
Quetir,  e  Patê  Unuz.»  João  de  Barros, 
Década  2,  liv.  9,  cap.  õ.  —  «Eu  lhe  acei- 
tey  a  viagem  de  boa  vontade,  e  me  par- 
ty  huma  quarta  feyra  nove  dias  do  mez 
de  Janeyro  do  anno  de  154.5  desta  forta- 
leza de  Malaca,  e  seguy  minha  derrota 
com  ventos  bonanças  até  Pallopraeelar, 

voL.  V.  —  32, 


onde  o  piloto  se  deteve  por  respeito  dos 
baixos  que  atravessauão  todo  este  canal 
da  terra  firme  á  ilha  Çamatra.»  Fernão 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.  144. 
—  « E  pêra  que  hos  desembargadores 
despachassem  has  partes  com  mòr  bre- 
uidade  lhes  concedeo  de  nouo,  assi  a  el- 
les,  quomo  aos  corregedores  das  comar- 
cas assinaturas,  has  quaes  el  Rei  dom 
loão  seu  filho  depois  tirou  per  justos  res- 
peitos.» Uamiuo  de  Góes,  Chronica  de 
D.  Manoel,  part.  1,  cap.  9.  —  «Sam  taõ 
destros  no  tirar,  que  nas  guerras,  que 
tem  com  os  Portugueses  lhes  metem  as 
frechas  pelas  junturas  das  armas,  pelo 
que  se  acostumarão  a  huns  laudeis  de 
panno  de  linho,  que  os  cobre  da  cabeça 
ate  os  pès,  imbutidos  dalgodaõ,  taõ  gros- 
sos que  as  frechas  cmbaçaõ  nelles,  mas 
estes  frecheiros  lhes  naõ  tiraõ  jagora  por 
este  respeito  senaõ  aos  olhos,  e  saõ  nis- 
so taõ  certos  qvie  matam  muitos.»  Ibi- 
dem, part.  1,  cap.  56.  —  «Ao  que  Afon- 
so dalbuquerque  não  quis  dar  orelhas  por 
muitos  respeitos,  mas  antes  mandou  que 
logo  se  alasse  a  frota  pêra  fora  do  porto,  e 
que  saqueassem  as  nãos  que  ahi  estauam, 
e  lhes  posessem  o  fogo  no  que  se  passa- 
ram dous  dias  sem  da  cidade  lhe  sair 
ninguém,  o  que  feito  se  fez  a  vclla  pêra 
ho  estreito  que  he  trinta  legoas  Dadem, 
pêra  onde  partio  na  segunda  octaua  de 
Páscoa.»  Ibidem,  part.  3,  cap.  43.  —  «E 
porque  isso  assentamos,  por  nos  parecer 
cousa  de  nosso  seruiço,  e  no  que  somos 
bem  servido,  temos  por  certo  que  vos 
nam  obriga  outro  nenhum  interesse,  nem 
particular  respeito,  saluo  sermos  seruidos 
a  nossa  vontade,  e  assi  como  nos  con- 
uem,  e  este  temos  visto  em  todos  vos- 
sos seruiços.»  Ibidem,  part.  3,  cap.  53. 
—  «Deu  a  dom  Nuno  mascarenhas,  le- 
uando  mais  em  suas  instrucçoens,  que 
acabada  a  fortaleza  da  Mamora,  dom  An- 
tónio lhe  desse  nauios,  e  três  mil  homens 
para  ir  fazer  outra  fortaleza  em  Anafe  a 
qual  fortaleza  desejaua  elRei  tanto  tella 
nítquellas  partes,  que  por  esse  so  respei- 
to ordenou  de  mandar  esta  armada  a 
Namora,  para  que  acabada  esta  se  fezes- 
se  a  outra  com  menos  trabalho,  e  peri- 
go.» Ibidem,  cap.  76.  —  «Em  que  alem 
de  ter  pedidas  outras  grandes  ajudas  de 
dinheiro  que  lhe  foram  outorgadas,  quis 
de  nouo  pedir  outras  muito  maiores,  o 
que  lhe  foy  contrario,  per  alguns  dos 
procuradores  das  cidades,  e  villas,  entre 
os  quaes  o  principal  foi  loam  de  padilha 
procurador  da  cidade  de  Toledo,  natural 
da  mesma  cidade,  que  per  este  respeito 
so  despedio  das  cortes,  sem  tomar  con- 
clusam  em  nada.»  Ibidem,  part.  4,  cap. 
55.  —  «Contra  este  mandamento  tam- 
bém pecea  quem  por  algum  medo,  ou 
por  outro  respeito  negou  a  fee.  Item, 
aquelle  que  idolatrou,  adorando  o  demó- 
nio, ou  outra  criatura.  Item,  contra  este 
mandamento  peccam  todos  os  blasphema- 


dores,  arrenegadores,  pesadores.»  Frei 
Bartholomeu  dos  Martyres,  Catecismo  da 
doutrina  christã,  cap.  38. 


O  Baxá,  que  isto  tudo  governava. 
Nunca  a  frota  deixou,  nella  se  encerra, 
Assi  porque  guarda-la  a  elle  tocava 
Por  estar  nella  a  força  desta  guerra. 
Como  porque  do  todo  lhe  negava 
A  sua  antiga  idade  vir  a  terra, 
Ou  por  outro  respeito  extraordinário, 
Mas  d'alli  provê  tudo  o  necessário. 

FHANCISCO  d'aNDBADE,    PEIMEIRO  CERCO  DE  DIU, 

caut.  15,  est.  i7. 


• —  Respeitos  mundanos ;  attenções  do 
mundo.  —  «Da  parte  do  qual  lhe  reque- 
rião  huma  e  duas  e  muytaa  vezes  que 
olhasse  que  era  mortal,  e  que  a  sua  na- 
tureza era  acabar  em  breve  tempo,  que 
por  Deos  lhe  era  dada  a  vida  da  carne, 
no  fim  da  qual  avia  de  dar  conta  daquel- 
las  cousas  que  lhe  erão  ditas  e  requeri- 
das, pois  se  tinha  obrigado  por  juramen- 
to solenne  a  fazer  tudo  o  que  o  seu  claro 
juizo  entendesse  muyto  inteyramente, 
sem  respeitos  nenhuns  mundanos,  per- 
turbadores do  fiel  da  balança,  cujos  pe- 
sos o  mesmo  Deos  tinha  afilados  na  in- 
teyreza  da  sua  divina  justiça.»  Fernão 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.    101. 

—  Homerif!  de  respeito  ;  homens  res- 
peitáveis pela  sua  pessoa,  pelo  seu  saber, 
talento,  etc.  —  «Despois  que  o  despa- 
charão nesta  mesa  da  primeyra  tavan- 
graa,  nos  fomos  á  outra  que  estava  mais 
adiante,  dalj'  huma  legoa,  pelo  rio  aci- 
ma, na  qual  achamos  outros  homens  de 
muyto  mór  respeito,  os  quais  também 
cõ  outra  nova  cerimonia  viraõ  a  carta  e 
o  presente,  e  puseraõ  em  todas  as  peças 
huns  cordões  de  retrós  encarnado  com 
três  mutras  de  lacre,  que  foy  o  remate 
para  a  embaixada  poder  ser  recebida  do 
Calaminhan.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pe- 
regrinações, cap.  162. 

—  Imagens  feitas  sem  respeito  nenhum; 
imagens  que  se  fazem  sem  merecerem 
respeito,  nem  veneração,  acatamento.  — 
«Assi  que  ho  mayor  Deos  que  tem  he  ho 
Ceo,  pollo  qual  lia  letra  que  ho  significa 
he  ho  principio  e  ha  primeira  de  todas 
as  letras.  Adouram  o  sol  e  ha  lua  e  as 
estrellas,  e  quantas  imagens  fazem  sem 
respeito  nenhum.»  Frei  Gaspar  da  Cruz, 
Tratado  das  cousas  da  China,  cap.  27. 

—  Figuradamente:  O  respeito  das  ar- 
mas. —  «Nos  Reinos  de  Cananor,  e  de 
Cochim  quasi  dominão  com  absoluto  Im- 
pério em  Porca,  Coulão,  Calecoulão,  Do- 
torá,  Birinjão,  Travancor.  Alcança  o  res- 
peito de  suas  armas  até  o  famoso  Cabo 
Comori,  defronte  do  qual  está  a  illustre 
Ilha  de  Ceilão,  onde  carregão  as  nãos 
de  difterentes  drogas.»  Jacintho  Freire 
de  Andrade,  Vida  de  D.  João  de  Castro, 
liv.  2. 

—  Havendo  respeito  a  ahjuma  cousa  ; 
attendendo  a  ella.  —  «E  avendo  também 


250 


RESP 


RESP 


RESP 


respeito  a  aver  na  terra  poucos  (Ic<;ia- 
Jiiilo.s  para  o  8crvi(;o  ordinário  da  líopii- 
blica,  o  do.s  oíTiciaia  da  Justiça,  a  que  de 
necessidade  so  avia  de  acudir,  mandava 
que  por  esmola  feyta  em  nome  dei  lley, 
a  pena  do  crime  que  cometêramos  se  síi- 
tisKzesse  cos  açoutes  que  nos  tinliaõ  dii- 
dos,  e  (içássemos  aly  cativos  para  sem- 
pre até  o  Tutíio  mandar  o  contrario  se 
Uio  brm  parecesse."  Ferníío  Mondes  Pin- 
to, Peregrinações,  cap.  115.  —  «Depois 
de  Duarte  de  Lemos  ser  em  Cananor 
Afonso  da!l)U(piorque  lhe  deu  conta  de 
como  detcrminaua  tornar  sobre  Goa,  pc- 
dindo-llie  que  quisesse  ir  com  elle,  auen- 
do  respeito  quanto  importava  aquella  ci- 
dade ao  seruiço  dei  Ivci,  soboUo  (juc  ja 
tivera  muitos  ciinscllios.n  Damião  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3, 
cap.  lõ.  —  «Per  vertude  dos  quues,  se 
lhe  viesse  a  propósito  podia  ficar  na  ín- 
dia mais  tempo  dos  três  annos  que  ja  ti- 
nha vencidos,  se  escusou  desta  viagem, 
o  que  el  Rei  tomou  bem,  c  auendo  res- 
peito as  despesas  que  ja  tinha  feitas,  e 
aos  serviços  que  lhe  fezera  em  Africa,  e 
outras  partes,  e  em  especial  em  Arzilla, 
o  na  tomada  de  Azamor,  c  na  batalha 
dos  alcaides.»  Ibidem,  part.   4,  cap.  31. 

—  Por  seu  respeito  ;  em  attenção  a 
cUe,  ou  a  si.  — ■  «Andámos  após  os  en- 
ganos, somos  solicites  cm  nosso  damno, 
não  nos  queremos  desenganar  por  huma 
má  opiniam  do  mundo;  himos  contra  a 
alma  por  amor  do  corpo,  que  nos  foy  da- 
do por  seu  respeito;  estimamos  a  vida 
como  que  fosso  perpetua.»  D.  Joanna  da 
Gama,  Ditos  da  freira,  pag.  26  (ediç.  de 
1872).  —  «Estes  males  todos  causou  a 
desonestidade  de  huma  molher,  porque 
poramor  delia  ferio,  e  decepou  seu  mari- 
do Fernam  Caldeira  a  Anrrique  de  tou- 
ro, e  por  seu  respeito  mandou  dom  Go- 
terre  matar  o  mesmo  Fernam  Caldeira.» 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  4,  cap.  17. 

—  Em  attenção  a  nós.  —  Por  nosso 
respeito  fez-se  isto.  —  «E  porque  Nam- 
bear  giuizil,  que  fora  do  Çamorij  passa- 
do, por  causa  nossa  ora  lançado  do  llov- 
no,  e  depois  em  Cananor,  onde  também 
servia  a  ElRey  deste  cargo,  elle  o  espe- 
dio,  tudo  por  nosso  respeito ;  quando  Af- 
fonso  d'Alboquerque  assentou  estas  cou- 
sas da  paz  com  o  novo  Çamorij,  traba- 
lhou com  elle  que  tornasse  a  restituir  em 
seu  officio  a  Nambear,  o  que  elle  foz.» 
João  de  Barros,  Década  2,  liv.  8,  cap.  li. 
—  «Mas  não  ho  razão  que  nos  peçais  (pic 
fallcmos  ao  julgador  com  tenção  de  pur 
nosso  respeito  fazer  elle  o  que  não  devo 
em  sou  officio,  poi-que  será  dar-lhc  moti- 
vo de  peccar  cõti-a  Deos,  e  yrse  ao  in- 
ferno, e  nós  ficaremos  sendo  mais  pro- 
priamente servos  do  diabo  que  ministros 
do  remédio  dos  pobres.»  Fernão  Mendes 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  102.  —  «Este 
perro  quàdo  soube  da  nossa  prisai3,  e  co- 


mo cl  Rey  estava  determinado  de  nos 
mãdar  soltar,  cmburilhou  o  negocio  do 
maneyra,  e  disse  de  nós  tãtas  mentiras  a 
el  Rey,  que  (piasi  lhe  fez  crer  que  sem 
duvida  pcnleria  muyto  cedo  o  reyno  jjor 
nosso  respeito,  porque  lhe  disse  que  era 
nosso  costume  espiarmos  huma  terra  so 
color  de  mereãcia,  e  despois  a  tomarmos 
como  ladrões,  matado  e  assolado  toda  a 
cousa  que  nella  achávamos.»  Ibidem, 
ca}).  IrW. 

—  A  respeito  de  ahjucm,  ou  efe  nhjii- 
ma  cousa  ;  com  relação  a  elle.  —  «E  os 
contrautos  dos  ditos  afloramentos,  ou  em- 
prazamentos, ou  d'outros  (piaecsquer  fo- 
ros, ou  rendas,  per  que  fazem  pagas  a 
respeito  da  moeda  antiga,  que  forom  fei- 
tos ante  da  dita  Era  de  mil  e  trezentos 
e  noventa  e  cinco  aunos  atras,  paguem 
settecentas  por  huma  dês  este  primeiro 
dia  de  Janeiro,  que  ora  vem  da  Era  de 
mil  e  quatrocentos  e  triuta  e  seis  annos 
em  diante.»  Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit.  1, 
i}  63.  —  «Lionarda,  ao  tempo  que  o  im- 
perador chegou  a  cila,  vendo  uma  idade 
tamanha,  a  presença  grave  e  authoriza- 
da  por  extremo,  pareccndo-lhe  que  todo 
seu  estado  c  fama  a  respeito  da  pessoa 
era  pequeno,  com  toda  cortesia  e  acata- 
mento, que  pode  o  recebeu,  debruçando- 
sc  p<u'  lhe  beijar  a  mão  pola  mercê,  que 
lhe  fazia  cm  a  querer  ter  cm  sua  casa  e 
corte.»  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
d'Inglaterra,  cap.  111.  —  aTornando  a 
elles,  depois  de  verem  todo  o  apousenta- 
mento,  foram  ao  lugar  donde  estava  o 
gigante  de  metal,  e  isto  houvei-am  por 
tão  pouco  a  respeito  do  passado,  que  o 
não  olharam.  D'ahi  foram  ter  onde  se 
passava  o  rio,  e  vendo  o  modo  da  ponte 
e  a  estreiteza  e  podridão  delia,  a  altura 
da  agua,  aqui  se  pôz  em  esquecimen- 
to todos  outros  trabalhos  passados.»  Ibi- 
dem, cap.  119.  —  «Esta  certeza  está  muy 
experimentada,  e  parece-me  que  provada 
na  minha  carta  a  respeito  dos  ânimos 
inferiores,  e  ordinários  que  se  sogcitão 
ás  suas  extraordinários  violências.»  Ca- 
valleiro  d'01iveira.  Cartas,  liv.  1,  n.°  13. 
■ —  «O  que  entendo  a  respeito  de  huns  e 
do  outi-os,  e  o  que  julgo  definitivamente 
de  todos  os  amantes,  hc  que  não  ha  Amor 
sem  Ciúme,  e  que  ninguém  pikle  nem 
sabe  amar  som  ser  Cioso. »  Ibidem.  — 
«Ainda  não  vi  idea  mais  jixsta  do  que  a 
vossa  a  respeito  da  fragilidade  huma- 
na. Ordinariamente  não  amamos  os  obje- 
ctos SC  os  não  vemos.»  Ibidem,  n.°  42. 
—  «Parcceudo-me  que  basta  de  exem- 
plos autorisados,  a  respeito  de  pessoas 
que  SC  distinguirão  das  outras  pelas  sn:tó 
forças,  vos  dircy  que  todas  cilas  da  mes- 
ma forma  que  Sansão  não  forão  Gi- 
gantes, e  ainda  que  das  referidas  hou- 
ve algumas  de  mayor  estatura  que  a 
ordinária.»  Ibidem,  n.°  õO.  —  «Vós  mo 
obrigaes  a  que,  discorrendo  nesta  ma- 
téria, vos  mostre  que  sou  neUa  o  mais 


ignorante  dizendo-vos  qual  ho  o  meu 
parecer,  c  o  meu  juizo  a  seu  respei- 
to.» Ibidem,  n."  43.  —  «Todos  sabem  o 
erro  commuin  em  que  se  acliãu  as  Par- 
teyras  a  respeito  dos  meninos  quo  nas- 
cem impellicadoí,  ou  para  melhor  diser 
com  a  cabeça  ornada  de  huma  coifa  a 
(jue  08  Gregos  chamavão  amnios.*  Ibi- 
dem, n.°  11.  —  «Perguntando  Caos  bc 
cllc  dcyxára  dito  alguma  cousa  a  seu 
respeito,  lhe  disse  o  (iovernador  da  casa 
do  dito  Cavalheiro  que  não  tinlia  dis- 
})osto,  nem  deyxado  outra  cousa  que  cer- 
tos pi;8,  que  lhe  pedira  que  conservas- 
se com  todo  o  cuidado.»  Uiidem,   n.°  8. 

—  «Este  he  o  meu  parecer  a  respeito  de 
Hipparchia  ;  e  a  respeito  do  seu  amor 
conhece  muito  mal  as  molheres,  quem 
atribuo  á  virtude  o  que  ellas  podem  obrar 
por  ca(iricho,  c  por  rnáo  gosto.  Pór-so 
um  homem  sempre  da  pcor  parte  quan- 
do 88  deve  faser  juiso  das  suas  acçoens, 
parece-me  que  he  a  regra  mais  segura 
que  se  pôde  seguir  para  errar  menos.» 
Ibidem,  n.°  10.  —  «E  cntaõ  lha  assen- 
tavaõ  nos  livros,  a  respeito  da  que  o 
pai  havia,  porém  sempre  maid  peque- 
na, para  dar  lugar  aos  acrescentamentos 
ordinários.»  Manoel  Severim  de  Faria, 
Noticias  de  Portugal,  Disc.  3,  §  21. — 
«Entrando-lhe  um  cai-deal  em  casa,  gri- 
tou que  lhe  fossem  buscar  um  crucifixo 
para  a  cabeceira  da  cama.  Isto  são  ve- 
nialidades  a  respeito  de  coisas  moraes. » 
Bispo  do  Grão  Pará,  Memorias,  publica- 
das porCamillo  Castello  Branco,  pag.  78. 

—  «Respondeu  :  —  «Quo  v.  exc*  é  um 
grande  de  Portugal. — Nào  digo  isso:  fal- 
lo  a  respeito  dos  meus  versos...  tornou 
o  conde.  —  E  coisa  em  que  lá  se  líào  fal- 
ia. —  Assim  castiga  Deus  com  um  desen- 
gano uma  vaidade!»  Ibidem,  pag.  108. 

—  Respeitos  humanos;  o  medo  que  se 
tem  do  juizo,  e  dos  discursos  dos  homens. 

—  O  respeito  faz  commetter  muitas  fal- 
tas. 

—  Relação  de  uma  cousa  com  outra. 

—  1  Como  porém  concorda  Amor  contrá- 
rios táes !  D'essa  opinião  vem  que  maior 
ciúme  não  cabe  que  haja,  do  que  o  meu 
ciúme  á  cerca  de  quanto  te  diz  respeito; 
e  iria  eu  não  menos  ao  cabo  do  mundo 
grangear-te  admiradores.  Abhorrêço  essa 
Franceza,  com  tão  entranhavel  ('>dio,  que 
não  ha  hi  crueza  que  em  destruição  sua 
eu  não  executara.»  Francisco  Manoel  do 
Nascimento,  Successos  de  madame  de  Se- 
neterre. 

—  Guardar  a  dama  respeitos;  fugir, 
evitar  occasiões  de  dar  ciúmes. 

—  Intento,  intuito,  fim,  projecto  que 
algucm  propõe  conseguir. 

—  Ter  respeito ;  ter  attenção,  conside- 
ração. 

—  Mover-sc  pelos  respeitos  da  fazetv- 
da,  da  honra,  do  int' reste :  mover-se  por 
influencia,  considcraç^ão,  attenção  da  fa- 
zenda, da  honra  e  do  interesse. 


RE  SP 


RE  SP 


RESP 


251 


—  Com  respeito ;  com  consideração, 
reflexão. 

—  Logar  de  respeito  ;  logar  em  qiie  se 
deve  estar  com  respeito.  —  As  igrejas 
são  lagares  de  respeito. 

—  ^1  respeito  ;  em  comparação. 

—  Sem  respeito  a  recreações,  nem  a 
deleites;  sem  que  elles  influam,  ou  sejam 
causa  de  resolução  ou  acção. 

—  Munição  de  respeito;  balas,  pellou- 
ros  de  grande  calibre. 

—  Respeito  de  pessoas;  acceitacão  d'el- 
las. 

—  Cousa  de  respeito,  pessoa  de  res- 
peito ;  cousa  de  importância,  digna  de 
attenção,  veneração,  que  inspira  respeito. 

—  Sou  com  profuiuj.o  respeito ;  for- 
mula pela  qual  se  termina  de  ordinário 
as  cartas  a  um  superior. 

—  Srs.:  Respeito,  deferência,  reveren- 
cia, veneração,  acatamento. 

O  respeito  reside  na  imaginação;  a 
veneração  no  coração.  Esta  é  o  effeito  da 
persuasão  interior  do  animo;  aquelle  re- 
sulta da  impressão  causada  pelo  objecto 
em  nossos  sentidos.  Por  isso  respeita-se 
a  authoridade,  e  venera-se  a  virtude.  Um 
varão  apostólico  excita  nossa  veneração ; 
um  pai,  nosso  respeito ;  um  soberano  vir- 
tuoso, nosso  respeito  e  veneração. 

Deferência  é  o  respeito  que  os  deveres 
soeiaes  e  a  boa  educação  nos  impõem  rela- 
tivamente aos  desejos  ou  dictames  alheios. 
Reverencia  é  o  respeito  acompanhado  de 
vene7'ação. 

Acatamento  é  todo  o  acto  externo  com 
que  mosti-amos  nosso  respeito  ou  venera- 
ção, com  que  acatamos. 

—  Syx.  :  Respeito,  consideração.  Vid. 
este  ultimo  terir.o. 

RESPEITOSAMENTE,  adv.  (De  respei- 
toso, com  o  sufiixo  «mente»).  De  uma 
maneira  respeitosa,  com  respeito.  —  Fal- 
lar,   escrever  respeitosamente  a  alguém. 

—  Proceder  respeitosamente  com  alguém. 
Approximar-se  "respeitosamente  do  altar. 

RESPEITOSO,  A,  adj.  Que  testemunha 
respeito,  que  move  respeito.  —  Um  ho- 
mem respeitoso.  —  Uma  filha  respeitosa. 

—  Filhos  respeitosos. 

—  Reverente. 


E  cu.  que  o  não  conheci,  Lasthêncs  ricco! 
Como  03  Céos  mófào  da  agudeza  humana  ! 
Servo  te  imaginei,  por  ordens  tuag, 
Dos  hospedáes  devêrca  incumbido. 
Lasthênes  se  inclinou,  co's  olhos  baixos  ; 
Eudóro  a  Mãe  seguia  respeitoso. 

F.   M.   DO  KASCIMESTO,  OS  MAHTYEES,  11 V.   2. 


—  Que  mostra  respeito.  —  Um  aspe- 
cto respeitoso. — Postura  respeitosa. — 
«  Pedio  Suzanna  que  nos  deixassem  sós, 
e  advertiu  seu  marido  com  tom  de  afago, 
de  que  não  ia  jantar  fora,  e  que^imandas- 
se  por  desculpa  faltas  de  saúde !  Litgo 
que  nos  vimos  ambas  sós  ella  me  fez  tan- 
ta caricia  com  tão  amável  e  respeitoso 


gesto,  que  fez  com  que  vertessem  na  mi- 
nha alma  quantos  abalos  agitavão  a  sua.» 
Francisco  ílanoel  do  Nascimento,  Succes- 
sos  de  madame  de  Seneterre. 

—  Que  observa  veneração,  cortezia. 

Feliz,  o  que,  nos  valles  vive,  em  prantos! 
Que,  a  Deos,  manancial  de  bênçãos,  busca ! 
Feliz,  quem  vio  seus  erros  perdoados, 
E,  em  dura  penitencia,  a  Gloria  encontra  ! 
Feliz,  quem,  no  silencio,  ergue  o  Edifício 
De  boas  Obras  iSalomonio  Templo, 
Onde  03  golpes  do  scôpro,  ou  do  Machado 
Não  se  ou%'iào,  em  quanto,  respeitoso, 
A  casa  do  Senhor  lavrava  o  Obreiro). 

F.    M.    DO  SASCIMEXTO,   OS  MABTTKES,   1ÍV.    3. 

RESPEITUADO,  part.  pass.  de  Respei- 
tuar.  Respeitado. 

RESPEITUAR,  i-.  a.  Haver  attenção, 
respeitar. 

RESPEITUOSO,  A,  adj.  Vid.  Respectuo- 
so,  e  Respeitoso. 

RESPICIENCIA,  s.  /.  =  Termo  pouco 
em  uso.  Respeito,  consideração,  reparo. 

RESPIGA,  s.  /.  O  trabalho  de  respigar 
as  searas. 

—  Emprega-se  também  no  sentido  fi- 
gurado. 

RESPIGADEIRA,  *.  /.  Mulher  que  apa- 
nha as  espigas,  que  remaneceram  da  se- 
ga no  agro. 

—  Vid.  Rabiscadeira,  que  é  difi"erente. 

RESPIGADOR,  s.  m.  Homem  que  respi- 
ga as  searas  ceifadas,  e  recolhe  as  espi- 
gas, que  ficaram  por  segar. 

—  Figirradameute :  Homem  que  es- 
preme todo  o  ganho,  lucro,  até  illegal- 
mente. 

RESPIGADURA,  s.  /.  O  que  se  respiga. 

RESPIGÃO,  s.  m.  E-pigão,  que  nasce 
junto  ás  unhas. 

RESPIGAR,  1-.  a.  Recolher  as  espigas 
que  ficaram  no  agro  ceifado. 

—  Figuradamente:  Tirar,  succar  todo 
o  ganho,  até  sem  legalidade. 

—  Vid.  Rebuscar,  ou  Rabiscar,  que 
difi"erem. 

RESPINGADOR.  Vid.  Respingão. 
RESPINGÃO,   ONA,  adj.  Que  respinga, 
que  coucêa. 

—  Cavallo  respingão ;  cavaUo  inquieto, 
desobediente,  couceador. 

RESPINGAR,  1-.  n.  Inquietar-se  a  bes- 
ta, coueear. 

—  Figuradamente  :  Resistir,  recalci- 
trar, repsgnar. 

RESPINGO,  s.  m.  Couce,  fallando  da 
besta  que  respinga. 

—  Estalinho  de  vela,  cuja  cera  ou  se- 
bo tem  agua  misturada. 

—  Figiu-adamente :  Resistência,  recal- 
citraçào. 

RESPIRABILIDADE,  s.f.  Termo  de  phv- 
sica.  Qualidade  de  um  gaz  que  pôde  ser- 
vir para  a  respiração. 

—  Aptidão  a  ser  respirado. 
RESPIRAÇÃO,  í.  /'.   (Do  latim  respira- 

tio),  Funcção  em  virtude  da  qual  o  flui- 


do nutritivo  de  um  ser  organisado  é  posto 
em  contacto  com  o  ar,  que  lhe  rouba  uma 
parte  das  suas  propriedades,  e  lhe  com- 
munica  outras ;  ella  consiste  em  dous  mo-- 
vimentos  oppostos,  chamados  inspiração  e 
expiração ;  aspira-se  oxygeneo  e  azote,  e 
expira-se  azote  e  acido  carbónico.  Nos  in- 
sectos a  respiração  eôectua-se  por  canaes 
particulares  chamados  trachías;  na  maior 
parte  dos  animaes  aquáticos,  ella  tem  lo- 
gar por  uma  espécie  de  franjas  mem- 
branosas  chamadas  branchios.  Em  todos 
os  mammiferos,  aves  e  reptis,  effectua-se 
nos  pulmões,  da  mesma  maneira  pouco 
mais  ou  menos  que  no  homem.  O  mecha- 
nismo  da  respiração  existe  todo  inteiro 
em  movimentos  successivos  de  contrac- 
ção e  dilatação  do  peito,  ou  thorax,  e 
portanto  dos  próprios  pulmões,  os  quaes 
movimentos  produzem  successivamente  a 
expiração  e  aspiração  do  ar  atmospheri- 
co.  —  Ter  a  respiração  livre,  fácil,  dif- 
ficil,  desembaraçada.  —  Os  órgãos  da  res- 
piração. —  «Largo  tempo  nos  demorámos 
n'e5te  género  de  disputa;  quando  vimos 
endireitar  para  nós  um  homem  tam  apres- 
sado, que  quasi  trazia  tomada  a  respira- 
ção :  era  elle  outro  ministi'o  de  Pvgma- 
lião,  que  da  parte  d'Astarbé  'mulher  for- 
mosa qual  uma  deusa)  nos  vinha  deman- 
dar, i  Francisco  Manoel  do  Nascimento, 
e  Manoel  de  Sousa,  Telemaco,  liv.  .3. 

—  Soffrer  falta  de  respiração ;  não  ter  a 
respiração  no  seu  estado  normal. —  «Que 
tem  isto  com  o  Imperador  Augusto,  per- 
guntará V.  A.  e  com  rasão?  Eu  a  dou. 
Amava  Au.gusto  muito  a  Vú-gilio,  e  a 
Horácio.  Tinha-os  quasi  todos  dias  á  sua 
mesa,  e  sentava-se  entre  elles.  Virgilio 
sofria  faltas  de  respiração.  Horácio  tinha 
huma  fistula  lacrimosa.»  Cavalleiro  d"01i- 
veira.  Cartas,  liv.  3,  n."  17. 

—  Termo  de  pathologia.  Os  movimen- 
tos respiratórios  variam  muito  nas  doen- 
ças. A  respiração  é  frequente  ou  rara, 
conforme  os  movimentos  são  mais  ou  me- 
nos numerosos  u'imi  tempo  dado  que  o 
não  são  em  saúde;  viva  ou  lenta,  con- 
forme o  gi-au  de  rapidez  ou  de  lentidão 
com  o  qual  os  seus  movimentos  se  exe- 
cutam; grande  ou  pequena,  conforme  ha 
muito  ou  pouco  ar  inspirado  e  expirado; 
fácil  ou  difícil,  conforme  se  executa  com 
facilidade  ou  sem  ella :  a  respiração  dif- 
ficil  constitue  a  di/spnêa.  Ella  é  igual  ou 
desigual,  conforme  a  successão  igual  ou 
desigual  de  seus  movimentos ;  quando 
em  um  numero  dado  de  respirações  fal- 
ta uma,  a  respiração  chama-se  intermit- 
tente.  Ella  é  sonora  ou  insonora,  confor- 
me se  faz  com  ruido  ou  sem  elle :  no  pri- 
meiro caso  toma  diversos  nomes,  segundo 
a  qualidade  do  som  que  produz :  assim  é 
sibilante,  quando  faz  ouvir  o  som  parti- 
cular conhecido  pelo  nome  de  sibilamen- 
to;  suspiriosa,  quando  produz  o  ruido  que 
constitue  o  suspiro ;  luctuosa,  quando  o  ar 
expulso  dos  pulmões  pela  expiração  pro- 


252 


RESP 


RESP 


RESP 


duz  o  som  cliamado  gemido;  sterlorosa, 
quando  faz  ouvir,  n<m  niovimcutos  do 
expirarão  c  de  iutipirarào,  uma  espécie 
do  8ora,  que  iuiita  bem  o  ruido  da  agua 
fervente. 

—  Termo  de  munica.  A  acçào  de  res- 
pirar para  cantar  diílcre  em  alguma  cou- 
sa da  respirai.ão  para  fallar.  (guando  se 
respira  para  fallar,  o  primeiro  movimen- 
to é  o  da  aspirai^^ào;  entào  o  ventre  iucLia, 
o  sua  parte  superior  avaui,a  um  pouco,  e 
depois  o  segundo  movimeuto  é  o  da  ex- 
piração; estes  dous  movimentos  operam- 
se  lentamente,  quando  o  corpo  existe  no 
seu  estado  normal.  Telo  contrario,  na  ac- 
çSo  do  respirar  para  cantar,  é  mister 
achatar  o  venti'e,  o  fazel-o  subir  com 
promptidiio,  inchando  o  peito. 

—  Termo  do  botânica.  Os  vegetaes 
apresentam  também  phonomcnos  respira- 
tórios que  se  tem  comparado  com  razão 
aos  que  se  observam  nos  insectos.  O  ar 
penetra  no  tecido  vegetal  por  uma  mul- 
tidão do  aberturasinhas  da  superfície  in- 
ferior das  folhas,  que  representam  igual- 
mente 03  estigmas  dos  insectos;  o  se  dis- 
tribuo em  todas  as  partes  d'este  tecido 
por  trachèas  análogas  ás  trachèas  dos  in- 
sectos quanto  á  estructura,  c  suas  fnnc- 
ÇÍÍes.  Nas  plantas  aquáticas,  como  nos 
peixes,  a  agua  cheia  de  ar  vem  banhar 
immediatamcnte  as  cellulas,  em  que  a 
seiva  está  encerrada,  e  estiis  cellulas  fa- 
zem o  officio  de  brauchios. 

—  Figuradamente  :  Respiração  do  tra- 
halJw;  allivio,  folga. 

—  Soltar  a  respiração ;  soltar,  expel- 
lir  do  bofo,  ou  recolher  o  ar  respirando. 

RESPIRADEIRO,  s.  m.  Vid.  Respira- 
douro. 

RESPIRADO,  part.  i^ass.  de  Respirar. 
Solto  pehi  rospiração. 

—  liccolhido. 

RESPIRADOR,  s.  m.  Termo  de  physica. 
Apparelho  próprio  para  facilitar  a  respi- 
ração. 

—  Respirador  antimcphitico;  instru- 
mento de  que  nos  servimos  para  fazer 
sem  perigo  certas  experiências  no  mephi- 
tismo  das  fossas,  latrinas,  etc. 

—  Termo  de  anatomia.  Diz-se  dos  ór- 
gãos que  sorvoui  para  a  respiração. 

RESPIRADOURO,  s.  m.  Resfolgadouro, 
abertura  quj  dá  passagem  a  vapores,  a 
fumo,  a  cxhalaçr)es,  á  luz. 

RESPIRAMENrO,  s.  m.  Assopro,  bafo, 
alento. 

—  Descauí;!^,  cessação  do  trabalho,  da 
fadiga. 

RESPIRATÓRIO,  A,  adj.  Termo  de  ana- 
tomia o  physiologia.  Quo  serve,  que  tom 
relação  com  a  respiração.  —  Oi-íjãos  res- 
piratórios. —  Movimentos  respiratórios. 

RESPIRANTE,  part.  act.  de  Respirar. 
Que  respira  como  os  ânimos  vivos. 


Ou  foi  insipicnoia,  ou  foi  li^wnja 
Iloiu-iir  as  ciiuiis  do  soberbo  Júlio 


(^in  lucto  uiiircrsal  du  Natureza ; 
^[as  a  luz.  du  Scicncia  iiida  niio  tinha 
Fulpuradij  oiitrc  os  fillioí  di;  .Miivortc ; 
Duixavilo  <|uc  oiitroH  de  ]iolidos  bronzes 
Urt  rrupiranteíi  bustos  luvautasiicin. 
j.  A.  vK  UACKDO,  uKDiTAçÃo,  cant.  2. 

Qual  SC  nos  mostra  hum  Hercules  Furnesi, 
Cjual  riu  iulmira  du  M(-dicis  u  Vonus; 
Súbito  vira  que  a  dcscrti  praia 
Fura  nliUMi  tempo  babitai,'ão  du  bumanos, 
Que  hum  Fidiari,lmm  Luucippo,  hum  i'raxiti.'lles, 
A  niupiraiite  inólc  ao  ar  erguera. 
loiDKu,  cant.  4. 


—  Termo  de  poesia.  Que  assopra,  ou 
sopra  brando. 

RESPIRAR,  f.  n.  (Do  latim  respirare). 
Rec(jlher  e  soltar  o  ar  alternadamente 
pelo  movimento  dos  bofes.  —  Difjicahladt 
da  respirar. 

Trcs  vpzcâ  quiz  fugir,  s  trcs  o  Medo 
Os  passos  lhe  embargou :  immovcl  tica, 
E  semi-vivo  respirar  naõ  pôde. 

A.    DIXIZ  D\  CBUZ,   HYSSOPE,  Caut.   8. 

Alli  vapor  mefítico  respiràn 
Miseráveis  mortues:  alli  mil  vezes 
Cabe  ruinosa  a  abobada  que  fiirmiio, 
E  os  desgraçados  paru  senipro  cobre. 

J.  A.  DF.  HACnDO,  A  KATDRBZA,  CaUt.  2. 

Mas  a  teu  lado  outr'anra  cm  fim  respiro, 
Foge  a  ^^3ào,  oa  cxtasis  par;\riio. 
IBIDEM,  cant.  1. 

—  Viver.  —  Respirar  para  vós.  — « To- 
dos os  outros  Principes  se  hão  de  armar 
contra  o  commum  inimigo,  para  poderem 
respirar  na  antiga  liberdade  em  que  vi- 
vião.  Pelo  que  a  mim  toca,  os  filhos,  a 
fazenda,  e  a  pessoa  oííereço  a  esta  guer- 
ra; se  acabar  nella,  em  meu  sangue  verá 
Badur  minha  íidclidade;  e  cm  ambos  os 
suceessos  não  terei  por  menos  hoiu-ada  a 
morte,  que  a  victoria.»  Jacintho  Freire 
de  Andrade,  Vida  de  D.  João  de  Castro, 
cap.  2. 

—  Termo  de  poesia.  Assoprar,  ou  so- 
prar. 


O  brando,  suaue  Zcphiro  respire 
Nos  brandoá  corações  dos  dous  amantes, 
Fauoreça  o  grão  mal,  que  o  brauo,  e  fero 
Vulturno  tinha  ncUes  imprimido. 
Venha  ja,  venha  ja  a  lúcida  cstrella 
Do  Scpulucda  ja  ditoso,  e  ledo, 
lirotcni  lirios  os  campos  que  atégora 
De  cardos  espinhosos  se  cobrião. 

COKTE  REAL,  KACFKAOIO  DE  SEPÚLVEDA,  Caut.  4. 


Tinha  uma  volta  dado  o  Sol  ardente 
E  n'outra  começava,  quando  \iram 
Ao  longe  dous  navios,  brandamente 
(.'o"o9  ventos  navegando,  que  respiram; 
Y'orquc  haviam  de  ser  da  maura  Gente, 
l'ara  ellos  arribando  as  velas  virara  : 
l'm,  de  temor  do  mal  que  arreceava. 
For  se  s.-Uvar  a  gontc,  á  costa  dava. 
CAM.,  LIS.,  Ciint.  2,  est.  GS. 


—  Parecer  que  t'!m  vida  ijensirel. 

—  I)ar  ttignaes  de  vida. 

—  Figurailanicntc:  Ot  t^u*  etcriptos 
respiram  li(;òe»  do  céo. 

Og  teus  e«críptos  immortaeti  reapirão 
Cclcstiaca  liçúos,  virtude  austera. 

J.    A.    DE   IfACKDO,   VIA<;r.ll  KITATICA,  caut.    2. 

—  Respirar  «  vida;  resuscitar,  revi- 
ver. 

—  Figuradamente :  Respiram  o*  #i:ie»t- 
cias  amortecidas. 

—  Respira  o  /"</o ;  exliala  a  sua  força. 

—  Figuradamente  :  Descançar,  tomar 
fôlego,  ter  allivio  da  oppressào,  do  traba- 
lho. 


C)!) !  —  Ja  vào  sahindo  o  porto, 
Ja  largaram  a.s  naus.  Heipiro:  um  péao 
Férreo  se  me  tirou  de  sôbrc  o  peito. 
Kst&o  salvos,  e  ca  livre !  —  Meu  amigo, 
Tu  Tais  com  dica. 

OASBETT,  CATÃO,  aCt.    5,   gC.    7. 


—  Respirar  o  famo ;  sair  pelo  respira- 
douro. 

—  Soltar  o  ar  do  bofe,  em  oppoeição  a 
inspirar. 

—  Respirarem  os  nossot;  retirando-se 
do  inimigo,  ou  entretendo-se  em  cousa 
que  lhes  dava  grando  trabalho,  e  descan- 
ço  aos  nossos. 

—  V.  a.  Exhalar  cheiro,  ou  aroma. 

—  Desejar,  ameaçar,  fazer. 

—  Respirar  famo ;  soltal-o  por  algum 
respiradouro. 

—  Assoprar,  ou  soprar. 

—  Respirar  agua  jyelas  trombas  um 
peixe. 

—  Anuunciar,  exprimir.  —  Seiís  dis- 
cursos respiram  òcndade. 

—  Desejar  ardentemente.  —  Xào  res- 
pira se/ulo  vimjança.  —  Elle  respira  guer- 
ra. —  Xão  respira  senão  prazeres. 

—  Usa-se  também  como  substantivo  : 
O  respirar  opprcsso  dos  círcumstantes. — 
«  K  buscava  descobrir  o  corregedor,  que 
não  viera  ao  sarau.  Emquanto  dous  ou 
três  pagcivs  saiam  a  procurar  o  doutor 
Gil  Eannes,  apenas  se  ouvia  pelo  espaço- 
so aposento  o  respirar  opprcsso  dos  eir- 
cumstantes,  esperando  assombrados  o  dcs- 
feolio  daqucUe  estranho  drama,  que,  em 
vez  do  arremedilho  de  Alie,  servia  d'in- 
troito  aos  momos  e  folgares.»  A.  Hercu- 
lano, Monge  de  Cister,  c.ip.  2ri. —  iPor 
alguns  minutos,  não  .se  ouviu  mais  nada 
senão  o  sou  respirar  afadigado  e,  de 
quando  em  quando,  um  pé  que  escorre- 
ga v.i  nas  lageas  do  pavimento.  >  Ibidem, 
cap.  2S. 

RESPIRÁVEL,  wJj.  2  gen.  Que  é  susce- 
ptivel  (lo  servir  para  a  respiraçiSo.  —  Um 
ar  respirável.  —  Os  gazes  respiráveis. 

RESPIRO,  s.  m.  O  ar  que  se  solu  do 
bofe. 

—  Descanço  breve  de  fadigas. 


RESP 


RESP 


RESP 


2Õ3 


—  Fol.ffa,  espaço  a  devedor, 
RESPLANDECÊNCIA,  s.  /.  Termo  pouco 

em   usu.    Luz.  ou   claridade,  que  alguma 
cousa  tem  em  si. 

RESPLANDECENTE,  ijart.  act.  de  Res- 
plandecer. Que  resplandece. 

—  Ikilhante. — ■  Uma  htUeza  resplande- 
cente. —  Figura  resplandecente  de  saúde. 
— •  «No  cabo  desta  casa,  em  liuma  tribuna 
redonda  de  quinze  degraos  estava  hum 
altar  leito  á  proporção  da  tribuua,  sobre 
o  qual  estava  a  estatua  da  Xacapirau,  em 
iigura  de  mollier  niuvto  fermosa,  cos  ca- 
bellos  soltos  por  cima  dos  ombros,  e  as 
màos  ambas  levantadas  ao  Coo,  e  ella  em 
sy  tào  resplandecente  por  ser  o  ouro 
muito  rino  e  muyto  brunhido,  que  n.no 
havia  quem  lhe  pudesse  ter  os  olhos  di- 
reytos.i)  Fernào  Mendes  Pinto,  Peregri- 
nações, cap.  110. 

O  Lusitano  Heitor,  á  porta  imiga 
Chega,  com  ferroa  luz  resplandecente, 
Não  ha  nenlium  dos  seus  que  nào  o  siga, 
E  também  que  nào  coiumetta  ousadamente : 
Trava-se  alli  cruel  c  dura  biiga. 
Porque  a  força  maior  da  imiga  gente 
Posta  em  um  esquadrão  naqucUa  parte 
Do  forte  Capitão  segue  o  estandarte. 

PRAXCISCO  DE  A5DBADE ,  PRIMEIRO  CERCO  DE  DIU , 

cant.  2,  est.  3. 

—  Diz-se  dos  corpos  luminosos  e  bri- 
lhantes, dos  corpos  gloriosos,  dos  bem- 
aventurados.  —  Na  traasjiguraçào,  Jesus 
Christo  appareceu  todo  resplandecente  de 
gloria  e  de  luz. 

Com  qualquer  pouca  parte, 
Senhora,  que  me  deis  d'ajuda  vossa 
Podeis  fazer  qu"cu  possa 
Escurecer  ao  sol  resplandecente: 
Podeis  fazer  que  a  gente 
Em  mi  do  grão  poder  vosso  s'e3pantc ; 
E  que  vossos  louvores  sempre  cante. 

CAMÕES,  ÉCLOGA  4. 

Ja  das  cavernas  hórridas  sahião 

A  perturbar  a  paz  da  humana  gente 

Aquelles  monstros  vários,  que  assistião 

K"csse  conselho  lá  do  Reino  ardente. 

As  areias  que  os  Mares  encobriào. 

Os  átomos  do  Sol  rejíplandecente. 

O  grande  Ceo,  que  em  pontos  se  fizera, 

A  quantos  são,  igual  tudo  nào  era. 

BOLIM  DE  MOURA,  XOV.  DO  HOMEM,  Cant.  1, 

est.  22. 

RESPLANDECENTEMENTE,  aJv.  (De 
resplandecente,  e  o  suffixo  «mente»).  De 
um  modo  resplandecente,  resplandecendo. 

RESPLANDECENTISSIMO,  A,  adj.  su- 
perl.  de  Resplandecente.  ]Mui  resplande- 
cente. 

RESPLANDECER,  v.  n.  iDo  latim  res- 
■pUndere'.  Luzir  com  grande  brilho. 

—  Emprega-se  também  no  sentido  fi- 
gurado: Brilhar,  luzir.  —  «Querem  dizer. 
Vós  soberanos  Sittos,  cuja  presença  aqui 
resplandece,  emparay  esta  Cidade,  e  mora- 
dores delia,  om  vosso  costumado  favor. 


Outras  muytas  obras  fez  este  Catholico 
Príncipe,  assi  na  Cidade  de  Toledo,  como 
em  outras  partes  de  Espanha,  e  de  crer  he, 
que  não  se  esqueceria  de  engrandecer  em 
Portugal  a  pátria  onde  nacèra,  e  se  cria- 
ra, inda  que  sua  destruição  pelos  Jlourus 
a  deixou  em  estado,  que  não  podemos  ver 
edifício,  de  que  se  colija  o  muito,  ou  pou- 
co que  fez  nella.»  Monarchia  Lusitana, 
liv.  l3,  cap.  2(3. 

Mest.  Ilesp'andece, 

nasce  de  sangue  polido. 
Diab.  Seíior,  quando  la  presencia 

atapa,  reprucva  meugua. 

AXTOSIO  PRESTES,  AUTOS,  pSg.  65. 

—  «Recolhidos  pêra  casa,  gastouse  qua- 
si  todo  o  dia  em  darmos  cota  de  nòs,  e 
nossa  vinda.  Ao  outro  que  foi  da  Ascen- 
são do  Senhor,  e  4.  de  Mayo  de  1606. 
còfessey  todos  os  Portugueses,  e  sé  o  Se- 
nhor foy  seruido,  na  Missa  lhes  dey  a 
Saucta  Comunhão,  e  depois  por  melhor 
festejarmos  a  festa  jantamos  todos  juntos 
cõ  muyta  alegria,  que  muytas  vezes  na 
tal  còformidade,  resplandece  a  que  esta 
na  alma,  e  coração. «  Fr.  Gaspar  de  S. 
Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap,  tí. 
—  « Onde  não  aueraa  medo  de  morte, 
ou  de  inferno :  onde  tudo  seraa  paz, 
e  tranquilidade,  alegria,  luz,  e  deley- 
tes  eternos:  onde  a  Sancta  Madre  Igre- 
ja Esposa  de  Christo,  alcançara  perfeita 
fermosui-a,  e  nam  teraa  magoa,  nem  ruga, 
mas  resplandeceraa,  triumphara,  e  reina- 
rá eternamente  com  seu  Esposo.»  Frei 
Bartholomeu  dos  Martyres,  Catecismo 
da  doutrina  christã.  —  «O  Senhor  eudu- 
rence  vossos  coraçòes,  e  corpos  em  a  cha- 
ridade  de  Deus,  e  paciência  de  Chi-isto, 
pêra  que  em  vossos  corações  resplãdeça 
seu  amor :  em  a  vossa  carne  penitenciada 
e  mortificada,  resplandeça  a  paciência 
que  o  Senhor  teue  nas  penas,  e  tormen- 
tos da  sua.»  Idem,  Ibidem. 

—  Mostrar-se  com  luzimento  e  brilho. 

—  O  mesmo  que  rutilar. 

—  Figuradamente  :  Resplandecer  a  mo- 
déstia no  semblante, 

—  Resplandecer  de  alguma  cOr;  appa- 
recer  delia  mui  viva,  e  iiitida. 

—  Figuradamente :  Apparecer  mui  cla- 
ramente, manifestar-se  muito. 

Os  que  mostrarão  aos  mortacs  a  estrada 
Dalma  justiça  alli  resplandecião ; 
Os  que  co'  a  mente  acocsa.  ás  Musas  dada. 
Sobre  as  azas  do  canto  aos  Ceos  subiào: 
Os  que  primeiro  á  torra  fecundada 
Com  provideutc  arado  o  sulco  abriâo. 
Os  qu'  ousarão  primeiro  em  frágil  pinho 
Tentar  do  mar  o  liquido  caminho. 

J.  A.   DE  MACEDO,  O   ORIENTE,  Caut.   6. 

—  Resplandecer  alguém  por  armas,  por 
letras,  por  virtudes. 

—  Resplandecer  em,  ou  com  milagres; 
fazel-os  mui  grandes  e  honrosos  em  Deus. 


—  V.  a.  Fazer  brilhar  muito,  e  dar 
resplandor. 

—  Emprega-se  do  mesmo  modo  que  o 
verbo  neutro  no  sentido  figurado. 

RESPLANDECIDAMENTE,  adv.  (De  res- 
plandecido, com  o  suffixo  «mente»).  Com 
resplanddr. 

RESPLANDECIDO,  2^art'  j^ass.  de  Res- 
plandecer. 

RESPLANDOR,  .9,  m.  O  grande  clarão 
que  sáe  dos  corpos  á  maneira  do  sol,  ou 
da  grande  chamma.  —  «Ouvirão  as  guar- 
das do  cárcere  as  palavras  da  Santa,  e 
as  orações  com  que  os  de  sua  companhia 
invocavaõ  soccorro  do  Ceo,  e  como  se  pu- 
sessem a  escutar  o  que  passava,  e  vissem 
o  resplandor,  sentissem  o  cheiro,  e  lhe 
abrisse  Deos  os  olhos  para  poderem  ver  o 
Anjo  que  falava  com  a  Infanta,  forào  di- 
vinamente alumiados.»  Monarchia  Lusitâ- 
nia, liv.  5,  cap.  19. 

Sat.      De  fogo,  ou  que  calidade? 
Belz.    Era  assi  hum  resplandor  ' 

Cercado  de  nuvens  pretas ; 

Os  raioa  eram  de  settas, 

E  o  fogo  de  temor. 

GIL  VICEXTE,  AUTO  DO  CÉO. 

—  «Xem  ha  duuida,  que  sendo  como 
disse  o  Senhor  no  Euangelho  a  boa  inten- 
çam  os  olhos  d  "onde  vem  a  luz,  e  res- 
plandor a  tudo  quanto  ha,  e  passa  dentro 
de  nossas  almas,  seja  juntamente  de  tam 
grande  efleito  contra  o  Imigo  nas  tenta- 
ções, quanto  he  o  nojo,  que  nos  elle  pre- 
tende fazer,  e  faz  com  as  trenas,  confu- 
sam,  e  cegueira  espiritual.»  João  de  Lu- 
cena, Vida  de  S.  Francisco  Xavier,  liv.  6, 
cap.  lõ.  —  »E  do  Rey  da  China  para 
baixo,  fallando  ja  humanamente,  trata  do 
banquete  dos  Tutoens,  que  saõ  as  dez  di- 
gnidades supremas  no  mando  sobre  todos 
os  quarenta  Chaens  do  governo,  que  saõ 
Visorreys,  e  aos  Tutoens  chamào  resplan- 
dores  do  Sol,  porque  dizem  elles  que  assi 
como  o  Rey  da  China  he  filho  do  Sol,  assi 
os  Tutoens  que  o  representão  se  podem 
chamar  resplandores  que  procedem  delle, 
assi  como  os  rayos  que  o  Sol  lança.»  Fer- 
não Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap. 
lOõ.  —  «Porque  somente  na  cidade  de 
Minapau,  que  está  situada  dentro  da  cer- 
ca dos  paços  dei  Rey,  ha  cem  mil  capa- 
dos, e  trinta  mil  molheres,  e  doze  mú  ho- 
mens da  guarda,  a  que  el  Rey  dá  gros- 
sos salários  e  tenças,  e  doze  Tutoens,  que 
saõ  as  dignidades  supremas  sobre  todas 
as  outras,  aos  quais  /como  ja  dissei  o  co- 
mum chama  resplandores  do  Sol,  porque 
como  o  Rey  se  nomea  por  filho  do  Sol, 
dizem  elles,  que  estes  doze,  por  represen- 
tarem em  tudo  sua  pessoa,  se  chamào  res- 
plandores do  Sol.»  Idem,  Ibidem,  cap. 
11-1.  —  «E  que  também  lhe  mostrara  a 
estatua  douro  do  Quiay  Frigau  que  se  to- 
mara em  Degum  toda  cuberta  de  pedra- 
ria, tào  rica,  de  tanto  resplandor,  e  de 


254 


RESP 


RESP 


RESP 


tamanlio  proço,  qiio  tinha  para  sy  que  cm 
todo  o  iiiiindi)  iiàd  avia  cousa  ipual  a  cila. 
]Je  inauoyra  qiio  do  ([110  est»;  iioincin  de- 
clarou aly  cm  publico  pelo  juramento  qu(! 
lho  dcraõ,  ticaraõ  os  ouvintes  todos  tào 
espantados,  quo  aos  mais  dollcs  parecco 
sor  acjuillo  cousa  impossivci.»  Idem,  Ibi- 
dem, cap.  148.  —  «Que  em  pouco  cspayo 
o  ar  80  vio  ardor  todo  cm  fuf^o,  e  a  torra 
lianhada  em  sangue,  o  ajuntandosc  a  isto 
o  resplandor  das  espadas,  e  dos  ferros  das 
lanças  quo  por  entre  as  labaredas  ile  quã- 
do  em  quando  reluzião,  faziSo  hum  tào 
medonho  espectáculo,  que  nós  os  J*ortu- 
f(uoses  andávamos  como  pasmados. »  Idem, 
Ibidem,  cap.  lí')4.  —  «A  primeira  he,  que 
a  luz  da  manhaã  dos  quo  comeya  a  rõper, 
vay  crecendo,  e  so  vay  perfciçoamlo,  assi 
em  resplandor,  como  em  feruor,  tcc  ser 
luz  do  meyo  dia  claríssima,  e  feruentis- 
sima :  assi  a  Virgem  desdo  dia  cm  que 
naceo,  ateo  o  dia  que  foy  trcsladada,  c 
exalçada  sobre  os  Choros  dos  Anjos,  sem- 
pre foy  crccondo  om  claridade,  e  perfei- 
çara  spiritual,  em  resplandores  do  conhe- 
cimento de  Dcos,  o  om  feruoros  do  seu 
amor:  tè  que  chegou  ao  põto,  e  resplan- 
dor o  feruor  meridiano.»  Frei  Bartholo- 
meu  dos  Martyros,  Catecismo  da  doutri- 
na christã.  —  «Este  primeiro  grão  todo 
he  cheio  despcsso  fumo,  jiouco,  ou  iiaila 
tom  do  feruor,  e  resplandor.  <  •  segundo, 
tem  j;i  lume  com  fumo  de  mistura.  O  ter- 
ceiro, resplandece  com  fogo  jnuissinio.» 
Idem,  Compendio  de  espiritual  doutrina. 

—  Resplandor  nos  vl/ios ;  muito  bri- 
lho. 

—  Coroa,  planeta,  c  com  raios  uietalli- 
003,  que  so  colloea  na  cabeça  dos  santos. 

—  Figuradamente :  O  resplandor  du 
igreja  catholicn ;  o  seu  brilho  e  augmcn- 
to.  —  «Nesta  parte  nasceram,  viuiu-uo,  e 
morrerão  outros  muytoa  Sanctos.  Daqui 
como  rosa  de  espinhas,  saliio  <Y|iiellc  lu- 
me, e  resplandor  da  Igreja  Catholica, 
Sancto  Agostinho  natural  da  Cidade  Tha- 
gasta,  o  depois  bispo  na  de  ]?ona.»  Frei 
Gaspar  de  8.  Bernardino,  Itinerário  da 
índia,  cap.  7. 

—  Figuradamente  :  O  resplandor  (/" 
gloria,  das  suas  virtudes. 

—  Figuradamente  :  O  resplandor  dos 
anjos.  —  oE  como  o  Anjo  era  espirito,  e 
elle  homem  mortal,  não  podia  soffrer  o 
seu  resplandor,  o  traspassava-se  da  ma- 
neira quo  ella  via.»  Barros,  Década  2, 
liv.  10,  cap.  6. 

RESPLENDENTE,  adj.  2  gen.  (Do  latim 
resplendens) .  lv.'splaudocente. 

So  ou  dciío  o  covaçilo,  ae  cu  filrn  dollo 
Quero  hum  Dcos  conhncor,  que  alto,  o  sublime 
Hesplfiideiite  espectáculo  doviso 
Nii  eterna  relação  doa  Entes  todos! 

J.  A.  DK  UACEDO,  MEDITAÇÃO,  CUnt.   4. 

RESPLENDECER,  r.  a.  e  n.  Vid.  Res- 
plandecer. 


RESPLENDER,  r.  n.  (Do  latim  resplen- 
derei. Lu/.ii-,  lirilhar,  resplandecer. 

RESPLENDIDO,  part.  pass.  de  Resplen- 
der.   liU/.idii,   lii'ilhante. 

RESPLENDOR,  s.  vt.  Vid.  Resplandor. 


A  ncvoa  foge,  o  rcnpleiídor  se  occulta, 
Despido  o  monte  aos  olhos  apparecfí ; 
A  face  de  MoyHi''S  com  fo;;o  avulta, 
Quando  dos  picos  escarpados  desce: 
N'lium  mar  profundo  d 'alegria  exulta 
A  escolhida  Nação,  quo  hum  Deus  couhcce; 
De  incircuncisos  sem  temer  a  guerra, 
Segura  corre  í  i)romcttida  terra. 

riiANCISCO    DE    ANDIIADE,    PRIMKIRO    CERCO  DE  DIU, 

cant.  9,  est.  114. 


RESPONDAO,  ONA,  adj.  o  «.  Que  res- 
pondo contradizendo,  sem  respeito  ao  su- 
perior que  o  adverte  e  reprehonde.  — 
ILnnem  respondão.  —  Maldito  respon- 
dão! 

RESPONDEDOR,  adj.  e  s.  Que  respon- 
do. —  llornem  respondedor. 

—  Fiador. 

RESPONDENCIA,  s.  f.  Correspondência 
mercantil. 

—  T.ucro,  retorno  de  mercancia. 
RESPONDENTE,  part.  act.  de  Respon- 
der. 

—  S.  2  gen.  Pessoa  que  responde  ou 
depõe  a  artigos,  sobro  que  se  requer  de- 
poimento da  parte  contraria. 

—  8.  m.  Correspondente.  —  Os  seus 
respondentes.  —  «Os  quais  sacerdotes 
lhes  dão  para  isso  huns  escritos  como  le- 
tras de  cambio,  a  que  o  conunum  chama 
Cuchimiocós,  para  que  l;í  uo  Ceo,  cm  el- 
les  morrendo,  lhes  decm  a  cento  por 
hum,  como  que  tivessem  elles  lá  respon- 
dentes.» Fernão  Mendes  Pinto,  Peregri- 
nações, ca)).  114. 

RESPONDER,  v.  a.  (Do  latim  resiwn- 
dcrc).  Dar  resposta  vocal  ou  ])or  cscri- 
pto.  —  «A  este  artigo  responde  Jlartlm 
Pires  Chantre,  e  Joham  Jlartins  Cooni- 
go  de  Coimbra,  Procuradores  do  davan- 
dito  Rey  Dom  Douis,  que  esse  Rey  nom 
fez  atte  qui  esso,  e  prometem  em  seu  no- 
me, que  o  nom  fará  daqui  cm  diante.» 
Ord.  Affons.,  liv.  2,  tit.  1.  —  «A  este  ar- 
tigo respondemos,  que  nos  outorgámos 
esto  a  algumas  pessoas,  por  entendermos 
que  he  aguisado  de  lho  outorgarmos,  o 
outorgámos-lho  com  rasam  aguisada,  c 
que  ao  tempo  de  suas  mortes  liquem  es- 
sas herdades  a  pessoas  leiguas.»  Ibidem, 
liv.  4,  tit.  48,  §  1.—  «A  'este  artigo 
respondemos,  que  os  nossos  Moordomos, 
e  Rendeiros,  nem  ontro  nenhum,  nom 
levem  daqui  cm  diante  delias  penas  do 
dinliciros,  jior  casarem  ante  do  anuo  c 
dia,  nem  cousintaõ  aas  Justiças,  que  as 
delias  levem.»  Ibidem,  tit.  17,  i?  1. 

—  Tornar  alguma  cousa  a  quem  nos 
pergunta,  interroga,  ou  propõe. 

Kcsta  tal  conjunção,  aqui  aportarão 
Doua  fortes,  e  animosos  csti-augeivos 


K  ante  clTícy  Dom  loâo  nc  aprcHcntar&o 
Dizendo  »or  de  França  aucoturciros. 
í^igo  juntos  os  dous  desutiarão 
C)rt  seus  nobres  c  inuigiies  caualleiros, 
Mas  nenlium  rfjpoiuUo  ao  cartel  ))osto, 
Mostrando  d 'isto  clRcy  grande  dcsL''»»to. 
coiiTK  KEAL,  xAi-FBAOlODe  «Erixvr.DA,  csnt.  Vi. 

—  «Que  sowlo  perguntado»  em  seu 
martyrio  quem  lhe  cn.sinara  aquelia  ley 
por  cuja  observância  cstiniavaií  a  vida 
tào  jiouco,  responderão  que  a  ouvirilo  ao 
Apostolo  Saò  Paulo,  o  sendo  raturacs  de 
(ializa,  c  morrendo  dentro  cm  Espanha, 
fica  em  boa  cõscquencia,  que  viria -o  San- 
to Apostolo  jirí-gar  a  estas  partes  Occi- 
dentaes  e  remota-;,  honrandoas  com  sua 
presença.»  Monarchia  Lusitana,  liv.  .õ, 
cap.  7.  —  «E  como  perguntasse  aos  cir- 
cunstantes BC  o  ouviílo,  e  confe.wasaem 
que  não :  feita  primcyro  oraçSo,  mandou 
chamar  huina  menina,  quo  perguntada, 
respondeo,  que  ouvia  as  vozes,  mas  que 
não  entenrlia  a  significação  do  llvsterio.» 
Ibidem,  liv.  7,  cap.  24.  —  «Isto  o  fez 
logo  mais  alegre,  c  fallar  com  mais  des- 
pejo, respondendo  :  Certo,  senhores,  eu 
hei  na  maior  boavcntura  do  mundo  que- 
rerdes que  a  senhora  Lionarda  case,  se- 
gundo meu  pacecer.i)  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  101. 
—  «Arlança  estava  tão  fi'>ra  de  si  de  vêr 
a  braveza  do  cavalleiro  do  Salvagem, 
que  não  teve  acordo  pêra  lhe  pedir  na- 
da, nem  pêra  responder  a  Alfemao.» 
Ibidem,  cap.  llõ.  — «A  tudo  isto  podeis 
responder,  que  todos  morremos  do  mal 
de  Phaeton,  porque  dei  dicho  ai  hecho, 
vá  gran  trecho.  E  de  saber  as  cousas  a 
passar  por  ellas,  ha  mais  differcnça,  que 
de  consolar  a  ser  consolado.»  Camões, 
Carta  2. 


Ao  longo  da  agua  o  níveo  cisne  canta, 
iie.<;)o,<(/e-lhe  do  ramo  a  philomcla  : 
Da  sombra  de  seus  comos  não  se  espanta 
Acteon  n'agua  chrystallina  c  bclla. 
iDEM,.Lus.,  cant.  9,  est.  63. 

Com  verdadeiras  lagrimas  Laurente, 
Não  sei,  (dizia)  6  Nympha  delicada. 
Porque  não  morre  ja  quem  vive  ausente, 
Poi.s  a  vida  sem  ti  não  presti  nada. 
liesponde  Sylvio :  Amor  não  o  consente ; 
Que  olicnde  as  esperanças  da  tornada. 

IDBU,   SONETOS,  U."   717. 

—  «Ao  que  cUe  respondeo  que  ILc  pe- 
saua  de  vir  o  seu  recado  taõ  tarde,  por- 
que os  ministros  de  sua  morto  foraõ  nis- 
so mui  diligentes  por  suas  culpas  o  me- 
recerão :  de  que  elRey  e  os  Mouros  fica- 
rão mui  tristes  c  temerosos  de  taõ  pu- 
blicamente fazerem  o  que  ante  faziaò.» 
Barros,  Década  1,  liv.  7,  cap.  G. —  «Dõ 
Francisco  a  estas  palauras  respõdeo  gra- 
ciosamente, atribuindo  muita  parte  aos 
méritos  da  pessoa  dellc  Tinioja :  que 
quanto  ao  negocio  da  paz  e  p.-u-eas  d"cl- 
Rcy  de  Onor,  elle  se  não  podia  ceter  ao 


RESP 


RESP 


KESP 


255 


presente  por  lhe  conuir  ir  a  Cocliij  des- 
pachar as  nãos  da  carga,  mas  que  seu 
iilho  dom  Lourenço  auia  de  tornar  logo 
de  armada  per  aquella  costa,  ao  qual  elle 
daria  comissão  peia  todas  estas  tíbusas.» 
Ibidem,  liv.  8,  cap.  lU.  —  «Ao  que  elle 
Utimutiraja  respondeo  que  era  verdade 
da  ajuda  que  dizia,  a  qual  foi  mais  appa- 
recer  a  sua  gente  no  feito,  que  pelejar.» 
Idem,  Década  2,  liv.  6,  cap.  õ.  —  «Di- 
zem os  Parseos,  que  os  filhos  de  Alie,  e 
Fatama,  e  seus  doze  netos,  tirando  Jla- 
hamed,  tem  preminencia  sobre  todolos 
Profetas  :  respondem  os  Arábios,  que  es- 
ta preminencia  he  sobre  todolos  homens, 
mas  nào  sobre  os  Profetas.»  Idem,  Dé- 
cada 10,  cap.  6.  —  «Este  vendome  jazer 
assi  despido  na  área,  me  perguntou  se 
era  Portuguez,  e  que  lhe  não  negasse  a 
verdade,  a  que  eu  respondy  que  sy,  e 
de  parentes  muito  ricos,  e  que  por  mim 
lhe  po  Jeriào  dar  quanto  pedisse ,  se  me 
levasse  £  Malaca,  porque  era  sobrinho 
do  Capitàò  da  fortaleza,  filho  de  uma  sua 
irmam.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregri- 
nações, cap.  24.  —  «E  tornando-lhes  a 
perguntar  de  que  tamanho  era  aquella 
ilha  de  Ainào  de  que  tantas  grandezas 
se  contavào,  lhe  responderão  elles,  dize- 
nos  tu  primeiro  quem  es,  ou  a  que  vens, 
e  então  te  responderemos  a  tuas  pregun- 
tas,  porque  te  certificamos  em  ley  de 
verdade  que  nunca  em  nossos  dias  vimos 
tanta  gente  manceba  em  navios  de  ve- 
niaga como  esta  que  aquy  trazes  coniti- 
go,  nem  tào  polida  e  bem  tratada.»  Ibi- 
dem, cap.  41.  —  «E  pei-guutàdolhe  An- 
tónio de  Faria  se  eraõ  aquelles  mininos 
filhos  dos  Portuguezes  que  dezia,  respon- 
deo que  naõ,  mas  que  eraõ  filhos  de  Nu- 
no Preto,  e  dè  Giaõ  Diaz,  e  de  Pei-o 
Borges  cujos  eraõ  tãbem  os  moços  e  as 
moças.»  Ibidem,  cap.  46.  —  «Encontra- 
ram-se  os  discípulos  em  ferias,  e  como 
frei  Cs^priano  andaíse  com  solidéu  e  oc- 
culos,  perguntado,  respondeu  ao  condis- 
cípulo :  «Amigo,  isto  ó  propfer  farsol- 
lam.i)  Bispo  do  Grão  Pará,  Memorias, 
publicadas  por  Camillo  Castello  Branco, 
pag.  137.  —  «Olhou  elle  para  as  nuvens, 
e  sendo  de  parecer  contrario  ao  meu,  me 
respondeo  em  latim  depois  de  observar 
os  ares  :  Deus  só  por  homem.»  Cavallei- 
ro  de  Oliveira,  Cartas,  liv.  1,  n."  25.  — 
«Digo  minha  Senhora,  outra  vez,  que 
não  posso  advinhar  onde  ella  o  achou 
para  responder  justamente  a  V.  M.  po- 
rem declaro  que  eu  mesmo  sem  o  conhe- 
cimento nem  a  capacidade,  nem  o  spiri- 
to  da  Princesa,  tenho  dado  com  o  pé,  e 
com  os  olhos  neste  mesmo  defeito  nào  só 
em  qualidade  de  defeito,  mas  como  sinal 
de  todos  os  defeitos.»  Ibidem,  liv.  3, 
n."  13. 

—  V.  n.  Dar  resposta  por  palavras  ou 
por  escripto.  —  Responder  a  uma  carta 
de  urgência.  —  «E  esto,  que  dito  he,  nom 
averá  lugar  na  viuva,   que  onestamente 


vive,  e  no  Orfaõ  menor  de  quatorze  ân- 
uos, ou  pessoa  mizeravel,  porque  taacs 
como  estes,  naõ  responderão  perante  o 
dito  Corregedor  contra  suas  vontades  ; 
salvo  em  caso  de  força,  Soldadas,  Guar- 
da, Condisilho,  quando  os  Autores  qui- 
serem ante  perante  elle  litiguar.»  Ord. 
Affons.,  liv.  1,  tit.  16,  §  2. 

Vente,  vente  comigo  alarga  o  passo, 
Sigueuic  que  ja  he  tempo  que  feneça 
Tua  dor  insofriuel,  c  scrto  oy  guia, 
Darás  fim  ao  viuer  que  assi  auorrcces, 
Dosciperação  sou  comigo  acabào 
As  ânsias,  e  agonias  de  huma  alra'aflicta, 
O  misero  varão  sem  re-spondfvlhe 
A  vay  seguindo,  ja  determinado. 

COBTE  BE.VL,  NAUFKAGIO  DK  SEPÚLVEDA,  Cant.  17. 

—  «E  depois  de  responder  a  certas 
preguntas  que  por  cerimonia  lhe  fizerão 
03  três  principais  que  estavão  á  mesa, 
lhes  mostrou  a  carta,  na  qual  emendarão 
algumas  palavras  que  vinhào  f'»ra  do  es- 
tilo porque  se  lhe  custuma  a  falar,  e 
também  lhes  mostrou  o  presente  que  le- 
vava.» Fernão  Mendes  Pinto,  Peregri- 
nações, cap.  162. — -«Despois  de  lhe  dar 
em  nome  de  todos  as  graças  devidas,  lhe 
pedio  licença  para  lhe  preguntar  algumas 
cousas  que  folgaria  de  saber  delle,  a  que 
o  grepo  se  abrio  muito  dizendo,  que  le- 
varia nisso  muyto  gosto,  porque  do  ho- 
mem discreto  e  curioso  era  preguntar  pa- 
ra saber,  e  do  ignorante  sem  saber  res- 
põder,»  Ibidem,  cap.  163.  —  «Ao  que 
Vasco  da  Gamma  mãdou  responder,  di- 
zendo quem  erão  e  o  caminho  que  faziaõ 
e  a  necessidade  que  tinhaõ  de  alguns 
mantimentos.»  Barros,  Década  1,  liv.  4, 
cap.  5. 

« Quem  era  ?  e  por  que  causa  lhe  convinha 
A  divisa,  que  tem  na  mão  tomada? » 
Paulo  responde  cuja  voz  discreta 
O  mauritano  sábio  lhe  interpreta, 
CAM.,  Lus.,  cant.  8,  est.  1, 

—  «E  como  se  mandasse  escusar  com 
sua  muita  idade,  elles  lhe  responderão 
mais  asperamente,  do  que  o  caso  reque- 
ria, donde  dizem  alguns,  que  atemoriza- 
do o  velho  se  matara  com  peçonha,  sen- 
do jã  morto  a  ferro  seu  companheiro  Ma- 
ximiano pelas  desordens  que  cometeo  a 
fim  de  tornar  a  usurpar  o  império,  que 
voluntariamente  renunciara.»  Monarchia 
Lusitana,  liv.  õ,  cap.  24.  —  «Ora,  se- 
nhoras, respondeu  elle,  já  sei  que  pêra 
comvosco  tudo  se  perde,  mas  muitas  gz-a- 
ças  a  mim,  que  sou  tão  senhor  de  meu 
cuidado,  que  posso  fazer  o  quero,  e  da- 
qui vem  achar-me  poucas  vezes  engana- 
nado  d'elle.»  Francisco  de  Moraes,  Pal- 
meirim d'Inglaterra,  cap,  127.  —  «D. 
João  Mascarenhas  sobindo  o  muro,  qua- 
si  ao  mesmo  tempo,  que  os  outros  Caíjos, 
vio  muitos  soldados  do  motim,  que  esta- 
vão ao  pé  delle  sem  ousar   cavalgallo,  e 


em  voz  alta  lhes  accusou  com  palavras 
feas,  a  desobediência,  e  a  fraqueza ;  os 
quaes  callados,  como  querendo  responder 
com  as  obras,  o  seguirão,»  Jacintho  Frei- 
re d'Andrade,  Vida  de  D,  João  de  Cas-' 
tro,  liv.  2.  —  «Porque  as  mais  delias 
passaram  em  tempo  em  que  elle  ainda 
não  reynaua,  determinou  desculparse  lo- 
go ao  Papa,  e  ao  sagrado  collegio  dos 
Cardeaes,  e  assi  lhe  respondeo  pollo  mes- 
mo Núncio,  que  se  chamaua  loanes  de 
Merle,  e  ordenou  loguo  de  mandar  sua 
embaixada  honrada,  e  por  Embaixado- 
res Fernam  da  Silueyra  Coudel  mor,  e 
o  doutor  loão  Deluas.»  Garcia  de  Rezen- 
de, Ghronica  de  D,  João  II,  cap.  48. 


Por  toda  a  armada  vai  atravessando 
Com  esta  ordem  que  aqui  vos  tenho  escrita, 
Em  toda  a  parte  o  apito  o  vai  salvando 
Besponde-lhe  a  sonora,  aguda  grita: 
Mas  com  quanto  o  vai  tudo  festejando 
A  mostrar  alegria  nada  o  incita, 
Que  o  sollicito  eaprito,  c  grào  desgosto 
Xào  lhe  deisào  mostrar  alegre  rosto. 

F.    DE  AXDEADE,  FBUCEIBO    CERCO  DE  DIU,   Caut. 

6,  est.  78. 

Se  a  conversação  minha  te  aborrece, 
.Tá  não  digo,  cruel,  que  me  respondas; 
Mas  30  quer,  lá  de  longe  sobre  as  ondas, 
A  meus  saudo.sos  olhos  apparece. 

J.   X.    DE  MATTOS,    RULiS. 


Se,  como  cu  vou  suspeitando, 
Buscas  fugitivo  amor. 
Onde  achai-ás  melhor, 
Que  onde  elle  te  anda  buscando? 
Nào  fujas  a  quem  se  esconde. 
Para  te  esconder  de  quem  te  ama: 
Ouve,  e  fala  a  quem  te  chama; 
Nào  chames  a  quem  não  responde. 

T.   BODBIGUES  LOBO,  FBIMAVEEA. 

—  Esse  [responde  o  Padre)  foi  Alcides, 

Cujo  tremendo  braço,  cujos  feitos 

Ha  de,  por  certo,  Vossa  Senhoria 

Ter  ouvido  exalçar  discretamente. 

Em  seus  sermões,  ao  nosso  Padre  Arronches, 

DISIZ  DA  CRUZ,   HYSSOPB, 


—  «Gritavam-lhe  os  mais,  que  se  de- 
tivesse, e  como  o  fizesse  assim,  e  lhe 
perguntassem  aonde  ia,  respondeu:  Ami- 
gos, vou-me,  porque  se  estou  mais  de 
vinte  e  quatro  horas  no  campo,  cuido 
que  me  torno  boi.»  D.  Francisco  Manoel 
de  Mello,  Carta  de  guia  de  casados. 


Os  Eomanos,  de  Probo  o  Canto,  entoào: 
i<  Vencidos  mil  guerreiros  destes  Francos 
Que,  de  Persas,  milhões  nào  venceremos! » 
Cantão,  cm  Coro  os  Gregos  o  seu  Poean : 
O  Hymno  Gallos  cantão  dos  seus  Druidas 
(Canto  de  morte!)  Os  Francos  lhes  respondem. 

F.   M.    DO  NASCIMENTO,  OS  MABTVEES,  IJV.    6. 


—  Figuradamente :  Responder-lhe  a  ar- 
tilhería.  —  «Dado  per  Aâonso  d'Albo- 
querque  Sant-Iago,  que  as  trombetas  de- 
ram  sinal   de  peleja,   levantou-se  huma 


256 


RESP 


RESP 


KESI' 


grita  ontrc  os  nosson,  respondendo-lhe  al- 
guma artillicria  qiio  hia  nos  bati;ii<,  (juc 
varejou  j)(;r  cima  da  |)onto,  oihIc  os  Ma- 
layos  c.-ttavam.»  Barro»,  Oecada  2,  iiv. 
6,  cap.  4. 

—  Responder  em  poucas  puiftvi-as  ;  res- 
ponder em  resumo.  —  «Respondeolhe  em 
poucas  palauras  tanto  a  «cu  coiiteuta- 
mcnto,  que  logo  este  prazer  deu  a  ello 
Beraoij  outro  rostro,  outro  animo,  outro 
ar  e  gra(;a.i)  Barros,  Década  1,  Iiv.  3, 
cap.  G. 

—  Responder  com  disinirafc  ;  dar  uma 
resposta  disparatada.  —  «  Martim.  Bem 
varrido  de  vcrgoulia  que  tu  uic  pareces. 
Dize:  Cujo  lillio  êsV  lie  para  ver  com 
que  disparate  respondes.  Muro.  A  fallar 
verdade,  pareco-me  a  mi,  quo  eu  sou  fi- 
lho de  hum  meu   tio.»  Camões,  Seleuco. 

—  Responder  (/«e  sim;  dar  uma  respos- 
ta affirmativa. —  «A  que  hum  homem 
velho  (jue  parecia  do  mais  autoridade, 
respoudeo  que  sy,  mas  que  aqucUe  lugar 
onde  estávamos  nilo  era  o  onde  cila  se 
fazia,  86  não  outro  porto  mais  adiante 
que  se  chamava  Uuamboy,  porque  nolle 
estava  a  casa  do  contrato  da  gente  es- 
trangoyra  que  a  ellc  vinha,  como  em 
Cantivo,  e  no  Chincee,  c  Lamau,  e  Coni- 
hay,  e  Sumbor,  e  Liampoo,  o  outras  ci- 
dades que  estavào  ao  longo  do  mar  para 
desembarcarão  dos  navegantes  que  vi- 
nhão  do  IVira.»  Fernào  Meudes  Biuto, 
Peregrinações,  cap.  44. 

—  Responder  (^ue  não;  dar  uma  res- 
posta negativa. — «E  perguntado  se  ma- 
tara mais  Portugueses,  ou  dera  favor  pa- 
ra isso,  respondeo  que  não,  mas  que  es- 
tando avia  dous  annos  no  rio  do  Choa- 
boqucc  na  costa  da  China,  fora  ahy  ter 
hum  junco  grande  com  muytos  Portugue- 
ses, de  quo  ora  Capitão  hum  homem  muy- 
to  seu  amigo  que  se  cbamava  Ruy  Lobo, 
que  dõ  Estevão  da  Gama  Capitão  de  Ma- 
laca mandara  do  veniaga.»  Fernão  Men- 
des Pinto,  Peregrinações,  cap.  51. 

—  Figuradamente  :  Respondeu  com  i-in- 
te  soldados,  que  lhe  muudou.  —  «P^lRey 
como  estava  roubado,  e  despezo,  não  te- 
ve que  lho  mandar,  mas  o  Camereiro 
mòr  tirou  huma  arclhana  de  ouro,  que 
valeria  quinhentos  cruzados,  e  lha  man- 
dou pura  que  pagasse  os  cincoenta  solda- 
dos. I).  Duarte  recebeu  a  arclhana,  e  lhe 
respondeo  com  vinte  soldados  que  lhe 
mandou,  e  por  Capitão  doUes  .loaõ  Coe- 
lho.» Diogo  do  Couto,  Década  G,  Iiv.  10, 
cap.  12. 

—  Tornar  alguma  cousa  a  quem  nos 
pergunta,  interroga  ou  propõe.  —  «Os 
que  vinham  com  a  donzella  uão  eram 
mais  do  seis;  que  os  outros  se  foram 
metter  na  fortaleza  de  sua  mãi,  pêra  a 
ter  segura  do  sua  mão;  e  esperando-os 
onde  se  fazia  um  encampado,  viu  a  Filis- 
tor  vir  fallando  cora  ella,  tirado  o  olmo; 
c  ella,  alóm  do  lhe  não  responder,  cho- 
rava   grandemente.»    Francisco   d»  Mo- 


raes, Palmeirim  dTnglaterra,  cap.  10.'). 
— •  f  Senhora,  se  vossas  lagrimas  se  po- 
dem enxugar  com  salvar-vo»  de  mãos 
destes  que  vos  levam,  desvie  agora  come- 
çai a  ser  contente,  que  jjera  os  mãos  pe- 
quenas for(,'as  bastam,  que  a  malicia  por 
si  «e  desbarata.  Destas  palavras  houve 
Kilistor  tão  grani  manencoria,  que  não 
llic  podendo  responder,  sem  tomar  elmo 
nem  escudo,  (pie  lho  trazia  um  escudei- 
ro, arrancou  da  espada  com  tendão  de  o 
matar. »  Ibidem.  —  « E  também  do  dia 
que  elle  combateo  a  ('idade  Adem  a  quin- 
ze dias  per  dromedários  se  soube  a  nova 
no  Cairo,  per  os  quaes  o  Xeque  senhor 
delia  escrcvco  ao  8oldào,  pedindo-lhe  aju- 
da contra  os  Portuguezes;  ao  quo  elle 
respondeo,  que  guardasse  bem  sua  Cida- 
de, iinrque  ellc  teria  cuidado  de  mandar 
guardar  seus  portos.»  Barros,  Década  2, 
Iiv.  8,  cap.  3.  —  o  A  que  o  velho,  que 
se  chamava  Raja  Benão,  respondeo,  assi 
parece  que  deve  ser,  porque  homens  que 
por  industria  e  engenho  voão  por  cima 
das  agoas  todas,  por  aquirirem  o  que 
Deos  lhes  não  deu,  ou  a  pobreza  nelles 
he  tanta  que  de  todo  lhe  faz  esquecer  a 
sua  pátria,  ou  a  vaydade,  e  a  cegueyra 
que  lhes  causa  a  sua  cobiça  he  tamanha 
que  por  ella  negão  a  Deos,  e  a  seus  pavs.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap. 
122.  —  «E  a  Riiynha  dona  Isabel  de  Cas- 
tella  est^mdo  hum  dia  liuns  grandes  se- 
nhores com  ella,  cuydando  que  lhe  apra- 
ziào  nisso,  lho  disserão  mal  dei  Rey  dom 
loam.  E  ella  como  tão  excellento,  e  sin- 
gular Princesa  como  era,  lhes  respondeo  : 
Prouuesse  a  Deos,  que  taes  fossem  meus 
filhos  como  ellehe.»  Carcia  de  Rezende, 
Chronica  de  D.  João  II,  cap.  154. —  «Ao 
quo  lhe  el  Rei  respondeo  quo  os  tiuesse 
a  bom  recado,  e  mandasse  hum  delles  ao 
regno,  com  procuraçam  dos  outros,  para 
tractar  seus  negócios  na  corte,  e  se  fazer 
nisso,  o  que  fosse  rezam,  e  justiça,  o  que 
assi  fez.»  Damião  de  Góes,  Chronica  de 
D.  Manoel,  part.  4,  cap.  51.  —  «Tem 
mais  dous  postigos  ao  logo  do  rio,  e  es- 
tes sòs  se  custumão  fechar  com  huma,  ou 
duas  horas  da  noyte.  Todo  o  Corpo  da 
Cidade  será  pouco  mayor  que  Sanctarem 
cõ  a  ribeyra,  contando  também  a  Baby- 
lonia,  hum  pedaço  da  Cidade  que  está 
alem  do  rio  Tigris  em  q\ie  morarão  te 
mil  almas,  quo  quasi  responde  a  Cassi- 
Ihas  em  Lisboa,  inda  que  fica  mais  per- 
to, pois  toda  a  distancia,  ser;\  pouco  mais 
que  hum  tiro  de  pedra.»  Fr.  Gaspar  de 
de  S.  Bernardino,  Itinerário  da  índia, 
cap.  10. 

lietpondeo  por  gentis  modos: 
como  quor  quo  n\  não  tivesse 
jamais  outro,  me  parece 
quo  assi  dovcm  de  sor  todos. 

ANToxto  PKcsTKs,  AUTOS,  pag.  309. 

—  « Honrada  cst;\  agora  a  filha  do  In- 


fançom.  Ao  que  ella  respondeo:  Este  In- 
fançom,  que  vòs  dizedcs,  por  Rico  Ho- 
mem era  tido  cm  sua  terra.  Por  onde  nc 
vi-  claro;  quo  mòr  di;,Miidad<;  era  a  do 
Rico  Homem,  <|ue  a  de  Infançaò.»  Ma- 
noel Sevcrim  de  Faria,  Noticias  de  Por- 
tugal, Di8c.  3,  §  22. 

o  Silveira  também  nigto  concerta 

r'o'o  parecer  daquella  companhia, 

E  rfpOTul'.  f|uc  pois  tanto  o»  aperta 

A  falta  que  de  tud'»  lá  havia, 

Qui.'  clles  mesmos  e*colhào  a  imiis  corta 

K  de  sua  saúde  a  melhor  via. 

Torna  o  Fuleiro  aos  seus,  tendo  licença, 

Que  esta  resposta  ».i  lhes  põe  detença. 

rBAMCISCO  D'A!<nBADK,  rUMEIBO  CUCO  DE  Dll', 

cant.  14,  c»t.  M. 

—  « Pay  da  mentira  he,  respondeo  o 
bruxo,  e  por  tal  o  conheço :  mas  com 
tudo  isso,  ainda  que  muitas  vezes  me 
mentia,  não  deixava  algumas  vezes  de 
me  fallar  verdade,  e  eu  pelo  uso  alcan- 
çava logo  tudo;  porque  mo  fallava  cm 
duas  linguas,  que  eraò  a  Portugueza,  e 
Castelhana.»  Arte  de  furtar,  cap.  1*5.  — 
«  Depois  que  seu  marido  lhe  perguntou 
muitas  vezes  o  que  tinha,  ella  lhe  res- 
pondeu que  tinha  invejas  de  o  merder  no 
cachaço.»  Cavalleiro  de  Oliveira,  Cartas, 
Iiv.  1,  n."  IG.  —  «O  desconhecido  olhou 
para  o  movimento  ameaçador  de  Sancion, 
e  pelo  rosto  passou-lhe  um  sorriso  desdc- 
nlioso.  Cruzou  os  braços  e  respondeu  com 
voz  lei^ta  e  solemne.»  Alexandre  Hercu- 
lano, Eurico,  cap.  13.  —  «  Responde  o 
cónego: — 8nr.,  estimo  muito  mais  essa 
memoria  que  a  semelhança:  esta  é  effeito 
da  natureza,  e  aquella  do  beneficio  de 
V.  M.  Continuou  o  rei :  « Até  isso  é  de 
seu  pae.»  Bispo  do  Grão  Pará,  Memo- 
rias, publicadas  por  Camillo  Castello 
Branco,  pag.  165. 

Mas  pelo  ausente  esposo  o  pac  rttponde 
O  amante  não  vem :  jniz  severo. 
Pelos  beijos  damor,  lhe  traz  castigo 
Quo  nào  merece  amor,  nem  quando  é  crime. 
GABBETT,  CAUÒES,  c^nt.  T,  cap.  23. 

—  Replicar,  ser  rcspondão,  allegar  ra- 
zões, pretextos,  mostrar  má  vontade,  cm 
vez  de  obedecer  sem  replicar  á  pessoa  a 
que  se  deve  obedecer. 

—  Corresponder,  conformar-sc,  ter  con- 
veniência com  outra  cousa,  igualar. 

—  Responder  com  bom  rosto ;  respon- 
der muito  satisfeitamente,  alegremente. 


)[as  que  nenhum  concerto,  ou  de  sen  grosto. 
Ou  do  sua  honra  fosse,  ou  sou  proveito, 
Entre  elles  ficará  por  obra  posto 
Sem  ser  ao  Capitão  peral  acceito. 
A  isto  os  Turcos  rffjtonrlem  com  bom  rosto, 
E  dizem  que  elle  fosse  dar-lhe  eScito, 
E  «lue  handa  a  licont;a.  tratarião 
Uo  pacto  que  entre  si  fazer  podião. 

FB.OÍCISC0  t>'ASDRAI>B,  FBUCEIBO  CERCO  PI  Ml'. 

cant.  14. 


RESP 


RESP 


RESP 


2Õ7 


—  Responder  com  palavras  arrazoa- 
das;  responder  com  termos  discretos.  — 
« A  que  olle  o  a  molher  responderão  cõ 
humas  palavras  tão  bem  arrezoadas,  e 
tanto  para  notar,  que  nós  todos  estáva- 
mos como  pasmados  do  vermos  o  modo 
com  que  atribuyão  suas  cousas  á  causa 
principal  do  todos  os  bens,  como  se  elles 
tiverão  lume  de  fé,  ou  conliecimento  da 
nossa  santa  ley  Chrlstam.»  Fernão  Men- 
des Pinto,  Peregrinações,  cap.  lOi. 

■ —  Responder  chorando ;  responder  no 
meio  de  choros  o  lagrimas.  —  «Logo  após 
esta  princesa  vinhão  em  duas  fileyras, 
sessenta  grepos  rezando  por  livros,  cos 
rostos  baixos  e  chorando  muytas  lagri- 
mas, os  quais  de  quando  em  quando  com 
voz  entoada  a  modo  de  ladainha  dizião : 
tu  que  por  ty  tens  o  ser  de  quem  es, 
justifica  em  ty  nossas  obras,  paraque  se- 
jão  aceitas  na  tua  justiça,  a  quem  outros 
respondião  chorando,  assi  te  praza  Se- 
nhor que  seja,  porque  não  percamos  por 
nós  os  ricos  dons  das  tuas  promessas.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações,  ca- 
pitulo 157. 

—  Responder  a  propósito;  dar  uma 
resposta  conveniente,  responder  conve- 
nientemente. —  «A  que  o  Padre  tornou: 
Não  respondo  a  cousa  que  não  entendo 
por  isso  declara  te  mais  no  que  dizes,  e 
então  te  responderey  a  propósito;  por 
que  se  eu  nunca  fuy  mercador,  nem  sey 
aonde  he  Frenojama,  nem  faley  nunca 
comtigo  como  te  havia  de  vender  fazen- 
da?» Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  211. 

—  Figuradamente:  Responder  com  uma 
bandeira. —  «E  tomou  por  derradoyro  re- 
médio entregar-se  nas  mãos  de  seu  ini- 
migo, á  condição  do  que  quizesse  fazer 
delle,  e  ao  outro  dia  ás  seys  horas  da 
manham  apareceo  no  muro  huma  bãdey- 
ra  branca  em  sinal  de  paz,  a  que  logo 
do  arrayal  responderão  com  outra,  e  o 
Xemimbrum  que  era  o  mestre  do  campo 
mãdou  hum  homem  a  cavallo  ao  baluarte 
onde  a  bandeyra  estava.»  Fernão  Men- 
des Pinto,  Peregrinações,  cap.  149. 

—  Fallar  a  alguém,  que  chama,  ou 
bate  á  porta. 

—  Responder  em  uma  voz;  responder 
ao  mesmo  tempo.  —  «  El  Rey  olhando 
para  ellc  com  rosto  alegre,  lhe  respon- 
deo,  no  seu  desejo  e  no  meu  conforme  o 
Sol  com  a  doce  quentura  dos  seus  claros 
rayos  esto  verdadcyro  amor  até  o  ultimo 
bramido  do  mar,  paraque  o  Senhor  seja 
louvado  na  sua  paz  para  sempre,  a  que 
todos  os  senhores  que  estavão  na  casa 
responderão  cm  huma  voz,  assi  o  conce- 
da o  que  dá  ser  ao  dia  e  á  noite.»  Fer- 
não jMendes  Pinto,  Peregrinações,  capi- 
tulo 130. 

—  Responder  po?-  jmlavra;  responder 
vocalmente,  dar  resposta  de  bocca.  —  «E 
que  o  Hidalcão  respõdera  i^or  palavra 
aos  offerecimcntos  que  o  Baxá  lhe  man- 

voí..  V.  — 33. 


dará  ftxzer  em  nome  do  Turco,  que  antes 
queria  a  amizade  dei  Rey  de  Portugal, 
com  lhe  ter  tomada  Goa,  que  a  sua,  com 
lhe  prometer  a  restituição  delia.»  Fernão 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.  8. 

—  Responder  cmi  espantosa  grita;  res- 
ponder com  voz  alta  esforçada,  que  cau- 
sava respeito.  —  «  O  admirável,  e  piedoso 
Senhor,  não  nos  tomes  conta  de  nossas 
maldades,  porque  ficaremos  mudos  diante 
de  ti,  a  que  todo  o  povo  com  outra  es- 
pantosa grita  respondia :  Xapntey  dana- 
co  o  fanaragipaieu,  que  quer  dizer:  Con- 
feçamos  Senhor  nossos  erros  diante  de 
ti.» — -Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  222. 

—  Responder  como  homem  prudente ; 
responder  com  prudência.  —  «  Pelo  que 
em  tudo  o  que  naquella  terra  podesse 
seruir  a  el  Rei  dom  Emanuel  o  faria,  se 
o  nisso  quisesse  occupar,  o  que  Vasco  da 
Gama  lhe  agradeceo  com  promessa  de 
lhe  pagar  bem  sen  trabalho,  então  lhe 
perguntou  pela  pessoa  dei  Rei  de  Cale- 
cut, e  modo  de  seu  viuer,  e  estado,  ao 
que  tudo  lho  respondeo  quomo  bomem 
prudente.»  Damião  de  Góes,  Chronica  de 
D.  Manoel,  part.  1,  cap.  39. 

—  Responder  na  mesma  língua  evi  que 
falia  o  que  pergunta.  —  « Ao  que  tudo 
respondia  na  mesma  Hngoa  latina  em 
que  elles  fallauam  o  Doutor  Diogo  pa- 
checo,  mas  não  ao  Embaixador  de  Cas- 
tella,  porque  esto  fallou  em  lingoa  Cas- 
telhana, a  quem  Tristam  da  cunha,  pela 
entender  mui  bom,  respondeo  na  Portu- 
gueza,  pola  saber  milhor,  como  sua  na- 
tural.» Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  3,  cap.  55. 

—  Responder  muito  devagar;  dar  uma 
resposta  vagarosa,  paulatina.  —  «  Estes 
todos  detinha  com  lhes  responder  muito 
de  vagar,  pêra  assi  verem  as  cousas  que 
ordenaua,  pêra  regimento  da  Ilha,  e  ci- 
dade, e  o  que  fazia  pêra  defender  a  ilha 
dalguns  capitaens  do  Çabaim  dalcão,  que 
então  mandara,  sobrella,  dos  quaes  o 
principal  era  Milique  agrihaje,  que  foi 
desbaratado  pelos  nossos,  e  sobre  tudo 
pêra  verem  a  armada  que  fazia  pêra  ir 
buscar  os  rumes.»  Damião  de  Góes,  Chro- 
nica de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  16. 

—  Não  responder  nada ;  não  dar  res- 
posta alguma.  —  «  Item.  Quando  nos  ou- 
tros artigos  das  culpas  que  lhe  punham 
não  respondia  nada,  por  em  nenhum  del- 
les  se  achar  culpado,  e  que  de  qualquer 
erro  que  fosse  comprehendido  pedia  mi- 
sericórdia, e  perdam  a  Afonso  dalbuquer- 
que.»  Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  3,  cap.  25. 

—  Responder  em  alta  voz ;  dar  uma 
resposta  em  voz  alta.  —  «O  Mouro  por 
mostrar  sua  fidelidade,  e  nos  tirar  dal- 
guma  sospeyta,  que  de  sua  informação 
podcriamos  ter,  respõdeo  em  voz  alta  es- 
tas palauras;  (Cassis  Frangi)  que  quer 
dizer,  são  sacerdotes  dos  Clu-istãos.»  Fr. 


Gaspar  S.  Bernardino,  Itinerário  da  ín- 
dia, cap.  G. 

—  Responder  uma  epocha  á  outra;  cor- 
responder. 

—  Responder  nas  línguas  de  que  tem 
algum  conhecimento.  —  «  Desta  forma  não 
só  he  capaz  de  responder  nas  lingoas  de 
que  tem  algum  conhecimento,  porem  em 
Grego,  em  Hebraico,  em  Chaldaico,  e  em 
Syriaco.»  Cavalleiro  de  Oliveira,  Cartas, 
liv.  1,  n."  25. 

—  Figuradamente :  A  terra  responde 
a  mui  pouco  suor. 


A  mui  pouco  suor  responde  a  Terra 
Com  fructos,  qu'  o  desejo  excedem  muito; 
São  de  todos,  e  d'hum,  quaes  vêm  nos  ares 
Plumoso  bando  sem  disputa  ao  pasto 
Chegar  unido,  festejar  contente 
Os  cspoutancos  dons  da  Natureza. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUBEZA,  Cant.  2. 


— -  Responder  affectando  modéstia;  dar 
resposta  com  aftectação  de  modesto. 

«Mas  que  não  poderá  um  Génio  gi-andc, 
E  tal,  como  o  de  Vossa  Reverencia?» 
O  Guardião  cutaõ  todo  enfunado. 
Mas  modéstia  affectando,  lhe  reipoiule. 
DiHiz  DA  CRUZ,  HTssoFE,  cant.  5. 

—  Responder  com  constância;  dar  uma 
resposta  com  persistência.  —  «Com  esta 
resposta  despedio  o  Governador  os  Em- 
baixadores, que  na  constância  com  que 
lhes  respondeo,  entenderão  que  o  não  do- 
braria a  entregar  Mcále,  temor,  ou  bene- 
ficio. Apercebeo-se  logo  para  fazer,  c  es- 
perar a  guerra,  que  como  era  de  Prínci- 
pe visinho,  primeiro  poderíamos  sentir  o 
golpe,  que  vêr  a  espada. »  Jacintho  Frei- 
re d'Andrade,  Vida  de  D.  João  de  Castro, 
liv.  1. 

—  Corresponder,  valer  o  mesmo  que 
outra  cousa.  —  «Cuja  saudade  acrecenta- 
ua  o  tocar  da  frauta,  e  charamella,  a  que 
d'outra  -parte  respondião  as  do  Capitão 
Mor  do  Malauar  Dom  Nuno  Aluares  Pe- 
reira, meneando  o  brando  vento  nas  Ga- 
lês,- e  Nauios,  os  gallardos  pendões,  e  es- 
tandartes, cuja  vista  tanto  acrecentaua  a 
magoa  em  todos,  quanto  a  despedida  em 
tam  largo  apartamento,  era  sufficiente 
pêra  o  causar.»  Fr.  Gaspar  de  S.  Ber- 
nardino, Itinerário  da  índia,  cap.  1. 
—  «Concertados  os  bateis  o  milhor  que 
pode  ser,  partimos  pêra  o  matto  carregar 
da  fruyta,  e  agoa ;  e  com  ella,  e  os  ba- 
teis ambos  enramados,  chegamos  a  não, 
onde  com  aluoroço  nos  esperanam.  Sau- 
damola  primeiro  (como  be  costume  fazer- 
se  no  mar)  ao  que  da  náo  responderão 
com  tanta  alegria,  como  se  entam  che- 
gássemos da  índia.»  Ibidem,  cap.  2. — 
«Na  cabeça  barrete  de  cramesi  laurado,  e 
nelle  por  galantaria  hum  cutello  pequeno 
de  fio  douro  (que  deuia  ser  súa  deuisa,)  e 
por  cima  huma  finíssima  touca  de  seda,  e 


RESP 


RESP 


RESP 


fio  (lo  prata,  o  entre  cila  hum  penaclio  do 
ayroncs,  quo  llin  respondia  «lontra  parte 
ao  cutelo.»  Ibidem,  eap.  18.  —  «O  seu 
domingo  hc  a  sexta  feira :  n'oBto  dia,  o 
todos  o.s  mais,  custuina  sobir  ao  mais  alto 
do  Alciíor.lo  (quo  entre  nôi  respõde  á 
torro  dos  sino:<)  hum  Turco,  que  serue 
como  de  Thezouroyro,  a  quem  ellos  cha- 
milo  Telismano,  ou  Jleyzini.»  Fr.  (;a^])ar 
do  S.  Hernarííiiio,  Itinerário  da  índia, 
cap.  19.  —  Bem  He  vé,  como  responde 
tudo  isto  ao  titulo  dcsto  Capitulo;  .si> 
huma  cousa  ha  aqui,  que  a  naõ  entendo, 
nem  haverá  quem  a  ileclare;  que  morra 
enforcado  o  homicida,  que  matou  :'i  espin- 
garda, ou  ás  estocadas  hum  homem;  e  quo 
matem  IJoticarios,  e  Médicos  cada  dia  mi- 
lhares dellcs,  som  vermos  por  isso  nunca 
hum  na  forca.»  Arte  de  furtar,  cap.  4  — 
«Na  principal  atalaia  dos  mossclcmanos 
soou  então  uma  trombeta ;  centenares 
d'ell;v3  responderam  por  todos  os  ângulos 
do  campo  a  esto  convocar  para  a  morte. 
Os  esquadrões  uniam-se  com  a  rapidez  do 
relâmpago  e,  abandonando  o  recinto  das 
tendas,  arrojavam-sc  para  a  margem  do 
rio.»  A.  Herculano,  Eurico,  cap.  9. 

—  Refutar,  impugnar  algum  escripto. 

—  O  premio  responde  á  boa  obra,  o  fa- 
vor ao  merecimento;  o  premio  acompanha 
ou  segue  a  boa  obra,  o  favor  acompanha 
o  merecimento. 

—  Dar,  fazer  retorno.  —  «E  velejando 
por  nossa  derrota,  chegamos  a  huma  Ilha 
pequena  de  pouco  mais  de  huma  legoa  em 
roda,  que  se  chamava  Pullo  Hiuhor,  don- 
de nos  sahio  hum  para/)  em  que  vinhaõ 
seis  homens  baços,  todos  com  ban-etes 
vermelhos,  mas  pobremente  vestidos,  e 
chegando  a  bordo  do  junco,  que  ainda 
neste  tempo  hia  à  vella,  nos  salvarão  com 
mostras  do  paz,  a  que  nós  respondemos 
da  me -ma  maneyra.»  Fernão  Mendes 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  145. 

—  Responder  a  uma  dadiva,  presente, 
com  outro;  remunerar,  retribuir. 

—  Responder  j^or  alguém;  defcndel-o. 

—  Agradecer,  reconhecer. 

—  Responder  por  si ;  defender-se.  — 
Cada  Mm  responde  por  si. 

—  Ser,  ou  licar  responsável,  dar  conta, 
razão. 

—  Cantar  por  seu  turno  o  ramo  do 
psalmo,  ou  de  versos  que  lhe  tocA. 

—  Responder  por  alguém;  abonal-o,  fi- 
car por  seu  fiador. 

—  Responder  com  as  i-endas ;  pagal-as. 

—  Responder-se,  v.  rcfl.  —  Responder- 
se  a  versos ;  revezal-os,  altcrnal-os  nos  cir- 
ros rezando.  —  «E  encima  de  cada  huma 
delias  estava  huma  cavcyra  de  homem,  c 
embaixo  muytos  castiçaes  de  prata  com 
ycllas  de  cera  branca,  as  quais  os  mini- 
nos  tinh.ão  cargo  de  espivitar  cantando  á 
consonância  de  outras  vozes  entoadas  por 
grepos  a  modo  de  ladainha,  a  que  huns 
aos  outros  se  respondião.»  Fernão  Men- 
des Pinto,  Peregrinações,  eap.  102. 


—  AdAOIOS   E  PKOVEUKIOS  : 

—  Quem  bem  ouve,  bem  responde. 

—  Como  canta  o  abbade,  ai«><im  res- 
ponde o  .«aeristão. 

RESPONDIDO,  pnrt.  puas.  do  Responder. 
A  (jue  SI-;  dr.ii  rr.qiosta. 

—  Jloiiiism  respondido ;  homem  a  quem 
80  deu  resposta  i  pergunta  ou  objecção. 
—  (c  Uespois  de  fazerem  suas  salvas,  en- 
trarão dentro  no  junco  grando  em  que 
vinha  António  de  Faria,  porem  vendo 
nello  gento  que  até  então  nunca  aly  ti- 
nhào  visto,  licarão  muyto  espantados,  c 
jicrguntàdo  (jue  homens  éramos,  ou  (jue 
queríamos,  lhes  fny  respõdido  que  éramos 
mercadores  naturais  do  reino  de  Syão,  e 
que  vinhamoâ  aly  a  fazer  fazenda  cò  elles, 
se  para  isso  nos  dessem  licença,  u  Fernão 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.  44. 

—  Correspondido,  conformado.  —  Fim 
respondido  ao  principio. 

—  Agradecido,  reconhecido.  —  Benefi- 
cio respondido. 

RESPONSABILIDADE,  s.  /.  Termo  em 
uso.  Obrigarão  de  responder  pelas  suas 
acções,  ou  pelas  dos  outros.  —  Grau  de 
responsabilidade.  —  Responsabilidade  ter- 
rii'l.  —  Estar  dcbairo  da  í-íkí  responsa- 
bilidade.—  A  responsabilidade  </'./.<-■  mi- 
nistros. — Funccilo  i^ue  importa  nunsigo 
muita  responsabilidade.  —  Responsabili- 
dade moral. 

—  Responsabilidade  cii-tV;  obrigação 
que  nos  impõe  a  lei  de  responder  pelo 
prejuízo  causado  pelas  pessoas  que  estão 
sob  a  nossa  dependência,  ou  por  cousas 
que  lhes  pertencem. 

—  Responsabilidade  dos  officiaes  publi- 
cas; responsabilidade  dos  tabelliàes,  dos 
advogados,  e  dos  bedéis.  As  partes,  ten- 
do em,  certos  casos  de  recorrer  ao  minis- 
tério de  certos  e  determinados  individues, 
aos  quaes  a  lei  pôz  exclusivamente  o  exer- 
cicio  de  certas  funcções,  o  de  os  investir 
assim  de  uma  confiança  forçada,  as  par- 
tes, cujos  interesses  tem  sido  compromct- 
tidos  pela  falta  d'estes,  devem  necessa- 
riamente ter  contra  elles,  e  depois  da  sua 
morte  contra  os  herdeiros,  uma  acção  rc- 
cursoria. 

—  Responsabilidade  dos  ministros  e  de 
seus.  subordinados ;  obrigação  de  tomar 
conta,  sob  uma  sancção  pessoal,  do  exer- 
cicio  regular  do  poder,  que  as  leis  confiam 
aos  seus  agentes.  Os  ministros  traidores 
podem  ser  accusados  pela  camará  dos  de- 
putados, o  julgados  pelas  camarás  dos 
pares.  A  responsabilidade  tem  por  sanc- 
ção a  condemnação  dos  culp.ados ;  tem 
por  exercício  a  rubrica  de  todos  os  actos 
do  governo;  e  tem  por  gar.antia  a  impo- 
tência da  corrupção  das  cam.aras.  A  res- 
ponsabilidade dos  ministros  perde-se  com 
o  fumo  nas  alturas  do  poder.  Os  agentes 
secundários  podem  cair  nos  casos  de  res- 
ponsabilidade, quer  violando  a  lei  na  exe- 
cução, quer  rcpellindo  para  lá  dos  seus 
limites  a  execução  de  uma  ordem  legal. 


—  Responsabilidade  moral;  responsabi- 
lidade dos  ministros  c  outro»  agente»  da 
authoridade  publica,  resultante  do  juízo 
dos  seu»  concidadEos. 

—  -  Responsabilidade  cti-(7  rios  viinigtrot; 
responsabilidade  que  p<x!c  cxerccr-se, 
quando  o  estado  ou  um  partietdar  julga 
ter  que  80  quei.xar  dos  actíis  de  um  mi- 
nistro, e  que  se  dirige  aog  tribunae<i  ci- 
vis para  obter  d'elles  uma  reparação,  que 
80  resolve  em  indemnisações  c  intereií- 
ses. 

—  Responsabilidade  criminal ;  a  que 
foi  prevista  j.ela  carta,  e  que  ainda  nSo 
foi  definida  ]>cla  lei. 

RESPONSABILIZADO,  part.pa*s.  de  Res- 
ponsabilizar. TuriiJido  responsável. 

—  <  >bri;:.idn  a  alguma  responsabilida- 
de, sujcifi  ;i  <l!a. 

RESPONSABILIZAR,  r.  a.  Tornar  ou- 
trem responsável. 

—  Impor  responsabilidade. 

—  Responsabilizar-se,  v.  refl.  Obrigar- 
se  á  responsabilidade,  sujcitar-se  a  ella, 
ofTerecer-so. 

—  Tornar-so  responsável  por  algnem, 
ou  por  alguma  cousa. 

RESPONSADO,  jiart.  pass.  de  Respon- 
sar. Por  quem  se  rezam  responsos. 

—  Dito  cm  vez  do  responso,  rememo- 
rado por  occasião  do  morto. 

—  Figuradamente  :  Responsado  em  vi- 
tupério. 

RESPONSAO,  í.  m.  Termo  u^^ado  n'csU 
phrase  :  Pagar  de  responsão ;  de  conhe- 
cença,  a  titulo  de  foro,  reddito,  oa  censo. 

RESPONSAR,  1-.  n.  Rezar  responso.  — 
Responsar  pelos  mortos. 

—  V.  a.  —  Responsar  os  defuntos;  suf- 
fragar-lhes  com  responsos;  dizer-lhes  em 
vez  de  responsos,  rememorar  por  occasião 
do  morto. 

RESPONSÁVEL,  adj.  2  gen.  Que  deve 
responder  pelas  suas  próprias  acções,  ou 
pelas  dos  outros. 

—  Que  deve  dar  conta  da  sua  admi- 
nistração. —  Na  administração  do  reino, 
todo  o  funccionario  publico  i  responsável 
pela  sua  gestão.  — Os  ministros  são  res- 
ponsáveis. —  Editor  responsável;  editor 
sob  a  responsabilidade  do  qual  app.xrece 
uma  folha  periódica,  um  jornal. 

RESPONSrVA,  adj.  J.  Que  contém  uma 
re-i posta.  —  Mem<iria  responsiva. 

RESPONSO,  .«.  m.  Vi.l.  Responsorio. 

RESPONSOM,  .'.  Hl.  Termo  antiquado. 
Contribuição,  subsidio,  quota,  talha,  finta, 
reddito,  censo,  conheeença,  pensjio  certa, 
tributo,  e  toda  a  qualidade  de  desembol- 
so, quo  obrigatoriamente  se  faz,  e  com 
que  o  vassallo,  emphyteuta  ou  colono, 
responde  ao  soberano  seu,  o  direito  se- 
nhorio. —  K  deu  em  cada  um  nnno  duas 
mil  e  quinhentas  libras  de  responsem  ao 
convento. 

—  Resposta. 

RESPONSORIO,  s.  m.  Certa  oraç.ão,  ou 
suppliea,  dita  pelos  defuntos,  e  talvez  o 


RESP 


RESP 


RESS 


259 


louvor  de  algum  santo,  para  se  obter  al- 
gum beneficio  espiritual  ou  temporal. 

—  Diz-se  das  matiuas  depois  de  cada 
lição. 

RESPOSTA,  s.  f.  Yiil.  Reposta  (termo 
usado  entre  os  plebcuri,  c  homens  sem 
illustração).  —  «Mas  Floramao  as  estra- 
nhava e  agasalhava  tão  mal  por  serem 
fora  do  seu  costume,  que  a  nada  respon- 
dia senão  com  palavras  desconcertadas, 
bem  desviadas  da  resposta  e  agradeci- 
mento, que  as  do  imperador  mereciam.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  29.  —  «Certamente,  disse 
Palmeirim,  em  homens  de  tno  má  tenção 
nenhuma  cousa  se  pôde  empregar  bem; 
e  ainda  que  o  que  me  pedis  mereça  ou- 
tra resposta  conforme  a  vossa  nescidade, 
por  não  perder  o  tempo,  que  quei'0  dis- 
pendcr  em  ir  traz  vossos  companheiros, 
não  vol-a  dou.»  Ibidem,  cap.  104. —  «A 
mercê  que  vossa  magestade  me  fez,  ac- 
ceito  pêra  da  vinda  que  vier  com  Lionar- 
da  minha  senhora,  a  possuir  com  o  mari- 
do que  vossa  magestade  houver  por  seu 
serviço ;  e  muito  maior  mercê  recebo  da 
resposta  da  embaixada  que  trouxe,  ser 
da  maneira  que  eu  desejava. »  Ibidem.  — 
«E  porque  o  pateo  era  tão  pequeno,  que 
n'ellc  não  se  podia  pelejar  a  cavalio,  se 
desceram  a  pé.  O  do  Tigre,  a  que  a  fú- 
ria, que  trazia,  não  dava  lugar  a  gastar 
tempo  em  respostas,  ainda  os  outros  não 
foram  a  pé,  quando  começou  ferir  n'elles 
com  tamanha  fúria  e  força,  que  em  pe- 
queno espaço  os  fez  arrepender  de  abrir 
a  porta.»  Ibidem,  cap.  105.  —  «O  impe- 
rador se  encostou  sobre  uma  mão,  cui- 
dando um  pouco  na  resposta  que  daria ; 
mas  como  o  do  Salvage  conhecesse  me- 
lhor aquella  gente,  e  se  temesse  que  a 
bondade  do  imperador  seria  causa  de 
fiar-se  de  quem  não  devia,  levantou-se 
em  pé,  e  disse:  Senhor,  em  cousa  tão 
certa  pêra  que  é  cuidar  na  resposta  V 
Tenha  vossa  magestade  na  memoria  com 
quanta  causa  prendeu  os  vossos,  e  por 
aqui  podereis  julgar  o  que  deveis  fiar 
delle.»  Ibidem,  cap.  112.  — ■  «Peço-vos, 
senhor,  disse  Arnalta,  que  antes  que  pe- 
çaes  a  resposta,  me  digaes  quem  sois  e 
como  vos  chamam,  que  o  desejo  saber,  an- 
tes de  me  determinar  no  que  pedis.  Tu- 
do farei,  respondeu  elle,  poi-que  não  te- 
nhaes  alguma  escusa,  de  que  lanceis  mão,» 
Ibidem,  cap.  130.  —  «Porém,  pois  mais 
não  tenho,  que  uma  só,  e  essa  ainda  des- 
encordoáda  de  todo  o  prazer  que  de  an- 
tes tinha,  com  ella  na  palma  da  mão  es- 
tou aguardando  resposta  vossa,  que,  vin- 
do como  eu  confio,  me  será  mais  saboro- 
sa que  migas  de  azeite  com  verde  vinho 
em  cima.»  Fernão  Rodrigues  Lobo  Soro- 
pita.  Poesias  e  prosas  inéditas.  —  «O 
Viso-Roy  posto  que  desse  orelhas  a  isso, 
sua  resposta  era  que  quando  fosse  tempo 
elle  lhe  auia  d'entregar  a  índia,  pois  el- 
Rey  seu  senhor  o  mandaua :  e  quando  a 


lançasse  a  perder,  a  culpa  não  seria  sua.» 
João  de  BaiTos,  Década  2,  liv.  3,  cap. 
9.  —  «Esta  resposta,  diz  Valério  Máxi- 
mo, que  desejara  que  sahira  da  boca  de 
algum  Romano,  porque  não  era  digna  de 
ser  dada  por  outra  alguma  nação.»  Dio- 
go de  Couto,  Década  6,  liv.  7,  cap.  9. 
—  «Lida  a  carta  Lopo  soarez  quisera 
mandar  o  Mouro  com  a  resposta,  e  reter 
o  moço,  o  que  elle  nam  quis  fazer,  di- 
zendo que  se  ficasse,  que  a  todolos  outros 
que  estavão  em  Calecut  cortarião  as  ca- 
beças, ou  pelo  menos  os  tratarião  mal, 
do  que  mouido  o  deixou  tornar  sem  res- 
ponder, senão  de  palaura,  dizendolhe  que 
quanto  a  paz  que  elle  se  hiria  dali  a  Ca- 
lecut por  esse  só  respeito,  pola  também 
desejar.»  Damião  de  Coes,  Chronica  de 
D.  Manoel,  part.  1,  cap.  96.  —  «Lereno 
o  ajudou  a  guiallo,  posto  que  elle  o  es- 
cuzasse,  e  também  de  deixarem  a  prati- 
ca: com  tudo  foi  de  gosto  o  caminho, 
porque  chegando  á  coroa  do  monte,  no 
chaõ  delle  estavaõ  dous  pegureiros,  que 
ao  olho  do  Sol  tosquiavaõ  as  ovelhas,  e 
descançando  ao  tempo  que  o  amo  chega- 
va com  a  companhia  de  Lereno  em  per- 
guntas, e  respostas,  cantarão  esta  canti- 
ga.» Francisco  Rodi-igues  Lobo,  Prima- 
vera. 


Bandui-,  que  buma  soberba,  buma  ufauia 
Tom,  o  buma  uatural  fúria  indomável, 
E  eutào  era  maior,  porque  scutia 
Nas  guerras  a  fortuna  favorável, 
E  porque  tinha  em  sua  companhia 
Hum  exercito  grande  e  innumcravel. 
Tal  resposta  Ibe  dá,  tão  solta  e  feia, 
Que  d'hura  baixo  e  vil  servo  ind'era  albeia. 
F.  d'axdkade,  pbimeibo  cebco  de  DIU,  cant.  3, 
est.  13. 


Concluída  a  resjyosta  foi  desta  arte 
E  na  mào  ao  Falciro  logo  a  derão, 
Elle  sem  mais  tardar,  d'aUi  so  parte 
E  se  vai  aonde  lá  juntos  o  csperào 
O  que  ja  governou  o  baluarte 
De  que  03  Turcos  eutào  senhores  crão, 
E  o  máo  Cojaçofar,  e  alli  nào  párào 
Mas  todos  d'alli  juntos  se  apartarão. 
IDIDE5I,  cant.  15,  est.  3G. 

Fonseca  não  o  ouvindo  por  ventura. 
Polo  tento  que  tem  na  gente  imiga. 
Ou  scndo-lbe  pesada  cousa  e  dura 
Deixar  o  seu  logar,  durando  a  briga. 
Do  que  diz  Vasconoellos  pouco  citfa, 
Não  lhe  torna  rcsjiosta,  nem  mitiga 
O  esforço  natural  que  o  está  movendo, 
Antes  com  isto  mais  Ibo  vai  crescendo. 
IBIDEM,  cant.  10,  Gst.  122. 

—  «Não  somente  gostey  de  ler  esta 
resposta  duas  vezes,  como  V.  M.  me 
disse  que  fizesse,  mas  de  a  explicar  ou- 
tras duas  vezes  em  Francez,  aos  Amigos 
que  certamente  podem  ter  voto  na  maté- 
ria.» Cavalleiro  d'01iveira.  Cartas,  liv. 
1,  n.°  7.  —  «Pelo  que  respeita  á  Caste- 
lhana pikle  V.  S.  diser  o  que  quiser,  sem 
que  me  obrigue  a  dar-lhe  resposta  no 
caso  que  se  engane  em  alguma  opinião, 


visto  que  as  gentes  Hespanholas  fasem 
Rei/no  á  parte  y  Eeyno  suyo  que  es  en 
el  su  mayor  gloria.  j>  Ibidem,  n."  41. — 
« Ainda  no  tempo  del-Rey  D.  AíFonço 
X.  o  Sábio  de  Castella  teve  justa  prohi-' 
biçaõ  esta  arte  na.  1.  i.  tit.  23.  partid. 
7.  ibi  eii  cabeça  de  home  muerto,  de  ò  bes- 
tia.  Na  cidade  do  Zamora  costumava  o 
Demónio  dar  respostas  aos  antigos  den- 
tro de  huma  cabeça  de  metal,  como  tra- 
zem Tostado,  16,  e  Yepes.  17.  Também 
íallou  muytas  vezes  nas  caveiras  de  muy- 
tos  Gentios  mortos;  como  foi  na  de  Po- 
lycrito ;  que  conta  Plethomnio;  18.  na 
de  Gatino,  que  refere  Plinio;  19.  e  na 
de  hum  Magico,  que  trás  Francisco  Pi- 
co. 20.»  Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal 
Medico,  pag.  607,  §  92.  —  «Ella  faz 
muito  bem  em  nos  amar  (disse  o  Marido) 
poi-que  muito  a  amámos  nós  também.  Eu 
não  lh'o  digo,  porque  sei  que  tu  lhe  ex- 
plicas isso  melhor  do  que  eu,  e  concor- 
darás comigo  que  te  não  puz  estorvo  a 
quanto  para  ella  desejaste ;  antes  bem 
pelo  contrario.  Não  digo  eu  bem?  —  A 
resposta  que  Suzanna  deu  a  seu  marido 
foi  beija-lo  mui  amorosamente.»  Fran- 
cisco Manoel  do  Nascimento,  Successos 
de  madame  de  Seneterre. 

RESPUBLICA,  s.  /.  Vid.  Republica. 

RESPUBLICANO,  s.  m.  e  adj.  Vid.  Re- 
publicano. 

RESQUÍCIO,  s.  f.  Abertura,  fenda, 
greta. 

—  Cova,  lapa  apertada. 

—  Figuradamente  :  Abertura  por  on- 
de se  divisa,  e  alcança  o  interior  do 
animo. 

—  Figuradamente :  Resto,  sobras,  ves- 
tígios. 

RESREGRADO,  part.  pass.  de  Resre- 
grar.  Regulado  relativamente  aos  preços, 

RESREGRAR,  v.  a.  =  Termo  pouco  em 
uso.  Permutar  proporcionando  o  equiva- 
lente. 

—  Regular  os  valores  equivalentes  nas 
commutações. 

RESSABIAR,  v.  a.  Vid.  Resabiar, 

RESSABIO.  Vid.  Resaibo. 

RESSACA,  s.  /.  Termo  de  marinha. 
Choque  impetuoso  das  ondas  contra  a 
costa,  o  movimento  que  faz  o  rolo  da 
agua  recuando  da  praia,  encontrando 
maior  peso  do  mar,  o  que  faz  formar  o 
rolo.  Vid.  Resaca,  e  Rolo. 

f  RESSENHA,  s.  f.  Vid.  Resenha.  — 
«E  mandando  fazer  ressenha  da  gente 
que  tinha,  achou  que  toda  ella  não  pas- 
sava de  mil  e  trezentas  pessoas,  das 
quais  as  quinhentas  sós  erão  homens,  e 
todas  as  mais,  molheres,  e  crianças  pe- 
quenas, para  a  qual  copia  de  gente  não 
avia  mais  em  todo  o  rio  que  três  laulees 
pequenas,  e  huma  jangaa  em  que  não 
podião  caber  cem  pessoas.»  Fernão  Men- 
des Pinto,  Peregrinações,  cap.  92. —  «A 
que  o  Chaubainhaa,  para  quietar  o  mo- 
tim que  já  se  começava  de  levantar,  res- 


260 


REST 


REST 


REST 


pondco,  que  asai  Horia  como  duziào,  o 
para  isto  inautloii  fazer  Uc  novo  ressenha 
da  ^'cnte  que  podia  i)olojar,  e  uilo  we  acha- 
rão mais  ((UC  aórt  dons  mil  homeits,  c  ossos 
todos  ja  tais,  c  tào  quebrados  do  animo 
que  nem  a  mollieros  fracas  rciistirilo.» 
Ibidem,  cap.  14'J.  — «iVtido  este  Key 
]5raniaa  da  cidade  de  ^lartavão,  como 
atnls  liça  dito,  caminhou  tanto  por  suas 
jornadas  que  ciicfíou  a  Pcgú,  onde  antes 
do  dcspidir  seus  capitJics  fez  ressenha  da 
gente  que  tinha,  e  achou  que  dos  setecen- 
tos mil  liomens  cõ  que  cercara  o  Chanbai- 
nhaa  trazia  monos  oitenta  c  seis  mil.»  Ibi- 
dem, cap.  153.  —  «E  feita  ressenha  do 
toda  a  copia  dos  mortos  de  ambas  as  par- 
tos <pie  tinha  custado  esta  vinda  ao  Mc- 
loytay,  so  achou  que  da  parte  do  ]5ramaa 
crão  conto  e  vinte  e  oito  mil,  c  da  do 
principe  filho  do  Key  do  Avaa  quarenta 
c  dons  mil  cm  que  ontrarílo  todos  os  trin- 
ta mil  Moês  do  socorro.»  Ibidem,  cap. 
ir)7. 

RESSIO,  s.  m.  Vid.  Recio. 

—  Traça,  logar  publico.  —  Tendas  ar- 
madas no  ressio.  —  «Em  outro  dia  es- 
tavam muy  granidos  temdas  armadas  no 
ressio  a  cerca  daquol  moesteiro,  em  que 
avia  granidos  montes  de  pam  cozido, 
e  assaz  do  tinas  chcas  de  vinho,  c  logo 
prestos  porque  bevessem,  e  fora  estavam 
ao  fogo  vacas  cntciras  em  espetos  a  as- 
sar.» Fernão  Lopes,  Chronica  de  D.  Pe- 
dro, cap.  14. 

—  Terras  de  lavoura,  deitadas  em  res- 
sios ;  torras  que  ficam  cm  baldios  e  ma- 
ninhos. 

RESSOPRAR,  r.  a.  Termo  de  poesia. 
Soprar  do  novo,  tornar  a  soprar. 

—  Redobrar  o  assopro. 

—  Ressoprar-se,  v.  rejl.  Atlçar-se,  fal- 
lando  do  fogo. 

RESSUDAR,  V.  a.  Aid.  Resudar. 

RESSUMBRADO,  part.  ijass.  de  Ressum- 
brar. 

RESSUMBRAR,  v.  a.  Vid.  Reçumar,  o 
Reçumbrar. 

RESSURÇAS,  *•.  /.  phir.  (Do  francez 
restiourccii).  E  puro  gallicismo  do  que  tão 
inadvertidamente  se  servem  até  pessoas 
doutas  e  discretas.  Diremos  na  nossa  lín- 
gua c.vpedicntes,  recursos,  arbítrios,  meios, 
traças,  vwdos,  artes,  invenções,  etc. 

RESTABELECER,  v.  a.  Reduzir  uma 
cousa  ou  possoa  ao  seu  primeiro  estado. 
—  Restabelecer  sua  satule, 

—  Figuradamente :  O  remorso  restabe- 
lece )intit(ts  vezes  o  homem  na  ordem  mural. 

—  Figuradamente  :  Fazer  renascer.  — • 
Restabelecer  o  culto  de  Deus.  —  Resta- 
belecer (IS  estudos.  —  S.  Bernardo  pro- 
cura restabelecer  a  fé  dos  seus  maiores, 
na  ruina  das  novidades  profanas. 

—  Collocar  alguém  no  estado,  no  lo- 
gar em  que  estava  d 'antes. — Deus  res- 
tabeleceu <í  casa  real. 

—  Restabelecer-se,  f.  reJl.  Recobrar 
a  saúde,  —  Restabelecer-se  cm  saúde. 


RESTABELECIDO,  part.  jmss.  de  Res- 
tabelecer. Uiitaurado. 

—  Reduzido  ao  seu  primeiro  estado. 

—  Recobrado,  recuperado. 
RESTABELECIMENTO,  s.  m.  Acç.lo  de 

rcstaljccei-,  estado  do   (pie   é   restabeleci- 
do. —  (J  restabelecimento  de  um  cdijicio. 

—  O  restabelecimento  ilc  uma  nairallia. 

—  O  restabelecimento   d'uma  lei,  d'uiii 
costume. 

—  Retorno,  volta  ao  estado  da  sauile 
natural,  em  consequência  do  seu  trata- 
mento, ou  dos  esforços  da  natureza,  quo 
procuraram  a  cura  da  doença  de  (jue  es- 
tava jjossnido. 

RESTABOI,  s.  7)i.  Termo  de  botânica, 
llerva  jicnnne  c  medicinal,  conhecida 
tandicm  pelo  nome  de  uniuujata. 

RESTAGNAÇÃO,  s.  f.  (Do  latim  resta- 
(jnatio).  Estagnação,  represamento  das 
aguas. 

RESTAGNADO,  iiart.  pass.  de  Resta- 
gnar.  Estaicnado,  represado,  accumulado. 

RESTAGNAR,  v.  n.  =  Termo  pouco  cm 
uso.  Estagnar,  represar,  accumular-se. 

RESTAMPA,  s.  /.  Reimpressão  da  es- 
tampa, nova  estampa. 

RESTAMPADO,  part.  pass.  de  Restam- 
par.  lmj>rcsso,  gravado  de  novo. 

RESTAMPAR,  v.  a.  Imprimir  de  novo. 

• —  Reimprimir  a  estampa,  reproduzir 
exemplo  d'ella. 

—  Usa-se  também  figuradamente. 

—  Restampar-se,  v.  reJl.  Reimprimir- 
sc. 

1.)  RESTANTE,  part.  act.  de  Restar. 
Que  resta,  que  sobeja. 

Lombra-mc,  inda  liojc,fiuc  encontrei,  nas  ruínas 
D'um  desses  airaislcs  da  hoste  Romana, 
Uni  Pegureiro.  Em  quanto  derrocavão 
A  Obra  restante  dos  Senliores  do  Orbe. 

F.    MANOEL    DO    NASCIMEKTO,    OS  MAKrYRES,  1ÍV.   9. 

—  Que  permanece,  que  fica,  que  re- 
manece. 

—  Que  est;l  f('ira  do  numero. 

2.)  RESTANTE,  s.  m.  O  resto,  o  resí- 
duo, o  que  resta  de  uma  grande  somraa, 
de  uma  maior  quantidade.- — Pagar  o 
restante  com  os  interesses.  —  O  i'estante 
da  gente  lusitana. 

Eis  vem  depois  o  pai,  que  as  ondas  corta 
Co'o  restante  da  gento  Lusitana, 
E  com  força,  c  saber,  que  mais  importa, 
líatallia  dá  felice,  c  soberana ! 
líiins,  paredes  subindo,  escusam  porta. 
Outros  a  abrem  na  fera  esquadra  insana: 
Feitos  farão  tão  dignos  de  memoria. 
Que  não  caibam  cm  verso,  ou  larga  historia. 
cAM.,  LU3.,  cant.  10,  est.  71. 

—  «Que  desatino  tão  grade  foy  o  vos- 
so, em  querer  fazer  tanto  mal,  a  quem 
sempre  vos  fez  bem  e  mercê.  A  vida  se 
vos  dará,  não  por  vosso  merecimento, 
mas  por  motivo  de  minha  clemência,  o 
restãte  de  vosso  castigo  se  determinara 


com  niayor  deliberação.»    Mouarchia  Lu- 
sitana, iiv.  G,  cap.  20. 

RESTAR,  V,  )í.  (Do  bitim  rtutare,  de 
re,  por  retro,  e  ttarci.  Ficar,  permane- 
cer, remanecor. 

('onfiug  pouco  nos  supremos  dciucd. 
'I'eu  vcuur:indo  pac,  aaan  TÍrtud«» 
Iiid.i  MOS  refluiu. 

liAiiiiKrr,  CATÃO,  act.  1,  »c.  5. 

Nos  (|uasi  abertos,  derrocado»  muros 
I)'Utica  HO  nos  reitit  amparo  dobil, 
l'or  Buas  brrxhas  sem  (Kintn,  a  (;uda  instante 
Nos  entra  a  escravidão,  no»  foge  a  pátria. 
No.^sag  legiões  tam  poucas,  tain  cau^'adas, 
Fracos  sobejos  da  fatal  derrota. 

IBIDEM,  SC.    I. 

Sóbrc  esses  males  . 

So  me  venta  gi-mer :  assas  contra  elles 
Luctui  debalde. 
loiDEu,  act.  5,  se.  .3. 

—  «E  se  n'ella  houve  alguma  vonta- 
de, foi  s(j  a  de  Deus,  a  qual  verdadeira- 
mente tenho  conhecido  cm  muitas  occa- 
siões,  com  tanta  evidencia,  como  se  o 
mesmo  senhor  m'a  revelara.  Sii  resta 
agora  que  eu  não  falte  a  tão  clara  voca- 
ção do  ccu,  como  espero  não  faltar  com 
a  divina  graça,  segundo  as  medidas  das 
forças  com  que  Deus  fôr  servíílo  alentar 
minha  fraqueza.»  Padi'e  António  Vieira, 
Cartas,  n.°  7. 

—  O  pouco  tempo  que  me  resta;  o  pou- 
co tempo  de  que  me  c  ainda  permittído 
dispor,  ou  que  me  foi  concedido.  —  O 
pouco  tempo  que  te  resta  de  vida. 

—  Ficar  devendo  alguma  parte  da  di- 
vida. 

—  Sobejar,  sobrar. 

—  Estar  f.')ra  do  numero,  descripção. 

—  Ajudar  a  fazer  o  trabalho  que  res- 
ta ;  ajudar  a  fazer  o  trabalho  que  está 
por  fazer  ainda. 

RESTAURAÇÃO,  s.  f.  (Do  latim  restau- 
ratio).  Operação  quo  tem  por  objecto  re- 
parar, restaurar  um  antigo  quadro,  uma 
estatua  mutilada,  ou  mesmo  de  supprir, 
de  imaginar  o  que  tempo  destroe,  ou  faz 
desappaiecer  de  um  edificio  antigo.  —  A 
restauração  de  ttma  igrrja,  de  um  monu- 
mento publico. — A  restauração  (^«  uma 
estatua.  —  a  F(>v  cons;igrado  este  Templo 
por  quatro  Bispos,  (Senalio  de  Astorga, 
Sabario  de  Duiuo,  Frumirdo  de  Leão,  e 
Dolcidío  do  Salamanca,  na  era  944.  aos 
vinte  quatro  de  Outubro,  que  fica  sendo 
a  restauração  no  .anno  de  Ciiríâto,  SOõ. 
o  a  eoiis;i,'rração  novecentos  o  seis.»  Mo- 
narchia  Lusitana,  Iiv.  G,  cap.  23.  —  iDi- 
zem  quo  nos  acoliaõ  cm  suas  armadas, 
como  se  vio  na  restauração  da  Bahia. 
Respondemos  que  o  fizeraõ  para  assegu- 
rarem ;iíi  suas  luilia-s.  e  que  se  pagavaõ 
muito  bem.»  Arte  de  furtar,  cap.  17. — 
» Na  restauração  da  Bahia  entregou  o 
Mouarcha   dous    ou    três    milhões    a   D. 


REST 


REST 


REST 


261 


Fradique  de  Toledo  para  as  despezas  da 
guerra.  Houve  depois  desgosto  eutre  el- 
les,  e  o  Coade  de  Olivares,  que  gover- 
nava tudo:  e  ajudando-se  este  do  vali- 
mento para  se  vingar  do  Fradique,  mau- 
dou-lhe  tomar  contas.»   Ibidem,  cap.  20. 

—  No  sentido  mural :  A  restauração 
de  um  estado.  —  A  restauração  das  Ld- 
las-htras.  —  -1  restauração  da  discipli- 
na. —  A  restauração  das  leis. 

—  Termo  de  medicina.  Restabeleci- 
mento das  forças  após  uma  doença,  uma 
grande  fadiga. 

—  Termo  de  esculptura.  A  restaura- 
ção das  estatuas  consiste  em  ref;izer  e 
adaptar  á  obra  partes  novas,  substituin- 
do aquellas  que  se  perderam  ou  se  muti- 
laram. 

—  Termo  de  politica.  Restabelecimen- 
to de  uma  antiga  dynastia  no  throno. 

RESTAURADO,  pàrt.  pass.  de  Restau- 
rar. Renovado,  reformado.  —  Columna 
restaurada.  —  Quadro  restaurado.  — 
Mausoléu  restaurado. 

—  Restabelecido,  posto  em  bom  esta- 
do, em  vigor,  depois  de  ter  tomado  ali- 
mento. 

RESTAURADOR,  A,  adj.  e  s.  Que  res- 
taui'a,  que  renova.  —  D.  João  I e  D.  João 
IV  foram  os  restauradores  da  liberdade, 
e  os  defensores  do  reino. 

—  No  sentido  moral :  Restaurador  das 
bellas-htras.  —  Restaurador  da  liberdade, 
do  commercio,  das  leis,  etc. 

RESTAURANTE,  part.  act.  de  Restau- 
rar. Que  ú  próprio  a  restaurar.  —  Reine- 
dio  restaurante.  —  Bebida  restaurante. 

—  Alimento  restaurante. 

—  S.  VI.  O  que  restaura.  —  É  um  bom 
restaurante  como  o  vinho,  o  caldo. 

RESTAURAR,  r.  a.  (Do  latim  restaura- 
re).  Reparar,  restabelecer,  pGr  em  bom 
estado,  em  vigor.  —  Restaurar  as  forças. 

—  Restaurar  a  saúde.  —  Um  remédio  bom 
para  restaurar  o  estômago. —  «E  os  cbris- 
tàos  que  viviaõ  nas  terras  de  Portugal, 
com  favor  de  alguns  senhores,  que  faziaõ 
entradas  em  terra  de  irdmigos,  começa- 
rão a  levantar  cabeça,  e  restaurar  mui- 
tas povoaçoens  que  os  Mouros  deixarão 
assolladas  os  annos  antes.»  Monarchia  Lu- 
sitana, liv.  7,  cap.  20.  —  « O  filho  do 
Necodá,  que  como  já  disse,  era  mancebo 
de  bom  espirito,  e  criado  eutre  Portugue- 
ses, vendo  a  dor  e  vergonha  em  que  este 
aperto  me  tinha  posto,  peLlio  a  seu  pay 
que  lhe  desse  vinte  niarinheyros  do  jun- 
co, para  com  elles  restaurar  aquelle  po- 
bre Reizinho,  e  lançar  aquelle  laiirào  fora 
daquella  ilha.»  Fernào  Mendes  Pinto,  Pe- 
regrinações, cap.  14Ò.  —  «  Este  como  rei- 
nava na  outra  contracosta  da  Arábia  sa- 
bendo que  Adem,  era  soccorrida  de  nos- 
sas armas,  ajuizando  que  com  a  mesma 
armada  o  podíamos  restaurar,  escreveo 
ao  Governador,  que  não  seria  menos  gra- 
to ao  Mundo  restituir  a  Caxem,  que  de- 
fender a  Adem.  Representava  quão  fiel 


hospedagem  acharão  nossas  armadas  em 
seus  portos,  fazendo  resenha  das  que  aili 
haviào  ancorado  em  tempos  diôereutes, 
a  cuja  causa  se  fizera  aos  Turcos  sospei- 
toso ;  o&erecia  além  da  fidelidade  mode- 
rado tributo.»  Jacintho  Freire  d'Andra- 
de,  Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv.  4. 


Poiâ  dcom-tc  audiência : 

caíste  cm  peccado,  não  ha  pcuitencia 

que  te  restaure,  admittain-te  a  isso. 
Se  anjo  me  levam  por  lei  de  comisso 
que  me  hão  de  admittir  a  impaciência. 

AJÍTONIO  PBESTES,  ACTOS,  pag.    Õ. 


Da  fria  Terra  a  machina  sepulta, 
Em  que  o  corpo  mortal  restaure  a  força, 
Com  que  ao  surgir  d'Aurora  matutina 
A  seu  cuidado  torne,  c  a  seu  trabalho. 

J.   A.   DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Caot.    1. 


—  Restaurar  a  perda,  o  damno ;  emen- 
dal-a,  pagal-a. 

—  Restabelecer,    reproduzir,   reparar. 

—  Refazer,  renovar. 

—  Restaurar  o  erro,  a  opinião;  reaquis- 
tal-a. 

— -  Recobrar. 

—  Restaurar  a  fraqueza;  remedial-a, 
tornal-a  vigorosa. 

—  Restaurar  a  casa ;  restaural-a  das 
dividas  em  que  estava  empenhada. 

—  Restaurar  «  debilidade  dos  nervos. 

—  Restaurar  as  bandeiras  que  o  inimi- 
go tomara. 

—  Figuradamente:  Restaurar  as  leis, 
as  artes  e  as  sciencias.  —  Restaurar  o 
commercio. 

■ —  Restaurar-se,  v.  refl.  Restabele- 
cer-se. 

• —  Restabelecer  as  forças  tomando  o 
sustento.  —  Ter  jiecessidade  de  se  res- 
taurar. —  Acabo  de  restaurar-me  um 
pouco. 

—  Restaurar-se  o  edifício  das  ruinas; 
retornal-o  bom. 

—  Restaurar-se  dos  males,  da  doença, 
perdas,  trabalhos,  etc. ;  reformando,  tor- 
nando ao  bom  estado  de  que  descaiu,  do 
que  se  perdeu,  deteriorou,  etc. 

—  Restaurar-se  o  estado  revolucionário 
d  paz  antiga;  retornar  ao  bom  e  antigo 
estado. 

RESTAURATIVO,  A,  adj.  Que  tem  a 
virtude  de  restaurar.  —  Medicamento  res- 
taurativo. 

RESTAURA VEL,  adj.  2  gen.  Que  é  pos- 
sível restaurar-se.  —  Instituto  restaura- 
vel.  —  Disciplina  restauravel. 

1.)  RESTE,  s.  m.  (Do  fraucez  antiqua- 
do arrest).  Riste,  peça  de  armadura,  on- 
de o  cavalleiro  justador  encosta  o  conto 
da  lança  para  encontrar  de  justa  o  adver- 
sário. Vid.  Riste,  no  fim. 

2.)  RESTE,  s.  f.  (Do  latim  restis).  Cor- 
da de  certa  porção  feita  de  peças  tran- 
çadas. —  Uma  reste  eh  cebolas. 

—  Loc.  POPULAB:  Metter-se  em  reste; 


contar-se  no  numero,  entremetter-se  na 
conta. 

■ —  Reste  de  sol.  Vid.  Réstia. 

RESTE,  s.  m.  Termo  antiquado.  Resto. 

RESTEA,  s.  /.  Reste.  —  Uma  restea  de 
luz. 


Disse:  e  três  golpes  deu,  no  throno  o  Sceptro: 
Três  ecchoâ  rc-mugio  a  Avema  furna. 
Sento  o  tri-golpe  o  Chãos,  próximo  do  Orço : 
Escacha-ao,  c  a  travéz,  calar  consente 
Uma  râstea  de  luz,  na  enleada  Xoitc. 

F.    M.    DO  NASCIMENTO,  os  MABTYEES,  Uv.  8. 


RESTELHO,  s.  m.  Vid.  Rasteio  da 
chave. 

RESTELLAR,  i-.  «.  —  Restellar  linho; 
tirar-lhe  a  estopa  por  meio  do  restello. 

RESTELLO,  's.  m.  Pente  de  ferro  de 
restellar  linho. 

RESTEVA,  s.  f.  Rastolho. 

RÉSTIA,  s.  f.  —  Réstia  de  sol;  a  luz 
que  d'elie  raia  por  eutre  nuvens,  e  dura 
pouco  tempo. 

—  O  ramo  ou  vara  d'arvore,  que  nas- 
ce do  meio  para  cima,  mormente  aa  do 
freixo. 

RESTIFORME,  adj.  2  gen.  Termo  de 
anatomia.  Corpos  restiformes ;  a  parte  su- 
perior dos  cordoes  posteriores  da  medulla, 
que  formam  os  pedúnculos  inferiores  do 
cerebello. 

RESTILLAÇÃO,  s.  f.  Termo  de  chimica. 
A  acção  de  di.stillar  outra  vez. 

RESTILLADO,  part.  pass.  de  Restillar. 

RESTILLAR,  v.  a.  Termo  de  chimica. 
Distillar  de  novo,  apurar  mais  a  distilla- 
ção. 

—  Restillar  espíritos;  para  ficarem  sem 
agua,  fortes,  e  depurados.  Vid.  Rectifi- 
car, termo  de  chimica. 

RESTINGA,  ou  RASTINGA,  s.  f.  Termo 
de  mariídia.  Baixo  de  areia  ou  de  pedra, 
no  mar  alto  ;  nas  costas,  quando  entre  pelo 
mar ;  sendo  ao  correr  da  costa,  é  recife, 
—  «Desta  manejTa  passamos  a  mayor 
parte  da  noite,  e  co  junco  meyo  alagado 
corremos  até  o  quarto  da  modorra  rendi- 
do, que  varamos  por  cima  de  huma  res- 
tinga, na  qual  logo  ás  primeyras  panca- 
das se  fez  em  pedaços,  em  que  morrerão 
sessenta  e  duas  pessoas,  huns  afogados,  e 
outros  esborrachados  debaixo  da  quilha, 
cousa  de  tanta  dOr  e  lastima,  quanta  os 
bons  entendimentos  podem  imaginar.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap. 
137.  —  «E  ajuntandonos  todos  assi  feri- 
dos como  estávamos  de  muytas  cutiladas 
das  ostras  e  das  pedras  que  avia  na  res- 
tinga, encomeudandonos  a  nosso  Senhor 
com  muytas  lagrimas,  começamos  a  cami- 
nhar metidos  na  agoa  até  os  peitos,  e  al- 
guns lugares  atravessamos  a  nado.»  Idem, 
Ibidem,  cap.  138. 

RESTINGUIR,  v.  a.  (Do  latim  restingue- 
re).  Extinguir  de  novo,  tornar  a  extin- 
guir. 


262 


REST 


RESTIR,  V.  a.  Termo  antiquado.  Resis- 
tir. Viil.  f.stij  tonno. 

f  RESTITUIÇAM,  s.  f.  Vil.  Restitui- 
ção.—  «A  qual  restituiçam  Mauilumoa 
quu  posna  assy  poJir  perauto  Nós  per  sim- 
ples emfoniià(;am,  ou  perante  os  Juizes 
OrJiiiiirios,  ou  Deloguados,  que  o  feito 
j)rincipaliuonte  dcâcuibarguáraò ;  c  se  es- 
ses Juizes  forem  Couiprimissarios,  em  tal 
caso  soja  peiliJa  perauto  Nós,  ou  perante 
03  Or.linairos  desse  Luguar,  lioade  esso 
fuito  principalmeuto  foi  dcseuibarguado. » 
Ord.  Aífons.,  liv.  1,  tit.  3,  §  12(j. 

RESTITUIÇÃO,  s.  /.  (Do  latim  restitu- 
iio).  Acto  peio  ipial  SC  restituo  ou  entre- 
gai —  Enlar  uòrifjaJo  d  restituição.  — Fa- 
zer restituição.  —  Restituição  forçada, 
legitima.  —  Exigir,  fazer  a  restituição 
dtí  algama  cousa.  —  Alii  digo  ca  que  vav 
o  furtar  do  monte  a  monte,  o  que  tomaõ 
os  taes  ministros  mhvtí  si  cargas  irreme- 
diáveis do  restituição,  cujos  antecedentes 
não  lograõ,  e  só  com  as  consequências 
das  tiçoadas,  que  por  tudo  haõ  de  levar, 
se  licaõ.»  Arte  de  furtar,  cap.  7. 

A  acç.ào  de  lepôr  uo  mesmo  estado 

e  condição,  cm  que  se  gozava  de  certos 
direitos.  —  A  restituição  do  menor.  Vid. 
Restituir. 

—  A  acç3io  de  restabelecer,  ou  de  ser 
restabelecido;  do  tornar  a  pôr  no  estado 
primitivo,  o  que  se  acha  destruido  ou  al- 
terado. —  «Ntísto  tempo  chegaram  as  no- 
vas de  sua  victoria  á  corte,  onde  se  fize- 
ram muitas  festas,  assim  pola  restituição 
dos  castellos,  que  qiiasi  tinham  por  im- 
possivel,  como  por  ser  da  mão  de  quem 
era.»  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
d'Iuglaterra,  cap.  lOS. 

—  Restituição  do  nascimento;  legitima- 
ção por  mi^rcè  do  rei. 

—  A  restituição  djs  vassallos  feita 
pelo  estado.  —  « Porque  assim  como  ella 
apa^a  os  incêndios  do  amor,  assim  emba- 
raça a  restituição  que  o  Estado  pede  dos 
Vassalos  que  a  guerra  lhe  arrebatou.» 
Cavalleiro  d'Oliveira,  Cartas,  liv.  1,  u." 

m. 

restituído,  part.  pass.  de  Restituir. 

Reposto  no  antigo  estado.  —  «E  tornau- 
do-lhe  a  fazer  instancia  que  ao  menos  (jui- 
zesse  ficar  com  o  nome  do  Rei  de  Portu- 
gal, e  que  elle  ficaria  com  o  do  Algarve, 
porque  naõ  tornasse  a  estado  de  Príncipe, 
quem  jii  o  tivera  de  Rei,  se  escusou  com 
a  mesma  inteireza,  dizendo  que  naõ  era 
abater  em  sua  grandeza  ficar  vassallo,  e 
sugeito  ao  Pai  que  o  gerara,  e  que  em 
mais  tinha  vello  restituído  a  seus  Reinos, 
que  alcançar  o  Império  do  mundo  todo.» 
Fr.  Bernardo  de  Brito,  Elogios  dos  reis 
de  Portugal,  continuados  por  D.  José 
Barbosa. —  «E  tanto  que  se  alcança  este 
intento  das  caixas,  pessas,  ou  bisalhos, 
seguc-se  o  segundo  de  desfazer  a  mara- 
nha, e  abonallo,  até  pór  em  pés  de  ver- 
dade restituído  a  seu  primeiro  ser,  e  va- 
limeuto.»  Arte  de  furtar,  cap.  55. 


REST 

—  Indemnisado,  restaurado. 

—  Reparado. 

—  Tomado  a  dar  o  que  se  tomara.  — 
Prer^o  restituído.  —  « E  o  comprador  avcn- 
do  a  cousa  comprada  a  seu  poder,  gaatiha, 
e  faz  compridainente  seos  todolos  fruitos, 
novos,  e  rendas,  que  ouve  da  cousa  com- 
prada, ataa  que  lhe  o  dito  preço  seja  res- 
tituído.» Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit.  40. 

• —  Reedificado.  —  Monumento  restituí- 
do. 

RESTITUIDOR,  A,  s.  Pessoa  que  resti- 
tuo. 

—  Figuradamente  :  Pessoa  quo  resta- 
beleceu, restaurador. 

—  Adjectivamcnto:  Fructo  restitui- 
dor. 


O  cedro  nos  campos,  cstrcUa  no  mar, 
Na  serra  .ivo  plienix,  huina  só  amada, 
Huma  HO  som  mácula,  c  »o  prcaervcrada, 
Huma  80  nascida,  sem  conto  c  B«m  par! 
Do  que  l'2va  triste  ao  umndo  tirou 
1''qí  o  teu  fructo  Tfjtitttidor. 

GIL  VICENTK,   AUTO  PASTOHIL  TOUTUGUEZ. 


RESTITUIR,  V.  a.  (Do  latim  restituere). 
Repor  no  antigo  estado,  tornar  a  entre- 
gar o  que  se  tomara. —  «E  como  huma 
noite  estivesse  dormindo,  lhe  aparoceo  a 
Virgem  e  Martyr  Santa  Eulália,  e  ferin- 
doo  cruelmente  com  hum  açoute,  lhe  dis- 
se, que  se  não  queria  experimentar,  ou- 
tro castigo  mayor,  lhe  restituysse  seu 
servo,  o  que  elle  fez,  obrigado  da  grande 
aflicaíj  cm  que  se  vira  entre  os  açoutes, 
cujos  sinaes  lhe  ficarão  depois  de  acorda- 
do.» Monarchia  Lusitana,  liv.  G,  cap.  20. 

—  cElUey  vendo  que  elles  dospois  de  sua 
chegada  te  aquelle  tempo  ^mpro  traba- 
lharão por  o  restituir  em  seu  estado  com 
tanto  perigo  e  sangue  derramado  ante 
seus  olhos,  e  em  ficar  aquella  nao  e  dous 
nauios,  era  o  mães  que  lhe  podiaõ  fazer, 
ficou  satisfeito.»  João  de  Barros,  Década  1, 
liv.  7,  cap.  2.  —  cMas  Deos  inspirou  na 
vontade  d'elRey  em  mandar  aquelle  anno 
duas  armadas,  que  com  sua  chegada  á  ín- 
dia animarão  muito  o  espirito  de  Affonso 
d'Alboquerque,  pêra  se  tornar  a  restituir 
na  posse  daquella  cidade  Goa,  que  era  a 
cousa  que  elle  mães  desejaua.»  Idem,  Dé- 
cada 2,  liv.  õ,  cap.  8.  —  «Na  qual  espe- 
rança elle  se  não  enganou;  cá  sabendo 
Afíbnso  d'Alboquerque  sua  fortuna,  elle  o 
consolou,  orterecendo-se  ao  restituir  em 
seu  estado.»  Idem,  Ibidem,  liv.  f!.  cap.  2. 

—  a  Alem  do  que  lhe  promctoo  de  ho  res- 
tituir nos  que  lhe  el  Rey  dom  João  toma- 
ra, e  dera  a  diuersas  pessoas,  a  quem  sa- 
tisfaria ho  valor  querendo-lhos  elles  sol- 
tar, e  nam  ho  fazendo  lhe  daria  a  elle 
mesmo  rendas,  e  tenças  que  valessem  ou- 
tro tanto,  sendo  hos  taes  bons  dados  per 
cl  Rei  dom  João  de  juro,  mas  que  sendo 
dados  cm  vida  lhos  tornaria  La  dar  per 
falecimento  daquellos  que  hos  possuião, 
sem  mais  outra  nenhuma  satisfação.  >  Da- 


REST 

mião  do  Góes,  Chronica  de   D.   Manoel, 
part.  1,  cap.  1'}. 


Viiiiog  ricoa  ac((uerir 
riquezas  mal  udjuntaduH 
com  mal  comer,  mal  vestir, 
Bem  pairar,  reMituyr, 
c  com  vidas  muy  canitada^. 

UÀHCIA  DK  BEZEXDE,  MlKliLLÀXCl. 


muyfog  homens  castigou, 
c  ofiicios  tirou: 
depois  que  Lixboa  vio, 
tudo  Uic  reMilnyo, 
c  o  titulo  lhe  tornou. 


—  «Pelo  qual  o  Siammon  se  lhe  obri- 
gou pelo  tomar  debayxo  do  seu  amparo, 
e  se  pór  em  pessoa  em  campo  por  elle 
todas  as  vezes  que  lhe  fosse  neees.«ario,  e 
o  restituir  no  Reyno  do  Prom  dentro  de 
hum  anno,  para  o  que  logo  lhe  deu  cen- 
to e  trinta  mil  homens,  os  trinta  mil  do 
soccorro,  que  o  Brama  tinha  morto  no 
Meleytay,  e  os  vinte  mil  quo  aqui  esta- 
vaõ  n'esta  Cidade,  e  os  oytenta  mil  por- 
que se  esperíiva  de  que  o  mesmo  Rey  do 
Àvâ  vinha  por  General.»  Fern.ão  Men- 
des Pinto,  Peregrinações,  cap.  152.  — 
a  Dizia  o  Confessor  da  índia  ao  seu  peni- 
tente, que  era  obrigado  a  restituir  os  nove 
mil  cruzados  por  inteiro,  visto  não  lhe 
constar,  se  seus  companheiros  tinhaõ  dado 
satisfaçaij  á  sua  parte.»  Arte  de  furtar, 
cap.  65.  —  «Pela  quarta  e  ultima  vez 
(digo  ultima,  porque  já  não  tenho  que  me 
penhorem)  a  minha  tal,  e  qual  Livraria, 
fato,  e  mi')Veis  os  perdi,  pela  perfídia 
d'uma  Mulher,  que  tomei,  para  me  ser- 
vir, a  qual  os  Juizes  condemnárão  a  res- 
tituir tudo,  e  a  dous  annos  de  prisão;  e 
outros  arbitrarão,  que  ella  ficasse  com 
tudo;  e  a  querer  eu  resgatar  o  que  éra 
meu,  pagasse  040  francos,  que  eu  nunca 
devi.»  Francisco  Manoel  do  Nascimento, 
Os  martyres,  cap.  G. 

—  Restituir  alguém  de  alguma  perda. 
Injuria ;  indeninisal-o. 

—  Reproduzir  cousa  cgual. 

—  Restituir  o  damno ;  renoral-o,  res- 
taurai-o.  —  « Da  mesma  m.ineira  póJe 
soccorrer  o  Príncipe  ao  que  se  nietteo 
debaixo  de  sua  tutela,  se  tiver  algimia 
destas  caus.as  por  si.  Quem  fizer  guerra 
sem  alguma  destas  causas,  pccca  contra 
justiça,  fica  obrigado  a  restituir  os  dam- 
nos.»  Arte  de  furtar,  cap.  21. 

—  Restituir  em  direito,  restituir  al- 
guém; consideral-o  no  esfcido  de  menor, 
ou  outro  tal  em  que  goze  de  certos  di- 
reitos, e  privilégios,  para  que  n3o  lhe 
sejam  livres  os  actos,  ou  omissões  feitas 
no  tempo  da  menoridade,  e  repor  as  cou- 
sas no  est.ido  em  que  se  achavam  antes, 
o  como  se  não  houvesse  contrahido  nada. 

■ — •  Restituir  alguma  obra;  recdifical-a. 

—  Figuradamente :  Restituir   as  rui- 


REST 


REST 


REST 


263 


nas  de  iim  homem.  —  «Hum  CTentio  ho- 
mem cio  pouca  sorte,  que  usando  mal  de 
seu  officio,  despovoou  a  Cidade,  e  sem 
ser  julgado,  ello  se  condcmna  á  morte ; 
e  outro  Mouro  com  titulo  de  Rev,  e  que 
restitue  as  ruiuas  do  outro,  sem  culpa 
vem  a  morrer  per  condemnaç.ão  de  ou- 
trem.» Barros,  Década  2,  liv.  9,  cap.  7. 

—  Restituir  alguém  d  amizade  d'ou- 
trem;  á  sua  graça. 

—  Restituir-se,  v.  rejl.  Tornar  ao  es- 
tado de  que  descaiu.  — •  «A  dor,  e  má- 
goa da  qual  perda  vinha  tão  viva  no  ani- 
mo de  todos,  que  desejando  restituir-se 
ncUa,  muitas  vezes  com  o  grande  nume- 
ro da  gente  que  eram,  e  esterilidade  do 
inverno,  per  combatiss,  per  fome,  sede,  e 
continuação  de  vigílias,  e  trabalhos,  to- 
dos aquelles  Fidalgos  cavalleiros,  e  gen- 
te darmas  padeceram  grandes  aifrontas.» 
Barros,  Década  2,  liv.  7,  cap.  4. 

—  Restituir-se  de  alguma  perda;  sa- 
tisfazcr-se  d'ella,  cobrar  o  perdido,  in- 
demnisar-se  d'ellc. 

—  Requerer  o  beneficio  da  restituição, 
ser  restituído  em   direito,  e  evitar  lesão. 

—  Entregar-se,  cobrar.  —  «Mas  como 
a  força  venceo  a  razaõ  continuarão  os 
Senhores  daquella  grande  casa  no  seu  in- 
fortúnio até  que  satisfeito  o  castigo  de  ses- 
senta annos  se  lhes  restituio  o  que  era 
seu. »  Fr.  Bernardo  de  Brito,  Elogios  dos 
reis  de  Portugal,  continuados  por  D.  Jo- 
sé Barbosa.  —  « E  nós  ainda  que  tivésse- 
mos mais  poder  nas  armas,  o  adjutorio 
das  outras  cousas  pêra  continuar  guerra 
per  muitos  annos  hia  deste  Reyno  de 
Portugal,  que  hc  no  fim  da  terra  tantas 
mil  léguas  de  Malaca,  a  qual  cousa  lhe 
dava  esperança  que  em  hum  tempo,  ou 
em  outro  se  havia  de  restituir.»  Barros, 
Década  2,  liv.  9,  cap.  6. 

RESTITUIVEL,  adj.  2  gen.  Que  se  de- 
vo ou  pi'ide  restituir. 

RESTITUTORIO,  A,  adj.  (Do  latim  res- 
títutorius).  Que  tem  virtude  ou  é  feito  a 
fim  de  restituir  a  seus  direitos  a  pessoa 
que  goza  do  beneficio,  ou  privilegio  de 
restituição  jurídica. 

RESTO,  s.  711.  O  restante,  a  ultima  par- 
te, a  ultima  porção.  —  «Tornado  Lopo 
bai-riga,  tiucrão  os  de  Xiatima  aniso  que 
os  de  Cide  Iheabentafuf  auiam  de  ir  a 
mirauel,  o  outros  castellos  pêra  fazerem 
trazer  aos  daquella  comarca  a  Oafim  as 
páreas  qu;  erão  obrigados  pagar,  de  que 
deuiam  alguma  parte,  por  resto  do  anno 
passado,  de  M.  D.  xi.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  32. 
—  «E  vem  a  fazer  a  senhora  vendedeira 
de  huma  pipa  três,  ou  quatro;  e  fica-se 
com  o  resto,  que  he  mais  outro  tanto  cm 
dobro :  o  alimpa  o  eserupaln  com  lhe  cha- 
mar fruto  de  sua  industria.»  Arte  de  fur- 
tar, cap.  5õ. 

Man.   Fiam  em  restos  cutiladas 
tac3  palavras  como  casas: 


vou-me. 
Irm.     Vae-sc,  domia  honrada? 

ANTÓNIO  PRBSTES,  AUTOS,  pag.  217. 

Que  hum  r^-tfo  he  si  maravilhoso,  c  bello 
Dessas  da  luz  uudulaeõcs  pasmosas, 
Que  detidas  do  ar  no  bojo  immcnso. 

J.   A.   DE  MACEDO,  VIACEll  EXTÁTICA,   CSUt.    1. 


Tudo  lhe  cede.  — E  nós  mesquinhos  restos 
Ao  furor  escapados  de  Pharsalia, 
É  que  havemos  de  oppor-nos  á  torrente 
Que  arroja  aos  pés  de  César  o  universo! 

GAKUETT,  CATÃO,    act.    1,   SC.    2. 


—  Ter  o  resto  ;  mandar  jogar  a  quem 
nos  pára  o  nosso  resto,  acceitar  a  para- 
da d'ellc. 

—  Um  resto ;  uma  parada  do  resto. 

—  Fazer  um  resto  ;  paral-o. 

—  O  que  fica,  o  residuo  que  falta  pa- 
ra inteirar. 


Nunca  o  Pó  velocissimo,  que  as  agoas 
Sente  engrossar  co'a  neve,  que  nos  Alpes 
Descoalha  o  Sol,  tão  rápido  se  lan(;a 
No  Adriático  mar,  como  furiosas 
Da  gcUada  Sibéria  as  Hostes  correm, 
E  vem  pizar  do  Tibro  a  margc'  inerme. 
Da  grandeza  Latina  inúteis  reftos ! 

J.    A.    DE    MACEDO,  MEDITAÇÃO,   Cailt.    2. 

—  Figuradamente  :    Os  pobres    restos 
da  agonizante  Roma. 

Príncipe,  bem  o  vês.  Desconfianças, 
Incerteza  cruel  acabariam 
De  desunir  de  todo  os  pobres  restos 
Da  agonizante  Roma. 

GAHRETT,  CATÃO,  aCt.   3,    SC   7. 


—  Os  restos  innocentos  do  fasto,  e  da 
gloria. 

Grandes  Cidades  vê,  campinas  férteis, 
E  os  restos  immortaes  do  fasto,  e  gloria. 
Que  inda  em  quebrados  mármores  avulta, 
Vê  longos  rios  fecundando  a  terra, 
E  no  Tirreno  mar,  d'Adria  nas  ondas 
Altas  Náos  vê  rasgando  o  dorso  a  Thetis. 

J.   A.   DE  M.^CEDO,   VIAGEM  EXTÁTICA,  Caut.     1. 

—  A  porção  de  dinheiro  que  o  joga- 
dor reserva,  e  não  parou. 

—  Metter  o  resto ;  parar  o  dinheiro  que 
fica,  depois  de  pei-dida  alguma  porção. 

Não  metera  o  resto, 
se  homem  fora. 
Sois  commigo. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  59. 

—  Figuradamente :  Metter  um  resto  ; 
empenhar,  ou  metter  todas  as  forças,  e 
diligencias. 

RESTOLHAR,  v.  n.  CoUigir,  aprovei- 
tar os  re-ítos,  o  rastolho.  Vid.  Rebuscar, 
e  Respigar. 

—  Figuradamente  :  Restolhar  os  retra- 
ços  da  í«)berba. 

RESTOLHO,  s.  m.  Yid.  Rastolho. 


RESTRIBAR,  v.  a.  Fazer  fincapó,  re- 
sistir fortemente. 

—  Restribar-se,  v.  rejl.  Firmar-se,  es- 
corar-se. 

RESTRICÇÃO,  í.  /.  Clausula  restricti- 
va,  limitação. 

—  Contlição  que  restringe,  que  modi- 
fica. —  Pôr  uma  restricção.  —  Clausula 
que  tem  restricção. 

—  Restricção  mental;  reserva  que  se 
faz  de  uma  parte  que  se  pensa,  para  in- 
duzir um  erro  áquelles  de  quem  se  falia. 
—  A  restricção  mental  foi  permittida 
por  alguns  casuistas  remissos,  mas  é  con- 
traria á  moral. 

RESTRICTAMENTE,  adv.  (De  restricto, 
com  o  suffixo  «mentes).  De  um  modo 
restricto. 

—  Limitadamente,  com  restricção. 
RESTRICTIVA,  .'.  /.  Restricção. 
RESTRICTIVAMENTE,  adv.  (De  restri- 

ctivo,  com  o  suffixo    «mente»).   De   uma 
maneira  restrictlva. 

RESTRICTIVO,  A,  adj.  Que  restringe, 
que  limita.  • —  Termos  restrictivos.  — 
Uma  clausula  restrictiva. 

—  Complemento  restrictivo ;  aquelle 
que  é  pedido  por  um  substantivo  appel- 
lativo  a  quem  pertence  ou  restringe,  e 
que  ordinariamente  leva  antes  de  si  a 
preposição  de.  — Amigo  do  rei;  este  ter- 
mo do  rei  c  um  complemento  restrictivo, 
c  assim  est 'outras  locuções :  falta  de  di- 
nheiro;  rei  das  Hespanhas ;  vaso  d' ouro, 
etc. 

—  Termo  de  lógica.  Incidente  restri- 
ctivo ;  diz-se  aquelle,  que  tirado  da  ora- 
ção a  que  está  ligado,  altera  o  sentido 
d'elle,  devendo  subsistir  para  a  sua  ver- 
dadeira intelligencia,  —  Os  portuguezes 
q%ie  acclamaram  D.  AíFonso  Henriques 
no  campo  d'()urique,  foram  valentes. 

RESTRICTO,  A,  adj.  Que  restringe, 
que  modifica. 

—  Limitado. —  Obrigações  restrictas. 

Inda  me  resta  qne  fazer  na  terra ; 
Deveres  sacratíssimos,  restrictas 
Obrigações. — Fiel  e  hom-ado  é  Manlio: 
Vou  confiar-lhe  tudo...  Oh,  ei-lo  chega. 
6AERKTT,  CATÃO,  act.  5,  SC  2. 

Juba, 

Tuas  obrigações  sâo  mais  restrictas 
Que  as  delle  ainda.  Onde  o  poder  supremo 
Se  tolera  n'um  so,  —  todo  lhe  incumbe, 
É  responsável  pelo  incargo  inteiro 
Da  republica.  Devcs-te  a  eUa,  príncipe. 
IBIDEM,  act.  õ,  SC.  9. 

RESTRINGENCIA,  s.  f.  Termo  de  me- 
dicina. Adstringência,  aperto,  qualidade 
do  que  é  adstringente. 

RESTRINGENTE,  part.  act.  de  Restrin- 
gir. Que  restringe,  que  limita. 

—  Termo  de  medicina.  Que  tem  a  vir- 
tude de  apertar  uma  parte  frouxa.  —  Me- 
dicamento  restringente.  —  Água  restrin- 
gente. 


364 


RESU 


RESU 


RESU 


—  6'.  m.  —  Um  restringente.  —  /IjipU- 
car  tim  restringente. 

RESTRINGIDO,  jmrf.  /mss.  <\c  Restrin- 
gir. Liinit:i'lii,  ;i|iurt;ulo,  inuditieiulo.  Wú. 
Restricto,  (\nr  ta/,  ilillV-roní/a. 

RESTRINGIMENTO,  í.  m.  Acto  do  res- 
tringir. 

—  Acção  lio  rodiizir  a  maior  aperto,  e 
rifror. 

RESTRINGIR,  v.  n.  (Do  latim  restrin- 
geie,  de  re,  c  slrintjere).  Termo  do  medi- 
cina. Apertar.  —  Medicamento  que  res- 
tringe. 

—  Limitar,  modificar,  diminuir  a  ex- 
tensão ou  coniprclicnsão,  —  «Restringen- 
do  e  limitando  eiu  esto  a  Ley,  que  so- 
bre esto  foi  feita,  pola  qual  avião  esses 
servidores  faculdade  de  viver  com  quem 
quiserem,  Jlanda,  que  com  homens,  que 
nsem  de  mester,  assy  como  Capateiros, 
Alfaiates,  Ourivczes,  Armoiros,  e  Can- 
deeiros, o  Almocreves,  e  todolos  outros 
dos  mesteres  iion  vivào  esses  mancebos  e 
servidores.»  Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit.  29, 
§  10. 

—  Figuradamente :  Restringir  a  sen- 
tença da  lei  a  certos  casos;  não  incluir  a 
todos,  ou  a  todas  da  mesma  espécie. 

—  Restringir  o  cerco,  o  sitio  que  es- 
tava ao  largo  chegando-se  á  praça ;  en- 
curtar  o  espa(;o,  a  extensão. 

—  Figuradamente  :  Reduzir,  diminuir. 

—  Restringir  uma  proposição.  —  Restrin- 
gir SMOS  perguntas  a   tal   ou   qual   cousa. 

—  Restringir  a  authoridade  de  alguém. 

—  Restringir-se,  v.  refl.  Limitar-se, 
reduz  ir-se. 

—  Conter-sp,  moderar-se,  abster-se. 

—  Cohibir-so.  refrear-se,  retor-se. 
RESTRINGIVEL,  adj.  2  gen.  Que  é  pos- 
sível ro^trir.trir-^e. 

RESTRINGIVO,  A,  adj.  Termo  de  me- 
dicina. Adstringente. 

RESTRUGIR,  r.  n.  Termo  de  poesia. 
Dobrar  o  estrondo,  e  estrugimento. 

RESTUCAR,  r.  a.  Tapar  greta,  ou  fen- 
da, com  unia  cousa  glutinosa  o  pcgadiça. 

RESUDAÇÃO,  s./.  Termo  de  mclicina. 
TranspiraijVMo  de  humor,  coado  pelos  po- 
ros. 

RESUDAR,  v.  a.  (Do  latim  resudare). 
Recamar,  rever,  coar-se  em  ténues  go- 
tas. —  Resudar  o  sangue  pelos  poros.  Vid. 
Reçurabrar,  e  Rezumbrar. 

RESULTA,  s.  /.  I  >  que  resulta,  proce- 
de e  se  segue.  —  A  resulta  de  uma  deli- 
beração. 

—  Effoito,  consequência,  resultado. 
RESULTADO,  iiKrt.  /lass.   de   Resultar. 

Que  resultou,  que  procedeu,  que  se  ori- 
ginou. 

—  Que  ò  effeito  e  consequência  de  al- 
gum acto. 

—  S.  m.  O  que  resulta,  o  que  se  se- 
gue de  unia  deliberarão,  de  uma  confe- 
rencia, de  um  principio,  de  uma  causa, 
de  um  acontecimento,  etc.  —  O  resulta- 
do  de  um  discurso,  de  uma    consulta   de 


advogados,  de  médicos.  —  O  resultado  <le 
uma  assembleia,  d' uma  conferencia,  d' uma 
discussão,  d'uiita  deliberação.  —  O  resul- 
tado <le  uma  disputa.  —  Discurso  que  nã<j 
dii,  que  não  (tftresenta  resultado  algum. 
—  O  resultado  de  uma  experiência  chi- 
micti.  —  <>  resultado  de  uma  empreza. — 
O  resultado  di   huia  guerra. 

RESULTANCIA,  «.  J.  O  resultado,  ef- 
feit'i,   ciiii.-^eijucncia. 

RESULTANTE,  part.  acf.  de  Resultar. 
Que  resulta.  —  Os  casos  resultantes  dos 
processos.  —  .íI*  provas  resultantes.  — 
Uma  obrigação  resultante  de  um  acto. 

—  ò'.  /.  Termo  de  mechanica.  Força 
que  resulta  da  composição  de  muitas  for- 
ças applicadas  a  um  ponto  dado.  Quando 
duas  forças  sào  dirigidas  sob  a  mesma 
recta,  o  exercem  sua  acção  no  mesmo 
sentido,  a  resultante  é  igual  á  sua  som- 
ma,  e  dirigida  segundo  a  mesma  recta; 
se  cilas  actuam  em  sentido  contrario,  a 
resultante  é  igual  á  sua  diffcrença,  e  di- 
rigida no  sentido  da  maior.  — A  resul- 
tante pois  de  um  numero  qualquer  de 
forças  que  actua  segundo  a  mesma  recta, 
e  em  sentido  contrario,  é  igual  á  somma 
das  forças  que  actuam  em  sentido  oppos- 
to,  no  sentido  da  maior  somma. 

RESULTAR,  r.  )i.  (Do  latim  resultare). 
Seguir-se,  originar-se,  proceder,  dima- 
nar, nascer. 

E  o  deos,  que  foi  n'um  tompo  corpo  humano, 
E  por  virtude  da  horva  podfrosa 
Foi  convertido  em  peixo,  e  dVste  dano 
Lhe  resiilloit  deidade  gloriosa ; 
Ilida  vinlia  chorando  o  feio  engano 
Que  Circe  tinha  usado  co"a  formosa 
Scylla,  que  elle  ama,  desta  sendo  amado; 
Que  a  mais  obriga  amor  mal  empregado. 
CAM.,  LU3.,  cant.  li,  est.  24. 

—  «Da  amisade  destes  homens  vos  re- 
sultão  dous  proveitos.  Hum  do  trato,  c 
comercio,  e  o  outro  do  favor,  c  ajuda 
nos  trabalhos,  por  isso  Senhor  vede  o 
que  fazeis,  naõ  queirais  por  um  pequeno 
apetite  arriscar  tantas  vezes  a  honra,  e 
a  vida.»  Diogo  <le  Couto,  Década  Ci,  liv. 
9,  cap.  5.  —  «Tornando  ao  Reino  foi  in- 
duzido por  mãos  conselheiros  a  matí»r  D. 
Inez  de  Castro,  de  quem  o  Infante  D. 
Pedro,  seu  tilho,  tinha  alguns  alhos,  o  so 
dizia  ser  casado  com  ella  por  e«tar  Já 
viuvo  da  Infante  D.  Constança.  DestA 
morte  resultarão  grandes  discórdias  en- 
tre pai,  e  tilho.  querendo  Deos  pagar  a 
el  Rei  as  que  tiveia  com  el  Rei  D.  Di- 
niz fou  pai."  Frei  liernaido  do  Brito, 
Elogios  dos  reis  de  Portugal,  continua- 
dos por  D.  José  Barbosa.  —  «E  porque  ha 
chegado  á  nossa  noticia  a  violência  que 
este  Rei  faz  aos  índios  que  recebem  a 
Fé,  tomando-lhcs  as  fazendas,  procura- 
roií,  eoiu  muitas  veras,  apartar  ao  dito 
Rei  ia  quem  sobre  o  caso  escrtvenios'i  de 
tão  barbara  crueldade,  pois  delia  resulta 
tanto  mal  para  .'w  almas,   e  corpos  de 


seus  vassalloB :  o  que  fará  por  ser  nosso 
amigo,  pondo  vós  da  vos«a  parte  o  cui- 
dado (|uo  vos  encommend.-imos. »  Jaein- 
tho  Freire  d'Andrade,  Vida  de  D.  João 
de  Castro,  liv.  1.  —  «E  as^im  resultarão 
depois  destas  divisoens  maravilhoso-)  au- 
mentos em  todas  as  Cidades,  c  Povos, 
quo  tiveraò  iiarticular  Senhorio,  tanto  cm 
Itália,  o  França,  como  em  Alem.iiiha.» 
Maiioi-l  Severim  de  Faria,  Noticias  de 
Portugal,  Disc.  ;5,  tj  2').  —  iMas  que 
advertisse,  que  em  sua  cabeça  levava  a 
vida,  e  saúde  daquello  homem,  e  que  lha 
havia  de  tirar  dos  hombros,  ao  alguma 
desgraça  lhe  succedia,  e  quo  rogasse  a 
Deos  que  nem  ailocccsse :  porque  tudo  ha- 
via de  resultar  em  mayor  desgraça  sua. 
E  resultou  daqui,  que  as  unhas  temidas 
ticaraõ  tímidas  :  e  e-íte  hc  o  remédio  que 
i*  acama,  nem  ha  outro.»  Arte  de  fur- 
tar, cap.  23. —  cDescuidaõ-se  na  eleição 
da  qualidade  das  couzas ;  e  até  dos  lu- 
gares, onde  as  devem  arrumar,  se  dcs- 
cuidaò.  K  resulta  de  tudo  faltar  o  bis- 
couto,  c  agua  no  meyo  da  viagem  ;  por- 
que acertaS  os  tempos  de  a  fazerem  mais 
comprida.»  Ibidem,  cap.  28. —  «Estas 
saõ  as  unhas  agudas,  que  fazem  a  sua 
sem  deixarem  coimas :  e  destas  ha  mi- 
lhares, que  na  fazenda  delRey  fazem 
grandes  estragos  com  alvitres,  e  conse- 
lhos, que  despontaõ  de  agudos,  e  levaõ  a 
mira  em  encherem  as  bolças ;  como  íc 
vio  nos  das  maçarocas,  e  bagaços,  de 
que  naò  resultou  mais  que  gastos  da  fa- 
zenda Real  para  Ministros.»  Ibidem,  cap. 
33.  —  «O  Numero  Denario,  hc  chamado 
circular;  porque  he  fira  dos  números;  e 
deste  à  maneyra  de  Phenix.  tornaõ  a  re- 
nascer os  mesmos,  que  resultarão  da  Uni- 
dade. Entre  os  Philosophos  sa3  dês  os 
Predicamentos.  Entre  os  Astrolagos  dès 
as  cspheras  Celestes.»  Braz  Luiz  d'Abreu, 
Portugal  medico,  pag.  142,  §  114.  — 
«Provaõ  fi  ratione,  porque  os  humores 
que  causam  o  phrenesi  concorrem  em 
abundante  copia  para  o  cérebro,  e  para 
as  suas  menbranas :  logo  necessariamen- 
te devem  excitar  tumor;  porque  este  não 
se  prodiis  por  outra  occaziaõ,  se  naõ  por- 
que os  líumores  concorrem  copiozamente 
era  mais  abundância  para  a  parte,  do  que 
no  estido  natural,  donde  resulta  a  sua 
mayor  elevação.»  Ibidem,  pag.  i(\h.  — 
«No  dia  24.  fui  jant  ir  á  egreja  de  .S.  Do- 
mingos da  Boa-Vista,  que  fica  bem  no 
sitio  oncle  o  Guamá  se  une  com  o  Ca- 
pim, de  cuja  continência  resulta  uma 
copia  e  peso  d'agaa3  mui  notável.  E'  dos 
grandes  pontos  de  vista  que  encontrei.» 
Bispo  do  (ír.no  Pará.  Memorias,  publica- 
das por  Camillo  Castello  Branco,  pag. 
173. 

—  Refluir,  saltar. 

—  Tornar-se.  ter  cm  resultado. —  «As 
fillias  em  conventos;  uns.  e  outros  n.io 
sejam  desamparados  nunca :  que  euifim 
soem  ser  filhos  do  amor,  a  quem  se  deve 


RESU 


RESU 


RESU 


265 


boa  correspondeucica ;  e  que  por  faltos  de 
fazenda,  e  cheios  de  obrigaç-rio  de  seus 
uomes,  se  acham  em  mil  atflicções,  que 
todas  resultam  em  damno  da  honra,  e  da 
consciência  de  seus  j^ais.»  D.  Francisco 
Manoel  de  Mello,  Carta  de  guia  de  casa- 
dos. 

RESUMAÇÃO,  s.  /.  Acçào  de  resu- 
mar. 

RESUMAR,  V.  a.  Vid.  Reçumar,  Res- 
sumbrar, e  Resumbrar. 

RESUMBRAR,  c  a.  Vid.  Reçumbrar  e 
Ressumbrar. 

RESUME.  Vid.  Resumo. 

RESUMIDAMENTE,  a.)x.  (De  resumido, 
com  o  sufiixo  «mente»).  De  um  modo 
resumido. 

•  —  Em  resumo,  em  summa,  synoptica- 
mente. 

RESUMIDO,  fart.  fass.  de  Resumir. 
Reassumido,  tornado  a  tomar. 

—  Recopilado,  reduzido  a  menos. 

—  Resolvida,  determinada  a  cousa  al- 
tercada. 

—  Contido  em  resumo. 
RESUMIDOR,   A,  s.  (De  resumir,  com 

o  sufRxo  «dor»).  Pessoa  que  resume, 
abrevia,  reduz  a  compendio  imia  escri- 
ptura,  historia,  d i*; curso  não  largo  e  ex- 
tenso. 

'  RESUMIR,  V.  a.  (Do  latim  resumire}. 
Reassumir,  tornar  a  tomar. 

—  Encurtar,  dizer  eui  poucas  palavras 
o  que  ha  de  mais  importante  nVima  ois- 
cussão,   n'um  discurso,  ii'um  argumento. 

—  Resumir  um  discurso. 

—  Resolver,  determinar  a  final  a  cou- 
sa altercada. 

—  Conter  em  si  resumido,  em  resumo. 

—  Recopilar,  reduzir  a  menos,  e  a 
mais  breves  razões. 

—  Cifrar,  abreviar,  epilogar. 

—  V.  n.  Resumir  em  poucas  palavras. 

—  Resumir  com  ordem.  —  Resumir  com 
clareza.  —  Resumir  rapidamente.  —  o  Fi- 
nalmente elle  resumido  nisto,  que  podia 
dizer  a  elRey  e  ao  seu  governador  Cóge 
Atar  que  o  enviara,  que  elle  era  vindo 
per  mandado  d"elRey  seu  senhor  a  noti- 
ficar a  elRev  de  Ormuz  que  se  queria 
pacificamente  nauegar  os  mares  da  ín- 
dia, que  lhe  auia  de  pagar  hum  certo 
tributo  em  sinal  de  vassallagem.»  João 
de  Barros,  Década  2,  liv.  2,  cap.  3.  — 
«  O  meu  amigo  o  Sr.  António  Feliciano 
de  Castilho,  a  cujo  favor  devo  as  precio- 
sas informações  que  aqui  resumi,  está 
actualmente  dispondo  aquelle  relatório, 
de  cuja  publicação  resultará  certamente 
o'generalisar-se  a  convicção  de  tam  gran- 
de descuberta,  e  vir  em  fim  a  nação  por- 
tugueza  a  recuperar  o  seu  Palladio  litte- 
rario.»  Garrett,  Camões,  nota  E  ao  can- 
to 10. 

—  Resumir-se,  v.  reji.  Conter-se,  ci- 
frar-se. 

RESUMO,   s.   m. 
da  obra,  discurso, 


Recopilação,   epitome 
ou  razões  mais 


—  Summario. 

—  Em  resumo ;  resumidamente,   sum- 
mariamente. 


Xo  desprezível,  no  pequeno  insecto 
Inda  se  mostra  mais ;  dco-se  em  resumo : 
Mai.í  03  distinctos  attributos  brilhào 
A  mento  do  Filosofo  tào  claros, 
Quanto  na  inteira  maquina  do  Mundo. 

J.    A.    Dl   HACEDO,  MEDITAÇÃO,   Cant.    3. 


RE3UMPÇÃ0,  s.  /.  Acção  de  resumir. 
—  A  resumpção  d'um  argumento. 

—  A  acção  de  tornar  a  começar  o  que 
se  havia  interrompido,  prorogado,  espa- 
çado. 

RES.UMPTA,  s.  f.  Resumo. 

—  Nas  escolas,  é  repetição  dos  argu- 
mentos do  sustentante,  ou  das  objecções 
que  elle  descobre  que  se  lhe  podem  fazer 
ás  suas  conclusões. 

RESUMPTIVO,  A,  adj.  (Do  latim  resum- 
ptivus).  Termo  de  medicina.  Medicamen- 
to resumptivo ;  medicamento  que  não  só 
cura.  mas  serve  de  alimento. 

RESUPINAÇÃO,  s.  /'.  Termo  de  botâni- 
ca. Estado  de  uma  tlOr  cuja  corolla  su- 
perior se  torna  inferior. 

—  O  estar  em  posição  resupina. 

—  O  avessamente,  ou  reviramento. 

RESUPINADO,  A,  adj.  Termo  de  botâ- 
nica. ',Uie  nasce  n'uma  direcção  tal,  que 
oiferece  na  parte  inferior  as  partes  situa- 
das na  parte  supeiúor  em  seres  análogos, 
e  na  parte  superior  as  que  estão  na  parte 
inferior  entre  estas.  —  Dicliptero  resu- 
pinado. 

RESUPINO,  A,  adj.  (Do  latim  resu- 
piuus').  Deitado  sobre  as  costas  com  a 
barriga  ]iara  o  ar. 

RESURGIDO,  part.  pass.  de  Resurgir. 
Tornado  a  viver,  resuscitado. 

RESURGIR,  V.  n.  (Do  latim  resurgere). 
Tornar  a  viver,  e  erguer-se  d'entre  os 
mortos,  reviver,  resuscitar.  —  «  E  pêra  o 
dia  do  sacrifício,  que  delle  esperam  fa- 
zer, tem  juntos  comsigo  em  uma  villa, 
onde  está  que  é  daqui  quatro  legoas,  al- 
guns amigos  seus  e  antr'elles  um  seu  ir- 
mão gigante,  mancebo  também  cruel  e 
esforçado,  que  chamam  Pavoroso,  que  de- 
pois que  está  nesta  Ilha  por  sua  má  vida 
tornou  resurgir  a  de  seu  cunhado  e  so- 
brinhos, cousa  que  agora  parece  mais  ás- 
pera polo  muito  que  havia,  que  começa- 
vam a  viver  em  liberdade.»  Francisco 
de  Moraes,  Palmeirim  de  Inglaterra,  cap. 
117. —  «O  Christaõs,  ô  membros  de  Chris- 
to,  se  he  verdade  que  ja  resurgistes  com 
Christo  da  morte  spiritual  pêra  a  vida 
buscay  as  cousas  de  cima,  aleuantay  o 
coraçam  da  terra,  e  pondeo  no  ceo  onde 
Chi"isto  esta  à  destra  de  Deos,  procuray 
alcançar  sabor  e  gosto  das  cousas  celes- 
tiaes,  e  nam  das  térreas.  Sabey  que  se 
a  VI  ssa  fee  he  viua,  ja  estais  mortos  pêra 
as  cousas  do  mundo,  e  da  carne,  e  a  vos- 
sa vida  estaa  escondida  com  CHRISTO 


em  DEOS.»  Frei  Bartholomeu  dos  Mar- 
tyres,  Catecismo  da  doutrina  christã. 

— -Resurgir  a  mdhor  vida;  sair  da 
morte  do  peccado,  converter-se. 

—  Figuradamente :  Ser  exigido  nova- ' 
mente. 

—  Figuradamente:  Re  surjam  os  anti- 
gos a  vêr  o  ardor  com  que  se  aprende. 

Aqui  resurjam  todos  os  antigos 
A  ver  o  nobre  ardor,  que  aqui  se  apprende: 
Outro  Sceva  verão,  que  espcdaçado 
Nào  sabe  ser  rendido,  nem  domado. 
CAM.,  Lus.,  cant.  10,  est.  30. 

—  Figuradamente :  Resurgir  dos  vicios 
á  virtude. 

f  RESURREIÇAM,  s.  /.  Vid.  Resurrei- 
ção.  —  «Irmãos  esta  gloriosa  mudança 
da  carne  do  senhor,  da  morte  á  vida,  e 
de  tantas  misérias  a  tantas  glorias,  he 
hum  claro  traslado,  e  debuxo  da  nossa 
resurreiçam,  assi  spiritual  nesta  vida, 
como  corporal  no  dia  da  resurreiçam 
geeral.  Frei  Bartholomeu  dos  Martyres, 
Catecismo  tía  doutrina  christã.  —  « Por 
tanto  irmãos,  se  desejamos  ser  partici- 
pantes na  resurreiçam  gloriosa  da  carne, 
conuem  que  em  quanto  neste  mundo  vi- 
uemos,  procuremos  diligentemente  a  re- 
surreiçam da  alma.  O  filho  de  DEOS 
veyo  às  terras,  principalmente  pêra  re- 
.'niscitar  nossas  almas  da  morte  spiritual, 
causada  pellos  peccados,  á  vida  spiritual 
de  sua  graça.»  Ibidem. —  «E  nas  outras 
que  disse:  Bemauenturados  os  misericor- 
diosos, por  que  elles  alcançarão  miseri- 
córdias. Por  tanto  irmãos,  se  queremos 
chegar  á  gloria  da  bemauenturada  re- 
surreiçam que  oje  nos  é  mostrada,  e 
prometida  conuem  com  as  Sanctas  Marias 
prouermonos  destes  celestiaes  vnguentos, 
'porque  estes  sam  com  os  quaes  o  senhor 
quer  de  nos  ser  vngido.»  Ibidem. 

RESURREIÇÃO,  s.  f.  Restituição  do 
morto  á  vida.  —  A  resurreição  de  Nosso 
Senhor.  —  A  resurreição  de  Lazaro.  — 
A  resurreição  dos  mortos. 

—  Resurreição  ^jara  um  tempo;  aquel- 
la  em  que  um  homem  morto  resuscita 
para  morrer  de  novo. 

—  Resurreição  perpetua,  eterna;  aquel- 
la  em  que  se  passa  da  morte  á  immorta- 
lidade.  —  O  dogma  da  resurreição  dos 
mortos  é  xima  crença  comiuum  aos  judeus 
e  aos  christãos. 

■ —  Termo  de  liturgia.  Diz-se  em  honra 
da  resurreição  de  Jesus  Christo  que  a 
igreja  celebra  a  festa  da  Paschoa.  —  «  E 
tanto  que  a  dita  villa  foy  socorrida,  e 
prouida  como  compria  el  Rey  se  veo  a 
Cordoua,  e  ahy  esperou  poUa  Raynha, 
andando  prenhe  se  foy  de  Medina  a  To- 
ledo, e  ahy  pario  acerca  da  Páscoa  a  in- 
fanta dona  Maria  no  anno  de  quatrocen- 
tos e  oitenta  e  dous  acerca  da  Páscoa  de 
Resurreição,  e  de  Toledo  se  foy  a  Ray- 
nha a   Cordoua,  onde  a   Infanta  foy  ba- 


■  voL.  V.  —  34. 


íátíG 


RESU 


RESV 


RETA 


ptizada  na  Igroja  mayor  pollo  Bispo  da 
cidadí}  com  {,'raiido8  ccryiiionias.»  (lar- 
cia  do  Rozondo,  Chronica  de  D.  João  II, 
cap.  i55. 

—  Quadro  ciii  ostampa  que  rcproson- 
ta  a  resurreição  do  Jesus  (Jliristo. 

—  Enj/ariir  ale,  ou  pela  resurreição 
doa  capuc/ws;  esporar  por  cousu  (pu;  nao 
La  de  succodor,  nrui  vcn(icar-.sc.=  E.sta 
locu<;ão  ó  cxtraliifla  ila  prosumpi;rio  du 
um  irado,  <pio  proinottou  rosuscitar  um 
mor  tu. 

RESURTIR,  ou  RESSURTIR,  v.  a.  Sair 
com  impoto  ao  alto,  ru^altar. 


Na  frniito  ingonua  e  livre  um  raio  assoma 
Do  subritancia  iinmortal,  rcsimrtf.  viva 
Dos  ollio.s  siiH  (^•Ic.sto  iiitclligoncia, 
l\'lo.s  hibioH  lie  pui-pura  di'»liza 
Doce  bi-iuido  Hun-irfo  ;  os  Kntcs  todos 
No  Mortal  pensador  seu  Rey  conhecem. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Cant.  1. 


Não  rfiSííiVc  do  Fcbo;  o  Coo  brilhante 
Não  guarda  os  Astros  Incidos  s/micuto 
Qii'a  nossos  olhos  snbito  fulgnrào 
Quando  a  noite  desdobra  o  véo  sombrio. 


—  Reflectir  olasticamonte. 


Entre  todos  mais  luz,  talvez  mais  clara. 
Que  a  que  ressurte  dos  Argivos  ]5ustoa, 
O  sobre-humano  Cicero  derrama. 

J.  A.  DE  MACEDO,  VIAGEM  E.\T.\TICA,  Cant.  2. 

Entre  o  Grego  saber ! . . .  Como  em  polidos 
Cri.staes,  que  unio  Buftbn,  do  Sol  a  chanima. 
Reverbera  mais  forte,  activa,  o  clara, 
Da  avassallada  Grécia  assim  ressurte 
No  vasto  Império  da  Potente  Roma 
Luz,  ([ue  espalhou  revérberos  mais  vivos. 

IDEM,  MEDITAÇÃO,  Caut.   1. 


RESUSCITAÇÃO,  í.-.  /.  O  fazer  resusci- 
tar. 

—  O  acto  do,  toruar  alguém  á  vida. 
RESUSCITADO,  part.  pass.  de  Resusci- 

tar.  Tornado  á  vida. 

—  Fl}íuradamento  :  Renovado,  trazido 
&  memoria. 

RESUSCITADOR,  A,  s,  (De  resuscitar, 
com  o  suffixo  «dor»).  Pessoa  que  faz  re- 
suscitar. 

—  Resuscitador  das  artes,  das  letras, 
das  scieiíciaSj  do  cominercio,  da  indus- 
tria. 

RESUSCITAR,  v.  a.  (Do  latim  resusci- 
tare,  do  re,  o  suscitare).  Fazer  voltar  â 
vida.  —  «  E  veudoos  em  trajos  tão  hon- 
rados, tornados  com  tanta  paz,  c  saúdo, 
era  em  todos  o  prazer,  e  alegria  tanta, 
como  se  todos  resuscitarâo  da  morte  á 
vida,  o  com  a  noua  de  sua  tornada,  que 
foy  pêra  todos  de  grande  espanto,  o  se 
espalhou  por  muvtas  partes,  vinha  tanta 
gente  á  corto,  que  se  não  podia  estimar, 
porque  os  negros  que  vierão  erão  homens 


nobres  o  nmyto  conlieeido.s.»  Garcia  de 
Rezende,  Chronica  de  D.  Joào  II,  cajii- 
tulo  lóli. 


Minha  prima  (quanto  agora 
resiitctlei  cu  do  morta!) 
me  lia  do  entrar  hoje  de  fura! 
l'e/.ar  de  niinlia  avií  torta, 
que,  nem  bocado  dormi. 

ANTÓNIO  PllE.STES,  AUT03,  pag.   329. 


—  Figuradamente:  Renovar,  trazer  á 
memoria. 

-T-  Reproduzir,  fazer  existir  outro,  ou 
semelhante. 

—  Resuscitar  as  preíeiu^òes ;  rcnoval-as. 

—  Resuscitar  velhices;  tornar  a  asar 
e  }iôr  eui  pratica  costumes,  ou  cousas 
antiquadas. 

—  U.sa-se  também  como  verbo  reflexo. 
—  O  tiniíjenito  de  Deus  resuscitou-se. 

—  V.  n.  Tornar  a  viver.  —  « A  che- 
gada de  loaiu  do  noua  a  Cochim  foi  pêra 
os  nossos  resuscitar,  o  tornar  de  nouo  ao 
mundo,  porque  ainda  que  os  o  Rei  fauo- 
recesse  muito,  c  mandasse  de  noite,  e  de 
dia  guai'dar  pelos  seus  Naires,  andauam 
tam  atemorizados  dos  Moiros  da  terra, 
que  lhes  parecia,  que  nam  podiam  es- 
capar de  os  matarem,  sem  mais  verem 
pessoa  ncnliuma  do  rogno.»  Damião  de 
Góes,  Chrouica  de  D.  Manoel,  part.  1, 
cap.  613. 

—  Tornar  a  apparecer  o  que  não  exis- 
tia ha  muito  tempo  atraz.  —  «  Rouipeo  os 
jMouros  em  dezasete  batalhas,  ganhtiu-lhe 
duas  Cidades,  e  muitas  Villas,  e  Castel- 
los  fortes;  e  resuscitou  o  nome  Portu- 
guez  com  a  Cidade  do  Porto  que  engran- 
deeeo,  c  fortiticou  no  lugar  onde  ora  está, 
o  fez  nella  Igreja  Cathedral,  que  a  Rai- 
nha D.  Theresa  sua  mulher  depois  inno- 
breceo  com  i"cndas,  que  deo  ao  Bispo  D. 
Hugo,  e  aos  cónegos  no  anno  de  mil  e  cen- 
to e  vinte.»  Frei  Bernardo  de  Brito,  Elo- 
gios dos  reis  de  Portugal,  continuados 
per  D.  Jo.^é  Barbosa. 

RESUSCITAVEL,  adj.  2  geií.  Que  ó  pos- 
sível resuseitar-se,  que  pôde  ser  resusci- 
tado. 

RESVALADEIRO,  s.  m.  Local,  onde  se 
escorrega  com  facilidade,  como  são  la- 
deiras, encostas,  etc.  Vid.  Resvaladouro. 

RESVALADIO,  A,  adj.  Lúbrico,  escor- 
rt'gadio,  ondo  os  pés  não  podem  firmar-sc 
por  eseorregarrem.  Vid.  Resvalar. 

—  Emprega-se  também  no  sentido  fi- 
gurado. 

RESVALADOURO,  s.  m.  Vid.  Resvala- 
deiro.  —  Trrra  riTcada  de  resvaladouros. 

RESVALADURA,  s.  /.  Signal,  vestígio 
que  liea  no  loeal  onde  se  resvalou. 

—  Escorrcgadura. 

RESVALAR,  v.  a.  Fazer  escorregar. 

—  r.  n.  Escorregar,  talvez  conservan- 
do-se  em  pé,  como  no  norte  sé  faz  por 
divertimento  sobre  os  lagos,  e  rios  con- 
gelados: ou  escorregar  o  cair. 


—  Figuradamente :  Cair  da  íú  e  da 
innocencia. 

—  (Jortar  ligeiro  e  nereno. 

—  Resvalar  o  tempo;  correr  ligeiro  o 
insensivi-lnientc. 

—  Resvalam  os  baixeis   iuj  mar  Roxo. 

—  Loc.  Kifj.:  Resvalar  o  p>-;  cair  em 
erro,  culpa. 

—  Figuradamente :  Resvalar  a  lança 
no  cscitdij. 

—  Resvalar  a  naval/ux  lui  barba, 

—  Resvalar  em  erro;  cair  imprudente- 
mente. 

—  Resvalar  por  uma  penedia  abaixo; 
escorregar  por  cila,  c  cair  por  ella  abai- 
xo, 

RESVELAR,  v.  a.  e  n.  Vid.  Resvalar, 
termo  mais  em  u.-^O,  e  como  tal  preferí- 
vel. —  Res velar  "  pé.  —  Resvelar  o  lem- 
p'i.  —  Resvelar  «  lança  no  escudo. 

RETABOLO,  s.  m.  (Do  franccz  retalie). 
Oljra  feita  «le  mármore,  de  pedra  ou  de 
madeira,  que  firma  o  ornato  de  um  al- 
tar. 

—  Qualquer  quadro,  painel.  —  Um  re- 
tabolo  lie  Nossa  tíenhora.  —  «Pedio  o  Pa- 
dre Custodio  a  todos  os  passageyros  pas- 
sássemos a  popa,  o  nella  de  joelhos,  dian- 
te de  hum  deuoto  Retabolo  da  Senhora, 
com  lagrimas,  o  gemidos  de  deuaeão  en- 
toamos as  suas  Ladaynhas:  e  indo  na- 
quella  palaui-a  que  diz,  (Consolatrix  afli- 
ctorum  ora  pro  tiobis).»  Frei  Gaspar  de 
S.  Bernardino,  Itinerário  da  índia,  capi- 
tulo 2. 

RETÁBULO,  s.  m.  Vid.  Retabolo. 
f  RETAÇO,  >'.  //(.  Termo  usado  por  An- 
tónio Prestes  nos  seus  Autos. 


o  mais  bem  lá  vive  em  cima, 
c  não  vos  fa(;acs  retaro, 
fazei  vós  como  lho  cu  faço, 
uâo  quero  co'o  demo  nèspcras, 
manhã  missa,  á  tarde  vc3i>oras, 
ponha-se-lhe  n'um  baraço. 

ANTÓNIO  PRESTES,  ACTOS,   pag.    333. 


RETADOR,  A,  «.  e  adj.  Vid.  Repta- 
dor. 

RETAR,  V.  a.  Vid.  Reptar. 

RETAGUARDA,  s.  f.  A  trazeira,  o  ul- 
timo esquadrão  do  exercito. 

—  A  ultima  companhia  ou  fileira  do 
regimento.  —  ..l  retaguarda  do  batalhão. 

RETALHADO,  part.  pass.  de  Retalhar. 
Cortado  em  retalhos. 

—  Golpeado,  cortado  em  talhos. 

—  Vendido  a  retalhos,  por  miúdo,  n.ão 
em  balas,  ou  por  grosso. 

—  Figuradamente :  Dividido  correndo 
pelo  meio. 

RETALHADOR,  A,  .-■.  Pessoa  que  reta- 
lha, que  vende  a  retalho. 

—  Que  tem  loja  do  retalhos,  que  ven- 
de por  miúdo. 

RETALHADURA,  s.  /.  Acto  de  retalhar, 
de  eoitar  em  retrtlhos. 

—  O  golpe  que  se  deu  retidhando. 


RETA 


RETA 


RETE 


.267 


RETALHAR,  v.  a.  Talliar  de  novo,  cor- 
tar de  novo  em  retalhos. 

—  Cortar  em  talhos,  golpear,  dividir 
em  partes.  —  O  frio  agudo  e  intenso  re- 
talha os  membros. 


So  o  Sol  surgindo  as  pálpcbras-lhe  toca, 

Frouxo,  iudoltíute  o  bárbaro  desperta. 

Ora  hum  Tigre  veloz  o  despedaça. 

Ora  co'a  hervada  frecha  vara  hum  Tigre  ; 

Co'a  mosqueada  pelle  os  membros  cobre, 

Se  o  frio  agudo  os  membros  lhe  retalha ; 

Sente  o  calor  ?  indittcrcnte  a  deixa ; 

Nào  90  ouve  hum  pranto,  lagrimas  não  correm, 

(Feudo  que  á  morte  a  Natureza  paga) 

Se  no  bocejo  estremo  a  vida  foge. 

J.   A.  DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Caut.    1. 

—  Retalhar    a   ferra    com  arado ;   re- 
goal-a. 

—  Vender    a    retalho,    por    miúdo,    e 
nào  por  grosso  nem  por  junto. 

—  Figuradamente :    Dividir    correndo 
pelo  meio. 

A  Alexandre  o  Oriento,  a  Eoma  o  Mundo? 
Que  retalhe  de  Koma  o  Império  immenso  ? 
Que  faca,  que  cm  Farsalia,  o  Sogro,  o  Gem-o, 
(Tumultuoso  par!)  disputem  o  Globo? 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUUEZA,  Caut.  1. 


Avaro  medidor  retalha,  e  marca 
O  chào  qu'era  commum,  qual  luz,  qual  vento ; 
Nào  baatào  Messes,  que  produz  a  terra. 
IBIDEM,  cant.  2. 

Vestem  em  torno  dilatados  campos. 
Que  mil  torrentes  trémulas  refalhào, 
Das  agras  serranias  despenhadas. 
N 'alguns  cabeços  de  empinados  montes 
Sulfúrea  labareda  .aos  árcs  sobe. 
Fanal,  que  a  Natureza  ao  longe  mostra 
Do  fatigado  navegante  aos  olhos. 

IDEM,  MEDITAÇÃO,  CaUt.   2. 

—  Figuradamente :  Estes  desgostos  re- 
talham-me  o  coração. 

RETALHEIRO,  A,  s.  (De  retalho,  com 
o  suffixo  «eiró»).  Que  vende  por  miúdo, 
e  não  por  atacado. 

—  Retalhador. 

RETALHINHO,  s.m.  Diminutivo  de  Re- 
talho.  Retalho  pequeno. 

RETALHO,  s.  m.  Pedaço  cortado  de 
uma  peça,  ou  que  se  tira  talhando  obra. 
—  Um  retalho  de  panno. 

—  Manta,  ou  capa  de  retalhos ;  man- 
ta, ou  capa  feita  de  bocados  variados. 

—  Mercador  de  retalho;  homem  que 
vende  ás  varas,  e  por  miúdo,  e  não  por 
junto. 

—  Figuradamente :  Manta,  ou  capa  de 
retalhos :  homem  que  sabe  as  cousas  aos 
bocados.  —  Este  homem  é  manta  de  reta- 
lhos em  línguas. 

RETALIADO,  imrt.  pccss.  de  Retaliar. 
Vingado  com  outi'0  mal  semelhante  ao 
que  o  réo  ou  offensor  fez  a  outrem . 

— Castigado  com  a  pena  de  talião. 

RETALIAR,  v.  a.  (Do  latim  retaliare). 


Applicar  a  lei  de  talião,  pul-a  em  prati- 
ca, impôl-a. 

—  Vingar  com  pena  de  talião. 

—  Causar  damno  igual  ao  que  nos  fi- 
zeram. 

RETAMA,  s.  /.  (Do  hebraico  rotham). 
Gies'ta. 

RETAME,  adj.  —  Assucar  retame ;  o  mel 
ou  melaço  novamente  extrahido,  levado 
ao  ponti>  do  assucar. 

RETANGHAR,  v.  a.  Pôr  bacello  no 
mesmo  covato,  em  que  estava  outro  que 
não  medrou. 

—  Cortar  pela  raiz  o  que  não  cresce 
para  tomar  força. 

RETARDAÇÃÓ,  s.  /.  A  frouxidão  do 
movimento  de  um  corpo,  quando  esta 
remissão  é  o  eíFeito  de  mna  causa  parti- 
cular. —  Newton  foi  o  primeiro  que  deu 
as  leis  da  reíardação  do  movimento  do 
corpo  nos  fluidos.  Vid.  Retardamento. 

RETARDADAMENTE,  adv.  Com  demora, 
tardança. 

—  Remissamer.te,  com  frouxidão. 
RETARDADO,  ixirt.  pass.  de  Retardar. 

Demorado,  dilatado. 

—  Não  despachado  a  tempo. 

—  Ser  retardado  de  fazer  alguma  cou- 
sa; por  acção  de  outrem  que  obsta,  que 
ponha  obstáculo. 

— -  Correio  retardado;  correio  que  não 
chega  no  tempo  ordinário. 

—  Carta  retardada;  carta  que  não  é 
enviada  a  tempo  devido. 

—  Movimento  retardado ;  movimento 
que  vae  diminuindo,  e  que  não  se  acce- 
lera. 

RETARDADOR,  A,  s.  e  adj.  Que  faz 
demorar  mais  do  necessário. 

—  Que  não  despacha  a  tempo. 

—  Que  faz  que  seja  tardo,  menos  ve- 
loz. 

—  Que  não  envia  a  tempo  devido, 

—  Que  não  faz  as  cousas  no  prazo, 
dentro  do  termo. 

—  S.  m.  Peça  do  relógio,  que  retarda 
o  movimento  da  roda  que  faz  girar  os 
ponteiros. 

—  *S'.  /.  Termo  de  physica.  Diz-se  da 
força  que  retarda  o  movimento  dos  coi'- 
pos. 

RETARDAMENTO,  s.  m.  Acção  de  re- 
tardar. 

—  Demora,  dilação,  delonga,  deten- 
ça, prorogação.  —  Causar  retardamento 
a  alguma  cousa.  —  O  retardamento  não 
virá  do  meu  lado. 

—  Termo  de  pliysica.  Afrouxamento 
do  movimento. 

RETARDANÇA,  s.  f.  Termo  antiquado. 
Retardamento,  delonga,  dilação,  proroga- 
ção, tardança. 

RETARDAR,  v.  a.  (Do  latim  retarda- 
re).  Differir,  adiar.  —  Retardar  a  parti- 
da. —  Retardar  o  julgamento  de  um  pro- 
cesso. —  Retardar  um  pagamento. 

—  Impedir  de  ir,  partir,  de  avançar, 
ser  causa  de  que  uma  cousa  venha  a  ser 


differida.  —  Retardar  o  correio.  —  Retar- 
dar um  relógio,  um  pêndulo;  fazer  que 
elle  indique  uma  hora  menos  adiantada, 
e  que  ande  com  menos  velocidade. 

• — V.  n.  Andar  mui  lentamente,  andar 
ati-azado. —  O  relógio  retarda. 

—  Diz-se   também :  A  febre  retarda. 

—  Retardar-se,  v.  ref,  Demorar-se, 
diíFerir-se. 

—  Figuradamente :  Os  homens  retarda- 
vam-se  a  si  p)roprios.  —  «  Mas  a  distan- 
cia que  os  separava  era  grande,  e  os  ára- 
bes, lançando-se  ás  cegas  por  entre  as 
sarças  e  estevas  e  enredando-se  nellas, 
retardavam-se  a  si  próprios  e  augmenta- 
vam  essa  distancia.»  Á.  Herculano,  Eu- 
rico, cap.  l."i. 

RETARDATÁRIO,  A,  adj.  (Do  francez 
rctardataire).  Que  se  acha  em  atrazo.  — 
Pagamento  retardatário. 

—  S.  Pessoa  que  não  chega  a  tempo, 
nem  a  horas. 

f  RETARDATIVO,  A,  adj.  Que  está  em 
atrazo,  que  anda  lento.  —  Movimento  re- 
tardativo. 

RETARDIO,  A,  adj.  Termo  de  poesia. 
Lento,  vagaroso,  tardo,  dilatado. 

RETARDO,  s.  m.  (Do  francez  rétard). 
Vid.  Retardamento,  termo  mais  usado  e 
mais  próprio  da  lingua  portugueza. 

RETAVOLO,  s.  m.  Vid.  Retabolo. 

RETEAR,  V.  a.  Termo  antiquado.  En- 
curralar, retirar,  obrigar  a  recolher. 

f  RETELHADO,  part.  pass.  de  Reta- 
lhar. Coberto  de  novo  com  telhas. 

RETELHADURA,  s.  /,  A  acção  de  re- 
telhar,  de  cobrir  de  novo  com  telhas, 

RETELHAR,  i-.  a.  Cobrir  segunda  vez 
com  tcllias ;  compor  os  telhados. 

RETÉM,  s.  Mi.  O  sobreselente,  que  está 
de  reserva  para  algum  serviço.  Na  milí- 
cia, o  sargento  de  retém. 

—  Armazém  de  retém ;  armazém  onde 
se  recolhem  as  fazendas  sobreselentes, 

RETEMIRABILE,  s.  /.  (Do  latim  rete, 
rede,  e  mirabile,  admirável).  Termo  de 
anatomia.  Um  tecido  de  muitas  arteriasi- 
nhas  existente  na  cabeça,  no  meio  do  osso 
basilar,   debaixo  do  cérebro. 

RETENÇÃO,  s.  f.  (Do  latim  retentio). 
Demora,  delonga,  detenção. 

—  Beneficio  de  retenção ;  beneficio  con- 
cedido pela  lei  ao  rendeiro  de  prédios 
em  que  faz  bemfeitorias,  para  não  ser 
despejado  em  quanto  lh'as  não  pagarem, 
ou  as  depositarem  para  se  liquidar  o  que 
valem ;  o  vendedor  tem  o  direito  de  re- 
tenção, até  lhe  darem  o  preço,  qiiando 
não  fiou. 

—  Retenção  das  bulias;  probibição  ou 
suspensão  regia  da  execução  d'ellas,  fi- 
cando na  secretaria  d'estado  por  onde  se 
expedem  os  placitos  régios. 

—  A  acção  de  reter,  de  conservar  um 
posto,  ou  cargo,  que  se  tinha,  quando 
passa  a  outro. 

—  A  retenção  da  urina;  embaraço 
d'ella,    obstáculo    á    sua    expulsão.    Do 


268 


RETE 


IIETI 


RETI 


mesmo  modo   so   diz:  Retenção  dos  e.c- 
creriuiiúus,  das  fezeg. 

—  A  retenção  do  aUicio;  que  «e  nilo 
restituo,  pii^';i,  ou  entrcfíii. 

—  Toruio  de  mediei ua.  Estudo  cm  que 
Oi  líquidos  ou  as  substunéias  mollos  «ào 
retidas  cui  eavidades  ou  vasos  d'onilc 
B.ào  por  habito  expulsos.  —  Retenção 
dl)  auor.  —  Retenção  da^  viatcrim  idvi- 
naa. 

f  RETENIDAS,  s.  f.  phir.  Termo  de 
náutica.  Cabos  ipio  survcm  para  aguen- 
tar por  pouco  tcuipo  qualquer  cousa  a 
(|ue  estào  ligados. 

T-  Termo  de  artilheria.  Talhas  que 
dadas  em  um  olhai  fixo  na  face  de  den- 
tro da  carreta,  sorvem  de  alar  o  aguen- 
tar a  poya,  quando  não  está  em  bateria, 
ou  cui  quanto  se  não  carrega. 

RETENTIVA,  s.  /.  Faculdade  de  re- 
ter; memoria. 

RETENTIVO,  A,  adj.  Termo  de  ana- 
tomia. Que  retém,  c  obsta  á  saída  do  li- 
quido pela  bocca  do  seu  vaso.  —  Múscu- 
los retentivos. 

—  Faculdade  retentiva ;  faculdade  que 
tem  os  músculos  retentivos. 

—  Atadura  retentiva;  atadura  que  sus- 
tem o  remédio  unido  á  ferida. 

RETENTO,  i^art,  pass.  irrecj.  de  Re- 
ter. 

—  lieligioso  do  habito  retento;  reli- 
gioso que  tinha  licença  para  viver  fora 
do  seu  convento,  usando  de  habito  pró- 
prio da  sua  ordem. 

RETENTRIZ,  adj.  f.  Vid.  Retentivo. 

RETER,  V.  a.  (Do  latim  retinere).  Não 
largar,  não  despedir  de  si,  não  deixar 
ir.  —  « E  assi  lhe  fugiram  pêra  Ma- 
laca quatro,  ou  cinco  mercadores  ricos, 
que  EIRey  quizcra  reter  eomsigo  pêra 
se  aproveitar  de  suas  fazendas  na  resti- 
tuição dc  seu  estado.  »  João  de  Barros, 
Década  2,  liv.  6,  cap.  G.  —  «  Tornai  meu 
amado,  vossa  presença  hei  de  buscar, 
vossa  face,  não  vos  escondais;  porque  o 
Senhor  mostra,  que  se  despede,  e  quer 
que  lhe  roguem,  queira  íicar ;  se  se  apar- 
ta, quer  quo  o  retenhão  por  amor,  por- 
que o  sou  despedirse,  he  a  tempo  por 
dispensação  o  tornar,  sempre  lhe  hc  pró- 
prio, e  de  vontade,  e  huma  e  outra  cou- 
sa cheia  de  juizo  occulto.»  Frei  Bartho- 
hmicu  dos  Martyres,  Compendio  de  es- 
piritual doutrina. 

—  Guardar  sempre,  conservar  o  que 
se  tem,  não  so  desfazer  delle. 

—  Apenar. 

—  Reservar.  —  Retenho  isto  para  mim. 

—  Parar,  suspender,  fazer  demorar, 
não  deixar  ir.  —  Reter  alguém  para  jan- 
tar. 

—  Diz-se  dos  movimentos,  das  neces- 
sidades naturaos.  —  Reter  as  higrimas. 
—  Reter  o  hálito,  a  respiração.  —  Reter 
a  urina. 

—  Oppôf-se  ao  cffeito  próximo  d'uma 
acção  que  está  a  ponto  de  acontecer,  de 


inna   força   activa.  —  Reter  o   Oraro  de 
uma  pessoa, 

—  Impedir  de  cair,  dc  se  desligar.  — 
Reter  um  muro  que  cúe. 

—  Reprimir,  moderar.  —  Reter  sua 
cólera.  —  A  estes  gritos  o  cavalleiro  re- 
teve o  caiallo. 

—  Jlettor,  imprimir,  guardar  alguma 
cousa  na  memoria.  —  Reter  «  lição.  — 
Reter  twlo  o  que  se  ouve.  —  Reter  o  no- 
me dc  alguém, 

—  Ter  como  preso.  —  O  esposo  reteve 
o  adultero. 

—  Reter  o  alJieio ;  não  o  entregar  ao 
seu  dono. 

—  Loc.  i^G.  E  POP. :  Não  pôde  reter 
as  aguas;  não  pôde  guardar  segredo. 

—  V.  n.  Conceber,  conservar  na  me- 
moria. —  A  memoria  é  a  faculdade  de 
reter. 

—  Reter-se,  v.  rejl.  Deter-se,  parar. 
—  Reter-se  no  meio  da  carreira.  —  Re- 
ter-se á  borda  de  um  precipicio. 

—  Jloderar-se.  —  Este  homem  não  sa- 
be reter-se. 

—  Dlz-se  tambcm  das  necessidades  na- 
turaes. 

—  Abster-sc  de  fazer  força,  de  fazer 
violência. 

—  Adágios  e  provérbios  : 

—  O  que  te  não  aproveita  e  não  has 
mister,  não  deves  reter. 

—  Não  p>')de  reter  as  aguas. 
RETESADO,  ou  RETEZABO,  part.  pass. 

de  Retesar.  Entesado,  endurecido. 

—  Estendido,  teso,  com  dui"eza. 

RETESAR,  ou  RETEZAR,  v.  a.  Endure- 
cer, tornar-se  duro,  entesar.  —  Retesar 
a  sola. 

—  Retesar-se,  v.  rejl.  Endurecer-se, 
tornar-se  duro,  entesar-se. 

RETEÚDO,  part.  pass.  ant.  de  Reter. 

RETEZIA,  s.  /.  Termo  usado  na  lin- 
guagem pleblèa  do  Minho,  e  designa  a 
contenda  existente  entre  duas  pessoas, 
que  a  cada  passo  estào  disputando  com 
frequente  contradicçào,  encontrando-se 
em  tudo,  tendo  miudadamente  mutua 
coUisão. 

RETEZIAR,  V.  a.  Termo  plebeu  da  pro- 
víncia do  Minho.  Dar  de  encontro  uma 
cousa  com  outra,  contender,  pugnar,  ba- 
ter-se,  quebrar-se  mutuamente. 

RETICENCIA,  s.  /.  (Do  latim  reticen- 
tiui.  Siippressão  ou  omissão  voluntária 
de  uma  cousa  que  se  devia  dizer.  — 
Usar  de  largas   reticencias  com  alguém. 

—  Figui'a  de  rhetorica,  que  consiste 
cm  romper  a  phrase,  doixando-a  incom- 
pleta, exprimindo  aftectos  já  de  cólera, 
já  dc  dôr,  já  de  receio  e  escrúpulo.  — 
Eu  vos...  mas  insta  abonançar  as  va- 
gas. —  O  rústico  veste  como  rústico,  e 
falia  como  rústico,  mas  um  pregador  ves- 
tir como  religioso,  e  filiar  como .. .  não 
o  quero  dizer  em  reverencia  do  logar. 

RETICULA,  s.  /.  ^Do  latim  reticulum). 
Termo   de   antiguidade   romana.  Redesi- 


nha  cm  que  as  matronas  romanas  aper- 
tavam 08  cabcUos. 

—  Termo  dc  astronomia.  Con-stellaçilo 
boreal. 

—  Termo  de  botânica.  Vagem  fibrosa, 
que  envolve  a  baae  das  folhas  nas  pal- 
meira». 

—  Termo  de  physica.  Annel  no  qual 
se  estendem  os  fios,  que  se  vêem  nas  lu- 
netas de  «agrimensura.  Este  annel  quo 
entra  por  attrito  no  tubo  da  luneta,  e«iá 
coUocado  no  fV>eo  coiumum  do  objectivo  e 
do  ocular.  —  Reticula  quadrada,  circu- 
lar. —  Reticula  < m  loxaiu/o. 

1.1  RETICULADO,  A,  adj.  (Do  latim 
reticidalns,  dc  reticulum).  Termo  de  mi- 
neralogia. Diz-80  doa  crystaes  auricula- 
res, quando  as  agulhas  se  cruzam. 

—  Termo  de  botânica.  Diz-sc  do  ama 
superficie  que  é  indicada  por  linhas  en- 
cruzadas á  maneira  de  rede.  —  Eoliiaa 
reticuladas. 

—  Termo  de  entomologia.  Diz-se  de 
uma  superfície  que  offerece  linhas  dispos- 
tas em  rede. 

—  *S'.  m.  plur.  Termo  de  zoologia.  Sec- 
ção da  ordem  dos  polypeiros  lapidcscen- 
tes,  comprehendendo  aquelles  cujas  cel- 
lulas  são  em  geral  dispostas  em  rede  na 
superficie  das  expansões. 

■2.)  RETICULADO,  A,  adj.  Diz-se  de 
uma  guarnição  de  pedra  em  rectângulos, 
(pie  03  romanos  antigos  punham  nas  pa- 
rede^ á  semelhança  de  uma  rede. 

RETICULAR,  adj.  2  gen.  (Do  latim  re- 
ticularis).  Que  se  assemelha  a  uma  rede. 
—  Membrana  reticular.  —  Tecido  reti- 
cular do  osso.  —  tíubsfancia  reticular. 

—  Diz-se  de  uma  túnica  dos  olhos  por 
modo  de  rede. 

—  Termo  de  botânica.  Vid.  Reticu- 
lado. 

RETÍCULO,  .'.  »i.  Vid.  Reticula. 
f  RETIDO,  part.  pa^s.  de  Reter.  Con- 
servado, guardado. 

—  Não  largado,  preso. 

EUe,  vendo  que  jA  lhe  não  convinha 
Tornar  a  terra,  porque  nào  (K>de*se 
Ser  raais  retido,  sendo  ás  Xaus  chegado, 
X'eUas  estar  se  deixa  descansado. 
CAMÕES,  Lus.,  caut.  8,  est.  95. 

—  Ruy  d'Araujo,  cujo  era  o  paráo, 
querendo-se  t;xmbem  p;issar  aos  outros, 
travou-lhe  da  saia  de  malha  que  trazia 
hum  tolete  do  remo,  com  que  foi  retido 
pêra  sempre:  cá  neste  descmpeçar  veio 
huma  lança  de  arremesso,  que  o  matou 
e  foi  eavisa  de  morrerem  outros.»  Joào 
de  Barros,  Década  2,  liv.  P,  cap.  2. 

—  Reprimido,  mo'ierado.  —  Cólera  re- 
tida. —  Cavallo  retido  pelo  cavalleiro. 

—  Conserwido  em  memoria.  —  Lição 
retida. 

—  Diz-se  dos  movimentos,  das  neces- 
sidades naturae^.  —  Lagrimas  retidas. 

—  Reservado. 


« 


EETI 


RETI 


RETI 


269 


f  RETIFICADO,  part.  pass.  de  Retiíi- 
car.  Vi !.  Rectificado. 

RETIFICAR,  1-.  a.  Vid.  Rectificar,  e 
Ratificar,  que  diíFerem.  —  «Quiz  Sérgio 
ouvir  do  Santo  o  que  sentia  naquelle 
caso,  e  fazeudolke  perguntas  confessou  a 
ley  de  Ciiristo  em  que  cria,  e  retificou 
as  palavras  que  primeiro  dissera.»  Mo- 
narchia  Lusitana,  liv.  5,  cap.  7.  —  «E 
como  o  Santo  se  retificasse  na  primeira 
coniissào  desprezando  tudo  pelo  amor  e 
gloria  de  Ckristo,  o  .sentencearaò  a  per- 
der a  cabeça,  e  tirãdoo  a  iiuma  praça 
que  so  fazia  diante  do  alcaçar  de  Córdo- 
va, e  agora  se  cliama  o  eampilho,  foi  de- 
golado aos  dezaseis  de  Julho  do  anno  de 
Christo,    8õl.»    Ibidem,  liv.   7,  cap.  15. 

RETIFORME,  aãj.  2  gen.  (Do  latim  rc- 
tiformisi.  Que  tem  a  forma  de  uma  rede. 
—  Tecido  retiforme. 

—  Termo  de  botânica.  Epitlieto  dado 
ás  falsas  nervuras  dos  fucos,  quando  es- 
tão dispcstas  em  firma  de  rede. 

—  Eaizes  retiformes ;  raizes  que  se 
enredam  á  maneira  de  rede. 

RETIMTIM,  ou  RETINTIM,  s.  m.  Voz 
oaomatopaica,  que  imita  o  som  de  dous 
corpos  sonoros,  quando  se  tangem.  —  O 
retimtim  das  landas. 

RETINA,  s.  /.'(Do  latim  retina).  Ter- 
mo de  anatomia.  Membrana  molle,  pol- 
posa,  pardacenta,  meia  transparente,  mui 
delgada,  estendida  desde  o  nervo  óptico 
até  ao  crvstallino,  abraçando  o  corpo  vi- 
drado, e  formando  a  ciioroidea,  sem  con- 
tratar a  adiíereueia  com  estas  duas  par- 
tes.—  A  retina  é  o  órgão  imraediato  da 
vista. — A  sensibilidade  da  retina  é  em 
certas  occasiões  de  tal  sorte  exaltada,  que 
a  vista  supporta  com  dijficuldade  a  im- 
pressão da  mais  fraca  luz. 

RETINACDLO,  s.  m.  (Do  latim  retiiia- 
cuhimi.  Termo  de  botânica.  Corpúsculo 
globular  viscoso,  ao  qual  está  ligado  o 
pequeno  pedúnculo  que  sustem  as  massas 
do  pollen  nas  orchideas. 

—  Instrumento  próprio  para  impedir 
a  queda  ou  a  descida  do  intestino  no 
sacco  herniario,  depois  da  sua  reduc- 
ção. 

—  S.  m.  plur.  Termo  de  medicina. 
Membrana  contida  no  ovário,  e  que  faz 
parte  das  que  concorrem  para  o  desen- 
volvimento do  feto. 

f  RETINASPHALTO,  s.  m.  Termo  de 
mineralogia.  Eossil  bituminoso  de  um 
amarello  azulado,  tirante  algumas  vezes 
á  côr  de  ocre. 

•{■  RETINERVO,  A,  adj.  (Do  latim  reti- 
nervis).  Termo  de  botânica.  Diz-se  das 
folhas  cujas  nervuras  sào  reticuladas. 

RETINÍjIR,  V.  a.  Tingir  de  novo,  tin- 
gir segunda  vez. 

RETINIANO,  a,  adj.  Termo  de  anato- 
mia. Que  é  coaceruente  á  retina, 

RETINIDO,  part.  pass.  de  Retinir. 

RETININTE,  part.  act.  de  Retinir.  Que 
tine  por  longo  tempo. 


—  Que  faz  som  intenso  e  agudo.  — 
A  setta  retininte. 

T  RETINIPHYLLA,  s.  /.  Termo  de  bo- 
tânica, (jieijero  de  plantas  dicotvledoneas 
de  dores  completas,  monopetalas,  da  fa- 
mília das  rubiaceas.  — A  retiniphylla,  de 
jiores  unilateraes,  arbusto  de  cerca  de  qua- 
tro metros  d'altura,  cresce  na  America 
Meridional, 

RETINIR,  ou  RETIMIR,  v.  n.  (De  re, 
e  do  latim  tinnire:.  Tinir  por  muito 
tempo. 

—  Produzir  som  agudo. 

—  Figuradamente  :  Aquella  voz  fez  re- 
tinir os  meus  ouvidos. 

RETINITE,  s.  f.  Termo  de  medicina. 
Indammaçào  da  retina. 

RETINOIDE,  s.  m.  Termo  de  pharma- 
cia.  ]\Iedicamento  que  tem  por  base  um 
excipiente  resinoso  simples. 

RETINOLE,  s.  m.  Termo  de  pharmacia. 
Medicamento  que  tem  a  resina  por  ex- 
cipiente. ou  por  principio  predominante. 

t  RETINOLICO,  A,  adj.  Termo  de  phar- 
macia. Que  tem  por  base  um  excipiente 
resinoso. 

7  RETIPEDE3,  s.  m.  plur.  Termo  de 
historia  natiu-al.  Familia  de  aves  compre- 
hendendo  a  dos  animaes  que  tem  a  peUe 
das  pernas  dividida  em  escamasinhas  po- 
lygonas. 

'  RETINTO,  s.  m.  Côr  escui-a,  muito  car- 
regada. 

—  Figuradamente:  Synonymo  de  cas- 
ta, qualidade,  sorte. 

—  Part.  pass.  irreg.  de  Retingir.  Diz- 
se  do  que  é  muito  carregado  na  eôr. 

RETIRA,  s.f.  (^Contrahido  de  Retirada. 
Acto  de  retu-ar-se  com  o  rosto  para  o 
inimigo,  se  está  perto. 

RETIRAÇÃO,  s.  /.  Termo  de  impres- 
são. Acto  de  retii'ar  o  branco. 

—  A  parte  da  folha  opposta  á  que  se 
acaba  de  tirar. 

—  O  que  liça  em  branco,  nas  costas 
da  face  impressa. 

RETIRADA,  s.  f.  Termo  de  milicia.  A 
acçào  de  retirar-se  do  ataque.  —  «  E  co- 
mo grades  exércitos  senão  possão  susten- 
tar por  largos  dias,  sem  elles,  nem  lhe 
seja  possiueí  aos  Turcos,  cometellos  nas 
serras  a  que  se  acolhem;  não  tem  outro 
remédio  que  tornarse,  e  como  as  retira- 
das comummente  saõ  sem  ordem,  descen- 
do 03  Persas  das  serras  com  mangas  de 
caualo  em  seu  alcance,  os  destruem,  e 
desbaratào.  1)  Frei  Gaspar  de  S.  Bernardi- 
no, Itinerário  da  índia,  cap.  14.  —  «Mas 
porque  esta  lembràça  he  mais  própria  de 
outro  lugar,  me  não  detenho  aqui  nella. 
Foi  esta  retirada  de  Mafoma  tão  notauel 
e  conhecida  pelas  nações  do  Oriente,  que 
em  memoria  delia ;  os  annos  que  tè  aquel- 
le  tempo  se  contauão,  entre  elles  pela 
hera  de  César,  u  Ibidem,  cap.  20.  —  o  Dos 
Mouros  pereceo  a  maior  parte,  huns  no 
couiiicto,  os  mais  na  retirada.  Maior  ani- 
mo mostrarão  as  mulheresj  que  os  mari- 


dos; elles  perderão  as  vidas,  que  não 
soubérão  defender;  ellas  podendo-as  sal- 
var, as  desprezarão.  Dos  nossos  morrerão 
vinte  e  dous :  forào  mais  os  feridos,  em 
que  entrou  o  General  de  huma  setta.  Foi 
necessário  acabar  um  estrago,  para  co- 
meçar outro.»  Jacintbo  Freire  de  An- 
drade, Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv.  1. 

—  Local  para  onde  alguém  se  retira, 
e  acolhe  do  perigo,  do  trabalho,  e  tumul- 
tos. 

—  Tocar  a  retirada;  fozer  signal  com 
o  tambor,  ou  com  as  trombetas^  á  tropa 
para  que  se  retire. 

—  Logar  para  onde  alguma  tropa  se 
pude  recolher. 

—  Figuradamente :  O  acto  de  retirar- 
se  de  tumultos,  pretenções  disputadas 
ambições,  etc. 

—  O  dar  costas  ao  inimigo,  e  ir-se 
desviando  d'e]le,  em  caso  de  revez  ou 
de  desbarate  que  se  espera.  —  A  retira- 
da dos  alanos.  —  o  Os  Suevos,  que  como 
temos  visto,  erão  mais  poderosos  e  senho- 
res de  mayores  terras,  diz  o  mesmo  Au- 
thor,  que  também  perderão  o  animo  nes- 
ta guerra,  e  desemparando  a  Cidade  de 
Lisboa,  e  muytas  outras  povoaçoens  da 
Lusitânia,  parte  delles  seguio  a  retirada 
dos  Alanos,  ainda  que  a  meu  ver  seriaõ 
Embaixadores  de  Hermenerico.»  Monar- 
chia  Lusitana,  liv.  6,  cap.  6.  —  «  Depois 
passando  a  Ceilaõ  com  o  General  Dom 
Jeronymo  de  Azevedo,  militou  seis  an- 
nos, e  foi  capitão  de  íiuma  Companhia, 
aonde  assim  em  famosa  retirada  de  Mal- 
vana,  como  em  outras  perigosas  occa- 
siões conseguiu  muita  honra  não  menos 
de  esforçado  soldado,  que  de  prudente 
Capitão,  como  temos  escrito  na  historia 
daquella  Ilha  em  tempo  do  Insio-ne  Ma- 
thias  de  Albuquerque,  Viso-Rey'^que  foy 
dos  Estados  do  Oriente.»  Conquista  do 
Pegú,  cap.  3. 

RETIRADAMENTE,  adv.  (De  retirado, 
com  o  suffixo  «mente»).  Em  retiro,  livre 
da  commimicação  da  gente. 

RETIRADO,  part.  pass.  de  Retirar. 
Apartado. 

—  Remoto  da  frequência,  e  conversa- 
ção da  gente,  escuso. 

—  Viver  retirado ;  viver  fora  dos  tu- 
multos do  mundo. 

—  Pessoa  retirada;  pessoa  que  foge 
de  companhias,  conversações.  —  «  Sendo 
moço,  casou  D.  João  de  Castro  com  D. 
Leonor  Coutinho,  sua  prima  segunda 
maior  na  qualidade,  que  no  dote:  com 
a  qual  retirado  na  Villa  de  Almada  fu- 
giu com  anticipada  velhice  ás  ambições 
da  Corte.»  Jacintho  Freire  de  Andrade, 
Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv.  4. 

—  Isolado,  remoto,  afastado.  —  «A  cer- 
ca do  lugar  não  se  pode  dar  regra  certa, 
porque  a  huns  conuida  pêra  còtemplar  o 
bosque  retirado,  a  outros  o  campo  a  ou- 
tros moue  o  estar  na  Igreja,  ou  na  celia, 
a  outros  excita  a  mudança  do  lugai-,  por 


270 


RETI 


onílo,  caila  hum  escolha  o  fine  achar,  pf)r 
in.s|)irai;.ào  diuiiia,  que  niaU  lhe  conuoiu, 
c  (lilij^oLitiuMinianicuti)  [irccuro  andar  scm- 
jirc,  rccalliido  dentn)  de  seu  cijra(,'rio  por 
honi  owtunie,  ou  no  de.serto,  ou  no  po- 
uoado.»  Frei  Hartholonieu  dos  Jlartyros, 
Compendio  de  espiritual  doutrina. 

As  retiradas  wiuias;  quo  vivem  cm 

retiro,  fora  da  conp;ro^Mvào  com  m  ou- 
traa  aves. 


Coiieordos  entrf  si  vorio  aos  Ares 
Ali  Bompre  afcresti-s  rcliraitao  Águias. 
Vivo  co'o  liObo  o  Lobo  carniceiro ; 
Da»  fraga*  juntos  aalicm,  juutos  caminhão, 
Dividiam  entre  si,  si;  o  gado  asialtào, 
Com  iguiil  i)roporção  cruento  pasto, 
j.  A.  DK  mai;kdo,  mkditaçÃo,  cant.  3. 


RETIRAMENTO,  s.  m.  O  retiro  da  con- 
versai^rio,  das  companhias. 

—  A  vida  solitária,  e  crcmitica. 
RETIRAR,    V.  a.  (Do  fraucoz  retirer). 

Fazer  quo  se  deixe  o  ataque,  ou  o  posto 
onde  estava,  ou  a  batalha. 

A  esto  o  líoi  Cambaico  sobcrbissimo 
Fortaleza  dará  na  rica  Dio, 
Porque  contra  o  Mogor  poderoaiasimo 
Lhe  ajude  a  defender  o  seuliorio : 
Deapoia  iril  com  peito  csforvadiaainio 
A  tolher,  que  não  passe  o  Rei  gentio 
De  Calecut  ;  que  assi  com  quantos  veio 
O  fará  retii-itr  de  aanguo  cheio. 
CAM.,  Lfs.,  caut.  10  est.  tí-t. 

—  «  O  que  ouvindo  hum  daquelles  bon- 
zos, quo  foram  os  princlpaos  naquellc  mu- 
tim,  c  vcudo  quo  a  gente  se  começava  ja 
a  retirar  pelo  que  tinha  visto,  tirou  com 
huma  pedra  ao  santo  homem,  e  disso, 
quem  u.ào  lizor  o  que  eu  faço,  a  serpe 
da  noyte  o  trague  no  fogo.»  Fernão 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.  Olj. 
—  «  Porque  durando  esta  cuutumaz  por- 
fia até  que  se  pôs  a  Lua  que  seria  ás 
duas  horas  despois  da  meya  noite,  em 
que  03  mandou  retirar,  se  achou  polo 
alardo  que  se  fez  ao  outro  dia  que  mor- 
rerão vinte  e  quatro  mil  homens,  a  fora 
mais  de  trinta  mil  feridos,  de  que  des- 
pois  ao  desamparo  morreo  outra  quanti- 
dade, donde  nacoo  aver  tamanha  peste 
no  campo,  assi  pela  corrupção  do  ar,  co- 
mo porque  a  agoa  do  rio  estava  cheia  de 
sangue.»  Ibidem,  cap.  Iii4. —  «Ainda 
que  03  seus  companhcyros  julgár."io  que 
era  só  medo  o  mal  que  tinlia,  o  retira- 
rão como  pedia,  o  não  faltou  outro  que 
quizessc  descer  em  seu  logar.»  Cavallci- 
ro  de  Oliveira,  Cartas,  Hv.  1,  n.°  1."). 

—  Figuradamente  :  Cessar  de  conce- 
der, privar  de  alguma  cousa.  —  Retirar 
a  amizade.  —  Retirar  sua  proUcrão,  c 
esfima.  —  Deus  retira  as  suas  graais, 

—  Retirar  a  mão,  o  pé;  tiral-o  d'onde 
estava  posto. 

—  Retirar  os  luzimevtos ;  fugir  das  oc- 
casiões  de  luzir  e  brilhar,  cvitivl-as. 


Rim 

—  Retirar-se,  v.  njl.  Apartar-se,  de.^ 
viar-sc,  «eparar-BO. —  uUom  esta  Princo/.a 
(quo  por  exccUencia  chamarão  a  excellen- 
tc  Senhora)  houve  cm  dote  os  Re.iuo.s  de 
(Jasteila,  o  Leaõ,  e  o  direito,  c  pretensão 
dellos  com  muitas  inquietaçòe.'»,  c  desaven- 
turas  para  os  do  Pwtugal,  que  se  vicraõ  a 
concluir  naquella  memorável  batallia  de 
Toui-o,  donde  cl  liei  se  retirou  meio  des- 
baratado.» Frei  Bernardo  do  Brito,  Elo- 
gios dos  reis  de  Portugal,  continuados  por 
í).  José  liarbosa. —  ol''iii  tamanho  o  medo 
deste  desbarato  que  o  mesmo  Rei  de  Ca- 
lecut desesperado,  e  cij  medo  do  lhe  toma- 
rem a  artelharia  que  cstaua  no  baliuirte 
que  mandara  fazer  defronte  do  passo,  a 
mandou  tirar  dalli,  o  leuou  consigo  reti- 
randose  do  campo  como  homem  desbara- 
tado.» Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Mauoel,  part.  1,  cap.  H7.  —  a  Que  se  os 
Castelhanos  se  retirassem  queixosos,  fa- 
cilmente os  tornaria  a  trazer  sua  mesma 
otlensa;  que  ainda  que  desbaratados  do 
mar,  e  das  doenças,  se  os  obrigassem  a 
condições  injustas,  maior  força  lhes  fa- 
ria o  brio,  que  a  necessidade  em  que 
estavão.»  Jaeintho  Freire  de  Andrade, 
Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv.  2.  — 
« Retirou-se  ElRey  de  Sião  triumfante 
com  os  despojos,  o  postos  á  mira  do  que 
obraria  o  inimigo,  com  todo  o  desvelo 
attcndia  em  o  que  previa  lhe  poderia  ser 
necessário,  se  os  pactos  lhe  não  fossem 
observados.»  Conquista  do  Pegú,  cap.  13. 
—  «  Se  o  senhor  Conselheiro,  quo  tal  vo- 
ta, tivera  o  peito  de  bronze,  tamanho 
como  o  campo  de  Alvalade,  dizia  muito 
bem,  e  duzentos  peitos  bastavaõ  para 
fortiticar,  e  defender  Lisboa,  e  o  Reyno 
todo :  mas  he  de  temer,  que  naõ  tomou 
nunca  a  medida  a  peitos  mais  que  de 
perdizes,  c  galinhas,  e  que  na  occasiaõ 
se  retire,  ou  vá  calçar  as  esporas,  para 
atar  as  cardas.»  Arte  de  furtar,  cap.  29. 

Porém  não  julgues,  que  a  maia  longe  ainda 
De  ti  não  possa  rttirar-me:  he  Sirio 
A  maia  chegada  a  nós,  maia  clara  Eatrclla 
De  quantaa  o  cerúleo  esmalte  bordão. 

J.  A.  DB  UACEDO,  A  KATUBEZA,  Caut.  1. 

—  Fugir,  acolher-se.  —  «Retirou-se 
com  aquelles  que  o  puderaõ  seguir  para. 
a  Cidade  do  Porto,  onde  fez  nova  massa 
de  gente,  que  lhe  acodio  de  diversas 
partes  do  Reino,  mas  como  era  a  mais 
delia  de  pouca  experiência,  em  chegan- 
do Sancho  do  Ávila  com  humas  bandas 
do  cavalaria  a  poz  toda  cm  fugida.»  Fr. 
Bernardo  de  Brito,  Elogios  dos  reis  de 
Portugal,  continuados  por  D.  .losó  Bar- 
bosa.—  «Trabalhos  que  passa.  Prudên- 
cia com  que  modera  os  seus.  Esforço  com 
que  peleija.  Retira-se.  Arrepende-se  el 
Rei  de  Candea.  ^landa-lhe  hum  Jlcnsa- 
geiro.  Quor  António  Jloniz  tornar.  Os 
seus  o  encontrão.  Recolhc-sc  a  Armada. 
O  Hidalcào  mauda  sobre  as  terras  firmes. 


RETI 

Retirílo-se  do  temor  do»  nosso».  Manda 
outra  gente,  e  quer  ellc  vir.  El  Rei  Aey- 
ro  proso  em  doa.»  .laciíitho  Freire  de 
Andrade,  Vida  de  D.  João  de  Castro,  li- 
vro 4.  —  «  Hum  gato,  costumado  j»or  es- 
ta molher  ao  mesmo  mantimento  do  que 
ella  usava,  a  descobrio;  levando  a  huma 
caza  da  vizinhança  huma  mão  humana, 
e  observando-se  aonde  o  gato  se  retirava, 
se  dco  subitamente  na  caza  desta  des- 
graçada.! Cavalleiro  de  Oliveira,  Cartas, 
liv.  1,  n.°  10. —  «  Commcrciou  eni  ne- 
gros no  Reyno  de  Angolla,  e  em  (iuiné, 
e  retirou-se  a  c-ita  Corte  com  duzentos 
mil  riorins.i-  Ibidem,  n."  17. 

—  No  jogo,  recolher  a  parada. 

—  Apartar-se  de  si,  de  conversar.  — 
Retirar-se  da  amizade. 

—  Ir  para  retiro,  —  <  Aqui  pois  se 
retirou  à  Igreja  de  S.  Acisclo  Martyr, 
onde  estudou  em  companhia  de  alguns 
Christàos  os  Mysterios  de  no3.«a  Fe,  e 
matérias  tocantes  à  verdade  delia,  em 
que  aproveitou  tanto  mediante  a  graça 
Divina  que  alumiava  seu  entendimento, 
que  de  discípulo  chegou  brevemente  a 
merecer  nome  de  Mestre,  o  foy  ordenado 
em  Diácono,  cò  geral  aprovação  das  pes- 
soas que  conheciaõ  a  inocciícia,  e  pureza 
de  sua  vida.»  Monarchia  Lusitana,  liv.  7, 
cap.  15. 

Maa  a  vãa  Senhoria,  que  conhece 
A  quem  aa  ameaças  se  encamiobaõ. 
Vendo,  por  este  modo  as  mãoa  atadas, 
Para  seguir  o  empenho  começado, 
A  carpir,  se  retira.  n'um  deserto. 
Sua  grande  desgraça,  envergonhada. 
DINIZ  DA  CBCZ,  nYssoPE,  cant.  8. 

RETIRO,  s.  «1.  Lugar  retirado,  remo- 
to, livre  dos  reboliços  do  mundo,  ermo, 
deserto.  —  «E  está  tão  fi')ra  de  se  apro- 
veitar com  estas  execuçoens,  que  executa 
nellas  sua  perda,  e  de  seu  Reyno  total 
ruina.  Exemplo  temos  de  tudo  na  Mo- 
narquia de  Castella,  cujo  Rey  porque 
gastou  quinze  ou  vinte  milhoens,  se  naõ 
foraõ  mais,  nas  supertiuidadea  do  Retiro, 
os  acha  menos  agora,  quando  lhe  eraõ 
necessários  para  os  apertos,  cm  que  se 
vê.»  Arte  de  furtar,  cap.  15. 

«Tudo  o  que  vèa,  e  o  que  não  vês  he  Jove.» 
Mas  foste  Portnguez,  teu  crime  he  eatc. 
Porque  ao  berço  íijuntaste  enpfnlio,  estado, 
E  na  ^-ida  civil,  retiro,  e  honra. 

J.  A.   DE  MACEDO,  VIAOEM  EXTATiai,  Cant.   2. 

—  «  Assim  vivem  contentes  no  seu  re- 
tiro, custando  muito  a  unia,  que  se  acha 
casada,  griínde  diligencia  para  admittir 
o  estado  e  largar  su.as  irm.às.i  Bispo  do 
(irão  Bará.  Memorias,  publicadas  por  Ca- 
millo  Castello  Branco,  pag.  209.  —  «Já 
ficam  presos  e  rcmettidos  p.ara  a  fortale- 
sa  da  cidade  dois  dos  culpatlos,  c  um, 
quo  é  dos  principacs,  fugiu  para  o  mat- 
to;    mas  nem   os   seus  .ânuos  permittem 


RETO 


RETO 


RETO 


271 


sofiÊrer  muito  tempo  o  retiro,  nem  outras 
pessoas,  que  se  metteram  ao  interior, 
sào  capazes  de  subsisth.-  n'elle.»  Ibidem, 
cap.  212. 

RETO,  «.  m.  Vid  Repto. 

Vendo  alçar-se  da  terra  os  negros  vnltos, 
Arranca  da  brilhante  Darindana, 
E  o  capote  traçando  velozmente, 
Põe-âe  no  reto.  parte,  atira  um  furo. 
Faz  pé  atraz  •,  mas  tropeçando  acaso 
N'um  podengo,  que  á  força  de  pedradas, 
Os  travessos  rapazes  tinhào  morto, 
De  costas  se  estendeu  na  dm-a  terra, 
Coberto  de  vergonha,  esterco,  e  lama. 

DIXIZ  DA  CKUZ,  HVS30PE,  Caut.    8. 

—  Vid.  Reto,  no  jogo  da  espada. 

—  Loc.  ADVERBIAL:  A  TetO]  em  direc- 
ção recta. 

—  A  reto;  a  eito.  direito. 
RETO  AR,  V.  a.  Vid.  Reptar. 

7  RETOCADO,  part.  pass.  de  Retocar. 
Tocado  ue  novo,  tocado  segunda  vez. 

RETOCADOR,  *•.  m.  Termo  de  ourive- 
saria. Instrimiento  de  ferro  que  serve 
para  tirar  a  rebarba  do  ouro. 

RETOCAR,  V.  a.  Tomar  a  tocar,  tocar 
segunda  vez,  tocar  de  novo. 

—  Corrigir,  reformar,  aperfeiçoar.  — 
Retocar  um  quadro. 

—  Retocar  a  pintura;  aperfeiçoal-a  de 
algum  ligeiro  defeito,  aperfeiçoal-a  me- 
lhor depois  de  mettidas  as  cores ;  emen- 
dar o  defeito  que  o  tempo,  a  velhice,  ou 
outro  accidente  lhe  cansou. 

—  Figuradamente:  Retocar  o  poema; 
aperféiçoal-o,  limal-o. 

RETÓÇAR-SE,  v.  refl.  Vid.  Retouçar-se. 

RETOLO,  s.  m.  Vid.  Rotulo. 

■j-  RETOMADO,  jmrt.  pass.  de  Retomar. 
Tornado  a  tomar,  recobrado. 

RETOMAR,  V.  a.  Termo  de  náutica. 
Tornar  a  tomar,  recobrar. 

RETOMBAR,  v.  n.  Vid.  Retumbar,  me- 
lhor orthographia. 

— •  Cair  de  novo,  cair  segunda  vez,  re- 
volver-se. 

RETOQUE,  s.  m.  A  acção  de  retocar. 

—  Ultima  demào  que  o  pintor  dá  á 
sua  obra  para  a  aperfeiçoar,  ou  á  obra 
de  um  discípulo  para  corrigir  o  que  esta 
tem  de  defeituoso,  ou  supprir  o  que  falta. 

RETORÇÃO,  s.  m.  Acto  de  retorquir, 
ou  de  virar  contra  outro  o  argumento, 
ou  o  mal  que  elle  nos  quer  fazer.  —  Os 
dilemmas  inconqjhtos  dão  lagar  muitas  ve- 
zes a  uma  retorção. 

RETORCEDURÃ,  í.  /.  Volta  da  cousa 
retorcida. 

RETORCER,  v.  a.  Tornar  a  torcer,  tor- 
cer de  novo,  torcer  segunda  vez. — Re- 
torcer uma  perna. 

—  Retorcer  as  cousas,  e  retornal-as 
alijuem  para  si ;  forçal-as  a  servir  a  seu 
proveito,  intentos,  desenhos,  etc. 

—  Retorcer  a  lança;  fazer  que  torne 
contra  a  parte  d'onde  foi  an-emessada. 

—  Retorcer  linhas.  Vid.  Torcer. 


—  Retorcer  o  caminho;  não  ir  por  ca- 
minho direito,  serpear. 

—  Figuradamente :  Trazer,  applicar 
forçadamente,  e  contra  sentido  a  razão. 

—  AUudir,  apontar  indirectamente. 

—  Retorcer  o  caminho  pelos  próprios 
passos;  tornar  por  onde  veio. 

— •  Retorcer  os  ollws  para  a  cidade; 
voltal-os  para  ella. 

—  Figuradamente:  Retorcer  os  gostos; 
rechaçal-os,  desvial-os  a  fora,  a  longe  de 
si,  repellil-os. 

—  Retorcer  os  olhos;  envesgal-os  dan- 
do provas  de  aversão. 

—  Retorcer  os  argumentos.  Vid.  Re- 
torquir. 

RETORCIDO,  part.  pass.  de  Retorcer. 
Que  nào  está  em  linha  recta.  —  Concha 
retorcida. 

Da  ÍSatureza  o  Interprete  Eomano 
D;i-lhe  a  justiça,  dá-lho  a  probidade, 
Raríssima  wtude  entre  os  hmnanos. 
Da  enorme  frente  do  animal  á  terra 
Desce  volúvel,  enroscada  tromba, 
Cruzào-se  os  alvos  dentes  retorcidos, 
Que  o  negro  Caçador  da  Xubia  assastão. 

J.  A.   DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Cant.    3. 

—  Palavras  retorcidas;  palavi-as  nas- 
cidas de  ânimos  incrédulos. 

—  Estylo  retorcido ;  estylo  de  cons- 
trucção  crespa,  áspera,  e  não  fácil. 

—  Que  se  serve  de  imi  estylo  retorcido. 

—  Rebatido. 

—  Que  volta  arremessado  para  d'onde 
se  atirou. 

—  Com  o  corpo  voltado,  torcido  a  um 
lado. 

— ■  Olhos  retorcidos ;  olhos  revirados, 
em  signal  de  aversão,  reprovação  ou  in- 
veja. 

—  Palavras  retorcidas  do  seu  sentido 
natural;  palavras  tildadas  á  força  para  se 
applicarem  forçadamente. 

—  Linguagem  retorcida;  a  sua  cons- 
trucção  com  inversões  e  coUocação  não 
portuguezas. 

—  Cabello  retorcido ;  cabello  revolto, 
encarapinhado  á  maneii'a  dos  pretos  e 
de  alguns  mulatos,  que  os  não  tem  lizos, 
e  estirados,  mas  naturalmente  crespos 
á  maneira  de  lã  de  ovelhas. 

—  Canaes  retorcidos ;  canaes  em  vol- 
tas, não  direitos. 

RETÓRICA,  s.  /.  Vid.  Rhetorica. 
RETORNADO,  part.  pass.  de  Retornar. 
Termo  antiquado.  Voltado,  regressado. 

—  Revirados,  —  Beiços  retornados. 

—  Convertido,  ou  equipollente. 

—  Retornado  em  sua  saúde;  restituído 
a  ella, 

-j-  RETORN AMENTO,  s.  m.  Retomo, 
volta. 

—  Paga,  satisfação  ou  recompensa  do 
beneficio  recebido. 

RETORNAR,  v.  n.  (De  re,  e  tornar). 
Voltar,  regressar.  —  Retornar  a  Portu- 
gal. 


Quebra  os  ferrolhos  de  diamante,  e  dentro 

Sentranha  nos  abysmos,  e  retorna 

A  vêr  de  novo  o  Ceo.  Do  Hidaspe,  e  Gange 

As  margens  corre,  pelos  I?einos  voa 

Da  molfeza,  e  dorgulho,  e  vai  mil  vezes 

Pa33i'ar  sobre  o  íris,  e  contempla 

Desde  o  curvo  Listão,  da  chuva,  e  gelo. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  SATUREZA,  Caut.  1. 

—  Retornar  a  si;  cobrar  animo,  recu- 
peral-o. 

—  Retornar  á  vida;  reviver  o  mori- 
bundo, o  mprto,  ou  o  que  tem  accidentes 
mortaes,  epilepsias, 

—  Tornar  a  si  de  algum  desmaio. 

—  V.  a.  Tornar,  ou  fazer  tomar. 

—  Dar  ás  cousas  o  geito  que  é  ntil 
a  quem  as  retorna,  dar-lhes  uma  volta 
conveniente  e  proveitosa. 

RETORNELLO,  s.  m.  Termo  de  musica. 
A  parte  da  ária  que  se  repete. 

—  Termo  de  poesia.  O  verso  que  se 
repete  varias  vezes,  no  fim  de  cada  ins- 
tancia. 

RETORNO,  s.  w.  A  fazenda  que  se 
traz  em  troca  da  que  se  leva  para  com- 
merciar.  —  «  P.  Quanto  dinheiro  vos  deo 
ElRey  de  Ormuz,  e  Rax,  e  Xarrafo  ? 
R.  Xào  me  deram  nenhum  dinheiro,  se- 
não peças  de  ouro,  e  prata,  -que  poderiam 
valer  três  mil  cruzados,  de  que  logo  hou- 
veram seu  retorno  de  minha  fazenda, 
que  bem  valia  o  que  me  deram,  e  mais.» 
Diogo  de  Couto,  Década  4,  liv.  6,  capi- 
tuleis, 

—  Golpe  dado  a  quem  nos  feriu. 

—  Fazer  retorno ;  recompensar,  remu- 
nerar, 

—  Besta,  sege  de  retorno ;  besta,  sege 
que  torna  de  vazio  para  casa  do  dono, 
e  que  em  regra  se  aluga  mais  commoda- 
mente. 

—  Troco  de  dinheiro. 

—  O  que  se  dá  em  permutação,  re- 
compensa, e  agradecimento  de  outra  da- 
diva. 

—  Recompensa,  reconhecimento,  grati- 
dão. 

—  Termo  de  náutica.  A  parte  de  qual- 
quer cabo,  cuja  direcção  primitiva,  sen- 
do perpendicular,  ou  obliqua,  passa  por 
mu  moitão,  a  que  se  chama  retorno,  ou 
por  meio  de  papoidas,  a  gyrar  na  direc- 
ção horisontal,  para  na  sua  manobra  se 
poderem  empregar  maior  numero  de  bra- 
ços, e  por  tanto  maior  força ;  o  dito  cabo 
sahindo  do  ultimo  moitão  do  apparelho  é 
aonde  se  emprega  a  gente  que  puxa,  e 
ao  moitão  lhe  chamam  moitão  de  retorno. 

f  RETORQUIDO,  part.  pass.  de  Re- 
torquir. —  Argumento  que  não  pode  ser 
retorquido. 

RETORQUIR,  r.  a.  (Do  latim  retorqui- 
re).  Emprecar  contra  seu  adversário  as 
razões,  os  argumentos,  as  provas  de  que 
elle  se  serviu.  —  Retorquir  um  argumen- 
to. —  Retorquir  um  raciocinio.  —  Retor- 
quir tima  prova. 

—  Retorcer. 


272 


RETR 


RETR 


RETR 


RETORSÃO,  >.f.  Vid.  Retorção. 
RETORTA,  í.  /   A  iiaito  curva  iio  ba- 
go j.astcral. 

—  Tiiniio  (lo  cliimica  o  th'  pharmacia. 
Vaso  (lo  vidru  (iii  haiTo,  com  bojo,  com 
um  cano  retorcido  para  baixo. 

—  Áilj.  f.  —  Mourisca  retorta  ;  danf;a 
antiga. 

f  RETORTEIRO,  .«.  m.  Ilnnicm  que  i:\7. 
retortas. 


Ao  relorteiro  U'  trazem 
("om  albiirdit  o  sem  cabresto; 
S(í  iiiettcin  todos  geu  resto 
Nas  afrontas  que  te  fazem. 

F.     R.     LOnO    SOHOPITA,    POESIAS     K    PROSAS 
INÉDITAS,  pag.    130. 


RETORTO,  A,  adj.  (Do  latim  refortus, 
do  retorquerc\.  Curvo  para  a  parte  infe- 
rior. 

RETGSAR.  Vid.  Retouçar. 

RETOSTAR,  i-.  a.  (De  res,  o  tostar). 
Repetir  os  tostes,  ou  brindes,  :i  inglc- 
za.  Vid.  Tostar,  depois  da  mesa  levan- 
tíida. 

RETOUÇAR,  V.  a.  Toucar  outra  vez, 
toucar  de  novo. 

—  Retoucar-se,  v.  ref.  Toucar-se  de 
novo,  toucar-se  .segunda  vez. 

RETOUÇADOR,  Á,  adj.  Retoução. 

RETOUÇÃO,  ÔA,  adj.  Turbulento,  in- 
quieto, bulc-bule.  —  Animal  retoução ; 
retou(;ador. 

—  Que  foz  movimentos  descompostos 
com  a  aletrria. 

RETOUÇAR,  V.  n.  Espojar-se  por  brin- 
co, lallando  do  cão,  do  eavallo,  brincan- 
do, afagando.  —  O  (jado  retouça. 

—  Retouçar-se,  v.  rejl.  Não  parar  om 
\va\  logar.  andar  correndo,  brincando. 

RETOUÇO,  s.  in.  A  acção  de  retou- 
çar-se. 

RETRACÇÃO,  s.  /.  (Do  latim  retractio, 
de  retrahere,  de  re,  e  traho).  Termo  de 
anatomia.  O  puxar,  dobrar  para  traz. 

—  ^1  retracção  do  prepúcio;  a  con- 
tracção d'ello,  o  encolhimento. 

—  Diz-se  também :  Retracção  do  braço, 
da  perna,  etc. 

RETRAÇADO,  parf.  pass.  do  Retraçar. 
Cortado,  rcbutado  como  retraço. 

—  Figuradamente:  Deixado  como  i-e- 
traço,  desdenhado. 

—  Termo  de  botânica.  Folhas,  raízes 
retraçadas;  retrahidas  para  traz. 

RETRAÇAR,  v.  a.  Cortar,  e  rebutar 
como  retraço, 

—  Figuradamente :  Deixar  como  re- 
traço, e  desdenho. 

—  Picar  a  traça,  ou  outro  insecto  a 
roupa,  pai>eis. 

—  Retraçar-se,  r.  refl.  Retrazer-sc,  rc- 
colher-se,  retirar-se  para  se  agasaliiar. 

RETRAÇO,  s.  «1.  O  sobejo  da  palha 
que  as  bestas  rejeitam,  ou  esperdiçam 
comendo. 

—  Desprezo,  nenhum  apreço,  desleixo. 


—  Figuradamente :  Cousa  de  que  se 
não  faz  cano. 

—  Adagio: 

—  ]  >e  tal  jiolaço,  tal  retraço. 
RETRACTAÇÃO,  .•>./.  (i>o  latim  retracta- 

tio;.  .Acto,  (li>cnrso  ou  escripto  contendo 
a  desapprovação  formal  do  que  ne  fóz, 
se  disso  ou  60  escreveu  precedentemente. 
—  Fazer  uma  retractaçào.  —  Uvta  re- 
tractação  puldica.  —  Obri(/ar  alguém  a 
uma  retractaçào.  —  Retractação  sincera. 

RETRACTADO,  pari.  pa.ss.  de  Retra- 
ctar. 1  )es;ipprovado  expressamente,  des- 
dito. 

RETRACTAR,  r.  a.  (Do  latim  retracta- 
re).  Dosapprovar  expressamente. 

—  De.ídizcr-.se  do  qualquer  erro  que 
se  defendia. 

—  Tornar  a  tratar  do  mesmo  objecto. 

—  Retractar-se,  v.  rejl.  Reconhecer  o 
erro,  de.sdizer-se. 

—  Vid.  Retratar,  que  diverge. 

—  Syx.:  Retractar-se,  desdizer-se.Wà. 
esto  voealiulo. 

f  RETRACTIL,  adj.  2  gen.  (Do  latim 
ntractilis).  Termo  de  zoologia.  Diz-se 
das  unhas,  quando  a  phalange  que  as 
supporta   é   articulada. 

-j-  RETRACTILIDADE,  s.  /.  Qualidade 
de  uma  parte  (jue  é  retractil. 

RETRACTIVEL,  adj.  2  gen.  Que  se  re- 
tracta, (iiie  se  deve  ou  se  ptkle  retractar. 

RETRACTO,  .'.  m.  Vid.  Retrato. 

RETRAER,  ou  RETRAHER,  r.  a.  Termo 
antiquado.  Vid.  Retrahir.  —  «  Porque 
naquella  parte  o  ribeiro  tinhp.  umas  con- 
cavidades altas,  que  as  cheias  de  muitos 
annos  fizeram,  ao  tempo  de  retraer,  poz 
os  pés  na  borda  daquella  altura,  e  cor- 
rendo a  terra  com  elle  caiu  no  fundo  do 
barranco,  dando  tão  gram  pancada  com- 
sigo  nas  pedras,  que  em  baixo  estavam, 
que  com  ella  foz  fira  a  seus  dias,  e  pen- 
samentos.» Francisco  de  íloraes,  Palmei- 
rim de  Inglaterra,  cap.  107. 

RETRAGUARDA.  <=. ./".  Vid.  Retaguarda. 

RETRAHIDO,  part.  pa.ts.  de  Retrahir. 
Retirado,  puxado  pai-a  traz. 

—  Recolhido,  escondido  no  mais  oc- 
culto. 

—  Reprehendido,  notado,  murmurado. 

—  Encerrado,  ]ircso. 

—  Que  anda  retirado  em  sua  casa,  ou 
camará,  e  não  recebe  visitas. 

—  Homem  retrahido ;  homem  reserva- 
do, que  uào  di/.  francamente  o  que  pensa. 

RETRAHIMENTO,  s.  m.  Acção  de  se 
tornai-  a  tirar  o  que  já  se  tinha  promet- 
tido,  concedido  ou  dado, 

—  O  logar  retirado,  e  interior  da  casa. 

—  Solidão,  logar  solitário. 

—  Reserva  de  pensamentos  secretos. 

—  Uotirada. 

RETRAHIR,  r,  a.  (Do  latim  retrahere). 
Retirar,  fazer  voltar  atraz. 

—  Recolher,  esconder  no  mais  occulto. 

—  Retrahir  alguém  d^  alguma  cousa; 
tiral-o,  impcdil-o  delia. 


—  Fazer  tomar  para  donde  saiu, 

—  Retrahir  a  pr'i/mefsa;  tornar  atraz 
com  a  palavra,  não  a  cumprir. 

—  Retrahir-se,  r.  rejl.  Ríícuar,  ir-«o 
retirando,  c  talvez  largando  o  chimpo,  ou 
porto  ao  inimigo. 

—  Recolher-se  a  sua  ca^a,  au>:cntar-Be 
d'onde  estava. 

—  Recolher-se  ao  interior  ou  ao  retiro, 
e  longe  da  frequência  e  da  conversação. 

—  Fazer  retirada. 
RETRAIR,  i.  a.  Vid.  Retrahir. 
RETRAMAR,    v.   a.    Tramar  de  novo, 

traiii;ir  novanicnte. 

RETRANCA,  s.  f.  (De  retro,  c  anca). 
Correia  que  cerca  a  alcatra  das  bestas, 
prcndendo-se  os  dons  extremos  na  parte 
posterior  da  sella.  —  «  Os  estribos  eam 
cnnio  ari(;avcÍ3  de  bestas  do  tempo  anti- 
go, porem  de  mais  ferro:  e  ho  freo  he 
quasi  ginete  e  do  menos  ferro,  com  ca- 
beçadas estreytas  e  retrancas,  c  peytoral 
tiuio  pespontado,  e  dellcs  pintados  de 
azul  e  de  óleo,  de  que  alguns  trazem  as 
sellas,  e  nas  ancas  dos  cavalos  trazem 
huns  xareis  de  seda  ou  borcadilho  que 
lha  cobre  toda,  com  forçadura  de  retruz 
de  cores.»  António  Tenreiro,  Itinerário, 
cap.  17. 

—  Termo  de  náutica.  Verga  com  boc- 
ca  de  lobo  dada  ao  mastro  da  mezena, 
logo  por  cima  do  bordo,  e  em  cujo  exte- 
mo  opposto,  saliente  á  popa,  caça  a  drai- 
na  mezena,  ou  veia  grande  latina,  des- 
cança  sobre  um  fruquete  dado  na  face 
superior  da  grinalda  da  popa. 

—  P/((r.  fiadeiros  do  berço,  que  ser- 
vem de  cont  r  os  chassog  dos  prodicos  no 
logar  detcrmirado  pela  parte  de  fora. 

•j-  RETRAPOLES,  5.  m.  Monstros  fabu- 
losos. 


Qu("  eu  vejo  por  outras  portas 
uns  liõos,  uns  retrapolet 
da  cidra  ciuo  matou  Hercolles, 
uuias  buzaranhas  tortas. 

Axroxio  PRESTES,  ACTOS,  pag.  33. 

RETRATADO,  part.  pass.  de  RetraUr. 
Copiado  por  meio  de  pintura. 

—  Representado  em  sombra  a  imagem 
de  qualquer  debuxo,  painel,  figura,  pai- 
zagem. 

—  Figuradamente :  Descripto. 

—  Reproduzido. 

RETRATADOR,  A,  í.  Pessoa  que  faz 
retrates. 

—  Kmprega-se  também  no  sentido  fi- 
gurado 

RETRATAR,  f.  <j.  Fazer  cm  pintura 
a  semelhança  de  qualquer  pessoa,  ou  ob- 
jecto. 

—  Retratar  algucm ;  tirar  a  sua  ima- 
gem, (ui  figura  pint.indo. 

—  Figuradamente  :  Descrever.  —  «Com 
tanto  que  me  nào  retrates,  fala  ou  berra 
quanto  quiseres.  Xào  cuides  que  jx»r  ser 
inimigo  de  Italianos,  equivoco  a  palavra 


RETll 


RETR 


RETR 


273 


com  o  balido.  Nesse  caso  nào  me  esque- 
ceria de  comparar  a  tua  com  o  ziirix».» 
Cavalleiro  de  Oliveira,  Cartas,  1í\t:o  3, 
u.?  16. 

Os  pincéis  de  hl  Bnim  nào  são  mais  fortes. 
Quando  as  batalhas  de  Alexandre  pinta, 
Se  no  duéllo  de  Tancredo  e  Argantc 
0d;03,  fiirias,  amor  retrata,  c  mostra. 

J.'A.    DE   MACEDO,    VIAGEM   EXTÁTICA,   Cant.    2. 

Entro  03  quadros,  Buflfon,  que  a  par  te  Icvão 
Dos  quasi  divinacs  pincéis  d'Urbino, 
Quanto  me  assombraõ  carregadas  cores, 
Com  que  retratas  o  Coador  terrível, 
Das  negras  serranias  assomando. 
Que  o  longínquo  Acapulco  em  torno  assombrão ! 
Co'  as  azas  veda  o  Sol,  e  immensa  espalha 
Pela  extensa  campina  infausta  sombra. 

IDEM,   MKDITAIJÃO,   Cailt.    3. 

A'ós,  alto  rei,  não  digo  de  estatura, 
digo  do  coração,  digo  do  braço, 
que  em  vós  novo  Alexandre  nos  retrata. 
tardaãtes  em  cUe^gar,  porque  a  ventura, 
preguiça  do  Brazil  com  tardo  passo, 
o  que  mais  se  deseja  mais  dilata. 

BISPO  DO  GBÃO   PARÁ.  MEMORIAS . 


—  Figuradamente :  Retratar  em  si ;  li- 
mitar, arremedar,   fazer  o  que  outro  faz. 

A  Cândida  Açucena  se  debruça 
Xa  clara  fonte,  e  nella  se  retrata. 

1.   A.  DE  MACEDO,  SATLBEZA,  caut.  1. 

—  Copiar  pintando. 

—  Representar  em  sombra  a  imagem 
de  qualquer  debuxo,  painel,  iigui-a,  pai- 
zagem. 

—  Retratar-se,  i'.  rejl.  Fazer  o  seu 
próprio  retrato. 

—  Figuradamente :  Vêr-se  e  revêr-se. 

De  beHeza  inunortal  hum  raio  asaóma 
Nas  tuas  producções.  Tu  te  retratas 
Na  inteira  creaçào  desde  o  momento 
Em.  que  chamaste  do  confuso  Nada 
A  vasta  Natureza ;  e  que  t^eu  braço 
Ao  tenebroso  horror  marcou  limites. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  SATUBEKA,  Caut.  1. 

De  bclleza  immortal  um  i-aio  assoma 
Nas  tuas  producções.  Tu  te  retratas 
Na  inteira  Creaçào  desde  o  momento, 
Em  que  o  teu  dedo  omnipotente  aos  Astros. 
O  Creador  Geômetra  Divino, 
Assignalára  as  órbitas  no  espaço. 
Onde  se  agitào,  se  revolvem  Mundos, 
Além  do  qual  somente,  ó  Deos,  existes, 
E  tudo  em  tua  immensidado  fechas. 

IDEM,    MEDITAÇÃO,    CaUt.    1. 

—  Reproduzir-se  a  imagem. 

—  Vil.  Retractar,  que  diverge. 
RETRATISTA,  s.  2  ,jen.  Pessoa  que  na 

pir.tura  se  applicA  especialmente  a  tirar 
retratos. 

—  Rctratador,  pessoa  que  faz  retra- 
tos. 

RETRATO,  s.  m.  A  pintuia  em  que  se 
imita,  e  representa  a  imagem,  ou  figura 

YOL.  V.  — 35. 


de  alguma  pessoa,  ou  cousa.  —  «Louua- 
mosllie  tanto  amor,  e  fidelidade,  c  com 
razào,  porque  os  3Iom"os  aborrecem  os 
retratos,  c  por  nenhum  modo  os  cõsen- 
tem  em  suas  casas,  pelos  terem  por  agou- 
ro.» Fr.  Gaspar  de  S.  Bernardino,  Itine- 
rário da  índia,  cap.  12.  —  «  Foi  el  Rei 
D.  Filippe  de  meà  estatura,  mais  sobre 
pequeno,  que  grande,  de  presença  grave, 
e  respeitada,  teve  a  testa  grande,  os  olhos 
formo-íos,  e  azues,  o  nariz  bem  tirado, 
a  boca  grossa,  e  corada,  com  o  beiço  de- 
baixo derrubado,  a  barba  bem  composta 
e  loura:  seu  retrato  se  tirou  em  idade 
de  sessenta  e  oito  annos.»  Fr.  Bernardo 
de  Brito,  Elogios  dos  reis  de  Portugal, 
continuados  por  D.  José  Barbosa.  —  «Foi 
o  Conde  homem  grande  de  corpo,  de  pre- 
sença alegre,  e  venerável,  teve  o  cabei- 
lo  louro,  e  os  olhos  azuis,  como  diz  sua 
Historia,  e  o  mostra  hum  retrato  de  illu- 
minaçào  antiga,  que  temos  em  huma  Bí- 
blia de  maõ  antiquíssima,  onde  na  primei- 
ra folha  do  Prologo  está  a  figura  do  Con- 
de armado  de  armas  brancas,  e  ordina- 
riamente o  pintaõ  com  a  coroa  de  louro, 
que  por  naõ  ser  Rei,  e  ser  tào  victorloso 
o  fazem  assim.»  Fr.  Bernardo  de  Brito, 
Elogios  dos  reis  de  Portugal,  continua- 
dos por  D.  José  Barbosa.  —  o  Ainda  hon- 
tem  vi  himi  retrato  da  Conddça  Aurora 
feito  por  elle  ao  qual  nào  falta  mais  do 
que  a  fala,  e  do  que  a  razào.»  Cavallei- 
ro de  Oliveira,  Cartas,  liv.  1,  n.*  22, — 
«  Porem  eu  que  tenho  a  fortuna  de  co- 
nhecer a  Princesa,  tenho  a  infelicidade 
de  ver  este  retrato,  que  durada  posso 
ter  em  segurar  a  Y.  A.  que  a  copia  se 
parece  ao  original,  assim  como  huma  Es- 
trcUa  se  parece  a  huma  Lagarticha,  e  as- 
sim como  o  sol  se  parece  a  hum  Cachim- 
bo"? A  neve,  e  o  azeviche  estào  para  so- 
nhar, e  para  se  parecerem  melhor  do 
que  se  parece  a  Princesa  ao  seu  Retra- 
to.» Ibidem,  liv.  3,  n."  15.- — «Pergun- 
tas-me  o  que  acho  no  retrato?  Soponho 
que  queres  que  te  diga.  Nada.  Pois  mes- 
mo te  digo.  Nada  acho  no  retrato  porque 
nada  acho  nelle  do  original.  Original ! 
dises  tu  agora :  em  que  me  fala  este  ho- 
mem"? Eu  sey  que  cousa  he  original,  ou 
meti-me  algum  dia  em  semelhantes  de- 
buxos'?» Ibidem,  n."  16.  —  «  Em  outras, 
a  cabeça  de  huma  iíagestosa  Slatro- 
na  armacia  com  hum  capacete,  era  fi- 
gura de  Roma.  insigne  em  taõ  glorio- 
zas  batalha-s.  Nas  que  Júlio  César  man- 
dou bater,  se  via  de  huma  parte  o  seu 
retrato,  e  da  outra  a  cabeça,  de  Marte; 
para  mostrar,  que  desta  deidade  (ainda 
que  mentida  I  bellicoza,  trouxe  o  Povo 
Romano  a  sua  origem ;  e  daquella  Ma- 
gestade  Cesárea,  o  seu  império,  e  o  seo 
explendor. »  Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal 
medico,  pag.  157. —  «Estando  uma  noi- 
te t^qual  estas)  em  Flandes,  em  certa 
casa,  onde  assistiam  grandes  pe.ssoas,  foi 
um  dos  circunstantes  tão  pouco  adverti- 


do, que  tirou  o  retrato  de  sua  mulher, 
para  o  mostrar  aos  outros.»  D.  Francis- 
co Manoel  de  MeUo,  Carta  de  guia  de 
casados, 

—  Pintura  em  verso,  raras  vezes  em  • 
prosa,  das  feições  de  uma  pessoa. 

—  Figuradamente  :    Fiel    copia,    ima- 
gem. 

Aonio  commovido 

Lhe  disse  enternecido : 

Ay  formoza  memoria. 

Eetrato  de  huma  gloria. 

Esse  possuí  tào  breve, 

Neve  ao  sol,  fumo  ao  ar,-  ao  vento  neve. 

BAKB.  BACELtAB,  SAUDADES  DE  AOXIO. 

—  Modelo,  exemplo. 

—  Syn.  :  Retrato,  ejfigie.  Vid.  este  ul- 
timo vocábulo. 

RETRATTAR,  r.  a.  Vid.  Retratar. 

E  as  vivas  rosas,  que  das  faces  fogem : 
Pela  ferida  os  borbotões  se  esvaem. 
Cos  innocentes  filhos  abraçada, 
Nào  geme,  nào  suspira ;  a  beijos  colhe. 
Uma  a  uma.  as  feições  que  tanto  ao  vivo 
As  do  querido  amante  lhe  retrattam. 
0.1BBEIT,  CAMÕES,  cant.  7,  cap.  24. 

-j-  RETRATTO,  s.  m.  Vid.  Retrato. 

O  refratfo...  Oh  !  jamais  não  será  ditto 
Que  em  pontos  de  honra  e  generoso  brio 
Fique  Luiz  de  Camões  de  outrem  vencido. 
Guardae-o  vós,  senhor,  gnardae-o  :  .é  vosso; 
A  um  inimigo  tal  amor  o  cede. 
G.vKRKTT,  CAMÕES,  cant.  9,  cap.  14. 


f  RETRAUTADO,  jmrf.  paíí.  de  Re- 
trautar.  Vid.  Retractado.  —  «Em  tal 
caso  Mandamos,  que  tal  remataçom  assi 
feita  per  authoridade  e  especial  manda- 
do da  Justiça,  nom  possa  seer  mais  re- 
trautada,  nem  desfeita  em  algum  tempo 
por  razom  do  fallimento  do  justo  preço. » 
Ordenações  Affonsinas,  liv.  4,  tit.  45, 
§  10, 

RETRAUTAR,  v.  a.  Vid.  Retractar. 

RETRAZER-SE,  v.  refl.  Recolher-se,  re- 
tirar-se  do  combato. 

—  Retrahir. 

—  Fazer  pé  atraz. 

RETREMER,  r.  n.  Tremer  segunda  vez, 
tremer  de  novo,  —  Retremer  a  terra. 

RETRETA,  s.  /.  Recolhimento  á  hora 
de  dormir,  o  toque  que  se  dá  para  este 
fim. 

—  Loc.  MiLiT.iK :  Tocar  a  retreta ; 
tocar  a  recolher. 

RETRETE,  s.  m.  Do  francez  retraife). 
Aposento  interno,  e  o  mais  recolhido,  na 
parte  mais  secreta  da  casa. 

—  Moça  do  retrete :  moça  que  serve 
na  camará,  e  no  interior. 

—  Commua,  secreta. 

—  Plur.  Figuradamente:  Os  esconde- 
rijos, segredos  Íntimos.  —  0$  retretes  do 
coração. 

RETRIEUIÇÃO,    í.   /.   Salário,   recom- 


274 


RETR 


penea  do  trabalho  que  m  faz,  <la  jKma 
que  86  tomou  por  alfíumii  ou  do  Hervi<;o 
quo  80  lhe  proítou.  —  Retribuição  %»- 
tima.  —  Retribuição  ronvrnicui,',  /loiwatu. 
—  Kula  ari-dii  mnrecu  retribuição. 

-j-  retribuído,  pari.  pua»,  do  Retri- 
buir.   lil'.CMlU|H!IlSailo. 

—  Dado  «'III  paíía,  om  recompensa, 
RETRIBUIDOR,  A,  «.  Pessoa  que  retri- 
buo. 

—  Recompensador. 

—  PiMsoa  que  í,'osta  de  recompensar. 
RETRIBUIR,  i'.  (í.  lOo  latim  retriòuere). 

Dar  a  alf^ucm  o  salário,  a  rccouípcusa 
que  merece. — Retribuir  cunvenienUmenU^ 

—  Dar  em  )ia;ía,  recompensa.  —  «<> 
primeiro,  ho  dcseouhecimento,  ou  esque- 
cimento do  beneficio.  O  segundo,  he  dis- 
simular o  beneficio,  nam  querendo  por 
elle  dar  graças,  e  louuores,  e  pior  seria 
se  chogasso  tè  o  desprezar,  e  vituperar 
com  a  llngoa.  O  terceiro  grão,  he  nam 
retribuir  com  a  obra,  podendo  e  oíFro- 
cendose  lugar,  e  tempo :  o  pior  seria  se 
retribuísse  mal  por  bem.»  Frei  Bartho- 
lomcu  dos  Martyi'C3,  Catecismo  da  doutri- 
na christã. 

f  RETRILHADO,  part.  pass.  de  Retri- 
Ihar.  Trilhado  segunda  vez,  trilhado  de 
novo. 

RETRILHAR,  v.  a.  Trilhar  de  novo, 
trilhar  segunda  vez. 

—  Ir  pela  mesma  estrada,  pelos  mes- 
mos passos. 

—  Figuradamente :  Relrilhar  os  cami- 
nhos da  virtude;  tornar  a  elles. 

RETRINCADO,  parf.  pass.  de  Retrin- 
car.  Tornado  a  trincar,  trincado  segunda 
vez. 

—  Malicioso,  cavilloso,  muito  dissimu- 
lado. Yid.  Trincado. 

RETRINCAR,  r.  a.  Tornar  a  trincar, 
trincar  do  novo. 

—  Figuradamente :  Tomar  as  palavras 
e  acções  de  alguém  maliciosamente,  in- 
tcrpretal-as  em  mal. 

RETRINCHEIRAMENTO,  s.  m.  Yid.  En- 
trincheiramento. 

1.)  RETRO.  Palavra  latina  que  entra 
em  muitos  termos  compostos,  e  que  si- 
gnifica atraz,  para  traz, 

2.)  RETRO,  s.  M. — Vender  a  retro; 
vender  alguma  cousa,  com  pacto  de  que 
o  vendedor,  ou  denti'o  de  certo  tempo,  ou 
a  todo  o  tempo  que  quizer  o  possa  res- 
gatar, tornando  o  preço  que  recebeu. 

RETROACÇÃO,  e.  f.  Acçào  de  uma  cou- 
sa cujo  poder  ou  influencia  remonta  ao 
p.ossado. 

RETROACTIVAMENTE,  adv.  (Do  retro- 
activo, com  o  suftixo  «mente»).  De  uma 
maneira  retroactiva. 

RETROACTIVIDADE,  í.  /.  Qualidade  do 
que  ó  retroactivo.  —  .íl  retroactividade 
de  uma  lei. 

RETROACTIVO,  A,  adj.  Que  obra  para 
traz.  —  Utn  e [feito  retroactivo.  —  luso 
opera  por  um  efeito  retroactivo.  —  As  leis 


RKTR 

não  devem  ter  effeifo  retroactivo.  —  Ne- 1 
nhum  poder  nntuml  nem  solirenntural  pu- 
de justificar  u  effeit^)  retroactivo  d'aliju- 
ina  lii. 

RETROAR,  V.  n.  Tornar  a  troar,  troar 
segunda  vez,  troar  de  novo. 

■ —  Itellrctir  a  troada  em  eclios,  ou  sons 
tais  mui  furtes. 

RETROCADOS,  «.  m.  plur.  Espécie  de 
adorno  e  guarniçrio  antiga  mis  bordadu- 
ras. 

RETROCEDENTE,  parf.  act.  de  Retro- 
ceder. C/ue  retroce.de,  (|ue  torna  atraz. 

—  Que  cede,  qu  •.  nào  continua. 

—  <^>ue  rctriigrada,  que  desanda. 
RETROCEDER,    r.   n.    (Do  latim   retro, 

e  c.edere).  Tornar  atraz  ou  j)ara  traz  an- 
dando. 

—  Termo  de  jurisprudência.  Ceder  por 
um  novo  acto  algum  direito  que  se  tinlia 
adquirido  por  transporte,  c  que  se  dá 
áquelle  de  (|uem  se  tinha  recebido. 

—  Descontinuar  no  intento,  na  reso- 
luç.1o. 

—  Retrogradar,  ragressar,  desandar. 

—  SvN. :  Retroceder,  recuar,  retrogra- 
dar. 

Todos  estes  verbos  exprimem  a  idêa 
do  voltar  ou  andar  para  traz,  porém  ca- 
da imi  d'elles  com  sua  eircumstancia  par- 
ticular, i)  que  retrocede  volta  para  traz 
no  que  tinha  andado  ou  adiantado.  () 
que  reciia  anda  para  traz  sem  voltar  o 
rosto  para  essa  parte.  O  que  retrograda 
volta  para  traz,  ou  retrocede  pelos  mes- 
mos passos,  ou  graus. 

O  quo  segue  seu  caminho,  e  n'elle  en- 
contra um  obstáculo  que  o  nSo  deixa  ir 
por  diante,  retrocede,  ou  seja  pelo  mes- 
mo caminho,  ou  por  outro.  Segundo  a 
etiqueta  antiga  do  paço,  o  que  entrava 
a  el-rei  tornava  recuando.  lieciía  a  sege, 
o  carro,  a  peça  de  artilheria.  Eetrogra- 
davi  os  planetas  na  ecliptica ;  retrogradam 
03  estudos,  as  bellas-artes  com  as  guer- 
ras e  invasões  inimigas ;  retrogradou  a 
sombra  no  relógio  de  sol  do  Achas, 

RETROCEDIDO,  part.  pass.  de  Retroce- 
der. 

RETRO CEDIMENTO,  í.  m.  Yid.  Retro- 
cesso. 

—  Regresso,  tornada,  volta  do  torna- 
di^-o, 

RETROCER,  r.  a.  Yid.  Retorcer, 
RETRO  CESSÃO,    s.   f.   Termo  de  juris- 
prudência. Acto  pelo  qual  se  retrocede. 

—  Termo  de  medicina.  Aeto  de  voltar 
para  traz,  para  dentro,  fnllando  de  uma 
doença,  cujo  transporte  se  faz  sobre  um 
órgão  interior.  —  A  retrocessão  de  tim 
exanthema. 

-{■  RETROCESSIVO,  A,  adj.  Termo  de 
jurispru'leucia.  Por  onde  se  opera  uma 
-retroeessào.  — Acto  retrocessivo. 

RETROCESSO,  ,<;.  m.  Do  latim  ivtro- 
ccfsuí  .  A  aeçào  do  retroceder,  de  andar 
para  traz. 

RETROCHAR,  v.  a.  Yid,  Retrucar, 


RETR 

RETROGRADAÇÃO,  ».  /,  (Do  latim  re- 
trofiradiitiiij  fie  retnjgradare''.  Morimento 
retrogradn,  movimento  para  traz. 

—  Termo  de  astronomia.  Aeçilo  de  re- 
trogradar, isto  é,  de  ir  contra  a  ordem 
dos  signos  zodiacaea.  —  A  retrogradação 
de  Júpiter. 

—  Diz-se  também  o  movimento  dos 
equinoxios.  —  A  retrogradação  do»  pon- 
tos eqniiwxiaes  vem  de  que  o$  poloi  da 
terra  giram  do  oriente  para  o  oceidenté 
em  roda  dos  poios  da  ecliptica  n'um  cír- 
culo de  cerca  de  47  grau»  do  diâmetro. 

—  Figuradamente:  IVIwiida,  tendência 
politica  em  virtude  da  qual  se  procura 
estabelecer  um  passado  incompatível  com 
o  presente. 

—  Termo  de  mechanica.  Acçlo  pela 
qual  um  corpo  se  move  «-m  sentido  con- 
trario díi  sua  direcção  j)rimitiva. 

RETRO GRADADAMENTE,  adv.  Andan- 
do para  traz. 

—  Emyirecra-se  também  figuradamente. 
RETROGRADADO,  part.  pats.  de  Retro- 
gradar. 

RETROGRADAR,  v,  a.  iDo  latim  retro- 
qradm-r.  de  retrogradus).  Desandar,  an- 
dar para  traz,  —  O  exercito  foi  obrigado 
a  retrogradar. 

—  Seguir  uma  ordem  retrograda, 

—  Termo  de  astronomia.  Mover-9«  con- 
tra a  ordem  dos  signos  zodiac^ies,  isto  i-, 
de  oriente  a  occidente.  Ha  cometas  qoe 
sào  rotrogados. 

—  Diz-se  que  os  pl.anetas  retrogadam 
quando  o  movimento  da  terra,  mais  rápi- 
do que  o  íelles,  faz  p.ireccr  que  andara 
para  traz,  contra  a  ordem  dos  signos. 

—  Figuradamente :  Perder  o  que  se 
tinha  adquirido,  e  aprendido. 

—  Figuradamente  :  Este  esfaMecimen- 
to,  no  tjual  se  tinham  fundado  tão  grandes 
esperanças,  nào  faz  »er»5o  retrogradar. — 
Quando  se  não  avança  nas  artes,  retro- 
grada-se.  —  A  fortuna  e  a  gloria  re- 
trogradam, quando  se  não  pode  avançar 
mais. 

—  Fazer  voltar  atraz. 

—  SvN'. :  Retrogradar,  retroceder.  Yid. 
este  ultimo  vocábulo, 

RETROGRADO,  A,  adj.  (Do  latim  re- 
troqradusi.  Que  anda  para  traz.  —  Mar- 
cha retrograda.  —  Ordem  retrograda. 

Miserandas  catástrofes  o»  thronos 
DeixÃo  no  abatimento,  oiii  cinzas  deixam  ; 
E  SC  bra(;o  escondido  As  Monarqui«s 
Fixa  o  tiTuio  da  filoria,  o  da  rutua. 
Das  luzOJ  a  fluxãcí  tinibom  suspendo. 
Sou  pcrenno  fiU^r  convortc  oní  sombra. 
Em  seus  passos,  retrntjrtuio  caminha 
Para  o  bárbaro  estado  o  cngciibo  humano, 
Dec.aho  TIomauo  Imporio,  as  ArtfS  áudio 
Aos  Brutos,  aoç  Catr>os,  a  TuUio,  a  Cosftf, 
Snocodp  a  oscr»\-idiio.  succedom  trívas. 

J.   A.    DE   MACEDO,  VEDIT.VÇÃO,   Mnt.    1. 

—  Termo  de  mechanica,  .Vcção  pela 
qti;il  um  corpo  se  move  em  sentido  con- 
trario da  sua  direcçSo  primitiva. 


RETR 


RETU 


REUX 


—  Phrases,  versos  retrógrados  ;  plu-a- 
ses,  versos  que  apreseiatani  os  mesmos 
tei-mos,  quando  se  lêem  pelo  avesso. 

—  Figuradamente  :  Que  quer  restabe- 
lecer o  passado.  —  Uma  medida  retro- 
grada. 

—  Termo  de  mineralogia.  Diz-se  de 
uma  variedade  de  cal  carbonatada,  cuja 
expressão  encerra  dous  decrescimentos 
mixtús,  que  sào  taes,  que  as  faces  que 
resultam  d'elles  parecem  retrogradar  do 
lado  opposto  ao  que  considera  a  face  em 
que  nascem. 

—  Fallando  dos  corpos  celestes,  e  do 
movimento  dos  equinoxios  :  Que  vai  ou 
parece  ir  contra  a  ordem  dos  signos.  — 
O  sol  e  a  lua  nunca  são  retrógrados.  — 
«Em  falando  de  Aspectos,  de  Physiouo- 
mias,  de  Quadrado,  de  Oposiçoeus,  de 
Conjuneçoens,  de  Retrogrado,  de  Signos 
Zodiacos,  e  de  Casas  Celestes,  tem  con- 
seguido o  seu  intento,  fasendo  com  que 
por  estah  palavras  se  formem  grandes 
ideaa  da  sua  doutrina.»  Cavalleiro  d'01i- 
veií-a,  Cartas,  liv.  3,  n.°  11. 

RETROGUARDA,  s.  f.  Vid.  Retaguarda. 

RETROITAR,  r.  a.  Termo  antiquado. 
Contrariar,  contradizer,  impugnar,  tor- 
nar ao  principio,  e  averiguar  a  causa 
com  a  maior  esacção,  e  pelos  seus  prin- 
cipios.  —  «Quero  o  testado  do  dito  pro- 
cesso, e  da  dita  sentença,  para  aver  con- 
selho, para  retroitar,  e  empunar,  e  poer 
meu  direito  contra  tudo.»  Eluc,  de  Vi- 
terbo. 

RETRÓS,  ou  RETROZ,  s.  m.  (Do  fran- 
cez  retrós  u  Fio  torcido  de  seda,  de  dous 
ou  três  fios,  mais  delgado  que  o  torçal .  — 
«As  botas  e  çapatos  ricos,  sam  de  fora 
cubertos  de  seda  de  cores,  atorcelados 
de  cordões  de  retrós,  de  obra  muito  ga- 
lante, e  ahi  botas  de  dez  ci-uzados,  ate 
de  cruzado,  e  çapatos  de  dous  cruzados 
e  dabi  para  baixo,  e  em  algumas  partes 
ha  çapatos  de  meo  real.»  Fr.  Gaspar  da 
Cruz,  Tratado  das  cousas  da  China,  cap. 
11.  —  «Todos  estes  presos  pella  manhã 
sam  tirados  das  correntes,  e  todos  saem 
fora  pêra  as  crastas,  e  geralmente  todos 
sam  çapateiíos,  principalmente  de  çapa- 
tos de  seda,  tecidos  de  retrós :  e  com  is- 
to e  com  ho  arroz  que  lhe  el  Iley  da  aos 
ja  condenados  como  ja  acima  tocamos,  se 
spstentam.»  Ibidem,  cap,  21. 

RETROSEGUIR,  v.  a.  Vid.  Retroceder. 

RETROSEIRO,  ou  RETROZEIRO,  s.  m. 
Termo  antiquado.  Official  que  torcia  re- 
troz. 

—  Modernamente :  iSome  dado  ao  mer- 
cador que  vende  retroz,  fitas  e  outras  fa- 
zendas de  seda,  etc. 

+  RETROSPECTIVAMENTE,  adv.  (De 
retrospectivo,  com  o  suifixo  «mente»). 
De  um  modo  retrospectivo. 

RETROSPECTIVO,  A,  aJj.  (Do  latim 
rctrospicere,  de  retro,  e  spicere).  Que  olha 
para  traz. 

—  Que  descreve  os  acontecimentos  pas- 


sados, fallando  do  presente.  —  Methodo 
retrospectivo. 

RETROTRACTIVO,  A,  adj.  Vid.  Retro- 
activo. 

RETROTRAHIR,  i-.  a.  (De  retro,  e  do 
latim  trahere).  Levar  atraz,  até  á  sua  ori- 
gem. 

—  Retrotrahir  o  effeito  de  wna  lei  pos- 
terior; fazel-a  applicar  aos  casos  anterio- 
res á  sua  promulgação. 

RETROVENDENDO,  pari.  act.  de  Re- 
trovender. 

— -S.  m.  —  Pado  de  retrovendendo  ; 
aquelle  em  que  se  convenciona,  ou  que 
o  comprador  não  possa,  dentro  de  certo 
tempo,  revender  a  cousa  comprada,  se- 
não ao  vendedor;  ou  que  o  vendedor  a 
possa  recobrar,  restituindo  o  preço ;  n'es- 
te  ultimo  caso  diz-se  venda  a  recair. 

RETROVENDER,  v.  a.  Vender  a  retro, 
tomar  a  vender  a  quem  vendera. 

RETRO VENDIÇÃO,  s.  f.  Termo  de  ju- 
risprudência. A  acção  de  retrovender. 

RETROVENDIDO,'par<.  pass.  de  Retro- 
vender. Vendido  a  retro. 

RETROZ,  s.  m.  Vid.  Retrós. 

RETROZARIA,  s.  f.  Objectos  de  retroz. 

—  Quantidade  de  retrozes. 

f  RETRUCADO,  parf.  pass.  de  Retru- 
car. Retorquido. 

—  Reen^sidado  a  quem  nos  trucou. 
RETRUCAR,   v.  a.  Retorquir,    objectar 

aos  argumentos  ou  razões  d'alguem,  pro- 
duzindo outros  em  contrario. 

—  V.  n.  Reenvidar  a  quem  nos  tru- 
cou. 

RETRUQUE,  s.  vi.  Termo  do  jogo  do 
truque  do  taco.  Volta  da  bola  sobre  a  que 
a  impelliu. 

—  Figuradamente:  Revirete. 

—  No  jogo  das  cartas,  reeuvite  a  quem 
nos  trucou,  o  que  se  faz  quando  se  diz: 
retruco,  etc. 

RETULAR.  Vid.  Rotular. 

RETUMBADO,  part.  pass.  de  Retum- 
bar. Resoado,  reflectido  o  som  á  simi- 
Ihança  do  echo. 

—  Repetido  em  echo. 
RETUMBANTE,  j^art.  act.  de  Retumbar. 

Que  retumba,  que  resôa,  que  reflecte  o 
som  á  maneira  do  echo.  —  Retumbante 
vos. 

—  Que  rebomba. 

RETUMBAR,  v.  n.  Resoar,  reflectir  o 
som  á  similhança  do  echo. 

Ka  mão  a  grande  coucba  retorcida 
Que  trazia,  com  força  já  tocava: 
A  voz  graude  canora  foi  envida 
Por  todo  o  mar,  que  longe  retumbava. 
cAM.,  tus.,  cant.  6,  est.  19. 

—  «Em  todas  as  partes  retumbavam 
voses,  os  tambores  do  Forte,  e  o  estron- 
do das  escopetas  com  a  lus  das  arreme- 
çadas  alcanzias  no  meyo  da  escuridade  da 
noyte  causavam  horror,  ainda  nos  ânimos, 
em  que  o  temor  não  tinha  entrada.»  Con- 


quista do  Pegú,  cap.  6  —  «De  repente  o 
grito  :  —  Allah  !  —  retumbou  d'além  do 
Cryssus :  seguiu-se  um  estridor  de  pou- 
cas frechas,  e  n'um  instante  os  atalaias 
do  campo  viram  alvejar  fitas  d'escuma, 
que  se  estendiam  através  do  rio  para  a 
mai'gem  esquerda.  Eram  os  esculcas  que 
o  cruzavam  a  nado,  tendo  empregado  na 
dianteira  dos  godos  os  seus  primeiros  ti- 
ros.» A.  Herculano,  Eurico,  cap.  9. 

—  Rebombar,  resoar  com  muita  força. 
—  Retumbar  a  voz. 

RETUMBO,  «.  7)i.  Som  reflexo  da  voz, 
ou  dos  instrumentos. 

—  Retumbo  da  voz;  rebombo  d'ella. 
RETUNDIR,  v.  a.  iDo  latim  retundere). 

Termo  de  medicina.  Reprimir,  temperar 
a  força,  ou  qualidade  activa. 
REU,  s.  m.  Vid.  Réo. 

Horrendo  erime. 
Barbara  aftronta  a  Deu.s  e  á  humanidade, 
Clama  por  vós,  senhor,  a  gi-andea  brados. 
A  queixosa,  a  otfendida  í  a  bella  dama 
Que  aqui  vedes;  o  reu...  Interrogae-a, 
E  delia  o  sabereis. 

GAKBETT,  D.  BBAKCA,  Caut.  9,  Cap.  7. 

—  «Brevemente  esperamos  estes  réus, 
para  vêr  ao  menos  com  o  castigo  se  re- 
solvem a  deixar  o  peccado.  Miiitas  vezes 
ficaram  em  visitas ;  mas  enganaram  a  al- 
guns de  meus  predecessores,  prometten- 
do  fazer  egreja  á  sua  custa,  e  com  effeito 
fizeram.»  Bispo  do  Grão  Pará,  Memorias, 
publicadas  por  Camillo  Castello  Branco, 
pag.   212. 

REUBARBO,  s.  m.  Vid.  Rheubarbo.  — 
«A  cada  hum  dos  livres  que  entra,  se 
põem  na  taboa  do  braço  direyto  huma 
chapa  de  huma  certa  confeição  de  óleos 
e  bitumes  de  lacre  com  reubarbo  e  pe- 
dra hume,  que  depois  que  se  seca  não  se 
pode  por  nenhum  caso  tirar  senão  com 
vinagre  e  sal  muyto  quente, »  Fernão 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,   cap.  108. 

REUMA,  s.  f.  Vid.  Rheuma. 

REUNIÃO,  «.  /.  (De  re,  e  união).  Acto 
de  reunir  partes  divididas;  efteito  d'esta 
acção,  —  A   reunião  de  dous  fragmentos. 

—  Termo  de  cirurgia.  Acção  pela  qual 
se  tem  em  contacto  e  approximadas  as 
partes,  que  experimentaram  uma  solução 
de  continuidade.  A  reunião  é  immeãiata, 
quando  as  extremidades  das  chagas  se 
põem  em  contacto  nmas  com  as  outras ; 
e  é  mediata,  quando  a  cicatrisação  não 
pôde  operar-se  sem  suppm-ação, 

—  Acção  de  unir  o  que  está  separado ; 
efteito  d'esta  acção.  —  A  reunião  dos 
raios  do  sol  com  o  auxilio  de  uma  lente. 

—  Figuradamente  :  Reconciliação  pela 
approsimação  das  vontades  e  do  espirito. 

—  Particularmente :  O  conjuncto  de 
pessoas.  —  A  reunião  era  nttmei-osa,  — 
Um  logar  de  reunião. 

—  Reuniões  publicas ;  reuniões  onde 
se  discute,  e  expõe  algiim  objecto  publico, 

f  REUNIDO,    part'.   pass\   de  Reunir. 


276 


RlíVE 


Tornado  a  unir,  Ucíjoío  ilu  mjiariír. 
« Dosfi/i-lhcH  a  couta,  dci-Uics  o  a^írudc- 
cimcnto  o  lavoroci-oft  cm  tado  que  pudo : 
uSo  lao  parecuram  capavsus  de,  coufuHào: 
de  coiupaixílo  «im.  Entava  illumiiKuLi  a 
villa,  a  or<luiiaiii;a  formada,  c  a  camará 
reunida  (luaudn  (-hcj^Mmod. »  HUpu  do 
Gríío  Tani,  Memorias,  publicadas  por 
Caniillo  Cantcllo  JJrauco,  pag.    TJl. 

—  Tornado  a  ajiuitar. 

—  lloannexado. 

REUNIR,  V.  a.  Tornar  a  unir  o  que  es- 
tava separado. 

—  Tornar  a  ajuntar. 

—  lleanucxar. 

—  Approximar-so,  juntar-se  o  quo  so 
acha  separado.  7- E,eunir  os  lábios  d' uma 
ferida.  ^.,  , 

—  Estabelecer  cpipmunlcàçâo  de  uma 
cousa  com  outra. 

—  Aj)proximar,  reconciliar. 

—  lluir  u  (|uc  está  sojjarado. 

—  Rcunir-se,  v.  reji.  Tornar  a  tiuir- 
se,  a  juntar-so. 

—  Ajuntar-se,  formar  reuniões. 

—  Concorrer,  fallando  das  cousas.  — 
Todas  as  artes  se  reuniram  ;x<ra  dar 
realce  a  esta  festa. 

BEUSSINA,  s.  /.  Termo  de  miueralo- 
gia.  Substancia  mineral,  formada  de  sul- 
fato de   soda  c   de  suUato  de   magnesia. 

f  REUSSITA,  s.  /.  Bom  ou  mau  suc- 
cesso. 

—  rarticularmonte :  Bom  succcsso. 
REVALIDAÇÃO,  s.  f.  Acção  de  revali- 
dar. 

REVALIDAR,  r.  a.  (De  re,  c  validar  i. 
Tornar  a  dar  forya,  e  valor  legitimo  ao 
que  o  perdera;  ou  era  invalido  o  nullo. 

Quando  o  feito  que  ó  injusto,  opiwsto  a  i-llas, 
A  salvaijão  da  pátria  o  revalida. 

OARHETT,  CATÃO,  SCt.   4,   SC.    3. 

REVANCHA,  s.  f.  Termo  oriundo  do 
franet'/..  Despique,  desforra.  =^  E  g.alli- 
cisuio. 

REVEDOR,  s.  m.  Homem  que  vê  e 
examina  |iara  vèr  so  ha  erro. 

—  Revedor  d^^  livros;  censor. 

—  Revedor  das  folhas  impressas ;  re- 
visor. 

REVEL,  adj.  2  gcii.  Termo  de  juris- 
prudência. O  que  nem  por  si,  nem  por 
outrem  apparcce  em  juízo,  quando  devia, 
até  dar-so  a  sentença ;  ou  disse,  que  ain- 
da que  o  citassem  nào  iria   á  audiência. 

—  Rebelde,  contumaz,  dosprezador  do 
legitimo  ujandado.  —  Ti/ra>uio  revel.  — 
«A  substancia  da  qual  embaixada  era 
liança  de  amizade,  e  que  pois  elle  tinha 
desti-uido  aquello  tyranno,  que  tanto  tem- 
po lho  fora  revel,  o  nunca  pudera  casti- 
gar, que  dalli  eu»  diante  podia  mandar 
os  seus  povos  de  Siào  viver  áquella  Li- 
dado, porque  seriam  tratados  nella  como 
os  próprios  1'ortuguezes.»  .To.^io  de  Bar- 
ros, Década  2,  liv.  ti,  eap.  7. 


UEVH 

iMiii»  culpado,  qu«  o  uiáiit  rei:ã  doA  Anjo», 
Sf  ciipavômi  do  mal,  <|ii<!  obrou  pcrvcruo. 
('o'aiidar  il^m  ICran  virrfti-,  oh  S;ib(T  falso, 
K  mtiini  fallurtU!,  nu  Turt^rct  Cúria. 

KUAXIJIHCU    Ul.NOKL    I>U    MAHCIUIwMrO,    OB    UmTTktA, 

Uv.  ». 

■ — •  Figuradamente  :  (íado  nào  revel  de 
vietler  ao  camiii/w ;  gado  qu«  obedece  e 
caminha  á  voz  dos  tangcdorc»  e  pasto- 
res. 

—  (.)  que  nau  ia  á  mostra,  oa  alardo 
(juc  faziam  os  coudeis,  anadeis,  etc. 

REVELAÇÃO,  s.f.  i^Do  latim  rcvelatio, 
de  reveliirej.  Acto  de  revelar.  —  A  re- 
velação lie  um  scijredij. 

—  A  inspiração  pela  qual  Deus  faz 
conhecer  sobrenatui-almente  certas  cou- 
.sas.  —  aFavorece  também  nm\'to  esta 
opinião  o  que  Sàta  MitUildo  Freira  nos- 
sa, escreve  em  suas  revelaçoens,  quildo 
diz  que  á  instiuicia  de  curto  líoligiuso, 
pedio  a  Cbristo  Uedcmptor  nosso,  lhe 
<ioelarasse  que  estado  tlnhaò  as  almas  de 
Sansam,  tíalam.ào,  Urigenes,  o  Trajano  : 
á  qual  ellc  respoudeo  as  j)alavra8  seguin- 
tes.» Monarchia  Lusitana,  liv.  f),  cap. 
12.  —  «Vaite  lilho  com  brevidade,  por- 
que to  nào  encontrem  falando  comigo,  os 
iliuistros  de  justiça,  que  nào  tardarão 
muyto  de  virem  cm  minha  busca,  para 
me  levarem  ao  lugar  onde  me  haõde 
cortar  a  cabeça.  Foy  esta  palavra  estra- 
nhai para  os  outros  prcísos,  que  o  aeom- 
panhav.ào  no  cárcere ;  vendo  que,  ou  nào 
podi.ío  ser  certas,  ou  scndoo,  naciào  de 
revellação,  e  saboduria  profética.»  Ibi- 
dem, liv.  7,  cap.  lõ.  —  «E  continuando 
algum  tempo  nusta  romaria  (que  fazia  a 
pó  ordinariamente)  foy  Deos  servido  aoei- 
tarllie  suas  oraç.oons,  e  por  nieyo  de  cer- 
ta revelação  a  cneheo  de  esperanças  do 
que  tanto   desejava.»   Ibidem,    cap.    24. 

—  A  cousa  revelada.  —  As  revelações 
de  tí.  Juuo,  —  íiSa  reuelação  que  o  An- 
jo fez  a  S.  lose  notara  aquollas  palavras 
ilerradeiras.  IIuc  atitem  Mam  factiim  mí 
ut  adimpleretur.  As  quais  ainda  que  co- 
mimunente  se  tem  serem  do  Euangelis- 
ta,  em  que  mostra  como  se  hiào  cum- 
priuilo  as  profecias,  todauia  S.  Clirisos- 
tomo  c  Theophilato  com  elle,  querem 
que  scjiío  também  do  Anjo,  em  que  mos- 
trasse a  S.  lose  mais  claro  o  mistério.» 
Paiva  d' Andrade,  Sermões,  pag.  1.02. 

—  Diz-sc  algumas  vezes :  As  três  reve- 
lações; fallando  da  religiào  judaica,  chris- 
tà  e  niusulmaua. 

—  A  religi.ílo  divina,  ou  a  religião  re- 
velada. —  A  aitt/toridailf  da  Kscriptitra 
tíanta  é  fundaJa  iia  revelação. 


Si-  linaado  cm  si  mesmo  iutouta,  e  busca 
Rascar  o  au{;usto  vco  do  impcrvio  arcano, 
yuc  sii  Jievi-liírão  dcdara  aos  homens. 

J.   A.    DX   HÁCKIH),  A  KATIIUEZA,   CaUt      1. 


—  Figuradanumte  :  tíaòer   uma   cousa 


REVÊ 

pe.la  revelação  ;  sabid-a  sem  a  ter  apren- 
dido. 

—  SvK.  :  Revelação,  iimpiratã'!.  Vid, 
Crtte  ultimo  tcruio. 

Revelação  HÍf^nitica,  em  ger&l,  a  maoi- 
festae.^o  de  .■d;íUMia  verdade  Kttcrct*  OU 
occulta,  e  em  lint^ugein  theologica  a  ma- 
nifostaçào  que  Deu»  fax  ao«  homens  de 
verdades,  que  nào  |>odcin  conkecer-Bc 
pelas  forças  da  razào,  ou  por  meio*  pu- 
ramente natoraes.  A  iutpirarno  é  a  il- 
lustraçàf)  ou  movimentít  sobrenatural  com 
(jiie  Deus  inclina  a  vontade  do  homem  a 
pratica  d 'alguma  acç.Vj  bo.i. 

A  revelação  i Ilustra  o  entendimento ; 
a  iitspirttr/ii,  move  c  leva  a  vontade. 

—  Revelam-se  factos,  verdade»,  dou- 
trinas ;  inspiram-ie  sentimento»,  desejo*, 
aflfectos,  resoluções. 

Aa  doutrinas  c<'mtid.iH  nas  .Sagradas 
Escripturas  sào  reveladas ;  p<irf|ue  Deng 
manifestou  a  seus  authorc»  factos  e  ver- 
dades que  elles  nào  ])iKliani  alcançar  pe- 
las luzes  da  razào.  Oh  sagrado»  e«;ripto- 
res  forani  inspirado»  para  e»creTol-a8 ; 
isto  é,  o  Espirito  Santo  illu»trou-oB  in- 
toriormente,  movou-os  a  escrever,  e  di- 
rigiu sua  penna  cm  tudo  o  quô  escreve- 
ram para  ensino  c  santiiicaçito  do»  ho- 
mens. 

f  REVELADO,  part.  pas*.  de  Revelar. 
Descoberto.  —  Um  sti/redo  revelado. 

—  Conhecido  por  uma  conimunieaç3o 
divina. 

—  ^1  reliqiào  revelada  ;  o  christiani»- 
mo. 

REVELADOR,  A,  adj.  Do  latim  reveln- 
tor,  de  revelarei.  l'essoa  que  faz  uma  re- 
vclaçào.  —  Foi  este  hr,mem  o  revelador 
do  segreda.  —  «Nào  mei\os  he  Bacco  gran- 
de tiallador,  e  revelador  de  segredos : 
bem  assim  como  o  mar  cm  tormenta  vo- 
mita fácil  íLs  pravas,  o  que  dissimulador 
encerrava  no  fundo.  Por  ondo  disse  Es- 
quilo, qne  no  espelho  vê  bum  o  seu  ro<»- 
tro,  no  vinho  ram  os  outros  o  seu  cora- 
ção :  ^■Ks/oniio*  sjyecuhim  tst,  firmni  tnoií- 
tis.*  P.adre  Manoel  Bernardes,  Floresta, 
cap.  20. 

—  Adjectivamente  :  Lidicio  revelador. 
—  Circiinistancia  reveladora. 

REVELÃO,  í.  m.  (De  revel  .  Vid.  Re- 
belião, e  Revelõa. 

REVELAR,  V.  a.  (Do  latim  rev^l-artK 
Fazer  conhecer  o  qno  era  desconhecido 
e.  secreto.  —  Os  c«/í  revelarão  «<*»  »»»- 
ijuidadr,  e  a  terra  .v  Urantirn  emxtm 
elles.  —  .4  morte  revela  os  segredos  dts 
foraçíie^s.  —  « Prinialiào,  como  que  lhe 
revelava  a  cAme  algum.-»  cousa,  estava 
tíim  triste  de  ver  as  feridas  do  caraUei- 
ro  negro,  como  se  an  cllc  roceber» ;  pos- 
to que  no  semblante  do  r.>sto  nin^em 
lho  sentia  :  que  isto  hSo  de  ter  os  cora- 
ções grandes,  sentir  os  dantw  alheios  e 
ninguém  o  conhecer  nolles.»  Francisco 
de  Moraes.  Palmeirim  dlnglaterra,  cap. 
80.  —  íE  porque  uaõ  ha  couza  oocnlta, 


REVÊ 


REVÊ 


REVÊ 


277 


que  tarde,  ou  cedo,  se  naõ  revele,  e  oi 
murmuradorer!  tudo  deslindaõ,  veyo-se  a 
descobrir  o  feito,  e  o  por  fazer  na  maté- 
ria :  ckegaraõ  accusaçoeus,  a  quem  pu- 
xou pelo  pouto:  deraò-lhe  logo  com  a  es- 
critura uas  barbas:  tizeraò  mentirosos  os 
zeladores,  e  iicarào-se  rindo.»  Arte  de 
furtar,  cap.  25. 


Anib.  Ora  zombae. 

Braz.  Eeveloii-me  em  demasia 
de  ir  dar  quatro  parole 
áquellc  homem  do  outre  dia. 

Amb.  A  qual? 

ASTOXIO  PBE3TK3,  ACTOS,  pag.    117. 


Outra  Laura  maior  quessa,  quoutrora 
Do  Vate,  todo  amor,  dêo  força  á  Lyra 
Xas  sublimes  Canções,  que  iudhoje  admiro. 
Noa  peneti-aes  da  jíatiireza  entrando, 
A  Spallansani  explica  altos  mysterios, 
Que  stmpre  nos  receia,  e  nunca  explica. 
De  si  mesmo  ciosa,  a  Natureza, 
j.  X.  DE  MACEDO,  riAGEu  EXTÁTICA,  cant.  2. 

—  Loc.  bíblica:  Revelar  vnãher;  co- 
nhecel-a  carnalmente. 

—  Particularmente  :  Diz-se  da  inspi- 
ração por  que  Deus  se  faz  conhecer. 

—  Inspirar,  dictar. 

—  Revelar-se,  v.  refi,  Manifestaz--se, 
declarar-se,  descobrir-se,  dar-se  a  conlie- 
cer. 

—  Vid.  Revellar. 

—  Syx.  Revelar,  declarar.  Vid.  este 
ultimo  termo. 

REVELHUSCO,  A,  adj.  Termo  popular. 
Um  pouco  Telko. 

REVELIA,  ou  REVERIA,  s.  /.  O  esta- 
do, condição  ou  o  caracter  do  que  é  re- 
vel. 

—  Correr  a  causa  á  revelia ;  sem  ser 
ouvido  o  revel,  ir  por  dianto  no  processo, 

—  Figuradamente  :  Revelia ;  a  senten- 
ça da  revelia  e  as  penas  que  por  ellas, 
e  nào  comparecimentos  em  juizo,  nas  mos- 
tras 6  alardos,  se  pagavam. 

—  Seiítenciar  á  revelia  de  alguém; 
sentenciar  sem  ser  ouvido,  porque  foi  re- 
vel, 6  nào  compareceu  até  se  dar  a  sen- 
tença. 

—  Comer  á  revelia  de  algueni;  comer 
sem  esperar  mais  por  elle  além  das  ho- 
ras certas. 

REVELIM,  s.  /.  (Do  fmncez  revelin). 
Termo  de  fortlÊcação.  Obra  externa  que 
consta  de  duas  faces,  que  foruiam  um  an- 
gulo saído  para  cobrir,  ou  defender  algu- 
ma cortina,  ponte,  etc. 

REVELLÃO,  s.  m.  Vid.  Revelão,  e  Re- 
velôa. 

REVELLAR,  v.  n.  Resistir,  oppôr-se. 

- — Revellar  o  cavailo;  estar  inquieto, 
indomado,  nào  obedecer  ao  cavalleiro. 

—  Revellar-se,  r.  reji.  Rebeilar-se, 
portai'-se  ajmo  um  rebelde. 

—  Revellar-se  á  obediência;  rebellar-se. 
REVELLENTE,  jjurt.  aci.   do  Revellir. 

Que  revelle. 


—  Revulsivo. 

REVELLIR,  V.  a.  (Do  latim  revelhre). 
Termo  de  medicina.  Arrancar  o  liumor 
d'onde  está  áxo,  e  derival-o  para  outra 
parte. 

REVELLOSO,  A,  adj.  De  revel,  com  o 
sufíixo  «oso»).  Vid.  Rebelde. 

REVELÒA,  ou  REVELLÔA,  s.  /.  de  Re- 
velão. Vid.  este  termo. 

REVENDA,  s.  /.  Segunda  venda. 

— ■  Acção  de  vender  a  outrem  o  que 
já  está  vendido. 

REVENDÃO,  ONA,  s.  Pessoa  que  com- 
pra para  tornar  a  vender. 

REVENDEÇÃO,  s.  /.  Termo  antiquado. 
Revendita.  revindieta. 

REVENDEDOR,  A,  *.  (De  revender, 
com  o  sufSxo  «dor»).  Pessoa  que  re- 
vende. 

—  Que  faz  segunda  venda. 

—  Pessoa  que  vende  a  cousa  segunda 
vez  a  diversas  pessoas. 

—  Pessoa  que  vende  em  segunda  mão. 
REVENDELHÃO,   s.   m.   Vid.   Revendi- 

Ibão. 

REVENDER,  r.  a.  (^Do  latim  revendere, 
de  re,  e  venderei.  Tornar  a  vender,  ven- 
der segunda  vez,  vender  de  novo,  ven- 
der o  que  se  compra.  —  »E  qualquer 
que  o  fezer,  e  lhe  provado  for,  pague 
anoveado  pêra  nós  o  que  assy  comprar, 
ou  revender :  e  damos  porem  lugar  a  to- 
dos, que  possam  comprar  ouro,  ou  prata 
pêra  seus  usos,  e  despesas,  e  guardas,  e 
aos  ourivizes  pêra  haverem  de  la^Tar,  e 
vender  as  cousas  lavradas  que  lavrarem.» 
Ord.  Affoas.,  liv.  4,  tit,  2,  §  7.  —  «E 
mandamos  que  nenhum  nom  compre,  nem 
venda  ouro,  nem  prata  pêra  revender 
como  cambador,  pêra  sy,  nem  pêra  ou- 
trem, porque  os  caimbos  som  nossos,  e 
forom  sempre  dos  Reyx  nossos  anteces- 
soi-es. »  Ibidem,  tit.  8,  §  17.  —  «E  se 
per  ventura  leixar  de  carregar  por  al- 
guma razom  aguisada,  entom  possa  re- 
vender essa  sua  parte,  que  lhe  assy  foi 
dada,  por  toda  aquclla  quantia,  por  quan- 
to lhe  foi  dada  pelos  ditos  fretadores,  e 
nom  por  mais ;  e  se  o  contrairo  desto  fe- 
zer, que  aja  as  ditas  penas. »  Ibidem, 
tit.  5,  §  lõ.  —  <Item.  Ao  que  dizem 
no  quadragésimo  quinto  artigo,  que  em 
alguns  lugares  do  Nosso  Senhorio  ha  Clé- 
rigos, e  Fidalgos,  que  compram  muitas 
cousas  pêra  ao  depois  revenderem,  e 
usam  pubricamente  de  regataria,  e  nom 
querem  consentir  que  os  Almotacees  ajam 
em  elles  jurdiçom,  pêra  lhes  mandarem 
como  revendào,  as  cousas,  e  lhes  dem  as 
medidas,  e  fezer  outros  autos,  que  per- 
teencem  a  seus  Officios. »  Ibidem,  tit. 
47.  §  1. 

REVENDIÇÃO,  *.  /.  A  acção  de  fazer 
segunda  venda,  de  vender  segunda  vez. 

7  REVENDIDO,  part.  pass.  de  Reven- 
der. —  Uma  terra  revendida. 

REVENDICAR,    v.   a.  Vid.  Revindicar. 

REVENDILHÃO,  ONA,   «•   Revendedor. 


—  Pessoa  que  negoceia  em  comprar  e 
vender  as  cousa.s  muitas  vezes. 

—  Pessoa  que  revende  em  tavernas, 
etc. 

REVENDITA,  s.  /.  Vid.  Revindieta. 
REVENERAR,  v.  a.   (Do  prefixo  re,  e, 
venerar».  Reverenciar. 

—  Mostrar  respeito,  acatar,  venerar 
mais  que  uma  vez. 

REVER,  V.  a.  (Do  prefixo  re;  e  vêr). 
Vêr  de  novo,  vêr  segunda  vez. 

—  Examinar  de  novo,  observar  cuida- 
dosamente. —  Rever  nossas  acções,  nossos 
discursos,  etc. 


E  fogc-me  o  atrevimento 
que  molher  tem  a  reter; 
mas  é  molber,  sem  saber, 
é  em  arêa  fundamento. 

AUTOJilO    PRESTES,    AUIOS ,    pag.    4Ú1. 


Nào  durides 
De  mim,  Romano.  O  sangue  nào  vingado 
De  meu  pae  iuda  alii  está  revendo  fresco 
Deante  de  meus  olhos.  Na  orphandade 
Tua  pátria  me  adoptou ;  tua  pátria  é  minha. 

GAKEETT,  CAtÀO,   BCt.    1,  BC.    5. 


— -  Diz-se  dos  processos,  dos  negócios 
submettidos  a  uma  nova  jnrisdicção. 

—  T'',  n.  Coar  de  si  humidade,  reçu- 
mar. 

—  ilarejar. 

—  Revêr-se,   v.  refl.   Vôr-se  de  novo. 

—  Revêr-se  em  alguma  cousa;  estar 
olhando  para  ella  com  muito  prazer  e 
gosto. 

—  Figuradamente  :  Revêr-se  em  algu- 
ma cousa;  ter-lhe  muita  affeição  e  amor. 

REVERÁ,  loc.  adu.  (Do  latim  re  verá)j 
Realmente,  na  verdade. 

REVERBERAÇÃO,  s.  /.  (Do  latim  rever- 
beratio,  de  reverberare).  Reflexão  da  Inz 
e  do  calor  por  um  corpo  que  não  os  ab- 
sorve. —  A  reverberação  dx)t  raios  do 
sol. 

—  Diz-se  da  repercussão  do  som. 

—  Figuradamente :  Reflexo. 

—  Figuradamente :  Maldizentes  de  re- 
verberação; os  que  não  dizem  mal  dire- 
ctamente. 

—  Fogo  de  reverberação ;  fogo  de  que 
os  chimicos  usam,  e  applicam  ao  vaso  por' 
reflexão  da  chamma.  ~ 

REVERBERADO,  part.  pass.  de  Rever- 
berar. —  0$  raios  do  sol  reverberados 
pela  muralha. 

REVERBERANTE,  part.  aci.  de  Rever- 
berar. Que  reverbera,  que  tem  a  pro- 
priedade de  reverberar;  que  produz  a  re- 
verberação. —  Superficies  reverberantes. 

—  Liso  como  o  espelho,  que  reflecte  a 
imagem  dos  objectos  luminosos. 

REVERBERAR,  u.  a.  (Do  latim  revtr- 
berare,  de  re,  e  verberare).  Reflectir,  faN 
lando  da  luz,  e  do  calor.  —  Plactts  de 
ferro  qne  reverberam  o  calor  do  fogão 
na  catnara. 


278 


revp: 


—  Antigo  ternio  de  chiraica.  Ketluzir 
08  corpo»  H  cal  por  um  fopo  violento. 

—  V.  n.  Brilhar,  rc-tplniKlocer,  Iuh- 
trar.  —  «líii  iiH;.fiiiii  norti;  a  nliiia  em 
cjuiinto  iiiJo  He  ciiclie  do  amor  diuiiio,  Cd- 
tíi  dentro  de  buuh  limitti^,  inaH  fttoruo- 
rando.se  todji  dclle,  ocupada  Robe  vigo- 
rosa sobro  8i,  e  votv  sobro  sua»  forcas  ao 
alto,  jjorijuo  acesa,  o  banhadii  do»  raios 
da  coatemplaçSo  toda  se  desfaz  em  amor, 
e  abrazada  se  derrete  do  hum  certo  mo- 
do; como  hum  espelho  coneauo,  receben- 
do 08  rayos  do  Sol  em  si  costuma  accen- 
derso,  e  queimar  reuerberando  tó  atea- 
remso  os  fomentos  materiaes,  (|ue  llie  li- 
carom  pefíados,  e  fi'outoii"Os.«  Frri  Uur- 
tholomeu  dos  Martyres,  Compendio  de 
espiritual  doutrina.  —  « Todavia,  as  ar- 
mas polidas,  ordenadas  cm  feixes,  e  as 
stalaetite»  seculares,  penduradas  do  te- 
cto, reverberando  o  clarào  da  fofcueira, 
davam  ao  topo  da  lapa  um  aspecto  es- 
plendido, que  do  aljjnm  modo  assemelha- 
va esta  habitayílo  do  feras  a  uma  sala 
d'armaa  do  paços  afortalczados.»  Alexan- 
dre Herculano,  Eurico,  cap.  11). 

—  Reilectir.  —  A  luz  reverbera  nas 
aguas  do  rio. 

—  Dar  nos  objectos. 
REVERBERATÓRIO,  A,  adj.  Que  serve 

para  reverberar. 

REVERBERO,  s.  m.  Termo  de  chimica. 
Nomo  dado  ás  paredes  de  um  forno,  des- 
tinadas a  retieetir  o  calor  radiante  que 
emana  do  foco  sobre  a  matéria  que  se 
quer  aqiiecer. 

Sc  (103  fulguvautcs  raios  so.  miâturaj 
ync  o  Sorno  ustorio  foco  accendc,  c  ajunta, 
l'cuotrant03  rtvírhtros  dai-doja : 
UorretCâ  ferro,  inarinorca  calcinas 
Quaudo  luuga  de  ti  mandas  o  incêndio. 

J|,  A.PÇ.MACXDO,  MEDITAÇÃO,  caut.   2. 

De  lúcido  cristal  idto-esplcndcntc 
Se  levantava  altiâsinia  facliuda. 
Arcos,  columnas,  arcUitraves,  tudo 
Do  pedraria  Oriental  3'elcvii, 
Onde  huma  luz  celestial  batendo, 
Dfispodia  rcvérbtras  brilliautca. 

tPKM,  VIAOKH  EXIATICA,  CHnt.   1. 

Tal  aos  tristes  rtoirheroa  da  fronto 
Onde  enroscadas  serpes  sibilavão, 
Ficou  suspenso,  enregelado  o  monstro, 
Qu'  hia  a  tragar  Andronieda,  dos  aros 
Persco  compadecido  ás  oud:id  baixa. 

inSH,  A  MAtOHEZA,  CAllt.  8.  '    ' 

—  Espelho  destinado^á 'rèfyctir  n'unia 
direcçílo  destinada  a  luz  ou  o  calor. 


Quo  suaves  rofiViero»  de  luzes 
Do  tantos  corpos  ikMidoi  rcsurtúm  ! 
Com  quanta  pompa  os  mostra  a  Natureza  I 
Qnanto  tinha  lhes  doo,  ((uanto  \)odia; 
Toda  ncllos  so  mostra,  o  tod»  ke  bella. 

}.  ▲.  DB  «ACKOO,  A  MATVaEZA,  C»Ut.   '1. 

—  Por  exteusíto,  lanterna  munida  de 


BEVE 

uma  lâmpada,  e  de  um  ou  mais  reflecto- 
res, o  que  serve  para  illuminar  unia  rua, 
uma  pra^a,  títc. 

—  Funuilha  de  reverbero ;  fornallia 
que  serve  em  jreral    para   as   distillaçíJes. 

—  Fi/ijo  rfe  reverberoo;  fopo  quo  não 
tendo  respiradouro  para  cima,  faz  rcHe- 
ctir  a  cliainma  Bobre  as  matoria*  oxpotí- 
tas  á  sua  acçilo. 

Bate  co'  ft  longa  cauda  hum  lado,  c  outro; 
No  iiiurtculoso  collo  lhe  fluctúa 
l^iiiniarauhiida  juba ;  os  vivuri  utlios 
Dospirdeni  mil  rererberoa  de  fogo : 
Sac<xle,  crri(;a  o  péllo,  e  na  espantosa 
Cova  medita  o  crime,  o  »aho  bramindo, 
K  das  fauces  reconcava*  di^rrania 
Espuma  om  borbotões  ua  arêa  adusta. 

j.  AoosTiaao  pu  macedo,  hkuiiação,  cant.  -i. 

Quem  despede  os  rwtrheroi  de  fogoV 
Quem  o  turva,  o  cominovc,  o  assusta,  o  prende? 
Tardos  fructos  não  são  da  sociedade ; 
Não  he  da  educação  falso  principio. 
iDiDEM,  caut.  4. 

—  Termo   poético.  Resplandor,   brilho. 
REVERDECER,  v.  a.  Fazer  tomar  v«r- 

de,  o  cobrir-se  de  folha,  rama,  verdura. 

—  Loc.  POÉTICA:  Uma  historia  de  fo- 
cas reverdece ;  nasce  de  novo,  ou  renova, 
fazendo  o  mesmo   que  elle  tizera. 

—  l'''igiiradamente :  Dar  nova  força, 
novo  vigor.  —  «Entregandoa  noutros  ao 
ferro  e  fogo  dos  pei-seguidores,  quo  cor- 
tem, e  abrasem  segundo  seu  furor :  qual 
está  d'algun8  annos  a  esta  parto  de  bai- 
xo da  crueldade  de  Faxiba,  seruindolhe 
porem  o  forro  de  poda  pêra  ci-ecer,  e  pê- 
ra mais  reuerdecer  o  fogo,  como  a  anti- 
ga çarçft.  ou  como  serue  de  maior  res- 
plandor ao  ouro  fino. »  Lucena,  Vida  de 
S.  Francisco  Xavier,  liv.  (3,  cap.  18. 

—  V.  n.  Toruar-sc  verde. 

Já  de  Académo  o  bosque  reverdece  ; 
Entre  liuh.as  de  Plátanos  frondosos, 
Com  fama  eterna  o  PeripátO  surge. 
Enliorào-se  os  Jardins,  e  as  foutus  correia, 
Do  frugal  Epicuro  outr"ora  asylo. 
Além  cuido  escutar  trovões  9oni'ros 
Da  hocca  de  Dcmosthencs,  que  assustào 
Ao  longe  o  foro  Déspota  no  throno. 

J.    A.    I>B  UACEDO,   UEDITAÇÀO,   Caut.   4. 

—  Tomar  alentos. 

—  Reverdecer  o  temi»};  tornar  a  fazer- 
se  verde,  ou  invernoso. 

—  Figuradamente :  Renascer,  tornar  a 
ter  mais  viço,  e  vigor.  —  Reverdecer  a 
heresia. 

—  Figuradamente :  Reverdecer  o  amor, 
a  amizadf. 

—  Reverdecerem  as  artes,  a  sciencia,  o 
cumiiu  rciíj  f  a  industria. 

—  Figuradamente :  Reverdecerem  as 
pai. voes. 

REVERDECIDO,  pnrt.  jiass.  de  Rever- 
decer. Tornado  veitle.  —  A  folha  renas- 
ceste e  os  braços  reverdecidos. 

—  Figuradamente:   Qne   parece    reju- 


REVE 

vencscido,  fivllaudo  de  um  velho.  —  A'»»- 
contrei-*/  todo  reverdecido. 

REVERENÇA,  ».  /.  Vni.  Reverencia.— 
«1'orquo  niuitus  vezes  acmtix-e  que  as 
molheres,  por  modo  ou  revereaça  dos 
maridos,  leixaò  caladamente  al;.'uma.í  oou- 
MW  jjasHftr,  jíor  non  ousarem  <le  o  contra- 
dizer, receando  alguns  e.sc»ndalo«.  e  pe- 
rigos, que  lhes  em  outra  guisa  ligeira- 
mense  poderiam  vir.»  Ord.  ASons.,  liv. 
1,  tit.  11,  S  ". 

REVERENCIA,  ». /.  iDo  latim  rtiereit- 
tia..  Kinpiito,  veneraçSo  que  se  tem  im 
cousas  sagradas,  aos  padres,  aos  templos, 
ás  imagens,  e  aos  sacramentos.  —  TV-a- 
tar  as  cousas  santas  com  reverencia.  — 
Prestar  reverencia  a  alt/uem. 

—  Titulo  d'hoara  da'lo  aos  religiosos 
que  eram  pobres.  —  Voi/sa  reverencia. 
—  «E  Diogo  Sjares  lhe  respondeu  que 
ello  viuha  c3  determinação  do  nUo  to- 
mar Malaca,  por  lhe  nâo  fazerem  pa- 
gar direytos  daquella  pouca  fasenda  que 
levava,  ja  que  não  tinha  outra  cousa, 
de  que  Be  su8t6nta6.se  a  si,  e  aquelJe.s 
soldados;  mas  que,  pois  qae  -Bua  Reve- 
rencia lho  pedia  CÒ  tanta  efBcacia  de 
palavras  tilo  santas,  e  tanto  para  se  te- 
mer a  desobediência  delias,  visto  ser, 
como  dizia,  puro  zelo  da  I^ey  de  Deos, 
de  cuja  parte  o  requeria,  elle  era  murto 
contente  de  lho  cõceJer.»  Fernão  Men- 
des Pinto,  Feregrinaçies,  cap.  204.  — 
«Estando  a  nao  ja  de  todo  prestes  para 
partir,  o  Contramestre  lhe  mandoa  àa 
duas  horas  depoLs  da  ■  mé&  norte  dúser 
por  hum  moço  seu  sobrinho  a  nosaa  Se- 
nhora do  Outeyro,  a3de  então  estava,  quo 
sua  Reverencia  ee  embarcasse  lego  ns- 
quella  mauchua  que  alli  lhe  mandava, 
porque  a  nao  se  queria  fazer  á  vela.» 
Ibidem,  cap.  215.  —  «Veado  isto  bum 
dos  Portuguesea  se  chegou  a  mi,  e  disse. 
Ah  Padre,  pude  muv  bem  ser,  quo  al- 
guém o  tenha  ja  por  morto,  e  vossa  re- 
uerencia  vay  agora  em  companhia  de 
hum  Rev,  q»ie  lhe  vay  ensinado  o  cami- 
nho.» Fr.  Gaspar  de  S.  Bernardino,  Iti- 
nerário da  índia,  cap.  tí.  —  •  Era  a  bo- 
dega mais  triste,  mais  escura,  mais  Ioda- 
centa  de  Lisboa  :  mas,  em  c^impensação, 
Nathanaol  vendia  o  viuho  que  08  frades 
de  .S.  Vicente  colhiam  nas  suas  €am»sas 
vinhas  do  Lumiar,  Carnide.  Palma,  Char- 
neca e  Leccia  laquelle  que  nãn  era  des- 
tinado a  am})arar  suas  reverencias  na 
áspera  estrada  da  mortiticaçào;  vinhu  es- 
pirituoso, iuullectual,  e  cuja  origem  re- 
ligiosa lhe  dava  um  certo  .pacãune  de 
sanctid.ade. »  A.  Herculano,  Monge  .âe 
Cister,  cap.  18.  —  «Depois  da  partida  de 
Fr.  l»ureuço,  o  mouro  Alio,  em  vi-z  de 
peiorar,  melhorou  materialmente.  Com 
grande  escândalo  de  Fr,  Julião  foi  esco- 
lhido por  sua  mui  p(iieri>«i  reverencia 
para  ser  servente  seu  jmrticular  em  quan- 
to residisse  em  Lisboa.»  Ibidem,  cap.  2l>. 

—  Movimento  que  se  faz  com  o  corpo 


re^t: 


REVE 


REVÊ 


279 


para  se  salvar,  quer  inclinando  a  cabeça, 
quer  cirrando  os  joelhos.  —  Uma  pro- 
funda reverencia.  —  Uma  grande,  uma 
humilde  reverencia.  —  Fazur  a  reveren- 
cia. —  «  E  o  que  a  derribava,  se  decia 
loiro  do  cavalo  e  a  tomava  e  fazia  uma 
grande  reverencia  ao  Suty,  e  lhe  davào 
buma  taça  de  vinho :  e  logo  deciam  a  vara 
por  hum  cordel,  e  tomavaõ  a  por  outra 
maçàa.»  António  Tenreiro,  Itinerário, 
cap.  17. 


Com.   Estacs  bem  encabeçado 

na  cousa,  na  consequência; 
filhos  sem  obediência, 
filhos  de  pao  levantado 
para  os  pacs,  sem  reverencia. 

AXIOSIO  PKESXES,  AUIOS,  pSg-  251. 

—  Em  reverencia  do  seu  noine;  em 
honra  e  acatamento  d'elle. 

—  Veneração,  respeito. 

— ■  Syk.  :  Reverencia,  respeito.  Vid.  este 
ultimo  termo. 

7  REVERENCIADO,  part.  pass.  do  Re- 
verenciar. 


Sam  tam  reitere iu:>ados 
03  fidalgos  dos  viUãos, 
tão  grandemente  acatados, 
<iue  se  delles  sam  tocados 
são  logo  mortos  ás  mãos. 

GARCIA  DK  KEZEXDE,  MISCELLAXE A . 

REVERENCIADOR,  A,   adj.   Que  reve- 
rencia. 

—  Que  mostra  respeito,  acatamento. 
REVERENCIAI,  adj.  2  gen.  Nascido  da 

reverencia,  ou  expressivo  d'ella. 

—  Apóstolos  reverenciaes.   Vid.  Apos- 
tolo. 

—  Substantivamente:  Os  reverenciaes. 


Advirto-lhc  também,  que  não  se  esqueça 
De  pedir  os  Apóstolos;  e  sejaõ 
Os  reverenciaes.  por  que  suspendaô 
Do  malévolo  Acordaõ  os  etfoitos ; 
E  naõ  imia  só  vez.  mas  muitas  vezes, 
Com  mais,  e  mais  instancia,  instantemente. 
A.  D.  DA  cHCz,  HTssorE,  caut.  4. 


Í  REVERENCIAR,    v.  a.    Fazer   reveren- 

cia. —  «Ca  este  homem  com  quem  elle 
fallou  ainda  que  em  o  tractamento  de 
sua  pessoa  e  gente  que  o  reuerenciaua, 
1  parecia  ser  quem  lhe  diziaõ,  elle  naõ  era 
elRej  de  Ceilaõ,  mas  o  senhor  do  porto 
'  de  Gale.»  João  de  Barros,  Década  1,  liv. 
10,  cap.  5. 

—  Mostrar  respeito,  acatar.  — -  «  Pos- 
trados  em  terra  a  adoramos,  e  reueren- 
eiamos,  como  em  tanta  breuidade  nos  fov 
possiuel.  Xem  aos  Mouros  pareceo  mal  o 
nosso  modo,  que  em  fim  as  cousas  de 
Deos  a  todos  contentão,  e  alesrrào.»  Fr. 
Gaspar  de  S.  Bernardino,  Itinerário  da 
ladia,  cap.  15. 

REVERENCIOSAMENTE,    adv.    iDe  re- 


verencioso,  com  o  suffixo  n mente»).  De 
um  modo  reverencioso. 

— -  Com  respeito. 

REVERENCIOSO,  A,  adj.  HumUde  e 
ceremonioso.  —  Discurso    reverencioso. 

—  Palavras  reverenciosas. 
REVERENDAS,  s.  f.  phir.  Letras  dimis- 

sorias  do  bispo,  pelas  quaes  concede  a  fa- 
culdade a  algum  seu  diocesano  para  or- 
denar-se  com  outro  bispo. 

REVERENDÍSSIMO.  Superlativo  de  Re- 
verendo. Titulo  dhonra  que  se  dá  aos  ar- 
cebispos,   bispos  e  geraes   d'ordens,  etc. 

—  « Isso  testctica  o  Reverendíssimo  Pa- 
dre Dom  Joseph  Barbosa  na  sua  Censu- 
ra, cuja  opinião  nào  pode  deyxar  de  ser 
approvada  de  todos,  sendo  de  hum  Varão 
tão  insigne,  e  tào  illustre  nos  seus  escri- 
tos, e  nos  seus  pareceres.»  Cavalleiro 
d'01iveira,  Cartas,  liv.  4,  n.°  7. 

—  Fallando  a  religiosos,  diz-se  :  Vossa 
reverendíssima.  —  «Dou  a  vossa  reve- 
rendíssima muitas  graças  por  tal  sujeito, 
mas  cooi  condição  que  vossa  reverendís- 
sima no-lo  não  queira  descontar  no  nu- 
mero dos  seis,  o  qual  esperamos  muito 
inteiro,  e  antes  accrescentado  que  dimi- 
nuído.» Paiire  António  Vieira,  Cai'tas, 
n."  12.  —  «  De  mais  d'estes  recebemos 
dois  irmãos  coadjutores,  um  dos  quaejs  é 
Francisco  Lopes,  que  servia  este  coUe- 
gio,  de  cujo  espirito  nào  digo  nada,  por- 
que o  conhece  vossa  reverendíssima;  ou- 
tro Simão  Luiz,  official  de  carpinteiro, 
homem  de  muito  bons  costumes  e  présti- 
mo.» Idem,  Ibidem.  —  «Quanto  mais, 
que  lembrado  estará  vossa  reverendíssi- 
ma que  na  consultinha  que  vossa  reve- 
rendíssima fez  no  seu  cubículo  sobre  a 
côngrua  que  se  havia  de  pedir  para  cada 
um  dos  missionários,  em  que  nos  achá- 
mos com  vossa  reverendíssima  o  padre 
Francisco  Ribeiro,  e  eu,  se  resolveu  en- 
tre todos,  que  para  sustentar  no  Mara- 
nhão um  sujeito  bastavam  vinte  ou  vinte 
e  cinco  mil  reis.»  Idem,  Ibidem. 

REVERENDO,  A,  adj.  iDo  latim  reve- 
rendus.  Digno  de  ser  reverenciado,  de 
ser  acatado. 

—  Titulo  d'honra  que  se  dá  aos  sacer- 
dotes. —  «Aqui  se  despediu  de  nós  o  te- 
nente coronel  Joào  Filippe  para  a  cida- 
de, e  ao  mesmo  tempo  chegaram  o  reve- 
rendo padre  fr.  João  d^Assumpçào,  cus- 
todio que  foi  da  sua  província,  e  votou 
em  Roma  no  capitulo  de  sua  ordem,  re- 
ligioso honradíssimo.»  Bispo  do  Grão 
Pará,  Memorias,  publicadas  por  Camillo 
Castello  Branco,  pag.  208. 

REVERENTE,  adj.  2  gen.  (Do  latim  re- 
verens).    Que  reverencia,   reverenciador. 


Dos  votos  seus  o  templo  condecora, 
As  supplicfls  lhe  escuta,  e  finalmente 
Aceita  obséquios  mil.  que  reverente 
Te  faz  o  mundo,  que  feliz  te  adora. 

ABBADE  DE  JAZESTE,  POESIAS,  tOm.  2.  pag.  110 

(ediç.  17871. 


—  Que  dá  signaes  de  reverencia  inte- 
rior. —  Com  reverente  applauso  foram 
recebidos.  —  «Depois  de  alguns  annos 
vierão  seus  ossos  ao  Reino,  que  tbrão  re- 
cebidos com  reverente,  e  piedoso  applau- 
so, idtimo  beneficio,  que  com  suas  cinzas 
ha  recebido  a  pátria,  e  trazidos  aos  hom- 
bros  de  quatro  netos  seus  ao  Convento 
de  S.  Domingos  de  Lisboa,  onde  muitos 
dias  se  lhes  fizerào  sumptuosas  exéquias.» 
.Jacintho  Freire  de  Andrade,  Vida  de  D. 
João  de  Castro,  liv.  4. 

REVERENTEMENTE,  adv.  (De  reveren- 
te, com  o  sufiiso  «mente»!.  De  um  modo 
reverente.  —  Os  homens  estão  acostuma- 
dos, desd.t  ha  muito,  a  faltar  ao  respeito 
(pie  devem  a  Deus,  e  a  tractor  pouco  re- 
verentemente as  cousas  sagradas. 

—  Com  reverencia,  acatamento,  res- 
peito. —  FaUar  reverentemente  de  Deus, 
das  cousas  santas. 

REVERIA,  s.  /.  Vid.  Revelia. 


Diab.  Las  de  vuostra  senhoria. 
Cav.     Kão  é  minha  honra  tamanha. 
Moço.  Dé-ma,  qucu  tenho  por  manha 
scl-o  á  sua  reveria. 

ASTOXIO  PBESTES,  AUTOS,  pag.  65. 


—  Considera-se  como  gallicismo  gros- 
seiro e  intolerável  toda.s  as  vezes  que  se 
lhe  der  a  significação  de  phantasia,  pen- 
samentos, imaginações,  delírios,  e  talvez 
meditações. 

REVERSA,  s.  /.  Vid.  Revessa. 

REVERSAL,  adj.  2  gen.  —  Carta  rever- 
sal;  carta  que  se  faz  em  resposta  de  ou- 
tra, ou  se  refere  a  algum  acto. 

REVERSÃO,  s.  /.  ("Do  latim  reversio). 
Volta,  tornada  para  donde  saíi-amos. 

—  Termo  de  jurisprudência.  Direito 
em  virtude  do  qual  os  bens  de  que  uma 
pessoa  dispõe  em  favor  de  lun  outro,  lhe 
vem  quando  este  morre  sem  filhos. 

—  Termo  de  rhetorica.  Figura  de  es- 
tylo  que  consiste  em  fazer  vir  sobre  si 
mesmo  com  um  sentido  differente,  e  mui- 
tas vezes  contrario,  certos  termos  d'uma 
mesma  proposição. 

—  Reversão  dos  bens  ao  antigo  domí- 
nio; volta  dos  bens  á  coroa,  d'onde  se 
haviam  tirado,  ou  desmembrado  por  doa- 
ção. Vid.  Devolução. 

REVERSAR,  r.  a.  Vid.  Revessar  (vo- 
mitar). 

—  F.  «..Voltar,  tomar. 

f  REVERSIBILIDADE,  s.  f.  Termo  de 
jurisprudência.  Qualidade  do  que  é  re- 
versível. —  A  reversibilidade  de  uma 
pensào. 

—  Termo  de  theologia.  Â  reversibili- 
dade das  penas,  das  recompensas ;  os  me- 
recimentos dos  santos  imputáveis  para 
diminuir  as  penas,  e  augmentar  as  re- 
compensas. 

REVERSÍVEL,  adj.  2  gen.  Termo  de 
jurisprudência.  Fallando  de  bens,  de  ter- 


iJ80 


KIÍVE 


REV£ 


EEVE 


raH  f|uo  poduni  voltar  :io  propiiotiiri»  <|uo 
(JÍH|I()2  (l'oila8. 

—  Reversivo,  f|uo  tom  natureza  e  pro- 
priísdiídc  de  reverter  paru  ii  inosuia  pos- 
HOfi  (roíiilf,  naiu. 

REVERSIVO,  A,  àdj.  Que  torna  a  vir. 

—  Toniií)  flc  aimtoinia.  Nirrvus  rever- 
sivos;  niTVim  (lo  peH(!(ioo,  que  da  nua 
onfí«ni  Hiicm  doHcoiido,  o  iofío  sobt-ui  ató 
á  laryiifíi"-  Vid.  Recorrente. 

—  Termo  de  moilicina.  FeJiyn  reversi- 
va ;  fubro  ípio  nào  ó  aguda,  maa  <|ue  voin 
com  crescimentos  vapos,  o  despedidas 
imporf'citH«. 

—  .Sujeito  a  reversão. 

1.)  REVERSO,  A,  adj.  (Do  latim  re- 
versus).  (Ino  tica  posterior,  relativamen- 
te a  outra  cousa. 

—  Fitíuradameutc  :  Do  mau  caracter. 

—  Que  tornou  á  soita  ou  erro  (jue 
abjurara. 

—  Termo  de  arcliitectura.  (luld  re- 
versa ;  convexa. 

— ■  Madeira  reversa  de  lavrar ;  ma- 
deira que  não  tem  libras  direitas,  porém 
nodosas. 

—  Diz-so  também  d'aquelle3  que  pos- 
tergando 03  eciitlraoutos  da  lioncstidadc 
e  da  virtude,  se  abandonam  aos  vicios  da 
camo  corrompida,  c  a  tudo  o  <jue  se  op- 
p5e  a  rectidão  e  bons  costume."}. 

2.)  REVERSO,  s.  m.  A  parto  posterior 
a  respeito  doutra. 

—  O  reverso  da  medalha ;  a  face  op- 
posta  áquclla  onde  está  o  rosto,  busto  ou 
figura  princijval. 

—  Figuradamente  :  Vejamos  o  rever- 
so da  medalha;  examinemos  a  cousa  por 
outro  lado,  ouçamos  outra  versão,  ou 
londa  do  caso,  e  vulgarmente  diz-se  quan- 
do a  outra  versão  é  desfavorável. 

REVERTER,  v.  n.  (Do  latim  reverterei. 
Tornar  para  d'onde  saiu. 

REVERTIDO,  part.  pass.  de  Reverter. 
Que  tornou  para  d'onde  saiu. 

—  (i>uo  voltou  ao  primeii"o  dominio. 
REVERTIVEL,  adj.    2   gen.    Que   devo 

reverter.  —  Bens  revertiveis  d  coroa. 
Vid.  Reversível. 

REVÉS,  s.  V).  Vid.  Revez.  —  «Ha  por- 
ta que  está  em  fronte  na  couraça,  he 
como  ha  dos  muros  de  dentrti  :  tem  tíim- 
bem  porta  Icvadiça,  as  portas  que  estão 
cm  revés  na  couraça  sam  pequenas.» 
Frei  (laspar  da  Ciuz,  Tratado  das  cou- 
sas da  China,  cap.  6. 

-{•  REVESADO,  A,  adj.  Vid.  Revezado. 
—  «Tem  nm  artilicio  secreto,  que  vã'>  re- 
vesados  os  tercetos;  um  quo  na  derra- 
deira regra  tom  a  mesma  palavra  duas 
vezes,  e  o  outro  apoz  elle  tom  a  derra- 
deira palavra  contraria  também  á  da  ul- 
tima regra.»  Feriulo  Rodrigues  Lobo  So- 
ropita,  Poesias  e  prosas  inéditas,  pag. 
114. 

REVESSA,  s.  /. --Revessas  uo$  rios, 
ou  tuis  praia.1 ;  onde  encho  a  inanS :  é  a 
agua  próxima  ás  margens,  quo  tem  mo- 


vimento contrario  ao  da  veia  o  toBÍo  de 
agua,  e  enche  (|uaiido  ella  vasa,  c  ás 
avessas.  —  «Savndo  fleste  estevro  de 
(juampanoo,  «miramos  em  hum  rio  muv- 
to  grande  que  ho  chamava  Aiigegumaa, 
de  mais  de  ti'ea  icgoas  em  largo,  e  em 
f)artes  de  cento  e  vinte  braças  de  fundo, 
eoni  revessas  t3o  impetuosas,  rpie  muy- 
tas  vezes  nos  fa/.i.lo  desandar  nmyta 
]iart(!  do  e;iniiiiho.»  Fernão  Aiendes  l^in- 
to.  Peregrinações,  eap.   1.'j8. 

—  Loo.  ADV.:  JJe  revessa ;  contrario 
ao  natural  do  estômago.   Vid.  Revessar. 

REVESSADO,  part.  patH.  de  Revessar. 
Voinitaiio,  reversado. 

—  l'"iguradamenti'  :  Desprezaílo. 

—  ( )pposto  ao  revez  do  direito. 

—  Caminho  revessado ;  caminho  op- 
posto,  torcido  para  encobrir  o  lugar  por 
onde  queremos  ir. 

REVESSAR,  V.  a.  i  Do  latim  reversare). 
Vomitar,  arrevessar,  reversar. 

—  Figuradaujentc  :  Desprezar. 

—  F.  n.  Fazer  o  mar  revessa.  —  Re- 
vessa >>  rio. 

—  Vid.  Arrevessar,  e  Arravessar. 
REVESSO,  A,   adj.    Diz-^o    das    ondas 

quo  correm  contra  a  parte  d'onde  vem  o 
navio.  Vid.  Revezo. 

—  Madeira  revessa.  Vid.  Reverso. 
REVESTIDO,  part.  p'L.'<s.   de  Revestir. 

Coberto  com  um  vestido  .segunda  vez, 
tornado  a  vestir.  —  «E  entrando  na  Ci- 
dade achàraõ  o  Bispo  revestido  em  Fon- 
tifical,  com  hum  Crucifixo  nas  mãos,  e 
todo  o  Cabido,  Cle''igos,  e  Religiosos  em 
procissão.  Chegado  ElRey  ao  Bispo,  pros- 
trou-se  de  giolhos  diante  dello  com  mui- 
ta veneração,  c  fez  sua  adoração  ao  Cru- 
cifixo, o  o  beijou  com  muita  humildade.» 
Diogo  do  Couto,  Década  tí,  liv.  7,  cap.  5. 

—  Figuradamente  :  (Jrnado,  decorado, 
fortificado.  —  tX  terra  estaua  muy  vi- 
çosa, reuestida  de  hum  alegre  aruoredo  : 
03  matos  cheos  do  sombrias  amores,  de 
uarias,  e  gostosas  fruytas.  Entre  as  quaes 
vi  huma  chamada  lamgomas,  que  muyto 
se  parece  com  somas,  assi  na  gràdeza, 
como  na  côr,  excepto  que  no  sabor  me 
pareceo  a  todas  as  outras  leuar  muyta 
ventagem.»  Fr.  (! aspar  de  tí.  Bernardi- 
no, Itinerário  da  índia,  cap.  2. 

— ■  (iuarnocido,  munido. 
• —  Hometn  revestido  de  dotes,  prenda», 
valor;  homem  possuidor  d'clles. 

—  Figuradamente :  Acto  revestido  das 
solemiiidades  do  direito;  acto  acompa- 
nliado  e  corroborado  com  ellas. 

REVESTIMENTO,  s.  m.  O  quo  reveste. 
—  O  revestimento  dn  peite  pelo  pipilo, 
peniuis,  escamas.,  conchas,  etc. 

—  Parede  que  reveste  alguma  obra 
mais  eleva<la  que  o  pavimento. 

REVESTIR,  t".  rt.  Vestir  segttnda  vez, 
vestir  de  novo. 

—  Pôr  sobre  si  ou  sobre  alguém  um 
vestido.  —  Revestir  um  habito. 

—  Termo  de  jurisprudência.  Pòr  a  um 


acto  tudo  quanto  o  inií-tcr  para  que  tdle 
seja  válido.  —  Ktte.  acto  reveste  todaa  u* 
fiWinni  reijtieridaji. 

—  Figiiradameiito  :  Cobrir  como  com 
um  vestido. 

—  Revestir  a  mentira  ilas  aj/jtartneiaM 
da  reriUidi ;  dar  á  mentira  o  ar  e  aspe- 
cto de  vordado. 

—  Figuradamente  :  l{oceber  ou  tomar 
tal  ou  qoiil  qualidade,  tal  ou  qual  «ppa- 
rencia. 

—  Revestir  os  pensainento»  de  um  tê- 
tyli)  poético;  (!Xprimil-os  poeticamente. 

—  Revestir  um  caracli-r ;  t-izer  conhe- 
cer a  quajidade,  a  authoridadc  que  pos- 
su(!  sem  a  mostrar. 

—  Cobrir,  ncnbrir.  —  Os  jiiUot  que 
revestem  eJ^terionnente  os  aníniaes.  —  As 
laminas  d'ouro  que  revestiam  erferior- 
menfe  n»  portas  do  Capitólio. 

—  Revestir-se,  v.  rejl.  Vestir-se  se- 
gunda vez. 

—  B^iguradamente  :  Revestirem-se  os 
troncos  de  folhas ;  adornare-m-g'"  com  el- 
laa,  encherem-se  d'eIUa. 

No  Roino  vegetal  ^nçoso,  e  bello, 

Do  circumfuso  fluido  m-  sente 

A  cfficaciu,  c  poder:  com  elle  ax  plantas 

De  saborosos  fructos  se  enrinuéceni : 

fíyrsi  com  elle  a  gere  animadora ; 

Sccoos  troncos  de  folhas  se  revertem. 

J.    A.    DE   MACEDO,   KEDITAÇIO,    Cant.   3. 

—  Revestir-se  de  authoi-idade ;  tomar 
este  poder,  mostrar  qne  se  poune.  — 
«Quando  porem  não  dissessem  cousa  al- 
guma que  não  fosse  na  ultima  perfeição, 
a  autoridade  de  que  pare.ce  que  se  reves- 
tem neste  caso,  fará  oom  que  sempre  »e- 
jão  dcsgotosas  as  suas  convereaçoens. » 
Cavalleiro  d'Oliveira,  Cartas,  liv.  3,  nu- 
mero õá. 

—  Revestir-se  o  sacerdote ;  assentar 
sobre  os  seus  vestidos  ordinários,  as  ves- 
tiduras sacerdotaes. 

—  Fallando  das  cousas:  As  fórumê  de 
que  o  pensamento  se  reveste. 

REVEZ,  í.  Hl.  Pancada  com  as  costas 
da  mào. 

—  A  alternativa,  o  estado  contrario 
que  teem  as  cousas  do  mnndo  boas  ou 
más. 

—  Revez  da  medalhn.  Vid.  Reverso. 

—  O  golpe  dado  com  a  espada  diago- 
nalmente, ferindo  d;i  direita  para  a  e«- 
quei-da. 

—  No  jogo  da  pella,  como  quem  dá 
um  revez  da  espada. 

—  Alternativas,  vicissitudes.  ^^  Appli- 
ca-se  ortlinariamcnte  ás  mndanças  em  mal. 
—  «Assim  ipje.  agora  temendo  estes  re- 
vezes, desejando  tua  alliança  e  amizade 
te  commcttcm  estias  condições.»  Francis- 
co de  Moraw,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  93.  —  «E  jiosto  que  to<los  estives- 
sem cora  este  temor,  porque  de  todos  era 
mui  amado,  sna  bondade  cm  armas  tinha 
tamanhos   segre^los,    qne    ao    tempo-  que 


RE\T! 


REVÊ 


REVI 


281 


mais  por  morto  o  julgavam,  aciulia  com 
revezes  tão  grandes,  que  desbaratava  to- 
do o  poder  á  fortuna.»    Ibidem,  cap.  9-4. 

cxtranhoa  por  naturacs : 
sào  tão  ecrt03  03  cspritos 
portugueze3 

revcsaroin  muitas  vezes 
03  gostos,  03  appctitos, 
que  dahi  uacera  tacs  rcvhes. 
ASTOsio  PRESTES,  AVTOs,  pag.  73. 

—  Termo  de  fortificação.  Synonymo 
de  travez. 

—  A  fijrtuna  com  seus  escarneos  e  re- 
vezes. 

—  Revezes  no  mar:  tormentas  que  suc- 
cedem  ás  bonanças. 

—  Estrepes  €711  Te'vezes;  melo  deitados. 

—  Fazer  o  cavalleiro  revezes  na  sclla; 
torcer  o  corpo  ao  bote  da  lança,  e  á  des- 
compostui-a. 

—  Seri)iam  sem  haver  revezes ;  isto  é, 
pessoas  que  saccedessem  em  logar  das  que 
tinkam  servido,  para  as  descançarem. 

—  Loc.ADv. :  A  revezes;  alternativa- 
mente, ora  um,  ora  outro.  —  Vigiar  a 
revezes. 

—  Loc.  ADV. :  Ao  revez;  ás  avessas,  ao 
contrario. 


Nenhumas  pegadas  vão 
Por  aqui  dos  outros  trcs : 
Ainda  clles  ca  não  são. 
Plutão  faz  rasto  de  cào 
Com  as  unhas  ao  revez. 

GIL  VICENTE,  COMEDIA  DE  RCBEXi. 


—  oAlmourol,  porque  lho  o  cavalleiro 
pediu,  foi  onde  estava  iliraguarda,  que 
acabada  a  batalha,  se  tirara  da  janella: 
6  dando-lhe  conta  do  que  passava,  como 
sua  tenção  fosse  fazer  extremos,  mandou 
que  tomassem  a  fé  ao  cavalleiro,  que  ne- 
nhum tempo  sei-visse  outra  senão  Arnal- 
ta,  6  trouxesse  a  devisa  do  seu  escudo 
ao  revez  do  que  a  trazia,  porque  não  pa- 
recia honesto  o  amor  andar  preso  em  po- 
der de  seus  vassallos.»  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  dlnglaterra,  cap.  110. 
—  «Alguns  dias  esteve  o  embaixador  do 
Turco  na  corte  do  imperador,  esperando 
por  Albayzar  cm  companhia  de  Polen- 
dos,  que  o  tratava  bem  ao  revez  do  que 
lhe  a  elle  fizeram  em  Turquia.»  Ibidem, 
Ciip.  123.  —  «Bem  pareceram  estas  pala- 
vras a  todas,  e  cada  uma  as  approvou 
como  melhor  pode.  Já  me  parece,  senho- 
ra, disse  elle  contra  Polifema,  que  Avin- 
des agastada  d'algunia  cousa,  e  d'ahi  vos 
nasce  tratar-me  mal  som  causa,  e  porém 
eu  vas  prometto,  que  por  me  salvar  d'es- 
sa  suspeita,  em  que  me  tendes,  eu  tra- 
balharei Y>ov  vos  mostrar  quanto  ao  re- 
vez do  que  me  julgaes,  tenho  a  vontade. 
Assim  praticando  chegaram  ao  pé  da  for- 
taleza a  tempo  que  Miraguarda  saía  de 
dentro  pêra  ir  folgar  em  um  batel  polo 
voL.  v.  — 36. 


rio  acima  com  suas  donzellas  e  Almourol 
com  ellas:  que  já  naquelle  tempo  polo 
repouso  do  reino  tinha  a  licença  mais 
larga.»  Ibidem,  cap.  126. 

—  Apresentar  benejicios  a  revezes  ; 
apresental-os  alternadamente,  ora  um, 
ora  outro. 

REVEZ ADAMBNTE,  adv.  (De  revezado, 
com  o  sutilxo  «mente»}.  Por  turno,  a  gy- 
ro,  alternativamente, 

REVEZADO,  part.  imss.  de  Revezar. 
Alternado. 


Entra  esta  descansada  gente  forte 

Onde  resiste  a  forte  mas  cansada, 

A  tempo  que  a  dous  toem  levado  a  morte 

E  que  oito  teem  ao  sangue  aberta  a  estrada. 

Querendo  esta  também  tentar  a  sorte 

Contra  a  gente  mil  vezes  revezada, 

Faz  que  o  Sousa  co'o3  seus  d'alli  se  aparte 

Toma  ella  a  defensão  do  baluarte. 

r.  i>'A!(nn\DE,  pbimeibo  cebco  de  diu,  cant.  16, 
C3t.  110. 


—  Amor  revezado ;  amor  reciproco, 
correspondido. 

—  'S'.  phir.  Os  que  servem  no  seu  ^\- 
ro.  ou  turno  alternado  com  outros. 

REVEZAMENTO,  í.  m.  Revez,  alterna- 
tiva. 

REVEZAR,  V.  a.  Alterar. 

^Revezar  as  sortes,  os  destinos;  va- 
rial-os,  alternal-os,  dando  o  ser  e  estados 
diíFerentes,  e  diversas  condições. 

—  Revezar  soldados;  mandal-os  servir 
para  descançar  os  que  serviram. 

—  Revezar  ao  peito  os  filhos;  dar  de 
mamar  ora  a  um,  ora  a  outro. 

—  Revezar-se,  f.  reji.  Alternar-se,  ter 
alternativas. 

—  Revezar-se  o  dia  comanoute,  a  luz 
com  as  trevas,  etc. ;  alternar-se. 

—  Revezarem-se  as  estoçòes;  succede- 
rem-se  por  seu  turno. 

—  Revezar-se  aos  trabalhos;  alternar- 
se. 

—  Repetir-se  no  que  disse,  no  que  já 
fez. 

—  Figuradamente:  Revezar-se  de  um 
cavallo  em  outro;  cavalgar  ora  em  um, 
ora  em  outro. 

—  V.  li.  Alternar. 

REVEZILHO,  s.  m.  —  O  revezilho  da 
meia ;  obra  que  se  faz  n'ella  pela  barri- 
ga da  perna,  dando  o  ponto  ás  avessas: 
junto  a  elle  vão  os  mates  para  estreitar 
a  meia. 

1.)  REVEZO,  A,  adj.—Mar  revezo. 
Vid.  Revesso. 

—  Que  tem  veia,s  torcidas,  e  empeça- 
das umas  pelas  outras. 

—  Figuradamente:  Diffieil,  impidoso, 
que  diíBculta  a  conchtsão  das  cousas.  — 
Negócios  revezes. 

—  Madeira  reveza ;  madeira  cujas  fi- 
bras correm  torcidas  para  um  lado,  e  pa- 
ra o  outro,  e  não  longitudinalmente  cal- 
das, ou  com  uma  só  direcção;  é  má  de 
lavrar  e  alizar. 


2.)  REVEZO,  s.  m.  Pasto  ceiTado  para 
crear  capim,  relva,  ou  grania,  e  para 
onde  se  muda  o  gado,  em  quanto  outro 
cercado  empasta,  e  cria  herva,  não  sen- 
do pisado  e  comido  do  gado  por  certo 
tempo. 

—  Emprega-se  também  no  sentido  fi- 
gurado. 

REVIDAR,  r.  a.  Tornar  a  envidar,  en- 
vidar sobre  o  envite. 

—  Figuradamente :  Corresponder  com 
cousa  maior. 

—  V.  n.  Revidar  com  injurias, 

—  Fazer  outro  tal. 


Meu  Lemos  c  meu  descanso 

eu  sou  teu. 
Lem.    Eu  cujo  sou, 

meu  Philippe. 
Silv.    Se  vem  lanço 

cu  revidarei. 
Mn/;.    Mais  manso. 

A5T0KI0  PRESTIS,  ACTOS,  pag. 


REVIDE,  s.  77!.  O  acto  do  revidar,  a 
aeçào  de  tornar  a  envidar. 

REVIGORAR,  r.  a.  Dar  ou  fazer  adqui- 
rir nova  força,  novo  vigor. 

—  V.  n.  Adquirir  nova  força. 
P-EVÍMENTO,  í.  m.  A  acção  de  rever, 

reçumar,  ou  soltar,  e  coar  agua  pelos  po- 
ros. 

—  Termo  antiquado.  Revista  de  feito, 
de  demanda. 

REVINDICADO,  parf.  pass.  de  Revin- 
dicar.  Vid.  Reivindicado. 

REVINDICAR,  v.   a.  Vid.    Reivindicar! 

REVINDICTA,  s.  /.  'De  re,  e  vindicta). 
Vingança  tomada  de  quem  nos  fez  inju- 
ria, ou  acinte  em  vingança  de  outro,  que 
primeiro  lhe  fizéramos. 

—  Vingança  de  vingança.  Vid.  Reven- 
dita. 

REVINGADO,  part.  pass.  de  Revingar. 
Vingado  segunda  vez,  de  novo. 

REVINGAR,  1-.  «.  Vingar  segunda  vez, 
vingar  de  novo. 

—  Tomar  uma  vingança  maior  que  a 
offensa. 

REVIRAR,  V.  a.  Tornar  a  virar,  pôr 
ao  contrario  do  que  estava.  —  Revirar 
umas  calças. 

—  Figuradamente:  Dar  resposta  agu- 
da e  picante,  a  quem  nos  picou,  ou  tam- 
bém recriminar. 

—  Revirar  ttma  bofetada ;  dal-a  como 
em  resposta  de  affronía. 

—  Tornar  a  accommetter. 

—  Dar  um  revirete,  remessar,  dando 
ao  que  arremessou. 

—  Revirar-se,  v.  reji.  Tornar-se  a  vi- 
rar. 

REVIRAVOLTA,  s.  f.  Geito  ou  força 
que  se  emprega  para  voltar  qualquer 
cousa  ao  contrario  do  que  estava. 

REVIRETE,  s.  vi.  Replica  aguda,  ou 
picante. 

REVISÃO,  s,  f.  (Do  latim  revisio).  Ac- 


282 


REVI 


Ri:v() 


REVO 


vSo  pela  ((ual  ho  revi,  o  hií  oxainiii.i  tlc 
jiovo.  ViJ.  Revista,  quo  ó  ilifTcrento. 

REVISITA,  s.  f.  Vi.l.  Revisitação. 

REVISITAÇAO",  ».  /.  Ac^ào  do  revisi- 
tar. 

—  Seffunda  visita,  visita  feita  de  novo. 
REVISITAR,    V.  <i.    (Do  latim  revisUa- 

ri-i.  Tornar  a  visitar,  visitar  de  novo. 

REVISOR,  A,  ».  ressoa  quo  rovê,  c 
cxaniina. 

—  Pessoa  que  revê,  e  emenda  as  pro- 
vas da  imprensa. 

—  S.  m.  Censor  de  livros. 
REVISORIO,  A,  adj.    Que  diz  respeito 

ii  rt'vista  ilc  um  processo. 

REVISTA,  s.  /.  Segunda  vista,  segun- 
do exame. 

Glorioso  San  Dom  Martinlio, 
Apoatolo  c  Evangelista, 
Tomac  cate  feito  á  revista, 
Porque  leva  mao  caminho, 
E  dac-lhc  csprito. 

QIL  VICENTE,  FARÇAS. 

—  Revista  das  tropas;  resenha,  exame 
do  seu  estado,  e  disciplina,  que  se  faz  nos 
princípios  dos  mezes,  ou  nos  quartéis  á 
noute,  etc. 

—  Purgar  a  revista.  Vid.  Purgar. 

—  Figuradamente :  Dar  revista ;  exa- 
minar  de   novo,  examinar   segunda  vez. 

f  REVISTADO,  part.  pass.  de  Revistar. 
—  Tropos  revistadas. 

REVISTAR,  V.  a.  Passar  revista.  — 
Revistar  «s  tropas. 

—  Revistar  o  feito;  examinal-o  em 
instancia  de  revista. 

—  llevêr,  examinar  pessoas,  cousas 
que  não  passem  por  alto,  ou  levem  cousa 
alguma  em  fraude. 

REVISTO,  part.  pass.  de  Rever.  Tor- 
nado a  vêr,  visto  segunda  vez. 

—  Livro  revisto ;  livro  corrigido,  emen- 
dado. 

REVITADO,  part.  pass.  de  Revitar. 
Vid.  Rebitado. 

—  tíaberes  revitados ;  saberes  agudos, 
í,  mil  parte. 

—  Emprega-se  também  figuradamente. 
REVITAR,  V.  a.  Vid.  Rebitar. 
REVITE,  s.  m.  A  acção  de  revidar,  se- 
gundo envite. 

—  Vid.  Rebite. 

REVIVER,  V.  «.  (Do  latim  revivere,  de 
IV,,  e  i'iit')-e).  Voltar  á  vida. 

—  Reanimar-se.  —  «Outras  que  se  mor- 
rem pelo  cheyro  do  cebo,  c  outras  que 
parece  que  revivem  com  o  chevrinho  do 
vento  do  lium  arroto.»  Cavalleiro  d'01i- 
veira,  Cartas,  liv.  1,  n.°  Ití. 

—  Fazer  reviver  vma  pessoa;  dar-lhe 
força,  vigor,  entregal-a  á  esperança,  :l 
alegria. 

—  Figuradamente :  Viver  de  novo. 

—  Fallando  das  cousas,  renascer,  re- 
novar-se. 

—  Figuradamente :  Revivem  as  plan- 
tas, as  esperanças,  etc. 


REVIVICER,  r.  „.  Vid.  Reviver. 
1-  REVIVIFICAÇÃO,  ».  /.   Acção  de  fa- 
zer renascer  a  vida. 

—  Reviviflcação  das  plantas  e  dos  ani- 
mues ;  diz-so  do  termo  «las  inanifcstaçijes 
vitaes  depois  da  dessecação,  o  somnu  Jii- 
bernal  ou  a  morte  apparontc. 

—  Termo  de  chimica.  Synonymo  de 
i'educí;ão. 

—  Reviviflcação  de  itm  metal;  volta  do 
oxvdo  ao  esta   o  uwtallico. 

I  REVIVIFICADO,  part.  pass.  de  Revi- 
vificar.  ('iiinlu/iilo  á  força  metallica. 

REVIVIFICAR,  V.  a.  (Do  latim  revivi- 
Jlcare,  de  re,  e  vivijlcare).  Vivificar  de 
novo. 

—  Termo  de  tlieologia.  A  graça  revi- 
vifica  o  pecrador,  ella  dá-lhe  uma  nova 
vida  espiritual. 

—  Termo  de  chimica.  Revivificar  o 
mercúrio;  restituil-o  ao  seu  estado  metal- 
lico. 

f  REVIVISCENCIA,  s.  /.  Acto  de  revi- 
ver, 

—  Termo  de  physiologia.  Faculdade 
de  retomar  as  manifestações  da  vida,  de- 
pois do  as  ter  perdido  por  uma  desseca- 
ção mais  ou  menos  completa. 

f  REVIVISCENTE,  adj.  2  gen.  iDo  la- 
tim reviviscens).  Que  pôde  ser  reanimado 
pela  humectação,  depois  de  ter  perdido, 
pela  dessecação,  todas  as  appareneias  da 
vida.  —  Os  rotiferos  são  reviviscentes. 

f  REVIVISCIVEL,  adj.  2  gm.  Que  é 
dota'lo  de  reviviscencla. 

REVIZITAR,  V.  a.  Vid.  Revisitar. 

REVOADA,  s.  f.  A  acção  de  revoar. 

—  O  regresso  da  ave  voando. 
REVOAR,  V.  n.  Tornar  a  voar,  voltar 

voando. 

— -  Voar  por  um  sitio  varias  vezes. 

REVOGAÇÃO,  s.  f.  Acto  de  revocar.  — 
A  revocação  de  uma  disposição.  —  A  re- 
vocação  de  nm  empregado. 

REVOGADO,  part.  pass.  de  Revocar. 
Chamado  c-  mandado  que  torne. 

—  Rebocado,  trazido  a  reboque. 
REVOGAR,  V.  a.    Do  latim  revocarc,  de 

re,    e    vocare.    Chamar,    e   ordenar    que 
torne.  —  Revocar  um  prefeito. 

—  Fallando  das  cousas,  annullar,  de- 
clarar nuUo. 

—  Revocar  os  soccorros;  tornar  a  pe- 
dil-os,  ou  chamal-os. 

—  Revocar  o  errado  caminfw  que  hva; 
fazer  (|U0  proceda  bem,  o  mude  de  vida. 

—  Revocar  as  artes,  as  scieneias,  agri- 
cultura, etc. 

—  Revocar  os  espiritos. 

—  Rebocar  o  navio. 

—  Revocar  o  curso  da  natureza;  fazer 
resuscitar  um  morto. 

REVOGATÓRIO,  A,  adj.  Vid.  Revoga- 
tório. 

REVOGÁVEL,  adj.  2  gen.  (Do  latim  re- 
vocabilis^.  Que  pôde  ser  rcvocado.  — 
Unia  procuração)  v  revocavel. 

—  Que  se  pôde  fazer  tornar  atraz. 


I  REVOGAÇAM,  #.  /.  Vid.  Revogação. 
— -«K  naiii  lazia  latu  bo  Jy<;iitiiia  mais 
que  pêra  noij  fazer  terror  jK-ra  que  ILc 
déssemos  Lo  Ambre  per  hum  dos  presos, 
porque  nam  nos  po^lia  dar  ho  outro,  por- 
que era  ja  sentenccado  a  morte,  e  contír- 
maila  ha  neiitença  por  cl  Rcy,  que  nam 
tinha  revogaçam,  e  elle  queria  aver  ho 
Ambre,  porque  esperava  aver  dei  Hey 
outra  mercê  mayor  que  de  Ponchassi  p<jl- 
lo  .\nibre.»  Frei  fiaspar  da  Cruz,  Trata- 
do das  cousas  da  China,  cap.  l!t. 

REVOGAÇÃO,  s.  f.  A  acção  de  revo- 
gar, de  annu.lar,  de  desfazer  o  que  está 
feito. 

REVOGADO,  part.  pass.  de  Revogar. 
AunuUado.  —  Lei  revogada.  —  (trdent  re- 
vogada. —  «E  ElRcy  meu  iSonhor,  e  Pa- 
dre na  dita  sua  Ley  estabeleceo,  e  man- 
dou como  se  ouvesse  de  pagar  ouro,  e 
prata  promctti<la,  o  devuda  per  algum 
contrauto  dafforamento,  ou  darrenda- 
mentoj  e  assy  parece  aver  revogada  a 
dita  Ley  feita  pelo  dito  Senhor  Rei  Dom 
Joham  meu  Avoo.»  Ord.  Affons.,  liv.  4, 
tit.  2,  §  18.  —  « Outro  sy  averá  lugar, 
quando  ao  tempo  da  Doaçom  aquelie, 
que  a  fez,  nom  avia  filho  algum,  e  ao  de- 
pois veeo  a  nascer  d'antre  ambos;  por- 
(jue  em  tal  caso  logo  e?ta  Doaçom  ficou 
revogada  per  bem  da  nascença  do  filho.  • 
Ibidem,  tit.  U,  §  3. 

—  Magistrado  revogado ;  magistrado 
destituido,   privado   do   officio,   do   posto. 

—  Emi)rcg.a-se  também  figuradamente. 
REVOGADOR,  A,  s.   Pessoa   que   revo- 
gou. 

—  Pessoa  que  desfez  o  que  estava  fei- 
to, que  annullou. 

REVOGANTE,  part.  act.  de  Revogar. 
Que  revoga,  que  annulla. 

REVOGAR,  1-.  a.  iDo  latim  revocare>. 
Annullar,  desfazer  o  que  está  feito.  — 
Revogar  a  lei,  a  ordem.  Vid.  Revocar.  — 
«E  se  algum  homem  vendeo  alguma  cou- 
sa de  possissom  sem  outorgamento  de  sua 
molher,  a  saber,  contra  a  postura  da  Cor- 
te, e  a  molher  quizer  esto  revogar  pi-r 
Carta  dElRey,  assy  como  he  postura  da 
Corte,  aduga  o  marido  comsigo,  quando 
vier  perante  o  Juiz  alli  hu  ho  a  possis- 
som, e  doutorgamento  de  seu  m.irido  o 
taça.»  Ord.  AÍEfons.,  liv.  4,  tit.  11,  §  1. 
—  <>  O  qual  costume  visto  per  ni>s,  de- 
clarando em  elle  dizemos,  que  o  dito  cos- 
tume aveni  lugar,  quando  aciuelle,  que  a 
Doaçom  fez.  a  revogou  ova  sua  vida.» 
Ibidem,  tit.  14,  S  2.  —  «Nom  embargan- 
te Cartas  de  graças,  ou  privilégios,  ou 
mandados,  ou  sentenças,  que  sobre  esto 
tenhaõ  ile  nós.  ou  de  nossos  antecessores, 
as  quaeoâ  revogamos,  e  avemos  por  ne- 
nhuàs,  c  mandamos  que  Ihe^  non  sejam 
guardadas  contra  esto.  que  aqui  per  uos 
he  estabelecido  e  hordeuado.»  Ibidem, 
tit.  26,  i?  8.  —  «Estas  declaiaçooeus  man- 
damos que  se  guíinlom  segundo  por  I*<>s 
he  declarado,  revogando  a  ilita  Ley,  co- 


EÉVO 


REVO 


REVO 


285 


mo  dito  he,  por  seer  contra  Direito  Co- 
mum, e  des  y  por  nunca  seer  usada,  nem 
guardada  em  estes  Regno?  em  alguum 
tempo.»  Ibidem,  tit.  37.  §  õ.  —  «E  auen- 
do  respeito  a  Hieronymo  cerniche  ser  es- 
trangeiro, lhe  reuogou  depois  a  sentença 
em  degredo  pêra  Portugal,  e  deu  a  capi- 
tania da  nao  de  Diogo  mendez  de  Vas- 
cogoncelos  a  Fernão  Perez  dandrade. 
que  a  tomou,  com  sobrisso  ter  muitos 
comprimentos  com  o  mesmo  Diogo  men- 
dez, e  ha  de  Hieromino  cerniche  deu  a 
dom  loam  de  lima,  e  a  de  Pêro  coresma 
a  Gaspar  de  paiua,  e  a  de  Balthesar  da 
sylua,  por  elle  estar  ainda  doente  em 
Cananor.  a  laimes  teixeira.i)  Damião  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3, 
cap.  16. 

—  Emprega-se  também  no  sentido  fi- 
gurado. —  Revogar  a  ordem  dos  destinos. 

REVOGATÓRIO,  A,  adj.  Que  revoga, 
que  annulla,  que  desfaz  o  contracto,  doa- 
ção, instituição,  nomeação,  etc. 

—  Que  se  pôde  revogar. 

—  <S'.  /.  —  A  revogatória  do  papa. 
REVOGÁVEL,  aãj.  2  gen.  Que  se  pôde 

annuUar,  desfazer.  —  Lei  revogável. 

REVOLTA,  s.  /.  (Do  francez  revolte). 
Levantamento  contra  a  authoridade  esta- 
belecida.—  nPorque  como  elle  era  imigo 
capital  de  Melique  Az,  desejava  haver 
em  Dio  huma  fortaleza  nossa,  polo  ver 
mettiJo  em  alguma  revolta  comnosco.» 
Barros.  Década  2,  liv.  8,  cap.  5.  —  «Por- 
que cobraram  os  Mouros  tanto  animo 
neste  embaraçar  dos  nossos»  que  desce- 
ram abaixo,  metíendo-se  na  agua  ás  lan- 
çadas com  elles  ;  na  qual  revolta  morre- 
ram estes  Capitães,  Coi-istovão  Mascare- 
nhas, António  d'Azevedo,  Jorge  Garces 
filho  do  Secretario  Lourenço  írarces,  e 
assi  mataram  Christovào  Pacheco,  e  ou- 
tros té  numero  de  doze  pessoas.»  Ibi- 
dem, liv.  9,  cap.  2.  —  aO  que  fez  por 
nam  ficar  da  casta  destes  Reis  senam  ho 
que  regnaua  entam,  por  naõ  reerecérem 
no  regno  algumas  reuoltas,  e  aleuanta- 
mentos,  poi-que  estes  todos  eram  herdei- 
ros, e  seus  filhos  delles,  os  quaes  hos  tv- 
rannos,  que  governauam  ja  de  muito  tem- 
po atrás  aquelle  regno,  tinham  por  cos- 
tume.» Damião  de  Ooes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  3,  cap.  80. 


Durando  esta  rtvolta,  que  a  braveza 
Do  combate  algum  tanto  repinmira, 
A  gente  que  de  lá  da  fortaleza 
A  favor  dos  Christãos  antes  partira, 
No  baluarte  entrou  com  grãa  presteza 
Abrazada  em  furor,  acesa  cm  ira. 
Com  que  dmi  novas  forças  aos  amigos 
Encheo  do  medo  os  peitos  dos  imigos. 

TRANCISCO  DE  ASDII.VDE,  PBIUEIBO  CERCO  DB  DIC, 

cant.  10,  est.  70. 

Quasi  doer-se  da  revolta  antiga, 
Qae  em  sempiternos  cárceres  o  fecha, 
Donde  a  furto  sahindo.  em  pranto  toma 
A  ferrolhar-sc  cm  lòbrega  morada. 

J.  A,  PE  MACEDO,  VIAOEM  EXTÁTICA,  Cant.  4. 


—  Volta. 

—  Figuradamente  :  Diz-se  de  uma  per- 
turbação moral  comparada  a  uma  revolta. 

—  Confusão  de  muita  gente,  desor- 
dem. 

—  Ambages,  rodeios  para  prolongar  a 
conclusão  de  algum  negocio. 

—  Alvoí-oço,  rebate  dos  inimigos,  ou 
a  desordem  causada  por  elles.  —  «Aquel- 
le dia  á  noute  chegarão  novas,  que  en- 
travaõ  por  Oòchim  de  cima  oito  mil  Nav- 
res  Amoucos,  e  que  vinlião  fazendo  gran- 
des estragos,  com  o  que  a  Cidade  se  poz 
em  revolta.»  Diogo  de  Couto,  Década  6, 


cap. 


« E  por  acharem  a  por- 


ta fechada,  por  Ruy  de  Brito  a  fechar 
sobre  si,  quando  sentio  a  revolta  debai- 
xo, discorrendo  elles  pelas  casas  dos  Of- 
ficiaes,  foram  dar  na  do  Alcaide  mór  Ai- 
re.s  Pereira,  que  não  teve  outra  salvação 
senão  lançar-se  por  uma  janella  por  ir 
soccorrer  a  Ruy  de  Brito,  e  nesta  casa 
mataram  a  Mesti-e  Jorge  Fysico,  e  dous 
homens  de  serviço  que  estavam  com  elle.» 
Ban-os,  Década  2,  liv.  9,  cap.  6. 

Nada  basta  a  deter  a  arrebatada 
Fúria,  dos  infemaes  tiros  malditos, 
Sente  algum  damno  a  gente  baptisada 
Que  dhuns  sahe  sangue,  doutros  os  espritos : 
Nova  revolta  sente  a  nossa  armada 
Com  nova  confusão,  com  novos  gritos, 
Que  este  novo  embaraço  que  lhe  veio 
Lhe  deu  mais  que  fazer,  mas  não  receio, 
p.  i)'axdradk,  PKnrEiBO  cebco  de  DIU,  cant.  7, 
est.  55. 

Cresce  em  tanto  a  revolta  e  a  crueldade 
Donde  a  todos  mortal  damno  succede, 
Ja  descem  de  lá  alguns  da  Christandade 
A  que  a  ferida  estar  lá  em  cima  impede ; 
Qual  com  queixosa  voz,  e  pied.ade 
Para  a  alma  que  sahe  remédio  pede, 
Qual  pondo  nas  feridas  óleos,  ovo, 
Se  toma  a  receber  outras  de  novo. 
iBroEM,  cant.  19,  est.  80. 

Ja  nesta  hora  a  infiel  gente  atrevida 
Com  a  gente  fiel  andava  envolta. 
Com  fúria  tão  acesa  c  embravecida 
Que  huma  e  outra  parte  o  sangue  e  a  vida  solta ; 
Mas  quanto  solta  mais  de  sangue  e  vida 
Tanto  mais  o  furor  cresce,  e  a  revolta, 
Ja  por  todo  o  logar  a  morte  vôa, 
Era  toda  a  parte  o  estrondo  e  a  grita  sóa. 
mrDEM,  est.  32. 

—  «Acolhendosse  pêra  pouoaçaõ  onde 
estaua  a  força  da  gente,  e  como  isto  fos- 
se tam  de  súbito  posse  todo  o  araial  em 
reuolta,  mas  como  ha  gente  era  muita, 
assi  dos  gentios,  como  dos  mouros,  e  an- 
tre  elles  ouuesse  homens  práticos  na  guer- 
ra se  começarão  de  fazer  em  coruo.»  Da- 
mião de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  4,  c<ap.  62. 

—  AiTuido,  briga. 


Nunca  veio  hum  grão  mal  sem  companhia. 
Que  a  fortuna  por  pouco  não  começa. 
Na  barc.iça  o  Falcão  da  artilheria 
Recolhera  a  miúda  c  a  grossa  peça, 


Nem  a  grande  revolta  que  lá  havia 
No  baluarte  então  faz  que  lhe  esqueça 
Qualquer  cousa  das  que  elle  dentro  encerra 
Que  podessem  ser  boas  para  guerra. 

FKAXCISCO  DE  A>'DE.\DE,  PKIJlEIiiO  CEKCO  DB   DIU, 

cant.  11,  est.  10. 


Cresce  a  revolta,  quanto  cresce  o  vento, 
Que  cada  hora  mais  bravo  o  mar  combate, 
Porém  não  se  descuida  hum  s<5  momento 
O  comitre  infiel  neste  combate. 
Ja  se  curulha  o  longo  palamento 
Também  o  grosso  mastro  ja  se  abate, 
Cabe  de  novo  da  proa  o  férreo  dente, 
Desapparece  do  alto  toda  a  gente. 
IBIDEM,  cant.  13,  est.  56. 


REVOLTADOR,  A,  s.  e  adj.  (De  revol- 
ta, e  o  suffixo  «dôr»).  Que  incita  á  re- 
volta. 

—  Revoltadores  da  plebe  ;  os  excitado- 
res  da  uuiào,  motim,  sedição,  perturba- 
ções. 

—  Revoltoso. 

REVOLTANTE,  parí.  act.   de  Revoltar. 
REVOLTAR,    v.    a.   Fazer  voltar   para 
traz,  donde  sahiram. 

—  Produzir  revolta,  fazel-a. 

■ —  V.  n.  Tornar  a  voltar,  voltar  de 
novo. 

—  Figuradamente  :  Retomar,  reinci- 
dir. 

—  Revoltar-se,  v.  rejl.  Revolver-se. 

—  Pôr-se  em  movimento,  união,  per- 
turbação, alvoroto. 

REVOLTO,  A,  adj.  (Do  latim  revoltus). 
Movido  de  baixo  para  cima,  revolvido. 
—  «Em  esta  Aldeya  habitão  Christãos 
gentes  brancas,  entre  as  quaes  ha  hum 
género  delles  trabalhadores,  que  como 
ca  os  ratinhos,  os  quaes  tem  huns  enge- 
nhos de  paos  com  travessas,  e  taboas  de 
huma  parte,  que  t«m  o  assento  como  pa- 
diola, e  os  paos  de  huma  parte  saõ  re- 
voltos para  cima  como  rábicas  de  arado, 
sobre  o  que  põem  hum  costal,  e  o  homem 
com  os  braços  para  trás  pegão  nos  ditos 
paos,  e  vão  arrojando  pela  neve,  e  para 
nelia  naõ  atolar  embrulhaõ  mnyto  pano 
de  burel.»  António  Tenreiro,  Itinerário, 
cíip.  24. 

—  Crespo,  torcido. 

—  j4giti«  revolta;  agua  com  qualquer 
agitação,  que  muitas  vezes  a  turva.  Vid. 
Envolto. 

—  Negocio  tão  revolto.  —  «Espedidos 
estes  Embaixadores,  e  navios  que  Af- 
fonso  d'Alboquerque  mandou,  começou 
entender  em  sua  partida  pêra  a  índia, 
leisando  primeiro  assentado  todalas  cou- 
sas da  Cidade  o  melhor  que  se  pudesse 
fazer  em  tão  breve  tempo,  e  em  negocio 
tão  revolto  como  se  tratou  depois  que 
chegou  a  ella  té  sua  partida.»  Barros, 
Década  2,  liv.  6,  cap.  7. 

—  Terçado  revolto  ;  terçado  cui'vo  pe- 
la cota. 

—  Curvo  para  baixo,  ou  retorto.  — 
Ave  de  bico  revolto. 

$ 


28-1 


IIEVO 


KEVO 


REVO 


Maifl  ncliado 

('•  o  que  cuida  f|iii!  cn^jana 
íicar  Hcmpri;  o  ciiKiiiiado. 
Por(|iio  i;ili;  r  luuito  rico, 
avo  de  re.vollo  bico, 
do  lidaljço  alaga  a  terra. 

ANTÓNIO  rnESTEfl,  AUTOS,  pag.  Ifj.T. 

—  Fogo  revolto ;  nos  Barabenitos  eram 

chaininas  pintadas  com  as  pontas  jiara 
baixo,  o  cjiio  SC  fazia  aos  que  cscapavaiu 
de  ser  queimados  nos  autos  de  fé. 

—  Tampo  revolto ;  tempo  níio  sereno, 
turbado. 

—  Figuradamente  :  Inquieto,  ponto  cm 
revolta.  —  «Ao  qual  lastimoso  c  eruel- 
lissimo  espectáculo  bo  levantou  cm  todo 
o  povo  bum  tamaulio  tumulto  tlc  gritos  c 
V0Z03  que  a  terra  tremia  debaixo  doá 
pois,  6  no  campo  se  alcvantou  hum  mo- 
tim com  que  ellc  esteve  tão  revolto  c 
baralhado,  que  a  el  lley  llic  foy  necessá- 
rio fazorsc  forte  na  sua  estancia  cõ  seis 
mil  Bramas  de  cavallo  e  trinta  mil  de 
pé,  o  ainda  assi  estava  bem  cheyo  de 
modo  do  que  sempre  arreceou  que  ou- 
vcsse,  como  ouvcra  de  ser  se  a  noite  o 
nào  estorvara.»  Fern.^o  Jlcndes  Finto, 
Peregrinações,  cap.  \h2, 

Moatrallie  alli  também  aqucUa  insigne 
OppuUonta  cidad<-  Oliaboiíenso 
CiM-caJa  por  elKey,  e  afiucUa  armada 
Que  oní  seu  fauor-  aa  ondas  diuidiíi. 
Iluuia  dura  peleja  alli  lhe  mostra 
Na  cidade  renolta,  o  posta  cm  armas, 
Por  hum  a  parte  o  Rey  por  for(;a  entraudo 
Os  Britanos  por  outra  cm  sangue  ii  tiugcin. 
conTí  itBAL,  NAUFnAoio  DB  sEPiTDVÉDA,  cant.  13. 

Toma  sobro  si  Prothco,  com  suspiro 
Das  entranhas  diz  falso  Amor  injusto. 
Que  reitoUa  anda  ea  neste  meu  peito 
{^iie  grande  confusão  nesta  alma  triste 
Que  duros  .sobresaltos,  que  desordens, 
{Juc  sospcitas,  reeoyos,  que  ciúmes 
Que  falsas  csperani,'.a3,  ((uc  fadigas, 
Que  ânsia,  e  afllicçào  do  pensamentos. 
jniDKM,  cant.  14. 

—  Envolvido.  —  Ter  á  vida  revolta 
CHI  cousas  doeste  miuido, 

—  O  mar  revolto ;  o  mar  que  anda  re- 
volvido, inquieto  com  vento. 

Quando  obscuro  mortal,  do  Inferno  aborto 
Maia  (pio  rcvoUo  mar,  feio,  iracundo. 
Deixar  om  lueto,  cm  lagrimas  absorto, 
Como  deixara  Saladino  o  Mundo  : 
Até  negando  da  esperança  o  jwrto 
Aos  homens  neste  pélago  profundo : 
Qu;d  vil  escrava  sopeando  a  Terra, 
lim  cavilosa  paz,  e  injusta  guerra. 

j.  A.  DE  MACKDO,  o  oníENTE,  caut.  12,  cst.  102. 

Escoltada  da  l\[orte  assombra  o  Mundo 
Quando  corrompo  o  ar ;  nào  de  outra  sorte 
O  mar  qu'lio  la<;o  das  Nações,  se  torna 
Origem  de  uiil  bens,  se  ho  lizo  e  mauso, 
Poren\  dos  bravos  furacões  reiolto. 

IDKM,   A  NATUREZA,  Caut.  2. 

—  Voltado,  dobrado. 

—  Figuradamente  :  raixòis  revoltas. 


—  A  cidade  revolta  on  nrinau  e  iun- 
Irumento». 

REVOLTOSO,  A,  adj.  (\h>  revolta,  c 
o  Huffi.XD  «os0"i.  Quo  suscita  c  jiroduz 
revoltas.  —  Pessoa  revoltosa.  —  «E  en- 
tro algumat)  que  elle  pódio  ao  Víbo-Uov, 
foi  que  levasse  dali  certos  homeuiu  dos 
(|uo  ostauaB  om  companhia  de  (íon^lo 
(iil  por  scrcui  reuoltosos.»  Rarro.n,  Déca- 
da 1,  liv.  9,  caj>.  -i. —  UiM;is  u.^o  te  acon- 
selho quo  a  desembarques  cm  terra,  por- 
que luuytas  vezos  a  vistu  cau.sa  cubira, 
o  a  cubica,  desmancho  na  gente  quieta, 
quanto  mais  na  revoltosa  c  de  má  cons- 
ciência, que  tem  por  natureza  iuciinar.se 
mais  a  tomar  o  albeyo,  que  a  dar  do  aeu 
aos  necessitados  pelo  amor  de  Deus.» 
Ferniio  Slendos  Piuto,  Peregrinações, 
cap.  45. 

Mas  já  que  tu,  oh  Jíispo  rtrolloso, 
E  teu  infame,  adulador  Cabido 
A  mudar  me  obrigais  com  vis  Cabalas 
Do  tão  santo  propósito,  —  até  onde 
Chega  dos  Laras  o  valor,  o  o  brio 
Desta  vez  provareis.  Isto  dizendo, 
I.i'vanta-se  furioso  •,  c  sem  respeito 
Ao  real  Rober,  que  ganhado  tinha. 
DINIZ  DA  CRUZ,  nrssoPB,  cant.  4. 

Quo  a  revoltosa  mivo  por  sceptro  empunha. 
Vendo  sahir  da  blasfemantc  bocca 
Revoltos  turbilliõe»  do  fumo  e  fogo, 
Quaos  dlléela,  e  do  Vesúvio  exhala  o  seio. 

J.    A.    DT5  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Cailt.    1. 

I",llo  OS  mares  crcou,  cUe  os  aepára 
Da  terra,  quo  apparece  árida,  e  secca : 
(^uo  vantagens,  qu<^  bens  do  mar  lho  nascem  ! 
Por  oUe  os  povos,  o  as  nações  se  ajuntào  -, 
Eile  hc  laço  commum,  que  a  todos  prendo : 
Xa  essência  he  sempre  igual,  no  aspeito  lie  vario 
Qual  espelhado  Ceo,  tranquillo,  o  lizo ; 
Qual  revoltoso  inferno,  horrendo,  e  bravo. 
IBIDEM,  cant.  2. 

—  Litigioso,  suscitador  de  demandas  e 
accusaçõcs. 

—  Revoltoso  arruido. 

—  Crime  revoltoso. 

Mas  se  os  duros  grilhões  do  corpo  arrastro. 
Também  lhe  imponho  as  leis ;  livre  vontade 
Nunca,  se  quer,  obstáculos  encontra. 
Da  guerra  das  pai.xões  desarmo  a  fúria  ; 
Dos  preeipicios,  se  me  apraz,  nu»  tiro; 
l^osso  enfrear  os  férvidos  desejos, 
l'os30  dar  tudo  á  natural  virtude, 
Tudo  negar  ao  revoltoso  crime. 

J.    A.    DE  MACEDO,  UEDITAçÃO,  Cant.    1. 

—  Que  se  revolta,  c  rebella. 

—  Tempo  revoltoso;  tempo  de  revol- 
tas, uniões,  tumultos. 

—  Que  8C  servo  de  rodeios,  e  amba- 
ges  para  delongar  a  demanda,  ou  paga- 
mento, e  empalhar  os  credores.  —  <(  Se  o 
Juiz  adiou  que  o  accusador  he  m.alicioso, 
ou  revoltoso,  ou  useiro  do  fazer  taaes 
qucrellas  c  accusaçõcs,  ninda  que  aja  per 
que  can-egua  e  pague  as  custas,  dò-lhe 
mais  hunia  pena  arbitraria,  qual  vir  que 


mereço,  otc.*  Ordenações  AfTonsinas,  liv. 
:'),  tit,  2ít,  t?  a. 

—  Suhrtt.iiiti vãmente:   Os  revoltosos. 
REVOLUÇÃO.  ».  /.  (Do  latim  r^vAutio, 

de  rtcolulus).  Volta  de  um  uétro  ao  pon- 
to d'onde  partiu.  —  Aê  obnervar/tt»  eu- 
iroiKJiiiicaH  vuislram  que  oê  (jvulradu*  do$ 
tempos  das  revoluções  lUi»  planttas  eíião 
entre  si  como  o»  cubos  </<;  suas  distancia» 
do  centro  coiiimum  de  sua  revolução.  — 
Tudos  os  planetas  fazem  swis  yrawits  re- 
voluções em  ruda  do  sol,  mas  estas  revo- 
luções são  ílesiíjufus  entre  si,  seguiulo  as 
distancias  a  <jue  os  jjlanetof  eitàv  do  sol. 
—  A  revolução  de  Marte  faz-se  em  volta 
do  sol  evi  duus  amios  e  em  viníe  e  quatro 
horas  em  volta  do  seu  eixo, 

A  gloria  do  Immortal  me  oppriínc,  c  ctga 
Se,  ousado  indagador,  lhe  peço  a  chnve 
Dos  áureos  cofres,  quos  uistiírios  giuu-dâo, 
P.atal  herança  do  mortjil  primeiro  ! 
Se  rompe  n'hor!zonte  a  argêntea  Lun, 
Entào  de  Tlietis  no  cerúleo  império 
Jievolni;'to  inaravilhudu  obs  Tvas. 

J.    A.   DE  MACEDO,  A  NATUBEZA,  CUnt.    3. 

,Entào  de  Thetia  no  cerúleo  império 

lievoliic/io  maravilhosa  observo  : 

Entumoce-se  o  mar,  cresce  na»  praiaii, 

V.  outra  vez  «e  contraho,  deixando  aa  margens  ; 

Manifesto  periodo,  e  constante, 

Quai.s  ob.servo  girar  nos  Ceos  os  Astros: 

Nào  terminada  oscilação  descubro. 

IDEM,  MEDITAÇÃO,   Caut.    2. 

—  Tempo  que  um  a.stro  emprega  a 
descrever  sua  orbita,  cm  grrar  sobre  seu 
eixo. 

—  Estado  d'uma  cousa  que  se  revolve. 

—  Termo  de  geometria.  Diz-se  de  um 
movimento  de  rotação  que  uma  linha  ou 
um  plano  determinado  descreve  em  roda 
de  um  eixo  immovcl. 

—  tíuperjicie  dn  revolução ;  supcrticie 
gerada  por  uma  curva  qualquer  que  gyra 
ora  volta  de  uma  recta  tixa,  de  sorte  que 
cada  um  dos  seus  pontos  descreve  um 
circulo  n'um  plano  perpendicular  ao  eixo. 

—  tíolido  de  revolução ;  todo  o  solido 
que  se  pôde  considerar  como  produzido 
pelo  movimento  de  um  plano  determina- 
do em  volta  de  uma  linha  recta  que  for- 
me um  dos  lados  deste  plano. 

—  Diz-sc  dos  períodos  do  tempo.  —  A 
revolução  dos  séculos,  das  estaçues.  —  A 
revolução  fatal  do  tempo  a  que  tudo  cede. 

—  Antigo  termo  de  medicina.  Revolu- 
ção de  humores;  movimento  extraordiná- 
rio no.s  humores. 

—  Figui"adamentc :  Mudança  nas  cou- 
sas do  mundo,  nas  opiniões.  —  «  Tercei- 
ra :  levantai"-se  hum  valido  com  o  meneo 
de  tudo :  De  tudo  resulta,  que  com  ty- 
rannia  se  izontaõ,  com  ambição  roubaõ, 
e  com  soberba  atropelaõ  os  inferiores:  e 
f;\zendo-se  odiosos  movom  revolnçoens, 
como  cm  nuvem  prenhe  de  oxhalaçoens, 
que  nrio  socega,  até  qne  nàio  arrebenta 
com  trovoons,  e  rayos,  assolaçoens,  e  rui- 


REVO 


REVO 


REVO 


285 


nas.»  Arte  de  furtar,  cap.  19. — -«Eis 
alii,  senhor,  —  disse  o  abbade  esmoler- 
mi')r,  encamintiando-se  para  o  monarclia 
—  porqiia  obstei  tanto  tempo  a  que  Fr. 
Vasco  viesse  fazer-vos  esta  revolução 
odiosa.  £  o  que  não  teria  acontecido,  se 
eu  tivesse  podido  advinhar  que  elle  acha- 
ria ensejo  e  meios  para  chegar  aqui...» 
Alexandã-e  Herculano,  Monge  de  Cister, 
cap.  2õ. 

—  Mudança  violenta  na  politica  e  no 
governo  de  um  estado. 

—  Diz-se  dos  acontecimentos  naturaes 
que  tem  mudado  a  face  da  ten-a. 

—  Revolução  das  almas;  transmigra- 
ção. 

—  Revolução  dos  cahdlos.  Vid.  Rede- 
moinho. 

—  Annuas  revoluções  da  terra. 

A  longa  duração  de  qaasi  hnin  cento 
De  anauas  reroluçòes  da  Teita  iucrte, 
Aos  profundos  Astrónomos  a  entrega 
FontenolJe  didcissimo,  que  ílundos 
Vio  mais  no  espaço,  que  áridas  Sciencias 
Tanto  soubera  ameuisar  no  estilo. 

J.  A.   DE  MACEDO,  TL4GEM  EXPAUCA,  Cant.    i. 

—  Syx.  :  Revolução,  insurreição.  Vid. 
este  ultimo  termo. 

REVOLUCIONADO,  part.  j)a3s.  de  Revo- 
lucionar. Mudado  por  uma  revolução. 
Vid.  Revolto. 

—  Posto  em  estado  de  revolução. 
REVOLUCIONAR,   v.  a.  Vid.  R'evolver. 

—  i'Gr  em  revolução,  agitar  por  idêas 
revolucionarias . 

—  Propagar  os  principios  revolucioaa- 
rios. 

—  Revolucionar-se,  v.  rejl.  Figurada- 
mente :  Pôr-se  em  revoluçno,  produzir 
uma  viva  emocào,  revoltar-se. 

REVOLUCIONARIAMENTE,  adv.  (De  re- 
volucionário, com  o  suffixo  «mente» !.  De 
luu  modo  revolucionário;  como  nos  tem- 
pos de  revoiucào. 

REVOLUCIONÁRIO,  A,  adj.  Que  tem 
relação,  que  é  favorável  ás  revoluções 
politicas.-^ —  Governo  revolucionário. 

—  Medidas  revolucionarias;  medidas 
tomadas  em  tempo  de  revolução,  com  um 
caracter  violento,  e  extraordinário. 

—  Substantivamente  :  Partidário  das 
revoluções.  —  Um  ardente  revolucionário. 

—  Propagador  de  revoluções. 

—  Pessoa  que  pugna  por  alterar  o  re- 
gimen, etc,  do  estado. 

REVOLUTO,  jmrt.  pass.  de  Revolver. 
(Do  latim  revolutus,  de  revohere).  Ter- 
mo pouco  era  uso.  Enrolado. 

REVOLUTOSO,  A,  adj.  Termo  de  botâ- 
nica. Enrolado  para  fora,  ou  para  baixo, 
fallando  das  folhas,  corollas,  etc. 

REVOLVEDOR,  A,  s.  Pessoa  que  re- 
volve. 

—  Pessoa  que  provoca  desordens,  e 
revoltas. 

—  Pessoa  que  aza  desordens,  e  as  ne- 
goceia. 


REVOLVELHAS,  s.  /.  2J^«''- =  Signifi- 
cação incerta. 

REVOLVER,  r.  a.  (Do  latim  revohere). 
Mover  peiturbadamente,  —  Revolver  a 
terra  cavando-a. 

Ia  se  trazem  sotis :  delgadas  redes, 
Co  ellas  a  ribeira  ja  se  atalha, 
Ia  com  forçosos  golpes  reitolaendo 
As  agoas,  ticam  turuàs,  e  confusas. 

COBIE  KEAI.,  NACFKAGIO  DE  SEPCLVEDA ,  Caut.  1. 

Diogo  Mendez  Dourado,  varão  graue: 
Denodado,  feroz,  robusto,  e  forte 
Ajunta-se  a  este  numeio,  e  reuohie 
A  cortadora  espada  a  todas  partes. 
António  de  Sampayo  cujo  aspecto 
Mostra  do  coração  o  viuo  esforço 
Outro  Arcabuz  nas  màos  tem  cõ  que  ofifende, 
E  mata  grande  copia  dos  imigos. 
IBIDEM,  eant.  9. 

Estando  assi  confusos  sem  sabcrsc 
Eesoluer  no  quc  mais  vissem  acr  vtil, 
O  diuino  castigo  reuoluendo 
Entre  todos  a  espada  sancta  e  justa. 
Despede  aqui,  e  alli  Eayos  forçosos. 
IBIDEM,  cáíit.  15. 

Da  tarde  cm  todo  o  resto  não  socega, 
Nem  na  profunda  noite  estas  ideias 
O  deixaò  descansar  ura  só  momento : 
Sobre  os  fofos  colchões  revolve  o  corpo, 
Mil  maneiras  pensando  do  adulal-o. 

A.    DIXIZ  D.V.  CBUZ,  HYSSOPE,  Caut.   1. 

—  Jlover  em  gvro. 

— •  ^'èr,  examinar  muito.  —  4  Para 
achar  esta  palavra,  e  para  saber  as  suas 
explicaçoens  nào  he  necessário  incommo- 
dar  as  Historias  Antigas,  nem  revolver 
Ai-chivos,  e  Cartórios  velhos.»  Cavalleiro 
d'01iveira,  Cartas,  liv.  1,  n."  5õ. 

—  Revolver  na  phantasia;  meditar 
muito. 

Pouco  obcdcícc  o  Catual  cornito 
A  taes  palavras,  antes  revolvendo 
Xa  phantasia  algum  subtil  e  astuto 
Engano  diabólico  e  estupendo  : 
t>u  eomo  banhar  possa  o  ferro  bruto 
Xo  sangue  aborrecido  estava  rendo, 
Ou  como  as  Xaus  em  fogo  lhe  abrazasse, 
Porque  nenhuma  á  pátria  mais  tornasse. 
C.4M.,  Lus.,  cant.  8,  est.  83. 

—  t  Estando  assim  comsigo  revolvendo 
na  fantesia  se  acharia  algum  remédio  em 
cousa  que  o  já  nào  tinha,  teve  por  seu 
conselho  encommendal-o  ao  efiquecimen- 
to;  mas  quando  as  cansas  muito  doem, 
mal  se  pode  isto  fazer.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  de  Inglaterra,  cap. 
107. 

—  Revolver  os  olhos;  meneal-os,  vi- 
ral-os  a  alguma  parte. 

—  Fazer  voltar  atraz,  ou  mudar  a  di- 
recção. —  «  E  a  tempo  que  a  manhã  es- 
clarecia, tornaram  a  cavalgar;  e,  revol- 
vendo tudo  o  que  lhes  pareceu  que  outro 
dia  não  andaram,  nunca  poderam  achar 
novas  da  donzellaj  de  que  a  dona  ia  tão 


triste,  que  com  nenhumas  palavras,  de 
quantas  o  cavalleiro  do  Tigre  lhe  dizia,^ 
se  podia  contentar.»  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  lOõ. 
—  Mexer,  remexer,  fazer  embrulha- 
das. 


E  em  gastar  desordenados, 
e  tantos  trajos  mudados, 
tanto  mudar  de  viucr, 
tanto  tractar,  reuolner, 
tanto  ser  negociados. 

GABCIA  DE  REZENDE,  MISCELLASEA. 

Ah!  se  de  hum  Vate  a  voz  revolve  as  Cinzas, 
E  chama  do  sepulcro  as  sombras  nuas, 
Deixa,  ó  Lucrécio,  a  tenebrosa  estancia, 
Contempla,  escuta  meus  cadentes  versos; 
Olha  a  seus  pés  teus  louros  esmagados, 
Transformados  cm  pó.  Vénus  hum  tempo 
Fez  em  tomo  de  ti  marchar  as  Graças; 
Mas  cahio  teu  Império,  he  cinza,  he  nada. 

J.   A.   DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,   Cant.   4. 

—  Revolver  no  peito  alguma  cousa. 

Tremulo,  e  semivivo  c  pobre  Zotc 
Então  se  foi  dalii  escapulindo  ; 
E  o  farfante  Deão  fica  suspenso. 
No  peito  revolvendo  a  quem  daria 
A  grande  commissào :  —  quando  á  memoria 
Lhe  a  traz  a  Senhoria  (que  a  seu  lado 
Invisivcl  assistel  o  bom  Gonsalves, 
Escrivão  atrevido,  e  sem  piedade, 
Que  a  si  inesmo  prendera,  se  podéra. 
Disiz  DA  cBcz,  nvssorE,  cant.  -7. 

—  Revolver  fogo.  —  «Que,  ameaçando 
com  imi  golpe  por  nma  parte,  revolvia 
logo  d'outra:  e  d'esta  maneira  lhe  deu 
duas  ou  três  feridas  de  muito  damno; 
em  especial  uma,  que  trazia  na  perna 
direita  donde  saía  muito  sangue,  de  que 
a  donzella  e  o  escudeiro  tinham  tanto 
medo,  que  se  não  sabiam  valer.»  Fran- 
cisco de^ Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  107. 

—  Revolver  meditando;  considerar  mui- 
tas vezes. 


—  «Irei,  simn  rompe  o  vate,  continuando, 
Alto,  o  discurso  que  atélli  na  mente 
Comsigo  meditando  revolvera, 

«Irei,  sim.  Nào  achais  que  devo,  ainigo?» 

—  'Deveis  o  quêV» 

—  «Ir.i 

—  «Onde?. 

—  *Onde  é  meu  fado.» 
GABBETT,  c.imões,  cant.  4,  cap.  2. 


—  Revolver  o  cavallo;  fazel-o  dar  vol- 
tas em  pouco  terreno. 

—  Revolver  na  memoria  ;  muito  medi- 
tar. 

—  Revolver  os  séculos;  lêr  as  historias 
d'elles. 

—  Causar  revolta,  desordens. 

—  Revolver  o  cavallo;  viral-o  pelas  rèi 
deas. 

—  Revolver    alguma   cousa   no  pensa' 
mento;  consideral-a  muitas  vezes. 


286 


REVO 


.  Revolvia-me  «  temi ;  com  intrigiis,  o 

uiiiotiiiandii. 

-Revolver  n  Urra,  o  cio;  produzir 
}<raiiiK'rt  revoltas. 

Revolver  a  vontade  de  alguém  con- 
tra oalram;  indispor,  fazer  com  quo  O 
veja  mal. 

—  O  tufão  revolve  as  ondas. 

K  maiit  atroz  os  pnipoUdo«  marcst 

Da  Cliiiia,  oiul.'  o  Tvifão  reví>ti:f  art  onda», 

K  tapa  repentino  os  CeoJ,  o  o.i  Astroj  ! 

J.    A.    DH   MiCEnO,   A   VATI-RB7.A,   CilUt.    2. 

Revolver  o  monte.,  a  floresta  ;  andar 

por  elle,  e  por  olia,  em  procura  de  al- 
fíuem. 

—  Em  um  revolver  d'ullws;  em  um 
momento. 

—  Revolver-se,  v.  refl.  Aptar-se,  mo- 
ver-ae  oin  fíyrc»,  <>u  em  divei-sas  direcções. 

«Ho    qu.-il    combate    cstam   ate   que  o 

Elephante  doàtituido  das  forças  vitaes 
(per  caso  do  sangue  que  lhe  falecei  CJie, 
louando  debaxo  de  sim  a  serpente  sobre 
que  se  revolue,  a  qual  vai  tam  incbada 
do  sangue  que  bebeo,  que  arrebenta,  e 
assim  morrem  ambos,  o  do  sangue  que 
sae  da  cobra  que  ícspalha  pelo  chaui.» 
Damiilío  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manuel, 
part.  4,  cap.  18. 

■ —  Revolver-se  com  alguém ;  brigar  cora 
oUe.  —  «Na  qual  sabida  querendo-se  os 
;Mouro3  revolver  com  os  nossos,  foram 
tão  esearuientadõs,  ficando  alguns  mortos 
no  campo,  que  se  passaram  muitos  dias 
sem  virem  correr  a  Cidade  na  face  dos 
nossos,  como  dantes  faziam.»  João  de 
Barros,  Década  2,  liv.  (i,  cap.  10. 

—  Mexcr-se,  raover-se.  —  «Mas  como 
o  do  Tigre  o  achasse  desarmado,  e  des- 
cesse j;l  com  um  golpe,  dos  que  trazia 
por  costume,  foi  de  tanta  força,  que  en- 
trando a  espada  té  os  niioUos,  deu  com 
elle  morto:  e  revolvendo-se  antrc  os  ou- 
tros, que  de  todas  partes  o  cercavam,  co- 
meçou a  fazer  maravilhas.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  lOfi. 

Revolver-se    o    império;   revolucio- 

nar-se,  liaver  revolução  politica. 

—  Revolver-se ;  começar  o  acabar,  fa- 
zer a  sua  revolução. 

—  Revolverem-se  discórdias.  —  «De 
que  se  fizerão  contratos  assinados,  e  ju- 
rados pelos  ditos  Reys  com  grande  segu- 
ridade: De  quo  todos  mostrarão  receber 
descfinso,  e  contentamento,  por  se  escu- 
sarem antre  elles  diferenças,  e  discórdias, 
que  se  ja  começauão  a  reuoluer  contra- 
rias li.  sua  paz,  e  amizade.»  Garcia  de  Re- 
zende, Chronica  de  D.  João  II,  cap.  1G7. 

—  Revolver-se  entra  sophismas. 

Ka  escura  toi  ProtAgoras  conheço, 

Eutrc  siitisinas  »f  revolce,  e  nega, 

Oh !  Saoriltfíia  audácia !  Huin  l)eo3  ao  Afundo ! 

Kom  vò  na  iniinonsa  gradaijào  dos  Seres 

Kegxiladora  mão,  que  rege  o  Todo, 

Os  Btieitoâ  apalpa,  c  a  causa  nega. 


REVO 

Nem  vt'!  im  <  tbra  Artífice  Supremo, 
Sein  foute  o  rio,  rimh  impulso  o  moto ! 

J.   A.   1>K  MACK[H>,   VlAdKU  KlrATlOA,  Oailt.  2. 

—  l'erturbar-8C. 

—  Revolver-se  a  eapada ;  na  uilo  de 
quem  não  a  podo  já  bem  apertar  pela 
omj)uniiadura. 

■—  Revolver-se  o  tempo;  haver  mudan- 
ça na  atmosphora. 

—  V.  n.  Dar  uma  volta  inteira,  e  tor- 
nar ao  logar  d'onde  partiu,  ou  saiu. 

—  Fazer  a  sua  revolução  diária. 
REVOLVIDO,  part.  paus.  de  Revolver. 

Jlovido,    agitado.  —  Terra    revolvida.  — 
Liipiidi)  revolvido  dentro  de  um  rojm. 

—  Mexido,  remexido.  —  Revolvido  o 
dinluiiro. 

—  Figuradamente :  Revolvidas  as  cau- 
sas nm  conceitos;  consideradas  por  todos 
os  lailos,  modos. 

REVOLVIMENTO,  s.  vi.  Revolução. 

—  O  revolvimento  da  agua  da  pisci- 
na, e  de  outras  ijue  estão  quietas  e  sum 
movimento ;  a  revolução  da  agua  da  pisci- 
na, e  de  outras  que  passam  a  ser  movi- 
das, agitadas  por  causa  externa,  ou  in- 
terna. 

—  Revolvimento  do  estômago;  embru- 
lho do  estômago. 

—  Revolvimento  e  ímpeto  d' aguas;  diz- 
se  quando  depois  de  espraiar  toma  a  en- 
cher impetuosissimo. 

REVOO,  s.  m.  A  acção  de  revoar  aon- 
de SC  levantou  a  ave,  ou  quando  vôa  c 
torna  a  voar  volteando,  etc. 

REVORA,  s.  /.  Termo  antiquado.  Ida- 
de.—  «!■]  o  que  foi  dado  per  Totor  pela 
Justiça,  assy  como  he  de  custume  nos  me- 
ninos, que  nom  som  de  revora,  pode  de- 
mandar de  tanto  por  tanto  o  herdamen- 
to,  que  foi  de  sua  avoenga  daquelles  me- 
ninos; c  pode  outro  sy  algum  pedir  aa 
Justiça,  que  aquelles,  que  nom  som  de 
revora,  que  lhes  dcm  Tetores,  que  de- 
mandem por  elles  o  herdamento,  que  foi 
de  sua  avoengua,  do  tanto  por  tanto,  e 
o  Juiz  lhos  deve  dar.»  Ord.  Affons.,  liv. 
4,  tit.  38,  §  8. 

—  Ser  de  revora  comprida;  ser  de  ida- 
de completa,  ou  própria  physica,  jurídi- 
ca ou  moralmente  para  algum  acto. —  «E 
derem  avor  huum  anno  e  dia,  desque  fo- 
rem de  revora  comprida,  pêra  demanda- 
rem o  dito  herdamento  de  tanto  por  tan- 
to.» Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit.  38,  í?  2. 

—  JJar  por  de  revora ;  declarar  judi- 
cialmente, quo  alguma  pessoa  o  púbere, 
c  do  idade  competente  para  exercer  os 
actos  legítimos. 

REVGRAR,  r.  a.  Termo  antiquado.  Vid. 
Reborar. 

REVOREDO,  .<!.  m.  Termo  antiquado. 
Matta,  ou  bosque  de  robres,  robledo. 

REVOSO,  A,  adj.  tl)o  francez  reveua-"^. 
Termo  antiquado.  Indignado,  raivoso, 
cheio  de  ira  o  furor. 

—  Cuidoso,  pensativo. 


REV 

REVOSSO,  A,  adj.  Tenno  de  comedia. 
Segunda  vc;4  vosno,  duas  V'-/.--i  V(h«<i. 

Sois  nniito  doamaz^^lado. 
Man  autos,  de  dnlicidu 
Cuio  puda^  a  pcdaf^ 
V.  maiit  i-u  golTrcr  uão  poswi 
í}uc  me  faí;ais  tanto  fero, 
Qun^tou  ja  ponto  no  ofwo, 
]'or(jue  Hou  YOáMí  c  rerifMo, 
J'or  vida  de  quanto  quero. 

CAMuiji,  riuii/íUí),  act.  4,  éc.  2. 

REVULSÃO,  ».  /.  iDo  latim  revulsio, 
de  rtvulsum,  supino  de  recelUre,  de  re, 
e  velUrei.  Termo  de  roe<Hcina.  Acçilo  dos 
remédios  revulsivos.- —  tíantjrar  o  pé  para 
fazer  uma   revulsão  de  sangue  em  laij-o. 

—  Enipre;:a-.s<-  também  fi;niradamonto. 
REVULSIVO,  A,  adj.  Termo  de  mciici- 

na.  Diz-íc  dos  diver.sos  meios  que  a  arte 
emprega  para  remover  o  principio  duma 
doença,  um  humor  para  uma  parte  mais 
ou  menos  afastada. 

—  Substiintivamente :  Rumedio  revul- 
sivo. 

REVULSORIO,  A,  adj.  Termo  de  medi- 
cina. Que  causa  ou  produz  revulsSlo.  — 
Sangria  revnlsoria. 

RÍEX,  *.  VI.  (Do  latim  rex).  Termo  an- 
tiquado. Vid.  Rei.  —  «Lhe  confirmamos 
todas  as  graças,  dadas,  outorgada*,  o 
contirmaJas  por  os  Rex,  que  ante  nós 
forom.»  Era  Viterbo,  Eluc. 

REXA,  s.  /.  Graie  ou  barra  de  pôr  em 
janellas  para  ter  luz,  e  não  poderem  en- 
trar por  ellas. 

—  Petrecho  próprio  do  arcabtuoiro  an- 
tigo, que  trazia  na  bolsa  dos  pelouros. 

—  Termo  pouco  usado.  Arado. 
REXIO,  s.  f.  Vid.  Recio. 

REY,  .<.  )/).  Vid.  Rei,  orthographia  pre- 
feri vel. 

A  Portugal  virá  hum  valoroso 

Kei/  de  animo  constantí-.  o  peito  ardimte : 

Indómito,  guerreiro  bellicoso, 

Muy  liberal  magnauimo,  c  clemente. 

CUBTE  REAL,  NACraAGIO  DB  SETIXTEDA,  Cant.  14. 

— .  ( Pe.draluarez  leixando  estes  dons 
Reys  de  Cochij  e  Oananor  em  tanta  pas 
e  concórdia  fezse  h  vela  caminho  deste 
Revno  a  dezaseis  dias  de  laneiro,  dando 
louuores  a  Deos  pois  partira  da  índia 
macs  contente  do  que  chegara  a  cila.» 
Barros,  Década  1,  liv.  5.  cap.  0.  —  «E 
aconteceo  qno  estando  elle  .-icolhido  nes- 
ta jvirte,  huns  eseranos  Abexij»  da  ca- 
mará delRey  Xabadim  sen  innào  o  ma- 
tarão na  ilha  de  Queixome,  onde  elle 
Rey  tinha  uma  casa  de  prazer.»  Idem, 
Década  2,  liv.  2,  cip.  2. —  «Esta  velha 
me  acenou  com  a  mão  como  que  me 
mandava  que  entrasse,  c  com  aspeito 
grave  e  severo  me  disse,  tua  vinda,  ho- 
mem de  Malaca,  a  esta  terra  dei  Rey 
meu  seiíhor,  he  tào  agradável  á  sua  von- 
tade,  como  a  chuva  em  tempo  soco  na 


PvEY 


REY 


REYN 


287 


lavoura  de  nossos  arrozes.»  Fernào  Meu- 
dcá  Pinto,  Peregrinações,  cap,  lõ.  —  «A 
que  se  respondeo  que  por  a  terra  ser 
muvto  grande,  e  aver  nella  Reys  de  di- 
versas nações  que  o  não  consintirião,  a 
que  elle  tornou,  que  he  o  que  vindes 
buscar  a  essoutra,  porque  vos  aventurais 
a  tamanhos  trabalhos.»  Ibidem,  cap.  122. 

—  «Mas  como  Manoel  de  Sousa  de  Se- 
púlveda nào  hia  jà  em  si,  tomou  as  ar- 
mas, em  que  entravaõ  quatro  espingar- 
das, e  as  entregou  ao  Rey,  do  que  elle 
teve  pouca  culpa,  porque  jà  nào  sabia  o 
que  fazia,  e  toda  foy  dos  que  lhe  con- 
sentirão entregallas.»  Diogo  de  Couto, 
Década  6,  liv.  9,  cap.  22,  —  «Xcão  se 
pode  negar,  que  sem  dom  ^Vluaro  Lisboa 
nào  presta  pêra  nada :  e  isto  dizia,  por- 
que dom  Aluaro  por  ser  muy  principal 
sempre  nos  taes  dias  leuaua  os  Reys  pol- 
ias rédeas,  e  era  tão  sabedor,  cortesão, 
e  gracioso,  que  elle  por  si  fazia  festa.» 
Garcia  de  Rezende,  Chronica  de  D.  João 
II,  cap.  56. — «Tanto  que  os  nauios  de 
socorro,  partiram,  teue  el  Rey  conselho 
geral  com  todos  os  que  presentes  eram, 
da  maneira  que  socorreria  aos  cercados, 
porque  com  todo  seu  poder  determinaua 
os  liurar.»  Ibidem,  cap.  82. —  «E  por 
quanto  ham  de  despachar  com  el  Rey  e 
ho  ham  de  comunicar  das  portas  aden- 
tro, e  nam  he  licito  a  outros  nenhuns  co- 
munioallos,  nein^  outros  ho  vem,  e  ham 
de  ter  entrada  onde  estam  as  molheres 
dei  Rey,  que  sam  muitas,  comunniente 
sam  capados.»  Frei  Gaspar  da  Cruz, 
Tratado   das  cousas  da  China,  cap.  16. 

—  «Cada  mes  he  obrigado  ho  Tutam  a 
deápedir  hum  correo  pêra  ha  corte  que 
leva  a  enformaçam  por  escrito  ai  Rey 
de  todas  as  cousas  que  naquelle  mes  pas- 
saram.» Ibidem,  cap.  22.  —  «Disse  e 
preguntou  A  esses  procuradores  sse  Auia 
hi  outro  alguum  capituUo  ou  capitules  ou 
clausulas  ou  outras  cousas  do  dicto  con- 
trauto  que  entre  ell  e  o  dito  Rey  de  cas- 
tella  he  fíeito.»  Doe.  de  1377,  no  Corpo 
diplomático  portuguez,  pag.  -±124,  publi- 
cado pelo  Visconde  de  Santarém.  —  «Sò 
nôs  nào  conhecíamos  a  gente,  nem  tínha- 
mos por  quem  perguntar.  Entre  o  tumul- 
to do  pouo,  veyo  hum  Príncipe  Mouro,  por 
nome  Muvnhe  Gombe,  irmão  que  fora  de 
hum  Rey  a  quem  Dom  Fernando  Masca- 
renhas, mandou  cortar  a  cabeça  no  anno 
de  1(303.  castigo  bem  merecido,  por  o 
grande  ódio  que  aos  Portugueses  tinha.» 
Fr.  Gaspar  de  S.  Bernardino,  Itinerário 
da  índia,  cap.  6.  —  «Dey  todo  este  <les- 
uio,  porque  huma  das  cousas  de  que  fuy 
mais  perguntado  foy  desta :  e  com  isto 
cny  do  ter  satisfeyto  aos  curiosos.  Tor- 
nando a  Africa,  o  primeiro,  que  nella 
pregou  a  Fè  de  Christo,  fov  o  Eunucho 
da  Raynha  Candace  que  baptizou  o  Apos- 
tolo S.  Phelipe.  Os  Reys  que  nelle  ha 
mais  poderosos,  saõ  o  Emperador  dos 
Abexins.»   Ibidem,  cap.  8.  —  «Com  este 


titulo  se  livrarão  os  Hollandezes,  c  se  li- 
vraõ  os  Catalans,  se  levantou  Xapoles, 
se  amotinou  Sicilia  :  e  Portugal  declarou 
por  seu  Rey,  a  quem  por  direito  o  era, 
para  o  governar,  como  natural  sem  ty- 
rannias.»  Arte  de  furtar,  cap.  16. — 
«Que  nunca  Deos  queira,  que  elle  diga 
a  seu  Rey  hiuua  couza  por  outra,  que 
nem  por  seu  pay  mudara  huma  cifra 
contra  o  que  entende :  e  com  estes  -«n- 
salmos  apeya  os  melhores  do  primeiro 
lugar,  e  levanta  o  ultimo  aos  cornos  da 
Lua.»  Ibidem,  cap.  37. —  «E  para  sahi- 
rem  insignes  nas  armas  creavaõ  todos 
seus  filhos  com  grande  parsinionia  nos 
vestidos,  e  manjares ;  dando  os  mesmos 
Reys  aos  outros  exemplo  nest-a  matéria.» 
Manoel  Severim  de  Faria,  Noticias  de 
Portugal,  Disc.  2,  §  1.  —  «Esta  digni- 
dade creou  ElRey  D.  Ferrando  do  novo 
em  Portugal  juntamente  com  a  de  Con- 
destable,  à  imitação  dos  Reys  de  Ingla- 
terra, quando  cà  andava  o  Condo  de 
Cambris.»  Ibidem,  §  3.  —  «E  na  tomada 
de  Ceita,  e  outras  jornadas,  que  os  Reys 
por  mar  fizeraõ,  levarão  sempre  bom  nu- 
mero delias:  a  chusma  das  quaes  se  pro- 
via atè  o  tempo  d'ElRey  D.  Joaõ  I.» 
Ibidem,  §  14.  —  «Tudo  isto  assi  como  o 
hia  falando,  assi  o  escriviam,  dous  e  três 
escrivàis.  E  assi  lhe  disso  também  que  o 
Sufv  era  morto,  e  o  filho  alevantad.o  por 
rey,  o  que  elles  entam  acabaram  de 
crer.»  António  Tenreiro,  Itinerário,  cap. 
29. —  «E  assi  de  como  he  abundosa  e 
abastada  de  muytos  mantimentos,  e  de 
como  nella  se  aconteceo  meterem  huns 
três  moços  em  hum  forno  muyto  arden- 
te, per  mandado  de  hum  rey  de  Gentios, 
e  os  nomes  sam,  s.  Sidac,  Misac,  Bede- 
nago,  como  no  capitulo  seguinte  se  de- 
clararaa.»  Ibidem,  cap.  31, 

—  Os  três  reys  magos;  os  santos  reys 
magos,  vindos  do  Oriente,  que  vieram 
visitar  o  Menino  Deus  onze  dias  depois 
do  sei;  nascimento,  B  que  se  chamavam 
Belchior,  Gaspar,  e  Balthasar.  —  «Fiz 
esta  menção,  porque  nos  serue  pêra  a 
vida  de  Mafoma,  e  caminho  dos  Sanctos 
três  Reys  Magos.  Passado  pois  o  rio,  en- 
tramos no  deserto  a  que  comummente 
chamão  o  pequeno;  por  quanto  o  cortào 
alguns  rios,  que  saõ  causa  de  ao  longo 
delles  ser  em  algumas  partes  habitado.» 
Fr,  Gaspar  de  S,  Bernardino,  Itinerário 
da  índia,  cap.  16.  — •  «Daqui  partirão  pê- 
ra Hierusalem  os  Santos  três  Reys  3Ia- 
gos,  como  conta  Zapulho :  e  nella  final- 
mente foy  onde  acõteceo  aquelle  caso  di- 
gno de  eterna  memoria  a  el  Rey  Assuero 
com  hum  ministro  de  justiça,  que  dando 
huma  sentença  sem  ella,  o  mandou  esfo- 
lar, e  que  com  a  pelle  se  forrasse  a  ca- 
devra  da  ludicatura,  sobre  a  qual  m.ãda- 
rão  assentar  pcra  dar  outra,  hum  filho 
do  defuncto  tícãdolhe  diãte  dos  olhos  es- 
crito este  vers.»  Ibidem,  cap.  18. 

—  Rey    esforçado ;   rey    valente,    ma- 


gnânimo, —  «E  depois  de  visto,  como 
singular  Príncipe  que  era,  c  muy  esfor- 
çado Rey,  disse  ao  Coronista.  que  estaua 
muyto  bem  escrito,  e  que  não  tirasse,  , 
nem  posessc  palaura,  porque  tudo  aquil- 
lo,  e  muyto  mais  era  verdade,  que  elle  o 
wa  muito  bem  por  seus  olhos,  e  que 
assi  ficasse  escrito,  porque  assi  era  ver- 
dadeiramente.» Garcia  de  Rezende,  Chro- 
nica de  D.  João  II,  cap,  lõ4. 

REYGNO,  í.  m.  Termo  antiquado.  Vid. 
Reino. 

REYMÃO.  Vid.  Reimão. 

REYNADO,  parf.  pass.  de  Reynar. 

—  <S.  nu  Vid,  Reinado.  —  «Outras 
cousas  tem  a  doação  dignas  de  notar, 
que  deixo  ao  bom  entendimento  dos  cu- 
riosos, por  concluyr  esto  Capitulo  cõ  a 
morte  delRey  Aurélio,  que  aconteceo  no 
sétimo  anno  de  seu  reynado,  pelos  de 
Christo,  setecentos  e  setenta  e  quatro, 
que  foraõ  quatro  mil  e  setecentos  e  trin- 
ta e  dous,  da  Creação  do  Mundo,»  Mo- 
narchia  Lusitana,  liv,  7,  cap.  8. 

Vimos  rortug.il,  Castella 
quatro  vezes  adjuntados, 
por  casamentos  liados, 
Principr  natural  delia 
que  herdaua  todos  reynados. 

GAKCU.  DE  BEZESDE,   MI3CELLAXIA. 

Quinze  reis,  quinze  reynados 
vimos  ja  na  christandade 
buus  dos  outros  í>am  tomados 
per  força  ou  falsidade, 
em  soos  scpte  sam  tornados. 


REYNAR,  r.  a.  Vid.  Reinar,  orthogra- 
phia  preferível  e  mais  correcta,  —  «Para 
o  que  importa  saber  que  Carlos  o  gran- 
de, começou  a  reynar  em  França  pelos 
annos  de  Christo  setecentos  e  sessenta  e 
nove,  pouco  mais  ou  menos,  e  avendo  jà 
trinta  que  reynava,  foy  eleyto  Empera- 
dor pelo  Papa  Leaõ,  na  festa  do  Naci- 
mento  de  Christo,  que  foy  o  primeiro  dia 
do  anno  de  oit-ocentos  e  dous  :  e  na  di- 
gnidade Imperial  viveo  treze  annos,  e 
hum  mez,  pois  faleceo  aos  vinte  e  oito  de 
Janeiro,  entrando  jà  o  anno  de  oitocen- 
tos e  quinze.»  Monarchia  Lusitana,  liv. 
7,  cap.  12.  —  «Quer  dizer  que  se  fez 
aquelle  testamento  dia  conhecido  primey- 
ro  de  Abril,  era  de  1038.  (que  he  aiuio 
de  1100.)  reynando  em  Toledo,  e  Galiza 
elRev  Dom  Afonso,  cm  Coimbra  o  Con- 
de Dom  Henrique,  e  na  Sè  de  Braga 
Dom  Giraldo.»  Ibidem,  cap.  30.  —  «E  o 
titulo  de  Duque  com  algumas  cousas  des- 
sas lhe  deu  el  Rey  dom  Manoel  depois 
de  rejmar,  e  de  outras  se  escusou,  por- 
que o  Reyno  o  não  poderia  consentir,  e 
mais  aquelle  tempo  não  era  pcra  tama- 
nhas cousas  se  darem  a  huma  pessoa, 
tendo  ja  os  mestrados  Dauis,  e  Santia- 
go.» Garcia  de  Rezende,  Chronica  de  D. 
João  II,  cap.  214. 


■&«í 


REVN 


REYN 


liEYN' 


Ilii  miiyto  pnra  n»|iiuitar, 
((uc  por  rlli!  vir  li<!rtlar 
Hiiia  hurdeií-ort  fallt-HciTaiii, 
ho.i  quaiirt  todiiH  ouu".ríim 
Aiitcrt  diillo  di;  reynar. 

o.    I)K  UBZeNUK,  «HCEUANKA. 

—  a  Vimos  mais  aquy  nosta  cerca  de 
fiSra  (que  como  ja  <ii.iHe,  cin^e  toda  0.1- 
tontrii  fid.add)  cm  distancia  de  main  trcH 
le^íoa.s  (lo  lavfío,  e  sete  de  comprido,  trin- 
ta o  dotis  aiiosentos  muvto  {grandes,  apar- 
tados hilns  dos  outros  pouco  innis  de  tiro 
dtí  falcílo,  quO  sítô  03  estudos  das  trinta 
c  duas  leys  que  lia  nos  trinta  e  dous  rey- 
nos  d'ostc  iiiip(U-io.i>  Fernão  Mendes  l'in- 
to,  Peregrinações,  cap.  lOii.  —  «De  que 
ViH  todos  ouvoreis  do  ser  os  principacs, 
o  prouvera  a  aijueile  que  vive  reynando 
na  formosura  de  suas  estrcUas,  que  me- 
recereis vós  ante  elle  fazerdesmo  este 
bem,  de  que  meus  peccados  foraò  o  in- 
convonionte,  porque  V()S  auf^mentarcis  por 
tnym  &  sua  loy,  o  eu  mo  salvara  nas  pro- 
Inessas  da  sua  verdade.*  Ibidem,  cap. 
149.  —  «Daqui  foy  Tobias  o  vilho,  e 
moço,  a  Abrahão,  Labào,  Lia,  llaehel, 
na  Mesopotâmia  foy  laeob  pastor  de  ga- 
do, nella  reynou  Semiramis,  Nabuchdo- 
nosor,  03  dous  Baltczaros,  ('yro,  Dário, 
e  em  fim  nella  morrco  Alexandre  Magno 
Cidade  que  pcra  tam  grande  Jlonarclia 
ainda  lho  fuy  pequena.»  Fr.  (íaspar  de 
S.  Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap. 
18.  —  «Aloppo  cabeça  da  Caniogena  foy 
fundada  (como  diz  Diogo  de  Couto)  por 
0  Patriarcha  Abraliam,  que  nella  reynou. 
Bem  no  coração  da  Cidade  está  tium 
Castelo  muy  forte,  com  mil  homens  de 
presidio,  c  quinhentas  peças  de  artelha- 
ria,  com  sua  cmia.»  Ibidem,  cap.  22. — 
«Também  se  a  Sancta  Jladre  Igreja  hon- 
ra, e  faz  reverencia  a  nossa  Senhora,  e 
aos  Santos  que  reynam  com  Christo,  nam 
o  faz  dandolhe  a  mesma  honra  que  a 
Dcos,  que  isto  seria  ydolatria,  porque 
bem  sabe  que  todolos  Sanctos  sam  cria- 
turas, o  feyturas  de  Dcos,  mas  honraos 
como  a  bons  scruos  de  Doos,  o  priuados, 
c  amigos  seus,  chamandoos,  e  t<imandoos 
por  auogados  diante  de  Dcos.»  Frei  Bar- 
tholomeu  dos  Martyrcs,  Catecismo  da 
doutrina  christã.  —  «Viva  o  Kmperador 
potentissirao  de  todo  o  Universo  ;  viva, 
c  reyne  no  meu  coração,  o  nos  de  toda 
a  crcatura  capaz  de  conhccello,  e  amai- 
lo  :  viva  por  séculos  de  séculos,  e  além 
da  eternidade.»  Padre  Manoel  Bernar- 
des, Exercicios  espirituaes,  tom.  1,  §  13. 

REYNICOLA,  s.  m.  Vid.  Reinicola. 

REYNO,s.  »n.  Vid.  Reino,  mellior  or- 
thogxaphia.  —  «O  qual  sem  lembrança 
da  misericórdia,  f[ue  Recaredo  com  elle 
usara,  nem  da  lealdade,  que  como  vas- 
salo devia  a  Liuva,  o  prendco,  no  se- 
gundo anno  do  seu  Reyno,  <[ue  foy  o  de 
Christo,  t)03  que  saõ  4ri(U  da  Crcaçaô 
do  Mundo,  e  depois  de  lho  cortar  a  mão 
direita  o  privou  do  Kcyno  c  vid»,  fican- 


do-Ho  cllo  apoderado  do  Espanha,  «em 
por  cntãi)  aver  quem  ousa«so  a  lho  de- 
mandar taiiuiidm  tirania.  Monarchia  Lu- 
sitana, liv.  O,  cap.  20.  —  "(JrdeiiaiidoHc) 
andar  hum  earavelão  da  ilha  de  S.  Tlio- 
mé  onde  eoneurrião  assi  os  escrauns  da 
costa  de  Benij,  como  os  do  Reyno  de 
Cõgo  :  por  aqui  virem  ter  todalas  arm.v 
çõe.s  que  so  faziaò  pêra  estas  parte»,  o 
deíla  illia  o»  leuaua  esta  carauela  h  Mi- 
na.» Barro»,  Década  1,  liv.  3,  cap.  3.  — 
«iS',to  havendo  muitos  dias  que  estos  Ca- 
[litães  eram  chogft<Jo8  a  Goa,  quando  che- 
gou João  Serrão,  e  Payo  do  8á,  quo  o 
anno  de  dez  icouio  escrevemo.sj  partiram 
deste  Reyno  a  oito  d'Ago.^t'i,  com  funda- 
mento de  ir  Jcscubrir  a  Ilha  do  S.  Lou- 
renço em  hum  porto  chamado  Antepara 
no  Reyno  de  Turubaya.»  Idem,  Década 
2,  liv.  G,  cap.  10.  —  a  Processaram  meu 
feito  contra  toda  a  ordem  do  justiça  des- 
tes Reynos :  assi  que  em  mim  so  come- 
çaram a  excitar  todos  os  novos  costumes, 
c  novas  leis  pêra  ser  doshonrado. »  Dio- 
go de  Couto,  Década  4,  liv.  (i,  cap.  7. 
—  «E  por  isto  quo  esto  primeyro  Rey 
disse  quãdo  esta  pedra,  que  os  Chins  tem 
por  huma  profecia  muyto  ceita,  fizerão 
despois  03  seus  descendentes  hum  estatu- 
to em  que  se  mãda  so  gravíssimas  penas, 
que  nenhuma  gente  estrangeyra  entre  no 
reyno  senão  sós  embaixadores  e  cativos, 
pelo  qual  quãdo  os  tomão,  he  forçado  de- 
gradaremnos  do  huns  lugares  para  ou- 
tros, como  nos  iizerão  aos  nove  que  ^^ra- 
mos.»  Femão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  94.  —  «Ha  se  de  saber,  que 
estando  cu  em  Malaca  fundando  huma 
cafa  de  minha  ordem,  e  pregando  fuy 
enformado  aver  no  reyno  de  Camboja 
(que  he  subjecto  ao  Rey  de  Siam,  e 
estaa  pêra  banda  da  China  e  contina 
com  Chanipa,  donde  vem  ho  muy  pre- 
cioso Calainbuco,  ou  pola  sua  lingoa  Ca- 
lambach,  muito  aparelho  e  dcsposiçam 
pêra  se  pregar  ho  evangelho,  o  pêra  se 
fazer  frueto.»  Frei  (i aspar  da  Cruz;,  Tra- 
tado das  cousas  da  China,  liv.  1.  —  «Or- 
denou,  e  começou  o  Esprital  de  Lisboa 
da  maneyra  em  que  está,  que  he  o  mi- 
Ihor  que  se  sabe.  E  assi  fez,  e  ordenou 
outras  muytas  cousas  de  muyto  proveito, 
c  boa  gouernança  de  seus  reynos,  em 
que  raostraua  o  grande  amor  que  a  seus 
pouos  tinlia,  c  bem  conforme  ao  Pelica- 
no, que  por  deuisa  trnzia.»  (íarcia  do 
Rezende,  Chronica  de  D.  Joào  II,  cap. 
1.  —  «Ha  nella  sete  reynos,  e  gente  in- 
numerauel ;  inda  que  Marco  Paulo  Vene- 
to,  diz  não  ter  Rey  algum,  mas  que  so 
goucrnão  por  quatro  Ciouernadores,  o  que 
eu  não  sey  como  elle  poderá  prouar,  pois 
a  embavxada  que  nos  veo  era  de  Rey.  e 
não  de  (iouernador.o  Frei  (íaspar  de  S. 
Bernanlino,  Itinerário  da  índia,  cap,  2. 
— •  (I E  esta  ordem  se  guartlou  dali  por 
diante,  que  os  mais  dos  dias  so  largaua 
huma  Pomba  atò  que  chegamos  Aleppo, 


Pareccomo  o  modo  excelente,  e  contan- 
doo  ncsto  reyno  a  alguman  pessoas,  tiue- 
rão  por  abuzilo,  e  matéria  do  zombaria.» 
Ibidem,  cap,  23.  —  «Naõ  far«y  minha 
oltrigaçaõ,  fc  nan  enxcrir  arpii  huma  igno- 
rância fatal,  que  andu  moente,  e  corren- 
te neste  reyno,  na  emenda  da -qual  to- 
mo» muito  que  aprender  nas  outra»  Na- 
çoens,  ainda  que  ellas  obraõ  com  injus- 
tiça, o  que  ncVn  pofleinos  imitar  sem  ne- 
nhum escrúpulo.!  Arte  de  furtar,  cap. 
32.  —  «Porém,  como  o  nosso  Joaõ  do 
Barros  na  terceyra  Década  da  Ásia  cap. 
4.  com  elegante  cstylo  descreveu  o  sitio 
do  Royno  de  Pegú,  somente  farey  hum 
breve  epilogo,  ou  suecinta  narr.-içaõ,  quan- 
to baste  para  declarar  o  que  he  aquello 
reyno :  em  que  parte  do  Universo  :  o  o 
estado  em  qu(!  o  acharão  os  nossos  quan- 
dr)  o  conquistarão,  mais  com  favores  Di- 
vinos, que  forsas  humanas.  1  Conquista 
do  Pegú,  cap.  1.  —  «Neste  reyno  tam- 
bém houve  esta  prohibiçaô,  mas  estava 
taõ  esquecido  o  cuidado  do  bem  publicx» 
pela  falta  dos  Prineipe«  naturâes,  que 
toda  a  laã  se  levava  para  f>'>ra.  de  ma- 
neira, que  no  anno  de  ll)4ô.  »i'i  em  Évo- 
ra cm  poucos  dias  se  comprarão  com  di- 
nheiro de  Merea/lores  Estrangeiros  !••> 
arrobas.»  ^lanoel  Severim  de  Faria,  No- 
ticias de  Portugal,  Disc.  1,  §  4.  —  «Pe- 
lo que  neste  reyno  se  naõ  concedia  li- 
cença para  fazer  estas  toiTCs,  o  pòr  ameas 
ncllas,  senaõ  a  pessoas  illustres ;  como 
parece  das  qnc  estaõ  registadas  nos  li- 
vros das  Chancellarias  dos  Reys  anti- 
gos.» Ibidem,  Disc.  3,  §  2. —  «Através 
desta  vila  pêra  a  banda  do  norte  huma 
jornada  pequena  de  caminho  estaa  o  rey- 
no dos  O  urgis,  que  sam  Christãos  em 
terras  muntuosas  e  de  serras:  sam  gen- 
tes brancas  c  ruivas  como  Ingreses.  Tem 
lingoagem  per  si,  e  os  seus  livros  em 
caldeo :  tinha  avia  pouco  tempo  guerra 
com  os  Turcos,  e  os  conquistavam  e  fa- 
ziam Christ.los.i  António  Tenreiro,  Iti- 
nerário, cap.  2G.  —  «E  navegando  com 
muyto  arreceo  de  Turcos,  chegamos  a 
hum  porto  que  se  chama  Donas  cm  ho 
reyno  de  Valença.  Donde  me  parti  p«r 
terra,  e  atravessey  a  mancha  DaragSo, 
e  cheguev  aa  cidade  de  Toledo,  donde 
me  parti  per  posta,  e  cheguev  a  Portu- 
gal a  Lisboa.»  Ibidem,  cap.  (>0. 

—  Os  nobres  th  reyno ;  os  fidalgos,  os 
ricos  senhores  d'elle.  —  «Aquelle  dia 
todo  se  gastou  em  visitas  dos  nobres  do 
Reyno,  e  neste  geral  contentamento  »>'<  a 
novva  estava  descontente,  pt>rque  era  i-x- 
tremo  atfevçoada  a  hum  certo  mancebo 
Fidalgo  filho  de  lumi  que  se  dizia  Gropre 
Aarum,  que  he  como  Paraõ  entre  n>'>s, 
mas  muyto  differonte  no  ser,  no  estado,  e 
na  valia  do  Fucarandono  pay  da  noyva.» 
Femão  Mendes  Pinto,  Peregrinações, 
cap.  200. 

—  fts  (jran^ies  reynos ;  os  reynos  que 
occupam   uma  grando  extensão  de  ter- 


REZA 


REZA 


REZA 


289 


reno.  —  « Os  muitos  e  grandes  reynos 
que  cercam  ha  China  estando  ao  longo 
delia  estendidos  acima  do  lago  donde  tem 
origem  ho  rio  Thamaa  da  banda  de  euro- 
pa,  esta  huma  Rusia  que  da  fim  a  euro- 
jia,  ha  qual  pertence  a  scithia  e  lie  parte 
d'ella.  9  Fr.  Oaspar  da  Cruz,  Tratado 
das  cousas  da  China,  cap.  3. 

f  REYNOL,  ailj.  Vid.  Reinol. 

—  Ameivas  reynoes.  Vid.  Reinol.  — ■ 
«Ha  também  muitas  fruitas.  s.  pexigos, 
amexas  reynoes,  e  outra  maneira  de  ame- 
xas  que  nam  ha  antre  nos  que  tem  os  ca- 
roços redondos,  compridos  e  agudos  nas 
pontas,  e  destas  ha  militas  passadas. » 
Frei  Gaspar  da  Cruz,  Tratado  das  cou- 
sas da  China,  cap.  12. 

f  REYNOLA,  f.  /.  Termo  antiquado. 
Vid.  Raineta. 


Senhor,  sempre  o  pardal 
quer  casa  co'a  cotovia ; 
digo,  isto  aasim  por  tal 
que  eu  que  não  sou  naranjal : 
quero  dar  reynola  fria. 

ANTÓNIO  PKESTf;s,  AUTOS,  pag.  32. 

REYO.  Vid.  Reio,  e  Arreo. 

1.1  REZ,  ou  RÊS,  s. /.  Cabeça  de  gado 
de  qualquer  sorte.  —  Foram  mortas  trez 
rezes. 

—  Figuradamente :  Ralé. 


Esta  rez  he  mui  esquiva ; 
Caça-3o  chuma  donzclla, 
E  não  per  outra  cautela 
Se  cativa. 

Este  traz  grandes  carretos 
E  requero  seu  proveito, 
Porém  não  pede  direito. 

GIL  VIOEIIIB,  FABÇAS. 


—  Adágios  e  provérbios  : 

—  Em  caminho  francez,  vende-se  o 
gato  por  rez. 

—  Triste  rez  é  fulano. 

—  A  rez  perdida,  em  abril  cobra  a 
vida. 

2.)  RÉZ,  s,  f.  (Do  francez  rez).  Nivel. 
—  Esta  caso  jica  situada  ao  réz  do  chão. 

REZA,  s.  /.  Orações  feitas  por  obriga- 
çíio  ou  devoção. 

REZADO,  ijart.  pass,  de  Rezar. 

—  Murmurado. 

—  3Iissa  rezada ;  missa  que  nào  é  can- 
tada. 


Que  despejei  n'o3te3  frios, 
Sem  nunca  matar  desejo. 
Kão  digào  missas  re^adax, 
Todas  sejào  bem  cantadas 
Em  Frameugo  e  Allemão, 
Porque  estes  rac  levar.\o 
As  vinhas  mais  carregadas. 

GIL  VICENTE,   OBRAS   VARIAS. 


—  Terço  rezado  ;  terço  não  cantado. 

—  Sentcnra    rezada ;    sentença    prefe- 
rida. 

.TOL.  V.  — 37. 


REZADOR,  A,  adj.  e  s.  Pessoa  que 
reza  muito,  e  a  miúdo. 

Bran.  Não  hei  medo  de  ninguém:  — 

Vistes  oraV 
Air.      Levantac-vo3  d'hi,  senhora; 

Dac  ó  domo  esse  rezar ; 

Quem  vos  fez  tão  rtzadora? 
Bran.  Leixae-mora  na  ma  ora 

Aqui  acabar. 

GIL  VICENTE,   FABÇAS. 

REZAM,  s.  f.  Termo  antiquado.  Vid. 
Razão. — «Nom  leixaram  per  seu  estu- 
do cousa  alguma,  per  que  o  direito  das 
suas  partees  possa  perecer ;  nem  alegua- 
ram  per  sy,  nem  lhe  daram  Conselho, 
que  aleguem,  ou  provem  alguma  cou- 
sa, ou  resam,  porque  o  preito  sem  jus- 
ta rezam  seja  perlomguado,  ou  a  parte.» 
Ordenações  Affonsinas,  liv.  3,  pag.  39. 
—  «E  o  desleal  fundamento  disto  era, 
que  com  quanto  estas  cousas  pareciam 
justas,  e  honestas,  e  que  era  rezam  se 
fazerem,  que  poUa  calidade  delias  el  Rey 
as  não  auia  de  conceder,  nem  outorgar 
em  nenhuma  maneira,  e  que  entam  os 
Reys  de  Castella  teriam  com  isso  rezam 
de  romper  com  elle  guerra,  e  que  o  Du- 
que, e  seus  irmãos  com  esta  causa  pare- 
cer justa  se  escusarião  dei  Rey  ao  não 
seruirem,  nem  sosterem  guerra,  pois  não 
qu»ria  seguir  rezam.»  Garcia  de  Rezen- 
de, Chronica  de  D.  João  II,  cap.  39.  — 
<i  Causas  lhe  parecia  bem  hirse  pêra  o 
Príncipe,  e  o  acompanhar,  e  seruir  até  a 
Corte,  e  em  suas  terras  lhe  fazer  aquelle 
recebimento,  e  serviço  que  era  rezam,  e 
elle  por  ser  seu  senhor  merecia,  e  da  ou- 
tra receaua  de  o  fazer  por  não  saber 
quanto  el  Rey  disso  seria  seruido,  e  con- 
tente, pois  lhe  não  escreuia.»  Ibidem, 
cap.  41.  —  «E  também  lhe  disse,  que  a 
Ilha  da  madeira  no  que  pertencia  a  sua 
coroa  elle  Duque  a  teria  em  sua  vida  in- 
teiramente, mas  que  per  seu  falecimento, 
quando  Deos  o  ordenasse,  era  rezam  que 
por  ser  cousa  tamanha  se  tornasse  a  co- 
roa, e  aos  Reys  destes  Reynos  que  os  so- 
cedessem.  As  quais  palauras,  que  el  Rey 
entam  disse  ao  Duque,  forão  todas  pro- 
nosticos  do  que  ao  diante  se  vio,  pois 
tudo  foy  como  elle  entam  o  disse.»  Ibi- 
dem, cap.  õl.  —  «E  mandou  com  elle  a 
el  Rey  hum  seu  sobrinho  por  embaixador 
com  huma  grossa  manilha  douro  por  car- 
ta de  crença,  que  he  o  cnstunie  de  sua 
terra,  por  antre  elles  nam  auer  letras,  e 
lhe  mandou  por  elle  pedir  armas,  e  na- 
vios. E  el  Rey  com  razam  e  justa  causa 
se  escusou,  dizendolhe  a  defesa,  e  esco- 
munhões  que  o  Papa  tinha  postas  a  quem 
desse  armas  a  infiéis,  e  por  elle  não  ser 
Christam  lho  não  podia  mandar.»  Ibi- 
dem, cap.  78.  —  «  Mas  que  entre  os  in- 
fiéis, em  quanto  a  forma,  e  aplicaçam 
do  santo  bautismo  sò  se  pode  confiar  dos 
mesmos  que  pregam  a  fé,  como  eUa,  e 
elle  sani  as  primeiras  portas  da  vida  eter- 


na, e  ainda  o  bautismo  mais,  que  o  co- 
nhecimento da  mesma  fé :  muyta  rezam 
tinha  o  padre  Francisco  em  auer  por  muy 
bem  empregado  o  mòr  talento  do  mundo, 
onde  tantas  almas  saluasse,  quantas  crian- 
ças bautizasse.B  João  de  Lucena,  Vida  de 
S.  Francisco  Xavier,  liv.  6,  cap.  G.  — 
«  Com  nmyta  rezam  (diz  Sam  Bernardo) 
lhe  chamamos  mestres  da  vida,  pois  nos 
ensinaram  a  saber  viuer,  e  ter  vida.  Nam 
nos  ensinaram  as  virtudes  das  eruas  ou 
das  pedras,  nem  os  cursos  dos  planetas, 
nem  as  propriedades  dos  animaes,  mas 
ensinarãonos  a  viuer.  Grande  cousa  he 
saber  viuer.»  Frei  Bartholomeu  dos  Mar- 
tyres,  Catecismo  da  doutrina  christã.  — 
« E  com  muyta  rezam  se  põem  estes  no 
cabo,  por  quanto  necessário  he,  que  to- 
dos os  virtuosos,  que  constantemente  so- 
bem esta  escada,  tenham  contra  sy  muy- 
tos  perseguidores,  e  escarnecedores  de 
seus  caminhos,  e  obras :  os  quaes  con- 
uem  pacientemente,  e  alegremente  sof- 
frer.»  Ibidem. 

REZÃO,  s.  /.  Vid.  Razão,  orthogra- 
phia  preferível.  —  «E  com  justa  rezão 
deve  ter  esperança,  que  por  a  confiança 
que  em  elle  temos  pêra  bem  fazer  no  Of- 
ficio,  que  de  ísós  tem,  lhe  faça  compri- 
mento de  Justiça,  e  nom  confiando  delle 
que  o  assy  faça,  peita-lhe  do  seu  aver 
tanto,  per  que  o  faz  mover  de  boõ  pro- 
pósito.» Ord.  Affons.,  liv.  3,  tit.  28. 


Em  concrusão, 
Que  amor  não  quer  rezão, 
Nem  contracto,  nem  cautela, 
Nem  preito,  nem  condição, 
Mas  penar  de  coração 
Sem  qucrolla. 

GIL  VICENTE,  PARCAS. 

E  Dona  Lnna  de  Cosiel, 
E  todos  me  querem  muito. 
Cort.    Senhora,  por  piadade 

Que  entendais  minha  rezão: 
Entendei  minha  verdade, 
Entendei  minha  vontade, 
E  mudareis  a  tenção. 


—  «A  qual  cousa,  pelo  grande  fausto 
e  aparato  com  que  estava  feita,  era  muy- 
to  para  folgar  de  ver,  e  a  rezão  disto  di- 
zem que  foy,  porque  dizem  que  desta 
maneyra  ganhara  hum  foaõ  de  quem  os 
verdade^Tos  Farias  deccndem,  as  armas 
da  sua  nobreza  nas  guerras  que  antiga- 
mente ouve  entre  Portugal  e  Castella.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações, 
cap.  68.  —  «Usando  nisto  de  huma  gran- 
de rezão  de  estado;  porque  dividindo 
nesta  forma  as  Províncias  em  muitos  Se- 
nhores particulares  Vassallos,  ficava  se- 
guro de  se  lhe  naõ  poderem  rebelar.» 
^Manoel  Severim  de  Faria,  Noticias  de 
Portugal,  Discurso  3,  §  2õ.  —  «Quanto 
ao  primeiro  sou  hua  pobre  velha  estran- 
geira, o  meu  nome.he  Comedia,  mas  nào 


290 


REZA 


cuydci»  quo  mo  aucis  por  isso  de  comer, 
poniuo   cu  naci  cm   (Irocia,  o  Id.  mo  loy 
posto  o  nomo  por  outras  rezões  (juij  urio 
portencom    u   esta   vossa   liii^aia.»   Sá  (lo 
Miranda,   Os   Estrangeiros,    Frol.  —  «E 
cl  Koy  so  llio  ollurocuo  a  todo  o  que  fos- 
BO   rezão:  o  porque   os  l"'raiiccses  tinlião 
ainda  em  Caacacs  as  ditas  fçales  llie  dis- 
so, que   80  as  quisosscui  comprar,  c  res- 
gatar, que  lho  emprestaria  para  isso  ([ua- 
roíita   mil    cruzados   cm   ouro,  o  mais,  se 
mais    quisessem.»    Oareia    do    Rezende, 
Chronica  de  D.  João  II,  cap.  õS.  —  «Ora 
nilo   está  em  rezão  cuidar  (|uo  à  Virpra 
a  que  cscolhoo  jmra  tào  diílcrente  minis- 
tério, o  para  tilo  estreita  conucrsac;!!©  não 
dosso   mais    particulares  prcrupatiuas,    e 
outro  género  do  pureza  muvto  extraordi- 
nário.» Paiva  do  Andrade,  Sermões,  pag. 
18,  —  «Deuia   o   Author   contar   isto   do 
ouuida,  porque  ou  a  vi,  o  trago  debuxa- 
da ao  natural,  no  modo  cm  quo  hoje  ostà, 
como  quem  a  vio  de  vagar,  e  passou  bom 
perto  delia.    Thoodoreto  d:\  a  rezão,  por::. 
que   esta   torre   não    foy  do  pedra,  e  diz 
que  pela   grando   falta  quo  delia  ha  na- 
qucUas  partes ;  c  tem  elle  muyta,  por  om 
todos  estes  desertos,  não  aucr  luima  pe- 
dra  por   muy   pequena   que   seja.»    Frei 
Gaspar  de  S.  Bernardino,  Itinerário  da 
índia,    cap.    18.  —  «Achei    tribulação,   e 
dor,    e  inuoquei    o   nome   do   Senhor,  os 
quo   assim   cstau   attribulados   saõ   seme- 
lhantes a  pomba,  que  naõ  achando  no  di- 
luuio  onde  cm  terra  por  pê,  c  tomar  por- 
to desejado,  do  boa  rezaõ,  c  mui  asserta- 
damento  se  tornou  a  recolher  a  arca  da 
contemplação.»     Frei    Bartholomeu    dos 
Martyres,  Compendio  de   espiritual  dou- 
trina.—  «E    cõ    muyta    rezão    antecipa 
esta    memoria,  o  se   occupa  nclla  tantos 
dias,  porque  pcra   a   cura  e  limpeza  dos 
peccados  que  noste  sancto  tempo  da  Qua- 
resma  pretende,  nam   ha    mezinha   mais 
cfficaz  quo  a  lembrança  e  meditaçam  da 
paixam   do    Sonhor :    porque   em   só   cila 
achamos  o  traslado  e  espelho  do  todalas 
virtudes,  a  dcstruyçam  de  todolos  vicios, 
e    mortiticaçam    de    todas    as    paixões.» 
Idem,  Catecismo  da  doutrina  chrislã. 

Len».    Jí.  90  ia,  a  não  lho.  acodir 

dopeis,  como  um  pnssivrinho. 
Leon.  Ello  não  poderá  agora 

dar  rezãot 

AHTONIO  mESTES,  AUTOS,  pag.  221. 

Ao  fim  de  minha  tenção 
quero  isto  accomodar, 
quo  é  ir  contra  os  que  sSo, 
que  carcoc  do  rezão 
juizo  que  anda  no  ar, 
uisBu,  pag.  317. 

Que  reiflo,  ou  quo  juizo 
tarei  pcrdendo-vo3  cu'? 
quo  sois  meu  choro  c  meu  viso, 
minha  doudisso,  meu  siso, 
A  bcbor  do  vonto  meu? 
IBU>EM,  pag.  351, 


REZA 

—  RezSes  mui  evidentes;  rezões  mui 
claras,  mui  obvias. —  «Do  que  cl  Kcy, 
o  todos  os  ([ue  com  cllc  vinlijio,  íicaraõ 
muy  contentos,  e  muy  alegres,  jiorque 
antrc  olles  ouuc  alguns,  que  duuidauão 
do  Principc  fazer  tamanha  bondade,  c  cl 
Rcv  com  muyto  contentamento,  c  nmytas 
palauras  de  amor,  c  rezões  muy  cuiden- 
tes,  que  pcra  isso  ao  lilho  alegou,  quise- 
ra, c  apertadamente  lhe  cometeo,  e  ro- 
gíui,  que  pois  jior  seu  mandado  era  alça- 
do por  Roy,  não  deixíisso  de  o  ser,  e  H- 
casse  Rey  de  Portugal,  que  ello  se  con- 
tentara com  ticar  Rey  dos  Algarucs,  c 
nos  lugares  dalém  yr  acabar  sua  vida, 
fazendo  guerra  aos  infiéis  por  seruiço  de 
Deos.»  (iarcia  do  Rezende,  Chronica  de 
D.  João  II,  cap.  18. 

REZAR,  1-.  ít.  Fazer  oração  a  Deus,  di- 
zer-lho  orações,  orar  a  Deus. 


Din.     Ora  rezemos,  parceiro, 
K  porque  seja  melhor, 
'l'oma,  vcs  hi  o  psaltciro 
Ue  Nabucodonosor, 
•jiic  lhe  furtou  Frei  Suniro. 

Berz.    Quem  come(;ará  primeiro? 

GIL   VICESTK,   FAm,AS. 


Fid.     E  passageiros  achais 

I'era  tal  habitação? 
Diab.  Vejo-vos  eu  em  feição 

Pêra  ir  ao  nosso  caos. 
Fid.     Paroce-to  a  ti  assi. 
Diab.  Em  que  esperais  ter  guarida? 
Fid.     Que  deixo  na  outra  vida 

Quem  rez»  sempre  por  mi. 
Diab.  Quem  rezo  sempre  (wr  ti? 

Hi  hi  hi  hi  hi  hi  hi. 

GII.  VICENTE,  AUTO  DA    DASCA  DO 

I^•^•^;R^"0. 


—  «Por  fr)ra  de  todo  o  cumprimento 
desta  procissão  corrião  niuytos  homens  a 
cavallo  com  bastoens  ferrados  nas  mãos, 
bradando  muyto  alto  á  gente  do  povo, 
quo  era  infinita,  paraque  se  afastassem, 
e  não  dessem  trovaçaõ  aos  sacerdotes  que 
hiào  rezando,  o  ás  vezes  dav.ào  tamanhas 
pancadas  ijuo  dcrrubavão  três  quatro  no 
chão,  e  outros  muvtos  hião  escalavrados, 
a  que  nenhum  respondia,  nem  levantava 
os  olhos  simientc.»  Fernão  Mondes  Pin- 
to, Peregrinações,  cap.  160.  —  «E  es- 
tando cl  Uev  ouuindo  Jlissa  rezaua  com 
oUe  Diogo  (le  Sousa  Ailayam  de  sua  ca- 
pclla,  que  depois  foi  Arcebispo  do  Bra- 
ga, e  em  se  cl  Rey  leuant;indo  ao  Euan- 
gelho  se  lhe  tirou  um  pantufo  do  pe,  e 
querendo  tomalo  o  Adayão  so  abaixou 
rijo,  c  tomou  o  pantufo,  o  cm  joelhos  lho 
quisera  meter  no  pe.»  (J areia  de  Rezen- 
de, Chronica  de  D.  João  II,  cap.  701.  — 
a  E  falando  sempre  jialauras  santas,  e 
encommendando  a  todos  quo  não  choras- 
sem então  por  lhe  não  fazerem  toruação, 
beijando  niuytas  vezes  o  vulto  de  nosso 
Senhor,  o  a  Cruz,  com  os  olhos  postos 
ncUo,  o  a  candea  na  mão,  com  todo  seu 
perfeito  saber,  e  03  sentidos  muy  esper- 


REZ.V 

tos,  e  a  vista  toda  inteira,  «cm  fazer 
geyto  nenhum,  rezando  cempro  com  os 
liispoB  verso  por  v(!rso,  c  na  derradeira 
com  o  nome  de  lESV  na  boca  com  gran- 
díssima dcuaç.lo  dizendo  Aijnus  Dei,  <fui 
tollis  j/ecata  mundi,  miivrere  mei.t  Ibi- 
dem, cap.  212. 

AUi  incunio,  primeiro  quo  rezauem, 
A  8'-u«  s.ibios  CoUcgas  propuz^-rSo, 
(^ue  i)ara  resolver  certo  ncfrocio 
iJu  maior  iutcresíc  ao  grande  (jorpo, 
Preciso  vinlia  a  mt,  que  ao  outro  dia. 
Km  que  o  Diaij  da  Terra  »c  aumentava, 
Se  ajuntasse  o  Cabido.  Na  proposta, 
Sem  nenlmm  discrepar,  todos  eoDCOrd&o. 

DUIZ  DA  CBCZ,   UTgBOrB,  CAUt.    3. 

—  Rezar  o  ojfficio  divino.  —  « Teve 
muito  que  padecer  da  gotta,  quando 
preso,  e  dizia :  •  El-rei  prendcu-me  e 
Deus  lançou-me  os  grilhões.»  Kâo  era 
fácil  em  deixar  de  rezar  o  officio  divino, 
e  costumava  dizer.»  Bispo  do  GrSo  Fa- 
rá, Memorias,  publicadas  por  Camillo  Caa- 
tello  Branco,  pag.  88. 

—  Rezar   muita   orarão;  rezar  muito. 

Nem  cuideis  que  arrecadais. 
Por  rezar  muita  oração, 
Sc  no  coração  estais 
Fora  de  contemplação. 

OIL   VICETrB,    AUTO   DA   CAXABílt. 


—  Rezar  um  Pater  nonter,  e  uma  Ave- 
Maria.  —  «  Depois  pedireis  a  Deos  o 
perdam,  e  proporeis  a  emenda  das  cul- 
pas, que  adiardes  rezando  hum  Pater 
noster,  e  huma  Ave  Maria,  e  meditareis 
hum  pouco  no  modo,  que  aueis  de  ter 
pêra  vos  emendar,  e  melhorar.»  João  de 
Lucena,  Vida  de  S.  Francisco  Xavier, 
liv.  G,  cap.  14. 

—  Diz-se  também  da  religião  protes- 
tante :  Rezar   certa  areiuja.  —  «  Tomou 
depois  a  balança,  c   botando  nella  huns 
cauaquinhos,  como  de   pao  de  Calambà, 
cujo  cheyro  era  odorífero,  e  excelente  as        ■ 
cnsençou ;  e   depois  toda  a  Mesquita  (ou       I 
Mochamo)  portas,  e  adro  pela  banda  de       ■ 
fora,  reZEmdo   certa  arenga,  que  nenhum 

dos  nossos  entcndeo.»  Fr.  Gaspar  de  S. 
Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap.  9. 

—  V.  TI.  Orar,  fazer  oração. 

—  Rezar  pelus  dcfunctos ;  orar  por  el- 
les.  —  €  Dãolhc  humaa  seiras  para  que  ás 
costas  acarretem  das  praças  por  dinhey- 
ro,  carne,  pescado,  ortaliça,  e  outras  cou- 
sas, á  gente  que  nem  tem  quem  lho  leve, 
nem  o  pcKÍe  ella  levar,  e  aos  que  sSo 
aleijados  de  peis  e  de  mSos,  com  que  to- 
tíUmentc  carecem  de  remédio  para  ga- 
nharem por  sy  suas  vidas,  poemnos  em 
humas  casas  muyto  grandes  como  mostey- 
ros,  em  que  também  ha  grande  quanti- 
dade do  mcrcccyras  que  rezem  pelos  de- 
funtos, e  d.as  offortas  dos  saimentos  de 
todos  os  mortos  lhes  dão  a  metade,  e  aoa 
sacerdotes  a  outra  metade,  i  Fernão  Men- 


REZI 


RHAG 


RHAP 


291 


des  Pinto,  Peregrinações,  cap.  112.  — 
«  E  que  tinha  de  ordinário  doze  mil  sa- 
cerdotes a  que  se  dava  de  comer  e  ves- 
tir, que,  como  merceeyros,  eraõ  obriga- 
dos a  rezar  pelos  defantos  daquelles  os- 
sos, 03  quais  não  sahiào  fora  daquela  cer- 
ca, sem  licença  dos  seus  Chisangués  a 
que  obedecião,  mas  que  de  fora  avia  seis- 
centos servidores  que  lhe  negociavão  o 
necessário.»  Ibidem,  cap.  126. 
—  Rezar  ás  aranhas. 


Adiante  va  a  mulher 
Que  não  crê  senão  patranhas, 
E  reza  sempre  áa  aranhag, 
E  não  crê  o  ciue  ha  de  crer 
E  adora  as  tartaranhas. 

GIL  VICENTE,  FABÇAS. 


Os  mouros  estavam  rezando  perto  da 

mesquita;  fallando  em  linguagem  protes- 
tante. —  <  Perto  delia  vi  oyto  Mouros 
que  estauam  rezando  ou  pêra  melhor  di- 
zer blasphemando  como  Mercieyros,  a 
que  elles  chamão  Dreuis,  ou  Deruis,  que 
quer  dizer  Irmitiío:  aos  quaes  todoa  da- 
uão  esmoUa,  estes  nos  festejarão,  queren- 
do mostrar  que  o  nosso  habito  desprezi- 
uel,  elles  o  venerauão.»  Fr.  Gaspar  de 
S.  Bernardino,  Itinerário  da  índia,  capi- 
tulo 13. 

—  Rezar  por  contas.  —  «Os  quais  des- 
calços, e  com  as  cabeças  cubertas  hião 
rezando  por  contas,  e  esforçando  estas 
senhoras,  e  acudindolhos  com  agoa  quà- 
do  esmoreciào  que  era  muytas  vezes,  o 
qual  espectáculo  era  tão  piadoso  que  não 
avia  homem  que  nào  pasmasse  de  dôr  e 
tristeza. »  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregri- 
nações, cap.  150. 

—  Murmurar,  rosnar,  fallar  pela  boc- 
ca  pequena. 

—  Mencionar  por  escripto,  ou  no  es- 
cripto.  —  -4.  tabeliã  reza  isto. 

—  Rezar  sentença;  proferir,  dar,  pro- 
nunciar, escrever  sentença. 

REZENHA,  s.  /.  Vid.  Resenha. 

REZENTAL,  adj.  2  gon.  Vid.  Recen- 
tal. 

REZENTE,  adj.  2  gen.  Vid.  Recente. 

REZIDIR,  V.  n.  Vid.  Residir.  —  «A  al- 
ma não  se  destroe,  porem  em  semelhan- 
tes occazioens  deve  a  vida  ao  gi-ande  nu- 
mero, e  á  mesma  contrariedade  dos  seus 
inimigos;  o  ódio  de  huma  parte  lhe  gella 
o  coração  onde  ella  rezide,  sufocando  os 
spiritos,  e  apagando  o  calor  natural.»  Ca- 
valleiro  de  Oliveira,  Cartas,  liv.  1,  nu- 
mero 13. 

REZINA,  s.  f.  Vid.  Resina,  orthogra- 
phia  mais  em  uso. 

REZINADO,  part.  lyass.  de  Rezinar.  Vid, 
Resinado. 

I  REZINAR,  V.  a.  Vid.  Resinar,  ortho- 
graphia  preferível. 

f  REZINENTO,  A,  adj.  Vid.  Resinento. 

f  REZINETE,  s.  m.  Vid.  Resinete,  ter- 
mo mais  orthographico. 


f  REZINETO,  s.  m.  Vid.  Resineto,  me- 
lhor ortographia. 

REZINGA,  s.  f.  Movei  antigo,  de  que 
se  nào  sabe  o  seu  uso,  enumerado  na 
relação  da  guarda-roupa  de  D.  Manoel. 

REZISTO,  s.  m.  Vid.  Registro. 

I  REZISTADO,  part.pass.  de  Rezistar. 
Vid.  Registrado. 

f  REZISTADOR,  s.  m.  Vid.  Registra- 
dor, termo  mais  em  uso. 

f  REZISTAR,  r.  a.  Vid.  Registrar, 
melhor  orthogxaphia. 

f  REZISTRO,  s.  m.  Vid.  Registro,  ter- 
mo preferirei. 

f  REZINITE,  adj.  2  gen.  Vid.  Resi- 
nite. 

f  REZINOIDE,  adj.  2  gen.  Vid.  Resi- 
noide. 

■f  REZINOSO,  A,  adj.  Vid.  Resinoso, 
orthographia  preferível. 

REZOAR,  V.  a.  Arrazoar  o  feito,  ou 
causa. 

—  Discorrer.  Vid.  Razoar,  e  Arrazoar. 
-}■  REZULTANCIA,  s.  /.  Vid.  Resultan- 

cia.  —  «Mas  a  quem  o  Demónio  mais 
prende,  e  perde;  he  a  huns  homens,  e 
molheres,  que  doutrina  como  alumnos, 
para  o  servirem  como  menistros ;  consti- 
tuhindo-os  Médicos,  e  fazendo-os  mezi- 
nheiros  dos  mayores  achaques;  para  que 
com  a  triaga  da  iledicina,  encubra  o  ve- 
neno da  perdição;  e  com  as  rezultancias 
do  enterece,  suavize  o  acerbo  da  iniqui- 
dade.» Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal  Me- 
dico, pag.  589,  §  42. 

REZUMBRAR,  v.  a.  Reçumar,  coar  ou 
dar  passada  pelos  poros  ao  licor  contido 
no  vaso. 

—  Reçumbrar.  Vid.  Reçumbrar,  Reçu- 
mar, e  Ressumbrar. 

—  Figuradamente :  Rezumbrar  no  licor 
que  banha  o  rosto,  a  grave  dOr ;  mostrar- 
se  de  algum  modo,  rever. 

f  REZUMBRADO,p«rí.  pass.  de  Rezum- 
brar. Reçumado,  ressumbrado.  Vid.  Res- 
sumbrado. 

RHÁA,  s.  /.  Dragoeiro,  arvore  pro- 
ductnra  do  sangue  de  drago. 

RHACHITIS.  (Do  grego  rhachis).  Vid. 
Rachitis,  e  Raquitis. 

f  RHACOSE,  s.  /.  (Do  latim  rhacosis). 
Termo  de  pathologia.  Afrouxamento  do 
scroto. 

f  RHADAMANTHO,  s.  m.  Filho  de  Jú- 
piter e  de  Europa,  e  irmão  de  Minos; 
um  dos  três  juizes  do  Inferno. 

RHAGADIÁS,  ou  RHAGADES,  s.f.j^htr. 
(Do  latim  rhagadias).  Fendas,  ou  peque- 
nas ulceras  longas  e  estreitas  que  tem 
sua  sede  nos  interstícios  das  dobras  dos 
lábios  ou  do  anus.  —  Rhagadias  sijjjhyli- 
tiras  ou  venéreas.  —  Rhagadias  no  anus. 
Vid.  Ragadia,  e  Fissura. 

RHAGIA,  s.  /.  Termo  de  entomologia. 
Género  de  insectos  coleopteros,  de  ailten- 
naa  longas,  de  seda,  da  familia  dos  xy- 
lophagos. 

RHAGIÃO,   s.  m.    (Do  grego  rhagion). 


Termo  de  entomologia.  Género  de  inse- 
ctos de  duas  azas,  de  antennas  sem  pêllo 
lateral,  de  bocca  formada  de  uma  trom- 
pa retractil,  da  familia  dos  simplicornes. 
t  RHAGIONIDE,  adj.  2  gen.  Termo  de 
entomologia.  Que  se  assemelha  a  um  rha- 
gião. 

—  S.  m.  plur.  Tribu  da  familia  dos 
dipteros  tanystomos,  que  tem  por  typo  o 
género  rhagião. 

f  RHAGODIA,  s.  /.  Termo  de  botâni- 
ca. Género  de  plantas  dicotyledoneas, 
de  flores  incompletas,  polygonas,  da  fa- 
milia das  atripliceas,  que  crescem  na  No- 
va Hollanda.  —  Rhagodia  parabólica. 

RHAGOIDE,  ou  RHAGOIDEO,  A,  adj. 
(Do  grego  rhax,  rhagos,  bago,  e  eidos, 
forma).  Termo  de  historia  natural.  Que 
tem  a  forma  de  um  bago  de  uva,  que 
tem  a  sua  cor. 

—  Termo  de  medicina.  Epitheto  dado 
á  uvea,  membrana  do  olho. 

RHAMNACEAS,  ou  RHAMNEAS,  s.  f. 
plur.  Familia  das  plantas  que  tem  por 
typo  o  rhamno. 

'  f  RHAMNEGINA,  s.  /.  Termo  de  chi- 
mica.  Matéria  colorante  amarella,  encon- 
trada no  abrunheiro  tinctorial,  e  isomero 
da  rhamnina. 

-j-  RHAMNINA,  s.  /.  Termo  de  chimica. 
Vid.  Rhamnegina. 

RHAMNO,  í.  VI.  (Do  grego  rhamnos). 
Espinheiro  que  dá  espinhos  brancos. 

t  RHAMNOXANTINA,  s.  f.  Substancia 
encontrada  na  casca  e  sementes  de  alguns 
rhamnos. 

f  RAMPKOTHECA,  s.  /.  Termo  de  zoo- 
logia. Tegumento  córneo  ou  cutâneo  do 
bico  das  aves. 

f  RHANTHERIA,  s.  f.  Termo  de  botâ- 
nica. Género  de  plantas  pertencentes  á 
ordem  das  synanthereas,  e  á  tribu  natu- 
ral das  inuladas,  e  de  que  somente  se 
conhece  uma  única  espécie. 

f  RHANTISPOREO,  A,  adj.  Termo  de 
botânica.  Que  cresce  nos  legares  húmi- 
dos. 

f  RHAPHENEDON,  s.  m.  Termo  de  ci- 
rurgia. Nome  dado  á  fractura  dos  ossos, 
que  tem  logar  segundo  a  sua  espessura, 
n'aquella  cujo  plano  é  perpendicular  ao 
eixo  do  osso. 

f  RHAPHIOLEPA,  s.  /.  Termo  de  bo- 
tânica. Género  de  plantas  dicotyledo- 
neas, de  flores  completas,  polypetalas,  da 
familia  das  rosáceas. 

f  RHAPONTICINA,  s.  f.  Teimo  de  chi- 
mica. Substancia  amarella  que  deposita 
a  raiz  do  rheubarbo. 

f  RHAPONTICO,  s.  m.  Termo  de  botâ- 
nica. Género  de  plantas  dicotyledoneas, 
de  flores  completas,  da  familia  das  com- 
postas flosculosas.  —  Rhapontico  unifor, 

—  Raiz  de  uma  espécie  de  rheubarbo. 
RHAPSODIA,  s.  /.  Vid.  Rapsódia. 
RHAPSODO,  s.  m.  Vid.  Rapsodo. 

i  RHAPSODOMANCIA,  s.  m.  Termo  de 
antiguidade.  AdivinhaçUo  que  se  pratica* 


292 


EIIET 


RHEX 


RIIIK 


va  por  meio  do  passagens  tomadaH  o  ti- 
rada* i'i  Horte  n'uni  pootii,  inórmciito  em 
líomoro  c  Viifíiiio. 

-j-  RHAPTOCARPO,  A,  adj.  Torino  de 
botanicii.  <^ii(!  tem  fructos  carregados  do 
cicutrizcH. 

-J-  RHEGMATO,  s.  m.  Termo  de  botâni- 
ca. Fructo  dicrebilio  correspoiídento  il 
elateria  de  Ricardo. 

-J-  RHEINA,  .V.  /.  Termo  de  cliimica. 
Matéria  amareiliula,  coaheeida  também 
polo  nomo  de  acido  rlioico,  acido  cliry.so- 
pheaico,  que  contém  a  raiis  do  rheubarbo, 
e  que  80  torna,  jmr  meio  dos  alcalis,  de 
um  vermoUio  do  purpura. 

■j-  RHEMBASMO,  s.  vi.  Tcnuo  do  medi- 
cina. Soiunauiliulismo. 

f  RHEMOBOTO,  s.  m.  Termo  de  histo- 
ria ecclosiastlca.  Nome  dado  por  S.  Jero- 
nymo  ^  certos  falsos  religiosos  do  iv  sé- 
culo, que  andavam  de  aldeia  em  aldeia, 
C  que  levavauí  uuui  vida  dosordenada. 

f.  RHENANO,  A,  adj.  C^ue  pertence  ao 
Rheno.    -  As  finuniuiuis  rheuanas. 

RHENOCERONTE,  s.  m.  Vid.  Rhinoce- 
ronte. 

f  RHENOMETRO,  s.  m.  Termo  do  by- 
drauliea.  Escala  para  medir  a  altura  das 
aguas  do  rio  RUeno. 

RHEOMETRO,  s.  m.  (Do  grego  rlieO,  eu 
corro,  e  inetroii,  medida).  Termo  de  pby- 
sica.  instrumento  para  medir  a  força  do 
uma  corrente  eléctrica, 

-}•  RHEOPHORO,  s.  «i.  Termo  de  pbysi- 
ca.  Nome  dado  aos  tios  metallicos,  que 
n'uma  pilha  conduzem  as  duas  corren- 
tes eléctricas. 

RHETORICA,  s.  /,  (Do  latim  rhctorica). 
A  arte  do  fallar  do  maiíeií-a  a  persuadir; 
a  dialéctica  das  verosimilhanças,  segundo 
a  definição  do  Aristóteles.  —  «  tío  V.  S. 
mo  tisesse  hHUia  pergunta  em  Philoso- 
phia,  om  Historia,  em  Rhetorica,  em  Di- 
rcvto,  em  Torto,  ou  em  Dobrado,  talvez 
que  algum  dos  meus  amigos  mo  dissesse 
o  quo  havia  do  responder,  onsiuando-uie 
o  meyo  do  satlsfaser  :l  curiosidade  de 
V.  S.»  Cavalloiro  de  Oliveira,  Cartas, 
liv.  3,  n.°  2.  —  « Ah  !  quem  me  dera  aqui 
corto  Mestre  do  Rhetorica,  meu  conheci- 
do. Como  daria  elle  pulos  na  salla;  e 
como  gritaria  alli :  —  Isso  ó  Prosopopoia, 
6  Èthopeia,  e  se  «rio,  é  Cassiopeia.» 
Francisco  Manoel  do  Nascimento,  Fabu- 
las de  Lafoutaiue,  liv.  iJ,  n."  21. 

—  Fiiiuras  d£  rhetorica ;  formas  parti- 
culainjs  de  linguagem,  que  d.Tlo  força  e 
graçA  ao  discurso. 

—  Termo  do  coUegio.  A  rhetorica ;  a 
classe  onde  se  ensina  a  rhetoriaa.  —  Fu- 
zer  a  sua  rhetorica.  —  Professor  de  rhe- 
torica. 

.    —  Obra    eseripta    em    i"hetorica.  —  .íi 
Rhetorica  de  Quintiliano. 

— .Titulo  do  certos  tratados  de  rheto- 
rica. 

—  Figurada  c  popularmente :  Tudo  o 
quo  30  emproga  uo  iliscurso  para  persua- 


dir alguém,  ou  para  expor,  descrever  al- 
guma cousa. 

—  Por  desprezo :  Discurso  viSo  e  pom- 
poso. 

RHETORICAMENTE,  adc.  íl),-.  rhetori- 
ca, i 1  o  .suflixo  umente»».  (.'enformo  as 

regras  ila  riíetorica. 

RHETORICAR,  v.  a.  (Do  latim  rUtori- 
cari).  Termo  popular.  Fallar,  escrever 
com  concerto  rhctorico. 

RHETORICO,  A,  udj.  Quo  diz  roipeito 
á  rliitni-iea. 

• —  Figui'adamentc  :  O  que  falia  discre- 
ta o  concertadamente. 

—  Substautivaraeuto:  Homem  que  sa- 
be rlietoriea.  —  «No  uso  da  Metaphora 
deve  ser  o  Rhetorico  tão  atento  como  no 
de  todas  as  mais  figuras,  evitando  com- 
paraçoens  quo  niio  sojão  conhecida»,  ou 
que  po.ssão  soar  mal.»  Cavalloiro  d'01i- 
veira.  Cartas,  liv.  1,  n.°  'òih 

—  Estuilaute  que  estuda  a  arte  da  rhe- 
torica. 

RHEUBARBARINA,  s.  /.  Tei-mo  de  chi- 
miea.  Substancia  amarello-avermelhada 
extrahida  pelo  ether  da  raiz  do  rheu- 
barbo. 

RHEUBARBARO,  s.  m.  Vid.  Rheubar- 
bo. 

RHEUBARBAROLOGIA,  s.  f.  (Do  latim 
rken/tiilxiruiio.  Tratado  do  rheubarbo. 

RHEUBARBERINO,  .x.  in.  Termo  de  ehi- 
mica.  Principio  colorautc  e  crystallisavel, 
quo  combinado  com  outra  substancia  es- 
cura e  insolúvel  na  agua,  parece  formar 
a  rheubarbarina. 

RHEUBARBO,  ou  RUIBARBO,  s.  m.  (Do 
latim  rlietiòarlianim'}.  Planta  medicinal, 
que  vegeta  nas  margens  do  rio  Volga ; 
tem  a  raiz  escura  por  fira,  por  dentro 
amarella,  de  sabor  amargo,  c  do  cheiro 
suave  ;  vem  da  China.  Era  conhecido  ou- 
tr'ora  também  pelo  nome  de  rhda. 

RHEUMA,  s.  /.  (Do  grego  rlteuma). 
Fluxão  ou  corrimento  do  humor  crasso, 
ou  indigesto. 

f  RHEUMAMETRIA,  s.  /.  Medida  da 
rapidez  de  um  curso  de  agua. 

f  RHEUMAMETRO,  s.  m.  Instrumento 
de  que  nos  servimos  para  medir  a  rapi- 
dez do  uma  cdrreute. 

RHEUMATICO,  A,  «</./.  (Do  latim  rheu- 
matieiíi.'.  Produzido  pela  rheuma.  —  Doen- 
(.'rt  rheumatica. 

RHEUMATISMO,  s.  in.  (Do  latim  rheti- 
matiítiiiu.i).  Doença  produzida  pela  tluxào 
de  humores  emanados  para  alguma  parte 
do  corpo,  c  que  produzem  dòrcs  insolfri- 
vois. 

-{■  RHEUMICO,  A.  adj.  Termo  de  chi- 
mica.  Diz-se  do  um  acido  encontrado  no 
rheubarbo. 

f  RHEUMINA,  s.  /.  Termo  de  chimica. 
Nome  dado  também  á  rheina. 

RHEUMOSO,  A,  adj.  (De  rheuma,  com 
o  sutlix»  toso»).  Que  tem  rheuma,  cheio 
de  rheuma.  Vid.  Reimoso. 

RHEXIS,  *.  /.  (.Do  grego  rltexis).  Ter- 


mo de  medicina.    Ruptura   dai  veias  por 
violência  e  extísn^ãd. 

f  RHIGMATOPNONTE,  wij.  2<jen.  Quo 
respira  por  vuitieulas  pulmonares. 

—  <S'.  Hl.  (Jrupo  de  animaes  inverta» 
brailoH. 

RHIMA,  f.  f.  Vi.l.  Rima. 

RHINALGIA,  *.  /.  Termo  de  patholo- 
gia.  iíórqiie  tem  a  Rua  sede  no  nariz.  J 

f  RHINANTHACEO,  A,    adj.  Termo  de  jj 

botânica.    Que   se   assemelha  ao  rhiuan- 
tho. 

—  S.  f.  jãnr.  Familia  da»  pedicularia- 
das,  cujo  tvjMi  é  o  género  rhiimntlui. 

f  RHINÁNTHO,  *.  m.  Termo  de  botâ- 
nica, (ienero  de  plantai  da  familia  das 
per.sonadas,  comyjrehendcndo  os  vegetaci) 
herbáceos  de  tlôres  geralmente  amarellas, 
o  dispostas  em  espigas  terminacs. 

RHINAPTERO,  A,  adj.  i Do  grego  rlún, 
e  ajiteri/in.  t^ue  tem  um  chupador,  o  é  pri- 
vado tle  azas. 

—  <S',  Dl.  jilar.  Familia  do  insectoa 
apteros,  caracterisados  pela  falta  de  ma- 
xiLlas,  que  sào  substituidas  por  mna  es- 
pécie de  bico,  ou  chupador. 

f  RHINARION,  *.  »>i.  Termo  de  zoolo- 
gia. ExtriMiiid.adc  do  nnriz  de  um  mam- 
mifero,  quando  ó  coberto  de  ama  pello 
húmida. 

—  Nos  insectos,  espaço  comprehendido 
entre  o  bordo  anterior  do  nariz  e  o  lábio. 

-j-  RHINENCEPHALO,  A,  adj.  Termo  do 
toratologia.  —  Mutistros  rhinencephalos  ; 
monsti'os  ([ue  tem  o  nariz  prolongado  em 
fcírma  de  trompa. 

f  RHINENCHYSIA,  s.  /.  Termo  de  chi- 
mica. Operaç.ào  pela  qual  se  introduziam 
injecções  uo  nariz  por  meio  da  rhinen- 
chvte. 

f  RHINENCHYTE,  s.  vi.  Termo  de  ci- 
rurgia. Instrumento  destinado  a  fazer  in- 
jeci;òes  no  nariz. 

RHINITE,  s.  /.  íDo  grego  rhin).  Ter- 
mo de  pathologia.  Inilammaçiio  da  mem- 
brana nasal. 

-{-  RHINOBATO,  s.  m.  Termo  do  ichthyo- 
logia.  (ienero  do  peixes  choudropterygios 
da  ordem  dos  trcnatopnos,  e  da  familia 
dos  plagiostomos. 

f  RHINOCARPO,  s.  m.  Termo  de  boti- 
nica.  Género  de  plantas  dicotyledouoas, 
de  ilôres  polygamas,  da  familia  das  the- 
rcbinthaeeas,  que  crescem  das  margens 
de  um  rio  da  Nova-(iranada. 

f  RHINOCEPHALIA,  *./.  Estado  de  um 
monstro  rhinoeeplialo. 

f  RHINOCEPHALO,  A,  adj.  e  «.  Termo 
de  zoologia.  Monstro  cuja  cabeça  se  re- 
duz quasi  a  uni  nariz. 

RHINOCERONTE,  RHINGCER03.  ou  RHI- 
NOCEROTE,  .'■■.  )'i.  D.i  latim  rhinoceros  . 
Orando  quadrúpede  selvagem,  tendo  um 
ou  dous  cornos  no  nariz,  género  da  or- 
dem dos  jiaohydcrmes.  —  Depois  do  elt- 
phantt,  o  rhinoceronte  e  o  viais  poUtite  dos 
aniinnis  ^ unlnijH<hs. 

RHINOCNESMO,  s.  m.   (Do  grego  rhin, 


RfflX 


RHIZ 


RHOD 


293 


e  kilSsmai.  Termo  de  medicina.  Comichão 
110  nariz. 

t  RHINO-LARYNGITE,  s.  /.  Termo  de 
pataolo,£ria.  Intlammaçào  simultânea  das 
membranas  mucosas,  nasal  e  guttural. 

f  RHINOLOPHINO,  A,  adj.  Termo  de 
zoolo^ria.  Que  se  assemelha  a  um  rhino- 
lopho. 

7  RHINOLOPHO,  s.  m.  Termo  de  zoolo- 
gia, (ienero  de  mamiiiiferos  da  ordem 
dos  cheiropteros. 

■^  RHINOMACERIDE,  adj.  2  yen.  Que 
se  assemelha  ao  rhinoceronte. 

-j-  RHINOMACRO,  s.  m.  Termo  de  en- 
tomolojria.  (ienero  de  coleopteros  tetra- 
meros  da  familia  dos  rhinocerontes. 

f  RHINOPHIDE,  adj.  2  gen.  Diz-se  das 
serpentes,  cujo  nariz  se  prolonga  em  trom- 
pa. 

—  <S'.  ííi.  jilur.  Familia  dos  reptis  ophi- 
dio3,  comprehendendo  os  que  tem  o  nariz 
prolonírado  em   uma   espécie  de  trompa. 

1  RHINOPHANIA,  s.  /.  Termo  de  phv- 
siologia.  Resonancia  da  voz  nas  fossas 
nasaes. 

f  RHINOPHYSAL,  adj.  e  s.  m.  Termo 
de  anatomia.  Diz-se  de  um  dos  ossos  da 
face. 

-}•  RHIWOPLASTIA,  «.  /.  Termo  de  ci- 
rurgia. Operação  que  tem  por  fim  refa- 
zer um  nariz,  quando  esta  parte  da  cara 
tem  sido  cortada  ou  destruida  por  uma 
causa  qualquer. 

t  RHINOPLASTICO,  A,  adj.  Termo  de 
cirurgia.  Que  pertence  á  rhinoplastia. 

f  RHINOPLASTO,  «,  m.  Homem  que 
pratica  a  rhinoplastia. 

f  RHINOPOMO,  s.  VI.  Termo  de  zoolo- 
gia. Género  de  mammiferos  cheiropteros. 

f  RHINOPTIA,  s.  f.  Termo  de  medici- 
na. Acçào  de  vêr  pelo  nariz. 

—  Deformidade  causada  por  uma  gran- 
de doença  do  grande  angulo  do  olho,  ou 
da  raiz  do  nariz,  que  fez  nas  paredes 
das  cavidades  nasaes  uma  abertura  atra- 
vés da  qual  os  raios  luminosos  podem 
chegar  ao  olho. 

-j-  RHINOPTICO,  A,  adj.  Termo  de  me- 
dicina. Que  pertence  á  rhinoptia. 

f  RHINOPTO,  A,  adj.  Termo  de  medi- 
cina. Que  vê  pelas  narinas,  que  é  affe- 
ctado  de  rhinoptia. 

—  SuVjstantivamente  :   Um  rhinopto. 
RHINORRHAGIA,  s.  f.  (Do  grego  rhin, 

e  rh"gnyini\.  Termo  de  pathologia.  He- 
morrhaíia  nasal. 

t  RHINORRHAGICO,  A,  adj.  Que  diz 
respeito  á  rhinorrhagla. 

-j-  RHINORRHAPHIA,  s.  /.  Termo  de 
medicina.  Reuuiào,  por  sutura,  dos  bor- 
dos de  uma  chaga  do  nariz. 

f  RHINGRRHEA,  s.  /.  Termo  de  me- 
dicina. Evacuação  de  mucosidades  lím- 
pidas pelo  nariz  sem  algum  symptoma 
intlammatorio. 

t  RHINORRHEICO,  A,  adj.  Que  diz 
respeito  á  rhinorrhea. 

f  RHINOSE,  s.  /.  Termo  dç  patholo- 


gia. Estado  de  frouxidão  e  dobradura  da 
pelle  na  jihthysica. 

f  RHINOSmO,  s.  m.  Termo  de  ento- 
mologia. Género  de  insectos  coleopteros 
que  vivem  nas  cascas. 

f  RHINOSTOGNOSE,  s.  /.  Termo  de 
medicina.  Obstrucçào,  obturação  das  fos- 
sas nasaes. 

7  RHINOSTOMO,  A,  adj.  Termo  de  en- 
tomologia. Diz-se  do  bico  que  parece  nas- 
cer da  fronte. 

7  RHINOTHECA,  s.  f.  Termo  de  zoo- 
logia. Epiderme  do  bico  das  aves. 

RHITMA,  s.  f.  Vid.  Rima. 

RHITMICO,  À,  adj.  Yid.  Rhythmico. 

RHITMO,  í.  ,n.  Vid.  Rhythmo. 

f  RHIZAGRE,  s.  f.  Termo  de  cirur- 
gia. Instrumento  próprio  para  extrahir 
as  raízes  dos  dentes. 

f  RHIZANTHO,  A,  adj.  Termo  de  bo- 
tânica. Diz-se  das  ilôres  ou  pedúnculos 
que  nascem  da  raiz. 

7  RHIZOBLASTO,  A,  adj.  Termo  de 
botânica.  Diz-se  do  embrvào  que  é  pro- 
vido de  raízes. 

f  RHIZOBOLEAS,  «.  /.  plur.  Familia 
de  plantas  dieotyledoneas,  contendo  gran- 
des arvores  da  Guyana  franceza  e  do 
Brazíl. 

f  RHIZOCARPEAS,  s.  f.  phir.  Plantas 
aquáticas,  cujos  fructos  parecem  nascer 
sobre  as  raízes. 

7  RHIZOCTONO,  s.  wi.  Género  da  fa- 
milia dos  cogumelos,  composto  de  espé- 
cies parasitas  sobre  as  raize.s  dos  vege- 
taes  superiores. 

7  RHIZODO,  A,  adj.  Que  se  assemelha 
a  uma  raiz. 

—  .5.  rã.  pht)-.  Familia  da  ordem  dos 
helminíaogaiuos  entomoides. 

f  RHIZOGRAPHIA,  s.  /.  Descripçào 
das  raize-;. 

-[  RHIZOGRAPHO,  s.  m.  Homem  que 
descreve  as  raízes. 

f  RHIZOLITHO,  s.  m.  Raiz  fóssil. 

f  RHIZOMATOIDE,  adj.  2  gen.  Termo 
de  botânica.  Epítheto  dado  ás  raizes  que 
tem  um  rhizomo. 

f  RHIZOMATGSE,  s.  /.  Termo  de  bo- 
tânica. Conversão  de  uma  raiz  em  haste 
ou  rhizomo. 

•j-  RHIZOMO,  s.  w.  Termo  de  botânica. 
Haste  subterrânea  ordinariamente  hori- 
zontal, que  se  estende  deitando  ora  ra- 
mos, ora  folhas  n'uma  das  suas  extremi- 
dades, ao  passo  que  ella  se  destroe  por 
outra. 

I  RHIZONICHION,  s.  m.  Temio  de  zoo- 
logia. Phalange  que  tem  unha,  nos  mam- 
miferos e  nas  aves. 

RHIZOPHAGO,  A,  a<íj.  Termo  do  zoo- 
logia. Que  vive  de  raizes. 

—  Substantivamente :  Um  rhizophago. 

—  Phn-.  Uma  povoação  da   Ethiopía. 
f  RHIZOPHILO,  A,  adj.  Termo  de  bo- 
tânica. (^>ue  ^•^ve  sobre  as  raízes. 

f  RHIZOPHORO,  A,  adj.  Termo  de  bo- 
tânica. Que  tem  raizes. 


—  S.  f.  jJÍur-  Género  de  plantas  dos 
paizes  intertropicaes. 

7  RHIZOPODO,  s.  VI.  Base  filamentosa 
de  um  cogumelo. 

—  Plur.  Animaes  cujo  corpo  consiste 
somente  em  uma  matéria  homogénea  con- 
tractíl,  sem  epiderme,  sem  cavidades, 
sem  celhas. 

1  RHIZOTOMIA,  s.  f.  Herborisação, 
corte  das  raízes. 

f  RHIZOTOMO,  s.  m.  Homem  que  re- 
colhe as  raízes   e  as  plantas  medicinaes. 

—  Instrumento  destinado  a  cortar  as 
raizes. 

7  RHODANOGENO,  s.  m.  Outro  nome 
que  tem  o  sulfocyanogeneo. 

-}■  RHODATO,  s.  m.  Termo  de  chimica. 
Género  de  saes  produzidos  pelo  oxvdo 
rhodico. 

t  RHODEORETINA,  s.  f.  Producto  ex- 
trahido  da  raiz  do  jalapa. 

7  RHODICO,  adj'.  m.  Diz-se  de  um  dos 
oxvdos  d(i  rhodio. 

f  RHODICO-AMMONICO,  adj.  Termo 
de  chimica.  Diz-se  dos  saes  duplos  re- 
sultantes da  combinação  de  um  sal  rho- 
dico cora  um  sal  animonico.  —  Chlorure- 
to  rhodico-ammonico. 

t  RHODICO-POTASSICO,  adj.  Termo 
de  chimica.  Diz-se  dos  saes  produzidos 
pela  combinação  de  um  sal  rhodico  com 
um  sal  potássico.  —  Chlorureto  rhodico- 
potassico. 

t  RHODICO-SODICO,  adj.  Termo  de 
chimica.  Diz-se  dos  saes  duplos  resultan- 
tes da  combinação  de  uni  sal  rhodico  com 
um  sal  sodico.  —  Chlorureto  rhodico-so- 
dico. 

-i"  RHODIO,  s.  ííi.  Termo  de  chimica. 
Metal  pouco  fusivel,  encontrado  na  pla- 
tina do  commercio. 

1  RHODODAPHNO,  s.  m.  Loureiro-rosa. 

t  RHODOGRAPHIA,  s.  /.  Tratado  ou 
descripçào  das  rosas. 

t  RHODOGRAPHO,  í.  m.  Author  de 
um  tractado,  de  uma  descripçào  de  ro- 
sas. 

t  RHODOISE,  s.  /.  Termo  de  minera- 
logia. Nome  dado  ao  cobalto  arseniado 
terroso,  porque  esta  substancia  que  se 
apresenta  sempre  no  estado  pulverulen- 
to, é  rosa,  ou  de  rosa  roxa  escura. 

RHODOLOGIA,  *.  /.  (Do  grego  rhodon, 
e  lugus).  O  mesmo  que  rhodographia. 

RHODOMEL,  s.  m.  Termo  de  pharma- 
cia.  ^lel  rosailo. 

7  RHODONITA,  s.  /.  Termo  de  mine- 
ralugía.  Mineral  de  manganez,  composto 
principalmente  do  silicato  de  manganez, 
acompanhado  de  um  pouco  de  acido  car- 
bónico e  algumas  vezes  de  agua. 

+  RHODOSO,  A,  adj.  (De  rhodio,  e  o 
suffixo  c.oso»^  Termo  de  chimica.  Que 
pertence  ao  rhodio. 

— ■  Acido  rhodoso  ;  o  primeiro  grau  de 
oxydaçào  do  rhodio,  que  ainda  não  foi 
isolado. 

1  RHODOSO-RHODICO,  adj.   Termo  de 


294 


RHOM 


chimica.  Diz-sc  do  uni  oxydo  (fue  ru- 
Bulta  da  combirijirào  do  oxydo  rliodoso 
com  o  oxvdd  rliodico. 

■j-  RHOMBICO,  A,  'i'lj.  Termo  do  pco- 
metri.i.  t^m  tem  a  tórma  do  um  rhombo. 
—  Fiijiira  rhombica. 

f  RHOMBIFERO,  A,  ndj.  Tormo  do 
mineralogia.  Epitlicto  dado  a  uma  varie- 
dade em  quo  certaa  facesinhiw  bSo  ver- 
dadeiros rliombos,  ainda  quo  sepundo  o 
modo  por  que  b.Io  cortadas  i)olas  face»  vi- 
sinhas,  nSo  pareoara  á  primeira  vista  de- 
ver Bor  de  uma  fic^ura  symetrica.  —  A 
esmernIJíi  rhombifera. 

•}-  RHOMBIFOLIO,  ailj.  Termo  de  botâ- 
nica. Qiii'  tiiii  folli.is  cm  IVirma  de  rhombo. 

I  RHOMBIFORME,  adj.  2  gen.  Que  tem 
a  fi'>rma  de  um  rhombo. 

RHOMBO,  s.  m.  (Do  latim  rhombus). 
Termo  de  geometria.  Quadrilátero,  co- 
nhecido a3  maia  das  vezes  pelo  nomo  de 
losango,  sendo  os  lados  todos  iguaes,  sem 
que  os  ângulos  sejam  rectos,  diíferindo 
d'e8te  modo  do  quadrado,  por  este  ter  os 
angulo»  recto;. 

—  Termo  ile  conchyliologia.  Género  de 
conchas  univalves. 

—  Termo  de  ichthyologia.  Nome  de 
ura  geuei-o  de  peixes  acanthopterygios,  c 
malacoptervgios. 

f  RHOMBOEDRICO,  A,  adj.  Que  tem  a 
fórm.a  de  um  rhomboeilro.  —  Corpo  rhoni- 
boedrico.  —  IVinnn  rhomboedrica. 

-[-  RHOMBOEDRO,  k.  m.  Tormo  de  geo- 
metria. Corpo  solido  cujas  faces  sito  rhom- 
bos.  —  O  carbonato  tlc  ferro,  a  cal  car- 
bonada, etc,  crystaUisam  em  rhomboe- 
dro. 

—  Termo  de  mineralogia.  Crystal  cu- 
jas seis  faces  se  assemelham  a  rhom- 
bos. 

RHOMBOIDAL,  adj.  2  gen.  Termo  de 
geometria.  Que  tem  a  figura  de  nm  rhom- 
bolde. 

—  Termo  de  orystallogi-aphia.  Prisma 
rhomboidal ;  prisma  cujos  ângulos  diedros 
lateraes  srio  desiguaes  c  do  duas  espécies, 
um  agudo  o  outro  obtuso,  supplemento 
do  primeiro. 

—  Dodecoédro  rhomboidal ;  nome  dado 
a  um  solido  composto  de  doze  planos  da 
figura  do  um  rhombo. 

—  Termo  de  botânica  ©  de  zoologia. 
Diz-se  de  um  corpo  que  se  approxima  da 
forma  de  um  rhombo.  —  Folha  rhomboi- 
dal. 

—  S.  m.  Peixe  da  America  Septem- 
ptrional . 

RHOMBOIDE,  .».  m.  (Do  grego  rlwmbot, 
c  eidos).  Figura  plana  cuja  forma  se  ap- 
proxima da  do  rhombo. 

—  Solido  hexaedro  cujas  faces  eSo  rhom- 
bo3  parallelos  dous  a  dons. 

—  Termo  de  anatomia.  Musculo  do 
dorso  coberto  pelo  trapézio,  e  que  das 
apophyses  espinhosas  das  vértebras  dor- 
saes  88  estende  ao  bordo  interno  da  omo- 


RHYT 

—  Adjcctlvamcnte  :  Mutculo  rhomboi- 
de. 

f  RHONCO,  t.  m.  (Do  latim  rTumcua). 
Termo  de.  medicina.  ERpecie  de  ronquei- 
ra mais  ou  menos  forte  e  ardente  que  fa- 
zem ouvir  os  apo[detico3,  quuudu  a  para- 
lysia  tem  attingido  a  abobada  palatina, 
ou  os  agoni.santes  cm  alguma-s  phasea  de 
doenças  graves. 

f  RHOPALIGO,  A,  adj.  —  Verto  rho- 
palico ;  verso  grego  ou  latino,  formado 
de  uma  serie  de  palavras  tendo  cada  um 
uma  syllaba  de  mais  que  o  precedente : 
o  primeiro  é  sempre  uni  monosyllabo. 

—  Período  rhopalico ;  periodo  e.n\  que 
os  incisos  dos  membros  do  periodo  se 
tomam  cada  vez  mais  longos,  ou  cada 
vez  mais  curtos. 

f  RHOTACISMO,  ».  m.  Pronunciarão 
viciosa  da  letra  r. 

RHUIBARBO,  s.  m.  Vid.  Rheubarbo. 

RHUM,  .v.  m.  Vid.  Rum. 

t  RHUMAPYRO,  s.  m.  Termo  de  p.v 
thologia.  Febre  rhumatismal. 

RHUMATALGIA,  s.  /.  Termo  de  n>edi- 
cina.  Dór  rliumatismal. 

f  RHUMATALGICO,  A,  adj.  Que  diz 
respeito  á  rhumatalgia. 

-f  RHUMATICO,  A,  adj.  Synonymo  de 
rhumatismal. 

f  RHUMATISADO,  A,  adj.  Que  é  affe- 
ctado  lie  rhuuiatismo.  —  Estou  todo  rhu- 
matisado. 

f  RHUMATISMAL,  adj.  2  gen.  Que  per- 
tence ao  rhumatismo.  —  Accidentes  rhu- 
matismaes. 

—  Fvbre  rhumatismal ;  febre  sympto- 
matica  quo  acompanha  o  rhumatismo 
agudo. 

t  RHUMATISMALMENTE,  adv.  (De  rhu- 
matismal, com  o  suffixo  «mente»).  Por 
efieito  de  um  rhumatismo. 

1  RHUMATISMO,  s.  m.  Termo  de  me- 
dicina. Dores  situadas  especialmente  nos 
músculos  ou  articulações,  e  que  nílo  são 
acompanhadas  nem  do  febre  nem  de  al- 
gum outro  caracter  intlammatorio. 

—  Rhumatismo  articular;  intlamma- 
çrio  do  systema  tibro-cerveo  das  articu- 
lações, complicada  de  uma  alteraç.^ío  par- 
ticular do  sangue;  é  a^udo  ou  chronico. 

I  RHUMATOIDE,  adj.  2.  gen.  Termo 
de  medicina.  l)iz-se  da.s  dores  análogas 
ás  do  rhumatismo,  que  se  manifestara  nas 
proximidades  das  articulações  dos  mem- 
bros, nas  regiões  corvicaes,  lombares  e 
sternaes,  era  consequência  dos  acciden- 
tes primários  da  svphilis. 

RHYMA,  ou  RHYTHMA,  s.  /.  Vid.  Ri- 
ma. 

f  RHYNCHITO,  s.  wi.  Género  de  inse- 
ctos coleoptiTos. 

f  RHYTHMADO,  A,  adj.  Que  tem  rhy- 
thmo. 

RHYTHMICO,  A,  adj.  Quo  è  concer- 
nente ao  rhythmo. 

RHYTHMÒ,  ».  m.  (Do  grego  rhi)lhmos\ 
Qualidade  do  discurso,  que,  por  meio  de 


RIBA 

suas  syllabafl  accentuadas,  vem  ferir  nos- 
sos ouvidos  em  certos  intervallos. 

—  Toma-se  algumas  vezes  por  metro. 

—  Termo  do  musica.  .Systema  daa  du- 
rações dos  sons. 

—  Proporçilo  que  tem  entre  si  om  par- 
tes de  um  todo. 

—  Jlaneira  própria  a  um  poeta. 

—  Termo  de  uieiiicina.  Diz-se  dos  ba- 
tidos do  pulso,  para  exprimir  a  propor- 
ção conveniente  entre  uma  pulsação  e  as 
seguintes. 

I  RHYTHMOPÊA,  s.  f.  Na  musica  dos 
gregos  e  latinos,  a  arte  de  fazer  bom  rhy- 
thmo, phrases  bem  rlivthraadas. 

1  RHYTIDOMO,  «.  m.  Termo  de  botâ- 
nica. (Jamada  de  tecido  ccllular  situada 
entre  o  invólucro  herbáceo  e  o  líber,  con- 
fundindo-se  com  as  folhas  exteriores  d'e8- 
te,  e  arrastando-as  á  sua  queda.  J 

f  RHYTON,  s.  m.  Nome  de  um  antigo        ■ 
vaso  grego,   servindo  para  beber,   largo 
para  cima,  e  estreito  para  baixo. 

RIA,  s.  f.  Foz  por  onde  o  rio  desagua 
no  mar,  embocadura  do  rio. 

RIACHO,  s.  m.  Pequeno  rio. 

RIADO,  adj.  Termo  antiquado.  .tVr- 
rciado. 

RIBA,  s.  f.  Outcirinho,  coUina,  ou  ter- 
ra levantada,  que  está  eminente,  ou  so- 
branceira a  um  rio,  caminho,  povoaçio, 
etc. 

—  Termo  antiquado.  Ribeira,  ou  terra 
da  visinhança  do  algum  rio. 

—  Ribanceira,  margem.  Vid.  Alcantil. 
—  «  Como  estourar  do  rolo  de  mar  enca- 
pcUado,  tombando  de  súbito  sobre  os  al- 
cantis d'extensas  ribas,  as  lanças  cruza- 
das.» Alexandre  Herculano,  Eurico,  ca- 
pitulo 10, 

Kobrc  Jubt. 
O  louro  (los  hcroc»  cu»t,i  ninis  ganpue 
E  laprym.is,  do  que  águas  leva  o  Tibre, 
A  cujas  ribas  cresce  a  fatal  rama. 

OABBETT,  CATÃO,  SCt.  5,  SC.  G. 

—  Logares  de  riba-niar;  logares  sitos 
á  margem  do  mar. 

—  Loc.  AnvEUKiAi. :  ..i  riba;  acima. — 
Ir  a  riba.  Vid.  Arriba.  —  «O  qual  por  ser 
muito  conhecido  per  todas  aquellas  par- 
tes, e  tido  por  homem  de  verdade,  e  sa- 
ber bem  a  língua,  foz  tjinto  com  hum  se- 
nhor dos  princip.aes  que  vivem  por  aquel- 
le  rio  a  riba  (posto  que  fosse  subjecto  a 
el  Kei  de  Bintaõl  que  ouue  por  bem  os 
das  suas  terras  tornarem  a  leu.ir  man- 
timentos a  Malaca.»  Daniilo  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  .^,  cap.  79. 

—  Loc.  .viiVEiíiUAL :  De  riba;  de  ci- 
ma, do  alto  para  baixo. 

RIBADA,  .«.  /.  Vid.  Riba,  e  Alcanti- 
lada. 

RIBADILHA.  .«.  f.  Vid.  Rabadilha. 
RIBALDARIA,  «.*  /".  Acto  de  ribaldo. 

—  Termo  de  direito  maritlmo.  Vid. 
Barataria. 


RIBE 


RIBE 


RIBE 


2Ô3 


RIBALDERIA,  s.  /.  Vid.  Ribaldaria. 

RIBALDIA,  s.  f.  "Vid.  Ribaldaria. 

RIBALDIO,  A,  adj.  —  Figo  ribaldio;  fi- 
go de  uma  espécie  bravia. 

RIBALDO,  A,  s.  Seg:iim?o  uns,  signifi- 
ca homem  vil,  perverso;  segundo  outros, 
mariola,  que  embarcava  e  desembarcava 
as  fazendas  nas  margens  do  rio  Sena; 
porém  propriamente  é  o  liomem  mau,  ve- 
lhaco. 

RIBA-MAR,  s.  m.  A  margem  do  mar. 
Vid.  Riba. 

RIBANÇA,  s.  /,  Termo  antiquado.  Ri- 
ba, margem  alta. 

RIBANCEIRA,  íí.  /,  Margem  do  rio  a 
pique. 

RIBAR,  V.  a.  Termo  antiquado.  Derri- 
bar, lançar  por  terra,  demolir. 

RIBAS,  adv.  Termo  antiquado.  O  mes- 
mo que  arriba,  e  acima.  —  Estas  terras 
ribas  escriptas.  —  Segundo  a  ribas  Jica 
dito. 

f  RIBATEJO,  s.  f.   A  ribeira  do  Tejo. 

—  «  E  porque  os  Franceses  com  os  Ye- 
nezeanos  se  não  concertarão,  os  France- 
ses recolherão  as  mercadorias  a  seus  na- 
uios,  e  venderão  as  gales  que  el  R'3v 
comprou,  e  mandou  leuar  a  ribatejo,  ate 
ver  o  que  a  Senhoria  de  Veneza  ordena- 
ua  delias.  E  assi  defendeo  que  ninhumas 
cousas,  que  das  ditas  gales  forão  toma- 
das, em  seus  Rejnos  não  fossem  compra- 
das, o  que  assi  se  comprio.»  Garcia  de 
Rezende,  Chronica  de  D.  João  II,  capi- 
tulo 58. 

RIBEIRA,  s.  /.  (Do  francez  rivièrt). 
Ribeiro,  rio. 

O  mastro  da  fortaleza 
Como  cristal  reluzia ; 
A  vela  corri  fé  cozida 
Todo  o  mundo  esclarecia  ; 
A  ribeira  mui  serena, 
Que  nenhum  vento  bolia. 

GIL  VICENTE,  AUTO  DA  BABCA  DO 
PC  BG  ATOBIO . 

—  «  Sabidos  da  Cidade,  demos  em  tan- 
tas ortas.  pomares,  jardins,  e  vinhas,  que 
por  espaço  de  três  legoas  não  vimos  ou- 
tra cousa,  regadas  todas  cõ  muvtas  fon- 
tes, e  cora  huma  ribeira  dagoa  excelen- 
tíssima, ao  logo  da  qual  caminhamos  dous 
dias,  sem  lhe  podermos  achar  o  princi- 
pio ou  origem,  por  a  ter  desviada  do  ca- 
minho.» Frei  Gaspar  de  S.  Bernardino, 
Itinerário  da  índia,  cap.  16. 

—  Terra  baixa  junto  ao  rio.  —  «O  ca- 
pitão Ruy  Lourenço  vendo  toda  a  ribeira 
despejada  e  querendose  por  em  consulta 
do  que  faria:  viraõ  vir  hum  mouro  cor- 
rendo com  huma  bandeira  das  quinas 
reaes  deste  Reyno  aruorada  em  huma 
aste,  bradando  per  arauia  paz  paz  paz.» 
João  de  Barros,  Década  1,  liv.  7,  cap.  4. 

—  « As  casas,  muros.  Torres,  Castellos, 
e  Mesquitas  todas  saõ  de  adobes,  e  betu- 
me sem  auer  huma  de  pedra.  He  a  Cida- 
de muy   abundante  de  todos  os   manti- 


mentos, os  quaes  se  vendem  a  pezo  atè 
caruão,  com  sua  ribeira  de  peyxe,  que 
se  pesca  nos  três  rios,  em  que  se  tomão 
alguns  tão  grandes,  como  pescadas  muy 
gordo,  e  gostoso.»  Fr.  Gaspar  de  S.  Ber- 
nardino, Itinerário  da  índia,  cap.  19. 
—  « E  por  terra  de  longo  da  ribeira 
mandou  hum  esquadrão  de  dous  mil  ho- 
mens pêra  os  favorecerem,  e  elle  ficou 
cora  outros  dois  mil  no  campo.  Os  navios 
chegarão  às  nàos,  e  lhes  deraõ  fogo,  em 
que  todas  ellas  se  consumirão  e  mais  de 
trinta  navios  outros.»  Diogo  de  Couto, 
Década  6,  liv.  8,  cap.  13. —  «Esta  ca- 
bilda  de  Abida  estaua  onze  legoas  de  Ca- 
fim,  sobre  Xiatima,  na  ribeira  de  Aguz. 
Lopo  barriga  andou  alguns  dias'fora,  nos 
quaes  deu  com  a  gente  que  leuaua  de  ca- 
uallo  fauor,  e  soccorro  aos  Dabida  contra 
os  de  Xiatima,  que  por  não  serem  nossos 
amigos  estauam  com  elles  de  guerra.» 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  3,  cap.  32.  —  «  O  que  feito  se  tor- 
naram perà  bandeira,  que  com  os  mais 
Christãos  estaua  esperando  por  elles  em 
hum  teso,  donde  logo  Nuno  fernandez  da- 
taide,  e  dom  Pedro  de  sousa  aballaram,  e 
foram  cear  em  huma  ribeira  que  se  cha- 
ma Ihenim  lubem  hahabras,  quatro  le- 
goas do  porto.»  Ibidem,  part.  3,  cap.  75. 

—  A  ribeira  oriental  do  Ganges ;  a  bor- 
da, ou  margem  oriental  do  rio  Ganges. 

Digno  estudo  de  hum  Sábio.  O  Vate  apenas 
P<5dc  03  olhos  deter,  e  a  fantasia 
No  quadro  universal  da  Natureza ; 
E  ao  que  resalta  mais,  e  he  mais  brilhante, 
Seus  versos  consagrar.  Corre  a  meus  versos, 
Meu  canto  aformosèa,  ó  bello  Insecto, 
Que  da  ribeira  oriental  do  Ganges 
Vencedor  Europeo  trouse  entre  as  palmas. 

J.   A.   DE  MACEDO,   HEDITAçlo,   Cant.   O. 

—  A  ribeira  do  mar;  a  praia.  —  «A 
Cidade  está  situada  ao  sob  pé  desta  ser- 
ra, quando  se  mette  no  mar,  onde  se  fa- 
zem dous  portos,  hum  tem  o  rosto  na  ri- 
beira do  mar  per  onde  se  a  Cidade  ser- 
ve, a  que  elles  chamam  Focáte,  o  qual 
fica  abrigado  de  alguns  ventos  com  hu- 
ma ilheta,  que  tem  diante  chamada  Ly- 
ra. »  Barros,  Década  2,  liv.  7,  cap.  8. 

—  Toma-se  também  pela  terray  que 
de  inverno  foi  lavada  do  rio. 

—  As  terras  que  ficam  ao  longo  do 
curso  de  um  rio,  e  perto  d'elle.  —  «E  era 
toda  de  madeira  sem  muros  nem  caua, 
somente  a  defensão  dos  homens  como  ge- 
ralmente se  ve  nas  grandes  pouoações : 
prouiase  deste  grão  numero  do  peças  de 
artelharia  pêra  a  por  toda  ao  longo  da 
ribeira,  se  alguma  armada  ali  fosse  ter, 
principalmente  a  nossa  que  elle  mães  te- 
mia que  outra  alguma,  por  as  marauilhas 
que  vira  fazer  a  artelharia  que  Diogo 
Lopez  de  Sequeira  leuaua.»  Barros,  Da- 
cada  2,  liv.  tí,  cap.  1. 

—  A  parte  da  margem  de  um  rio,  em 
que  estão  os   arsenaes,  e  se  fabricam  os 


navios.  —  «O  Visorey  se  foy  à  ribeira 
das  Armadas,  e  com  muita  pressa  man- 
dou preparar  os  galeons,  caravelas,  ga- 
lez,  e  fustas,  e  como  na  ribeira  havia 
ainda  mais  de  quinhentos  homens  do  mar, 
repartindo-se  por  todas  as  embarcaçoens, 
as  foraõ  preparando  sem  confusão,  nem 
estorvo  de  huns,  e  outros,  pela  boa  or- 
dem que  naquelle  negocio  houve.»  Dio- 
go de  Couto,  Década  6,  liv.  10,  cap.  5. 
• — •  «E  desembarcando  em  terra,  despois 
que  se  lhe  mostrarão  algumas  cousas  que 
Pêro  de  Faria  quiz  que  ella  visse  por  fa- 
zerem em  nosso  caso,  como  foraõ  os  al- 
mazeus,  a  ribeira,  a  armada,  a  feitoria, 
a  alfandega,  a  ca-a  da  pólvora,  e  outras 
cousas  que  ja  para  isso  estavão  prepara- 
das.» Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  29.  —  «Mas  nam  passaram  oi- 
to dias  que  Lopo  Barriga  nam  tornasse  a 
chamado  dos  me.<mos  Árabes  ver  se  po- 
dia tomar  este  castello  de  Algel,  com  os 
quaes,  e  com  cento,  e  cincoenta  de  ca- 
uallo,  que  leuaua,  e  alguns  besteiros,  e 
espingardeiros  de  pe  se  foi  assentar  em 
huma  ribeira,  ao  pe  do  rochedo  d'aquel- 
la  furna,  ou  lapa,  que  he  três  legoas  do 
castello.»  Damião  do  Góes,  Chronica  de 
D.  Manoel,  part.  3,  cap.  73.  ■ —  «Contra 
o  qual  repartio  suas  estancias  pelo  modo 
seguinte,  o  miradouro  que  he  da  porta 
da  ribeira  ate  o  baluarte  da  perna  dara- 
nha,  encommendou  a  Femam  caldeira 
com  cem  homens  entre  os  quaes  eraô 
pedrafonso  homem,  e  seus  irmãos,  loam 
fernandes  torres,  fernam  meirinho,  Gas- 
par caldeira,  e  Antão  Roiz.»  Ibidem,  part. 
4,  cap.  5.  —  «Faleceo  nos  paços  da  ri- 
beira, de  huma  febre  specia  de  modorra ; 
doença  de  que  naquelle  tempo  em  Lisboa 
morria  muita  gente  da  qual  acabo  dos 
noue  dias  que  lhe  tocou  deu  a  alma  a 
Deos,  em  idade  de  cincoenta,  e  dous  an- 
nos,  seis  meses,  e  treze  dias  dos  quaes 
regnou  os  vinte,  e  seis  hum  mes,  e  deza- 
noue  dias.»  Ibidem,  part.  4,  cap.  83. 

—  Carpinteiro  da  ribeira;  carpinteiro 
que  trabalha  na  construcção  náutica. 

—  Termo  de  agricultura.  A  terra  que 
serve  como  de  margem  ao  pomar,  vinha. 

—  A  ribeira  de  Lisboa;  o  mercado  do 
peixe. 

—  Adjecti vãmente :  Terras  ribeiras  ; 
terras  marginaes  dos  rios, 

—  Adagio  e  provérbio  : 

—  Tu,  ribeira,  alta  vils,  não  te  passa- 
rei, não  me  levarás. 

—  SrN. :  Ribeira,  margem.  Vid.  este 
ultimo  termo. 

RIBEIRÃO  A,  s.  f.  Corrente,  rio,  tor- 
rente. 

—  Termo  antiquado.  Correntes,  espa- 
danadas, golfadas  de  sangue,  que  cor- 
rem de  alguma  ferida,  golpe,  veia  rota, 
ou  chaga.  —  As  ribeiradas  do  nieu  gilvaz 
já  são  vedadas. 

RIBEIRÃO,  s.  m.  Augmentativo  de  Ri- 
beiro. Grande  ribeiro. 


896 


RIBE 


RIBE 


RICA 


—  Dii-80  osto  nome,  non  districtos  diii- 
mantiuos  do  Brazil,  a  ccrto.s  torreiKw, 
próprios  para  a  lavra  de  iiiiuas  do  dia- 
mantes. 

RIBEIRINHA,  s.  /.  Diminutivo  de  Ri- 
beira.  I'i:i(iicna  ribeira,  riacho, 

RIBEIRINHO,  s.  vi.  Diminutivo  de  Ri- 
beiro. J'i'.(|iiiMio  ribeiro. 

—  Mo(,:o  da  ribeira  do  jx-ixe,  e  mcrea- 
dos. 

—  Moço  da  ceirinha. 

—  Moço  de  guarilar,  moço  qiio  faz  car- 
rotoB  em  eavalfçaduras. 

■     — -^'Jj-  Que  anda  ou    vivo    na:j    ribei- 
ras.—  Ave  ribeirinha. 

—  Que  mora  na.s  ribeiras  do  mar,  rias, 
etc. 

RIBEIRO,  s.  VI.  Agua  que  mana  de  al- 
gum olho  ou  fonte. 

A  formosura  desta  fresca  sorra, 

E  a  sombra  doa  vcrdoa  castanheiros, 

O  manso  caminhar  dpstos  ribeiros, 

líondo  toda  a  tristeza  se  desterra ; 

O  ronco  .som  do  mar,  a  estranha  terra, 

O  esconder  do  sol  pelos  onteiros, 

O  recoilier  dos  p.ados  di^rradciros,  " 

Das  nuvens  pelo  ar  a  hi-anda  guerra. 

CAM.,  SONETOS,  D."  2tí9. 

—  «O  cavalleiro  do  Sal  vage  todo  o  dia 
gastou  na  conversação  da  donzella  ao 
longo  do  ribeiro,  onde  passaram  a  sesta 
debaixo  dos  arvoredos  que  occupavam. 
Chegada  a  noite,  porque  n.ão  sentiram 
nenhum  povoado  onde  seguramente  a  po- 
dossom  ter,  tiveram  por  con.solho  mais 
eeguro  passarem-ua  naquollo  mesmo  lu- 
gar.» Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
dlnglaterra,  cap.  107.  —  «Em  todo  olle 
niio  entra  rio  de  agua  doce  quo  seja  no- 
tável ;  porque  a  torra  do  Arábia,  depois 
que  entram  as  portas  do  estreito,  he  mui 
secca,  e  estéril,  somente  tem  hum  rio,  a 
que  elles  chamam  Bardillo,  que  quer  di- 
zer branco,  e  preto  por  ,so  ajuntar  de 
dous  pequenos  ribeiros,  hum  dos  qu-aes 
tem  a  agua  branca,  e  o  outro  preta.» 
Barros,  Década  2,  liv.  8,  cap.  1. 

Quo  estranhos  casos  vi  no  monte,  <■  prado 
Era  quanto  ouvi  teu  canto :  Aiiuellc  outeiro 
Hum  pouco  se  movoo,  c  esto  ribeiro. 
Para  te  ouvir  melhor,  ficou  parado. 

J.    X.    r>E   MATTOS,   RIMAS. 

A  esta  nova  se  abala  o  campo  inteiro, 
I)'huma  parte  para  outra  a  pente  tece, 
E  com  tal  fúria  sahc,  qiuil  o  ribfiro 
Traz,  fjuo  no  inverno  hi  do  monto  decc ; 
E  como  uenlnun  quer  ser  derradeiro 
Em  tanta  (luautidade  a  gente  crecc, 
Que  (juem  nolla  quizora  pôr  o  tonto 
Bom  vira  quo  era  quatro  vezes  cento. 

r.  d'andrade,  rniHBiBO  cebco  de  Diu,caut.  11, 
est.  92. 


—  4  Chegamos  ao  meio  dia  a  sitio  on- 
de achamos  aeeomodação  feita  pelos  ín- 
dios muito  bastante  e  bem  escolhida,  por 
ser  em  sitio  por  onde  tluia  um  grande  ri- 


beiro por  leito  d'alvissima  areia  c  cxecl- 
Icnto  agua  n3o  só  pela  frescura  do  neve 
que  também  pída  líondadc  <liurectiea.» 
Bispo  do  <!rrio  Pará,  Memorias,  ))ublica- 
das  por  ('amillo  Castello  Branco,  pag. 
188. 

RIBES-NEGRO,  x.  m.  Cacis;  planta. 

RIBETE,  .1.  III.  Fita  de  armar,  de  real- 
çar, de  guarnecer. 

—  Termo  de  architcctura.  An  estrias 
do  ribete. 

t  RIBEYRA,  s.  f.  Vid.  Ribeira.  —  tDa- 
(|uy  de^ta  ribeyra  até  o  arrayal  dei  Key, 
que  podiaõ  ser  duas  legoas,  caminhou  cíS 
a  gente  fiira  da  ordenança  quo  até  aly 
trouxcr.a,  assi  por  se  não  encontrar  cij  a 
muyta  que  peio.s  caminhos  em  magotes  o 
estava  esperando,  como  também  pela  ou- 
tra que  os  «(ínhores  trazlão  eomsigo.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações, 
cap.  10.  —  «E  chegado  ás  tren  lioras 
despois  do  mcyo  dia  a  huma  ribeyra  que 
se  chamava  Palemxitau,  o  veyo  aly  re- 
ceber ao  caminho  hum  capitão  Tártaro 
com  obra  de  cento  de  cavallo,  o  qual 
avia  Ja  dous  dias  que  aly  o  estava  espe- 
rado, o  lho  deu  huma  carta  dei  Iley  que 
trazia  para  clle,  a  qual  elle  estimou  muy- 
to,  e  a  recebeo  do  que  Uia  tra/.ia  cõ  gra- 
de cerimonia  de  cortesias.»  Ibidem.  — 
«E  logo  cl  Rey  se  foy  dally  a  pe,  e  a 
Raynha,  o  Princesa  como  mortas,  leua- 
das,  c  atrauessadas  em  mulas  ás  casas 
de  Vasco  Palha,  que  são  na  mesma  ri- 
beyra.» Clareia  de  Rezende,  Chronica  de 
D.  João  II,  cap.  132.—  «He  terra  nion- 
tuosa,  mas  alegre,  fresca,  e  chea  de  muy- 
to  aruoredo,  o  largas  ribeyras  dagoa  do- 
ce, e  não  menos  do  muy  caudelosos  rios, 
e  enceadas  da  salgada.»  Fr.  Gaspar  de 
S.  Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap. 
2.  —  «Do  mar  viamos  a  gente  pelos  mu- 
ros, e  praya  derramada,  que  com  gran- 
díssimo aluoroço  nos  esperauão.  E  nòs 
quo  com  outro  scmelhãte  estauamos  de 
nos  vermos  em  terra.  Em  làçãdo  ferro 
se  cobrio  de  Mouros  toda  a  ribeyra,  liuns 
que  vinhão  perguntar,  e  saber  nonas,  ou- 
tros buscar  seus  amigos,  e  parentes.» 
Ibidem,  cap.  6.  —  « A's  duas  horas  da 
tarde  chegou  o  Ermitão,  pêra  com  clle, 
meu  companheiro,  e  o  nosso  lingoa  hir- 
mos  ver  a  horta  dei  Rey,  que  seria  de 
grande  meya  legoa,  com  três  ribeyras 
muy  caudalosas,  que  a  atrauessauào,  e 
regauão  toda.»  Ibidem,  cap.  lã. — ■  «Es- 
ta fez  vir  Aluardiehão  o  anno  de  mil  e 
aeyscentos  c  quatro,  à  orta  dei  Rey  de 
mais  de  vinte  legoas.  Tanto  que  perde- 
mos a  ribeyra  de  vista,  nos  embrenha- 
mos em  huns  grandes  bosques,  de  car- 
ualhos,  e  aruores  de  enccnso,  por  entre 
as  quaes  andamos  dous  dias  o  mcyo  com 
muyto  gosto,  indo  sempre  emparados  eom 
suas  sombras.»  Ibidem,  cap.  lli.  —  «A 
Cidade  Niniue  e-;tà  junto  da  eiTrento  do 
rio  Tigris  ao  Oriente  da  Mesopotâmia. 
Lembrado  estou  quo  Diodoro  Syculo,  não 


consente  bcu  assento,  senão  na  ribeyra 
do  Eufrates.»  Ibidem,  eajj.  17.  —  «Ao 
longo  do  algumas  delias  corre  a  ribeyra 
.Sitiga  de  muy  boa  agoa.  Ho  trato  da 
terra  he  graiulissinio,  pela  muytJi  varie- 
dade de  nações  que  neila  moram.»  Ibi- 
dem, cap.  22. 

RIBOMBAR,  V.  u.  Resoar,  retumbar. — 
Ribombaram  o»  echos.  Vid.  Rebombar. 

RIBOMBO,  s.  ,n.  Vid.  Rebombo. 

RIBRANQUIO,  A,  wlj.  —  Fi,jo  ribran- 
quio;  esj^eeie  de  }í;íos,  quo  são  vermclUoA 
interiormente,  e  esbranquiçados  exterior- 
mente 

RICAÇO,  A,  ailj,  AugmentativodeRico. 
Termo  popular.   Muito  rieo. 

—  Substantivamente:  Um  ijrarule  ri- 
caço. 

RICADONA,  «.  /.  Termo  antiquado. 
Mulher,  viuva,  ou  filha,  c  successora  do 
rico-liouicni. 

RICAMENTE,  adv.  (De  rico,  com  o  suf- 
llxo  «mente»;.  De  um  modo  rico. —  CW- 
sar  uma  Jilha  ricamente. 

—  Maguitieamentc,  com  riqueza,  cus- 
to-samente,  com  magnificência,  luxo,  os- 
tentação. —  «Dizendo,  que  .ainda  que  seu 
escudo  era  Real,  por  sua  gloria  e  louuor 
fosse  de  victorias  de  Reys  ricamente  bor- 
dado, n.ào  seria  agora  menos  acompanlia- 
do  com  memorias  de  Reys  quo  fizesse. 
Que  as  primeira.s  per  ventura  seriào  bc- 
netícios  de  fortuna,  e  esta  seria  a  própria 
i)ondade,  o  grandeza  de  seu  coração.» 
íiareia  de  Rezende,  Chronica  de  D.  João 
II,  cap.  78.  — «E  daliy  se  tomaram  a 
Borba,  e  a  Princesa  começou  seu  cami- 
nho a  dez  dias  do  mes  de  Noucmbro,  e 
vinha  com  cila  o  Cardeal  dom  Pêro  Oon- 
çaluez  de  Mendoça  Arcebispo  de  Tole- 
do, e  o  Mestre  Dalcantara,  e  o  Conde 
de  Benaucnte,  e  o  Conde  de  Feria,  o 
Bispo  de  laem,  e  dom  Pedro  Porto  C.ar- 
reiro,  e  Rodiúgo  Dilhoa  Contador  mor, 
quo  vinha  por  Embaixador,  e  assi  outros 
niuytos  ricamente  aparelhados.»  Ibidem, 
cap.  120.  —  «Encima  dos  primeyros  três 
degraos  destii  tribuna  estavão  oito  por- 
tevros  cõ  suas  maças  de  prata  cm  pé,  e 
embaixo  no  chão  sessenta  homens  Mogo- 
res  muyto  bem  despostos,  em  duas  filey- 
ras,  assentados  em  joelhos,  com  alabar- 
das  atauxiadas  douro  nas  mãos,  c  na 
diautcyra  destes,  em  pé,  como  tenentes, 
ou  cabos  do  esquadras  dous  gigantes  fan- 
tásticos muyto  bem  desjxwtos,  e  ricamen- 
te vestidos,  eom  seus  troçados  a  tiracol- 
lo,  e  alabardas  muyto  grandes  nas  maõs, 
os  quais  os  mesmos  Chins  ch.-un.ão  em  sua 
lingoa  gigauhos.»  Fernão  Jlendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  103. —  «A  pessoa 
delKey  e.stava  ericima  no  piambr«,  que 
era  a  tribuna,  corcjído  de  doze  meninos 
que  ao  redor  delle  estavão  em  joellioe, 
com  suas  maças  douro  pequenas  a  modo 
de  cetros,  postas  aos  ombros,  logo  mais 
atra.'»  estava  huma  moça  muyto  formosa, 
c  muyto  ricamente  vestida,  que  com  hum 


RICI 


RICO 


RICO 


297 


abano  o  abanava  do  quando  cm  quando, 
a  qual  era  irmani  do  Slitaquer  nosso  ge- 
neral, e  muyto  acerta  a  el  Rcy,  por  cu- 
jo meyo  elle  tinha  tamanha  valia  c  tama- 
nho nome  em  todo  o  exercito.»  Ibidem, 
cap.  122.  —  «Ao  qual  som  dançavão  tam- 
bém diante  delle  molherea  muito  formo- 
sas e  ricamente  vestidas,  ás  quais  o  po- 
vo dava  as  csmollas  que  se  offerccião,  e 
da  mão  delias  as  recebião  os  Sacerdotes, 
e  as  ofFerecicão  diante  da  tribuna  do  Ído- 
lo cõ  grandes  cerimonias  de  cortesias, 
deitandose  de  quando  em  quando  de  bru- 
ços no  chão.»  Ibidem,  cap.  IGl. —  «In- 
do no  fim  de  tudo,  ver  a  horta  dei  Rey, 
nos  sahio  ao  caminho,  huma  menina  de 
seys  annos,  alua  como  huma  Framenga, 
muy  linda,  e  ricamente  vestida,  e  che- 
gando nòs  diante  da  sua  porta,  veo  a 
correr,  e  se  nos  atrauessou  diante,  e  pon- 
do a  mão  no  peyto,  e  abayxando  a  ca- 
beça, disse  (Saia  Malech)  que  quer  di- 
zer, beyjouos  as  mãos.»  Fr.  Gaspar  de 
S.  Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap. 
13.  —  «Vinda  a  manhãa,  e  acabada  a  vi- 
gia, se  vestia  ricamente,  e  ouvia  na  mes- 
ma Igreja  Missa  cantada  mui  solemne, 
depois  da  qual  posto  de  joelhos  diante  do 
Padrinho,  era  perguntado,  se  queria  re- 
ceber aquel  la  honra?»  Manoel  Severim 
de  Faria,  Noticias  de  Portugal,  Disc.  3, 
cap.  28. 

—  Abundantemente,  com  abundância. 

—  Bem,  bellamente. —  «E  antre  as 
portas  Dauis  era  feyto  o  parayso  muyto 
grande,  muyto  alto,  ricamente  ordenado 
com  todalas  ordens  do  ceo,  com  muyto 
oui'0,  e  muyta  riqueza  concertado,  cousa 
de  muyto  custo,  e  auia  nelle  singulares 
cantores,  cousa  muyto  pêra  folgar  de 
ver,  e  ouuir.»  Garcia  de  Rezende,  Chro- 
nica  de  D.  João  II,  cap.  123. 

RICANHO,  A,  adj.  Termo  popular. 
Rico  avarento. 

—  Substantivamente:  Um   ricanho. 

RICA,  ou  RISSA,  s.  f.  O  pêllo  de  le- 
bre, castor,  etc.,  despregado  do  chapéu, 
quando  se  escarduça,  para  lho  voltar  o 
pêllo. 

RIÇAR,  V.  a.  Encrespar. 

—  Riçar  o  cabello;  concertal-o,  pegan- 
do na  guedelha  pela  ponta,  e  correndo  o 
pente  de  alisar  para  a  raiz,  com  que  fica 
preso,  crespo  á  maneira  do  dos  mulatos, 
e  preto? . 

RICHARTE,  adj.  2  gen.  Termo  popu- 
lar. Pequeno,  gordo  e  teso. 

■ —  Substantivamente :  Um  richarte. 

RIGINATO,  s.  m.  Termo  de  chimica. 
Género  de  saes,  resultante  da  combina- 
ção do  acido  ricinico  com  as  bases  salifi- 
Gaveis. 

f  RICINELAIDICO,  A,  a/j.  Termo  de 
ehimica.  Acido  ricinelaidico;  isomero  do 
acido  ricinostearico,  produzido  por  uma 
transformação  moilecnlar  d'este  ultimo, 
sob  a  influencia  dos  vapores  nitrosos. 

RICINICO,  A,  adj.  Termo  de  chimica. 
voL.  V.  — 38. 


Acido  ricinico ;  acido  obtido  pela  distil- 
lação  do  liquido  que  fica  depois  de  se 
ter  extrahido  o  acido  ricinostearico. 

RÍCINO,  s.  m.  Planta  exótica  da  famí- 
lia das  euphorbiaceas,  chamada  também 
palma- Christt. 

■ — •  Óleo  de  rícino ;  óleo  purgativo  ex- 
trahido das  sementes  do  ricino. 

—  Termo  de  historia  natural.  Carra- 
pato, género  de  insectos  apteros  mui  pró- 
ximo da  familia  dos  parasitas,  que  so- 
mente se  tem  encontrado  no  corpo  das 
aves.  Differem  dos  piolhos  por  terem 
mandíbulas  situadas  debaixo  da  cabeça, 
que  é  sempre  de  forma  achatada. 

f  RICINOSTEARICO,  A,  adj.  Termo  de 
chimica.  Acido  produzido  pela  saponifica- 
ção  do  óleo  de  ricino. 

RICO,  A,  adj.  Quo  possue  grandes 
bens.  — Jacob  tornnu-se  extremamente  rico, 
teve  grandes  rebanhos,  servos  e  servas,  ca- 
mélias e  burros.  —  «  E  se  no  caso  suso 
dito  fosse  a  dita  Doaçom  feita  em  tal 
modo,  que  logo  em  vida  d'ambos  valesse 
per  direito,  assy  como  quando  aquelle, 
que  a  faz,  nom  he  por  ella  feito  mais  po- 
bre, ou  aquelle,  a  que  he  feita,  nom  he 
por  ella  feito  mais  rico,  ou  qualquer  ou- 
tro caso,  e;n  que  tanto  que  a  Doaçom  he 
feita  pelo  marido  aa  molher,  ou  pela  mo- 
Iher  ao  marido.»  Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit. 
14,  S  7. 


Ir-vos-hcÍ3  por  esta  estrada 
Até  à  cidade  do  Creta, 
Onde  sereis  perfilhada 
De  hua  senhora  honrada 
Mui  nobre,  rica  e  discreta. 

Gil.  VICENTE,  COMKDI.\  DE   RUBEN  A. 


—  «Partido  elle,  ficaraS  todos  quatro 
levando  a  melhor  vida  que  os  homens  le- 
varão :  que  estas  irmãas  além  de  sua  fer- 
mosura  eraõ  mui  ricas,  e  abastadas  de 
todalas  cousas  pêra  a  deleitação  da  vida, 
e  por  espaço  de  hum  mez  que  estes  Ca- 
valleiros  alli  estiveraõ,  emprenhou  Alta- 
mira,  que  foi  pêra  ella  grande  contenta- 
mento, pois  não  S(jmente  aquelle  filho  a 
fazia  herdeira,  mas  ainda  lhe  havia  de 
dar  tanto  louvor  com  suas  obras.»  Bar- 
ros, Clarimundo,  liv.  2,  cap.  24.  ■ —  «E 
mães  que  hum  Rey  taõ  poderoso,  e  rico 
como  elles  diziaõ  ser  o  seu,  mal  mostra- 
ua  este  poder  no  presente,  que  lhe  man- 
dara: pois  eraõ  peças  que  qualquer  mer- 
cador que  vinha  do  estreito  as  daua  me- 
lhores.» Idem,  Década  1,  liv.  4,  cap. 
9.  —  « A  qual  segundo  tinha  entendi- 
do, Pulate  Can  contrariava,  e  todo  o 
seu  negocio  era  ir  avante  com  aquella 
guerra,  como  homem  que  se  via  rico,  e 
honrado  depois  que  a  começou.»  Idem, 
Década  2,  liv.  6,  cap.  9.  —  «Esta  Cida- 
de posto  que  antigamente  foi  mui  rica,  e 
celebre,  com  nossa  entrada  na  índia  se 
fez  mais :  cá  os  principaes  mercadores 
que  viviam  em  Calecut,  Cananor,  e  per 


toda  aquella  costa  da  índia,  o  assy  de 
dentro  do  estreito  do  mar  Roxo  na  Cida- 
de Judá,  se  passaram  alli.»  Idem,  Ibi- 
dem, liv,  7,  cap.  8.  —  «  Depois  de  cura- 
dos. Solviam  tornovi  á  cidade  por  andas, 
e  nellas  os  levaram  a  casa  de  um  caval- 
leiro  nobre  e  rico,  que  ahi  perto  vivia, 
onde  sem  nenhum  accordo  estiveram  os 
primeiros  dias.»  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  81. 


Agora  a  rica  Ormuz  estremecendo, 
Agora  Afeliapór,  c  o  CTiizaratc, 
Aftamados  destrictos  discorrendo. 

J.   I.    DF.  MATTOS,  BIMAS. 


—  oE  aquelle  mesmo  dia  fomos  dor- 
mir a  hum  Mosteyro  de  officinas  no- 
bres e  ricas  que  se  dizia  Satilgão,  e  como 
ao  outro  dia  foy  mcnham,  caminhamos 
ao  longo  de  hum  rio  mais  cinco  legoas, 
até  hum  logar  quo  se  chamava  Bitonto.» 
Fernão  Mondes  Pinto,  Peregrinações, 
cap.  4.  —  «Das  quais,  nos  dous  meses 
que  aqui  andamos  em  nossa  liberdadéj 
vimos  algumas  dez  ou  doze  em  que  avia 
infinita  gente,  assi  de  pé  como  de  cavai- 
lo,  que  numas  caixas  como  de  bufaria 
nheyros  vendião  quãtas  cousas  se  podem 
nomear,  a  fora  as  tendas  ordinárias  dos 
mercadores  ricos,  que  em  suas  ruas  par- 
ticulares estavão  postos  por  muyta  boa 
ordem.»  Ibidem,  cap.  107.  —  «Este  em- 
baixador, alem  da  visitação  que  vinha 
fazer  como  os  outros,  vinha  também  tra- 
tar casamento  deste  Emperador  Caraõ 
com  huma  irmam  do  Tártaro,  que  se  cha- 
mava Meica  vidau,  que  quer  dizer,  çafi- 
ra  rica,  molher  ja  de  trinta  annos,  mas 
bem  assombrada,  e  muyto  inclinada  a  fa- 
zer bem  aos  pobres  pelo  amor  de  Deos.» 
Ibidem,  cap.  124.  —  «Os  outros  capi- 
taens  eram  Diogo  Barbosa  criado  de  dom 
Aluaro,  irmam  de  dom  Fernando  Duque 
de  Bragança,  cuja  a  nao  era,  e  Francis- 
co de  nouaes  criado  dei  Rei,  e  da  cara- 
uella  Fornam  vinet  de  naçam  Florentim 
criado  de  Bartolomeu  Marchione  Floren- 
tim, senhorio  da  carauella,  mercador  mui- 
to rico.»  Damião  de  Góes,  Chronica  de 
D.  Manoel,  part.  1,  cap.  63. —  «Desta 
cidade  partio  Diogo  Lopez  de  Siqueira 
pára  a  de  Malaca,  a  qual  chegou  aos  onze 
dias  do  mesmo  mes  de  Septembro  que 
naquelle  tempo  era  a  mais  prospera  qUe 
so  sabia  em  todo  mundo,  porque  auia 
nella  mercadores  tam  ricos,  e  de  tanto 
cabedal,  que  fallauão  per  babares  douro, 
que  tem  cada  bahar  quatro  quintaes,  dos 
quaes  babares  alguns  destes  mercadores 
tinham  entam  dez,  e  doze.»  Idem,  Ibi- 
dem, part.  3,  cap.  1. —  «E  as  mulheres 
de  alguns  cidadãos  ricos  lhe  mandarão 
quantidade  de  jóias,  com  huma  carta 
cheia  de  honradas  queixas  pelas  não  ha- 
ver aceitado,  nem  despendido  na  primei- 
ra offerta;  mostrando-se  as  de  Chaul,  ain- 
da que  no  exemplo  segundas,  na  offerta 


298 


KICO 


maiores.»  Jaclntlio  Freire  (l'Andradc, 
Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv.  4.  —  «Ve 
HO  ;i  priínoini  iia  ílí^uni,  <iiii!  llie  o  Trofc- 
t:i  dou  n;i  ]jíiral)oi;i,  a  qual  ioy  do  pere- 
grino, ((uo  jia.sHaiido  do  caiiiiiilio  se  aga- 
aalliíju  por  liospedc  sòinontu  cm  casa  do 
rico;  sem  duuida  porá  siíçniHcar,  que 
liam  fora  toui.^iiu  do  pobre  lloy  catre{,'ar- 
Be  per  niuyto  tempo  ao  adultério,  e  que 
mais  cahira  a  caso  fazendo  conta  que  a 
paixam  passaria,  e  elle  se  aleuautaria, 
que  de  jiroposito,  pêra  se  deter,  o  deixar 
estar  iiella  iiuiytos  dias.»  Lucena,  Vida 
de  S.  Francisco  Xavier,  liv.  6,  cap.  10. 


Oh !  que  fazem  una  caldosiulios 

para  sogros  velho»  rico* 

quo  são  bicos 

d<í  rosinócs;  uns  olhinhos 

da  panola,  uns  bcloricos 

que  oUas  lavram  Ac.  pontinhos. 

ANTÓNIO  rBKSTES,  AUTOS,  pag.  255. 


—  ^ico  feitio.  Vid.  Feitio,  e  Ricofei- 
tio. 

—  Casas  ricas ;  casas  com  magnificên- 
cia. —  «E  juntamente  se  descobrem  gran- 
des braços  de  rios  por  onde  vem.  lia  hu- 
mas  embarcações  em  que  navegam  os  re- 
gedores, as  quaes  tem  gasalhados  altos  e 
de  dentro  csisas  muito  bem  feitas,  doura- 
das, ricas  c  muito  galantes.»  Frei  Gas- 
par da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da  Chi- 
na, liv.  í>. 

—  Ricos  ifjnorantes. 


Cobertos  de  baldõos,  e  de  impropérios, 
Dos  Bicos  ignorantes,  c  dos  (Irandos, 
Com  mofa,  e  com  desprezo  saõ  olhados. 
"  niHiz  DA  cRCz,  UYBSOPK,  cant.  1. 


—  Cidades  ricas;  cidades  possuidoras 
(lo  grandes  riquezas.  —  «Era  diuisa  em 
duas  cabeceiras,  com  tudo  gouernauasse 
sem  diuisoens,  nem  desconcertos,  o  que 
80  poucas  vezes  acostuma  cm  lugares  pe- 
quenos, quanto  mais  em  tamanhas  cida- 
des, e  tan\  ricas  como  esta  era.»  Damião 
do  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3, 
cap.  47.  —  «Xenophonte,  c  loiío  Annio 
dizem,  que  os  antigos  chamauão  as  Cida- 
des rústicas,  e  pobres  MonopiMy ;  pala- 
wra  Grega,  que  significa  singela;  e  as 
quo  crJio  ricas,  e  politicas  dezião  Dipò- 
ly;  quo  quer  dizer  dobrada,  e  a  que  era 
jirineipal  em  huma  Prouincia,  se  chama- 
na  Tripòly.»  Fr.  Gaspar  de  S.  Bernardi- 
no, Itinerário  da  índia,  cap.  18. 

—  Mouro  rico ;  mouro  que  tinha  mui- 
to do  seu.  —  «Na  da  laoa  maior  havia 
um  mouro  muito  rico,  per  nome  P:\teo- 
nuz  senhor  da  cidade  do  larapa,  situada 
na  costa  do  mar,  o  qual  muitos  dias  an- 
tes quo  Aftonso  Dalbuquorque  tomasse 
Malaca  se  earteaua  com  Vtetimutaraja,  o 
qual  per  alguns  agrauos  quo  dezia  ter 
dei   Rei   determinou   per   seus  modos,  c 


RICO 

meos  dar  entrada  a  ràtconuz  aa  cidado, 
o  o  fazer  liei.»  Damiilo  de  Goos,  Chroni- 
ca de  D.  Manoel,  part.  ."],  cap.  41. 

—  Vnif^as  ricas  «  abundanlcs,  —  «lul- 
guey  aquoUa  pouoayilo,  por  huma  das 
boas  de  toda  a  Pérsia.  Nella  ha  treze 
mil  fogos,  c  cinco  mil  homens  de  caualo, 
que  nestas  partes  saõ  umitos,  baratos,  c 
excelentes.  Tem  duas  praças  menos  cu- 
riosas quo  as  de  Lara,  mas  uiuyto  mais 
ricas,  e  abundantes,  d(!  todas  as  cousas 
necessárias.»  Fr.  (iasp.ar  de  S.  JJernar- 
dino,  Itinerário  da  índia,  cap.  14. 

—  Cavallciros  ricos;  cavalleiros  abas- 
tados, poderosos.  —  «Aliem  destes  vi- 
uião  uella  muitos  caualeiros,  naturais  da 
mesma  ilha,  ricos,  o  abastados,  que  scn- 
tretinhrio  de  suas  heranças,  c  soldo  que 
ganhauão  no  tempo  da  guerra.»  Dami.ão 
de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  ii, 
cap,  3. 

—  Mercadores  ricos  ;  mercadores  de 
bastantes  teres  c  cabedaes.  —  «Seguindo 
assim  viagem,  lhes  deu  hum  temporal 
com  que  a  armada  dei  Rei  de  Ormuz,  e 
algumas  das  nossas  velas  se  espalharam 
de  maneira  que  António  corrca  chegou 
ha  ilha  de  Baharem  com  so  loam  pereira 
onde  surglo  ao  mar  afastado  da  cidade, 
a  que  chamam  do  mesmo  nome,  muito 
formosa  de  edifícios,  gTaude,  e  bem  h.a- 
bitada  de  gente  nobre,  e  mercadores  mui 
ricos.»  Damião  do  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  4,  cap.  63.  —  «Na  guerra 
acreeentam  lanças :  e  armas  defensivas  de 
laminas  de  ferro  o  de  aço :  E  como  disse 
he  tamanha  íi  bondade  do  sitio,  que  so- 
bro ser  tam  estéril  aa  na  cidade  muytos 
e  muy  ricos  mercadores,  o  carafos  que 
cambam  a  moeda  e  de  grosso  trato  assi 
naturaes,  como  estrangeyros  do  diversas 
partes  do  mundo. »  António  Tenreiro,  Iti- 
nerário, liv.  1. 

—  Abharh  rico ;  abbade  que  possue 
bastante  riqueza.  —  «Huns  lhe  chamavaõ 
o  Clérigo  Santo,  outros  o  Abbade  rico, 
outros  o  Perulcii"o  ;  cm  tanto,  que  cres- 
ceo  a  cobiça  nos  mercadores  da  terra,  e 
se  piearaõ  a  fazerem  negocio  com  elle.» 
Arte  de  furtar,  cap.  64. 

—  Fazer  um  rico  casamento  ;  desposar 
uma  pessoa  que  tem  uma  grande  for- 
tuna. 

—  Figuradamente  :  Diz-se  das  quali- 
dades pessoaes  consideradas  como  um 
bem  de  grande  valor.  —  Est^  homem  é 
rico  cm  virtudes,  c  isso  vale  thesotiros. 


EUa  tom  das  virtudes  o  ornamento : 
Não  ha  dote  mais  rico  ,•  o  o  nosso  estado 
Para  ser  tào  foliz  como  Sagrado, 
S<í  lhe  faltava  o  seu  conscutimeuto. 

J.  X.  DE  1IATT03,    BIUAS. 


—  Abundante,    fértil,    productivo. 
Um  paiz  rico  em  searas. 


RICO 

IguiiL  jjrcço  nilo  he  dn  fonnonura 
Douro  a  arfiiii,  qufl  o  rico  Tejo  espraia, 
-Ma»  hum  amor,  qufi  para  Bcmpre  dura. 

(.'AUÕK8,  r,CI,00A  8. 


Quam  rica  descobriste  a  Katurcza ! 
De  HOu»  pineis  a  for(;a  a^iui  «c  ajtura, 
Sen  vigoroso  eolorido  excita 
No  génio  ás  .Musas  dado  amiomkro,  c  fogo ; 
Por  vastas  solidOes  eHt<.-nd>;  o»  rio», 
(2uo  ante»  de  entrar  no  mar  parcc<:m  mar«8. 
j.  A.  nr  MACKDO,  MHDiTArÃo,  Cant.  2. 

—  Figuradamente:  Fecundo  cm  idéa«i 
fallaiido  das  obras  do  espirito.  —  Uma 
matéria,  mn  assumpto  muito  rico. 

Por  certo  entre  os  mortau  nenhum  tí-  agora 
láo  profundo  saber  juntou  eo'a  rica 
Larga  vêa  caudal  d'aurca  eloquência. 

J.  A.  DE  MACEDO,  TIAGCU  EXTÁTICA,  Cant.  2. 

Da  Natureza  no  opulento  Império 
Vagnéa  Valisneri,  c  abrange  tudo 
Quanto  depoi.f  IJufton  na  rica  veia 
D'aurea  eloquência  ctcrnisím  nu  Mundo. 
iniDKM,  cant.  4. 

—  Precioso,  magnifico,  de  grande  pre- 
ço, de  custo. 

Depois  do  ja  acabado  o  copioso 
Esplendido  banquete  se  recolhem 
Per.a  onde  aparelhado  cstaua  hum  nobre 
Bem  laurado,  cuatoíio,  riro  leito. 
Omad'a  quadra  toda  d-'  huma  seda 
De  cor  varia  apraziuel,  c  lu8tro.sa 
Que  la  da  Pérsia  vem,  também  se  via 
Nella,  de  prata  hum  rico  e  sotil  vaso. 

COBTE  REAL,  NACrB.\GI0  DE  SEPCLVCDA,  CSnt.  4. 

Ali  cm  cadeiras  rira*  crystallinas, 
Se  assentam  dous  e  dous,  amante  c  dama ; 
N'outra3,  á  cabeceira,  douro  finas, 
Esfcí  co'a  bella  deosa  o  claro  Gama. 
CAH.,  Lus.,  cant.  10,  ost.  8. 

—  «Não  passou  muito  espaço  depois 
que  chegaram,  que  polo  mesmo  valle  vie- 
ram quatro  cavalleiros  armados  de  armas 
ricas  e  louçàos  e  sobro  tudo  fortes  ao  pa- 
recer :  chegando  <mdo  estava  Targiana 
detiveram  as  rédeas  aos  cavallos  olhan- 
do-se  uns  aos  outros,  como  quo  se  espan- 
tavam de  a  ver.»  Francisco  do  Moraes, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  S6.  —  <E 
foi,  que  estando  desenlazando  Palmeirim 
o  elmo  porá  o  tirar,  entrou  pois  porta 
uma  donzella  grande  de  corpo,  vc<»tida 
d'atavio8  ricos,  e  pouco  louçilos.»  Ibidem, 
c.,p,  93.  —  ,E  praticando  com  cila  o 
co'as  outras  passou  a  ceia.  quo  foi  ser- 
vida de  muitas  iguaria? ;  d'ahi  o  leva- 
ram a  uma  cam.ira  que  estava  rica  e  bem 
concertada,  onde  todas  juntas  o  ajud.i- 
ram  a  despir,  e  por  derradeiro  ao  tempo, 
que  se  despediram,  aquella,  que  á  mesa 
lhe  dera  de  beber,  se  chegou  a  elle  di- 
zendo.» Ibidem,  cap.  113.  —  «Ao  outro 
dia  atravessando  por  uma  floresta  vio 
sahir  debaixo  de  uns  arvoredos  altos  um 
cavalleiro  de  umas  armas  ricas,  que  alii 


RICO 

dormira  aquella  noite :  no  escudo,  que 
Uie  trazia  o  escudeiro,  viu  em  campo  ver- 
de um  tigre  de  ouro.»  Ibidem,  cap.  114. 

Deixa  aquella 

O  rico  fio,  com  que  urdia  a  tella ; 
Huma  deisa  do  satyro  o  queixume, 
Outra  de  ver  os  peixes  em  cardume, 
Como  saltão  na  rede  aos  pescadores ; 
E  ora  cheias  de  inveja,  ora  de  amores, 
Estão  debaixo  d'agua  a  huma  e  huma 
Levantando  as  cabeças  sobre  a  espuma. 

J.   X.   DE  MATTOS,  RIMAS. 

Vencedor  da  braveza  de  Neptuno, 
Senhor  do  seu  Tridente,  e  ricas  conchas. 

ANTÓNIO  FERBEIBA,  CARTAS,  1ÍV.  1,  U."  1. 

—  «Acabado  isto  estenderão  os  Verea- 
dores hum  muito  rico  pallio  e  o  tomàraõ 
debaixo,  hindo  o    Governador   sempre  à 
sua   maõ    esquerda   praticando   com   elle 
muito  ri.sonho,  e  alegre.»  Diogo  de  Cou- 
to, Década  6,  liv.  7,  cap.  5.  ■ —  «Alguns 
dias  depois  de  Afonso  Dalbuquerque  ter 
tomado  Malaca,  vendo  o  Lasamane,  como 
a  cidade  estaua  de  todo  à  obediência  dei 
Rei  de  Portugal,  tendo  por  noua  certa, 
como    el  Rei    Mahamed    morrera  de  no- 
jo, por  se  ver   despossado  de  huma  tam 
rica  jóia,  e  o   Príncipe   fora  desbaratado 
no  rio  de  Muar,  e  se  retirara  para  o  ser- 
tão.» Damião  de  Góes,    Chronica   de   D. 
Manoel,  part.  3,  cap.    19.  —  «Pelo   qual 
serui(;o  lhe  mandou  el  Rei  dom  Emanuel 
dar  hum  rico  presente,  e  o  mesmo  fez  a 
sua  molher  que  veo  a  este  regno,  com  a 
Rainha,   e  a  duas  sobrinhas   do  mesmo 
xeures    que    também    •vieram    com    ella, 
huma    casada   com   monsieur   de    Fiones 
no  Condado   de    Flandres,    e    outra   que 
depois  casou  com  monsieur  António  Mar- 
ques de  Berges,  no    ducado   do    Braban- 
te.»  Ibidem,  part.  4,  cap.  33. —  «Logo 
se  armou  hum  rico  doccl,  e  tudo  prepa- 
rado veyo  o  Gouernador,  acõpanhado  de 
todos  os  grandes,  os   quaes   se   forão  as- 
sentando, segundo  seus  grãos,  e  dignida- 
des,   como   conuinha   a   cada   hum.»  Fr. 
Gaspar  de  S.  Bernardino,    Itinerário  da 
índia,  cap.  14.  —  «E  neste  dia  ouue  ses- 
senta senhores  fidalgos  vestidos   de  opas 
roçagantes-  de  ricos  brocados,    e  sessenta 
senhoras,  donas,  e  damas  vestidas  a  fran- 
cesa de  ricos  brocados,  e  ouue  muvtos 
vestidos  de  ricas  sedas,  e  fizeramse  mur- 
tas festas.»  Garcia  de  Rezende,  Chronica 
de  D.  João  II,  cap.  2.  —  «O  qual  vinha 
saber  nouas  desta  terra  por  auorcm  por 
muyto  estranha   cousa    a    gente    delia,  e 
com  grandes  oíferoclmentos  forãolhe  mos- 
tradas   muytas    cousas    das    boas    destes 
Reynes,  e  el  Rey  o  mandou  tornar  a  sua 
terra  honradamente  em    huma   boa  cara- 
uella,  e  a  partida  lhe  fez  mercê  de  ves- 
tidos   ricos    para   elle,    e   sua    molher,  ô 
doutras  cousas.»  Ibidem,  cap,  65. —  «E 
a    todos   seus   officiaes    mores,    Mordomo 
mor,  Veador  da   fazenda,    Guarda  mor, 


RICO 

Camareiro  mor,  Porteiro  mor,  Veador,  c 
Mestre  salas,  foz  muyto  grandes  mercês, 
e  a  todolos  outros  vestidos  de  ricas  se- 
das, e  brocados,  e  outras  mercês.»  Ibi- 
dem, cap.  117.  —  «E  de  dentro  era  to- 
da das  paredes  e  de  cima  armada,  e  tol- 
dada de  ricos  e  fermosos  lambeis,  cousa 
noua,  que  parecia  muyto  bem  polia  dif- 
ferença  que  tinha  dos  brocados  e  tapeça- 
ria.» Garcia  de  Rezende,  Chronica  de  D. 
João  II,  cap.  118.  —  «Em  guarda  des- 
ta tenda  estavão  sessenta  alabardevros 
que  afastados  hum  pouco  delia  a  cerca- 
vão  toda  em  roda,  os  quais  estavão  ves- 
tidos de  'couro  verde  escodado,  cõ  suas 
celadas  ricas  e  bem  lavradas  nas  cabe- 
ças, o  que  tudo  junto  era  hum  espectá- 
culo assaz  formoso  e  de  grade  magesta- 
de.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  122.  —  «Veio  também  a  elle 
por  causa  desta  notificação  hum  Mouro 
Guzarate  de  nação,  que  alli  estava  com 
huma  grande,  e  rica  náo,  que  disse  ser 
de  Melique  Gupij  Senhor  de  Baroche, 
aquelle  grande  competidor  de  Melique 
Az.»  João  de  Barros,  Década  2,  liv.  6, 
cap.  2. 


RICO 


299 


res  daquelle  exercito,  e  com  semblante 
alegre  lhes  disse.»  Fernão  Mendes  Pin- 
to, Peregrinações,  cap.  190.  —  «Nesta 
casa  estava  este  Rey  Tártaro  acompa-. 
nhado  de  muytos  príncipes  e  senhores,  e 
capitães  naturais  e  estrangeiros,  entre 
os  quais  estavão  os  Reys  de  Pafua,  Me- 
cuy,  Capimper,  e  Raja  Benão,  e  o  An- 
chesacotay,  e  outros  Reys  mais,  que  por 
todos  fazião  o  numero  de  quatorze,  os 
quais  vestidos  de  vestiduras  ricas,  e  de 
festa,  estavão  todos  assentados  ao  pé  da 
tribuna,  afastados  delia  dous  ou  três  pas- 
sos.» Ibidem,  cap.  122. 

—  Ricas  salvas  d' ouro  alto-lavradas ; 
salvas  d'ouro  preciosas,  de  grande  va- 
lor. 


Trazem  no  entanto  moços  de  pellote, 
Em  riccas  salvas  d 'ouro  alto-lavradas, 
—  Páreas  de  avassalados  reis  do  Oriente  — 
A  casquinha  gulosa  c  delicada, 
Da  selvosa  Madeira  arte  e  renome, 
Luxo  de  lautas  mesas  ;  amplas  jarras 
De  louçan,  transparente  porçolana, 
Raro  producto  do  Chinez  longínquo. 
GARRETT,  camOes,  caut.  8,  Cap.  3. 


Uma  arte  de  rica.  cota, 
um  volante,  uma  marquezota 
que  ganhar-vos  amor, 
sojaes  \6s  o  matador 
e  a  dita  senhora  a  sota. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  p-lg.  113. 

Um  rico  cordão  de  nós. 
Cordão  não. 
Pois  que?  um  cós? 
O  que  ella  mais  escolher. 
IBIDEM,  pag.  375. 


—  Uma  língua  rica ;  uma  lingua  abun- 
dante em  palavras,  e  phrases. 

—  Um  diccionario  rico;  diccionario 
que  contém  muitos  termos,  muitas  locu- 
ções. 

• —  EsUjlo  rico  ;  aquelle  em  se  reúnem 
em  grande  quantidade  os  ornatos  e  as  fi- 
guras brilhantes  ou  agradáveis. 

—  Momos  reaes,  ricos,  e  galantes.  — 
«E  logo  a  terça  fevra  seguinte  ouue  na 
na  sala  da  madeyra  muyto  excellentes  e 
singulares  momos  reaes,  tantos,  tão  ri- 
cos, e  galantes,  com  tanta  nouidade,  e 
difterenças  de  antremeses,  que  creo  que 
nunca  outros  taes  forão  vistos.»  Garcia 
de  Rezende,  Chronica  de  D.  João  II,  cap. 
127. 

—  Vestiduras  ricas;  vestes  de  gi-ande 
preço  e  valor.  —  «O  Chaumigrem  ainda 
que  ficou  assas  sobresaltado  com  aquella 
nova,  todavia  a  dissimulou  por  entaõ  com 
tanto  esforso,  e  prudência,  que  ninguém 
enxergou  nelle  turbação  alguma,  mas 
vestindo-se  de  humas  vestiduras  ricas  do 
setim  carmesim,  brosladas  de  ouro,  e  com 
hum  eollar  de  pedraria  ao  pescoço,  man- 
dou  chamar  todos  os  Capitães,  o  senho-  j 


—  Alcatifado  de  ricas  alcatifas;  alca- 
tifado de  magnifica  alcatifas.  —  «  Seria 
como  a  moor  sala  de  hum  rey  de  Espa- 
nha, redonda  com  hum  esteyo  no  meyo 
tam  grosso  como  a  perna  de  hum  homem 
pela  coxa,  pintado  douro  e  de  azul,  e  de 
tintas  finas  e  oleos.  A  tenda  toda  entreta- 
Ihada  de  cetim  de  cores,  com  muytas  laça- 
rias e  alcatifada  de  ricas  alcatifas  :  e  com 
muytos  coxins  de  seda.»  António  Tenrei- 
ro, Itinerário,  cap.  17.  —  « As.sentados 
em  ordem  e  o  Sufy  mais  adiante  hum 
pouco,  e  por  diante  da  dita  tenda  himi 
alpendre  do  mesmo  jaez  que  occupava 
grande  espaço  do  campo,  e  ficava  como' 
por  terreyro  da  tenda  do  Sufy,  alcatifa- 
do de  ricas  alcatifas,  por  onde  lhe  faziam 
o  serviço,  e  traziam  as  yguarias.»  Ibidem, 
cap.  17. 

—  Casas  mui  ricas ;  casas  mui  magni- 
ficas.—  «Píissado  este  terreyro  entramos 
noutro  aposento  em  que  avia  quatro  ca- 
sas muito  ricas  e  bem  cõcertadas,  nas 
quais  estava  muyta  gente  nobre,  assi  de 
naturais  como  de  estrangeyros.»  Fernão 
Mendes  Pinto,   Peregrinações,  cap,  122. 

—  Nãos  carregadas  de  ricas  fazendas; 
náos  carregadas  de  fazenda  de  grande 
preço  e  valor.  —  «E  entretiveram  té  che- 
gada de  Affonso  d'Alboquerque  duas  náos, 
que  queriam  sahir  do  porto  caminho  de 
Judá,  huma  das  quaes  era  do  Soldão  do 
Cairo,  e  ambas  carregadas  de  mui  rica 
fazenda  ;  e  a  fiíra  estas  estavam  no  porto 
outras  duas  do  mercadores  Mouros,  e  Ju- 
deos  de  Judá,  que  na  chegada  de  Affonso 
d'Albuquerque  foram  também  tomadas.» 
João  de  Barros,  Década  2,  liv.  8,  cap.  2. 

—  Estatua  dourada  e  rica;  estatua  de 
grande  magnificência,  —  «  E  segundo  oa 


3(J0 


BICO 


RICO 


RICO 


quilatca  das  virtudes  cm  qiio  cada  hum 
oxorcitou  a  vida,  .'ihhí  Ilio  fiizoin  a  ostutua 
inairt  ou  inciioH  dmiraila  t)  rica,  juniquo 
od  vivoá  (juc  u.s  viroui  asMi  liourados,  se 
iiicitum  o  auiinom  a  o-i  imitarum,  para 
quo  dt!.ipoÍ3  do  mortos  llic  layaõ  a  cllcs 
outro  tauto. D  Fcrnào  Mondes  Pinto,  Pe- 
regrinações, cap.  128. 

—  Ricos  thcsuuros;  aLundantes  thesou- 
ro3. 


AoH  fatigantos  abrazado»  diiis 

Suoccde  o  pardo  Ontomno,  o  cm  eopia  iugontc 

Jíirnn  tlinHouro.4  o.í  mortacrt  pcrcobcm : 

Então  «'ciiipoiília  a  Katiirtiza  toda, 

J)oco.s  pi)inn-i  noa  dá.  Muitos  »c  aprilzçm 

Ató  dos  dia:?  (lo  engelhado  Inverno. 

J.    A.    Dli  MACIiDO,  MKDITAçXo,  Cant.    2. 


—  Armado  de  ricas  armas ;  armado  de 
armas  mui  valio^iaíi  pelo  nrtiticio.  —  «  E 
assi  a  nao  como  batci.s  com  imiytas  vcllaii 
de  cera  douradas  toda.s  acosa.s,  c  as  Lan- 
doyras,  o  estandartes  crào  das  armas  dei 
Rey  e  da  rrincosa,  todas  do  dama.ico,  e 
douradas,  e  vinhão  diante  do  batel  dcl 
llcy,  quo  efa  o  primeiro,  sobre  as  ondas 
hum  muyto  grande  c  formoso  Cirne,  com 
as  penas  brancas,  c  douradas,  o  após  el- 
lo  ua  proa  do  batel  vinha  o  seu  cauallei- 
ro  em  pe,  armado  de  ricas  armas,  e  guia- 
do delle,  e  em  mime  dei  Key  sahio  com 
sua  íalla,  e  em  joelhos  deu  á  rriueeza 
hum  breve  conformo  a  sua  tenção,  que 
era  querela  soruir  nas  festas  de  seu  ca- 
samento.» Garcia  de  Razende,  Chronica 
de  D.  João  II,  cap.  127, 

—  Diz-se  das  substancias  que  contem 
outi-as.  —  Mineral  rico  em  prata. 

—  Um  tempo  rico ;  um  tempo  favorá- 
vel aos  differentes  recolhimentos. 

—  Ricos  ornamentos ;  ornamentos  pre- 
ciosos e  de  grande  preço.  —  «  E  lhe  dis- 
serão  os  Fi'ades  Missa  cantada  com  ór- 
gãos, c  ricos  ornamentos  que  levavam 
pcra  o  Rey,  c  cm  grande  maneira  folgou 
de  a  ouuir,  e  esteue  a  ella  com  nuiyta 
deuaçam,  e  sempre  pedia  aos  Frades  que 
lho  ensinassem  as  cousas  que  ei'a  obriga- 
do fazer  pêra  poder  merecer  saluac^am  de 
Bua  alma.»  Garcia  do  Rezende,  Chronica 
de  D.  João  II,  cap.  ITiO. 

—  Pe<;as  muito  ricas ;  poças  do  naulto 
valor. —  «De  quo  todos  iiearaõ  muyto  es- 
pantados, principalmoute  quando  viraõ  a 
cadeyra  douro,  e  a  pedraria  do  elefante, 
cujo  \)i'cço  e  valia,  aegundo  o  dito  de 
inuytos  lapidairos  era  do  quinhentos  ou 
Boiseontos  mil  cruzados,  a  fi)ra  outras 
niuytaa  peças  muyto  ricas  que  também 
levava,  como  ja  disse.»  Fernão  Mendes 
pinto,  Peregrinações,  cap.  1G2.  . 

—  Rica^  pedrarias;  abundantes  pedi"a- 


Truotfim  r/iYis  pedrarias, 
aain  muy  prados  inoveadorea, 
tom  ricas  uiercadovias, 


drof^QH,  c.ipeciarias, 
saiii  lÚHiiO  iiiuy  «abcdorcs. 

UARCIA  DE  UKZr.KííK,  MISCELLAMEA. 

—  Rico,  e  marmóreo  paço;  magnificen- 
te, luxuoso  paço. 

Triumphador  Exercito  te  siga 
Anto.s  (piTiora  fluprcma  o  Re(;io  Manto 
Mrtta  nas  uriíaH  Hcpulcraes  ;  ooiihecií 
Qiiani  ])ouco  ttvultoa  no  fasto.HO,  c  rico 
Marmóreo  l'a<;o,  ignoto  a  Bactro,  a,  Tliulc, 
Aos  longinquos  Antípoda»  ignoto. 

J.    A.    I)K  UACKIIO,  A  MATUIICZA,  Caut.    10, 

—  Substantivamente :  Um  rico ;  uma 
pessoa  rica.  —  <  l'on;m  isto  toca  mais  aos 
ricos,  que  aos  pobres;  porque  estes  como 
não  tem  com  que  se  sustentar,  perecem 
de  ordinário  os  mais  delles  à  fome,  e  des- 
amparo.» Scverini  de  Faria,  Noticias  de 
Portugal,  Disc.  1,  §  G.  —  «PerBuadiudo 
que  o  homem  se  apresente  aos  cidadãos 
da  Corte  Celestial,  como  pobre  mendigo, 
cego,  ferido,  e  assim  peça  humilmente 
aos  mais  ricos  delles  esmola,  e  principal- 
mente a  Deos,  porque  muitos  que  vsa- 
raõ  deste  exercicio  alcançarão  o  fim  de- 
sejado, isto  he  a  mortificação  de  seus 
pensamentos,  e  paixões,  e  na  verdade 
ex])erimentaraõ  a  promessa  do  Ciiristo 
executada,  o  qual  prometeo  abrir  a  por- 
ta aos  que  jicrseuevassem  cm  pedir,  u  Fr. 
P.artli(>lomon  dos  Martyres,  Compendio  de 
espiritual  doutrina,  part.  1,  cap.  15  led. 
de  1003). 

Sempre  foio 
criando  cariio,  olhando 
o  sete  ostrcllo,  e  boc^-jando : 
eu  era  bom  para  rico 
(lue  cstil  cofre  vigiando. 

ANTÓNIO  PnESTES,  AUTOS,  pag.  219. 


—  O  máo  rico ;   aquelle  de  que  falia 
o  Santo  Evangelho. 

—  Por  extensão:    O  máo  rico;  todo  o 
homem  muito  rico  que  não  é  caritativo. 

—  Adágios  k  viíoveuuios  : 

—  A  rico   não  devas,  e  a  pobre  não 
prometias. 

—  De  rico  a  soberbo  não  ha  palmo  in- 
teiro. 

: —  I)o  rico  é  dar  remédio,  c  do  velho 
conselho. 

—  Mais  tem  o  rico  quando  empobrece, 
quo  o  pobre,  quando  enriquece. 

—  Quando  o  viilão  está  rico,  não  tem 
parente,  nem  amigo. 

—  Se  queres  ser  rico,  calça  de  vacca, 
o  vc^te  de  fino. 

—  Em  casa  de  mulher  rica,  ella  man- 
da, ella  grita. 

—  A  viuva  rica,  com  um  olho  chora, 
c  com  o  outro  repica. 

—  Nào  ha  casamento  pobre,  uom  mor- 
talha rica. 

—  O  homem  rico,  a  fama  casa  seu  fi- 
lho. 


—  Quem  casa  com  mulher  rica  o  fei&, 
tom  ruim  cama,  e  boa  mesa. 

— -  Quem  por  cubica  veio  a  ser  rico, 
corre  niaiu  perigo. 

—  (^uem  te  fez  o  IjÍco,  ti;  lez  rico. 

—  Aquclles  8.1o  ricos,  que  tem  amigos. 

—  Pai) no  largo  e  bom  feit'>r,  faziam 
rico  ao  cummcndador. 

—  Não  te  façus  pobre,  A  quem  to  iiJlo 
ha  de  fazer  ríco. 

—  O  moço,  e  o  amigo,  nem  pobre  nem 
rico. 

—  Formosura  da  mulher,  não  fiaz  rico 
ser. 

—  O  avarento  rico,  nío  tem  parente, 
nem  amigo. 

—  Máo  é  o  rico  avarento,  mas  pcor 
é  o  pobro  soberbo. 

RICO,  g.  7)1.  Vid.  Risso. 

RICOCHET,  ou  RICOCHETE,  ».  m.  jDo 
fr.ancez  ricoclitli,  —  Tiro»  dt  ricochet. 
Yid.  Chapeleta. 

RICOFEITIO,  s.  m.  Imagem  tosca  de 
crucifixos,  que  fazem  liomens  inertes,  e 
ignorantes  da  arte  dos  imaginários ;  fi- 
gura de  gesso  mal  feita,  e  uial  parecida 
com  o  objecto  que  havia  de  representar. 
Vid.  Feitio. 

RICO-HOMEH;  <.  m.  Termo  antiquado. 
Grande  do  reino,  que  era  obrigado  a  ser- 
vir ao  rei  na  guerra  com  certas  compa- 
nha.s,  polo  que  tinlia  mantimento,  ou  ter- 
ras de  el-rei.  ilestres  de  campo,  e  geno- 
raes  em  guerra,  só  clles  podiam  levantar 
gente  d'armas,  e  sustental-a,  não  conhe- 
cendo mais  superioridade  que  a  do  mesmo 
rei,  de  qui  m  h.aviam  recebido  o  titulo,  as 
baronias,  ou  senhorias  com  que  podes- 
sem  snstcutal-o.  Eram  os  ricos-homeos 
do  conselho  de  el-rei,  e  com  o  seu  voto 
e  parecer  se  faziam  as  cousas  de  mais 
importância,  assim  na  guerra,  como  na 
paz;  podiam  ajudar  com  seus  vassallos  oa 
reis  estranhos,  quando  no  reino  não  era 
precisa  a  sua  assistência,  ^ão  tinham 
obrigação  de  se  acharem  na  guerra  se- 
não a  quando  o  mesmo  rei  em  pessoa. 
(.)s  seus  vassallos  gozavam  dos  mais  exor- 
bitantes piivilcgios,  luormente  em  íkvor 
da  agricultura;  suas  mulheres  sa  chama- 
vam ricas-duuas,  e  gozavam  proeminên- 
cia de  condessas  e  baronesas,  e  os  seus 
filhos,  se  alguma  vea  se  nomcaraiu  in- 
fantes, oram  comummente  nomeados  in- 
f(iH<;òes.  Foram  notados  os  ricos-homen» 
com  vários  titules  honorifieos,  como  priu- 
cipes,  condes,  barões,  malorinos,  podes- 
ttules,  tenentes,  ete.,  como  se  podo  vèr 
n'esta3  palavras.  Assim  continuaram  u'es- 
te  reino,  até  que  totalmente  se  extingui- 
ram, succcdendo  em  sen  lognr  os  títulos 
modernos.  —  •  E  armas,  c  uiandM'a  a 
hum  Rico  Homem,  que  lhe  cingisse  a  es- 
pada sem  peseoçad.a;  d  posto  ent.ão  o  es- 
cudo no  chão  com  o  concavo  para  cima, 
se  punha  sobre  ellc  o  que  havia  de  ser 
feito  Adall,  e  ElRey  lhe  tirava  a  espada 
da  cinta,  e  lha  dava  nua  na  mào.i  Manoel 


RIDI 


RIFA 


RIGO 


301 


Severim  de  Faria,  Noticias  de  Portugal, 
Disc.  2,  §  6. —  «E  aquelles,  que  pelas 
riquezas  de  bens  se  avantajaTaõ  aos  ou- 
tro.?, mantendo  à  sua  custa  geute  de  guer- 
ra, 03  iutitulavaõ  Ricos  Homens.  Estes  de- 
pois foraõ  os  Mestres  de  Campo,  e  Ge- 
neraes  na  guerra,  que  só  podiaõ  f;xzer 
gente,  e  ti-azella  a  seu  cargo,  e  nào  re- 
conheeiaõ  outro  Capitão  senào  o  mesmo 
Rey.  1)  Ibidem,  Disc.  3,  §  20.  —  «  Conti- 
nuou-se  o  Titulo  de  Ricos  Homens  neste 
Reyno  por  muitos  annos,  e  ainda  EI-Rey 
D.  Manoel  faz  menyào  delles,  e  das  Ri- 
cas Donas,  que  eraõ  suas  mulheres.  Po- 
rem nas  Ordenaçoens  he  mais  nome  ge- 
nérico, que  nào  particular  Titulo.»  Ibi- 
dem. 

Que  cm  deredor  festiva  se  agitava, 
Na  tenda  do  monarcba  não  penetra  ; 
Pezado  é  tudo  ahi.  Seua  riccos-homeiís 
Se  compõem  no  silencio  e  na  tristeza 
Que  da  frente  do  principe  reflecte. 
A  mão  no  rosto  pallido,  e  c'o3  olhos 
Fitos  no  vago,  Affonso  meditava. 

GABEETX,  D.  BBAKCA,  Cant.  9. 

RIDEIRO,  A,  adj,  e  s.  Risote,  que  se  ri. 

RIDENTE,  adj.  2  gen.  (Do  latim  ri- 
dens).  Termo  de  poesia.  Que  se  ri,  riso- 
nho. 

RIDES.  Vid.  Rizes,  termo  mais  em  uso. 

RIDICULAMENTE,  adv.  De  um  modo 
ridiculú. 

RIDICULARIA,  s.  f.  Cousa,  acto,  pala- 
vra ridícula. 

RIDICULARISADO,  fart.  jjass.  de  Ridi- 
cularisar.  Mettido  a  ridículo. 

RIDICULARISAR,  ou  RIDICULARIZAR, 
V.  a.  Fazer  escarneo,  ou  representar  co- 
mo ridícula,  e  digna  de  riso  qualquer  pes- 
soa ou  cousa. 

—  Ridicularisar-se,  v.  nfi.  Tornar-se 
ridículo,  fazer-se  digno  de  escarneo,  zom- 
baria. 

ridículo,  A,  adj.  (Do  latim  ridicu- 
lus).  Digno  de  escarneo,  fallando  das 
pessoas  ou  das  cousas.  —  «Trata  de  spí- 
ritos  ordinários,  e  mal  polidoí;,  os  das  que 
vivem  sabia,  modesta,  e  retíradamente. 
Que  mortiticação  nào  seria  para  Fulvia, 
se  ella  conhecesse,  que  quanto  mais  se 
expõem  á  vista  dos  outros,  tanto  mais 
ridícula  lhe  parece,  e  que  todo  esplen- 
dor em  que  vive  lhe  serve  somente  de  a 
fazer  mais  desprezável? o  Cavalleiro  de 
Oliveira,  Cartas,  liv.  3,  n."  44.  —  «Bem 
sentia  eu  que  me  acuavào  ridícula,  e  o 
muito  que  m'o  davão  a  conhecer  bem  me 
humilhava;  e  com  eíFeito  quando  eu  com- 
parava o  meu  enfeite  (em  que  tanto  se 
embeUezára  M.  Chenu),  os  diches  que  me 
ajoujavào,  o  desmarcado  barrete  que  me 
encovava  o  rosto,  e  que  eu  com  muito 
desvelo  troujçéra  da  minha  terra.»  Fran- 
cisco Manoel  do  Nascimento,  Successos 
de  madame  de  Seneterre. 

—  Que  iaz  com  que  se  riam  d'elle  por 
irrisão. 


—  Extravagante,  próprio  de  buíao,  bo- 
bo. —  «  Diz  Mr.  Charpentier,  Deos  lhe 
perdoe,  que  he  para  elle  uma  cousa  min- 
to ridícula,  ver  no  principio  do  Quinto 
Livro  das  Metamorphoses  de  Ovídio,  hum 
Tocador  de  Lyra  ferido  á  morte,  querer 
tocar  ainda  as  cordas  daquelle  instru- 
mento com  a  mào  tremula,  e  moribun- 
da.» Cavalleiro  de  Oliveira,  Cartas,  liv. 
1,  n.°  37. 

—  A  esquerda,  á  esquerda, 
Meu  senlior,  não  inçares  um  finado 

Em  sua  última  \'iage  :  ha  mal  em  vel-o 
Face  por  face. 

—  « Deiía-me,  ignorante, 
Com  teus  medos  ridicidos.  • 

—  I  Embora, 
Embora :  mas  na  índia. . .  > 

GABKETT,  camões,  cant.  2,  cap.  3. 

—  Loc. :  MdUr  a  ridículo ;  ridicula- 
risar,  escarnecer,  metter  em  escarneo, 
motejar. 

—  Insignificante,  de  pouco  valor,  para 
se  dar.  —  Cousa  ridícula. 

RIDICULOSISSIMO,  a,  adj.  sup.  de  Rí- 
diculoso.  Mui  ridiculoio. 

RIDICULOSO,  A,  adj.  (Do  latim  ridi- 
cidosus  .  Vid.  Ridículo. 

RIDO,  pari.  pass.  de  Rir.  De  quem  se 
ri,  ou  faz  escarneo. 

RIDOR,  s.  VI.  Termo  antiquado.  Ridei- 
ro,  risote,  que  se  ri  a  miúdo  por  escar- 
neo,  irrisão. 

RIFA,  s.  /.  Teso,  ladeira,  costa  arriba. 

—  Jogo  de  dados,  no  qual  quem  lança 
maior  ponto  leva  o  premio,  que  é  algu- 
ma peça,  cujo  valor,  ou  custo  pagam  por 
escote,  os  que  entram  na  rifa,  e  nas  sor- 
tes. 

—  Xo  jogo,  sào  muitas  cartas  do  mes- 
mo metal. 

—  Termo  antiquado.  Briga,  rixa,  con- 
tenda. 

RIFADOR,  A,  adj.  Brigão,  rixoso,  que 
provoca  rixas,  contendas. 

RIFÃO,  s.  m.  Adagio,  provérbio. 

Diz  o  rifão  : 
Matou-me  Moura  e  nào  mouro 
E  quem  ma  lançada  deu 
Moura  ella  e  moura  eu. 

GIL  TICESTE,  OBOAS   VABIAS. 

—  «  Diz  um  antigo  ditado :  Quem  não 
tem  marido  nào  tem  amigo.  Diz  outro: 
Quem  tem  mulher  tem  o  que  ha  mister. 
E  na  verdade  assim  é  entre  os  bons  ca- 
sados; e  os  rifões,  senhor  X.,  sentenças 
sào  verdadeiras,  que  a  experiência,  sum- 
ma  mestra  das  artes,  pronunciou  pelas 
bocas  do  povo.»  D.  Francisco  Manoel  de 
Mello,  Carta  de  guia  de  casados.  —  «Por 
isso  disse  o  nosso  rifão  :  por  fora  páo,  e 
viola,  e  por  dentro  pào  bolorento.»  Idem, 
Apologos  dialogaes,  part.  157. 

—  Figuradamente :  Composição  poéti- 
ca, breve,  má,  vulgar. 


—  Andar  alguém  em  rífão ;  ser  trazido 
na  bocca  de  todos,  e  lembrado  por  cousa 
notável,  e  exemplo  trazido  por  aresto, 

RIFÃOSINHO,  s.  VI.  Diminutivo  de  Rí- 
fão, 

RIFAR,  V.  a.  Sortear  alguma  cousa  en- 
tre muitos. 

—  Rifar  algum  traste;  obtel-o  em  sorte 
deitada  em  rifa. 

—  V.  n.  Brigar.  Vid.  Respingar, 
RIFARIA,  s.  f.  Termo  antiquado.  Bri- 
ga, desordem,  rixa. 

RICAÇO,  «.  ?n.  (Do  latim  rígo,  regar). 
—  Pão  de  rigaço ;  pão  que  se  colhia  nas 
terras  regadias,  como  são  pela  maior  par- 
te as  terras  da  província  do  Minho. 

RIBEIRA,  s.f.  Vid,  Rageira,  e  Rogeira. 

RIGEZA,  s.  f.  Vid.  Ríjeza. 

RIGIDAMENTE,  adv.  (De  rígido,  com  o 
suffixo  «mente»).  De  mn  modo  rigido,  ás- 
pero, severo. 

—  Com  rigidez,  com  severidade,  com 
aspereza. 

RIGIDEZ,  ou  RIGIDEZA,  s.  /.  O  cara- 
cter do  que  é  rigido. 

—  Figuradamente  :  Rigidez  de  costu- 
mes, de  principias,  etc. 

—  Rigidez  cad-averica;  endurecimento 
considerável  dos  músculos,  que  sobrevem 
depois  da  morte,  e  d'onde  resultam  a  ap- 
proximação  das  maxillas,  a  dexào  dos 
dedos,  e  a  impossibilidade  de  fazer  mo- 
ver as  articulações  umas  sobre  as  ou- 
tras. 

RIGIDO,  A,  adj.  Termo  de  historia  na- 
tural. Que  nào  dobra,  que  é  duro. 

—  Figuradamente :  Severo,  áspero,  rís- 
pido, rigoroso, 

RIGISSIMO,  A,  adj.  superl.  de  Rijo. 
Vid.   Rijíssimo,   orthograpbia   preferível, 

RIGO,  A,  adj.  Termo  antiquado.  Rijo, 
forte,  seguro.  Vid.  Rijo. 

1.)  RÍGOR,  s.  VI.  (Do  latim  rigor).  A 
dureza,  fortaleza,  ou  força,  —  O  rigor 
do  braço.  —  cEu  hia  cansadíssimo,  assi 
pelo  descustume,  como  por  sempre  ca- 
minharmos por  montes  de  área,  que  es- 
tes forâo  os  mayores  que  achev  em  toda 
esta  jornada,  O  Sol  fazia  seu  officio  com 
tanto  rigor,  contra  quem  passaua  de  dous 
dias  que  quasi  nam  bebia;  que  em  fim 
me  não  atreuia  a  passar  co  elles  a  fon- 
te.» Fr,  Gaspar  de  S.  Bernardino,  Iti- 
nerário da  índia,  cap.  10. —  «Conside- 
rai os  pobres  ordinaiúos  mancos,  doentes, 
que  soportam  frios,  calmas,  fomes,  rigo- 
res de  chuuas,  e  ventos,  com  quanto  so- 
frimento por  espaço  de  hum  dia  inteiro, 
se  for  necessário  aguardam  a  huma  porta 
por  pequena  esmola,  a  qual  as  vezes  nam 
alcançam,»  Fr.  Bartholomeu  dos  Marty- 
res,  Compendio  de  espiritual  doutrina. 

—  A  maior  exactidão.  —  «Cousas  de 
que  os  grandes  devem  guardar-se  por  te- 
mor dos  criados  e  vassallos,  que  sendo 
senhoreados  com  tyrannia,  se  o  tempo 
lhes  abre  algum  caminho  de  viver  em  li- 
berdade, com  rigor  o  seguem  e  com  ten- 


302 


Ri(;o 


RKiO 


RIO  O 


çilo  dttinnada,  nascida  de  seus  apfpravos, 
\ini\m  do  Kua  fortuna,  nJto  ol liando  o  aca- 
t.aiiionto  (111  piiHMoii,  ii  í|iio  o  itempiM  tive- 
ram, iiiirquf;  uk  vontiidiw  com  qmi  tó  alli 
os  tratiiram,  fç^ni  cHti!  eti|iu!ciiiiniito.» 
Francisco  de  Morao»,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  1  IH. 

—  Severidade,  aspereza,  rif,'iiki/,. 


nendido  aqui  me  toua  soin  ilcfeuiU:rjiia 
Bogcito  ao  que  Amor  ((uíh,  vum,  iimis  nl  tarde» 
Executa  o  rii/or  do  tua  isenta 
Aspora  condi(;iio  tilo  fera,  e  dura. 

COUTE  RKAL,  NlUFEMIO  DB  BEP0I.VUOA,  Cant.  G. 


—  «De  nianoyra  quo  na  diversidade 
destas  horrendas  pinturas  cm  que  se  pu- 
nhaij  03  ollios  se  declarava  o  género  de 
morte  que  se  devia  a  cada  género  do 
culpa,  e  o  grandissinio  rigor  de  justi^'a 
com  quo  a»  leys  ordeuuvão  estas  tais  mor- 
tes.» Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  103. —  fPorque  essa  s()  resir- 
vava  para  ay,  o  comendo  delia,  gostarião 
por  castigo  desta  culpa,  o  rigor  do  a(,()u- 
te  da  sua  justiça,  a  que  perpetuamente 
ficaria  obrigado  cora  tórios  os  mais  (|ue 
descendessem  dellc.»  Ibidem,  caj).  IGo. 
• —  uEllo  ILie  respõdeo  liunui  carta  niuy 
favorável,  podo  nella  termo  ao  rigor  da 
persiguiçaõ;  e  eomo  depois  de  ser  eleito 
Emperador,  encontrasse  cij  corto  houioni, 
que  antes  do  o  ser  lho  tinha  feito  alguns 
desabores,  por  onde  lhe  tinha  ódio,  cui- 
dado o  outro,  que  naquolle  encontro  se 
executaria  o  castigo.»  Monarchia  Lusita- 
na, liv.  ;'),  cap.  '2'ò. —  «Naõ  paroceo  aos 
Konianos  que  lho  covinha  aguardar  os 
rigores  do  Maximino,  tendolhe  feyto  hum 
doasabor  tão  grade,  como  foy  aprovar 
outra  eltni,-ão,  em  seu  despeito,  e  junto  o 
Senado  elegerão  a  Máximo  Fapieno,  e 
Clodio  Balbino,  por  Emperadorcs,  e  por 
Cosar  o  sucessor  no  Império  a  Ciordiano, 
neto  o  lilho  dos  quo  morrerão  em  Afri- 
ca.» Ibidem,  liv.  5,  cap.  Iti.  —  «M;is 
que  elle  conhecia  bem  a  condiçam  dei 
liei,  que  ora  acabarse  tudo  com  ello  per 
bons  meoâ,  e  modos,  c  nada  per  força 
nem  rigor,  que  sua  Alteza  acostunhaua 
ir  muitas  vezes  visitar  a  Rainha  dona 
Leonor  sua  irmãa. »  Damião  do  Góes, 
Chroiiica  de  D.  Manoel,  part.  .'i,  cap.  40. 
—  «De  di>nde,  ó  alma  minha,  proc-ode 
tanto  rigor  comsigo  mesmo,  seuaõ  do  co- 
uheclmento  (pie  tinhaõ  de  que  cou.sa  hc 
peceado,  e  do  entranliavel  ódio  que  lhe 
tinhaõ.»  Padre  Manoel  Bernardes,  Exer- 
cícios espirituaes,  pag.  133, 

Do  câporRo  m:Vi9  agudo,  a  Alma  pungida, 
Sento  o  'Ri^pvobo,  e  mi'dra  a  Dòr  cm  dobro. 
Tal,  na  deserta  Zaiira,  o  Negro  auscia-so 
No  bochúruo  da  secca  trovoada, 
Kutre  as  Sírpos,  na  areia  se  arremosaa 
Entro  Leões,  (como  cUc)  asáPdeutadósV    ■"'    ' '"' 
No  mór  W_(7t>r  SC  crÇ,  no  m6r  íupplieio...  '' 

F.  U.  DO  MASCUIB^ITO,  08  HABTVBBS,  1ÍV.  8. 


So  ja  teuB  dons  cantei  <•  o»  t<;u«  rigores 
Em  scntidii»  uiidoixas,  w;  piedoso 
Km  teus  altares  húmidos  de  pranto 
Dopnz  o  cora<;iiij  ipie  inda  arquejava 
Quando  o  arranquei   do  peito  malH<ííIriilí( 
A'  fo/.  do  Tejo  —  ao  Tejo,  6  doiisa,  ao  Trjo 
.Me  leva  o  pemtuineiito  que  esvoaça 
Tímido  e  ae/)Vardadi)  entre  os  olmedos 
Qu(!  as  [lobres  ag  ias  dV-ote  Sena  regiiin. 
oaebiltt,  cauôí:»,  cant.  1,  cap.  1. 


—  O  rigor  do  texto ;  o  sentido  propriis- 
simo  das  palavras. 

• — /Sujeitar  a  theoria  ao  rigor  matlu- 
maticu  ;  cxorcital-a  com  todo  o  rigor  scieu- 
tilico. 


Ao  ri</nr  Mathcmatico  sujeita 

A  abstracta  tlieoria,  ou  cego  abysmo 

Das  humanas  pai.tões  tumultuosas. 

J.    A.    DB   UACKDO,   VIAOKM  KXTATICA,  CaUt.   4. 


—  Loc.  ADV. :  Em  rigor;  restricta- 
mente,  conformo  a  força,  na  força  da  ])a- 
lavra. 

—  O  rigor  de  uma  belhza.  —  «Isto  po- 
dia soeeder  sem  milagre,  eu  mesmo  te- 
nho visto  muitas  veses,  que  a  insenBÍbi- 
liJade  lie  luini  monstro  vinga  a  offensa 
quo  o  rigor  de  huma  belle.sa  faz  a  mui- 
tos homens  de  l)c,m.  Não  me  atrevo  a  di- 
ser  quo  as  liberdades  que  a  Philò.sophia 
Cynica  permitia  ao  Amor,  forão  a  ver- 
dadcyra  causa  do  que  Crates  mereeeo  a 
Hipparchia.»  Cavalleiro  d'01iveira,  Car- 
tas, liv.  3,  n."  10. 

—  Termo  de  medicina.  Tosara  preter- 
natural  dos  nervos,  com  que  so  fazem  in- 
llexiveis. 

—  >Syn'.:  Rigor,  severidade.  Vid.  este 
ultimo  vocábulo. 

2.)  RIGOR,  f.  VI.  Flocco  do  seda  del- 
gado. 

RIGORIDADE,  s.  /.  Vid,  Rigor,  vocá- 
bulo mais  usado. 

RIGORISMO,  í,  m.  (Do  latim  rigor,  c 
o  suflixõ  «ismo»).  Severidade,  exacção 
pontualissima,  do  que  não  é  exigente  do 
rigor  das  leis,  do  que  se  lhes  deve  com 
rigorosa  obrigação;  em  opposiçào  a  ííío- 
derantismo.  —  «A  moral  mais  segura  en- 
sina não  ser  licito  valer  d'estcs  meios; 
mas  os  gabinetes  que  se  querem  ser\'i- 
dos,  em  taes  casos,  não  apj)rovam  rigo- 
rismos.»  Bispo  do  Grão  Panl,  Memorias, 
public.;ida3  por  Camillo  Castoilo  liranco, 
pag.   Kil. 

RIGORISTA,  .<!.  2  gcn.  Pessoa  que  leva 
em  excesso  longe  o  rigor,  a  severidade 
da  moral. 

RIGOROSAMENTE,  adv.  (Do  rigoroso, 
com  o  suftixo  >>menteu>.  Do  iim  modo  ri- 
goroso. 

—  Com  rigor,  com  severidade. 

—  Em  rigor. 

RIGOROSIDADE,  s.  /.  (De  rigoroso,  o 
o  sutBxo  «idade»).  Rigor,  aspereza,  seve- 
ridade. 


RIGOROSÍSSIMO,  A,  a./y.  *u;>er/.  do  Ri- 
goroso, iliii  ngorono. 

RIGOROSO,  A,  (vlj.  (De  rigor,  com  o 
suílixo  cQso»).  t^ue  usa  il<-  rigor. 


Nenhum  delles  diz  mai*,  mas  proveitoso 
I.lie  fi.ra  n  eadii  linm  tw,  maiit  falbira, 
K  quanf  <  o  fuUar  a  outro  hi-  damiioMi 
Tanto  aurora  a  e^tU-n  doiu  aproveitara, 
Porque  i()(íO  o  KUvcira  rlrjurotn 
Que  ao»  dou»  para  isto  a  mort<-  dilatara, 
Manda  (e  logo  »•■  faz)  que  a  salgadit  cnxlii 
Com  peBoA  ao  \ii-tc'uiQ  ambo»  ciicouda. 

viAKCiHcu  ni  Axoii^oa,  raiioiíao  cijux)  Da  WV, 
cunt.  19,  cét.  7tj. 


—  Asporo,  difíicil  de  se  supportar,  £al- 
lando  das  cou.sa.s. 


Como  vos  Tsí  neMC  mar 
Tio  profundo  e  espaçoso? 
No^fso  mar  lu'  fortuuoâo, 
Nos.-*o  viver  lacrimoso, 
E  o  chegar  rigoroio. 

GIL  VICEXTE,  FABÇAS. 


—  «Cousa  por  certo  assaz  rigorosa,  e 
que  8Ó  pode  soportar  jvquelle  que  fizer  da 
conciencia,  pena,  e  da  verdade,  tinta.» 
Francisco  Maúoel  de  Mello,  Epanaplioras, 
part.  1,  pag.  f). 

—  Em  que  se  uaa  de  rigor,  era  que  ha 
rigor.  — -  tíenteuc^a  rigorosa.  —  «O  dia  em 
que  se  executou  esta  rigorosa  sentença, 
foy  hum  domingo  aos  2tj.  de  JutLho,.an- 
no  de  Christo  92(3.  segundo  huma  opinLnS 
de  quem  discrepa  Morales,  dimiauindo- 
Ihe  hum  anno  desta  conta  com  bastantcà 
fundamentos.  1  Monarchia  Lusitana,  liv. 
7,  cap.  lí>. 

• — Austero,  severo, 

Ah  rigorona  Nympha  !  ah !  não  me  faças 
DajT  cm  vão  tantos  gritos :  vem  ;  ireuiDS 
Ambos  a  leTant;\r  as  virdes  nai;a9. 
Ambos  os  anzoes  curvo.4  cobrirvmoi 
De  mentirosas  iscas,  com  que  os  priíes 
A  todo  prazer  nosso  prenderemos. 
CAx.,  i:au>OA  9. 

—  «Neste  tompo  ci-ptinuando  o  Ouvidor 
Gaspar  Jorge  pelas  rigorosas  execuçiJea 
que  CAda  dia  fazia  nuns,  e  noutri*,  den 
motivo  de  muyto  escândalo  eu»  to<Ia  a 
terra,  e  não  cõtente  com  is.so,  oooliada 
nas  largas  Provisões  que  o  VisoRey  Ibe 
dera,  se  quis  intrometer  na  jurisdicçào 
do  Capitão  D.  António,  e  so  apoderou 
tanto  delia,  que  ao  Capitão  lhe  não  tica- 
va  mais  que  só  o  nome,  e  ser  hum  olbey- 
ro  da  Fortalesa.i  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  219. 

—  Que  prova  uma  exactidão  severa. 
—  Maj-ivia  rigorosa. 

—  Incontestável,  evidente.  —  T>emoiis- 
tra^ão  rigorosa.  —  Provas  rigorosas. 

—  Diz-so  de  uma  temperatura  a.^^pera^ 
dura. 

—  Figui-adamcntc:  Oéo  rigoroso;  a  di- 
vindade que  pune. 


I 


RIJE 


RIJO 


RBIA 


303 


—  Syn.  :  Rigoroso,  austero.  Vid.  esto 
ultimo  vocábulo. 

RIGUEIFA,  5.  /.  Vid.  Regueifa. 

RIGUEIRA,  s.  f.  Abertura  na  terra, 
onde  se  escoa  a  agua  da  chuva,  a  modo 
de  ribeirinho. 

—  Rigueira  de  pão.  Vid.  Regueifa. 

RIGUEIRO,  s.  m.  Vid.  Rigueira. 

RIGUEITA,  s.  /.  Vid.  Regueifa. 

RIIGO,  A,  adj.  Termo  antiquado.  Apres- 
sado, segundo  a  interpretação  de  alguns 
auctoreí. 

f  RIGUROSO,  A,  adJ.  Vid.  Rigoroso. 
— •  «Esta  enfermidade  irmão  meu,  inda 
que  pareça  rigurosa,  cora  tudo  não  he 
mortal,  e  pois  entrou  pelos  olhos,  e  a 
sustenta  o  desejo,  atalhay  estas  duas  cau- 
sas, e  Deos  acudirá  com  o  remédio.»  Mo- 
narchia  Lusitana,  liv.  6,  cap.  2-4. 


Mais  que  o  marmovc,  e  o  tigre  braua,  e  dura? 

Onde  te  vas  cruel?  onde  me  leuas 

Por  força  as3Í  roubada  esfaima  minha  ? 

Se  tanto  rigurosa  te  me  mostras 

Por  te  dizer  meu  mal,  e  de  atreuido 

Jle  quiseres  culpar,  Amor  me  força  : 

Amor  te  tem  senhora  toda  a  culpa. 

CORTE   REAL,    NAUFRÁGIO   DE   SEPCLVEDA, 

cant.  0. 


—  «Querendo  ja  os  crueys  algozes  dar 
effeito  a  aquella  rigurosa  justiça,  as  mi- 
seráveis padecentes  cõ  assaz  de  lagrimas 
se  abraçarão  humas  com  as  outras,  e  pon- 
do todas  03  olhos  na  Nhay  Canatoo  que  a 
este  tempo  estava  como  morta  encostada 
no  collo  de  huma  molher  velha,  lhe  iize- 
rão  as  mais  delias  suas  çumbayas,  c  huma 
delias  como  que  fallava  em  nome  das 
mais  fracas  que  o  não  podião  fazer,  lhe 
disse,  Senhora,  capella  de  rosas  de  nos- 
sas cabeças.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pe- 
regrinações, cap.  151.  —  «E  ha  riguro- 
sa justiça  desta  terra  he  causa  de  freo 
das  maas  inclinações  e  desassossegos  que 
ha  gente  delia  tem,  que  com  ser  tam  ri- 
gurosa como  he,  estam  todavia  todos  os 
troncos  comunmente  cheos  de  presos,  com 
serem  tantos  como  temos  dito.»  Fr.  Gas- 
par da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da  Chi- 
na, cap.  26. 

RIJAMENTE,  adv.  (De  rijo,  com  o  suf- 
fixo  «mente»).  De  um  modo  rijo. 

— •  Rijo,  com  força.  —  Ser  morto  rija- 
mente. —  «E  contase  no  mesmo  livro  que 
nove  dias  despois  de  ser  enterrado  o  san- 
to homem,  que  foj  naquelle  mesmo  lugar 
onde  elle  então  jazia,  tremera  aquella  ci- 
dade de  Cohilouzaa  onde  ello  fora  morto, 
huma  vez  taõ  rijamente,  que  a  gente  do 
povo  CO  grande  temor  que  recebera,  fu- 
gira toda  para  o  campo,  e  se  agasalhara 
em  tendas,  sem  aver  ninguém  que  ousas- 
se de  entrar  nas  casas.»  Fernão  Mendes 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  96. 

RIJEZA,  s.  f.  Caracter  do  que  é  rijo, 
duro. 

—  Dureza.  Vid.  Rigeza. 


rijíssimo.  A,  adj.  siqjerl.  de  Rijo. 
Muito  rijo. 

1.)  RIJO,  A,  adj.  (Do  latim  rigidus). 
Duro,  forte,  áspero,  robusto.  —  E  vindo 
com  vento  rijo  infunado  com  todas  as 
vellas,  por  chegar  mais  depressa,  se  lhe 
fora  supitamentc  ao  fundo,  de  que  se  sal- 
vara o  Ruy  Lobo  cõ  dezassete  Portugue- 
ses, e  alguns  escravos,  e  viera  ter  na 
Champana  ao  ilheo  de  Lamau  sem  veila, 
nem  agoa,  nem  mantimento  algum.»  Fer- 
não Mendes  Pinto,  Peregrinações,  eap. 
51.  —  «Simão  da  Costa  tauto  que  vio  as 
velas,  e  se  affirmou  serem  galez,  se  foy 
sahindo  pêra  o  mar,  para  descobrir  se  ha- 
via mais  que  aquellas,  e  não  vendo  mais 
tornou-se  pêra  dentro,  porque  não  pode 
sofrer  o  vento  Ponente,  que  era  muito 
rijo.»  Diogo  de  Couto,  Década  6,  liv.  10, 
cap.  1. 


AtFerra  o  arco,  a  frecha  entre  os  dedos  prende, 
No  pé  esquerdo  se  affirma,  e  do  tal  geito 
Para  diante  o  braço  esquerdo  estende, 
E  para  traz  encolhe  o  que  he  direito. 
Que  o  rijo  arco  á  griia  força  então  se  rende, 
Tanto  o  encurva  que  a  corda  chega  ao  peito, 
E  com  tal  fúria  a  aguda  frecha  lança 
Que  em  breve  espaço  a  misera  ave  alcança. 
F.  d'asdrade,  primeiro  cesco  de  DIU,  caut.  5, 
est.  17. 


Ouves?  Rija  celeuma  aos  ares  sobe 
E  fere  os  ventos  que  nas  ondas  folgam. 
—  II  Terra,  terra  ! »  bradou  gageiro  alerta. 
GARRETT,  camõks,  caut.  1,  cap.  4. 

—  Figuradamente :  Forte. 

—  Homem  rijo ;  homem  de  forte  con- 
dição, 

—  Figuradamente:  Sauãe  rija. 

—  Inteiro,   severo,    rigido,    áspero  de 
condição. 

—  Substantivamente:    O  mais  rijo  da 
batalha. 


E  que  talvez  segura  no  mais  rijo 

Da  batalha  o  brandira,  —  mal  ousava 

De  ir,  CO  a  orla  da  toga,  a  medo  e  trépida. 

Aos  olhos  que  alma  tímida  arrazava 

de  feminino  pranto...  — O  que  é  o  povo? 

GARBKTT,  CAxIo,  aCt.   4,  SC.   3. 

2.)  RIJO,  adv.  Rijamente,  fortemente. 

—  «Pelo  que  parecendo  aos  mouros,  que 
hiam  os  Chi-istàos  atemorizados  aperta- 
ram tão  rijo  com  elles  que  foi  necessário 
a  dom  loão  fazer  volta,  em  que  lhes  ma- 
tou perto  de  cincoenta  dos  de  cauallo,  do 
que  assanhados,  deixada  ha  escaramuça 
se  começaram  da  juntar  dando  mostra  de 
quererem  dar  batalha.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  48. 

—  «Dom  Lourenço  achou  os  imigos  em 
mui  boa  ordem,  porque  os  adargados  es- 
tavam diante  emparando  os  frecheiros,  e 
dalli  tirauam  a  seu  salvo,  ferindo  alguns 
dos  nossos,  o  que  vendo  dom  Loiu-enço, 
os  esforçou,  apertando  tão   rijo   com   os 


imigos,  que  os  fez  retirar  para  a  fralda 
da  serra.»  Idem,  Ibidem,  part.  2,  cap.  4. 
—  «E  vendo  serem  moços  Christãos,  bra- 
damos rijo  aos  marinheyros  que  amainas- 
sem, o  que  elles  não  quiseraõ  fazer,  mas 
antes  a  modo  de  desprezo,  tangendo  com 
hum  tambor,  derão  três  apupadas  muyto 
grandes,  capeando,  e  esgrimindo  cõ  tre- 
çados  nús,  como  quem  nos  ameaçava.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações, 
cap.  50.  —  «O  capitão  da  guarda  vendo 
a  detença  que  o  Chaubainhaa  fazia,  e  a 
razão  porque  não  queria  passar  adiante, 
e  não  se  sabendo  determinar  na  causa 
porque  elle  se  queixava  dos  Portugiiesea, 
voltou  muyto  rijo  no  elephante  em  que 
andava  sobre  Joaõ  Cayeyro,  e  lhe  disse, 
despeja  logo  o  caminho.»  Idem,  Ibidem, 
cap.  Í50.  —  «íío  meyo  deste  trabalho,  e 
medo  com  que  todos  andávamos,  vimos 
descer  de  sima  do  morro  a  grande  pres.sa 
dous  homens  de  cavallo,  os  quaes  nos  ca- 
pearão com  huma  toalha,  e  nos  bradarão 
rijo  que  os  tomássemos,  e  como  a  novi- 
dade do  caso  nos  pos  em  desejo  de  saber 
o  que  aquillo  era,  se  mandou  logo  a  man- 
chua  a  terra  bem  esquipada,  e  porque 
aquella  noyte  me  tinha  fugido  hum  moço 
meu  com  outros  três.»  Ibidem,  cap.  202. 
—  «Ho  qual  vendo  os  da  ai-mada,  que 
estavam  vigiando  em  cillada,  arremete- 
ram muito  rijo  e  muy  prestes  aos  dous 
juncos,  e  mortos  alguns  Portugueses  que 
nelles  acharam,  e  feridos  outros,  toma- 
ram os  navios.»  Fr.  Gaspar  da  Cruz, 
Tratado  das  cousas  da  China,  cap.  24. 

—  Fallar  rijo;  fallar  alto;  fallar  aspe- 
ramente. 

1.)  RIL,  s.  m.  Termo  antiquado.  Rim. 

2.1  RIL,  s.  m.  Certa  dança. 

RILHADOR,  s.  ni.  Pessoa  que  rilha, 

RILHADURA,  5.  /.   A  acção  de  rilhar. 

RILHAR,  i!.  a.  Comer  roendo,  e  puxan- 
do com  os  dentes,  como  se  costuma  fazer 
á  carne  dura,  ás  pelles. 

—  Figuradamente :  Roer  mm-murando, 
mascar. 

RILHEIRA,  s.  /.  Termo  de  ourivesa- 
ria. Peça  em  que  se  vasa  a  prata  fundi- 
da, para  d'ella  se  fazerem  chapas. 

1.)  RILHEIRO,  s.  m.  Redemoinho  de 
agua, 

2.)  RILHEIRO,  s.  m.  Molho  de  trigo 
segado,  e  atado  pelo  meio. 

—  Outros  dizem  ser  meda  de  centeio, 
ou  trigo,  e  não  móiho. 

1.)  RIM.  Forma  variável  do  presente 
do  indicativo  do  verbo  rir.  Hoje  está 
adoptada  a  orthograpjiia  riem,  attenden- 
do  á  etymologia  latina  rident, 

2.)  RIM,  s.  m.  (Do  latim  ren).  Visçera 
do  animal,  cujo  principal  uso  é  receber  e 
filtrar  aquella  parto  sorosa  do  sangue, 
que  passa  á  bexiga  da  urina. 

1.)  RIMA,  s.  /.  (Do  grego  rhythmos), 
O  consoante  em  que  terminam  os  versos, 

—  A  rima  diz-se  consoante  quando 
desde  a  ultima  vogal  accentuada  até  ao 


304 


RIMA 


RIO 


RIO 


fim  (las  p!ilavi'<as  [lor  qiK!  tc7'iniiiaiii  dou» 
ou  iiiaÍH  voraoH,  f^itanla  conforiiiiiladc  cm 
toda»  as  lotnis,  tanto  vogaus,  como  con- 
soantos: 

Dá  luz  (■  biilho  A  Holva  qiio  verdeja, 
E  o  Bol  do  Portugal  o  mundo  o  inveja ! 

—  A  rima  diz-se  toante  qnando  a  con- 
forniidade  so  dá  só  nas  vogaes  da  ulti- 
ma syllaba  dos  versos. 

—  A  rima  consoante  divido-sc  ainda 
em  encadeada,  cnipíirelhada  e  interpola- 
da; ò  encadeada  quando  a  dic(;i\o  iinal 
do  um  verso  rima  com-i;ma  ou  mais  dic- 
ções do  meio  do  verso  seguinte: 

Filha!  não  jioaso  agasalhar-to  cm  vida; 
Rosa  pendíVía  quo  tu  vaori  finar ! 
Quom  to  arrancara  d'oaaas  mãoií  ferozes 
Doa  meu»  algose»  quo  te  vão  matar ! 

—  E  emparelhada  quando  os  finaes 
de  dons  ou  mais  versos  consecutivos  ri- 
mam um  com  o  outro: 

Tu...  dA-me  ao  ceiTar  noite  o  meu  inverno 
Um  leito  funeral  ao  sonino  eterno. 

—  E  interpolada  quando  dons  ou  mais 
Versos  que  rimam  entre  si,  são  permcia- 
dos  do  um  até  sois  versos  de  rima  Jiffe- 
rente : 


Eu  nunca  vi  I.isboa,  e,  tenho  pcíia, 
Mãe  de  .labios,  de  hcroes,  criíno  e  \\xt<ide; 
Golfão  de  riso  c  dòr,  que  ora  serênn, 
Ora  referve  c  escuma  em  roclia  rí«?e. 


—  Figuradamente  :   O   canto  dos  pas- 
sarinhos. 

—  Oitava  rima.  Vid.  Oitava. 


lli  estava  agora. 
E  ladrão  de  outava  rima! 
Dias  ha,  sculior,  quo  digo 
que  não  ponba  pé  om  ramo 
nesta  casa. 

ANTOMO  PRESTKS,   ADTOS,   pag.   433. 


— •  Plur.  Versos. 

2.)  RIMA,  .•-•.  /.  Monte,  abundância,  pi- 
lha, Ijard.i,  amoutoamento.  — ■  Uma  rima 
de  cadáveres. 

3.1  RIMA,  s.  /.  (Do  latim  rima).  C4re- 
ta,  tisga,  fenda,  abertura. 

—  Tormo  de  cirurgia.  Fractura,  ou 
fonda  no  anus. 

RIMADO,  part.  pass.  de  Rimar.  Que 
tem  rima  ou  con.soante.  —  Fersos  rima- 
dos; em  ojiposiçilo  aos  versos  soltos, 

RIMADOR,  A,  .f.  Pessoa  que  faz  rimas; 
diz-se  ordinariamente  do  mau  poeta,  que 
imagina  que  o  fazer  bem  versos  não  é 
mais  que  rimar  em  consoante. 

—  Trovista. 

RIMANCE,  s.  m.  Vid.  Romance. 
RIMAR,  V.  a.  Escrever  em  verso. 


—  Figuradamonto  :  Rimar  nabos  com 
bugalhos;  dizer  cousas  disparatadas. 

—  Rimar  um  verso  covi  outro;  tornal-ofl 
consoantes. 

—  V.  n.  Corresponder  nos  consoantes, 
ter  a  mesma  terminação,  e  formar  o  mes- 
mo som. 

—  Cumprir,  convir,  estar  bem,  ca- 
ber. 

—  Figuradamente:  Concordar,  ser  con- 
vcnic.nt",  dizi'r  bem  com  outro. 

RIMBOMBO,  .V.  m.  Vid.  Rebombo. 

RIMIR.  Vid.  Remir. 

RIMOSO,  A,  adj.  (Do  latim  rimosus). 
Cliiio  de  rinia^  ou  fendas. 

RIMULA,  s.  f.  Termo  de  einirgia.  Di- 
minutivo de  Rima.  Fendasinha,  fractura 
pc(iuena  no  anus. 

RINCÃO,  s.  m.  Termo  pouco  cm  uso. 
Canto  secreto,  recôndito. 

RINCHADAS,  s.  f.  plur.  Cachinadas  de 
riso,  gargalhadas,  graúdos  ri.-íadas. 

1.)  RINCHÃO,  A-.  m.  Certa  planta  me- 
dicinal. 

2.)  RINCHAO,  ÔNA,  adj.  Que  rincha 
muito.  —  Eijua  rinchona. 

—  Homem  rinchão ;  homom  quo  faz 
muita  roda  e  farfalhada  ;ls  mulheres,  sem 
vir  com  cilas  á  conclusão.  Vid.  Rin- 
char. 

RINCHAR,  V.  n.  Diz-so  do  cavallo  quan- 
do solta  o  seu  rincho,  que  6  a  sua  pro- 
pria  voz.  —  «E  os  que  os  traziam  sentin- 
do os  quo  vinham,  e  vendo  que  os  não 
podião  trazer  todos  sem  nuiyto  risco  de 
suas  pessoas,  se  embrenharam  cm  huma 
grande  mata,  e  mataram  os  cauallos  por 
não  rincharem,  e  aos  doas  Marinheiros 
cortaram  as  cabeças,  que  trouxeram,  e 
ao  Piloto  depois  da  terra  segura,  e  as  ir- 
mandades hidas,  trouxcrão  andando  de 
uoite  com  anzolos  na  boca  por  não  fat- 
iar, e  vieram  com  cUe  a  Euora,  onde  h)- 
go  foy  esquartejado,  por  onde  nenhum 
ousaua  de  yr  cumo  nrio  deuia.»  (íarcia 
de  Rezende,  Chronica  de  D.  João  II,  cap. 
188. 

—  Figurada  c  popularmente  :  Alvoro- 
çar-se  o  homem  com  vista  de  mulheres, 
dizer  iinezas,  etc. 

RINCHAVELHADA,  s.  /.  Destempero  de 
riso,  risada  desentoada. 

RINCHO,  .<.  "1.  A  voz  própria  do  ca- 
vallo. 

RINDEIRO,  í.  m.  Vid.  Rendeiro. 

RINGIDOR,  A,  adj.  Quo  ringc  ou  que 
range. 

RINGIR,  V.  a.  V»!.  Ranger. 

RINHA,  s.  /.  =  Signilicaç.ão  incerta. 

RINHÃO,  s.  m.  Vid.  Rim,  subst. 

■ —  AlV\GIO   E  1'ROVKUmO  : 

— •  o  boi  e  o  leitão  cm  janeiro  criam 
rinhão. 

RINHIR,  V.  i>.  Brig.ar,  disputar,  con- 
tendor, rixar.  \"id.  Renhir. 

RINOCEROTE,  s.  »i.  Vid.  Rhinocerote. 

RINS,  s.  m.  plur.  Vid.  Rim. 

1.)  RIO,  í.  «>.    (Do  latim  rivus).   Fra- 


gua,   corr(;nte    por    entre    margons,    cm 
grande  copia. 

O  rio  H'cncarampIou  ! 
Nunca  tal  m'acjnt«c(Ki, 
Jíou  bota,  liou  bota,  bou ! 

ait  vicr.yTK,  auto  da  ntvA  vo  rutoA- 

TOKIO. 

Ku  >'ou  ao  rio  pcrcin. 
Porque  hei  «ide  c  beberei, 
K  nicuís  r|uc  n.idarci 
Kmquanto  O  clero  vcin. 
Lcixand  o  chapoirSo 
Mettido  nc.ita  moutcira, 
E  o  cinto  p  ertmoleira, 
Porrine  lá  logo  o  rcrilo, 
Não  me  aquela  outra  tal  foira. 

lliy.H,   FABVAfl. 

—  tltem.  Vos  mandamos,  qu«  ponha- 
des  em  vintenas  todos  os  moços  de  liida- 
de  de  doze  annos  pêra  cima,  eeendo  fi- 
lhos de  pescadores,  ou  viverem  com  elles 
por  soldadas,  e  usarem  do  mar  ou  do 
rio  cm  barcas  de  carreto,  e  de  pescar, 
pêra  crecerem,  e  nos  ser\-irem  quando 
forem  pertecncentea  pêra  uo.s.so  serviço. 
Ord.  Affons-,  liv.  1,  tit.  70,  §  12. 

As  pronncia.s,  que  entre  um  o  outro  rio 
Vês  com  varias  nações,  são  infinitas ; 
Um  reino  Mahomct»,  outro  Gentio, 
A  quem  tciu  o  Dcniouio  leia  cseriptas. 
cAic.,  Lus.,  cant.  10,  cat.  108. 

Corta  a  frot:i  infiel  inda  arrogante 
Contra  a  M.adrafabat  a  onda  marinha, 
liio  que  da  Cidade  catar  distante 
Cinco  Icguas,  ja  di'«e  a  bi?<toria  minha ; 
E  não  sendo  passada,  ainda  ávanto 
.V  fortaleza  vio  assaz  visinha, 
Faz-lhc  a  de\-ida  salva  e  cortczia 
Co'o  furor  da  mortal  artilharia. 
IBIDEM,  cant.  13,  est.  62. 

—  €  Assegurando-os  a  profiimleza  do 
rio,  que  correndo  entre  duas  rochas  in- 
acessíveis, he  naquella  parte  de  fundo  niuy 
alc^intilado,  fira  do  qual  a  penedia  cor- 
taila  a  pique  tira  as  esj>erãças  a  quem 
lhe  j)oem  os  olhos,  de  se  poder  nella  fa- 
zer acometimento  de  proveito.  •  Monar- 
chia  Lusitana,  liv.  7,  cap.  27. 


No  fértil  Oriente :  la  na  parto 
Onde  o  famoso  Rio  Indo,  «"esforça, 
E  o  furioso  Gango  com  crescido 
-\ccellorado  curso,  a  terra  lua». 
O  Roino  Canari  entro  cst«s  /fio» 
Tem  sua  jurdii,-am,  o  antipo  aíwonto, 
("•ndi-  sogeita  a  Gafe,  áspera  serra, 
Huma  nobre  cidade  a  (.iiristo  adora. 

CORTE  BKAt,,  XAUrBAOIO  DE  SCrCXTKDl,  CAUt.  1. 


Vc  Galacia,  Pamphilia,  e  Capadócia 
(Juo  dos  seus  aruoredos  tone  o  nome, 
Vio  Phrigia,  onde  a  famosa  iufaoâta,  c  triste : 
Miscrancl  cidade,  foi  situada. 
Vio  Liei  a  CO  seu  oiont"-  alto  Cbimera, 
I.idia  CO  rio  PactUolo  f:uno».-i. 
Cilicia  \no  tainlx-m,  a  que  de  Lyco 
O  tilbo  de  Pandião,  tomou  t^il  nome. 
iiirKM,  cant.  2. 


I 


RIO 


RIO 


RIO 


305 


Determiaào  buscar  iim  grande  rio 
Que  de  Lourenço  Marques  tiuha  o  nome 
Onde  agora  ficou  ja  pêra  sempre 
Agoada  de  boa  paz  aos  nauegantcs. 
Fruta  amarga  montcza  eomeiíi  todos, 
Ossos  secos  torrados  nào  engeitào, 
E  se  acaso  se  acerta  achar  alguma 
Alliraaria  ja  morta,  cata  recolhem. 
IBIDEM,  caut.  10. 


—  «O  do  Salvag-ein  depois  que  passou 
o  rio,  a  nuvem  que  d'"antes  o  cubria  ti- 
cou  sobre  o  batel,  que  de  niuito  preta 
lho  fez  perder  de  vista;  e  porque  a  seu 
animo  nenhuma  cousa  fazia  medo  nem 
receio,  posto  que  sentisse  que  havia  de 
que  o  ter,  começou  amlar  assim  a  pé 
contra  o  castello,  que  daquelia  parte  tu- 
do estava  claro.  ■>  Fraucisco  de  Moraes, 
Palmeirim  d'Iiiglaterra,  cap.  113.  —  «Já 
que  o  mais  do  dia  era  g^astado,  se  acha- 
ram á  vista  d'um  castello,  que  sobre 
uma  rocha  estava  assentado,  ao  parecer 
dos  olhos  fermoso  e  forte ;  e  polo  pé  del- 
le  corria  um  rio  de  tanta  ag:ua,  que  em 
nenhuma  parte  fazia  vao,  e  passava-se 
com  uma  barca  tào  pequena,  que  nào  po- 
dia alojar  em  si  mais  que  té  dous  passa- 
geiros.» liidem.  — ■  tPois  vós  quereis  as- 
sim, disse  o  primeiro,  aguardai,  que  eu 
vos  mostrarei  o  que  gai.hais  nesta  defe- 
sa. E  passando  da  outra  parte  do  rio 
com  a  lança  posta  no  reste,  arremetteu 
a  elle,  que  Já  o  esperava  com  outra,  que 
os  escud-eiros  das  tlouzellas  vieram  pro- 
vidos dellivs  da  corte  d'el-rei  Recindos.» 
Ibidem,  cap.  125.  —  «E  segundo  estes 
pouos  eutre  si  saõ  bellicosos,  e  de  pouca 
fé  ja  toda  esta  grande  regiaò  fora  súbita 
ao  mães  poderoso:  se  a  natureza  nào  ata- 
lhara a  cobiça  do?  homems  com  grandes 
o  notaueis  rios,  montes,  lagos,  matas,  e 
desertos,  habitação  de  muitas,  e  diuersas 
alimárias  que  impedem  passar  de  ura  rey- 
no  ao  outro.»  João  de  Barros,  Década 
1,  liv.  4,  cap.  7.  —  «Porém  foilhe  mui 
contrariado  esse  seu  prop:isito,  principal- 
mente daquelles  de  cujo  parecer  seu  pae 
lhe  mandaua  que  tomasse  a  determinação 
de  qualquer  feito  que  ouuesse  de  come- 
ter, poendolhe  diante  o  grande  numero  de 
velas,  e  a  estreiteza  do  rio,  e  o  fauor  dos 
Mouros  da  cidade ;  e  mais  nào  saberem 
se  era  algum  ardil  dos  mesmos  Mouros 
pêra  o  acolherem  dentro  daquelle  rio, 
de  que  ainda  nào  tiuha  muita  noticia.» 
Idem,  Década  2,  liv.  1,  cap.  •!. —  «Xas 
quais  lhe  derrubarão  hum  dos  dous  ba- 
luartes que  defendiào  a  entrada  do  rio, 
e  por  elle,  cõ  bailas  de  alg  'dão  que  le- 
vavão  diãte,  o  cometerão  huma  antema- 
nham,  sendo  Capitão  deste  assalto  hum 
Abexim  por  nome  Mamedecào,  que  viera 
de  Judá  avia  menos  de  hum  mes  assen- 
tar e  jurar  a  nova  liga  e  contrato  que  o 
Baxá  do  Cayro  em  nome  do  Turco  tinha 
assentado  co  Rey  do  Achem,  no  qual  lhe 
elle  dava  casa  de  feitoria  no  porto  de 
Paacem.»  Fernão  ilendes  Pinto,  Peregri- 

YOL:   V. 39. 


nações,  cap.  26.  —  «E  que  avia  ja  três 
annos  que  tomara  aquelle  rio  por  colhei- 
ta de  seus  furtos,  e  também  por  aver 
que  nelle  estaria  mais  seguro  de  mVs, 
porque  nào  custumavamos  fazer  fazenda 
nos  portos  daquelia  enseada  e  ilha  de 
Ainaõ.ii  Ibidem,  cap.  46. —  «Tom  El- 
Rey  mandado  pôr  hum  masto  no  meyo 
do  rio,  guarnecido,  c  forrado  de  sedas 
de  core*,  o  nelle  pendurada  huina  fermo- 
sa  joya  pêra  o  que  mais  remar,  e  chegar 
primeiro  a  ella.»  Diogo  de  Couto,  Déca- 
da 6,  liv.  7,  cap.  9.  —  «Faz  este  rio 
Nilo  huma  grande  ilha,  per  nome  Meix)e, 
a  que  agora  chamão  Elsaba,  ou  Nobá, 
donde  dizem  os  do,  terra  que  era  senhora 
a  Rainha  Sabá,  ou  3Iaqueda,  e  que  dalli 
partiu  pêra  Hierusalem  a  ver-se  com  el 
Rei  Salamam,  que  da  mesma  ilha  foi 
também  senhora  a  Rainha  Candaces  que 
mandou  o  Eunuco,  per  nome  Indic  a 
Hierusalem  com  offertas  ao  templo. »  Da- 
mião de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  3,  cap.  62. 

—  Os  braços  de  um  grande  rio.  —  «Es- 
ta cidade  de  Goa  he  situada  em  huma 
ilha  que  também  se  chama  Goa,  donde  a 
cidade  toma  o  nome,  a  ilha  chamão  os 
Canarins  naturaes  da  teiTa  Ticuari,  esta 
antre  dous  braços  de  huvíi  grande  rio  a 
que  os  da  terra  chamam  Pangim,  será 
(íe  sette,  ou  oito  legoas  de  roda,  a  qual 
ilha  com  algumas  terras  no  sertão  deu  el 
Rei  de  Dacam,  cujas  erào  a  hum  seu 
criado  per  nome  çabaio  em  satisfação  de 
seus  serviços.»  Damião  de  Góes,  Chroni- 
ca de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  3. 

—  Castellos  levados  do  rio ;  castellos 
arrasados  pela  enchente  do  rio. 


Infindas  casas  cahiram, 
castellos  todos  inteiros 
Icuadoá  do  rio  virava, 
edifícios  se  sumiram, 
casas,  fortes,  moestejTOS. 

<;.   DE    HEZEXDE,  MISCELL.tSEA. 


—  Xau  grande  servindo  mais  para 
guarda  do  rio,  que  para  navegar.  —  «A 
qual  fortaleza  eu  per  seu  mandado  de- 
buxey,  c  com  elle  ordeney  a  sua  vonta- 
de, e  elle  tinha  ja  dada  a  capitania  delia 
a  Aluaro  da  Cuuha  seu  estribeiro  mor, 
e  pessoa  de  que  muyto  contiaua,  e  por- 
que el  Rey  logo  faleceo,  não  ouue  tempo 
pêra  se  fazer:  e  a  sua  nao  grande,  que 
foy  a  mayor,  mais  forte,  e  mais  armada 
que  se  nunca  vio,  mais  a  fez  pêra  guar- 
da do  rio,  que  pêra  nauegar.»  Garcia  de 
Rezende,  Chronica  de  D.  João  II,  cap. 
181. 

—  Entrar  jiorio;  embarcar  n'elle,  na- 
vegar por  elle.  —  «E  emlim  todas  estas 
obras,  e  despesas,  e  fundamentos  de  Be- 
mohi  acabarão  mal.  Porque  depois  que 
ho  dito  Pêro  Vaz  com  toda  sua  armada, 
e  com  o  dito  Bemohi  chegou,  e  entrou 
no  dito  rio,  onde  a  dita  fortaleza  se  auia 


de  fazer,  tomou  sospeytas  de  trayeào 
contra  o  dito  Bemohi.»  (Tareia  de  Re- 
zende, Chronica  de  D.  João  II,   cap.  68. 

—  Tomar  ponto  era  um  rio  ;  desembar- 
car. —  «A  boca  da  noite  tomamos  porto 
em  hum  rio  a  que  dizem  Chylife ;  aqui 
sahimos  em  terra  firme  de  Africa  ra 
Ethyopia.  Aneria  pouco  mais  de  hora 
que  nella  cstauamos,  quando  vimos  des- 
cer por  huns  montes  abayxo  hum  bando 
de  Cafres,  a  que  chamão  Mosseguejos, 
todos  niis  fazendo  grandes  gritas,  e  alíi- 
ridos,»  Fr.  Gaspar  de  S.  Bernardino, 
Itinerário  da  índia,  cap.  5. 

—  Cheias  dos  rios ;  enchentes,  transbor- 
dações.  —  «Muytos  escriptores  saõ  de  pa- 
recer que  o  Eufrates  passaua  pelo  meyo 
de  Babylonia,  a  mi  nam  me  quadra  este 
dito,  porque  a  fertilidade  daquellas  ter- 
ras nam  consiste  níaia,  que  nas  cheas  dos 
rios,  e  se  o  rio  atraueesara  a  Cidade, 
estiuera  ella  sempre  alagada,  que  como 
he  capina,  seria  inuy  dificultosa  de  alim- 
par, e  trabalhosa  dé  seruir,  e  não  se  pô- 
de crer  que  em  hum  pouo  tão  grande  se' 
consentisse  tam  notaviel  defeyto. »  Frei 
(.iaspar  de  S.  Bernardino,  Itinerário  da 
índia,  cap.  18. 

—  Rios  impetuosos;  rios  caudalosos  e 
poderosos.  • —  «Pela  qual  causa  no  veraij, 
em  que  a  mayor  parte  da  neve  se  derre- 
tia, -v-inhaõ  a^uelles  rios  tào  impetuosos 
o  com  tanto  pode-r-  de  agoa  quanto  tí- 
nhamos visto,  que  era  mais  que  em  todo 
o  outro  tempo  dò  anno.»  Fernão  Mendes 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  72. 

—  Lançarem-se  ao  rio  ;  submergifem-se 
n'elle.  —  «Mas  Deos  que  do  pensamento 
dos  mãos  costuma  tirar  matéria  para 
mayor  gloria  dos  seus  servos,  permitio 
que  os  corpos  dos  LIartyres  se  mostras- 
sem daquelle  modo  mais  belos,  e  as  aves 
não  tocassem  em  todo  tempo,  que  os  alli 
lhe  tiveraõ,  do  que  confusos  os  Bárbaros, 
deraõ  ordem  para  que  secretamente  se 
tirassem,  e  fossem  lausados  ao  rio.»  Mo- 
narchia  Lusitana,  liv.  7,  cap.  15.  — 
—  «Acabando  estas  palavras,  saltando 
fora  do  cavallo,  se  metteu  no  batel  e 
mandou  remar  contra  a  outra  parte. 
Ainda  não  seria  no  meia  d'agna,  quando 
os  cubriu  uma  nuvem  tão  escura,  que 
com  ella,  perdeu  de  vista  os  de  terra,  e 
elles  a  elle.  Como  seu  escudeiro  quizesse 
lançar-se  ao  rio  pêra  seguil-o,  z^epresen- 
tou-se-lhe  ante  os  olhoB  uma  serra  muito 
grande  cnberta  de  névoa,  e  a  seu  pare- 
cer julgava  que  aquella  se  mettia  antr'el- 
le  e  seu  serhor.»  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  113. 

—  Ah':m  do  rio;  para  lá  do  rio.  —  «Sen- 
do ja  o  campo  mea  legoa  alem  do  rio  vol- 
tiiram  Abida,  c  G arábia,  e  após  elles  os 
da  Xerquia  com  alguns  Christàos.  que  .^^e 
desmandaram  da  ordenança,  e  os  fezeram 
voltar  ate  o  rio,  em  que  lhe  mataram 
dous  caualleiros,  e  dez  cauallos,  de  que 
hum  foi  o  Alcaide  dei  Rei  de  Fez.».  Da- 


306 


mo 


RIO 


RIO 


iiiiilo  do  (roes,   Chronica  de  D.   Manoel, 
part.  3,  cap.  75. 

—  Eiitrnr  pelo  rio  dentro;  oiiibarcar.  — 
«  Foito  odte  nogocio  so  embarcou  o  (jro- 
vernador,  o  ao  outro  dia  surgio  com  a 
Armada  grosBa  na  barra  de  Còcliim,  o 
ollo  com  as  galcz,  o  todos  os  mais  iiavioa 
do  remi)  (a  (jiic  toda  a  gcute  »c  passou) 
entrou  pelo  rio  dentro,  c  pas.sou  pela  Ci- 
dade com  «lios  ombaiidcirados,  e  postos 
om  armas,  e  foy  surgir  aquelle  dia  no 
castoUo  de  cima.»  Diogo  do  Couto,  Déca- 
da 6,  liv.  8,  cap.  12. 

— ■  Lnnçar-se  pela  barroca  abaixo  coiUra 
o  rio.  —  «Ao  que  aoodindo  os  mouros 
defenderam  a  entrada  per  hum  bom  es- 
paço, mas  cm  Hm  o.i  nossos  ganUaram  a 
villa,  c  niatarrio  muitos  dcllos,  o  outros 
so  lançaram  pela  barroca  abaixo  contra 
o  rio,  do  que  morreram  alguns,  o  os  que 
isto  nam  fezoram  quo  foram  em  numero 
duzentos  cincoenta,  o  sois  trouxe  dom 
Aluaro  captiuos  om  Azamor,  sem  perder 
nenluiin  dos  seus  posto  quo  dez  ou  doze 
d(í!les  viessem  feridos.»  Damião  de  Cloos, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  4,  cip.  40. 

—  Levar-se  mais  para  duntro  ilo  rio ; 
ir  para  dentro.  —  «Assentado  isto  assi  e 
jurado,  o  feito  disso  hum  assento  cm  que 
os  mais  assinarão,  o  Capitão  mór  se  le- 
vou mais  para  dentro  do  rio,  distancia 
de  dous  tiros  de  falcão,  o  antes  que  sur- 
gisse chegou  á  sua  fusta  huma  ulmadia 
de  terra,  na  qual  vinha  luim  Rrainene 
que  falava  muyto  bem  Portuguez.»  Fer- 
não Jlendcs  i'into.  Peregrinações,  cap.  9. 

—  iVai'e(/ar  rio  acima;  navegar  contra 
a  corrente  do  rio, —  «E  em  hum  dia  e 
huma  noyto  cliegamos  ha  foz  do  rio,  que 
se  chama  ho  Poõ :  e  navegamos  cinco  ou 
seys  legoas  per  este  rio  acima,  o  cheguey 
a  huma  vila  que  se  chama  Riam,  do  du- 
cado o  senhoria  do  Ferraiw.»  António 
Tem'oiro,  Itinerário,  eap.  (J7. 

—  Navegar  rio  abaixo;  navegar  a  fa- 
vor da  corrente,  para  a  foz  do  mesmo 
rio.  —  «Aqui  mataram  á  frecha  os  mo- 
tuns,  quo  comeram  do  seu  rancho,  os  Ín- 
dios do  Gaite,  e  um  veado  pequeno.  A 
13  pelas  cinco  horas  da  manhã  navega- 
mos rio  abaixo  em  canoas  pequenas,  com 
o  trabalho  de  cortar  a  macliado  muitos 
troncos.»  Bispo  do  (irào  Pará,  Memorias, 
publicadas  por  Camillo  Castello  Branco, 
pag.  190. 

—  Ao  longo  do  rio.  —  «O  qual  a  gran- 
des brados  com  aquelle  spirito  do  paixão 
com  quo  vinha  ao  longo  do  rio,  metoosc 
na  agoa  ato  a  cintai :  pedindo  ao  capitão 
mòr  quo  ouuesso  misericórdia  dello,  ptir 
quanto  era  natural  do  Cananor  c  ostaua 
ali  com  aquollas  nãos  que  orão  suas  e  de 
outi'os  homoms  principaes  vassallos  de  Ca- 
nanor.» Barros,  Década  1,  liv.  8,  cap.  10. 

—  A  barra  do  um  rio;  o  leito  do  mes- 
mo. —  «Chegado  Diogo  Cam  á  barra  do 
rio  do  Padrò,  foi  recebido  pelos  da  terra 
com  rauito  prazer :   vendo  os  seus  natu- 


raes  que  ollc  trouxera  viuos  o  também 
tnictados  como  hiSo.»  Barros,  Década  1, 
liv.  ',),  cap.  i5.  —  iO  capitam  llio  man- 
dou ilizcr  que  logo  auisaria  o  gouernador 
de  Nauto,  huma  villa  Junto  da  barra  do 
rio  quo  vcin  de  Cantam  jjera  quo  fezessc 
saber  ao»  goueniadares  da  cidade  <lc  sua 
vinda.»  l>amião  de  Coos,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  4,  cap.  'ji.  —  «Parecu- 
Ihes  quo  seria  de  grande  importância  fa- 
zer junto  tia  barra  daquellc  rio  de  Siriaõ 
huma  Fortalesji,  de  cuja  fabrica,  e  de- 
fensíi  Salvailor  Kibcyro  ofFereceu  cncar- 
regar-se  entro  tanto  quo  Filippo  de  Brito 
avisasse  ao  Visorroy  da  Índia,  como  fes.» 
Conquista  do  Pegú,  cap.  3. 

—  Vi'.r  correr  crespas  as  aguas  do  rlo ; 
vèl-as  alteradas,  encrespadas. 


Vejo  no  campo  extenso  aa  louras  messes 
Kiirmar  cadèas  do  douradas  ondas  ; 
Vejo,  treinendo  nas  erpiidaa  Faias, 
Troucos  Hfxiveis,  folhas  volteaiitca ; 
Vejo  crespas  correr  do  rio  as  agoas  •, 
O  brando  vento  com  benigno  assopro 
Taes  bens  derrama  de  principio  ignoto. 

J.   A.    1)R  MACEDO,  MEDITAÇÃO,   Cant.   2. 


—  Cidade  situada  junto  do  rio  Tigris ; 
cidade  situada  á  beira  daquelle  rio.  — 
«Caraemite  he  luima  cidade  como  cabeça 
de  royno  mui  notável  em  aquellas  partes  : 
he  de  grande  comarca :  situada  junto  do 
rio  Tigris  pêra  a  banda  do  norte,  cerca- 
da de  niuy  notáveis  muros,  c  barbacàis, 
e  oditicios  de  grande  admiraçam.»  Tele- 
maco,  traducção  de  Manoel  de  Sousa,  e 
Francisco  Jlanoel  do  Nascimento,  liv.  :i9. 

—  //•,  seguir,  subir,  entrar  pelo  rio 
acima;  ir,  seguir,  subir,  entrar  contra  a 
corrente  do  rio. —  «Passado  aquelle  dia 
tendo  o  capitão  Lançarote  assentado  com 
os  outros  capitães  pêra  irem  per  o  rio 
acima  descobrir,  por  ser  a  cousa  que  o 
Infante  mãos  desojaua.»  Barros,  Década 
I,  liv.  1,  CJip.  13.  —  «Começou  entre  el- 
los  haver  differença,  a  qual  apagaram 
com  elegerem  por  Capitão  a  António  do 
Miranda  d'Azevedo,  per  ordenança  do 
qual  entraram  pelo  rio  acima  té  onde  se 
fazia  hum  esteiro,  dentro  do  qual  obra 
de  meia  légua  estava  a  Cidade  Campar.» 
Idem,  Década  2,  liv.  9,  cap.  7.  —  «Da- 
quy  seguimos  nosso  c.irainho  mais  cinco 
dias  pelo  rio  aeima,  nos  quais  sempre  os 
vimos  ao  longo  da  agoa,  o  iis  vezos  la- 
vandoso  nús,  mas  não  que  nos  comuni- 
cássemos com  elles  mais  que  esta  vez  so- 
mente.» Fernão  Mendes  Pinto,  Peregri- 
nações, cap.  73.  —  «Logo  que  entrAmos 
em  Mcmj»his,  cidade  opulenta  o  magnifi- 
ca, deu  o  governador  ordem  que  fossemos 
a  Thebas,  para  la  sor  apresentados  ao 
rei  Sesostris,  que  per  si  mesmo  queria 
apurar  as  cousas,  c  estava  mui  agastado 
contra  os  Tyrios.  Subimos  mais  pelo  rio 
acima  thé  a  famosa  Thchas  de  cem  par- 
tas, onde  assistia  este  grande  rei.»  Tele- 


maco,  traducçSo  de    Manoel  de  Sousa,  e 
Francisco  Manoel  do  Na-<cimento,  liv.  2. 

—  A  borda  de  um  rio ;  na  margem  do 
rio.  ■ —  «E  muito  laàu  ««  lho  acro6c«iitou, 
quando  ao  longo  na  bor'ia  do  mesmo  riO 
viu  assentado  um  castello  de  maravilho- 
sa feição.  Caminhando  pcra  aquf^lla  par- 
te, lhe  saiu  ao  encontro  uma  donzella  a 
j)é,  e  com  eila  dous  escudeiros.  (Jhcgado 
a  elles,  vendo  só  Florendos  armadn,  on- 
deroçando-lhe  suas  palavra»  diiise.»  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  dlnglaterra, 
cap.  102. —  «Os  CelLites,  posto  que  sua 
vivenda  he  mais  no  mar,  que  na  terra,  e 
alli  liies  nascem  os  tilhos,  alli  os  criara 
sem  fazerem  alpum  assento  na  terra;  to- 
davia porque  fí&íram  em  ódio  cíim  o»  de 
Cingàpura,  e  com  todaias  llh.a»  de  seu 
senhorio,-  n3o  ous:iram  de  tornar  áqucUas 
partes,  e  por  então  vieram  fazer  sua  v\- 
venda  à  borda  de  hum  rio.»  Barros,  Dé- 
cada 2,  liv.  G,  cap.  1. 

—  Vêr  descer  tantos  rio8  do»  Alpes ; 
correrem  n'uma  direcçjlo  obliqua,  e  nào 
horisontal. 


Vês  dos  aerco»  escalvados  Alpes 

Tantos  rio.»  de3c<'r,  qn'  a  ITesperia  hinndin? 

Porém  na  Ejnpeia  arêa,  e  pedrp^josaa 

Inliospitas  Arábicas  montanhas. 

De  chuvas,  onde  o  Cco  se  mostra  avaro. 

J.   A.    DE   MACKDO,  A  IfATlTKIZA,   CAOt.   2. 

—  Ir,  seguir  pelo  rio  abaixo;  ir,  se- 
guir a  favor  da  corrente.  —  «E  porque 
da  entrada  vla  princeza  se  fallará  adian- 
te, torna  a  Florendos,  que  ao  segando 
dia,  depois  de  Daliarte  c  seus  companhei- 
ros partidos,  andando  elle  c  FloraroSo  a 
pé  passeando  á  borda  d'agoa,  armados  de 
todas  armas  somente  os  elmos,  viram  vir 
polo  rio  abaixo  dons  batei>j  a  remos.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  dlngla- 
terra, cap.  110.  —  *<}  cavalleiro  das 
donzellas  se  foi  poio  rio  abaixo,  por  ver 
se  acharia  algum  vao  pêra  lhe  trazerem 
o  cavallo,  e  passar  da  outra  banda;  le- 
vava a  donzella  pola  mSo,  qne  inda  oc- 
cup.ada  de  medo  lhe  rSo  lembrava  qne  fi- 
cava seu  escudeiro  atado  ao  pé  d'uma  .ir- 
vore.  e  com  um  pao  na  bôc.n,  qtie  o  ata- 
ram 03  cavallciros.  parque  nSo  bradasse ; 
e  leinbrando-se  tão  tarde,  o  fez  tomar 
atraz.»  Idem.  Ibidem,  eap.  12'*.  —  «Qnem 
nos  dissesse  a  ilistnneia  que  podia  aver 
daly  ú  ilha  de  Calempluy,  e  qne  se  pelas 
informaçoons  que  achássemos  víssemos 
que  era  taÕ  fácil  o  cometimento  -delia 
como  o  Similau  nos  tinha  dito,  fossemos 
•adiante,  o  quando  n.ão,  entilo  nos  tornás- 
semos pelo  meyo  da  corrente  do  rio  abai- 
xo, porque  ella  nos  IcTaria  .10  mar  para 
onde  tinha  sen  curso.»  Fernão  Mendes 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  74.  —  «E  se- 
guindo mais  sinco  dias  de  no.«sa  viagem 
por  este  rio  abavxo,  fomos  hum  Sabbado 
pela  r.ianhàa  ter  a  hum  grande  templo 
por  nome  Singnafatur,  o  qual  tinha  hum 


RIO 


RIO 


RIPO 


307 


cerco,  que  seria  de  mais  de  hurua  legoa 
em  roda.»  Idem,  Ibidem,  cap.  12G. 

—  Lançar  fogo  a  alguma  cousa  que 
voe  pelo  rio  abaixo.  —  «E  o  que  mais 
atormentava  a  gente  o  tempo  que  esteve 
neste  lugar,  era  o  fogo  que  lançavam 
pelo  rio  abaixo  pêra  queimar  este  junco, 
porque  com  a  sua  artilheria  os  Mouros 
nào  o  podiam  metter  no  fundo,  por  estar 
affastada  hum  pouco  alta,  e  todo  o  damno 
delia  era  pelas  obras  mortas.»  João  de 
Barros,  Década  2,  liv.  6,  cap.  7. 

—  Homens  lançados  pelo  rio  abaixo; 
homens  lançados  a  favor  da  corrente.  — 
«E  para  dar  remate  a  todas  ellas,  ao  ou- 
tro dia  que  foy  o  de  São  Bertolameu 
mandou  espetar  em  caloetes  todos  os  no- 
bres que  tomarão  vivos,  que  serião  quasi 
trezentos  homens,  e  assi  espetados  como 
leitoens  foraõ  também  lançados  pelo  rio 
abaixo.  De  maneyra  que  fez  aquy  este 
tyranno  justiças  tão  novas  nestes  miserá- 
veis, que  nós  os  Portugueses  andávamos 
todos  ct-)mo  pasmados.»  Fernão  Mendes 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  155. 

—  A  bocca  do  rio ;  a  embocadura  do 
rio.  —  «E  esta  he  a  nova  que  achamos 
quando  surgimos  na  boca  do  rio,  cõ  a 
qual  licamos  todos  bem  alvoroçados  e 
contentes,  e  determinamos  que  tanto  que 
viesse  a  viração  entrarmos  para  dentro, 
porem  quiz  a  dciaventura  por  nossos  pec- 
cados,  que  não  vissemos  isto  que  tanto 
desejávamos,  porque  sendo  quasi  ás  dez 
horas,  estando  ja  para  jantar,  e  com  a 
amarra  a  pique  para  em  acabando  nos 
fazermos  á  vella,  vimos  vir  de  dentro  do 
rio  hum  junco  muvto  grande  só  co  tra- 
quete,  e  mezena.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  36.  —  «Esta  situada 
na  costa  do  regno  de  Siam,  na  boca  de 
hum  rio  pequeno,  era  esta  cidade  neste 
tempo  de  huma  legoa  de  comprido,  mui- 
to estreita  em  comparaçam  da  longura 
em  que  auia  mais  de  trinta  mil  visinhos, 
he  muito  viçosa  de  fruetas,  e  boas  au- 
goas.»  Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  3,  cap.  1.  —  «Do  que  el 
Rei  se  cxcusou,  por  lho  assi  requerer  ha 
molher  do  mesmo  loanne  Mendez,  e  logo 
após  estas  cartas,  sabendo  el  Rei  dom 
Carlos  como  el  Rei  dom  Emanuel  deter- 
miuaua  fazer  huma  fortaleza  na  boca  do 
rio  de  Tetuam,  e  que  tinha  mandado  la 
dom  Pedro  Mascarenhas  a  sondar  a  en- 
trada, e  ver  ho  posto  onde  se  melhor  po- 
deria fiizer,  lhe  escreueo  outra  carta,  es- 
tando ainda  na  Cruuha.»  Idem,  Ibidem, 
part.  4,  cap.  48.  —  «Demais  d'estas  duas 
missSes  se  fez  outra  á  ilha  dos  Nheengai- 
bas  de  menos  tempo,  e  apparato;  mas  de 
muito  maior  importância,  e  felicidade. 
Xa  grande  boca  do  rio  das  Amazonas 
está  atravessada  uma  ilha  de  maior  com- 
primento e  largueza  que  todo  o  reino  de 
Portugal,  e  habitada  de  muitas  nações  de 
índios,  que  por  serem  de  linguas  diíFe- 
rentes,  e  difficultosas,  são  chamados  ge- 


ralmente  Nheengaibas.»    Padi-e   António 
Vieira,  Cartas,  n.°  17. 

■ —  Figuradamente :  Rios  de  pérolas. 


E  alastrados,  de  pérolas,  seus  rios, 
Coalhadas  de  Âmbar  de  suave  cheiro 
Mansas  ondas,  que  esprayào,  que  amortecem, 
No  canclleiro  cm  flor,  c  a  rays  bejào-lbe. 

FBASCISCO    MASOEL   DO  KASCiMEKTO,  OS  UAKTTBES, 

Kv.  3. 


—  Figuradamente :  Deus  ser  mar,  e  o 
homem  rio.  —  «Dezejo  ver  vossa  formo- 
sura, dezejo  alcançar  a  minha  origem, 
dezejo  buscar  o  meu  centro  :  vós  sois  mar, 
e  eu  sou  rio;  vós  soLs  centro,  e  eu  sou 
pedra:  oh  entre  já  este  rio  no  seu  mar, 
ache  esta  pedra  o  seu  centro.»  Padre  Ma- 
noel Bernardes,  Exercícios  espirituaes, 
part.  1,  pag.  55. 

—  Argênteos  rios ;  rios  parecendo  de 
prata,  resultado  da  influencia  da  lua  so- 
bre as  aguas. 


Também  fases  análogas  llie  vira, 
Quaes  na  Lua  estou  vendo,  argênteos  rios, 
Ilhas  dispersas,  mares,  promontórios. 
E  não  será  de  habitador  estranho, 
Qual  vejo  a  Terra,  povoada  a  Lua  ? 

J.    A.   DE   MACEDO,  MEDITAÇÃO,    Cant.   2. 

—  Vêr  lia  lua  Jluctuanics  rios. 

Qu'  O  peso  de  teu  corpo  opprime,  c  honra. 
EUo  errante  também,  e  ao  Sol  opposto, 
Ora  todo  illustrado,  e  loso  em  parte 
De  igual  figura,  e  giro  similhauto 
Também  manchas  análogas  lhe  viras 
Quaes  vês  na  Lua  fluctuantes  rios. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  KATCKEZA,  Cant.  1. 

—  Figui-adamente  :  Rio  de  prata;  abun- 
dância considerável  de  dinheiro.  —  «E 
por  tal  arte  medeaõ  as  couzas,  que  naõ 
lhas  trazem  senaõ  a  pezo  de  dinheiro;  e 
vem  a  ser  neste  Reyno  hum  rio  de  pra- 
ta, para  que  naõ  lhe  chamemos  de  ouro, 
que  está  correndo  continuamente  para  a 
Guria  Sacra,  por  letras  de  Bispados,  Igre- 
jas, e  Benefícios,  e  mil  outras  graças.» 
Arte  de  furtar,  cap.  56. 

2.)  RIO,  s.  m.  Termo  de  marinha. 
Cabo  delgado,  ou  cordinha  de  dous  ou 
três  fios. 

—  Rio ;  forma  variável  do  verbo  rir, 
mas  que  alguns  concordam  em  que  se  es- 
creva riyo,  para  evitar  a  confusão. 

—  Adágios  e  provekbios  : 

—  Em  rio  grande,  passar  derradeii"0, 

—  Em  rio  quedo,  não  mettas  teu  dedo. 

—  Rio  torto,  dez  vezes  se  passa. 

—  Quando  o  rio  não  faz  ruido,  ou  não 
leva  agua,  ou  vae  crescido. 

—  Fazenda  de  sobrinho,  queime-a  o 
fogo,  ou  lève-a  o  rio. 

- —  O  que  o  rio  achega,  o  rio  leva. 

—  Não  sou  rio,  para  não  tornar  atraz. 

—  De  grande  rio,  grande  peixe. 


—  Vae  a  moça  ao  rio,  conta  o  seu  e  o 
do  seu  visinho. 

RIOSINHO,  s.  w.  Diminutivo  de  Rio. 
Rio  pequeno,  de  pequena  extensão. 

1.)  RIPA,  s.  f.  Pedaço  de  taboa  estrei-- 
ta  ou  longa  de  certos  coqueiros,  ou  páos 
fendidos,  que  se  atravessa  sobre  os  bar- 
rotes e  caibros,  e  faz  uma  grade  com  el- 
les,  sobre  o  que"  se  assentam  as  telhas 
nos  telhados. 

2.)  RIPA,  s.  /.  (Do  latim  ripa).  Vid. 
Riba,  e  Ribanceira.  — -  A  ripa  de  um  rio. 

RIPADO,  s.  7)i.  As  ripas  do  telhado  em 
forma  de  grade  para  se  pôr  a  telha. 

RIPAL,  adj.  2  gen.  —  Pregos  ripaes  ; 
pregos  com  que  se  pregam  as  ripas  nos 
caibros. 

RIPANÇAR,  r.  a.  Preparar  com  o  ri- 
panço.  —  Ripançar  o  linJio.  Vid.  Respan- 
çar,  que  diverge. 

1.)  RIPANÇO,  s.  m.  Livi-o  contendo  os 
officios  da  semana  santa. 

2.1  RIPANÇO,  s.  m.  Camilha  de  dormir 
a  sesta. 

—  Esprlguiceiro,  marqueza. 

3.1  RIPANÇO,  s.  )/!.  (De  ripar).  Peça 
de  madeira,  que  serve  para  separar  a 
baganha  do  linho. 

• —  Instrumento  dentado  de  jardineiro ; 
serve  para  raspar  a  terra  e  ajuntar  as 
pedras. 

—  Adágios  e  provérbios  : 

—  Es  como  ripanço,  que  só  serve  de 
lima  cousa. 

—  Faz  oíEcio  de  ripanço. 

1.)  RIPAR,  V.  a.  (Do  francez  riper). 
Separar  a  baganha  do  linho  por  meio  do 
ripanço. 

—  Raspar  a  terra,  e  ajuntar  as  pedras 
por  meio  do  ripanço. 

—  Ervilhas  de  ripar ;  ervilhas  cozidas 
com  vagens,  que  se  comem  mettendo-as 
na  bocca,  e  puxando  pelo  pedúnculo. 

—  Figurada  e  popidarmente :  Furtar, 
agatanhar. 

2.)  RIPAR,   V.   a.   (De   ripa).    Gradar 
com  ripas  os  caibros  dos  telhados. 
RIPÍA.  Vid.  Arripia,  e  Repiar. 
RIPIADO,  A,  adj.  Que  tem  ripios. 

—  Figuradamente  :  Que  contém  pala- 
vras, que  vão  só  para  encher  a  medida. 
• —  Versos  ripiados. 

j  RIPICOLA,  adj.  (Do  latim  ripa,  e 
colere,  habitar  i.  Termo  de  zoologia.  Que 
vive  na  margem  dás  ribanceiras. 

f  RIPIDION,  s.  m.  Termo  de  botânica. 
Género  de  plantas  da  familia  dos  cogu- 
melos. 

RIPINHA,  s.  f.  Diminutivo  de  Ripa. 
Ripa  ]>equena. 

RIPIO,  s.  m.  Pedrinha  de  encher  os 
vãos,  que  deixam  nas  paredes  as  pedras 


—  Figuradamente :  Na  linguagem  poé- 
tica, a  cunha  ou  palavra  que  vai  somen- 
te para  encher  e  completar  a  medida. 

7  RIPOGONE,  s.  /.  Termo  de  botâni- 
ca. Género  de  plantas  monocotyledoneas, 


aos 


HKMI 


do  ílôriw  iacompletAH,  da  fanillifi  das  as- 
para^íiiioas,  que  cro.sccin  na  Nuva  llol- 
laiiila,  o  niiH  illiaw  do  mar  do  Sid.  —  A 
ripogone  Iminai. 

RIPRICAR,  1-.  íí.  Uiii.licar.  Vid.  este 
tejMiio. 

RIPUARIO,  A,  u<lj.  Quc!  pertence  aoH 
ripiiariDM. 

-— Li!s  rjpuarias;  leid  dos  ripuarios, 
attriliuiilas  a  Tlicodorieo,  filho  do  CIovIh, 
c  8C11  rei.  E.sta.s  leis  corupòem-se  do  8ÍI  ou 
í)l  tira.s,  lorniando  224  ou  227  artigon. — 
A  hi  do»  ripuarios  confcntiivíi-sc  c(mi>r<j- 
vas  nefjativds. 

—  àS".  plur.  Tribu  da  cqnlbdcraçào  dos 
franccxi!.!  que  oeeupava  a  uiar;?oni  Occi- 
dental do  Ilho.no,  donckí  o  nomo  pareço 
dcrivar-so.  Formaraui-.so,  dcpoÍH  dos  fran- 
cezes  salioj,  a  tribu  mais  potente  da  na- 
ção, e  quando  o.stC3  ultimoá  avançaram 
para  a  (iallia,  os  ripuarios  espalharam-se 
pelo  occiílentc,  oceupaudo  o  paiz  situado 
entre  o  Rheno  o  o  Mo.-ia  até  ús  Ardeunas. 
A  tribu  dos  ripuarios  Junt.ira-se,  sob  o 
comniando  do  Clóvis,  á  dos  francezes  sa- 
lios. 

1  RIQUESA,  í.  /.  Vid.  Riqueza.  — 
«Gallonio  foi  dotado  de  taõ  insaciável 
gula,  qu(i  gastou  todas  as  suas  riquesas, 
que  craõ  muytas,  eiu  profusos  banque- 
tes; de  sorto  que  ficou  om  provérbio, 
quando  alguém  queria  rogar  huma  gran- 
do  praga  o  dizcr-sc :  Tão  bêbado  te  veja 
cu  como  António ;  tão  escarnecido  como 
Cario;  tão  gastador  comi)  Aypicio;  e  taõ 
goloso  como  Gallonio.  »  Braz  Luiz  de 
Abroii,  Portugal  medico,  pag.  28. 

RIQUEZA,  Í-.  /.  i^Do  hebraico  reqiish). 
Superabundância  de  bens  de  fortuna,  e 
de  cousas  preciosas,  cm  opposiçrio  á  j>o- 
breza.  —  «O  segundo  passou  em  Tirccia, 
confiado  no  favor,  e  parentesco  do  Em- 
porador  Theodosio,  deixando  os  bens  o 
riquezas,  que  tinhaõ  em  poder  dos  ven- 
cedores, que  03  meterão  a  saco;  pagado 
com  este  roubo,  c  outros  miútos  que  se 
cometerão  ua  Cidade  de  Falência,  e  sua 
Comarca  (dõdo  estes  irmãos  eraõ  natu- 
raes^i  aos  Ilarbaros  Honoriacos.»  Monar- 
chia  Lusitapa,  liv.  O,  cap.  1.  —  «Assi 
que  se  elles  om  nos  viam  que  temer,  os 
nossos  em  ver  a  grandeza  da  Cidade,  e 
o  grande  número  de  povo,  a  multiaão 
dáa  riáos,  o  navios,  também  tinham  que 
cuidar,  posto  que  pela  grão  fama  <la  sua 
riqueza  tudo  se  convertia  cui  desejo  de 
'  a  conquistar. »  Barros,  Década  2,  liv.  Ij, 
cap.  2. —  «E  a  este  moio  saõ  todas  as 
mais  cousas  de  que  a  natm-eza  a  dotou, 
assi  na  salubridade  e  temperamento  dos 
ares,  como  na  policia,  na  riqueza,  no  es- 
tado, nos  apai-atos,  e  nas  grandezas  das 
suas  cousas,  o  para  dar  lustro  a  tudo 
isto,  Ua  também  nella  huma  tamanha 
ob80í'vaueia  da  justiea,  o  hum  governo 
tão  igual  e  tão  excel tento,  que  a  todas 
as  outras  terras  pode  fazer  inveja.»  Fer- 
nKo  Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cjip. 


RIQU 

99.  —  «E  dandollia  entaõ  (JhristovSo  Bor- 
ralho, elles  a  tomarão  eoiii  liurua  grande 
cerimonia  du  ^aiidu  cortesia,  dizcinhj, 
louvado  Boja  o  que  tuilo  criou  ijoíh  kc 
(juer  servir  de  peccadoroH  na  terra,  para 
j)(ir  isso  lhes  fazer  a  feria  do  seu  paga- 
mento no  derradevro  dia  de  todo»  oh  dius, 
com  lhos  piugar  ííou  jornal  tanto  por  on- 
cLeyo  nas  riquezas  do.-i  ouus  iiautuii  ti- 
Houros,  quo  segundo  temos  para  nó»  será 
cm  tanta  umltiplicaeão  como  as  gotus 
que  as  nuvens  do  Cco  tem  lançado  cm 
toda  a  terra.»  Ibidem,  cap.  llKJ. — -a Es- 
tas feiras  se  fazem  nos  meses  de  .lulho  e 
Janeiro,  com  festas  notáveis,  feit.as  á  in- 
vocação dos  seus  Ídolos,  onde  por  si-u 
modo  tem  seus  jubileus  plenissimos  em 
que  lhes  promettcm  grandes  riquezas  de 
dinheyro  na  outra  vida.  tíaõ  estas  fey- 
ras  ambas  francas  e  livres,  sem  pagarem 
uenimm  dircyto,  pela  qual  causa  concor- 
re a  ella  tanta  gente,  que  se  afíirma  que 
passa  de  três  contos  de  pessoas.»  Ibidem, 
cap.  108. —  «A  primeyra  foy  dizemos 
que  lhe  tinhão  dito  os  Chins  e  Lequios, 
que  Portugal  era  niuyto  ma^-or  em  quan- 
tidade assi  de  tcn-a  como  de  riqueza, 
que  todo  o  império  da  ('hina,  o  (jue  ncjs 
lhe  concedemos.»  Ibidem,  cap.  \'.V:i. 

(|uc  c:isas  (|iic  ac  juntaram  ? 
que  rendas  que  alcançaram  ? 
\ii3saHos,  villas,  rlqiie:<t  T 
jurdiçõfs,  mando,  nobloza? 
que  senhorios  liordaram  V 

OARCtA  DE   RKZENDK,  MISCELLINEA . 

Entrou  com  mil  alegrias, 
saliio  com  prandcs  tristezas, 
tauto  ouro,  e  pedrarias 
uaiii  ac  vio  cm  nossos  dias, 
nem  t.ies  gastos,  taos  riquezas. 

1D[DKU. 

—  «Todos  com  grande  riqueza  e  per- 
feyçam  de  carregamentos  de  suas  pes- 
soas, casas,  e  seruidores.  E  segunda  fey- 
ra  a  vinte  e  dous  dias  de  Noueuibro  a 
Princesa  partio  da  Cidade  de  15adajoz 
aeompanhada  do  (^irdeal,  e  todolos  se- 
nhores que  eom  ella  vinhão,  e  com  a  gen- 
te da  cidade  e  suas  danças.»  Idem,  Chro- 
nica  de  D.  João  II,  cap.  121. 

A  riqnezii,  o  poder,  a  dignidade, 
Objectos  vaõs  de  hum  iufelií  cuidado 
Oirrece  a  «(uem  te  tem  por  Divindade. 

Aiin.Km:  de  jazkste,  pof.sias,   tom.   "_',  (lag.  119 
(odiç.  do  1787). 

. —  «Da  muita  gente  se  colhe  a  rique- 
za do  Príncipe  pelos  direitos,  que  se  pa- 
gai» dos  frutos  da  terra,  obi-as  de  mãos, 
e  mereaneias.  Acontece  isto  naturalmen- 
te.«  Manoel  Severim  de  Faria,  Noticias 
de  Portugal,  Dise.  1,  §  1.  —  «Em  esta 
trasladação  fez  extremos  ilignos  ile  lem- 
brança, porque  além  da  riqueza  das  an- 
das em  que  o  corpo  vinha,  e  do  acompa- 


RJQU 

nhamonto  de  Honhorcs,  e  Renhoras  illu«- 
tres  do  Ueiíiu,  i-iii  todait  an  dczjuetu  le- 
guai»  que  ha  de  Coimbra  a  Alcobaça  lui- 
via  de  huma,  e  outi-a  purtu  bouteim  com 
brandõcri  de  cera  ardendo,  pelo  meio  diOii 
quaes  liiaõ  as  andah,  c  acoiupaniiamunto.» 
l-'r.  lieiíiardu  de  Jirito,  Elogios  dos  reis 
de  Portugal,  continuadoH  por  1>.  JoȎ 
Barbosa.  —  «Pêra  que  a  nieeiua  pobreza, 
a  quciu  ofíondera,  lhe  deca^iauave  ao 
Senhor,  e  ali  visse  (|Uunt4>  niaÍH  eaboruita 
ella  seria  que  a  riqueza  se  foMe  tani  vo- 
luntária, e  acabasM-  em  tim  de  perder  os 
vãos  teniorea,  (jue  todos  lhe  teniofl,  di- 
zendo muytas  vezes  u  ^i  menino,  ei»  aqni 
o  de  (pie  tanto  medo  tinlia.»  Luecoa,  Vi- 
da de  S.  Francisco  Xavier,  liv.  õ,  cap. 
'■'i.  —  «iíocolheoo  '  lovcriuwJor  os  despo- 
jos, que  forào  os  Beaes,  uiuitai*  bandei- 
ras, e  quarenta  peças  de  artelharia  gros- 
sa, em  que  entrava  aquella,  que  iioje  te- 
mos ua  Fortiileza  de  S.  Iji.ào,  que  do  lu- 
gaj-,  em  que  se  gardiou  .ainda  couscrva  o 
nomo.  Entregou  a  (Jidade  ao  saco,  sem 
reservar  para  si  hum  só  ferro  de  lança, 
sempre  d.as  riquezas  do  (Jrientc  dej»pre- 
zador  constíinte.D  .Jaeintho  Freire  d'Aii- 
drado,  Vida  de  D.  de  Castro,  liv.  íJ. 


Kin  qu.onto  por  salvar  esta  rif/ufza 
K  a  uudhe.r,  o  Sultão  assi  trabalha, 
Nào  ces-ía  do  .Mogor  a  :dta  cruc/.». 
Por  tudo  quanto  vè,  cruel  sc.-^»alha : 
Dos  seus  o  que  escapou  a  esta  braveza, 
K  »<'•  a  fugida  espera  que  lhe  valha, 
A  Diu  se  recolhe  em  tompo  breve, 
Omlc  estar  o  Sultão  por  novas  teve. 

FRANCISCO    d'aNDRADK,    rKIXClBO     CEBCO    lUI    DIC, 

cant.  3,  est.  81. 


Usa  tu  comigo  hoje  do  brandura, 
Uasta  ser-mc  a  fortuna  imiga  c  forte. 
Sequer  porque  ísta  grande  foniiosura 
Ante  ti  nào  receba  cruel  u)orte. 
E  tudo  o  quú  uutrc  tanta  desventura 
Me  eonsentio  8:ilvur  a  adversa  sortt; 
Te  dou,  que  mais  r!q'i<'za  cu  nào  procuro 
Que  vêr-mc  com  meu  bera  posto  em  segure 
iBiDF.si,  cant.  'I,  est.  44. 


—  «E  he  o  primeiro  desengano,  que 
damos  a  todas  as  unhas,  que  furtaõ  para 
fartar  sua  eobiça,  e  fume,  que  tem  de 
riquezas;  desenganem-sc,  que  trabalkaõ 
debalde;  porque  raayor  a  haò  de  ter, 
quando  mais  sti  encherem,  e  mayores 
montes  ajuntarem;  porque  ho  hydrope- 
sia,  (pie  quanto  mais  bebe,  tauto  mayur 
sede  tem.»  Arte  de  furtar,  cap.  70. 

Niio  he  de  huuia  Na^ào.  da  Torra  he  todo 
O  sabiú,  que  a  riqnczn  augiueoita  ás  Artes. 

J.   A.   DE   ILACEDO,    VIAtíKU  KXTAIICA,  CJUlt.    4. 

Na  ingenuidade  natural  se^ro, 
tíiii<inti  nào  comprada  apresentava  : 
Trai  o  fnieto  es|Vintaneo.  o  leite  puro 
1X>  manso  armejit<^,  que  no  pasto  andava  ; 
Tauto  de  trato  dobre,  e  en^raiKi,  alheio. 
Que  á.'t  clu><,'as  leva  os  luiutas  sem  nceio. 
ii>t:y,  o  ouiKNri:,  CAUt.  T,  Ciit.  úl. 


RIQU 


RIQU 


RIQU 


309 


—  Valor  intrínseco  da  moeda. 

—  Magnificência,  osteutaçrio,  luxo,  es- 
plendor. —  «E  o  que  a  todos  mais  espan- 
tava e  mais  vinham  a  ver,  eru  a  íermo- 
sura,  riqueza  e  atavios  de  Turgiana,  que 
a  vinham  vêr  como  cousa  cahida  do  Ceu.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  89.  —  «El  Rcv  com  gramle 
estado  Real,  e  o  Priucipe  sahiram  pella 
manhãa  cedo  com  a  Raynha,  c  Princesa, 
e  todalas  damas  com  muyta  riqueza  ves- 
tidas, e  concertadas,  e  foram  ao  campo 
Daluisquer  na  jibeyra  de  Santarém  a  co- 
lher ramos  verdes.»  Oarcia  de  Rezende, 
Chronica  de  D.  João  II,  cap.  131.  — 
« Suzanna,  a  infeliz  Suzanna,  tilha  de  Ma- 
dama  de  Senueterre !  e  eu  lastimar-me 
da  minha  siirte !  Nunca  melhor  que  hoje 
senti  que  nào  a  riqueza  mas  sim  a  ami- 
zade, mas  sim  a  virtude  são  as  que  en- 
curtito  as  distancias.»  Francisco  Manoel 
do  Nascimento,  Successos  de  madame  de 
Senneterre.  —  «Oondemnada  me  vejo  a 
um  luxo,  que  tantos  invejão,  e  que  a  mim 
serve  de  supplicio ;  condemnada  a  visi- 
tar, a  receber,  e  a  accolher  uma  socieda- 
de que  me  não  quadra  em  modo  algum. 
Quanto  mais  triste  nic  vè,  tanto  mais  dis- 
pende  M.  Chenu,  capacitado  que  a  cou- 
sa mais  estimável  no  niundo  é  a  riqueza, 
e  que  luzimento  vale  ventura.»  Idem, 
Ibidem. 

Immeusas  solidões,  no  horror  sublimes, 
Magestade,  cxtcasão,  riqueza,  tudo 
A  imagem  te  amostrou  do  Omui[)oteiite, 
E  destes  troncos  se  dcrramào  filhos, 
Euormos  como  os  pais,  os  Guararapcs, 
Cuja  espantosa  cima  os  pés  humanos 
Nunca  poderão  profanar  té  agora. 
J.  A.  DB  MACEDO,  MEDirAÇÃo,  cant.  "2. 

—  Riquezas  espiíítaaes  e  celestiaes;  as 
riquezas  do  céo.  — -  «E  isto  nasce  de  ter 
posto  seu  eoraçam,  c  affeyyam  em  outras 
riquezas  mayores,  s.  nas  spirituaes,  e  ce- 
lestiaes. E  por  isso  diz  o  Senhor,  Bem- 
auenturados  os  pobres  de  spiritu,  s.  de 
vontade  spií-itual  mouida  ao  desprezo  das 
riquezas  terreaes,  pello  amor  (jue  tem  ás 
spirituaes,  e  eternas.  E  neste  primeyro 
degrao,  he  muyto  pêra  cusiderar  quam 
contraria  he  a  diuina  sabeduria  à  mun- 
dana.» Fr.  Bartholomeu  dos  Martyres, 
Catecismo  da  doutrina  christã. 

—  Riquezas  encerradas  naquelle  que 
se  iiufre  dan  lagrimas  d'aur(/ra. 

Perfumada  Ceil.^,  v.W,  mares  onde 
■Se  vai  perder  o  fabuloso  Hidaspe, 
Quantas  riquezas  cuoorrais  uaquellc 
Que  se  nutro  das  lagrimas  d 'Aurora  ! 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUBKZA,  Caut.  3. 

—  Vã  riqueza;  riqueza  superficial. 


Este  o  primeiro  da  assisada  turba 
Do  Cynico  mordaz.  Cratcs  coutúmplo, 


Que  julga  inútil  pezo  a  vã  riqueza, 
E  no  abysmo  do  mar  com  oUa  esconde 
Imiuicto  temor,  voraz  cuidado ; 
Seja  d'oHi'o  o  grilhão  sempre  he  cadêa  ! 

J.    A.    DE   MACEDO,    MEDIPAçÃO,   Caut'.    2. 

—  Siilida  riqueza  dos  mortaes. 

Mais  útil  quadro  aos  olhos  se  oflerece ; 
Pacíficos  rebanhos  pelos  prados 
Sào  dos  mortaes  a  solida  riqueza, 
Siio  pcrmaneutcs  bens  da  idade  de  ouro. 
Da  tranquilla  virtude  inda  hoje  emprego 
lie  do  pastor  a  vida ;  o  insano  orgulho 
Nella  couhece,  a  seu  pezar,  ventura. 

J.   AGOSTINHO  DE    MACEDO,   HEDirAçÃO,  Cant.  3. 

—  Nas  riquezas,  adquiridas  pur  rou- 
bo, nãi}  pôde  existir  para  quem  as  pqssue 
bemaventurança.  —  «Pelo  meio  da  prodi- 
galidade, e  avareza,  corre  a  liberalidade, 
que  dispende,  e  guarda  com  a  moderação 
devida,  e  porisso  he  virtude;  e  porque  o 
he,  naõ  atina  com  ella,  quem  serve  o 
mundo,  que  traz  apregoada  guerra  com 
as  virtudes.  E  vedes  aqui,  como  nas  ri- 
quezas naò  pôde  haver  para  vós  a  bem- 
aventurança, que  nos  fingis.»  Arte  de 
furtar,  cap.  70. 

.  —  As  riquezas  das  fratenuis  artes. 

Se  em  soberbo  salão  do  Louvre  antigo, 
Da  muda  Poesia  o  Thronohum  tempo, 
Ou  do  Museo  mais  vasto  onde  s'encerrâo« 
Hoje  as  riquezas  das  fraternas  Artes, 
Qu'  a  lastimada  Itália  lis  armas  cede. 
Entrara  para  ver  quanto  traçarão. 

J.    A.  DE  MACEDO,  A  MAICHEZA,  CaUt.  3. 

—  Jazer  a  riqueza  no  centro  escuro  da 
humana  habitação,  sendo  desenterrada  por 
famintos  brados. 

Da  humana  habitação  no  centro  escuro 
Jaz  a  riqueza,  que  famintos  braços 
Foi-ão  desenterr.ar,  c  vio  primeiro 
Do  dia  .a  clara  luz  nocivo  ferro, 
IJtil  á  vida,  c  péssimo  instrumento. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  KATUREZA,  Cant.  2. 

—  Senhor  de  grã  riqueza ;  muito  rico, 
opulentis.simo. 


Por  isto,  c  creio  mais  por  lhe  ser  dito 
Que  este  Turco  he  senhor  de  grãa  riqueza. 
Sem  mais  outra  rasão,  outro  delito 
Para  huma  tal  justiça,  antes  crueza, 
Manda  que  o  triste  Turco  renda  o  csprito. 
Que  por  obra  se  põe  com  grãa  presteza  ; 
Calie  do  corpo  a  cabeça,  o  esprito  logo 
Entra  no  inextinguível  bravo  fogo. 

F.  d'andrade,  pbimeiho  cehco  de  dic,  cant.  12, 
est.  131. 


—  Adagio  e  provérbio  : 

—  N.ào  te  exaltes  por  riqueza,  nem 
te  abaixes  jior  pobreza. 

— ■  Syn.  :  Riqueza,  opulência. 

Riqueza  é  a  superabundância  de  bens 
da  fortuna,  de  cousas  preciosas.  Opulên- 
cia é  a  grande  riqueza  acompaidiada  de 
ostentação,  e  talvez  de  poder  e  influen- 
cia. 


A  riqueza  consiste  na  posse;  a  opu- 
lência no  gozo  apparatoso  dos  bens  da 
fortuna. 

O  avarento  que  enthesoura  e  não  gas- 
ta é  rico,  mas  iião  opulento.  O  fidalgo,  o 
lavrador  abastado  que  não  enthesoura,  e 
gasta  com  ostentação  suas  rendas,  é  opu- 
lento sem  deixar  de  ser  rico.  Póde-se  ser 
rico  sem  ser  opulento,  mas  nào  opulento 
sem  ser  rico;  por  isso  se  diz  rico  e  opu- 
lento, e  nào  opulento  e  rico. 

RIQUIOVA,  s.  f.  Termo  antiquado. 
Tudo  o  que  era  pertencente  á  bagagem, 
e  aposentadoria  daquelles  senhores,  que 
alli  se  detinham,  e  de  cujo  titulo  se  for- 
mou este  vocábulo. 

—  Loc. :  Ir  á  riquiova  e  t rov iscada; 
ajudar  nas  tinguijadas,  e  jornadas  do  se- 
nhor. 

RIQUISSIMAMENTE,  adv.  (De  riquíssi- 
mo, com  o  sutiixo  «mente»).  Mui  rica- 
mente, com  muita  riqueza.  —  «Passada 
esta  casa  chegamos  a  huma  porta  onde 
eatavão  seys  porteyros  com  maças  de 
prata,  c  por  ella  entramos  noutra  casa 
riquissimamente  fabricada,  onde  estava  o 
Calamlnhan  em  hum  teatro  de  grande 
magestade,  fechado  em  roda  com  três  or- 
dens de  grades  de  prata,  acGpanhado  de 
doze  moiheres  muyto  fermosas,  e  riquis- 
simamente vestidas.»  Fernão  Mendes  Pin- 
to, Peregrinações,  cap.  1G2. 

RIQUÍSSIMO,  A,  aJJ.  supcrl.  de  Rico. 
Mui  rico.  —  «  Foi  commettldo  depois  de 
alguns  dias  pelo  exercito  do  Duque,  e 
ainda  que  houve  alguma  resistência,  como 
o  numero  era  taõ  desigual,  e  a  gente  Por- 
tugueza  taõ  pouco  exercitada  na  guerra, 
foi  o  senhor  D.  António  po.sto  em  fugida 
com  huma  ferida  na  cabeça,  e  seu  campo 
roto,  e  saqueados  os  arrabaldes  de  Lis- 
boa, em  que  se  alcançou  hum  despojo  ri- 
quíssimo.» Fr.  Bernardo  de  Brito,  Elo- 
gios dos  reis  de  Portugal,  continuados 
por  D.  José  Barbosa.  —  «Cujas  campinas, 
segundo  os  Geographos,  naõ  servem  de 
outra  cousa  mais,  que  de  pastos,  e  com 
isto  está  riquíssima.»  Manoel  Severim  de 
Faria,  Notícias  de  Portugal,  Disc.  1,  §  5. 

—  «x\.  de  hum  Jesuíta,  homem  porem 
Doutíssimo,  Eloquentíssimo,  c  Riquíssimo 
na  intelligencia  dos  significados,  e  no 
uso  de  todos  os  Vocábulos  Latinos.»  Ca- 
valleiro  de  Oliveira,  Cartas,  liv.  1,  n.°  7. 

—  «E  de  ver  no  riquíssimo  poema  de 
Byron,  o  Chlld-Harold,  a  descripção  da 
entrada  de  Lisboa,  etc.  O  leitor  portu- 
guuz  encontrará  ahi  cousa  que  não  é  mui- 
to para  lisongear  o  amor  próprio  nacio- 
nal ;  mas  tenha  paciência,  que  ainda  as- 
sim não  é  muito  grande  a  injustiça  do 
nobre  lord.»  (Jarrett,  Camões,  nota  J^  ao 
canto  1. 

— :  Um  jyeixe  riquíssimo  foi  o  brazão 
de  Fhenicia,  e  a  gloria  de  Tyro. 


OUia  o  peixe  riquíssimo,  que  fora 

De  Eenicia  o  brazão,  de  Tiro  a  gloria, 


310 


RIR 


Que  (las  alfçoítas  pedra»  arrancado 
Licor,  inairt  c|u'  o  Uiibi,  brilliuiiti;,  ««€!'.•«) 
Da*  raHgaJa»  ciitraiilia*  oiitornava. 

J.    A.    Ur.  MACKDO,   A   NATLUBZA,  Cftut.   3. 

—  Aurito  rafre  riquissimo,  cravado  de 
opalas  e  riiòin.i. 

Co'  a  fríiitc  humildo,  p  curva  IIkí  olVcrcci! 

Aurco  cofre  rti/MÍMimo  cravadn 

Dir  opAlas,  o  rubiurt,  (luc.  rRdplaiidccc, 

Quiil  lirillia  cui  CVo  nocturno,  astro  elevado: 

AoH  TjUsitano.H  olhoí  apparecc 

O  primeiro  tributo,  qui-  huniilbado 

Aoi  péa  do  Hei  do  Tejo  armi-potcute 

Manda,  VaSriallo,  o  di;ticobeit  Oriente. 

J.    A,    1>K    lIACtDO,    o   OIllKNM!,    Caut.     11,    CSt.     85. 

RIR,  V.  11.  ((Joiitrac4.'rio  do  latim  ride- 
r«).  Fii7A>r  uin  certo  inoviíueuto  tlc  bocca 
produzido  pela  inipressilo  que  excita  em 
i»Ó3  ali^mna  cousa  de  alep;ria,  de  jíracejo. 
—  f  E  Pêro  de  Mello,  tídalj^o  do  sua  casa, 
era  muyto  bom  caualleiro,  e  muyto  des- 
maulioso,  c  hum  dia  leuando  de  beber  a 
el  Rev  a  mosa  hia-llic  tremi-ndo  a  miio,  e 
em  querendo  tomar  a  salua  cahiolhe  o 
púcaro  coui  a  agoa  no  cham,  de  que  ii- 
cou  muyto  corrido,  o  alguuias  pessoas 
priucipaos  começaram  de  rir,  e  el  Rey 
disae  alto:  De  que  vos  rides,  nunca  lhe 
caliiu  a  lança  da  mào,  ainda  que  lhe  ca- 
hisso  o  púcaro:  de  que  Pêro  do  Mello  fi- 
cou niuvto  contente,  e  toruoulhe  a  dar  de 
beber.»  Mareia  de  Rezende,  Chronica  de 
D.  João  II,  cap.  87.  — ■  «Olhay  nesta  ('or- 
te  para  Dom  Pablo  Ximeues  de  Aragão, 
o  vede  as  outras  todas  chcyaa  do  Dom 
Pablos.  Fazer  rir  aos  Monarcas  seria 
honra  para  elles,  o  fazer  rir  as  Divinda- 
des seria  diseredito  para  mim?  Niío  Se- 
nhora.» Cavalleiro  d'(Jliveira,  Cartas, 
liv.  1,  n.°  '2.  —  «Toda  a  sua  fandlia  olha 
p.ara  ellc,  e  ri,  ilenalco  olha  para  todos 
03  seus  Criados,  e  ri  aimla  mais  do  que 
elles  mesmos.  Saho  Menalco  do  seu  'i)ala- 
cio  acha  uma  carroça  á  sua  porta,  cuida 
que  he  a  sua,  moté-se  dentro,  anda  o  Co- 
cheyro  para  casa  cuidando  que  leva  seu 
amo.»  Idem,  Ibidem,  liv.  3,  n."  18. — 
«Fulana  riu  muito  na  ocUa  do  sicrana; 
fulana  caiu  á  saiila  do  coro;  fulana  teve 
nma  iudigesti\o  do  lagosta,  ou  qualquer 
indigestão  de  coisas  assim  innocontca.s 
Bispo  do  Orão  Par:i,  Memorias,  publica- 
das por  Camillo  Castello  Branco,  pag. 
121. 

Sim,  rio, 
Maniio,  e  de  ouvir-to.  O  cego  cnthusiusmo 
Uu  Uruto  não  se  intlammu,  não  ccutellia 
Com  mais  viva  olopioncia,  nem  lhe  rompe 
Coiu  tanta  convicijào  do  intimo  peito. 

OAHRKTT,   CATÃO,    act.    5,    BC.    7. 

—  Rir  ás  paredes;  rir  ftSra  do  tempo. 

—  Rir  rt   aurora ;  apparccer  alogrc   c 
graciosa,  risonha. 

—  Rir  ao  sol;  rir  fora  do  tempo;  diz- 
se  que  o  façam  os  tolos. 


RIR 

—  Rir-se,  V.  rejl.  Fazer  um  certo  mo- 
vimento com  a  bocca,  produzido  p<;Li 
iiiôa  de  alguma  cousa  galante,  grucuju- 
dora,  e  engraçada. 


íjton.   Si,  a^ora,  eraniá, 

Taiiibein  i  u  me  ria  ea 
Das  couiía»  ipie  mo  dizia: 
('liamava-mn  lu/  do  dia: 
Nunca  teu  olho  verá. 

aiL  VICKXTU,   rABÇAS. 


—  "Haverá  pouòos  dias  que  topei  com 
este  cavalleiro  em  uma  festa,  onde  de- 
pois de  prender  os  que  n'ella  vinham,  o 
a  elle  ter  em  meu  poder,  antre  alguma» 
novas,  que  me  deu  de  Albayzar,  me  dis- 
se que  estava  desafiado  com  elle  pcra  se 
irem  combater  a  casa  do  imperador  Pal- 
meirim, de  <pie  me  muito  ri,  aconscKian- 
do-lho  (lue  lhe  não  posasse  de  se  vêr  fora 
de  tamanho  porigo. »  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  80.  — 
«O  imj)erador,  que  bem  attcnto  esteve 
ouvindo  as  palavras  da  donzella  com  sof- 
frimento  grande,  depois  de  a  deixar  aca- 
bar, riudo-se  conti-a  os  seus,  disse:  Por 
certo,  estranha  donzella,  não  sei  que  em- 
baixada a  dos  gigantes  pi'(de  ser,  que  com 
melhor  vontade  não  receba  que  essa  vos- 
sa.» Idem,  Ibidem,  cap.  93.  —  «Esta  Gi- 
gante era  bastantemente  formosa,  porem 
quando  se  ria,  a  modo  das  molheres  que 
querem  mostrar  os  bons  dentes  que  tem, 
descompunha  tanto  a  boca  que  se  des- 
feava intoyramente,  e  fasia  medo  a  todo 
o  mundo.»  Cavalleiro  d'01iveira,  Cartas, 
liv.  1,  n."  49.  -—  «Elle  que  em  tantas 
experiências  de  alhos,  e  cachimbo  tinha 
sempre  triumphado  se  começou  a  rir  do 
meu  ameaço,  e  rcspondeo.  Pois  i^ue  vós 
não  sois  aisado  comigo  ensinai  esse  rtine- 
dio  a  minha  molher,  a  qual  certamente 
vos  será  agradecida.^  Idem,  Ibidem,  liv. 
2,  n."  8.Õ. 


D  niiscria ! 

liasão  assi  Ak  matéria 

que  em  nenhuma  rasão  cabe? 

Que  tom  cliõro  c  filatcria. 

Itio-me  d'Athena3  e  d'isi0 

tpie  fundiu  em  nimigulha. 

AMÓNIO  »"BE3TE3,   ALTOS,  pag.   43. 

era  entre  elles  tal  amor 
que  de  mais  amor  se  riam  : 
crê  que  se  queriam  muito, 
muito  mais  do  que  te  digo, 
escuta-me  bem.  Escuto. 
iiuDKx,  pag.  321. 

Hi-te  da  intriga,  ri-se  dos  projectos 
Qu'  ao  severo  Politico  envcnonão 
O  triste  cora^Ào. 

J.  A.  bU  UACKDO,  A  XATUKSZA,  Cant.  1. 


—  «Dcscancc  V.  M.  cozarea,  porque 
Í:i  não  ha  de  atraiçoar  outra  vez  o  padre. 
Encontrei-o    ahi    nas   ante-camaras ;   não 


RISB 

me  lembrou  que  estava  em  palácio...  já 
l:i  ficou  entendido.  Pordóp;  V.  M.  a  inad- 
vertoiíciu.i  Riu-se  o  imperador.  Fez-sc  a 
paz.»  Bispo  do  (Irão  Parii,  Memorias,  pu- 
blicadas p)r  Camillo  (Jastello  Brftnoo, 
pag.  7ti. 

—  V.  a.  Escarnecer  rindo,  Eorabar, 
fazer  escameo  c<jui  riso. 

Da  prezada  C^tnaortc,  entre  os  açus  niiaKM, 
Do  liiapo,  c  do  Dcaô  te  estavas  rindo. 
A.  i>.  m  cicz,  iirssorK,  cant.  7. 

cm  mi  não  tem  Benliorío 
em  quem  sâo,  néscia  me  atrevo! 
de  todo  mundo  me  rio. 
AKToiío  rirsTcs,  ACTOf,  pag.  467. 

Em  vão,  na  arremittida,  os  de  Cavallo 
I'õem  ânsia  em  lhe  ir  diante :  os  Oulloa  riem 
Dessa  ausia  van ;  volteando  ante  ellea, 
Os  vão  dissaburciindo ,  com  uiutejoit. 

>'.    M.   1>0  HASOilIt.SIU,  US   HAUmEH,  liv.    G. 

—  «Porque  será  que  as  ca^as  d'oraç5o, 
08  templo»  parecem  privilegiados  entro  as 
obras  dos  homens  V  A  Philusophia  respon- 
derá com  um  Burriso,  a  Piedade  com  um 
levantar  dolhot!  ao  ceo.  Nenhuma  te  con- 
vence :  talvez.  Mas  se  heide  crer  sem  in- 
tender, porque  hade  ser  antes  no  que  ri 
e  zomba,  do  que  n'e88e  que  vive  tam 
certo  em  sua  fcV»  Garrett,  Camões,  nota 
D  ao  cant.  ít. 

—  Ad.agios  e  proveubios: 

—  Ande  eu  quente,  ría-se  a  gente. 

—  Ria-se  o  diabo,  quando  o  faminto  dá 
ao  farto. 

—  Aprende  chorando,  e  rirás  ga- 
nhando. 

—  Rir  ás  paredes  (fira  do  tempo). 

—  Rir-se  ás  jiaredes  (chulariai. 

—  Ri  para  o  demónio. 

—  Substantivamente  :  Ter  um  rir  agra- 
davel,  encantador.  —  Um  rir  louro.  — 
Um  rir  irónico.  —  ('«i  rir  forçado.  — 
Um    rir    amargo.  —  Um   rir   convulsivo. 

—  Um  rir  simples. 
RISA,  s.  /.  Risada. 

RISADA,  s.  f.  Gargalhada,  que  muitas 
pessoas  dão  simultaneamente,  zombando 
de  alguém  ou  de  alguma  cousa.  —  Dar 
granties  risadas. 

—  Zombaria,  escameo.  —  Erpôrst  á 
risada  do  ptthlico,  á  risada  publica.  — 
Ser  objecto  de  risada.  —  Nada  ha  tão  <li- 
giw  de  risada  como  vma  creança  yresum- 
jjçosa. 

—  (abjecto  de  escameo,  de  zombaria. 

—  Servir  de  risada  a  alijueiu.  —  Quan- 
tas   vizes    Isaias    não  foi    a    risada    do 

poV"  .' 

RISBORDOS,  í.  »)i.  plur.  Termo  de  ma- 
rinha. As  portas  que  se  abrem  na  almei- 
da da  popa,  ou  no  costado  do  navio,  para 
introduzir  objectos,  cujo  comprimento 
torna  impossivel  a  sua  iutroducçào  pelas 
escotilhas. 


RISC 


RISC 


RISC 


311 


RISCA,  s.  /.  Traço,  ou  rasgo  de  pen- 
na,  ou  estylo. 

—  Sigual  que  serve  para  marcar  os 
pontos  que  se  fazem  no  jogo  da  bola,  la- 
ranjinha. 

—  Termo  de  jogo.  Raia,  meta. 

—  Riscas  da  palma  da  mão;  as  linhas 
existentes  n'ella. 

—  Loc.  ADV. :  A  risca;  ao  pé  da  le- 
tra. 

—  Loc.  ADV. :  Cumprir  á  risca;  cum- 
prir exactamente, 

RISCADA,  s.  f.  Risca  para  borrar  a  es- 
criptura. 

RISCADO,  s.  m.  Tecido  com  riscas  de 
cores  diíFerentes  ao  longo,  ou  de  fios  me- 
tallicos. 

—  Part.  pass.  de  Riscar.  Apagado  com 
riscos.' 

1.)  RISCADOR,  s.  m.  Instrumento  de 
riscar,  usado  pelos  carpinteiros,  ourives, 
etc. 

—  Ponteiro  de  ferro. 

2.)  RISCADOR,  A,  arlj.  Que  risca,  que 
faz  riscos. 

—  Que  apaga  com  riscos. 

—  Que  faz  raias  differentes  nos  risca- 
dos. 

—  Substantivamente :  Pessoa  que  ris- 
ca, que  traça  riscos. 

RISCADURA,  $.  f.  (De  riscar,  com  o 
suffixo  «dura»).  Acção  de  riscar. 

—  Riscadas. 

RISCAMENTO,  s.  m.  Vid.  Riscadura. 

RISCAR,  i'.  a.  Extinguir  por  meio  de 
riscos.  —  Riscar  a  escriptura.  — •  «Da 
qual  nossa  petieaõ  se  escandalizarão  el- 
les  muyto,  e  nos  disserão,  se  vós  outros 
fôreis  naturais  como  sois  estrangeyros, 
isso  80  bastara  para  vos  riscarmos  da 
obrigação'  que  a  casa  vos  tem,  e  nunca 
mais  darmos  passada  em  vossos  negócios, 
mas  a  vossa  ignorância  e  simplicidade 
nos  fará  dissimularmos  agora  esta  vossa 
fraqueza,  porque  crede  que  quem  isso  co- 
mete não  he  dino  das  esmolas  de  Deos.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações, 
cap.  102.  —  «Não  cuideis  que  falo  da- 
quelles  que  declamão  contra  o  Amor, 
porque  elle  os  riscou  do  numero  dos 
seus  vassallos,  e  que  dispensados  do  ju- 
ramento de  fidelidade,  a  que  se  alliárão 
desde  que  nascerão,  executão  a  liberda- 
de de  mormurar  continuamente  do  seu 
Soberano  originário.»  Cavalleiro  d'01i- 
veira,  Cartas,  liv.  1,  n.°  29. 

—  Fazer  riscas  com  um  riscador,  pon- 
teiro, etc. 

—  Fazer  raias  diversas  do  fundo,  nos 
tecidos,  riscados,  e  talvez  de  fios  metal- 
licos. 

— -Riscar  alguém  dos  livros  d'el-rei,  e 
do  seti  serviço ;  apagar  o  nome  dos  livros, 
onde  está  assentado,  e  excluil-o  do  ser- 
viço. —  «Pelo  que  perguntou  a  hum  dos 
officiaes  que  o  seruião  a  mesa,  se  erão 
aquellcs  os  filhos  de  dom  Aluaro,  e  sa- 
bendo que  era  assi  chamou  dom  loam  de 


meneses  Conde  de  Tarouca,  priol  do  cra- 
to  seu  mordomo  mor,  e  lhe  dixe  que  oa 
mandasse  riscar  dos  liuros  da  cozinha.» 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  3,  cap.  40. 

—  Figuradamente :  Riscar  do  livro  da 
vida,  ou  dos  livros  de  Deus;  ficar  ré- 
probo. 

—  Figuradamente  :  Riscar  j^'^^  ctma ; 
avantajar-se,  ficar  superior.  Vid.  Raiar 
por  cima. 

—  Riscar  os  pontos;  no  jogo,  fazer  ris- 
cos para  os  marcar. 

—  Debuxar,  ou  fazer  o  pintor  um  risco. 
1.)  RISCO,  s.  7)1.  Traço  de  penna. 

—  Debuxo,  traça  de  edifício. 

— •  Figuradamente  :  Fôr,  ou  lançar  o 
risco  mais  alto  que  outrem;  avantajar-se- 
Ihe. —  «E  que  eu  nào  possa  buscar-lhe 
cousa,  que  iguala  com  seu  merecimento, 
porque  cuidar  isto  seria  trabalho,  ao  me- 
nos buscarei  pessoa,  que  ao  parecer  de 
v(')3  todos,  ponha  o  risco  diante  de  quan- 
tos eu  sei;  e  sendo  assim,  eu  com  minha 
honra  ficarei  livre  de  tamanha  obrigação 
como  é  a  em  que  me  pondes.»  Francisco 
de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap, 
101.  —  «Na  primeira,  Oriana  e  Briolan- 
ja  estavam  tanto  por  igual,  que  seria  du- 
ro determinar-se  qual  punha  o  risco  por 
cima,  posto  que  o  vulto  de  (Jriana  tinha 
uma  honestidade  serena,  que  dava  affei- 
ção  aos  olhos  pêra  lhe  darem  a  victoria. » 
Ibidem,  cap.  120. 

—  Delineaçào  feita  pelo  pintor  com  o 
barro  sobre  o  panno ;  compõe-se  só  de 
perfis  e  linhas,  e  serve  para  vêr  a  for- 
ma da  idêa. 

2.)  RISCO,  s.  m.  (Do  francez  risque). 
Perigo,  em  que  entre  a  idêa  de  azar.  — 
Um  grande  risco.  —  «Bem  se  mostra  o 
saber  e  descripção  d'el-rei  Sardamante 
ser  difiFerente  dos  outros  homens  e  a  va- 
lentia de  Palmeirim  polo  o  risco  acima 
de  todalas  desta  vida,  que  eu  não  sei 
quem  em  tal  temor  se  vira,  que  tivera 
esforço  ou  conselho  pêra  se  tirar  delle.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  104.  —  «E  cometendo-a  os 
nossos  por  huma  parte,  e  ElRey  pela  ou- 
tra, foy  entrada,  e  tomada,  ainda  que 
com  muitos  riscos,  e  mortes  dos  nossos, 
e  com  perda  de  mais  de  seiscentos  dos 
imigos  que  a  largarão.»  Diogo  de  Cou- 
to, Década  6,  liv.  8,  cap.  7.  —  «Ao  qual 
elle  deu  relação  do  que  vira,  e  lhe  faci- 
litou a  tomada  do  castello  sem  nenhum 
trabalho,  e  com  pouco  risco,  de  que  o 
Mitaquer  ficou  tão  contente  que  não  ca- 
bia de  prazer.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  119.  —  «Durou  isto 
muito  tempo,  e  chegou  a  grandes  traba- 
lhos, e  riscos,  os  quaes  todos  carregauam 
sobrelle,  todauia,  com  fauor  de  Nosso  Se- 
nhor, e  ajvida  dei  Rei  seu  irmão,  foi  a  In- 
quisiçam  por  diante,  e  fezeraõ-se  muitos 
autos  em  <)uo  foraõ  condemnados  muitos 
Herejes,    teue  para  isto  mtii   bons  offi- 


ciaes.»   Damião   de    Góes,    Chronica    de 
D.  Manoel,  part.  3,  cap.  27, 

Mus  pois  cora  esta  ausência  seguramos 
Este  grão  bem  que  aqui  cm  ri^co  temos, 
TJasào  será  que  hum  breve  mal  sofframos 
Para  que  longamente  o  bem  logremos : 
Vamos  agora  traz  o  que  esperamos, 
K  este  bem  duvidoso  avcntiiremos 
Por  ter  huma  segura  alta  bonança, 
Enganemos  embora  esta  esperança. 

T.  pVkdrade,  fbuieijbq  cerco  de  did,  cant.  3, 
est.  76.  -  -:.-  1 


— -«E  porque  o  ardil  a  que  hiani  não 
ouue  eft«ito,  e  se  tornou,  por  não  hirem 
cm  vam  arribaram  junto  da  cidade  do 
Anasoe,  onde  o  capitão  por  conselho  dos 
principaes  que  com  elle  erão  mandou 
certos  caualleiros,  e  besteiros  de  cauallo 
com  guias  espiar  a  terra,  os  quaes  com 
grande  risco  forão  espiar  outros  aduares 
de  Mouros  da  enxouuia,  nos  quaes  auia 
alguns  de  muyta  gente,  o  estauam  duas 
legoas  da  costa  do  mar.»  Garcia  de  Re- 
zende, Chronica  de  D.  João  II,  cap.  67. 
—  «Se  na  oppugaaçào  de  Diu  perdeo  o 
inimigo  hum  exercito,  que  falta  a  esta 
facção  para  a  victoria?  e  que  para  cas- 
tigo? A  oíTensa  intenta-se  com  forças 
iguaes ;  a  vingança  com  muito  superio- 
res; porque  não  se  ha  de  ir  satisfazer 
hum  aggravo  com  risco  de  nova  injú- 
ria.» Jacintho  Freire  d  Andrade,  Vida 
de  D.  João  de  Castro,  liv.  2.  —  «Alguns 
com  maior  ousadia,  que  prudência,  votá- 
rcão  que  sahissem  os  nossos,  e  lhes  estor- 
vassem a  obra  a  risco  descuberto,  sem 
vêr  que  era  maior  o  perigo  que  acomet- 
tião,  que  o  de  que  se  livravão.  Pou- 
cos approvárão  este  conselho;  nenhum 
sabia  dar  outro. »  Ibidem.  —  «  Do  que 
eu  bem  me  quisera  escusar,  por  me  lem- 
brarem 03  trabalhos  e  riscos  que  tinha 
passado.  E  apertando  muyto  comigo,  e 
falando  a  homens  meus  amigos,  que  me 
falassem,  e  me  aconselhassem  que  o  fi- 
zesse.» António  Tenreiro,  Itinerário,  cap. 
58.  —  «E  vera  a  ser  rapina  verdadeira, 
e  com  que  se  levantaõ  á  mayores  fazen- 
do unha  da  Religião,  para  agarrarem  o 
capital,  e  os  redditos,  sem  entrarem  nos 
riscos,  que  sempre  grandes  lucros  trazem 
corasigo.  E  vedes  aqui  as  verdadeiras 
unhas  bentas :  bentas  na  opinião  de  sua 
cobiça,  e  malditas  na  de  quem  melhor 
o  entende.»  Arte  de  furtar,  cap.  39.  — 
«E  se  lho  pedem  no  tempo,  em  que  an- 
da a  pecunia  nos  boléos  da  fortuna,  com 
riscos  de  se  hir  o  ruço  a  traz  das  canas- 
tras, fingem  ausências,  e  que  tem  a  arca 
três  chaves,  que  dahi  a  quinze  dias  vira 
da  feira  das  Virtudes  Bento  Quadrado, 
que  levou  huma,  que  ahi  esta  o  dinheiro 
cheo  de  bolor  na  arca :  e  passaõ-se  quin- 
ze mezes,  e  naõ  ha  dar-lhe  alcance. »  Ibi- 
dem, cap.  61. —  «Senhor  N.,  nenhum 
prudente,  nenhum  honrado  pretenda  com 
riscos  suas  melhoras.  Que  ha  de  ganhar 


312 


IUíS(J 


UIS(J 


1US(J 


(lo  j)or  vir,  quem  logo  de.  aiiti'iii3o  outra 
pordendo?  (j.?  bons  nicrcadoro-i  nepurain 
as  uncoiiiinorulHci  do  imír  valia.»  I).  Fian- 
CÍ8U0  Manoel  do  Mello,  Carta  de  guia  de 
casados. 

—  Aiidiicia,  atrcvldamcnto,  ousadia ; 
CX]iOHÍ(;ãii  a  ilauiiui. 

—  (Ànrcr  o  risco  n  ali/umu  nnisn  ;  es- 
tar oljrigado  a  noflVer,  a  indoiniiiaar  a 
porda  d'<dla. 

—  Loc. :  Correr  risco  da  nJrjuma  cou- 
sa, onpc.iHoa;  ostar  oní  poripo  do  acr  le- 
sado, sollVor  por  c'au;<a  d'('.lla.  —  «ivHta.i 
palavras  alg-iius  a^  jtdparam  por  Kid)cr- 
bas,  outros  affinnar.-iin  «pui  llie  na<ciain 
na  confiança  do  si  inosmo.  Dramiante 
tornou  a  cavalgar,  maneiicOrio  do  seu 
do.iastre;  melhor  lho  tora  compôr-.^iO  com 
elle,  quo  tornar  A  justa;  porque  o  caval- 
leiro  o  oneoiitrou  de  maneira,  ([ue,  fal- 
aando-lho  CKmdo  o  armas,  o  lari(;ou  no 
campo  mal  ferido  do  encontro,  e  ainda  o 
favorocou  algum  tanto  em  ser  dado  pou- 
co cm  cheio,  que  d'outra  maneira  corre- 
ra mui  gram  risco.»  Frauciseo  de  Mo- 
raes, Palmeirim  d'Iiiglaterra,  cap.  111. — ■ 
«Porque  sendo  a  porta  arrombada  com 
hum  buraco,  per  ([uo  podia  caber  hu  ho- 
mem, querendo  cadahum  doile.s  entrar 
com  a  adarga  diante,  outra  adarga  de 
AfFonso  (TAlboqucrquo  que  elle  lançou 
sobro  a  cabeea  de  dom  António,  diden- 
deo  de  lha  não  cortarem,  e  a  Nuno  d'A- 
cnnha  saluou  seu  avo  loão  Fernandez: 
e  outro  tal  risco  corroo  Jorge  Harreto. » 
Barros,  Deoada  2,  liv.  4,  cap.  3.  —  «O 
Mouro  yendo  o  pouco  risco  que  correo, 
desejoso  de  levar  aquella  bandeira  a  Ku- 
mecan,  tornou  a  cometer  a  mesma  sorte, 
o  jà  na'~  pode  ,ser  taõ  oncuborto,  (pie  não 
fosse  viati)  de  alguns  soldador  de  hum 
daquelles  baluartes,  e  vendo-o  cometer  a 
subida  prepariira(">  as  espingarda.?,  e  om 
pegando  da  bandeira  lhe  dou  hum  pelou- 
ro pelos  peitos  de  quo  logo  cahio,  e  aco- 
dindo  alguns  daquelles  .soldados  lhe  cor- 
tàrars  a  eabet;a.»  Diogo  do  Couto,  Déca- 
da (>,  liv.  H,  cap.  õ. —  «Mas  que  lhe.? 
aflirmava  (pic  o  não  podia  fazer  por  ne- 
nhum modo,  por  quàto  a  nionç^aõ  era  j.a 
quasi  gastada,  por  onde  lhe  era  for(;ado 
tornarse  logo,  para  yr  concertar  aquoUe 
junco  grado  om  que  vinha,  porque  fazia 
tanta  agoa  que  setenta  marinhovros  naõ 
levavSo  nunca  a  mão  do  tre.í  bobas,  o 
que  eorria  niuyti>  risco  yr8(dhe  aly  ao 
fundo  eõ  <|uanta  fazenda  trazia.»  Fernão 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.  dl'. 

Sómpnt(>  devo  o  mundo  riícc.ar, 
yuo  a  véU  toda  r  liis  lhe  deixe  vcp. 
Polo  Wsoo  que  corro  cm  s«  abraisur. 

AxnAor.  PE  JAZESTE,  roKsiA9,  tom.   ti,  pag.  lOõ 
(cdiç.  do  1787 >. 

—  «  Fj  ao  vazar  das  ditas  mares,  cor- 
rem a>  nãos  muyto  risco,  so  se  nam 
acham  no    meyo  do    canal   delle,  c  espe- 


ram nutra  vc/.  encher  a  marcc,  que  fa- 
zem tornar  a  ago.i  doce  do  dito  rio  atraH, 
e  alcvantar  cte  ri",  fiera  poderem  nave- 
gar nãos  carre^radas  f»or  elle  atoe  Báco- 
ra.» António  Tenreiro,  Itinerário,  capi- 
tulo 60. 

—  Kittftr  em  grande  risco ;  estar  cm 
granilc  perigo.  —  «K  j)osto  (pie  per  Re- 
gimento d'EIRey  OH  Alcaides  mi'ire»  sue- 
cedem  aos  (Japitães,  por  o  negocio  da 
defen.«So  da  (^'idade  estar  cm  grande  ris- 
co, c  pcra  o  governo  delia  havia  mister 
hum  iioinem  de  madura  idade,  e  do  mui- 
ta experiência  TIa^  cousas  da  guerra.» 
Barros,  Década  2,  liv.  ti,  eap.  8. —  •  Ks- 
touo  a  (irdem  de  Saõ  Bernardo  cm  risco 
de  totalmente  .íc  extinguir  neste  regno, 
por  lhe  tirarem  os  maiores,  e  milhores 
mosteiros  de  Sam  Bernardo,  e  so  annc- 
xarem  ao  conuento  de  Tomar,  ao  que 
acudio,  e  com  muito  trabalho  tirou  «.•) 
taes  mnsteirns. »  Hamião  do  <  loes,  Chro- 
nica  de  D.  Manoel,  part.  15,  cap.  27. — 
«  Dom  loam  cuidando  que  era  isto  as- 
si,  BC  foi  com  toda  a  frota  em  companhia 
dt)  embaixador  Darracam  ande  esteuc  a 
risco  de  se  perder  de  todo,  porque  el 
liei,  depois  de  <>  ter  dentro  no  rio,  man- 
dou sobrele  muitas  lancharas,  e  gente  de 
guerra  com  (pie  pelejou,  e  se  desfez  del- 
les  com  muito  trabalho.»  Ibidem,  part. 
4,  cap.  27.  — ■  «A  F'ortaleza  esteve  a  ris- 
co de  se  perder,  se  o  Divino  favor  a  não 
amparara :  por([ue  (confoinne  o.s  inimigos 
contaram)  hum  grando  Cavalleyro  em 
hum  cavallo  mais  branco  do  que  os  Ar- 
minhos os  feria,  e  matava  taõ  cruelmen- 
te, que  nào  podendo  sofrer  o  resplandor, 
que  o  acompanhava,  e  obrigados  do  es- 
trago quo  fazia,  desistiram  do  combate.» 
Conquista  do  Pegú,  cap.  tí. 

—  Fitar  em  risco  de  ««  perder;  arris- 
car-se,  expôr-so  ao  perigo  de  so  perder. 
— «  E  corto  que  segundo  foi  grande  a 
frota  que  o  anuo  de  oito  deste  Reyno  par- 
tio,  se  cila  chegara  inteira  na  ordenam;* 
(Itie  elRcy  a  mandaua,  muito  mayor  tra- 
balho lhe  ouuera  ainda  de  dar  do  (|U0 
elle  imaginaua  :  porque  nella  o  maudaua 
elRey  vir,  que  fora  para  elle  termo  de 
morte  não  kixar  acabado  o  que  ello  fez, 
(pie  alem  de  ser  hum  doa  macs  illustrea 
feitos  que  se  na  Índia  fezerão,  iicara  em 
risco  de  se  perder.  »  liarros,  Década  2, 
liv.  3,  eap.  1. 

—  Pôr-sc  «m  risco  (í«  «e  perdere^n  ;  ex- 
l>ôr-se  ao  perigo  do  se  perderem.  —  •  Do 
maneira  quo  a  openiain  doa  mais  foi  que 
a  cidade  senão  líouia  de  cometer,  jH>id  a 
frota  la  nam  po  lia  clicgar,  sem  se  pocr 
a  risco  de  as  bombardadas  a  meterem  os 
imigos  no  fnndo.  o  que  as.scntado  Ijiipo 
8t>arez  determinou  de  so  partir,  mas  \híT 
o  vento  ser  contrairo  esteuo  alli  alguns 
dias.  •  Damião  de  does,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  4,  cap.  13.  —  •fuja  morte 
foi  causa  lia  de  lo.ào  gomoz,  donde  so 
azou  a  de  loào  machado,  e  doutros   uiui- 


toK,  e  po(rr/>Be  a  illiA  do  ('u>x  com  a  ci(la- 
'le  em  risco  d<;  ^e  perderem  Rcnão  for» 
a  vinda  de  loflo  do  hilueira,  e  «ocorro  de 
Rapluud  Perestrello,  |j».r(pic  »«  ofte»  nSlo 
clegaram  .i  tempo  tam  Il(•(•e•'^ariov  »« 
Deus  os  pudera  halvar  do  [xjder  do*  inii- 
goB.  »  Ibidem,  tap.  17. 

—  Termo  atitiqu.-ido.  Penhatco  mui  ele- 
vado e  alcantilado. 

— -  I'lur.  Asperezas  grande»  e  covas 
polo*  c^iminhiMi,  que  pòc  arquem  anda  mi 
perigo  do  graves  (|uedas. 

—  Sy\.  :  Risco,  perigo.    Vid.  ojto  alti- 

mip    Voc;il,ulii. 

RISCOSO,  A,  (!'/;'.  'De  risco,  com  o  «uf- 
lixo  «080»  i.  ArrÍHcado. 

<,hie  causa  ri.-co,  perigo. 

RISIBILIDADE,  «.  /.  (Do  latim  ritiMi- 
(as,  de  rifi/jí/is..  Termo  didáctico.  Facul- 
(latlc  de  rir.— yl  risibilidade.  y*M  le  diz 
ser  uma  i>r<']>rie'i<tde  dn  funnein. 

—  Qualidailc,  estado  do  que  é  risível. 
—  A  risibilidade  lUi  maior  parte  do»  not- 
sus  jnojectvs, 

RISINHO,  s.  VI.  Diminutivo  de  Riso. 
l'equeno  rL-^o.  —  Risinho  </c  alegria.  —  Ri- 
sinho '/«  Hl'»/íl. 

risível,  (idj.  2  gen.  (Do  latim  risibi- 
lis,  de  riswn,  supino  de  ridert'.  Termo 
de  philosophia  cscola.stica.  í^ue  tem  a  fa- 
culdade de  rir. —  Elle  fra  anUs  aniiHnl 
invijofo  (jue  animal  risivel.  —  E  ttrdade- 
que  u  homem,  tjui:  i'  um  nnimál  risÍTSl,  « 
Uimbem.  um.  animal  orguUuxQ. 

—  Que  é  próprio  a  fazer  rir. — £»'< 
qui  pro  quo  «'  risivel. 

—  Que  é  di;rno  de  zombaria,  de  eecar- 
neo.  —  E  um  hunevx  risivel. 

RISIVELMENTE,  adv.  .De  risivel,  com 
o  snifixo  «mente»  '.  De  um  modo  risivel. 

RISO,  s.  m.  '  Do  latim  risus,  de  r».»i»wi, 
supino  de  ridtre.  Ac<;ào  de  rir.  —  Riso 
agradavd.  — Riso  de$deiJio$o.  —  Riso/t>r- 
cado. — Riso  continuo. 


Ur  qn'eacondida»  conchas  emolhettet 
A»  poriam  preciosas  Orientaos, 
Qui:  fuUan do  mostrais  ijo  docfr  riso  ? 
1'ols  vos  formastes  t.il.  Cflmo  quuostes, 
Viiriiii-vos  do  vós.  nào  vos  \-vjiiii. 
Fugi  da»  foiítea  ;  límbro-^•o«  Narciso, 
c*)». ,  SONETOS,  n."  27.'). 

— « O  qual  quando  <A\x-m  para  ello 
não  se  pôde  ter  (pio  nào  tiiie^e  também 
o  quo  oa  outros  faziào,  de  mancyra  que  o 
fim  da  prega(;Xo,  a#si  no  que  pre^cava  co- 
luo  nc>3  ouvintes  ac  soltou  uitm  riso  com 
tanto  gosto,  (pie  ate  a  Vanganarau  com 
todas  as  nieuigrepa.s  da  religião,  lulo  avia  ■ 
CM}usa.  quo  r.s  pude«»e  toruar  a  nietar  na  ^ 
autorida<le  com  que  primcyro  cstavào, 
tendo  todos  para  sy  que  o  IV^rtuguez  fa- 
zia aqnillo  com  deva^-ào  e  om  todo  sea 
siso. »  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  127. 

o  c«r|>o  todo  t«m  mapro  c  deafoito, 
A  face  triste,  paUida,  c  modouha. 


RISO 


RISO 


RISP 


313 


Nunca  para  niugacm  olha  direito, 
Poróm  nào  lho  procede  de  vergonha  ; 
Os  dentes  ncgroí?  tem,  c  sempre  o  peito 
Cheio  de  fel,  e  a  lingua  de  peçonha, 
Jamais  á  sua  boca  o  riso  veio 
Scnào  quando  lho  trouxe  o  mal  alheio. 

FB.VNCISCO  DE  ASDRAI>E,  PRIJIEIBO  CEECO  DE  DIU, 

cant.  9.  est.  lOi. 


—  «Furtar  para  rir  he  muito  niáo  mo- 
do de  zombar;  porque  ordinariamente  se 
converte  o  riso  em  pranto,  como  aconte- 
ceo  em  Coimbra  a  liuma  corja  de  estu- 
dantes, por  sinal  qiio  eraõ  frraves,  e  bem 
nascidos.»  Arte  de  furtar,  cap.  6(3. 

D'entrc  nuvens  de  pó,  de  fumo  espesso, 
Com  riso  amargo,  despiedada  Eriunis 
Vè  qu'os  humanos  não  precisão  delia. 

J.   A.    DE    MACEDO,  A  S.\TUKEZA,  Cant.   2. 

Cheio  de  assombro,  extático  detenho 

Na  frente  do  Denuícrito  meus  olhos. 

As  azas  audacíssimas  desprega 

De  universal  Saber  na  esfera  iinmensa  ; 

Architectando  de  átomos  errantes 

Jlundos,  Mundos  sem  fim  no  espaço  eterno. 

Com  riso  insultador  desdenha  os  homens. 

IDE.M,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Caut.    2. 

—  O  gesto  que  se  faz  com  a  bocca,  e 
talvez  o  som  que  soltamos  a  rir. — «Ora 
do  riso  que  diremos  ?  Pois  se  ellas  tem 
bons  dentes,  e  aquillo  que  cliamam  graça 
na  bocca,  e  cova  na  face,  ahi  liie  digo  eu 
a  V.  m.  que  está,  o  perigo.  Ha  muUier 
destas,  que  rirá  a  todo  o  sermào  da  Pai- 
xão, como  se  fosse  ao  do  dia  de  Páscoa, 
somente  por  assoalhar  aquelle  seu  thesou- 
ro.  Nào  disse  Platão,  nem  Séneca,  cousa 
melhor  quíj  o  que  disseram  as  nossas  ve- 
lhas:  Muito  riso,  pouco  siso.ti  D.  Fran- 
cisco ]\Ianoel  de  Mello,  Carta  de  guia  de 
casados. 

—  Ser  matéria  de  riso.  —  «Em  Villa 
Viçosa  conheci  hum  Fidalgo,  ha  mais  de 
vinte  annos,  no  serviço  da  Real  Casa  de 
Bragança,  o  qual  tomou  por  matéria  de 
riso  calçar  todo  o  auno,  sem  pagar  ne- 
nhum pár  de  obra  ao.s  çapateiros,  que 
vieraõ  a  dar-lhe  na  trilha,  levantando-se 
ás  mayores  com  palavra,  que  correo  en- 
tre todos,  que  nenhum  se  fiasse  delle, 
nem  lhe  desse  calçado,  sem  lho  pagar 
primeiro.»  Arte  de  furtar  cap.  66. 

— •  Bocca  de  riso;  bocca  risonha. —  «E 
lhe  disse,  aos  peis  da  Binaigaa  do  santo 
Calaminhan  cetro  dos  Reys  que  gover- 
nào  a  terra,  foy  dada  noticia  da  tua  che- 
gada, tào  aprazível  a  suas  orelhas,  que 
com  boca  de  riso  te  manda  buscar  para 
em  sua  presença  seres  ouvido  do  que  teu 
Rey  lhe  pede,  a  quem  novamente  recebe 
na  guarda  de  seus  irmãos  com  amor  de 
filho  de  suas  entranhas,  para  que  fique 
poderoso  sobre  seus  inimigos.  »  Fernão 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,    cap.    162. 

■ — Dar  riso;  causil-o. 

—  Morrer  de  riso.  • —  «Confesso-vos  que 
cuidey  de  morrer  de  riso,  quando  vi  que 

.voL.  y.  — 40. 


o  dezejo  se  hia  executar  diante  dos  meus 
iJhos  com  beneplácito  do  mordido.»  Ca- 
valleiro  de  Oliveira,  Cartas,  liv.  1,  n."  16. 
—  Apparencia  alegre  e  jucunda. 


De  ri.^o,  e  de  prazer  Filosofia 
Cercada  alli  buscou  summa  Ventura 
Xoâ  braços  da  Virtude,  ou  da  Indolência. 
Inda  além  surgem  Pórticos  quebrados, 
I>ascados  capiteis  de  hera  cingidos ; 
De  caliido  sobrolho,  c  de  rugósa 
Pálida  tez,  moral  Pilosofia 
De  Zcno  ao  lado  passeava  outr'ora. 

J.  A.  DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  CSnt.  2. 


—  i^aaeJTÍso  de  alguma  cousa  ;  tornal-a 
objecto  de  irrisão  e  escarneo. 

—  Mover  riso;  provocal-o,  excital-o. 

—  Ser  riso  a  alguém;  ser  objecto  de 
escarneo. 

—  Os  risos  da  aurora;  quando  ella 
apparcce  serena  e  alegre. 

—  Zombarias,  escarneos  rindo. 

—  Riso  sardónico  ;  riso  contra  vontade. 

—  Adágios  e  provérbios  : 

—  (Jnde  ha  muito  riso,  ha  pouco  siso; 
ou  :  O  muito  riso  é  signal  de  pouco  siso. 

—  No  riso  é  o  doudo  conhecido. 
RISONHAMENTE,  adc.  (De  risonho,  e 

o    suffixo    «mente»).   De   um  modo  riso- 
nho. 

—  Com  ar  de  riso. 

RISONHO,  A,  adj.  Com  aspecto  de  riso. 
—  « El  liei  mesmo  estaua  dizendo  a  Rai- 
nha os  nomes  de  cada  huma  delias,  muito 
alegre,  e  risonho,  o  que  acabado  se  forào 
todos  a  capella  fazer  oração,  no  qual  dia 
por  ser  vespora  do  Apostolo  santo  An- 
dré, ouue  vésperas,  e  depois  de  cea  se- 
ram,  e  ao  outro  dia  depois  de  acabada  a 
Missa.»  Damião  de  Góes,  Chronica  de 
D.  Manoel,  part.  4,  cap.  34. 

E  á  velha,  que  também  de  gosto  salta, 
Com  ri>o/í//o  semblante  intima,  c  manda, 
Que  nào  fique  na  graude  capoeira 
Fôlego  vivo  em  tào  festivo  dia. 

DINIZ  DA  CKUZ,  HYSSOPE,  Cant.   0. 

—  Figuradamente:  Olhos  risonhos. 

—  Que  provoca  o  riso. 

—  Favorável.  —  Fado  risonho. 

—  Que  se  ri  facilmente. 

Eis  vem  Demócrito  :  ria 

do  que  chora  este  bisonho, 

pois  que  ri,  o  é  tào  risonho 

f|ue  estou  de  phantesia 

oh  !  íjue  pés,  mas  como  os  ponho. 

AXTOXIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  41. 

—  Céos  risonhos. 

Eia  hum  novo  prodigio  :  os  Ceos  risonhos 
Divisão  nova  sccna,  c  novo  objecto. 

J.  A.  PE  MACEDO,  A  XATUBEZA,  cant.  1. 

—  Figuradamente:  Alegre. 


Nas  mostras  c  no  gesto  o  não  mostrou ; 
.Mas  com  risonho  e  ledo  fingimento 
Tratal-os  brandamente  determina. 
CAM.,  Lus.,  cant.  1,  est.  69. 

Tu  viste,  1^  Senegal,  quadro  ri.^onhn, 
Vive,  c  vive  feliz,  e  em  ti  desponte 
A  luz  que  vem  do  Ceo,  e  a,  paz  a  leve  ; 
Desde  o  Berço  teus  Íncolas  ditosos 
Felizes  irão  ser  nos  Astros  sempre. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  XATUHEZA,  Caut.  2. 

A  tantos  quadros  desastrosos  siga  o 
Hixonhas  perspectivas,  olha  as  ílcsses 
Formar  cadeias  de  douradas  ondas ; 
Nào  vês  tremendo  das  virentes  Faias 
Troncos  flexíveis,  folhas  vicejantes  ? 

IDEM,  IBIDEM. 

—  « E  o  sancto-homem  do  abbade,  co- 
mo lhe  chamava  o  seu  melhor  amigo,  o 
chanceller,  encostado  á  cabeceira  do  ca- 
tre no  cdllegio  de  S.  Paulo,  sentia  escoa- 
rem-se  ligeiras  as  accidentaes  horas  de 
vigilia  nocturna,  vendo  volteiar  ante  si 
as  imagens  risonhas  do  opprobrio  e  des- 
ventura que  preparava  ao  seu  inimigo.» 
A.  Herculano,  Monge  de  Cister,  cap.  20. 

- — Risonhos  prados;  pi-ados  alegres, 
amenos  e  deleitáveis. 

Como  brilhantes  pérolas,  cahiâo 
Do  frc.-íco  orvalho  transparentes  gotas 
í^obre  os  risonhos  prados,  que  parece 
Danmi  maior  realce  ao  verde  esmalte, 
Com  que  opulenta  Natureza  os  veste. 

J.    A.    DE   MACEDO,   VIAGEM   EXTÁTICA,   Caut.    1. 

Busca-sc  cm  vão  risonho,  ameno  prado 
Onde  com  gosto  os  olhos  se  apascentem  ; 
Silencio,  escuridão,  domina,  e  prende 
A  natureza  toda-,  encadeada 
Como  era  lethargo  jaz  nas  mãos  da  morte. 

IDEM,   A   XATCREZA,   CBnt.    1. 

RISOTA,  s.  f.  Riso  de  escarneo,  de 
desprezo,  de  irrisão.  —  Deram  grandes  ri- 
sotas sobre  os  que  adoravam  phreiutica- 
menfe  a   ( 'hríst-o. 

RISOTE,  s.  2  gen.  Termo  familiar.  Pes- 
soa que  ri  mofando,  escarnecendo,  des- 
prezando, mettendo  a  ridicido. 

—  Ridor,  rideiro,  mofador,  escarnece- 
dor.  —  Os  risotes  da  religião,  das  cousas 
sagradas. 

RISPIDAMENTE,  adv.  (De  ríspido,  e  o 
suffixo  «mente»).  De  uma  maneira  ris- 
pida,  áspera. 

—  Com  rispidez,  com  aspereza. 
RISPIDEZ,   s.  /.   O   caracter  do  que  é 

ríspido. 

—  Asppreza.  severidade. 
RISPIDEZA,  s.  /.  Vid.  Rispidez. 
RÍSPIDO,  A,   adj.  Áspero,  não  macio; 

severo. 


Sempre  de  lado  olhando  a  pór-se  cm  fila 
Ao  recto  da  vergasta  do  Centurio ; 
r.,á,  dos  Corcéis,  arranha  o  rincho  rispido : 
Grilhões,  de  rastos,  rugem,  rodão  lentas 
ríraves  Balistas,  brutas  Catapultas. 
Vai  a  medido  passo  a  Infantaria. 

F.    M.    DO  NASCIMENTO,  OS  MARTTRES,  1ÍV.    G. 


314 


RITO 


RIVA 


RIVA 


O  campo  BO  cultivii,  o  campo  hc  próprio ; 
^^ll»  Honi  iirmas,  som  riiipidaii  cndr^ii, 
I'orqiio  inda  o  vicio  a  frrntii  toinorona 
No  berço  do»  inortai;»  iiilo  tinha  alçado. 

J.    A.    nK   SIACKDO,   VIAOKM   KXTATIOA,  Cailt.    1. 


Til  da  verdade  iiidapadora,  o  faclio 
Lmniiioío  da  vida  !  O'  tu  do  vicio, 
Tu  da  ignorância,  riijiiilo  flagcUo ; 
Tu,  (|uc  és  tudo  ao  mortal,  que  és  luz  c  vida, 
Auto  teus  olhoi  me  coudun  Fadiga. 
iBinKM,  rant.  2. 


—  Ferro  ríspido ;  forro  quebradiço  e 
não  doce. 

- —  Ferro  ríspido;  ferro  jjouco  ou  nada 
niallcavcl. 

—  Ferro  ríspido;  ferro  pedrez. 
RISSO,  s.  m.  Paiiuo,  veliudo  de  13,  on 

de  seda. 

—  Vclliido  de  pêllo  curto. 

RISTE,  ou  RISTRE,  s.  «i.  Poça  de  fer- 
ro em  (pio  o  eavalleiro  embebo  o  conto 
da  lança  encostada  ao  peito  direito,  quan- 
do a  leva  hori.sontaimente,  para  encon- 
trar o  ailver.sario.  Vid.  Reste. 

RITO,  í.  m.  (Do  latim  ritiis).  Ordem 
prescripta  das  ceremonias  que  se  prati- 
cam n'ama  religião. 

—  DÍ7,-so  mitrraento  do  que  diz  respei- 
to á,  relii^ião  christã.  —  O  rito  da  igreja 
romana  é  differcntc  do  da  igreja  grega. — 
O  rito  latino.  —  O  rito  grego. 

—  O  antigo  rito ;  a  lei  vellia. 

—  Congregação  dos  ritos ;  tribunal  ro- 
mano instituído  por  Sixto  v,  encarregado 
de  fixar  os  ritos  religiosos  por  todos  os 
paizes  catholicos,  do  examinar  as  difficul- 
dados  que  polem  sobrevir  na  pratica  do 
culto,  de  supprimir  os  abusos,  de  appro- 
var  ou  roprovar  os  novos  offieloí,  ote. 

—  Fazer  alguém  do  seu  rito ;  creal-o, 
eonvertel-o  il  religião  de  quem  o  fez  tal. 

—  As  próprias  ccremonias  do  culto.  — 
Os  ritos  do  paganismo.  —  Xossos  ritos, 
nossos  mysterios  são  immutaveis. 


Vio  a  quente  yEthiopia  criadora 
De  graiide8  Elefantes,  cujas  gentes 
De  nomes  monstruosos,  guardão  rííoí 
.\bominaueiâ,  torpes,  o  nefandos, 
l^rreudo  a  costa,  firma  juutamouto 
()s  olhos  la  no  mar  Mediterrâneo, 
As  ilhas  Baleares  ve  que  mostrão 
Nos  gados,  c  nas  lãs  grande  abundância. 

CORTE  REAL,  NACPRAGIO  DE  SEPÚLVEDA,  Caut.  2. 


—  «Os  Mouros  naturacs  saõ  baixos  de 
corpo,  na  còr  bassos,  nos  ritos,  c  cere- 
monias,  guard.w  as  .\rabicas,  !»aõ  muv 
lasciuoj,  c  ollas  monos  continentes,  do 
que  conuom  à  lionoítidade,  o  mode^tia 
das  mi^hores.B  Fr.  Oaspar  do  S.  Bernar- 
dino, Itinerário  da  índia,  cap.  4.  —  <A 
Ilha  hc  povoada  de  Mouros  oppostos  aos 
Turcos,  por  serem  t^^ainda  que  cultores  de 
Mafamede)  diffcrentos  na  crença,  porque 
seguem  os  ritos,  e  ceremonias  do  Persa, 


a  quem  dá  a  beber  o  Demónio  aa  abomi- 
nações do  Mafoma  cm  vasos  differentes.» 
Jacintlio  Freirt!  d'Aiidrade,  Vida  de  D. 
João  de  Castro,  liv.  ii. 

1  RITORNELLO,  «.  »»«.  (Do  italiano  ri- 
torncllo,  diiiiiuutivo  do  ritorno).  Termo 
de  inu.sica.  Rompimento  de  s^inphonia 
que  60  emprega  á  maneira  do  proludio  no 
principio  do  uma  ária,  de  que  ordinaria- 
mente annuncia  o  cauto;  ou  no  fim,  para 
imitar  c  a.ssegurar  o  fim  do  mesmo  can- 
to ;  ou  no  meio,  para  reforçar  a  expres- 
sílo,  embellezar  o  trecho,  e  dar  ao  can- 
tor o  tempo  para  dcscançar  e  tomar  a 
respiraçpío.  —  O  ritornello  de  uma  ária. 
—  «Em  quanto  durava  o  ritornello  da 
Ária  que  cilo  cantava,  a  mulher  do  ca- 
marote junto  ao  meu,  lhe  ouvi  dizer  a 
quem  eu  vêr  não  podia:  —  Este  Aífonso 
vai  perdido.  Quem  imagináia  que  o  filho 
de  tão  respeitável  faiiiilia,  e  que  tantas 
desgraças  cxperimentuu,  se  dc?8e  a  tão 
m;ís  couipanhias  para  contentar  a  sua  in- 
clinação aos  <livertiment08.»  Francisco 
Manoel  do  Na-^cimento,  Successos  de  ma- 
dame de  Seneterre. 

—  Figiu'ada  e  popularmente :  Repeti- 
ção frequente  das  mesmas  cousas,  das 
mesmas  idêas. 

1.1  RITUAL,  s.  m.  (Do  latim  ritualis). 
Livro  que  contém  os  ritos  ou  ceremonias 
que  se  devem  observar  na  administração 
dos  sacramentos  e  na  celebração  do  ser- 
viço divino.  —  O  ritual  romano.  —  O  ri- 
tual de  Lisboa.  —  «Ainda  não  tivemos 
da  corte  aviso  costumado;  mas,  8cm  em- 
bargo, fomos  logo  á  capella  do  mestre  de 
campo,  que  se  achava  bem  ordenada,  e 
em  companhia  de  vários  ecclc^iasticos  e 
pessoas  graves,  se  entoou  o  Te  Deum  lau- 
danius,  e  dissemos  as  orações  do  ritual.  > 
Bispo  do  (irão  Pará,  Memorias,  publica- 
das por  Camillo  Castello  Branco,  pag.  213. 

2.)  RITUAL,  «'//.  2  gen.  (Do  latim  lí- 
tualis).  Quo  contém  os  ritos.  —  Os  li- 
vros rítuaes  dos  etruscos. 

—  Que  diz  respeito  a  usos  e  ceremo- 
nias, concernente  a  ellas. 

—  Que  usa  segundo  prescroA-cm  os  ri- 
tos rcligioso.s  e  ceremonias  do  culto. 

f  RITUALISMO,  .«.  »)).  (De  ritual,  com 
o  sufllxo  «ismoi').  Termo  de  historia  ec- 
clesiastica.  Systema,  conjuncto  dos  ritos 
de  uma  igreja. 

1  RITUALISTA,  í.  2  gen.  Auctor  que 
tracta  ilos  ditferentes  ritos. 

RITUALMENTE,  adv.  (De  ritual,  com  o 
suffixo  cimente»>.  Segundo  o  rito,  ou  cc- 
renionia-í  do  culto. 

RIVA,  .«.  /.  Termo  de  marinlia.  Riba, 
praia,  margem,  ribeira,  outeirinho  jn-oxi- 
mo  :l  margem  do  rio,  ribanceira,  borda 
d 'agua. 

RIVAL,  s.  2  gen.  (Do  latim  rivalis). 
Pessoa  que  aspira,  que  pretendo  as  mes- 
mas vantagens  quo  ura  outro  concorren- 
te. —  O  tempo  é  precioso,  'juando  se  teme 
um  rival. 


Fo«t<!  o  primeiro  ta.  Cantor  do  Aeato, 

Quem  ao  Pindo  levou  Fil<j«ofia ; 

I'udesti--lho  ajustar  I..atíiioH  caiitofl, 

K  «  «ublitrie  no  abvsmo,  cm  qu<?  te  engolfa*, 

Krt  rivri/  d(í  Di'iiiocrito  no  Tybrc, 

K  vcncodor  do  Hesiodo  te  admiro. 

J.   A.    DC  HACKDO,  MBDlIAçIo,   Cailt.    1. 

Quacg  mostra  a  Xaturcxa,  oê  Serea  mostra. 
KUa  ajunta  art  NaçiVs.  e  o«  liomniM  toma 
Do  Mundo  inteiro  ('idadãoA  traiufuilliMi. 
A  paz  os  faz  irmàos,  riifirji  n  giii-rra : 
Kinmudecem  sem  paz  sublimis  Vati'»: 
1'oréni  versos  quf  sÃoV  'l"é  fica  muda 
Sem  forças,  som  vigor  Filosofia. 
iBinEM,  cant.  ■3. 


Tanto  hc  mai«  doce  a  paz,  quo  a  guerra  inoana, 
A  paz  traz  o  repouso,  c  em  seu  regaço 
O  Krttudo,  a  Sapiência,  as  Artes  vivem. 
Klla  anima  os  cinzéis,  d4  viço  ás  rores. 
Com  que,  rival  da  luz,  génio  de  Urbino. 

IBIDEU. 


Pelos  lábios  d<^  purpura  desliza 
Doce,  brando  surriso:  os  Entes  todos 
No  -Mortal  p<,-nsador  seu  liei  conh«?ccin ; 
Traslado  he  do  Senhor,  c  imagem  sua-, 
Feliz  se  o  não  Icvjwse  atroz  soberba 
A  querer  sor  rivaí  '.  Nunca  dcsct-ra 
Do  Sólio  A  escravidão,  do  Socptro  aos  ferros! 
iDiDEM,  cant.  4.* 


E  Pausylipo  ao  viandante  mostra. 
Tu  talvez  excedeste  os  sons  acordes, 
Qne  Sanazáro,  seu  rival.  tirAra 
Ora  de  agreste  Frauta,  ora  da  Tuba. 

IDEM,   VIAGEM   EXTÁTICA,  COnt.   2. 

De  Salustio  riral.  seguindo  ao  perto 
Do  eloquente  Amino  a  Luz,  e  o  Gcnio; 
E  da  grlida  Escócia  o  timbre,  e  a  gloria, 
Que  na  eterna  Metrópole  do  Mundo, 
A  eterna  paz  de  hum  tumulo  quizeste, 
Sobn'-huniano  Hraclav.  de  .aasombro  ehoio, 
O  teu  profimdo  entendimento  acato. 


•Condo  !• 

Bradou  convulso,  c  a  mão  ao  ferro  leva 
O  insotVrido  g-ierreiro.  Mas  tranqnillo 
O  rira'  lhe  tornou :  tSois  offcndido? 
Desaffrontae-vos;  ferro  e  braço  tendes. 
Nem  vos  fujo  eu :  porém  a  rainha  espada 
Jamais  demandará  um  peito  que  ella...> 
GABBETT,  CAMÕES,  cant.  9,  cap.  12. 

—  Particularmente,  dir-se  da  pessoa 
que  di.<puta  o  coraçSo  de  uma  amante. 
—  Como  entre  dons  rÍTaes  o  ódio  é  natu- 
ral! 

—  Pessoa  igual  em  obras,  em  mereci- 
mento, em  fama ;  emulo.  —  E  o  ■filh')  e  o 
rival  de  Achilles.  —  K'tei  <hnis  rivaes  de 
Horácio,  herdeiros  da  siui  lyra. 


Transpõe  agora  do  Thebano  Alcides 
As  profarud.iâ,  irrisórias  mitas. 
Vê  110  boi»  do  mar,  qu"  os  restos  cobre 
W)S  altos  muros  da  rivn'  de  Roma. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  ÍATTBErA,  CSUt.  3. 


l">o  Cônsul  Orador  rival  por  certo ; 
Nunca  até  agora  os  scculos  nos  dcrio 


RIZE 


ROBR 


ROBU 


315 


Outro  com  maia  saber,  clareza,  e  força, 
Que  oé  ouvidos  encante,  a  alma  suspenda. 

IDEM,    VIAGEM  EIIATICA,   Caut.   2. 

—  Sem  rival ;  sem  cousa  ou  pessoa  que 


—  Adjectirairiente  :  Nações  rivaes. — 
Virtudes  rivaes. 

—  Syx.  :  Rival,  emulo.  Yid,  este  ulti- 
mo vocabulu. 

RIVALIDADE,  s.  /.  (Do  latim  rivalitas, 
de  rival  is).  Concorrência  de  duas  ou  mais 
pessoas,  que  aspiram,  que  pretendem  a 
mesma  cousa.  — As  pequenas  rivalidades 
provam  a  pequenez  da  alma.  —  A  egual- 
dade  desanima  os  hiyinens,  a  rivalidade  os 
estimula. —  A  emulação  louvável  é  a  imi- 
tação da  virtude;  a  rivalidade  é  o  ciúme 
da  preferencia. 

—  O  caracter  do  que  é  rival. 

■ —  Emulação,  competência  de  alguma 
cousa  de  interesse. 

—  Syx.  :  Rivalidade,  emulação.  Vid. 
este  ultimo  vt.cabulo. 

RIVALISADO,  part.  pass.  de  Rivalisar. 

RIVALISAR,  ou  RIVALIZAR,  v.  n.  Dis- 
putar em  talento,  ou  mérito  com  alguém, 
egualal-o,  emular,  competir. 

Dêo  Augusto  a  Tirgilio  hum  pão  somente, 

Mas  seu  nome  immortal  conserva  intacto. 

Das  ohammaa  voracíssimas  lhe  salva 

Os  Versos  di\anaes,  que  riia/isjo 

Com  Roma  em  duração,  com  Roma  cm  gloria. 

J.   A.   DE  1I.4.CÍD0,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Cant.    2. 

—  V.  a.  Entrar  em  rivalidade  com  al- 
guém, metter  em  competência  de  a  quem 
mais,  ou  mellior. 

RIXA,  s.  f.  (^Do  latim  rixa).  Querela 
acompanhada  de  ameaças,  injurias,  e  al- 
gumas vezes  de  pancadas.  —  Uma  rixa 
saTiguinoleata. 

—  Debate,  disputa  viva,  discussão  tem- 
pestuosa. —  O  jogo  produz  sempre  rizas. 

E  eil-o,  que  entoa  as  Náos,  entía  as  rixas 
Ou  de  Ayax,  ou  de  Hector.  —  Assim,  outrora 
Em  Syracusa  presos  os  de  Atheuas, 
Para,  a  seu  captivciro  dar  alivio, 
De  Euripides  os  versos  diseantavão. 

r.  MAXOSI.  DO   KASCUtSSIO,    OS  ilABTTBES,  1ÍV.   6. 

—  Rixa  nova;  diz-se  em  opposição  á 
rixa  velha.  Vid.  Reiía. 

BIXADOR,  A,  5.  e  adj.  (De  rixar,  com 
o  suffixo  «dor»).  Que  gosta  de  rixas,  bri- 
gador, rixoso,  amigo  de  discórdias. 

RIXAR,  V.  a.  Ter  rixa,  brigar,  ter  dis- 
córdia. 

RIXOSO,  A,  adj.  (Do  latim  rixosus).  En- 
tregue a  rixas,  a  discórdias. 

—  Brigão,  briguento,  entregue  a  bri- 
gas. —  Homem  de  condição  rixosa. 

RIZAR,  V.  a.  Apanhar,  colher,  encur- 
tar a  veia  com  os  rizes. 

RIZES,  s.  m.  íDo  francez  ris).  Termo 
de  marinha.  Gaxetas  em. forma  de  tran- 


ças, que  se  enfiam  nos  ilhós  dos  dous  ter- 
ços das  velas  do  navio,  nas  forras  dos  ri- 
zes, para  as  ligar  de  encontro  ás  vergas, 
quando  se  necessita  encurtar  as  velas, 
por  ser  o  vento  mais  forte,  ou  convém 
navegar  com  pouco  panno.  —  Metter  as 
velas  nos  rizes. 

■j-  RIZO,  s.  m.  Vid.  Riso,  orthographia 
preferi  vel. 

A  Deosa  o  conhecèo,  que  mudo,  e  quasi 
Abstracto  estava,  c  do  sentido  alheio. 
Hum  rizo  deslizou  dos  rozeos  lábios, 
Solta  a  voz  suavíssima,  e  mexclama. 

J.   A.    DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,   Cant.    1. 

1  .'•  ROAZ,  adj.  —  Lobo  roaz ;  lobo  ar- 
rebatador do  que  pôde  tomar. 

—  Figm'adamente :  Murmurador,  ma- 
ledico. 

2.)  ROAZ,  s.  m.  Um  peixe  menciona- 
do no  foral  de  Setúbal. 

ROBALLO,  s.  m.  Termo  de  ichthvolo- 
gia.  Peixe  conhecido  por  este  nome. 

ROBAZ,  adj.  m.  — Animal  robaz ;  ani- 
mal roubador,  aiTebatador  do  que  pôde 
tomar. 

ROBE,  s.  m.  Vid.  Arrobe. 

ROBI.  Vid.  Rubim. 

ROBIM.Vid.  Rubim. 

ROBISSÃO,  s.  in.  Termo  popular  no 
Bi'azil.  ííobrecasaca. 

ROBLE,  s.  m.  Termo  de  botânica.  Um 
dos  nomes  vulgares  do  carvalho,  com  o 
tronco  e  ramos  tortuosos,  a  cortiça  esca- 
brosa, e  com  uma  altura  um  pouco  infe- 
i'ior  á  do  carvalho  propriamente  dito. 

ROBLEDO,  í.  J/i.  Matía  de  robles. 

ROBOLEIRA,  í.  /.  Vid.  Reboleira. 

ROBORA,  s.  /.  Vid.  Revora. 

ROBORAÇÃO,  s.  f.  Acção  de  roborar. 

—  LVirroboração,  confii-mação. 
ROBORADO,   part.  pass.    de  Roborar. 

Corroborado,  fortificado. 

—  Figuradamente :  Confirmado. 

—  Contracto  roborado  com  escriptura 
publica. 

ROBORANTE,  part.  act.  de  Roborar. 
Que  fortifica. 

—  Figuradamente:  Confii-mando.  — 
Roborante  espirito. 

ROBORAR,  r.  a.  (Do  latim  roborare). 
Termu  de  medicina.  Fortificar,  dar  força. 

—  Figuradamente :  Confirmar.  —  Ro- 
borar M//i  contracto  cora  escriptura  piti- 
blica. 

ROBORATIVO,  A,  adj.  Termo  de  medi- 
cina. Que  fortifica,  que  d.i  força. 

—  Corroborativo,  fortificante. 

—  Emprega-se  também  como  substan- 
tivo. —  Tumar  um  roboralivo. 

ROBRE,  s.  m.  Vid.  Roble. 

Oh  I  se  inda  eu  vos  verei  I  Se  os  rohres  duros. 
Se  me  guardam  fieis  os  seixos  ^"ivo3 
O  humilde  nome  do  esquecido  vate 
Que  em  dias  de  prazer  —  tam  breves  foram  ! 
Dias  de  glória,  ternas  mãos  gravaram ! 
GABBETT,  cajiões,  cant.  5,  cap.  11. 


-j-  ROBULA,  s.  /.  Termo  de  conchyliolo- 
gia.  Género  de  conchas,  comprehendendo 
uma  única  espécie  que  se  encontra  facil- 
mente na  Toscana. 

•j-  ROBULINA,  s.  /.  Género  de  conchas 
univalves. 

ROBUSTAMENTE,  adv.  (De  robusto, 
com  o  suflixo  «mente»).  De  um  modo 
robusto.  —  Esta  mulher  é  robustamente 
constituida. 

ROBUSTEZ,  ou  ROBUSTEZA,  s.  f.  O 
caracter  do  que  é  robusto. 

—  Disposição  vigorosa  do  c  jrpo.  —  A 
robustez  d'c^ta  mulher  í  admirável. 

ROBUSTIDÃO,  s.  /.  Vid.  Robustez. 

ROBUSTÍSSIMO,  A,  adj.  superl.  de  Ro- 
busto, ^luito  robusto. 

ROBUSTO,  A,  adj.  (Do  latim  robustus). 
Capaz  de  supportar  a  fadiga,  o  mal. 

—  Forte,  vigoroso,  fallando  das  pes- 
soas e  do  que  tem  relação  com  ellas.  — 
oPrimalião,  que  algum  tanto  era  de  co- 
ração mais  robusto,  encobriu  aquelle  con- 
tentamento melhor.  E  porque  algum  es- 
paço se  não  gaste  em  palavras  e  recebi- 
meiítos,  fiseram  levar  Albayzar  ao  apou- 
sento  do  imperador.»  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  89.  — ■ 
«Com  esta  indignação  de  si  própria,  usan- 
do de  seu  robusto  coração,  tornou  a  apla- 
car aquelle  primeiro  movimento,  e  affei- 
çoaudo  palavras  pêra  o  contentar  e  dissi- 
mular o  ódio,  lhe  disse :  Senhor  cavallei- 
re,  té  aqui  sempre  tive  o  coração  cansa- 
do, porque  pêra  uma  oflensa,  que  me  é 
feita,  me  faleceu  o  soccorro  e  a  esperan- 
ça de  ser  vingada.»  Ibidem,  cap.  113. 


Xào  acabava,  quando  huma  figura 
Se  nos  mostra  no  ar.  robusta  e  valida, 
De  disforme  e  grandíssima  estatura, 
O  rosto  can-egado,  a  barba  esquálida. 
Os  olhos  encovados,  e  a  postura 
Medonha  c  má,  e  a  côr  terrena  e  pallida  ; 
Cheios  de  ten-a,  e  crespos  os  cabellos, 
A  boca  negra,  os  dentes  amarellos. 
cAM.,  Lcs.,  cant.  5,  est.  39. 


Eu  acceito  os  bons  annos,  sem  que  o  susto 
De  poder  desgostar-mc,  me  entristeça  ; 
Que  supposto,  que  velho  te  pareça. 
Conto  setenta  e  seis,  forte,  e  rohmto. 

ÁBBADG  DE  JAZESTE,  POESIAS,  tOm.  1,  pag.  47 

(cdiç.  1787). 


A  férrea  começou,  e  expresso  ao  vivo, 

Eu  alli  via  Agricultor  robusto 

Rasgar  com  duro  ferro  o  seio  á  terra ; 

O  primeiro  suor  nclla  se  entorna. 

Com  que  se  amassa  o  pão  de  infausta  vida. 

Do  crime  original  he  esta  a  pena! 

J.    A.    DE  MACEDO,  VIAGEM    EXTÁTICA,   Cant.    I. 


Delle,  e  do  fructo  agreste,  ou  cultivado 
A  humana  geração  se  alimentava  : 
Era  a  idade  robusta,  e  tarda  a  morte. 
Antes  que  a  mào  do  luxo,  e  da  vaidade 
Preparasse  as  opíparas  viandas, 
Que  a  prematuro  tumulo  nos  Icvão, 
E  das  Parcas  nas  mãos  o  ferro  agução. 

IDEM,  MEDITAÇÃO,  Cant.   3. 


310 


lu  h:a 


ROCA 


ROCA 


o  fiii-oi'  ili>ii  iiiortai^x  iriiiiiii  ti:m;io  á  guerra 
( 'imi  -lijço  oi  coudiuio  ;  rohni/a  im;»  iJu:i 
I).;  Iiiiiii:i  torrií  itni  liHn,  iij^iij  n  l:iiii;aii 
Contra  as  liruty.i  dilli  rii;  arrumu.-avilo. 


ii>KM,  iiiiiji:m. 


— ■  a  Polft  Oácuriíliío  cl;i  noite,  nos  lof^a- 
roâ  oníuw  o  ás  lionia  murtas  do  alto  silen- 
cio ii  pliuntiísia  lio  Iionieni  ú  mais  anionte 
c  robusta.»  A.  llocculano,  Eurico,  cup. ;'). 
—  *  O  ferro,  porém  n.ão  pôde  cliofíar  á 
eimoira  do  capacete  do  conde.  Outro  fer- 
ro, separo  |)or  milo  robusta,  se  metteu  de 
pornioio.  Era  a  espada  do  Miifíuoiz,  o 
qual,  passando,  vira  o  perijjo  eminente 
do  seu  ainij,'o  o  correra  para  o  salvar.» 
Idem,  Ibidem,  cap.  10. 

—  Fi^uradanioute :  Tur  luna  fé  ro- 
busta ;  ter  uma  fé  tirmo,  inabalável. 

—  Dlz-âo  tivmbom  dos  animnes  e  dos 
vegetaes  :  Um  cavallo  pouco  robusto. — 
Uma  idunUi  robusta. 


lv|uilibrado  nas  robimlas  azaâ 
Girou  dl)  Ktlu-r  pelo  campo  iiiiiuenso, 
A  luz  foi  díseobrh-  na  ignota  fonto, 
Kra  i|ual  fora  o  Nilo  á  antiga  idado 
Na  fonti'  igaoto,  na  carruira  visto, 
Não  d  '■  St.igira  co'as  ambíguas  vozes, 
Occultas  Leis,  ou  turbilhões  sonhados. 

J.    A.    DK   .M.VCKnO,   A  N.UCllEZA,   Caut.  1. 

E  f|uand'>  observa  .tolidos  os  membros, 
K  j;l  rolfi.iln^  musculou  nas  azas, 
Com  presontida  voz  dhum  troaco  os  chama. 
Adeja,  o  vòa  hum  pouco,  e  marca  o  trilho 
Pelo  cspai,'0  diáfano  dos  árcs. 
iDiiM,  MEuic.vçÃo,  caat.  3. 

Dú  IA,  transpondo  o  Gilto,  c  immcnso  Tauro, 

E  depois  o  Sinay,  vira  a  robuMa, 

Sublime  Palma,  das  victorias  premio, 

CouíO  cresce,  viceja,  c  multiplica 

Nos  campos  Idumèos !  Como  ind'aâsombra 

Os  restos  immortaes  d'alta  Palmyra, 

E  do  iucau;;avcl  Nillo  as  margens  borda ! 

IDBM,    lUlDKM. 


—  Diz-so  das  cousas  e  dos  objectos 
personificados:  A  robusta  suavidadi  do 
Estio,  filho  do  tSid. 

—  Sv>í.  :  Robusto,  viijoroso.  YiJ.  este 
ultimo  termo. 

1.)  ROCA,  s.  /.  A  vara  ou  canna  que 
a  mulaer  mottc  na  cinta,  c  tenj  enrolado 
na  ponta  o  copo  do  linho,  ou  algod.ão, 
que  vai  tiauio,  oarolaio  no  bojosinlio, 
que  sô  faz  rachando  a  canna,  o  introdu- 
zindo doutro  d'osse  bojosinho  uma  rodi- 
nha gorahuontts  de  cortiça,  tondo  d'e3to 
modo  as  roxas  reatadas  no  bojo. 

—  Termo  de  marinha.  A  obra  qu3  se 
faz  il  roda  do  mastro  rendido,  nom.>  dado 
ao  agíírcgalo  do  antenas  e  arrotaduras, 
arranjalas  para  este  effeito,  á  força  de 
cabrestante  ou  tala,  mettcn'lo-se-lhe  cu- 
nhas entre  as  autou:i3  e  a  trinca  a  tím  de 
ticar  mais  rija. 

—  Nos  vestidos,  tira  estreita  usada  nas 
mangas,  calças.  Vid.  Roçado. 


—  A  pi!ça  da  lança  de  argolinha.s,  que 
é  cercada  do.í  rains.  Vid.  Toral. 

—  Certa  espada  de  pcquenati  guarni- 
ç(5e3. 

—  Kigurailamente:  A  mulher. 

—  Roca  de  fof/o;  vara  com  artificios 
do  fi>;ío  no  exti'omo,  usada  na  guerra. 
—  «  Estando  asai  pelejaudo  chegou  Nau- 
boadarim  com  a  vanguarda,  que  com 
grande  Ímpeto  cometeo  o  vao,  mas  os  no.s- 
sos  lho  defenderam  as  bombardada^,  e 
com  rocas  de  fogo  que  lho  lançauam 
ameude,  matando  muitos  delles,  e  porque 
a  maré  vazana.»  Dauiiiío  de  ('■oe.'!,  Chro- 
nica  de  D.  Manoel,  part.  1,  caji.  80. 

—  Iiiuii/ein  ilc  roca;  a  que  tom  meio 
corpo  imitando  o  humano,  iv.s.sentado  so- 
bre um  circulo  de  taboa,  que  .se  levanta 
sobro  uma  balaustr.ada  do  taboinhas  cm 
i-edondo,  sobre  uma  base  circular. 

—  Roca  de  pedras;  inHtrumento  de 
combater,  com  pollouros  do  pedra. 

2.)  ROCA,  s.  /.  (Do  franccz  roc).  Mas- 
sa de  ])edra  mui  dura  que  existe  adhe- 
rente  á  torra,  roclia.  —  Edificar  sobre  a 
roca.  — Atravessar  a  roca.  — Duro  como 
iiDni  roca. —  Eortnlezn  sobre  uma  roca. — 
Tão  firme  como  uma  roca.  —  Uma  roca, 
morada  queriíla  das  avos  carnicoi-as, 

—  Penhasco  levantado  no  mar  ou  na 
terra.  —  O  cabo  da  Roca. 

—  Cnjstaes  de  roca ;  crv.staes  conhe- 
cidos por  este  nome  para  se  difterençarem 
dos  artiliciaos. 

—  Figuradamente :  Cousa  mui  dura, 
immovei,  firme,  constante. 

—  .\d.\C}IOS    V.  PUOVEKHIOS: 

—  Jíal  vai  á  casa,  onde  a  roca  manda 
a  espada. 

—  Nào  ha  casa  forte,  onde  a  roca  n.ão 
anda. 

—  Perdi  a  roca,  o  o  fuso  n.no  acho,  três 
dias  ha  que  lhe  ando  pelo  rasto. 

—  Sabbado  á  noute,  Jlaria,  dá-me  a 
roca. 

ROÇADA,  «.  /.  A  lii  ou  linho  que  enche 
uma  roca  para  se  fiar,  e  que  se  põe  em 
i-oda. 

—  Paneala  com  a  roca. 

ROÇADO,  A,  adj.  —  Muiujas  roçadas ;  no 
trajo  antigo,  eram  mangas  compostas  to- 
das de  tiras  ao  comprido,  p:u'a  deixarem 
vêr  a  roupa  de  baixo. 

—  Sapatos  roçados;  sapatos  que  ti- 
nham na  ponta  os  taes  golpes  como  as 
mangas. 

—  Mantéos  roçados;  pellotes  roçados; 
fendidos  á  maneira  do  copo  da  roca  de 
canna  de  fiar  linho. 

1.)  ROCAL,  alj.  f.  —  Aoz  rocal.  Vid. 
Noz. 

'2.^  ROCAL,  s.  ííi.  Enfiadura  de  contas, 
ou  de  pérolas,  usadas  pelas  mulheres 
para  adorno. 

ROCALHA,  s.  /.  Avellorio  de  vidro  for- 
te, lavra  lo  em  figura  de  contas,  para  fa- 
zer rosários. 

fROCAMADOR,  ou  ROCA-AMADOR,  «.  m. 


A  religião,  instituto,  ou  congregação  hos- 
pilalaria  de  Roca-Amador.  Antigamen- 
te em  Portní,'al  fn  mui  C'debre  esta  con- 
gregação. .Santo  Amador,  que  na  pri- 
mitiva egrcja  floresceu  cm  França  na 
província  de  Xarboiía,  pas>aniio  o  ultimo 
quartel  d;i  vida  ii'um  altii<HÍmo  rociied.0 
apartado  do  commereio  dos  mortaes,  fui  a 
caut<a  o  origem  d  este  nome.  A  sua  sepul- 
tura, que  no  anno  de  lltili  se  descobriu 
com  o  seu  corpo,  n.n.o  longe  d'e8ta  rodia, 
foi  um  manancial  de  uiaravilluts  e  por- 
tentos que  attrahiu  peregrinos  e  rumciroD, 
ainda  mesnin  dos  paizes  mais  remotoe. 
Aili  se  erigiu  lopi  uma  egreja  intitulada 
<]e  Sauta  Maria  de  Roca-Amador,  e  junto 
d'ella  nni  famo.so  hospital  jjara  i-uccorro  c 
anifiaro  dos  pobres,  e  enfennoi*,  que  eram 
servidos  por  varões  cheios  de  misericór- 
dia e  piedade.  Os  amplíssimos  legados, 
esmolas,  e  offertas  que  a  este  lugar  san- 
to se  faziam,  lisonjeando  a  negra  ambi- 
ção dos  abbadca,  em  cujo  districto  ficava, 
nào  foram  bastantes  a  tiral-o  da  humilde 
fabrica,  em  que  a  primeira  devoçHo  o 
construirá,  Dalli  se  estendeu  este  pie<io- 
so  instituto  ]ior  muitas  províncias  da  Eu- 
ropa, intitnlandò-se  os  teus  alumnus  ere- 
mitas de  Nossa  Senhora  de  Roca-Amador. 
Ei-a  o  seu  espirito  o  serviço  dos  hospitacs. 
Em  companhia  da  armada  do  norte,  que 
no  anno  de  11  Si*  ajudou  El-roi  D.  San- 
cho I  na  conquista  de  .Silvos,  e  outras 
praças  do  Algarve,  entrou  esta  religiRo 
em  Portugal.  No  anno  de  1193  lhes  fez 
o  dito  monarcha  doação  da  viUa  de  .Sosa 
junto  ao  mar,  e  nào  longe  da  cidade  do 
Aveiro.  Nella  estabeleceram  a  sua  ca- 
pital, d'onde  .se  dltfuudiram  logo  pelos 
hospitaes  de  Lisboa,  Coimbra,  Porto, 
Santarém,  Leiria,  Torres-\'edras,  Gui- 
marães, Braga,  Chaves,  Lamego,  etc. 
(.iuardavam  a  regra  de  Santo  Agostinho, 
e  foram  mui  attendidos  e  respeitados  dus 
povos,  em  quanto  miseravelmentt:  nào  caí- 
ram da  primitiva  observância;  porém  tra- 
tando mais  dos  seus  interesses  que  da 
fiel  administração  dos  hospitaes.  El-rei 
D.  Affonso  V  por  auctoridade  do  Pio  ii 
fez  commenda  da  oi\lem  òe  Santiago  a 
iirreja  de  Susa  que  se  intitulava  Sauta 
Mari.i  do  Roca-Amador,  e  se  extinguiu 
este  inútil  instituto.  Foi  tão  mal  visto 
o  fim  d'estes  hospítalarios,  que  a  rainha 
D.  Leonor,  mullior  d'el-rei  D.  João  11, 
fundando  o  hospital  das  Caldas,  declarou 
era  sua  vontade  cxpressii  que  nunca  fos- 
.se  administrado  por  frades.  Apesar  d'isto 
o  foi  de|X)is  pelos  fnides  lovos,  como  ou- 
tros muitos  do  reino;  attendendo  os  nos- 
sos monarchas  antes  á  graade  virtude, 
desinteresse  e  caridade  d'esta  coi.grega- 
ção.  que  ent.ío  se  fazia  admirar,  que  á 
relaxação,  crimes  e  excessos  com  que 
outros  regulares  se  vieram  a  extinguir. 
Em  quanto  as  virtudes  validas  e  as  le- 
tras se  encontraram  nos  eremitas  de  Ro- 
ca-Amador, nào  o  fauU  explicar  a  devoção 


ROÇA 

liberal  com  que  os  nossos  príncipes  e  os 
seu3  vassallos  encheram  de  temporalida- 
des as  suas  casas  e  hospitaes.  Nào  só  lhes 
doaram  e  testaram  copiosos  bens,  mas 
também  deixaram  particulares  mandos 
a  quem  fosse  por  eiles  ein  romaria  a 
Santa  Maria  de  Roca-Ámador,  assim  como 
outros  mandavam  ir  a  S.  Thiago,  ou  a 
Roma.  Ei-rei  D.  Aflbnso  ii  no  seu  testa- 
mento de  1221  se  lembra  de  Santa  Ma- 
ria de  Roca-Aniador.  Nas  inquirições  de 
Alfonso  lii  se  acha  um  pasmoso  numero 
de  terras  pertencentes  a  Roca-Amador.= 
Em  Viterbo,  Elucid. 

ROCAZ,  s.  m.  Peixe. 

ROÇA,  s.  f.  Acto  de  roçar. 

—  Terra  roçada  do  matto. 

—  A  sementeira  plantada  no  matto. 

—  Vulgarmente  se  entende  da  lavoura 
da  mandioca. 

—  Granja,  terra  de  lavoura  no  Brazil. 

—  Termo  de  náutica.  O  estado  em  que 
está  uma  ou  mais  ancoras,  que  se  tem  de 
prevenção  sobre  bocas,  promptas  a  serem 
picadas,  quando  o  mau  tempo  faz  recear 
que  o  navio  garre,  ou  que  arrebentem  as 
amarras. 

—  Adagio  e  provérbio  : 

—  Auda  a  cabra  de  roça  em  roça, 
como  o  bocejo  de  bocca  em  bocca. 

—  Roças,  e  Roças-valles  ;  um  grande 
numero  de  casaes  que  eram  de  Santa  ala- 
ria de  Roças,  assim  como  outros  perten- 
ciam ás  ordens  militares  do  Templo  e  do 
Hospital.  No  testamento  da  Rainha  Santa 
de  lo27  se  nomeia  o  hospital  das  Roças- 
valles. 

ROÇADO,  part.  pass.  de  Roçar. 

—  Substantivamente:  Fazer  iim  roça- 
do; roçar. 

—  Clareira  entre  mattos,  desmontes 
para  plantio,  etc. 

ROÇADOR,  s.  m.  Homem  que  roça. 

— ■-  Emprega-se  também  como  adjecti- 
vo: Fouce  roçadora;  fouce  de  roçar  mat- 
to grande. 

ROÇADURA,  s.  /.  (De  roça,  cjm  o  suf- 
fixu  «durai.  A  acção  de  roçar. 

—  O  attrito. 

ROÇAGANTE,  adj.  2  gcn.  —  Roupa,  ou 
vestido  roçagante;  roupa,  ou  vestido  de 
cauda  de  arrastar  pelo  chào,  larga,  rica, 
vistosa.  —  Os  vestidos  roçagantes  das  se- 
nhoras,  —  cHia  ilubanâ  Mufama  Luuale 
(que  assi  chamauào  ao  Rey,)  vestido  de 
humas  roupas  lõgas  roçagantes,  na  cabe- 
ça huma  tuuca  de  fotas  listradas  de  lina 
seda  adamascada,  a  cabaya  de  algodão 
acolchoada,  o  alfmge  Turquesco  bem  ar- 
cado, que  do  ombro  esquerdo  com  graça 
lhe  cahia,  com  sua  guarnição  muv  curio- 
sa, e  perfeytamente  acabada.»  Fr.  Gas- 
par de  S.  Bernardino,  Itinerário  da  ín- 
dia, cap.  6.  —  «Quando  querem  lançar 
ao  mar  novamente  algum  navio,  vem  os 
seus  sacerdotes  chamados  por  eiles  dentro 
acs  navios  a  fazer  seus  sacriticios  com 
vestiduras  de  seda  compridas  e  roçagan- 


ROCH 

tes.»  Fr.  Gaspar  da  Cruz,  Tratado  das 
cousas  da  China,  cap.  27. 

ROÇAMALHA,  s.  /.  Termo  synonymo 
na  Índia  do  estoraque  liquido.  —  «Nos 
quais  dizem  que  arderão  sessenta  mil  es- 
tatuas de  Ídolos,  a  mayor  parte  delias  co- 
zidas em  ouro,  e  três  mil  elifãtes  que  se 
comerão  no  cerco,  e  seys  mil  peças  de 
artilharia  de  ferro  e  de  brõzo,  e  cem  mil 
quintais  de  pimenta,  e  quasi  outros  tan- 
tos de  drogas,  sândalo,  beijoim,  lacre, 
puxo,  roçamalha,  aguila,  cânfora,  seda, 
e  outras  muytas  sortes  de  fazendas  muy- 
to  ricas,  e  sobre  tudo  infinidade  de  rou- 
pas que  de  todas  as  partes  da  índia  aly 
tinhão  vindo  em  mais  de  cem  nãos  de 
Cambava,  Aachem,  Melinde,  Ceilão,  e 
de  todo  o  estreyto  de  Meca,  Lequios,  e 
China.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregri- 
nações, cap.  151 . 

ROÇAMENTO,  s.  m.  A  acção  de  roçar- 
se  com  outra  a  peça  de  uma  machina,  e 
o  attrito  e  retardamento  que  esta  fric- 
ção causa.  —  O  roçamento  dos  eixos. 

ROÇAR,  V.  a.  —  Roçar  matto;  cortal-o, 
derribal-o. 

—  Figuradamente:  Chegar  perto,  e  al- 
cançar quasi. 

—  Esfregar  uma  cousa  por  outra,  ou 
com  outra. 

—  Tocar  levemente. 

E  as  immortacs  Pyramidcs  disputào 
Ao  Mundo  a  duração,  fauaes  cteruos, 
Entro  a  soaibra  doa  séculos  plantados, 
Por  cuja  cima  o  Tempo  apenas  roqa, 
Voando  de  continuo,  as  férreas  azas. 

J.    k.   D£  MACEDO,  HEDITAçlo,  Cant.    1. 

—  Roçar-se,  v,  reji.  Figuradamente: 
Parecer-se,  approximar-se. 

ROCEDÃO,  s.  m.  O  fio  que  serve  para  o 
sapateiro  atar  o  couro  em  roda  da  forma. 

ROCÉGA,  s.  f.  Vid.  Roséga. 

ROGEIRO,  s.  m.  Homem  que  faz,  e 
planta  roçados,  vulgarmente  de  mandio- 
cas e  legumes,  e  diverge  do  lavrador  de 
cannas.  tabaco,  algodão,  e  anil. 

7  ROCEIRO,  s.  m.  Vid.  Roqueiro.  — 
aEsta  terra  he  muyto  fértil  e  boa:  ha 
nella  muytos  olivais  de  azeitona  cordo- 
vil.  E  junto  desta  vila  estaa  hum  caste- 
lete  roceyro.»  António  Tenreiro,  Itine- 
rário, cap.  31. 

ROCHA,  5.  /.  (Do  francez  roche).  Cu- 
mulo de  pedra  mui  dura,  em  massa  ou 
isolada.  —  «Como  a  altura  da  rocha  fos- 
se grande,  e  o  peso  das  armas  o  aflron- 
tasse,  conveio-lhe  descançar  duas  ou  três 
vezes.  Neste  espaço  de  detença  se  passou 
o  dia,  de  sorte  que,  quando  chegou  ao 
alto,  era  já  noite.  A  este  tempo  se  abri- 
ram as  portas  do  castello  e  sahiram  delle 
quatro  donzellas  com  tochas  acesas,  que, 
tomando-o  ante  si,  o  levaram  comsigo.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  13. 

—  Penedo,  penha,  roca  que  sobresáe 
no  mar,  ou  que  está   levantada  da  terra. 


ROCH  317 

Alguns  a  quem  o  esforço  ainda  não  falta, 
Por  fugirem  do  jugo  Lusitano, 
Qual  o  ferido  cervo  corre  e  salta 
A  buscar  o  i-emedio  de  seu  dano, 
^obem  logo  na  rocha  que  he  mais  alta, 
E  se  vão  abraçar  coo  Largo  Oceano, 
Onde  chegando  ja  despedaçados. 
Entre  os  peixes  iicárão  sepultados. 
CAM.,  Lcs.,  cant.  2,  est.  13. 


—  «Assentado  á  sombra  de  uma  ro- 
cha que  formava  um  promontoriosinho 
do  lado  do  sul,  lancei  os  olhos  em  volta 
até  onde  se  uescubiia  o  liorisonte.  Lá,  no 
extremo  do  Estreito  para  a  banda  do 
mar  interior,  viam-se  na  ponta  da  Afri- 
ca os  cimos  das  torres  de  Septum  fron- 
teií-a  aos  cerros  escalvados  do  Calpe.» 
Alexandre  Herculano,  Eurico,  cap.  ti. 

■ — -Pedra,  ou  veia  delia,  mui  dura,  e 
solida. —  «Daquy  nos  saj-mos  em  com- 
panhia do  embaixador,  e  fomos  cõ  elle 
ver  as  lapas  dos  penitentes,  que  pelo 
bosque  abaixo  estavão  obra  de  hum  tiro 
de  berço,  feitas  á  mão  entre  huns  pene- 
dos de  rocha  viva  numa  grande  ordem 
de  furnas,  cousa  que  não  parecia  poder 
ser  feita  por  maòs  de  homens,  as  quais 
erão  por  todas  cento  e  quarenta  e  duas, 
em  algumas  das  quais  estavão  homens 
que  eiles  tem  pur  santos  fazendo  peni- 
tencia com  hum  estranho  excesso  de  aus- 
tiridade,  e  aspereza  ue  vida.»  Fernão 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.   161. 

O  Castello,  d'onde  eu  regia  os  Povos, 

Foi  dos  Gallos  antiga  Fortaleza, 

Fundada  numa  rocha :  accommetcndo 

Júlio  Cesar  Tenêtos  Curiosólitos, 

Lhe  deu  augmcnto.  Poucas  milhas  longe 

Do  Mar  tem  pé  n'um  Lago,  encosta  em  brenhas. 

F.   VI.  DO  NASCIMENTO,  OS  MARTYKES,  1ÍV.  9. 

Visto  apenas  de  longe,  entre  inacccssas 
Hochas  alpestres  de  escarpados  montes. 
Se  abrio  de  todo,  se  mostrou  qual  era. 
Oh!  Scena  portentosa,  oh!  Quadro  augusto! 

J.   A.  DZ  MACEDO,  VIAGEM    ESTÁTICA,  Caut.   4. 

Desmaia  a  fantasia,  encolhe  as  azas 
Timida  Musa,  se  transpor  dL'stina 
D;id  altas  rocliaa  escalvado  cume. 
Que  sj  naufrágio  universal  cobrira. 
Tanto,  ó  Haller,  teus  êxtases  poderão ! 
IDEM,  MEDITAÇÃO,  cant.  2. 

JA  sua  luz  penetra  abysmo  escuro; 
Lyra,  que  chama  os  marmórea  a  Thebas, 
Quebre  as  rochas  do  Cáucaso  espantoso : 
Eis  vejo  o  centro  escuro  ao  Emo,  aos  Alpes. 

IBIDEM. 


Das  rochas  desiguaes  a  formosura, 

Dhumanos  monumentos  as  luinas, 

De  crepitante  raio  inda  os  vestígios 

Pelos  penhascos  hórridos  impressos. 

As  lavas  dos  Volcões,  que  agora  extinctos. 

IDEM,    A  NATL-BEZA,  Cant.    1. 

Golconda,  Vizapor,  teus  campos  vejo, 
E  as  rochas  de  Narsinga  onde  se  occulta 
Brilhante  pedi-a,  sólido  Diamante 


318 


ROCII 


ROO  II 


RODA 


Qn'  f.vn  luz,  cm  fogo,  fim  míigrstailo ,  cm  tudo 
O  vulfço  (íxcodi;  dos  r.idinutC;*  corpoj). 
luiDKM,  cant.  2. 

A»  alta»  i-o/;/ia<,  o»  finsosofl  niontes, 
CujaH  base»  hciouo  iuuuda  o  rio, 
Embora  nutrão  no  fecundo  seio 
Ricos  motacs,  os  Ídolos  do  Muudo. 


Á  tua  voí  potruto  as  roflian  f|Ucbro 
Primeiro  monte,  o  Caucií.so  cspanto.-io. 


—  Termo  ilo  scolop;ia.  Jíaít.sas  niine- 
raeâ  da  crusta  terrestre,  quer  sejam  mol- 
les,  quer  scjain  podrcf!;osas. 

—  Rocha  de  fogo,  ou  de.  enx.ifre;  mas- 
sa feita  <io  salitre,  enxofro,  pólvora,  ctc, 
que  feita  em  pedaços  e  arremessada  ao 
inimififo,  ardo  com  violência. 

—  Fijjuradainciito :  Coração  de  rocha ; 
coraçilo  duro,  oiupedcrnido,  insonsivel. 

—  Termo  de  mineralogia.  Di/.-so  das 
substancias  mincraes  consideradas  em 
massa.  —  Rochas  vulcânicas. 

—  Rochas  (iijuouds ;  rochas  formadas 
pelas  matérias  que  as  a^uas  tem  deposi- 
tado. 

—  Rocha  negra;  diz-se  algumas  vezes 
dos  basaltos,  das  rochas  do  serpentina. 

—  Rocha  morta;  nomo  dado  á  rocha 
viva,  que  perdeu  ^^na  dureza  e  eonsiston- 
cia  pela  impressão  dos  elementos  húmi- 
dos á  superticie  da  terra. 

—  Rocha  de  esmeraldas,  de  topasios ; 
rocha  conteúdo  esmeraldas,  topasios. 

—  Cri/stal  cie  rocha ;  pedra  transpa- 
rente, quoé  uma  crystaUização  do  quai'tz, 
ou  da  ftiliea  pura. 

—  Rocha  viva;  aquella  que  tem  suas 
raízes  muito  profundas,  ([ue  não  é  mistu- 
rada de  terra,  e  que  nào  existe  por  ca- 
madas. 

—  Rocha  corneana ;  rocha  (pio  tem  a 
appareneia  da  córnea. 

—  Rochas  [ilandiãosas ;  rochas  que  con- 
tinham niineraes  mais  duros  que  as  ma- 
térias que  03  envolviam. 

—  Em  geral  as  rochas  designam-se  se- 
gundo a  maneira  como  se  formam.  —  Ro- 
chas arciiaceas.  —  Rochas  ccinenteas.  — 
Rochas  isomeras. — -Rochas  priíuarias. — 
Rochas  secundarias.  —  Rochas  de  sedi- 
mento. —  Rochas  simples. 

—  Desiguam-so  tambom  pela  fiSrma  que 
apresentam.  —  Rochas  amigdaloides.  — 
Rochas  argilloidcs.  — ■  Rochas  porphi/roi- 
des. 

—  Designam-se  também  segundo  as 
matérias  principacs  que  entram  na  sua 
composição.  —  Rochas  alnmíiiosas.  — Ro- 
chas ainphibiiUcas.  —  Rochas  argillut^as. 
—  Rochas  cidcareas.  —  Rochas  chloriti- 
cas.  —  Rochas  fclilspathicas.  —  Rochas 
ferruginosas.  — Rochas  graniticas.  —  Ro- 
chas inagnesianas. 

—  Termo  de  historia  i-omana.  Rocha 
Ihtyeia;  coUina  de  Roma,  d'ondo  os  ro- 


manos   prccii)itavani    os    criminosos    con- 
dem ii.rlos  ;i   morte. 

ROCHAZ,  udj.  2  gnn.  Orçado  noa  ro- 
chedos, que  vive  entro  clles,  á  manfira 
de  certas  aves  do  rapina.  Vid.  Gerifalte. 

ROCHEDO,  «.  m.  Ptmha,  penli.isco.  Vid. 
Rocha.  —  «Oh  la  villa  vendesse  entrados 
SC  lançaram  pelo  muro,  c  rochedos    |)era 
se  saluarom,   de   que   morreram    a  ferro 
duzrmtos,  o  dos  que  se  lançaram  pelo  ro- 
chedo abaixo  mais  de   mil    almas,    entre 
homens,    nioHieres,    e    miiiinos,    de    que 
muitos   morreram    espetados   em   aruores 
que  ania  no   rochedo  per  onde  se   lança- 
uam,  e  assi  os  cauallos  selados,  e  enfrea- 
dos por  nam  ficarem  em  poder  dos  chris- 
tãos.»   Damião  do  does,   Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  3,    cap.    12.  —  tE  &m  se 
eutríigou  to<lo  ils  aguas,  do   mar,    domle 
Avaior  cuidara  morrer;  e  agua  deu  pres- 
taracnte  com  elle  por  um  <m3eio,  que  por 
parte    daquelle    rochedo    S(!  fazia,   e   es- 
praiava  logo   com   a  maré :   e   recolhidas 
que  foram  as  aguas  se  ficou  elle  ahi  dei- 
tado naquelle  areal  per  um  grande  espa- 
ço havendo-se  per   morto:  porque  com  a 
desconte  da  maré,  que  já,  então  era,  não 
tornou  mais  a  chegar  o  mar  .a  ellc.»  Ber- 
nardim Bibeiro,  Menina  e  moça,  part.  2, 
cap.  12.—  «Desta  paragem  caminhando 
hora    por   espaçosas    campinas,   hora    de- 
eendo    de    altos,    e    Íngremes    rochedos, 
vem    fazendo    suas   costeadas  voltas,  em 
partes  com  tanta   ligeyroza,   o   velocida- 
de,   como    noutias    detoudoso    com    seus 
meandros   tam   quietos,   o  vagorosos  que 
nellcs  parece  estar  conuidando  o  mundo 
todo  a  vello.n  Fr.  (Saspar  de  S.  Bernar- 
dino, Itinerário  da  índia,  cap.  21. 

Nuuips  d'hum  Vate  sois,  Silencio,  e  Sombra  ; 
Nos  rochedos  da  Córsega  dVsfartti 
Do  ingrato  Nero  ao  virtuoso  Mestre 
O  desterro  se  adoi;a,  e  suppre  a  Corte. 

J.   A.    DF.   UXCEDO,  A  NATITREZÁ,    CSUlt.    1. 

De  tanto  precipício,  escuro,  c  oégo, 
Scriiio  causa  ra])idas  torrentes, 
Qu'iinpetuoso  eurso  entre  rochfdoa 
Tem  jil  por  tantos  séculos  volvido  ? 
iDiDKM,  caut.  2. 

Immensa  multidilo  de  peixes  vejo 
De  impenetrável  concha  habitadores, 
Pegados  aos  rochedos  escabrosos. 
Ou  dispersos  uas  húmidas  arèas. 
uiiDKii,  cant.  '■>. 

Oh  qu'  aprazível  o  momento  eliega 
De  contemplar  a  Naturer.a  !  -l^ora 
Minh'alma  no  spectaculo  embebida 
Se  dava  a  contemplar.  Comtigo  ao  lado 
Por  ein\a  dos  inhospit«s  rorhedof 
Iliremos  ver  o  mar :  por  ello  a  vista 
Filosofando  alongaremos  hoje. 
iuiDi:ii. 

Viste  ha  i»uco  esse  conc.avo  rochedj 
No  mar  qnasi  afundado,  e  que  servi.i 
Ao  pensativo  pescador  de  asylo? 
iniDF.ii. 


ROCHEIRO,  adj.  Vid.  Roqueiro. 

ROCHETE,  *.  111.  ípr.  roíjuele;  do  fran- 
cez  roílíKl).  Sjbrepelli/,  do  iiiungab  Cítrci- 
tas,  que  os  bÍHpos  c  iiiuituK  outro.s  ecclo- 
Biasticos  trazem. —  0$  òitj/os  pregam  d* 
rochete,  e  de  murta. 

—  (Js  rochetes  ;  o»  bÍB]ios. 

—  Vid.  Roquete,  orlhographia  preferí- 
vel. 

ROCIADA,  s.  f.   Orvalhada,    chuveiro. 

—  At  priíiieiríu  rociadas  ;  m  primeiras 
horas  da  maiihH,  quuiidu  orvalha ;  orva- 
lhadas. 

— Figuradamente  :  Rociada  cie  darJ/js  e 
seitas  ;  chuveiro  d'ellaH. 

ROCIADO,  part.  pu»s.  de  Rociar.  Orva- 
lhado, borrifado. —  O  ceu  rociado  pelo 
mar  ijue  sakiu  dos  seu»  limita.  —  Olhoi 
rociados  de  lagrinuts. 

ROCIAR,  V.  a.  Orvalhar,  banhar,  bor- 
rifar com  rocio.  — Rociar  os  olhos  com  la- 
grimas. 

—  Emprcga-se  Uimbem  figuradamente. 
ROCICRÉ.  Vid.  Rosicré,  e  Rosicler. 
ROCIM.  Vid.  Rossim. 

AUAfílOS   E   I-UOVKKllIO.S  : 

—  A  boa  mão  do  rocim  faz  cavallo,  e 
a  ruim  do  cavallo  faz  rocim. 

—  O  rocim  em  maio  torna-se  cavallo, 

—  Oouce  de  égua  amorci)  para    rocim. 

—  A  quem  mal  queiras,  um  rocim  lhe 
vejas,  e  a  quem  mais  mal  mu  par. 

—  Mulo  ou  mula,  asno  ou  burro,  ro- 
cim nunca. 

—  Ooin  latim,  rocim,  o  florim,  andarás 
mandarim. 

ROCINAL,  adj.  2  gen.  De  rocim,  ou  de 
rossim. 

—  Carga  rocinal;  carga  de  rocim  ou 
cavallo  ]iequeno  e  desmedrado. 

ROCINAM.  Termo  antiquado.  Vid.  Ros- 
sim. 

ROCINATO.  Termo  antiquado.  Vid.  Ros- 
sim. 

ROCIO,  s.  m.  (Do  latim  rot,  oris). 
Chuva  miúda,  orvalho. 

—  Rocio  nutri  mental ;  vid.  Sueco  nutri- 
ticio. 

—  Emprega-se  também  no  sentido  fi- 
gurado. 

—  A  praça,  e  por  cxcellencia  ama  pra- 
ça de  Lisboa. 

ROCIOSO,  A,  adj.  Orvalhoao,  que  pro- 
duz orvalho,  que  tem  orvalho.  —  A  Jna- 
nhã  está  rociosa. 

—  iVií  i  e^í  rociosa ;  nuvem  que  solta  , 
orvalhadas. 

ROCLÓ,  s.  m.  Capote  de  mangas  de  pou- 
ca i-oda  ;  conhecido  outr'ora  pelo  nome  de 
josósinho. 

ROÇO,  *.  m.  Ave  do  mar  oriental,  de 
grandeza  e  força  extraordinária,  ou  seja 
ospecie  de  alcião,  ou  de  maçarico. 

ROÇO,  s.  m.  Termo  de  pedreiro.  O  tra- 
balho de  cortar  alguma  pedra  que  está 
mais  alta  que  o  p.ivimcnto,  trabalho  cha- 
mado por  olleit»  rocar. 

RODA,  ».  /.  (Do  latim  rota  .  Peça  pia- 


RODA 


RODA 


RODA 


319 


na  circular  que  se  põe  em  movimento  gy- 
rando  sobre  eixo. — A  roda  de  um  carro, 
de  uma  carruagem,  etc.  —  «E  após  elles 
vinhão  dous  grandes  e  altos  cadafalsos 
com  rodas  per  dentro,  que  homens  faziam 
andar,  sem  verse  como  andauão,  os  quaes 
erão  ricamente  pintados  douro,  e  muyto 
bem  feytos,  e  ordenados  com  muytas  e 
ricas  bandeyras,  todos  cheos  databaley- 
ros  com  os  atabales  polias  bordas  dos  ca- 
dafalsos da  parto  do  fora,  que  fazião  ta- 
manho roído  por  serem  tantos,  que  se 
não  ouuia  ninguém,  e  os  atabaleyros  vi- 
nhão todos  sem  figuras  de  homens.»  Gar- 
cia de  Rezende,  Chronica  de  D.  João  II, 
cap.  128. 

—  Roda  de  agua;  roda  que  se  move 
á  força  de  agua,  e  que  faz  mover  a  bo- 
landeira,  e  esta  a  das  moendas,  e  que 
serve  de  esgotar  as  minas. 

—  Roda  dentada;  roda  que  tem  den- 
tes na  circumferencia. 

—  Figuradamente  :  Roda  ;  circulo  de 
pessoas,  mó  de  gente.  —  Uma  roda  de  in- 
dividuas. 

— •  Roda  de  coroa,  ou  de  chão ;  roda 
que  tem  os  dentos  parallelos  ao  seu  eixo, 
ou  veio,  como  a  roda  que  empena  na  pe- 
quena da  nora. 

—  Roda ;  nos  conventos,  armário  re- 
dondo com  vãos,  que  se  move  por  um 
eixo  perpendicular  na  aberta  de  uma  ja- 
nella,  com  as  umbreiras  da  qual  quasi  se 
roça  ;  nos  vãos  da  roda  se  põem  as  cousas, 
que  se  tiram,  revolvendo  a  roda  para 
dentro. 

—  Gyro  do  ceu,  dos  astros. 

Antes  que  aquclla  vez  lá  no  Oceano 
O  sol  metteaso  a  leve  roda  usada, 
Aquclle  horoico  csprito  maia  que  humano 
Solto  já  da  prisão  fria  e  pesada, 
Entra  no  Eterno  Assento,  e  Soberano, 
Deixando  a  torra  triste  c  acompanhada 
De  lagrimas,  do  dòr,  de  sentimento 
Por  cata  grave  perda  o  apartamento. 

F.  d'aiídrade,  pbimeibo  ceboo  de  DIU,  cant.  19, 
est.  98. 

—  Figuradamente  :  A  roda  da  fortuna ; 
os  seus  revezes  e  alternativas.  —  «  Qvando 
a  fama  do  gram  Turco  Hahometo  segun- 
do deste  nome,  andaua  com  suas  insignes 
victorias,  assombrando  o  mundo,  pare- 
cendolhe  que  a  fortuna  que  a  tão  alto  es- 
tado o  leuantara,  não  poderia  j;l  mais  des- 
andar com  sua  inconstante  roda.»  Fr. 
Gaspar  de  S.    Bernardino,   Itinerário  da 

.  índia,  cap.  21. 

—  Penar  atado  a  uma  roda. 

E  porque  a  meu  desejo  me  gabei 

De  conseguir  hum  bem  de  tanto  preço  ; 

Além  do  que  padeço, 

Atado  em  uma  roda  estou  penando, 

Q'uem  mil  mudanças  me  anda  rodeando ; 

Onde,  SC  a  algum  bem  subo,  logo  deço. 

CAM.,  CANÇÃO  2. 


—  Roda  de  trabalhos; 
ternativa  continua. 


cerco,  gvro,  al- 


—  Figuradamente  ;  A  roda  dos  séculos. 

Intactos,  ao  volver  de  idade,  o  idade. 
Sobre  a  roda  dos  séculos  vorazea 
Vicejào  mais,  e  maia.  Impérios  fogem, 
Fogem  nas  azas  do  volúvel  Tompo. 

J.   A.    DE   MACEDO,  MEDITAÇÃO,   Cant.    4. 

A  luz,  que  a  França  vio  brilhar  maia  pura, 
Quando  o  Grande  Luiz  subira  ao  Trono, 
Que   eterna  Fama,  ctcrnoa  monumentos 
A'  grão  roda  dos  séculos  deixara. 

IDEM,   VIAGEM  EXTÁTICA,  Cailt.    4. 

—  Figuradamente:  A  volúvel  roda. 

Quantos  triste  moral  dons  preciosos 
Recebe  da  frondifcra  Oliveira  ! 
A  forca  oppresaos  da  volúvel  roda, 
Em  doces  ondas  do  liquor  mudados, 
Formào  vivo  clarão,  que  suppre  o  dia, 
Na  sombra  universal,  que  a  noite  eapalha. 

J.   A.    DE  M.WEDO,   MEDITAÇÃO,   Caut.    1. 

— •  Termo  de  náutica.  Pau  grosso  c 
curto  que  termina  a  popa  e  a  proa  do 
navio ;  também  ha  rodas  no  poleame,  das 
quaes  algumas  são  bronzeadas. 

—  Bomba  de  roda;  bomba  em  que  se 
trabalha  por  meio  de  uma  roda,  como  os 
lemes  de  roda. 

—  Roda  a  roda;  o  maior  comprimento 
do  navio,  desde  o  espelho  da  roda  de 
proa  até  á  barra  da  contra-almeida. 

• —  /)•  í/e  roda  a  roda ;  ir  de  encontro 
com  a  bochecha  de  proa  ao  costado  do 
outro. 

—  Roda  do  leme;  a  que  anda  aggrega- 
da  ao  cylindro  em  que  se  encapella  o 
cabo  do  leme,  e  de  cuja  circumferencia 
sahem  as  malaquetas  que  servem  de  apoio 
ao  homem  que  o  governa,  para  lhe  dar  a 
direcção  conveniente. 

—  Roda  viva;  roda  que  nunca  pára. 
— ^  Figuradamente :    Roda    viva;    lida, 

trabalho  incessante. 

■ —  Roda  dos  engeitados,  ou  dos  expos- 
tos;  nas  misericórdias,  é  uma  roda  á  ma- 
neira da  dos  conventos,  onde  se  coUocam 
as  creanças  que  se  engeitam. 

■ —  Roda  de  encontro ;  a  roda  dos  reló- 
gios, a  ultima  que  topa  com  os  dentes  nas 
palhetas  do  volante. 

—  Na  roda  do  anuo ;  por  todo  o  espaço 
do  anno. 

—  Adarga  redonda. 
— -Roda  do  tempo;  roda  que  serve  de 

adiantar  ou  atrazar  o  relógio;  fica  junto 
ao  guarda  vohinte. 

—  Roda  do  joelho.  Vid.  Rodella. 

—  Ha  rodas  também  nas  roldanas. 

—  Peru  de  roda;  o  grande  que  a  faz 
já:  d'aqui  veio  dizer-se,  no  sentido  figu- 
rado, desfazer  a  roda ;  abater  a  vaidade. 

—  Dar  á  roda  a  fortuna;  mudar-se.' 

—  Trabalhar,  jogar  a  artilheria  em 
roda  viva;  trabalhar,  jogal-a  incessante- 
mente. 

—  A  roda  de  alguém;  os  parentes,  ami-  1 
gos,   pessoas  com   quem  convive,  que  o  | 


buscam  como   amigo,    conversam,  gran- 
geiam,  adulam,  ete. 

—  Roda  do  pavão,  do  peru;  a  abertura 
que  fazem  inchando  as  pennas  e  abrindo 
as  remiges  e  as  da  cauda  em  grande  le- 
que redondo,  parecendo  d'este  modo  que 
estas  aves  são  orgulhosas  e  vaidosas. 

—  Roda  de  nabo,  beterraba,  pepino,  e 
outros  fructos ;  talhada  redonda  e  chata 
para  se  comer. 

—  Roda  de  limão;  talhada  de  limão 
que  se  colloca  sobro  o  lombo  do  porco 
para  lhe  dar  um  sabor  mais  grato  ao  pa- 
ladar. 

—  Roda  de  escachar;  aquella  com  que 
os  tiradores  do  fio  d'uuro  e  prata  fazem 
a  palheta. 

—  Loc.  poética:  A  fatal  roda;  o  fa- 
do, o  destino,  ordem  da  Trovidencia. 

—  Roda  de  couces;  que  se  dão  acompa- 
nhando a  quem  os  leva  á  roda  da  casa 
por  onde  foge. 

—  Figuradamente :  Untar  a  roda ;  pei- 
tar otiiciaes  e  agentes  de  negócios  e  de- 
pendências ;  deixar  as  rodas  untadas  para 
03  ter  a  seu  favor. 

—  Roda  de  fogo;  roda  que  gyra  sobre 
seu  eixo  á  força  de  foguetes  atados. 

—  Roda  de  altos  couces;  jogo  infantil. 

—  Desfazer  a  roda  a  alguém ;  abater- 
Ihe  a  soberba,  e  desvanecimento  do  pros- 
peridade. 

■ — ^Roda;  que  servia  de  sobre  ella  se 
quebrarem  os  ossos  dos  braços,  pernas, 
etc,  a  certos  criminosos  que  sofEriam  este 
cruel  castigo  por  crimes  atrocíssimos. 

■ — Roda  da  ilha;  circumferencia,  cir- 
cuito. 

—  Roda,  por  rota;  tribunal  de  Roma, 

—  Lançar  roda  ;  allusão  da  plebe,  que 
para  adivinhar  quem  fez  uma  acção  má, 
escreve  os  nomes  dos  suspeitados,  e  faz 
mover  a  roda  onde  os  lança  escriptos 
perpendicular  ou  verticalmente,  e  aquelle 
nome  sobre  que  a  roda  pára,  hão  que  é 
o  do  delinqueiitc,  e  que  a  justiça  divina 
lh'o  descobre  para  justificar  os  innocen- 
tes. 

—  Plur.  Quasi  manchas  circulares  no 
pêllo  dos  cavallos  rodados. 

—  Loc.  ADV. :  A  roda;  em  redor,  em 
volta.  —  «  Três  braceletes  de  ouro  e  pedra- 
ria: hum  anel  grande  com  hum  olho  de 
gato,  e  rubis  á  roda,  um  formoso  olho  de 
gato  solto,  o  que  tudo  se  carregou  sobre 
o  feitor  da  Armada,  e  aquelle  anno  foy 
pêra  o  Reino,  O  Visorey  também  levou 
seus  brincos,  e  antes  de  dar  á  vela  se  foy 
ver  com  elle  hum  filho  do  Madune,  Rey 
e  Ceitacava,  de  o  que  passou  com  o  Vi- 
sorey não  se  sabe.  Depois  de  o  ouvir  deil 
á  vela  para  Cúchim.»  Diogo  de  Couto, 
Década  6,  liv,  9,  cap,  1. —  «Ao  que  elle, 
olhando  jiara  os  que  estavão  á  roda,  des- 
pois  de  fazer  alguns  meneos  com  a  cabe- 
ça, lhes  disse,  que  vos  parece  a  vós  ou- 
tros desta  gente  y  fala  de  Deos  como  que 
tem  noticia  da  sua  verdade,  algum  gran- 


320 


RODA 


UODA 


RODA 


de  inundo  devo  do  aver  ncuto  criado,  do 
qiio  na?)  toiíioH  ainda  noticia,  o  j)i)Í8  oo- 
nhccfiin  a  foiíto  drin  hítnfi,  rn/.âo  scni  r|U(! 
80  ii«o  com  ollow  cnnformo  ;is  iafírinias 
com  quo  o  )]prl(tiii.ii  FeriiíTlo  Jlondcs  Pin- 
to, Peregrinações,  eap.  180. —  «IIunH 
erão  EiicjintoM,  o  outros  Foytioos.  Ou  pri- 
moyros  pcidião  )imito  a[)[iarato.  Arniava- 
BO  Innn  Altar  ornado  ú  roda  do  hum  fron- 
tal. Quciíiiava-sc  nollo  incenso  macho,  o 
oiitroH  perfumes.»  ('avaliciro  d'(Hivcira, 
Cartas,  liv.  ],  n.°  20. —  «Como  de,  pap,'^ 
a  tillios  aH  (liverHas  f;()ra(,'õcH  SC  continuam 
o  ontreteccni  sem  divisão,  semelhantes  li 
tunicn  inconwHtil  do  (íiiristo,  assim  a  ci- 
dade antiga  se  transmuda  imperceptivel- 
mcnto  na  nova  cidade ;  o  c(nno  o  octoffc- 
nario,  na  vizinhança  do  tumulo,  não  vô 
il  roda  do  si,  nem  (lao,  nem  irmãos,  nom 
amigos  da  infância,  mas  tillios,  ma-i  ne- 
tos, mas  existências  todas  virente-i,  todas 
cheias  de  vida.»  A.  Ifereulano,  Monge  de 
Cister,  rra/oí/o. 

—  Andar  á  roda;  vidtar  so])re  si  mes- 
mo, á  mauoira  de  um  i)cào. 

—  Loc.  .\DV. :  Em  roda  ;  eironlarmon- 
te,  pela  eircumforencia.  —  oFilonarda,  co- 
mo souljo  quo  vinham,  tiramio-so  das  an- 
das, cm  quo  caminiiava,  cavalgou  cm  um 
paiafrem  branco,  poupado  pêra  aqtudlc 
dia  com  uma  guarnição  de  muito  ])reço, 
c  cila  vestida  em  unia  roupa  aguisa  (hí 
Gi'0cia,  toda  em  roda  broslada  de  chapi;- 
ria  rica,  obra  muito  para  vêr:  emcima 
trazia  uma  capa  do  escarlata  branca,  for- 
rada de  setim  l)ranco,  quo  so  abrochava 
por  diante  com  uns  diamantes  a  maneira 
de  botões,  e  toda  em  cerco  occupada  dcl- 
les,  antremetidos  com  pérolas  tanto  por 
compasso  o  ordem,  qun  davam  muita  gra- 
ça ao  ve<tido.ti  Fraticiseo  de  J[oracs,  Pal- 
meirim de  Inglaterra,  cap.  111.  —  »  Tem 
mais  esta  cidade  em  roda,  segundo  os 
Chins  nos  aflínnarão,  trezentas  o  sessenta 
entradas,  cm  cada  uma  das  quais  estão 
sempre  quatro  upos,  como  pouco  ha  disse, 
armados,  e  com  alabardas  nas  mãos,  para 
darem  razão  de  tudo  o  quo  passa  nella, 
ha  aly  tambcm  immas  certas  casas  quo 
são  como  casas  de  camará,  que  a  cidade 
para  isso  tem  deputadas  com  seus  Ancha- 
cys  6  officiais  de  justiça,  c  a  oude  tam- 
bém se  levão  os  moços  que  se  perdem, 
paraque  seus  paya  oa  venham  alv  luis- 
car.»  Fernão  Jlendoíi  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  94.  —  «  Por  fora  desta  grande 
cerca,  a  qual,  como  digo,  corro  por  fi'>ra 
do  toda  a  cidad,u,  estão  cm  distancia  de 
três  logoas  de  largo,  e  sete  de  comprido 
vinte  e  quatro  mil  jazigos  de  Mandarins, 
que  são  hmuas  capellas  pequenas  cozidas 
todas  cm  ouro,  as  quais  tom  todas  adros 
fechados  em  roda  com  grades  de  ferro,  o 
do  latão  feitas  ao  torno,  e  as  entradas 
que  tem,  saõ  hnns  arcos  de  muito  custo 
e  riqueza.»  Ibidem,  cap.  10."i.  —  «K  cor- 
rendo por  este  esteyro  a  Tjcste,  e  a  Les- 
nordeste,    e   cm   partes  a  Lessuoste  con- 


forme ás  quedas  por  onde  a  agoa  fazia 
sua  evasão,  clu^gamo-t  ao  lago  de  Siriga- 
l)amor,  que  os  naturais  da  terra  nonii-ão 
por  ('uncbcti;c,  que,  segundo  a  onforma- 
ção  quo  nos  dcriío,  tinha  cm  roda  trinta 
o  scys  legoas,  no  (piai  vimos  tanta  diver- 
sidade do  aves  do  toda  a  sorte,  í|ue  me 
não  atrevo  a  jindelo  dizor.»  Ibidem,  cap. 
128.  —  a  I'^  vellcjando  por  nossa  derrota, 
chegamos  a  huma  ilha  ])í;quena  do  pouco 
mais  de  hnma  l"go!i  em  roda  que  so  cha- 
mava l'ulio  Ilinluir,  dõde  nos  saiiio  lium 
paraoo  em  que  viniião  seys  homens  ba- 
ços, tórios  com  barretes  vermelhos,  mas 
pobremente  vestidos.»  Ibidem,  cap.  14.Ó. 
—  «  Até  dez  anno.i  riquissimamcnte  ves- 
tido o  cõ  hunui  hnrfangaa  douro  r.a  ca- 
beça, que  ko  a  nujdo  de  mitra,  mas  fi- 
chada toda  em  roda  sem  abertura  nenhu- 
ma, e  huma  maça  douro  a  modo  de  cetro 
))Osta  ao  oml)ro,  o  qual  sem  fazer  caso  do 
Monvagarnn,  wv.m  dos  mais  senhores  que 
alv  cstavão,  toMU)u  o  endjaixador  8<')  peia 
mão.»  Ibidem,  cap.  102.  —  «  Deste  modo 
ficou  o  Reyno  de  Lara,  junto  a  Coroa 
Persiana,  c  agora  de  nono  se  torna  a  edi- 
ficar, auendo  ya  nella  duas  cousas  nota- 
ueis,  í|ue  saõ  hum  castelto  que  tem  quasi 
meya  legoa  em  roda,  o  qual  lhe  fica  ao 
Ponente,  assentado  sobre  huma  serra  pe- 
quena, qur,  est;l  (juasi  sobre  toda  a  cida- 
(le.»  Fr.  Tíaspar  de  .S.  Pernardino,  Iti- 
nerário da  índia,  cap.  13. 

Eténia  Tompiistiulc,  om  rodn.  ronca 
Das  minaccs  ameias ;  stéril  Arvoro 
TjIic  módra  á  jii^rta ;  no  Torreão  trcuiAla 
Hasteado,  a  meio-ardido  d'nin  corisco, 
O  íStendarte  do  Orftulho.  Vc7,03  nrtvc 
Cinge  o  Torreão,  rocingc-o,  torvo  muro. 

F.    M.    DO  NASCIMENTO,  03    JIABTYBKS,   1ÍV.    8. 

Vivo  cm  roda  de  nís,  vive,  espalhado 

No  immcnfiuravel  amliito  dos  ares, 

Apento  universal,  faminto,  e  pronto 

A  devorar,  a  conamnir  o  Mondo, 

Se  o  Supremo  Motor  omnipotente 

Não  lhe  lauí^ára  hum  freio  iis  bravas  fúrias. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  SATUBEZA ,  Cant.  2. 

Além  dos  >íundo3  o  Infinito  existo. 
Onde  se  fuidão  surpe  a  Immeusidadc. 
Sente  a  Divina  Kssencia,  isto  s.i  hasta; 
Ihim  termo  está  prcscripto  ã  mento  hcmann, 
.\!ém  delle  somente  existem  sombras, 
Cidipinosa  escuridão  nrofunda, 
Quo  em  roda  do  seu  throno  o  Eterno  espalha. 
inrM,  MKnrrAi,Ão,  cant.  1. 

—  Km  roda  âa  casa;  cm  volta  d'ella, 
por  toda  dia,  ou  sua  eircumforencia  in- 
terna ou  externa. 

RODADO,  i><irt.  pass.  de  Rodar. 

—  i',irta  rodada;  carta  sellada  com 
sello  redondo,  ou  carta  em  que  a  firma 
ou  nome  vai  circulado,  como  se  observa 
nos  documentos  antigos,  onde  a  firma  do 
soberano  e.^t.-l  no  centro  do  circulo,  om 
roda  os  das  pessoas  da  família  real,  os 
dos  ricos-homens,  prelados,  etc. 


—  Alíjufiie  rodado;  alqueire  r.'u>o  ou 
arrasado. 

—  C/uiu  rodado ;  cliw  marcado  com  o 
carril  que  deixam  as  rodas. 

—  Quebrado  no  supplicio  da  roda. — 
Ktte  homtm  fui  rodado  vivo. 

—  (Jaíiio  por  ladeira,  <.iicor.ta. 

—  l'triliiiãi)  rodado;  pcrdigilo  que  tem 
malhii.s  redondas. 

—  Figuradamente :  Muido,  caidu  de  ea- 
ta'!o,  iligniiladc. 

RODAGEM,  s.J.  A  totalidade  das  rodau 
de  qna|.|nir  machina.  —  A  rodagem  dt 
um  rtli  (i'in. 

RODÀMONTADA,  «.  /.  Ameaça  de  fan- 
farr.Mo,  fuifanonice,  bizarricc,  ronca. 

RODANTE,  iiarl.  a<t.  de  Rodar.  Que  se 
move  em  roda,  que  gyra,  que  rola. 

—  Quo  anda  jhjIo  ch.òo,  cm  desprezo 
c  poucíi  estima. 

—  Que  các  ])or  ladeira,  encosta,  es- 
cada rolando  a  baixo. 

—  Que  cáe  do  estado,  de  dignidade, 
de  posto  elevado. 

—  Que  se  move  como  em  circulo  de 
tempo. 

—  Quo  faz  movcr-ee  em  roda. 

—  Que  cÚQ  revolvendo-80  sobre  si. 

—  1'eriodo  rodante;  período  mui  con- 
certado e  sonoro. 

RODAPÉ,  «.  »i.  Panno  á  símilhança  de 
sanefa,  ((Ue.  cobre  a  rola  da  cama  desde 
o  colchão  até  abaixo,  ao  réz  do  chão. 

RODAR,  V.  a.  Fazer  mover-,-e  em  roda, 
ou  andar  sobro  rodas. 

—  Cair  revolvcndo-sc  sobre  si. 

—  Rodar  vivo;  castigo  a  que  outr'ora 
eram  condeniiiados  muitos  criminosos, 
quebrando-lhes  os  membros  com  massa  de 
ferro  na  roda. 

—  Rodar  o  mundo;  correr,  gyrar. 

—  Rodar  o  mnr;  navegar  á  roda,  ro- 
dear, dar  uma  volta  ao  mar. 

—  T^  u.  Jlover-se  em  roda,  gvrar,  ro- 
lar. 

—  Rodar  a  tei~ra. 

Qu "outra  prova  d'hum  Deos,  que  ctcmo  oxistc, 
Podemos  desejar?  Contempla,  observa 
O  Ponto  em  que  apartada  a  Terra  pire 
Po  centro  Inminoso,  olha  a  distsincia, 
OUia  o  justo  c<|UÍlihrio,  se  alongada 
UndíWfe  hum  pouco  mais,  algente,  c  froiO, 
Inhabitado  Globo  o  capado  enchera. 

.r.    A.    PE   M.VCEDO,  A   NATCBEZA,  C;lnt.    1. 

Rodando  sempre  hum  cimdo  descreve, 

E  som  romper  doa  Trópicos  a  meta, 

Or.a  proxim.i  ao  Sol,  ora  apart-ada. 

Debaixo  sempre  de  diversos  poutos 

Nos  mostra  sempre  o  Sol  no  immobil  centro. 


Do  paternal  asilo  desiH>jados 
Prosoriptoâ  Incas,  ferros  arrastando. 
DAmbii;.ào,  da  Sevícia  ao  c^irro  atados. 
Sem  ma«s  crime,  qne  o  ouro,  eis  vão  rodando: 
Nunca  de  s:»npue  tigres  abastados 
I.evão  a  tudo  estrago  miserando, 
(Juando  laiinas,  e  terror  derrama. 
Então  paz  a  hum  deserto.  Almagre  chama. 
iDKM,  o  OKir.NTC,  cant.  O,  ost.  H4. 


RODE 


RODE 


RODE 


321 


Pois  quasi  confundido,  c  quasi  ignoto 
Correndo  vai  no  Ceo,  qual  vái  de  arêa 
Pequeno  grão  rodmido  em  ar  vazio 
Xas  leves  azas  rápidas  do  vento, 
Do  calmoso  Verão  nas  longas  tardos ; 
Assim  gyra,  assim  corre  ignoto,  escuro 
Entro  maiores  lúcidos  Planetas, 
Que  tom  por  centro  o  Sol  no  espaço  immcnso. 
IDEM,  MEDITAÇÃO,  cant.  2. 


Vai  n'lium  Carro  apoz  ollc  a  Cypria  Deosa, 
Róseos  freios  batendo  ás  alvas  Pombas, 
Mais  bello,  e  luminoso  entre  os  Planetas ; 
E  n'outro  Ceo  mais  alto  a  escura  Torra, 
Como  03  outros  rodando  o  giro  absolve. 

IDEM,  VlàOEJf  EXTÁTICA,  Caut.    3. 


—  Andar    pelo    cbào,    em    desprezo,  e 
pouca  estima. 

—  Figuradamente  :    Rodarem  as  ondas 
umas  sobre  as  outras. 

—  Andar,  correr  para  cá  e  para  lá. 

—  Rodar  o  dinJieiro ;  ser  mui  abundan- 
te, e  vulgar,  andar  a  rodo. 

—  Figuradamente :     Cair    de    estado, 
posto,  dignidade. 

—  Rodarem  os  astros;  gyrarem  na  sua 
orbita. 

— -Rodar  em  um  coche;  andar  n'elle. 

—  Cair  por  ladeira,  encosta,  escada  ro- 
lando a  baixo. 

—  Rodar  o  tempo ;  correr,  gyrar. 

—  Rodar  a  fortuna  ;  alternar-se. 
RODA  VALHO,  s.  m.  Yid.  Rodovalho. 
RODEADO,  part.pass.  de  Rodear.  Cer- 
cado cm  roda. 


E  aquelle  de  quem  ja  no  tempo  antigo 
Prophetizou  Daniel,  que  naceria 
De  huma  fera  espantosa  hum  como  escuro : 
Que  com  força  três  cornos  lhe  tiucbrasse. 
De  gente  innumerauel  rodeado, 
Estaua  amado  delia,  obedecido, 
Este  fez  o  Alchorão,  este  com  armas 
Arábia  subgigou,  .lEgipto,  e  Siria. 

CORTE  REAL,  JÍAOFRAGIO  DE  SEPÚLVEDA,  Cant.  11. 

Xa  praia  um  regedor  do  reino  estava. 
Que  na  sua  lingua,  Catual  se  chama, 
Rodeado  de  Naires,  que  esperava 
Com  desusada  festa  o  nobre  Gama. 
cAu.,  Lcs.,  cant.  7  est.  44. 


—  «Pelos  assenos  conhecerão,  que  eu 
vinha  saspirando  por  ella,  a  qual  me  de- 
ram por  vezes,  que  nào  auia  abastar-me. 
Em  menos  de  hum  quarto  de  hora  que 
aula  chegado  a  Aldeã,  me  vi  rodeado,  e 
cercado  de  muitos  Mouros,  molheres,  e 
meninos,  que  como  a  extremo,  me  vi- 
nham ver,  perguntando  cada  hum,  o  que 
a  vontade  lhe  ditaua.»  Fr.  Gaspar  de  S. 
Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap.  10. 

Moasambique,  a  traidora,  castigada 
Para  escarmento  a  pena  ;  e  o  temeroso, 
Kamorado  gigante  em  dura  terra 
Por  sons  atrevimentos  convertido, 
K,  por  dobradas  mágoas,  rodeado 
De  Tlietys  formosíssima  que  amava. 

GARRETT,  CAMÕES,  Caut.  8,  Cap.  10. 

vol!  V.  — 41. 


—  Rodeado  de  dores,  trabalhos;  cerca- 
do d'elles,  cheio  d'elles. 

—  (Tvrando. 

—  Vid.  Rodado. 

—  Razoes  rodeadas  a  seu  intento;  ra- 
zões que  se  achegam  com  rodeios  para 
conseguir,  exquisitas  para  isso. 

—  Emprega-se  também  figuradamen- 
te. 

RODEAMENTO,  s.  m.  A  acçcào  de  ro- 
dear. <-Hi  lie  ser  rodeado. 

RODEAR,  i'.  a.  Fazer  andar  em  roda, 
fazer  j^vrar. 


Pharamundo,  rodeando  olhos  medonlios, 
Sparsas  as  câns  aos  ventos  matutinos, 
Assentado,  no  tope  da  fogueira, 
A  vista  debruçava  ao  Filho,  ao  Xéto. 

y.   M.   DO  NASCUfENTO,  OS  M.^RTTRES,  1ÍV.    G. 


Cercar. 


Entrão  na  grão  praça,  ao  eco  leuauta 
A  gente  popular,  clamores  altos : 
Soarão  juntamente  os  instrumentos 
E  a,s  vozes  miseraueis  dos  perdidos. 
Com  lento  passo  a  praça  rodearão 
As  figuras  cruéis,  abomiuaueis; 
Ouuese  grand'estrondo  de  inouido 
Ferro,  c  grossas  cadeas  arrastadas. 

CORTE  BE.^L,  NAUFRÁGIO  DE  SEPÚLVEDA ,  Caut.  5. 


—  «Os  Mouros  como  viram  a  corrida 
que  levavam,  começaram  os  de  cavallo 
rodear  a  sua  pionagem,  e  pola  ante  si,  re- 
colheudo-se  em  boa  ordem.»  Barros,  Dé- 
cada 2,  liv.  7,  cap.  4.  — ■  «As  nãos  dos  imi- 
gos  fezeram  mui  bem  seu  ofRcio,  em  quan- 
to Cojeatar  andaua  rodeando,  e  combaten- 
do a  nossa  frota,  no  qual  tempo  com  hum 
tiro  grosso  com  que  tirauam  da  nao  Cyr- 
ne,  arrombaram  a  do  Principe  de  Cam- 
bava de  maneira  que  se  foi  ao  fundo,  e 
trás  ella  com  o  tiro  da  mesma  bombarda 
outra  das  milhores  armadas,  que  era  de 
]\Ii!iquiaz  senhor  de  Dio,  nas  quaes,  e  na 
ileri  tinha  el  Rei  de  Ormuz  toda  sua  es- 
perança.» Damião  de  Góes,  Chronica  de 
D.  Manoel,  part.  2,  cap.  33.  —  «Os  quais 
sào  todos  forrados  de  pastas  de  chumbo 
muyto  largas  e  grossas,  e  por  fiira  tem 
huuia  cava  dagoa  muyto  funda  que  a  ro- 
dea  toda,  com  suas  pontes  levadiças  que 
de  noite  se  levantão  com  cadeas  de  latào, 
e  se  sospendenx  em  humas  colunas  de  fer- 
ro coado  muyto  grossas. »  Fern.ào  Mendes 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  108.  —  «E 
logo  á  entrada  da  tenda  estavào  quatro 
moços  muyto  gentishomens,  e  ricamente 
vestidos,  que  com  seus  encensarios  a  ro- 
deavão  por  fjra  de  dous  em  dous,  os 
quais  ao  som  de  certas  pancadas  que  se 
davào  em  hum  sino  se  prostravào  por 
terra,  e  se  encensavào  huns  aos  outros, 
dizendo  em  voz  alta,  como  quem  canta 
entoado,  Hixapu  alitau  xucabim  tamy 
tamy  ora  pani  magno,  que  quer  dizer, 
chegue  a  ty  nosso  brado  assi  como  chey- 


ro  suave,  porque  nos  ouças.»  Idem,  Ibi- 
dem, cap.  122.  —  «Passado  este  dia  com 
grade  alvoroço  de  todos  para  se  ver  esta 
entrega ;  logo  ao  outro  pela  menham  o 
dopo  dei  Rey,  que  era  a  sua  estancia, 
apareceo  com  oitenta  e  seys  tendas  de 
campo  muyto  ricas,  cada  huma  das  quais 
rodeavão  trinta  elifantes  postos  em  ala  de 
duas  fileyras  a  modo  de  guerra  com  seus 
castellos  embàdeyrados,  e  panouras  nas 
trombas.»  Ibidem,  cap.  149.  —  «Passado 
esto  termo  dos  sinco  dias,  o  Chaem  cõ  os 
Anchacis  do  governo,  e  cõ  toda  a  gente 
do  povo  (digo  homens  somente,  porque  as 
mulheres  tem  elles  para  si  que  não  saõ 
capazes  de  Deos  as  ouvir  pela  desobe- 
diência do  primeyro  peccado,  que  Eva 
cõmetteu)  rodeando  com  huma  espàtosa 
procissão  as  principaes  ruas  de  toda  a  Ci- 
dade, com  clamores  que  rompiaõ  o  Ceo, 
diziaõ  os  seus  sacerdotes,  que  seriaõ  mais 
de  sinco  mil.»  Ibidem,  cap.  222. 

—  Andar  cm  roda. 

—  Rodear  a   ilha  por  fora ;  navegar. 

—  Cercar  em  roda,  banhar. 

—  Rodear  para  aprisionar,  agarrar,  to- 
mar, 

— •  Estar  posto  á  roda. 

—  Fazer  passar  por  uma  serie  de 
acontecimentos  alternados. 

—  Cingir,  cercar.  —  Rodear  uma  quin- 
ta de  muros. 

—  Passear  á  roda,  andar  cm  redor. 

—  Gyrar.  —  A  terra  rodeia  o  sol. 

—  Rodear  razões ;  usar  de  rodeios  para 
dizer  as  cousas. 

—  Rodear  a  casa;  olhal-a  toda. 

—  Rodear  caminhos;  ir  não  directa- 
mente, mas  seguir  rodeios  e  voltas. 

—  Rodear  com  a  vista;  olhar  em  roda 
os  objectos  circumstantes. 

—  Rodear  um  logar  com  os  olhos ;  olhar 
por  todos  03  lados,  ou  em  roda. 

—  V.  n.  Andar  em  roda. 

—  Figuradamente :  Gyrar.  —  Rodear 
o  anno. 

—  Emprega-se  também  substantiva- 
mente :  O  rodear  dos  annos. 

—  Rodear-se,  i".  rejl.  Cercar-se.  —  «E 
como  a  manhàa  foy  clara,  juntos  em  con- 
selho todos  os  que  para  isso  foraõ  chama- 
dos, assentaram  que  visto  como  himia 
cousa  tào  grandiosa  como  aquella,  e  que 
de  si  mostrava  hum  apparato,  e  mages- 
tade  tamanha,  não  parecia  possivel  que 
estivesse  sem  alguma  gente  que  a  guar- 
dasse ;  lhes  parecia  bom  conselho  que  com 
todo  o  silencio  possÍA'el  se  rodeasse  pri- 
meyro toda  por  fora  para  se  ver  as  en- 
tradas que  tinha.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  74. 

-{-  RODEIAR,  V.  a.  e  n.  Vid.  Rodear. 
—  nSe  vos  parece — tornou  Ranimiro — • 
rodeiaremos  a  Ilha  Verde,  entraremos  no 
canal,  e  saltareis  na  margem.  Pelo  tem- 
]io  que  vai,  ella  estará  agora  esmaltada 
de  verdura  e  boninas.»  A.  HercuIar:o, 
Eurico,  cap.  G. 


322 


RODE 


RODI 


ROED 


Kl),  Fernando,  a  inonma  calma, 
mal  «Rnto  o  iiu(i  ou  rodr.io ; 
Jfirtii !  c.imanlio  (inloio 
vCr  (!»tar  arílcmlo  iiina  alma 
antro  rccoio  o  rcooio  ! 

ANTÓNIO  rRESTE»,  AUTOS,  pag.  297. 

f  RODEIO,  s.  m.  Viil.  Rodêo. 

Ja  lio  MoiiJogo  HA  águas  apparcccm 
A  mouH  ollioá,  não  moa»,  nntoí  allieioi, 
Qno  do  outras  dilVcrcntes  vindo  cheios, 
Na  «ua  branda  vista  inda  mais  crccc.m. 
Parnoi-  quo  também  for<;adiis  ducnm, 
Segundo  se  dotem  cm  seus  rodeion. 
Triste!  por  quantos  modos,  quantos  meios, 
As  minhas  saudades  me  entristecem  ! 

CAM.,  SONETOS,  n."  111. 

Guardc-nos  Doos,  o  por  tanto 
do  comprir  o  manilamento 
—  não  cubicarás  o  alheio  -  - 
me  arma  agora  um  rodeio 
do  ripar-me  o  mantimento 
que  l>cos  me  deu,  se  lhe  aprougiie. 
ANTÓNIO  PKEsrEs,  Auros,  pag.  143. 

Amor  ferir  de  rodeio 
por  amor  se  lhe  supporta  ; 
mas  que  cu  rodeasse  a  porta 
d'onde  me  sou  golpe  veio, 
é  matar  moura  já  morta. 
iniDEji,  pag.  173. 


RODEIRA,  s.  /.  A  religiosa,  que  assiste 
á  roda  nos  conventos,  e  responde  a  quem 
a  chama. 

—  Caminho  por  onde  v.ão  carros. 

RODEIRO,  A,  adj.  —  Mac.o,  malho  rodei- 
ro; maço  grande  usado  pelos  segeiros  e 
carpinteiros  de  carro  para  ajustarem  as 
rodas,  a  cunhar  as  cabeças  dos  eixos, 
etc,  em  obras  que  se  chegam,  e  calcam 
a  golpes  pesados. 

—  /6í.  m.  phir.  Rodas  nos  eixos,  sem 
leito. 

RODELHAS,  s.  f.  lylur.  Termo  de  ma- 
rinha. Anneis  de  cabo  que  cingem  as 
vergas  para  não  correrem  os  envergues. 

RODELLA,  s.  /.  Diminutivo  de  Roda. 
Escudo  redondo,  broquel.  —  «Andaõ  nús 
da  cinta  pêra  riba,  e  pêra  baixo  andão 
cachados  com  pannos  de  soda,  e  algodão, 
trazem  sempre  espadas,  c  rodellas,  ar- 
ques, frechas,  e  lanças,  o  também  espin- 
gardas que  ja  has  vsauau  neste  tempo, 
ainda  que  poucas,  mas  agora  tom  muitas, 
e  muito  boas,  feitas  na  mesma  terra.» 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  1,  cap.  42.  —  «Do  maneira,  que 
em  hum  Navio  os  mais  levaõ  espadas,  e 
rodellas,  o  vaij  poucos  tiros  de  fogo,  o 
nenhuns  mosquetes.»  Manoel  Sovcrim  de 
Faria,  Noticias  de  Portugal,  Dise.  2,  §  2. 

—  Uma  vasilha. 

—  Rodella  de  matto;  mouta. 

—  Osso  circular  e  movediço  existente 
na  parte  anterior  do  joelho. 

RODELLEIRO,  A,  <("//.  Armado  de  ro- 
della. 

—  Carrapato  rodelleiro  ;  carrapato  cha- 
to, redondo. 


—  Substantivamente:    Um   rodelleiro. 
RODELLINHA,  «.  /.  Diminutivo  de  Ro- 
della. K^della  jiiMjiiona. 

RODELO,  «.  >n.  Tomba  na  bota,  ou  no 
sap.-itc 

RODENDO,  s.  m.  Tornio  do  historia  na- 
tural. Peixe  de  uma  8(')  espinha,  á  seme- 
lhança do  enxarroeo:  existe  na  Africa, 
na  Cafr.aria,  c  no  rio  de  Zaiiabezc. 

RODÊO,  ou  RODEIO,  s.  m.  Volta  no  ca- 
Miiidio,  rctirandii-.se  da  estrada  mais  bre- 
ve. —  «Não  querem  estrada  coimbrãa,  e 
camiidio  direyto,  buscão  rodeos,  (;  ata- 
lhos, em  quo  se  perdem,  confundindo,  o 
que  querem  ;lÍ7,cr.»  Francisco  Rodrigues 
Lobo,  Corte  na  aldêa,  pag.  ú3. 

—  Rodeio  de  palavras;  nome  dado  pe- 
los rhetoricos  á  periphrase,  circumlocu- 
ção. 

—  Volta,  g)T0  em  roda  de  alguma 
cousa. 

—  Rodeios  do  rio ;  que  retalha  o  cam- 
po, fazendo  voltas,  serpeando. 

—  Rodeio  do  montante;  que  se  manda 
em  roda. 

—  Fazer  as  cousas  buscando  rodeios ; 
fazel-as  não  directamente,  mas  por  enco- 
bertas, e  terceiras  pessoas. 

—  Andar  de  rodeio,  pôr-se  de  rodeio 
710  ar;  na  volateria,  subir  a  ave,  fazen- 
do voltas  ou  gyros  em  firma  de  espiral. 

—  Rodeio  no  obrar ;  quando  se  não  faz 
directamente,  o  logo,  o  que  se  devia  fa- 
zer. 

—  Levar  a  vista  em  rodeio  ;  olhar  em 
roda,  ou  com  disfarce. 

RODETA,  s.  f.  Diminutivo  de  Roda. 
Roíla  pequena. 

RODETE,  s.  m.  Vid.  Rodizio. 

RODICIO,  s.  »!.  Roseta  collocada  no 
remate  das  disciplinas, 

RODILHA,  s.  /.  Circulo  ou  rosca  de 
pannos,  que  os  carregadores  coUoeam  á 
cabeça,  e  n'ella  assentam  a  carga  para 
os  nào  magoar. 

—  Bolo  de  rodilha;  com  repolegos,  e 
enfeites. 

—  Rodella  do  joelho. 

—  Farrapo  da  cozinha. 

—  Ad.\(uo  e  pkoveubio: 

—  Furtar   gallinha,   apregoar  rodilha. 
RODILHADO,  .«.  m.    Termo   antiquado. 

Panno  atado  em  roda  da  cabeça  para 
dormir,  e  suster  o  cabello.  —  Este  ho- 
mem para  melhor  dormir,  serviu-se  de  um 
rodilhado. 

RODILHÃO,  *'.  m.  Augmentativo  de 
Rodilha.  Rodilha  grande. 

—  Roda  pequena  usada  nos  carrinhos 
pequenos  de  mão,  nas  zorras,  etc. 

—  Uma  peça  da  atafona. 
RODINHA,  í.  /.   Diminutivo  de  Roda. 

Roda  pequena. 

RODIO,  ou  RHODIO,  s.  m.  Termo  de 
metal  1  urgia.  Metal  descoberto  em  a  pla- 
tina do  eonnnereio :  é  branco,  infusivel, 
quebradiço,  nào  dúctil,  c  difficilmente 
oxvdavel. 


RODÍZIO,  f.  m.  Pau  groMO  cónico,  ou 
em  ftrma  de  fuso,  cuja  base  assenta  no 
clião;  n'ella  tem  umas  travessa»  chama- 
das pcnnas,  onde  dá  a  agua,  e  faz  andar 
o  rodizio,  e  este  faz  gyrar  a  roda  do 
moiniio. 

—  C<;rto  jogo. 

RODO,  t,  ni.  Espécie  do  enxada,  ten- 
do cabo,  c  uma  taboa  em  vez  do  forro, 
que  serve  para  ajuntar  o  trigo  na  eira 
ou  celleiro. 

—  IjOV.  ai>v.:  a  rodo;  cm  grande 
abund.-incia  <;  pelo  cliào. 

RODOFOLLE,  <m  RODEFOLLE,  «.  w.  Re- 
de em  f  Jrma  «le  funil,  tendo  a  bocca  aber- 
ta por  meio  de  um  arco  em  que  se  cose, 
que  serve  de  apanhar  o  peixe  que  anda 
8obre-agua<lo  com  a  coca,  bem  como  de 
apanhar  o  pulgão,  sacudindo  no  rodofolle 
a  videira.  No  Brazil  ciiama-se  jarere  ou 
poça,  porém  este  propriamente  é  maior 
que  aqiielle. 

RODOMA,  .«.  /.  Vid.  Redoma. 

RODOMOINHO,  s.  m.  Vid.  Redemoinho. 

RODOPELLO,  í.  m.  —  Ao  rodopello  ; 
ao  redor,  cm  roda. 

RODOPIADO,  A,  adj.  Quo  g^ra  em  cor- 
roi)io,  cm   roda   viva.  —  Rodopiado  /imo. 

RODOPIO,  s.  m.  Redemoinho  de  cabel- 
lo nas  bestas. 

—  Trazer  alguém  ao  rodopio ;  fazel-o 
andar  em  roda  viva,  em  trabalho  e  pres- 
sa, sem  descanço. 

—  Roda  viva. 

—  Vertigem. 
RODOR.   Vid.  Redor,   termo  mais  usa- 
do. 

RODOVALHO,  *.  m.  Termo  de  zoologia. 
Peixe  marítimo,  de  natureza  chato,  ten- 
do as  costas  pardas,  bocca  rasgada,  e 
desdentada. 

—  Ha  uma  espécie  do  rodovalho,  co- 
nhecida pelo  nome  de  pregado,  que  tem 
espinhas  nas  escamas. 

ROEDEIRO,  s.  m.  Termo  de  volateria. 
Peça  com  que  o  caçador  levanta  o  fal- 
cão, quando  está  comendo  a  vianda  que 
lhe  deram. 

ROEDOR,  A,  adj.  o  s.  Que  roe.  —  5»- 
ch'>  roedor  d<i  consciência. 

—  Figuiadamente:  Cuidados  roedo- 
res. 

Que  sccna  encantadora  aos  olho?  nasce ! 
Vc  par  em  par  as  portasse  franqnoào 
Do  Templo  dalogria.  o  bando  espesso 
De  mil  cuidados  roedore»  foge. 

J.   A.  DE  MACEDO,  A  NATVBIIA,  Caut.  1. 

—  Figuradamente:  Que  censura,  que 
diz  mal. 

—  »!>.  «1.  ;'/iir.  Termo  de  zoologia.  Fa- 
milia  de  mammiferos,  comprehendcndo 
um  grande  numero  de  géneros,  caractc- 
risados  geralmente  por  dous  grandes  den- 
tes incisivos  cm  cada  maxilla,  seguidos  de 
um  considerável  vazio  até  os  moilares.  que 
tem  nmas  vezes  cheios  de  tubérculos,  ou- 


ROGA 


ROGA 


ROGA 


323 


trás  vezes  com  as  coroas  cliatas,  havendo 
stj  um  pequeno  numero,  que  os  tem  com 
pontas.  Sào  assim  denominados,  porque 
comom  roendo  o  alimento  com  os  dentes 
incisivos.  Pertençam  a  esta  familia  as  le- 
bres, 03  esquilos,  os  castores,  etc. 

ROEDURA,  s.  /.  (De  roer,  com  o  suffi- 
xo  «dura»).  Acto  de  roer. 

—  Ferida  produzida  pelo  roçado  força- 
do de  algum  corpo  áspero  pela  carne. 

ROEL,  s.  m.  Termo  de  braz.ào.  Vid. 
Arruella. 

ROER,  r.  a.  (Do  latim  rodere).  Cortar 
a  miúdo  com  os  dentes.  —  O  cão  roeu  o 
osso. 

Que  roas. 

Pois  não  digo  cu  matal-a, 
mas  sobre  morta  chuchal-a  ; 
c  não  fora  mau,  scoliora, 
que  mo  csmecháreis  agora 
com  um  argola. 

AJÍTOXIO  PBE3TES,  AUTOS,    pSg-    159. 

—  «Falta  o  roer  as  unhas,  grande  fon- 
te de  consoantes,  fértil  campo  de  alegres 
despropósitos ;  mas  o  author  nào  faz  co- 
plas por  officio,  e  só  de  curiosidade,  como 
o  conde  Lucano,  que  disse,  perguntado : 
Jlazeis  coplas.»  B'spo  do  Grão  Pará,  Me- 
morias, publicadas  por  Camillo  Castello 
Branco,  pag.  õõ.  —  «A  amarra  em  bre- 
uc  tempo  se  roeu,  e  cortou,  porque  o 
masto  grande  que  ficou  ao  longo  delia,  a 
desfez  em  mil  pedaços.  Após  esta  lança- 
mos outra  sobre  que  estiuemos  atè  pela 
menhaà;  gastando  a  noite  em  baptizar 
escrauos,  que  inda  não  erào  Christ<ão3,  e 
em  confessar  os  Sacerdotes  toda  a  gente 
da  nào,  segundo  que  cada  hum  milhor 
podia.»  Fr.  Gaspar  de  S.  Bernardino, 
Itinerário  da  índia,  cap.  1. 

—  Figuradamente  :  Murmurar,  maldi- 
zer. 

—  Gastar,  consumir. —  O  tempo  tudo 
róe. 

—  Figuradamente  :  AíBigir,  inquietar, 
molestar,  picar,  pungir.  —  Este  crime  róe 
a  consciência,  como  testemunha  Jiel  das 
acções  do  homem. 

■ — Figuradamente:  Roer  cadeados ;  sof- 
frer-se  com  a  sua  raiva. 

—  Adágios  e  peovekbios  : 

—  Osso  que  acabes  de  comer,  nào  o  tor- 
nes a  roer. 

—  Dizer  bem  por  diante,  e  roer  por 
detraz. 

ROFA,  s.  /.  No  jogo  dos  presos  a  rofa 
é  a  menor  sorte  com  encontro. 

1.)  ROFO,  s.  ?/i.  Prega,  ou  aspereza  da 
superfície;  crespidão,  arruga,  franzido  na 
pelle. 

2.)  ROFO,  A,  adj.  Que  tem  a  superfí- 
cie áspera,  sem  polido.  —  Prata  rofa. 

ROGAÇÕES,  s.  f.  plur.  (Do  latim  ro- 
gatio,  de  rogare).  Termo  de  liturgia  catho- 
lica.  Preces  publicas  e  procissões  pelos 
bens  da  terra,  durante  os  três  dias  que 
precedem  a  Ascensão. 


—  Termo  de  antiguidade  romana. 
Projecto  de  lei  apresentado  ao  povo. — 
A  famosa  rogação  de  Manilio,  que  con- 
cedia a  Pompeu  poderes  mui  amplos,  foi 
sustentada  por  Cicero  no  discurso  pela 
lei  manilia. 

ROGADO,  part.  pass.  de  Rogar.  Pedido 
por  graça,  favor. 

ROGADOR  A,  s.  (Do  latim  rogator). 
Pessoa  que  roga,  que  pede. —  Maria  Vir- 
gem, rogadora  nossa. 

—  Pessoa  que  serve  de  empenho  para 
obter  alguma  graça. 

—  Rogador  de  males  a  outrem;  im- 
precadur. 

—  Advogado,  medianeiro,  intercessor. 

—  Maria  SS.,  rogadora    dos  peccadores. 
■ —  No  século  XIV  e  xv  tomavam-se  em 

ambos  03  géneros,  masculino  e  feminino, 
muitos  nomes  derivados  de  verbos,  como  : 
servidor,  procurador,  governador,  rogador, 
etc. — Entregamos  nossas  almas  a  Deus 
e  a  Santa  Maria  rogador  dos  peccadores. 

ROGAL,  adj.  2  <jen.  (Do  latim  rogalis). 
De  fogueira,  ou  pyra  de  queimar  os  mor- 
tos, ou  pertencente  a  ella. 

ROGAR,  i'.  a.  (Do  latim  rogare).  Pedir 
por  graça  e  mercê  alguma  cousa. — «  Al- 
bayzar  lhe  atalhou  aquellas  palavras, 
porque  nào  era  n'elle  softrer  nenhumas 
em  seu  louvor  e  rogou-lhe  quizesse  dizer 
porque  via  Astribor  alli  viera  t3r  e  a  re- 
zão  porque  a  prendera.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  de  Inglaterra,  cap.  96. 

—  «  Polinarda  lhe  fez  muita  hom"a  e  ga- 
salhado,  dando-lhe  jóias  e  peças  de  sua 
pessoa  de  grani  preço :  rogando-lhe  que 
de  sua  parte  oftereeesse  sua  amizade  a 
Lionarda,  e  lhe  pedia  que  por  fazer  mer- 
cê a  ella,  fízesse  a  vinda  mais  breve.  » 
Ibidem,  cap.  104.  —  «  Amigo  Selvião, 
bem  vês  a  fortuna  a  que  minha  vida  vai 
offerecida,  e  quanto  á  minha  honra  con- 
vém esta  viagem,  pois  esse  cavallo  não 
está  pêra  me  puder  aturar,  rogo-te  que 
chegues  ao  primeiro  porto  do  mar  que 
achares,  e  tomando  um  navio  te  embarca 
para  a  Ilha  Profunda,  que  foi  do  gigante 
Bravorante,  pai  de  Calfurnio,  que  ahi 
acharás  novas  de  mim  se  o  tempo  nào 
me  estorva  a  jornada.  » Ibidem,  cap.  115. 
— «  E  já  que  de  mim  tendes  entendida 
esta  vontade,  vos  rogo  muyto,  que  con- 
formeis a  vossa  com  ella  e  que  queira  hum 
de  vós  ambos  yr  a  Bungo  ver  este  Rey 
que  cu  tenho  por  pay  e  senhor,  porque 
estoutro  a  que  dey  nome  e  ser  de  paren- 
te não  o  ey  de  apartar  de  mim  até  que 
de  todo  me  não  insine  a  tirar  como  elJe.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações, 
cap.  135. — «  E  depois  de  mandar  publi- 
car a  carta  que  el  Rey  lhe  mandara,  nos 
disse,  rogovos  muyto  por  amor  de  mym 
que  já  que  Deos  vos  fez  tamanha  mercê, 
lha  saibais  agradecer,  com  lhe  dardes 
inuytas  graças  e  louvores  por  ella,  por- 
que se  vos  achar  agradecidos,  communi- 
carvosha  de  lá  de  cima  donde  tudo  proce- 


de.» Idem,  Ibidem,  cap.  142.  —  «  R.  Eu 
roguei  a  Diogo  de  Mello,  que  emprestas- 
se dinheiro  a  ElRey,  porque  sempre  tra- 
balhei por  V.  A.  ser  pago  de  suas  divi- 
das;  e  se  o  elle  ha  por  mal,  perdoe-me.»  . 
Diogo  de  Couto,  Década  4,  liv.  6,  cap.  8. 
—  «Deuia  de  não  exprimentar  esta  verda- 
de, como  cu  algumas  vezes  fiz  rogando 
ao  Nayre  o  fízesse  deitar,  e  erguer  como 
fez.  Entendem  a  lingoa  que  se  usa  na 
Pátria,  e  qualquer  outra  que  lhe  ensi- 
nem.» Fr.  Gaspar  de  S.  Bernardino,  Itine- 
rário da  índia,  cap.  15. 


E  tão  grave  temor  a  frecha  imiga 
Da  chusma  pôz  então  no  fraco  peito. 
Que  nenhum  Capitão  sabe  que  diga 
Que  por  falta  de  remo  perde  o  feito : 
Hum  roga,  outro  ameaça,  outro  castiga. 
Mas  toda  a  diligencia  he  sem  proveito, 
Que  a  chusma  teme  mais  do  moço  o  braço 
Que  o  castigo  dos  seus,  ou  ameaço. 

F.    DE    ANDRADE,  PRIMEIRO    CEBCO     DH    DIU,    Caut. 

7,  est.  3G. 

E  vendo  emfim  que  em  vão  tem  consumido 
Rogo,  mando,  brandura,  ou  aspereza. 
Por  salvar  um    navio  já  perdido 
Por  medo  de  sua  gente,  e  por  fraqueza, 
Parte  d'um  furor  grande    combatido. 
Parte  d'huma  profunda,  alta  tristeza, 
Deixa  o  que  si5  não  pode  hum  forte  peito 
Salvar,  o  lá  á  Cidade  vai  direito. 

IDEM,   IBIDEM,  Caut.    11,   CSt.    21. 


—  «Deixal-o,  deixai-o  estar  em  minha 
desgraça,  que  primeiro  que  o  castigasse 
com  ella,  lhe  roguei  muito  que  me  tomasse 
por  amigo  entre  os  mais  por  quem  me 
deixou,  e  nunca  quiz  senão  deixar-me  por 
seus  amigos.»  D.  Francisco  Manoel  de 
Mello,  Carta  de  guia  de  casados. 

—  Fazer-se  de  rogar ;  fazer-sc  difficil 
em  conceder-lhe  o  que  se  pede,  para  lh'o 
rogarem   muito. 

—  Rogar  pragas  ;  fazer  imprecações 
contra  alguém. 

—  Pedir  a  Deus.  —  Rogar  a  Deus  pelo 
seu  rei. — «Ordenou  no  anuo  de  mi),  e 
quinhentos,  e  sete  doze  mercearias,  a 
honrra  dos  doze  Apóstolos,  pagas  na  casa 
da  mina,  para  estes  merceiros  rogarem 
a  Deos  por  elle  sem  nenhuma  outra  obri- 
gação, as  quaes  doze  mercearias,  com  as 
trinta  caualarias  que  tinha  ordenadas  na 
casa  da  índia,  meteo  na  conta  dos  cin- 
coenta  caualleiros  sem  habito  do  modo 
que  fíca  dito.»  Damião  de  Góes,  Chroni- 
ca  de  D.  Manuel,  part.  4,  cap.  86. — «Fo- 
ra estas  dizem  outras  muitas  em  que  pe- 
dem ao  pouo  venha  á  Mesquita  rogar  a 
Deos  pelo  seu  Rey,  e  lhe  queyra  acres- 
centar seu  pouo,  e  nação,  e  extinguir  o 
Christão,  e  nos  dè  a  nòs  perpetua  guer- 
ra, e  a  elles  paz,  e  muytos  bens  n'esta 
vida,  e  a  gloria  na  outra  em  companhia 
de  ]\Iafoma. »  Fr.  Gaspar  de  S.  Bernardi- 
no, Itinerário  da  índia,  cap.  10. 

—  Supplicar  que  se  faça  alguma  cousa. 
— «El-Rey  com  isto  tornou  de  novo  a  to- 


324 


ROGA 


mar  08  parccorcs  dos  ([uo  aly  iicariiõ  com 
ello,  c  llifs  rogou  a  todos  muvto,  que 
vistii  por  limuii  parte  a  contradivào  ilon 
hiiuzKt,  o  por  ijiitra  o  furando  perigo  cm 
<iue  Hoii  lillio  estava,  e  sn  grandes  dores 
que  sentia  ILo  aconsolliassoui  o  que  faria 
nesta  perplexidade  om  que  se  nào  sabia 
dotenninar,  c  elles  todos  lho  disseram 
(pie  iiiuvto  uiillior  era  ser  ourado  logo 
(pie  csjierar  o  tempo  que  os  bouzos  de- 
ziào. » Feriiào  Mendes  Piuto,  Peregrina- 
ções, eap.  i;-57. — «Afonso  Dalbuqnerquc 
Uu;  ])edio  perdani  por  nào  ter  cumprido 
eoni  elle  rogandolhe  que  desistisse  daqucila 
opiaiauí,  porque  nauí  era  serviço  de  Ueos, 
nem  dei  Koy  deixai  lo  ir  a  perder,  e  assi 
o  tinha  assentado  cm  cousellio,  porque  as 
cousas  do  Malaca  eram  de  tanto  peso  que 
80  auia  mister  para  ella  muito  maior  ar- 
mada, e  mais  gente  da  com  que  so  toma- 
ra (!oa,  mas  quj  llie  pedia  (pie  o  acom- 
piuiUassc  a  ir  buscar  os  Rumes.»  Damiào 
de  (!ofs,  Chrouica  de  D.  Manuel,  part.  3, 
cap.  K).  —  «Introduz  este  Toeta  a  Larie- 
no,  o  qual  uueamiuUiido  o  Catão  em  no- 
me de  todo  o  Exercito  lhe  roga  que  pois 
que  o  Ceo  os  condusio  ás  visinhanças  do 
Templo  de  Júpiter  Ammon,  queira  con- 
sultar o  Oráculo  para  saber  (jual  será  o 
successo  das  suas  armas.»  Cavalleiro  de 
Oliveira,  Cartas,  liv.  3,  n."  11. 

—  AnAfíios    E   rmiVERBios: 

A  quem  lias- Jc  rogar,  não  has-de  assa- 
nhar. 

—  Assas  caro  compra,  quem  roga. 

—  Nào  ha  cousa  que  se  rogue,  que 
nào  seja  cara. 

—  ()s  males  não  vem  rogados. 

—  Fazeis  uma  cousa,  e  rogaes  a  Deus 
por  outra. 

—  Quanto  mais  rogam  ao  ruim,  peor  t;. 
— Quem  te  nào  roga,  nào  vae  á  boJa. 

—  Quem  deve,  ou  pague,  ou  rogue. 
— Vào  á  missa  os  sapateiros,  rogam  a 

Deus  (|ue  morram  os  carneiros. 

—  Roga  ao  santo,  até  passar  o  bai-- 
ranco. 

—  Melhor  é  comprar,  que  rogar. 

—  Qu;indo  Deus  não  quer,  santos  nào 
rogam.  — «  Quando  Deus  nào  quer  Santos 
não  rogão.  A  Triucesa  foi  batendo  o  fer- 
ro, e  ou  deyxava  malhar  como  se  fosse 
cm  fan'o  frio. »  Cavalleiro  d'01iveira,  Car- 
tas, liv.  1,  n."  10. 

—  Syn.  :  Rogar,  pedir.  Vid.  este  ulti- 
mo termo. 

ROGATIVA,  s.  /.  Supplica,  pedido, 
prece. 

ROGATIVO,  A,  (J //.  Que  roga. 

ROGATÓRIA,  s.  /.  llogaçào,  supplica, 
podido,  roi^ativa. 

ROGATÓRIO,  A,  adj.  Termo  de  antigui- 
dade romana.  Que  diz  respeito  a  uma  ro 
gai;ão.  —  As  leis  eiitre  os  romanos  eram 
sempre  apresentadas  ao  povo  sob  a  for- 
ma rogatória. 

—  Carta  rogatória;  carta  que  o  clero 
e  o  povo  de  uma  cgrcja  dirigiam  aos  me- 


IIOÍH; 

tropolitanoH,  para  o.s  convidar  a  consagrar 
o  bi.Hpo  (|uc  tinliam  eleito. 

ROCEIRA,  ».  /.  Vi.l.  ílageira. 

ROGINAL,  «.  III.  Termo  antiíjuado.  Ori- 
ginal, u.tcriptura  autograplia,  c  da  primei- 
ra mão,  e  íjue  não  leve  exemplar  algum, 
a  quem  .seguis.se.  Também  se  diz  da  pin- 
tura, itc.  ViiJ.  Original. 

ROGIR,  r.  H.  Vid.  Rugir. 

ROGO,  «.  III.  A  ac(,ão  de  rogar,  de  pe- 
dir alguma  gra(;a,  mercê,  favor. 

—  i'edido,  supplica,  rogativa.  —  «  Se 
diz  (pie  Floriano  trouxe  sua  tilba,  eu  o 
confesso;  mas  foi  por  seu  mandado  e  rogo 
delia.  Em  lim,  cu  hei  por  tenqio  perdido 
dar  desculpas  neste  caso;  baste  (jue  o  ca- 
valleiro do  Salvago  não  entregarei  por 
nenhum  preço,  se  nào  a  quem  o  estimar 
tanto  como  eu.i>  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  de  Inglaterra,  cap.  122. 


O  Rei  O  não  cuidado  estrago  vendo, 
As  mortes,  e  o  temor  do  seus  notando, 
K  tiinto  cm  breve  cspa(;o  entregue  ao  fogo, 
A  soberba  (íon verte  cm  brando  roífo. 

SÁ   DK  UENKZES,   MALACA  CONQ.,  1ÍV.   Ò,    CSt.    ' 


—  «  Emquanto  cl  Rei  viueo  sempre  seu 
desejo,  e  vontade  foi  passar  em  Africa, 
pêra  pessoalmente  fazer  guerra  aos  Mou- 
ros, mas  o  tempo,  o  sucesso  delle  nunca 
lhe  quis  a  isso  dar  azo,  o  que  no  anuo 
M.  D.  iij.  quisera  poer  em  obra,  com  a 
mesma  companhia,  com  que  o  dantes  ti- 
nha ordenado,  quando  per  rogo  do  Fapa 
mandou  socorro  aos  Veuezeanos  contra  o 
Turco,  quomo  atras  tiiiua  dito.»  Damião 
de  Coes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1, 
cap.  tiã.  —  «  E  porque  temeo  (juc  o  rogo 
auia  de  obrar  nelle  mui  pouco,  mandou 
logo  nas  costas  do  recado  três  capitães  em 
seus  batéis  que  dessem  em  algum  lugar  sem 
lhe  fazer  damno  por  serem  terras  d'elKey 
de  Cambava.»  João  de  Barros,  Década 
2,  liv.  3,  cap.  Ò.  —  «  E  pêra  ser  certo  de 
lha  darem,  e  haver  resposta,  mandou-a 
per  hum  Moiu-o  mercador,  que  já  em  ou- 
tro tempo  fora  seu  cativo,  c  a  rogo  de 
Meli([ue  Az  Senhor  de  Dio  lhe  dera  li- 
berdade juntamente  com  outros  que  fo- 
ram tomados  em  huma  não.»  Ibidem, 
liv.  8,  cap.  3.  —  «Seu  irmão  Ismael  foy 
obedecido,  e  jiu-ado  por  Rey :  mas  tanto 
que  se  vio  no  goueruo,  ou  fosse  a  instan- 
cia, o  rogo  do  Turco,  (,ou  por  sua  má  in- 
clinação; ellc  mandou  se  guardasse  a  se- 
cta,  no  modo  que  os  Turcos  faziãu,  sem 
respeitar  a  deliração  do  auô,  nem  de  Ale.» 
Fr.  Oaspar  de  S.  Bernardino,  Itinerário 
da  índia,  cap.  21. 

—  Cartas  de  rogo;  pedido,  recoinmeu- 
dação.  —  «  E  posto  que  algumas  vezes 
vejam  Nossas  Cartas  de  rogo  pêra  pocrem 
prestemo  a  algum  de  Noss;i  Corte,  ou 
qualquer  outro.  Mandamos  que  se  nom 
embarguem  delias,  nem  ponhaui  os  ditos 
prestemos,  so  o  nom  sentirem  por  sua 
prol ;  porque  muitas  vezes  damos  algumas 


RruM 

Cartas  de  rogo  ]>or  seus  grandes  affica- 
meiítoH,  de  que  Nos  com  junta  razom  noin 
polónios  escui<ar. >  Ordenações  Affonsinas, 
liv.  4,  tit.  Ii4,  §  2. 

—  Dava-pc  tamisem  este  nfnne,  no  f<jral 
diis  tSalzcl.ix,  á  geira  ou  gcira^  que  os 
moradores  do  couto  s.lo  (abrigados  s  dar 
ao  mosteiro.  Ainda  depíHS  ho  dÍH«e:  <ai»- 
tos  ou  ijuatitoê  rogos  por  ijtira.  —  •  E  para 
cstaH  duas  geiras,  a  que  cliamain  rogo, 
recebem  moços  e  moças,  ainda  que  t>ejum 
pe(|ueno8,  comti  ftrem  para  vindimar,  'hi 
apaniiar  azeite,  ou  castanha.»  Em  Viter- 
bo, Elucid. 

—  AuA(;ios  K  puovKKbios: 

—  A  coiLsa  mal  feita,  rogo  ou  peita. 

—  Rogo  e  direito  fazem  o  feito. 

—  Rogo  de  grande,  mandamento  i. 

—  Rogos  de  rei,  mandados  .são. 

1.)  roído,  part.  pass.  de  Roer.  Coru- 
do  miudamente  com  os  dentty». 

—  Gasto,  consumido. —  O  feiío  roido 
pela  ferrugem. 

—  Figuradamente:  Inquietado,  moles- 
tado, pungido.  —  Consciência  roida  pelo 
crime. 

—  Murnuirado,  maldito. 
2.)  roído,  «.  m.  Vid.  Ruido. 
ROIM,  <idj.  2  geií.  Vid.  Ruim.  —  t  .Sete 

meses  auia  que  Emina  mãy  do  Mafoma 
andaua  delle  pejada,  quando  lhe  faleceo 
o  pay;  que  cuydo  atè  elle  se  correo  ver 
Com  seus  olhos  nesta  vida,  hum  tão  roim 
tilho.  Dali  a  dous  sahio  ao  mundo  este 
monstro  infernal :  a  cuja  nascença  se  achou 
presente  hum  tio  seu,  irmão  da  mSy  por 
nome  Baheyra  grandíssimo  Magico,  e  As- 
trólogo.» Fr.  Gaspar  de  S.  Bernardino, 
Itinerário  da  índia,  cap.  20. 

—  Adágios  e  pkoveubios: 

—  O  roim  cuida  que  é  industria  a  mal- 
dade. 

—  Roim  seja  por  quem  ficar. 

—  Todos  ao  roim,  e  o  roim  a  todos. 

—  Ao  roim,  roim  c  meio. 

—  De  roim  gosto  nunca  bom  feito. 

—  De  roim  nunca  bom  bocailo. 

—  Não  ha  tão  roim  tena,  que  não  te- 
nha alguma  virtude. 

—  De  roim  panno  nunca  bom  saio. 

—  Quem  não  se  louva,  de  roim  se 
afoga. 

—  Fallaes  no  roim,  logo  apparece. 

—  Um  roim  com  outro  se  quer. 

—  Um  roim  conhece  outro  roim. 

—  Quem  quizer  conhecer  o  roim,  dt-- 
Ihe  officio. 

—  De  roim  a  roim  pouca  é  a  melhoria. 

—  De  roim  a  roim,  queui  accommette, 
vence. 

—  Dadiva  de  roim  a  seu  dono  parece. 

—  Jlette  o  roim  em  teu  palheiro,  que- 
rerá ser  teu  herdeiro. 

—  Gout«  roim  não  ha  mister  chocalho. 

—  A  dous  roins,  e  dous  tições,  nunca 
bem  lhe  compões. 

—  Ao  roim,  quanto  mais  o  rogam,  tan- 
to mais  se  estende. 


ROJO 


ROLA 


ROLD 


—  Quem  roim  c  em  sua  terra,  roim  ê 
fora  tUelia. 

—  Um  roim  se  nos  vai  da  porta,  outro 
vem,  que  nos  consola. 

—  (_)   mais  roim  do  logar  porlia  mais 
no  fallar. 

—  Nem  roim  letrado,  nem  roim  fidal- 
go, nem  roim  galgo. 

—  O  roim  me  compre  o  amigo,  que  o 
bom  bago  é  vendido. 

—  Por  cobiea  de  ilorim  não  te  cases 
com  roim. 

—  Nunca  roim  por  compadre. 

• — ■  Em  roim  gado,  nào  ha  que  escolher. 

—  Roim  senhor,  cria  roim  servidor. 

—  A  roim  ovelha  do  fato  suja  a  terra. 

—  O  roim  se  assenta  na  mesa,  talhada 
que  toma,  a  todos  pesa. 

—  A  cada  roim,  seu  dia  mau. 

—  Melhor  é  dar  a  ruins,  que  pedir  a 
bons. 

—  De  roim  moça  um  bolo  basta. 

—  Quem  dá,  bem  vende,  se  nào  é  roim 
o  que  recebe. 

—  Por  abril  dorme  o  moco  roim,  e  por 
maio  o  moço  e  o  amo. 

—  Do  bom  tudo,  e  do  roim  nada. 

—  De  roim  ninho  sahe  bom  passarinho. 

—  Em  roim  villa  briga  cada  dia. 

—  Quem  muito  falia,  e  pouco  entende, 
por  roim  se  vende. 

• — Roim  é  a  festa,  que  nào  tem  oitavas, 
ROIO,  s.  í/2.  Vid.  Arroio. 
ROISINHOR,  *.  m.  Vid.  Rouxinol. 
ROIXEAR,  V.  a.  Vid.  Rouxear. 
ROIXO,  A,  adj.  Vid.  Rouxo,  e  Roxo. 
ROIXINOL,  s.  m.  Vid.  Rouxinol. 
ROJADA,  s.  f.  Vid.  Rajada. 
ROJADO,    A,    adj.    Termo    antiquado. 
Torrado,  assado. 

—  Pavt.  pass.  de  Rojar.  Arrastado 
pelo  chão,  trazido  de  rastos. 

RGJADOR,  A,  adj.  (De  rojar,  e  o  sufi- 
xo dor;.  Que  se  arrasta,  que  se  roja  á  si- 
milhança  dos  reptis,  caracoes,  serpentes, 
etc. 

ROJALGAR,  s.  m.  Vid.  Rosalgar. 

ROJÃO,  s.  m.  Acção  de  arrojar,  de  ar- 
rastar pelo  chão. 

—  Loc. :  A  rojões.  —  Levar  a  rojões ; 
tirar,  levar  arrastando.  Vid.  Arrojão. 

—  Termo  popular.  Toque  rasgado  na 
viola. 

• —  Garrochào. 

—  Plur.  Torresmos. 

ROJAR,  V.  a.  Arrastar  alguma  cousa 
roçando  por  outra.  —  Rojar  uma  cadeira, 
mesa,  etc. 

—  V.  n.  Arrastar  pelo  chào.  — ■  A  ser- 
pente roja.  —  O  vestido  roja. 

—  Figuradamente:  Rastejar,  andar 
arrastado,  abatido. 

ROJEIRA,  s.  f.  Vid.  Rageira. 
RO  JEITO.  Vid.  Rejeito. 
ROJO,  s.  J7i.  A  acção  de  arrastar-se  al- 
guma cousa  roçando  sobre  outra. 

—  Loc. :  Ir,  ou  trazer  a,  ou  de  rojo  ; 
ir,  ou  trazer  de  rastos,  arrastando. 


—  O  som  produzido  pelo  corpo  que  se 
arrasta. 

—  Pau,  ou  madeira  de  rojo;  pau,  ou 
madeira  extrahida  das  mattas  arrastando 
por  sua  grandeza  e  longor,  nào  podendo 
vir  em  carga  de  carro,  ou  boi.  Outros  di- 
zem jorro,  e  de  jorro  zorra  de  arrastar 
madeira. 

ROL,  s.  m.  (Do  francez  role).  Aponta- 
mento de  nomes,  de  pessoas,  de  cousas, 
de  artigos,  sommas,  etc.  —  O  rol  da  rou- 
pa que  se   dá  semanalmente  á  lavadeira. 

—  (J  rol  do  numero  das  pijssoas  da  fami- 
lia.  —  O  rol  dos  culpados  na  devassa. 

—  Termo  de  volateria.  Peça  de  couro, 
em  que  se  atam  azas  de  aves,  e  corpau- 
ços  de  galliuhas,  com  que  o  caçador  cha- 
ma o  faleào  que  anda  voando. 

—  Roes  de  pejados.  Vid.  Pejado. 
ROLA,    s.  /.    Certa  espécie  de  pomba. 

—  «O  Zeimoto  vendoos  tão  pasmados,  e 
o  Nautoquim  tão  contente,  fez  perante 
elles  três  tiros  em  que  matou  hum  milha- 
no  e  duas  rolas,  e  por  não  gastar  pala- 
vras no  encarecimento  d'este  negocio.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações, 
cap.  134.  —  «Ora  em  ver  as  suas  festas, 
as  suas  casas  de  oraçaõ,  os  seus  exerei- 
cios  de  guerra,  os  seus  navios  darmada, 
e  as  suas  pescarias  e  caças  a  que  saij 
muyto  aífeiçoados,  principalmente  ás  de 
alienaria  com  falcoeiís  e  açores  ao  nusso 
modo,  e  algumas  vezes  passava  também 
o  tempo  com  a  minha  espingarda,  matan- 
do muytas  rolas,  e  pombos,  e  codornizes, 
de  que  a  terra  era  bem  abastada.»  Ibi- 
dem, cap.  loU. 

—  Um  viveiro  de  rolas ;  casa  onde  el- 
las  se  criam.  —  «Para  que  rasga  Ollan- 
da,  onde  basta  linho?  Para  que  come  ga- 
linhas, e  perdizes,  e  tem  viveiro  de  rolas, 
se  pode  passar  com  vaca,  e  carneiro  ? 
Para  que  dispende  em  doces,  e  conser- 
vas, o  que  bastava  para  cazar  muitas  or- 
fansV»  Arte  de  furtar,  cap.  43, 

—  Adagio  e  pkoverbio  : 

—  Bem  sabe  a  rola,  em  que  mào 
pousa. 

ROLAÇÃO,  s.  /.  Termo  usado  nas  Orde- 
nações Affousiuas   em  vez  de  Relação. 

ROLAÇOM,  s.  m.  Termo  antiquado.  O 
mesmo  que  auto  de  vereação  nas  cama- 
rás, ou  audiência  dos  juizes  para  despa- 
charem as  causas  em  conselho. 

ROLADO,  imrt.  pass,  de  Rolar.  Mo- 
vido. 

— -  Figuradamente  :  Navio  rolado  pelas 
ondas  e  ventos  impetuosos. 

ROLÃO,  s.  m.  Parte  que  se  separa  do 
trigo  moido,  melhor  que  o  farelo,  e  infe- 
rior á  farinha.  Parece  melhor  dever  pro- 
nunciar-se  rairio,  por  ser  originado  de 
rala,  pão,  farinha  grosseiramente  moida. 

—  Figuradamente :  Gente  do  popula- 
cho. 

ROLANTE,  ijart.  act.  de  Rolar.  Que 
rola, 

—  Que  se  move  dando  volta  sobre  si. 


—  Que  se  enrola.  —  Ondas  rolantes. 

—  Termo  de  miiicia.  Foi/o  rolante; 
fogo  que  a  areabnzcria  faz  e  dispara  suc- 
cessivamente  por  pellotões,  continuo  e . 
sem  interrupção  á  similhança  das  ondas 
que  soam  rolando  successivamente  contra 
a  praia,  ou  recife,  contra  a  costa. 

ROLAR,  i'.  a.  (Do  fi-ancez  rouler).  Mo- 
ver alguma  cousa  revolvendo-a  sobre  si. 

—  Rolar  galgas  de  pedras;  rodal-as, 
precipital-as. 

—  Cortar  tudo  em  roda. 

—  Figui-adamente :  As  ondas,  c  os  ven- 
tos impetuosos  rolaram  o  navio. 

— ■  V.  n.  Mover-se  alguma  cousa  dan- 
do voltas  sobre  si. 

Acabou  de  beber :  c  pouco  a  pouco 
O  veneno  se  actua  dentro  na  alma. 
Uma  chama  subtil,  ura  \nvo  fogo 
Lentamente  se  ateia:  arde  em  desejos 
De  ir  o  Bispo  buscar,  de  offerecer-lhe 
O  mais  activo  incenso ;  mil  obséquios 
Ka  cabeça  lhe  rolaõ,  o  o  transportai). 

A.   DIXIZ  DA  CRUZ,  HYSSOPB,  Cant.    1. 

—  Rolar  o  mar;  envolver-se,  fazer  rolo 
quando  está  grosso,  ou  quando  correndo 
as  ondas  para  a  praia  formam  uns  como 
rolos.  —  O  mar  rola. 

—  Figuradamente  :  Rolar  o  tempo. 

—  Diz-se  da  voz  das  pombas. 

—  Substantivamente  :  O  rolar  das  pom- 
bas. 

ROLDA,  s.  /.  Termo  antiquado.  Ronda. 
—  «  Ha  em  cada  tronco  soo  pêra  os  con- 
denados aa  morte,  cento  e  vinte  homens 
que  servem  de  vigias  e  tem  sobro  si  hum 
Louthia  como  seu  capitam,  ou  como  so- 
bre roída.  Sam  os  troncos  huns  grandes 
encerramentos  cercados  de  muro  alto  de 
pedra.  D  Fr.  (Jaspar  da  Cruz,  Tratado  das 
cousas  da  China,  cap.  21.  —  «Tàto  que 
nos  tlverão  atados,  a  gente  de  pé  nos  fe- 
chou a  todos  no  meyo,  e  os  de  cavallo 
hiaõ  diante  correndo  de  huma  parte  para 
a  outra  a  modo  de  roídas.»  Fernão  Men- 
des Pinto,  Peregrinações,  cap.  138. 

ROLDADO,  part.  pass.  de  Roldar. 

ROLDADOR,  «.  m.  Termo  antiquado. 
Homem  que  anda  de  ronda. 

ROLDANA,  s.  /.  Termo  de  mechanica. 
Moutào,  ]iolé,  roda. 

ROLDÃO,  s.  m.  Termo  usado  na  se- 
guinte locução  adverbial :  De  roldão ;  de 
golpe,  de  sobresalto.  —  A  gente  entrou  de 
roldão.  —  «  E  abrindcse,  como  digo,  estas 
portas,  toda  a  gente  entrou  de  roldão  em 
huma  grande  casa  a  maneyra  de  igreija, 
pintada  toda  dalto  abaixo  de  diversas 
pinturas,  e  estranhos  modos  de  justiças 
que  algozes  de  gestos  medonhos  e  espan- 
tosos fazião  em  todo  o  género  de  gente,  e 
com  letreyros  ao  pé  de  cada  huma  das 
pinturas  que  dezião,  por  este  tal  caso  se 
dá  este  tal  género  de  morte.»  Fernão 
Mendes  Pinto,   Peregrinações,  cap.  103. 

—  Figuradamente:  Com  a  luxuria  en- 
tram de  roldão  todos  os  outros  vicios. 


320 


lioi.ll 


ROLDAR,  i'.  fi.  'IV-rino  antif|ua(lo.  Ron- 
tl,i,..  _  Koldar  a  'jji<t<;n.  —  "K  acodiíi.lo 
àquollii  iiartc,  tlirtso  ii  Cliristovuõ  ih;  S:i, 
e  a  outros  cavalloinw,  ((iio  com  cUc  osta- 
vaõ,  qm;  acoili.sHciu  às  easM  aoiido  os 
Mouros  cstavau  inotulos,  c  ellc  foy  roldar 
as  oitaiicias  aoiulc  ouvia  pramles  pritas. 
Oa  110930)  tanto  que  souberaõ  Odtarcin 
Mouros  nas  casas,  se  foraõ  huns  poucos  a 
ellos,  o  sobinilo-BO  om  cima  dos  tolliados 
os  (lostolliíiraõ,  e  com  as  csi)iní,Mnlas  naõ 
faziaõ  8CHUÕ  dorriliar  uoUcs.»  Diogo  du 
Couto,  Década  (í,  liv.  9,  cai).  '^• 

ROLEIRA,  s.  f.  Mulher  que   faz  o  rol. 

—  Palmatória,  que  servo  jiara  n'ella  so 
collocai-  o  nild  do  accoudor. 

1.)  ROLEIfvO,  s.  m.  Homem  que  faz  o 
rol. 

—  Homem  quo  faz  rolos. 

2.)  ROLEIRO,  A,  a,lj.  Q.uo  rola. 

—  Mitr  roleiro;  mar  quo  auda  em  al- 
voroço rolando  muito  as  ondas. 

—  Mar  cm  que  rolam  muitas  ondas, 
navio  que  não  se  aírueuta  para  barlaven- 
to, o  descáe  de  mais  para  sotavento  om 
consequência  do  mar  que  rola  sobre  elle. 

f  ROLETA,  ."i.  /.  Termo  de  jogo.  Jogo 
que  consisto  em  uma  mesa,  contendo  no 
centro  uma  circumferoncia  numerada,  e 
ao  lado  direito  d'oss:i  circumferencia  exis- 
te, em  pequenos  quadrados,  uma  longa  se- 
rie de  algarismos  gravados  sobre  a  mes- 
ma mesa,  em  alguns  dos  qnacs  coUoca-se 
\ima  parada,  fazendo-se  gyrar  depois  so- 
bre a  circumferencia  uma  pequena  bola, 
que  depois  de  ter  perdido  toda  a  sua  vo- 
lociJado  deve  caliir  sobre  um  numero 
qualquer  da  circumforeneia;  e,  se  esse  nu- 
mero corresponder  ao  numero  onde  pri- 
mitivamonto  se  tinha  coUocado  a  parada, 
ganha-se,  do  conti'ario  perde-se,  ou  sof- 
from-se  algumas  modificações,  segundo  o 
local  onde  existirem  algumas  paradas. 

ROLETE,  i'.  III.  Diminutivo  de  Rolo. 
Pequeno  rolo. 

—  Antigamente  eram  as  tranças  de 
cabello,  que  as  mulheres  accunnilavam 
no  alto  da  cabeça,  o  a  que  TertuUiano 
chama  tnnibus  verticcm,  por  se  asseme- 
lharem a  uma  torre.  Outros  lhe  chama- 
vam snirie,  por  sorcm  enrolados  a  modo 
do  caracol.  Ainda  depois  so  praticou, 
mormente  em  algumas  cidailos  de  Hcs- 
panha.  Em  outras  torras  tornou-so  o  ro- 
lete  em  cabeça  rapai  la. 

—  Roleta  da  canna;  uma  divis.^io  de  nó 
a  nó. 

—  Instrumento  quo  serve  para  enfortir 
os  ehapóos.  Vid.  Enfortir. 

ROLHA,  8.  /.  Tampa  de  cortiça,  me- 
tal, vidro,  adaptada  A  bocca  das  garra- 
fas, redomas,  etc. 

—  Figurailamonte  :  !Z\'í-a»- rt  rolha;  fal- 
lar  o  que  não  devia,  commummentc  por 
medo,  ou  por  decoro. 

—  Loc.  FIG.:  Metter  uma  rolha  na 
bocca ;  CJilar-se,  ter  silencio  forçado. 

ROLHÃO,   *'.   "I.    Augmentativo  de  Ro- 


ROMA 

lha.  Instrumento  UHado  pelo»  pctlrciros, 
para  a  conducçào  das  pedras  com  menos 
traiialho. 

ROLHAR,  V.  a.  Tapar,  fechar  com  ro- 
lha. —  Rolhar  Um  unta  garrafa. 

ROLHEIRO,  ».  Til.  Torrente  do  agua  ar- 
rebatadíssima. Vid.  Rilheiro,  que  c  diflc- 
rente. 

1.)  ROLHO,  s.  m.  llodella  do  joelho.  — 
«Do  sapatos  de  mulheres  até  cerca  de 
rolho  de  altura,  com  boa  sola  e  vira,  se 
pagará  de  par  45  reis.»  Em  Viterbo, 
Eluc. 

—  Talvez  se  deva  entender,  segundo 
alguns  auctores,  antes  o  tornozelo. 

•2.)  ROLHO,  A,  adj.  Nutrido,  carnudo, 
gordo.  —  Cavallo  rolho.  —  Ilomein  ro- 
lho. 

ROLIÇO,  A,  adj.  Que  tem  a  forma  de 
um  rolo  cylindrico. 

—  Termo  popular.  Kutrido,  nédio,  car- 
nudo. —  ILimem  roliço. 

ROLIM.  Vid.  Roolira. 

ROLINHO,  *.  m.  Diminutivo  de  Rolo. 
Rolo  pequeno. 

ROLO,  s.  m.  Peça  longa,  redonda  cm 
todo  o  seu  comprimento,  il  maneira  de 
uma  vela,  canna. 

—  Pavio  de  cera  que  se  enrola. 

—  Figuradamente:  Cousa  que  envolta 
sobre  si  tenha  essa  f  n-ina.  —  Um  rolo 
d,;  tabaco  de  fumo.  —  Um  rolo  de  jjerga- 
II  linho. 

—  Rolo  do  mar;  aquella  parte  d'el- 
le,  que  se  envolve,  quando  faz  a  resaca. 
e  se  desenvolve,  e  espraia  em  lingua  do 
mar  junto  da  praia,  ou  baixo  sobre-agua- 
do,  perto  de  recife,  terra.  —  Laiiçar-se 
ao  rolo  do  mar, —  «1'oróm  como  elle  nào 
sabia  andar,  e  o  mar  andava  bravo,  com 
promessas  de  Pêro  Mascarenhas,  lançá- 
ram-se  no  rolo  delle  hum  ilarinheiro,  e 
hum  Negro,  e  da  prática  que  o  mari- 
nheiro teve  com  Mouros  que  achou  da 
terra,  soube  onde  estiwam.»  Barros,  Dé- 
cada 2,  liv.  7,  cap.  2. 

—  Termo  de  impressão.  Um  composto 
de  grude  c  melaço  em  forma  de  rolo,  que 
recebe  a  tinta,  que  depois  se  appliea  ro- 
lando sobre  os  tvpos :  gvra  dentro  d'uma 
trempo  de  ferro,  tendo  por  cima  dous  ca- 
bos de  maileira:  hoje  usa-se  em  vez  das 
antigas  balas. 

—  Coser  em  rolo  as  folhas  dos  autos ; 
diz-s6  em  opposição  a  coser  em  batideira, 
enrolando,  á  semelhança  dos  pergaminhos 
dos  antigos  manuscriptos. 

—  Rolo  do  boi,  ou  da  vacca ;  a  parte  da 
perna  desde  o  joelho  para  cima,  até  á 
primeira  noz. 

—  Figuradamente  :  O  rolo  dos  que  vão 
pelejar;  a  multidão  á  semelhança  das  on- 
das onde  o  mar  rola. 

ROM,  s.  m.  Tinta  de  côr  amarellada, 
espécie  de  gomnia. 

I  ROMA,  .«.  m.  (Do  latim  Rama).  No- 
me da  cidade  de  Itália,  que  conquistou 
o  mundo  inteiro ;  fundou  o  maior  dos  im- 


ROMA 

perios,  o  tomou-t>e  a  capital  do  catholi- 
cismo. 

Nada  vejo. 

Acato  ignorai) 
Quem  Ci-íar  iiomcíou  ;i  dicUulura  V 
Que  o  Hciiado  do  JlomaT... 
UÀaHcrr,  <:àtI(i,  act.  2,  «c.  5. 

Filho  es  Bo  de  Homa. 
Devo... 

IDIDKM,  act.    3,  8C.  3. 

Ordena-o  Roma; 
Vivirei,  sim  :  —  maiida-o  Catào  ;  cu  vivo. 
Miis  este  Haii(;uc...  oh  itaiii^c  abominável! 
Km  Hacrificio  á  morte  cstíí  votado. 

lUlULU,  BC.  4. 

O  tvranno  de  Unrna  hcide  immolar-tc. 
("•h  mfu  pae,  oh  dirigf  o  polpc  ardido, 
Li'va-lh'o  ao  coração  da  tua  vietima. 

IDIDEU,  BC.    7. 

Bruto,  esse  nome  qup  te  inlcva  tanto. 
NTio  se  illustrou  assim.  O  ouro  ciicondido 
No  bacuJo,  era  a  imagem  da  prudcocia: 
E  com  essa  é  que  Roma  foi  liberta. 
iBiDEu,  act.  4,  BC  2. 

Filhoí  do  Roma, 
Não  meus,  — filhos  de  Roma,  c  dignos  d'ella, 
Prnteja-vos  o  Deus  que  a  desampara 
Por  ucssos  crimes  —  o  a  vós  voa  àalvc, 
Que  innoccntos  soií  dVllcs. 
IDIDKM,  act.  5,  8C.  5. 

Menos  ingrata  do  que  a  nosia  Roma, 
E  porque  não  iremos  nós  entre  cUos 
Procurar  as  fortuna.s  de  Sertório 
EA  no  ertrfmo  Occidcntc.  n'cs!»ca  montes 
Ferozes  de  sua  ingénua  liberdade? 

IBIDBIi,  BU.   7. 

Roma !  —  Que  o  decretem 
Os  soberanos  diíuses,  Hruto  deve, 
Onde  expirar  Catão,  morrer  com  elle. 

lUIDEM,  SC.  9. 

—  Adágios  e  provérbios  : 

—  Nào  irei  pela  pendência  a  Roma. 

—  Aonde  está  o  papa,  ahi  ê  Roma. 

—  Roma  nào  se  fez  n'um  dia. 

—  Caminho  de  Roma,  nem  mula  man- 
sa nem  bolsa  vazia. 

—  Bem  está  S.  Pedro  em  Roma. 

—  Uma  figa  ha  em  Roma,   para  quem 
lhe  dào,  e  nào  toma. 

—  Dizem  em  Roma,  que  a  mulher  fie, 
e  coma. 

—  Quem  tem  boccA,  vai  a  Roma. 
ROMAGEM,  s.  /.  Peregrinação    devota 

á  casa  d'algum  santo.  —  Ir  ik  romagem 
a  alguma  parte. 

Porá  os  homens  so  criirio. 

Pao  folga  á  vossa  passagem 

Dhoje  a  mais : 

Dcâcansae,  jwis  descansarão 

Os  quo  pas-sjirão 

Por  esta  mesma  romagan 

Quo  levais. 

OIL  «OESTE,    ACTO  DA  ALUA. 


ROMA 

—  íO  qual  pelo  comprazer  me  rogou 
que  lhe  desse  hum  par  de  tiros  para  lhe 
satisfazer  aquelle  apetite,  a  que  respon- 
dv  que  dous,  e  quatro,  e  cento,  e  quãtos 
sua  alteza  mandasse;  e  porque  elle  neste 
tempo  estará  comendo  com  seu  pav,  fi- 
cou para  despois  que  dormisse  a  sesta,  o 
qual  inda  aquelle  dia  não  teve  effeito, 
porque  fov  aquella  tarde  com  a  Raynha 
sua  mày  a  hum  pagode  de  grande  roma- 
gem, onde  fozia  huma  festa  pela  saúde 
dei  Rev.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pere- 
grinações, cap.  136. 

Vc-lo-ha,  o  objecto  de  suspiros  tantos, 
De  saudade  tam  longa,  da  romage 
Devota  ;  mas  so  vc-lo, — ^e  adeus  eterno, 
E  para  sempre  adeus!...  Cruéis  lhe  vedam 
Mais  que  esse  adeus.  Voltou  á  praia,  c  morre. 
G.vHBETT,  CAMÕES,  cant.  9,  cap .  10. 

ROMÃ,  ou  ROMÃA,  ou  ROMAN,  s.  f. 
Termo  de  botânica.  Fructo  vulgar,  ten- 
do por  fora  uma  casca  verde,  com  suas 
cores  vermelhas,  e  coroada;  e  dentro  uns 
baguinhos  de  côr  purpura,  e  sueco  agra- 
dável. Diz-se  galo  a  porção  que  divide 
uns  dos  outros. 

—  Termo  de  náutica.  A  parte  mais 
grossa  do  mastro  ou  mastaréo,  onde  as- 
sentam 03  curvatões,  cestos  de  gávea, 
vaus,  etc,  para  sobre  elles  assentarem 
as  encapelladuras  das  enxárcias,  e  mais 
apparelhos  tixos. 

f  ROMAICO,  A,  adj.  Termo  de  his- 
toria. Que  pertence  aos  gregos  moder- 
nos. 

—  Língua  romaica;  idioma  que  falta- 
vam os  gregos  modernos,  mijrmente  os 
que  habitavam  a  Morea,  a  Livadia,  a 
Thessalia,  a  ilha  de  Cândia,  o  Archipela- 
go,  uma  parte  da  Albânia,  da  Macedónia, 
da  Romelia,  da  Ásia  Menor,  da  ilha  de 
Chvpre,  e  alguns  paizes  da  Valachia,  da 
Moldávia,  da  Syria,  e  do  Egypto. 

—  Substantivamente:  O  grego  moder- 
no. 

■j-  ROMAIKA,  s.  f.  Dança  nacional  dos 
gregos  modernos. 

ROMANA,  s.f.  Balança  que  consiste  em 
um  travessão  de  dous  braços  desegnaes; 
o  objecto  que  se  tem  de  pesar  está  liga- 
do ao  mais  curto,  ao  passo  que  um  an- 
nel  movei  tendo  um  peso,  passa  ligeiro 
sobre  um  outro  braço,  até  que  pare  no 
ponto  em  que  se  faz  equilibrio  ao  obje- 
cto que  tem  de  se  pesar,  e  indica  o  peso 
d'este  objecto  sobre  uma  escala  gravada 
no  travessão. 

—  Termo  de  marinha.  Instrumento  em 
forma  de  balança,  que  serve  para  medir 
a  força  dos  canaraos. 

f  ROMANAMENTE,  adv.^  (De  romano, 
com  o  suffixo  «mente»).  À  maneira  dos 
romanos. 

ROMANCE,  s.  m.  A  lingua  vulgar  de 
alguma  terra. 

—  Antiga  historia,  escripta  em  versos 


ROMA 

simples  e  naturaes,  cujo  fundo  é  tocante, 
e  a  forma  apropriada  ao  canto. 

• —  Por  excellencia,  entende-se  o  por- 
tuguez. 

—  Composição  poética  em  que  não  ha 
rimas,  mas  toantes,  ou  rimam-se  os  ver- 
sos, terminando  as  duas  vogaes  ultimas 
d'eÍle  semelhantes. 

—  Toda  a  peça  de  verso  moderno,  ver- 
sando sobre  um  assumpto  terno,  ou  mes- 
mo triste,  e  posta  em  musica. 

—  Ar  no  qual  se  canta  um  romance. 

—  Novellas,  coutos  fabulosos  de  amo- 
res, 03  quaes  começaram  em  verso  ou  lin- 
gua romance  ou  vulgar.  —  «  Ainda  fico 
com  escrúpulo  sobre  a  lição  em  que  mui- 
tas se  occupam.  O  melhor  livro  é  a  almo- 
fada, e  o  bastidor;  mas  nem  por  isso  lhe 
negarei  o  exercício  delles.  Estas  que  sem- 
pre querem  ler  comedias,  e  que  sabem 
romances  delias  de  cór,  e  os  dizem  ás  ve- 
zes entoados,  não  gabo.»  D.  Francisco 
Manoel  de  Mello,  Carta  de  guia  de  casa- 
dos. 

—  Talvez  se  possa  empregar  também 
como  adiectivo:  Um  cantar-  romance. 

ROMANCEAR,  v.  a.  Traduzir  em  lin- 
gua vulgar. 

—  Introduzir  no  romance  termos  de 
outras  linguas,  adoptados  com  alteração 
similhante  ao  génio  da  lingua. 

ROMANCEIRO,  s.  ;7i.  Livro  em  que  es- 
tão   incluiJos  muitos  romances. 

— -Yid.  Romancista. 

ROMANCISMO,  s.  »i.  Ficções,  descri- 
pções  românticas. 

ROMANCISTA,  s.  2  gen.  Auctor  de  ro- 
mances modernos. 

—  Figuradamente  :  Diz-se  d'aquelle  cu- 
jas idêas  e  theorias  são  chimericas  como 
um  romance. 

—  Pessoa  que  somente  sabe  a  sua  lin- 
gua, c  ignora  principalmente  a  latina. 

ROMANESCAMENTE,  adv.  (De  roma- 
nesco, e  o  suffixo  (í mente»}.  De  um  modo 
romanesco. 

I  ROMANESCO,  A,  adj.  Que  tem  o  cara- 
cter de  um  romance;  que  é  maravilhoso 
como  as  aventuras  de  um  romance,  ou 
exaltado  como  os  personagens  de  um  ro- 
mance, como  o  sentimento  que  se  lhe 
presta.  —  Estylo  romanesco.  —  Historia 
romanesca.  —  Aventuras  romanescas.  — 
Maneiras  romanescas.  —  Paixão  roma- 
nesca. —  Id(-a  romanesca.  —  Gostos  ro- 
manescos. —  O  amor  n'um,  mancebo  é 
sempre  romanesco.  —  Era  nos  campos 
mormente  que  as  disposições  romanescas 
de  Joseph  se  desenvolviam  com  inais  liber- 
dade e  encanto.  —  As  pessoas  romanes- 
cas não  são  já  d'este  mundo.  —  Uma  ima- 
ginação viva  não  distingue  as  persona- 
gens históricas  das  romanescas;  ella  re- 
suscita-as  todas.  — ■  As  mulheres  que  fa- 
zem romances  são  geralmente  mui  pouco 
romanescas.  —  Os  costumes  que  seguem 
sempre  a  carreira  do  luxo,  subiram  ao 
tom  d'esta  magnijicencia  romanesca. 


ROMA 


327 


—  Que  tem  romance,  maravilhoso,  fa- 
buloso. 

—  Exaltado,  chimerico  como  as  per- 
sonagens de  um  romance. 

ROMANÍA,  s.  /.  Termo  usado  n'esta  lo-- 
cução  adverbial :  De  romania ;  de  golpe, 
de   repente,  de   pancada.  Vid.  Redonda- 
mente. 

f  ROMÂNICO,  A,  adj.  Termo  de  philo- 
logia  romana.  Lingua  românica;  o  idio- 
ma provençal. 

ROMANINHO,  A,  adj.  Diminutivo  de 
Romano. 

f  1./  ROMANISAR,  v.  a.  Transformar 
em  romano,  fazer  prevalecer  a  influencia 
romana. 

— •  Termo  de  philologia.  Escrever  em 
caracteres  romanos  as  linguas  orientaes, 
mormente  a  árabe  e  a  pérsica. 

—  V.  n.  Seguir  os  dogmas  da  egreja 
romana. 

2.)  ROMANISAR,  v.  a.  Dar  uma  appa- 
rencia  romanesca  ao  que  se  conta,  trans- 
formar em  romance. 

ROMANISCO,  A,  adj.  Versado  nas  cou- 
sas, e  maneiras  de  negociar  de  Roma. 

—  Pintor  romanisco ;  pintor  que  imi- 
ta o  estvlo  e  eschola  romana,  diíferente 
da  flamenga,  etc. 

-j-  ROMANISMO,  s.  m.  Xorae  dado  em 
Inglaterra  á  egreja  romana. 

f  1.)  ROMANISTA,  s.  m.  Partidário  do 
papa. 

—  Nome  dado  aos  jurisconsultos  que 
se  occupam  do  direito  romano. 

-}-  2.)  ROMANISTA,  s.  m.  Homem  que 
faz  romances. 

1.)  ROMANO,  5.  m.  Termo  de  archite- 
ctura.  Uma  folhagem  do  friso. 

2.)  ROMANO,  A,  adj.  (Do  latim  rovm- 
nus).  Que  pertence  aos  romanos  ou  á  an- 
tiga Roma.  —  Liiperador  romano.  —  Ci- 
dadão romano. 


Alli  vejo  Epitccto,  escravo  humilde, 

Mas  livre  mais  que  os  Eeis,  mais  Soberano ; 

Que  a  alma  d"hum  Filosofo  não  sente 

Entro  ferros  cruéis  do  feiTO  o  peso. 

Cuja  frágil  alampada  de  barro 

Jijgou  Romano  Povo  alto  thesouro, 

E  jóia  preciosissima  entre  as  jóias, 

A  que  o  Mundo  dar  quer  preço,  e  valia. 

J.   A.    DE  UACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Cant.   2. 

SemproHio,  tu  es  senador  romano, 
Eu  um  chefe  de  Numidas  selvagens. 

GABBETT,  CATÃO,  act.   4,    SC.   4. 

—  Cidadão  romano ;  homem  que  goza- 
va dos  foros  de  cidade  em  Roma. 

Foi  tempo — ja  lá  vai  —  em  que  o  cadáver 
D'um  cidadão  romano,  gottejando. 
GABBETT,  catão ,  act.  5,  SC  3. 

—  Cidadão  romano ;  titulo  que  foi  con- 
cedido por  extensão  aos  reis  alliados,  e 
mesmo  ás  cidades  e  províncias  da  Itália. 

—  Btlleza   romana ;   mulher   que  tem 


328 


ROMA 


ROMA 


ROMA 


BÍgnaes   mui  assignalados,    e   um  ar  nia- 
gcstoflo. 

—  Diz-80  taml)ein  iIhh  coiisas.  —  Di- 
reito romano.  —  Imperi»  romano.  —  Tem- 
plo romano.  —  O  Kanijiin  romano.  —  Cons- 
tniiciíi  romana.  —  ( '(n-ui-ào  romano.  — 
JJ/jerilailc  romana.  —  Virtudes  romanas. 


Soi  tildo:  —  o  tiidn  n'.alma  tenho  iinproMo 
Em  fopo  -  ■  f|a(!  iiUT,:<rt.iiitn  ni'a  dinora. 
IMiiH  110  |)(■'.^o  da  Hoitíí  ilida  não  curvo : 
Ti-iilio  110  |ioito  corinjào  romano; 
K  oint|iianto  a  OHp.ada  do  tyniiiiio  Ccsar 
M'o  iiiu)  Hoiibur  vai-ar,  iiíio  cedo  a  Ccsar. 

O-AUUKTT,  CATÃO,    act.    I,    SC.    1. 


Tua  nobro  constância  ndiniro  c  louvo  ; 
Romana  c,  —  romana  dc-i.íos  tempos 
Que  para  sempre...  seiíijire  su  acabaram. 
Oli,  80  cila  noa  salvasse,  Marco-Hnito  ! 

IDIDKM. 


Qiic  disse  eu!  áiiianhan...  ali,  porventura 
K.-íte  sol  (|uo  alii  nasce  é  o  derradeiro 
Que  hiz  sõlire  a  romana  liberdade. 
iniDKx,  se.  .'). 


Impossível !  Não  é.  —  Todo  aqui  jorre 

Na  terra;  e  o  coravão  dcsalírontado 

Do  saiifíuc  vil  —  romano  e.^pirc  ao  menos. 

IBlDKM,  act.   3,  SC.   3. 

Kl  otro  antigo  edifício 
1'antéoii  trniplo  romano 
quien  le  tiassó,  quícu?  mi  mano; 
qiiieii  le  labn'!  ?  mi  officio  ; 
priiova  mi  Scbastiano. 

ANTÓNIO  rniiSTEs,  AUTOS,  pag.  71. 


—  Algarismos  romanos;  as  letras  de 
que  nos  servimos  para  exprimir  os  nú- 
meros 11  maneira  dos  romanos.  E.stas  le- 
tras são:  C,  D,  h,  I,  M,  V,  X. —  Os  nua- 
(Irantes  dos  relógios  e  das  pêndulas  tem 
ordinariamente  algarismos  romanos. 

—  Fifíuradaniciito :  Que  recorda  a  co- 
ragem, a  austeridade,  c  outras  qualidades 
dos  antigos  romanos. —  Umafa<;unha  ro- 
mana. —  O  sentimento  de  uma  alma  ro- 
mana. 

—  Diz-se  tarabom  das  pessoas  e  das 
cousas  que  pertencem  ;l  Roma  moderna. 
—  A  egreja  romana.  —  A  religião  catho- 
lira  apostólica  romana.  —  Jireviario  ro- 
mano.—  Ritual  romano. — Pontijical  ro- 
mano.—  (.'alvndario  romano.  —  Martyro- 
Inijio  romano. —  Rito  romano. 

—  Tmiio  de  historia.  Republica  voiaa.- 
na;  gcivorno  aristocrático,  ereado  em  úOi» 
antes  de  Jesu-^  Christo. 

—  Império  romano;  governo  monarchi- 
00  introduzido  com  effeito  em  Roma  por 
Octaviano  Ccsar,  a  quem  o  senado  con- 
cedeu o  titulo  de  Augusto,  no  anuo  oO 
antes  de  Christo. 

—  Calendário  romauo  ;  calendário  pri- 
mitivo de  Roma.  c  que  era  cominuni  a 
esta  cidade  e  a  um  rc.^to  do  Lacio;  com- 
puuha-so    de  ;504   dias   divididos    cm    10 


mezes.  Numa  o  reformou,  o  elevou  o  an- 
uo até  ;>;').')  dias  ou  12  mczes,  com  uma 
intercalaçào  todos  os  4  ânuos. 

—  Comiidia  romana;  comedia  em  quo 
se  pintam  earacteros  romanos. 

—  Camarás  e  c/iancellarias  romanas ; 
compreliendo-so  de  ordinário  a  rcuniàu 
iliis  cnllcgios  de  adniinistra^-íto  contrai  c 
de  judicatura,  (|ue  compõem  o  governo  do 
pajia,  e  que  <lccidem,  em  seii  nome,  to- 
dos os  negócios  geraes  que  interessem  ao 
estado  e  ti  egreja. 

---S'.  m.  Habitante  de  Roma.  —  (Jm 
romano. 


K  porque  tanto  imitam  as  antigas 
<  'bras  de  nieus  l!omann>,  me  olVcrcço 
j\  Mie  dar  tanta  ajuda  em  <|iiaiito  posso, 
A  ((uanto  se  estender  o  poder  nosso. 
CAji.,  LL'5.,  cant.  í),  est.  .'!7. 


—  «Entre  03  Romanos  usava  a  Fami- 
lia  dos  Torcatos  do  coilar  de  ouro,  e  os 
Cincinnatos  da  cabelleira,  porem  naõ  co- 
mo armas,  porque  como  c<msta  de  toda  a 
historia  latina,  as  armas  das  Famílias  Ro- 
manas foraõ  as  imagens,  e  estatuas  de 
seu.i  maiores,  que  tinhaõ  nos  patoos  à 
entrada  das  casas.»  Jlanoel  Severim  de 
Faria,  Noticias  de  Portugal,  Disc.  .õ,  4}  3. 
—  otíaõ  parte  ilas  Armas  os  Timbres, 
que  hoje  se  trazem  sobre  os  Elmos,  o 
qual  uso  he  antic|uissirao,  assim  entre  os 
Gregos,  e  Romanos,  como  nos  Alemaens, 
segundo  se  vè  de  muitos  lugares  de  Vir- 
gílio na  guerra  Troyana,  e  no  Catalago 
da  gente,  que  veio  em  favor  de  Turno 
contra  Eneas.»  Ibidem,  S  17.— oSuc- 
cederaõ  estes  Reys  de  Armas  modernas 
aos  Antigos  Feciales  Romanos,  que  eraõ 
os  que  publicavaõ  as  pazes,  e  guerras 
nos  Exércitos,  de  que  faz  inen(;aõ  mui- 
tas vezes  Livio,  e  outros  Authores  Lati- 
nos.» Ibidem,  §  18.  —  «Para  cujo  enten- 
dimento he  de  saber;  que  estimulados  os 
Romanos  da  violência,  que  El  Rey  Tar- 
quino  fez  a  Lucrécia,  detreminaraõ,  que 
em  Roma  naõ  houvesse  mais  Reys,  e  que 
para  despique  daqucUe  insulto,  ficasse 
entre  os  Romanos  o  nome  de  Rey  ava- 
liado pello  mais  o  liozo  vocábulo,  para 
que  em  nenhum  tempo  tornassem  a  admi- 
tir naquella  Republica  semelhante  titu- 
lo.» Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal  medi- 
co, pag.  1.^)9. 


Oli  Vencedor  de  Siracusa  illustre. 
Magnânimo  liomano  (se  a  verdade 
.\easo  a  Fama  diz),  tão  viva  chamm.a 
Teus  l$ai.xeis  abrazou,  desfez  om  cinzas : 
llum  8ií  braço  deixou  dúbia  a  victoria. 

J.    A.    DK   MACKDO,  A  K.VTUKEZA,   CaUt.    2. 

De  Siracusa  nos  entrados  muros ; 
Foi  esta  a  voz  primeira,  ó  griio  Romano. 
Que  fez  Iteroi^s  bum  pranto  enternecido! 
K  ao  Mundo  aligeirou,  fez  doce  ao  Mundo 
l )  férreo  jugo  do  Latino  Império ! 

IDEU,  Vl.\GEH   EXTÁTICA,  CaUt.   2. 


Á  maior  perfeição  ;  poi»  ji  nantiga 
Idade  a  vio  nahir  absorto  o  .Mundo 
Das  miSos  do  «abio  escravo  de  eloquentí*. 
Kiitrc  os  Jtmnnno»  o  maior,  que  he  Tullio, 
A  quem,  deposta  a  Consular  «jbrrba. 
Si)  dignou  do  escrever,  chamar-lhc-  amigo. 
inioKM,  cant.  3. 

Krra  do  orgulho,  cepa  do  vaidade 

yu''in  presume  guiar  com  mão  cci^nra 

<  I  tropel  dojivairado  i-  tumultiiurio 

IViiina  revolmâo.  Rebenta  súbito 

K.m  tinbilbrws  torrente  impetuosa, 

Que  arrasta  c  leva  planos  n  prnj)«toil, 

K,  CO  liomoin  que  os  urdiu,  oa  roja  ao  abyuino. 

(iARBETT,  CATÃO,    act.   1. 


Morre  commigo  o  meu  wgrodo. 
Pois  bom.  As  portas  velam  do  oceid-^ntc 
Soldadoí  teus.  Itnrnnnn  algum  com  ellr-s 
Não  ^Hgia  esta  nouto.  >íal  cfiinero 
A  ingrossar-.SR  o  crepúsculo  da  tarde, 
Calladamente  com  tua*  tropas  marcha 
A  Imbuscar-te  detraz  d'aqu<d|i-s  oonibros 
Que  A  esquerda  vês,  não  longe  da  cidade. 
IBIDEM,  act.  3,  8C.  1. 


Nunca  trahiu  ninguém.  Romano. 

IBIDEM,  SC    7. 

—  Habitante  do  império  romano.  —  O 
poder,  a  grandeza  dos  romanos.  —  As 
obras,  os  monumentos  dos  romanos. 

—  Romanos  gaulezes;  nonu-  dado  aos 
habitantes  das  gailias  sob  a  domina^'iio 
romana. 

—  Faiz  dos  romanos;  dÍ2-ge,  até  ao 
século  IX,  dos  paizes  que  eram  governa- 
do.-! si-gnndo  o  direito  romano. 

f  ROMANTICAMENTE,  adv.  (De  ro- 
mântico, com  o  suffixo  (imante»).  De  um 
inoilo  n>!nantici>. 

ROMÂNTICO,  A,  a.lj.  iDo  francez  ro- 
mantiquei.  Diz-se  dos  legares,  d.is  paiza- 
gens  que  chamavam  á  imaginação  as  des- 
cripyões  dos  poemas  e  dos  romances.  — 
Situação  romântica.  —  Aspecto  românti- 
co. —  Tudo  ei)ca>it<í  a  nteus  ollioa  este  sitio 
romântico. 

—  Diz-se  dos  escriptores  que  aiTectam 
livrar-se  das  regras  da  composição  e  do 
estylo,  estabelecidas  pelo  exemplo  dos  au- 
thores clássicos.  —  Aut/ior  romântico. — 
Escriptor  romântico.  — Poeta  romântico. 
—  Escola  romântica.  —  Poesia  românti- 
ca. —  Estylo  romântico.  —  Poema  ro- 
mântico. 

—  Termo  de  pintura.  Diz-se  de  certos 
assumptos  de  quadros,  e  de  certas  ma- 
neiras de  compol-o,  executal-o. 

—  Subst.'iutivamente :  O  romântico  i 
um  género  novo. 

t'  ROMANTISMO,  í.  m.  Termo  de  lit- 
teratura.  .\nior  d"  romântico. — A  accu- 
sctçào  do  romantismo  tornmise  wlgar. 

—  O  que  diz  respeito  ao  estylo  e  gé- 
nero romântico.  —  E  romantismo.  —  O 
sowJkJ  é  uma  lanterna  magica,  em  çu«  se 
vc,  tendo  os  ol/ins  fechtidos,  tudo  o  qu6 
o  romantismo  tem  de  mais  maravilhoso. 


ROMB 


ROMP 


ROMP 


329 


—  Systema  litterario  doa  escriptores 
modernos  românticos. 

1  ROMANULA,  mlj.  f.  Termo  de  anti- 
guidade romana.  Diz-se  de  uma  daa  por- 
tas do  Roma,  situadas  no  monte  Pala- 
tino. 

ROMANZEIRA,  s.  /.  Termo  de  botâni- 
ca. A  arvore  que  produz  romJis,  conhe- 
cida outr'ora  pelo  nome  de  romeira,  con- 
fundindo-se  assim  com  a  mulher  que  vai 
de  romaria. 

f  ROMANZOWITA,  s.  /.  Termo  de  mi- 
neralojíia.  Variedade  de  granito. 

ROMÃO,  Ã,  adj.  Termo  antiquado.  Ro- 
mano. 

ROMARIA,  s.  /.  Peregrinação  devota  á 
Terra  Santa,  ou  á  casa  de  algum  santo. 
Vid.  Romagem. 

Que  houvésseis  por  prazer 
De  irmos  lil  em  romaria. 
Seja  logo  sem  deter. 
Oi-a  i-3te  ciimiuho  lie  comprido, 
Contac  hum.a  historia,  marido. 
Bofa  que  me  praz,  mulUor. 
Passemos  primeiro  o  rio. 

OIL  VICENTE,   FARÇAS. 

—  « Daqui  foi  dom  .João  ter  a  Chiquer, 
com  tençam  de  chegar  a  Marrocos  sem 
Nuno  fernandez,  no  qual  lugar  de  chi- 
quer aueria  entam  obra  de  vinte  casas, 
em  que  morauão  sacerdotes,  que  serui.ão 
em  hum  alcoram  que  alli  esta  mui  no- 
meado entre  os  mouros,  onde  vem  mui- 
tos, e  de  remotas  prouincias  em  roma- 
ria.» Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  3,  cap.  40.  —  «Tornãdo- 
nos  daquv  para  a  tavangraa  onde  deixá- 
ramos o  Embaixador,  fomos  de  caminho 
ver  as  cabililas  dos  jogues  que  aquy  vi- 
nhão  em  romaria  pela  maneyra  que  atrás 
tenho  dito,  que  eraõ  quarenta  e  seys,  de 
cento,  duzentas,  trezentas,  e  quinhentas 
pessoas  cada  cabilda,  e  algumas  de  mur- 
tas mais,  que  como  num  arrayal,  estavão 
todas  alojadas  ao  logo  do  rio.»  Fernão 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,   cap.  162. 

—  Adágios  e  provérbios: 

—  Às  romarias,  e  ás  bodas  vão  as  lou- 
ças todas. 

—  De  taes  romarias  taes  perdoes. 

f  ROMARINO,  s.  m.  Termo  de  botâni- 
ca. Género  de  plantas,  tendo  por  tvpo 
um  arbuííto  aromático  da  familia  das  la- 
biadas.  E  um  estimulante  enérgico.  — 
Os  perfumadores  fazem  uso  do  romarino. 

—  Mel  de  romarino ;  mel  que  se  pre- 
parava com  as  summidades  floridas  d'es- 
ta  planta,  e  que  se  empregav^a  algumas 
vezes  em  lavamentos  contra  a  hvsteria, 
o  cólicas  ventosas. 

ROMBADAS,  s.f.  plur.  Vid.  Arromba- 
das. 

ROMBAMENTE,  adv.  fDe  rombo,  com 
o  suffixo   «mente»).  De  um  modo  rombo. 

—  Sem  finura,  com  rudeza. 

—  Como  homem  de  intelligencia  rom- 
ba. 

VOL.  T. — 42. 


1.)  ROMBO,  s.  m.  Furo,  quebrada.  — 
«E  quomo  isto  fosse  seis  legoas  a  la  mar 
de  Diu,  Melequiaz  que  ja  ahi  estaua  man- 
dou Ilagamahained  com  dezoito  fustas  a 
socorrer  esta  nao,  mas  quando  a  ella  che- 
gou era  ja  despej.ada,  e  mortos  os  mais 
dos  mouros,  e  muitas  molheres,  e  meni- 
nos que  nella  vinham,  recolhidos  na  nos- 
sa frota  com  tudo  ainda  Hagamahamed 
achou  alguns  que  ficaram  escondidos  e  se 
saluarani  na  mesma  nao,  com  taparem  os 
rombos  que  lhe  Nuno  fernandez  mandou 
dar  pêra  se  ir  ao  fundo.»  Damião  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  4, 
cap.  69. 

—  Deitar  rombos  nos  navios,  tomar 
os  rombos  (jue  teeni;  dcital-os,  tomal-os,  a 
fim  de  que  não  façam  agua. 

2.)  ROMBO,  A,  adj.  Não  agudo,  não 
pontudo.  —  Nariz  rombo.  —  Espadas 
rombas.  —  aE  como  podem  entrar  vem 
aas  lançadas  e  cutiladas,  pêra  ho  que 
tom  lanças  compridas,  e  espadas  rombas, 
sobre  talabartes  derribados.  Ha  outi'os 
juncos  do  carregaçam  pêra  fazenda,  mas 
nam  sam  tara  altarosos  como  os  de  guer- 
ra, inda  que  os  ha  muv  grandes.»  Frei 
Gaspar  da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da 
China,  cap.  9. 

—  Alma,  intelligencia  romba ;  alma, 
intelligencia  sem  delgadeza  d'ella. 

ROMBOIDE,  s.  m.  Vid.  Rhomboide. 

ROMEIRA,  s.  f.  Termo  de  botânica. 
A  arvore  produetora  das  romãs,  roman- 
zeira. 

—  A  mulher  que  vai  em  romaria. 
ROMEIRO,  s.  m.  O  homem  que  vai  em 

romaria. 

—  Termo  de  zoologia.  Peixinho,  que 
anda  adiante  da  baleia,  e  se  sustenta  do 
comer  que  lhe  fica  entre  os  dentes. 

—  Adágios  e  pkoveubios  : 

—  Não  ha  romeiro,  que  diga  mal  do 
seu  bordão;  ou:  Não  é  o  romeiro,  que  diz 
mal  do  seu  bordão. 

—  Bem  vai  ao  romeiro  se  lhe  esquece 
o  bordão. 

—  Um  romeiro  não  quer  outro  por 
parceiro. 

ROMPANTE,  adj.  2  gen.  Altivo,  arro- 
gante, precipitado. 

• —  Palavras  rompantes  ;  palavras  atre- 
vidas, empoladas. 

—  Substantivamente  :  O  primeiro  rom- 
pante ;  o  primeiro  impeto,  furla,  saída  ar- 
rebatada . 

ROMPÃO,  s.  711.  Vid.  Rompões. 

ROMPEDEIRA,  s.  /.  Cunha  cravada  em 
um  cabo,  com  quo  os  ferreiros  abrem  os 
ferros  em  braza ;  talhadeira. 

ROMPEDOR,  A,  adj.  Vid.  Rompente. 

ROMPEDURA,  s.  f.  Vid.  Rotura. 

ROMPENTE,  part.  act.  de  Romper.  Que 
rompe,    que    dilacera,  que   abre  á  força. 

—  Que  arromba. 

—  Leão  rompente ;  animal  que  nos  es- 
cudos se  pinta,  apparecendo  só  a  cabeça 
no  alto  do  escudo,  ou  em  pé. 


Deixa  Colombo  as  praias  da  Liguria, 
Ao  rompente  I>eào  da  altiva  Hcspanha 
Novos  Impérios  dá,  thesouros  llo^•oa  : 
Américo  seu  nome  eterno  imprime 
Do  Globo  á  parte  máxima,  que  corre, 
Desde  o  Pólo  do  Sul,  do  Norte  ao  Prtlo. 

J.   A.    DE   MACEDO,  VIAGEM   EXTÁTICA,   Cant.   4. 

- —  Rompente  a  alma ;  em  vez  de  rom- 
pendo a  alma. 

—  Lacerante. 

—  Esquadrões  rompentes. 

Corre  sanguíneo  o  Rhodano  espumante, 
O  Rhono  de  pavor  se  volve  á  fonte, 
Rompentes  esquadrões  pisando  o  gelo 
Trazem  do  frio  Pólo  a  guerra,  a  morte. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Cant.  1. 

ROMPER,  V.  a.  (Do  latim  rompere). 
Quebrar,  fazer  em  pedaços,   despedaçar. 

—  Romper  uma  porta.  —  Romper  xim.  cas- 
tello.  —  As  crianqas  rompem  tudo.  — 
LeZes  sempre  prestes  a  romper  suas  ca- 
deias. 

—  Entrar  pelo  meio,  passar  pelo  meio. 

—  «Todos,  por  lhe  dar  lugar,  se  desvia- 
ram, inda  que  os  gigantes  com  ferocida- 
de soberba  vinham  rompendo  a  gente, 
sem  esperar  pela  cortezia  com  que  lhe 
despejavam  o  paço.  Tanto  que  chegaram 
ao  imperador,  sem  fazer  nenhum  acata- 
mento, se  detiveram,  esperando  o  que  a 
donzella  diria. «  Francisco  de  Jloraes, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  93.  —  «Bem 
dcscuydado  estava  Banha  Lao  de  ser 
acometido,  como  aquelle  que  sabia  os 
poucos  soldados  que  havia  no  Forte,  e 
dado  que  de  ouvido  soubesse  serem  os 
Portuguezes  atrevidos,  mal  se  persuadi- 
ria que  elles  tivessem  animo  para  sair  a 
campo,  e  muyto  menos  que  se  atreveriam 
a  romperlhe  suas  tranqueyras  povoadas 
de  tantos  guerreadores.»  Conquista  do 
Pegú,  cap.  5. 

■ —  Romper  a  carta,  o  escripto;  ras- 
gal-a,  abril-a.  —  «Querendo  nós  em  elle 
poer  castigo  mandamos,  que  se  alguém 
tal  escripto  achar  aberto,  e  o  leer,  que  o 
rompa  logo,  de  tal  guisa  que  se  nom  pos- 
sa leer,  som  mais  fallar  no  que  cm  elle 
achou ;  ca  se  o  publicar,  oii  mostrar,  ou 
a  alguma  pessoa  em  ello  fallar,  haverá 
tal  pena,  como  mereceria  aquel  que  o  fez, 
e  aver-s'a  por  Author.»  Ord.  Affons., 
liv.  5,  tit.  117. 

—  Romper  a  cortezia.  —  «A  quem  fora 
da  perda  de  varaõ  taõ  santo,  dohia  mui- 
to, ver  que  os  Mouros  rompessem  jà  a 
cortesia,  e  tivessem  em  pouco  aos  Mon- 
ges d'aquelle  !Mosteyro,  que  até  entaõ 
costumavào  ser  o  amparo  e  refugio  ordi- 
nário de  todas  stias  tribulações.»  Monar- 
chia  Lusitana,  liv.  7,  cap.  12. 

—  Figuradamente:  Romper  o  coração; 
despedaçal-o.  —  «E  chegaiido-se  á  Onça 
por  ver  se  recebera  algum  mal  dcUes, 
saltava-lhe  nos  peitos,  e  começava  de  lhe 
romper  o  coração  sem  o  querer  desaferrar, 


1 


330 


RO  Mi' 


té  que  lhe  bebia  o  Hanjifuo.»   Harroti,  Cla- 
rimundo,  liv.  -,  cap.  1. 

—  Romper  a  manhã;  apparcecr  a  au- 
rora, (lo-ípoutar  o  ília.  —  «l'oicrn  tanto 
que  rorapeo  a  inerililH,  Hzciuds  sinal  ao* 
barcos  (que  erSto  muitos)  pêra  nos  leua- 
rcm,  c  toilds  juntos  passamos  ila  outra 
parto,  c  fomos  aportar  junto  a  huma  for- 
taleza gran<le,  c  noua  em  que  auia  quin- 
ze torres  bem  puarnocidas;  c  detrás  dei- 
las,  vimos  a  Cidade  Cutliu,  cujos  muros 
86  andauam  acabando  de  taypa,  altos, 
grossos,  o  quadrados,  e  cm  catla  pano 
dezanoue  torres.»  Fr.  (iaspar  do  S.  Ber- 
nardino, Itinerário  da  índia,  cap.  IG. 

—  Romper  o  dia ;  amanhecer. 


E  SC  esvaecem  súbito  as  Imagens  ; 
O  mesmo  monte  s'eseondêo  •,  vapores 
Levantados  em  torno  á  yiatSL  enferma 
Sobre  mim  denso  véo  de  nuvens  formão. 
Da  cscuridilo  no  centro  me  parece, 
Que  rompe  o  dia... 

J.    A.    DF.  MVCEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Cant.    3. 


—  Romper  a  ah-a;  apparoccr  a  auro- 
ra,  rompíir  o   dia.  —  «  Nós,   chegando  a 
esta  praia  rompendo  alva,  inda  não  aca- 
bávamos de  lanyar  os  cavallos  fora,  quan- 
do nos  saltc'aram  seus  cavalloiros,  e  elle 
veio  traz  ellcs  poios  favorecer  e  animar: 
poderá  sor  que  corrêramos  risco,  se  a  tal 
tempo    não    viéreis,    e   pois    Deos    assim 
quiz,  também   quererá  que  tudo  venha  a 
bom  iim,   que  já  n.ão  podo  ser  meo,  pois 
o  cavalleiro  do  Salvagem  não  chegou  pri- 
meiro  quo   nós.»   Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  dluglaterra,  cap.  117.  —  «Do 
qual   caso  foi  logo  dar  conta  a  Pedralua- 
rez  e  assentou  com  elle  que  ao  seguinte 
dia  que  erão  dezaseis  de  Noucmbro  des- 
sem em  rompendo  alua  os  bateis  cm  huma 
nao  que   auia  suspeita  estar  carregada.» 
João  de  Barros,  Década  1,  liv.  5,  cnp.  7. 
—  listo    era    no   romper  dalua,   a  qual 
hora  08  imigos  com  algunuis  bombardas 
que  tinhaõ  assentadas  em  terra  na  ponta 
da   ilha,  começaram   de   tirar   contra   os 
nossos,   e  logo  dahi   a  pouco  aparoceo  a 
frota,   que  era   de   duzentas,  e  cincoenta 
velas,  e  por  vir  ainda  longe,  Duarte  Ta- 
clieco  fez  dar  voga  aos  bateis,  o  em  che- 
gando a  terra  foi  cometer  a  cstãcia  don- 
de  os   imigos   tirauara,   c   os  fez  fugir,  e 
porque  não  j)ode  trazer  as  bombardas,  as 
mandou    cucrauar.»     Damião    de    Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1 ,  cap.  SG. 
—  «Isto  tudo  se  fez  ao  romper  dalua,  c 
logo  dahi  a  pouco  com  a  jusante  da  maré, 
a    frota    de    Calecut   começou    de    decer 
pelo   rio    abaixo    na    ordem    que    arriba 
dixe.»    Ibidem,    cap.    91.  —  «Dalli   to- 
mando dom  loaõ  seu  caminho  para  Aza- 
mor,    com    toda   a   caualgada,    que   seria 
de  duzentas  almas,  e  muito  gado,  vacum, 
meudo,  camelos,  canallos,  c  outras  alimá- 
rias veo  dormir  a  Mercultam,  que  he  qua- 
tro legoas   destas  duas  aldeãs,  donde  no 


ROMP 

romper  dalua  partio,  e  a  terça  feira  vie- 
ram ter  a  huns  aduaren  do  Oledambram, 
leuando  dom  Bernardo  a  «lianteira,  no 
qual  dia  entrarão  antes  do  Sol  posto  em 
Azamor.»  Ibidem,  part.  :i,  cap.  4.S.  —  «(J 
que  sabido  assentou  com  os  outros  ca.\n- 
tães  o  que  i^e  auia  de  fazer,  o  em  rom- 
pendo a  alua  deu  na  tranqueira  tam  du 
súbito,  que  a  entrou,  e  matou,  c  capti- 
uou  rimitos  dos  que  nella  stauaõ,  porque 
03  outros  fogirain  pêra  Pado  com  o  capi- 
tão que  cl  liei  de  Bintam  ali  tinha,  que 
era  hum  do.s  jirincipac-s  de  sua  casa.»  Ibi- 
dem, part.  4,  cap.  .")2.  —  «(Caminhando 
assi  todos  a  lio  antes  de  romper  de  todo 
a  alua,  em  sesta  feira  das  indulgências, 
se  ajuntaram,  e  ordenaram  sua  batallia 
em  cinco  azes,  ilas  quaes  trcs  eram  da 
gente  de  dom  loão,  elle  cm  huma,  e  Rui 
barroto  cm  outra,  e  loaõ  Gonçalvez  da 
camará  tilho  de  Simão  Gonçalvez  capi- 
tam da  ilha  da  madeira,  com  Aluaro  de 
carualho,  e  loain  da  sylua  na  terceira,  c 
Nuno  fornandez  com  dom  Afonso  de  Fa- 
ram  seu  genrro  na  quarta,  e  ('ide  Ihea- 
bentafuf  com  toda  a  sua  gente  na  quin- 
ta.» Ibidem,  part.  3,  cap.  ôO. 
—  Desbaratar,  fazer  desunir. 

Rompe,  as  filas  fat:lcs  dos  Combatenbis  •, 
Arreme.í.-sa-se  ao  centro  do  Conflicto. 
Vê  o  Pác,  cm  mortács  vascas,  arquejando; 
Ketcm  o  Carro ;  abafâo-na  os  pezares. 

F.    SI.    DO  NASCIMENTO,  OS  MARTVRES,  1ÍV.    10. 

Menos  bárbaro  foi  pnr  certo  o  tempo, 
Em  que  do  Pólo  A(|uilonar  rompendo 
Fero  Ataúlfo,  e  (renserico  veio 
Despeda(,ar  dos  Ccsarcs  o  Tbrono. 

J.    A.    DK  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Cant.    3. 


—  Atravessar,  passar. 

Tal  das  entranhas  da  Goiama  rompe 
O  Tlicsouro  do  Egipto,  o  vasto  Nilo, 
Xas  agoas  do  Ganibea  confundido, 
De  novo  resaltando  o  Egipto  alaga. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  XATUREZA,  CAnt.  2. 


Tal  dos  aéreos  And<'S  .'falie  pequeno 

O  Mi.ssisíipi,  o  rápido  Oronoco; 

Tal  d:i3  entranhas  da  Goi.ama  rompe 

O  1'aretonio  Nilo,  e  hum  pouco  as  agoas 

(Icculta  no  Gambèa,  c  vem  de  novo 

Trazer  na  inundarão  fartura,  e  nomo 

Ao  livre  Egypto  hum  tempo,  o  agora  escravo. 

IDEM,   MEDITAÇÃO,  Caut.   2. 

—  Romper  as  sombras;  passar  por  ci- 
las, atraves.sal-a8. 

Nos  confins  do  Geométrico  Compasso 
Anciado  me  volvo,  e  aqui  não  passo. 
Como  nos  Cantos  do  encontrado  Oriente, 
íviltar  hum  vòo  rápido  aos  abvsmos, 
Vêr  o  feroz  Satan,  que  rompe  as  sombras. 

J.    A.   DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Cant.   4. 


—  Figuradamente ; 
espesso;  rasgal-o. 


Romper   o    manto 


RíJMP 

Qual  no  Inverno  tríntonbo,  o  tenebroao, 

Quando  a  fria,  importuna,  c  groMa  ncvoa 

Km  t<irno  fecha  o  ar :  »c  o  So!  brilhante 

Itompe  com  vivo  raio  o  manto  «apenso. 

Súbito  foge,  Hubito  o  negrume 

Til  >a  de  novo  o  fulgurante  a^jtecto, 

K  da  noite  impfrfeita  o  ImpiTio  «Mt^-nde. 

1.    A.    Dl   MAI.KIH),   VIAOKM  EITArlCA.  CHUt.  ^. 


—  Romper  a  denta  escuriílão;  atravcê- 
sal-a. 

Quando  s  barbárie  Gothíca  domínA 
l'or  tão  ob.'Wuroi<  >w;culo.4  no  Mundo, 
Dos  contínuos  fenómeno*  a  causa 
Sempre  ignorada  foi.  De  e.ipnro  a  eípaço 
Surgia  hum  (ieiiio,  i|ue  romprr  procura 
A  densa  escuridão!  baldado  esforço! 

J.    A.    DE  UKCr.íK),  TIAOIM  EXTÁTICA,  CVlt.    4. 

— ■  Romper  ««  treva»;  passal-as,  atra- 
veaaal-as. 

Voar,  qual  vi'.a  o  espirito,  eíqnivar-nc 
Dos  sentidos  íis  ríspidas  cadèasV 
K  abrir  os  Ccoá  com  penetrante*  raios? 
Ir  buscar  no  passado  illustres  feitos? 
Com  alma  luz  romper  treva»  profunda*. 
Que  escondem  dentro  cm  si  futuro  incerto? 
Fazer  surgir  do  túmulo  as  Scienciaa? 

}.   A.    DE  MACEQO,  MEDITAÇÃO,  Cant.  4. 

Do  Sábio  indagador  ás  vistas  fogem  : 
Nada  esquecido  está!  IfencUcl.  IJomare 
Das  minas  vão  romper  trevas  C8pc>w«« ; 
Perdem  da  vnsta  o  Cco,  da  vista  o  dia. 

IDEM,  VIAGEM   EXTÁTICA,  Caot.    4. 

—  Figuradamente :  Romper  obstaculot 
fortes;  destruil-03,  fazel-os  desapparecer. 

Nelles  o  fogo  so  introdui,  c  os  fortes 

Poderosos  obstáculos  rompendo. 

Tudo  di.ssolve,  e  fnnde,  e  volatiza, 

Mas  nunca  sem  combate  os  vence,  os  doma. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  XATCBEZA,  Cant.  2. 


—  Romper   os    áureos  têllos;  abril-os, 
rasgal-03. 

Foi  teu  maior  estudo  e»»e  Volume, 
Onde  as  \-is*>es  de  extático  Profeta 
ílm  sombra  impenetrável  se  sepnitão; 
Não  vadeáveis,  não,  que  os  áureos  Sellos 
Só  lhos  deve  romper  momento  extremo. 
Quando  oscillante  a  Máquina  Mundana 
Vir  das  nuvens  baixar  do  Eterno  o  Filho. 

J.    A.    DE    MACEI>0,    VIAGEM   EXTÁTICA,   CaOt.    3. 

—  Romper  o  véo;  rasgal-o. 

Ciosa  a  Natureza  o  fecha,  o  guarda 
Dentro  de  Siia  obscuridade  envolto ; 
Té  do  divino  1'ranio  a  luz,  o  gettio 
O  denso  escuro  véo  romper  não  pôde. 

J.   A.    DE   MACEDO,  A  XATCREZA,  CUlt.  3. 

—  Romper  a  noits :  atravessal-a,  pas- 
sal-a. 

I">e  ti  não  longe  vai  o  Estagrrita ; 

A  noite  tu  rompente,  cm  que  so  involve ; 

Teu  desgraçado  Génio  excede  a  todos. 

J.    À..    DE    MACEDO,    XEDITAçÃO,    Cant.    4. 


ROMP 
—  Romper  o  globo;  atravessal-o. 

Rompe  outro  globo,  c  rápido  descreve 
A  terrível  parábola  noâ  ares; 
Com  súbito  fragoi-  despedaçado 
Leva  a  tudo  a  ruina,  a  tudo  a  morte. 

J.    A.    DE   MACEDO,   A   SATCUEZA,   Cailt.    2. 

—  Figuradamente :  Romper  as  rejle- 
xões ;  destruil-as. 

Tal  Quadro  olhando,  c  os  lances  da  Fortuna : 
Eis  rompe  as  reflexões,  e  assim  perora. 

P.    M.    DO  SASCIMEXTO,  OS  StABTYBES. 

—  Figuradamente :  Romper  o  amor  a 
setta  irada;  despedaçal-a. 

O  amor  nau  perdoa  a  nada ; 
Rompe  ao  mais  a  sétta  irada 
Obrando  extrema  crueldade ; 
Pois  lie  bem  morra  a  vontade, 
Se  só  Nnvo  a  prenda  amada. 

..^BADE     DE     JAZESTE,     POESIAS,     tOm.     2, 

pag.  20  (ediç.  1787). 

—  Romper  alguém;  feril-o,  golpeal-o 
com  algum  instrumento  cortante  ou  per- 
furante. 

—  Romper  a  linha ;  desbaratar,  ou  met- 
ter  algum,  ou  alguns  dos  navios  de  que 
ella  se  compõe,  de  sorte  que  fique  inter- 
rompida a  communicação  entre  uns  e  ou- 
tros navios  da  linha  inimiga. 

—  Arrombar. 

—  Romper  os  muros,  os  duiues;  pôr, 
arrombar,  abrir  passada. 

—  Romper  mattos ;  entrar  por  elles  com 
trabalho. 

—  Romper  o  véo  pudibundo ;  desvirtuar 
uma  donzella. 

—  Romper  maninhos;  roçai -os,  desmou- 
tal-os. 

—  Romper  lanças  justarido  ;  quebral-as 
justaniJo,  justar. 

—  Romper  guerra;  começal-a. 

—  Figuradamente  :  Romper  as  difficul- 
dades,  os  receios ;  proceder  sem  se  impor- 
tar com  elles. 

—  Romper  as  leis;  quebral-as,  trans- 
gredil-as. 

—  Romper  o  nome.  Vid.  Nome. 

—  Romper  o  soumo ;  interrompel-o,  des- 
pertal-o. 

—  Romper  a  palavra;  atalhal-a,  cor- 
tal-a,  estorval-a. 

—  Romper  a  paz,  as  tréguas ;  que- 
bral-as. 

—  Romper  o  silencio,  o  segredo;  trans- 
mittil-o,  revelal-o. 

—  Romper  o  sitio  d^  uma  praça /abrir 
a  trincheira,  e  principial-o. 

—  Romper  terras;  arroteal-as,  aral-as, 
e  lavrar  pela  primeira  vez  as  que  nunca 
foram  lavradas. 

—  Figuradamente :  Romper  o  ar,  as 
nuvens;  atravessa  1-as. 

— -  Vencer,  desbaratar. 

—  V.  n.  Quebrar. 


ROMP 

—  Romper  com  alguém ;  quebrar  com 
alguém.  —  Romper  com  seu  contrario.  — 
í  Sintio  Phelipe,  as  novas  desta  desgraça, 
como  que  lhe  entendia  as  dificuldades,  e 
partindo  de  Roma  com  determinação  de 
romper  com  seu  contrario,  lhe  atalhou  a 
gente  de  guerra,  chegando  à  Cidade  de 
Verona  onde  o  matàrau,  e  os  Pretorianos 
de  Roma,  sabendo  esta  nova,  matàraõ  a 
Phelipe  seu  filho,  de  quem  se  conta,  que 
no  tempo  que  viveo  o  não  virào  nunca 
rir,  pronosticando  nesta  tristeza,  o  apres- 
sado fim  de  sua  vida.»  Monarchia  Lusi-  1 
tana,  liv.  õ,  cap.  17. 

—  Quebrar  a  paz,  a  amizade. 

—  Mover,  incitar  guerra. 

—  Romper  peJa  gente;  entrar  pelo  meio 
d'ella.  —  (í  Despois  que  o  embaixador  se 
deteve  hum  espaço  nestas  ruas  das  ba- 
lanças, passando  mais  adiante  por  todas 
as  estações  dos  sacrificios,  esmoUas,  en- 
tremeses,  bailes,  autos,  musicas,  e  lutas, 
chegamos  á  casa  do  Tinagoogoo  com  as- 
saz de  afrõta  e  trabalho,  por  ser  a  gente 
tanta  em  tanta  quãtidade,  que  não  avia 
romper  por  ella  por  muito  que  nisso  se 
trabalhasse. »  Fernão  Mendes  Pinto,  Pe- 
regrinações, cap.  164. 

—  Figuradamente  :  A  eloquência  rompe 
eííi  doces  ondas  de  purpúreos  lábios. 

—  Disparar,  começar  a  operar  com 
força. 


R031P 


331 


Em  grito  alegre  rompem  os  Armoricos : 
Clemência  (cin  mim  tam  fac.il !  i  põem  nas  nuvens. 
Rcquciro-lhes  promessa  antes  que  partào, 
De  abjurar  tam  horrendos  sacrificios. 
Que  um  Cláudio,  que  ura  Tibério  proscreverão  I 

F.    M.  DO  SASCUIESTO,  08  MARTTSES,  1ÍV.    9. 


Tal  o  retrato  dos  Mortaes  primeiros 
Té  quhuma  Fúria  do  profundo  abismo 
Surgio  no  Mundo ;  da  empeçada  grenha 
Uuma  serpe  arrancou,  lança-a  no  peito 
Do  mesquinho  mortal,  larra  o  veneno 
Da  soberba  ambição,  do  amor  infausto 
De  ter,  de  possuir:  rompe  a  Soberba, 
Dos  males  todos  desgraçada  origem, 
Pejo,  verdade,  e  fé,  súbito  fogem. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Caut.  2. 


Sair  com  Ímpeto. 


Quem  marca  o  giro  dos  ethereos  Globos 
Qincessantes  nas  orbitas  caminhão ! 
Esta  a  primeira  voz,  que  dalma  rompe 
Do  mortal  pensador.  No  abysmo.  e  sombra 
Se  engolfa,  c  perde  humano  entendimento. 

J.   A.   DE  ILVCEDO,  .A  S.ATLEEZA,  Caut.    1. 


D'e3tranha  forma  desusados  peixes  ; 
Rompem  do  seio  das  cerúleas  ondas, 
E  as  auriverdes  azas  sacodindo 
Sequilibrào  do  ar  no  espaço  extenso. 
IBIDEM,  cant.  3. 


—  Ao   romper  da  batalha;  no  começo 
d'ella. 

—  Apparecer. 


Bem  como  do  purpúreo  acccso  Oriente 

O  flamuiigero  Sol  surge  envolvido 

Xhum  véo  de  nuvens,  que  seu  disco  ardente 

Conserva,  e  traz  aos  olhos  escondido; 

Quinda  assim  mesmo  rompe,  c  ao  Ceo  patente 

Envia  a  luz  do  Limbo  esclarecido, 

E  presente  se  mostra,  inda  que  occulto, 

Como  da  inteira  Natureza  ao  culto. 

J.  A.  DE  MACEDO,  O  OSIEXTE,  Cant.  1,  CSt.  13. 

■ —  Sair,  dar  ao  publico,  publicar-se. 

—  Mar  que  rompe  cm  flor;  que  quebra 
fortemente,  e  se  desfaz  em  grossa  escuma. 

—  Romper  contra  o  imjjeto  da  inclina- 
ção; fazer  força  ao  seu  natural. 

—  Romper  por  fogo  e  morte;  atraves- 
sar por  clle. 


Despedido  atraz  isto  o  varão  forte 
Ao  primeiro  perigo  a  fusta  entrega, 
E  rompendo  outra  vez  por  fogo  c  morte 
Com  invencivel  peito  o  mar  navega ; 
E  tal  favor  então  da  amiga  sorte 
Sentio,  que  á  fortaleza  em  salvo  chega. 
Apesar  do  perenne  fogo  ardente 
A  dotê-lo  apressado  e  diligente. 

FRAXCISCO  DE  ANDB.IDE,  PEIJIBIKO  CEBCO  DE  DIU, 

cant.  14,  est.  14. 


—  Romper  pela  garganta  delicada. 

Tacs  milagres,  teus  dons,  do  ar  se  formão. 
Pela  garganta  delicada  rompe, 
Em  mil  undulações.  suspenso,  ou  livre. 
Transplanta  na  minh'alma  o  Elísio  todo. 
Bera  como  á  voz  dEolo  as  turvas  ondas 
Sc  Icvantão  bramindo,  e  s'encadeão, 
Assim  tu  mandas  ás  paixões.  Quimperio  ! 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  XATUEEZA,  Cant.  2. 

—  Cortar,  sem  descontinuar. 

—  Commetter  cousa  que  demanda  ar- 
rojo, despejo. 

—  Romper  em  pranto,  em  lagrimas; 
desatar  a  chorar  impetuosamente. 

—  Romper  a  voz;  sair  com  força. 

—  Romper  por  obstáculos,  pior  tudo; 
fazer  alguma  cousa  vencendo,  ou  apesar 
de  obstáculos. 

- —  Romper  a  voz;  romper  em  soliló- 
quios. 

—  Romper-se,  v.  refl.  Quebrar-se,  des- 
pedaçar-se.  —  «Desenganados  todos  de 
estarmos  encalhados,  e  as  velas  desfral- 
dandose  em  vão,  se  começou  a  romper  o 
Ceo  com  gritos,  e  a  ferir  os  ares  com 
alaridos,  qnaes  pode  julgar  facilmente, 
quem  ja  se  vio  em  semelhantes  perigos.» 
Fr.  Gaspar  de  S.  Bernardino,  Itinerário 
da  índia. 


Tam  nobre  Creatura  ?  —  Inda  os  lamentos 
E  a  não-valiosa  mágoa  ia  alongando 
O  exasperado  Archanjo...  Eis  que  o  abrazado 
Boqueirão  se  lhe  rompe...  Avista  o  Abysmo!. 
E,  entam,  que  odiosa  ideia  lhe  resurge ! 

F.    M.   DO  NASCIMENTO,  OS  MABTTBES,  1ÍV.   8. 


Primeira  producção  da  industria  vossa  ; 
Foi  pezado  alvião,  foi  lizo  arado ; 
Este  do  ferro  primitivo  emprego. 


332 


ROMP 


BONG 


ROND 


O  seio  »c  rompe.o  da  incida  terra, 
Em  pouco  m!  cobrio  Jn  louras  iiiciison; 
K  110  ciiipiíiaJo  oitciro  u<>  Sol  Ojiiic-ito 
Oá  viccjantc.1  imiuiiaiioj  n  r.iila(,',iio. 

í.   A.    DB   «\CKDO,   MKUirA<;\0,  Cllllt.     1. 


Porém  rnmpfii-ie.  Rlfiiii  :  timii  vo?,  doco, 
Languid^i  como  a  frniitu  da  papoulu 
Que  pcudi!  o  ardor  do  sol,  incina  o  suave 
Como  o  iiu.44urro  da  aura  matutina 
Eiitru  a.4  tiururi  do  orvalho  rociadas, 
Uma  voz  disHO  :  — Oli !  tem  do  iiiim  piedade. 
Oh !  do  minha  fraqueza  nilo  abuse». 
OÀUBKir,  D.  DRAN'u\,  caut.  4,  cap.  5. 


—  Romper-se  a  virgem;  corrompcr-ac, 
desvirtuiir-so. 

—  Romper-se  o  mar  no  rocliedo;  Jos- 
pcdaçar-.su,  qucbrar-so  ii'ellc. 

—  Romper-se  o  caramelo  do  rio;  que- 
brar-ae,  dcsfjizer-se. 

—  Adágios  k  provkuuios: 

—  Melhor  é  descozer  que  romper. 

—  O  demasiado  rompe  o  saceo. 

—  ]íom  sabe  o  domo,  cujo  frangalho 
rompe. 

—  Cose,  quo  cosa-*,  c  não  que  rompas. 

ROMPETERRA,  adj.  (composto  de  rom- 
pe, e  terra).  Termo  de  poesia.  Que  rom- 
pe a  terra. 

ROMPIDO,  pari.  pass.  de  Romper.  Vid. 
Roto. 

liran.  DiU  ma  ora  huma  topada  ; 

Trafjo  as  sapatas  rompida-i, 

Destas  vindas,  destas  idas, 

E  cm  fim  não  ganho  nada. 
Velho.  Eisaqui 

Dez  cruzados  pêra  ti. 
oiL  vtcEHiE,  f;lbças. 

—  Rompida  a  guerra,  a  paz;  a  guerra, 
a  paz  começada  pelos  primeiros  actos  hos- 
tis. 

—  A  senda  nunca  rompida  na  vastidão 
do  mar. 


Qual  deve  a  ^lagalhães  o  Nauta  a  senda 
Na  vastidão  do  Mar  nunca  rompida. 

J.   A.    DE   MACEDO,  VIAGEU   EXrATICA,   CaUt.    3. 

—  o  discipulo  rompido;  discípulo  des- 
feito, desbaratado. 

ROMPIMENTO,  s.  m.  Acçiío  de  romper, 
de  quebrar,  despedaçar.  —  O  rompimen- 
to da  giiarra. 

—  Estar  com  alguém  em  rompimento ; 
estar  do  ([uebra,  inimizado. 

—  Rompimento  </<;  gente  na  guerra; 
desbarato,  destroço. 

—  Rompimento  de  canal;  rompimento 
em  terra  para  navegar. 

ROMPÕES,  s.  m.plur.  Nas  ferraduras 
são  as  poutas  voltadas  para  baixo,  que 
fazom  um  como  salto;  usam-se  maiores 
para  se,:;urar  no  regelo  vidrado  dos  paí- 
ses onde  a  neve  coalhada  n'essa  consis- 
tência escorrega,  como  o  faria  um  pavi- 
mento de  vidros ;  contra  o  qual  os  de  pé 


calçam  por  cima  do»  sapatos  palmilhas 
d'i)ur(do'<,  ou  paniio  asperu. 

ROMULEO,  A,  alj.  Termo  de  poesia. 
Ooiiciiriieiite  a  li-jumlo,  do  iiomulo.  — 
Terra  romulea. 

RONCA,  .".  /.  Amwiça  de  fanfarrão, 
fanfarroiiice,   bravata. 

—  União  de  ires  ou  quatro  anzoes  em 
fiirma  de  fateixa,  para  pescar  nu  alto  pei- 
xes grandes. 

—  Um  instrumento  de  som  rouco  e 
muilonliii. 

RONCADOR,  A,  adJ.  o  s.  Que  ronca, 
(jue  d:i  um  som  rouco. 

—  Fanfarrão,  valentão,  ameaçador, 
sem  valor  para  pôr  cm  execução  as  amea- 
ças. 

—  Quo  ruge. 

—  Que  bravatoia,  que  ameaça  grandes 
cousas  em  vão. 

—  Que  se  jacta,  que  se  vangloria,  que 
blasona. 

—  tí.  m.  Peixe  do  império  do  Bra- 
zil. 

RONCADURA,  s.  /.  Termo  popular.  Be- 
xiga cheia  de  vento;  ronco. 

—  O  som  do  instrumento  popular,  a 
que  denominam  gaita  de  folie.  Vid.  Ron- 
ca, e  Ronco. 

RONCAR,  V.  n.  Dar  ura  som  ronco,  á 
similhança  d'aquclles  que  dormem. 

—  Blasonar,  fallar  com  ostentação.  — 
Roncar  de  Jidalgo  valente. 

—  Jactar-se,  vangloriar-se,  orgulhar-se. 

—  Kugir.  —  Roncarem  as  tripas. 

—  Ameaçar  grandes  cousas  inutilmen- 
te, bravatear. 

—  Roncar  o  porco  irado. 

—  Figuradamente :  O  mar  ronca  em 
tormenta. 

—  Adagio-s  e  provérbios  : 

—  Quem  a  porcos  ha  medo,  os  montes 
lhe  roncam. 

—  Taiiibcm  ronca  o  mar,  c  mijo  n'elle. 
RONCARIA,  s.  /.    U  som  ronco  do  pei- 
to que  se  respira  com  diíBculdade. 

—  Fanfarroaices  de  roncador,  grandes 
aui  cavas. 

RONCARIA,    s.  /.  Movimento  ronceiro. 

—  Preguiça,  negligencia,  incúria. 
RONCEAR,    V.   n.   Mover-se,  obrar  va- 

garosaineiite. 

RONCEIRAMENTE,  adv.  (De  ronceiro, 
com  o  suffixo  «mente»).  De  um  modo 
ronceiro. 

—  Tarda,  lenta,  preguiçosamente.  — 
Andar  ronceiramente. 

RONCEIRO,  A,  adj.  Que  se  move  de- 
vagar o  lentamente. 

—  Zon-ciro,  passeiro. 

—  Vagaroso,  lento,  tardo. 


liotwfira  veio  a  luíva 

A'«  plácidas  campinas, 

Oiido  só  dos  amores,  das  boninas 

Tractamos  quando  o  cjiniixi  se  renova. 

FB.VNCISCO    UASOKL    DO    NASCIMENTO,    OBBAS, 

tom.  1,  pag.  11-t. 


—  Pouco  activo,  com  pouca  diligencia. 

—  Criado  ronceiro. 

—  Que  faz  poucas  progre.iso3  no  que 
aprende,  tardo,  <juc  aproveita  [hiucú. 

—  Termo  de  náutica.  Navio  mau  de 
vela,  pouco  andador. 

RONCINADO,  A,  <idj.  Termo  de  boU- 
niea.  Diz-.-.e,  das  foliuu  que  sendo  oblon- 
gas e  piniiatitidas,  tcem  os  lóbulos  dirigi- 
dos jiara  a  ba-e. 

1.1  RONCO,  s.  VI.  O  som  que  se  faz 
roncando.  —  O  ronco  do  jacali. 

—  O  som  produzido  pela  rouca. 

—  Bravata,  faufarrooice,  ameaça  de 
valentão,  ronca. 

■J.i  RONCO,  A,  a^lj.  Termo  antiquado. 
Rouco.- — Ronca  trumbeta. 

RONCOLHO,  A,  adj.  Não  castrado  per- 
feitamente. 

—  Ca  vai  lo  roncolho;  cavallo  que  tem 
um  sii  testículo,  ou  mal  ca]>ado  na  volta. 

—  Porco  roncolho;  que  ticou  mal  ca- 
pado. 

RONDA,  s.  /.  (Do  francez  rcmde).  Vi- 
sita nocturna  cm  roda  de  uma  praça  de 
guerra,  n'um  campo,  etc.  —  Fazer  a  ron- 
da. —  Ojficial  de  ronda.  —  A  hura  da 
ronda.  —  Ronda  '/<■  oj/ii:iiil  superior. 

—  Ronda  simples;  ronda  da  capitania, 
logar-tenente,  sub-logar-tenente  ou  sab- 
oíBcial. 

—  Caminho  de  ronda;  caminho  desti- 
nado a  fazer  a  ronda. 

—  A  própria  tropa  que  faz  a  ronda. — 
Reconhecer  a  ronda.  —  A  ronda  ^xwía. 

—  Figuradamente  :  Fazer  a  ronda  ;  gy- 
rar  em  volta  de  algum  logar  para  obser- 
var se  tudo  está  em  ordem,  visitar  o  in- 
terior de  uma  habitação. 

—  DIz-so  algumas   vezes  dos  animaes. 

—  O  leão  faz  a  ronda ;    sente  de  longe 
os  estranho.-?. 

—  Ha  também  rondas  de  justiça,  para 
evit;ir  distúrbios  á  noute. 

—  Circulo  de  pessoas,  que  dançam  an- 
dando á  roda. 

—  Syk.  :  Ronda,  patnUha,  guarda,  pi- 
quete, escolta. 

Estes  termos  distinguem-se  no  caracter 
que  tem  as  pessoas  armadas  que  desem- 
penham as  funcções  militares  por  elles 
designadas. 

Ronda  é  a  visita  do  gente  armada  que 
se  faz  uoctaruamente  em  roda  de  uma 
praça,  de  um  arraial  ou  campo  militar, 
para  observar  se  :i3  seutiuollas  estão  aler- 
ta. FatruUui  ê  uma  esquadra  de  soldados 
que  se  ]>òe  em  acção  para  rondar,  uu 
como  instrumento  de  força  para  reprimir 
qualquer  desordem.  Guarda  é  o  corpo  de 
soldados  que  assegura  ou  defende  algum 
posto  a  elles  contiado.  PiquiU  c  certo  nu- 
mero de  soldados  pertencente  a  uma  com- 
panhia, com  seus  ofHcia&s  e  que  cstào 
proniptos  para  qualquer  operação.  Escol- 
ta ó  uma  porção  de  soldados  que  acompa- 
nha o  vae  dan  lo  guarda  a  alguma  cousa 
ou  pessoa. 


RONQ 

Não  tem  fundamento  algum  a  distinc- 
ção  que  alguns  fazeiu  entre  patrulha  e 
ronda,  illzeiído  qua  esta  ó  de  gente  de  pé, 
e  aquella  de  gente  a  cavallo.  E  mister 
não  conhecei'  Lisboa  depois  do  conde  de 
Núvion  para  não  saber  que  a  cidade  era 
percorrida  de  noite  por  palridhas  de  po- 
licia a  pé  e  a  cavallo,  e  que  egual  servi- 
ço faz  hoje  a  guarda  municipal,  patru- 
lhando a  pé  e  a  cavallo.  Assente-se  pois, 
que  patrulha  é  de  gente  de  pé  ou  a  ca- 
vallo, mas  sempre  gente  de  guerra,  e 
para  segurança  dos  habitantes,  etc.  ;  c 
ronda  é  ordinariamente  de  gente  de  pé 
para  vigiar  as  sentinellas  á  roda,  e  n'isto 
se  differenca  da  patrulha. 

t  RONDÁCHINA,  s.  f.  Termo  de  botâ- 
nica. Género  de  plantas  abrangendo  uma 
única  espécie  que  cresce  na  America  Se- 
ptemtrional,  nas  aguas  estagnantes,  co- 
brindo algumas  vezes  a  sua  superfície.  E 
muito  notável  em  que  suas  hastes,  seus 
peciolos,  pedúnculos  e  botões  de  folhas  e 
fructos  são  envolvidos,  antes  da  flores- 
cência, de  um  muco  gelatinoso,  em  appa- 
rencia  perfeitamente  semelhante  á  deso- 
va da  rà.  Este  muco  desapparece  desde 
que  a  fecundação  acaba. 

RONDADOR,  s.  m.  Pessoa  que  ronda, 
que  anda  de  ronda. 

—  Adjectivamente  :  Que  ronda.  —  Sol- 
dado rondador. 

RONDÃO,  s.  m.  Vid.  Roldão. 
RONDAR,    V.    a.    Andar    de    ronda.  — 
Rondar  a  praça,  a  cidade. 

—  Figuradamente :    Vigiar,   fiscalisar. 

A  este  que  as  rondara,  c  que  as  segaia  ; 
Disse  huiua  das  mais  novas  —  Tu  que  intentas? 
Tendo  corrido  ji  tantas  tormentas, 
Inda  o  corpo  te  pede  hoje  folia  V 

ABBADE  DE  JAZENl'E,  POESIAS,  part.  1,  pag.  41. 

—  Termo  de  marinha.  Alar,  atesar, 
rodear  ou  dar  voltas  com  algum  cabo  á 
roda  de  qualquer  cousa  em  que  traba- 
lham, dizendo  :  ronda  o  eaba. 

RONDO,  s.  Hl.  Termo  de  musica.  Ária 
cujo  primeiro  verso  se  repete  muitas  ve- 
zes. Vid.  Ratornello. 

— •  Termo  de  poesia.  Poemeto,  redon- 
dilha. 

RONHA,  s.  /.  Espécie  de  sarna,  que 
costuma  dar  nas  ovelhas. 

—  Loc.  POPULAR:  Ter  muita  ronha; 
ter  muita  malicia,  muita  manha. 

—  Figuradamente :  Vicio  morai,  erró- 
nea. 

RONHOSO,  A,  adj.  (De  ronha,  com  o 
suftixo  «080»).  Atacado  de  ronha.  —  Ove- 
lha rouhosa. 

—  Figuradamente:  Manhoso,  astuto, 
cheio  de  malicia. 

t  RONHURA,  s.  /.  Termo  de  náutica. 
Synonymo  de  goivadura. 

RONQUEAR,  v.  a.  Alimpar  o  atum  das 
espinhas  para  o  estopejar,  e  pGr  em  con- 
servas . 


ROQU 

RONQUEIRA,  s.  /.  Doença  do  gado. 

—  E.iformilade  que  consiste  em  uma 
mudança  estranha  do  soído  e  natural  da 
voz,  motivada  de  algum  estorvo  ou  pre- 
juízo recebido  nas  partes  que  concorrem 
a  formal-a,    ou   nos  órgãos   d'ella. 

RONQUENHO,  A,  alj.  Rouco. 

RONQUIDÃO,  s.  f.  Ronco. 

RONQUIDO,  s.  m.  Ronco.  Vid.  Rouqui- 
dão. 

ROOL,  s.  m.  Termo  antiquado.  Vid. 
Rol. 

ROOLIM,  s.  VI.  Termo  do  Pogú.  Digni- 
dade suprema  do  seu  sacerdócio. 

RO  OS,  s.  m.  piar.  Roes. 

ROPA,  í.  /.  Vid.  Roupa. 

ROPETÃO,  s.  í/i.  Vid.  Roupetão. 

ROPIA,  s.  f.  Vid.  Rupia. 

ROQUE,  s.  m.  Termo  de  jogo.  Peça  do 
jogo  do  xadrez,  collocada  nos  cantos, 
uma  á  direita,  outra  á  esquerda. 

—  Adagio  e  provérbio  : 

—  Não  ha  rei  nem  roque. 


Que  não  i  tanta 
que  me  faça  Rei  nem  lioqae. 
Leixa-o  carregar  ua  manta. 
Ler-lhc-hei  Palmeirim. 

ANTÓNIO  PRESTES,  Auios ,  pag.  239. 


ROQUEIRA,  s.  /.,  ou  ROQUEIRO,  s.  m. 
Peça  de  artilheria  que  joga  pcllouros  de 
pedra. 

—  Ha  roqueiros  pequenos,  que  jogam 
pellouros  pequenos,  e  se  disparam  em 
festas  de  igreja  sem  elles. 

—  Toma-se  também  por  rageira,  ou 
rogeira.  —  «Ao  outro  dia  nos  partimos 
daly  pola  mesma  terra  deste  senhorio 
passada  huma  serra  achamos  terra  povo:.- 
da  de  aldeãs  e  lugares  grandes  de  lavra- 
dores e  junto  delias  fortalezas,  castelos, 
roqueyros,  e  cisternas  de  aguoa  c.iovidi- 
ça  servem  estas  fortalezas  e  castelos  pêra 
se  acolherem  os  moradores  delias  quando 
aintem  ladroes  que  os  vem  a  roubar  por- 
que nunca  vem  de  cento  pêra  bayxo.» 
António  Tenreiro,  Itinerário  da  índia, 
cap.  4. 

ROQUEIRADA,    s.  /.  Tiro  de  roqueira. 
1.)  ROQUEIRO,  A,  adj.  De  roca,  de  ro- 
queira. 

—  Bombardas  roqueiras;  canhões  cur- 
tos e  grossos,  que  disparam  rocas  de  pe- 
dra. 

—  Castello  roqueiro ;  castello  com  ar- 
tilheria que  dispara  rocas  de  pedras  miú- 
das. —  «Partidas  estas  cartas,  havendo 
sete  dias  que  alli  estava,  chegarão  os  ou- 
tros nove  navios  de  sua  conserva,  com 
que  entrou  pelo  rio  Eufrates,  e  chegou  a 
huma  Ilha  que  faz  logo  dentro  chamada 
Mouzique.  Aqui  estava  hum  castello  Ro- 
queiro pequeno  com  alguns  Turcos,  que 
tanto  que  viraõ  a  nossa  Armada  o  despe- 
jarão.» Diogo  de  Couto,'  Década  6,  liv.  9, 
cap.  lõ. 


RORI  333 

Qual  Castello  roqueiro,  o  forte  Cuneo 

SótiVo  as.ialto  ;  a  briga  se  afFervora : 
O  pú  sanguineo  se  revolve  em  nuvens, 
Por  elmos,  plumas  sobe  ennovellado. 

i\    M.    DO  NASCIMENTO,   OS  MARTYBES,  1ÍV.    6. 


—  Pellouro  roqueiro  ;  pellouro  de  pe- 
dra, di.sparado  da  roqueira. 

—  Castello  roqueiro ;  castello  fundado 
em  monte,  pedra,  rocha,  rochedo. 

2.)  ROQUEIRO,  A,  adj.  Que  fia  em 
roca.  —  /ça  roqueira;  fêmea  moça  do 
commum,  ou  das  que  trabalham  com  sua 
roca  e  fuso. 

ROQUEJAR,  i'.  a.  Produzir  um  som 
rouco.  Vid.  Rouquejar. 

ROQUELAURE,  s.  m.  Vid.  Rocló,  ter- 
mo mais  correcto  e  mais  harmónico  com 
a  nossa  linguagem. 

ROQUETE,  s.  m.  Vid.  Rochete. 

—  Eiu  roquete ;  no  brazào,  é  o  mesmo 
que  em  triangulo. 

ROQUEYRO,  A,  adj.  Vid.  Roqueiro.  — 
Castello  roqueyro.  —  «E  outras  povoações 
muyto  grandes  cercadas  de  muros  muvto 
fortes  e  largos,  com  seus  castellos  roquey- 
ros ao  longo  da  agoa,  a  fora  muytas  tor- 
res e  casas  ricas  de  suas  gentílicas  seis- 
tas,  campanayros  de  sinos  e  curucheos 
cozidos  em  ouro,  e  pelos  cãpos  avia  tanta 
quantidade  de  gado  vacum,  que  em  algu- 
mas partes  occupavào  distancia  de  seis  sete 
legoas  da  terra.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  97. — «E  he  (como 
ja  disse  outra  vez)  toda  fechada  cõ  duas 
cercas  de  muros  muyto  fortes,  e  de  muyto 
boa  cantaria,  onde  tem  trezentas  e  ses- 
senta portas,  a  cada  huma  das  quais  está 
hum  castello  roqueyro  de  duas  torres 
nmyto  altas,  e  todos  com  suas  cavas,  e 
pontes  levadiçasnellas.»  Ibidem,  cap.  107. 

RORANTE,  adj.  2  gen.  (Do  latim  ro- 
rans,  úe  rorare).  Termo  de  poesia. — 
Que  solta  de  si  orvalho,  orvalhoso,  rori- 
fero. 

RORARIO,  adj.  m.  (Do  latim  rorarius, 
de  j-omcei. —  Soldado  rorario  ;  na  milicia 
romana  antiga,  soldado  da  primeira  e 
Ínfima  urdem. 

—  Substantivamente  :  Um  rorario. 
ROREJANTE,  adj.  2  gen.  Vid.  Rorante. 

—  Os  rorejantes  zephyros  moviam  as  fo- 
lhas. 

Os  rorejantes  Zéfiros  co'as  azas 
Davào  ligeiro  movimento  <4s  folhas 
Das  verdejantes  arvores  copadas  ; 
E  do  meigo  Favouio  ao  doce  assopro 
Do  brando  somno  as  Flores  despertavão. 

J.   A.    DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Caut.    1. 

De  ondas  immensas  de  escarlata,  e  de  ouro 

Erào  os  Céos  Orientaes  banhados ; 

E  pelo  espaço  liquido  dos  ares 

Os  rorejantes  Zéfiros  co'a8  azas 

Do  bosque  as  folhas  trémulas  movião. 

IDEM,  NEWTON,  Caut.    1. 

RÓRIDO,   A,   adj.   (Do  latim  roridus). 


334 


ROSA 


Termo  de  poesia.  Orvalhado,  húmido  com 

orvalho,  chuva,  {,'ottín  da  agua  do  mar. 

RORIFERO,  A,  mlj.  (Do  latiiu  roris, 
orvalho,  íí  ferre,  levar,  trazer).  Termo  do 
poesia.  Qii  •■  tiaz  ou  bonita  com  orvalho. 
Vid.  Orvalhoso,  c  Rorante. 

RORIFLUO,  A,  ciilj.  (Do  latim  ros,  ro- 
ris, (tjlti").  Termo  de  poesia.  Rorifero,  ro- 
lante; iroiide  iiirre  orvalho, 

f  RORIJANTE,  adj.  2  yen.  Vid.  Rore- 
iante. 

Que  os  Torijaiitca  Zt.fyroâ  adèjio, 

K  com  fecundo  aíso;)ro  o  ár  tmiiiRTrio, 

Contento  vem  buscar  antigos  l;uos. 

Com  verniz  mais  luzente  as  luas  brilhilo : 

Pelos  aros  va/.ios  se  arremoi;a 

A  volante  falange,  o  atlronta  ousada 

Sobre  as  nuvens  o  mar,  que  freme,  e  espuma. 

J.    K.   DK  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Cant.    O. 

ROSA,  í.  /.  (Do  latim  rosa).  Termo 
de  Hotaniea.  Flor  olorifera,  ordinaria- 
mente do  um  vermelho  um  pouco  de.seo- 
rado,  e  que  crcsee.  sobre  um  arbusto  es- 
pinhoso. —  Rosa  simples.  —  Rosas  de  todo 
o  anno.  —  Uma  grinaldit  de  rosas.  —  A 
ingratidão  é  como  a  rosa,  </i<8  pica  anuelh 
que  a  colhe. 

Quem  vè  que  cm  branca  neve  nascem  rosas, 
Quo  crespos  fios  de  ouro  vão  cercando, 
Se  por  entro  esta  luz  a  vista  passa, 
Raios  de  ouro  verá,  que  as  duvidosas 
Almas  estão  no  peito  traspassando, 
Assi  como  hum  crystal  o  sol  traspassa. 

CAMÕES,  SONETOS,   U."  60. 

—  í  Bem  no  meyo,  estauao  rauytos 
alegrete.'?,  por  gentil  ordem  dispostos,  c 
traçados;  cõ  toda  a  variedade  do  rosas, 
e  boninas,  assi  da  Índia,  como  de  Espa- 
nha, e  entre  ellas  as  casas  em  que  cl  Rey 
86  recrea,  er.^o  todas  j)iutadas,  com  va- 
rias historias,  e  algumas  figuras  monstruo- 
sas.» Fr.  (laspar  de  S.  Bernardino,  Iti- 
nerário da  índia,  eap.  15. 

Que  Vi5s  sois  das  milagrosas, 
e  se  cu  yi.  tivera  filho 
vos  auinarcis  de  rosas, 

ANTÓNIO  PBBSTKS,  AUTOS,  pag.  "247. 

Senhora,  chamae-Uic  a  esposa, 
quo  venha  vèr  seu  esposo. 
Grimanoza ! 

Grimaneza  é  ?  fui  ditoso  ; 
mestre,  tornae-nie  formoso, 
que  fique  cravo  com  rosa. 
IBIDEM,  pag.  313. 

Eosa»,  lirios,  daqui,  dalli  rebentão 
No  chão  qno  o  Corpo  opprimc,  o  so  dol>rm,'ão 
No  seio  quo  a  compasso  arqueja,  o  bato : 
Ncin  30  descobre  todo,  ou  todo  escondo. 

J.  A.  DG  MACEDO,  A  NATDREZA,  Caut.  1. 

Se  o  vivo  azul  do  (íco  no  mar  3'o3pelha, 

Quando  o  bafeja  Zofyro  suave; 

Se  nas  ondadas  pcrolas  observo 

A  variante  aòt  do  ouro,  e  do  rosas, 

Quo  d'Alva,  ao  despontar,  no  rosto  assomão. 

IDEM,  MEDITAÇÃO,  Caut.    2. 


ROSA 

No  Mancebo  Poléo  juntai  triunfos. 
Juntai  desse,  a  (|ue!ii  deu  Cartliagu  o  iioine. 
Todos  os  louros  eiiiiastrai  do  ("isar, 
K  us,  (|ue  Augusto  coUioo,  palmas  no  Kufratc* ; 
Tanta  gloria  iiào  tem,  tanto  não  valem 
Como  hum  dia  do  paz.  Quanto  hc  mais  doce 
Das  rosa-1  na  osta<;ão  manhã  que  aponta, 
Que  cm  triste  Inverno  a  noite  borrascúsa. 
iiiiDKM,  cant.  3. 


—  Agua  de  rosas ;  agua  cxtrahida  daa 
rosas  por  meio  da  distillaçUo. 

—  Termo  de  poesia.  Â  estação  das  ro- 
sas ;  a  primavera. 

—  Diz-se  também,  como  a  tlor,  para 
designar  a  virgindade. 

—  Toma-se  tambeiti  por  uma  donzella 
bonita  e  formosa. 

—  Figuradamente :  Diz-se  do  que  é  trio 
agradável  como  a  rosa.  —  Colher  a  rosa 
na  manhã  da  vida. 

—  Estar  em  um  leito  de  rosas ;  viver 
n'uma  molleza,  gozar  de  uma  felicidade 
perfeita. 

—  Prazeres,  júbilos,  alegrias. — Esta 
cidade  não  c  semeada  de  rosas. 

— Figuradamente :  Diz-se  de  uma  ves- 
tidura de  branco  e  de  encarnado  que  apre- 
senta o  tinto  do  rosto. 

—  Beiços  de  rosa ;  lábios,  beiços  ver- 
melhos. 

—  Nome  de  varias  flores,  que  se  asse- 
melham pouco  mais  ou  menos  il  ro.<a. — 
Rosa  dos  Alpes.  —  Rosa  do  céo.  —  Rosa 
da  índia.  —  Rosa  do  Japão. 

—  Rosa  d' ouro;  figura  de  rosa  em  ouro 
que  o  papa  costuma  abençoar  á  missa  da 
quarta  donúnga  da  quaresma,  que  cUe 
leva  na  procissão,  e  que  envia  depois  a 
algum  priíicipe  soberano. 

—  Diamante  rosa;  diamante  talhado 
por  cima  em  facetas,  e  por  baixo  chato. 
—  Não  é  uiH  brilhante,  é  uma  rosa.  Vid. 
Chapa. 

—  Termo  do  Náutica.  Rosa  d'agulha  ; 
o  mostrador  d'agulha  de  marear,  onde 
estão  os  rumos  e  graus  em  que  se  divide 
a  esphera. 

—  Termo  de  Architetura.  Pequeno  or- 
namento circular  de  folhas,  collocado 
nos  forros  do  tecto  das  cornijas,  ou  no 
meio  do  ábaco  do  capitel  corinthio. 

—  Nome  dado  aos  interiores  das  igre- 
jas gothicas,  a  essas  grandes  vidraças  cir- 
culares, formadas  de  nervuras  em  pedra, 
cujos  intervallos  estão  cheios  de  caixilhos 
de  vidros;  d'onde  provém  os  comparti- 
mentos de  todas  as  espécies  de  cores, 
cujo  efFeito  é  muito  .agradável. 

—  Termo  de  Marinha.  Rosa  dos  ven- 
tos;  a  reunião  dos  trinta  e  dous  raios  cm 
que  se  divide  a  circumferencia  do  hori- 
sonto,  a  fim  de  poder  avaliar  no  mar  a 
direcção  dos  ventos. 

l''4r(m  rosas;  rosas  t-içosa.o;  diz-se  em 
opposição  a  rosas  mortas,  ou  murchas. 

Amor,  que  o  gesto  liumano  na  alma  escreve. 
Vivas  faiscas  me  mostrou  hum  dia. 


ROSA 

Donde  hum  puro  crystul  se  derretia 
Por  entre  vivait  ro««  >•  alva  neve. 

<  AM.,  SUKKTua,    U."  Tl. 


—  Figuradamente  :  Fresca  rosa. 

o  mais  d°ellc 

beberá  nenhum  com  cUe  ; 

porém  DC  fôr  c-om  fá  co|>o 

ou  mi  tassa  é  todo  file. 

Paroee  que  »c  empoleiram 

corvo»  nclle;  fresca  rota 

Be  cria  cm  vós,  bem  vos  feiram. 

AXTONIO  PBK8TIS,   ACTUl,   pag.   47. 

—  Nó  de  rosa ;  laço  relevado  de  fita, 
espécie  de  rosa  que  as  damas  costumam 
trazer  na  cabeça  como  enfeite. 

—  Termo  de  encadern.ador.  Peça  de 
latão  com  lavor,  que  se  applica  quente 
sobre  o  ])!)  d'ouro  para  dourar  os  livros. 

—  Nódoa  amarellada,  alaranjada  ou 
azul  que  o  aço  apresenta  algumas  vezes 
no  meio  de  sua  fractura. 

—  Maré  de  rosas ;  maré  boa,  excellen- 
te,  óptima,  magnifica. 

—  Dominga  de  rosas ;  encontra-se  cm 
os  nossos  documentos  dominga  de  rosas,  e 
dominga  da  cosa  áurea:  a  primeira  de- 
pois da  oitava  dsi  Ascensão,  porque  n'e8- 
te  dia  celebra  o  .'^ummo  pontifico  em  San- 
ta Jlaria  a  Rotunda,  e  no  sermão  se  fal- 
ia da  vinda  do  Espirito  Santo,  dcitando- 
se  simultaneamente  desde  o  mais  alto  do 
templo  grande  numero  de  rosas,  ct>m  a 
figura  do  mesmo  Espirito  Santo,  costu- 
me, que  com  outras  circumstancias,  allu- 
sivas  ao  mysterio,  diz  Du  Cange,  até  ao 
seu  tempo  se  observavam  em  algumas 
egrejas  de  França:  a  segunda  é  a  do- 
minga quarta  da  quaresma,  chamada  La- 
ctore,  e  n'ella  costumaram  sempre  os 
summos  pontifices,  depois  de  Innocencio 
IV,  benzer  uma  rosa  de  ouro,  que  offere- 
cem  a  algum  grande  principo,  que  se 
acho  em  Roma,  ou  mandal-a  a  aigom 
imperador,  rei,  potentado,  ou  republica, 
em  signal  de  benevolência  e  gratidão. 

—  Adjectivamente:  Arvtas  rosas,  «<;- 
tim  rosa ;  armas  côr  de  rosa,  setim  côr 
de  rosa. 

—  AD.4GI0S  E  PROVÉRBIOS  : 

—  Junto  da  ortiga  nasce  a  rosa. 

—  Foi  maré  de  rosas. 

—  Não  ha  rosas  sem  espinhos,  nem 
mel  sem  abelha. 

ROSÁCEO.  A,  adj.  i  Do  latim  rosaeeut, 
de  rosa).  Termo  do  botânica.  Que  est;i 
disposto  á  maneira  das  pétalas  de  uma 
rosa.  —  Uma  jlòr  rosacea.  —  Condia  ro- 
sácea. —  Ovários  rosáceos.  —  Estetme» 
rosáceos. 

—  ò'.  /.  plur.  Familia  de  plantas,  que 
tem  ]>or  tv)ni  o  género  rosa. 

1  ROSÀCICO,  A,  adj.  Dir-se  do  uma 
substancia  de  côr  rosada,  ou  avermelha- 
da, que  a  ourina  deposita  em  consequên- 
cia dos  accessos  do  febres  intermitten- 
tes.    Reconbcceu-se  que  é  uma  combina- 


EOSA 


ROSE 


ROSI 


335 


ção  de  acido  úrico  com  uma  matéria  par- 
ticular,  de  cor  vermelha. 

ROSADA,  .'.  /.  Um  peixe. 

ROSADO,  A,  a^J.  Que  é  de  um  verme- 
lho fraco,  approximanda-?e  da  cor  da  ro- 
sa. —  Tin^a  rosada.  —  Cor  rosada. 

—  COr  de  rosa. — Aurora  rosada. 

Cortarias  ao  largo  o  intacto  Oceano, 
Jlas  para  abrir  as  recatadas  portas, 
Puniceo  berço  da  rosa<ia  Aurora, 
Pcide  mais  teu  valor,  que  os  Astros  podem. 

J.  A.  DB  H-iCEDO,  A  XATIBEZA,  Cant.    1. 

■ — ■  Unguento  rosado  composto  :  unguen- 
to medicinal. 

—  Diz-se  da  côr  de  certos  vinhos. — • 
Champofjne  rosado. 

ROSAIRO,  ?.  m.  Vid.  Rosário. 

Bofa  não  do  meu  rosairo  : 
c  esse  ? 

Mão  quem  falou. 
Por  que  não  lanças  a  rede 
nesse  somno ?  enreda-o  bem . 

AHTOKIO    PKESTES,  AUTOS,    pag.    259. 


ROSAL,  í=.  m.  Mata  de  roseiras. 

ROSALGAR,  *.  m.  Espécie  de  arsénico; 
oxydo  de  arsénico.  —  «Se  Marfisio  tiras- 
se efFectivamente  a  vida  a  V.  M.  a  van- 
tagem nunca  era  grande.  Hum  só  grào 
de  rosalgar  podia  faser  isso  mesmo.»  Ca- 
valleiro  d'01iveira.  Cartas,  liv.  1,  n.°  48. 

—  Adagio  e  provérbio  : 

—  Pouco  rosalgar  não  faz  mal. 
ROSALGARINO,    A,   adj.  De   rosalgar, 

veneno>o  como  elle. 

ROSÁRIO,  s.  77).  Coroa  composta  de 
quinze  dezenas  de  contas,  em  cada  uma 
das  quaes  se  recita  uma  Ave-Maria ;  es- 
tas dezenas  são  separadas  por  uma  conta 
isolada  que  indica  um  Padre  Nosso.  O 
fim  d'esta  oração  é  recordar  aos  fieis  os 
quinze  mysterios  principaes  da  vida  de 
Jesus  Christo.  e  da  Santa  Virgem. 

—  Ordem  do  Santo  Rosário ;  ordem 
fundada  por  Frederico,  arcebispo  de  To- 
ledo, que  se  estabeleceu  depois  da  mor- 
te de  S.  Domingos;  o  signal  distinctivo 
d'e5ta  ordem  era  uma  cruz  branca  e  pre- 
ta, que  tinha  um  medalhão  oval,  onde 
estava  representada  a  Santa  Virgem,  ten- 
do n'uma  das  mãos  o  menino  Jesus,  e  na 
outra  um  rosário. 

—  Machina  de  extrahir  agua  das  mi- 
nas; um  cano,  pelo  qual  sobe  uma  ca- 
dêa,  em  que  estão  enfiadas  meias  bolas, 
ou  êmbolos  justos,  que  vão  levantando  a 
agua  que  subira  para  o  cano. 

—  Rosário  de  jambú ;  arbusto  análogo 
ú  murta. 

ROSASOLIS,  s.  /.  (Do  latim  ros  solis). 
Planta  annual  de  flor  rosácea,  em  cujas 
folhas  se  encontra  uma  espécie  de  orva- 
lho, ainda  no  maior  vigor  do  calor. 

—  Certa  bebida.  Vid.  Rossolis. 

f  ROSAYRO,  s.  m.  Vid.  Rosairo,  e  Ro- 


sário. —  «Sobre  os  mais  vestidos,  huma 
marlota  de  veludo  verde  laurado  chea  de 
alamares  com  fio  de  prata,  e  botões  dou- 
ro tà  grandes  como  nozes,  e  ao  pescoço 
hum  rosayro  de  grossos,  e  finos  alam- 
bres :  a  tiracolo  hum  alfange  com  terços 
douro,  e  baynha  de  prata,  e  a  do  punhal 
do  mesmo  feytio,  por  sinto  huma  fiuella 
mais  larga  que  relho  cõ  pedras  de  muyto 
preço,  e  e>tima.i'  Fr.  (íaspar  de  S.  Bei'- 
nardino.  Itinerário  da  índia,  cap.  19. 

ROSBIF,  5.  m.  Termo  derivado  do  in- 
glez  roastbeef,  que  significa  boi  ou  vacca 
assada.  —  Servir  um  rosbif.  —  Comer  um 
rosbif. 

—  Os  cozinheiros  dão  também  este  no- 
me á  parte  posterior  de  um  carneiro,  de 
um  bode,  cordeiro,  etc. 

ROSCA,  s.  /.  Linha  circular  espiral, 
que  se  faz  quando  se  enrosca  alguma 
eousa.  —  A  serpente  faz  mil  roscas. 

Que  em  ser  sempre  tratado,  c  conhecido 
De  toda  a  humana  gente  o  não  ficaua, 
O  rosto  tem  sagaz,  astuto,  e  ledo. 
De  cores  variado,  o  corpo  em  ro-^ca, 
De  pés,  c  mãos  carece,  e  não  tem  cousa, 
De  que  mostre  seruirse  mas  na  lingua 
Venenosa,  e  cruel  satisfas  quanta 
Falta  nos  outros  membros  recebia. 

COBTE  KEAI.,  XAUPRAOIO  DS  SEPULTEDA,  Caut.  11. 

—  Lavor  espiral  com  uma  quina  viva, 

que  se  faz  aos  parafusos  de  metal  ou  pau ; 
as  roscas  entram  nos  vãos,  ou  espiras 
entrantes  da  porca. 

—  Bolo  de  farinha  feito  cm  argola  tor- 
cida. —  Uma  rosca  de  pão. 

ROSCI ABO,  part.  pass.  de  Rosciar.  Bor- 
rifado, iirvalhado. 

ROSCIAR,  r.  a.  Borrifar  com  roscio. 

—  V.  n.  Borrifar,  orvalhar,  cair  o  ros- 
cio. Vid.  Rociar. 

ROSCIDO,  A,  adj.  (Do  latim  roscidus). 
Termo  de  poesia.  Orvalhado,  borrifado. 
—  Cnmjios   roscidos.  —  Flores   roscidas. 

ROSCIO,  s.  TO.  Vid.  Rocio. 

ROSCIOSO,  A,  adj.  iDe  roscio,  com  o 
sutfixo  «oso»  I.  (Jrvalhoso,  que  esparge  or- 
valho. 

—  Acompanhado  de  orvalho.  —  Nuvens 
rosciosas. 

ROSEGA,  í.  /.  Termo  de  marinha.  A 
acção  de  procurar  e  tirar  do  fundo  dos 
portos  as  ancoras  perdidas,  quebrando  ou 
cortando  as  amarras. 

ROSEIRA,  í.  /.  Termo  de  botânica. 
Género  da  fiimilia  das  rosáceas,  eompre- 
hendendo  os  arbustos  espinhosos  de  uma 
grandeza  notável  dispostos  em  maior  ou 
menor  numero  no  vértice  dos  ramos,  ou 
em  pequenos  ramos  lateraes,  juntando  á 
belleza  e  elegância  das  formas  as  cores 
mais  agradáveis,  e  muitas  vezes  um  doce 
perfume. 

—  A  roseira  do  Japão ;  a  camélia. 

t  ROSEIRISTA,  s.  m.  Termo  de  Horti- 
cultura. Homem  que  se  entrega  á  cultura 
das  roseií-as. 


k 


ROSELHA,  í.  /.  Herva  denominada  pe- 
los botânicos    cistus  mas,    cistus  albidiis. 

RÓSEO,  A,  adj.  (Do  latim  roseiis).  Ter- 
mo de  poesia.  De  rosa,  ou  côr  de  rosa. 
- —  Faces  róseas,  bocca  rósea. 

A  Primavera  envolta  em  rosfa  nuvem, 
Scnte-lhc  a  força  a  scvc  amortecida, 
Plantas,  arbustos,  arvores  abrolhão. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  KATCBEZA,  Caut.  1. 

Porém  não  julgues  qu'  a  belleza  augmenta, 
Qu"  aos  ondados  cabcllos,  rosfas  faces 
Dera  a  mão  liberal  da  Natvireza ; 
Hum  Cóllo  torneado,  hum  niveo  Seio 
Dão  mais  graça  aos  revérberos  das' pedras, 
Qu'  a  cobiça  mortal  converte  em  Numes. 
IBIDEM,  cant.  2. 

ROSETA,  s.f.  Bolinha  armada  de  puas, 
coUocada  nos  remates  das  disciplinas  de 
açoutes. 

—  Côr  roseta;  entre  os  pintores,  faz- 
se  de  raspas  de  pau  brazil  com  pedra  hu- 
me,  sal,  grã,  e  gomma  arábica,  tudo  fer- 
vido. 

—  A  peça  da  espora,  que  tem  puas,  e 
que  fere  o  cavallo  picando-o. 

• —  Peça  análoga  á  roseta  de  esporas, 
que  se  applica  ao  compasso  para  tirar  li- 
nhas de  pontinhos;  é  como  uma  roda  den- 
tada. 

ROSETE,  adj.  2  gen.  Algum  tanto  côr 
de  rosa,  fallando  do  vinho  pouco  carre- 
gado de  côr. 

L)  ROSICLER,  s.m.  Termo  antiquado. 
Peça  de  pedraria,  que  cinge  o  pescoço : 
alguns  dizem  que  era  de  cabeça,  e  com- 
posta de  pingentes. 

2.Í  ROSICLER,  adj.  2  gen.  Cor  ardente, 
e  accesa  como  a  da  rosa :  alguns  dizem 
côr  de  rosa  e  de  açucena.  Outros  dizem 
que  ó  de  côr  de  purpura  com  vislumbres 
de  ouro,  aúrirosada,  como  nos  pires  de  côr 
para  o  roíto. 

ROSICRÉ,  s.  m,  Côr  fina  de  postura 
accesa,  abrazada,  de  carmim. 

E  outra  musica  cm  si 
não  orfea,  será  fim  ; 
quereis  mais  rosicré  n'ella 
que  ir-vos  vêr  á  jancUa 
como  is,  que  chega  aqui? 
vistes  vida  igual  a  esta, 
dina  em  si  de  mais  estima? 

ANTÓNIO  PBESTES,  AUTOS,  p8g-  111- 

ROSILHO,  s.  ;)!.  Vid.  Russilho. 
ROSINHA,    s.  /.    Diminutivo  de  Rosa. 
Rosa  pequena. 

Ai ,  como  venho  cançada ! 
Meu  espelho,  como  estais? 
Minha  rosinha  orvalhada, 
Lá  vos  deixo  cncommendada 
A  Virgem  dos  Olivaes. 
O  devota  madre  minha, 
Quando  vos  mereci  tanto  ? 

GIL   nCESTE,   COMEDIA   DE    RUBEN  A. 

ROSINHO,  s.  m.  Vid.  Russilho. 


336 


ROSS 


ROST 


RObT 


ROSMANINHAL,  s.  m.  Campo  do  ros- 
niaiiliilms. 

ROSMANINHO,  s.  m.  Arbusto  do  mui- 
to» r;ii)ii)-i  ou  víira»,  com  follian  id(;iitiua8 
ás  da  altazonia,  porém  mais  brancas  e 
ostrcita.s.  Tem  clioiro  aromático,  sabor 
acro  o  amarffoíío. 

ROSMAR,  ou  R03MAR0,  s.  m.  Tormo  de 
Zoolo^jia.  Animal  amphibio,  espucio  do 
plioc.i,  da  jíranílcza  do  um  elephante. 

ROSMEAR.  Vid.  Resmonear. 

ROSNADOR,  A,  n'lj.  Pcdsoa  que  rosna, 
qiK!  nuirmiii"a. 

ROSNADURA,  s.  /.  Acto  do  rosnar. 

ROSNAR,'  I'.  n.  Murmurar,  fallar  entro 
8Í,  fallar  em  voz  baixa. —  «  Ello  hc  chovo 
como  um  ouriyo,  j)orem  chovo  de  niabla- 
de,  disso  a  Cunhada  pela  primeira  vez 
que  falou,  o  a  Prima  quo  também  ate  alli 
eatovo  callada  tomou  seu  pouco  do  fo£,'o, 
porem  falando  jior  entro  os  dentes  iiào  ])U- 
de  perceber  o  quo  rosnava  com  as  suas 
pabavras,  qu<!  nào  cahirào  no  chão.»  Ca- 
Talleiro  d"()iiveira,  Cartas,  liv.  1,  n.°  10. 

tiulf)  ]A  são  palavrinhas, 
que  dirá  a  minha  pcuto ; 
c  cila  lia  do  câtíir  a  rosnar 
8C  cu  tardar. 

ANTÓNIO  riiESTKS,  AUTOS,  pag.  371. 

Rosnara  W  coinsigo  frei  Soeiro  •, 
Mas  o  mal  quo  lhe  quer,  pelo  respeito 
Do  quom  o  manda,  declarar  uão  ousa. 
OAnuETT,  D.  nuANCA,  cant.  1,  eap.  5. 

—  Rosnar-se,  r.  rcji.  Dizer-sc  em  se- 
gredo, ou  pela  bocca  pequena. 

—  Susurrar-se  como  em  segredo ;  apu- 
ridar-se. 

ROSQUILHA,  .«.  /.  Ro.squinha. 

ROSQUILHO,  s.  wi.  Uos(piiiiha. 

ROSQUINHA,  .t.  /.  Dimiminutivo  de 
Rosca.  Uosoa  pequena. 

ROSSA.  Termo  usado  na  phraso  adver- 
bial: Ancora  á  rossa ;  ancora  prompta 
para  se  soltar  a  baixo,  a  pique.  Vid. 
Roça. 

f  ROSSAR,  1-.  a.  Vid.  Roçar.  —  «  Fera 
nos  ganhar  as  võtades,  ou  para  melhor 
dizer  o  arros :  ferio  fogo  diStc  de  nòs, 
tomando  dous  paos,  rossando  hum  pelo 
outro,  sem  mais  outra  alguma  pedra,  fu- 
sil,  ou  bisca,  cousa  geral  cm  muytas  Ilhas, 
e  13^'ando  huns  caruõcs  na  bal.íça  se  foi 
à  talha,  da  qual  tirou  huma  pouca  de 
mantevga,  com  que  vntou  as  três  Cruzes, 
começando  pela  do  meio.»  Fr.  (íaspar  do 
S.  Bernarilino,  Itinerário  da  índia,  cap.  i1. 

ROSSEGA,  y.  /'.  Termo  de  Náutica.  A 
acçào,  e  o  trabalho  de  procurar  as  anco- 
ras no  fundo  do  mar. 

—  Cabo  forte  cora  que  se  buscam  .is 
ancoras  perdi  las. 

ROSSEGAR,  V.  (i.  Procurar  uma  ancora, 
ou  qualquer  outro  objecto,  perdido  no  an- 
coradouro, e  ir  tirar  a  ancora,  etc. 

ROSSIM,  «.  «1.  Cavallinho,  ou  mau  ca- 
vallo,  e  fraco. 


ROSSIO,  ».  m.  Vid.  Recio,  e  Rocio. 

R0S30LINA,  «.  /.  Toraio  de  botânica. 
Planta,  em  cujas  follias  se  encontra  uma 
esj>eeie.  lU:  orvaUio. 

ROSSOLIS,  K.  m.  Vid.  Rosasolis.  I-^po- 
cie  do  lieor  iloce  c  agradável,  formado  de 
aguanlente,  com  certos  aruuias,  e  sândalo 
verniídlio. 

ROSTALHADA,  s.  f.  Vid.  Raslolhada, 
e  Reslolhada. 

ROSTINHO,  8.  7)1.  Diminutivo  de  Rosto. 
Pequeno  rosto. 


lá  essas  noras  de  ronUnhos 
denfe.itados,  tero  líro : 
ora  olhac. 

ANTÓNIO   PRKSTES,  AUTOS,   pag.   249. 


—  Pliir.  Indieios  de  descontentamento. 
ROSTIR,    r.   a.  Termo  antiquado.  Me- 

nospn-zar,  maltratar. 

—  Figuradamente  :  Mastigar.  =  N 'este 
senti<lo  está  pouco  em  uso  este  termo. 

ROSTO,  ,f.  VI.  (Do  latim  rostrum).  Fa- 
ce, cara,  semblante.  —  Rosto  bonito,  po- 
rém todo  cimo  de  modéstia. 


Eu  lovarci  daqui  por  presupposto 
Desta  nova  estranheza  que  fizeste, 
Que  em  ti  nào  pôde  haver  cousa  segura. 
9uc,  pois  o  claro  lume,  o  bcllo  rosto 
Áqucllc  monstro  tão  disforme  déstc, 
Não  creio  ([uhaja  Amor,  senão  Ventura. 

CAM.,  SONETOS,   H."  20G. 


—  «  Isto  lhe  causava  tanta  tristeza, 
que  por  forya  se  lhe  enxergava  no  rosto, 
por  mais  que  dissimulava,  de  que  seus  ír- 
mrios  também  tinham  muita  parte,  ven- 
do-o  assim  sem  nunca  poder  tirar  dcUe 
quem  o  fazia  de-;eoutente.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  de  Inglaterra,  cap. 
16.  —  n  Acabadas  as  palavras  com  ipie  0 
gram  Barrocante,  que  assim  havia  nome 
o  gigante,  deu  sua  embaixada,  o  impera- 
doi-,  a  quem  pouco  medo  fizeram,  com 
rosto  alegre  e  rindo-se,  lhe  disse :  Vejo- 
vos  tão  manencorio  que  não  sei  se  vos  ou- 
torgue o  que  pedis :  d'outra  parte  temo 
que  inda  (jue  conce  lesse  nesse  casamento 
do  soldào,  minha  neta  Polinarda  nào  ser 
contente. »  Ibidem,  cap,  93.  —  «  Porem 
ao  tempo,  que  o  fez  de  Polinarda,  lhe 
vieram  uns  sobresaltos  ao  coração  taes, 
que,  se  seu  acordo  nào  fora  pêra  muito, 
poderá  dar  azo  a  se  sentir.  Ella  nào  pode 
tanto  dessimular  aquclle  apartamento  que 
na  còr  do  rosto  se  lhe  nào  visse  alguma 
mudança.»  Ibidem, 'cjip.  íir>. —  «A  «»t.a- 
dura  do  rosto,  que  trazia  desarmado,  al- 
gum tanto  medonha  e  carregada;  as  ar- 
mas, que  trazia,  quasi  desfeitas  dos  mui- 
tos golpes  que  recebera  nellas,  alem  disso 
tão  cheias  de  sangue,  que  escondiam  com 
ello  as  coros  e  devis;is  delias;  o  escudo, 
quo  lhe  trazia  um  escudeiro,  vinha  tal 
que   quasi  não  havia  nelle   mais  que  aã 


ombraçaduras.  •  Ibidem,  cap.  126. —  c£ 

logo  mais  adiante  a  entrada  da  porta  que 
estava  entre  duas  torres  inu\t<j  alta«,  ar- 
mada Boijre  vinte  o  quatro  coluiias  de  pe- 
dra muyto  gr<Msa8,  ortavuiii  duas  liguraa 
di:  homem*,  cada  hum  coin  sua  ma^-a  de 
ferro  iiaa  mSog,  como  quo  guanlavSo 
aqiK  lia  entrada,  cuja  estatura  e  grandeza 
era  de  cento  e  quarenta  palmos,  com  huní 
rostos  tão  feyofl  om  tanta  maneira  que 
quasi  tremião  as  carne»  a  quem  os  olha- 
va, aos  quais  os  (.'hins  chamavSo  Xixipi- 
tau  Xalieào,  fjne  quer  dizer,  assoprado- 
r(^s  da  casa  do  fumo.»  Fernão  Mendes 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  1()'J.  —  f  E  a 
grande  dór  e  lastima  com  que  derraman- 
do saugue  de  to-Jo  seu  rosto,  lamentava 
com  altas  vozes  a  morte  do  sou  marido  e 
de  seus  Klhos,  o  lhe  afUrmarai}  que  tinha 
Deos  toma<lo  á  sua  conta  o  c;istigo  da  sem 
razão  deste  crime,  e  as  palavras  da  carta 
dizião  assi.»  Ibidem,  c.-.p.  141.  —  «Assen- 
tado em  huma  cadeira,  com  o  rosto  pêra 
huma  porta  que  sahia  pcra  hum  baluar- 
te, onde  03  soldados  vig-iavan  toda  a  noi- 
te, e  tinha  antro  as  pernas  hum  menino, 
seu  filho  nataral  í^que  depois  se  chamou 
Aires  Falcaõ,  o  foy  Capitão  de  Baçaim, 
o  de  Dio,  e  tem  hoje  filhos,  e  netos)  e 
como  ello  estava  com  candeas  acesaa,  e 
os  quo  passavaõ  pêra  o  baluarte  hião  de 
longo  da  porta. »  Diogo  de  Cout^),  Década 
G,  liv.  7,  cap.  2.  —  «  Aqucl las  escusas 
que  o  Sangage  deu  pêra  n.ío  hir  ver  o 
Capitão,  foraò,  porque  se  não  se  atreveo 
a  ver  o  rosto  a  ElRey  de  Ternate,  por- 
que havia  que  tlelle  lhe  nascera  todo  o 
seu  mal.»  Ibidem,  liv.  9,  cap.  13. — 
«  Porque  se  s/)  a  esperança  do  bem,  que 
se  dilata,  ailiige  a  alma;  que  será  o  te- 
mor do  mal  quo  se  pressente?  Ah  meu 
Deos !  so  chegarão  os  olhos  de  minha  al- 
ma a  ver  algum  dia  vosso  alegre  rosto  Tt 
P.  Manoel  Bernardes,  Exercícios  espiri- 
tuaes,  part.  1,  pag.  'à2>^.  —  »  Hia,  e  diz, 
que  o  achaua  com  o  rosto  abrasado,  e  os 
olhos  abertos  sem  nenhum  vso  porem 
d 'este  sentido,  nem  dos  mais :  porque  fa- 
zendo o  moço  grande  rumor  com  os  pés, 
bolindo  com  as  portas,  escarrando  alto, 
naila  bastaua  pêra  a  alma  acudir,  e  tor- 
nar de  lá  de  dentro,  onde  estaaa  só  com 
Deos,  ás  portas  de  fora.»  Lucena,  Vida 
de  S.  Francisco  Xavier,  liv.  G,  cap.  4. 

Ho  posaivel  (lhe  diz)  hum  8<'>  meu  gosto. 
Hum  9Ó  amor  meu,  hum  Si)  contt^ntamcnto. 
Que  pois  todo  meu  bem  cm  ti  cstí  posto, 
De  mi  nastja  este  triste  apartamento  ? 
C\>uio  ouso  eu  hoje  a  ti  voltar  o  r<v>fo, 
So  eu  c;\uso  hoje  esse  moa  c  t«u  tormento  ? 
Ou  como  autca  uão  quir  perder  a  vida. 
Que  sentir  pstJi  triste  do-spodida"? 

F.    DK  ANDB\DK,   FKIXKIBO    COCO  DE  DIC,  CMlt. 

3,  est.  GJ. 

Direm  que  aquella  barba  que  so  via 

O  antigo  rosto  o.ntão  cstir-Iho  ornando, 

Quatro  vezcs  ou  cinco,  se  snbia 

Que  ciu  branca  e  preta  a  cor  fora  alterando : 


ROST 


ROST 


ROST 


337 


I 


Sendo  branca  de  todo,  de  novo  hia 
Pouco  a  pouco  huma  negra  côr  tomando, 
K  snndo  toda  negra  se  mudava, 
E  pouco  a  pouco  em  branca  se  tornava. 
IBIDEM,  caiit.  8,  est.  64. 

Eis  aquclles  que  ja  não  se  ntrevêrão 
Ter  contra  o  iraigo  são,  rosto  direito, 
Vendo  o  porque  os  Christãos  se  recolherão. 
Tendo  por  grave  o  damnp  que  lhes  he  feito, 
O  temor  que  então  tem  logo  perderão, 
Enchem  logo  de  novo  ardor  o  peito. 
Ousado  cada  hum  torna  ligeiro 
A  tentar  o  f|ue  em  vão  tentou  primeiro. 
IBIDEM,  eant.  18,  est.  2.3. 

—  «Desta  vila  nos  partimos  com  ho 
rosto  ao  occidente,  e  andamos  liuraa  pe- 
quena jornada,  o  fomos  dormir  a  huma 
aldoa  do  Christãos,  que  he  edificada  de- 
baixo do  chão  pola  torra  sor  muyto  fria 
cm  demasia.»  António  Tenreiro,  Itine- 
rário, cap.  25.  —  «Era  este  luf^ar  ha 
muytas  hiranijeyras,  e  alfaroubeyras,  e 
olivaes:  he  habitada  de  alarves  gentes 
bravas  mal  obidientes  aos  Turquos :  e 
daqui  nos  partimos  com  o  rosto  ao  po- 
nente  e  a  longo  de  huma  serra  per  terra 
chaã.»  Ibidem,  cap.  36.  —  «Quando  vos 
acheis  só  com  hum  sinal  sempre  espero 
que  mo  mandeis,  porque  sendo-me  abso- 
lutamente necessário  para  encobrir  hum 
defeito,  sey  que  he  impos.sivel  que  o  em- 
pregueis em  parte  alguma  do  vosso  ros- 
to sem  ocultar  huma  perfeição.»  Caval- 
Iciro  d'Oliveira,  Cartas,  liv.  2,  n."  87. 

No  mais  profundo  da  sombria  estancia 
Assisto  a  cruel  Deosa,  cujo  rosto 
Apenas  se  divisa,  á  luz  confusa. 
Que  cspalhào,  respirando  de  continuo. 
DiKiz  DA  CRUZ,  uYssorE,  caut.  2. 

—  «Dei  então  um  suspiro,  e  entre  mim 
disse :  E  a  que  mulheres  terão  de  asse- 
melhar-me?  a  mulheres  que  andão  nos 
olhos  de  todos?»  • — Continuava  Affonso... 
quando  eis  que,  avançando  o  rosto  para 
me  designar  alguém,  o  avistou  uma  mu- 
lher que  estava  no  caraariHo  chegado  ao 
nosso,  e  chamado  por  ella  mo  deixou.» 
Franci.sco  Manoel  do  Nascimento,  Succes- 
sos  de  madame  de  Seiíeterre. 

Dá-mc  vossa  merci"'  a  mão, 
senhor  Dinheiro  ? 

Esse  rosto, 
esses  olhos  vol-a  dão ; 
Dinheiro,  onde  elles  estão, 
não  tem  data,  nem  tem  posto. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  205. 

Meu  Senhor  é  como  um  doudo 
que  se  chamava  o  Sobrinho, 
vcstia-se  cm  casa  a  seu  gosto 
o  ia  lavar  mãos  e  rasto 
ao  chafariz  de  Andaluz, 
e  assi  n'e3tc  caminho 
anda  cinfira  meu  senhor  posto. 
IBIDEM,  pag.  299. 

—  Da   rosto  n  rosto  ;  de  cara  a  cara. 

voL.  v.  —  43. 


—  oE  começando  a  obra  de  vir  rosto  a 
rosto,  em  ambas  as  partes,  assi  na  pon- 
te, como  na  outra  encommendada  a  D. 
João  de  Lima,  acudio  a  estes  dons  luga- 
res grande  pezo  de  gente.»  João  de  Bar- 
ros, Década  2,  liv.  G,  cap.  4. 

—  Dar  de  rosto  covi  alguém ;  encon- 
trar-se  cara  a  cara  com  elle.  —  «ElRey 
com  o  seu  Elefante,  ao  tempo  que  os  ou- 
tros voltaram  em  fugida,  por  se  guardar 
do  Ímpeto  delles,  tomou  a  boca  d'outra 
rua,  afa.stando-se  hum  pouco  do  concurso 
dos  nossos;  e  tornando  sobre  elles,  quasi 
como  que  lhes  queria  tomar  as  costas, 
veio  dar  de  rosto  com  Fernão  Gomes  de 
Lemos,  Vasco  Fernandes  Coutinho,  Mar- 
tlm  Guedes,  e  outros  que  os  conseguiam.» 
João  de  Barros,  Década  2,  liv.  6,  capi- 
tulo 4. 

—  Rosto   a  rosto ;  a  cara   descoberta. 
— •  Accommetfer  rosto  u  rosto  ;  accom- 

metter  de  frente,  por  diante. 

—  Figuradamente:  Mostrar  bom  rosto 
a  alguém;  mo.strar  bom  semblante,  bom 
agrado. 

Tem  nos  pés  hum  letreiro  que  dezia 
Engano  sou  de  todo  estado  amigo, 
IMostro  bom  rosto  a  todos,  mas  o  peito, 
Do  veneno  mortal  tenho  corrupto. 
Parase  o  Capitão,  e  olha  o  caminho, 
Qua  com  a  innumerauel  gente  ferue. 
Vários  enganos  vio  todos  cubertos 
Com  capa  de  amizade  ou  de  virtude. 

CORTE    REAL,    NAUFRÁGIO  DE  SEPÚLVEDA,  Caut.   1. 

Senhora,  tirae  o  manto, 
mostrac  As  caras  bom  rosto, 
pois  o  tendes  a  meu  gosto. 
Estou  casada. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  233. 

—  Trazer  o  rosto  descoberto;  trazel-o 
sem  véo  em  signal   de   pouca   modéstia. 

—  «E  descendo-se  ao  pé  d'uns  alamo.s, 
como  Targiana  trouxesse  o  rosto  descu- 
berto,  e  fo.^se  tão  natural  com  o  vulto 
que  Albayzar  trazia  no  escudo,  os  caval- 
leiros,  que  ao  pé  da  fonte  estavam,  co- 
mo a  viram,  afíirmando  ser  aquella  por 
quem  Albayzar  se  combatia,  determina- 
ram tomal-a  por  força  d'armas,  posto  que 
pêra  o  fazer  pouca  força  lhe  parecia  ne- 
cessária, e  presental-a  ante  quem  ser- 
viam pêra  desculpa  de  seu  vencimento  ; 
porque  sem  duvida  lhe  pareceu  a  mais 
fermosa  cousa  do  mundo.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  87. 

—  Pôr  uma  arma  ao  rosto;  collocal-a 
de  maneira  que  possa  disparal-a  conve- 
nientemente. ^-  «E  querendoa  carregar 
como  algumas  vezes  me  tinha  visto  fa- 
zer, como  não  sabia  a  quantidade  de  pól- 
vora que  lhe  avia  de  lançar,  encheo  o 
cano  em  cõprimento  de  mais  de  dous  pal- 
mos, e  lhe  meteo  o  pilouro,  e  a  pôs  no 
rosto  e  apontou  para  huma  larãgeyra  que 
estava  dcfrõte.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  136. 


—  Cobrir  o  rosto  com   alguma   cousa; 
não  o  deixar  vêr. 


O  sangue  em  borbotões  rebenta,  c  mancha 
O  sceptro,  que  sustinha  a  Tyrannia  : 
Cobre  o  rosto  co'  a  clamyde  soberba, 
E  victima  cahio  de  Eoma  e.-tcrava. 

J.    A.    DE    MACEDO,    MEDITAÇÃO,   Cailt.    2. 


—  Rosto  altivo;  semblante  orgulhoso. 

Dareis  antes,  no  Campo,  alcance  aos  Nortes. 
Antes,  nos  Ares  colhereis  as  Aves. 
Hosto  altivo,  azues  olhos,  têz  corada 
Vrbrão  vista  feroz  ameaçadora. 

F.    M.    DO  NASCIMENTO,  OS  MARTVRES,   1ÍV.   G. 

—  Figuradamente  :   A  chamma  mostra 
o  rosto  ao  cheios;  alumia-o. 


A  cliamma  ardente,  o  pura  o  Mundo  aclara, 
Ao  C.áos  mostra  o  rosto,  o  Caos  foge, 
Co'a  inextinguível  força  aviva  os  Entes 
E  purifica  os  Elementos  todos. 

J.    A.    DE   MACEDO,   A   N.iTUREZA,  Caut.    1. 


Voltar  o  rosto ;  vid.  Voltar. 


Voltão  rosto  os  Bomanos,  que  fugião  -, 
No  peito  do  mais  frouxo,  do  mais  timido 
De  golpe  entra  a  Esperança.  Tal,  no  Eôo, 
Se  assoma  matutino,  na  tormenta, 
O  Sol  ;  e  o  Ijavrador,  que  alentos  cíbra 
Admira  o  como,  cm  toda  a  Natureza. 

F.    }I.    DO   NA3CI.MEXT0,   OS   MARTYKES,    1ÍV.    G. 


—  Rosto  egual;  semblante,  disposição 
egual. 

De  brutos  animaes  tão  varia  espécie ; 
Do  humano  Corpo  a  maquina  pasmosa. 
Em  todos  rosto  igual,  diverso  em  todos  ; 
São  de  inerte  matéria  acaso  as  obras? 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATDREZA,  Cant.  1. 

—  Ter  os  olhos  'pregados  no  rosto  d'al- 
guem;  olhal-o  attentamente,  ter  os  olhos 
fitos  no  rosto  d'elle.  —  Tinha  os  olhos 
j>regados  no  rosto  d' aquella  figura  trans- 
cendente c  que  revelava  pelo  seu  aspecto 
grande  talento. 


Sem  que  a  excelsa  razão  sepulte  cm  sombra, 
Otfuscando-lhe  a  luz,  tollieudo  os  voos. 
Qual  ser  costuma  nos  mortaes  se  he  grande ! 
Pregados  em  seu  rosto  cu  tinha  os  olhos. 
Com  celeste  prazer  minh'alma  toda 
Em  sobrc-humanos  néctares  s'engolfa. 

J.    A.    DE   MACEDO,   VIAGE.M  EXTÁTICA,    Caut.    1. 


—  Rosto   madraço;  semblante  que  in- 
culca inércia,  ócio. 


Por  este  rosto  madraço 
que  m'o  haveis  bem  de  pagar, 
e  d'outra  vos  não  passar 
como  as  mais  que  vos  eu  passo. 

ANTÓNIO  PRESIES,  AUTOS,  pflg.   SÓ,'). 


338 


ROST 


ROST 


ROST 


—  Esperar,  aguardar  com  rosto  serju- 
ro  (ilijaein;  osponil-o  com  rosto  intrépi- 
do, Bolido,  liniio.  —  «Viu  o  desalento 
pintado  iio.í  semblantes  dos  mais  valoro- 
sos, e  a  ultima  esperança  varrcu-rfe-lho 
da  alma.  Todavia,  esporou  com  rosto  se- 
guro a  cliegaíla  dos  cavalloiros  quo  su- 
biam a  encosta.»  Alexandre  Herculano, 
Eurico,  caj).  12. 

—  Fij^iiradamente :  O  sol  farta  o  ros- 
to ás  Solidões  (jeladas;  não  lhes  dá  luz, 
níto  as  alumia. 

Da  vida  almo  vigor,  o  Sol  brilhante 
Froxo  vislumbro  a  modo  espalha  apenas, 
K  furta  o  roulo  As  solidões  peladas. 
Da  Natureza  tumulo,  o  da  vida. 

J.  A.  DK  MACEDO,  A  NATURKZA,  Cant.  3. 

—  o  abrazado  rosto ;  o  ardente  ro.sto. 


Não  vejo  fulfciirar  nos  Ceos  a  espada, 

Nem  do  abrazado  rnxlo  a  cliamma  ondeante, 

Que  liiim  pregão  de  furor  se  antolhe  ao  Mundo  ; 

Mas  vejo  fumefjar  de  sangue  hum  rio; 

Do  Tejo,  e  do  Danúbio  a  margem  fi-ia 

Vejo  thoatro  da  medonha  morto. 

J.    A.    DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Cant.   2. 


—  Rosto  do  sapato,  ou  bota ;  a  parto 
dianteira  quo  cobro  o  peito  do  pó. 

—  Rosto  do  livro;  a  primeira  pagina 
do  titulo.  Vid.  Frontispício,  e  Titulo. 

—  yl/ííii-rosto ;  a  folha  que  precede  ao 
rosto  do  uma  obra,  e  cm  que  sóraeute  se 
encontra  o  nome  d'ella  sem  auctor,  anno, 
etc. 

—  Figuradament'! :  A  fronte  ou  parto 
dianteira.  —  «E  da  parto  de  dentro  nes- 
te mesmo  dedo,  começando  da  ponta  del- 
Ic  que  he  o  rosto  do  cabo  ComoriJ,  te  o 
inaes  estremo  lugar  desta  enseada  onde 
ella  fica  mães  curua,  aucrà  quatro  con- 
tas e  dez  legoas.»  Joílo  de  Barros,  Déca- 
da 1,  liv.  9,  cap.  1. —  «O  primeiro  dos 
quaes  que  tomou  terra  no  rosto  da  cida- 
de em  que  estaua  ordenado  que  auiaõ  de 
sair,  foi  o  de  dom  Francisco,  onde  todo- 
los  capitiíes  acodiraij  e  se  fez  em  corpo 
em  hum  teso  em  quanto  os  bateis  torna- 
uão  por  outo  golpe  de  gente.»  Ibidem, 
liv.  8,  cap.  5. 

—  Toma-se  também  pelo  animo,  por- 
que as  mudanças,  ou  affecções  d'elle 
transluzom  no  semblante  ordinariamente. 

—  Fazer  cOr  no  rosto;  corar.  —  «Alli 
lho  veio  A  memoria  Floriano  do  Deserto, 
quo  seria  da  sua  idade,  e  lá  dava  um  ar 
seu:  esta  lembrança  lho  fez  uma  cor  no 
rosto,  que  a  tornou  mais  formosa:  c  scn- 
tando-se  ambos  em  uma  janella,  que  caia 
sobre  o  rio,  começou  dizer.»  Francisco 
do  Moraes,  Palmeirim  de  Inglaterra,  cap. 
102. 

—  Fazer  no  rosto  differenqas  novas; 
mudar  de  cor.  —  «E  alem  disso  concerta- 
va o  toucado,  apertava  o  vestido,  esque- 
cia-se  nas  pala%'Tas,  fazia  no  rosto  iiraas 


differenças  novas,  mudando  a  côr  de  ma- 
neiras diversas,  segundo  oh  Bobrcsaltos  o 
coraçilo  lhe  dava,  hora  lha  via  namorada 
e  no  mesmo  instante  irosa,  como  quem 
])ele Java  comsigo.  i  Francisco  do  Moraen, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  106. 

—  Fazer  ao  rosto  uma  barrida  de  leite 
de  burras;  dar-lho  uma  barreia  do  mes- 
mo leite. 


Jíofé,  quo  b'cu  fora  cila 
fizera  ao  rònto  uma  barreia 
de  leite  de  burras,  que  6 
um  marfim  de  Silo  Tliomí 
liara  a  alvura,  o  fal-a  bolla. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.    .331. 


— •  (^>   rosto   da  medalha;  a  parte  op- 
posta  ao  reverso. 

—  ICm   rosto   da  jwrta;  em  face,  de- 
fronte dVlla. 

—  Enxotar   do   rosto    as    moscas ;   fa- 
zel-as  desapparecer  do  semblante. 

O  Urso  ia  A  caça,  c  co'ella  o  regalava : 
E  como  era  também  bom  Caça-môscas, 
Quando  o  Amigo  dormia,  lhe  cn.xotava 
Do  rosto  csac  Animal  mui  parasito, 
Que  appellidanioa  ?Iò.sca.  —  Em  certo  dia. 
Que  alto  dormia  o  vólho,  veio  a  Mosca 
Na  ponta  do  nariz  aposeutar-sc-lhc : 
Dcscspóra-so  o  Urso:  cnxota-a...  (Irrorio). 

F.    M.    DO  NASCIMENTO,   FABULAS   DE  LAFONTAINE, 
liv.  3,  U."  27. 

—  A  frente. 


Mas  nem  a  falta  d'hum  tâo  importante 
Membro,  alguma  causou  no  forte  peito. 
Que  inda  que  a  dôr  que  tinha  era  bastante 
A  sujeitar  o  nunca  antes  sujeito, 
Nenhum  nelle  o  aentio,  dos  (|ue  diante 
Alli  tinha,  ou  no  rosto,  ou  n'algum  geito, 
Quo  mais  o  aperta  o  csprito  não  domavcl 
Que  aquella  grave  dôr  intolerável. 

FBAMCI3C0   UB  ANDHADR,  PKIMEIBO  CBBCO  DE   DIU, 

cant.  16,  est.  117. 


Para   meu   gosto    quizera-lhe  menos 


rosto. 


Sim,  que  pêra  meu  gosto 
(|uizora-lho  monos  rosto, 
rosto  de  monos  formosa. 

ANTÓNIO  PBESTRS,  AUTOS,  pag.  305. 

—  Esperar  alguém  de  rosto  a  rosto ; 
espcral-o  ile  cara  a  cara.  —  tTera  se  El- 
Rcy  de  Cambava  o  quizesso  cometer,  o 
esperar  do  rosto  a  rosto,  e  que  se  con- 
tentasse com  o  que  fez  o  Emperador  Car- 
los Quinto,  quando  esperou  o  Turco  So- 
leiniaõ  em  Viena,  porque  tudo  o  outro 
mais  ora  temeridade.  O  Governador  ven- 
do todos  contra  si  desistio  de  sua  opi- 
ni.uo.»  Diogo  de  Couto,  Década  6,  liv.  õ, 
cap.  7. 

—  Figuradamente :  Da  alma  ao  rosto 
vae  um  canal  aberto. 


Mas  d'alma  ao  rorío  vai  canal  aborto 
Que  HO  intupein  vicirHi.  ou  fingido 
Orgulho  do  lioiiiem  vão.  1'orque  te  eocondcs 
Na  toga  consular  o  vult/j  au»t<T0, 
Libertador  do  líoina?  Ja  itus;iciisaii 
As  segure»  estio...  Tam  firme  peito 
Que  faz,  que  nào  sustenta  o  rorito  ao  golpe? 
OABBETT,  CAMÕEfl,  cant.  8,  cap.  1. 

—  Volver  o  rosto ;  voltal-o. 

A  fresca  virai^ilo  quo  mal  das  aguas 
Leve  incrcspava  a  aupcrficie  apcnau ; 
Uin.a  voz  me  chamou,  —  voz  que  em  meu  peito 
Ouve  inda  o  corarão —  voz  doce  e  meiga, 
Que  nunca  mais...  oh  !  nunca  uiais  na  terra 
Escutarei  dos  vivos...  volvo  o  rorto. 
OABBRTT,  CAMÒBt,  caut.  4,  cap.  3. 

—  Rosto  angélico;  rosto  de  anjo,  de 
uma  alma  bem  formada.  —  O  rosto  an- 
gelico  da  Virgem  Sagrada,  —  tE  porque 
claramente  mostraua  estar  naquella  casa 
o  tbesouro  que  buscauào,  sem  nenhama 
duuida  ehcgar.no  á  porta,  c  tàto  que  vi- 
ram aquclle  angélico  rosto  da  Virgem 
sagrada,  logo  sentir.HO  que  aquella  Senho- 
ra era  mais  que  criatura  humana,  enten- 
deram quo  bastiiua  vir  tal  3I5_v,  pêra  co- 
nhecer quem  era  o  lilho.i  Fr.  Bartholo- 
nieu  dos  Martyres,  Catecismo  da  doutri- 
na christã. 

—  Rosto  grave  e  severo;  semblante  se- 
rio e  rigoroso.  —  «Entào  tornado  a  olhar 
para  nós,  proseguio  adiàte  com  suas  pre- 
guntas,  e  sempre  com  rosto  grave,  e 
mostras  irosas,  como  ministro  inteyro  em 
seu  officio,  lias  quais  se  deteve  quasi 
huma  hora,  e  ja  por  derradeyro  nos  dis- 
se, pois,  qual  foy  a  causa  porque  as  vos- 
sas gentes  no  tempo  passado  quando  to- 
marrio  Malaca  pela  cubica  das  suas  ri- 
quezas, matarão  os  nossos  tanto  sem  pie- 
dade, de  que  ainda  agora  ha  nesta  terra 
algumas  viuvas?»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  140. —  *0  Calami- 
nhan  com  rosto  grave  o  severo  lhe  res- 
pondeo,  eu  aceito  em  mim  est;\  nova  ami- 
zade, para  em  tudo  satisfazer  a  teu  Rey 
como  a  filho  novamente  nacido  de  minhas 
entranhas.»  Ibidem,  cap.  163. 

—  Divisar  no  rosto  de  alguém  a  ima- 
gem do  prazer,  e  a  da  paz;  enxergal-a, 
conhecel-a  distinctamente  no  seu  sem- 
blante. 


A  imagem  do  prazer,  da  pai  n  imagem. 
Que  eu  de  c;l  no  teu  roito  dinsava, 
Ao  vèr  de  tanta  maravilha  o  quadro. 
Já  se  perturba  hum  [xiuco,  e  se  esvaece. 

J.   A.    DE  MACEDO,  A  XATIBEZA,  Cdnt.    1. 

—  Observar  no  rosto  d'aljuefn  as  fei- 
ções dignas  d'aquelle^  monstros. 

Inda  03  achastes  nos  acrcos  cumes 
.\rniados  d"aço  c  ferro,  inda  no  n>*to 
Lh'  obsori".aste  as  fei<;iV'3  dignas  d'aqnel]c8 
Hórridos  monstros,  ávidos  de  sangue, 
Mais  que  de  s;\nguc  cobiçosos  d'oiiro. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  XATtTBKZ-K,  Ca»t.  2. 


ROST 


ROST 


ROST 


339 


I 


—  Vários  rosLos ;  rostos  diversos,  ros- 
tos variados. 

No3  vários  aniraacs,  nos  rostos  vários, 
Eu  nas  côi-cs,  nos  sous.  eu  n'alma  o  vejo 
Almo  thcsouro  de  Clemcncia  eterna. 
EUa  enriquece  a  Terra,  c  a  vejo  cm  tantas 
Tão  varias  producções  na  espécie  eternas. 

J.  A.  DE  MACEDO,  ■^^AC^EM  EXTÁTICA,  Caut.  1. 

—  O  rosto  involto  em  véo  sombrio ;  o 
semblante  coberto  com  um  véo  sombrio. 

Desfarte  involto  o  rosto  cm  véo  sombrio : 
Se  algum  fròso  vislumbre  hum  pouco  o  manto 
Tentava  levantar,  maia  carregada 
Vinha  cahiudo  a  sombra  da  ignorância. 

J.   A.    DE  SIACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Caut.   4. 

—  Pelo  meu  rosto  correm  lagrimas;  as 
lagrimas  correm  pelas  faces  abaixo. 

Pelo  meu  rosto  lagrimas  escorrem, 
Pranto  doce,  e  feliz,  e  recolhida 
Kesto  sagrado  horror  rainhalma  goza 
Os  doces  toques  da  melancolia. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  SATCKEZA,  Cant.  1. 

Tu  deste  a  Hydrodinamica  pasmosa. 
Teu  Hemisfério  Hydraulico  os  louvores 
Do  taciturno  pensador  La  Grauge 
Te  soube  merecer !  Ricati  o  grande 
Te  abra(;a  terno  cora  silencio  augusto. 
Sobre  teu  rosto  lagrimas  derrama. 

IDEM,  \^AGEM  ESTÁTICA,  CaUt.   4. 

—  oE'  verdade  que  se  para  arder  o 
auditório  é  preciso  que  arda  o  orador, 
bem  pôde  ser  que  as  lagrimas,  que  ape- 
nas poiliamos  suster,  fossem  também  cau- 
sa de  que  corressem  pelos  rostos  dos  ou- 
vintes.» Bispo  do  Grão  Pará,  Memorias, 
publicadas  por  Camillo  Castello  Branco, 
pag.  182. 

—  Deitar  em  rosto  ;  reprochar,  censu- 
rar, dizer  na  face  cousa  que  aíFronte.  — 
« E  a  este  propósito  declara  Theodoreto 
aquellas  palauras  dos  Cantares  :  aonde  a 
Esposa  diuina,  vendo  que  suas  cõpanhei- 
ras  lhe  deitauão  em  rosto,  que  era  ne- 
gra, e  disforme,  lhes  respondeo.»  Fr. 
Thomaz  da  Veiga,  Sermões,  part.  2,  foi. 
77,  cap.  1. 

—  Dar  muitos  beijos  nos  rostos ;  beijar 
muitas  vezes  as  faces.  —  «E  tornando  de 
jiovo  a  tomar  os  filhinhos  nos  braços, 
despois  de  lhes  dar  muvtos  beijos  nos 
rostos  como  que  se  despidia  delles,  espi- 
rou no  coUo  da  molhcr  sem  bulir  mais 
comsigo,  a  que  o  algoz  acudiu  cõ  muyta 
pressa,  e  a  pindurou  na  forca  da  maney- 
ra  das  outras,  o  qu^e  também  fez  aos  qua- 
tro filhinhos,  pondolhe  dous  de  cada  par- 
te, de  maneyra  qne  a  triste  da  luãv  fica- 
va no  meyo.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pe- 
regrinações, cap.  152. 

—  Deitar,  lançar  em  rosto  o  favor,  a 
mercê,  o  beneficio  (^ue  se  faz;  lembral-o, 
dizel-o  á  pessoa  beneficiada. 


—  Dar  bofetadas  no  rosto  de  alguém ; 
offeudel-o.  —  «Os  culpados  na  preguiça, 
se  pesavaõ  a  lenha,  arroz,  carvão,  por- 
cos e  fruyta.  O  que  peccou  na  inveja,  de 
que  se  não  tira  mais  fruyto  que  o  pesar 
do  bem  que  Deos  quiz  dar  a  outrem,  o 
pagava  com  o  confessar  publicamente,  e 
com  lhe  darem  doze  bofetadas  no  rosto 
em  louvor  das  doze  luas  do  anno.»  Fer- 
não Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap. 
161. 

— -Fazer  rosto  ;  fazer  mostra. 

—  Fazer  bom  rosto  á  fortuna;  não  des- 
maiar no  perigo,  desgraça,  trabalho;  dis- 
farçar no  rosto  sereno  ou  alegre  a  afflic- 
ção,  amofinação  de  animo  nas  cousas  ad- 
versas. 

—  Lançar  em  rosto  ;  vid.  Deitar  em 
rosto. 

—  Pôr-se  com  alguém  rosto  a  rosto ; 
luctar,  batalhar  de  perto. 

—  Torcer  o  rosto  a  alguém,  ou  a  alguma 
cousa;  mostrar-lhe  desapprovação,  mau 
modo. 

—  Dar  o  vento  no  rosto ;  assoprar  por 
d'avante,  e  vir  ponteiro,  ser  contrario;  e 
assim  a  maré. 

—  Direcção,  marcha. 

—  Figuradamente:  Com  o  mesmo  ros- 
to ;  com  rosto  igual,  sem  turbação. 

■ —  Dar  de  rosto  a  alguma  pessoa,  ou 
cousa;  esquival-a,  fazer-lhe  mau  gasa- 
Ihado. 

—  Figuradamente:  Dar-me  afortuna 
de  rosto  ;  mudar-se-me,  ser-me  contraria, 
oppôr-se-me. 

—  Estar  rosto  por  rosto  com  algu  em ; 
estar  só  com  essa  pessoa,  de  só  a  só. 

—  A  meio  rosto  ;  a  meio  voltado,  e  não 
cara  a  cara. 

—  Termo  de  pintura  e  eaculptura. 
Uma  das  dez  partes  em  que  se  divide 
na  symetria  o  corpo  humano,  pintado 
ou  esculpido. 

—  Dar  co7n  a  pjorta  no  rosto.  Vid. 
Dar. 

—  Fazer  bom,  ou  mau  rosto ;  fazer  as 
cousas  com  ar  de  boa  ou  má  vontade. 

—  Dar  em  rosto  a  alguém  com  alguma 
cousa  mal  feita,  com  algum  vicio;  fazer 
reproche  d'isso  na  cara. 

—  Fazer  rosto  de  accommetter ;  atacar 
por  alguma  parte. 

—  Ti-azer  o  coração  no  rosto  ;  não  ser 
dissimulado. 

—  Mostrar  a  victoria  o  rosto  ;  favore- 
cer; em  opposição  a  virar  o  rosto. 

—  /)•  rosto  a  leste;  ir  para  esse  ponto, 
ou  lado. 

—  Torcer  o  rosto ;  mudar  o  semblante 
de  triste  em  alegre  e  vice-versa. 

—  Voltar  o  rosto  ao  inimigo;  fugir. 

—  Ter  o  rosto  quedo  á  fortuna;  não 
desmaiar  nas  desgraças. 

—  Mostrar  o  rosto  ao  inimigo;  não  lhe 
fugir. 

—  Fazer  rosto  o  navio;  voltar  a  proa 
e  rumo  para  onde  o  faz. 


—  Fazer,  ou  ter  rosto  ao  inimigo;  resis- 
tir-lhe. 

—  Pôr  o  rosto  á  fortuna ;  aventurar- 
se,  pôr  em  risco,  arriscar-se. 

—  Adágios  e  pkoverbios  : 

—  Tem  tinto,  quando  te  der  no  rosto 
o  vento. 

— ^  Melhor  é  vergonha  no  rosto,  que 
magoa  no  coração. 

—  A  mais  obriga  um  rosto  bem  assom- 
brado, que  um  homem  armado. 

—  Cuspo  para  o  céo,  cáe-me  no  rosto. 

—  Luar  de  janeiro,  não  tem  parceiro, 
mas  lá  vem  o  de  agosto  que  lhe  dá  de 
rosto. 

—  Quem  não  debulha  em  agosto,  de- 
bulha com  máo  rosto. 

—  Màe,  casae-me  logo,  que  se  me  en- 
ruga o  rosto. 

—  Besteiro  tonto  atira  aos  pés,  e  dá 
ao  rosto. 

—  Melhor  ó  rosto  vermelho  que  cora- 
ção negTO. 

—  Uma  mão  lava  a  outra  e  ambas  o 
rosto. 

—  Rosto  alegre  com  perdão,  vingar-se- 
ha  de  baldão. 

—  O  bom  mosto  sáe  ao  rosto. 

—  A  quem  Deus  quiz  bem,  ao  rosto 
lhe  vem. 

—  No  rosto  de  minha  filha,  vejo  quan- 
do o  demo  toma  a  meu  genro. 

—  Enojar-se  de  outro,  é  ferir-se  no 
rosto. 

—  Formosa  é  do  rosto,  a  que  é  boa  de 
seu  corpo. 

—  Carne  de  penna  tira  do  rosto  a 
ruga. 

—  Syx.  :  Rosto,  Cara.  Vid.  este  ultimo 
termo. 

ROSTOLHADA,  s.f.  Vid.  Rastolhada,  e 
Restolho. 

ROSTRADO,  A,  adj.  (Do  latim  rostra- 
tus).  Que  tem  bicos,  que  tem  esporões. 

—  Termo  de  botânica.  Que  tem  a  for- 
ma do  esporão  das  aves,  ou  do  seu  bico, 
fallando-se  da  corolla,  do  nectario,  etc. 

f  ROSTRAGINA,  s.  f.  (Do  latim  ros- 
trum).  Xome  dado  antigamente  aos  den- 
tes dos  peixes  fosseis,  que  tem  a  forma 
de  um  bico  d'ave. 

ROSTRAL,  adj.  2  gen.  (Do  latim  ros- 
irum).  Termo  de  entomologia.  Diz-se  das 
antennas,  quando  estão  inseridas  no  rostro. 

—  Termo  de  Antiguidade.  Nome  dado 
ás  columnas  erectas  em  memoria  de  uma 
victoria  naval,  e  que  são  ornadas  de  po- 
pas e  de  proas  de  navio,  com  ancoras  e 
fatexas. 

—  Coroa  rostral;  coroa  conferida  ao 
romano,  que  n'um  combate  tinha  saltado 
primeiro  ao  bordo  de  um  navio  inimigo. 
Esta  coroa  tinha  por  ornato  figuras  de 
popas  e  proas  de  navio. 

ROSTRATA,  adj.  f.  —  Coroa  rostrata ; 
coroa  adornada  de  esporões  de  navio : 
dava-se  em  premio  aos  vencedores  d'al- 
gum  combate  naval. 


310 


IIOTA 


IIOTA 


K(>'1"A 


f  ROSTRICORNE,  wlj  'J  <jeii.  Termo  de 
cntoinolo^íia.  DÍz-ho  dii.s  iiiitouiiart  dispos- 
tas sob  lima  Cíípocio  do  bico  produzido 
por  um  prolonfíamonto  da  cabc(,u. 

—  ó'.  III.  plur.  Família  dos  coleoptc- 
roH. 

ROSTRIFORME,  uilj.  2  geií.  (Do  latim 
roslrum,  <i  funua).  C^ue  tora  a  forma  do 
bico. 

ROSTRILHO,  s.  in.  Termo  de  botânica. 
Radicula  da  semente  germinada. 

1.)  ROSTRO,  «.  III.  Termo  autiipiado. 
Vid.  Rosto,  termo  mais  cm  uso.  —  «  E 
após  isso  lamentações  com  grandes  vozos 
e  prantos,  o  bofetadas  nos  rostros,  ferin- 
dosse  com  pedras  nas  eabeyas  tnto  sem 
piedade  ipie  os  niays  doUes  se  banliaviío 
lio  seu  ])ioprio  sangue.»  Fernào  Mendes 
Pinto,  Peregrinações,  eap.  lúU. —  «E 
cõ  os  ollios  oní  iiòs,  o  quasl  de  si  esc[ue- 
cido,  ficou  assentado  na  prava  com  o  ros- 
tro  sobro  huma  mão,  ao  (juo  julgamos, 
saudoso,  descontonte,  o  pensativo,  e  nòs 
com  as  velas  dadas,  c  a  vista  nello,  o  fo- 
mos deyxaudo  de  sorte,  que  nunca  mais 
soubemos  delle.»  Fr.  (íaspar  de  tí.  Ber- 
nardiuii,  Itinerário  da  índia,  cap.  10.— 
«  A  quarta  antes  da  nieya  noyte.  Chega- 
dos à  Mesquita  nenlium  entra  dentro, 
sem  primeiro  descalçar  à  porta  os  çapa- 
tos :  a  segunda  cousa  quo  iazom  lic,  la- 
nar rostro,  mãos,  e  pcs,  e  mais  partes 
secretas,  parecendoUies  que  com  estes  la- 
natorios  llies  perdoa  Deos  seus  peccados.» 
Ibidem,  cap.  Uí. 

—  Tt;ruK>  de  botânica.  Esporão. 

—  Termo  de  botânica.  A  casca  da  se- 
mente prolongada  em  forma  assovelada 
ou  um  tanto  cónica. 

2.)  ROSTRO,  s.  in.  (Do  latim  rustram). 
Tribuna  onde  os  oradores  romanos  tinham 
por  costume  fallar  ao  povo,  assim  chama- 
da por  estar  ornada  de  esporões  das  ga- 
los tomadas  ao>  anciates. 

f  ROSTRO-LABIAL,  aJj.  2  </cii.  Diz-se 
do  um  nniscuUi  da  boeca  da  rã. 

"l"  ROSULAR,  uílj.  2  gen.  Que  tem  o 
bico  ou  a  dispo#i(;ào  das  pétalas  de  uma 
i'Osa,  como  as  folhas  radicas  da  cnusula 
rosular,  as  orbiculas  de  (juo  se  carrega  a 
superticic  das  expansões  do  echinop/ioro 
rosular. 

1.)  ROTA,  *•.  /.  Desbarate  do  exercito. 

—  Rompimento  de  guerra,  combate, 
peleja. 

2.')  ROTA,  s.  /.  (Do  latim  ruta). —  O 
tribunal  da  rota  cm  lluiua ;  tribunal  com- 
posto de  doze  auditores,  e  a  ello  vão 
por  appellai,'ão  as  causas  do  orbe  catho- 
íico.  Alguns  querem  que  so  lhe  dê  esto 
uomc,  porque  os  ministros  d'este  tribu- 
nal servem  a  gyros,  mas  segundo  Du 
Cango,  dcu-se-lho  esto  nome,  porque  o 
pavimento  da  camará  onde  so  ajuntam, 
era  antigamente  de  podi-as  do  mármore 
assentadas  em  forma  de  i"oda. 

'ò.)  ROTA,  s.  /.  (Do  francoz  route). 
Derrota,  caminho  injuitimo. 


Ao  inuiii  alto  do  mastro  uiiiliiii  Hubindo 
A»  ultus  ror.liart  jii  llii;  otimliícliio. 
Kiitão  ja  i'llc  tiiiibrm  vai  d'v<i:nl)riiido 
()  'lui!  ;iiitc'H  rt'.rt  OH  .Miiuro.4  <li'í«;ubrirào. 
Diz  qiic  Hi!ti!  iiiivio»  vir  abrindu 
]m  da  parti;  d:i  Arubia  o  iiiiir  hu  viilo, 
K  <|iir  mal')  ciiiiiiaradu  vè  outra  fruta 
(jau  tia/.ia  tandjfiii  a.  nu-gina  rola. 

V.    IlANllUAUk:,   rUlMKIUO  CEUCO   DB   DIUjCailt.    12, 

est.  -l.f. 


—  Rota  batida,  nn  abatida;  viagem  se- 
guida sem  arribar. 

—  Rota  i>or  terra ;  que  levava  o  caval- 
leiro.  —  «Pompides  levaram  sua  rota  polo 
campo  abaixo  i]raticando  naquelle  acontc- 
einionto:  e  como  na(iuella  parte  as  aven- 
turas estivessem  sempre  certas,  não  an- 
daram muito  <iuando  polo  mesmo  valle 
viram  atravessar  uma  donzella  em  cima 
d'um  palafrom  murzcUo,  que  em  chegan- 
do a  elles  se  deteve,  dizendo.»  Francis- 
co de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  7G. 

—  Loc.  FUi. :  Pasaar  a  tuia  rota  de 
onda  em  onda :  viver  do  trabalho  em  tra- 
balho, alternando-se  a  viila  entre  elles. 

—  Ir  de  rota  batida;  ir  depressa,  ir 
sem  demora. 

—  Figuradamente :  tíeguir  a  rota  do 
seu  parecer  no  mar  da  vida. 

4.)  ROTA,  ».  /.  Termo  da  Ásia.  Espé- 
cie de  sipó,  ou  junco  de  atar,  de  cujas 
apaias  ou  feveras  com  parte  da  casca  se 
fazem  vehis  tecidas  a  modo  de  esteiras  : 
é  uma  espécie  menor  e  mais  delgada  da 
(pie  chamamos  cannas  bengalas;  é  can- 
ua  maciça.  Vid.  Urupema. 

ROTAÇÃO,  s.  /.  (Do  latim  rotatio).  ^lo- 
viniento  circular  de  um  corpo  que  gyra 
sobre  si  mesmo.  —  ^-1  rotação  Ju  terra  em 
roda  do  sol. 


Talvez,  talvez  que  cxhalaçõus,  quf  rompem 
Do  térreo  Globo,  c  furnas  teuebrosas, 
Talvez,  talvez  que  a  rot(n;'w  diurna 
Da  mesma  Terra  noa  seus  ei.xoJ  seja 
Deste  mysterio  incógnito  o  principio. 

J.    JL.    DE  MACEDO,  %1AQESI   EXTÁTICA,   Cant.   1. 

Co'  a  rot(u;ão  marcada  os  annos  forma, 

E  traz  com  lni;o3  intimoã  iiuidas 

Ligeiras  Estai;òe3.  Leda  te  embebes 

No  sou  Cantor  sublime ;  eu  posso  apenas 

Adorar,  c  seguir  de  louge  os  voos, 

Com  (|ue  esta  Águia  inda  alem  do  aéreo  cume 

Sóbc  do  riudo,  e  se  remonta  aos  Astros. 

IDEM,  A  SATUIÍKZA,   dlUt.    1. 

—  Termo  de  anatomia.  Movimento  cir- 
cular que  pôde  ser  executado  por  certas 
partos  do  corpo. 

—  Termo  Ue  botânica.  Nome  dado  á 
circula<,"ão  intraccUular,  isto  é,  ao  movi- 
mento dos  líquidos  que  se  opera  no  inte- 
rior mesmo  das  cellulas  ou  pequenas  ca- 
vidades fechadas  que  coustitueui  a  maior 
parte  do  tecido  das  planUis. 

—  Termo  de  geometria.  Kevolu\;ão  de 
uma  superticic  em  roda  de  uma  recta  Lm- 


movel,  e  concobc-sc  esta  revolução  geran- 
do um  solido. 

—  Termo  do  mcchanica.  Movimento  de 
um  corpo  em  volta  de  uma  linha  recta, 
(pn-  toma  o  nome  de  eixo  lU  rotação. 

ROTAMENTE,  adv.  (De  roto,  cui  o 
suflixo  «mente»  I.  Tonno  pouco  cm  uao. 
Abertameriti;,  hcm  segredo. 

f  ROTACEO,  A,  adj.  Termo  de  botâni- 
ca. I)i/.-.--e  daM  coroUas  mono|>ct;iia8  cujo 
tubo  muito  curto  se  desabrochou  em  lim- 
bo aberto  e  |)lano. 

I  ROTACISMO,  K.  VI.  Nomo  dado  a  es- 
te vicio  de  prouuucia<;ão  conhecido  maia 
pelo  nome  de  </aijuice. 

1  ROTADOR,  i.  111.  e  (tdj.  (Do  latim  ro- 
tatur).  Termo  de  anatomia.  D?lo-Be  e.->tes 
nome 4  a  alguns  músculos  que  fazem  exe- 
cutar em  cortas  partes,  como  a  cabeça,  o 
ollio,  o  braço,  as  coxas,  etc,  movimentos 
de  rotação. 

f  ROTALA,  .0.  f.  Termo  de  boUnica. 
Género  de  plantas  dicotyledoueas,  da  fa- 
milia  das  caryophyllas,  tendo  por  typo  a 
rotala  iniicillea,  planta  bcrbacca  das  ín- 
dias OrienUies. 

I  ROTANTE,  adj.  2  gsn.  Que  roda.  — 
Miindoíi  rotanles.  —  Globos  rolantes.  — 
Coclic  rotante. 


Nest;t  1'Stcndida  cúpula  azulada 
Vojo  dis;)tT90».  c  rntantt»  Mundos, 
Vejo  o  Sol,  vejo  a  Lua,  o  dia,  a  sombra. 
Constante  aiterontiva !  A  Luz,  os  Are* 
Sao  cifras,  cm  que  escreve  a  mão  suprema 
De  hum  Ente  Summo,  Sapieutc,  Immcnso. 

J.    A.    DE   UACEDO,  VLAOKU   EXTÁTICA,    CAOt.    1. 

Se  cada  Estrclla  hc  Sol,  c  he  centro  a  maitos 
Rolantes  globos,  que  dejjcrevem  pirofl, 
Poniue  do  immobil  Sírio,  ou  doutra  Estrclla 
Próximo  ao  Sol,  passando  algum  Planeta 
De  centro  remotisslmo,  qual  vemos. 

IDESI,    A    XATIBKZA,    CaUt.    1. 

Foi  minha  esta  illusào,  mas  doutra  Causa 
Nascerão  os  profundos  espantosos 
Abysmos  que  tu  vés ;  lipado,  e  preso 
O  ar  uo  centro  do  rotaiUe  globo. 
IBIDEM,  c:uit.  '2. 

Quando  attrahidaá  são,  das  praias  fogem, 
Porém  se  Fcbe  no  rolante  coche 
Desce,  o  se  esconde  nliorixouto.  as  ngoaa 
Levadas  de  seu  peso  ás  praias  toruio. 
IBIDEM,  cant.  3. 

O  moto  vario  dos  rolante*  globos 

Encontra  Filoláo ;  e  elle  o  primeiro. 

Que  o  Sol,  astro  central,  declara  immovol. 

IDBU,   MEDITAÇÃO,  Cailt.    1. 

Se  cada  Estiella  hc  Sol.  o  lie  centro  a  iiiuito« 
Uotiviíe.i  globas,  que  descrevem  curvas  ; 
Porque  do  imniovel  Sírio,  ou  d  outra  EstreiLi 
Próximo  ao  Sol  pjissando  algum  Planeta 
Tão  longe  de  seu  centro,  como  vemos 
Que  anda  longe  do  Sol  nMnófo  Urano, 
Nào  seja  o  Astro,  que  se  diz  Cometa? 
IBIDEM,  cant.  'J. 

•{•  ROTATIVO,  A,  aJj.  —  Machina  ro- 


ROTI 


ROTO 


ROTU 


341 


tativa ;  denominação  que  abrange  todas 
as  macliinas  a  vapor  em  que  o  movimen- 
to rectilíneo  alternativo  da  haste  do  pis- 
tão é  transformado  em  um  movimento  de 
rotação. 

ROTATÓRIO,  A,  aíj.  Termo  de  me- 
cliauica.  Qud  tem  movimento  do  rotaçào, 
que  se  move  em  roda. 

—  S.  in.  i)lur.  Familia  de  infusorios, 
coniprehendendo  aqiielles  cuja  bocca  é 
cercada  de  uma  coroa  de  celhas  vibrateis, 
que  tem  a  figura  de  uma  espécie  de 
roda. 

ROTEA,  s.  /.  Vid.  Arrotea,  e  Rotearia. 
ROTEADOR,  s.  ia.  O  que  roteia  a  terra. 
ROTEADURA,  s.  f.  Vid.  Rotearia. 
ROTEAR,    V.   a.   Arrotear,    romper  os 
maninhos. 

—  Rotear  uma  charneca;  desmoutal-a, 
desmaninhal-a,  arrancar  as  hervas  e  as 
plantas  infructiferas,  e  aproveital-as. 

—  Termo  antiquado.  Navegar  seguin- 
do derrota. 

ROTEARIA,  s.  /.  A  acção  de  rotear, 
arrotea.  Vid.  Reteria. 

ROTEIRO,  s.  m.  Termo  de  náutica. 
Livro  que  aponta  a  situação  das  costas, 
ilhas,  portos,  baixos,  correntes,  ventos, 
etc,  para  dirigir  os  navegantes  na  sua 
derrota ;  direcção  sobre  o  modo  de  pro- 
ceder, servindo  de  gaia  aos  navegantes. 

■ — Figuradamente:  Regimento,  escri- 
ptura  directoria  do  modo  de  proceder, 
norma. 

ROTELA,  s.  f.  Termo  antiquado.  Rom- 
pimento, força,  rotura,  violência. 

ROTIA,  s.  /.  Vid.  Arrotea. 

f  ROTIFERO,  A,  adj.  (^Do  latim  rota, 
e  ferre).  Que  tem  uma  roda. —  Um  pe- 
dicellar  rotifero. 

—  /S'.  m.  ijlur.  Nome  dado  a  uma  or- 
dem de  infusorios,  a  uma  secção  da  classe 
dos  polypos,  a  uma  secção  dos  microzoa- 
rios  heteropodes,  em  tim  a  uma  ordem  de 
microscópicos,  abrangendo  os  animaes, 
cuja  parte  interior  do  corpo  é  guarneci- 
da de  appendices  ciliibrmes  amontoados 
em  fíisciculos,  e  produzindo  o  eíFeito  de 
uma  roda,  quando  entra  em  movimento. 

t  ROTIFORME,  adj.  2  geií.  Vid.  Rota- 
ceo. 

ROTINA,  s.  f.  (Do  francez  routine). 
Caminho  sabido,  usual,  trilhado. 

—  Via,  ou  cousa  costumaria,  e  prati- 
cada vulgarmente. 

—  Figuradamente :    Estrada   coimbrã. 

—  Alguns  consideram  como  gallicismo 
desnecessário  este  termo,  porém  é  vul- 
garmente usado,  signiticando  trilho,  usan- 
ça, cousa  trivial,  vulgar,  etc. 

t  ROTINEIRAMENTE,  adv.  (De  roti- 
neiro, com  o  suflixo  «mente»).  De  um 
modo  rotineiro. 

—  Por  rotina. 

ROTINEIRO,  A,  adj.  e  s.  (Do  francez 
routinier).  Aquelle  que  obra  por  rotiua, 
que  se  conforma  á  rotina.  —  Ente  honiein 
não  é  senão  um  velho  rotineiro. 


—  Espirito  rotineiro.  —  Hábitos  roti- 
neiros. 

—  Q,ue  faz  como  os  outros  fazem,  o 
segue  oj  rumos  de  pensar,  e  obrar  popu- 
lares, e-  communaes,  sem  examinar  se 
são  bons  e  exactos,  e  se  pôde  ou  não 
melhurar-se  ou  rectiticar-se  o  que  se  obra. 

—  Seguidor  da  estrada  coimbrã,  e  que 
não  sabe  navegar  senão  entre  os  paralie- 
los  frequentados,  e  como  os  antigos  e 
ignorantes  costeiros. 

ROTO,  part.  pass,  irreg.  de  Romper. 
Rompido,  quebrado.  —  Rotas  as  armas. 

Xoste  tempo  já  vendo  a  geiite  imiga 
Que  lho  dii  larga  entrada  o  rolo  muro, 
Couliança,  oiiáadia,  o  ódio  os  obriga 
A  ir  tomar  o  que  haviào  [)0r  seguro  ; 
E  quando  de  Titon  a  chara  imiga 
De  novo  desterrou  o  manto  escuro, 
Hum  dia  apoz  os  cinco  que  gastarão 
Em  bater,  para  o  assalto  se  prcpárâo. 

FKANCISCO    DE    ANDRADE,    rUIMKIIlO    CEKCO  DE  DIU, 

cant.  15,  est.  07. 

—  «E  posto  que  a  determinação  delia 
fosse  detel-o,  tanto  que  veio  a  manhãa, 
se  armou  de  suas  armas,  que  por  alguns 
lagares  estavam  rotas  e  maltratadas  e, 
depois  de  se  lhe  despedir,  o  fez  de  Blan- 
didom,  Tenebror  e  Roramonte,  e  não  o 
fez  do  príncipe  Floramão,  que  desde  o 
tempo  que  conversaram  nos  matos,  onde 
oá  achou  Roborante  seu  escudeiro,  iica- 
ram  amigos  em  tid  extremo,  que  em 
quanto  depois  lhe  durou  a  vida,  durou 
esta  vontade  a  cada  um ;  cousa  inuito  de 
estimar,  por  quam  mudáveis  as  cada  dia 
vemos. u  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
dlnglaterra,  cap.  103.  —  «E  se  teus 
companheiros  quizerem  também  que  seu 
fim  e  a  tua  toda  seja  uma,  eu  tenho  três 
sobrinhos,  que  comigo  entrarão  contra  el- 
les,  mas  hei  medo  que  se  escusem  com  o 
trabalho,  que  hoje  passaram  e  com  dizer, 
que  tem  armas  rotas  :  porem  pêra  isto  eu 
lhe  mandarei  trazer  muitos  corpos  delias 
da  armaria,  que  íicou  de  Bravorante  meu 
cunhado,  e  alli  escolham.»  Ibidem,  cap. 
117.  — Já  que  se  punha  o  sol,  veio  o  ca- 
valleiro  das  Donzellas  armado  d'armas 
rotas  e  desbaratadas,  o  escudo  destiugl- 
do  todo,  em  um  cavallo  crescido  e  fer- 
moso.»  Ibidem,  cap.  129. 

—  Homem  roto  ;    homem   mal  vestido. 

—  Furtaley.a  rota ;  arrombada  com  bre- 
chas, ruinas  nas  muralhas. 

—  Inten-ompido.  —  Vocábulos  rotos  en- 
tre lagrimas. 

—  Destroçado,  desbaratado. 

Estes  grandes  bateis  {que  de  tal  arte 
Apparelhados  vào  para  esto  feito, 
Que  pudérão  fazer  em  toda  a  parte 
Tremer  a  barba  ao  mais  ousado  peito) 
Haviam  de  bater  o  baluarte 
Que  da  parto  do  mar  estava  feito, 
E  roto  com  poder  do  ferro  e  fogo, 
Se  haviào  de  chegar  para  elle  logo. 

FEANCISCO  d'aNDRADE,    PBIMEIBO  CEBCO  DE  DIU, 

cant.  2,  est.  24. 


—  «A  batalha  foy  a  mais  áspera,  e 
acesa  de  quantas  os  nossos  tiveraò,  e 
em  que  nunca  se  viraõ,  e  todavia  ainda 
que  foy  com  perda  de  mais  de  cincoenta 
dos  nossos,  os  imigos  forão  rotos,  e  des- 
baratados, ficando  deus  mil  delles  mor- 
tos, e  atassalhados  no  campo,  e  os  mais 
se  recolherão,  feridos  muitos  de  espingar- 
dadas,  porque  a  nossa  arcabuzaria  foy  a 
que  fez  nelles  grande  estrago.»  Diogo  de 
Couto,  Década  6,  li,v.  9,  cap.  2. 

—  Roto  é  o  testamento ;  é  de  nenhum 
eífeito. 

— ^  Figuradamente  :  Rota  a  paz;  rotas 
as  cadeias;  quebrada  a  paz,  e  as  cadeias. 

—  Haver  roto  a  guerra;  ter  começado. 

—  Rotas  as  novas;  divulgadas,  espa- 
lhadas. 

—  Rota  a  vanguarda;  desfeita,  desba- 
i-atada. 

—  Figuradamente:  Natureza  rota;  na- 
tureza rendida  a  obrar  mal,  fraca,  sem 
resistência;  entregue  ao  risco  e  naufrá- 
gio, como  a  nau  rota  no  mar. 

—  Roto  o  campo ;  desbaratado  o  exer- 
cito. 

—  Parar  em  guerra  rota  a  fogo  e  san- 
gue. 

—  Adágios  e  provérbios  : 

—  Pae  velho,  manga  rota,  não  é  des- 
honra. 

—  Fidalgo  antes  roto,  que  remen- 
dado. 

—  Mãe  velha,  e  camisa  rota,  não  des- 
honi-a. 

—  Melhor  é  roto,  que  alheio. 

—  A  barca  é  rota,  salve-se  quem  po- 
der. 

sapato    roto,   que  pe  for- 


Vid.    Rotulo,    termo 


—  Melhor 
moso. 

ROTOLO,    i 
mais  cm  uso. 

ROTORIA,  s.f.  Termo  antiquado.  Rom- 
pimento do  terra,  agricultando-a,  desbra- 
vando-a,  fazendo-a  levar  fructos,  e  reno- 
vos, o  que  antigamente,  e  depois  em  al- 
gumas partes,  chamavam  rotêa,  ou  arro- 
tea, do  verbo  romper,  ou  arroTnper. 

ROTULA,  s.  /.  (Do  latim  rotula).  Ter- 
mo de  anatomia.  Nome  dado  a  uma  espé- 
cie de  osso  sesamoide  chato,  curto,  es- 
pesso, arredondado,  collocado  na  parte 
posterior,  e  que  é  desenvolvido  na  espes- 
sura do  tendão  commum  aos  músculos 
extensores  da  perna. 

—  Termo  de  botânica.  Género  de  plan- 
tas dicotyledoneas,  da  familia  das  borra- 
gineas,  tendo  por  typo  a  rotula  aquática 
da  Cochinchlna. 

— •  Obra  de  madeira,  com  gelosias  para 
tapar  as  janellas ;  dá  entrada  á  luz  e  ao 
ar. 

ROTULADO,  part.  pass.  de  Rotular. 
Que  tem  mtulo. 

ROTULAR,  i'.  a.  Pôr  rotulo,  ou  inscri- 
pção. 

ROTULAS,  s.  f.  plur.  Termo  de  phar- 
macia.    Rodeliinhas,    pequenas    rodellas; 


342 


ROUR 


Roun 


EOUB 


nomo  quo  se  (1.1  a  iiicllcamentos  oii  pas- 
tilliiiH  |)rii]nius  ]i;ir;i  ;<i;  triivarciii  na  Ijocca. 
t  ROTULIANO,  A,  adj.  Que  diz  res- 
peito, (|U<!  p  !itnncc  :l  rotula.  —  Articula- 
ção /(?;;iíí»-o-rotuliana. 

ROTULO,  s.  III.  Rolo  do  pergaminho, 
ou  de  outra  qualquer  matéria,  cm  que  se 
escreviam  os  livros,  c  quo  se  enrolava 
Bobro  um  cylinJro. 

—  Rotulo  (Ic  um  livri);  o  distico  que 
tom  na  lumlmla.  \'i(l.  Titulo,  e  Rosto. 

f  ROTUNDICOLLO,  a>lj.  (Do  latim  ro- 
taiidus,  e  colluin).  t^ue  tem  o  pescoço  re- 
dondo. 

ROTUNDIDADE,  í.  /.  (Do  latim  rotun- 
ditas).  Iie.(l(>iiilc/,:i. 

f  ROTUNDIFOLIO,  adj.  (Do  latim  ro- 
tunlua,  e  foliam).  Termo  de  botaaica. 
Que  tem  as  folhas  redondas. 

I  ROTUNDIVENTRE,  adj.  (Do  latim  ro- 
iundiis,  e  i-eukr).  C^.ue  tem  o  ventre  ou  o 
abdómen  arrclondado. 

ROTUNDO,  A,  adj.  (Do  latim  rututidus). 
Redondo.  —  (i/obo  rotundo. 

ROTURA,  s.  /.  (Do  latim  ruptura).  O 
estado  de  uma  pessoa  ou  de  uma  heran- 
ça, quo  não  é  nobre.  —  Terra  em  rotura. 

—  Abertura,  desuiúno,  rompimento. 

—  As  roturas  do  taiKjuc,  oit  outro  vaso, 
podem  vedar-se. 

—  Quebra  de  paz,  de  amizade. 

—  Rotura  da  guerra  ;  rompimento. 

—  Quebradura,  doença. 

—  Rotura  do  muro,  do  baluarte,  e  que- 
bradas. 

—  Rotura  da  terra;  por  terremoto,  ou 
grandes  gretas  com  o  niniio  calor. 

—  A  rotura  das  nuvens  do  céo  sereno. 

—  Rotura  de  yalavras;  razões  descon- 
certadas de  doíavindos. —  «E  como  elle 
lho  não  quizesse  dizer,  vieram  em  tanta 
rotura  do  palavras,  que  affastados  um  do 
outro  com  as  lanças  baixas  se  encontra- 
ram nos  escudos,  e  feitas  em  peças  se  to- 
param dos  corpos  com  tanta  força,  que 
elles  o  os  cavallos  vieram  ao  chão,  e  er- 
guendo-se  com  as  espadas  arrancadas, 
começ^iram  com  tamanha  braveza,  como 
se  autre  elles  houveiM  algum  ódio  de  mui- 
tos dias.»  Francisco  de  Moraes,  Palmei- 
rim d'Inglaterra,  cap.  81. 

—  Viil.  Ruptura. 

ROU  ROU,  interj.  pop.  Denota  impor 
silencio. 

—  Adagio  e  ruovEKuio  : 

—  Rou  rou,  faça-se  o  que  el-rei  man- 
dou. 

ROUBA,  5.  /.  Termo  antiquado.  Roubo, 
furto,  defiaudaçào  dos  bens  alheios. 

ROUBADIA,  s.  /.  Termo  antiipiado. 
Rapina,  rnidtantia. 

ROUBADO,  part.  pass.  de  Roubar. 

—  Dircito)!  roubados. —  «Assentado  sou 
arrayal  fira  do  iinuoação  de  Culimanja, 
onde  elRey  de  ^lolimle  então  cstana,  vie- 
rãose  a  desconcertar  eõ  elle  por  os  gran- 
des direitos  que  lhe  pedia;  e  vendo  elle 
que   80   querião    ir   como  que  ião  buscar 


outro  porto,  mandou  dar  do  noite  nelles 
o  forão  roubados,  que  causou  tamanho 
escândalo,  que  nunca  niaes  ali  tomarão.» 
Barros,  Década  2. 

—  Tirailo  o  que  não  6  seu. —  «O  que 
sabendo  se  [)osorào  todos  a  cauallo  tendo 
a  gente  do  Serife  ja  roubado  hum  A^luar, 
e  mortos  alguns  aos  quaes  os  nossos  che- 
garão som  serem  sentidos,  e  os  segui- 
rão ato  pela  manhã,  de  que  matarão  cin- 
co, e  lhe  tomarão  noue  eauallos.»  Da- 
mião de  fioes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  .3,  cap.  71.  —  aDaquy  seguirão  sua 
derrota  mais  sete  dias  sem  em  todos  elles 
vermos  cousa  do  que  se  pudesse  fazer 
caso,  no  fim  dos  (juais  abocamos  por  hum 
esteyro  que  se  dczia  Quatan<iur,  pelo 
qual  03  pilotos  entrarão,  assi  por  encurta- 
rem o  caminho,  como  por  se  arredarem 
de  irem  encontrar  com  hum  famoso  cos- 
sayro  quo  tinha  roubado  a  m.ayor  parte 
daquella  terra.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  128. 

—  Figuradamente :  Casa  roubada ;  casa 
sem  adorno. 

—  Mate  roubado.  Vid.  Mate. 

—  Roubado  d  morte. 


Com  rápida  carreira  as  ondas  corta, 
Qual  liive  sttta  rusga  os  ares  li\T:es: 
Kis  o  fafjuuiro  Poiíc  a  (|uem  dt'canta 
Antiga  Poesia,  c  doo-lhc  o  premio 
De  ter  roubado  á  morto  o  Vate  egrégio. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUHKZA,  Cant.  3. 


ROUBADOR,  A,  s.  ^De  roubar,  e  o  suf- 
fixo  «  dor  »).  Pessoa  que  rouba,  que  tira 
o  alheio  a  seu  dono.  —  o  Pela  informação 
cjue  os  Chins  me  deraõ  do  mao  viver 
destes  estrangeyros,  certificãdo-me  cõ  ju- 
ramento solenne  na  fé  quo  tinhaõ  em  to- 
dos os  seus  deoses  quo  eraõ  elles  sem  falta 
coss.ayros  do  mar,  e  roubadores  na  terra 
de  fazendas  alheyas,  trazendo  continua- 
mente seus  braços  tintos  do  sangue  da- 
quelles  que  com  justa  causa  defendião  o 
seu,  como  era  notório  por  todo  o  univer- 
so.» Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações, 
cap.  142. 

A  avara  mão  do  roubador  mil  vezos 
Uo  attentado  cruel  souto  o  castigo. 

J.   A.   DK   MACEDO,  A  NATUBEZA,  ClUit.   3. 

—  Figuradamente  :  Roubador  da  incau- 
ta Europa. 

So  vejo  os  toques  do  purpúreo  esmalte 

Da  rosa  uos  jardins,  quandú  o  moz  volta 

Do  Touro  roubador  da  incauta  Kuropa  ; 

So  o  p:Uido  matiz,  so  o  roxo  enfeita 

A  violeta  humilda ;  se  descubro 

Sobre  o  lirio  o  candor  da  neve  Alpina, 

E  o  vordo  universal,  que  enroupa  as  plantas. 

J.   A.    DE  MACKDO,  MEDITAÇÃO,  Caot.  2. 

—  Roubador  de  uma  donzella. 


Nosta  Selva  de  Teixo «,  c  de  Pinhoa, 

Sentou  meu  Páo  morada.  C)h  !  mais  D&o  cntrea. 

Que  elle,  da  Fillia  ronluulor  tf  aceusa. 

Sem  griio  dó,  p.'.d('s  vi-r-ine  curtir  penas; 

Mas  iágrimaii  «rum  Velho  o  peito  rasgio. 

Ir-te-hci  vér  ao  CaHtcllo.  Eis  corre,  e  cmbrenha-M. 

y.   U.    DO  IIA5CUIK1ÍT0,  os  MABTVBtlS,  1ÍV.    10. 

—  Adjecti vãmente:  //c/mena roubadores. 

ROUBANTIA,  *.  /.  Termo  antiquado. 
Rapina,  acto  ile  ladrão,  roubadia.  Vid. 
este  ultimo  vocábulo. 

ROUBAR,  V.  a.  Tirar  o  alheio  eleval-o 
por    força.  —  t  Side    Iheabentafuf  soubo 
deitas   cartas,    pelo  que   cscreueu   outras 
a   cl   Rei   em  que  lhe  daua  conta  da  sua 
innocencia  dizendo  que  dom  Nuno  indu- 
zido per  mexericos  de  mouros,  o  judeus 
seus  iniigos,  com  cartas  falsas,  que  se  el- 
les mesmos  fazião  screucr  de  amigos  quo 
tinham   em   ^Marrocos,  se  indignara  tanto 
contrelle,  quo  escreuera  ha  alguns  dos  Xe- 
ques dos  Árabes  que  o  matassem  do  que 
tomaram  ousadia  de  lhe  roubarem  quanto 
tinha  em  Arfum.»  Damião  de  Góes,  Chro- 
nica de  D.   Manoel,   part.  4,  cap.  55.  — 
«  U   que   assim  orclenou  com  tençam   de 
aplicar  isso  que  fosse  a  proueito  do  mesmo 
Rei,  pêra  que  o  não  roubassem  tyraniioa, 
como  so  dantes  aco.<tumava  fazer,  e  o  en- 
tam  fazia  este  Raix  xarapho.  >  Ibidem,  cap. 
63.  —  «Então  nos  deu  hum   tael  de  es- 
molla,    e  nos  disse,  guarday  muyto  bem 
o  vosso  dos  moradores  desta  prisão,  por- 
que sabey  que  tem  mais  por  ofBcio  rou- 
barem o  alheyo  que  partirem  do  seu  cos 
necessitados.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pe- 
regrinações, cap.  100. —  lE  procedendo 
este    perro    contra    mim    ordinariamente 
com    seus   libellos,    me  veyo  pi5do  nelles 
muytos  aleyves  nunca  cuydados,  só  a  fim 
de  me  matar,  e  de  me  roubar,  como  fizera 
a  todos  os  outros  que  vierão  no  junco,  e 
me  fez  em  juizo  perguntas  por  três  vezes 
em  publico,  a  que  eu  nunca  respõdi  cousa 
que  fosse  a  propósito,  de  que  elle  com  to- 
dos 03  mais  que  estaviío  presentes  se  me- 
terão  em    muita  cólera.»    Ibidem,    cap. 
153. —  «E    dizendo    eu    algumas    vezes 
quo  por  me  roubarem  minha  fazenda  mo 
assacav.ão  todos  aquelles  falsos   testemu- 
nhos,   mas    que   o  capitão  João  Cayeyro 
que  estava  em   Pegú  daria  conta  disso  a 
el  Rey  muyto  cedo,  por  isto  que  eu  a  caso 
disse  ja  como  desesperado,  e  sem  saber  o 
que    dczia,    permitio    nosso    Senhor    que 
fosse  livre   da  morte.»  Ibidem.  — «  Por- 
que  nella  per   muytas  vezes  se  ajuntam 
grande    numero  de  ladrCies,    e  delles  ar- 
mados,  e   publicamente  roubão   os    mer- 
cadores,  em  outros  onde  sintem  que    lia 
riquezas.»   Fr.  (í aspar  da  Cruz,  Tratado 
das  cousas  da  China.  cap.  44. 

Nevados  Cvâncs.  que  o  meu  Carro  tirão, 
Mimosas  Dansas,  namoradas  S^lvaa 
FestivAes  Sacriric.io-i  jubilosos... 
E  esse  leve  desconto  das  Celeste» 
Alegrias,  \nraõ  Christãos  roiiliar-m'o  * 

r.   M.   DO  MASCIMEXTO,  OS  llABm£â,  IÍV.   8. 


ROUB 

Sempronio, 
Eu  ja  fui  pac  —  e  sou  Eomano  ainda. 
Ves  aquelle  cadáver  ?  —  é  meu  filho : 
Tu  mo  roubaste... 

GARRETT,  CAtIo,  act.    4,  SC.    5. 


—  Termo  de  jogo.  Em  alguns  jogos  é 
tirar  a  carta  melhor  do  trunfo  que  foi  le- 
vantada, pondo  em  seu  logar  outra  do 
mesmo  metal,  e  menos  valor. 


Sem  esse  az 

TÓ3  mesma  me  roubareis. 

Matador,  hajamos  paz, 

e  aquillo  que  mo  faz 

que  mo  vós  maia  uào  mateis. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  381. 


■Arrebatar,  enlevar. 


Ganhão-uos  tão  mal  ganhados, 
Que  vos  rntihio  as  orelhas. 
Pola  hóstia  consagrada 
E  polo  Dcos  consagrado 
Que  os  lobos  nas  ovelhas 
Não  dão  tão  crua  pancada. 

GIL  VICESTE,   FAHÇAS. 


Quem  rouba  ao  ar  pacifico  cquilibrio  V 
Pode  um  Vate  romper  tão  densas  sombras  ? 
Nellas  s'involve  a  Natureza,  c  nellas 
A  sua  augusta  magostade  esconde. 

J.    A.    DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Cant.    1. 


Aqui  8e  vião  nos  incultos  bosques 

Errantes  os  mortaes,  sem  Lei,  sem  Pátria, 

E  quasi  extincto  o  facho  luminoso 

Da  celeste  Eazão,  como  eclipsado 

Se  nos  descobre  o  Sol  no  Firmamento, 

Quando  hum  corpo  interposto  a  luz  nos  rouba. 

IBIDEM. 

Sc  Maio  cm  fira,  de  Zéfiro  nas  azas 
Leva  a  doce  Estação,  se  aos  olhos  rouba 
O  quadro  encantador,  que  novo,  e  bello, 
Lisonjeiro  espectáculo  se  mostra  ! 

IDEM,    A  NATUREZA,  Caut.    1. 


Penetra  nos  umbraes  da  Natureza, 
Rouba  hum  só  raio  á  luz,  c  elle  só  basta 
Quando,  atravez  do  prisma  crvstallino. 
Faz  sahir  deste  raio  as  cores  todas. 

IDEM,  MEDITAÇÃO,  Caut.    2. 


Tu  sabes  como  o  Sol  ao  vasto  Oceano 
Rouba  em  vapor  subtil  cerúleas  ondas. 
No  seio  as  fecha  dos  delgados  ares, 
Karefaz-se  o  Vapor,  tolda-se  o  dia. 

IDEM,  A  NATUREZA,  Cant.  2. 

—  Roubar   o   coração,'   apossar-se,   as- 
senhorear-se,  apoderar-se  d'elle. 

Pyreue,  que  deu  nome  a  Ibérios  montes. 

Do  Rei  Bcbricio  Filha,  deu  a  Alcides 

De  Esposa  a  mão.  Que  em  Gregos,  sempre  é  de  uso 

Roubar  o  coração  ás  gentis  damas. 

F.    M.   DO  KASCIMESTO,  OS  MARTYRES,  1ÍV.    10. 


Í 


■Roubar  da  vista  o  sol  brilhante. 


ROUB 

Em  tudo  via  o  meditava  absorto ! 
Mas  repentinameute  hum  véo  s'e3tende. 
Tudo  foge  a  meus  olhos,  e  se  esconde. 
Qual  nos  rouba  da  vi.sta  o  Sol  brilhante 
Hum  grupo  espesso  de  pesadas  nuvens. 

J.    A.    DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,   Caut.    4. 

—  Roubar  o  fôlego. 

—  Figuradamente:  Levar  por  despojos 
do  inimigo.  —  Roubar  o  campo.  —  «  Che- 
gado este  Cogequij  a  Rodrigo  Rabello, 
contou-lhe  o  modo  do  desbarato  do  Nai- 
que,  que  estava  em  guarda  do  passo,  e 
que  lhe  parecia,  (segundo  o  que  de  noite 
se  podia  estimar,)  os  Mouros  poderiam  ser 
té  duzentos ;  e  porem  pela  nova  que  lhe 
davam  os  lavradores  das  aldeãs,  per  toda 
a  Ilha  andava  muita  gente  espalhada 
como  quem  vinha  a  roubar  o  campo,  e 
nào  commetter  a  cidade.»  João  de  Bar- 
ros, Década  2,  liv.  6,  cap.  8.  —  «Cide- 
Iheabentafuf  não  acudio  a  este  descon- 
certo, porque  do  lugar  onde  se  ordenou 
que  estiuesse,  vendo  a  sua  gente  como  os 
mouros  forão  desbaratados  do  primeiro 
encontro,  se  lhe  desmandaram  a  roubar 
o  campo,  sem  elle  nisso  poder  poer  or- 
dem.» Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  3,  cap.  50.  —  «Pêra  elle 
se  apparelharam  mais  cento  e  trinta  pes- 
soas, entro  gente  de  pè,  e  de  caualo,  e 
todos  juntos  cõ  alguns  Camellos  em  que 
Ília  a  fazenda  dalguns  mercadores  Persia- 
nos, nos  partimos  a  boca  da  noyte,  te- 
mendo que  03  imigos  viessem  em  nosso 
alcance,  a  fim  de  nos  roubarem.»  Fr. 
Gaspar  de  S.  Bernardino,  Itinerário  da 
índia,  cap.  12. 

—  Roubar  a  donzella  de  casa  de  seu 
pae,  a  casada  de  seu  marido.  Vid.  Ra- 
ptar. 

~-  Roubar  o  tempo ;  tiral-o,  gastal-o  em 
cousas,  que  são  menos  importantes  que 
se  o  gastasse  em  outras. 

Elle  farta  a  minh'  alma,  elle  he  thesouro, 
Qu'  a  ambição  me  não  tira,  ou  rouba  o  tempo. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Cant.  1. 

—  Roubar  a  paz;  privar  alguém  d'ella. 

Tu  lhe  roubas  a  paz.  Até  parece, 
Que  constrangida  o  dera  a  Natureza : 
Vè  onde  o  foi  guardar,  no  fundo  abismo. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  CaUt.  2. 

■ —  Roubar  a  tranquillidade. 
■ —  Levar,  arrebatar. 

—  Roubar  o  bem  que  a  fortuna  dá.  — 
«Sij  uma  cousa  acho  que  desfallece  pêra 
poderes  senhorear  o  mundo;  esta  em  tua 
mão  está,  se  a  quizeres  acceitar;  mas 
temo  que  a  fortuna,  que  era  tamanho  es- 
tado te  poz,  invejosa  do  bem  que  ella  dá, 
desejosa  de  o  tornar  a  roubar,  segundo 
seu  costumo,  to  estorve.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  de  Inglaterra,  cap. 
93. 

—  Toma-se    também    absolutamente  : 


ROUB 


343 


Uns  matam,  outros  roubam. —  «Os  gigan- 
tes cada  dia  sahem  por  esta  terra,  cada 
um  por  sua  parte;  e  os  seus  cavalleiros 
por  outra:  uns  matam,  outros  roubam,  e 
nestas  obras  exercitam  as  forças  com  exe- 
cução de  suas  vontades  damnadas,  fazen- 
do tantas  cruezas,  que  se  Deus  cedo  lhe 
não  dá  o  castigo,  que  merecem,  acabaria 
esta  terra  de  perder-se  de  todo.»  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  106. —  «Outros  de  outra  seita  que 
se  chama  Gizom,  tem  para  sy  que  sós  as 
bestas  pela  penitencia  que  fizeraõ  nesta 
vida  cos  trabalhos  que  levarão  nella,  al- 
cançarão despois  o  Ceo,  em  que  descan- 
sem, e  não  o  homem  que  sempre  viveo  á 
vontade  da  carne,  roubado,  e  matando,  e 
fazendo  outros  muytus  jieccados.»  Fer- 
não Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap. 
114.  —  «Deixo  outras  consequências,  que 
teve  a  historia,  porque  estas  bastão  para 
mostra  que  ha  ladroens,  que  furtaõ  ac- 
cresceutando,  a  quem  roubaõ,  mais  do 
que  lhe  fnrtaõ.»  Arte  de  furtar,  cap.  13. 
—  «Isto  fazem  de  noyte,  e  em  aquella 
rua  onde  vão  roubar  alevantam  huma 
grande  voz,  em  que  dizem  e  nomeiam  a 
casa  do  mercador  ou  mouro  que  vam  rou- 
bar; e  dizem  que  ninguém  seja  ousado 
que  saya  fora  de  casa,  nem  aa  jaiiella : 
porque  os  mataram.»  António  Tenreiro, 
Itinerário,  cap.  44. 

—  Roubar-se,  v.  rejí.  Furtar-se,  fu- 
gir-se. 

Ao  que  medita,  e  vê  se  apraz  mostrar-se 
Sem  véos  em  claro  aspecto  a  Natiu'eza, 
Só  pela  voz  da  experiência  falia, 
E  a  soberbas  hypotheses  se  rouba. 

J.  A.  DE  MACEDO,  .'.  NATUREZA,  Cant.  2. 

Génios  tão  grandes  súbito  desmaiào. 
Se  infinitas  myriades  contemplão 
Destes  Seres  orgânicos,  que  á  força 
Até  do  vidro  augmontador  se  rozibào. 

IDEM,  MEDITAÇÃO,   Caut.    3. 

ROUBAZ,  adj.  Vid.  Roaz. 

—  Liibii  roubaz ;  lobo  rapace. 
ROUBLE,  s.  m.  Vid.  Roble. 
ROUBO,  s.  m.  A  acção  de  roubar. 

—  Furto  acompanhado  de  força.  — 
«Governava  por  este  tempo  a  Espanha 
Ulterior,  e  cõ  ella  nossa  Lusitânia  Vibio 
Sereno  com  titulo  de  Procônsul,  e  como 
a  gente  Portugxiesa  tinha  deixado  as  ar- 
mas, e  vivia  ocupada  só  em  cultivar  seus 
campos,  e  as  forças  principaes  (como  vi- 
mos no  capitulo  passado)  estavaõ  cõ  pre- 
sidio de  Romanos,  atreviaõse  os  governa- 
dores a  fazer  grandes  extorçoens  e  rou- 
bos na  fazenda  dos  naturaes.»  Monarchia 
Lusitana,  liv.  5,  cap.  2.  —  «Mas  que  por 
andarmos  com  cossayros  de  ilha  em  ilha, 
permitira  Deos,  a  quem  os  males  e  rou- 
bos erão  aborrecidos,  que  nos  perdêsse- 
mos, para  por  isso  sermos  presos  pelos 
ministros  da  sua  justiça,  para  conforme  a 
ella   colhermos  o   fruyto   de  nossas  más 


344 


ROUC 


ROUP 


UOUP 


obras,  que  era  a  pena  do  morto  que  por 
cilas  incrcciainos,  conforme  il  Icy  fio  «e- 
giinilo  livro  cm  qno  isto  ospp.ciiicrailainon- 
to  80  declarava.»  Fcriiito  iMcndcs  l'intii, 
Peregrinações,  cap.  101. 

Tu  vintr  rm  scRSPiita  annos  tni»  miidfínçfiH, 
Mortes,  batalhas,  miilio»,  o  conruiistas, 
Qiio  parcrií  mais  fácil  succcdnrcni , 
Que  cm  outro  tanto  tempo  reforil-a». 

AnnADF.  nr.  jazente,  poesias,  tom.  1,  pag.  21. 

Itonbo',  mortes,  c  todo  o  malefício 
E.tccutão  som  tt'n'm  piedade, 
E  tão  ricos  andaviio  que  o  mais  pobre 
Er»  então  liberal,  ora  então  nobre. 

rRANCISCO    D'A!iDR\nK,    l-RIMKinO    OFllCO    DF.    DIU, 

cant.  5,  est.  43. 

—  Rapto,  enlevamcnto  com  visão, 
tríinsporto,    enlevo,    arrebatamento,    ctc. 

—  Fifiura" lamento:    A  cousa  roubada. 

—  O  roubo  de  uma  mulher;  o  rapto 
que  d'clla  se  fez.  —  «O  roubo  do  uma 
molher  Tliebana  origio  a  Guerra  Sacra, 
quo  durou  dez  anno3  entre  os  Thcbano.s, 
e  08  Focenses.  Outro  insidto  semclliante 
causou  as  guerras  <lo-s  Messenios  com  os 
Laccdemonios.  »  Oavalleiro  d'Oliveira, 
Cartas,  liv.  1,  n."  20. 

—  Svx.:  Roubo, /«rio.  Vid.  este  termo, 
ROUCAMENTE,  adv.  (De  rouco,  com  o 

suílixo  nmeute»í.  De  um  modo  rouco. — 
Falhir  roucamente. 

—  Com  rouquidrio,  com  som  rouco. 
ROUCO,  A,  adj.  (Do  latim  rancus).  En- 

rouquecido.  —  Homem  rouco.  —  Vento 
rouco. —  Voz  rouca.  —  «Porém  o  outro 
estava  tão  transportado,  ou  enlevado,  que 
nem  llio  lembrava  quo  o  podiam  ouvir, 
nem  se  arreceava  d'i.sso,  antes  com  voz 
algum  tanto  rouca  e  pouco  e.sfort^ada,  di- 
zia: Senhora  cm  que  vos  mereci  tratar- 
des-me  tão  mal,  que  me  trazeis  vivo  pêra 
desejar  a  morte,  e  não  consentis  que  mor- 
ra pêra  com  maior  dor  passo  esta  vida.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  87. 

Entra  invisivel  lil  no  rico  e  ornado 
Aposento,  oudo  as  queixas  tinha  ouvido, 
Mas  apenas  lá  doutro  foi  entrado 
Quando  d'entrar  \\  foi  arrependido. 
Mas  sinto-me  eu  tão  ro^icn  e  tão  cansado. 
Que  enido  que  sou  ja  mal  entendido, 
Cousouti  que  descanse  aqui  alf;;um  tanto 
Porque  com  clara  voz  me  torne  ao  Canto. 
puAscisco  d'andk\dk,  ruiMKino  cerco  dk  nic, 
cant.  3,  est.  110. 

Mas  ah  !  qii'  a  paz  se  turba,  irado,  c  ronco 
(Repentina  catástrofe)  rebrama. 

J.   A.   OE  M.ACErKJ,  A   N.VTUREZA,  Caut.    3. 


dão. 


Roucos  ais ;  ais  dados  com  rouqui- 


As  emigrantes  Aves  já  misturiio 
Aos  bramido.s  do  n\ar,  do  vento  aos  sopros, 
Roncos  ais,  froxo  canto  ;  estes  acccntos 
De  magcstade,  do  tristeza  excitiVo 
N'alma  as  idéas  da  virtude  austera, 


N'af;onizant(í  Natureza  observa 
O  Sábio  o  fim  qu'f»pora,  o  fim  do  tudo. 
j.  A.  HE  MAcrno,  A  "(ATUBrzA,  cant.  1. 

ROUÇAR,  V.  n.  Termo  antiquado,  Vid. 
Rousar. 

ROUÇOM,  .«.  «1.  Termo  antiquado.   IIo- 
mi-iri  (|oi-  lipr(;a  c  violenta  mulheres. 

ROUDÃO,  .'.  m.  Termo  antiquado.  Vid. 
Raudão. 

ROUFENHO,    A,    adj.  Vid.  Rouquenho. 
ROUPA,  .S-.  /.  (Do  latim  rauim).  Fazen- 
da ])ara  vestiilog,  o  outro-5  servieo.s;  cfiei- 
tos    commerciaes,  —  «A   qual,   depois  de 
pôr  o.í  olhos  na  gente  que  na  sala  estava, 
p(Uico   contente  fio  ver  a  nobreza  grando 
fios  cavalloiros  daquella  corto,  o  a  multi- 
dão fUelles,   d'outra  parte  a  gram  eomma 
lie  flamas  formosas,  com  tão  ricos  atavios 
e  roupas   <le  diversas  maneiras,  coniroou 
dizt-r.»    Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
d'Inglaterra,  cap.  03.  —  «No  outrf>  batel, 
que    á    maravilha    traziam    ataviailo    do 
pannos   ile   seda,  coxins  e  outros  atavios 
ricos,    vinha  uma  donzella,  que  ao  pare- 
cer,  devia    s '.r    sonhcn-a    fraquella   frota, 
vestida   d'umas   roupas    d'invenyào  nova 
nuiito  lou(;.ãa,  e  sobre  os  outros  vestidos 
trazia   um    roupão    de   tafetá    preto,  que 
isto  era  na  fon;a  do  vtTào,  cortado  polas 
mangas  c  outros  lugares  necessários,  e  os 
cortes    se    tornavam    a  juntar  com  umas 
visagras    d'ouro    esmaltadas    de    passari- 
nhos,   e   outras  invençijes  alegres  de  fli- 
versas  maneiras.»    Ibidem,    cap.  110. — 
«Estes   depois   que  o  leuaraõ  pella  terra 
dentro  a  primeira  honra  o  gasalhado  que 
lhe  íizeraõ,    foi   esbulharcnnio  de  quanto 
leuaua  assi   de   vestido  e  roupa  como  de 
hum   pouco   de   biscouto  trign  e  legumes 
de  seu  comer. •  Barros,  Década  1,  liv.  1, 
cap.  10.  —  «Assentado   isto,   puzeraõ  em 
cima  as  armas,   o  todos  os  mantimentos, 
pólvora,    e    roupas,  e  logo   se   embarcou 
Manoel    de   Sousa  no  batel  com  sua  mu- 
lher, e  filhos,  o  perto   de   trinta  pessoas 
principaes,    em   que   entravaõ    Pantaleaõ 
de  Sà,  Tristão  de  Sousa,  Amador  de  Sou- 
sa,   Diogo    Mendes  Dourado  de  Setuval, 
Raltliazar   de   Siqueira,    e  outros,   e  com 
algumas  espingardas,  c  armas  se  puzeraõ 
em   terra,   e  tornou  o  batel  a  desembar- 
car os  mais.»  Diogo  de  Couto,  Década  (.i, 
liv.    9,    cap.    22.  —  «E   lhe   deu  muitas 
rendas,    quo  pcra  isso  comprou  da  Coroa 
do  rcgno,  c  ricos  ornamentos  pêra  o  ser- 
vit;o  dluino  com  grande  somma  de  roupa 
pêra  camas,  c  seruisso  das  pessoas  que  se 
alli    viessem    curar   assi    ricos,  como  po- 
bres, o  pêra   hos  pobres   tlcixou   rasoens 
ordenadas   per   espaço  de  hum  mes,  que 
ho  lio  tempo  cm  que  as  aguoas  tlaquellas 
calflas  faz<nn  sua  obva.n  Damião  de  Ciocs, 
Chronica  de  D.  Manoel,  p.irt.  4,  cap.  2G. 
—  «Estes    nos   levarão  assi   j>resos  como 
hiamos    por   seis  ou  sete  ruas,  nas  quais 
nos  florão  osmolla  que  valia  mais  ile  vin- 
te cruzados,  assi  em  roupa  como  em  di- 


nheyro,  a  fiira  muyto  mantimento  do  car- 
ne, arroz,  farinha,  e  fruyta»  da  qual  es- 
molla  partimo.s  peio  meyo  cos  quatro  upo«, 
[lorfiue  !\.^v\  era  cu.^tume.»  Fernão  Men- 
fles  Pinto,  Peregrinações,  cap.  89. 

\'am-si;  ao  lon^o  da  praLt 
afastadn»  do  logar, 
deitam  a  rooya  "nxupar 
A  sombra  de  huina  fava  ; 
Ysabel  encolhe  a  Raya, 
Fran(;i.sca  dfrixa  molhar. 
Se  bem  lavam,  melhor  torcem, 
namorou-me  o  sen  lavar. 

cfiBiBTOvÃo  FAixrÃo,  OBBAs  ícdíç.  1871). 

—  O  reeolher  da  ronpa  que  todo»  fa- 
zem ;  o  ajustar  e  poupar  fazenda,  a  quem 
mais  o  faz. 

—  Loc.  rop, :  hto  não  e  roupa  dt  fran- 
ceses; isto  n.ão  .são  bens  de  piratas,  de 
que  cada  um  piVle  abusar. 

—  Furtar  a  roupa ;  vid.  Jogar  a  fur- 
ta-lfte  o  fato. 

—  Corsário  de  toda  a  roupa;  o  que 
rouba  as  nações  amigas  e  inimigas, 

—  Capa,    ou  vestidura,    que  veste  por 
cima    das    outras    mais  justai,  —  <E    so 
quizerem    trazer   albernozes,    tragão-nos 
i;arrados,  e  cozeitos  com  seos  escapullai- 
ros,    assy  como  agora  trazem ;   o  se  qui- 
zerem  trazer   balandraaes,    ou    capuzes, 
tragão  sempre  com  elles  escapullairos  de- 
trás, como  de  sempre  trouxeram  e  o  que 
nom   trouxer  cada   huma  das   ditas  rou- 
pas, perca  a  roupa,   que  trouxer,   e  seja 
preso  ataa   nossa   mercee;    e  trazendo  as 
ditas  roupas,  se  nom   forem    taaes,  como 
devem,  segunflo  suzo  he  declarado,  per- 
cão  nas,  c  jaçam  na  cadea  quinze  dias,i 
Ord.   Affons.,   liv,   2,   tit,   103,   §  6, — 
«Agora  me  quero  rir,   disse  o  outro;  de- 
pois que  passastes  toda  a  noite  em  sora- 
no,  quercis-me  metter  em  consciência  que 
errastes  o   caminho;  pois   faço-vos   saber 
que  são  pegados  comvosco;  e  redes  as- 
somam por  cima  daquclle   outeiro,  e  tra- 
zem comsigo  a  donzella  que  iam  buscar, 
que  vejo  roupa  de  mulheres.»  Francisco 
tio  Moraes,   Palmeirim  dlnglaterra,  cap. 
lOõ. — «Puis    como  o  cavalleiro   do  S.al- 
vagem    fosso    mestre    destes    accidentcs, 
com  amorosas  palavras  e  afagos  necessá- 
rios, a  começou  tentar;  e  achando-a  mais 
branda  na  pratica,  deu  nma  pequena  de 
ousadia  ás  mãos,   tocando-a  nas  mangas 
da  roupa,  e  outros  lugares,  onde  não  pa- 
recia ileshonesto,  e  sentindo-lhe  a  vonta- 
de entregue,    satisfez  com    seu  de.sejo  de 
maneira   que   quando  o  escudeiro  tomou 
era  feita  dona,  o  bem  contente.»  Ibidem, 
cap.    100. —  «Padre,   disse   o   do  Salva- 
gem,  dai-me  um  seguro  que  na  vossa  ce- 
la estaes  isentos  destes  accidentcs  huma- 
nos, ou  que  debaixo  destas  roupas  se  vos 
não  revela  a  carne :  cntào  terei  estes  pe- 
rigos em  mais.»  Ibidem.  —  «Vivem  tam- 
bém   nesta    cerca  todos  os  mainatos  que 
lavão  roupa  a  toda  a  cidade,  que  segundo 


BOUP 


ROUP 


ROUS 


345 


nos  affirniarào  passaõ  de  cem  mil,  por 
aver  aquv  grandes  rios,  e  ribeyras  da- 
goa,  com  infinidade  de  t.àques  muyto 
fundos,  e  lagos  fechados  todos  de  cercas 
de  cantaria  muyto  forte,  e  de  lageas  muy- 
to primas  e  bem  lavradas. »  Ferncão  Men- 
des Pinto,  Peregrinações,  cap.  105. 

—  Roupa  preta ;  vestuário  preto,  e  o 
mais  decente,  e  menos  garrido,  e  de  que 
se  faz  uso  para  muitas  occasiões.  —  «Ma- 
noel de  Sousa  de  Sepúlveda  tomou  con- 
selho com  todos  sobre  o  que  seria  melhor, 
e  assentarão  «que  se  puzessem  em  terra, 
e  que  se  fortificassem,  e  que  das  cousas 
da  nào  fizessem  hiun  caravelaõ,  em  que 
se  pudessem  hir  pêra  Çofala,  ou  Moçam- 
bique, ou  mandarem  recado  pêra  os  vi- 
rem buscar,  c  que  se  puzesse  cobro  nas 
armas,  e  alguma  roupa  preta,  que  era  o 
com  que  haviaõ  de  resgatar  o  que  hou- 
vessem mister.»  Diogo  de  Couto,  Década 
6,  liv.  9,  cap.  21. 

—  Roupa  de  linho;  fazendas  brancas 
de  linho,  que  tem  variadas  cores.  —  «E 
com  tanta  quãtidade  de  peças  de  sedas, 
brocados,  tellas,  e  roupas  de  linho,  e  de 
algodão,  e  de  pelles  de  martas,  e  armi- 
nhos, e  de  almizcre,  aguila,  porcellanas 
finas,  peças  d'ouro,  e  de  prata,  aljofre, 
pérolas,  ouro  em  pó,  e  em  barras,  que 
ni'is  os  nove  companheyros  andávamos 
como  pasmados.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  107. 

—  Roupas  de  jogo;  vestidos  festivos,  e 
de  adornos;  em  opposição  aos  vestidos  de 
armar  o  corpo,  como  eram  as  cotas  d 'ar- 
mas, as  malhas,  couras,  cambazès,  folhas 
de  bufaro,  laudeis  de  acolchoados,  cace- 
tes, etc.  Vid.  Jogo. 

—  Diz-se  do  homem  de  pouco  mereci- 
mento e  valor. — Este  é  fraca  roupa. 

— ■  Alvas  roupas  ;  vestidos  brancos,  fa- 
zendas brancas,  como  são  os  lençoes,  saias 
de  linho,   camisas,  etc. 


Vão  diante  Eubages,  e  comsigo  lévào 
Dons  alvos  Touros  (Victimas  votadas). 
Bardos  cantando  vem,  ao  som  das  Cytharas, 
Louvores  de  Teutates.  vem  Alumuos, 
Em  alvas  roujyas:  ura  Arauto  os  guia ; 
Galéro  alado  traz  ;  na  dextra  um  ramo 
De  Yerbemia,  com  Serpes  retorcidas. 

F.   M.   DO  NASCISIEXTO,  OS   MABTYRES,  1ÍV.    í). 


■ — A  queima-TOupa;  muitissimo  perto. 
—  Disparar  um  tiro  á  queima-Tonfa. 

—  Guarda-iQupa.  —  « De  maneira,  que 
ao  que  agora  dizem  o  Veador  da  Casa, 
chamavaò  Comes  rei  privatce- :  ao  Guarda 
roupa :  Comes  sacrce  vestis :  ao  veador  da 
fazenda:  Comes  largitionum.»  Manoel  Se- 
verim  de  Faria,  Noticias  de  Portugal, 
Disc.  3,  §  2õ. 

—  Figuradamente:  O  génio  da  monta- 
nha trajando  alias  roupas  de  nuvens. 

E  o  nome  de  Beatriz,  também  gravado 
Na  sílice  do  monte,  lhe  responde, 
TOL.  V. — U. 


Como  echo  das  cndeixas  namoradas 
Do  cantor  da  soidão.  Sentado  viram 
O  gonio  da  montanha,  alvas  trajando 
Iioiipas  do  nuvem,  dar  ouvido  attento 
As  canções  magoadas  c  suíivissimas 
De  Bernardim  saudoso  e  namorado. 
G.iERETT,  CAMÕES,  cant.  9,  cap .  9. 

—  Roupa  branca;  os  vestidos,  camisas, 
saias  de  linho,  de  algodão,  toalhas,  len- 
çoes, etc,  de  lençarias,  ou  cotonia. 

—  Adágios  e  provérbios: 

—  Nào  haja  di'i  de  quem  tem  muita 
roupa,  e  faz  má  cama. 

—  Bem  estamos  de  roupa,  se  nos  nFSo 
molharmos. 

—  Dá  Deus  o  frio,   conforme  a  roupa. 
• —  Dá  Deus  a  roupa,  segundo  é  o  frio. 

—  Roupa  de  francez. 

ROUPADO,  pa7-t.  pass.  de  Roupar.  Pro- 
vido de  roupas.  —  Pinturas  bem  roupa- 
das. 

ROUPAGEM,  .s.  /.  Termo  de  pintura  e 
de  escuiptura.  A  parte  que  representa  as 
roupas,  vestidos,  pannos.  —  A  roupagem 
da  sua  ]>intura. 

ROUPÃO,  s.  m.  Augmentativo  de  Rou- 
pa. Roupa  grande,  ou  vestido  largo,  ta- 
lar, mui  fraldado,  que- se  traz  sobre  os 
outros :  era  também  de  mulher. 

—  -  Modernamente  diz-se  dos  vestidos 
de  mulher,  abertos  por  diante,  á  manei- 
ra das  sobrecasacas  dos  homens. 

ROUPAR,  V.  a.  Prover  de  roupas,  ves- 
tir. Vi  1.  Enroupar. 

—  Roupar  as  jiguras  do  quadro;  pin- 
tar-lhe  as  roupagens. 

—  Roupar  as  estatuas ;  lavrar  as  rou- 
pas ao  escopro,  ao  cinzel. 

—  Roupar-se,  i-.  rcjl.  Prover-se,  ves- 
tir-se  de  roupa. 

ROUPARIA,   s.  f.  Vestiaria. 

—  Ca-^a  onílc  se  guardam  as  roupas. 

ROUPAVELHEIRO',  A,  s.  Pessoa  que  ven- 
de fatos  velhos,  á  maneira  dos  adelciros  e 
adeleiras,  apesar  de  que  estes  também  os 
vendem  novos. 

—  Al  d  bebe. 

ROUPEIRO,  A,  adj.~Uva  roupeira; 
espécie  de  uva  conhecida  por  este  nome. 

—  S.  Pessoa  que  trata  e  cuida  da  rou- 
paria. 

—  Entre  pastores,  diz-se  do  que  guar- 
da as  ovelhas. 

ROUPETA,  í.  /.  Roupa  mais  estreita. 
—  nDa  qual  gente  vimos  alguns  homens 
aquy  nesta  cidade,  que  saõ  ruvvos,  e  de 
estatura  grande,  vestidos  de  calções,  rou- 
petas e  ch.ipeos  ao  modo  que  nesta  terra 
vemos  usar  os  Framengos  e  os  Tudescos, 
e  03  mais  honrados  traziào  roupões  forr.a- 
dos  de  pelles,  e  alguns  de  boas  martas, 
traziào  espadas  largas  e  grandes,  e  na 
lingoagem  que  fallavào  lhe  notamos  al- 
guns vocablos  Latinos,  e  quando  espirra- 
vão  deziào  três  vezes  dominus,  dominus, 
dominus. »  Fernão  Mendes  Pinto,  Pere- 
grinações, cap.  124. 

—  Roupeta  de  escarlatim.  —  «São  todos 


mui  aôeiçoados  a  cousas  de  Portugal,  o 
velho,  e  lembra-lhes  do  bispo  Pinheiro, 
quando  começou  a  pregar,  e  das  festas 
do  principe,  a  que  elles  chamam  o  bom  • 
tempo;  e  não  se  amancebarão  do  uma 
capa  de  arbim  de  espada  e  de  uma  rou- 
peta de  escarlatim,  ainda  que  os  escom- 
munguem.»  Fernão  Rodrigues  Lobo  So- 
ropita,  Poesias  e  prosas  inéditas,  pag.  62. 
—  Túnica  religiosa.  — ^1  roupeta  je- 
suitica. 

ROUPETÃO,  í.  m.  Augmentativo  de 
Roupeta.  Roupão,  vestidura  longa,  saio. 
Vil.  Ropetão. 

ROUPINHAS,  5.  /.  plur.  Vestidura  de 
mulher,  que  se  aperta  por  diante,  chega 
até  á  cintui-a,  e  tem  manga  até  meio  bra- 
ço, ou  que  o  cobre  todo. 

ROUQUEJAR,  f.  n.  Dar  som  rouco. — 
Rouquejar  "  rn. 

ROUQUENHA,  s.  f.  Termo  antiquado. 
Rouf[uidàii.  rnuquice. 

ROUQUENHO,  A,  adj.  Algum  tanto  rou- 
co, um  pouco  cheio  de  rouquidão.  —  Ho- 
mem rouqueuho. 

ROUQUICE,  .■••.  /.  Termo  pouco  em  uso. 
Vid.  Rouquidão. 

ROUQUIDÃO,  s.  /.  Embaraço  no  órgão 
da  voz,  soltando-se  os  sons  difficilmente, 
não  se  tornando  bem  intelligiveis,  nem 
distinctos. 

ROUROU.  Vid.  Rou  rou. 

ROUSADA,  s.  f.  Dava-se  antigamente 
este  nome  á  mulher  forçada,  cuja  hones- 
tidade, contra  o  seu  querer,  e  apesar  da 
sua  resistência,  foi  violada  e  offendida; 
e  também  :í  que  era  furtada  para  o  mes- 
mo fim,  ainda  que  o  rapto  algumas  vozes 
não  fosse  mais  do  que  de  seducção.  Em 
muitos  foraes  antigos  se  permittia  a  im- 
munidade  d'este  delicto,  comtanto  que  a 
mulher  não  fosse  casada. 

Gozavam  pois  da  immunidade  no  crime 
de  rauso,  apresentando-se  aos  senhorios 
d'aquellas  terras,  cujos  foraes  lhe  conce- 
diam, assim  como  no  de  homicídio;  exce- 
ptuando sempre  o  adultério  ou  violência 
íeita  a  mulher  casada,  e  que  solemnemente 
estava  recebida.  E  quando  se  dizia  —  o 
que  sair  da  sua  terra  com  mulher  rou- 
sada — -não  era  dizer  que  a  mulher  saiu 
na  companhia  do  aggressor,  mas  sim  que 
este  saiu  culpado  no  delicto  de  rousar  a 
mulher;  e  que  esta  seja  a  verdadeira  in- 
telligencia  da  palavra  rousada  se  mani- 
festou do  facto  de  Jlaria  Rousada,  de 
Bemfica,  a  cujo  marido  fez  dar  a  morte 
El-rei  D.  Pedro  i,  apenas  soube  que  a 
forçara,  antes  que  com  ella  se  casasse, 
como  Lopes  e  Nunes  informaram. 

ROUSAR,  V.  a.  Termo  antiquado.  Vid. 
Rausar. 

ROUSADOR,  5.  m.  Vid.  Rausador. 

R0U30,  s.  m.  Vid.  Rauso. 

R0U3SAR,  V.  a.  Vid.  Rausar. 

ROUSSO,  «.  »)i.  Vid.  Rauso. 

ROUSSINOL,  s.  m.  Termo  de  zoologia. 
Passarinho  bem   conhecido,   cujo  cauto  é 


846 


ROXO 


ROXO 


ROXO 


mui  aprarlavol.  — An  alvonidas  doa  rous- 
sinoes. 

ROUVINHOSO,  A,  adj.  De  mau  humor, 
diiTu-il  il(!  coiitiiiitar,  (-.'iprirlioso. 

f  ROUXADA,  .V.  /.  Vid.  Rousada. 

ROUXAR,  V.  a.  Vul.  Rausar. 

ROUXEAR,  V.  a.  VuL  Roxear. 

ROUXINOL,  s.  VI.  Vid.  Roussinol. 

c  oí  f(iir!  cá  poi'  mói'  oníprosii 

tem  foliaíi, 

roitxinne.fi  o  mulodias 

no  melhor  manjar  o  mosa, 

isso  lho  ha  do  ser  arpias. 

ANTÓNIO  niESTEs,  AUTOS,  pap;.  03. 

EUa  iiào  sabe  a  certeza, 
f|uo  Ihu  levo  para  a  mcza 
ronxiiinf.a  rpie  estém  cantando : 
pcdi-mc  doz  mil  cruzados 
pela  fçorgp.ira,  c  vereis 
HO  os  estimo. 
iiiiDKM,  pag.  393. 

—  Adagio  k  i-iíovioubio  : 

—  Noiu  o  rouxinol  de  cantar,  nem  a 
mulher  do  falLir. 

1.)  ROUXO,  s.  m.  Si^nitica  o  mesmo 
que  Rouso,  ou  Rousso ;  estupro,  rapto. 

2.)  ROUXO,  A,  adj.  Vid.  Roxo. 

ROUZAR.  Vid.  Rousar. 

ROVOKENÇA,  s.  f.  Vid.  Reverencia. 

ROXADO,  A,  ad'j.  Vid.  Raxado,  e  Ra- 
jado. 

ROXEADO,  yarl.  imss.  do  Roxear.  Tin- 
tado de  rOxo. 

—  De  côr  tirante  a  roxo. 

ROXEAR,  V.  a.  Dar  côr  roxa.  - — As  nu- 
vens roxeando  a  bel  la  aurora. 

—  Figuradamente:  Fazer  de  côr  roxa. 

—  V.  n.  Toruar-8C  roxo,  apparecer 
roxo. 

ROXICRÉ,  s.  »i.  Vid.  Rosicré. 
ROXETE,  s.  m.  Vid.  Rochete. 
ROXINOL,  s.  m.  Vid.  Roussinol,  c  Rou- 
xinol. 

E  o  linxinol  na  simplicn  pluniap;c 

Co 'o  magcstoso  accento  os  aros  prende. 

J.  A.   DE  M.VCEOO,  A  NATUREZA,  CiUlt.   1. 

ROXISCURO,  A,  adj.  Do  côr  entro  roxo 
o  negro. 

1.)  ROXO,  s,  m.  Termo  antiquado.  Vid. 
Rouxo;  estupro,  rapto. 

2.)  ROXO,  A,  adj.  Cor  de  violeta  ordi- 
nária. 

Nascerão  por  as  praias  deleitosas 

Os  iVsporos  abrolhos  cm  lugar 

Dos  roxos  lírios,  das  pudicas  rosas. 

CAM.,  EQLOQA  3. 

—  «  Já  quo  o  sol  se  queria  pôr,  entrou 
polo  terreiro  um  cavalloiro,  que  parecia 
vir  de  longe,  armado  d'armas  de  roxo 
com  esporas  verdes,  no  escudo  em  campo 
índio  uma  espora  da  mesma  sorte,  pas- 
sado por  alguns  logarcs  cavalgava;  em 
um   cavallo    ruço  pombo,  manchado    de 


sangue,  quo  o  fazia  mais  formoso.  E  om 
passando  fez  seu  acatamento  ao  impera- 
dor I!  imperatriz.»  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  ca]».  23.  —  *(> 
derradeiro  vinlia  armado  de  roxo  e  encar- 
iiido  com  barras  ifouro  atravessadas,  e 
antremettiiias  u  nas  por  outras  de  uma 
maneira  o  invenyilo,  nova,  no  escudo  cm 
campo  roxo  uns  fogos  acesos  tilo  natu- 
r;ios,  que  pareciam  ujais  verdadeiros  que 
fantásticos.»  Ibidem,  cap.  lOí). —  «Mas 
no  canduho  achou  cousa,  que  Jlios  foz  ti- 
rar delia:  porque  antes  de  chegarem  a 
('onstantinopla  um  quarto  de  Icgua,  pe- 
gado com  uma  ornnda  do  S.  Luis,  que 
junto  da  estrada  estava,  á  sombra  d'un8 
freixos,  que  a  cercavam,  viram  um  caval- 
loiro armado  d'armas  de  roxo  e  encarna- 
do semeadas  d'abrolhos  d'ouro  miúdos, 
que  quasi  as  cubriam  todas,  o  elmo  da 
própria  sorte,  e  no  escudo  em  campo  azul 
uns  eyprestes  verdes  com  seus  pomos  dou- 
rados.» Ibidem,  cap.  111. 

Nos  ares  o  estandarte  logo  vôa 
Itranco,  vermelho,  azul,  roxo,  amarollo, 
A  sonora  trombeta  o  mar  atroa 
Com  som  que  a  orelha  mal  púdc  soffrcllo, 
(">  guerreiro  atambor  tambcm  ja  soa 
Que  os  peitos  alvoroi.a,  ergue  o  cabello, 
A  bombarda  quo  a  fúria  alli  despende 
Com  pacifico  estrondo,  os  aros  fende. 

F.     D'ANnaADE,    PBIJIRIRO  CEBCO  DE  DIU,  Caut.    4, 

est.  81. 


Ou  dos  rôxo.1  listões,  quo  afformoseão 

Os  doces  apartados  horizontes. 

Quando  o  Sol  (|uasi  immcrgc  o  disco  ardente 

No  seio  undoso  da  cerúlea  Thetis, 

A  luz  lhos  dá  belleza,  c  empresta  as  graças. 

J.    A.   DE  M.ICKD0,  MEDITAÇÃO,  Cant.    2. 

—  Tonia-so  também  por  vermelho  ar- 
dente.—  A  roxa  cJuimma. 


Rompe  por  ferro  e  fogo  aquoUc  ousado 
Peito,  mais  forte  que  hum,  mais  que  outro  aceso, 
E  tanto  que  á  barca(;a  foi  chegado, 
Que  de  ninguém  lhe  píde  ser  defeso. 
Faz  logo  o  que  lho  foi  eucommendado, 
l);l  por  mil  partes  fogo  ao  grosso  peso ; 
15ebe-o  a  secca  matéria,  e  dentro  o  chama, 
Sahe  logo  o  negro  fumo,  c  a  roxa  chama. 

K.    d'aNDRADE,  PBIMEIUO  CERCO  DE  DIU,  CaUt.    13, 

est.  89. 


—  «  Mas  depois  que  as  suas  agoas  co- 
meçaram a  hir  dcminuyndo,  ficou  com 
taõ  poucas  que  os  rayos  do  Sol  quo  nes- 
tas partes  ferem  com  mais  vehemencia, 
tornarão  as  áreas  vermelhas,  ou  roxas,  e 
eomo  a  agoa  he  clara  e  transparente,  pa- 
recia da  mesma  cor  delias,  c  por  esta  causa 
se  cliamou  Mar  Roxo.»  Fr.  (raspar  de  S. 
Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap.  8. 


Mil  frutas,  mil  corbolhas,  mil  compotas 
A  terceira  coberta  logo  adornaõ ; 
E  cm  dourados  cristaes,  oh  lout;aõ  Haccho, 
De  tuas  plantas  brilha  o  roxo  fumo. 


Entre  tento  na  porta  do  Palácio. 
A  cem  |>obrcs  o  iiii-lio  da  Cosinha, 
Por  ordem  do  Pastor  cirititivo, 
Um  caldeirão  de  caldo  repartia. 
DINIZ  DA  CRUZ,  iivssorK,  Cant.  3. 

-  A  roxa  espada. 

('ontra  o»  portuguBzca 
Nilo  foi  clle,  quo  as  luaa  mahoinf-tanaa, 
Deanto  a  roxa  espada  vacillando 
l)t;  Sanctiago,  seu  fulgor  perderam ; 
E  o  mostre,  da  victoria  precedido, 
Ja  de  Tavira  iis  portas  se  apresenta. 
OABHKTT,  D.  I1HAXCA,  caiit.  3,  Cap.   17. 

—  O  mar  Rôxo;  o  mar  que  banha  a 
parto  Occidental  da  Ásia,  o  a  oriental  da 
Africa;  é  notável  historicamente  pelos 
factos  bíblicos  quo  alli  succederam,  como 
foi  a  sua  passagem  feita  pelos  israelitas, 
e  que  ^loysés  tinha  aberto  com  a  sua 
vara,  tocando  nas  aguas,  que  lho  obede- 
ceram;  o  além  d 'isso  a  submersão  dos 
egypcios  que  sob  o  commando  de  Pliaraú 
trataram  de  seguir  as  pisadas  do  exer- 
cito israelita,  julgando  que  o  milagre  de 
Moyscs  taud>em  era  para  os  cgypcioe, 
porém  Moysés  depois  do  ter  atravessado 
o  mar,  bateu  novamente  no  mar  Rõxo,  e 
os  egypcios  ficaram  afogados  nas  aguas 
d'cstc  mar.  —  «A  outra  especoaria  que 
eutraua  per  o  mar  roxo,  fazendo  suas  es- 
calas por  os  portos  dellc :  chegaua  ao 
Toro  ou  a  Suez,  situados  no  vitimo  aeo 
deste  mar.»  João  de  Rarros,  Década  1, 
liv.  8,  cap.  1.  —  <  E  neste  anno  veio  tam- 
bém Feriião  Peres  d'Andrade  com  as  suas 
que  trouxe  de  Malaca,  (como  dissemos). 
Partidas  estas  nãos,  despojou-se  Afonso 
d'Alboquerque  de  todolos  outros  negócios, 
c  enteudeo  em  os  de  sua  partida  pêra 
hum  destes  lugares,  aonde  ElRci  D.  Ma- 
nuel Um  )nandou  que  fosse  ao  estreito  do 
mar  Roxo,  ou  a  Ormuz.»  Idem,  Década  2, 
liv.  10,  cap.  2. 


Pouco  antes  que  com  mostra  horrenda  c  bella 

(Si'i3  oito  dias  são  se  não  m'engano) 

Sobre  Diu  colhesse  a  inchada  vóUa 

O  esperto  marinheiro  Lusitano, 

Hum  Capitão  fugindo  entr.ára  nclla 

C,'ue  d;i  obediência  ao  Suliinano, 

Kuniecão  era  e  nome  que  ellc  tinha, 

E  l:i  do  rõxo  mar  fugido  vinha. 

F.    DK  ASDRADF.,  PRIMEIRO  CEBCO  DE  DIU,  Cant.    ! 

est.  37. 


—  «Os  nossos  padres  antigos  niuyt.is  o 
grandes  marauilhas  de  Deos  viram.  '  ' 
Ceo  lhes  orualhou  manjar  de  Anjos  j)era 
sou  mantimento.  ( )  mar  roxo  se  lhes 
abrio  cm  carroyras,  pcra  quo  pudessem 
passar  a  pcc  enxuto.  O  rio  lordam  se  re- 
tirou pêra  a  fonte  donde  nascia,  pêra 
lhos  dar  liuro  passajem.»  Fr.  Hartliolo- 
men  dos  Martyrcs,  Catecismo  da  doutrina 
christã. 

—  Ruivo. 


ROZA 


RUA 


RUA 


347 


—  Sabstaiitivamente:    O  roxo;  a  cor 


Este  o  Manto  Real  no  vaato  Império, 

Com  cllc  se  atavia,  c  o  Miiudo  enfeita. 

Do  azul,  que  forra  03  Ueo3,  o  Indico  he  perto. 

Da  saudade  o  magoado  aspecto, 

Matiz  da  Violeta,  cia  brilha  o  roxo. 

3.   A.   DE  M.iCEDO,  VI.VGEM  EXTÁTICA,  Cailt.    3. 

3.)  ROXO,  s.  m.  Natural  da  Rússia. 
Vid.  Russo. 

f  1.)  ROYDO,  yart.  pass.  de  Roer.  Vid, 
Roído,  ortho<rr;ipliia  preferivel. 

f  2.)  ROYDO,  s.  wi.  Vid.  Ruído,  ortho- 
graphia  preferivel.  —  «He  muito  pêra 
folgar  de  ver  as  entradas  das  portas  da 
cidade,  ho  roydo  dos  que  entram  e  saem, 
huns  carregados  de  cães,  outros  de  lei- 
tões, outros  de  adens,  outros  de  hortali- 
ça, outros  de  diversas  cousas,  bradando 
cada  hum  que  lhe  dem  lugar.»  Fr.  (ias- 
par  da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da  Chi- 
na, cap.  12. 

ROYO,  s.  m.  Vid.  Arroio,  termo  mais 
em  uso. 

-f-  ROZA,  s.  f.  Vid.  Rosa. 

S(5  vós,  formosas 

Que  adornadas  do  lirios  e  de  rozas 

Fazeis  mais  poderosa  a  formosura, 

Só  vós  por  eutre  as  arvores  saudosas. 

Que  já  alguin'lioi-a  attentas  mo  escutaram, 

A  males  tão  crucia  fostes  piedosas. 

FERNÃO  SOROPITA,  POESIAS  I  PROSAS  INÉDITAS, 

pag.  32. 

—  Cõr  de  roza;  côr  vermelha,  encar- 
nada. —  Lábios  côr  de  roza. 

Da  boUeza  inimigo,  c  da  ternura, 
Xouócrates  descubro  austero,  c  triste. 
Vergonhoso  baldão  da  espécie  humana. 
Que  nem  ao  vivo  seintilar  dluius  olhos, 
Nem  ao  mago  sorriso  deslisado 
De  hum  lábio,  côr  de  purpura,  ou  do  ror.as, 
Ou  aos  áureos  auneis  de  tranças  de  ouro. 

J.    A.   DE  MACEDO,  VI.\.GEM  E.XTATICA,  Caut.   2. 

f  ROZADO,  A,  adj.  Vid.  Rosado. 

—  Côr  rozada  no  rosto;  ter  na  face 
uma  côr  de  rosa.  —  «Tirando  o  do  Sal- 
vagem  o  elmo,  como  viesse  afrontado  do 
caminho  e  trouxesse  uma  côr  rozada  no 
rosto,  fosse  moço  e  gentil  homem,  pare- 
ceu tão  bem  á  douzella,  qixe,  ainda  que 
nas  palavras  o  não  mostrasse,  o  do  Sal- 
vagem  o  sentiu  nas  outi-as  mostras,  por- 
que cora  os  olhos  parecia  que  o  oliiava 
d'outra  maneira.»  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  106.  — • « O 
ro.stro;  grande  com  boa  conformidade,  e 
comprido  mediocremente ;  a  carne  bran- 
da; a  còr  rozada;  as  artérias,  e  veas  sub- 
tis, e  gravo.samentc  descubertas  :  Fácies 
est  matjna,  et  oblonga  aUíiuantum,  et  vfí)'sus 
inferiorem  iKvrtem  aliqualiter  acute  deji- 
nit :  adhcec  est  carne  molli,  j)lena  cuteque 
levi,  et  clara  rósea  rubediíie  intermixta ;  et 
'jjulchris  intensa  cosruleis,  et  magnis  arte- 


k 


rijs,  venis,  vasisque  capillaribus  obdu- 
cta. »  ]3raz  Luiz  d'Abreu,  Portugal  medi- 
co, pag.  325,  §  76. 

ROZEIMO,  s.  m.  Termo  da  província 
da  Beira.  Ódio,  rancor,  aversão,  resen- 
timento,  pique,  desprazer,  dissabor.  — 
Ter  rozeimo  a  um  homem  facínora,  la- 
drão, patife,  etc. 

RUA,  s.  /.  Espaço  entre  as  casas,  nas 
povoações,  por  onde  se  anda  e  passeia. 
—  «Estraflas,  e  ruas  pru viças  autigua- 
raente  usadas,  e  os  Rios  navegantes,  e 
aquelles,  de  que  se  fazem  os  navegantes, 
se  som  cabedaaes,  que  correm  continua- 
damente em  todo  tempo,  pêro  que  o  uso 
assy  das  estradas,  e  ruas  pruvicas.j  Ord. 
Affons.,  liv.  11,  tit.  24,  §5.—  «No  qual 
alcance  hiam  os  nossos  tão  acesos,  que  de 
mestura  quiseram  entrar  com  elles,  se 
lho  Afonso  Dalbuquerque  nam  defendera, 
por  ser  ja  quasi  noite,  e  a  cidade  de  ter- 
rados, e  ruas  e^itreitas,  em  que  facilmen- 
te se  poderam  todos  penler. »  Damião  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  2, 
cap.  36. —  «Despejada  assi  a  ponte  de- 
terminou Afonso  dalbuquerque  de  se  fix- 
zer  forte  nella,  pêra  onde  se  logo  reco- 
Iheo,  e  mandou  fazer  huma  tranqueira 
em  que  pos  alguma  artelharia,  com  que 
varejaua  toda  aquella  rua  grande,  de  que 
deu  a  guarda  a  Nuno  vaz  de  castel  bran- 
co, e  a  George  nunez  de  leaõ.»  Ibidem, 
liv.  3,  cap.  18.  — •  «E  como  dom  Fran- 
cisco pela  experiência  da  entrada  de  Qui- 
loa,  sabia  a  manha  d'este3  Mouros  que 
mães  se  seruiaõ  das  janelas  e  eii-ados  que 
das  ruas,  leuaua  entre  a  gente  de  armas, 
besteiros  e  espingardeiros  repartidos  que 
lhe  despejauaõ  os  lugares  altos  donde  os 
ofFendiaõ.»  Barros,  Década  1,  liv.  8,  cap. 
8.  —  «Seria  o  povo  que  se  ajuntou,  e  poz 
per  as  janellas,  e  eirados  da  rua  per  on- 
de ElRey  hia,  passante  de  trinta  mil  al- 
mas ;  e  quando  o  viram  naquella  pompa, 
e  com  maior  estado  do  que  nunca  caval- 
gou, todos  a  uma  voz  em  modo  de  lou- 
vor davam  graças  a  AíFonso  d'Alboquer- 
que  por  lhes  tirar  o  seu  Rey  do  cativeiro 
daquelle  tyranno,  e  o  poz  em  estado  de 
tanta  hom-a.»  Ibidem,  liv.  10,  cap.  5.  — 
«Passado  desta  rua  a  outra,  per  que  via 
coi-rer  o  iio  da  gente,  veio  Afibnso  d'Al- 
boquerque  ter  a  este  mesmo  lugar;  mas 
parece  que  inspirou  Deos  em  hum  homem 
que  hia  diante,  que  tornou  a  elle,  dizen- 
do :  Jende-vos,  Senhor,  não  passeis  per 
aqui,  porque  nesta  rua  está  algum  peri- 
go :  cá  sendo  tão  principal,  não  a  vejo 
trilhada  de  gente. ^  Idem,  Década  2,  liv. 
6,  cap.  õ. 

Oh  Bna  de  San  Gião, 
Assi  'st:ls  da  .sorte  mesma 
Como  altares  de  riuarcsma 
E  as  malvas  no  verão. 
Quem  levou  teus  trinta  ramos 
E  o  meu  mana  bobamos, 
Isto  a  cada  bocadinho? 

alL  VICENTE,  OBRAS  VARIAS. 


—  «Tem  muytas  ruas  de  todos  os  offi- 
cios  muy  abastada :  a  huma  banda  desta 
cidade   estaa   huma   cerca  muyto  grande 
de   grandes   pomares  e  ortas  onde  estam. 
as   casas  do  Sufy  e  sam  huns  paços  muy 
laviados  feytos  de  alabastro  ou  mármore 
daquella  terra  muyto  fino,   e  de  muytas 
vidraças  ricas.»  António  Tenreira,  Itine- 
rário, cap.   15.  —  «Ha  também  ao  longo 
d 'este  grade  rio  da  Batampina  por  onde 
fizemos  este  nosso  caminho  da  cidade  do 
Nanquim  para  a  do  Pequim,  que  he  dis- 
tancia de  cento  e  oitenta  legoas,  tanto  nu- 
mero  de   engenhos  daçucar,  e  lagares  de 
vinhos  e  azeites,  feitos  de  muytas  e  muyto 
diversas   maneyras  de  legumes  e  fruitas, 
que  ha  ruas  destas  casas  ao  longo  do  rio 
de  huma  parte  e  da  outra  de  duas  e  três 
legoas  em  comprido,  cousa  certo  de  gran- 
díssima admiração.»  Fernão  Mendes  Pin- 
to,  Peregrinações,    cap.    97.  — •  «A  cada 
homem   honrado,    ou   mercador  principal 
destas  ruas  nobres  lhe  cae  por  distribui- 
ção  huma  noite  de  vigia  com  certos  ho- 
mens   de  sua  quadrilha,  a  fura  os  trinta 
capitães  do  governo  que  roldão  por  fora 
em   baloens   muyto  bem   equipados,   por- 
que não  escape  ladraõ  em  nenhuma  par- 
te,  os   quais  sempre  andao  bradado  para 
que  sejaõ  ouvidos.»    Ibidem,  cap.  98. — 
«E  a  cada  hum  de  todos  estes  se  dá  hum 
tanto  por  cada  "mes  para  seu  mantimen- 
to,  os  quais,  segundo  os  Chins  nos  affir- 
mai-aõ,    chegavão   a    copia    de    cem    mil, 
porque  em  cada  hum  destes  aposentos  de- 
zião  elles  que  avia  duzentos  homens.  Vi- 
mos mais  huma  rua  de  casas  térreas  muy- 
to  cõprida,    onde  pousavão  vinte  e  qua- 
tro mil  remeyros,  que  saõ  os  das  panou- 
ras  dei  Rey.»  Ibidem,  cap.  105.  • —  «Pas- 
sando esta  porta  por  baixo  de  huma  gros- 
sa  cadea   que   a   atravessava  toda,  e  fe- 
chava  nos   peitos   destes  dons  diabos,  fo- 
mos  dar  numa  rua  muyto  formosa,  assi 
de  larga  como   do  comprida,  fechada  to- 
da de  huma  banda  e  da  outra  com  arcos 
todos  pintados  de  diversas  maneyras,  por 
cima  dos  quais  hião  duas  fileyras  de  Ído- 
los quanto  distava  o  comprimento  da  rua, 
em   que  averia  mais  de  cinco  mil  vultos, 
os  quais  não  devísamos  bem  de  que  ei-aõ 
feitos,  porem  eraõ  todos  dourados,  e  com 
mitras    nas    cabeças    de    diversas    inven- 
ções.» Ibidem,  cap.  110. —  «E  põdolhe  o 
fogo,   quiz  a  desavcntura  que.  arrebentou 
por   três   partes,    e   deu   nelle  e  lhe   fez 
duas  feridas,  huma  das  quais  lhe  decepou 
quasi  o  dedo  polegar  da  mão  dire3-ta,   de 
que  o  moço  logo  cahio  no  chão  como  mor- 
to, o  que  vendo  os  dous  que  cõ  elle  esta- 
vão,    forão   fugindo    caminho   do    paço    e 
gritado  pelas  ruas  hião  dizendo,  a  espin- 
garda do  estraiigeyro   matou  o  filho  dei 
Rey.»    Ibidem,    cap.    136.  —  «Ao    outro 
dia  ja  menham  clara  nos  levarão  para  a 
cidade,   á  qual  chegamos  ás  quatro  horas 
despois   de  meyo  dia,  e  por  ser  ja  tarde 
nos  naõ  vio  entaõ  o  Broquem,  nem  nos 


3-18 


IILTA 


RUBI 


RUIU 


vio  sunilo  (l.ily  n  tre.s  «lias,  «iiH!  ;hsí  pre- 
goa nos  mainlou  levar  i)(;raiitij  s_v  polas 
principais  <|uatro  ruas  da  ciila<le  em  que 
avia  graiifiissima  copia  de  fronte,  a  final, 
no  que  de  tVn-a  parecia,  mostrava  ter  pie- 
dade o  compaixão  do  uos^^a  miséria  e  des- 
aventnra,  principalmente  as  inolliercs.f 
Ibidem,  cap.  IHÍ'.  —  «E  desta  maneyra 
fov  passando  esta  espantosa  iJrocissSo  por 
mais'  de  cem  ruas  <iuc  para  íhso  cstavào 
feitas,  enramadas  de  palmeyras  o  coni  se- 
bes de  murta,  cõ  muytos  estcmlartos  e 
bandevras  de  seda,  em  partes  muytos  eii- 
tremoses  com  mesafi  postas  cm  ([ue  se 
dava  de  comer  ])clo  amor  do  Deos  a  todo 
o  género  de  gente  que  o  queria,  e  oní  al- 
gumas partes  se  davSo  vestidos  c  dinliey- 
ro,  o  se  fazião  roconciiiaçocns  do  inimi- 
zades.» Ibidem,  cap.  UiO.  —  «E  tocando 
tambores  acodio  toda  a  gente  com  que  se 
tomàraõ  as  bocas  das  ruas,  porciuc  os 
Amoucos  nJlio  entrassem  na  Cidade.»  Dio- 
go de  Couto,  Década  t3,  liv.  O,  cap.  2. 
—  «.lorge  Cabral  aooiiio  ;\  rua  direita,  e 
cõ  olle  o  Capitai"),  o  Manoel  de  Sousa  do 
Sepúlveda,  que  o  Visorey  tinha  deixado 
por  Capitão  mòr  dos  rios  pcra  fazer  cor- 
rer a- pimenta.»  Ibidem. 

Senhor,  scnti-vos  falar 
na  rua  com  vosso  irniào, 
vi  serdes  vós,  cu  ontào 
por  v^')S  dcixci-inc  estar, 
uão,  bofo,  u"outra  tenção. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  291. 

—  «Xa  mesma  Fortaleza  se  escondião 
curiosas  danyas,  que  com  acordailas  vo- 
zes cantav.ão  .ao  (íovernador  louvores  a 
números  atados,  deleitando  o  ouvido  na 
harmonia,  o  juizo  na  letra.  O  concerto 
das  ruas,  como  para  dar  a  conhecer  a 
opulência  do  Oriente ;  as  tolas  de  lavo- 
res, ))or  usuaes,  se  olhaviío  com  despre- 
zo.» .Tacintho  Freire  de  Andrade,  Vida  de 
D.  João  de  Castro,  liv.  ;5.  —  «Bem  avia- 
do estava  eu  minhas  Senhoras,  respondi 
a  todas,  se  cu  falasse  com  Voss.as  Senho- 
rias. As  pedras  da  rua  se  levantariào 
contra  mim  se  me  metessp.  nessa  alha- 
da.» Cavaileiro  d'01iveira,  Cartas,  liv.  1, 
n."  10. 


Acçaò,  por  certo,  digna  de  ser  lida 
Com  letras  de  ouro,  na  Gaicta  da  Haya, 
Ou  nas  folhas  volantes,  que  ein  Lisboa 
Os  Cegos  apregoaõ  pelas  ruas. 
DINIZ  DA  CRUZ,  nvssOPE,  caut.  •">. 


—  «Porque,  no  desenvolvimento  da  sua 
complicada  ostruetura,  ainda  tinha  a  cau- 
da orabcbiila  na  Rua-nova,  quando  já  as 
fóruias  siujíularcs  da  fronte  se  adianta- 
vam, como  um  sonlio  do  pesadello  ou  uma 
scena  do  phantasmagoria,  ao  redor  de 
Valverde,  caminho  da  cathodral.»  Ale- 
xandre Herculano,  Monge  de  Cister,  cap. 
17.  —  «Quem,  o  perro  do  Alie  quinteiro 


que  foliava  por  cssao  ruas,  c  que  dcsap- 
parucou  dusdc  o  dia  oiii  (pie  o  atropelaram 
á  sé,  (piaiido  tu  e  os  outros  velhaco»  ila  tua 
laia  lho  estorroarani  im  cara  lixo  e  terra, 
porque  arrenegava  de  (Jhristo  e  do  Ma- 
famcdc,  iio  meio  das  .«ua.!  lastimas  dori- 
das? »  Ibidem,  cap.  10. 

—  Nos  jardins,  6  o  espaço  entro  ron- 
ques, alèas,  ou  canteiros. 

—  Rua  de  gente;  collocada  em  tileiras 
parallclas. 

—  (Jaminho  para  chegar  ao  rauro  ini- 
migo, coberto  das  baterias  dos  cercados. 

—  Ala,  serie  do  casas,  arvores,  etc. 

—  Adaoiu: 

—  Merva  crua  deital-a  r.a  rua. 

RUÃO,  s.  V).  (De  liuào,  cidade  do  Fran- 
ça). Panno  de  linho  tosado  que  se  fabri- 
ca cm  líu.^io. 

—  Diz-se  do  cavallo  branco  com  ma- 
lhas pretas  redondas. 

—  Ruão  /n'crt(/y;  a  que  os  hcspanhoes 
chamam  ays-iicur  cauella. 

I  RUANA,  s.  f.  Tecido  de  lã,  que  se 
fabrica  no  Ferú,  o  serve  para  vestir  a 
gente  pobre. 

-]■  RUANTE,  «'/j.  Diz-sc  do  pavào  que 
levanta  a  cauda. 

RUBBIO,  í.  J«.  Termo  de  metrologia. 
Medida  de  líquidos  usada  na  Lombardia, 
equivalente  a  41    libras. 

RUBEFACÇÃO,  *-.  /.  Termo  de  medi- 
cina. Intlaniiiiaeào,  vermelhidão  dolorosa 
da  pellr. 

RUBEFACIENTE,  ndj.  2  gen.  Termo  de 
medicina.  Que  produz  rubor,  ou  leve  in- 
ilammaeiío  na  pelle. 

I  RUBELANA,  .«.  /'.  Termo  de  minera- 
logia. Sub.-taneia  mineral  opaca,  que  tem 
o  a.sjiccto  da  mica,  c  se  encontra  na  Bo- 
hemia. 

f  RUBELITA,  s.  /.  Termo  de  minera- 
logia. Variedade  de  turnialina  carmezim 
que  se  encontra  na  Sibéria. 

RUBENTE,  adj.  2  gen.  (Do  latim  rubens, 
rubentis'.  De  côr  vermelha,  rubra. 

RUBEO,  aJj.  (Do  latim  rubeus).  De  côr 
vermelha. 

RUBETA,  s.  /.  (Do  latim  ruòctaK  Ter- 
mo de  zoologia.  R-ã  de  sarçal;  género  do 
reptis  batrachios,  adornados  de  bonitas 
coros,  especialmente  a  verde,  e  o  azu- 
lado. 

RUBI.  Vid.  Rubim;  no  plur.  Rubis. 

Minhas  flores,  colhei  flores. 
Quizera  eu  que  esses  amores 
Forào  perlas  preciosas, 
K  de  rHÍii* 

O  caminho  per  onde  is, 
K  a  horta  d  "ouro  tal. 
Com  lavores  mui  sutis, 
Tois  pie  Deos  faicr-vos  quix 
Angelical. 

GIL   VICENTE,   fAHÇAS. 

Do  brancJí  seda  todos  trazem  fotas: 
Cingidos  huns  alfanges  de  obra  estranha. 
Kngastados  \>or  elles  esmeraldas 
Grandes  nibk.  i;atiras,  e  diaiuautes. 


Em  maacaru  ao  ^ngo  vno  vucobríio 
("».<  conhecido«  rantoa.  trazem  inuitAS 
('luras  toclian  diante,  c  vem  fuviidu 
Ao  Hom  dl-  saenbuxas  1<--Ua  daiii;a. 

lliKTr.  K|;AL,  XAUrilAUIO  DK  SKrLXVEDA,  coiit.   i. 


—  «Hinii  colar  de  ouro  grande  com  pé- 
rolas, c  rubis,  e  tre.^  cmzfs  de  pclraria 
no  pè  com  huma  grande  pcrola  em  bai- 
xo: outro  colar  com  rubi',  hum  no  movo 
grande:  outro  colar  douro  com  alguns 
rubis,  olhos  de  gato,  e  no  meyo  hum 
olho  de  gato  grande  com  rubi*  à  ro- 
da.» Diogo  de  Couto,  Década  ij,  liv.  D, 
cap.   1. 

Mette  o  riihi  pnrpureo.  a  aznl  Rafim, 
Verde  esmeralda,  n  branco  diamante. 
Que  (|ualqucr  a  muito  ouro  o  valor  tira, 
Qualijuor  de  grande  pre(;o  está  diante : 
Aqui  põe  sua  mulher  por  quem  suspira. 
Por  quem  arde  d'amnr.  que  do  possant« 
liei  de  Deli  era  filha,  c  vt-ncí^dora 
Fura  em  Ida,  se  lá  a  i|uarta  fora. 

FRANCISCO  D'ANDRtDE,   PRIMEIRO  CERCO  DC  t>IC, 

c;uit.  3,  est.  5t>. 

RUBIA.  Vid.  Ruiva. 

RUBIACEAS,  í<.  /.  j'lur.  Termo  de  bo- 
tânica. Famiiia  de  plantas  dicotyledoneas 
monopetalas,  cujas  espécies  são  arvores, 
arbn.«tos  ou  hervas  de  folhas  oppostas,  e 
de  tlôres  dispostas  em  ramos.  A  maior 
parte  d'ellas  possuem  propriedades  roedi- 
cinaes,  como  a  quina,  a  ipecacnanha,  o 
café,  etc;  e  nas  artes  também  são  apre- 
ciadas pelos  princípios  colorantes  que  sub- 
ministra  a  ri-yva  e  outras  espécies. 

7  RUBICELA,  «. ./'.  Termo  de  minera- 
logia. .Vluniinato  de  magnesia,  topasio 
amarei  lo.  avermelhado. 

RUBICON,  ou  RUBICÃO,  adj.  Diz-se  do 
cavallo  em  que  o  pêllo  é  mesclado  de 
branco  e   ruivo. 

RUBICUNDO,  adj.  (Do  latim  rubicun- 
ditsK  Vermelho. 


Abre  a  roraaã,  mostrando  a  rubicunda 
Côr,  com  que  tu.  rubi,  teu  preço  perdes; 
Entre  os  braços  do  ulmeiro,  está  a  jucunda 
Vide.  dhuns  c;icho3  rouxos,  e  outros  verdes: 
K  vis  se  na  vossa  arvore  fecunda. 
Peras  p\Tamidaes,  viver  quizerdes, 
Entregai-vos  ao  danmo  que  co'os  bicos 
Em  vós  fazem  os  pássaros  inioos. 
«AM.,  Lcs.,  cant.  d,  est.  59. 


Murmurantes  arroios,  mansamente» 
Em  seu  correr,  de  amores  conversando 
Co 'as  dryades  do  bosque  ;  os  rubicuMdot 
E  dourados  thfjjouros  de  Poiuoua... 

GARRETT,    C.IMÒES,  CiUlt.    S,   Cip.    13. 


RÚBIDO,  adj.    Do  latim  rubidusi.  Ver- 
melho, arrouxeado,  ardente. 


Formão  brilhantes  Horcaes  Auroras. 

Ao  riibiJo  horisonte  em  parallela 

T.inha  se  mostrão,  s«^  mais  baiias  correm, 

l)u  u'huni  centro  couuuum  s'unom  subindo ; 


RUBO 

Mas  exhaladas  as  porções  sulfúreas 
Pouco  a  poa«)  do  ar  dcsapparecem. 

J.   A.   DE  MACEDO,  VIAGEM    EXTAIICA,  Cant.    1. 


flu  quando  pelo  rúbido  Orieate 
Hum  dourado  Listão  S3  observa  apenas, 
Xuncio  do  Sol,  que  fulgurante  assoma 
Poucos  momentos  se  demora,  á  vista. 


■j-  RUBIEVA,  *-.  /.  Termo  ue  botânica. 
Geaero  cie  plantas  da  fauiilia  das  cheno- 
podea?. 

7  RUBIFICAÇÃO,  s.  /.  Aceào  de  tingir 
uma  cousa  i!e  vermelho. 

RUBIFICANTE,  adj.  2  gen.  i^Part.  act. 
de  Rubiucar  .  Que  produz,  ou  causa  ver- 
melhii-iàu. 

f  RUBIFICAR,  V.  a.  Tingir  com  côr 
vermelha. 

f  RUBIFORME,  adj.  Termo  de  botâni- 
ca. Que  tem  a  fárma  de  fiamboeza. 

RUBIGINOSO,  adj.  iDo  latim  ruhigi- 
luisus'.  Ferruginoso. 

RUBIM,  s.  m.  iDo  latim  rubeus).  Pe- 
dra preciosa,  de  côr  roxa,  rósea  ou  car- 
mezim.  —  «Basta  saber  que  levou  elefan- 
tes carregados  de  preciosos  rubins,  de 
que  os  Mouarchas  Pegús  abundavam  so- 
bre todos  os  Príncipes  do  Universo:  ha- 
via sessenta  idolos  de  tino  oiiro  guarne- 
cidos de  pedras,  e  pérolas  riquíssimas, 
com  outras  joyas,  em  cuja  conducçaõ  he 
certo  que  trabalharam  alguns  elefantes 
mais  de  quinze  dias.»  Conquista  do  Pegú, 
cap.  2. 

O  abrazado  Rubim,  que  até  na  sombra 
Da  noite  em  si  conserva  a  luz  do  dia : 
A  saudosa  Amctliista,  onde  se  apura 
O  suave  matiz  do  roso  Lyrio  ; 
O  pálido  Topázio,  em  que  lie  mais  bella 
A  palidez  do  Goivo,  e  da  Giesta  ; 
O  esperançoso  verde  aos  olhos  grato. 
De  que  a  Esmeralda  fulgida  s"arrêa. 

J.   A.   DE  MACEDO,   MEDITAÇÃO,  Cant.    2. 

—  Figoiadamente  :  Que  tem  um  ver- 
melho vivo.  —  Lábios  de  rubim. 

RUBINA,  s.  /.  Termo  de  mineralogia. 
Xouie  que  se  aava  antigamente  a  vários 
sulfures  metaliicos,  nativos  ou  artlticiaes, 
por  causa  da  sua  côr  vermelha. 

—  Rubina  de  antímoniu ;  sulfur  de  an- 
timonio,  dissolvido  por  fusào  no  protoxv- 
do  de  antimonio. 

—  Rubina  de  arsénico;  o  arsénico  sul- 
furado vermelho,  que  se  faz  derreter. 

— -Rubina  de  enxofre;  dissolução  de 
enxofre  em  um  óleo,  que  tem  uma  cOr 
vermelha,  mais  ou  menos  semelhante  á 
do  rubim . 

RUBINETE,  s.  m.  Diminutivo  de  Ru- 
bim. 

RUBIQUE.  Vid.  Rebique. 

RUBLO,  ou  RUBLE,  s.  m.  Moeda  de 
prata  da  Rússia,  do  valor  approximado 
de  830  reis. 

RUBO,  s.  IH.   (Do  latim  ruhus  .  Sarça. 


RUC 

RUBOR,  s.  m.  (Do  latim  rubor).  Yer- 
meimuiio,  vermeiíio  muito  vivo. 

—  U  rubro  das  faces,  por  eâeito  do 
pudor. 

—  Pejo,  vergonha. 

RUBRICA,  s.  /.  (Do  latim  rubrica). 
íàigiial,  tirma,  cetra,  guarda  do  nome; 
cifra  que  cada  um  faz  no  fim  do  seu  no- 
me. 

—  Termo  forense.  Antigamente  era  o 
titulo  dos  livros  de  direito,  escripto  com 
letras  vermelnas. 

—  Termo  de  religião.  Regras  para  of- 
ticiar,  em  termo  de  liturgia. 

—  Termo  de  artífice.  Almagre  usado 
pelos  carpinteiros  para  marcar  as  linhas 
na  maaêira  que  bào  de  seriar. 

RUBRICADOR,  adj.  (Do  thema  rubri- 
ca, ue  rubricar,  com  o  suffixo  «dôri);. 
Que  rubritu. 

RUBRICAR,  1-.  a.  (Do  latim  rubricare). 
Pôr  a  rubrica,  o  signal. 

—  Rubricar  um  livro,  documento,  etc; 
pôr  a  rubrica  no  alto  de  cada  folha. 

— -Rubricar  o  lente  a  jjostilla;  attes- 
tar  no  fim  delia,  que  o  estudante  a  to- 
mou na  sua  aula. 

—  Tingir  com  sangue. 

—  Marcar  com  almagre. 

RUBRICIóTA,  s.  m.  Individuo  bem  ver- 
sado nas  rubricas  ecclesiasticas;  escriptor 
que  explica,  e  expòe  as  rubricas  do  mis- 
sal e  uo  breviário. 

RUBRO,  adj.  (Do  latim  rubrus).  Ver- 
meino  vivo.  —  «As  Hervas  Stomachicas 
frias  sau:  Raízes  de  tanchagem,  e  de  aze- 
das. Pàos,  sândalos  citrinos,  e  rubros. 
Folhas  de  tanchagem,  e  muita.  iSemen- 
tes  de  tiinchagem,  e  de  marmelos.  Flores 
rosas  vermelnas,  e  balaustias.  Fructus 
marmelos,  peras,  nesperas,  e  murtinhos. 
Suecos  de  acácia,  que  he  a  arvore  da  al- 
mecega,  e  de  piítegas.»  Braz  Luiz  de 
Abreu,  Portugal  medico,  pag.  oò6,  §  2-il. 


Eu  vejo  o  rubro,  pavoroso  aspeito 
Do  túrbido  Cometa :  he  Astro  errante. 
Mas  tem  leis  inda  incógnitas  aos  homens ; 
Porque  inda  tantos  séculos  nao  bastão 
Para  espòr,  conhecer  prodígios  tantos. 

J.    A.    DE    MACEDO,   MEDIIAçlo,    Cant.    2. 


Eu  vejo  rubro  pavoroso  rosto 

Do  túrbido  Cometa,  he  astro  errante, 

A  massa,  o  peso  análogo  ao  dos  Astros. 

IDEM,  A  NATLBEZA,  Caut.    1. 

f  RUBUÇO.  Vid.  Rebuço. —  «  Seraõ  es- 
tes, os  que  vos  sayem  nas  estradas  com 
carapuças  de  rubuço,  e  espingardas  no 
rosto  y  Tiray  là,  que  ainda  que  lhes  cha- 
maes  salteadores  por  antonomásia,  saò  for- 
migueiros por  profissão;  e  taò  singelos, 
que  nunca  levantaò  casa  de  sobrado,  nem 
tem  bens  de  raiz,  nem  ajuntaõ  moveis, 
que  naõ  caibaõ  de  baixo  do  braço.»  Arte 
de  furtar,  cap.  34. 

RUC,  ou  RÍICH,  s.f,  Xome  de  uma  ave 


RUDA 


349 


que,  segundo  Paulo  Veneto,  liv.  3,  cap. 
40,  se  cria  em  certas  ilhas,  além  da  ilha 
de  S.  Lourenço;  e  apparece  em  certos 
tempos  do  anno.  Certo  embaixador  do 
Grão  Cam  Cublal,  que  arribado  naquel- 
las  partes,  viveu  n'ellas  algum  tempo, 
contou  a  Paulo  Veneto,  que  a  dita  ave 
tem  feição  de  águia,  mas  tão  grande, 
que  cada  aza  sua  em  comprido  tem  doze 
passos,  e  as  mais  partes  do  corpo,  propor- 
cionadas a  esta,  com  tanta  força  nas 
unhas,  que  com  ellas  levanta  da  terra  um 
elephante  tão  alto,  que  largando-o,  se  faz 
em  pedaços,  e  o  come.  O  mesmo  refere 
D.  ilartlnho  de  Boléa  em  sua  Historia, 
liv.  3,  cap.  40,  e  Jonstono,  no  seu  livro 
De  Avibus,  pag.  lõl,  faz  menção  doesta 
ave,  sem  dar  fé  ao  que  d'ella  escreve  Pau- 
lo Veneto.  Estas  noticias,  pouco  verosí- 
meis, encarecem-se  com  outias  fabulosas, 
a  saber :  que  cada  aza  d'esta  ave  tem  dez 
mil  covadc  s  de  comprido,  e  que  certo  mer- 
cador, que  passara  por  aquellas  partes,  le- 
vara a  Africa  Septemtrional  a  raiz  de  uma 
penna  da  dita  ave,  em  que  cabiam  nove 
odres  de  agua;  e  finalmente,  que  andando 
com  alguns  seus  camaradas,  toparam  em 
uma  altura  de  terra,  que  lhes  parecia  um 
monte,  e  era  um  ovo  da  ave  ruc.  —  aHuã 
ave  chamada  Ruc,  que  se  cria  n'estas  par- 
tes.» Fr.  Gaspar  de  S.  Bernardino,  Iti- 
nerário da  índia,  pag.  11,  em  Bluteau. 
RUÇAR,  V.  a.  Fazer  ruço. 

—  T'.  /i.  Er.canecer. 
RUCHOCHÓ.  Vid.  Ruxoxó. 

RUÇO,  aij.  Pardo-claro,  fallando  do 
pêllo  de  um  cavallo.  —  «Ao  tempo  que 
se  acabava,  estaado-se  desrevestindo  o  pa- 
dre, ouviram  contra  a  parte  da  montanha 
tropel  de  cavallos.  O  cavallelro  do  Salva- 
gem  acudiu  á  porta  e  deu  de  rosto  com 
uma  donzella,  que  se  lançava  d'ura  pala- 
frem  ruço,  em  que  vinha  tào  desacordada 
e  morta,  que  nenhum  acordo  dava  de  si.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap,  106. —  «  Vinha  em  um  cavallo 
ruço,  rodado,  gi-ande,  desarmado,  e  ves- 
tido ao  modo  hespanhol,  airoso,  e  gentil 
homem.  Chegando  defronte  da  jauella 
donde  el-rei  e  rainha  estavam,  depois  de 
se  fiizerem  suas  cortezias,  esteve  assim 
praticando  com  ellas,  lançando  juízos  so- 
bre a  vida  do  cavallelro  das  donzellas,  as 
quaes  palavras  elle  ouviu,  e  a  maneira  de 
que  o  julgavam.»  Ibidem,  cap.  123. 

—  Tei  mo  familiar.  Grisalho ;  dlz-se  de 
quem  começa  a  encanecer. 

—  Ruço  rodado;  côr  ruça  do  cavallo, 
apresentando  malhas  circulares,  ou  círcu- 
los formados  de  pêllo. 

■j  RUCKERIA,  s.  /.  Termo  de  botânica. 
Género  de  plantas  da  família  das  com- 
postas, 

\.)  RUDA.  Vid.  Arruda. 

2.)  RUDA,  Vid,  Rudo. 


A  leoa  feroz  que  carregada 

De  presa,  entra  na  sua  inculta  e  ruda 


350 


RUDE 


Casa,  c  a  víí  dos  filUinliort  despojada 
A  qiiom  vinha  iii;iiiti!r  (!  d;ir  ajuda, 
(;om  fiivia  tão  cruel,  tão  denodada 
Outra  vez  o  vAa/.  pasao  não  innda, 
Hurfcando  o  que  d'alli  liroH  lanhou  fora, 
Como  o  forte  Silveira  leva  agora. 

F.    D'ANnR\I>l'.,  rUlSÍKlHO  CKBCO  DK  DIU,  Cttnt.    10, 

ost.  6^!. 

—  n  f inania  a  tua  bolsa  • 
Jíuda  intcrpoz  a  rouca  voz  do  nauta, 
«Cavalleiro  orgulhoso;  tanto  quero 
Os  teus  pardaus,  como  a  tua  espada  temo. 
Mas  esto  padre  falia  como  um  anjo; 
E  o  que  ollc  disse,  é  ditto.  Atraca  a  bordo  ; 
E  abaixo  o  amigo  Jáo.  —  Rémalu 
oABKErr,  cAMUKS,  caut.  1,  cap.  11. 

RUDAMENTE,  adv.  Com  dureza. 

RUDE,  adj.  2  gen.  (Do  latim  riulis). 
Tosco,  grosseiro,  pouco  conforme  ás  re- 
gras da,  arte. 

Alli  se  admirão  simplices  viventes, 

Das  voadoras  Aves  ensinados. 

Das  brutas  Feras  nos  incultos  montes. 

As  cliOyas  rudes  levantar  primeiro 

Do  huma  folhagem  sècca,  annosos  troncos, 

Ondo,  quaos  Foras  nos  covis,  se  acoutào 

Das  injurias  do  ar,  c  irados  ventos. 

J.   X.   1)U  MACEDO,  VIA.0KU  EXTÁTICA,  Caut.    1.* 

No  coração  da  I>ibya,  onde  a  Avareza, 

Onde  a  Ambii;ão  cruel  não  penetrarão. 

Por  onde  o  Senegal  entre  arvoredos 

Vai  volvendo  tranquillo  as  largas  ondas  ; 

Alli  aos  rudes  Íncolas  ditosos 

Tudo  a  torra  produz,  o  nada  o  luxo  ; 

Os  espontâneos  dons  da  Natureza 

São  de  todos,  o  de  hum  ;  todos  os  colhem. 

IDEM,  MEDITAÇÃO,  Cant.  2. 

—  «  Pouco  devia  tardar  o  instante  em 
que  a  formosa  irman  de  Pelagio  achas- 
se, depois  de  tantos  perigos  e  terrores, 
abrigo  e  paz  nos  rudes  paços  de  seu  es- 
forçado irmão.»  Alexandre  Herculano, 
Eurico,  cap.  10. 

—  Ignorante,  grosseiro,  não  polido,  não 
cultivado,  estúpido,  incivil. 

Da  pesada  Magnéte,  eu  vi  dous  globos ; 
Da  Magnéte,  nwsterio  indecifrável. 
Qno  inda  cni  distancia  igual  conserva  o  Sábio, 
E  o  vulgo  embrutecido  inerte,  e  rude. 
Virtude  do  attraci;ào  ncUa  resido. 

j.  A.  DE  M.iCEDO,  viAQF.a  líxr.vTicA,  caut.  2. 

E  jã,  não  ritde  habitidor  das  brenhas, 
Kem  surdo  \  voz  da  Natur<!za,  o  homem 
Sente  do  império  paternal  o  jugo 
Incógnito  até'lli,  pois  se  dos  peitos, 
E  braços  materuaos  se  desprendia, 
Findava  a  dependência,  amor  findava, 
ília  ao  longe  buscar  pasto,  e  guarida. 
iiiKii,  Mr.mrAçÃo,  cant.  1. 

RUDEMENTE,  adv.  (De  rude,  cora  o  suf- 
11x0  iimeale»).  Grosseira,  broneameute, 
com  rudeza. 

RUDEZ.  Vid.  Rudeza. 

RUDEZA,  s.  /.  (Do  latim  ntditas).  Qua- 
lidade tosca  que  naturalmente  affecta  al- 
guma cousa,  grosseria. 


RUFA 

—  Estupidez,  pobreza  de  espirito. 
— -Falta  do  policia  no  discurso. 

f  RUDGEA,  *.  /.  Tiinno  do  Ixitanica. 
Cíenero  An  jilantas  da  família  dai  rubiu- 
ceaM,   iiidig(!iias  da  (íuyana. 

-|-  RUDIARIO,  *.  VI.  Termo  de  historia 
antiga,  (iladiador  retirado,  a  quem  pelo 
«eu  mérito  se  concedia  o  privilegio  de  n3o 
volt.ir  ao  circo. 

RUDIMENTAR,  adj.  2  ijen.  Diz-sc  do 
qualquc.r  órgão  em  rudimento  ou  com  des- 
envolvimento incompleto. 

RUDIMENTOS,  «.  w.  jjI.  (Do  latim  ru- 
dinientn).  Elemento.s,  ensaios,  princípios 
de  arte  ou  scieiíeia. 

—  Termo  de  historia  natural.  Primei- 
ros traços  de  um  órgão  vegetal  ou  ani- 
mal. 

RUDÍSSIMO,  adj.  stiperl.  de  Rude. 

f  RUDISTOS,  .".  m.  j>hu\  Termo  de 
zoologia.  Ordem  de  molluscos  conchyli- 
fcros  dimvarios,  encontrados  fosseis  nos 
terrenos  cretáceos. 

RUDO.  Vid.  Rude.  —  «Os  do  termo 
sam  homens  rudos,  e  grossos  dengenho, 
pouco  dados  a  trabalho,  nem  a  laurar, 
sendo  a  terra  muito  boa,  e  muito  fértil 
de  tudo  o  que  se  nella  põem,  ou  semca.» 
Damião  de  Góes,  Chrouica  de  D.  Manoel, 
part.  2,  cap,  18. 

Ora  vê,  liei,  quamanha  terra  andámos, 
Sem  sair  nunca  d'estc  povo  rudo, 
Sem  vermos  nunca  nova,  ucin  signal 
Da  desej.ada  Parte  Oriental. 
CAMÕES,  Lcs.,  cant.  5,  est.  69. 

Pranchas  de  escuro  til,  rudo,  lavradas, 
Do  aposento  as  paredes  guarneciam. 
Sòbrc  uma  banca  de  egual  custo  e  obra 
Poisava  antiga  cruz  donde  pendia 
Agonizante  o  Christo  :  lavor  fino 
Que  no  indico  dente  a  mão  devota 
D'uni  ncophyto  d'A3Ía  executara. 
GARRETT,  CAsi.,  caut.  3,  cap.  1. 

Inveja  vil  de  pérfidos  validos, 
Não  é  tua  esta  victima  ;  seus  osáos, 
Não  lhos  possuirás,  ingrata  pátria. 
Seu  fado  negro  foi,  mas  antes  elle; 
Antes  perder  a  vida  As  mãos  selvagens 
Do  rudo  cafre  na  deserta  areia, 
yue  :l  forno...  k  fome,  e  no  seu  pátrio  ninho. 
IBIDEM,  caut.  8,  cap.  17. 

Precisa  de  tyranno.  Catilina, 
Sylla,  Mário  cahiram  do  i>onca  arte. 
Do  pouco  expertos  no  mester  ditlicil 
De  dourar  os  grilhões :  foram  lanç.ivr-lU'o3 
liudos,  negros  ao  coUo  inda  lembrado 
Do  autigaJ  ufanias. 

IDEM,  CATÃO,  aot.  õ,  SC.  7. 

RUELLA.  Vid.  Arruella. 

f  RUELLIA,  s.  /.  Termo  de  botânica, 
(íeuoro  de  plantas  da  familia  das  acau- 
thaceas,  que  crescem  na  Nova  lloUanda. 

RUER,  V.  n.  (Do  latim  ruere).  Termo 
poético.  Correr  jirecipitadameute,  sair 
com  iiupeto,  despenhai"-se. 

RUFA,  .♦.  /'.  Termo  de  jogo  de  cartas. 
Vid.  Rifa. 


RUGI 

RUFAR,  V.  a.  Tocar  ruílas,  ou  rufos 
no  tambor,  com  .«oin  tremulo. 

—  Kiguradameiite:    Rufar  o  pandeiro, 
RUFAR,  t'.  )i.  (iuaniecer  com  rufos. — 

Rufar  Hiii  reatido. 

RUFIÃO,  ou  REFIÂO,  «.  w.  Alcovitei- 
ro, que  inculca  mulheres,  dama^^,  acode  ás 
suas  pendências,  o  as  apadrinha.  —  «Es- 
padachins, matadores,  nifioens.»  Fran- 
cisco Rodrigues  I>jbo,  Corte  na  aldéa, 
Dial.  1.').  —  «Rufião,  que  tiver  manceba 
na  mancebia,  de  quem  recebe  bera  fazer, 
he  dep-adado  para  Africa,  açoutado.  > 
Ord.  Affons.,  liv.  .'>,  tit.  33,  em  Blutean. 

—  <)  «pie  as  disfructa  de  graça,  ou  é 
mantido  jior  ellas. 

RUFIANAZ,  s.  m.  Augmentatiyo  de  Ru- 
fião. 

RUFIAR,  V.  n.   Fazer  officio  de  rufiJo. 

RUFIO,  s.  Vi.  Homem  brigoso,  de«- 
aiiante. 

RUFISTA,  s.  m.  Rufião  brigoso. 

RUFLA,  s.  f.  Floreio  de  tambor,  que 
se  faz  de  ordinário  por  honra  de  certo* 
officiaes,  quando  chegam  ou  passam. 

1.)  RUFO,  .1.  m.  Vid.  Rufla. 

2.1  RUFO,  adj.  (Do  latim  rufus.)  Ter- 
mo de  jioesia.  Ruivo,  avermelhado. 

-{-  3.)  RUFO,  s.  m.  Guamiçiio  para  ves- 
tidos, cte.,  que  consta  de  uma  tira  de  fa- 
zenda franzida  de  ambos  os  lados. 

RUGA,  s.  /.  (1)0  latim  ruga).  Dobra, 
prega,  franzido  na  pelle. 

Af|ucllc  mostrará  rugas,  ou  roscas, 
Kstc  com  espravocns,  chagas  profundas. 
Hum  sempre  com  vigor,  outro  com  moscas. 

ÁBBADE  DE  JAZESTE,    FOESLAS,    tOm.    1,   pag.    01. 

—  Prega  que  faz  a  roupa  por  não  ca- 
tar justa  ao  corpo,  ou  por  estar  mal  do- 
brada. 

RUGAR.  Vid.  Enrugar. 
RUGERUGE,  «.  "i.   <  >   .«om  que  faz  ro- 
çando-se.  —  O  rugeruge  das  tedas. 

—  O  ruido  dos  intestinos.  — Â  barriga 
me  faz  rugeruge. 

—  Adágios  e  provérbios: 

—  Qualquer  ruge  faz  mil  cascavéis; 
ou :  Dos  rugeruge  se  fazem  os  cascavéis ; 
dos  runujrcs  vêem  a  cousa,  a  fama,  a  no- 
ticia publica,  a  sojtda,  ou  infâmia.  — 
«Ter  toadas  he  ter  noticias,  mas  não  he 
ter  certezas.  Do  ruge  ruge  se  fazem  os 
cascavéis,  porem  parece-me  que  não  he 
esta  a  mata  da  onde  ha  de  sahir  o  coe- 
lho.» Cavalleiro  de  Oliveira,  Cartas,  liv. 
1,  n."  7. 

D'aqui  livanto.  senhora 
não  ireis  de  noite  f.'>ra 
e  mais  esse  murde  fugc : 
não  digo  mais,  qualquer  ruge 
faz  mil  cascavéis  agora. 
D  onde  vens  sem  teu  s«ihor' 

AVTOXIO  TRBSTBS,  ACTOS.  pSg.  137. 

RUGIDO,  part.  pass.  de  Rugir. 

—  ò'.  m.  Bramido,  voz  do  leào. 


RUID 


RUID 


RUIM 


351 


— •  Estridor. 

— •  Fisruradamente :  Ruido  que  as  tri- 
pas fazeai  no  ventre. 

RUGIDOR,  arlj.  (Do  t'iema  ruge,  de  ru- 
gir, c'im  o  suíRxo  «dor»'.  Que  ruge. 

RUGIFERO,  adj.  Que  tem  rugas"  trans- 
Ter?ae<. 

RUGIR,  V.  n.  (Do  latim  rugire).  Bra- 
mir o  leão. 

Arde,  empina-sc  o  Sol,  dardeja  a  prumo 
Nos  Climas  do  Equador  seu  fogo  em  ondas 
Isos  ermos  areacs  de  Zara  adusta, 
Mais  sanhudo  o  Leão,  mais  bravo  ruge, 
Ouvem-lhc  ao  longe  o  berro,  as  Feras  fogem, 
E  o  negro  habitador  da  espessa  brenha 
Prestes  atcza  o  arco,  e  embebe  a  sctta. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  SATCEEZA,  Cant.  1. 

—  Figuradamente  :  Bramir,  fazer  es- 
tridor. 

Eis  nos  ares  diáfanos  3"escuta 
Bugir  do  Norte  o  berro  estrepitoso  ; 
Võa  o  Xoto  batendo  húmidas  azas  ; 
Perturba,  enluta  o  Ceo  o  que  das  praias 
Nos  vem,  donde  nascente  assoma  o  dia, 
Em'ola,  engrossa  acastelladas  nuvens. 

J.   A.   DE   MACEDO,   ASATCBEZA,   Cant.    2. 

—  «  Era  o  bulcão  do  deserto  que  rugia 
por  lá.  Ao  amanhecer  tudo  estava  tran- 
quillo;  porque,  bem  como  a  procella,  Pe- 
lagio  era  repentino  e  destruidor  e  só  es- 
crevia na  terra  com  os  caracteres  sangui- 
nolentos de  rumas  e  mortes  a  noticia  da 
sua  quasi  invisivel  passagem.»  A.  Her- 
culano, Eurico,  cap.  13.  —  «Rugindo  de 
cólera  ao  contemplarem  este  espectáculo, 
apertavam  contra  o  peito  a  cruz  das  es- 
pada-. Então,  sentiam  escorregarem-lhes 
as  lagrimas  pelas  faces  tostadas,  e  des- 
cer-lhes  com  ellas  aos  seios  d'alma  a  re- 
signação e  a  esperança  na  piedade  de 
Deus.»  Ibidem. 

—  Fazer  murmúrio.  —  O  rugir  d' este 
remmiso, 

—  V.  refi.  Rugir-se ;  soar,  começar  a 
faUar-se  de  uma  cousa  que  estava  igno- 
rada. — ■  «Ruv  andava  impando,  e  por 
isso  fizera  orelhas  de  mercador ;  mas  a 
palavra  «excommungado»  pi'oferida,  aliás, 
com  a  maior  innocencia  do  mundo,  fil-o 
espirrar.  Sabia  bem  que  lh'o  chamavam 
pelas  costas,  segundo  o  que  se  rugira 
acerca  delle  e  da  moura  Zilla,  e  não  ti- 
nha graça  nenhuma  affrontarem-no  com 
balda  certa  em  auto  de  tanta  devoção.» 
A.  Herculano,  Monge  de  Cister,  cap.  18. 

— ■  V.  a.  Fazer  rugir. 
RUGOSO,  adj.  (Do  latim  rugosus).  Que 
tem  rugas. 

—  Figuradamente :  Áspero. 
RUIBARBO,    ou  RUIBARBERINO.    Yid. 

Rheubarbo. 

RUIDO,  ou  RUYDO,  s.  m.  Estrondo,  ru- 
mor, estrépito.  —  «  Acabadas  estas  bata- 
lhas, cuidando  Palmeirim  que  não  havia 
mais  que  fazer,  sentiu  gran  ruido  de  ar- 
mas, e  não  sabendo  que  fosse,  entraram 


pola  porta  da  salla  vinte  piões  armados 
de  piastròes  e  alabardas,  e  diante  delles 
dous  cavalleiros  que  vinham  dizendo : 
Morra,  morra  o  que  matou  o  melhor  ca- 
valleiro  e  mais  nobre  senhor  do  mundo, » 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  70.  —  «Entrando  nós  desta 
porta  para  dentro,  dêmos  em  huma  rua 
muvto  larga,  fechada  toda  de  ambas  as 
partes  com  arcos  muvto  ricos,  assi  no  fei- 
tio como  em  tudo  o  mais,  nos  quais  avia 
infinidade  de  campainhas  de  latão  que 
por  todas  as  voltas  dos  arcos  estavão  pen- 
duradas por  cadeas  do  mesmo,  que  com  o 
movimento  do  ar  que  dava  nellas  fazião 
hum  tamanho  ruydo,  e  huma  tamanha 
traquinada  que  não  avia  quem  pudesse 
ouvir  por  muvto  alto  que  se  fallasse.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações, 
cap.  109.  —  dE  em  cima  no  lugar  das 
ameyas  fechada  toda  em  roda  com  gra- 
des de  latai5,  e  a  cada  seis  braças  tiran- 
tes de  ferro  sobre  colunas  de  bronzo  que 
fechavão  de  humas  nas  outras,  com  infi- 
nidade de  campainhas  penduradas  por 
cadeas,  as  quais  movidas  co  ar,  que  con- 
tinuamente lhes  dava,  fazião  hum  conti- 
nuo e  tão  espantoso  ruydo,  que  não  avia 
pessoa  que  o  pudesse  esperar.»  lijidem, 
cap.  110. 

Inda  o  Tâmega  inchado,  c  a  turva  fonte 
Muda  o  som  doce  em  áspero  ruido ; 
E  do  fundo  do  vale  ao  monte  erguido 
Nada  alegre  se  vè  no  Horizonte. 

ABBADr   DE  JAZEXTE,   POESIAS,   tOm.    1,     pag.    53. 

—  «Pouco  a  pouco  aquelle  ruido,  mal 
sentido  a  principio,  cresceu  e  tornou-se 
mais  distiucto.  Brevemente,  fácil  foi  de 
perceber  o  tropear  de  milhares  d'homens. 
Os  esculcas  árabes  conservavam-se  uni- 
dos e  em  silencio.»  A.  Herculano,  Euri- 
co, cap.  9. 

— •  Contenda,  motim,  tumulto. 

—  Figuradamente  :  Grande  apparen- 
cia,  pouca  realidade,  vã  ostentação. 

—  Brado,  fama. 

—  Estrépito  feito  de  caso  pensado,  com 
fim  p.articular. 

—  Fazer  ruido ;  causar  rumor,  excitar 
a  admiração. 

—  Fazer  ruido  ;  fazer  bulha. 

—  Querer  ruido ;  ser  amigo  de  conten- 
das. 

—  Ad.^GIO  : 

—  Fingir  ruido,  para  vir  a  partido ; 
explica  a  astúcia  e  malícia  de  alguns  que 
não  tendo  razão  querem  fazer-se  temer 
para  conseguir  o  que  desejam. 

-}-  RUIDOSAMENTE,  adv.  (De  ruidoso, 
com  o  .«uffixo  «mente  »1.  Com  estrépito, 
com  pomiia,  com  fausto. 

ruidoso',  adj.  (De  ruido,  com  o  suffi- 
xo  «oso»).  Que  faz  ruido. 

Disse:  e  de  arrojo  cáe,  nos  sitios.  onde 
Soltão  lamento  eterno  as  suas  victimas: 


Pela  ardente  Campina  o  passo  alonga. 
Já,  com  vêr  o  seu  Eei,  se  abala  o  Abysmo, 
E  as  labaredas  rugem  mais  ruidosas. 

I.   M.    DO  NASCIMENTO,  OB  MABITBE8 ,  1ÍV.    8. 

Nas  Ígneas  azas  do  trovão  ruidoso, 
Desce,  c  correndo  no  sulfúreo  trilho 
O  raio  segue  sem  temor,  e  prorapta 
Nas  ondas  se  mergulha,  e  busca,  e  mede 
O  fundo  escuro  do  Oceano  ondeante. 
As  nuves  fende,  intrépida  vo.indo, 
Mais  longos  dias,  vagarosos  annos. 

J.   A.   DE   MACEDO,  MEDITAÇÃO,   CaUt.   2. 


—  Figuradamente: —  «O  assassino  e 
fatal  instrumento  d'aquella  ruidosa  mor- 
to era  o  filho  do  carcereiro  de  Lisboa, 
que  morreu  enforcado  por  ordem  de  D. 
João  v.»  Alexandre  Herculano,  Eurico, 
pag.  112. 

—  Homem  ruidoso  ;   gritador,   brigoso. 
RUIM,  ou  RUIN,  ou  ROIM,   adj.  2  gen. 

Mau,  assim  no  sentido  natural  como  mo- 
ral. —  «Certo  que  nessa  tua  resposta  co- 
nheço eu  seres  muvto  bõ  homem,  e  muv- 
to meu  amigo,  porque  de  o  seres  te  vem 
não  te  parecerem  mal  as  minhas  cousas, 
como  a  esses  perros  cães  que  ahy  jazem, 
e  tftando  da  cinta  hum  cris  que  trazia 
guarnecido  douro,  mo  deu,  e  huma  carta 
para  Pêro  de  Faria  de  muvto  ruins  des- 
culpas do  que  tinha  feito.»  Fernão  Men- 
des Pinto,  Peregrinações,  cap,  19.  —  «A 
qual  muytas  vezes  custuma  a  desenquietar 
os  bõs  e  quietos,  quanto  mais  a  gente  que 
não  professou  paciência  em  suas  adver- 
sidades, donde  ficava  claro  que  a  nossa 
discórdia  procedera  mais  dos  efieitos  que 
a  nossa  miséria  e  pobreza  causara  em  nós, 
que  da  ruym  natureza  de  que  o  promo- 
tor nos  accusava.»  Ibidem,  cap.  115. 

Digo  nihil  por  agora ; 
B'eu  isso  fige  alguma  ora 
nunca  cu  seja  alumiado. 
Gentil  praga  !  não  zombemos ; 
se  assi  é,  ruins  estremos 
seguis  em  dardes,  compadre, 
má  vida  a  minha  comadre ; 
paguemos  o  que  devemos. 
AíTO»io  rBESTEs,  ADT08,  pag.  139. 

J?"ím  letra 

me  parece  essa,  meu  neto. 
IBIDEM,  pag.  2G1. 

Não,  que  a  embuça 
coo  corpo,  e  que  dá  ruim  conta 
per  traz  da  malicia  aguça 
que  per  lá  já  a  conta  chua 
e  descoberto  teme  a  afronta. 
IBIDEM,  pag.  360. 

—  «Estando  as  cousas  neste  bem  ruim 
estado,  fogiraõ  da  fortaleza  três  escravos 
que  forão  levados  a  Rumecar,  e  delles 
soube  a  miséria  dos  Portuguezas,  e  da 
fortaleza,  e  tudo  o  mais  que  atè  entaõ 
era  succedido,  affirmando  que  não  havia 
j<^  mais  de  sessenta  homens  sãos,  que 
pudessem  tomar  armas,  porque  os  pouco 


352 


Rum 


UUIN 


UUIN 


iiiairt  f|uo  liavia  ostavSo  feridos,  e  doen- 
tes.» Diopfo  (lo  Couto,  Década  4,  liv.  i5, 
caji.  2.-—  «K-ita  noito  «c  cnibarfoii  Jor- 
ge Cabral,  o  teve  taõ  ruim,  e  trabalho- 
sa viaííoin  por  partii'  tanlc,  que  poz  oi- 
to inczcs  no  caminho,  poniue  chimpou  a 
Lisboa  om  outubro.»  Idcni,  Década  íi, 
liv.  í>,  cap.  2.  —  «O  Catar  também  ficou 
ferido  do  huma  ruim  espliif,'ardada  por 
hum  braço,  c  perdoo  mais  do  (|uaroiita 
dos  «CUM.  Os  outros  navios  da  cõpanliia 
do  Luiz,  Fif,'uoira,  tanto  que  viraõ  o  seu 
Capitão  mòr  rendido,  o  jnorto,  se  foraò 
afastando,  o  dcraõ  à  vela  com  o  Poncnto 
rijo,  (!  foraò  fugindo  pcra  fi')ra  do  Estrei- 
to.» Ibidem,  cap.  ?>.  —  «E  vem  a  pagar 
o  marido,  sem  culpa,  03  desabrimcntos 
da  mulher  aggrcssora,  o  merecedora  da 
ruim  vontade  dos  sorvos,  que,  como  pou- 
co {)rudcntes,  nào  distinguem  em  acções 
tão  j)roprias  como  as  de  mulher,  e  ma- 
rido, ipial  d'elles  é  digno  de  amor,  e  qual 
de,  desamor.»  Kraneisco  Jlanoel  de  Mel- 
lo, Carta  de  guia  de  casados. 


No  Mundo  não  con1i(\o  maia  ruim  bnata, 
Quo  lun  Kdcoliir  ;  —  mais  que  nato  nfi  o  Pedante : 
E  a  dizer  a  verdade,  o  melhor  delles  • 

Nunca  cu  ([ui/.cra  tê-lo  por  vizinho. 

IKANCISCO  MANOKI.  nO  NASCIMKXrO,   IWDII.AS   UE 

i.AKONrAisn,  liv.  3,  n."  -li). 


—  Adágios  : 

—  O   ruim   cuida,    (pie    é    industria  a 
maldade. 

—  Ruim  seja,  quem  por  ruim  se  tem. 

—  Ruim  seja  por  quem  ficar. 

—  Todos  ao  ruim,   e  o  ruim  a  todos. 

—  Ao  ruim,  ruim  e  meio. 

—  T)e  ruim  gosto  nunca  l>om  feito. 

—  De  ruim  nunca  l)om  bocado. 

—  Não  ha  tão  ruim  terra,  que  não  te- 
nlia  alguma  virtude. 

—  De  ruim  pagador,  cm  farelos. 

—  De  ruim  panno  nunca  bom  saio. 

—  Quem   não   se    louva,    de    ruim   se 
afoga. 

—  Fallaes  no  ruim,  logo  apparece. 

—  Um  ruim  com  outro  se  quer. 

—  ITm  ruim  conhece  outro  ruim. 

—  Um  ruim  se   toma  com  outro  ruim. 

—  Quem  quizer   conhecer  o  ruim,  dè- 
ll\e  offieio. 

—  De  ruim  a  ruim   ptnica  é  a  melho- 
ria. 

—  De  ruim  a  ruim,  quem  aceommctte 
vence. 

—  Dadiva  de  ruim  a  sen  dono  parece. 

—  j\Iette  o  ruim  em  teu  palheiro,  que- 
rerá ser  teu  herdeiro. 

—  Geutc   ruim  não   ha  mister  choca- 
lho. 

—  A  dons  ruins,  e  dons  tições,  nunca 
bem  lhe  compões. 

—  Ao  ruim  qu;uito  mais  o  rogam,  mais 
se  estenile. 

—  Quem  ruim  é  em  sua  terra,  ruim  ó 
fora  d'ella. 


—  Um  ruim  se  nos    vai  da  porta,  ou- 
tro vem,  que  nos  consola. 

—  (J  mais  ruim  do   lugar   jmrfia  mais 
no  fallar. 

—  Nem  ruim  l^trailo,  nem   ruim  fidal- 
go, nem  ruim  galgo. 

—  O  ruim  me  compro  o  amigo,  que  o 
bom  logo  é  vendido. 

—  l'or   cubica  do   florim  não  te  cases 
com  ruim. 

—  Nunca  ruim  por  compadre. 

—  Em   ruim  gado,  não  ha  que  esco- 
lher. 

—  Ruim  senhor,  cria  ruim  servidor. 

—  A  ruim  ovelha  do  fato  suja  o  tarro. 

—  <  >  ruim  se  assenta  na  mesa,  talha- 
da <pie  toma,  a  toilos  pesa. 

—  A  cada  ruim  sou  dia  mau. 

—  Melhor  é  dar  a  ruins,  quo  pedir  a 
bons. 

—  De  ruim  moça  um  bolo  basta, 

—  Quem  dá  bem  vende,  se  não  é  ruim 
o  que  recebe. 

—  Tor  abril  dorme  o  moço  ruim,  e  por 
maio  o  moço,  e  o  amo. 

—  Do  bom  tudo,  e  do  ruim  nada. 

—  Do   ruim    ninho    sác    bom    passari- 
nho. 

—  Ein  ruim  vilia  briga  cada  dia. 

—  Quem  muito  falia,  e  pouco  entende, 
por  ruim  so  vendo. 

—  Ruim  é  a  festa,  que  não  tem   oita- 
vas. 

RUIMMENTE,    adv.    (De   ruim,  com  o 
sufTixo  amente»).  Com  ruindade. 

ruína,  s.  /.  (Do  latim  ruína).  Des- 
truição, queda,  caída;  decadência,  perda, 
destroço,  desastre.  —  tEm  sua  salvação 
hà  a  mesma  duvida,  que  cm  sua  peni- 
tencia e  parece  que  foy  alta  permissão 
Divina  ticar  escuro  o  suecesso  de  pessoa 
tão  eminente,  porque  ninguém  iiado  om 
sua  sciencia  deixe  de  temer  a  mina  que 
teve  esta  machina  de  fabedúria.»  Monar- 
chia  Lusitana,  liv.  ô,  cap.  24.  —  «E  no 
Código  Theodosiano,  achamos  também 
mençaõ  de  Condes  de  Espanha,  a  que 
compotiaõ  as  cousas  da  gueiTa,  de  modo 
quo  neste  tempo  de  Constãtino,  se  vio 
em  tudo  huma  nova  forma  de  officios  o 
outro  novo  estilo  de  governo  em  tudo  di- 
ferente do  antigo  c  com  a  mudança  do 
Império  para  Constantinopla,  se  abrio 
caminho  para  a  ruina  que  veyo  a  ter  a 
Monarehia  Romana,  como  veremos  no 
«liscurso  da  historia.»  Ibidem.  —  «Quem 
for  vencido,  deve  examinar  a  causa  do 
sua  ruina,  se  foy  por  falta  dos  Capi- 
taens,  se  dos  soldados,  para  emendar  o 
erro :  o  se  o  naõ  houve,  nem  no  inimi- 
go mayor  poder,  devo  aplacar  a  Deos, 
tendo  por  certo,  que  o  irritou  contra  si 
com  as  causas  da  guerra.»  Arte  de  fur- 
tar, cap.  22.  —  «Negocio  (ao  parecer 
dos  seus)  não  mui  difficil;  porque  discor- 
rião,  que  o  Estailo  era  hum  corpo  mons- 
truoso, pois  tendo  a  cabeça  no  Occiden- 
te,  nutria  membros  distantes  de  si  mes- 


mo por  infinito  espaço  com  tantos  mares, 
o  terras  interpostas;  e  que  era  tSo  gran- 
de o  poder  de  fambaya,  quo  tanto  com 
a  ruina,  como  com  a  victoria  podia  oppri- 
rnir  o  E-»tado,  enfraquecido  então  i>or  va^ 
rios  accidentes. *  Jaciíitho  Freire  ile  An- 
drade, Vida  de  D.  Joáo  de  Castro,  liv.  2. 

T»l  o  gro^M)  canlião  hoje  parece 
(■Iw  d  Imiiia  1:  d  outra  part<-  asaaz  trabalha, 
<•  Sol  coo  <'S])c>i.-iO  fumo  «escurrce 
Km  quanto  polo»  nr<'it  nào  «'cApalha ; 
A  frágoa  de  Vulcano  n  isto  obedece, 
Pouco  reiistc  o  arncz,  mcnog  a  malha, 
t^u'c.ito  cs.nantoao  tom  cruiil  e  imigo 
Morte  sempre  c  mina  traz  comsigo. 

p.   n'AnnBADr,  rBiuRin»  rKtco  ur.  Diu,  eant.  2, 
est.  47. 

Af/ira  estes  canhões  que  se  applicavão 
A  riiinn  do  pro.^so  muro  forto, 
Por  diverso.s  logares  »c  asscnfcwio 
Outro.í  canli"'cs  tambcm  de  vária  sorte, 
Cujas  horrendas  fúrias  se  empregavão 
Km  ruina  da  gente,  c  cruel  morte, 
K  qualquer  destes  seu  assento  tinha 
Na  casa  :\  fortaleza  mais  visinha. 
iDiDEu,  eant.  1.5,  est.  41. 

Huma  e  outra  vez  encolhe  c  estende  o  braço, 
Mas  nem  o  que  pcrtendc  asai  alcanea : 
O  tri.st(^  Mouro  cm  todo  aqncUc  cspaíjo 
Nem  sómeuto  lhe  veio  huma  leuibrani;a, 
Que.  também  traz  ao  lado  o  subtil  a(;o 
Tom  que  de  se  salvar  tenha  esperança. 
Que  tanto  o  aperta  o  medo,  que  imagÍDa 
Que  tem  ua  salvação  maior  ruiiui. 
iBiDKit,  caut.  17,  est.  IG. 

Eu,  que  jA  me  sentira  c"o  Prophcta 
Nos  destroços  da  trágica  Gomorrha, 
Babylonia  avistei  desde  Corintho. 
Que  Cidades,  outrora  tam  llorcntca ! 
Hoje  estrago,  e  ruina!  Magoa,  aos  olhos 
Do  Passageiro,  ou  Nauta,  ao  pór-lhc  a  vista! 
Os,  que,  em  bandos,  A  túlda,  ávidos  8<''bem, 
Vem  Templos  derrocidos,  e  emmudeccm. 

K.    M.    no  XASCIllKXrO,  os   MABTYHES,  Hv.    4. 

Fina.  em-eíFoito  o  ódio  dos  validos 
Que  ao  infeliz  Camões  arrebatara 
Protectores  e  amigos.  Desterrado 
Por  cP.es  o  virtuoso  e  nobre  Aleixo ; 
Por  cUes  inviado  A  ccrfc»  raina 
Que  ao  malfadado  rei,  A  flor  do  exército, 
A  pátria,  nas  areias  escavaram       ' 
De  Afriei  adusta,  o  missionário  fora. 
r.ARRKTT,  eAMÒEs,  eant.  10,  cap.  8. 

Jaz  Thebas  em  mini.  cm  cinza  Mênfis, 
,Iaz  sobre  culto  Egypto  agreste  Eg>-pto, 
E  do  sábio  Antiquário  a  mão  teimosa 
Das  iucultiis  arèas  desenterra 
Cem  eolumnas  de  p.''rfido  lascadas. 
Rostos  de  antigos  Pórticos ;  hum  dellw 
Vale,  ó  Roma  imniortal,  tudo  o  que  a  furia 
Do  (iodo  assolador  cm  ti  doi.xára, 
E  se  acjibou  coos  'Wandalos  do  Sona, 
Montão  de  estragos,  Templos  sobre  Templos, 
De  teus  monstros,  tens  Reis  vaidade,  e  luxo. 

J.    A.   DF.  5I.VrEr>0,  lIEniTAÇÃO,  Câtlt.    1. 

Não  haja  quem  no  Mundo  empunhe  hum  Sccptro, 
Eu  serei  só  dominador  da  Terra ; 
Embora  fique  de  habit.antett  crina ; 
Dos  homens  na  ruina  acabem  tbronos. 

IRIPGM,  CAUt.  3. 


RUIN 


RUIV 


RUMA 


353 


Do  incêndio,  e  da  ruína  oa  restos  guardSo, 
Por  hum  deserto  domicilio  imprimem 
Hum  caracter  sombrio,  augusto,  c  grande, 
Qu'o  coração  m'olcva,  a  mente  arreda 
Das  sendas  da  mentira,  e  da  vaidade. 

IDEU,  A  NATUBEZA,  Cant.   1. 

—  Figuradamente:  Desgraça,  infelici- 
dade, infortúnio,  miséria. 

—  Bater  cm  ruina;  disparar  a  artilhe- 
ria  contra  alguma  fortaleza,  para  arrui- 
nal-a  e  deital-a  a  terra. 

—  Fazer  ruina;  arruinar-se. 

—  Cousa  que  cáe,  e  arruina  sobre  ou- 
tra, 

—  Plur.  Ruínas;  o  que  resta  de  edi- 
fícios arruinados,  destroços,  restos.  — 
«Eraõ  estas  povoaçoens  muvto  de  estimar, 
considerando  o  estrago,  e  solidão  em  que 
a  terra  estivera;  mas  não  de  maneira  que 
se  imagine  ficarem  as  Villas  e  lugares  em 
grandeza  semelhante  à  passada ;  porque 
quando  no  meyo  das  ruinas  de  Braga, 
Viseo,  e  outras  Cidades  semelhantes,  se 
levantava  huma  cerca  capaz  de  cento  ou 
duzentos  vezinhos  era  boa  povoação.» 
Monarchia  Lusitana,  liv.  7,  cap.  16. 

Quanto  há  famoso,  os  meus  Avós  domarão. 
Grécia  assólào.  Bizâncio  rendem,  pouaào 
Quartéis,  nas  ruinas  de  Ilion,  de  Mithridatea 
Conquistão  o  dominio ;  aos  dalém  Tauro 
Scj^thas  duros,  jamais  vencidos,  vencem. 

P.   M.   DO  NASCIMENTO,  OS   MAETTBES,   1ÍV.    7. 

Essa  inda  em  pé,  no  meio  das  ruinas 
Deamantelladas,  seu  fiel  cimento, 
Tenaz  na  antiga  fe,  guardando  ainda, 
No  azul  que  era  sua  gloria  lhe  vestiram, 
As  estiellas  do  Yaman  e  os  inJaçados 
Charactercs  do  Hvdjaz ! . . . 

GAKEETI,  CAMÕES,  Caut.  9,  Cap.  5. 

Cavando  vão  profundo,  vasto  leito 
Longo  tempo  na  terra,  aos  turvos  mares 
Aa  ruinas  do  globo,  os  restos  levão. 

J.  A.   DE  MACEDO,  A  NATUBEZA,  Cant.  1. 

Impetuoso  sahe  de  férreos  tubos 
O  globo  acceso,  que  conduz  a  morte: 
Altas  torres  converte  era  cinzas  frias, 
Ficão  ruinas  os  soberbos  muros. 
IBIDEM,  cant.  2. 


Os  duros  braços  dos  gucrrciroa :  formão 
Subterrânea  caverna  •,  alli  ã'e3condo 
Sulfúreo  pó  ;  que  danos,  que  ruinas 
Dalli  vão  já  naacer  !  Kebrama  a  Terra. 


Inda  mores  desgraças,  e  rvinas 
Nos  podo  prodazir,  s'cncadeado 
As  austeras  priaíes,  e  os  fcrrcoa  laços 
Co'a  rija  força  elástica  desata. 

IBIDEM. 


Jovo  não  vinga  o  bárbaro  attentado 

De  caminhar  por  montes  de  ruinas, 

E  por  ferros,  que  á  Pátria  o  jugo  aggravão. 

Ao  sólio  encantador,  onde  orgulhoso 

Ao  Mundo  avassaOado  as  leis  promiUguc. 

IDEM,  MZDITAÇÃO. 

TOL.   V.  — 45. 


—  Ruinas  do  vmro ;  quebradas  por  onde 
se  pôde  subir. 

RUINADO,  part.  pass.  de  Ruinar. 


E  como  tem  a  empresa  por  vencida 
Ir  cada  hum  diante  então  trabalha ; 
Súbe  o  animoso  alferes  do  corrida 
Lá  pola  minada,  alta  muralha. 
Acompanhado  foi  nesta  subida 
De  quantos  o  logar  cm  si  agasalha, 
Que  como  não  esporão  resistência 
Vão  já  traz  a  victoria  a  competência. 

r.  d'ándrade,  rsiMBiBO  cebco  db  diu,  cant.  14, 
est.  56. 


RUINAR,  V.  a.  Vid.  Arruinar. 

—  T^.  11.  Cair  derruído,  desfazendo-se. 
RUINDADE,  s.  f.  (De  ruin,  com  o  suf- 

fixo  «dada").  A  qualidade  de  ser  ruim, 
phjsica  ou  moralmente. 

—  Acção  vil,  de  mau  caracter,  indeco- 
rosa ou  infame. 

—  Mesquinhez,  avareza. 
RUINIFORME,  adj.   2  gen.  Que  repre- 
senta ruinas.  —  Pedras  ruiniformes. 

RUINOSAMENTE,  adv.  (De  ruinoso,  com 
o  suffixo  « mente  o  V  De  modo  ruinoso. 

RUINOSO,  adj.  (De  ruina,  com  o  suffixo 
«oso»).  Que  ameaça  ruina. 

—  Que  catisa  ruina,  perda,  destrui- 
ção. 

RUIPONTO,  s.  m.  Segundo  Bluteau,  é 
o  mesmo  que  i'aiz  do  Ponto,  porque  an- 
tigamente do  Ponto  nos  traziam  esta  raiz. 
De  ordinário  é  do  comprimento  de  um 
dedo,  e  da  grossura  de  dons  dedos  pole- 
gares; por  fora,  e  por  dentro  parece-se 
muito  com  o  rheubarbo,  excepto  que  é 
mais  leve,  menos  compacta,  menos  chei- 
rosa, e  menos  amargosa.  Também  difíere 
do  rheubarbo,  em  que  mastigada,  não  é 
viscosa  na  bocca  como  é  o  rheubarbo. 
Trazem-na  secca  da  Ásia.  A  planta  d'esta 
raiz  é  uma  espécie  de  lapathum,  que  pelo 
que  dizem,  nasce  ao  longo  do  rio  Tanais. 
Galeno  e  Myrepso  são  de  parecer,  que  na 
falta  d'esta  raiz,  se  tome  a  do  centau- 
reutn  maius,  que  é  o  ruiponto  commum. 
Os  boticários  chamam-lhe  rhaponticum 
ou  rheuponticum.  —  tDe  ruiponto  meva 
oytava.»  Polyanthêa  medicinal,  pag.  12, 
n."  ?A,  em  Bluteau. 

RUIR,  f.  n.  (Do  latim  rueré).  Cair,  ar- 
ruinar. 

RUIVA,  s.  /.  Planta  assim  chamada  por 
ter  a  raiz  vermelha.  Ha  duas  espécies : 
uma  domestica,  rabia  sativa,  e  ruhia  tin- 
ctorum,  porque  usam  d'ella  os  tintureiros 
para  tingir  de  vermelho.  Tem  uns  talos 
compridos,  quadrados,  nodosos  e  ásperos 
ao  tacto,  e  de  cada  n(5  sahem  cinco  ou 
seis  folhas  compridas,  estreitas  e  vellosas; 
as  flores  sahem  da  extremidade  dos  rami- 
tos, com  um  verde  tirante  a  amarello,  e 
as  raizes  são  muitas  e  compridas,  cada 
uma  do  tamanho  do  cano  de  uma  penna 
de  escrever,  vermelhas,  lignosas  e  de  um 
gosto  astringente.  A  segunda  espécie  é  a 


ruiva  brava,  e  é  mais  pequena,  e  mais 
áspera  que  a  domestica. 

RUIVACA,  s.  f.  Peixe  muito  pequeno, 
de  côr  avermelhada;  cria-se  nos  ribeiro3 
e  lagos  pequenos,  nos  tanques  e  reserva- 
tórios. Alguns  chamam-lhe  ruivo. 

RUIVIDÃO,  s.  /.  COr  ruiva. 

RUIVINHO,  adj,  dim.  de  Ruivo,  Algum 
tanto  ruivo. 

1.)  RUIVO,  adj.  Amarello  muito  acce- 
so,  tirante  a  vermelho-claro.  —  Caballo 
ruivo. 


Colhendo  ruivas  conchas  d'cntre  a  arêa. 
Aonde  o  Sol  mostra  estrellas  prateadas. 
Andava  a  bella  Ninfa  Dinopêa. 

F.  B.  LOBO,  PBIMAVEBA,  pag.  270. 


Se  em  dourado  Baixel  vens  manso,  e  manso 
Eompeudo  a  vêa  das  cerúleas  ondaa, 
Que  pouco  o  pouco  a  deaigual  marinha 
Começas  d"observar,  e  a  ruiva  ai-êa 
Onde  ainda  vivos  prateados  sáveis 
Lança  contento  o  Pescador  insomne, 
Súbito  o  Tejo  aurífero  espraiado. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Cant.  1. 


—  Adágios  : 

—  Ruivo  de  mau  pello,  mette  o  demo 
no  capello, 

—  vSe  o  grande  fosse  valente,  e  o  peque- 
no paciente,  e  o  ruivo  leal,  todo  o  mun- 
do seria  igual. 

—  Falso  por  natura,  cabello  negro  e 
barba  ruiva. 

—  !Manhã  ruiva,  ou  vento  ou  chuva. 
2.)  RUIVO,  s.  rn.  Peixe  do  mar,  cabri- 

nha  jil  grande. 


Do  ruivo,  e  peixe  cabra, 
Não  repares  na  palavra, 
Nem  na  cabeça  vazia, 
Porque  a  palpa  he  de  valia. 

BANQUETE  ESPLENDIDO,  2.*  part.,  H."  16, 
EM  BLUTEAU. 


RULAR,  V.  11.  Gemer  como  o  pombo  ou 
rola. 

RULLO,  s.  m.  ímpeto  das  ondas,  cha- 
mado também  lingua  das  ondas,  Vid. 
Rolo. 

RUM,  ou  RHUM,  s.  m.  Aguardente  fa- 
bricaria de  canna  de  assucar. 

RUMA,  s.  f.  Quantidade  de  cousas  umas 
sobre  as  outras.— Ruma  de  cadeiras.  — 
«  Fora  de  cada  huma  destas  casas  estavão 
os  ossos  das  cave%Tas  que  estavão  dentro 
nella,  postos  em  rumas  tão  altas  que  so- 
brepujavão  por  cima  dos  telhados  mais  de 
três  braças,  de  maneyra  que  a  mesma 
casa  ficava  metida  debaixo  de  toda  esta 
ossada  sem  se  apparecer  delia  mais  que  so- 
mente a  frõtaria  em  que  estava  a  porta.» 
Fernão  llendes  Pinto,  Peregrinações,  ca- 
pituhi  126. 

RUMAÇÃO.  Vid.  Arrumação. 

RUMADO,  iJart.  pass.  de  Rumar. 


354 


RUMI 


RUMO 


RUMO 


RUMAR,  V.  a.  Termo  do  nnutica.  Túr, 
racttiu-  cm  rumo. 

—  Arrumar  em  mappas,  cartas  geogra- 
phicas,  ctc. 

RUMBO.  Vid.  Rumo. 

RUME,  wlj.  o  8.  2  (/en.  Natural  da  fi ro- 
cia c  Tliracia. —  «  i'or(jue  como  as  cou-ias 
da  Índia  cstauão  fracas  por  a  nona  que 
BC  tiuha  do  estado  cm  que  Hcaua,  o  per 
via  do  Louante  tinha  cl  Roy  noua  que  o 
Soldào  maudaua  nouamcnto  fazer  outra 
armada  pcra  cnuíar  lá,  por  razão  da  ou- 
tra que  lhe  desbaratou  o  Viso-Uey  dum 
Francisco :  auia  suspeita  que  podiãn  tam- 
bém aucr  Rumes  na  Índia.»  Barros,  Dé- 
cada 2,  liv.  7,  cap.  2.  —  «Os  outros  qua- 
tro navios  da  nossa  companhia  também 
abalroarão  cada  hum  com  o  seu,  e  depois 
de  grandes  rcfertas  oa  rcndèraõ,  e  enves- 
tiraS  outros.  Oil  Fernandes  de  Cai-valho 
depois  de  muitas  horas,  e  de  ter  feito 
grande  estrago  nos  imigos,  deu  com  os 
mais  ao  mar,  aonde  também  se  salvou  o 
Rume,  e  se  foy  pêra  a  terra  que  era  per- 
to.» Diogo  de  Couto,  Década  6,  liv.  10, 
cap.  0. 

Dhuma  c.  outra  parte  vem  correndo  a  gente, 
Grãii  cópia  em  derredor  dellc  se  ajunta, 
O  Mouro  que  ha  que  a  morte  tem  presente 
Se  cobre  d'uma  nejira  côr  defuncta : 
O  Silveira  do  vê-lo  assaz  contento 
Por  novas  que  llie  importão  lho  pergunta, 
Do  exercito  que  cst.í  lá  na  Cidade 
E  dos  liiimes  se  ha  alguma  novidade. 

F.  r>E  A.NDRACE,  PRlMKtRO  CEBCO  DE  DIU,  Cant.  12, 

C3t.  23. 

f  RUMIA,  s.  /.  Termo  de  botânica. 
Género  de  plantas  da  família  dos  umbel- 
liferas,  indígenas  da  Sibéria. 

—  Termo  de  zoologia.  Género  d'inse- 
etos  lepidopteros,  da  familia  doa  noctur- 
nos. 

RUMIADOR,  adj.  Que  rumina,  rumi- 
nante. 

RUMIADOURO.  Vid.  Rumidouro. 

RUMIADURA,  s.  /.  Acção  de  rumiar. 

RUMIAR,  V.  a.  (Do  latim  ruminare). 
Mastigar  outra  vez  o  comer  que  volve 
do  estômago  á  bocca,  ruminar. 

—  Figuradamente:  Recogitar,  revolver 
no  pensamento,  considerar  muitas  vezes 
o  mesmo. 

RUMIDOURO,  s.  m.  O  estômago  em  que 
os  animaes  ruminantes  depõem  o  comer 
para  depois  rumiarem. 

RUMINAÇÃO,  s.  f.  Acção  de  rumiar. 

RUMINADO,  p<u-t.  pass.  de  Ruminar. 

—  Figuradamente:  Negocio  l>êm  rumi- 
nado ;  bem  pensado,  bem  preparado,  con- 
siderado. 

RUMINAL,  adj.  (Do  latim  ruminalis). 
• — Figueira  ruminai;  dá-sc  este  nome  á 
figueira,  debaixo  da  qual  dizem  quo  Ró- 
mulo e  Remo  mamaram  o  leite  da  loba: 
debaixo  d'esta  arvore,  expunha  a  super- 
stição romana  as  crianças;  e  aos  pés  da 
mesma  plant»,  ^depois  do  varias  ceremo- 


nia»  e  Bacrificios  de  victimas,  a  quo  tam- 
bém chamavam  ruminaes,  enterravam  os 
sacerdote»  as  ruliquias  dos  estragos  dos 
raios,  e  depois  de  seccas  com  o  andar 
dos  aniios,  tinham  os  megraos  a  obriga- 
ção de  plantar  outra  figueira  no  seu  le- 
gar. 

RUMINANTE,  a>Ij.  2  gen.  (Do  latim  nt- 
miiums,  aiitis).  Que  rumina. 

—  S.  m.  plur.  Ruminantes.  Termo 
de  zoologia.  Ordem  do  mammiferos  qua- 
drúpedes, que  teem  quatro  estômagos,  e 
são  dotados  da  propriedade  de  volver  á 
bocca,  para  ser  rcmoido,  o  alimento  que 
ingerem  no  estômago. 

RUMINAR.  Vid.  Rumiar. 

RUMO,  f.  m.  Termo  do  náutica.  Qual- 
quer das  trinta  e  duas  divisões  da  bús- 
sola que  indicam  a  direcção  de  cada 
vento. 

—  Direcção  do  navio,  corrente,  costa, 
maré,  etc.  —  tjoão  (iomes  como  o  tem- 
po também  lho  era  contrario,  com  assas 
trabalho  ás  voltas  chegou  1:1,  e  achou  que 
todo  o  tempo  era  geral,  scimente  quando 
acalmava  havia  alguma  bafugem  de  ou- 
tro rumo,  mas  era  pêra  mover  hum  ba- 
tel, com  a  qual  nova  se  tornou  a  Affon- 
so  d'Alboquerque.»  Barros,  Década  2, 
liv.  8,  cap.  2.  —  «E  andando  assi  erama- 
rados  sem  vella  nem  remos,  nem  quem 
entendesse  qvie  rumo  lhes  demorava,  con- 
tinuarão neste  trabalho  dezasseis  dia-s  em 
que  de  todo  lhes  faltou  a  agoa  que  foy  a 
causa  das  suas  mortes,  e  destes  dezassete 
que  escaparão  no  batel,  sós  três  licaraõ 
vivos  da  maneyra  que  aquy  os  achcy.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações, 
cap.  14:7.  —  fPartido  este  embaixador 
daquv  do  Avaa  em  Outubro  do  anno  de 
1545  fes  seu  caminho  por  este  rio  do 
Q.ueitor  acima,  com  a  proa  Loeussudoes- 
te,  e  em  partes  a  Leste  franco,  por  cau- 
sa das  voltas  que  a  decente  da  agoa  fa- 
zia, e  por  esta  variedade  de  rumos  con- 
tinuamos por  nossa  derrota  sete  dias,  em 
que  chegamos  a  hum  estcyro  que  se  de- 
zia  Guampanoo,  pelo  qual  o  Robão,  que 
era  o  nosso  piloto  fez  seu  caminho,  por 
s«  desviar  da  terra  do  Siammon,  como 
levava  por  regimento  dei  Rey,  e  chega- 
mos a  huma  grande  povoação  que  se  cha- 
mava Guatelday,  onde  este  embaixador 
se  deteve  três  dias,  provendose  dalgumas 
cousas  necessárias  para  a  sua  viagem.» 
Ibidem,  cap.  158. 

—  Lançamento,  ou  situação  de  terra 
com  relação  a  algum  rumo. 

—  Caminho  que  alguém  se  propõe  se- 
guir no  que  intenta  ou  procura. 

—  Trazer  os  scits  iifgocios  a  rumo; 
dar-lhes  boa  ordem,  pôl-os  em  bom  esta- 
do. —  «Tratou  os  seus  negócios,  e  os 
trouxe  a  rumo  por  nicyo  de  Pompevo.» 
Monarchia  Lusitana,  tom.  1,  foi.  318, 
col.  3,  em  Blutoau. 

—  Termo  de  carpinteiro  de  naus.  São 
seis  palmos  de  agua,  c  cada  palmo  inclue 


um  ])aImo  ordinário,  c  mais  o  dedo  pole- 
gar até  a  ultima  junta  d'clle;  sei»  pal- 
mos d'cstos  correspondem  a  sete  palmos 
singcloa. 

RUMOR,    «.    TO.    (Do  latim  rumor).  Es- 
trondo, ruido,  suaurro. 


Entrar- vos  alli.  sínhor, 
Qtic  out.o  o  corregedor  ; 
Temo  tanto  cHta  d<'vaHHa: 
Eiitrae  v.'.r(  neiw  outra  essa, 
Que  «intíj  grande  rumor. 

OIL  VICEXTB,   rAH','A8. 

—  «A  gente  de  armas  que  Affonso 
d'.\lbofinerque  mandou  e^tar  na  praia, 
porque  ouviram  o  nimor  desta  gente  de 
Uaez  llamed,  entraram  dentro  rijo  onde 
ElRey  estava  com  Affonso  d'Albt>qucr- 
que,  ao  qual  elle  tomou  nos  braços,  e  se 
apartou  a  huma  j)arto  com  elle  fora  do 
Ímpeto  da  gente,  da  qual  ElRey  teve  te- 
mor.» Barros,  Década  2,  liv.  10,  cap.  5. 
—  « E  chegando  ao  caiz,  ouvimo.'»  grande 
estrondo  de  sinos  que  se  tangiào  em  to- 
das as  ermidas,  o  de  quando  em  quSdo 
rumor  de  gente,  a  que  os  Chins  disseraõ, 
senhor,  não  tens  ja  mais  que  ver  nem 
que  saber,  acolhete  pelo  amor  de  Deos, 
e  não  sejas  cansa  de  nos  matarem  aquy 
a  todos.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregri- 
nações, cap.  78.  —  «E  feito  silencio  no 
rumor  que  esta  gente  fazia,  nos  prastra- 
mos  assi  como  hiamos  diante  da  tribuna 
em  que  estava  o  Broqueni.»  Ibidem,  cap. 
1.39.  —  «A  terça  feyra  me  fuy  p«"r  era 
huma  varada,  na  qual  des  que  sabia  o 
Sol,  ate  porespaço  de  huma  hora,  se  tan- 
gerão muytoí  atabalcí,  e  trombetas,  com 
tanta  desordem  qOe  parecia  huma  confu- 
são, cujo  nunor  se  ouuio  por  toda  a  Ci- 
dade, e  elle  seruio  de  chamar  o  pouo  a 
audiência.»  Fr.  Gaspar  de  S.  Bernardi- 
no, Itinerário  da  índia,  cap.  14. 

—  Susvirro,  murmúrio,  ruido  brando 
e  suave.  —  «Dava  tanta  graça  ao  cantar, 
quo  se  não  podia  esperar  mais  de  ne- 
nhuns homens.  Depois  d'is80  o  rumor  das 
aguas  do  Tejo  era  tão  pequeno,  e  ellas 
corriam  tão  socegadas  e  com  uma  clareza 
trio  viva,  que  tudo  parecia  que  seguia  a 
consonância.»  Francisco  de  Moraes,  Pal- 
meirim dlnglaterra,  cap.  109. 

Alli  polU  deserta  Praya  se  onne 
De  quHndo  cm  quãdo  a  voz  de  Alcione  triste 
Que  o  seu  «mado  Cevs  cm  rào  buscando 
Chsma  por  cUe  em  vão,  c  em  vão  sospini. 
Alli  nas  tremoluntos  brancsâ  folhas 
Dos  Alamos  cncidos,  e  altas  Favaa, 
Hum  confuso  rtimnr  soa  que  causa 
Xo  libistino  peito  huma  ânsia  grande. 

COBTE  SEAL,  ICACTRAOIO  DH  SErCLTUDA,  CAIlt.  16. 

—  Figuradamente :  Fama  que  corre  de 
alguma  cousa,  que  se  espalha  não  em  pu- 
blico, mas  secretamente. 

RUMOREJAR,  »•.  n.  Correr  rumor,  no- 
ticia vaga,  fama. 


RURA 


RUST 


RUTI 


355 


RUMRUM,  s.  9».  Termo  popular.  Ru- 
inur  que  eurre. 

RUNCARIO,  ou  REUNCARIO,  s.  m.  Ter- 
mo de  religião.  Iniiividuos  de  uma  seita 
religiosa,  que  sustentavam  que  o  homem 
nào  pôde  peccar  mortalmente  senão  com 
o  coração,  e  que  todos  os  actos  da  parte 
inferior  do  corpo  são  innocentes;  por  con- 
sequência entregavam-se  ás  maiores  des- 
ordens. 

RDNFA,  ou  RUMFA,  *.  /.  ant.  Certo 
jogo. 

RUNHA.  Vid.  Ronha. 

RUNNEMTO,  -5.  ant.  —  Runnemto  da 
viures ;  roediira  de  ratos. 

f  RUNICO,  adj.  (Do  latim  runicu^). 
Diz-se  das  letras,  monumentos  e  poesias 
dos  antieos  srermanos. 

t  RUNOGRAPHIA,  s.  /.  Tratado  dos 
caracteres  runicos. 

7  RUNOGRAPHICO,  adj.  Relativo  á  ru- 
nograpiíia. 

f  RDNOGRAPHO,  s.  m.  O  que  escreve 
acerca  dos  caracteres  runicos. 

f  RUPELLARIO,  adj.  Termo  de  zoolo- 
logia.  Que  vive  nas  rochas. 

—  S.  m.  plur.  Rupellarios ;  género  de 
conchas  bivalves  modernamente  desco- 
bertas. 

RUPIA,  s.  /.  Moeda  de  Surrate  e  do 
Mogol. 

—  Um  lac  de  rupias ;  segundo  a  ava- 
liação franceza  equivale  a  cem  mil  ru- 
pias, e  cada  rupia  a  480  reis  no  Mogol. 

—  Termo  de  botânica.  Género  de  plan- 
tas da  familia  das  nayadeas,  que  cres- 
cem no  fundo  das  aguas  doces. 

—  Termo  de  medicina.  Certo  estado 
inflammatorio  da  pelle,  caracterisado  por 
am polias  de  base  muito  rubra. 

RUPICABRA,  s.  /.  vDo  latim  rupica- 
•pra).  Cabra  brava. 

-f  RUPICOLA,  $.  ■/.  Termo  de  zoologia. 
Género  de  aves  da  ordem  dos  pássaros, 
que  vivem  nas  rochas  e  cavernas  e  teem 
uma  bonita  plumagem. 

RUPITÃO,  s.  in.  (Do  latim  rupes,  ro- 
chedo). Termo  de  religião.  Xome  dado 
aos  donatistas  da  Africa,  porque  atra- 
vessavam os  logares  mais  difficultosos, 
para  irem  propagar  a  sua  doutrina. 

f  RUPTIL,  adj.  Termo  de  botânica. 
Diz-se  de  um  órgão  que  se  abre,  rom- 
pendo-se  em  forma  irregular,  por  eífeito 
do  engrossamento  das  partes  que  elle 
contém. 

-j-  RUPTILIDADE,  s.  /.  Termo  de  botâ- 
nica. Estado  ou  qualidade  do  que  é  ru- 
ptil. 

RUPTORIO,  s.  m.  Termo  de  medicina. 
Designação  do  cautério  potencial,  porque 
corroe  e  produz  solução  de  continuidade. 

—  Instrumento  cirúrgico  de  abrir  fon- 
tes. 

RUPTURA,  s.  f.  Vid.  Rotura. 

RURAL,  adj.  (Do  latim  ruralís).  Rús- 
tico, camponez,  que  toca  ou  pertence  á 
lavom-a,  aos  campos. 


7  RURALMENTE,  adv.  (De  rural,  com 
o  sufiixo  «mente»).  De  uma  maneira  ru- 
ral. 

7  RURICOLA,  adj.  Que  vive  nos  cam- 
pos. 

RUSGO,  s.  7)!.  (Do  latim  ruscus').  Her- 
va  medicinal.  Vid.  Gilbarbeira. 

7  RUSPONE,  s.  m.  Moeda  de  oui-o  da 
Toscana. 

RUSSILHO,  adj.  (Do  latim  russeolus). 
Cur  ruça,  mesclada  de  cor  de  rosa. 

1.1  RUSSO,  aJj.  Da  Rússia  ou  de  seus 
habitantes. 

—  .S.  ;/i.  O  natirral  da  Rússia. 

2. .  RUSSO,  adj.  Vid.  Ruço.  —  sAccor- 
dou  deste  pensamento  aos  brados  que  Sel- 
vião  lhe  dava:  viu-se  pegado  com  a  pon- 
te, e  D.  D  nardos  no  meio  delia,  aperce- 
bido de  justa :  e  querendo  tomar  a  lança, 
viu  vir  contra  si  uma  donzella  em  cima 
de  um  palafrem  russo,  com  um  escudo 
nas  mãos,  dizendo.»  Francisco  de  ilo- 
raes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  41. — 
cAntre  outra  gente,  que  veio  ter  á  praia, 
veio  o  gi-an-turco,  acompanhado  de  pou- 
cos nobres,  em  cima  d'um  cavallo  russo 
pombo,  a  barba  branca  tão  crescida  e 
grande,  que  lhe  dava  pola  cinta,  e  como 
fosse  carregado  nos  dias,  e  tivesse  muita 
pessoa,  parecia  merecedor  do  senhorio, 
que  possui  que  este  bem  tem  quem  a  na- 
tureza dotou  de  perfeições  corporaes ;  por- 
que muitas  vezes  a  pouca  authoridade  da 
pessoa  dá  pouco  credito  nas  obras,  inda 
que  sejam  boas.»  Ibidem,  cap.  96. 

RUSTICAMENTE,  adv.  (De  rústico,  com 
o  suffixo  «mente»).  Grosseiramente,  de 
modo  rustii.-o. 

RUSTICAR,  V.  n.  (Do  latim  ntsticare). 
Viver  dias  no  campo,  gozar,  fazer  vida 
de  camponez. ' 

RUSTICIDADE,  s.  f.  (Do  latim  rustici- 
tatem).  Qualidade  de  rústico,  de  gros- 
seiro. 

—  Grosseria,  rudeza,  aspereza  do  que 
é  rústico. 

RÚSTICO,  adj.  (Do  latim  rusticus).  Per- 
tencente ao  campo,  camponez. 

Pa3são-3e  dias,  que  não  vejo  o  gado 
Perdido  pela  rústica  montanha  ; 
E  vivo  á  solidão  tão  costumado, 
Que  entro  na  Aldeã,  como  em  terra  esti^anha: 
Já  me  lembra  não  o  jogo  do  cajado, 
Ka  canseira  qualquer  Pastor  me  apanha : 
E  SC  algum  mo  pergunta  a  causa  disto, 
Ecspondo  que  nào  sei ;  mas  he  por  isto. 
j.  I.  DE  uATTOs,  BruÁs,  pag.  40. 

Nau  de  outra  sorte  rúbido  Podengo, 
Que  seguindo  fiel,  c  lisongeiro 
O  riistico  Saloio,  que  á  Cidade 
Vem,  de  seus  Campos,  a  vender  os  frutos, 
Se  ao  pé  d"alguma  esquina  se  demora. 
Dii"iz  DA  cErz,  HTSsoPE,  cant.  6. 

- —  Tosco,  grosseiro. 

Quando  Pão  que  os  amados  passos  segue 
Alli  chegado,  toma  (em  fogo  ardendoj 


O  sonoroso  rii^ltco  instrumento. 
Cantando  nelle  os  versos  que  se  seguem. 

COBTE  HEAX,  SArFEAGIO  DE  SEPCLVEDA,  CSUt.  10. 


Tem-se  feito  entre  nc^s  tanta  mudança, 
Que  Portugal  taõ  ruslico  algum  dia 
Já  nas  Naçoens  estranhas  se  avalia 
Por  alumno  fiel  da  douta  França. 

ABBADX  DE  JAZESTE,  POESIAS,  tOm.  2,  pag.  103 

(ediç.  de  1787). 

Que  faz  amar  delicias  innocentes 
Do  hum  domicilio  nistico,  que  excede 
Da  Eazào  na  balança,  em  preço  o  fasto 
Dos  Palácios  dos  Reis ;  dalta  Palmira 
De  Mênfis,  e  de  Roma  a  gloria  infausta. 

J.   A.   DE   ItACEDO,   VIAGEM  EITATICA,   CSnt.    2. 


—  Figuradamente:  Inurbano,  descor- 
tez. 

—  Ordem  rústica ;  a  mais  simples  de 
todas  e  a  mais  livre  de  adornos. 

—  >S'.  771.  Camponez,  homem  do  campo. 
—  «De  longe  se  verá  o  affecto  nào  me- 
nos do  que  se  divisa  o  Parnasso  com  os 
dois  cumes  bautisados  na  Aganipe.  Ac- 
ceitem  estas  expressões  correntes  e  cla- 
ras como  a  agua  que  o  rústico  ofFereceu 
a  Xerxes,  em  signal  de  que  daria  mais 
se  tivesse.»  Bispo  do  Grão  Pará,  Memo- 
rias, publicadas  por  Camillo  Castello 
Branco,  pag.  54. 


Arrancados  da  brenha,  os  Gallos  Divos 
Creras :  c  lá  do  colmo  das  malhadas, 
Star  provocando  os  seus  ao  morticínio. 
Tanta  audácia  lavrava,  nesses  rústicos! 

FB-UíCISCO    MAHOEL  DO  MASCIMBKTO,  O»  MABTTEBg, 

liv.  10. 


RUSTIQUEZ,  ou  RUSTIQUEZA.  Vid.  Rus- 
ticidade. 

RUTACEAS,  «.  /.  plur.  Termo  de  bo- 
tânica. Familia  de  plantas  dicotyledoneas, 
dotadas  de  propriedades  medicinaes. 

f  RUTENIO,  s.  771.  Termo  de  minera- 
logia. Xovo  motal  descoberto  no  osmiu- 
reto  de  iridium. 

-|-  RUTHE,  s.  m.  Medida  de  extensão 
do  Hanover. 

RUTHILE,  ou  RUTILA,  s,  /.  Termo  de 
mineralogia.  Oxydo  de  titano,  de  cor 
avermelhada,  e  que  risca  o  vidro  e  ás 
vezes  o  quartzo. 

RUTILANTE,  adj.  2  gen.  (Part.  act.  de 
Rutilar).  Que  rutila,  e  resplandece,  bri- 
lhante. 


Vimos  a  parte  menos  TuiUante, 
E,  por  falta  de  estreUas  menos  bella, 
Do  polo  fixo.  onde  inda  se  não  sabe 
Que  outra  terra  comece,  ou  mar  acabe. 
CAM.,  Lus.,  cant.  õ,  est.  14. 


Do  Monumento  augusto  em  tomo  vejo 
Três  respeitáveis  niagestosos  Vultos; 
Hum  venerável  Ancião  coa  frente 
Lisa,  e  serena,  os  olhos  elevados 
Aos  claros  Ceos,  aos  Astros  rutilantes, 
Crê  que  habitados  são,  que  a  argêntea  Lua 


35G 


RUTI 


RUTU 


RYTH 


Ho  como  a  Terra  povoada,  o  cheia 
Do  Bcinovcntos  aiiimiidos  Seres. 

J.  A.  DE  MAOKDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Cant.  2. 

RUTILAR,   V.   n.   (Do   líitiia  rutilare). 
Luzir,  resplandecer,  briliiar. 


Da  Lua  os  claros  raio»  ru/Uavam 
Pelas  arKcnt(i;is  oiid;iH  neptuiiiiia» : 
As  cstrellas  o»  eros  acompaiihavain, 
Qual  campo  revestido  de  boninas; 
O»  furiosos  ventos  repousavam 
Pelas  covas  escuras,  percfíi-inas  ; 
Porem  da  armada  a  gente  vigiava 
Como  por  longo  tempo  costumava. 
cAM.,  LU8.,  cant.  1,  C3t.  58. 


—  V.  n.  —  Os  olhos  rutilavam  cham- 
mas. 

RUTILE.  Viil.  Ruthile. 

RUTILINA,  #.  /.  Tormo  do  chiinica. 
Sub.staiicia  rubra,  produzida  pela  acyitu 
do  acido  sulfúrico  sobro  a  Halicina. 

I  RUTILITA,  «.  /.  Termo  de  minera- 
logia. \^irieilado  de  granada  ou  silico-ti- 
taiiato  do  cal. 

RUTILO,  acij.  (Do  latim  rutilus).  Ruti- 
lante, côr  de  ouro,  resplandecente. 

RUTINA.  Vid.  Rotina. 

RUTO,  s.  m.  ant.  (Do  francez  route). 
Rota,  viagem,  estrada. 

RUTURA.  Vid.  Rotura. 


RUVINHOSO,  fidj.  Carcomido,  carun- 
choso. 

RUXOXÓ,  s.  m.  Voz  onoraatopica,  for- 
mada do  fioin,  Com  que  se  enxotam  avus. 

—  Termo  popular.  KeprelieuBâo  aHpB- 
ra,  exijroi)ra<,ào. 

+  RYDER,  «.  m.  Moeda  de  ouro  da 
llollanda,  (|ue  vale  ll'J  realea  e  4  mara- 
vedis, ou  r)>(i(K)  rei». 

RYPTICO,  a'{j.  Termo  de  medicina. 
Diz-se  dos  medicamcntOB  próprios  para 
alimpar  e  purificar  oa  bumorea  víscosob, 
e  corruptos. 

RYTHMA.  Vi.i.  Rima. 

RYTHMO.  Vid.  Rhythmo. 


^kf,e^/U^_ 


"^fa 


^Í^^S^^ 


s.  m.  Decima  nona  letra  do 
alphabeto  e  decima  quinta 
das  consoantes. 

Um  S  grande;   um  s   pe- 
queno. Um  S  de  caixa  alta; 
um  s  de  caixa  baixa. 

—  Xo  alphabeto  physiologico  o  s  é  uma 
spirante  dental  áspera,  quando  tem  o  som 
que  lhe  damos  no  começo  das  palavras 
como:  se,  santo;  e  uma  spirante  dental 
branda  quando  tem  o  som  que  lhe  damos 
entre  vogaes :  casa,  peso. 

—  Sé  abreaviatura  de  santo,  seu;  S. 
S.,  sua  santidade,  Santíssimo  Sacramen- 
to. —  S.,  somma.  —  S.,  soffrivel,  sufi- 
ciente.—  aS  he  letra  semiuogal,  e  mais 
assouio  que  letra,  segundo  disia  Marco 
Messala.  D'onde  veo,  que  a  figura  delia 
denotarão,  como  hiia  cobra  enroscada, 
por  parecer  mais  pronuiiciação  de  cobra, 
que  de  homens.»  Duarte  Xunes  d:3  Leào, 
Orthographia  da  língua  portugueza.  — 
«O  Grego  o  nomea  (o  s)  Sigma,  e  o  He- 
breo,  Samech,  ou  Sin,  porque  tem  duas 
formas  de  S,  e  com  alguma  differença 
em  eUes;  porque  o  S.  que  chamam  Sa- 
mech he  de  prolaçà  aguda,  e  o  S,  que 
chamam  Sin,  quando  tè  ponto  e  a  cabe- 
ça direyta,  vai  por  S  crasso,  e  quando 
na  esquerda,  nà  se  defferença  do  S,  Sa- 
mech.» Franco  Barreto,  Orthographia, 
pag.  160. 

SÂ,  adj.  f.  poss,  ant.  Sua. 

—  Encontra-se  este  pronome  no  singu- 
lar e  no  plural  com  muita  frequência  já, 
desde  os  principies  ^  da  nossa  raonarchia 
até  ao  século  \'x.  A  imitação  dos  roma- 
nos, que  primeiramente  disseram  sa  e 
sas,  e  depois  sua  e  suas,  assim  dizemos 
nós  sa  ou  sas  herdades,  e  hoje  sua  ou 
suas  herdades. 

SÃA,  s.  f.  Termo  antiquado.  Som,  voz, 
estrondo. 

—  Chamada.  — -  Capitulo  per  sãa  de 
campãa  tanjuda. 

—  Forma  feminina  de  São. 


SÃAMENTE,  ou  SÃMENTE,  adv.  (De 
são,  cum  o  suffixo  «mente»).  De  um  mo- 
do são. 

SAAMOUNA,  s.  /.  Grande  arvore  das 
índias  occidentaes,  de  cujo  fructo  em 
forma  de  ervilhas  vermelhas  se  extrahe 
um  sueco  medicinal. 

SAAR,  V.  a.  (Do  latim  sanare,  tirado  o 
nj.  Termo  antiquá-lo.  Sarar. 
'  SABADEADOR,  A,  adj.  Que  guarda  os 
sabbaiios,  á  imitação  dos  judeus. 

—  Substantivamente  :  Um  sabadeador. 

SABADEAR,  v.  n.  Guardar  o  sabbado, 
á  nossa  imitação,  que  guardamos  o  do- 
mingo. —  Os  judeus  sabadeam.  Vid.  Sa- 
batizar. 

SABADILLIA,  ou  SABADILLINA,  s.  /. 
Termo  de  chiuiica.  Base  salificavel  orgâ- 
nica que  existe  na  cevadinha.  A  saba- 
dillía  é  crystallisavel  em  prismas  assas 
grossos,  solúveis  no  álcool,  ether  e  agua 
fervente:  torna  verde  o  xarope  de  viole- 
tas, funde  a  um  calor  de  200  graus  cen- 
tígrados, e  forma  com  muitos  ácidos  saes 
susceptíveis  de  crystallisação. 

SÁBADO,  ou  SÀBBADO,  s.  m.  (Do  la- 
tim sahbatum).  O  dia  da  semana  poste- 
rior á  sexta-feira,  e  anterior  ao  domingo, 
què  era  guardado  pelos  judeus,  e  no  qual 
se  abstinham  de  toda  a  sorte  de  traba- 
lho. —  «Na  terceira  parte  desta  Glironica 
íica  dito  como  Afonso  dalbuquerque  des- 
pachou Dormuz  o  embaixador  do  xeque 
Ismael,  e  em  sua  companhia  Femam  go- 
mez  de  lemos  com  embaixada,  os  quaes 
partiram  em  companhia  de  Habraim  Be- 
nati  capitam  da  cidade  de  Trager  hum 
sabbado,  cinco  dias  de  Maio  do  anno  do 
Senhor  de  M.D.xv.f  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  4,  cap,  9.— 
«E  porque  o  embaixador  adoeceo  aquy  de 
hum  inchaço  nos  peitos,  foy  acSselhado 
que  não  passasse  adiàte  até  não  ser  saõ 
delle,  pelo  que  assentou  cõ  alguns  dos 
seus  de  se  yr  curar  a  huma  grande  en- 
fermaria  que    estava    daly    doze    legoas 


adiante  em  hum  pagode  por  nome  Tina- 
googoo,  que  quer  dizer,  deos  de  mil  deo- 
ses,  para  onde  partio  logo,  e  chegou  lá 
hum  sabbado  ja  quasi  noite.»  Fernão 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.  158. 
—  «Preparado  pois  tudo  o  que  nos  im- 
portaua,  e  despedidos  dos  Portugueses 
mercadores,  que  em  Lara  ficarão  :  com 
huma  cõpanhia,  que  ja  nos  estaua  espe- 
rado, que  seria  de  quatrocentos  homens, 
entre  a  gente  de  pè,  e  de  caualo,  nos 
partimos  hum  Sabbado  pela  menhaã,  o 
qual  gastamos  quasi  todo  em  porfias.» 
Fr.  Gaspar  de  S.  Bernardino,  Itinerário 
da  índia,  cap.  14.  —  «Aqui  pescamos  ex- 
cellente  peixe  para  o  jantar,  e  de  tarde 
para  a  noute,  por  ser  sabbado.  Todo  o 
peixe  n'este  sitio  é  delicado  :  pescadas, 
tucanaris  e  trairás.»  Bispo  do  Grão  Pa- 
rá, Memorias,  publicadas  por  Camillo 
Castello  Branco,  pag.  179. 

—  Repouso,  deseaueo.  —  O  sabbado 
eterno  dos  predestinados  no  céo. 

—  Dá-se  também  este  nome  ao  séti- 
mo dia,  em  que  se  fazem  honras  e  exé- 
quias aos  defuntos,  alludindo  indubita- 
velmente ao  descanço,  e  refrigério,  que 
esperavam  conseguir  pelas  orações,  e  sa- 
crifícios que  então  se  mandavam  cele- 
brar. D'aqui  faztr  o  sabbado,  por  fazer 
as  exéquias  a  um  defunto  no  dia  sétimo. 
— « Mando  para  o  meu  sábado  vinte  li- 
vras.» Doo.  ant. 

—  Jejuar  aos  domingos,  ou  sabbados  ; 
abster-se  de  carne  n'estes  dias.  —  «E 
ainda  neste  era  cousa  execravel  o  jejuar, 
se  falíamos  dos  principio»  da  igreja  Orien- 
tal. Tanto  assim  que  S.  Ignacio  disse, 
que  se  alguém  jejuasse  aos  Domingos  ou 
sabbados,  excepto  o  da  Sernana  Santa, 
este  tal  era  matador  de  Christo:  Siquis 
Dominicam  diem,  aut  sabòaturn  (uno  ex- 
cepto) jejunarit,  hic  Christi  interfector 
est:  isto  he  (como  explica  o  P.  Azor) 
protesta,  ou  parece  querer  dar  a  enten- 
der com  o  penoso  e  triste  da  abstinência, 


858 


SABA 


SABE 


SABE 


quo  Christo  de  tal  modo  morrco  à  sexta 
feira,  que  naõ  ticoii  livre  do  tonnentos 
ao  sabljailo,  e  da  ine.siiia  morte  ao  I)o- 
minffo.»  Tadre  Manoel  Bernardes,  Flo- 
resta, part.  1,  pa;r.  7. 

—  tíuittíjicui'  o  dia  do  sabbado ;  guar- 
dal-o;  diz-se  da  lei  judaica,  cm  que  Deus 
tinha  santificado  o  sabbado,  e  os  judeus 
eram  obrigados  a  guardar.  —  «  E  por  tanto 
benzeo  e  sautidcou  o  dia  do  sabbado.  Mas 
a  nos  he  posto  Cste  mesmo  preccpto  em 
outra  fornia  de  palauras,  que  .■'ão  estas. 
Guardaras  os  Domingos  e  festas,  que  a 
santa  madre  Igreja  Catliolica  manda  guar- 
dar.» Fr.  Hartholomt-u  dos  Martyrcs,  Ca- 
thecismo  da  doutrina  christã. 

—  Adágios  e  i-uovkkuios: 

—  Nem  sabbado  sem  sol,  nem  moça  sem 
amor. 

—  Sabbado  á  noute,  Maria  dá-me  a 
roca. 

—  Quem  quizer  mulher  formosa,  ao  sab- 
bado a  escolha,  nJio  ao  domingo  na  voda. 

SABAGAGI,  .«.  m.  Termo  da  Ásia.  Len- 
çaria  a-^sini  ilenoniinada,  feita  de  algodào. 

•j-  SABAITA,  adj.  e  s.  Termo  de  histo- 
ria religiosa.  Diz-se  algumas  vezes  por 
sabeu,  adorador  dos  astros. 

•j-  SABAL,  *.  m.  Termo  de  botânica.  Gé- 
nero de  palmeiras.  (J  sabal  é  a  menor 
de  toda<!  as  palmeiras. 

-{-  SABALINEO,  A,  adj.  Que  se  asseme- 
lha ao  sabal. 

—  "S.  /.  plur.  Termo  de  botânica.  Tri- 
bu  da  familia  da  ordem  das  palmeiras  que 
tem  pi>r  tvpo  o  género  sabal. 

SABÃO,  *.  VI.  Massa  ou  pasta,  resul- 
tante da  mistura  de  azeite  ou  de  outra 
gordura,  cozida  em  decoada  alcalina  de 
cal  e  cinzas,  que  contenham  alcali  vege- 
tal, e  se  denomina  sabão  molle,  quando 
tom  esta  preparação. 

—  Sabão  duro,  ou  de  pedra;  diz-se 
aquelle  que  ó  preparado  com  cinzas  ou 
barrilha  que  contenham  alcali  mineral  ou 
soda.  O  seu  uso  é  lavar  roupa,  lavar 
cara,  fazer  a  barba,  etc. 

—  Um  fructo  do  Brazil,  que  nasce  em 
cachos  pelos  vallados ;  tem  uma  côr  ama- 
rella  pela  parte  externa,  e  na  casca  um 
sueco,  que  faz  escuma  á  maneira  do  sa- 
bão ;  caroço  negro. 

—  Loc.  POPULAR:  Dar  um  sabão  a  a/- 
guem;  reprehendel-o. 

—  Adagio  e  piíoveuiuo: 

■  — Ensaboar  a  cabeça  do  asno,  perda 
de  sabão. 

SABASTO,  s.  m.  Yid.  Savastro. 

SABASTRO,  s.  m.  Vid.  Sebasto,  e  Sa- 
yastro. 

f  SABAT,  ou  SABATH,  s.  m.  Termo  de 
chronologia.  Undécimo  mcz  do  anno  he- 
braico :  corresponde  ao  mez  de  janeiro. 

SA6ATAD0S,  s.  «i.  plur.  Deu-so  este 
nome,  na  Hespanha,  a  certos  hereges,  se- 
quazes dos  AValdenses  ou  Pobres  de  Lug- 
duno,  não  por  allusão  ao  sabbado  mas 
sim  ao  sabbiito,  quo  ora  calçado  dos  pés 


ou  fossem  socos  ou  sapatos.  E  como  o  seu 
disti activo  era  certo  uignal  a  nio<lo  de 
coroa,  quo  iuipriuiiam  a  ferro  no  couro 
do  dito  calçado,  d'aqui  se  lhes  originou  o 
nome.  No  Concilio  de  Tarragona  do  1242, 
e  já  nas  Constituições  de  D.  Pedro  i,  rei 
do  Aragão  de  1197,  se  faz  menção  des- 
tss  sabatados. 

SABÁTICO,  A,  adj.  Que  é  concernente 
ao  sabljado. 

—  Anno  sabático;  dizia-so  entre  os  ju- 
deus o  de  cada  sétimo  anno,  por  ser  o 
anno  do  repouso  das  terras. 

—  Termo  de  geographia.  Ribeira  sa- 
bática ;  ribeira  da  Palestina  septemtrional 
que  deixava  de  correr  cada  sétimo  dia  da 
semana. 

SABATINA,  s.  f.  Pequena  these  de  con- 
trovérsia (jue  08  estudantes  de  philosophia 
sustentavam  no  meio  do  primeiro  anno  do 
seu  curso.  —  ISusUntar  uma  sabatina. 

—  Exercício  académico  feito  aos  sabba- 
dcs,  em  que  uns  perguntam  e  outros  res- 
pondem sobre  as  lições  de  toda  a  semana, 
e  talvez  sobre  alguma  questão  de  mais. 
lia  outro  exercício  sobre  as  questões  de 
todo  o  mez,  e  é  chamado  sabatina  nitn- 
sal. 

—  Reza  do  ofiScio  divino,  própria  do 
sabbado. 

SABATINO,  A,  adj.  Que  pertence  ao 
sabbado. 

—  Termo  de  historia  religiosa.  Bulia 
sabatina ;  bidla  que  contém  os  privilégios 
do  escapulário  concedidos  a  Simão  Stock 
e  que  promette  todos  os  sabbados  livrar 
uma  alma  do  purgatório.  Era  assim  cha- 
mada por  ser  este  sétimo  anno,  assim 
como  o  sétimo  dia  da  semana,  consagra- 
do ao  dcscanço. 

SABATISMO,  s.  ni.  Observação  do  sab- 
bado.—  Nà o  faltar  nunca  ao  sabatismo. 

SABATIZAR,  v.  a.  (Do  latim  sabbati- 
zai't>\  Celebrar  o  sabbado.  Os  judeus  sa- 
batizam  reiíularmenie.  Vid.  Sabadear. 

f  SABAZIA,  s.  /.  Termo  de  botânica. 
Género  de  plantas  da  ordem  das  sjnan- 
thereas. 

SABBAOTH.  Termo  de  philologia.  Vocá- 
bulo hebraico  empregado  n'esta  locução: 
Deus  sabbaoth;  Deus  dos  exércitos. — 
Santo,  santo,  santo  é  O  Senhor,  o  Deos 
sabbaoth. 

SABBATARIO,  A,  adj.  e  «.  Nome  dado 
aos  judeus  por  observarem  o  sabbado.  — 
Os  sabbatarios.  —  O  povo  sabbatario. 

—  Membro  de  uma  seita  de  anabaptis- 
tas,  que  observa  escrupulosamente  o  sab- 
bado. 

SABBATISMO,  .<t.  m.  (Do  latim  sabba- 
tisiiiuf.  \"\d.  Sabatismo. 

SABECHÃO.  Vid.  Sabichão. 

SABECHOSO,  A,  adj.  Vid.  Sabichoso. 

SABEDOR,  A,  adj.  c  ,«.  Quo  sabe  e  tem 
noticia  de  alguém,  ou  de  alguma  cousa.  — 
€  E  dizemos  ainda  que  esta  Excepção  he 
de  tam  grande  força  e  poderio,  que  se  o 
Juiz  for  sabedor,  que  o  Autor  he  pubrico 


escommungado,  devc-o  lançar  da  deman- 
da, ainda  que  peila  outra  parte  lhe  nam 
seja  requerido.*  Ordenações  Affonsinas, 
liv.  '.'j,  tit.  .')•>,  §  3.  —  f  Porque  disserom  ou 
sabedores,  que  compilarom  as  I^-ví*  Impe- 
riaae.^,  <jue  nom  deve  iia.«cer  aazo  de  in- 
juria da  Ley,  ou  contrauto,  donde  nasce 
o  Direito.»  Idem,  liv.  4,  tit.  9,  §  5. 
—  «  Ca  se  o  assi  nom  nomear  por  autor, 
ainda  que  lhe  a  cousa  seja  vencida,  nom 
lhe  será  ello  dcspois  thcudo  de  lha  com- 
pocr,  nom  embargante  que  esse,  de  que  o 
demandado  ouve  es.--a  cousa,  fosse  certo  e 
sabedor  como  lhe  era  feita  demanda  sobre 
ella  em  juizo.»  Idem,  tit.  õO,  §  2. —  «E 
em  todo  caso,  hondc  o  vendedor  pro- 
meteo  ao  comprador  a  lhe  compoer  a  cousa 
vendida,  se  lhe  fosse  vecncida,  será  theu- 
do  a  lha  compoer,  ainda  que  o  comprador 
ao  tempo  da  compra  fosse  sabedor  que 
era  alhea,  e  nom  do  vendedor:  e  bera  assi 
honde  ambos,  assi  o  compra/ior,  como  o 
vendedor  sabiam  a  cousa  seer  alhea,  e 
nom  do  vendedor.»  Ibidem,  §  11. —  «E 
fingindo  que  o  negocio  se  começara  sem 
el  Kei,  nem  elle  serem  disso  sabedores, 
deu  sua  fe  a  Rui  daraujo,  e  o  tomou  em 
sua  guarda,  ficandolhe  por  fiador  do  mes- 
mo Bondara  hum  mercador  muito  rico, 
per  nome  Ninachatu  gentio,  que  fauore- 
cia  muito  os  nossos.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  D.  Manuel,  part.  3,  cap.  2. 

Embora  imprcgue  sahedorof  artes 

O  piloto  infeliz  ;  que  hãodc  imputar-lhe, 

Hàodc  fazcr-lhe  das  desgraças  —  crimes. 

GASKETT,   CATÃO,   aCt.   2,   SC.    1. 

—  Sábio,  prudente.  —  «E  assi  deve  to- 
do esto  ficar  cm  alvidro  do  Julgador ;  ca 
poderá  esto  acontecer  antro  taees  pes- 
soas, e  sobre  tal  cousa,  que  poderiam 
abastar  pêra  o  que  dito  he  ao  dito  for- 
çado dous,  ou  três  dias,  e  poderá  acon- 
tecer antro  taaes  pessoas,  e  sobre  taaes 
cousas,  que  nom  abastarem  pêra  ello  doua 
mezes ;  o  por  tanto  disserom  os  Sabedo- 
res, que  esto  deve  ficar  em  alvidro  do 
Julgador,  como  dito  he.»  Ord.  Affons., 
liv.  4,  tit.  65,  §  8. 

Os  mais  do3  geucmadorca, 
que  ha.i  índia  foram  mandados, 
vij  mortos,  ou  accusados, 
cauallciros.  fobedoret 
nou  vij  destas  escapados. 

OABCLA  DE  BSZKSSB,  MlSCSUJUnU. 

Tem-se  dlo  por  tnhedor, 
é  discreto,  c  letras  tem  ; 
mas  para  o  que  cu  alego, 
afirma,  approva.  sustem 
que  o  amor  se  pinta  bem 
menino,  co'arco,  e  cigo. 

AXTOSIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  423. 

SABEDORIA,  s.  /.  Sciencia,  saber,  dou- 
trina, prudência.  —  *E  era  raz.ão  que  as- 
sim o  parecesse,  posto   que  o  não  fosse, 


SABE 


SABE 


SABE 


359 


por  ser  obra  das  mãos  daquella  gram  sa- 
bedoria infante  Melia,  que  alli  pousou  al- 
guns annos  no  tempo  d'el-rei  Armato  de 
Pérsia  seu  irmão,  segundo  que  na  caroni- 
ca  mais  largo  se  reconta.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  dlnglaterra,  cap.  4í;>. 
—  «Aqui  vereis  a  providencia  e  sabedoria 
de  Urganda,  cuja  foi  esta  illia,  a  quem  não 
deveis  pouco;  pois  com  seu  saber  fez  im- 
mortaes  vossos  feitos.  Por  certo,  disse 
Beroldo,  muito  se  deve  a  ella  polo  que 
neste  caso  sentiu;  porém  deve-se  mais  a 
quem  tamanhas  cousas  acaba,  que  de 
mim  vos  sei  dizer,  que  sabendo  que  aquel- 
las  alimárias  são  mortas,  lhe  hei  medo, 
e  poria  em  duvida  commettel-as,  quanto 
mais  quem  estivesse  ante  sua  ferocidade 
viva.»  Ibidem,  cap.  119.  — «Por  isso 
irmãos  nesta  alta  sabeduria  auemos  de 
voar  com  freo  de  fee  e  humildade,  mais 
pasmando  e  amando,  que  escodrinhando, 
porque  não  aconteça  o  que  o  Senhor  nos 
ameaça,  dizendo.»  Frei  Bartholomeu  dos 
Martyroí,  Catecismo  da  doutrina  christã. 
— «Porque  se  desordenadamente,  se  amar, 
e  estimar,  ou  buscar  qualquer  destas 
cousas,  inda  que  boas  também  saõ  impe- 
dimento, pêra  a  alteza  da  sabiduria,  e 
perfeição,  que  fica  dita.»  Idem,  Compen- 
dio de  espiritual  doutrina,  cap.  10.  — 
«Aquelle  preclaro  Doutor  S.  Dionvsio 
Areopagita  chamou  a  theologia  mvstica 
sabiduria  estulta,  como  si  disera  intelle- 
ctiua,  alem  do  discurso,  e  juizo  ordiná- 
rio, e  sobre  o  natural  conhecimento.  Em 
quanto  a  agua  está  fria,  não  saie  de  seu 
curso  natural,  mas  posta  em  feruura  ao 
fogo,  e  pullando  a  borbolhões,  não  se 
contem  dentro  de  si,  e  naõ  cabendo  em 
sua  própria  esphera,  salta,  e  sobe  acima.» 
Ibidem,  cap.  12. 

Que  rasgos  de  imraortal  mhedoría 
Qaiz  impressos  deixar  do  Eterno  a  dextra 
Nestes  do  ar  plumosos  habitantes  ! 
Quanto  me  assombra  o  carinhoso  affceto. 
Com  que  os  filhos  nutria,  mimosas  aves ! 
Ko  berço  os  defendeis,  velais  no  berço. 

J.  A.   DE  SUCEDO,  MEDITAÇÃO,  Cant.    3. 

—  A  sabedoria  incarnada;  o  Verbo 
Eterno. 

—  A  sabedoria  infinita;  Deus,  o  Ver- 
bo Divino. 

—  Sabedoria  da  carne,  do  mundo;  diz- 
se  em  opposição  á  verdadeira,  e  boa  das 
cousas  da  vida  eterna,  e  boa  moral. 

—  Ttr  sabedoria  d'alguma  cousa ;  ter 
conhecimento  d'ella,  sabel-a.  —  «E  se 
acontecesse,  que  o  devedor  ouvesse  pa- 
gada a  divida  ao  credor  com  a  crecença, 
ante  que  nós  delles  ovivessemos  sabedo- 
ria, ou  ante  que  fosse  feita  por  nossa 
parte  a  demanda  ao  dito  devedor,  e  cree- 
dor  sobre  a  dita  razom.s  Ord.  Affons., 
liv.  4,  tit.  19,  §  1. 

—  O  livro  da  sabedoria;  um  dos  que 
compõe  o  Antigo  Testamento. 


—  Sem  sabedoria  d'el-rei;  sem  elle  o 
saber. 

—  Mercúrio,  senhor  de  muitas  sabedo- 
rias. 

Eu  sam  Jlercurio,  senhor 
De  muitas  sabedorias, 
E  das  moedas  reitor, 
E  doos  das  mercadorias  : 
N  estos  teuho  meu  vigor. 

GIL  VICENTE,  AUTO    DA  FEIBA. 

—  Syn.  :  Sabedoria,  sciencia. 
Sabedoria  corresponde  ao  vocábulo  la- 
tino sapientia,  oriundo  de  sapio ;  sciencia 
é  palavra  latina,  oriunda  de  seio.  A  pi-i- 
meira  tem  significação  mais  extensa  e 
complexa  que  a  segunda. 

Sabedoria  é  o  conhecimento  intellectual 
das  cousas  divinas  e  humanas,  é  a  razão 
perfeita,  como  disse  Cicero.  Sciencia  é  a 
noticia  ou  conhecimento  das  cousas  hu- 
manas. 

A  sabedoria  é  uma  qualidade  que  se 
considera  inherente  ao  homem,  abrange 
o  saber  e  o  obrar  segundo  a  recta  razão ; 
a  sciencia  somente  diz  respeito  á  parte 
especulativa,  e  pode  considerar-se  inde- 
pendente do  homem  ;  e  n'este  sentido  a 
definem  os  escriptores  modernos,  uma  se- 
rie de  verdades  discursivas,  que  não  al- 
cança por  si  só  o  senso  commum.  A  geo- 
metria, a  mathematica,  a  astronomia, 
etc,  são  sciencias,  porém  não  podem  ser 
denominadas  sabedorias. 

SABEDORMENTE,  adv.  (De  sabedor, 
e  o  suffixo  «mente»).  Termo  antiquado. 
Polida    e  sabiamente. 

—  Elegantemente. 

—  Sabendo  aquillo  de  que  se  trata. 
SABEISMO,  !'.  m.  Vid.  Sabismo. 

7  SABELLIANISMO,  s.  m.  Doutrina  an- 
ti-trinitaria  pregada  no  século  iii  por  Sa- 
beUio,  que  ensinava  que  não  ha  em  Deus 
senão  uma  única  pessoa,  que  é  o  Padre, 
do  qual  o  Filho  e  o  Espirito  Santo  são 
attributos,  emanações  ou  operações,  e 
não  pessoas  subsistentes. 

SABELLIANO,  A,  adj.  Conforme  á  dou- 
trina de  Sabellio. 

—  Substantivamente  :  Pessoa  que  pro- 
fessa o  sabellianismo. 

SABENÇA,  s.  /.  Termo  antiquado.  Sa- 
bedoria.—  «E  isto  por  conselho  e  saben- 
ça de  Nosso  Senhor.»  Eluc,  de  Viterbo. 

SABENDAS.  Adverbio  antiquado  usado 
n'esta  locução  :  A  sabendas  ;  de  propósi- 
to, acinte,  com  conhecimento  e  noticia. 
—  «O  segundo  caso  he,  se  o  Padre  cin- 
temente  ouvesse  juntamente  carnal  com 
a  molher,  ou  barregaã  de  seu  filho,  que 
ouve  theuda  em  algum  tempo  por  sua 
manceba ;  e  bem  assy  se  a  Madre  a  sa- 
bendas ouve  ajuntamento  carnal  com  o 
marido,  ou  barregaão  de  sua  filha,  que 
em  algum  tempo  ouve  theuda  por  man- 
ceba.» Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit.  100. 

SABENTE.  —  i^açrt?)i-)io/-osabente;  noi-o 
façam  saber.  —  «É  visto  per  Nós  o  di- 


to Artigo  com  a  reposta  a  elle  dada,  de- 
clarando acerca  dello  Dizemos,  e  Man- 
damos, que  a  Hordenaçom  antiiguamen- 
te  feita,  per  que  he  defeso  aos  Conce- 
lhos, que  nom  ponham  prestemo  a  al- 
gum, que  SC  guarde,  e  tenha  ao  diante; 
e  se  alguém  quiser  poer  prestemo,  façam- 
no-lo  sabente,  declarando  a  razom  em 
que  se  fundam  ao  poer,  e  com  Nossa  au- 
toridade o  ponham,  e  d'outra  guisa  nom.» 
Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit.  64,  §  2. 

SABEO,  A,  adj.  e  s.  Pertencente  á  ci- 
dade de  Sabá,  capital  da  Arábia  Feliz, 
e  que  abunda  muito  em  incensos,  e  ou- 
tras espécies  odoríferas. 

—  Laíjrinta  sabea  ;  o  incenso  distilla- 
do  do  golpe  da  arvore  que  o  produz. 

— ■  Lagrima  sabea ;  o  que  distilla  o  ca- 
jueiro. 

1.)  SABER,  V.  a.  (Do  latim  sapere). 
Ter  noticia,  ter  conhecimento  de  alguma 
cousa. 


O  sábio  dií  senbor,  se  desejaes 
Saber  aquclla  nobre  antiga  historia 
lusto  he  que  de  taes  homens,  tào  leaes 
Ficasse  eterna,  e  viua  tal  memoria 
E  que  destes  varões  aqui  saihaes 
Os  feitos  que  merecem  fama,  e  gloria. 
Pêra  exemplo  daquellcs  cujos  peitos 
Sc  oÉferecem  a  grandes  c  altos  feitos. 

CORTE  BEAL,  NAUFRÁGIO  DE  SEPÚLVEDA,  Cant.  13. 

—  €  Outro  sv  mandamos  aos  nossos 
Meirinhos,  e  Corregedores,  que  enquei- 
raõ,  e  saibaõ  pela  guisa  que  o  fazem,  e 
comprem  aquello,  que  lhes  per  nós  he 
mandado,  pêra  lhes  darem  a  pena  sobre- 
dita, se  acharem  que  o  nom  guardaõ,  ou 
em  ello  forem  negrigentes;  e  nos  façaõ 
saber  o  que  sobre  todo  obrarem,  e  feze- 
rom,  sob  pena  dos  Officios.»  Ord.  Affons., 
liv.  4,  tit.  4,  §  7. —  íE  morando  elles 
ambos  em  desvairadas  Comarcas,  entom 
lhe  poderá  seer  feita  a  dita  demanda  ataa 
vinte  annos  compridos,  e  contados  como 
suso  dito  he;  e  hindo  essa  cousa  ao  pos- 
suidor sem  titulo  algum,  avendo  acerca 
delia  maa  fé,  porque  sabia  bem  que  nom 
era  sua  de  direito,  nem  lhe  perteencia.» 
Ibidem,  tit.  49,  §  3. 

Ser.      Consciência  digo  eu, 

Que  vos  leva  ao  paraiso. 
Bran.  Não  mbemos  nós  quhe  isso ; 

Dae-o  ó  deoho  por  seu. 

Que  ja  nào  he  tempo  disso. 

GIL  V^CENTE,    AUTO  DA  FEIBA. 

Leon.   Xó  mais  ceremonias  agora; 

Abraçae  luez  Pereira 

Por  mulher  e  por  parceira. 
Fero.  Ah,  eu  m'cmpacho  ma  ora 

Quanto  a  dizer  abraçar  : 

Depois  que  a  eu  usar 

Entouces  poderá  ser. 
Inez.     Nào  lhe  quero  mais  saber; 

Ja  me  quero  contentar. 

IDEM,  FABÇAS. 

Por  vida  vossa,  zombais? 
Quem  he  ?  quereis-mo  dizer  ? 


L 


360 


SABK 


SABE 


SABE 


NÃO  o  liavci»  V('i»  lUi  labr.r, 
IMi':  uo  mo  iiAo  puitsK!». 

l.AU.,  FILOUCUU,  aut.   1,  SC.  5. 


Porque?  Porque  mo  dizcii» 
Qui;  *')  do  MIOU  piirecor 
VoiJ  pn'ci"(Ii',  o  qu(i  sabeis. 
Ho  vnrdtido. 

IDEM,   SKI.HUCO. 


<SVi')íVi  o  do  casa  a  manha, 
Sabia  os  pasws,  fu^ni, 
O  Ratinho  da  montanha 
Aos  pcos  om  pro-iaa  tamanha 
O  conii;ão  lho  caliio. 

SÁ   DH   SIIUANDV,   CAIUA   A    Mi;M  DE   si. 

—  «Nem  o  sui,  uem  culilo  que  uiii- 
ífuoin  o  sabe,  disso  o  outro;  poroin  creio 
que  ilcvc  sht  mui  perto,  polo  que  a(iuello 
homem  uio  disse;  e  tauibeu»  ponpio  inda 
lioje  foram  as  batiilhas  do  eavalleiro  do 
Salvafío,  e  não  poilora  ser  aqui  trazido 
de  mui  longe  em  tão  pc(|ueuo  espaço.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  40.  —  «(J  eavalleiro  poz  lo^^o 
o  ponto  em  outra  parte,  o  i)olas  mais  sa- 
tisfazer todas,  sem  escândalo  do  nenhu- 
ma, tomava  um  dia  pêra  conversar  cada 
uma,  e  parece  que  ou  lhes  pareceu  tão 
bem,  ou  suas  palavras  eram  doces,  ou 
ollas  tilo  pouco  discretas,  que,  antes  que 
chegasse  ao  castello  d'Almourol,  todas 
iam  arrependidas  do  que  perderam,  sem 
uma  poder  ser  testemunha  d'outra:  assim 
sabia  furtar  as  horas  a  tempo,  que  pêra 
tudo  tinha  lugar.»  Ibidem,  cap.  125.  — 
«E  sabei  que  ha  muvtos,  com  quem  o  te- 
mor d'estas  cousas  pode  mais  que  a  me- 
moria das  eternas  :  e  nam  he  mao,  quan- 
do nam  acodem  logo  aos  outros  remédios, 
trazel-os  per  este  ao  caminho  da  peniten- 
cia.» Lucena,  Vida  de  S.  Fraacisco  Xa- 
vier, liv.  6,  cap.  11.  — «Kstes  dous  capi- 
tães mandava  elRoy  que  fossem  desco- 
brir toda  a  torra  do  cabo  do  Boa  Espe- 
rança to  Çofala,  e  parte  daquellas  ilhas, 
ver  se  achauão  noua  de  Francisco  d'Ai- 
buquerque,  e  Fero  do  Mendoça  que  sa- 
bião  sei"em  desaparecidos  naquelia  para- 
gem, segundo  escrevemos.»  João  do  Bar- 
ros, Década  1,  liv.  9,  cap.  6.  —  «Sobro 
tudo  que  no  porto  se  encarregauão  nãos 
de  mercadores,  o  que  se  não  podia  fazer 
som  o  ello,  ou  seus  officiaes  saberem,  no 
que  em  tudo  contrariaua  ao  que  lho  pro- 
metera, que  mandasse  prouer  nisto  com 
brcuidade,  porque  era  já  tempo  de  se 
p.artir.»  Damião  do  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  p.art.  1,  eap.  Õ9.  —  «Poreni  se 
nisso  com  alguma  maginação  errada  al- 
guma cousa  entendestes,  sabei  que  mi- 
nha vontade  o  verdadeiro  des,'jo  he  es- 
quccerme  de  tudo,  e  assi  volo  perdoar, 
como  se  as  culpas  disso  fossem  seruiços  e 
merecimentos.  Folio  qual  com  toda  eftica- 
cia  que  posso,  e  mais  no  que  deuo,  vos 
rogo  muvto,  que  posposto  tudo  queirais 
ser  conformo  comigo,  pois  me  Dcoa  fez, 


e  dcyxou  j)or  lierdcyro  desta  coroa  de 
Fortiigal.»  <  lania  <le  Uuzcude,  Chronica 
de  D.  Joào  II,  cap.  il7. 


Max  nm  quanto  trabalha  nesta  entrada 
.V  profana  bombarda  horrenda  o  fora, 
Kii  líi  a  Madiafahat  faro  a  jornada 
( Indo  a  frota  intifl  sr.i  r|uo  me  oupora. 
Ksta  oítando  ja  assaz  bem  preparada 
Do  que  a  Bua  ton<;ào  necessário  era, 
Nào  (|uer  alli  deter-»e  mais  huin'hora. 
Pois  tem  o  mar  e  o  vento  brando  agora. 

r.  n'ANnitAOK,  riiiHisiHO  ckuuu  dk  Div,  cant.  20, 
c»t.  11. 


—  «Andava  u'e.-.le  tempo  D.  Fernando 
de  Castro  doente  do  febres,  e  sabendo 
([Uo  se  esperava  por  hum  grande  as.^alto, 
mandou-se  levar  pcra  o  baluarte  S.  Joaõ, 
sem  o  Capitão  lho  poder  defender,  por- 
que desejava  de  se  não  bulir  até  cobrar 
mais  alento.»  Diogo  de  Couto,  Década  tí, 
liv.  2,  cap.  'J. 

—  Conhecer.  —  «Em  a  qual  deve  seer 
perguntado  primeiramente,  se  aquolle, 
que  foz  a  doaçom,  se  a  fez  per  alguum 
euduzimento,  arti>,  ou  engano,  ou  medo, 
prema,  ou  prisom,  ou  algum  outro  con- 
luio, e  se  liie  praz,  que  a  dita  doaçom 
assy  per  ellc  feita  seja  per  Nós  aprovada, 
e  confirma  la :  o  bom  assi  devem  seer  per- 
guntados seus  vizinhos,  que  ham  razora 
de  saberem  como  a  dita  doaçom  foi  fei- 
ta.» Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit.  68. 

Não  posso  escutar,  quo  vou  campear, 
E  3e  llie  tardar,  bem  saòee  tu  isto 
Em  que  \tíM::  parar  •, 
Porque  este  boli;ão  não  tem  cerradouros. 

QIL  VICEMTK,   DIALOGO  SOBOE  A  BESLBBEIÇÂO. 

Veja-t'cu,  crua,  amar  qucra  to  desame, 

Porque  saiba»  que  cousa  he  ser  amada 

Do  quem  t.vito  aborreces  c  desprezas. 

Veja-t'ou  ser  ainda  desprezada 

De  quem  tu  mais  desejas  que  te  amo. 

Porque  sintas  em  ti  tuas  cruezas. 

Sintas  tuas  durezas, 

E  quinto  pi'ide  o  seu  cruel  ctfcito 

Khum  cora<,ào  sujeito. 

UAUUES,  KGLOOA  4. 

—  fSe  isto  puder  levar  avante,  não 
quero  mais  preço,  que  o  contentamento, 
e  que  deste  se  deve  também  contentar, 
quando  a  houvesse  de  mim ;  porém  que 
liie  peço,  que  me  mostre  por  qual  da- 
quellas se  combate,  e  me  diga  seu  nome 
pêra  saber  o  (juc  iranlu-i.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  dlnglaterra,  cap.  123. 
—  «  Quando  parem  deytàose  de  huma 
ilharga,  o  não  se  pode  saber  no.s  primei- 
ros três  dias,  se  pario  macho,  ou  fome.;», 
por  que  o  que  nouamcute  nasce,  vem 
metido  dentro  cm  hum  folio,  ou  bexiga, 
daqui  precedeo  affirmarcm  alguns  Autuo- 
res  que  o  Camello  nascia  imperfeito,  e 
que  depois  se  liia  perfeytjorulo.  >  Fr.  Gas- 
par do  S.  Bermudino,  Itinerário  da  ín- 
dia, cap.  17. —  «Estas  nãos  mandou  o  1 
liei  apaielhar  de  todalas  coudaa  necessii- 


rioH  a  feito  do  guerra,  porque  ja  sabia 
que  liauiaS  de  ter  disso  n'.-ce8aidadc  pelos 
nogocioH,  que  acontecerão  a  Va.squo  da 
<  iama,  a-ssi  na  índia,  como  na  costa  da 
Etio()ia,  na  (piai  hiain  mil,  o  quinhentos 
soldados.»  Damião  de  iiiHin,  Chronica  de 
D.  Manoel,  part.  1,  cap.  .'»4.  —  •<  >u  como 
o  malévolo  Semci,  que  se  nai5  «lava  hum 
[lasso  fijra  de  Jerusalém,  era  porque  aa- 
bía  que  em  sahiiido  haviaij  de  matallo. » 
Fadro  ^lanoel  Bernardes,  Exercícios  es- 
pirituaes,  pag.  41H,  —  a  Quereis  saber 
quem  ou  sou?  Lê,  Felagio,  o  que  escre- 
veu ahi  Theodemiro.  Diz-lhe  dep<ji»  qual 
é  o  meu  nome.»  E,  tirando  da  oscarcella 
uma  tini  de  jierganiiidiO  dobrada,  abriu-a 
e  entregou-a  a  Felagio.»  A.  Herculano, 
Eurico,  cap.  13. 

Não...  nem  tn  Wie*  inda  quantos  crimM 
ToDB  que  lavar  no  sangue  do  malvado ! 

OAUOKTT,  CATÃO,  SlCt.  4,  8C.  4. 

—  Saber  viver;  saber  portar-se  com 
prudência  inoffensiva,  grangear  a  todos 
para  seu  proveito. 

—  Vir  a  saber-se;  ser  notório,  vir  á 
noticia. 

—  Não  saber  maia  nada;  ter  conheci- 
mento só  de  uma  certa  cousa. 


Porque  o  filho  do  lavrador 
Casa  lá  com  la^Tadora, 
E  nunea  snh/-m  mai.4  nada, 
E  o  filho  do  broslador 
Casa  com  a  brosladora  : 
Isto  per  lei  ordenada. 

GIL   VICENIK,   FABÇAS. 


—  Não  saber  agradecer  servtçoê;  não 
se  importar  com  a  gratidão,  portar-se  in- 
grato. —  «Falam  as  boas  obras  por  quem 
as  faz,  e  desfazem  as  más  opiniões  de 
lingoas  danosa.s.  Muyto  pouca  força  tem 
as  boas  obras  e  serviços  quando  sam  fei- 
tos a  quem  os  nam  sabe  agradecer.»  D. 
Joanna  da  Gama,  Ditos  da  freira,  pa?. 
44  (ediç.  1872.^. 

—  Saber  o  pouco  que  sei,  não  está  na 
minha  mão.  —  •  Nào  está  na  minha  mão, 
minha  senhora,  saber  o  pouco  que  scy. 
For  isso  nào  esteve  nella  ser  tào  serioso 
neste  papel  como  mandastes.  Deos  vos 
guarde  muitos  annos.»  Cavalleiro  d'Oli- 
veira.  Cartas,  liv.  1,  n."  30. 

—  Não  saber  dizer  alguma  cousa; 
ignoial-a.  —  «Nào  deyxe  V.  A.  do  crer, 
ainda  que  eu  lho  nào  saiba  disor,  que 
lhe  sou  infinitamente  obrigado,  e  que  os 
seus  mimos  me  farão  lembrar  sempre  de 
que  devo  ser  p<<r  toda  a  minha  vida.» 
Cavalleiro  do  Oliveira,  Cartas,  livro  2, 
n.MU. 

—  Saber  muifo  de  qualqvr  sciencia; 
ter  bastíintc  conhecimento  delia.  —  « Ues- 
pondeo  o  Medico.  Sim  Senhor,  N  .  Ex.* 
para  Duque  sabe  muito  ilc  Medicina,  }h>- 
rem  para  Medico  he  certo  que  não  sabe 


SABE 

V.   Ex.*  o  que  diz.»    Cavalleiro  de  Oli- 
veira, Cartas,  liv.  1,  n.°  38. 

—  Nào  se  saber  que7n  é;  ignorar-se 
quem  é.  —  «  E  que  direy  das  innumera- 
veis  unhas,  que  se  toléraõ  ria  grande  Ci- 
dade de  Lisboa  !  Envergunhala-hemos  com 
Cidades  muito  mavores,  que  ha  na  Cliina, 
nas  quaes  lia  taõ  grande  vigilância  nisto 
de  unhas  de  gente  vadia,  que  de  nenhuma 
maneira  escapa  pessoa  viva,  de  que  se  naõ 
saiba  quem  he,  o  que  trata,  e  de  que 
vive,  para  evitar  roubos,  e  outras  desor- 
dens, de  que  saõ  autores  os  ociosos,  e  va- 
gamundos  em  grandes  Republicas.»  Arte 
de  furtar,  cap.  56, 

—  Fazer  saber  a  alguém  alguma  cousa; 
participar-lhe  alguma  cousa.  —  «  Alem 
destas  pessoas  que  Aftbnso  d'Alboquei'que 
despachou  pêra  fora,  despois  que  tomou  a 
cidade,  mandou  também  hum  caualleiro 
per  nome  Gaspar  Chanoca  a  el  Rey  de 
Narsinga,  fazendo-lhe  saber  como  tomara 
aquella  cidade,  com  oftertas  que  fazendo 
elle  guerra  aos  Mouros  do  Reyno  Decan, 
elle  por  os  seus  portos  do  mar  os  aperta- 
ria de  maneira  para  totalmente  os  lança- 
rem da  Índia.»  Barros,  Década  2,  liv.  õ, 
cap.  3.  ■ —  «Porém  em  Dabul  duas,  que  ahi 
achou  o  Capitão  da  Cidade,  não  quiz  fa- 
zer entrega  delias,  sem  primeiro  o  fazer 
saber  ao  Hidalcão,  cuja  a  terra  era.» 
Ibidem,  liv.  8,  cap.  6. 

—  Saber-se  uma  verdade;  divulgar-se, 
ter-se  noticia  d'ella. 


Fálaris,  Tamorlão,  Mezencio,  Nero, 
Que  tanto  humano  sangue  derramastes, 
Xói  oâ  dous  Dionizioâ,  que  co'o  foro 
Nome  só,  a  Siracusa  amedrontastes, 
E  03  mais  de  que  tratar  aqui  não  quero. 
Que  o  mundo  com  cruezas  espantastes, 
Dizei,  porque  se  saiba  esta  verdade. 
Quão  pouco  vos  durou  a  magestade. 

FB\SCISC0  DE   ANDRADE,  PRIMEIBO  CEKCO   DE   DIU, 

cant.  3,  est.  2. 


—  Saber  Uiiguas ;  ter  conhecimento 
d'ellas,  não  as  ignorar.  —  »  E  assi  enuiou 
dizer  a  el  Rey  outras  cousas  como  homem 
muy  prudente,  e  pêra  começo  da  Chris- 
tandade  muy  necessárias,  antre  as  quaes 
foy,  que  elle  lhe  pedia  por  mercê,  que 
certos  moços  pequenos  de  seu  Revno,  que 
liie  mandaua,  lhos  mandasse  logo  fazer 
Christàos,  e  ensinar  a  ler  e  escreuer,  e 
aprenderem  muyto  bem  as  cousas  de  nossa 
Fé,  pêra  que  estes  em  tornando  em  seu 
Reyno,  por  saberem  ambas  as  lingoas,  e 
costumes  que  saberiam,  poderiam  a  Deos 
e  a  elle  muyto  scruir,  e  aproueytar  a  to- 
dolos  de  seu  Revno.»  Garcia  de  Rezen- 
de, Chronica  de  D.  João  II,  cap.  lõG. 

—  Nào  saber  o  que  se  faz;  não  estar 
disposto  a  ordenar  bem  as  cousas.  —  «Al- 
guns foraõ  de  parecer  que  se  entregassem 
as  armas,  mas  outros  não,  e  destes  fov 
Dona  Leonor,  que  disse  a  seu  marido  que 
nas  armas  estava  todo  o  seu  remédio,  que 
lhe  pedia  por  amor  de  Deos  que  tal  não 

voL.  V. — 46. 


SABE 

fizesse.  Mas  como  Manoel  de  Sousa  de  Se- 
púlveda não  hia  jà  em  si,  tomou  as  ar- 
mas, em  que  entravaõ  quatro  espingar- 
das, e  as  entregou  ao  Rey,  do  que  elle 
teve  pouca  culpa,  porque  jà  não  sabia  o 
que  fazia,  e  toda  foy  dos  que  lhe  consen- 
tirão entregallas.B  Diogo  de  Couto,  Dé- 
cada 6,  liv.  9,  cap.  22. 

—  Saber-se  j^^^o^  discursos  dos  céos  es 
eclipses  do  sol  e  da  lua;  conhecerem-se 
por  elles.  —  «Verdade  he  que  se  acha  al- 
guma por  acerto  que  tem  alguma  noticia 
dos  discursos  dos  ceos,  por  onde  sabem  os 
eclipses  do  sol  e  da  lua.  Mas  estes  se  ho 
sabem  por  algumas  escrituras  que  se 
acham  antrelles,  insinam  no  a  algum  ou 
alguns  cm  particular,  mas  nam  ha  disto 
escolas.»  Frei  (íaspar  da  Cruz,  Tratado 
das  cousas  da  China,  cap.  17. 

—  Saber  pedir  conselho;  ter  conheci- 
mento para  o  dar.  —  «Pois  por  certo  que 
aquelle  que  deseja  bons  conselhos,  já  pa- 
rece que  d'elles  não  necessita;  porque  é 
tão  grande  prudência  pedir  conselho,  que 
do  homem  que  o  sabe  pedir,  crerei  que 
nenhum  lho  fará  falta.»  Francisco  Ma- 
noel de  Mello,  Carta  de  guia  de  casados. 

—  Saber  aquillo  de  que  lhe  nào  pedem 
conta;  ter  conhecimento  d'aquillo  de  que 
lhe  não  pedem  conta.  —  «A  ninguém  se 
pôde  com  rasão  pedir  conta,  do  que  nào 
pôde  obrar ;  e  ninguém  a  poderá  dar  boa 
do  que  não  quiz,  ou  soube  fazer,  tendo 
cargo  de  saber,  e  querer  obrar,  aquillo 
de  que  lhe  não  pedem  conta.»  Francisco 
Manoel  de  Mello,  Apologos  dialogaes, 
pag.  47. 

—  A  mulher  deve  saber  honrara  quem 
seu  marido  honra.  —  «  Saiba,  todavia,  a 
mulher  sisuda,  que  deve  honrar  a  qirem 
seu  marido  hom-a;  e  o  homem  honrado, 
que  a  ninguém  deve  dar  azo  que  a  sua 
mulher  perca  o  respeito. »  Francisco  Ma- 
noel de  Mello,  Carta  de  guia  de  casados, 
cap.  9. 

— Figuradamente:  Os  olhos  saberem 
responder.  —  «  Que  fora  do  melindi-e  de 
teu  animo,  se  não  deparasse  c'um  coração 
tão  delicado!  Esses  olhos  tão  eloquentes,  e 
tão  bem  comprehendidos,  qaáes,  a  não  ser 
os  meus,  saberião  responder-lhes?  Dá-o 
por  impossivel !  Amar?  só  nós  ambos  o 
sabemos :  e  de  mágoa  morreríamos  um  e 
outro,  se  differente  empenho  sorteassem 
nossas  almas.»  Francisco  Manoel  do  Nas- 
cimento, Successos  de  madame  de  Sene- 
terre. 

—  Mulher  que  sabe  escrever;  mulher 
que  tem  conhecimento  da  linguagem  es- 
cripta,  porque  a  põe  em  pratica.  —  «  Kão 
m'o  tinhão  ditto  assim;  se  porém  vossa 
ultima  vontade  é  essa,  será  forçoso,  Ma- 
dama,  conformar-se  com  ella ;  porque  em 
fim  de  tudo,  se  me  cazo  com  outra  que 
tenha  algum  dinheiro,  não  acertarei  c'uma 
Mademoisella  Suzanna  e  com  a  ventagem 
de  mulher  que  me  saiba  escrever,  que  é 
quanto  eu  lhe  desejo.»  Francisco  Manoel 


SABE 


361 


do  Nascimento,  Successos  de  madame  de 
Seneterre. 

—  Saber  i^arfe  de  alguma  cousa;  ter  no- 
ticia d'ella. 

—  Saber  de  cor;  ter  de  memoria,  lem- 
brar-se. 

—  Ser  sábio,  e  viver  como  elle. 

Maa  cu  fallo,  cm  despeito  da  vontade, 
Que  anhéla  de  te  ouvir.  Uso  é  de  Velhos. 
Embébem-sc  na  glória  do  que  saheyn, 
Púr-lhes,  só  o  pódc  imi  Deos,  atilho  ás  vozes. 

F.   M.   DO  NASCIMENTO,   OS   MARTYKES,  1ÍV.   9. 

—  Tão  bem  me  sabes  o  nome;  tu  não  o 
ignoras. —  «Já  vos  não  ficareis  sem  ellas, 
disse  elle,  pois  tão  bem  me  sabeis  o  nome  ; 
e  se  quizerdes  aguardar  que  mande  pôr 
minhas  armas,  com  esta  lança  que  engei- 
tastes,  vos  castigarei;  e  quando  a  fortuna 
vos  favorecer  tanto,  que  fiqueis  pêra  mais, 
faremos  nossa  batalha,  e  n'ella  vos  ensi- 
narei com  que  cortezia  se  hão  de  tratar 
minhas  cousas.»  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  123. 

—  Saber  fazer  ouro  de  enxofre.  — 
(í  Essa  he  a  valentia  desta  arte,  como  a 
dos  Alquimistas,  que  se  gabaõ  que  sabem 
fazer  ouro  de  enxofre :  de  gente  vil  faz 
fidalgos,  porque  aonde  lúz  o  ouro,  naõ  ha 
vileza.»  Arte  de  furtar,  cap.  2. 

—  Saber  f aliar  a  lingua  portugueza; 
ter  d'ella  conhecimento.  —  «  Com  elles 
veo  hum  Mouro  chamado  Faque  Volay 
que  sabia  fallar  a  nossa  lingoa  Portugue- 
za, o  qual  fora  criado  em  Moçambique,  e 
peccados  seus  o  leuaram  aquella  paragem, 
como  a  nòs  também  os  nossos.»  Fr.  Gas- 
par de  S.  Bernardino,  Itinerário  da  ín- 
dia, cap.  2. 

—  Saber,  viver  mal;  não  saber  viver 
com  prudência  inoftensiva.  —  «Teve  no 
Reino  grandes  inquietações  nascidas  da 
insolência  dos  nobres,  que  sahindo  da 
brandura  dei  Rey  D.  Aôonso,  e  dando  na 
inteireza  do  filho,  sabiaõ  mal  viver  em 
taõ  disconformes  estremes.»  Frei  Bernar- 
do de  Brito,  Elogios  dos  reis  de  Portugal, 
continuados  por  D.  José  Barbosa. 

—  Informar-se  de  alguma  cousa.  — • 
«  As  pessoas  de  calidade  que  aqui  mata- 
rão de  que  pude  saber  o  nome  afora  loam 
machado,  foram  George  de  magalhães,  e 
loão  roiz  pessoa.»  Damião  de  Góes,  Chro- 
nica de  D.  Manoel,  part.  4,  cap.  17. 

—  Saber  novas  de  alguém,  ou  de  algu- 
ma cousa;  ter  novas  d'alguem.  —  «A  pri- 
meira cousa  que  dom  Aluaro  fez  depois 
de  ser  em  Azamor  foi  mandar  Aluaro  ra- 
phael,  Alcaide  mor  da  cidade  com  coren- 
ta,  e  cinco  de  cauallo  saber  nouas  de 
huns  aduares  que  andauam  aleuantados, 
o  qual  indo  junto  de  Muguroz,  que  he 
seis  legoas  de  Azamor,  encontrou  com 
huns  mouros  de  cauallo,  e  por  auer  diffe- 
renças  entre  os  que  Pêro  Raphael  leuaua 
consigo,  elle  depois  de  tudo  consultado  se 
iriam   buscar  os  Aduares,  ou  darião  na- 


3G2 


SABE 


SABE 


SABE 


ciiiellcs  niouroH.»  Damião  de  Ooes,  Chro- 
nic;i  de  D.  Manoel,  part.  4,  cap.  '.iO. 

—  Saber  n  cunsa  d'al<jutna  cousa;  niío 
a  ifijnorar,  tor  conhecimento  d'(!lla. — 
4  Isto  pos  muito  o»|)arito  aon  fsmbaixailo- 
rcH,  <|uo  aimla  alii  cstauão  que  sabendo  a 
causa,  louuaram  muito  ho  que  AibiiHO 
dall)iiquenpu!  fazia,  com  tudo  por  iiitcr- 
CC8HH0  do  iiomcui  lidalgoa  oa  ombaixado- 
ro3  dei  Rei  de  Narsinf^a,  o  do  Cambaia, 
llie  pediram  as  viilas  fios  outros  mestfcs, 
o  pilotos  que  ja  Icuauain  a  padecer,  que 
lhes  conccdoo  mudando  a  ])eria  da  morte 
em  dofjjrcdo  pêra  outras  nãos.»  Damião 
de  Gocs,  Chrouica  de  D.  Manoel,  part.  3, 
cap.  16. 

—  Saber  muito  bem  Ur;  não  sor  anal- 
pliabcto,  ter  conhecimento  doa  caracteres 
alphabeticos.  —  «  Isso  mesmo  tem  ja  der- 
ramados per  80US  regnos  muitos  liomens 
naturaes  da  terra  de  Cliristãos,  que  tem 
escolas,  e  ensinam  a  nossa  .sancta  fe  ao 
pouo,  o  aasi  também  scolas  de  moças  que 
ensina  uma  sua  irmã  que  ho  molher  hem 
de  sesenta  annos,  e  sabe  muito  bem  ler, 
e  em  sua  velhice  aprendeo,  (pie  folgaria 
vossa  Alteza  de  a  ver  o  assim  outras  sa- 
bem ler,  e  todolos  dias  do  mundo  vam  a 
Egreja  a  Missa  encomcndarsse  a  nosso  Se- 
nhor.» Damião  de  Gocs,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  4,  cap.  8, 

—  Sem  ninijuem  o  saber;  ignorando-o 
todos.  —  «  Azarias  como  teuc  esta  certeza 
mandou  secretamente  humas  taboas  do 
mesmo  molde,  das  que  estauam  na  arca 
do  Testamento,  as  quaes  no  dia  que  sacri- 
ficou, mctco  na  arca,  e  tomou  as  verda- 
deiras, que  Deos  dera  a  Mouscs  no  monte 
Sinai,  e  as  leuou  consigo,  sem  o  ningucm 
saber,  se  nam  depois  de  ser  em  Ethio- 
pia.»  Damião  de  Góes,  Chroaica  de  D. 
Manoel,  part.  3,  cap.  151. 

—  Saber  a  Ihigua  arábia ;  ter  conheci- 
mento d'ella.  —  «  Pelo  que  mandou  a  isso 
per  algumas  vozes  e  ora  diversos  tempos 
homens  que  sabião  a  lingoa  Arábia  entre 
os  quaes  foram,  hum  Afonso  do  paiua 
natural  de  Castelbranco,  e  loão  piroz  do 
Couilhã,  08  quaes  despedio  de  Santarém.» 
Damião  de  Gocs,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  3,  cap.  58. 

—  Sabeis  de  mim? 


ARasiío  todos  namora. 
Sabeis  de  mim  ? 
Por  quo  n&o?  SRnhorn,  sim. 
Como?  dizoi,  Mestre  honrado. 
Sois  Rasão  mato  fori,-:ido 
a  que  hemos  do  vir  emRm. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  24. 


—  Saiba-me  d'isso;  informe-se  a  esse 
respeito. 

—  Convém  a  saber :  isto  é,  quer  dizer. 
—  «Despois  que  temos  tratado  das  cou- 
sas que  Deos  manda  crer,  como  se  ma- 
nifestou na  dcclara(,'am  do  Credo,  e  assi 
-das   que  nos  manda  esperar,  desejar,  e 


podir,  como  tambom  se  declarou  na  ora- 
(;ão  do  i'ater  no^ter  :  Conuem  tratar  ago- 
ra do  exercieio  da  ciiaridade,  conuem  a 
saber  das  cousas  (|ue  Deos  nos  mauda 
fazer.»  l'"rui  Ikiitliulomeu  dos  Martyres, 
Catecismo  da  doutrina  christà.  —  «A  pri- 
meira he,  que  ha  de  ser  diligentemente 
examinada,  conuem  a  saber  que  o  pecca- 
dor  antes  que  venha  aos  pés  do  confes- 
sor, penso  cuydadosamcnte  em  seus  pec- 
cados,  o  cscodrinhe  os  canttjs  de  sua  con- 
sciência: pêra  o  qual  exame  tanto  mais 
tompo  ha  do  contar,  quanto  mais  tempo- 
ha  que  se  nam  confessou.»  Ibidem. 

— ■  Jla  iào  pouco  que  saber  cm  mim!  — 
«lia  tam  pouco  que  saber  era  mim,  que 
a  tudo  respondo  com  o  que  vês :  porque 
o  nome,  se  elle  declaia  o  ser  de  quem  o 
tem,  a  certeza  mo  deu;  terra  nào  a  te- 
nho, porque  nenhuma  me  consente ;  o 
que  busco  nesta,  he  o  quo  mais  desejo 
perder;  o  sommado  isto,  sou  hum  triste, 
o  peregrino  que  busca  a  vida,  quo  abor- 
rece :  porém  se  esta  verdade  só  te  não 
satisfaz,  o  meu  nome  ho  Lereno  Fran- 
cisco Rodrigues  Lobo,  Primavera. 

—  i''açt>  «abar ;  formula  de  que  os  reis 
se  servem  para  a  publicação  de  uma  car- 
ta de  lei,  de  um  alvará,  etc.  —  «Dom 
Affonso  pela  graça  de  DEOS  Rcy  de 
1'ortugal,  e  do  Algarve.  A  quantos  esta 
Carta  virem  fazemos  saber,  que  alguns 
Mercadores  do  i'orto,  e  de  Braga,  e  de 
Guimaraães,  e  de  Viseu,  e  de  Cliavees, 
e  d'outros  Lugares  se  me  querellarom, 
dizendo  que  recebiam  grande  agrava- 
mento dos  Juizes  e  Vereadores.»  Ord. 
Affons.,  liv.  4,  tit.  5,  §  1.  —  «E  devcra- 
no  fazer  saber  a  nós,  pêra  mandarmos 
proveor  a  esses  bens,  em  guisa  que  aquel- 
íes,  que  os  ouverom  de  herdar,  nom  re- 
cebaõ  dapno.í  Idem,  tit.  15,  §  1. 

—  A  saber;  isto  é,  quer  dizer.  —  «Em 
tal  caso  deve  o  dito  creedor  perder  e  pa- 
gar a  nós  todo  aquello,  que  houver,  a  sa- 
ber o  principal,  e  crccença,  que  ouve  do 
dito  devedor ,  e  a  dita  crecença  deve  seer 
descontada  ao  devedor  do  que  ha  de  pa- 
gar, a  saber,  d'outro  tanto  como  he  o 
principal,  que  ja  pagou  ao  credor.»  Ord. 
Affons.,  liv.  4,  tit.  11),  i?  1.— «E  esta 
demanda  lhe  poderá  fazer  atta  dez  annos 
compridos,  e  contados  dês  o  primeiro  dia, 
em  quo  a  dita  cousa  foi  a  poder  do  pos- 
suidor com  titulo,  e  boa  fé,  e  se  ambos 
eram  moradores  em  huma  Comarca,  a 
saber,  o  creedor,  e  o  possuidor. »  Ibidem, 
tit.  49,  §  3. —  «E  se  o  vendedor  recu- 
sasse d'entregar  primeiramente  a  cousa 
vendida  ao  comprador,  duvidando  daver 
doUe  o  preço,  o  bem  assy  nom  conliasse 
o  comprador  do  vendedor,  duvidando  ha- 
ver delle  a  cousa  comprada,  so  llie  pri- 
meiramente pagasse  o  preço,  em  tal  caso 
Mandamos  quo  seja  a  cousa  vendida,  e 
bem  assi  o  dito  preço  todo  socre^tado  em 
maaõ  d 'homem  liei,  o  qual  entregue  do 
todo  faça  as  partes  entregues,  e  conten- 


tes, a  saber,  o  vendedor  do  preço,  e  o 
comprador  da  cousa  comprada.»  Ibidem, 
tit.  tiO,  §  20.  —  «E  bera  ansi  Dizemos 
dos  OfTiciaacH,  que  coui  <-ll<;  andarem,  a 
saber,  Jleirinhos,  Chanci-lJeres,  c  Escri- 
pvaães,  qu<!  assi  andarem  por  tempo  cer- 
to.» Ibidem,  tit.  (51,  §  1.  —  tE  qualquer 
quo  o  contrairo  fezer,  aja  p<)r  pena,  a 
saber,  que  o  contrauto  a«»i  feito  «eja  ne- 
nhum, e  todo  aquello,  que  o  dito  Oãicial 
per  bem  delle  assi  receber  e  ouver,  seja 
todo  ])erdido  pcra  a  Coroa  ilos  Koesos 
Regnos,  por  tal  que  a  pena  d'hum  seja 
eixemi)lo  ao»  outros.»  Ibidem.  —  «Em 
tal  caso  deve-se  a  dita  jialavra  logo  en- 
tender, a  saber,  que  haja  esse  forçado 
tam  gran<le  espaço  pêra  cobrar,  e  aver 
a  dita  cousa,  em  que  aguisadamontc  pos- 
sa pêra  ello  chamar  seus  parentes,  e  ami- 
gos.» Ibidem,  tit.  65,  §  8.  —  «Uutro  sy 
mandamos,  que  os  Mccstrcs  da»  Cavalla- 
rias  das  Ilordens,  e  Priol  do  Hosjiital,  e 
Commendad  res,  e  Freires  das  ditas  Ilor- 
dens, que  tenham  cada  hum  deites  cavai- 
los  aquelles  quo  os  nom  teem,  assinando- 
Ihe  tempo  a  quo  os  ajam  e  tenham,  a  sa- 
ber ataa  dia  d'Omnium  Sanctorum  pri- 
meiro quo  vem;  e  mandamos,  que  aquel- 
les que  nom  teverem  os  ditos  cavailoa 
ataa  o  dito  tempo,  que  se  forem  nossos 
vassallos,  ou  de  cada  hum  dos  sobreditos, 
que  percam  aquella  conthia,  que  de  nóa 
ou  delles  ham  por  aquelle  anno  que  os 
nom  teverem,  e  paguem  a  nos  outro  tan- 
to, quanto  som  as  conthias,  que  de  nos 
teem  os  outros  Cavalleiros  nossos.»  Idem, 
liv.  5,  tit.  119,  §  4. 

—  V.  n.  Tor  o  sabor.  —  K-^tn  comida 
sabe-me  bem.  —  Este  alimento  sabe-me  o 
cebola. 

—  Ando  que  não  sei  de  mim ;  ando  mui 
distraindo  com  negócios  e  trabalhos. 

—  Figuradamente :  Agradar. 

zombe  um  homem,  chcgno  ao  cabo 
de  lhe  dizer  —  sois  mui  fia  — 
contra  oUe  em  ódio  se  atêa ; 
c  chamar-lbc  cila  diabo 
sabe-lhe  a  cUe  a  crarca. 

ANioiiiú  ruESTES,  AUTOS,  pag.  30Õ. 

—  Adaoios  e  proverhios: 

—  Quem  pouco  sabe,  azinha  reza. 

—  Cuidar  não  é  saber. 

—  Erro  é  epual,  não  sabendo  respon- 
der, e  sabendo  perguntar. 

—  Não  é  nmilo  que  percAs  teu  direito, 
não  fazendo  saber  teu  effoito. 

—  For  novas  não  penareis,  far-se-hSo 
velhas,  sabel-as-heis. 

—  Bem  sabe  esto,  onde  a  bugia  tem  o 
rabo. 

—  O  parvo  sabe  á  .'ua  custa. 

—  Todos  querem  saber,  mas  ninguém 
fazer. 

—  Segredos  queres  saber,  busca-os  no 
pezar,  e  no  prazer. 

—  Mais  vale  saber,  que  haver. 


SABE 


SABE 


SABI 


363 


—  Nada  duvida,  quem  nada  sabe. 

—  Ninguém  se  metta  no  que  não  sabe. 

—  O  bom  saber  é  calar,  até  o  tempo 
de  fallar. 

—  Para  seu  proveito  cada  um  sabe. 

—  Quanto  mais  vivemos,  tanto  mais 
sabemos. 

—  Se  queres  saber  quem  é  o  villão, 
mette-lhe  a  vara  na  mão. 

—  Quem  não  sabe,  pergunta. 

—  Sabe  as  pancadas  ao  vinte. 

—  Sabem-n'o  cães  e  gatos. 

—  Sabe  como  sete  paliteiros. 

—  Sei  isto  como  minhas  mãos. 

—  Não  sabe  qual  é  a  sua  mão  direita. 

—  Quem  para  si  não  sabe,  não  ponha 
escola. 

—  Quem  lêr,  leia  para  saber ;  quem 
souber,  saiba  para  obrar. 

—  Quem  não  sabe  do  mal,  não  sabe 
do  bera. 

—  Quem  não  sabe  soflErer,  não  sabe  re- 
ger. 

—  Quem  de  trinta  não  pôde,  de  qua- 
renta não  sabe,  e  de  cincoenta  não  tem, 
não  pôde,  não  sabe,  nem  tem. 

—  Muito  fallar,  pouco  saber. 

—  Quem  sabe  da  luta,  luta,  e  quem 
não  sabe  da  luta,  labuta. 

—  Quem  me  quer  bem,  diz-me  o  que 
sabe,  dá-me  o  que  tem. 

• —  Quem  mais  vive,  mais  sabe. 

—  Grande  saber  é,  não  fallar  o  co- 
mer. 

—  Mais  se  sabe  por  experiência,  que 
por  aprender. 

—  Mais  sabe  o  tolo  no  seu,  que  o  si- 
sudo no  alheio. 

—  Onde  ha  bom  saber,  poucas  vezes 
ha  reprehender. 

—  Até  ns  crianças  sabem  isto. 

—  Onde  entra  beber,  sáe  o  saber. 

—  Se  queres  saber  quanto  vale  um 
cruzado,  busca-o  emprestado. 

—  Ventura  te  dê  Deus,  que  saber 
pouco  te  basta. 

—  Perdo-se  o  velho  por  não  poder,  e 
o  moço  por  nào  saber. 

—  Quem  sabe  dar,  sabe  tomar, 

—  Bem  sabe  o  gato,  cajás  barbas 
lambe. 

—  Bem  sabe  o  demo,  cujo'  fragalho 
rompe. 

—  O  sisudo  não  ata  o  saber  á  estaca. 

—  Não  sabe  o  que  tem. 

■ —  Não  sabe  como  governar,  quem  a 
todos  quer  contentar. 

—  Não  sabe  dizer  palavra. 

—  Não  sabe  da  missa  metade. 

—  O  que  não  sabe  o  que  ha-de  saber, 
é  bruto  entre  os  homens;  o  que  sabe  mais 
do  que  ha  mister,  é  homem  entre  os  bru- 
tos; o  que  sabe  tudo  o  que  pôde  saber,  é 
Deus  entre  os  homens. 

2.)  SABER,  s.  m.  Sciencia,  doutrina,  o 
ter  as  partes  do  sablo.  —  t Nisto  passou  o 
dia;  porque  cada  uma  havia  mister  pêra 
si  outro  dia.  E  tornando  a  despender  na- 


quellas  cousas,  o  mais  que  delle  ficava, 
se  fez  noite,  a  maior  parte  da  qual  gas- 
taram em  louvar  o  saber  e  descripção  de 
Urganda;  impedindo  com  esta  pratica 
tanto  o  somno,  que  já  quasi  manhã  en- 
traram nelle.»  Francisco  de  Moraes,  Pal- 
meirim d'Inglaterra,  cap.  120. 

Arriaga  que  tanger ! 
ho  cego  que  gram  saber 
no3  órgãos  !  e  o  Vaena ! 
Badajoz  !  outros  que  a  penna 
deixa  agora  dcscreucr. 

o.   DE  REZENDE,  MISCELLANEA. 

Vemos-lhc  altos  desejos, 
e  propósitos  fundados, 
03  espiritus  apurados, 
grã  saber,  graça,  despejos 
nos  lugares  despejados. 

IBIDEM. 

—  «Foy  el  Rey  daquy  das  Alcaçouas 
a  Viana:  vindo  de  la  o  mandou  Ruy  de 
Sousa  anisar  ao  caminho  como  hya  a  elle 
hum  Embaixador  de  Castella,  que  se  cha- 
raaua  dom  Alonso  da  Sylua,  pessoa  prin- 
cipal, e  de  muyto  bom  saber,  irmão  do 
Conde  de  Cifontes,  e  vinha  bem  acompa- 
nhado.» Garcia  de  Rezende,  Chronica  de 
D.  João  II,  cap.  205. 

—  Homem  de  muito  saber ;  homem  bas- 
tante erudito. 

—  A  paixão  do  saber ;  a  paixão  do 
estudo,  a  paixão  pelas  letras. 

Abre,  piza,  franquêa  ignota  estrada 
Co'a  paixão  do  Saber,  e  os  homens  leva 
Da  A'crdade  iramortal  ao  Templo  augusto. 
Que  escondido  não  hc,  qual  foi  primeiro. 

J.    A.   DE  MACEDO,  VIAOEM    EXTÁTICA,  Caut.    1. 

—  O  moderno  saber. 


Abre  a  Pliuio  seu  seio  a  Natureza, 

E  seus  thesouros  llie  descobre  todos ; 

Do  moderno  Saber  he  este  a  fonte ; 

E  o  gérmen  nos  deixou  no  aurco  volume, 

De  quanto  soube  nas  idades  todas 

A  humana  experiência,  humano  estudo. 

Da  Natureza  o  Quadro  contemplando. 

J.   A.    DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,    Cant.   2. 

• —  Abrir  uma  nova  estrada  ao  saber. 

Deste  globo  da  Terra,  c  quasi  ignoto 
Nos  espaços  sem  fim,  e  onde  espalhados 
Por  mão  d'Omnipotente  os  Mundo  girão; 
E  se  o  Toscano  Ceo  d'Astro3  he  cheio, 
Que  ao  throno  Medícêo  dócil  formarão, 
O  teu  engenho  inaccessivel  abre 
Nova  estrada  ao  Saber. 

J.  A.   DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Cant.   3. 

—  Figuradamente :    Andar  cego  no  sa- 
ber. 

Olhae  aquelle  argumento : 
Além  de  bella,  avisada! 
Oh  nem  tanto,  nem  tão  pouco ! 
Vedo  vós  o  que  fallais. 
Cego  no  saber  andais. 

CAM.,  SELEnCO. 


—  SvN. :  Saber,  génio.  Vid.  este  ulti- 
mo vocábulo. 

SABERETES,  s.  m.  plur.  Termo  popu- 
lar. Erudições,  noticias,  fallando-se  á  má 
parte. 

—  Astúcia. 

SABEZA,  s.  /.  Termo  antiquado.  Sa- 
bedoria, saber. 

SABIÁ,  s.  /.  Termo  de  zoologia.  Pás- 
saro canoro  do  Brazil,  que  arremeda  o 
rouxinol. 

SABIAMENTE,  adv.  (De  sábio,  com  o 
suíSxo  «mente»).  De  um  modo  sábio. 

—  Com  sabedoria. 

—  Com  prudência. 

SABICHÃO,  ONA,  adj.  Termo  popular. 
Muito  sábio,  tomado  por  zombaria. 

De  návas  Philamintas  sabichònas  ? 

De  Bonzos?  de  Rançosos,  que  hoje  arrotào 

Pôr  banca  de  pui-istas  e  censores  V 

F.   M.    DO  NASCIMENTO,   OBRAS,  tOm.    1,  pag.   96. 


—  Substantivamente : 
Uma  sabichona. 


Um  sabichão. — 


A  minha  Ama...  e  mais  é  uma  Zompeira, 
N 'outro  tanto  nào  gasta  nove  mezes  : 
E  com  tudo,  naõ  passa,  entre  as  peritas, 
Por  grande  sabichona  neste  officio. 

DINIZ  DA  CKUZ,  HYSSOPE,  Caut.   5. 

SABICHOSO,  A,  adj.  Sábio  de  mau  sa- 
ber, para  censurar  mal. 

SABIDAMENTE,  adv.  (De  sabido,  com 
o  suffixo  «mente»).  Conhecidamente,  sa- 
biamente. 

SABIDO,  paii.  pass.  de  Saber.  Que  se 
sabe.  —  «Armisia,  que  também  era  de 
condição  piedosa  nas  cousas  onde  não  ha- 
via ódio,  mandou  uma  sua  donzella,  que 
fosse  a  dizer  ao  do  Touro,  que  sabido  o 
nome  do  outro  o  deixasse.  A  donzella 
chegando  a  elles,  pondo  os  olhos  no  ven- 
cido, conheceu  que  era  Adraspe  filho  do 
duque  de  Sisania,  que  matara  o  príncipe 
Doriel  irmão  de  Armisia.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  132. 
—  «Então  mandando  Pompides  e  Platir, 
que  fossem  saber  a  causa,  e  sabido  por 
elles  o  desapparecimento  de  Daliarte  e 
morte  de  Tarnaes;  aqui  acabaram  d'as- 
sentar  que  a  fortuna  de  cada  um  tinha 
já  dado  fim  a  suas  obras,  e  o  limite  de 
seus  dias  estava  no  derradeiro  termo, 
que  bem  viam  que  tamanha  mudança, 
feita  por  Daliarte,  nascia  de  ter  a  espe- 
rança perdida,  e  já  desconfiado  da  victo- 
ria,  queria  pôr  em  salvo  aquellas  cousas, 
que,  entregues  aos  imigos,  lhe  dariam 
maior  contentamento  e  aos  senhores  del- 
ias maior  pena.»  Ibidem,  cap.  169.  — 
«Porque  como  da  índia  não  tinhão  mães 
noua  que  a  que  trouxera  dom  Vasco  da 
Gamma  e  a  nauegação  daquellas  partes 
não  era  sabida:  ante  de  toparem  esta 
carta  hião  ás  escuras  e  mui  confusos  em 
sua  viagem.»  Barros,  Década  1,  liv.  5, 
cap.   10.  —  «Porque  ainda   que   tinham 


364 


8AB1 


SABI 


.SABI 


•  sabido  lia  vitoria  quo  d'anto  houveram, 
com  .sua  morte  tudo  es(|uocoo;  e  mais 
vendo  quo  o  (jciitio  da  terra  atassalhado 
grande  número  dello  entrava  elamando 
quo  a  Ilha  era  entrada  de  muito.s  Mou- 
ros.» Ibidem,  liv.  (J,  cap.  8.  —  «O  pri- 
•meiro  danno  que  Affoiwo  d'Albo(jucrquo 
miUdou  fazer,  foi  enuiar  AíTon.so  Lopcz 
■tl'Acosla,  António  do  (^ainpo  c  lolo  ihi 
Noua  quo  eõ  sua  fçento  fossem  cm  os  ba- 
téis a  hum  arrabalde  da  cidade,  o  que 
trabalhassem  por  auer  alpuns  ilouros  à 
mão,  e  isto  atim  de  atormentar  os  da  ci- 
dade :  por  a  este  tempo  U-r  jà  sabido  por 
lium  Mouro.»  Idem,  Década  2,  liv.  2, 
.cap.  5.  —  «i'õro  da  Nhaya  acabando  de 
assentar  as  cousas  da  fortaleza  som  ter 
sabido  esta  perdigão  de  seu  tilho,  come- 
çou de  entender  em  as  do  resgato  do  ou- 
ro: o  qual  corria  inui  pouco  com  as  mer- 
cadorias ([ue  se  Icuaraò  deste  Ueyuo. » 
Idem,  Década  1,  liv.  10,  cap.  ;>.  —  «Lo- 
go ao  outro  dia  foy  ei  Key  avisado  por 
xartas  do  Broquem,  aasi  da  nossa  prisaõ, 
como  do  que  pelas  presuntas  tinha  sabi- 
do de  nós,  e  lhe  apontou  algumas  cousas 
em  nosso  favor,  as  quais  o  moverão  a 
não  mãdar  logo  fazer  justiça  de  nós, 
como  dezião  que  tinha  determinado  por 
alguns  mexericos  que  os  Chins  de  nós 
lhe  tinhão  feito.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  140.  —  «O  que  sabi- 
do pelo  Ohaubainhaa  Rey  de  Martavão, 
03  mandou  logo  buscar  com  promessas  de 
grandes  partidos  para  o  ajudarem  couti-a 
O  Key  do  Bramaa  que  naquello  tempo  se 
fazia  prestes  na  cidade  de  Pegú  para  o 
vir  cerciír  com  setecentos  mil  homens.» 
Ibidem,  cap.  14(3. 


Ja  tinha  bem  tahido  qufi  a  profana 
Gente,  quo  tem  na  armada  seu  assento, 
Vira  a  pequena  frota  Lusitana, 
E  tem  do  ser  Christàa  conhecimento, 
Porque  a  luz  da  nocturna  alma  Diana, 
Que  untão  ja  iiia  cm  grande  crescimento. 
Não  somente  os  cátures  lhe  mostrara. 
Mas  serem  Portuguczea  lhe  declara. 

FBANCISCO    d'andrADE,    PBIMBIBO     CEBCO    DE    DIU, 

cant.  18,  est.  5. 


—  «Demos  ordem  pêra  a  nossa  parti- 
da; o  quo  sabido  do  pouo  com  huma  li- 
beral vontade,  c  animo  charidoso,  se  of- 
foreceo  porá  quanto  nos  fosse  necessário. 
Em  especial  o  Capitão  Dom  Pedro  Couti- 
nho, que  entam  era,  nos  deu  huma  es- 
mola tão  grande  na  contia,  como  pe- 
quena na  võtade,  e  desejo.»  Fr.  (!as- 
par  do  S.  Bernardino,  Itinerário  da  ín- 
dia, cap.  11.  —  fQuem  é  a  pessoa  que 
esse  bilhete  vos  escreveo?  (perguntei  cu 
a  Suzanna).  Nunca  em  tal  me  haveis 
fallado.  —  Senhora,  receiava  que  entrás- 
seis no  meu  dcsasocògo.  Por  quanto  ti- 
nha sabido  que  já  não  estava  vosso  tilho 
em  Philadolphia;  o  concordara  comigo 
M.  Chcuu  cm  tomar  informações,  que 
como  nSo  surtirão  a,  nosso  desejo,  vo-las 


oncobrimog. »  Francisco  Manoel  do  Nag- 
ciraonto,  Successos  de  madame  de  Sene- 
terre. 

—  Conhecido.  ■ — ■  aK  (juo  sabida  a  car- 
ga que  podia  auer  cm  (Jochiin  pcra  a» 
naos,  80  passasse  logo  a  Coulam  com  as 
outras  naoH,  pcra  as  lã  fazer  carregar,  c 
a»  cartas  que  leuaua  ])cra  o  Hei  da  terra 
Iha.s  desse,  estando  clie  ahi,  c  quo  sobre 
tudo  trabalhasse  por  auer  licença  dei  liei 
pcra  alii  fazer  huma  furtah-za.»  Damião 
do  (!ocs,  Chronica  de  D.  Manoel,  part. 
2,  cap.  1,  — «O  que  sabido  pelos  de  Xia- 
tima  se  ajuntarão  oitocentos  de  cauallo, 
e  estando  Iheabentafuf  no  castello  de 
Mirauel,  com  conto,  e  sescnta  de  caual- 
lo, que  era  a  três  legoas  do  lugar  donde 
estaua  a  cabilda  de  Abida  lhe  dixeram 
que  vinham  os  de  Xiatima  sobrelle.» 
Ibidem,  part.  il,  cap.  32.  —  «Todas  es- 
tas j)rayas  sam  hoje  muy  sabidas  dos 
Portuguezcs,  e  inda  de  muytas  molheres 
Chi'istaãs  peregrinadas,  e  triliiadas,  que 
perdendose  por  seus  peceados,  na  via- 
gem, vam  aqui  ter  em  vida  o  Purgató- 
rio, que  muytas  almas  dos  Predestinados 
tem  na  outra.»  Frei  Gaspar  de  S.  Ber- 
nardino, Itinerário  da  índia,  cap.  7.  — 
«No  mais  que  toca  ao  Parayso  Terreal, 
no  segundo  Liuro  como  lugar  mais  pró- 
prio o  tratarey :  lembrando  aqui  que  es- 
tiue  na  Mesopotâmia,  onde  muytos  cuy- 
dão  que  elle  foy,  a  qual  he  toda  terra 
sabida,  c  trilhada,  sem  nella  auer  rastro, 
vestígio,  ou  nouas  de  tal  Parayso.»  Ibi- 
dem, cap.  22. 

Sc  toda  a  rcziio  galante 
d;l  srt  por  partecipante 
ante  a  muDier,  seu  marido 
que  se  vio  tào  mal  sabido 
que  lhe  ponha  outro  diante ! 

ANTÓNIO  rEESTES,  AUTOS,  pag.  325. 

Sou  contente, 
antes  cu  fique  sem  elle 
que  vossas  {a.\tí\s  sabidas ; 
polo  monos  copia  d'ollo, 
faço  bom  mil  vidas  nello 
SC  em  mim  pôde  haver  mil  vidas. 
IBIDEM,  pag.  441. 

—  Novas  formosuras  não  sabidas  por 
antigos  cantores ;  não  conhecidas  por  el- 
les. 


Ávido  o  livro  abriu,  leu.  Admirado 
De  ver  trajar  alfaias  lu3itnna.s 
As  homoroas  belle/.as,  aos  appuros 
Das  virgilianas  graças,  —  mas  ainda 
Do  originaes,  de  novas  formoííuras 
Por  antigos  cantores  nào  sabidas. 
OARRUTT,  CAMÕES,  cant.  6,  Cap.  6. 

—  Arcanos-  não  sabidos;    segredos   in- 
cógnitos, inexcrutiiveis. 


Mais  larga,  e  mais  segura  a  rstrada  bate  ; 
Nova  luz  dOo  á  Fvsica,  c  sobindo 


De  (^"oo»  cm  Cco«,  fxjioz  d'A»troiiuioia 
Nilo  luijitU»  iucogiiituí  arc:inoj. 

J.    A.    I>K  MACEDO,   VUUKH   EXTAT|r;A,  Ont.   2. 

—  Mundo  nào  sabido  ;  mundo  deuco- 
nhecido. 

Por  buftcar  novo  Mundo,  e  n&o  lalnilo, 
Da  nativa  montanha  «ntào  ne  virão 
(Jortadoj  abut<:r-«<!  o  CUujio,  a  Faia; 
Lá  v&u  iiutf  ondas  c<>ntra.'itar  co'oit  vcntoa. 

J.   A.   DE  MACEDO,  VIAOEM    EXTÁTICA,  CAnt.    1. 

—  Nova»  sabidas  pur  ahjuein ;  novas 
que  chegaram  ao  coníiccimento  d'elle.  — 

<  Sabidas  pelo  Çabaim  daicào  as  novas  da 
tomada  do  (ioa,  fez  loguo  tregoaa  com 
esses  scnhorcã  a  que  andaua  fazendo 
guerra,  c  com  todo  o  exercito  que  tinha, 
o  mais  gente  que  ajuntou  se  vco  a  cidade 
de  Bilgam  que  esta  situada  junta  da  ser- 
ra do  Gato  contra  Goa,  donde  mandou 
hum  seu  capitão  Turco,  per  nome  Pula- 
tecaõ  com  gente  de  pè  e  de  cauallo  p;ira 
lhe  poer  cerco.»  Damião  do  Góes,  Chro- 
nica de  D.   Manoel,   part.   3,   cap.   .'>.  — 

<  A  qual  noua  sabida  também  per  Nano 
fornandez,  mandou  Nuno  da  cunha  com 
duzentas  laiiça.>  a  Aguz  onde  entam  es- 
taua por  capitam  hum  Francisco  men- 
doz  com  cincoenta  besteiros  de  pe  Por- 
tugueses.» Ibidem,  cap.  35. 

—  Homeiíi  sabido ;  homem  astuto,  des- 
tro,   cxperimentad'j,    prudenti-,    sabedor. 

SABIDORIA,  s.  /.  Vid.  Sabedoria,  or- 
thograpliia  preferível,  c  a  mais  usada. 

SABIDOS,  *.  Hl.  plur.  Dizera-se  os  or- 
denados que  o  apresentante  da  igreja  ou 
parochia  paga  aos  parochos,  vigários  ou 
priores. 

—  C*s  lucros,  emolumentos  legitimes, 
e  não  fraudados,  e  levados  occultamente, 
como  a  fraude  costuma  fazer  das  suas  oc- 
cultamente, e  nào  pela  porta  dianteira, 
como  se  diz. 

SABINA,  «.  /.  (Do  latim  sabina).  Ter- 
mo de  botânica.  Arbusto  sempre  verde, 
resinoso,  do  cheiro  forte,  de  sabor  pi- 
cante e  adurente. 

f  SABINIANO,  A,  aJj.  Dizia-se  do«  ju- 
risconsultos romanos,  partidários  das  dou- 
trinas de  Capitou. 

SABINITA,  s.  f.  Termo  do  mineralo- 
gia. Pedra  que  offerece  o  desenho  d'uma 
folha  de  sabina. 

1.)  SABINO,  A,  aJj.  (Do  latim  saòi- 
nus' .  Que  diz  re.'ipcito  aos  sabinos,  anti- 
gos povos  da  Itália. 

—  Substantivamente:  Um  sabino. — 
Uma  sabina. 

2.1  SABINO,  A,  a<lj.  Cavallo  ruço, 
abastardado,  que  tem  três  pêllos,  bran- 
co, vermelho  e  preto. 

SÁBIO,  A,  aJJ.  Que  tem  sabedoria, 
doutrina. 


Que  dlâoreto,  que  pstjís,  r  qn*  eloquente 
No  concurso  da  fáifia  Natorexa  ! 


SABI 

De  teus  versos  a  arraoniea  bcUcza 
Me  quer  fazer  a  idade  florecente. 

ABBADE  DE    JAZESTE,  POESIAS,   tOm.     1,    pag.     59 

(ediç.  1787). 

Agora  sim,  agora,  á  sábio  amigo, 
He  tempo  do  abraijar  os  desouganos, 
Que  o  Tempo  a  todos  dd:  mas  naõ  comigo. 


—  «E  O  que  mais  he  para  admirar, 
muitas  vezes,  os  que  se  prezaõ  de  mais 
sábios,  e  discretos,  esses  saõ,  os  que  mais 
crassamente  erraõ  o  ponto  da  salvação.» 
Padi-e  Mauoel  Bernardes,  Exercidos  es- 
pirituaes,  pag.  176. —  «Observou  muito 
bem  hum  Escritor  moderno,  e  disse  que 
os  homens  sábios  fasem  todas  as  diligen- 
cias por  diminuirem  os  dissabores  da  vi- 
da, ao  mesmo  tempo  que  os  loucos  se 
empregào  somente  em  augmenta-los.i»  Ca- 
valleiro  de  Oliveira,  Cartas,  liv.  3,  n.° 
11.  —  «Xaõ  te  desvaneças  porem,  Ho- 
mem Medico,  com  a  dignidade,  se  a  ca- 
zo  naõ  enches  a  meditla  do  nome  com  a 
excellencla  :  Para  hum  Homem  ser  ver- 
dadeiro Medico,  lia  de  ser  completamen- 
te sábio.  Para  registar  o  volume  do  sol, 
ha  de  ser  Águia,  s  Braz  Luiz  d'Abreu, 
Portugal  medico,  pag.  45,  §  162. 


Ditas  estas  palavras,  se  assentarão, 

E  o  farfante  Deaõ  assim  começa : 

«Por  certo,  que  naõ  pôde  duvidar-se 

Do  augmento,  Senhor,  que  em  nossos  dias 

Tem  tido  Portugal,  por  alto  influxo 

Do  Grande, Forte,  e  nunea  assaz  Louvado 

Rei,  primeiro  no  nomo,  e  nas  virtudes, 

E  do  sábio  Ministro,  que  lhe  assiste. 

A.    D.    DA    CKCZ,   HTSSOPE,    Caut.    5. 

Eu,  sendo  mo^a,  instituída 
Fui  nas  artes  de  Madre  Celestina, 
Pela  velha  Cauidia :  muito  trato 
Tive  entaõ  com  o  sahio  Abracadabro, 
Famoso  Encantador,  que  ainda  vive, 
Naõ  louge  deste  sitio,  n'uma  gruta. 
IBIDEM,  cant.  8. 


Beija  apenas  com  lagrimas  Delille, 
Envoltas  dhera,  e  pó,  lascadas  pedras. 
Do  Templo  de  Jlinerva  inúteis  restos. 
Mas  vives,  vivirás,  Meónio  Vate; 
Sabia  Athenas  he  pó,  Corintho  ho  nada, 
Eterno  vai  teu  Canto,  e  nos  teus  versos 
Vais  disputando  a  duração  coo  Mundo. 

J.    A.   DE  MACEDO,  MEDIT.AçIo,  Cant.    1. 

Tanto  nos  Animaos  o  instincto  pôde  ! 
S'cntr'elle3  dura  guerra  o  facho  accende, 
Da  Natureza  mestra  he  sábio  impulso, 
Este  apparentc  mal  mil  bens  occuita. 

IDEM,  A  NATUREZA,  Caut.    3. 


Do  mar  os  tira  a  sabia  Natureza, 
Ella  03  conduz  ás  húmidas  áreas : 
Formou  seu  corpo  de  diversos  órgãos 
Qu'em  dous  diversos  fluidos  existáo. 


—  Estylo  sábio ;  estylo  usado  por  mão 
sabia  e  destra. 


SABI 

De  Millâo,  e  Arinino  alli  se  viào 
Os  Sinodos  auidos  por  não  sanctos 
Onde  muy  justamente  os  estatutos 
E  os  seus  decretos  foráo  aprouados. 
Vio,  o  que  em  Nicomedia  leo  a  sacra 
Eseriptura,  e  despois  se  oppos  contra  ella, 
Aquelie  ao  qual  com  docto,  sábio  estillo : 
Cirillo  coufundio  todos  seus  erros. 

COBIE   BKAL,  NAUrEAGIO  DE  SEPÚLVEDA,  Cant.    11. 

—  Que  conhece  perfeitamente  o  bom, 
e  o  mau,  e  quer  o  bem,  e  o  segue,  e  evi- 
ta o  mal. 

—  Que  conhece  o  caminho  da  verda- 
de, e  o  segue. 

—  Que  segue  o  caminho  da  virtude  ; 
homem  sabedor,  prudente.  —  «E  alem 
de  ser  razào  seguir  o  mandamento  de 
um  prini-ipe  tào  sábio  e  prudente  em  to- 
das as  suas  cousas  e  tào  pouco  costuma- 
do a  errar  em  nenhuma,  a  nós  todos  jun- 
tamente nos  parecia  grào  sem  rezào  que, 
o  que  vós  com  gran  trabalho  ganhastes, 
possuísse  outro  com  vida  descansada,  lem- 
brando-nos  também  que  nisto  cobramos 
rei  e  senhor  digno  de  outros  maiores  es- 
tados.» Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
d'Inglaterra,  cap.  101,  —  «Deyxay  aos 
Babylouios  os  cálculos  em  que  se  lison- 
geyào  de  o  conhecer.  íSede  mais  sábio, 
diverti-vos,  a  vida  he  curta,  nào  leveis 
muito  longe  as  vossas  esperanças.»  Ca- 
valleiro  d'01iveira,  Cartas,  liv.  1,  nu- 
mero 44. 

—  Utihas  sabias.  —  «Outras  unhas  an- 
daõ  entre  nós  taõ  sabias,  que  despontaõ 
de  agudas :  e  podemos  dizer  delias,  o 
que  disse  Festo  a  S.  Paulo :  Multai  te  lit- 
terrce  ad  insaniam  convertunt.  Actor.  26. 
Que  os  fazem  doudos  as  muitas  letras 
que  alrotaõ.í  Arte  de  furtar,  cap.  31, 

—  Substantivamente  :  Um  sábio.  — 
«E  se  isto  nào  basta,  logo  achaò  hum 
sábio  da  sua  sciencia,  que  se  examina 
por  elles,  mudando  nome  por  menor  pre- 
ço, 6  lhes  alcança  carta  de  examinação, 
com  que  fica  graduada  a  ignorância  do 
candidato,  e  ello  dado  por  mestre  peri- 
tissimo.»  Arte  de  furtar,  cap.  32. 

Aquelles  tabios  naturaes  nos  davão. 
Por  hum  sõ  alvião,  quantos  esconde 
Metaes  o  Potosi.  Mas  destes  males 
Maiores  bens  a  Providencia  tira  ; 
Hum  só  laço  preadeo  dois  hemisférios, 
Ficão  communs  as  producções  dos  Mundos. 

J.  A.  DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  caut.  1. 

Fecha-se  aos  olhos  seus  da  Natureza 
Luminoso  volume,  onde  se  embebe. 
Onde  estuda,  onde  lè  Habio  profundo, 
Onde  encontra  a  verdade  intacta,  c  pura 
Que  lhe  antecipa  a  possessão  de  Elysio, 
Onde  descobre  Artiíice  Supremo, 
E  aprende  a  conhecêllo,  aprende  a  amaUo. 
IBIDEM,  cant.  3. 

Eis  novos  sábios,  nova  Academia  ; 
E  magestoso  Sócrates  preside  : 
Ponde  dos  lábios  seus  Platão  facundo, 
E  mudos  Alcibiadas,  Theofrasto, 


SABO  365 

Celeste  voz  da  Sapiência  escutào, 
E  que  os  Numes  aos  homens  aproxima. 
Tenta  auoioso  buscar  do  Todo  a  origem. 
IBIDEM,  cant.  4. 

Nobre  emprego  este  foi  de  antigos  Sábios, 
As  fontes  ir  buscar  das  cousas  todas. 
Amor  da  Sapiência,  amor  d 'estudo 
Entre  os  mortaes  se  diz  Filosofia. 

IDEM,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Cant.    1. 

Quantos  Sábios  a  penna  empunhào,  quantos 
Escriptos  contra  ti  tem  visto  o  Mundo ! 
Quando  attento  medito  as  obras  suas, 
Nào  vejo  impugnações,  só  vejo  insultos. 
IBIDEM,  cant.  2. 


Tranquillo  o  Sábio,  indifforcnte,  e  gi-ande, 
Só  lhe  pede,  que  ao  Sol  nào  vtde  as  luzes, 
Nem  lhe  tolha  o  calor  ;  que  ao  frio,  inerte 
Corpo  negado  tem  frugalidade. 


Na  cultura  do  Campo  o  Sábio  he  grande ; 
Nem  pôde  o  estudo  ter  mais  digno  objecto, 
E  nunca  outro  Mister,  nunca  outras  Artes 
Com  mais  affan  buscasse  engenho  humano  ! 
Celeste  Agricultura,  oh !  digno  emprego 
Té  do  mortal  primeiro  inda  innoceute ! 


Sahio  traçou  Meridiaua  Linha, 
E  por  ella  nos  mostra  o  variante 
Moto  veloz  da  Terra  ao  Sol  em  torno. 
Dos  Ceos  no  immenso,  e  luminoso  Livro, 
Quasi  de  todo  aberto,  os  homens  lêrào. 
IBIDEM,  cant.  4. 

—  Syn.  :  Sábio,  erudito.  Vid.  este  ul- 
timo termo. 

SABIS,  s.  M.  plur.  Christãos  da  Baby- 
lonia  entregues  ao  sabeisnio. 

SABISMO,  s.  m.  Religião  em  que  se 
adoram  como  deuses  os  corpos  celestes, 
e  particularmente  o  sol  e  a  lua.  Esta  re- 
ligião é  muito  antiga ;  espalhou-se  mui- 
to tempo  antes  do  chi-istianismo,  não 
só  na  Arábia  e  no  Egypto,  mas  também 
em  toda  a  Ásia  superior,  e  mormente 
entre  os  chaldeus  e  os  persas.  Uma  reli- 
gião análoga  reinara  em  toda  a  America 
meridional  antes  da  conquista  dos  hespa- 
nhoes. 

SABLE,  í.  wi.  Termo  de  brazão.  A  cor 
verde. 

SABOARIA,  s.  f.  Fabrica  de  fazer  sa- 
bão. 

—  A  renda  do  sabão. 

SABOEIRA,  s.  f.  Termo  de  botânica. 
Yid.  Saponaria. 

SABOEIRO,  A,  í.  Pessoa  que  faz  sa- 
bão. 

—  Pessoa  que  vende  sabão. 
SABOGA,  í.  /.  Termo  de  ichthyologia. 

Peixe  conhecido  pelo  nome  de  sável. 

SABOIANO,  A,  adj.  e  s.  Natural  de  Sa- 
bóia, que  pertence  a  este  estado. 

SABOLETA,  s.  f.  Diminutivo  de  Cebo- 
la. Vid.  Ceboleta,  orthographia  preleri- 
vel. 

—  Reprehensão,  arguição,  vaia. 


366 


SABO 


SABO 


SABU 


SABONETE,  s.  «i.  Rolo,  pedaço  do  rni- 
bilii)  di.spo.sti)  coiu  luai.s  artificio  para  di- 
verHaa  appllcaiifòcB.  —  Fazer  a  barba  com 
sabonete. 

—  Torino  popular,  lloprcliens.^o  pn- 
blica. 

—  Irrisílio  acouipaiiliaJa  de  clamor ; 
apupada. 

SABOR,  -1.  «».  (Do  latim  sapor).  A  sen- 
saçilo  produzida  no  orgào  do  gosto  pelos 
corpos  sapidos. 

A  Natureza  cm  primitivo  estado 

De  9eu!4  fructos,  sou»  dons,  c  Sfus  thesouros, 

Pompa  frupiil  fazia,  (Mitào  «ingelo 

Era  o  sahor,  que  a8  Igiiariaíi  tiuhão. 

].   A.   D»  MACIDO,  MKDITAÇÃO,  Cant.    1. 

—  O  prazer  quo  produz  a  regularida- 
de perfeita,  boa  symetria. —  «Outro  sy 
nom  devo  seer  muito  cscas.so,  porque  ha- 
jam sabor  o.s  homecns  de  ficarem  coui 
elle  do  melhor  mente;  ca  assy  seria  mal 
seer  muito  gastador  das  cousas,  que  fo,s- 
sem  mester  pêra  a  guarda  do  Castello, 
outro  sy  devo  seer  discreto  pêra  saber 
partir  o  que  tever  com  os  homens,  quan- 
do lhe  mester  fosse,»  Ord.  Affons.,  liv. 
1,  tit.  G2,  §  2. 

Com  cUe  farei, 
qno  depois  quo  o  calcei 
saiba  quo  lhe  acho  tabor, 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pHg.  341. 

—  Figuradamente:  Qualidade  do  cor- 
po, quo  i)rovoca  ou  produz  sensarão  agra- 
dável de  qualquer  órgão,  ou  mesmo  do 
quo  só  agrada  ao  entendimento. 

—  A  seu  sabor;  a  seu  prazer,  a  seu 
entender,  a  seu  gosto. 

Em  ossudos  Leões,  manchados  Tigres, 
Em  ardidos  Gim'to3,  negros  Ursos, 
Ou  cm  Toupoií-as  vis,  vis  Musaranlios, 
A  sou  sabor,  os  liomcus  couvortiaõ. 
A.  miiiz  i>A  cBUz,  iiYssoPE,  cant.  6, 

Ah  I  De  Ariosto  noa  extasia  divinos 
Calculador  povisado  em  viio  se  ajusta ! 
Avcsado  a  correr  no  immonso  Império 
Da  Fantasia  pri^diga  de  Mundos, 
Que  a  seu  sabor  do  Nada  ou  cria,  ou  chama. 

t.  A.  DB  UACEDO,  VIAGKM  EXTÁTICA,  Cant.  4. 

—  Fatiar  em  sabor ;  gracejando. 

—  Foliar  com  sabor ;  fallar  com  dis- 
crição. 

—  Correm  as  cousas  a  nosso  sabor; 
correm  a  nosso  gosto,  segundo  os  nossos 
desejos. 

—  Fallar  a  sabor  da  vontade  alheia; 
como  a  ella  apraz,  conforme  ao  que  de- 
Beja. 

—  Graça,  jocosidade,  prazer. 

—  Conversa,  jogo  de  sabor  ;  o  que  re- 
creia e  agrada. 

—  Viver  a  sabor ;  seguir  cm  tudo  os 
seus  appetitas. 


—  Adaoios  e  PKOVKRnios: 

—  l'anclla  que  muito  ferve,  o  sabor 
perde. 

—  O  pDio  pela  cór,  o  o  vinho  polo  sa- 
bor. 

—  ■  Su  o  viUão  soubesse  o  sabor  da  gal- 
linha  cm  janeiro,  nenhuma  deixaria  no 
poleiro. 

—  Um  sabor  tem  cada  caça,  mas  o 
porco  cento  alcança. 

—  Quem  um  sabor  quer,  outro  ha  de 
perder. 

—  Anda  a  teu  amo  a  sabor,  8C  queres 
ser  bom  servidor. 

—  Quão  grande  o  peixe,  tão  grande  o 
sabor. 

—  Dos  cheiros  o  pXo,  do  sabor  o  sal. 

—  Syn.  :  Sabor,  gosto.  Vid.  este  ulti- 
mo termo. 

SABOREADO,  part.  pass.  de  Saborear. 
Que  tomou  o  sabor  do  alguma  cousa,  e 
gostou  d'clla. 

—  Que  vive  a  gosto,  e  a  sabor,  rega- 
lado. Vid.  Treinado. 

SABOREAR,  v.  a.  Dar  sabor  aos  ali- 
mentos. 

—  Figuradamente :  Temperar  o  gosto 
desabrido.  —  «Certo:  cada  soldado  que 
vês,  te  arranca  um  suspiro,  e  já  saboreio 
o  gosto  de  que  to  ouvirei,  quando  volta-  1 
res,  que  tem  dias  de  vago  o  teu  juizo,  e 
que  toda  a  jornada  te  vagueou.  Seguro 
e.stou  eu  que  ninguém  te  boquejou  em 
mim;  em  mim  que  não  tenho  esse  defei- 
to de  soljeja  razão;  antes  desarrazoo  em 
modo  tal,  quo  se  espantão  quantos  me 
escutão. »  Francisco  Jlanoel  do  Nasci- 
mento, Successos  de  madame  de  Sene- 
terre. 

—  Figuradamente  :  Fazer  boa  bocca, 
o  produzir  o  prazer  do  paladar, 

—  Saborear-se,  v.  rejt.  Gostar  delei- 
tando-se. 

—  Soborear-se  d'alguma  cousa;  habi- 
tuar-se  ao  uso  d'ella  com  deleite  e  gosto, 
de  maneira  quo  a  ])rivação  depois  venha 
a  ser  grave  e  molesta,  —  «E  a  graça  de 
tantas  desgraças  he,  que  os  authores  des- 
tas emprezas,  depois  de  roubarem  cora 
ellas  a  ElRey,  aos  soldados,  e  a  todo  o 
Reyno,  porque  a  todo  abrangem  tantas 
perdas,  iieaõ-se  saboreando  da  destreza, 
com  que  fizeraij  seu  officio.»  Arte  de  fur- 
tar, cap.  12. 

SABORIDO,  A,  adj.  Que  tem  sabor,  to- 
mado do  ordinário  á  má  parte. 

—  Figuradamente :  Agradável. 
SABOROSAMENTE,  adv.  (De  saboroso, 

com  o  suffixo  «mente»).  De  um  modo  sa- 
boroso. 

• —  Com  sabor,  com  gosto. 

SABOROSÍSSIMO,  A,  adj.  suj)erl.  de 
Saboroso.  Mui  saboroso. 

SABOROSO,  A,  adj.  Que  provoca  bom 
sabor,  —  Fructos  saborosos. 


Se  foge  dos  Jardins  o  esmalte,  o  brilho. 
As  abundautes,  laborotas  frutas, 


Com  suave  fragancii,  c  cór  mimoM, 
Da  fugitiva  Flora  os  doas  nos  Mpprctn. 
J.  A.  i>K  HAcp.uo,  A  aATiiiczA,  cant.  1. 

—  Pratica$  saborosas ;  razões  dcsabrí- 


'  Figuradamente :   Discreto,   agradA- 


—  Loc. :  Ir-se,  ou  sair-se  saboroso  d« 
algum  atrevimento,  perigo,  commettimenío 
de  mal;  illeso,  pem  outro  tal  retorno. 

SABORRA,  «.  /.  Talvez  areia  grosaa 
misturada  com  pedras,  Vid,  Burgão. 

SABRA,  s.  f.  Casta  de  uva,  conbecidA 
pelo  nome  de  liòua. 

SABRE,  ».  m.  (Do  franccz  sabre).  Ter- 
çado. 

SABROSO,  A,  wlj.  Vid.  Saboroso,  ter- 
mo mais  cm  u.so. 

SABUDO,  j>art.  pass.  ant.  de  Saber. 
Sabido.  —  «Mandamos,  que  da  feitura 
desta  nossa  Carta  em  diente  todolos  de- 
vedores, que  forem  obrigados  a  pagar 
ouro  ou  prata  de  foros,  ou  prazos,  que 
tenham  feitos  de  herdades,  casas,  possis- 
soões,  assy  em  vida  de  pessoas,  como  per 
annos  sabudos,  ou  infatiota,  ou  sejam 
obrigados  per  casamentos,  ou  per  ven- 
das, ou  por  contrautos,  ou  casi  contrau- 
t03  feitos  ataa  ora.»   Ord.  Affons.,  liv.  4, 

tit.  2,  §  n. 

—  Pão  sabudo,  e  malação;  o  mesmo; 
isto  c,  um,  dous  ou  mais  moios,  e  nSo  o 
meio,  o  terço,  o  quarto  dos  fructos  da 
parceria,  e  do  que  a  terra  der ;  é  quantia 
certa,  dè  a  terra  muito  ou  pouco,  e  ma- 
ta o  rendeiro  nos  maus  annos;  a  ração  é 
a  parte  dos  fructos  que  a  terra  der,  e  se 
partem  em  raqào,  ou  á  proporção  dos 
ajustes  ontre  os  parceiros,  o  dono  e  o 
rendeiro. 

—  Pão  sabudo ;  a  medida  de  p.ío  que 
se  paga  de  renda,  por  exemplo  um  ou 
mais  moios.  Vid.  Ração. 

1.)  SABUGAL,  s.  m.  Sitio  onde  ha  sa- 
bugueiros em  lameda,  ou  muitos. 

2. 1  SABUGAL,  adj.  f.  —  Uva  sabugal ; 
outrora  elianiada  uva  de  cão. 

l.)  SABUGO,  s.  m.  (Do  latim  sambu- 
cus).  (>  sabugueiro.  —  Flores  de  sabugo. 

2.1  SABUGO,  s.  m.  A  medulla  do  cor- 
no cio  boi. 

—  Sabugo  do  viilho;  a  parte  onde  o 
grão  está  embebido  nos  alveoloe  da  es- 
piga. 

—  Sabugo  do  cabo  das  bestas ;  a  parte 
da  cauda  da  qual  procede  a  colia,  e  on- 
de est.-io  as  sedas. 

SABUGUEIRO,  s.  n.  (De  sabugo,  com 
o  sutiixo  « eiró »'i.  Termo  de  botânica.  Sa- 
bugo, arvore.  —  Chá  d£  sabugueiro. 

SABUJO,  s.  ni.  Cão  de  correr  monte- 
ria,  c  veação,  como  porcos,  veados,  cor- 
ças, etc. 

—  Ad.^gio  e  provérbio: 

—  Ainda  que  teu  sabujo  é  manso,  nSo 
o  mordas  nos  beiços. 

SABULOSO,  A,  adj.  (Do  latim  sabulo- 


SACA 


SACA 


SACA 


367 


sus).  Que  tem  areia,  ou  está  misturado 
com  ella.  —  Urina  sabulosa. 

SABURRA,  s.  /.  (Uo  latim  saburra). 
Termo  de  medicina.  Sedimento,  ou  pé 
que  se  depõe  dos  liumores,  que  se  pega 
á  lingua  suja,  por  vicio  do  estômago,  etc. 

SABURRÁR,  V.  a.  (Do  latim  sabur- 
ra). Termo  de  marinha.  Lastrar  o  na- 
vio, íazer-llie  lastro  para  lhe  fazer  equi- 
librio. 

SABURRENTO,  A,  aJj.  Termo  de  me- 
dicina. Cheio  de  saburra.  —  Língua  sa- 
burrenta. 

SABURROSO,  A,  adj.  Vid.  Saburrento, 
termo  mais  em  uso. 

1.)  SACA,  s.  /.  Extracção,  exportação. 
—  Levar  uma  saca  de  mercadorias  para 
outra  parte. 

—  Dar  saca;  dar  licença  para  tirar 
alguma  cousa  para  fora  da  terra,  ou  lu- 
gar. —  «Éramos  requeridos  dos  nossos 
naturaes,  e  d 'outros  estrangeiros,  que  lhe 
ouvessemos  de  dar  saca  de  pào,  o  de 
gados  para  fora  do  nosso  Reino.»  Eluc, 
de  Viterbo. 

—  Termo  de  marinha.  A  acção  da  on- 
da, avançando  sobre  a  praia ;  também  se 
lhe  dá  o  nome  de  resaca. 

—  Figuradamente  :  As  mentiras  tem 
muita  saca. 

—  Alcaides  das  sacas;  espécie  de  dua- 
neiros,  que  vigiam  sobre  a  exportação 
defeza  nas  províncias. 

—  Alvarás  de  saca  ;  licença  para  ex- 
portar effeitos,  dada  a  estrangeiros,  e 
proporcionados  ao  valor  do  que  impor- 
tassem, e  dizimados  nas  alfandegas  e  ar- 
mazéns. 

— Vid.  Sacco. 

2.)  SACA,  s.  /.  Sacco  grande.  Vid. 
Saco. 

SACABALA,  s.  f.  Instrumento  para  ti- 
rar a  bala  da  espingarda,  Vid.  Sacapel- 
louro. 

SACABOCADO,  ou  SACABOCCADO,  s. 
m.  Vasador,  instrumento  de  ferro  arma- 
do de  aço  e  lavrado  de  maneira  que,  ap- 
plicado  ao  couro,  sola  ou  panno,  faz  bu- 
racos de  vários  feitios  e  lavores. 

—  Adj.  m.  —  Panno  sacabocado;  pan- 
no picado  ou  golpeado,  por  adorno,  com 
vasadores  e  outros  ferros  de  recortar. 

SACABUCHA,  s.  f.  Vid.  Sacatrapo,  e 
Bucha,  e  Sacabuxa. 

SACABUXA,  s.  /.  Espécie  de  trombeta, 
dividida  pelo  centro,  quando  a  tangem; 
ha  uma  peça  que  sobe  e  desce  por  ella 
para  se  fazer  a  differença  de  vozes  que 
a  musica  pede. 


Estando  todos  ja  tempo  esperando 
Mostrando  os  corações  viuo  aluoroço 
Supitameute  8oào  mil  diuersos 
Instrumentos  que  o  campo  e  mõtc  atroâo. 
Trombetas,  sw:abit.x(ijí,  atabales, 
Bátegas  sonorosas,  c  as  siluestres 
Rudas  gaitas,  tocadas  jvntamente 
Formão  som,  que  os  cabcllos  arrepia. 

COBIE  BEAL,  KAUF8AQI0  DE  8EPUI,VEDA,  Cant.  6. 


—  «Ha  outras  casas  onde  se  daõ  mu- 
sicas com  todas  as  arpas  e  violas  darco 
descantadas  com  doçaynas,  frautas,  or- 
les, sacabuxas,  e  outras  muytas  difleren- 
ças  de  estromentos  de  musica  que  naõ 
ha  entre  nós.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  106. 

—  Teimo  de  artilheria.  Sacatrapo. 

1.)  SACADA,  s.  /.  Acção  de  levar  qual- 
quer mercancia,  ou  género  de  uma  para 
outra  parte. 

—  Imposto,  tributo,  talha. 

—  Certo  direito,  que  pagavam  os  que 
tiravam  para  fora  do  paiz  quaesquer  mer- 
cadorias ou  géneros.  Em  algumas  partes 
era  a  obrigação  de  metterem  uma  carga 
para  poder  tirar  outra. 

—  Districto,  jurisdicção  do  alcaide  das 
sacas. 

2.)  SACADA,  s.  f.  Termo  de  construc- 
ção.  A  obra  resaltada  que  o  navio  tem 
nas  suas  obras  mortas,  tanto  á  ré  como 
avante,  seguindo  o  sentido  contrai-io  ao 
amassamento;  a  sacada  é  inteiramente 
arbitraria,  e  tem  por  fim  ampliar  as  ac- 
commodações  da  popa,  ou  avante  para  au- 
gmentar  a  largura  do  castello,  e  apoiar 
os  paus  dos  turcos. 

—  Metter  garfos  na  sacada;  na  viuha- 
teria,  é  cortar  a  vide,  como  quem  dá  o 
primeiro  talho  á  penna,  que  vai  aparar; 
e  feito  o  mesmo  ao  garfo  que  se  ha  de 
enxertar,  unil-os,   e  atal-os. 

—  A  sacada  do  telhado;  a  aba  d'elle, 
as  telhas  que  correm  fora  da  parede. 

—  Jaiiellas  de  sacada ;  janellas  que  se 
apoiam  sobre  pedra,  ou  madeira  que  nas- 
ce da  parede. 

3.)  SACADA,  s.  /.  (Do  francez  sacade). 
Termo  de  manejo.  Movimento  súbito  com- 
municado  ás  rédeas  pelas  mãos  do  caval- 
leiro  ou  do  conductor. 

—  Abalo  violento  que  se  dá  a  alguém. 

—  Movimento  irregular  e  violento. 

—  Figuradamente  :  Reprehensào  gros- 
seira, correcção  com  grosseria. 

SACADELLA,  *.  /.  Acto  que  faz  o  pes- 
cador, puxão  que  elle  faz,  quando  sente 
que  o  peixe  mordeu  a  isca,  para  que  elle 
se  ferre  no  anzol,  ou  a  siga,  e  devore 
quando  cuida  que  lhe  foge  o  engodo. 

—  Figuradamente :  Dar  uma  sacadella 
a  alguém;  dar-lh'a  de  sorte  que  cada 
vez  lhe  suba  mais  o  preço;  fallando  de 
cousa  que  se  ia  tirando,  fazendo-a  a  pri- 
vação mais  desejada,  e  d'ella  torcedor 
para  algum  fim. 

SACADO,  parf.  pass.  de  Sacar.  Tirado 
para  fira,  extrahido. 

—  Exportado. 

—  S.  m.  Aquelle  a  quem  o  sacador  ou 
passador  do  uma  letra  de  cambio  man- 
da que  pague  o  seu  valor  ao  portador  ou 
ajiresentador  da  letra. 

1.)  SACADOR,  s.  m.  O  que  saca  ou 
passa  ktnis  de  cambio  sobre  outro  que 
se  diz  sacado. 

2.)  SACADOR,    s.    m.    O    cobrador   de 


rendas,  foros  e  quaesquer  contribuições. 
Vid.  Sacada. 

—  Commummente  os  sacadores  tiravam 
as  dividas  do  rei,  os  porteiros  as  do  com- 
mum,  e  geral. 

—  Sacador  d' esmolas;  o  que  as  cobra, 
ou  pede. 

—  Cobrador  com  auctoridade  coactiva 
ou  executiva. 

—  Adjectivamente:  Cão  sacador;  cão 
que  toma  caça  aos  outros  para  que  não  a 
atassalhem,  ou  comam,  e  a  guarda  intei- 
ra para  o  caçador. 

SACADORIA,  s.  f.  Recebedoria. 

SACAFILAÇA,  s.  /.  Termo  de  artilhe- 
ria. Agulha  de  artilheiro,  com  duas  ou 
três  fívrpas. 

SACALADOR,  s.  m.  Vid.  Açacalador, 
ou  Acicaiador. 

SACALÃO,  s.  m.  Termo  popular.  Em- 
puxão para  sacar,  para  tirar. 

SACALINHA,  í.  /.  Vid.  Sancadilha. 

SACAMETAL,  s.  m.  Termo  de  artilhe- 
ria. Viil.  Agulha  de  garavato. 

SACAMOLAS,  s.  m.  O  tirador  de  den- 
tes ;  diz-so  por  abatimento  do  mau  den- 
tista, tirador  de  dentes. 

SACANABO,  s.  m.  Termo  de  marinha. 
Hastea  do  ferro  do  feitio  de  uma  cavi- 
lha, com  gancho  no  extremo,  que  serve 
para  tirar  e  metter  o  nabo  da  bomba. 

SACÃO,  s.  771.  Salto  dado  pelo  cavallo 
para  sacudir  o  cavalleiro ;  corcovo. 

SACAPELLOURO,  s.  m.  Instrumento  de 
tirar  o  pellouro  do  arcabuz. 

—  Modernamente  diz-se  sacatrapo. 
Vid.  Sacabala. 

SACAR,  V.  a.  Tirar  para  fira,  extra- 
hir.  —  «  Se  o  Padre,  ou  Madre,  forom 
presos  per  alguma  di^íáda,  e  o  filho  ba- 
rom  os  nom  quisesse  fiar  por  os  sacar  da 
dita  prisam,  sendo  abonado,  e  abastante 
pêra  os  fiar,  e  livrar  delia,  o  fosse  pêra 
ello  requerido.»  Ord.  Affons.,  liv..4,  tit» 
99,  §  13.  :jTUHADA8 

—  Arrancar  da  espada. 

—  Sacar  uma  letra  sobre  alguém ;  man- 
dar ao  sacado,  e  ordenar-lhe  que  pa- 
gue o  seu  valor  ao  dono  da  letra,  ou  á 
sua  ordem,  ou  ao  apresentador,  e  mos- 
trador d 'ella  no  termo,  e  com  as  condi- 
ções na  letra,  ou  cédula  declaradas. 

—  Exportar.  —  Sacar  mercadorias.  — 
Sacar  moeda. 

—  Termo  de  ourivesaria.  Sacar  de  lus- 
tre; correr  o  buril  por  cima  das  orilhas, 
para  que  a  obra  fique  mais  lustrosa. 

SACA-RABO,  s.  m.  Animal  que  tem  a 
figura  do  furão,  e  pouco  maior;  tem  ore- 
lhas quasi  análogas  ás  do  homem,  e  rabo 
longo. 

1.)  SACARIA,  ou  SACCARIA,  s.  /. 
Quantidade  de  saccos,  grande  porção 
d'elles. 

—  Officio  de  quem  tem  a  seu  cargo  os 
saccos  empregados  em  algum  armazém, 
trezena,  ou  repartição  em  que  são  neces- 
sários. 


368 


SACO 


SACO 


SACE 


■  2.)  SACARIA,  ».  f.  Termo  «iUl(|n.ado. 
EHtnitaKema  do  uin  bom  ^p.ncral,  que 
faz  pòr  cm  armas,  o  B/ihir  a  campo  a  «ua 
gento,  finf^indo  que  o  iniinipo  os  vem 
atacar  nos  arraiaos:  o  do  tirar  o  puxar 
as  tropas  iiara  fiini  dos  r|uarteifl  «c  disso 
sacaria.  <iI'o  uma  sacaria,  «pio  Nuno  Al- 
vares foz  para  provar  os  sous  do  quo  rs- 
for(,'o  ni-am.»  FornJto  Lopos,  Chronica  de 
D.  João  I,  cap.  91. 

3.)  SACARIAS,  s.  f.  j>lur.  Imposições, 
que  do  povo  s(í  arrocailavani  para  a  co- 
roa. El-roi  I).  .Io.mío  I  protiíHtou  rpio  o  sou 
desejo  ora  fazer  a  ciilado  do  Lisboa  fran- 
ca, o  livro  il(!  sacarias.  Vid.  Sacada,  o 
Sacador. 

SACARINO,  A,  aJj.  (Do  latim  saccha- 
runi).  Que  contém  aasucar,  que  tom  os 
caracteres  d'cllc.  —  A  ritjuezu  sacarina 
das  bnlerrabns. 

—  Quo  iliz  respeito  a  assucar. — In- 
dustria sacarina.  —  Apparelho  sacarino. 

—  Acido  sacarino;  nome  antiquado  do 
acido  saccli.arico. 

SACAROIDEO,  A,  adj.  Termo  de  pbar- 
macia.  C^ue  contém  assucar.  —  Extractos 
sacaroideos. 

—  aS'.  ih.  Vid.  Polydeoteos. 
SACAROLEOS,    s.    vi.  plur.  Termo  do 

pharmacia.  Moilicamentos  ])ulverulentos 
resultauto.i  da  mistura  cx.acta  do  assucar 
em  pó  com  outras  substancias  iyuabuento 
pulvoris;v<bis. 

SACAROLHAS,  s.  m.  Instrumento  que 
serve  para  sacar  as  rolhas  da  garrafa;  é 
uma  haste  de  ferro,  ou  de  aço,  cravada 
em  um  cabo  atravessado,  o  terminando 
em  rosca. 

SACAROLICOS,  s.  m.  plur.  Termo  de 
pharmacia.  Freparações  que  tem  por  cx- 
cipiente  o  assucar,  mel,  ou  outra  subs- 
tancia saceharina :  esto  é  o  penero  de  que 
são  espécies  os  sacaroleos,  ou  xaropes,  as 
geleias,  etc. 

SACARUTO,  í.  7J»,  Termo  de  pharma- 
cia. MeJicameuto  que  se  obtém  deitando 
uma  tintura  alcoólica  ou  ethereíi  em  as- 
sucar branco  quebrado  era  pedaços,  des- 
pindo d'alcool  ou  d'ether  a  mistura,  e  rc- 
duzindo-o  a  pó  grosseiro. 

-  SACATRAPO,  í.  7)1.  Termo  do  artilhe- 
ria.  lustrumento  férreo,  que  servo  para 
tirar  a  buxa  da  espingarda;  e  outro 
maior,  o  taco  da  peça,  tem  o  extremo 
cm  fiirma  de  espiral. 

SACCA,  .•!.  /.  Vid.  Saca,  o  Sacco. 

SACCELAÇÃO,  s.  /.  Termo  do  medici- 
na. Acto  de  applicar  sobre  um  membro 
doente,  saquinhos  cheios  do  matérias 
quentes. 

f  SACCHARATO,  s.  m.  Termo  de  chimi- 
ca.  Nomo  dado  a  certas  combinaçSes  que 
o  assucar   faz   com  os  oxydos  nietallicos. 

—  Saccharato  dí  cu/. 

f  SACCHARIDES,  s.  vt.  plur.  Familia 
de  corpos  que  abrange  diversas  espécies 
de  assucar. 

f  SACCHARIFERO,    A,   aJj.   Quo  pro- 


duz ou  d.-i  assucar.  —  I.iijuido  sacchari- 
fero. 

f  SACCHARIFICAÇAO,  ».  f.  Conversilo 
do  uiria  sul).--tiinciii  c-m  assucíir. 

f  SACCHARIFICAR,  v.  a.  Converter 
cm  assucar. 

f  SACCHARIFICAVEL,  adj.  Que  se  podo 
Haccliarilicar. 

f  SACCHARIGENO,  A,  adj.  Díz-bc  do» 
corpos  t.ai;s,  como  a  cellulosa,  a  fécula, 
as  gomnias,  que  d.lo  assucar  livdrataii- 
do-sc. 

f  SACCHARIMETRO,  ».  m.  Instrumen- 
to jiara  .-iprociar  a  ipiantidade  de  assucar 
contiila  n  um  liquido. 

SACCHARINO,  A,  ndj.  Vid.  Sacari- 
no. 

f  SACCHARICO,  A,  adj.  Termo  do  chi- 
mica.  Ariíln  saccharico ;  acido  incrystal- 
lisavel  produzido  pela  reacção  do  acido 
azotico  sobre  o  a-*sucar,  detida  antes  da 
trausforniaçào  d'estc  ultimo  cm  acido 
oxalico.  l)iz-se  também  oxalhydrico,  e 
oxi/sacch(irico. 

'f  SACCHARITO,  «.  m.  Mineral  granu- 
loso  da  .Sibéria,  silicato  triplo  d'alumina, 
do  soda  o  do  cal,  assim  chamado  por  cau- 
sa da  sua  apparencia  granulosa. 

f  SACCHARO-GLYCOSE,  s.  /.  Producto 
da  acção  do-i  aci<los  enérgicos  sobre  o  as- 
sucar de  calina. 

SACCHAROIDEO,  A,  adj.  Vid.  Sacaroi- 
deo. 

f  SACCIFERO,  A,  adj.  (Do  latim  sac- 
cu.t,  o  ferre).  Termo  de  historia  natural. 
Que  tem  um  sacco,  ou  algum  órgão  era 
fi)rma  de  sacco. 

t  SACCIFORME,  adj.  2  gen.  Termo  di- 
dáctico.   Que   tem  a  firma  de  um  sacco. 

SACCO,  s.  m.  Vid.  Saco. 

SACCOLA,  *.  /.  iSaceo  de  dous  alforges, 
ou  fundos,  que  trazem  os  frades  mendi- 
cantes pedindo. 

SACCOMANO,  í.  m.  Termo  antiquado. 
A  acvão  do  saquciír. 

SACCOMÃO,  s.  7/!.  Termo  antiquado. 
Saitcailor,  saqueador.  Vid.  Saccomardo. 

SACCOMARDO,  s.  m.  Termo  auti(iuado. 
Saqueador,  ladrão. 

—  Soldado  a  quem  se  offerecia  o  sacco 
ou  roubo  dos  vencidos  cm  paga  do  soldo. 

f  SACCOMYS,  s.  m.  Oeucro  de  roedo- 
res da  America. 

f  SACCOPHORO,  A,  adj.  Que  tem  um 
sacco. 

—  Substantivamente:  Nome  de  certos 
sectários  que  se  cobriam  do  ura  sacco 
em  signal  de  penitencia. 

■}•  SACCULAR,  adj.  2  (jeu.  Termo  de 
anatinnia.  Que  diz  respeito  ao  sacculo. 
—  Nervo  saccular. 

f  SACCULINA,  s.  f.  Nome  de  um  pa- 
rasita adheronte  il  cauda  de  certos  crus- 
táceos. 

f  SACCULO,  s.  m.  Termo  de  anatomia. 
Uma  das  duas  vesículas  do  vestíbulo  mem- 
branoso do  ouvido  niedio,  coUoCAdo  na 
fosseta  redonda  vestibular.  —  O  sacculo 


rjmimunica  com  outro  sacculo,  e  é  alcati- 
fado de  otoronia. 

SACELLO,  «.  7(1.  iI)o  latim  lactllut). 
i'equ<íiiii  templo,  ermida,  cafxlia. 

SACERDÓCIO,  ».  t;i.  (Do  latim  êacerda- 
tium,.  Miiii.-tteriu  d'aquelles  que  tinham 
o  poder  de  oíFerectr  yictiiiiaa  a  Deoa  en- 
tre 08  judeus,  etc. 

—  Diz-se  também  d'aqaoncs  que,  no 
polvtheismo,  tiidiam  a  seu  cargo  offerecer 
sacrifícios  aos  deuses. 

—  O  corpo  ccclesiastico.  —  tV,  &  fira 
estes  aposentos  ha  outro  niuvto  mayor  e 
mais  nobre,  reparado  por  sy,  que  terá 
quasi  huma  b-goa  em  roda,  em  que  so 
vem  habilitar  todos  o»  que  se  h]lo  de  agra- 
duar,  assi  no  sacerdócio,  como  nas  Icys 
do  governo  do  rcyiio,  no  qual  aasiste  hum 
Chacra  da  justiça,  a  quem  os  mayoraia 
dos  outros  estudos  obedecem,  que  ee  cha- 
ma por  dignidade  suprema  o  Xileyxita- 
pou,  que  (|uer  dizer,  senhor  de  todos  os 
nobres.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregri- 
nações, cap.  lOt).  —  €  Depois  de  {«as-sar 
pelos  differentes  graus  do  sacerdócio,  Y.ti- 
rico  recebera  ainda  de  Siseberto,  o  pre- 
decessor de  Oppas  na  sé  de  Ilispalis,  o 
encargo  de  pastoreiar  esse  diminuto  reba- 
nho da  povoação  phenicia.»  Alexandre 
Herculano,  Eurico,  cap.  2. 

—  Figuradamente:  O  poder  espiritual, 
e  as  pessoas  que  o  tem. 

SACERDOCRACIA,  s.  f.  (Do  latim  «o- 
cerdos,  e  do  grego  kratos).  Poder  sacer- 
dotal, croverno  dos  padres. 

SACERDOTA,  s.  f.  Vid.  Sacerdotiza. 

SACERDOTAL,  adj.  2  gen.  (Do  latira 
sacerdotal  is,  de  sacerdos).  Pertencente  ao 
sacerdócio.  —  Os  sacerdotes  prostravam-se 
aos  pés  do  altar  com  suas  togas  sacerdo- 
taes.  —  i  Nestes  mesmos  liuros  dos  Con- 
cílios mandara  os  Apóstolos,  que  qualquer 
sacerdote  que  for  toraado  em  adultério, 
homicídio,  furto,  ou  em  dizer  falso  testi- 
inunho,  que  lhe  tirem  as  ordens,  o  digni- 
ilade  sacerdotal,  e  o  castiguem  corao  aos 
outros  malfeitores  leigos.»  Damiilo  de 
Ooes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3, 
cap.  61. 


Estranh.íra-rac  cm  Virccra  qnasi  bronca, 
\  profundrz,  na  Orepa,  c  Galla  Histori». 
A  r.ão  saber,  que  olla  era  do  .Vrchi-Druida 
Prole,  e  qup  um  Sciiani,  a  fim  que  olla  entre 
Na  Ordem  factrdotal  IíçOps  lhe  dera. 

r.   U.   DO  JCASCIJIEMTO,  OS    MABTYHF^,  1ÍV.    10. 


SACERDOTE,  s.  «».  (Do  latira  saardos). 
Sacritieador  gontilico.  —  «  Nem  daqui  em 
diante  concederemos  perdão  do  delicto  co- 
metido, se  desde  agora  algum  dos  sacer- 
dotes Carthagine?es  desprezar  a  Digni- 
dade da  sobredita  Igreja,  anteí  passará 
sem  nenhuma  falta  o  que  for  desobediente, 
assi  por  sentença  de  excommunhão  Eccle- 
siastica,  ou  degradação  d.is  onlcns,  como 
por  censura  da  no.ssa  indignação.»  Mo- 
narchia  Lusitana,  liv.  G,  cap.  20.  —  «  Em 


SACE 


SACO 


SACO 


369 


cada  huma  destas  ruas,  até  nas  mais  po- 
bres, ha  casas  de  oração,  fabricadas  sobre 
çraiides  barcaças,  como  galés,  e  mnyto 
limpas  e  bem  concertadas  com  toldos  co- 
zidos em  ouro,  que  servem  de  capella 
onde  está  o  idolo,  com  os  seus  sacerdotes 
que  ministraõ  os  sacriâcios  que  a  gente 
do  povo  offerece,  de  que  todos  tem  assaz 
larga  comedia  das  offortas  e  esmoUas  que 
lhes  dão  continuamente.»  Fernão  Meml es 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  98.  —  «  Es- 
pantados ni')s  disto  e  perguntado  o  que 
era,  nos  foy  respondido  por  hum  dos  gre- 
pos  que  aíy  estavão  que  era  sacerdote, 
que  o  que  tínhamos  visto,  e  de  que  nos 
espantávamos,  ei"aõ  os  oitenta  e  três  deo- 
ses  dos  Timocouhós  que  el  Rey,  quando 
os  desbaratara  no  campo,  lhes  tomara  em 
hum  grande  templo  onde  estavão,  porque 
a  mavor  honra,  e  de  que  el  Rei  fazia 
mavor  caso,  era  triumphar  dos  deoses  de 
seus  inimiííns,  que  a  seu  despeito  trazia 
cativos.»  Ibidem,  cap.  130.  —  «  Em  tanto 
que  quanto  se  jurão  cousas  increlveis  en- 
tre as  nações  que  habitào  a  terra,  para 
se  lhes  dar  credito  a  ellas,  não  se  diz  ou- 
tra cousa  senão  pelo  santo  Quiay  Nivã- 
del  deos  das  batalhas  do  capo  vitau,  e  em 
huma  grande  ci'iade  que  se  chamava  So- 
rocataõ,  em  que  foraõ  mortas  quinhentas 
mil  pessoas,  se  cativarão  todos  estes  deo- 
ses que  aquy  vedes  presos  em  despeito 
dos  Revs  que  crião  nelles,  e  dos  sacerdo- 
tes que  lhe  ministravam  o  chevro  suave 
de  seus  sacrifícios.»  Ibidem,  cap.  1G2. — 
«  Era  o  Grande  Sacerdote  o  que  fazia  be- 
ber ás  molheres  acusadas  de  impudicida- 
de  hum  grande  copo  de  agoa  muy  amar- 
gosa a  que  se  chamava  agoa  de  Ciuroe.» 
Cavalleiro  d'01iveira,  Cartas,  liv.  1,  nu- 
mero 13. 

—  Homem  que  faz  ou  ministra  os  sa- 
crifícios do  verdadeiro  Deus,  e  é  de  or- 
dens menores,  ou  maiores,  e  presbytero, 
etc,  até  o  sacerdote  su.mmo,  ou  papa. — 
«  Por  isso  o  Sacerdote  Ileli,  quando  vio  a 
Anna  orar  com  gestos,  julgou  (ainda  que 
erradamente)  estes  eíFeitos  por  filhos  da 
ebriedade :  Usquequò  ébria  eris  ?  digere 
paulisper  vinum  quo  mades:  não  o  sendo 
senão  do  animo  attribulado,  que  desaba- 
fava com  Deos  na  Oração.»  Padre  Ma- 
noel Bernardes,  Floresta,  part.  1,  pag. 
20.  —  «  Que  escândalo  será  vermos  alli, 
não  a  casulla,  mas  ao  Sacerdote,  que  a 
veste?  Pois  mais  cazo  fazemos  do  orna- 
mento, que  da  pessoa?  Por  ventura  he 
menos  saari^ada  esta,  do  que  aquelle?  n 
Idem,  Exercícios  espiríluaes,  part.  1, 
pag.  208.  —  s  E  hum  sacerdote  frade,  ho- 
mem velho,  e  de  barlja  de  cabelo  com- 
prido com  o  rosto  no  altar  em  contravro 
do  nosso  costume.»  António  Tenreiro, 
Itinerário,  cap.  22.  —  «  E  em  aquelle 
tempo  que  por  aqui  passey  me  disserão 
que  estava  em  esta  terra  hum  Christão 
Maronita  sacerdote  de  trezentos  annos,  e 
eramlhe  ja  caidos  os  dentes  e  barbas  e 
TOL.  V.  — 47. 


tornadas  a  nacer  outras  e  que  adevinhava 
muytas  cousas  e  era  delles  tido  em  gran- 
de veneraçam  caminhando  com  o  rosto  ao 
sudueste  chegamos  a  outra  cidade  que  se 
chama:  Aniaa.»  Ibidem,  cap.  33. 

SACERDOTIZA,  s.  /.  i^Do  latim  sacerdo- 
tissa).  Mulher  que  entre  os  pagãos  e  ido- 
latras, faz  nos  templos  os  sacrifícios,  etc. 

SACHA,  s.  f.  Yid.  Sachadura. 

SACHADOR,  s.  m.  Homem  que  sacha. 

SACHADURA,  s.  /.  Acto  de  sachar. 

—  Monda  feita  com  o  sacho. 
SACHÃO,  s.  m.  Augmentaiivo  de  Sacho. 

Sacho  grande. 

SACHAR,  V.  a.  Lavrar  na  agricultura 
com  o  sacho,  cavando  a  terra  para  afo- 
fal-a,  e  raondando-a  das  más  hervas. 

SACHINHO,  s.  m.  Diminutivo  de  Sacho. 
Pequeno  sacho. 

SACHO,  s.  m.  Instrumento  de  ferro  de 
três  dedos  de  largura,  com  cabo  longo  de 
pau,  corta  por  dentro,  e  mui  rente  as 
hervas  nocivas  ao  pão,  e  levanta  a  terra 
para  ficar  fofa  e  solta. 

SACHOLA,  *.  /.  Espécie  de  enxada  mais 
pequena  ;  instrumento  de  agricultura. 

f  SACIADO,  prtí-í.  pass.  de  Saciar.  Far- 
to, cheio. 

SACIAR,  V.  a.  (Do  latim  mtiare).  Far- 
tar. —  Saciar  a  síde,   a  fome. 

- —  Figuradamente :  Saciar  os  olhos,  os 
ouvid'is,  a  ira,  a  paixão,  etc. 

—  Saciar-se,  i'.  rejl.  Fartar-se. 
SACIAVEL,  adj.  2  gen.  (Do  latim  satia- 

bilis).  Que  pôde  fartar-se,  que  é  possível 
saciar-se. 

SACIEDADE,  s.  f.  (Do  latim  mtietas). 
Fartura,  o  que  é  sufficíente  para  fartar  e 
saciar. 

—  O  estado  do  que  está  farto. 

—  vSyx.  :  Saciedade,  faHura.  Yíd.  este 
ultimo  termo. 

SACO,  ou  SACCO,  s.  m.  (Do  latim  sac- 
cus).  Vaso  feito  de  panno  ou  de  couro,  de 
duas  peças  rectangulares  cosidas  de  três 
lados ;  fica  um  aberto  que  serve  de  bocca, 
por  onde  se  mettem  as  cousas,  que  se  en- 
saccam,  ou  guardam  no  saco. 

Estea  co'as  mãos  as  abas  levantavam 
Das  roupotas  fazendo  d'ella8  saceos. 

MANOEL  DE  GALHEGOS,  TEMPLO  DA  MEMORIA,  1ÍV. 

4,  oit.  26. 


Que  ficacs  d 'ellas  um  saco; 
SC  o  ouvireis  n'e8se  ensejo, 
sobre  cêa  bem  moscada, 
não  vos  pozera  o  dom  nada 
tanto  a  bocca  uo  desojo 
com  a  ár  da  vida  casada. 

AXTOXIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  1"21. 

—  Rapina  que  faz  o  vencedor  depois 
da  batalha,  e  a  outorga  aos  soldados  do 
que  poderam  guardar,  e  couber  no  seu 
saco  ou  mochila.  Víd.  Escala.  —  «Que 
quanto  ao  que  lhe  era  concedido  do  saco 
na  entrada  das  Cidades  que  tomassem, 
isto  se  entendia  em   as  dos   Chrístãos,  e 


não  dos  Mouros.»  João  de  Barros,  Déca- 
da 2,  lív.  10,  cap.  6. 

—  Metter  a  saco ;  authorisar  o  com- 
mandante  do  exercito  vencedor  os  seus 
soldados  a  saquear  durante  horas  oii 
dias  determinados.  —  «E  para  isso  esten- 
de as  unhas,  que  chamaõ  Politicas,  ar- 
madas com  guerra,  hervadas  com  ira,  o 
peçonha  de  inveja,  que  lhe  ministrou  a 
cobiça  :  e  nada  deixa  em  pè,  que  naõ 
escale,  e  meta  a  saco.  Este  Reyno  he 
meu,  e  esta  Província  lie  o  menos,  de 
que  se  trata.»  Arte  de  furtar,  cap.  60. 

—  Dar  a  saco  a  cidade  ;  o  mesmo  que 
metter  a  saco. —  «Cessou  a  ira,  começou 
a  cubica.  Mandou  D.  Álvaro  dar  a  Ci- 
dade a  saco ;  onde  o  despojo  igualou  a 
victoria;  porque  não  tinhào  os  Mouro3 
posto  em  salvo  cousa  alguma ;  ou  fosse 
confiança,  ou  descuido,  o  até  a  gente 
inútil  para  a  defensa  guard;irão  na  Ci- 
dade, ou  por  desprezo  de  nossas  armas, 
ou  por  não  mostrar  sombra  de  temor  os 
defensores,  forào  em  fim  as  fazendas  tan- 
tas, que  senão  puderão  recolher  aos  na- 
vios.» Jacintho  Freire  d'Andrade,  Vida 
de  D.  João  de  Castro,  liv.  1. 

— ■  Tomar  o  saco  da  cidade  para  si, 
—  «Por  ser  ja  quasi  noite  quando  se  aca- 
bou de  fazer  esta  entrega,  temendose  el 
Rey  que  a  gente  do  campo  entrasse  na 
cidade  a  tomar  o  saco  delia  para  sy, 
mandou  pôr  em  todas  as  portas  delia  que 
eraõ  vinte  e  quatro,  capitães  Bramaas 
que  as  guardassem,  e  cora  pena  grave 
que  não  consentissem  pessoa  nenhuma 
entrar  delias  para  dentro,  até  elle  não 
prover  nisso  conforme  á  promessa  que 
tinha  feito  á  gente  estrangeyra,  a  quem 
tinha  promettido  de  dar  campo  franco.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações,  ca- 
pítulo lõl. 

—  Dar  saco  a  suas  fazendas;  rou- 
bal-as. 

—  Habito  fúnebre  ou  penitente. 

—  Vestjr-se  de  saco  e  cilicio;  vestir- 
se  de  luto,  de  panno  vil  e  áspero,  mui 
chegado  e  apertado  ao  corpo. 

—  A  porção  que  leva  um  saco.  —  Um 
saco  de  pão. 

— -  Figuradamente :  Metter  a  saco  a 
caridade  mal  illudida. 

—  Saco  de  terra;  terra  que  leva  seis 
alqueires  de  semeadura,  que  fazem  na 
Estremadura  e  Beira- Alta  um  saco  de 
pão.  Para  isto  se  deve  notar  qiie  na  Es- 
tremadura, e  mormente  nas  ribeiras  do 
Tejo,  chamam  moio  de  terra  áquella  por- 
ção de  campo  ou  lezíria,  que  leva  moio 
e  meio  de  semeadura,  que  são  noventa 
alqueires,  ou  quinze  sacos  de  seis  al- 
queires cada  um.  È  pois  moio  de  terra, 
a  que  leva  noventa  alqueires,  e  saco  de 
terra,  a  decima  parte  d'esta  terra,  que 
não  leva  mais  que  seis  alqueires  de  se- 
meadura. 

—  Saco  de  enseada;  a  parte  mais  fun- 
da d'ella. 


370 


SACR 


SACR 


SACR 


—  Loc.  rop. :  Metter  tudo  a  saco ; 
(liz-so  do  quem  om  uma  conversaçíío  gri- 
ta muito,  poleja,  o  nilo  deixa  fallar  uin- 
giiem. 

—  Dar  saco  d  inesa ;  comer  o  que  ha- 
via n'olla. 

—  Adágios  k  puovKRnios  : 

—  llom-a  e  proveito  nHo  cabem  n'iim 
saco. 

—  A  cobiça  rompe  o  saco. 

—  O  saco  do  genro  nunca  é  cheio. 
— •  Deitar  om  saco  roto. 

—  E  saco  roto. 

—  N.ão  o  botaste  om  saco  roto. 

—  Ellcí)  mataram  de  nóá  quatro,  o  nós 
furtamoa-iho  um  saco. 

—  l)iga,  minha  visinha,  e  tenha  meu 
saco  farinha. 

—  Por  S.  Marcos,  bagos  a  sacos. 

—  Quem  come  emprestado,  come  do 
seu  saco. 

—  Um  era  pasto,  outro  em  saco,  e 
chora  pelo  do  prato. 

—  Calado  como  toucinho  em  saco. 

—  Bocca  do  saco,  a  regra,  e  o  res- 
guardo. 

—  Cada  dia  trea  e  quatro,  chegarás 
ao  fundo  do  saco. 

—  Jletter  tudo  a  saco. 
SACOLA,  .S-.  /.  Vid.  Saccola. 
SACOLEJAR,  i'.  a.  Vid.  Vascolejar,  ter- 
mo mais  em  uao. 

SACOMÃO,  .í.  m.  Vid.  Saccomão. 

SACOMARDO,  s.  ■»».  Vid.  Saccomar- 
do. 

SACONDRO,  s.  líi.  Termo  do  zoologia. 
Insecto  volátil,  da  ilha  de  Madagáscar, 
que  faz  favos  de  mel  análogo  ao  assu- 
car. 

SACOTRIM,  s.  m.  Vid.  Socotorino. 

SAÇOM,  s.  VI.  Termo  antiquado.  Vid. 
Sazão. 

SACRA,  s.  /.  Taboa  ou  quadrosinho, 
que  está  no  altar  com  as  palavras  da 
consagração  e  do  credo,  etc.,  para  auxi- 
liar a  memoria  do  sacerdote. 

—  Acto  da  sagração  de  uma  igreja. 

—  A  parte  da  missa  era  que  se  cele- 
bram 03  mystcrios  mais  sagrados  d'ella, 
mormente  a  consagração  do  corpo  e  san- 
gue de  Christo. 

SACRAMENTADO,  part.  pass.  do  Sa- 
cramentar. A  quem  se  administrou  os 
iiltimos  sacramentos.  —  Pessoa  sacra- 
mentada. 

—  Deus  sacramentado  ;  a  hóstia  con- 
vertida n'elle.  —  «Para  os  lugares  San- 
tos de  Jerusalém  mandou  huma  Custo- 
dia para  nella  so  expor  na  gruta  de  Be- 
lém Sacramentado  aquclle  Dcos,  que  na 
mesma  Lapinha  se  dignou  de  nascer  fei- 
to Homem,  e  para  mostrar  a  sua  grande 
piedade  por  vários  Decretos  tem  dado 
tal  providencia,  que  desde  o  anno  de 
1710  até  o  de  17-22  tem  hido  de  Portu- 
gal duzentos  e  vinte  mil  cruzados  para 
subsidio  daquelles  Santos  lugares.»  Frei 
Bernardo  do  Brito,  Elogios  dos  reis  de 


Portugal,  continuados  por  D,  José  Bar- 
bosa. 

SACRAMENTAL,  adj.  2  yen.  (Do  latim 
sacrdiiicnhi/i.t).  t^uo  pertence  a  uui  sa- 
cramento. —  O  sacerilolfí  pronuncia  em 
nirme  de  Jesus  Cliristo,  á  missa,  as  pala- 
vras sacraraentaes. 

—  Cuiijuradoras  sacramentaes  ;  doze 
hiinion.s  ([ue  no  juizo  dos  feudacs  antiga- 
mento  juravam  com  o  litigante,  que  ti- 
nliam  j)ara  si  om  vei-dadu,  o  que  o  liti- 
gaiito  affirmava  cora  juramento.  Este 
mesmo  numoro  de  conjuradorcs  se  reque- 
ria em  muitos  dos  nossos  foraes  antigos, 
para  que  o  forçador  da  mulher  que  se 
queixava,  fosse  livre  da  pena  da  lei,  ju- 
rando elles  a  favor  e  pela  innocencia  do 
inclaniado  rcu. 

—  Palavras  sacramentaes  ;  palavras 
ossenciacs  á  forma  do  sacramento.  Vid. 
Conjuradores. 

—  Mezinhas  sacramentaes ;  os  sacra- 
mentos que  remedeiam  peccados,  o  dão 
graça.  —  «Ora  irmãos,  sede  deuotos  de 
vos  confessar  nmytas  vezes,  e  pois  muy- 
tas  vezes  adoecejs  na  alma,  vinde  muy- 
tas  vezes  buscar  a  mezinha  sacramental, 
que  vos  Deus  deyxou,  vinde  ao  juizo 
piadoso  da  confissam,  porque  escapeys 
do  juyzo  temeroso  do  outro  mundo.  Se 
estás  cujo  vente  lauar  ao  banho  do  sangue 
de  lesu  Christo,  cuja  virtude,  e  valor 
está  na  absoluição  sacerdotal,  c  assi  liea- 
rás  lanado,  limpo,  resplandecente,  e  de- 
saliuado.»  Frei  Bartholomeu  dos  Marty- 
res.  Catecismo  da  doutrina  christã. 

SACRAMENTALMENTE,  adv.  (De  sa- 
cramental, cora  o  suffixo  «mente»).  De 
um  modo  sacramental. 

—  Em  firma  de  sacramento. 
SACRAMENTAR,   v.  a.  Administrar  os 

sacramentos.  —  Sacramentar  alguém. 

—  Figuradamente  :  Deixar  exposto  co- 
mo cousa  santa  c  digna  de  veneração  pe- 
lo que  representa. 

—  Sacramentar  o  co7-po  de  CTiristo ;  fa- 
zer que  a  hóstia  se  converta  nelle. 

—  Sacramentar-se,  v.  reji.  Fazer  de 
si  sacramento.  —  Christo  sacramentou-se 
na  Eucharistia. 

—  Figuradamente :  Não  se  deixar  vêr, 
nem  conversar. 

—  Receber  algum  sacramento.  —  Este 
homem  sacraraentou-se. 

1.)  SACRAMENTARIO,  s.  m.  Antigo  li- 
vro de  cgreja,  onde  estavam  escriptas  as 
ceremouias  litúrgicas  ou  da  missa,  e  da 
administração  dos  sacramentos. 

2.)  SACRAMENTARIO,  *.  m.  Nome  da- 
do algumas  vezes  aos  reformados  que  pu- 
blicaram opiniões  contrarias  ás  dos  catho- 
lieos  na  Eucharistia. 

SACRAMENTO,  s.  vi.  (Do  latim  sacra- 
mi't>tum\  Aeto  religioso  instituído  por 
Deus  para  a  santificação  das  almas.  — 
Os  sacramentos  da  antiga  lei,  da  mn-a 
lei.  —  ^l  circumcisão  era  utn  sacramento 
da  antiga  lei. 


—  Entro  09  cbristãos,  ceremonia  des- 
tinada á  consagraç.lo  religiosa  das  diver- 
sas phases  da  vida  privada  dos  tici» :  os 
sacramentos  são  eni  numero  dt  sete.  — 
—  «Com  a  sentença  do  «antcj  officio,  e 
que  Lconfir  confessava  não  crer  em  sa- 
cramentos da  egreja,  compoz  o  marido 
uma  alhgaçuo  latina  exccilentemente  tra- 
halliaila  a  primor  de  elegância.»  liÍ!!|H> 
rio  ( irão  Pará,  Memorias,  publicada»  por 
Camillo  Ca.-ítello  Branco,  pag.  101. — 
«Porque  se  lhe  cntam  escapar,  sabe  cer- 
to que  nurica  mais  a  poderaa  tentar  e 
combater.  E  por  i-»o  o  Senhor  ordenoa 
este  Sacramento  pêra  nesta  hora  esforçar 
seus  canalcyros  contra  os  Ímpetos  do  de- 
mónio :  na  qual  as  forças  da  alma  e  do 
corpo  estam  muy  quebradas.»  Fr.  Bar- 
tholomeu dos  Martyres,  Catecismo  da 
doutrina  christã. 


Por  acaso.  Bem  esse  tcwramenlo, 
Na")  podiaõ  salvar-»c,  c  8crcm  sabios? 
Pois  aqui  cm  scfrrcdo  lho.  descubro. 
Que  o  Franccz,  para  mim,  o  mesmo  monta, 
Que  a  língua  dos  Salvagcna  13oticudo8. 
DINIZ  D.V  CBCz,  uv9sorE,cant.  5. 

—  O  Sacramento  do  altar;  a  Eucha- 
ristia, o  Santíssimo  Sacramento.  —  «Des- 
tes dous  niil  miticaes  douro  mandou  cl 
Rei  fazer  huma  custodia  p.ara  o  Sacra- 
mento do  altar,  guarnecida  de  jieJras 
preciosas  que  manvlou  ofFerecer  no  mos- 
teiro de  Bethelem :  depois  da  vinda  de 
dom  Vasquo  da  C!ama  a  seis  dias  che- 
gou a  Lisboa  Esteuam  da  Oama.»  Da- 
mião de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  1,  cap.  60. 

—  Freqnentar  os  sacramentos ;  confes- 
sar-se  e  commungar  muitas  vezes. 

—  O  tíanfissimo  Sacramento ;  por  ex- 
cellencia,  é  a  Eucharistia,  o  do  altar.  — 
«E  mouendo  quanto  poderdes  os  ouuin- 
tes  a  contriçani,  dor,  e  lagrymas  por 
suas  culpas,  exortando-os  a  que  se  con- 
fessem, e  recebam  o  santíssimo  Sacra- 
mento, e  particularmente  vos  anisai  que 
nunca  rcprcndais  do  púlpito  a  pessoa, 
ou  pessoas,  que  teuerem  mando  na  mes- 
ma terra,  parque  os  homens  d'e8ta  sorte 
quando  publicamente  sara  reprendidos 
mais  depressa  se  fazem  peyores  do  que 
se  emendam.»  Lucena,  Vida  de  S.  Fran- 
cisco Xavier,  liv.  G,  cap.  11. 

—  O  sacramento  do  corpo  e  sangue  de 
Christo.  —  «Em  a  quinta  feira  seguinte 
quando  so  celebra  a  festa  do  sanctissimo 
Sacramento,  so  lea  o  sermão  que  na  ma- 
téria dos  sacramentos  acima  liça  oscripto 
quando  tratamos  do  mesmo  sacramento 
do  corpo  e  sangue  do  Senhor.»  Fr.  l>ar- 
tholomeu  dos  Martyres,  Catecismo  da 
doutrina  christã.  —  «De  maneyra  que  a 
remissam  dos  peccados  que  neste  artigo 
confessamos,  he  fundamento  de  todas  as 
nossas  esperanças  de  s.<iluaçam,  e  bem- 
auenturança,  a  qual  nam  se  podo  alcan- 


SACR 


SACR 


SACR 


371. 


çar  senam  por  virtude  do  sangue  de 
CHRISTO,  e  seus  sacramentos,  em  os 
quaes  esta,  e  obra  a  virtude  e  efficacia 
do  mesmo  sangue.»  Ibidem. 

—  Privar  dos  sacramentos  ;  recusal-os, 
pena  espiritual  que  a  (.-grtja  intlige  algu- 
mas vezes. 

—  Approximar-se  dos  sacramentos ; 
confessar-se  e  commungar. 

—  Os  sacramentos  da  egreja;  o  ba- 
ptismo, a  contirmaçào,  a  communhão,  a 
penitencia,  a  extrema-uncçào,  a  ordem,  e 
o  matrimonio.  —  «De  maneira  que  esta 
vnidade  da  Igreja  consiste  nisso,  que  he 
todos  03  Christãos  terem  huma  sò  fee, 
crerem  e  confessarem  os  mesmos  artigos 
e  douctrina  da  Igreja,  e  concordarem  em 
os  mesmos  sacramentos,  especialmente  no 
sacrifício  da  Missa.»  Frei  Bartholomeu 
dos  Martvres,  Catecismo  da  doutrina 
christã. 

—  Sacramento  da  chrisma ;  o  sacra- 
mento da  contirmaçào  administrado  pelo 
bispo.  —  «Pêra  a  qual  batalha  entre  muy- 
t03  remédios  e  defensiuos  de  que  nos  pro- 
ueo  a  diuina  Misericórdia,  hum  muyto 
principal  foy  o  Sacramento  da  Cbrisma : 
Pello  qual  a  graça  do  íSpirito  Sancto  lie 
em  nossa  alma  acrecentada  e  roborada, 
e  nos  he  dada  particular  ajuda  pêra  po- 
dermos resistir  as  tentações,  e  confessar 
a  fee  ousadamente  e  alegremente  diante 
dos  enimigos  delia,  quando  o  caso  reque- 
rer.» Fr.  Bartholomeu  dos  Martyres,  Ca- 
tecismo da  doutrina  christã. 

—  Sacramento  da  conjirmação ;  chris- 
ma. Vid.  Chrisma.  —  «E  como  Catholico 
filho  da  Igreja  dou  dagora  por  diante  a 
obediência,  ao  Bispo  meu  Prelado  que 
está  em  lugar  do  Summo  Pontífice,  e  co- 
nheço a  Igreja  Romana  por  cabeça  de 
toda  a  Christandade.  E  assim  lhe  peço 
como  Prelado,  e  Cura  de  minha  alma  que 
me  dè  o  Sacramento  da  Confirmação, 
porque  me  nào  fique  acto  algum  de  Chris- 
taõ  por  fazer.»  Diogo  de  Couto,  Década 
6,  liv.  4,  cap.  7. 

—  Termo  antiquado.  Juramento. 

SACRÁRIO,  s.  m.  Logar  onde  se  guar- 
da cousa  digna  de  veneração,  cousa  sa- 
grada. 

—  Por  antonomásia,  as  formulas  ou 
partículas  consagradas  para  se  darem  na 
communhào. 

—  Sacrário  de  relíquias. 

—  Figuradamente  :  O  peito,  o  coração, 
que  retém  e  guarda  em  reserva,  mórmen- 
mente  bons  pensamentos,  intenções  e  sen- 
timentos justos,  e  pios. 

Eichardson  tambcm,  que  abre,  e  franquea 
Do  humano  coração  sacrário  occulto, 
No  labrrintho  das  paixões  deixando 
Sempre  hum  seguro  fio  á  Mente  incerta 
Entre  profundas  carregadas  sombras. 

J.   X.   DE  MACEDO,  ■VIAGEM  EXTÁTICA,  Cant.    2. 

Lhe  quiz  a  porta  abrir  do  seus  sacrários. 
Nào  confundo  com  elle  o  Peripáto ; 


Elle  foi  luz,  o  Peripáto  sombra ; 

A  seu  lado  Alexandre  a  Terra  espanta. 


Muito,  e  muito  a  ciosa  Natureza 
Era  seu  sacrário  esconde !  Os  bens  gozemos ; 
Eu  deixo  as  causas  ao  Motor  Supremo. 
Que  bons  trazeis  á  Terra,  ignotos  ventos! 
Quanto  vos  deve  humano  domiciho ! 

IDEM,   MEDITAÇÃO,    Caut.    2. 

Sigo  as  suspeitas  de  Epicuro,  e  Bruno, 
Entro  de  Newton  no  Sacrário  occuho 
Longe  do  Mundo  frivolo,  mui  longe 
Do  reboliço  vão,  dos  vãos  caprichos 
Quora  só  dos  mortacs  a  mente  oecupão, 
Que  formão  gloria  de  afundir  Impérios. 

IDEM,  A   SATCKEZA,   Caut.    1. 

SACRAS,  adj.  f.plur. —  Ordens  sacras  ; 
ordens  couferidas  pelo  bispo  áquelles  que 
querem  exercer  as  funcções  ecclesiasti- 
cas.  Vid.  Sacra. 

sacratíssimo,  A,  adj.  superl.  (Do 
latim  sacratusi.  Muito  sagrado. —  «Xào 
polia  grandeza  do  milagre  que  em  se 
achar  acõteceo,  porque  outros  muitos  e 
muito  maiores  obrou  nosso  senhor  por 
este  sinal  sacratíssimo  da  Cruz,  mas  pa- 
ra ter  huma  continua  persuaçào  que  ren- 
dêssemos os  corações,  entregássemos  as 
vontades  a  hum  senhor,  que  podendo 
tanto  nos  deixou  tào  certas  mostras  de 
amor,  e  de  misericórdia.»  Paiva  d'An- 
drade.  Sermões,  pag.  232.  —  «  Senhor, 
que  mandais  que  eu  faça  agora?  quereis 
que  eu  faça  isto,  ou  aquillo?  E  esta  re- 
signação tereis,  ainda  em  cousas  muito 
pequenas,  e  meudas.  Xas  conuersações 
vos  portareis  moderadamente  nos  gestos, 
e  palauras,  tendo  a  Deos  diante  dos  olhos, 
como  quem  sô  a  elle  deseja  de  agradar, 
e  naõ  aos  homens,  e  sempre  trazei  dian- 
te o  exemplo  de  Christo  lesu  para  imi- 
tar sua  Sacratíssima  vida.»  Fr.  Bartho- 
lomeu dos  Martyres,  Compendio  de  es- 
piritual doutrina,  cap.  10. 

—  Figuradamente :  Verdade  sacratís- 
sima. 

SACRE,  s.  m.  Termo  de  zoologia.  Gran- 
de ave  do  género  falcão;  tem  a  pluma 
ruiva,  e  talvez  tirante  a  branca;  tem  o 
bico,  coxas,  e  dedos  azues. 

—  Canhào,  cu'o  alcance  era  em  tiros 
de  olivel  480  passos;  é  do  calibre  de  4 
até  6.  Vid.  Sacro. 

SACRIFICADO,  parf.  pass.  de  Sacrifi- 
car. (Jfferecido  em  sacrifício.  —  Uma  rez 
sacrificada  sobre  o  altar. 

—  Diz-se  de  um  homem  tornado  victi- 
ma  de  algum  interesse,  de  alguma  neces- 
sidade. 

—  Estar  sacrificado  o  tudo;  estar  ex- 
posto, sujeito,  e  talvez  resignado  como 
victima  dos  sacrifícios. 

—  I\Iorto,  que  sofíre  algum  mal. 
SACRIFICADOR,  A,  s.  (Do  latim  sacri- 

ficator  .  Entre  os  hebreus,  e  os  polvtheis- 
tas,  ministro  destinado  aos  sacrifícios. 

—  Pessoa  que  sacrifica. 


— ■  Adjectivamente :  Sacrifico. 

SACRIFICAL,  adj.  2  gen.  (Do  latim  sa- 
crificalis).  Que  diz  respeito  a  sacrificio. 
—  Ritos  sacrificaes. 

SACRIFICANTE,  part.  act.  de  Sacrifi- 
car. Que  sacrifica. 

—  Substantivamente:  Um  sacrificante. 
SACRIFICAR,  V.  a.  (Do  latim  sacrijica- 

re).  Oflerecer  a  Deus  alguma  cousa  com 
certas  ceremonias.  —  Sacrificar  as  victi- 
mas.  —  Âbrahão  ia  sacrificar  seu  Jilho. 

—  Entre  os  christàos :  Sacrificar  o  cor- 
po e  o  sangue  de  Christo;  fazer  o  sacrifi- 
cio da  missa. 

—  Diz-se  dos  sacrifícios  oflerecidos  aos 
deuses,  no  polytheismo. 

—  Renunciar,  dar  de  mão  a  alguma 
cousa  para  satisfazer  suas  paixões.  —  Sa- 
crificar o  gosto.  —  «Este  gi-ande  nome 
que  he  vento,  esta  t^i-anna  a  quem  sa- 
crificamos o  nosso  gosto,  e  esta  chimera 
a  que  chamamos  honra  tem  grandíssimo 
poder,  porem  o  seu  domínio  ncào  se  dilata 
tanto  como  imaginào  as  pessoas  do  vosso 
sexo,  que  nào  só  a  respeitâo  mas  a  idola- 
trào.i)  Cavalleiro  d'01iveira,  Cartas,  liv. 
1.  n."  32. 

— •  Sacrificar  alguém ;  toi-nal-o  victima 
d'alguma  paixão,  de  algum  interesse.  — 
«Por  certo  pouco  deves  á  fortuna,  que  a 
tal  estado  te  trouxe;  e  essa  captiva  don- 
zella  muito  menos,  a  quem  eu  mandarei 
sacrificar  com  muitos  géneros  de  cruezas; 
e  assim  farei  a  quantas  achar,  pois  por 
uma  se  perdeu  Bracolào,  o  melhor  caval- 
leiro do  mundo.»  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  cap,  107. 

Sangue  correu  então :  mas  qual  ?  seu  próprio. 
Seu  próprio  ás  mãos  do  algoz  jorrou  na  terra 
Quando  os  fillios  indignos  sacrifica 
A  merecida  pena,  á  morte  justa. 

GARRETT,  CATÃO,  SCt.   4,  SC.  3. 

—  Sacrificar  aos  demónios  animaes ;  of- 
ferecer-lh'os  em  holocausto.  —  «  Com  te- 
rem toda  esta  condição,  saõ  com  tudo, 
grandíssimos  feyticeiros,  sacrificão  ani- 
maes aos  Demónios;  crem  os  agouros,  e 
ja  mais  se  oecupão,  em  cousa  alguma, 
inda  que  seja  comer,  ou  beber,  sem  que 
primeiro  se  lauem,  e  a  razam  dizem  ser, 
porque  a  agoa  laua  os  peccados,  no  que 
tinham  muvta  se  o  entenderão  pela  do 
sancto  baptismo.»  Fr.  Gaspar  de  S.  Ber- 
nardino, Itinerário  da  índia,  cap.  12. 

—  Sacrificar  alguém;  pOl-o  a  grande 
risco. 

—  Perder  alguém,  ou  alguma  cousa 
em  vista  de  algimia  cousa.  —  Sacrificar 
sua  fortuna  á  sua  honra. 

—  Sacrificar  aos  numes ;  ofi^erecer-lhea 
em  sacrifício  alguma  cousa. 


Da  fronte  a  c'ròa  arranca  de  Yerbenna, 
Despe  do  cinto  a  affiada  fouce  de  ouro, 
E,  na  Acção  de  quem  sacrifica  aos  Numes. 

F.   M.   DO  SASCIMESIO,  OS  MAEIYBES,  1ÍV.  10. 


ái2 


.SA(JU 


—  Sacrificar  tuilò  aos  teus  inlfrasscn ; 
fiizer  cedor  tudan  a.H  uDUsas  uorf  sons  iiitc- 
iKísses. 

—  Sacrificar  todj  o  seu  tempo  a  uina 
cousa;  uonsafíral-o  a  cila  todo  intoiro. 

—  Fi;,'ui a- lamento:  Dar,  empregar. 

—  Sacrificar-se,  v.  re.Jl.  Uffcrccer-so 
cm  sacritic-io. 

—  i<'i;^'iirailainerito:  Toniar-.so  victiiiia 
de  algum  iiitorosse,  <le  alguma  dudica- 
^ão.  —  «A  f(')ra  estos  viiiliaõ  também  ou- 
tros a  quo  elles  clianirio  Xixaporaus,  que 
também  se  sacrificavão  diante  destes  car- 
ros, cortando  pela  sua  mesma  carne  tan- 
to sem  piedade,  que  parecia  cousa  muy- 
to  íVu'a  da  natureza  humana,  e  tomando 
os  pedaros  da  sua  carne,  que  olles  corta- 
vào  com  inins  iiavallioeus  muyto  agudos, 
03  metiDio  em  liuns  arcos  como  pilouros.» 
Fcrnilo  Mendes  Tinto,  Peregrinações, 
cap.  100. —  «E  assi  pelo  inolo  destes 
malaventurados  se  sacrificarão  mais  ou- 
tros inuytos,  que  em  copia,  segundo  o 
que  ahy  nos  contarão  mercadores  lioura- 
dos  a  quo  se  podia  dar  credito,  passarão 
de  seiscentos.»  Ibidem. 

—  Sujeltar-se,  expôr-se  a  cousa  traba- 
lhosa, e  incommoda. 

—  tívN. :  Sacrificar,  immolar. 

A  idèa  conimum  d'estes  termos  é  de 
consagrar  uma  cousa  á  divindade;  porém 
a  primeira  é  o  género,  e  a  segunda  é  a 
espécie. 

Sacrificar  uma  cousa  é  desfazer-se  d'el- 
la  para  consagral-a  á  divindade,  dcdiear- 
lh'a  de  tal  modo  que  seja  perdida  ou 
ti'an.sformada,  Immolar  6  consagrar  ;l  di- 
vindade por  meio  de  xim  sacrillcio  san- 
grento, é  degolar  uma  vietima  sobre  o 
altar. 

Sacrifica-se  todo  o  género  de  objectos; 
não  se  immoluin  senão  victimas^  seres 
animados.  O  objecto  que  se  sacrifica  6  ot- 
ferocido  á  divindade;  o  objecto  que  se  ini- 
viola  é  destruído  em  honra  da  divindade. 

Figuradamente,  e  em  sentido  profano, 
tem  estas  palavras  as  mesmas  ditFeren- 
ças.  Sacrifica-se  toda  a  espécie  de  cousas 
a  que  se  renuncia  voluntariamente,  ou 
quo  se  abandonam  por  algum  interesse 
particular,  ou  em  proveito  doutra  pes- 
soa; immolam-se  objectos  animados  ou  se- 
res personiticados,  que  se  consideram 
como  victimas,  e  se  consagram  á  morte, 
ao  anathoma,  :l  desgraça. 

A  idèa  de  sacrificar  ó  mais  vaga,  c 
mais  extensa;  a  de  immolar  mais  forte  e 
mais  limitada. 

Napoleão  sacrificava  columnas  inteiras 
de  homens  para  vencer  o  inimigo ;  e  nuii- 
tas  vezes  iinmolou  a  justiça  á  vingança, 
a  equidade  á  ambição. 

SACRIFICATIVO,  A,  aJJ.  Próprio  para 
O  sacritloio. 

f  SACRIFICATORIO,  A,  aJj.  Que  per- 
tence ao  s;uriticio. 

SACRIFICAVEL,  adj.  2  ,j()i.  Quo  se 
pôde  sacrilicar. 


SACR 

SACRIFICIAL,  «'//'.  2  <jen.  Vid.  Sacrifi- 
cai. 

SACRIFÍCIO,  s.  III.  ( iJo  latim  sacriji- 
ciuiii).  Entre  os  hebreus,  otferta  feita  a 
Deus  com  certas  ceroinonias,  c  consistin- 
do em  victimas  ou  dóre.s. 

—  Entre  os  cLristãos:  O  sacrificio  dn 
Jusun  C/iristo;  a  sua  morte  sobro  a  cruz. 
para  a  redempção  do  género  humano. 

—  Diz-se  do  que  se  ollerecc  aos  deu- 
ses, no  polytheismo.  —  «Todos  estos  mi- 
nistros do  demónio  fazendo  seus  sacrifi- 
cios  com  fumos  ciicirosos,  e  outras  ceri- 
monias custuuiadas  entre  ellos,  pcrmitio 
nosso  Senhor  jior  justo  castigo  de  sua  di- 
vina justiça,  (pie  sendo  quasi  ás  onze  ho- 
ras da  noite,  tornou  a  terra  outra  vez  a 
tremer  com  tamaniio  Ímpeto,  que  tem- 
plos, casas,  muros,  e  todos  os  mais  editi- 
cios  quàtos  avia  na  cidade  vieraõ  ao 
cliaõ.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  'JtJ.  —  «E  assi  ofiorecidos  em 
sacrificio  cometessem  a  serra,  c  ou  ven- 
cessem, ou  morressem  todos  feitos  amou- 
cos  pela  defensão  do  seu  Key,  pois  era 
minino,  e  lhe  tinhào  dado  menagem,  e 
feito  juramento  de  lhe  serem  bons  e  leays, 
e  assentados  todos  neste  jJarecer,  que  a 
Ivaynha  e  todos  ouverào  então  por  mi- 
Ihor  e  mais  acertatlo  para  o  tempo  em 
que  estavào,  para  mais  tirmeza  disto,  ti- 
zeraõ  todos  entre  sy  hum  juramento  so- 
lenne  de  assi  o  cumprirem.»  Ibidem,  cap. 
155. 

Vinha  hmçando  ao  Lago,  cm  sacrificio, 
Tusues  de  Ovelhas,  tõ:is  de  alvo  linho, 
Kuélaa  do  ouro,  c  prata,  c  pàes  de  cera. 

F.    MANOEL    DO    SABOIUGKTO,    OS  MAUrTSE9,   1ÍV.    0. 

—  Sacrificio  contínuo  de  Christu;  sua 
presença  perpetua  na  hóstia  consagrada. 

—  O  santo  sacrificio  da  viúna. 

—  Fazer  sacrificio  ;  sacritiiar.  —  «O 
Chaubaiuhaa  em  pondo  os  olhos  nelle  que 
o  conhecco,  voltando  o  rosto  se  deixou 
cayr  debruçado  sobre  o  pescoço  da  ele- 
phàta,  e  não  querendo  passar  adiante 
disse  com  as  lagrimas  nos  olhos  aos  de 
que  hia  cercado,  verdadeyramento  vos 
afiirmo  irmãos  e  amigos  meus,  que  por 
menos  dor  e  iifronta  tenho  fazer  ue  mim 
este  sacrificio  que  Deos  pcrmitio  por  sua 
justiça,  que  ver  iliante  de  meus  olhos 
gente  tão  ingrata,  e  tão  má  como  esta, 
ou  me  matem  aquy,  ou  os  tirem  iLily, 
porque  não  ey  de  passar  mais  adiante.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações, 
cap.  150. 

—  Sacrificios  humanos;  sacriticios  nos 
quaes  a  vietima  é  um  ser  humano. 

—  Figuradamente:  Abandono,  perda 
com  a  qual  se  resigna.  —  I''tz  grande  sa- 
crificio pela  educai^ão  de  seu  jitho. 

—  Oblação  da  vietima,  ou  qualquer 
cousa  a  Deus,  em  reconhecimento  da  di- 
vindade. —  «  Deste  bom  Emper.ador  acho 
huma  memoria  em   Po)-tug;il,   donde  se 


SACK 

pÍKle  coiiigir,  quo  obrigaria  os  Portague- 
rtCM  com  Ijenoticios  ])artieularcii,  ou  o«  co- 
muns seriaò  taci,  que  i>h  inoveHwe  a  ofe- 
recerem sacrificios,  pula  eternidade  de 
seu  império,  que  era  o  termo  do  falar, 
que  então  se  ut^ava:  a  pedra  está  em 
liuma  Igruja  de  X.  Senhora,  junto  a  Co- 
lares, refc.rea  Anibronio  de  MoralcH,  ue«ta 
firma.  i>  Monarchia  Lusitana,  liv.  5,  cap. 
15. —  «Assim  se  mudam  o»  tempos,  e 
não  é  menor  sacrificio  que  poSAo  ofterecer 
a  Deus  n.xs  eireumstancla<  do  presente, 
vêr-me  por  seu  amor  em  estado  que  haja 
mister  tcstimunhaA  a  minha  verdade.» 
Padre  António  Vieira,  Cartas,  n."  20.  — 
«(Jomo  esta  sua  festa  e  esta  feira  que  nella 
se  fazia  com  tanta  cf)ncorrencia  de  gente, 
e  diversidade  de  companbiai»  rle  peregri- 
nos, como  atrás  fica  dito,  durava  quinze 
dias,  cm  c|ue  .avia  muytas  ditferença^  de 
sacrificios  e  cerimonia.<i,  não  avia  nenhum 
dia  em  quo  nio  ouvesso  muytas  maiíey- 
ras  de  cousas  muyto  novas  e  muyto  cu»- 
tosas,  e  muyto  para  ver,  e  muyto  mais 
para  notar. »  Fernão  Mendes  Pinto,  Pe- 
regrinações, cap.  100. 

—  Entregar  uma  pessoa  ao  sacriflcio. 
—  «  Como  imaginarei  quo  se  possa  con- 
fiar no  meu  amor,  e  queira  unir  com  a 
minha  sorte  a  sua,  aquctla  mesma  que  cu 
desamparei,  e  entreguei  ao  sacrificio  T 
Kstáes  ainda  lembrada,  que  nunca  v/ts 
c'um  8ii  mover  de  olhos,  oh  Suzanna  (des- 
culpai-me  este  nome  que  tão  querido  tra- 
go na  memorial  me  deixastes  adivinhar 
que  vos  inclináveis  ao  aíTecto  do  desgra- 
çado AdolphoV»  Francisco  Manoel  do 
Xascimento,  Successos  de  madame  Sene- 
terre. 

SACRIFICO,  A,  adj.  (Do  latim  sacriji- 
cusi.  Termo  de  poesia.  Sacrificador,  sa- 
cerdote. 

—  Emprega-se  também  como  substan- 
tivo. 

SACRIFICULO,  «.  "1.  (Do  latim  »acri/í- 
cu/uiJi..  t  )flicial  ajudante  do  sacerdote, 
ou  sacrificador  de  victimas,  que  as  ma- 
tavam e  queimavam  entro  os  idolatras. 

SACRILEGAMENTE,  adv.  ,De  sacrilego, 
e  o  sutVixo  «mente»'.  De  ura  modo  sacrí- 
lego, com  sacrilégio. —  «A  isto  chama 
prudência  o  mundo  estúpido  e  ambicioso; 
a  isto,  que  não  é  mais  do  que  uma  pros- 
tituição abençoada  sacrilegamente  peran- 
te as  ara-  sacro.santas. »  Alexandre  Her- 
cul.ino.  Eurico,  cap.  G. 

SACRILÉGIO,  .«.  m.  (Do  latim  tacrile- 
gium).  Acção  impia  pela  se  qual  profa- 
nam as  cousas  sagradas. 


Via  brilhar  a  hu  da  meiga  cstroUa, 
l'nico  uorte  meu.  l*or  mar  em  fora 
0:1  dulos  membros  ne^os  o^tcudia 
KsjL-  irii^anto  cujo  aspecto  borivndo 
l'rimeiio  cu  vi,  primeiro  a  souí  amores 
Corri  o  voo  dos  int«TpostOâ  séculos : 
Quiz-me  punir  do  ousado  tarrileifio 
Com  ((uc  o*  âo^n-doâ  scui  vulguci  na  lyra. 
QABBETr,  cjuiÕKS,  caut.  5,  cap.  4. 


SACR 


SACR 


SACR 


373 


—  Toda  a  acção  contra  uma  pessoa  sa- 
grada, digna  de  veneração  e  de  respeito. 

—  Dar  sacrilégios  ;  consignar  a  alguém 
as  penas  psouniarias  dos  excommungados, 
como  alguns  prelados  davam  a  seus  crea- 
dos. 

—  Peccado  contra  a  religião,  ou  con- 
tra cousas,  pessoas,  e  legares  sagrados. 

—  Lesão  ou  violência  a  respeito  da 
cousa  sagrada.  — A  copula  com  friira, 
ou  com  pessoa  que  fez  voto  de  castidade,  é 
um  sacrilégio. 

—  Os  sacrilégios  ;  as  excommunhões. 
sacrílego,  a,  urij.  (Do  latim  sacrile- 

gus,    de  sacruin   e  legere).  Que  commette 
um  sacrilégio. 

—  Que  tem  o  caracter  de  sacrilégio, 
fallando  das  cousas.  —  a  Hum  silencio 
profundo  atado  a  lingua  do  penitente  com 
muitos  annos  de  confissoens  nullas,  e 
communhões  sacrílegas:  huma  palavra 
funda,  que  abraza  liouras,  e  vidas.»  Pa- 
dre Manoel  Bernardes,  Exercícios  espirí- 
tuaes,  part.  1,  pag.  203. 


E  porque  huma  sacrílega  c  maldita 
Seita,  de  que  cllca  sào  adoradores, 
A  louvarem  Mafoma  os  move  e  incita 
■Por  serem  tào  sem  damno  veiiccdoroâ, 
Visitào  ora  huma,  ora  outra  Mesquita, 
Oude  lhes  dào  por  isto  mil  louvores, 
E  ncUes  também  dura  este  exercício 
Até  que  torna  o  Sol  a  seu  officio. 

FBAXCISCO  DE  ANDRADE,  PEIUBinO  CEBCO  DE  DIU, 

cant.  11,  est.  C9. 


Substantivamente :  Um  sacrílego. 


Tendo  eu,  ante  os  Levitas,  sido  excluso 
Do  Templo,  e  dos  mysterios,  por  sacrílego, 
Por  Espia,  me  houvérào,  que  sci-utava 
O  arcano,  que  prudente  a  Igreja  encobre. 

F.   M.  DO  KASCIUENTO,  OS  MABrYBES,  1ÍV.    5. 

Profunda  allegoria  onde  descobre 

A  vista  perspicaz  castigo,  e  pena 

Do  atrevido  sacrílego  que  piza 

A  lei,  que  traz  nascendo  impressa  n'alma, 

Lei  qu'a  distancia,  she  possivcl,  mede 

Que  vac  do  Xada  ao  Creador  Supremo. 

J.  A.  DE  XACEDO,  A  KATLBEZA,  Caut.  2. 

SACRISTÃ,  s.  m.  Yid.  Sacristão,  termo 
mais  em  uso. 

SACRISTÃ,  í.  /.  Muliíer  que  tem  a  seu 
cargo  o  aceio  da  sacristia  íeatre  freiras). 

SACRISTANIA,  s.  f.  Officio  de  sacristã 
ou  de  sacri.stão. 

SACRISTÃO,  s.  m.  (Do  latim  sacristã). 
Homem  que  tem  cuidado  da  sacristia  de 
uma  egreja.  Vid.  Sanchristão. 

—  Adagio  e  provérbio: 

—  Dinlieiros  de  sacristão,  cantando 
vem,  cantando  vão. 

SACRISTIA,  s.  f.  Legar  onde  estão  de- 
positados 03  vasos  sagrados,  os  ornatos  da 
egreja,  e  onde  os  sacerdotes  se  revestem 
com  vestimentas  próprias  para  os  actos 
religiosos.  —  «  Houveraõ  às  màos   huma 


Hóstia,  que  pedirão  em  certa  Sacristia 
para  uma  Missa  das  almas :  daõ  comsigo, 
e  com  ella  na  rua  Nova:  pedem  a  um 
mercador,  dos  que  cliamaõ  de  negocio, 
lhes  mostre  a  melhor  pessa  de  Londres.» 
Arte  de  furtar,  cap.  39. 

—  O  proveito  que  se  tira  do  que  se  dá 
para  mandar  dizer  missas,  serviços  e  ora- 
ções. —  N'esta  parochia  a  sacristia  tem 
um  tanto  por  aiino. 

—  O  que  se  contém  na  sacristia.  —  Â 
sacristia  d'esta  parochia  é  muito  rica. 

Roubou  a  Sacristia  f  ou  do  Diabo 
Tentado,  violou  alguma  Virgem, 
E  asilo  vem  buscar  na  nossa  Igreja  ? 

AXTU.MO  DINIZ  DA  CBl'Z,   HYSSOPE,  CaUt.    5. 

1.)  SACRO,  s.  m.  Peça  de  artilheria  an- 
tiga, out'ora  conhecida  pelo  nome  de  sa- 
cre. 

2.)  SACRO,  A,  adj.  (Do  latim  sacer). 
Sagrado. 


Abraçados  consigo  os  dous  amados 
Innocentcs  filhinhos,  diz  ó  Virgem 
Emperatris  do  ceo,  a  tantos  males 
Dai  vòs  madre  de  Deos  algum  soccorro. 
Gabando  não  se  va  ledo,  e  contento 
O  numero  infiel  quasi  infinito. 
Que  em  tal  afronta  tem  aos  que  confessaõ 
Do  vosso  vnico  filho  o  sacro  nome. 

COBTE  BEAL,  NAUFBAGIO  DB  SEPLLVEDA,   CaUt.   9. 

As  esquadras  dizemos  inimigas : 
Como  hemos  de  cantar  em  terra  alhca  ■ 
As  cantigas  de  Deos,  sitcras  cantigas  ? 
Se  a  lembrança  cu  perder  que  me  recrea 
Cá  nestas  pcuosissimas  fadigas, 
OUícioiíi  Jetur  dextra  mea. 
cAJi.,  SONETOS,  n."  239. 

E  como  o  Turco  hum 'hora  não  socega, 
yue  não  llio  sorfre  o  imigo  cruel  peito. 
Também  dos  seus  canhões  a  fúria  emprega 
Xo  ^acro  Templo  então,  pouco  antes  feito ; 
Não  sodre  ver  em  pé  o  que  arrenega, 
E  em  pouco  tempo  o  bate  de  tal  geito 
Que  quasi  todo  foi  por  terra  posto, 
Com  mágoa  doa  Christàos,  e  grão  desgosto. 

F.    DE  ANDILIDE,   PBIMEIKO    CHKCO  DB  DIU,  Caut. 

IG,  est.  82. 

Porque  applaque  seu  Pae  iroso,  a  Fillia : 
Sacro  Antiste  (lhe  dizj  refréa  os  Ímpetos 
Dessa  ira: — que  equivale  á  Fome  a  Cólera, 
Sendo  ambas  Mães  de  pérfidos  conselhos, 
Pode,  iuda,  esse  erro  nosso  reparar-se. 

P.    U.   DO  NASCIMENTO,   03  JÍABTVEES,  1ÍV.    1. 

Nas  suspeitas,  de  que  ella  se  inclinava 
A  nova  Religião,  puzéra  o  César 
A  Prisca  Augusta  Espiões.  Dispoz  Hierócles 
Quem  siga  ao  Culto  sacro  a  Imperial  Sposa. 
Vio-as,  e  a  mim  sahir ;  disse-o  ao  Sophista, 
Este  ao  César,  e  o  César  disse-o  a  Augusto. 

IBLDEM,  1Í7.   5. 


Seguio  somente  a  voz  da  Natureza 
Ao  Sacro  Templo  da  verdade  impervio, 
Elle  primeiro  o  disse,  que  as  vistosas 
Cores  mõrào  na  Luz,  na  Luz  existem, 
Da  Luz  diversas  retracções  nos  corpos. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  KAICEEZA,  COUt.  1. 


—  Ordens  sacras  ;  ordens  de  subdiaco- 
no,  de  diácono,  e  de  presbytero. 

—  Termo  de  anatomia.  Osso  sacro  ; 
o  osso  maior  de  todos  os  do  espinhaço, 
com  quasi  cinco  ou  seis  vértebras.  O  oS' 
so  sacro  é  a  ultima  vértebra ;  é  o  osso 
que  termina  a  espinha  dorsal. 

—  O  sacro  inceiíso;  o  incenso  sagrado 
de  que  se  faz  uso  nos  nossos  templos. 

Aqui  o  famoso  templo  está  que  ardendo 
Continuamente  cem  altares  mostra 
Fumegando  o  Sabéo  sacro  incenso 
Sacritício  deuido  ao  ceo  mais  alto. 
Aqui  grinaldas  mil  do  verde  murta 
As  Dóricas  colunas  ornào  sempre 
Aqui  diuersas  flores,  aqui  rosas 
Polia  terra  se  vem  sempre  espargidas. 

COBTE  KEAL,  NAUFBAGIO  DE  SEPÚLVEDA,  CaUt.  4. 

Sangue,  que  tanto  apraz  da  guerra  ao  Nume, 
E  com  que  o  cego  Fanatismo  alaga, 
Theatro  dambiçào,  mesquinha  Terra  ; 
Puro  atiecto  he  somente  sacro  incenso. 

J.  A.   DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  CSnt.    2. 

—  Figuradamente :  Respeitado,  não  of- 
fendido,  como  cousa  sagrada. 

Vio  ao  longo  dos  Alpes  o  condado 
De  Tirol,  abundante  de  aruoredos 
Espessos,  c  sombrios,  vio  Bauaria 
Que  deu  granes  varões  ao  sacro  império. 
Ve  ii  parte  direita  Áustria  famosa 
Regada  co  Danúbio,  e  Sauo  insignes, 
Vio  a  infame  Morauia.  pella  torpe 
Vil  rapina,  de  seus  habitadores. 

CORTE  BEAL,  NAUFBAGIO  DE  SEPÚLVEDA,  Cant.  2. 

—  Termo  de  poesia.  Sacro  7íU7)ie.  —  Sa- 
cra mente. 

f  SACRO-COCCYGIO,  A,  adJ.  (Do  sa- 
crum,  e  coccyx).  Termo  de  anatomia. 
Que  diz  respeito   ao   coecyx  e   ao  sacro. 

—  Articulação  sacro-coccygia  ;  ai-ticu- 
laçào  da  extremidade  inferior  do  sacro 
com  a  faceta  superior  do  coccvx. 

SACRO-COXALGIA,  s.  /.  Termo  de  me- 
dicina. Dor  no  osso  sacro,  e  na  articula- 
ção da  coxa. 

f  SACRO-ESPINHOSO,  A,  adj.  Termo 
de  anatomia.  Que  diz  respeito  ao  sacro, 
e  á  espinha  do  dorso. 

—  Ligamentos  sacro-espinhosos ;  liga- 
mentos, um  superior,  outro  inferior,  que 
se  estendem  das  espinhas  inferiores,  pos- 
teriores e  inferiores  do  osso  iliaco,  até  ás 
partes  lateraes  e  posteriores  do  sacro, 

i  SACRO-ILIACO,  A,  adj.  Termo  de 
anatomia.  Que  diz  respeito  ao  sacro  e  ao 
osso  iliaco. 

—  St/mphi/se,  ou  articulação  sacro-ilia- 
ca;  symphyse  de  cada  face  lateral  do 
sacro  com   o  osso  iliaco  correspondente. 

f  SACRO-LOMBAR,  adj.  2  gen.  Termo 
de  anatomia.  Que  diz  respeito  ao  sacro 
e  aos  lombos. 

SACROSANTO,  ou  S.ACROSANCTO,  A, 
adj.  (Do  latim  sacrosanctus).  Santo,  sa- 
grado. —  A  sacrosanta  igreja  rcmiana. 


374 


SACU 


SADI 


SAFA 


Depois  Zazoulo  vi,  dcpoia  Carondag-, 
Sicilia  com  taos  lieiíi  *1  foi  dito-ia ! 
No  meio  bem  do  sarroniiutu  Alvorg\ic 
Taciturno  l'vtli:igora«  admiro. 

j.  A.  i)B  MACKno,  viAOKM  f.xrArii  A,  cant.  2. 


f  SACRO-SCIATICO,  A,  <vlj.  Termo  do 
anatomia.  Lií/ttiiieii'ns  sacro-3CÍatico8;  li- 
gauientoH  inembrauiíoniies,  que  concor- 
rem para  encerrar  a  artiuula(;2o  sacro- 
iliaca. 

f  SACRO-VERTEBRAL,  a,lj.  2  gen.  (Do 
sacrinn,  c  vertcòra).  Termo  do  anatomia. 
Que  pertence  ao  sacro  e  á  vértebra. 

—  Articuhu^ão  sacro-vertebral ;  arti- 
culação (lo  sacro  com  a  face  inferior  da 
ultima  vértebra  lombar. 

— ■  Ángulij  sacro-vertebral ;  anfjulo  que 
o  sacro  c  a  ultima  vértebra  lombar  for- 
niam na  sua  parte  anterior. 

SACUDIDA,  s.  /.  Vid.  Sacudidura. 

SACUDIDAMENTE,  adv.  (De  sacudido, 
c  o  suttixo  líiuenle»'!.    Com   aacudimcnto. 

—  Fiiíura' lamente  :  Com  deaembara- 
ço,  com  (lesiuíji). 

SACUDIDELA,  s.  /.  Sacudidura  lin;eira. 

SACUDIDO,  ijart.  pass.  de  Sacudir.  — 
€  Dizem  que  o  tal  beneficiado  tivera  a 
fortuna  de  se  escapar  com  vida;  mas, 
senipro  sacudido  com  pesada  inào,  en- 
tregou il  ligeiresa  dos  pés  desviar-se  do 
que  tinha  merecido  a  leveza  da  cabeça.» 
Bispo  do  (íi-rio  Pará,  Memorias,  publica- 
das por  Camillo  Castello  Branco,  pag. 
177. 

SACUDIDOR,  A,  s.  Pessoa  que  sacode, 
que  abala,  i|ae  move,  que  ai^ita. 

SACUDIDURA,  s.  /.  A  acção  de  sacu- 
dir. 

—  Al)alo.  movimento,  tremura. 
SACUDIMENTO,  s.  m.  Vid.  Sacudidura. 
SACUDIR,  V.  a.  (Do    latiui    succufere). 

Abalar,  mover,    agitar   uma   cousa   para 
uma  e  outra  parte. 


A  diâforuic  cabeça  sobre  as  ondas 
Al(;!i  do  verdes  limos  abr!i(;;ida, 
Hacode  a  barba  inculta  c  os  caboUoS 
Irtos,  c  duros,  mais  quo  a  nono  brancos. 
Olha  o  antigo  velho  como  as  ondas 
Arrcbentiio  na  nao  alta,  c  soberba. 
Olha  os  diuersos  trajos,  olha  a  gente 
Que  pello  ver  ao  bordo  se  ajuntaua. 

COBTC  BF.AI,,   NACFBAQIO  DE  SF.rUI.\T.DA ,  Cailt.  6. 


O  velho  Gallo,  que  n'um  prato  cstav», 
Kntre  fraugaõs,  e  pombos  lardeado, 
Em  pé  se  levantou,  o  as  nuas  azas 
Troa  vezes  taeiídindo.  cstiis  palavras. 
Em  voz  articulou  triste,  mas  clara. 

DINIZ  DA  CKOZ,  UYS80PE,  Caut.   7, 


As  azas  polo  espaço  indlioje  vejo, 

Quo  Altisonanto  1'vndaro  s^u-ndf : 

Kão  longe  dello  vào  transpondo  os  tempos 

Do  Mitvleno  os  inclytos  aliuunos ; 

Alcèo  que  os  hymnos  immortac^  ontòa ; 

A  desditosa  Sapho,  amor  das  Musas, 

Do  bum  desgraçado  amor  victima  infausta, 

J.  A.  DC  ILACKDO,  UCDITAçÂO,  C«ut.    1. 


—  Sacudir  o  somno ;  despertar,  desve- 
lar, acordar. 

— ■  Sacudir  o  jugo  da  conquista,  da  ty- 
rannia ;  lovantar-.te,  e  ficar  livre  do  do- 
mínio do  couquibtailor  ou  tyrauuo. 

—  Ikiter,  (lar  golpes. 

—  Kxpellir. 

Sobre  cila  a  fraraca  Mcroveo  sanóde; 
Ella  vou  /.unindo,  c  ciit<'rra  o  gumo, 
Qual,  u  um  l'inho,  ii(;  untf.rra  o  do  inacliadú. 
Do  (jtcncral  se  escacha  u  fronte,  cm  duau, 
Cúbrc  o  crrebro  a  chão,  os  olhos  rodâo-llic, 
Inda,  um  átomo;  o  corpo,  cm  pé  sustenta 
Convulso,  estira  as  mãos,  vacilia,  cáho. 
Que  lagrimoso,  miscro  spcctaculo ! 

F.    M.    DO  MASCIUENTO,   03   UAIITYBF.S,    1ÍV.   G. 

—  Flguradameutc  :  Expellir. 

Já  liaccho  brande  o  thyvso,  o  a  lança  Palias ; 
òacoí/e  o  facho  Amor,  curva  arco  l'hcbo, 
E  os  l'cnates  proferem  vozes  mysticas ; 
Dào  vaticínio  os  Numes  de  lllion  alta. 
No  Capitólio.  Encosta  o  l'ác  do  Engauo 
Um  sprito  a  cada  Simulacro  de  Ídolo, 
Que  previsto,  c  com  manha  a  Gente  iUuda. 

T.   U.    DO   NASCIMENTO,  os   MABTYBES,   1ÍV.    8. 

—  Sacudir  o  açoute ;  brandir,  vibrar 
para  dar  o  golpe  com  força. 


E,  sacudindo  o  viperino  açoute. 
Rompe  negra  Tisifone  do  Inferno, 
Quando  ambição  frenética  no  Sena, 
Unida  ao  Filosótioo  delírio, 
Quiz  nivelar  as  condições  humanas. 
Do  Pastor  fazer  Rei,  do  Rei  vassallo. 

J.    A.    DK    MACEDO,    HEDITAÇÃO,    CaUt.    2. 


—  Largar,  arrojar  de  si. 

—  Loc.  POP. :  Sacudir  o  pó  dos  pés  ; 
ir-se,  apartar-se  de  algum  lugar,  que 
merece  castigo. 

—  Sacudir  a  lança ;  arremessal-a  com 
força. 

—  Loc.  POP. :  Sacudir  o  pó  de  alguém; 
d;ir-lhe  pancadas. 

—  Fazer  cair  ou  derrubar  sacudindo. 
SACUPEMA,  s.  /.    Termo    de    historia 

natural.  Ave  galliuacea  do  Brazil,  seme- 
lhante ao  pcrú. 

SADIAMENTE,  adv.  (De  sadio,  e  o  suf- 
fixo  «mente»!.  De  um  uiodo  sadio. 

—  Saudavelmente. 

SADIO,  A,  ailj.  Bom,  favorável  ò.  saú- 
de. —  Clima  sadio. 

—  Amigo  sadio  ;  virtuoso. 

—  Que  nSo  se  gasta  em  liberalida- 
des. 

—  Que  não  diz,  nem  faz  bem  ao  ami- 
go, nem  próga  a  virtude,  sen.ão  quando 
espera  nito  desaprazer  a  algum  contra- 
rio, ao  poderoso  inimigo,  ou  vicioso;  que 
não  se  expõe,  nem  compromette,  nem 
mesmo  pela  boa  causa. 

—  Figuiadamento :  Epigramma  sadia. 


Uma  cpigramma  por  hi, 
porque  é  «adia  aqui 


para  um  grilblo,  dá-lhc  eraç*- 
Scuhor,  uão  «e  anoje  ati<i. 

ABioxio  rauTKs,  aliui,  pag.  4d5. 

—  Jloiiicin  sadio ;  homem  que  logra 
boa  haudc. 

—  Huinem  sadio ;  homem  que  não  se 
expõe  a  perigos  de  vida  e  saúde. 

SADO,  a.  VI.  Termo  da  Ásia.  Embarca- 
ç.^o  fie  |)escar. 

SAETA,  ».  /.  Vid.  SaieU. 

SAFA,  s.  f.  Voz  de  quem  manda  tafiar, 
oriunda  do  imperativo  do  verbo  *a/ar. — 
Ouviu-se  um  safa. 

f  SAFA-CABOS,  s.  vi.  Termo  de  mari- 
nha. Voz  que  dá  o  oiTicial  que  couinian- 
da  a  manobra,  logo  apiis  d'ella  concluí- 
da, c  consiste  cm  o.s  aclarar  c  colher  nos 
seus  respectivos  legares :  diz-se  safa-ca- 
bos,  safa-pcs  da  amarra,  etc. 

SAFADO,  part.  past.  de  Safar.  Tirado 
fora. 

—  Gasto  com  o  uso. 

—  aludia  safada;  moeda,  cujo  cunho 
quasi  se  iiào  distingue  pelo  uso. 

■j-  SAFANÃO,  ».  ni.  Termo  popular. 
Uma  bofetada  dada  com  as  costas  da 
mão.  —  Levar  um  safanão. 

SAFAR,  V.  a.  Extrahir,  tirar  fora,  ex- 
pellir. 

—  Safar  qualquer  objecto;  pól-o  claro, 
á  mão. 

—  Termo  de  marinha.  Safar  uma  an- 
cora; pol-a  á  roça,    apta  a  ser  fundeada. 

—  Desembaraçar  o  navio  de  tudo  o 
que  pôde  estorvar  as  manobras  e  marea- 
ção. 

—  Safar-se,  v.  rejl.  Termo  popular. 
Esgueirar-se,  fugir. 

—  Figuradamente :  Esquivar-se,  li- 
vrar-se. 

SAFARA,  ou  ÇÁFARA,  s.  f.  Alguns 
dào-lhe  a  significação  de  saharáf  e  escre- 
vcni-no  com  estas  letras. 

SAFARIO,  A,  adj.  Termo  mais  usado 
no  teniinino:  Romã  safaria;  rom£  que 
tem  os  bagos  granules  e  quadrados. 

SAFARO,  ou  ÇAFARO,  A,  adj.  Termo 
de  volatcria.  Falcão  safaro ;  falcão  bra- 
vio, esquivo,  difficil  de  amansar,  que 
nunca  se  domestica  bem. 

—  Figuradamente:  Áspero,  indócil, 
rude,  á  similhança  da  gente  do  matto; 
desconfiado. 

—  Ser  safaro  dos  óculos. 

Sou  dos  óculos  ta/aro: 
molhores  que  muito  v^m, 
molhcrcs  que  muito  sabom, 
niolhercâ  que  tudo  cn^m, 
serão  quacs  cabeças  têem, 
mas  não  sizos  que  lho  gabem. 
Asroino  MESTKs,  Acros,  pag.  5.^7. 

SAFAROSO,  A,  adj.  Vid.  Safaro. 

f  SAFA-SAFA,  .<■.  /.  Termo  de  náutica. 
O  arranjo  que  .«e  pratica  nos  navios, 
sempre  que  é  necessário  pôr  a  artUheria 
e  manobra  em  estado  de  combate. 


SAGA 


SAGA 


SAGR 


375 


SAFATE,  s.  m.  Yid.  Açafate. 

SAFENA,  s.  f.  Vid.  Sapheua. 

SAFINA,  s.  f.  Vid.  Safena. 

SAFFIR.  Vid.  Safira. 

1.)  SAFIO,  s.  m.  Termo  de  iclithyolo- 
gia.  Peixe  maritimo;  espécie  de  congro 
mais  pequeno. 

2.1  SÁFIO,  A,  adj.  Tosco,  inculto,  igno- 
rante. —  Aldeão  sáíio. 

—  Areaes  sáfios  ;  areaes  safares. 
SAFIRA,  ou  ÇAFIRA,  ou  SAPHIRA,  s.  f. 

Pedra  preciosa,   de  cGr  azul,  tirante  tal- 
vez a  purpúreo. 

Todo  era  d 'ouro  o  consagrado  Alcaçar  ; 
De  aziíl  celeste  a  abobada  esmaltada, 
Oude  brilhantes  lúcidas  Estrellas, 
Quáes  sáfira-s  finíssimas,  s'enga3tào, 
De  eterna  luz  eternamente  accesas. 
Todo  he  Pyropo  Oriental  o  s<51o. 

J.  JL.   DE  UACEDO,  TIAGEM  EITATICA,   Cant.    1. 

—  Empreça-se  também  figuradamente. 
SAFIPICO;  ou  SAPHIRICO,   A,  adj.  De 

saphira. 

SAFIRO,  s.  m.  Vid.  Safira. 
SAFO,  A,  adj.  Vid.  Safado. 

—  Desembaraçado,  despejado.  —  O 
navio  safo. 

—  A  artilheria  safa;  artilheria  sem 
carga . 

—  Livre,  desembaraçado. 

SAFÕES,  ou  ÇAFÕE3Í  s.  vi.  plur.  Ter- 
mo antiquado.  Calças  largas. 

1.)  SAFRA,  ou  ÇAFRA,  í.  /.  Massa  de 
ferro,  calçada  de  aço,  posta  em  um  cepo, 
onde  o  ferreiro  malha  o  ferro  em  braza ; 
é  mais  larga  que  a  bigorna;  é  quadrada, 
e  nào  tem  pontas  como  esta  tem. 

—  Termo  de  chimica.  Osydo  de  co- 
balto, denegrido,  pulverulento,  qud  mis- 
turado com  duas  ou  três  vezes  o  seu 
peso  de  pedregulho,  rubro  ao  fogo,  for- 
ma a  espécie  de  pó  pardacento  que  se 
vende  no  commercio  sob  o  nome  de  sa- 
fra; serve  para  fazer  o  vidro  azul. 

2.)  SAFRA,  s.  /.  Novidade.  —  Safra 
de  azeitona. 

—  Foi  anno  de  safra  ;  foi  anno  de  bas- 
tante novidade. 

—  Emprega-se  também  figuradamente  : 
Safra  de  peccados. 

—  Vid.  Safara. 

SAFRADEIRA,  í.  /.  Vid.  Alfeça. 
SAFRÃO,    s.    m,    (Do  francez  safron). 

Vid.  Açafrão. 

•j-  SAFYRA,  s.  /.  Vid.  Safira. 

Nas  luminosas  trémulas  safyra^. 
Que  recamào  da  nouto  o  véo  sombrio, 
Descobre  ardentes  Sues,  descobre  centroa 
De  mil  ignotos  Planetários  Mundos. 

J.  A.   DE  MACEDO,  MEDirAÇÃo,   Caut.    1. 

1.^  SAGA,  CAGA,  ou  ZAGA,  s.  f.  Ter- 
mo de  milicia  autiga.  A  retaguarda.  Vid. 
Raçaga,  e  Costaneira. 

2.  SAGA,  s.  f.  (Do  latim  saga).  Mu- 
lher feiticeira,  mettida  a  prophetisar,  fa- 


zer encantos,  para  enganar  todos  os  cren- 
deiros. 

SAGAÇARIA,  s.  /.  Termo  antiquado. 
Sagacidade,  ardis,  traças  executadas  com 
muita  destreza,  juizo  e  finura. 

SAGACEZA,  s.  f.  Termo  antiquado.  Sa- 
gacidade, obra  de  homem  sagaz.  Vid. 
Sagueza. 

SAGACIA,  s.  /.  Termo  antiquado.  Sa- 
gacidade. 

SAGACIDADE,  s.  f.  (Do  latim  sagaci- 
tas).  Subtileza  de  espirito,  comparada  á 
subtileza  do  olfato. 

—  Peneti'açào  de  espirito,  que  nos  faz 
descobrir  o  que  ha  de  mais  difficil  e  oc- 
culto  nas  sciencias,  nos  negócios. 

—  Astúcia  com  que  se  inventam  e 
traçam  os  meios  de  alcançar  alguma 
cousa. 

—  Sagacidade  dos  animaes. 

—  Syn.  :  Sagacidade,  subtileza.  Vid. 
este  ultimo  termo. 

SAGACÍSSIMO,  A,  adj.  (De  sagaz,  com 
o  suffixo  «issimo»!.  Superlativo  de  Sa- 
gaz. Mui  sagaz. 

SAGAPENO,  s.  m.  Gomma-resiua,  pro- 
veniente talvez  da  fécula  pérsica. 

1.)  SAGAZ,  adj.  2  gen.  Dotado  de  sa- 
gacidade, astuto,  manhoso.  —  «Foi  dom 
Francisco  dalmeida,  aliem  de  bom  caual- 
leiro,  mui  prudente,  e  sagaz,  bem  assom- 
brado, e  graue  em  sua  pratica,  acerca 
das  cousas  da  índia,  foi  de  opinião,  que 
quantas  mais  fortalezas  el  Rei  la  tiuesse, 
tanto  mais  fraco  seria,  que  a  força  com 
que  auia  de  senhorear  a  índia  era  no 
mar,  que  sem  nelle  trazer  grossas  arma- 
das, nam  poderia  defender,  nem  soster 
as  fortalezas.»  Damiào  de  Góes,  Chroni- 
ca  de  D.  Manoel,  part.  2,  cap.  44. 

Ora  vae, 
chega  a  casa  mui  sagaz, 
vê  O  que  faz 
esse  velho  de  meu  pac, 
se  está  inda  contumaz. 
ASTOxio  PKESTEs,  ACTOS,  pag.  239. 

Os  fortes  Lusos  a  Calamnia  espia, 
Venenosos  farpoons  prompta  arremcça. 
De  vis  enganos  a  caterva  impia 
Ka  rude  plebe  de  lavrar  começa : 
Sagaz  se  occulta  do  clarão  do  dia, 
E  lhe  apraz  envolver-se  em  sombra  espessa ; 
Veste  com  as  roupas  da  verdade  o  engano. 
Mostra  inimigo  o  forte  Lusitano. 

J.  A.   DF.  MACEDO,  O  ORIENTE,  Cant.    11,  CSt.   8. 

Das  varias  estações  já  sente  a  volta 
Cultivador  eaga:.  reflecte,  e  segue 
O  passo  igual  da  Natureza  activa. 

IDEM,  MEDITAÇÃO,  Cant.    1. 

O'  lisonjeiro  do  sagaz  Augusto, 
Teu  svstema  tal  foi ;  teus  áureos  Versos 
Somente  o  Cortczào,  e  Amor  respirào 
Entre  as  infames  libações  de  Bacho. 

IDEM,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Cant.    2. 

2.)  SAGAZ,   s.   m.   Termo  de  zoologia. 


Espécie  de  mosca  de  quatro  azas,  que 
fingindo  estar  presa  nas  teias,  faz  sair  as 
aranhas  para  a  caçarem,  e  entào  as  mata. 

SAGAZIDADE,  s.  f.  Vid.  Sagacidade. 

SAGAZMENTE,  adv.  (De  sagaz,  com  o 
suffixo  «mente»;.  De  uma  maneií-a  sa- 
gaz, com  astúcia. 

SAGEIRA,  s.  /.  Termo  antiquado.  Sa- 
bedoiia. 

SAGENA,  s.  f.  Cárcere,  prisão  dos  ca- 
ptivos  christàos,  entre  os  mouros. 

SAGERIA,  s.  f.  Vid.  Sageira. 

SAGES,  adj.  Termo  antiquado.  Sábio, 
prudente,  honesto,  virtuoso,   sabedor. 

SAGEZA,  s.  /.  (Do  francez  sagesse). 
Termo  antiquado.   Sabedoria,   prudência. 

SAGEZMENTE,  adv.  (De  sagez,  com  o 
suifixo  «mente»).  De  uma  maneira  sagez, 

—  Prudentemente,  como  sabedor. 

—  Destramente,  com  juizo,  tino  e  ac- 
cordo. 

SAGIÃO,  s.  m.  Termo  antiquado.  Vid. 
Saião,  algoz. 

SAGINAR,  V.  a.  (Do  latim  saginare). 
Cevar,  engordar. 

SAGION,  s.  m.  Termo  antiquado.  Mi- 
nistro  de  justiça,    como  alcaide  ou  juiz. 

SAGIRAVE,  s'.  m.  Prateleiro. 

SAGITADO,  adj.  Termo  de  botânica. 
Vid.  Afrechado. 

SAGITAL,  ou  SAGrriAL,  adj.  2  gen. 
(Do  latim  sagittalis,  de  sagitta).  Termo 
de  anatomia.  Sutura  sagital;  sutura  exis- 
tente no  meio  da  coronal,  e  da  sutura  oc- 
cipital. 

SAGITA-MAIOR,  «.  /.  Termo  de  botâ- 
nica. Planta  aquaria,  espécie  de  rainun- 
culo. 

1.)  SAGITÁRIO,  ou  SAGITTARIO,  «.  m. 
(Do  latim  sagittarius} .  Termo  de  astrono- 
mia. Constellaçào  representada  sob  a  fi- 
gura de  um  centauro  entesando  um  ar- 
co. —  O  sol  estava  no  sagitario. 

—  O  decimo  nono  signo  do  zodiaco, 
que  em  consequência  da  revolução  da 
terra,  parece  percorrido  pouco  mais  ou 
menos  de  20  de  novembro  a  20  de  de- 
zembro pelo  sol. 

2.)  SAGITÁRIO,  A,  adj.  (Do  latim  sa- 
gittai-itis).  Setteiro,  que  ia  á  guerra  de 
arcos  e  de  settas. 

SAGITIFERO,  A,  adj.  Termo  de  poesia. 
Que  leva  settas. 

1.)  SAGO,  s.  m.  Saio  militar. 

2.)  SAGO,  s.  m.  Vid.  Sagú. 

SAGOIM.  Vid.  Sagui. 

1.1  SAGRA,  s.  /.  Termo  de  zoologia. 
Grande  insecto,  coleoptero,  de  cores  mui 
brilhantes,  que  se  encontra  nas  regiões 
tropicaes. 

2.)  SAGRA,  s.  f.  A  festa  do  orago  da 
egreja  de  S.  Domingos  em  Cascaes. 

SÀGRAÇÃO,  s.  f.  (Do  latim  sacratid). 
Acçào  de  sagrar. 

- —  Consagração. 

SAGRADAMENTE,  adv.  (De  sagrado, 
com  o  suffixo  «mente»).  De  um  modo 
sagrado. 


376 


SAOR 


SAHI 


SAHI 


—  Vcncravolmcnto,  rospcitamlo  cousa 
divina. 

SAGRADO,  jmrl.  pnss.  de  Sagrar.  De- 
dicado, consa^jrado.  —  «E  isto  lie  o  qiu 
diz  o  Sagrado  Texto,  qiio  o  principio  do 
Ncinbrotli,  fov  nestcH  qii;itro  bayro».  João 
do  Leão  tratando  da  iundacão  dosta  Ci- 
dade diz,  (jiui  da  criac^ílo  do  inundo  tò  o 
diluuio  80  passaram  mil  o  Heyscentos  c 
cincoenta  c  soys  annos,  e  quo  noa  conto 
o  trinta  c  hum  dejioi»  delle  se  cditicnu.» 
Fr.  fiaspar  de  8.  Bernardino,  Itinerário 
da  índia,  cap.  18. —  a  Por  esta  sagrada 
liistoria  nua  (|uis  o  Senhor  ensinar,  qne 
80  queremos  chepar  a  ver  e  ^ozar  a  phi- 
ria  da  resurrcicào  que  esperamos  no  tím 
do  nmndo,  conuoni  quo  em  quãto  viue- 
mos  no.'^  apercebamos  do  vnpnentos  aro- 
máticos, o  cheyrosos,  nam  corporacs,  so- 
nam  spirituaes,  c3  os  quacs  vnjamos  o 
Senhor  cousa  quo  elle  do  nòa  principal- 
mento  requer.  Estos  vngucntoa  saõ  três 
(como  diz  S.  Bernardo)  s.  cõtri(;rio,  de- 
uaçam,  c  misericórdia.»  Frei  Bartholo- 
meu  dos  Martyros,  Catecismo  da  doutrina 
christã.  —  «Também  he  maia  accoinnio- 
dado  o  lugar  sagrado,  o  o  tempo  de  al- 
p^uma  festa  solemno  pêra  receber  liberaes 
influencias,  e  fauores  do  Coo,  pêra  allc- 
garmoa  ao  Senhor.  Em  bom  dia  vimos  a 
vo$  pedir  mercês :  donde  em  dia  de  Natal 
canta  a  sancta  Igreja,  Hoje  saíi  o#  Ceos 
feitos  rios  de.  doqura,  e  mnnnnriaes  de 
toda  a  siíanidadf.í  Idem,  Compendio  de 
espiritual  doutrina,  cap.  1.'].  —  «Eu  bom 
podia  dizer  a  V.  M.  que  nos  doc\UTiento3 
do  Texto  Sagrado,  na  doutrina  doa  Pa- 
dres da  Igreja,  na  opinião  dos  Autores 
Clássicos,  e  na  Infinita  Caterra  do  Fcn- 
nas  velhas  e  novas,  se  acha  a  cada  pas- 
so para  huma  Ostentação  mil  oposiyoens 
ao  juizo  das  Damas.»  Cavalleiro  d'01i- 
veira,  Cartas,  liv.  1,  n.°  7. 

Mns  he  doce  o  meu  nome  a  quem  Virtude, 
A  quem  mérito  apraz !  scgue-mo,  i  filho, 
Cruza  comig;o  os  Pórticos  taifrados. 

J.   A.   DK  MACEDO,   TIAQEII  EXTÁTICA,  Caut.    1. 

—  Sagrada  pagina;  a  Sagrada  Escri- 
ptura. 

■  —  Os  sagrados  apóstolos;  os  que  fize- 
ram o  credo,  e  que  foram  escolhidos  por 
Christo, 


Obra  de  insigne  Mestre.  Talvez  este, 
Como  Príncipe  foi  do  Apostolado, 
Baste  no  nosso  caso,  a  serem  nello 
Os  fogrado»  Apóstolos  precisos. 
Veja,  Doutor,  se  tem  isto  caminho, 
Por  poupsr-nie  a  vergonha  de  pedi-los. 
nmiz  DA  cRi-z,  HYSSOPK,  caut.  4. 

—  O  sagrado  tempo  penitencial ;  o  san- 
to tempo  da  quaresma.  —  «Pois  quo  elle 
ho  o  primeiro  Domingo  desto  sagrado 
tempo  penitencial  que  começamos,  seraa 
cousa  muy  proueytosa  ensiuaruos  a  tra- 


ça e  ordem  que  auois  do  guardar  cm 
vossa  penitencia  pcra  que  stija  aceyta  a 
Dcos.»  Fr.  Bartliolomcu  do»  Jlartyrcs, 
Catecismo  da  doutrina  christã. 

—  A  Sagrada  Ksrriptnm ;  o  livro  na- 
grado  que  contém  a.s  vcrda'leB  da  reli- 
gi.ão  cutholica;  a  «agrada  pagina.  —  «Foy 
esta  (Jidado  tain  magnifica,  o  opulenta, 
que  a  Sagrada  Kscriptura,  nSo  achou 
outro  nome,  ([ue  lho  pôr  senão  Cidade 
grande  de  trcs  dias  do  Caminho.  A  Mo- 
narchia  Ecclcsiastica,  affirma  ter  ella  em 
ciriuyto  quat)occntt)S  e  oytenta  e.sta<li<is, 
que  saH  dez  legoas.»  Fr.  (!a«par  de  S. 
Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap.  17. 
—  «E  quo  a  Cidade  fosse  edificada  entre 
os  dous  rios :  a  Escriptura  Sagrada,  o  as 
ruynas  delia  cm  quo  cu  niuytas  vezes 
cntrey,  saõ  verdadeyraa  testemunhas  dis- 
so, p  Ibidem,  cap.  18. 

—  Substantivamente:  O  logar  vedado 
a  profanidados,  asylo;  o  resguardo,  o 
respeito  devido  a  pessoas  ou  cousas  sa- 
grai las,  e  santas,  veneráveis. 

SAGRAL,  adj.  2  gen.  Termo  antiqua- 
do. Secular. 

SAGRAR,  f.  a.  (Do  latim  sacrare).  Con- 
ferir um  caracter  do  santidade  por  meio 
de  cortas  ceremonias  religiosas.  —  Sagrar 
wna  egreja. 

SAGRE,  í.  )».  Vid.  Sacre. 

SAGÚ,  ou  SAGUM,  í.  m.  O  miolo  de 
uma  arvore  :l  semelliança  da  palmeira, 
de  que  se  faz  fiirinha,  ou  massa,  quo  se 
guarda  por  jirovisão. 

—  Bebida  espirituosa,  usada  na  índia, 
a  que  dão  o  nome  de  tuáca;  c  feita  de 
licor  que  distilla  doa  ramos  da  mesma 
arvore  podados  em  quanto  tenros.  Vid. 
Sagueiro,  e  Sagur. 

SAGUÃO,  CHAGUAO,  ou  XAGUAO,  s.  m. 
Pateo  descoberto  no  centro  das  ca.sas  on- 
de cáeni  com  grande  estrépito  as  aguas 
dos  telhados. 

—  Termo  antiquado.  Entrada  coberta 
junto  da  porta  principal  do  convento,  ou 
do  alguma  casa,  da  qual  se  passa  para 
03  pateos,  corredores,  escadas,  etc. 

SAGUATE,  s.  m.  Termo  da  Ásia.  Pre- 
sente. 

SAGUEIRO,  s.  m,  A  arvore  de  que  se 
tira  o  sagú. 

SAGUEZA,  s.  f.  Termo  antiquado.  Sa- 
gacidade. Vid.  Sagaceza. 

SAGUI,  ou  ÇAGUI,  «.  wi.  Espécie  de 
macaco  pequeno. 

1.^  SAGUM,  .«.  "1.  Vid.  Sagii. 

2.)  SAGUM,  s.  »i.  Vestimenta  de  guer- 
ra, curta  c  que  não  passava  das  joelhos, 
de  que  usavam  os  romanos. 

SAGUNTINO,  A,  adj.  e  s.  Que  perten- 
ce á  cidade  de  Sagunto. 

SAGUR,  .«.  ni.  Diz-sc  que  nas  Molucas 
corresponde  estji  arvore  ;Í8  palmeiras  do 
Malabar,  c  que  os  molucos  extrahem  d'cl- 
la  pão,  vinho,  vinagre,  ctc.  Vid.  Sagú. 

SAHI.  Vul.  Saitaia. 

SAHIDA,  s.  /.  Vid.  Saída.  — -  .íI  sabi- 


da das  mert/uU/rias.  —  «Sobre  o  qual  ne- 
gocio 80  passaram  muitos  recados,  e  des- 
contentamentos d'EIKey  do  (^ananor,  e 
d'ElUcy  de  Cochij :  cá  illcs  p<zav»-lhc« 
muito  estarmcjs  ein  i)az  com  í.'alecut,  pfir 
perder  na  entrada  e  sahida  das  mercaílo- 
rias  grande  renda,  pola  muita  copia  de 
pimenta,  gongivre,  o  outras  especiarias 
que  tinha  em  Calecut,  e  havia  de  abat«r 
no  firoveito  dcdlcs.»  BarroK,  Década  2, 
liv.  7,  cap.  6.  —  «F<>ra'"5  a*  Pnjcissoens 
significadas  na  sahida  quo  o«  filhos  d'lB- 
rael  tí/.eraò  do  Egijito,  nssi  como  por 
ella  tirou  Moyses  o  Israelitico  pouo  do 
poclcr  de  Faraó,  tirou  (Jhri.>»to  o  pouo  Ca- 
tholiío,  da  boca  <lo  Ijca3.»  Ijicerda,  Car- 
ta pastoral,  pag.  JJHG.  —  «Na  corte  do 
Madrid  se  achou  hum  tratante  de  índias 
com  grande  quantidade  do  esmeraldas 
lavradas,  som  liies  achar  trasto,  nem  sa- 
hida para  se  desfazer  delias.*  Arte  de 
furtar,  cap.  M. 

—  Dar  sahida.  Vid.  Saida.  —  «E  com 
outra  parte  de  gent-;  elle  AfFonso  d'Al- 
boquerque  iria  invernar  a  (íoa;  o  ou- 
tra, a  que  queria  dar  sahida,  era  em 
huma  armada  de  quatro  velas  pcra  an<lar 
na  boca  do  mar  Roxo  entre  o  Cabo  Guar- 
dafu,  e  o  de  Fartaque.»  JoAo  de  Barros, 
Década  '2,  liv.  10,  cap.  1. 

7  SAHIDO,  part.  pass.  de  Sahir.  Vid. 
Saído.  —  «  Algumiis  lagrimas  houve  na- 
quellas  senhoras,  o  não  tantas  como  na 
partida  de  Florendos.  Sahido  Palmeirim 
d'antr'ellaa  se  dej?pediu  também  de  Pri- 
malião  o  Vernao  e  do  seu  irmào,  de  Dra- 
musiando  e  outros  seus  amigos,  que  con- 
tra sua  vontade  o  deixavam  ir,  e  se  poz 
no  caminho  do  reino  de  Trácia,  acompa- 
nhado de  Selvião  e  da  donzella,  ficando 
a  corte  tão  desacompanhada  sem  elle, 
que  parecia  que  estava  sii.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  de  Inglaterra,  cap. 
95.  —  «  Escreve-se  delle,  que  depois  de 
sahido  de  Ilespanha  e  passar  por  Navar- 
ra, onde  deixou  casado  Dragonalte,  can- 
sado ou  enfadado  da  conver.sação  dos  dias 
passados,  sà  com  Arlança  e  suas  criadas, 
determinou  seguir  seu  direito  caminho  a 
Constantinopla,  e  ir  vèr  sua  senhora  Lio- 
narda,  rainha  de  Trácia,  a  que  o  amor 
com  mais  rasão  verdadeira  o  ia  affeiçoan- 
do.i-  Ibidem,  cap.  130.  —  «  Sabidos  em 
terra,  fomos  todt>8  abraçalo,  e  elle  com 
outro  igoal  amor  foz  o  me.«mo:  e  depois 
de  nos  dar  a  boa  vinda,  e  niie  a  elle  a 
sua  estada,  fomos  andando  pêra  a  Igreja 
indo  el  Rcy  diàte  a  pê  ensinàdonos  o  ca- 
minho, que  j\  verdade  onde  ha  amor  ver- 
dade vro,  não  se  consente  perfeyta  grani- 
dade.»  Fr.  (íaspar  de  S.  Bernardino, 
Itinerário  da  índia,  cap.  6. 


Qnando  .Tponas  il!»s  mãos  do  Omnipotente 
Tinha  do  Mundo  ;i  Machinn  fahido, 
O  Teinfw  novamente  produzido, 
Sc  mostrou  contra  os  homens  inclomento. 

ABBADK    DK  IXZMStS,  rOESUS,   tOOI.   'J,    p«g.   38. 


SAHI 


SAHI 


SAHI 


377 


—  «  E  que  tendo  sabido  do  mundo  em 
apparencias,  querem  entrar  mais  dentro 
delle  do  que  antes  estavão. »  Cavalleiro 
d'01iveira,  Cartas,  liv.  1,  n.°  28.  —  «  Suc- 
cedia-liie  logo  outra  meza  de  seu  filho 
herdeiro,  que  comia  com  hospedes  de  or- 
dinário, e  de  quem  eu  o  fui  algumas  ve- 
zes ;  e  eis  aqui  que  appareciam  outra  vez 
aquellcs  pratos,  sendo  J;'i  a  tsrueií-a  que 
no  mesmo  dia  tinham  sahido  a  publico.» 
Francisco  Manoel  de  JIcUo,  Carta  de  guia 
de  casados,  cap.  4õ.  —  «  D'acjueila  casa 
tinliam  sahido  geraes  para  a  eougregaçào 
de  S.  Bento,  como  D.  Pedro  da  Gloria 
para  a  dos  Cruzios,  frades  douti.ssimos 
como  frei  Ignacio  de  Jesus,  bispos  e  ca- 
pitães generaes,  navegadores  e  martyres 
do  Oriente.»  Bispo  do  Grão  Pará,  Memo- 
rias, publicadas  por  Camillo  Castello 
Branco,  pag.  2. 

SAHIR,  V.  n.  Yid.  Sair,  termo  mais 
em  uso.  —  «  E  vindo  nesta  lanchara  de- 
fronte de  Pacem,  que  he  huma  Cidade 
cabeça  do  Reyno  assi  ciiamado,  que  es- 
tava adiante,  sahiraiu  a  elles  certas  man- 
chuas,  era  que  vinham  Mouros  da  terra, 
com  que  houveram  peleja.»  Joiio  de  Bar- 
ros, Década  2,  llv.  6,  cap.  1.  —  «Foi 
logo  avisado  Gogo  Çofar  da  industria,  com 
que  lhe  frustrámos  tão  custoso  trabalho, 
e  acudindo  áquella  parte,  impaciente  na 
contraposição  que  achava  a  todos  seus  de- 
senhos, sahio  da  Fortaleza  huma  bala  per- 
dida, que  no  meio  de  hum  esquadrão  de 
Turcos,  lhe  levou  a  cabeça.  Houve  no 
exercito  sentimento  publico  pela  falta  de 
tão  grande  soldado.»  Jacintho  Freire  de 
Andrade,  Vida  de  D.  João  de  Castro, 
Hv.  2. 


Gretas,  buracos  fazia 
ha  terra,  e  se  abrio, 
agua,  e  avca  sahia, 
que  a  eusufre  fedia  ; 
isto  em  Almeirim  se  vio. 

OABCIA  DE  BEZEKDE,  MISCELLANEA . 


—  « Cuidando  o  dono  da  Caza  que  que- 
riamos  jogar  ás  cristas  sahio  de  seu  ga- 
binete, e  chegando-se  a  mim  com  bastan- 
tes inguirimanços,  depois  de  fazer  a  sua 
costumada  caramunha,  se  meteo  de  gor- 
ra onde  não  era  chamado.»  Cavalleiro 
d'01iveira,  Cartas,  liv.  1,  n.°  10.  —  «Nel- 
le  tem  el  Rey  quatrocentos  Parseos  de 
presidio,  os  quacs  em  todo  anno,  nem 
elles,  nem  o  Capitão  podem  sahir  fora 
sem  expresso  mãdado  dei  Rey,  nem  me- 
nos entrar  pessoa  alguma  estrangeyra, 
inda  que  não  seja  mais  quo  auer  o  co- 
mum, e  praça  dulle.»  Fr.  Gaspar  de  S. 
Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap.  13. 

Tal  oom  clle,  cortando  a  Libva  adusta 
Sahe  da  mesma  montanha  o  Zaire,  o  busca 
Debaixo  do  Equador  o  immonso  Oceano 
Onde  o  Sol  já  cahindo  o  carro  atufa. 

J.  A.   DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Caut.   2. 
TOL.  T.  — 4<S. 


Se  algumas  vezes  do  Troiano  estrago 
Folhêas  o  Cantor,  foi  neste  Coehe 
Qu'a  cruel  Mày  do  pérfido  Menino, 
Qu'he  paz,  o  he  guerra  dos  humanos  todos, 
/•iahio  do  mar  para  mostrar-so  ao  Mundo. 

IDEM,  A  NATCREZA,   Cant.    3. 

—  Sahir  i^ara  oavir  missa;  partir  com 
o  fim  de  assistir  a  um  acto  religioso.  — 
«E  esperandoo  hum  Domingo  á  porta  da 
fortaleza,  em  tempo  que  o  terreyri)  esta- 
va todo  cheio  de  gente,  e  elle  sahia  para 
yr  ouvir  Missa,  o  foy  demandar,  e  des- 
pois  de  se  fazerem  entre  ambos  as  devi- 
das cortesias  lho  disse.»  Fernão  Mendes 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  29. 

—  Sahir  pela  barra  fora.  —  «Chegou 
D.  Antaõ  de  Noronha  a  Cóchim  aquelle 
dia,  e  achou  a  D.  Fernãdo  de  Menezes 
doente  de  camarás,  e  esteve  com  elle 
aquella  noite  toda,  o  que  pass.àraõ  auti-e 
ambos  não  se  soube,  e  logo  pela  manhãa 
se  despedio  delle  pêra  se  tornar.  Sahindo 
pela  barra  fora  houve  vista  da  Armada 
do  Visorey,  que  vinha  demandando  a 
barra,  e  foy  o  demandar,  e  com  elle  tor- 
nou pêra  Cóchim.  O  Visorey  o  deteve, 
porque  tinha  necessidade  de  seu  conselho 
pêra  certas  cousas.»  Diogo  de  Couto, 
Década  6,  liv.  9,  cap.  18. 

— •  Sahir  ao  encontro ;  encontrar-se  com 
intento  d'isso.  —  «Pêra  o  que  he  de  sa- 
ber, que  dons  annos  antes,  fazendo  o 
nosso  Faraute  outra  viagem,  neste  cami- 
nho, e  paragem,  lhe  sahirão  ao  encontro 
entre  o  rio  Carcha,  e  o  Charon,  noue 
ladroes,  atirandolhe  ás  frechadas,  de  que 
ficou  muy  mal  ferido.»  Fr.  Gaspar  de  S. 
Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap.  16. 

—  A  aurora  sahindo  da  triste  noite; 
apparecendo. 


Já  n'e3te  tempo  a  Aurora 
Dentro  a.s  escuras  cavernas, 
Sahindo  da  triste  noite, 
Xo  convez  do  Ceo  passca. 

JEKONYMO  BAHIA,  JOBSADA  II. 


— ■  Sahir  em  terra.  Vid.  Sair.  —  «Pas- 
sada esta  tragedia  tornamos  a  sahir  em 
terra,  e  eõ  o  olho  sobre  o  ombro,  cozei'ão 
os  nossos  do  arros,  estando  outros  entre- 
tanto pescando  no  rio  muyto,  e  bom  pev- 
xe,  que  todos  juntos  aquella  noyte  cea- 
mos com  tanto  gosto,  e  alegria,  como  se 
demais  longe  nos  conhecêramos.»  Fr. 
( raspar  de  S.  Bernardino,  Itinerário  da 
índia,  cap.  õ. 

—  Sahir  um  rio  d'este  lugar ;  tirar 
d'aqui  a  sua  origem.  —  «Aqui  em  Ilhas 
e  Peninsolas  que  nella  ha,  se  vee  o  mons- 
truoso animal  Catoblepas ;  o  sahindo  des- 
te lugar  o  rio,  com  sua  fúria  costumada, 
se  faz  na  volta  do  Nordeste,  e  algumas 
vezes  do  Noroeste,  sendo  sua  verdadoyra 
derrota  buscar  o  Norte,  cousa  que  de  ne- 
nhum outro  rio  sabemos.»  Fr.  Gaspar  de 
S.  Bernardino,  Itinerário  da  índia,  ca- 
pitulo 21. 


—  Sahir  as  lagrimas  a  alguém;  chorar, 
derramal-as  por  algum  motivo.  —  «O 
qual  el  Rey  quis  conceder,  e  sahindo 
hum  dia  polia  manhãa  a  ouuir  missa  fo- 
ra, cuberto  de  muyto  grande  doo,  e  quan- 
do se  vio  sem  o  Príncipe  seu  filho,  que 
sempre  trazia  junto  de  si,  não  se  pode 
ter  que  lhe  não  sahissem  as  lagrimas,  e 
como  foy  visto  leuantouse  tamanho  cho- 
ro, e  pranto  em  todos,  quo  era  piedosa 
e  muy  triste  cousa  pêra  ver.»  Garcia  de 
Rezende,  Chronica  de  D.  Manoel,  pag. 
132. 

—  Sahir  ao  jardim  ;  ir  até  lá.  —  «Fi- 
zeram tamanho  alvoroço  estas  palavras 
em  todos,  que,  sem  mais  aguardar,  pedi- 
ram armas  e  sahiram  ao  jardim,  e  no 
lugar  onde  o  dia  passado  viram  tudo 
raso,  acliaram  aquella  casa,  que  de  fora 
estiveram  olhando,  que  era  muito  pêra 
isso.»  Francisco  do  Moraes,  Palmeirim 
d'Inglaterra,  cap.  120. 

—  Sahir  da  j^risão;  tornar-se  livre, 
gozar  da  liberdade.  —  «E  porque  isto 
era  tarde,  Arnalta  mandou  dar  de  cear 
a  Florendos  e  aos  que  sahiram  da  pri- 
são, tão  abastadamente,  como  se  estive- 
ra de  muitos  dias  apercebida  pêra  o  ban- 
quete.» Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
d'Inglaterra,  cap.  102. 

—  Sahir  sangue  de  qualquer  ferida; 
derramal-o,  correr  d'ella. —  «De  sorte  que 
em  pouco  espaço  desfizeram  as  ai-mas, 
dando-se  feridas  mortaes,  de  que  sahia 
muito  sangue,  especialmente  ao  gigante, 
que  por  ser  menos  destro  andava  peior 
tratado.»  Francisco  de  Moraes,  Palmei- 
rim d'Inglaterra,  cap.  127. 

—  Sahir  da  cidade;  ir  para  fora  d'el- 
la,  retlrar-se  d'ella,  —  «O  cavalleiro  das 
Donzellas,  tanto  que  sahiu  da  cidade, 
não  andou  muito  que  não  anoitecesse,  e 
acertou  de  ser  em  uma  íloresta  algum 
tanto  afastada  de  povoado;  mas  por  ser 
no  verão,  tempo  em  que  se  pode  gasa- 
Ihar  em  qualquer  parte,  quiz  repousar 
do  trabalho  passado  e  esperar  a  clarida- 
de do  dia  debaixo  de  uns  sovereiros  al- 
tos, onde  havia  uma  fonte  dagua  clara  e 
mui  singular. »  Francisco  de  Moraes,  Pal- 
meirim d'Inglaterra,  cap.  124. 

— •  A  frecha  sahe  do  arco  viouro;  des- 
pede-se,  atira-se. 

Xunca  a  mais  grossa  nuvem,  mais  inchada 
Que  poios  ares  vai  não  vagarosa, 
Tanta  parto  eucubrio  da  luz  dourada 
Que  a  terra  opaca  faz  clara  e  formoaa, 
Xem  tanta  parte  do  ar  foi  occupada 
Da  banda  d 'estorninhos  copiosa, 
Quanta  a  frecha  que  sahe  lá  do  arco  Mouro 
Occupa  do  ar,  encobre  da  luz  douro. 

F.  d'andrade,  pkimeieo  cebco  de  Dio,cant.  19, 
est.  38. 

—  Sahir  contra  a  enseada;  arremetter 
contra  ella,  ir-lhe  ao  encontro. 

Nesta  hora  sendo  ja  mais  moderada 
A  fúria  do  feroz,  bravo  Levante, 


378 


SAIA 


S('>lta  n  volla  du  novo  a  imifju  arnindii, 
E  d'alli  HO  vai  pôr  lium  pouco  iWauto  ; 
Ate  liuma  ponta  aahc  contra  a  cnsoada 
Do  Cambaia,  (|uo  oin  freiíti;  Cít.i,  o  distante 
Da  Ciiristãa  fortaleza  In^oa  o  meia, 
BuBca  outra  voz  o  forro  a  funda  areia. 

r.   DE    ANDRADK,   fRIUEIHO    CKBCO     D«    DID,    Cant. 

20,  cBt.  ao. 


—  Sahir  a  receber  alguém ;  csperal-o 
para  o  receber,  ir  ao  encontro  cUello  pa- 
ra o.sto  úm.  —  (ilil  foi  o  encontro  tal,  que 
o  cavallo  do  FlorenJo.^  ajoelhou  o  elle 
perdeu  ambos  estribos  ;  mas  como  o  ca- 
vallo do  outro  cahiu  com  seu  senhor,  le- 
vando-lho  uma  perna  debaixo,  do  que  se 
achou  um  pouco  mal  tratado,  Florendos 
depois  que  se  concertou  na  sclla,  bradou 
ao  terceiro,  que,  como  estivesse  nianeu- 
corio  de  vêr  tratar  assim  seus  compa- 
nheiros, acompanhado  do  sua  ii"a  c  for- 
ça, o  sahiu  a  rccebtír.»  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  d'Inglaterra,   cap.   100. 

—  Sahir-se,  v.  rrjl.  Vid.  Sair-se.  — 
«Vendo  elRoy  a  triste  profecia  do  pano, 
se  achou  alcãçado  do  não  aceitar  o  cõ- 
Belho  dos  antigos,  e  com  grande  tristeza 
se  sahio  do  paço,  fazendoo  fechar  da  ma- 
treira que  antes  estava,  encomendando 
eegredo  aos  que  sabiaõ  do  caso,  por  evi- 
tar altcraçoens,  que  so  movem  na  gente 
vulgar,  com  someihãtes  novidades.»  Mo- 
narchia  Lusitana,  liv.  7,  cap.  1.  —  «Os 
Portuguczes  nrio  estavaõ  fora  do  dano, 
porque  como  o  fogo  era  muito,  e  os  ar- 
rçmessos  tão  bastos,  huns  queimados  aco- 
diaõ  ás  tinas  a  se  banharem  na  agua,  e 
outros  com  as  cabeças  quebradas,  braços, 
e  pernas  espedaçadas,  sahiaõ-se  a  pedir 
cura :  de  maneira  que  em  todas  as  par- 
tes avia  de.savonturaa.»   Diogo  de  Couto, 


Décadas,    liv.   'ò,    cap.   2. 


»E 


eutrelunho  de  Outubro,  depois  da  gente 
estar  dentro,  el  Rey  mandou,  que  todo- 
los  escrauos  e  negros,  que  na  cidade  auia, 
se  sahissem  fora  por  dez  dias,  sob  pena 
de  se  perderem.»  Garcia  de  Rezende, 
Chronica  de  D.  João  II,  cap.  78. 

SAIA,  s.  /.  Vestidura  antiga  de  homem 
de  guerra.  Vid.  Malha. 

—  Diz-se  modernamente  da  vestidura 
da  mulher  que  cobre  o  corpo  da  cintura 
para  baixo, 

doixo  a  mou  filho  uma  saia  : 
oh !  como  so  vem  chegando ! 
livrao-mo  ora  aanta  Olaya  ! 
jil  m'o  arcabou(;o  dosmaia. 

ASTONIO  rnESTES,  AUTOS,   p»g.    419. 

E  a  vossa  ama  d'uma  faia 
vos  foz  cuoiro. 
IBIDEM,  pag.  401. 


—  Termo  de  marinha.  Supplemento  lis 
velas  latinas,  que  se  aggrega  á  esteira 
d'ellas  quando  so  navega  com  tempo  fa- 
vorável, ou  86  dá  caça  ao  inimigo. 


SAII) 

—  Saia  (lo  cabrestante ;  a  parte  inferior 
d'cdlc,  onde  gorno  o  cabo  de  ala  c  larga. 

SAIAGUEZ,  «.  m.  Homem  que  veste 
saial. 

—  Adj,  2  gen.  Figuradamente:  RuBti- 
co,  grosseiro,  rude. 

SAIAL,  H.  m.  Panno  grosseiro,  felpudo, 
do  uma  face. 

—  Vestidura  feita  do  saial  para  mulher 
ou  ]iara  homíím. 

SAlAO,  ou  SAYAO,  s.  m.  Termo  anti- 
quado. O  algoz,  o  verdugo. 

—  Ofliciaes  do  justiça  para  citações, 
prisões  o  outras  execuções,  e  saioarias. 

—  Augmeiítativo  de  Saio.  Vid.  Saio. 

—  Ilerva  dos  telhados. 
SAIBO,  n.  m.  Sabor. 

—  Dh-sc  conmiummente:  ííiau  saibo,  e 
bom  sabor. 

—  Figuradamente  :  Um  saibo  da  mi- 
nha gentileza. 

—  Vid.  Resaibo. 

SAIBRÃO,  í.  Vi.  Augmentativo  de  Sai- 
bro, iíarro  forte  areoso,  em  que,  onde  as 
chuvas  são  frequentes,  se  dão  bem  as  can- 
nas  d<>  assucar,  c  outras  lavouras. 

SAIBRO,  .v.  m.  Areia  grossa,  estéril. 

SAIBROSO,  A,  adj.  (De  saibro,  c  o  suf- 
tixo  «oso»).  Com  saibro,  cheio  de  saibro. 

SAICA,  s. ./".  Vid.  Polaca. 

SAÍDA,  s.  /.  A  acção  de  sair. 

Estacs  sempro  aqui  mcttida, 
tendes  aqui  mil  saida.i 
o  sois  para  vós  tão  crua. 

ANTÓNIO  PBESTES,  AUXOS,  pag.  "245. 

—  «Sempre  a  mim  me  pareceu  mal  a 
saída  do  cavalleiro  do  Salvage  da  corte 
da  maneira  que  .saiu,  e  o  medo  que  té 
qui  trazia  de  sua  vida,  torno  a  perder 
com  saber  quem  vai  em  sua  guardív.  Com- 
tudo  nós  o  seguiremos  té  ver  onde  isto 
pára;  porque  também  se  neste  caso  lhe 
acontecer  algum  desastre,  não  seria  bom 
ficar  homem  fira  delle.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  de  Inglaterra,  cap. 
115. 

—  Figuradamente :  Venda.  — Esta  sac- 
ca  de  arroz  não  tem  saída  nenhuma. 

—  Sortida  contra  o  inimigo. 

—  Loc.  figurada:  Dar  saída;  dar  ra- 
zões, que  desculpem,  ou  sirvam  de  des- 
feita. 

—  Talvez  saca,  exportação,  em  oppo- 
sição  Á  entrada. 

—  Passo,  como  porta  que  dá  saída. 

—  Loc.  FIGURADA  :  Dar  saída  ;  dar 
interpretação,  intelligencia. 

—  Êxito,  resultado. 

—  Saída  da  vida;  morte,  o  fim  da  vida. 

—  r>xpedição. 

—  Acabamento,  successo. 

—  Saida  do  anno;  fim  d'ellc. 

—  Saída  do  anno;  fim  d'elle. 

—  Saída  de  proixisito;  vid.  Digressão. 
SAÍDO,  part.  pass.  de  Sair.  Apartado, 

ausentado. 


SAIN 

—  Aj  femefu  iÍj»  unimac»  andam  saí- 
das ;  andam  ao  cio,  na  brama,  em  tempo 
de  appetccerom  a  copula. 

—  l'ulavra$  saídas  da  alma;  palavras 
dimanadas  do  fundo  do  coraçrio,  e  n2o 
dos  lábios.  —  (  Drauiusiando,  que  já  e*« 
tava  a  pé,  tem<;ndo  algum  de^a^tre,  com 
palavras  saídas  de  seu  animo,  que  er» 
grande,  e  pêra  muito,  o  esforçou  algum 
tanto  com  cilas,  ttndo  toda  a  diligencia 
quo  pode  em  ajjertar  as  feridas  d 'ambos, 
Icnibrando-lhe  que  no  tempo  do  perigo 
não  se  ha  de  viver  descuidado.»  Francis- 
co de  Moraes,  Palmeirim  de  Inglaterra, 
cap.  87.  —  «  Como  quer  qne  e-Las  pala- 
vras fossem  saídas  dalma,  trouxeram 
comsigo  lagrima»  pêra  testemunho  do  que 
sentia:  o  posto  que  todos  seus  segredos 
pêra  Selvião  nunca  fossem  occaltos,  não 
quiz  mostrar-lhe  de  si  tamanha  fraqueza 
em  tempo,  que  havia  necessidade  de  do- 
brado esforço :  antes,  pondo  as  pernas  ao 
cavallo,  se  partiu  não  esperando  respos- 
ta.» Ibidem,  cap.  11.'), 

—  Dentes  saídos  para  fiWa ;  dentes  que 
ficam  por  fi>ra  do  que  os  devia  encerrar ; 
resaltados. 

—  Acabado,  passado. 

SAIETA,  s.  /.  Certa  droga  de  lã  de 
forrar  vestidos. 

SAIEZA,  s.  /,  Termo  antiquado.  Astú- 
cia, sagacidade,  ardil, 

SAIGA,  s.  /.  Antílope  do  norte. 

SAIMEL,  *.  m.  Termo  de  architectura. 
A  primeira  pedra  sobre  o  capitel,  ou  ci- 
malha,  que  começa  a  formar  a  volta  do 
arco, 

SAIMENTO,  »,  «».  Termo  antiquado. 
Pompa  fúnebre  de  pessoas  enlutadas, 
que  saiam  a  celebrar,  ou  assistir  aos  fu- 
neraes  régios. 

—  Fim,  conclusão  final,  saida. 

SAINETE,  s.  m.  O  pedacinho  de  tuta- 
no, ou  miolos,  que  os  falcfKjiros,  ou  caça- 
dores de  volateria  dão  ao  falcão,  ou  pas- 
s.aro  para  os  terem  mansos,  c  amigos ; 
também  se  lhes  dão  para  a  muda, 

—  Presente,  mimo,  dom  com  que  se 
ameiga  a  gente  esquiva  e  adversa, 

—  Figurad.imente:  Qualquer  cousa 
agradável  com  que  se  suavisa  o  desabri- 
incnto,  ou  inconimo<lo  d'outra  que  anda 
anncxa  com  ella.  —  Por  sainete  d'e-tta 
agrura. 

í^  SAINHA,  #.  /.  Termo  antiquado. 
Salina,  marinha  de  sal, 

2.  i  SAINHA,  s.  /.  Diminutivo  de  Saia. 

SAINHO,  ».  m.  Diminutivo  de  Saio. 
Vestuário  antigo  de  mulher.  Os  casacões, 
sobretudos,  albernojtes,  roupões,  saitim- 
barcas.  e  finalmente  os  bajiis  s.ão  restos 
dos  saios,  cujos  diversos  talhos  já  hoje 
nada  nos  intercjísam,  variando  tudo  e  se- 
guindo a  moda,  que  para  se  adoptar  deve 
accroscentar  o  gosto,  e  diminuir  o  gasto. 
O  saínho,  porém,  nada  mais  era  que  um 
gibão  redondo  e  sem  abas. 

SAÍNTE,  pa>i.  act.  de  Sair.  Que  sáe. 


SAIO 


tíAIR 


SAIR 


379 


— ■  Anno  saiate;  anno  que  vae  aca- 
bando. 

—  Saíiite  da  quinta  suso;  saindo  da 
quinta  para  baixo. 

SAIO,  ou  SAYO,  s.  «1.  (Do  latim  sa- 
giim].  Espécie  de  veste  com  fraldão  até 
ao  joelho,  ou  mais  curto,  porém  com 
abas,  conhecido  também  pelo  nome  de 
saiote,  e  saião,  o  maior  de  que  usavam 
os  saiões,  ou  officiaes  de  justiça. 

De  que  diz? 

D'um  íííio  que  ha  de  ir  d'aqui. 
Temo3  moço  papagaio  ? 
O  melhor  que  nunca  vi. 
.4ST0SI0  PKE3TBS,  AUTOS,  pag.  439. 

E  saiba,  senhora,  de  mim 
que  neste  saio  se  encerra 
grandes  signaes. 
iBroEji,  pag.  441. 

Nào  mo  consente 
o  que  VOS  quero. 

Negae-o 
pêra  isso. 

Esse  saio 
me  dae  autea. 


Até  alli  SC  mostra  junto 
um  amor  com  outro  amor; 
do  saio  não  lhe  dê  dôr, 
que  este  sAio  era  defunto 
e  falava  em  meu  senhor. 


Não,  que  nào  vae  a  penhor ; 
mudàmo-nos  d'estas  cazas 
pcra  outras  mais  monarcas  ; 
começa  cUe  a  levar  fato, 
porque  o  saio  era  um  pato 
que  pezava  mais  que  as  arcas ; 
foi  logo  por  aparato. 
IBIDEM,  pag.  447. 

—  O  saio  das  mulheres;  era  como  a 
roupa  aberta  de  hoje,  só  com  a  differen- 
ça  de  ter  mangas  perdidas  até  ao  collo 
do  braço,  abertas  no  sangradouro,  e  por 
esta  abertura  se  enfiava  o  braço,  não  o 
querendo  cobrir  com  toda  a  manga;  e  a 
cauda  do  vestido  era  de  quatro  quartos, 
ou  por  mais  enfeite  de  dous  somente;  ti- 
nham no  cotovelo  um  bolso  grande. 

—  Diz-ae  também  uma  batina,  uma 
beca,  uma  garnaeha,  etc. 

—  Termo  usado  pelos  rústicos. 

—  Loc.  PROV. :  Isso  não  me  descose  o 
saio;  isso  nào  me  faz  o  menor  mal. 

SAIOADO,  s.  m.  Officio  de  saião. 

SAIOARIA,  ou  SAYOARIA,  s.  m.  Termo 
antiquado.  Execução  feita  por  saião,  al- 
gozaria . 

—  Força,  violência  feita  por  oíRciaes 
executores  da  justiça. 

—  Figuradamente :  Vexame,  oppres- 
são,  dcspeitamento  por  officiaes  de  justi- 
ça, exactores. 

SAIONIZIO,  s.  m.  Termo  antiquado. 
Estipendio,  ou  gajes,  que  se  davam  aos 


alcaides,  esbirros,  algozes,  ou  agarrautes, 
e  que  hoje  se  chama  salário  de  mão  pos- 
ta. Kão  só  se  pagava  a  estes  ministros,  e 
executores  da  justiça  a  pena  de  carccra- 
gem  por  levarem  os  criminosos  ao  cárce- 
re, mas  ainda  a  de  mão  posta  pelos  pren- 
derem e  manietarem. 

SAIOTE,  í.  VI.  Diminutivo  de  Saio. 
Vid.  este  termo. 

—  Espécie  de  saia,  com  que  vestem 
anjos  de  procissões,  e  as  mulheres;  é 
curta. 

SAÍR,  ou  SAHIR,  i;.  n.  Apartar-se, 
passar  de  dentro  para  fora.  —  Sair  da 
casa,  da  cidade.  —  «No  próprio  instante 
saíram  de  dentro  da  fortaleza  seis  caval- 
leiros  armados  de  frescas  e  lustrosas  ar- 
mas, 03  escudos  embraçados,  as  lanças 
baixas,  dizendo:  D.  cavalleiro  sandeu, 
agora  convêm  que  sintaes  os  damnos  que 
a  necessidade  traz  comsigo.»  Francisco 
de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap. 
102.  —  «  E  o  Duque  em  sayndo  cuydou 
que  o  leuauão  a  alguma  fortaleza,  e 
quando  vio  todos  a  pé  ficou  muyto  enlea- 
do, e  triste.  Foy  assi  leuado  a  humas  ca- 
sas da  praça,  que  parece  cousa  de  notar, 
porque  o  dono  delia  se  chamaua  Gonçalo 
Vaz  dos  baraços,  e  em  Euora  não  se 
vendiâo  senão  em  sua  casa.»  Garcia  de 
Rezende,  Chronica  de  D.  João  II,  cap. 
46.  —  »E  indo  nós,  como  digo,  elle  e  eu 
para  o  mato,  como  nos  era  mandado, 
acertamos  de  encontrar  numa  rua  antes 
que  saíssemos  da  cidade  huma  grande 
somma  de  gente,  que  com  grande  regozi- 
jo o  festa  levavão  a  enterrar  hum  morto, 
com  muytas  insígnias  de  pompa  fúnebre.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações, 
cap.  116.  —  «Desbaratada  esta  frota, 
Lopo  Soarez  fez  desembarcar  os  nossos, 
dando  a  dianteira  aos  cinco  capitães,  os 
quaes  juntos  com  o  Príncipe  de  Cochim, 
que  veo  per  terra,  e  a  outra  nossa  gente 
derão  na  de  Naubeadarim  Príncipe  de 
Calecut,  os  quaes  depois  de  se  defende- 
rem hum  bom  pedaço  deixaram  o  campo, 
e  entrando  per  huma  porta  da  cidade 
saíram  pela  outra,  indolhe  os  nossos  no 
alcance  ate  os  lançarem  fora.t  Damião 
de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1, 
cap.  97.  —  «Do  que  consolados  liics  dixe 
que  era  necessário,  assi  elles  como  todo- 
los  outros  Mouros,  e  ludeus  que  estauam 
na  cidade  nam  saírem  delia  ate  elle  nam 
tornar,  e  que  o  contador  Xuno  gato,  que 
ficaua  em  guarda  delia  lhes  faria  boa 
companhia. »  Ibidem,  part.  3,  cap.  14.  — 
«O  que  vendo  George  de  brito  foi  força- 
do a  fazer  o  mesmo,  e  deram  com  tanto 
ímpeto,  assi  poucos  eram,  nos  dianteiros 
dos  imigos,  que  os  fezeram  entrar  pela 
porta  da  cidade,  donde  el  Rei  ainda  naõ 
saíra.»  Ibidem,  part.  4,  cap.  67.  —  «Hoje 
15  de  junho  de  1760,  e  cercada  a  casa 
do  núncio,  e  pela  manhã  se  lhe  intima  a 
ordem  de  sair  da  corte  dentro  de  três 
1  horas,  e  de  Portugal  dentro  de  três  dias. 


Luiz  de  Mendonça,  governador  da  corte, 
o  acompanhou  com  80  cavallos.»  Bispo 
do  Grão  Pará,  Memorias,  publicadas  por 
Caraillo  Castello  Branco,  pag.  104.  — ' 
«Saindo  do  claustro  e  entrando  na  porta- 
ria do  mosteiro,  olhou  para  o  alto  d'a- 
quella  formosíssima  casa,  e  vendo  um 
leão  nas  armas  de  S.  Bento  postas  no  es- 
tuque, poz-se  a  chorar  dizendo  a  frei 
Agostinho  de  Santa  Maria  que  era  o  por- 
teiro.» Ibidem,  pag.  116. —  «Caso  que 
não  é  factível  dar-se;  pois  antes  de  che- 
gar á  cocheira  d'este  logar,  entrando  pelo 
matto  e  saindo  logo  adeante,  evita-se  a 
diligencia.»  Ibidem,  pag.  188. 

—  Sair  de  mergulho;  sair  de  baixo  d'a- 
gua  para  fora. 

—  Sair  em  terra;  desembarcar,  fazer 
desembarque  hostil.  —  «A  cerca  do  qual 
caso  me  parece,  que  seria  bem  sairmos 
esta  noite  dez  ou  doze  homems  em  terra 
daquelles  que  mães  dispostos  se  achas- 
sem pêra  isso :  e  espei-o  em  nosso  senhor 
que  com  vossa  ajuda  nos  iremos  desta 
terra  mães  honrados  que  quãtos  té  ora 
vierão  a  ella.»  Barros,  Década  1,  lív.  1, 
cap.  6.  —  «Polo  que  mandou  a  dom  Lou- 
renço, que  entre  tanto  que  senão  tomaua 
concrusaõ  no  que  os  Mouros  deziam, 
saísse  em  terra,  com  alguma  gente,  e 
queimasse  as  nãos,  como  fez.»  Damião  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  2, 
cap.  4. 

—  Tirar-se,  llvrar-se,  desemharaçar-se. 
—  «O  desaventurado  velho  alegre  de  sua 
maldade  sair  como  desejara,  e  ver  que  se 
a  opinião  de  sua  virtude  padecera  que- 
bra para  com  a  Santa,  a  quem  descubrí- 
ra  a  imperfeição  do  seu  animo,  estava  a 
sua  abatida  para  com  o  Mundo  todo.» 
Monarchia  Lusitana,  liv.  6,  cap.  24. 

—  Resultar,  ter  êxito,  terminar.  — 
«Quantas  culpas  lhe  sairiam,  ás  quaes  o 
erro  dos  homens  dá  outro  dono!...  mas 
não  empecemos  aqui,  porque  o  prognos- 
tico nos  está  acenando  de  cima  do  cam- 
panário.» Fernão  Rodrigues  L  bo  Soro- 
pita.  Poesias  e  prosas  inéditas,  pag.  81. 

—  Sair  a  receber;  apparccer,  apresen- 
tar-se  para  isso.  • — ■  «  O  do  Tigre,  e  seus 
companheiros  os  saíram  a  receber  acom- 
panhados de  seu  esforço,  e,  todos  de  uma 
banda  e  outra  acertaram  os  encontros.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  118. 

—  Figui-adamente :  Trazer  a  sua  ori- 
gem. —  «E  depois  de  apertar  Palmeirim 
como  a  cousa  que  lhe  saíra  d'alma,  to- 
mou antre  os  braços  Floriano,  a  que  nun- 
ca vira,  e  com  palavras  cheias  d'amor  os 
levou  comsigo  pêra  cima,  onde  achou  a 
imperatriz,  acompanhada  de  Vasilia  e 
Polinarda,  que  os  estava  esperando,  que 
já  lá  chegara  a  fama  de  quem  eram.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  94. 

—  Sair  2"^^^^  ajudarem ;  apparecer, 
apresentar-se  para  este  fim.  —  «Os  ou- 


380 


SAIR 


SAIU 


SAIR 


tros  Cliristílofl,  qiin  licanvni  na  villa  vo- 
llia,  vendo  que  <loiii  loam  hi;  alorií^aua 
110  alcancR,  qiiiHorain  sair  jx-^ra  o  ajmla- 
rem,  o  (pio  iiam  poiloram  fazer,  porque 
muitos  dos  Mouros  llio  viiiliaiu  cortando 
t)S  vallailo.s,  e  tiulião  Jà  touiado  o  cami- 
nho por  omlc  ollo  dura  uot<  outros.»  Da- 
mião do  (locB,  Chronica  de  O.  Manoel, 
part.  1,   cap.  t)(). 

—  Sair  a  visitar ;  ir  íni-.i  para  esse 
fira. —  «Resolvido  o  dia  do  sairmos  a  vi- 
sitar, para  cumprir  com  o  coucilio  tri- 
dentino  e  saj^rados  cânones,  que,  confor- 
me 08  doutores,  oljripani  gTaveuiente,  e 
com  rasilo,  porque  sondo  de  direito  divi- 
no apascentar  as  próprias  ovei  lias,  o  Es- 
pirito Santo  em  os  l'rovorbio,-i  diz  quo 
dilin;enteinento  conheça  o  pastor  o  sru 
rebanho.»  Bispo  do  (irão  ViivA,  Memo- 
rias, publicadas  por  Camillo  (^'astcllo 
Branco,  pa^.  170. 

—  Sair  fora;  app.arecer,  apresentar-se. 

—  «Polendos  manilou  pôr  a  proa  da  galé 
om  torra,  o  tomando  Targ-iana  pela  mão, 
acompanhado  de  seus  companheiros  ar- 
mado do  ricas  armas  e  olla  vestida  com 
suas  damas  d'atavio3,  que  de  Coustauti- 
nopla  i)ora  aquelle  dia  traziam  sairam 
fora.»  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
dTnglaterra,  cap.  96.  —  «Ariança,  ven- 
do quo  o  quo  o  vellio  dizia  era  bom  porá 
dar  esforço  a  quem  o  não  tinha,  limpan- 
do as  lagrimas,  quiz  contrafazer  o  medo 
e  sair  foi*a;  mas  inda  quo  seu  coração 
fosso  pêra  muito,  veado  as  bravas  ondas 
do  mar  tão  fc')ra  de  seu  natural,  que  ás 
vezos  parecia  que  davam  com  o  navio  no 
ceo,  outras  vezes  descia  aos  ab3'8mos,  e 
junto  com  isto  o  mastro  quebrado,  o  na- 
vio tomar  tanta  agua  por  bordo,  que  qua- 
si  ficava  de  todo  alagado.»  Ibidem,  cap. 
115. 

—  Dimanar,  correr. —  «E  posto  que 
ella  sentisse  donde  lho  viera  o  dauino, 
bem  cuidou  o  imperador  e  os  que  alli 
estavam,  quo  as  feritlas  de  Albarroeo, 
de  que  lho  tanto  sangue  sairá,  o  pozeram 
em  tal  estado. »  Francisco  de  Jloraes, 
Palmeirim  d'Iaglaterra,  cap.  94. 

—  Não  sair  il<i  imu ;  não  desembarcar. 

—  «O  que  acabado  se  embarcou  sem  mais 
sair  da  naa,  onde  raandaua  negocear  as 
cousas  que  lhe  eompriam,  ate  quo  se  par- 
tio,  muito  amigo  com  Afonso  dalbuquer- 
quc,  que  a  tudo  o  que  lhe  mandaua  pe- 
dir daua,  e  mandaua  dr.r  todo  o  auia- 
mento  necessário,  com  muita  diligencia.» 
Damião  de  Góes,  Chrouica  de  D.  Manoel, 
part.  2,  cap.  41. 

—  Sair  ao  mar ;  desembarcar  n'oIle, 
ter  n'olle  a  sua  foz.  —  «Vem  estes  I/ios 
a  Camboja  por  hum  rio  abaixo  muitos 
dias  de  caminho,  ho  qual  hc  nuiy  gran- 
de e  dizem  ter  oi-igem  na  clúna  como 
outros  muitos  que  saem  ao  mar  da  Ín- 
dia: tem  oito,  quinze,  vinte  braças  de 
fundo,  como  eu  om  hua  grande  parte 
delle  vi  por  oxporioncia.»  Fr.  Gaspar  da 


Cruz,  Tratado  das  cousas  da  China,  ca- 
pitulo ii. 

—  Pencadore»  sairem  ao  mar;  entra- 
rem n'olle  para  pescarem.  —  «K  «o  asse- 
nhorear do  regno  como  tyrano,  determi- 
nou <!arcia  de  Sa,  que  seruia  do  capitam 
de  Jlalaca  c(jnio  fica  dito,  de  mandar 
Emanuel  i'aclicco  cin  huma  nao  bem  es- 
quipada, e  artilliada  para  quo  andasse 
entre  o  porto  de  l'acem,  c  Achem,  c  de- 
fendesse a  entrada  aos  que  a  elles  quises- 
sem ir,  porque  por  entani  nenhuma  guer- 
ra ]>odia  fazer  mor  ha  este  Rei  quo  ve- 
darlhe  os  mantimentos  que  vinham  de  fo- 
ra, e  estornar  os  pescadores  que  nam 
saissem  ao  tuar.»  Damião  do  ( loes,  Chro- 
nica de  D.  Manoel,  part.  4,  cap.  Ivl. 

—  Apj).ireciír,  mostrar-se.  —  «Renoua- 
da  a  guerra,  Rf>çalcam  veo  algumas  ve- 
zes cometer  ha  cidade,  de  quem  se  os 
nossos  defendiam  de  maneira  que  nunca 
ousou  de  chegar  aos  muros,  porque  os 
nossos  lhe  saiam,  poendosse  em  ciladas, 
por  tão  bom  modo  que  hos  desbaratauão, 
e  faziam  sempre  fogir.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  íí,  cap.  21. 

—  Sair  fora  <le  mãu. —  «Pois  a  natu- 
reza os  dotou  tão  inteiramente  de  bens 
temporaes  e  do  serviço  dos  homens,  que 
nenhuma  outra  cousa  lhe  fica  era  que 
possam  conhecer  a  deos,  se  não  na  supe- 
rioridade do  príncipe,  que  os  opprime  a 
não  sair  tão  fira  de  niào  como  a  condi- 
ção 03  obriga.»  Francisco  do  Moraes, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  97. 

—  Sair  cum  ijeiítfi ;  apparecer  com  ella, 
jiara  atacar,  combíiter,  etc.  —  «E  entre 
alguns  auisos  que  lhe  mandou,  foi  que  cm 
quanto  o  cerco  não  vinha,  no  tempo  que 
elie  Lourenço  de  Brito  visse  que  melhor 
se  podia  fazer,  saisse  com  gente  e  dece- 
passe quantas  palmeiras  podesse,  por  fazer 
maior  cãi)0  de  fronte  da  fortaleza,  pêra 
que  o  arrayal  da  gente  que  auia  de  ser 
muita,  lhe  ficasse  mães  longe:  com  os 
auisos  também  lhe  mãdou  duas  almadias 
do  mantimento.»  Barros,  Década  2,  liv. 
1,  cap.  5. 

—  SãiT  ferido;  apparecer  n'um  estado 
de  ferimento.  —  «Dos  nossos  morreram 
neste  derradeiro  desbarato  setenta,  e  os 
mais  quo  escai>aram  sairam  feridos,  en- 
tre os  mortos  foram  Luis  raposo,  e  Pêro 
Veloso,  os  quaes  em  chegando  a  praia,  e 
nam  adiando  George  de  brito  disseram 
que  nunca  Deos  quisesse  que  se  embar- 
cassem sem  saberem  que  era  feito  do  sou 
capitam.»  Damião  do  Góes,  Chronica  de 
D.  Manoel,  part.  4,  cap.  52. 

—  Ficar.  —  «Affirma  também  este  li- 
vro, que  tem  cento  c  vinte  praças  no- 
bres, em  cada  huma  das  quais  so  faz  ca- 
da mez  huma  feyra,  quo  feita  a  conta  ao 
numero  delias,  sae  a  quatro  feyras  por 
dia  em  todo  o  anno.s  Feruno  Jlendes 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  107. 

—  Rio  (/Ktí  sàe  dos  Andes;  rio  que  tom 
a  sua  origem  dos  Andes. 


'IW  iloR  acrcoí  Andca  láf  poqaeno 
O  MiiiKiiiiiipi,  o  rápido  (froii/iquc. 

J.   A.   DE  UACKUO,  A   KAtUUKZk,  Caot.  2. 

—  Sair   a»   porta»;    auaentar-sc,  apar- 
tar-se. 

Dccio  não  ch^ga  !  K  o  sol  e«i  no  horisonto 

Precipitado  ju.  D'-ccrto  í  ido 

I>u  Utica.  —  Oh,  ni-lo  »ai  agora  a«  portM. 

UÀBBKTT,  CITÂO,  aCt.    3,    »C.    C. 

—  Nascer,  dimanar,  correr. 

Os  crríHpoa  fioi  d 'ouro  deaparzidoe 
Pelo  collo  (|uc  a  neve  e.-Mjiincia  ; 
Lácteas  tetas  i|ue  andando  lhe  tremiam, 
('oui  r|nern  amor  brincava  e  não  se  via; 
Ah  flamas  que  llic  larm  dalva  pctrina ; 
Desejos  (|ue  corno  heras  inrolado« 
Pela»  lisas  columnag  lhe  trepavam... 
OABRETT,  CAMÕES,  cant.  7,  cap.  18. 

—  Sair-lhe   avessa ;  sair-lhe  ao  contra- 


Minhas  noras? 
nc{;am-lhc  os  meua  burro?  eaaa  j 
o  se  cabeça 

ou  pés  aflora  estas  hora» 
n'Í3so  tem,  taio-lht  avps.4a. 

AXTONio  TRESTES,  Ainos,  pag.  49. 


d'ella 


Sair    de   uma   opprcssão;   livrar-so 


vou-mc  mcttcr  na  prisão 
por  ver  se  coo  meu  vertido 
sairá  d'csta  oppress&o, 
pois  nào  é  cm  miuha  mão 
vel-o  em  cárcere  mcttido. 

AKTONIO  TBESTBS,  ACTOS,  pkg.  493. 


Figuradamente:  Sáe  do  mesmo  ovo. 


noto,  ou\-irá  caso  novo, 
porque  não  tenho  outro  cstrovo  : 
como  digo,  é  fria  a  terra, 
tudo  o  que  n'ella  8e  encerra 
K<íe  assi  do  mesmo  ovo, 
do  mesmo  frio,  c  nação. 

ANTÓNIO  PBESTES,  ACTOS,  pag.  149. 


—  Sair  que  quinJieiUos  casamentos ;  ap- 
parecerem. 

e  formosa,  casamentos 
lhe  .«(iiíim  que  quinhentos, 
e  eila  a  todos  deu  de  mão ; 
que  antes  cazar  x\ào  queria. 

ANTOsio  rBESTEs,  Acros,  pag-  333. 


—  Saiu  tal  bei%tjo. 


Vac,  vac. 
Disâc-lh'as  como  ou  desejo. 
Sain  oUe  tal  benejo 
a  tal  boneja. 

Amoxio  rBBSTBS,  ACTOS,  pag.  131. 


SAIR 


SAIR 


SAL 


381 


—  Não  sair  um  alvará  de  minha  mão; 
não  passal-o  a  outro;  guardal-o  bem.  — 
« Com  esta  vão  os  alvarás  de  que  cons- 
tam os  exemplos,  e  o  principal  funda- 
mento da  justificação  da  nossa  causa,  que 
V.  m.  nos  fará  mercê,  de  que  não  saiam 
da  sua  mào,  porque  importam.»  Padre 
António  Vieira,  Cartas,  n."  6. 

—  Figuradamente  :  Depois  dos  jwrtii- 
guezes  saírem  dos  troncos;  depois  de  se 
desenvolverem  physica  e  moralmente.  — 
tDe  maneira  que  os  Portugueses  depois 
de  sayrem  dos  troncos  e  terem  alguma 
liberdade,  em  nhuã  gente  achavam  tan- 
to gasalliado,  honra  c  favor  como  nestes.» 
Frei  Gaspar  da  Cruz,  Tratado  das  cou- 
sas da  China,  cap.  8. 

—  Sair  67)1  vão,  sair  debalde ;  ter  re- 
sultados frustrados,  desvanecidos. 

—  Sair  ao  encontro;  vir  ao  encontro, 
vir  a  encontrar-se. 

—  Loc.  FiG. :  Sair  do  atoleiro;  tirar- 
se  de  passo  difficil,  ou  de  perigo. 

—  Sair  á  luz;  nascer,  dar-se  ao  pu- 
blico. 

• —  Sair  com  a  sua  tenção ;  conseguir  a 
satisfíiçào  do  seu  intento,  ou  capi'icho, 
apesar  das  opposições. 

—  Sair  ao  inimigo ;  que  nos  apresenta 
batalha,  ou  apparece  diante  da  praça. 

—  Sair  mal^  bem,  victorioso ;  ser  bem 
succedido  no  negocio,  na  batalha,  etc. 

• — •  Sair  o  intento;  succeder,  verificar- 
se,  effectuar-se  segundo  o  seu  desejo. 

—  Sair  a  palavra  da  bocca. 

—  Saiu-me  o  covado  d'esfa  fazenda  a 
tanto;  veio  a  custar-me  tanto. 

—  Apparecer  feito . 

—  Sair  da  vontade  de  alguém ;  não  se 
conformar  com  ella. 

—  Sair  sobre  as  fontes ;  levar  os  cate- 
cumenos,  e  adultos  solemnemente  a  ba- 
ptisar  pela  paschoa. 

—  Sair  a  égua;  andar  ao  cio. 

—  Agora  sàes  com  isso ;  agora  dizes 
isso  que  se  nào  esperava,  por  fora  do 
tempo,  e  alheio  do  assumpto. 

—  Sair  um  lanço  a  alguém;  acontecer 
alguma  cousa  desejada,  esperada,  succe- 
der-lhe  á  vontade. 

—  Sair  a  alguém;  parecer-se-lhe  no 
modo  de  obrar.  —  O  filho  sáe  d  mãe. 

—  Sair  por  alguma  cousa,  ou  pessoa ; 
acudir  por  ella,  toi-nar  por  ella  como  de- 
fensor, campeão,  defendel-a  era  apologia, 
desculpa,  ou  prova  de  innocencia  e  re- 
pto, duello  por  prova  judicial,  e  muito 
usada  pelos  antigos. 

—  Sair  uma  voz  pelo  povo ;  derra- 
mar-se. 

—  Sair  do  propósito;  fazer  digres- 
são. 

—  Sair  a  nado ;  sair  nadando  do  mar 
á  praia. 

—  Sair  ao  inimigo;  mover,  abalar  con- 
tra elle,  fazer  sortida. 

—  Sair  a  nova  do  povo ;  ter  a  sua  ori- 
gem d'6ntre  o  povo. 


—  Sair  !í7/irt  sorte  a  alguém  em  loteria ; 
caír-lhe  cm  sorte  algum  premio. 

—  Sair  uma  sorte  em  branco ;  não  ter 
premio. 

—  Sair  em  preto  a  sorte  na  cdlecção 
dos  mancebos  para  milicia;  ficar  esse,  a 
quem   ella  sáe,    sujeito  a  assentar  praça. 

—  Sair  de  si,  ou  de  siso ;  perder  a 
advertência  do  que  faz,  a  reflexão,  o 
tento. 

—  Sair  uma  ilha  do  mar ;  apparecer 
fora  d'elle,  surgir. 

—  Sair  da  parede,  ou  muro ;  ficar  de 
sacada  fora  d'ella,  resaltado  do  olivel,  ou 
face,  sobresair. 

—  Sair  em;  apparecer  em  outro  estado, 
figura. 

—  Sair  fjra  de  si ;  fazer  demonstra- 
ções excessivas  de  prudência,  de  mode- 
ração. 

—  Figuradamente :  Sair  o  agradeci- 
mento fora  de  si;  fazer  excessos. 

—  Sair  o  appetite  dos  limites  da  razão; 
desviar-se  d'elia. 

—  Sair  o  rio  da  madre ;  trasbordar, 
inundar. 

—  Sair  ao  campo,  ao  terreiro ;  sair 
para  combater,  pelejar,  luctar. 

—  Sair  sobre  alguém;  fazer  suffragios, 
ou  dizer  responsos  sobre  alguma  sepul- 
tura. 

—  Sair  da  lei,  da  regra;  desviar-se  da 
sua  observância. 

—  Sair  certa  a  j)rophecia ;  cumprir-se, 
verifiiar-se. 

—  Sair  a  alegria,  ou  a  ira  á  cara; 
manifestarem-se  estas  paixões  da  alma, 
nas  mudanças  do  semblante. 

—  Sair  tiual(£uer  cor,  ou  matiz  entre  ou- 
tras ;  apparecer  bem,  não  morrer. 

—  Sáe  bem  o  ouro  sobre  o  azul;  n'este 
passo  sáe  bem  o  verso  do  nosso  poeta; 
está,  e  parece  bem,  realça-o. 

—  Sair  a  machina  dos  eixos. 

—  Saírem  os  ossos. 

—  Saír-se,  v.  reji.  Desviar-se,  apar- 
tar-se.  —  «Isto  é,  senhor,  o  que  está 
mandado  dizer  a  todos,  o  que  já  tem  aba- 
lado a  muitos  das  suas  terras,  e  o  que 
nas  nossas  detém  a  outros,  que  de  deses- 
perados se  queriam  sair  d'ellas.»  Padre 
António  Vieira,  Cartas,  n.°  15. 

—  Sair-se  um  navio  de  outro  que  o  se- 
gue;  em  opposição  a  entral-o ;  escapar- 
Ihe  ou  afastar-se  bem,  e  ligeiramente 
d'elle. 

—  Saír-se ;  parecer,  tomar-se.  —  « To- 
mara já  acabado  isto !  Vae-me  saindo 
longa  a  dedicatória;  mas  ahi  está  a  do 
cardeal  Cionfuegos  na  vida  do  Santo 
Borja.  Bom  arbítrio  !  divida-se  a  dedica- 
tória em  duas  partes.  Novidade!»  Bispo 
do  Grão  Pará,  Memorias,  publicadas  por 
Camillo  Casteilo  Branco,  pag.  õ3. 

—  Sair-se  com  desculpa;  recorrer  a 
esse  expediente. 

—  Sair-se  do  cavallo,  ou  outro  encar- 
go; ficar  livre,  dispensado  de  o  ter. 


—  Adágios  e  provérbios: 

—  Sai-me  ao  sol,  disse  mal,  ouvi  peor. 

—  Saio  do  lodo,  caio  no  arroio. 

—  Saem    captivos,    quando   são   vivos'. 

—  O  mal  que  da  tua  bocca  sáe,  em 
teu  seio  cabe. 

—  O  mau  visinho  vê  o  que  entra,  mas 
não  o  que  sàe. 

—  Sair  das  conchas. 

—  Saiu  de  um  atoleiro,  e  metteu-se 
n 'outro. 

—  Não  saias  ao  luar,  que  não  sabes 
qaem  te  quer  bem,  nem  mal. 

—  Não  sair  do  caminho. 

—  Nào  saiáes  fora   da   vossa  esphera. 

—  Entrar  lambendo,  e  sair  mordendo. 

—  O  filho  do  mau,  quando  sáe  bom,  é 
razoado. 

— ^Nào  cures  filho  alheio,  que  não  sa- 
ldes qual  sairá. 

•  SAIRÁ  GRANDE  DO  BRAZIL,  s.  wi.  Ter- 
mo de  zoologia.  Pássaro  conhecido  tam- 
bém pelo  nome  de  cotinga  azul;  é  de  um 
azul  celeste  brilhante,  tendo  a  garganta 
e  peito  violete,  um  cinto  do  mesmo  azul, 
e  algumas  malhas  douradas ;  a  fêmea  não 
tem  o  cinto,  nem  as  malhas. 

—  Espécie  de  melro  mui  brilhante. 

SAISSO,  s.  m.  Vid.  Vime,  ou  Salgueiro. 

SAITAIA,  s.  m.  Termo  de  zoologia.  Ma- 
caco da  America,  de  cabeça  chata,  de  fo- 
cinho pouco  proeminente,  de  cauda  lon- 
ga, que  se  enrosca  em  torno  do  corpo, 
nádegas  sem  callo,  bochechas  sem  papos, 
e  ventas  abertas  aos  lados  do  nariz ; 
taes  são  o  saitaia  negro  do  Pará,  o  sai- 
taia  chorão,  o  saitaia  amarello  do  Pará, 
etc. 

1.)  SAL,  s,  m.  (Do  latim  sal).  Subíitan- 
cia  dura,  secca,  friável,  que  dile  na  agua; 
é  formada  de  partes  delgadas  que  pene- 
tram facilmente  o  paladar.  —  t  Salvo  que 
mandamos  que  possam  comprar  fruita,  e 
vinhos,  e  sal  no  Regno  do  Algarve,  e  nos 
outros  lugares  da  dita  nossa  terra,  pêra 
carregarem,  e  levarem  fora  da  ten-a,  e 
nom  pêra  revenderem,  como  dito  he.» 
Ordenações  Affonsinas,  liv.  4,  tit.  4,  § 
14.  —  «  Estabelecerom  outro  si,  e  man- 
daarom,  que  durando  o  tempo  da  dita 
guerra,  nom  fosse  algum  Christão  tam  ou- 
sado, que  levasse  a  terra  de  Mouros  ne- 
nhumas mercadorias  de  pam,  vinho,  azei- 
te, sal,  cera,  sevo,  mel,  e  geeralmente  ne- 
nhumas outras  mercadorias.»  Ibidem,  tit. 
63,  §  1.- — «  Porem  Mandamos,  que  os 
nossos  sobditos  e  naturaes  possam  levar  as 
mercadorias  vedadas  no  segundo  capitulo 
nomeadas,  a  saber,  pam,  vinho,  carne, 
pescado,  mel,  azeite,  sal,  etc.  a  terra  de 
Mouros  soomente  pêra  tirar,  e  remiir  al- 
guns Chrisptaaõs  cativos,  que  lá  jazem.» 
Ibidem,  §  4.  —  «Ao  Norte  tem  Ormus  o 
mar  da  índia,  ao  Sul  o  Estreito,  ao  Orien- 
te a  Pérsia,  e  ao  Ponente  a  Arábia  felice, 
ficado  desta  noue  legoas,  e  da  outra  três. 
Em  circuyto  tem  quatro,  nas  quaes  senão 
vem  mais  que  sal,  enxofre,  cinza,  e  viej- 


382 


SAL 


SALA 


.SALA 


ro3  duhnafíra.  u  Fr.  Gaspar  do  S.  JJornar- 
diiio,  Itinerário  da  índia,  cap.  11. — 
«  Alom  de.sti;  c-imitiiriu,  «o  louauta  Imiiia 
serra,  toda  do  vicyroa  daluia^ro,  enxofre, 
sal,  o  cinza:  bom  no  alto  dolla  cstà  liuina 
Ermida,  cluimada  nossa  Scnliura  da  l'cn- 
na,  cujo  nonui  llie  poserào  pela  niuvta 
8oniolliaiii;a  (juo  tem  com  u  de  >Siiitra.» 
Ibidem.  —  Carucem  também  de  sal,  e 
huma  e  outra  cousa  lho  dào,  e  podem  im- 
pedir 03  FortuguozoH,  eom  o  que,  o  com 
o  estado  presente  do  Keyno  será  fácil  tra- 
sello  á  sua  obediência.»  Conquista  do  Pe- 
gú,  cap.  1  . 


Os  aars  com  oUe,  ii»  agoan  so  misturào, 

A»  viccjautoâ  arvores  com  olln 

Do  Haboroios  iVuctoi  ao  curiíiuocom. 

J.  A.  I)K  UAOEDO,  A  NATUBK/.A,  Cajlt.  2. 

Porçõcí  heterogcno.a»  so  miriturão, 
Enxofro,  taes,  c  fogo,  oli  quain  terrivciíí. 
Que  pavoroâas  sào  ((uando  fechadas 
Da  torra  dura  uo  cavado  solo, 
Força  occulta  c  sympatliica  as  opprimc ! 


—  Os  apontolos  são  o  sal  da  terra ;  de- 
vem livrai-a  e  defendol-a  da  corrupção 
moral. 

—  Modernamente  div-se  o  nomo  de  sal 
ás  substancias  resultantes  da  combinarão 
dos  ácidos  com  as  matérias  térreas  e  alca- 
linas. 

—  Antif^amente  distinguiam-se  muitos 
Baes:  como  sal  acido,  alcalino,  volátil, 
Jixo,  etc. 

• — -Sal  ammoniaco.  Vid.  Ammoniaco. 

—  O  sal  de  salgar  é  mineral,  ou  mari- 
nho; é  coalbado  de  agua  do  mar  evapo- 
rada em  talhos  de  marinhas,  cm  vasos  de 
ferro  na  fogo,  etc. 

—  Estar  o  comer  uma  pilha  de  sal; 
estar  muito  salgado. 

—  Figuradamente  :  Disci'içào,  graça. 

—  O  sal  da  sabedoria ;  o  sal  que  uo 
baptismo  se  metto  na  boeca  aos  baptisa- 
dos. 

—  Figuradamente:  Sabedoria,  prudên- 
cia. —  «O  meu  sal  não  é  corrosivo,  nem 
Séneca  o  estóico  o  approvava  d'outro  mo- 
do; porém,  tal  qual  é,  pôde  aproveitar  a 
algumas  cabeças,  posto  na  moleira  dos 
que  as  tem  vasias  como  a  da  estatua  que 
viu  a  raposa  no  tempo  em  <iuc  tudo  fal- 
lava.»  lUspo  do  Grão  Pará,  Memorias, 
publicadas  por  Camillo  Caslello  Branco, 
pag.  49. 

—  Sabor,  gosto,  graça. 

—  Arrazar  a  cidade  de  sal,  ou  salgar 
as  casas ;  castigos  usados. 

—  As  plantas  dão  saes  esLtrahidos  por 
varias  operações  chimicas. 

—  Doutrina  do  bom  saber  o  salvação. 

—  Figuradamente  :  Preservativo,  o  que 
isto  faz,  e  dá  bom  sabor. 

—  Sal  jinto;  sal  coalhado,  á  diflerença 
do  que  uão  ora. 


—  AoAfiios  E  i-uovEumos: 

—  G  sal  quanto  «alga,  tanto  vai. 

—  Gvo  de  l'ortugal   Jiào  é  mister  sal. 

—  O  taleigo  de  sal  quer  cabedal. 

—  liepartiu-se  o  mar,  c  fez-sc  sal. 

—  Sal  vertido,  nunca  bem  coUiido. 

—  O  íiclalgo  .»  o  galgo,  c  o  taleigo  do 
sal,  junto  do  logo  os  hão  de  aclutr. 

—  Dos  cheiros  o  pào,  e  do  sabor  o  sal. 

—  Um  ovo  (juur  sal  e  fogo. 

—  \Á  vai  o  mal,  oudo  comem  o  ovo 
sem  sal. 

—  O  velho  e  o  peixe  ao  sal  apparc- 
cem. 

—  Panclla  sem  sal,  faze  conta  que  não 
tem  manjar. 

—  Não  tem  sal,  nem  onde  o  deitar. 

—  Do  mar  se  tira  o  sal,  e  da  mulher 
muito  mal. 

—  Não  te  has  de  fiar,  senão  com  quem 
comeres  um  moio  de  sal. 

2.)  SAL.  Imperativo  do  verbo  antiqua- 
do salir.  Vid.  Salir. 

SALA,  a.  /.  Peça  interior  e  principal 
de  uma  casa,  mais  espaçosa,  e  ordinaria- 
mente com  melhor  adereço  que  as  outras, 
proprÍ4  para  receber  visitas,  bailes,  etc. 
—  «  Então  um  dos  gigantes,  que  algum 
tanto  parecia  fazer  vantaje  aos  outros, 
com  voz  temerosa  e  alta,  que  toda  a  sala 
enchia,  começou  dizer.»  Francisco  de 
iloraes,  Palmeirim  de  Inglaterra,  cap. 
93.  —  »  G  turco  se  foi  a  este  tempo  por 
uma  porta  falsa,  que  hia  ter  a  um  corre- 
dor, que  vinha  sobre  a  sala,  e  começou 
dizer  a  grandes  vozes :  Polendos,  dato  e 
teus  companheiros  á  minha  prisão,  se  não 
será  força  mandar-vos  matar  a  todos, 
cousa  contra  minha  eondiç.uo.»  Ibidem, 
cap.  9G.  —  «Entrou  polias  portas  da  sala 
com  nove  bateis  grandes,  em  cada  hum 
seu  mautedor,  e  os  bateis  metidos  em  on- 
das do  mar  feytas  de  pano  de  linho,  e 
pintadas  de  maneira  que  parecia  agoa.» 
Garcia  de  Rezende,  Chronica  de  D.  João 
II,  cap.  \'21. —  «Na  primeyra  sala  cm 
que  entramos,  vimos  na  parede  pintada  a 
Ivaynha  dos  Anjos  com  o  Menino  Iesvs 
nos  braços,  eom  cuja  vista  nos  alegxamos 
estranhamente,  e  não  faltou  na  compa- 
nhia, quem  de  alegria  chorasse.»  Fr.  Gas- 
par de  S.  Bernardino,  Itinerário  da  ín- 
dia, cap.  15. 

Este  na  Sala  entrou  de  loba,  e  capa, 
Mas  debaixo  do  bra*;o,  co'a  Catana, 
Com  quo  om  noitcã  de  escuro  tem  brigado 
(So  de  seu  grau  valor  uaõ  mente  a  famai 
Sluitas  vezes,  com  todos  os  Diabos. 
Asroxio  Di.Mz  DA  cKLZ,  iivssorK,  cant.  7. 

—  Sala  de  tspera ;  sala  onde  estão  os 
hospedes  até  que  sejam  conduzidos  ao  in- 
terior. As  saias  ordinariíis  são  á  frente 
das  casiis,  para  gozar  a  luz  da  rua. 

—  Figuradamente  :  Ter  boas  sedas  ;  o 
que  á  primeira  e  externamente  faz  bons 
gasalUadoa  e  comprimentos. 


Sala  viarinarea;  sala  de  mármore. 


Tu,  do  Norf!  /i  Filosofo  gui-rrciro. 
Quantos  ouvÍ8fe'S  na  marmórea  Sala, 
Que  inda  abaixo  do8  bruto4  se  arrutravio? 
d\n^o»  nas  produc'<;úcH,  ua  uMcucia  eorjXfS, 
De  nenhum  jiuro  i-spirito  animados, 
(Estranho  paradoxo!;  i'llo«  gc  acelamão ! 

J.    A.    DE   MACKUO,  MKDlTAçIo,  Cant.    4. 


—  Dar   sala  franca ;   dar  banquete  a 
quem  quizer  ir  comer. 

—  As   salas  f atoes  d'eban'j  «  d«  ouro. 


Vfjo  o  vulto  de  Séneca,  »cu»  olhos, 
Cinde  arcano  fulgura  hum  lume,  c  volvf 
.Míditabundo  ao  luminoso  asocnto. 
Pizo  as  Kil.of  fataes  d'cbano,  c  de  ouro. 
Onde  a  sombra  de  Nero  horror  derrama. 

J.   A.    ni:  UACKlMj,  VIAGEM  EXTÁTICA,  CAUt.  2. 

—  Fazer  sala  «  alguém ;  frequentar  a 
sua  casa  para  o  graugear. 

SALA,  ou  ÇALÁ,  í.  "I.  Gração,  depre- 
cação  feita  cinco  vezes  ao  dia  pelos  mou- 
ros. 

—  Figiirailamente :  Cortezia. 
SALABORDIA,    «,  /.    Termo    popular. 

Semsaboria,   pratica   tola  de   vulgarida- 
des. 

SALADA,  *.  /.  iDo  francez  salade). 
Alimento  composto  de  certas  hervas  ou 
de  certos  legumes  temperados  com  sal, 
pimenta,  vinagre,  azeite,  etc. 

—  Termo  de  poe.sia.  Compo.-;ição  poé- 
tica de  coplas,  redondilhas,  entre  as  quacs 
se  mi.stura  todo  o  género  de  versos,  e  lin- 
guagem; tem  retornello. 

—  Ad.\gios  e  provérbios: 

—  Salada  bem  salgada,  pouco  vinagre, 
bem  azeitada. 

—  Quem  sobre  salada  não  bebe,  igno- 
ra o  bem  que  perde. 

SALADEIRA,  í.  /.  Prato  covo  para  tra- 
zer salada  ;i  mesii. 

SALADINHA,  ou  SALADINA,  s.  /.  Con- 
tribuição imposta  outrWa  em  Inglaterra 
e  França  para  a  cruzada  contra  Saladi- 
no,  sultão  do  Egypto. 

S  ALAM  A,  í.  í)í.  Saudação.  ViJ.  Sale- 
ma. 

SALAMALÉ,  s.  m.  Vid.  Salama. 

SALAMALEK,  s.  m.  Saudação  profunda 
entre  es  turcos,  civilidade  exagerada. 

—  I.oc.  pi>i'.:  Fazer  grandes  sàLami' 
leks.  ^  il.  Salema. 

SALAMANDRA,  s.  /.  i  Do  latim  sala- 
mandra). Reptil  da  f.inna  da  lagartixa, 
do  qual  o  vulgo  crê  que  vive  no  f(^o. 

—  Dá-se  também  este  nome  ao  amian- 
to ou  abesto. 

—  Salamandra  aquática,  ou  salamanti- 
ga  dagua;  amphibio  que  se  encontra  nas 
aguas  encharcada*. 

—  Termo  da  antiga  chimica.  Sangue 
da  salamandra ;  vapor  rubro  que  se  ele- 
va durante  a  distillação  do  espirito  de 
nitro.  E  hoje  o  acido  hypo-azotico. 


SALC 


SALG 


SALG 


383 


SALAMANTEGA,  ou  SALAMANTEIGA,  *. 

f.  vSigiiitica  o  mesmo  que  salamandra. 

— ■  Outros  querem  dar-lhe  a  significa- 
ção de  um  bicho  estreito  e  longo,  cheio 
de  pés  de  um  e  outro  lado  do  corpo. 

SALAMANTICO,  A,  adj.  Coucernente  a 
Salamanca. 

—  Substantivamente :  Um  salaméin- 
tico. 

SALAMANTIGA,  s.  /.  Vid.  Salaman- 
tega. 

SALAMÃO,  ou  SALOMÃO,  s.  m.  Epithe- 
to  do  rei  da  Judêa,  filho  de  David. 

—  Figuradamente :  Homem  muito  sá- 
bio.—  Este  individuo  é  iiin  Salomão. 

SALAME,  s.  m.  Espécie  de  paio,  que  se 
come  sem  ser  cozido. 

SALAMEAR,  ou  ÇALAMEAR,  v.  n.  Ter- 
mo do  náutica.  Levantar  ou  cantar  a  ce- 
leuma. Vid.  Celeumear. 

—  Cantar  a  córoí.  Vid.  Psalmear. 
SALAMIM,  s.  m.  Vid.  Selamim. 

1.)  SALÃO,  í.  m.  Sala  grande. 

—  Figuradamente  :  Os  primeiros  sa- 
lões do  imvienso  alcaçar. 

Além,  naquclle  inculto  ermo  espantoso, 
O  Peripáto  foi,  onde  o  profundo 
Pensativo  Aristóteles  obteve, 
Das  mesmas  mãos  da  Natureza,  a  chave 
Dos  primeiros  salões  do  immenso  alcaçar. 

J.    A.    DE   JIACEDO,    MEDITAÇÃO,   CaUt.    2. 

2.)  SALÃO,  s.  m.  Termo  de  marinha. 
Fundo  de  areia  e  limo,  que  encontra  o 
prumo,  quando  se  lança  para  saber  a  al- 
tura d'agua  n'aquelle  logar. 

—  Termo  de  agricultura.  Barro  gros- 
so, nào  visguento  com  mescla  d'areia, 
boa  terra  para  cannas  nos  climas,  ou  an- 
nos  chuvosos. 

SALARIADO,  part.  pass.  de  Salariar. 

SALARIAR,  r.  a.  Vid.  Assalariar. 

SALÁRIO,  s.  in.  íDo  latim  salário).  Es- 
tipendio por  trabalho,  ou  por  serviço.  — 
Os  officiaes  pedem  vniitas  vezes  augmento 
de  salário. 

—  Figuradamente :  Recompensa. 

—  Salário  dos  soldad,os;  o  pré,  o  soldo 
delles.  Viu.  Pré,  e  Soldo. 

SALAVANCO,  s.  m.  Vid.  Solavanco. 

SALAZ,  adj.  2  gen.  fDo  latim  salaxi. 
Impuro,  impudico.  —  O  salaz  membro  ge- 
nital. 

X  SALÇA-PRÔA,  s.  f.  Termo  com  que 
se  designa  aquella  parte  do  navio,  quan- 
do em  vez  do  beque  ou  talham  ar,  tem 
apenas  uma  curva,  contra  a  qual  se  ate- 
sa a  trinca. 

SALCHICHA,  s.  f.  (Do  francez  saucis- 
íc.  Tripa  de  porco  cheia  de  pernil,  e 
gordura  picada  com  sal,  semente  de  fun- 
cho, e  um  golpe  de  vinho  branco. 

—  Termo  de  fortificação.  Fachina  lon- 
ga de  muitos  pés  de  longor,  usada  para 
cruzar,  e  segurar  as  outras,  atravessan- 
do-as  por  cima.  Vid.  Salchichão. 

— -Termo  de  artiiheria.    Um   chouriço 


de  panno  com  a  costura  alcatroada,  de 
um  dedo  de  diâmetro,  que  se  enche  de 
pólvora,  e  se  enterra  no  chão  para  d'ella 
se  communicar  o  fogo  á  mina. 

SALCHICHÃO,  *.  m.  Augmentativo  de 
Salchicha.  í^alchicha  grande. 

—  Termo  de  fortificação.  Molhos  de 
toda  a  casta  de  madeira  atados  pelo  meio, 
e  extremos,  os  quaes  supprem  por  fachi- 
nas. 

SALCHIGHEIRO,  A,  s.  Pessoa  que  faz 
salchichas. 

—  Pessoa  que  vende  salchichas. 

SALDADO,  part.  pass.  de  Saldar.  Ajus- 
tado, egualado  o  debito  com  o  credito,  a 
receita  com  a  despeza. 

—  Pago  completamente. 
SALDAR,  r.  a.  Pagar  o  saldo. 

—  Inteirar  o  resto,  ou  a  difl^erença  de 
debito  e  credito  em  contas  commerciaes. 

—  Alguns  dizem  soldar  na  significação 
de  pagar  o  resto  ao  credor. 

—  Saldar  as  contas;  inteirar,  pagar  a 
diíferença. 

SALDO,  s.  VI.  (Do  francez  solde).  A 
somma,  que  falta  ou  resta  para  ajustar 
o  debito  com  o  credito  nas  contas  d'en- 
tre  devedor  e  credor,  ou  administrações 
em  que  ha  receita  e  despeza. 

SALE,  s.  2  gen.  (Do  francez  salé) .  Car- 
ne salgada.  Vid.  Sele. 

SALEIRINHO,  í.  wi.  Diminutivo  de  Sa- 
leiro. Saleiro  pequeno. 

SALEIRO,  s.  m.  Vasilha  em  que  se  traz 
o  sal  para  a  mesa. 

—  Termo  de  montaria.  È  a  nascença 
das  pontas,  fallando  da  parte  mais  ele- 
vada da  cabeça  do  veado. 

—  O  homem  que  vende  sal. 

1.)  SALEMA,  s.  f.  Termo  de  náutica. 
Vid.  Celeuma. 

2.)  SALEMA,  s.  f.  Cortezia,  reveren- 
cia profunda  em  signal  de  obediência  e 
submissão,  acompanhada  de  certos  vocá- 
bulos, entre  os  quaes  vem  salemas. 

3.V  SALEMA,  s.  f.  Peixe  vulgar. 

SALEMINHA,  s.  /.  Diminutivo  de  Sa- 
lema ipeixe\ 

•{■  SALENE.  Termo  usado  por  António 
Prestes  nos  seus  Autos. 


Oh  !  como  vindes  salèn>' ! 
Mestre,  toda  a  gentileza 
vem  comvosoo  em  vir  aqui. 

AKTOxio  PKESTEs,  AUTOS,  pag.  339. 

SALEP,  ou  SALEPO,  s.  m.  Substancia 
alimentar  que  se  extrahe  dos  tubérculos 
de  todas  as  orchideas  indistinctamente. 

—  Bebida  que  os  orientaes  fazem  com 
os  bolbos  das  orchideas. 

—  Ha  outras  variedades  com  diversos 
nomes. 

SALETA,  s.  f.  Diminutivo  de  Sala.  Sa- 
la pequena. 

SALGA,  s.  f.  A  acção  de  salgar  o  pei- 
xe ou  carne  para  os  curar. 


—  Tributo  imposto  sobre  o  sal  pelos 
reis  de  Aragão. 

—  Local  onde  se  salgam  e  curam  pei- 
xes. Vid.  Salgadeira. 

—  Jlarinha  do  sal. 
SALGADAMENTE,  adv.  (De   salgado,  e 

o  suffixo  omenten).    Com  muito   sal,    de 
um  modo  salgado. 

—  Figuradamente :  Graciosamente,  fa- 
cetamente. 

SALGADEIRA,  ».  /.  Tina  com  fundos 
postiços,  em  que  se  tem  o  peixe  ou  car- 
ne na  salmoura. 

—  Lugar  onde  se  salga   e  cura  peixe. 

—  Termo  de  botânica.  Planta  que  tem 
o  gosto  do  sal. 

SALGADÍSSIMO,  A,  adj.  superl.  de  Sal- 
gado, ^lui  salgado. 

SALGADO,  part.  pass.  de  Salgar.  Que 
tem  sal  em  abundância. 


As  taes  formas  no  mar  polia  mor  parte 
Animadas  e  viuas  ficào  sempre. 
Polia  disposição  que  a  natureza. 
Na  glotinosa  c  grossa  matéria  acha. 
Assaz  ba.stante,  c  fértil  acremento 
Das  amargas,  falgada.')  grossas  aguas, 
Disto  a  mestra  engenhosa  cria  feros, 
Espantosos,  marinhos  feos  monstros. 

coKTE  REAL,  xArFBAGio  DE  sepcl\t;da , caut.  16. 

Tal  acontece  ao  navegante,  quando 
Donde  inda  nào  scdgado  o  Tejo  corre 
Em  ligeiro  baixel  vem.  manso  e  manso. 
Rompendo  a  vêa  das  cerúleas  ondas, 
Que  pouco  a  pouco  a  desigual  marinha 
Começa  de  observar,  e  a  ruiva  arêa, 
Onde  inda  vivos,  prateados  peixes 
Lança  contente  o  pescador  insómne. 

J.    A.    DE   MACEDO,   ífEDITAçÃO,   Cant.   2. 

—  Figuradamente :  Diz-se  do  que  é 
gracioso,  do  que  já  se  sabe,  etc. 

—  Figuradamente :  Caro,  custoso. 

—  Termo  de  poesia.  O  salgado  rio;  o 
mar. 

—  O  comer  está  salgado ;  o  comer  tem 
sal  de  mais. 

SALGADURA,  s.  f.  A  acção  de  salgar. 

SALGALHADA,  5.  /.  Termo  popular. 
[Miehordia. 

SALGAR,  V.  a.  Temperar  com  sal.  — 
«Em  outras  partes  ha  miiytos  almazena 
de  infinidade  de  mantimentos,  e  outras 
tantas  casas  como  terecenas  muyto  com- 
pridas, em  que  chacinão,  salgão,  empe- 
saõ,  e  defumão  todas  as  sortes  de  caças 
e  carnes  quantas  se  crião  na  terra.»  Fer- 
não Mendes  Pinto,  Peregrinações,  capi- 
tiTlo  97.  —  «Costumando  chamar  as  crian- 
ças a  sua  eaza  as  matava,  as  salgava,  e 
as  comia.  O  crime  fica  raramente  sem 
castigo,  diz  Horácio.  Jiaro  anfecedentem 
scelestum  deseruit  pede  pana  claudo.v 
Cavalleiro  d'01iveira,  Cartas,  liv.  1,  nu- 
mero 16. 

—  Salgar  as  casas ;  arrazal-as  de  sal. 

—  Figuradamente  :  Corrigir,  emendar. 

—  Pôr  sal  nas  carnes,  peixes,  etc, 
para  as  conservar  sem  putrefacção. 


384 


SALl 


SALI 


SALL 


des. 


Figuradamoiito :    Salgar    ou    vonlu- 


—  Salgar-se  íi  tana ;  cutr.ir  pur  cila 
agua  salfíailii. 

SALGEMA,  .s.  /.  Um  sal  minorai,  que 
nili»  e.ital/i  no  f";,'o,  mas  faz-so  canJoiíto. 

SALGUEIRA,  *./.  (Do  latim  aalijc).  Ar- 
vore Ar.  ijuo  lia  iiiaclio  c  fumoa;  tom  a 
caHca  lisa,  lluxivol,  aa  fulhaa  felpudas, 
loiífjfati,  mais  estreitas  quo  as  do  pece- 
puuiro.  Ha  diflcroutcs  cipccies  do  sal- 
giKíira. 

SALGUEIRAL,  s.  7/1.  Campo  ou  arvore- 
do de  sal^juciros. 

SALGUEIRO,  *■.  m.  Vid.  Salgueira. 

SALHAR,  D.  «.  l'uxar,   tirar,  arrastar. 

—  A-ise.star, 

—  Salhar  <i  artilhiria ;  tiral-a  do  po- 
rão. Vid.  Assestar. 

—  O'  salha!  dizem  os  que  puxam  al- 
guma cousa  com  corda  e  arrojões, 

SALIAR,  alj.  2  f/en.  (Do  latim  salia- 
ris).  Qu  •  diz  respeito  aos  salios,  sacer- 
dotes do  deus  Marte. 

SALICARIA,  N.  /".  Plantíi  rosácea. 

t  SALICIFOLIO,  A,  adj.  Termo  do  bo- 
tânica. Diz-sc  das  folhas  quo  se  asseme- 
lham :is  do  salgueiro. 

SALICINA,  «.  /.  (Do  latiui  talix).  Ter- 
mo de  chimica.  Substancia  que  se  encon- 
tra na  casca  dos  salgueiros  e  do  alguns 
choupos. 

f  SALICINEA,  s.  /.  Familia  de  plan- 
tas dicotyledoneas,  que  tem  por  typo  o 
salgueiro. 

f  SALICITA,  s.  /.  Termo  de  mineralo- 
gia. Te  Ira  tigurada  imitando  uma  folha 
de  salgueiro. 

SALICO,  A,  adj.  (Do  latim  salicus).  — 
Lei  salica ;  a  lei  fundamental  de  França, 
que  excluc  do  throno  as  fêmeas. 

-}■  SALICOLA,  aJj.  2  çjen.  (Do  latim 
sal,  e  colere).  Que  cultiva  o  sal,  que  o 
produz.  —  As  jjhmicies  salicolas. 

f  SALICULTURA,  s.  /.  Producção  ar- 
tificial do  s.il,  cultura  das  salinas. 
.  +  SALIGYLICO,  A,  udj.  Termo  de  chi- 
mica. Ai-iJo  salicylico ;  corpo  obtido, 
aquccondo-so  o  acido  salicyloso  com  um 
excesso  ile  hvdrato  e  de  potassa. 

f  SALICYLITO,  s.  w.  Termo  de  chi- 
mica. Nouie  dos  saes  do  acido  salicyloso. 

f  SALYGILOSO,  A,  a.lj.  Termo  do  chi- 
mica. Acido  salicyloso ;  corpo  extraindo 
das  flores  da  rainha  dos  prados  pela  dis- 
tillação  com  a  agua. 

SALIENTE,  «'//'.  2  <jen.  Que  sobresde, 
quo  fica  mais  elevado  que  o  fundo,  que  o 
plano  ou  superficie. 

—  Amjulu  saliente ;  angulo  que  sáe 
fora  do  plano  do  alinhamento  do  muro, 
ou  o  que  fica  n.v  frente  do  baluarte. 

t  SALIFICAÇÃO,  s.  /.  Termo  da  anti- 
ga chimica.  To  la  a  opcrai;ão  em  que  se 
produzia  um  sal  ou   corpo   crvstallisado. 

f  SALIFICAR,  V.  a.  Converter  em  sal. 

SALIFICAVEL,  adj.  Termo  do  chimica. 
Diz-so  das  substancias  que  são  susceptí- 


veis de  formar  saes,  combinaado-Be  com 
um  outro  coqio,  como  os  oxydoa  iiietal- 
lieos  com  os  aeidos,  os  sulfuretoi  entre 
si,  o  chioro  com  o  sódio,  ctc. 

SALIGAS,  ou  SALIGUE3,  «.  vt.  plur. 
Arma  dr  arremesso. 

SALINA,  s.  f.  Termo  de  marinha.  Ma- 
rinha de  sal.  —  «.\o  outro  dia  abranilou 
o  tompo,  mudando-80  em  popa,  fizemiM 
nosso  candidio,  c  ao»  catorze  de  Feue- 
rcyro,  chegamos  a  Ciiypre.  Eiitroy  no 
Mosteyro  cio  nosso  l'adre  Sam  Francisco, 
que  está  om  Arnica,  perto  das  Salinas, 
onde  o  l'adre  (iuardiuo  ine  recebco  com 
grandíssima  deua<,ão,  amor,  e  charida- 
de.ii  Fr.  (laspar  (Ic  S.  Bernardino,  Iti- 
nerário da  índia,  cap.  22. 

SALINAGEM,  *•.  /.  Termo  do  chimiwi. 
()p<ira(,rio  (juc.  consiste  em  fazer  crysUil- 
lisai'  o  s;d. 

SALINA VEL,  adj.  2  gtn.  Termo  de  chi- 
mica. ^^>ue  piule  reduzir-«e  ou  converter- 
se  em  sal. 

SALINEIRO,  .•!.  «1.  (Do  latim  aalina- 
riuí).  Homem  que  fabrica  o  sal. 

SALINO,  A,  adj.  Que  contém  sal,  que 
ó  da  natureza  d'elle.  —  Concreção  sa- 
lina. 

—  Que  cresce  nas  terras  embebidas  de 
aguas  salgadas. 

—  Dizia-sc,  na  antiga  chimica,  das 
substancias  acidas,  alcalinas  e  de  algu- 
mas outras.  —  As  matérias  salinas  sHo 
as  que  tem  sabor ;  mas  donde  lhe  vem 
esta  propriedade  que  nos  é  tão  sensível, 
e  que  affecta  o  sentido  do  gosto,  do  ol- 
fato,  e  mesmo  o  do  toque  ?  —  Os  princi- 
jiios  salinos,  que  se  podem  reduzir  a 
três,  a  saber:  o  acido,  o  alcali  e  o  arsé- 
nico. 

—  Os  corpos  salinos;  os  saes. 
SALIO,  «.  m.  (Do  latim  salius).  Termo 

de  antiguidade  romana.  Diz-se  dos  sacer- 
dotes de  Marte,  e  dos  hymuos  cantados 
em  sua  hom-a.  —  O  collegio  dos  sa- 
lios. 

—  Emprega-so  também  adjectivanicn- 
te  :  Sacerdotes  salios.  —  Cautos  salios. 

SALIR,  1-.  n.  (Do  latim  saíire).  Termo 
antiquado.  Sair. 

SALITRAÇÃO,  s.  /.  Synonymo  de  sali- 
trisarãii.  Vid.  este  vocábulo. 

SALITRADO,  A,  adj.  Que  tem  salitre, 
que  leva  salitre. 

—  Reduzido  a  salitre,  impregnado  e 
imbuído  d'elle. 

—  Acompanhado  de  crvstallisações. 

—  Loo.  POET. :  O  salitrado  fogo,  ou 
pó ;  pólvora. 

SALITRAL,  s.  m.  Vid.  Nitreira. 
SALITRAR,  V.  a.  Keduzir  a  salitre. 

—  reuiporar,  preparar  com  salitre. 
Vid.  Salitrisar. 

SALITRE,  s.  Hl.  (Do  latim  salnitrum). 
Ternio  de  marinha.  Género  de  sal  mine- 
ral. 

—  Sal  formado  pela  uni.ão  do  acido 
uitrjco  com  potassa.   Fundc-se  no  fogo, 


misturado  w^m  enxofro,  e  carvJlo;  d'elle 
se  faz  judvora.  Vid.  Nitro. 

SALITREIRO,  «.  m.  O  fabricante  do  sa- 
litre. 

SALITRISAÇAO,  ».  /.  A  aeçJlo,  traba- 
lho ciiimlco  (lara  reduzir  a  salitre. 

—  Formarãij  natural  do  i-alitre. 

f  SALITRI3AD0,  part.  pasa.  de  Sali- 
trisar. 

SALITRISAR,  ou  SAUTRI2AR,  v.  a. 
Termíj  de  chimica.  Reduzir  a  salitre. 

—  Fazer  impregnar  as  terras  do  sali- 
tre pelort  modos  da  arte. 

—  Alguns  dizem  que  se  pronuncie  *a- 
Utrijicar,  porém  o  uso  tem  adoptado  sa- 
litrisar, por  ser  mais  breve  o  fácil.  Vid. 
Salitrar. 

SALITR030,  A,  adj.  Que  contém  sali- 
tro. 

—  Nitroso.  —  Plaiita  salitrosa. 

SALIVA,  «.  /.  (Do  latiui  taliva).  Hu- 
mor inodoro,  iiisipido,  um  pouco  transpa- 
rente, viscoso,  segregado  pelas  glândulas 
parotidas,  sub-maxiUares,  e  tub-linguaes, 
derramado  pela  bocca,  c  destinailo  a  im- 
pregnar o  bolo  alimentício,  e  a  fazel-o 
8off"rcr,  com  o  auxilio  da  ma3tigaç.ío,  o 
principio  da  elaborarão.  —  Engulir  a  sa- 
liva.—  Um  dos  eflFeitoâ  da  saliva  é  amoUe- 
cer  os  alimentos,  dissolvel-oe  algumas  ve- 
zes, e  tornal-os,  por  isso  mesmo,  de  mais 
fácil  digestão. 

—  Sailiva  abdijmlnal;  nome  dado  algu- 
mas vezes  ao  sueco  pancreatico,  ao  liqui- 
do segregado  pelo  pâncreas. 

—  Loc.  FIG. :  Engulir  a  saliva;  não 
poder,  nào  se  atrever  a  dizer  alguma 
cousa. 

SALIVAÇÃO,  s.  /.  (Do  latim  aalivatio, 
de  sulivare).  Termo  do  medicina.  Fluxo 
superabundante  de  saliva  provocado  por 
mastigadores,  ou  por  uma  doença,  o  mor- 
mente por  preparações  mercnriaes. 

SALIVAL,  ou  SALIVAR,  adj.  2  gen.  (Do 
latim  saliiarius,  de  saliva).  Termo  de 
anatomia.  Que  diz  respeito  á  saliva.  — 
Glândulas  salivares.  —  Os  sueco*  saliva- 
res misturados  coin  os  aliinenttíS. 

—  Cálculos  salivares ;  concreções  que 
se  encontram  muitas  vezes  nas  glândulas 
salivares. 

—  Fistulas  salivares;  aberturas  fistu- 
los.is  resultantes  de  uma  lesào  do  canal 
excretor  principal,  e  de  uma  glândula 
salivar. 

SALIVAR,  V.  a.  (Do  latim  salivare). 
Fazer  muiu  saliva.  —  O  mercúrio  faz 
salivar, 

—  Lançar  a  saliva  da  bocca. 
SALIVOSO,  A,   adj.   (De  saliva,  com  o 

suffixo  «oso:-  .  Cheio  de  saliva. 

■j-  SALLA,  s.  /.  Vid.  Sala.  —  *E  quan- 
do os  viraõ  entrar  por  meio  da  salla,  co- 
nhecendo a  Clarimundo,  e  alguns  delles 
a  Dom  Dinarte,  por  já  terem  esporimeu- 
I  tado  seus  encontros.»    Barros,  Clarimun- 
'  do,  liv.  2,  cap.  8.  —  «  E  deitjido  vestido 
I  em  huma  camilla  ouoia  Missa  na  salla,  e 


SALM 


SALP 


SALS 


385 


isto  fez  al<runs  dias  ate  que  veio  a  tanta 
fraqueza  que  se  nào  podia  leuantar,  e  la 
na  camará  lhe  diziam  Missa,  e  da  cama 
via  Deos.j  Garcia  de  Rezende,  Chronica 
de  D.  João  II,  cap.  210. 

—  Salla  de  comer;  a  peça,  em  que  se 
tomam  alimentos. 

—  Salla  do  bilhar;  sala  onde  se  joga  o 
bilhar. 

—  Salla  de  audiência,  de  recepção;  o 
logar  onde  as  pessoas  constituídas  em  di- 
gnidades dão  audiência.  Entende-se  tam- 
bém a  sala  onde  o  tribunal  foz  jus- 
tiça. 

—  Salla  do  baile;  sala  onde  se  dão  os 
bailes,  os  concertos,  etc. 

—  Por  metonyniia  :  Os  senhores  que 
occupam  a  salla,  em  opposição  aos  cria- 
dos. 

—  Salla  de  dança;  peça  onde  os  pro- 
fessores de  dança  dão  suas  lições. 

—  Salla  d'armas,  oii  salla  de  esgrima ; 
logar  onde  se  ensina  publicamente  a  fa- 
zer armas. 

SALMAÇO,  A,  adj.  Termo  pouco  usa- 
do. Salobre. 

SALMÃO,  s.  m.  (Do  latim  salmo).  Ter- 
mo de  ichthyologia.  Peixe  vulgar,  que 
tem  a  carne  amarellada. 

—  Signo  salmão;  dous  triângulos  de 
metal  travados,  que  costumam  trazer  as 
creanças,    como   uma  especio   de  enfeite. 

SALMAR,  f.  a.  Vid.  Açaimar. 

SALMARINO,  í.  m.  Termo  de  ichthyo- 
logia. Peixe  do  género  do  salmão. 

SALMEJAR,  V.  a.  Termo  de  Lisboa. 
Acarretar  o  pão  para  a  eira. 

SALPÍEAR,  V.  a.  Vid.  Psalmear. 

f  SALMISTA,  í.  m.  Vid.  Psalmista. 

SALMO,  s.  m.  Vid.  Psalmo. 

E  aasi  nSo  trazem  aos  peitos 
outra  noraina  nem  salmos 
que  vista  de  Rei  mil  palmos 
mortos  com  raiva  de  aceitos 
por  se  tornarem  aos  onsalmos. 

ANTÓNIO  PBESTES,  AUTOS,  pSg.  301. 

SALMOEIRA,  s.  f.  A"aso  em  que  se  tem 
a  carne,  ou  peixe  posto  em  sal. 

—  Estar  em  salmoeira;  estar  apinha- 
do, e  apertailo  incommolamente. 

SALMOEIRAR,  v.  a.  Pôr  de  sal  delido 
em  agua  bem  saturada  d'elle  o  peixe,  ou 
carne. 

—  Figuradamente:  Pisar,  moer. 
SALMOEIRO,  s.  m.  Vid.  Salmoeira. 

—  Figuradamente :  Ter  wn  salmoeiro 
no  inferno. 

SALMOIRA,  s.  /.  Vid.  Salmoura. 

SALMONEJO,  s.  m.  Salmão  pequeno. 

SALMONETE,  s.  m.  Vid.  Salmonejo. 

SALMONICO.  Vid.  Ammoniaco. 

SALMOURA,  s.  /.  (,De  sal,  e  do  grego 
mi/riaK  O  sal  desfeito  no  humor  que  sáe 
do  peixe,'  ou  carne,  que  se  põe  de  sal,  a 
fim  de  se  conservar  incorrupto. 

—  Salmoeira. 

voL.  V. — 49, 


—  Termo  popular.  Áspera,  severa  re- 
prehensão. 

—  Agua  com  sal  para  curtir  azeitonas, 
conservar  carnes,  peixe,  etc. 

—  Termo  figurado :  Pancadas,  pisa, 
sova. 

SALMOURADO,  ;?arí.  pass.  de  Salmou- 
rar.  ]\Iettido  em  salmoura,  em  conserva. 

—  Escravos  salmourados  ;  escravos  a 
quem  se  untaram  com  salmoura  as  feri- 
das dos  açoutes. 

SALMOÚRAR,  V.  a.  Vid.  Salmoeirar. 

SALOBRE,  adj.  2  gen.  Vid.  Solobro. 

SALOBRO,  A,  adj.  Que  tem  gosto  de 
sal,  que  toca  de  salgado. — Agua  salo- 
bra. —  «A  terra  em  si  he  mui  estéril, 
sem  agua,  e  toda  a  que  se  alli  bebe  se 
traz  em  camelos  perto  de  duas  léguas,  e 
ainda  tão  salobra,  que  he  mais  pêra  os 
camelos  que  a  trazem,  que  pêra  homens: 
e  o  que  confirma  o  parecer  de  D.  João 
ser  alli  a  Cidade  dos  Heroas,  he  que 
naquelle  sitio  se  mostram  algumas  ruinas 
dos  edifícios  delia  meios  cubertos  de  arêa, 
e  grande  numero  de  cisternas  mais  cheas 
delia,  que  de  agua.»  .João  de  Barros,  Dé- 
cada 2,  liv.  8,  cap.  1. 

- — -Homem  salobro;  homem  sem  sal, 
sem  sabor. 

—  Homem  salobro ;  homem  insípido, 
desenxabido,  insulso. 

—  Adagio  e  provérbio: 

—  Agua  salobra  é  doce. 
SALOIA,  s.  f.  Mulher  do  saloio. 
SALOIO,  s.  m.  Agricultor  do  termo  de 

Lisboa,  que  traz  a  vender  as  fructas,  o 
pão  á  cidade. 

SALPA,  s.  /.  Termo  de  zoologia.  Inse- 
cto marinho  transparente.  Vid.  Biphoro. 

SALPICADO,  part.  pass.  de  Salpicar. 
Molhado  com  gottas  esparzidas. 

—  Figuradamente :  Matizado. 

—  Maculado  no  phvsico  com  pintas, 
no  moral  com  laliéos,  notas,  etc. 

—  Passarinho  salpicado  ;  de  azul,  ver- 
de, e  outras  cores. 

SALPICADOR,  A,  adj.  e  s.  (De  salpi- 
car, com  o   suffixo  «dor»).  Que    salpica. 

—  Figuradamente:  Que  macula. 

—  Que  salga,  esparzindo  pedras  de 
sal  sobre  alguma  cousa. 

SALPICADURA,  s.  f.  Salpico. 

SALPICÃO,  s.  m.  Presunto  de  vinho«de 
alhos  picado,  e  mettido  em  tripa  de  vac- 
ca,  e  curado. 

SALPICAR,  1-.  n.  Molhar  com  gottas  es- 
parzidas. 

Figuradamente:  Matizar  com  man- 
cha, ou  moscas  de  côr  varia,  o  assento 
do  tecido,  ou  pintando. 

—  Salgar,  derramando  umas  pedras  de 
sal  sobre  alguma  pousa. 

—  í^iguradamente :  Macular  a  condu- 
cta  com  descobrir  algumas  faltas.  Vid. 
Salpicado. 

SALPICO,  s.  m.  Gotta  que  salta,  e  bor- 
rifo, e  talvez  o  sigral  que  ella  deixa. 

—  Motes,  gracejos  leves  salgados,  gra- 


ças, zombarias  leves  contra  alguém,  com 
graciosidade  que  não  morda,  ou  pique, 
nem  ofFenda  muito. 

—  Nódoas  nos  costumes. 

— ■  Mancha  de  côr  varia  no  tecido,  ou 
pintura. 

SALPICOLA,  s.  f.  Planta  que  dá  flores 
azues,  ou  côr  de  carne,  e  produz  folhas 
pouco  maiores   que  as   do  trevo. 

SALPIMENTA,  s.  /.  Mistura  de  sal  e 
pimenta. 

—  ^Mesclada  de  branco  e  cinzento. 
SALPIMENTAR,   v.   a.    Temperar   com 

sal  e  pimenta. 

—  Figuradamente  :  Maltratar  de  pala- 
vras que  picam  e  ardem.' 

SALPINGA,  s.  /.   Serpente   da  Africa. 

SALPREZAR,  ou  SALPRESAR,  v.  a.  Sal- 
gar levemente,  quanto  baste  para  livrar 
da  podridão. 

SALPREZO,  ou  SALPRESO,  A,  adj.  Sal- 
gado levemente,  e  quanto  é  suflâciente 
para  li%Tar  da  podridão, 

1 .)  SALSA,  s.  /.  Hortaliça  vulgar,  que 
serve  para  temperar  a  comida. 

—  Salsa-parrilha.  Vid.  Salsaparrilha, 

—  Alguns  dão-lhe  o  nome  de  sarça,  e 
é  talvez  o  termo  mais  próprio. 

—  Adágios  e  provérbios: 

—  Salsa  de  S.  Bernardo, 

—  Tenhamos  a  pata,  então  falharemos 
na  salsa. 

2.)  SALSA,  s.  f.  Molho  para  dar  me- 
lhor sabor  ao  peixe,  carne,  e  abrir  o 
appetite. 

—  Loc.  FIG.:  Ter  salsa;  ser  maltra- 
tado na  guerra. 

SALSADA,  s.  /.  Termo  popular.  Enre- 
do, embrulhada,  mistiforio. 

SALSAFRAZ.  Vid.  Sassafraz. 

SALSAPARINA,  s.  /.  Termo  de  chimi- 
ca  e  de  pliarmacia.  Substancia  contida 
na  salsaparrilha. 

SALSAPARRILHA,  s.f.  Planta  da  Ame- 
rica, cuja  raiz  é  depurativa  c  sudorífica. 
Vid.  Salçaparrilha,  e  Parrilha. 

SALSEIRA,  s.  /.  íDo  francez  sauciire). 
Vaso  em  que  se  costuma  trazer  a  salsa  á 
mesa. 

—  Galheta  de  azeite  e  vinagre  para 
molhos,  que  se  faz  com  elles  na  mesa, 

SALSEIRINHA,  s.  f.  Diminutivo  de 
Salseira.  Salseira  pequena. 

SALSEIRO,  s.  m.  Aguaceiro,  nuvem  de 
agua  escura,  e  medonha. 
"  SALSINHA,    í.  w.  Termo  popular.  Ho- 
memzinho  inepto. 

—  S.  f.  Diminutivo  de  Salsa. 
SALSIXA,  s.  f.  Vid.  Salchicha. 
SALSO,  A,  adj.  (Do  latim  salsus).  Ter- 
mo de  poesia.  Salgado. 

—  Salsas  ondas;  ondas  do  mar. 

Conduz  seu  doce  assopro  as  salsas  ondas ; 
Tocão  brandas  na  praia,  e  brandas  fogem. 
Da  terra  a  superfície  se  povoa 
De  vicejantes  pâmpanos ;  c  correm 
I^ambendo  o  tronco  ás  Faias,  e  Avellciras 
Regatos  que  murmurão  :  fresca  relva 


386 


SALT 


SALT 


SALT 


LUoa  borda  as  marRcna,  o  as  mimosas  flores 
Ao  ar  cluvào  ciilicL-s  briiliauti ■*. 

J.   A.  Dl  HACKDO,  A  NÀTUUIZl,  Caut.  1. 

—  Salso  argeiUo ;  o  mar. 

—  Salsos  mares;  mares  cheios  (lo  sal. 

E  quíiiitos  (lo  medonha  catadura 
Tcixcs  di,'sciibro,  que  iioi  fiUnon  marca 
Sempre  cm  guerra,  o  caruagera  »o  conacrvão ! 
Ho  sua  eterna  lei,  discórdia,  c  morte. 

J.  A.  DB  MACEDO,  A  SATUBEZA,  CaUt.  3, 

SALSDGEM,  s.  /.  (Do  latim  salsugo). 
Humor  salpado. 

—  Figiirailamcnte  :  A  salsugem  das 
miscrias. 

—  Erupção  cutane^a  com  comichão  pro- 
veniente (la   acrimonia  de  humores,  etc. 

SALSUGINOSO,  A,  a<Ij.  (De  salsugem, 
com  o  sufllxn  aoso»).  Cheio  do  salsugem. 
SALTADA,  s.  /.  O  impeto  no  saltear. 

—  O  vir  de  súbito,  dar  em  casa  para 
prender,  apanhar  contrabando,  etc. 

—  O  roubo  do  salteador. 
SALTADO,  part.  jniss.  do  Saltar.  Rc- 

saltado,  que  tica  acima  do  olivel,  supor- 
fieio,  tlòr.  —  Olhos  saltados.  —  «Era  es- 
te Rcy  de  corenta  e  cinco  annoi  de  ida- 
de, rostro  comprido,  e  grande,  os  olhos 
saltados,  a  côr  baça,  e  do  huma  catadu- 
ra torriucl,  a  barba  larga,  e  pouoada,  de 
condição  afauel,  c  naturalmente  bem  in- 
clinado, mas  cheo  de  huns  indicies  que 
mostrauão  prezarse  de  altiuo,  c  arrogií- 
tc.»  Fr.  Gaspar  do  S.  Bernardino,  Iti- 
nerário da  índia,  cap.  17. 

SALTADOR,  A,  adj.  e  s.  Que  salta. 

SALTANTE,  part.  act.  de  Saltar.  Que 
salta,  que  dá  saltos. 

—  Que  se  representa  em  postura  de 
saltar. 

1.)  SALTÃO,  s.  m.  Peixe  de  Sofala,  da 
fórma  da  tiiinha,  porém  de  muito  maior 
grandeza. 

—  Um  insecto  que  salta  muito. 

2.^  SALTnO,  ONA,  adj.  Que  salta  muito. 

SALTAR,  V.  71.  (Do  latim  saltare).  Dar 
saltos,  levantar  o  corpo  do  chão  com  es- 
forço, e  levantar-se  ao  ar,  ou  salvar  al- 
guma altura,  ou  cova,  ou  lançar-so  d'alto 
a  baixo. 

Saltào  também  traz  esto  outros  soldados 
Invejosos  de  ser  outro  o  primeiro. 
De  tal  ódio,  c  tal  ira  acompanhados 
Que  nenhum  quer  alli  ser  derradeiro. 
Deste  imigo  furor  estimulados 
Não  sei  se  lhe  deixarão  uiombro  inteiro. 
Que  cm  quanto  a  alma  da  carne  uào  lh'apartâo 
Do  sangue  os  cruéis  bra(;os  não  se  fartão. 
FRANCISCO  dVxdrade,  primeibo  cerco  de  Dir, 
caut.  8,  est.  8. 

—  Saltar  em  terra:  sair  era  terra,  des- 
embarcar. 

Panthaliào  de  SA,  Tristão  de  Sousa 
Ambos  cm  torra  fa'líio.  e  após  elles 
Àutouio  dú  Saiupayo,  quo^das  oudas 


Com  Amador  de  Sousa  se  cobri&o, 
O  grão  batel  ja  liurc  desta  carga. 

COHrH  UEAL,,  KAL-ruAOlO  OE  SEPÚLVEDA,   Caut.   H. 

—  €  Aportou  á  Ilha  da  Jladeira  huma 
não  de  carga,  saltarão  em  terra  <is  passa- 
geiros a  lazer  viuiagus,  c  entro  elles  hum 
Clérigo,  i|Uo  eu  vi  (grande  pirata  devia 
de  sor  pelo  tear,  quo  armou  para  fazer 
seu  negocio  melhor,  quo  todosy.»  Arte  de 
furtar,  cap.  tí-l. 

—  Saltar  no  chão;  dar  um  salto  do  ar 
para  o  chão,  ou  de  (jualquer  outro  corpo 
elevado  para  a  terra.  —  «  Ni-<to  chegou  á 
mesma  porta  BracoLlo,  um  do.s  gigantes, 
armado  darmas  branca.s  em  um  cavallo 
crescido  e  fcrmoso ;  e  porque  em  chegan- 
do, viu  que  o  cavalleiro  do  Salvagcm, 
tomada  a  donzella  por  uma  mão  lhe  per- 
guntava de  quem  fugia,  saltou  no  chão, 
dizendo:  Não  cuido  que  tomastes  porto 
seguro.»  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
de  Inglaterra,  cap,  lOli. 

—  Saltar  do  carallo;  apear-se,  desmon- 
tar-se.  —  tE  saltando  do  cavallo,  que  não 
o  pode  virar  na  estreiteza  da  ponte,  o 
achou  com  a  espada  nua  e  o  escudo  em- 
braçado,  e  arrancando  a  sua  começai-am 
de  ferir-se  de  sorte,  que  os  três  derruba- 
dos, que  eram  Luimão  de  Borgonha,  Oer- 
mão  d'Orleans  e  Tenebrante  se  espanta- 
vam da  braveza  da  batalha.»  Francisco 
de  Moraes,  Palmeirim  de  Inglaterra,  c^ip. 
20. — «E  saltando  tiira  do  cavallo  pêra 
lhe  satisfazer  o  apetite,  o  outro,  que  tra- 
zia ApoUo  no  escudo,  a  que  se  nào  escon- 
dia nada,  se  nietteu  no  meio.  não  consen- 
tindo a  batalha,  dizendo:  Senhor  Floren- 
do3,  pêra  com  os  vossos  esta  é  assaz  vi- 
ctoria.í  Ibidem,  cap.  109.  —  c  Almourol 
tanto  que  se  viu  no  chão,  cuberto  do  es- 
cudo com  a  espada  na  mão  se  veio  a  cUe, 
que  saltando  do  cavallo,  por  Ih 'o  não  ma- 
tar, da  mesma  maneira  o  recebeu.»  Ibi- 
dem, cap.  127. 

—  Sobrevir.  —  c  Fisestes  huma  pintu- 
ra que  me  veyo  á  mão,  fiz  huma  Carta 
que  te  saltou  nos  olhos.  Vi  na  pintura  o 
merecimento  que  tens,  achastes  na  Carta 
o  premio  que  se  te  deve,  e  como  to  nào 
derão  logo,  pareço  que  o  engeitas,  e  que- 
res outro  peor.  Exaqui  porque  eu  digo 
qu«  os  Italianos  como  tu  são  tolos,  e  quan- 
do j;i  o  não  tivera  dito  de  boa  vontade, 
tu  só  me  obrigarias  a  dise-lo  de  todo  o 
meu  coração.»  Cavalleiro  d'01iveira,  Car- 
tas, liv.  3,  n."  li?. 

—  Accommettcr  alguém  de  repente.  — 
«  Um  jcsuita  na  índia,  como  os  marinhei- 
ros saltassem  um  à\a,  em  fazendas  da 
companliia,  sem  embargo  de  serem  por- 
tuguczes,  tratou-03  mal  do  palavras.  Ma- 
rujos de  nau  da  Índia  são  muito  livros. 
Moeram  o  padre  a  pau.  ficou  por  morto, 
e  de  isto  ciicgou  a  noticia  a  l!>a  e  a  Lis;- 
boa.»  Bispo  do  Urào  Pani,  Memorias,  pu- 
blicadas por  Camillo  Castello  Branco, 
pag.  98. 


—  Saltar  o  Ume  f<tra ;  cair  fora  do  leu 
logar.  —  •  D.  Álvaro  obstiua/lo  em  boc- 
correr  a  Diu,  andava  a  huma,  e  outra 
parte  errando,  vendo-i^e  jwr  momentos  so- 
çobrado, ati';  quo  com  o  trabalijar  do  na- 
vio, lhe  saltou  o  leme  f.ira,  com  que  o 
impaciente  arribou  a  Baçaiui  destroçado 
com  alguns  navios  'Ic  sua  connerva;  ou- 
tros tomarão  dilferentes  pjrtos,  e  ensea- 
das.» Jíiciíitho  Freire  do  Andrade,  Vida 
de  D.  João  de  Castro,  liv.  2. 

—  Cair,  quebrar  precipitaílamente. 

Das  celeste»  abobadas  o  lume 
Kntão  se  ha  do  apamr  :  como  ai<'iust.-ulo« 
llao  de  fugir  os  (.Vos,  v  a  dura  Terra 
Dor  eixos  siUtani  feita  em  pedalo*. 

J.   A.    DE   MACEDO,   A  «ATIREZA,  CAUt.   2. 

—  O  vento  salta  de  um  rumo  a  outro; 
muda  de  improviso. 

—  Saltar  de  capitão  a  coronel,  de  coro- 
nel a  ijc Iterai,  etc. 

—  Saltar  do  uma  cousa  a  outra  prati- 
cando; variar  sem  transiçiíes,  ou  passar 
a  fallar  em  cousa  sem  ligação  com  a  que 
se  tratava. 

—  Figuradamente  :  Saltar  alguma  faís- 
ca ao  corai^ão.  —  «  Poriim  as  matérias  da 
ira,  e  contra  a  castidade,  tlraõse  desta  re- 
gra, e  he  necessário  fazer  os  propósitos 
muyto  em  geral,  e  abstracto :  vigiando 
entretanto,  não  salte  alguma  faisca  no  co- 
ração, porque  este  he  pólvora,  e  ambos 
aquelle^  vicios  saõ  fogo.»  Padre  ^Lanoel 
Bernardes,  Exercícios  espirituaes,  capi- 
tulo til. 

—  Saltar  fora ;  dar  um  salto  de  dentro 
para  fora.  de  cima  para  baixo.  —  •  E  o 
cavalleiro  das  pelles  se  desceu  para  to- 
mar o  cavallo  ao  do  Tigre,  que  pêra  se 
enxugar  de  agua  era  necessário  descer- 
se.  Porem  cUe,  que  nào  quiz  que  com  ta- 
manha cortezia  o  tratasse,  saltou  fora  e  o 
levou  nos  braços.»  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  de  Inglaterra,  cap.  114.  — 
«  l)epois  forão  desenterrar  o  leme  do  ato- 
leiro cm  que  ficou  quando  saltou  fora, 
desfazendo-se  pêra  isto  toda  a  enxarcea 
do  traquete,  pêra  a  força  do  cabrestante, 
com  engenho  marauilhoso  machinado  pelo 
Còtramcstre,  viesse  a  nao  como  veo  de 
mais  de  huma  grande  Icgoa.»  Fr.  Gaspar 
do  S.  Bernardino,  Itinerário  da  índia, 
cap.  2. 

—  T'.  a.  P.issar  por  cima,  salvar  de 
salto. 

—  Saltar  ligares;  passar  aos  de  maior 
graduação  sem  ir  por  algum  intermédio; 
passar  subitamente  a  maior  graduaçSo, 
sem  ir  o  passar  por  os  entremeios. 

—  Saltar  «lí  palavras :  diz-se  na  leitura 
ou  na  oscripta.  não  as  lèr,  ou  copiar, 
omittil-.is.  passal-as  por  alto. 

—  .Vdagios  k  provérbios  : 

—  Salta  a  cabra  na  vinha. 

—  Nem  tão  velha,  que  caia.  nem  tSo 
moça,  que  salte. 


SALT 


SALT 


SALT 


387 


—  Faze  bem  á  gata,  saltar-te-ha  na 
cava. 

SALTAREGRA,  s.  f.  Instrumento  ma- 
thematieo,  conhecido  pelo  nome  de  acu- 
ta,  porque  se  ha  de  cerrar,  ou  abrir  por 
triangulo,  ou  por  esquadro,  servindo  tam- 
bém de  regra. 

SALTARELLO,  s.  m.  Certa  dansa  a  três 
tempos. 

—  Adjectivamente:  vid.  Saltador. 
SALTÁTRICE,    s.  /.  Termo  pouco   em 

uso.  Dançarina,  bailarina. 

—  Bailadeira  de  dansas  alt;is. 
SALTA-VALLADOS,    adj.  2  gtn.  Termo 

popular.  Que  salta  muito;  muito  ligeiro. 

SALTEADA,  s.  /.  Vid.  Saltada. 

SALTEADO,  part.  pass.  de  Saltear. 
Acconunettido  de  repente. 


Digo  que  me  acho  enleado. 
Por  vir  tão  determinada  ? 
nào  te  espante  isto  nada, 
isto  foi  mate  forçado  : 
éa  sidteado 
de  quem  tu  és  salteada. 

AaTOMIO  PBESTES,  AUTOS,  pSg.   319. 


—  Salteado  do  hospede;  repentino,  ines- 
perado. 

—  Sabe)-  de  cór  e  salteado;  saber  al- 
guma cousa  com  perfeição,  estar  bem 
sciente  d'tílla,  e  nào  se  enganar  quando 
se  repete. 

■ — Ficar  salteado;  ficar  de  sobresalto, 
ficar  turbado. 

—  Figuradamente:  Escriptura  saltea- 
da de  censores. 

—  Tomar  alguma  terra  salteada ;  to- 
mal-a  de  surpreza,  dando  nos  inimigos 
desapercebidos. 

—  Guerra  salteada;  guerra  guerreada. 

—  Salteado  do  vento;  no  mar,  quando 
cáe  subitamente. 

SALTEADOR,  s.  e  adj.  Que  vire  de  sal- 
tos em  estradas,  que  rouba.  —  «  Acaba- 
do isto,  nào  tardou  muito  que  o  escudeiro 
tornou  a  mui  grande  pressa,  dizendo : 
Parece-me,  senhor,  que  neste  valle  ha 
mais  salteadores  do  que  se  pôde  cuidar. « 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  de  In- 
glaterra, cap.  128. —  «E  aos  dalçada  es- 
creueo,  que  tais  homens  naõ  deueraõ  de 
condenar,  e  justiçar,  sem  primeiro  lho 
fazer  saber.  Tanto  estimaua  os  homens, 
que  em  qualquer  cousa  faziaõ  aos  outros 
auentagem,  que  sendo  estes  ladrões  sal- 
teadores, por  serem  muyto  esforçados,  e 
forçosos,  lhe  pesou  porque  os  matarão,  e 
lhes  quisera  dar  a  vida.»  Garcia  de  Re- 
zende,  Chronica  de  D.  João  II,  cap.  92. 

—  Figuradamente :  Diz-se  dos  ani- 
maes. 

SALTEAMENTO,  s.  m.  Sobresalto. 

—  Alguns  tomaram  também  este  vocá- 
bulo por  surpreza. 

—  Acçào  de  assaltar,  de  accommetter. 
SALTEAR,    V.    a.    Atacar   subitamente 

aos  passageiros  e  viandantes,  e  roubal-os 


nas  estradas  ;  accommetter,  fazendo  subi- 
tamente algum  mal  á  similhança  dos  sal- 
teadores. —  «Dizendo  huns  para  os  ou- 
tros, grande  novidade  deve  ser  esta  com 
que  nos  Deos  agora  visita,  e  queira  elle 
por  sua  bondade  que  nào  seja  esta  nação 
barbada  daquelles  que  por  seu  proveito  e 
interesse  espiào  a  terra  como  mercado- 
res, e  despois  a  salteão  como  ladi-ões, 
acolhamonos  ao  mato,  antes  que  as  faís- 
cas destes  tlçoens  branqueados  no  ro>to 
com  a  alvura  da  cinza  que  trazem  por 
cima,  queimem  as  casas  em  que  vivemos, 
e  abrasem  os  càpos  de  nossas  lavouras, 
como  tem  por  custume  nas  terras  alheas.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações, 
cap.  41. 


E  para  etfeito  disto  so  sahirão 
Alguns  da  estancia  lá  que  os  alojava, 
Os  Christàoâ  la  do  muro  quando  os  virão 
Logo  o  sigual  fizorào  aos  da  cava ; 
Elles,  que  no  signal  bom  advertirão, 
Porque  só  cada  hum  nello  attcntava, 
Salteào  sem  tardança  a  Turca  gente 
Que  tardança  em  furor  não  se  consente. 

FRANCISCO  dUkDBADK,   PEIlTEmO  CEKCO  DE  DIC, 

cant.  IG,  est.  147. 

Tem  ellas  isto,  ousarão 
era  dobro  mais  que  um  barão, 
só  n'uin  caso  não  tem  guarda ; 
com  um  estouro  de  espingarda 
as  saiteam,  são  quem  são. 

ANTOSIO  PBESTE.S,  AUTOS,  pUg.    133. 

—  Vir  de  improviso.  —  Salíeal-o  tnn 
typho. 

—  Roubar,  saquear  em  facção  de 
guerra. 

—  Fazer  invasão  bellica  de  repente, 
para  fazer  presas  por  terra,  ou  em  naus 
contra  naus.  —  «O  do  Tigre  ficou  com 
seus  amigos  praticando,  e  perguntando 
como  lhe  acontecera  aquella  batalha. 
Senhor,  disse  Daliarte,  como  quer  que  o 
gigante  tem  espias  por  toda  esta  ilha, 
inda  não  aponta  o  navio,  quando  o  sal- 
têam  pêra  ver  quem  vem  n'elle,  parece 
que  não  aconteceu  assim  a  vós  por  não 
poder  acudir  a  todo.»  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  dlnglaterra,  cap.  117. 
—  « Andando  o  Adail  nestes  negócios 
soube  como  o  Serife  estava  em  hum  seu 
castello  que  chamam  Amagor,  descuida- 
do de  o  poderem  la  saltear,  sobelo  que 
com  parecer  dos  Xeques  dos  Bárbaros,  e 
dos  Árabes  (que  ja  neste  tempo  eram  to- 
dos vassallos  dei  Rei  dom  Emanuel)  scre- 
ueo  a  Nuno  fernandez  pedindolhe  que 
pêra  com  breuidade  cometer  este  nego- 
cio lhe  mandasse  mais  gente  de  cauallo, 
e  besteiros,  e  espingardeiros.»  Damião 
de  Góes,  Cbronica  de  D.  Manoel,  part.  3, 
cap.  74. 

■ —  Sobresaltar,  produzir  sobresalto, 
susto. 

—  Cair,  dar  de  improviso,  sobrevir. 

—  Á  luz  salteou-me  os  olhos;  deslum- 
brou-me,  ferindo  n'elles  subitamente.        , 


—  Figuradamente :  Os  animaes  ferozes 
saiteam. 

—  V.  n.  Andar  de  salto,  de  rapina. 

—  Saltear-se,  i-.  rejl.  Ficar  salteado, 
ou  sobresaltado,   como  cousa  inesperada. 

—  Admirar-se,  ficar  admirado. 

1.)  SALTEIRO,  s.  ni.  Homem  que  faz 
saltos  de  pau  para  sapatos. 

SALTEIRO,  ou  SALTÉRIO,  s.  m.  Vid. 
Psalterio. 

SALTIBANCO,  ou  SALTIMBANCO,  s.  m. 
Charlatão,  que  baila  nas  praças,  faz  pel- 
loticas,  vende  drogas,  etc. 

t  SALTIGRADO,  A,  adj.  Termo  de 
zoologia.  Que  marcha  saltando. 

SALTIMBARCA,  s.  /.  Espécie  de  rou- 
peta aberta  pelas  ilhargas. 

SALTIMVÃO,  s.  m.  Jogo  de  rapazes. 

SALTINHO,  s.  m.  Diminutivo  de  Salto. 
Salto  pequeno. 

—  Andar  de  saltinhos.  —  «  Ha  huns 
pássaros  mais  pequenos  que  patos,  de 
grandes  pescoços,  todos  ruivos,  e  todo  o 
mais  corpo  muito  negro,  tem  os  pés  mui- 
to curtos  como  papagaios,  e  andam  de 
saltinhos,  tem  o  bico  grande,  e  com  tan- 
tos debruns  n'elle,  como  quantos  annos 
tem,  porque  cada  anno  lhe  nasce  hum.» 
Diogo  de  Couto,  Década  4,  liv.  7,  cap. 
10. 

1.)  SALTO,  s.  m.  (Do  latim  saltus). 
Acto  pelo  qual  o  animal  se  levanta  da 
terra  com  esforço,  e  se  eleva  ao  ar,  ou 
salva  alguma  altiu-a,  ou  se  lança  d'alto  a 
baixo,  —  « Alguns  hai,  que  per  tendem 
chegar  de  hum  salto  ao  mais  alto  do 
monte,  outros  carregados  de  occupaçôes 
seculares  escusadas  presumem  subir;  oii- 
tros  desabridos,  e  enfadados  das  moscas, 
isto  he  dos  cuidados  occurrentes  desistem 
deste  caminho,  deuendo  enxotallas,  e  per- 
sistir nelle.s  Fr.  Bartholomeu  dos  Mar- 
tyres.  Compendio  de  espiritual  doutrina, 
cap.  15. 

— -  Figuradamente :  Elevação  do  pen- 
samento ao  alto,  sublime,  a  cousas  aci- 
ma do  alcance  vulgar. 

—  Logar  onde  aquelles  que  vão  em  ca- 
noas, ou  jangadas  as  arrastam,  e  levam  a 
carga  ás  costas,  até  chegar  onde  o  rio 
corre  horisontalmente.  — Passado  o  salto. 

—  Tomar  o  salto  de  longe ;  vir  corren- 
do a  saltar. 

—  Fazer  salto  a  successão;  dar-se  a 
herdeiro,  a  que  não  deve  ir. 

—  Figuradamente  :  Tomar  o  salto  de 
longe;  prevenir-se,  acautelar-se  de  longe, 
provendo-se  de  todos  os  meios  para  con- 
seguir o  seu  intento. 

—  Figuradamente :  Esperar  o  salto  a 
alguma  cousa,  ou  pessoa;  esperar  a  mu- 
dança, que  ella  em  si  faz,  ou  soffre. 

—  Termo  de  miisica.  Subida  repenti- 
na da  voz  fora  do  mesmo  compasso. 

—  Salto  mortal;  salto  que  dá  o  volan- 
teiro  dcixando-se  cair  de  cabeça  abaixo, 
e  voltando-se  depois  no  ar  para  cair  com 
os  pés  para  baixo. 


388 


SALT 


SALU 


SALV 


—  //•,  ou  vir  cm  um  salto:  ir,  uii  vir 
doprcssa. 

—  Salto  do  sapato;  a.  ))e(;;i  (im;  Uca 
por  baixo  do  talilio,  o  o  faz  oryucr  do 
cliilo  para  csho  lado. 

—  Termo  do  volaturia.  A  correia  do 
falcão,  (jiu;  vac  do  tornol  ás  lagrima»,  ou 
coiitax. 

—  Nos  rio3,  catadupa,  catarata,  casca- 
ta, saída,  descida  do  cur.so  liorisoutal 
a  baixo. 

-  —  Caixa  de,  salto;  caixa  (juc  tciii  mola, 
quo  tocada  do  corto  modo  rcsaltji,  c  laz 
levantar  a  tampa  com  forca. 

—  Figuradanioiito:  Na  convei-aação, 
desvio,  digressão  fu-a  do  propo.sito. 

—  Loc.  Auv.:  Salto  a  salto;  aos  sal- 
tos. 

—  Corro,  outeiro,  torra  levantada,  col- 
lina,  bosque,  tloresta,  logar  eiiiiucnte 
cheio  de  arvoredo  c  pastagens,  matto  fe- 
chado, brenha.  —  Tomaram  o  salto  um 
pouco  ante-manhã. 

—  Termo  de  marinha.  Diís-se  arrear 
cousa  pouca,  quaUpier  adriya,  escota  ou 
outro  quahpier  cabo.  —  Salto  às  escotas 
das  velas  do  (jarupts. —  Salto  ás  (javeas, 

—  Salto  de  vento. 

—  Loc.  ADV. :  De  salto;  com  summa 
diligencia  e  presteza. 

—  De  salto ;  sem  passar  pelas  casas, 
individues,  ou  estados,  que  ficam  de  pei'- 
meio,  nas  series  ou  graduações. 

2.)  SALTO,  s.  ííi.  A  acção  de  saltar  nas 
estradas  ou  em  aeçào  hostil  e  bellica,  so- 
Lresaltoar  por  terra,  por  repentino  des- 
embarque. —  «E  em  dous  ilias  que  per 
ali  andarão  de  ilha  em  ilha,  e  assi  em 
alguns  saltos  que  iizeriío  na  terra  firme, 
tomarão  quorenta  o  ciueo  alnuis  cõ  que 
Be  tornarão  aos  nauios  que  ficarão  atras 
cinco  Icgoas.»  João  de  Barros,  Década  1, 
liv.  1,  cap.  8. 

—  Fôr-se  de  salto  ;  occulto  para  sal- 
tear; com  emboscada. 

—  Surpreza,  sobresalto. 


Vem  ai|ui 
Fci-moâurii  upi5s  Diuliciro. 
Nó  solia  sor  assi. 
Sculior,  esto  sobrcrfalto 
relevc-m'o,  por  niolhcr, 
quo  não  pódc  moiioâ  sor  : 
C11S03  dão  is  vezos  salto 
muito  impossível  de  crer. 

JiNTONIO  PBESTKS,  AUTOS,  p:lg.   203. 


—  Tomar  o  salto;  tomar  o  lugar  por 
onde  80  vai  assaltar. 

—  Logar  de  salto;  logar  do  cilada. 

—  Pòr-se  de  salto ;  pòr-se  em  cilada 
de  salteador. 

—  SvN. :  Salto,  jinlo. 

Salto  é  o  acto  de  saltar  ou  de  levan- 
tar o  corpo  com  ligeireza  e  impoto.  Pulo 
é  o  salto  do  corpo  elástico  ou  do  animal 
vivo,  para  o  ar,  e  voltando  ao  mesmo  lu- 
gar ou  próximo  d'elle.  Salta  o  homem  do 


muro,  da  janella  abai.vo;  salta  o  cavallo 
adestrado  por  cima  da  terra  nu  campo. 
Pala  a  bola,  a  ])ella,  cahindo  nu  chào  ; 
jHila  o  daiisariuii  jior  arte;  pula  o  homem 
do  contente.  <Js  tigres  prêam  de  j/ulo 
iia  altura  de  trinta  palmos,  aus  que  dur- 
mem  sobre  as  arvores  para  Ihea  escapa- 
rem. 

SALUBERRIMO,  A,  adj.  suptrl.  de  Sa- 
lubre. -Mm  lialubre. 

SALUBRE,  adj.  2  <jen.  (Do  latim  lalu- 
òvr).  .Sadio,  saudável. 

—  Fi-rida  salubre ;  ferida  fácil  do  cu- 
ra r-se. 

SALUBRIDADE,  s.f.  {Do  latim  salubri- 
lasi.  tonalidade  do  que  é  salubre.  —  A 
salubridade  d'estc  paiz. 

SALUÇAR.  Vid.  Soluçar. 

—  Ti'rmo  de  náutica.  Saluçar  a  nau  / 
arfar. 

SALUDADOR,  s.  m.  (Do  latim  salus,  e 
dator).  Homem  que  cui'a,  benzendo;  ben- 
zedor. 

—  Saludadores  em  Hespanha;  dizem-se 
os  descendentes  de  Santa  Cathariua  ou 
de  Santa  Quitéria,  e  trazem  nos  braços 
pintadas  as  suas  cabeças,  e  as  rodas  de  na- 
valhas com  puncturas  de  ferro,  nas  quaes 
se  embebe  tinta  azul  ou  preta,  e  talvez 
por  embuste  usavam  nominas  com  seme- 
lhantes figuras,  com  as  quaes  benziam 
para  dar  saúde,  como  talvez  se  vê  em 
verónicas  com  cabeças  de  tí.  Braz,  de 
Santo  Athanasio,  ete.;  a  abusão  é  que 
era  punida,  para  evitar  illusão  do  povo, 
c  super.-tiçrics. 

SALUDAR,  V.  a.  Curar  por  meio  de  ora- 
ções e  de  bênçãos. 

—  Benzer  para  curar,  á  semelhança 
dos  embusteiros,  chamados  pelo  vulgo 
benzcdores,  saludadores,  benzedeiras,  ete. 

—  Termo  de  Hespanha.  Curar  ben- 
zendo, ungindo  com  cuspo  ao  hvdropho- 
bo,  ou  mordido  de  cão  damnado. 

■f  SALUDÉ.  Termo  hespanholadii,  usado 
por  António  Trestes  nos  seus  Autos. 

Sii  gesto,  puos  110  mo  cngaua, 

stiliide,  lo  que  parece 

que  CS  devido. 

Não  ó  virote  perdido 

cortezia. 

ANTÓNIO  PBKSTES,  AUTOS,  \>Ag.   GÕ. 

SALUTAR,  adj.  2  tjen.  (Do  latim  salu- 
taris).  Útil  para  a  conservação  da  vida, 
da  saúde,  da  honra,  ete. 

Jil  com  cUes  se  agi  tio,  se  uiisturào 
As  espalliadas  iiuveus  lluctuaiitca  ; 
Do  frio  agudo  comprimidas  toraào 
A  sou  beri;o  torreuo,  e  primitivo, 
Em  chuva  salutar  desfeitas  descem. 

J.   A.    DE   MACEDO,   VIAOKM   KXTATICA,    Cailt.    1. 

—  *S.  m.  O  Salvador,  Jesus  Christo. 
—  O  veriUideiro  Dius,  nosso  salutar. 

f  SALUTARMENTE,  adv.   (De  salutar, 


e  o  saffixo  fmente»;.  De  um  mudo  salu- 
tar. 

SALUTIFERO,  A,  >ilj.  ,Do  latim  fulu- 
tijuram.  C^ue  dá  bauilc,  «audavel.  —  Ba- 

nli'j  salutifero. 


Alli  tuiiibom  Timor,  que  o  Icuho  manda 
Sândalo  'idntifrro  o,  cueiro.*) : 
Olha  a  Siiiida  táo  larga,  ijue  uma  banda 
Kscjiide  para  o  Sul  dilliculUjdu  : 
A  gente,  do  licrtào  que  Ui«  terra»  auda, 
ITm  rio  diz  i|U<-  li;m  miraculoiiO, 
tjue  por  onde  elle  ».í  gcm  outro  vac, 
Converte  cm  pedra  o  pau  <|uo  nellc  cac. 
CAH.,  I.U8.,  cant.  lU,  e<t.  134. 


—  Figuradauíente  :  Útil,  benéfico. 
SALUTO,  «.  m.  Moeda  antiga,  e  talvez 

estrangeira. 

\.i  SALVA,  s.f.  A  acção  de  disparar 
a  artilhcria  uu  mosquctcrías  em  bala,  por 
festa  ou  honra  funeral  militar,  e  actua  ae- 
melliante.s,  quando  navios  se  encontram  ou 
entram  nos  portos  ;  recebimento  com  tiros 
de  bala.  —  <U  (iovemador  andava  so- 
bre maneira  cuidadoso  dos  negócios  de 
Diu,  interpretando  mal  a  falta  doa  avi- 
sos, quando  apurtou  na  barra  de  Goa  a 
(,'apit.inia  em  que  fora  D.  Álvaro.  Vinha 
o  navio  todo  embandeirado,  c  dando  ale- 
gres salvas,  querendo  indicar  de  longe 
as  novas  que  trazia.»  Jaeiutho  Freire  de 
Andrade,  Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv. 
2.  —  «Tareceo  aos  nossos,  que  a  alegria 
do  campo  solemuisada  com  duplicadas 
salvas  seria  no  recebimento  doa  Turcos 
que  esperavào.  Logo  D.  Juào  Mascare- 
nhas ordenou  a  Fernão  Carvalho  Capitão 
do  forte  do  mar,  que  mandasse  huma  al- 
madia  a  tomar  lingua,  para  saber  ua  pas- 
sos do  inimigo,  porque  as  eapias  que  tra- 
zia no  Cíimpo,  ou  se  havião  feito  dobres, 
ou  erão  descubertas.p  Ibidem. 

—  Salva  tomada;  bebendo  o  resto  quem 
dá  a  bebida. 

—  Desculpa  com  razões,  que  prece- 
dem á  objecção,  que  se  prevê. 

—  Loc.  FIG. :  Tornar  a  salva  íU  ali/u- 
ma coiisa  a  alguém ;  antecipar-se-lhe  em 
a  fazer,  ou  usar  d'ella. 

—  Tomar  a  salva  ;  comer  ou  beber  pri- 
meiro d'aquillo  que  so  oflcrece  ao  hoa- 
pede. 

—  Faztr  salva  ;  provar,  mostrar  a  in- 
nocencia.  —  tOs  quais  tanto  que  noa  re- 
conhecerão, e  se  afiirmaraõ  na  verdade 
de  quem  éramos,  se  vieraõ  mais  afoutos 
a  nós,  e  despois  do  fazerem  sua  salva,  a 
que  nós  t:tmbcm  rcspoudemoa,  subirão 
acima.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregri- 
nações, cap.  ,")G. 

—  (.  'vm  salva  ;  expressão  ou  phrasc  de 
que  usa  quem,  dizendo  alguma  cousa, 
quer  segurar-se  de  que  so  lhe  impute  a 
erro,  em  todo  ou  om  parte,  aquillo  que 
diz. 

—  S;iudaçào  que  se  diz  ao  encontrar 
alguém. 


SALV 


SALV 


SALV 


389 


Vc-la  diante  do  padre  omnipotente 
Como  na  salva  do  Ida  ac  amo3ti'ára 
Ao  mui  feliz  troiano !...  que,  se  a  vira 
Tal  o  que  ja  por  vista  menos  bella 
Vulto  humano  perdeu,  nunca  seus  galgos, 
Barbara  lei !  —  o  houveram  devorado, 
Que  primeiro  desejos  o  aeabaram. 

GARBETT,  CAMUE3,  Caut.  7,  Cap.  17. 

—  Por  salva  de  sua  fé ;  por  segui-an- 
ça  ou  apuração. 

—  Tomar  a  salva ;  experimentar. 

—  Peça  de  serviço,  de  vidro,  prata  ou 
outro  metal ;  é  um  como  prato  sustenta- 
do em  ura  ou  mais  pés,  sobre  que  se  traz 
a  taça,  copo,  etc. 

—  Termo  de  Marinha.  Saúde  com  o 
canhão. 

—  Na  antiga  marinha,  os  navios  sau- 
davam por  numero  impar,  e  as  galeras 
por  numero  par. 

—  Termo  de  artilheria.  Salva  imperial; 
cento  e  um  tiros. 

—  Termo  de  artilheria.  Salva  real; 
vinte  6  um  tiros. 

■ —  Termo  antiquado.  O  mesmo  que 
purgação  canónica.  —  «A  rainha  D.  Leo- 
nor, sabendo  que  o  conde  D.  Fernandes 
Andeiro  era  morto  no  seu  mesmo  palácio 
pelas  razões  que  todos  sabem,  disse:  O 
mataram  bem  sei  porque ;  mas  eu  pro- 
metto  a  Deus  que  me  vá  de  manhã  a  S. 
Francisco,  e  que  mande  ahi  fazer  uma  fo- 
gueira, e  ahi  farei  taes  salvas,  quaes  nun- 
ca mulher  fez  por  estas  cousas.»  Fernão 
Lopes,  Chronica  de  D.  João  I,  part.  1, 
cap.  11,  em  Viterbo,  Elucid. 

—  Diz-se  de  muitos  canhonaços  atira- 
dos successivameute  nas  mesmas  occa- 
siões. 

—  Canhonaços  atirados  simultaneamen- 
te. —  Deram  ama  salva  de  cento  e  um  ti- 
ros á  ch'>gada  do  imperador  do  Brazil  ao 
Porto.  —  Deram  uma  salva  de  vinte  e  um 
tiros  á  chegada  de  sua  magestade  real  ao 
Porto, 

—  Atira-se  o  canhão  em  salva,  quando 
se  atiram   muitas  peças  simultaneamente. 

—  Uma  salva  de  applausos ;  applausos 
brilhantes  e  enthusiasticos  n'uma  assem- 
bleia inteira. —  Uma  salva  de  applausos 
acolheu  este  actor. 

—  Adagio  e  provérbio: 

—  A  verdade  da  bocca  do  mau  deve 
tomar-se  com  salva. 

—  Passar  carta  com  salva ;  com  clau- 
sula se  assim  é ;  ou  que  não  valha  aquella 
apparecendo  a  original. 

—  Passar  carta  com  salva ;  diz-se  tam- 
bém de  qualquer  documento. 

2.)  SALVA,  s.  f.  Termo  de  botânica. 
Herva  vulgar. 

—  No  Brazil  é  mui  aromática,  e  amar- 
gosa, mui  estomacal,  mui  susceptível  de 
supprir  a  macella  gallega.  Além  d'esta  ha 
mais  quatro  espécies;  taes  como  a  salva 
esclarea,  a  dos  jurados,  a  bastarda,  e  a 
dos  bosques. 

t  SALVAÇAM,  s.  f.  Vid.  Salvação. 


jejuna,  c  oraçara, 
lagrimas,  e  coutriçam, 
e  coniissara  verdadeira 
com  satisfaçam  inteira 
enthesouram  saluaçam. 

GARCIA  DE  REZENDE,   MISCELLANEA. 

—  «  E  foy  grande  parte  pêra  se  lhe 
imprimirem  nalma  estas,  e  muytas  outras 
cousas,  verem  ao  P.  Francisco  tam  des- 
apegado de  todas  as  da  teiTa,  e  que  ne- 
nhuma aceitaua,  nem  queria  delles  fora 
da  saluaçam  de  suas  almas. »  João  de  Lu- 
cena, Vida  de  S.  Francisco  Xavier,  cap.  4. 
—  «  Eu  vos  gloritiquey  sobre  a  terra,  e 
acabey  o  negocio  da  saluaçam  dos  homens 
que  me  encomendastes  :  eu  lhes  manifes- 
tey  vosso  nome,  e  elles  creram  e  conhe- 
ceram que  vòs  me  eauiastes  ao  mundo.» 
Fr.  Bartholomeu  dos  Martyres,  Catecismo 
da  doutrina  christã.  —  «  Primeira  que 
em  vossos  trabalhos  e  tribulações  imiteis, 
e  tomeis  exemplo  do  glorioso  S.  loam, 
que  assi  como  a  elle  os  trabalhos  da  pri- 
sam,  e  cárcere  nam  tiraram  a  lembrança 
do  Saluador  do  mundo,  e  da  saluaçam  de 
seus  discípulos,  assi  vôs  em  todas  as  vos- 
sas tribidações,  e  penas  nam  vos  esque- 
çaes  de  Deos,  do  negocio  de  vossa  salua- 
çam, porque  todas  as  aduersidades  deste 
mundo  nam  as  manda  o  Senhor  senam 
pêra  que  nos  espertemos  na  lembrança  do 
outro  mundo,  e  emmendemos  nossas  vi- 
das.» Ibidem. 

SALVAÇÃO,  s.  /.  (Do  latim  salvatio). 
Acto  de  procurar  a  saúde  espiritual.  — 
í  A  saluaçaõ  e  graça  de  nosso  Redem- 
ptor  lesu  Christo,  e  da  nossa  sancta  Se- 
nhora Maria  Virgem  se  estenda  sobre 
vossos  estados,  e  sobre  vossos  lilhos,  e  fi- 
lhas, e  sobre  toda  a  vossa  casa.  Ameu.» 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  3,  cap.  õ9.^ —  «Nem  cuydo  quan- 
tas almas  estão  agora  no  inferno  sem  es- 
perança de  saluação,  que  cometeram  me- 
nos e  menores  peccados  do  que  eu  tenho 
cometido  té  o  presente  dia.  Digamos  es- 
tas palauras  nam  com  a  boca,  mas  com 
o  coraçam,  pêra  que  conhecendo  que  a 
vida  passada  foi  perdida,  ao  menos  ga- 
nhemos e  aproueitemos  este  pedaço.»  Fr. 
Bartholomeu  dos  Martyres,  Catecismo 
da  doutrina  christã.  —  «  E  ainda  que  oc- 
cupaua  nas  mais  excellentes  obras  de  vi- 
da actlua  que  podia  ser,  não  se  tornaua 
por  isso,  nem  distrahia  como  Martha  da 
alteza,  e  pureza  de  sua  contemplação. 
Todo  o  dito  serue,  não  somente  pêra  de- 
clarar as  excelleucias  da  Virgem  sagrada, 
mas  tão  bem  pêra  ensino  da  nossa  salua- 
ção.» Ibidem. — «Irmãos  cada  hum  se 
examine,  e  escodrinhe  sua  consciência,  e 
veja  se  sinto  em  si  aíFeição  á  doutrina 
spiritual  que  Deos  nos  deyxou  escripta 
pêra  nossa  saluaçã:  porque  ter  fastio  à 
tal  doutrina  e  conselhos,  manifesto  si- 
nal he  de  morte  spiritual.»  Ibidem. — 
«  Escolhei  antes  estar  retirado,  e  esque- 
cido, que  apparecer,   e  montar,  escolhei 


antes  ser  súbdito,  que  prelado,  não  vos 
pejeis  da  humildade,  e  exterior  humilia- 
ção,  cuidai  continuamente,  que  sois  nada, 
e  nada  valeis,  porque  deste  conhecimento 
próprio,  e  humildade  depende  a  saluaçaõ 
do  homem,  conforme  todos  concordaõ  sa- 
biamente, u  Compendio  de  espiritual  dou- 
trina, cap.  10.  —  í  Deos  açoutado,  Deos 
cuspido,  Deos  crucilicado !  Deos  morto, 
Deos  alanceado!  Quem  naõ  ha  de  confiar 
neste  Deos,  que  me  ha  de  dar  tudo  o 
que  me  for  necessário  para  minha  sal- 
vação?» Padre  Manoel  Bernardas,  Exer- 
cícios espirituaes,  cap,  36. —  «E  por 
isso  dezia  em  outra  parte.  O  quanto 
amey  vossa  le}'  senhor,  que  todo  dia 
não  cuidaua  em  outra  cousa.  E  por  isso 
vos  irmãos  que  andais  continuamente 
occupados  em  os  negócios  deste  mundo, 
procuray  muyto  de  nam  criar  callos  de 
diu-eza  e  frieza  pêra  as  cousas  de  Deos, 
e  de  vossa  saluaçaõ.»  Fr.  Bartholomeu 
dos  Martyres,  Catecismo  da  doutrina 
christã. 

—  Cuidar  na  'salvação  da  alma;  pra- 
ticar as  virtudes  e  actos  religiosos  para 
a  conseguir. 

—  Salvação  da  alma;  que  vai  á  bem- 
aventurança. — -«Cobrou  de  mouros  a  Ci- 
dade de  Sylves  no  Algarve  soccorrido  com 
huuia  Armada  de  gente  do  Norte  em  que 
por  saluaçaõ  do  suas  almas  hião  muitos 
Catholicos  em  soccorro  da  Terra  Santa.» 
Fr.  Bernardo  de  Brito,  Elogios  dos  reis 
de  Portugal,  continuados  por  D.  José 
Barbosa. 

—  Bóia  de  salvação.  Vid.  Bóia. 

—  Acção  de  salvar,  ou  de  salvar-se  do 
naufrágio,  perigo,  damno,  a  pessoa,  vida, 
fazenda.  — «  E  quando  disseram  que  o 
turco  determinava  matal-os  todos,  se  lhe 
não  entregassem  o  cavalleiro  que  levara 
sua  filha;  por  certo,  respondeu  Floriano, 
se  esse  ha  de  ser  o  deri'adeiro  remédio 
de  sua  salvação,  antes  me  eu  entregarei 
em  poder  do  turco,  que  vêr  que  por  meu 
respeito  se  perdem  tantos  e  tão  sinalados 
cavalleiros.»  Francisco  de  Moraes,  Pal- 
meirim de  Inglaterra,  cap.  108. —  «  Po- 
zeram  toda  sua  esperança  em  suas  for- 
ças, convertendo  a  desesperação  em  ani- 
mo, pelejando  esforçadamente,  crendo  que 
se  de  suas  obras  não  tirassem  salvação 
pêra  sua  vida,  todolos  outros  remédios  se- 
riam por  demais.»  Ibidem,  cap.  115. — 
<  Mas  tudo  era  em  vão,  que  os  corações 
fracos,  nas  grandes  afilicções  são  muito 
fracos,  e  lhe  fallece  o  esforço  pêra  sua 
salvação,  e  juizo  pcra  se  saber  aconse- 
lliar:  e  quasi  desesperado  de  vêr  tamanha 
fraqueza  uelles,  visitava  de  quando  em 
quando  Arlança,  dizendo:  Senhora,  es- 
forçai pois  em  vós  só  está  a  vida  de  to- 
dos.» Ibidem.  —  «Mas  como  naquella 
hora  o  cavalleiro  do  Salvage  estivesse 
cheio  de  ira  e  com  razão,  nenhum  golpe 
dava,  que  não  fizesse  damno ;  de  maneira 
que  em  pequeno  espaço  estii-ou  dous  dei- 


390 


SALV 


SALV 


SALV 


lei.  Como  03  outros  vissem  que  no  fa^lr 
tinham  poiuíii  salvação,  o  do  voncclor 
dcsesperassoni  .■ileaii(;;ir  niisericdrdia.»  Ibi- 
dem. 

E  vondo  quo  chrgar  jíi  não  podia 
As  ostiincias  dos  rtnun  IA  junto  il  cava, 
Ondo  cutão  miiin  si^guni  o  certa  via 
Ar|uclta  .'<i%'va';'io  que  doiojava 
E  pôr-3t!  nni  dofonsão  nào  BC  atrevia 
Contra  o  moço  faroz,  qnn  o  maltratava, 
No  rio  o  roito  põe,  com  grande  magna, 
Determinando  ja  salvar-itc  n'ugua. 

V.  d'àni>badi!,  i-HiMKiRo  cp.RCO  OR  Dic,  cant.  17, 
est.  8. 

Qual  ?  a  do  entendimento, 
que  se  cstondc 
qu<'m  a  .talrar/in  pertcndo, 
pêra  bom  niorocimento 
Bom  Trabalho. 

ANTÓNIO  riiKiirEs,  AUTOS,  pag.  27. 

—  «Ver  aqui  a  variedade  nos  conse- 
lhos, o  falar  manso  a  orelha,  o  aperce- 
ber de  arma-),  quem  ajuntaua  o  pequeno 
fardel,  (piem  lauçaua  o;  olhos  aquillo  em 
que  determinaua  saluarse,  quem  se  acou- 
selhaua  sem  conselho,  quem  ora  de  huma 
opinião,  e  logo  arrepuJiaua,  não  se  de- 
terminado em  alguma,  sondo  tudo  huma 
cõfa.-*ão  fundada  na  saluação  de  huma  vi- 
da que  parcscia  andar  mais  morta  que 
viua.»  Fr.  Gaspar  de  S.  Bernardino, 
Itinerário  da  índia,  cap.  2. 

—  A  salvação  do  yenero  humano;  o 
acto  do  salvar  a  humanidade.  —  «Tra- 
zem hoa  bramanas  tros  tios  lan^'ados  ao 
collo  sobraçados  de  hum  braço  ao  outro, 
em  sinal  da  Trindade,  que  crem,  como 
nos :  tem  per  fò  que  Ueos  veo  ao  mun- 
do, e  tomou  carne  humana,  por  salua- 
ção do  género  humano.»  Uamiiío  de  (toes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  42. 

—  Ancora  da  salvação.  Vid.  Ancora. 

—  Saudação. 

—  Entrar  o  navio  a  salvação  pela  bar- 
ra ;  entrar  a  salvo,  a  salvamento. 

—  Salvação  publica;  a  salvação  da  hu- 
manidade. 


Que  scnatuâconâultos,  —  era  maia  clara 
Equidade  fundada  do  qu^  o  Álbum 
Do  pretório,  —  gravada  noutro  bronze 
Mais  durável  que  as  tábuas  dos  decemviros ; 
Lei  das  leis,  immutavol  o  suiirema, 
—  A  da  salvação  pública. 

GABULTT,  CATÃO,   act.   -1,  3C.    3. 


■A  salvação  contmum;  a  salvação  de 


todos. 


Acceita  eqmílcos,  chammas,  e  as  dodica, 

A  sa>r(v;'io  cominum.  A  Yiigem  timida 

So,  do  Sposo,  ella  a  pi'na,e  angustia  aujjmcuta, 

Tambcni  lhe  h;l-do  augmcutar  premio,  triumpho. 

r.   M.   DO  N.VSCUIKXIO,  03  U.VBIYBKS,  1ÍV.    3. 


1.)  SALVADO,  part.  pass.  do  Salvar. 
Yid.  Salvo,  e  Salvar. 


2.1  SALVADO,  *.  VI.  A  parte  que  ficou 
salva  de  algum  incêndio,  ruína,  ou  nau- 
frágio. 

—  O  que  se  dava  ou  expunha  á  prova 
da  salva. 

—  Plur.  Os  destroços,  fragmentos,  ob 
pedaços  naufragcs  do  navio,  e  as  fazen- 
das escapada.^,  o  recuperadas. 

SALVADOR,  A,  adj.  e  «.  Que  salvou. 


Tu,  lalvculor  magnânimo  da  pátria, 
C'onfusào  de  perversos,  de  traidores, 
Flagello  de  tyrannos,  tu  decide, 
Dispile  de  n/.s :  cm  tuas  miios  se  intreg*m 
Estes  poucos  fieis,  que  iriU>  contcnt<:s 
Por  ti,  comtigo,  té  o  extremo,  á  morto. 

QABRETT,  CATÃO,    aCt.   2,  SC   2. 


—  Por  antonomásia:  Nosso  Salvador; 
Jesus  (Jhristo.  —  «Esta  he  minha  fe,  e 
lei,  e  do  pouo  Ciiristào  da  Ethiopia,  sub- 
geito  ao  precioso  loam,  a  qual  com  tan- 
to amor  de  Jcsu  (yhristo  he  contirmada 
autre  nos,  que  nem  por  medo  de  morte, 
nem  do  fogo,  nem  de  cutcUo,  ajudado 
da  graça  de  nosso  saluador  lesu  Christo, 
ei  de  arronuneiar,  nem  negar,  e  esta  fe 
auemos  de  leuar  todos  no  dia  de  juizo 
diante  da  face  de  nosso  Senhor  Icsu 
Christo.»  Damião  de  Góes,  Chronica  de 
D.  Manoel,  part.  3,  cap.  60. —  «E  certo 
que  he  muyto  de  notar,  que  antes  da 
vinda  de  Chinsto  nosso  Saluador  ao  mun- 
do, ja  a  Cruz  entre  esta  gente  era  vene- 
rada :  e  tida  em  tanta  estima,  que  diz 
Ruphino,  que  os  Egyptios  a  màdauão  es- 
culpir no  peito  de  seu  Deos  Serapis;  e 
por  ella  significando  a  esperança  da  saú- 
de, e  vida  que  esperauão,  que  em  algu- 
ma mancyra  parece  isso  prophecia,  o  in- 
dicio do  remédio,  e  bem  que  por  ella  nos 
auia  de  vir.»  Fr.  (íaspar  de  S.  Bernar- 
dino, Itinerário  da  índia,  cap.  it. 

7  SALVAGE,  *.  m.  Vid.  Salvagem.  — 
«Aquclla  noite  dormiu  o  cavalleiro  da 
Fortuna  em  uma  cama  de  pclles,  confor- 
me a  outra,  que  sempre  naquella  casa  ti- 
vera. A  mulher  do  salvage  quiser.i-lho 
mostrar  os  pannos  em  que  viera  envolto 
o  dia,  que  nascera,  e  descobrir-lhe  quem 
era,  e  o  salvage  não  o  consentiu  por  lhe 
não  fazer  perder  a  suspeita  em  que  vivia 
de  lhe  parecer,  que  podia  ser  seu  filno.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  ?>\.  — •  u Então  se  despediram  ; 
e  pondo-sc  elle  a  cavallo,  começaram  de 
caminhai-  elle  e  Selvião  não  lhe  dando 
conta  do  que  passara  com  o  Salvage,  por 
não  ser  cousa  de  se  deterem  mais  em 
tornar  a  vel-o :  antes  caminharam  con- 
tra a  parte  onde  ouviam  dizer  que  a  per- 
dição de  todos  acontecia,  que  dalli  era 
muito  perto,  não  rceciando  o  perigo  a 
que  ia,  porque  seu  propósito  era  virtuoso; 
que  esta  qualidade  tem  a  virtude,  todo- 
los  trabalhos  estim.ar  pouco  e  os  vicios 
muito  manos.»  Ibidem,  cap.  32.  —  «O 
cavalleiro  do  Salvage,   ainda  que  o  seu 


acordo  fosse  grande,  e  o  esforço  pêra 
de.^baratar  qualr|uer  temor,  ncrta  hora 
n.lo  jiôde  temor  tão  J(ouc<j  a  aífronta  cm 
que  se  via,  que  se  acbaBse  desacompa- 
nhado de  receios  muito  grandes.»  Ibi- 
dem, cap.  1U7.  —  «Minha  «enliora,  disi^o 
o  do  Salvage,  não  cuideis  que  nesta  jor- 
naila  perdestes  nada;  nem  perder  vossa 
mãi  so  p/>de  chamar  perda,  que  suas  obras 
o  merecem.  O  património  quo  vos  ficou 
de  vosso  pai,  vos  nilo  tirará  ninguém; 
que,  se  eu  viver,  esse  e  outros  maiores 
espero  que  vos  fiquem  :  e  porque  o  tem- 
po será  d'jsto  testemunha,  não  o  qaero 
mais  aíTirmar.»  Ibidem,  cap.  \\b.  —  «O 
do  Salvage  saiu  fira,  dizendo:  Chagado 
é  o  tempo,  Aifernao,  que  vossas  malícias 
haverão  seu  galardSo.  E  cuidando  alcan- 
çal-o  com  um  golpe,  se  ]h'o  metteu  an- 
tro os  <miros,  que  se  pozeram  'iiante  polo 
defender.»  Ibidem.  —  «O  <lo  Salvage,  que 
trazia  a  tenção  desviada  do  .«eu  desejo, 
fez  que  a  não  entendia ;  antes  faltando 
em  cousas  fira  d'csse  propósito,  chega- 
ram junto  das  tenda»,  que  eram  riciís  em 
extremo.  N'isto  veio  uma  das  donzell&.s  a 
elle,  dizendo.»  Ibidem,  cap.  11»5. —  «Se- 
nhora, disse  o  do  Salvage,  se  vós  vos 
vísseis,  viw  me  desculparíeis;  de  vos  n3o 
verdes,  vos  nasce  cuidardes  que  tenho 
culpa,  que  esses  olhos  não  se  podem  pV 
cm  parte,  que  não  roubem  vida  e  alma.» 
Ibidem,  cap.   148. 

1.'  SALVAGEM,  s.  f.  Uma  peça  de  ar- 
tilheria  antitra. 

2.1  SALVAGEM,  ou  SELVAGEM,  s.  2 
gen.  Pessoa  silvestre,  habitant**  das  sel- 
vas, mattos,  etc.  —  «O  do  salvagem  to- 
mou outra  lança  d'alguma3,  que  o  sen 
escudeiro  aquella  noite  trouxera  de  Cons- 
tantinopla, e  encontrando-se  com  Trofo- 
lante  o  fez  vir  ao  chão  com  a  sella  antre 
as  pernas,  e  o  cavallo  do  do  salvagem 
ajoelhou  com  a  força  do  encontro,  qne  o 
fez  lançar  fora ;  e  arrancando  das  espa- 
das começaram  ferir-se  de  tio  duros  e 
pesados  golpes,  que  nelles  se  podia  bem 
conhecer  a  força,  e  esforço  de  quem  os 
dava.»  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
d'Inglaterra,  cap.  13.  —  tC)  velho  saltou 
tVira  do  seu  cavallo,  e  disse  ao  do  Salva- 
gem: Bem  vedes,  senhor  cavalleiro,  que 
a  barca  é  tão  estreita,  que.  se  quizermos 
entrar  todos  nella,  poremos  as  pesso-is  em 
risco  desnecessário. »  Ibidem,  cap.  113. — 
•  Em  chegando  ao  cavalleiro  do  Salvagem 
o  tomou  pola  mão.  recebendo-o  com  tama- 
nho gasalhado  e  honra  a  seu  parecer,  co- 
mo o  poderá  fazer  a  pessoa,  em  cuia  mSo 
estivera  todo  o  remédio  de  sua  vida:  e 
assim  o  metteu  em  uma  c-:imara  do  mes- 
mo jaez  da  sala,  armada  de  tapeçaria  ri- 
ca.» Ibidem. 

3.^  SALVAGEM,  adj.  2  gen.  Que  vive 
nas  selvas,  nos  mattos.  —  Homem  salva- 
gem. 

—  America  salvagem ;  diz-se  cm  op- 
posição  á  Amenca  eiiilisada. 


SALV 


SALV 


SALV 


391 


Negros  vultos  irão  de  Afriea  ardente 
Dssoatr&nliar  na  America  salvagem 
Thesoaros  ricos  de  metal  luzente. 

j.  X.  DE  MATTOS,  EiMAS,  pag.  286  (3.*  edição). 


—  Vidas  salvagens ;   vidas  selváticas. 

—  Gente  bruta,  salvagem;  gente  de 
costumes  bárbaros,  feroz,  irracional.  — 
«Mas  nam  he  mm- to  que  os  que  de  Deos, 
e  da  saluação  da  sua  alma  se  apartào, 
que  as  potencias  delia  em  certo  modo  se 
apartem,  e  ab.?entem  também  deUes.  Tor- 
nando aos  Sacatorinos,  elles  saõ  gente 
bruta,  e  saluagem,  e  como  tacs  viuem 
polas  serras  eneouados,  sem  casa,  nem 
pouoação :  pobres,  e  mal  assombrados  : 
os  mais  delles  com  as  mãos,  dedos,  e  bra- 
ços cortados,  que  este  he  o  castigo  mais 
ordinário  contra  os  culpados.»  Frei  Gas- 
par de  S.  Bernardino,  Itinerário  da  ín- 
dia, cap.  9. 

—  Brutos  salvagens.  —  «Xào  guardão 
lej,  ou  secta  alguma,  nem  viuem  em  Ci- 
dades mas  pelos  matos  como  brutos  sal- 
uagens,  em  choças  tã  pequenas,  que  mais 
parecem  sepulturas,  que  casas,  e  bem  he 
que  gente  que  tal  vida  viue,  em  vida 
pareçào  mortos,  pois  não  conhecem  o 
verdadevro  Author  da  vida.  Muytos  que- 
rem dizer  que  pêra  a  parte  do  Sul,  ou 
Meyo  Dia,  ha  gente  branca  como  nòs.» 
Frei  Gaspar  de  S.  Bernardino,  Itinerá- 
rio da  índia,  cap.  2. 

— •  .>YX. :  Salvagem,  feroz. 

Salvagem  é  o  animal  que  vive  nas  sel- 
vas, bosques  ou  matos,  e  por  consequên- 
cia agreste  e  bravio ;  diz-se  também  do 
homem  sem  cultura  nem  civilisaçào.  Fe- 
roz applica-se  em  sentido  próprio  aos  ani- 
maes  carniceiros  ou  damninhos ;  e  em 
sentido  figurado,  ao  caracter  ou  qualida- 
de moral  de  algumas  pessoas.  O  leão,  o 
touro,  o  tigre,  o  javali  são  animaes  sel- 
vagens e  ferozes;  o  veado,  o  gamo,  a 
corça,  o  cabrito  montez  são  somente  sel- 
vagens ;  muitos  Índios  do  Brazil  são  sel- 
vagens, sem  serem /eroses ;  o  ladrão  de 
estrada  que  rouba  e  mata,  não  é  selva- 
gem, mas  sim  feroz. 

SAL  VAGINA,  s.  f.  Carne  de  veaçào  e 
montauheza,  qual  é  a  dos  porcos,  vea- 
dos, etc. 

—  Pelleteria  nào  preparada  de  animaes 
montezes. 

SALVAGINO,    A,    adj.    De 
monteziuho,  de  bruto,  fera,  etc, 

—  Car)i£.  salvagina ;  carne  dos  animaea 
e  veaçào  montauheza,  como  porcos  mon- 
tezes, veados,  etc. 

SALVAGUARDA,  s.  f.  Guarda  para  de- 
fender, proteger. 

—  Figuradamente  :  Cousa  que  prote- 
ge, defende. 

—  Protecção  dada  por  escripto,  para 
que  os  soldados  nào  roubem  o  lugar  ami- 
go a  que  se  dá,  ou  também  signal  de  pro- 
tecção arvorado  nos  lugares,  a  fim  de 
que  03  nào  roubem  e  maltratem. 


SALVAJARIA,  s.  /.  Termo  popular. 
Acto  praticado  por  selvagem. 

f  SALVAJEM,  s.  m.  Vid,  Salvagem.— 
«Aqui  deixa  a  historia  de  fallar  nelles, 
por  fallar  d"uma  aventura,  que  aconte- 
ceu ao  cavalleiro  do  Salvajem  no  Yalle 
Descontente  com  outro  que  o  aguarda- 
va.» Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  de 
Inglaterra,  cap.  20. 

SALVAJOLA,  s.  m.  Termo  popular. 
Grande  selvairem. 

SALVAL.  Vi  1.  Sável. 

SALVAMENTO,  s.  m.  O  estado  de  se 
salvar,  e  livrar  de  perigo.  —  O  navio 
chegou  a  porto  de  salvamento.  —  tAs  ou- 
tras seis  nãos  repartio  o  VisoRey  em 
duas  capitanias  mores,  huma  deu  a  Bas- 
tião de  Sousa,  em  cuja  companhia  veo 
Manuel  Telles,  e  Diogo  Fernandez  Cor- 
rêa, quada  hum  em  sua  nao,  que  chega- 
rão a  este  Reyno  em  saluamento :  e  a 
outra  capitania  mòr  deu  a  Fernão  Soa- 
res, com  o  qual  vierão  Diogo  Corrêa,  e 
Antão  Gonçaluez.»  João  de  Barros,  Dé- 
cada 1,  llv.  9,  cap.  5. —  «Prouve  a  nos- 
so Senhor  que  «hegney  a  salvamento  à 
Cidade  de  Lisboa  aos  vinte  e  dous  de 
Septembro  do  anuo  de  lòõ8.  governan- 
do entaõ  este  Reyno  a  Rainha  D.  Catha- 
rina  nossa  Senhí^ra,  que  santa  gloria  ha- 
ja, a  quem  dey  a  carta,  que  lhe  trasia 
do  Governador  da  índia,  e  lhe  relatey 
por  palavra  tudo  o  que  me  pareceu  que 
fazia  ao  bem  de  meu  negocio.»  Fernão 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.  225. 
—  «O  que  tudo  ordenado,  e  a  fortaleza 
acabada  (em  que  deixou  cem  soldados 
portugueses,  afora  os  officiaes  dei  Rei) 
elle  se  fez  de  vella  pêra  Malaca,  onde 
chegou  a  salvamento.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  4,  cap.  66. 


vam  sempre  a  popa,  e  vem, 
grande  segurança  tem 
de  virem  a  salvamento, 
polia  certeza  do  vento, 
se  03  tempos  tomam  bem. 

GABCIA  DE  BEZESDE,  MISCELLANEA. 


SALVANDO,  A,  a'lj.  Termo  antiquado. 
Excepto,  salvante. 

f  SALVANOR,  s.  m.  —  Vb  salvanor  ; 
com  o  devido  respeito. 


Irra  !  pulha  he  isso,  salvanor, 
Seu  não  fora  pulhador, 
Jella  passava  o  burel. 

GIL  VICEKTE,  AUTO  DA    BARCA    DO  ISFEHNO. 


Diz  Nabucodonosor 

No  sideraque  e  miseraque, 

AquelLe  que  dá  gran  traque 

Atravesse-o  no  salvanor. 

E  diz  mais,  quem  muito  pede. 

Mana  minha,  muito  fede. 

Sete  mil  custou  a  pipa ; 

Se  quereis  fartar  a  tripa, 

Pagae,  que  a  vinte  se  mede. 


On.  YICSKTE,  OBKAS  VABIAS. 


1.)  SALVANTE,  part.  act.  de  Salvar. 
Que  salva,  que  defende. 

— •  Que  tira  do  perigo. 

—  Testemunha  salvante ;  aquella  cujo 
depoimento  salva  alguém.  Vid.  Salvar-se 
em  juizo. 

2.)  SALVANTE,  adv.  Excepto,  salvo, 
tão  somente.  Vid.  Senão,  Salvo,  Excepto. 

SALVAR,  V.  a.  Pôr  a  salvo,  tirar  do 
perigo.  —  Salvar  a  vida  de  alguém.  — 
«Senhor  cavalleiro,  se  vos  lá  virdes  em 
alguma  aíFronta,  encomendai-vos  ás  da- 
mas, que  o  vosso  merecimento  ante  ellas 
é  tal,  que  vos  salvara  logo  delia. d  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  93.  —  «Eu  conheço  do  imperador, 
disse  o  do  Salvagem,  que,  por  salvar  o 
mundo  todo,  não  forçara  a  condição  em 
cousas,  que  lhe  parecerem  fora  de  seu 
costume :  antes,  polo  que  delle  sinto,  te- 
nho a  perdição  dos  seus  por  mais  certa, 
e  logo  me  quero  partir  pêra  sua  corte, 
que  não  é  bem,  que  estando  toda  sua 
casa  aventurada  em  tamanho  perigo,  que 
eu  só  me  ache  fora  delia.»  Ibidem,  cap. 
108.  —  «Porque  a  mim  não  me  convém 
metter  a  vossa  nelle,  se  nSo  salval-a  de 
todos,  pêra  aventurar  naquelle  com  os 
cavallos  pêra  que  a  trago,  peço-vos  que 
descavalgueis  e  passareis  só ;  e  o  vos- 
so escudeiro  e  eu  passaremos  cada  um 
por  sua  vez,  que  d'outra  maneira  esta- 
ria o  perigo  certo  e  a  passagem  duvi- 
dosa.» Ibidem,  cap.  113. —  «Porem,  por 
que  em  toda  a  parte  folgaria  se  publi- 
cassem as  obras,  de  quem  cada  dia 
salva  a  mim  e  estas  senhoras  de  mão 
de  homens  de  tenções  damnadas,  ide  á 
corte  de  el-rei  de  Hespanha  e  de  minha 
parte  vos  presentais  ás  damas.»  Ibidem, 
cap.  125.  —  «Determinei  então  haver 
delle  por  força  o  que  me  não  quiz  entre- 
gar de  vontade ;  defendeu-as  de  maneira 
que,  além  de  lhe  ficarem,  eu  fui  vencido 
delle  e  posto  no  derradeiro  extremo  da 
\nda,  a  qual  salvei  com  offerecer-me  a 
fazer  o  que  me  mandasse ;  e  quiz  que  de 
sua  parte  me  viesse  presentar  ante  vossa 
A.,  e  lhe  pedisse  perdão  por  elle  de  se 
não  descobrir  em  vossa  corte,  porém 
que  da  volta  que  fizer  do  castello  de 
Àlmourol  o  fará.»  Ibidem,  cap.  126. 
—  «Vós  podeis  ir- vos  embora,  disse  el- 
la,  que  nào  ha  pêra  que  vos  deter ; 
nem  eu,  disse  el-rei,  não  quero  de  voa 
ai,  se  não  pedir-vos  que  pois  essas  armas 
não  estão  pêra  vos  poderem  servir,  nem 
salvar  d'algum  trabalho,  acceiteis  outras 
de  mim,  e  escolhais  na  minha  estriberia 
o  cavallo,  que  vos  mais  contentar;  por- 
que ainda  que  sei  que  vossa  tenção  foi 
sempre  servir  ao.  imperador  Palmeirim, 
queria  que  ninguém  viesse  com  necessida- 
de, que  quando  se  fosse  a  tornasse  ainda 
a  levar. »  Ibidem.  —  «Naõ  bastou  a  mu- 
dança do  caminho,  para  salvar  os  inimi- 
gos das  mãos  de  Frojaz  Vermuiz,  porque 
sabendo  os  passos  por   onde  se   hiaõ  rer 


392 


SALV 


SALV 


SALV 


tirando,  os  assaltou  cm  liuin  vallo  junto 
ao  rio  Cambra,  e  damlo  ropciítiimiiiento 
noUes,  fez  taõ  cruel  matani;a,  que  cli.i- 
inamlo-se  o  vallo  aiito-i  ()tF<it,  como  vimos 
alfíumas  vozdíi,  o  cliaiiiaraò  «lalii  cm  ilian- 
tc  Uirclla.i  Monarchia  Lusitana,  liv.  7, 
cap.  LT).  — •  t(U)m  esta  caualfjada,  80  co- 
meçarilo  a  recolher  os  nossos,  mas  os 
mouros  dorão  outravez  nellos,  e  se  tor- 
nou de  nouo  a  trauar  outra  mais  braiia 
polleja,  porque  os  mouros  com  dor  dos 
parentes,  molliores,  c  tillios  que  de  dian- 
te dos  seus  ollios  viàn  leuar  captiaos  se 
osfi)r(,'auar>  quanto  podiam  pêra  ver  so  os 
poderiaò  saluar,  e  assi  sua  fazeniia,  e  í;a- 
do3  que  Ui''  os  nos-ios  leuauHo. »  Damião 
do  (tocs,  Chronica  de  D.  Manoel,  part. 
3,  cap.  (59. 

lluiiíi  poucos,  quo.  por  nomo  tem  Rpabutns, 
E  qual'iunr  do  Sultão  era  vnsíallo. 
Que  são  na  rida  qujics  alarves  bnito». 
Em  vez  de  o  consolar,  e  d'<'ijudallo, 
Seguindo  do  ladrões  os  iiiatitxitos 
Vão  duas  ou  tros  vezos  ariltfiiUo, 
Jí  desse  pouco  os  «cus  lhe  dnspojiírão 
Que  na  fugida  os  míseros  salmrão. 

r.   DK   ANDBADR,  IMIIMEIBO  CIBCO  DT.  DIU,  CUnt.    3, 

est.  4-1. 

—  t  Chjpre  ;  c  assim  não  posso  dizer 
que  o  sou.  Os  deuses  são  testinmnhas  de 
minha  sinceridade:  a  elles  compete  con- 
.servar-me  .a  vida;  nem  eu  quero  dever  o 
salval-a  a  uma  mentira.»  Francisco  Ma- 
noel dl)  Nascimento,  e  Jlanoel  de  Sousa, 
Telemaco,  liv.  ;>.  —  o  Tratei  a  certo  ho- 
mem (pie  para  salvar  a  vida  se  envolvia 
com  habito  do  ermitão.  Era  este  de  na- 
ção estrangeira,  e  passava  por  Lisboa  a 
outro  reino.  Era  pessoa  illustre.»  Bispo 
do  Grão  Pará,  Memorias,  publicadas  por 
Camillo  Castello  Branco,  pag.  121). — 
«  Se  combatesse  pelos  mosselemanos,  crê- 
lo-hiam  o  demónio  da  assolayào ;  mas, 
pelejando  pela  cruz,  dir-se-hia  que  era  o 
archanjo  das  batalhas  mandado  por  Deus 
para  salvar  Theodemiro  e,  com  elle,  os 
esquadrões  da  Betica.»  Alexandre  Her- 
culano, Eurico,  eap.  10. 


Seu  nobre  cxfòrço,  amigo,  que  medita? 
Como  intenta  mb-nr-nos  f  Que  defesa 
Havemos  de  fazer  n'câtas  ruínas 
Contra  esse  iuimonso  exercito  que  aperta 
Sobro  n<^s  de  hora  a  hora  ?  Que  esperanças 
Da  moribtinda  —  morta  liberdade 
Conserva  ainda? 

OARRETT,  CATÃO,   BCt.    1,   SC.    3. 


Persuadiu-mo  —  o  algum  numen  inimigo 
Jfe  fascinava  então !  —  que  a  stilvar  Roma 
Mo  fadavam  os  cous,  o  a  ))unir  César ; 
Quo  cm  Utica  tramava  poderosa 
Coujuraijão  occulta  quo  í'sta  noite. 
IBIDEM,  aet.  ■!,  se.  4. 


So  este  coraijâo,  so  a  minlia  alma 
Quero  salvar  do  crime. 
IBIDEM,  act.  5,  8C.  3. 


—  Termo  do  náutica.  Saudar,  fazer 
cortezia  dando  nalva  d(!  artilhcria,  ou 
mosquctaria.  —  «  Ijinramlo  ancoras  junto 
com  turra,  comcearam  salvar  o  porto  com 
tiros  dartilhcria  cm  tanta  (|uantidaile, 
que  os  da  cidadã  acudiam  uns  ao  mar, 
outros  se  punham  polas  ameias  e  janel- 
las,  n3o  sabendo  determinar  aquella  no- 
vidade de  festa,  cousa  quo  naquella  terra 
não  se  acostumava  havia  muitos  dias.» 
Francisco  de  Jloracs,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  9(5. 

—  Dar  a  salvação  eterna. 


Constantinopla  fundou 

Imperador  Constantino, 

lilho  de,  lllcna  que  .achou 

o  lenho  Santo  diuino 

da  Cruz  ipin  Dcos  nos  talnou ; 

do  Imperador  chutado 

Constantino  era  chamado, 

e  a  mãy  tumbism  Hiena, 

o  que  o  Império  com  grã  pena 

pcrdeo  ;  c  foy  degolado. 

OABCIA   DE  BEZENDK,   MI3CEI.L.VNEA. 


—  Conservar,  guardar. 

Salve  Deus  todos,  e  guarde. 
Senhor,  seja  bem  chegado. 
ANTÓNIO  rKESTES,  AUTOS,  pag.  G3. 

—  Salvar  os  tkesotiros  da  invasão  dos 
godos;  occultal-os,  livral-oa. 

Da  Gothíca  invasão,  naufrágio  horrendo, 
Os  thesouros  salvou,  que  o  Mundo  espantào, 
Que  mais  que  as  armas  sustentarão  lloma, 
E  no  seio  da  Gloria  inda  a  sustentào. 

J.    A.    DE   MACEDO,  VIAGEM  EITATICA,  Cant.   4. 

—  Saudar. 

Dcante  do  teu,  seu  gcuio  acovardado 

Vacilla  :  —  teme  o  vencedor  da  terra 

Do  ticar  vencedor  !  Tal  é  o  zOlo, 

O  impenlio  com  que,  á  custa  de  seus  louros, 

Quer  salvar  os  teus  dias  preciosos. 

OABBETT,   CAlIo,    aCt.    2,   SC.   5. 

—  Livrar  do  perigo. 

Casaste  mal,  ou  é  feio  ? 
Não  é  isso  o  que  me  salva 
nem  me  põe  o  melhor  arreio. 
Hofé,  quo  já  a  vi  mais  alva. 
Estou  palha  de  ceuteio. 

ANTÓNIO  PBESTES,  AUTOS,  pag.  33. 

Esquecido  na  torra,  invergonhado 
O  nome  portuguez...  —  Opprõbio,  magoa. 
Dura  pena  de  crimes !  —  tábua  única 
Lhe  darás  tu  para  snlvar-lhe  a  fama 
Do  naufrágio.  Tu  fkí  dirás  aos  séculos, 
Aos  povos,  ás  nações:  AU i foi  I.ysia. 
GABRETT,  camõks,  caut.  3,  cap.  a. 

—  Passar   em    salvo    da   outra  bauda, 
saltando. 

—  Salvar  os  i>tri(jo$ ;  sair  dVlles  a  sal- 
vo, iicar  livre  d'ellcs,  c  evital-os. 


—  Defender,  desculpar. 

—  Salvar  a  ac<}ão:  livral-a  de  imputa- 
ção. 

—  Salvar  o  hurmuro,  o  baixo,  etc. ; 
atraves-al-o  por  cima  sem  o  tocar,  ou  to- 
cando mui  levemente;  ou  ladeando,  oa 
costeando,  o  pondo-se  f.ira  d'elle. 

—  .Justificar,  absolver,  cm  opposiçSo  a 
rrindemuiir. 

— -Salvar  a»  appnrencia»;  fazer  que 
estas  sej/im  boas, 

—  Minha  fé  me  salva ;  minha  fé  me 
defende. 

Dcfonde«-te  ? 

Não  defendo, 
minha  fú  inc  sa/.va  o  sana. 
Acho  que  ti;nlio  acertado 
cá  comigo. 

ASrO!«IO   PRESTES,   AUTOS,   psg.    153. 

—  Salvar  fazendas;  tiral-as  livre»  de 
direitos  por  privilegio. 

— -  Salvar-se,  v,  rejl.  Acoitar-se,  abri- 
gar-se. 

—  Pôr-se  a  salvo  do  perigo. 

Venderás  muito  perigo, 
Que  tens  nas  treva»  e-scurap. 
Eu  vendo  perfumadums, 
Quo,  pondo-as  no  crabigo, 
He  talvão  as  criaturas. 

GIL  VICENTE,  AUTO  DA  PEIBA. 

—  <  E  aprouve  a  Deos  que  se  saluou 
toda  a  gente,  e  parte  da  fazenda,  por  lhe 
logo  acudirem  D.  João  de  Lima,  o  Ma- 
nuel de  la  Cerda.»  JoXo  de  Barros,  Dé- 
cada 2,  liv.  8,  cap.  5.  —  €  E  tornàdose 
os  nossos  a  fortificar  de  novo  cõ  estou- 
tras duas  fustas,  determinarão  de  espera- 
rem alv  a.s  quatro  galeotas  que  erão  man- 
dadas :i  ilha  do  mar,  porem  a  estas  deu 
là  nosso  Senbor  ao  outro  dia  tanto  vento 
Norte  que  deu  com  duas  delias  ;i  costa, 
de  que  se  não  salvou  pessoa  nenhuma.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações,  ca- 
pitulo 146.  —  «  Estando  em  Pemba  ima- 
ginado ser  Zanzibar,  víamos  na  carta  de 
marear,  hum  baixo  que  chegaua  ate  a 
Ilha  de  ílonfia,  sobre  o  qual  nòa  liiamos 
cahindo,  segundo  nosso  parecer  o  que 
visto  de  todos  derão  nmytos  o  seu,  que 
fov  varasse  a  nao  em  terra,  porque  muvto 
melhor  era,  morrendo  alguns  saluaremse 
08  mais  do  que  himios  cahir  no  bayxo, 
onde  todos  acabas,*einos.»  Fr.  (Jaspar  de 
S.  Bernardino,  Itinerário  da  índia,  eap. 
3.  —  «  Pêro  dataide  se  perdia  nos  baixos 
de  S.  Lazaro,  nta*  a  gente  se  salvou  com 
|)arte  da  qual  se  foi  em  hum  zambuquo  a 
Moçambitine.  onde  morreo.  e  a  outra  se 
foi  a  Melindo.»  Damião  de  Góes,  Chro- 
nica de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  8. — 
€  Separadas  c.stas  capitanias,  passaraS  to- 
dos juntos  a  linha,  aos  vintanoue  dias  do 
mes  de  Abril  na  qual  derrota  despois  das 
frot.-w  serem  ja  apartadas  huma  da  outra, 
a    iiao  de  Pêro  ferreira  fogaça,  com  cal- 


SALV 


SALV 


SALV 


393 


mariaf,  e  vauzear,  por  ser  muito  velha, 
fez  duas  vezes  agoa  de  que  na  derradeira 
se  foi  ao  fundo,  sem  delia  se  salvar  mais 
que  a  gente,  o  huma  arca  de  prata  da 
capella  de  dom  Francisco  dalmeida.»  Ibi- 
dem, part.  2,  cap.  2.  —  « Com  esta  tor- 
uoada  se  apartou  a  nao  de  George  Nunez 
de  leam  do  jungo,  em  cuja  guarda  hia, 
por  se  os  laos  nam  alleuantarem  com 
ella,  03  quaes  vendesse  apartados  da  nao, 
derào  em  Simão  martinz  que  hia  doente, 
e  nos  outros  portugueses,  e  os  matarão 
todos,  saluo  quatro  marinheiros  que  se 
saluaraõ  em  huma  almadia.  que  também 
foram  ter  a  Pacem,  e  o  jungo  a  cidade 
de  Timiaõ,  que  he  na  illia  de  Çaraatra,  o 
qual  se  perdeo  depois.»  Ibidem,  part.  3, 
cap.  26.  —  «  E  como  os  remeiros,  e  gen- 
tios, que  alem  de  andarem  forçados,  cor- 
riam também  o  mesmo  perigo  dos  tiros 
das  bombardas  pêra  se  saluarera  dixeram 
aos  de  Hagamahamed  em  sua  lingoagem 
que  abalrroassem  a  gale  sem  receo,  que 
dentro  nara  hauia  ja  quem  a  podesse  de- 
fender.» Ibidem,  part.  4,  cap.  73. 

Saíva-se  nellc  o  Interprete  das  Musas, 
As  Filhas  da  Memoria  em  doec  aecento 
Sobre  o  Pindo  seu  nome  immortalizào, 
E  foi  levado  a  povoar  os  Astros. 

J.    A.   DE  MACEDO,  A  KATUEEZA,  Cailt.   3. 

—  Conseguir,  alcançar  a  salvação  eter- 
na.—«E  quanto  ao  que  toca  a^s  mini- 
nos,  a  que  a  EgTCJa  Romam  chama  pa- 
gãos, por  nam  receberem  a  agoa  do  ba- 
ptismo, nos  lhe  chamamos  meos  Chris- 
tãos,  e  temos  que  se  saluam,  por  serem 
nascidos  de  pães  Chi-istãos,  no  baptismo 
dos  quaes,  e  do  Spiritu  Sancto,  e  do  san- 
gue de  nosso  vSenhor  lesu  Christo  se  sal- 
uam.» Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  3,  cap.  61. 


esta  casa  bem  sentida 
SC  ella  agora  finara, 
entendo  que  se  salvara, 
porque  eumprio  já  na  vida 
o  seu  testamento  á  clara. 

ASTCXIO  PKESTES,  AUTOS,  pag.  iÒÒ. 


—  Salvar-se  sobre  sua  fé. — ■  «E  que 
elle  em  sua  vontade  auia  el  Rev  por  tão 
bem  a\ienturado,  e  de  tanto  coração,  e 
saber,  que  elle  auia  por  boa  ventura  sua 
regerse  per  suas  leys,  e  sobre  sua  Fec  se 
saiuar,  porque  aquelia,  e  não  outra  auia 
de  ser  a  verdadeira,  pois  Deos  nella  o 
criara.»  Garcia  de  Rezende,  Chronica  de 
D.  João  II,  cap.  lõG. 

—  Salvar-se  a  nado;  pôr-se  a  salvo 
nadando. 


Ousadamente  ao  mar  logo  se  lança, 
Que  o  grào  perigo  faz  o  medo  ousado, 
Guia-o  nisto  huma  uma  vãa,  falsa  esperança, 
Porque  cuidou  poder  salvar-se  a  nado. 
Lançárào-se  traz  elle  sem  tardança 
Também  os  de  que  estava  acompanhado, 
VOL.  V.  — 50. 


Que  nem  na  derradeira  hora  o  dei-^carão 
Os  que  sempre  na  vida  o  acompanharão. 

FRANCISCO  DE  ANDRADE,  PRIMKIBO  CERCO  DE  DIU, 

caut.  7,  est.  07. 


—  Livrar-se  do  perigo. 

Alguns  dos  principacs,  que  dos  passados 
Desbarates  salvar-se  então  puderão, 
E  cm  difterentes  partes  retirados 
Todo  o  tempo  das  guerras  esti verão. 
Vendo  03  imigos  ja  tão  apartados 
A  seu  Sculior  de  novo  se  vierào, 
Com  que  foi  restaurado  o  estado  antigo, 
Até  que  o  Ecino  vio  som  guerra  e  imigo. 
F.  d'andrade,  primeiro  CERCO  DE  DIU,  caut.  5, 
est.  95. 


—  Salvar-se  a  pê,  —  «O  que  tudo  fez 
no  mesmo  dia  em  que  sahio  da  cidade, 
que  foi  dentrudo,  no  qual  vieram  ahi 
amanhecer  seis  de  cauallo  dos  que  es- 
caparam de  que  hum  era  Francisco  de 
Mello,  e  ao  outro  dia  desaseis  besteiros, 
e  espingardeiros,  e  dous  de  cauallo  que 
se  saluaram  a  pe. »  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  4,  cap.  64. 

—  Salvar-se  por  ferro  quente;  provar 
a  sua  innocencia  contra  testemunhas,  to- 
mando nas  suas  mãos  o  ferro  em  braza, 
quente,  ou  caldo, 

—  Salvar-se  em  juizo;  livrar-se,  fozer 
salva  com  testemunhas,  que  se  denomi- 
nam salvantes,  porque  o  seu  depoimento 
salvava  quem  as  dava, 

—  Livrar-se  judicialmente. 

—  Salvar-se  da  prisão ;  pôi'-se  a  salvo 
d'ella,  libertar-se. —  «Perdi  então  a  es- 
perança de  voltar  a  Ithaca.  Fiquei  en- 
cerrado n'uma  torre  em  a  praia  visinha 
de  Pelusio  onde  devia  fazer-se  nosso  em- 
barque se  Sesostris  não  acabara.  Teve 
Methophis  o  ardil  de  salvar-se  da  prisão, 
e  restabelecer-sc  junto  ao  novo  rei ;  sen- 
do causa  de  me  prenderem  para  vingar- 
se  da  desgraça,  que  eu  lhe  originara.» 
Telemaco,  traducção  de  Manoel  de  Sou- 
sa, e  Francisco  Manoel  do  Nascimento, 
liv.  2. 

—  Salvar-se  de  ser  preso  j^^^a  justiça ; 
pôr-se  em  salvo,  fora  do  reino,  em  asvlo. 

SALVATELLA,  adj.  f.  —  Veia  salva- 
tella ;  é  um  ramo  da  cephalica  entre  os 
dedos  annular,  e  minimo. 

SALVATICO,  A,  adj.  Yid.  Selvático. 

SALVÁVEL,  adj.  2  fjen.  Que  pckle  sal- 
var-se do  perigo,  naufrágio,  doença,  etc. 

SALVAVIDA,  s.  f.   Bóia  de  salvação. 

—  Apparelho  ou  machina  moderna, 
própria  para  salvar  a  vida  aos  navegan- 
tes, que  estão  em  perigo  de  se  afoga- 
rem. 

—  Apparelho  próprio  para  salvar  os 
individues  que  estão  em  perigo  ena  um 
editicio  incendiado, 

SALVE,  loc.  lat.  designando  sauda- 
ção. 


—  Dar  o  Deus  vos  salve ;  saudar. 
Salvar. 


Vid. 


—  S.  f.  —  Rezar  a  salve  rainha. 
SALVETA,  s.  /.  O  prato  do  candieiro. 
SALVETTA,  s'.  /.  Termo  de   botânica. 

Espécie  de  salva. 

SALVINA,  s.  f.  Uma  composição  fe- 
brífuga. 

1.)  SALVO,  A,  adj.  (Do  latim  salvus). 
Livre  de  perigo,  sem  risco.  —  O  enfermo 
está  salvo. 

—  Loc.  AXT. :  Salva  a  sua  paz;  usa- 
va-se  não  querendo  que  alguém  se  oôen- 
desse  do  que  se  dizia. 

—  Bemaventurada.  — -Seremos  salvos, 
se  praticarmos  a  virtude. 

—  Tinham  salvo ;  tinham  posto  em  co- 
bro. 

—  Em  salvo ;  livre  de  perigo,  mal, 
quebra. 

—  Posto  em  salvo ;  salvado.  —  «Por  to- 
dolos  christãos  nonos  que  escaparão  des- 
ta tamanha  fúria,  serem  postos  em  salvo 
por  pessoas  honrradas,  e  piedosas  que 
nisso  trabalharão  tudo  o  que  nelles  foi, 
e  o  tempo,  e  desordem  delle  lhes  pode 
conceder,  sem  poderem  euitar  que  não 
perecessem  neste  tumulto  mais  de  mH, 
e  nouecentas  almas,  que  tanto  se  achou 
per  conta  que  mataram  estes  máos,  e 
peruersos  liomens.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1,  cap. 
102. 

—  Ad,v.  Excepto,  senão. — «Quer  di- 
zer. Que  Tito  ou  Tibério  Cláudio  Saili- 
cio.  Cavaleiro  da  terceira  Cohorte  dos 
Lusitanos  eumprio  com  alegre  animo  o 
voto  que  fez  aos  Deoses  e  Deosas  da- 
quella  terra,  que  alli  se  chama  Conium- 
bria,  salvo  se  acaso  foy  culpa  do  Escul- 
ptor,  e  em  lugar  de  Conimbrica,  lhe 
acrecentou  o  u,  demais.»  Monarchia  Lu- 
sitana, liv.  õ,  cap.  8.  —  «E  porque  ou- 
tro sy  na  dita  Ley  feita  pelo  dito  meu 
Senhor  e  Padre  he  contheudo,  que  quem 
quizer  comprar  ouro  ou  prata,  que  a 
possa  comprar  aa  voontade  de  seu  dono, 
pagando  logo,  etc. ;  e  por  outra  Ley  de- 
pois per  elle  feita  he  geralmente  defeso, 
que  ouro  ou  prata  se  nom  possa  comprar, 
nem  vender,  salvo  no  seu  caimbo  sob 
certa  pena :  porem  declarando  em  esta 
parte,  mandamos  que  se  guarde  a  nossa 
Hordenacom  sobre  esto  declaradamente 
feita.»  Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit.  2,  §  19.— 
«E  d'outra  maneira  nom  valha  quanto  el- 
la hy  fezer,  salvo  se  na  Carta  d'ElRey, 
que  pêra  ello  gaançou,  for  contheudo  que 
Nosso  Senhor  ElRey  dá  a  ella  poder  que 
faça  essa  demanda  sem  outorgamento  de 
seu  marido,»  Ibidem,  tit.  11,  §  1.  —  «Ca 
depois  que  o  mancebo  for  requerido  pe- 
las nossas  Justiças  pêra  viver  com  ou- 
ti-em,  segundo  a  forma  das  ditas  Horde- 
nações,  nom  poderá  ir  a  viver  com  outro 
algum,  salvo  acabado  o  tempo,  que  avia 
de  viver  com  esse,  com  que  lhe  foi  man- 
dado que  viesse.»  Ibidem,  tit.  25,  §  2. 
—  tPerque  pareceria  fora  de  razom,  pois 
que  seu  Padre  os  criara  e  geerara,  e  com 


394 


HALV 


SALV 


SAM 


cllo  (luoriiir;  viver,  sdroiii  constrangidos 
porá  morar  coiii  outroin  :  salvo  su  esses 
mancebos  c  Hcrvldurcs  (|ui.si;n!m  viver  com 
alí^uom  per  soldada  i)ei'  sini  «(rado,  por 
muitos  (pio  Hoflressciii.»  Ibidem,  tit.  '2d, 
§  9.  • — •  «P]  bem  as.sv'  dizemos  iio  que  deo, 
ou  vondoo  a  cousa  sua  a  outrem  com  a 
dita  condiçom,  a  saber,  que  so  noiu  ])0- 
dcsso  cuulbcar,  ou  vender,  salvo  a  ai;;jum 
seu  Irmaaõ,  etc.  porque  iio  estabelecido 
por  direito,  que  cada  luiin  possa  acerca 
do  sua  cousa  poer  (pialquer  coudieom  o 
cautella  que  lhe  prouver,  cniii  tanto  que 
seja  licita  o  honesta.»  Ibidem,  tit.  'M, 
4}  ii.  —  «Salvo  se  no  contrauto  fosso  acor- 
dado antro  as  partes,  que  lhe  nom  fosse 
theudo  a  lha  compoer;  ca  entom  será 
theudo  soomente  tornardiíe  o  preço,  que 
esse  vendedor  por  essa  cousa  ouve:  pêro 
fie  as  partes  outra  cousa  ouvessem  acorda- 
da ao  tempo  do  contrauto,  ou  despois  em 
alpjum  tempo,  fruanlar-sia  o  que  antre  si 
aeordárom.»  Ibidem,  tit.  ã!',  §  12. — 
«Salvo  se  ao  tempo  do  contrau.to  antro 
ellcs  feito,  ou  entrega  da  cousa,  o  ven- 
dedor delia  so  ouve  por  pago  do  dito 
preço;  ca  entom  será  o  comprador  feito 
senlior  delia,  assi  como  se  o  dito  preço 
ouvesso  pagado,  ou  oífereeido  ao  dito 
.vendedor.»  Ibidem,  tit.  GO,  §3. —  «E 
aquelles,  que  o  contrairo  fezerem,  os 
Santos  Cânones  os  ham  por  escumunga- 
•dos  per  esse  meesmo  feito  sem  alguã  ou- 
tra sentença,  salvo  se  as  levassem  pcra 
remijr  cativos  alguns  Chrisptaaõs,  que 
lá  jouvessem.»  Ibidem,  tit.  63,  §  1. — «E 
■porem  nom  he  Nossa  tençam,  que  aquel- 
les, a  que  taacs  Cartas  enviamos,  scjaõ 
necessariamente  eontrangidos  a  compril- 
las,  salvo  quando  lhes  com  justa  e  agui- 
sada  razom  aprouver  do  o  fazor,  e  d'ou- 
tra  guisa  nom.»  Ibidem,  tit.  G4,  í?  2. — 
«E  se  o  forçador  nom  ouver  direito  na 
cousa,  em  que  fez  a  força,  componha-a 
ao  outro  com  outro  tanto  do  seu,  quanto 
vai  a  cousa  que  esbuliiou  :  salvo  no  caso, 
bonde  per  direito  he  outorgado  que  se 
possa  cometer  força,  assi  como  se  homem 
fosse  forçado  d 'alguma  cousa,  e  elle  a 
quizesso  logo  per  força  cobrar,  ca  o  po- 
derá bem  per  direito  fazer  sem  embargo 
desta  Lei.»  Ibidem,  §  3.  —  «A  este  ar- 
tigo diz  ElRey,  que  por  efteitos  civiis 
nom  prendam  nenhum,  se  tever  per 
bonde  pagar,  salvo  se  for  por  feitos  ma- 
liciosos, em  que  per  a  llordcnaçom  do 
Rogno  devam  secr  presos,  e  pagar  da 
Cadea  :  o  este  Corregedor,  ou  Juiz,  que 
o  contrairo  fezer,  pague  por  cada  vez  mil 
reis  brancos,  dos  quaaes  a  meetade  seja 
pêra  quem  ho  acusar,  e  a  outra  meetade 
seja  pcra  as  obras  do  Concelho  daquello 
lugar,  bonde  esto  acontecer.»  Ibidem, 
tit.  67,  §  1. 


Italianos,  Millanoâos, 
Soyços,  o  Escovcescs, 
vimos  todos  batalhai-. 


huiiH  com  outroii  «o  laatur, 
sdlito  Vugro»,  c  PortugiiíMíCB. 

—  «E  O  galeilo  depois  deile  morto  foi 
ter  a  huma  iliia  que  esta  apar  de  Qui- 
loa,  onde  deu  a  costa,  e  os  mouros  nam 
contentes  do  roubarem  o  que  nelie  lua 
mataram  todclos  Portugucse-),  sem  da- 
rem vida  a  nenhum  dclles,  saluo  a  hum 
moço  que  era  sobrinlio  do  mestre  que 
el  Rei  de  Zamzibar  reeoiheo.»  DamiTio 
de  (joes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part. 
•1,  cap.  3(3.  —  «A])pliquoi  a  alguns  Ín- 
dios outras  triagas  conhecidas  na  Ame- 
rica, e  nenhumas  operaram  efficazmen- 
te,  salvo  a  indicada.»  Bispo  do  (.Irào 
Tara,  Memorias,  publicadas  por  Ca- 
millo  Castello  Branco,  pag.  190.  —  «E 
porque  se  niío  suba  a  clle,  a  ladoyra 
lie  toda  lageada,  e  uuiy  Íngreme,  de  sor- 
te, que  nrio  he  possiuel  sobir  acima  por 
parte  alguma,  saluo  entrando  pela  porta, 
em  (|ue  ha  de  contino  muyta  guarda,  c 
vigilância.»  Fr.  (i aspar  do  S.  Bernardi- 
no, Itinerário  da  índia,  cap.  2J. 

—  Salvo  que;  excepto  se. 

—  Quando  não  é  adverbiado,  concor- 
da com  o  nome.  —  «  Com  estas  xv  nãos 
partio  o  Mariclial  de  Lisboa  aos  doze 
dias  de  Março,  de  M.  D.  ix,  e  o  primei- 
ro porto  que  tomou  foi  Jloçambique,  don- 
de foi  ter  a  Meliiide,  c  dahi  a  Cananor 
no  mes  Doutubro,  com  toda  a  frota  jun- 
ta, salno  Francisco  marecos  que  inuer- 
nou  em  Jluçambique. »  Damiào  de  Cioes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  2,  cap.  41. 

—  « E  me  amostraram  a  serra  e  a  ai-ca, 
que  tudo  estava  cuberto  de  neve:  e  eu 
uani  vi  outra  cousa  salvo  neve,  ainda 
(pic  comigo  aperfiavão  que  olhasse  bem, 
e  que  a  veria  clara,  mas  eu  nam  vi  mais.» 
António  Tenreiro,  Itinerário,  cap.  21. 

2.)  SALVO,  s,  ?)(.  —  J^òr-se  em  salvo; 
pOr-se  em  logar  seguro,  livre  de  risco. 

—  ^1  salvo ;  sem  damno,  sem  prejuízo. 

—  «Por  terra  acompanhado  de  trinta  mil 
homens,  com  sua  artelharia  ordenada 
como  sempre  acostumaua  fazer,  e  diante 
delle  o  senhor  de  Rcpelim,  com  huma 
grande  somma  de  gastadores,  pêra  fiize- 
i-em  vallos,  e  fossas  na  ponta  Darraul, 
onde  se  os  seus  podessem  abrigar  dos  ti- 
ros da  nossa  artelharia,  e  jugar  com  a 
sua  a  salvo.»  Damiào  de  Góes,  Chronica 
de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  91. 

—  líiliicar  em  salvo;  dar  noticia,  ou 
rebate  do  inimigo  posto  na  torre,  e  se- 
guro. 

—  A  seu  salvo;  sem  damno,  nem  pre- 
juízo seu.  —  o  Os  perigos  não  se  guarda- 
ram senão  pêra  aquelles,  que  os  não  te- 
mem, venha  a  morte  quando  quizer,  que 
darei  a  vida  tão  cara,  que  ninguém  se 
possa  louvar  a  seu  salvo  de  mim.»  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  94. —  «Bem  parece  que  não  sois 
vós    quem   nesta  aventura   quer   experi- 


mentar sua  pessoa,  poiít  tanto  a  vosso  sal- 
vo querei»  levar  o  escudo  a  furto  do 
quem  o  guarda.  Mas,  pois  clle  não  está 
presente  pêra  vol-o  defeiuler,  eu  o  farei 
por  sua  parte,  e  quero  vér  «e  t-ois  pêra  o 
tomar  por  força.»  Ibidem,  cap.  127.  — 
«Ma»  tornando  ao  ciintramesire,  em  ven- 
do o  (|uc  passaua  bradou  da  gauea,  ao 
que  SC  Diogo  l^jpez  aieuautou,  pedindo 
armas,  mas  antes  que  lhe  acudissem,  os 
Malaios  so  lançaram  aos  barcos,  e  se  fu- 
ram pcra  a  cidade  a  seu  saluo,  e  o  mcA- 
mo  fez'5ram  os  que  ostauam  nas  outríis 
nãos.»  Damiào  de  Gocs,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  3,  cap.  2. 

.Ia  o  iinifro  outra  vez,  não  d<'Hcuidado 
Melhorara  as  nstancias,  ondi;  i-stivn, 
Que  |)or  c.-ttar  ao  muro  mais  clie^jado 
Di^iitro  da  boca  a»  p6z  da  iio^ía  cjiva  ; 
K  como  SC»  intento,  seu  cuidado 
Vati  damno  do«  (Jhri»tào»  »<'>  »o  empregava, 
Pois  a  BCii  "(dvo  p/idc,  dutcnnina 
FaztT  ao  baluarte  huma  alta  mina. 

tUANCISCO  d'aNDBADK,   rBIMEIBO  CEBCO  DE   DIT, 

cant.  17,  est.  58. 

—  «Queimava  vivos  os  Cacizes  maia 
opulentos,  esfolava  Reys,  degolava  Em- 
peradores,  para  mais  a  seu  salvo  devorar 
serras  de  prata,  e  montes  de  ouro,  que 
mandava  a  Espanha,  para  fazer  guerra  a 
toda  Europa,  Africa,  e  Ásia.»  Arte  de 
furtar,  cap.  G9. 

—  J^cjjicar  em  salvo ;  fallar  afouto  das 
cousas  perigosas,  quando  não  incorremos 
cm  o  perigo  d'cllas. 

—  Figuradamente :  Repicar  em  salvo ; 
dar  noticia  do  perigo,  depois  de  esíar 
salvo  d'elle,  ou  talvez  dar  noticia  mui 
antecij^ada  iln  perigo. 

SALVO-CONDUTO,  ou  SALVO-CONDU- 
CTO,  s.  m.  Cartii  de  seguro,  «[ue  se  dá 
ao  banido  ou  inimigo  para  que  possa  vir, 
e  estar  na  terra  onde  é  responsável  por 
crime,  ou  outra  obrigação,  passar  por 
cila,  sem  receio  de  detença,  estorvo  ou 
outro  damno. 

—  Figuradamente:  Privilegio,  isen- 
ção. 

—  Figuradamente :  Liberdade  concedi- 
da por  salvo-conducto.  —  «Para  o  que 
quasi  de  todas  as  gentes  tiveraiS  salvo- 
conducto.  Tomaõ  o  nome  da  principal  Ci- 
dade do  Revno,  Ultimamente  saõ  os  Reys 
i!c  Armas,  que  se  intitulaò  do  nome  da 
Provineia.»  ^Manoel  Severim  do  Faria, 
Noticias  de  Portugal,  Disc.  3,  cap.  18. 

1.)  SAM.  Fiirma  antiquada  do  verbo 
ser  na  tci'ceira  pessoa  do  ]dural  do  pre- 
sente do  imlicativo.  Vid.  São. 

Quo  cousas  tam  prand  ^5  »<i  m 
hos  da  Índia,  c  luoatam, 
c  (juani  \\!\  China  osjíantosas, 
que  faijanhas  faij.inhosas 
no  Brasil  e  Poru  vaam  ? 

o.    PE    BF.zrXnE,  MISrF.t.UXEA  . 

—  «lia  na  terra  muitas  fauas,  feijoeus, 


SAM 


SAM 


SAMB 


o9õ 


e  outros  legumes  Ac  muitas  cores,  que 
comem,  nào  tem  vinhas,  mas  fazem  vi- 
nho de  milho,  e  da  mesma  farinha  cais- 
tas,  que  he  como  cerveja,  ou  cidra,  de 
que  bebem,  e  se  embebedaL»  a  meudc,  e 
depois  de  bêbados  sam  muito  traidores,  e 
maliciosos.»  Damião  de  Góes,  Chronica 
de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  56.  —  «O 
que  o  gouernador  foi  fazendo  per  hum 
bom  espaço  a  sua  maõ  direita,  ate  que 
lhe  mandou  que  se  tornasse  a  banque- 
tear o  embaixador,  para  que  o  conuidou 
o  embaixador  dei  Rey  de  Lores,  e  o  dei 
Rei  de  Gorgia,  que  tem  suas  terras  a 
trinta  legoas  da  cidade  de  Tauriz,  e  sam 
Christãos,  vezinhos  ao  turco,  com  quem 
tem  muitas  vezes  guerra.»  Ibidem,  part. 
4,  cap.  10.  —  «Pelo  que  mandou  Fran- 
cisco de  ga,  e  Lourenço  de  cosme  a  cos- 
ta de  Ethiopia  buscados,  e  algumas  ve- 
las que  lhe  laltauam  da  frota,  e  assi  pêra 
descobrirem  o  porto  de  Maçua,  e  Arqui- 
quo,  onde  auia  de  lançar  os  que  hiam 
com  o  embaixador  do  Emperador,  e  Rei 
do  Abexi,  cujos  aquelles  portos  sam,  no 
que,  e  em  mandar  desfazer  a  fortaleza, 
que  na  ilha  começaram  Raix  soleimaõ,  e 
Mirhocem,  passou  os  dias  que  alli  este- 
ue.»  Ibidem,  cap.  13.  —  «E  porque  sem 
particular  ajuda  de  Deos  não  podemos 
por  nossas  forças  fazer  e.íte  adubio  nas 
ceppas  de  nossas  almas,  que  sam  as  vi- 
nhas de  Deos  :  por  tanto  mostra  o  Senhor 
no  Euangelho  que  da  sua  parte  nam  nos 
faltara  aquella  ajuda  que  nos  he  necessá- 
ria pêra  o  tal  trabalho,  e  apparelho.» 
Fr.  Bartholomeu  dos  Martyres,  Catecis- 
mo da  doutrina  christã. —  «Sam  estes 
Cin-istãos  gentes  brancas,  da  terra  natu- 
rais, e  muyto  antigos  nella.  Tem  por  seu 
custume  clreundaremse  e  bautizaremse, 
falara  lingoa  Arábia,  e  vivem  per  trato  c 
lavranças.»  Antoiíio  Tenreiro,  Itinerário, 
cap.  44.  —  aPorque  como  temos  dito  as 
terras  todas  sam  bem  aproveitadas,  e  os 
homens  com  serem  comedores  e  gastado- 
res, sam  curiosos  em  buscar  ho  remédio 
da  vida,  ha  muita  fartura  na  terra,  e 
muita  abundança  de  todalas  cousas  ne- 
cessárias pêra  comer,  e  pêra  remediar  ha 
vida:  e  porque  ho  principal  mantimento 
da  terra  he  Arroz,  ha  muita  abundança 
delle  em  toda  ha  terra,  porque  ha  muy 
grandes  várzeas,  que  dam  duas  e  três 
novidades  no  anno.»  Fr.  Gaspar  da  Cruz, 
Tratado  das  cousas  da  China,  cap.  12, — 
«Aa  porta  esta  huma  vasilha  grande  de 
arroz  muito  encereijado  c  muito  bem 
concertado,  e  porque  os  negócios  da  jus- 
tiça sam  comunmente  quasi  das  dez  oras 
por  diante,  e  muitos  tem  as  casas  longe 
por  ser  ha  cidade  muito  grande,  ou  por 
ser  gente  que  de  fora  vem  com  negócios 
assi  os  moradores  como  os  de  fora  comem 
nestas  estalagens.»  Ibidem.  —  «E  no  fim 
mandam  dar  muitos  açoutes  aos  ladrões, 
que  sam  os  malfeitores  mais  odiosos  que 
ha  na  terra:  e  os  açoutes  sam  de  manei- 


ra que  delles  morrem  muitos.»  Ibidem, 
cap.  17.  —  «Em  que  entravam  três  reys. 
s.  o  Rey  de  Gilam,  e  o  rey  de  Xirvam, 
e  o  rei  de  Mazandram,  e  dous  embaixa- 
dores do  reyno  dos  Gurgis,  que  sam 
Christãos,  e  confinam  com  as  ultimas  ter- 
ras do  Sufy,  pêra  a  banda  do  norte.» 
Ibidem.  —  «E  assi  em  toda  ha  China 
nam  se  acha  uhum  China  mouro.  Os 
mouros  que  ha  na  China  nam  sam  delia 
naturaes,  como  se  mostrara  no  capitulo 
seguinte.»  Ibidem,  cap.  27.  —  «Hora  se- 
nhoreada polo  grão  Turco  em  que  estaa 
de  contino  hum  Baxaa,  com  boõ  exercito 
de  gente  de  Turcos  de  cavalo,  em  hum 
castelo  e  huma  fortaleza  que  tem  muyto 
forte  dentro  em  a  dita  cidade,  estaa  ou- 
tro capitão  com  trezentos  Geniceros,  que 
sam  escravos  do  grão  Turco,  que  nam 
dão  obediência  a  este  Baxaa  poios  ter  o 
grão  Turco  por  mais  leais:  porque  este 
he  o  seu  custume.»  Ibidem,  cap.  33. 

2.)  SAM.  Abreviatura  de  Sancto.  Vid. 
San.  —  «E  assi  ordenou  que  de  cada  mes 
se  guardasse  hum  dia  em  louuor  do  Anjo 
Sam  Miguel,  c  segundo  o  ordenaram  os 
Apóstolos  nestes  oito  liuros  dos  Concílios 
guardamos  o  dia  do  martyrio  de  sancto 
Esteuam,  e  de  outros  martyres.»  Damião 
de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3, 
cap.  61.  —  «Fundou  de  nono  o  mosteiro 
de  Sancto  António  de  pinheiro  de  sam 
Francisco  da  obseriiancia,  fez  o  corpo  da 
Egreja  de  sara  Francisco  Deuora,  fez  do 
nono  o  Mosteiro  danunciada  de  freiras  da 
Ordem  de  S.  Dondngos  na  cidade  de 
Lisboa  na  mouraria.»  Ibidem,  part.  4, 
cap.  85.  —  «Assi  os  moços  metidos  na 
fornalha,  como  com  huma  boca  orauam, 
e  louuauara  o  Senhor.  E  sam  Lucas  de- 
clai-ando  como  orauam  os  Apóstolos  des- 
pois  da  Ascensam  do  Senhor,  diz  que 
pcrseuerauam  juntos  em  oraçam,  com 
perfeita  concórdia  de  corações.  Nam  tem 
rezam  de  chamar  a  DEOS  Pay  nosso, 
aqnelle  que  a  outro  Christão  nam  tem 
por  irmão.»  Frei  Bartholomeu  dos  Mar- 
tyres, Catecismo  da  doutrina  christã.  — 
«As  iguarias  da  quella  pousada  em  que 
esta  todas  sam  spirituaes  e  altas.  Procu- 
ra algum  gosto  delias,  porque  doutra  ma- 
neyra  debalde  te  chamas  Christam.  As- 
senta no  meyo  de  teu  coraçam  aquellas 
abrasadas  palauras  que  sam  Paulo  te  dis- 
se na  Epistola  da  Missa  do  Gallo  e  cuy- 
da  nellas  e  amolentarteham,  e  inflamar- 
teham,  por  duro  e  frio  que  sejas.»  Ibi- 
dem. 

—  Sam,  forma  antiquada  do  verbo 
sei-,  por  sou.  Os  antigos  diziam  som,  e 
sam. 


Kão  me  hajais  por  estrangeiro, 
Lusitânia,  descan(;ao, 
Qu'eu  sam  Maio  o  messageíro 
E  principal  eavalleiro 
Da  côrtc  de  vosso  pac. 

GIL  VICENTE,  FAKÇAS. 


Eu  sam  Genebra  Pereira, 
Que  moro  alli  á  Pedreira, 
Vezinlia  de  João  de  Tara, 
Solteira,  ja  velha  amara. 
Sem  marido  e  sem  nobreza. 


Fui  criada  cm  gentileza 
Dentro  nas  tripas  do  Paço, 
E  por  feitiços  qu'eu  faço. 
Dizem  que  sam  feiticeira. 


SAMARITANO,  A,  adj.  (Do  latim  sama- 
ritanus).  Concernente  a  Samaria. 

—  Caracteress  samaritanos ;  antigos  ca- 
racteres hebraicos. 

—  S.  VI.  Membro  de  uma  seita  judaica 
que  existe  ainda  em  alguns  paizes  do 
Levante. 

—  Figuradamente :  Uin  bom  samari- 
tano ;  um  homem  [bom,  misericordioso  e 
humano. 

SAMÃO,  s.  Vid.  Salmão  (peixe). 

SAMARRA,  ou  ÇAMARRA,  s.  /.  Roupa 
pastoril  de  pelles  de  ovelhas  preparadas, 
ficando  com  a  de  lã,  da  fiirma  de  dalma- 
tica ;  ou  é  palhas ;  ou  talvez  de  panno, 
ou  pellote  do  campo. 

—  Os  ecclesiasticos  usam  de  umas  tú- 
nicas abertas  por  diante,  com  mangas,  e 
umas  tiras  largas  soltas,  á  similhança  de 
mangas  perdidas;  é  vestido  caseiro,  ou 
de  noute,  e  passeio. 

SAMARRÃO,  s.  m.  Grande  samarra, 

SAMARRO.  Vid.  Samarra. 

SAMBAIA.  Vid.  Zumbaia. 

SAMBAJON,  s.  m.  Termo  de  pharma- 
cia.  Diz-se  ser  remédio  feito  de  gemmas 
de  ovos  batidas  com  vinho,  assucar,  âm- 
bar e  canella. 

SAMBARCO,  s.  m.  Termo  antiquado. 
Sapato  ou  chinelo  velho, 

—  Outr'ora  parece  ter  significado  tra- 
vessa que  se  lançava  á  porta  por  fora, 
por  auctoridade  judicial,  quando  se  fazia 
penhora  nos  bens  da  casa,  que  diziam 
çambarcar,  Vid.  Cambarcar. 

- —  Faxa  peitoral,  que  se  colloca  nas 
cavalgaduras  do  coche,  piara  os  tirantes 
não  magoarem  os  peitos.  Vid.  Açambar- 
car. 

—  Moedas  de  sambarcos  ;  moedas  cu- 
nhadas em  sola,  de  que  só  ha  uma  tradi- 
ção vaga,  e  não  monumento  authentico 
em  Portugal. 

—  Figuradamente :  Faxa  ou  cinta  lar- 
ga peitoral  das  mulheres,  para  levantar 
os  peitos. 

SAMBENITAR,  v.  a.  Pôr  sambenito  a 
alguém. 

—  Emprega-se  também  figuradamente. 
SAMBENITO,   s.   m.  Vestido   de   sacco 

bento,  que  na  primitiva  egreja  se  punha 
aos  penitentes,  e  o  levavam  nos  autos  de 
fé  os  penitenciados  pela  inquisição,  e  eram 
duas  peças  de  baeta  amarella  e  verme- 
lha, que  se  enfiavam  pelo  pescoço,  e 
caiam  sobre  o  peito  e  costas  em  aspa. 


396 


SAMF 


8A0 


SAO 


—  Insígnia  mal  raorcci<la  do  honra. 

—  LOC. :  Faznr  de  sambenito  (/ala; 
gloriar-80  de  cousa  vorgoalio.sa,  dcslion- 
rosa. 

f  SAMBEXUGA,  «.  /.  Vid.  Sanguesuga. 
—  «  E  cuticií.uidoso  do  ni')»  com  j;raii(lL!i 
assoiitoa  ijuo  so  fizoraõ  sobro  Íhso  por  os- 
crivitoí  piiblicoi!,  ao  partiraij  logo  aquollo 
mosmo  dia,  no  qual  ja  quasi  uoito  clio- 
gainos  a  uma  villa  quo  se  cliainava  Guu- 
doxiiau,  na  qual  lomo.s  mctidoí}  om  uma 
luaziiiorra  feita  como  cisterna  debaixo  do 
cliaõ,  onde  estivemos  aquoila  noite  com 
graudissimo  tral)aliio  em  hum  cluirco 
dagoa  om  quo  avia  iufinidaile  de  sambe- 
sugas,  das  quais  todos  ficamos  assaz  ou- 
sanguontados.»  Feruiio  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  139. 

SAMBIXUGA,  s.  /.  Vid.  Sanguesuga. 

SAMBLADOR,  s.  m,  Ilomeui  quo  sani- 
Lla,  ([ue  ajunta  madeira  lisa,  e  a  cu-ta 
cm  meia  escpiadria,  faz  lavores  o  moldu- 
ras, uuirmonto  nos  ângulos  o  juntaras 
das  obras  de  carpinteria. 

SAMBLADURA,  s.  /.  Juntura  de  uma 
taboa,  ou  pei;a  de  madeira  com  outra  nos 
anguins. 

SAMBLAGEM,  s.  /.  (Do  franccz  asmem- 
Ihuje).  O  trabalho,  obra,  lavor  do  sam- 
blador. 

SAMBLAR,  V.  a.  (Dofrasccz  assembler). 
Fazer  obra  de  samblador  em  alguma  jun- 
tura, ou  aniíulds  de  madeiras,  que  se  ajun- 
tam, Vid.  Ensamblar. 

—  Alguns  dizem  antes  sambrar,  ensam- 
hrar,  e  assim  todos  os  derivados. 

SAMBUCA,  s.  /.  (Do  latim  sambuca). 
Um  instrumento  musico  antigo  da  feição 
de  harpa. 

—  Uma  machina  militar  da  forma  do 
harjia. 

SAMBUCO,  s.  m.  Batel,  lancha,  ou  pe- 
quena embarcação  costeira  usada  na  ín- 
dia. 

SAMBURÁ,  s.  m.  Termo  do  Brazil.  Ces- 
to de  sipi'),  pequeno,  com  fundo  largo  c 
bocca  afunilada ;  n'elle  levam  a  isca  os 
pescadores  de  miúdo,  o  recolhem  o  quo 
pescam :  o  pobre  jicudura  e  guaida  a  car- 
ne socca,  o  peixe  da  sua  provisão. 

SAMBUXA,  s.  /.  Vid.  Sacabuxa. 

-]-  SAMEADO,  jjait.  pass.  de  Samear. 
Vid.  Semeado. 


Bolo  do  trigo  alqucivado 
Com  doiiâ  ratos  no  meu  liir, 
Por  miuha  mào  samcatlo. 
Colhido,  moido,  amassado, 
Kas  costas  do  alguidar. 

OIL  VICESTE,  FARÇAS. 


f  SAMEAR,  V.  a.  Vid.  Semear. 

SÃMENTE,  adv.  (De  são,  e  o  suffixo 
«meute»i.  De  uma  maneira  sã  o  saudá- 
vel. 

—  Com  saúde. 

—  Sincorameute,  com  animo  sincero. 
SAMFENO,  s.  »/i.  (Do  francez  sainfoin). 


Planta  pcrcnnc,  conhecida  também  polo 
nome  de  euparitlla,  de  que  se  fazem  pra- 
dos artiticiaes. 

SAMICAS,  8.  VI.  Termo  popular.  IIo- 
moui  pojjro  de  espirito. 

—  Ailv.  ant.  Por  ventura. 

SAMITARRA,  ».  f.  Vid.  Cimitarra. 

SAMNITAS,  01.  SAMNITES,  s.  m.  plur. 
(Do  latim  naiiiniteíi).  Antigos  povos  da 
Itália. 

SAMNITICO,  A,  adj.  Doa  samnitcs. 

SAMO,  *.  í/l.  A  parto  tenra  c  branca 
da  arviuc,  outro  a  casca  e  o  corne;  al- 
vura, alburiio,  o  branco  entre  casco  c 
miolo,  ou  entre  o  casco  o  o  cerne. 

SAMOCO,  s.  «í.  Termo  de  botânica. 
Aivuii;  ciinhocida  também  pelo  nomo  do 
faia  ilns  illias. 

SAMOLO,  s.  m.  Tormo  de  botânica. 
Planta  conhecida  também  pelo  nome  de 
liítitiKicliia,  e  nwrriuu  de  agua, 

SAMOLOIDE,  s.  f.  Planta;  cspccie  de 
chil  da  .Jamaica,  e  Imlias  occidentaos. 

1.)  SÃO.  Abreviatura  de  Sancto.  Vocá- 
bulo usado  antes  dos  nomes  que  princi- 
piam por  letra  consoante,  Vid.  San.  — 
u  El  Rei  no  mesmo  dia  que  a  Riiinha  fa- 
leceo  se  foi  a  Pcralonga,  onde  esteue 
duas  sonuinas,  e  depois  se  voo  ao  Mos- 
teiro Denxobregas  da  Ordein  dos  azues 
de  Saõ  loam,  donde  passados  oito  dias  se 
tornou  para  a  cidade,  com  cuja  vinda  se 
alegrarão  todos,  e  se  reformou  a  Corte, 
e  começou  el  Rei  denteuder  em  negó- 
cios.» Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  4,  cap.  19. 


Quem  digo. 
Quem  ?  a  senhora  hoy  comigo  ? 
lX'ixae-a. 

Por  São  Fernando 
quo  está  agora  cantando 
como  no  vcnia,  amigo. 

ASTOSIO  PBKSTES,  AUrOS,  p.lg.  115. 

Se  eu  perder  o  compadrado 
dou-mc  a  Hão  Bartholameu. 
Dizem-me  que  is  dormir  fora, 
que  é  tacha  para  casado. 
iBiDK»,  pag.  139. 

EuV! 
dou-mc  a  >S"o  Bartliiilonicu 
mcttcr-mc  cm  boa  fadiga  ! 
tBiDF.M,  pag.  399. 

2.'!  SÃO,  por  SOU.  Forma  antiquadi\  do 

verbo  ser.  Vid.  Sam. 

E  sobre  que  é  isso? 

Eu  s'io 
do  conselho  d 'Eiva,  o  Aldrào, 
d'um  logar  nome  arrevesso 
que  chamam  —  Justii^a  avesso. 

ANTÓNIO  rilESTKS,  ACTOS,  pag.   141. 

—  Forma  do  verbo  ser  na  terceira  pes- 
soa do  plural  do  presente  indicativo. 


Ali  fôo  Bcus  trubolhú»  e  fadigai, 
Ali  moHtram  vi^ror  iiuuca  (MjKTado : 
TacH  andavam  a»  Nviii(ih;is  c<torvando 
A  Uciitt!  |>ortuguczu  o  íiin  m-faiulo. 
CAM.,  LU».,  caiit.  2,  Cát.  'i''i. 

Entilo  logo  llicii  parccirm 
Ao»  outro*,  que  H&o  inainadoí ; 
E  os  que  iHo  mais  privudui, 
Sibrc  cllcs  LHtrciacccm. 

IBIDKll,  SKLEUCO. 


Deixo  ar|ui-Uc«  (|uc  tomão  por  cucado 
De  seus  vicius  e  vida  viTgoaboita 
A  nobreza  Ai-  »<-uH  aiitcces.sorrs, 
E  nilo  cuidáo  de  si  que  fAo  peorc». 

)I>Ea,  EPISTOLA    1 . 


—  « Porém  cucobria-o  o  melhor  que 
podia;  forçando  a  vontade  por  uitar  dod 
cumprimentos  necessários  á  amizade.  Que 
este  bem  tem  os  pradenteá,  que  inda  as 
cousas  que  forçaclameute  fazem,  lhe  são 
agradecidas.»  Francisco  de  Moraes,  Pal- 
meirim d'Inglaterra,  cap.  lui.  —  «  Oh 
cavalloiro  do  Salvagem,  bem  bastara  pêra 
vos  vingardes  de  mim  o  damno  que  me 
tendes  feito,  e  não  quererdes  me  fosse 
forçado  padecer  esta  vergonha,  que  não 
são  uduhas  cousas  tão  encubertas  a  vú.>, 
que  nas  mostras  delias  não  conheçais  mi- 
nha vontade,  e  parece  que  té  iiisto  me 
perseguiu  a  ventura,  >  Ibidem,  cap.  124. 

—  «E  finalmente  tem  posta  a  vida,  o 
morte  em  tão  breve  termo,  como  s.^o  três 
dedos  de  taboa  ád  vezes  comesta  de  Bu- 
sano,  c  no  descuido  de  cahir  em  buma 
povide  de  candca  em  lugar  onde  se  possa 
atear,  e  em  outros  mui  particulares,  e 
miúdos  casos,  do  que  resulta  tào  grande 
cousa,  como  vemos  cm  Utnto  número  <le 
nãos  que  são  perdidas.*  Barros,  Década 
2,  liv.  7,  cap.  1.  —  «E  da  levarem  del- 
ias té  o  porto  de  Judá  huma  não,  levam 
vinte  e  cinco  té  trinta  cruzados,  e  nave- 
gam este  mar  com  dous  ventos  geraes, 
que  são  Levante  e  Ponente;  e  quando 
não  são  mui  tendentes,  ventam  alguns 
terrenhos,  o  porém  poucas  vezeá.t  Ibi- 
dem, liv.  8,  cap.  1.  — «  Este  he  o  oíBcio 
dos  pregadores,  que  proseguem  a  obra  da 
redenção,  e  continuào  o  que  Ciuristo  co- 
meçou no  mundo:  este  deue  ser  o  intento 
dos  ouuintes,  quando  vem  buscar  prega- 
ção, e  assi  03  predadores  são  coadjutores 
de  Christo  na  obra  da  redenção.»  Paira 
de  Andrade,  Sermões,  part.  1,  pag.  l.'!>7. 

—  €  Os  moradores  delia  são  gente  fraca 
e  desarmada,  nem  tem  .artilharia,  nem 
cous.a  que  possa  prejudicar  a  quaisquer 
quinhentos  bõs  soldados  que  a  comete- 
rem.» Fornão  ilendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  132. —  «São  tam  bem  dignos 
de  muito  louuor,  por  chegarem  por  terra 
de  tantos  imigos  a  huma  tal,  c  tam  me- 
moraucl  cidade,  c  tam  metida  no  ser 
como  o  esta  de  Marrocos  he,  de  quem  091 
escriptores  antigos  e  modernos,  Oregoa^f 
Latinos,  c  .^Vrabios,  tantas,  c  tào  memo*] 


SAO 


SAO 


SANC 


397 


raueis  cousas  tem  ditas,  do  que  tudo  hc 
digna  de  muitos  mais  louuores,  se  os  delia 
mores  quisessem  poer  por  escripto.»  Da- 
mião de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  3,  cap.  74. 


iy[anda  hum  delU'9  a  Goa,  que  encuberto 
Co'a  figura  do  meu  foi'to  Silveira 
Ao  Viâo-Rei  Xoronlui  faça  certo 
(Apressando  a  veloz  sua  carreira) 
Dos  meus  que  estão  cm  Diu  o  grande  aperto. 
Porque  mandar-lhcs  logo  ajuda  queira  ; 
Os  quaes  a  tanto  estremo  são  chegados 
Que  das  mulheres  ja  são  ajudados. 

FRANCISCO    DE    ANDRADE,    PBIMEIRO    CEBCO  DE  DIU, 

cant.  16,  est.  70. 

—  « E  Tliomas  Porcacho  lhe  da  mais 
trezentas  e  trinta;  de  largo  quasi  cento 
e  cincoenta,  e  de  comprido  perto  de  tre- 
zentas :  e  assi  das  três  mayores  que  até- 
gora  se  tem  descobertas,  que  saõ  Sama- 
tra  na  Assia  junto  de  Malaca ;  Inglaterra 
nas  partes  do  Norte  na  Europa;  Sam 
Lourenço  he  a  mayor  de  todas.»  Fr.  (jas- 
par  de  S.  Bernardino,  Itinerário  da  ín- 
dia, cap.  2. — -(íilas  porque  ilarco  Paulo 
na  sua  viagem  que  fez  de  Veneza  á  Chi- 
na trata  de  huma  aue  charaade  Ruc,  que 
se  cria  nestas  partes,  direy  o  que  elle 
conta,  (porque  se  he  verdade)  pêra  mi  he 
marauilhosa;  Diz  que  tem  apparencia  de 
Águia  cujas  azas  cada  huma  em  comprido 
tem  doze  passos,  os  quaes  elle  não  diz  se 
são  Geométricos,  ou  dos  outros,  e  nellas 
tanta  força,  que  leuanta  da  terra  nas 
vnhas  hum  Elephante  tào  alto,  que  lar- 
gãdoo  se  faz  em  pedaços,  c  o  come. » 
Ibidem.  — «  E  muytas  ha  em  as  Ilhas  de 
Maldiua,  cujos  fructos,  saõ  de  tanto  va- 
lor, e  estima,  como  de  notauel  virtude. 
Mas  nà  temos  de  que  nos  marauilhar, 
que  pois  esta  aruore  foy  a  que  Chi-isto 
nosso  Redemptor  tomou  em  sua  morte, 
pêra  nella  pregadas  suas  màos,  entregar 
a  vida.»  Ibidem.  — «Ao  menos  nào  po- 
derey  negar,  diz  V.  S.  que  os  Portugue- 
ses, e  os  Hespanhoes  são  os  homens  em 
que  se  acha  o  mayor  amor,  e  a  mayor 
teraura. »  Cavalleiro  de  Oliveira,  Cartas, 
liv.  1,  n.°  40.  —  «  Em  uma  couza  que  se 
parece  muito  o  conselho  com  o  dinheiro, 
e  he,  que  ambos  saõ  muito  milagrosos. 
Três  milagres  muito  grandes  achou  um 
discreto  no  dinheiro ;  naõ  iia  quem  os 
naò  experimente,  e  p  ir  serem  muito  or- 
dinários, ninguém  faz  memoria  delles. 
Primeiro,  que  nunca  ninguém  se  queixou 
do  dinheiro,  que  lhe  pegasse  doença.» 
Arte  de  furtar,  cap.  30. 

Olhe,  09  planetas 
de  mi  e  meu  amo  sào 
de  mui  gentil  conjunção  ; 
de  planetas,  sào  pernetas 
no  capricórnio  grilhão. 

ASTOXIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  495. 

E  como  03  seus,  Senhor,  saò  desse  porte, 
Se  deve  recear,  que  levemente 


A  sua  appcllação  possaò  ncgar-lhe  ; 
Asaim,  por  evitar  lo:igas  ambages. 
Que  dinheiro,  paciência,  e  tempo  gastaõ 
Será  melhor,  que  Vossa  Senhoria 
Appelle  logo,  —  coram  probo  viro. 
A.  Dixiz  DA  CRUZ,  HISSOPE,  cant.  4. 


N'um  canto  do  escaler,  humilde  e  absorto 
Era  pensamentos  que  nào  sào  da  terra 
Um  velho,  em  que  atclli  uão  atteutaram 
Indifferentes  olhos,  se  assentara. 
Alvejavam-lhe  as  cans  das  longas  barbas 
No  burel  negro  que  lhe  cobre  o  peito. 
GARRETT,  camõks,  caut.  1,  cap.  13. 

3.1  SÃO,  SÃ,  ou  SÃA,  aJj.  (Do  latim 
sanus).  Que  está  de  saúde,  que  está  cu- 
rado. —  «  Alguns  dias  passaram  depois  do 
vencimento  de  Albayzar  primeiro  que 
elle  nem  o  príncipe  Floreados,  fossem 
sãos  de  suas  feridas.  O  imperador  com  a 
gloria  daquelle  vencimento  andava  tào 
ledo  e  contente,  que  nunca  nenhum  tem- 
po o  foi  mais. »  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  90. 

—  Inteiro,  sem  lesão.  —  «Os muros  sam 
muy  altos  e  muy  largos,  de  cantaria  e 
torrejados  de  muito  altas  e  fermosas  tor- 
res :  e  todos  ainda  muy  inteiros  e  sãos : 
disseramme  que  fora  dos  Gregos.»  An- 
tónio Tenreiro,  Itinerário,  cap.  29. 

—  Não  ter  osso  são ;  estar,  ou  fazer 
doente  de  todo  o  corpo,  moído. 

—  Homem  são ;  homem  sem  defeito 
moral,  recto,  probo,  de  exccllentes  inten- 
ções. 

—  Fructa  sã;  fructa  que  nào  está  po- 
dre. 

—  Sino  são ;  sino  não  rachado. 

—  Figuradamente:  Bom. —  Costumes 
sãos.  —  «  E  posto  que  pêra  isto  não  bas- 
tasse vosso  estado  e  merecimento,  as  per- 
feições de  vossa  formosura  e  parecer  são 
pêra  desbaratar  vontades  livres,  e  fazer 
extremos.»  Francisco  de  Moraes,  Palmei- 
rim dTnglaterra,  cap.  95. 

E  ás  formos.13  campinas  do  Mondego 
Fez  do  Hélicon  descer  as  áureas  musas. 
Claros  lumes  da  terra,  sãos  costumes, 
Constituições  e  leis  co'enc  floreeem. 

GARRETT,  CAMÕES,  CaUt.  7,  Cap.  20. 

—  Salubre,  sadio,  nào  doentio. 

Estes,  inda  que  assaz  os  apertassem 
As  dores  que  as  feridas  lhes  fazião, 
E  mais  a  descansar  os  obrigassem 
Que  aos  trabalhos  que  aUi  se  offerecião, 
Fez-lhes  a  necessidade  que  engeitasscm 
O  descanso  que  assaz  mister  haviào, 
E  que  como  o  mais  sào  que  alli  se  veja 
Entrem,  ou  no  trabalho,  ou  na  peleja. 

F.  d'axdbade,  primeiro  cerco  de  DIB,  cant.  17, 
est.  11b. 

—  Voz  sã;  voz  que  nào  dá  pontos  fal- 
sos, desafinados,  trémulos. 

—  Que  conserva  a  saúde. 

—  Salvo,  sem  perigo,  sem  lesão,  que- 
I  bra,  detrimento,  rachadura. 


SÃO-SIMONISMO,  s.  m.  Systema  phi- 
losophico  e  suciai,  estabelecido  por  Cláu- 
dio Henrique,  conde  de  Sào  Simào.  Os 
seus  principios  sào :  a  associação  univer-. 
sal;  abolição  de  todos  os  privilégios  de 
nascimento ;  dar  a  cada  um  conforme  a 
sua  capacidade,  o  a  cada  capacidade  se- 
gundo as  suas  obras;  abolição  de  heran- 
ças; emancipação  do  sexo  feminino,  tor- 
nando-o  igual  ao  sexo  masculino.  A  es- 
chola  de  São  Simão  não  foi  de  longa  du- 
ração, pois  que  seus  sectários  tendo-se 
desavindo  entre  si,  seguiu-se  a  dissolu- 
ção, e  o  governo  francez  processou  os 
priucipaes  chefes,  accusando-os  de  escre- 
verem nos  seus  jornaes  contra  os  bons 
costumes  e  moral  publica,  e  fez  cessar  as 
suas  reuniões  em  1832. 

SÃO-SIMONISTA,  adj.  e  s.  2  c/en.  Pes- 
soa que   segue  o  svstema  de  Sào  Simão. 

SÃO  THOMÉ,  s.  'm.  Moeda  d'om-o  mais 
fino,  que  na  Ásia  bateu  Garcia  de  Sá; 
entravam  67  em  marco  mais  2  tangas,  e 
8  grãos  e  ~  do  grão. 

SAN,  ou  SAM.  Abreviatura  de  Sancto, 
que  se  coUoca  antes  dos  nomes  que  co- 
meçam por  letras  consoantes  —  San  Pe- 
dro; San  Tkiago.  Yid.  São. 

O  precioso  Santo  Arelhano, 

Martyr  bem-aventurado, 

Tu  que  foste  marteirado 

Neste  mundo  cento  c  hum  anno  ; 

O  San  Garcia 

Moniz,  tu  que  hoje  em  dia 

Fazes  milagres  dobrados, 

Dá-lhe  esfcirço  o  alegria, 

Pois  que  es  da  companhia 

Dos  penados. 

GIL   VICENTE,  FAUÇAS. 

—  Forma  feminina  de  São.  Vid.  este 
vocábulo.  —  «Que  querendo  antes  ser- 
vir-se  e  ajudar-se  da  fortaleza  de  seus 
membros,  que  d'outro  nenhum  saber,  se 
feriam  tào  mortalmente,  que  alem  de 
desbaratarem  as  armas,  traziam  tantas 
feridas,  que  em  pouca  parte  de  seus  cor- 
pos havia  cousa  sãa. »  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  dluglaterra,  cap.  94.  — 
«E  o  pobre  do  homem,  porque  lhe  naõ 
paguem  com  cruzes  os  seus  cruzados, 
dará  outros  seis  mil,  e  que  o  deixem  lo- 
grar suas  queixadas  sans,  e  levar  suas 
brancas  limpa.s  ao  outro  mundo,  ainda 
que  vá  com  a  bolça  limjja,  e  sem  bran- 
ca.» Arte  de  furtar,  cap.  23. 

SANAR,  V.  a.  (Do  latim  sanare).  Sa- 
rar, curar. 

—  Figuradamente :  Remediar  falta, 
erro,  culpa. 

SANATIVO,  A,  adj.  Que  sara,  que 
cura. 

SANAVEL,  adj.  2  gen.  Curavel,  que  se 
pôde  sanar. 

—  Figuradamente :  Remediavel.  Vid. 
Sanar. 

SANBENITO.  Vid.  Sambenito. 
SANCADILHA,  s.  f.  Cambapé  que  se  dá 
para  fazer  cair  alguém. 


398 


SANC 


SANC 


SAKC 


—  Lançar  sancadilha;   piini  (l.rriliar. 

—  Usar  de  sancadilha;  furtar  o  arri- 
mo, e  fiiztir  cair. 

SANCARRÃO,  «.  VI.  Auginentativo  de 
Sanco. 

SANCÇAO,  «.  /.  iI->o  latim  sanctio). 
Acto  jjclo  (lual,  u'uin  fçovoriio  constitu- 
cional, o  soberano  ajjprova  uma  kl ;  iip- 
provaçãi  som  a  qual  não  seria  executó- 
ria. —  Esta  lei  ainda  não  recebeu  a  sanc- 
ção. 

—  Approvaçào  daila  a  uma  cousa.  — 
Esta  palavra  não  recebeu  a  sancção  do 
uso. 

—  A  pena,  ou  a  recompensa  que  uma 
lei  dá,  para  asscfíurar  a  sua  execuyão. 

—  Figuradamente:  Termo  do  iôro.  De- 
terminação, coulirmR(,'rio,  ívpprovação  su- 
perior. 

—  No  Bra/.il  slgnitiea  o  assentimento 
dos  presidentes  da.-i  províncias  ás  delibe- 
rações das  respectivas  assembleias  pro- 
vinciaes,  para  que  íiquem  sondo  leis  n'es- 
Bas  provindas. 

—  Constituição,  ordenança  em  mate- 
iras ecclesia^tica.s;  usado  ordinariamente 
com  a  palavra  in-agmatica. 

SANCCIONADO,  part.  pass.  de  Sanccio- 
nar.  —  A  lei   sauccionada  p<;Zo  principe. 

—  Um  uso  sanccioaado  pelo  tempo. 

f  SANCCIONADOR,  (c/j.  m.  Que  sauc- 
cioiía.  —  l'odi:r  sauccionador. 

SANCCIONAR,  v.  a.  Dar  a  sancção,  ap- 
provar,  conlinuar,  ratiticar. 

SANCHINAS,  s.  /.  plur.  Copumclos. 

SANCHRISTÃO.  Vid.  Sacristão. 

SANCO,  *■.  in.  A  caucUa  da  ave,  des- 
de oudo  tica  descoberta  da  penna  o  da 
carne. 

SANGRESCHÃO,    s.  m.   Vid.  Sacristão. 

SANCTA  SANCTORUM,  s.  m.  \\)o  latim 
sanda  canctorum,  o  santo  dos  santos).  A 
parte  do  tabernáculo  mais  recôndita  onde 
o  summo  poiítitiee  entrava  uma  vez  uo 
anuo  a  consultar  os  oráculos  do  Deus. 

SANGTIACiO,  s.  m.  Vid.  Santiago. 

■}•  SANCTIDADE,  *■.  /.  Vid.  Santidade. 

—  II  Oõ  a  qual  obra  daria  causa  a  (jue 
Bua  Sanctidade  incitasse  os  Revs  e  Prin- 
cipes  chi'istãos  occupados  em  guerra  do 
seus  próprios  membros,  a  se  ajuntarem 
com  elle  sua  cabeça  per  amor  e  concór- 
dia, pois  nelle  estauão  vnidos  per  fee.» 
Barros,  Década  1,  liv.  8,  ci\\i.  '2.  —  «  E 
porque  com  a  copia  das  muitas  agoas 
que  loua  cm  que  parece  querer  competir 
cora  o  Gauge,  ou  per  qualquer  outra  opi- 
nião do  gentio,  como  ao  O  auge  elles  cha- 
mão  Ganga,  c  tem  que  as  suas  agoas  sào 
sanctas  (segundo  adiante  veremos)  assi  a 
estotro  de  que  falíamos  chamào  Ganga,  e 
dizem  ter  a  mesma  sauctidade.»  Ibidem, 
liv.  9,  cap.  1. —  «E  isto  que  aqui  pon- 
tamos  a  vossa  Sauctidade  se  disso  tem 
vontade  como  cremos,  tudo  está  em  sua 
mão,  compoendo  os  ódios,  dissensões,  e 
discórdias  dos  Reis,  c  Príncipes  Ckiús- 
tãos,   com  doçura  damor,   o  paz,  o  que 


emprendeo  o  Papa  Alexandre  vosso  ante- 
cessor, amocstando  pêra  isso  alguns  Priíi- 
cipos  Clu'istãos,  dos  quaes  cu  fui  hum, 
mas  isso  não  ouue  clfecto,  uem  cremos 
que  fosso  ])or  outra  causa  somente  peru 
Deos  guardar  esta  obra  tão  saneta,  c  tào 
j)iadosa  pcra  vosso  tem|)0.i  Damião  de 
Góes,  Chrouica  de  D.  Manoel,  part.  1, 
cap.  'Xò.  —  «E  quanto  as  ameaças,  e  vin- 
gança que  o  dito  Soldam  publica  com  pa- 
lauras  de  muita  soberba  contra  o  Sepul- 
cliro  de  lesu  Christo,  isso  nam  podemos 
deixar  de  sentir  com  muita  dor,  e  triste- 
za, nem  iie  sem  razão,  (juando  o  Soldam 
sereve  a  vossa  Sauctidade,  que  temos 
por  verdadeira  cabeça  de  nossa  Fé,  não 
tendo  reeco  de  dizer  cousas  de  deslion- 
ra,  e  abatimento  da  mesma  Fè.»  Ibi- 
dem. —  «E  daqui  fica  claro  quam  longe 
estaua  a  Virgem  sagrada  de  lho  tocar  a 
pena  desta  ley,  pois  cõcebeo  pcllo  Spiri- 
to  sancto  e  pario  aquclle  que  he  a  fonte 
de  toda  a  limpeza  c  sauctidade.  Mas  sem 
ser  obrigada,  eila  voluntariamente  se  so- 
meteo  à  ley  geral  das  paridas :  pêra  nos 
dar  exemplo  de  obediência  e  hundldade, 
assi  como  seu  filho  sem  ser  obrigado  se 
sonieteo  à  ley  da  eircuucisam.»  Frei  Bar- 
tholomeu  dos  Jlartyres,  Catecismo  da 
doutrina  christã. 

t  SANCTISSIMO,  A,  adj.  Vid.  Santís- 
simo.—  a  Aristóteles  o  gaba  de  gentil 
memoria,  e  domestico,  e  diz  que  ellc  sò 
dos  in-acionaes,  adora  os  Reys,  e  Prínci- 
pes da  terra ;  e  eu  digo  que  vi  em  Goa 
adoi-arem  ti-es  o  Sauctissimo  Sacramento 
postos  de  giolhos,  à  porta  da  Sc,  o  dia 
octauo  da  Paschoa,  em  que  na  índia  se 
faz  a  Procissão  do  Corpo  de  Deos,  por 
respeito  das  calmas.»  Fr.  (íaspar  de  S. 
Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap.  lõ. 
—  «Isto  tudo  fez  lesu  Chiásto,  porque 
era  ekeo  de  diuindade,  e  a  mesma  diuiu- 
dadc  estaua  na  sua  alma,  e  no  seu  san- 
ctissimo  corpo,  e  esta  diuindade  deu  vir- 
tude a  Cruz,  a  qual  diuindade  elle  teue 
seuipre,  e  tem  com  o  Padre  em  Trinda- 
de, e  unidade.»  Damião  de  Gocs,  Chro- 
nica  de  D.  Manoel,  pai-t.  3,  cap.  130.  — 
tE  assi  o  filho  de  Deos  logo  ajuntou  à 
sua  pessoa,  assi  a  alma,  como  o  corpo, 
ficando  verdadeiro  Deos  e  verdadeiro  ho- 
mem, duas  naturezas,  diuina  e  hunuina, 
em  huma  pessoa,  ornando  a  natureza  di- 
uina aquella  sanctissima  alma,  o  infinita 
graça,  e  de  todolos  dòcs  sobreuaturaes,  e 
sabeduria  infinitamente,  e  sem  medida.» 
Fr.  Bartholomcu  dos  Jlartyres,  Catecis- 
mo da  doutrina  christã. 

SANCTO,  A,  adj.  Vid.  Santo.  —  A 
Sancta  iyieja  catholica  rovjana.  —  c  O 
que  hc  contra  Direito  da  Sancta  Igreja, 
e  contra  a  Ordenaçam  de  alguuus  nossos 
antecessores :  e  pediaõ-nos  por  mercê, 
que  mandássemos  que  esto  se  nom  fizes- 
se, e  puséssemos  algum  escarmento  áquel- 
les,  que  contra  esto  fossem.»  Ord.  Âffons., 
liv.  4,  tit.  17,  §  1. 


Ca  vou  fica  cate  Scuhor 
]'ubremciito  Ht^pultaUu : 
Kculiora,  iw^ju  lembrado 
Que  cm  voií:íu  êawto  louvor 
O  achei  sempre  occupuilo. 

OIL   VICEXTE,  OBHAIi   TAaiAg. 

1'oloB  tancto»  cvangelhoí 
Que  levuiii  tudo  ao  cabo, 
L/l  onde  cabo  nào  ha. 
K<:)ml>aÍA  e  daiu  a  entender 
Zombando,  que  m 'enteudeiíi. 
meu,  FABÇAs. 


lA>go  eu  adivinhei 
Lá  na  mis^ia  onde  eu  cgta%'a, 
Como  a  miiili.i  Iiicz  lavrava 
A  tarefa  ()uc  Ih 'cu  dei. 
Acaba  esse  travesseiro. 
E  naceo-to  alf^u  unheiro; 
Ou  cuidas  que  hc  dia  tancto  f 


—  tE  vendo  eu  quo  ao  presente  tinha 
caminho  aberto,  inda  que  perigoso,  pêra 
poder  cumprir  huns  desejos  grandissimos, 
que  sempre  tiue  de  visitar  os  lugares 
Sanctos  de  Mierusalem,  lanccy  ni5o  del- 
le  nesta  boa  conjunção.»  Fr.  Gasjiar  de 
S.  Bernai-dino,  Itinerário  da  índia,  cap. 
5.  —  «Teue  Ale  de  sua  molher  Fátima 
dous  filhos,  hum  que  faleceo  antes  de  ca- 
sar estando  ya  desposado,  e  outro  chama- 
do Ale  Husçaim,  que  foy  pay  de  doze  fi- 
lhos, que  entre  os  Persianos  tiueram  to- 
dos nomes  de  sanctos,  e  destes  procedera 
os  Sophis  da  Pérsia,  em  cuja  memoria 
ordenarão,  que  todos  trouxessem  no  seu 
carapução  Vermelho  doze  preg^as,  ou  do- 
bras, como  de  gorras,  e  isto  ficasse  por 
diuisa  entre  as  duas  imigas  nações.»  Ibi- 
dem, cap.  20.  —  tFundou  esta  Senhora 
também  de  nouo  o  mosteiro  da  inuocação 
da  Madre  de  Deos,  no  valle  Denxobre- 
gas,  junto  de  Lisboa,  e  o  pouoou  de  nouo 
de  freiras  de  sancta  Clara  da  ordem  de 
saõ  Francisco  da  Observância,  que  per 
seus  institutos  comem  .sempre  peixe.»  Da- 
mião de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  4,  cap.  26.  —  «Alem  dos  sanctos 
que  dixe  tem  os  Chins  outros,  de  cujas 
vidas  tem  lenda,  e  lhes  fazem  suas  fes- 
tas pelo  descurso  do  anuo.»  Ibidem,  cap. 
25.  —  «  Crem  os  Chins  em  hum  so  Deos 
criador  de  todalas  cousas,  adorào  trcs 
imagens  de  homem  todas  trcs  semelhan- 
tes, fiizem  grande  honrra  a  imagem  de 
huma  molher,  que  tem  por  sancta,  a  que 
chamào  Nãma,  que  elles  crem  que  he 
auogada  de  todttí  ante  Deos,  assi  dos  que 
andam  pella  terra,  como  dos  que  nauc- 
gaõ  pelo  mar,  tem  outra  saneia,  que  foi 
filha  de  hum  Rei  de  China,  e  se  retirou 
do  mundo  a  viuer  em  religiam.»  Ibidem. 

digo  senhor,  que  rac  espanta 
que  maudaes 

põr  nos  vossos  trcs  portacs 
letra  de  oração  tào  tancta: 
quanto  homem  vivo  vê  mais. 

AXTOXIO  FSSSTBS,  ACTOS,  pftg.  33, 


SAXC 


SAND 


SAXE 


399 


—  « Despois  disto  desprezadas  todas  as 
cousas  inferiores  vos  resignareis  na  von- 
tade do  Senhor,  aparelhado  a  tomar  tudo 
da  sua  sancta  mão,  e  sofrer  com  paciên- 
cia tudo  o  que  vos  enuiar  penoso,  aduer- 
so,  affectuosissimamente  lhe  pedireis  tudo 
o  que  he  necessário,  pêra  vos  vnirdes 
com  elle  perfeitamente :  pêra  isto  inuo- 
careis  a  Virgem  Maria  Màe  de  Deos  por 
vossa  auogada,  a  todos  os  sanctos  por 
vossos  padroeiros,  viuos,  e  defuntos,  e 
particularmente  pellos  que  estaõ  a  vos- 
so cargo.»  Frei  Bartholomeu  dos  Marty- 
re?,  Compendio  de  espiritual  doutrina, 
part.  1,  cap.  11.  —  «Eíte  produz  seis 
etfectos,  conforme  dizem  os  Sanctos.  O 
primeiro  illusíração,  isto  he  huma  sabo- 
rasa,  e  experimental  noticia,  e  conheci- 
mento da  gràdeza  de  Deos,  e  da  própria 
vileza  de  si  mesma.»  Ibidem. —  «Estahe 
a  causa  porque  neste  Domingo  faz  a 
sancta  Igreja  huma  tão  noua  mestura, 
que  despois  de  fazer  procissam  tào  f -sti- 
iial,  ajunta  o  ofEcio  da  payxam,  mestu- 
rando  couías  alegres  com  tristes  e  cho- 
rosas pêra  nos  manifestar,  e  ensinar,  que 
assi  nosso  Redemptor,  como  nos  por  pai- 
xões e  tribulações  auemos  de  alcançar 
as  festas  e  honras  eternas :  e  que  se  nos 
atrae  e  deleyta  a  gloria  e  honra  eterna, 
não  nos  espãte  a  pena.»  Idem,  Catecis- 
mo da  doutrina  christã. 


Que  há  legitimo  Amor,  Amor  culpado, 
Cólera  Sancta.  e  Cólera  que  é  crime, 
Nobre  Altivez,  peccaminoso  Orgixlho, 
Valor  cordato,  c  bruta  valentia. 

F.   M.    DO  S.ISCIMESTO,  OS   JIARTTEES,  1ÍV.    8. 

Eu  theatro  já  fui  maravilhoso 
Do5  milagres  do  braço  omnipotente ; 
Quando  chamou  do  Cáhos  tenebroso 
A  terra,  eu  berço  fui  da  humana  gente: 
O  Saiicto  Povo  de  seus  dons  mimoso 
Entre  os  meus  cscolheo  :  então  patente 
Se  deseobrio  com  magestade  tanta, 
Que  inda  o  Synai  convulso  o  Mundo  espanta, 
j.  X.  DE  MACEDO,  o  oEiESTE,  cant.  1,  est.  31. 


—  « Monges  negros ! »  disse 
Frei  Soeiro  com  gesto  de  desprezo  : 
Pernoitar  sua  alteza  era  tal  mosteiro : 
Senhora,  grande  sando  foi  sanBcnto. 
G.VBBETT,  CAMÕES,  cant.  1,  cap .  7. 

—  Terra  Sancta;  logar  onde  Christo 
morreu,  e  deixou  estampados  os  passos 
da  sua  sagrada  Paixão.  —  «Esta  ordem 
fundou  dom  Phelipe  Duque  de  Borgonha, 
o  bom  dalcunha  de  que  ja  falei  a  imita- 
ção do  verlo  dourado  de  lasom,  e  de  suas 
perigrinações  cora  o  preposito  de  passar 
ha  terra  sancta  fazer  guen-a,  aos  turcos, 
o  que  não  fez  por  lho  storuarem  outros 
negócios,  e  achar  pêra  isso  pouca  ajuda, 
e  fauor  no  Papa,  Reis,  e  Principes  chris- 
tàos.»  Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  4,  cap.  34. 

—  Nosso  sancto  padre;  o  papa.  —  «O 


mesmo  dia  que  elles  offerecerão  o  Ele- 
phante,  e  todolos  outros  does,  veio  ao 
no5SO  sancto  Padre  hum  messageiro  dal- 
guns ponos  Christãos,  que  guardão,  e 
conseruam  a  Fe  da  Egreja  catholica, 
que  morào  junto  com  Hierusalem.»  Da- 
mião de  Góes,  Chroaica  de  D.  Manoel, 
part.  3,  cap.  Õ7. 

—  Quinta  feira  da  semana  sancta ; 
quintíi  feira  de  Endoenças. — -c  Depois 
de  ser  a  vela  por  se  deter  muito  no  gol- 
fam com  bonanças  foi  tomar  a  ilha  de 
Çacotorà  para  fazer  agoada,  e  dahi  fez 
sua  derrota  perà  cidade  Dadem  da  qual 
ouue  vista  quinta  feira  da  somana  san- 
cta, e  a  festa  das  indulgências  ao  meo 
dia  lançou  ancora  no  porto  com  assaz 
trabalho  por  o  mar  andar  de  leuadio.» 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Ma- 
noel, part.  3,  cap.  4o. 

—  O  castello  de  Sancta  Cruz;  castello 
situado  n'uma  parte  da  Africa.  —  «Por- 
que alem  de  suas  grandezas,  elle  acudio 
sempre  com  tanta  gente,  e  nauios,  a  sua 
custa  a  todolos  rebates,  e  cercos,  que  de 
seu  tempo  ouue  nos  lugares  Dafrica,  as- 
si no  castello  Real,  como  no  de  sancta 
Cruz,  Aguz,  çafim,  Azamor,  Mazagão, 
Septa,  Tanger,  Arzilla,  e  Alcácer  ceguer, 
elle  em  pessoa,  ou  seu  filho  herdeiro  loam 
Gonçaluez,  ou  quando  não  podião  ir  man- 
dauam  seus  parentes,  e  amigos.»  Damião 
de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3, 
cap.  11. 

7  SANCTUARIO,  s.  m.  Yid.  Santuário. 

Jamais  deve  o  fragor  da  guerra  insana 
O  Saitcfuario  profanar  das  Musas. 
Tolvo  ligeiro  ao  Sol,  eu  tomo  aos  Astros, 
Abrem-se  as  portas  do  purpúreo  dia, 
De  Febo  o  rosto  assoma,  a  Luz  se  entorna. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  SATCEEZ.\,  Cant.  1. 

SANDALHA,  s.  f.  Yid.  Sandália. 

SANDÁLIA,  s.  /.  (Do  latim  sandalium). 
Calçado  que  é  uma  sola  de  sapato  atada 
por  baixo  da  planta  do  pé  com  correias 
repassadas  por  cima  do  peito  do  pé; 
abarca. 

—  Calçado  antigo  de  que  usavam  as 
senhoras. 

SÂNDALO,  s.  m.  Certa  arvore,  cuja  ma- 
deira aromática  é  de  cores,  branca,  roxa 
ou  vermelha,  e  cetrina  ou  pallida :  é 
usado  na  pharmacia,  e  na  Ásia  para  per- 
fumes.—  «Buscarão  outro  nouo  caminho 
pêra  nauegarem  as  especearias  que  auiaõ 
das  partes  de  3Ialaca,  assim  como  crauo, 
nòz,  maça,  sândalo,  pimenta,  que  auiaõ 
da  ilha  Çamatra  em  os  portos  de  Pedir, 
e  Pacem,  e  outras  muitas  cousas  daquel- 
las  partes.»  João  de  Barros,  Década  1, 
liv.  10,  cap.  õ. 

—  Planta  d'este  nome. 
SANDARACA,  s.f.  Resina  odorífera,  que 

reduzida  a  pi'),  serve  para  diversos  usos. 

—  Rosalgar  roxo  mineral. 

—  Herva  chupamel. 


SANDEJAR,  r.  a.  Termo  pouco  em  uso. 
Yid.  Ensandecer. 

j  SANDETO.  =  Significação  incerta. 

SANDEU,  ou  SANDEO,  adj.  m.  Insano, - 
mentecapto. — -«Isso  estava  agora  olhan- 
do, disse  el-rei,  e  na  verdade,  ou  este 
homem  é  algum  sandeu,  ou  por  algum 
caso  grande  anda  assim  com  seu  fadário. 
Estando  n'isto,  veio  Albayzar  ao  terreiro 
vêr  esta  aventura,  porque  em  sua  pou- 
sada lhe  deram  a  nova.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  dlnglaterra,  cap.  123. 


Quem  he  esse,  que  vos  deu 
Taes  novas,  saber  queria  ? 
Quem  mo  pergunta. 
Quem,  eu? 

Quereis-me  fazer  sandeu  ? 
Mas  vós  me  fazeis  sandia. 

CAMÕES,  AMPHITKIÕES,  act.    3,   SC.    4. 


-}•  SANDIA,  a'1j.  e  s.  /.  Desassisada, 
louca  e  sem  tino. 

SANDIAMENTE,  adv.  (De  sandio,  e  o 
suífixo  II mente»).  De  uma  maneira  san- 
dia, loucamente. 

SANDICE,  s.  f.  Xecedade,  parvoíce, 
loucura,  tolice. 


Aqui  vio  bem  ElRei  quamanho  engano 
E  quão  desatinada  fora  esta  ida. 
Mas  tarde  o  viste  ja.  falso  tvrano. 
Tarde  foi  a  sandice  conhecida. 
Porque  verás  no  teu  o  alheio  dano, 
Mil  mortes  pagarás  chuma  só  vida  : 
Ao5  mortos  se  dará  justa  vingança. 
Aos  vivos  para  as  vidas  segurança. 

r.  d'axdbade,  primeiko  cerco  de  dic,  cant.  6, 
est.  84. 


—  Adagio  e  provérbio  : 

—  Quem  de  sandice  adoece,  tarde  ou 
nunca  gnarece. 

SANDICINO,  A,  adj.  Da  cor  do  escarla- 
te ou  do  vermelhão. 

SANDIO,  A,  adj.  De  sandeu. 

SANDIVERRA,  s.  m.  Termo  antiquado 
e  popular.  Palrador,  fallador. 

—  Que  falia  inconsideradamente,  sem 
pensar  o  que  diz. 

SANDIX,  ou  SANDYX.  Yid.  Sandiz. 

SANDIZ,  s.  /.  I  Do  gi-ego  sandyx).  Her- 
va que,  segundo  alguns,  dá  uma  flor  se- 
melhante ao  escarlate. 

—  Outros  querem  que  seja  o  próprio 
escarlate,  e  não  herva. 

SANDRAHA,  s.  m.  Arvore  cuja  madei- 
ra é  mais  negra  do  que  ébano. 

SANDWICH,  5.  m.  (pr.  sanduíche).  Ter- 
mo inglez,  usado  na  lingua  portugueza 
para  significar  fatias  finas  de  pão  unta- 
das com  manteiga,  envolvendo  tiras  de 
presunto  ou  vitella,  etc,  que  se  servem 
ordinariamente  á  noite  com  o  chá. 

SANEAMENTO,  s.  m.  A  acção  de  sa- 
near, ou  sanear-se  a  rotiu-a  da  paz  e 
amizade;  o  damno  causado,  etc. 

—  Emenda,  reparação. 


400 


SANG 


SANG 


SANG 


SANEAR,  V.  u.  Tomar  são,  suacoptivcl 
de  HO  habitar,  do  viver. 

—  Sanear  a  tenção;  desculpar. 

—  Sanear  o  danino;  reparal-o,  rciuc- 
dial-o. 

—  Sanear-se,  v.  reJI.  Remcdiar-sc. 

—  Sanear-se  c-on  a/ífitem;  soldar  a  ami- 
zade com  ll(^^ullll)aH,  ou  tirar  a  offonsa. 
—  «E  movido  (ia((uoilc  zelo,  mas  enga- 
nado de  tiío  perversa  opinião,  matou  com 
suas  próprias  mãos  sua  mulhor,  o  íillios. 
Vj  (pierondo  ultimamonto  fazcllo  a  si  pró- 
prio, foi  (irttorv.ido  dos  seus,  ipio  pêra  se 
sanearem  eom  Catabruuo  lho  entregaram 
com  graiiiJe  m;igoa,  o  dor  do  seu  cora- 
ção i)or  não  poiler  otieituar  o  seu  díise- 
jo.»  Diogo  de  (Jiiuto,  Década  4,  liv.  10, 
caj).  6. 

SANEDRIM.  Vid.  Synhedrim. 

SANEFA,  ou  ÇANEFA,  s.  /.  l*o(;a  do 
cortinado  ijiic  se  atravessa  no  alto  da 
portada,  o  chega  de  unia  poriia  á  outra. 

—  Termo  do  carpintoria.  Taboa  assen- 
tada de  travez,  na  qual  encabe(j;am,  c  se 
asseguram  as  que  vão  ao  comprido. 

SANFONA,  s.  /.  Instrumento  musico  de 
cordas,  vulgar,  que  se  toca  fazendo  mo- 
ver umas  como  teclas ;  costumam  tra- 
zel-as  os  cegos,  e  cantam  a  ella.  llsam- 
n'a  também  os  pastores. 

SANFONHA,  s.  /.  Instrumento  agreste 
á  maneira  de  frauta. 

—  Alguns  querem  que  soja  o  mesmo 
que  sanfona,  variável  comtudo  na  ortho- 
graphia. 

SANFONINA,  #.  /.  Diminutivo  do  San- 
fona. 

—  <S.  Hl.  Homem  que   toca  sanfonina. 
SANFONINAR,  v.  a.  Tocar  sanfonina. 

—  Figuradamente  :  Fallar  fora  de  tem- 
po, iniportuuamente. 

SANFONINEIRO,  A,  s.  Pessoa  que  toca 
sanfonina. 

f  SANFONINHEIRO,  A,  s.  Yid.  Sanfo- 
nineiro. 

—  Adagio: 

—  Nunca  do  ruim  gaiteiro  bom  sanfo- 
ninheiro. 

SANGA,  «.  /.  Termo  do  Brazil.  Algi- 
rão,  bocea  dos  eóvàos,  por  onde  entra  o 
peixe  para  o  fundo  d'ellc3  ou  dos  giquis, 
c  não  pi^de  voltar  atraz,  ficando  entala- 
do, ou  porque  a  sanga  faz  para  dentro 
entrada  afunilada,  lia  ratoeiras  ile  ara- 
me eom  sangas  de  pontas  para  dentro. 

SANGADO,  A,  acij.  Preso  da  sanga  pa- 
ra o  fundo. 

—  Figuradamente  :  Preso  no  buraco, 
d'onde  não  pôde  sair. 

t  SANGALHA,  mlj.  f.  —  ífedidn  sanga- 
Iha;  era  de  sólidos  e   liquides. 

SANGALHO,  .>;.  m.  Meilida  de  pão,  que 
consta  de  cinco  selaniins. 

SANGEACO,  ou  SANGIACO,  s.  m.  Ca- 
pitão de  termo  o\\  território  de  uma  ci- 
dade. 

SANGOEIRA,  s.  /.  Vid.  Sangneira. 

SANGRADO,  part.  pass.    de   Sangrar. 


Aberta  a  veia  para  fazer  correr  sangue. 
—  tE  assi  apertou  com  elie,  que  n3o 
ficou  algum  do  batel,  quu  não  fosse  bc-ni 
sangrado  dclle,  c  eilc  não  de  algum;  té 
que  mais  cansado,  que  vencido,  meio 
atassalhado  cahio,  onde  foi  tomado  ás 
mãos,  sem  haver  remédio  de  morrer,  nem 
de  verter  sangue  per  quantas  feridas  ti- 
nha.» João  de  Barros,  Década  2,  liv.  (i, 
cap,  2. 

—  Figurailaniente :  Ferido  com  arma, 
do  modo  que  faea  sair  o  sangue. 

—  Figuradamente :  Terra  sangrada  de 
ouro. 

—  Rio  sangrado  para  alguma  j^arte; 
rio  que  vai  diminuto  c  fallecido  da  agua 
que  se  lhe  desviou  i)ara  fossos. 

—  Figuradamente  :  Peixe  sangrado ;  o 
homem    escarmentado   ilo  males,    ferido. 

SANGRADOR,  s.  m.  Homem  que  tem 
por  offieiíi  sangrar. 

SANGRADOURO,  s.  m.  A  parte  interior 
do  biaro,  opposta  ao  cotovelo,  onde  se 
pica  a  veia. 

—  O  local  onde  se  desvia  e  tira  parte 
da  agua  (\i\  algum  rio,  e  se  encaminha  a 
outra  jiarti'. 

SANGRADURA,  s.  f.  O  sangradouro. 

—  Vid.  Singradura. 

SANGRALINGUA,  s.  f.  Termo  de  botâ- 
nica. Herva  que  produz  umas  folhinhas 
compriílas,  e  por  baixo  mui  ásperas  com 
uns  biquinhos. 

SANGRAR,  V.  a.  Abrir  a  veia  ou  a  ar- 
téria ))ara  fazer  correr  sangue. 

—  Sangrar  n  foçjat-a.  Vid.  Fogaça. 

—  Sangrar  o  rio  para  ahjuma  parle; 
derivar  agua  (rdle  para  regar,  encami- 
nhando-se  a  algum  logar. 

—  Figuradamente:  O  estado  foi-se  san- 
grando ;  foi-se  debilitando  e  consumindo. 

—  Figuradamente :  Ferir  com  arma, 
de  modo  que  faya  sair  o  sangue,  com 
açoutes,  e  lançadas,  e  cutiladas. 

—  Sangrar  a  mina,  ou  uma  terra  d'ou- 
ro,  dinheiro,  ou  drogas,  que  ha  n'ellas; 
tirar,  livrar. 

—  Sangrar  o  dique,  fosso,  lagoa;  abrir 
sangradouro  para  desviar  a  agua  a  outra 
direcção,  ou  para  o  dcsagiiar. 

—  Sangrar-se,  v.  rejl.  Tirar  sangue  do 
corpo. 

—  Figuradamente :  Sangrar-se  eni  saú- 
de; acantelar-se  com  satisfação,  desculpa 
previa,  ou  com  prevenção  de  algum  mal 
que  poiler.i  sobrevir. 

SANGRENTO,  A,  adj.  Sanguinolento,  em 
que  ha  derramamento  de  sangue,  cruento. 

No  nascimento  àcWc  se  mostr.iua 
Anteposto  ,no  Saturno  o  fero  Marte 
Olliandoso  de  aspecto  aduerso,  triste 
De  olhos  encaniii,'ados,  e  stinprcntof. 

CORTK  nEAL,  NAIKKAQIO  DF.  SEPÚLVEDA,  CAUt.  5. 

Outros  vereis  qno  âO  andào  rebolcjindo 
Naquellc  humor  aiiiu/rciito  nojiro  c  frio, 
Os  cauallos,  e  os  homens  liir  tombando 
Polias  ondaa  de  hum  alto  c  fiiudo  Rio. 


Olhai  quo  BC  vâo  todos  afofrando 
Olliai,  c  não  vcrcirt  lu^ar  vazio 
'  )]iili!  At)\)T<;  oi4  ja  mortoit  Cuualleirog 
N;i<)  (jritcm  iiej^ro*  coruo.í  curuicciros. 
iiio^KM,  cant.  li. 


SANGRIA,  «.  /.  InciRSo  feita  na  veia 
ou  artéria,  jjara  se  Boltar  o  sangue  do 
co)'po.  —  «E  ain<la  dado  eazo  que  bc  »e- 
guiso  alguma  noxa  da  sangria,  com  tudo, 
como  o  Phrenesi  naõ  podo  esperar  afl  de- 
moras da  purga,  sempre  bo  deve  tirar 
sangue  sem  dilação,  pirque  do  exercício 
deste  remédio,  ainda  ho  mayor  a  ntilida- 
do  que  se  tira,  do  que  a  offença,  que  bo 
teme;  pois  se  cvacíia,  e  se  diverte  o  hu- 
mor com  mais  celeridade ;  o  que  naíJ  po- 
de fazer  o  remédio  purgante,  que  pela 
sua  demora,  o  agitação  ixpem  pela  mavor 
parte  de  peor  condição  a  qufMxa.i  Braz 
Luiz  dAbreu,  Portugal  medico,  pag.  372, 
§  õ3. 

—  Mistura  de  vinho  tinto  com  agua, 
assucar  e  sumo  de  limão. 

—  Jlistura  de  vinho  com  agua  para  se 
beber  menos  forte. 

—  Figuradamente:  O  que  se  tira  a  al- 
guém por  dolo,  calote,  ou  astucioso  cons- 
trangimento. 

SANGUE,  s.  m.  (Do  latim  sanguiê).  Li- 
quido bastante  espes.^o,  de  uma  côr  ver- 
melha ou  dcncgidda,  que  enche  o  syste- 
ma  completo  dos  vasos  arteriaes  e  veno- 
sos. 

Com  bramido  espantoso  se  debrnça 
O  pentio  na  torra  onde  co'a  raiua 
Mortal  as  emas  morde,  f]M<^.  do  tangtie 
Da  ferida  cruel  ja  estauào  tinta.s. 
Toma  -Vmador  de  Sousji  ardendo  cm  ira 
lluma  tesa,  mociça.  {rros-^a  lança 
Torcendo  o  corpo  aquirc  mores  forças 
E  a  bum  monte  de  inimigos  a  arremessa. 

CORTE   BEXL,   MAUFB.VQIO  D8  SEPÚLVEDA,  CAIlt.    9. 

— « ()  imperador,  Primalião  e  Polen- 
dos  com  os  outros  príncipes  vendo  o  de- 
sastre que  a  Dramusiando  acontecera,  e 
que  da  ferida  do  cavalleiro  do  DragSo 
lhe  saia  roais  sangue,  que  das  outras,  ti- 
nham gram  medo  ao  fim  do  sua  porfia,  e 
louvavam  por  C2S tremo  a  prova  da  valen- 
tia, que  fizera  em  defender  Barrocante.» 
Francisco  de  Moraes.  Palmeirim  d'Iugla- 
terra,  cap.  94.  —  «  Florendos  também 
trazia  algumas,  de  que  lhe  saia  muito 
sangue,  mas  a  braveza,  com  que  pele- 
java, lhas  não  deixava  sentir. >  Ibidem, 
cap.  102.  —  «  Jlas  ella  era  tão  avarenta 
daquella  mostra,  que  nunca  chegava  a 
uma  janclla.  senão  nos  tempos  de  seu 
gosto,  que  era  quando  o  campo  á  custa 
d'alguns  era  coberto  de  sangue  e  armas 
e  a  vida  posta  no  derradeiro  estado,  como 
ante  seu  castello  muitas  vezes  se  viu.i 
Ibidem,  cap.  109.  —  «  E  antrotanto  em 
seu  nome,  elle  tomaria  a  menagem,  e 
proveria  de  governador  conformo  a  suas 
vontades;  podindo-lhe  que  se  houvessem 


SAN( 


SANa 


SANG 


401 


por  contentes  ser  vassallos  de  quem,  por 
seu  próprio  sangue  á  custa  de  muitas  fe- 
ridas,   03   comprara;    que   esto  tal  já  os 
amaria   como  a  pessoas   que  tauto  custa- 
ram. Os  principaes  da  terra,  que  ahi  eram 
juntos,   responderam  que  qualquer  delles 
eram    contentes   de   o   ter  por  senlior:  e 
que  na  maneira  que  elle  quizesse  ou  or- 
denasse,   lhe   dariam   homenagem,  e  en- 
tregariam, as  "fortalezas.»    Ibidem,   capi- 
tulo   119.  —  «Todalas    armas    tintas    de 
sangue,   cousa  também  piedosa  pêra  ver, 
se  se  permittisse  que  algum  dos  authores 
de  seu  mal  houvesse   de  liaver  d(5.  Por 
certo,   tudo   se  podia  notar,   que  d'uma 
parte  se  via  tudo  tristeza,  d'outia  tudo 
sangue  e  desventura,  e  os  ânimos  appa- 
relhados   pêra    mor  mal.»    Ibidem,    cap. 
168. —  «El  Rei,  e  os  que  com  eile  hião 
ficarão  mui  espantados  de  verem  a  mul- 
tidão das  chagas,  e  sangue  que  lhe  ainda 
delias   corria,   pelo  que  mouido  el  Rei  de 
piedade,    mandou   ao  homem  que  se  co- 
brisse,   e   fosse   pêra   sua  casa,   que  ,elle 
proueria  no   ca'=o   com   justiça.»    Damião 
de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3, 
cap.  40.  —  «  He  esta  gente  vermelha  co- 
munmente   e   nam   alva,    andam  nus   da 
cinta   pêra   cima,    comem   carne  crua,   e 
untam   os  corpos  com  ho  sangue   delia: 
pello  qual  comunmente  sam  fedorentos  e 
tem   niao   cheiro.»   Fr.  Gaspar  da  Cruz, 
Tratado  das  cousas  da  China,  cap.  4. — 
« Depois    de   comettido    o   maior   delicto, 
qual  não  terão  por  leve?  Quem  duvidará 
ser  offensor  onde  se  não  vingào  injúrias? 
Acabemos  pois  de  despertar  deste  mortal 
lethargo;   mettamos  até   os  cotovellos  os 
braços  no  sangue  destes  cruéis  tjrannos; 
neste  veneno  banhemos  os  alfanges,  por- 
que percão  com  as  vidas  a  gloria  de  tão 
grandes    insiiltos.»   Jacintho  Ferreira  de 
Andrade,    Vida   de    D.   João    de    Castro, 
liv.   2.  —  «  Atracados  em  breve  espaço, 
tingirão  as  armas,  e  ainda  o  rio  em  san- 
gue. Diogo  Soares  entrou  a  galé  Capita- 
nia com  cincoenta  soldados,  e  achou  nos 
Mouros  tão  poriiada  resistência,  que  to- 
dos forão  mortos,  porém  nenhum  rendido; 
com   o  mesmo  orgulho   peleijárão  os  ou- 
tros.  Conheceo-se  a  victoria  pelos  vasos, 
mas  não  pelos  cativos.»  Ibidem,  liv.  4. 


Ao  Portugiicz  imigo  emfim  se  rende, 
Depois  d  hum  dia  iutoiro  do  batallia, 
Em  que  dLum  e  outro  sangue  assaz  8'ospalha. 
IBIDEM,  cant.  13,  est.  34. 

Elle  manda  avisar-vos,  que  render- vos 
Queiraes,  c  em  seu  poder  entregar  tudo 
Sem  menear  espada,  ou  dcfcnder-vos, 
Porque  se  usacs  contra  elle  lança  e  escudo 
Em  vào  depois  haveis  de  arrepender-vos. 
Pois  com  inexorável  ferro  agudo 
Fará  de  vosso  sangue  chào  vermelho. 
Agora  o  vêdc,  e  havei  lá  bom  conselho. 
iBiDKM,  cant.  15,  est.  31. 

—  <s  Chega  o  homem  a  fazer-se  neste 
cazo  de  peor  condição  que  as  mesmas 
Feras.  Não  sabemos  que  esta  paixão  as 
obrigasse  até  agora  a  imitarem  os  ho- 
mens, que  apagão  no  seu  próprio  sangue 
a  violência  do  fogo  que  os  devora.»  Ca- 
valieiro  de  Oliveira,  Cartas,  liv.  1,  nu- 
mero 29. 


Nunca  em  fera  cruel,  dura  batalha, 
Lá  onde  ódio  e  furor  03  braços  manda 
Contra  o  imigo  a  que  cobre' arncz  e  malha 
Tanto  sangue  houve  dhuma  e  d'outra  banda, 
Quanto  dos  naturacs  aqui  s'e5palha ; 
Por  toda  a  parte  a  morte  cruel  anda. 
Os  montes  gemem,  o  ar  chora  e  suspira, 
Só  nos  humanos  peito  dura  esta  ira. 

FBASCI3C0  DE  A^DUADE,  PBIMEIBO  CERCO  DE  DIU, 

cant.  1,  est.  73. 


Conhece  este  o  navio,  a  cUe  se  lança, 
Que  hum  imigo  furor  o  move  e  acende, 
Seu  desejo  com  grão  trabalho  alcança, 
Que  o  Turco  com  gràa  força  se  defende; 
Jlas  vendo  que  em  vào  move  a  espada  e  lança 
VÒL.  V.  — 51. 


Xovo  Annibal  do  Pólo  assusta,  e  piza 

Nào  generosos  Con.sules,  mas  feras  ; 

E  a  corrompida  Gallia  agora  sente 

Estragos  mais  cruéis,  que  Eoma  outrora 

Sentira  em  Trazimeuo,  em  Trcbia,  cm  Cannas. 

E  quanto  sangue,  e  lagrimas  entornas 

Inda  atrgora,  espavorida  ! 

J.    A.    DE  M.VCEDO,  MEDITAÇÃO,  Cant.    2. 

Guerra,  guerra, 
E  liberdade  emquanto  ha  sangue  a  dar-lhe  ! 
E  Catào  dictador:  meu  voto  é  este, 
Foi  e  hade  ser.  Inútil  imbaraço 
E  um  senado  aqui,  deliberando 
Entre  armas  e  combates... 

GAERETT,  CAlÃO,  act.   2,  SC.    2. 

De  pedras  —  cimentadas  com  cadáveres 
E  sangue!  —  daqui  lhe  oiço  a  voz  ingente 
A  Eomano3  e  a  Numidas  bradando, 
Dando  ordens ;  e  co'a  intrépida  firmeza 
Daquella  alma,  so  menor  que  a  tua. 
IBIDEM,  act.  5,  se.  0. 

—  T<xlo  em  sangue ;  coberto  de  san- 
gue. 

Imperando  este  foi  desbaratado 
No  caminho  do  Pérsia,  e  alli  se  mostra 
Banhado  todo  em  sangue,  leuantados 
Os  olhos  ja  mortaes  ao  ceo,  dezia 
(Bramando  com  furor  impaciente) 
Venceste  Galileo  alto  gritaua 
Nisto  bom  conheceo  ser  luliano 
Aquello  Emperador  falso  Apóstata. 

CORTE  nEAL,  NAUFRÁGIO  DE  SEPÚLVEDA,  Caut.  11. 

—  «A  cujas  vozes  se  levãtou  hum  ta- 
manho tumulto  na  gente,  que  toda  a  ci- 
dade se  fundia,  acudindo  com  armas  e 
grandes  gritas  á  casa  onde  o  pobre  de 
mim  estava,  e  ja  entaõ  qual  Deos  sabe, 
porque  recordando  eu  cõ  esta  revolta,  e 
vendo  jazer  o  moço  no  chaò  junto  do  mim 
ensopado  todo  em  sãgue,  sem  acudir  a 
pé  nem  a  maõ,  me  abracev  com  elle  ja 
taõ  desatinado  e  fora  de  mim  que  nàõ 
sabia  onde  estava.»  Fernão  Mendes  Pin- 
to, Peregrinações,  cap.  136. 


—  Figuradamente:  Casta,  geração,  fa- 
mília. —  í  Deixou  huma  só  filha  per  no- 
me donna  Beatriz,  qixe  aliem  de  ser  muito 
discreta,   foi  huma  das  fermosas,  e  bem 
dispostas    molheres,    que    em   seu   tempo 
ouue  nestes  regnos,  com  as  quaes  partes, 
e  nobreza  de  sangue,  e  bom  dote  que  ti- 
nha trouxe  sempre  opinião  de  casar  com 
o   Infante   dom   Fernando,   filho  terceiro 
dei  Rei  dom  Emanuel,   posto  que  fosse 
muito    mais    moço    queíla.»    Damião    de 
Góes,   Chronica   de  D.  Manoel,  part.   1, 
cap.  82.  —  «  E  a  Rainha,  cujo  primo  com 
irmam   dom    Aluaro   era,    e   el  Rei   dom 
Fernando  seu  marido '  folgarão  muito  com 
sua  vinda,  e  lhe  fezeram  muita  honrra,  e 
se    seruirão    delle  em  negócios  de  muita 
calidade,    e   o  trataram  como  pessoa  tam 
conjunta  a  seu  sangue  como  elle  era,  e 
quando  lhe  el  Rei  deu  licença  que  se  fosse 
.sua   molher,   e  filhos.»  Ibidem,  part.  3, 
cap.  45.  —  «  E  o  Naire  que  he  o  mães 
nobre  em  sangue  de  toda  esta  gente,  naõ 
faziaõ  os  ludeus  em  seu  tempo  tanta  pu- 
rificação quando  se  tocauaõ  com  hum  Sa- 
maritano, quantas  elles  fazem,  se  per  de- 
sastre algum  d 'este  pouo  lhe  toca.»  João 
de  Barros,  Década  1,  liv.  9,   cap.  3. — 
« Gonçalo   Pereira  Marramaque   mostrou 
este  dia  os  quilates  de  seu  sangue,  e  es- 
forço,   apresentando-se  sempre  nos  luga- 
res   mais    perigosos,    ainda    que  alli  não 
havia  algum  que  o  não  fosse,  e  estivesse, 
e   em    tudo    era    companheiro   de    todos, 
assim   nos   trabalhos,    como  nas   feridas, 
porque  também  trazia  três  muito  cruéis 
fi-échadas  por  seu  corpo.»  Diogo  de  Cou- 
to, Década  6,  liv.  10,  cap.  13. 


Nascido  da  eselarecida 
Eaynha  nossa  Senhora, 
deste  gram  sangue  nascida 
no  mundo  mny  escolhida, 
de  Deos  grande  seruidora. 

G.   DE  KEZENDE,  jnSCELLASEA. 


Degenerado  da  impulsão  primeira 
Que  lhe  imprimira  a  mão  da  Natureza, 
Da  doce  agricultura  ao  campo  foge, 
Em  qu'a  ct'ga  ambição  de  sangue  abaste. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Cant.  2. 


—  Baptismo  de  sangue ;  o  martyrio  sof- 
frido  sem  ter  recebido  o  baptismo. 

—  O  sangue  de  Jesus  Christo;  o  san- 
gue do  cordeiro,  o  sangue  que  Jesus  der- 
ramou pela  redempção  dos  homens.  — 
«  Entre  algumas  cousas  que  entaõ  lhes 
disse  huma  foy  afiirmar  lhe  que  o  Deos, 
em  cuja  Fé  se  haviaõ  de  saluar,  se  cha- 
mava JESV  CHRISTO,  o  qual  viera  do 
Ceo  á  terra  a  se  fazer  homem,  e  fora  ne- 
cessário morrer  pelos  homens,  e  que  co 
preço  do  seu  Sangue  derramado  na  Cruz 
pelos  peccadores,  se  houvera  Deos  por 
taõ  satisfeito  cm  sua  ju-tiça,  que  ontre- 
gando-lhe  o  poder  dos  Ceos,  e  da  terra, 
lhe  promettera  que  a  todos  os  que  profe- 


402 


SANG 


SANG 


SANd 


çassom  sua  Loy  com  fi';,  o  obras,  se  Uio 
niHo  ncf^aria  o  premio  que  por  i-^so  era 
promottiilo.»  Fcrnito  Mendíis  l'iiito,  Pe- 
regrinações, ciip.  '.III.  —  «Mas  l)H!nilita 
Beja  viisHH  miscriconlia;  que  o  sangue, 
que  por  mim  derramastes,  e  as  atlVoíitas 
•com  que  caviloeestos,  e  quasi  aniquilastes 
vosso  sor,  tem  virtude  (c  cilas  sii  tem 
esta  virtude)  para  do  tal  modo  apaj^ar 
todos  08  pcccados,  como  so  nunca  loraõ 
cometidos.»  Tadre  Manoel  liernardes, 
Exercícios  espirituaes,  i)afí.  42. 

—  Cidade  rvíjadd  com  o  sangue  de  seus 
naturaes. —  «Daqui  tomos  n;uicj;ando  a 
vista  da  ti^rra,  vcmlo  nolia  a  sayda  que 
faz  ao  Jfar,  o  rio  lupo,  e  mais  alem  a  ci- 
dade Mapadaxò,  quo  em  aiffum  tempo 
foy  ret^ada  com  o  sangue  de  seus  natu- 
raes, vendo  a  seu  pczar  aruoradas,  nas 
mais  altas  ameyas,  e  castellos  as  (piinas 
Reaes  de  Portufjal.j  Fr.  Gaspar  do  iS. 
Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap.  7. 

—  Dorramamento  de  saníruo  na  bata- 
llia.  —  «()  quo  visto  por  ^ulema,  o  sa- 
bendo quào  leal,  e  animosa  ponte  estava 
recolhida  na  fortaleza;  c  o  muyto  sangue 
quo  avia  do  custar  ontrala,  cometeo  ao 
Abade  com  palavras  brandas  a  se  render 
com  partido  avantajado,  à  mercê  delRoy 
Abderramen,  assejíurandolhe  mercês  e 
prémios  dignos  de  estima,  c  muyto  mayo- 
res  quando  deixada  a  Fè  de  Cbristo  se 
quisesse  preverter  aos  erros  de  Mafoma, 
como  ellc  próprio  fizera.»  Monarchia  Lu- 
sitana, liv.  7,  cap.  Ií5. 

—  Tinto  no  sangue  do  mesmo  moço.  — 
«E  o  Bonzo  Asquciào  teixe  que  era  o 
Presidente  da  justiça,  cos  braços  arrega- 
çados, e  huma  gomia  tinta  no  sãgue  do 
mesmo  moço  na  mão  me  disse,  eu  te  es- 
cõjuro  como  a  filho  do  diabo  quo  es,  e 
culpado  neste  crime  tào  grave  como  os 
habitadores  da  casa  do  fumo  metidos  na 
cocava  funda  do  centro  da  terra,  que 
aquy  om  voz  alta  que  todos  te  ouçào  me 
digas  qual  foy  a  causa  porque  quiseste 
que  a  tua  espingarda  cõ  feitiçarias  ma- 
tasse este  innocente  menino  que  todos 
tínhamos  p 'r  cabeUos  da  nossa  cabeça?» 
Fernão  Jlendes  Pinto,  Peregrinações,  cap. 
136. 

—  Faminto  do  sangue  lusitano. 

Refreando  dcsfarte  o  forto  braço 
Aceso  então  d'oâprito  mais  que  humano, 
A  geuto  Christiui  pára  algum  espaço 
Para  vencer  de]>oÍ3  com  menos  dano, 
Até  que  de  Cambaia  o  luzente  aço 
Faminto  assaz  do  sanífiir  I^usitano, 
Mostrando  ja  por  obra  esta  vontade 
Lho  pòo  de  combater  necessidade. 

F.DE  ANDRADE,  PRIMEIRO  CEBCO  DE  DIC,  C«nt.  1"2, 

cat.  6. 

—  Vida  7-evolta  em  negro  sangue  da 
ferida. 

Te  que  de  um  bote  o  cão  forte,  o  nervoso 
Aborto  cahc,  tingindo  o  sangue  a  terra, 


Onde  lançava  a  espumosa  vida 
Envolta  i'in  negro  laifjiir.  da  ferida. 
oAORiEi,  pr.afAKk.  DK  c;ahtho,  lxymhAa,  cant.  7, 

est.  ;io. 


—  Oceano  tjne   se   rs^ir/iin   i  tu   sangue 
e  lagrimas. 


LA,  no  centro  do  nbysino,  n'um  Oceano, 
Que  ondèu  c  (|ue  se  espraia  i-m  tanijnr  c  lagrimas 
Se  ergue,  entre  r<'ichas,  negro  atroz  Custclio: 
Da  DeseS|)eração,  da  Mi'irte  é  fabrica. 

V.    M.    Illl   NASCISIKSTO,    OS    MAUTVBKS,    IÍV.    8. 


—  São  carni'.  e  sangue;  s.lo  carnaes, 
sujeitos  a  paixões  e  afi'eiçò.-s  humauas. 

—  tícr  Ivjmem  de  sangue;  ser  cruel, 
sanguinário. 

—  Diluvio  de  sangue;  inundaçrio,  dif- 
fusão  d'elle. 

—  Estar  a  fogo  e  a  sangue  com  alguém; 
estar  em  grande  inimizade,  ódio  e  oppo- 
sição. 

—  Fronte  empastada  de  sangue. 


Bojo  ísta  face  pallida,  esta  fronte 
Impastada  de  san^uf,  e  óstas  mãos  hirtas... 
Ah,  que!... 

—  Levae-o  araigos. 

GAllBETT,  C.VTÃO,  act.   4,  SC.  5. 


—  Armas  de  sangue. 

Pelo  rei,  pela  pátria...  Aqui  araigos, 
Christàos,  mercê  de  Deus,  somos  nós  todos 
Quantos  somos  aqui.  E  ao  ceo  nào  praza 
yue  um  cavallciro  portuguez  arranque 
Contra  seu  natural  armas  de  sangue. 
GARRETT,  CAMÕES,  Cant.  1,  cap.  14. 

—  O  sangue  espadanando  em  ondas. 


Do  frágil  bordo  de  baixel  pequeno 
Farpada  lança  ao  monstro  se  arremeça. 
Lá  SC  embebe  no  corpo,  o  sangue  em  ondas 
Espadanando,  purpúrea  0.3  mares. 

J.  A.  DE  UACEDO,  X   NATUREZA,  Cant.  3. 


—  o   teu    sangue  fuma   ;»o   cadafalso 


vil 


Co'.a  Sciencia  Astronómica  já  vive 
O  mortal  morador  no  ethereo  asscuto! 
Desgraçado  liailly,  funia  o  teu  san^e 
No  cadafalço  vil ;  tua  alma  agora, 
Já  solta  das  prisOes,  lá  vê  nos  Astros, 
Se  o  grão  discurso  teu  falhou  no  Mundo. 

J.   A.    DE   MACEDO,  VIAOEM   EXTÁTICA,   Caut.    4. 

—  Figuradamente :  Carne  e  sangue ; 
os  appetites,  affoições,  interesses  da  car- 
ne e  do  mundo. 

—  Loc.  POl\:  Sangue  das  uvas,  da 
parreira,  de  Baccho;  o  vinho. 

—  Nao  enxovalhar  a  es2>ada  em  tal 
sangue. 


Vm  nomano 
Km  ntiigiit  tal  ixkii  iuiovalha  a  cipada. 
Lictorcs,  d«(  Scinproiiiii  o  vil  rastigo 
Aiiuunciac  ás  eoliorti-«  ;  e  iiitlraii<--lhc 
Que  (•  njlo  Hcr  cidadão,  fruxtrar-lbo  a  pena. 

OARBCTT,  CATÃO,  BCt.   4,   KC.    ». 


—  Fazer  as  cousas  a  fogo  e  n  sangue ; 
fazel-as  com  muita  vioh-ncia  c  rigor. 

—  Tempttiwlt  de  sangue  ;  combates, 
batalhiui  cm  que  se  derramou  muito  san> 
gue. 

—  Homem  de  sangue ;   homem   nobre, 

—  Não  tomar  vingaiii-a  do  sangue  de 
três  filhos  meus.  —  «dmi  os  quais  te  ju- 
ro de  em  quanto  viver  nunca  ter  paz  nem 
amizade,  até  n.*iii  tomar  vingança  do  san- 
gue de  trcs  filhos  meus  que  de  continuo 
me  pedem  com  as  lagrimas  derramadas 
pela  nobre  M.'iy  quo  os  concebeo,  e  os 
criou  a  seus  peitos. »  Fernão  Mendes  Pin- 
to, Peregrinações,  cap.  13. 

—  ILjuu  ih  de  sangue ;  homem  guerrei- 
ro, militar. 

—  Ter  muito  sangue,  ou  sangue  quen- 
te; diz-se  do  moço  robusto,  cm  todas  as 
suas  forças  c  na  das  paixòes. 

—  Não  ficar  golta  de  sangue  no  corpo  ; 
ficar  bastante  atemorisado. 

—  A  custa  do  sangue  romano. 


PiVle-sc  vêr  hnm  claro  desengano 
Em  Terêncio  Varrão  disto  que  digo 
Bem  á  custi  do  seu  fanyue  Itomano, 
E  com  que  p<>z  o  Império  em  grão  perigo: 
No  qual  aquellé  bárbaro  Africano 
Daquella  vez  fartou  sen  ódio  antigo, 
Emilio  o  diga.  e  a.'^  mais  \-ida8  Romanas, 
Tu  também  o  dirás,  funesta  Canoas. 

F.    D°ANDKADE,    PBIITEIBO  CEBCO  DB  DIC,  Caat.  2, 

est.  2. 


O  sangue  inimigo. 


O  moço,  que  de  todo  .se  ja  sente 
Livre  d'hum  tal  trabalho  e  tal  perigo. 
Também  se  põe  em  pé,  assaz  contente, 
Inda  envolto  no  fresco  fanjut  imigo. 
Dasatina  de  novo  a  imiga  gente 
Porque  lhe  tolhe  ir  a  ellc  o  que  atraz  digo. 
Mas  CO 'o  que  pôde  cntào  lhe  faz  que  veja 
O  que  o  seu  peito  imigo  lhe  deseja. 

F.  d'axdbade,  raiMEiBO  cebco  de  DfC,  cant.  17, 
est.  22. 

.\lmeida  vem  depois  co'o  nobre  filho 
Que  do  Indico  oceano  as  aguas  tinge 
Pe  nangiie  imigo  e  seu.  .\troí  vingança 
Corre  c'o  iroso  pae  :  Dabnl,  Gambaia, 
luseadas  de  Diu,  ei-lo  no  ferro 
Destruidor  vox  trai  cxicio  o  morte. 
o.taRETT,  CAMÕES,  CBnt.  S,  cap.  17. 

—  Figuradamente :  O  sangue  da  tnno- 
cencia. 

—  O  atro  sangue  de  um  tyranno,  des- 
parzido  no  aftar  da  liberdade. 


Tu  lhe  chamas 
Inútil  I  — O  atro  nanyie  dum  tyranno 
Desp.-irudo  no  altar  da  liberdade. 


sAíía 


SAXG 


sAna 


403 


Inútil  p<5de  ser?  —  A  mào  ditosa 
Que  o  ferro  imbebe  no  malvado  peito, 
Que  llie  descose  as  pérfidas  intranhas. 
GASEErr,  CATÃO,  act.  4.  se.  3. 

—  O  nosso  sangue,  gotta  invisível  no 
mar  da  escravidão. 

Póde-lhe  ella  atrazar  um  só  momento 
A  inevitável  queda  ?  o  nosso  sanfpte, 
No  mar  da  escravidão  gotta  invisível, 
Adclgaçar-lhe  os  ferros  que  a  agrilhoam? 
GARBETr,  cAilo,  act.  2,  SC.  1. 

—  Queremos  aqui  o  sangue  do  matador. 

Não  ;  detende-vos. 
Não  hade  ir  a  jazigo  deshoiirado 
O  corpo  do  heioe.  Aqui  o  sangue 
Do  matador  queremos.  Pede-o  Roma, 
Pedimo-lo  nós  todos,  e  é  devido 
A  seus  manes.  Soldados,  companheiros, 
Dizei-o  :  sotfrereis  tammanha  injúria? 
GASsErx,  CATÃO,  act.  -i,  SC.  õ. 

—  Loc.  ADV. :  A  sanque-frio ;  desen- 
calmadamente,  desagastadamente,  sem 
paixão.  —  Castigar  a  sangue-frio. 

—  Adágios  e  pkoverbios  : 

—  Todo  o  sangue  é  vermelho. 

—  Tem  sangue  no  olho. 

—  O  bom  vinho  faz  bom  sangue. 

—  Do  sangue  mi.sturado  e  do  moço  re- 
falsado  me  livre  Deus. 

—  De  amigo  sem  sangue,  guar-te,  não 
te  engane. 

—  Quem  tem  sangue,  faz  chouriços. 

—  Cào  que  muito  lambe,  terá  sangue. 

—  Xào  quero  escudela  d'oui'0,  em  que 
cuspa  sangue. 

—  A  letra  eoai  sangue  entra. 

—  E.-5tar  com  o  sangue  na  guelra. 

—  Arrenego  da  tigela  d"ouro  em  que 
hei  de  cu<pir  sangue. 

SANGUECHUIVA,  ou  SÁNGUECHUVA, 
s.  /.  Hemorrhagia,  estillicidio,  fluxo  de 
sangue. 

SANGUE  DE  DRAGO,  s.  m.  Resina  sec- 
ca,  que  por  incisão  distilla  da  dragueira 
em  licor,  que  se  endurece,  e  se  congela 
ao  sol  em  pequenas  lagrimas  fi-iveis  e  da 
côr  do  sangue. 

7  SANGUE-FRIO,  s.  m.  Estado  da  al- 
ma, quando  está  socegada :  tranquiUida- 
de  d'espirito,  presença  d^espirito. 

—  Matar  alguém  a  sangue-frio ;  ma- 
tal-o  com  intento  premeditado,  e  sem 
ser  arrebatado  por  algum  movimento  de 
violência. 

SANGUEIRA,  s.  f.  Abundância  de  san- 
gue vertido. 

—  O  sangue  que  escorre  dos  animaes 
mortos. 

SANGUENTADO,  A,  adj.  Yid.  Ensan- 
guentado. 

SANGUENTAR,  v.  a.  Vid.  Ensanguen- 
tar. 

SANGUENTO,  A,  adj.  Que  derrama  san- 
gue. 


—  Em  que  ha  muito  derramamento  de 
sangue. 

—  Inimigo  sanguento ;  desejoso  de  san- 
gue, ou  morte,  o  que  faz  muito  mal. 

—  Cheio  de  sangue,  coberto  d'elle. 

SANGUESUGA,  s.  /.  Termo  de  zoolo- 
gia. Insecto  aquático,  preto,  que  se  es- 
tende muito,  e  alarga,  pega-se  aos  ani- 
maes. e  chupa-lhes  o  sangue. 

SANGUEXUPA,  s.  /.  Vid.  Sanguesuga. 

SANGUEXUVA,  s.  /.  Yid.  Sanguechu- 
va. 

SANGUICEL,  s.  m.  Embarcação  peque- 
na da  Índia. 

SANGUIFERO,  A,  adj.  Termo  de  me- 
dicina. Que  contém,  ou  traz  sangue. 

SANGUIFICAÇÃO,  s.  f.  (Do  latim  san- 
guis,  e  f acere).  Termo  de  phvsiologia. 
Geração  do  sangue  com  o  auxilio  dos 
princípios  que  chegam  aos  vasos  pelo  in- 
testino, pulmão,  etc. 

SANGUIFICAR,  v.  a.  Termo  de  medi- 
cina. Converter  em  sangue  o  alimento  ou 
chvlo. 

SANGUIFICATIVO,  A,  adj.  Que  conver- 
te em  .^angue. 

SANGUIFICO,  A,  adj.  Que  tem  a  facul- 
dade de  converter  o  alimento  ou  chylo 
em  sangue. 

SANGUILEIXADO,  A,  adj.   Termo  anti- 
quado. O  que  está  sangrado. 
"  SANGUILEXADOR,  s.    m.    Termo  anti- 
quado. Sangrador. 

SANGUILEXIA,  í.  /.  Eutende-se  a  san- 
gria, e  também  a  officina  em  que  os  mon- 
ges se  sangravam,  e  com  tanta  frequên- 
cia, que  nas  constituições  antigas  de  Pom- 
beiro  se  mandavam  sangrar  todos  de 
dous  em  dous  mezes ;  não  sei  se  para 
abater  e  macerar  o  corpo,  se  para  pre- 
venção contra  as  enfermidades,  a  que 
está  sujeita  uma  vida  poltrã  e  sedentá- 
ria. E  para  as  despezas  d'esta  officina, 
se  applicavam  também  os  rendimentos 
daquellas  herdades,  e  mormente  sendo 
então  alli  mui  crescido  o  numero  dos 
monges,  que  expulsos  de  Lorvão  se  ha- 
viam retirado  áquelle  mosteiro.  Também 
o  fundador  do  mosteiro  de  Tojal,  no  bis- 
pado de  Vizeu,  determinou  que  os  reli- 
giosos d'elle,  ainda  mesmo  na  saúde,  fos- 
sem sangrados  de  seis  em  seis  mezes. 
Hoje  se  abandonou  esta  disciplina,  sa- 
bendo-se  por  experiência,  que  a  sangria, 
ás  vezes  dá  saúde,  ás  vezes  mata,  e  que 
fora  de  uma  precisão  urgente,  nada  mais 
seria,  que  temeridade  e  loucura. 

SANGUINA,  s.  /.  Pedra  preciosa. 

SANGUINAÇÃO,  s.  f.  Acção  pela  qual 
o  sangue  se  converte  em  diversas  subs- 
tancias pelos  processos  secretorios.  Vid. 
Elaborar. 

SANGUINARIAMENTE,  adv.  (De  san- 
guinário, L-oui  o  suffixo  «mente»).  De 
uma  maneira  sanguinária. 

SANGUINÁRIO,  A,  adj.  (Do  latim  san- 
guinarius).  Que  gosta  de  derramar  san- 
gue, cruel. 


De  fero  aspeito  debuxado  estava 
Saii^nnario  Nembrot,  quergue  seu  throne 
Sobre  o  pescoço  das  nações  em  ferros. 
A  Terra  se  povoa,  o  archote  acesso 
Não  se  apaga  jamais  nas  mãos  das  Fúrias. 

J.  A.  DE  MACSDO,  VUGEX  EXTÁTICA,  Cant.   1. 

Sujeita  a  seu  império  equoreos  monstros, 
E  a  sanguinário  Tigre,  indócil  sempre, 
Amar  ensina,  e  conhecer  ternura. 
iBXDEH,  eant.  2. 

—  Leis  sanguinárias;  leis  que  impõem 
muitas  penas  de  sangue. 

—  Diz-se  do  que  tem  o  caracter  de 
crueldade. 

—  Massa  sanguinária ;  a  totalidade  do 
sangue,  que  g\ra  no  corpo.  —  «E  sup- 
posto  que  pella  sangria  do  braço  se  com- 
munique  a  qualidade  Gallica  ao  fígado,  e 
á  massa  sanguinária,  e  conseguintemen- 
te  à  todo  o  corpo  com  algum  perigo  da 
vida;  com  tudo  deve  este  desprezarse, 
porque  naõ  he  taõ  agudo,  e  pode  espe- 
rar remédios.»  Braz  Luiz  d'Abreu,  Por- 
tugal medico,  pag.  180,  §  98. 

SANGUÍNEA,  í.  /.  Termo  de  botânica. 
Planta  rasteira,  que  dá  raminhos  tenros 
revestidos  de  folhas  á  maneira  de  malvas 
recortadas  nas  extremidades;  nasce  nas 
serras. 

SANGUÍNEO,  A,  adj.  (Do  latim  san- 
guineus,  de  sanguis).  Termo  de  anato- 
mia. Que  pertence  ao  sangue. 

—  Vasos  sangtiineos ;  vasos  que  ser- 
vem para  a  circulação  do  sangue. 

—  Systema  sanguíneo;  conjuncto  dos 
vasos  arteriaes  e  venosos. 

—  Em  que  o  sangue  predomina.  —  As 
pessoas  sanguíneas  são  de  ordinário  de 
um  humor  alegre, 

—  Temperamento  sanguíneo;  tempera- 
mento que  tem  por  attributo  um  rosto 
corado,  formas  pronunciadas  sem  serem 
duras,  o  conjuncto  do  corpo  saudável, 
uma  imaginação  folgazã,  o  coração  in- 
constante, e  o  espirito  ligeiro. 

—  Doenças,  affecções  sanguíneas  ;  doen- 
ças, aífecções  occasionadas  por  uma  gran- 
de abundância  de  sangue. 

—  Que  é  da  côr  do  sangue.  —  Um  ru- 
bro sanguíneo. 

—  Sanguinolento,  cruento. 

Nas  duras  Artes  da  sanguiiiea  guerra 
Roma  a  Grécia  excedeo ;  e  excede  a  Grécia 
Nas  Artes  divinaes,  que  a  Paz  fomenta. 
Voarão  pelo  Globo  altivas  Águias, 
A  Lusitana  as  vê,  o  Hvdaspe  as  teme, 
Chegào  do  Elba  á  foz,  do  Nilo  á  fonte. 

J.   A.  DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Cant.   1. 

D 'áurea  luz  coroado,  e  ardentes  raios 
O  Sol  snccede:  e  se  descobre  Marte, 
Rodando  n"outro  Ceo,  sanguíneo,  e  torvo. 
De  Júpiter  o  Globo  immeaso,  e  claro, 
E  n"hum  remoto  circulo  caminha. 

IDEH,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Caut.  3. 

o  espantoso  fenómeno  nos  mostra 
Da  Luz  Zodiacal:  co'a  paralaxe 


404 


SANa 


SANil 


HAXII 


Do  medonho,  nangiUneo,  accoBO  Marte 
A  dintaiicia  marcou  do  Sol  á  Torra  ; 
])ii4t;uicla,  que,  ciMifutidc  a  iiioiitn  Iminiina, 
K  que  a  luz  ii'liuiu  uioiiicato  abrange,  c  corre. 
iiiiDBu,  caiit.  4. 

Eia  apartemos  do  mur/uiiiM  quadro 
Olhoi  qu'  á  dor  arf  hifírima»  iiio  iiegio, 
Do  Marte  li  viitta  tiabida  so  asHusta 
Tranquillo  l''M|)octador  da  Natureza, 
A  qucni  rei)OU:io  apraz,  «ileucio  lie  NuitiC. 
iDKJí,  A  N.iruuKZA,  cant.  1. 

SANGUINHA,  s.  f.  l'l:vnta.  Vid.  Corri- 
jola. 

1.)  SANGUINHO,  A,  w'j.  Vid.  Sanguí- 
neo. 

—  Substantivíiracnte:  O  sanguinho. 

2.)  SANGUINHO,  s.  m.  Tauuo  com  que 
o  sacerdote  alimpa  o  culix  depois  de  eom- 
mungar. 

3.)  SANGUINHO,  s.  m.  Arvore,  que  a 
popula<;a  chama  sangrino,  ou  saiujri- 
nhtiiri). 

t  SANGUINHOSO,  A,  «r/j.  Vid.  Sangui- 
noso. 

Vâo  homens,  vão  cauallog  submergidos 
Por  baixo  da  corrente  impetuosa 
Cauallo.^,  o  homens  licào  ostoiídidos 
Na  caiiipaiiha  funesta  sau^niiilwa. 
Vcdi!  illuiítros  varões  todos  cabidos, 
E  a  sua  descondoncia  valorosa 
Entre  canalha  vil  degenerada 
Som  dillcreui;,a  alguma  alli  abraçada. 

CORTE  BE  AL,  NAUFRÁGIO  DE  SEPÚLVEDA,  Caut.   11. 

SANGUINIDADE,  s.  f.  Cousanguini- 
dade. 

SANGUINIFERO,  A,  aJj.  Vid.  Sangui- 
fero. 

SANGUINO,  A,  aJj.  Sauguineo.  —  Ar- 
mas saiiguiuas. 


Hum  Tlei,  por  nome  Afonso,  foi  na  Hospanha, 
Que  fez  aos  Sarracenos  tanta  guerra, 
(iui"  por  armas  .in/i^iinin.».  força,  o  manha, 
A  nuiitos  fez  perder  a  vida,  c  a  torra ; 
A'oaudo  deste  Rei  a  fama  estranha 
Do  Herculano  Calpc  á  Caspea  serra. 
Muitos  para  na  guerra  esclarecer-se. 
Vinham  a  oUc,  e  á  morte  ofterecer-sc. 
CAji.,  tcs.,  cant.  .3,  est.  2.3. 


SANGUINOLENCIA,  .s.  /.  Crueldade,  cf- 
fusPio  de  .sangue,  derraiuameuto  d'elle. 

SANGUINOLENTO,  A,  a<lj.  (Do  latim 
saDguiuoleiUus).  Termo  do  medicina.  Tin- 
to de  saugue.  —  Escarros  sauguinolen- 
tos. 

—  Cruel,  que  derrama  sangue,  cruen- 
to. —  «  E  mais  por  llio  roubar  esta  glo- 
ria, que  por  piedade  o  cõpaixilo  natural 
(como  ello  publicava^i  buscou  outras  per- 
seguii;oens  que  n.^io  fossem  sanguinolen- 
tas.» Monarchia  Lusitana,  liv.  õ,  capitu- 
lo 26. 


Estes  quo  dos  mortnna  .lanfiiinohiifoíi 
Grolpes  dos  Lusitanos  vâo  fugindo, 


Com  apressados  pa».Hoi  mais  quo  leutoit, 
Juntos  ao4  (|uc  ao  clauior  vem  acudindo, 
i)  numero  de  mil  siibre  quiiiUeutos 
Í!^m  breve  espaço  alii  forao  cumprindo, 
(.^om  que  não  t<iiu<°m  Ja,  nem  se  retirao. 
Mas  seguem  oj  de  quem  antes  fugirão. 

r.  u'a.nuua[je,  i'biiieiuo  ceucu  db  Diu,caut.  17, 
est.  7'.l. 


—  tíacrijicio  sanguinolento ;  sacrilicio 
de  victimas  degolada.s. 

—  Mmlo   sanguinolento  de  curar;  de- 

gollan<l(>  ciii  .-aii;;ue  o  doente. 

SANGUINOSO,  A,  adj.  [Do  latim  san- 
í/niiiu.susi.  Em  que  liouve  muito  sangue 
derramado. 


Noga-9c  a  Lira  a  bárbaros,  o  oscnros 
Termos,  que  jurão  aanyiiinosa  guerra 
Do  metro  Lu.so  á  magica  harmonia. 

J.  A.  DV.  MACEDO,  VIAUKM  EXIAIICA,  CaUt.  4. 

—  Ensanguentado. 

— ■  .Vmigii  de  derramar  sangue. 

SANGUISEDENTO,  A,  adj.  Termo  de 
poesia.  Que  tem  sôde  de  sangue,  sangui- 
nário. 

SANGUISORBA,  s.  f.  Espécie  do  pim- 
piíiella,  planta  oflicinal. 

SANGUISUuA,    s.  /.  Vid.  Sanguesuga. 

SANGUIXUGA,   s.  /.  Vid.  Sanguesuga. 

SANHA,  s.  /.  li-a,  fui-or,  á  similiiauça 
do  animal  que  mostra  os  dentcò  amea- 
çando. 

Que  é  desde  nossos  pais  fama  constante, 
(Jue  aonde  o  sol  se  põe  nessas  montanhas 
lia  um  fundo  logar,  de  que  é  habitante 
O  perlido  auliangá  com  cruéis  sanhas: 
Ali  de  cn.xofre  a  cscurid:'io  fiimante 
Com  cem  portas  cerrou  Tupá  tamanhas, 
C^ue  as  náo  pi'ide  forçar,  nem  todo  o  inferno: 
A  morte  é  a  chave,  c  o  cadeado  é  eterno. 
DLK.io,  c.ui-VMLRÚ,  caut.  3,  cst.  25. 

Nem  tu  piídcs  suster  de  Marte  a  sanha 
Tu  que  pudeste,  oh  Musa,  até  da  Morte 
As  iras  quebrantar,  e  as  Leis  do  Averno, 
Dando  outra  vez  a  Esposa  a  Orfeo  piedoso. 

J.  A.  DE  M.VCEDO,  A  NATUREZA,  Cant.   1. 

Não  foi  por  certo,  não,  de  Jovc  a  sanha, 
Que  no  sol  quiz  vingar  de  Koma  o  crime. 
Como  a  voz  da  lisonja,  cm  áureos  versos, 
yuiz  o  Mundo  iUudir  no  egrégio  Vate, 
guando  o  punhal  da  infausta  "liberdade, 
Tirando  á  Pátria  hum  monstro,  a  entrega  a  cento. 
IDEM,  MEDir.KÀo,  cant.  2. 


—  Fazer  armas  de  sanha ;  brig;u'  em 
duello  por  prova  judiciaria ;  o  assim  nos 
reptos  ou  desalios,  para  provar  o  accusa- 
dor  quo  reptava,  a  traiy.ão  do  reptado,  e 
esto  a  sua  innoccneia. 

—  ^l)'/ii(/s  de  sanha;  diz-sc  em  oppoai- 
«,ilo  a  anuis  de  jugo,,  quo  eram  justas, 
torneios,  etc. 

—  Sanha  de  villão;  o  agastauiento  im- 
prudoute,  intempestiva,  que  uos  faz  per- 
der algum  bem. 

—  Eiguradameute :  Sanha  do  fado. 


'l'ambem  um  não-s«i-<|ué  nic  diz  no  peito 
Que  c'-sta  taiUia  do  fado  hade  accahnar-iio... 
UAUHKrr,  catXu,  act.  3,  se.  «. 

—  Sanha  de  villão;  locução  proverbial 
que  allude  á  necci»sidado,  e  coatume  cor- 
te/.âo  de  requerer  humilde,  c  agradecer 
an  repuUas  com  Halás,  c  lisonja.-*,  e  nada 
de  raivas, 

—  Adagio  e  i'UovEumo: 

—  AmanHe  sua  sanha,  quem  por  ai 
mesmo  se  engana. 

—  Svx. :  Sanha,  escandescencia.  Vid. 
este  uitiiiiií  vocábulo. 

SANHADO,  A,  adj.  Termo  antiquado. 
Sujeltu  a  saniia,  saidiudo.  —  Homem  sa- 
nhado.  \"\>\.  Assanhado. 

SANHEDRIM,  /».  m.  Vid.  Synhedrim. 

SANHUANLIRA,  *.  /.  Termo  antiquado, 
Reuiias,  f(injs,  pensões  que  se  pagam  j)eIo 
S,  Joào.  Vid.  Sanhoaneiro,  e  Sanjoa- 
neira.  —  «Que  todoios  outro»  empraza- 
mentos, aíloramento.'»,  arrendamentos,  e 
cliauceilaiia-í,  e  direito.-!,  e  eoliíeitas,  fo- 
ros, rendas,  e  tributos,  portageená,  cen- 
sos, e  sauhoaneiras,  cm  que  alguuns 
CíjncelLos,  Moradores  d'algumas  Villaâ, 
e  lugares,  o  outras  quaeesquer  pessoas, 
que  por  esto  ajam  de  pagar  certos  dinhei- 
ros i)er  as  ditíis  moedas,  ou  ouro,  ou  pra- 
ta de  quo  pagavam  por  a  dita  moeda  de 
três  libras  e  meia  huma  libra,  que  pa- 
guem a  dita  moeda,  ou  ouro,  ou  prata.* 
Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit.  1,  §30. 

SANHOANEIRO,  A,  adj.  _  Porteirot 
sanhoaneiros;  os  porteií-os  ou  sacadores, 
que  algumas  corporações,  ou  grandes  se- 
nhores conseguiam  d'£l-rei  para  lhes  ar- 
recadar os  seus  fructo.-*,  fijros,  e  rendas; 
mas  deviam-se  obrigar  ])rimeiro  os  que  os 
pediam,  a  pagar  e  i^atisfazer  ás  partes, 
todo  o  damno  que  os  ditoi  porteiros  sem 
raeionavil  causa  lhes  fizessem, 

SANHOANHE.  Termo  antiquado.  San 
Joào. 

SANHOSO,  A,  adj.  Cheio  de  ira,  colé- 
rico, raivoso,  irado. 

SANHUDAMENTE,  adv.  (De  sanhudo, 
com  o  suflixo  «mentep).  Iradjunente,  com 
ira,  sanha,  —  «  E  vistas  per  n<>8  as  ditas 
Leyx,  declarando  e  temperando  as  penas 
em  ellas  coutheudas,  dizemos  e  poi'nios 
por  Lov,  que  todo  aqueile,  que  sanhuda- 
meute  renegar  de  DEOS,  ou  de  Santa 
Maria,  se  for  Fidalguo,  Cavalleiro,  ou 
Vassallo,  pague  por  cada  vez  que  a^ST 
renegar  mil  reis  pêra  a  arca  da  piedade.* 
Ord.  Affons.,  liv.  1,  tit.  OH,  S  4. 

SANHUDO,  A,  adj.  Assanhado,  sauho- 
so,  irado,  colérico. 

—  Figuradamente  :  Mal  assombrado. 
—  Guerreiro  sanhudo. 

—  Termo  jioecieo.  Sanhado  mar;  mar 
embravecido,  encapeliado. 


Trováõ  não  stála,  c  ron&i,  cm  Alpes  duros, 
Nem  com  mAr  oít.impido,  o  Etna  dertSlre 
Abrazada  alluvião,  do  cavo  seio  : 


SANS 


SANT 


SANT 


40õ 


Com  miiâ  fragor,  não  quebra,  cm  pvespas  Coítas 

Saiihudo  Mar,  quaudo  o  Tufão  rebenta, 

E  o  Cl-o  desaba,  á  voz  do  Eterno,  em  chuva. 

F.    M.    DO  NASCIMENTO,  03   MÁRTIRES,  1ÍV.    6. 

SANIAR,  i'.  a.  Vid.  Sauear. 

SANICULA,  s.  f.  Flauta  medicinal  da 
fivmilia  das  umbelilferas,  conhecida  tam- 
bém pelo  nome  de  orelha  de  asno, 

SANIDADE,  s.  f.  (Do  latim  sanitas).  O 
estailo  da  cousa  sã,  ou  curada.  Vid,  Cura. 

SANIE,  s.  f.  (Do  latim  sanies).  Termo 
de  medicina.  Matéria  purulenta,  liquida, 
ténue,  serosa,  sanguinolenta,  e  do  um 
cheiro  fétido,  produzido  pelas  ulceras  e 
chagas  de  um  aspecto  pardacento. 

SANIOSO,  A,  a<lj.  (Do  latim  saniosus, 
de  sanies).  Que  pertence  á  natureza  da 
sanie.  —  Um  humor  sanioso. 

SANISSMO,  A,  rt-/j.  (Superlativo  do  la- 
tim saaus).  Muito  são.  —  Mulher  sauis- 
sima. 

SANITÁRIO,  A,  aJj.  (Do  francez  sani- 
taire).  Que  diz  respeito  á  conservação 
da  saúde  publica.  —  Leis,  medidas,  ijre- 
cauçoes  sanitárias. 

—  Cordão  sanitário ;  linha  militar  col- 
locada  de  modo  a  impedir  toda  a  com- 
raunicação  com  paiz  infeccionado  de  uma 
doença  contagiosa. 

—  Descarga  sanitária;  descarga  das 
mercadorias  de  um  navio  infeccionado 
com  todas  as  precauções  necessárias  para 
prevenir  entre  os  homens  empregados,  a 
transmissão  da  doença. 

SANJA,  s.  f.  Abertura  larga,  entre 
vallados,  para  escorrer  agua.  Vid.  Sar- 
geuta. 

—  Sanjas  dos  hacellos;  rego  na  vinha. 
SANJAGO.  Vid.  Sangiaco. 

SANJAR,  1-.  a.  Abrir  sanjas.  —  Sanjar 
a  terra. 

1.)  SANJOANEIRA,  s. /.  Tributo  anti- 
go que  talvez  se  pagava  pelo  8an  João. 
Vid.  Sanhoaneira. 

2.)  SANJOANEIRA,  s.  /.  Uma  espécie 
de  peras  assim  chamadas. 

SÃMENTE,  adv.  Vid.  depois  de  Sam- 
buxa. 

SANO,  por  SÃO.=Emprogado  nas  Pro- 
vas da  Hist.  geaeal.  da  casa  real. 

SANQUITAR,  v.  «.  —  Sanquitar  a  Sroa; 
pôl-a  no  algiddar,  e  dar-lhe  algumas  vol- 
tas com  farinha  para  se  unir  bem  a 
massa. 

f  SANSGRITARIO,  A,  adj.  Que  se  re- 
fere ao  sanscripto. 

— -  Substantivamente  :  Homem  que  se 
applica  ao  estudo  do  sanscrito. 

f  SANSGRITICO,  A,  adj.  Relativo  ao 
sanscrito. 

-j-  SANSGRinSMO,  s.  m.  Estudo  do 
sanscrito;  reunião  das  doutrinas  philolo- 
gicas  e  historias  derivadas  d'este  estudo. 

f  SANSCRITISTA,  s.  m.  Diz-se  d'aquel- 
les  que  se  distinguem  no  conhecimento 
do  sanscripto. 

SANSCRITO,  A,  adj.  —  A  limjua  sans- 


crita ;   antiga  lingua  dos  judeus,  lingua 
sagrada  do  Indostão. 

—  Substantivamente :  O  sanscrito  ;  a 
lingua  sanseripta. — Estudar  o  sanscrito. 

SANSIMONISMO,  s.  m.  Vid.  São-simo- 
nismo. 

S.\NT',  ou  SANGT'.  Abreviatura  de  San- 
to, ou  Saucto.  Termo  coUocado  antes  tios 
nomes  que  principiam  por  vogal.  Vid. 
San. 

SANTAARVORE,  s.  f.  Arvore  da  ilha 
do  Ferro,  análoga  nas  folhas  ao  loureiro, 
sempre  verde. 

SANTAFOLHO.  Vid.  Centafolho. 

SANTAMENTE,  adv.  (De  santo,  e  o  suf- 
íixo  «mente»).  De  iinia  maneira  santa. 

—  Cotno  santo. 

—  ('(un  santidade,  piedade. 
SANTANARIO,  A,  adj.  Termo   popular. 

Beato,  rezador,  entregue  a  beatices. 

SANTÃO,  ONA,  s.  Termo  da  Ásia.  Re^ 
ligioso  tido  em  conta  de  santo. 

—  Hypocrita,  que  se  iiuge  santo  ou 
santa. 

SANTARRÃO,  ONA,  s.  Augmentativo  de 
Santo.  WA.  Santão. 

SANTEIRAMENTE,  adv.  (De  santeiro, 
e  o  suftixo  «mente»).  Com  superstição, 
com  sautinionia,  hypocritamente. 

1.)  SANTEIRO,  s.  m.  Esculptor  que  faz 
imagens  de  santos. 

—  Dá  a  plebe  também  este  nome  aos 
indivíduos  que  vendem  imagens  de  san- 
tos. 

2.)  SANTEIRO,  A,  adj.  Devoto  de  san- 
tos com  superstição. 

— ■  Dias  santeiros  ;  dias  santos. 

— •  Religioso,  sincero. 

SANTELLO,  s.  m.  Espécie  de  Irede  de 
pescar  peixes. 

SANTELMO,  s,  m.  (Do  francez  saint-el- 
me).  O  efieito  da  electricidade  que  se  ma- 
nifesta em  fogo,  e  que  apparece  nos  mas- 
tros e  n'outras  partes  do  navio,  mormen- 
te por  occasião  da  tormenta. 

—  Figuradamente  :  Pessoa  ou  cousa 
que  livra  do  mal  imminente,  ou  cm  que 
alguém  está. 

SANTIAGO,  í.  m.  Santo  mui  venerado 
e  acatado  em  Hespauha,  e  mormente  na 
Galliza. 

—  Termo  de  alveitaria.  Mostrar  o  ca- 
vallo  a  estrada  de  Santiago  ;  estender, 
estando  quieto,  alguma  mão  adiante. 

—  Dar  Santiago  ;  signa!  de  voz,  cai- 
xa ou  tiro,  para  principiar  o  ataque,  pe- 
leja, etc. 

—  Loo.  POP. :  já  estrada  de  sautiago  ; 
a  via  láctea. 

— •  Dar  Santiago ;  romper  a  batalha 
com  o  appellido  do  Santiago,  invocando 
o  seu  auxilio,  como  se  usou  em  Hespa- 
iiha  nas  batalhas  contra  os  mouros. 

SANTIAMEN,  s.  m.  Termo  popular  usa- 
do na  locução :  Em  santiamen ;  no  mesmo 
instante,  sem  demora,  sem  interrupção, 
em  um  momento. 

SANTIGO,  s.  m.    Brinco   em  que   está 


um  santo  esmaltado  em  ouro  e  se  traz  ao 
peito. 

SANTIDADE,  s.  f.  (Do  latim  sancfitas). 
A  qualidade  do  que  c  santo.  —  «E  posto 
que  a  santidade,  e  grandeza  de  cada 
qual,  seja  tão  esclarecida  na  Igreja  de 
Deos,  não  sey  com  tudo  a  causa  porque 
se  retirasse  o  nome  de  Padroeyros  de 
Lisboa,  a  quem  primeiro  regou  as  ruas 
delia  com  seu  próprio  sàgue  por  honra  de 
Jesv  Christo.»  Monarchia  Lusitana,  liv. 
5,  cap,  23.  —  «Donde  quando  ella  mor- 
reo,  não  somente  o  leixou  rico  com  toda 
sua  fazenda,  de  que  o  fez  herdeiro,  mas 
ainda  acreditai !o  de  santidade  entre  aquel- 
le  povo  rústico.»  João  de  Barros,  Década 
2,  liv.  10,  cap.  6.  —  «Todos  sabemos 
Senhores,  c  irmãos,  dizia  o  capitam,  da 
grande  santidade  do  padre  M.  Francis- 
co; toda  he  por  nós,  aqui  o  temos  com 
nosco,  a  sua  oraçam ;  as  suas  lagrimas ; 
o  seu  espirito  sam  ferro,  fogo,  morte  aos 
iniigos.»  João  de  Lucena,  Vida  de  S. 
Francisco  Xavier,  liv.  5,  cap.  13. 

Ante  a  face  de  Xosao  Senhor, 

cuja  patente  com  firma  scfrura 

c  a  grandeza,  o  liem,  formosura 

o  tanger  das  palmas,  a  gloria,  louvor: 

e  a  saiifiJadc. 

ANTÓNIO  PIIESTES,  AUTOS,  pag.    PÓ. 

—  Sua  santidade ;  o  papa,  o  padre 
santo. 

—  Plur.  Deidades  do  paganismo,  deu- 
ses e  deusas. 

SANTIFICAÇÃO,  s.  /.  (Do  latim  sandi- 
Jicatio).  Acção  e  efleito  da  graça  que  san- 
tifica. 

—  Acção  de  procurar  o  que  santifica. 
Vid.  Santiíicar. 

—  Santificação  do  domingo,  e  dias  de 
festa;  sua  celebração  segundo  as  leis  da 
egreja. 

SANTIFICADO,  ijart.  i^ass.  de  Santiíi- 
car. Tornado  santo. 

SANTIFICADOR,  A,  adj.  e  s.  Aquelle 
que  santifica. 

• —  Que  ensina  a  ser  santo,  digno  d'es- 
te  titulo. 

SANTIFICANTE,  part.  act.  de  Santifi- 
car. Que  santifica.  —  Estas  obras  são 
santas  e  santificantes. 

SANTIFICAR,  (ui  SANCTIFICAR,  v.  a. 
(Do  latim  sanctijicare).  Tornar  santo,  sa- 
grado. —  Os  logares  que  Christo  santifi- 
cou com  sua  presença.  —  «Quanto  pêra 
desejar,  e  estimar  seja  a  contemplação 
considerai  das  palauras  seguintes.  A  gra- 
ça da  contemplação  nam  somente  purifi- 
ca o  coração,  e  o  deixa  limpo  de  todo 
amor  da  terra,  mas  também  o  santifica, 
e  intíania  em  amor  das  cousas  do  Ceo,  e 
quem  por  inspiração,  e  reuelaçam  das 
cousas  celestiaes  chegou  ao  estado  de 
contomplaçam,  recebe  um  penhor  da  abun- 
dância da  gloria,  onde  eternamente  des- 
cansara na  contomplaçam,  e  visam  bea- 


406 


SAXT 


SAXT 


SANT 


tificii  (lo  Deos.»  Fr.  Bartlioloiiicii  dos 
Martyros,  Compendio  de  espiritual  dou- 
trina, c;ip.  1 1. 

—  Tomar  santo,  tomar  conformo  á 
lei  divina. 

—  Santificar  por  seu  exemplo;  dar  bons 
exemplos  para  o  caminlio  da  salvação  e 
da  8antiri<.'ni,'ão. 

—  Di-i-Mí  lias  cousas  em  um  sentido 
análogo.  —  Santificar  «  poesia  por  uma 
vbra  tiii)  preciasa. 

—  Santificar  o  dia  do  domiwjo ;  cí:\c- 
bral-o  sefíiiiido  as  leis  da  egreja. 

—  Santificar  a  alma ;  fazer  obras  de 
santidade. 

—  Obrigar  a  ser  santo,  livro  das  pai- 
xões lia  carne. 

—  Honrar  como  a  cousa  santa. 

—  Santificar  o  «tí/ne  de  Deos;  bemdi- 
zel-o. 

—  Ensinar  santos  costumes,  persuadir 
ás  virtudes  religiosas. 

—  Declarar  por  santo. 

—  Santificar-se,  v.  rejl.  Tornar-se  san- 
to. 

SANTIGAR,  V.  a.  Fazer  o  signal  da 
cruz,  ili/.cr  orai,'ues  sobre  o  doente. 

SANTIGUAR-SE,  v.  rejl.  Cobrir-se  com 
pretexto  santo,  e  representar-se  como 
santo,  para  prender  os  outi-os,  ou  cau- 
sar-lhes  males,  pcrseguiçCes,  etc. 

SANTILÃO,  adj.  o  s.  ílypocrita,  que  se 
tinge  santo. 

SANTIMONIA,  ou  SANCTIMONIA,  .«.  /. 
(Do  latim  Hinctimonia).  Santidades,  ou 
rigoridades  de  santos. 

—  Exterioridades  de  santos,  obras  me- 
nos essenciaes  a  que  cUes  se  applicam; 
tomado  li.  má  parte. 

SANTIMONIAL,  adj.  2  gen.  (Do  latim 
sanctíiiioiHulis}.  Com  aspecto,  maneiras 
de  sautimouias.  —  lii/pocrisia  santimo- 
nial. 

SANTINHO,  A,  aJJ.  e  s.  Diminutivo  de 
Santo. 

Como  cstaes? 

Passou-sc ! 

Qunudo  ? 
Ilida  agora,  vac  santinJtn. 
l'artio  como  um  passarinho  ! 
Scubor,  imo-uo3  cautaudo. 

ÀNTÚXIO  PUE3TE3,  ALTOS,  pag.  285. 

SANTÍSSIMO,  A,  adj.  superl.  de  Santo. 
Muito  santo.  —  «E  assim  como  o  amíir  a 
Deos  deveras  consiste  em  fazer  sua  Séin- 
tissima  vontade  em  todas  as  cousas :  as- 
sim o  aborrecer-me  a  mim  consiste  em 
naõ  fazer  a  minlia  vontade  em  cousa  al- 
guma.» Padre  Manoel  Bernardes,  Exer- 
cícios espirituaes,  pag.  71. 

—  Á  imiiiaculada  Vouceirão  de  Maria 
Santíssima.  —  «Ordcnon-me  V.  A.  ha- 
verá dons  meses  depois  de  hum  argu- 
mento que  tivemos,  que  lhe  mostrasse  as 
rasoens  que  eu  tinha  para  deflendcr  a 
sempre  pura,  o  in\maculada  Conceyçiío 
de  Maria  Santíssima,   Màe  de  Deus,  e 


sempre  Virgem.»    Cavalleiro  (i'01iveira. 
Cartas,  liv.  1,  n."  ú^. 

—  >S.  m.  l*or  antonomásia  :  O  Sacra- 
mento da  Eucliaristla. 

1.)  SANTO,  ou  SANCTO,  A,  adj.  (Do 
latim  saiiclus).  Dotado  de  santidade,  li- 
vro de  toda  a  culpa  moral. 

—  Virtuoso,  conforme  as  leis  do  Deus, 
o  da  virtude. 


Ascanio,  (so  trazer  me  hc  couccdido 
Entro  santos  exemplos  hum  profano) 
liei  do  Império,  despois  tão  conhecido, 
Do  IkOma,  o  só  relíquia  do  Troiano, 
Vingou  eom  setta  e  ânimo  atrevido 
As  soberbas  palavras  de  Numano ; 
K  logo  foi  dalli  remunerado 
Com  louvores  de  Apollo,  e  celebrado. 

CAU.,  EPISTOLA  3. 


—  «Mas  põderay  o  que  diz  S.  Thomas 
que  ainda  que  naõ  podia  auer  mais  pura 
criatura,  mais  santa  si,  porque  a  perfei- 
ção euãgelicji  he  cousa  que  nilo  tem  ter- 
mo pois  o  naõ  tem  a  de  Deos,  que  he 
o  aluo  a  que  os  Santos  tiraõ,  e  aque  todo 
Christaõ  deve  tirar.»  Paiva  de  Andrade, 
Sermões,  part.  1,  pag.  10. 

—  Dia  santo ;  com  obrigaçSo  de  ouvir 
missa,  o  abster-se  de  trabalho. 

Quando  hos  priucipes  sahiam 
dias  santos  caualgauani, 
todos  seus  pouos  oa  viam, 
clles  viam  e  ouuiam 
todos  quantos  lhes  fallaunm. 

GABCIA  DE  KEZKNDR,  UISCEULAKEA. 

—  Dias  santos  dispensados,  ou  aboli- 
dos; dias  cm  que  se  pikle  trabalhar. 

—  O  santo  nome  de  Deus;  o  seu  sa- 
grado, respeitável  nome.  —  «E  avendo 
elles  este  prospero  successo  por  mercê 
grande  dada  da  mào  de  Deos,  tizerão 
todos  huma  devota  salva  em  que  lhe  de- 
raõ  muytas  graças  e  muytos  louvores,  e 
lhe  pedirão  cõ  muitas  lagrimas  que  os 
não  desemparasse,  porque  por  hora  do 
seu  santo  nome  se  lho  offerecirio  todos 
em  sacriticio  para  no  mais  que  cò  seu 
favor  esperav.ão  de  fazer  darem  as  vidas 
pela  sua  santa  Fé  Catholica. »  Fernão 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,   cap.  140. 

—  O  santo  padre;  o  papa.  —  «Não  se 
acabár.ào  por  aqui  as  disputas  do  nosso 
Santo  Padre  co  Bonzo  Fucaraudono,  por- 
que ajuntando  elle  a  si  outros  seis,  em 
que  tinha  coutiansa,  o  vierào  buscar  muy- 
tas vezes,  e  lhe  propnnhão  niuytiis  qucs- 
toens,  nas  quaes  lhe  arguhião  sempre 
muytas  cíiusas  de  novo  contra  a  verda- 
de, que  o  Padre  lhes  pregava.»  Fernão 
Mendes   Pinto,   Peregrinações,  cap.  213. 

—  Santa  lei  de  Deus;  lei  dictada  por 
Deus.  —  «A  mentira  he  hnum  peccjido 
auto  Deos  muito  aborrecido,  o  ponido 
naõ  somente  per  a  sua  Santa  Loy,  mas 
ainda  por  Ley  natural.»  Ord.  Affons., 
liv.  3,  tit.  27." 


—  Tido  por  homem  santo  ;  tido  por  ho- 
mem cheio  lie  santidade.  —  «  Nesta  pele- 
ja de  hum  pelouro  de  bombarda  mataram 
hum  mouro  cacls  per  nome  Maimauie 
Marcar,  estando  em  orai;."io  na  camará  da 
galé  em  ()ue  vinha,  auido  cntrelle«  jjor 
homem  santo,  o  qual  el  Rei  de  Calecut, 
c  o  de  Cambaia  mandaram  au  Soldam  da 
Babilónia  pêra  o  exhortar,  e  requerer 
que  mandasse  gente  a  índia,  que  lanças- 
se fora  deliu  os  Portugueses.»  Damião  de 
C4ocs,  Cbroníca  de  D.  Manoel,  part.  2, 
cap.  2í). 

—  Que  a  egreja  declarou  por  bem- 
aventurado,  o  gozando  da  visão  beatifica. 
—  «A  isto  acudirão  logo  os  bonzos  para 
apaziguarem  a  união  do  povo,  pijrquo 
todo  junto  a  huma  voz  dezia  com  gran- 
des brados,  o  sangue  do  santo  homem 
ostrangeyro  ha  de  pedir  vingança  da 
morte  que  os  nossos  bonzos  lhe  derão 
porque  fallava  verdade.»  Fernão  ^leodes 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  90. 

—  Uma  Jé  limpa,  e  santa.  —  «A  qual 
Fé  limpa,  santa,  e  perfeita  não  era  taõ 
avarenta,  que  tizesse  exceyçaõ  de  pes- 
soas, como  elles  diziaò,  porque  naõ  im- 
possibilatava  ás  mulheres  terem  salvação, 
por  ser  género  mais  fraco  por  naturesa, 
nem  punha  o  remédio  que  ellas  nisso  po- 
diaõ  ter,  no  muyto  que  lhe  a  elles  des- 
sem por  isso,  como  elles  lhe  davaõ  a  en- 
tender.» Fernão  Mendes  Pinto,  Peregri- 
nações, cap.  212. 

—  O  santo  Crucijixo;  Christo  pregado 
n'uma  cruz.  —  Dizem  que  este  Santo 
Crucifixo,  he  da  grandeza  de  hum  ho- 
mem de  estatura  ordinária,  que  tem  oe 
cabellos  da  cabeça,  e  os  da  barba  bas- 
tantemente  compridos.»  Cavalleiro  d'01i- 
veira,  Cartas,  liv.  1,  n."  24. 

— A  santa  lei  de  Mafamede.  —  «E  bra- 
dando alto  para  que  todos  o  ouvissem, 
disse  por  três  vezes,  lah  hilah  hilah  lah 
Muhamed  roçol  halah,  ii  Massoleymões  c 
homens  justos  da  santa  ley  de  Mafame- 
de, como  vos  deixais  vencer  asai  de  hu- 
ma gente  tão  fraca  como  saõ  estes  cies, 
sem  mais  animo  que  de  galinhas  brancas 
o  de  molherca  barbadas?»  Femiio  Men- 
des Pinto,  Peregrinações,  cap.  õP. 

—  O  pendão  da  iusiijnia  santa. 

Mas  entre  esta  revolta  que  cAusár&o 
No  baluarte  os  infiéis  soldados, 
Koligiosos  peitos  não  faltarão. 
Os  quaes  da  honra  da  Cruz  estimulados, 
Ou  acabar  :illi  dotorminárào, 
Sondo  na  terra  e  Ceo  etcmis.">do3. 
Ou  erguer  o  pendão  da  insignim  ranta 
E  abater  o  que  o  Turco  impio  levanta. 

FBASCISCO    D°ANDBADE,    rBlMElBO     CBBCO    BB    OIC, 

cant.  14,  est.  lOó. 


çao. 


Santa  Mattr  Dei;  termo  de  invoca- 


Carvào  quero,  á  que  d'el-rci  I 
acodi  dllio! 


SANT 


SANT 


SAXT 


407 


Que  é  isto  ? 
É  o  ante-ehristo, 
Jesu  !  SaiUa  Mator  Dei ! 

ASTOSIO  PRESTES,  ACTOS,  pSg.  419. 


Termo  de   inrocacào.   Santos  céus! 


Vós,  sanios  Ceos,  e  Tu,  Astro  brilhante 
Que  o  dia  trazes,  e  que  o  dia  levas, 
E  que  eu  nascer  naO  vejo  ha  longos  annos, 
Vós  testemunhas  sois,  se  eu  pcrtendia 
Jlais,  que  em  paz  desfructar  minlia  Prebenda, 
Comer,  jogar,  dormir,  e  divertir-me. 
A.  D.  DA  cKcz,  HTssoPE,  cant.  4. 

E  logo  proseguiu.  Se  minha  estrella 
Ordenado  me  tem,  que  pov  encantos 
De  alguma  feiticeira,  ou  Nigromante 
Em  fero  bruto  eu  haja  de  mudar-me, 
Praza  a  vós,  santos  Ceos!  ao  Fado  praza. 
Que,  antes  do  que  em  sendeiro  lazarento, 
Em  brioso  Cavallo,  clles  me  mudem. 
IBIDEM,  cant.  5. 

—  Santo  Thyrso;  termo  de  invocação 
d'este  sauto. 


Jesu  !  nora ! 
ai !  como  estou  amarello  ! 
satito  Thvrso  !  <5  pesadelo 
toma  a  maçã,  vae-tc  embora ! 

ASTOSIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  S99. 


—  Os  tanigores  da  santa  irmandade . 
—  «E  mandando  eu  por  meu  despacho 
aos  tanigores  da  santa  irmandade  que  por 
parte  delles  arrezoassem  sobre  final,  el- 
les  o  fizeraõ  no  termo  que  por  mim  lhes 
for  assinado.  E  sendo  satisfeito  por  am- 
bas as  partes  conforme  ao  estilo  deste 
iuizo,  mandey  que  me  viesse  o  feito  con- 
cluso, para  determinar  nelle  por  minha 
sentença  o  que  fosse  justiça. »  Fernão 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,   cap.   103. 

—  Edijicio  santo  ;  editicio  sagrado,  res- 
peitável.—  «E  nos  primeiros  alicerces  el 
Rev  por  sua  mão  por  honra  de  tão  san- 
to, tão  grande,  e  piedoso  ediíicio,  lançou 
muytas  moedas  douro,  e  esse  dia  andou 
todo  ahv  vendo  como  se  começaua,  e 
comeo  em  casa  do  conde  Monsanto,  que 
he  pegada  com  a  orta  do  dito  Esprital.s 
Garcia  de  Rezende,  Chronica  de  D.  João 
II,  cap.  140. 

—  Juro  a  estes  santos  Evangelhos; 
uma  formula  de  juramento.  —  aFoaõ  Pas- 
savante  juro  a  estes  Santos  Evangelhos 
nas  mãos  de  Foaõ  Rey  de  Armas,  que 
bem,  e  verdadeiramente,  e  com  todo  o 
cuidado,  e  diligencia  aprenda  todo  o  que 
necessário  for  ao  nobre  officio  das  Armas, 
para  que  dignamente  possa  passar,  e  ser 
acrescentado  ao  officio  de  Arauto,  e  de 
Rey  de  Armas,  quando  ElRey  Nosso  Se- 
nhor disso  houver  por  seu  serviço  de  me 
prover.  11  ]\Ianoel  Severim  de  Faria,  No- 
ticias de  Portugal,  Disc.  3,  cap.  19. 

—  Sino  de  Santo  Antão.  —  aE  el  Rey 
tinha  mandado,   que  tanto  que  o  Duque 


fosse  morto,  tocassem  o  sino  de  Santo 
Antão,  e  estando  el  Rey  com  poucos  ou- 
uio  tocar  o  sino,  e  em  no  ouuindo  le- 
uantouse  da  cadeyra,  e  pozse  em  joe- 
lhos, e  disse :  Rezemos  polia  Alma  do 
Duque,  que  agora  acabou  de  padecer,  e 
isto  com  os  olhos  cheos  de  lagrimas,  e 
assi  em  joelhos  esteue  hum  espaço  re- 
zando por  elle,  e  chorando.»  Garcia  de 
Rezende,  Chronica  de  D.  João  II,  capi- 
tulo 40. 

— •  Santo  Thomaz;  Santo  Borja.  — 
«Nem  se  me  pôde  estranhar  este  argu- 
mento por  alheio  da  profissão  Ecclesias- 
tica,  por  quanto  a  Milícia  he  parte  de 
Politica,  e  como  tal  trata  delia  San- 
to Thomaz  em  muitos  lugares  de  suas 
obras.»  Manoel  Severim  de  Faria,  No- 
ticias de  Portugal,  Disc.  2,  cap.  1. — 
«Navegamos  dez  léguas  n'e3te  dia  sem 
susto  e  divertidos  a  ver  garças  e  muita 
caça  de  alternaria  ceder  á  fortuna  de 
destros  caçadores.  A  termos  a  mortifi- 
cação do  Santo  Borja,  largo  campo  se 
abria  em  que  a  podessemos  exercitar.» 
Bispo  do  Grão  Pará,  Memorias,  publica- 
das par  Camillo  Castello  Branco,  paír. 
190.\  '^^ 

—  Virtuoso,  cheio  de  santidade. 


Dizei,  senhora,  não  vedes 
como  está  Santo  f 

ANTOsio  PRESTES,  AUTOS,  pag.  389. 


Nào  ?  pois  não  morrerá  santa. 
queimemol-a. 

Cazar,  eu ! 
homem  ha  que  capuz  ponha, 
nem  no  sonha 
por  molher. 

IBIDEM,  pag.  415. 

—  O  santo  oficio;  o  tribunal  da  in- 
quisição. 

—  Corpo  santo.  Vid.  Santelmo. 

—  A  santa  egreja  cathJica. 

—  Os  santos  padres;  os  que  ensinam 
doutrina  sã  de  erros  em  dogmas,  ou  mo- 
ral, e  que  santifica  os  homens. 

—  O  santo  officio;  o  officio  do  inqui- 
rir sobro  a  herética  pravidade  dado  aos 
officiaes  do  tribunal  da  santa  inquisição. 

—  Útil.  —  Medicamento  santo. 

—  Respeitável. — «E  destes  desatinos 
e  outros  muytos  a  este  modo  nos  contarão 
tantos,  que  he  niuyto  para  pasmar,  mas 
muyto  mais  para  chorar,  ver  com  quão 
claras  e  manifestas  mentiras  traz  o  de- 
mónio tão  enganados  a  homens  por  outra 
parte  tão  entendidos,  sem  poderem  atinar 
com  a  trilha  desta  nossa  santa  verdade 
que  o  Filho  de  Deos  veyo  notificar  ao 
mundo,  porem  o  segredo  disto  elle  só  o 
sabe.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.   111. 

2.)  SANTO,  ou  SANCTO,  A,  s.  Pes- 
soa santificada,  ou  canonisada  pela  egre- 
ja.  —  «For  entre  estas  duzentas  e  oiten-  | 


ta  casas  avia  infinitas  colunas  de  bronzo, 
e  encima  de  cada  huma  delias  estava 
hum  Ídolo  do  mesmo  bronzo  dourado,  e 
alguns  destes  idolos  erão  de  prata,  que 
saõ  as  estatuas  dos  que  elles  nas  suas 
seytas  tiveraõ  por  santos,  e  de  que  con- 
tão  grandes  patranhas.»  Fernão  Mendes 
Pinto,  Peregrinações,  cap,  128. 

—  Figuradamente:  Encommendar-se  a 
bom  santo ;  sair  do  perigo,  alcançar  al- 
guma cousa  difficil  por  moio  de  bons  va- 
ledores. 

—  Um  santo ;  a  imagem  de  qualquer 
santo. 

—  Cognome  dado  a  uma  pessoa  que 
pelas  suas  excelsas  virtudes  mereceu  es- 
te titulo. —  oEl  Rei  D.  AíFonso  onzeno 
de  Castella,  tendo  alguns  aggravos  de 
D.  Joaò  Manoel,  filho  do  Infante  D.  Ma- 
noel, 8  neto  dei  Rei  D.  Fernando  o  san- 
to, com  cuja  filha,  chamada  D.  Constan- 
ça, estava  casado  por  palavras  de  futu- 
ro, por  ser  ella  ainda  menina,  a  deixou 
sem  outra  causa,  e  casou  com  a  Infante 
D.  Maria,  filha  dei  Rei  D.  Afí^onso,  dei- 
xando concertado  que  o  Infante  D.  Pe- 
dro casasse  com  D.  Branca,  filha  do  In- 
fante D.  Pedro,  que  morreo  na  Veyga 
de  (íranada.»  Fr.  Bernardo  de  Brito, 
Elogios  dos  reis  de  Portugal,  continua- 
dos por  D.  José  Barbosa. 

—  Na  miiicia,  é  o  nome  de  um  santo 
que  se  dá  como  signal  nas  guardas  em 
segredo,  e  que  deve,  quem  vem  render, 
dal-o  á  sentinella,  a  fim  de  manifestar 
que  é  o  competente,  e  em  tempo  de  guer- 
ra, que  é  dos  nossos,  e  não  inimigo.  Vid. 
Nome. 

• — •  A  festa  de  todos  os  santos ;  festa 
que  a  egreja  celebra  no  dia  1  de  novem- 
bro, véspera  da  coramemoração  dos  fieis 
defuntos. 

—  Adágios  e  provérbios  : 

—  Deixar  fazer  a  Deus,  que  é  santo 
velho. 

—  O  rio  passado  e  o  santo  não  lem- 
brado. 

—  Rogar  o  santo  até  passar  o  bar- 
ranco. 

—  Lá  vem  agosto  com  os  seus  santos 
ao  pescoço. 

—  Palavras  de  santo,  e  unhas  de  gato. 
— -Quando  Deus  não  quer,  santos  não 

rogam. 

—  Pelos  santos  novos,  esquecem  os  ve- 
lhos. 

—  Em  quanto  tem  saúde,  quedos  es- 
tão os  santos. 

—  Ao  bom  calar  chamam  santo. 

—  Dizem  os  sinos  de  Santo  Antão, 
que  por  dar,  dão. 

—  Dia  de  Santiago,  vai  á  vinha, 
acharás  bago. 

—  Salsa  de  São  Bernardo. 

—  Agua  de  São  João,  tira  vinho  e  não 
dá  pão. 

—  Até  São  Pedro,  ha  o  vinho  medo. 

—  Dia  de  São  Pedro,  tapa  o  rego. 


408 


SANT 


SAPA 


SAPA 


—  Dia  lio  São  IVjiIro  vô  o  tmi  ollvc- 
do,  c  si;  vires  um  fírào,  cHporfi  por  (íciito. 

—  Dia  de  São  Jlatlúiis  firincipiain  us 
enxertias. 

—  Diu  lie  São  Vi<-e)iti%  toila  a  fronte  é 
quoiílc. 

—  [)ia  lU:  São  J5cri'.ardo  secca-so  pelo 
pé  a  pallin. 

—  São  Mi][,niel  das  uvas,  tardo  vens,  e 
pouco  iiui'as;  so  duas  vozes  vioras  no  an- 
uo, nílo  estiveras  com  amo. 

—  Por  São  Francisco  seniôa  teu  tri- 
go, e  a  velha  que  o  dizia,  semeado  o  ti- 
nha. 

—  i'or  São  roncas  sabem  as  uvas. 

—  i'or  Santa  Iria,  toma  o  boi  o  scraêa. 

—  Por  São  Similo  e  Judas  coUddas  t^ão 
as  uvas. 

—  Dia  do  São  Martinho  prova  teu  vi- 
nho. 

—  Por  São  Martinho  nem  fenos,  noni 
vinho. 

—  Por  São  Clemente  alea  a  mão  da  se- 
mente. 

—  Fevereií'o  faz  dia,  e  logo  Santa  Jía- 
ria. 

—  Por  Santa  Maria  vai  ver  tua  vinha, 
e  tal  a  adiares  tal  a  vindima. 

—  Por  Santa  Jlaria  do  agosto,  repasta 
a  vacca  um  pouco. 

—  Do  dia  de  Santa  Catharin^  ao  Na- 
tal, mez  igual. 

—  Dia  do  Santa  Luzia  cresce  um  pal- 
mo o  dia. 

—  I  )ia  de  Santa  Luzia  mingua  a  noite 
e  cresce  o  dia. 

•    — De  pae  santo  filho  diabo. 

—  Aos  parvos  apparecem  os  santos. 

—  Por  todos  03  Santos  a  neve  nos 
campos. 

—  Por  todos  os  Santos  semeia  trigo, 
colhe  canlos. 

—  Por  todos  os  Santos  até  ao  Natal, 
perde  a  paileiva  o  cabedal. 

1.)  SANTOANE,  s.  m.  San  João. 

2.)  SANTOANE,  s.  m.  Termo  antiqua- 
do. Parece  ser  pauno  ou  droga.  —  «  Dei- 
xo a  Fulanç  sete  cevados  de  santoane 
Íara  ura  vestido.»  Documento  antigo. — 
)e  ser  esta  droga  mui  levo,  fresca,  e 
pouco  encorpada,  é  de  presumir  lhe  vi- 
ria o  nome  de  San  Joã  ■,  pois  só  era 
própria  do  tempo  quente,  e  calmoso,  qual 
costuma  ser  no  me/,  de  junho. 

SANTOLA.  Vid.  Centoia. 

SANTO  OFFICIO.  Vid.  Santo  [adj.). 

SANTOR,  .V.  m.  (Do  fraucez  smttoir). 
Termo  do  Rrazil.  Aspa. 

SANTORAL,  s.  m.  Livro  de  panegyri- 
cos,  ou  viilas  dos  santos. 

SANTORUM,  s.  »;.  Termo  da  provincia 
da  Reira.  i)  pào  por  Deus.  Vid.  Pão. 

SANTUÁRIO,  .S-.  m.  [Do  latim  sandua- 
riiuii).  O  lugar  do  templo  judaico,  onde 
só  entrava  o  sunmio  sacerdote. 

—  Casa  onde  so  guardam  reliquias,  e 
relicários  de  alguma  egreja,  ou  legares 
santos. 


SAO.  Vid.  depois  de  Samoloide. 

—  Adágios  k  imjovkuuios: 

—  Filho  mau,  melhor  ó  doente  que 
são. 

—  Nilo  ha  moco  doente,  nem  vollio 
são. 

—  So  queres  viver  são,  faze-tc  velho 
antes  do  tempo. 

SAÕES,  p/ur.  de  Saão,  ou  Saião.  Vid. 
esta  jialavra. 

SAPA,  s,  f.  (Do  francez  mjie).  <)  tra- 
balho do  sajiador,  a  obra  que  ello  faz. 

—  Pá  de  pau  ou  de  ferro,  com  cabo  do 
levantar  a  terra  cavada,  como  as  dos  ri- 
beiriídios. 

SAFADA,  .«.  /.  Chapada,  planura,  bu- 
periieie  ]ila;ia.  Vid.  Chapada. 

SAPADOR,  s.  v>.  (Do  francez  aipeiir). 
Soldado  enearrcgado  da  cxeeue.lo  das  sa- 
pas. —  C")»j)nnhin  ile  sapadores. 

—  Particularmente:  Soldado  de  infan- 
teria  armado  de  uma  lanya,  que  marcha 
á  frente  dos  regimentos. 

SAPAL,  s.  m.  Terra  brejosa,  apaulada, 
que  er'a  muitos  sapos;  lameiro,  tremedal. 

SAPÃO,  .«.  wí.  Termo  de  botânica.  Ar- 
voro «la  índia  que  tem  alguma  similhança 
com  o  pau  bi"azil;  da  sua  madeira  é  ex- 
trahida  uma  tinta  vermelha  para  tingir 
A  lã. 

SAPAR,  V.  a.  (Do  francez  saper).  Le- 
vantar a  terra  com  a  sapa. 

—  Trabalhar  com  o  picão  para  destruir 
os  fundamentos  de  um  eililieio,  etc. 

—  Figuradamente:  Minar,  atacando  os 
principies,  como  se  mina  uma  muralha, 
atacando  os  alicerces. 

SAPATA,  ou  ÇAPATA,  s.  /.  Sapato  de 
mulher. 

—  Termo  de  marinha.  Uma  espécie  do 
bigota  mais  pequena,  e  de  diversa  gran- 
deza, com  um  só  furo  no  meio,  e  este 
quasi  da  mesma  figura  de  uma  sapata; 
serve  para  se  fazer  iixa  no  extremo  de 
algum  cabo,  como  patarrazes,  e  fazer  pas- 
sar por  elles  e  por  algum  olhai,  ou  arga- 
néo,  voltas  de  algum  cabo  delgado  para 
alll  se  fazer  firme. 

—  Termo  de  pedreiro.  Sapata  da  pa- 
rede; a  parte  do  alicerce  que  cresce  so- 
bre a  terra,  c  tem  mais  grossura  que  a 
parede  que   cresce  sobre  a  sapata. 

—  Feijiíes  de  sapatas ;  os  que  se  cozem 
com  as  vagens. 

—  Termo  de  náutica.  Poleame  surdo, 
que  se  aguenta  nos  chicotes  dos  estaes, 
cabrestos,  ctc. 

—  Espécie  de  bota  sem  canhão  até 
meia  perna ;  é  usado  também  das  mulhe- 
res. 

—  Vid.  Berma. 

SAPATADA,  .í.  /.  Golpe,  ou  antes  pan- 
cada com  o  sap.ato.  j 

SAPATÃO,  s.  m.  Augmentativo  de  Sa-  j 
pato.  Sapato  grosso.  | 

SAPATARIA,  s.  /.  Bairro,  ou  rua  de  , 
sapateiros. 

—  Oflicio  de  sapateiro,  I 


SAPATEADA,  f.  f.  Acto  de  sapatear, 

l.)  SAPATEADO,  part.  jxus.  do  Sapa- 
tear. 

•J.  I  SAPATEADO,  ».  m.  Ccrtii  dança. 

SAPAIEAR,  i'.  )i.  Dar  certas  pancadaa 
mesuradas  coiii  o  nalto  do  8apat<j  no  chão 
em  certos  bailes. 

SAPATEIRA,  «. /.  Uma  espécie  do  ma- 
risco de  concha  vulgar. 

L)  SAPATEIRO,  s.  m.  Homem  que  &z 
sapatos,  ou  outro  qualquer  calçado. 


luto  t°avÍ40  daqui, 

F;i/.f-o  por  .'oiin-  f1'''  mi. 

Vofim,  ^  -n 

(JiK'  iiiM'.  r.  meu 

I'.-.a  d 

Qiic  furei,  i|uu  u  éajtii/aro, 

Núo  tcin  lioiiia,  nem  tcui  pcUc  ? 

GIL   VICEXrB,   VIUVAS. 

não  cubr.ins  por  minha  \'i(la, 
tendo  que  isío  me  di-rrctc. 
Isso  é  muito  tapalriro. 

ANfOMO   PBESTEg,  ACT08,  pSg.  339. 


—  Honif-m  que  vendo  sapatos. 

2.)  SAPATEIRO,  A,  adj.  Que  é  de  sa- 
pateiro, 

—  Azeitona  sapateira;  azeitona  que  já 
está  molle,  c  tocada  de  podre  mi  sal- 
moura. 

SAPATETA,  t.  f.  Sapata,  talvez  de  ta- 
lilo,  como  o  lie  chinela. 

—  (J  som  que  se  produz  andando  em 
chinelas,  e  batendo  o  salto  d'ellas  na  ca- 
sa ou  no  calcanhar,  ou  saltando  ou  tocan- 
do os  saltos  ou  calcanhares  um  ro  outro, 
como  fjizem  dançarinos,  e  bailadorcâ  de 
terreno. 

—  Correr  a  sapateia  a  ahju/em ;  dar- 
Ihe  uma  corrimaça  do  apupa-las  ou  pan- 
cadas, e  .-^cixadas,  e  fazel-o  fugir. 

f  SAPATEIRO,  *.  m.  Vid.  Sapateiro. 
—  «Tem  por  immundas  todas  as  outras 
nações,  nem  comem  como  outrem,  que 
naò  seja  do  seu  sangue  com  tanta  supers- 
tição, que  o  sapateyro  naò  entra  em  ca- 
za  dos  Bracmenos,  (que  saõ  os  Sacerdo- 
tes) nem  os  filhos  do  alfayate  casam  com 
os  do  ourives,  e  deste  modo  se  conser- 
vam, sem  se  misturarem  hnns  com  os 
outros,  o  que  grandemente  difficulta  o 
negocio  da  conversão.»  Conquista  do  Pe- 
gn,  cap.  1. 

SAPATILHOS,  í.  «1,  phn:  Termo  de 
marinha.  Aros  de  ferro  formados  de  cha- 
pas com  meia  canna  para  a  parte  exte- 
rior, ficando  cono.ivo  pelo  centro:  servem 
para  se  aguentarem  nos  punhos  das  ve- 
las, nos  chicotes  das  velas  onde  se  intro- 
duzem gatos,  nos  tectos  da.?  veias  p.oi^a 
os  impunidoun^is,  nos  moitões  e  cadcmacs 
de  gatos,  onde  pegam  as  pôas,  por  se 
n.io  cortar  as  bolina.*,  ou  em  que  pegam 
os  briíies  na  esteira  da  vela,  etc. 

—  Os  sapatilhos  da  cnnua  do  assucar; 
as  primeiras  folhas  que  deitam  do  pé  meio 


SAPE 


SAPI 


SAPI 


409 


enterradas,  já  seccas,  que  se  tiram  quan- 
do as  alimpam  para  filharem. 

SAPATINHA,  s.  /.  Diminutivo  de  Sapa- 
ta. .Sapata  pequena. 

SAPATINHO,  s.  m.  Diminutivo  de  Sa- 
pato. Sajato  pequeno. 

SAPATO,  s.  m.  Calçado  ordinário,  que 
consta  de  rosto,  pala,  salto,  talào  e  ore- 
lhas ;  aperta-se  com  fivelas  ou  laços  de 
fita. 


Sajiatos  me  daria  cUe, 

Se  me  vós  désseis  diabciro. 

Eu  o  haverei  agora, 

E  mais  calças  te  prómetto. 

Homem  que  não  tem  nem  preto, 

Casa  muito  na  ma  ora. 

GIL  VICENTE,  FARÇAS. 


—  «Pé  grande,  de  marca  e  fora  da 
marca,  pé  de  Barcellos,  e  cu)  >  sapato  — 
como  os  do  licenciado  Cabra  na  Historia 
do  gram  Tacauo  de  Quevedo.»  Bispo  do 
Grào  Pará,  Memorias,  publicadas  por  Ca- 
millo  Castello  Branco,  pag.  õ9. 

—  Sapato  ih  malhão ;  sapato  grosso 
contra  as  lamas,  á  maneira  dos  rústicos. 

—  Pós  de  sapato  ;  o  que  se  faz  do  fu- 
mo do  azeite  ou  graxa,  e  é  muito  negro 
e  leve. 

—  Jogo  do  sapato  ;  faz-se  passando-se 
um  sapato  por  baixo  dos  que  o  jogam,  e 
anda  um  buscando-o,  ao  qual  dào  com 
elle  nas  costas,  e  o  tornam  a  esconder. 

—  Sapato  picado,  ou  golpeado ;  por  en- 
feite ao  modo  antigo. 

—  Sapato  de  feltro,  etc. 

—  Sapatos  de  ferro.   Vid.   Sapatilhos. 

—  Alguns  escrevem  çapatos,  mas  eíta 
orthographia  está  hoje  pouco  em  uso. 

—  Adágios  e  provérbios: 

— •  Sapato  roto  ou  são,  melhor  é  no  pé 
que  na  mão. 

—  Fazer  o  pé  para  o  sapato. 

—  Não  lhe  dá  pelo  bico  do  sapato. 

—  Andar  com  sapatos  de  feltro, 

—  Metter-se  em  um  sapato. 

—  Sapato,  quanto  duras?  quanto  me 
untes ! 

SAPE!  interj.  =  Usa-se  para  espantar 
os  gatos. 


como  gato  que  ouve  sape  ; 
e  entào  dar,  cortar,  fender  : 
n'cs3e  mar  morra  eu  de  engulho 
80  me  cllc  hoje  não  põe  nesta 
a  ahna.  vida,  e  o  debulho, 
apesar  do  cascamulho. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  419. 

—  O  jogo  do  sape  na  barba  ;  é  de  dous 
rapazes  que  tem  a  ni?Ío  na  barba,  e  com 
a  outra  esperam  e  dào  uma  pancada. 

SAPE,  s.  m.  Uma  herva  que  no  Bra- 
zil  nasce  nas  torras  cançaJas,  de  fo- 
lhas compridas  e  estreitas,  de  um  pen- 
dão branco;  serve  de  cobrir  palhoças,  o 
seu  raizame  é  nodoso,  e  trava  tanto  que 
voL.  V.  — 52. 


faz  as  terras  más  de  lavrar  com  arado, 
e  nào  deixa  alargar  raizes  de  outras  plan- 
tas. 

—  Casa  de  sapé  ;  de  taipa  de  sebe, 
coberta  com  elle. 

-|-  SAPECA,  s.  /.  A  menor  fracção  mo- 
netária da  Cochinchina.  E  uma  moeda 
chiiíeza. 

SAPEZAL,  s.  m.  O  local  onde  ha  muito 
sapé. 

—  Terra  infructifera,  que  só  produz 
sapé. 

SAPHENA,  s.  f.  Termo  de  anatomia. 
Nome  dado  a  duas  veias  da  perna. 

—  Grande  saphena,  ou  saphena  inter- 
na; saphena  que  nasce  na  face  dorsal 
dos  dedos  internos  dos  pés,  e  se  abre  na 
veia  crural  perto  da  arcada  inguinal. 

—  Saphena  externa,  ou  pequena  saphe- 
na ;  aquella  que  nasce  nos  dedos  exter- 
nos dos  pés,  e  vai  abrir-se  na  curva  da 
perna  na  veia  poplitada. 

SAPHICO,  A,  mlj.  (De  Sapho,  celebre 
cantora  lyrica). —  Verso  saphico  ;  verso 
inventado  por  Sapho,  e  composto  em  ge- 
ral de  cinco  pés,  sendo  o  primeiro  cho- 
rou, o  segundo  espondeu,  o  terceiro  da- 
ctylo,  o  quarto  e  o  quinto  choreus. 

—  Saphico  hexametro  ;  é,  segundo  Plu- 
tarcho,  um  hexametro  que  começa  e  aca- 
ba por  um  espondeu  como  o  quinto  da 
primeira  écloga  de  Virgilio. 

—  títrophe  saphica;  strophe  inventada 
também  por  Sapho;  é  uma  das  combina- 
ções as  mais  harmoniosas  que  os  antigos 
fizeram  dos  versos  lyricos.  Compõe-se 
de  três  saphicos  e  de  um  adonico. 

SAPHIRA,  s.  f.  Vid.  Safira. 

SAPIA,  s.  f.  (Do  latim  sapimis).  Espé- 
cie de  madeira  de  pinho  mau  de  lavrar, 
e  de  pouca  dura. 

SAPIDO,  A,  adj.  (Do  latim  sapidus). 
Que  tem  sabor.  —  Todos  os  saes  insolú- 
veis na  agua  são  insípidos;  aquelles  que 
se  dissolvem  n'ella-  são  mais  ou  meno^ 
sapidos. 

SAPIÊNCIA,  s.  f.  (Do  latim  sapientia) 
Sabedoria  das  cousas  intellectuaes  e  dl 
vinas.  —  O  temor  do  Senhor  é  a  sapien 
cia. 


Xobre  emprego  este  foi  de  antigos  Sábios, 
As  fontes  ir  buscar  das  cousas  todas. 
Amor  da  Sapiência,  amor  d  estudo 
Entro  03  mortaes  se  diz  Filosofia. 

J.    .A.    DE  MACEDO,  \1.\GEJI  EXI.ATICA,  Caut.    1. 

Consolação  extrema  hc  Sapiência 
Xo  mal  da  Natureza,  e  da  Ventura. 
IBIDEM,  cant.  2. 

Da  Sapiência  antigos  amadores, 

Os  Sacerdotes  do  celeste  Nume, 

São  do  Teui(jlo  immortal  alto  ornamento, 

E  seus  Bustos  de  Poifido  formavào 

Oâ  Timbres,  c  os  Troícos  do  Altar  sagrado. 

LBIDEJI. 

A  gloria  do  Immortal  me  opprime,  e  cega. 
Se,  ousado  indagador,  lhe  peço  a  chave 


Dos  áureos  cofres,  que  os  mysterios  guardão. 
Fatal  herança  do  mortal  primeiro. 
He  como  um  dia  opaco,  hum  Ceo  nublado, 
Essa,  que  os  homens  desvanece  tanto, 
Filha  do  estudo,  altiva  sapiejicia. 

J.    A.    DE    MACEDO,    MEDITAÇÃO,    Caut.    2. 

—  Termo  da  antiga  chimica.  Lufo  da 
sapiência ;  aquelle  que  serve  para  fechar 
hermeticamente  os  vasos. 

—  Absolutamente  :  A  Sapiência ;  o  li- 
vro de  Salomão. 

—  Termo  de  theologia.  O  divino  Ver- 
bo, a  razão  eterna,  a  infinita  sabedoria. 


O  teu  nome,  <5  mortal,  lançado  estava 
No  Livro  arcano  do  Destino  immobil, 
Tu  devias  entrar  no  Templo  eterno. 
Que  a  Sapiem^ia  levantou  no  Olvmpo. 

J.   A.   DE  M.ACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Cant.    1. 

Xunca  deixou  de  perseguir  o  Mundo 
A  Sapiência,  o  Mérito,  a  Virtude: 
Tristes  Aves  da  noite  a  luz  odeào. 
Fogo  o  grande  Aristóteles  de  Athenas, 
E  busca  asilo  cm  morte  voluntária. 
IBIDEM,  cant.  2. 

Quanto  pode  atinar  mesquinho  humano 
Co'  as  sendas  da  verdade,  e  da  virtude, 
Antes  que  a  luz  do  Ceo  baixando  ao  homem 
As  densas  trevas  d'alraa  lhe  espancasse, 
O  Egypto  possuio ;  foi  este  o  berço 
Da  -"apicncia,  que  na  Argiva  terra 
Ao  fastígio  chegou,  como  inda  admiro 
Dos  sábios  seus  nos  immortacs  volumes. 

IDEM,  MEDITAÇÃO,  Cant.    1. 

Profunda  Sapiência,  eterna  força, 
Teus  bens  continues  são,  teus  bens  são  novos: 
Thesouros,  profusão,  gloria,  e  belleza 
Tu  no  Palácio  do  mortal  derramas : 
Que  proporções,  que  sabia  arquitectura 
Na  minha  habitação  descubro  absorto ! 
IBIDEM,  cant.  2. 


—  Livro  da  Sapiência ;  um  dos  livros 
do  Antigo  Testamento,  attribuido  a  Salo- 
mão, filho  de  David. 

SAPIENCIAL,  adj.  2  gen.  (Do  latim  sa- 
pientialis).  Próprio  da  sapiência,  de  sa- 
piente. 

—  Sábio,   prudente,  de  sabedoria. 
SAPIENCIAES,  adj.  2  gen.  jjlur.  Diz-se 

de  certos  livros  da  Escriptura  Sagrada, 
como  o  Ecclesiastico,  os  Provérbios,  Ec- 
clesiastes.  Cânticos,  etc.  —  Os  livros  sa- 
pienciaes. 

SAPIENTE,  adj.  2  gen.  (Do  latim  sa- 
piens >.  Dotado  de  sapiência,  sábio,  pru- 
dente. 

SAPIENTEMENTE,  adv.  (De  sapiente, 
com  o  suffixo  «mente»).  De  uma  maneira 
sapiente,  sabiamente. 

SAPIENTISSIMO,  A,  adj.  superl.  de 
Sapiente.  ^lui  sábio,  mui  .sapiente.  —  O 
sapientissimo  Deus. 

SAPINA,  s.  /.    Certo  género  de  pedra. 

SAPINHO,  í.  m.  Diminutivo  de  Sapo. 

—  Piar.  Na  bocca  das  creanças,  são 
umas  nódoas  brancas,  que  lhes  vem  á 
lingua;  aphtas. 


410 


SAPO 


SAQU 


SARA 


—  Doença  que  dá  também  noí  cavai- 
lo»,  bois,  c  outros  animaes. 

SAPO,  x.  m.  Termo  de  zoolo^i.a.  Ani- 
mal ampliibio  qiio  vive  cm  lo^arcá  brcjo- 
808  c  húmidos. 

Isto  ho  fcvBura  do  snpo, 
(iuc  ostá  nnstn  guardanapo. 
Eis  aqui  mania  do  porca, 
J5arb:in  dií  bodo  furtado, 
'Foi  do  morto  cxcommuiigado, 
Scixinhos  do  pó  da  forca. 

GIL  VICENTB,  FAHÇAS. 

—  Fif^uradamcnto :  Sapo  da  terra;  o 
cubiçoso  insaciável. 

—  Sapo  conch'>;   no  Minho,  o  cágado. 

—  AdaCtIO.s  k  ruovKUiuos: 

—  Ora  ha  um  anuo  mo  mordeu  o  sapo, 
e  agora  mo  inchou  o  papo. 

—  Andar  como  sapo  por  alquoives. 
SAPON,  «.  m.  Vid.  Sapão. 
SAPONACEO,  A,   n-lj.  (Do  latim  aapo). 

Termo  do  historia  natural.  Quo  tem  os 
caracteriís  do  .sabão;  que  pôde  ser  em- 
prejí.ido  nos  mesmos  usos  que  o  sabào. 

SAPONARIA,  .S-.  /.  Planta  de  que  se  fo- 
zcm  fervor  as  folhas  na  agua  para  lim- 
par 03  lanifícios,  as  rendas  do  lã,  etc. 

—  Género  da  familia  das  cariophylla- 
das,  que  tem  por  tvpo  a  saponaria. 

f  SAPONARINA,  s.  /.  Termo  de  chimi- 
ca.  Substancia  crystallisavel  que  se  en- 
contra n;v  saiionaria. 

SAPONARIO,  A,  a'1j.  Termo  de  phar- 
maeia.  Cous.a  ou  medicamento  em  cuja 
prcpara(,'?io  entra  sabão. 

f  SAPONICO,  A,  ndj.  Termo  de  chimi- 
ca.  Acido  saponico ;  pó  branco,  insolúvel 
na  agua  e  no  ethcr ;  solúvel  na  agua,  e 
álcool  fervente. 

SAPONIFICAÇÃO,  s.  /.  Operayão  pela 
qual  uma  substancia  gorda  se  converte 
em  sabão,  com  o  auxilio  dos  oxydos  al- 
calinos. —  Í7rti  principio  de  saponifica- 
ção. 

—  Acção,  arte  de  fazer  o  sabão. 
SAPONIFICADO,  part.  pass.  de  Saponi- 

ficar. 

SAPONIFICAR,  V.  a.  (Do  latim  sapo,  e 
f acere).  Transformar  um  corpo  gordo  em 
gabão. 

—  Saponificar-se,  v.  refl.  Transformar- 
se  cm  sabão.  —  Todos  os  ohos  ou  qordu- 
ras  não  são  stisceptiveis  de  saponificar-se 
egualmenfe. 

'  SAPONIFICAVEL,  adj.  2  gcn.  Que  p.'.de 
ser  saponiticado.  —  Os  óleos  são  saponifi- 
caveis. 

t  SAPONINA,  s.  /.  Termo  de  chimica. 
Principio  immediato  cxtrahido  da  raiz  da 
saponaria. 

—  D;l-so-lhe  também  o  nome  de  stru- 
thina. 

f  SAPONITO,  s.  m.  Mineral  talcoso, 
cspccie  de  stealite. 

SAPORIFERO,  A,  adj.  (Do  latim  sapo, 
c  ferre).  Que  traz  sabor. 

—  Que  produz  sabor  no  paladar. 


SAPORIFICO,  A,  adj.   (Do  latim  sapor, 

()/a(;(')«i.  (.jjui;  jtroluz  o  sabor. 

f  SAPROPHAGO,  adj.  Termo  do  zoolo- 
gia, (luv,  vive  do  matérias  orgânicas  de- 
compostas. 

—  tí,  m.  phir.  Familia  de  coleopteros, 
abrangendo  os  insectos  que  vivem  na» 
matérias  corruptas. 

f  SAPROPYRA,  8.  /.  Termo  do  medi- 
cina. Xonie  da'li)  á  febre  pútrida. 

SAPUCAIA,  ou  SAPUCAYA,  s.  f.  Termo 
do  líra/.il.  ( "ôco  dum,  de  cór  esverdea- 
da, ((ue  tem  uma  tampa  cónica,  ficando 
a  ponta  para  dentro  do  vão,  quo  está  oc- 
cupado  por  UMia  e.specie  de  castanhas; 
quando  ost:í  maduro,  a  tampa  abre  jjor 
si,  e  o  frueto  các:  os  macacos  abrem  o 
coco,  batendo  um  contra  o  outro,  e  sal- 
tando o  tampo  do  que  está  maduro,  ti- 
ranilhe  as  enstanhas  ;i  mão. 

SAPUCAIEIRA,  <iu  SAPUCATEIRA,  .'.  /. 
Termo  de  botânica.  A  arvore  que  produz 
madeira  chamada  sapucaia,  e  os  caroços 
ou  castanhas.  A  madeira  é  de  natureza 
rija,  dá  para  eixos,  e  virgens  das  moen- 
das de  asÃUcar,  esteios  enterrados,  car- 
ros, etc.  O  fructo  tem  dentro  amêndoas 
de  tão  cxcellente  gosto,  que  se  asseme- 
lham muito  :'i3  amêndoas. 

SAPUCHE,  s.  VI.  Uma  herva  do  Brazil, 
e  da  .Africa,  contraveneno  de  cobras. 

SAQUA,  s.  /.  Vid.  Saca,  exportação. 

SAQUE,  s.  m.  Saco,  acção  de  saquear. 

— •  O  saque  de  uDia  letra;  acção  de  a 
tirar  sobre  alguém,  dar-lhe  ordem  que  a 
pague  a  quem  a  apresentar. 

f  SAQUEADO,  part.  pass.  de  Saquear. 

SAQUEADOR,  A,  adj.  Pessoa  que  sa- 
queia, que  rouba. 

SAQUEAR,  v.  a.  Despojar  a  cidade,  ou 
navio  do  inimigo  que  se  lhe  tomou. 

c  saqoeoii  a  cidade 
com  muy  f;raude  crueldade, 
captiuou  03  Cardeaes, 
destravo  todoâ  os  mais 
sem  nenhuma  piedade. 

GARCIA  DK  BEZKNDE,   MlSCELL.OfEl. 


—  Roubar. 

SAQUEIO,  s.  m.  Vid.  Saque. 

SAQUETARIA,  s.  /.  Ofíicina  da  c^isa 
real,  onde  estava  o  pão  cozido. 

SAQUETARIO,  s.  vi.  O  ofVicial  que  ti- 
nlia  :i  sua  conta  a  saquetaria. 

SAQUETE,  í.  m.  Sacco  pequeno. 

SAQUILADA,  s.  /.  A  saca  da  novida- 
de do   trigo. 

SAQUILHÃO,  .«.  «i.  Ramo  quo  se  collo- 
ca  nas  pontas  das  aivecas  do  arado  para 
alargar  bem  o  rego,  e  espalhar  a  teiTa, 
cm  que  se  ha  de  metter  o  baccUo. 

SEQUIM,  .'.  »i.  Vid.  Zequim. 

SAQUINHO,  s.  m.  Sacco  menor  que  sa- 
quete. 

—  Termo  de  artHhcria.  Cartuxo  atado, 
e  cheio  de  pólvora,  para  carregar  jis  pc- 

ÇAS. 


SAQUINO.  \'id.  Saquim. 

SAQUITARIO,  «.  m.  Vid.  Saquetario. 

SAQUITEIRO,  «.  m.  Vid.  SaqueUrio. 

SAQUITEL,  K.  VI.  Diminutivo  de  Sacco. 

SARABAJARA,  »./.  Planta  análoga  nas 
folli.i-^  .1  I-  ii  orea. 

SARABANCO,  «.  m.  Vid.  Salavanco. 

SARABANDA,  s.  f.  Musica  o  dança  ale- 
gi'e  com  meneios  de  corpo  um  pouco  in- 
decorosos. 

—  Figuradamente:  RcprebensSo  áspe- 
ra e  severa. 

SARABANDEADO,  paii.  pata.  de  Sara- 
bandear. 

— iorte  sarabandeada ;  no  jogo  das 
presas,  continuada. 

SARABANDEAR,  r.  h.  Dançar  á  sara- 
banda. 

SARABATANA,  s.  f.  Vid.  Zarabatana. 

—  Buzina  que  leva  a  voz  a  longa  dis- 
tancia. 

SARABULHA,  .-.  /.  Vid.  Sarapulha,  e 
Sarabulho. 

SARABULHENTO,  A,  adj.  Áspero,  es- 
cabroso. 

—  Cheio  de  bostellas,  espinhas. 

—  Ciilierto  de  sarabuihos. 

SARABULHO,  á.  vt.  De.segualdade  e  as- 
pereza na  superfície  da  louça,  originada 
dos  grãos  de  areia,  ou  grossura  do  vidro 
mal  fundido,  etc.  Vid.  Sarrabulho. 

SARABULHOSO,  A,  adj.  Coberto  de  sa- 
rabui.io.  Vi  1.  Sarabulhento. 

SARAÇA.  Vid.  Sarasa. 

SARACOTE,  s.  vi.  Inquietação  do  que 
anda  para  aqui,  e  para  alli,  e  nào  pára 
em  um  ioLrar. 

SARACOTEADOR,  A,  adj.  Pessoa  que 
anda  vagando  fV>ra  de  sua  casa  ou  ceUa; 
que  nào  guarda  recolhimento. 

SARACOTEAR,  r.  n.  Nào  parar  em  um 
logar,  andar  vagando,  gyrando  inquieto. 

—  Loc.  POP. :  Saracotear  os  quadriê ; 
movel-os.  dançando  indecentemente. 

SARACOTÈO,  ou  SARACOTEIO,  #.  «i. 
Acto  de  saraeotejir,  e  seu  efuito. 

SARADO,  jHtrt.  pass.  de  Sarar. 

SARAFINA,  í.  /.  Vid.  Serafina. 

SARAGAÇO,  í.m.  Vid.  Sargaço. 

SARAGOÇA,  s.f.  Panno  de  15  preto  fa- 
bric-ado  no  reino,  e  bem  conhecido. 

—  Ha  também  saragoça  de  côr  de  cas- 
taidin.  Viil.  Briche. 

SARAIVA,  s.f.  (^.raniso,  pedrisco,  pro- 
duzivio  por  chuva. 

—  Syx.:  Saraiva,  gelo.  Vid.  este  ulti- 
mo termo. 

SARAIVAR,  I-.  n.  Cair  saraiva. 

—  T''.  a.  Açoutar,  flagellar  com  sa- 
raiva. 

SARAMAGO,  í.  m.  O  rabão  silvestre. 

SARAMANTEGA,  í.  /.  Vid.  Salamante- 
ga,  e  Salamantiga. 

SARAMANTIGA,  .'.  /".  Vid.  Saramante- 
ga. 

SARAMATULOS,  .-í.  m.  Termo  de  mon- 
toria.  Os  cornos  novos  do  veado  que  se 
renovam  cada  anno. 


SARA 


SARO 


SARD 


LU 


SABAMBEQDE,  í.  7».  Um  taile  alegre 
e  lascivo. 

SARAKBURA,  í.  /.  Tecido  de  algodão 
de  Benpala. 

SARAMENHEIRA,  s.f.  Arvore  que  pro- 
duz o  sarameniio. 

SARAMENEEIRO,  s.  m.  Vid.  Sarame- 
nheira. 

SARAMENHO,  s.  m.  Uma  espécie  de 
peras  pequenas. 

SARAMPÃO,  ou  SARAMPELLO,  ou  SA- 
RAMPELO,  s.  m.  Doença  que  consiste  em 
umas  piutas  roxas  pelo  corpo,  precedidas . 
de  febre  ardente;  em  gerai  dá  nas  crian- 
ças. 

SARAMPO,  s.  m.  Termo  popular.  Vid. 
Sarampão. 

SARAMPURA,  s.  f.  Vid.  Saramhura. 

SARAMUGO,  í.  m.  Peixe  do  rio  de  Lis- 
boa. 

SARANDALHA,  s.  /.  Termo  popular, 
originado  de  ciranda,  e  alterado  de  ci- 
randagetu.  As  alimpaduras  que  se  apar- 
tam cirandando,  e  se  lançam  fora. 

—  Figui-adamente  :  A  plebe,  gentalha, 
gente  que  não  é  de  casta. 

SARANGUE,  s.  m.  Piloto,  guarda  da 
proa. 

SARÃO,  s.  m.  Vid.  Serão. 

SARÁO,  s.  íii.  Baile  nocturno  entre  pes- 
soas nobres. 

—  Alguns  dizem  serão,  em  vez  de  s«- 
ráo. 

SARAPANEL,  s.  m.  Termo  de  arcliite- 
ctura.  —  Vdta  de  saparanel ;  abobada  de 
volta  abatida. 

SARAPANTADO,  A,  adj.  Termo  popu- 
lar. Aturdido,  espantado,  surprezo. 

—  Part.  2)ass.  de  Sarapantar. 
SARAPANTAR,    v.   a.   Termo  popular. 

Espantar,  atemorisar. 

—  Alã'uns  pronunciam  assarapantar. 
SARAPATEL,  s.  m.  Guisado  de  sangue 

de  porco,  cozido  em  agua,  e  frito  com 
banha  derretida,  e  talvez  com  o  ligado, 
e  vários  adubos. 

SARAPILHEIRA,  s.f.  Vid.  Serapilheira. 

SARAPíNO,  s.  m.  Vid.  Sagapeno. 

SARAPINTADO,  A,  adj.  Termo  popu- 
lar. Pintado  de  .sardas,  manchas. 

—  Mesclado  de  diversas  cores ;  mos- 
queado. 

SARAPULHA,  *.  /.  Vid.  Sarabulha. 
SARAR,  V.  a.  iDo   latim  sanare).  Dar 
saúde,  curar. 

—  V.  n.  Recobrar  a  saúde.  —  aXunca 
tão  claro  conheci  o  excesso  do  meu  amor, 
como  quando  tanto  esforço  íiz  para  sarar 
delle.  Receio  que,  se  houvera  visto  d'an- 
tes  as  dificuldades,  e  violências  d'esse 
empenho,  me  arrojasse  a  emprendê-lo.» 
Francisco  Manoel  do  Nascimento,  Succes- 
sos  de  madame  de  Seneterre. 

—  Emprega-se  também  íiguTadamente. 
SARASA,  s.  f.   Género  de  tecido,  de 

que  se  servem  as  mulheres  malaias. 

1.'  SARASSA,  s.  f.  Peça  de  chita  da 
índia,  inteiriça,  ou  em  dous  ramos,  para 


coberta  de  cama,  ou  panno  de  se  em- 
brulharem pretas,  etc. 

2. 1  SARASSA,  í.  /.  Termo  da  provín- 
cia da  Beira.  Um  ferro  com  isca  que  ar- 
mam aos  lobos. 

SARCASMO,  s.  m.  (Do  grego  sarlcas- 
mos).  Zombaria  picante,  insultante,  vitu- 
perosa. 

—  Chança  desprezante. 

—  Apodo  de  insultar. 

SARÇA,  ou  ÇARÇA,  s.  /.  Silveira. 

—  Vid.  Azinheiro. 

SARÇAL,  í.  iii.  Logar  onde  ha  muita 
sarça. 

SARÇAPARRILHA,  s.  /.  (De  sarça,  e 
parra).  Vid.  Salsaparrilha,  termo  hoje 
mais  usado,  e  corrupto  de  sarçaparrilha. 

SARCILEOS,  s.  m.  plur.  Termo  áe  ana- 
tomia.  Membranas  do  coração  da  forma 
de  orelhas,  ou  azas  das  aves. 

SARCINÁ,  s.  f.  (Do  latim  sarcina). 
Peso,  carga,  gravame. 

—  Termo  de  historia  natural.  Planta 
coriacea,  transpiarente,  consistindo  em 
massas  cubicas  ou  prismáticas,  que  se 
encontram  algumas  vezes  nos  vómitos  das 
pessoas  atacadas  de  affecções  chi'onicas 
do  estômago. 

-{■  SARCO.  Palavra  grega  que  entra  na 
composição  de  muitos  termos  scientificos, 
e  qiTe  significa  carne. 

j  SARGOBASE,  s.  f.  Termo  de  botâni- 
ca. Largo  disco  carnudo,  que  serve  de 
apoio  ao  ovário  de  algumas  jdantas. 

f  SARCOCARPIO,  ou  SARCOCARPIANO, 
A,  adj.  Termo  de  botânica.  Que  é  car- 
nudo e  da  natureza  do  fructo. 

—  Diz-se  dos  cogumelos  que  são  car- 
nosos pelo  menos  nos  seus  primeiros  tem- 
pos. 

f  SARCOGARPO,  adj.  Termo  de  botâ- 
nica. Diz-se  do  fructo  que  é  carnudo. 

—  S.  m.  Parte  do  pericarpo  situada 
entre  o  epicarpo  e  o  endocarpo,  paren- 
ch^Tuatosa,  mais  ou  menos  carnuda,  al- 
gumas vezes  apenas  visivel,  e  contendo 
todos  os  vasos.  O  sarcocarpo  é  muito 
desenvolvido  na  maçã,  melSo,  pecego, 
etc. ;  é  o  que  se  come. 

SARCOGELE,  s.  m.  (Do  grego  sarar,  e 
kelíj.  Termo  de  cirurgia.  Tumor  schir- 
roso  dos  testiculos. 

SARCOGOLLA,  s.  /.  (Do  gi-ego  sarx,  e 
kollai.  Substancia  resinosa  que  corre  de 
um  vegetal  da  Pérsia,  e  que  se  emprega- 
va para  incitar  a  reunião  das  chagas. 

SARGOCOLLEIRA,  *.  /.  Arvore^de  que 
se  extrahe  a  gomma  sareocolla. 

-J-  SARCOCOLLraA,  s.  f.  Termo  de  chi- 
mica.  Principio  que  se  extrahe  da  sareo- 
colla. 

7  SARGODE,  s.  m.  Substancia  homo- 
génea, sem  tegumento,  que  constitue  os 
infusorios,  em  opposição  á  opinião  que 
lhes  concede  a  polygastricidade. 

—  Substancia  que  sáe  por  exsudação 
em  roda  do  corpo  dos  helminthos  ainda 
vivos,    collocados  no   microscópio   entre 


duas  laminas  de  vidro,  assim  como  em 
roda  dos  fragmentos  do  tecido  laminoso 
dos  peixes,    e  de  diversos  órgãos  moUes. 

SARCODERMA,  s.  /.  Vid.  Mesosperma,- 

7  SARCO  DIGO,  A,  adj.  Que  se  refere 
ao  sarcode. 

7  SARCO-EPIPLOCELE,  s.  f.  Termo  de 
cirurgia.  Hérnia  epiploica  complicada  de 
sarcocele. 

f  SARCO-EPIPLOMPHALA,  s.  /.  Termo 
de  cirurgia.  Hérnia  umbilical  formada 
pelo  epiploon  tornado  duro  e  carnudo. 

SARCÓFAGO,  ou  SARGOPHAGO,  s.  m.- 
(Do  grego  sarXj  e  phatjô).  Pedi-a  que  con- 
some em  breve  todo  o  cadáver,  e  de  que 
por  isso  se  faziam  os  túmulos,  os  caixões 
conhecidos  também  pelo  nome  de  sarco- 
phagos.  —  Os  antigos  depositavam  n'estes 
túmulos  03  corpos  que  não  queriam  quei- 
mar. 

—  Modernamente  toma-se  por  eça. 

-}-  SARCO-HYDROCELE,  s.  m.  Sarcocele 
acompanhado  de  hvdrocele. 

SARCOLITHA,  s!  /.  (Do  grego  sarx,  e 
lithosi.  Pedra  cor  de  carne  e  transparen- 
te, descoberta  no  Vesúvio. 

SARCOLOGIA,  s,  /.  (Do  grego  sarx,  e 
logos).  Tratado  das  carnes  e  das  partes 
molles  do  corpo. 

SARCOMA,  s.  /.  Termo  de  cirurgia. 
Toda  a  excrescência  ou  tumor  que  tem  a 
consistência  da  carne. 

—  Tumor  duro,  sem  dôr,  que  se  forma 
em  diversas  partes  do  corpo. 

SARCOMATOSO,  A,  adj.  Termo  de  ci- 
rurgia. Que  diz  respeito  á  sarcoma. 

—  Que  tem  sarcoma. 

• — Alguns  dão  este  nome  aos  polypos 
duros  que  tendem  a  degenerar  em  can- 
cros. 

SâRGOMPHALO,  s.  tíí;  Termo  de  cirur- 
gia. Tumor  duro  desenvolvido  no  umbigo. 

SARGOPHAGO,  s.  m.  Vid.  Sarcófago. 

SARCOPHYLLA,  s.  /.  Termo  de  botâ- 
nica. A  parte  carnuda  ou  cellidosa  da 
folha. 

SARCOTIGO,  A,  adj.  (Do  latim  sarco- 
ticusi.  Termo  de  medicina.  Próprio  para 
accelerar  a  regeneração  das  carnes. 

f  SARC0TRIPSIA,%.  /.  Termo  de  ci- 
nirgia.   Esmagamento   linear  das  carnes. 

SARÇOSO,  Â,  adj.  Diz-se  do  logar  onde 
ha  muita  sarça. 

SARDA,  s.  /.  (Do  latim  sarda).  Um 
dos  nomes  vulgares  da  baleia  propria- 
mente dita. 

—  Espécie  de  cavalla  menor. 

—  Mancha  pequena,  e  parda,  no  rosto 
e  mãos. 

SARDACHATA,  s.  /.  Pedi-a  pequena, 
espécie  de  agatha. 

f  SARDANAPALESCO,  A,  adj.  Que  per- 
tence a  Sardanapalo,  ou  a  um  Sardana- 
palo. 

7  SARDANAPALICO,  A,  adj.  Vid.  Sar- 
danapalesco. 

f  SARDANAPALISMO,  í.  m.  Vida  lu- 
xuosa e  etieminada. 


412 


SAIID 


SAUíJ 


S.UiJ 


•J-  SARDANAPALO,  s.  m.  Nomo  de  um 
rei  do  Niiiivc,  quo  viveu  na  iiioUcza,  o 
no  prazer. 

—  Diz-ntí,  |)or  antonomásia,  doá  prin- 
cipcs  o  grandes  que  gozam  uma  vida  effe- 
miiiaila  o  dissoluta.  ' 

SARDÃO,  s.  III.  Termo  do  zoologia.  La- 
garto vcrdo,  graúdo  inimigo  das  co- 
bras. 

SARDENHO,  s.  m.  Género  de  cavalga- 
duras. 

SARDENTO,  A,  udj.  Quo  tem  sardas  no 
rosto,  ctc. 

—  Sardo. 

SARDINHA,  s.  /.  (Do  latim  srtrcZwKi,  ou 
sardinia).  Peixinho  vulgar. 

—  Loc.  PUOV. :  Cada  um  cheija  a  hraza 
á  sua  sardinha.  —  « Tonlia  V.  M.  mào 
desse  cauto,  mo  disse  o  Conde.  Ponlia-se 
V.  S.  aqui  verá  Talmella,  liie  disse  eu. 
V.  M.  lovanta-se  ás  niayores  na  minha 
Caza'?  Me  disse  elleV  Cada  hum  chega  a 
braza  á  sua  sardinha,  llie  respondi  eu.» 
Cavalleiro  d'01iveira,  Cartas,  liv.  1,  nu- 
mero lU. 

—  Adacuos  e  vuovEuaios: 

—  Da  mulher  e  da  sardinha  a  mais 
pequenina. 

—  O  que  sardinha  quer  é  picar  e  be- 
ber. 

—  Cada  um  chega  a  braza  á  sua  sardi- 
nha. 

—  Quem  quizcr  mal  á  sua  visinha,  dê- 
Iho  em  maio  unui  sardinha. 

—  Deitai  outra  sardinha,  que  outro 
ruim  vem  da  vinlia. 

—  Nem  cada  dia  rabo  de  sardinha. 

—  Em  agosto  sardinha,  c  mosto. 

—  Em  tua  casa  uiio  tens  sardinha,  e 
na  alheia  pedes  gallinlia. 

—  Com  uma  sardinha  comprar  uma 
truta. 

—  A  quem  em  maio  come  sardinha, 
em  agosto  lhe  pica  a  espinha. 

SARDINHEIRA,  s.  /.  Mulher  que  ven- 
do sardiulias. 

—  Loc. :  Andar  á  sardinheira ;  andar 
á  pesca  da  sardinha. 

SARDINHEIRO,  s.  m.  Homem  que  ven- 
de sariliului-i. 

—  Adj.  De  sardinha. 

—  Barco  sardinheiro ;  barco  que  anda 
á  pesca  das  sardinhas;  á  sardinheira. 

SARDIO,  s.  m.  i'edra  preciosa  meio 
transparente,  que  nào  brilha;  ordinaria- 
mente é  de  côr   de   carne. 

—  Alguns  dizem  que  o  seu  nome  vul- 
gar é  carnerina,  corrupto  depois  em  co- 
ralina. 

1.)  SARDO,  A,  adj.  e  s.  (Do  latim  sar- 
aus). Natural  da  Sardenha. 

2.)  SARDO,  A,  ailj.  Sardento,  cheio  de 
s&rdas. 

—  Côr  de  sarda. 

SARDONIA,  s.  /.  Termo  de  botânica. 
Planta  análoga  ao  apiastro,  ou  herva 
cidreira. 

SARDÓNICA,  s.  /.  i^Do  latim  sardonyx). 


Podra  preciosa,  quo  é  um  mixto  do  sar- 
dio,  e  da  cornaliua. 

SARDÓNICO,  A,  adj.  (Do  latim  sardo- 
iiicuD).  —  A'iòu  sardónico ;  riso  convulsivo 
causado  por  uma  eoiitraci;iIo  nos  muscu- 
les do  rosto. 

—  Jiino  sardooico ;  riso  immodcrado, 
produzido  pula  bebida  da  herva  sardo- 
nia,  ou  (pialquer  riso  immodcrado,  que 
talvez  mata. 

SARECOTEAR.    Vid.  Saracotear. 

SARGACINHO,  A,  adj.  —  Uca  sargaci- 
nha ;  uva  pequena  á  maneira  da  baga  do 
sargaro. 

SARGAÇO,  ou  SARGASSO,  s.  vi.  Planta 
marinha  que  anda  travada  no  cimo  da 
agua,  e  forma  grandes  mantas  cm  certos 
mares  e  costas ;  cada  pé  de  folha  tem 
uma  baga  como  um  grào  vazio  de  pimen- 
ta, e  sem  raiz. 

—  Mar  de  sargaço ;  mar  quo  está  en- 
tro dezoito  e  trinta  graus  ao  norte  da  li- 
nha cquiiioccial. 

—  Sargaço  vesiculoso;  planta  aquáti- 
ca, conhecida  também  pelo  nome  de  òo- 
tilhuo  vesiculoso,  ou  carvalhinho  do  mar. 

—  Dá-se-lhe  também  o  nome  de  òode- 
Iha,  ou  carvalho  marinho. 

SARGEL,  s.  m.  Termo  antiquado.  Cer- 
to género  de  tecido  grosseiro. 

SARGENTA,  s.  /.  O  sangradouro  de 
uma  lagoa.  Vid.  Sargeta. 

—  Vallos,  eanaes,  sangradouros,  ri- 
guciros,  ou  fossos,  que  se  fazem  para  en- 
xugar as  terras,  e  dar  vasào  ás  aguas 
encharcadas. 

—  Vid.  Sargente,  irmã  leiga. 

S ARGENTE,  s.  2  gen.  (Termo  corrupto 
de  Servente).  Pessoa  que  acode  com  o 
necessário  a  uma  e  outra  parte;  servi- 
dor. 

—  S.  f.  Irm<ã  leiga,  quo  servia  em 
communidade. 

—  Flur.  OflBciaes  de  justiça;  pessoas 
que  servem  na  sua  administraçào,  ou 
quaesquer  offieios  aibuinistrativos. 

SARGENTEAR,  v.  n.  Fazer  as  vezes  do 
sargento. 

—  Disciplinar  a  tropa. 

—  Dar  ordens  com  fadiga,  ou  pCl-as 
em  execução. 

SARGENTO,  s.  m.  (Do  francez  sergent), 
Oflieial  inferior  militar,  que  recebe  as  or- 
dens do  ajudante,  e  iis  participa  ao  seu 
capitão,  distribuo  as  d'oste  aos  subalter- 
nos cabos  de  esquadi-a,  e  soldados,  com- 
põe as  tilas,  e  posta  as  sentinellas. 

—  Na  ordem  de  Malta,  servidor. 

—  Sargento-»!''",  ou  inajur;  otYieial  que 
manda  o  regimento  ao  exercicio,  e  tem 
outros  encargos;  é  superior  ao  capitão, 
inferior  ao  coronel  o  tenente-coronel,  cu- 
jas vezes  substituo  em  falta  gradual  d'el- 
les.  —  «  Hontem  mo  trouxe  o  sargeu- 
to-mór  dos  Índios  um  presente,  que  ne- 
cessariamente acceitamos,  porque  sentem 
com  excesso  o  contrario:  era  um  euormo 
aerobim,  peixe  de  pelle  branca  e  parda, 


saboroso.»  Biitpo  do  OrSo  Pará,  Memo- 
rias, p;ig.  \K-2. 

—  Sargento-Mí/yr  de  batalha;  era  im- 
me  liatii  ao  mestre  de  campu  general. 

—  Sargento-»/('>  iLt  praça ;  offieial  mi- 
litar (pie  giiverna  a  trupa  dep<-»is  do  go- 
vernador. 

—  Sargento-nioV  de  brigada;  o  major 
mais  antigo  dus  que  I14  cm  uma  brigada. 

SARGETA,  s.  f.  Diminutivo  de  Sarja. 
(Icnero  de  tecido  de  lã  de  cordão  tino. 
Viil.  Sargenta. 

1.)  SARGO,  A,  adj.  —  Uva  sarga;  cer- 
ta espécie  de  uvas. 

2.)  SARGO,  ».  m.  (Do  latim  mrgu*). 
Termo  de  ichthyologia.  Um  p«ixe  >Til- 
gar. 

SARIÇA,  s.  f.  I^nça,  ou  jjique  compri- 
do dos  rumanos  a  uso  e  co.itumu  du8  ma- 
eedoi)i(>s. 

SARIDO,  s.  T/l.  Termo  antiquado,  tíoi- 
do,  ru^áiío. 

SARIGUE,  s.  »).  Termo  de  hidtoria  na- 
tural. Animal  mammifero  da  ordem  doa 
marsupiaes,  cuja  família  teui  sobre  o 
ventre  uma  espécie  de  bolsa,  em  que 
traz  os  iilhos  pequenos ;  é  chamado  pelo 
vulgo  (/aiiibá. 

SARÍGUEIA,  «.  /.  Vid.  Sarigué. 

SARILHADO,  part.  pajís.  de   Sarilhar. 

SARILHAR,  V.  a.  Dobar  em  sariliio. 
Vid.  Serilhar. 

—  Sarilhar  as  armas.  Vid.  Sarilho. 
SARILHO,  s.  m.  Dobaduura  em  quo  se 

envolvem  os  tius  das  massarocas  para  fa- 
zer as  meladas. 

—  Pôr  as  artnas  em  sarilho ;  pôr  as 
armas  enfeixadas  umas  com  outras,  em 
pé  sobre  iis  coronhas,  onde  não  ha  des- 
canços  de  madeira  assentados  como  nos 
corpos  de  guarda  tixos,  quaudo  os  solda- 
dos descançam  cm  guarda  movivel. 

—  Uma  hastea  atravessada  em  cruz 
por  outras,  que  serve  de  encosto  daa  ar- 
mas nos  acampamentos. 

—  Maehina  que  consta  de  uma  peça 
de  pau  cvlindiúca,  atravessada  horison- 
talmente  sobre  dous  pontos,  com  umas 
barras  ou  raios  em  um  dos  extremos, 
que  a  f:uem  revolver  sobre  aeus  fulcros, 
e  cnvulver  em  si  a  corda  do  peso,  que  se 
levai;  ta. 

SARISSA,  í.  /.  (Do  latim  sarista).  Vid. 
Sariça. 

!.•  SARJA,  s.  /.  Abertura  com  lanceta 
na  carne  para  tirar  sangue. 

2.1  SARJA,  *. ./".  Tecido  leve  de  seda, 
ou  là,  como  uma  ospccie  de  trançado. 

SARJAÇÂO,  .s.  /.  Termo  de  cirurgia,  O 
acto  <le  sarjar;  saria. 

SARJADÓ,  jniit.  jiass.  de  Sarjar.  Esca- 
riticado. 

—  ]'tii/(>.<a  sarjada;  ventosa  collocada 
sobre  sarjas  com  lanceta,  para  tirar  san- 
gue d'elliu;. 

SARJADOR,  s.  m.  Espécie  de  lanceta 
com  que  SC  sarj.a. 

SARJADURA,  a.  /.  Sarja,  incisão. 


SAKR 


SART 


SATÃ 


413 


SARJAR,  f.  a.  Abrir  sarjas  a  algaem, 
escariticar. 

—  Figarada  e  popularmente :  Tirar  di- 
nheiro a  alguém. 

SARMÃO,  s.  m.  Termo  de  iclithyolo- 
gia.  Vid.  Salmão. 

SARMENTAGEAS,  s.  /,  idur.  Termo  de 
botânica.  Fa.uilia  de  plantas,  que  tem 
por  tvpo  a  videira. 

SARMENTICIO,  A,  aclj.  De  sarmento. 

—  tí.  III.  Figui-adameute :  Alcunha  da- 
do aos  primitivos  christàos,  porque  amar- 
rados a  um  madeiro,  e  Ctírcados  de  molhos 
de  vides,  eram  queimados  os  martjTes 
em  grande  quantidade. 

SARMENTO,  s.  jíí.  (Do  latim  sanmn- 
tumi.  O  renovo  da  vide  e  de  outras  plan- 
tas que  lançauí  muita  rama  batida,  como 
a  vide  que  não  foi  podada. 

—  Rama  da  vide  secca  para  o  fogo. 

—  Sarmentos ;  caules  lenhosos  ou  her- 
báceos, de  fulhas  um  tanto  remotas,  ge- 
niculados,  lançando  raizes  nas  articula- 
ções nodosas,  como  sào  as  da  videií-a  e 
escalracbo. 

SARMENTOSO,  A,  adj.  (Do  latim  sar- 
mentosus).  Termo  de  botânica.  Que  deita 
muitos  sarmentos,  fallando  da  vinha. 

—  Por  extensão :  Diz-se  das  plantas 
cujos  ramos  longos  e  tlesiveis  só  podem 
elevar-se  com  o  auxilio  de  corpos  visi- 
nhos,  nos  quaes  tomam  o  ponto  de  apoio. 
—  Haste  sarmentosa. 

SARNA,  s.  f.  Doença  que  consiste  em 
nus  gràosiuhos  que  vem  á  pelle,  mui  co- 
michosos ;  é  contagiosa. 

—  Saraa  castelhana ;  as  boubas,  ou  o 
gallico. 

—  Loc.  FiG. :  Não  IJie  falta  sarna  pa- 
ra  coçar-se ;  não  lhe  falta  trabalho  que  o 
inquiete. 

SARNENTO,  A,  adj.  Que  tem  sarna. 
;    SARNOSO,  A,  adj.  Vid.  Sarnento. 

SARO.  ViJ.  Sardo. 

7  SAROPODE,  adj.  2  gen.  Termo  de 
zoologia.  Que  tem  as  patas  avelluuadas 
e  similaantes  ás  caudaá  das  aves. 

SARPAR,  V.  n.  Termo  de  marinha.  Le- 
vantar. —  Sarpar  a  ancara. 

SARRABAE3,  s.  m.  pZur.= Significação 
incerta. 

SARRABULHADA,  s.  /.  Grande  quanti- 
dade de  sarrabulho. 

—  Figuradamente :  Desordem  porca, 
por  mal  enteudida,   ou  mau  intento. 

SARRABULHO,  s.  m.  Vid.  Sarapatel. 

SARRACENO,  A,  adj.  e  s.  Povo  origi- 
nário da  Arábia  :  mouro,  musulmano.  — 
«Os  naturaes  saò  descendentes  de  Ismael, 
filho  bastardo  de  Abrahà,  e  de  Agar  sua 
escraua,  se  dizem  Agarenos,  e  de  Sara 
que  foy  sua  legitima  molher,  se  chamào 
Sarracenos ;  e  de  Xabaoíh,  primogénito 
de  Ismael,  se  chamou  a  Província  Xaba- 
thea,  e  de  Sabo  filho  de  Chus,  e  neto  de 
Chã,  e  bisneto  de  Xoè  se  chamou  Sa- 
bea.»  Fr.  Gaspar  de  S.  Bernardino,  Iti- 
nerário da  índia,   cap.   10.  —  «Seu  pay 


Abdala  foj  filho  de  Hesim  Gentio  Idola- 
tra, pela  linha  de  Ismael  filho  de  Abra- 
ham;  e  sua  mãy  Emina  filha  de  AbJel- 
meaef  ludeu  de  naçào,  pela  liuíia  de  Sar- 
ra,  e  desta  se  chamarão  Sarracenos,  e  de 
Ismael,  Ismaelitas,  e  de  Agar  sua  màv 
Agarenos,  os  quaes  nomes  forão  depois 
variando,  segundo  as  terras  que  habita- 
uào.s  Ibidem,  cap.  20. 

—  Trigo  sarraceno ;  trigo  negro  ou 
mourisco. 

SARRADO,  A,  adj.  Cerrado,  inteiro, 
completo,  e  sem  diminuição  alguma.  Vid. 
Cerrado. 

SARRAFAÇADOR,  s.  ííi.  Homem  que 
sarrafaça. 

SARRAFAÇADURA,  s.  /.  A  acção  de 
sarrafaçar. 

SARRAFAÇAL,  s.  m.  Termo  popular. 
Mau  officiãl  do  officio  de  cortar,  serrar ; 
mau  baibeiro.  ttc. 

SARRAFAÇAR,  v.  a.  Sarjar,  escariti- 
car. 

SARRAFAR,  v.  a.  Vid.  Sarrafaçar,  e 
Sarjar. 

SARRAFO,  s.  f.  Termo  de  carpiuteria. 
Uma  tira  louga  de  tábpa;  pedaço  de  tá- 
boa,  sen-ado  ou  cortado  d'ella. 

SARRALHAS,  «.  /.  Vid.  Serralha. 

SARRALHEIRO,  *•-  m.  Vid.  Serralheiro. 

SARRÃO,  á.  »i.  Uma  espécie  de  sacco 
pequeno  e  grosseiro.  Vid.  Raza,  e  Ser- 
rão. 

SARRAR,  V.  a.  Vid.  Serrar,  ou  Cer- 
rar. 

SARRENTO,  A,  adj.  Que  tem  sarro. 

SARRIDO,  s.  J/i.  A  dificuldade  em  res- 
pirar, que  tem  o  peito  serrado  por  doen- 
ça ou  atfiicçào. 

SARRILHA,  s.  f.  Vid.  Serrilha. 

SARRILHADO,  pai-t.  pass.  de  Sarrilhar. 
Vid.  Serrilhado. 

SARRILHAR,  v.  a.  Vid.  Serrilhar. 

SARRIM,  s.  m.  Termo  da  Ásia.  Panuo 
tecido  de  uma  herva  de  Bengala. 

SARRO,  s.  m.  As  fezes  do  vinho  ou  da 
urina,  que  se  pegam  no  fundo  do   vaso. 

—  Sujo  branco  na  lingua  dos  febrici- 
tantes. 

—  Crosta  suja  nos  dentes  pouco  lim- 
pos. 

SARRUGA,  s.  /.  Vid.  Saruga. 

1.)  SARTA,  s.  /.  Enxárcia,  cordoalha 
do  navio  presa  ás  antennas. 

2.)  SARTA,  s.  f.  Termo  pouco  em  uso. 
Cordão  de  cousas  enfiadas;  fio,  enfiadu- 
ra.  —  Sarta  de  figos. 

SARTÃ,  SARTÃA,  ou  SARTAM,  s.  /. 
Frigideira,  ou  antes  chapa  de  terro,  com 
pouca  borda  de  frigir,  assar  peixe. 

—  Servia  também  para  atormentar  os 
martyres.  Vid.  Sartem. 

SÁRTAEM.  Vid.  Sartã. 
SARTA GEM,  s.  /.  Vid.  Sartã. 
SARTAL,  *'.  tii.  Termo  antiquado.  Vid. 
Sarta  L'). 

SARTÃO.  Vid.  Sertão. 
SARTEM.  Vid.  Pasta. 


SARUGA,  s.  /.  Barba,  aresta,  pragana 
da  espiga. 

SAkZIR,  V.  a.  Vid.  Serzir. 

SASÃO,  V.  a.  Vid.  Sazão. 

SASSAFRAZ,  s.  m.  Lenho  aromático 
melicinal  da  índia  ou  do  Brazil.  —  «A 
outros  exhibia  por  hum  mez  hum  escro- 
pulo  atae  huma  outava  de  pós  epilépti- 
cos de  Gutteta  de  Riverio;  e  sempre  a 
agoa  do  uso  cosida  com  pào  sassafràz.» 
Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal  medico,  p. 
302,  §  S2,  Observ.  4. 

SASSAR,  V.  n.  (Do  francez  sasser).  Pe- 
neirar. —  Sassar  a  farinha. 

—  Xo  Brazil  diz-se  sessar. 
SASSOLINA,  s.f..  ou  SASSOLINO,  s.  m. 

Termo  de  cliimicií.  Xome  dado  ao  acido 
bórico,  e  que  se  acha  em  dissolução  nas 
aguas  de  alguns  lagos  da  Toscana,  so- 
bretudo em  Sasso;  serve  para  o  fabrico 
do  bórax. 

SASTRE,  s.  m.  Termo  antiquado.  Vid. 
Alfaiate. 

SATAN,  s.  í/i.  Vid.  Satanás. 

Assim  blasphêma,  om  treva  eterna  o  Arebanjo 
Vencido  já  por  Christo,  quando  as  portas 
Do  r)rco  alluio,  coa  Cruz,  e  aos  Cco3  03  Justos 
Subio.  De  olhar  de  Christo  a  luz,  fugia 
Pávida  a  inferna  Turba  —  A  Satan  mesmo, 
Nos  Seios  de  seus  Reinos,  atterrado. 

F.    M.   DO   NASCIMENTO,  OS  MAEIYEES,   1ÍV.   8. 

SATANÁS,  s.  m.  Vid.  Satanaz.  —  jE 
nisto  estão  estes  miseráveis  tão  cegos, 
que  muytas  vezes  deixão  de  comer,  e 
proverse  do  que  lhes  he  necessário,  por 
terem  que  dar  a  estes  sacerdotes  de  sa- 
tanás, avendo  esta  veniaga  por  boa  e 
muyto  segura.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  114. 

SATANAZ,  s.  í/í.  Xoiue  que  a  Escriptu- 
ra  dá  ordinariamente  ao  chefe  dos  anjos 
rebeldes,  tornado  o  espirito  do  mal. 

E  quem  pode 
Hum  termo  assignalar  dalina  aos  dominios? 
Incircumscripta  força  lhe  descubro 
Sc  o  Britannico  Homero  aos  astros  vôa 
Sobre  as  azas  de  cântico  Divino, 
Quando  do  fundo  pélago  abrazado 
Faz  sahir  Sataiiaz,  e  os  gonzos  quebra 
Da  grà  porta  do  Abysmo,  c  opposto  aos  monstroa 
Que  o  medonho  vestíbulo  guardarão. 

J.   A.   DE   ttACEDO,  MEDITAÇÃO,   Cant.    1. 

—  Termo  de  devoção.  O  reino  de  Sa- 
tanaz ;  o  mundo  em  que  vivemos. 

—  Os  vassallos  de  Satanaz ;  os  habitan- 
tes do  inferno. —  Um  dia  Satanaz,  mo- 
narclia  dos  infernos,  fazia  passar  revista 
aos  seus  vassallos. 

—  Os  filhos  de  Satanaz ;  os  perversos, 
os  réprobos. 

—  Um  Jilho  de  Satanaz;  um  homem 
mau. 

—  Diz-se  também:  Orgullioso  como  Sa- 
tanaz. 

—  Satanaz  é  também  o  typo  da  mal- 
dade. 


414 


SATI 


SATI 


SATI 


I  SATÂNICO,  A,  iiilj.  Que  tem  o  cara- 
cter do  Sataiiiiz,  o  eluiCu  e  o  poior  doí 
demonio-i.  —  Muldwle  satânica. 

SATELLITE,  *.  w.  (I'ij  latim  mUllcs, 
itis).  Ti'iiiio  (lo  astronomia.  l*lanotíi  qiio 
faz  Hua  rovoluyilo  om  volta  do  um  outro 
planeta  maior,  e  o  sog^ue  na  rcv()iu<;Jto 
quo  este  faz  om  volta  do  sol.  —  Os  sa- 
tellites  '/<3  Júpiter. 

Seguindo  n  piza  ao  Fuiuliidor,  ao  Mostre 
Dii  Seioiícia  Astroiioiniea,  tíiii|)Uiiliaiido 
Tou  Telescópio  o  singular  Uampani, 
Do  Saturno  os  .Sa/f//í/e.t  descobre 
Quasi  todos  ontào :  busca  aa  Estrollaa, 
Que  iminortal  Oaliloo  primeiro  achara, 
(Luas  do  Jovc  aio  O  fanal  aos. N autua. 

J.    A.    DE   MACEDO,   VIAGEM  EITATICA,   CaWt.   4. 

Vcncc-to  ao  lonpc  o  fri<çido  Saturno, 
Em  grandeza,  em  ncUelliti:^.  om  tudo 
Tu  és  menor,  quo  Jove,  inda  (|ue  Marte, 
Mas  os  Astros,  os  Ccos  te  invejào  todos. 

IDGM,   A   NATCBKZA,   Cant.    1. 

Entumccc-se  o  mar,  cresce  nas  praias. 
Outra  vez  se  contralie,  dríi.xando  as  margens. 
No  salellHt  nosso,  argêntea  Lua. 
uunEU,  cant.  3. 

—  Figuradamente :  O  satellite  do  de- 
mónio ;  homom  perverso. 

—  Figuradamente :  Os  satellites  da 
fome;  a  raiva  o  o  desespero. 

—  O  guarda,  que  cerca,  c  acompanlia, 
para  segurança,  para  executar  os  man- 
dados, 03  castigos  que  lhe  mandam  fa- 
zer. 

—  Modernamente  toma-se  por  esbirro, 
beleguini,  offieial  inferior  de  justiça,  bem 
como  por  qualquer  homem  as.salariado, 
que  acompaniia  quasi  sempre  a  outrem 
para  acções  más  e  criminosas,  etc. 

SATEPOZA,  s.  /.  Estofo  de  algodão 
bengalez. 

SÀTHAN.  Vid.  Satan,  Satanás,  e  Sata- 
naz. 

f  SATHYRO,  .0.  m.  Vid.  Satyro.  —  tS. 
Hieroiivnu)  na  vida  de  S.  Paula  affirma 
auer  Sathyros,  e  luuenal,  o  Aulo  (íclio, 
que  ouue  Pigmeos,  que  eriXo  sò  de  dous 
palmos,  em  cõprimonto,  e  no  Supleiuen- 
iu  Oronicorum,  nomea  Diogo  Phelippo 
Bei'gomatJii,  vinte  duas  maneiras  de  mõs- 
truosidades;  e  pois  taes,  c  tantos  Autho- 
res  o  affirmào,  não  hc  bem  quo  eu  o  nc- 
guo.»  Fr.  Gaspar  de  S.  Bernardino,  Iti- 
nerário da  ludia,  cap.  S. 

SÁTIRA,  ou  SATYRA,  s.  m.  (Do  grego 
6  latim  satyrà).  Poema  censório  dos  cos- 
tumes e  defeitos  públicos,  ou  de  algum 
particular ;  ordinariamente  faz-sc  cm  ver- 
so, ou  prosa  e  verso. 

—  Syx.  :  Satyra,  invectiva.  Vid.  este 
ultimo  termo. 

SATIRlAO,  ou  SATYRIÃO,  s.  m.  (Do 
latim  s<1tl/)■illll^.  11  erva  satvrio. 

SATIRÍCAMENTE,  adv.  "De  um  modo 
satirico. 

—  Com  sátira. 


satírico,  a,  (fij.  l^ue  diz  respeito  á 
sátira.  —  IV;/.»*  satíricos. 

—  Poeta  satirico;  «striptordc  sátira». 

—  Sy.s'.  :  Satirico,  f«i/*<ico.  Vid.  este 
ultimo  t>'niio. 

SATIRI3AD0,  pari.  pans.  de  Satirisar. 

SATIRISAR,  ou  SATYRISAR,  V.  a.  Cen- 
surar o.i  costumes,  e  acções  ile  ulguem ; 
uscjevi^r  sátira  contra  elle. 

SATIRISMO,  s.  í/l.  Doença,  priapismo. 
Viii.  Satyriasis. 

SATIRU,  ou  SATYRO,  s.  m.  (Do  latim 
satj/riiis).  Termo  de  nivtiiologia.  Monstro 
ou  semi-dcus  entre  os  gentios,  meio  ho- 
mem da  cintura  a  cima,  a  baixo  meio 
cabra;  os  satyros  oram  companheiros  de 
Hacclio,  mui  kujcivos,  o  chocarreiros  que 
faziam  mofa,  e  zombavam  de  quantos  in- 
divíduos encontravam. 

—  Figuradamente:  Homem  mal  feito, 
torpe. 

SATISDAÇÃO,  a.  /.  (Do  latim  salis- 
datio).  Termo  de  jurisprudência.  Fiança, 
ou  eauçào. 

SATISDAR,  V.  a.  (Do  latim  satisdare). 
Dar  fiança,  caução,  pessoal  ou  real. 

SATISFAÇÃO,  s.  f.  (Do  latim  satisfa- 
ctiu).  A  acção  de  satisfazer,  pagar. 

—  Sentimento  agradável  que  experi- 
mentamos quando  as  cousas  são  a  nosso 
gosto.  —  A  satisfação  interior  vale  mais 
que  a  reputação. 

—  Couteiitamento.  —  cPorque  também 
das  outras  satisfações,  com  que  se  mais 
podia  contentar,  era  já  desesp^^rado,  se- 
gundo o  que  sentia  na  condição  de  quem 
servia.  O  imperador  desejoso  de  conhe- 
cer o  cavallciro,  que  desencantara  a  co- 
pa, suspeitando  quo  podia  Por  Palmeirim, 
quiz  quo  tirasse  o  elmo.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  93. 
—  «  Liouarda  quizcra  que  fora  nuiito  mais 
fermosa  do  que  dizem,  pêra  verdes  se 
basta  isto  a  desbaratar  minlia  iò.  Seu  es- 
tailo  que  seja  grande,  não  é  essa  a  satis- 
fação, que  meu  desejo  quer,  e  se  ou  va- 
lesse com  vos  acabar  com  a  senhora  Po- 
linarda,  que  me  ouvisse,  creria  que  al- 
gum tanto  desejáveis  fazer-me  mercê.  Já 
creio,  disse  Dramaciana,  que  vossa  fir- 
meza não  se  pi')de  desbaratar  com  ne- 
idiuma  cousa.»  Ibidem,  cap.  05.  —  «E 
inda  que  quiz  onoobrir  a  Florendos  a 
paixão,  que,  quando  é  grande,  S3  não 
podo  dissimular,  deu  azo  a  ser  entendido, 
do  que  se  não  espantou,  por  ser  já  cos- 
tumado á  aquellas  satisfações.»  Ibidem, 
cap.  lOS.  —  «Do  mez  do  Junho  do  se- 
guinte anuo,  dia  dos  Apóstolos  S.  Petlro, 
e  S.  Paulo  entrou  em  Lisboa,  onde  se 
lhe  fez  hum  custosissimo  recebimento,  e 
conipoz  as  cousas  com  gorai  satisfação 
do  povo.»  Fr.  P.ornardo  do  Brito.  Elo- 
gios dos  reis  de  Portugal,  continuados 
por  D.  José  Barbosa. —  «Por  sua  morte 
ioy  elevto  João  terceiro  do  nome,  tílho 
de  Anastasio,  homem  nobilissimo,  e  dos 
mais  abalisados  de  Koma,  que  governou 


a  Igreja  do  Deos,  com  nmyta  paz,  e  sa- 
tisfação, cluze  aiinos,  onze  meiteí,  e  vin- 
te e  sei.4  diaK.»  Monarchia  Lusitana,  liv. 
t),  cap.  11.  —  iVini.a  muis  o  Inquisidor 
Antuniu  de  Barros,  que  na  índia  doze 
annoH  o  fjra,  de  cujo  procoíliinento,  o 
autlioridado,  se  teue  muyta  satisfação,  u 
poderá  ser  bom  encarecimento  deijta  per- 
dição, logo  em  este  principio,  contar  a 
conuers.1o  da  vida  quo  fez,  dopoig  de  es- 
capar com  ella,  se  o  contar,  taes  parti- 
cularidades, não  fora  cousa  alhea  de  mea 
intento.»  Fr.  (ía^ipar  de  S.  Bernardino, 
Itinerário  da  índia,  cap.  1.  —  «João  (íon- 
çalves  Zarco,  desciibridor  da  ilha  da  Ma- 
deira em  1440,  foi  homeni  valoroso  e 
sei-viu  em  Africa  com  grande  satisfação, 
sendo  criado  do  snr.  D.  João  l,  e  D. 
Duarte,  e  muito  acceito  ao  in£ante  D. 
Henrique.»  Bi.spo  do  Crão  Pará,  Memo- 
rias, publicadas  por  Camiilo  Castello 
Branco,  pag.  72. 

—  Rejjaraçào  de  uma  offensa  que  se 
fez  a  alguém.  —  «Cumpre  que  em  satis- 
fação desta  quebra  vades  comnosco,  que 
não  sinto  outra  via,  com  que  se  olia  me- 
lhor cure.  Parece-me,  respondeu  Floria- 
no,  que  quereis  sobre  uma  magoa  outra 
maior:  contentai-vos  do  pouco  quo  fizes- 
tes na  contenda  dos  escudos,  c  não  quei- 
raes  experimentar  mais  a  fortuna,  que 
por  ventura  será  cada  vez  poor. »  Fran- 
cisco de  Moraes.  Palmeirim  dJnglaterra, 
cap.  87.  —  «O  irmrio  do  morto,  que  se 
chamava  Xircan,  ficou  t.ão  escandalizado, 
que  logo  cm  seu  animo  tratou  de  sua  sa- 
tisfação ;  e  foi  dissimulando  com  o  nego- 
cio o  mais  que  jiode,  até  buscar  occa-i 
siào,  que  a  fortuna  nunca  nega.»  Diogo 
de  Couto,  Década  4,  liv.  10,  cap.  3.  — 
«E  o  da  Tartaria,  como  ja  atrás  fica 
contiido,  ordenara  com  parecer  doa  po- 
vos, que  para  isso  foraõ  chamados  a  cor- 
tes, que  todos  aquelles  que  por  justiça 
fossem  condenados  em  pena  do  degredo, 
fossem  degradados  para  a  fabrica  daquel- 
le  muro,  aos  quais  se  daria  mantimento 
somente,  sem  el  Rey  lhes  ficar  por  isso 
obrigado  a  satisfação  nenhuma,  pois  lhes 
fora  aquillo  daflo  em  pena  de  seus  deli- 
ctos.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  108. — «E  não  se  detendo 
aquv  mais  que  sós  sete  dias  cm  que  aca- 
bou de  negocear  satisfações  e  pagas  de 
soldos,  e  execuções  de  justiça  em  alguns 
que  trazia  pregos,  se  embarcou  aforrado, 
como  homem  não  muvto  contento,  e  se 
fov  na  via  de  Ivinçame  sem  levar  maia 
companhia  que  si'is  cento  e  vinte  laulees 
de  remo,  em  que  podião  yr  até  dex  ou 
doze  mil  homens.»  Ibidem,  cap.  123. 

—  O  que  se  obriga  a  fazer  para  repa- 
rar os  peccados  que  se  commettaram.  — 
•  Xão  lhe  sev  dar  outra  cuasam,  senão 
que  por  andarem  as  almas  muyto  toma- 
das das  paixões,  de  pretenções,  o  de  af- 
feições,  lanção  muyto  mais  a  m.ão  do  que 
nas  pregações   serue  para  satisfação  d« 


SATI 


SATI 


SATI 


415 


nossas  magoas,  que  para  remédio  de  nos- 
sos males,  e  assi  sempre  a  imagiaação 
var  ao  que  fere  os  outros,  e  nào  ao  que 
cumpre  a  nós.»  Paiva  de  Andrade,  Ser- 
mões, part.  1,  pag.  71. 

—  Cumprimento,    acto    de    satisfazer, 

—  «Pedindo  os  elmos  pêra  os  enlazarem, 
que  do  mais  estavam  apercebidos,  dando 
brados,  que  lhe  mostrassem  o  campo  on- 
de a  batalha  havia  de  ser,  pêra  que  a 
detença  da  satisfação  de  ta33  palavras 
não  durasse  tanto.»  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  93.^ 
« O  imperador,  e  Primaiiào,  e  os  prínci- 
pes de  sua  corte  foram  acompanhal-a  uma 
légua,  e  nunca  pode  acabar-se  com  Flo- 
rendus,  que  deixasse  ir  Albayzar,  que  o 
queria  pêra  testemunha  de  suas  obras  e 
satisfação  da  vontade  de  iliraguarda.» 
Ibidem,  cap.  95.  —  «Que  vontade  tào 
leal  e  fé  tào  approvada  e  serviços  de 
tanto  tempo,  não  se  haviam  de  pagar 
com  galardões  tão  incertos,  e  deixar-te 
em  satisfação  do  qu'^  mereces  meus  cui- 
dados por  paga.»  Ibidem,  cap.  115. — 
«X'isto  as  fez  cavalgar,  e  elle  tomou  um 
dos  cavallos  dos  vencidos  que  lhe  melhor 
pareceu,  e  deu  o  escudo  a  um  dos  escu- 
deiros das  donzellas,  que  cada  uma  leva- 
va o  seu;  as  tendas  deixou  aos  cavallei- 
ros  vivos  em  satisfação  do  muito  que 
perderam.»  Ibidem,  cap.  116.  —  «Eísa 
condição,  respondeu  o  do  Salvage,  eu  a 
houvera  de  pedir  primeiro,  pois  sou  o  que 
n'isso  recebo  mercê,  que  sei  que  o  impe- 
rador o  estimará  em  muito  e  haverá  sua 
casa  por  honrada;  e  em  satisfação  da  que 
me  n'isso  faz,  dê-me  vossa  alteza  a  mão, 
e  beijar-lha-hei.»  Ibidem,  cap.  130. 

—  Syx.  :  Satisfação,  contentamento. 
Vid.  este  ultimo  vocábulo. 

Satisfação  é  o  sentimento  jucundo  que 
experimentamos  quando  se  cumpre  nosso 
desejo  ou  nasso  gosto;  se  este  sentimento 
é  cabal  e  durável,  se  n'elle  se  aquieta  a 
alma,  e  judiciosamente  o  approva,  esse  é 
o  estado  de  contentamento.  A  satisfação 
precede  o  contentamento,  o  qual  é  sua 
consequência,  ou  seu  complemento. 

SATISFACTORIO,  A,  arJj.  (Do  latira 
saf  hf actor  ius).  Susceptível  de  satisfa- 
zer. 

—  Termo  de  dogmática.  Que  é  pró- 
prio para  reparar,  e  para  expiar  as  fal- 
tas commettida>;  diz-se  da  morte  de  .Je- 
sus   Christo,  e  das  obras   de   penitencia. 

—  A  morte  de  Jesus  Christo  é  satisfacto- 
ria  para  t4}dos  os  homens. 

—  Papeis  satisfactorios ;  papeis  que 
faziam  prova,  e  satisfação  de  pessoa,  e 
sua  abonação. 

SATISFAZER,  V.  a.  (Do  latim  satisfa- 
cere,  de  satis.  e  fac-ere).  Pagar  a  divida, 
obrigação,  serviço.  —  «E  quanto  a  lhe 
tomar  o  traçado,  elle  estava  empenhado 
por  outras  dividas,  que  El-Rey  de  Or- 
muz devia  a  Portuguezes,  pelo  que  o 
mandei  pôr  em  mão  do  Feitor,  até  ElRey 


mandar  satisfazer  as  dividas.»  Diogo  de 
Couto,  Década  4,  liv.  6,  cap.  8. 

Morto  o  triste  milhano  á  terra  deco 

CoQi  grào  louvor  do  destro  e  forte  Mouro, 

A  tristeza  dElRei  desapparece 

Que  por  livre  se  tem  do  mão  agouro : 

Ao  Tártaro  hoara  muito,  e  favorece, 

Cuida  que  be  pouco  a  prata,  mcuos  o  ouro 

Para  satisfazer  bastantemente 

Hum  serviço  tào  bom,  tào  diligente. 

F.    DE  AXDBADE,  PRIJTEiaO    CEECO  DE  DIU,  Cant. 

5,  est.  19. 

—  Cmnprir,  encher  as  obrigações,  pro- 
messas, ordens  do  superior.  —  «  Onde, 
depois  de  passarem  alguns  dias,  veio  ter 
um  cavalleiro  mancebo  bem  disposto  e 
gentil  homem,  cujas  qualidades  me  pare- 
ceram de  tamanho  merecimento,  que  de- 
sejei casar  com  elle,  crendo  que  alli  sa- 
tisfazia o  mandado  de  meu  pai,  e  a  mim 
dava  marido  igual  á  minha  qualidade  e 
pessoa.»  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
d'Inglaterra,  cap.  102.  —  « Ó  destruidor 
de  meu  sangue  ante  ti  tens  o  maior  imi- 
go  do  mundo;  trabalha  polo  destruíres, 
que  se  té  isto  não  vai,  no  teu  espero  ba- 
nhar estas  mãos,  e  satisfazer  a  vontade, 
que  com  ai  a  não  posso  fazer  contente. » 
Ibidem,  cap.  107. 

—  Satisfazer  a  fome;  fartar. 

A  io  Scithia,  vio  Samarcin  povoadas 
De  Tártaros  erueis,  que  auorrecendo 
O  cultiuar  as  terras,  satisfa-em 
A  fome  só  com  sangue  de  caualos. 

CORTE  BEAL,  NAUFRÁGIO  DE  SEPtJLVEDA,  Cant.    2. 

—  Contentar,  dar  causa  de  contenta- 
mento. —  «A  todos  pareceram  bem  as 
palavras  da  donzella,  que  isto  tem  as 
obras  da  descrição  satisfazerem  aos  dis- 
cretos, e  não  parecer  mal  ao?  que  não 
sào.i  Francisco  de  ]\Ioraes,  Palmeirim 
d'Inglaterra,  cap.  101.  —  «Miraguarda, 
que  havia  muitos  dias  que  não  via  justa 
nem  batalha  no  seu  castello,  as  de  então 
lhe  trouxeram  á  memoria  as  cousas  pas- 
sadas, e  não  pêra  satisfazer  ao  mereci- 
mento de  ninguém.»  Ibidem,  cap.  109. 
—  «Ao  cavalleiro  do  Tigre  inda  que  ne- 
nhuma cousa  lhe  fizesse  contente,  lhe  pa- 
receram bem  estas  razões,  e  ficou  algum 
tanto  satisfeito.  Aquelle  dia  durou  a  tor- 
menta, e  ao  outro  abrandou  de  todo,  pola 
qual  razão  o  cavalleiro  do  Tigre  deixou 
a  galé,  satisfazendo  ao  patrão,  que  sua 
tenção  não  era  caminhar  mais  n'ella  ;  an- 
tes fretando  um  navio  dos  que  estavam 
no  porto;  se  foi  n'elle  não  querendo  ir 
no  que  ia  Daliarte,  porque  um  nào  es- 
torvasse a  aventura  do  outro.»  Ibidem, 
cap.  115.  —  «O  cavalleiro  do  Tigi-e  lhe 
satisfez  com  palavras,  de  que  Satiafor  fi- 
cou contente,  e  de  que  depois  nasceram 
obras  muito  verdadeiras.  Logo  se  deter- 
minaram partir,  deixando  Daliarte  por 
alguns  dias  naquella  terra. i  Ibidem,  cap. 


120. — -«Peço-vos  me  deis  licença,  que 
com  Ahnourol,  pois  está  armado,  corra 
outro  par  de  lanças  para  satisfazer  estas 
senhoras  que  comigo  vem,  e  se  então 
quizerdes  ver  mais  de  minhas  obras,  nel- 
Ic  vol-as   mostrarei.»    Ibidem,   cap.  127. 

—  «Aos  quais  fazia  sempre  grandes  es- 
mollas,  pelo  que  nos  afiirmavão  em  ver- 
dade, e  juravaõ  por  sua  ley  que  nos  naõ 
avia  de  fazer  nenhum  mal,  as  quais  con- 
solaçoens,  inda  que  nas  mostras  de  fora 
nos  parecerão  algum  tanto  piadosas,  com 
tudo  naõ  nos  satisfizeraõ  nada,  porque 
ja  a  este  tempo  estávamos  tão  desconfia- 
dos da  vida,  que  ainda  que  nola.s  disse- 
raõ  pessoas  de  que  tivéramos  muyta  con- 
fiança, piadosamente  lho  crêramos,  quan- 
to mais  Gentios  crueys,  e  tyrannos,  e 
sem  ley  nem  conhecimento  de  Deos. » 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações,  ca- 
pitulo 138. 

—  Satisfazer   os  ódios;  fartar,  saciar. 

—  «.  Porém  teve  Affonso  d'Alboquerque 
tanta  prudência  em  os  saber  contentar, 
soldando  entre  elles  ódios  das  guerras 
passadas,  que  os  satisfez ;  e  finalmente 
D.  Garcia  vendo-se  em  Cranganor  com 
o  Principe  Xaubeadarij,  e  com  o  Senhor 
de  Chálle  chamado  Cheneachena  Coripa, 
e  dous  3Iouros  per  nome  Xambear,  e  Po- 
caracem  grandes  nossos  amigos,  todos  as- 
sentaram esta  paz  per  capitulações.»  Bar- 
ros, Década  2,  liv.  7,  cap.  6. 

—  Encher  as  medidas  do  desejo,  ou 
gosto.  —  «Ainda  que  a  saudade  d'aquel- 
la  partida  e  viagem  ninguém  a  sentia  no 
extremo,  em  que  ella  se  podia  sentir,  se- 
não o  cavalleiro  do  Tigre,  que  os  outros 
lá  mandavam  cartas  e  recados,  com  que 
algum  tanto  satisfaziam  seu  desejo;  mas 
quem  de  si  não  fiava  seu  segredo,  como 
o  descobriria  a  outrem  pêra  descançar 
com  isso.»  Francisco  de  Moraes,  Palmei- 
rim dlnglaterra,  cap.  119.  —  «Hum  del- 
les  veyo  a  tomar  tanta  amizade  comigo 
em  aquelles  poucos  dias,  que  nella  con- 
fiado, me  perguntou  se  queria  ir  ver  hum 
Pagode  seu ;  aceytey  o  comprimento,  assi 
por  lhe  fazer  a  vontade,  como  por  satis- 
fazer a  minha,  por  me  jiarecer  veria  nel- 
le,  cousas  que  sabidas  dos  Christàos  co- 
nheceriam melhor  por  ellas,  a  quantos 
que  o  nam  saõ,  trás  o  Demónio  abatuma- 
dos  seus  entendimentos,  e  captiuas  suas 
vontades.»  Fr.  Gaspar  de  S.  Bernardi- 
no, Itinerário  da  índia,  cap.  12.  —  «D. 
Jorge  de  Castro  estimou  muito  aquella 
embaixada,  e  ordenou  logo  de  satisfazer 
àquelle  Rev,  mandando  com  os  Embai- 
xadores dous  Frades  de  S.  Francisco,  e 
com  elles  o  Capitão  Francez  com  doze 
soldados,  e  lhes  deu  por  regimento  «que 
«fossem  por  via  de  Negumbo,  por  se  des- 
«viarem  das  terras  do  Madune.»  Diogo 
de  Couto,  Década  6,  liv.  8,  cap.  6.  — 
«  Porem  naõ  satisfas  a  alguns  esta  rezo- 
luçaõ;  porque  se  o  humor  biliozo  envia- 
do  de   huma  para  outra  parte  pode  ser 


416 


SATI 


SATI 


SATI 


percnne,  o  diuturno,  o  nossa  tal  parte 
excitar  hum  affofto  «vnipatico  porinunon- 
te,  por  Bcr  e^sa  mcíiiiia  |)artc  'Jistincta  ila 
niamlantu.»  Braz  Luiz  (i'Abrou,  Portu- 
gal medico,  pag.  169,  §  5:3. 

—  Dar  boa  solur.to  ou  resposta  á  per- 
gunta, ou  oliiceçilo.  —  «f)ceorrc<)  A  jiraia 
grainid  parto  do  povo,  sollicito  a  peigun- 
tar  pídos  filliofl,  parentes,  c  amigos,  c  os 
menos  emijonliados,  pelo  foinnunn  do  Es- 
tado. O  ('apitilo  foi  lovado  aos  Paços  do 
Governador,  satisfazendo  pelo  caminho 
a  duplicadas,  e  molestas  perguntas.»  .Ja- 
cintho  Freire  do  Andrade,  Vida  de  D. 
João  de  Castro,  liv.  2.  —  «(Joncluida  a 
expliear.ã'^,  tomou  Vieira  vénia  par.i  im- 
pugnar. Impe  liu-o  Nunes,  tiraiido-o  para 
fi'ira,  nJto  sem  alguma  violência,  satisfa- 
zendo ao  queixoso  Vieira  com  o  seguinte 
dilemma.n  Bispo  do  Grào  Pará,  Memo- 
rias, publicadas  por  Camiilo  Castello 
Branco,  pag.  161. 

—  Reparar.  —  Satisfazer  o  rlamno,  a 
injuria.  —  «t  JA  sei,  disse  elle,  que  pêra 
terdes  mais  do  que  vos  contentar  de  vos- 
sas victorias,  quereis  que  passe  todos  es- 
tos temores.  Ora  olhai  jKir  vós,  que  pode 
ser  que  som  c^sc  favor,  de  que  quereis 
que  me  aproveite,  satisfaça  todos  os  ma- 
les, que  fizestes.»  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  139. 

—  Satisfazer  j>i'la  culpa;  satisfazer 
com  p  'uitimiias,  obras  meritórias. 

—  Satisfazer  um  atjgravo ;  vingar. 

—  Satisfazer  a  hibricidade.  —  «  Falo 
de  Messalina,  cuja  lubricidade  foi  tào 
grande,  que  ella  mesma  não  tinha  forças 
])ara  a  satisfazer. »  Cavalleiro  d'01iveira, 
Cartas,  liv.  1,  n.°  30. 

—  Pagar.  —  «  Eu  tenho  cumprido  o 
que  fiquei,  agora,  vós  senhora,  vede  o 
que  ordenaes  de  mim.  Grande  foi  o  alvo- 
roço que  se  fez  com  Albayzar  que  era 
mui  conhecido  naquella  casa.  O  impera- 
dor ficou  descançado,  que  estava  reeeioso 
de  lho  acontecer  algum  desastre,  o  que 
n?!o  quizera  por  nenhum  preço,  que  de- 
sejava satisfazer  Targiana  o  muito  que 
lhe  devia.»  Francisco  de  Moraes,  Palmei- 
rim d'Inglaterra,  cap.  131.  —  «E  pois 
nestes  dias  d'agora  nSo  tenho  de  meu 
cousa,  em  que  me  possais  ver  esta  von- 
tade, peço-vos  que  por  penhor  delia  aecei- 
teis  de  mim  esta  ilha,  que  6  a  cousa  desta 
vida,  que  com  maior  risco  de  minha  pes- 
soa o  despeza  do  meu  sangue  ganhei : 
nisto  haverei  que  satisfaço  meu  traba- 
lho.» Ibidem,  cap.  120. 

—  Compensar. 

—  Satisfazer  das  penas  do  amor;  con- 
tentar com  ellas. 

Como  ja  asjova  não  te  satísfazfn 
Das  penas  deste  amor,  que  por  q«ercr-tc, 
Be  teu  merecimento  são  capazes  ? 
Pois  quem  com  outro  nicrito  ronder-te 
Presume,  (oli  rai-o  monstro  de  belleza!) 
Muito  mais  longe  cstA  de  mereccr-tc. 

CAliÕES,  KI.EO(A  S. 


—  Satisfazer-se,  v.  re.fi.  Fartar-so,  to- 
mar bastante. 

—  Pagar-se,  indemnisar-so. 

—  Ter  satisfaçilo,  contentar-80. 

Dcgto  coração  vosio  a  fortaleza 
Ficará  por  iiiiiiiubil  forf  nutro, 
1'icarA  por  rxcmplo  do,  tirinczn. 
Não  desmaycis  senhor,  estai  nepiiro, 
t^iio  o  m(!u  conteiitamentíj  a«»i  impedido: 
>S'e  satiafaz  co  |;osto,  e  bom  futuro. 

CORTE  BEAL,   NAUFItAOIO  DE  SErULVEDA  ,  CflUt.  2. 

—  <í  A  do;ia  ou  donzella,  que  o  fez  cn- 
geitar  tamanha  cousa  como  foi  o  casa- 
mento de  Lioiíarda,  iiSo  sei  que  lhe  fique 
pcra  lh'o  poder  pagar;  ainda  que  os  co- 
raçõos  namorados  com  pouco  se  satisfa- 
zem.» Francisco  de  ^loraes,  Palmeirim 
d'Inglaterra,  cap.  I<»4. 


15cm  como  quo  rac  falava. 
Isto  quo  se  satisfaz, 
Olha  o  fim  que  o  esperara, 
E  eu  de  suspenso  parava, 
Lançando  os  olhos  atraz. 

r.   IIODBIGUES  IX>B0,  RCL0GA8. 


—  «o  segundo,  feruor  affcctuoso.  O 
terceiro,  deleitação,  ou  suauidade.  U 
quarto,  desejo  ardcntissinio  de  possuir  as 
cousas  diuinas,  fartura  cabal,  porque  as- 
sim se  satisfaz  a  alma  com  a  diuina  jire- 
sença,  que  nenhuma  outra  cousa  quer, 
nem  deseja.»  Fr.  Hartliolomeu  dos  Mar- 
tyres.  Compendio  de  espiritual  doutrina, 
cap.  15. 

—  Preencher-se.  —  «  Todos  os  referi- 
dos gostos  se  podem  satisfazer  a  pouco 
custo,  porem  o  seguinte  he  verdadeira- 
mente gosto  de  Princesa,  e  de  grande 
gasto.»  Cavalleiro  d'Uliveira,  Cartas,  liv. 
1,  n."  16. 

—  Vingai--se.  —  «Em  cuja  pessoa  es- 
pero tomar  vingança  tào  crua  e  áspera, 
que  nella  se  possa  satisfazer  alguma  pe- 
quena parte  de  minha  gram  dôr,  e  pêra 
isto,  deoscs,  de  vós  outros  não  qnero  ou- 
tro favor  nem  ajuda,  senão  raostrardes- 
m'o,  que  pêra  o  mais  nem  vol-a  peço  nera 
ma  deis,  pois  o  vosso  poder  ó  falso :  só 
na  confiança  das  minhas  forças  ponho 
toda  a  esperança,  qne  de  vós  nenhuma 
me  fica.»  Francisco  de  Moraes,  Palmei- 
rim dTnglaterra,  cap.  107.  —  «  E  além 
d"isso,  deixadas  as  armas,  vos  haveis  de 
entregar  a  ella,  pêra  quo  se  satisfaça 
d'um  aggiavo  ou  desserviços  que  lho  fi- 
zestes.» Ibidem,  cap.  130.  — «  Estes  fa- 
zem também  petições  e  cíirtas,  e  dão  con- 
selhos como  procuradores,  e  outras  consas 
a  este  modo  com  qne  também  ganhão 
niuvto  bem  sua  vida.  Ha  outros  que  pelo 
mesmo  moio  vem  numas  embarcações 
muyto  ligeiras,  e  com  liomcus  armados 
apregoando  em  altas  vozes,  quo  quem  se 
quiser  satisfazer  de  quem  o  afròtou  ou 
injiirion  qne  venha  aly  fallar  cõ  clles,  e 


será  logo  restituydo  em  Bua  honra.  •  Fer- 
não McndeA  Pinto,  Peregrinações,  capi- 
tulo 90. 

SATISFAZIMENTO,  «.   m.  Termo  anti- 
qua !o.  S.it    t.içn.i,  cumprimento. 

SATISFEITO,  part.  p.i^t.  de  Satisfazer. 
Çont';i.te.  —  •  Auderram<;tte,  corrido  de 
tal  desastre,  se  levantou  em  yli.  c  arran- 
cando da  espada,  disse:  Cavalleiro,  já 
vejo  que  da  justa  estareis  satisfeito,  mau 
esta  minha  esjiada  fará  taes  obroA,  qne 
se  emende  tudo ;  por  isso  de»cei-voB  se 
não  quereis  quo  mate  o  cavallo,  e  fare- 
mos nossa  batalha  a  pó.»  Francisco  de 
Mora-s,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  80. 
—  €  Poios  me-itres  foi  certificado,  que  aa 
feridas  não  eram  de  jiorigo,  de  que  o  cm- 
liaixador  e  sua  corte  ficaram  tão  satisfei- 
tos, como  Albayzar  descontente.»  Ibi- 
dem, cap.  94.  —  «  Satisfeita  e  contente 
ficou  a  donzella  com  estas  palavras,  e  ao 
imperador  pesou  ouvil-as,  que  a  Palmei- 
rim queria  maior  bem,  e  tinha  mais  affei- 
ção  que  a  nenhum  de  seus  netos.  Dalli 
se  foi  d  imperatriz,  a  que  também  pesou.» 
Ibidem,  cap.  95.  — «  E  porque  de  todo 
nào  estava  satisfeita  pola  perda  de  sua 
filha,  pêra  que  o  prazer  fo<5e  acabado, 
não  tardou  muito  que  a  viram  vir  acom- 
panhada de  cinco  cavalleiros,  que  a  tra- 
ziam do  ca.stelIo  d'nnia  sna  tia,  onde  fora 
ter,  que  d'alli  quatro  léguas  estava.»  Ibi- 
dem, cap.  10.5.  —  «  r>'alli  assentou  em 
sua  vontade  casal-o  com  Lionarda,  por- 
que parecia  que  do  tal  ajunfamcnto  o  me- 
recimento dambos  ficaria  satisfeito.  IV 
linarda  pediu  por  hospeda  a  princeza,  e 
o  foi  todo  o  tempo,  que  na  cGrte  esteve : 
e  tanto  se  amaram  d'alli  por  diante,  que 
nenhum  segredo  havia  em  uma,  quo  não 
communicasse  com  a  outra.»  Ibidem,  ca- 
pitulo 112.  —  <  Chegando  ao  paço,  a  im- 
peratriz, com  Gridonia  e  sua  neta  Poli- 
narda,  vieram  receber  Lirtnarda  h  pri- 
meira casa  de  seu  apousentamento,  tra- 
tando-a  com  igual  cortezia,  mon.^trandiv 
lhe  todo  o  amor  c  gasalhado  que  pfdiam, 
de  que  Lionarda  ficou  assas  satisfeita, 
parecendo-lhe  que  quem  noa  principios  lhe 
fazia  tamanha  ceremonia,  seria  pêra  ao 
longe  a  honrar  de  todo.»  Ibidem.  —  «  Sa- 
tiafor,  ainda  que  desta  troca  não  fosse 
satisfeito,  dissimulou  sua  vontade,  j>or 
não  criar  ódio  no  novo  senhor;  e  com 
esta  dissimulação  de  sua  pena  lhe  deu 
logo  a  obediência,  pedindo  porem  ao  ca- 
valleiro do  Tigre,  que  d'ahi  p<ir  diante  o 
nào  tratasse  por  vassallo  estranho,  nem 
se  esquecesse  delle.»  Ibidem,  cap.  120. 
—  «O  cavalleiro  do  Salv.-íge  se  despediu, 
deixando  Dnigonalti^  em  todo  seu  con- 
tentamento e  a  rainha  satisfeita  com  a 
promessa  de  a  levarem  ú  còrte  do  impe- 
rador.» Ibidem,  cap.  130.  —  «  Tanto  que 
o  Camorij  teue  este  presente  o  os  seus 
oflííciaes  foraõ  satisfeitos  segnmlo  o  con- 
selho de  Monçai  le,  foi  Vasco  da  Gamma 
leuado  ante  elle :  ao  qual  recebeo  jà  com 


SATI 


SATU 


SATY 


417 


mães  honra  em  outra  casa.»  JoSo  de  Bar- 
ros, Secada  1,  liv.  4,  cap.  8.  —  «Com 
isto  ficou  António  de  Faria  algum  tanto 
mais  quieto,  e  lhe  disse  que  fosse  muyto 
embora  por  onde  lhe  parecesse  milhor,  e 
que  da  murmuração  dos  soldados  de  que 
se  queixava  lhe  não  desse  nada,  porque 
de  gente  ociosa  era  emendar  vidas  alhevas, 
e  nào  olhar  pela  sua;  mas  que  elles  se 
refrearião  cialy  por  diante,  ou  os  castiga- 
ria muvto  bem,  de  que  o  Similau  então 
se  deu  por  satisfeito.»  Fernão  Mendes 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  71.  —  «Ao 
que  nós  lhe  dissemos  que  tudo  era  verda- 
de quanto  lhe  tínhamos  dito  sem  falta  ne- 
nhuma, cõ  que  ellc  ficou  satisfeito,  e  nos 
disse  ja  que  sev  que  sois  os  que  dizeis, 
vinde  comigo,  e  não  ajais  medo,  porque 
eu  vos  segui-o  em  min:ia  verdade.»  Ibi- 
dem, cap.  82.  —  «  E  mandaudonos  vir 
de  comer,  nos  mãdou  assent  ;r  junto  de 
sy,  e  nos  fez  outras  muytas  horas  ao  seu 
custume,  de  que  algum  tanto  ficamos  sa- 
tisfeitos, mas  bem  arreeeosos  dos  desas- 
tres da  fortuna,  se  por  nossos  peccados  o 
negocio  não  socedesse  conforme  á  espe- 
rança que  o  Mitaquer  ja  tinha  cõeebida.» 
Ibidem,  cap.  119. —  «No  que  em  tudo 
se  achara  com  mui  ta,  e  boa  gente  de  pe, 
e  de  cauallo  paga  a  sua  custa,  lhe  fez 
mercê  de  dez  mil  cruzados  pagos  na  casa 
da  contratação  da  índia,  e  lhe  fez  depois 
outras  mercês  de  que  se  teue  per  satis- 
feito.» Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  4,  cap.  31 .  —  «  E  assi  ouue 
o  Príncipe  de  Jlartim  de  Sepulueda  fi- 
dalgo castelhan  a  fortaleza  de  Noudalan, 
que  estaua,  e  era  tomada  dos  Castelha- 
nos. E  lhe  fez  por  isso  em  Portugal  mer- 
cê, de  que  elle  foy  muyto  contente  e  sa- 
tisfeito.» Tiareia  de  Rezende,  Chronica 
de  D.  João  II,  cap.  16.  —  «  De  que  to- 
dos forão  muy  satisfeytos,  e  ouuerão  in- 
ueja  de  tão  bem  feit-a  cousa  por  ser  em 
tal  dia,  e  por  amor  de  nosso  Senhor  lesu 
Christo,  que  tantas  cousas  nos  perdoa 
cada  ora.»  Ibidem,  cap.  102.  —  «Se  o 
naõ  haveis  por  mais,  dou-vos  duas  Co- 
mendas, e  que  sejaõ  embora  as  mais  gros- 
sas do  Mestrado  do  Christo;  e  faço-vos 
Fidalgo  nos  livros  dei  Rey,  para  que  com 
honra  e  proveito  fiqueis  mais  satisfeito.» 
Arte  de  furtar,  cap.  70.  —  «  Que  não  fi- 
zera eu  quando  contente  de  ti,  se  trans- 
portada de  amor,  agora  mesmo  que  mais 
motivos  tenho  de  queisar-me...  Mas  tu 
me  conheces  bem;  satisfeita  me  viste,  e 
viste  descontente;  agradecida,  e  queixo- 
sa e  sempre  entre  iras.  ou  agradecimeu- 
tos  extremosa  Amante.  E  não  te  dá  emu- 
lação carácter  que  é  tão  de  appetecer  nas 
Damas?»  Francisco  Manoel  do  Nascimen- 
to. Successos  de  madame  de  Seueterre. 


E  soberbo  de  si,  nào  satisfeito, 

A  seu  profundo,  altivo  pensamento, 

Da  tocha  da  Razão  seguindo  o  lume. 

J.   A.   DE  MACEDO,   VIAGEM  EXTÁTICA,   Cailt.    1. 

voL.  V.  —  53. 


SATIVO,  A,  aàj.  (Do  latim  sativiis). 
Que  se  semeia.  —  Plantas  sativas. 

SATO,  í.  í)i.  Espécie  de  cobra  boi. 

SATRAPA,  s.  f.  (Do  latim  satrapes). 
Titulo  dos  governadores  da  provinda  nos 
antigos  persas. 

—  Figuradamente  :  O  grande,  o  nobre 
do  reino.  —  «Os  Grandes,  e  Satrapas 
do  Reino  se  partião  em  pareceres  diíFe- 
rentes ;  huns  ajuizavão  já  por  fataes  as 
armas  Portuguezas  em  damuo  de  Cam- 
bava, argumentando  com  o  primeiro  cer- 
co, do  qual  ainda  tinhão  as  feridas,  e  a 
memoria  fresca:  e  ainda  que  os  estimu- 
lava a  morte  de  Badur,  com  a  paciência 
de  outros  oíFendidos,  desculpavão  a  sua.» 
Jacintho  Freire  d'Andi-ade,  Vida  de  D. 
João  de  Castro,  liv.  2. 

SATRAPEAR,  v.  n.  Fazer  de   satrapa. 

—  Dar  ares  de  grande  do  reino. 
SATRAPIA,  s,  f.  (Do  latim   satrapia, 

de  satrapes).  Governo  de  um  satrapa.  — 
A  satrapia  de  Babylvnia,  que  era  a  mais 
opjuJenta  de  todas. 

SATRAPISMO,  s.  m.  O  mando,  sober- 
ba, are?  senhoris  dos  satrapas. 

SATURABILIDADE,  s.  f.  Termo  de  chi- 
mica.  Qualidade  do  que  é  saturavel. — 
As  leis  da  saturabilidade. 

SATURAÇÃO,  s.  /.  Termo  de  chimica. 
O  termo  onde  as  affinidades  reciprocas 
dos  dous  princípios  de  um  corpo  binário 
sendo  satisfeitas,  algum  dos  dous  princí- 
pios não  é  mais  susceptível  de  se  unir 
com  uma  nova  quantidade  d'outra.  —  A 
saturação  dos  alcalis  pelos  ácidos.  ■ — ■ 
Quando  se  satitra  o  acido  arsénico  de 
magnesia,  fórma-se  uma  matéria  espessa 
no  ponto  de  saturação. 

—  Diz-se  também  d'um  liquido  que 
não  pôde  dissolver  uma  quantidade  mais 
considerável  de  uma  substancia  solúvel ; 
de  um  gaz  que  não  pôde  receber  uma 
maior  quantidade  de  vapor.  —  A  satu- 
ração da  agua  pelo  assucar.  —  A  satu- 
ração do  ar  pela  humidade. 

—  Ponto  de  saturação ;  quantidade  de 
humidade  que  o  ar  peide  dissolver  a  uma 
temperatura  dada. 

—  Em  phvsica :  Magnetisar  á  satura- 
ção um  pedaço  d'aço;  dar-lhe  o  mais  ele- 
vado grau  possível  de  magnetisação. 

t  SATURADO,  pari.  pffss.  de  Saturar. 
Termo  de  chimica.  Diz-se  que  um  corpo 
é  saturado  d'um  outro,  quando  é  combi- 
nado com  toda  a  quantidade  possível 
d'este. 

— •  Agua  de  cal  saturada  ;  agua  em  que 
se  deita  a  quantidade  de  cal  viva,  que 
ella  pôde  dissolver. 

—  Ar  saturado  de  humidade;  ar  que 
não  pôde  receber  d'ella  vantagem. 

—  Figuradamente :  Estar  saturado  de 
uma  cousa;  estar  saciado  d'ella. 

t  SATURADOR,  s.  m.  Termo  de  chimi- 
ca. Apparelho  para  saturar  uma  agua  de 
acido  carbónico. 

SATURAGEM,  s.  f.  Segurelha,  herva. 


f  SATURANTE,  imrt.  act.  de  Saturar. 
Que  tem  a  propriede  de  saturar,  de  ab- 
sorver. 

SATURAR,  r.  a.  (Do  latim  saturare). 
Termo  de  chimica.  Produzir  a  saturação 
entre  duas  substancias.  — ■  Saturar  um 
acido,   ura  alcali. 

—  Saturar  a  agua  de  sal;  deítar-Ihe 
sal  ati'>  ella  o  não  desfazer,  ou  delir. 

SATURAVEL,  adj.  2  gen.  Termo  de 
chimica.  Que  é  susceptível  de  saturação. 

SATURNAL,  adj.  2  gen.  (Do  latim  sa- 
turnalis).  Pertencente  a  Saturno,  que  lhe 
dizia  respeito. 

SATURNINO,  A,  adj.  De  Saturno. 

—  De  chumbo. 

—  Figuradamente  :  Triste,  hypochon- 
di-ico,   melancólico. 

SATURNIO,  A,  adj.  De  Saturno,  deus 
da  fal:)ula. 

—  Saturnio  Juno;  Juno,  filho  de  Sa- 
turno. 

f  SATURNITE,  s.  /.  Termo  de  minera- 
logia. Variedade  de  chumbo  sidfurado. 

SATURNO,  s.  m.  (Do  latim  Saturnus). 
Termo  de  religião  dos  latinos.  Um  dos 
grandes  deuses  que  precedeu  Júpiter; 
ei-a  filho  de  Urano  ou  do  Ceu. 

—  Toma-se  algumas  vezes  pelo  Tempo. 

—  Termo  de  astronomia.  Um  dos  pla- 
netas do  systema  solar,  cuja  revolução  se 
faz  em  29  annos  e  meio,  cuja  rotação  se 
faz  em  dez  horas  e  meia,  e  que  está  a 
146  milhões  de  myriametros  do  sol. 

Inda  além  delle  vagaroso,  e  frio 
Vai  do  antigo  Satur/io  o  frôxo  raio. 
Immoveis  pontos,  trémulas  Estrcllas 
Xo  cristalino  assento  immoveis  brilhão 

J.   A.    DE  MACEDO,   VIAGEM  EXTÁTICA,    Cant.    3, 

—  Em  astrologia,  Saturno  é  um  pla- 
neta fixo,  malfazejo,  inimigo  da  natureza 
do  homem,  e  das  outras  creaturas. 

—  Termo  antigo  de  chimica.  O  chum- 
bo. 

—  Sal  de  Saturno,  assucar  de  Satur- 
no ;  antigos  nomes  do  acetato  neutro  de 
chumbo. 

SATYRA,  s.  /.  Vid.  Sátira. 

SATYRIASIS*  s.  f.  (Do  grego  satyria- 
sis).  Termo  de  medicina.  Estado  de  exal- 
tação mórbida  das  funcções  genitaes,  ca- 
racterisada  por  uma  inclinação  irresistí- 
vel a  repetir  o  acto  venéreo,  com  a  facul- 
de  de  o  exercitar  sem  se  esgotar. 

SATYRIASMO,  s.  m.  Termo  de  medici- 
na. Doença  dos  rins,  proveniente  da  lu- 
bricidade. 

f  SATYRICO,  A,  adj.  Vid.  Satírico. 
—  «Aos  misteres  de  gracejador,  golíardo 
e  trovísta  satyrico  Alie  ajunctaria  por 
gratidão  o  de  espia.»  Alexandre  Hercu- 
lano, Monge  de  Cister,  cap.  120. 

SATYRIO,  s.  m.  Termo  de  botânica. 
Planta  que  exhala  um  cheiro  a  bode 
mui  desagradável,  e  cujas  raízes  tuber- 
cxdosas  tem  semelhança  com  um  scroto. 


418 


SAUD 


ÍAUD 


SAUD 


SATYRO,  «.  "1.  Vid.  Sátiro. 

Doixii  .a(|ucllii 

O  rico  fio,  com  que  urdia  a  tfrllii ; 
Iluma  deiía  du  «aí.yro  o  i|uiji.\uiiic, 
Outra  d(;  ver  os  |>i!Íx<!íí  cm  cardiimi!, 
Como  saltão  na  reJu  ao»  [HMcadorcrt ; 
E  ora  chflian  dt;  iiivoja,  ora  du  amores, 
Eat&o  diíbaixo  d'af;ua  a  luima  o  Imma 
Levantando  as  cabulas  «obro  a  uiípiíuia. 

J.  X.   BE  MATTOS,  BIMAS,  pUg.  220. 

SAUCO,  s.  m.  Parte  do  casco  da  bosta 
entro  a  tapa,  o  a  ])aliiia. 

SAUDAÇÃO,  ».  /.  (1^0  latlin  sawlatio). 
A  acçilo  de  saudar. 

—  A  saudação  amjtUca;  a  oi-açào  da 
Avc-Maria. 

SAUDADE,  s.  /.  A  ma^ua  que  produz 
em  nóá  a  auscucia  da  cousa  amada,  com 
o  intento  de  a  ter  presente,  c  de  a  tor- 
nar a  vôr. 


Ma»  tornemos  a  jogar. 
Porque  touho  taiidade 
De  tn  ouvir  arrenegar, 
E  descrer  c  brasfemar 
Do  mistério  da  Trindade. 

GIL  VICENTE,  AUTO  DA  DABCA  DO  riR- 
OATORIO. 


Juro-vos  cjuc  de  saudade 
Tanto  de  pão  não  comia 
A  triste  do  mi  cada  dia. 
Doente,  era  luima  piedade. 
Ja  carne  nunca  a  comi : 
Esta  camisa  que  trago 
Em  vossa  dita  a  vesti. 
Porque  vinha  bom  mandado. 

IDEM,  FABÇAS. 


Oh  Senhora 

Como  sei  que  estais  agora 
Sem  saber  minha  saudade! 
Oh  senhora  matadora. 
Meu  corii(;ào  vos  adora 
Do  voutade. 


—  d  Desde  quo  jaso  nesta  terra,  foram 
tão  damninhas  as  saudades  (jue  se  em- 
poleiraram cm  mim  quo  não  ha  ponto 
cm  meu  coraçllo  onde  cilas  não  espara- 
vatassem.  E,  como  me  tomaram  em  os- 
so, fizeram  taes  mataduras  em  meu  con- 
tentamento, que  só  vossa  vista,  como  al- 
veitar  de  meu  desejo,  poderá  cural-as.» 
Ferniio  Rodrigues  Lobo  Soropita,  Poe- 
sias e  prosas  inéditas,  pap.  9.  —  «Sau- 
dades ao  lonjje  c  conversarão  ao  porto 
sào  as  mciliores  guarnições  que  amor 
tem  nas  suas  fortalezas.»  Ibidem,  pag. 
37.  —  «Muitas  saudados,  depois  da  glo- 
ria, bom  merecem  muita  gloria  depois 
das  saudades.»  Ibidem.  —  (.^liegat.  Quan- 
tas cartas  vos  mandei,  e  que  saudades 
iam  nellas,  creio  que  volas  nJlo  ilcram. 
—  Moqo.  Nunca  vi  uonbuma,  dcsejan- 
do-as  como  a  vida.»  Francisco  de  Mo- 
raes, Dialogo  3. —  «Trazendo  á  memo- 
ria  mil    couteutameutos,    quo   com   oUe 


pausara,  o  vertendo  muitas  lagrimas  pola 
pena  quo  Uie  esta  lembrança  dava,  oc- 
cupava  tanto  n'iii.so  o  Mentido,  que  algu- 
mas vezes  penlia  o  tempo  de  comer,  es- 
tando tão  elevada  na  contemplação  des- 
ta saudade,  quo  tudo  o  ai  lhe  es(|ue- 
cia.»  Idem,  Palmeirim  d'Inglaterra,  aip. 
■i.  —  f  1'asrtadod  il<-/,  dias  ro  dciípediu 
delia  o  d'ol-rei,  deixando  Silviana,  quo 
na  corto  ora  conhecida  com  Artisia  e 
suas  companheiras,  que  o  n.^o  quizo- 
ram  mais  acompanhar;  mas  ao  tempo 
do  apartar,  a  lembrança  do  quo  perde- 
ram trouxe  alguma  saudade,  que  fez  o 
despedimento  com  lagrimas. »  Ibidem, 
cap.  12Í).  —  «A  mão  direyta  desta  Cida- 
de, fica  a  Sancta  de  llierusalem,  com 
toda  a  mais  terra  de  Imlea.  Mas  porque 
esta  ticíi  na  Ásia,  tornado  ao  KL'y]itõ 
(que  saudades  da  terra  de  Proinis.são  me 
leuarào  agora  a  ella).  Passado  elle,  vay 
correndo  ao  longo  do  mar  Mediterrâneo 
a  Kegiam  Barbarica,  quasi  toda  deserta 
em  particular  até  Tripoli  Barbarico.  » 
Fr.  (i aspar  de  8.  Bernardino,  Itinerário 
da  índia,  Ciap.  7. 


K  posto,  fpu'  lembrar-me  possa  a  historia 
Do  nosso  amor  por  força  da  saudade, 
Hão  de  os  aggra\03  confundir  a  gloria. 

J.   X.   DE   MATTOS,   RIMAS,   pag-    33. 

Alestrc,  já  tinha  saudmle 
d 'este  vir ; 

mas  não  podo  o  céo  mentir, 
basta  sor  céo,  sor  verdade 
c  tèl-a  pêra  a  comprir. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  '2i. 

—  a  Dons  annos  passei  arredada  de  Pa- 
ris, d'ondo  só  mo  crescião  saudades  cm 
quanto  a  meu  Irmão  e  sua  Esposa,  que 
ainda  assim  tivérào  a  bondade  de  vir 
passíU"  conngo  o  tempo  que  meu  marido 
militou.»  Francisco  Jlanoel  do  Naseimcn- 
to,  Successos  de  madame   de  Seneterre. 

Campo  no  oriente  a  grandes  feitos  se  abre. 
Volta  com  nome  tal  que  tudo  vença. 
Ku  ^nverci  de  lagrymas...  — Embora. 
Mattar-me-hão  saudades...  —  Não,  não  hãodo. 

GARRETT,  CAMÕES,  CHOt.  -1,  Cap.  4. 


Alli  9Ó  com  meus  tristes  pensamentos 
Livro  ao  menos  dos  homens,  só  commigo, 
Co'as  lembranças  da  pátria,  co'a3  saudades 
Que  lá  me  tinham  coração  o  vida. 
Se  não  vivi  fclix,  siquer  tranquillo. 
iniDEU,  cap.  13. 


Ai !  sècca  jaz  em  torra,  o  deapojada 
Do  viço  e  folhas  a  árvore  querida. 
Tudo,  tudo  acabou,  menos  a  mágoa, 
Nfonbs  a  saudade  que  o  consummo. 
IBIDEM,  oant.  10,  cap.  13. 

—  Dar  saudades  ;  exprimir  a  saudade 
de  quem  ti  ca,  a  quem  manda  dar  sauda- 
des. 


—  Fazer  saudades  ;  olhando  para  on- 
de está  a  cousa  quo  lí»  faz,  cantando,  ou 
dando  outrcM  KÍgnu<:^4  das  quo  padecemos. 
—  i  Entrando  no  de  Navarra,  ao  »egun- 
do  dia,  que  caminharam,  furam  ter  a  um 
vallo  gracioso  e  grande :  pelo  moio  cor- 
ria uni  rio  de  muita  agoa,  coberto  d 'ar- 
voredos de  diversas  maneirax,  couna  qne 
a  Florendofl  fez  saudade,  quo  Ilie  trouxe 
á  memoria  a  mansidão  das  a;;oaH  do  Te- 
jo c  castollo  d'Almour<>l. •  Francisco  do 
Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  102. 


E  a  mi  faz-mo  saiulade 
minha  ca4a,  que  metade 
de  mi  podreço  já  aqui. 

AXTo.tio  rsKsrEB,  Auros,  pag.  .^õ. 


—  Fazer  saudades  ;  c-iusal-as.  —  t  Um 
levava  o  escudo  <lo  vulto  <le  Miragoarda 
envolto  em  uma  funda  de  seda,  e  outro 
o  seu ;  um  do.s  escudeiros  d'Alba_vzar  o 
de  Targiana,  que  Florendos  o  consentiu, 
por  lho  fazer  a  vontade  em  alguma  cou- 
sa. ÍJram  saudade  fez  na  cÍTte  a  partida 
de  Florendos  aos  cavallciroa  que  neila 
ficavam,  qne  sua  conversaçSo  era  dina 
d'isso.»  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
d'Inglaterra,  cap.  05. 

—  Impor  silencio  ds  saudades  ;  fazel-as 
desapparecer.  —  cMadama  qaanto  me 
lastimara  eu  agora  de  me  ver  separada 
de  vi!>8,  se  não  imposéra  silencio  á;*  mi- 
nhas saudades,  a  dita  que  e»táoé  gozan- 
do? Nunca  Suzanna  careceo  tanto  doa 
vossos  conselhos  e  vossas  consolações.  Fe- 
nece© M.  Depréval.  Terrível  aconteci- 
mento me  arrebatou  um  Esposo  que  me 
cumpria  que  amasse,  pois  que  quanto  nel- 
le  era,  contribuía  para  a  minha  felicida- 
de.» Francisco  Manoel  do  Nascimento, 
Successos  de  madame  de  Seneterre. 

—  Carpir  saudades  ;  arrancal-as. 

Com  a  trémula  mão  tonteia  as  chordas 

D'aquoUa  I\Ta  onde  troou  a  plíria. 

Onde  gemou  amor,  carpiu  Mxudndf. 

E  a  pátria...  Oh!  e  quo  pátria  os  ecos  lhe  deram  ! 

GARRETT,  TAMÔES,  C4\nt.    10,  Cap.    15. 

^ —  Despe Jir-st  de  algvem  c<mi  muitas 
saudades  ;  de>pedir-se,  custando-lhe  mui- 
to a  separação  e  lamentando-a.  —  «Os 
treze  per  conselho  do  piloto,  conc«rtaraõ 
o  bate!,  e  com  licença  dei  Rei,  quo  os 
despodio  de  si  com  muita  saudade,  se  fe- 
zeram  a  vela  caminho  de  Moçambique.» 
Damião  de  Goos,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  2,  cap.  *?1. 

—  Saudade  bruvu 

Matastí"  a  quem  a  vio  ?  Já  morto  pstava. 
Que  dis<.'orre  o  Amor?  Fallar  não  ous.t. 
E  quem  o  (ar.  ciliar?  Minha  vont-ide. 
Na  Corte  que  ficou?  SaudivU  brava. 
Que  fic-1  lá  que  vêr?  Nenhuma  oou*.t. 
Que  gloria  lhe  faltou?  Esta  beldade. 
CAM.,  sosEios,  n.o  83. 


SAUD 


SAUD 


SAUD 


419 


—  Termo  de  botânica.  Flor  rosa  ou 
vermelha  salpicada  de  branco. 

A  noite  de  ventos  muda 

como  saudade  escolha 

e  porque  mais  prazer  colha, 

chovia  agoa  miúda 

por  cima  da  verde  folha. 

D.   JOAXXA    DA  GAMA,  DITOS  DA  FREIRA, 

pag.  8. 

—  Saudades  perpetuas ;  flor  que  é  cul- 
tivada nos  jardins,  e  nasce  espontanea- 
mente. 

—  Saudades,  ou  suspiros  brancos  do 
monte;  planta  perenne. 

—  Adágios  e  provérbios  : 

—  Bom  é  largar  saudades  quando  o 
tempo  desengana. 

—  Saudade  é  íxaeo  remédio,  mas  é  do- 
ce engano. 

—  As  saudades  são  filhas  do  amor,  e 
enteadas  do  engano. 

—  Se  saudades  matassem,  muita  gente 
morreria. 

—  Saudades  sào  seccuras,  meu  amor  dá 
cá  a  borracha. 

SAUDADO,  part.  pass,  de  Saudar. 

—  Foi  saudado  e  acclamado  por  seu 
rei ;  foi  tratado  como  seu  rei. 

SAUDADOR,  A,  adj.  e  í.  Que  saúda. 

—  Qu-3  salva. 

—  Yid.  Saludador,  que  diverge. 
SAUDANTE,  firt.  act.  de  Saudar.  Que 

saúda,  que  faz  o  comprimento  cortez. 

—  Toma-se  também  substantivamente: 
O  discreto  saudante. 

SAUDAR,  1-.  a.  (Do  latim  salutare).  Dar 
o  Deus  te  salve.  —  «E  pois  es  cõpanhei- 
ro  e  parente  de  Deos  em  a  natureza,  não 
degeneres  de  taõ  alto  parente,  tornado  às 
antiguas  vileza.s  e  carnalidades.  Diz  mais 
o  glorioso  Euàgelista  que  enti'àdo  o  An- 
jo S.  Gabriel  na  camará  dõde  a  senhora 
estava  recolhida,  a  saudou,  dizendo.  Deus 
te  salue  chea  de  graça,  o  Senhor  he  cõ- 
tigo  benta  es  tu  em  as  molheres.»  Frei 
Bartholomeu  dos  llartyres,  Catecismo  da 
doutrina  christã. 

—  Saudar  rei,  cônsul,  ou  imperador ; 
dar  parabéns  com  mostras  de  alegi-ia, 
quando  damos  estes  titulos  ao  novo  elei- 
to n'estas  dignidades. 

—  Saudar  rei,  consuJ,  imperador  j  ac- 
clamar  rei,  imperador. 

—  Fazer  o  comprimento  cortez  e  ur- 
bano, usado  entre  os  que  se  avistam  e 
visitam,  desejando-se  mutuamente  a  saú- 
de. —  «Fizemo-lo  assi,  e  com  nossas  cor- 
tesias o  saudamos  dando  a  carta,  a  hum 
Príncipe  irmito  seu  pêra  que  a  lesse,  co- 
mo fez,  a  tempo  que  a  gente  era  já  tan- 
ta no  pateo  que  nào  cabia  nelle.  Lida  a 
carta  nos  disse  que  a  estimaua :  pergun- 
tou como  ficaua  o  Capitão ;  offereceo  suas 
casas  para  estarmos  nellas,  as  quaes  nào 
aceytamos.i)  Frei  Gaspar  de  S.  Bernar- 
dino, Itinerário  da  índia,  cap.  17. 


—  Adágios  e  provérbios  : 

—  Os  que  se  conhecem,  de  longe  se 
saúdam. 

—  Que  nobreza  de  rei,  que  sem  nos 
conhecer  nos  saúda. 

—  A  homem  ruivo  e  a  mulher  barbu- 
da, de  longe  os  saúda. 

SAUDAYEL,  adj.  2  gen.  Que  produz 
saúde.  —  «Naciam,  e  floreciam  os  lirios, 
creciam  os  cedros,  fructificavam  as  oli- 
ueiras,  estendiamse  os  plátanos,  os  frei- 
xos dauam  saudaueis,  e  frescas  sombras, 
vestiase  a  terra  toda  de  rosas,  de  flores, 
e  boninas;  que  he  a  magestade  do  Líba- 
no, a  frescura  de  Saram,  a  belleza  do 
Carmello.  de  que  ali  falia  o  Propheta.» 
Lucena,  Vida  de  S.  Francisco  Xavier, 
liv.  4r,  cap.  6. 

—  Figuradamente  :  Útil,  benéfico. 

—  Saudáveis  'medicamentos  ;  medica- 
mentos que  curam,  saudadores.  —  «Em 
quanto  ao  uzo  de  remédios  purgantes, 
ainda  que  nào  se  descobrem  medicamen- 
tos que  purguem  o  sangue,  porque  os  que 
o  purgaõ  taò  longe  estaò  de  serem  me- 
dicamentos úteis,  que  antes  saõ  vene- 
nos mortíferos :  cõ  tudo,  muytos  me- 
dicamentos saudáveis,  e  benignos  se  co- 
nhecem, dos  quais  se  pode  dizer,  que 
purgaõ  com  especialidade  o  sangue,  em 
quanto  o  purificaõ.»  Braz  Luiz  d'Abreu, 
Portugal  medico,  pag.  192,  §  141. 

— •  Varão  saudável ;  vai'ào  em  quem 
está  a  saúde  de  outros,  da  pátria,  etc. 

SAUDAVELMENTE,  adv.  (De  saudável, 
e  o  sufiixo  «mente»}.  De  um  modo  sau- 
dável. 

—  Com  utilidade  de  saúde. 

SAÚDE,  í.  /.  O  estado  do  corpo  com 
respeito  ás  suas  acções  e  funções,  que  se 
fazem  segundo  a  ordem  da  natureza  hu- 
mana, e  sem  obstáculo  nem  incommodo. 

Pois  esta  hora  de  vos  ver 
Alcançar,  Senhora,  pude ; 
Para  mais  contente  ser, 
Conformem  co'oste  prazer 
Novas  de  vossa  saúde. 

CAMÕES,  AMPUITBIÕES,   aCt.    2,   SC.    2, 

—  «Xo  qual  tempo  dom  loam  de  Sou- 
sa, capitam  da  dita  Yilla,  adoeceo  a  mor- 
te, de  maneira  que  não  podia  acudir  a 
cousa  alguma  que  comprisse,  e  por  não 
morrer  por  mingoa  de  físicos,  e  cousas 
necessárias  a  sua  sauáe,  ordenaram  to- 
dos que  se  viesse  logo  a  curar  a  Portu- 
gal.» João  de  Barros,  Década  1,  cap.  81. 

—  Ordinariamente  toma-se  por  boa 
saúde. 

—  Carta  de  saúde ;  documento  de  bor- 
do que  attesta  o  estado  de  saúde  da  equi- 
pagem. 

—  Salvação,  conservação. 


Femand"Alvares  me  seria 
Grande  saúde  e  socêgo, 
E  no  bispo  de  Lamego 
Queria  cu  a  portaria. 


E  se  passa  deste  dia, 
Morto  so, 

Porque  no  cuento  mis  quejas 
Si  á  voa  no. 

GIL  VICEXTE,  OBEAS  VABIAS. 


—  Conservar  a  saúde  ;  nào  a  perder 
com  extravagâncias,  deboches.  —  «Dis- 
se-me  que  se  queria  conservar  a  saúde 
que  nào  comesse  arengas,  nem  espina- 
cras,  nem  fadigas  repassadas,  nem  gela- 
das, nem  alagumes  porque  todos  esses 
animentos  de  que  me  via  gostar  me  vi- 
riào  a  fazer  pestivo.y)  Cavalleiro  d'01i-, 
veira,  Cartas,  liv.  1,  n.°  2õ. 

—  Tribunal  de  saúde;  tribunal  que 
tem  a  inspecção  sobre  a  sua  conservação, 
a  visita  dos  navios  para  evitar  as  pes- 
tes, etc. 

—  Viver  com  pouca  saúde;  viver 
doente.  —  «Quanto  a  costumes,  escrevia 
ao  conde  da  Ponte:...  «Eu  vivo  com  pou- 
ca saúde,  muita  moléstia  de  cabeça, 
maior  debilidade  na  vista,  e  se  me  vae 
exaltando  a  hypocondria. »  Bispo  do  Grão 
Pará,  Memorias,  publicadas  por  Camillo 
Castello  Branco,  pag.  22. 

—  Convir  á  saúde  das  almas;  ser  im- 
portante á  conservação  da  alma,  ao  esta- 
do sanitário  perante  Deus. —  «Em  quan- 
to se  estas  execuções  faziaõ,  naõ  deixaua 
el  Rei  de  cuidar  no  que  conuinha  à  saú- 
de das  almas  desta  gente,  pelo  que  mo- 
uido  de  piedade  dissimulaua  com  elles, 
sem  lhes  mandar  dar  embarcação,  e  de 
três  portos  de  seu  Regno,  que  lhes  pêra 
isto  tinha  assinados,  lhes  vedou  lios  dous, 
e  mandou  que  todos  se  viessem  embar- 
car a  Lisboa,  dandolhes  hos  estaos  pêra 
se  nelles  agasalharem,  onde  se  ajuntarão 
mais  de  vinte  mil  almas.»  Damião  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1, 
cap.  20. 

—  Beber  á  saude  de  alguém;  beber  vi- 
nho, brindal-o. 

—  Visita  da  saude ;  a  que  faz  o  medi- 
co e  officiaes  da  saude  aos  navios  que 
vem  de  fora,  de  logares  suspeitos  de  pes- 
te; a  que  se  faz  aos  mantimentos  para 
que  se  não  vendam  pútridos. 

—  A  saude  publica ;  a  saude  do  es- 
tado. 

—  Dar  saude  a  alguém;  cural-o,  dar- 
Ihe  os  medicamentos  úteis  para  a  sua 
conservação.  —  «El  Rey  lhe  aprovou  este 
conselho  por  milhor  e  mais  acertado,  e 
como  tal  lho  aceytou  e  lho  agradeceo.  E 
tornando  a  cõtinuar  comigo  me  fez  de 
novo  muytos  afagos,  e  me  prometeo  de 
me  fazer  muyto  rico  se  lhe  desse  saude  a 
seu  filho,  a  que  eu  com  as  lagrimas  nos 
olhos  respondy  que  eu  o  faria  com  tanto 
cuvdado  como  sua  alteza  veria.»  Fernão 
Mendes   Pinto,  Peregrinações,  cap.  137, 

—  Fazer  uma  saude  a  alguém;  fazer 
brinde,  bebendo  vinho. 

—  Visita  da  saude ;  a  melhora  breve 
ou  apparente  que  tem  algum  gravemen- 


420 


SAUD 


«AVE 


SAYA 


te    onfcrino,    ;l    (jual    so    mo<,'uo   (lupoi.s   a 
morto. 

—  Adaoios  IO  puovKitiiio.s  : 

— ■  Paz  i;  saudc,  dinliuiru  a  qiioiii  o 
quizcr. 

—  Sangrar  oiii  saúde. 

— -A  pouco  dinheiro  pouca  saúde. 

—  Em  ([luinto  tcni  saúde,  quodoa  es- 
tilo 09  santos. 

—  Saúde  come,  quo  níio  bocca  j^rande. 

—  Saúde  ó  a  que  joga,  quo  nào  canii- 
sa  nova. 

—  Camarás  do  maio,  saúde  do  todo  o 
anno. 

—  A  saúde  uns  volhos  c  mui  remen- 
dada. 

SAUDOSAMENTE,  adv.  (De  saudoso, 
com  o  «idlixo  «mente»).  De  um  modo 
saudoso. 

—  (Jom  saudade. 

f  SAUDOSÍSSIMO,  A,  mlj.  superl.  de 
Saudoso.  Alui  saudoso. 

Oh  Cintra  !  oh  saudoniummo  retiro 
Ondo  so  esquecem  mágoas,  oiido  folga 
De  »o  olvidar  no  seio  á  natureza 
Pensamentos  que  iuibala  adorinooido 
O  sussurro  das  folhas,  c'o  murmúrio 
Das  despenhadas  lymphas ! 

GARKETT,  CA.MÕB3,  cant.  5,  cap.  '.I. 

SAUDOSO,  A,  a'lj.  Acompanhado  de 
saudade,  ([ue  a  sente.  —  «Aos  sote  de 
Ma^-o,  preparadas  todas  as  cousas  pêra 
nos  partirmos  em  bum  Pangayo  que  esta- 
ua  de  caminho  pcra  Ormus,  vcyo  o  Pilo- 
to com  o  Capitrio  chamamos,  pêra  nos 
embarcarmos;  o  que  logo  fizemos  acoui- 
panhandouos  todos  os  Portugueses,  e  al- 
guns Jlouros  da  Cidade;  dos  quaes  des- 
pedidos largamos  as  velas,  indo  tam  sau- 
dosos dos  que  ticauam,  como  elles  de 
nos  verem  hir.»  Fr.  Gaspar  de  S.  Ber- 
nardino, Itinerário  da  ludia,  cap.  6. 

E  n'um  morro  empinado,  escolho  assento. 
Qual,  de  Ithaca  sandnso.  o  triste  Ulysses, 
Ou  quács  IMirygias,  no  Siculo  desterro, 
Chorando  olhava  o  amplíssimo  das  aguas; 
E  me  diiiia.  — As  abas  do  Taygètte 
Nasceste,  Eudíro,  o  o  sòm,  que  logo  ouviste 
Ao  ver  a  ethérea  luz,  foi  o  murmúrio. 

F.    M.    DO  NASCIMENrO,  03  MAllrYllES,   1ÍV.    10. 

—  Que  dá  mostras  de  sentir  saudade. 
—  «Eu,  a  quem  o  logar  o  o  costume  o 
dcfeuiliam,  susteutei-me  algumas  horas 
cm  saudosos  pensamentos,  e  dentro  elles 
Bahiu  esto  talsario. »  Fernào  Kodrigues 
Lobo  tíoropita,  Poesias  e  prosas  inéditas, 
pag.  2ã. 

—  Que  inspira  saudade. 

No  verde  campo  do  snxdo.io  Tojo, 
Morada  do  prazer,  oudo  sentira 
Couitigo  ao  lado  acceso  Euthusiasmo, 
Olha  a  copia  da  fulgida  Esmeralda, 
Qu'  o  remoto  Pogú  tao  vara  envia. 

J.   A.    r>E  M.VCKOO,  A  NATUREZA,  Caut.   2. 

1  SAUDOZO,  A,  adj.  Vid.  Saudoso.  — 


«(Jliegando  o  pastor  á  vista  delia  ae  teve 
no  estreito  caminho  por  naõ  estorvar  a 
hum  rou.KÍnol,  (jue  de  hum  ramo  do  ave- 
leira com  saudozos  assobios  fazia  hum 
sonoro  oeeo  entre  os  montes;  e  depois  de 
redobrar  com  mil  (pi(;iximies  a  cantiga, 
de  hum  vi')i»  se  passou  para  liumas  arvo- 
res altas,  que  da  outra  jiarte  ficavaij:  en- 
tão foi  o  pastor  adiante,  e  licou  muito 
mais  confuzo  vendo  a  Lizea,  que  sentada 
sobre  huma  pedra  da  fonte  tinha  em  o 
chaõ  escritas  estas  palavras...»  Eeriúlo 
Kodrigues  Liibo,  Primavera. 

SAUGUATE,  s.  m.  Viil.  Saguate. 

SAUGUIM,  s.  m.  Vid.  Sagui. 

SAURIM,  s.  í/i.  Um  pauno  originário 
da  Índia. 

SAURIO,  A,  adj.  (Do  grego  saurus). 
Análogo  ao  lagarto. 

— ■  iS.  III.  'plur.  Termo  de  historia  na- 
tural. Segunda  ordem  dos  reptis,  com- 
prehondendo  os  animaes  de  pelle  escamo- 
sa, providos  de  dous,  ou  as  mais  daa  ve- 
zes de  (juatro  membros,  e  tendo  o  corpo 
terminado  por  uma  cauda  extensa.  —  <j 
crocodilo,  o  canialeào  sito  os  typos  mais 
conlieeiílos  d'esta  ordem. 

SAUZ,  s.  m.  Salgueiro. 

SAVADILHA,  s.  J.  Termo  do  botânica. 
llelleboro  branco. 

SAVANA,  s.  /.  Logares  incultos  na 
America  ondo  pastam  os  animaes. 

SAVANDIiA,  s.  /.  Vid.  Cevandija.  — 
(iA(juella  lingua,  tpie  Já  naò  tem  fjrma 
de  lingua,  he  a  que  se  jactou,  mentio, 
jurou,  murmurou,  lisongeou,  blasfemou. 
Aquellas  entranhas,  fragua  do  tantos 
ódios,  secreto  de  tantos  tiugimentos,  ago- 
ra saõ  hum  enxame  de  savaudijas  asque- 
rosas.» Padre  Manoel  Bernardes,  Exercí- 
cios espirituaes,  pag.  480. 

SAVASTRO,  s.  m.  Vid.  Sebasto,  c  Sa- 
basto. 

—  Talvez  sabre,  espada  cm*va  e  curta. 
SAVEIRO,  s.  m.  Barco  de  atravessar  o 

rio,  e  do  pescar  ú  linha. 

O  duro  Pescador  cantando  alegre 
Sobre  a  proa  do  concavo  saveiro, 
Sc  03  nocturnos  Frisõcs  rege  alta  Lua, 
Que  doce  vista !  nas  cerúleas  ondas 
Para  lautos  festins  contente  Oi  leva. 
Vários  em  nome,  vários  em  grandeza. 

J.  A.  DE  MACEDO,  .V  XATUBEZA,  Cant.  3. 

—  Homem  que  rema  o  saveiro. 

SÁVEL,  s.  »í.  Termo  de  historia  natu- 
ral. Certo  geuoro  de  pescado  muito  co- 
nhecido n'este  reino.  —  «Na  qual  o  mais 
do  despojo  que  se  achou,  forào  algumas 
bombardas  que  os  Mouros  nam  poderam 
louar,  e  muito  trigo  posto  em  eouas,  e 
uniitos  saueis  escalados.»  Damião  de 
Coes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  i>, 
cap.  47. 


Eu  terei  mão  n.a  candèa. 
Mestre,  estacs  viJs  de  vèa? 
Oâcaruae-me  como  sável, 


i|uc  vejam  a  honra  tio  notável 
que  tiro  d'ciita  pouvéa. 

AMTOXIO  rBEATKR,  AUTOS,  [mg.  333. 

—  AiJAcio.s  K  i'UovKumos: 

—  Sáveis  \x)r  S.  Marcos  enchem  os 
barcos. 

—  Sáveis  de  maio,  maleitas  de  todo  o 
anno. 

—  Boa  é  a  truta,  Ijom  o  salmão,  bom 
é  o  sável,  ([uando  é  de  sazão. 

SAVELHA,  8.  /.  Pequeno  peixo,  talvez 
sável  yjequeno,  ou  a  enchova  da  Europa. 

SAVICA,  8.  /.  Pe\a  do  coche,  que  se 
mettc  nas  pontas  dos  eixos  para  pegarem 
nas  porcioneiras. 

SAVINA,  .V.  /.  Vid.  Sabina. 

SAVONULO,  í.  VI.  (Do  latim  tapouu- 
liis).  Termo  do  chiinica.  Nome  penerico 
dado  a  combinações  particulares  dos  óleos 
cssenciaes  com  as  bíiscs  alcalinas. 

SAVUGO,  s.  m.  Termo  antiquado.  Vid. 
Sabujo. 

SAXATIL,  aJj.  2  gen.  (Do  latim  »axu- 
tilis).  Que  se  cria  pegado  ás  pedras,  ou 
entre  ellas. —  Polvos  saxatiles. 

SAXEO,  A,  adj.  iDu  latim  ««.reji»;.  Ter- 
mo de  poesia.  De  seixo,  de  pedra. 

•j-  SAXICAVO,  adj.  (Do  latim  saxum,  e 
cavarei.  Termo  do  historia  natural.  Que 
fura  as  rochas.  —  MoUuscos  sazicãTOS. 

f  SAXICOLA,  adj.  2  gen.  (Do  latim 
saxum,  e  colere).  Termo  de  historia  natu- 
ral. Que  liabita  os  rochedos. 

— -'S.   f.  Género  de  aves  insectivoras. 

SAXIDÀS,  s.  /.  plur.  Sabidas.  Vid. 
Saídas. 

SAXIFRAGA,  s.  /.  (Do  latim  saxum,  e 
fraiiijcre'.  Planta  conhecida  pelo  nome  de 
caliitrava,  a  que  se  attribue  a  virtude  de 
desfazer  a  pedra  da  bexiga :  é  agreste, 
vivaz,  de  Hôr  rosácea;  nasce  nos  fundos 
dos  rochedos. 

SAXIFRAGIA,  s.  /.  Vid.  Saxifraga. 

SAXIFRAGO,  A,  adj.  Termo  antiquado 
de  medicina.  Pi-oprio  para  dissolver  a  pe- 
dra. 

—  Termo  do  poesia.  Que  quebra  pe- 
dras. 

SAXHORN,  .«.  7/1.  Instrumento  musico 
de  sopro. 

SAXOSO,  A,  ailj.  (Do  latim  taxosua). 
Cheio  de  seixos,  de  pedras. 

SAYA,  s.  f.  Vid.  Saia.  —  *E  assi  na 
guerra  mais  usam  de  ardis  e  de  multi- 
dam,  do  que  se  aiiroveitam  de  forças, 
ainda  que  auimosximente  cometem.  Usam 
ilo  sayas  de  malha  o  capacetes  e  das 
mais  armas  que  dissemos  atras.»  Fr.  Gas- 
par da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da  Chi- 
na, cap.  14. 

SAYAL,  *•.  J/l.  Vid.  Saial. 

Has  gixlautoâ  iuucui;õcâ, 
S'.'  tornaram  cm  paiiòcs, 
lios  borcados  em  sinW. 
lio  prazer  gn\ndo  geral 
em  nojos,  hinientaçõcs. 

QABCIA  DE  BSZENDE,  XUCELLASSA . 


SAZA 


«CAL 


SC  AP 


421 


SAYDA,  s.  f.  Yid.  Saida.  —  «  E  como 
a  terra  fosso  estreita  para  a  multidão  de 
gente  que  avia  neiia,  fizerào  por  vezes 
alíjumas  saydas  em  que  torão  ocupando 
Províncias  estranhas,  e  conquistado  ter- 
ras de  seus  vezinhos,  nas  quaes  se  ficavão 
por  moradores,  como  difusamente  cotào 
Joào,  e  Olao  Jlaguades,  e  outros.»  Mo- 
narchia  Lusitana,  liv.  6,  cap.  1. 

SAYÃO,  s.  m.  Yid.  Saião. 

—  Termo  de  botânica.  Planta  vulgar- 
mente chamada  ensaíão. 

SAYELO,  s.  í/i.  Termo  antiquado.  Sello. 

SAYLAR,  i.  a.  Termo  antiquado.  Yid. 
Sellar. 

SAYNHO,  s.  ra.  Yid.  Sainho.  —  «Tra- 
zem saynhos  de  mangas  largas,  gastam 
comunmente  no  vestido  mais  sedas  que  os 
maridos ;  mas  no  trajo  comum  andam 
vestidas  de  pano  de  linho  branco.  Fazem 
mesura  ao  modo  das  Portuguesas,  se  nam 
quanto  fazem  três  juntas  e  apressuradas. » 
Fr.  Gaspar  da  Cruz,  Tratado  das  cousas 
da  China,  cap.  15. 

SAYO,  s.  m.  Yid.  Saio,  e  Saiote. 

—  Adagio  e  provérbio  : 

Em  maio  a  quem  nào  tem,  baste-lhe  o 
sayo. 

SAYOADO.  Yil.  Saioado. 

SAYOANE.  Yid.  Sanhoauhe. 

SAYOARIA,  s.f.  Termo  antiquado.  Yid. 
Saioaria. 

SAYONARIA,  s.  f.  Yid.  Saioaria. 

SAYON.  Yid.  Saião. 

SAYORIA,  s.  f.  Yid.  Saioaria. 

SAYR,  V.  a.  Vid.  Sair.  —  «  Levantan- 
do hum  muro  deíde  a  ponte  de  Alcânta- 
ra, até  a  de  S.  Martinho,  onde  se  ajunta 
cõ  outra  muralha  antiga,  que  sayndo  do 
Alcaçar  pela  porta  que  chamaò  do  san- 
gue, e  do  ferro,  dando  volta  por  Saõ  Do- 
mingos o  Real,  vay  parar  na  ponte  de 
Saõ  Martinho,  onde  se  encoi-poraò  am- 
bos.» Monarchia  Lusitana,  liv.  O,  cap.  26. 

—  «  Estas  nações  todas  se  puseraõ  na  or- 
dem que  lhe  foy  mandado  pelo  Xemim- 
brum  mestre  do  campo,  o  qual  pôs  os 
Portugueses  na  dianteyra  de  todos,  que 
era  junto  com  a  porta  da  cidade  por  onde 
o  Chaubainhaa  avia  de  sayr.»  Fernão 
Mendes  Pinto,   Peregrinações,  cap.  119. 

—  «  E  por  esta  solta  se  deixa  este,  e  ou- 
tros taes  como  elle,  hir  descantando  se- 
melhantes letras,  ate  que  sayem  com  a 
sua  por  escrito,  estorvando,  e  tirando  os 
despachos  a  quem  os  merece,  para  os  in- 
corporarem em  si.  E  ainda  mal,  que  lhes 
succede.»  Arte  de  furtar,  cap.  3G. — 
«  Fazem  as  suas  guardas  sem  que  jamais 
sayão  de  facção,  e  fazem  as  suas  senti- 
nellas  sem  que  jamais  cerrem  os  olhos.» 
Cavalleiro  d'01iveira,  Cartas,  liv.  1,  nu- 
mero 28. 

SAZÃO,  s.  /.  (Do  francez  saisoji).  Es- 
tação do  anno. 

—  Figuradamente :  Tempo  próprio,  op- 
portuno. 

— ^Conjuncção,  conjunctura,  ensejo. 


—  Sem  sazão  ;  fora  do  tempo. 

—  Fruta  ajjanliada  em  sazão ;  fruta 
apanhada  quando  está  de  vez,  e  a  tempo 
de  colher. 

SAZOADO,  part.  jjass.  de  Sazoar. 

SAZOAR,  V.  a.  Vid.  Sazonar. 

SAZOAVEL,  adj.  2  gen. —  Terra  sazoa- 
vel ;  terra  disposta  para  produzir  o  que 
se  planta. 

SAZONADO,  part.  pass.  de  Sazonar. 

—  Fruta  sazonada ;  bem  madura  na 
estação,  e  saborosa. 

—  Figuradamente:  Discurso  sazonado 
de  razões  discretas;  discurso  adornado 
d'ellas. 

—  Disciírso  sazonado  de  razões  discre- 
tas ;  discurso  saboroso,  agradável. 

—  Tempo  sazonado;  tempo  chegado  ao 
próprio  de  fazer  alguma  cousa;  tempo 
opportuno,  bom. 

—  Temperado. 

—  Satisfeito  com  o  tempero. 

—  Figuradamente :  Messe  sazonada  de 
fructos. 

Do  turvo  Xilo  na  fervente  arêa 

Esta  nação  prodigiosa  cresce, 

De  antigo  pai  nascido  na  Caldea, 

Por  tradição  constante,  hum  Deo3  conhece : 

Messe  do  Justos  sazonada,  o  chêa 

Alli  SC  multiplica,  alli  florece, 

E  co'a  esperança,  que  no  peito  encerra, 

Supporta  a  escravidão  na  estranha  terra. 

J.    A.    DE   MACEDO,    O  ORIENTE,   Caut.    9,   Cât.   SO. 

SAZONAR,  V.  a.  (Do  francez  assaisoji- 
neri.  Amadurecer  os  fructos. 
— ■  Satisfazer  com  o  tempero. 

—  Dar  bom  sabor  á  comida,  temperar. 

—  Figuradamente:  Sazonar  o  discurso 
com  razões  discretas;  adornal-o  com  ellas, 
tornal-o  saboroso,  agradável. 

—  Sazonar  a  verdura  dos  annos. 

—  Sazonar-se,  v.  rejl.  Amadurecer. 
■ —  Figuradamente  :  Aperfeiçoar-se. 
SAZU,   s.   ■//!.  Termo  de  zoologia.  Pás- 
saro de  Sofala  do  tamanho  do  pardal. 

SCAAN,  s.  f.  Termo  antiquado.  No  bai- 
xo latim  disse-se  scandalium,  e  escanda- 
leum  por  uma  certa  vasilha,  que  constava 
de  quinze  medidas,  cada  uma  das  quaes 
pesava  duas  libras  e  doze  onças.  D  aqui 
disseram  os  portuguezes  scaan,  variando, 
porém,  alguma  cousa  nas  libras  e  onças, 
conforme  as  terras.  Ha  pois  todo  o  fun- 
damento para  se  dizer  que  a  scaan  por- 
tugueza  levava  um  almude  da  medida 
corrente,  que  consta  de  quatro  quartas, 
cada  uma  de  doze  quartilhos;  pois  em  al- 
guns documentos  se  acha  expressamente 
um  almude  de  manteiga,  em  outros  uma 
quarta,  em  outros  um  alqueire. 

SCALA,  s.  /.  Termo  antiquado,  que  no 
baixo  latim  teve  variadas  signilicações. 
1.°  signiíicou  a  forca  (signal  de  jurisdic- 
ção  suprema)  em  cuja  escada  eram  ex- 
postos á  vergonha  publica  os  que  tinham 
crimes  graves,  mas  não  que  merecesssem 
a  pena  capital;  2.°  a  rua,  bairro  ou  qua- 


drilha de  uma  povoação  ou  cidade;  3." 
o  prato  da  balança ;  4."  a  tumba  ou  es- 
quife que  tinha  alguma  semelhança  com 
a  escada;  õ."  o  logar,  ordem  ou  assento  • 
que  cada  um  deve  ter;  e  daqui  se  disse 
sentar-se  á  escada;  6."  esquadrão,  tur- 
ma, companhia  de  gente  militar;  7."  uma 
medida  agraria;  8."  o  porto  a  que  as  em- 
barcações arribam,  e  d'aqui  — fazer  es- 
cala, por — arribar  a  um  porto.  Significa 
também  taça,  vaso  ou  copo.  Eram  pois 
duas  preciosas  taças  lavradas  ao  buril,  de 
obra  peregrina  ou  esti-angeira,  que  a  no- 
bre fundadora  dava  para  o  serviço  do  re- 
feitório do  seu,  mosteiro. 

—  Também  chamavam  scala  ao  estri- 
bo para  montar  a  cavallo. 

—  A  campainha  ou  pequeno  sino. 

-[  SCALAR,  1-.  «.  Yid.  Escalar.  — .An- 
dando assi  estes  recados,  chegou  aquello 
porto  Emanuel  da  gama,  que  vinha  de 
Malaca  em  hum  navio  darmada,  com  cu- 
jo parecer,  e  dos  outros  capitães,  e  ho- 
mens nobres  da  frota,  assentou  George 
dalbuquerque  o  modo  e  ordem  que  teriam 
no  tomar  daquella  tranqueira  a  qual  pos- 
to que  fosse  muito  forte  determinou  de 
combater,  e  scalar  com  os  Portugueses 
que  alli  stauam,  que  poderiam  ser  ate 
duzentos,  e  oitenta.»  Damião  de  Góes, 
Clironica  do  D.  Manoel,  part.  4,  cap.  66. 

SCALENO,  A,  adj.  ,Do  latim  scaJenus). 
Termo  de  geometria.  Triangulo  scaleno; 
triangulo  cujos  três  lados  são  deseguaes. 

— ■  Termo  de  anatomia.  Músculos  sca- 
lenos ;  músculos  que  tem  suas  inserções 
nas  apophvses  transversas  das  vértebras 
eervicaes,  assim  chamados  porque  os  com- 
paravam a  um  triangulo  scaleno.  —  O 
scaleno  anterior,  o  scaleno  médio,  o  sca- 
leno posterior. 

f  SCALENOEDRO,  s.  wi.  Termo  de  crjs- 
tallographia.  Que  é  de  faces  scalenas. 

SCALIDO,  s.  7ÍÍ.  Logar  em  que  desagua 
o  canal  do  moinho. 

SCALLADOR,  s.  m.  Yid.  Escaladores. 

-{-  SCANDALIZAR,  i-.  a.  Yid.  Escandali- 
zar. 


Outras  sjTnonias  callo, 
grandes  trocas  e  partidos, 
e  benefícios  vendidos 
a  taees,  que  de  soo  falallo 
scandaliza  hos  ouuidos. 

GARCIA  DE  REZENDE,  MISCELLAKEA. 


SCANÇÃO,  s.  m.  Yid.  Escanção. 

SCAPHIDIOS,  *.  m.  plur.  (Do  grego 
skaphidion).  Termo  de  historia  natural. 
Género  de  insectos  coleopteros  mui  pe- 
quenos, assim  denominados  por  terem  o 
corpo  em  fúrma  de  barco  :  encontram-se 
sob  a  casca  das  arvores  e  nos  cogume- 
los. 

f  SCAPHOCEPHALO,  adj.  Termo  de  an- 
thropologia.  Em  forma  de  barco. —  CVa-' 
ne,o  scaphocephalo. 


422 


SCEL 


SCEN 


SCEP 


f  SCAPHOIDE,  a,lj.  T.riiio  didáctico. 
Que  tem  a  f/iruiíi  de  um   b:irco. 

—  Termo  do  .iiiatomiu.  Fosso  scaphoi- 
de;  pcinuina  caviíiade  .situada  na  parto 
Buporior  da  aza  intoriia  da  apopliywo  pto- 
rygoide, 

—  Osso  scaphoide;  nome  dado  a  dona 
pequenos  ossos  (jue  concorrem  para  for- 
mar, um  o  (.'•■irpo,  outi-i)  d  tarsu. 

f  SCAPHOIDO-ASTRAGALIANO,  A,  adj. 
Tormo  de  anatomia.  Que  pertence  ao 
scaphoide  o  ao  astraj^alo.  —  Articularão 
scaphoido-astragaliana. 

f  SCAPHOIDO-CUBOIDIANO,  A,  a<lj. 
Termo  tlc  aiialomia.  Que  peitence  ao 
scaplioido  c  ao  cul)oidu.  —  Arliculac^oes 
scaphoido-cuboidianas. 

f  SCAPTINA,  s. ,/'.  Termo  de  cliimica. 
Matéria  extractiva,  tirada  da  di^^ital. 

SCAPULALGIA,  s.  /.  (Do  latim  scapu- 
la,  e  lio  ,i;r^rC"  'd(jos).  Dôr  no  hombvo. 

f  SC  APULO,  s.  m.  Termo  de  anatomia. 
Osso  (la  espádua. 

f  SCAPULO  HUMERAL,  adj.  2gen.  Tor- 
mo de  anatomia.  Que  pertence  á,  omo- 
plata e  ao  humero. 

—  Articulaí^ão  scapulo-humeral;  aquel- 
la  que  tem  lofjar  entro  a  cahci^^a  do  liu- 
moro  e  a  caviílade  glenoide  da  omoplata. 

SCARIFICADO,  part.  pass.  de  Scarifi- 
car.  Vid.  Escarificado. 

SCARIFICAR,  r.  <i.  Vid.  Escarificar. 

SC  ARO,  s.  Dl.  Termo  de  lii.storia  natu- 
ral. Genoro  de  peixe  thoracico,  conlieci- 
do  também  pelo  nome  de  sart/o  bastardo: 
tem  um  caracter  bom  decisivo  entre  oa 
peixes  de  espinha;  e  vem  a  ser,  que  os 
seus  ossos  niaxillares  se  acham  descober- 
tos, e  fazem  o  oflieio  de  dentes;  tem  cor- 
po obloní^o,  comprido,  e  coberto,  assim  co- 
mo a  cabeça,  de  grandes  escamas. 

SCATHOPSE,  s.  f.  (Dú  grego  skatos,  e 
opsoii).  Termo  de  historia  natural.  Inse- 
cto lepidoptero,  cuja  larva  vive  nos  ex- 
crementos. 

SCATOPHAGO,  A,  adj.  (Do  grego  ska- 
tos, e  phagò).  Termo  de  zoologia.  Que  se 
nutre  de  excrementos. 

f  SCATOPHILO,  A,  adj.  Termo  de 
historia  natural.  Que  cresce  ou  vivo  nos 
excrementos. 

SCAURO,  s.  m.  Termo  do  zoologia.  In- 
Becto  eoleoptero. 

SCELERADAMENTE,  adv.  (De  scelera- 
do,  e  o  suflixo  a  mente»).  De  um  modo 
Bcelcrado. 

—  Com  malvadez,  facinorosamente. 
SCELERADO,  A,  adj.  (Do  latim  scelera- 

tus).  rapaz  de  grandes  crimes. 

—  Que  tom  o  caracter  do  grandes  cri- 
mes, fallando  das  cousas.  —  Uma  acção 
scelerada. 

—  Facinoroso,  malvado. 

—  Substantivamente:  Um  scelerado; 
uma  scelerada. 


Tanto  contnírio,  aonde  sem  polpja 
Coutavam  co'a  victoria.  Ivcohasâadas 


Foram  completamente.  Ia  Uiiivolta 
Na  fuga  o  êcderado. 

OAUKKl-T,  CATÃO,  act.   4,  BC.    4. 

SCELIFICAR,  V.  a.  Vid.  Celiíicar,  por 
ser  mai.s  coiifoiuic  com  a  etymologia  oriun- 
da de  cwlum. 

—  Segundo  alguns  authoros,  significa 
annunuMar  entre  os  signos  ceieste.s. 

t  SCELITA,  «.  /.  Pedra  figurada  imi- 
tamlo  a  firma  de  uma  perna  humana. 

SCENA,  .'-•.  /.  (Do  latim  tcena).  Parto 
de  um  acto  de  qualquer  drama.  —  Os 
actores  entram  em  scena. 

—  Figuradamente :  Espectáculo. 

A  grando  Scena  da  «oberba  I?oma, 
Vencidos  Reis,  o  Capitólio,  os  Louros, 
Quaes  sombra.s  se  esvaecem  ijuando  os  olhos, 
Ao  pi'aiito  sempre  alheios,  alongava 
Pelo  insigne  espectáculo  da  noite. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUBEZA,  Cant.  1. 

Impenetráveis  V(5o3  se  rasgilo,  novas, 
Brilhantes  scenau,  se  me  avanço,  observo. 


Confesso,  ó  Padres  ;  timida  a  minha  alma 
Não  titã  sem  horror  tam  negras  sreiías. 

GAHRETT,  CItÃo,  act.    2,   SC    1. 

—  POr  uma  obra  em  scena  ;  regular  o 
modo  como  os  actores  a  devem  represen- 
tar. 

—  Pôr  uma  personagem  em  scena;  re- 
prosental-a  n'uma  obra  dramática. 

—  Em  scena;  aos  olhos  do  publico,  em 
uma  represeutaçào  qualquer. 

—  Adorno,  ornato  do  theatro. 

—  A  acçiio  mesmo  que  faz  o  sujeito  da 
peça  que  representa. 

—  Abrir  a  scena ;  come<;ar  a  roprescn- 
taçào,  ser  o  primeiro  a  apparecer  no  thea- 
tro. 

— ^  Figuradamente  :  A  arte  dramática. 
—  Os  aul/iores  que  illusirurum  a  scena. 

—  ^1  scena  trágica ;  a  tnigedia. 

—  A  scena  cómica;  a  comedia. 

—  A  scena  li/rica ;  a  opera. 

—  Conjuncto  de  objectos  que  se  offe- 
recem  il  vista. 

—  Figuradamente :  Diz-se  do  que  se 
comparou  á  scena  de  um  theatro. 

—  Figuradamente  :  Diz-se  de  toda  a 
acçíio  que  offeroce  alguma  cousa  do  notá- 
vel, de  extraordinário.  —  Scenas  de  pra- 
zer e  de  alegria. 

—  Loc.  FIO.:  Mudnrem-se  as  scenas; 
mudarcm-se  as  circumstancias,  as  pes- 
soas, os  estados,  as  fortunas. 

—  Apparecer  em  scena.  Vid.  Figurar. 

—  2^1  ur.  Bastidores  e  vistas  do  thea- 
tro, que  representíim   o   logar  da  acçào. 

SCENARIO,  s.  «1.  As  vistas,  bastidores 
do  seena. 

SCENICO,  A,  adj.  Que  diz  respeito  ao 
theatro,  á  seona.  —  Os  jogos  scenicos. 

—  Estjjlo  scenico;  estylo  da  scena,  do 
theatro. 


—  Listinclo  scenico;  instincto  d'imita- 
çjlo. 

SCENOGRAPHIA,  «.  /.  iDo  grego  tke- 
lúi,  e  grapki:).  Termo  de  pintura.  Arto 
que  consiste  em  desenhar  ott  edificios,  as 
cidades,  etc.  em  perspectiva,  isto  é,  com 
as  diminuições  (|ne  a  perspectiva  ahi  pro- 
duz, em  opposiçilo  á  ichiujgraphia  e  or- 
th/graphia,  que  são  planod  puramente 
geométricos,  onde  a  perspectiva  n2o  é 
observada. 

—  Particularmente:  Arte  de  pintar  aa 
decorações  sccnicas. 

—  As  mesmas  repreaentaçiJea,  ob  obje- 
cto.H  r(;|iresi-ntados. 

I  SCENOGRAPHICAMEKTE,  adv.  (De 
scenograptaico,  com  o  sufíixo  «mente»  i. 
Seguinlo  as  regras  da  scenographia;  em 
perspectiva. 

-}-  SCENOGRAPHICO,  A,  adj.  Que  diz 
respeito  :i  sceiiographia. 

SCENOGRAPHO,  s.  m.  Homem  que  tra- 
ta da  .'■eenographia. 

SCENOPEGIA,  s.  /.  Do  grego  sketú,  o 
pêgiiiô).  Nome  dado  pelos  gregos  i  festa 
dos  tabernáculos  dos  judeus.  Deu-se-ihe 
este  nome,  em  consequência  da  festa, 
que  durava  sete  dias.  Vid.  Encenia. 

t  SCEPTICAMENTE,  adv.  (De  sceptico, 
com  o  suflixo  «mente»;.  De  ura  modo 
Bceptico. 

SCEPTICISMO,  í.  "i.  Doutrina  dos  phi- 
losophos  que  duvidam,  e  que  examinam. 
—  O  scepticismo  é  o  primeiro  passo  pa- 
ra a  verdade.  —  O  scepticismo  nào  con- 
vém a  todo  o  mundo,  suppõe  um  exame 
profundo  c  desinteressado. 

—  Particularmente:  Doutrina  dos  phi- 
losophos  pyrrhonicos. 

—  Diz-se,  em  linguagem  geral,  dos  que 
duvidam  de  tudo. 

—  Sy'X.  :  Scepticismo,  pyrrhonismo. 
São  termos  de  philosophia  que  designam 

dons  systenias  philosophicos,  oppostos  am- 
bos á  tlieoria  da  certeza ;  o  primeiro  nada 
affirma.  o  segundo  tudo  ne^ra.  ( >  sceptico 
suspende  o  juizo  sobre  todos  os  objectos; 
o  pyrr/tonico  affírma  positivamente  a  in- 
certeza universal. 

Ura  e  outro  svstenia  encerra  em  sua 
própria  natureza  o  principio  da  sua  des- 
truí çiio,  porque  ambos  sào  mais  ou  me- 
nos dogmáticos.  A  razão  ntio  p<'>de  atacAr 
a  razão,  senão  empregando  o  raciocínio, 
e  todo  o  raciocínio  suppõe  principies,  e 
suppõe  a  certeza  das  regras  da  lógica. 

SCEPTICO,  A,  adj.  Dir-se  de  uma  seita 
de  philo30])hos  antigos,  os  pyrrhonicoe, 
cujo  dogma  principal  era  duvidar  de  tu- 
do; e,  por  extensão,  daquelles  que  entre 
os  modernos  seguem  as  doutrinas  pyr- 
rhonianas,  ou  que  preferem  a  duvida  phi- 
losophica. 

—  Philosophia  sceptica.  —  Mcueimat 
scepticas. 

SCEPTRIGERO,  A,  adj.  Termo  de  poe- 
sia. Que  traz  sceptro. 

SCEPTRO,   í.   «1.  (Do  latim  sceptrvtm). 


SCEP 


SCHM 


SCIA 


423 


Bastão  de  commando,  que  era  uma  das 
insígnias  da  authoridade  rt'al.  —  «E  com 
liuma  cana,  que  em  lugar  de  sceptro  llie 
auiam  metido  na  mão,  o  feriam  na  cabe- 
ça. Todos  estes  desprezos,  e  escarneci- 
mentos,  quis  o  senhor  que  tantas  vezes 
se  multiplicassem  sobre  elle  :  pêra  ver  se 
era  possiuel  assi  curar  a  soberba  e  arro- 
gância do  género  humano,  e  eutranhauel 
desejo  que  tem  de  valor,  e  excellencia, 
e  de  alcançar  honra,  gloria,  e  dignida- 
des.» Frti  Bartholomeu  dos  Martvres, 
Catecismo  da  doutrina  christã. 

Foi  destes  feros  hórridos  Tjrannos 
Ludibrio  o  coração ;  mesquinho  escravo, 
O  dHi'o  Império  soffre,  o  sceptro  beija  ; 
Da  crua  guerra  hc  victima,  e  theatro ; 
Frente  a  frente  comsigo  entra  em  combate. 
Sc  intenta  o  jugo  sacudir,  recrescem 
( »3  duros  batalhões,  quaes  se  amontôão 
No  vasto,  e  fundo  mar  túmidas  ondas, 
Quando  nos  ares  os  tufões  pelêjào. 

J.   A.    DE  MACEDO,  MEDITAçÃO ,  Cant.    1. 

o  sangrue  em  borbotOes  rebenta,  e  mancha 
O  mesmo  Sceptro,  que  sustinha  a  dextra, 
Cobre  o  rosto  co'  a  chlamide  soberba, 
E  victima  cahio  de  Roma  escrava. 

IDEM,  A  NATUBEZA,  Cant.  1. 

Ah !  Nunca  os  passos  avançaras  tanto  ! 
Deste  ao  Tejo  opulência,  e  nella  a  glona: 
Seu  timbre  hum  tempo  foi,  mas  hoje  opprobrio, 
O  Sceptro,  que  lavrou,  das  màos  lho  arrancão. 

IDEM,   VIAGEM   ESTÁTICA,   Caut.    4. 

—  Figuradamente:  O  poder  soberano, 
a  authoridade  monarchica. 


Se  nunca  vio  a  imagem  da  ventura 
Esse,  que  desde  o  pó  subio  a  hum  SoIio, 
E  hum  Sceptro  sustentou  molhado  em  sangue. 
Que  a  seus  pés  as  Xações  prostradas  teve, 
Mas  sem  contar  hum  coração  vassallo, 
Será  ditoso  o  Aulico  assustado, 
O  valido  inquieto,  a  quem  Fortuna 
No  circulo  de  hum  dia  eleva,  c  piza  ? 

J.  A.   DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Caut.    1. 


Do  Indo,  Hidaspe,  e  Gange  as  aguas  trouxe 
Dentro  em  barro  Chinez,  e  era  Ataide. 
Será  maior  teu  Sodnev,  ou  teu  Nelson  ? 
Nem  teu  Monke  he  maior,  se  o  Sceptro  enjeita, 
Firmando  o  Diadema  em  Eegia  frente. 

IDEM,  VIAGEM  EXTÁTICA,   Caut.    2. 

—  Um  sceptro  de  ferro ;  uma  authori- 
dade dura  e  despótica. 

—  Figuradamente:  Superioridade,  per- 
manência. 

—  Empunhar  o  sceptro  ;  tomal-o. 

Eis  súbito  apparecc,  e  sobre  o  Globo 
Movendo  os  passos  magestosamente, 
Seu  poder  annuncia,  e  Sceptro  empunha. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  KATUREZA,  Caut.  1. 

Mal  obediente  o  valoroso  filho, 
Domador  das  subcrbas  castelhanas. 
Do  venerando  pae  impunha  o  sceptro. 

GAEBETT,   CAMÕES,   C3nt.  7,   Cftp.  21. 


—  Figuradamente:  O  rei. 

—  Figuradamente:  Dignidade,  officio, 
poder  real. 

—  Loc.  FiG. :  O  sceptro  do  peccado; 
o  seu  grande  poder,  o  seu  predomínio. 

—  O  sceptro  oriental.  —  «  Mormente 
que  em  nada  tem  a  fortuna  maior  impé- 
rio, que  nas  cousas  de  guerra;  alcanção- 
se  muitas  vezes  as  victorias  por  leves 
accidentes,  e  por  outros  se  perdem.  Será 
pois  justo  deixar  na  contingência  de  hum 
successo  o  Sceptro  Oriental,  com  espan- 
to, e  enveja  das  gentes  fundado  sobre 
tantas  victorias?"  Jaointho  Freire  de  An- 
drade, Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv.  2. 

—  Loc:  Dar  o  sceptro  a  alguém;  re- 
conhecel-o  por  soberano,  fazer-se  vassallo 
d'elle. 

—  Figuradamente :  Dar  o  sceptro  do 
seu  coração  ás  paixões;  fazer-se,  tornar- 
se  escravo  d'ellas. 

SCHAH,  ou  SCHACH,  s.  m.  Titulo  que 
os  europeus   dão  ao  soberano  da  Pérsia. 

f  SCHEAT,  s.  VI.  Estrella  de  segunda 
grandeza  coUocada  na  consteliaçào  do 
Pégaso. 

SCHEELICO,  adj,  m.  Termo  de  chimi- 
ca.  Acido  scheelico ;  acido  descoberto  por 
Scheele  em  um  mineral  chamado  íttH^- 
sU.no,  na  Suécia. 

SCHEELIN,  s.  m.  Termo  de  mineralo- 
gia. Vid.  Tung-steno. 

SCHELLING,  .«.  vi.  Vid.  Shilling. 

SCHEMA,  s.f.  Nome  genérico  de  todas 
as  figuras,  formas  ou  ornatos  de  estylo. 
Entre  os  gregos  e  latinos  toma-se  tam- 
bém em  um  sentido  mais  restricto  pelas 
tiguras  das  palavras  propriamente  ditas, 
pelas  figuras  do  pensamento,  com  exclu- 
são dos  tropos. 

—  Representação  dos  planetas,  cada 
um  em  seu  logar,  por  um  instante  dado. 

—  Termo  de  anatomia  e  de  physiolo- 
gia.  Nome  dado  ás  figuras,  que  por  effei- 
to  de  demonstrar  a  disposição  geral  de 
um  apparelho,  ou  a  successào  dos  esta- 
dos de  um  ser  ou  de  um  órgão,  são  ex- 
cutadas,  abstrahindo  de  certas  particula- 
ridades de  forma,  de  volume,  de  direc- 
ção, ou  de  relações  de  partes. 

—  Diz-se,  no  leibnitzianismo,  de  um 
principio  essencial  a  cada  monada,  e  que 
constituo  o  caracter  de  cada  uma  d'ellas. 
No  systema  de  Kant,  objecto  que  existe 
no  entendimento,  independente  da  maté- 
ria. 

—  Na  egreja  catholica,  proposição  re- 
digida subuiettida  ao  concilio. 

-{•  SCHEMATICAMENTE,  adv.  De  um 
modo  scheuiatico. 

I  SGHEMATICO,  A,  adj.  Q.ue  corta  o 
plano  de  uma  cousa,  sem  destruir  a  sua 
forma. 

I  SCHEMATISAR,  v.  a.  No  kantismo, 
considerar  os  objectos  como  abstracções, 
schenias. 

f  SCHEMATISMO,  í.  m.  Termo  de  gram- 
matica.  Diz-se  da  dififcrença  de  duas  pa- 


lavras, quando  consiste  unicamente  na 
posição  do  accento. 

SCHENO,  s.  m.  Termo  dantiguidade. 
Medida  itinerária  que  valia  cerca  de 
10:.500  metros. 

SHERIF,  s.  m.  Príncipe  árabe,  ou 
mouio :  homem  elevado  em  dignidade. 

SCHINANCIA,  s.  /.  Vid.  ''Esquinen- 
cia. 

SCHÍRRO,  s.  tn.  Vid.  Scirro. 

SCHISMA,  s.  /.  (Do  grego  schisma). 
Vid.  S;isma. 

SCHISTO,  s.  m.  (Do  grego  schizein). 
Termo  de  mineralogia.  Mineral  de  estru- 
ctura  laminosa,  formado  principalmente 
de  silica,  de  argilla,  e  de  diversos  oxv- 
dos  metallicos, 

—  Schistos  bituminosos ;  schistos  argil- 
losos  impregnados  de  matérias  bitumino- 
sas,  contendo  destroços  orgânicos. 

SCHI3T0S0,  A,  adj.  Que  é  da  natiu-o- 
za  do  scliisto. 

t  SCHISTOSOME,  adj.  Termo  de  tera- 
tologia.  Monstros  schistosomes ;  que  apre- 
sentam uma  eventraçâo  lateral  ou  media- 
na, em  toda  a  extensão  do  abdómen,  e 
que  não  tem  membros  pelvianos,  ou  que 
os  tem  mui  imperfeitos. 

t  SGHIZOCEPHALO,  A,  adj.  Termo 
de  teratologia.  Monstros  schizocephalos; 
monstros  cuja  cabeça  é  dividida  longitu- 
dinalmente. 

f  SCHIZOLITHA,  í.  /.  Termo  de  mine- 
ralogia. Género  que  compreliende  a  mica, 
o  chlorito,  o  talco  e  o  lapidolitho. 

f  SCHIZOPODO,  adj.  Termo  de  zoo- 
logia. Que  tem  os  pés  fendidos. 

T  SCHIZOPTERO,  adj.  Termo  de  zoo- 
logia. Que  tem  as  azas  fendidas. 

I  SCHIZOTHORAX,  adj.  Termo  de  te- 
ratologia. Monstruosidade  caracterisada 
pela  divisão  do  sterno,  ou  de  toda  a  es- 
pessura daB  paredes  thoracicas. 

f  SCHIZOTRICHIA,  s.f.  Termo  de  ana- 
tomia. Divisão  dos  cabeUos  na  sua  extre- 
midade. 

SCHOLASTICO,  adj.  Vid.  Escolástico. 

SCHOTISH,  s.  m.  Certa  dança  moder- 
na, usada  nos  bailes,  etc,  da  gente  po- 
lida. 

SCIAGRAPHIA,  s  f.  (Do  grego  skia,  e 
gralho).  Termo  de  astronomia.  Arte  de 
conhecer  a  hora  do  dia,  ou  da  noute  pela 
sombra  do  sol,  ou  da  lua. 

—  Termo  de  architectura.  Delineação 
da  fachada,  e  fuga  dos  lados. 

SCIATERICO,  A,  adj.  (Do  grego  skia, 
e  tcrein).  Que  mostiva  a  hora  pela  sombra 
do  ponteiro.  —  Quadrante  sciaterico. 

—  Telescópio  sciaterico ;  quadrante  ho- 
risontal  munido  d 'uma  luneta  para  ob- 
servar o  tempo  verdadeiro. 

—  Geometria  sciaterica ;  que  investiga 
as  distancias,  longitudes,  etc.,  das  cou- 
sas á  sombra  da  luz,  directa,  reflexa,  e 
refracta. 

SCIATICA,  s.  f.  Termo  de  medicina, 
Dôr  mui  viva,  que  fixando-so  no  trajecto 


424 


SCIK 


SCIE 


SCIE 


do  níírvo  sciatico,   occiípa  a  i)artc  poHtc- 
riiir  lia  Cdxa  c  da  perna. 

SCIATICO,  A,  wlj.  Turmo  do  anatomia. 
Quo  diz  respeito  ao  (jiiadril,  no  alto  da 
coxa. 

—  Nervo  sciatico ;  o  mais  grosso  ner- 
vo de  toda  a  economia  animal,  rpio  nas- 
ce do  |>lexo  naírraiio,  que  o  teriniia. 

—  Tuberosidaile  sciatica ;  enduencia 
larga,  o  arredondada,  formada  ])ola  rcu- 
niilo  dos  bordos  posterior  e  inferior  do 
osso  ilíaco. 

—  Plexo  sciatico ;  plexo  nervoso  intcr- 
rnciliario  nos  plexos  lond)ar  o  sagrado,  e 
dando  origem  aos  nervos  sciaticos. 

—  Chanfradura  sciatica;  clianfradiira 
situaila  no  bordo  posterior  do  cada  osso 
iliaco  abaixo  da  espinha  iliaea  posterior 
inferior. 

—  Espinha  sciatica  ;  endneneia  curta, 
pyramidal,  acliatada,  situada  abaixo  da 
grande  clianfradiira  sciatica. 

—  (lutiti  sciatica. 

SCIENCIA,  .t.  /.  (Do  latim  sclentia). 
Conhecimento  cpie  se  tem  d'alguma  cou- 
sa, noticia. 

Sol)  vosso  podor  o  mão 
deturuiino  de  cnlcval-o 
COMI  se !>/(<■( d' 

(Vestas  três  concupisecnciaa, 
que  poásam  prodominal-o 
no  pinhão  das  trcs  Potencias. 
ANTÓNIO  rnKSTEs,  AUTOS,  pag.  40. 

—  Conhecimento  daquillo  em  que  so- 
mos bem  instruidos.  —  «Por  certo,  ainda 
que  tó  li  nas  outras  cousas  quo  liavia 
visto,  08  trouxessem  espantados,  as  da- 
quella  casa  lhe  pareceram  muito  maiores; 
quo  alem  dos  livros  ser  quasi  infinitos,  e 
nelles  se  encerrasse  toda  a  exccllencia  de 
quantas  sciencias  se  podem  dizer.»  Fran- 
cisco do  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  120. 

V<5s  só  podcia,  sagrado  Evangelista, 
Angélico  abrazado  Soraphim, 
E  na  scicncia  mais  alto  Chcrnbim, 
Do  que  hc  mais  sabio  Amor  ser  Coror.ista. 
CAM.,  SONETOS,  n."»  245. 

—  «Pois  sem  a  força  da  Milícia  naõ 
pòdcni  permanecer  as  leis,  nem  profos- 
sar-se  as  sciencias,  ou  exercitarem-se  as 
artes,  nem  finahneute  cirnservar-sc  a  paz, 
o  liberdade.»  Manoel  Sevorim  de  Faria, 
Noticias  de  Portugal,  Disc.  2,  cap.  1. — 
«No  de  artilhcria  havia  muitas  nnl  peças 
grossas,  e  meúdas,  que  depois  se  gasta- 
rão no  serviço  do  Castclla,  c  deste  Rey- 
no.  Agora  estaõ  providos  os  Armazéns 
da  Tenencia  de  toda  a  siirte  de  armas,  e 
se  obra  tudo  com  grande  facilidade,  e 
perfeição  pela  scieacia  dos  Mestres,  o 
estaõ  concertados  do  maneira,  que  saõ 
dignos  de  so  ver.»  Ibidem,  cap.  11. 
—  «A  esta  graça  podemos  melhor  che- 
gar por  meio  do  cõpunçiHo  humilde,  que 


por  discurso  j)roftindo,  mais  por  suspi- 
ros, ijue  jior  argumento»,  por  lagrima.s 
antes,  (jue  por  conceitos,  mais  por  ora- 
ç.~io,  ([uc  por  liçilo ;  finalmente,  mais  de- 
pressa por  benolicio  de  lagriuia.s,  que  por 
scieucia,  c  estudo  do  letras.  •  Fr.  Har- 
tholoineii  dos  Martyres,  Compendio  de  es- 
piritual doutrina,  caji.  11.  —  «Klla  os  es- 
tudou com  aquella  atteiição  (jue  merecem 
as  boas  Obras,  c  fez  nesta  sciencia  todos 
os  jirogrossos  que  a  jioiliào  lisongcar.» 
Cavalleiro  d'01iveira,  Cartas,  liv.  I,  n." 
40.  —  «Culpais-mo  de  que  enqiregasse  o 
mou  tempo  dando  satislaçoens  cm  ma- 
téria do  eloquência,  julgando  como  de- 
feito a  muita  a))licaçào  ao  estudo  desta 
para  mim  grande  sciencia.»  Ibidem,  n." 
20.  —  «São  aqui  estimados  todos  oâ  que 
fazem  progressos  em  alguma  arte,  ou 
sciencia  útil  á  navegação.  Um  bom  geo- 
metra  é  altcndido:  um  hábil  astrónomo 
bem  acceito :  ])rc!ida-so  largamente  o  \n- 
loto,  que  se  distingue  dos  mais  cm  .sua 
arte :  não  se  faz  pouca  conta  do  um  insi- 
gne carpinteiro;  a  contrario  ])agam-lhe, 
e  tractan-o  bom.»  Francisco  Manoel  do 
Nascimento,  Telemaco,  liv.  ;}.  —  «Mos- 
tra-so:  j)orquc  todas  as  Sciencias  fazem 
os  scos  Professores  nobres :  A  Medicina 
Dogmática  he  Sciencia,  como  já  se  pon- 
derou: logo  a  Medicina  nobilita  os  que  a 
professan.  Prova-se  a  Mayor  7vx  tcvt.  In 
l.  Provldanduni.  ibl :  (/uos  scieutia  nobl- 
llsslinus  fiicU.K  Braz  Luiz  d'Abreu,  Por- 
tugal medico,  pag.  240,  §  79. 


No  Império  da  Sciencia  a  luz  estende 
O  homem  pensador,  e  a  esfera  pas.ia 
Oudc  presido  o  Sol,  e  os  Astios  uiéde. 

J.    A.    DK   MACEDO,  MEDITAÇÃO,   CaUt.    1. 

Profunda  escuridão,  pesado  luto 
O  vasto  Império  da  iScie.tí-in  abafa, 
Cjue  onde  apparccem  \\'andalos  acaba. 

IDEM,   VIAGEM  EXTÁTICA,   Caut.   "2. 


Bem  como  á  voz  omnipotente  surge 
Do  cego  abvsmo  a  máquina  da  Terra, 
E  repentina  a  luz  se  espalha,  u  brilha, 
Assim  das  Artes,  das  òVic/icin.?  todas 
Surge  ã  voz  de  Aristóteles  a  base, 
Que  jazera  até  alli  na  sombra  iuvolta. 


Da  Sciencia  o  deposito  conserva. 
Fadada  para  as  letras  Hasiléa 
Tantos  Beruouillis  dii,  quantos  os  Sábios, 
Claro  oruaiuonto  da  Scicncia  exacta. 
iniDKM,  cant.  4. 


Gravado  hum  nome  só  —  Academia - 
Ou  domicilio  das  Sciencias  todas. 


—  Sciencia  de  visão;  sciencia  que  faz 
eonlieeer    tolas   as   cousas   do    Ente  Su- 


A  copaiba  cm  caras  applaudida, 
Que  a  mí'dic.1  tciencin  (-rttnna  tanto. 

FH.    J.    HAXTA    BITA   MUû,  CAK.VHCIlÚ ,  Cailt.    7, 

est.  01. 


—  Sciencias  occulfng.  —  «  í'.>^ta  quali- 
dade de  gente  antigamente  necessitava 
de  muita  i;abilidade,  e  de  muito  estudo 
para  enganar.  <  >s  Doutores  das  Sciencias 
occultas  basta  disercni  na  Era  j)re.<entc 
qne  as  conhecem  j>ara  serem  cstiinaílos. 
São  cridos  debavxo  somente  da  cua  pala- 
vra, e  enganão  tão  groRseyramente  que 
enganào  as  gentes  a  cdlios  abertos.»  Ca- 
valleiro de  Oliveira,  Cartas,  liv.  3,  nu- 
mero ]  1 . 

—  Berço  das  sciencias  todcu. 


Não  falece  alli,  não,  pasmosa  Itália, 

Paiz  tào  earo  no»  Ocos,  tào  f;rato  aos  Sábios, 

Fecundo  b"r(;o  das  Scienciat  todas. 

].   A.   DK   MACEDO,   VIAGEM   UTATICA,  Cant.    4. 


premo 


Sciencia  medico. 


—  A  sciencia  astronomic/i. 


Venerando  Hailli  curvado  ao  peso 

Da  longa  idade,  que  hum  Tyranno  acaba 

Nhnm  Patíbulo  vil,  e  as.sim  fenece 

O  Sábio,  o  profundissimo,  eloquente 

Da  Sciencia  Astronómica  Analista, 

Que  o  Mundo  ciichêo  de  luz,  de  gloria  a  França. 

J.    A.    DE   MACEDO,   VIAGEM   EXTÁTICA,    Cant.    2. 

Não  foi  sem  frncto,  não,  nem  foi  deleite 
A  .Vidência  Astronómica  entre  os  homens ; 
Quão  vantajosa  luz  no  Mundo  cspallia ! 
iDiDEu,  caut.  4. 

—  Conhecimento  certo  e  evidente  daa 
cousas  por  suas  causas.  —  «  Nem  obsta, 
que  muitas  vezes  os  mesmos  Authores, 
que  a  cliamaõ  Sciencia,  a  denominem 
Arte,  como  saõ  (laleno,  20.  Avicena,  e 
outros,  21.  em  vários  lugares;  porque  ou 
a  Arte  se  considera  por  contraposição  à 
Sciencia;  e  neste  sentido  a  definio  Aris- 
tóteles :  Habltus  saclemll  vera  cum  raiio- 
íie.»  Braz  Luiz  de  Abreu,  Portugal  me- 
dico, pag.  2;^!?,  §  41.  —  «Na  das^^e  dos 
Summos  Pontífices  foraõ  Médicos  Fami- 
gerados S.  Eusébio,  que  succedeo  no  Pon- 
tificado a  Marccllo;  Jlcdico  experto  ra 
sciencia,  e  filho  de  Pay  Medico  na  pro- 
fiçaõ,  como  escreve  Molano.  4.  Kiculao 
Qulnfo  famoso  prescrutador  desta  scien- 
cia.» Ibidem,  pag.  24.'i,  §  66.  —  «Se  ho 
nobre  a  Metlicíiia  pellos  seos  predicados 
essenciaes  quãto  Sciencia,  naõ  o  he  me- 
nos pellos  grau  les  indultos,  e  previlegios, 
que  os  Imperadores.  Reys,  e  Mooarchas 
do  mundo  concederão  at>s  seoe  Professo- 
res.» Ibidem,  pag.  253,  §  90. 

São  confusas  hypotheses,  problemas 
Tudo  o  que  Roma  disso,  o  ouvira  Athenas. 
Sobre  as  ruir.as  das  Srieiícta»  todas 
Alça  a  voz  linm  Propheta,  e  explica  tudo: 


SCIL 


SCIO 


seis 


425 


(Oráculo  immortal,  minh'alraa  abastas!) 

n  Creou  Doos  uo  principio  03  Ueos,  e  a  Terra.» 

Mortaes,  eis  a  verdade,  o  mais...  delírio. 

J.  A.  DK  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Cailt.   4. 

—  A  arvore  da  sciencia  ão  bem  e  do 
mal;  a  arvore  do  paraíso  terrestre,  de 
que  Deus  tinha  prohibido  os  íruetos  a 
Adão. 

—  Systema,  reunião  de  conhecimentos 
sobre  uma  matéria. 

—  Saber  que  se  adquire  pela  leitura  e 
pela  meditatjíio. 

—  /Sejui-sciencia ;  sciencia  imperfeita, 
superficial,  limitada. 

—  Sciencia  da  razão  ;  sciencia  em  que 
as  verdades  poderão  ser  obtidas  só  pelo 
raciocínio,  partindo  de  axiomas,  de  prin- 
cípios primitivos. 

— ■  Termo  de  tbeologia.  Sciencia  de  sim- 
ples intelligencia;  faculdade  pela  qual 
Deus  se  conhece  a  si  próprio. 

—  Sciencia  media;  sciencia  pela  qual 
Deus  aprecia  as  consequências  de  tal  ou 
qual  causa. 

— -  A  sciencia  infusa ;  sciencia  que 
vem  de  Deus  por  inspiração  e  que  suppo- 
mos  dada  pela  natureza. 

—  Popularmente ;  Juhjar  ter  sciencia 
infusa ;  diz-se  de  um  homem  que  se  jul- 
ga sábio  sem  ter  estudado. 

—  Sciencia  do  mundo. 

■ — A  sciencia  do  coração;  o  conheci- 
mento dos  sentimentos. 

—  Termo  de  bellas-artes.  Diz-se  de 
tudo  o  que  pôde  reduzir-se  a  regras  ou 
preceitos. 

• —  Syn.  :  Sciencia,  sabedoria.  Vid.  este 
ultimo  vocábulo. 

SCIENTE,  adj.  2  gen.  (Do  latim  sciens) . 
Que  tem  sciencia,  douto. 

—  Sabedor,  que  tem  conhecimento,  no- 
ticia. 

SCIENTEMENTE,  adv.  (De  sciente,  e  o 
suflSxo  «mente»).  De  um  modo  sciente, 
sabiamente. 

—  Com  conhecimento  da  cousa;  acinte. 
SCIENTIFICAMENTE,  adv.  (De  scienti- 

fico,  e  o  suflixo  «mente»).    De   um  modo 
scientlfico.  —  Proceder  scientificamente. 

SCIENTIFICO,  A,  adj.  Que  diz  respeito 
á  sciencia.  —  Matérias  scientificas. 

—  Em  que  se  mostra  a  sciencia. 
SCIENTISSIMO,  A,  adj.superl.  de  Scien- 
te. ilui  sciente. 

SGIEROPIA,  s.  m.  Termo  de  medicina. 
Lesão  da  vista  em  que  todos  os  objectos 
parecem  mais  escuros. 

SCIFÃO,  s.  m.  Vid.  Sifão. 

SCILLA,  s.  f.  (Do  latim  scilla).  Termo 
de  botânica.  Género  de  plantas  da  famí- 
lia das  liliaceas,  comprehendendo  plantas 
communs  na  Europa,  de  que  ha  muitas 
espécies. 

SCILLITICO,  A,  adj.  Termo  de  pharma- 
cla.  Que  participa  da  natureza  da  scilla ; 
que  encerra  alguns  dos  seus  princípios. — 
Vinagre  scillitico.  —  Pilidas  scilliticas. 


f  SCILLITINA,  s.  /.  Termo  de  chimi- 
ca.   Substancia  acre   extrahida  da  scilla. 

SCINCUS,  s.  m.  (Do  grego  skiggos). 
Termo  de  zoologia.  Animal  terrestre  se- 
melhante ao  crocodilo. 

SGINTILLA,  s.  f.  (Do  latim  scintilla). 
Termo  pouco  em  uso.  Faísca. 

SCINTILLAÇÃO,  s.  f.  (Do  \&útq  scintil- 
latiu).  Termo  de  astronomia.  Vivo  movi- 
mento de  agitação  que  se  observa  na  luz 
das  estrellas,  mormente  quando  a  atmos- 
phera  não  está  tranquilla,  e  cuja  rapidez 
produz  a  illusão  de  verdadeiras  faíscas. 
—  Phenomeno  de  scintillação.  —  Scintil- 
lação  das  estrellas.  —  Observa-se  scintil- 
lação nos  planetas. 

SCINTILLADO,  parf.  pass.  de  Scintil- 
lar. 

SCITILLANTE,  j^^rt.  act.  de  Scintillar. 
Que  scintilla  por  sua  natureza,  que  tem 
a  propriedade  de  scintillar. 

Que  em  lide  percnnal,  em  anciã  eterna. 
Nos  agita  n'hum  circulo  continuo ; 
Por  ella  sem  pavor  Guerreiro  empunha 
A  scintUlante  espada,  o  o  Pegureiro. 

J.    A.    DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Cant.    1. 

Eu  vi  logo  a  Xoé,  que  intacto  surge 
Do  Lenho  guardador  da  espécie  humana. 
Aos  filhos  seus,  doa  sei ntil! antes  Astros 
Ensina  as  posições,  o  aspecto,  o  moto. 

IDEM,  VIAGEM  E.XTATICA,   Cailt.   2. 

Xo  vasto  mar  dos  fogos  sci/itillantes 
Me  engolfo,  e  vejo  a  solidão  do  vácuo 
Ante  quem  d'espantada  a  alma  recua. 

IDEM,  A  NATUREZA,    Cailt.    1. 

—  Termo  de  astronomia.  O  astro  que 
scintilla. 

SCINTILLAR,  v.  n.  (Do  latim  scintilla- 
re).  Ter  um  movimento  do  scintillação, 
faiscar,  lançar  faiseas.  —  Nas  regiões  do 
Norte  as  estrellas  scintillam  mais  que  nos 
nossos  climas. 


Ou  tu,  da  Terra  habitadora,  Alcipe, 

Do  quem  me  lembro  si5,  de  quem  contemplo 

Xo  compassado  scintillar  dos  Astros, 

Xo  magestoso  moto  a  imagem  viva 

Do  teu  suave  angélico  semblante  ! 

J.    A.   DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Cailt.    1. 

Uniforme  clamor  dos  Entes  todos. 
Isentos  de  paixões,  isentos  de  erros. 
Vè  scintillar  brilhantes  meteoros, 
Yè  no  Polo  que  o  gelo  ao  Xorte  opprime, 
Xovas  Auroras,  fulgurantes  globos. 
Que  pelos  ares  fluidos  discorrem. 

IDEM,  MEDITAÇÃO,  Caut.   4. 

—  Figuradamente  :  Brilhar. 

—  O  ferro  scintilla  ao  haterem-no. 

—  Scintillarem  as  pedras  com  as  fer- 
raduras dos  cavallos. 

—  Scintillarem  os  olhos  do  homem,  ou 
da  mulher  mui  coléricos. 

f  SCIOBIA,    s.  f.   Termo  de  zoologia. 
Género  de  insectos  coleopteros. 


SCIOGRAPHIA,  s.  f.  Vid.  Sciagraphia, 

SCIOLO,  s.  m.  (Do  latim  sciolus).  Ter- 
mo pouco  em  uso.  Ignorante  presumido 
que  affecta  saber  o  que  na  realidade 
ignora. 

SCIOMACHIA,  s.  /.  (Do  grego  schia,  e 
machè).  Termo  de  milícia.  Simulacro  de 
combate,  pequena  guerra. 

f  SCIOPHILO,  s.  m.  Termo  de  ento- 
mologia, (ienero  de  insectos  dipteros. 

f  SCIOPTICO,  A,  adj.  Termo  didácti- 
co. Que  diz  respeito  á  visão  na  som- 
bra. 

—  Termo  de  physica.  Esphera  sciopti- 
ca;  esphera  atravessada  de  um  buraco 
cylindrico,  em  que  se  encontra  uma  len- 
te. Este  instrumento  serve  nas  experiên- 
cias da  camará  escura. 

SCIOTERICO.  Vid.  Sciaterico. 

SCIRRHO,  ou  SCIRRO,  s.  m.  (Do  latim 
scirrhus).  Termo  de  medicina.  Tumor 
duro   que   costuma   formar-se  no  ventre. 

SCIRRHOSIDADE,  s.  f.  Termo  de  me- 
dicina. Qualidade  de  ser  scirrhoso. 

—  Tumor  scirrhoso. 

SCIRRHOSO,  A,  adj.  Da  natureza  do 
scirrho. 

SCISMA,  ou  SCHISMA,  s.  m.  ou/.  Divi- 
são entre  os  vassallos  de  algum  bispo,  ou 
do  papa,  que  reconhecem  outro  pastor,  que 
não  é  o  seu  canonicamento  eleito,  e  pro- 
vido. —  «Nem  permitimos  que  esta  Pro- 
víncia Carthaginesa  se  divida,  em  duvi- 
doso governo  de  dous  Metrojíolitanos, 
contra  os  Decretos  dos  Padres,  por  onde 
naça  variedade  de  scismas,  com  as  quaes 
se  preverta  a  fé,  e  se  rompa  a  imião.» 
Monarchia  Lusitana,  liv.  11,  cap.  20. 

—  Figuradamente :  Divisão  entre  os 
sectários  de  uma  seita,  quando  escolhem 
diversos  pontífices,  ou  chefes,  devendo 
ser  um  só. 

—  Pensamento,    apprehensão  errónea. 

—  Loc.  POP. :  Metter-se  uma  scisma 
na  cabeça  d' alguém;  metter-se-lhe  uma 
mania,  uma  opinião  mal  fundada. 

—  Preconceito,  opinião  sem  funda- 
mento. 

SCISMAR,  V.  n.   Termo  popular.  Pen- 
sar,   cuidar   muito  em  alguma  pessoa  ou   » 
cousa,  com  apprehensão  eiTonea. 

—  Imaginar  com  muito  aferro,  estar 
imaginativo  sobre  alguma  cousa. 

SCISMATICO,  ou  SCHISMATICO,  A,  adj. 
Que  fez  scisma,  que  o  segue. 

—  Bispo  scismatico ;  que  pretende  ser 
bispo  da  egreja,  que  tem  pastor  canó- 
nico. 

—  Pensativo,  que  está  com  cuidado  em 
alguma  cousa. 

—  Substantivamente  :  Pessoa  que  re- 
conhece o  pastor  scismatico. 

SCISSÃO,  s.  /.  (Do  latim  scissio).  Se- 
paração, divisão  n'uma  assembleia  politi- 
ca, n'um  partido,  n'uma  seita.  —  Fazer 
uma  scissão. 

—  Divisão  de  opiniões  e  de  vozes.  — 
Scissão  entre  os  opinantes. 


426 


SCOL 


SCRA 


SCRE 


SCISSURA,  s.  /.  iDo  latim  «císíura;. 
Vid.  Cisura. 

—  Fifíuradamente:  Quebra,  ou  inter- 
riipçilo  do  paz,  e  amizade  entre  as  cor- 
tou, ou  t':iiiiilias. 

SCISURA,  ».  /.  Vid.  Scissura. 
SCITALE.  Vid.  Scytal. 
SCITOSAMENTE,  adv.  Advertidamente, 
a  8an<íue-t'rio,  eoni  eonliecimento  claro. 

—  Aleivosamente,  insidiosamente,  acin- 
tosamente sobrepensado.  Vid.  Aceitosa- 
meute. 

f  SCLEREMA,  s.  f.  Termo  do  medici- 
na. Endurecimento  do  tecido  cellular. 

f  SCLERIASIS,  ou  SCLERIASE,  s.  m. 
Termo  do  medicina.  Endurecimento  do 
bordo  das  pálpebras. 

SCLEROPHTHALMIA,  s.  /.  Termo  de 
patliologia.  Ophtlialmia  caractcrisada  polo 
desonvolvimento  de  pequenos  tumores  no 
bordo  livro  das  pálpebras. 

f  SGLEROPHTHALMICO,  A,  adj.  Que 
diz  respeito  á  sclrrophthalmia. 

f  SCLEROPHYLLO,  A,  adj.  Termo  de 
botânica.  Que  tem  folhas  rijas. 

f  SCLEROPTERO,  A,  adj.  Termo  de 
zoologia.  Que  tom  azas  potentes  para  o 
voo. 

SCLEROSARCOMA,  s.  /.  (Do  grego 
skhros,  c  sarkosi.  Termo  de  medicina. 
Tumor  duro,  quo  ataca  as  gengivas. 

SCLEROSTOMAS,  «.  /.  plur.  i  Do  gre- 
go skleros,  e  stoma).  Familia  de  insectos 
dipteros,  caractcrisados  por  um  chupador 
saliente  da  í/irma  de  uma  tromba. 

f  SCLEROTICA,  s.  /.  Termo  de  anato- 
mia, ilcmbrana  tibrosa  á  qual  se  ligam 
os  tendões  dos  músculos  que  movem  o 
globo  ocular:  é  dura,  opaca,  composta 
de  laminasinhas  fibrosas  entrecruzadas. 
Chama-se  vulgarmente  o  branco  do  olho. 

SCLEROTICO,  A,  adj.  Termo  de  anato- 
mia. Túnica  sclerotica;  tuuica  que  forra 
o  olho,  na  parte  interna. 

SCOLECA,  s.  »i.  Termo  de  entomolo- 
gia. Género  de  vermes  intestinaes,  de 
tamanho  excessivamente  pequeno,  e  de 
cabeça  grande. 

f  SCOLECIOSIA,  s.  /.  Termo  de  medi- 
cina. Doença  entretida  pelos  vermes. 

f  SCOLECODE,  adj.  2  geti.  Que  se  as- 
semelha a  um  verme. 

—  Termo  de  medicina.  Que  é  occasio- 
nado  por  vermes. 

f  SCOLECOLOGIA,  s.  /.  Tratado  so- 
bre os  verines. 

SCOLFITO,  por  ESCULPIDO,  lavrado  de 
csculptura. 

—  Vaso  scolíito;  vaso  que  tem  algum 
lavor  ou  csculptura. 

SCOLHEITA,  s.  /.  Vid.  Escolheita. 

SCOLHENÇA,  s.  /.  Vid.  Escolhença. 

SCOLIASTES,  s.'jn.  (Do  grego  skolia- 
Z(3\  Vid.  Escoliastes. 

SCOLOPENDRA,  s.  /.  Termo  de  ento- 
mologia, (i  onero  do  myriapodos  da  or- 
dem dos  chilopodos,  comprehendendo  os 
auimaes  de  corpo  extenso,  e  dividido  em 


numerosos  segmentos.  Suas  antennas  silo 
longas,  e  seus  pós  são  em  numero  de 
vinte. 

—  Ha  outra  espécie  na  ilha  de  S,  Do- 
mingos, que  tem  listrSo  de  côr  de  fogo 
polo  meio  das  costas,  e  os  pés  a  modo  de 
cabelliiihos  em  que  corre  com  suuuna  ve- 
locidade ;  é  do  tamanho  de  um  dedo,  cha- 
to, e  de  eòr  ferruginosa. 

—  Termo  de  botânica.  Planta  medici- 
nal, que  tem  alguma  similhança  com  o 
insecto  pelas  listras  que  tem  na  sua  par- 
te inferior:  c  conhecida  também  pelo  no- 
me de  douraillnha,  e  língua  cervina. 

SCOMUNGADOIRO,  A,  adj.  Termo  an- 
tiquado. Merecedor,  e  digno  de  ser  ex- 
communga'lo. 

SCONDUDO,  ant.  Vid.  Escondido. 

SCOPO,  s.  m.  (D.)  latim  scopus).  Ter- 
mo pouco  em  uso.  Fira,  objecto,  alvo. 

SCOPRO,  s.  m.  Vil.  Escopro. 

SCORBUTICO,  ou  ESCORBUTICO,  A, 
adj.  Termo  de  medicina.  Que  tem  scor- 
buto.  — Doença  scorbutica.  —  Constitui- 
ção scorbutica.  —  Tumor  scorbutico.  — 
A{fecção  scorbutica.  - —  Ulceras  scorbuti- 
cas. 

— •  Que  é  atacado  de  scorbuto.  —  Ser 
scorbutico. 

—  Substantivamente:  Uma  pessoa  scor- 
butica. —  E  um  scorbutico. 

SCORBUTO,  ou  ESCORBUTO,  s.  m.  Ter- 
mo de  meJieina.  Doença  que  corrompe  a 
massa  do  sangue,  e  cujos  principaes  ca- 
racteres são  um  estado  de  entorpecimen- 
to, de  aversiíi)  para  o  exercício,  de  nó- 
doas lividas  nas  differcntes  partes  do  cor- 
po, a  vermelhidão,  a  molleza,  a  tume- 
tacção,  a  fungosidade,  e  o  fluxo  de  san- 
gue das  gengivas  pela  menor  pressão,  a 
fetidez  do  hálito,  a  disposição  para  as 
hemorrhagias  e  para  as  ulcerações  fungo- 
sas  com  um  estado  de  debilidade  geral.  O 
escorbuto  ataca  em  geral  os  marinheiros 
durante  a  sua  viagem,  e  em  geral  os  in- 
dividues reunidos  cm  grande  numero  em 
logares  estreitos.  Os  marinheiros  olham  a 
batata  como  o  melhor  preservativo  do  es- 
corbuto. 

SCORDIO,  í.  m.  Vid.  Escordio. 

f  SCORODITA,  s.  /.  Termo  de  minera- 
logia. Arseniato  de  ferro. 

SCORODONIA,  s.  /.  Vid.  Escorodonia. 

I  SCORZO,  s.  m.  Termo  antiquado. 
Corticeira,  vasilha  de  cortiça  do  sobrei- 
ro, que  levava  seis  canadas  de  vinho. 

SCOTIA,  s.  /.  (Do  grego  skotos).  Ter- 
mo de  architcctura.  Um  dos  membros  da 
base  da  columna,  que  fica  mais  recolhi- 
do, e  ó  algum  tanto  escuro  c  sombrio. 

SCOTODINIA,  í.  /.  (Do  grego  skotos,  e 
i/íií("  .  Termo  de  medicina.  Vid.  Scoto- 
mia. 

SCOTOMIA,  s.  m.  Vid.  Escotomia. 

7  SCRAVO,  í.  m.  Vid.  Escravo.  — 
«Afonso  dalbuquerque  se  fez  a  vela,  com 
SOS  três  nãos,  e  hum  jungo,  em  que  man- 
dou embarcar  muita  fazenda,    assi   dos 


quintos  dei  Rei,  como  sua,  e  de  partes 
no  qual  hia  por  capitão  .SimSo  niartinz 
com  treze  Portugueses,  a  mais  gente  era 
sessenta  laos  c^isados  com  suas  molheres, 
e  filhos,  escrauoB  dcl  Rei,  todos  carpin- 
teiros, ferreiros,  e  calafates  que  leuaua 
pêra  na  índia  ensinarem  outros  scranos.i 
Damião  de  Oocs,  Chronica  de  D.  Ma- 
noel, part.  i5,  cap.  20. 


Fui  Snravo,  dci4<l°entain.  Galardio  Bnmmo 
I)c  Dco»  o  tfinho,  Pm  con»ofruir  a  Dit» 
D<!  BPinoar  di-  .Josu»  Christo  a  crença. 
Na  liarbara  Nação,  em  que  óra  existo. 

y.   M.   DO  NASCIMENTO,  OS  XABTTKEJ) ,  1ÍV.  7. 


Quem  nâo  vcrtíra  Up-imas,  olhando-te 
Acatada,  n'iim  tronco  da  Germânia, 
D'um  arraio  Orcgo,  dum  Homano  gcraro, 
E  d°uma  egrégia  itarbara  Rainha  V 


SCRAVONETA,  a.  /.  Rnbim  em  bruto, 
legitimo,  ii.Ho  polido. 

7  SCREVER,  1-.  a.  Vid.  EscrcTcr. — 
iE  a  António  de  Saldanha,  que  hia  por 
capitão  da  armada,  que  mandaua  ao  Em- 
perador,  screueo  que  toda  aquclla  via- 
jem onde  quer  que  o  Infante  seu  irmão 
estiuesse,  em  todo,  e  por  todo  lhe  obede- 
cesse como  a  oUe  mesmo  se  presente  fos- 
se, e  fezesse  tudo  o  que  lhe  mandasse.» 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Ma- 
noel, part.  1,  cap.  101. —  «E  que  antes 
de  partir,  ou  depois,  per  qualquer  nauio 
da  terra,  mandasse  a  el  Rei  de  Melinde 
per  hum  dos  degradados  que  com  elle 
hião,  as  cartas  que  lhe  leuaua,  e  lhe  scre- 
vesse  o  que  passara  em  Quiloa,  e  de  6ua 
parte  lhe  fezesse  muitos  offerecimentos, 
como  a  bom  amigo.»  Ibidem,  part.  2, 
cíip.  1.  —  fXo  mesmo  anuo  vieram  a 
este  regno,  estando  el  Rei  em  Enora, 
desauindos  do  mesmo  Rei  dom  Fernando 
o  Duque  de  medina  sidónia,  e  dom  Pe- 
dro gyrão  seu  cunhado,  filho  do  Conde 
Doruonha,  do  que  el  Rei  dom  Emanuel 
teue  desgosto,  e  screueo  a  Christou.ão 
corroa,  que  estaua  entam  com  seus  negó- 
cios em  Castella,  que  desse  disso  suas 
desculpas  a  eIRei  dom  Fernando,  que 
lhe  naõ  parecesse  que  procedia  isto  del- 
le.»  Ibidem,  cap.  30. — «Neste  tempo 
mandou  cl  Rei  dom  Emanuel  Nuno  da 
cunha  a  Çafim  com  cem  lanças,  pêra  la 
estar  por  fronteiro,  debaixo  da  bandeira, 
e  mando  de  Xuno  fcrnandez  dataidc,  e 
screueo  a  dom  Xuno  m.iscarenhas  que  se 
uiesse  para  o  regno,  o  deixasse  as  suas 
cem  lanças  a  Nuno  femandcz.»  Ibidem, 
part.  3,  cap.  35. —  tltcm.  Porque  Ihea- 
bentafuf  he  razara  que  com  fauor  seja 
de  nos  tratado,  por  seus  seruiços,  nos 
lhe  uotiticamos  esta  nossa  determina- 
çam,  encommendandolhe  pois  nos  o  ane- 
iiuis  assi  por  scruido  lho  pareça  assi  bem, 
como  sempre  lhe  p.arcccm  as  cousas  de 
nosso  seruiço,  com  algumas  cousas,  por- 


SCRI 


SCYL 


SE 


427 


que  a  isso  mais  uos  mouemos,  e  que  aue- 
mo3  por  honrrosas  pêra  elle,  segundo 
que  pela  carta  que  lhe  screuemos  o  ve- 
reis.» Ibidem,  cap.  õ3.  —  «Esta  noua 
fez  tanta  impressam  nelle,  que  logo  dixe 
que  seus  trabalhos  erào  acabados,  e  que 
Deos  per  sua  misericórdia  lhe  tinha  ja 
concedido  o  descanso  delles,  o  que  dito 
screueo  huma  carta  a  el  Rei  em  que  de- 
zia.  Senhor  screueo  a  vossa  alteza  com 
saluços  que  he  sinal  de  morte.»  Ibidem, 
cap.  80.  —  «No  que  nào  podendo  Pêro 
correa  tomar  conclusão  o  mandou  el  Rei 
vir  pêra  o  regno,  screuendolhe  que  dei- 
xasse o  carrego  dalgumas  outras  cousas 
que  lhe  ficauaõ  por  acabar  a  Caristouào 
barroso  veador  da  casa  do  Emperador 
Maxirailiano.»  Ibidem,  part.  4,  cap.  1. 
—  *Este  somenos  vosso  seruidor,  verda- 
deiro em  amor,  e  em  muitos  seruiços,  co- 
mo de  seruidor,  mil  saudações  vos  enuio, 
sabe  que  sam  vosso  seruidor,  e  quero 
vosso  bem  la  vos  mando  Coje  alacredim 
mahamed  pêra  que  vos  diga  o  que  lhe 
dixe  acerca  de  nossa  amizade,  em  ser- 
mos huus,  e  tendeo  assi  por  certo,  sem 
vos  disso  esquecerdes,  screueime  sempre, 
qualquer  cousa,  ou  seruioo  que  de  mim 
quiserdes,  ou  mo  mandai  dizer,  e  eu  o 
farei,  e  me  fareis  nisso  muita  mercê.» 
Ibidem,  cap.  11.  —  «Nesta  carta  diz  as- 
sim, Folgo  muito  de  lhe  darem  o  carguo 
da  Chronica  dei  Rei  dom  Emanuel  como 
me  escreue,  porque  sei  que  a  fará  muito 
bem  por  a  deuaçam,  e  amor  que  teue  a 
seu  seruiço,  e  a  suas  cousas,  e  parece 
esta  conta  que  da  de  como  andou  de  mão 
em  mào  esta  chronica,  o  que  se  screue 
das  Rhapsodias  de  Homero. »  Ibidem, 
cap.  38. 

non  ha  nenhuma  memoria, 
nem  se  screueo  em  historia 
de  tantos  cauallos  yreia 
sobre  mar  tam  longe  c  %-irem, 
o  nam  fallo  da  victoria. 

GARCIA  DE  BEZEXDE,  inSCELLASEA. 

SCRIBA,  s.  m.  Vid.  Escriba. 

SCRIBOMANIA,  ou  ESCRIBOMANIA,  s.f. 
(Do  latim  scribere,  e  do  grego  mania). 
Neologismo  que  algumas  vezes  se  em- 
prega por  mania  de  escrever,  de  fazer 
obras. 

f  SCRIPTO,  part.  j}ass.  irreg.  de  Scre- 
ver.  Yid.  Escripto.  —  «E  nestas  três  lin- 
goajens  estauam  as  taboas  scriptas  o  que 
o  judeu  mandou  declarado  em  lingoa  Ma- 
labar, da  qual  se  tresladou  na  Portugue- 
sa. Estas  taboas  sam  de  metal  fino,  de 
palmo,  e  meo  cada  huma  de  comprido,  e 
quatro  dedos  de  largo,  scriptas  dambalas 
bandas,  e  infiadas,  pela  banda  de  cima 
com  hum  fio  darame  grosso.»  Damiào  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1, 
cap.  98.  - —  «E  dalli  per  terra  chegou  a 
corte  do  Empeiador  da  Ethiopia  Rei  do 
Abexi,  que  se  chamaua  Alexandre,  ao 
qual   deu   as  cartas   que  lhe  leuauaõ  dei 


Rei,  scriptas  em  lingoa  Arábia,  de  que 
leuou  muito  contentamento. »  Ibidem, 
part.  3,  cap.  58. —  «Depois  que  Matheus 
apresentou  esta  Cruz  a  el  Rei  lhe  deu 
outra  carta  scripta  nas  mesmas  lingoas 
Arábia,  e  Persiana  metida  em  hum  ca- 
nudo douro,  de  que  o  treslado  he  o  se- 
guinte.» Ibidem,  cap.  59.  —  «E  polas 
mesmas  constituições  scriptas  nos  mes- 
mos liuros,  guardamos  sabbado,  e  o  Do- 
mingo, o  sabbado  porque  nelle  repou- 
sou Deos  depois  de  ter  criado  o  mundo, 
e  o  Domingo  por  nelle  resurgir  nosso 
Saluador  lesu  Christo.»  Ibidem,  cap.  61. 

t  SCRIPTO,  s.  m.  Yid.  Escripto.  — 
«E  entom  diredes  aos  ditos  Juizes,  e  Ofi- 
ciaaes,  que  vos  dem  aquelles,  que  vos 
assy  forom  dados  em  scripto  pelo  coudel 
e  anadal  do  luguar  por  beesteiros  do  con- 
to, e  os  façam  logo  vir  ante  vós  pêra  vós 
delles,  e  dos  outros,  que  vos  já  derom, 
escolherdes  aquelles,  que  comprem  pêra 
comprimento  do  dito  numero,  e  dos  bees- 
teiros do  conto,  que  vós  achardes,  que  em 
este  luguar  devia  d"aver.»  Ord.  Affons., 
liv.  l,"tit.  68,  §  17. 

1  SCRIPTURA,  «.  /.   Yid.   Escriptura. 

—  «Do  que  o  nos  outros  sabemos,  e  que 
se  o  vossa  Alteza  visse  ficaria  espantado, 
diz  as  cousas  também  ditas,  e  tam  certas 
que  me  parece  que  sempre  falia  o  Spiri- 
tu  sancto  nelle,  porque  senhor  não  faz 
outra  cousa,  que  estudar,  e  muitas  ve- 
zes adormece,  sobre  os  liuros,  e  muitas 
vezes  sesquece  de  comer  e  beber,  por 
fallar  nas  cousas  de  nosso  Senhor,  e  que 
esta  tam  cnleuado  nas  cousas  da  scriptu- 
ra  que  sesquece  de  sim  mesmo,  n  Damião 
de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part. 
4,  cap.  3. 

f  SCRIVÃO,  s.  m.  Yid.  Escrivão.  — 
«Acabadas  estas,  e  outras  cousas,  Tris- 
tão da  Cunha  entregou  a  capitania  da 
fortaleza  (a  que  pos  nome  de  Sam  Mi- 
gueli  a  dom  Afonso  de  Noronha,  que 
delia  hia  prouido,  e  por  alcaide  mor  For- 
nam lacome  de  Tomar,  cunhado  do  mes- 
mo dom  Afonso,  e  por  feitor  Pêro  Yaz 
Dorta,  e  Gaspar  Machado,  e  Francisco 
Saraiua,  por  scriuães.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  2,  cap.  23. 

—  «O  que  assentado  deu  a  capitania  da 
fortaleza  a  Rui  de  brito  patalim,  natural 
de  Santarém,  a  alcaidaria  mor,  e  feitoria 
a  Rui  daraujo,  por  scriuaens  Francisco 
dazevedo,  e  Pêro  salgado,  e  a  capitania 
do  mar  deu  a  Fernão  perez  dandrade,  e 
por  entre  elles  nam  auer  algumas  dife- 
renças.» Ibidem,  part.  3,  cap.  26. 

SCROFULA,  í.  /'.  Yid.  Escrófula. 

■{-  SCROFULOSÒ,  A,  a^ilj.  Yid.  Escrofu- 
loso. 

SCULCA,  s.  /.  Yid.  Enculca. 

SCULPTAR,  *i-.  a.  Yid.  Esculpir. 

SCYLLA,  í.  /.  Rochedo  e  escolho  famo- 
so situado  na  costa  da  Itália,  á  entrada 
do  estreito  de  Sicília,  em  face  de  um  ou- 
tro escolho  chamado  Charybdis, 


—  Figuradamente  :  Qualquer  extremo 
ruinoso  e  perigoso.  Yid.  Scilla,  que  é 
differente. 

SCYLLEO,  A,  adj.  De  Scylla. 

SCYPHOS,  s.  m.  ■plur.  Termo  de  botâ- 
nica. Corpinhos  turbinados,  que  se  en- 
contram na  extremidade  do  tronco  ou 
ramos  dos  lichens,  ou  na  margem  do  ou- 
tro scypho. 

—  Ha  scyphos  nos  fungos. 

1.)  SCYTAL,  ou  SCYTALE,  s.  f.  (Do 
grego  shytali).  Termo  de  antiguidade  gre- 
ga. Cifra  de  que  os  lacedemonios  se  ser- 
viam para  escrever  cartas  mysteriosas. 
Consistia  cm  uma  tira  estreita  de  perga- 
minho, na  qual  se  escrevia  depois  de  a  ter 
enrolado  em  spiral  em  volta  de  um  cv- 
lindro  de  madeira. 

2.)  SCYTAL,  ou  SCYTALE,  s.  f.  Termo 
de  historia  natural.  Serpente  mui  vistosa. 
Vid.  Scitale. 

-}■  SCYTALIDE,  s.  f.  Termo  de  antigui- 
dade grega.  Espécie  de  dardo,  o  mais 
das  vezes  inflammado. 

f  SCYTHISMO,  s.  m.  Nome  dado  por 
Santo  Epiphanio  a  todas  as  religiões  bar- 
baras que  se  estabeleceram  depois  da  con- 
fusão das  linffuas  até  os  gregos. 

f  SCYTHICO,  A,  aáy.  Que  pertence  aos 
scythos  ou  á  Scythia. 

"f  SCYTHROPS,  s.  m.  Termo  de  omi- 
thologia.  Ave  da  Nova-Hollanda. 

t  SCYTHYMENIA,  s.  /.  Termo  de  bo- 
tânica. Género  de  plantas  hyssoides  que 
se  encontra  nos  rochedos  húmidos  e  nas 
suas  fendas,  e  no  centro  das  madeiras  da 
província  da  Suécia. 

j  SCYTODE,  s.  m.  Termo  de  entomolo- 
gia. Género  de  aranhas. 

f  SCYTODEPESIO,  A,  adj.  Termo  de 
chiniica.  Que  endurece  a  pelle  como  o 
cortim. 

t  SCYTONEMA,  s.  /.  Termo  de  botâ- 
nica, trenero  de  confervas. 

t  SCYTOSYPHOM,  s.  m.  Termo  de  bo- 
tânica. Género  de  plantas  marinhas  da 
familia  das  algas,  e  da  ordem  das  confer- 
voideas  fucoides,  comprehendendo  duas 
espécies. 

t  SCYTROPE,  s.  VI.  Termo  de  entomo- 
logia. Género  de  insectos  coleopteros. 

1.)  SE,  conj.  condicional.  (Do  latim  si). 
No  caso  de,  dando-se  a  circumstancia, 
etc.  E  sobretudo  usado  com  o  conjuncti- 
vo,  mas  occorre  também  com  o  indica- 
tivo. — ^  «  E  posto  que  quizesse,  não  que- 
ria el-rei  Recindos  de  Hespanha,  que  tem 
seu  filho  em  prisão,  e  Albayzar  em  seu 
poder.  Pois  dizei  ao  turco  que  entregan- 
do-me  os  prisioneiros  que  tem,  lhe  darei 
a  Albayzar;  e,  se  pêra  se  fiar  de  mim 
não  bastar  dizel-o  eu,  lhe  darei  por  fiador 
á  senhora  Targiana,  que,  polo  que  conhe- 
ce de  mim,  creio  que  o  quererá  ser;  e 
pois  ella  nisto  perde  ou  ganha  mais  que 
ninguém,  tendo  seu  marido  preso,  não 
deve  negar  o  partido. »  Francisco  de  Mo- 
I  raes,   Palmeirim  d'Inglaterra,   cap.  112. 


■12H 


SE 


SE 


HE 


—  «  Por  isso,  seuliora,  (Icscani^Mi  c  con- 
tentai-vo8  mais  do  rjuo  achastes  iielle, 
que  do  quo  desejastes  acliar;  c  se  ino  der- 
des iicen(;a,  ou  lhe  pedirei  que  luc  di^a 
com  quem  vos  determina  casar,  o  tam- 
bém lhe  porei  diante  vossa  vontade,  jx-ra 
ver  se  se  move  alfijuma  cousa.»  Ibidem, 
cap.  124. — «Quem  quereis  vi')S,  disse 
Palmeirim,  que  vos  empida  a  vonta<le  uiu 
cousa  tanto  do  vosso  fíostoV  Fazei  o  que 
vos  cila  pede,  frauqueai-nos  a  entrada, 
que  se  vós  nilo  o  fazeis,  perder-lhe-homos 
a  esperança.»  Ibidem,  cap.  120.  —  «An- 
tónio correa  lhe  mandou  dizer,  que  lho 
paroeia  muito  bem,  que  se  queria  que 
fossem  alf^uns  portugueses  com  Kaix  i^a- 
dradiín  (jue  lhos  mandaria,  o  que  lhe  elle 
mandou  muito  agradecer,  dizendo  que 
por  entam  nam  auia  disso  necessidade.» 
DamiSo  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  4,  cap.  03.  — «  E  assi  fez  hunia 
tranqueira  no  tim  da  ponte  da  parto  da 
fortaleza,  porque  os  Mouros  não  podessem 
vir  a  ella,  temendo  que  se  Pato  Unuz  to- 
masse a  Cidade,  todos  se  haviam  de  ajun- 
tar com  cUe.»  Joào  de  Barros,  Década  2, 
liv.  9,  Ciip.  5. 

Autcs  por  este  vallc,  amigo  llmbrano, 
Se  t'aprouver,  levemos  as  ovelhas ; 
Porque,  se  ou  por  acerto  não  mo  eugauo, 
De  IA  mo  sôa  hum  oco  nas  orelhas : 
O  doce  acccnto  não  parece  humauo. 

CAM.,  ÉCLOGA  1. 

Por  isso,  c  não  por  falta  de  natura, 
Não  ha  também  Yirgilios,  nem  Homcros  ; 
Nem  haverá,  se  este  costumo  dora, 
Pios  Eacas,  nem  Achiiles  feros. 
IDEM,  Lus.,  cant.  5,  est.  98. 

—  «  E  não  vejo  cousa  por  onde  haja 
de  entregar  a  índia  a  Lopo  Vaz.  Porque 
se  El  Rei  soubera  que  eu  estava  de  posse 
da  governança,  não  mandara  tal ;  e  ainda 
no  mesmo  Alvará  de  Lopo  Vaz  me  no- 
mea  El  Rey  por  (iovernador  da  Lídia, 
por  me  haver  por  pessoa  para  isso.»  Dio- 
go de  Couto,  Década  4,  liv.  2,  cap.  9. 

Porém,  de  muito  obrigado 
A  formosura  tam  rara. 
Todo  o  dia  uào  cessara 
Deste  cauto. 
Se  lho  concedera  tanto 
A  hua  ditosa  cstrcUa, 
Torna  a  pór  os  olhos  ncUa 
Com  receio. 

F.  n.   LOBO,  o  DESE^°OA^'AD0. 

Sela. 
meu  primo  for  ahi  buscar-me, 
digam-lhc  como  estou  cá, 
e  ([uo  aqui  mo  achará 
se  se  enfadar  de  cspcrar-me. 

ÁNTOmO  PHESTES,  AUTOS,  pug.  418. 


—  «  Eu  nào  liz  esta  Carta  para  disor 
o  que  tenho  dito  a  V.  A.  porem  para  pe- 
dir-lhe  que  se  está  já  tradusida  a  Oração, 


ou  a  Arenga  que  o  dito  Arcebispo  de 
Epekia  fez  hontem  ao  Lnjjerador,  que  me 
faça  V.  A.  o  favor  de  ma  remeter,  o  do 
mo  nào  chamar  por  essa  rasào  impaciente 
como  costuma.»  Cavalleiro  d'<Jliveira, 
Cartas,  liv.  :5,  n."  17.  —  «Se  viis  tendes 
tào  pouco  conheeimonto  do  mim,  e  me 
auiaes  tanto  como  eu  vos  amo,  tenho  mui- 
tas graças  que  dar  ao  Amor,  e  aos  As- 
tros.» Ibidem,  liv.  I,  n."  47. 

Mas  'e  o  frio  he  maior,  cândidos  véllos 
(,'oudazidos  do  vento  os  campos  cobrem, 
Quando  o  Inverno  desprega  inertes  az.is, 
Com  triste  escuridão  tapando  os  ares; 
fyu  com  miúdas  gotas  condensadas. 
Nas  ondeantes  nu''sscs  esparsidas. 
Ao  dosvelado  Lavrador  conduzem. 
Depois  de  lougo  allan,  tristeza,  c  pranto. 

J.    A.    DE  UACEDO,  VIAGEH  EXTÁTICA,  Caut.    1. 

K  que  nào  pôde  o  braço  omnipotente 
Do  Eterno  Animador,  ne  novos  Mundos 
Elle  pi')dc  crcar,  mandando  ao  Nada 
yu'cncha  d'Astros  o  Ceo,  de  luz  03  Astros  ! 

IDEM,   A   NATUKEZA,   Caot.    1. 

Oh  grande  Fundador  da  minha  Pátria, 
(Aqui  brada  o  Deaõ)  se  maõs  tiveras 
E  se  pernas,  e  pés  te  naõ  faltarão. 
Os  pés,  e  maõs  humilde  te  beijara  ; 
Mas  SC  manco,  o  maneta  aqui  te  vejo, 
E  á  franccza  vestido,  a  mal  naõ  hajas 
Que  á  franccza  te  beije  a  fria  face. 

A.   DINIZ  DA  CRUZ,  HVS30PE,   Caut.   Õ. 

—  d  Pois  as  priucipaes  se  reduzem 
agora  a  Moçambique,  Goa,  Cochim,  Co- 
lumbo, e  Dio  pelo  que  está  hoje  a  índia 
naíj  peior  para  o  trato  das  especiarias, 
que  he  o  principal  comercio;  e  junta- 
mente está  mais  defensável,  se  houver 
nella  milicia  paga;  porque  tirando  o  tem- 
po do  Veraõ,  em  que  os  soldados  andaò 
nas  Armadas,  os  Invernos  ticaõ  na  terra, 
sem  terem  quem  lhes  dè  de  comer,  che- 
gando muitos  a  pedir  esmola  pelas  ruas, 
e  Portarias  dos  Conventos.»  ^íaaoel  Se- 
verim  de  Faria,  Noticias  de  Portugal, 
Disc.  1,  cap.  3. 

2.)  SE,  pron.  da  terceira  pessoa  singu- 
lar e  plural,  que   tem  diversas  funcções. 

—  1.°  Exprime  que  a  acçào  recáe  so- 
bre o  sujeito  que  a  pratica  (retíexo).  — 
«Andando  assim  estes  recados  per  meo 
de  Ninaehatu  Gentio,  amigo  dos  nossos, 
recebeo  Afonso  Dalbuquerquc  huma  car- 
ta de  Rui  daraujo,  em  que  dczia  que  as 
dilaçoens  que  el  Rei  com  elle  vsaua  erào 
pêra  se  fortalecer,  e  o  lançar  daquelle 
porto  ou  lhe  tomar  a  armada,  ou  lui  quei- 
mar.» Dami.no  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  3,  cap.  17.  —  «E  de  mi- 
nha parte  vos  preseutai  á  rainha,  a  quem 
direis,  que  o  cavalleiro  das  Donzollas, 
que  ante  ella  justou  com  Albavzjvr,  lhe 
manda  beijar  as  niiios  e  lhe  pede  de 
mercê  lhe  perdoe  o  não  se  descubrir  a 
cila,  nem  ai  rei ;  que  da  vinda,  que  vier 
do  castello  dAlmourol,  pêra  onde  vou, 
o  farei.»  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 


dlnglaterra,  cap.  125.  —  «Arjentao  man- 
dou fazer  jirestes  uma  fusta,  que  na  ter- 
ra liavia  uiuitaA,  por  ser  navios  de  que 
Uravorante  mais  se  servia,  c  nella  se 
ouibarcaram  os  quatro  compaiiheiroo,  e 
Arjentao  com  alguns  principaiís  da  ilha 
eni  outra,  levando  al;;uns  refrescos  e  uian- 
timcntos,  ])Orquc  n-ào  sabiam  quilo  pnjvi- 
da  entrio  estaria  a  Perig<jsa.  »  Ibidem, 
cap.  1  l'J.  —  «E  para  assegurar  eatc  pon- 
to, devem  os  Principes  acautolar-se  de 
pessoas,  que  tenhaò  apgravado ;  por  mais 
talentos  que  tcuhaò,  naõ  liem  dellea  oa 
]i(>stos,  cm  que  podem  ter  occasiaò  de  se 
vingarem :  Plataõ  diz,  (|ue  os  Conselhei- 
ros haõ  de  «star  livres  de  ódio,  e  amor.» 
Arte  de  furtar,  cap.  30. 

Entre  as  portas  da  coTa  alta  e  profunda 
A  dormideira  está  sempre,  c  florccc, 
Doutras  ervas  alli  a  t<;rra  abunda 
Com  cujo  çumo  a  noite  se  enriquece 
De  somno,  que  i>or  toda  a  terra  infanda. 
Com  quo  a  gente  descansa  r  te  adormece, 
E  do  mais  que  a  donnir  move,  c  convida 
Se  vê  aquella  terra  bem  proNnda. 

F.  d'akdbade,  i-bimeibo  cebco  de  dic,  cant.  15, 
est.  63. 

—  «Parte  dos  quaes,  por  fugir  o  ferro 
dos  nossos  que  os  sangrava,  se  lançaram 
a  huma  alagoa  a  nado;  outros  se  mc-ttiam 
nos  barcos  que  tinham  no  esteiro,  que 
eram  do  serviço  da  fortaleza.»  Barros, 
Década  2,  liv.  7,  cap.  4.  —  «xVffouso  de 
Alboquerque  desesperado  de  o  poder  aco- 
lher, naquelle  próprio  dia  se  p:issou  á 
ilha  Diuarij :  leixando  naquelle  passo  a 
JLanuel  de  la  Cerda  e  a  Bodrigo  Rabel- 
lo,  e  elle  tornouse  a  Goa  a  prouer  uaa 
obras  da  fortaleza  que  mandaua  fazer.» 
Idem,  liv.  5,  cap.  10.  —  «E  dahy  pelo 
mesmo  caso  o  foy  para  a  cidade  de  Di- 
gum,  onde  foy  morto,  por  causa  que  pre- 
gava disto  publicamente,  que  era  certi- 
ficar que  Deos  se  fizera  homem,  e  se 
pusera  na  Cruz  pelos  homens.»  Fernão 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.  1G3. 

—  2."  Exprime  a  reciprocidade.  — 
«Ao  tempo,  que  se  despediram  per»  ir 
fazer  a  batalha,  a  donzella  de  Trácia  se 
chegou  a  Floriano,  quando  o  viu  tào  vi- 
vo em  cousa  que  tào  mortos  deixava  os 
corações  de  muitos,  dizendo.»  Francisco 
de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  ca- 
pitulo 93. 

—  3."  Emprega-se  em  alguns  verbos, 
que  designam  uma  acç.ão  neutra,  muitos 
dos  quaes  se  empregam  também  inde- 
pendentemente. —  «Affonso  dalbuquer- 
quc se  foi  a  cidade  de  Goa,  onde  man- 
dou fazer  exccuçam  nos  arrenegados, 
guardandolhes  .is  vid.os,  como  ficara  as- 
sentado nos  concertos  das  pases.  mas  por 
exemplo  doutros  n.io  fazerem  o  que  estes 
fezerào,  lhes  mandou  com  pregão  cortar 
as  orelhíis,  narizes,  e  as  mãos  direitas,  e 
os  dedos  jwlegares  das  esquerdas.»  Da- 
mi.ão   de  Góes,   Chronica  de  D.  Manoel, 


SE 


SE 


SE 


429 


part.  3,  cap.  3.  —  «Alguns  dias  depois 
de  Tristão  da  cimha  ser  em  Roma,  e  to- 
da sua  famiiia,  e  dos  que  com  elle  hiào, 
e  assi  Xicolao  de  faria,  com  o  Elephante, 
c  Onça,  ordenou  o  Papa  que  fezesse  sua 
entrada  no  primeiro  Domingo  da  Cores- 
ma,  xii  dias  de  Março,  no  qual  dia  se 
foi  ante  manhã  a  humas  casas,  e  jardim 
do  Cardeal  Adriano,  que  estaõ  junto  da 
cidade.»  Ibidem,  cap.  5õ.  —  «É  alii  se 
foi  Alàquer,  e  Dalàquer  a  Muja,  onde 
nouamente  fez  Conde  Dalcoutim  dom 
Fernando  de  Meneses,  filho  de  dom  Pe- 
di'o  de  Meneses,  primeiro  Marques  de 
villa  Real,  e  lhe  concedeo,  e  fez  graça, 
e  mercê,  que  dalli  por  diante  os  filhos 
mais  velhos  legítimos  dos  Marqueses  de 
villa  Real  se  chamassem  Condes  Dalcou- 
tim.» Ibidem,  part.  1,  cap.  77.  —  «Aca- 
bando o  mercador  de  carregar  a  lancha- 
ra, que  era  a  embarcação  em  que  levava 
esta  mercadaria,  se  partio  para  Malaca, 
onde  chegou  daly  a  tros  dias,  e  se  foy 
logo  á  fortaleza  ver  o  Capitão,  e  me  le- 
vou comsigo,  a  quem  deu  conta  do  que 
tinha  passado  comigo.»  Fernão  Mendes 
Pinto.  Peregrinações,  cap.  2õ. —  «E  por- 
que lhe  pareceo  que  na  ilha  não  ha,via 
mais  que  vèr,  determinaram  logo  partir- 
se.  Arjentao  com  os  outros  da  Ilha  Pro- 
funda foram  ver  todalas  particularidades 
daquella  terra  que  lhe  pareceram  mui 
grandes.»  Francisco  de  Moraes,  Palmei- 
rim d'Inglaterra. 

Xào  houve  então  uenhum  tão  pouco  forte 
Entre  aquella  infiel  gente  perdida, 
Que  temendo  a  futura,  certa  morte. 
Que  tinham  ja  bem  clara,  e  conhecida, 
Ou  com  desejo  doutra  melhor  sorte, 
E  conservar  mais  longo  tempo  a  vida, 
A  Portugueza  gente  se  viesse, 
E  do  que  lá  passava  novas  desse. 

FRAXCISCO  DE  ANDRADE,  FBIMEIBO  CKECO  DE  DIU, 

cant.  1,  est.  77. 

■ —  «E  trazem  tanto  este  negocio  em 
caso  de  honrra  que  andam  a  quem  ho 
fará  milhor;  rauyto  se  espantou  o  gover- 
nador que  nos  convidou  do  Embaysador 
e  portugueses  deytarem  agoa  no  vinho.» 
António  Tenreiro,  Itinerário,  cap.  6. 

Agora,  que  de  neve  se  embranquece 
Aquelle  monte,  e  o  burro  se  arrepia, 
He  chegado  o  Inverno:  principia, 
Pauliuo,  a  ver  que  cedo  te  anoitece. 

ABBAj>]!:  DE  jxzEXTE,  POESIAS,  tom.  2,  pag.  79. 


E  o  anjo  assim  me  disse.  E  mais,  que  um  dia 
Tamanho  se  fará  teu  nome  e  glória, 
Que  encha  o  universo. — Vai:  adeus!  Terrível, 
Amargo  adeus  i  este...  Xão  importa. 
Parte...  c  jamais  te  esqueças... 

GARRETT,  CAMÕES,  CaUt.  4,  Cap.  4. 


—  4."  Exprime  a  passividade.  —  «Es- 
ta he  a  maneira,  que  nós  ElRey  Dom 
Joham  mandamos  que  se  tenha  sobre  as 


pagas,  que  se  devem  fozer  aos  Prelados, 
e  Fidalgos,  e  outras  quaeesquer  pessoas 
nos  afloramentos,  c  emprazamentos,  e 
arrendamentos,  e  alugueres,  e  outras 
quaeesquer  paguas,  que  se  ouverem  de 
fazer  per  ouro,  ou  prata,  ou  per  outras 
quaesquer  moedas.»  Ordenações  Affonsi- 
nas,  liv.  4,  tit.  1,  §  33. —  «E  assi  mandou 
fazer  outra  moeda  douro,  que  se  cha- 
maua  Espadim,  que  era  da  lei  dos  Jus- 
tos, e  da  metade  do  preço,  e  peso  delles, 
que  era  trezentos  reis,  e  tinha  de  huma 
parte  o  escudo  Real  com  o  nome  e  titulo 
dei  Rey,  e  da  outra  huma  mão  com  huma 
espada  nua  com  a  ponta  pêra  cima,  e 
por  letra  de  redor  :  Dominus  protector  vi- 
tce  mea,  a  quo  trepidabo :  e  estes  Espa- 
dis  mandou  fazer  deste  nome  por  deua- 
çào,  e  lembrança  da  conquista  DaíFrica, 
que  sempre  com  a  espada  na  mão  se  fez, 
e  prosegue  por  honra,  e  Exalçamento  da 
Fe  de  Xosso  Senhor  lESV  CRISTO.» 
Garcia  de  Rezende,  Chronica  de  D.  João 
II,  cap.  57. 


De  índios  se  nos  pegou 
tratar,  e  mercadoria 
dantes  non  se  costumou, 
por  baiiesa  se  auia, 
em  alteza  se  tornou. 

IDEU,   MISCEI.L.IXI.1. 


—  «O  qual  dõ  Lourenço  não  se  auia 
de  mostrar  que  hia  ali  por  não  dar  algu- 
ma presumpçào  aos  Moiu-os  quando  vis- 
sem pessoa  taõ  notauel :  somente  hiaõ  to- 
dos em  modo  de  visitação  da  parte  do 
capitão  môr  ao  capitão  da  fortaleza  e  as- 
si se  fez.»  João  de  Barros,  Década  1, 
liv.  8,  cap.  9. 


Isto  se  pôde  ver  mui  claramente 
Nesta  que  hoje  ha  de  ser  de  mi  cantada, 
A  qual  dhuma  vi!,  pobre,  e  baixa  gente 
Ja  no  passado  tempo  foi  morada  : 
E  depois  coni  a  industria  d'iuim  prudente 
Varão,  foi  tão  famosa  e  celebrada 
Que  a  cabeça  entre  todas  foi  erguendo 
Quantas  visita  o  Sol  hoje  em  nascendo. 

F.    DANDKADE,  PRIMEIRO  CERCO  DE   DIL",  Cant.    5, 

est.  o. 


Junto  do  Caspio  mar,  contra  o  Oriente, 
Lá  nas  partes  da  Pérsia  interiores. 
Habita  huma  animosa  e  forte  geute 
Que  teem  inda  por  nome  hoje  Mogores  ; 
Cuja  língua  algum  tanto  lie  dítierente 
Da  que  se  usa  entre  os  Persas  moradores ; 
Alvos  03  homens  são,  brandos,  tratáveis. 
Domésticos,  polidos,  conversáveis. 
IBIDEM,  cant.  3,  est.  4. 


Aquelle  baluarte  que  hoje  em  dia 
Com  nome  de  Couraça  se  conhece 
Huma  grossa  cadeia  despedia 
Do  metal  a  ()ue  todo  outi-o  obedece, 
Que  lá  até  o  balurte  se  estendia, 
Cora  que  o  mar  se  defende  e  fortalece, 
E  a  força  do  pesado  cabrestante 
Faz,  com  que  ella  se  abaixe  c  se  alevante. 
IBIDEM,  cant.  õ,  est.  24. 


Jesu !  que  avocação  ! 

Pois  dir-lhe-hei  como,  e  que  geito : 

naquelle  logar  estavam 

dous  easaes  que  se  chamavam 

um  Justiça  c  outro  Dereito. 

ASTONIO  PRESTES,  ACTOS,  pag.  141. 

Triste  vida  se  m"ordena 
pois  quer  vossa  condição 
que  os  males  que  dão  tal  pena, 
me  fiquem  por  galardão. 

F.   DE  MORAES,  PALMEIRIM  d"iXGLATERRA, 

cap.  109. 

—  «Pelo  que  sem  haver  na  índia  gen- 
te paga,  e  pratica  paia  andar  nas  Arma- 
das, 6  presidiar  as  Fortalezas,  naò  se 
pôde  esperar  nenhum  bom  eâeito  de  nos- 
sa milicia,  p  is  alem  do  que  temos  dito, 
toda  ella  he  feita  cada  anno  em  Goa  tu- 
multuariamente,  e  de  soldados  armados 
com  toda  a  desigualdade,  assim  no  nu- 
mero, como  nas  Armas,  porque  cada  hum 
traz  as  que  quer.»  ^Manoel  Severim  de 
Fai-ia,  Noticias  de  Portugal,  Disc.  1,  cap, 
3.  —  <iSe  creia  que  fazem  justiça  com 
grande  acerto  —  artificio  de  infernal  in- 
veja —  e  tudo  encaminhado  a  metter 
n'um  chinello  a  quem  não  podem  egua- 
lar  em  méritos  e  fortuna.»  Bispo  do  Grão 
Pará,  Memorias,  publicadas  por  Camillo 
Castello  Branco,  pag.  59.  ■ —  «  Despedi- 
dos da  freguezia,  paramos  em  a  fregue- 
zia  de  Sant'Anna,  acommodando-se  a  fa- 
mília em  casas  de  um  padre  Custodio,  e 
ficando  nós  na  canoa,  por  causa  de  se 
nos  ter  tirado  de  um  dedo  quatro  bichos 
que,  sendo  pulgas  de  cão  ou  gato,  se  in- 
troduzem na  cútis  e  carne  do  pé,  e  cres- 
cendo se  fazem  do  tamanho  e  feitio  d'u- 
ma  pérola  ou  aljôfar  ordinário.»  Ibidem, 
pag.  205.  • —  «Em  Mastrich,  e  no  Mos- 
teyro  das  Senhoras  Brancas  da  Ordem  de 
S.  Maria  Magdalena  Penitente,  se  vè 
hum  Crucifixo  que  uasceo  dentro  de 
huma  Nogueira.»  Cavalleiro  d'01iveira. 
Cartas,  liv.  1,  n.°  24.  —  «Parece-me  que 
estou  vendo  em  cada  hum  dos  Edificios 
do  Olympo,  este  bilhete  assignado  por 
todos  os  Deoses.  Casa  que  se  vende 
no  Ceo  para  pagar  na  terra  a  obriga- 
ção que  devemos  a  Domiciano. »  Ibidem, 
n.°  33.  —  «Fonte  limpa  he  o  Deos  que 
naquella  casa  se  adora,  de  cuja  boca 
procede  toda  a  verdade,  mas  os  homens 
da  terra  saõ  charcos  de  agoa  turva,  em 
que  por  natureza  continuamente  moraõ 
desvarios  e  faltas,  pelo  que  se  deve  de 
aver  por  maldito  o  que  confia  no  bocejo 
dos  seus  beiços.»  Fei"não  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  30. 


Destes  tiros  assi  desordenados, 
Que  estes  moços  mal  destros  vão  tirando, 
Nascem  amores  mil  desconcertados 
Entre  o  povo  ferido,  miserando  : 
E  também  nos  heroes  do  altos  estados 
Exemplos  mil  se  vêm  de  amor  nefando, 
Qual  o  das  moças,  Bibli.  c  Cinyrea  : 
Hum  mancebo  de  Assvnria,  hum  de  Judca. 
CAH.,  Lus.,  cant.  9,  est.  34. 


430 


SEBA 


SECA 


SECÇ 


—  «Volumes  (lo  providencias  do  mar- 
quez  do  Pomba!,  milhões  de  dcspeza»  era 
dosintuUios,  concertos  o  ciJilica^fões  no- 
vas; mas  nem  uma  onlem  dada,  nem  um 
cruzado  gasto  para  se  descuijrir  o  jazi^^o 
de  Luiz  de  Camões.»  (larrctt,  Gamões, 
nota  E  ao  cant.  10. 

SEARA,  s.  /.  A  sementeira  de  trif^o, 
centeio,  ete.,  em  quanto  está  em  j)é  no 
campo.  —  «Mas  antes  quando  os  .Senho- 
rios o  (pierem,  ellea  o  não  consentem, 
pelo  danno,  ([ue  temem,  que  os  taes  mora- 
dores lhes  haõ  de  fazer  nas  suas  searas,  e 
nem  huma  arvoro  do  fruto,  ou  parreira 
ouzaõ  plantar  na  terra.»  Manoel  Seve- 
rim  de  Faria,  Noticias  de  Portugal,  Disc. 
1,  cap.  If). 

—  Kipuradaraente:  (irando  copia  do 
pessoas  eonvortidas  ú  santa  fé,  ou  pró- 
ximas a  isso. 

—  Fazer  seara;  plantar  cm  terra  alheia, 
não  encabeçado  n'ella. 

—  Pequena  porçXo  de  terra  cultivada 
por  um  seareiro  ou  lavrailor  pobre. 

—  Porçíío  de  terra  semeada  pelos  ha- 
bitantes de  um  povo,  ein  beneficio  eom- 
mura. 

—  Adágios: 

—  Faze  tua  seara  onde  canta  a  ci- 
garra. 

—  Mcttor  a  fouce  era  seara  alheia. 

Pois  se  aca»o  sn  truta  outra  matcria 
Maia  polida,  maia  aória, 
Uizem  quf!  hc  cousa  feia 
Mettor  a  fouce  na  seara  alheia. 

j.  X.  DK  MATTOS,  iiiMAs,  [)ag.  218  (lí.»  cdiíjão). 

SEAREIRO,  s.  m.  (De  seara,  cora  o 
suffixo  «eiró»).  O  que  faz  searas. 

—  Lavrador  pobro,  que  só  cultiva  uma 
pequena  por(;ão  de  terra ;  é  usado  quasi 
exclusivamente  no  Alemtejo. 

SEARINHA,  s.  /'.  Diminutivo  de  Seara. 
SEBA.  Vid.  Alga. 

SEBACEO,  (idj.  (Do  latim  sohaceus). 
Vid.  Seboso. 

—  Termo  de  anatomia.  Glândulas  se- 
baceas  ;  bolsinhas  glaudulosas,  situadas 
na  espessura  da  pello,  (pie  sejíre^am  um 
humor  unctuoso,  chamado  matéria  seba- 
cea. 

SEBACICO,  ailj.  Termo  do  chimica. 
Diz-se  de  um  acido  que  se  obtcra  decom- 
pondo as  jiorduras  \w\o  calor. 

f  SEBASTENO,  ndj.  De  Sobaste,  per- 
tencente á  ciilade  de  Sebaste. 

—  iS.  Natural  de  Sebaste. 
SEBASTIANISTA,  s.  2  yen.  Sectário  da 

crença  dos  quo  esperam  a  vintla  do  el- 
rei  D.  Sebastiiío.  —  «Não  admira  a  in- 
constância de  Vieira ;  pois  no  sermão  de 
S.  Sebastião,  o  primeiro  que  fez  em  sua 
vida,  mostrou  idéas  sebastianistas,  e  nos 
outros  diz  claramente:  morreu  ol-rei  D. 
Sebastião.»  Bispo  do  (.irão  Pará,  Memo- 
rias, publicadas  por  Camillo  Oastello 
Branco,  pag.  85.' 


SEBASTO,  «.  in.  A  tira  de  cór  diffe- 
rcuto  no  meio  de  outras  duas  na  casula 
do   saci-rdote. 

SEBASTOCRATOR,  n.  w.  Dignidade  na 
tíC>\U;  ilti  CiHistaiitinopla. 

SEBATO,  s.  7/1.  Termo  de  chimica.  Sal 
formado  pelo  aciíio  sobacico  e  uma   Ijase. 

SEBE,  *•. /.  (Do  latim  se/jet).  Tapume 
de  r;ima  seeca  ))ara  cercar  o  vedar  o  ac- 
cesso  a  quinta,   viidia,  otc. 

—  Casas  de  sebe;  feitas  e  tapadas  de 
esteio  o  enchameis  de  pau,  cruzados  com 
ripas,  varas,  ete.,  formando  uma  espé- 
cie de  graile ;  c  tapam-se  os  buracos  com 
barro  amassado, 

—  Adágios: 

—  Uma  sebe  dura  três  annos,  três  se- 
bes um  cão,  três  cães  um  cavallo,  três 
eavallus  um  homem,  três  homens  um  cer- 
vo, três  cervos  um  elefante. 

—  Sebe  dura  três  annos,  o  cão  três 
vidas  do  sebe,  o  cavallo  três  vidas  de 
cão,  o  homem  três  vidas  de  cavallo,  o 
corvo  três  vidas  de  homem, 

f  SEBEA,  *•.  /.  Termo  de  botânica.  Gé- 
nero de  plantas  da  familia  das  gencia- 
neas,  cujas  espécies  são  indígenas  do  ca- 
bo da  Boa-Esperança. 

f  SEBEIRO,  s.  m.  Pedaço  de  pau  com 
um  entallio  ou  concavidade  no  centro, 
em  que  os  calafates  levam  o  sebo  para 
untar  as  brocas  e  verrumões. 

SEBEL,  s.  f.  Termo  de  anatomia.  Veia 
dos  olhos,  que  os  médicos  chamam  dila- 
tativti. 

SEBENTO.    Vid.   Seboso. 

SEBESTA,  A-.  /.  Fructo  do  Egypto, 
pequeno  abrunho  ou  fructo  da  sebes- 
teira. 

SEBESTE,  ou  SEBESTEIRA,  s, /.  Ter- 
mo de  botânica.  Planta  que  dá  o  fructo 
chamado  seOesta. 

SEBO,  s,  VI.  (Do  latim  sebum).  Gordu- 
ra, banha,  unto  solido  c  duro  que  se  tira 
de  alfíuns  animaes,  e  que  derretido  ser- 
ve para  velas  e  outros  usos. 

—  Adagio  : 

- —  Quando  o  gosto  é  sobejo,  mais  cus- 
ta a  mecha  que  o  sebo. 

SEBOLA.    Vid.    Cebola. 

SEBOSO,  adj.  [Do  latim  sebosus).  Que 
tem  sel)u,  cheio,  abundante  de  sebo. 

—  Da  natureza  do  sebo. 

—  Sebento,  ensebado,  untado,  besun- 
tado de  sebo,  de  gordura. 

—  Parecido  com  o  sebo. 

SECA,  ou  SECA.  Vid.  Sêcca,  ou  Sécca. 

j-  SECAMENTE.  Vid.  Seccamente.  — 
«  V.  S.  lhes  chama  Vénus  tão  secamente 
que  julgo  se  esqueceo  de  que  os  Histi>ria- 
dorcs  das  delicias,  das  desenvoltura-;, 
das  desordens,  e  das  deshonestidades  de 
Vénus,  não  lho  poderão  negar  jamais  a 
autoridade,  o  respeito,  e  o  nome  de 
Deosa.»  Cavalleiro  d'01iveira,  Cartas, 
liv.  -2.  u."  3r>, 

SECANTE,  adj.  J  g,n.  Termo  do  ma- 
thematiea.  Qualquer  linha  que  corta  uma 


curva,  ou  superfície,  ou  qualquer  plano 
que  ciirta  algum  corpo,  Vid.  Seccante. 

—  Secante  de  um  arco;  a  recta  que 
saindo  do  centro  do  circulo,  passa  pela 
extremidade  do  dito  arco,  até  se  encon- 
trar com  a  tangente. 

SECAR.  Vid.  Seccar. 

Tudo  êeeou : 

»ein  cor  d 'cApcraDça 

o  tempo  levou 

toda  a  coiifiaii<;a  *, 

a  pena  ficou 

com  quem  bom  me  pcaa 

luiqueata  defcza. 

D.  JOANXÀ    DA    UAMA,    t>IT0«  DA  rSZIBA, 

pag.  %. 

Folgo  de  acliar-me  aqui  com  este  leque, 
poia  n'cs»e  caso  to  vai  tanto  e  toca. 
Ha  mullier  espada,  c  ha  homem  roca: 
eu  quero  fazer  esta  a^ua  que  rtquf, 
c  não  seja  freio  tào  doce  a  csaa  bocca. 

ANTÓNIO  rBESTF.S,  AUTOS,  pag.  9. 

SECATURA,  «.  /.  Vid.  Seccatura. 

SECAZ,  a.  f.  Vid.  Sequaz. 

SÈCCA,  *."/.  Falta  de  chuva,  estação 
em  que  não  cáe  chuva,  tomando  a  causa 
pelo  efteito,  que  6  seccar,  e  osterilisar  a 
terra. 

L)  SÉCCA,  s.  f.  Enfado  que  causa  o 
fallador  longo,  e  importuno;  conversa  en- 
fadoniia,  aborrecida. 

2.)  SECCA,  s.  2  (jen.  Importuno,  caos- 
ticante. 

SECCAÇÃO,  s.  /.  (Do  thema  secca,  de 
seccar,  com  o  suffixo  «ação»).  Acção  de 
seccar  os  corpos  húmidos. 

—  Termo  de  pharmacia.  Operação  de 
seccar  as  drogas  para  se  poderem  guar- 
dar, sem  se  corromperem. 

SECCADO,  part.  pass.  de  Seccar. 
SECCAMENTE,  adv.   (De  secca,  com  o 
sufiixo  «mente»).  Com  seccura. 

—  Sem  ornato,  em  poucas  palavras. 

—  Desabridamente,  asperamente,  sem 
attenção  nem  cortezia. 

—  Friamente. 

1.)  SECCANTE,  adj.  2  gen.  (Part.  act. 
de  Seccar».  Que  secca. 

—  ò'.  2  ijen.  Importuno,  fastidioso. 

2.)  SECCANTE,  ».  m.  Termo  de  pintor. 
Composição  feita  ordinariamente  de  óleo 
de  linhaça  fervido  com  alhos,  vidro  mol- 
do e  lithargvrio,  ou  almartega  de  doura- 
dor,  que  se  emprega  para  seccar  depressa 
as  tintas. 

SECÇÃO,  ».  /.  (Do  latim  tectionem). 
Porção,  parte,  divisão  de  um  todo. 

—  Divisão  de  uma  obra,  tratado  oa 
matéria  em  livros,  capítulos,  paragrapboa 
ou  artig.'s,  para  melhor  clareza  e  compo- 
sição. 

—  Cada  uma  das  partes  em  que  se  di-  j 
viilem  os  indivíduos  de  uma  mesma  cor- 
poração,  repartição  ou  officina.  para  me-j 
Ihor  serviço  e  execuçSo  dos  trabalhos. 

—  Termo  de  architectura.  Delineaçloj 
da  altura  e  profundidade  de  um  edificio,  ' 


SECC 


SECC 


SECC 


431 


como  se  fora  partido  pelo  centro,  para  se 
vêr  a  sua  parte  interior. 

—  Termo  de  matliematica.  Corte  das 
linhas,  figuras  e  corpos  solides. 

—  Capacidade  do  leito  do  rio  ou  canal, 
determinada  por  um  plano  perpendicular 
á  corrente  da  agua,  que  a  corta  desde  a 
superfície  até  ao  fundo. 

—  Termo  militar.  Fracção  administra- 
tiva e  de  manobra  da  cavallaria  que 
consta  da  quarta  parte  do  esquadríio. 

—  Subdivisão  de  bateria  que  consta  de 
duas  peças. 

—  Termo  d'astronomia.  A  divisão  das 
estações. 

—  Ponto  de  secção ;  o  em  que  dous 
pontos  se  tocam. 

SECCAR,  V.  a.  (Do  latim  siccare).  En- 
xugar, privar  da  humidade. 

—  Fazer  murchar  de  todo.  —  A  falta 
d'agua  sécca  as  flores, 

—  Gastar,  ir  consumindo  o  humor,  o 
sueco  dos  corpos. 

—  Enxugar,  esgotar ;  exhaurir,  tirar 
a  agua  de  um  poço,  de  uma  lagoa,  etc. 

—  Ser  importuno,  causticar,  dar  sécca. 

—  Seccar  a  alma  com  tristeza ;  fazer- 
Ihe  perder  sentimentos  humanos,  e  libe- 
raes ;  a  alegria. 

—  Termo  de  náutica.  Seccar  a  vela 
do  navio;  ferral -a. 

—  Seccar-se,  v.  reji.  Enxugar-se,  per- 
der a  humidade,  tornar-se  secco  pela  eva- 
poração. 

—  Esgotar-se,  cessar  de  correr ;  per- 
der a  agua  o  rio,  a  fonte,  etc. 

—  Murchar-se,  ficarem  seccas,  mortas, 
murchas,   privadas  de  suecos  as  plantas. 

—  Figuradamente  :  Enfadar-se,  agas- 
tar-se,  aborrecer-se. 

—  Definhar-se,  emmagrecer;  ir-se  atte- 
nuando  e  extenuando  pouco  a  pouco  por 
doença,  ou  por  velhice. 

—  Seccar-se  as  plantas;  ficarem  sec- 
cas, murcharem,  morrerem. 

—  Acabar-se.  —  Seccar-se  o  commercio 
da  índia. 

— Faltar. — Foi  causa  de  nos  seccar  tudo. 

— Seccar-se  a  alguém;  mostrar-se-lhe 
secco,  desabrido,  com  modo  secco;  dei- 
xar de  rir,  ficar  serio. 

SECCARRÃO,  adj.  Augmentativo  de 
Secco.  Muito  secco. 

SECCATIVO.  Vid.  Siccativo. 

SECCATURA,  s.  f.  Sécca,  pratica  im- 
portuna, enfadonha. 

SECCO,  adj.  (Do  latim  siccus).  Enxu- 
to, privado  de  humidade,  sem  agua. 

A  sombra  destas  rochas  sempre  estava 
Em  grào  silcucio  o  mar  brando  e  sereno, 
Entro  hum  e  outro  penedo  se  mostrava 
Hum  cspa(;o  de  praia  não  pequeno, 
Da  qual  a  secca  areia  se  acabava 
N'hum  prado  verde,  assaz  suave  e  ameno, 
Que  hum  outeiro  tão  alto  tem  defronte 
Que  bem  merecerá  nome  de  monte. 

F.  DK  ANDBADK,  PBIMEIRO  CEBCO  DE  DIU,   Cant     4, 

est.  40. 


—  Sem  verdura,  falto  de  suecos,  de 
louçania;  diz-se  particularmente  das  plan- 
tas. —  Este  jardim  tem  as  Jlores  todas 
seccas. 

Fero.  U.xtix,  agora  não  pacerão  elles, 

E  lá  por  essas  charnecas 

Vem  roendo  as  urzeiras. 
Fosco.  Leix'os  tu.  Pêro  Vaz,  qu'eUc3 

Achão  aqui  as  hervaa  seccas, 

E  não  comem  giesteiras. 

GIL  VICENTE,  FAUÇAS. 

—  «Não  prosigas.» 

—  «E  que  ha»  disse,  apontando  para  o  féretro 
Que  entrava  a  egreja  então,  o  missionário, 
«Que  ha  tam  medonho  c  mau  n'e3se3  despojos 
Da  passageira  vida  V  Um  tronco  sêcco, 

Pelos  ventos  do  outomno  despojado 
Do  viço  c  folhas,  — tenda  abandonada 
Pelo  viandante  que  voltou  á  pátria. 
GAíREiT,  CAMÕES,  caut.  2,  cap.  .3. 

Das  ondas  vencedor,  entre  espantosos 

Ermos  d'ardente  Arábia  o  Povo  avança  \ 

Alpestres  montes  sèccos,  pedregosos 

He  tudo  quanto  ao  longe  a  vista  alcança : 

Xos  ostuantes  campos  arenosos 

Já  de  marchar  o  exercito  se  cança ; 

Assíduo  Sol  a  prumo  abrasa,  c  fere, 

Som  que  a  nuvem  volante  o  ardor  modere. 

J.   A.   DE  MACEDO,   o  ORIENTE,  Caut.    9,     CSt.    103. 

—  «Emquanto  Astrimiro  subia  ao  vai- 
lo,  de  cujo  topo  se  descortinava  melhor, 
postoque  a  breve  distancia,  o  caminho 
que  haviam  seguido,  Gudesteu  trabalha- 
va em  ajunctar  alguns  troncos  de  arvo- 
res e  as  folhas  seccas  amontoadas  pelos 
ventos  do  estio  que  as  chuvas  outonaes 
ainda  não  tinham  arrastado.»  A.  Hercu- 
lano, Eurico,  cap.  16, 

—  Magro,  de  poucas  carnes. 

—  Diz-se  do  tempo  em  que  não  chove. 

—  Figuradamente:  Só,  sem  mistura 
de  outras  cousas.  — •  Comer  pão  secco. 

—  Estéril,  árido,  inculto,  falto  de  or- 
natos, sem  bellezas,  etc;  diz-se  de  um 
assumpto,  estylo,  ou  matéria. 

—  Áspero,  desabrido,  pouco  aífavel. 
—  Secco  de  palavras. 

—  Frio,  pouco  devoto,  pouco  fervoro- 
so na  virtude;  diz-se  em  sentido  mys- 
tico. 

—  Insensível  aos  affectos, 

—  Portos  seccos ;  passos,  entradas  de 
um  paiz  por  terra  firme,  e  não  por  mar 
ou  rio. 

—  Ama  secca ;  a  que  cuida  na  crian- 
ça, mas  nào  lhe  dá  de  mamar. 

—  Amores  seccos ;  sem  gostos  de  pra- 
zeres carnaes. 

—  Concubito  secco ;  sem  seminação. 

—  Asthma  secca ;  a  que  não  tem  es- 
tertor, nem  sibilo,  nem  pintainhos  na 
garganta. 

—  Batalha,  briga  secca ;  fingida,  por 
exercício,  em  que  não  ha  eíFusão  de  san- 
gue. 

— •  Bocca  secca ;  sem  saliva  ou  humi- 
dade. 


—  Bolsa  secca;  vazia. 

—  Criado  a  secco ;  aquelle  a  quem  se 
não  dá  de  comer. 

—  A  dinheiro  secco  ;  por  soldada,  sem 
comer. 

—  Fruta  secca ;  diz-se  das  frutas  de 
casca  dura,  como  avellãs,  amêndoas,  no- 
zes, etc. ;  e  também  das  frutas  a  que  se 
tira  parte  da  humidade  para  que  se  con- 
servem, em  cujo  caso  se  chamam  tam- 
bém passadas,  como  figos,  passas,  etc. 

—  Missa  secca;  em  que  o  sacerdote 
não  consagra. 

Ao  glorioso  Seixal, 
Senhor  dos  outros  Seixacs  : 
Sete  missas  me  dirão 
E  03  caliz  encherão. 
Não  me  digào  missa  sêcca; 
Porque  a  dor  da  enxaqueca 
Me  fez  esta  devaçào. 

GIL  VICENTE,  OBBAS  VAKIAS. 

—  Nós  seccos  ;  apertados,  que  não  dão 
logar  a  que  os  .soltem. 

—  Piso  secco ;  desabrido,  que  não  é 
de  coração,  fingido. 

—  Navegar,  correr  arvore  secca;  com 
as  velas  ferradas.  —  «Assim  desta  ma- 
neira correndo  arvore  secca,  haviam  por 
mais  corta  sua  fim  do  que  lhe  ficava  es- 
perança alguma  de  vida.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  dlnglaterra,  capitu- 
lo 115. 

—  Loc.  ADV. :  Em  secco ;  fora  d'a- 
gua,  ou  de  logar  húmido.  —  «  Porque 
quando  veio  pela  manhã  com  a  maré  va- 
sia,  e  o  mar  espraiar  muito,  por  serem 
aguas  vivas,  estavam  todos  em  secco 
huns  sobre  coroas  de  arêas,  outros  em 
vasa,  de  maneira,  que  os  nossos  bateis 
não  podiam  ir  a  elles,  e  estavam  hum 
pouco  aftastados  pêra  com  artilheria  lhes 
fazer  algum  damno.»  Bancos,  Década  2, 
liv.  6,  cap.  8. 

— ■  Dar  em  secco;  encalhar  o  navio. 

—  Dar  em  secco  co7n  a  moeda ;  arrui- 
nar-se,  ficar  pobre. 

—  Ficar  era  secco;  ficar  parado,  sem 
poder  continuar,  proseguir. 

—  Secco  de  sede;  mui  sequioso,  que 
arde  em  sede. 

—  Pão  secco ;  sem  conducto,  ou  outro 
alimento  solido. 

SECCURA,  s.  /.  Falta  de  humidade,  de 
chuva;  sede. 

—  Escassez,  ou  falta  de  fructos  em 
algum  paiz,  aridez  ou  esterilidade  d'elle. 

—  Por  extensão :  Diz-se  do  que  deve- 
ria offbrecer  utilidade,  mas  que  não  dá 
producto. 

—  Figuradamente :  Sequidão,  frieza, 
desabrimento,  desapego;  aspereza  e  du- 
reza de  génio,  folta  de  carinho,  modo 
secco,  pouco  aíFavel  de  tratar. 

—  Sequidão,  aridez,  esterilidade,  fal- 
ta de  doçura  e  eloquência  no  estylo. 

—  Falta  de  fervor,  insensibilidade,  es- 
tado da  alma  que  não  sente  conforto  nos 


432 


SECO 


SECR 


SECE 


exorcicios  de  devoção;  diz-se  em  sentido 
mvHtico. 

SECEAR.  Vid.  Cacear. 

SECEDIMENTO.  Vid.  Succedimento. 

SECESSO,  s.  7/1.  (int.  Apartamento,  sc- 
pararao,   retiro. 

SECIO,  ailj.  (iarrido,  enfeitado;  sum- 
niaincntií  uiiidailoso  (lo  seu  cnfuite. 

SECIOSO.  Viil.  Cicioso. 

SECO.  \'iil.  Secco.  —  «Com  a  mesma 
tormenta  se  íui  Antào  non^ueira  perder 
na  enseada  de  Cambaia  diante  do  lugar 
de  Dam.ão,  e  raorrco  dom  Afonso  por  se 
lançar  ao  mar,  em  a  nao  dando  em  seco, 
e  os  outros  que  saíram  depois  oscraparam, 
o  foraõ  lanados  a  el  Rei  de  Cambaia, 
que  sam  os  que  cscreuerara  a  Afonso 
Dalbuqucrquc  pelo  cmLiiixailor  do  mes- 
mo Uoi  como  atras  fica  dito.»  Damião  de 
Gocs,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  í?, 
cap.  lõ. 


E  seco  vimos  o  anno, 
c  bem  claro  o  engano, 
em  que  a9trolof;o3  ostauam, 
pois  dantes  tanto  affirmauam 
por  chuuas  auer  giã  dano. 

QARCH   DE  KEZENDE,   MISCKLLANEi. 


Aquclla  condição  isenta  c  teca, 
Onde  tal  desamor  senuirc  enxergaua, 
Eatc3  versos  compôs,  c  a  CImodJcc 
Pede  que  os  canto,  a  qual  no  mor  silencio 
Da  tenebrosa  noite,  estando  em  calma 
As  alteradas  ondas,  assi  disse. 

COUTE  RKAI.,  N.tUFRAOlO   DE  SEriLVEDA,   Cant.    7. 

As  cstrellas  no  mais  alto  subidas 
Do  eco  mcauão  sua  grão  jornada 
Subindo  da  segunda  crusta  aos  ares 
Delgados,  e  sotis  secou  vapores, 
Que  penetrando  a  Sphrera  Aérea,  chegão 
Ao  fogoso  elemento,  o  qual  se  esforça 
Pêra  lho  resistir,  lançando  estrellas 
Velooes,  contrafeitas,  c  tingidas. 
IBIDEM,  cant.  10. 


—  «As  justificações  do  livro  do  Beato 
Amadeu,  estimei  grandemente  vêr,  pela 
variedade  e  incerteza  com  que  nelle  fal- 
iam os  auctores;  o  o  melhor  que  tem,  é 
estarem  desempedidas  daquelle  seco, 
onde  as  coisas  d'este  género  costumam 
encalhar  na  nossa  terra.»  Padre  António 
Vieira,  Cartas,  n."  2õ.  —  «E  ao  tratarsc 
da  sepultura,  se  lhe  achou  escondida  en- 
tre as  vides  secas,  que  lhe  serviaõ  de 
cama,  kuma  panella  do  dinheiro,  que 
«ajuntava  vendendo  as  oflertas  dos  devo- 
tos, contra  o  voto  da  pobreza,  quo  pro- 
fessara.» Padre  Manoel  Bernardes,  Exer- 
cícios espirituaes,  part.  1,  pag.  472. 

Pregaes-me  frestas,  janelas, 
ou  nem  pé  em  ramo  seco. 
o  ilida  sois  toda  querelas, 
que  tão  cazeiro  é  jã  estremo. 
Não  se  f.Ala  d'al  na  praça 
se  não  d'is3o. 

Oh  !  dae  ao  demo  ! 

ANTOSIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  291. 


Eu  cuidava  a  arvore  Ȏca, 
que  farnesins  todavia 
os  não  havia 

senão  de  febre  c  de  peca. 
iniDKM,  pag.  .307. 


SECREÇÃO,  s.  f.  (Do  latim  secretio- 
nnm).  Termo  do  medicina.  Segregação 
de  divcr.sos  humores  do  sangue,  elabor.v 
da  [lolas  glândulas. 

SECREST...  As  palavras  que  começam 
por  Secrest...,  busquem-se  com  Sequest... 

Ou  dera  assi  um  tecrejilo, 
ou  o  dez  pela  tranquiaha 
ou  no  vão  ; 

de  trunfar  guardae-me  o  pão, 
compadre,  levaes  manilha. 

ANTÓNIO  rnESTEs,  AUTOS,  pog.  59. 

SECRETA,  8.  f.  (Vid.  Secreto).  These 
defendida  só  em  presença  dos  doutores, 
em  algumas  universidades,  pelo  candida- 
to que  quer  receber  o  grau  de  licenciado 
em  direito  canónico. 

—  Cada  uma  das  orações  que  o  frade 
diz  cm  voz  baixa,  antes  do  prefacio. 

—  A  privaila,  commúa,  latrina. 
SECRETAMENTE,    a<lv.     (De    secreto, 

com   o   sufBxo    «mente»).  Occultamente, 
em  segredo,  ;is  occultas,  escondidamente. 

Eu  me  achei  no  presente 
onde  estavam  escondidas 
c  no  penedo  metidas 
lavando  .•'errelamriitr  ; 
mais  quizera  seer  ausente 
que  presente  me  achar, 
se  bem  lavam,  melhor  torcem, 
namorou-me  o  seu  lavar. 

D.   JOANNA  DA   GAMA,   DITOS   DA    FREIRA, 

pag.  26. 

—  Consultou  el  Rey  secretamente  os 
Sábios  que  avia  em  Espanha  e  lhe  disse- 
raõ,  que  pela  estatua,  e  seu  movimento 
se  entendia  o  tempo  cõ  suas  mudanças 
ordinárias,  o  no  rotulo  das  costas  dava  a 
entender,  que  andando  o  tempo  seria  Es- 
panha conquistada  dos  Árabes,  nas  letras 
da  parede  que  ficava  á  mrio  esquerda  se 
aununeiava  a  perda,  e  destruyçào  dei 
Rey,  e  nas  da  m.iio  direita  a  dos  Godos, 
e  moradores  de  Espanha,  e  nas  da  en- 
trada se  mostr.ivaõ  os  bens  dos  vencedo- 
res, e  males  dos  vencidos.»  Monarchia 
Lusitana,  liv.  7,  cap.  1.  —  <  l)uarte  Pa- 
checo, que  esperaua  o  mesmo,  mandou 
logo  arrasar  a  ponta  da  ilha  Darraul,  e 
cortar  todo  o  aruoredo,  que  nella  auia, 
por  os  imigos  uam  })oerem  alli  secreta- 
mente algumas  bomb.irdas,  e  mandou 
dar  cabos  de  huma  cju-auella  a  outra,  fa- 
zendo toda  aquella  noite  grande  festa, 
por  assim  darem  a  entender  aos  imigos 
que  lhes  nam  auiam  medo.»  Damião  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1,  ca- 
pitulo 88.  —  <t  Neste  anno  no  mos  de  lu- 
nho  por  algumas  suspectas,  que  el  Rei 
teue  da  cxcellentc  senhora  donna  loanna 


Rainha,  que  fora  do  Castella,  e  Leaõ,  se 
querer  tornar  secretamente  pêra  os  ditos 
regno»,  ordenou  que  se  viesse  de  .Sancta- 
rem,  onde  então  ei^taiui,  pêra  Lisboa,  e 
por  as  informações  que  sobre  isso  deram 
a  el  Rei  nam  serem  de  calidadc  pêra  »e 
lhe  dar  fc,  e  el  Rei  achar  dep«i«  ser  tudo 
falso,  tenho  por  nmito  eacusado  fazer  disso 
mais  declaraçam,  da  qual  senhora,  e  de 
seas  infortúnios  tenho  tratado  atmiu  per 
extenso  na  (Jhronica  do  Príncipe  dom 
loam,  Rui  qui-  foi  destes  regnos,  seíjundo 
do  nome.»  Ibidem,  cap.  \)i. —  fSolUlozei- 
nal  lho  teue  em  mercê,  mas  parecendolhe 
que  erão  tudo  palauras,  arreceandosse 
que  o  leuasse  Afonso  dalbucpierqae  con- 
sigo a  índia,  fogio  da  cidade  com  todo- 
los  seus  tam  secretamente,  que  nunca  fc 
pode  saber  para  onde.»  Ibidem,  part.  o, 
cap.  20. — «  El  Rei  como  ja  tinha  von- 
tade de  lhe  perdoar  respondeo  a  dona 
Leanor,  tudo  que  se  faria  bem,  e  ao  outro 
dia  dixe  a  meu  innam  FrucUjs  de  goes 
(que  secretamente  lhe  tinha  ja  dado  con- 
ta do  que  passara  com  dona  Luanori  que 
fosse  a  casa  de  dom  Aluaro.»  Ibidem, 
cap.  40.  —  «O  que  fezeram  tam  de  sú- 
bito, que  nem  Raix  Xarafo,  nem  Raix 
madafar,  irmam  de  Riiix  Hamed,  nem  os 
que  com  elle  vinhào  armados  secreta- 
mente poderam  entrar.»  Ibidem,  cap.  tj8. 
—  «  Com  tudo  receosos,  ou  sabendo  ja  de 
certo  ao  que  Diogo  lopez  liia,  poserâo  a 
bom  recado  Feroam  inartinz  euangelho 
que  alli  estaua  negoceando  cousas  que 
compríam  a  seruíço  dei  Rei,  e  todolos 
mais  Portugueses  que  auia  na  Cidade, 
porque  senaõ  acolhessem  secretamente  os 
quaes  Diogo  lopez  nam  pode  haver. »  Ibi- 
dem, part.  4,  cap.  (10.  —  «El  Rey  lhe 
disse :  He  verdade  que  eu  passei  esse 
aluara  com  falsa  enformação,  e  quando  o 
soube  por  nào  passar  outro  em  contrayro 
mandei  chamar  o  homem,  e  secretamente 
lhe  mandei  por  Antão  de  Faria  dar  du- 
zentos mil  reis  em  ouro,  e  elle  he  bem 
contente  e  satisfeito,  e  lhe  mandei  que 
nào  folaíse  nisso.»  tiarcia  de  Rezende, 
Chronica  de  D.  João  II,  cap.  107.  — 
«  Dezia,  ja  a  tenho  dada,  e  entam  se- 
cretamente via  no  livro  as  pessoas  da  ca- 
lidadc de  tal  cousa,  e  áquella  a  que  mais 
obrigaçam  tinha  a  daua,  c  as  vezes  ca- 
tando as  taes  pessoas  fora  do  Reyno  em 
seu  seruíço  lhe  mandaua  cá  fazer  seus 
despachos,  de  que  muytos  se  espantauam, 
e  foy  singular  virtude,  em  que  todolos 
bons  tinham  muyta  esperança  de  seus 
seruíços  :  este  livro  tenho  eu  cm  meu  po- 
der.»  Ibidem. 

quantos  rasos  la  passaram, 
tudo  mouros  ordenaram, 
como  mãos.  secrelamaite, 
cm  que  morreo  mu\'ta  gente, 
muytos  delles  o  pagaram. 

IDEM,   MISCELI..VXB.I . 

—  «o    Catual   como   em   tudo  queria 


SECR 


SECR 


SECR 


433 


còprazer  aos  jMouros,  leuou  Vasco  da 
Gama  fora  de  Calecut  mostrando  que  o 
acompanhaua  te  o  meio  caminho  de  sua 
embarcação  :  e  secretamente  tinha  man- 
dado aos  officiae?  dei  Rev  que  estauaò 
em  Capocate,  onde  se  espedio  delle  qne 
o  retiuessem.»  Barros,  Década  1,  liv.  4, 
cap.  10.  —  «Finalmente  postos  em  ordem 
de  partida  e  mães  secretamente  que  po- 
derão hunia  noite  sairào  jiela  barra  de 
Goa  fora :  do  que  logo  Aííbnso  d'Albo- 
querque  foi  anisado,  e  alguns  querem  di- 
zer que  per  Fero  Quaresma,  que  era  hum 
dos  capitães  da  companhia,  que  nào  sa- 
hio  cõ  os  outros,  que  erão  Diogo  ^lendez, 
Dinis  Cerniche,  e  o  nauio  de  Balthasar 
da  Silua  por  elle  estar  doente  em  Cana- 
nor,»  Idem,  Década  2,  liv.  5,  cap.  10. 
—  «Acudindo  acompanhado  de  sua  guar- 
da, achou  Brandimar  já  quasi  morto,  e 
Artibel  foi  preso.  El-rei,  sabido  de  Bran- 
dimar o  caso  como  passava,  e,  acabado 
de  lho  dizer,  expirou :  e  alcançando  por 
sua  arte  que  sua  filha  era  prenhe  de  sete 
mezes,  quiz  aguardar  qne  parisse,  e  em 
tanto  teve  preso  secretamente  Artibel,  a 
quem  passado  o  tempo,  porque  esperava, 
mandou  matar.»  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  90. 

Tal  o  vago  juizo  fluctiiava 
Do  Gama  preso,  quando  lhe  lembrara 
Coelho,  SC  por  caso  o  esperava 
Na  praia  co'o3  batéis,  como  ordemira : 
Logo  xecretamerite  lho  mandava. 
Que  se  tornasse  á  frota,  que  deixara, 
Nào  fosse  salteado  dos  enganos. 
Que  esperava  dos  feros  Maumetanos. 
CAM.,  tns.,  cant.  8,  est.  88. 

—  «  Porem  vendo  as  cõdições  que  esta 
pobre  Raynha  lhe  maadava  cometer,  e 
as  humildes  palavras  da  sua  carta,  atri- 
buindo tudo  a  medo  e  a  fraqueza,  nunca 
mais  quiz  responder  a  propósito  ao  men- 
sageyro,  mas  antes  secretamente  manda- 
va fazer  alguns  saltos  por  toda  a  terra 
em  gente  fraca  e  desarmada,  que  confia- 
da em  sua  pobreza  se  não  sayra  das  cho- 
ças que  tinha  pelos  matos.»  Fernão  Men- 
des Pinto,  Peregrinações,  cap.  154. 

SECRETAR,  v.  a.  Termo  de  medicina. 
Formar  a  secreção,  elaborar  os  diversos 
humores,  tirando-os  do  sangue. 

—  Termo  de  sombreireiro.  Preparar 
as  pelles,  para  tornar  o  pêllo  próprio  a 
formar  feltro. 

—  Secretar-se,   v.   refl.  Ser  secretado. 
SECRETARÍA,    s.  /.  "Emprego,    officio 

de  secretario,  e  casa  onde  se  guardam  os 
documentos  da  repartição,  do  secretario, 
e  onde  este  exerce  as  suas  funcções. 

SECRETÁRIA,  s.  f.  :\Iulher  que  exerce 
o  officio  de  secretario  de  alguma  senhora 
particular,  communidade,  ou  associação. 

—  Mulher  que  guarda  segredos,  confi- 
dente. 

—  ?>Ii>vel  do  gabinete,  espécie  de  es- 
crivaninha. 


SECRETARIAMENTE,  adv.  (De  secre- 
tario, com  o  sutfixo  «mente»).  Secreta- 
mente. 

SECRETARIAR,  v.  n.  Fazer  officio  de 
secretario. 

SECRETARIO,  5.  m.  (Do  latim  secreta- 
rius,  de  secixtus).  O  que  escreve  cartas, 
despachos,  correspondências,  e  dá  conta 
do  estado  dos  negócios  de  algum  prínci- 
pe, de  alguma  pessoa  particular,  de  al- 
guma repartição,  ou  corporação,  cujas 
deliberações  dispõe  e  coordena,  etc.  — 
«  Pelo  que  logo  ao  outro  dia  Afonso  dal- 
buqnerque  mandou  Diogo  fernandez  de 
Beja,  e  o  secretario  Pêro  dalpoem  a  pe- 
dirlhe  fortaleza,  e  gasalhado  na  cidade 
pei'a  sua  gente,  porque  determinaua  es- 
tar alli  oito,  ou  noue  meses,  sobelo  que 
oiine  muitos  recados;  mas  em  fim  el  Rei 
mandou  dizer  a  Afonso  dalbuquerque, 
per  Raix  nordim,  que  era  contente  de 
lhe  dar  a  mesma  fortaleza  que  ja  estaua 
começada.»  Damião  de  (iões,  Chronica 
de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  66.  —  «  Fo- 
i'am  captiuos  Lopo  barriga  adail,  dom 
Anrrique  de  sa,  George  de  brito,  Chris- 
touão  Nuncz  sobrinho  Dantonio  carneiro 
secretario  dei  Rei,  Aluaro  do  tojal,  loam 
gomes  Cardoso,  Cosmo  tome,  e  outros 
que  foraõ  per  todos  trinta,  e  cinco,  es- 
caparam obra  de  cento  de  cauallo,  e  de 
pé.»  Ibidem,  part.  4,  cap.  6.  —  «  O  mar- 
quez  estando  em  Castello  branco,  logo 
com  ódio,  e  ma  vontade  que  a  cl  Rey 
sem  causa  tinha,  fez  capitolos  muy  falsos 
e  deshonestos  da  vida  dei  Rey,  que  to- 
caua  muvto  a  sua  honra,  e  estado  Real, 
e  os  mandou  logo  por  nm  Affonso  Vaz 
secretario  seu  a  El  Rey,  e  a  Raynha  de 
Castella,  que  entam  estauam  em  Medina 
dei  Campo.»  (Tareia  de  Rezende,  Chro- 
nica de  D.  João  II,  cap.  31. —  «Tenha 
mão  V.  m.  acode  a  Senhoria,  para  que 
veja  como  trago  a  v.  ra.  na  casa  dian- 
teira, e  suas  couzas  diante  dos  olhos.  Se- 
nhor Secretario,  léa  v.  m.  lá  as  cartas, 
que  escrevi  hontem  para  Sua  Magestade, 
e  para  o  Concelho  da  Fazenda,  e  Ultra- 
marino.» Arte  de  furtar,  cap.  37. — 
«Xestas  náos  mandou  El  Rey  um  Alvará 
ao  Governador  Nuno  da  Cunha,  feito  em 
Évora  por  Pêro  de  Alcáçova  Secretario, 
em  que  mandava  a  todos  os  Capitães  das 
fortalezas  da  índia,  que  acudissem  com 
as  menagens  delias  aos  Governadores,  e 
lhe  obedecessem  como  á  sua  própria  pes- 
soa.» Diogo  de  Couto,  Década  4,  liv.  8, 
cap.  7. 


De  tal  sorte  o  Sultão  se  Ibc  affeiçoa, 
Que  quando  o  Secretario  se  despede 
Para  cortar  o  mar  direito  a  Goa, 
Lho  pede  que  lho  deixo,  o  lh'o  concede. 
Logo  a  sua  bonança  ao  cume  voa, 
E  todas  as  passadas  bem  excede, 
Que  logo  foi  em  tantas  honras  posto 
Quantas  soube  inventar  o  amor  e  o  gosto. 

FKASCISCO  Di:  AKDBADE,  PBIMEIBO  CEKOO  DE  DID, 

cant.  2,  eat.  85. 


Atraz  VOS  prometti,  se  não  me  engano, 
(Faltar-vos  da  promessa  não  queria) 
be  vos  dizer  quem  era  hum  que  seu  dano 
Achou  naquelle  a  quem  favor  pedia. 
Esto  que  se  lançou  lá  co"o  tvrano 
Baudiu-,  como  pouco  antes  vos  dizia. 
Secretario  hc  do  Rei  Mogor,  o  ho  dito 
Que  lho  tem  o  Sultão  ódio  infinito. 
IBIDEM,  cant.  G,  est.  4. 


—  O  que  escreve  o  que  outro  dita,  es- 
pecialmente cartas. 

—  Ant.  Pessoa  a  quem  se  confia  algum 
segredo  para  o  guardar. 

—  Ave  de  rapina  que  dá  cabo  das  ser- 
pentes. 

7  SECRETAYRO.  Vid.  Secretario.  — 
«Dizeudoliie  logo  com  palauras,  e  mos- 
tranças  de  muy  grande  sentimento,  que 
no  Mosteiro  de  nossa  Senhora  de  (-iuade- 
lupe  tinhão  preso  a  Pedro  Montesinho, 
Castdhano,  com  cartas  e  estruções  de 
dom  Fernão  Gonçaluez  de  Miranda  Bis- 
po de  Lamego,  prior  de  São  Marcos,  que 
fora  de  Castella,  e  Alonso  de  Ferrara, 
(Jastelhano,  e  Daluaro  Lopcz  secretayro 
dei  Rey  sobre  casamento  dei  Rey  Febos 
de  Nauarra  com  a  senhora  dona  loana.» 
(Garcia  de  Rezende,  Chronica  de  D.  João 
II,  cap.  3õ. 

SECRETÍSSIMO,  adj.  superl.  de  Se- 
creto. 

—  Logar  secretíssimo ;  muito  occulto. 

—  Homem  secretíssimo ;  muito  guar- 
dador de  seus  segredos. 

SECRETO,  adj.  (Do  latim  secretus). 
(Jcculto,  ignorado,  escondido,  encoberto. 
— •  «(,)  Tetimutaraja,  como  atras  fica  di- 
to, era  tam  poderoso,  que  desobedecia 
em  muitas  cousas  a  el  Rei  de  Malaca,  e 
intentou  algumas  vezes  per  modos  secre- 
tos de  se  fazer  Rei,  e  como  este  desejo 
de  regnar  o  trouxesse  cego.»  Damião  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3, 
cap.  24. 

Adendo  ticncn  las  mentes 
Huns  secretos  trovadores. 
Que  fazem  cartas  d'amore8,  , 
De  que  ficào  mui  contentes  ? 
Não  querem  sahir  á  praça ; 
Trazem  trova  por  negaça ; 
E  SC  lha  gabais,  quhc  boa, 
Diz  qu'lie  de  certa  pessoa. 
Ora  que  quereis  que  faça. 
Senão  ir-me  por  esse  mundo? 

CAM.,  BEDONDILUAS. 

—  Que  está  em  silencio,  em  segredo, 
não  sabido.  —  «E  perque  minha  senhora 
tem  conhecimento  das  grandes  mercês  o 
honras  que  recebeu  nesta  casa,  e  se  te- 
me que  este  concerto  traga  no  secreto 
algum  engano,  me  mandou  diante  com 
recado  á  imperatriz ;  porém  já  que  vossa 
alteza  está  presente,  e  a  elle  mais  qne  a 
ninguém  toca,  dir-lhe-hei  ao  que  venho.» 
Franci.sco  de  Moraes,  Palmeirim  d'lngla- 
terra,  cap.  112. —  «(^s  Rciíuauos  tiníjaõ 
hum  Templo  dedicado  à  Deidade  do  Con- 


434 


SKCR 


SECT 


SECU 


sollio,  e  ora  escuro,  para  denotar,  quo  os 
conscllios  dcvoni  ser  secretos,  <•  'jnn  nin- 
guém deve  ver,  nem  cnteiidi/r  <\r.  t.'>ra,  o 
que  se  trata  nollin.»  Arte  de  furtar,  caj). 
30. —  «Embarcildosp,  elle  o  in.iis  secreto 
que  podo,  c  estando  alevantando  a  aneo- 
ra  para  nos  fazermos  ^  vella  vicraõ  a 
nós  três  ou  c|uatro  bateis  do  Turcos  ar- 
mados, (pic  elle  de  muyto  valente,  quis 
esperar,  confiando  no  vonto  bom  que  ti- 
nliamos,  e  deyxou  entrar  os  do  hum  ba- 
tel dentro  no  navio.»  António  Tenreiro, 
Itinerário,  cap.  47. 

—  Ficar  secreto;  era  segredo. 


Al(;ii  o  dedo. 

Todos  cinco. 
E  ou  to  darei  um  brinco 
como  homom. 

Fica  secreto 
tanto  que  com  o.s  dentes  trinco. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pSg.  281. 

—  «E  como  do  inclinaçoons  taõ  simi- 
lliantes  se  faz  a  boa  amizade,  a  cada 
hum  destes  dous  pastores  ficou  secreto  o 
dezejo  de  se  tratarem,  c  communicareni 
por  amigos,  em  especial  Loreno,  que 
muito  em  particular  soube  de  seu  amigo 
Egorio  quem  era,  o  como  viera  ter  áquel- 
la  ribeira.»  Franci.-sco  Rodrigues  Lobo, 
Primavera. 

—  Figuradamente :  Recôndito,  desco- 
nhecido, oceulto.  —  «  Palmeirim  tendo 
lembrança  das  palavras  do  cavalleiro  ve- 
lho, ia  arrependido  do  seu  primeiro  pare- 
cer, que  então  conhecia  o  erro  em  que 
cahira,  que,  perdido  o  caminho,  mettido 
naquellas  trevas  escuras,  nem  sabia  on- 
de guiasse,  nem  como  se  defendesse  de 
uma  dôr  secreta,  que  parecia  que  lhe  ar- 
rancava o  coraçrio ;  de  que  se  muito  es- 
pantou, que  nilo  cuidava  que  naquelle 
lugar  ninguém  po  lesse  empecer-lhe,  se- 
não o  seu  cuiilado.n  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  dlnglaterra,  cap.  98.  — 
«Não  tem  rios,  ou  fontes  que  fertilizem 
a  terra,  o  também  as  aguas  do  Ceo  lhe 
faltão  por  dous,  e  por  três  annos,  ou  seja 
condição  do  clima,  ou  castigo  secreto ; 
assim  a  conduzem  em  cáfilas  do  canudos 
de  partes  mui  remotas». »  .lacintho  Freire 
d'Andrade,  Vida  de  D.  João  de  Castro, 
liv.  4. 

—  Retirado,  solitário,  oceulto. 

—  Que  sabe  guardar  segredo. 

—  Que  se  diz  cm  voz  baixa. 

—  Ir  secreto ;  que  ninguém  o  veja. 

—  Ordaiis  secretas ;  em  segredo,  não 
em  publico. 

—  Pítrtcs  secretas  do  corpo;  as  que  o 
pejo  encobre. 

—  No  tribunal  da  inquisição,  o  despa- 
cho ou  decisão  das  causas  do  fé.  Tam- 
bém so  dava  este  nomo  á  secretaria  em 
que  se  decidiam  e  guardavam  estas  cau- 
sas. 

—  aS.  ?«.  Vid.  Segredo. 


Ainbi(;ilo,  siMilior,  também 
t<;iii  trrrrton 

de  muitOi)  pentis  «oneto.4 
ilc:ve  iiHiir  doí  <|ue  tem 
i|iio  é  peru  lilhoH  o  noto». 

ANTOHIO  PBKSTF.M,  AUTOS,   pSg.    81. 

—  Adágios  : 

—  Em  p 'ssoa  do  sccptro,  não  ha  vicio 
secreto. 

—  No  bocca  do  discreto,  o  publico  c 
secreto. 

—  Não  ha  secreto,  que  tardo  ou  cedo 
não  s(tja  dcsc-oberto. 

SECRETOR,  >olj.  Vid.  Secretorio. 

SECRETORIO,  <i<IJ.  Termo  de  anato- 
mia. Que  segrega,  separa  do  nanguc,  c 
elabora  as  secreções;  diz-se  dos  órgãos 
ou  vasos. 

SECTA.  Vid.  Seita. —  aOs  três  Reys 
que  nella  ha  saij  vassallos  do  nosso  de 
Espanha;  todos  clles  guardão  a  secta  de 
Mafoma.  A  terra  tem  mais  gente,  e  man- 
timentos que  as  outras  Ilhas  de  seu  ta- 
manho, saõ  muy  dome.sticos,  e  nossos  ami- 
gos, e  no  travar  leuão  ventagem  a  todos 
seus  vezinhos.»  Fr.  Gaspar  da  Cruz,  Tra- 
tado das  cousas  da  China,  cap.  li. — «Des- 
calços todos  ati'  o  Rei  entram  na  Jlesqui- 
ta,  na  qual  nào  ha  pintura,  figura,  ou 
ymagem  alguma,  mais  que  huma  cadeira 
pequena,  e  nella  posto  o  Aichorào,  que 
he  o  liuro  da  secta  de  Mafoma.»  Ibidem, 
cap.  19.  —  «Este  tirandolhe  o  nascimen- 
to por  elle  eonheceo,  auor  de  ser  em  po- 
der, e  secta,  hum  dos  mais  notaueis  ho- 
mens do  mundo;  por  cujo  respeyto  o 
criarão  sempre  cij  muita  guarda,  e  vigi- 
lância ;  posto  que  a  may  não  viueo  mais 
que  anno  e  meyo  depois  de  seu  parto, 
da  qual  idade  fie  lu  órfão  de  pay,  e  mãy.» 
Ibidem,  cap.  20.  —  «E  como  nuidar  pá- 
tria, e  secta  custo  muyto,  achou  o  pouo, 
q"ue  mais  fácil  lhe  era,  mudallo  a  elle 
desta  vida  pêra  a  outra,  do  que  obede- 
cer a  negocio  tão  mal  ordenado,  c  pior 
asseyto.  E  assi  huma  tanie,  em  que  sa- 
hio  a  jugar  as  canas,  se  lhe  tornaram 
todos  lanças,  e  delias  atrauessado  acabou 
miííorauphnonto.i)  Ibidem,  cap.  21. 

SECTADOR.  Vid.  Sectário. 

SECTÁRIO,  *'.  »i.  ^l)o  latim  sectárias). 
O  que  professa  ou  segue  uma  seita.  — 
«E  porque,  sectários  de  uma  religião 
nova,  crédulos  martyres  do  inferno,  bus- 
cam os  embusteiros  e  torpes  deleites  que, 
além  da  morte,  lhes  promctten  o  prophc- 
ta  do  Yatrib,  arremessando-se  com  um 
valor  que  se  creria  de  desesperados  dian- 
te do  ferro  dos  sons  contrários  e  conten- 
tando-se  de  acabar,  comtanto  que  sobre 
os  seus  cadáveres  so  hasteie  victoriofo  o 
estandarte  do  Islam.B  Alexandre  Hercu- 
lano, Eurico,  cap.  9. 

SECTATOR.  Vid.  Sectador. 
SECTOR,  .-•.  Hl,  [Do  latim   sector).  Par- 
te do  circulo  comprchendida   entre    dous 
dos    seus  raios,  e  o  arco   que  elles   com- 
prehendcm. 


—  Sector  d'fjijjlierft :  uma  parte  d'ella, 
solido  ou  cone  qu';  tem  por  hantí  a  sa- 
perficio  de  um  BCgniento  da  csphera  e 
termina  cm  ponta  nn  centro  d'clla. 

—  Sector  df.nleadn ;  roda  (-m  'lue  só 
uma  parte  da  circuinferencia  tem  dentea; 
serve  para  trannformar  um  movimento 
circular  continuo  cm  circular  alternativo. 

—  Instrumento  astronómico  menor  qae 
o  quadrante. 

SECTURA,  «.  /.  Termo  de  pharmacia. 
f 'urtaiiura,  reducção  do»  corpos  a  parte» 
mais  pci|uena>í,  por  moio  de  instrumento* 
cortantes. 

SECULAR,  alj.  2  gen.  (Do  latim  iecu- 
laris).  Que  dura  séculos. 

—  Que  se  faz  ou  succede  do  cem  em 
cem  annoa. 

—  Mundano,  do  século. 

—  Laical ;  não  regular,  que  nilo  vítc 
em  communidade.  —  «Diz  maia,  que  cn- 
correm  também  nesta  omis.sail,  e  descui- 
do assim  homens,  como  molheres  secula- 
res, que  tiuerão  lugar,  e  tempo,  docu- 
mentos, e  disposição,  e  talento  pêra  se 
entregar  a  Deos  totalmente,  e  te  melho- 
rar com  affecto,  e  feruor  maia  apurado, 
e  não  o  procurarão.»  Fr.  Bartholoraea 
dos  Jlartyres,  Compendio  de  espiritual 
doutrina,  cap.  i:í. 

—  O  òraço  secular ;  o  poder  civil. 

—  S.  VI.  Religio.^o  que  vive  no  século, 
em  opposição  ao  que  vive  cm  clausora, 
—  íEstabeleceo  ElRey  per  Conselho  de 
sua  Corte,  que  elle,  nem  Rico-homem,. 
nem  outro  nenhum  poderoso,  de  qualquer 
estado  e  condiçom  que  seja,  em  todo  o 
Rígno,  assy  Religioso,  como  Secular.» 
Ord.  Affons.",  liv.  4,  tit.  10.  s  3. 

SECULARIDADE,  .«. /.  'Do  secular,  e 
o  suffixo  «idade»!.  Estado,  condição  de 
secular,  fallando  de  ecclesiasticoa  e  com- 
munidadcâ. 

—  Plur.  Secularidades ;  ditos,  acçSes 
do  pessoas  seculares,  não  religiosas ;  diz- 
se  á  má  parte  dos  religiosos,  que  vivem 
á  lei  dos  seculares,  com  desejos,  obras, 
maneiras  mundanas. 

SECDLARISAÇÃO,  s.  /.  Acç.ío  e  effeito 
de  .-íicularisar  o;i  de  ser  secularisado. 

I  SECULARISADO,  /«irf.  pass.  de  Se- 
cularisar. 

SECUL.\RISAR,  ou  SECULARIZAR,  c.  a. 
Fazer  secular  o  que  era  ecclesiastico. 

—  Secularisar  '>  religioso;  absolvel-o 
do  voto  de  clausura. 

—  Secularisar-se,  i\  ne/í.  Obter  a  se- 
cularisação,  passar  do  e^^tado  de  religioso 
ao  de  secular. 

SECULARMENTE,  ndr.  iDe  secular,  e 
o  sutlixo  «meute»'.  De  um  modo  secu- 
lar, conui  sccul.ir,  temporalmente,  roun- 
(laTiamente, 

SÉCULO,  «.  "1.  (Do  l.itim  stculum''..  Es- 
paço  de  com  annoa  solares.  —  «Sérvio, 
dis  que  a  vida  de  cada  hum  homem  se 
pode  chamar  secnlo-  Porem  commum- 
mente  vale  o  mesmo,   que  o  numero  de 


SECU 


SECU 


SEDA 


435 


100  annos,  alludiíulo  aos  Jogos,  que  os 
Romanos  faziaõ  de  cem  em  cem  annos, 
aos  quais  (segundo  Pouipeo)  chamavaõ 
seculares.»  Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal 
medico,  pag.  556,  §  172. 

Qu'os  iminensos  poriodoa  não  podem  ^ 
>s"lmm  seciilo  aeabav,  qu"errante3  girão, 
E  deste  iramobil  ^ol  recebem  luzes, 
E  outros  Astros  não  vistào,  que  recebão 
D'outroâ  Soes  o  Clarão,  Astros  que  sejào 
De  pensadores  Entes  domilicilio. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  SATIBEZA,  Caut.  1. 

Ás  entrauliaa  desceo  da  escura  terra, 
Laborioso  Agrícola,  o  descobre 
A  fonte  dos  metaes,  talvez  mais  clara. 
Qual  depois  de  três  séculos  a  mostra  _ 
Luminoso  Saber  d'Anglia,  e  da  Gallia. 

IDKM,  VIAGEM  EXTÁTICA,  CaUt.    4. 

—  Época,  edade ;  tempo,  duração  de 
alguma  pessoa  ou  cousa  notável.  —  O 
século  das  cruzadas.  —  O  século  de  Au- 
gusto, 

Mas  qnc  prodigio  tal  novos  trouxessem 

Os  aecídos  de  Pyrrha,  —  inda  o  teu  uome 

Nào  o  esquecera  transmudado  o  mundo. 

GiUBEiT,  CAMÕES,  cant.  5,  cap.  13. 

—  Tempo. 

Vai  colher  u'Oriente  eterno  hum  Louro, 

A  longa  estrada  o  Coo  te  pateutèa  ; 

Com  grande  Império,  e  temporal  thesoui-o 

As  virtudes  dos  Reis  também  premêa: 

Veja  assombrado  o  sfculo  vindouro 

Em  teu  domínio  a  gloria  de  Ulyssêa, 

De  tua  piedade  eterno  exemplo, 

Veja  ao  Senhor  dos  Ceos  votado  hum  Templo. 

J.  A.   DE  MACEDO,  O  OKIEXTE,   Caut.    1,    CSt.    00. 

—  «E  sente  com  amargura  que  o  seu 
século  já  repousa  em  paz  e  espera  por 
elle  que  tarda,  assim  o  ultimo  editicio  da 
eidade  que  passou,  quando  pendido  amea- 
ça desabar,  olhando  á  roda  de  si  não  vê 
nenhum  daquelles  que,  ahi  perto,  cam- 
peiavam  senhoris  e  formosos  no  tempo 
em  que  elle  também  o  era.»  Alexandre 
Herculano,  Monge  de  Cister,  Frol. 

—  Tempo  indeterminado,  assim  pas- 
sado, como  presente  ou  futuro.  —  «In- 
tentou ganhar  a  Cidade  de  Argel  com 
huma  poderosa  Armada  que  se  ajuntou 
nos  Portos  de  Itália,  que  naõ  houve  o 
eôeito  desejado  per  occultos  juizos  de 
Deos ;  mas  vendo  que  naõ  podia  fazer 
este  damno  á  Cidade  de  Argel,  entrou 
no  pensamento  de  lançar  tora  de  todos 
os  dominios  de  Hespanha  os  Apóstatas 
Mouriscos,  que  nella  se  haviaõ  conserva- 
do por  tantos  séculos.»  Fr.  Bornardo  de 
Brito,  Elogios  dos  reis  de  Portugal,  con- 
tinuados por  D.  José  Barbosa.  —  «A  His- 
toria de  todas  as  Naçoens,  e  de  todos  os 
Séculos  o  confirma.  Os  tempos  mais  igno- 
rantes forào  também  os  mais  férteis  em 
pessoas  achacadas  desta  epidemica  enfer- 


midade.»   Cavallelro  d'01iveira,    Cartas, 
Hv.  3,  n.°  11. 

Áureos  risonhos  séculos  se  avanção  : 
As  mãos  d'Eterna  Sancta  Provideucia 
Rios  de  néctar  pela  terra  lanção. 
Que  enchem  Lysia  de  força,  c  de  opulência: 
Seus  filhos  immortaes  no  Hydaspe  alcauçào 
Troféos  de  nobre,  militar  potencia  ; 
Onde  da  luz  Solar  o  Império  esplende. 
Lá  chega  o  Sceptro  Luso,  e  lá  se  estende. 

J.    A.    DE  MACEDO,  O  OBIESTE,  Cãnt.   8,  CSt.  GG. 

Entre  o  fulgor  da  purpura  brilhante 
Eu  vejo  Passionei,  ccde-lhe  a  Palma 
Demosthencs,  c  TuUio,  inda  que  venhào 
Do  grão  peso  dos  seculof  seguidos  ; 
Xào  tem  que  opponha,  que  lhe  iguale  o  Sena. 
iDBM,  ^^AGEM  EXTÁTICA,  caut.  2. 

Esculpida  na  base  a  Ai-pa  divina, 
Donde  os  sons  extrahio  Divino  o  Vate, 
Com  que  cm  todos  os  séculos  só  elle 
Eterna  fez  Jerusalém  terrena. 


A  férrea  mão  dos  séculos  vorazes 
Nào  pôde  inda  (quiujuria!)  a  massa  enorme 
Desfazer  daa  P yramides  soberbas  ! 
IDEM,  MEDITAÇÃO,  cant._l. 

íío  cther  liquidissimo  presente 
A  irresiâtivcl  mão  que  o  traz  seguro 
Pelo  espaço  da  Ecliptica  brilhante, 
Depois  de  tantos  séculos  conserva 
Incxhaurivel  luz,  e  o  fogo  ardente. 

IDEM,    A   NATUREZA,   Cant.    1. 


Dos  campos  ao  prazer  contente  ajunta 
Doctos  cscriptos  dos  illustres  mortos, 
Qu'arte,  e  gosto  dos  séculos  approvão. 


—  «A  providencia  assim  o  ordenara,  e 
o  combater  e  o  estrebuxar  do  privilegio, 
que  queria  viver  de  vida  própria,  eram 
v."ios,  porque  nào  podiam  chegar  a  uma 
causa  final  e  faltava-lhes  apenas  um  sé- 
culo para  se  tornarem  impossíveis.»  Ale- 
xand)-e  Herculano,  Monge  de  Cister,  ca- 
pitulo 17. 

—  O  mundo,  as  cousas  mundanas,  com- 
jnercio  e  trato  dos  homens  no  que  res- 
peita á  vida  commum  e  politica.  —  «Oh 
verdade  iucommutavel  Deus  meu,  Senhor 
meu,  e  todo  meu  bem :  apartai  com  toda 
a  suave  violência  de  vossa  graça  meu  co- 
ração do  amor  do  século.»  Padre  Manoel 
Bernardes,  Exercícios  espirituaes,  part. 
1,  pag.  23. 

—  O  mundo,  as  cousas  mundanas,  a 
vida  mortal. 

—  Século,  ou  edade  de  ferro ;  tempo 
que  os  poetas  fingiram,  durante  o  qual 
desappareceram  da  terra  as  virtudes  e 
começaram  a  reinar  todos  os  vicios  e  des- 
graças. 

—  Por  extensão :  Diz-se  do  tempo  ca- 
lamitoso, cheio  de  misérias  e  de  guer- 
ras. 

—  Século,  ou   edade  de  cobre;   tempo 


em  que,  segundo  os  poetas,   se  adiantou 
a  malícia  dos  homens. 

—  Século,  ou  edade  de  ouro  ;  tempo  em 
que  os  poetas  imaginaram  ter  reinado  o 
deus  Saturno,  e  durante  o  qual,  diziam 
elles,  terem  vivido  os  homens  feliz  e  di- 
tosamente. 

• —  Por  extensão  :  Dá-se  este  nome  a 
qualquer  tempo  feliz  e  afortunado,  em 
que  ha  paz  e  abundância. 

—  Século,  edade  de  ouro,  tempos  flo- 
ridos e  felizes  em  que  havia  "paz  e  so- 
cego. 

—  Século  de  pirata ;  tempo  em  que  fin- 
giram os  poetas  ter  começado  a  reinar 
Júpiter;  e  em  que  os  homens  menos  sim- 
ples, principiaram  a  edificar  casas  de 
taipa,  a  lavrar  as  terras,  e  semeal-as. 

—  Século  das  luzes;  o  século  xix,  o 
século  actual. 

—  Deixar  o  século ;  deixar  o  mundo, 
retirar-se  á  vida  religiosa. 

—  Por  todos  os  séculos,  ou  ^^eZos  sé- 
culos dos  séculos  ;  eternamente,  por  toda 
a  eternidade. 

—  Viver  fora  do  século ;  não  ser  d'es- 
te  mundo. 

SECUNDA.  Vid.  Segunda. 

SECUNDAR,  V.  a.  Coadjuvar,  auxiliar, 
ajudar,  apoiar. 

f  SECUNDARIAMENTE,  adc.  (De  se- 
cundário, com  o  suffixo  «mente»).  Em 
segundo  logar. 

SECUNDÁRIO,  adj.  (Do  latim  secunda- 
rius).  Segundo  em  ordem,  qualidade  ou 
graduação. 

—  S.  m.  plur.  Secundários.  Termo  de 
astronomia.  Círculos  que  passando  pelos 
pólos  da  ecliptica,  a  cortam  perpendicu- 
larmente e  servem  para  assignalar  o  lo- 
gar respectivo  de  cada  estrella. 

—  Termo  de  physica.  Luz  secunda- 
ria, luz  procedente  de  reflexão,  ou  re- 
fracçào. 

SECUNDEIRO.  Vid.  Segundeíro. 

SECUNDINAS,  a.  f.  Termo  de  anato- 
mia. Orgcào  cellulo-vascular ;  as  páreas 
da  mulher  depois  do  parto. 

SECUNDOGENITO,  adj.  Filho  segundo. 

SECURA.  Vid.  Seccura. 

SECURE.  Vid.  Segure. 

SECURIDACA,  s.  /.  Termo  de  botâni- 
ca. Género  de  plantas  da  família  das  pa- 
pilionaceas. 

f  SECURIFORME,  adj.  Termo  de  histo- 
ria natural.  Em  forma  de  segure. 

f  SECURIGERA,  s.  f.  Termo  de  botâ- 
nica. Género  de  plantas  da  família  das 
leguminosas. 

-[  SECURINEGA,  s.  f.  Termo  de  botâ- 
nica. Género  de  plantas  da  família  das 
eiiphorbiaceas,  indígenas  de  F'rança. 

I  SECURIPALPO,  adj.  Termo  de  zoo- 
logia. Que  tem  os  palpos  em  forma  de 
secure,  ou  machadinha. 

SEDA,  *./.  ant.  (Do  latim  sedes).  As- 
sento, cadeira  de  juiz. 

SEDA,  s.  f.  (Do  latim  seta).   Substan- 


430 


SK1>A 


SEDA 


SEIJK 


cia  filaiiicntdsii  o  lustrosa  quo  fórina  o 
ca-tulo  lio  hiclio  cbfiiiiado  de  sèdn,  o  quu 
dopoirt  (lo  liaiia,  servo  para  fabricar  dit- 
fcreiíto.s  ostôtos.  —  «Diz  o  E-iColano  na 
historia  do  Valont;a,  que  nilo  havendo  cm 
Espauluv  atò  o  toiíipo  dos  (lodos  seda, 
nem  assucar,  iiom  aiToz,  os  Mouros  de- 
pois, que  nell:i  entrarão,  trouxeraõ  cã 
ostas  somences,  as  quaes  bc  cultivaò  liojo 
oin  Val(in(;a  com  tanta  utilidade,  ([ue  at- 
firmaò  importar  cada  liuuja  destas  cousas 
hum  milhar)  cada  anuo.»  Manoel  Sove- 
riuí  do  Faria,  Noticias  de  Portugal,  Disc. 
1,  cap.  4. 

—  Obra,  estôto,  ou  tecido  do  seda.  — 
Cortiiiadus  de  seda.  —  Um  vestido  de 
seda  preta.  —  «Ho  chào  desta  salla  era 
todo  cuborto  de  veludo  verde,  o  iias  pa- 
redes armadas  do  panos  de  seda,  e  ouro, 
do  cores.  El  Rei  ostaua  lauyado  eui  hum 
catei  (que  saõ  leitos  quonio  do  campo) 
cuberto  de  hum  pano  de  seda  branca, 
o  ouro,  bem  laurado,  e  j)or  cima  hum 
sobreceo  do  jaez.»  Daniiào  de  (.iões, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1,  cap. 
41.  —  «A  ti'a3  estes  vinham  os  cria- 
dos dos  embaixadores  mui  bem  atauia- 
dos,  e  após  ejtes  a  ordem  dos  nobres; 
que  eraõ  em  numero  cincoenta,  todos  ves- 
tidos de  panno  douro  c  seda  com  colares 
de  ouro,  miõ  menos  de  peso,  que  demos- 
tra, de  que  os  mais  delles  dauam  frrandc 
resplandor  por  caso  das  muitas  perlas,  e 
pedras  de  que  eram  senicaJos.»  Ibidem, 
part.  !),  cap.  50.  —  «Em  que  houue  limi- 
tas viandas,  e  {jenero  de  vinhos,  de  que 
todos  beberam  liberalmente,  ho  qual  aca- 
bado lhes  deu  o  pjouernador  vestidos  de 
seda,  6  brocado,  feitos  ao  seu  modo,  que 
lie  huma  das  mores  honrras  que  naquel- 
las  partes  se  faz  aos  conuidados.»  Ibi- 
dem, part.  4,  cap.  10.  —  «As  quaes 
Leyx  vistas  per  nc')S,  mandamos  que  se 
guardem,  seguudo  cm  ellas  he  coutheu- 
do :  e  declarando  em  ellas,  mandamos 
que  se  vendaõ  osteJas,  e  panos  France- 
zes,  e  todos  outros  pannos,  salvo  paunos 
d'ouro,  e  de  seda,  que  se  possam  reta- 
lhar. E  com  esta  declaração  mandamos 
quo  se  guardem  as  ditas  Leys,  como  em 
ellas  he  contheudo,  e  per  nós  declarado, 
como  dito  he.»  Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit. 
4,  §  18. 


O  ouro  iio.i;i  que  ho, 

K  ;i3  pedras  preciosas, 

K  brocados? 

K  as  sed<is  pêra  que  V 

Toude  por  fé, 

Que  pr'a  as  almas  mais  ditosas 

Forão  dados  : 

Vòdi-s  aqui  hum  colhir 

D 'ouro  mui  bem  esmaltado, 

£  dez  auucis. 

OIL  VlCKNrK,  AU  CO  PA  ALMA. 


—  «Finalmente  tornados  ante  o  Almi- 
rante com  luuna  somma  do  dinheiro 
amoedado  cm  ouro,  e  alguma  prata  la- 


urada,  brocados,  sedas,  tiue  tudo  poderia 
valor  ate  doze  mil  cruzados :  mandou 
elle  Almiràte  entregar  tudo  ao  feitor,  e 
elles  ([Ul^  se  toriiasscni  à  sua  uao  que  ao 
outro  dia  os  despacuaria  por  «er  ja  umi 
tarde.»  Darros,  Década  1,  liv.  (j,  cap.  .'J. 

—  f  lio  de  mais  «ervc  lhe  pêra  enrolar 
autre  as  peças  de  seda,  ate  ho  esterco  do 
homem  aproveitam  o  he  couiprado  por 
dinheiro,  ou  a  troco  de  ortaliça,  o  ho  le- 
vam <las  casas.»  Frei  ( i  aspar  da  Cruz, 
Tratado  das  cousas  da  China,  ca|i.  10. 

—  i'Vo,   cordão  de  sêda ;  seda  torcida. 

—  «A  imagem,  que  estava  sobre  elle,  cm 
presença  de  toJos  abriu  unia  buçeta,  que 
tinha  no  regaço,  pequena  e  muito  louçila 
e  de  tanto  preço,  que  se  nào  podia  esti- 
mar; e  tirando  de  dentro  uma  chave 
douro  pequena,  a  deixou  cahir  por  um 
cordão  de  seda  preta,  que  o  sábio  Daliar- 
te  tomou  e  abriu  com  ella  a  jwrta.» 
Francisco  de  Min-aes,  Palmeirim  d'In- 
glaterra,  cap.  120. 

.•Vqui  chepava 
O  coutar  da  sua  liistoria,  quando  á  porta 
Da  eella  redobrados  golpes  batem. 
Õ  missionário  abriu  ;  um  pagem  mo<,'0 
E  de  custoso  do  ataviado 
Uma  carta  fechada  a  fio  ucgro 
Do  seda  traz. 

OAHRurr,  cAMÕKS,  caut.  o,  cap.  'i-l. 

—  Crcação  da  sêda  ;  do  bicho  da  sêda. 

—  «Em  Murcia,  e  Córdova  todas  as  mu- 
lheres se  occupaõ  coin  a  crcaçaõ  da  seda. 
E  a  seda,  que  o  Marquez  Fernaõ  Cortcz 
introdusio  no  México,  tem  crescido  de 
maneira,  que  agora  he  a  maior  mechani- 
ca,  que  hà  naquella  Provincia,  como  se 
vc  da  arte,  que  escreveo  da  sua  creança 
(lonçallo  de  las  Casas,  que  anda  no  lini 
da  Agricultura  de  llerrera.»  Manoel  Se- 
verim  do  Faria,  Noticias  de  Portugal, 
Disc.  1,  cap.  4. 

—  Seda  afogada ;  a  que  se  fia  depois 
de  afogado  o  bicho,  dentro  do  casulo. 

—  Sêda  crua,  em  rama;  nào  prepara- 
da, não  tinta,  apenas  fiada,  ou  só  tor- 
cida. 

—  Sêda  de  coser;  retroz. 

—  Sêda  verde ;  a  que  se  fia,  estando 
vivo  o  bicho  dentro  do  casulo. 

—  De  toda  a  sêda ;  diz-se  dos  tecidos 
de  sêda  sem  mistura  de  outros  fios. 

—  Pèllo  rijo  e  longo  de  alguns  aui- 
macs,    especialmente   do  javali;    cerdas. 

—  Termo  de  botiinica.  Pèllo  rijo  que 
se  observa  nos  invólucros  fioraes  das  gra- 
míneas. 

—  O  pedículo  que  sustenta  o  urnario 
dos  musgos. 

—  Entro  canteiros,  ti  eiva,  falha  nos 
instrumentos  por  onde  de  ordinário  se 
quebram. 

—  Plur.  Sedas;  producções  filiformes 
e  rijas,  similhantes  ás  sêdjis  do  porco. 

SEDÂCEIRO,  s.  m.  O  que  faz  se  laços, 
e  os  tece. 


SEDAÇO,  K.  7(1.  Sêda  rala,  de  que  Be 
faz  painio  pura  as  p.íueiraj?. 

SEDADO,  j>art.  pa*H.  de  Sedar. 

SEDAL,  adj.  2  ijeit.  Termo  de  anato- 
mia.  Diz-se  d;i  Vt-ia  do  iiessu. 

SEDALHA,  8.  /.  Sedelho,  ordinha  de 
sêda  com  (|ue  se  ata  o  anzol  á  cunna. 

SEDANTE   adj.  2  ijeit.  Vi.l.  Sedativo. 

SEDAR.  Vil.  Assedar. 

SEDATIVO,  adj.  Termo  de  medicina. 
Que  aplaca  dôr,  irritação;  diz-se  doa  re- 
médios. 

SEDE,  «.  /.  (Do  latim  sede*).  Aucnto, 
cadeira. 

—  Dignidade  de  bisiio,  arcebispo,  pon- 
tifico, quo  exercem  jurisdicç&o  e  auctori- 
dade  em  algum  território.  —  «A  tercev- 
ra  cou.sa  he,  o  nome  de  Uispo  da  pri- 
meyra  sede,  que  so  dá  a  Pauchraciano, 
quo  alguns  imagin.^io  (e  nSo  sem  funda- 
mento) ser  o  mesmo  que  Arcebispo  Me- 
tro|>olitano,  inda  que  a  uutrus  parece  de 
notar  a  dignidade  da  primazia  que  naquel- 
les  tempos  ninguém  negou  ao  de  Braga,» 
Mouarchia  Lusitana,  liv.  O,  cap.  2. 

—  Sede,  ou  ié  apostólica;  tanta  sede, 
ou  santa  sé;  a  egreja  de  Koma. 

—  Sede  plena  ;  sede  actualmente  occu- 
pada  por  um  bispo  ou  jwntifice. 

—  Sede  vaccante;  vaga  por  falta  de 
prelado. 

—  Termo  de  pedreiro.  O  assento  de 
pedras  itas  janellas. 

1.  SEDE.  Modo  imperativo  futuro  do 
verbo  ser.  —  *  O  Senhor  sede  meu  de- 
fendedor,  sede  meu  socorro,  e  velhacou- 
to,  pêra  que  me  salue :  porque  vòs  soo 
sois  minha  fortaleza,  e  emparo,  e  por 
amor  de  vosso  nome  me  guiareis,  o  es- 
forçareys,  porque  em  vos  soo  tenho  posta 
minha  esperança,  confio  que  nâo  ficarey 
corrido,  e  affrontado  no  que  espero.  • 
Frei  Hartliolouieu  dos  Mart\Tes,  Catecis- 
mo da  doutrina  christã. 

2.1  SEDE.  s.  /.  iDo  latim  sitig).  Ne- 
cessidade, desejo  natural  ou  appetite  de 
beber  agua,  etc.  —  t  Porque  chegou  a 
sede  a  tanto,  que  com  ella  chegou  de 
todo  hum  Luiz  Machado  filho  do  Doutor 
Lopo  d'Arca,  e  a  líie  Deus  fazer  muita 
mercê,  vieram  dar  em  huuia  furna  onde 
se  mettêram,  por  se  abrigar  da  maresia, 
e  buscar  algum  marisco.  •  Barros,  Déca- 
da 2,  liv.  8,  cap.  4. 

Mas  SC  s-aò  naturais, 

K  vós  ardente  chamma. 

Como  do  fogo  a  agua  se  derrama  ? 

Sc  uaò  SC  nos  mostrais 

Na  que  de  vós  procede. 

Que  ue  agua  de  matar,  mas  naõ  já  •  »fde. 

r.   BODBIGCES  LOBO,  O  DESESG.IXADO,  pag.    1P9. 

o  adusto  habitador  busoA  debalde 
Gélida  fonte  que  lhe  estanque  a  ffdf. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  KATCBEZA,  Cant.  -■ 

—  Figuradauicute :    Seccura,   falu  de 


SEDE 


SEDI 


SEDU 


437 


chuva,    ou  de  agua  de  rega,  que  tem  os 
agros  ou  campos. 

—  Figiu-adamente :    Desejo     ardente, 
cubica. 


Alguns  vào  maldizeudo  c  blasphemando 
Do  primeiro  que  guerra  fez  uo  mundo ; 
Outros  a  sede  dura  vào  culpaudo 
Do  peito  cobiçoso  e  sitibuado, 
Que,  por  tomar  o  aliicio,  o  miserando 
Povo  aventura  ás  penas  do  profundo  ; 
Deixando  tantas  mães.  tantas  esposas 
Sem  lilhos,  sem  maridos,  desditosas. 
cAu.,  Lus.,  cant.  4,  est.  44. 


—  « Este  desejo  esprimentaua  em  si 
mesmo  Dauid,  quàdo  dezia  senhor  uam 
somente  miuha  alma  ha  sede  de  vos,  mas 
tam  bem  minha  carne  por  mil  maneiras 
suspira  a  vos,  desejado  e  esperando  a 
gloriosa  reformaram  que  lhe  tendes  pro- 
metida. Esta  minha  carne  neste  mundo 
rodeada  de  mil  misérias  e  faltas,  e  por 
isso  continuamente  geme  poUo  dia  de  sua 
restauração,  e  gloriti caçam.»  Fr.  Bartho- 
loraeu  dos  martyres.  Catecismo  da  dou- 
trina christã,  liv.  2. 


Esta  continuai; ào,  este  exercício, 
Esta  sede  de  sangue,  de  que  fallo, 
O  fez  chegar  a  tanto  neste  ^■icio , 
Que  já  SC  nào  contenta  de  mandallo ; 
Mas  usando  d'algoz  e  baixo  officio, 
Por  estas  próprias  mãos  vai  drramaUo, 
Para  que  ao  seu  cruel  e  bruto  intento 
São  seja  a  diiaçào  impedimento. 

F.  d"asdkade,  pboielbo  cerco  de  DIU,  cant.  1, 
est.  13. 


Á  sede  ardente  do  Dominio,  ajunta 

A  nativa  crueza,  e  o  furor  cego 

Contra  os  Cliristàos  íuo  Império  grau  tormento) 

Bronca  Villan,  a  Màc  desse  Armentario, 

Sacrificando  aos  montanhezcs  Numes, 

L'ou-so,  que  03  Discípulos  do  Evangelho, 

A  tacs  superstições  nào  acudiào. 

F.   M.  DO  NASCIMESTO,  OS  MAKrTKES,  líV.   4. 

—  Sèàe  falsa;  os  médicos  chamam  as- 
sim á  secciu"a  quo  se  sente  nas  fiiuces  ou 
na  bocca  pelos  muitos  vapores  que  sobem 
da  fermentação  dos  alimentos. 

—  Apagar,  matar  a  sede;  sacial-a,  be- 
ber até  satisfazel-a. 

—  Arder  com,  ou  em  sede ;  morrer  de 
sede ;  ter  muita  vontade  de  beber. 

—  Fazer  sede ;  excitar  a  beber ;  diz-se 
dos  manjares  appetitosos,  picantes  e  sal- 
gados. 

—  Não  ãnr  uma  sede  de  agua;  nào 
ter  compaixão,  não  dar  o  menor  allivio, 
nm  soccorro  ténue  a  quem  a  implora  ou 
está  necessitado. 

—  Ter  sede  a  alguém;  ter  desejo  de 
lhe  fazer  algum  mal,  ou  vingar-se  d'elle. 

AD.4GI0  : 

—  Olhaes  para  o  que  bebo,  e  não  para 
a  sede  que  tenho:  usa-se  contra  os  que 
murmuram  da  propriedade  alheia;  sem 
considerar  o  trabalho,  que  custou  alcan- 
çal-a. 


SEDEÂR,  V.  a.  Termo  de  ourivesaria. 
Limpar  o  ourives  com  a  escova  de  sedas, 
prata  ou  ouro  e  pedras  preciosas. 

SEDEIRO,  s.  m.  Peça  de  madeira,  onde 
estão  cravadas  puas,  ou  dentes  de  ferro, 
coliocados  em  fileií-as ;  por  elle  se  passa  o 
linho,  para  lhe  separar  a  estopa,  e  o  afi- 
nar, ou  assedar. 

SEDELLA.  Vid.  Sedalha. 

—  Figuradamente  :  Trincar  a  sedella ; 
baldar,  frustrar  as  esperanças. 

1.)  SEDENHO,  s.  III.  Termo  de  cirurgia, 
e  veterinária.  Fita  ou  cordão  chato,  que 
se  introduz  na  pelle,  atravessando-a  em 
certa  extensão  para  promover  a  suppura- 
çào  ou  dar  saída  ás  matérias  alli  deposi- 
tadas. 

2.)  SEDENHO,  adj.  Que  tem  sedas, 
pêllos. 

f  SEDENTARIAMENTE,  aãv.  (De  se- 
dentário, com  o  suífixo  «mente»).  De 
maneira  sedentária. 

SEDENTÁRIO,  adj.  (Do  latim  sedenta- 
riusj.  De  pouca  agitação  e  movimento; 
diz-se  do  officio  ou  vida  de  pessoas  que 
trabalham  sentadas,  ou  da  de  pessoas  ca- 
seii"as  que  vivem  em  retiro  e  fazem  pou- 
co exercicio. 

SEDENTE,  adj.  2  gen.  Sequioso,  se- 
dentu. 

SEDENTO,  aJj.  Sequioso,  que  tem  sede. 

—  Figuradamente :  Sequioso,  ávido, 
que  deseja  ardentemente. 

SEDERENTO,  adj.  ant.  Sedente. 

SÈDE3,  ant.  Segunda  pessoa  do  plurar 
do  presente  do  indicativo  do  verbo  ser, 
por  Sois. 

SEDEÚDO,  adj.  Cerdoso,  que  tem  se- 
das, ou  cerdas. 

SEDIÇÃO,  s.  f.  (Do  latim  seditionem). 
Levantamento,  motim,  alvoroto,  reboliço 
contra  o  soberano,  ou  a  auctoridade. 

—  Figuradamente:  Desobediência,  su-' 
blevação,  guerra  da  parte  sensitiva  do 
homem,  contra  a  razão. 

SEDICIOSAMENTE,  adv.  (De  sedicioso, 
com  o  suffixo  «mente»).  Tumultuosamen- 
te, de  modo  sedicioso,  com  sedição  e  tu- 
mídto. 

SEDICIOSO,  adj.  (Do  latim  seditiosus). 
Que  promove,  ou  fomenta  sedições.  — 
«Forâose  depois  conquistando  as  mais 
Cidades  de  Gallilea,  a  ultima  das  quaes 
foy  Giscala,  onde  estava  por  Capitão 
hum  sedicioso,  chamado  João,  que  esca- 
pando cautelosamente  das  mãos  de  Tito, 
se  retirou  a  Jerusalém,  com  alguma  gen- 
te de  armas.»  Monarchia  Lusitana,  liv. 
5,  cap.  lo. 

—  Propenso  á  sedição. 

SEDIÇO,  adj.  Podre,  corrupto,  velho. 

—  Figuradamente :  Velho,  sabido,  tri- 
lhado.—  «Os  que  se  dão  a  este  lugar 
commum  de  conversação,  os  vejo  sogei- 
tos  a  repetir  os  mesmos  contos,  sem  con- 
siderarem que  ao  mesmo  tempo  que  se 
estão  divertindo  a  si  com  huma  das  suas 
historias  mais  escolhidas,  estão  os  ouvin- 


tes mormurando  delia,  pelo  nojo  que  lhe 
causa  a  exposição  de  huma  cousa  já  sé- 
diça.B  Cavalleiro  d'01iveira,  Cai'tas,  liv. 
3,  n.°  52. 

—  Muvels  sediços  ;  antigos. 

7  SEDIMENTA  .10,  aJj.  Termo  de  geo- 
logia. Diz-se  das  rochas  estratificadas  e 
fossiliferas,  que  foram  depositadas  pela 
agua. 

SEDIMENTO,  s.  vi.  (Do  latim  sedimen- 
tunij.  Boira,  fezes,  lixo;  parte  mais  cras- 
sa e  impura  dos  suecos  e  liquidos  que 
assenta  e  faz  pé. 

—  Termo  de  geologia.  Roclias  de  sedi- 
mento ;  rochas  estratificadas  e  fossiliferas 
que  na  sua  origem  ibram  depositadas  pela 
agua.  Esta  denominação  comprehende  to- 
da a  serie  neptuuiana. 

SEDIMENTOSO,  adj.  (De  sedimento, 
com  o  suffixo  «oso»).  Pertencente  ao  se- 
tlimento,  ou  que  participa  da  sua  natu- 
reza. 

■ — -  Crasso,  cheio,  mistm'ado,  abundan- 
te de  sedimentos. 

—  Termo  de  medicina.  Diz-se  dos  de- 
pósitos ou  sedimentos  que  se  encontram 
no  fundo  das  ourinas,  e  que  indicam  o 
caracter  das  doenças. 

7  SEDLITZ,  s.  m.  Termo  de  chimica. 
Sulfato  de  niagncsia. 

SEDONHO,  ••••.  ni.  Doença  que  ataca  os 
porcos. 

SEDORENTO.  Vid.  Sedento. 

SEDOSO,  adj.  (De  seda,  com  o  sufBxo 
«oso»}.  De  seda  ou  parecido   com   seda, 

—  Que  tem  sedas,  ou  pêllos  duros. 

—  Termo  de  chimica.  Crystaes  sedo- 
sos ;  aquelles  em  que  crystallisam  certas 
substancias. 

SEDUCÇÃO,  s.  f.  (Do  latim  seductio- 
nem).  Accào  e  eÓeito  de  seduzir,  ou  de 
enganar. 

—  Attractivos,  encantos ;  cousa  que 
seduz,  attrahe. 

SEDUCTOR,  adj.  (Do  latim  teductor). 
Que  attrahe,  e  seduz.  — -  Uma  mulher  se- 
ductora. 

—  <S.  Jii.  Pessoa  que  seduz;  diz-se  par- 
ticularmente do  homem  que  desencami- 
nha uma  mulher,  para  a  gozar. 

SEDULA.  Vid.  Cédula. 

SEDULO,  a<lj.  (Do  latim  sedulus).  Cui- 
dadoso,  diligente. 

SEDUZIDO,  /,art.  pass.  de  Seduzir. 

SEDUZIMENTO,  s.  m.  Acção,  e  effeito 
de  seduzir. 

SEDUZIR,  1-.  a.  i^Do  latim  seducere). 
Enganar,  persuadir.  —  «Vendo  a  mãy 
que  se  não  rendia  ás  conveniências  da  pes- 
soa procurou  seduzillo  com  rogos,  a  que 
satisfez  representando  as  ruínas  e  estra- 
gos, que  nos  ameaçavão  sujeitos  a  Prín- 
cipe, e  a  leys  estra-has.í  Fr.  Domingos 
Teixeira,  Vida  de  D.  Nuno  Alvares  Pe- 
reira, liv.  1. 

—  Enganar  com  arte  e  astúcia,  per- 
suadir suavemente  ao  mal,  conduzir  a 
obrar  mal  com  insinuações. 


438 


SEEM 


SEEU 


SEGA 


—  Deshonr.ar  iiiiui  nniUicr,  com  cfl):io- 
cialiiliiilo  80  cila  é  virfíííin. 

—  Eiieuntíir,   arrebatar,   oiiclier  de  il- 

SEDUZIVEL,  ailj.  2  f/iui.  (Japaz,  expos- 
to ;i  ser  stiluzklo. 

f  SEE.  Viil.  Sé.  —  «E  aos  oiizo  dias 
do  ilito  mos  de  Mayo  em  hum  l)omin{ío 
foy  o  priíicipu  baptizado  na  See  de  Lis- 
boa com  furando  scdeiDiiidadc.  E  dos  j)a- 
ços  atee  a  See  era  tudo  ricnmontc  arma- 
do, o  toldado  por  cima  <h!  ricos  panos,  e 
por  baixo  niuvto  Hmi)o  o  esj)adanado,  o 
a  See  muvto  hornamiMitada,  c  todidos  se- 
nhoreia, e  fi  lal;j;os,  sciiluiras,  donas,  e  da- 
mas hiilo  a  pó,  e  ieuaram  muytas  tochas 
apagadas,  que  a  vinda  vieram  acesas.» 
(Tareia  de  Rezende,  Chronica  de  D.  João 
II,  cap.  2. 

SEEDA,  í.  /.  Assento,  banco,  iofíar, 
posto;  estada  ou  jazida.  —  «Em  quanto 
da  seeda  noni  dom  nada.»  Capítulos  es- 
peciaes  de  Saularem.  Vid.  Seda. 

f  SEELLADO,  i>iirt.  pasi^.  de  Seellar.— 
«E  esta  pena  ajam  outro  sy  os  que  abri- 
rem nossas  Cartas  sinaladas  per  nossos 
Officiaaes,  e  seelladas  com  o  nosso  seel- 
lo,  que  som  de  desembargo  da  Justiça, 
ou  pcra  recadar  o  nosso  avcr.»  Ord.  Af- 
fons.,  liv.  2,  tit.  123,  {?  4. 

SEELLAR.   Vid.  Sellar. 

Y  SEELLO.  Vid.  Sello.  —  «Era  de  mil 
e  quatrocentos  e  trezo  aanos,  vinte  e  seis 
dias  de  May  o,  em  Santarém,  pi-esentc 
AfFonso  Domingues,  e  Vaasquo  Gonçal- 
ves Vassallos  d'ElRey,  e  do  seu  Conse- 
lho, e  de  (4il  Eannes  Vassállo,  e  Sobre 
Juiz  d'ElRoy  na  Casa  do  Civil,  que  en- 
tom  tinha  o  seello  da  dita  Casa,  e  Jo- 
bam  Lourenço  Vassállo  d'ElRey,  e  Juiz 
por  elle  na  dita  Villa,  e  (iouçalo  Domin- 
gues, Procurador  do  dito  Concelho,  e 
presentes  outros  muitos  homens  boòs.» 
Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit.  4,  i?  8.  —  «E 
as  fazer  aflirmar,  andando  jielas  casas 
rogando  outros  que  lhas  assinem,  e  de- 
pois as  fazem  assellar  aaquelle,  que  tem 
o  seello  do  dito  Concelho,  nom  seendo 
taacs  Cartas  feitas  nas  Camarás  dos  di- 
tos Concelhos,  nem  com  autoridade  dos 
Juizes,  c  homens  boòs  dos  ditos  Lugares, 
pola  qual  razom  taaes  Cartas  som  sorra- 
ticias,  e  feitas  como  nom  devem.»  Ibi- 
dem,  tit.  •J4,  i?  1. 

I  SEEMBRA.  Vid.  Sembra.  —  «E  o  me- 
nino he  de  revora  de  quatorze  annos,  e 
a  menina  de  doze  annos.  JLais  se  o  Pa- 
dre, ou  Madre,  ou  ambos  sem  seembra 
venderem  algum  herdamcnto,  antes  que 
naça  o  menino,  ou  menina,  nom  ho  po- 
derá demandar,  nem  aver  nenhuum  dol- 
les,  como  quer  que  seja  aquelle  herda- 
monto  de  sua  avoengua,  pois  que  o  ven- 
derem, ante  que  fossem  nados.»  Ord.  Af- 
fons., liv.  4,  tit.  38,  §2.  —  «E  se  o  Pa- 
dre, ou  Madre,  ou  ambos  em  seembra 
comprarem  algum  herdamcnto,  que  nom 
seja  do  sua  avoonga,  e  despois  o  vende- 


rem, nom  o  pcjs.sam  demandar  seu  fdho, 
ou  filha,  ufMi  aver  <le  tanto  jior  tanto.» 
Ibidem,  í?  :>. 

SEENDA,  K.  f.  Entrada. 

—  Figuradamente :   AdmisBao. 

SEENTE,  uiU.  de  Seer. 

1.)  SEER,  V.  n.  Vid.  Ser. — «E  esto 
se  entenda  a.ssi  cm  aquelle  peso,  e  medi- 
da, (|uo  for  maior  que  o  padrito,  como  na 
que  fôr  mais  pequena,  porque  assy  se 
pode  fazer  erro,  o  falsidade,  por  seer 
maior,  como  por  seer  mais  pequena.  » 
Ord.  Affons.,  liv.  ],  tit. .'),  §  'M).  —  «Item. 
Se  (HU-  falicimi-nto  de  cada  hum  dos  Al- 
niiraiitc.-i,  que  forem  em  estes  Regnos,  e 
o  dito  Almirantado  herdarem,  acontecer 
nom  ficar  delle  filho  barom  lidimo,  e  lei- 
go, que  decenda  do  dito  Mico  Manuel 
per  liidia  direita  lidimamente  nado,  en- 
tom  o  dito  Almirantado  com  todalas  cou- 
sas, c  direitos  a  elle  anexados,  deve  seer 
tornado  livremente  aa  Coroa  dos  nossos 
llcgnos  sem  outra  nenhunta  contenda.» 
Ibidem,  tit.  iA,  §  18. —  «Nom  esguar- 
dando  1)E<)S  nem  suas  almas  nem  o  pro- 
veito da  V'ilia,  fretavam  Naaos  per  .sy, 
nom  seendo  hy  chamados  aquelles  que 
as  carregavam,  e  poinhara  algumas  Naaos 
em  taaes  contidas,  quaaes  era  sua  von- 
tade. »  Ibidem,  liv.  4,  tit.  5,  §  3.  — 
oE  todo  esto,  que  dito  he,  ha  lugar  nos 
bens  cominuns,  que  ham  de  seer  parti- 
dos antro  a  mollier,  e  os  herdeiros  do 
marido,  ou  antre  o  marido,  e  os  herdei- 
ros da  molher,  e  em  outra  gui.~a  nom; 
ca  se  o  marido,  ou  molher  ouvessem  al- 
guns beens  feudaaes,  ou  da  Coroa  do  Re- 
gno,  ou  de  Moorgado,  ou  emprazamen- 
tos, em  que  a  molher  nom  fosse  nomea- 
da, per  tal  guisa  que  nom  tevesse  em 
ellcs  direito,  ou  em  outros  similhantes.» 
Ibidem,  tit.  12,  S  1.  —  «E  esto  foi  assy 
estabelecido  em  favor  do  matrimonio,  no 
caso  onde  foi  licitamente  feito  segundo  a 
dispoziçom  do  Direito  Canónico,  por  tal 
que  essa  molher  assy  casada  nom  podes- 
se  em  algum  tempo  seer  achaila  sem  do- 
te.» Ibidem,  tit.  18,  §  2.  —  «E  manda- 
mos que  os  nossos  Almoxarifes,  cada  hum 
em  seu  Almoxarifado,  ou  outro  qualquer, 
que  os  possa  accusar,  e  levar  a  meetade 
pêra  sy,  e  a  outra  meetade  pêra  nós,  e 
possaõ  seer  accusados,  segun<lo  pessoas 
que  forem.»  Ibidem,  tit.  2(J,  §  3.  —  «E 
querendo  nós  a  esto  accorrer  com  remé- 
dio, que  por  tal  razom  nom  venha  dis- 
córdia, nem  escândalo  antre  os  nossos  na- 
turaaes  e  Vassallos,  estabelecemos  e  pee- 
mos por  Ley,  que  qualquer  Vassállo  d'al- 
gum  dos  nossos  Vassallos  maiores,  que 
nos  ham  de  servil-  com  certas  lanças,  ou 
com  sua  companha,  se  durando,  ou  nom 
seendo  comprido  o  tempo,  que  de  servir 
ham  por  sua  conthia,  ou  maiosia  que  lhes 
dar»,  se  se  espedir,  ou  se  partir  daquelle, 
cujo  Vassállo  for.»  Ibidem,  Sb.  —  «Pêro 
que  queiraõ  viver  com  seus  Padres  e  Ma- 
dres, segundo  he  contheudo  em  as  Leyx 


de  BCUH  Antecest-ores,  geijaõ  costrangidoa 
pêra  morar  com  os  suão  ditos,  a  que  he 
dadí)  lug.-ir  que  o»  ]>õssaõ  aver;  jH;ro  que 
se  elles  quiserem  viver  de  sua  voontade, 
que  o  poMsaõ  fazer  com  quem  qui.serem 
das  8USO  ditas  [xisHoaM,  nom  seendo  pri- 
meiramente citados,  como  dito  he  em  oa- 
tros  servidores,  que  nom  teem  Padres  e 
Madres..  Ibidem,  tit.  2í»,  §  12.  —  «Po- 
ro SC  o  vendedor,  e  o  comprador  se  lou- 
vassem em  alguum  homem,  poendo  em 
«a  maaij,  que  llie.i  assine  o  pre^*o,  por 
quanto  fosse  vendida  a  cousa,  ontom  a»- 
sinailo  o  preço  per  aquelle,  em  cuja  maaõ 
o  j)uõc-,  valerá  a  venda;  e  se  este,  em 
cujo  alvidro  o  poõe,  a'<BÍna.-i8C  o  preço  des- 
aguisado,  a  saber,  muito  maior,  ou  meor 
do  (pie  a  cousa  valia,  entom  deve  seer 
corregido  o  preço  segundo  alvidro  d'ho- 
mens  boòs;  mais  se  aquelle,  em  cuja 
maaõ  posessem  a  cousa,  morresse  ante 
que  assiua-se  o  preço,  entom  nom  valerá 
a  venda. »  Ibidem,  tit.  35,  §  2.  —  «  E 
dis.serom  ainda,  que  certo  deve  seer  o 
preço,  em  que  se  acordam  o  comprador, 
e  o  vendedor,  pêra  valer  a  venda,  cá 
dizendo  o  vendedor  assy  contra  o  com- 
prador, vendo-te  esta  cousa  por  quanto  tu 
(juizares,  ou  por  quanto  eu  quizer,  tal  ven- 
da como  esta  nom  valeria.»  Ibidem. — 
«Assi  como  se  fosse  contrauto  d'aveença 
antre  dous,  ou  muito.>,  que  esperassem 
seer  per  morte  d  "algum  vivente,  que  per 
sua  morte  algum  iielles  nom  herdasse  em 
sua  herança.»  Ibidem,  tit.  G2,  §  6. 

Xain  vive  quem  vos  nara  viu, 
nem  creio  que  pode  »etr 
vcr-vos  c  poder  viver. 

CUBISrúvÃo    FALcIo,  0BKA3. 

—  Estar  sentado.  —  «Quem  bem  see 
não  se  levanta.»  Jorge  Ferreira  de  Vas- 
conecllos,  Eufrosina,  Prol. 

2.  SEER,  .«.  7)1.  Peso  de  Bombaim, 
equivalente  a  317  grammas. 

—  Peso  de  Calcuttá  e  de  Bengala, 
egual  a  847  grammas. 

SEESTRO.  Vid.  Sestro. 

I  SEETZENIA,  .«.  /".  Termo  de  boUni- 
ca.  (íencro  de  plantas  classitícido  em 
seguida  á  familia  das  zygophylleas,  cuja 
orcanisnç.To  é  muito  notável   e   anómala. 

SEEXTRO,  a,lj.  .tnt.  Vid.  Sestro. 

SEFIR,  uu  SEFER,  s.  m.  O  seendo 
mez  dos  árabes. 

—  Embaixador,  enviado  turco. 

—  Termo  de  philologia.  Nome  hebrai- 
co quo  significa  Urro  por  excelUncia; 
emprega-se  ás  vezes  para  designar  as  es- 
cripturas  sagradas. 

SEGA,  í.  /.  Acção  o  effeito  de  segar, 
ceifa. 

—  O  tempo  da  sega. 

—  Sega  tio  arado;  o  ferro  do  arado, 
que  corta  e  abre  a  terra. 

SEGADA,  í.  /.   Segadclla,   o  tempo  de 


SEGN 


SEGR 


SEGR 


439 


SEGADELLA,  s.  /.  ant.  Ceifa. 

SEGADO,  parf.  2>ass.  do  Segar. 

SEGADOR,  s.  m.  O  que  ceifa  ou  sega 
as  cearas,  os  pães  maduros,  coifador,  cei- 
feiro. 

SEGADOURO,  adj.  Propicio  para  se  cei- 
far ou  segar. 

—  Fouce  segadoura  ;  instrumento  para 
secar. 

SEGADURA,  s.  f.  Sega. 

SEGÃO,  s.  m.  Augmentatlvo   de   Sega. 

—  Ferro  que  se  ajunta  ao  arado.  Jun- 
to ao  teiró,  para  ajudar  a  abrir  a  terra. 

SEGAR,  V.  a.  (Do  latim  secare).  Cortar 
as  searas,  recolher  os  pães  maduros  ;  cei- 
far. — ■  «E  de  outro,  que  sendo-lhe  per- 
guntado pelo  moço  que  lhe  dava  de  ves- 
tir, que  vestido  queria  lhe  concertasse 
para  o  outro  dia,  lhe  respondeu :  Vai-te 
para  casa  de  teu  pai  até  que  te  mando 
A'ir ;  porque  primeiro  se  ha  de  segar 
aquelle  trigo,  que  alli  andam  semeando, 
que  eu  haja  mister  vestido.»  Francisco 
Jlanoel  de  Mello,  Carta  de  guia  de  casa- 
dos. 

— •  Ceifiir,  cortar  a  herva. 

—  Figuradamente:  Cortar  do  qualquer 
maneira,  especialmente  aquillo  que  so- 
bresáe,  ou  está  mais  alto.  —  Segar  a  ca- 
beça, o  pescoço. 

SEGARREGA.  Vid.  Cegarrega. 

SEGAVIDAS,  adJ.  2  geií.  Que  corta 
muitas  viíJas. 

SEGE,  s.  /'.  Espécie  de  caleça  ou  cor- 
ricoche,  de  um  si)  assento,  com  cortinas 
na  frente  o  antigamente  vidraça;  diz-se 
actualmente  de  qualquer  carruagem  de 
passeio,  pequena. 

Aqui  naseeo  a  Moda,  o  d'ariui  manda 
Aos  vaidosos  mortans  as  várias  formas 
Do  seges,  de  vestidos,  de  toucados, 
Do  jogos,  de  banquetes,  de  palavras. 
Único  emprego  de  cabeças  ocas. 

ANTÓNIO  DINIZ   DA  CRUZ,   HYSSOPE,   Cant.    1. 

SÉGEIRO,  s.  m.  (De  sege,  com  o  suf- 
fixo  «eiró»).  O  que  faz  seges. 

—  O  que  as  aluga. 

SEGELH...  As  palavras  que  começam 
por  Segelh...,  busquem-se  com  Sigill... 

SEGEL03,  s.  m.  piar.  ant.  iSellos  de 
sellar  cartas. 

SEGETAL,  adj.  2  gen.  Que  cresce  em 
searas. 

SEGLAE5,  adj.  ant.  Seculares,  laicaes. 

SEGLAR,  adj.  2  gen.  Pertencente  á  vi- 
da, ao  estado,  aos  costumes  do  século  ou 
do  mundo,  secular,  mundano. 

SEGMENTO,  s.  m.  (Do  latim  segmen- 
twm).  Pedaço,  porção  ou  parte  de  alguma 
cousa. 

—  Termo  de  mathematica.  Parte  de 
ura  circulo  comprchendido  entre  o  arco 
e  a  sua  corda. 

SEGNICIO,  adj.  Vagaroso,  inerte,  re- 
misso. 

SEGNILIDADE,  s.  /.  (Do  latim  segnis, 
frouxo).  Frouxidão,  inércia. 


SEGNO,  s.  m.  Termo  de  musica.  Signal, 
palavra  italiana  que  se  emprega  n'esta 
phraso  :  ai  segno ;  e  que  nas  partituras 
quer  dizer  que  se  deve  repetir  desde  o 
signal  indicado. 
"SEGONDO,  ndv.  ant.  Segundo. 

f  SEGONTIACOS,  s.  ni.  2Jlur.  Povos 
que  habitavam  a  '_Tran-Bretanha, 

f  SEGOVIANO,  adj.  Pertencente  á  ci- 
dade de  Segóvia. 

— •  íS'.  m.  O  natural  do  Segóvia. 

SEGRAL,  adj.  2  gen.  ant.  Secular,  se- 
glar. 

SEGRE,  s.  m.  ant.  Século. 

—  Adj.  2  gen.  ant.  Secular,  que  é  cou- 
sa do  século. 

SEGREDEIRO,  adj.  (De  segredei.  Que 
guarda  segredo,  que  o  sabe  guardar. 

SEGREDINHO,  s.  m.  Diminutivo  de  Se- 
gredo. 

SEGREDISTA,  s.  2  gen.  Pessoa  que  tem 
o  costume  de  cochichar,  de  fallar  em  se- 
gredinhos. 

SEGREDO,  s.  m.  (Do  latim  secretum). 
Cousa  que  se  cala,  sobre  que  se  guarda 
silencio,  que  se  não  communica  a  outrem 
ou  a  terceira  pessoa.  —  «El  Rei  de  Ca- 
lecut foi  anisado  do  segredo  desta  obra, 
do  que  se  começou  arrecear,  e  assi  todollos 
seus,  porque  per  experiência  conheciam 
ja  o  animo,  esforço,  e  industria  que  auia 
em  Duarte  Pacheco,  que  neste  tempo  fez 
algumas  entradas  pelos  rios,  e  na  terra 
firme,  em  que  queimou  muitos  lugares, 
e  tomou  quatro  paraos  dei  Rei  de  Cale- 
cut com  treze  bombardas,  de  que  fez  ser- 
uiço  a  el  Rei  de  Cochim.»  Damião  de 
Cloes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1, 
cap.  90. 

Voltasc  o  Capitão  aos  seus,  dizendo 
Aqui  me  esperareis  ate,  que  a  volta 
Com  saber  tal  segredo  seja  certa, 
Que  cu  não  tardarei  mais  que  sòs  três  dias. 

CORTE  REAL,  NAUFRÁGIO  DE   SEPÚLVEDA,  Caut.  12. 

E  O  segredo  das  canas 
das  orelhas  do  rei  Jlida, 
que  o  que  conta  anuos  de  \'ida 
pcrdel-o  em  duas  semanas, 
é  parvoíce  parida. 

ANToxio  PRESTES,  AUTOS,  pag.  259. 

—  «E  muyto  mais  altamente  que  a 
Magdalena  se  occupaua  cõtinuamente  em 
soruentissima  contemplação  da  diuindade 
de  sou  filho,  e  seus  segredos  :  os  quaes 
todos  (como  diz  S.  Lucas)  ella  conserua- 
ua  em  sua  memoria,  e  moditaua  nelles  de 
dia,  e  de  noyte.»  Frei  Bartholomeu  dos 
Martjres,  Catecismo  da  doutrina  chris- 
tã.  —  <iNam  fov  descuberto  este  segredo 
geeralmente  ao  pouo  dos  ludeus,  mas  fi- 
cou reseruado  seu  descubrimento  pêra  o 
tempo  em  que  a  sabeduria  diuinal  de 
Deos  auia  de  aparecer  nas  terras  vestida 
de  carne  humana,  pêra  abrir  ao  mundo 
os  thesouros  da  diuiua  misericórdia,  e 
sabeduria.»   Ibidem.  —  t O  qual  segredo 


com  grande  humildade,  e  agardecimento 
auemos  de  receber,  nam  presumindo  maia 
do  que  nos  he  dado,  nem  nos  parecendo 
que  neste  mundo  podemos  alcãçar  como 
isto  he,  mas  contentandonos  de  o  ter  cõ 
firme  e  viua  fé,  pêra  que  despois  desta 
vida  o  mereçamos  entender  e  ver  clara- 
ramente.  Porque  como  disse  o  Propbeta 
Isayas,  se  não  crerdes  não  entendereis.» 
Ibidem.  —  «E  despois  declarou  o  Senhor 
cm  especial  a  seus  discípulos  esta  com- 
paraçam,  dizendolhes  desta  maneyra.  A 
vos  discípulos  meus,  que  aueis  de  ser 
mestres  do  mundo  semeadores  da  iliuina 
semente,  quero  eu  descobrir  o  segredo 
daqnella  semelhança,  que  propus  ás  com- 
panhas.» Ibidem.  —  «Nós,  como  estáva- 
mos de  todo  alheyos  de  entendermos  o 
segredo  desta  novidade,  assentarão  todos 
CO  Capitão  serem  espias  da  armada  que 
ficava  atrás,  a  qual  não  tardaria  muyto 
que  não  aparecesse.»  Fernão  Mendes  Pin- 
to, Peregrinações,  cap.  47.  —  «Aqui  tão 
judicioso,  como  soldado,  discursou  douta- 
mente sobre  as  causas,  porque  ao  mar 
Roxo  foi  imposto  este  nome;  e  também  dos 
impulsos,  e  movimentos  naturaes  das  cres- 
centes do  Nilo  nas  monções  do  Estio ; 
matéria  que  desveloii  muitos  engenhos,  a 
quem  a  natureza  tantos  annos  escondeo 
estes  segredos.»  Jacintho  Freire  d'An- 
drade,  Vida  de  D.  João  de  Castro,   liv.  1. 


Zéfiro,  a  que  hum  desejo  grande  acende 
De  saber  o  segredo  do  que  ouvia, 
Invisivel  entrou  lá  onde  entende 
Qu'a  verdade  sabor  disto  podia  : 
Porem  de  ter  lá  entrado  se  arrepende, 
Porque  cm  entrando  vio  o  que  não  cria 
Que  o  Coo  para  outro  etfcito  então  creasse 
Senão  para  que  os  livres  captivasse. 

FRANCISCO  DE  ANDRADE,  PRIMEIRO  CERCO  DE   DIU, 

cant.  4,  est.  4. 

A  vinda  destes  dous  Turcos  que  agora 
Os  segredos  dos  seus  mauifestavão. 
As  mulhcros-chcgon ,  que  naquella  hora 
Também  do  trabalhar  partecipavão ; 
E  vendo  a  hum  homem  vir  da  casa  fora 
Onde  ou\-iào  dizer  que  elles  estavão, 
Hua  que  era  casada,  a  elle  se  ajunta 
E  30  estavão  lá  dentro  lhe  pergunta. 
IBIDEM,  caut.  18,  est.  79. 


—  «Forçado  da  minha  obrigação  vos 
descubro  agora  hum  segredo  que  ha  mui- 
to tempo  vos  occidto.  Hoje  faz  Justamente 
hum  mez  que  vos  conheci,  e  confesso-vos 
que  desde  aquelle  instante  vos  amo.  Se 
vos  oflFendeis  da  minha  afteição  será  cruel- 
dade. Não  ha  cousa  mais  injusta  que  a 
de  ver  hunia  bellesa  como  a  vossa  sem 
ama-la.»  Cavalleiro  d'01iveira,  Cartas, 
liv.  2,  n.°  17. 


Tu  descobriste  os  segredos, 
Que  o  Sol  escondeu  ao  mundo 
Kas  aguas  do  mar  profundo, 
Nas  entranhas  dos  penedos. 

F.  BODBIGUES  LOBO,  ÉCLOGAS, 


440 


SEOR 


SEGR 


SEGU 


D'niiti>;a,  c  doata  idado  os  Snbion  todi)i< 
Sol)ro  oa  livro.s  (;m  viio  Bo  anadipúrão 
1*01"  descobrir  »  iiiengiiito  ff/rflo  : 
Ciosa  a  Natiirciza  imlii  o  roscrva 
Dentro  da  Hiia  obsciiridadu  envolto. 
J,  A.  nv.  MACKnu,  HKniTAVÃu,  cant.  2. 

—  Acto  de  occiíltar,  do  c.-ilar  al^cunia 
conaa. 

—  Achado,  invento  nàc  conhofido  do 
publico;  receita  particular. 

Tange  o  Mundo?  náo  sabia 
tamanho  «ciireilo  iiVlle. 
Quoin  d'irt!«  iiinis  inolodia 
pelo  f|uc)  sou  taiisor  piiia 
no<  leva  elle  ao  lim  dcilc. 

ANTÓNIO   l-RRSTKS,   AUTOS,   pag.    81. 

—  «Tornuõ  lá  03  nossos  a  satisfazer 
esta  perda,  o  hc  oiitro  engano ;  porque 
com  o  que  trazem,  naõ  se  reeuperaò  os 
lavradores;  tudo  he  dos  soldailos,  que  o 
malogTaõ,  e  dos  atravessadores,  que  o 
dis.-iipaõ.  E  assim  se  vaõ  encad<?ando  pur- 
das  sohre  perdas,  (|iic  unhas  toleradas 
vai3  causando  sem  remédio;  porque  naõ 
se  deu  ainda  no  segredo  desta  espoa ja.» 
Arte  de  furtar,  cap.  56.  —  «E  quando  o 
vio  vir  com  a  espingarda  as  costas,  e 
dous  Chins  Cí\rregados  de  caça,  fez  disto 
tamaulio  caso,  que  em  todas  as  cousas  se 
lhe  enxergava  o  gosto  do  que  via,  por- 
que ciinii)  até  ontào  naqnella  terra  nunca 
se  tinha  visto  tiro  do  fogo,  nào  se  sabiào 
determinar  co  que  aíjuilio  era,  noni  cn- 
tendião  o  segredo  da  pólvora,  e  assenta- 
rão todos  que  ora  fiitiraria.»  Fernào 
Mendes  Pinto,   Peregrinações,  cap.  i;]i. 

—  Algibeira  que  se  põe  peLa  parte  de 
dentro  do  cós  dos  calções,  etc,  para 
guardar  alguma  cousa  pequena. 

—  Esconderijo  em  um  gabinete,  em 
um  cofre  .oníle  se  niette  alguma  cousa, 
com  a  qual  ninguém  atina  senão  quem  a 
escondeu. 

—  Figuradamente:  Obscuridade,  si- 
lencio, sombra  da  noite. 

—  Casa  secreta,  em  que  se  mettem 
pessoas  por  culpa  grave,  e  lhe  Vcão  fazer 
perguntas,  e  dar  tratos  para  as  obrigar  a 
confes.?ar  a  verdade. 

—  Segredo  <le  comedia;  já  sabido  de 
todos. 

—  Segredo  da  natureza;  qualquer  dos 
effeitos  naturaes  que  por  serem  pouco  sa- 
bidos, excitan»  a  curiosidade. 

■ —  Segredo  natural;  o  ipie  a  mesma 
natureza  manda  que  se  cale  e  occulte. 

—  Deitar  algum  segredo  á  rua;  pu- 
blical-o. 

—  O  jogo  dos  segredos ;  jogo  pueril 
cm  que  se  respondo  a  um  o  que  se  ini- 
via  do  rosiiondor  a  outro,  o  se  chama  os 
despropósitos. 

—  Loc.  Ai>v. :  Em  segredo,  ou  com 
segredo;  com  toda  a  reserva,  privada- 
mente, em  particular,  sem  testemunhas. 
—  «Com  tudo  cllf  so  nam  pode  embar- 
car com  tíiuto  segredo,  por  caso  de  dom 


António  de  noronha  «eu  sobrinho  mandar 
poer  fogo  a<n  almazens,  cm  que  auia 
muito  breu,  alcatrão  u  tanques  ilazeite.» 
Damião  de  ( ioos,  Cbronica  de  D.  Manoel, 
part.  '.i,  caj».  .').  —  «  K  por  iio  Príncipe 
sor  moço,  o  lhe  querer  grande  bem,  llie 
dou  o  aluarii  feyto  á  vontade  de  Nuno 
Poreyra  som  o  ninguém  saber,  o  qual 
teue  nmytos  annos  cm  segredo,  sem  ilis- 
so  dar  parta  a  pessoa  alguma,  nem  lem- 
brar mais  ao  Principe.  E  depois  qnc  foy 
alçado  por  Kev,  Nuno  Pereyra  com  o  al- 
uarii na  in.^o  lhe  vi;o  requerer  que  lho 
cumprisse.»  (iarcia  do  Rezende,  Cbroni- 
ca de  D.  João  II,  cap.  24.  —  •<>  (pml 
Dormis  I5ec  era  que  dò-im  batalha  cam- 
pal, pois  tantas  vitorias  lhe  tinha  dado 
Deos,  c  que  não  era  menos  ]«>dero80  o 
Tártaro  Xaba  Ham,  que  o  Turco,  porá  a 
esperar  delie,  dando  ainda  em  segredo 
entender  ao  Xeque  Ismael  ser  aquelle 
consellio  de  (^an  Maham  -.cl  rodeado  porá 
honra  sua,  por  se  mostrar  aos  Turcos, 
do  que  era  viziídio,  sendo  isto  em  grão 
vitupério  de  sua  pessoa  vir  de  tão  longe 
buscar  seu  indgo,  e  á  hora  de  pelejar  re- 
traher-se  disto.»  Barros,  Década  2,  liv. 
õ,  cap.  (5.  —  «E  este  negocio  mandou 
tratar  com  muyto  segredo  por  hum  Pau- 
lo de  Seixas  natural  da  villa  de  Óbidos 
que  tinha  comsigo  dentro  na  cidade,  o 
qual  em  trajo  de  Pegú,  por  não  ser  co- 
nhecido, veyo  ter  huma  noite  á  tenda 
onde  estava  o  João  Cayeyro,  e  lhe  deu 
huma  carta  do  Chaubainhaa,  a  qual  de- 
zia  assi.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregri- 
nações, cap.  148. 


Vamos,  não  vonha  alsruoin  que  aqui  nos  coute ; 
E  no  valle  as  veremos  com  xci/reth : 
Que,  SC  baõ  de  vir  cantando  já  de  noutc, 
Far-lhc-bemos  d'cntrc  os  matos  algum  medo. 

F.    R.    LOnO,   PRIMAVERA. 


—  Adágios: 

—  Quem  seu  segredo  guarda,  muito 
mal  escusa. 

—  A  quem  disseste  teu  segredo,  Hzes- 
tel-o  senhor  de  ti. 

• — •  Segredos  queres  saber,  busca-os  no 
pezar,  e  no  prazer. 

—  Dize  ao  amigo  o  segredo,  e  pôr-te- 
ha  o  pó  no  pescoço. 

—  A  teu  amigo  não  encubras  teu  se- 
gredo, que  darás  causa  a  perdel-o. 

—  Teu  amigo  é  trefo,  se  te  encobre 
seu  segredo. 

—  O  fraco  de  todos  diz  mal  cm  se- 
gredo. 

SEGREGAÇÃO,  .«.  /.  (Do  latim  segrega- 
tioiíem).  Acção  e  effeito  de  segregar,  se- 
paração. 

—  Separação  ou  apartamento  de  uma 
cousa  que  estava  entre  outras. 

SEGREGADO,  part.  pafs.  de  Segregar. 

SEGREGAR,  v.  a.  I>o  latim  segregarei. 
Pôr  de  parte,  apartar  uma  cousa  do  en- 
tre outras. 


—  Seqregar-se,  «.  refi.  Scparar-se. 
SEGUDE.  Vid.  Segure. 

SEGUIDA,  ».  /.  Acção  e  effeito  de  se- 
guir iiu  segui r-fie,  seguimento. 

—  I»c.  Aov. :  iJe  seguida ;  se(íuid*- 
meiíto,  consccutivament':  ou  cuntinua- 
mi-nto,  sem  intf'rru|ição. 

—  Km  seguida ;  logo,  em  acto  conti- 
nuo, segui'laijii-'  te. 

SEGUIDAMENTE,  adv.  (De  gegaido, 
com  o  suffixo  •  mente  •!.  Em  geguiiia. 

—  Sem  iiiteiTujx.-ão. 
SEGUIDILHA,  ». '/.,  ou  SEGDIDILHAS, 

plur.  I  )o  h<-spanhol  tegnidllln  .  Trovas 
garridas,  alegres,  lar<civas,  que  .^^)  cantam 
com  toada  similhantc,  o  com  qne  ec  bai- 
lam diversas  dança»,  principalmente  em 
Hespanha. 

—  Composição  poética  de  quatro  ver- 
sos em  fpie  o  quarto  rima  cora  o  segun- 
do, os  quaes  constam  de  cinco  syllabas, 
e  o  primeiro  e  o  terceiro  de  sete,  e  ha-os 
com  estribilho  e  sem  elle.  U  estribilho 
consta  de  três  versos;  o  primeiro  e  o  ter- 
ceiro de  cinco  syllabas  rimadas  entre  si, 
e  o  seirundo  de  sete. 

I  SEGUIDILHEIRO,  «.  m.  i  De  segu  di- 
Iha,  Com  o  suflixo  <eiro>i.  Cantador, 
dan.sador  de  seguidilhas,  pessoa  affciçoa- 
da  a  cantal-as  ou  dançal-as. 

SEGUIDO,  part.  pasa.  de  Seguir. 

F.is  o  Deos  <iue  .a  Moys;'s  inspira,  ensina, 
Author  da  Natureza,  .\uthor  de  Tudo ; 
Aos  degráos  de  seu  Throuo  a  Fé  se  clcvm, 
Vai  da  razão  lerjuida  humilde,  e  muda ; 
Filosofia  he  s<í  dócil  escrava 
Da  Luz,  que  revelada  illustra  os  homens. 

J.    A.    DE   MACEDO,   MEDITAÇÃO,  CJUlt.   4. 

SEGUIDOR,  s.  m.  (Do  thema  segne,  de 
seguir,  com  o  sufGxo  «dor>).  O  que  se- 
gue ou  acompanha  alguém  ou  alguma 
cousa. 

—  Sectirio.  partidário. 

-{■  SEGUIERIA,  s.  /.  Termo  de  botoni- 
ca.  Género  de  plantas  da  família  daa 
phyttolacc<aceas,  cujas  espécies  são  arvo- 
res ou  arbustos,  que  crescem  na  Ameri- 
ca tropic^il. 

SEGUIMENTO,  s.  m.  iDo  thema  segue, 
de  seguir,  com  o  suffixo  «mento»'.  Acçào 
e  effeito  de  seguir,  de  acompanhar,  de  ir 
após. 

—  Andamento,  progresso,  marcha,  des- 
empenho continuado  do  um  negocio. 

—  Ettou  encarregado  do  seguimento 
,7o  plell.K 

SEGUINTE,  adj.  2  gen.  (Part.  act.  de 
Seguir.  Qnc  se  segue  na  serie  on  ordem. 
—  «ELRey  Dom  Affonso  o  Quarto  em 
seu  tempo  fez  huà  Lei,  cm  a  qual  antre 
as  outras  cousas  le  contheudo  hum  Ca- 
pitulo na  forma  segiiinte.»  Ord.  Affons., 
liv.  õ,  tit.  5. —  «Ao  P>ominpo  seguinte, 
que  dobrarão  ho  cabo,  dia  de  Sineta  Ca- 
therína  XXV  de  Nouembro  chegarão  à 
auguada  de   Saõ  Bra^,   que  he  sessenta 


SEGU 


SEGU 


SEGU 


441 


legoas  (lo  cabo,  na  qual  parajera  lià  mui- 
to?, c  grandes  Elephantes,  e  muitos  bois 
mansos  e  gordos,  hos  quaes  nos  negros 
trazem  com  humas  albardilhas  de  feição 
das  castallianas,  feitas  de  taboa,  e  se  ser- 
uem  delles,  quomo  nos  dos  cauallos,  do3 
quaes  se  ha  armada  proueo,  atroquo  dou- 
tras cousas,  que  dauão  ao.s  negros  por 
elles,  e  por  carneiros,  de  que  ahi  ha  mui- 
tos grandes,  e  gordos.»  Damiào  de  Góes, 
Chroaica  de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  35. 
—  a  O  que  assentado  mandou  a  Gonçalo 
Gil  Barbosa,  que  trouxesse  ao  outro  dia 
o  embaixador  a  nao.  Do  estado,  e  poder 
do  qual  Rei  antes  que  diga  ao  que  man- 
dou este  embaixador,  tratarei  particular- 
mente algumas  cousas  no  capitulo  se- 
guinte.» Ibidem,  part.  2,  cap.  5.  —  «E 
tornando  a  Historia,  com  esta  gente  da 
ilha  da  madeira,  e  com  a  que  então  ha- 
uia  na  cidade  ordenou  Nuno  Fernandez 
as  estancias  no  modo  seguinte.»  Ibidem, 
part.  o,  cap.  12.  —  «Que  quanto  a  man- 
dar embaixador  a  el  Rei  de  Portugal  que 
o  caminho  era  longo,  assi  por  mar,  como 
por  terra,  mas  que  os  messageiros  seriào 
as  nouas  que  iriào  a  el  liei  dom  Ema- 
nuel da  guerra  que  elle  determinaua  fa- 
zer no  anno  seguinte  ao  turco.»  Ibidem, 
part.  4,  cap.  10.  —  uE  no  Capitulo  se- 
gundo da  mesma  Chronica  dei  Rei  dom 
Fedro  declara  Fernam  lopez,  que  elle 
mesmo  fez  ha  Caroniea  dei  Rei  dom 
Afonso  quarto,  onde  acrecenta  as  pala- 
uras  seguintes,  dizendo,  como  em  alguns 
luffares  deste  liuro  se  faz  mencam,  o 
qual  liuro  como  se  vè  no  contexto  da  ma- 
téria, entende  por  todalas  Chromcas  do 
regco.»  Ibidem,  cap.  38.  —  «Dos  annos 
seguintes,  1085.  e  86.  e  87.  ha  no  pró- 
prio ilosteyro  seis,  ou  sete  doaçoens,  de 
que  se  coílige  o  mesmo  cõ  eviiencia,  e 
no  anno  de  Christo,  lOSiS.  costa  que  go- 
vernava a  mesma  Cidade.»  Monarchia 
Lusitana,  liv.  7,  cap.  30.  —  «E  a  Igreja 
com  muyta  pressa  se  começou  a  seis  dias 
de  Mayo  de  mil  e  quatrocentos  e  nouen- 
ta  e  hum,  e  acabouse  o  primeiro  dia  de 
lulho  logo  seguinte,  casa  grande,  e  de 
muyta  deuaçam,  cora  muytos  ornamen- 
tos, e  muytas  imagens,  e  foy  da  inuoea- 
çào  de  N.  Senhora  Sap.cta  ]\Iaria.»  (Gar- 
cia de  Rezende,  Chronica  de  D.  João  II, 
cap.  159. 

E  no  Janeiro  do  anno 
logo  stguintc  sinaes 
espantosos  vimos,  taes, 
que  non  basta  ingeuho  vmano 
aos  boquejar  non  mais. 

IDEM,  MISCELLASEA. 

—  «  E  no  seguinte,  mandou  o  Infante 
a  hum  Diogo  Gil  homem  de  mui  bom  sa- 
ber, que  fosse  assentar  tracto  com  os 
Mouros  de  ]Meça,  que  be  doze  legoas 
alem  do  cabo  de  Gue,  e  seis  á  quem  do 
cabo  de  Nam,  tào  pouco  tempo  auia  taõ 
temeroso  na  opinião  dos  mareàtes.»  Bar- 
■íoL.  V.  —  56. 


ros.  Década  1,  liv.  1,  cap.  15.  —  «Ao 
seguinte  dia  começando  os  pedreiros  que- 
brar huns  penedos  que  estauaõ  sobre  o 
mar  junto  onde  tinhào  elegido  os  alice- 
ces  da  fortaleza.»  Ibidem,  liv.  3,  cap.  2, 

—  «  Vasco  da  Gamma  depois  que  tornou 
o  pouso  diante  desta  pouoaçào  Moçambi- 
que :  ao  seguinte  dia  em  companhia  do 
Mouro  do  recado  que  o  veo  visitar  mã- 
dou  o  escriuào  do  seu  nauio  cõ  algumas 
cousas  ao  Xeque.»  Ibidem,  liv.  4,  cap.  4. 

—  «  Por  razão  da  qual  necessidade  tinha 
elle  nesta  cidade  Adem  o  capitão  Mirâ- 
mirzan,  que  dissemos  :  o  qual  determinou 
de  a  defender,  como  fez,  e  não  entregar 
a  Affonso  d'Alboquerque,  como  veremos 
neste  seguinte  capitulo.»  Idem,  Década  2, 
liv.  7,  cap.  8. —  8  Mas  porque  para  a 
reforma  da  vida  naõ  basta  crer,  e  ver  a 
morte,  sem  também  a  ponderar:  ponde- 
rarei esta  verdade  pelas  três  considera- 
çoens  seguintes.»  Padre  Manoel  Bernar- 
des, Exercicios  espirituaes,  part.  1,  pag. 
390.  —  «  He  dom  de  Deus  e  como  tal  se 
deve  pedir  instantemente:  e  para  alcan- 
çallo  aproveitarão  as  seguintes  disposi- 
çoens.  Primeira:  aborrecer  todo  o  gé- 
nero de  mudanças.»  Ibidem,  pag.  77.- — ■ 
«  Prestes  a  Armada  de  Dom  Antaõ  de 
Noronha,  lançou-a  o  Visorey  fora  o  pri- 
meiro de  Abril:  os  Capitaens  qiie  hiaõ 
nella  saõ  os  seguintes.  Eile  no  galeão  8. 
Lourenço,  Joaò  Fernandes  de  Vasconcel- 
los,  Manoel  de  Vasconcellos,  Martim  Af- 
fonso de  Mello  Hombrinhos,  Pedro  Af- 
fonso de  Avelar,  António  Lopes  de  Oli- 
veira, o  Licenciado  Jeronvmo  Rodrigues, 
que  hia  por  Veador  da  fazenda.»  Diogo 
de  Couto,  Década  6,  liv.  9,  cap.  14.  — 
«  E  temendose  el  Rey  que  podesse  o  Ca- 
pitão tomar  mal  mandarlhe  elle  matar  o 
seu  feitor  na  volta  dos  condenados,  e  que 
por  isso  lhe  mandasse  lançar  mão  por  al- 
guma fazenda  sua  que  lá  tinha  em  Ma- 
laca, me  mandou  logo  naquella  noite  se- 
guinte chamar  ao  Jurupaugo  onde  então 
estava  dormindo,  sem  até  aquella  hora 
eu  saber  alguma  cousa  do  que  passava.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações, 
cap.  19.  —  n  Ao  outi-o  dia  seguinte  pela 
menham  nos  partimos  deste  ilneo  de  Fiu- 
gau,  e  cori^emos  a  costa  do  mar  Oceano 
em  distancia  de  vinte  e  seis  legoas,  até 
abocar  o  estreito  de  Minhagaruu,  por  onde 
tínhamos  entrado,  e  passados  á  contra- 
costa  destoutro  mar  meditterraneo,  segui- 
mos nossa  derrota  ao  longo  delia  até  junto 
de  PuUo  Bugay,  donde  atravessamos  a 
terra  fixuie.»  Ibidem.  —  «E  com  isto  se 
forão  todos  os  sacerdotes  somente  em  pro- 
cissão á  casa  deste  idolo  que  era  o  prin- 
cipal, sem  aver  pessoa  nenhuma  do  povo 
que  quisesse  yr  com  elle.s,  por  averem 
medo  de  entrar  na  cidade,  e  dizem  que 
estando  a  noite  logo  seguinte  após  este 
tremor.»  Ibidem,  cap.  96. —  «  E  fomos 
dormir  a  seguinte  norte  em  hum  lugar 
em  que  estam  duas  fermosas  carvançaras 


e  de  ricos  aposentos  c  camarás  fechadas 
sobre  si  com  frestas  e  vidraças  de  novo 
disseramnos  que  a  Raynha  moJher  do  Sufi 
as  ma,ndara  fazer  e  que  avia  pouco  tempo 
que  eram  acabadas.»  Tenreiro,  Itinerá- 
rio, cap.  14.  —  «E  ao  outro  dia  se- 
guinte me  levaram  os  Turcos  apresentar 
a  Abraem  Baxaa,  e  lhe  deram  as  cartas 
do  outro  Baxaa,  que  nos  a  elle  enviara. » 
Ibidem,  cap.  41. —  «Com  tudo  de  pre- 
zeute  experimentamos  neste  Reyno  falta 
de  gente,  assim  para  a  milicia,  como  para 
a  navegação,  e  muito  mais  para  a  culti- 
vaçaõ  da  terra;  pois  por  falta  da  gente 
Portugueza  se  servem  os  mais  dos  lavra- 
dores de  escravos  de  Guine,  e  mulatos. 
Pelo  que  apontaremos  as  causas,  porque 
neste  Reyno  falta  a  gente  do  povo,  e  da 
nobreza,  que  parece  saõ  as  seguintes.» 
Manoel  Severim  de  Faria,  Koticias  de 
Portugal,  Disc.  1,  cap.  2. —  «Sintio  o  In- 
fante esta  morte,  como  se  com  ella  lhe  ti- 
rarão a  vida,  e  moveo  guerra  ao  Pai  so- 
bre tomar  vingança  dos  homicidas,  qtie  naõ 
pode  ser  em  sua  vida,  mas  morto  elle  hou- 
ve ás  mãos  Pêro  Coelho,  e  Álvaro  Gonsal- 
ves  em  quem  fez  estranhas  crueldades. 
Ficáraõ  a  el  Rei  D.  Pedro  de  D.  Ignez  de 
Casti-o  03  filhos  seguintes.»  Fr.  Bernardo 
de  Brito,  Elogios  dos  reis  de  Portugal, 
continuados  por  D.  José  Barbosa.  —  «Foi 
esta  perda  entaõ  mui  chorada  no  Reino, 
e  as  dependências  delia  sentidas  com 
maior  dor  cm  nossos  tempos.  Casou-se  el 
Rei  D.  Joaõ  com  a  Infanta  D.  Cathari- 
na,  filha  dei  Rei  D.  Filippe  o  primeiro 
de  Castella,  e  da  Rainha  D.  Joanna,  de 
quem  houve  os  filhos  seguintes.»  Ibidem. 
— «  Passados  doze  dias,  que  na  Cidade 
nos  detiuemos,  ao  seguinte  se  ocupou  o 
nosso  lingoa  em  cobrar  sua  fazenda  pelo 
mesmo  pezo,  e  medida,  que  os  guai-das  a 
tinhão  recebido  quãdo  chegamos.»  Fr. 
Gaspar  da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da 
China,  cap.  16. — «Na  madrugada  se- 
guinte continuamos  sem  encontrar  cousa 
mais  notável  do  que  ouvir  araras,  papa- 
gaio.?, motuns  e  outras  aves.»  Bispo  do 
Grào  Pará,  Memorias,  publicadas  por  Ca- 
millo  Castello  Branco,  pag.  ISS.  —  «O 
Doutor  Greaves  que  teve  a  curiosidade 
de  faser  o  exame,  o  declara  assim  na  Des- 
cri peão  das  Pijramides  do  Egypto  em  1636 
e  se  quereis  ver  o  mesmo  em  outra  parte 
o  achareis  na  CoUeção  das  viagens  de  Mr. 
Ray.  Tom.  i,  pag.  18  onde  encontrareis 
sem  duvida  as  palavras  seguintes  do  dito 
Greaves.»  Cavíilleiro  de  Oliveira,  Cartas, 
liv.  1,  n.»  ÕO. 


Disse  o  Mouro  fiel,  e  o  Rei  Indiano 
Ao  Luso  niensageii'o  os  braços  dava, 
Julga  mais  que  mortal,  quem  do  Oceano 
Vence  a  immcnsa  extensão,  e  a  fúria  brava : 
Quer  vêr  de  perto  o  grande  Lusitano, 
E  o  conhecido  !Mouro  ;'is  Nãos  mandava  ; 
Ouvir  o  Núncio  portentoso  espera. 
Quando  o  seguinte  Sol  brilhar  na  Esfera. 
j.  A.  DE  MACEDO,  OEiEKTE,  eant.  9,  ost.  22. 


442 


SEGU 


SEOU 


SEGU 


—  Termo  do  areliitoctura.  Triângulos 
entro  arco  o  arco,  ou  uiui.s  claramcnto  «Ho 
as  engras,  que  continuani  sobro  oa  somi- 
circulos  dos  arco». 

—  Termo  de  carpentaria.  Diz-so  dos 
lados,  ou  illiarfças  do  uma  gelosia. 

SEGUIR,  V.  a.  (Do  latim  sequor,  sequi). 
Ir  depois,  camiuliar  após,  atraz  de...  — 
Seguir  altjiicm.  —  a  í^l  lliú  tomou  bem  ho 
quo  llio  Vasquo  da  Gama  foz  dizer,  e  logo 
mandou  que  cUe,  c  Fcrnaõ  Marti iiz  so 
fossem  pêra  outra  eamara,  que  cstaua 
junto  daqucUa,  seguindo  logo  trás  cllos.» 
Damiiío  do  (iões,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  1,  cap.  41. — «Dos  que  .-«e  foram 
som  licença  foi  o  Duque  do  Bragança, 
dom  Tiioodosio,  o  qual  ou  que  o  Infante 
teucsso  coramunicado  com  ellc  esta  sua 
ida,  ou  com  desejo  que  teria  de  se  achar 
em  hum  tal,  o  tão  honroso  feito  do  guer- 
ra, se  partio  do  madrugada  Devora,  se- 
guindo a  via  que  o  Infante  levava,  o  qual 
achou  cm  Arouches.»  Ibidem,  cap.  lUl. 
—  «  No  qual  tempo  ostaua  Lopo  barriga 
com  sua  companhia,  e  Iheabentafuf  com 
todolos  Alarucs  de  pazes  juntos  em  Aguz, 
onde.  lhes  deraõ  nouas  que  vinha  cl  Rei 
de  Marrocos  sobrelles,  com  tanta  gente 
de  cauallo,  quo  muitos  mouros  daquella 
prouincia  seguiaõ  o  campo,  pcra  verem 
a  gazua  que  os  dei  Hei  de  JMarrocos  auiam 
de  fazer  nos  mouros  de  pazes,  c  nos 
Ohristrios.»  Ibidem,  part.  3,  cap.  35. — 
»  Estando  assim  dcspois  de  comer  ouui- 
ram  huma  grande  grita,  pelo  que  se  po- 
seram  todos  a  cauallo  encaminhando  pê- 
ra onde  vinham  estes  que  gritauam,  que 
eram  alguns  dos  Aduares  do  Serife,  que 
se  vinham  lançar  com  os  nossos,  aos  quaes 
seguio  alguma  da  sua  gente  ate  vista  dos 
nossos  aduares,  a  quem  Lopo  barriga  jun- 
tamente com  03  mouros  de  pazes  sahio,  e 
03  seguiram  todas  estas  três  legoas.»  Ibi- 
dem, cap.  73.  —  «  Começando  cada  hum 
do  so  por  em  saluo  assi  como  a  sua  uiai 
parira,  com  tudo  hos  mais  delles,  porque 
tinham  has  lanças  tanchadas  no  ciiam,  as 
leuaram  nas  m.nos,  com  que  se  hiam  de- 
fendendo dos  mouros  que  Uies  seguiam 
mui  bem  ho  alcance.»  Ibidem,  part.  4, 
cap.  47.  —  «  í^aio  cm  terra,  leuaudo  dian- 
te a  bandeira  Real  do  que  era  alferez 
Afonso  valente,  e  tractou  o  negocio  de 
maneira  que  el  Rei  com  medo  se  acolheo, 
indolhe  os  nossos  nas  costas  matando,  o 
ferindo  muitos,  ate  que  António  correa 
lhes  mandou  que  não  seguissem  mais 
adiante  por  nam  saberem  a  terra.»  Ibi- 
dem, cap.  Õ2.  —  «  Seguio  hum  pouco  trás 
elle,  mas  conhecendo  que  o  melhor  era 
nam  ir  mais  adianto,  mandou  embandei- 
rar a  galo,  c  desparar  toda  a  artelharia, 
em  sinal  do  victoria,  do  que  os  da  terra 
ficaram  espantados.»  Ibidem,  cap.  73.  — 
«  Este  Dragonulte,  vendo-se  mancebo  es- 
forçado, a  quem  os  feitos  do  seu  pao  c 
avós  punham  cm  obrigação  de  não  pas- 
sar a  vida  ociosa,  pêra  parecer  a  cllcs, 


quiz  ir  polo  muncjo  seguir  as  aventuras ; 
e  não  se  foi  logo  á  corto  ilo  imperador 
Palmeirim,  onde  a  habitação  de  todos  es- 
tava mais  certa,  porque  desejava  primeiro 
soasse  nella  alguma  fama  do  sua»  idiiiís.  • 
Francisco  do  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  111 

Ofl  furioROS  vento»,  quo  teguirUo 
Õ  companliciro  sempre  qy^  o»  puiava. 
Tanto  que  da  priaào  goltOA  ho  virào 
Modtião  a  rtua  antiga  fúria  brava : 
Os  mansos  mares  tanto  que  «entirão 
.\q>iella  fúria  que  antes  prtHa  estava, 
Do  tal  sorte  so  vão  oinbraveccndo 
Quaté  iÍ9  nuvens  parece  ir-se  erguendo. 

F.    DE  ANDBADC,   rRIMEIBO    CKRCO   DE   DIC,  Cftllt. 

4,  est.  20. 


Oh  !  que  scena  de  languidos  praierca, 
Que  paraizo  de  deleite,  ó  Vcuus ! 
Pelo  travesso  filho  assctt-adas 
A»  esquivas  nereidas  suspirando, 
Sejiiem  a  bcUa  deusa,  que  pronictte 
A  suspirar  tam  doce  um  doce  premio. 
GARBtTT,  CAUÕE3,  caut.  8,  cap.  13. 


A  que  fim  se  encaminha,  e  quaes  8'cncontrem 
As  desgra(;a»,  ou  bens  na  incerta  vida. 
Perfeita  mo.stro  a  máquina  do  Mundo, 
E  da  Verdade  ao  Templo  os  homens  levo, 
Se  ingénuos  apoz  mim  seyuem  meus  passos. 

J.    A.    DE  MACEDO,   VIAGEM  EXTÁTICA,  Cant.   2. 

—  Continuar,  proseguir.  —  «Seguindo 
assi  sua  viajem  pelo  gollaõ  que  se  faz  da 
costa  de  Melinde,  ata  ha  do  Malabar,  a 
huma  sesta  feira  xvij,  dias  de  Maio  vi- 
rão huma  terra  altíi,  ha  qual  o  piloto  Ca- 
uaqua  não  pode  bem  conhecer,  por  o  tem- 
po andar  eucuberto  com  chuneiros.»  Da- 
mi.ão  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  1,  cap.  38.  —  «Da:^  outras  três  nãos 
que  hiam  debaixo  da  sua  capitania  eram 
eapitaens  Gonçalo  de  sousa,  Hierouymo 
Teixeira,  e  loaõ  Nunez,  com  as  quaes 
partio  de  Lisboa  aos  cinco  dias  Dabril 
de  M.  D.  viij,  seguindo  sua  viagem  foi 
ter  aos  Medãos  do  ouro  aos  xx.  de  lu- 
Iho,  onde  se  veo  encontrar  com  elle 
Duarte  de  Lemos,  que  hia  por  sota  c.i- 
pitão  de  (ieorge  Daguiar,  de  quem  tica 
ja  feita  mençam.»  Ibidem,  part.  3,  cap. 
1,  —  «Acabada  a  tormenta,  seguindo 
sua  viagem  tomou  outra  nao  de  Cambaia 
que  hia  para  Malaca,  e  da  parajem  don- 
de se  esta  tomou  ate  a  ilha  de  çamatra 
tomou  outras  três  de  Cambaia,  que  tam- 
bém hiào  pêra  Malaca,  todas  carregadas 
de  muita,  e  rica  roupa.»  Ibidem,  c;ip.  17. 
—  «Item.  Quo  llie  pedia  outro  seguro  ge- 
ral pêra  quacsquer  nãos  que  viessem  da 
Índia  a  tratar  em  Ormuz,  que  sendo 
achadas  no  mar  de  seus  capitães,  lhe  n.ão 
fosse  feito  damno,  e  as  deixassem  liurc- 
meutc  seguir  sua  viajem.»  Ibidem,  cap. 
G6. —  «Feito  este  estrago  nos  que  acha- 
ram pela  Cidade,  seguindo  o  c^iminho  de 
Pam  em  busca  do  outro  ramo  de  gente 
quo  hia  já  diante   desta,  foram   matando 


nelles  t6  chegar  á  Cidade  Pam,  onde 
o  Governador  estava  cercado  do  Poyoá 
de  Lugor,  que  (como  dissemoB)  estava 
esperando  por  estes  seus  que  ficavam 
mortos.»  Barros,  Década  2,  liv.  6,  capi- 
tido  1. 


«  OiaSf-lhe,  senhora,  querein  compaidiia? 
I>i»»i!-mc,  Escudeiro,  «'//'/í  vossa  vi».  • 
Senhor,  o  almocreve  hc  uqacUc, 
Que  os  chocalhos  ou(;o  cu  : 
Este  hc  o  facto,  senhor. 

GIL  VICE.NTK,   rAB<,-A8. 


—  «Partido  Florendos,  de  quem  se  fal- 
lará  a  seu  tempo,  a  donzella  de  Trácia, 
que  não  esperava  mais  que  a  disposição 
de  Palmeirim  pêra  também  seguir  seu 
caminho,  vendo  que  já  e.ntava  pêra  o  po- 
der fazer,  um  dia  ante  o  imperador,  c 
em  presença  dos  mais  de  sua  corto,  lhe 
disse.»  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
d'Inglaterra,  cap.  9.^. —  «E  crendo  que 
o  palafrcm  poderia  tomar  contra  o  seu 
castello,  perdida  toda  outra  esperança, 
seguiram  aquellc  caminho;  c  chegaram 
a  elle  a  horas  de  ve-ipora,  onde  além  de 
não  acharem  a  donzella,  acharam  o  cas- 
tello acompanhado  de  quatro  cavalleiros, 
que  Filistor  mandara  pêra  guarda  delle.» 
Ibidem,  cap.  105.  —  «Porque  ha  muito 
que  se  já  não  fallou  em  í'loriano  do  De- 
.verto,  deixa  a  historia  de  contar  de  Pal- 
meirim, que  seguia  seu  caminho  na  via 
de  Constantino|>la,  e  torna  a  elle;  quo 
depois  de  acabada  a  coroação  do  impe- 
rador Vcrnao,  partidos  da  corte  elle  e 
muitos  outros  cavalleiros  que  a  isso  fo- 
ram presentes,  a  seguir  as  aventuras,  ca- 
da um  onde  sua  vont.ide  o  levava.»  Ibi- 
dem, cap.  lOG.  —  «Aqui  deixa  historia 
de  fallar  nelle,  polo  fazer  de  Florendos, 
que,  seguindo  a  via  do  castello  d'Almou- 
rol.  entrado  já  no  reino  d'Hespanha,  on- 
de fez  algumas  cousas  notjiveis  e  dinas 
de  memoria,  que  em  as  chronicas  anti- 
gas dos  reis  estão  escriptas,  antre  aa 
quaes  não  teve  pequeno  quinhão  o  prin- 
cipe  Floramão. »  Ibidem,  cap.  108. — 
«Deixamlo  o  cavallo,  s.i  ci>m  as  armas  se 
metteu  dentro,  seguindo  a  via  da  Ilha 
de  Colambar,  que  naquelle  tempo  era 
bem  nomeada  poios  gigantes  que  a  se- 
nhoreavam, e  antes  de  sua  morte  ne- 
nhum navio  ousava  aportar  n'ella,  que 
além  das  pessoas  ter  risco  da  vida.  oa 
tributos  eram  incomportáveis.»  Ibidem, 
cap.  115.  —  «E  seguindo  seu  caminho, 
chegou  a  huma  serra  que  se  chamava  ] 
Pommitay,  onde  se  alojou  aquella  noite,  j 
e  ao  outro  dia  pela  menham  se  partio, 
caminhando  algum  tanto  ra.iis  aprossadoj 
para  poder  chegar  com  de  dia  ao  Pequim,! 
que  era  daly  sete  logoa5.»  Fernão  Meu 
(les  Pinto,  Peregrinações,  cap.  120. 
«E  chegado  ao  rio  de  B-iguetor,  que  hi 
hum  dos  três  que  atrás  disse  que  s-icin" 
do  lago  de  Famstir  no  rcyno  da  Tarta- 


SEGU 


SEGU 


SEGU 


443 


ria,  o  passou  da  outra  parte  em  laulees 
6  jangaas  de  remo  que  lhe  ja  aly  tinhào 
prestes,  e  uellas  segiiio  seu  caminho  pelo 
rio  abaixo  até  hum  lugar  graude  que  se 
chamava  Natibasoj-,  onde  desembarcou 
ja  quasi  noite  sem  fausto  nenhum,  u  Ibi- 
dem, cap.  131.  —  «E  ordenada  ai}- hu- 
ma  igreija  para  se  doutrinarem  os  nova- 
mente convertiilos,  nos  tornamos  ao  jun- 
co, onde  embarcados  demos  logo  á  vella, 
e  seguimos  nossa  derrota  na  volta  de 
Tanauçarim,  onde  esperava  de  achar  o 
Lançarote  Guerreyro  e  os  seus  compa- 
nheyros  para  tratar  com  elles  o  negocio 
que  atrás  tenho  dito.»  Ibidem,  cap.  146. 

—  «Feita  esta  diligencia  seguimos  daquy 
nosso  caminho,  e  passados  nove  dias  che- 
gamos á  barra  de  ilartavâo,  huma  sesta 
feyra  de  Lazaro  vinte  e  sete  de  Março 
do  anno  de  Õ45  tendo  passado  por  Ta- 
nauçarim, Tovay,  Jlerguim,  Juncay,  Pul- 
lo  Camude,  e  Vagaruu,  sem  em  nenhmu 
destes  portos  achar  nova  destes  cem  Por- 
tugueses que  hia  buscar,  porque  a  este 
tempo  erão  lançados  lá  dessa  parte  do 
Chaubainhaa  Rey  de  Mai-tavão.»  Ibidem, 
cap.  147. —  «O  Visorey  foy  seguindo  sua 
derrota  atè  Còchim,  aonde  de  passagem 
deu  despacho  a  algumas  cousas,  e  par- 
tindo dalli  dobrou  o  cabo  do  Camorim,  e 
atravessou  a  Ceilaõ,  aonde  chegou  em 
breves  dias.»  Diogo  de  Couto,  Década  6, 
liv.  9,  cap.  16.  —  «Os  que  licauào  em  ter- 
ra saudosos  de  cos  verem  partir ;  Cerra- 
ra I  os  olhos  por  nos  nào  verem  cami- 
nhar; e  nôs  abrimos  os  nossos,  porque 
nào  nos  fartauamos  de  os  ver.  E  assi 
com  agoa  nelles,  e  magoa  no  coração, 
fomos  pela  costa  seguindo  nossa  derrota, 
engolfandonos  de  tal  maneira,  que  mais 
05  não  vimos.»  Fr.  Gaspar  da  Cruz, 
Tratado   das   cousas   da  China,    cap.    õ. 

—  oAquella  noyte  ceamos  todos  de  par- 
çaria,  com  grande  alegria,  e  festa,  e  an- 
te manhaà  despedido  o  Capitam,  e  os 
seus,  depois  de  os  contentarmos;  largan- 
do a  vela  seguimos  r.ossa  jornada,  e  dali 
a  dous  dias,  que  foy  hum  Domingo  de- 
zoyto  de  lunho  auendo  mays  de  mes  e 
meyo,  que  sahiramos  de  Mombaça  che- 
gamos a  Ormus.»  Ibidem,  cap.  10. 


Com  vivas  cores  debuxada  vejo 
A  multi-forme  Boreal  Aurora, 
Mairan  seguindo  os  cálculos  profundos. 

J.  X.   DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Cant.    1. 

Seu  curso  vai  se<fuindo.  e  lhe  levauta 
Perdurável  Troféo  na  douta  Historia, 
Que  ha  de  durar  por  certo  era  quanto  o  rio 
Ao  mar  correndo  fõr,  lavando  os  muios 
De  tão  vastas  Metrópoles  fastosas. 
IBIDEM,  caut.  4. 


—  Acompanhar ;  ir  em  companhia  de 
alguém,  andar  com  elle.  • —  «Assentado 
que  fosse  Isuno  vaz  o  que  auia  de  afer- 
rar  Mirhocem,   passaramse  pêra  sua  nao 


loam  Gonçaluez  de  Castel  branco  de 
Coimbra,  António  de  sousa  de  Santarém 
hum  filho  de  Emanuel  paçanha^-e  loaõ 
Gomez  cheira  dinheiro,  e  outros,  e  pêra 
a  nao  de  George  de  mello,  que  auia  de 
seguir  Nuno  vaz,  se  passou  Fernam  pe- 
rez  danJrade,  e  Simào  daudrade  seu  ir- 
mam  se  passou  pêra  a  de  Francisco  de 
tauora  seu  cunhado.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  2,  cap.  39. 
—  «A  estes  que  ciJiuetiam  a  pe,  seguiam 
alguns  de  cauallo  que  os  animauam  entre 
os  quaes  auia  hum  acubertado,  que  como 
pessoa  principal  os  mandaua  a  todos.» 
Ibidem,  part.  3,  cap.  12.  —  aOs  quaes 
quinze  com  o  que  aleuautaram  seguirão 
liraz  da  sylua  que  tomara  o  caminho  dos 
Aduares  do  valle,  segundo  lho  mandara 
dom  Xuno,  e  sem  saberem  per  onde  liiam, 
porque  o  perderão  de  vista,  eucaminiia- 
ram  pêra  hos  três  aduares  que  estauã  no 
outeiro.»  Ibidem,  part.  4,  cap.  44.  — 
«Aos  quaes  Afibnso  d'Alboquerque  ao 
tempo  de  sua  chegada  reeebeo  com  hon- 
ra, e  gazalbado,  e  per  elles  houve  do  es- 
tado d'EiRey,  e  como  hia  tào  desbarata- 
do, que  o  nào  seguiam  mais  que  té  cin- 
coenta  homens,  e  cem  mulheres,  e  fazia 
seu  caminho  em  Elefantes  na  volta  de 
Fam  em  busca  do  genro  que  houvera  de 
ser.»    Barros,   Década  2,  liv.  6,  cap.  6. 


Pede  ao  Eey  que  se  torne,  e  leue  toda 
Quanta  gente  de  guerra  alli  o  seguia. 
Que  somente  Lhe  deLse  os  que  versados 
Xa  passada  do  Eio  saõ  mais  certos, 
Que  assi  quer  embarcar,  inda  que  sabe. 
Que  está  dos  seus  e  delle  a^sas  seguio. 

COBTE  BEAI, ,  NAUFRÁGIO  DE  SEPÚLVEDA,  Cant.    1-1. 


—  « Por  certo,  disse  Floriano,  bem 
pôde  acontecer  o  que  quizer,  mas  já  eu 
hei  de  chegar  ao  cabo  com  esses  medos : 
e  despedindo-se  de  Palmeirim  e  Pompi- 
des,  que  o  quizeram  seguir,  se  foi  só  traz 
o  corpo,  que  nas  audas  ia,  desejoso  de 
vèr  o  fim  das  palavras,  que  lhe  o  escu- 
deiro dissera.»  Francisco  de  Moraes,  Pal- 
meirim dlnglaterra,  cap.  76. —  «Vossa 
filha  eu  a  vi  ir  contra  aquella  parte  dos 
arvoredos;  e  parece-me  que  não  deve  ser 
longe :  por  isso  deixemos  os  mortos,  e 
vamos  traz  ella,  e  onde  mais  quizerdes ; 
que  em  quanto  o  medo  vos  acompanhar, 
eu  vos  seguirei  té  que  vos  pareça  que 
estaes  segura.»  Ibidem,  cap.  lOõ.  — 
«Alli  mettida  em  uma  carreta  toldada  de 
pannos  a  levaram  ao  navio,  acompanha- 
da de  algumas  donas  suas  criadas,  que  a 
pé  e  em  cabello  a  seguiam  com  tama- 
nhos gritos  e  palavras  tào  piedosas,  que 
até  no  coração  daquelles,  que  delia  rece- 
beram escândalo,  criava  dor  e  lastima.» 
Ibidem,  cap.  119.  —  «Porque  como  vi- 
rão hir  os  primeiros  em  desbarato,  logo 
todos  se  passarão  da  outra  baiida  do  Es- 
treito, que  eraÕ  terras  de  Bisme  Xaique, 
bum  vassallo  do  Rev  de  Canarà.  Manoel 


Rodrigues  Coutinho  mandou  também  pas- 
sar sua  mulher,  e  filhos,  e  elle  com  os 
que  o  seguirão  também  o  fizeraõ.»  Dio- 
go de  Couto,  Década  6,  liv.  10,  cap,  9. 

Traz  ElEei  me  quero  ir,  porque  apressado 
Me  foge,  com  ligeiro  curso  leve, 
O  qual  vendo-se  ja  desaffiiontado 
Dos  três  que  antes  na  sua  fusta  teve, 
E  o  soccorro  que  então  lhe  era  chegado 
Que  as  fustas  que  o  seguiào  lhe  deteve, 
Coa  presteza  que  o  medo  lhe  ensinava 
Lá  dii-eito  á  Cidade  caminhava. 

FBAXCISCO    DE    ASDBADE,    PBllIEIRO    CEBCO  DE  DID, 

cant.  7,  est.  71. 

—  «Se  estamos  sós,  senhor  X.,  hei  de 
contar  a  v.  m.  uma  historia  de  mancebo, 
que  ouvi  em  Barcelona.  Havia  alli  um  fi- 
dalgo casado  de  pouco,  cujo  nome  era 
Mosen  Grallia.  Passou  o  imperador  Car- 
los V.  para  Itália,  e  o  seguiu  este  cata- 
lão a  despeito  de  sua  mulher  moça,  for- 
mosa, e  honrada.»  Francisco  Manoel  de 
Mello,  Carta  de  guia  de  casados. 

—  Professar  ou  exercer  alguma  scien- 
cia,  arte,  etc. 

—  Proseguir,  continuar  com  perseve- 
rança um  pleito  ou  negocio,  tratar  d'elle, 
ou  manejal-o  com  diligencia.  —  Segue 
cam  rancor  o  pleito  que  elle  tem  viovido. 
—  «E  no  caso,  bonde  o  vendedor,  que 
foi  nomeado  por  autor,  como  dito  he, 
nom  quis  defender  a  demanda,  e  este 
que  o  nomeou  seguio  o  preito  em  Juizo, 
e  o  veenceo  per  sentença,  será  theudo  o 
vendedor  a  compoer  ao  comprador  toda- 
las  custas,  e  despesas,  que  fez  no  prose- 
guimento  da  dita  demanda,  despois  que 
o  nomeou  em  Juizo,  como  dito  he.»  Ord. 
AfTons.,  liv.  4,  tit.  59,  §5.- —  «E  ainda 
Dizemos,  que  no  caso,  bonde  o  deman- 
dado em  Juizo  por  alguà  cousa  se  cha- 
masse a  autor,  e  o  nomeasse,  e  citasse, 
que  o  viesse  defender,  e  esse  nomeado 
por  autor  nom  quisesse  vir  a  defender  o 
demandado,  ainda  que  esse  reeo  deman- 
dado seguisse  fielmente  a  demanda,  e 
apellasse  da  Sentença,  e  seguisse  a  apel- 
laçom,  etc.»   Ibidem,  §  6. 

—  Ser  sectário,  seguidor  de  alguém, 
ser  da  sua  opinião  ou  partido.  ■ —  «Se- 
guem a  mesma  opinião  Christiano  Ma- 
seu.  Santo  Antonino,  Joachimo  Perionio, 
George  Venero,  Egidio  Çamorense,  Ta- 
rapha,  Figuerola,  Philippo  Bergomense, 
Theodulo,  Gerardo  Matbisio,  e  outros 
muvtos  que  deyxo  por  naõ  casar  os  Lei- 
tores cõ  tantas  alegações.»  Monarchia 
Lusitana,  liv.  5,  cap.  7.  —  «Ataces  Rey 
da  Lusitânia,  inda  que  na  verdade  fosse 
Cliristào,  todavia  seguia  a  seita  dos  Ar- 
rianos,  o  qual  destruhio  a  antiga  Cidade 
de  Coimbra,  e  a  tomou  a  edificar  junto 
do  Rio  Mõdego,  á  custa  do  trabalho  e 
suor  dos  naturaes  da  terra,  e  de  muitos 
servos  de  Deos,  e  ao  tempo  que  estava 
mais  ocupado  na  obra,  sobreveyo  Her- 
meuerico,   Rey  dos  Suevos,   que  andava 


444 


,SE(ilU 


SEOU 


SEGU 


da  outra  parle  do  llio  Douro.»  Ibidem, 
liv.  (5,  cap.  ò.  —  «O.s  quo  seguiaõ  a  par- 
cialidado  <lo  Ali  olcg-éraõ  om  suu  lu^ar 
llaíceu  «t!U  jilho  mais  vullio,  que  por 
neto  do  Maloina,  o  inuy  neiuelliãte  a  cllo 
na  lilo-toiíiia,  ora  beui  quisto  e  amado  do 
todos,  e  portto  quo  Moavia  »o  aclias.se  po- 
deroso para  llic  dar  batalha,  todavia  so- 
bro o.stuve  tomoroso  do  succosso  delia.» 
Ibidem,  liv.  O,  cap,  30.  —  «E  outros 
chauialos  Einozaidi  nito  iiccoltaiu  muitas 
cousas  do  Alcorão  do  Mahainod,  os  (piaes 
seguem  o.sta  doutrina  de  Zaidi,  que  foi 
neto  do  lloeen  se;(undo  tillio  de  Alie,  e 
estes  Mouros  são  aqucUes,  ijue  Iiabitauí 
toda  a  terra  do  Preste  João,  e  costa  de  Me- 
linde.B  liarros,  Década  2,  liv.  10,  cap.  6. 
—  «A  cujas  palavras  todos  os  outros  bon- 
zos fizerão  o  mesmo,  de  maneyra  que  lo- 
f;'o  aly  o  matarão  ;ls  pedradas,  e  lan(,'an- 
doo  no  rio,  a  corrente  da  a<;oa  se  deteve 
tãto,  quo  em  ospa(;o  de  cinco  dias  que  o 
santo  corpo  esteve  no  rio  nunca  elle  cor- 
roo para  baixo,  com  a  qual  maravilha 
seguirão  entaõ  muytos  a  ley  daquelle 
homem,  do  que  ainda  avia  por  aquclia 
terra  huma  í;;rande  quantidade.»  Fernão 
Mendes  Finto,  Peregrinações,  cap.  96.  — 
«E  cm  todas  as  qualidailes  de  pessoas 
que  conheci,  sou  da  opinião  que  seguem 
03  meus  Naturaes,  e  assento  em  que  o 
crime  cometido  pela  molher  sendo  sem- 
pre vergoulioso.»  Cavallciro  d'01iveira, 
Cartas,  liv.  1,  n."  12.  —  «Elles  que  fa- 
sem  Tcrdadeyramente  numero  muito  gran- 
de, e  nuiito  famoso  no  Mundo,  seguem  a 
opinião  de  Marcial,  tendo  a  contraria  em 
conta  de  erro  crasso,  e  por  consequência 
de  defeito  grande.  A  qualquer  dcUes  que 
V.  M.  consultar  achará  iirmc  neste  pare- 
cer, e  achará  quo  não  somente  lho  defen- 
de como  faseuda  de  ley,  mas  que  he  ca- 
paz de  lho  faser  crer  como  artigo  de  íé. » 
Ibidem,  liv.  3,  n.°  13. 

—  Figuradamente:  Perseguir,  acossar; 
ir  em  busca  ou  alcanço  com  instancia  e 
empenho  de  render  ou  molestar.  —  «Mas 
vendo  os  poucos  que  eram,  e  que  os  do 
campo  acoiliain  aos  quo  elle  seguia,  fez 
volta  perà  villa,  na  (jual  foi  mui  mal 
tratado  dos  Mouros,  porque  lho  mataram 
alguns  cauallciros,  e  feriram  muitos  e  a 
elle  com  huma  lança  darrcmesso,  que  lhe 
passou  hum  coxete,  com  tudo  chegou  on- 
do  estauam  os  que  deixara  na  villa  ve- 
lha.» Damião  de  Goos,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  1,  cap.  .^0.  —  «Porque  os 
sete  mouros,  com  muitos  outros  quo  os 
defendiam  foraõ  mortos,  o  todos  desbara- 
tados, e  o  capitam  o  primeiro  que  fugio, 
dos  quacs  seguindo  os  nossos  o  alcanço 
ganharam  o  baluarte,  e  juntamente  entra- 
ram na  cidade  demvolta  com  os  vencidos, 
em  que  foi  tamanho  o  mado,  que  nenhum 
dos  que  se  pode  acolher  ficou  nella.» 
Ibidem,  liv.  2,  cap.  i\S.  —  «E  logo  dahi 
a  poucos  dias  os  mouros  alarnes  da  co- 
marca   vieram    correr    por   trei    vezes  o 


campo,  a  quo  lhes  os  nossos,  que  eritaò 
podiaõ  ser  ato  ciucocnta  de  cauallo,  saí- 
ram com  alguns  de  pê,  o  os  seguiram  da 
primeira  vez  ato  os  azambugeiros,  onde 
matarão  triis,  dos  quaes  os  dous  derribou 
Lopo  13arriga,  c  (jceorgo  da  Maia,  o  ter- 
ceiro, o  das  outras  duas  vezes  lhe  saí- 
ram tauibcni,  cm  que  matarão  alguns  del- 
Ics,  de  que  sempre  coube  a  fjo])o  Barri- 
ga hum,  porque  como  esforçado  cauallei- 
ro,  cm  todalas  cousas  om  (|uc  se  achou, 
se  foi  sempre  hum  «los  primeiros.»  Ibi- 
dem, cap.  18.  —  «Neste  tempo  eram  já 
chegailos  os  Malabares,  sem  os  Oanarins, 
os  quaes  vendo  os  imigos  desbaratados 
juntamente  com  os  nossos  os  seguiaõ  as 
frechadas,  fazendoos  espalhar  do  huma 
parte  pêra  a  outra,  em  que  moiTcram 
dclles  as  frechadas,  espiugardadas,  c  cu- 
tiladas mais  de  trezentos.»  Ibidem,  cap. 
20.  —  «Estes  voltarão  contrelle  cora  mui- 
to animo,  c  lhe  matarão  hum  homem  de 
cauallo,  mas  Lopo  barriga  deu  nelles,  e 
03  arrancou,  seguindoos  ate  os  mcsturar 
com  os  que  hiam  diante,  entre  os  quaes 
todos  se  trauou  a  pelleja  de  maneira  que 
foi  necessário  acodir  dom  Afonso  com  a 
gente  que  com  elle  iicara,  e  assi  Ihea- 
bentafuf. o  Ibidem,  cap.  G9.  —  «Do  que 
o  logo  anisou,  que  vendo  que  as  cousas 
se  lhe  endereçauam  como  dcscjaua,  dei- 
xou poer  03  nossos  atalaias,  dos  quaes  o 
primeiro  que  descobrio  os  mouros  foi 
íoam  mealho,  que  logo  começaram  a  se- 
guir mas  elle  por  ter  bom  cauallo  se  lhe 
acolheo.»  Ibidem,  liv.  4,  cap.  29.  — 
«Nesto  alcance  derubaram  os  nossos  hum 
mouro,  e  sem  se  enformarem  deile,  que 
tam  açodados  hião  passarão  adiante,  ate 
irem  dar  na  cilaiLi,  donde  Molei  habraem 
sahio  cora  sua  gente,  seguindo  os  nossos 
ate  o  porto  cm  que  mataram  dezaseto  de 
cauallo.»  Ibidem.  —  «Os  quaes  em  os 
vendo  se  recolheram  nas  bestas  que  ti- 
nham de  carga  dando  gritos,  e  apupos 
com  que  os  que  andauaò  espalhados  pela 
várzea  se  poseram  a  cauallo  recolhendos- 
sc  pêra  a  villa,  hos  mouros  que  vinham 
diante  seguiram  estes  quo  andauaõ  a  le- 
nlia  ate  atalaia  Ruiua.»  Ibidem,  cap.  76. 
—  «E  os  que  mais  seguiram  este  alcan- 
ço, foram  o  Capitão  Manuel  da  Cunha, 
Fernão  Corrêa,  Pêro  Quaresma,  e  Braz 
Bocarro,  e  assi  lhe  ficou  o  braço  mais 
cansado.»  Barros,  Década  2,  liv.  6,  cap. 
8.  —  «E  não  sabendo  determinar  quo 
poderia  sor,  cnlazou  o  elmo  cora  desejo 
de  os  seguir.  A  este  tempo,  pola  mesma 
rota  dos  outi'Os,  veio  um  eavalleiro  que 
trazia  mais  vagar  por  causa  do  cavallo, 
que  lhe  cmanquecèra  ro  caminho.»  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  104.  —  «Segue-o,  o  pcrsegue-o  ate 
nam  poder  mais,  (jue  nam  sendo  podero- 
sa a  justiça  secular,  nem  ecclesiastica  da 
cidade  pêra  prender,  nem  deí.jr  os  ailul- 
tcros,  que  se  faziam  á  vela,  cllo  mesmo 
SC  embarcou  a  lhes  fazer  granes  reque- 


rimentos da  parte  do  Ucy  eterno,  a  quem 

imnca  aiguem  fugio  nem  r'!SÍ8tio. »  Luce- 
na, Vida  de  S.  Francisco  Xavier,  liv.  G, 
cap.  IM.  —  «(J  (jovernador  a  entrega  a 
Luiz  Falcão.  Embarca-se,  e  dainnos  que 
faz.  Compaixão  do  Governador.  Paca  a 
Baçaim.  Sente  n.^o  se  tomar  Siirrate. 
Lembra  a  el  Rei  ou  que  servirSo.  Torna 
o  IJidalcão  com  guerra.  O  Capitilo  de 
(Joa  lhe  quer  sahir.  A  Cidade  o  encon- 
tra. Avisa  ao  Governador.  Embarca-.-<e 
logo.  Avista  Dabul.  Sah»}  \).  Álvaro  em 
terra.  <)  ííoveriiador  o  segue,  e  toma  a 
(JiJade.  Chega  a  .\'.'ai.aiiii. »  .Jacintho 
Freire  d'Andrade,  Vida  de  João  de  Cas- 
tro, liv.  4.  — «NavegarSo  oito  dias  sem 
encontrar  a  armada,  e  chegiidos  a  huma 
Ilha  tiveram  novas,  que  o  inimigo  esta- 
va ancorado  cm  Queda,  viagem  de  dous 
dias.  Determinou  D.  Francisco  passar 
avante;  porém  os  soldados  se  amotinarão, 
dizendo  que  era  do  Capitão  bisonho  se- 
guir a  quem  fugia ;  que  os  bastimentos 
cstavão  já  acabados;  que  ellea  não  bião 
a  peleijar  com  a  fome;  e  que  se  o  regi- 
mento do  Capitão  Mor  se  estreitava  a 
dez  dias,  melhor  era  a  obediência,  que  a 
victoria.»  Ibidem.  —  «Soube  o  Governa- 
dor, que  os  Mouros  erão  recolhidos  a 
Pondá,  onde  estavão  abrigados  com  a  ar- 
telharia  do  seu  forte :  alguns  Capitães 
forào  de  parecer  que  o  Governador  não 
seguisse  o  inimigo,  qi:o  fugia.*   Ibidem. 


Porem  C0!n  quanto  ElRci  tão  longe  ir  vejo, 
Huin.i  fusta  das  nossas  que  o  sajuia 
Ajudada  da  pressa  c  do  desejo 
Se  igualou  com  aquelle  que  fupa : 
Chcga-lhc  juntamente  neste  cns<yo 
O  ligeiro  caturcm  que  o  Sousa  hia 
A  quem  na  fortaleza  lá  obedecem, 
Que  também  ódio  e  pressa  o  favorecem. 

FUAMCISCÚ  d'a!<-DRADU,  pniHEIBO  CEBCO  DE  DID , 

cant.  7,  est.  17. 


—  Figuradamente :  Imitar  alguém,  di- 
rigir-se,  guiar-se  por  elle,  fazer  alguma 
cousa  pelo  seu  exemplo. 

Si,  tem, 
eu  cuido  que  si,  que  também  as  traz. 
Segue  a  soirícnça,  que  armas  na  pai 
como  na  guerra,  parecem  tào  bem 
que  cm  fim,  paz  c  guerra  na  lingua  só  jaz. 

AKTONIO  FRKSTBS,  AUTOS,  pag.  9. 

Cuidei  que  a  velhice  honrada, 
matrona  de  gravid;ide, 
do  cousolho  da  Verdade, 
por  to  vêr  tào  derribada 
não  tfjnisse  mocidade. 
luiDEíi,  pag.  51. 

—  «O  Rey  do  qual  mandou  ha  muy- 
tos annos  a  Ternate  o  Príncipe  seu  filho 
pêra  que  trat;indo  ahi  a  Christâos,  e 
Jlouro^  tomasse  das  duas  leys  a  que  me- 
lhor lhe  parecesse,  e  elle  a  seguisse  tam- 
bém depois  com  tolo  seu  iiiipcrio.»  Lu- 
cena, Vida  de  S.   Francisco  Xavier,  liv. 


SEGU 


SEau 


SEGU 


445 


4,  cap.  14.  —  «Auimados  todos  com  es- 
tas palavras,  disseram  que  o  seguiriam 
em  tudo,  o  logo  se  puzcram  em  armas.» 
Diogo  de  Couto,  Década  4,  liv.  4,  cap. 
7.  —  «Depois  desta  victorla,  começou  a 
pregar  descubertamente  sua  secta,  e  o 
primeiro  que  se  converteo  a  ella  (ou  pê- 
ra millior  dizer)  abrio  a  porta  do  infer- 
no, por  esta  via,  íi  sua  alma,  foy  Zey- 
dim  seu  criado,  a  quem  seguirão  tantos, 
como  vemos.»  Fr.  Gaspar  da  Cruz,  Tra- 
tado das  cousas  da  China,  cap.  '20.  — 
«Por  isso  A-iara  impôs  nome  próprio  a 
todas  as  cousas;  porque  pella  particular 
Physiognomia  coniieeeo  a  natureza  de 
cada  huma  delias :  Apdlavit<£ue  Adam 
nominibus  suis  cuncta.  Sobre  o  que  dis 
com  boa  erudição  Joaõ  Federico  Helvé- 
cio ;  a  quem  hei  de  seguir  muyto  nesta 
matéria,  ]ior  tracíar  delia  sem  contro- 
vérsia com  a  melhor  noticia.»  Braz  Luiz 
de  Abreu,  Portugal  medico,  pag.  319. 


Em  Cânones  também  mettora  ousados ; 
Estea  consulta,  e  sei/nt  03  seus  dictanies, 
Para  o  orgulho  abater  de  teus  contrários. 

DINIZ  DA  CBtIZ,  HYSSOPE,  Caut.    4. 

Sejui  da  Natureza  o  aus^sto  exemplo, 
Deslumbrados  Herócs,  dai  paz  ao  Mundo: 
Do  Cco  não  veio  dádiva  maia  bclla. 
Faz  a  guerra  hum  feliz,  e  a  paz  a  todos. 

J.   A.   DE  MACEDO,  MEDIIAçlo,  Caut.    3. 

Entre  os  brutos  domésticos  dotado, 
Constíiuto  na  alieiçào,  observa,  e  seyue, 
De  seu  senhor  o  aceno,  o  movimento  ; 
Sc  he  triste,  está  sombrio,  e  se  he  contente. 
As  mesmas  aficiçõea  no  gesto  amostra. 

IBIDEM. 


—  Figuradamente:  Seguir  o  caminho; 
dirigir  uma  cousa  com  toda  a  ordem,  e 
methodo,  sem  se  apartar  do  intento. 

—  Seguir  as  bandeiras  de  alguém;  mi- 
litar debaixo  d'ellas,  pertencer  ao  mesmo 
partido. 


Aquclle  illustre  Lopo  e  valeroso 

Que  das  alcunhas  tem  Sousa  a  primeira. 

Nu  occupaijào  geral  não  he  ocioso 

Também  lhe  dá  em  que  entenda  o  grão  Silveira, 

Porque  então  hum  negocio  perigoso 

Com  a  gente  que  segue  a  sua  bandeira. 

Em  que  se  ha  de  doccupar,  lhe  põe  diante 

Assaz  aos  Portuguezes  importante. 

F.    DE     ASDHADE,   PKIUEIBO     CBKCO     DH    DID,    Caut. 

11,  est.  82. 


—  V.  n.,  ou  Seguir-se,  v.  rejl.  Vir  de- 
pois, immediatamente,  succedcr-se  uma 
cousa  a  outra,  por  ordem,  numero,  etc. 
—  a  Antre  Évora,  e  Mouzaras,  e  o  Re- 
dondo, e  Portel  estas  matas,  que  se  se- 
guem; primeirament;!  des  o  peego  do  lobo 
a  amouta  de  perichalvo ;  e  des  v  aa  ri- 
beira do  allemo  e  dhi  à  cabeça  das  fas- 
quias; e  dhi  ao  pauço  da  pedra  alçada; 
é  dhi  hindo  per  a  ribeira  da  aroeira  aa 


ribeira  de  freixio,  e  pela  ribeira  de  bem 
casa  ii  aa  mouta  da  agua,  e  des  y  ao  pee- 
go do  lobo.»  Ord.  Affons.,  liv.  1,  tit.  67, 
§  15.  —  «El  liey  Dom  Joham  de  glo- 
riosa memoria  em  seu  tempo  fez  Ley  so- 
bre as  pagas  das  moedas  antiguas,  como 
e  em  que  maneira  se  ouvessem  de  fazer 
d'hy  em  diante,  em  esta  guisa  que  se  se- 
gue.» Ibidem,  liv.  4,  tit.  1. —  «E  de- 
pois desto  o  dito  Senhor  Rey  Dom  Joham 
meu  Avoo  fez  outra  Hordenaçom  sobre 
os  afforamentos,  e  emprazamentos,  e  ar- 
reuctamentos,  e  alugueres,  e  outras  quaes- 
quer  pagas,  que  se  ouvèrem  de  fazer  per 
ouro,  ou  prata,  ou  quaesquer  outras  moe- 
das, em  esta  forma  que  se  segue.»  Ibi- 
dem, §  32.  —  «  E  depois  desto  o  dito 
Rey  acerqua  deste  passo  fez  outra  Ley 
por  Conselho  da  sua  Corte,  em  esta  for- 
ma, que  se  segue.»  Ibidem,  liv.  9,  §  2. 

—  «E  quando  assy  vaau,  e  vêem,  fa- 
zem muitos  homezios,  e  furtos,  e  outros 
maleiicios,  e  acolhem-se  aos  Regnos  ue 
Castelia,  houde  moram  e  vivem :  seguin- 
do-se  desto  aa  Nossa  terra,  e  moradoí-es 
delia  muitos  dapnos.»  Ibidem,  tit.  44, 
§  1 .  —  «El  Rey  Dom  Atiornso  o  Ter- 
ceiro de  famosa  memoria  em  seu  tempo 
tez  Ley  em  esta  iorma,  que  se  segue.» 
Ibidem,  tit.  G2.  —  «El  Rey  Dom  Juham 
da  famosa  e  excellente  memoria  em  seu 
tampo  fez  Ley  em  esta  forma,  que  se  se- 
gue.» Ibidem,  tit.  65.  —  «  E  despois 
desto  o  Virtuoso  Rey  Dom  Joham,  de 
muito  esclarecida  memoria,  acerca  deste 
passo  fez  huma  Ley  em  esta  forma,  que 
se   segue.»   lijidem,  liv.  õ,  tit.  28,  §  2. 

—  «  E  assim  se  a  dentender  do  que  dom 
Rodrigo  Arcebisco  de  Toledo  screveo  na 
sua  Clironica,  a  quem  seguem  dom  Afon- 
so de  Cartagena  Bispo  de  Burgos,  e  o  li- 
uro  velho  das  linhagens  que  dizem  que 
donna  Orraca  tilha  legitima  deste  Rei 
dom  Afonso  casou  com  dom  Raimom, 
sem  dizerem  donde  era  Conde.»  Dami,ão 
de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  4, 
cap.  72.  —  «  E  logo  se  seguia  a  Senhora 
Dona  Maria,  por  ser  íilua  de  varaõ,  e 
mais  velha,  que  a  Senhora  Dona  Catha- 
rina  sua  irmãa:  mas  excluiraò-na,  por 
defunta,  e  a  seu  iilho,  que  era  o  Senhor 
Raynuncio  Príncipe  de  Parma  por  estran- 
geiro, e  por  ficar  fora  do  gráo,  em  que 
se  admitte  representação.»  Arte  de  fur- 
tar, cap.  16.  —  «  Feita  a  mercê,  dado  o 
passeyo,  e  pagos  os  três  mil  cruzados, 
tudo  foy  o  mesmo:  mas  muito  differente 
o  que  se  seguio ;  porque  conceberão  todos 
os  Mouros  opinião,  que  aquelle  homem 
era  grande  pessoa,  e  muito  privado,  e 
valido  do  seu  Rey.»  Ibidem,  cap.  64. — 
«  Ao  depois  dessa  Capitania,  e  (jenerala- 
to,  tomara  saber,  o  que  se  vos  segue  para 
appetecer?  Segue-se  huma  Comenda  fa- 
mosa, para  ter  renda,  que  gastar,  e  com 
que  viver  na  Corte,  livre  dos  perigos  da 
guerra,  e  das  baixas  da  chatinaria.»  Ibi- 
dem,   cap.    70.  —  «  Seguirão-se    muitos 


que  os  imitarão,  e  ainda  ha  alguns  que 
03  arremedào ;  porem  depois  da  morte  de 
Esopo,  que  foi  admirável  nessa  matéria, 
creyo  que  se  perdeo  a  raça  verdadeyra, 
dos  homens  fingidores,  multiplicando-se 
somente  a  dos  fingidos.»  Cavalleiro  d'01i- 
veira.  Cartas,  liv.  1,  n.°  11.  —  «Lam- 
becius,  Bibiiothecario  que  foi  de  sua  Ma- 
gestade  Imperial,  julgou  que  se  devião 
explicar  da  forma  que  se  segue.  Bea- 
toris  Oibis,  ou  Beutoiis  getieris  humani 
Christo  Regi  tíemjjiterno.  Truino,  Cruci- 
fixo.yi  Ibidem,  n."  24.  —  «A  Segunda 
Feyra  se  determina  á  Lua  principalmente 
a  primeyra  hora,  seguiudo-se  com  esta 
ordem  supostos  os  mais  dias  da  semana 
ao  domínio  dos  outros  Planetas.»  Ibidem, 
n.°  43.  —  «Depois  de  ditos  os  oíEcios  dos 
Capitaens,  segue-se  tratar  da  qualidade, 
e  numero  dos  soldados. »  Manoel  Severim 
de  Faria,  Noticias  de  Portugal,  Disc.  2, 
cap.  7.  • — -  «  Porém  cumo  por  morte  d'El- 
Rey  D.  Feriando  se  seguirão  taõ  largas 
e  continuadas  guerras  sobre  a  successão 
desta  Coroa,  sustentando  huns  as  partes 
da  Rainha  Dona  Brites  filha  do  morto  Rey 
D.  Fernando,  e  mulher  d'ElRey  D.  Joa3 
de  Castelia,  e  outros,  as  do  Mestre  de 
Aviz,  e  Rey  D.  Joaõ  I,  de  Portugal,  foi 
tanta  a  variedade,  e  alteração  das  cousas, 
que  com  razaõ  diz  o  Chronista,  que  co- 
meçou entau  neste  Reyno,  em  certo  mo- 
do, e  sétima  idade  do  mundo.»  Ibidem, 
Disc.  3,  caj).  18.  —  «  E  caminhado  daqui 
por  diante,  se  seguem  as  terras  desertas 
da  ardente  Libia,  que  eu  agora  venho 
correndo,  e  acabam  na  primeyra  ponta 
Pyramidal,  que  foy  o  cabo  de  Guardafuy 
donde  comecey  esta  discripção,  não  me 
metendo  nunca  no  sertão  da  terra.»  Fr. 
(iaspar  da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da 
China,  cap.  7.  —  «  Deyxando  esta  terra, 
se  segue  -outra  de  gente  bruta  chamados 
03  Asbitas,  Geulos,  e  Massamões;  ficando 
neste  direito  a  Ilha  Creta  hoje  Cândia,  e 
defronte  delia  o  Bosphoro  de  Elesponto, 
que  diuide  Europa  de  Ásia.»  Ibidem. 

—  Inferir-se,  ou  ser  consequente  uma 
cousa  de  outra  que  a  antecede;  colligir- 
se,  conclulr-se,  deduzir-se.  —  «  Deste  re- 
médio se  seguirá  logo  acharem-se  muitos 
casamentos  convenientes  para  mulheres 
Fidalgas,  e  Nobres,  e  que  naõ  sejaõ  ne- 
cessários taõ  grandes  dotes  para  jíoderem 
casar.»  Manoel  Severim  de  Faria,  Noti- 
cias de  Portugal,  Disc.  1,  cap.  7. — 
«  Ora  assentamos  que  qualquer  mudança 
causa  estranheza.  Mudar  de  umas  casas 
a  outras  é  em  alguma  maneira  esquivo. 
Segue-se  logo  que  não  se  muciará  a  vida 
seui  algum  receio.»  Francisco  Manoel  de 
Mello,  Carta  de  guia  tíe  casados. 

—  Figuradamente:  Causar-se,  origi- 
nar-se;  nascer,  proceder  uma  cousa  de 
outra.  —  «  Porque  poderia  acontecer,  que 
desto  se  seguiriam  omezios,  estabelece- 
mos, que  se  alguém  quizer  vender,  ou 
apenhar  suas  próprias  possissoões,  que  lhe 


i 


446 


SEGU 


SEGU 


SEGU 


acontecessem  da  purtc  do  Bua  avoon^a, 
e  ouver  Innaauft,  ou  propiacon,  que  ch- 
tas  j)0!ísisMuõc-i  qucimm  Cíjnipiar,  ou  lilLar 
a  penhor  por  junto  prc^'o,  dctcndcnioa  quo 
iienliuum  cstmnlio,  num  iiiixín  ulouguilo  da 
linlia  noui  compro  catas  puHuisBuucti.i)  Ord, 
Aiíons.,  liv.  4,  tit.  37,  §  1,  —  «  Certo 
que  esta  obra  do  fazer  quo  ho8  ludeua  se 
tornassem  Ciiristàoa,  foi  di^çua  de  muito 
louuor,  poíjto  quo  se  delia  pudessem  se- 
guir lios  iuconuonientos,  que  no  conselho 
ilel  Uei  forào  aiiontados,  o  muitos  outros 
quo  80  depois  virào  em  (juo  se  cntaõ  po- 
derá mal  cair,  porquo  ninluuna  perda  po- 
dia vir  ao  llc^ao  pela  conuersaõ  desta 
gente,  que  so  {)0-lcsso  estimar  perda,  ena 
compararam  do  que  se  f^anhou  em  conhe- 
cerem ha  verdade  do  ijue  liauiari  de  crer.» 
Darniilo  de  (iões,  Chrouica  de  D.  Manoel, 
part.  1,  cap.  21. —  «  lluiu  dos  Kci.s  que 
ajudaram  na  guerra  ao  1^'aaiorij  liei  de 
Calecut,  foi  o  do  Tauor  seu  vezinho, 
com  o  qual  mesmo  Çamorij  depois  de 
sair  do  Turcol,  por  causas  que  se  entrol- 
les  moueram,  eomoyou  de  ter  debates  de 
que  se  seguio  guerra,  do  que  mouido  o 
liei  do  Tauor,  no  mesmo  tempo  em  que 
Lopo  tíoarez  foi  sobre  Crangaiior.»  Ibi- 
dem, cap.  íti).  —  o  Oh  que  profundos  pec- 
cados  cavou  a  malicia  profunda  dos  ho- 
mens! hum  peccado,  de  que  se  seguem 
terríveis  consequências :  hum  peccado, 
que  traz  comsigo  muitos  escândalos,  e 
eu  fuy  o  inventor,  e  mestre  delle.»  Pa- 
dre Manoel  Bernardes,  Exercícios  espi- 
rituaes,  part.  1,  pag.  202. —  «  E  porque 
de  hum  absurdo  se  seguem  muitos,  como 
diz  o  Filosofo  :  deste  da  for(;a,  e  violên- 
cia, se  seguirão  tantas  injusti(;as,  em  que 
logo  se  desempenhou  Castella,  que  menos 
bastavaõ  i)ara  lhe  tirar  o  direito,  dado,  e 
naõ  concedido,  que  algum  tivesse;  e  para 
corroborar  o  da  Senhora  Dona  Cathari- 
na,  ainda  que  fosse  fraco.»  Arte  de  fur- 
tar, cap.  10.  —  I  De  que  se  seguio  gran- 
de bcnetieio  a  estas  Trovineias,  porque 
como  as  searas  saõ  de  regadio,  uuuea 
faltaõ;  o  fundindo  muito,  vem  a  ser  o 
mantimento  muito  barato,  com  que  o  po- 
vo Uca  de  todo  abastado.»  Manoel  Scve- 
rim  de  Faria,  Noticias  de  Portugal,  Disc. 
1,  cap.  4. 

—  Adágios  : 

—  Segue  a  formiga,  se  queres  viver 
sem  fuliga. 

—  Segue  a  formiga,  viverás  com  fa- 
diga. 

—  Segue  a  razão,  posto  que  a  huns 
agrada,  a  outros  u.tío. 

—  Seguir  o  bem  parado. 
SEGUITO.  Vid.  Séquito. 
SEGUNDA,  s.  /.  Aula  de  grammatica, 

que  se^ue  á  primeira. 

—  Termo  de  musici».  Intervallo  de 
uma  nota  a  outra  inmiediata ;  por  exem- 
plo :  do  dú  ao  rc,  de  fã  ao  sol. 

—  Diz-se  da  faiiuha  de  qualidade  infe- 
rior. 


—  Tenuo  de  chimica.  Agua  segun- 
da; agua  forte  já  enfraquecida,  |)or  ter 
servido   na   cliMiolu^ào  do  alguns  nietaec. 

SEGUNDADO,  /jurt.  pan».  de  Segimdar. 

SEGUNDA-FEIRA,  #. ./.  .Segundo  dia  da 
Semana.  <  ieialmeiíto  conta-se  como  o  pri- 
meiro, desde  quo  se  transferiu  ])ara  o  do- 
mingo a  festa  e  descanso  que  dantes  era 
ao  .sabbadii. 

SEGUNDAMENTE,  aãv.  (De  segundo, 
com  o  sufíixu  o  mente»).  Eui  segundo  io- 
gar. 

SEGUNDAR,  v.  a.  Reiterar,  repetir. 

—  Seguudar  inatriíuonio ;  tornar  a  con- 
trahil-o. 

—  Segundar  o  primeiro  votante ;  votar 
depois  d'elle,  ou  propor  seu  voto,  e  arbí- 
trio, conforme  ao  primeiro. 

—  Figuradamente :  Ajudar,  servir,  fa- 
vorecer. 

—  V.  n.  Repetir,  fazer  segunda  vez  o 
mesmo. 

SECUNDARIAMENTE,  adv.  (De  segun- 
dario,  com  u  ^urtixo  «mente»'.  Em  se- 
gundo logar.  —  «  Seguudariamente  contra 
este  maniiamento  peccam  todos  os  que 
voluntariamente  duuidam  nas  cousas  da 
fee  catholica,  aiuda  que  a  iiam  neguem 
de  todo  nem  se  apartem  delia,  porque 
per  ser  hcrejo  c  periler  a  fee  da  alma, 
basta  duuidar,  o  vacilar  deliberadamen- 
te. »  Fr.  Bartliolomeu  dos  Martvres,  Ca- 
tecismo da  doutrina  christã,  cap.  38. 

SECUNDÁRIO,  a<IJ.  Do  latim  secutida- 
ítK.s).  Segundo  em  ordem,  qualidade  ou 
grailua<,'ào. 

—  Luz  segundaria;  em  physica,  luz 
procedente  da  retlexão  ou  refrac^ào. 

—  tí.  m.  plur.  Segundarios.  Termo  de 
astronomia.  Círculos  quo  passando  pelos 
pólos  da  ecliptica,  a  cortam  perpendicu- 
larmente, e  servem  para  assignalar  o  lo- 
gar respectivo  de  cada  estrclla. 

SEGUNDAS.  Vid.  Secundinas. 

SEGUNDAVO,  .-.  m.  Um  dous-avo. 

SEGUNDEIRA,  *\  /.  Kome  que  na  Or- 
dem Seraplúca  se  dava  ao  sino  menor  do 
campanário. 

—  Segunda  por(,'ão  de  vinho  que  da- 
vam aos  religiosos  em  di;i3  festivos. 

SEGUNDEIRO,  aJj.  Dizia-se  doa  moi- 
nhos (|uo  inoiam  milho,  e  pain(,'0. 

SEGUNDINO,  adj.  Termo  de  botânica. 
Ladeado,  que  se  inclina  sempre  para  o 
mesmo  lado,  seja  qual  fôr  o  seu  ponto  de 
apego. 

SEGUNDO,  adj.  num.  ordiíi.  (Do  latim 
sccundus).  O  que  se  segue  immediata- 
mente  ao  primeiro.  —  O  segundo  volu- 
me. —  No  segundo  dia  da  lua.  —  1). 
Fedro  Segundo.  —  El-rei  D.  Sancho  Se- 
gundo, chamado  o  Capello,Jilho  d'el-rti  D. 
Ajjonso  u  Segundo,  reiniíso  e  descuidado. 
—  D.  João  Segundo  </«;  Portugal  era  Jil/ui 
d\l-rci  D.  Ajfonso  Quinto,  e  D,  Afonso 
Segundo  erajilho  d'el-rei  D.  Hauclut  Pri- 
meiro.—  «O  segundo  artigo  he  tal.  Se 
os   Bispos,    ou   priores   das   Igrejas  escõ- 


mangam  seu  froiguesea,  porque  lhe« 
nom  dam  suas  diziniad,  ou  outrori  direir 
los,  que  Iheí  devem,  ou  poueni  intcrdi- 
cto  em  «ous  lugarcí,  a^iv  como  a  justiça 
manda,  Ellíey,  e  o»  bod»,  jter  cajom  des- 
tes, quo  asHv  cxcSmun^am,  fazc-o«  dei- 
tar da  terra,  e  Hlha-lhes  or  benx.*  Ord* 
Affons.,  liv.  2,  tit.  1.  —  cE  pela  segun- 
da vez  perca  todallari  terran,  e  jurdievòet 
per  qualquer  guiiia,  e  per  qualquer  titu- 
lo, e  todolos  outros  bens  próprios,  que 
ouver,  c  seja  todo  apricado  aa  Coroa  do 
nosso  Regno ;  e  pola  terceira  vez  seja 
desterradtj  de  todo  nosso  Senhorio.»  Ibi- 
dem, tit.  UU,  §  13. —  «O  segundo  Capi- 
tulo he :  Que  os  depósitos,  u  guardas,  e 
condccilhos,  e  recebimentos  feitos  per  a 
moeda  autigua,  ou  nova,  que  se  fez  ataa 
postumeiro  dia  de  Dezembro  da  Era  de 
mil  e  quatrocentos  vinte  e  três  annos, 
per  Almoxarifes,  Tetores,  ou  Cura/ioreí.» 
Ibidem,  liv.  4,  tit.  1,  8  3- — «ELlíey 
Dom  Affonso  o  Segundo  de  louvada  me- 
moria em  ."seu  tempo  fez  Lev  em  e-»ta 
forma,  que  se  segue.»  Ibidem,  tit.  37. 
—  « Mas  por  lhe  isto  nSo  succeder  a  von- 
tade casou  depois  com  dom  Pedro  de 
Meneses,  seu  primo  com  irmSo,  Conde 
Dalcoutim,  filho  herdeiro  de  Dom  Fer- 
nando segundo  Marques  de  villa  Real, 
como  se  ao  diante  diríi.»  DamiSo  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1, 
cap.  82.  —  «Mas  auendo  ja  bf>m  pedaço, 
que  de  huma,  e  da  outra  parto  servia  a 
artelharia,  de  maneira  que  com  o  fumo, 
e  fogo  da  pólvora  se  nam  viam  huns  aos 
outros,  mandou  Duarte  Pacheco  tirar 
com  hum  camello  que  ainda  nam  descar- 
regara, o  que  se  fez  em  tam  boa  hora, 
que  do  segundo  tiro  desmanchou  de  todo 
a  jangada,  arrombando  quatro  paraos 
que  logo  ae  foram  ao  fiindo.»  Ibidem, 
cap.  86.  —  f  Ouue  mais  el  Rei  dom  loam 
da  Rainha  donna  Phellippa  sua  molher, 
o  Infante  dom  loam  que  foi  mestre  da 
ordem  de  Sanctiago,  e  Condestabre  do 
regrio,  pai  da  Rainha  donna  Isabel,  mo-  . 
Iher  dei  Rei  dom  liam  de  Castella,  se- 
gundo do  nome.»  Ibidem,  part.  3,  cap. 
24.  —  «El  Rei  dom  loào  o  segundo  vi- 
uendo  teue  sempre  grandes  desejos  de 
descobrir  a  nauegai^^âo  da  índia,  e  assi 
de  ter  alguma  noticia  do  preste  Io3o  das 
índias,  por  ser  ChristJSo,  parecendolhe 
que  se  poderia  naquelas  partes  ajudar  de 
sua  amizade.»  Ibidem,  cap.  ÕS. —  «Esta 
segimda  diligencia  iliz  Gomezeanes  que 
uiandciu  fazer  el  Rei  dom  Duarte,  e  o 
nomoa  por  Rei,  e  na  quo  se  fez  no  re- 
gno, quando  encomniendou  a  Chronica 
dei  Rei  seu  pai  a  Fernam  lopez,  o  no- 
mea  por  Infante,  de  maneira  que  elias  se 
fezeram  em  diuersos  tempos.»  Ibidem, 
part.  4,  cap.  38.  —  tile  do  notar  que  do 
tempo  que  o  Império  se  passou  de  Fran- 
<;a  a  Alemanha  o  primeiro  Emperador 
dos  da  lemanha  foi  Ottho,  per  cujo  fale- 
cimento foi  electo  Ottho  seu  filho  segun- 


SEGU 


SEGU 


SEGU 


447 


do  Emperador  a  quem,  depois  de  prese- 
dir  uo  Império  dezasete  annos  socedeo 
Ottho  seu  filho  terceiro  Emperador,  em 
vida  do  qual  ordenou  o  Fapa  Gregório  o 
mo  'o  que  se  ate  agora  tem  na  eleiçam 
dos  Emperadores  da  lemauha.»  Ibidem, 
cap.  71.  —  «Outros  dào  outra  probabili- 
dade, dizendo  que  mal  pôde  ser  aquella 
obra  de  Damasceno,  que  no  livro  segun- 
do de  Fideortodoxa,  affirma  nào  aver  de- 
pois da  morte  remédio  de  penitencia,  e 
ser  a  morte  para  os  homens,  o  mesmo 
que  para  os  Anjos  foy  sua  queda.»  Mo- 
narchia  Lusitana,  liv.  õ,  cap.  12.  — 
«Assinaõ-se  no  privilegio  Dom  Ordonho, 
e  Dom  Garcia,  hum  filho,  e  outro  irmão 
delRey,  ambos  os  quaes  caem  n'este 
Dom  Ramiro  segundo,  inda  que  neste 
particular  também  os  teve  o  primeiro.» 
Ibidem,  liv.  7,  cap.  20. — -«Però  como  a 
necessidade  he  mestra  de  todalas  artes, 
em  tempo  delRey  dom  loaõ  o  segundo 
foy  per  elle  encomendado  este  negocio  a 
mestre  Rodrigo,  e  a  mestre  losepe  ludeu 
ambos  seus  médicos,  e  a  hum  Martim  de 
Boémia  natural  d'aquellas  partes.»  Bar- 
ro?, Década  1,  liv.  4,  cap.  2.  —  «E  o 
segundo  curso  mai-itimo  que  elle  nào  sou- 
be, o  qual  começa  no  cabo  de  Moçambi- 
que, e  acaba  em  o  das  correntes  que  será 
per  costa  ate  cento  e  setenta  legoas :  fica 
ella  hum  pouco  mães  encarnada  com  hum 
auco  que  faz  o  cabo  das  correntes  logo 
na  volta  delle  quando  vaõ  de  cà  do  po- 
nente. »  Ibidem,  liv.  8,  cap.  4.  —  « Aca- 
bado este  feito  da  tomada  de  Malaca, 
que  se  fez  c3  oitocentos  homens  d'armas 
Portuguezes,  e  duzentos  Malabares  de 
espada  e  adarga,  por  aquelle  dia  uào  fez 
Afíbnso  d'Alboquerque  mães  que  fortale- 
cerse  nesta  ponte:  e  ao  segundo,  porque 
de  duas  casas  grandes  vizinhas  a  ella 
toda  a  noite  lhe  tirarào  com  mil  modos 
de  tiros  que  fazião  muito  danno,  mandou 
a  ellas  estes  capitães,  Jorge  Botelho,  Af- 
fonso  Pessoa,  e  Simão  Martinz.»  Idem, 
Década  2,  liv.  6,  cap.  6. . —  «E,  como  a 
sagunda  vez  viessem  com  maior  fúria, 
tiveram  tanta  força  os  encontros,  que 
Florendos  perdeu  um  estribo  e  fez  um 
revez  algum  tanto  desairoso;  o  outro  foi 
ao  chão  por  cima  das  ancas  do  cavallo, 
cahindo  porem  em  pé,  como  quem  em 
tudo  mostrava  acordo. »  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  dlnglaterra,  cap.  109. 
—  cHa  primeira  e  mayor  ha  dei  Rev 
com  sua  bandeyra  Real  da  parte  donde 
estaua  a  mayor  batalha  dei  Rey  dom  Fer- 
nando com  sua  bande^Ta,  sem  elle  estar 
nella.  E  a  segunda  batalha  de  menos 
gente  foy  ha  do  Príncipe,  porem  era  gen- 
te cortezàa,  e  muy  escolhida,  e  com  sua 
bandevra  se  pos  ha  outra  parte  de  fron- 
te.» Vida  e  feytos  dei  Rey  D.  João  II, 
cap.  13.  —  «Segundo:  faze  entre  dia 
muitas  vezes  exame  de  tuas  obras,  bre- 
ve, mas  frequente,  e  rematado  com  hum 
acto  de  contrição.»  Padre  Manoel  Ber- 


nardes, Exercícios  espirituaes,  part.  1, 
pag.  338.  —  «Era  o  seu  primeiro  Gover- 
nador [qne  este  foi  o  nome,  com  que  ua- 
quella  occasiaõ  embarcarão  os  Capitães) 
D.  Joaõ  de  Lancastro,  o  segundo  Manoel 
Jaques  de  Magalaães :  pi-imeiro  Tenente 
Peflro  de  Figueiredo  de  Alarcão.  A  Al- 
mirante era  S.  Benedito,  e  seu  Governa- 
dor Lourenço  Nunes.»  Frei  Bernardo  de 
Brito,  Elogios  dos  reis  de  Portugal,  con- 
tinuados por  D.  José  Barbosa.  — ■  «A  se- 
gunda pêra  Ormuz,  donde  me  mandaram 
chamar  com  milita  pressa,  por  estar  Ras 
Xarrafo  alevantado  contra  ElRev,  com 
arraiaes  formalos,  e  Diogo  de  Mello  em 
meio;  e  concertei  estas  cousa.s  que  esta- 
vam muito  arriscadas.»  Diogo  de  Couto, 
Década  4,  liv.  6,  cap.  7.  — •  «E  por  den- 
tro ficava  rasa  co  chão,  fechada  por  cima 
toda  em  roda  de  duas  ordens  de  grades 
de  latào,  de  que  as  primeyras  que  esta- 
vão  mais  para  tora,  erào  de  seis  palmos 
dalto  somente,  em  que  a  gente  se  podia 
encostar,  e  as  segundas  que  estavào  mais 
por  dentro,  eraõ  de  nove  palmos,  as  quais 
tinhaò  leosns  de  prata  postos  encima  de 
bollas  redondas,  que  como  ja  disse  algu- 
mas vezes,  saõ  armas  dos  Reys  da  Chi- 
na.» Fernão  Mendes  Pinto.  Peregrina- 
ções, cap.  111.  —  «O  segundo  e iro  foy 
que  cuydamos  sempre  as  agoas,  corre- 
rem pêra  a  terra,  da  qual  nos  afastaua- 
mos,  quanto  podíamos,  sendo  pelo  con- 
trario que  tirauão  pêra  o  mar,  e  Ilha  de 
Sam  Lourenço  sem  cahirmos  neste  enca- 
no.» Fr.  Gaspar  da  Cruz,  Tratado  das 
cousas  da  China,  cap.  1. 


Aquelle  experimentado  cavaUeiro 
Jorge  de  Lima  vai  aquelle  dia 
Xo  seyundo  batel,  a  quem  primeiro 
Xinguem  no  esforço  foi,  e  na  ousadia. 
Levava  Tristão  Homem  o  terceiro. 
Cujo  animoso  esprito  c  valentia 
Era  huma  verdadeira  testemunha 
Que  lho  convinha  assaz  a  sua  alcunha. 

F.  d"as'drade,  pbisieibo  cerco  de  dic,  cant.  2, 
C3t.  23.  ' 


—  «^a  segunda  estancia  andava  outra 
laia  de  parvos,  inimigos  capitães  da  con- 
versação, que,  por  mais  necessidade  que 
tenham  de  se  caldearem  n'ella,  para  re- 
médio da  sua  manqueira,  andam  por  ou- 
tra parte  tào  amarrados  a  uma  opinião, 
que  se  deixam  antes  envelhecer  na  estre- 
baria que  buscar  um  bom  pasto,  onde  se 
poderam  fazer  mais  nédios  que  mula  de 
cardeal:  a  estes  não  lhes  vale  a  egreja, 
porque  são  parvos  de  propósito.»  Fernão 
Soropita,  Poesias  e  prosas  inéditas,  pag. 
10--  —  «Um  leào,  em  pequeno  se  aman- 
ça.  Aos  próprios  ferros  da  gaiola,  em  que 
vive  preso,  toma  afi"eição  um  passarinho; 
sendo  aquelle  por  seu  natural  feroz,  e  es- 
te livre.  E  a  creaçào  outro  segundo  nas- 
cimento ;  e,  se  em  alguma  cousa  differe 
do  primeiro,   é  só  em  ser  mais  podero- 


so este  segundo.»   D.  Francisco  Manoel 
de  Mello,  Carta  de  guia  de  casados. 

—  Causa  segunda ;  a  que  recebe  a  sua 
actividade  da  cau>a  primeira. 

—  Segunda  intenção;  intenção  quasi 
sempre  damnada  e  malévola  e  que  se  oc- 
culta. 

—  Prep.  Conforme.  —  Segundo  a  lei ; 
segundo  «  arfe,  —  «Ordenamos,  e  Decla- 
ramos, que  todos  aquelles,  que  per  bem 
de  seus  Privilégios  podem  trazer  seus 
Contendores  á  Corte,  segundo  ia  avemos 
declarado  no  Titulo  suso  escripto,  todos 
esses  podem  ser  demandados  na  Corte, 
ainda  que  naò  sejam  achados  em  ella,  e 
para  outra  parte  naò  podem  ser  citados.» 
Ord.  Affons.,  liv.  1,  tit.  3,  §  5.  —  «E 
esto  meesmo  lhe  sejam  contadas  as  hidas, 
que  forem  a  alguns  lugares  fazer  os  di- 
tos enventarios ;  e  outro  sy  alguuns  es- 
tormentos,  que  fezerem  das  partiçoões 
dos  ditos  beens,  segundo  a  forma  da  nos- 
sa Hordenaçom,  que  sobre  ello  he  feita, 
do  que  os  Taballiaães,  e  Escripvaàcs  ham 
de  levar,  e  d'outra  guisa  nom.»  Ibidem, 
tit.  39,  §  õ.  —  «Os  quaees  capítulos  vis- 
tos per  Nos,  demos  ao  pee  de  cada  huum 
nossa  resposta  com  acordo  dos  do  nosso 
Dísembarguo,  segundo  adiante  he  escri- 
pto :  dos  quaees  capítulos  com  a  reposta, 
que  a  elles  demos,  o  theor  he  que  se 
adiante  segue.»  Ibidem,  tit.  49,  §  1. — 
«E  do  Arraby  Moor  venham  esses  aggra- 
vos,  ou  appellaç  )òes  a  nós,  e  nom  fique 
nenhum  feito  crime,  em  que  a  Justiça 
segundo  direito  e  Ordenaçom  do  Regno 
aja  lugar,  findo  per  seus  livramentos, 
mais  em  toda  guisa  venham  a  nós.»  Idem, 
liv.  2,  tit.  81,  §  30.  —  «E  quanto  he  nas 
Cartas  das  outras  pessoas,  Mandamos, 
que  os  que  as  abrirem,  sejam  punidos  es- 
timando a  pena,  segundo  as  pessoas  que 
as  enviarem,  e  a  quem  fossem  enviadas, 
e  o  que  em  ellas  for  contheudo,  e  a  pes- 
soa, que  as  abrir.»  Ibidem,  tit.  123,  §  7. 
— •  «E  assy  parece  que  feitos  per  esta  gui- 
sa a  ouro,  ou  prata  som  cousas  novas,  e 
as  novidades,  segundo  os  Philosophos, 
sempre  fezerom  discórdia,  maiormente 
tam  grande  como  esta ;  e  porem  nom 
deve  seer  consentida  tal  novidade  como 
esta.»  Idem,  liv.  4,  tit.  2,  §  õ.  —  «Ou- 
tro sy  estes  arrendamentos,  afíbramentos, 
c  emprazamentos  se  usarom  em  estes  nos- 
sos Regnos  dês  pouco  tempo  a  ca,  que  se 
soiam  de  fazer  per  as  moedas,  que  cor- 
riam nos  tempos  dos  contrautos,  ou  a 
pam,  ou  a  vinho,  segundo  as  cousas  que 
se  assy  arrendavam,  afloravam,  ou  em- 
prasavam.»  Ibidem. — «E  com  esta  de- 
claraçom  mandamos  que  se  guardem  as 
ditas  Le^-x,  segundo  em  ellas  he  contheu- 
do, e  per  nós  declarado,  como  dito  he.» 
Ibidem,  tit.  9,  §6.  —  «E  também  pode- 
rá aver  lugar  quando  a  Doaçom  fosse  fei- 
ta antes  que  fossem  casados,  e  ao  depois 
per  casamenti)  fossem  comunicados  seus 
bens,  segundo  costume  da  Estremadura. » 


448 


SEGU 


SEOU 


SEGU 


Ibidem,  tit.  14,  §  4.  —  «E  vista  per  m^a 
.1  ilit;i  Lcy,  (loclíirando  cm  ellii,  dizemos 
(jiui  ajii  lu^iir  ii.i(|tiolio,  que  ao  tempo 
que  foi  morar  com  air^inn,  iiom  ora  ainda 
a  oaso  tempo  costrann^ido  pela  Jiiatiya, 
ou  citado  |>cra  morar  com  outrem,  se- 
gundo as  IIordiMiaçõos  do  Rcip^no  solire 
ello  feita.s.»  Ibidem,  tit.  2o,  §2.  —  «Item. 
Temperando  a  ])ona  posta  em  a  dita  Ley, 
mandamos  que  seja  em  alvidro  dos  Jui- 
zes, aos  quaaos  mandamos  quo  penem 
aqiielios,  quo  contra  a  dita  Lcy  iorem, 
segundo  a  qualidade  do  feito,  o  a  culpa 
ora  quo  forem,  em  tal  guisa  cpie  os  for- 
çadores  da  liberdade  nom  fiquem  sem 
pena.»  Ibidem,  §  3.  —  «E  deve  jurar  aos 
Santos  Avan'-Tollios  que  os  dinheiros  som 
seos,  segundo  costume,  e  pustura  ile  casa 
d'Elllov.  E  se  por  ventura  aquelle,  a 
que  assy  demanilar  o  hcrdamonto  do  tan- 
to por  tanto,  diz  que  ello  filhe  o  hcrda- 
monto, o  que  lhe  de  de  aquello  que  lhe 
custou,  aquelle  que  demanda  lho  deve 
loí^o  dar,  ante  que  se  os  Juizes  vaaõ  do 
(Joncelho,  outro  tanto,  quanto  por  elle 
deu  aaquelle,  de  que  o  comprou.»  Ibi- 
dem, tit.  í58,  §  9.  —  «E  quomo  cl  Rei 
dom  lOmanuel  foi  em  todos  seus  ne<íocios 
vif;i lauto,  o  tinha  por  officio  perder  pou- 
co do  tempo,  los^o  alli  cm  Monte  mòr  no- 
tificou has  confirmações,  c  mandou  á  to- 
dolos  que  tiuosscm  preuilcgios,  liberda- 
des, o  cartas  de  mercês,  e  outras,  has 
viessem  ou  mandassem  contirmar,  pêra 
ho  que  elogoo  hos  principaes  letrados  do 
llegno,  por  cujo  parecer  confirmaua,  der- 
ro<?aua  ou  limitaua,  segundo  ha  qualida- 
de cias  cousas  rcqiu'rla.»  Danúão  de  (íoes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  0. 
—  «Çafim  a  que  o>  numros  chamam  Azaa- 
fi,  he  clda  le  muito  antisjua  antrolles,  edi- 
ficada pelos  naturais  da  t.^rra,  segundo 
o  dizem  os  .Seript^es  Arábios,  situada 
na  costa  do  mar  Oceano  Atlântico,  na 
prouincia  a  que  nos  corruptamente  cha- 
mamos Davluceala.»  Ibidem,  part.  2,  cap. 
18.  —  "(Segundo  elle  disse)  os  Mouros  mu 
cuja  companhia  ficou,  erão  pastores  e  pa- 
rentes dl)  alouro  que  voo  pêra  o  Reyno 
com  Antaõ  Oonçaluez.»  Barros,  Década 
1,  liv.  1,  cap.  10.  —  «E  este  rio  Çana- 
çCíl  per  a  diuisaõ  nossa  he  o  que  aparta  a 
terra  dos  Mouros  dos  negros,  posto  que 
ao  longo  de  suas  agoas  todos  saõ  mesti- 
ços, em  cor,  vida,  e  custumes,  per  razão 
da  cópula  que  segundo  custume  dos  ]\Iou- 
ros  toda  molher  acceptão.»  Ibidem,  liv. 
3,  cap.  8.  — «A  qual  segundo  a  estima- 
ção dos  ])ilotos  lhe  pareceo  quo  podia  dis- 
tar pêra  aloeste  da  costa  de  Guiné  qua- 
trocentas cinquoenta  legoas,  e  em  altura 
do  polo  Antartico  da  parte  do  sul  dez 
grãos.»  Ibidem,  liv.  ò,  cap.  2.  —  «O  que 
ello  Almirante  nito  ouue  per  estr.anho  pa- 
recendolhe  serem  modos  de  contractar  a 
sou  prazer,  segundo  o  tinha  anisado  Gon- 
çalo Gil  que  estaua  em  Cochij :  e  assi 
Vuyo  Rodi-iguez  que  ficara  ali  em  Cana- 


nor  (1'arniada  do  loão  da  Noua.»  Ibidem, 
liv.  6,  cap.  4.  —  «Porque  falecido  o  Rey 
do  Sião,  que  sou  pai  temia,  com  Arma- 
das de  navios  do  remo,  a  quo  os  Cellate» 
oram  n)ui  costumados,  começou  de  obri- 
gar as  núo<  que  navegavam  per  aquelle 
estreito  d'antro  Malaca,  o  a  Ilha  Çaina- 
tra,  que  não  fossum  adiante  a  Cingápu- 
ra,  e  as  de  Levante  que  viessem  alli  fa- 
zer com  estas  de  Ponentc  suas  commu- 
tações  de  mercadorias,  segundo  seu  an- 
tigo uso. I)  Idem,   Década   2,    liv.  6,  cap. 

1.  —  «Como  j:i  começava  entrar  na  pa- 
ragem dos  baixos,  segundo  lhe  diziam  os 
Mouros  Piloto  1  que  levava,  mandou  ir 
diante  todolos  navios  pequenos,  hnns  ao 
longo  da  costa  da  Ilha,  e  outros  mais  ao 
mar  por  resguardo  <las  outras  náos  de 
maior  porte.»  Ibidem,  cap.  2. —  «Faz'!n- 
do  Alfonso  d'Alboquer(pie  fundamento 
que  per  meio  deste  commercio  viria  to- 
mar liuni  pé  de  entrada  naquolla  Cida- 
de, e  depois  com  o  favor  d'ElRey  de 
Camhav,  segundo  as  esperanças  que  Me- 
liquo  Gupi  lhe  dava,  podia  alli  fazer 
huma  fortaleza  com  titulo  de  Feitoria.» 
Ibidem,  liv.  8,  cap.  5.  —  «Porque  pu- 
nham a  confiança  de  o  vir  a  ser  nas  pro- 
pri.is  obras,  que  faziam  conformandose 
com  a  mesma  ley,  e  nam  ra  graça,  e 
misericórdia  do  Christo,  qne  segundo  a 
fé,  ouueram  de  esperar,  e  pretender.» 
Lucena,  Vida  de  S.  Francisco  Xavier, 
liv.  6,  cap.  16.  —  «Bozio  contra  Machia- 
velo  lib.  3,  cap.  1.  nomea  só  no  Reyno 
de  Nápoles  muitos  milhares  de  povos 
mais,  que  os  que  tinha  toda  Itália  anti- 
gamente segundo  Estrabo,  Ptolomeu,  e 
Plinio,  o  qual  chega  a  contar  atè  os  Ca- 
saes,  o  Bozio  naõ  co'ita  lugar  de  menos 
do  oOO.  risinhos.»  ^[anoel  Severim  de 
Faria,  Noticias  de  Portugal,  Disc.  1,  cap. 

2.  —  «Esta  foi  a  causa  porque  antiga- 
mente em  Grécia  chegarão  a  tanta  per- 
feição as  artes  da  pintura,  e  escultura, 
porque  segundo  Plinio  toda  a  nobreza  se 
occupava  nellas.»  Ibidem,  cap.  8.  —  «N. 
de  N.  não  tem  nada,  N.  do  N.  não  lhe 
b:ista  nada,  e  eu  não  sei  qual  é  maior 
tentação,  se  a  necessidade,  se  a  cobiça. 
Tudo  quanto  ha  na  capitania  do  Pará,  ti- 
rando as  terras,  não  vai  dez  mil  cruza- 
dos, como  c  notório,  e  d'esta  torra  ha-de 
tirer  N.  do  N.  mais  de  cun  mil  cruzados 
em  três  annos,  segundo  se  lhe  vão  lo- 
grando bem  as  industrias.»  Padre  Antó- 
nio Vieira,  Cartas,  n."  10. 

—  Seguido  immediatamente  de  um  ver- 
bo; conforme,  como,  tal  qual.  —  a E  sen- 
do essa  Excepçam  opposta,  e  alleguada 
contra  o  Juiz,  deve  El  Rey  dar  outro 
Juiz,  quo  delia  conheça,  e  dé  sobre  ello 
final  terminaçam,  segundo  achar  per  Di- 
reito, se  ElRey  for  em  esse  luguar,  bon- 
de tal  caso  acontecer.»  Ord.  Âffons.,  liv. 
3,  tit.  56,  §  5.  —  «li  pêra  se  concorda- 
rem, e  aprovarem  os  ditos  números,  man- 
damos ao  dito  Vasco  Fernandes,  e  Ar- 


mou Botim,  que  bc  vaão  per  telas  as 
Comarcas,  pêra  fazerem  comprir  os  que 
minguarem,  segundo  som  o.-icripto»  em 
seus  livros,  o  porá  fazerem  tirar  alguns, 
que  per  velhice,  ou  necoi»8Ída<lefl  nom  po- 
derem servir,  e  lhes  «'ardes  outros  em 
seus  nomes,  segundo  esto  roais  com|irida- 
mente  l:o  contheudo  cm  outro  Regimen- 
to, que  levam.»  Ibidem,  tit.  69,  §  .SO. — 
«E  SC  o  devodor  de  cada  hum  dos  casos 
do  primeiro  Capitulo  oí]Vrec<!0,  o  conui- 
nou,  e  depôse  o  que  devia  da  moeda  an- 
tigua,  ou  noisa  que  se  fez  ataa  primeiro 
dia  de  Janeiro  da  Pira  de  mil  e  quatro- 
centos e  vinte  e  quatro  annos  huma  li- 
bra por  outra,  ou  per  as  moedas,  quo  se 
fezerom  dês  primeiro  dia  do  Janeiro  da 
Era  de  mil  c  quatrocentos  e  vinte  e  cin- 
co annos,  ataa  .laneiro  de  mil  e  quatro- 
centos e  trinta  e  seis  annos,  a  cinquo 
libras  por  huma,  segundo  era  conteúdo 
na  nossa  Hordenaçom  sobre  cto  feita.» 
Ibidem,  liv.  4,  tit.  1,  §  6.  —  «Fazendo- 
se  compra  e  venda  d'alguma  certa  cousa 
por  certo  preço,  despnis  que  o  contrauto 
he  acordado,  e  firmado  pela.s  partes,  nom 
se  pode  mais  d'hy  em  diante  alguma  del- 
ias arropendí^r  sem  consentimento  da  ou- 
tra parte,  porque  segundo  disserem  e  es- 
tabelecerem as  Lf^yx  Impriaaes,  tanto 
que  o  c<unprador,  e  o  vendedor  som  acor- 
dados, e  firmados  na  compra  e  venda  de 
alguma  certa  cousa  por  certo  preço,  logo 
esse  contrauto  he  perfeito  e  acabado.» 
Ibidem,  tit.  36.  —  «E  per  qualquer  ma- 
neira que  fosse,  segundo  aprehcndemos 
em  huma  chronica  dos  Reys  de  Quiloa 
de  que  atras  fizemos  menção,  os  primei- 
ros daquella  costa  que  vieraõ  ter  a  esta 
terra  de  Çofala  a  cheiro  deste  ouro,  fo- 
rão  os  moradoras  da  cidade  ilagadaxó.» 
João  de  Barros,  Década  1,  liv.  10,  cap. 
2.  —  «Finalmente  Payo  de  Sousa  somen- 
te com  dous  dos  sons  foi  leuado  aquelle 
lugar  onde,  segundo  diziaÕ  os  Mouros, 
estaua  a  pessoa  d'elRey  :  e  tanto  que  che- 
garão a  elle,  logo  os  cspedio,  mostrando 
ter  contentamento  de  ver  cousas  d'elRey 
do  Portugal,  dando  graças  a  elle  Payo 
de  Sousa  por  sua  ida.»  Ibidem,  cap.  5. 
—  «Pois,  deixando  a  clles,  tocaremos  no 
ciivalleiro  do  Salvage,  que,  segundo  con- 
ta a  historia,  depois  que  no  reino  ile  Hes- 
panha  venceu  os  quatro  cavalleiros  da 
floresta,  e  ganhou  as  donzellas,  caminhou 
tanto  por  suas  jornadas,  que  um  dia, 
quasi  véspera,  chegou  A  cidade  de  Bru- 
sia,  que  agora  se  chama  Toledo,  onde 
então  estava  cl-rei  Recindos,  contente  e 
alegre  polas  novas  que  lhe  vieram  da 
soltura  de  seu  filho  o  dos  outros  caval- 
leiros. qne  estavam  em  poder  do  Turco.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  123.  —  «Pos  agora  convêm 
que,  segundo  deixou  ordenado,  promet- 
tacs  lie  vos  presentar  ra  corte  d'el-rei 
Recindos,  SC  não  passareis  por  outra  pe- 
na maior  da  que  vos  dão  vossas  feridas.  • 


I 


SEGU 


SEGU 


SEGU 


449 


Ibidem,  cap.  129.  —  «Leese  na  primey- 
ra  Ciironica  das  oitenta  dos  Revs  da  Chi- 
na no  capitolo  treze,  a  qual  eu  ouvy  muv- 
tas  vezes  lèr,  que  despois  do  diluvio  seis- 
centos e  trinta  e  nove  annos  avia  huma 
tsrra  que  então  se  chamava  Guantipo- 
cau,  a  qual,  segundo  parece  pela  altiu-a 
do  clima  em  que  está,  deve  de  estar  em 
sessenta  e  dous  grãos  da  banda  do  Nor- 
te, e  jaz  nas  costas  desta  nossa  Alema- 
nha.» Fernào  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  92.  —  íE  a  razào  disto  foy, 
segundo  affirma  a  mesma  historia  [a,  qual 
os  Chins  tem  por  muyto  verdadeyra)  que 
vindo  esta  ai-mada  toda  junta,  para  sem 
neuluima  piedade  effeituar  na  pobre  Naa- 
caa,  e  nos  seus  três  filhos,  e  na  mais 
gente  que  estava  com  ella,  os  danados  e 
cruevs  intentos  do  tyranno  Silau.»  Ibi- 
dem, cap.  93.  —  «Este  mesmo  costume 
guardavaõ,  segundo  parece,  as  mais  das 
Naçoens  do  Norte:  porque  todas  ellas  os 
tiveraõ  quasi  semelhantes,  e  por  elles  se 
governarão  muitos  em  lugar  de  leys.» 
Manoel  Severim  de  Faria,  Noticias  de  Por- 
tugal, Disc.  3.  —  «Camões  chegou  a  Lis- 
boa em  1569,  e  publicou  os  Lusíadas  em 
1572  na  officina  de  António  Gonsalves. 
Fez  logo  segunda  ediçào  no  mesmo  anno, 
segundo  dem.onstrou  o  Morgado  de  Mat- 
theus,  e  ja  Faria-e-Sousa  tinha  descu- 
berto.  Desde  então,  pode-se  dizer  que  a 
imprensa  ainda  não  descançou  de  multi- 
plicar exemplares  d'esta  assim  como  das 
outras  obras  de  Luiz  de  Camões.  (Nota 
da  seçiunda  edição.^j)  GaiTett,  Camões, 
nota  H  ao  canto  9. 

—  Segando  qtie ;  conforme,  da  mesma 
maneira,  no  mesmo  estado  que,  tal  qual, 
como. —  «Atee  que  primeiramente  sejaò 
demandados,  condapnados,  e  eixecutados 
os  principaae:  devedores;  porque  nom 
com  menos  razom  o  devem  ellas  aver, 
que  03  homens,  a  que  per  Direito  é  ge- 
ralmente outorgado,  segundo  que  mais 
compridamento  diremos  no  Titulo,  que 
se  começa,  Da  Fiadoria  de  muitos. n 
Ord.  Affons.,  liv.  4.  tit.  18,  §  10.  —  «E 
esto  achamos  por  Direito  que  ha  lugar, 
quanilo  a  cousa  he  vendida  polo  justo 
preço,  segundo  que  dito  avemos  no  Titu- 
lo, Das  Usuras:  ca  se  a  cousa  fosse  ven- 
dida por  menos  a  quarta  parte  do  justo 
preço.»  Ibidem,  tit.  40.  §  1. 

—  Segundo  ;  por  segundo  o  que.  — «E 
com  esta  declaraçam  Viandamos  que  se 
guarde  a  dita  Ley,  segundo  em  ella  he 
eontheudo,  e  per  nós  declarado,  ca  em 
outra  guisa  pareceria  ser  contra  a  outra 
Ley  arate  desta.»  Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit. 
1,  §  4.  • —  »Por  quanto  acerca  delles  fo- 
rom  feitas  Leyx  especiaes  pelos  Revx 
nossos  antecessores,  per  que  forom  de- 
claradas certas  penas  aaquelles,  que  se- 
melhantes maldades  comettessem,  segun- 
do em  ellas  mais  compridamente  he  eon- 
theudo.» Ibidem,  liv.  5,  tit.  2,  §  13. — 
«Por  certo,  disse  Albayzar,  pouca  cousa 


vol-os  fará  deixar,  ainda  que  os  muito 
estimeis,  segundo  em  vós  vejo;  com  tu- 
do, peço-vos  hajais  por  bem,  se  vos  der- 
ribar desta  vez,  que  vos  vais  presentar 
de  minha  parte  ao  gigante  Almom"ol  e 
lhe  digais  que  comvosco  hei  por  desem- 
penhada minha  pessoa  da  obrigação,  em 
que  me  poz  Miraguarda,  posto  que  já  es- 
tava fora  delia.»  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  124. 

—  tí.  m.  Termo  de  astronomia.  Cada 
uma  das  sessenta  partes  em  que  se  divi- 
de o  minuto  de  circulo  ou  de  tempo. 

SEGUKDO-GENITO,  adj.  (Do  latim  se- 
cundo genitus).  Diz-se   <!o  filho  segundo. 

t  SÉGDNDO-GENITURA,  s.  f.  Termo 
forense.  Qualiúade  e  circumstancia  de 
ser  filho  seguniJo. 

7  SEGUNTIWO,  adj.  rDo  latim  sigun- 
tinus:.  Pertencente  á  cidade  e  província 
de  Siguenza. 

—  S.  m.  O  natural  de  Siguenza. 
SEGUR.  Vid.  Segure,  Secure,  e  Segura. 
SEGURA,  «.  /.    3Iachado   grande   para 

lavrar  adaella. 

SEGURAÇÃO,  s.  f.  Seguro  mercantil. 
—  Contracto  de  seguração. 

SEGURADO,  part.  pass.  de  Segurar. 

—  <S'.  m.  N  um  contracto  de  seguro,  o 
que  dá  premio  ao  segurador. 

SEGURADOR,  s.  m.  Vid.  Assegurador. 

—  Garante,  fiador,  abonador:  o  que 
fica  por  alguém  para  segurança  de  divi- 
das ou  de  outra  cousa,  pela  qual  elle  é 
obrigado. 

—  Garante  de  tratos,  tratados,  capitu- 
lações entre  reis. 

—  Seguradores  do  campo;  nos  reptos  e 
duellos.  os  que  mantinham  a  segurança 
dos  reptados  ou  desafiados. 

SEGURAMENTE,  adv.  iDe  seguro,  com 
o  suffixo  «mente»  I.  Com  segurança,  de 
modo  seguro.  —  «Entào  lhes  mandou  dar 
cascaueis,  ceptis,  e  anéis  destanho,  e  ou- 
tras cousas  desta  calidade,  ho  que  toma- 
rão mui  alegres,  specialmente  hos  casca- 
ueis pelo  som  que  faziaõ,  e  dalli  por 
diante  começarão  de  vir  à  praia  segura- 
mente, e  dar  dos  mantimentos,  que  hauia 
na  terra,  atroquo  de  outras  cousa.?.»  Da- 
mião de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  1,  cap.  35. 

—  Certamente,  com  certeza,  ou  sem 
risco  de  cquivocar-se. 

SEGURANÇA,  s.  /.  Estado  das  cousas 
que  as  torna  firmes,  certas  e  livres  de 
todo  o  risco  c  perigo.  —  «E  dizemos,  que 
no  caso  hocde  o  comprador,  e  o  vende- 
dor ouvessem  acordada,  e  firmada  sua 
venda  e  compra  de  certa  cousa  por  cer- 
to preço,  e  o  comprador  desse  logo  de 
sinal  certo  dinheiro  ao  vendedor,  que  se 
chama  em  direito  arra,  per  segurança  da 
dita  compra,  em  tal  caso  se  elle  compra- 
dor se  arrepender,  e  quizer  afastar  do 
dito  contrauto,  podclo-á  bem  fazer.»  Ord. 
Affons.,  liv.  4,  tit.  36,  §  1.  —  a  Com  es- 
tas ordens  se  acrescentou  grandemente  o 


comercio  em  tempo  d'ElRey  D.  Sebas- 
tião, e  navegavaò  os  Navios  deste  Reyno 
com  grande  segurança  de  Cossarios.» 
^lanoel  Severim  de  Faria,  Noticias  de 
Portugal,  Disc.  2,  cap.  16.  —  aAftbnso 
d'Albuquerque  em  quanto  Abrahem  Bec, 
e  o  Embaixador  do  Xeque  Ismael  esti- 
veram na  Cidade,  e  elle  ordenou  estas, 
e  outras  cousas,  por  segurança  daquelle 
Reyno  de  Ormuz,  nunca  os  tomou  por 
parte  nisso,  ante  por  medianeiros,  como 
a  homens  nobres  tão  acceitos  ao  Xeque 
Ismael,  e  sempre  em  todos  aquelles  ne- 
gócios qualquer  causa  que  lhe  elles  re- 
queriam, folgava  de  fazer.»  Barros,  Dé- 
cada 2,  liv.  10,  cap.  5. 


Oli  esperança,  esperança, 
A  mais  certa  pena  minha 
Com  toda  esta  segurança! 
Tu  CS  a  mesma  tardança 
Era  figura  de  mezinha. 
Oh  quem  tal  arrepender. 
Tal  maneira  de  penar, 
Lá  soubesse  no  viver ! 
Oh  r|uem  tornasse  a  nascer, 
Por  nào  pcccar ! 

Gn,  nCEKTE,  AUTO  DA  BABCA  DO 
PUBGATOKIO. 


—  «Recolhido  elle  mandou  o  Governa- 
dor a  Francisco  de  Jlello  Pereira,  que 
tinha  vindo  rico  de  Banda,  que  fosse  es- 
tar em  Rachol  com  duzentos  soldados 
Portuguezes  pêra  segurança  das  aldeãs, 
e  lhe  deu  titulo  de  Capitão  mor  das  ter- 
ras de  Salsete,  e  mil  pardaos  de  ordena- 
do cada  anno,  pagos  nos  foros  daquellas 
aldeãs.  Francisco  de  Mello  Pereira  se 
passou  à  outra  banda,  e  de  Margaõ  pêra 
Rachol  gastou  todo  o  inverno,  quietando, 
e  segurando  as  terras,  e  arrecadando  os 
foros  delias.»  Diogo  de  Couto,  Década  6, 
liv.  4,  cap.  9.  —  «O  Bacharel  lhe  disse 
«que  lhe  mandasse  o  mayor,  e  o  mais 
«rico  que  pudesse,  que  elle  faria  com  D. 
«Antaõ  que  lho  tornasse  depois :  porque 
«não  queria  mais  que  acreditarse  com  os 
«homens,  e  que  pêra  segurança  disso  lhe 
«daria  hum  assinado  do  mesmo  D.  An- 
«taõ,  e  outro  seu.  ElRey  o  fez  assim,  e 
estando  hum  dia  D.  Antaõ  de  Noronha 
com  D.  Diogo  de  Noronha,  D.  António, 
e  todos,  ou  os  mais  dos  Fidalgos,  e  ca- 
valleiros  de  sua  Armada,  chegou  a  visi- 
tação de  ElRey,  e  o  presente,  que  valia 
dez,  ou  doze  mil  cruzados,  porque  era 
hum  fio  de  pérolas  riqmssimo,  algumas 
peças  de  ouro,  c  prata  curiosas,  alcatifas 
grandes,  e  ])equenas,  muy  finas,  e  outras 
cousas.»  Ibidem,  liv.  10,  cap.  10. —  «E 
gracejado  cos  seus  sobre  esta  matéria  cõ 
alguns  ditos  c  galantarias,  a  que  natu- 
ralmente saõ  muyto  inclinados,  chegou  o 
Fingeindono,  ao  qual  me  elle  logo  entre- 
gou com  palavras  de  muyto  encarecimen- 
to a  cerca  da  segurãça  de  minha  pessoa, 
de  que  me  eu  ouve  por  muyto  satisfeito.» 
Fernão    Mendes    Pinto,     Peregrinações, 


450 


SEOU 


SEGU 


SEGU 


cap.  13:').  —  «E  depois  se  foz  em  Lisboa 
o  Forto  da  Cabeça  Scea,  que  se  começou 
em  tempo  dos  ííoveriiadorcs,  e  iio  d'EI- 
Rey  D.  Fclippo  o  Purilento,  o  de  Santo 
António,  para  segurança  da  liabia  de 
Cascão». »  iMariool  .Sovcrim  de  Faria,  No- 
ticias de  Portugal,  Disc.  2,  cap.  12. 

—  Ohrd  fcitii  cum  segurança;  em  que 
não  lia  receio  de  se  arruinar  oin  breve. 

—  Carta  de  seguro,  que  d:l  o  sobe- 
rano. 

— •  Filhar  imnnos  de  segurança ;  fazer- 
se  religioso. 

—  Despojo,  dciicnvoltura  honesta. 
,  —  O  acto  de  segurar,  garantia. 

—  O  que  segura  do  incertezas,  e  pe- 
rigos, ou  algum  estado. 

— -Segurança  da  égua;  prenhez,  con- 
cepção, gravidação. 

—  Figuradamente :  Repouso,  soeego, 
tranquillidade. 

• —  Firmeza  de  animo,  intrepidez,  cons- 
tanci.a.  —  «O  sexto,  suspensão  do  animo 
enlcuado  em  Deos,  ou  arrebatado,  que  se 
chama  rapto,  no  qual  não  se  pode  decla- 
rar o  que  a  alma  sente  delle.  Aos  sobre 
dito;  aíToitos  se  seguem  dous,  a  saber, 
segurança,  com  a  qual  a  alma  naõ  teme 
padecer  por  De  s,  quanto  se  oftrecer,  e 
ccrtissiniameiite  conlia,  (|ue  nunca  scra 
dcUe  apartada.»  Fr.  I).arth(domeu  dos 
Jlartyrcí,  Compendio  de  espiritual  dou- 
trina, ca]>.  15. 

SEGURAR,  i'.  a.  Firmar,  fazer  seguro, 
ou  lirinc  para  não  cair,  ou  se  conservar 
no  lugar  onde  se  poz.  —  «O  comprimen- 
to de  toda  a  Vara  era  de  pé  e  movo,  e 
segurava  a  porção  do  hum  pé  com  a  mão 
diruvta,  e  com  a  esquerda  o  resto  da 
Vara,  «pie  era  a  parte  infcricu'.»  Caval- 
Iciro  (rOliveira,  Cartas,  Hv.  3,  n."  38. 

—  Livrar  de  risco,  perigo. 

—  Proraetter  com  segurança,  e  asse- 
vci'ação. 

.   —  Fazer  ousado,  intrépido. 

—  Fazer  certo  o  que  era  contingente. 

—  Fazer  firme,  seguro,  estável. —  «O 
Reyno  dos  Lombardos  em  Itália  esteve 
por  estos  annos  em  poder  de  Pertharito, 
e  de  sou  tillio  Cuniperto,  a  quem  tomou 
por  comiianheiro  no  Reyno,  para  efeito 
de  segurar  nelle  a  sucessrio,  e  como  se 
lhe  rebelasse  Alachis  Duque  de  Trento, 
especial  amigo  de  Cuniperto,  o  pay  lhe 
perdoou  a  rebelião,  e  acrecentou  em  seu 
estado  a  Cidade  de  Brexa.»  Monarchia 
Lusitana,  liv.  (3,  cap.  30.  —  «E  o  Con- 
do vendo  a  grande  mercê  que  Deos  lhe 
llzora,  a  quis  segurar,  e  tomando  o  des- 
pojo dos  mortos,  leuando  o  Alcayde  es- 
condido, começou  com  sua  batalha  muy 
cerrada  de  andar  pêra  a  Villa  com  muy- 
to  tonto,  o  os  mouros  hião  após  ello  sem 
ousarem  de  o  cometer,  nem  se  determi- 
narem por  não  terem  Capitão.»  (í areia 
de  Rezende,  Chronica  de  D.  João  II, 
cap.  71. 

—  Figuradamente  :    Animar,    inspirar 


confiança,  segurança.  —  «  Pcdraluarez 
também  por  mães  segurar  elRey,  e  não 
serem  aquelias  vistas  com  tanta  descon- 
fiança, que  pi-ra  eoiisiliar,  e  acquirir  ami- 
zade era  cousa  jircjudieial :  não  quis  que 
tudo  fossem  cautelas,  c  mães  prjrquc  nel- 
las  mostraua  temor.»  Ijarros,  Década  1, 
liv.  5,  cap.  4. 

Ao  feio  aspecto  do  fatal  hospício, 
As  carnes  ao  DcaO  se  arripiAraõ. 
l'omcça  u  vacillar  ;  iiiaa  a  malvada 
Velha  Bruxa  o  terjura,  alenta,  anima. 
DINIZ  DA  CRUZ,  iiyssoPK,  cant.  8. 

—  Segurar /aze rtf/as,  mercadorias,  etc.; 
dar  certo  ijreniio  ao  seguro,  pelo  qual 
este  toma  sobre  si  o  risco  d'ellas. 

—  Segurar  alguém;  dar-lhe  carta  ou 
promessa  de  seguro. 

—  Segurar  o  golpe ;  dal-o  de  forma  que 
não  false,  que  o  perigo  não  possa  esca- 
par-se. 

—  Segurar  algumi;  prendel-o  de  modo 
que  não  possa  fugir. 

—  Segurar  o  campo  nos  duellos,  tor- 
neios, etc. ;  pôr  gente  de  guarda  que  im- 
peça desordem,  traição,  e  que  se  pertur- 
be a  igualdade  que  deve  haver ;  dar  se- 
guro ao  que  vem  a  elle,  e  isental-o  por 
aquelle  tempo  da  jurisdieção  e  força  da 
lei,  por  obrigação  ou  crime,  a  que  a  pes- 
soa que  a  elle  vem  é  responsável.  —  «Se- 
nhora; pois  de  tão  longe  vos  escolhemos 
por  juiz,  mandai-lhe  segurar  o  c^mpo,  c 
vamo-nos  logo  a  elle,  que  eu  prometto  do 
não  me  desarmar  té  que  com  minhas 
mãos  timie  a  satisfação  de  tamanha  inju- 
ria.» Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
d'Inglaterra,  cap.  80. 

—  Segurar  a  veia;  fixal-a  para  não 
errar  a  sangria. 

—  Segurar  a  cidade  com  defezas;  de- 
fender. 

—  Segurar  bem  a  linha  solar;  tomar  a 
altura,  ou  hititude  geograpliica. 

—  iSó  em  Deus  seguro  meus  males;  es- 
pero li^^•ar-me  d'elles  a  meu  salvo. 

—  Cavallo  de  cavallagem,  que  caval- 
gue e  segure  20  éguas;  que  cubra  e  ande 
com  loto  de  20  éguas. 

—  Segurar-se,  v.  reji.  Fic;ir  seguro, 
destemido,  intrépido. 

—  Preservar-se,  eximir-se,  pOr-se  a 
salvo  de  perigo,  damno. 


E  por  ss  ser/tirar  melhor  da  morte, 

Ou  d'hum  !n;il  que  tal  medo  nelle  punha, 

Manda  a  Martim  .'Vtfonso,  varão  forte, 

Que  dos  illiístrcâ  Sousas  tem  a  alcunlia, 

Outro  recado  então  da  mesma  sorte 

Qual  fora  o  que  mand:ira  ao  grande  Cunha  ; 

O  qual  Sousa  cm  Chanl  cutào  estava 

E  por  Capitão-m<ír  do  mar  audava. 

F.    n'ANPRADE,  TRIMEIRO  CEECO  DE  DIU,  CaUt.   ."5, 

est.  í>8. 


—  Tomar  carta   de   segurança,  ou  de 
seguro. 


—  Segurar-se  de  alguém;  tomar  carta 
de  seguro  relativa  ao  caso  de  que  alguém 
piide  quertdar. 

—  Segurar-se  de  algum  delicio;  tomar 
carta  ou  alvará  do  segurança  de  vida, 
tomar  carta  de  seguro  judicial,  por  al- 
gum delieto. 

SEGURE,  s.  f.  (Do  latim  tecurisi.  Ma- 
chado grande  para  cortar. 

—  Termo  de  historia.  Machadinba  que 
08  lictores  romanos  levavam  entre  os  £as- 
ees,  como  iiisignia  de  punir,  e  com  que 
cortavam  as  cabeças  aos  delinquentes. 

—  Espécie  de  poesia,  que  e.-cripta  imi- 
ta uma  segure  pela  desegualdade  de  bcub 
versos. 

SEGURELHA,  «./.  (Do  latim  satureia). 
Ilerva,  que  lança  uns  pequenos  ramos, 
redondos,  vermelhos,  e  algum  tanto  fel- 
pudos, com  folhas  pequenas,  compridas, 
cheias  de  bunaquinho»,  ma«  que  nào  pas- 
sam de  parte  a  parte ;  dá  umas  flores  pe- 
quenas, semelhantes  ás  do  thymo,  alva- 
dias, e  declinante-;  a  côr  de  purpura. 
Cultiva-se  nas  hortas,  e  entra  nos  gui- 
zados ;  é  aperitiva,  penetrante,  attenuan- 
te,  corrobora  o  estômago,  fortifica  08 
nervos,  e  a  vista.  —  A  segurelha  vejo 
que  é  discreta.  —  «  De  fura"  de  Acelgas 
une.  ij ;  de  fumo  de  ruda,  e  de  segure- 
lha an.  une.  j.  de  mel  rezado  an,  une.  j. 
e  semiss.  de  óleo  de  nozes  une.  ij  ;  de 
sal  gema  drachm.  j.»  Braz  Luiz  d'A- 
breu,  Portugal  medico,  pag.  483,  §  149. 

—  Palavra  do  jugo  de  pião,  de  que 
usam  os  rapazes. 

—  Termo  de  atafoneiro.  Ferro  que 
tem  as  extremidades  mais  largas  e  vai 
diminuindo  para  o  meio,  no  qual  tem  uma 
abortura,  aonde  entra  o  ferro,  que  faz 
andar  a  ])odra  de  cima. 

SEGUREZA.  Vid.  Seguridade. 

SEGURIDADE,  «.  /.  ',Do  latim  securita- 
tem).  Estado  das  cousas  que  as  torna  fir- 
mes, certas  e  ll^Te3  de  todo  o  risco  e  pe- 
rigo; segurança.  —  «  E,  por  nào  mostrar 
o  que  sentia,  os  despediu  logo,  tomando 
Floriano  em  sua  guarda.  E  pêra  mais 
seguridade  mandou  annar  quinhentos  ca- 
valloiros,  e  que  estivessem  no  campo. 
Floriano  llie  quiz  biijar  a  mào.»  Fran- 
cisco de  Moraes.  Palmeirim  dlnglaterra, 
cap.  80.  —  « Que  té  aqui  fossemos  de 
imigos,  agora  como  amigos  nos  entrega- 
mos ;  e,  por  mais  seguridade,  estas  são  as 
chaves  dos  castellos,  que  vos  tanto  san- 
gue custam:  dclles  podeis  fazer  o  que 
quizerde*,  e  de  n('is  o  qr.e  vos  vier  á  von- 
tade; inda  que  em  homens,  que  se  ren- 
dem, n.ão  se  pode  usar  crueza.»  Ibidem, 
cap.  108.  —  «  Pêra  mais  seguridade  lho 
tomou  sua  fé  com  todalas  firn.ezas  n^^ces- 
sarias,  dizendo-lhe  que  se  contentasse 
com  tào  leve  castigo,  pois  seu  erro  fOra 
dino  de  outro  mor.»  Ihidem. 

—  Repouso,  soeego,  tranquillidade. 
seguríssimo,  alj.  superl.  de  Seguro. 
SEGURO,  adj.  (Do  latim  secHrusi.  Livre 


SEGU 


SEGU 


SEGU 


451 


e  isento  de  todo  o  perigo,  damno  ou  risco. 
—  «Ante  manhã  chegaram  Siinào  Dan- 
drade,  e  Christouão  lusarte  nos  bateis, 
porque  o  vao  fieaua  seguro  com  a  raare 
que  enchia.»  Damiào  de  Góes,  Chronica 
de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  88.  —  «Com 
tudo  tendo  noua  per  seus  espias  que  es- 
taua  o  campo  seguro  lhe  deu  quarenta  de 
cauallo  dos  moi-adores,  e  alguns  iidalgos 
fronteiros,  de  que  naquelle  tempo  auia 
muitos  em  Arzilla,  e  mandou  com  elle  o 
Almocadem  Pêro  de  Meneses,  para  irem 
dar  em  hum  a  casa  de  hum  Mouro  rico 
que  estaua  em  Benagarfate. »  Ibidem, 
part.  3,  cap.  9.  —  «  Com  esta  noua,  por 
ho  cabo  ficar  seguro  determinou  António 
dazeuedo  de  sembarcar  na  earauela,  afiu- 
zaJa  também  em  duas  nãos  biscainhas 
que  nauegauam  pêra  leuante.  e  estauam 
ancoradas  na  Almadraua.»  Ibidem,  part. 
4,  cap.  50.  — «  Mas  elle,  que  té  alli  nun- 
ca vira  outro  gigante,  e  este  era  um  dos 
mais  bravos  e  ferozes  do  mundo,  não  te- 
ve a  sua  vida  por  mui  segxira.»  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  27.  —  «  E  nào  se  tendo  por  seguros 
em  toda  aquella  costa,  a  força  de  remos, 
que  o  vento  não  consentia  vela,  em  pouco 
tempo  arribaram  ao  mar  da  Turquia, 
onde,  passando  alguns  dias,  chegaram 
ao  porto  d'uma  cidade  nobre,  onde  o 
turco  fazia  sua  habitação.»  Ibidem,  ca- 
pitulo 96.  —  «Senhora,  gi-ave  será  a  cou- 
sa que  d 'aqui  por  diante  me  faça  affas- 
tar  de  vós,  e  deisar-vos  á  cortezia  dos 
cavalleiros  desta  terra,  que  o  fazem  mal 
com  as  donzellas,  que  cuidando  que  ca- 
minham seguras,  sua  confiança  lhe  faz 
damno.»  Ibidem,  cap.  128.  —  «E  mais 
quem  tem  conhecimento  delias  não  ha  de 
viver  tào  seguro  nas  mostras  de  amor 
com  que  o  tratam,  que  cuide  que  na  for- 
ça delle  deixem  de  fazer  mudança,  que 
é  sua  condição  natui-al.»  Ibidem,  cap.  129. 

Escolhe  por  melhor,  e  mais  escuro 
Conselho,  demandar  ao  pay  por  justa 
E  Canónica  lei,  a  que  pêra  isto 
Lhe  tinha  dado  ja  consentimento. 
Por  hum  fiel  amigo  dizer  manda 
Ao  Sã,  que  de  Lianor  nada  despenha 
Porque  por  lei  diuiua  se  lhe  deuc 
Entregar  por  esposa  que  era  sua. 

COBTE  B£AI.,  NAUFBAGIO  DE  SEPÚLVEDA ,  Cant.  1. 

—  o  E  jurou  de  o  fazer  assi,  e  de  os 
aver  por  seguros  debaixo  de  sua  verda- 
de, e  que  nenhum  ladrão  daly  por  diante 
lhe  tomaria  cousa  alguma  de  suas  fazen- 
das.» Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  52.  —  «  E  tãbem  me  parece 
que  quanto  mais  cedo  vos  fordes  daquv, 
tanto  mais  seguros  estareis  dos  trabalhos 
que  o  tempo  nos  começa  a  mostrar  nisto 
que  agora  sua  alteza  quer  emprender  de 
novo  por  conselho  de  alguns  que  haõ  mis- 
ter mais  de  conselho  para  se  governarem 
a  sy  mesmos,  do  que  a  terra  ha  mister 
de  agoa  para  produzir  os  fruitos  de  suas 


sementes.»  Ibidem,  cap.  125.  —  «E  nós 
os  oito  constrangidos  da  necessidade  nos 
fov  forçado  assentarmos  partido  com  elle 
paraque  nos  levasse  comsigo  por  onde 
quer  que  fosse,  até  que  Deos  nos  melho- 
rasse noutra  embarcação  mais  segura  em 
que  nos  fossemos  para  Malaca.»  Ibidem, 
cap.  132. 


Os  da  Cidade  vendo  aquelle  duro 
Fim  do  seu  Rei,  e  estrago  da  sua  gente, 
Teme  em  si  cada  hum  o  mal  futuro 
Polo  que  entào  nos  seus  xia.  presente. 
E  nào  se  havendo  alli  por  bem  seguro 
Qualquer  então  procura  alli  somente 
Por  salvar  sua  ^^da  e  faculdade 
Com  pressa,  com  temor,  com  brevidade. 

F.     d'aSDRADE,    PBDreiRO  CEKCO  DE  DIU,  CaUt.    1, 

est.  31. 


Pouco  ja  da  vergonha  entào  curarão 
Quando  a  morte  diante  os  faz  medrosos, 
E  de  tornarem  \ivo3  mais  tratarão 
Que  de  poder  tornar  ^-jctoriosoa  : 
Os  que  das  barcas  mais  perto  se  acharão 
Estes  então  se  tem  por  mais  ditosos, 
Que  estes  hão  que  tem  mais  segura  a  vida 
Mais  longe  do  Christào  ferro  homecida. 
IBIDEM,  cant.  18,  est.  31. 

—  «  Ao  som  das  charamelas  com  fes- 
ta, e  alegria  o  posemos  em  seu  lugar, 
tendo  nos  ja  por  seguros,  (se  possível  he 
podelo  estar  em  esta  vida).»  Fr.  Gaspar 
da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da  China, 
cap.  2.  —  «A  barra  de  Leuante,  posto 
que  tem  outro  tanto  fundo  como  a  outra, 
com  tudo  não  he-tà  segura,  por  ser  mais 
pequena,  e  estreita;  a  quem  for  necessá- 
rio tomala,  encostese  bem  a  Fortaleza, 
porque  junto  delia,  ha  mais  agoa  que  nas 
outras  partes.»  Ibidem,  cap.  õ. 

—  Que  se  não  abala,  firme. 

E  pcra  claro  cimento 
E  a  obra  nào  ser  escura, 
Direi  em  prosa  o  argumento; 
Porque  a  cousa  que  he  segura, 
Procede  do  fundamento. 

GIL  VICENTE,  FAKÇAS. 

—  «  E  por  esta  falta  andou  fugindo  o 
cavallo  cora  elle  pelo  campo,  e  sempre  o 
lançara  fora,  se  não  estivera  cercado  de 
segura  paliçada  que  o  imperador  sempre 
queria,  que  estivesse  feita,  receando  que 
uma  hora  alguns  bons  cavalleiros  por 
falta  delia  perdessem  o  galardão  de  seu 
esforço.»  Francisco  de  lloraes,  Palmei- 
rim'd'Inglaterra,  cíip.  94. 

—  Certo,  indubitável,  infallivel.  — 
«  Depois  de  Afonso  Dalbuquerque  ser 
na  sua  nao,  logo  dahi  a  pouco  tornou 
Cojebeirame,  dizendo  que  por  ser  ja 
muito  tarde  lhe  mandaua  el  Rei  pedir 
que  fosse  contente  de  esperar  ate  o  ou- 
tro dia  pela  manhã,  que  elle  mandaria 
as  pessoas  com  que  auia  de  contratar,  e 
que  disso  se  tiuesse  por  seguro.»  Damião 
de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  2, 
cap.   33. —  «Finalmente  assentou  elRey 


que  em  quanto  o  negocio  de  si  naõ  daua 
outro  conselho,  o  mães  seguro,  e  melhor 
era  ir  logo  poder  de  nãos,  e  gente,  por- 
que nesta  primeira  vista  que  sua  armada 
desse  àquellas  partes,  que  ja  ao  tempo' 
de  sua  chegada  toda  a  terra  auia  de  es- 
tar posta  em  armas  contra  ella,  conuinha 
mostrarse  mui  poderosa  em  armas,  e  em 
gente  luzida.»  Barros,  Década  1,  liv.  5, 
cap.  1.  —  «O  ca  vali  eiró  do  Sal  vage, 
vendo-se  no  derradeiro  extremo  da  vida, 
quiz  aventural-a  de  todo,  tendo  por  mais 
seguro  remédio ;  e  remettendo  a  Baleato 
com  um  golpe,  cuidando  de  o  tomar  em 
descoberto,  o  gigante  o  recebeu  no  escu- 
do, e  foi  de  tanta  força,  que  entrando 
algum  tanto  por  elle,  quebrou  a  espada 
em  três  pedaços,  e  o  mais  pequeno  lhe 
ficou  na  mão.»  Francisco  de  Moraes,  Pal- 
meirim d'Inglaterra,  cap.  107.  —  «  Logo 
se  entregou  das  chaves,  contente  de  vêr 
tão  seguro  fim  em  cousa,  que  tão  ás- 
pero teve  o  principio.  Os  cavalleiros  o 
acompanharam  alguns  dias,  esperando 
sua  saúde  pêra  em  sua  companhia  f  e  irem 
a  Inglaterra,  porque  suas  promessas  os 
punham  em  grandes  esperanças.»  Ibidem, 
cap.  108.  —  «  E  inda  que  pêra  o  fazer- 
des vossas  obras,  e  o  que  por  ellas  me- 
receis, vos  tirem  o  atrevimento,  podeis  ir 
seguro,  que  a  clemência  do  imperador  é 
maior  que  os  erros  de  ninguém.»  Ibidem, 
cap.  116. 

Xão  te  dês  por  tão  seguro, 
nesse  bem,  nesses  estremos : 
eu  sou  Sibyla,  e  te  juro 
que  Sibylas  sabem  demos, 
sabem  presente  e  futuro. 
Asioiao  PRESTES,  AUTOS,  pag.  321. 

—  «  E  naS  obstante  esta  opinião,  que 
he  a  mais  segura,  accrescento,  que  forti- 
ficaçoens  grandes,  que  demandaõ  quinze, 
ou  vinte  mil  homens  de  guarnição,  que 
mais  barato  he  naõ  se  tratar  delias ;  por- 
que posta  essa  gente  em  campo,  faz  hum 
exercito  capaz  de  dar  batalha,  e  alcan- 
çar vitoria,  e  Portugal  assim  se  defende 
sempre.»  Arte  de  furtar,  cap.  16. 

—  Firme,  constante.  —  «  E  o  Bispo 
como  grande  letrado,  e  o  Prior  como  es- 
forçado caualleiro,  lhe  disseram  então  o 
que  pêra  sua  alma,  e  corpo  cumpria,  e 
el  Rev  muvto  em  si,  e  com  o  rosto  muy- 
to  seguro,  como  muvto  esforçado  e  va- 
lente Principe.»  Garcia  de  Rezende, 
Chronica  de  D.  João  II,  cap.  27.  —  «E 
dalli  em  diante  foram  seguros  e  leaes; 
qualidades,  que  ás  vezes  os  homens  tem 
por  natm-al  e  deixam  de  fazer  polas  con- 
versações. Tanto  que  o  cavalleiro  do  Sal- 
vagem  foi  convalecido  de  suas  feridas, 
veio  nova  da  prisão  de  el  rei  Polendos, 
Belcar,  e  os  outros  cem  cavalleiros  do 
imperador,  com  que  se  recebeu  gram  pe- 
sar e  tristeza.»  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  d'lnglaterra,  cap.  108. 


4ò: 


.SE(iU 


SEGU 


SEi 


—  Inti-cplilo,  sem  rccoio.  —  «O  que  as- 
ai assenta  lo  os  nosso.s  coino  ainifíos  amla- 
uilõ  pela  turra  fazomlo  rfoiu  ikj^íocío.s  tam 
seguros,  comn  os  mu.siuo<  naturacs  dolla, 
no  que  co:itiiiiiaiain  ate  o  uios  do  luulio 
doauiiode  .M,D.xx.  que  lhes  scruio  o  tem- 
po para  se  tornarom,  oui  que  António  cor- 
roa 80  foj  a  vola  caniinlio  de  Malaca,  com 
cinco  jiingos  eaircí^ados  de  mantimentos, 
que  foi  a  mollior  mercadoria  que  poderia 
iiaquelle  tempo  trazer  a  Cidade  por  del- 
les  auer  muita  falta.»  Damião  do  (íoes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  4,  cap.  Õ2. 

—  «Entra  seguro  e  sem  roeeyo  do  nada, 
porque  ja  to  Un,  i)')la  bondade  de  Deos, 
somos  coiuo  vos  outros,  o  assi  esperamos 
noUo  quo  seja  até  o  dorradeyro  bocejo  do 
luundo,  o  metendomo  dcutro  na  casa  on- 
de el  Key  estava,  llie  úa  meu  acatamen- 
to, pondo  três  vezes  o  joellio  no  cliào.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações,  ca- 
pitulo lõ. 

—  Corto,  digno  do  confiança.  —  Ho- 
vietn  seguro. 

—  Cidade,  terra,  íogar  seguro;  que 
offeroce  segurança,  livre  de  risco.  —  «Es- 
ta terra  creio  que  não  é  segura,  eu  fol- 
garia que  me  acompanhásseis  uma  jorna- 
da ou  duas  o  d'ahi  fareis  o  que  mais  qui- 
zerdes,  que  eu  não  quero  outra  mercê. 
Nisto  a  recebo  eu  muito  grande,  disse  o 
do  Salvage,  e  no  ai  a  vontade  de  vós 
queria  ter  certa,  pois  sem  eila  não  tenho 
saúde  nem  vida  segura. »  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  10(5. 

—  «N'isto  se  calou  um  pouco.  O  do  Sal- 
vage, que  sentiu  que  aquelle  era  Balea- 
to,  o  outro  irmão  de  Bracolão,  quo  já  in- 
formado da  morte  de  seu  irmão,  o  ia  bus- 
car, iicou  de  todo  contente,  polo  tomar 
em  lugar  tão  seguro  e  apartado  de  seus 
cavalleiros.»  Ibidem,  cap.  107.  —  «Che- 
gada a  nianhãa,  unia  das  cousas  em  que 
mais  trabalhou  foi  em  fazer  partir  a  don- 
zella,  pois  a  terra  era  segura,  do  que  não 
pesou  ao  do  Salvage,  que  tinha  por  con- 
dição, se  cumpria  com  o  desejo,  desejar 
logo  outra:  o  a  ella  pesou  muito,  que  a 
Bua  delias  ó,  depois  que  se  entregaram, 
não  querer  mais  apartar-se.»  Ibidem. 

—  Ficar  seguro  d'al(jueiH ;  não  ter  re- 
ceio acerca  delle  (de  que  peroa  a  amiza- 
de, fuja,  minta,  etc).  —  «Polinarda  lhe 
teve  em  mercê  aquellas  palavras,  assim 
polo  contentamento  de  o  cavalleiro  do  Sal- 
vage, a  quem  oUa  muito  estimava,  como 
por  viver  f')ra  do  receio  em  que  a  puul>a 
sua  formosura;  c  pêra  perder  este  cui- 
dado desejava  quo  se  entregasse  algum 
tanto  a  elle,  o  ficar  segura  do  Palmei- 
rim; que  neste  caso  nunca  vivem  tão  sem 
modo,  (pie  lhe  não  fique  algum  ou  algu- 
ma desconfiança.»  Francisco  do  Moraes, 
Palmeirim  d'Iuglalerra,  cap.  112. 

—  Que  alcançou  carta  do  seguro. 

—  Seguro  e»!  ahiuma  pessoa,  ou  cousa ^ 
confiado  om  sua  guarda,  defensão,  am- 
paro. 


—  Fazenda  segura ;  de  que  o  segura- 
dor tomou  o  risco. 

—  MitUfir  segura ;  que  presumo  não 
ceder  aos  amantes. 

—  OOra  segura;  feita  com  segorança. 

—  Passos  seguros;  lirmes. 

Vif  iii;iis  oceulta  ori;ji!iii,  pela^  navc« 
Do  templo  i-iitrou  coii\  passos  mal  stgiiro» 
ICIle,  (pip  tuiit;i9  vcíCS  ha  rompido 
As  corradiis  tiloirag. 

(iAitiovrr,  CAUõr.s,  cant.  2,  cap.  -í. 

Alli  Wollio  consnrva,  i:  o  mostra  ao  Mundo ; 

l'rofiiud;i'.nniiti^  calculando,  scpue 

Mathcuiutica  luz,  t\\n:  immcuaa  espalha, 

Em  ijuanta  a  Torra  ^^o  Filosolia ; 

E  com  sci/iiroa  viporoaos  passes, 

Ua  exacta  Sapiência  entra  o  sacrário. 

J.  A.   DE  UACEDO,  VIAOF.M  EXTÁTICA,  Cant.  i. 

—  Tempo  seguro ;  em  que  não  ha  con- 
tingência de  chover  por  dia.s. 

—  Etjiia  segura ;  prenhe. 

—  Estar  seguro  d'alguem ;  livre  de 
seus  receios. 

—  Estar  seguro  d' alguém;  certo,  sem 
duvida,  sem  receio. 

—  Jogar  seguro  ;  não  se  arriscando  te- 
merariamentc. 

—  Montar  seguro ;  firme  a  cavallo. 

—  Carta  segura ;  carta  de  seguro,  sal- 
vo-conducto.  —  «E  compridos  os  oito  me- 
ses do  anno  quo  ficão  peia  justiça,  man- 
do ao  Chumbim,  e  aos  Conchalaas,  e 
Mouteos,  e  todos  os  mais  ministros  do 
seu  governo  a  que  esta  minha  sentença 
for  apresentada  que  logo  lhe  passem  car- 
ta segura  para  que  livremente  se  possaõ 
vr  a  sua  terra,  ou  onde  for  mais  sua  von- 
tade.» Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  103. 

—  <S'.  m.  Salvo-conducto.  —  «  No  dia 
seguinte  que  Afonso  dalbuquerque  ga- 
nhou a  ciciado  lhe  veo  fallar  Crisna,  o 
pedir  seguro  pêra  os  Bramanas,  e  outros 
moradores  da  ilha  que  logo  deu,  saluo 
pêra  os  Mouros,  e  Neiteas,  porque  como 
fica  dito  este  assentou  do  lançar  da  ilha.» 
Damião  de  õoes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  ii,  cap.  11. —  «Item.  Que  lhe  pe- 
dia seguro  geral  pcràs  nãos  Dormuz,  e 
de  sous  vas.sallos  poderem  nauegar  perá 
índia  sem  lho  ser  feito  danno,  nem  em- 
bargos poios  c;tpitãos  de  suas  armadas.» 
Ibidem,  cap,  l3G.  —  »E  se  ante  do  dito 
tempo  se  quizer  vir  oscripver,  que  o  pos- 
sa tazcr  per  sy,  ou  per  outrem,  porque  o 
dito  seguro  liie  uom  valerá,  salvo  despois 
que  for  oscripto.»  Ord.  Affous.,  liv.  5,  tit. 
8Õ,  §  o.  —  «O  Xemimbruin  lho  mandou 
logo  por  dons  Bramaas  a  cavalln,  homens 
ambos  muyto  jirincipais,  o  qual  seguro  hia 
n'uma  foliia  douro  batido  em  que  estava 
o  sinal  dol  Rey.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  140.  —  «E  lhe  dis- 
serào  de  cima  que  o  Cuaubainliaa  queria 
mauiiar  launa  carta  a  ei  Key.  quo  lue 
mandassem  seguro  para  isso.»  Ibidem. 


—  Termo  de  commercio.  Contracto  ou 

cscriptura  com  que  ho  .-ioguram  a»  voiuias 
ou  objectos  <|ue  correm  algum  risco  por 
mar  ou  por  torra. 

—  Cohiijuithia  de  seguros ;  socicJade 
mercantil  (|Utí  reintegra  as  perdas  occa- 
sioiíadas  por  incêndio,  naufrágio,  etc, 
mediante  uma  pequena  retribuição  que 
paga  o  segurado.  .Se  tem  j>or  objecto  as- 
segurar aó  as  propriedades  dcs  indivíduos 
que  a  compõem,  ciiania-se  ontilo  compa- 
nhia de  seguros  mútuos. 

—  Vir  sobre  seguro;  sobre  cousa  cer- 
ta, sem  risco,  perigo,  com  certeza  de  bom 
êxito. 

—  Comiiutter  alguma  couta  sobre  segu- 
ro; con>  certeza  do  n  conseguir. 

—  Tomar  carta  de  seguro;  precavcr- 
so,  tomar  salva,  contra  objecção. 

—  //•  sobre  seguro ;  proceder  com  cau- 
tela, não  60  ex|jôr. 

—  PreiuJer  sobre  seguro ;  a(|uel!e  que 
tinha  carta,  e  a  promessa  de  seguro. 

—  Termo  juridico.  I.sençào  cias  leia  ci- 
vis, criminaes,  ou  da  guerra,  quo  o  sobe- 
rano ou  chefe  concede,  para  que  entrem 
no  território  ou  venham  á  presença  d'elle, 
ou  requeiram  nos  tribunaes  soltos,  a  pes- 
soa ou  pessoas  que  estão  sujeitai  a  f^aas 
leis,  e  a  quem  se  dá  o  seguro;  diz-se 
seguro  real,  quando  c  dado  pelo  rei. 

—  Loc.  .\i>v.:  Em  seguro;  cm  segu- 
rança, em  parte  onde  não  ha  que  temer, 
nem  recear  damnn. 

—  tíobre  seguro ;  seguramente,  com  to- 
da a  segurança. 

—  AuAGlOS: 

—  Quanto  maior  é  a  ventura,  tanto  me- 
nos é  segura. 

—  Alt.i  mar,  e  nào  de  vento,  não  pro- 
mette  seguro  tempo. 

—  Quem  corre  pelo  muro,  nâo  dá  pas- 
so seguro. 

—  Quando  cuidas  metter  o  dente  em 
seguro,  toparás  o  duro. 

—  Do  juizes  não  me  curo,  que  minhas 
obras  me  fazem  seguro. 

—  Em  povo  seguro  nào  ha  mister  mu- 
ro. 

7  SEI,  primeira  pessoa  do  tempo  pre- 
sente do  modo  indicativo  do  verbo  saber. 

Do  vÓ9  Seiíor  querria  cu  sabor. 
Pois  dcâcjades  mia  mort"avcr, 
E  cu  non  moir'  c  querria  morrer, 
Que  ipe  diirados  que  farei  eu  y. 
Com  mia  mort'  me  seria  gran  ben. 
Por  que  sei  ci  vos  prareria  en, 
K  pois  non  moiro  vciV  a  vós  porcn, 
Que  mo  digados  quo  farei  en  j. 

TROVAS  E  CANTARES,  n.«  259. 

Alto,  TcmiK),  aparelhar, 
Porque  Roma  vem  á  feira. 
Qucro-me  eu  concertar. 
Porque  lho  sei  a  maueirs 
Do  seu  vender  c  comprar. 

lilL  VK-EXTE,    AlTO  DA   FEIRA. 

—  «EsUi  c   a  resposta    que   lhe    podeis 


SEI 


SEIO 


SEIO 


453 


dar,  que  ao  presente  nao  posso  dar  ou- 
tra. Sjiilior,  disse  o  embaixador,  já  sei 
qae  ás  vezes  mãos  consellios  damnam 
teações  singulares,  e  assim  acontece  a 
vós :  ea  me  vou,  pois  aqui  nào  lia  mais 
que  íiizer;  quanto  aos  vossos  far-se-!ia 
como  quereis ;  porque  da  senhora  Tar- 
giana  eu  sei  que  dará  a  vida  por  vos  fa- 
zer a  vontade,  nào  devendo  ser  assim, 
pois  tendes  em  vossa  casa  quem  tamanho 
desserviço  fez  a  seu  pai.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  112. 

amor  chafariz,  .amores 
guaritas  c  matadores, 
amor  papa  e  amor  bua, 
amor  cuicha,  mil  amores, 
sei  amor  de  gato  preto 
ao  luar  de  quai-ta  feira, 
amor  galo,  amor  joeira. 

ASTOxio  PRBsrEs,  AUTOS,  pag.  223. 

—  «Vejo  que  anda  a  cavallo  cora  dous 
lacajos  aquelle  Ministro,  que  nào  tem  de 
ordenado  mais  que  oitenta  mil  reis :  sey 
que  anda  em  coche  o  outro,  e  sua  mu- 
lher em  andas,  sem  terem  de  ordenado, 
nem  de  renda  mais  que.  quando  nuúto, 
até  duzentos  mil  reis.»  Arte  de  furtar, 
cap.  53. —  «E  de  entendimentos  largos 
e  grandes,  que  não  medem  as  cousas  das 
outras  terras  só  pelas  misérias  e  baixezas 
que  tem  diante  dos  olhos,  porque  estes 
sey  eu,  que  assi  pula  grandiosidade  de 
seus  espíritos,  como  pela  sua  natural  cu- 
riosidade, e  pela  capacidade  dos  seus  en- 
tendimentos folgarão  muyto  de  as  saber.» 
Fernào  Mendes  Pinto,  Peregrinações, 
cap.  114.  —  dBem  sey  que  Francisco 
Thamara,  e  DiodOro  Syculo  dizem,  nào 
nascer  mais  que  em  Basilèa,  a  quem  dé- 
ramos credito,  se  a  muita  copia  que  del- 
le  temos  da  índia,  nos  nào  desengana- 
rão.» Fr.  Oaspar  da  Cruz,  Tratado  das 
cousas  da  China,  cap.  2. —  aLembro-me 
por  este  estilo  de  predicoens,  das  Ban- 
darrices  de  hum  insigne  çapatevro  Por- 
tuguez,  que  dando  também  em  olhar  pa- 
ra o  futuro  tem  feito  dar  muitas  voltas 
ao  juiso  a  alguns  dos  meus  Compatrio- 
tas, que  se  persuadirão,  e  nào  sey  se  ain- 
da crem  que  os  seus  Vaticínios  se  cum- 
prirão, e  se  effeituárão.»  Cavalleiro  d 'Oli- 
veira, Cartas,  liv.  1,  n.°  43. 


Assi  que  tratar  disto  ja  nào  quero 

(Pois  estou  vendo  era  vós  que  me  he  escusado) 

Porque  vós  nào  cuideis  que  desesjéro. 

Ou  sou  raeaos  do  que  era  confiado 

Do  vosso  heróico  esprito,  ousado,  e  fero. 

De  todos  domador,  nunca  domado, 

E  também  porque  sei  que  aos  grandes  feitos 

Voa  auimào  assaz  os  vossos  peitos. 

raAKCisco  d"axdrade,  pkimeibo    cebco  de  dic, 
cant.  O,  est.  10. 

Sei  que  lho  morre  de  todo  minha  gloria, 
Mas  ali  mostra  só  para  matar-me 
Ter  vivos  os  effcitos  da  memoria. 

F.  R.  LOBO  SOBOPITA,  POESIAS  E  PKOSAS  IKEDITAS, 

pag.  3o. 


—  íN'e3te  tempo  estava  o  padre  frei 
Lourenço  Brandão,  monge  beneditino, 
em  companhia  dos  snrs.  de  Aguiar  em 
Composceila:  e,  voltando  para  Portugal, 
na  leira  da  Arrifana,  se  encontrou  com 
Fernando  de  ilagalhães,  e  este  lhe  dis- 
se: «já  sei  que  esteve  em  Compostella 
quando  mataram  João  Satur.»  Bispo  do 
Orào-Pará,  Memorias,  publicadas  pur  Ca- 
millo  Castello  Branco,  pag.  118.  —  «El- 
ias já  sei  que  me  terão  por  suspeito ; 
pois  até  os  movimentos  lhes  hei  medir. 
Uma  das  terríveis  cousas  que  ha  na  mu- 
lher é  usar  de  meneios  descompostos.  Sei 
que  nem  todas  podem  ser  airo.-as;  mas 
graves,  todas  o  poJem  ser.»  Francisco 
Manoel  de  Mello,  Carta  de  guia  de  ca- 
sados. 

Pela  pátria  morrer  sei  que  é  virtude : 
Mas  pede  Eoma  a  nossa  morte '? 

GARRETT,  CAxÃo,  UCt.  2,  SC.    1. 

—  cE  justamente  esse  cadáver  que  te 
brada  por  ella...  Bem  sei  que  a  tua  al- 
ma tem  vacdlado  e  descrido,  e  o  teu 
oliu  e.-friado.»  A.  Herculano,  Monge  de 
Cister,  cap.  23. 

SEIA,  SEIÃO,  aid.  Variacues  do  verbo 
Ser. 

SEIAR,  ou  CEAR,  v.  a.  (Do  hespanhol 
cia7-).  Termo  de  náutica.  Komar  para 
traz. 

SEIAVOGA.  ViJ.  Ciavoga,  ou  Ceiavoga. 

SEIBA,  uu  SEIVA,  s.  f.  (Do  latim  *a- 
po,  sueco;.  Sueco,  humor  nutritivo  dos 
vegetaes. 

—  Saliva,  sueco,  ou  sumo  de  hervas 
maícaias.  —  «Hu  vaso  de  prata,  para 
lauear  a  seiba,  que  fazem  no  Betei,  que 
andão  remoeudo. »  Barros,  Década  1,  íl. 
117,  col.  2,  em  Bluteau. 

SEIBÃO,  s.  m.  Termo  asiático.  Alpen- 
dre. 

SEÍDA.  Vid.  Saída. 

SEIDIÇO.  ViJ.  Sádico. 

-[-  SEIDPiA,  .s.  í/í.  Grão  sacerdote  da 
seita  .!e  Ali,  entre  os  persas. 

SEIFÍA,  s.  /.  Peixe  do  alto  como  o  sar- 
go,  de  cabeça  pequena  e  aguçada;  é  nmi- 
to  commuin  no  Algarve. 

7  SEIMIRI,  s.  m.  Termo  de  zoologia. 
Espécie  de  macacos  americanos,  que  tam- 
bém se  chamam  sapajú  aurora,  ou  saua- 
jú  de  Cayeiia,  e  formam  a  transição  dos 
sapajús  para  os  saguins. 

SEIO,  s.  m.  (Do  latim  sinus).  Espécie 
de  sacco,  ou  volta  sinuosa  que  se  faz  to- 
mando as  abas  ou  pontas  do  vestido. 

—  O  sacco  que  a  camisa  faz  desde  os 
peitos  até  á  cintura,  por  onde  está  atada. 

—  Logar  interno,  occulto  ;  concavi- 
dade. 


Que  despojos  mortaes  no  seio  occulta 
ÍVelloso  exclama)  a  triste  sepultura, 
Oue  entre  os  soberbos  mausoleoa  avulta, 
Mais  na  fúnebre  pompa,  e  na  escultura? 


Este  o  poder  dos  séculos  insulta 
Troféo  de  amor,  o  timbre  da  ternura, 
(Lhe  diz  o  Vclhol  e  lúgubre  desgosto 
Mais  lhe  augmcntava  a  pallidcz  do  rosto. 

J.    A.    DE   MACEDO,    O   OBIESTE,   Cailt.    Õ,    CSt.    44. 

E  já  convulsa  a  Terra  abre  as  gargantas. 
Em  seu  seio  outra  voz  engole  os  montes. 
Que  de  sou  seio  despediu  outr'ora. 

IDEM,  A  NATDREZA,  Cant.   2. 


Tudo  no  triste  cavernoso  seio 
Nos  annuncia  agrilhoado  o  logo, 
Das  várias  producçòcs  da  Natureza 
Ineihaurivel  fonte,  almo  principio. 

IDE.M,  ÍÍEDITAÇÃO,  Caut.    2. 


Até  no  seio  incógnito  dos  mares 
Os  monstros  d'uma  espécie  em  paz  existem. 
Fez  de  cada  individuo  o  infausto  crime. 
luiDEu,  cant.  3. 


—  Ventre  materno. 

—  Figuradamente : 


Xa  parte  opposta  a  fulgida  Coroa 
No  Americano  Ceo  fulgura  accesa. 
O  briDiante  Zodiaco  se  avança, 
Traz  mil  Astros  no  seio,  c  n'hum  momento 
Pelo  espaço  s"cstende,  o  espaço  cinge. 
No  immensuravel  âmbito,  que  forma, 
A  luminosa  estrada  aos  olhos  mostra 
Do  infatigável  Sol.  Os  Ceos,  o  Espaço, 
•Ia  fazem  pompa  de  iiiimortaes  thesouros, 
E  o  Sol  inda  nào  tem,  inda  do  Nada 
Nào  sabe  da  luz  o  Cenho,  Autor  do  dia. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Caut.  1. 

Das  Leis,  dos  Cultos  teus  vejo  os  vestígios 

Pelo  vasto  Indostão,  pasmcso  Egvpto  ! 

Do  indagador  á  vista  a  Natureza' 

Em  ti  mostrou  primeiro  o  seio  immenso 

Da  sciencia,  que  os  Ceos  contempla,  c  mede, 

E  segue  o  gyro  dos  fulgentes  Astros. 

IDESI,  MEDITAÇÃO,  Cant.    1. 

Tempo  virá,  (que  os  séculos  nào  párào) 
Em  que  até  no  Equador  se  extinga  o  fogo, 
Que  óra  guarda  no  seio  o  térreo  Globo, 
Qual  nos  [lolos  já  vejo  amortecido. 
Onde  a  vida  acabou,  e  a  morte  esiste. 
IBIDEM,  cant.  2. 


Se  a  tenebrosa  noite  estende  as  azas 
Pelo  seio  dos  ares  dilatados 
Accezo  globo,  e  fulgurante  ondêa  ; 
Tocha,  que  a  sombra  universal  desterra ; 
Celeste  conductor,  que  a  estrada  aponta. 
IBIDEM,  cant.  4. 

Em  ti  tíverão  berço  Lockc,  e  Tompson, 
Boile,  Derhan,  que  a  Natureza  indaga, 
E  lhe  arranca  do  seio  altos  mystcrios  ! 

IDEM,  VIAGEM  KirATICA,  Cant.   2. 

És  grande  para  mim,  porque  em  teu  seio 
Bolimbroke  apparece,  Addison,  Pope  ; 
Apparecc  Bacon,  Milton  tactêa 
Arpa  tocada  só  de  Hebreo  Monarcha. 


Abre  a  Piinio  seu  seio  a  Natureza, 
E  seus  thesouros  lhe  descobre  todos ; 
Do  moderno  Saber  he  este  a  fonte. 


454 


SEIR 


SEIS 


SEIS 


]);if|acllo  fogo  cápiíi  iiitfnninavcl 
l)c  M/madaa  galiio,  f|u'in(hi  hojo  o  Astro, 
Qai!  o  dia  nos  conduz,  do  mo  espalha 
Ksac  iinmonHO  osplo.ndor,  '\\w  Luz  se  chama, 
E  quo  á  voz  do  Inimoital  brilliou  primeiro. 
IBIDEM,  cant.  'i. 

—  0.1  peitoa  da  mulher, 

—  Figiirailamoiite :  Peito. 

Afíonizantc,  pallida  donzcUa, 
Do  Amante,  Inim  ti^mpo,  no  maprondo  icio 
Qiior  a  vida  oxlialar  ;  foj^n  do  vê-la, 
Ncga-lhe  a  doce  mão,  ncf?a-llio  auxilio 
Ertac  qu'outr'ora  hum  Ceo  via  cm  acu  rosto. 

J.    A.    DE  MVCF.DO,  A  NATlIBEZt,   Cant.    2. 

Os  olhos  me  lançou,  como  sf  ha  muito 
Naquclla  Estancia  mo  ap;navdasso ;  estende 
Formosos  braços,  c  me  aoerta  ao  seio ; 
E  a  vo/  anf;olical  soltando  exclama. 

IDEM,    VIACiKM  EITATICA,  Caut.    1. 

—  o  seio  da  nlma;   o   secreto  d'ella, 
03  S0U3  esconderijos. 


Difficuldade  é  esta. 

Que  bem  vai,  que  a  proponhão.  Linda  cousa 

E'  um  vcrdidoiro  Amigo, 

Que  no  seio  da  alma  scruta  o  que  faz  falta  ; 

E  que  te  forra  o  pejo 

De  lh'o  apontares  tu  !  Um  sonho,  um  nada 

O  estremece,  o  o  assusta, 

Quando  so  trata  do  que  mais  estima. 

F.   M.   DO  NASCIMENTO,  FABULAS  DE  LAFOSTAINE, 

liv.  3,  n.»  29. 


—  Termo  de  anatomia.  Qualquer  ca- 
vidade interior  do  corpo  animal. 

—  Termo  de  náutica.  Enseada,  exten- 
são consiileravel  de  mar,  rodeada  de  ter- 
ra, e  mais  ou  menos  larga  na  sua  entra- 
da. 

—  Bolso ;  em  çeral  é  toda  a  curvatu- 
ra formada  por  objectos  tlexiveis  quando 
nào  sào  tendidos.  —  Seio  de  vm  cabo,  de 
lima  vela,  etc. 

—  Termo  de  religião.  —  Seio  de  Aòra- 
hão;  logar  em  que  estavam  detidas  as  al- 
mas dos  fieis,  que  tinliam  passado  d'esta 
vida  na  fé,  e  com  esperança  no  Rcdem- 
ptor. 

—  Adágios: 

—  Filho  alheio,  braza  no  seio. 

—  Filho  alheio,  mcttc-o  pela  manga, 
sahir-te-ha  pelo  seio. 

—  Mette  a  mão  em  teu  seio,  naõ  di- 
rás do  fatio  alheio. 

—  Quem  crè  de  ligeiro,  agua  recolhe 
no  seio. 

—  Braza  deita  no  seyo,  quem  se  honra 
com  erro  alheio. 

—  < )  mal  que  da  tua  bocca  s:le,  em 
teu  seio  cáe. 

—  Pão  de  centeio,  melhor  he  no  ven- 
tre, que  no  seio. 

SEIR...  As  palavras  quo  comecem  por 
Seir...,   busq\K>ni-se  com  Ceir... 

f  SEIRANOTA,  s.  /.  Termo  de  zoolo- 
gia. Género  de  reptis  batrachioa. 


■j-  SEIRO,  s.  í«.  Termo  de  zoologia. 
Género  de  insectos  hemipteros  da  tribu 
dos  .>;cuteiarios. 

SEIS,  <idj.  iium.  (Do  latim  sex).  Nu- 
meri)  (pie  se  compõe  de  cinco  unidades, 
mais  uma.  —  «  (larcia  de  Sousa,  Fran- 
cisco do  tauora,  Pêro  barroto  de  maga- 
Ihaens,  e  quatro  nauios  de  gauea,  capi- 
taens,  Emanuel  telez  barreto,  dom  An- 
tónio de  noronha,  Martim  Coelho,  Afon- 
so lopez  da  costa,  e  seis  caraucllas,  ca- 
pitacns,  António  do  campo,  o  commcnda- 
dor  Rui  soarez,  Plieiipe  rodrigues.  Pêro 
cão,  Aluaro  paçanha,  Luis  preto,  o  duas 
galés,  capitacns.  Paio  de  sousa,  e  Diogo 
))irez,  e  hum  bargantim  de  que  era  capi- 
tão Simão  martinz.»  Damião  de  (^oes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  2,  cap.  38. 
—  (I  Viuhaò  a  esta  cida'le  naquelle  tempo 
todalas  naçoens  de  gente  que  a  desno  Re- 
gue de  Quiloa,  mar  de  Arábia,  Pérsia, 
ate  China,  Laqueos,  e  Luçoens,  a  que 
traziaò  to  lalas  mercadorias  que  a  naquel- 
las  prouincias,  que  alli  trocauam  humas 
pelas  outras,  era  tamanho  este  trato,  e 
de  tanto  ganho  quo  auia  na  cidade  al- 
guns mercailores  que  atrauessauam  cinco, 
seis  nãos,  e  tornauam  a  dar  carga  parei- 
las  aos  mesmos  de  que  comprauaõ.»  Ibi- 
dem, part.  3,  cap.  1.  —  «  Ha  este  nego- 
cio mandou  el  Rei  com  dom  Pedro  Mas- 
carenhas, António  leite,  Cliristouam  lei- 
tam,  André  Casqueiro,  Diogo  de  Medi- 
na, e  loam  Nunez  delpont,  do  que  dom 
Pedro  anisou  el  Rei  per  huma  carta  es- 
cripta  em  Septa  aos  seis  dias  de  maio,  e 
se  fui  dalli  Arzilla  prouer  cm  cousas  que 
lhe  tinha  encommendado. »  Ibidem,  part. 
4,  cap.  48.  —  «O  anuo  de  quatro  centos 
e  quarenta  e  seis,  tornou  Nuno  Tristão 
em  huma  carauela  per  mandado  do  In- 
fante a  descobrir  mais  costa  alem  do  que 
Aluaro  Fcrnandez  leixaua  descuberto, 
que  foi  te  o  cabo  dos  Mastos.»  Barros, 
Década  1,  liv.  1,  cap.  14. —  «Per  outra 
parte  havia  já  seis,  ou  sete  dias  que  não 
podia  touuir  conclusão  alguma  com  El 
Rey,  e  dissimular  tanto  artificio,  como 
com  elle  queria  ter,  pêra  sua  condição 
era  hum  grave  tormento,  porém  tudo 
softria  por  ver  se  podia  ter  algum  modo 
de  salvar  Ruv  d'Araujo.B  Idem,  Década 
2,  liv.  6,  cap.  3. 


El  líey  dom  Afonso  andou 
ae^s  vezes  fora  da  terra, 
Castella,  Fcez  conquistou, 
em  batalhas  pcUojou, 
seu  sogro  matou  cm  guerra. 

GABCIA  DE  REZENDE,  UISCELLANEA. 


—  «  Daquy  passando  mais  adiãte,  se- 
guindo o  Isitaquer  o  os  quatro  moços, 
chegamos  á  porta  de  huma  grande  sala 
térrea,  fabricada  ao  modo  de  igreija,  na 
qual  estavão  seys  porteiros  de  maças, 
que  com  huma  nova  cerimonia  que  tive- 
raõ   co  Mitaquer,   nos   meterão  a  todos 


dentro,  sem  darem  entrada  a  outra  ne- 
nhuma pessoa. »  Fernão  Mende»  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  122.  —  «  Pa''sado8 
com  bem  de  descanço  nosso  estes  qua- 
renta c  seis  diaa,  sendo  ja  chegado  tem- 
po da  monção,  o  Broquem  nos  mandou 
dar  embarcação  num  junco  de  Chins  que 
Ília  para  o  porto  de  Lianipoo,  no  reyno 
da  China,  conforme  ao  que  el  Rev  lhe 
tinha  mandado,  e  ao  Capitão  do  junco  se 
tomarão  grandes  fianças  a  cerca  da  segu- 
rança de  nossas  pe.-soas,  por<|uc  nos  não 
fizesse  traição  no  caminho.»  Ibidem,  ca- 
jiitulo  143.  —  «  E  porque  outros  que  tí- 
cavão  de  ftra  que  erão  muvtos,  ganhas- 
sem também  o  mesmo  Jubileu  e  indul- 
gência, ajudavão  aquelles  que  levavão  as 
mãos  nas  cordas,  com  lhes  porem  as  suas 
nos  pescoços,  e  outros  faziaõ  o  mesmo  a 
estes,  de  modo  que  a  cada  comprimento 
de  cada  huma  destas  cordas  hião  seis  c 
sete  fileyras,  em  cada  huma  das  quais 
yrião  mais  de  quinhentas  pessoas.  •  Ibi- 
dem, cap.  IGO. —  «  Com  estas,  e  outras 
considerações,  despachou  este  anno  para 
a  índia  seis  náos,  que  partirão  em  mon- 
ções differentes.  Das  primeiras  três,  que 
partirão  em  Novembro,  era  Canitão  Mór 
Martim  Corrêa  da  Sylva,  que  levava  á 
Fortaleza  de  Diu.»  Jacintho  Freire  d'An- 
drade.  Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv.  4. 

—  «  Pouco  depois  disto  faleceo  na  nossa 
fortaleza  Ei  Rey  Bayano,  a  que  (outros 
chamão  Bohat,  que  foi  filho  de  Boleife,  o 
primeiro  que  nos  agazalhou  naquellas 
Ilhas,  que  faleceo  os  annos  1Õ20,  fican- 
do-lhe  três  filhos  legitimos,  isto  he,  este 
Bayano  que  agora  faleceo,  Ayalo,  e  Ta- 
barija,  que  ficaram  tão  moços,  que  o  mais 
velho  não  passava  de  seis  annos.  •  Diogo 
de  Couto,  Década  4,  liv.  7,  cap.  7. — 
«  E  logo  apoz  Vasco  da  Cunha  despedio 
o  (jovernadtir  seis  caravelas  carregadas 
de  mantimentos,  muniçoens,  escadas,  pi- 
coens,  cudilins,  enxadas,  cestos,  padio- 
las, e  de  todas  as  mais  cousas  desta  qua- 
lidade para  efleito  do  que  determinava,  e 
mandou  embarcar  quatrocentos  espingar- 
deiros.  Destas  c;»ravelas  foy  por  Capitão 
mòr  Luiz  de  Almeida,  e  de  suas  viagens 
a  diante  daremos  razaõ.»  idem,  Década 
6,  liv.  3,  cap.  7.  —  «  Vaza  este  rio  seis 
mezcs,  e  enche  outros  tantos.  E  no  tem- 
po das  vazantes  vaõ  os  navios  pêra  cima 
à  toa,  porque  he  muito  alcantilado  de 
ambas  as  partes.»  Ibidem,  liv.  7,  cap.  9. 

—  «  Os  que  por  esta  costa  tratarem,  pro- 
curem ir  ao  mar  delia  seys  legoas,  por 
ser  fora  deste  termino  chca  de  bayxos,  e 
Çnja.  e  não  se  querendo  afa<t.ir  tanto  na- 
ucgucm  Si',  de  dia.»  Fr.  'Gaspar  da  Cruz, 
Tratado  das  cousas  da  China,  cap.  5.  — 
c  A  primeyra  que  se  nos  ofterece  he,  a 
grandeza  do  mote  Athlante,  a  quem  ou- 
tros chamão  Montes  Claros,  por  i-starem 
sempre  cubertos  de  neue,  e  .is  altas  nu- 
ueus,  ja  mais  chegarem  a  cubrillos :  es- 
tes atrauessão  toda  Berbéria,  de  Oriento 


SEIS 


SEIS 


SEIT 


455 


a  Ponente.  e  se  tem  ser  o  mais  alto  de 
todo  mundo,  seys  legoas  do  qual  liça  a 
Cidade  Marrocos,  illustre  pelaz  premis- 
sas da  ordem  Franciscana,  que  neila  pa- 
decerão.» Ibidem,  cap.  8.  —  «  E  se  ouue- 
ra  a  quarta  forçado  ouuera  estar  ao  Orien- 
te, pois  Sam  Matheus  diz,  que  os  Magos 
vierão  do  Oriente,  e  sendo  a  vitima  terra 
firme  da  Ásia  a  China,  dado  que  nella 
ouuesse  a  tal  Arábia;  caminho  era  que 
se  podia  fazer  em  seys  meses,  quanto 
mais  que  na  China  nam  ha  Província, 
nem  Reyno  que  tal  nome  tenha.»  Ibi- 
dem, cap.  17. — -  d  Acompanhauàno  qua- 
tro mil  homens  de  pê  que  hiào  na  van- 
guardia;  e  bem  junto  delle  seis  Geniza- 
ros  a  caualo  com  outros  tãtos  à  destra, 
nas  cabeças  leuauào  mitras  de  arame,  e 
em  cada  huma  pedras  finíssimas,  e  entre 
estes,  e  o  Baxà  vinte  homens  despidos  de 
meyo  corpo  acima,  os  quaes  estimão  so- 
bre todos  de  mais  valentes :  e  esforçados, 
inda  que  eu  os  julguey  por  os  mais  ne- 
cios,  e  paruos.»  Ibidem,  cap.  19. 


Outro  com  seis  arrobas  de  barriga 
Namora  uma  menina  de  dez  annos, 
Que  Ibc  chora  no  colo  e  dá-lhe  figa. 

FEBSÃO  SOBOPITA,  POESIAS  X  l'BOSAS  CtEDITAS, 

pag.  50. 


—  d  Às  seis  horas  me  acharei  em  caza 
de  Calamati,  onde  terey  o  gosto  de  ver 
a  Copia  do  mesmo  Original  que  admiro. 
He  certo  que  este  homem  trabalha  com 
perfeição,  encontrando  os  objectos  com 
felicidade.»  Cavalleiro  de  Oliveira,  Car- 
tas, liv.  1,  n.°  22.  —  o  Por  este  modo 
encheu  de  peças  a  imagem  de  Xossa  Se- 
nhora que  expunha  como  taboleta  de  ou- 
rives ;  e  quem  queria  comprar  uma  peça 
das  que  estavam  na  imagem,  o  nosso  ita- 
liano, sem  se  embaraçar  com  usui'as,  an- 
tes julgando  moderado  ganho  cento  por 
cento,  vendia-lh'a  dando  por  doze  o  que 
custou  seis.»  Bispo  do  Grão  Pará,  Me- 
morias, publicadas  por  Camillo  Castello 
Branco,  pag.  197. 

—  Sexto.  —  Capitulo  seis. 

—  S.  m.  Caracter  ou  algarismo  que 
representa  o  numero  de  cinco  unidades, 
mais  uma. 

—  Carta  de  jogar  que  tem  seis  signaes. 
—  O  seis  de  espadas. 

—  Nos  dados,  são  seis  pontos  negros 
que  elles  têm  n'um  dos  seus  lados. 

SEISAGESIIflO.  Vil.  Sexagésimo. 

SEISAVO,  s.  m.  Soxta  parte  de  um  nu- 
mero. 

SEISCENTOS,  adj.  num.  iDo  latim 
sexcentis).  Numero  que  resulta  da  multi- 
plicação de  seis  pela  centena. 


Seiscentas  tochas  accezas, 
Escuras  a  quem  as  via  : 
Triste  pranto  até  Belcm 
Nem  pas30_nào  se  esquecia. 


Em  terra  fica  enterrado, 
Porque  assi  mandado  havia, 
Conhecendo  que  era  terra 
A  mundanal  senhoria. 

GIL  VICÍSTE,   OBRAS  VABIA3. 


—  «E  lhe  deu  logo  juntamente  cinco 
mil  cruzados  em  ouro,  e  seiscentos  mil 
reis  de  renda  em  beneficies  logo  nomea- 
dos, pollos  quaes  logo  mandou  despedir 
as  letras,  mas  não  ouuerão  eíFeito,  por- 
que antes  de  despedidas  o  dito  Diogo  Ti- 
noco faleceo.  E  depois  foy  el  Rey  de 
tudo  anisado  por  dom  Vasco  Coutinho  fi- 
lho do  Marichal,  e  irmão  do  dito  dom 
Guterrez,  o  qual  dom  Vasco  por  descon- 
tentamentos que  tinha  dei  Rey  estaua 
neste  tempo  despedido  delle  para  se  hir 
fora  do  Reyno.»  Garcia  de  Rezende, 
Chronica  de  D.  João  II,  cap.  53.  —  «Ha- 
verá quatorze  mezes  que  continua  a  mis- 
são pelo  c-.rpo  e  braços  d'aquelles  rios, 
d'onde  se  têm  trazido  mais  de  seiscentos 
escravos  todos  examinados  pelo  mesmo 
missionário,  na  forma  das  leis  de  vossa 
magestade.»  Padre  António  Vieira,  Car- 
tas, n."  17.  —  «Vendo  então  alguns  va- 
dios e  gente  ociosa,  desejosa  de  tais  suc- 
cessos  como  aquelles,  que  o  tímpo  e  a 
occasiaíj  era  então  muyto  accommodada 
para  fazerem  o  que  antes  co  temor  do 
Rey  não  ousavão,  se  ajuntarão  numa 
grande  companhia  quasi  quinhentos  ou 
seiscentos  destes.»  Fernão  Mendes  Pin- 
to, Peregrinações,  cap.  3õ.  —  «No  qual 
se  affirmava  que  vinhaõ  vinte  e  sete 
Reys,  e  que  se  dezia  que  trazião  comsi- 
go  hum  conto  e  oitocentos  mil  homens, 
de  que  os  seiscentos  mil  eraõ  de  cavallo, 
que  por  "terra  eraõ  vindos  da  cidade  de 
Lançame,  e  de  Famstir,  e  de  Mecuy, 
dõde  partirão  com  oitenta  mil  badas  em 
que  vinha  o  mantimento  e  toda  a  baga- 
ge,  e  o  conto  e  duzentos  mil  de  pé.»  Ibi- 
dem, cap.  117. — -«De  maneyra  que  o 
fervor  deste  apetite  e  curiosidade  foy 
daly  por  diante  em  tamanho  crecimento, 
que  ja  quando  nós  daly  partimos,  que 
foy  daly  a  cinco  meses  e  mevo,  avia  na 
terra  passante  de  seiscentas.»  Ibidem, 
cap.  134:.  —  «E  feita  assi  a  esmo  a  ava- 
liação e  a  lista  desta  desaventurada  vin- 
gãça,  se  disse  que  morrerão  a  fome,  e  a 
ferro  .cento  e  sessenta  mil  pessoas,  a  f  Jra 
quasi  outras  tantas  cativas,  e  foraõ  quei- 
madas cento  e  quarenta  mil  casas,  e  mil 
e  seiscentos  templos.»  Ibidem,  cap.  151. 
- —  «  Chegado  em  fim  a  esta  insigne  Cida- 
de de  Miocò,  metropoli  de  toda  aquella 
Monarquia  da  nação  Japão,  se  naõ  vio 
como  qnizera  cõ  este  Cubumcamà,  por 
lhe  pedirem  por  isso  cem  mil  caysas, 
que  eraõ  seiscentos  cruzados,  de  que 
elle  por  algumas  vezes  se  mostrou  muv- 
to  magoado  de  os  naò  ter  para  effeytuar 
isto  qne  tanto  desejava.»  Ibidem,  cap. 
208.  —  n  Exasperou  esta  resolução  aos 
verdadeiros   Portuguezes,    e  para  corta- 


rem de  huma  vez  a  cadêa  da  sua  escra- 
■^-idaõ  no  primeiro  de  Dezembro  de  mil 
seiscentos  e  quarenta  acclamáraò  por  seu 
Rei  ao  Duque  de  Bragança  Di  Joaõi  que- 
foi  o  quarto  deste  nome.»  Frei  Bernardo 
de  Brito,  Elogios  dos  reis  de  Portugal, 
continuados  por  D.  José  Barbosa.  —  «Na 
Cidade  de  Valhadolid,  aonde  entaõ  se 
achava  a  Corte  de  Hespanha,  nasceo  este 
Príncipe  em  Sesta  feira  Santa,  oito  de 
Abril  de  mil  seiscentos  e  cinco  annos.» 
Ibidem.  —  «E  Fr.  Brochardo  a  põe  en- 
tre a  Cidade  Memphis,  ou  Damiata,  e  a 
Ilha  Delta  a  quem  cerca  o  Nilo.  E  não 
falta  Author  que  afBrme  trabalharem 
nella  trezentos,  e  sessenta  mil  ofSciaes : 
e  loão  Rauisio  na  sua  ofiScina  diz,  que 
seyscentos  mil  que  tantos  forão  os  Ju- 
deus, que  sahirão  do  Egypto.»  Fr.  Gas- 
par da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da  Chi- 
na, cap.  8.  —  «Descuvdado  o  triste  ve- 
lho de  ser  chegado  o  termino  de  seus 
dias,  entrou  huma  tarde  seu  secretario 
Buhanduça,  a  lhe  falar,  com  huma  ma- 
çaã  na  mão  muvto  fermosa,  e  nella  a 
morte  por  ir  chea  de  veneno ;  e  ao  outro 
dia  que  forão  de  sua  idade  setenta  e  três 
annos,  e  do  Nascimento  de  Christo  seys- 
centos e  trinta  e  dous,  e  de  Hixara  vin- 
te, o  acharão  morto  em  sua  cama,  sem 
saberem  a  causa  de  tão  repentina  morte.» 
Ibidem,  ca;!.  20. 

SEISDOBRO,  s.  m.  O  numero  de  seis, 
ou  tantas  vezes  seis. 

f  SEISEN,  s.  »i.  Antiga  moeda  de  pra- 
ta de  valor  de  meio  real,  equivalente  a 
seis  dinheiros  de  Aragão. 

j-  SEI3ENA,  s.  m.  Moeda  de  cobre  de 
Valência,  que  vale  seis  dinheiros  ou  doze 
maravedis.  Está  quasi  estincta,  pois  ha 
muitos  annos  que  se  não  cuniia. 

SEISMA,  s.  /.,  ou  SEISMO,  s.  vi.  A 
sexta  parte  de  alguma  cousa.  • —  Uvia 
seisma  de  i-ara. 

SEI3TAVAD0.  Vid.  Sextavado. 

SEI3TIL.  Vid.  Ceitil. 

SEISTO.  Vi.i.  Sexto. 

SEITA,  s.  /.  (Do  latim  seda).  Opinião, 
doutrina  religiosa  ou  philosophica  que  se 
aparta  da  crença  geral.  —  «Com  tudo  os 
Arábios  declarando  os  Pérsios  por  heré- 
ticos, e  cismáticos,  ficaram  com  a  opi- 
niam,  e  seita  de  Mahamed,  e  os  Pérsios 
com  a  de  Ale,  per  cuja  morte  aleuantou 
esta  gente  per  Califa  Hocem  seu  filho 
mais  velho,  que  ouuera  de  Fatema  filha 
de  Mahamed,  a  qual  dignidade  lhe  cus- 
tou a  vida.»  Damião  de  Góes,  Chronica 
de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  67.  —  «Criou- 
se  nas  Cortes  de  grandes  Príncipes,  em- 
brulhou-os  a  todos :  teve  por  avos  o  Ma- 
chavello,  Pelagio,  Calvino,  Luthéro,  e 
outros  Doutores  desta  qualidade,  com 
cuja  doutrina  se  fez  taõ  viciosa,  que  del- 
ia nascerão  todas  as  Seitas,  e  heresias, 
que  hoje  abrazaõ  o  mundo.  E  eisaqui, 
quem  he  a  Senhora  Dona  Politica.»  Arte 
de  furtar,  cap.  60. 


456 


SEJA 


SEJA 


SELA 


—  Doutrina  particular  onsiiiaila  ou  cs- 
tabolocida  1)01-  alfíuiii  iiKistn!  celebro. 

—  Fiííurailanionti! :  Partido,  bando, 
opinião. 

—  Errar  n  seita  a  alf/iiem ;  enganar- 
ee  no  que  ciie  intenta,  não  llio  conhecer 
a  6ua  arte,  suas  tragas. 

—  Furtar  o  vento  á  seita ;  fazer  mu- 
dar de  priiposito,  o  ir  contra  a  sua  pró- 
pria tendão;  ou  ijaldar  os  intentos  (Je  al- 
guém, fazendo  (|uo  niío  lho  sirvam  os 
incios,  caminluif»,  e  niaximaa  adoptada.s 
para  sair  com  clle-i. 

SEITIA.  \\i\.  Setía. 

SEITIL.  Vid.  Ceitil. 

SEIT03AMENTE,  a,lv.  ant.  De  acinte, 
de  si>i)r(!]ion,saio;  atrai(;(iailamonte, 

SEITOSO,  wlj.  Atrai(;oailo,  porfido, 
traidoí-. 

SEIVA,  a.  /.  Vid.  Seiba. 

SEIVOSO,  ailj.  Termo  de  botânica, 
Quií  t(Mu  seiva.  —  Suecos  seivosos. 

SEIXA,  s.  /.  Ave.  Nt)  escudo  da.s  ar- 
mas dos  Seixas,  se  vê  umas  aves  pratea- 
das com  os  bicos  vormelhis,  e  do  feitio 
de  gansos  ou  adons  pequenas.  —  «Tem 
os  Sitvx.is  por  armas  cm  oani|io  verde 
cinco  Seixas  do  prata  voando.»  Nobliar- 
chia  porlugueza,   pag.  ;528,  em  Blutoau. 

—  (JubiM-tura  de  cabeça  usada  pelos 
turcos. 

—  Plnr.  Seixas  ;  nos  livros  encaderna- 
dos, a  parte  das  canas  que  sobresáe  ás 
folhas  nas  suas  três  faces. 

SEIXADA,  s.  f.  (tolpo  com  seixo  atira- 
do :í  n\ão,  ou  com  funda. 

SEIXAL,  s.  VI.  (De  seixo,  com  o  sufli- 
xo  oalu).  liOgar  onde  ha  seixos. 

SEIXATIL,  adj.  Vid.  Saxatil. 

SEIXINHO,  s.  m.  Dinniuitivo  de  Seixo. 

SEIXO,  s.  m.  (Do  latim  snxuni).  Pedra 
tosca  e  muito  dura,  de  diversos  tama- 
nhos. —  «K  posto  que  taes  sinaes,  segun- 
do o  uso  connnum  flelles,  mais  servem 
pêra  encaminhar  os  caminhantes,  que  de 
memoria  de  alguma  notável  pessoa,  aqui 
bem  nos  podomns  também  servir  este  nio- 
rouço  de  seixos,  o  Cruz  pêra  encami- 
nharmos nossas  obras  ao  fim  porá  quo  fo- 
mos creados.B  Barros,  Década  2,  liv.  6, 
oap.  10.  —  «Esta  fonte  esta  em  hum 
profundíssimo  vale;  do  qual  sae  hum 
olho  dagoa,  (que  ter<\  três  palmos  om 
roda)  cõ  tanto  Ímpeto,  o  fúria  que  leuan- 
ta  pedras,  o  seixos,  se  a  caso  lhos  botão. 
A  esta  fonte  cerca  huma  lagoa  tã  gran- 
de como  huma  sala  ficado  cila  no  movo. 
Nclla  entramos  cento  e  sete  pessoas,  das 
quaes  oyto  erão  Christãos,  os  mais  Mou- 
ros, o  (ientios.»  Fr.  Oaspar  da  Cruz, 
Tratado  das  cousas  da  Chiua,  cap.  12. 

SEIXOSO,  (iilj.  (De  seixo,  com  o  suffi- 
10  «oso»l.  Que  tem  seixos;  abundante 
do  seixos. 

f  1.)  SEJA,  presente  do  modo  subjun- 
ctivo  do  verbo  ser.  —  «Se  alguns,  ou  al- 
gnãs  morarem  com  alguém  per  suas  von- 
tades, que  estes  nom  sejaõ  costrangidos, 


nem  tirados  a  estes  com  que  assv  mora- 
rem, n(.'m  sejaõ  co-itrangiilos  pêra  nioia- 
rem  com  outrem  om  mcnti'o  a^8y  com  cl- 
Ics  morarem.»  Ord.  AlTons.,  Jiv.  2,  tit. 
29,  §  (i,  —  «Outro  sy  Mando,  se  alguns 
80  colherem  a  essas  Honras,  ípic  (bdjas 
nom  sejam  mora  hn-cs,  que;  o  meu  Por- 
teiro entro  cm  ellas,  e  os  cito  jierante  o 
meu  Juiz,  ([uo  do  direito  deve  conhecer 
de  lai  Feito.»  Idem,  liv.  3,  tit.  ÕU,  íj  7. 
—  «A  qual  inquiriçom  acabada,  o  trazi- 
da ])erante  Ni'i8,  ou  jjcrante  os  Nossos 
Desemiíargadorcs,  (|ue  jiera  ello  som  de- 
putados, se  [ler  cila  adiarmos,  que  a  di- 
ta doa^'oni  foi  bem  feita,  e  como  devia,  o 
que  jiraz  a  aquelb;  que  a  fez,  que  seja 
per  Ni'>s  confirmaria,  mandaremos-lhe  dar 
assi  Nossa  Carta  de  contírmaçoni,  e  d'ou- 
tra  guisa  nom.»  Idem,  liv.  4,  tit.  68. — 
«Ordena  que  o  Sacerdote  que  tiver  mui- 
tas freguezias  a  seu  cargo  (inda  quo  se- 
jam pobres)  dè  ordem  cõ  quo  se  diga  nel- 
las  Missa  ao  menos  cada  Domingo;  fa- 
zendo comemoração  ))elos  bcmfeitores  e 
fundadores  delias,  ou  ante  o  altar  se  fo- 
rem vivos,  ou  na  ementa  dos  mais  fieis 
por  sua  ordem  se  forem  mortos.»  Monar- 
chia  Lusitana,  liv.  6,  cap.  22.  —  «Embo- 
ra, seja  assim,  ainda  que  lho  pudera  ne- 
gar; porque  neste  mundo  naõ  ha  velhice 
descançada,  nem  lustrosa:  tíenectus  ipsa 
est  morbiis.  A  mesma  velhice  em  si  hc 
doença  clieya  de  md  desalinhos.  p]ssa 
velhice  ha  de  ter  o  fim :  o  ao  depois  dei- 
lo  tomara  saber,  que  he  o  que  se  segue 
a  V.  Excellencia,  nicn  senhor  Marquez y» 
Arte  de  furtar,  cap.  70.  —  «Ha  nos  mu- 
ros de  Cantam  da  parte  contraria  do  rio 
huma  torre  alta  toda  fechada  per  detr.is, 
pêra  que  quem  nella  andar  nam  seja  vis- 
to nem  devassado  do  outeiro  que  disse- 
mos estava  fora  dos  muros,  c  he  lançada 
em  comprido  ao  longo  do  muro,  do  ma- 
neira que  hc  mais  comprida  que  larga, 
c  vay  toda  feita  cm  varandas  nuiito  ga- 
lantes, da  qual  se  descobre  toda  ha  ciiia- 
dc,  o  as  várzeas  e  campos  alem  do  rio, 
que  serve  de  passatempo  dos  que  regem.» 
António  Tenreiro,  Itinerário,  cap.  6. 

Fantasma»,  meus  corações, 
estas  casas  não  doixois 
por  quanto  vai  o  Xarifo  ; 
fautasma  que  no*  dá  réis, 
guarda,  n.ào  na  esconjureis, 
inda  que  seja  patife. 

AMTONIO  ruESTKS,  AUTOS,  pag.  407. 


—  «E  dado  que  algumas  sejão  tão  di- 
gnas de  se  saberem,  como  outras  indi- 
gnas do  se  imitarem  :  com  tudo  escolhe- 
rey  o  quo  mais  fizer  a  meu  propósito, 
deixado  o  que  não  conucm  a  mt'u  inten- 
to.» Fr.  Ctaspar  da  Cruz,  Tratado  das 
cousas  da  China,  cap.  14.  — «  Seja  po- 
rem a  caça  moderada,  quo  do  contrario 
SC  podem  seguir  nmitos  damnos,  o  seja 
moderadissinui,  porque  Portugal  niío  cstjl 


em  termo»  de  ponipear  como  os  outros 
reinos,  mr^rmcntc  diqiois  do  terramoto.» 
Bispo  do  íirUo  Pará,  Memorias  publica- 
das por   Camillo    Ciistcilo    Branco,    pag. 

1«7. 

F  i-  força, 
K  fiiiça...  í|ui!  este  »(tja  o  dttrradciro ! 

OAIlIlKTr,  CATÃO,  act.  .0,  SC.  7. 

—  «Porque  Bua  irman  é  a  Esperança, 
e  a  esperança  nunca  morre  nos  cí-uh.  Do 
l;l  cila  ilescc  ao  seio  dos  máu»  antes  quo 
sejam  precitos.»  Alexandre  Herculano, 
Eurico,  cap.  4. 

2.1  SEJA,  .^.f.  Assento  de  janella.  Vid. 
Sede. 

SEJANA.  Vi.I.   Sagena. 

SEJO,  por  ESTOU.  Antiga  voz  do  ver- 
bo fftur. 

t  SELA.  Vid.  Sella. 

por  Í880,  levac  de  «e/a 

O  que  vos  dipo,  c  o  pae  d'clla; 

vós  hí,  contao-Ihc  que  hcrdaes 

muitas  terras  c  casses 

lá  da  vossa  comcndcla. 

ANTÓNIO  PRESTES,  ACTOS,  pag.    12.3. 

—  «Posto  que  trazíamos  com  nosco 
guias  da  terra,  he  tam  fria  e  neva  tanto 
que  rauytas  vezes  se  acontece  nella  re- 
gelar se  o  homem  a  cavallo  e  assi  rege- 
lado na  sela  se  .acha  morto  algumas  re- 
zes o  o  cavalo  o  leva  a  altru;u  lugar,  is- 
to nos  contaram  em  aquella  terra.»  An- 
tónio Tenreiro,  Itinerário,  cap.  14. 

SELAD...  As  palavras  que  começam  por 
Selad...,  busqucni-se  com  Salad... 

j  SELADO,  part.  pass.  de  Selar.  — 
«El  Rey  com  seus  manteiloros  foy  decer 
á  fortaleza  ja  de  noite,  onde  todas  cea- 
rão com  ellc  cm  mesas  junto  da  sua,  e 
todos  dormião  no  castello,  e  comíào  com 
elle,  c  dentro  tinhão  suas  armas,  e  mny- 
tos  cauallos  sempre  selados,  e  elles  .ar- 
mados a  giros,  para  que  em  vindo  o  auen- 
tureíro  tanto  que  o  facho  fosse  derribado 
sahissem  com  muyta  diligencia  sem  de- 
tenç.a  alguma,  c  assi  se  fazia,  e  fez  em 
quanto  as  justas  durarão.»  (íarcia  de  Re- 
zende. Chronica  de  D.  João  II,  cap.  127. 

f  SELAGINEAS,  .-•.  /.  plur.  Termo  de 
botânica.  Família  ile  plantas  dicotyledo- 
neas  monopetalas.  cuj.as  espécies  crescem 
no  cabo  da  Roa-Esperança. 

f  SELAGINITO,  s.  »».  Termo  do  botâni- 
ca, (ienero  d.e  plantas  que  parecem  per- 
tencer á  família  d.as  lycopodiaccas  e  cu- 
jas espécies  hão  sido  encontradas  fosseis. 

SELAGO,  .».  ni.  Termo  de  botânica.  Gé- 
nero de  plantas  da  família  das  selagineas. 
—  Selago  aòí  tina.  —  Selago  da  Ethiopia, 
etc. 

—  Planta  que  os  druidas  colhiam  com 
muitas  ciTcmonías  supersticiosas. 

SELAHIM,  .«.  m.  A  decima  sexta  parte 
do  alqueire,  medida  de  grãos,  farinha-, 
etc. 


SELE 


SELE 


SELL 


457 


f  SELANSTRIA,  s.  m.  Termo  de  zoolo- 
gia. Uoueio  lIo  insectos  hymenopteros  da 
íamilia  dos  tenthredineos. 

f  SELAR.  Vid.  Sellar. 

SELARIO,  s.  m.  Direito  antigo,  ou  im- 
posto de  que  D.  João  I  isentou  Lisboa. 
Vid.  Sacarias. 

■\  SELASIA,  s.  /.  Termo  de  zoologia. 
Generu  tle  insectos  coleopteros,  da  íami- 
lia dos  malacodermes. 

SELA  VALEDI,  s.  f.  Sella  antiga,  as- 
sim chamada. 

SELE,  5.  2  gen.  Vid.  Salé. 

—  Carne  de  selé;  salgada. 

SELÊA,  s.  f.  Cano  sem  rodas,  usado  na 
Rússia;  trenó,  rastillio. 

SELECÇÃO,  s.f.  (Do  latim  selectionem). 
Escolha,  acto  de  escoliíer. 

SELECTA,  s.f.  (De  selecto).  Livro  ou 
coUecçào  de  extractos  de  differentes  au- 
tliores,  reunidos  em  volume. 

SELECTIVO,  adj.  Selecto. 

SELECTO,  adj.  (Do  latim  selectus).  Es- 
colhido. 

—  Termo  familiar.  Superior,  incompa- 
rável, exquisito,  muito  excellente. 

—  Lagares  selectos  ;  prunas  selectas  ; 
livros  onde  se  acham  reunidos  trechos 
de  differentes  authores. 

— •  Laranjas  selectas ;  uma  espécie  mui 
delicada  do  Rio  tle  Janeiro,  de  polpa  mui- 
to agennnada. 

f' SELENHYDRATO,  s.  m.  Termo  de 
chimica.  Sal  formado  pela  combinação 
do  iiydrogeneo  seleniado  com  um  sele- 
niureto  raetallico. 

SELENHYDRICO,  adj.  m.  Termo  de  chi- 
mica. Diz-se  do  acido  que  resulta  da  com- 
binação do  selenio  com  o  hydrogeueo. 

f  'SELENIA,  s.  f.  Termo  de  botânica. 
Género  de  plantas  da  família  das  cruci- 
feras,  cuja  espécie  typica  cresce  na  Ame- 
rica do  Norte. 

f  SELENIADO,  adj.  Termo  de  chimica. 
Q,ue  contém  selenio. 

-j-  SELENIATO,  s.  m.  Termo  de  chimi- 
ca. Sal  formado  pela  combinação  do  aci- 
do selenlco  com  uma  base. 

t  SELENIBASE,  s.  /.  Termo  de  chimi- 
ca. Combiiiação  de  selenio  que  represen- 
ta de  base. 

t  SELENICYANURETO,  s.  m.  Termo  de 
chimica.  Sal  cm  que  o  cyanogeneo  e  o 
selenio  fazem  o  papel  de  principio  ele- 
ctro-uegativo. 

SELENICO,  adj.  Pertencente  á  lua  ou 
aos  seus  movimentos. 

—  Diz-se  do  discurso  que  se  pronuncia 
ou  da  obra  que  se  escreve  acerca  da  lua. 

—  Termo  de  chimica.  Diz-se  de  um 
acido  formado  pelo  selenio  e  o  oxyge- 
neo. 

f  SELENIDOS,  s.  m.  plur.  Termo  de 
mineralogia.  Familia  de  mineraes,  que 
tem  ])or  base  o  selenio. 

f  SELENIFERO,  adj.  Termo  de  chimi- 
ca. Que  conténi  selenio. 

SELENIO,  s.  m.  (Do  latim  sehuium). 
voL.  V.  — 58. 


Termo  de  mineralogia.  Metal  simples,  des- 
coberto em  1817  por  Berzellio  na  Suécia. 
Conduz  mal  o  calórico  e  o  fluido  eléctri- 
co ;  reduz-se  com  facilidade  a  pó ;  tem 
grande  siniilhança  com  o  enxofre  e  arde 
ao  ar  livre,  dando  origem  ao  acido  sele- 
nioso. 

SELENIOSO,  adj.  Termo  de  chimica. 
Diz-se  de  um  dos  ácidos  que  forma  o  se- 
lenio com  o  ox3'geneo. 

f  SELENITA,  s.  Termo  de  astronomia. 
Habitante  da  lua. 

—  S.  f.  Termo  de  mineralogia.  Nome 
dado  por  Dioscorides  a  uma  variedade 
crystallina  e  laminosa  de  gesso,  conheci- 
da vulgarmente  pelo  nome  de  folha  de 
talco. 

SELENITES.  Vid.  Selenita. 

-j-  SELEKITO,  s.  m.  Termo  de  chimica. 
Sal  formado  pela  combinação  do  acido 
selenioso  com  uma  l)ase. 

SELENITOSO,  adj.  Da  natureza  da  se- 
lenita. 

SELENIURETO,  s.  m.  Termo  de  chi- 
mica e  de  mineralogia.  Combinação  do 
selenio  com  ovitro  metal  qualquer. 

f  SELENOCEPHALO,  s.  m.  (Do  grego 
seléne,  e  keyhalê,  cabeça).  Género  d'in- 
sectos  hemipteros  homopteros,  da  familia 
dos  cercopldos. 

f  SELENOCENTRICO,  adj.  Termo  de 
astroaonda.  Q,ue  tem  relação  com  o  cen- 
tro da  lua. 

f  SELENODERO,  s.  m.  Termo  de  zoo- 
logia. Cenero  de  insectos  coleopteros  pen- 
tauieros,  da  familia  dos  clavicornes. 

t  SELENODONTE,  s.  m.  Termo  de  zoo- 
logia. (Jencru  d'insectos  coleopteros  pen- 
tameros,  da  familia  dos  maiocodermes. 

I  SELEN0GN03T1CA,  s.  f.  Reunião  de 
todos  os  factos  conhecidos  sobre  a  cons- 
tituição physica  da  lua. 

SELENOGRAPHIA,  s.  f.  (Do  grego  se- 
lenc,  liux,  e  fjrai/heiíi,  dcscripção).  Descri- 
pção  da  lua. 

f  SELENOGRAPHICO,  adj.  Concernen- 
te ou  relativo  á  selenographia. 

f  SELENOGRAPHO,  's.  m.  (Vid.  Seleno- 
graphia). O  que  ilescreve  a  lua  ou  é  ver- 
sado em  selenographia. 

f  SELENOPÁLPO,  .s-.  m.  Termo  de  zoo- 
logia. Género  de  insectos  coleopteros  he- 
tcromeros,  da  familia  dos  stenelytos. 

f  SELENOPE,  s.  m.  Termo  de  zoolo- 
gia, íjenero  de  arachnides  da  tribu  das 
aranhas,  cujas  espécies  vivem  em  ambos 
os  continentes. 

f  SELENOSIS,  s.  f.  Termo  de  medici- 
na. Jlancha  branca  nas  unhas. 

SELENOSTATO,  s.  m.  Termo  de  physi- 
ca. Instrumento  para  observar  a  lua. 

SELENOTOPOGRAPHIA,  s.  f.  (Do  gre- 
go sde.nê,  lua,  e  topographia).  Topogra- 
phia  da  lua,  descripçào  da  superfície  d'es- 
te  planeta. 

f  SELENOTOPOGRAPHICO,  adj.  Con- 
cernente ou  r. dativo  ;i  sclenotopographia. 

-j-  SELEUCIDE,   s.  /.   Ave  astuta  e  nuii 


voraz,  que  se  alimenta  principalmente  de 
gafaidiotos. 

f  SELEUCIDA,  s.  Termo  de  historia.. 
Descendente  de  Seleuco,  rei  da  Syria. 

SELEDMA.  Vid.  Celeuma. 

SELGA.  Vid.  Aceiga. 

SELHA.  Vid.  Celha. 

SELKOS,   adj.  aii.t.   Senhos. 

SELIAR.  Vid.  Ciliar. 

SELICIO.  Vid.  Cilicio. 

f  SELIERA,  s.  f.  Termo  de  botânica. 
Género  de  plantas  da  familia  das  goode- 
niaceas. 

■j-  SELINO,  s.  m.  Termo  de  botânica. 
Género  do  plantas  da  familia  das  umbel- 
liferas. 

-j-  SELIO,  s.  ??i.  Termo  de  zoologia. 
Género  de  crustáceos  ierneideos,  da  fa- 
milia dos  chondracanthos. 

SELLA,  s.  /.  (Do  latim  sella).  O  ade- 
reço, em  que  se  assenta  o  cavalleiro  nas 
costas  do  cavallo ;  é  composto  de  arção, 
espendas,  vão,  peitoral,  cilha,  etc.  —  «El 
por  quanto  os  escudeiros,  e  outraiS  gen- 
tes que  nom  devem  trazer  dourado,  logo 
do  presente  nom  podem  aver  garnimen- 
tos  de  cavallos,  e  selias  muares,  quaees 
08  devem  trazer,  da-lhes  ElRey  espaço 
de  quarenta  dias  de  publicaçom  desta 
Ley,  a  que  os  possam  aver,  e  que  nom 
ajam  no  dito  tempo  por  ello  pena  alguã.» 
Ord.  Aífons.,  liv.  5,  tit.  43,  §  6.  — «Pri- 
meiramente vinham  diante  seis  trombe- 
tas, e  seis  charamellas,  e  depois  hum  Ín- 
dio sobre  hum  fermoso  cauallo,  ornado 
de  huma  sella  da  índia,  o  qual  trazia  de 
traz  de  si  sobre  as  cubertas  das  ancas 
do  cauallo,  huma  besta  semelhauel  a  hum 
Leão  pardo,  mas  de  menor  corpo  e  mais 
delicada,  de  muitas,  e  desuairadas  co- 
res.» Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  3,  cap.  57. 


Nem  so  ganha  o  paraíso 
Senão  com  offcrtas  muitas. 
Emíira.  vou  eu  muito  asinlia 
Empenho  huma  sella  que  tinha, 
E  albardo  o  meu  cavallo, 
E  foi-nic  forçado  alugal-o 
Pêra  acarretar  farinha, 
E  fiquei  desbaratado. 

GIL  VICENTB,  FARÇAS. 


—  «O  do  Tigre  lançando  os  olhos  con- 
tra onde  lhe  dizia,  viu  que  era  verdade; 
e,  porque  ainda  estavam  algum  tanto 
desviados,  teve  tempo  d'enlazar  o  elmo, 
e  mandar  apertar  as  cilhas,  e  corrcger-se 
na  sella  como  pêra  tantos  era  necessá- 
rio.» Frauciscctrde  Moraes,  Palmeirim  de 
Inglaterra,  cap.  105.  —  «E  tornando-se 
a  concertar  na  sella  se  foi  ao  posto,  e 
viu  que  o  esforçado  Platir  lhe  saía :  e 
encontrando-se  juntamente  dos  corpos  e 
escudos,  rachadas  as  lanças,  Platir  e  o 
seu  cavallo  foram  ao  chão,  e  o  outro  es- 
teve ii'ísso  atoruido  do  encontro.  O  im- 
perador estava  tão   atónito    do    que   via, 


4Õ8 


SELL 


SELL 


SELO 


que  nem  fallava,  nem  sabia  que  fallas- 
se.»  Ibidem,  cap.  111.  —  «O  gigante  fez 
a  laiiya  em  [ledavoa  no  escudo  do  caval- 
leiro  do  Tigre,  íalsando-lLe  d'aiiiba8  par- 
tes, o  foi  eoiii  tanta  força,  quo  lhe  fez 
perder  ambos  o.s  estribos  e  apegar-se  ao 
collo  do  cavallo;  poróm  tornou-se  logo  a 
concertar,  dando  a  paga  deste  encontro 
com  outro  também  acertado,  f|nc,  falsan- 
do o  escudo  o  armas  do  gigante,  deu 
com  elle  no  chilo,  levando  a  sella  antro 
as  pernas,  o  uma  feriíla  sobre  o  peito  es- 
querdo do  que  lhe  saía  muito  sangue.» 
Ibidem,  cap.  118. —  «U  das  Donzcllas, 
depois  de  tornar-se  a  concertar  na  sella, 
vendo-o  ainda  desacordado,  disse:  Não 
me  parece  que  do  nâo  haver  batalha  an- 
tre  n(is,  sois  vils  o  cjue  perdestes  menos. 
E  mandandodho  tirar  o  elmo,  ficou  al- 
gum tanto  com  o  sentido  mais  esperto  e 
conheceu  seu  damno.  El-rei,  polo  hon- 
rar, se  desceu  a  pé  e  o  ajudou  a  levan- 
tar.» Ibidem,  cap.  124. 

—  Sella  estardiota ;  ó  a  que  hoje  se 
chama  brida;  e  tudo  é  ao  revez  da  gi- 
neta. 

—  Sella  bastarda  ;  que  tem  duas  bor- 
rainas  de  diante,  e  nrio  as  tem  atraz. 

—  Sella  vaza  nos  hidos ;  que  só  tem 
arções  e  não  tem  borrainas;  era  nsada 
nas  academias,  hoje  não  se  usa. 

—  Sella  poltrona ;  que  tem  o  arção  tra- 
zeiro  muito  baixinho,  coberto  com  obra 
acolchoada,  e  seu  arção  dianteiro  pe- 
queno. 

—  Perder  o  cavalhiro  a  sella;  ser  sa- 
cudido d'ella  pelo  cavallo. 

—  Figuradamente:  Andar  em  sella; 
estar  posto  im  sella ;  no  mando ;  superio- 
ridade. 


Quanfcsses  vos  quero  cu  dar  ; 
Vós  cuidais  que  estais  na  sella  ? 
Pois  podeis-voâ  descer  d'clla ; 
Qu'eu  nuuca  vos  pude  olhar. 

CAU.,  AMrilVTRiÕES,  act.    1,  SC.    3. 


—  Firme  na  sella;  confiado  cm  si. 

—  Voz  de  entre  ambas  as  sellas;  nem 
boa  nem  mA,  ou  nem  alta  nem  baixa, 
alludindo  ás  duas  sellas,  ;l  da  gineta,  o 
á  da  estardiota.  — •  olluma  guitarra  mal 
temperada,  a  huma  voz  de  entre  ambas 
as  sellas.»  D.  Francisco  de  Portugal, 
Pris.  e  solt.,  pag.  19. 

—  Cadeira  de  braços.  — As  sellas  cu- 
mes dos  romanos. 

SELLADA,  .«.  /.  O  logar  onde  quebra  a 
lombada  do  monte  e  faz  aberta  baixa, 
como  a  da  sella. 

1.)  SELLADO,  part.  pass.  de  Sellar  n. 
A  que  s.'  poz  sella.  —  Ter  os  cavallos 
sellados. 

—  Que  dobra,  quebra  ou  faz  volta, 
como  o  assento  da  sella,  quasi  arcado. 

•J.)  SELLADO,  part.  pass.  do  Sellar  2). 
A  que  SC  poz  o  sello. 


\'('jo-t<;  ag  li;traa  felladoê, 

teu  cr<«lit<)  iruin  novello, 

as  I<^is  inuit/j  mal  ^uardadaA ; 

m;  algum  liorncin  achi-i  nos  nadas 

vi-o  como  não  lisivid-o. 

Oli !  Atlioims  (|iii'm  te  viu 

c  vé  af;orii ! 

ANTÓNIO   l-BKBTKS,  AUTOS,    pilg.     11. 

SELLADOR,  «.  m.  (Do  thema  sella,  de 
sellar  2j,  com  o  suffixo  «dór»).  O  que 
sella  ou  põe  sello. 

SELLADOURO,  s.  m.  A  parto  das  cos- 
tas da  besta,  onde  se  coUoca  a  sella. 

SELLACíÃO,  s.  m.  Uma  espécie  de  sel- 
la qiuí  tem  duas  borrainas  diante  e  ar- 
ção muito  pequeno,  e  raza  atraz.  Os  ca- 
valleiros  que  n'ella  andam  cáein  facilmen- 
te por  detraz. 

—  Sella  sem  arção,  de  que  usam  os 
ecclesiasticos. 

SELLAGEM,  .".  f.  Acção  e  effeito  de 
sellar.  Vid.  Cellagem. 

1.1  SELLAR,  V.  a.  iDc  sella).  Tôr  a 
sella  n'um  cavallo,  ete. 

—  V.  n.  Dobrar  com  peso ;  fazer  vol- 
ta, acurvar. 

2.)  SELLAR,  r.  a.  (De  sello).  Pôr  o 
sello.  —  Sellar  uma  letra,  u»i  dociuuento. 

—  Estampar,  imprimir  ou  deixar  mar- 
cada uma  cousa  cm  outra. 

—  Concluir,  rematar,  pôr  fim. 

—  Cerrar,  tapar,  fechar. 

—  Marcar  com  o  ferrete  do  beneficio 
e  outras  obrigações,  e   ter  por  seu  obri- 


—  Figuradamente :  Confirmar  com  sa- 
crifícios pessoaes  a  verdade  da  causa  que 
se  defende. 

—  Fechar  os  lábios,  a  bocca,  não  di- 
zer palavra,  calar-se. 

—  Sellar-se,  c  refl.  —  «A  gente  a  ado- 
rou, c  se  sellou  com  a  sua  marca  para 
serem  conhecidos  por  seus  vassalos.» 
Paiva  d'Andrade,  Sermões. 

SELLARIA,  ou  SELLERIA,  s.f.  Rua  de 
selleiros. 

SELLEGÃO.  Vid.  Sellagão. 

SELLEIRO,  adj.  (De  sella,  com  o  suffi- 
xo ceironi.  Que  já  levou  sella,  —  Ca- 
vallo selleiro. 

—  Figuradamente  :  Diz-se  da  pessoa 
acostumada  a  caiTCgar,  a  soffrer  o  peso 
de  outrem. 

—  Que  se  segura  bem  na  sella. 

—  Figuradamente:  Diz-se  do  quo  re- 
siste a  qualquer  Ciíso  adverso,  repu- 
gnante. 

—  aS.  »)i.  O  que  faz  sellas. 

SELLIM,  s.  »?i.  Diminutivo  de  Sella. 
Sella  raza,  e  pequena. 

SELLO,  s.  m.  (Do  latira  .«íi/iV/hjhI.  Peça 
ordinariamente  de  metal  em  que  estão 
abertas  as  armas,  ou  divisa  de  algum 
príncipe,  estado,  republica,  religião,  coin- 
munidade,  senhor  ou  cavalleiro,  parti- 
cular, que  se  imprime  em  cartas  ou  pa- 
peis de  importância,  para  os  tornar  váli- 
dos e  autlieuticos;  c  algumas  vozes  vac 


enfiado,  c  pendente  do  fios  de  seda.  — 
«Feita  cin  Lisboa  onze  de  laiieiro  de  Mil 
quatrocentos  quarenta,  e  noue  assinada 
per  o  dito  senhor,  c  selada  do  seu  sello 
[lendente.»  Damião  de  Oocs,  Chroníca  de 
D.  Manoel,  caj).  '^H.  —  «Escriptas  em 
íluas  fidlias  de  <mro  batido  ambait  de  hum 
teor  cada  huma  com  três  sellos,  hum 
d'elUey  de  ouro,  o  os  dous  de  Cijge  Atar 
e  Kaez  Nordiíii,  que  erâo  de  prata,  me- 
tidas em  duas  caixas  de  prata,  segando 
costume  dos  Heys  orientaes.t  Barros,  Dé- 
cada 2,  liv.  2,  cap.  4. 

—  Sinete,  chancelia;  instrumento  ou 
peça  com  caracteres  ou  algum  deeenho 
gravado,  que  serve  para  fechar  as  car- 
tas, ou  a  capa  de  qualquer  pupel,  ou 
para  imprimir  algum  sigiial  particular 
em  cera,  lacre  derretido,  obreia,  ou  ou- 
tra matéria  branda,  ou  com  tinta. 

—  Casa  ou  repartição  jnde  se  estampa 
ou  põe  o  sello  a  alguns  escriptos  para  os 
auctorisar. 

—  O  que  fica  estampado,  impresso,  o 
sellado  no  mesmo  sello. 

—  Figuradamente:    Ultima  perfeiçAo. 

—  Signal,  vestigio,  marca. 

—  Pôr,  lançar  o  sello ;  sellar. 

—  Figuradamente : 

Onde  amor  lançar  o  $elU), 
Nenhuma  cousa  o  desterra. 
Porqninda  que  o  pensamento 
Vos  fique,  Senhor,  cm  calma, 
Por  morte  ou  apartamento  ; 
Sempre  vos  lá  ficão  n°alma 
As  pegadas  do  tormento. 

CAM.,  AMPU-iTBlÕES,  aCt.    1,   BC.   6. 

Como  a  Nai;ão  fatil,  aos  meus  Maiores, 
Lhes  pôz  mysterioso  tello,  o  Fado, 
NeUa,  do  Orbe  os  Acasos,  consignando. 

F.    U.   DO  NASCIMENTO,  OS    KABTVRBS,   1ÍV.    7. 

—  Pôr  o  sello ;  acabar,  ultimar,  con-        j 
cluir,  aperfeiçoar  o  que  se  começou.  I 

—  Sello  e;)i  branco;  o  que  se  imprime         ' 
fortemente  sobre  papel,    para  lhe  deixar 
marcadas  as  partes  proeminentes. 

—  Sello  volante;  o  que  se  põe  nas  car- 
tas sem  o  apertar,  j)ara  que  fiquem  aber- 
tas, e  possa  lêl-as  n  pessoa  por  mào  de 
quem  se  dirigem  a  outra. 

—  Logar  do  sello;  nota  que  se  põe  no 
fim  de  alguns  despachos. 

—  Sello  real ;  o  das  quinas  que  se  põe 
nas  patentes,  cartas  que  passam  pela 
chanccllaria-mõr,  ou  dos  officiaes  que  os 
põe,  e  parece  diverso  do  sello  privado, 
ou  camafeu  do  soberano. 

—  Passar  alguma  cousa  seyn  sello ;  ser 
admittida,  correr  sem  exame. 

—  Ordem  sellada.  —  Obedecer  ao  sel- 
lo <^i'  jui-- 

SELLOTE,  5.  "I.  Diminutivo  de  Sella. 
Sella  (lequena  sem  arção. 

I  SELOURA,  s.f.  Vid.  Ceroulas.  ^Em- 
pregado comicamente  por  António  Pres- 
tos, jogueteando  sobre  Braga,  nome  pró- 
prio e  appellativo. 


SELV 


SEM 


SEM 


459 


Sois  de  Saloi-ico,  bcbado? 
Nem  de  Salorico  agoado. 
SoÍ3  da  Honra  de  Xinàcs? 
de  Guimarães? 
Braga?  selouraf 

Acamado 
jazo  todo  em  Ruivàes. 

ASTOsio  PBKSTES,  Auros,  pag.  361. 

SELVA,  s.  /.  (Do  latim  silva).  Bosque, 
matto. 


A  Divina  Poesia,  uniea  prenda, 

Que  dos  Cios  nos  desceu,  porque  tal  mimo 

Nos  coubesse,  de  Vós  fez  Jove  escolha. 

Oh  filhas  de  Jlneraósyne,  que  as  seivas 

Do  Olympo  amáes,  amáes  de  Tempo  os  Valles. 

F.   M.   DO  NASCIMENTO,   OS   MAHTTKES,  1ÍV.    2. 

Aos  membros  lassos,  co'a  diurna  lida, 
Mesquinhas  horas  sós,  da  Xoite  dava 
Desfallecido ;  e  nesse  prazo  curto. 
Acaso,  vinha  o  grato  Esquecimento 
Da  minha  uóva  sorte ;  e  quando  da  Alva 
Aos  primeiros  clarões.  Trombetas  ferem 
Cos  sons  de  Diana,  os  ares,  despertando. 
Pasmava  cu  de  me  vér,  em  selvas  broncas. 
iBiDEií,  liv.  6. 

Poisar-lhe  o  coração  suavemente 
Sobre  esquecidas  penas,  amarguras. 
Anciãs,  lavor  da  \-ida  ?  —  Oh  gruttas  frias, 
Oh  gemedoras  fontes,  oh  suspiros 
De  namoradas  selva-i,  brandas  veigas, 
Verdes  outeiros,  gigantescas  serras  l 
GARRETT,  CAMÕES,  cant.  5,  cap.  11. 

No  Globo  incerto  da  serena  Lua 
Mares,  selvas,  montanhas  suppozerâo. 
Té  do  ser  pensador  foi  dita  alvergue. 

J.  A.   DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,    Caut.   2. 

—  Figuradamente :    Bastidão,    grande 
numero. 


Os  cabellos  na  frente  se  ouriçaram. 
Como  selva  de  lanças  se  ergue  súbito 
Ao  grito  alarma  cm  dia  de  batalha. 
O  coração  parou-lhc,  —  o  o  corpo  túrgido. 

GARRETT,  CAMÕES,  CaUt.  2,  Cap.  6. 

SELVAGEM,  adj.  (De  selva).  Silvestre, 
agreste,  bravio;  diz-se  do  animal  que 
vive  nas  :;.elvaã,  bosques  ou  mattos,  que 
não  é  domestico. 

—  Bravio,  não  ciiltivado,  maninho ; 
diz-se  do  terreno. 

—  Silvestre,  bravio;  diz-se  das  plantas 
não  cultivadas. 

—  Figuradamente :  Rude,  agreste,  du- 
ro, intratável. 

Mui  falsa  idea 
Fizeste  da  virtude  :  amena  e  doce. 
Não  áspera,  selvagem,  desabrida, 
A  crearam  os  cens ;  ao  peito  humano 
Foi  dadiva  e  mercê,  não  foi  castigo. 

GARRETT,    CATÃO,    aCt.    -3,    SC.    1. 


pido. 


•  Grosseiro,    ignorante,    rude,     estu- 
■S.  in.   Homem   rude,    que   vive   no 


matto,  em  selvas,  bosques,  montezinho, 
de  costumes  bárbaros. 

SELVAGERIA,  ou  SELVAJARIA,  s.  f. 
Qualidade  de  selvagem ;  grosseria. 

SELVAGINA,  s.  f.  Animal  feroz,  selva- 
gem. 

SELVAGINO,  adj.  (De  selvagem).  Vid. 
Salvagino. 

SELVATICAMENTE,  adf.,(De  selvático, 
com  o  suffixo  «mente»}.  A  maneira  de 
selvagem. 

SELVÁTICO,  adj.  (Do  latim  silvaticus). 
Pertencente  ou  relativo  ás  selvas,  mon- 
tezino,  que  nasce,  cresce  ou  se  cria  nas 
selvas. 

Vè  do  Benomotapa  o  grande  império. 
De  selvática  gente,  negra  e  nua  ; 
Onde  Gonçalo  morte  c  vitupério 
Padecerá  pela  Fé  saucta  sua. 
CAM.,  Lus.,  cant.  10,  est.  98. 

Selvático  terreno,  acobertado 

De  Florestas  é  a  França,  a  qual  começa 

Além  do  Rheno  ;  cirta  por  Batavia 

Ao  Poente,  e  lhe  tica  a  Scandia  ao  Norte, 

Gallias  ao  Sul,  Germânia  pelo  Oriente. 

F.   M.    DO  NASCIMENTO,  OS  MARTYKES,   1ÍV.    6. 

• — •  Selvagem,  rústico,  agreste,  mon- 
tez. 

—  Amigo  das  selvas,  da  solidão, 
SELVATIQUEZA,  s.  /.  Qualidade,  con- 
dição ou  natureza  do  que  é  selvático. 

— ■  Rusticidade,  rudeza,  falta  de  cul- 
tura. 

SELVOSO,  adj.  (Do  latim  silvosus). 
Perteuceute,  relativo  ás  selvas,  ou  pró- 
prio d'ellas. 

—  Diz-se  do  território  ou  paiz,  em 
que  ha  muitas  selvas,  mattos. 

1.)  SEM,  s.  f.  (Do  latim  sémen).  Gera- 
ção, semente.  Vid.  Semel. 

2.)  SEM,  prep.  (Do  latim  sine).  Denota 
exclusão,  privação,  falta.  —  Deixaram  o 
forte  sem  gente  que  o  defendesse. —  o  E 
se  a  venda  fosse  feita  sem  alguà  condi- 
çom,  e  acabada  de  todo,  e  despois  fosse 
publicada  por  algum  maleticio,  que  o  ven- 
dedor ouuesse  cometido,  ou  a  mandasse 
Ei  Rei  filhar  por  alguà  necessidade,  ante 
que  fosse  entregue  ao  comprador,  em 
cada  hum  destes  casos  perteence  o  per- 
dimento  e  perigoo  da  cousa  assi  pobli- 
cada  ao  vendedor.»  Ord.  Affons.,  liv.  4, 
tit.  46,  §  5.  —  «  Porem  Puemos  defesa, 
que  daqui  em  diante  nenhum  nosso  na- 
tural, nem  outro  algum  estrangeiro,  de 
qualquer  estado  e  condição  que  seja,  nom 
compre  nenhuuã  das  ditas  faquas,  que 
veerem  do  dito  Regno  de  Imglaterra,  ou 
d'outra  alguà  parte,  pêra  as  levar  fura 
dos  ditos  nossos  Regnos  sem  nossa  licen- 
ça.» Ibidem,  tit.  50,  §  1. —  «  E  porque 
fomos  enformado,  que  muitos  Corregedo- 
res das  Comarcas,  e  Ouvidores  dos  Ifan- 
tes,  e  dos  Prelados,  e  Meestres,  e  bem 
assi  os  Juizes  temp^a-aaes,  e  aquelles  que 
poemos  em  alguãs  Cidades  e  Villas  sem 


limitaçom  do  tempo  certo,  se  fazem  mer- 


cadores 


Ibidem,    tit.    61,    §    2.  — «E 


visto  per  Nós  o  dito  artigo  com  a  respos- 
ta a  elle  dada,  adendo  e  declarando  em 
elle  Dizemos,  que  por  a  divida  privada, 
que  decenda  de  feito  civil,  assi  como  d'al- 
guum  contrauto  ou  casi  contrauto  sem 
outra  alguma  malicia,  nom  deve  alguum 
homem  seer  preso,  ainda  que  nom  tenha 
per  honde  pagar,  atee  que  seja  condapna- 
do  per  sentença,  que  passe  em  cousa  jul- 
gada.» Ibidem,  tit.  67,  §  2.  —  «Porque 
todo  aquelle,  que  se  usa  da  cousa  que  he 
posta  em  guarda  e  condisilho,  sem  voon- 
tade  de  seu  Senhor,  ou  nom  lha  entre- 
gando a  todo  o  tempo,  que  pêra  ello  he 
requerido,  sem  justa  e  liidima  excusa- 
çom,  tal  como  este  comete  furto,  e  assi 
como  ladrom  deve  seer  preso,  ataa  que  a 
entregue  da  Cadea;  nem  deve  seer  sol- 
to, ainda  que  pêra  ello  dè  fiadores  abas- 
tantes ;  nem  por  dar  lugar  aos  bens,  pois 
que  he  caso  de  malefício,»  Ibidem,  §  5. 


E  havendo  piedade 
De  mulheres  mal  casadas. 
Pêra  as  ver  bem  maridadas. 
Ando  pelos  adros  nua. 
Sem  companhia  nenhuma. 

GIL  VICENTE,   OBBAS  VARUS. 


Como  chegam  a  hidade 
moças  do  dez  ou  onze  annoa, 
has  mães  fora  da  cidade 
mancebos  de  autoridade, 
de  linhagem,  sem  enganos 
buscam,  e  mãdauí  chamar, 
para  as  filhas  ensinar. 

GARCIA  DE   REZENDE,  MISCELLASEA. 


—  (( E  como  este  Hacem  Bec  era  ho- 
mem novo  sem  parentesco  de  nobreza,  e 
estrangeiro  na  terra,  por  melhor  segurar 
o  que  ganhara,  e  se  liar  com  os  Prínci- 
pes do  Reyno,  casou  huma  filha  sua  com 
Xeque  Aidar,  que  além  de  ser  homem 
nobre  em  sangue,  por  vir  da  linhagem 
de  Alie,  e  secta  que  novamente  profes- 
sava, com  que  tinha  acquirido  muita  gen- 
te, houve  Hacem  Bec  que  a  dava  a  huma 
das  mais  notáveis  pessoas  da  Pérsia.» 
Joào  de  Barros,  Década  2,  liv,  10,  cap,  6. 
—  «O  esforçado  Deserto,  armado  de  ar- 
mas verdes,  e  no  escudo  em  campo  bran- 
co um  Salvagem  com  dois  liues  por  uma 
trella  da  mesma  maneira,  que  costumara 
trazer  em  seu  principio,  se  partiu  só  sem 
outra  companhia,  chamando-se  sempre  o 
cavalleiro  do  Salvagem,  como  dantes ; 
cuja  fama  ainda  então  em  toda  pessoa 
fazia  medo  e  espanto,  quando  na  memo- 
ria representavam  as  obras  de  seu  dam- 
no.B  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
d'Inglaterra,  cap,  106,  —  «Senhor,  disse 
Alternao,  é  tão  prezada  a  liberdade  para 
quem  vive  sem  ella,  que  ás  vezes  o  de- 
sejo de  a  cobrar,  faz  aventurar,  a  quem 
a  não  tem,  a  cousas  de  tamanho  perigo, 
que,   depois  de  posto  nelle,  tomaria  por 


4G0 


SEM 


jiurtiilo  viver  íintes  sem  ella,  f|iio  cohral-a 
por  tacs  modoH.»  Ibidem,  cai».  11<). — 
ot  AsHim  f|iio,  oncoiitramlo-Ho  no  meio  dos 
escudos,  Hzeram  as  lanras  pivlaros  e  pas- 
saram por  diante  sem  mais  (laimn).  To- 
mando outras,  que  el-roi  mandara  trazer, 
correram  a  segunda  vez;  c  pcsto  quo  se 
tornassem  a  encontrar  em  cheio,  nilo  se 
trataram  poior  ([ue  da  primeira.»  Ibidem, 
cap.  i'24.  —  «  llespondoraõ,  Deus  nosso 
Senhor,  poço  sem  fundo  de  misericórdia 
to  pratitiquo  com  bens  nesta  vida  as  es- 
moUas  qnv.  fazes  aos  pobres  por  seu  amor, 
])orqno  crê  irmào  nosso  que  o  bordão 
princi])al  cm  que  a  alma  se  encosta  para 
não  cayr  quãtas  vezos  embica,  he  a  cari- 
dade que  usamos  co  próximo,  quãdo  por 
vaingloria  não  leva  farello  do  mundo  que 
cegue  a  alvura  do  bom  zelo  a  quo  a  sua 
santa  ley  nos  obriga.»  Fernão  Mendes 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  104.  —  «  E 
dot(!ruiinauiloso  de  a  irem  buscar,  se  eiic- 
garaõ  a  cila,  o  lhe  dcrào  duas  çurriadas 
do  artilharia  com  quo  lhe  matarão  a  mayor 
parte  da  gente,  e  apos  isso  a  abalroarão, 
o  a  tomarão  sem  nenhum  trabalho,  por 
ter  a  gente  quasi  toda  morta  e  ferida,  e 
a  trouxerão  á  toa  para  dentro  da  angra 
onde  as  outras  estavão.»  Ibidem,  capi- 
tulo 146. 


JIcu  ii-mão  foi  causa  aqui 
dhavor  cavallos  cabrões, 
c  giilos  nem  covai^íiJes. 
15ofó,  senhor,  que  isso  ouvi. 
E  bolinhos  de  confci<;ue3, 
Isso  ouvi  também. 

ANTOmo  PRESTES,  AUTOS,  pag.  217. 


— «  Polo  contrario  os  Pegús  comem 
carne  de  vacca,  que  he  abominável  ás 
nações  do  quasi  toda  a  Imlia,  e  bebem 
vinho,  e  usam  tudo  o  que  admittimos  em 
nossos  ordinários  manjares  sem  escrúpulo 
algum,  julgando-se  por  honrados  da  nossa 
conversação.»  Conquista  do  Pegú,  cap.  1. 
—  «  ( traudes  saõ  verdadeyramente  os 
trabalhos  do  mar,  se  os  que  lanção  nos 
dirovtos  da  casa  da  índia  aqui  se  acha- 
rão, cuydo  que  mais  jnedosamcnte  se  ou- 
uerão  com  as  partes.  Contai"ão  mais,  que 
vendose  sem  gouerno,  hum  dos  passa- 
gevros  que  na  nao  vinha  posera  hum 
gosto.»  Fr.  (laspar  da  Cruz,  Tratado  das 
cousas  da  China,  cap.  4.  —  <e  Tc  quo  aos 
dezasete,  depois  de  partirmos  de  Laza, 
vimos  os  muros  de  Babylonia,  com  que 
me  alegrey  em  extremo :  o  outivas  muy- 
tas  Aldeãs  quebradas,  e  sem  geute.  Ao 
ontro  dia  ao  pôr  do  Sol,  chegamos  ao  rio 
Diala,  quo  liça  três  legoas  da  Cidade; 
onde  dormimos  aquella  noite,  em  quanto 
forão  pedir  licença  pêra  entrarmos  nella, 
porque  assi  se  custuma  naquellas  terras.» 
Ibidem,  cap.  17. 

Porém,  OU  eu  mal  ouço,  ou  com  voz  alta 
Mo  chama  agora  o  Taroo,  o  mo  importuna. 


SEM 

Que  doscja  partir-BO,  poii  Uio  falta 
Da»  armas  o  favor,  e  da  Fortuna, 
.ia  para  cUo  outra  voz  meu  canto  salta 
l'ois  ja  prestoí  o  vejo,  e  i|ui!  o.>portuQa 
(^'onjun(;ào  tem  agora  de  partir-sc, 
K  vejo  que  tem  mim  pódc  mal  ir-sc. 

y.  ii'àni)I(Aue,  rKiMEiuo  cebco  i>k  uiu,  cant.  20, 
est.  7-1. 

— «  Teve  nmitas  occasioene  de  ver  a 
sua  vivesa,  examinou  a  sua  vivacidade, 
SC  he  (pie  he  couza  ditterente  uma  da  ou- 
tra, e  sem  atenção  a  este  encanto  nanio- 
rou-se  de  (ialetti,  irmãa  da  Dançarina, 
que  hc  iiuma  moça  morta  á  vista  desta. » 
Cavalleiro  d'01iveira,  Cartas,  liv.  1,  nu- 
mero 'ò'ò.  —  «  Impedido  assim  de  consul- 
tar escritos  antigos  e  modernos,  de  exa- 
minar as  historias  passadas,  e  presentes, 
c  de  adivinhar  as  futuras  pai"a  poder 
achar  a  prova,  he  necessário  fasi--la  como 
V.  M.  onlcna  muito  fácil,  c  nmito  inte- 
ligível sem  autoridades,  nem  argumentos 
que  a  contundão.»  Ibidem,  n."  54. 

Porem  naõ  façais  mudança, 
Por  maia  que  o  tempo  apersiga  ; 
Que  amor  por  pacto  me  obriga 
A  viver  sciii  esperança, 
E  a  tiilla  por  inimiga. 

r.    nODKIGUKS  LOBO,  PRIMAVERA. 

Ora,  certo  tu  já  no  bom  despacho. 
Podes  som  nojo  algum,  ou  sem  empacho. 
Fazer  versos  com  mãos,  c  mais  com  pés, 
Jil  que  estás  no  teu  tempo,  c  no  teu  mcz ; 
Porque  seria  asneira  conhecida, 
noi.\ares  de  ganhar  a  tua  vida 
l'or  este  lionrado  modo. 

ADUADE  DE    JAZENXE,  POESIAS,  tOUl.    2,   pag.    35. 

—  Quando  se  junta  com  o  iutinito  do 
verbo,  significa  o  mesmo  que  não,  com  o 
seu  participio  ou  gerúndio.  — Fui  sem  co- 
mer ;  isto  é,  não  tendo  comido,  não  co- 
mendo. — « E  delia  houve  ha  Iníanta 
dona  loanna,  que  moi-reo  Freira  no  Mos- 
teiro de  Jesu  Daueiro,  e  el  Rei  dom  loào 
segundo  deste  nome,  pai  do  Príncipe 
dom  Afonso,  que  falecerão  ambos  pai,  e 
filho  sem  deixarem  filhos,  nem  filhas  de 
legitimo  matrinumio.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1,  cíip.  3. 
—  «  Uouuerão  mais  hos  Reis  de  Castella 
quatro  filhas,  a  saber  ha  Infante  dona 
Isabel  que  casou  com  lio  Príncipe  dom 
Afonso  filho  dei  Rei  dom  loào  segundo 
do  Portugal,  ho  qual  príncipe  pouco  tem- 
po depois  de  ser  casado,  faleceo  em  San- 
ctarem  de  huina  queda  ijue  deu  indo  cor- 
rendo a  eauallo,  de  que  logo  morreo,  sem 
deixar  filhos,  e  ha  Princesa  dona  Isabel 
se  tornou  viuua  pêra  Castella.»  Ibidem, 
cap.  22.  —  «  Francisco  de  iliranda,  fi- 
zera o  que  cUos  fizerão,  e  por  isso  me 
aueroy  com  elles  temperadamente,  e  logo 
sem  outro  mais  requerimento  mandou 
cessar  as  deuassas,  e  in(|ulriçòis,  sem 
falar  nisso  mais,  porque  fora  sobre  vin- 
"■ança  de  injuria  de  pay.»  Ibidem,  cjipi- 


SEM 

tulo  145.  —  «  Dos  noasos  morrerSo  três 
de  eauallo  dos  moradores  de  Çatiin,  e 
forão  feridos  outros,  entre  os  quais  foi  o 
Adall  ívopo  barriga,  assi  se  tornarão  pcra 
cidade  de  Çafim  sem  trazerem  caiialga- 
da,  nem  acharem  quem  lhes  sainãe  ao 
caminho.  >  Ibidem,  part.  i),  cap.  33. 

E  BC  lha  dam  a  comer 
liam  lhe  pode  empecer, 
e  se  alguém  bebe  o  »cu  \iiiho, 
ou  mosca  come  seu  cospinho, 
morre  tem  poder  viuer. 

OAHCIA  DE  BKZC.XDE,   MIBCKLLAXEA . 

—  «  Finalmente  sem  fazerem  mais 
damno  foram  jjrczos  Luns  delle»,  e  08 
outros  80  lançaram  a  nado,  o  salváram- 
80  cm  terra,  por  ser  perto  delia.»  Bar- 
ros, Década  2,  liv.  9,  cap.  3. 

palha  nenhuma  :  mas  cllc 
deixa-mc  assi  $em  comer, 
então  cu  que  hei  de  fazer  ? 
rir  com  este  e  com  aqucUo 
para  d'isto  me  manter. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  4Õ3. 

—  »Asslm  que  com  estas  e  outras,  que 
lhe  disse,  o  fez  ir  seu  caminho :  e  pas- 
sados alguns  dias,  sem  achar  cousa  que 
lhe  impedisse,  chegou  á  vista  daquella 
grani  cidade  de  Constantinopla  um  do- 
mingo hora  de  vespora.  E  vendo  os  pa- 
ços do  imperador  e  apousentamento  de 
Polinarda,  poz  os  olhos  nelles.»  Francis- 
co de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  25.  —  o  Pois  deixados  a  elles  té  seu 
tempo,  torna  a  historia  a  dar  conta  de 
Florendos,  que  caminhando  por  suas  jor- 
nadas contra  o  reino  de  Hespanha  sem 
achar  impedimento  a  seu  caminho,  que 
j;i  então  as  aventuras  eram  menos,  ura 
dia  a  horas  de  véspera  chegaram  a  um 
valle  gi-acioso  e  grande;  no  fundo  delle 
estava  assentado  um  castello  formoso  e 
forte.»  Ibidem,  cap.  96.  —  •Perdido  o 
navio  de  vista,  como  o  dia  fosse  grande 
e  o  cavalleiro  do  Tigre  pouco  costumado 
a  ter  momentos  ociosos,  pediu  aos  outros 
que  quizessem  ver  a  sua  ilha  Perigosa, 
que  d'alii  perto  estava,  que  lho  parecia 
fazer  o  que  não  devia,  passar-lhe  tanto 
pola  porta  sem  a  visitar;  de  que  todos 
receberam  contentamento;  que  as  cousas 
delia  eram  pêra  de  muito  longe  as  vir 
buscar,  quanto  mais  estando  tâo  perto. i 
Ibidem,  cap.  119. 


Entrados,  o  Ódio  disse  aqui  te  buscAo 
Estes  com  quem  ja  venho  de  sua  parte. 
Ambos  os  leuaremos  sem  dv>tcrsc 
Que  a  determinaç,io  ja  nos  aguarda. 

COETE  BKAL,  NACVBAOIO  DK  SEPÚLVEDA,  Cant.  2. 


—  tCom  este  fervor,    sem   fazer   mais 
detença,  se  pôz  em  hum  Alifante,  e  acõ- 


SEM 


SEM 


SEMA 


461 


panliada  de  trezentos  dos  seus  que  aly 
tinha  comsi.2'0  para  sua  guarda,  e  de  ou- 
tros muvtos  que  deípois  se  lhe  ajunta- 
rão, com  que  fez  bum  corpo  de  setecen- 
tos homens,  se  veyo  com  elles  para  a  ci- 
dade, com  determinação  de  lhe  pôr  o  fo- 
go, porque  os  inimigos  a  nào  lograssem.» 
Fernào  Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap. 
28.  —  aEstes  andarão  peia  ten-a  dous 
dias,  sem  acharem  mais  que  humas  ca- 
sas palhaças  despovoadas,  porque  parece 
que  os  moradores  delias  fugirão  de  me- 
do dos  nossos.»  Diogo  de  Couto,  Década 
6,  liv.  9,  cap.  22.  —  «E  atinando  iio 
milhor  que  pude,  e  sem  perguntar  a  nin- 
guém, cheguey  ao  apouseuto  dos  \'  ene- 
zeanos,  que  em  ella  habitam :  de  que  era 
cônsul  e  principal  hum  niicer  André,  pê- 
ra o  qual  eu  trazia  huma  carta  do  capi- 
tão Dormuz,  escripta  em  latim,  que  em 
aquelle  tempo  nam  era  abi.»  António 
Tenreiro,  Itinerário,  cap.  13.  —  «Olhay 
para  a  vara  de  hum  aguazil  damninho, 
parecevos  vaqueta  de  arcabuz;  e  ella  he 
espingarda  de  dous  canos;  porque  vay 
por  esses  campos  de  Jesu  Christo,  a  me- 
lhor marràa,  que  encontra,  e  o  melhor 
carneiro,  aponta  nelles,  e  quando  volta 
para  casa,  acha-os  estirados  na  sua  loge, 
sem  gastar  pólvora,  nem  dar  estouros.» 
Arte  de  furtar,  cap.  57.  —  «Ninguém 
faz  meliior  do  que  V.  M.  conte;itando-se 
com  o  Dom  que  o  nascimento  lhe  deo, 
sem  querer  o  titulo  de  Marquez  Maldo- 
nado, que  he  o  mesmo  que  aqui  tem  to- 
mado muitas  pessoas  a  quem  elle  se  nào 
deo,  nem  se  dará.  Guarde  Deos  a  V.  M. 
muitos  annos. »  Cavaileiro  d'01iveira,  Car- 
tas, liv.  3,  n."  27.  — •  «Ficou  o  hospede 
sem  dar  embaixada  nem  fazer  cortezia  á 
porta,  porque  deu  com  um  conuuctor  que 
merecia  ser  baxá  de  três  caudas,  por  le- 
var os  narizes  do  hospede  aos  óculos  da 
casa...»  Bispo  do  Grào  Pará,  Memorias, 
publicadas  por  Camillo  Castello  Branco, 
pag.  ò3.  —  «Em  Hespanha  é  assaz  cele- 
brada a  memoria  do  conde  da  Ericeira 
na  pena  daguias  d'alto  vôo,  como  Bacal- 
lar  e  Sana,  sem  fallar  nos  gabos  de  Ma- 
ner  e  outra  inferior  turba  de  nocturnas 
aves.»  Ibidem,  pag.  108. 

—  Sem  conto;  immenso,  innumeravel, 
infinito. — «Ha  neste  Reyno  Thesourei- 
ros,  Depositários,  e  Almoxarifes  sem  con- 
to ;  todos  arrecadaõ  em  seus  depósitos, 
que  chamaõ  arcas,  grandes  copias  de  di- 
nheiro, hum  uelRey,  outro  de  orfaõs,  e 
muito  de  outras  muitas  partes.»  Arte  de 
furtar,  cap.  61. 

—  Sem  cobertura ;  descoberto,  que  não 
tem  tampa.  —  «Acabado  o  juramento,  o 
Copeiro  Mur  ti-az  huma  taça  de  prata 
bi-anca  com  agua,  e  sem  cobertura,  e  o 
Veador  huma  toalha,  e  dando  o  Copeiro 
Mór  a  taça  a  ElRey.»  Manoel  Severim 
de  Faria.  Noticias  de  Portugal,  Disc.  3, 
cap.  19. 

—  Sem  Jetinça;  logo,  immediatamente. 


O  Turco  lh'o  agradece,  e  c[ue  olle  o  leve 
Mauda  a  Coustantinopla  em  companhia, 
O  Baxá  que  hum  teinor  uiio  menos  leve 
Do  que  03  outros  delle  hão,  do  Turco  havia, 
Se  parte  sem  detença,  c  em  tom;io  breve 
Entra  lá  na  Cidade  para  onde  hia, 
Ao  Grào  Turco  o  infiiiito  ouro  apresenta 
Que  de  vê-lo  se  admira,  e  se  contenta. 

F.  DE  AXDBADE,  PBIMEIEO  CEECO  DE   DIU,  CSUt.  12, 

est.  73. 


— -  Sem  duvida;  certamente,  segura- 
mente, com  certeza.  — -  «Celebramos  e 
festejamos  o  nascimento  do  gloriosíssimo 
Baptista  do  Senhor.  E  sem  duuida  nào 
còuem  que  passe  este  liia  sem  alguma 
memoria  de  suas  façanhas,  de  sua  vida 
e  doutrina  pois  foi  tal  que  mereceo  que 
o  SaluaJor  do  mundo  delle  preegasse.» 
Fr.  Bartholomeu  dos  Martyres,  Catecis- 
mo da  doutrina  christã,  liv.  2. 

—  Sem  remédio;  irremeiiiavelmeute. — 
«Nào  po.ie  ser  este  movimento  tão  oc- 
culto,  que  o  nào  entendesse  o  T\Tanno, 
que  se  apercebeo  para  a  defensa,  fortifi- 
cando a  entrada  da  Ilha  com  trincheiras, 
e  estacadas  fortes;  e  quando  os  nossos 
ganhassem  estes  reparos,  tinha  coberto 
os  passos  que  guiavào  á  Cidade  com  es- 
trepes, e  puas  de  ferro,  tocados  de  her- 
va,  onde  passando  os  nossos  furiosos  da 
cólera,  e  victoi-ia,  se  perderiào  sem  re- 
médio.» Jacintho  Freire  de  Andrade,  Vi- 
da de  D.  João  de  Castro,  liv.  1. 

—  Sem  medo;  destemido,  audaz,  co- 
rajoso, impávido,  ousado. 

O  furor  Hespanliol  transpoz  sem  medo 

Estas  da  Terra  altíssimas  barreiras. 

Com  que  em  porçõe.í  iguaes  d  hum  Pólo  a  outro 

Dividio  Natureza  o  Mundo  opposto  ! 

Nunca  farto  de  império,  e  de  thesouros. 

J.   A.   DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,   Caut.   2. 

—  Trazer  a  cabeça  sem  nada;  desco- 
berta. —  «A  cabeça  trazia  sem  nada, 
porque  os  cabellos  mereciam  nào  ser  oc- 
cupados  d'outra  cousa,  somente  vinham 
tiiuiados  atraz  com  uma  fita  de  preto  e 
ouro,  somettidos  por  dentro  de  maneira, 
que  lhe  dava  muito  ar  ao  ro-to."  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  de  Inglater- 
ra, cap.  89. 

—  Semtirte  nem  guarte  ;  sem  ceremo- 
nia,  sem  hesitar,  sem  más  nem  boas.  — 
«He  hum  homem  que  sem  tirte  nem  guar- 
te,  beja  por  força  a  mão  a  todas  as  Da- 
mas, e  se  alguma  lhe  nega  deita  isso  pa- 
ra traz  do  cachaço,  que  he  mais  para 
a  canga  que  merece  do  que  para  a  Or- 
dem que  traz.»  Cavaileiro  de  Oliveira, 
Cartas,  liv.  1,  n."  10. 

—  Sem  razão ;  desarrazoado,  injusto. 
—  «Nào  sou  tão  sem  razào,  disse  elle, 
que  vos  afaste  de  vossa  companhia;  ide 
com  elles,  pois  estas  senhoras  os  enviam 
ás  damas ;  assim  de  minha  parte  vos  pre- 
sentai  a  ellas  e  dizei-lhe,  que  lhe  peço, 
que  quando  alguma  affronta  certa  tivera 


pêra  passarem,  que  se  encommendem  a 
mim,  que  as  salvarei  delia,  e  não  temam 
a  que  podem  correr  comigo,  nem  as  en- 
gane o  conselho  de  quem  lho  contrario 
manda  dizer.»  Francisco  de  Moraes,  Pal- 
meirim d'Inglaterra,  cap.  125. 

—  Sem  dentes;  desdentado.  —  «Estan- 
do alli  a  armada,  lançou  o  mar  hum  pei- 
xe na  praia  mais  grosso  que  hum  tonel, 
e  taõ  comprido  como  dous,  ha  cabeça,  e 
os  olhos  como  de  porco,  sem  deutes,  as 
orelhas  da  feição  das  de  Elephante,  o 
rabo  de  lium  couado  de  comprido,  e  ou- 
tro de  largo,  a  pele  como  de  porco,  da 
grossura  de  um  dedo.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  Õ5. 

— -  Sem  tempo;  antes  de  tempo,  prema- 
turamente, com  precocidade. 

—  AD.4GI0S  : 

—  Nã>)  ha  rei  sem  privado,  nem  pri- 
vado sem  idido. 

—  Nào  ha  gosto  sem  desgosto. 
SEMANA,    s.  f.  (Do   latim    septimana, 

de  septem,  sete).  O  espaço  de  sete  dias 
contados  de  domingo  até  sabbado. 

—  Semaua  da  Paixão;  a  que  precede 
a  semana  santa. 

—  Semana  santa ;  a  ultima  da  quares- 
ma, desde  o  domingo  de  Ramos  ao  de 
Paschoa  de  Resurreição. 

—  Estar  de  semana ;  fazer  algum  ser- 
viço durante  uma  semana  que  lhe  tocou 
por  gyro. 

—  Feria,  ou  salário  ganho  durante  a 
semana. 

—  Loc.  FAM. :  Para  a  semana  dos  no- 
ve dias;  usa-se  dizer  para  despedir  al- 
guém, negando-lhe  o  que  pretende,  ou 
para  significar  a  impossibilidade  de  con- 
seguir alguma  cousa. 

—  Semana  de  annos ;  período  de  sete 
annos. 

—  Termo  de  chronologia.  Períodos  se- 
ptenarios  de  tempo,  seja  de  mezes,  an- 
nos, ou  séculos,  como  as  semanas  de  Da- 
niel. 

—  Termo  de  historia.  Segundo  Moy- 
sés  e  a  Sagrada  Escriptura,  a  divisão  do 
tempo  em  semanas  deve  a  sua  origem  á 
creação  do  mundo,  porque  Deus  o  aca- 
bou em  seis  dias  e  descançou  no  sétimo. 
Diào  Casio  pretende  que  os  egypcios  fo- 
ram os  primeiros  que  usaram  d 'esta  divi- 
são de  tampo,  cuja  idêa  tomaram  dos  se- 
te planetas.  Os  gregos  e  os  romanos  an- 
tigos nào  conheceram  esta  divisão,  pois 
aquelles  contavam  seus  dias  por  décadas, 
e  estes  por  novenas. 

—  Semana  tridua;  a  de  três  dias,  de 
que  faz  menção  Santo  Agostinho.  Na  Can- 
tábria esteve  em  uso,  pois  na  sua  língua 
ha  vestigios  que  o  demonstram,  como: 
aste-Jena,  que  corresponde  a  segunda-fei- 
ra,  e  quer  dizer  primeiro  dia  da  semana: 
aste-artia,  que  corresponde  a  terça-feira, 
e  aste-astjuena,  que  equivale  a  quaría- 
feira,  dia  ultimo.  Ost-eguna,  significa  sab- 
bado, ou  dia  depois  da  semaua. 


462 


SEMB 


8EMB 


SEME 


SEMANAL,  ailj.  'J  (/en.  (De  semana, 
com  o  Hiiffixo  «ai»).  Fcrtonccnto  á  bo- 
nifina. 

SEMANALMENTE,  ndv.  (Do  semanal, 
com  II  Hiiflixo  «menle»).  Por  sciiiíuiaí», 
cm  ti)'l;n  ;n  srinan.-i-^,  ili'.  modo    soiiuinal. 

SEMANARIAMENTE,  mlv.  (Do  semaná- 
rio, cDiíi  o  HuUixo  «meute»).  Vid.  Sema- 
nalmente. 

SEMANÁRIO,  adj.  (Do  semana).  Fcr- 
tencciíto  ;i  Hciniiiiii  ou  que  succede  so- 
nianiilnuMite. 

—  reriudico  semanário ;  que  se  publi- 
ca uma  8Ó  vez  por  Kcinana. 

—  tí.  vt.  O  quo  está  do  semana,  ser- 
vindo al^am  officio  ou  obrigaçílo. 

—  Papi',1  ou  periódico  semanal. 
SEMANEIRO,  s.  m.  Vid.  Semanário. 

f  SEMANOTO,  .S-.  m.  Termo  de  zoolo- 
gia, (leiíoro  d'insoctos  coleoptcros  sub- 
pentanieros,  da  familia  dos  longicornes. 

SEMBELLA,  s.  /.  Tormo  do  nunii.sma- 
tica.  Moeda  pequena  de  jirata,  usada  na 
antiga  Roma,  e  que  valia  metade  do  asse. 

SEMBENITO.  Vid.  Sambenito. 

SEMBLAGEM.  Vid.  Samblagem. 

SEMBLANTE,  s.  m.  Rosto,  taco,  cara, 
appaioneia;  reprcsenta^ílo  exterior  que 
no  rosto  se  mostra,  do  que  n'alma  se 
passa.  —  «E  eu  desta  si)  niercé  serei  sa- 
tisfeito, que  não  vos  saberei  pedir  outra. 
Tarpiana,  algum  tanto  mudada  a  cór, 
pôz  os  olhos  em  seu  pai  o  gram  turco,  e 
depois  virando-os  contra  Fioriauo  com 
semblante  alegre  o  aceeitou  por  seu  ca- 
valleiro,  de  que  o  grani  turco  ticou  con- 
tente, polo  ter  em  sua  casa,  crendo  que 
com  alguns  taes  como  olle  sua  corte  se- 
ria nobrecida  e  famosa.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  dlnglaterra,  cap.  80. 

E  vcndo-3C  ja  janto  a  seu  imigo 

Na  proa  do  cátuv  liguiro  salt.i, 

li  d'alli,  com  nemblante  inda  damigo 

A  Saiitigo  didsc  com  voz  alta : 

Dizo  a  Kinoi  (luo  se  venha  ter  comigo 

A  este  cútur,  não  haja  nisto  falta, 

(^uo  o  Governador  manda  a  Sua  Alteza 

Quo  vá  daqui  direito  á  fortaleza. 

F.  d'aNDBADE,  PKIUKIltO  CEltCO  DF.  Diu,caut.   7, 

eat.  18. 

—  «Aqui  se  fortiticáriío  os  Turcos,  e 
começárào  a  ganhar  os  Arábios  visiuhos, 
huns  com  as  armas,  outros  com  benefi- 
cies, criando  em  Baçorá  novo  Principe, 
quo  como  descendente  de  seus  antigos 
Reis,  seria  aos  Arábios  gratos,  e  aos  Tur- 
cos fiel :  liberalidade,  com  que  mostra- 
vão  entrar  com  semblante  do  amigos, 
escondendo  a  ambii^ão  de  Senhores.»  Ja- 
cintho  Freire  d'Andrade,  Vida  de  D. 
João  de  Castro,  liv.  '^. —  «Pareceo-me 
pelo  ar  que  no  semblante  dava;  que  niio 
despontava  de  discreta,  no  que  ella  te 
dizia :  mas  nada  menos  boa  parte  do 
tempo  que  durou  a  visita,  com  ella  coi\- 
versaste ;  e  quào  duro  me  foi  ouvir-te 
que  te  não  desagradava  a  sua  couversa- 


çíto!  E  quo  falias  de  encanto  tal  te  lia 
ella  ditto?»  Francisco  Jlanoel  d(i  Nasci- 
mento, Successos  de  madame  de  Sene- 
terre.  — -  «Os  estragos  que  cm  meu  sem- 
blante fêz  a  tiui  ausência,  dá-los-hás  por 
mais  Jucundos  que  a  frescura  da  mais 
linda  téz;  e  por  horrivcl  me  tivera  eu, 
se  três  dias  privada  de  te  vér,  aílciuda 
mo  não  tivessem.»  Ibidem. 

Naquellc»  ferros  Sc^cratc»  espira  ; 
l'arc,ce  que  no  pálido  semblante 
luda  di^scubro  a  iiiiagom  da  virtude, 
E  entorna  toda  a  luz  Filosofia. 
Aqui  se  eleva  em  Dóricas  columnas 
Sustentando  o  Thcatro,  onde  se  cscutão 
Do  Mclpomono  o.s  aia,  c  até  dcviso. 

J.  A.  DU  UACEDO,  UKDITAçlo,  Cant.  4. 

—  Figuradamente:  Mostras,  apparen- 
cia,  exterior,  aspecto,  representaçiio  do 
estado  das  cousas. 

—  Semblante  eyual ;  que  se  não  altera 
nos  perigos,   trabalhos,  etc. 

—  Semblante  sanhudo ;  carregado,  se- 
vero,  carrancudo. 

—  Bum  semblante;  boa  cara,  ar  de  saú- 
de. 

—  Mudar  de  semblante;  de  cara,  mos- 
trar outra  cara,  mudar  de  côr;  alterar- 
se,  dando-o  a  entender  no  rosto. 

—  Fazer  semblante  ;  dar  mostras. 
SEMBLE,  *.  /.  llcmerobio  dos  lodos. 
SEMBLÈA.  Vid.  Assembléa. 

f  SEMBLIDE,  s.  ni.  Termo  de  zoologia. 
Género  de  insectos  nevropteros,  da  fami- 
lia dos  semblidos,  cujas  larvas  são  aquá- 
ticas e  ao  transformar-se  em  nymphas, 
siiem  da  agua  c  introduzem-se  na  terra 
ao  pé  das  arvores. 

f  SEMBLIDOS,  s.  m.  lúur.  Termo  de 
zoologia.  Fandlia  de  insectos  nevropteros. 

SEMBRA  (EN),  loc.  adv.  Juntamente, 
ao  nie>mo  tem])0,  em  companhia. 

SEMBRAGEM.  Vid.  Samblagem. 

SEMBRANTE.  Vid.  Semblante. 

Acompanhao  cl  líey  com  toda  a  gente 
Que  para  guerra  tem  ja  limitada, 
E  com  triste  sembrante  siuaes  mostra 
Ter  doUes  graúdo  lastima,  e  saudade. 
Pouco  tem  caminhado  quando  chogào 
Ao  Eio  quo  desejào  roas  não  sabem. 

COBTE  BKAL,KAUFBAOI0  DE  SGPCLVSDA,   CSUt.    14. 

—  «E  seria  ja  quasi  ils  duas  horas  des- 
pois  da  meya  noite,  elle  nos  fez  gasalha- 
do  com  sembrante  afabel,  porem  giave  e 
severo,  e  fazendonos  chegar  para  junto 
do  sy  nos  mandou  logo  tirar  parte  das 
cadeas  em  quo  de  trcs  em  três  vínhamos 
presos,  e  nos  preguntou  se  queríamos 
comer,  a  que  ni>s  respõdemos  que  sy, 
porque  avia  ja  trcs  dias  que  nolo  não  da- 
vão,  o  que  elle  estranhou  niuyto  ao  Ti- 
leymay,  e  o  reprendeo  com  algumas  pa- 
lavras.» Fernão  Jlendes  Pinto,  Peregri- 
nações, cap,  119.  —  «E  chegando  nós  a 
onde  elle  estava  cõ  aquellas  cerimonias 
de  grandeza  e  magestade  com  que  se  lhe 


custuma  a  falar,  que  saõ  as  mesmas  de 
que  usou  quando  estava  no  Pequim,  co- 
mo atrás  deixo  contado,  nos  olhou  com 
Ijom  sembrante,  e  disse  ao  Mitaqner  quo 
nos  preguntasse  se  o  qucriauios  servir, 
porquo  teria  gosto  disso,  e  nos  faria  mer- 
cês e  lioiiras  mais  avantajadas  que  a  to- 
dos os  outros  estrangeyroH  que  o  servilo 
na  guerra.»  Ibidem,  cap.  PJf).  —  *A  que 
eu  por  então  não  respõily  palavra  por  es- 
tar tão  fi')ra  de  mim  que  ainda  que  me 
matara  cuydo  que  o  não  sentira,  porém 
elle  cõ  sembrâte  feroz  e  irado  me  tomou 
a  dizer,  se  não  respòderes  a  minhas  pre- 
guntas  te  ey  por  cijdenado  a  morte  de 
sangue,  e  fogo,  e  agoa,  e  assopro  de  ven- 
to, para  nos  ares  seres  despedaçado  como 
pcnna  de  ave  morta  que  se  divide  em 
muytas  partes.»   Ibidem,  pag.  136. 

SÊMEA,  «,  /.  Parto  que  se  tira  do  tri- 
go peneirado,  depois  de  separar-se  o  ro- 
lão. 

SEMEAÇÃO,  «.  /.  Acto  de  semear,  de 
lançar  as  sementes  á  terra. 

SEMEADA,  s.  f.  Terra,  campo  semea- 
do. 

SEMEADO,  part.  pau.  de  Semear.  — 
«  As  armas  custumadas  saõ  arco,  e  fre- 
cha, e  paos  tostados  c3  pontas  de  ossos 
de  animaes.  Os  que  viuem  pela  costa, 
muitos  saõ  marinheyros,  as  embarcações 
em  que  nauegão,  saõ  velocíssimas,  mas 
pequenas,  e  assi  nunca  saem  da  terra  ao 
mar  largo,  mas  ao  longo  delia,  por  hum 
parcel  grandíssimo  qne  tem  da  banda  de 
dentro,  todo  semeado  de  coral  fazem  sua 
nauegação.o  Fr.  Gaspar  da  Cruz,  Tra- 
tado das  cousas  da  China,  cap.  2. 

—  .S.  111.  Vid.  Semeada. 
SEMEADOR,    «.  »i.    (Do  thema  semêa, 

de  semear,  com  o  sufiBxo  fdôr»).  O  que 
semêa. 

—  Figuradamente  :  Semeador  de  here- 
sias. 

SEMEADOURO,  s.  w.  Terra,  campo 
que  se  ha  de  semear,  próprio  para  semea- 
dos. 

SEMEADURA,  s.  f.  Acção  e  eflFeito  de 
semear;  diz-se  principalmente  das  terras 
lavradias,  para  as  distinguir  das  terras 
de  pastos,  etc. 

—  O  grão  que  se  ha  de  semear. 

—  A  terra  semeada. 

SEMEAR,  V.  a.  (Do  latim  semínart). 
Lançar  grão,  semente  á  terra. 

Baccho  oloroso,  que  annos  déz  sinala. 
Era  aurca  copa  vértc  ondas  purpúreas ; 
E  03  dons  do  Ceres,  ique  a  sentar  instruirá 
Triptolomo  ao  bom  Arcas  caro  aos  Numos) 
A  Glande  substituem,  que  nutrira 
Pclasgoâ  aborígenes  de  Arc-ndia. 

T.   U.   DO  SASCIÍIESTO,  OS   «ABTTBES,  1ÍV.   2. 

—  Figuradamente :  Esparzir,  espalhar, 
derramar. 

—  Causar,  occnsionar,  promover  a  dis- 
córdia, a  sizania,  erros,  uma  doutrina 
nnl,    falsos   rumores,    otc.  —  «  E    dando 


SEME 


SEME 


SEME 


463 


conta  daquelle  negocio  a  Manoel  Falcào, 
a  Diogo  da  Rocha,  e  a  Manoel  Botelho, 
(de  quem  era  mui  grande  amigo),  e  como 
parecia  que  o  demónio  andara  nas  cousas 
desta  Ilha,  entre  os  nossos  semeando  zi- 
zanias,  e  discórdias,  aconselháram-lhe  es- 
tes, que  cumpria  a  sua  vida  matar  D. 
Jorge,  tirando  Manoel  Falcão,  que  lhe 
disse,  que  muito  melhor  era  prendello :  e 
que  tirasse  devassa  de  suas  culpas,  e  o 
mandasse  á  índia,  e  que  ficasse  elle  por 
Capitão  até  o  Governador  prover  aquella 
fortaleza.»  Diogo  de  Couto,  Década  4, 
liv.  4,  cap.  3.  —  «A  quarta  maneira  de 
damnificar  com  a  lingoa,  se  chama  me- 
xericos, que  he  quando  huma  pessoa  com 
sua  maldita  lingoa  anda  negoceando  que- 
brar amizade  e  semear  odios  entre  ami- 
gos. O  qual  peccado  basta  pêra  conhecer 
quam  graue  e  abominauel  he  diante  de 
Deos  ser  contra  a  charidade  proximal, 
paz,  e  concórdia  que  Deos  tanto  amou  e 
encomendou.»  Fr.  Bartholomeu  dos  Mar- 
tyres.  Catecismo  da  doutrina  christã. 

—  Collocar,  sem  ordem,  alguma  cousa 
para  adorno  de  outra. 

—  Espalhar,  publicar,  divulgar. 

—  Fazer  algumas  cousas,  tendo  o  fito 
no  lucro  ou  fructo. 

—  Cobrir,  tapetar  de  flores,  de  her- 
vas. 

—  Juncar.  —  Semear  a  planicie  de  ca- 
dáveres. 

—  Semear  em  má  terra;  beneficiar  in- 
gratos. 

—  Semear  de  sal  a  casa ;  castigo,  por 
traidor  ao  soberano. 

—  Semear  para  colher;  fazer  cousa 
d'onde  se  espere  lucro. 

—  Semear-se,  u.  rejl.  Esparzir-se,  es- 
palhar-se,  derramar-se.  —  «O  Pregador, 
não  ha  de  ser  como  o  auditório  quer, 
mas  como  lhe  conuem,  o  que  o  auditó- 
rio quer,  regularmente  são  flores,  de  que 
se  não  tirão  suaues  fauos,  o  que  ao  au- 
ditório lhe  cõuem  são  as  searas  do  Se- 
nhor em  que  semeandose  as  diuinas  pa- 
lauras,  se  colhem  espirituaes  fructos.» 
D.  Fernando  Correia  de  Lacerda,  Carta 
Pastoral,  pag.  77. 

—  Semear  na  areia;  fazer  bem  aos  in- 
gratos e  desagradecidos ;  trabalhar  de- 
balde. 

—  Adágios  : 

—  Cada  um  colhe,  segundo  semèa. 

—  Do  grão  te  sei  contar,  que  em  abril 
não  ha  de  estar  nascido,  nem  por  semear. 

—  Dia  de  S.  Matheus  vindimam  os  si- 
sudos, e  seméam  os  sandeus. 

—  Em  tal  logar  nem  quero  colher, 
nem  semear. 

—  Por  Todos  03  Santos  semêa  o  trigo, 
colhe  cardos. 

—  Natal  em  sexta-feira,  por  onde  po- 
deres semèa,  em  domingo,  vende  os  bois 
e  compra  trigo. 

—  Por  S.  Francisco  semêa  teu  trigo, 
e  a  velha  que  o  dizia  semeado  o  tinha. 


—  Por  Santa  Érea,  toma  os  bois  e  se- 
mêa. 

—  Quem  em  terra  boa  semêa,  cada 
dia  tem  boa  estreia. 

—  Quem  não  tem  bois,  ou  semêa  an- 
tes ou  depois. 

—  Quem  semêa  em  caminlio,  cança  os 
bois  e  perde  o  trigo. 

—  Quem  semêa,  recolhe. 

—  Quem  semêa,  em  Deus  espera. 

—  Quem  semêa  em  restolho,  chora 
com  um  olho,  e  eu  que  não  semeei  com 
os  dous  chorei. 

—  Quem  semêa  em  arneiros,  semêa 
moios,  colhe  quarteiro?. 

—  Queres  bom  cabaço,  semêa-o  em 
março. 

—  Quem  ralo  semêa,  ralo  leva  a  pa- 
vêa. 

—  Semêa  cedo,  colhe  tardio,  colherás 
pão  e  vinho. 

—  Semêa  e  cria,  terás  alegria. 

—  A  quem  não  tem  pão  semeado,  de 
agosto  se  lhe  faz  maio. 

—  Ao  lavrador  descuidado,  os  ratos 
lhe  comem  o  semeado. 

—  Cousa  que  se  não  colhe,  ninguém  a 
semèe. 

—  Quem  abrunhos  semêa,  espinhos  co- 
lhe. 

—  Assim  como  semeares,  colherás. 

—  Quem  bem  semêa,  bem  colhe. 
SEMEAVEL.  Vid.  Semelhável. 
SEMEDEIRO.  Vid.  Semideiro. 

f  SEMECARPO,  s.  m.  Termo  de  botâ- 
nica. Ueueru  de  plantas  da  familia  das 
anacardiaceas,  cuja  espécie  typica  é  uma 
arvore  grande  que  cresce  nas  índias 
orieutaes  e  se  cuitiva  em  certos  logares 
das  Antilhas  e  da  America  tropical. 

SEMEIOLOGIA,  s,  /.  Termo  de  medi- 
cina. Parte  da  medicina  que  trata  dos 
signaes,  e  dá  a  conhecer  as  alterações 
que  annunciam  o  que  existe,  o  que  pas- 
sou e  o  que  ha  de  occorrer,  especial- 
mente no  estado  de  doença. 

f  SEMEIOLOGICO,  adj.  Que  se  refere 
á  semeii>l"íria. 

f  SEMEIOLOGO,  s.  m.  O  que  escreve 
acerca  da  semeiologia. 

f  SEMEIOPHGRO,  s.  vi.  Um  dos  cinco 
officiaes  inferiores  que  tinha  cada  heca- 
tontarcKia  do  exercito  grego. 

SEMEIOTICA,  s.  f.  Tenno  de  medici- 
na. Parte  da  medicina  que  trata  dos  si- 
gnaes, e  do  seu  valor  nas  moléstias,  dan- 
do a  conhecer  pelas  alterações  exterio- 
res, o  que  occorre  interiormente. 

—  Termo  militar.  Arte  de  fazer  mano- 
brar as  tropas,  indicando-lhes  os  movi- 
mentos ciim  sifrnaes  e  não  com  a  voz. 

j  SEMEIOTICO,  adj.  Concernente  aos 
signaes. 

SEMEL,  s.  711.  anf.  Geração,  descen- 
dência. 

SEMELHA,  s.  f.  ant.  Semelhança. 

SEMELHADO,  part.  pass.  de  Semelhar. 

SEMELHANÇA,    ou   SIMILHANÇA,  s.  f. 


O  parecer-se  uma  cousa  com  outra;  con- 
formidade de  duas  ou  mais  cousas,  que 
se  parecem  umas  com  as  outras ;  pare- 
cença.—«E  no  que  toca  as  dos  Reis 
dom  Pedro,  dom  Fernando,  e  dom  loam 
primeiro,  nam  a  que  disputar  senam  que 
as  compôs  Fernam  lopes,  porque  o  estylo 
delias  he  todo  igual  sem  ter  mistura,  e 
em  muitas  jiartes  tem  semelhança  deste 
estylo  as  Chronicas  dos  Reis  atras,  exce- 
pto a  dei  Rei  dom  Afonso  Henriquez, 
que  Duarte  galuam  como  ja  apontei  diz 
que  fez  de  nouo.»  Damião  de  (Joes,  Chro- 
nica  de  D.  Manoel,  part.  4,  cap.  38.  — 
«  Porque  os  primeiros  nossos,  que  foram 
ter  áquellas  Ilhas,  tomando-o  na  mão,  e 
veado  a  semelhança  que  tinha  com  hum 
cravo  de  ferro,  Ine  ficaram  chamando 
cravo,  por  onde  hoje  he  tão  conhecido  no 
Mundo.»  Diogo  de  Couto,  Década  4,  li- 
vro 7,  cap.  9.  —  «  Alberto  Magno  vio  na 
Germânia  dous  gémeos  taõ  prodigiosa- 
mente conformados  na  semelhança,  nos 
gestos,  na  vox,  e  nos  affectos  do  animo, 
que  a  penas  haveria  quem  os  podesse 
distinguir.  O  que  mais  he,  que  ambos 
adoeciaõ,  e  ambos  saravaõ  ao  mesmo 
tempo.»  Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal 
Medico,  pag.  19,  §  69. 

—  Figuradamente:  Imagem,  figura, 
comparação  que  aclara,  exemplifica  para 
doutrina,  etc.  —  «  Outra  parte  cavo  an- 
tro espinhas,  e  nascendo  as  espinhas, 
juntamente  cõ  o  trigoo,  aíFogarâno.  E  a 
outra  parte  acertou  de  cayr  em  terra 
bôa,  e  nascendo  deu  fructo  cento  por 
hum.  E  diz  o  Euangelista,  que  dita  esta 
semelhança  deu  o  Senhor  hum  grande 
bra  lo  dizendo  :  Quem  tem  orelhas  de  ou- 
uir,  ouça.  Como  se  dissesse,  Aquelle  ou- 
ça a  quem  Deos  fez  mercê  que  enten- 
desse o  que  ouue.»  Fr.  Bartholomeu  dos 
Martvres,  Catecismo  da  doutrina  christã. 

SEMELHANTE,  adj.  2geu.  Que  tem  se- 
melhança; parecido,  semelhável.  —  «Man- 
damos, que  todos  aquelles,  que  encorre- 
rem  em  algumas  penas  por  algum  delito, 
ou  casi  delito,  assy  como  barregaãs  de 
Clérigos,  ou  os  que  trazein  armas,  ou 
quaaesquer  outros  semelhantes,  que  en- 
correrem  em  algumas  penas,  quaeesquer 
que  sejam,  maiores  ou  menores  que  estas 
suso  escriptas.»  Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit. 
1,  §  48.  —  «E  póde-se  poer  outro  eixem- 
plo  semelhante,  quando  algumas  partes 
querem  fazer  algnã  conveença,  e  dizem 
que  aquella  conveença  lhes  praz  de  se 
fazer  em  escripto;  ainda  que  expressa- 
mente noni  digam  que  nom  valha  em  ou- 
tra maneira,  hi  se  deve  d 'entender,  por- 
que em  escripto  se  chama,  quando  a  Es- 
criptura  he  da  sustancia  do  contrauto,  ou 
conveença.»  Ibidem,  tit.  56,  §  4.  —  «A 
experiência  passada  (lhe  tornou  o  Santo) 
e  a  promptidaõ  para  outra  semelhãte, 
bastavaõ  para  te  mostrar  o  pouco  que 
po  lem  comigo  temores  de  teus  tormen- 
tos, e  o  gosto  com  que  me  vès  buscar  a 


46-1 


SEME 


SEME 


SEME 


7iiortc,  o  pouco  caso  (|Uf)  posHO  fazor  daH 
lioiir.is  (í  ])rcti!iiHoi',iiM  (lii  vidií.»  Monar- 
chia  Lusitana,  liv.  f),  cap.  <!.  —  «E  por 
(pio  (piainlo  ll^^  semelhantes  pust-oun,  anui 
nos,  uoiiio  os  oiitro.s  l'iincipe8  c  lloio 
CliristJío.s  cnvianids  liiiiis  aos  outros,  lio 
costumo  leuiiroiii  nossas  cartas  pelas  (piaes 
saiu  cridos  cm  todo  o  que  de  nossa  parto 
liio  inamlaiiios  fuliar  aiiucllcs  a  (pioiii  os 
enuiamos  nos  falíamos  com  o  dito  Simam 
da  Rvliia  to  ia  nossa  voiitado  acerca  da 
sua  ida  a  vos.n  Damião  (K;  (loos,  Chro- 
nica  de  D.  Manoel,  part.  '.i,  caji.  H7. — 
«Taiulioiii  podcin  nascer  semelhantes 
couí?olaçoens  do  ter  os  liuiiiorcs  liem  coiu- 
ploxioníidos,  e  o  corpo  em  jjostura  des- 
cançada,  ou  de  se  deleitar  o  entendimen- 
to com  alguns  pontos  novos,  altos,  c  cu- 
riosos.» Tadre  Manoel  lícrnardcs,  Exer- 
cicios  espiriluaes,  jiart.  1,  pa^.  íil. — 
«  Vj  como  o  dia  foy  claro,  o  Necodá  cba- 
níou  toda  a  gente  a  conselho,  por  sor 
assi  seu  curtume  em  semelhantes  casos, 
o  lhe  disse,  (pio  pois  todos  aviào  de  pai-- 
ticipar  do  jierigo,  todos  também  dessem 
nello  seu  voto,  e  a  todas  geralmente  fez 
huina  fala  em  que  lhes  pôs  dianto  o  que 
aquella  noite  ouvira,  e  o  receyo  que  por 
isso  tinha  ilo  yr  surgir  na  cidade,  sobre 
que  «uvo  alguns  pareceres  e  opiniões  di- 
versas, por  fim  das  quais  se  eoncruvo 
que  todavia  se  fosso  ver  cos  olhos  o  de 
que  ao  temiaõ.»  Fernão  Meudt^s  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  148.  —  «E  ain  la  ipie 
ja  tenho  escritas  outras  semelhantes, 
também  confessei  ja  quanto  interesso  em 
as  escrouer.  Andando,  diz,  na  maior  for- 
ça da  tormenta  me  oncomendei  a  Deos 
nosso  Senhor  tom.ando  por  valedores  na 
terra  todos  os  da  bem  dita  Companhia  do 
IE8V.»  [jucena,  Vida  de  S.  Francisco 
Xavier,  liv.  õ,  cap.  20.  — *()  que  seudo 
de  grande  oppressão  para  os  mareantes, 
6  semelhante  gente,  fizeraõ  com  ElRoy 
D,  Joaõ,  que  aceitasse  de  novo  outra  di- 
zima do  pescado,  fi')ra  a  que  jà  pagavaõ, 
para  com  o  tal  dinheiro  prover  as  (ialés 
de  romeiros.  1)  ^[anoel  Severim  do  Faria, 
Noticias   de   Portugal,   I>ise.  2,  cap.  14. 


O  forto  Sousji  c  oâ  s(íu3,  a  quem  a  us.iiiça 
T)ii  .tfinefhantes  casos  hoje  dava 
Nesto  monos  temor  niie  coiifi.inça 
Pouco  teinon(lo  a  imipra  fúria  brava, 
E  movendo  também  espada  e  lança 
Ousados  vào  buscar  quem  os  buscava, 
Também  no  ar  levantando  liuma  alta  grita 
Que  03  peitos  alvoroça,  acende,  e  incita. 

FRANCISCO  RE  ANDRADK,   rBlUEIBÚ  CERCO   DK   DIU, 

cant.  15,  08t.  72. 


Poróm  antes  qiio  passe  mais  avante 
E  si  segunda  mulher  o  verso  mude, 
Consenti  que  aqui  desta  hum  caso  cante 
Que  prova  sou  valor,  sua  virtude ; 
E  inda  que  ja  atra/,  outro  stmdhante. 
Uautoi,  uào  me  fará  que  nào  estudo 
Cautar  este  também,  porque  os  bons  feitos 
Sempre  03  fez  a  mír  ci^pia  mais  acceitos. 
iBiDEH,  caut.  Iti,  cat.  8. 


—  «Vinha  a  nào  também  prouida  de 
todas  as  cousas,  assi  pêra  a  alma,  como 
[)i',ni  as  mais,  (|Ue  com  verdade  se  po  li; 
affiiinar,  auur  muyloH  annos,  ila  Índia 
não  partir  outru  semelhante,  ({uc  luuusse 
noue  Kcligiosos,  hum  da  Companhia  do 
Iksvs,  que  ora  o  l*ailro  Propósito  Fran- 
cisco Vieyra,  e  os  mais  de  Sam  Francis- 
co, sendo  hum  dello»  o  Padre  Frey  Mi- 
guel de  riam  Uoauentura  Custodio,  e 
Comuiissayro  Cèral  (pio  acabara  sor  de 
to  la  a  iniiia;  e  o  Padre  Frey  iManocl  lio 
Mcnite  ( )liuete,  todos  três  Mestres  cm 
riancta  Thooiogia;  Frey  Hieronymo  do 
Sam  Pedro  Pregador,  e  cu,  e  os  mais.» 
Fr.  ( iaspar  da  Cruz,  Tratado  das  cousas 
da  China,  cap.  1.  —  « Encima  delle  vi- 
mos ovto  Abutres,  que  saõ  aues  niayores 
ipio  minhotos,  inda  que  a  cllcs  muy  se- 
melhantes, todos  brancos,  os  quaes  de 
ordinário  alli  andão.«  Ibidem,  cap.  'J.  — 
«Todos  eslauào  pasmados,  vondo  o  habi- 
to do  burel,  quo  ou  leuaua,  porque  nem 
lhes  j)arecia  Português  no  travo,  nem  cl- 
lcs sabiam  de  que  na(;ào  jioilessc  ser; 
por  ja  mais  verem  outro  semelhante.  De- 
ram desta  nouidade  rebate,  e  cota  ao  Ca- 
pitam da  Fortaleza,  que  logo  sahio  com 
alguns  homens  bem  trayados  à  Persiana 
com  seus  alfanges  arcados.»  Ibidem,  cap. 

10.  —  « Nem  Deos  nosso  Senhor,  ijue  das 
alturas  em  que  mora,  olha  sempre  seme- 
lhantes actos  de  ctuuidade,  lhos  dilatou 
a  paga  a  sua  deuação:  porque  nos  dias 
que  em  Ormus  estiuemos,  lhes  Icuou  pêra 
a  gloria  a  premissa  de  seus  filhos,  que 
nào  cncgaua  a  anno,  e  mcyo,  vestido  no 
nosso  habito,  o  qual  eu,  e  meu  compa- 
nheiro lenamos  a  sepultar.»  Ibidem,  cap. 

11.  —  «Heródoto,  e  Strabo,  louuào  mui- 
to o  modo  cõ  que  os  Babylonios  autigua- 
inonte  curauão  seus  enfermos,  que  era 
leualos  à  pra(,'a,  onde  sabido  seu  mal  lhe 
aplicauão  a  mezinha  cõ  quo  de  outro  se- 
melhante forão  liures,  e  cõualecerào;  a 
razão  que  pêra  isto  dauão  era  os  Médicos 
neeios  matarem  a  gente,  e  uam  auer  jus- 
tiça pcra  elles.»  Ibidem,  cap.  li*.  — 
aCreyo  que  não  ha  cousa  tão  irregular 
como  os  pensamentos  de  hum  hoincm  se- 
melhante, pois  quo  as  companhias  em 
que  se  acha,  e  que  os  objectos  que  se  lho 
presentão  não  são  cíipazes  de  o  excita- 
rem.» Cavalleiro  d'01iveira,  Cartas,  liv. 
3,  n.*  18.  —  «Um  certo  ministro  grande 
costumava  dar  audiência  ás  senhoras  f(>ra 
de  sua  casa,  cm  um  lugar  tão  decente, 
que  ora  demasiado  recolhido.  Levaram  alli 
(loiís  fidalgos  suas  mulheres  para  seme- 
lhante negociação;  e  deixando-as  lá,  se 
sahiram  logo.  Viam  isto  outros,  e  entào 
disse  um  d'elles.»  Francisco  Manoel  de 
^lello,  Carta  de  guia  de  casados. 

—  Tal;  diz-se  da  ]  essoa  ou  cousa  a 
que  nos  referimos.  —  2\ào  tetih"  listo  se- 
melhante inul/ier.  —  NutH-a  ii  semelhan- 
te livro.  —  «A  liOtra  O  se-profcre  com  a 
boca  aberta,  c  boiços  algum  tanto  esten- 


didos cm  figura  circular.  Por  isto  se-nota 
cKta  Letra  com  semelhante  figura.  Us 
gregoí  tem  ()'micri/U,  islii  hi:,  i>  breve,  o 
o'iiief/u,  i.'to  he,  O  ijranilir,  ou  ly/ugn,  quo 
iiu  a  ultima  Letra  do  Keii  Alji/ui/jeto.» 
Fr.  Luiz  do  Monto  Caruiollo,  Compendio 
de  orthographia,  pag.  1:^7. 

—  Teimo  de  mathcmatica.  Figura» 
semelhantes;  as  que  teoui  o»  au^ioa 
cguacs  o  os  lados  proporcionaes. 

—  Semelhante  a  si  vitsmo;  o  homem 
níto  variável,  coherentu  na  sua  condu- 
cta. 

—  Semelhante  a;  i)arecido  com,  confor- 
me a,  igual  a.  —  « ]•]  outros  quaees(|uer 
direitos  Bemelliantes  a  niH  dcvudos,  ou  a 
Cidade,  ou  Villa,  ou  Prelados,  ou  Igre- 
jas, ou  a  (mtras  quaeesquer  pessoas  de 
nossos  Regnos,  o  todolos  outros  coutraa- 
toB,  ou  casi  contrautos,  c  direitos  seme- 
lhantes a  todos  estes  suso  escriptos,  fei- 
tos e  celebrados  pclan  inoe  ia.*  antiguas, 
ou  pelas  nossas  quo  se  fezerom  ataa  pos- 
tumeiro  dia  do  Dezembro  Era  de  mil 
qiiatrocento.?  vinte  e  três  annos.»  Ord. 
Affons.,  liv.  4,  tit.  1,  §  2.  —  «TraU,  ó 
alma  minha,  de  ad()uirir  esta  diifcrença 
que  to  faz  semelhante  aos  Anjos,  e  ao 
mesmo  Deos :  nào  faças  cazo  algum  das 
outras,  em  que  podem  ser  teus  semelhan- 
tes 03  brutos,  os  condenados,  c  os  demó- 
nios.» Padre  ]tIanocl  Bernardes,  Exercí- 
cios espirituaes,  part.  1,  jiag.  4U5. — 
«O  que  Adào  pert-iiideo  em  deaobclecer 
a  Deos  foy  ser  semelhante  a  Deos,  o  que 
lhe  daquy  resultou,  bem  o  vistes,  ser  po- 
bre enuergonhado,  o  cheio  de  todas  as 
misérias,  vem  nosso  Senhor  n.lo  se  con- 
tentou com  perdoar  o  erro  que  nisto  fi- 
zera, mas  da-lhe  o  que  pretendia  e  fallo 
como  Deos.  Ego  dixi  <lii  estis  et  jilii  tx- 
celsi  onmes.t  Paiva  d'.'\ndrade.  Sermões, 
pag.  81.  —  «E  no  reyno  de  Pegii,  onde 
eu  ja  estive  algumas  vezes,  vy  outro  pa- 
gode semelhante  a  estu  a  que  os  natu- 
rais da  terra  nomeão  por  fiinocoginana, 
Deos  de  toda  a  grandeza.  O  qual  edifício 
fizeraõ  antigamente  os  Chins  quando  ee- 
nhoreariiò  a  Índia,  que  foy,  segundo  pa- 
rece pela  sua  conta,  desdo  anno  do  Se- 
nhor de  mil  e  trezo  até  o  de  mil  e  seten- 
ta e  dons.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pere- 
grinações, cap.  9G. —  «E  subindo  no  pri- 
iiievro  degrao  lhe  disse  em  vos  que  todos 
ouvirão,  o  t)tinão  cor  Valirate,  prcchau 
com  panoo  djis  forças  da  terra,  o  bafo  do 
alto  Deos  que  tudo  criou  prospere  o  8er 
de  tua  grandeza  para  mil  annos  as  tuas 
alparcas  serem  cabellos  de  todos  os  Reys, 
com  to  fazer  semelhante  aos  ossos  c  car- 
ne do  grande  principc  da.s  serras  da  pra- 
ta, por  cujo  mãdado  aquy  sou  vindo  a  te 
visitar  em  seu  nome  como  por  esta  niutra 
do  seu  re;il  sello  polés  ver.»  Ibidem, 
cap.  130. —  «Entr.ando  entaõ  ellas  para 
dentro  da  outra  caía,  se  detiveraõ  hum 
pequeno  espaço,  e  as  que  ticiíraõ  fora  se 
desenfadarão   entre   tanto   bem  á  nossa 


SEME 


SEME 


SEME 


465 


custa  com  mu3'tas  graças,  e  zombarias 
de  que  todos  estávamos  bem  corridos,  ao 
menos  os  quatro,  por  serem  mais  novéis, 
e  não  entenderem  a  lingua,  porque  eu  ja 
em  Tanixumá  tinha  visto  outra  í'ar.-a, 
que  se  teve  com  Fortuguezes  semelhante 
a  esta,  e  poi-  algumas  vezes  as  tinha  vis- 
to também  noutras  partes.)  Ibidem,  cap. 
223.  —  «  O  processo  dos  principiantes  he 
semelhante  ao  tempo  de  inuerao,  em  que 
experiíyeníamos  grande  frio,  e  neuoeira. 
Mas  dos  que  Cítào  jà  provectos  he  a  se- 
melhaiiça  com  o  verau,  que  algumas  ve- 
zes estamos  frios,  e  outras  quentes.»  Fr. 
Bartholomeu  dos  Martyres,  Compendio  de 
espiritual  doutrina,  cap.  15.  —  >i  Xam 
sou  eu  Christo.  E  os  embaixadores  lhe 
perguntaram  entào,  Pois  quem  es  tu"?  Es 
tu  Elias'.'  E  respondeo,  Nam  sou.  Per- 
guntaiãolhe,  Es  tu  Propheta  ?  Respon- 
deo,  Xam.  Na  qual  reposta  queria  dizer 
que  não  era  Propheta  semelhante  aos  ou- 
tros antigos  1'rophctas,  ainda  que  fosse 
verdadeiro  Propheta,  e  mais  que  Prophe- 
ta :  porque  nam  viera  ao  mundo  a  Pro- 
phetizar  do  Messias  como  vindouro,  se 
nam  a  apregoar  que  era  ja  vindo,  e  mos- 
trallo  com  o  dedo.»  Idem,  Catecismo  da 
doutrina  christã.  —  « E  nos  dias  que  eu 
estiue  em  Mombaça  chegou  huma  embar- 
cação desta  Ilha,  com  escrauos,  que  to- 
dos erão  semelhantes  aos  de  Moçambi- 
que, e  mais  terra  da  Cafraria.»  Fr.  Gas- 
par da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da  Chi- 
na, cap.  4.  —  «  Mais  aiiiante  jas  a  nossa 
Ilha  Moçambique,  refugio,  e  emparo  dos 
nauegantes  da  carreyra  da  índia.  Aqui 
deyxando  entre  a  terra  firme,  e  a  Ilha 
de  Sam  L>uienço,  o  perigosíssimo  bayxo 
da  índia,  cuja  figura  he  muy  semelhante 
aos  rayos  do  peixe  poluo:  e  continuado 
com  a  terra  firme  da  Ethyopia,  começa 
a  costa  de  Moçambique,  que  tem  duzen- 
tas legoas  até  ilombaça.»  Ibidem,  cap.  7. 

—  «Ditosos  ssrào  os  que  tomando  estas 
bebidas  não  entrarem  em  furur  semelhan- 
te ao  de  Calígula,  a  quem  Cesouia  fez 
engulir  hum  Hippomane  inteyro.»  Ca- 
valleiro  d'01iveira.  Cartas,  liv.  1,  n."  30. 

—  «Depois  de  empregar  no  discurso  to- 
dos os  termos  semelhantes  a  syutomas, 
accessos,  princípios,  augmentos,  e  decli- 
naçoens,  sem  se  esquecer  de  syncopes, 
efimeras,  e  febrifuges  perguntou  muy 
vaidoso  ao  dito  Medico  assistente,  se  ti- 
nha elle  satisfeito  á  sua  obrigação?»  Ibi- 
dem, n."  38. 

—  S.  í/i.  Que  é  homem  como  nós. 

—  Um  semelhante ;  uma  comparação. 

SEMELHANTEMENTE,  adv.  (De  seme- 
lhante, com  o  suffixu  «mente»).  Com  se- 
melhança. 

SEMELHAR,  ou  SIMILHAR,  v.  a.  Re- 
medar, imitar. 

—  Comparar,  fazer  semelhante. 

—  Semelhar-se,  v.  rejl.  —  Semelhar-se 
a  alguma  cousa;  comparar-se-lhe  com 
emulação. 

voL.  V.  —  59. 


—  V.  n.  Assemelhar-se ;  ser  semelhan- 
te, parecer-se  uma  cousa  com  a  outra. 

—  Parecer,  ter  apparencía. 
SEMELHÁVEL,   arlj.  2  gen.   (Do  thenia 

semelha,  de  semelhar,  com  o  suffixo 
«avelo  i.  Que  pijde  comparar-se,  compa- 
rável.—  «Salvo  se  lhe  fosse  dado  em  es- 
caimbo  por  outro  lugar  que  a  nós,  ou  a 
cada  hum  de  nossos  antecessore-s  fosse 
dado,  e  o  nijs  ajamos  cuui  semelhável  j ur- 
di com:  ou  se  algum  polo  edito  geeral, 
que  foi  feito  per  ELRey  Dom  Affonso 
nosso  Avoa  sobre  as  jiu-dições,  ao  tempo 
desse  edito,  ou  despois,  viesse,  e  mostras- 
se que  havia  alguma  jiu'diçam,  e  lhe  foi 
julgado,  e  outorgado  pelo  dito  nosso  Avoo 
que  a  houvesse  per  qualquer  titulo,  ou 
razom,  que  mostrava.»  Ord.  Affons.,  liv. 
2,  tit.  Ij3. 

SEMELHAVELMENTE,  o.h.  ij)s  seme- 
lhável, com  o  suffixo  «mente;))'  Com  se- 
melhança, da  mesma  maneira,  semelhan- 
temente. 

SEMELIMO,  superl.  irreg.  de  Semelhan- 
te, ^íuiti)  semeluante. 

SEMELITUDINARIAMENTE,  adv.  Por 
semelaauça. 

SEMELITUDINARIO,  adj.  Em  que  ha 
semelhança. 

SÉMEN,  s.  m.  (Do  latim  sémen).  Es- 
perma, licor  seminal  ou  prolífico  dos  ani- 
maes  machos,  que  fecunda  as  fêmeas  e 
os  ovos. 

SEMENÇAR.  Vid.  Femençar. 

7  SEMÉNCINA,  í.  /.  Uma  das  três  prin- 
cipaes  espécies  do  semen-contra. 

SEMEN-CONTRA,  s.  f.  Termo  de  botâ- 
nica. Xonie  dado  cm  pharmacia  ás  extre- 
midades não  floridas  de  algumas  espécies 
de  artemisa,  (|ue  se  administram,  como 
remédio  vermífugo  muito  efficaz,  especial- 
mente paia  as  crianças. 

SEMENISTA,  s.  /.  O  philosopho  que 
attribue  ;i  matéria  seminal  ou  espermati- 
ca  a  propagação  das  espécies  animaes. 

SEMENTAL,  adj.  2  gen.  Concernente  á 
semealura  ou  determinado  para  ella. 

—  Que  é  pae  de  éguas,  cavallo  de  se- 
mente, de  padreação. 

—  Que  é  pae  de  rebanho.  — •  Carneiro 
semental. 

SEMENTAR,  v.  a.  Semear;  espalhar, 
lançar  a  semente. 

—  Sementar-se,  v.  rejl.  Prover-se  de 
semente,  fazer  criadouros  de  sementes, 
para  as  dispor  em  outros  partidos. 

SEMENTE,  s.  f.  iDu  latim  sémen).  Ter- 
mo de  botânica.  Corpo  vegetal  produzido 
pela  germinação,  que  depois  de  fectinda- 
da  se  desenvolve  e  adquire  propriedades 
que  a  tornara  capaz  de  dar  nascimento  a 
uma  nova  planta.  —  «Quando  busca  os 
peixes  se  intitula  Picatura;  cujo  exercí- 
cio foi  em  outro  tempo  taò  estimado  en- 
tre 03  Romanos,  que  à  maneira  da  se- 
mente na  terra,  se  semeavaõ  no  mar  de 
Itália  us  peixes  estrangeiros,  para  isso 
coudusidos  dos  mais   distantes   golfos,  de 


sorte  que  muytas  famílias  Romanas  deri- 
varão dos  peixes  os  seos  apellidos ;  como 
03  Licinios,  Murenas,  Sergios,  e  Hora- 
cios.»  Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal  me- 
dico, pag.  121,  §  80. —  «As  Hervas  sto- 
machícas  cálidas  saij :  Raízes  de  Gingi- 
bre,  de  caiamo  aromático,  de  Galanga, 
de  junca  cheiroza.  Cascas  de  cidi-a  sec- 
cas,  e  de  cauella.  Pão  xiioaloes.  Folhas 
de  orteiaà,  de  losna,  de  salva,  de  beto- 
nica,  de  alecrim.  Sementes  de  her\'a  do- 
ce, funcho,  de  coentro,  de  cidra,  e  de 
pimenta.  Fructos  cravinhos  da  índia,  noz 
moscada.  Flores  de  salva,  de  alecrim,  de 
betonica,  açafrão.  Gomas  aknecega. »  Ibi- 
dem, pag.  356,  §  240. 

—  A  matéria  dos  animaes. 

—  As  crianças  que  nascem  dos  ani- 
maes, por  parto  ou  desovamento. 

—  Troços  de  cannas  d'assucar,  que  se 
plantam  em  covetas  ou  regos  do  arado ; 
de  nianiva,  com  que  se  reproduz  a  man- 
dioca. 

—  Figuradamente  :  Doutrinas,  primei- 
ras noticias. 

—  Manancial,  cansa,  origem. 

—  Carneiro  <le  semente  ;  o  que  anda 
no  rebanho  para  fecundar  as  ovelhas. 

—  Homem,  ou  mulher  de  semente  ;  cas- 
tiço, generoso,   de  boa  geração. 

—  Semente  de  bichos  de  seda ;  peque- 
nos ovos  d'onde  o  bicho  se  reproduz,  tra- 
zidos ao  calor  do  corpo  humano ;  nos 
climas  intertropicaes  com  o  calor  atmos- 
pherico  desovam  por  si  mesmo,  e  põem 
nas  folhas  que  pascem  das  amoreiras. 

—  Semente  santa;  absinthio,  losna  ma- 
rinha. 

— ■  Semente  de  discórdia;  cousa  que  ao 
diante  vem  a  causal-a. 

—  A  semente  da  vida;  doutrina  da 
salvação  eterna. 

• —  Semente  das  ijerolas;  pérolas  mui 
miúdas,  assim  chamadas  pelos  ourives  e 
lapiílarios. 

SEMENTEIRA,  s.  f.  (De  semente,  com 
o  suffixo  «eira»).  Viveiro  de  plantas  no- 
vas e  de  arvoresinhas  para  depois  se 
transplantarem.  - —  «A  ilha  he  mui  fértil 
de  sementeiras,  fructas,  arvoredos  de 
palmares,  arequaes,  e  outras  aruores,  e 
muy  viçosa  dortaliças,  fontes  e  poços 
dagoa  muito  boa,  com  muitas  quintas, 
pumares,  hortas,  e  heranças  que  laurão, 
e  aproueitào  os  gentios  naturaes  a  que 
chamão  Dacanis.»  Damião  de  Góes,  Chro- 
nica  de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  3. — 
«C)  qual  entre  elles  não  he  tão  má  ve- 
niaga^  que  não  aja  muytos  mercadores 
delia  muvto  hõrados  e  ricos,  e  este  es- 
terco serve  para  estercar  as  sementeyras 
em  terras  alquévadas  de  novo,  porque 
achaò  que  he  milhor  que  o  de  que  co- 
mummente se  usa.))  Fernão  Mendes  Pin- 
to, Peregrinações,  cap.  98.  —  «Ao  outro 
dia  sendo  ja  nienham  clara,  este  exercito 
tão  cruel  e  tào  bárbaro  como  o  seu  Ca- 
pitão,   pôs   fogo   á  povoação    c  a  outros 


46G 


SEMI 


SEMI 


SEMI 


muyto3  lugares  muyto  frescos,  que  ao 
longo  deste  rio  estavío,  o  que  também 
caliio  em  sorte  a  hum  campo  chamado 
Bumxay,  de  mais  de  seis  Icgoas  cm  ro- 
da, o  muyto  plano,  todo  de  sementeyras, 
que  a  este  tempo  entava  menos  do  movo 
segado,  e  tudo  o  mais  do  trigo  que  nciie 
estava  ainda  por  segar,  que  era  a  mayor 
parte,  fov  consumido  do  fogo  de  tal  ina- 
neyra,  que  não  íicou  nelle  cousa  que  não 
fosse  desfeita  em  cinza.»  Ibidem,  cap. 
120. 

—  O  que  se  semêa,  a  semente  lança- 
da na  terra  ou  agro. 

—  Estação,  tempo,  sazão  de  semear. 
SEMENTEIRO,  s.  m.  O  sacco  em  que 

vac  o  trigo  ;is  costas  do  agricultor,  quan- 
do scniêa. 

—  < )  que  semòa  ou  faz  sementeiras. 
SEMENTILHAS,  s.  /.  Sementes  da  sa- 

ponilria. 

f  SEMENTINAS,  s.  /.  plur.  Termo  de 
liistoria  natural.  Festas  que  se  celebra- 
vam cm  Roma,  para  obter  boa  semen- 
teira. 

SEMESTRE,  adj.  (Do  latim  semesfris). 
Que  dura  seis  mezes. 

—  8.  m.  O  espaço  de  seis  mezes  con- 
secutivos, meio  anno. 

SEMESTREIRO,  adj.  (De  semestre,  com 
o  puffixii  «eiró»).  De  semestre. 

SEMET...  As  palavras  que  começam 
por  Semet...,  busquem-sc  com  Symet... 

SEMI.  Prefixo  latino  que  significa  me- 
fadi-,  meio,  e  que  se  antepõe  a  muitas 
outras  palavras  para  modificar  a  sua  si- 
gnificação. —  Semici"rfí(Z(j;  semicíews. — 
«As  moças,  desesperadas,  fugiram  de  ca- 
sa, e  levando-as  a  mãe  para  uma  rossa, 
teve  o  desaccordo  de  as  conduzir  a  casa 
de  um  seu  irmão  semi-barbaro  (homem 
que  matava  escravos  com  açoutes)  para 
que  lhe  castigasse  as  filhas.»  Bispo  do 
Grão  Farã,  Memorias,  publicadas  por  Ca- 
millo  Castelio  Branco,  pag.  176. 

SEMIABARCANTES,  adj.  f.  i^lur.  Ter- 
mo de  botânica.  Diz-se  das  folhas  que 
abraçam  metade  da  hastea. 

SEMIANIME,  adj.  2  gen.  (Do  latim  se- 
vtianiiiiis).  ^Icio  morto. 

f  SEMIARIANISMO,  «.  m.  Seita  origi- 
nada pelo  arianismo,  porém  com  modifi- 
cações e  reformas  que  a  constituíam  mui- 
to mais  moderada. 

SEMIAXIO,  adj.  Alcunha  que  os  gen- 
tios davam  aos  christãos. 

SEMIBREVE,  .".  /.  Termo  de  musica. 
Figura  ou  nota  fundamental  da  musica, 
que  vale  um  compasso  menor,  ou  metade 
de  uma  Lrevc. 

SEMIGADAVER,  s.  m.  Corpo  de  homem 
ou  mulher  (juasi  morto. 

SEMICAPRO,  s.  ?)i.  (Do  latim  semica- 
2)cr).  Meio  bode,  e  meio  homem;  epitheto 
que  os  gentios  davam  a  alguns  dos  seus 
deuses. 

SEMICHAS,  ou  SSOMICHAS,  s.  /.  ;>?. 
Uma   canada  mais    em  almude.  —  «Seis 


almudea  de  vinho  mollo  A  bica  do  lagar 
cora  suas  ssomichas.»  Doo.  de  1528,  em 
Vit(;rb(),  Elucid. 

SEMICHROMATICO,  adj.  (De  semi..., 
e  chromaticoj.  Termo  de  musica.  Diz-se 
de  certo  género  de  musica  composto  do 
diatónico  o  do  ehromatico. 

SEMICIRCULAR,  adj.  (De  semi...,  e 
circulari.  Concernente  ou  relativo  ao  sc- 
micirculo. 

—  Disposto  em  fitrma,  ou  á  maneira 
de  scinicircido. 

SEMICÍRCULO,  .•!.  J/l.  (De  semi...,  e  cir- 
culo;. Meio  circulo,  ou  metade  de  circu- 
lo, cortada  por  um  diâmetro. 

—  Instrumento  mathematico  que  faz  as 
vezos  de  ]u-ancheta. 

SEMICOLCHÈA,  s.  /.  Termo  de  musica. 
Nota  ou  ligiira  de  musica,  que  valo  meia 
colchêa. 

f  SEMICOLON,  .í.  m.  Antigo  signal  de 
pontuação,  que  valia  meia  pausa,  o  uma 
coma. 

SEMICOMPLEMENTO,  s.  m.  Termo  de 
mathcmatica.  Meio  complemento. 

SEMICOPADO,  s.  m.  Termo  de  musica. 
Nota  que  divide  o  compasso  em  dous 
tempos. 

SEMICUCUFA,  s.  f.  Termo  de  medici- 
na. Barrete  pespontado,  com  pós  cepha- 
licos,  que  se  applica  em  certas  moléstias; 
difiere  da  cucufa,  em  que  esta  encobre 
toda  a  cabeça,  e  aquella  só  parte. 

SEMICÚPIO,  .".  m.  :\Ieio  banho,  ou  ba- 
nho ii'a<,nia  até  á  cintura. 

SEMICYLINDRICO,  adj.  (De  semi...,  e 
cylindriCQi.  O  que  é  cylindrieo  por  um 
só  lado. 

—  Termo  de  botânica.  Diz-se  das  fo- 
lhas quando  são  planas  de  uma  banda,  e 
convexas  da  outra. 

SEMIDÊA,  ou  SEMIDEUSA,  s.  /.  Assim 
chamavam  os  gentios  áquellas  heroinas 
que  por  seus  altos  feitos,  pareciam  des- 
ceiídor  de  algum  de  seus  deuses. 

SEMIDEFUNTO,  adj.  ^Meio  morto. 

SEMIDEIRO,  s.  m.'ant.  Atalho. 

SEMIDEOS,  ou  SEMIDEUS,  «.  m.  Meio 
deus,  divindailc  subalterna,  deus  de  se- 
gunda ordem. 

—  Nome  que  os  gentios  davam  aos  lie- 
roes  e  varões  esclarecidos  por  suas  faça- 
nhas, a  quem  collocavam  entre  os  deuses. 

SEMIDIAMETRO,  í.  m.  R.aio  de  circu- 
lo; nietadi'  do  diâmetro. 

SEMIDIAPASÃO,  s.  m.  Termo  de  musi- 
ca. Intcrvallo  dissonante  de  oito  vozes, 
quatro  tons  e  três  semitons  maiores. 

SEMIDIAPENTE,  s.  m.  Termo  de  mu- 
sica. Intcrvallo  de  dous  tons  e  dous  se- 
mitons maiores,  quinta  remissa. 

f  SEMIDIAPHANO,  adj.  Que  não  é  per- 
feitamente transparente. 

SEMIDIATHESERÃO,  s.  m.  Termo  de 
musica.  Quinta  diminuída,  intervallo  dis- 
sonante de  quatro  vozes,  um  tom  e  dous 
semitons. 

SEMIDISCO,   s.   1».   Meio  disco.  Termo 


de  botânica.  Aba  de  uma  folha  guarne- 
cida de  nervura  dorsal. 

SEMIDITONO,  8.  m.  Termo  de  musica. 
Intervallo  que  consta  de  um  tom  e  um 
semitoiíi,  t'r<ilra  menor. 

SEMIDOBRADO,  adj.  a>e  semi...,  e  do- 
brado i.  Meio  dobrado. 

—  Termo  de  botânica.  Diz-se  da  flor 
cuja  corolla  tem  rnais  ordens  de  péta- 
las, ou  maior  numero  de  lacinias,  do  que 
costuma  ter  naturalmente;  conserva  o 
pistillo,  e  alguns  estames,  e  dá  algumas 
sementes  fecundas. 

SEMIDOBRE.  Vid.  Seraiduples. 

SEMIDOBREZ,  .<•.  m.  Temi  •  de  botâni- 
ca. ()  viço  das  flores  semidobradas,  a 
sua  multiplicação. 

SEMIDOUTO,  adj.  (De  semi...,  e  douto). 
Que  Sc')  tem  coniiecimentos  superficiaes  e 
pretendo  pa«-ar  por  homem  douto. 

SEMIDRAGÃO,  s.  m.  Meio  homem  o 
meio  dragão.  K  termo  do  estylo  phantas- 
tico,  ou  metaphorico. 

SEMIDUPLES,  ou  SEMIDUPLEX,  a^lj.  2 
gen.  (Do  latira  semiduplex).  Diz-se  das 
festas  ecclesiasticas,  que  se  celebram  com 
menos  solemnidades  que  as  duplex,  e  com 
mais  que  as  simples. 

f  SEMIENCYCLOPEDICO,  adj.  (De  se- 
mi..., o  encyclopedico).  Que  é  quasi  en- 
cyclopedico,  que  abrange  uma  noticia 
mui  succinta  das  principaes  artes  e  scien- 
cias. 

f  SEMIESPHERA,  s.  f.  Jletade  de  uma 
espiíera,  meia  r-íijjhera. 

-}■  SEMIESPHERICO,  adj.  Que  firma 
meia  osphc-ra. 

\  SEMIESPHEROIDE,  s.  m.  Metade  de 
uma  p-;]ihoroide. 

SEMIFENDIDO,  adj.  Termo  de  botâni- 
ca. Meio  fendido;  dividido  em  dous  seg- 
mentos. 

SEMIFLOSCULO,  s.  m.  Termo  de  botâ- 
nica. Flosculii  liguloso,  ou  cuja  corollula 
c  ligulosa. 

SEMiFLOSCULOSO,  adj.  Termo  de  bo- 
tânica. Diz-se  das  flores  compostas,  e  que 
constara  de  corollulas  ligidosas,  tanto  no 
disco  como  no  âmbito,  ou  raio. 

—  S.  f.  pi.  Estas  plantas  formam  a 
1.3. ^  classe  do  methodo  de  Tournefort. 

I  SEMIFLUIDO,  adj.  Meio  fluido,  que 
não  é  i;  teiramcnte  fluido. 

SEMirUSA,  s.  /.  Termo  de  musica, 
ileia  fusa;  nota  que  vale  metade  de 
uma  f"n>a. 

SEMIGLOBOSO,  adj.  Meio  globoso,  meio 
espherico. 

SEMIGOLA,  ou  SEMIGOLLA,  s.  /. 
Termo  militar.  Dcmigola,  meia  gola;  li- 
nha tirada   do   flanco  ao  angulo  d»  gola. 

I  SEMIGOTHICO,  adj.  Meio  gothico. 

—  Escriptura  semigothica;  escriptura 
gothica,  alterada  pela  mistura  de  cara- 
cteres romanos. 

SEMIINSPIRAÇAO,  .«.  /".  Termo  de  mu- 
sica. Tausa  que  dura  a  metade  de  uma 
inspiração. 


SEMI 


SEMI 


SEMI 


407 


SEMILETRA,  ou  SEMILETTRA,  s.  /.  Si- 
gnal  quo  vale  a  metade  cie  uma  letra. 

SEMILHA,  s.  f.  Nome  claJo,  em  algu- 
mas partes,  ás  batatas  inglezas. 

I  SEMILHANTE.  Vid.  Semelhante.  — 
«  E,  se  me  disser  que  o  sr.  eonego  a  tem 
em  casa,  com  dois  íiltios  e  uma  menina, 
ou  coisa  semilhante,  hei  de  eu  crêl-oV 
Ora,  deixem-mc,  meu»  senhores.»  Bispo 
do  Grão  Pará,  Memorias,  publicadas  por 
Camillo  Castello  Branco,  pag.  119. 

SEMILUNAR,  adj.  Da  forma  de  meia 
lua  crescente. 

SEMILUNIO,  s.  7)1.  (Do  latim  similu- 
niuni).  Meia  lua,  metade  do  tempo  em 
que  a  lua  faz  a  sua  revolução. 

SEMIMEDIGO,  s.  m.  Semidouto  na  me- 
dicina. 

SEMIMEMBRANOSO,  adj.  (De  semi..., 
e  membranoso).  Diz-se  de  um  musculo 
situado  na  parte  posterior  da  coxa. 

SEMIMETAL,  s.  m.  Meio  metal,  subs- 
tancia mineral  menos  pesada,  e  menos  so- 
lida que  o  metal. 

SEMIMINIMA.  Vid.  Seminima. 

SEMIMORTO,  adj.  Meio  morto,  semi- 
anime. 

SEMINAÇÃO,  s.  /.  (Do  latim  seminatío- 
nem).  A  dispersão  das  sementes. 

SEMINAL,  adj.  2  gen.  (Do  latim  semi- 
nalis).  Espermatico;  de  sémen,  perten- 
cente a  elle,  ou  que  o  contém. 

—  Termo  de  botânica.  Diz-se  das  pri- 
meiras folhas  das  plantas  que  se  desen- 
volvem na  semente  pela  germinação,  e 
que  são  os  cotyledones  convertidos  em 
folhas. 

—  Figuradamente :  Productivo.  —  A 
malícia   seminal  das  doenças. 

SEMINAR.   Vid.    Disseminar. 

SEMINÁRIO,  s.  m.  (Do  latim  semina- 
rium).  Viveiro  de  plantas;  espaço  de  ter- 
ra, no  qual  depois  de  bem  cavado,  se  se- 
mêam  as  plantas,  e  depois  de  crescidas, 
se  tiram  d'alli,  e  se  transplantam,  e  se 
dispõem  pelo  campo  em  ordem,  com  seus 
intervallos.  • — ■  «Tanto  que  arrancarem  es- 
tas arvores  do  seu  seminário,  as  trans- 
plantem logo  em  terra,  que  não  seja  des- 
semelhante.» Leonel  da  Costa,  Georgi- 
cas,  pag.  78. 

—  Casa  em  que  se  educam,  e  ensinam 
moços  em  bons  costumes,  e  virtudes  para 
o  serviço  de  Deus  e  da  egreja.  Depois  do 
concilio  cridcntino  encommendar  e  orde- 
nar a  fundação  dos  seminários,  se  fizeram 
muitos  na  christandade,  dos  quaes  os  pri- 
meiros e  principaes  authores  foram  S.  Car- 
los Borromeu  e  S.  Francisco  de  Sales. 
O  bispo  de  Coimbra  D.  Paterno,  com  o 
conde  D.  Sisnando,  deu  ordem  a  um  se- 
minário de  moços  na  própria  sé  episco- 
pal e  egreja  de  Santa  Maria,  da  mesma 
cidade,  a  estes  doutrinou,  e  foi  dispondo 
para  receberem  o  grau  do  presbvterio,  e 
quiz  que  vivessem  em  comniunidade,  se- 
gundo a  regra  de  Santo  Agostinho. 

—  Origem,  principio,  assim  para  o  bem 


como  para  o  mal.  —  «Com  propósito  de 
fazer  alli  o  seminário  do  suas  emprezas.»» 
Monarchia  Lusitana,  tom.  1,  foi.  152, 
col.  2,  em  Bluteau. 

—  Adj.  Seminal.  —  Virtude  semina- 
ria.  —  «Se  transfunda  para  isso  na  virtu- 
de seminaria. »  Vasconccllos,  Noticias  do 
Brazil,  pag.  112. 

SEMINARISTA,  s.  m.  (De  seminário, 
com  o  suffixo  «ista»).  Alumuo  interno 
de  algum  seminário. 

—  O  que  é  educado  em  seminário. 

f  SEMINIFERO,  adj.  Que  encerra  ou 
contém  sementes, 

—  Termo  de  anatomia.  Vasos,  ou  con- 
ductos  seminiferos;  vasos  mui  pequenos, 
da  reunião  dos  quaes  se  forma  a  substan- 
cia do  testículo,  e  nos  quaes  se  segrega 
e  circula  o  esperma  ou  sémen. 

SEMINIMA,  s.  /.  (De  semi,  e  minima). 
Termo  do  musica.  Nota  que  vale  meia 
minima;  é  a  quarta  nota. 

SEMINIO,  s.  m.  Semente,  gérmen. 

f  SEMINOTA.  s.  /.  Termo  de  zoologia. 
Género  de  insectos  hymenopteros,  da  fa- 
mília dos  evanidos, 

SEMINU,  adj.  Meio,  ou  quasi  nú. 

SEMIOCTAVA,  s.  /.  ant.  Composição 
de  quatro  versos  consonantes,  que  é  a 
primeira  metaile  de  uma  octava. 

SEMIOGRAPHIA,  s.  ./'.  (Do  grego  sc- 
meioii,  sigual,  e  graphein,  descrever), 
Sciencia  que  tem  por  base  conhecer  o 
valor  e  força  dos  signaes,  e  caracteres 
das  doenças. 

7  SEMIOPHORO,  s.  m.  Género  de  pei- 
xes, da  faniilia  dos  escamipenneos. 

f  SEMIOTO,  s.  m.  Termo  de  zoologia. 
Género  de  insectos  coleopteros  pentame- 
ros,  da  familia  das  serricornes, 

—  Género  de  insectos  hymenopteros, 
da  faniilia  dos  chalcidios. 

SEMIPALAVRA,  s.  /,  Palavra  mal  pro- 
nunciada. 

SEMIPARENTE,  adj.  2  gen.  Que  tem 
algum  parentesco. 

SEMIPARTIDO.  Vid,  Semifendido, 

■{-  SEMIPEDAL,  adj.  2  gen.  Que  tem 
meio  pé  de  comprimento. 

■[  SEMIPELAGIANISMO,  s.  m.  Termo 
de  historia  e  religião.  Doutrina  professa- 
da no  V  século  da  egreja,  por  Fausto  e 
Capieno.  Pretendia  conciliar  as  opiniões 
dos  pelagianos  com  as  dos  orthodoxos, 
sobre  a  graça,  sobre  o  peccado   original. 

SEMIPELAGIANO,  adj.  O  que  seguia 
parte  dos  erros  de  Pelagio. 

SEMIPERIPHERIA,  ou  SEMIPERIFERIA, 
s.  /'.    Meia  ]ieri|)heria  do  circulo. 

SEMIPLENAMENTE,  adv.  (De  simiple- 
no,  com  o  suffixo  «mente»).  Com  uma 
prova  imperfeita,  semiplena. 

SEMIPLENO,  adj.  (Do  latim  semiple- 
nus).  Meio  cheio, 

—  Prova  semiplena;  diz-se  da  pi-ova 
imperfeita  ou  não  completa,  como  a  que 
resulta  da  declaração  de  uma  só  teste- 
munha, sendo  de  toda  a  excepção. 


SEMIPOETA,  adj.    Rimador,   poeta   de 

agua  doce,  mau  poeta. 

f  SEMIPROVA,  s.  f.  Termo  forense. 
Prova  semiplena,  meia  prova, 

SEMIPUTRIDO,  adj.  Meio  pCdj-e,  qua- 
si podre. 

t  SEMIQUINTIL,  adj.  Termo  de  as- 
tronomia. Diz-se  do  aspecto  dos  plane- 
tas, separados  um  do  outro  trinta  e  seis 
graus . 

SEMIRACIONAL,  adj.  (De  semi,  e  ra- 
cional). Estúpido,  grosseiro,  parecido  com 
os  irracionaes;  diz-se  da  pessoa  que  pra- 
tica algumas  acções  impróprias  de  gente. 

SEMIRECTO,  adj.  Diz-se  do  angulo 
que  tem  quarenta  e  cinco  graus,  por  ser 
a  metade  do  angulo  recto. 

SEMIROLIÇO,  adj.  Termo  de  botânica. 
Vid.  Semicylindrico. 

SEMIROTO,  adj.  Meio  roto, 

■[  SEMISECULAR,  adj.  (De  semi,  e  se- 
cular). Que  tem  meio  século. 

f  SEMISEPARATISTA,  s.  vi.  Termo  de 
historia.  Individuo  de  uma  divisão  da  sei- 
ta dos  separatistas, 

SEMISERPENTE,  adj.  Animal  meio  ser- 
pente. 

f  SEMISEXTIL,  adj.  Termo  de  astro- 
nomia, Diz-se  do  aspecto  que  apresentam 
dous  planetas  separados  um  do  outro  uns 
trinta  graus. 

f  SEMIáTAMINAR,  adj.  Termo  de  bo- 
tânica. Diz-se  de  uma  ílôr  dobrada  que 
não  mudou  em  pétalas  mais  que  uma 
parte  dos  seus  estamos, 

1.)  SEMITA,  s.  f.  (Do  latim  semita). 
Atalho,  vereda,  =  Caído  em  desuso, 

f  2.)  SEMITA,  s.  m.  (De  Sem).  Descen- 
dente de  Sem,  primogénito  de  Noé.  Os 
semitas  são  os  árabes,  os  hebreus,  os 
chalileus,  os  phenicios  e  os  syrios. 

SEMITARRA.  Vid.  Cimitarra, 

SEMITENDINOSO,  adj.  Termo  de  ana- 
tomia, Diz-se  do  musculo  superficial  da 
parte  posterior  e  interna  da  coxa  da 
perna, 

SEMITERÇÃ,  adj.  Diz-se  da  febre  meia 
terçã,  homitriteia,  febre  quotidiana,  com 
um  segundo  accesso  mais  intenso,  um  dia 
sim,  um  dia  não. 

SEMITERCIANA.  Vid.  Semiterçã. 

f  semítico,  adj.  (De  semita).  Con- 
cernente a  Sem,  filho  mais  velho  de  Noé. 

— -  Termo  de  philologia.  Línguas  semí- 
ticas ;  nome  dado  ás  linguas  que  faliam 
03  povos  da  Ásia  occidental,  que  a  Biblia 
nos  diz  serem  os  descendentes  de  Sem, 
O  árabe  antigo  é  o  typo  das  linguas  se- 
míticas. O  hebreu,  o  s^-riaco,  o  ethiopi- 
co,  o  samaritano,  o  phenicio,  etc,  per- 
tencem a  este  grupo. 

SEMITOM,  s.  m.   Meio  tom,  voz  baixa. 

SEMIT0N0,  s.  m.  Termo  de  musica. 
Meio  tom,  intervallo  que  separa  certas 
notas  de  musica. 

f  SEMITRANSPARENTE,  adj.  (De  semi, 
e  transparente).  Meio  transparente,  al- 
guma cousa  transparente. 


L 


408 


SEMI' 


SEMP 


.SEMI' 


SEMIUSTO,  aiij.  íDo  l.-itiiu  Mtmiusius). 
Jlcio  (jnidiii.iílo,  (|uarti  qui!Íiii;iiJo. 

SEMIVIBRAÇÃO,   *.  /.    Meia  vibração. 

SEMIVIRO,  nilj.  (Do  latim  xemiviri). 
•Meio  liDiiioiii.  —  (Jcntanrn  semiviro. 

—  l<'iijiir-;ici;imriit(:  :    lOlfuiiiiiiaiJo. 

I  SEMIVITREO,  <t<lj.  Quu  bo  pânico 
iiin  poucii  i-oui  o  viilro. 

SEMIVIVO,  tidj.  Meio  vivo,  ([uani  mor- 
to, com  ]i()ucíi  viiia. 

SEMIVOGAL,  adj.  2  yen.  Diz-so  do  uma 
letra  eoiisoautc  que  se  iiilo  profere  sem 
uma  vo;:al. 

SEMJUSTIÇA,  .V.  /.  Injustiva,  a  quali- 
dade Aí:  ser  inJuKto,  o  faíUir  á  justi<,'a. 

SEMNÓ,  .V.  /.  1'huita  da  provincia  do 
Ahiiiitejo,  cuja  follia  tem  seuiellian(,'a  de 
junco. 

■\-  SEMNOPITHECO,  s.  m.  Termo  de 
zoologia,  («enero  do  niamniiíeros  quadru- 
uiauo.-i. 

f  SEMNOTEO,  adj.  Termo  de  liistoria. 
Nome  iladii  ans  druidas  pelos  gregos. 

SEMNUMERO,  s.  m.  Numero  incalculá- 
vel; a  que  se  não  sabe  o  numero,  infinito. 

SEMOLA,  s.  /.  Farinha  reduzida  a  jie- 
queiios   jrrumos    de   (jue  se  fazem  caldos. 

■j-  SEMOTILO,  s.  m.  Termo  de  zoologia, 
(ieuoro  de  peixes  ab<lominues,  composto 
de  três  espécies. 

SEMOTO,  (idj.  (Do  latun  isemottts). 
Apartadii. 

SEMOVENTE,  adj.  Diz-se  do  que  por  si 
juesmo  se  move,  como  os  gados,  escra- 
vos, etc,  que  síío  òois  semoventes. 

Porciu  qiiiMii  pod(5  prcscrovei-  limitos 
Aos  oafov(;o3  do  ctoruii  Oniui|)OtcnciaV 
Da  imiiiiMisa  crcacjào  no  iiiuiu>nso  Impurio 
De  óuti-os  oi-gãoí  talvez,  iVoutra  figura 
Sejào  dotados  scwoee/i/ps  Sores, 
Que  liabitudoros  do  tão  vastos  Corpos, 
Como  na  Terra  iiils,  no  espaijo  vivào! 

J.  A.  nu  aACBDO,  VIAGKSl  KirATlCA,  caiit.   -í. 

SEMPAR,  ailj.  2  <jen.  tíem  igual,  sem 
semelhante. 

f  SEMPITERNA,  s.  /.  Tecido  de  lã 
vasto  o  encoriiailo  que  usam  ordinaria- 
mente as  mídlveres  ])obres  para  vestir-se. 

SEMPITERNAMENTE,  adv.  Eteruameu- 
te,  sempre. 

SEMPITERNO,  adj.  (Do  latim  sempiter- 
lius).  ISempre  eterno,  aempiternal. 

Vouho,  Houriquo  lho  diz,  6  Lusitano, 

Do  Motor  sempitcrito  a  ti  mandado, 

Hoje,  que  ;l  meta  do  poder  humano 

'IViis,  por  jjjloria  da  Pátria,  cm  tlin  chegado  : 

E  da  Fama  no  Alcaçar  Soberano, 

Çom  taos  feitos  teu  non\o  oturuisado  ; 

Neste  dia,  ((ao  mostra  á  Europa  absorta, 

A  hum  Quinto,  o  mór  Iraporio  aberta  a  porta. 

J.   A.    DB  M\CKDO,  OllIENTE,  Catlt.   8,  CSt.    Gl. 

A  pôr  il  vista  as  vozes  debuxadas, 
E  com  siguacâ  pasmosos  as  deixílrão 
<SeHíUi7er/i(is  nos  olhos,  e  memoria  : 
Porem  marcar  as  épocas  uào  posso 
Da  pasmosa  invoui;ào,  pasmosa  traça. 
Que  de  lUiílcs,  o  bons  traz  cheio  o  Mundo. 
iDEu,  uuDiTÀçÃo,  caut.  1. 


A))raz-mo  contemplar  u  humctii  nu  inuiieiisa 

Ksfcra  posto  das  Hcicncias  todan 

QuaHÍ  á  Hupromu  perfuii;iu>  levadas ; 

Da  Poesia  atmjiiternon  Ixiiros 

(jue  frente»  cingem  na  soberba  Homa  ! 


Hazão  de  todo  o  turliido  Pantusma 
Dissipa  do  l'".picuro  ;  o  cego  Acaso 
Ante  u  luz  da  Kazão  fogu,  e  80  acaba, 
K  He  esvaece  uubito  a  coliorte 
Das  aeinpilf.riuu  niúuadas  errantes, 
Que  agitadas  n'huin  vácuo  indclinito. 
luiDKU,  cant.  1. 

Ao  ar,  ao  portamcnto,  á  vista,  ao  moto 
Súbito  conheci  que  os  Sábios  eriío, 
tjuo  as  sempiterna»  Leis  da  Natureza 
Em  pró  dos  outros  coniiecer  tentarão. 

IIIKM,   VIAUKM  EXTÁTICA,  CaUt.    1. 

Em  toda  a  parte  encontro,  ob-scrvo  em  tudo, 
De  huma  Infinita  Sa|)iencia  a  marclia. 
Tudo,  tudo  me  diz  que  hum  Deos  existe, 
Que  lio  sempiterno  liei  de  Império  Eterno. 
A'  Luz  ordena  que  me  aclare,  e  manda 
Ao  Ar,  ([ue  me  sustente,  e  a  vida  aspiro. 


Se  extasiada  fantasia  podo 
Publicar  teu  puder,  teu  nome,  c  gloria, 
Ho  este  o  llinnio  da  Urandeza  tua, 
tSempiter no  Motor :  se  o  peso  immenso 
A'  mesma  fantasia  encolhe  as  azas. 

IDEM,  A   KATUKEZA,  caUt.    1. 

Da  confusa  razào  frágil  compasso 
>iao  chega  a  medir  tanto...  O  Eterno  falia; 
O  Nada  lhe  ouve  a  voz,  e  o  Nada  he  Tudo, 
No  vácuo  sempiterno  onde  brilhava 
Astro  Divino,  e  só,  eis  repentinos 
Astros  brilhao  sem  numero,  e  ac  agitào. 

lUIDEM. 


Sempiterno  Geómetra  assignala 
Compassada  distancia,  que  convinha 
A'  Natureza,  ás  prccisuea  dos  Entes, 
Da  Terra  o  Globo  dos  Planetas  segue 
Invariável  Lei,  nos  Ceos  tluctua. 


O  sempiterno  Sol  do  quem  rerteio. 
Ou  sombra  he  esta  aiampada  do  dia, 
Da  verdade  os  revérberos  brilhantes 
Fez  luzir  110  Syiiái :  náo  me  envergonho 
De  deixar  por  Moisés,  Newton,  Descartes. 


E  quando  em  cega,  sempiterna  guerra 
Fervo  orgulhosa  opinião  dos  Sábios, 
Então  foge  a  verdade,  a  luz  nao  briilia. 
Só  i|ueui  ouve  a  razão  co'  a  estrada  atina. 
I1Í1UE.U,  cant.  2. 


SEMPLE,  ant.  por  Sempre. 

SEMPRE,  adv.  ^Do  latim  semper).  A 
toiía  a  hora,  em  todo  o  tempo,  em  toda 
a  uccasiàu.  —  «ísalvo  em  aquoUes  casos, 
que  he  eontheudo  na  Hordeua(;om  d'El- 
Key  Dom  Atíouso  pellas  malfeitorias,  se- 
gundo iie  eontheudo  na  Lei  d'ElRey 
Dom  Fcrnauiio,  e  sempre  se  assy  custu- 
mou ;  porque  se  alguuus  delles  disserem 
o  que  nom  ilcveiu,  que  as  justi\'as  o  pu- 
gnam,   como    acharem    que    lie    direito, 


nom  provando  o  qu';  mmy  diuserom.  » 
Ord.  AÍIonB.,  liv.  :'),  lit.  ";}4,  S  10. — 
«NestcH  dias  que  ol  Uii  dauu  audiência 
uuia  sempre  na  camará  em  qiic  ent&aa 
musica  de  crauo,  e  cantores  :  foi  muito 
inclinado  a  letras,  e  letrados,  c  (tiiteudia 
bem  a  liagoa  latina,  em  (jue  fora  doctri- 
nado  sendo  moi^o,  da  qual  Babia  tanto 
que  podia  julgar  entre  <-, tilo  ijom,  e  luuo.» 
Damião  de  (joes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  -4,  cap.  84.  —  aFoi  el  Itei  mui  cas- 
to, e  continente  nem  se  Huube  depoia  de 
ser  casado  que  teuesse  conuersassam  se 
nam  com  as  liainhas  suas  molheres:  o 
em  quanto  foi  viuuo  da  Kaiiiha  doua  Ma- 
ria, p.tia  mor  co:iíirinat;am  diutu  dorini- 
raij  sempre  na  sua  camará,  em  huma 
cama  o  Príncipe,  e  o  Infante  dom  Luií 
seus  iilho.s  aos  pes  do  seu  leito.»  Ibidem. 

—  «E,  inda  (jue  sempre  conheceu  nclla 
vontade  clara  pêra  ciiusa.s  de  Palmeirim, 
vendo  aquelles  estremo.'*  tão  diiferentes 
dos  passados,  a  quiz  consolar,  dizendo: 
iSeniiora,  não  cuidei  que  nenhuns  acci- 
dentes  bastassem  a  desbaratar  vossa  des- 
cripção :  se  estas  novidade.i  nascem  da 
partida  de  Palmoiriui,  porque  vos  nào 
lembra  que  todo  seu  desejo  é  tornar  ao 
lugar  onde  vos  jiossa  ver.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  9.õ. 

—  "Senhora,  disse  Palmeirim,  se  voa  eu 
algum  hora  merecera  dizerdes-me  pala- 
vras, que  me  assim  magoem,  nâo  me  es- 
pantiira  achal-as  em  vós ;  mas  sempre 
tive  a  vontade  tão  certa  pêra  vos  servir, 
que  por  isso  quabjuer  aggravo  recebido 
de  V()S  é  pêra  mim  muito  mi'ir  que  se  ou- 
trem mo  lizesse.»  Ibidem. —  «Florendos, 
acompanhado  de  seu  euidado  e  da  amiza- 
de de  Fliiramào,  ticou  guardando  o  pa.s- 
so,  que  sempre  ilefeudera,  não  se  quei- 
xando de  seu  mal,  ainda  que  tivesse  cau- 
sa. Porque,  quem  a  fortuua  alguma  hora 
experimentou,  tudo  ha  de  saber  soffrer, 
espantando-se  de  poucas  cousas  escanda- 
lizando-se  de  menos.»   Ibidem,  cap.  109. 

—  «Porque  criada  antre  as  tyrannias  de 
seu  pai,  cruezas  de  seus  irmãos,  favore- 
cida da  condi(,'ào  damnada  de  sua  mãi, 
sempre  foi  piedosa,  benévola,  cheia  de 
piedade  e  inclina(,'ão  virtuosa;  tanto  que 
tis  vezes  importunado  seu  pai  e  mãi  de 
suas  lagrimas  for^-ava  a  condição  a  fazer 
cousas  contrarias  a  elles.»  Ibidem,  cap. 
119.  —  «Aliança  lhe  lançou  os  braços  no 
pescfço,  dizendo :  Bem  sei,  minha  ami- 
ga, que  sempre  em  vós  tenho  certo  o  ca- 
minho do  meu  desciínso;  peço-vos  que 
vades  pêra  elle.  e  se  o  nào  poderdes  ven- 
cer ao  menos  desculpa-me,  porque  não 
lique  por  tão  má.  Ora,  senhora,  deixai- 
me  com  isso  e  vos  repousai :  não  sintam 
estas  douzellas  nada;  que  seria  infamar- 
vos  a  vós  e  a  mim,  e  descontentar  a  elle. 
Eut.~io  indo-se  pei-a  onde  o  cavalleiro  se 
encostara  a  ])riuieira  vez,  o  .-ichou  já  des- 
viado, por  Arlança  ii.ào  tornar  mais  a 
elle.»    Ibidem,  ciip.  1:^4.  —  «E  passados 


SEMP 


SEMP 


SEMP 


469 


os  dous  meses  que  tinhamos  de  liberdade 
para  podeniios  aquy  estar,  iio3  partimos 
para  Quaiisy  a  cumprir  nosso  degredo 
em  companhia  deste  moiiteo,  o  qual  tã- 
bem  daly  por  diante  nos  tratou  sempre 
muyto  bem,  e  nos  lez  muytos  favores, 
até  que  os  Tártaros  eutraraõ  na  cidade, 
cõ  cuja  vinda  ouve  nella  muytas  des- 
aventuras,  muytas  mortes  e  muytos  tra- 
balhos, como  adiante  cõtarey  mais  larga- 
mente.» Fernão  Mendes  Pinto,  Peregri- 
nações, cap.  104.  —  «Perigoso  íby  sem- 
pre bolir  com  o  caõ  que  dorme :  e  poris- 
Bo  muitas  vezes  as  couzas  passaõ  por  alto 
até  as  sepultar  o  esquecimento:  mas  isso 
naõ  tira  ser  furto,  o  que  por  esta  via  se 
arrastra.  E  estas  saõ  as  unhas,  que  cha- 
mamos descuidadas;  porque  até  quando 
mais  lembradas,  a  avai-eza  por  huma 
parte,  e  o  medo  por  outra,  as  põem  em 
estado  de  descuidadas,  e  esquecidas :  e 
assim  fica  tudo  sem  remédio.»  Arte  de 
furtar,  cap.  28.  —  «Sempre  o  segundo 
erro  he  peyor  que  o  primeiro,  por  isso 
mesmo  que  he  segundo :  como  os  circu- 
les na  agua  onde  cahio  a  pedra,  que  sem- 
pre vão  seguindo-se  mavores.»  Padre 
Manoel  Bernardes,  Exercícios  espiri- 
tuaes,  part.  1,  pag.  202. 

Approva  o  uovo  Rei  ])or  proveitoso 
O  conselho  que  o  Cunha  lhe  mandara, 
E  fora  nesta  empresa  assaz  ditoso 
Se  aaai  como  o  approvou  o  executara : 
Mas  a  vida  passou  alli  ocioso 
Sem  tratar  do  que  entào  bem  começara, 
Com  que  a  fortuna  entào  fugir  lhe  obriga 
Que  sempre  do  ócio  inerte  foi  imiga. 

FB\NCISC0  DE   AMDR.VDE,  FRIUKIBO   CEBCO   DK   DIU, 

cant.  8,  est.  88. 

—  «Estimou  sempre  a  paz,  e  a  con- 
servou com  os  Reis  seus  visinhos  com 
tal  prudência,  que  andando  o  imperador 
seu  cunhado  em  continuas  guerras  com 
França,  e  outros  Reinos,  elle  se  houve 
de  maneira,  que  sem  agravar  nenhuma 
das  partes,  foi  sempre  amigo  de  todos, 
e  com  tanta  authoridade,  que  cada  qual 
estimaua  muito  tello  por  confederado,  ou 
ao  menos  por  neutral.»  Fr.  Bernardo  de 
Brito,  Elogios  dos  reis  de  Portugal,  con- 
tinuados por  D.  José  Barbosa.  —  «A  pri- 
meira, e  principal  he,  pelo  grande  per- 
juro que  cometereis  contra  Mafamerl,  e 
pela  authoridade,  e  fé  Real,  que  os  Reys 
saõ  taõ  obrigados  a  guardar.  A  segunda 
he,  porque  da  parte  dos  Portuguezes  naõ 
ha  occasiaõ  alguma  de  escândalo,  antes 
sempre  se  mostrarão  amigos,  e  tanto,  que 
sofrerão  cousas  de  que  bem  poderão  lan- 
çar maò.»  Diogo  de  Couto,  Década  6, 
liv.  9,  cap.  5. 

—  Continuadamente,  sem  sessar,  sem 
descanço.  —  Esta  mulher  esteve  sempre 
o  chorar.  —  o  Partido  Fernão  Peres  a 
este  caso,  não  achou  em  todo  o  estrei- 
to nova,  nem  noticia  de  tal  Armada;  e 
porque   os  nossos    sempre   andavam  sus- 


peitos com  as  novas  que  davam  os  Mou- 
ros, por  as  mais  vezes  serem  falsas,  tor- 
nou-se  Fernão  Peres  a  Malaca  acabar  de 
se  aperceber  pêra  a  índia.»  Barros,  Dé- 
cada 2,  liv.  7,  cap.  4. — «Com  o  qual 
fundamento  sempre  andou  derredor  da 
Cidade  avexando-a,  ora  com  rebates  de 
suas  Armadas,  ora  cora  lhe  tolher  os  man- 
timentos, e  mudando  o  assento  de  sua 
pessoa,  té  que  per  derradeiro  se  foi  as- 
sentar de  vivenda  em  huma  Ilha  defron- 
te de  Cingapura  chamada  Bitam,  nome 
que  03  Malayos  chamam  á  Lua,  por  a 
mesma  Ilha  ter  a  feição  da  Lua  quan- 
do he  meia.»  Ibidem,  liv.  9,  cap.  tí. — 
«Já  as  novas  da  soltura  destes  cavallei- 
ros  eram  tào  espalhadas  por  algumas  par- 
tes, que  ao  imperador  Trineu  que  alli 
perto  vivia,  chegara  a  noticia  delias,  E 
porque  té  entào  vivera  sempre  triste  pola 
perda  de  seus  filhos  Vernao,  e  Polinar- 
flo...»  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
d'Inglaterra,  cap.  44. — -  «E  com  gloria 
de  vitoria  tão  crescida  se  foi  pêra  Tar- 
giana,  que  estava  quasi  morta,  receando 
05  desastres  da  fortuna,  que  a  seu  pare- 
cer pêra  ella  estavam  sempre  aparelha- 
dos, 6  esforçando-a  com  novas  de  venci- 
mento, tornaram  tomar  sua  rota.»  Ibi- 
dem, cap.  96. —  «O  escudeiro  de  Daiiar- 
t(?  tomou  o  cavallo  ao  do  Tigre,  e  todo 
aquelle  dia  passaram  ao  longo  do  mar, 
olhando  sempre  se  parecia  algum  navio, 
por  chegarem  ao  desembarcar  tão  pres- 
tes, como  os  imigos.B  Ibidem,  cap.  117. 
—  «Aqui  lhe  deu  de  jantar  mui  abasta- 
damente, que  Satiafor,  além  de  o  ter  por 
natural,  desejava  ganhar  a  vontade  ao 
cavalleiro  do  Tigre.  As-im  passaram  o 
dia,  e  chegada  a  noite  acharam  leitos  pê- 
ra todos,  que  ficaram  do  despojo  de  Eu- 
tropa ;  que,  além  de  ser  rica  e  gram  se- 
nhora, estava  sempre  provida  de  cousas 
necessárias  a  hospedes,  que  assim  lhe 
convinha  pêra  agasalhar  os  amigos ;  que 
os  imigos  outro  gasalhado  lhe  parecera 
melhor  que  o  seu.»  Ibidem,  cap.  119. 

andAra  sempre  no  cólo ; 
mamara,  uào  houvera  frio, 
nem  lá  com  meu  senhorio 
atolara  como  atolo. 
Alto,  apertar  o  carrio. 

ÀNTONIO  PEE3TES,  AUTOS,  pag.  l-ÍÒ. 

Toda  a  pessoa  discreta 
Teri,  Senhora,  assentado, 
Que  hum  bem  muito  desejado 
Se  ha  de  alcançar  por  dieta. 
Para  sor  sempre  estimado. 

CAMÕES,  AMPHyTHiÕEs,  aot.  3,  SC.  1. 

—  «Francisco  da  Cunha  homem  Fidal- 
go pelejou  sempre  com  hum  faicaõ  com 
muito  valor,  e  destreza,  fazendo  tiros  tão 
certos,  como  se  toda  a  vida  usara  aquelle 
officio.»  Diogo  de  Couto,  Década  6,  liv. 
10,  cap.  13.  —  «Vendo-se  D.  Álvaro  per- 
dido se   foy  recolhendo  pêra  as  paredes 


com  o  rosto  nos  inimigos,  pele'ando  sem- 
pre com  muito  valor,  e  esforço.  Vendo 
Jorge  de  Mendonça  a  cousa  taò  arriscada 
(posto  que  tinha  huma  espingardada  em' 
huma  perna)  tomou  D.  Álvaro  de  Cas- 
tro nos  braços  pura  o  pôr  em  cima  da 
parede,  mas  a  fraqueza  lho  nào  deixou 
fazer,  e  todavia  acodiolhe  seu  irmaõ  Luiz 
de  Mello,  que  o  ajudou  a  subir.»  Ibidem, 
liv.  3,  cap.  6.  —  «Notaõ  os  Políticos,  que 
os  Romanos  antigos,  assim  para  cultiva- 
i'em  toda  índia,  como  para  conseguirem 
a  multiplicação  da  gente,  que  sempre 
pretenderão,  usaraõ  muito  deste  remédio 
das  Colónias.»  Manoel  Severim  de  Faria, 
Noticias  de  Portugal,  Disc.  1,  cap.  5. — 
«O  Doutor  António  Francisco  diz,  que 
estes  Vassallos  tem  o  primeiro  grào  da 
Nobreza ;  fazendo  a  Ordenação  sempre 
esta  distincçaõ.»  Ibidem,  Disc.  3,  cap. 
21. —  «E  sò  este  celestial  prazer  (como 
diz  sancto  Agostinho)  pode  sempre  du- 
rar, o  que  nam  tem  os  prazeres  munda- 
nos, que  nam  sam  em  o  Senhor.  Porque 
claro  está  que  quem  se  alegra  em  rique- 
za, ou  em  honra,  ou  em  deleyte  carnal, 
não  se  pode  sempre  alegrar  ainda  neste 
mundo  :  mas  quem  se  alegra  em  o  Se- 
nhor, nam  ha  cousa  por  onde  se  possa 
acabar  sua  alegria  :  porque  nem  na  pros- 
peridade, nem  aduersidade  lha  podem  ti- 
rar: pello  qual  está  escripto.»  Fr.  Bar- 
tholomeu    dos    Jíartyres,     Catecismo    da 


doutrina    christã,    part. 


ca]) 


77.— 


« Por  outi-a  parte  o  Condestable  cora 
seus  bombardeyros,  o  Mestre  cos  ma- 
rinheyros,  o  Guardião  com  os  grume- 
tes se  ocupauão  todos,  ora  em  huns,  ora 
noutros  ofiicios :  gastando  neste  contino 
trabalho  catorze  dias,  e  noytes,  alijando 
sempre  sem  descansar.»  Fr.  Caspar  da 
Cruz,  Tratado  das  cousas  da  China,  cap. 
1. —  «E  hão  sey  certo,  de  qual  me  ma- 
rauilhe  mais,  se  da  certeza  com  que  os 
males  no  mar  saõ  sempre  certos ;  se  da 
confiança  com  que  os  que  por  elle  naue- 
gào  cuydão  nam  ter  algum.»  Ibidem,  cap. 
5.  —  «A  roda  dos  muros  vay  huma  cava 
larga  cincoenta  palmos,  e  funda  braça  e 
meya,  a  qual  está  sempre  chea  dagoa.  A 
terra  que  delia  se  tirou,  lançarão  ao  lon- 
go do  muro,  da  bàda  de  dentro,  e  esta  he 
a  razão,  porque  desta  parte  saõ  menos 
altos  que  de  fora.»  Ibidem,  cap.  19. 

Não  perde  hoje  o  Silveira  aquelle  csprito 
Sempre  na  mòx  afti-onta  mais  ousado. 
Antes  com  hum  valor  quasi  infinito 
Sc  mo^itra  mais  alegre  e  confiado  : 
Comtudo  escreve  logo  hum  breve  escrito, 
O  que  diz  a  ninguém  he  declarado. 
Ao  mesmo  o  dA  que  pouco  antes  viera, 
E  que  as  novas  da  armada  lhe  trouxera. 

FRANCISCO   d'aNDRADE,   PBiaEIBO   CEBCO   DK   DIU, 

caut.  12,  est.  48. 

—  «Provavão  (os  cy nicos),  que  o  ani- 
mo do  homem  se  havia  de  despojar  de 
objectos   baixos,   para  se  empregar  sem- 


470 


SEMP 


pre  cm  a  con.sidei-iu;ilo,  e  amor  «lofi  al- 
tissimoH ;  a  cujaH  azas  fazia  estorvo  o  Uíso 
doa  uommoJod  tuinporae.H,  civi.s,  o  politi- 
cort.t  Fraiici.sco  Maaucl  do  Mullo,  Apolo- 
gos  dialogaes,  pag.  l'J7. 

Douto  Paulino,  n  minha  mocidade 
Da»  Muiias  tempre.  foi  todo  o  disvolo ; 
K  dad  Ninf:i:4  a  tua  lie  Mongibelo 
Di:  agudo  frio,  c  ardcutc  actividade. 

íboàdk  de  jazeste,  I'0I£9Us,  tom.  2,   pag.  57. 

—  Entretanto,  no  entanto,  todavia. — 
«Nào  penso  tal,  por  niinlia  vida;  mas  di- 
rei sempre  que  sem  um  bom  diecionario 
de  .sviioii\'nio.s,  o  outro  do  origcii.s  ou  cty- 
mologico,  nunca  ehegaremo.i  a  fallar  uma 
lingua  perfeita  o  de  na(,ião  civilizada. 
Quem  so  occupará  «risso?  A  academia, 
que  iicou  no  azurrar  cm  o  primeiro  e 
ponderoso  volume  do  sou  vocabulário.» 
Garrett,  D.    Branca,  Notas. 

—  Sempre  (jue;  todas  as  vezes  que, 
quanta.s  vezos. 

—  Para  sempre;  perpetuamente,  eter- 
namente.—  «Por  que  nom  deva  do  car- 
regar, que  aja  a  pena  das  dita.s  quinhen- 
tas libras,  e  seja  deitado  de  vizinho;  e 
se  for  Mercador  de  fora,  pague  as  ditas 
quinhentas  libras,  e  nom  lhe  dem  todo 
nquolle  anno  carrega  em  essa  Cidade,  e 
ficará  a  postura  firme  para  sempre.»  Ord 


Affons.,   liv.   4,  tit.  5,  S   lí>- 


«Ponho 


03  olhos  no  vosso  vultn,  vejo  cousas,  que 
me  matam,  c  nenhuma  que  estorve  meu 
damno  :  pcra  mo  matar  todalas  mostras 
tem  vivas,  pêra  mo  ouvir  acho-a  morta  e 
todo^  assim  que  pêra  meus  males  espe- 
rarem algum  bem,  teuho  a  esperança 
perdida  e  pêra  sempre  viver  triste,  so- 
bejam-me  as  esperanças.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  109. 

Convoca  aa  alvas  filhas  di;  Xereo, 
Com  toda  a  mais  cerúlea  companhia  ; 
Que,  poniue  no  salgado  mar  nasceu, 
Das  aguas  o  podei-  lhe  obedecia  ; 
E  pro.iondo-lhc  a  causa  a  que  desceu. 
Com  todas  juntamente  se  partia, 
Para  estorvar  que  a  Armada  uào  chegasse 
Aonde  para  sempre  se  acabasse. 
cAM.,  Lus.,  caut.  '2,  est.  19. 

—  «E  que  ja  lhe  tinha  feito  hum  arre- 
messo avia  tros  mil  auuos,  o  que  dahy  a 
outros  três  mil  lho  avia  de  fazer  outro,  e 
que  assi  do  três  em  tros  mil  aunos  avia 
de  gastar  cinco  pilouros,  com  que  a  avia 
de  acabar  de  matar;  e  como  fosse  morta, 
avião  todos  aquelles  ossos  que  aly  csta- 
v.no  juntos  de  tornar  aos  corpos  cujos  an- 
tes foraõ  para  morarem  para  sempre  na 
casa  da  Ijua. »  Fernào  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  109.  —  a  Com  esta 
vitoria  se  tornou  o  Dclamethes  pêra  o 
Xatliamaz,  quo  o  reccbeo  honradissima- 
mente,  e  mandou  que  pêra  sempre  se 
fostoiasse  aquelle  dia  entre  os  Persaa, 
que  foi  a  dez  do  mez  de  Outubro.»  Dio- 


SEMS 

go  de  Couto,  Década  4,  liv.  8,  cap.  14. 
—  «Asai  quo  iicando  este  modo  de  viuer 
aos  Turciis,  o  o  do  Ale  aoa  Pursas,  fica- 
rílo  as  guerras  om  pè  pêra  sempre,  e  per- 
mitira Deos  lhes  durem  muit(js  aniio-í  pê- 
ra que  huns  com  outros  ae  cõsuinào,  e 
acabem.!)  Fr.  tliisparda  (Jruz,  Tratado 
das  cousas  da  China,  cap.  20. 

—  Para  todo  o  sempre;  porpotuamcn- 
te,  sem  fim. 

—  Uuasi  sempre ;  as   maia  daa  vezes. 

He  dcUcs  quasi  sempre  o  louro,  a  palma. 
O  mcsuio  cor.-Mjáo  seus  duros  ferros 
Por  cúmulo  do  horror,  cativo  abra(;a. 

J.   A.   DE  MACKOO,  MEDITAÇÃO,  CaUt.    1. 

Devendo  sor  do  mérito  a  coròa, 

Quasi  seinprf,  ho  do  crime  o  premio,  c  causa, 

K  estimulo  do  mal  nas  máoa  dos  homens. 

IDKJÍ,   VIAGEM  EITATICA,  CaUt.    i. 

—  Adágios  : 

—  Sempre  a  verdade  saiu  vencedora. 

—  Deus  consente,  maa  não  sempre. 

—  Sempre  promette  em  duvida,  pois 
ao  dar  ninguém  te  ajuda. 

—  Sempre  o  rabo  é  mau  de  esfolar. 

—  Q,uem  sempre  se  recata,  nunca  aca- 
ba nada. 

—  Quem  sempre  mente  vergonha  não 
aente. 

—  Quem  com  donas  anda,  sempre 
chora  _e  não  cauta. 

—  Aquém  ou  além,  veja  eu  sempre 
com  quem. 

—  Quem  mal  marida,  sempre  tem  que 
diga. 

—  A  mentira  sempre  é  vencida. 
SEMPREMENTE,    adv.   ant.   Vid.  Sim- 
plesmente. 

SEMFRENOIVA,  s.  f.  Ilerva  que  uào 
fenece  uo  inverno. 

SEMPREVERDE.  Vid.  Semprenoiva. 

SEMPREVIVA,  s./.  Termo  de  botânica. 
Género  de  plantas,  da  familia  das  com- 
postas. 

SEMRAZÃO,  s.  f.  Acção  desarrazoada, 
injustiça. 

SEMSABOR,  adj.  2  gen.  (De  sem,  e  sa- 
bor .  insípido,  desenxabido. 

—  Diz-se  da  pessoa  indiscreta,  desen- 
graçada,  sem  sal. 

Por  que  ?  dize,  semsabor, 
Vem  cum  fidalgo. 

AilTOXIO  FUKSCES,   ACTOS,   pag.    í'ti. 

Perdoe  vossa  mcrcí 
outorgar  sem  ver  porque  ; 
de  paruo  a  ncmrabor 
não  ha  medida  de  um  pó. 
IBIDEM,  pag.  -137. 

—  Tinto  em  semsabor  ;  iuaulso,  inepto, 
sem  graça. 

—  <!í.  m.  Cousa  que  causa  desgosto  le- 
ve, dissabor,  desprazer. 


SENA 

SEMSABORÃO,    s.   m.  Termo  popular. 
Pcn.soa  in.iipila,  sem  graça. 
SEMS./VBORIA,  «./.Insipidez. 

—  inépcia,  dito  aem  graça. 

—  Trato,  couveraaçuo  «tccante,  cnía- 
douha,  niatuiite. 

—  Figuradamente :  Falta  de  scioncia, 
de  t-aber,  de  sapiência;  indiacriçilo. 

SEUSAL,  adj.  J  gen.  Não  salgado,  fres- 
co. 

—  Sem  sabor. 

—  Figuradamente  :  Sem  graça,  insul- 
ao,  enfadonho. 

SEMVALOR,  adj.  2  gen.  Que  nSo  valo 
preço  algum. 

SEN,  aiit.  Sem. 

f  SENA,  s.  f.  Os  seis  signaea  pretos 
que  o  dadu  tem  n'uui  dos  seus  lados. 

t  SENACULO,  *.  VI.  Termo  de  historia 
antiga.  Lugar  onde  se  reunia  o  aeaado 
romano,  antes  de  entrar  na  cúria. 

SENADO,  s.  in.  ^Do  latim  aenatu»). 
Corpo,  junta,  assemblôa  de  senadores. 

—  Logar,  casa  onde  se  juntam  os  se- 
nadores. 

—  Termo  de  historia.  Conselho  perpe- 
tuo da  republica  romana,  inatituido  por 
Rómulo  e  abolido  por  Justiniano,  de|x>is 
de  mil  trezentos  e  vinte  e  um  annos  de 
existência.  Houve  também  o  senado  de 
Athenas,  e  o  senado  de  Sparta,  o  qual 
constava  de  vinte  e  oito  anciões  eleitos 
pelo  povo.  —  «  Cota  Tertuliano  que  Ti- 
bério César  antecessor  de  Calígula  pro- 
pôs ao  Senado  Romano  que  adorasse  a 
Christo  por  Deos  polias  nouas  que  delle 
escreveo  Pilatos  e  milagres  que  seus  dis- 
cípulos fazião,  e  como  o  Senado  o  nSo 
quiz  aceitar  por  Deos  pollo  ter  por  tào 
ambicioso  que  queria  ser.i  Paiva  de  An- 
drade,  Sermões,  part.  1,  cap.  75. 


Humilde  ob'doi,'o 
As  ordcHS  de  Catão. 

As  do  senado. 

OABKETT,  CATÃO.   SCt.    '2.    SC     1. 


Scraprouio  !  —  Ha  poucas  horas  a  mim  mesmo 
Se  me  gabou  que  ousara  no  senado 
Do.safiar  a  Dccio,  e  que... 
iBiDcu,  act.  4,  SC.  3. 


—  Em  alguns  paizes  onde  rege  o  sys- 
tema  representivo,  como  no  Brazil,  etc, 
a  camará  de  seuadorea  ou  o  senado  é  a 
camará  alta,  ou  a  primeira  camará. 

—  Senado  da  camará;  eoustava  de 
presidente,  vereadores  da  cidade  ou  vil- 
la,  juiz  do  povo.  mesteres,  escrivão  e 
almotacós;  actualmente  está  substituído 
pela  camará  nmnicipal. 

—  Senado  das  damaj;  senado  daa  mu- 
lheres estabelecido  pelo  imperador  HelicH 
gabalo,  no  qual  se  discutia  e  re^solvia  sem 
appellaçào  acerca  dos  privilégios  do  bello 
sexo. 

—  Príncipe   do  seneido ;   titulo  que  se 


SENA 


SENA 


SENA 


471 


dava  ao  senador  cujo  nome  se  tinha  ins- 
cripto  em  primeiro  logar  nas  taboas  de 
censor. 

SENADOR,  s.  m.  (Do  latim  senator). 
Magistrado,  membro  do  senado,  —  «O 
contentamento  de  taõ  bom  successor  co- 
mo Antonino  deixou  no  Império,  fez  com 
que  sua  morte  não  fosse  tão  sentida,  co- 
mo mereciaõ  as  grandes  virtudes  de  sua 
vida,  porque  sabendo  os  Senadores,  co- 
mo ao  tempo  de  morrer  mãdára  passar  a 
imagem  da  fortuna  para  o  aposíiito  de 
seu  genro  Marco  Aurélio.»  Monarchia 
Lusitana,  liv.  5,  cap.  14. 


N'um  Campo  militav,  vi,  sobro  o  muro. 
Atalaiando  C330  ermo,  um  logiouario  ; 
E  vi,  no  mesmo  prazo,  ommaranliar-se 
Nas  çarças  da  espessura,  Lúcia  toga 
Dum  Senador,  progénie  desses  Gallos. 

V.    U.    DO  NASCIMENTO,  03  MAHTrKES,  1ÍV.    10. 


Senadores,  da  pátria  é  que  ac  tracta, 
Da  liberdade,  e  do  quo  nos  incumbo 
Fazer  por  ambas  n'cstc  caso  extremo. 
Fallae  :  — >ranlio  c...  Sempronio. 

OAEEETT,   CATÃO,  act.    2,   80.    2. 


SENAL,  adj.  2  gen.  Diz-se  do  diamante 
em  bruto,  e  muito  miúdo,  que  nào  tem 
meio  grão  de  peso. 

f  SENAM.  Vid.  Senão.  —  «ElRey  Dom 
Joliam  meu  Avoo  da  esclarecida  memo- 
ria em  seu  tempo  fez  Ley,  per  que  de- 
fendeu que  nam  podessem  comprar  ou- 
ro ou  prata,  sanam  em  seu  caibo,  cm 
esta  forma  que  se  segue.»  Ord.  Affons., 
liv.  4,  tit.  3.  —  «Os  Portugueses  que 
sairam  em  terra,  eram  por  todos  mil,  e 
trezentos,  porque  os  demais  ficarão  em 
guarda  da  frota  com  alguma  gente  do 
mar  e  a  outra  mandou  Afonso  Dalbuquer- 
que  que  saísse  em  terra,  para  poer  fogo 
a  fustallia  dos  inimigos,  senam  ganhaso 
a  cidade  'los  quaes  deu  o  cargo  a  Antão 
vaz  mestre  da  sua  nao.»  Damião  de  Ctocs, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  11. 
—  «Começando  logo  de  descarregar  a  ar- 
tilheria  contra  a  nossa  frota,  o  que  ven- 
do Lopo  soarez  desembarcou  com  a  mor 
parte  da  gente,  lio  que  senam  pode  fazer 
com  tam  pouco  perigo  que  os  imigos  nam 
ferissem,  e  matassem  com  ha  artelharia 
alguns  Portugueses,  entre  os  quaes  foi  Ve- 
rissimo  pacheco.»  Ibidem,  part.  4,  cap. 
32.  —  «Camallo  notou  mui  bem  todo  o 
tempo  que  esteue  em  Cochim  o  processo 
dos  negócios  que  se  tractauam  sobresta 
armada,  a  qual  elle  assentou  consigo,  que 
nam  podia  ser  senam  pêra  ir  sobre  Diu, 
pelo  que  era  Diogo  lopez  indo  de  Co- 
chim pêra  Goa,  leuandoo  em  sua  compa- 
nhia, na  mesma  fusta  em  quo  viera.»  Ibi- 
dem, cap.  60.  —  «Nam  sou  pêra  dar  con- 
selho, senam  pêra  o  tomar  de  quem  me 
essa  esmolla  fizesse :  eu  lho  agradeceria. » 
D.  Joanna  da  Gama,  Ditos  da  Freira, 
pag.  22  (ediç.  1872). 


Tudo  acaba  senam 
amar  Doos  do  coraçam, 
e  seruillo  de  vontade  ■, 
todo  o  ai  hc  vaidade, 
e  cousas  quo  vem,  e  vam. 

a.    DE    REZENDE,   MISCELLANRA. 

—  «Depois  espantavase  muito  delRey 
chamar  quasi  a  mesma  cousa  Mouros,  e 
Christãos;  senam  era  por  saber  pouco 
de  huns,  e  nada  dos  outros.»  Lucena, 
Vida  de  S.  Francisco  Xavier,  liv.  4, 
cap.  4. 

SENÃO,  adv.  Excepto,  menos.  —  «Aca- 
badas estas  palavras,  a  copa  se  tornou 
tão  clara,  d'uma  ciíir  tão  viva  e  excellen- 
te,  as  lagrimas  tão  desfeitas  em  agua 
verdadeira,  que  todos  deram  a  ventura 
por  acabada,  senão  a  donzella,  que  sabia 
o  que  lhe  ainda  fallecia  pêra  o  ser. »  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  90. 

L4  vos  avinde  :  bem  sei 
que  não  gabámos  da  lei 
senão  o  que  faz  por  nós ; 
mal  me  lo  demande  Diós 
se  ao  que  tirastes  tirei. 

ANTÓNIO  PRESTES,  ACTOS,  pag.  119. 

—  «E'  cousa  rija  que  a  senhora  de 
casa,  de  tudo  seja  amiga,  senão  de  sua 
casa;  como  acontece  a  aqueilas,  que  ou 
perdem  a  casa,  porque  nunca  estão  n'el- 
la;  ou  porque  o  estar  n'eila  as  ajuda  a 
que  a  lancem  a  perder.»  Francisco  Ma- 
noel de  Mello,  Carta  de  guia  de  casa- 
dos. 

-—  Equivale  aos  advérbios :  somente,  sú„ 
unicamente,  precedendo  preposição  nega- 
tiva. —  Nào  espero  senão  que  te  vás;  isto 
é,  só  espero  que  te  retires. — «Não  me 
conforteis,  que  eu  fuy  tão  mao  bicho,  que 
nunca  me  acenarão  que  não  mordesse :  e 
com  muytas  lagiimas  o  assinou,  e  porque 
lhe  falauão  por  Alteza  como  soyão,  disse: 
Não  mechameys  Alteza,  que  não  são 
senão  hum  saco  de  terra,  e  de  bichos.» 
Garcia  de  Rezende,  Chronica  de  D.  João 
II,  cap.  212.  —  fE  se  pegava,  dava  lu- 
gar a  que  o  apagassem,  com  que  a  gente 
da  terra  tinha  assas  de  trabalho;  porque 
como  este  era  o  seu  aposento,  não  havia 
outro  amparo  senão  aquella  pouca  de 
olla,  de  que  as  casas  eram  cubertas,  e 
defendia  a  ellas  do  Sol,  e  chuva,  porque 
ambas  estas  cousas  escaldava  aquella  po- 
bre gente  da  terra.»  Barros,  Década  1, 
liv.  6,  cap.  9. 


Porém  não  hei  de  casar 
Sen~io  com  home'avÍ3ado : 
Ainda  que  pobre  pellado. 
Seja  discreto  em  fallar. 
Eu  TOS  trago  hum  bom  marido. 
Rico,  honrado,  conhecido. 

GIL  VICENTE,  FARÇAS. 


«Dizei  a  Astribor,  que   eu  não  sou 


o  que  deseja  achar ;  porem  conheço-o 
muito  bem,  e  sei  quo  matou  Dramorante 
com  todos  seus  cavaileiros  como  muito 
esforçado;  e  que  entregar  minhas  armas 
não  o  farei,  senão  em  parte  onde  mais 
seguridade  tivesse.  Pois  convém,  disse  o 
escudeiro,  que  em  quanto  torno  com  es- 
sa resposta  vos  defendais  daquelles  qua- 
tro cavaileiros,  que  tem  de  costume  to- 
mal-as  por  força  ao  que  as  não  quer  dar 
por  vontade.»  Francisco  de  Moraes,  Pal- 
meirim d'Inglaterra,  cap.  96.  —  «O'  Al- 
fernao,  quam  asinha  as  obras  damnadas 
nascidas  de  máos  pensamentos  acham  seu 
pago,  que  bem  creio  eu  que  esta  fortuna 
e  tormenta  não  nasceu  senão  de  nossos 
merecimentos,  aqui  alcança  a  justiça  di- 
vina, nascida  de  pouca  razão,  que  havia 
pêra  matar  este  cavalleiro,  que  aqui  le- 
vamos, que,  se  elle  matou  meus  irmãos, 
fez  o  que  devia,  que  os  venceu  em  bata- 
lhas iguaes  de  um  por  um.»  Ibidem,  cap. 
115. —  «A  este  tempo  o  cavalleiro  do 
Tigre  e  seus  companheiros  se  chegaram 
sem  nenhum  impedimento,  e  todos  jun- 
tamente entraram  dentro,  onde  logo  co- 
nheceram, que  a  victoria  daquella  casa 
de  razão  não  convinha,  senão  a  quem  a 
houvera,  tendo  por  isso  em  muito  mór 
estima  a  sciencia  de  Urganda  :  que  nella 
estava  a  sua  livraria,  e  alli  era  o  seu 
estudo.»  Ibidem,  cap.  120.  —  «Dauid 
vendo  o  pouo  afligido,  e  que  não  tinha 
que  allegar  por  elle  senão  males,  allega- 
Ihe  com  o  cõcerto  que  tinha  feito  cõ  o 
pouo  de  Israel,  que  nunca  em  ninhum 
tempo  os  havia  de  destruir  de  todo.  E 
parecenie  que  allude  a  hum  lugar  do  Le- 
nitico,  no  qual  antre  outras  cousas  que 
diz  deste  concerto  de  Deos  diz  ctas  pa- 
lavras.» Paiva  d'Andrade,  Sermões,  part. 
1,  pag.  223.  —  «E  por  escusar  de  cotar 
tudo  o  que  se  passou  n'ellc,  porque  he 
cousa  para  se  não  crer,  não  dircy  mais 
senão  que  o  Nautaquim  levou  o  Zeimoto 
nas  ancas  de  hum  quartao  em  que  hia, 
acompanhado  de  muyta  gente,  e  quatro 
porteyros  com  bastões  ferrados  nas  mãos.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações, 
cap.  134.  —  «E  sobre  tudo  naõ  conhece 
a  Deos  senaõ  pela  luz  escura  da  Fé,  ou 
pela  da  razaõ,  que  he  muito  diminuta; 
e  os  mayores  Theologos  despois  de  tra- 
balharem muito,  huns  portos  naõ  alcan- 
çaõ  a  declarar,  outros  enchem  de  opi- 
nioens,  e  em  todos  mais  dizem  o  que 
Deos  naõ  he,  do  que  dizem  o  que  he.» 
Padre  Manoel  Bernardes,  Exercicios  es- 
pirituaes,  part.  1,  cap.  322. 

Mas  para  que  i^odessc  dar  effbito 

A  esta  difficuldadc  que  pertende, 

Junto  CO  03  pés  e  mãos  este  direito 

Mastro,  aquelle  atrevido  logo  prende  ; 

Ja  cora  gràa  força  o  abraça,  e  o  chega  ao  peito, 

Ora  se  encolhe  todo,  ora  se  estende, 

E  caminhando  ao  Ceo  desta  maneira 

Nào  pára  semo  lá  junto  á  bandeira. 

F.    d'aNDBADE,   PBIJIF.IBO  CEBCO  DE  DIU,  Caut.    12, 

est.  42, 


472 


SENA 


—  «Ertta  carta  cnculjrio,  o  não  mos- 
trou senão  h  alguns  Fiiliil^im  muito  aiiú- 
fíos,  «[lUi  fifaraiii  com  cila  ahalailo.s;  e 
httvouilo  hoIjio  irido  consuliio,  a-isoiitou-so, 
quo  OHcrevosHC  o  í.ioviíriíailov  a  Cliristo- 
vJlo  lio  .SoiiHa,  o  Uioi  notilica8.se  a  prizào 
do  Poro  Madcarouliart,  c  como  «a  fizera 
por  con.sciitlmoiito  «le  toilos  os  Fidalfíos, 
sem  owtromlo,  noin  ilivi.sào  alguma.»  Dio- 
go do  Couto,  Década  4,  liv.  2,  cap.  7. 
—  «E  «cm  temor  irEIRcy  ho  foi  a  Or- 
muz, deixando  a  liniia  toda  do  guerra, 
e  lá  foz  nuiitoH  desorvií^o.s  a  El  Hoy, 
e  multa.s  moi-oês  a  muitos  homens  jicra 
03  ter  de  sou  bando,  o  quo  não  podia 
fazer  por  governar  om  meu  lugar ;  o 
mercês  não  aa  piklc  fazer  senão  hum 
Si)  (iovornalor,  especialmoiite  do  dinliei- 
ro.i)  Ibidem,  cap.  0.  —  «Ay  daquoUos 
cujos  cuidados  o  pensamentos  iiaõ  sani 
outios  senão  in)|ioJir  estj  spiritual  con- 
cobimeuto  o  <lc.struir  esta  diuiua  íiliai,'am, 
quaos  craij  aquellos  aos  quaes  dczia  san- 
cto  í]steuam,  U  duros  e  reueis:  vos  sem- 
pre resostistos  ao  Spirito  sancto. »  Fr. 
Bartholomou  ilos  Martyres,  Catecismo  da 
doutrina  christã.  —  «Faltava  P^mbaixa- 
dor,  o  Conduetor  do  S.  A.  11.,  e  ninguém 
duvidava,  quo  paríi  lugar  taõ  graúdo  naõ 
havia  outra  pessoa  no  Reino,  senão  o 
Duque  D.  Nuno  Alvares  iVreira  de  Mel- 
lo Mestre  de  Campo  General  junto  á  Pes- 
soa do  S.  Alteza  o  Príncipe  D.  Pedro.» 
Fr.  Bernardo  do  Brito,  Elogios  dos  reis 
de  Portugal,  continuados  por  D.  José 
Barbosa.  —  «Foy  pêra  elle  esta  noua 
huma  das  mayores,  segundo  depois  nos 
contaua,  que  muytos  annos  auia  tiucra, 
porque  estaua  sò,  e  nam  tinha  copia  do 
Cõf  ssor,  senão  ora  om  Mombai^a,  que 
dali  estaua  sessenta  legoas,  onde  ollo  ca- 
da anuo  uPio  po  lia  ir  mais  que  huma,  ou 
duas  vozes.»  Fr.  Gaspar  da  Cruz,  Tra- 
tado das  cousas  da  China,  cap.  6. 

—  Aliás,  quanilo  n.ão.  —  o  Pois  con- 
vém, disso  o  turco,  que  todavia  vos  deis 
a  prisão,  senão  morrereis.  Nisto  chegou  a 
fermosa  Targiana  onde  seu  pai  estava,  o 
vendo  a  detoi-miuação  doUc,  so  lançou  a 
seus  pes,  peillndo-lbo  que  não  fizjssc  ta- 
manha crueza  ora  homens  quo  lh'o  não 
mereciam,  trasendo-lhe  a  memoria  as 
honras  que  recebera  em  casa  do  impera- 
dor, o  gasalhado  e  amor  com  que  sem- 
pre a  tratara,  e  o  serviço  quo  lhe  depois 
fizeram  no  niar.i'  Francisco  do  Moraes, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  96.  —  «O 
cavalloiro  do  batel  veudo-o  tão  mettido 
no  esquecimento  da  batalha,  o  tomou 
por  um  braço,  o  disso:  Senhor  cavalloi- 
ro, quem  comigo  ha  do  entrar  om  campo 
não  lho  convêm  passar  o  tempo  ora  des- 
cuidos :  tornai  em  vós,  senão  tomarei  o 
escudo,  que  não  posso  esperar  tanto  em 
tempo  do  tanta  pressa.»  Ibidem,  cap.  110. 


Foniando,  não  zombam  comvoseo, 
bom  vos  podeis  assentar. 


SENA 

Wifl  hoiii-m(i  do  barbear 
mui  bem,  urnào  lo^o  mosco. 

ARroNio  FBKaricB,  Auros,  pag.  343. 

—  Conj.  Mas.  —  «  Por  certo  ou  o  ca- 
valleiro  6  porá  muito,  ou  esta  oflonca  nào 
m'a  foz  ollo,  senão  viis,  que  por  vos  con- 
tentar, ou  jjarecor  bem,  so  offereco  a  ta- 
manha cousa.  Inda  o  imperador  não  aca- 
bava estas  ]ialavras,  quando  viu  vir  voan- 
do lloramonte,  (pio  om  sua  corto  c  cm 
toila  a  parto  era  tido  ]ior  csjjucial  caval- 
loiro, ficaiulo  o  outro  tào  inteiro  na  sella 
como  80  o  nào  tocaram.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  111. 

—  Senão,  por  se,  o  não.  Devem  oscrc- 
vor-se  .separadamente.  —  «  A.-^sistirào  cora 
ello  Maxiuio  Arcebispo  do  Merida,  Folix 
do  Biaga,  Faustino  do  Sevilha,  e  Veia 
do  TaiTagona  com  os  mais  que  deixo  do 
reforir  por  senão  acharem  seus  nomes  nos 
originaes,  onde  oste  Concilio  se  escreve.» 
Mouarchia  Lusitana,  liv.  (3,  cap.  '29.  — 
«  Trazem  as  barbas  pelladas,  e  o  caboUo 
da  cabeça  moo  tosquiado,  encrespado  pcra 
riba  sem  so  cobrirem,  porque  dizem  que 
sobella  cabeça  do  homem  senão  a'ie  puer 
cousa  nenhuma,  o  tem  por  injuria  tocar- 
Ihcs  alguém  com  a  inain  nella,  sobello 
quo  se  matão  muitos,  pelo  qual  respeito 
nain  fazem  casas  sobradas,  por  lhas  nin- 
guém andar  soboUa  cabeça.»  Damião  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3, 
cap.  41.  —  «E  porque  os  nossos  senaõ 
desmandassem  no  alcance,  mandou  logo 
fechar  todalas  portas,  dando  graças  a  Dcos 
da  merco  que  lhe  fezera,  de  cora  tam 
pouca  gente  tomar  huma  tal  cidade,  tam 
proui  la  de  gente,  artelharia,  o  todalas 
outras  cousas  uccossarias  para  se  ilofcn- 
dor. »  Ibidem,  cap.  11.  —  «  Por  esta  causa 
usavaij  ainda  na  paz  dos  Exércitos  Mili- 
tares, posto  que  fingidos;  para  que  quan- 
do lhes  fossem  necessários  senaõ  acharem 
bizonhos,  mas  destros  nelles.»  Jlanoel 
Sevorim  de  Faria,  Noticias  de  Portugal, 
Disc.  2,  cap.  1.  —  «As  Caldeiras,  quo  o 
peudaõ  levava  por  divisa,  tiveraõ  sua 
origem  do  pouco  dinheiro,  quo  entaõ  ha- 
via era  Hespanha;  por  cuja  causa  senaõ 
dava  aos  Soldados  soldo  do  dinheiro,  mas 
mantimento.»  Ibidem,  Disc.  3,  cap.  20. 
—  «  Ha  nella  minas  de  ferro,  e  cobro  das 
quaos  os  naturaes  senão  aproucytão,  que 
parece  inda  a  malicia  humana  nã  cliegou 
entre  esta  gente  a  desentranhar  da  terra 
o  metal  que  a  tantos  enterra  nella.  loào 
liothero  cm  sua  relação  vniucrsal  diz  ter 
também  minas  do  prata.  Na  guerra  pe- 
leyjão  sem  ordem,  e  a  sua  mais  ordinária 
he  nunca  a  torein.»  I'''r.  (íaspar  da  Cruz, 
Tratado  das  cousas  da  China,  cap.  2.  — 
t  Nos  quaes  passamos  cò  chuuoyros,  as 
Ilhas  do  Quilôa,  Mòfia,  o  Zãzibar,  sem 
as  vermos,  ate  que  aos  6  de  Abril,  che- 
gamos à  Ilha  do  Pomba  sem  conheeerraos 
estar  nella.  Autos  dos  (juo  a  vimos  cuv- 
damoa  ser  Zanzibar,  porque  nos  dias  em 


SEN  D 

que  a  pa8.4amo8,  goucrnauasc  ao  naciuo, 
ou  juda  faiitozia,  por  senão  poder  tomar 
o  Sol,  qu(5  do  no»  <iii'lo  se  andaua  <i8con- 
dondo,  •  Ibidem,  cap.  3.  —  t  A  qual  cob- 
tuiiião  ter  excripta  na  rua  liii^roa  llcbrea, 
cm  duas  cartas  de  porgamiidio  inuy  gran- 
des, nictidati  om  huns  cayxues  feytos  a 
nio  lo  lie  roda  de  freyraa,  ourulla<loH  ora 
humas  columnas  de  p;u)  delgadas,  por  se- 
não cortar,  como  cu  vi  na  Ilha  de  Gul- 
phò,  onde  elles  não  ialt.lo.»  Ibidem,  ca- 
pitulo 12.  —  «  Ora  ain<la  disto  naco  ou- 
tro mal  a  meu  juizu,  não  menor,  que  he 
o  descrédito  do  Evangelho,  e  das  virtu- 
des, porque  como  as  obras  eaò  de  vici<w, 

0  os  nomes  de  virtudes,  ficaõ  poilos  no- 
mes homens,  e  a!guma.s  molhercs  que  se- 
não doyxào  arra.'^tar  vergordiosamente  por 
movimentos  iiii]ictuoso8.i  (Javalleiro  de 
Oliveira,  Cartas,  liv.  1,  n."  13.  —  tQuan- 
do  huma  desconfiança  semelhante  se  in- 
troduz na  alma  débil,  o  aborrecimento 
acha  também  com  facilidade  o  seu  lagar, 
porem  como  nes.se  cazo  senão  p<^de  des- 
terrar o  amor  inteyraniente,  sofre  o  spi- 
rito dezordens  incxpliciveis  sendo  proce- 
didas de  payxoens  om  tudo  opostas,  i 
Ibidem. 

—  Senão  <fianto;  m  com  a  differença, 
cora  o  desconto. 

—  Senão  «<-;  salvo  se,  excepto  se. 

—  Senão  guando ;  de  repente. 

—  ti.  m.  Defeito,  falta,  mancha. — 
Não  ha  formoêa  tem  senão.  —  Humem 
bom,  muito  honrado,  e  sem  senão. 

Somente  a  a.spereza, 
De  vos.ía  condirão, 
Senliora,  uam  disâcra 
Por  que  senão  soubera 
Que  cm  viís  podia  haver  algum  «ij^o. 

CAM.,  CANÇÃO  5. 

SENARIO,  arlj.  (Do  latim  senarius). 
Diz-se  do  numero  que  se  compõe  de  seis 
unidades. 

—  Termo  de  litteratnra.  Diz-se  do 
verso  latino,  composto  de  seis  pés,  regn- 
larmcnte  jainbicos. 

SENAS.'  Vid.  Sena. 

—  Termo  de  alveitar.  Diz-se  das  veias 
que  estão  por  cima  dos  olhos. 

SENATORIO,  aHj.  (Do  latim  seiutto- 
rius).  Perteucentc,  ou  relativo  ao  sena- 
do, ou  aos  seiuidores. 

SENATUS  CONSULTO,  s.  m.  (Do  latim 
senatiiíi  ciinsultiimi.  Decreto  ou  determina- 
ção do  senado.  Só  se  diz  dos  decretos  que 
dictava  o  antigo  senado  de  Roma. 

—  As  deliberações  do  senado  conser- 
vador de  França  também  tinham  eete 
nome. 

SENDA,  í.  /.  Vereda,  caminho  estreito 
por  onde  cabo  só  uma  pessoa,  ou  um 
animal. 

—  Vereda,    qualquer    caminho,    aind»! 
que  n.ío  seja  estreito. 

1  —  Figiu-adamente : 


SEND 

He  meu  propvio  C3tc  dom  ;  por  mim  descobrem 
Que  lie  só  feliz  na  Terra,  hc  Sábio,  he  Grande 
Quem  8c  domiua  a  si.  Guia  incorrupta 
He  minlia  luz  nag  sendas  intricadas, 
Por  onde  a  vida  humana  incerta  corro, 
Ignara  de  seu  fim,  da  origem  sua. 

J.   A.    PE  MACEDO,   VIAGEM  EXT.ATICA,    Cant.    2. 

—  Conilucta  boa  ou  má. 

—  Caminho    da   virtude,    caminho    do 
vicio. 

SENDAL,  .í.  m.  Tecido  Uno  de  cobrir  o 
corpo. 

O  corpo  ferraosissimo  se  cobre 

De  hum  sendal  claro  azul,  qu'estrellas  bordão. 

Na  dextra  mão  sustenta  huma  grinalda, 

De  pedraria  Oriental  composta, 

E  acena  de  cingir  com  cila  a  fronte. 

J.    A.    DK   MACEDO,   VIAGEM  EXT.VTICA,  Cant.    .S. 

—  Ant.  (4uarp.içrío  de  vestidos. 

—  Liga  da  meia. 

—  Veu  fino,  que  serve  para  cobrir  o 
rosto. 

—  Termo  de  cirurgia.  Ligadura  de 
panno  muito  fino  ou  seda,  que  se  põe  na 
duramater  descoberta,  para  que  se  não 
ofFenda  nas  esquirolas. 

—  Adagio  : 

—  As  mãos  do  official,  envoltas  cm 
sendal. 

SENDAS.  Vid.  Sendos. 

SENDEIRO,  s.  »!.  Qnartáo  mau,  cavai- 
lo  que  uài)  é  de  marca,  nem  pôde  servir 
para  a  guerra. 

-f  SENDO.  Gerúndio  do  verbo  ser.  Yid. 
Ser.  —  a  E  com  esta  fama  foi  a  cousa  em 
tanto  crescimento,  que  sendo  já  lá  de- 
zoito homens  de  gente  vil,  começou  en- 
trar no  coração  de  algumas  pessoas  de 
mais  qualidade. »  Barros,  Década  2,  liv.  6, 
cap.  9.  — ■  a  'E  pêra  dar  maior  contenta- 
mento a  Affonso  d'Alboquerque  com  sua 
chegada,  além  de  ir  carregado  das  vito- 
rias que  houve  naqaellas  partes,  e  de  es- 
peciaria, sendo  tanto  avante  como  os  bai- 
xos de  Capaiia,  topou  António  de  Miran- 
da d'Azevedo,  que  vinha  do  Reyno  de 
Sião.»  Ibidem,  liv.  9,  cap.  5. 


SEND 

atraz  se  conta,  como  não  tivesse  outros 
filhos,  e  a  estes  amasse  de  perfeito  amor 
de  mãe,  sendo  certificada  de  sua  ixiorte, 
nào  mostrou  sentimento,  segundo  as  mu- 
lheres co.numam.»  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  114.  — 
«Nào  dou  eu  tão  barato,  disse  o  das  Don- 
zellas,  as  cousas;  que  muito  estimo  mas 
com  tudo  façamos  o  que  havemos  de  fa- 
zer, e  seja  este  o  partido,  que  vencendo 
eu,  fique  o  cavallo  comigo,  e  sendo  ao  con- 
trario, fique  em  sua  esc  dha  delia  com  qual 
de  nós  se  contenta.»  Ibidem,  cap.  127. 

E  fendo  assi  que  o  nó  desta  amizade 
Entre  viis  firmemente  permaneça. 
Estará  pronipto  a  toda  adversidade, 
Que  por  guerra  a  teu  reino  se  ofieroca, 
Com  gente,  armas,  c  nãos... 
CAM.,  LL-s.,  cant.  7,  est.  G.ii. 


SENE 


473 


Que  fará  o  desamado, 
E  sendo  desesperado 
Do  favor  ? 
Moça.  Ora  dá-lhe  lá  favores  ! 

Velhice,  como  te  enganas! 

Gir,   VICENTE,    FABÇAS. 

—  «De  maneira  que  assi  como  crecia 
no  corpo,  e  hidade,  crecião  nelle  virtu- 
des, bons  costumes,  bom  ensino,  e  boas 
manhas  em  tanto  crecimento,  que  sendo 
muyto  moço  veo  logo  a  ganhar  tanta  au- 
ctoridade  com  os  pouos,  com  os  nobres,  o 
com  el  Rey  seu  pay,  que  não  fazia  con- 
selho, nem  cousa  grande,  em  que  o  não 
metesse,  e  tomasse  seu  parecer.»  Garcia 
<le  Rezende,  Chronica  de  D.  João  II,  cap. 
í?.  —  «Diz  a  historia  que  Colambar,  mãe 
de  Bracolão  e  Balleato  gigantes,  que  o 
do  Salvagem  matou  em  Irlanda,  segundo 
vÒL.  V.  — (30. 


—  «De  muvtas  nãos  que  tome  no  ter- 
reiro,   escapara   huma  por   marauilha:  e 
sendo   este  tara  cruel    cossaii-o    no    tem- 
po da  tormenta,   nam  faltam  outros  pêra 
o   da   bonança:    porque    em    todo  o   mar 
do    Oriente    nam    ha    tantos,    nem    tam 
deshumanos   ladrões.  »    Lucena,   Vida  de 
S.  Francisco  Xavier,   liv.   G,    cap.  8. — 
«  Contra    a   terceira    he    que    diz    bem, 
se    todos   os    Oppositores   foraõ   filhos  do 
mesmo   pay,    assim    como   eraõ   netos  do 
mesmo  avô;    porque  entaS  o  mais  velho 
seria   o    Morgado,    Príncipe,    e    legitimo 
herdeiro :  mas  sendo  filhos  de  difterentes 
pays,    como   eraò,    devia-se    o    direito   sii 
áquelle,  cujo  pay  o  tinha  :í  coroa.»   Arte 
de  furtar,  cap.  16.  —  «Seria  incompará- 
vel a  grandeza  deste  Príncipe  se  se  ex- 
perimentassem na  Corte  as  mesmas  feli- 
cidades,   que    na    campanha.   Hum  acci- 
dente    de    ar  que   lhe   tomou  metade  do 
corpo    sendo   ainda    menino    lhe    deixou 
menos  livres,  e  mais   confusas  as  opera- 
ções do  entendimento.»  Br.  Bernardo  de 
Brito,  Elogios  dos  reis  de  Portugal,  con- 
timiados    por   D.    .José    Barbo.^a.  —  «Ho- 
mens d'estes:  de  maneira,  que  desta  sol- 
dadesca, que  tanto  custa  à  Fazenda  Real 
a  pôr  na  índia,  se  perde  a  maior  parte, 
sendo  a  causa  o  desamparo,  com   que  sè 
trataõ  os  soldados  naquelle  Estado.»  Ma- 
noel Severim  de  Faria,  Noticias  de  Por- 
tugal,   Disc.    1,    cap.    3.  —  «Porém   de- 
pois   da   entrada    dos   Mouros,    sendo   o 
poder    dos  Reys  Christãos  muito    peque- 
no,   6  naõ    podendo    resistir  sempre    no 
campo,   se  recoUiião   às  Cidades,  e  como 
estas    estavaõ    sempre     em    Fronteiras 
assim    como    as    tomavaõ   lhe   nomeavaò 
Capitão,     para    que    com   os    moradores, 
que  também  faziaõ  oflicio  de  soldados,  se 
defendessem,    e  vigiassem   perpetuamen- 
te,   e  o    mesmo    fizião   os    Mouros,    pela 
continua   guerra,  que   lhes   os  nossos  fa- 
ziaõ.» Ibidem,  Di.sc.  2,  cap.  ]2.  —  «Sua 
figura  hc  como  Pyramidal,   sendo  a  baza 
toda^a  terra,  que  jaz  deste  cabo  de  Guar- 
da Fuy,  ate  o  cabo  do  Espichel,  em  cuja 


distancia   auerà   bem   perto   de   duas  mil 
legoas,    sendo  a   terceyra  a   do  cabo  de 
Boa  Esperança;    ficando   todas  três  muy 
apartadas,  e  distantes.  A  primeira  come- ' 
çando  das  partes   do  Oriente  he  esta  de 
(Tuarda    Fuy,    que    entrando    pelo    mar 
Roxo  fica  à  mão  esquerda.»  Fj-.   Gaspar 
da  Cruz,   Tratado  das  cousas  da  China, 
cap.    7.  —  «O    estado    da   perfeição    dos 
bispos  são  poucos  os  theologos  que  o  ex- 
plicam   bem.    Consultando    eu  muitos,  o 
que    me    pareceu   melhor    foi    Soares,    o 
grande,    que   diz:   consiste  na  disposição 
do  animo  para  obras  heróicas.  Preparado 
estou  para  oôerecer  fazenda  e  vida,  sen- 
do necessário,  pelo  meu  povo.»   Bispo  do 
Grão  Pará,  Memorias,  publicadas  por  Ca- 
millo  Castello  Branco,  pag.  29.  —  «  Não 
foi   convidado  o  cardeal  Àccinoli,   sendo 
núncio  actual,  por  estar  a  corte  mal  sa- 
tisfeita do  seu  proceder,  pelo  que  respei- 
ta aos  jesuitas,  tomando  o  partido  do  car- 
deal Rezzonico  que  os  favorece  e  é  nepo- 
te  do  papa  reinante  Clemente  xii.»    Ibi- 
dem, pag.  104. —  «Chega  o  desattento  a 
tanto,    que  n'este  trajo  se  acceitam  visi- 
tas ;  e  é  cousa  muito  para  evitar,  por  ser 
tão    pouco    airosa  para   quem  a  offerece, 
como  para  quem  a  recebe.  Ambas  as  pes- 
soas  desestima   quem  a  sua  mostra  sem 
compostura  a  outra  pessoa.   Ao  que  bem 
alludia  um  cortezão,  que  sendo  convida- 
do de  um  amigo,  e  d'elle  mal  agasalha- 
do, lhe  disse  :  Nào  cuidei  que  éramos  tão 
amigos.»     Francisco    Manoel    de    Mello, 
Carta  de  guia  de  casados. 

SENDOS,  aJj.  pi.  ant.  Diz-so  de  dous 
objectos  da  mesma  natureza,  que  se  refe- 
rem, ou  pertencem  a  duas  pessoas,  le- 
vando ou  tendo  cada  uma  o  seu.  —  Iam 
em  sendos  cavaUos ;  isto  é,  cada  um  d'el- 
les  levava  o  seu  cavallo. 

1.)  SENE,  s.  m.  Herva  usada  em  me- 
dicina como  purgativa. 

■  2.)  SENE,    aclj.  2  gen.  ant.    CDo  latim 
senex^.  Velho,  idoso,  ancião,  decrépito. 
■    SENEBIERA    s.  /.  Termo  de  botani- 


plantas   da   família   das 


seneca ; 


ca.    Género    de 
cruciferas. 

1.)  SENECA.  Vid.  Arsénico. 

2.)  SENECA,    s.   m.  —  FaUai 
sentencioso,  discreto, 
^  SENECA,  ou  SENEGA,  s.f.  Polygala  da 
A'irginia,  raiz  medicinal. 

"}■  SENECIO,  s.  VI.  Termo  de  botânica. 
Género  de  plantas  da  familia  das  com- 
postas, que  contem  muitas  espécies,  al- 
gumas das  quaes  teem  propriedades  me- 
dicinaes. 

T  SENECIONIDEAS,  s.  f.  pliir.  Termo 
de  botânica.  Tribu  de  plr.ntas,  da  familia 
das  compostas. 

^  -j-  SENECTO,  adj.   (Do  latim  senecius). 
Velho,  ancião,  de  edade  provecta. 

SENECTUDE,  s.  /.  (Do  latim  senecfus, 
utis).  Senio,  senilidade,  velhice,  edade 
provecta. 

SENEDRIM.  Vid.  Synhedrim. 


474 


SKNII 


SEN  II 


SENH 


f  SENEGALI,  ».  III.  Tmiut  dn  zoologia. 
Sub-gonoro  ile  aves  «la  oniuiii  'los  pas-^a- 
ros  o  (lo  píiiioro  parilal,  cuja  CHpcuio  ty- 
pica  lial)ita  no  Si;iui;,'al. 

SENEirUDE.  Vi'l  Senectude. 

SENEMBI.  Vil.  Iguana. 

SENESCAL,  ou  SENECHAL,  s.  m.  Eui 
alguim  jiai/.c.-i,  inorloiiio-iinn",  suporiutcn- 
donto,  oii  vodor  (l;i  casa  roal. 

—  Cliefo  ou  cabeça  principal  da  no- 
breza (lo  povo  íjuc  a  governa  o.spocial- 
nicnto  oní  ti-nipo  <lc  guerra. 

—  Juiz  supremo,  ou  governador  da  re- 
publica ou  reino,  ou  do  alguma  parte 
d'cl[e. 

■[  SENESCALIA,  *.  /.  (Dj  senescal). 
Dignidade,  cargo  ou  emprego  de  senes- 
cal. 

—  .Turisdicção  do  seno^cal. 

—  Logar  onde  o  senescal  exerce  ou 
exercia  a  justiça. 

SENGO,  fvlj.  aiit.  Prudente,  sábio,  avi- 
sado,  sabedor. 

—  r)Í3.simulado,  que  obra  calando.  = 
Usado  na  jirovincia  da  Reira. 

NiMii  oUo  o  triste  mostrongo 
Lhe  ha  de  valer  o  aor  sciiyo. 

I".    MANOKI.  I>K  MEI.LO,    ODIIAS  MÉTRICAS, 

pavt.  2,  fl.  249,  col.  2,  em  lUutoau. 

SENGRADURA,  s.  /.  Vid.  Singradura. 

SENHA,  .'>■.  /.  Signal;  indicii  sensivcl 
que  serve  para  indicar  alguma  cousa  ou 
vir  em  seu  conlieciniento. 

—  Aceno,  gesto,  etc,  conhecido  e  com- 
binado entre  duas  ou  mais  pessoas  para 
se  entenderem. 

—  Moeda  do  chumbo  que  cada  loja  de 
genei"os  tem  com  a  sua  marca  particular, 
para  dar  as  demasias,  quando  vendem 
alguma  cousa,  que  vale  menos  de  um 
real,  e  que  por  isso  suppre  as  moedas 
mais  Ínfimas. 

—  Termo  militar.  Signal  o  nome,  que 
SC  ajunta  ao  santo,  nas  praças  de  armas, 
para  se  reeonheccrom  as  patrulhas. 

—  Senha  <le  //«caíco;  Contramarca. 
SENHEDRIM.  Vid.  Synhedrim. 

1.)  SENHO.  Vid.  Cenho. 

•2.)  SENHO,  (fij.  Vid.  Senhor. 

SENHOANEIRO,  ou  SENHOANNEIRO, 
«((/.  (int.  |)o  cada  anno,  annnal.  Vid. 
Sanhoaneiro. 

SENHOR,  s.  Ȓ.  Dono,  po.ssuidor,  pro- 
prietário de  qualquer  cousa,  quo  tem  do- 
mínio sobre  cila.  —  «E  tanto  quo  o  pre- 
ço for  pagado,  ou  offerecido  ao  vendedor, 
logo  esse  comprador  he  feito  senhor  da 
cousa  comprada;  e  nom  pagando,  ou  of- 
ferecondo  logo  o  dito  comprador  o  dito 
preço  ao  vendedor,  poderá  cUe  cobi-ar  a 
dita  cousa  do  comprador  assi  como  sua, 
quando  quiser.»  Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit. 
60,  §  3.  —  «E  o  que  mais  dano  lhe  fez, 
foy  a  morte  de  seus  parentes  o»  sete  In- 
fantes de  Lai'a,  fillios  de  Gonçalo  Gustio.s, 
senhor  da  Villa  de  Salas,  junto  a  Burgos 


(quo  jíl  vimoH  acima,  om  que  gruo  era 
doHCondentf,  do  (."onde  Dom  Diogo  l'or- 
cellosj  e  il<!  Dona  Sane  ia,  natural  do  Ija- 
ra.»  Monarchia  Lusitana,  liv.  7,  cap.  2'). 

—  o()  estrondo  destes  primeiros  encon- 
tros foi  tamaniio  que  parecia  outra  cousa 
maior,  licando  polo  campo  muiton  cavai- 
los  sem  senhores:  e  olles  no  cli.lo,  c  al- 
guns maltratados.»  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  dlnglaterra,  cap.  12.  —  «Cora 
a  chegada  ilo  junco  ficou  ellc  senhor  da- 
(piei la  passagem  de  maneira,  (|ue  a  gen- 
te da  maior  povoaçilo  ria  Cidade,  (pie  era 
da  parte  de  Upi,  nilo  podia  pa<sar  a  ou- 
tra onde  El-Rey  vivia,  que  AflFouso  de 
Alboquerque  tomou.»  Diogo  de  Couto, 
Década  2,  liv.  6,  cap.  õ.  —  «Gabo  mui- 
to, senhor  meu,  um  conservar  nas  casas 
certos  costumes  nossos  familiares,  o  aTi- 
tigos,  que  as  fartam,  alegram,  c  agasíi- 
lliam,  corroborando  de  novo  o  amor  que 
se  tem  ao  senhor  da  casa.»  l"^'ancisco 
Manoel  de  Mello,  Carta  de  guia  de  ca- 
sados. 

—  Soberano,  chefe,  dominador,  poten- 
tado ;  o  que  possue  algum  estado  ou  lo- 
gar.—  «Dom  Johara  pela  graça  de  DEOS 
Rey  de  Portugal,  e  do  Algarve,  c  Senhor 
de  Cepta.  A  V(')S  Corregedor  da  nossa 
Corte,  e  a  vos  Corregedor  da  nossa  Ci- 
dade de  Lixboa,  e  a  todolos  nossos  Cor- 
regedores das  Comarcas  de  nossos  Re- 
gnos,  e  a  todo-los  outros  Juizes,  e  Justi- 
ças, a  que  esta  Carta  for  mostrada,  saú- 
de.»   Ord.  Affons.,  liv.   4,  tit.  24,  §  1. 

—  «ElRey  Dom  Eduartc  meu  Senhor  e 
Padre  de  louvada  memoria  em  seu  tem- 
po fez  Ley  em  esta  forma,  que  se  se- 
gue.» Ibidem,  tit.  44. — •  «D  qual  con- 
trato fczerào  (iuilheline  de  Crui,  senhor 
de  xeures,  e  o  doetor  mestre  loaõ  sauuage 
chàçarel  mor  dei  Rei  dom  Carlos,  e  Alua- 
ro  da  costa,  e  alem  das  quinze  mil  do- 
bras Castelhanas  que  clrei  daua  cadanno 
a  Rainha  donua  Leanor  sua  molher  pêra 
despesa  ile  sua  casa.»  Damiiio  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  4,  cap.  33. 

—  «Esta  armada  cm  que  Diogo  lopez  foi 
ao  mar  Darabi  i  se  acabou  de  aperceber 
muitos  dias  autos  que  partisse,  c  porque 
Milii]ui:iz  senhor  de  dio  dissimuladamcn- 
tc  mandaua  suas  fustas  fazer  todo  o  mal 
que  podessem  aos  Portugueses,  e  a  seus 
amigos. o  Ibidem,  cap.  36.  —  «Este  ne- 
gocco  durou  desde  pela  manh.ní  ate  meo 
dia,  a  qual  hora  vendo  Fernani  pei-oz 
que  nam  aiiia  mais  que  fazer  que  aferrar 
os  jungos  de  Pateonuz  que  se  hiam  aco- 
lhendo por  lhos  o  vento  seruir,  mandou 
passar  a  sua  nao  alguma  gente  das  ou- 
tras pêra  com  mor  auantajcm  os  ir  co- 
meter, c  porque  Pateonuz  hia  diante  do 
Temungam  senhor  do  Poliuibam.>  Ibi- 
dem, cap.  42.  —  <íO  qual  negocio  Puro 
d'Euora  fez  com  muita  diligencia,  o  ou- 
tro mais  principal,  que  f»n  fuer  paz  com 
Hczcguiclie  senhor  daquella  costa,  donde 
ficou  o  nomo  que  hoje  tem  aquclle  por- 


to.* Barros,  Década  1,  liv.  3,  cap.  1. — 
« E  sobre  fUm  com  iiia<;ii  auctoridade  era 
Namb -a  larij,  senhor  da  comarca  Repc- 
liru  que  o^tà  ao  pé  da  i<urra:  a  qual  co- 
marca ho  hum  posto  donde  se  colhe  a 
melhor  pimenta  de  toda  a(|uella  costa.» 
Ibidem,  liv.  7,  cap.  1. —  «No  qual  tem- 
po (pie  idlc  andou  na.4  p;acrras,  que  o  Sa- 
bayo  Senhor  de  Goa  tinha  cora  seus  vi- 
zinhos, ganhou  tíinto  credito,  (jue  o  fi'Z 
Capitilo  <i  alguma  gente.»  Idem,  Década 
2,  liv.  6,  caji.  !).  —  «Tudo  a  fim  de  a 
nobrecer,  e  fazer  senhora  do  princi|ial 
poder,  e  força,  com  que  os  senhores  do 
sertão,  que  era  EIR'\v  de  Narsinga,  e  os 
Capitilefl  do  It-yno  Decan,  se  faziam  po- 
(lerosos  huns  contra  os  outros,  que  eram 
estes  eavalhjs  (|ue  lhe  hiam  de  Pérsia,  e 
Arábia.»  Ibidem,  liv.  7,  cap.  7.  —  «Po- 
rém ellc  durou  pouco  no  ratado,  porque 
o  mesmo  Rey  de  Adem  teve  mcKlo  como 
o  mandou  matar,  e  poz  i>or  (iovernador 
da  terra  hum  seu  escravo  com  gente  do 
guarnição,  e  assy  ee  fez  senhor  da  ter- 
ra, de  que  El  Rey  de  Adem  tinha  homa 
grande  renda,  principalmente  da  pesca- 
ria de  nljofre  que  se  alli  faz.»  Ibidem, 
liv.  8,  cap.  2.  —  «E  depois  de  assi  ser 
nestes  Reynos  casou  cora  dona  Violante 
de  Tauora,  molher  de  niuy  nobre  gera- 
ção, e  ouue  delia  hum  filho,  que  se  cha- 
ma dom  António  Dataide,  que  ora  ho 
Conde  da  Castanheira,  Senhor  de  Pouos, 
e  Chileyros,  Aleayde  miir  de  Alegrete,  e 
de  Colares,  e  Veador  da  fazenda  dei  Rey 
nosso  senhor,  homem  de  rauyto  grande 
estima,  e  muyto  aceito  a  el  Rey,  e  de 
muyta  valia.»  (larcia  de  Rezende,  Chro- 
nica de  D.  João  II,  cap.  54.  —  «Est^-s 
fizeram  muitas  guerras  a  Carabaya  c 
nella  mtiitas  entradas  sam  senhores  ago- 
ra do  finite  e  do  reyno  do  Delli,  que  he 
muy  grande  reyno  na  terra  dentro  alem 
do  finiJe,  e  polia  terra  dentro  chega  aos 
confins  de  Cambava.»  António  Tenreiro, 
Itinerário,  cap.  4.  —  «Que  jwis  éramos 
hospedes  em  Diu,  nào  convinha  dar  leis 
como  Senhores ;  e  que  levarião  aspera- 
mente os  moradores  o  qne  lhes  ordena- 
vào  seus  Reis,  tolher-lho  seus  vÍ8Ín'ios ; 
ipie  de  vassallos  alheios  devíamos  querer 
amizade,  e  nào  obediência.»  Jacirtbo 
Freire  iPAndrade,  Vida  de  D.  Joào  de 
Castro,  liv.  2. 


Ja  Mp1íiH'o  To<»o,  sfnhor  àn  torm, 
Antes  iconio  vos  ja  disso»  sabia 
Poâte  grande  apparato.  desta  guerra, 
Que  diant'^  do  si  agora  \-ia : 
Tambcm  diz-íc  que  dentro  lojro  encerra 
Munições,  mantimento,  artilharia. 
Armas,  gente,  e  tambcm  rcpaira  o  muro, 
Miia  com  isto  não  so  ha  por  bem  seguro. 

FBASCISCO    DASnRADE,     FEIIIKIBO     CEECO    DE    DIC, 

cant.  2,  Cât.  3õ. 

—  «E  assim  juro  em  todo  o  qne  pelo 
dito  Senhor,  e  por  aqnellcs,  que  para 
elle  seu  lugar  tiverem,  me  for  mandado, 


SENH 


SEXH 


SENH 


47Õ 


que  de  meu  ofíScio  de  Passavante  faça,  e 
farei  toda  a  fidelidade,  cuidado,  e  dili- 
gencia, assim  como  devo,  e  saõ  obriga- 
do fazer  ao  serviço  de  meu  Rey  n.itural, 
e  Senhor.»  ^Manuel  Severim  de  Faria, 
Noticias  de  Portugal,  Diíc.  3,  cap.  19. 
—  «Pelo  que  de  officios  se  ficarão  fazendo 
dignidades,  como  aconteceo  quasi  aos  Ca- 
pitaens  deste  Rsyno  nas  Ilhas,  e  no  Bra- 
sil, que  de  cargo  ordinário  se  lhes  deu 
em  ^ddas,  e  fez  hereditário,  de  modo  que 
tanto  monta  agora  chamar  a  hum  homem 
Capitão  de  huma  Capit:inia  do  Brasil, 
ou  de  huma  Ilha  como  Senhor,  e  Gover- 
nador delia.»  Ibidem,  cap.  23. 


Mais  crime  não  teriam  que  a  vontade 
Do  imperioso  senhor  que  a  seus  vassalloâ 
Villões  de  sua  terra  —  seus  como  ella  — 
Quiz  do  poder  que  tem  mostrar  a  alçada ! 

GARRETT,  CAMÕES,  Caut.  7,  Cap.  3. 


—  Termo  de  cortezia,  fallando  com  al- 
guém, ou  d'alguem  superior,  egual  ou  in- 
ferior. 

Das  cayxas  envernisadas 
crede,  senhor,  que  m"abalo, 
porque  ssam  moas  douradas, 
emxarrafadas 
nas  quacs  agora  nam  falo. 
cAsc.  DE  REZEiíJE,  tom.  3,  pag.  2i2. 

—  í  E  depois  desto  o  dito  Senhor  Rei 
Dom  Joham  fez  outra  Hordenaçom,  e  de- 
claraçom  acerca  das  pagas,  que  se  ham 
de  fazer  das  moedas  antiguas,  em  esta 
forma  que  se  segue.»  Ord.  Affons.,  liv.  4, 
tit.  1,  §  50.  —  «E  com  estas  declaraçoões 
mandamos  que  se  cumpram  e  guardem  as 
ditas  Levx  pelos  ditos  Senhores  Reyx 
meu  Avoo  e  Padre  assy  feitas,  e  por  nós 
declaradas  como  dito  he.»  Ibidem,  tit.  2, 
§20. 


Dum  filho  d'arauha  morta  ! 
E  maia  eu  te  provarei 
Que  hum  cavallo  dElRei 
Estercou  á  minha  porta. 
Honrado  senhor  Juez. 
Eilo. 

Gn.  VICEKTE,  FARÇAS. 


—  « E  por  muyto  mao  trato,  que  a 
gente  tinha  recebido,  e  por  os  murtos  fe- 
ridos, que  .auia,  e  também  por  lho  pedi- 
rem o  Arcebispo  de  Toledo,  e  outros  se- 
nhores, que  ahy  com  elle  erào,  se  foi 
com  grande  triumpho,  e  vagar,  com  suas 
bandeyras  tendidas,  e  trombetas,  e  ata- 
bales  á  Cidade  de  Touro,  onde  entrou,  e 
esteue  com  muyta  tristeza  até  o  outro 
dia,  que  soube  nouas  dei  Rey  seu  pav, 
de  que  ficou  muyto  ledo,  e  logo  lhe  man- 
dou muyta  gente  com  que  veo  a  Touro, 
onde  a  Raynha,  e  o  Príncipe  estauào.» 
Garcia  de  Rezende,  Chronica  de  D.  João 
II,  cap.  13. —  íE  sendo  ja  o  senhor  dom 


Manoel  em  Freixinal,  ViUa  do  estremo 
de  Castella,  porque  as  taes  terçarias  se 
destizerào,  sua  ida  nào  foy  mais  necessá- 
ria, e  se  tornou  a  Corte.  E  el  Rey  com 
toda  a  casa  que  lhe  tinha  dado  o  reco- 
Iheo,  e  criou  depois  em  sua  cama,  mesa, 
e  nos  concelhos,  é  boas  doutrinas  com 
mostranças,  e  obras  de  verdadeiro  amor 
de  filho.»  Ibidem,  cap.  47.  —  «Por  cer- 
to, senhor  cavalleiro,  já  agora  pareceria 
erro  negar  o  poder  á  loríuna,  pois  vemos 
ante  nós  desbaratadas  as  forças  de  Braco- 
lào  e  Baleato  por  vossa  uiào,  cousa  que  ao 
parecer  muito  é  pêra  duvidar. »  Francisco 
de  iloraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  capi- 
tulo 108.  —  «  Achando-se  tão  desconten- 
te, que,  esquecido  da  posttu-a,  arrancou 
da  espada,  dizendo  a  Florendos :  Senhor 
cavalleiro,  inda  que  vos  nào  pedisse  mais 
que  justa,  peço-vos  que  façamos  batalha 
das  espadas,  que  em  fim,  se  me  vencer- 
des, tudo  será  pêra  mais  honra.»  Ibidem 
cap.  109.  —  «  Acabado  este  cumprimen- 
to, fez  o  mesmo  com  Polinarua,  pondo  os 
giolhos  no  chào:  e  ella  o  tomou  pola  mão 
dizendo :  A  tempo  estaes,  senhor  Floria- 
no,  pêra  pagardes  a  afi"ronta  em  que  hoje 
pozestes  á  senhora  Lionarda  em  lhe  de- 
fender o  caminho,  se  me  nào  lembrasse 
que  em  troco  desta  oftensa  lhe  fareis  ou- 
tros serviços  com  que  se  tudo  satisfaça.» 
Ibidem,  cap.  112.  —  «  Mas  o  das  donzel- 
las  lhe  disse:  Senhor  cavalleiro,  eu  não 
mandei  pedir  licença  mais  que  pêra  es- 
tes primeiros  encontros,  deixai-me  justar 
co'es30utros  senhores,  que  ahi  estão  (por- 
que ja  ao  tempo  que  isto  passava,  eram 
no  terreiro  cinco  cavai leiros)  e  se  de  suas 
mãos  ficar  pêra  poder  fazer  batalha,  cum- 
prir-vos-hei  a  vontade.»  Ibidem,  cap.  123. 

Ah  SetUior  Amphitriào, 
Onde  está  todo  meU  bem  ! 
Pois  meus  olhos  vos  nào  vem. 
Paliarei  co'o  eoraçào, 
Que  dentro  u'alma  vos  tem. 

CAM.,   AUPHYrHiÕES,  act.    1 


SC.  1. 


Figuradamente : 


Pois  cá  o  senhor  peccado 
não  abate  o  seu  quiuliào. 
O  senhor  peccado  nào, 
que  elle  me  deu,  arvorado 
em  Adam,  gentil  guião. 

ANTOSIO  PRESTES,  ACTOS,  pag.  5Õ. 


—  Personagem  de  muita  distincçào,  e 
de  alta  gerarchia,  homem  de  grande  es- 
tado, que  mantinha  mesnadas  e  dava 
soldo;  nobre,  fidalgo.— «Dom  Affonso  o 
Quinto  per  graça  de  DEOS  Rey  de  Por- 
tugal, etc.  Poeemos  por  Ley  geeral,  e 
mandamos,  que  se  algum  homem  ou  mo- 
Iher  viver  com  algum  Senhor  ou  anio,  de 
qualquer  condiçom  e  estado  que  seja,  a 
bem  fazer,  sem  fazendo  avença  alguã  por 
certo  preço,  ou  quantidade,  ou  alguã  ou- 


tra cousa,  que  aja  d'aver  pelo  serviço 
que  assy  fizer.»  Ord.  Affons.,  liv.  4,  ca- 
pitulo 28.  —  «Xa  terra  ia  hi  muitos  ho- 
mens, que  em  ella  vivem,  e  naõ  ham. 
mester  algum,  nem  vivem  com  Senhores, 
e  he  de  presumir  que  vivem  de  mal  fa- 
zer.» Ibidem,  tit.  34,  §  1.  —  «  Feita  ora- 
ção tornarão  a  caualgar,  e  forão  comer, 
e  dormir  a  Taueriola,  que  he  dalli  três 
legoas.  Ao  dia  seguinte  se  foi  el  Rei  ca- 
minho de  Guadelupe,  pêra  ahi  ter  ha  Pás- 
coa, no  qual  caminho  ho  veo  receber  ho 
Mestre  de  caualleria  da  Ordem  Dalcan- 
tara,  e  outros  senhores,  que  se  logo  tor- 
narão pêra  suas  casas,  porque  sôs  aos 
Duques  de  Medina  Cidonia,  e  Dalua  era 
ordenado,  que  acompanhassem  el  Rei,  e 
ha  Rainha  ate  Toledo.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  27. 
—  «  Foi  tanto  ho  prazer,  e  aluoroso  del- 
les,  que  el  Rei  dom  I''ernando  sahio  da 
camará,  e  dixe  alta  voz  com  muita  ale- 
gria a  todos  os  senhores,  e  caualleiros, 
que  estauão  em  outra  ca.=a  de  fora,  dem 
graças  a  Deos  que  temos  filho  baram.» 
Ibidem,  cap.  32.  —  «  Mas  isto  lhe  apro- 
veitou pouco,  porque  antes  que  saisse  do 
turcol,  os  mais  dos  Reis,  e  senhores,  que 
o  ajudaram  na  guerra  (antre  os  quaes  foi 
o  senhor  de  Repelim)  mandaram  pedir 
paz  a  Duarte  Pacheco,  a  qual  lhes  con- 
cedeo  per  vontade  e  parecer  dei  Rei  de 
Cochim,  ficando  el  Rei  de  Calecut  de  fora, 
auendo  ja  quasi  cinco  mezes,  que  duraua 
a  guerra  em  que  o  Çamori  Rei  de  Calecut, 
como  se  achou  per  conta  de  seus  scrivàes, 
perdeo  dezoito  mil  homens,  os  treze  mil 
denfirmidades,  e  os  cinco  mil  ras  pelejas, 
e  muitos  tiros  dartelharia,  e  fustalha.» 
Ibidem,  cap.  92.  —  «Do  que  sendo  el 
Kei  anisado  por  cartas  do  mesmo  loam 
roiz  lhe  despachou  hum  correo,  com  car- 
ta pêra  a  Rainha  Germana,  molher  dei 
Rei  dom  Fernando,  e  pêra  o  Infante  dom 
Fernando,  filho  dei  Rei  dom  Phelipe,  e 
neto  do  mesmo  Rei  dom  Fernando,  e  assi 
pêra  alguns  grandes,  e  senhores  de  cas- 
tella, mandandolhe  que  os  visitasse  em 
pessoa,  estando  na  corte,  e  communicas- 
se,  e  tratasse  com  elles  algumas  cousas 
de  seu  seruiço.»  Ibidem,  part.  4,  cap.  1. 
— «  Ao  grande  senhor  de  mando  gouerna- 
dor,  grande  capitam  dos  grandes ;  e  maior 
dos  maiores  capitães  deste  tempo,  Leam 
bemauenturado  capitam  mor,  e  gouema- 
dor  das  Índias.»  Ibidem,  cap.  11.  —  «E 
ao  outro  dia  foy  o  Príncipe  dormir  á  tor- 
re dos  coelheiros,  e  a  terça  feyra  vespora 
do  dia  do  corpo  de  Deos  foy  dormir  a  Euo- 
ra,  e  com  elle  ambos  os  Duques,  e  muytos 
senhores  com  muyta  gente.»  Garcia  de 
Rezende,  Chronica  de  D.  João  II,  cap.  43. 
— «  De  maneira  que  logo  el  Rey  dom 
Affonso  ficou  como  dantes  era,  e  o  Prín- 
cipe no  mesmo  dia  se  tornou  a  chamar 
Principe,  de  que  foy  de  todos  em  estremo 
muyto  louuado,  e  foy  grandissima  virtu- 
de. Aos  senhores,    e  fidalgos  que  com  el 


470 


SENII 


Roy  Hcii  pay  vinhrio,  fez  imiytíi  Loura,  c 
gíisalluilo,  lí  as^i  renobnu  tola  os  iiiai.s 
coiu  muytu  amor.»  Ibidem,  cap.  18. — 
«E  á  inòya  imitt}  fViy  <»  corpu  «lei  Kuy  lo- 
uado  0111  tmma  tumba,  cubcrto  «le  veludo 
preto,  c  o.icima  Imiiia  Cruz  de  damasco 
branco,  juiáto  encima  do  liuiiia  azemola 
cuberta  com  hum  grande  repoatoiro  de 
veludo  preto,  com  inuytaa  tocluis,  á  Sé 
de  Sylues  com  innyta  triítcza,  e  iiiuytos 
grandes  prantos  dos  senhores,  e  fidalgos, 
caualleiros  c  pouos  ([ue  alli  urào,  o  acoiu- 
panhauào.»  Ibidem,  caji.  214.  —  «E  vie- 
ram a  Eiiora  iiiuytos  senhores  do  Cas- 
tella  desconheci' los  a  ver  as  testas,  cm 
que  entrou  hum  irmam  do  Almirante,  tio 
dei  Key,  e  pessoa  luuy  principal,  que  ol 
lley  desejou  de  ver,  c  soube  hum  dia  co- 
mo estaiia  em  casa  da  Princesa  escondi- 
damente, o  de  supito  foy  dar  de  noite 
com  elle,  e  o  dcseinbu^ou,  e  abraçou  com 
rauyta  honra  c  agasalhado,  e  rogou  muy- 
to  que  descubertamente  viesse  ao  paço.» 
Ibidem,  cap.  128. 


K  lojío  foy  Cardeal, 
c  senhor  tam  principal, 
govcniador  de  Castella, 
([uu  morreo  como  Uoy  delia 
tomou  Ouram  scudo  tal. 

lUKU,   MlSCHLLA^KA. 


E  também  em  Portugal 
vimos  outro  caso  tal 
era  outro  luuy  grão  senhor 
de  tal  poder  e  valor 
que  nõ  tinha  seu  ygual. 

IBIDEU. 


—  «  Pode  se  crer  que  este  muro  nam 
lie  continuado  se  uam  que  se  aníreinetcin 
alguns  montes  ou  serras,  porque  me  affir- 
mou  hum  senhor  da  Pérsia  que  avia  se- 
melhantes obras  nalgumas  partos  da  pér- 
sia, com  se  antremeterem  outeiros  ou  ser- 
ras.» Fr.  Gaspiír  da  Cruz,  Tratado  das 
cousas  da  China,  cap.  4. —  «E  ao  em- 
baixador da  Cauchenchina,  por  ser  es- 
trangevro,  conceJoo  cpie  na  sua  terra  pu- 
desse legitimar  por  novos  parentescos  os 
quo  por  isso  lhe  dessem  diuheyro,  e  dar 
nomes  de  titulos  honrosos  aos  senhores 
da  corte,  assi  como  el  Rey  o  fazia,  de 
que  o  triste  embaixador  se  ouve  por  tào 
honrado.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pere- 
grinações, cap.  127. 

—  Amo,  a  respeito  dos  criados,  ou  es- 
cravos. —  (lEstavaõ  em  seu -campo  pouco 
mais  de  três  mil  e  oito  centos  homens, 
dos  quaos  os  quatrocentos  ci-aõ  escravos 
pretos,  que  fugindo  a  seus  senhores,  se 
vioraõ  ao  exercito  com  esperam^a  de  li- 
berdade, e  com  ser  o  número  de  gente 
taõ  pouco,  era  o  mais  delia  trazida  de 
suas  casas  por  fort;a  sem  armas,  nem  dis- 
ciplina militar.»  Fr.  líeraardo  de  Brito, 
Elogios  dos  reis  de  Portugal,  continua- 
dos por  D.  José  Barbosa. 


tíENH 

Kscovuc  ca:ie  chupéo 
e  co;)ao  e.sse  inuiitco  ; 
olliai',  iião  orti-is  um  dedo. 
Uescali;.a  alli  tuu  teiJior  : 
Senhor,  quereis-vos  deitar? 

AUTOMIU  ritKÍTKB,  AUTOS,   pag.    111. 

Infames  ! 
Xào  rcapoudea ?  —  Somproiiio  em  ferros!  Falia, 
Semproíiio,  cxplica-me  ente  enigma.  Voltai) 
Como  um  escravo  a  seu  senhor: — oscravoa 
Sào  para  Cesar  ;  n'<4tes  pobres  muros 
Não  os  lia.  •—  Immudeces  ?  —  K  tu,  priucipc, 
Tu  calladú  tambum  ?  Falia,  uào  temas  : 
Teus  soldados  ahi  estáo. 

OAintKrT,  CATÃO,  act.  4,  8C.  4. 


—  Por  antonomásia,  applica-se  a  Deus. 
«  Ordenou  el  liei  capitulo  no  couven- 
to  de  Tomar,  pêra  entender  em  algu- 
mas desordens,  que  auia  nos  comnienda- 
dores,  e  freires  da  ordem  de  nosso  senhor 
Jesu  Christo.u  D.imiào  de  lioes,  Chroni- 
ca  de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  7;>. — 
«Por  este  nosso  embaixador  Jklatkeus  vos 
enuiamos  huma  Cruz  do  lenho,  eui  que 
foi  crucificado  nosso  Senhor  lesu  Christo 
em  llierusalem,  do  que  me  foi  trazido  díi 
mesma  cidade  de  llierusalem,  de  que  fiz 
duas  Cruzes.»  Ibidem,  part.  'à,  cap.  ò[). 
—  <i  Mas  como  digo  era  isto  pella  culpa 
original,  por  aquella  niascarra  e  nódoa 
que  herdam  e  trazem  todos  os  nascidos 
filhos  d'aquelle  primeiro  trcdor  Adam. 
Aqui  vereis  irmãos  quanto  Deos  auorre- 
ce  e  estranha,  e  voos  dcueis  fugir  dum 
peccado  mortal,  pois  que  o  Senhor  tanto 
abomina  e  castiga  o  peccado  original  dos 
nonainente  nascidos :  o  qual  he  muyto 
menos  peccado  que  o  mortal,  quasi  como 
huma  nódoa  e  i'aça  do  peccado  mortal 
que  Adam  cometeo.»  Fr.  Bartholouieu 
dos  Martyres,  Catecismo  da  doutrina 
christã.  —  «E  o  Apostolo  sam  Pedro  diz, 
Pois  o  senhor  padeceo  em  carne,  armeu- 
se  os  Cm'istàos,  com  propósito  de  pade- 
cer por  elle.  E  sam  Paulo  nunca  cessa 
de  nos  encomendar  isto,  dizendo.»  Ibi- 
dem. —  «Nam  diga  de  vos  o  Senhor  o 
que  disse  ue  outros:  Este  poui  que  e^ta 
ouuiudo  esta  Missa,  com  os  beiyos  me 
louua,  mas  seu  corai;am  esta<i  longe  de 
mim.  Ay  daquelles  que  nem  com  os  bei- 
ços alli  o  louuam,  alli  mesmo  dando  a 
íiugoa  ao  mundo,  e  a  seus  negócios.» 
Ibidem.  —  «Como  eu,  e  meu  còpauheyro, 
tinliaiiios  as  licenças  largas  jiera  o  lleyno, 
e  vimos  nào  ser  vontade  lio  Senhor,  le- 
namos a  elle  por  inar,  achamos  que  tudo 
vinha  do  sua  sancta  mào.  Pelo  que  nos 
n.ào  entristecemos,  antes  lhe  demos  gra- 
ças por  assi  o  permitir.»  Fr.  ti  aspar  da 
Cruz,  Tratado  das  cousas  da  China,  wip. 
Tl.  —  ii(*s  Portugueses  os  comprarão,  e 
tízerào  baptizar,  e  delles  vi  eu  dous  nes- 
ta Cidade  de  Lisboa.  Com  esta  mercê 
que  nosso  Senhor  nos  fez,  entendemos 
ser-lhe  nossa  via,i;em  aceyta,  porque  quan- 
do delia  uào  tiráramos  môr  bem  que  o 
presente,  este  bastaua  pêra  a  termos  por 


SENII 

boa,  e  acertada.*  Ibidem,  cap.  6.  — 
«.Mas  assi  como  nem  os  do  EgypUj,  nem 
os  Arábios,  venerSo  a  (Jruz  por  CiiuiSTO 
Senhor  ikíssu  nella  morrer,  seiíAo  mj  por 
o  terem  por  custumc  de  hcus  antepassa- 
dos. Assi  também  os  de  Sacatorá,  a  nam 
honrilo,  mai.i  que  no  uio  lo  que  ja  fica 
dito.»  Ibidem,  cap.  U.  —  «Quando  vi  sa- 
hir  tanta  gente  c  soldados,  aiiartey-me 
de  tudos,  e  virando-me  contra  clleo,  pu8 
os  olhos  no  Ceo,  e  disse  Pode  Senhor  cm 
mi  08  de  vos.sa  misericórdia.  A  di.'iteyme 
de  todos,  c  fuy  receber  os  que  vinbàu, 
com  a  angustia,  e  desejo  que  nosso  Se- 
nhor sabe.»  Ibidem,  cap.  10.  —  cAnted 
o  Demónio  que  o  enganaua  o  indazia  a 
couimeter  erros  mais  cratssos,  e  supinos, 
sem  auer  amoestaçòes  basUmtes  a  dissua- 
dillo  delles.  E  vendo  Deos  nosso  Senhor 
que  sua  Misericórdia  neile,  era  motino,  e 
causa  de  sua  insolência,  e  principio  de 
mais  frraues  culpas,  c  peccados:  Mandou 
hoje  faz  coreu  ta  annos  hum  tremor  de 
terra  nesta  Cidade,  com  que  cahio  a 
mayor  parte  delia,  de  que  fuleceo  muyta 
gente,  por  ser  de  noyte,  e  a  deshoras.» 
Ibidem,  cap.  13.  —  «De  sorte  que  a  lin- 
goa  Hebrea,  ([ue  foy  a  primeira  do  mun- 
do, como  afBrma  S.  Hieronymo  se  tor- 
nou aqui  cí^ifusào,  que  isso  quer  dizer  a 
palaura,  Babel,  por  quanto  nesta  obra  a 
confundio  o  Senhor,  a  todos  aquelles  que 
trabalhauào  nella.»  Ibidem,  cap.  18.  — 
«No  cabo  destes  dias  quiz  nosso  Senhor 
que  chegamos  á  enseada  do  Nanquim, 
que  o  Similau  nos  tinlui  dito,  e  com  es- 
perança que  daly  a  cinco  ou  seis  dias 
veríamos  o  offeito  do  nosso  desejo.»  Fer- 
não Jlendes  Pinto,  Peregrinações,  cap. 
73.  —  «Nas  cousas  duuidosas  se  estiuer- 
des  incerto,  e  perplexo,  no  que  aueis  de 
fazer  recorrei  a  Deos,  que  vos  allumee  e 
tendo  opportuno  lugar,  consultai  a  algum 
varào  espiritual,  desejando  conhecer  o 
que  mais  será  conforme  a  vontade  do  Se- 
nhor, e  que  esta  em  todas  vo.ssas  obras 
se  cumpra  perfeitiimente,  e  dizei  em  vos- 
so coração.»  Fr.  Bartholomeu  dos  ilar- 
tyres,  Compendio  de  espiritual  doutrina, 
cap.  10.  —  «Senhor  Deus,  Jesu-Christol 
—  exclamou  o  abbade,  com  um  gesto  de 
terror,  que,  nào  sei  porque,  nelle  tinham 
can.sado  estas  palavras.»  A.  Herculano, 
Monge  de  Cister,  cap.  2. 

' —  Senhores  ilt  Jwnras  e  Muto»;  que 
tinham  o  senhorio  daã  terras  honradas  o 
coutadas,  c  recebiam  dos  vassallos  e  mo- 
radores ii'ellas  serviços  e  foragens,  e  ti- 
nham sobre  eltes  jiu-isdicção  e  punham 
juizes,  ete. 

—  Senhor  da  hosU ;  o  general  do  exer- 
cito, o  chefe. 

—  Fazer-se  senhor ;  apoderar-se,  apos- 
sar-se,  senhorear-se.  —  «A  segunda    ve«., 
que   .Afonso    dalbuquerque   ganhou   Oca^d 
que  Pulatecam  andaua  leuanuulo.  e  sen 
licença  do  Çabaim  daleào  viera  sobclas  1 
nadarias  da  terra  tirme,  e  entrara  a  ilb 


SENH 

de  Goa,  com  tençam  de  se  fazer  senhor 
de  tado,  que  lhe  peiia  que  o  quizesse  aju- 
dar contra  elle,  e  lançallo  da  ilha.»  Da- 
mião de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part. 
3,  cap.  21.  —  «E  ao  mesmo  tempo  que  nós 
entramos  na  Índia,  de  dezoito  capitães 
que  Mamud  ordenou,  ja  huns  se  tiuhào 
feito  senhores  do  estado  dos  outros,  de 
maneira  que  nào  auia   mães    que    estes.» 


Barros.  Década  2.  liv.  5. 


L-ap, 


2.  —  «Ao 


qual  Mouro  per  nome  Hacein  Bec  a  for- 
tuna favorecso  tanto,  que  matou  em  cam- 
po a  Mirzá  Geuuxá,  e  se  foz  senhor  de 
todo  seu  estado.»  Ibidem,  liv.  10,  cap. 
6.  —  «Porque  com  toJus  argumentava, 
e  de  tudo  dava  razaò  :  e  entre  as  cousas 
notáveis,  que  se  deixou  dizer,  foy  huma 
a  mais  admirável  de  todas,  que  já  elle 
teria  posto  de  ré  a  Fé  de  Ctu'isto,  em- 
brulhado o  género  humano,  e  se  teria 
feito  senhor  do  mundo  absoluto,  se  Deos 
lhe  naò  prohibira  três  cousas :  a  primeira 
bulir  lia  Sagrada  Escriptui-a:  segunda 
falsificar  cartórios :  terceira  dar  dinhei- 
ro.» Arte  de  furtar,  cap.  64. 

—  Senhor  de,  baraço  e  cut-ello;  aquelle 
que  tinha  direito  e  jurisdicçào  para  casti- 
gar até  com  pena  de  morte. 

—  Senhor  ds  si;  em  perfeito  juizo, 
sem  perturbação,  sem  paixão,  que  con- 
serva sangue-frio  no  meio  lios  lances  dif- 
ticeis  e  arriscados. 

— ■  Grào  senhor;  grào  turco,  impera- 
dor da  Turquia. 

—  Ficar  senhor  do  campo;  vencer  a 
batalha,  tendo  afugentado  d'elle  o  ini- 
migo. 

—  Figuradamente  :  Ficar  senhor  do 
campo;  ficar  vencedor  em  qualquer  dis- 
puta ou  contenda. 

—  Senhor  de  si,  de  suas  acções;  livre, 
que  liài.i  depende  de  outrem. 

—  Descançar  em  o  Senhor ;  morrer  em 
boa  opinião  de  virtude. 

—  Aiit.  Pae. 

— -  Termo  de  astrologia.  O  planeta  do- 
minante em  uma  casa. 

—  Adágios: 

—  Perdi  meu  senhor,  mal  fallando, 
ouvindo  peor. 

—  Quem  a  dous  senhores  ha  de  ser- 
vir, a  algum  ha  de  mentir. 

— -  Quem  serve  a  dous  senhores,  a  al- 
gum d'elles  ha  de  aggravar. 

—  Serve  o  senhor,  saberás  que  é  dôr. 

—  A  quem  uizes  teu  segredo,  fázel-o 
senhor  de  ti. 

—  Baldão  de  senhor,  e  de  marido. 

—  Ruim  senhor,  cria  ruim  servidor. 

—  Hospedes  jm-auí,  senhores,  se  fa- 
rão. 

—  De  leal  e  bom  servidor,  virás  a  ser 
senhor. 

—  Faze  o  que  manda  teu  senhor,  e  as- 
seiítar-te-lias  com  elle  ao  sol. 

SENHORA,  s. /.  (De  senhor).  Ama  ou 
do!:a  de  casa,  a  respeito  de  seus  criados  I 
ou  escravos. 


SEXH 

—  Termo  de  cortezia,  quando  se  falia 
com  alguém  ou  d'alguem  superior,  igual 
ou  inlerior.  —  «A  qual  senhora  iniante 
eu  vi,  e  lhe  lallei  na  mesma  cidade  de 
Cracouia,  onde  eutaò  staua  com  sua  ca- 
sa, e  estado,  em  hum  fermoso  Castello 
que  na  cidade  ha,  molher  muito  discre- 
ta, e  de  bom  parecer.»  Damião  de  (joes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  101. 
—  «E  com  a  ssuaora  Duquesa  ficou  huma 
tiiaa  menina,  que  auia  nome  dona  Mar- 
garida, que  nestes  Reynos  dahy  a  pou- 
cos aunos  faleceo.»  (j areia  de  Rezende, 
Chronica  de  D.  João  II,  cap.  44. 

Porque  moura  cada  hora 
uam  in 'acabais  de  matar, 
c  por  me  mais  magoar, 
quando  me  mataes,  senhora, 
nam  dais  á  morte  iugar. 
A  vida  vóâ  a  matais 
pois  a  nam  deixais  xáver, 
asai  que  nam  pe^o  mais 
que  deixar  de  lá  morrer. 

CHBISIOvlo  FALCÃO,  OBRAS,  pag.    19. 


• —  «O  cavalieiro,  que  me  dizeis  que 
entregue,  nao  está  aqui,  e  se  estivesse 
de  ma  vontade  Ine  fana  esse  aggravo ; 
nem  creio  que  se  eiie  trouxe  a  senhora 
Targiana,  que  seria  senão  por  sua  vonta- 
de e  conseiitimento  a'eila.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  d'Ingiaterra,  cap.  9'à. 
—  «Eniào  poudu  os  oiaos  neila,  depois 
do  escudeiro  partido,  Itie  disse :  Senhora, 
pai"ece-vos  que  quem  á  miniia  porta,  e 
cstaudo  comvosco  me  vem  defender  as 
estradas,  que  o  faria  melhor  sendo  em 
parte  onde  vos  eu  nào  tivesse  por  vaie- 
dora.»  Ibidem,  cap.  111.  —  «Onegando 
ás  tendas,  a  mesma  donzella  que  fizera 
partido  com  o  do  Salvage,  Ine  ueu  conta 
do  que  estava  coucertaao.  Senhora,  disse 
um  delles,  por  vos  dar  contentamento 
tudo  se  ha  de  aventurar;  mas  quem  que- 
reis que  se  ponha  a  risco  de  vos  peider 
por  ganhar  uennuma  cousa.»  Ibidem,  cap. 
llti.  — «Senhora,  uin  cavalieiro  estra- 
nho, em  cu_^a  cumpaniiia  veniio,  diz,  que 
passando  pur  esta  lerra  desejoso  de  ser- 
\'ir  ai  rei,  trazia  determinado  com  ne- 
nhum de  sua  casa  fazer  armas,  ainda 
que  a  fortuna  ou  o  tempo  oÔerecesse  cou- 
sa em  que  lhe  fosse  necessário.»  Ibidem, 
cap.  l'À'à,  —  «Parece-me,  senhora,  que 
lhe  deveis  conceuer  o  que  pede ;  assim 
por  fazer  a  vontade  a  elle,  como  por  nào 
aggiavardes  vossas  damas,  que  todas  que- 
rerão ver  o  que  tem  em  quem  as  serve. » 
Ibidem.  —  «Eu  farei  o  que  me  mandais, 
disse  Aibayzar,  pois  foi  postura  d'antre 
nós,  e  com  tudo  alguma  hora,  se  eu  vi- 
ver, presentarei  essa  vossa  cabeça  á  se- 
nhora Targiana  em  %'ingança  da  offensa, 
que  hoje  recebe  por  minha  fraqueza.  Des- 
ta vez  ficareis  assim,  disse  o  oas  Donzel- 
las,  que  pêra  adiante,  quando  nos  virmos 
nos  entenderemos.»  Ibidem,  cap.  124.- — 
«Por  certo,  senhora,  disse  a  outra,  nào 


SENH 


477 


vejo  cousa  de  que  vos  devais  aggravar, 
que  o  cavalieiro  do  Salvagem,  se  vos  nega 
o  que  lhe  pedis,  ou  o  que  delle  desejais, 
é  pêra  mais  vossa  honra;  nem  creio,  que 
em  homem  tão  esforçado  e  de  tão  real 
sangue  caiba  soltar  palavras  pêra  enga- 
nar ninguém  com  ellas,  senão  antes  creio, 
que  fará  por  vós  mais  do  que  promette.» 
Ibidem.  —  «Fez  o  que  não  devia  a  seus 
irmãos,  perdeu  o  seu  património,  tudo 
de  vossa  causa,  e  sobre  isso  põe  sua  pes- 
soa em  vossas  mãos  e  se  acha  despreza- 
da de  vós.  Senhora,  disse  o  do  Salva- 
gem, são  as  noites  tão  pequenas  e  ha 
tanto  que  responder,  que  não  bastaria  o 
espaço  que  delia"  está  por  passar  pêra  o 
poder  fazer.»  Ibidem. 

Dizei,  Senhora,  da  beUeza  idêa, 
Para  fazerdes  esse  aureo  crino. 
Onde  fostes  buscar  esse  ouro  fino  ? 
De  qucscondida  mina  ou  de  que  vêa ? 

CAM.,  SOXETOS,  n."  27Õ. 

Senhora,  se  me  atrevi, 
Fiz  tudo  o  que  Amor  ordena  : 
E  se  pouco  mereci. 
Tudo  o  que  perco  por  mi, 
Mereço  por  minha  pena. 

IDF.M,  FILODEMO. 

—  «  Dar-lhe-heis  esta  carta ;  e  fazei 
muito  com  ella  que  a  dê  á  Senhora  Dio- 
nysa;  que  me  vai  nisso  muito.»  Ibidem, 
act.  2,  SC.  4. 

Senhora,  não  zombo,  não. 
Vejo  eu  Amphitrião, 
Ou  a  vista  me  affigura 
O  qu'está  no  coração? 

CAM.,  .tMPHYiBiÕEs,  act.  2,  SC.  2. 

Certidão  que  não  dizeis 
coração,  mas  tudo  liugoa  ; 
juramentos  vem  e  vão, 
—  senliora,  mouro  por  vós  — 
6  elles  trazem  amor  na  mào 
com  pios  e  caparão, 
pêra  o  nosso  nas  pios. 

AliTOXIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.    183. 

Olhae  cá.  senhora  prima, 
cstimae  quem  vos  estima  : 
se  vos  quizereui,  querei ; 
lei  com  quem  vos  tiver  lei. 
iBiDEU,  pag.  333. 

—  «  Foi  um  frade,  minha  senhora,  foi 
um  frade  bento,  foi  D.  fr.  João  de  S.  Jo- 
seph,  cuja  biographia  filtrou  ao  cérebro 
de  V.  ex.*  essências  nieotinas  de  que  o 
seu  bocejar,  como  espectáculo  de  formo- 
sos dentes,  me  está  dando,  se  não  lison- 
geiro,  compensativo  jubilo  de  a  ter  aca- 
lentado para  um  doce  dormir.»  Bispo  do 
Grão  Pará,  Memorias,  publicadas  por  Ca- 
millo  Castello  Branco,  pag.  39. 

—  Dona  de  qualquer  cousa,  que  tem 
domínio  sobre  ella.  —  «  E  se  vos  bem  pa- 
recer, devemos  ir  la;  ao  menos  repousare- 


478 


SENH 


SEXH 


SENH 


HUM  alfíum  esparii,  i|'ii!  a  senhora  do  em- 
tello,  a  f|iiem  o  dei,  é  a  própria,  quo  que- 
riam iori.ar,  o  no-*  fanl  todo  Hcrvi(;o.  Va- 
mos, disso  Fiorcndoa,  quo  não  «into  em  to- 
da esta  terra  outro  povoado  mais  perto. 
Mas  eoino  aquella  casa  tivesse  já  trocado 
08  moradores  o  nilo  o»  que  All)ayzar  cui- 
dava, ant''.s  de  ciíefrarem  ao  pé  da  Forta- 
leza saliiu  um  escudeiro  a  clles :  traz  eiio 
algum  tanto  arredados  ficaram  quatro  ca- 
vaíleiros  aruiados  de  fortes  e  lustrosas  ar- 
ma».» Francisco  do  Moraes,  Palmeirim 
d'Inglaterra,  cap.  90. 

—  Díuiia  de  distinc^'ào,  nobre,  fidalga. 
—  «Esto  Duarte  sexto  foi  casado  com 
donna  Plielippa,  filha  do  iloni  (luiilierme 
conde  de  llainaut,  da  qual  senhora  ouuo 
sete  fillios,  e  três  fillias,  dos  quaos  foi  iuim 
o  Infante  dom  loào  de  (iand.  Duque  do 
Lancastre,  e  outro  mais  moço  que  se  cl\a- 
niou  E  Imund  de  Langlei,  Duque  Ebo- 
rum.  Conde  de  Cambrix,  e  Duque  Dioi-- 
ça.»  Damião  do  Gocs,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  3,  cap.  24.  — «  Este  casa- 
mento contratou  el  Hei  dom  loam  ter- 
ceiro, com  dom  Theodosio  irmão  desta 
senhora,  sendo  Ja  seu  pai  delles  ambos 
ja  talleeido,  lio  qual  dom  Theodosio,  pelo 
grande  amor  que  lhe  tinha,  e  desejo  de 
a  ver  casala  com  hum  tam  virtuoso  Prín- 
cipe, entre  outras  cousas  que  lhe  deu  em 
casamento,  foi  a  villa  de  Guimarães,  com 
o  titulo  de  duque.»  Ibidem,  cap.  78. 


Fomo3  a  Vilh.i  Oastim, 
K  t"alloii-uo3  0111  latim  : 
Vinde  ca  diiriui  a  liaiu'hora, 
E  trazci-mo  essa  senhora. 
Asii  que  ho  tudo  nada  em  fira  ? 
Kaporac,  aguaidac  ora. 

OIL  VICENTK,  F.lllÇAS, 


—  «o  imperador,  Primalião  e  Polcn- 
doB  se  foram  a  uma  janella  vêr  a  bata- 
lha, a  imperatriz  e  outras  senhoras  a  ou- 
tras de  seu  aposento.  Albayzar,  assim 
fraco  como  estava,  se  poz  onde  os  podia 
vêr,  desejando  victoria  «aos  gigantes,  a 
qual  não  duvidava  segundo  suas  disposi- 
ções. Nào  lembrando-lhe  que  na  batalha 
injusta  ás  vezes  monos  fori;a  tem  os  ho- 
mens que  a  razào. »  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  05.  —  aPcra 
isto  a  rainha  Oarmelia,  sua  avo,  quiz  que 
a  prineeza  viesse  a  estar  em  vossa  corte 
alguns  dias,  pêra  que  o  mariílo,  que  lhe 
desse  Palmeirim,  fosse  da  convei-sayão  dos 
cavalleiros  desta  casa ;  e  ella  neste  tempo 
passasse  os  dias  em  companhia  de  vossa 
neta  e  das  princezas  e  senhoras,  que  era 
vosso  paço  a'idani ;  porque  da  li  fique  a 
Amizade  e  costume  delias,  quo  quando 
são  bons,  ê  outro  património  melhor  que 
03  dos  bens  temporaes.»  Ibidem,  cap.  104. 
—  «  Nào  vos  engane  isso,  disse  Floren- 
dos,  que  já  estiva  prestes,  que  essa  se- 
nhora sii  pêra  com  os  seus  tem  a  coudic- 
ção  áspera  e  a  vontade  esquecida.  E  pois 


vossa  tcnçUo  é  just.ir,  tomai  do  campo  o 
ncccHsario,  que  em  quanto  poder  voa  sa- 
tisfarei a  vontade.»  Ibidem,  cap.  U)9. — 
«Que  vi)3  SC  o  vencerdes  a  elle,  levareÍH 
uma  daquellas  senhoras,  que  coiiiiiigo 
tiaz,  qual  mais  vn.s  pedir  a  vontade.  Bem 
se  parece,  respondeu  o  outro,  que  meu 
amor  e  o  seu  silo  desiguaes,  que  elle,  d'a8 
estimar  tão  jiouco,  lhe  vôm  não  sentir  ô 
poso  de  as  trazer.»  Ibidem,  cap.  1215. — 
«  E-ta.s  senhoras  .são  nove,  partamol-as 
polo  meio,  c  o  quo  levar  as  quatro,  leve 
antre  cilas  essa  senhora  maior  de  corpo, 
dizendo  isto  por  Arlança,  que  assim  me 
parece  ficará  o  partido  igual.»  Ibidem, 
cap.  120.  —  «A  Infante  D.  Joanna,  que 
casou  Com  el  Kei  Henrique  o  quarto  de 
Castella,  e  foi  niãi  da  Exicllente  Senho- 
ra. Teve  mais  de  huma  senhora  nobre  da 
geração  dos  Maneeis  a  D.  Joaõ,  que  foi 
frade  do  Carmo,  e  Bispo  de  Ceuta,  de- 
pois da  Guarda,  e  Capellaõ  niór  dei  Rei 
D.  Aftbnso  o  quinto,  c  mui  seu  valido.» 
F^r.  Bernardo  de  Brito,  Elogios  dos  reis 
de  Portugal,  continuados  por  D.  José 
Barbnsa. 

—  Por  antonomásia,  a  Virgem  Maria. 

Pois  porque  viestes  ora 
Ciiiisar  A  frira  de  pó  ? 
Porque  nos  dizem  que  hc 
l'\'ira  d<i  Nosâa  Heiihora : 
E  vedes  aqui  porque. 

QII.   VICKSTE,    ALTO    DA    FEIRA. 

—  «E  crea  V.  Senhoria  que  só  das 
jóias  de  Chaul,  pode  íiizer  a  guerra  dez 
annos  sem  se  acabarem  de  gastar.  E  a 
merc3  que  peço  a  V.  Senhoria  he,  gastar 
logo  estas  minhas  na  ida  do  Senhor  D. 
Álvaro,  porque  eu  espero  em  Nossa  Se- 
nhora, que  haja  elle  tamanhas  victorias, 
quo  se  escuse  a  ida,  e  trabalhos  a  V.  Se- 
nhoria.» Jaeintho  Freire  de  Andrade, 
Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv.  2.  —  «Ins- 
tituio  huma  Confraria  que  chamaõ  da 
Corte  á  honra  Ja  Conceição  da  Virgem 
Senhora  Nossa,  e  dos  Martyres  S.  Roque, 
e  S.  Sebastião,  a  cuja  honra  fundou  na 
Villa  de  Almeirim  huma  Igreja,  e  Hospi- 
tal.» Fr.  Bernardo  de  Brito.  Elogios  dos 
reis  de  Portugal,  continuados  por  D.  Jo- 
sé líarbosa.  —  «  De  maneira  que  dos 
Christàos  aprouou  hum  s(')  Deos  todo  po- 
deroso, c  os  milagres  do  Christo  S.  nos- 
so, e  algumas  cousas  dos  Euaugclhos,  em 
especial  as  que  tocauão  a  Virgem  Maria 
N.  Senhora,  cõfessando  em  seu  Alchorã 
sua  virgindade  pura  e  limpa,  assi  no  par- 
to, como  antes,  e  tlepois  delle,  obrigado 
a  todos  lhe  tiucs^em  muita  deuação,  e 
reuoreneia,  como  na  verdade  teui.»  Fr. 
(! aspar  da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da 
China,  cap.  20. 

—  A  miiiJui  senhora;  diz  o  marido,  fal- 
lando  de  sua  esposa. 

—  AdJ.  Figura'!aniento:  Dominante, 
principal.  —  Ilha  senhora  Jas  outras. 


—  Adágios  : 

—  Pelo  marido  vassoura,  o  pelo  mari- 
do senhora. 

—  c^uein  senhora  é  em  casa,  senhora  é 
pela  villa  eli.iniida. 

SENHORAÇA,  ».  /.  Augmentativo  de 
Senhora.  ''raiKli--  8e:diora. 

SENHORAÇO,  «.  m.  Augmentativo  de 
Senhor,  lirande  senhor, 

SENHOREADO,  part.  past.  de  Senho- 
rear. —  •  De  quo  o  Nautaquim  fez  ham 
grande  csjianto  e  disse  para  os  seus  qne 
estav.^o  presentes,  que  nie  matem  se  nâo 
são  estes  os  Chcnehicogis  de  que  está  es- 
crito cm  nossos  volume.s,  que  voando  por 
cima  das  agoas  tem  senhoreado  ao  longo 
delias  os  habitadores  das  terra.s  onde  Deos 
criou  as  riquezas  do  mundo,  pelo  quo  nos 
ca_vr:i  cm  boa  sorte  se  elles  vierem  a  esta 
nossa  com  titulo  de  boa  amizade.»  FemSo 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.  13.S. 
— «  He  senhoreada  p'lo  Sufy,  em  que  cs- 
tam  estas  gentes  que  chamam  Ceides : 
que  entre  elles  tem  por  fidalgos  e  senho- 
res, e  trazem  ho  vestido  e  trajo  como  os 
de  detrás.»  Antoi.io  Tenreiro,  Itinerário, 
cap.  :")<!. 

SENHOREADOR,  adj.  Que  tem  dominio 
ou  senliorio. 

SENHOREAGEM,  ou  SENHOREAGE,  s.f. 
Direito  que  se  paga  em  ri?conhecimento 
do  senhorio,  e  especialmente  se  diz,  do 
que  el-rei  percebe  pela  casa  da  moeda. 

SENHOREAL,  fidj.  2  gen.  Pertencente 
ao  senhorio,  ou  ao  senhor;  ao  soberano. 

SENHOREAR,  r.  a.  Dominar,  mandar 
em  alguma  cousa  como  senhor  ou  dono 
d'ella. 

E  porque  me  parece  que  te  vejo 
Vontade  de  hir  auante  olha  fronteiro, 
Onde  aqm-Ue  vapor  fumoso  mostra 
Hum  soberbo  c  admirauel  cdifieio. 
AUi  está  fabricado  o  graude  templo 
Da  mentira,  que  o  mundo  scnhorta. 
Muito  achar.'ia  que  ver,  m.-is  doute  auiao 
Que  nào  te  engane  delle  o  falso  trato. 

CÚKTB  BEAL,  NAl-pEAOlO  DB  SBITI.VBDA,  Cant.  10. 

—  «  Aquelle,  a  quem  a  boca  do  meu 
rosto  beija  coutinuamente  o  rico  quimão 
do  seu  vestido,  o  qual  por  poder  de  gran- 
deza senhorea  os  cetros  da  terra,  e  as 
ilhas  do  mar,  te  màda  dizer  por  mim  seu 
escravo,  quo  a  tua  honi-osa  vinda  seja  t3o 
agradável  diante  da  sua  presença  como  a 
doce  menhan  do  verão,  no  qual  o  banho 
das  aguas  frias  mais  satisfaz  ni>ssa  carne, 
e  que  sem  nenhuma  detença  te  apresses 
a  ouvir  a  sua  voz,  e  que  neste  cavallo 
ajaezado  do  seu  tisonro  te  leve  junto  co- 
migo.» Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  120. 

—  Assenhorear;  tomar,  dominar  como 
senhor,  apoderar-se  de  alguma  cousa, 
conquistal-a,  sujeitjil-a  ao  seu  dominio. 
—  •  Destii  breve  informação  que  tenho 
dado  destes  Lequios  se  pôde  entender,  e 
assi   o  cuydo  eu   pelo  que  x\,  que  com 


SENH 


SENH 


SEXH 


479 


quaisquer  dous  mil  homena  se  tomara,  e 
senhoreara  esta  ilha  com  todas  as  mais 
destes  arcipelagos,  donde  resultará  muyto 
mavor  proveito  que  o  que  se  tira  da  ín- 
dia.» Fernào  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  1-Í3.  — «  Senhoreão  (joa,  as- 
sento de  seus  Governadores,  e  logo  o  ma- 
yitimo  do  Canará,  com  Onor,  Baticalá, 
Braçalor,  Bracanor,  e  Mangalor;  e  logo 
aquella  parte  principal  do  Malabar,  que 
aquentão  suas  frotas,  onde  está  o  Reino 
de  Cananor,  e  nelle  Catecoulào,  Marabia, 
Traaiapatào,  Maiui,  Parepatào.»  Jacintho 
Freire  d'Andrade,  Vida  de  D.  João  de 
Castro,  liv.  2.  —  «  E  como  a  paz,  e  a  ty- 
rannia  o  tinhào  feito  rico,  erão-lhe  fáceis 
as  despezas  da  guerra  que  havia  de  mo- 
ver quasi  dentro  em  sua  mesma  casa. 
Despachou  logo  oito  mil  soldados  a  se- 
jihorear  as  terras  da  contenda,  em  quanto 
se  dispunlião  forças  maiores  para  susten- 
tar o  que  aquellas  ganhassem.»  Icidem, 
liv.  4.  —  a  Suspirando  Telemaco,  lhe  res- 
ponde, assim :  Antes  me  acabem  os  deu- 
ses do  que  eu  dê  entrada  á  mollicie.  ou 
o  deleite  senhoreie  meu  coração !  Nào, 
não,  o  filho  d'Ulysse3  jamais  se  deixará 
vencer  dos  attractivos  d'uma  vida  eftemi- 
nada  e  vil :  mas  que  dom  do  ceo  nos  de- 
parou depois  de  nosso  naufrágio,  esta 
deusa  ou  mortal,  que  tanto  nos  enche  de 
beneficies'?»  Francisco  ]\Ianoel  do  Nasci- 
mento, Aventuras  de  Telemaco,  liv.  1. 

—  V.  n.  Dominar.  —  «Temo  que  isto 
e  cobiça  de  senhorear,  que  antre  os  ho- 
mens tem  gi'am  força,  juntamente  com  a 
lembrança  que  terá,  de  meus  aggravos, 
o  mova  a  nào  tornar,  e  casar-se  com  el- 
la.B  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  de 
Inglaterra,  cap.  95. —  «Dalli  se  espalha- 
ram para  muitas  partes  da  Europa,  que 
senhorearam,  de  que  ainda  hoje  vivem 
aquelles  que  se  chamam  Tártaros  Preço- 
penses  sobre  o  mar  maior,  povoando,  e 
dando  nomes  a  muitas  Províncias.»  Dio- 
go de  Couto,    Década  4,  liv.  10,  cap.  2. 

—  Estar  sobranceiro,  a  maior  altui-a 
que  outra  cousa.  —  t  Deo  huma  tarde 
vista  á  Cidade  de  Baroche,  cujos  edifi- 
cios  lhe  representarão  na  magestade  a 
policia  da  Europa.  Estava  situada  em 
huma  eminência,  cingida  de  muros  de 
ladi-ilhos,  que  mais  serviào  ao  adorno, 
que  á  defensa.  Com  tudo  se  deixavào  vêr 
diversos  baluartes,  obrados  nào  sem  al- 
guma luz  de  fortificação,  guarnecidos  de 
muita  artelhaiia,  que  senhoreava  as  en- 
tradas do  porto.»  Jacintho  Freire  d'An- 
drade.  Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv.  4. 

—  Senhorear-se,  v.  refi.  Apossar-se,  fa- 
zer-se  senhor,  apoderar-se.  —  «E  porque 
chegando  elle  a  Ormuz  ElRey  se  queixou 
de  hmn  Raez  Hamed,  elle  AíFonso  d'Al- 
boquerque  o  castigara  da  maneira  que 
ElRey  quiz;  porque  os  tyrauos  que  com 
sua  soberba,  e  maldade  se  querem  senho- 
rear das  pessoas  R'^aes.»  Barros,  Década 
2,  liv.  10,  cap.  5.  —  «Tanto  que  as  novas 


embarcações  chegarão  ao  lugar  onde  es- 
tava surto  o  junco,  elle  foy  logo  abalroa- 
do sem  nenhuma  detença,  e  saltando  den- 
tro vinte  soldados  se  senhorearão  delle 
sem  contradição  alguma,  e  a  mór  parte 
da  gente  delle  se  lançou  ao  mar.»  Fer- 
não Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap. 
42.  —  <iE  assim  se  senhorearão  nossos 
inimigos  das  Malucas,  Ormuz,  Malaca,  e 
Mascate.  Deste  modo  ficou  o  Estado  mais 
proporcionado  t-^udo  menos  Fortalezas,  e 
naõ  tau  desmcmbrailo.»  Manoel  Severim 
de  Faria,  Noticias  de  Portugal,  Disc.  1, 
cap.  3. 

SENHORIA,  s.  /.  Governo  de  algum  es- 
tado particular,  que  se  rege  como  repu- 
blica. — -  Â  senhoria  de  Veneza. 

—  Ânt.  Sen.iorio. 

—  A  qualidade  e  graduação  de  ser  se- 
nhor. 

—  Tratamento  que  se  dá  a  certas  pes- 
soas constituídas  em  dignidade,  acima  de 
mercê,  e  inferior  a  excellencia.  —  «Que 
quanto  a  confiança  que  elRey  tinha  na 
verdade  dos  Portugueses,  sua  real  senho- 
ria no  anno  seguinte  veria  quanto  elRev 
de  Portugal  seu  senhor  estimaua  esta  con- 
fiança.» Barros,  Década  1,  liv.  õ,  cap.  9. 


Dona  levantac-vos  dhi. 
E  que  me  quereis  vós  assi  ? 
A  cadeia. 

Senhores  homens  de  bom, 
Escutem  vossas  senhorias. 
Deixai  essas  cortezias. 

GIL  VICENTE     F^UtÇAS. 


• —  «Bemuiía  seja  a  divina  bondade  que 
tão  inteiramente  nos  livrou  d'ello,  e  a  vos- 
sa senhoria  do  extremo  sentimento  em  que 
acompanhei  c  considerei  sempre  a  vossa 
senhoria,  como  quem  tão  lembrado  está  do 
aâecto  cou;  que  vossa  senhoria  amava  e 
adorava  a  sua  alteza,  no  tempo  em  que 
eu  podia  ser  testemunha  d'elle,  que  não 
considero  hoje  diminuído,  senão  mui  cres- 
cido sempre,  como  o  pede  a  razão.»  Pa- 
drj  António  Vieira,  Cartas,  u.°  23.  —  «E 
diga-me  por  vida  sua,  senhor  Marquez, 
diga-me  Vossa  Senhoria,  ou  vossa  Excel- 
lencia (que  já  se  naò  contentaõ  com  Se- 
nhoria) ao  depois  deste  titulo,  que  he  o 
que  se  lhe  segue?  Segue-se  passar  huma 
velhice  muito  descançada,  e  lustrosa.» 
Arte  de  furtar,  cap.  70.  —  «A  caso  se 
achava  em  Goa  huma  dona  de  Chaul, 
chamada  Catlierina  de  Sousa,  quando 
chegou  o  presente,  e  juntando  em  huma 
boceta  todas  as  jóias  que  tinha,  as  enviou 
ao  Governador  com  esta  carta:  «Senhor, 
eu  soube  como  as  mulheres  de  Chaul  ti- 
nhào ofterecido  a  V.  Senhoria  as  suas 
jóias  para  a  guerra.»  Jacint:io  Freire  de 
Andrade,  Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv. 
2.  —  "Ainda  que  eu  me  achasse  em  Goa, 
não  quiz  perder  a  parte  da  honra,  que  me 
dahi  cabe.  Por  Catherina  minha  -filha 
mando  as  minhas  jóias  a  V.    Senhoria. 


Não  julgue,  em  quão  poucas  são ;  as  que 
pôde  haver  em  Chaul,  porque  lhe  certi- 
fico, que  eu  sou  a  que  menos  tinha,  por- 
que as  tenho  repartido  por  minhas  filhas.» 
Ibidem. 


E  Vossa  Senhoria  ao  Ócio  entregue. 
Dorme  profundamente?  Acorde,  acorde 
Desse  moUc  Icthargo,  que  é  já  tempo ; 
Veja  o  que  deve  a  si,  aos  seus  maiores, 
A  grande  Dignidade,  que,  brilhando 
Com  seus  rayos,  o  cerca,  magestosa ; 
E  deixe  a  ^■il  Lisonja,  que  o  arrastra. 
Disiz  DA  CRUZ,  HTssorE,  eant.  2. 


O  Padre  Guardião,  antes  das  cinco, 
Xacj  costuma  da  sesta  levantar-se  ; 
Mas.  por  servir  a  Vossa  SeiUioria, 
A  desperta-lo  vou :  no  em  tanto  pode 
Lá  na  Cerca  esperar,  tomando  o  fresco. 
IBIDEM,  caut.  5. 


—  Os  que  furem  do  senhorio  d' alguém; 
os  que  servirem  no  exercito,  debaixo  do 
mando,  e  a  soldo  de  algum  senhor. 

—  A  dona  da  casa  em  que  se  habita 
de  aluguer. 

—  A  mulher  do  senhorio. 
SENHORIAGEM.  Vil.  Senhoreagem. 
SENHORIAL,  adj.  2  gen.  Pertencente  ao 

senhor,  de   estados  ou  de  povos,  c  ao  se- 
nhorio ou  suas  deper.dencias. 

SENHORIL,  adj.  2  gen.  Próprio  de  se- 
nhor, pertencente  ao  senhor. 

—  Nobre,  magestoso,  garboso  ;  próprio 
de  pessoas  de  alta  gerarchia. 

SENHORILMENTE,  adv.  (De  senhoril, 
com  o  suffixo  «mente»).  De  modo  senho- 
ril, com  garbo,  e  gravidade. 

SENHORIO,  s.  m.  Dominio,  mando,  di- 
reito sobre  alguma  cousa,  auctoridade. 
—  «E  Nepociano,  cõ  a  mayor  força  de 
seu  exercito,  que  chegados  junto  á  Cida- 
de Lugo-,  acharão  unidas  em  hum  corpo 
as  relíquias  dos  Suevos,  que  lastimados 
de  se  ver  privados  da  grandeza  e  senho- 
rio que  tinhaò  cm  Hespanha,  resistiaij 
contra  a  corrente  da  prospera  ventura 
dos  Godos,  para  mayor  dano,  e  destrui- 
ção sua.»  Monarchia  Lusitana,  liv.  6, 
cap.  7.  —  «Esforça,  esforça  coração,  não 
desfalleças  cm  cousas  de  tamanho  con- 
tentamento, pois  tens  debaixo  de  teu  se- 
nhorio aquelle  esforçado  Clarimundo, 
exemplo  de  toda  a  bondade.»  Barros, 
Clarimundo,  liv.  2,  cap.  9. —  «E  pois 
este  lugar  é  mais  merecedor  de  vós,  que 
de  outrem,  e-vós  mais  delle,  que  nin- 
guém, nào  me  negueis  o  que  vos  peço, 
nem  engeiteis  este  desejo,  que  me  have- 
ria por  injuriado.  Ao  menos  deve-vos 
lembrar,  que  o  melhor  desta  terra  guar- 
dou Urganda  pêra  vós;  por  isso  aceitai 
o  senhorio  delia  com  a  mesma  vontade, 
que  vol-o  eu  ofieroço.»  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  d'Inglaterra,    cap.    120. 

Mas  nem  por  isso  eu  ja  te  importimárn. 
Soflxèra  antes  meu  mal  que  importunartc. 


480 


SENH 


SENH 


SENH 


K(!  a  nova  occaaiAo  me  nâo  iiio»trAra 
Moilo  (lo  mo  cu  viiifçar,  c  tu  do  lioiiiarto  ; 
]$om  rtabcs  f(iio  o  firao  Turco  lio.jo  prepara, 
Porque  o  rtou  ciibi(;oso  animo  farto, 
SoldadOíí,  Oapitàirt,  armas,  navio*. 
Para  coiir|uirttar  da  índia  ort  nenhorioK. 

r.  u'ani>iiadic,  j'rimkiiio  ceiiou  UR  mu,  cant.  1°2, 
est.  Hf). 


Fica  oxtincto  o  valor  nos  Lusos  peitos, 
Dopois  (|uo  estranha»  Leis  o  Tojo  ouvira. 
Do  Mar  o  Senhorio  ontiio  transforc 
A  mãos  Hritana»  o  Sculior  dos  Mundos. 

J.    A.    DK   MACKDO,   VIA(1K.M    K,trATIOA,   Cant.    4. 


— ■  Di{íni(l;iilc,  ar,  continoacia  do  se- 
nhor, sTaiiilc,  c  nobre. 

—  Oi  direitos  e  jurisdicções  que  ti- 
nhiiiu  1)8  seuliores  das  turras  e  vas.sallos. 

—  Império,  reino,  e.^tados  ;  territoiio 
perteuceute  ao  senhor.  —  « Forem  nós 
vocado,  consirando,  c  esguardando  cm 
como  da  dita  novidade,  fazondo-se  os  di- 
to.s  contrautos  d'artoraiuontoi!,  e  emprasa- 
mentos,  e  arrendamoiito.s  pela  dita  fjuiaa 
a  certo  ouro  ou  prata,  ou  a  todo  junta- 
mente, 80  sotruem  a  nna,  e  aos  nos.sos 
KciíHDí!,  c  senhorio,  e  ao  povoo  delles  os 
males,  e  dapnus,  o  pardas  suso  ditas,  e 
outras  niai.s,  (pio  longa»  seriam  de  con- 
tar.» Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit.  2,  §  6. — 
€  For  quanto  nosso  desejo  foi  sempi'e,  c 
soerá  do  pensarmos,  consirarmos,  olhar- 
mos, e  esgiiarilarmos  em  como  faremos 
leixar  Constitui^-ooens,  o  Ilordenayooens, 
c  outras  cousas,  pelas  quaoc.s  os  povora- 
dores,  e  abitadores,  e  todo  o  jtovoo  dos 
nossos  llep;nos  o  senhorios.»  Ibidem,  4j  2. 
—  «E  quacQsquer  dos  ditos  Mercadores 
Estrangeiros,  que  o  contrairo  fezerem, 
percam  os  ditos  avores,  o  mercadarias, 
que  assy  comprarem,  o  venderem  contra 
a  dita  Hordonaçom,  ou  outrem  porolles: 
e  os  naturaaos  de  nosso  Senhorio,  que  o 
contrairo  fezerem,  percam  os  beens  que 
ouvcrem,  e  sejam  presos  ataa  nossa  mer- 
ece.» Ibidem,  tit.  4,  §  14.  —  «E  porem 
ordenamos,  e  poemos  por  Ley  geeral  em 
todos  Nossos  Regnos  e  Senhorio,  que 
nom  soja  algum  taõ  ousado,  do  qualquer 
condiçom  que  seja,  quo  daqui  eu  diante 
tal  apenhamento  fa(;a  ou  receba.»  Ibi- 
dem, tit.  39.  —  oE  esto  poenios  por  Ley 
Ueeral;  a  qual  Mand.inios  que  se  cum- 
pra em  todos  Nossos  Kegnos  e  Senhorio, 
assy  como  dito  he,  porque  achamos  \wr 
Direito  quo  assy  so  devo  fazer.»  Ibidem, 
tit.  43,  v?  '2.  —  «  E  qualquer,  que  o  con- 
trairo fezer,  Jlamlamos,  que  se  for  es- 
trangeiro, quo  per  esse  meesmo  feito  per- 
ca to. la  essa  mercadaria,  quo  assi  levar, 
o  os  liceus  (pie  ouver  em  Nossos  Reguos 
O  Senhorio,  e  tambom  soja  perdido  o  na- 
vio, em  que  tor  carregada;  e  se  esse 
mercador,  ou  senhor  do  navio  for  Nosso 
súbdito  ou  natural,  Mandamos,  que  aalem 
da  ditív  pena  da  mercadaria  perca  todolos 
bcous  que  ouver,  c  sejam  pêra  a  Coroa 
de  Nossos  Reguos.»  Ibidem,  tit.  03,  §  3, 


—  oE  poiquc  a  n(is  convém  provoer  a 
eilo  por  iio.-tso  Hervi(;o,  c  bem  de  nossos 
Reguos,  aconJanios  com  acordo  doa  do 
nosso  (-'onsclho  poer  por  Ley,  '|Ue  daqui 
em  diante  nom  seja  nenhum  ta("í  ousado, 
do  quakpKír  esta'lo  e  condi(;om  <|ue  seja, 
(pio  om  todo  o  nosso  Senhorio  cmipre, 
nem  venda  alguma  mcrcailoria.»  Ibidem, 
tit.  20,  §  1.  —  «Forem  estabelecemos,  e 
jioeemos  por  Ley,  que  quaee8(|uor  Fidal- 
gos, que  cm  nossa  terra  e  Senhorio  vi- 
vem, ou  daqui  om  diante  viverem,  <pie 
sejam  nossos  Vassailos,  ou  do  Ifante,  ou 
dos  outros  nossos  Vassallos  maiores,  que 
de  mis  teem  lugar,  c  estado  pêra  esto,  e 
nos  ham  de  servir,  o  nom  som  escusados 
por  hiilado  de  velhice,  ou  d'outro  embar- 
go lidimo  sem  sua  culpa.»  Ibidem,  tit. 
26,  S  ^-  —  «Uom  Aítonso,  etc.  A  todal- 
las  Justiças  dos  meus  Reguos  faço  saber, 
que  avudo  Conselho  com  os  de  minha 
Corte,  porque  achei  que  muitos  preitos, 
o  demandas  se  faziam  nos  meus  Regnos 
por  rasom  das  soldadas  dos  mancebos  e 
mancebas,  e  por(pie  achei,  e  fui  certo 
pelos  do  meu  Senhorio,  que  esses  man- 
cebos e  mancebas  os  de  mais  delles  de- 
mandavaõ  esses  seus  amos,  com  que  mo- 
rava(")  em  outro  tempo,  as  soldadas  que 
ja  tinhaõ  pagadas.»  Ibidem,  tit.  27,  §  1. 

—  a  No  anuo  de  mil  e  trinta  e  cinco  moi"- 
reu  el  Rey  Dom  Sancho  de  Navarra,  o 
ficou  seu  filho  Dom  Fernando  com  o  se- 
nhorio de  Castella,  gozando  jà  o  titulo 
Roal,  (pie  o  jiay  lhe  dera  em  sua  vida.» 
Monarchia  Lusitana,  liv.  7,  cap.  27.  — 
«Jlas  os  mouros  per  nossos  peccados,  e 
castigo  permitte  Dcos  terem  ocupada  ha 
m<ír  parte  de  Ásia,  e  Africa,  e  boa  de 
Europa,  onde  tem  Impérios,  Regnos,  e 
grandes  senhorios,  nos  quaes  uiuem  mui- 
tos Christãos  debaixo  da  seus  tributos, 
alem  dos  muitos  quo  tem  captiuos,  e  a 
todos  estes  fora  mui  perjudicial  toniarem- 
se  os  filhos  dos  mouros.»  Dami.HO  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1, 
cap.  20.  —  «O  que  assi  concluído  os 
mantimentos  foram  entregues  naquelie 
dia,  e  noite  que  alli  chegou  Afonso  dal- 
buquerque,  e  pela  manh.n  se  tez  a  vela 
eaniinho  doutra  villa,  também  do  senho- 
rio dei  Rei  do  Ormuz  jior  nome  Curiate, 
e  no  caminho  mandou  que  se  dessem  dos 
mantimentos   (pie    ouuera  em  Calaiate  a 


rente.»     Ibidem,    part. 


cap. 


31.— 


«Fera  hum  feito  de  guerra  poderá  ajun- 
tar dons  mil  homens  de  cauallo,  seus  su- 
geitos,  vassalos  e  criados,  tem  sempre 
em  Adem  hum  governador,  homem  de 
confian(;a,  por  ser  esta  huma  das  milluv 
res  cidades  do  todo  sen  senhorio. '  Ibi- 
dem, part.  3,  ca]!.  43. —  «A  este  tempo, 
que  Affonso  d'.\lboqueifpie  esteve  iuver- 
nando  nesta  Ilha  ('anuíram,  de  alguns 
Mouros  que  acudiam  Á  terra  firme  soube 
como  o  Xeque  de  Adem  estava  junto  de 
huma  ^"illa  (.-liamada  Zcbit,  que  he  do 
seu  senhorio,  ao  qual  quiz  mandar  huma 


carta.»  Barros,  Década  2,  liv.  8,  cap.  3. 
—  « E  Florendos  teu  neto  case  com  Ar- 
ménia, irmJla  do  mesmo  SoldSo,  tilo  fer- 
mosa  antro  as  ontra.s  muliíereí  daqueste 
tempo,  (pio  so  duvida  haver  outra  mais; 
ao  (piai  dará  toda  a  parte  "h;  seu  senho- 
rio, quo  confina  com  o  teu  ini|.<TÍo.i 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  í(3.  —  tV(Í8  vais  descDCuntar 
Lioiiania,  que  é  fernio«a  e  rica,  e  sobre- 
tudo herdeira  de  senhorio  tJo  nobre  e 
grande ;  píVlo  ser  que  o.s  seus  amores  no- 
vos vos  fa(;am  esquecer  cuidados  relhos; 
o  entSo  nem  tereis  que  esperar  de  nin- 
guém, nem  de  quem  vos  queixeis  tão 
pouco.»  Ibidem,  cap.  9.').  —  •^'(jlambar 
depois  de  e^tar  no  navio,  fazendo  sua 
paixiio  terifio,  tornou  cm  ci;  e  vendo-se 
embarca'la  o  mettida  no  mar  cm  poder 
de  seus  imigos,  desterrada  de  seu  senho- 
rio, e  jiera  peior  perdida  a  esperança  de 
o  tornar  a  cobrar,  quiz  dar  comsigo  n'a- 
gua  e  morrer  n'ella,  tomando  aquelle  tor- 
mento por  veniadeiro  ílescan<;o.»  Ibidem, 
cap.  119.  —  «Assim  se  partiram  da  ilha 
Fmfunda,  correndo  a  remos  ao  longo  da 
costa,  pola  vèr  melhor  á  sua  vontade, 
que  era  povoada  de  muitas  vilias  e  Ioda- 
res grossos;  senhorio  porá  qualquer  prín- 
cipe se  contentar.»  Ibidem.  —  «Esta  co- 
marca he  toda  habitada  de  Christàos  Ar- 
ménios, e  aqui  se  acaba  ho  senhorio  do 
.Sufy,  e  senhorea  o  grão  Turco :  junto 
deste  mar  esta  huma  vila  que  se  chama 
Argiz.»  Tenreiro,  Itinerário,  cap.  22. 

—  Tomar  novo  senhorio ;  passar  como 
vassallo  a  serviço  d'outro  senhor. 

—  Senhorio  proveitoso;  domínio  utíl, 
contraposto  ao  direito. 

—  Senhorio  maior;  o  do  soberano,  emi- 
nente ao  dos  senhores  de  terras,  das 
quaes  se  recorreu  sempre  para  os  sobe- 
ranos. 

—  Senhor,  dono,  proprietário.  —  «  E 
se  fosse  feito  similhante  apenhamerito  an- 
tro outras  pessoas,  que  nom  fosse  antro  o 
foreiro  da  cousa  atibrada  e  o  Senhorio, 
tal  contrauto  d'apenhamento  assy  feito,  a 
saber,  que  o  credor  ouvesse  as  rendas  e 
fruitos  da  cousa  apenhada  cm  salvo,  ataa 
seer  pago  de  sua  divida,  seria  nsureiro, 
e  assv  o  principal,  como  os  dites  fruitos 
serem  perdidos  para  n(Í8,  assy  como  usu- 
ra.» Ord.  Affons.,  liv.  (5,  tit."  19,  §  n. — 
«E  por  tanto  Dizemos,  que  se  algnma 
cousa  fosse  posta  em  giiarda  ou  condesi- 
Iho  a  alguém,  e  elle  despois  recusasse  de 
a  entregar  ao  Senhorio  sem  ju.«ta,  e  lií- 
dima  razom,  ou  se  usasse  delia  sem  voon- 
tade  expressa  do  Senhorio,  em  ta!  caso 
deve  esse  depositário  seer  preso,  ataa 
que  pague  da  Cadea,  e  entregue  a  dita 
cousa,  c  dãpno  que  em  ella  fez,  por  se 
delia  usar  sem  voontade  de  seu  dono, 
seendo  delle  querellado  em  forma  de  di- 
reito.» Ibidem,  tit.  07,  §  n.  —  «E  ficarão 
captivos  duzentos,  em  que  entravão  ijio- 
Iheres  muito  alvas,  c  fermosas,  e  estes 


SENI 


SEXR 


SENS 


481 


todos  escolhidos,  entre  mais  de  dou3  mil 
que  captiuarào,  porque  aos  outros  deu 
dom  Francisco  liberdade,  e  entre  os  ca- 
ptivos  foram  os  senhorios  de  três  nãos 
de  Cambaia  que  estavam  varadas  diante 
da  cidade.»  Damião  de  Góes,  Chronica 
de  D.  Manoel,  part.  2,  cap.  3. —  cSendo 
esta  nao  tanto  auante,  como  o  cabo  de 
Comori.  gouernou  o  piloio  mouro  de  noi- 
te a  tal  rumo,  que  foi  ter  a  antemanhã  a 
ilha  de  Candaluz,  que  he  huma  das  prin- 
cipais de  Maldiua,  onde  estauam  miútos 
Malabares  de  Calecut,  que  trataram  mui 
mal  Simam  dandrade,  com  os  que  com 
elle  hiam,  e  os  matarão  senam  ouueram 
medo  que  Afonso  Dalbuquerque  fezesse  o 
mesmo  ao  senhorio  da  nao,  e  aos  outros 
Mouros  que  recolherão  consioro.i»  Ibidem, 
part.  3,  cap.  26.  —  «Onde  Vicente  Diaz 
mercador  senhorio  do  namo,  cujo  era 
aquelle  batel,  andaua  passeando  taõ  se- 
guro, como  se  esteuera  em  Tauilla  don- 
de elle  viuia,  tendo  somente  por  arma 
hum  bicheiro  que  tomou  no  batel  por  aju- 
da de  bordão.  8  Barros,  Década  1,  liv.  1, 
cap.  13. —  «Estes  tem  bom  cabedal,  as 
suas  embarcações  tem  humas  asas  largas 
feitas  de  caniçada  tam  grandes  quanto  he 
ho  comprimento  delias,  nas  quaes  agasa- 
lham dous  ou  três  mil  adens,  mais  ou 
menos  segundo  he  ha  embarcaçam :  algu- 
mas destas  sam  de  senhorios  e  andam 
nellas  seus  criados :  apacentam  estas 
adens  da  maneira  seguinte.»  Tenreiro, 
Itinerário,  cap.  9. 

—  Adágios  : 

—  O  figo  cabido  para  o  senhorio,  e 
o  que  está  quedo,  para  mim  quero. 

—  Em  logar  realengo,  faze  teu  assen- 
to, e  em  terra  de  senhorio,  não  faças  teu 
ninho. 

SENHORITA,  s.  f.  Filha  de  senhores 
ou  grandes ;  por  cortezia  diz-se  em  Hes- 
panha  da  filha  de  qualquer  outro  sujei- 
to de  representação,  e,  em  Portugal,  se- 
nhora. 

Agora  dança,  e  toca  a  castanheta, 
Celebra  os  Chichisbeos,  e  as  Senhoritas 
De  Cupido  o  carcaz,  e  ardente  sétta. 

ABBADE  DE  JAZESTE,    POESIAS,    tOm.    2,    pSg.    45. 

—  Termo  de  zoologia.  Senhorita  de 
Numidia;  espécie  de  aves  do  género  an- 
tropoide:  é  de  côr  parda  azulada,  com  a 
cabeça  e  parte  do  collo  pretos,  e  tem  em 
cada  olho  um  pennacho  de  pennas  bran- 
cas compridas  e  flexíveis,  que  pendem 
para  traz. 

SENHORITO,  s.  m.  Menino  nobre. 

—  Senhor  de  pequeno  senhorio. 
SENHORIZAR,  r.  a.  Fazer  senhor,  dar 

poder  e  governo. 

SENHOS,  adj.  ant.  Vid.  Sendos. 

SENIL,  adj.  2  gen.  íDo  latim  senilis). 
Concernente  ou  relativo  á  velhice  ou  aos 
velhos. 

—  Ant.  Um  dos  epithetos  que  os  astro- 

■VOL.  T.  — 61. 


logos  davam  ao  quarto  quadi-ante  do  the- 
ma  celeste. 

SENILIDADE,  s.  f.  Velhice. 

SEMO,  í.  m,  (Do  latim  senium).  Idade 
decrépita. 

SÉNIOR,  adj.  ant.  Senhor. 

—  tí.  m.  O  mais  antigo  de  certa  com- 
munidade. 

—  O  membro  do  senado. 

—  O  irmão  mais  velho,  em  opposicao 
a  jiuúor. 

SENNE.  Vid.  Sene. 

SENO,  s.  m.  (Do  latim  sinus).  Termo 
de  mathematica.  —  Seno  recto,  ou  primei- 
ro de  tim  arco,  ou  angulo;  linha  recta 
perpendicular,  que  cáe  da  extremidade 
do  arco  ou  angulo  sobre  o  diâmetro  que 
passa  pela  outra  extremidade,  e  por  isso 
se  entende  quando  absolvitamente  se  diz 
seno. 

—  Seno  segundo  ds  um  arco;  o  seno 
primeiro  do  complemento  do  dito  arco, 
até  ao  quadrante. 

—  Termo  de  cirurgia.  Pequena  cavi- 
dade ou  bolsinho  de  matéria,  que  se  for- 
ma ao  lado  da  chaga. 

f  SENODONIA,  s.  /.  Termo  de  zoolo- 
gia. Género  de  insectos  coleopteros  pen- 
tameros,  da  familia  dos  serricornes. 

SENOGA.  Vid.  Esnoga,  e  Synagoga. 

f  SENOGASTROS,  s.  m.  i,lur.  Termo 
de  zoologia.  Género  de  insectos  dipteros, 
da  familia  dos  brachvstomos. 

t  SENOM,  ou  SENON.  Vid.  Senão.  — 
lAos  quaes  vintaneiros  Nos  mandamos, 
que  vo-los  dem,  o  nomeem,  e  os  ponham 
em  vintenas  bem,  e  direitamente  sem 
nenhum  engano,  que  antre  elles  aja,  se- 
nom,  se  achado  for,  que  os  nam  dam,  e 
escusam  algum  pêra  nom  seer  posto  em 
vintena,  que  lho  estranharemos,  como 
nossa mercee  for.»  Ord.  Affons.,  liv.  l,tit. 
70,  §  2.  —  oE  porem  mandamos  a  todolos 
Corregedores,  Juizes,  e  Justiças,  e  Ofii- 
ciaes,  e  pessoas  dos  nossos  Regnos,  que 
esta  Carta  de  Hordenaçom  virem,  que  a 
façam  assy  publicar  em  todalas  Cidades, 
Villas,  e  Lugares,  e  cumprir  e  guardar  pe- 
la guisa  que  dito  he,  e  nom  consentam,  que 
nenhum  contra  ella  vaa,  de  qualquer  es- 
tado e  condiçom  que  seja ;  senom  sejam 
bem  certos  que  lho  estranharemos  grave- 
mente, e  de  mais  que  pagaram  por  seus 
beens  outro  tanto,  quanto  essas  rendas 
renderem.»    Ibidem,  liv.  4,  tit.  2,  §  10. 

Vimos  também  leuantar 
aem  ninguém,  senom  por  si, 
O  Xeque  Ismael  Sophi, 
e  por  amor  ajuntar 
gente  mais  que  nunca  ouui. 

a.    DE  KEZEXDE,  MISCELLAHEA . 

SENOS.  Vid.  Senhos. 
SENOURA.  Vid.  Cenoura. 
SENRA,  í.  /.  ant.  Seara,  ou  campo  pró- 
prio para  seara. 

SENRAZÃO.  Vid.  Semrazão. 


SENREIRA.  Wà.  Cenreira. 

SENSAR...  As  palavras  que  principiam 
por  Sensab...,  busquem-se  com  Semsab... 

SENSAÇÃO,  í.  /.  (Do  latim  stnsatio- 
nem).  Xome  extensivo  a  toda  a  impres- 
são que  a  alma  recebe  dos  objectos  por 
intermédio  dos  sentidos. 


Todo  o  meu  ser  em  si  se  rmmerge,  e  pensa ; 

Rompe  hum  clamor  universal  silencio, 

E  me  diz  que  sou  corpo  organisado, 

E  hum  de  infinitos  animaes,  que  a  Terra 

Mui  carinhosa  mài  produz,  e  nutre : 

Como  elles  nasço,  e  vivo,  e  cresço,  e  morro  •, 

Como  elles  sinto  a  dor,  sinto  os  prazeres; 

São  meus  iguaes  nas  sensações  corpóreas ; 

Em  todos  vejo  idênticos  sentidos  •, 

Existe  em  todos  maquinal  instincto, 

Que  em  varias  gradações  se  eleva,  ou  desce 

Desde  o  vasto  Elefante  ao  vérmc  ignoto. 

J.    A.    DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Caut.   1. 


—  Sensações  externas ;  as  que  reconhe- 
cem por  causa  os  objectos  exteriores,  por 
órgãos  os  que  estão  collocados  na  parte 
exterior  do  corpo,  e  por  eôeitos  as  rela- 
ções que  medeiam  entre  nós  e  os  seres 
que  nos  rodeiam. 

—  Sensações  internas;  as  que  nascem 
pela  influencia  de  estimiúantes  interiores, 
que  obram  no  seio  das  cavidades  ou  nas 
profundidades  das  vísceras. 

f  SENSATEZ,  s.  f.  Cordura,  sisude- 
za,  prudência,  circumspecção,  juizo. 

SENSATO,  adj.  (Do  latim  sensatus). 
Cordato,  prudente,  sisudo,  assisado,  do- 
tado de  bom  senso. 

SENSIBILIDADE,  s.  f.  Propriedade  inhe- 
rente  aos  corpos  organisados  que  os  faz 
aptos  para  receber  as  diversas  impres- 
sões . 

—  Em  sentido  mais  estricto,  é  a  pro- 
priedade que  tem  os  diversos  órgãos  de 
receber  impressões  com  mais  ou  menos 
facilidade. 

—  Fallando  do  homem,  faculdade,  po- 
der, efleito,  propriedade  do  nosso  ser,  em 
virtude  da  qual  recebemos  impressões  de 
varias  espécies,  e  temos  a  consciência 
d'ellas. 

—  Em  accepção  menos  lata,  é  o  sen- 
timento que  nos  faz  compadecer  das  mi- 
sérias alheias,  e  soífrer  com  mais  força  as 
impressões  do  amor,  da  ternura,  etc. 

—  Disposição  tema  e  delicada  da  al- 
ma, que  a  torna  sensível  e  compadecida. 
—  «Ficára-lhe  molesto  o  peito,  e  a  olhos 
vistos  ia  demudando;  e  as  esperanças 
que  os  Médicos  me  dávão,  não  lhes  vi- 
nhão  do  ânimo ;  e  o  meu  amado  Consor- 
te, que  se  sentia  avizinhar  da  morte,  co- 
lhia quantas  forcas  tinha  para  me  escon- 
der a  sua  mágoa,  e  dissimular  os  padeci- 
mentos, que  pela  minha  sensibilidade  lhe 
serião  mais  insupportaveis. »  Francisco 
Manoel  do  Nascimento,  Successos  de  ma- 
dame de  Seneterre. 

SENSIENTE,  adj.  2  gen.  (Part.  act.  do 
Sentir;.  Que  sente,  ou  tem  sensação. 


482 


SENS 


SENSIFICAR,  V.  a.  —  Sensiflcar  os  mem- 
hrax;  tornar  a  fazel-08  senfliveis;  restituir 
á  sonuibiliilaílc. 

SENSITERIO,  s.  m.  Sentido,  potencia 
do  sentir. 

SENSITIVA,  í.  /.  Tornio  do  botânica. 
Espccio  do  i)lanta8  do  género  mimosa, 
quo  ó  iinia  das  mais  nctaveis  do  reino 
vogotal,  por  cansa  da  cxeossiva  irritabi- 
lidade de  suas  folhas,  quo  se  contrahem 
com  a  simples  approximaçito  do  corpos 
cstranlioa. 

SENSITIVO,  ndj.  (Do  latim  smsitivm). 
Dotado  da  faeuidado  do  sentir. —  «Y,  a 
conteco  o  arrebatamento,  assim  nas  po- 
tencias, quo  conhecera,  como  na  que  ap- 
petcce,  porque  alpjumas  veses  se  arreba- 
ta, e  cnleua  a  iniaginatiua  tanto  sobro 
as  faculdades  exteriores,  o  sensitiuas, 
quo  estas  parecem  não  attcndcr,  c  na 
verdado  não  attcndom.»  Fr.  Bartholo- 
mou  dos  Martyrcs,  Compendio  de  espi- 
ritual doutrina,  cap.  12. 

—  Vida  sensitiva;  a  rpio  consiste  bq- 
mente  em  sentir,  o  ter  sensações. 

—  Appetite  sensitivo ;  diz-se  das  cou- 
sas que  imprimem  nos  sentidos. 

—  Q.ue  cau?a  sentimento,  sensível.  — 
«Nos  outros  baluartes  não  cstavão  as  ar- 
mas ociosas,  porque  em  todos  so  peleija- 
va,  para  com  a  diversão  facilitar  a  en- 
trada pelo  do  Sant-IaíTO,  ondo  havia  re- 
bentado a  mina.  Ordenou  também  Ru- 
mecão,  que  se  batesse  a  Igreja  da  Foi-- 
taleza,  que  podia  ser  arraza<Ia  por  estar 
eminente,  crendo  naquelle  lugar,  seria 
mais  sensitiva  a  oíFensa.»  Jacintho  Frei- 
re do  Andrade,  Vida  de  D.  João  de  Cas- 
tro, liv.  2. 

SENSÍVEL,  adj.  2  gen.  i  l)o  latim  sm- 
sihílis).  l'ereeptivel  pelos  sentidos  ou  que 
so  imprime  n'elles.  —  «O  Pensamento  he 
huma  aijplicação  de  entender  cousas  sen- 
siueis,  tcmporaes  sojeita  a  diuertimento. 
Meditação  he  huma  applicação  da  alma 
prudente,  e  attenta  em  conhecer,  e  in- 
quirir cousas  verdadeiras.»  Fr.  Rartholo- 
meu  dos  Martyres,  Compendio  de  espiri- 
tual doutrina,  cap.  12. 

Sompro  a  mão  lho.  convpm  d",igonto  citorno, 

K  tudo  iiaaon  de  fensirel  cavisa. 

Quantoa  objectos  lia,  que  a  vista  cncantão 

Cora  tão  pnsmoaas  variadas  cores, 

São  milagres  da  hu,  o  eftcitos  delia. 

J.  A.   DE  MACEDO,  JCEDITAÇÃO,  Cant.   2. 

Eia  nova  maravilha,  outro  prodigio 
To  vai  mostrar  o  ar.  Tu  d'harmonia 
Sensível  sempre  ao  magico  attraotivo 
Sentes  fcrir-tc  o  timpano  suavo 
Ligeiro  catrondo,  quo  uoa  vallca  forma 
Ecoo  sentimental,  das  Musaa  filho. 

IDEM,  A  NiTUKEZl,  Cant.  2. 

— •  Doloroso,  lamentável,  que  CAusa  ou 
movo  sentimentos  de  dòr. 

—  Compadecido;  diz-se  da  pessoa  quo 
se  dóe,  compadece  facilmente. 


SENS 

—  Teimo  do  jjhysica.  Diz-so  do  ins- 
trumento, ctc,  quo  marca  a»  mais  pe- 
quenas differenças  o  variações.  —  Balan- 
ça sensivel. 

—  Tormo  de  musica.  Nota  sensivel; 
a  que  está  utn  Homitom  mais  baixa  que 
a  touicn. 

SENSIVELMENTE,  ndv.  (Do  sensivel, 
com  o  sudixo  a  mente»).  De  um  modo  sen- 
sivel; j)erceptivolmento,  visivelmente. 

—  Dolorosamente,  j)ezarosamcnto,  com 
grande  dôr,  sentimento,  pezar,  pena. 

— •  Por  meio  de  sensação. 
SENSIVO,   adj.  Sensivel. 
SENSO,  .1.  VI.  (Do  latim  semus).   Juí- 
zo, siso,  entendimento. 

—  Senso  communi;  o  mesmo  quo  o  Juí- 
zo natural,  que  adquire  todo  o  homem 
que  usa  bem  das  faculdades  intellectuaes 
sem  mais  sciencias  nem  estudos  recôndi- 
tos. 

—  A  opinião  commum  dos  sensatos  ou 
sisudos. 

SENSÓRIO,  adj.  Que  respeita  á  facul- 
dade do  sentir,  que  serve  a  receber  as 
sensações.  —  Órgãos  sensórios. 

—  Órgão  da  sensibilidade,  parto  onde 
reside  a  faculdade  do  sentir  ou  sentido 
commum. 

SENSORIO-COMMDM,  s,  m.  O  ponto  de 
união  de  todos  os  nervos  onde  se  cuida 
que  a  alma  sente  as  impressões  feitas 
nos  órgãos  externos,  segundo  o  systema 
do  influxo  physico. 

SENSUAL,  adj.  2  gen.  (Do  latim  sen- 
sualis).  Concernente  aos  sentidos,  sensi- 
tivo. 

—  Voluptuoso,  libidinoso,  apegado  aos 
prazeres  dos  sentidos. 

—  L\ixurioso,  lúbrico,  libidinoso  ;  re- 
lativo ao  appetite  carnal.  —  «O  Peito  nii, 
liso,  e  despido  de  cabellos,  fiiz  que  seja 
timido,  e  clVeminado,  pela  exiguidade  de 
calor  natural  no  coração.  As  mamillas 
pingues,  e  ilacidas  arguem  o  homem  de 
sensual,  dobil,  e  eíFeminado.  A  parte  es- 
querda do  peito  pingue,  carnoza,  e  cras- 
sa, com  hum  signal,  ou  nevo  materno 
vestido  de  cabellos  indica  felicidades, 
honras,  riquezas. »  Braz  Luiz  d'Abreu, 
Portugal  medico,  pag.  343,  §  198. 

SENSUALIDADE,  s.  f.  Inclinação,  ape- 
go aos  prazeres  sensuaes  e  corporaes,  de- 
leitação nos  prazeres  carnaes. 


Na  honra  mais  que  ellos,  a  Sensual  idade 
Razão  a  triumphe,  captivc,  e  degrade. 

ANTÓNIO  PBE3TES,  AUTOS,  pag.  101. 

—  Deleito  carnal,  sensual. 

—  A  qualidade  do  ser  sensual,  propen- 
são para  os  prazeres  sensuaes. 

SENSUALISMO,  *.  m.  Termo  de  philo- 
sophia.  Doutrina  philosophica  opposta  ao 
idealismo,  que  faz  derivar  todas  as  nossas 
idêas  dos  sentidos,  o  dá  por  único  tim  d 
nossa  existência  os  gozos  sensuaes;  liga- 


SENT 

ío  multo  com  o  materialismo  o  o  athois- 
nio. 

t  SENSUALISTA,  ».  2  gen.  Partidário 
do  senaualirimu. 

—  Adj.  —  Doutrina,  ou  synUma  sen- 
sualista. 

SENSUALIZAR,  v.  a.  (Do  sensoal). 
Fazer  Hensual,  incitar  aos  prazeres  ften- 
suaes. 

SENSUALMENTE,  a<lv.  (Da  sensual,  e 
o  sudixo  •  mente >i.  Libidinosamente,  vo- 
luptuosamente, com  sensualidade,  com 
lascivia. 

SENTA,  ».  f.  ant.  Cinta,  cingidouro. 

SENTADO,  part.  pas$.  do  Sentar. 

Onde  and.iatej;  at«'gora? 

Andei  o  d<!-mo  e  bou  cunhado, 

andei  per  cA  c  per  IA, 

c  W  per  CÁ, 

c  cÍ9-mc  agora  aqui  sentado. 

AKTOmO  PBMTEÍ,  ACTOS,  p»g.  371. 

Dizendo  isto  se  enuolue  num  momento 
Cri  nquella  gente  hipócrita  nefanda 
Fica  o  Sousa  espantado  vendo  tanta 
Cegeira,  nos  quo  tnl  maldade  aprou&o, 
A  porta  quo  parece  ser  segunda 
Ve  que  por  ella  a  gente  ja  não  ejíbe, 
Leuanta  os  olho»  ve  tentado  encima 
Delia,  hum  varão  de  dous  rostos  diversos. 

CORTE  BEAL,  NAUFKAOIO  DC  SEPCLTKDA,  Cant.   11. 

Cuidas  ver,  I.i  n'um  throno  de  diamantr, 
•Sentado  o  pae  dos  numes ;  por  boub  Ubioa 
Fulge  o  louvor  da  lusitana  gente. 
Pasmo  e  terror  do  mundo.  E'  seu  propósito 
De  mor  gl'iria  lhe  dar  no  ignoto  Oriento. 

GARRETT,  CAMUES,  Caut.  7,  CSp.  15. 

Canta  a  Palmeira,  o  Onagro  alpestre,  o  o  Poço 
E  Rebecca  esposada,  e  o  Perejrrino 
Patriarcha,  sentado  ao  réz  da  Tenda. 

r.   U.  DO  NASCIMENTO,  OS  XABTTRE8,  1ÍV.  2. 

Destes  Numes  he  obra,  he  maravilha 
O  excelso  Cenotafio.  Aos  pés  teTitada 
A  Virtude  admirei  «implico,  o  nna, 
Ella  servo  de  base  \  M«^le  egre^a. 

J.    A.    DE  MACEDO,   VIAGEM  EXTÁTICA,  CAIlt.    3. 

Magoada  então  Mel|iomcne  lho  afina 
A  tema  Lira  d'ebano,  c  decanta. 
Sentado  junto  \  Lapida  inscnsivcl, 
Oa  duros  Fados  dos  raortacs,  que  pedem 
A  dôr  ao  Corarão,  aos  olhos  pranto. 

IDEM,  A  NATUREZA,   Cant.    1. 

Quanto  me  apraz,  sentado  ao  Sol  quo  nasce, 
ViT  em  bandos  vaar  palrriras  Gralhas; 
Do  affogucado  Sul  deixando  o  clima 
Vêm  buscjir  entre  nóa  pasto,  c  guarida ! 
Negros  p'lotõea  cm  .angulo  se  formão; 
Polo  espaço  do  ãr  y\  sõa  ao  longe 
O  guincho  atroador,  que  instiga  09  frooxoa. 
loiDEM,  cant.  3. 


SENTAR.  Vid.  Assentar. 

—  No  sentido  de  coUocar  alguém  em 
cadeira,  etc.  —  Sente-se  neste  logar.  net- 
ta  cadeira. — «Assim  travadas  polas  mãoa 
se  foram  com  a  imperatriz  a  sua  casJ^ 


SENT 


SENT 


SENT 


483 


onde  sentaiido-se  ambas  juntas,  cada  uin 
dos  que  alli  estavam  punha  os  olhos  nel- 
las  por  vêr  aquelle  extrumo  da  nature- 
za. Floriano,  depois  de  beijar  as  mãos  á 
imperatriz  sua  avó,  que  o  abraçou  mui- 
tas vezes  por  ser  íillio  da  tilha  a  que  sem- 
pre maior  bem  quiz,  se  foi  a  (iridonia 
pêra  lhe  beijar  as  suas,  que  o  abraçou, 
não  lh'as  querendo  dar.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  112. 
—  fPera  a  baldearem  fora  não  havia 
quem  já  tivesse  força  nem  esforço,  se  tor- 
nou á  sua  camará  com  a  cor  perdida  e 
mortal:  e  seutando-se  sobre  uns  coxins 
perto  das  suas  douzellas,  que  postas  era 
cabello  choravam  sua  lim,  começou  di- 
zer.» Ibidem,  cap.  llõ.  —  «Essa  fran- 
queza de  Suzauua  me  restituio  a  boa 
opinião,  que  eu  delia  tinha  concebido,  e 
lhe  affirmei  que  disposta  estava,  e  indul- 
gente a  ouviria;  e  que  arremessada  n'um 
mundo  que  se  me  assemel liava  estraniio, 
tomaria  a  bem  que  se  não  forrasse  a  in- 
dividuação alguma.  Assim,  nos  sentámos 
uma  junto  d'outra;  e  ella  começou  nesta 
substancia.»  Francisco  Manoel  do  Nasci- 
mento, Successos  de  madame  de  Seue- 
terre. 


Quantas  8'oft''rcccm  lúcidas  osferas 
A  meus  olhos  attóuitoa !  Bom  como 
Do  poiíiifero  Outono  em  dooea  tardos, 
Quando  o  Sol  já  declina,  me  api-azia 
Sentar-me  junto  do  espelhado  lago, 
Era  que  travadoa  louros  se  debruçào, 
Se  09  nadadores  peixes  A  porfia 
Queria  ver  sahir  do  fundo  escuro. 

J.   A.    DE  MACEDO,  UEDITAÇÃO,  Cant.   2. 


Lembrem-te  agora,  se  te  assombras  tanto, 
Do  pomifero  Outono  alegres  dias, 
Quando  ao  descer  do  Sol  íe  apraz  sentar-te 
Na  horvosa  margem  do  espelhado  lago 
Qu'os  loureiros  fatídicos  assombrào. 

IDEM,  A  NATUREZA,  Cant.    1. 


SENTEAL.  Vid.  Centeal. 

SENTENÇA,  s.  /.  (Do  latim  sententia). 
Dito  grave  e  memorável,  máxima  mui 
sabia,  discreta,  que  contém  moralidade. 
—  «As  dores  recentes,  avivando  as  anti- 
gas, começaram  a  coiwerter  pouco  a  pou- 
co os  severos  princípios  do  christianismo 
em  flagello  e  martyrio  daquella  alma, 
que  a  um  tempo,  o  muudo  repellia  e  cha- 
mava e  que  nos  seus  transes  d'angustia 
sentia  escripta  na  consciência  com  a  pen- 
na  do  destino  esta  sentença  cruel :  — 
nem  a  todos  dá  o  tumulo  a  bonança  das 
tempestades  do  espirito.»  A.  Herculano, 
Eurico,  cap.  2. 

—  Sentido,  parecer,  opinião. 

Póde-sc  agora  dizer? 
Sim,  se  Ignez  me  dér  licença, 
Iluma  mudança,  e  sentença; 
Contra  amor  de  huma  mulher. 
Naõ  pôde  ser  que  iaso  soja. 
Nem  quero  saber  de  quem  •, 


Naõ  se  estranhe  de  ninguém. 
Quando  se  mudou  Tareja. 

F.    li.    LOBO,   EGL0OA8. 

Tua  sentença  não  é  a  minha;  oppostos 
São  noaso.s  votos ;  serão  sempre  unidos 
Nossos  principios. — Tu  não  julgas  inda 
Necessário  escolher  entre  os  dous  termos, 
De  morte  ou  liberdade.  Embora !  oiçamos. 

OABEETT,  CATÃO,  aCt.   2,    90.   2. 


—  Juízo  de  Deus  contra  os  peccado- 
res. 

—  Decisão  legitima  dada  pelo  juiz,  ou 
arbitro  de  tribunal  em  matéria  litigio- 
sa.—  íE  se  esse  Taballiam,  ou  Escri- 
pvam  ftízer  Carta  de  Sentença  tirada  de 
processo,  que  seja  taõ  grande,  que  leve 
toda  huma  pelle  de  carneiro  chea  de  boa 
escriptura,  sem  malícia  escripta,  levará 
delia  cinquenta  brancos,  e  de  mea  pelle 
vinte  e  cinco  ;  e  do  quarto  da  pelle  quin- 
ze brancos.»  Ord.  Affons.,  liv.  1,  tit.  3G. 

—  «Item.  Os  beens  dos  condapnados  per 
Sentença  no  caso,  houde  o  condapnado 
perde  a  vida  natural,  ou  o  estado,  ou  a 
liberdade  da  pessoa,  e  per  sua  morte,  ou 
condapnaçom  nom  iicou  alguum  seu  acen- 
dente,  ou  decendente  lydemo  ataa  o  ter- 
ceiro graao.»  Ibidem,  liv.  2,  tit.  24,  § 
15.  —  «E  mandamos  que  esta  nossa  Hor- 
denaçom  aja  lugar  em  todalas  demandas 
movidas  e  por  mover,  e  em  as  que  som 
tiudas  per  Sentenças,  se  ainda  per  ellas 
nom  forem  feitas  as  eixecuçooens.»  Ibi- 
dem, liv.  4,  tit.  1,  §  22. —  «Que  logo 
seja  feita  eixecuçom  em  seus  beens,  sem 
elle  seer  mais  chamado,  nem  ouvido  com 
seu  direito,  tal  desatforamento  nom  va- 
Uia  cousa  alguma,  ainda  que  logo  assy 
seja  julgado  per  sentença;  porque  sem 
embargo  de  tal  coutrauto,  e  sentença 
mandamos  que  nom  seja  feita  eixecuçom 
per  ella,  a  menos  que  este  condapnado 
seja  chamado,  e  ouvido  com  seu  direito 
sobre  essa  eixecuçom :  o  assy  declaramos 
o  dito  artigo  seer  entendido. »  Ibidem, 
tit.  7,  §  2.  —  «E  no  caso  honde  a  mo- 
Iher  demandasse  a  possissom  vendida  pelo 
mariflo  sem  seu  outorgamento  com  Carta 
d'ElRey,  ou  sem  Carta,  como  dito  he,  e 
a  veeucesse  per  Sentença,  querendo-a  co- 
brar aa  sua  maaõ,  deve  primeiramente 
pagar,  ou  offerecer  o  preço,  por  que  foi 
vendida,  e  as  berafeítarias,  que  acerca 
delia  forom  feitas.»  Ibidem,  tit.  11,  §  3, 

—  «E  desprezar  essa  dignidade  da  Igre- 
ja sobredita,  sublimada  com  o  trono  de 
nosso  Império,  perturbando  a  verdade  da 
ordem  Eclesiástica,  e  usando  mal  da  au- 
thoridade  daquella  Igreja,  que  tão  decla- 
rada tem  a  antiga  sentença  dos  Cânones, 
a  qual  cousa  em  nenhum  modo  queremos 
que  mais  se  faça  desde  agora  para  sem- 
pre.» Monarchia  Lusitana,  liv.  G,  cap. 
20.  —  « Sam  tam  charidosos  nesta  parte, 
que  compram  per  dinheiro  os  bomens 
que  os  Mouros,  e  Resbutos  condemnaõ 
por  sentença  a  morte,  mas  fora  deste  pre- 


cepto  nenhuma  outra  charidade  vsam, 
porque  sam  todos  onzeneiros,  e  falsarios 
de  todo  género  de  pedraria,  e  mercado- 
rias.» Damião  de  Góes,  Chrouica  de  D'. 
Manoel,  part.  3,  cap.  64.  —  «Mandando 
lhe  administrar  todo  ho  necessário  muy 
abundantemente  ate  que  ha  sentença 
viesse  da  corte  e  se  declarasse.  Apresen- 
tados os  papeis  na  corte,  e  visto  tudo  por 
el  Rey  e  por  todos  seus  oíBciaes,  pronun- 
ciou ha  sentença  da  maneira  seguinte.» 
Tenreiro,  Itinerário,  cap.  25.  —  « Ha 
primeira  he  que  ha  sentença  era  muito 
mais  extensa  e  larga  do  que  aqui  esta 
referida,  e  com  os  Portugueses  que  ba 
tinham  em  seu  poder  ha  terem  encui'ta- 
da,  eu  ha  eucurtey  mais,  tomando  soo  as 
principais  forças  delia  e  cortando  tudo  bo 
mais.»  Ibidem,  cap.  26.  —  «Acabadas 
estas  perguntas,  o  mandou  El-Rey  levar 
outra  vez  ao  Castello,  donde  se  livrou ; 
mas  a  sua  sentença  nào  a  achámos  neste 
Estado,  nem  quem  delia  nos  soubesse  dar 
informação:  somente  o  que  atrás  temos 
dito,  ser  condemuado  nos  ordenados  de 
dous  annos  da  governança  pêra  Pêro 
Mascarenhas.»  Diogo  de  Couto,  Década 
4,  liv.  6,  cap.  8.  —  «Acabada  de  publi- 
car esta  sentença,  estando  nós  todos  nove 
sempre  em  joelhos,  e  com  as  mãos  levan- 
tadas diante  do  Chaem,  e  cò  outras  muy- 
tas  cerimonias  que  os  ministros  nos  ensi- 
navão,  dissemos  alto  que  todos  o  ouvi- 
rão. Confirmada  he  em  nós  a  sentença 
do  teu  claro  juyzo,  assi  como  a  limpeza 
do  teu  coração  apraz  ao  tilho  do  Sol.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações, 
cap.  103, —  «E  chegando  a  publicação 
da  nossa  sentença,  nos  fizeraõ  a  todos 
assentar  em  joelhos  com  as  cabeças  incli- 
nadas ao  chaõ,  e  as  mãos  ambas  levanta- 
das como  quem  faz  oraçaõ,  para  cõ  esta 
humildade  a  ouvirmos  publicar,  a  qual 
dezia  assi.»  Ibidem.  —  «A  qual  informa- 
ção pode  tãto  cõ  el  Rey  que  o  fez  tornar 
de  tudo  atrás  do  que  tinha  determinado, 
e  mudado  a  sentença  mãdou  que  visto  o 
que  novamente  lhe  tinhão  dito  de  mis, 
nos  fizessem  a  todos  em  quartos,  os  quais 
serião  postos  nas  ruas  publicas  paraque 
publicamente  se  soubesse  quão  merece- 
dores éramos  daquella  justiça.»  Ibidem, 
cap.  140.  —  «Porque  estando  ja  este  per- 
ro para  dar  á  execução  a  sentença  que 
tinha  dada  contra  mim,  lhe  foraõ  alguns 
seus  amigos  á  mão  aconselhandoo  que  o 
não  fizesse,  porque  se  me  matasse,  os 
Portugueses  todos  em  Pegú  se  avião  de 
queixar  delle  a  el  Rey.»  Ibidem,  cap. 
153.  —  «O  qual  vendo,  que  tinha  huma 
sentença  contra  si  sobre  a  successão;  e 
que  não  tinha  por  si,  senaõ  alguns  ami- 
gos, e  seus  criados,  se  fez  levantar  tu- 
multuariamente  em  Santarém,  ao  tempo, 
que  jà  o  Duque  de  Alva  marchava  por 
Alentejo.»  Severim  de  Faria,  Noticias 
de  Portugal,  Disc.  2,  cap.  9.  —  «E  disto 
hà  sentenças  em  favor  dos  Cidadãos  de 


4«4 


si<:nt 


SENT 


SENT 


Lisboíi,  o  do  Porto,  quo  todon  tom  pri- 
vilcfíioH  do  Infaa(;.oo,us,  concodidoa  pcloa 
Keyii  piís^adoH.»  Ibidem,  Diio.  ;í,  cup. 
22.  —  «So^^^  juyiso;',  c  julgadores,  saS  os 
aeiia  I Iodamos,  que  tanto  os  outiinilo,  e 
da  sentença  quo  dào,  não  lia  agrauo, 
noni  a])|irlliii.rio,  antes  8o  põo  logo  cm 
cxccuvào.  Estoá  tra/.om  por  vara,  liiuna 
Cruz  na  niào,  pouco  mayor  cie  duiis  jial- 
mos.»  i''r.  (Jaspar  da  Crui!,  Tratado  das 
cousas  da  China,  cap.  y.  —  «A  ostea 
tom-so  amor,  o  aoa  outroa  medo,  depois 
do  despropósito  de  Vieira,  ou  como  di/.ia 
um  inquisidor,  mandando  a  sentença  d'es- 
to  ultimo:  uAlii  vao  essa  borraclieira.» 
Bispo  do  (.irào  Par;l,  Memorias,  publica- 
das por  Camillo  Castello  liranoo,  pag.  'JO. 

—  Figuradanumte:  —  «E  outra  vez. 
Os  que  absolufrdos,  soram  absoltos,  o  oa 
que  nam  absolverdes  nam  seram  absoltos: 
E  por  tanto  a  sentença  que  o  confessor 
pronuncia  depois  de  ter  ouuida  a  cõtis- 
sam,  he  coniirmada  no  Coo.  A  qual  lie, 
Eu  te  absoluo  de  teus  peecados.  E  estas 
palauras  sam  a  forma  deste  Sacramento : 
nssi  como  a  matéria  he  os  peecados  con- 
fessados.» Fr.  liartholonicu  dos  ilarty- 
rc3,  Catecismo  da  doutrina  christã,  part. 
1,  cap.  &2. 

—  D(tr  sentença ;  sentenciar,  decidir, 
julgar  por  souton^'a.  —  «E  o  que  nom 
parecesse  pessoalmente  no  dia  per  Nós 
assinado,  nem  mantlasse  por  si  escuzador, 
quo  allegasse  por  cUe  o  embargue,  e  ne- 
cessidade, que  ouve  a  nom  vir,  devemo- 
lo  mandar  emprazar  outra  vez  perante 
Nós,  recontaudo-llie  na  carta  do  empra- 
zamento toda  a  cauza  como  se  passou;  o 
nom  vindo  o  rotado  ao  prazo,  que  lhe 
for  assinado,  devemos  dar  contra  cl  sen- 
tença á  sua  revelia  em  esta  forma.»  Ord. 
Affons.,  liv.  1,  tit.  6i,  §7.  —  «Prolii- 
bio,  que  estando  a  parte  ausente,  e  não 
sendo  ouvida  sua  defesa,  senão  pudesse 
dar  sentença  em  acusação  alguma  quo 
lhe  fosse  feyta,  o  que  depois  coulu-màrào 
muytos  Pòtilicos  seus  sucessores.  Morto 
Eleutlierio  a  quem  o  Martyrologio  dà 
nome  de  Martyr,  llie  sueedeo  Victor,  I. 
do  nome,  depois  de  estar  a  Sè  vagãte 
cinco  dias.»  Monarchia  Lusitana,  liv.  õ, 
cap.  24.  —  «E  lio  a  razaõ,  porque  Fer- 
nando Roy  de  Nápoles  julgou  o  Reyno  a 
sua  neta  do  seu  tilko  mais  velho  defunto, 
excluindo  outros  tilhos  mais  moços :  e  Fi- 
lippe  Iley  de  Inglaterra  deu  sentença 
pela  sobrinha  do  Duque  do  Bretanha,  ti- 
llia  de  seu  irmão  mais  velho,  excluindo 
08  varoens  mais  moços,  irmãos  do  mesmo 
Duque.»  Arte  de  furtar,  cap.  IG,  — 
«Uuma  hora  antes  de  chegarmos,  por 
mostrar  quanto  nosso  apayxoiiado  ora, 
deu  sentença  do  morte  contra  elles,  man- 
dando quo  logo  os  onforoiíssem,  o  que 
tudo  so  fez  dentro  de  huma  hora ;  som 
que  nÒ8  soubéssemos  parte  d'estas  cou- 
sas, mais  que  quando  checamos,  ac;iba- 
rem  de  morrer,   com  o  que  o  uosso  lin- 


goa  8c  deu  por  bem  vingado,  pois  via 
Bcm  vida,  quem  tanto  desejara  tirarllia.» 
Fr.  íi aspar  da  (Jruz,  Tratado  das  cousas 
da  China,  cap.  Ki. 

—  Fulminar  a  sentença ;  pronuucial-a 
quando  c  prejudicial  a  alguém. 

—  Pronunciar  a  sentença;  dictal-a, 
pul)lical-a. 

—  Sentença  arbitral;  a  que  dJlo  os  ár- 
bitros em  virtude  do  poder  ou  compro- 
missos das  partes. 

—  Sentença  (Ujinitiva;  a  que  o  julga- 
dor, coiicluido  o  processo,  dá  linalmontc 
sobre  o  negocio. 

SENTENCIADO,  part.  yasa.  do  Senten- 
ciar. 

SENTENCIADOR,  adj.   Que  sentenceia. 

SENTENCIAR,  v.  a.  iDe  sentença).  Dar 
ou  prununoiar  sentença. 

—  Figuradamente:  Decidir,  dar  o  seu 
parecer,  juizo  ou  opinião,  úcorca  do  uma 
causa  ou  contenda. 

—  Impor  qualipier  pena  por  sentença. 
SENTENCIOSAMENTE,    adv.    (De    sen- 

tencioso,  com  o  suffixo  « mente »;•  Ue 
mo  lo  sontencioso,  judiciosamente. 

SENTENCIOSO,  adj.  (Do  latim  smtm- 
tiosus).  (.irave;  que  contém  sentenças, 
máximas  discretas,  moralidades. 

—  Em  (}ue  ha  sentenças. — Discurso 
senteucioso. 

SENTIDAMENTE,  adv.  (De  sentido,  com 
o  suíllxo  «mente»).  Com  sentimento,  com 
dôr,  dolorosamente. 

SENTIDÍSSIMO,  adj.  superl.  de  Sentido. 
Muito  sentido,  ou  afTiicto. 

SENTIDO,  part.  pass.  de  Sentir.  —  tÇu- 
falarim,  posto  que  fosse  sentido  de  Fer- 
não perez  dandrade,  e  achasse  nelle  e 
nos  outros  capitaens  que  alli  estauam  re- 
sistência, foi  desembarcar  duas  horas  ante 
manhã,  antre  a  pouoaç;ào  do  Aguacim  e 
Benastarim.  Miliqui  eufgorgi,  a  mesma 
hora  chegou  a  çaucalim,  onde  estauão  as 
Cotias  de  Goa,  com  as  quais  veo  sobre 
Benastarim,  e  ganhou  a  estancia,  posto 
quo  com  nmita  resistência,  em  que  mor- 
rerão alguns  dos  seus,  e  dos  nossos  de 
que  hum  foi  George  do  sousa.»  Damião 
de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  'ò, 
cap.  5.  —  «Alguns  dias  depois  disto,  sou- 
be Nuno  fernaudez,  como  junto  Dalme- 
dina  estauam  huns  aduares,  nos  quaes 
determinou  de  ir  dar  huma  antemanhã, 
mas  por  ser  sentido,  o  lhe  sair  da  cidade 
muita  gente  de  pe,  e  de  eauallo,  se  tor- 
nou sem  fazer  nada.»  Ibidem,  cap.  33. 
—  a  Donde  el  Rei  dom  loam  terceiro  seu 
filho  mandou  depois  trosladar  seus  ossos 
pêra  ho  mosteiro  de  Bethelem,  que  el 
liei  dom  Emanuel  seu  pai  (Como  fica 
apontado)  fez  do  nouo  pêra  sou  jazigo,  e 
de  toJos  seus  filhos,  sua  morte  foi  mui 
sentida  per  todo  o  regno.»  Ibidem,  part. 
4,  Ciip.  19.  —  «Posto  que  checara  ato  o 
xerguaõ  sem  ser  sentido,  e  quam  pouco 
alli  aproueitaua  por  entaõ,  mandou  ale- 
uantai*  o  campo,  e  so  foi  a  Alcácer  que- 


bir  dondo  dcapcdio  os  Alcaidoa,  maud&n- 
dolhes  que  eatiueaiicm  prestes  pêra  quan- 
do OA  mandaiMc  chamar,  os  ({uaoH  dexpe- 
didoa  «e  foi  pêra  Fez,  onde  o  deixaremos 
por  agora  estar,  e  trataremuH  duutros  ne- 
gócios que  nentc  tem[)0  pai«i-aruu  em 
Africa.»  Ibidem,  cap.  47. —  t  E,  antes 
do  serem  sentidos,  tomaram  todos  oh  caa- 
tcilos,  oshIim  o  (jue  fora  de  seu  iruião, 
como  08  ásuf  donzolla-t,  matando  os  po- 
voadores delles:  que,  como  o  duqa«  de 
Ortão  e  oa  outros  senhorea,  cuju8  eram, 
haviam  a  terra  por  at-gura,  puseram  nel- 
ies  pouca  guarda.»  Francisco  <le  Mora«f, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  KMj,  —  íDLs- 
farçou-rttí  o  bom  Rey  á  guiza  deste»,  e 
entre  elles  passou  uma  noite,  e  outra,  até 
que  cliegou  a  infausta  para  toilos  :  dei- 
xou-se  hir  au  chamado  dos  oíBciaes,  que 
03  levarão  todos  á  Alfandega;  e  o  «eu 
mayor  cuidado  foy  dar  tesouradas  nas  ca- 
piis  de  todos  sem  ser  sentido.»  Arte  de 
furtar. 

Fareis  bem  de  vos  tomar 
Porque  estou  mui  mal  letUido ; 
Não  cureis  de  me  fallar, 
Qne  iiio  SC  p<Sdc  escusar 
Ser  perdido. 

GIL  VICENTE,   FIBÇAS. 

—  «  E  boijandolhe  a  donzolla  por  isso 
a  mão,  lha  leo  como  convinha  a  sua  ten- 
ção, cie  que  a  Raynha  dizem  quo  ficou 
tão  sentida,  que  nrio  sendo  ainda  acabada 
de  lêr  de  todo,  lhe  disse  maytas  vezes 
com  as  lagrimas  nos  olhos,  nSo  mais, 
não  mais,  baste  por  agora  o  que  tenho 
ouvido.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregri- 
nações, cap.  142.  —  « E  assi  a  voltas 
de  sentidas  lagrimas,  e  amorosos  abra- 
ços, que  amigos,  e  parentes  nos  dauão, 
dando  a  boa  viagem  nos  partimos  huma 
mcnhaã,  tão  cedo  do  dia,  quam  tarde 
do  tempo.»  Fr.  Gaspar  da  Cruz,  Tra- 
tado das  cousas  da  China,  cap.  1.  —  «Sen- 
tido o  Grão  Turco  de  tão  notauel  afron- 
ta, mandou  outro  poder  mayor,  e  porque 
seu  caminho  por  onde  elles  canhão  era  o 
nosso:  se  ordenou  tomássemos  outro  di- 
ferente, e  com  a  ocasião  desta  volta,  a 
tiuemos  para  vermos  a  torre  de  Babel.» 
Ibidem,  cap.  10.  —  «  Treze  annoa  viue- 
rào  08  primos  casados,  no  fim  dos  qnaes 
querendo  Hadixa  dar  a  hum  filho  vida, 
os  leuou  juntos  a  morte,  cujo  parto  fi>i 
tã  lamentitdo  de  todas  as  Arábias  que 
Mafoma  delle  sentido  cuydou  ficar  sem 
cila.»  Ibidem,  cap.  20. 

—  Jleio  podre.  Diz-se  das  cousas  co- 
mestiveis,  que  começam  a  danmar-se,  e 
ter  mau  cheiro.- 

—  <S.  »)i.  Qualquer  das  cinco  faculda- 
des chamadas  sentidos,  por  meio  das 
quaes  tanto  o  homem,  como  os  irracio- 
naes  se  põem  em  relaç5o  com  o  mundo 
exterior ;  taes  são  o  sentido  do  ouvido, 
do  tacto,  da  vista,  do  olfato,  do  pala- 
dar. 


SENT 


SEXT 


SENT 


485 


Nestas  contendas  eu  ando  comigo, 

vejo  contra  mi  moitas  sem  razões, 

per  todos  os  sentidos  me  entram  as  paixões. 

D.  JOASSA  DA  GAHA,  DITOS  DA  FBKIEA,  pag.    103. 

Os  seus  cabellos  soltos  spiraram 
Hum  odor,  qua  nenhuns  mortaes  seiUidos 
Knnca  chegou,  e  assi  ua  foute  entraram, 
Qu'he  dentão  para  c;'i  delias  morada 
Jlas  dhuma  só  das  outras  emprestada. 

ASTOXIO  FEBBEIRA,    EGLOGA  1. 

— »  Os  deleites  nesta  vida  nos  cinco 
sentidos  se  cifraí5  todos :  e  os  da  vista 
com  ser  dos  sentidos  o  mais  nobre,  saõ 
de  qualidade,  que  a  noite  os  rouba;  e 
nisso  que  vemos  de  dia,  ainda  que  nos 
alegre,  vemos,  que  ha  mais  defeitos  para 
aborrecer,  que  perfelçoeus  para  estimar.» 
Arte  de  furtar,  cap.  70. 

—  O  entendimento,  ou  a  razão  para 
discernir  as  cousas. 

—  Appetite.  —  Deíxar-se  arrastar  pe- 
los seus  sentidos. 

—  Modo  particular  de  entender  alguma 
cousa,  ou  juízo  que  d'ella  se  forma. 

—  Intelligencia,  ou  conhecimento  com 
que  se  executam  algumas  cousas. — Ler 
com  sentido. 

—  Significação  perfeita  de  alguma  pro- 
posição ou  clausula,  e,  n'este  caso,  diz- 
se :  Esta  jyroposiçào  carece  ds  sentido. 

—  Accepçào,  significado  dos  termos  ou 
palavras.  —  Esta  palavra  tem  dous  senti- 
dos. —  «  E  por  aquy  vereis  os  sentidos 
das  palauras  Et  regnabit  in  domo  Jacob. 
Porque  chamarse  o  reyno  de  Christo  de 
Dauid  esta  claro,  porque  esta  promessa 
fez  a  Dauid  por  Natham  Profeta :  mas  se 
as  promessas  da  vinda  de  Christo  se  fize- 
raõ  a  Abrahào  e  por  isso  se  chama  seu 
filho.  Líber  generationis  lESV  Christi 
jili  Dauid,  jily  AbraJiam.  Porque  quando 

se  trata  do  reyno  de  Christo  se  diz.  i?e- 
gnabit  i)i  d&mo  lacob?  Trazey  a  memoria 
a  luta  que  lacob  teue  co  Anjo  e  o  que 
diz  Oseas.»  Paiva  d'Andrade,  Sermões, 
part.  1,  pag.  207.  —  «O  nome  do  tro- 
vador não  foi  privativo  dos  provençaes, 
porque  portuguezes  e  castelhanos  os  hou- 
ve. Toma-se  aqui  no  sentido  genuino  da 
palavra,  poeta  guerreiro  com  seu  tanto 
de  cavalleh-o  andante,  e  não  no  vulgar  e 
vicioso  de  hoje,  improvisador,  verseja- 
dor :  digo  vicioso,  porque  para  isso  temos 
nós  trovista.»  Garrett,  Camões,  nota  A 
ao  cant.  10. 

—  Uma  ou  mais  interpretações  que  se 
podem  dar  a  uma  proposição  ou  a  algum 
escripto.  —  Os  diversos  sentidos  da  Sa- 
grada Escriptura. 

—  ilodo  de  distinguir  e  separar  um 
objecto  de  outro,  o  qual  na  pintura  se 
consegue  por  meio  de  certos  toques;  no 
bordado  com  sedas  de  diíferentes  cores, 
nos  vestidos  com  guarnições,  enfeites,  etc. 

—  Sentido  accommodaticio ;  o  que  se  dá 
ás  palavras  da  Sagrada  Escriptura,  ap- 
plicando-as  ou  accommodando-as  a  outro 


sentido  differente  daquelle  em  que  se  di- 
zem e  entendem,  segundo  a  sua  própria 
e  rigorosa  significação. 

—  Sentido  interior;  faculdade  interior 
na  qual  se  recebem  e  inijjrimem  todas  as 
imagens  dos  objectos  que  enviam  os  sen- 
tidos exteriores. 

—  Abmidar  em  seu  sentido;  seguir  a 
BUã  opinião. 

—  Com  todos  os  seus  cinco  sentidos  ; 
com  toda  a  attenção,  advertência,  cuida- 
do, ou  grande  diligencia. 

—  Perder  os  sentidos,  Jicar  sem  senti- 
dos ;  desmaiar.  —  «  E  dom  loam  polia 
muyta  vontade  que  pêra  isso  lhe  viu  o 
fez,  e  o  tomou  polia  mão,  e  correndo  as- 
si ambos  a  carreyra  na  forca  do  correr 
o  cauallo  do  Principe  cahio,  e  o  leuou 
debaixo  de  si,  onde  logo  em  prouiso  fi- 
cou como  morto,  sem  faia,  e  sem  senti- 
dos.» Garcia  de  Rezende,  Chronica  de 
D.  João  II,  cap.  132.  —  «Florendos,  que 
té  então  a  não  vira,  esperou  um  pouco, 
e  em  chegando,  que  pôz  os  olhos  nella, 
ficou  tão  esquecido  de  si  e  da  aflronta 
em  que  estava,  que,  perdido  o  sentido, 
enlevado  no  que  via,  ficou  sem  nenhum 
acordo. »  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
d'Inglaterra,  cap.  110. 

—  Inttrj.  Tomar  cuidado;  ter  conta, 
est-ar  alerta. 

SENTIENTE.  Vid.  Sensiente. 
SENTILHO,  s.  7)i.  Cintilho. 
SENTIMENTAL,  adj.  Que  excita  ou  ex- 
prime sentimentos,  affecto  pathetico. 

Eccos  seiífimentaes,  que  a  morte  agourão, 
Que  sahidos  dos  túmulos  parecem, 
Nào  sei  de  que  prazer  meu  peito  inundào : 
Somno  da  morte,  és  grato  a  hum  desditoso  ! 

J.   A.   DE  UACEDO,  UEDITAçlo,  Caut.    3. 

—  Diz-se  da  pessoa  propensa  a  afle- 
ctos,  a  impulsos  fortes  da  alma. 

■ —  Escola  sentimental ;  a  que  attribue 
a  idêa  do  bom  moral  a  um  instincto  da 
sensibilidade. 

SENTIMENTALISMO,  í.  m.  Maneira  de 
exagerar  o  sentimento,  desnaturalisando- 
se,  iazendo-o  cair  no  ridículo.  Exagera- 
ção dos  affectos  de  ternura. 

SENTIMENTO,  s.  m.  Percepção  da  al- 
ma nas  cousas  espirituaes,  sensação  inti- 
ma,—  «E  sam  tam  cordiais  as  consola- 
ções, em  que  a  alma  per  este  conheci- 
mento, e  sentimento  toda  fica  banhada, 
porque  nenhum  caso  sente  hum  homem, 
nam  digo  ja  os  temores,  que  passam  com 
03  perigos,  mas  nem  sentira  a  me^ma 
morte,  se  nelles  acabara.»  Lucena,  Vida 
de  S.  Francisco  Xavier,  liv.  4,  cap.  7. 
—  R  Cuido  se  levantaram,  por  que  os 
olhos  publicavam  os  sentimentos  da  al- 
ma d'aquelles  tristes  e  pobres  desterra- 
dos.» Bispo  do  Grão  Pará,  Memorias, 
publicadas  por  Camillo  Castello  Branco, 
pag.  182.  —  «Continuou  o  Suppico  nos 
seus  desacertos;  e  introduzindo-se  com  o 


infante  D.  Francisco,  se  presumiu  que 
lhe  inspirava  sentimentos  indignos  do 
nascimento  de  infante,  com  infidelidade 
á  coroa,  desconfiança  que  se  aggravou  • 
com  a  retirada  d'elle  para  Inglaterra.» 
Ibidem,  cap.  110. 

—  Dôr,  pena,  pezar;  magua,  desgosto. 
—  «Atras  fica  dito  como  o  Condestabre 
dom  Afonso  casou  com  donna  loanna  de 
Noronha,  filha  de  dom  Pedro  de  mene- 
ses,  primeiro  Marques  de  villa  Real,  o 
qual  Condestabre  estando  em  Beja,  mo- 
ço, e  na  frol  de  sua  idade  veo  adoecer 
de  doença  de  que  morreo  no  mesmo  lu- 
gar, no  mes  Doctubro  destãno  de  M.  D, 
iiij.  de  cuja  morte  el  Rei  mosti-ou  gran- 
de sentimento,  por  lhe  ser  muito  affei- 
çoado.»  Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  1,  cap.  82. —  «Por  sua 
morte  mostrarem  muito  sentimento  os 
Reis  de  Calecut,  Cananor,  e  Coulam,  e 
sobre  todos  o  de  Cochim  que  era  muito 
seu  amigo,  e  o  mesmo  se  sentio  no  Ca- 
baim  dalcão,  e  em  Miliquiaz  senhor  de 
Dio  não  por  lhe  estes  dous  quererem 
bem,  senam  pela  grande  estima  era  que 
o  tinham,  mas  sobre  todos  deu  mores 
mostras  Xxirandar  Rei  de  Ormuz,  quan- 
do lhe  deram  as  nouas  de  seu  falecimen- 
to, porque  o  chorou  muitos  dias,  e  se  en- 
earrou  e  tomou  dó  ao  seu  modo.n  Ibidem, 
part.  3,  cap.  80. —  «El  Rey  por  tama- 
nha perda,  tamanho  nojo,  e  sentimento 
se  trosquiou.  E  elle,  e  a  Rainha  se  ves- 
tirão de  muyto  baixo  pano  negro.  E  a 
Princesa  trosquiou  os  seus  prezados  cabe- 
los, e  se  vestio  dalmafega,  e  a  cabeça 
cuberta  negro  vaso.  E  na  Corte,  e  em 
todo  o  Reyno  não  ficou  senhor,  nem  pes- 
soa principal,  nem  homem  conhecido  que 
se  não  trosquiasse.»  Garcia  de  Rezende, 
Chronica  de  D.  João  II,  cap.  132. — 
«Com  este  choro,  e  sentimento  foi  en- 
terrado em  huma  Capella  de  N.  Senhora, 
que  elle  mandara  fazer  na  porta  da  Ci- 
dade, a  que  chamam  de  N.  Senhora  da 
Serra,  por  causa  da  vocação  da  Casa  que 
fez,  pola  razão  que  já  dissemos,  na  qual 
tem  Missa  cotidiana,  que  hoje  se  diz  por 
sua  alma,  com  renda  que  pêra  isso  lá  or- 
denou.» Barros,  Década  2,  liv.  10,  cap. 
8. —  «E  fez  outras  demonstrações  de  sen- 
timento, dizendo  a  quem  lho  estranhava, 
que  o  naõ  fazia  por  perder  huma  bata- 
lha, sendo  cousa  taõ  ordinária  entre  os 
Reis,  mas  por  ser  vencido  de  taõ  pouca 
gente  taõ  mal  armada,  e  de  quem  elle 
naõ  fazia  conta.»  Fr.  Bernardo  de  Bri- 
to, Elogios  dos  reis  de  Portugal,  conti- 
nuados por  D.  José  Barbosa. 


Até  quando  vos  vejo  entrar  na  gloria, 
Viverei  n"hum  continuo  feiitimento  : 
E  ainda  eutào  vereis  (sisto  ser  possa) 
Esta  minh°alma  lá  servir  a  vossa. 

CAM.,  EGLOGA  5. 


—  «Pelo  que  lhe  parecia  que  avia  mys- 


486 


SENT 


SENT 


SENT 


ter  muyto  mor  po  lor  que  o  que  trouxera 
para  tamanho  feito,  c  que  a  Deoi  toma- 
va por  tosteiiiuiiliii  da  grade  dôr  o  senti- 
mento que  tinha  i)elo  reccyo  cm  quo  es- 
tava do  lho  acõtceor  algum  dc8;i.->tre.  » 
Fornilo  Mciidos  Pinto,  Peregrinações,  cap, 
9. — fPuli)  qual  a  lua  oní  nninoria  do 
sentimento  doíta  morto,  se  cobrio  do  dó, 
que  eao  aquellas  nódoas  da  sombi-a  da 
torra  quo  cõmummonto  lho  vemos,  o  que 
quando  acordar,  ([uo  será  dcspois  de  pas- 
sarem tantos  annos  quantas  foraõ  as  crian- 
ças que  pario,  que  saõ,  como  dis.so  3.'U5i}3, 
então  tirará  a  lua  aquclla  mascara  do  dó, 
o  licanl  a  noito  ilaly  por  diante  tão  clara 
como  o  dia.»  Ibidem,  cap,  111.  —  «E  ou- 
vcrào  tamaiiiio  di)  das  lagrimas  o  des- 
acustumalo  sentimento  quo  virão  naquclla 
molhor,  que  detcrminarào  todas  entre  sy 
de  escreverem  huma  carta  á  may  dei  Rey 
em  nosso  favor,  a  qual  escreverão  aly  lo- 
go, em  quo  lhe  davão  cota  de  toda  a  ver- 
dade de  nós,  o  do  quo  por  dito  do  povo 
tiuhão  sabido,  e  quanto  contra  justiça  se 
dera  aquclla  sentença  contra  nós,  e  tam- 
bém lho  dozlào  o  que  esta  Portuguesa  ti- 
zcra.»  Ibidem,  cap.  141.  —  iDe  maney- 
ra  quo  todos  estes  cõ  estas  taõ  varias  e 
taõ  terríveis  asperezas  de  vida  saò  mar- 
tyrcs  do  demónio,  o  qual  lhes  dá  por  pre- 
mio delias  o  inferno  para  sempre.  Pelo 
qual  he  cousa  digna  de  grãdissima  dôr  e 
sentimento  ver  o  nmyto  que  estes  mise- 
ráveis fazem  por  se  perderem,  e  o  pouco 
que  os  mais  dos  Christaõs  fazemos  por  nos 
salvarmos.*  Ibidem,  cap.  161. 

Este  acto  tão  nefando,  e  indigno  tanto 
Do  que  huma  o  outra  bandeira  merecia, 
Com  gravo  sentimcnlo  c  hirgo  pranto 
Contcmnlado  então  foi  da  gente  pia. 
liem  deâCJiVrão  todos  mostrar  quanto 
Kata  religião  os  acendia, 
So  o  distante  logar  não  lh'impedira 
O  elíeito  de  tão  justa,  e  tão  pia  ira. 

rsANciâCú  nv:  akdbade,  pbimbibo  cebco  de  did, 
cant.  14,  est.  104. 

—  «Melhor  pareceu  ás  que  ouviao  a 
cantiga,  que  a  primeira,  com  que  se  af- 
feiçoáraõ;  porque  convinha  mais  a  seu 
propozito  quo  ao  sentimento,  o  queixume 
de  males  alheios;  derau-lhe  os  louvores, 
que  podiaij.  D  Rodrigues  Lobo,  Desenga- 
nado, cap.  10. 

De  maneira  me  alegraste, 
Quo  me  esqueci  do  tormento: 
Com  o  signal,  que  mostraste. 
Cessem  j\  lagrimas,  baste 
O  passado  seiUimeiUo. 

IDEM,   BQLOaÀS. 

—  Affecto  intimo  da  alma. 

—  Acção  de  perceber  os  objectos  po- 
ios sentidos. 

—  Sentido,  sentença,  parecer,  juizo, 
opinião. 

—  Rescntimento,  indignação  contra  al- 
guém. 


—  Rachadura  de  uma  parede,  vaso, 
etc,  estado  pouco  solido  de  edifício  ou 
outra  cousa. 

—  Principio  de  jtodridào,   mau  cheiro. 

—  Ttr  òuiis,  ou  vtaus  sentimentos ; 
ter  bom,  ou  mau  coração. 

—  1'er  sentimentos  noòres,  ou  baixo»; 
ter  coração  nobre,  ou  alma  vil. 

—  Iluiiiem  sem  sentimentos;  impruden- 
te, disfarçado,  desavergonlmdo,  etc. 

SENTINA,  «./.  (Do  latim  stiUinu).  Ter- 
mo de  náutica.  Arca  da  bomba  ou  parte 
baixa  do  navio  onde  bo  ajunta  e  corrom- 
pe a  agua,  e  se  accumulam  as  immun- 
dicias. 

—  Cair  nu  sentina ;  diz-se,  a  bordo, 
filiando  do  individuo  que  uào  apparece 
por  mais  que  se  chame  e  se  procure  por 
elle. 

—  Figuradamente :  Receptáculo  de  cou- 
sas podres,  do  immuudicias. 

—  Cloaca;  logar  hediondo,  receptácu- 
lo do  cousas  torpes,  foco  de  vícios. 

SENTINELLA,  s.  f.  Soldado  que  fica 
cm  vigia,  ou  guarda  militar  em  um  pos- 
to. —  tOs  que  puderão  escapar  fugindo, 
despertarão  o  arrayal  com  gemidos,  e 
vozes,  sem  saber  affirmar  cousa  certa. 
Com  a  mesma  confusão  chegou  a  Rume- 
cão  a  nova;  e  como  os  perigos  da  noite 
se  fazem  jtarecer  maiores,  entendeo  elle, 
que  o  atrevimento  dos  nossos  estribava 
em  forças  maiores  traziíàas  cm  algum  soc- 
corro,  que  havia  chegado  a  furto  de  suas 
seutinellas.»  Jaciutho  Freire  d'Andrade, 
Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv.  2. 

—  Figuradamente :  O  que  vigia,  ou 
guarda  alguma  cousa. 

S'ergue  contr'cllc  o  braço  o  fero  in'migo, 
Pelo  salvar  ao  forro  oppõc  seu  peito, 
lie  delle  prompta  seiíliiidla  activa, 
Serve-lhe  &3  precisões,  c  ao  gosto  servo. 
Xo  espesso  mato  a  caça  lhe  fareja ; 
E  na  lodosa,  túrbida  lagoa, 
Sentindo  a  jireza,  intrépido  se  atfunds. 

J.   A.   DE   UACEDO,   UKDITÀÇÃO,   CJint.   3. 

—  liendei-  a  sentinella ;  tiral-a,  mu- 
dal-a,  pôr  outra  em  seu  logar. 

—  Sentiuellas  jjcrdidas;  as  avançadas, 
que  ficam  muito  longe  do  corpo  do  exer- 
cito, ou  dos  arraíaes,  de  maneira  que  o 
inimiiío  quasi  .«empre  as  mata,  ou  prendo. 

SENTINODIA,  s.  f.  Herva  officinal. 

SENTIR,  V.  a.  {\)o  latim  sentire).  Per- 
ceber por  meio  dos  sentidos  as  impres- 
sões dos  objectos.  —  Sentir  abrir  a  por- 
ta. —  Senti  um  gosto  amargo.  —  Sinto 
viati  clieiro  n'esta  sala.  —  Senti  os  seus 
lábios  tocarem  os  meus.  —  «O  do  Salva- 
ge  se  lançou  f'>ra  do  cavallo  polo  sentir 
fraco,  e  arrancando  da  espada  os  aguar- 
dou, dizendo :  Paroce-me,  senhores,  que 
vos  acolheis  ao  mais  seguro,  pois  ajudai- 
vos  de  toda  a  vileza  que  poderdes,  que 
por  derradeii"o  as  donzellas  irão  comigo, 
e  comvosco  ficará  a  magoa  de  as  perder; 
o  oxalá  vos  fique  só  essa  perda.»  Fran- 


cÍBco  do  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  110. 

Sed  libera  no»  a  mato ; 
Babeis  qui:  cá  chove  lia  dias 
que  uào  bastam  yi  gamclaii? 
O  que  hào  bota»  com  chinctla<iV 
porque  $entfm  as  madres  frios 
todos  os  qac  audam  sem  cilas. 
ílJtckio  rsEsTics,  ACTOS,  pag.  159. 

Sc  quando  vos  perdi,  minha  esperança, 
A  memoria  perdera  jantamcnto 
Do  doce  bem  passado  e  mal  prcscnto, 
Pouco  sentira  a  dúr  de  tal  mudança. 
CA.1(.,  80SET09,  u."  2ó. 

—  fOs  naturacs  sentirão  os  imigos,  e 
tomando  oa  armas  se  puzeraõ  cm  defen- 
são, pelejando  muito  valerosamentc,  go- 
vernaudo-os  o  Tumugaõ,  e  Handarà,  com 
muito  animo,  e  esforço.»  Diogo  de  Con- 
to, Década  G,  liv.  9,  cap.  6.  —  f Então 
deixando  sua  sobrinha  agasalhada  no  seu 
aposento,  abrio  huma  porta  de  hum  pas- 
sadiço de  que  ella  só  trazia  a  chave,  o 
80  recolheo  para  a  camará  onde  a  Ray- 
nha  jazia  deitada,  e  dizem  que  sendo  ja 
passado  meyo  quarto  da  lua  acordou  a 
l^ynha,  e  sentindoa  aos  seus  peis  lhe 
disse,  que  he  isto  Nhay  Meicamur,  (por- 
que assi  se  chamava  esta  sua  camareyra 
mór)  como  vos  deixastes  cá  esquecer  esta 
noite  y  alguma  grande  novidade  deve  isto 
de  ser.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregri- 
nações, cap.  142. 


Volta  ao  imigo  a  espada  c  o  forte  peito 
Que  agora  para  a  morto  o  incita  c  cihorta, 
E  sendo  alli  o  logar  assaz  estreito 
Faz  ao  Turco  sentir  quanto  cUa  corta ; 
Trata  os  que  acha  diante  de  tal  geito 
Que  faz  que  outra  vei  entrem  poú  porta 
Que  estar  no  muro  velho  disse  agi'«ra, 
Até  que  cora  oUes  sabe  ao  largo  f.'.ra. 

FKANCISCO  d'áKDBXDE,  PBIJIEIBO  CESSO  DB  DItT, 

cant.  17,  est.  82. 


O  lutco  inda  que  duro  vaso  quando 
A  dureza  da  pedra  encontra  e  seiUe, 
Mil  pedaços  se  f;iz.  com  que  mostrando 
Sc  esteve  á  miír  dureza  obediente ; 
E  d'hum  murrão  quo  o  vai  acompanhando 
Se  lhe  commuuicou  a  chainma  ardente. 
Faz  logo  o  usado  effeito  a  ardente  chainma, 
Abraza,  despedaça,  acende,  inflamma. 
iBiDBU,  cant.  19,  eat.  105. 


—  « Não  é  fácil  prender  algum  por  que 
não  dormem  em  casa,  mas  sim  no  matto ; 
e  sentindo  soldados  ou  novidade  no  rio 
toc^mi  bosinas  do  sertão  ou  tabocas  que 
se  ouvem  muito,  e  mais  com  o  éeco  do 
arvoredo,  eacjiutellam-se.»  Bispo  do  Grão 
Pará,  Memorias,  publicadas  por  Camillo 
Castello  Branco,  pag.  201. 


Em  Mombaça  encontrei  duro  inimigo, 
Astuto  engano,  c  barbara  cilada. 
Mas  senlio  logo  os  golpes  do  c-istigo, 
IVorando  o  fio  á  Lusitana  espada : 


SENT 


SENT 


SENT 


487 


D'hum  natifragio  cm  certíssimo  perigo, 
Errou  sem  tino  a  fluctuante  Armada, 
Mas  contrastando  um  mar  tempestuoso, 
Vim  no  teu  reino  abrigo  achar  ditoso. 

J.  À..   DE  MACEDO,  0  OHfESTE,  CaUt.    7,    CSt.    93. 


—  Soífrer,  padecer,  supportar.  — «De- 
pois, tornando  a  praticar  com  todas  em 
cousas  de  seu  gosto,  gastava  assim  o 
tempo  6  sentia  menos  o  enfadamento  das 
jornadas;  porem  Polifema,  que  assim  se 
chamava  a  donzella  d'Arlança  com  que  a 
noite  d'anteâ  estivera,  como  quem  cuida- 
va que  tiaha  nelle  maior  quinhão,  pesa- 
va-lhe  vel-o  praticar  com  outrem.  r>  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  12Õ. 


Senhor,  de  qne  se  acha  mal 
O  Príncipe,  OU  que  mal  sente? 
Senhor,  sei  que  está  doente; 
Mas  sua  doençA  he  tal, 
QuVntcnder  se  não  consente. 
Os  Phrsicos  vem  c  vào, 
Huns  e  outros  a  mcude, 
Sem  o  poderem  dar  são. 
CjLU.,  el-rei  selecco. 


—  «Nem  até  o  preisente  ver  minha  mu- 
lher, que  ha  sete  annos  que  está  viuva 
de  mim,  por  eu  andar  occupado  no  ser- 
viço de  V.  A.  e  não  a  deixarem  fallar 
comigo,  o  que  eu  mais  senti  que  todos  os 
tormentos  outros  que  me  deram.»  Diogo 
de  Couto,  Década  4,  liv.  6,  cap.  7. 


Ligeiramente  Sousa  a  fusta  afferra, 
Que  de  grandes  empresas  era  amigo. 
Pcdr' Alvares  d'Almeida  lá  se  encerra, 
Segue  António  Corrêa  este  perigo. 
Salta  também  na  fusta  o  que  na  terra 
Cambaia,  ja  sentia  o  jugo  iraigo. 
Segue  hum  Lopo  também  este  caminho, 
Que  por  alcunhas  tem  Sousa,  Coutinho. 

FRAKCISCO  d'aSDEADK,  PKIJIEIBO  CEECO  DE  DIU, 

cant.  7,  est.  24. 

Eu  sou  Baudur  que  tanto  desejáveis, 
Brada,  vendo-se  em  tal  necessidade. 
Mas  se  os  desventurados  miseráveis 
Que  sentem  da  fortuna  a  crueldade, 
Xos  mais  ferinos  peitos,  o  intratáveis 
Brandura  acharão  sempre,  e  piedade, 
Era  vós  agora,  ó  nobres  Lusitanos, 
Não  me  falte  esta  a  mi,  pois  sois  humanos. 
IBIDEM,  cant.  7,  est.  73. 

—  Cheirar  mal,  estar  meio  podre. 

—  Figuradamente :  Entender,  conhe- 
cer, perceber.  —  cYasco  da  Gama  posto 
que  sentisse  que  todos  estes  artilicios 
eraS  dilações  pêra  o  deter  te  a  vinda  das 
nãos  de  Mecha,  segundo  lhe  tinha  dito  o 
Mouro  Monçaide.»  Barros,  Década  1,  liv. 
4,  cap.  10.  —  «Palmeirim  que  os  vio  em 
tal  estado,  pesando-lhe  d'Albayzar,  qui- 
zera  apartal-os  mas  não  pôde,  que  Al- 
bayzar  lhe  pediu  que  lhe  deixasse  levar 
sua  batalha  avante,  que  inda  sentia  em 
si  disposição  pêra  acabar  á  sua  vontade.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 


terra,  cap.  75.  —  «E  sentindo  que  quem 
tanto  ti-abalhava  por  se  encobrir  seria 
escusado  mandar  por  elle,  o  nào  fez.  Po- 
rém o  prazer  geral  de  Floramào  ser  ven- 
cido, fez  esquecer  o  pesar  de  se  não  co- 
nhecer o  vencedor,  e  não  é  muito  de  es- 
pantar destas  mudanças,  que  a  fortuna 
traz,  comsigo,  pois  suas  cousas,  de  gloria 
ou  miséria  andam  sempre  acompanha- 
das.» Ibidem,  cap.  2b.  —  «Antes  de  che- 
gar a  elle  dez  passos,  disse  em  voz  alta: 
Já  sei,  senhor  cavalleiro,  que  o  bom  con- 
selho não  se  ha  de  dar  a  quem  o  nào 
sabe  sentir:  mandei-vos  pedir  o  escudo 
por  me  nào  obrigardes  a  tomal-o;  pare- 
ce-me  que  quizestes  antes  perdel-o  á  vos- 
sa custa,  que  dal-o  com  vossa  honra,  poia 
agora  estaes  a  tempo  de  vèr  o  que  ga- 
nhastes n'isso.i)  Ibidem,  cap.  110.  —  «E 
o  cavalleiro  do  ííalvage  o  sentiu,  assim 
na  maneira  do  olhar  e  no  confranger-se, 
como  em  outros  accidentes,  de  que  Al- 
fernao  ia  desesperado,  que  lhe  pareceu 
que  sua  negociação  se  desfazia  de  todo.» 
Ibidem,  cap.  llò.  —  «O  do  Salvage,  sen- 
tindo o  que  d  antes  se  andava  pêra  ren- 
der com  este  novo  favor  cobrava  forças, 
avivou  os  golpes,  dizendo  :  Não  me  pesa 
senão  porque  destas  ajudas  vos  não  hão  de 
vir  muitas,  pêra  me  contentar  mais  da 
victoria.»  Ibidem,  cap.  116. —  «Da-me 
alviçaras,  disse  o  do  Tigre,  que,  se  mui- 
to desejas  achar-te  com  esses  homens, 
ante  ti  os  tens:  todos  somos  dessa  casa, 
que  perguntas :  eu  sou  filho  de  D.  Dnar- 
dos,  irmão  do  cavalleiro  do  Salvagem, 
que  te  farei  sentir  o  engano  e  traição, 
com  que  daqui  o  foram  buscar.»  Ibidem, 
cap.  117.  —  «Por  isso  não  deis  tamanha 
victoria  de  vós  a  quem  a  não  sabe  sen- 
tir, que  seria  consumir  o  tempo  em  vai- 
dades sem  nenhum  fructo ;  o  verdadeiro 
treslado,  que  vos  essas  representam,  n'ou- 
tra  parte  o  tendes;  essas  vamos  buscar, 
que  estoutras  cada  vez  que  volo  a  von- 
tade pedir,  estão  ofFerecidas  a  logrardes 
o  seu  parecer  fantástico  sem  contradição 
de  ninguém.  Nisto  se  virou  pêra  elle  o 
cavalleiro  do  Tigre  dizendo.»  Ibidem, 
cap.  120.  —  «Ao  outro  dia  o  cavalleiro 
do  Salvagem  se  poz  em  seu  caminho  com 
as  donzellas ;  e  porque  sentiu  em  Arlan- 
ça  pejo  do  que  lhe  acontecera,  e  que  de 
corrida  não  ousava  olhar  pêra  elle  como 
sahi,  se  chegou  pêra  ella,  e  praticando 
em  cousas,  que  pareciam  de  sua  honra  e 
proveito,  a  assocegou  e  segurou  do  pen- 
samento que  tanto  a  atormentava.»  Ibi- 
dem, cap.  12Õ. 

Eu  fallo  como  quem  sente 
Em  vós  esta  calidade, 
Pelo  que  vejo  presente  ; 
E  se  me  esta  mostra  mente, 
Mente-me  a  mesma  verdade. 

CAM.,  EL-BEI  SELEUCO. 

—  sDo   qual   elles   por  então  se  escu- 
sarão,   dizendo    que    lhe    afi&rmavão   em 


toda  a  verdade  que  não  sentião  em  sy 
entendimento  para  se  determinarem  tão 
depressa  no  que  lhes  preguntava,  mas 
que  conforme  a  seus  custumes  e  ritos  an- 
tigos lançassem  sortes  como  sempre  cus- 
tumavào  fazer  em  semelhantes  apertos,  e 
que  naquelle  em  quem  caisse  poder  fa- 
lar, esse  dissesse  o  que  Deos  no  coração 
lhe  inspirasse.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  92.  —  «Juro  assim 
mesmo,  que  em  qualquer  maneira,  e  em 
qualquer  tempo,  que  sentir  dano,  ou  pro- 
veito do  dito  Éey  Nosso  Senhor,  que  a 
meu  officio  toque,  e  pertença,  o  revela- 
rei, e  direi  à  sua  própria  pessoa,  ou  a 
quem  por  elle  me  for  mandado,  resalvan- 
do  em  guerra,  se  o  dito  Rey  Nosso  Se- 
nhor com  algum  Rey,  ou  Príncipe  a  ti- 
vesse, ou  com  qualquer  outra  pessoa,  a 
que  por  meu  ofBcio  saõ  obrigado  guardar 
segi-edo,  assim  a  meu  Senhor,  como  à 
parte  contraria.»  Manoel  Severim  de  Fa- 
ria, Noticias  de  Portugal,  Disc.  3,  cap. 
19.  —  «Os  negros  se  lançarão  de  ar- 
remesso ao  rio  tè  onde  a  agoa  lhe  deu 
pela  barba,  e  tanto  que  não  sentirão  re- 
médio pêra  nos  entrarem,  começarão 
huma  gralhada  e  arreganhar  de  dentes, 
que  ao  próprio  Demónio  do  Inferno  po- 
rião  temor,  e  espanto.»  Fr.  Gaspar  da 
Cruz,  Tratado  das  cousas  da  China,  cap. 
5.  —  «Vendo-me  em  tal  estado,  me  veio 
á  imaginação  a  queda  que  antigamente 
em  mim  sentia  para  a  leitura,  e  agora 
minha  necessária  consolação  :  logo  dese- 
jei que  se  me  deparasse  algimia  desven- 
turosa,  que  me  podésse  servir  de  guia,  e 
vindo  depois  a  ser  amiga  minha,  contri- 
buisse  para  o  meu  descanso,  e  me  oflfe- 
reeesse  occasião  de  lhe  enxugar  as  lagri- 
mas.» Francisco  Manoel  do  Nascimento, 
Successos  de  madame  de  Seneterre. 


Nós  conhecemos  lá,  e  aqui  sentimos 
A  impressão  da  bondade  eterna,  e  santa ; 
A  causa  nos  occulta,  o  mostra  eôeitos. 
Xào  pôde  haver  incrédulos,  se  os  olhos, 
E  a  mente  para  os  Ceos  sinceros  volvem. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NAICBEZA,  Cant.  1. 


Só  da  triste  Estação  não  sente  o  peso 
Minha  alma  que  em  si  mesma  se  concentra. 
Qual  incêndio  abafado  em  si  conserva 
Mais  viva,  mais  audaz  do  Pindo  a  ehamma. 


Nào  vês  crespas  correr  do  rio  as  agoas  ? 
O  brando  vento  com  benigno  assopro 
Taes  bens  derrama  de  principio  ignoto, 
O  etfeito  sentes  só,  e  a  causa  ignoras  ; 
São  da  Escola  as  hypotheses  obscuras. 
IBIDEM,  cant.  2. 


Errante,  e  so  no  bosque,  elle  não  sente 
Mais  que  a  cega,  e  fatal  necessidade 
Da  guerra  atroz,  que  o  pasto  lhe  grangêa  : 
He  livre,  ignora  as  leis,  e  o  jugo  ignora ; 
Só  elle  he  para  si  justiça,  e  freio. 

IDEM,  MEDITAÇÃO,  Cant.  4. 


488 


SENT 


SENT 


SENT 


La  Lnnde  a  imaginou,  La  Lnndc  n  nenle, 
Mus  fogo,  foge  ao  nuinoro  da»  cifraii, 
A'n  (íiiiiíiçõoH  aigobricaH  ho  cHCondo. 

IDKM,  VI.laKM   EXTATIKA,  Cilllt.     1. 


—  Prc«cntii',  ftutovôr,  conhecer  ante- 
cipailamento  por  aJ>;unH  sif^naoB  ou  iiidi- 
ciorf  o  (juo  lui-iio  Hiiccediír;  diz-se  osjjc- 
cialiiiiinto  dos  auliiiaea  (|Uo  conliccem  a 
a|)[)r(ixiiii;i^'rio  dos  tcmporao»  o  oh  annun- 
ciaiii  com  alfíuns  inovimoiito.s, 

—  Julgar,  conceituar,  formar  parecer 
ou  opinião.  —  «A  donzidla  se  despediu 
(lello  c  de  todos  em  pirai;  o  porque  Po 
linarda  nào  estava  ai  li,  que  se  rouoliiêra 
á  Hua  camará  com  Dramaciana  pêra  po- 
sar mais  á  sua  vontade  o  contentamento 
daquellas  novas,  a  donzella  foi  também 
despedir-so  d'olla;  o  veudo-a  mais  à  sua 
vontade  do  que  d'antes  tizera,  como  em 
tudo  fosse  discreta,  loj^o  sentiu  que  d'al- 
li  nascia  a  Palmeirim  enfeitar  as  cousas 
prandes:  e  o  aíTirniou  muito  mais,  depois 
que  viu  quão  i)articularnicnte  lhe  per- 
guntava )ior  suas  cousas.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  capitulo 
104. 

—  í]ntender  cousa  que  requer  prande 
e  discreto  entendimento,  o  que  sabe  co- 
nhecer o  preço,  o  valor,  e  ter  delia  jus- 
ta opinião. 

—  Seutiram-lhe  dinJieiro ;  souberam 
quo  o  tinha. 

—  Ter  pena,  mapua,  pczar,  ou  outro 
affecto   do   animo;    lastimar,    condoer-se. 

—  «De  que  o  Príncipe  ouuo  muyto  des- 
prazer, o  nunca  nisso  consentio,  antes 
disse  a  el  Rey  seu  pay,  que  pois  queria 
fazer  mercê  aos  que  contra  clle  so  ale- 
uantauam,  que  faria  aos  que  o  muyto 
bem  seruissem.  E  porque  o  Príncipe  sen- 
tio  muyto  o  dito  Lopo  Vaz  se  aleuantar 
assi  sem  causa,  e  nào  tiar  ja  dclle,  por 
escusar  de  o  poder  fazer  outra  voz,  deter- 
minou de  o  mandar  matar.»  Damião  de 
Goos,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1, 
cap.  20.  —  «E  o  danno  que  o  Samorij 
mães  sentio  (poro  que  aqui  morressem 
todolos  capitães,  e  muitas  pessoas  nota- 
uéis)  foi  a  perdida  do  lugar,  e  nãos  que 
ali  cstauão  carregadas  de  muita  fazenda, 
que  alcançou  a  muitos,  jiorque  o  fogo 
tudo  consumio.»  Barros,  Década  2,  liv. 
1,  cap.  G.  — »E  as  outras  vólas  da  Ar- 
mada, por  irem  mais  a  la  mar,  passaram 
avante,  c  alguns  delles  foram  surgir  dian- 
te do  porto  da  Cidade  Dio,  que  Afibnso 
d'Albuquerquo  muito  sentio,  porque  a 
foram  espertar  de  sua  vinda,  e  por  isso 
suspcndeo  os  Capitães  das  capitanias  por 
algum   tempo.»    Ibidem,   liv.    8,   cap.  õ. 

—  «A  qual  noua  cl  Rey  muyto  sentio, 
porque  tinha  muyto  boa  vontade  ao  dito 
dom  António,  e  o  tinha  cm  muyto  boa 
conta,  o  assi  a  Christouão  de  Mello,  e 
aos  outros,  o  com  muyta  diligencia  man- 
dou logo  a  dita  cidade  soccorro,  o  outro 
capitam.»  Garcia  do  Rezende,  Chronica 


de  D.  João  II,  cap.  Tf).  —  «O  que  an- 
tro muitas,  (pie  lembravam,  mais  sentia, 
era  não  poder  achar  na  memoria  lem- 
brança d'algum  contentamento,  que  um 
liorji  de  sua  senhora  recebesso,  achando 
mil  aggravos  pcra  sentir,  e  de  que  nun- 
ca S(!  ([ueixiiu.n  J''rancÍBco  de  Moraes, 
Palmeirim  dlnglaterra,  cap.  Of).  —  «As- 
sim que  nisto  passavam  tempo,  umas 
rindo,  outras  sentindo  o  desastre  de  seus 
servidores;  que  assim  ó  tudo,  o  que  dá 
prazer  a  um,  entristecer  a  outro.»  Ibi- 
dem, cap.  12IJ. 

Com  lagrima»  ainostriio,  quanto  Mentem, 
E  quanto  lhe  a  aiiibon  doe  sua  morte  crua. 

rOKTK   IIEAI.,  MAlIKRAaiO  UK  BKrULYKDA ,  Cant.  4. 

—  «Em  Cochim  fui  mal  aposentado 
nas  pcioros  casas  da  Cidade,  nos  esteiros 
ontro  os  monturos,  o  que  nmito  senti, 
por  ser  contra  a  humanidade,  e  fidalguia, 
o  em  Cidade,  onde  mo  lizeram  ÍJoverna- 
dor  de  V.  A.»  Diogo  de  Couto,  Década 
4,  liv.  tí,  cap.  7.  —  «Madre  Maluco  foy 
logo  avisado  da  destruição  da  sua  Cida- 
de, e  deixando  tudo  acodio  a  cila  com 
muita  pressa,  achando-a  toda  abrazada, 
e  assolada.  ElRey  do  Cambaya  sentio 
em  estremo  aquellas  cousas,  e  assentou 
com  seus  Capitaons  de  hir  em  pessoa 
com  todo  o  seu  poder  cercar  a  fortaleza 
de  Dio,  e  nào  se  hir  de  sobre  ella  ate  de 
todo  a  destruir,  mandando  logo  fazer 
grandes  preparamcntos,  e  chamamento 
de  vassallos  por  todos  os  seus  Rcynos.» 
Idem,  Década  (3,  liv.  4,  cap.  7.  —  «Dos 
mortos  conhecidos  foraõ  hum  filho  de  Pe- 
dro Afíbnso  de  Avelar,  Pêro  Coelho  de 
Castro,  Balthazar  do  Amaral,  filho  do 
Doutor  Francisco  do  Amaral,  Correge- 
dor da  Corte,  Conçalo  de  Moraes  de  Sou- 
sa, Francisco  Botelho,  filho  do  Meirinho 
da  Inquisição  do  Reino,  e  outros  muitos 
cavallciros  muito  hourados.  Dom  Antaõ 
de  Noronha  acodio  àquella  parte,  e  ven- 
do a  desaventura  (posto  que  por  hum 
muito  pequeno  espaço  escapíira  delia) 
sentio  o  caso  tanto,  que  lhe  correrão  as 
lagrimas  pelos  olhos.  Vendo  o  assim  Mir 
Maxet  (iuazil  do  Magostaõ,  chegou-se  a 
elle,  e  lhe  disse.»  Ibidem,  liv.  9,  cap. 
14.  —  «O  Rvo  Drut,  que  por  bayxo  cor- 
ria era  de  agoa  salgada,  o  que  todos  sen- 
timos. Mas  dali  duas  Icgoas,  demos  com 
a  Aldeã  Cabrestam,  ou  Caurcstam,  que 
ja  foy  dei  Rey  de  Ormus  posto  que  hoje 
seja  do  Sophi.  Tanto  que  ncUa  entramos 
nos  veyo  receber  a  mayor  parte  do  po- 
uo.»  Fr.  Gaspar  da  Cruz,  Tratado  das 
cousas  da  China,  cap.  12.  —  «Com  o 
qual  ficou  Xcch  Vmbarech,  tão  obriga- 
do aos  Portugueses,  que  ya  não  sabia, 
com  que  modo,  o  encarecimento  podcsse 
mostrar,  quanto  sentia  o  aggrauo,  que 
so  nos  fizera.»  Ibidem,  cap.  16.  —  «Aui- 
samolo  com  tudo  que  não  mostrasse  gos- 
to particular  nisto,   aos   quo   lho  vinbão 


dar  a  noua,  e  podir  m  aluiceras.  Ante» 
deziamos  a  todos,  que  nalma  sentíamos 
a  morte  daquellcB  homens,  e  que  só  nos 
pozaua  não  chegarmos  a  tempo  de  pe- 
dirmos perdão  {Kir  elles.i  Ibidem.  —  «E 
\ii>r  esta  causa  se  lhe  ofTerecião  todos, 
com  suas  armas,  e  peHHuoa,  pcra  a  vin- 
gança da  morte  do  pay,  que  elics  muyto 
bem  conhecerão,  o  tanto  sentirão.  Èm 
quanto  Ismael  entindeo  ser  seu  tio  laca- 
po  viuo,  ja  mais  se  quis  moaer  de  Hir- 
cania.»  Ibidem,  cap.  21.  —  «V.  A.  me 
prometeo  p)r  esta  noite  á  Princesa  Por- 
cia,  daquella  mesma  fornia  que  se  prome- 
tem as  Marionetas.  Ninguém  sente  maia 
do  que  ou  fazer  com  que  V.  A.  falte 
nesta  occasião  á  sua  palavra.  Diz  o  Me- 
dico que  se  eu  sayo  hoje  de  casa,  c  so 
me  tento  a  cear  que  será  sem  duvida 
pela  ultima  vez.»  Cavalleiro  d'01iveira, 
Cartas,  liv.  3,  n."  30. 

—  Accommodar  as  acções  exteriores 
ás  expressões  ou  palavras,  ou  dar-lhes  o 
sentido  que  lhes  corresponde. 

—  Sentir-se,  v.  reji.  Achar-se,  conhe- 
cer o  que  passa  em  si.  —  Sentia-se  mui- 
to doente.  —  «Sentindose  jà  mortal,  man- 
dou quo  o  levassem  á  Igreja,  onde  ele- 
geo  por  primeiro  Abade  daquelle  Mos- 
teyro  a  Dicencio,  Mongo  de  muyta  per- 
feição que  o  acompanhara  e  servira  de 
menino,  e  depois  de  recebidos  todos  os 
Sacramentos  da  Igreja,  e  ter  dado  sua 
benção  aos  Monges  e  Seculares,  que  o 
viuhaõ  visitar.»  Monarchia  Lusitana,  liv. 
6,  cap.  23. 

—  Resentir-se,  offender-se;  mostrar 
sentimento  ou  pezar.  —  «E  antre  estes 
foy  António  Freire,  quo  esta  noite  fez 
obras  merecedoras  de  mayores  louvores : 
mas  a  fortuna  invejosa  delias,  ordenou 
que  lhe  dessem  uma  espingardada  de  que 
cahio  logo  morto,  o  que  se  sentio  bem 
antre  todos  os  da  fortaleza,  porque  este 
era  hum  dos  homens,  que  mais  sustenta- 
va o  jjezo,  e  o  trabalho  daquelle  cerco, 
com  seu  esforço,  conselho,  c  com  sen  di- 
nheiro, de  que  deu  muito  a  muitos.» 
Diogo  de  Couto,  Década  G,  liv.  2,  cap.  3. 

—  Queixar-se,  padecer  alguma  dôr, 
sentir  algiuna  indisposição.  —  Senlir-se 
da  caheqa. 

—  Conhecer  o  estado  em  que  so  está 
cm  certos  casos.  —  Sentir-se  ;)e;Wa. 

—  Conhocer-se,  notar-se,  A'êr-8e,  per- 
ceber-se.  —  «  Pequenos  erros,  que  no 
principio  naõ  se  sentem,  saõ  mais  peri- 
gosos, que  03  grandes,  que  se  vêm;  por- 
que o  perig<i.  quo  so  entende,  obriga  a 
buscar  remédio. »  Arte  de  furtar,  cap.  30. 
—  «  Por  entre  a  gente  os  vimos,  e  clles 
a  nus,  sendo  tanto  dambas  as  partes  o 
contentamento,  que  sò  creo  o  sentirá, 
quem  conhecer  que  cousas  grandes  me-, 
Ihor  se  cxplicão  com  sentilas,  do  que  COB 
explicalas  se  sentem.»  Fr.  H aspar 
Cruz,  Tratado  das  cousas  da  China,  ca 
pitulo  6. 


SEPA 


SEPA 


SEPO 


489 


—  Haver  sensação  na  gente.  —  Sentiu- 
se  um  grande  abalo,  por  causa  da  explo- 
são. 

—  Achar-se  bem,  mal,  indisposto,  tris- 
te, alesrre,  etc. 

—  Loc.  ADV. :  Sem  se  sentir;  inadver- 
tidamente, sem  conhecimento,  sem  cui- 
dado. 

—  Adagio: 

—  Cada  um  sente  suas  magoas. 


Não  lanço  eu  d'Í5so  mão ; 
isto  é  dõr  d  outra  feição, 
cada  um  sente  suas  magoas  ; 
quizera  eu  fazer  as  agoas, 
leval-as  á  mestra  pão, 
que  isto  é  praga  que  me  come  ; 
quero-a  morta. 

A2)T0SI0  FBESTES,  AUTOS,  pag.    137. 


f  SENTO,  ant.  prés.  do  indic.  do  ver- 
bo sentir. 

Pois  bem  setito 
Que  o  vosso  saber  he  vento. 
Fica  a  cousa  declarada, 
Meu  parecer  ser  nada. 

C.4.M.,  EL-BEI  SELECCO. 


SENZALA,  í.  /.  Termo  do  Brazil.  Ca- 
bana, casa  rústica,  choça  onde  habitam 
escravos.  ==  Usailo  por  Garção,  Poesias. 

SEO.  Vid.  Seu,  e  Seio.  —  «  Também  se 
encontrão  nos  olhos  dous  pares  de  ner- 
vos. O  primeiro  par  saõ  os  Ópticos,  que 
derivaõ  o  seo  nascimento  da  primeira 
conjugação,  e  saõ  destinados  para  a  vi- 
são. O  segundo,  da  segunda  conjugação  ; 
e  se  ordenaõ  para  o  movimento  dos  mús- 
culos; como  ja  ponderamos  na  anatomia 
do  cérebro.»  Braz  Luiz  d  Abreu,  Portu- 
gal medico,  pag.  l-í,  §  97.  —  «E  como  a 
seccura  he  principio  da  desolação  da  na- 
tureza ;  porque  vivemos  do  seo  contrario, 
qual  he  o  húmido  radical;  fundamento, 
que  tiveraõ  os  Estóicos  para  affirmarera, 
que  o  Universo  teve  o  seo  principio  da 
humidade),  bem  pode  o  Medico  na  pre- 
zença  da  seccura  nimia  predizer  pestes. 
Epidemias,  febres  ardentes,  Erysipelas, 
e  outros  males  deste  género,  como  tem 
Galeno.»  Ibidem,  pag.  415,  §  57. 

SEPA.  Vid.  Cepa. 

SEPALA,  s.  /.  Termo  de  botânica.  Ca- 
da uma  das  peças  que  compõem  o  calyx 
das  flores. 

SEPARAÇÃO,  s.  f.  (Do  latim  separatlo- 
nem).  Acção  de  separar  uma  cousa  de  ou- 
tra. 

—  Divisão,  partição. 

—  Afastamento,  distancia. 

—  Cousa  que  separa.  ■ —  Esta  porta, 
este  tahique  é  a  única  separação  dos  dous 
quartos. 

—  Desniembraujento. 
SEPARADAMENTE,  adv.  (De  separado, 

com  o  suffixo  «mente»;.   Com  separação, 
apartadamente. 

voL.  V.  —  62. 


—  Apartadamente,  á  parte,  sobre  si, 
cada  nm  de  per  si. 

SEPARADAS,  s.  /.  pi.  Mercês  que  D. 
Aífonso  V  fazia  do  juro  dos  casamentos, 
ou  dotes  que  devia  a  certas  pessoas  em 
cada  anno,  até  poder  pagar  o  dote. 

SEPARADO,  jxirt.  jjass.  de  Separar. — 
«  Escusou  de  o  fazer,  pelo  que  deu  a  ca- 
pitania da  mesma  armada  a  dom  Vasquo 
da  Gama,  em  que  entrauam  dez  velas, 
de  que  eram  capitaens  dom  Luis  Couti- 
nho, Pedrafonso  daguiar,  Francisco  da 
Cunha,  loam  Lopes  perestrelo.  Rui  da 
Castanheda,  Gil  Matoso,  Luis  Fernandez, 
António  do  campo,  Diogo  Pirez,  e  das 
cinco  velas  que  hiauí  separadas  em  capi- 
tania per  sim  era  capitam  Vicente  Sodre, 
tio  de  dom  Vasquo  da  Gama,  os  outros 
capitaens,  eram  Brás  Sodre  seu  irmam. 
Pêro  Dataide,  Pêro  Raphael,  e  loam  róis 
badarças.»  Damião  de  Góes,  Chronica  de 
D.  Manoel,  part.  1,  cap.  68.  —  «Nesta 
cidade  em  ruas  separadas  por  sy  de  cer- 
tos bairros  ha  humas  casas  a  que  elles 
chamão  Laginampur,  que  quer  dizer  in- 
sino  de  pobres,  nas  quais  por  ordem  da 
camará  se  ensina  a  todos  os  moços  ocio- 
sos a  que  se  não  sabe  pay,  assi  a  dou- 
trina, como  o  lêr  e  escrever,  e  todos  os 
officios  mecânicos,  até  que  por  suas  mãos 
podem  ganhar  suas  vidas,  e  destas  casas 
não  ha  taõ  poucas  nesta  cidade,  que  não 
passem  de  duzentas,  e  quiçá  de  quinhen- 
tas.» Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  112. —  «Pobre  Suzanna!  úni- 
co objecto  que  então  me  tomavas  o  ani- 
mo !  que  escripto  o  tinha  o  Fado  seres  tu 
quem  decidisse  de  todas  as  affeições  da 
minha  alma !  Apenas  tomei  posto  no  na- 
vio, me  entregou  o  marido  de  Agostinha 
um  maço  lacrado,  que  Madama  Depréval 
lhe  encommendára  que  então  m'o  desse 
quando  o  mar  nos  tives  e  separado  uma 
da  outra.»  Francisco  ]Manoel  do  Nasci- 
mento, Suocessos  de  madame  de  Sene- 
terre. 

SEPARADOR,  s.  m.  O  que  separa,  ou 
aparta. 

SEPARAR,  1-.  a.  (Do  latim  sepjarare). 
Apartar,  pôr  distante,  desunir.  —  «Infor- 
mado el  Rei  per  Pedralurez  Cabral  do 
que  passara  com  el  Rei  de  Calecut,  e  das 
treiçoens  que  lhe  os  mouros  da  terra  ar- 
maram, determinou  de  o  mandar  outra 
vez  a  índia,  mas  por  el  Rei  querer  se- 
parar da  sua  bandeira  cinco  velas  que 
também  mandaua  a  índia  que  tinha  dada 
a  capitania  a  Vicente  sodre,  pêra  ficar 
là,  e  andar  darmada  contra  os  mouros.» 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  1,  cap.  68.  —  «  A  Deshonra  a  que 
podemos  chamar  verdadeyra  he  a  que 
consiste  no  interior  do  homem,  formando- 
se  do  crime  que  nos  separa  da  origem  da 
honra  que  he  Deos,  fora  do  qual  não  ha 
mais  que  deshonra  e  que  miséria.»  Caval- 
leiro  de  Oliveira,   Cartas,  liv.  1,  n.°  51. 

—  Divorciar. 


—  Apartar  os  novilhos  da  manada,  le- 
vando-os  para  pastos  onde  não  estejam 
as  mães. 

—  Separar-se,  v.  refl.  Apartar-se,  ces- 
sar a  união,  dividir-se  imia  cousa  da  ou- 
tra. 

—  Apartar-se,  deixar-se,  abster-se  de 
alguma  cousa,  renuncial-a,  abandonal-a. 
—  «Casando  alguma  molher,  promettendo 
ao  marido  certo  dote  em  casamento,  e  dan- 
do por  fiador  alguma  outra  molher,  que  se 
obrigasse  por  elía  pagar  o  dito  dote,  sepa- 
rando-se  o  dito  matrimonio;  ca  em  tal 
caso  ficará  essa  mulher,  que  assy  foi  fia- 
dor, obrigada  á  dita  fiadoria  sem  gouvin- 
do  do  dito  benaficio  do  Valleano.»  Ord. 
Affons.,  liv.  4,  tit.  18,  §  2. —  «Ha  pou- 
cos dias  que  lhe  perguntarão  em  que  ida- 
de se  achava,  ao  que  elle  logo  respondeo 
que  passava  muito  bem,  e  sendo  certo 
que  esta  pergunta  se  lhe  fez  com  toda  a 
civilidade,  elle  a  recebeo  como  huma 
afronta,  e  para  o  declarar  assim  se  sepa- 
rou desgostoso  da  companhia  em  que  se 
achava.»  Cavalleiro  de  Oliveira,  Cartas, 
liv.  3,  n."  9. 

—  Termo  forense.  Apartar-se,  desistir 
de  uma  acção  juridica. 

f  SEPARATISTAS,  s.  m.  pi.  Termo  de 
religião.  Sectários  inglezes  do  tempo  de 
Isabel  e  de  Jacob  i,  que  só  se  distin- 
guiam dos  reformados  pela  extraordinária 
santidade  que  affectavam. 

SEPARATIVO,  adj.  Que  separa,  ou  tem 
virtude  de  separar. 

SEPARATORIO,  5.  m.  Termo  de  chimi- 
ca.  Vaso  de  separar  os  licores;  é  oblon- 
go e  tem  dous  orifícios,  wva  por  onde  en- 
tra o  liquido,  e  outro  muito  estreito  no 
fundo,  por  onde  sáe. 

SEPARÁVEL,  adj.  2  gen.  Que  se  pôde 
separar. 

j  SEPEDON,  s.  m.  Termo  de  zoologia. 
Género  de  insectos  dipteros,  da  familia 
dos  athericeros,  tribu  dos  muscidos. 

—  Género  de  reptis  saurios,  da  fami- 
lia dos  scincoideos,  cuja  espécie  typica 
existe  na  Europa. 

f  SEPEDONIO,  s.  m.  Termo  de  botâ- 
nica. Género  de  cogumelos  do  grupo  dos 
esporathricheos,  cuja  espécie  typica  é  no- 
tável pela  sua  linda  cGr  amarella  doiuada. 

SEPELIDO.  Vid.  Sepultado. 

f  SEPICOLA,  adj.  Termo  de  historia 
natural.  Que  vive  nas  sebes  e  montas. 

-{-  SEPIDIO,  s.  m.  Termo  de  zoologia. 
Género  de  insectos  coleopteros  heterome- 
ros,  da  familia  dos  raelasomos. 

SEPILHAR.  Vid.  Cepilhar. 

f  SEPIOLA,  í.  /.  Termo  de  zoologia. 
Género  de  raoUuscos  cephalopodos,  cuja 
espécie  tvpica  se  encontra  no  Mediterrâ- 
neo. 

-j-  SEPIOTETJTO,  s.  m.  Termo  de  zoo- 
lo£ria.  fíenero  de  molluscos  cephalopodos. 

SEPO.  Vid.  Cepo,  orth.  etym. 

SEPOSIÇÃO,  s.  f.  ant.  Empenho,  sup- 
plica  para  obter  alguma  cousa. 


490 


SEPT 


SEPT 


SEPU 


SEPOSO,    adj.   ant.    Portseflso,   onílorao- 
ninli.'iil(). 

SEPTE.  Vi.l.  Sete. 


E  \i  Kfplf  liornfl  do  dia 
foy  outro  tremor  estranho, 
quo  pÒ8  medo,  o  couardiíi ; 
o  depois  do  moo  dia 
outro,  porom  iiou  tamanho. 

OABOIÀ  DE  BKZRNDF:,  MI8CELL1MKA . 


SEPTEMBRO.  Vid.  Setembro.—  «Feita 
aguaila,  no  qiio  cstoiíe  dous  dias  se  par- 
tio  pêra  Ormuz,  onde  chegou  aos  ti'ezo 
do  Septembro,  o  achou  a  torro  que  elle 
começara  ja  acabada  posta  em  dous  so- 
brados, torrada  por  cima.»  DamiJto  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  2, 
cap.  .^6.  —  «Dos  quacs  luis  dantas  che- 
gou priínoiro  a  Goa,  c  os  tiutros  no  mos 
de  Septembro,  ondo  acliaraõ  Aionso  dal- 
buquLTipic  fazcndossc  prestes  para  ir  a 
Ormuz,  dando  a  entender,  como  ja  dixe, 
quo  sua  <leterminaçam  era  ir  outra  voz 
ao  mar  Darabia.»  Ibidem,  part.  3,  cap. 
66. —  «No  quo  deu  manifesto  simxl,  de- 
pois do  desbarato  desta  gente  que  foi  a 
Mamora,  porquo  sendo  lio  mes  Dagosto, 
logo  determinou  de  Septembro  do  mesmo 
anuo  mandar  dom  Vasco  coutinho  Conde 
do  Borba  com  huma  armada  a  fazer  esta 
fortaleza  de  Anafe.»  Ibidem,  cap.  76. 

SEPTEMFLUO,  a<lj.  Termo  de  poesia. 
Que  corro  jmr  sete  fontes. 

SEPTEMPLICE,  adj.  (^Do  latim  septem- 
plex).  Termo  de  poesia.  Sotidobrado,  do- 
brado sete  vezes;  de  sete  laminas,  ou  for- 
ros de  couro,  metal,  etc. 

SEPTEMVIRATO,  s.  m.  (Do  latim  se- 
ptemvirdlns).  Dignidade  de  septemviro. 

SEPTEMVIRO,  s.  m.  (Do  latim  septem- 
vir).  Termo  de  Instoria.  Titulo  de  sete 
magistrados  e  pretores  romanos,  encar- 
regados do  preparar,  e  ordenar  as  solem- 
tudados  publicas,  do  dividir  e  distribuir 
as  terras  aos  colonos,  e  do  julgar  as  cau- 
sas relativas  a  estas  divisões  ou  distribui- 
ções. 

SEPTENAL,  adj.  2  gen.  Que  succede  de 
sotc  em  sete  annos. 

SEPTENARIO,  adj.  Diz-se  do  numero 
composto  de  sete  unidades. 

—  <S.  m.  Espaço  de  sete  dias. 

—  O  septenario  das  dOres;  os  sete  dias 
consecutivos  que  dura  a  devoção  das  do- 
res de  Nossa  Senhora. 

SEPTENNIAL,  adj.  2  gcii.  (Do  latim 
sepieni).  Que  dura  ou  devo  durar  um  se- 
ptennio. 

SEPTENNIALIDADE,  s.  /.  A  qualidade 
de  ser  de  seto  annos,  ou  haver  de  durar 
sete  annos. 

SEPTENNIO,  .t.  m.  (Do  latim  septen- 
nium).  O  espaço  ou  duração  de  sete  an- 
nos, 

SEPTENO,   ndj.  Vid.  Seteno. 

SEPTENTRIÃO,  ou  SETENTRIÃO,  s,  m. 
(Do  latim  septentrio) .  Norte ;  parte  da  os- 


phora  dosde  o  equador  ate  ao  polo  ár- 
ctico. 

SEPTENTRIONAL,  adj.  (Do  latim  «e- 
ptenlriuniilis,.  Do  norte,  pertencente  ou 
relativo  ao  septontrião. 

—  Parte  septreutrional.  —  «  Os  bcí» 
primeiros  estaõ  da  Liidia  equinocial  pa- 
ra a  parte  septreutrional,  o  por  isso  lhe 
ciiamau  Scptrentrionaes;  anda  o  Sol  nel- 
les,  desde  o  equinócio  vernal  quo  hc  de 
20  de  Março  atè  o  equinócio  autumnal, 
que  se  da  em  2.3  de  Septembro.  Os  seis 
últimos,  íicaõ  da  equinocial  para  a  parte 
do  Sul,  e  se  charaaõ  Austrais;  anda  o  Sol 
nelles  de  23  do  Septembro,  atè  20  de 
Jlarço.»  Braz  Luiz  d'Abrcu,  Portugal 
medico,  pag.  íAi. 

f  SEPTERIOR,  s.  m.  Termo  de  histo- 
ria. Festa  celebrada  em  Delphos,  de  sete 
em  sete  annos,  cm  honra  do  ApoUo,  ven- 
cedor da  serpente  Python. 

SÉPTICO,  adj.  Termo  de  medicina.  Pu- 
trcfactivo.  Que  faz  apodrecer,  quo  causa 
putrefiíeção  nas  carnes  som  muita  dôr. 
Diz-se  particularmente  de  certos  venenos 
que  determinam  aflecções  gangrenosas. 

SEPTICOLLE,  adj.  2  (/en.  Que  tem  sete 
collinas  ou  montes.  Epitheto  dado  &,  ci- 
dade de  Roma,  por  estar  fundada  sobre 
sete  montes. 

SEPTICORDE,  adj.  2  gen.  De  sete  cor- 
das. 

f  SEPTIDI,  .•?.  Hl.  Sotlmo  dia  da  déca- 
da no  calendário  republicano  francez. 

SEPTIFORME,  adj.  2  gen.  Pe  sete  for- 
mas. 


Tu,  CO 'o  Prisma  na  mão  marcaste  a  fonte 
Da  septi-forme  cor,  quo  a  luz  encerra. 
Inda  a  mais  progredindo  a  mente  excelsa. 
Não  se  perde  no  calculo  infinito, 
Abvsmos,  onde  nova  ignota  estrada 
Franqueaste  aos  mortaes,  sahindo  ovante. 

J.    À.   DK  MACEPO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  CAUt.    3. 


SEPTIMO.  Vid.  Sétimo.  —  «Ao  quo  di- 
zem no  vicessimo  septimo  artigo,  que  em 
algnuns  lugares  dos  nossos  Regnos  aquec- 
co  que  algumas  molheres,  a  que  maridos 
morrem,  casaõ  ante  do  anno  e  dia,  e  os 
nossos  Moordomos,  c  Rendeiros,  e  outros 
que  na  nossa  terra  ham  jurdiçom,  lhes 
demandaõ  certas,  c  desvariadas  conthias 
de  dinheiros.»    Ord.    Affons.,   liv.   4,  tit. 

n,  §  1- 

SEPTISONO,  adj.  De  sete  sons.  —  Â 
lip-n  septisona. 

SEPTIVOCO,  adj.  Termo  de  poesia. 
Que  tem  sete  vozes. 

-j-  SEPTIZONIO,  5.  m.  Termo  de  histo- 
ria. Edifício  rodeado  de  sete  ordens  de 
columnas,  dos  quaes  houve  dous  cm  Ro- 
ma. 

SEPTO,  í.  »i.  (Do  latim  feptum).  Ter- 
mo de  anatomia.  Separação  de  certíis  par- 
tes do  corpo,  por  uma  membrana,  etc. 
Vid.  Diaphragma. 

SEPTRO.  Vid.  Sceptro. 


SEPTUAGENÁRIO,  adj.  fDo  latim  $e- 
ptuagunarium.  Diz-s<;  da  ptsaoa  que  tem 
setenta  annoi  do  idade. 

SEPTUAGESIMA,  $.  /.  (Do  latim  »«- 
ptiiageslma).  O  terceiro  domingo  ante*  da 
quaroHma. 

SEPTUAGESIMO,  adj.  (Do  latim  $e- 
ptwiijesiiKH!".  Nnmoro  que  se  rcí^c,  na 
serie  ordii  ai,  ao  sexagecimo  nono, 

f  SEPTUNX,  «.  m.  (Do  latim  êeptunx). 
Moeda  do  peso  de  «etc  onças. 

—  Medida  de  nove  pollegadaa  e  um 
terço. 

SEPTUPLO,  adj.  (Do  latim  teptuplxu). 
Que  contém  seto  vezes,  repetido  sete  ve- 
zes. 

f  SEPULCHRAL.  Vid.  Sepulcral. 

Sobre  estes  Globos  se  sustenta,  e  firma 
A  urna  frpnUhral  mais  nobre,  c  rica. 
Que  essas,  que  enccrrão  pelo  tur^-o  Nilo 
A»  immortaes  Pyramides  Boberbaí, 
Architectada,  e  rcpulida  brilha 
De  Prisma  cm  firma,  e  de  matéria  ignota, 
Mais  brilhante  quo  o  lúcido  Diamante, 
E  que  o  Rubim  mais  solida,  c  se^ra. 

J.  A.  PE  MACEPO,  riAOEM  EXTÁTICA,  eSIlt.  3. 

Envolto  de  continuo  cm  manto  escuro 
De  hum,  como  a  noite,  espesso  nevoeiro, 
Da  vista  nos  fugiu  brilhante,  c  puro, 
ISaliza  cm  Polo  austral,  vivo  cruzeiro: 
Té  que  o  véo  sepiílchral  medonho,  impuro 
Rompe  do  mundo  avivador  Luzeiro, 
Esta,  incógnita  a  nús,  terra  tocámos, 
E  aqui  doi  homens  a  p^-g.ada  achámos. 
IDEM,  o  OBiEXTE,  cant.  5,  est.  37. 


SEPULCHRO.  Vid.  Sepulcro. 

Quem  jaz  no  grão  tepulchro,  que  descreve 
Tão  i Ilustres  signaes  no  forte  escudo? 
Ninguém  ;  que  nisso,  em  fim  se  toma  tudo  : 
Mas  foi  quem  tudo  pr>de  e  tudo  teve. 
Foi  Rei  ?  Fez  tudo  quanto  a  Rei  se  deve : 
Poz  na  guerra  c  na  paz  devido  estudo. 
.Mas  quão  pezado  foi  ao  Moiu-o  rudo, 
Tanto  lhe  seja  agora  a  terra  leve. 
CAM.,  S0XE105,  n."  59. 

Estas  bandeiras  tão  diffcrençadas 
Das  outras  na  matéria,  c  no  ornamento. 
Dizem  que  do  Caciz  forão  mandadas 
Que  tem  lá  em  Medina  seu  assento. 
Onde  as  barbaras  gentes  enganadas 
Com  gràa  veneração  e  acatamento 
Sfpiílchro  ao  seu  Mafoma  fal.^o  derão, 
E  o:idc  inda  agora  o  acatão,  c  o  vencrio. 

P.   I>'A]rDaAI>E,  PRIMEIBO  CUCO   DE  DIU,  CAIlt.    19, 

est.  75. 

Vão  C83C5  cabisbaixos  sacerdotes? 
Que  pompa  é  essa?  l'm  athaude  a  fecha. 
Orgulho  do  homem,  dás  o  arranco  extremo 
Na  vaidade  da  CJímpa.  Que  grandezas. 
Que  distinci,'ões  queres  píeitCAr  ainda 
Na  egualdado  terrível  do  trpuUhrot 
Dcsingano  da  morte,  es  tu  acJiso 
Outro  sonho  dos  miseros  viventes? 
OABKETT,  CAMÕES,  cant.  2,  cap.  1. 

AfTortunado  em  ■vida  ;  —  a  morte,  fecha-lhc 
Sèllo  do  Eterno  os  lábios  descamados  : 
São  segredos  de  Deus  os  do  teptUckro. 
IBIDEM,  cant.  3,  cap.  19. 


SEPU 


SEPU 


SEPU 


491 


Alli  vejo  Soaiai,  a  quem  Fortuna, 
Por  vingar-se  doâ  doas  da  Natureza, 
Pobre  na  ^ida  fez.  na  morte  inglório. 
Que  até  llie  nega  as  honras  do  sepulchro. 

J.   A.   DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,   Cant.  2. 


SEPULCRAL,  aJj.  2  gen.  (Do  latim  se- 
pulchralis).  De  sepulcro,  que  respeita  a 
sepulcro. 

—  Que  coatém  sepulcros.  —  Capella 
sepulcral. 

—  Figuradamente  :  Medonho,  surdo, 
que  parece  sair  do  fundo  de  ura  sepul- 
cro. —  Voz  sepulcral.  —  Ruido  sepul- 
cral. 

—  Pallido,  triste,  sombrio. 

—  Pedra,  lousa  sepulcral ;  campa. 

—  S.  in.  Termo  de  religião.  Membro 
de  uma  seita  que  sustentava  que  se  de- 
via entender  por  sepulcro  a  palavra  in- 
feriios,  onde  o  Credo  diz  que  desceu  Je- 
sus. 

SEPULCRARIO,  s.  rn.  Cemitério  ou  lo- 
gar  destinado  para  enterrar  cadáveres. 

SEPULCRO,  s.  m.  (Do  latim  sepulchrum) . 
Tumulo,  sepultura  ornada,  monumento 
ordinariamente  de  pedra,  que  se  cons- 
truo levantando  da  terra  para  n'elle  se 
metter  o  cadáver  de  alguma  pessoa,  e 
honrar,  e  fazer  mais  duradotU'a  a  sua 
memoria. 

Guerras,  armas,  Heróes,  e  o  que  atégora 
Grécia  espantada  ouvio,  e  antigo,  c  novo 
Lacio  escutou  na  Lyra  alti-sonaute 
DEnéaa  ao  Cantor,  e  ao  Génio  eximio, 
I Único  pode  ser.)  que  armas  piedosas 
Votara  á  eternidade,  e  o  Heróe  sublime, 
«Que  o  grào  sepulcro  libertou  de  Christo» 
He  nada,  ou  ponto,  no  Universo  ignoto. 

J.   A.   DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,   Cant.    1. 

Sua  alma  he  fera,  he  nobre,  e  alhéa  ao  trato 
Com  que  o  vil  lisongeiro  incensa  os  Grandes, 
Os  Xumcs  os  suppõe,  nunca  lembrado. 
Que  homens  uascc.m  iguaes,  e  iguaes  espirào  ; 
Chame-lhe  embora  escravos  a  soberba, 
Da  mesma  fonte  vêm,  e  a  masma  terra, 
A  todos  berço  dá,  sepulcro  a  todos. 

IBIDEM. 

Volves  as  cinzas  dos  sepulcros  Gregos, 
Como  pensastes  tu,  pcnáárào  tantos, 
Que  Athenas  escutou  ;  convergem  todos 
Ao  centro  em  que  fundaste  o  impio  coUosso, 
Cuja  sombra  cs^jantosa  enlucta  o  Mundo : 
Diccarco,  Xenócrates,  Architas, 
Quantos  a  Escola  Itálica  ennobrécem ; 
Quantos  ou\lra  antiga  Academia. 
IBIDEM,  cant.  4. 

Do  Joven  Macedónio  obra  que  guarda 
De  Pompêo,  de  Cleópatra  os  despojos  ; 
Calção  pés  o  sepulcro,  a  ^nsta  o  ignora, 
Quo  tempo  estragador  profana,  e  gasta 
Até  ruinas  !  Sujeitaste  os  Astros 
A  ter  por  centro  de  seu  giro  a  Terra. 

IDEM,    A  K.^TLBEZA,   Cant.    1. 

Cantor  da  Eternidade,  e  dos  Sepulcros, 
Vate  excelso  da  Morte,  estera  o  tempo 
Escolíiido  por  ti,  e  então  vagavas 
Por  entre  escuros  Teixos,  e  Ciprestes 


Companheiros  dos  túmulos,  pulsando 
A  doce  Lira  d'Ebano,  teus  hvmnos. 
Ultimo  esfoiço  do  poder  das  Musas, 
Mandavas  do  Immortal  ao  Throuo  augusto. 


Chama-se  livre,  chama-se  ditoso  ; 
Pesa  da  Corte  a  momentânea  pompa. 
Nem  vêm  seus  olhos  mentirosas  luzes, 
Qu'á  pallida  ambição  sepulcros  abrem. 


—  Logar  em  alguma  capella,  fechado 
com  vidros,  onde  está  mettida  a  imagem 
do  Senhor  morto. 

—  Santo  sepulcro ;  a  urna  em  que  se 
expõe  o  corpo  de  Jesus  Christo  morto. 

—  Figuradamente :  Diz-se  do  mar  re- 
lativamente aos  marinheiros,  de  uma  ter- 
ra onde  mon-e  muita  gente,  etc. 

SEPULTADO,  i^arf-  pass.   de  Sepultar. 

—  «O  que  lhe  concedeo  facilmente,  e 
dentre  todas  mandou  tirar  do  mosteiro 
de  sancta  Úrsula  da  cidade  de  Colónia 
Agripina,  onde  estam  todas  estas  sepul- 
tadas, as  da  bemauenturada  sancta  An- 
ta, e  as  mandou  a  entregar  a  boa  guar- 
da a  Francisco  pessoa,  que  entam  era 
feitor  dei  Rei  em  Flandres,  residente  na 
villa  Danuers,  pêra  as  mandar  a  Rai- 
nha.» Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  4,  cap.  26.  —  «Foi  o  cor- 
po desta  catholica,  e  virtuosa  Rainha  se- 
pultado no  mosteiro  Demxobregas  da  Ma- 
dre de  Deos,  de  freiras  obseruantes  da 
ordem  de  S.  Francisco,  que  a  Rainha 
donna  Leonor  irmà  dei  Rei  dom  Ema- 
nuel fundou  de  nouo.»  Ibidem,    cap.   19. 

—  «Faleceo  este  Conde  Amedeu  no  an- 
no  do  Senhor  de  Mil,  e  setenta,  e  seis, 
foi  sepultado  na  Egreja  de  sam  loam 
de  moriaua  apar  de  seu  pai  Humbert,  o 
qual  Amedeu  ouue  de  sua  molher  donna 
loanna  entre  outros  filhos,  Humbert,  que 
foi  segundo  Conde  de  Moriana  do  nome 
bom  caualleiro,  e  que  tanto  por  amor 
que  per  armas  se  fez  senhor  de  Taren- 
taise,  e  ahi  faleceo  no  anno  do  senhor  de 
Mil,  cento,  e  noue.»  Ibidem,  cap.  71. — 
«Somente  Mahamed  Mahadij  dizem  os 
Parseos  que  ainda  nào  he  morto,  e  espe- 
ram por  elle,  dizendo  que  ha  de  vir  mos- 
trar-se  ás  gentes  pêra  acabar  de  declarar 
a  verdade  de  todalas  leis,  sectas,  e  opi- 
niões, e  converter  a  si  todo  o  mundo  em 
cima  de  hum  cavallo,  e  ha  de  começar 
esta  conversão  de  3Iasadálle,  onde  seu 
avô  AJle  jaz  sepultado.»  João  de  Barros, 
Década  2,  liv.  10,  cap.  6.  —  «Diz,  que 
a  confirma  porque  se  augmente  a  povoa- 
ção, e  de  piquena  se  venha  a  fazer  gran- 
de Cidade,  por  estar  sepultado  nella  o 
corpo  da  Virgem  Santa  Eufemea,  he  a 
data  desta  confirmação  aos  três  dias  do 
mez  de  Dezembro,  anno  de  1165.  que 
foraõ  doze  annos  depois  de  ser  levado 
de  Portugal  para  Galiza.»  Monarchia  Lu- 
sitana, liv.  5,  cap.  23.  —  «Levantouse  o 
cerco  de   sobre  Viseo,   e   foy  seu  corpo 


levado  à  Cidade  de  Liaõ,  que  elle  nova- 
mente mandara  povoar,  e  sepultado  em 
hum  rico  sepulchro,  onde  se  lé  este  epi- 
táfio.» Ibidem,  liv.  7,  cap.  26. — «Foy 
logo  o  corpo  do  Príncipe  depois  das  exé- 
quias feytas  concertado,  e  metido  em 
hum  ataúde,  e  pollo  Marquez  de  Yilla 
Real,  e  outros  senhoi"es,  e  honrados  fi- 
dalgos leuado  com  muita  dor,  e  tristeza 
ao  mosteiro  da  Batalha,  e  foy  sepultado 
na  casa  do  capitulo  junto  dei  Rey  dom 
Aâbnso  seu  auo,  onde  ainda  agora  jaz.» 
Garcia  de  Rezende,  Chronica  de  D.  João 
II,  cap.  132. 


Senhora  Virgem  gloriosa, 
Que  leixastes  sepultado 
O  verbo  deificado 
Vestido  da  carne  vossa, 
Do  mundo  desamparado. 

Gn.  VICEKTE,  OBEAS  VABIAS. 


—  «Jaz  sepultado  no  Mosteiro  de  S. 
Francisco  de  Santarém,  junto  da  Infante 
D.  Cor.stança  sua  mài.  Morreo  vestido 
no  habito  de  S.  Francisco  com  mestras 
de  grande  arrependimento  de  suas  cul- 
pas.» Fr.  Bernardo  de  Brito,  Elogios  dos 
reis  de  Portugal,  continuados  por  D.  Jo- 
sé Barbosa. 


Não  perguntaes  d'onde  venho  ? 

Já  entra  com  outra  frol ! 

Venho  cançado,  esbofado, 

vivo,  morto,  sepultado, 

de  casa  do  nosso  Priol, 

homem  é  calclicado. 

Que  foi  lá?  contae-m'o  azinha. 

ASTOKIO  PBESTES,  ACTOS,  pag.  267. 

Como  está? 
Senhora,  é  muito  mal  disposta. 
Será,  benza-a  Deos!  pejada? 
Senhora,  de  nada  gosta, 
anda  em  vida  sep>dtada. 
Como  eu ! 

IBIDEM,  pag.  449. 


—  S.  VI. —  «Farás  tu  Senhor  milagre 
com  os  mortos,  ou  os  Sepultados  se  levan- 
tarão para  te  celebrar?  Terceyro  lugar.  Xo 
Psalmo  94.  v,  16  diz.  Se  Deos  nào  fosse 
em  meu  soccorro  a  minha  alma  seria  logo 
alojada  naquelle  lugar  onde  se  não  diz 
palavra.  Quarto  lugar.  No  Psalu.o  115. 
V.  16.  diz.  Os  mortos  nào  louvarão  ao 
Senhor,  nem  aquelles  que  descem  ao  lu- 
gar onde  se  não  fala.»  Cavalleiro  de  Oli- 
veira, Cartas,  liv.  3,  n."  34. 

SEPULTANTE,  adj.  2  gen.  (Part.  act. 
de  Sepultar!.  Que  sepulta. 

—  S.  m.  yl.  Sepultantes.  Termo  de  his- 
toria natural.  Insectos  coleopteros. 

SEPULTAR,  V.  a.  (Do  latim  sepuUum, 
supino  de  sepelire).  Enterrar,  inhumar. 
Dar  sepultura  ou  subterrar:  recolher  o 
cadáver  ou  os  ossos  na  sepultura.  —  «Foy 
seu  corpo  metido  em  huma  arca  de  ouro, 
e  levado  a  Còstàtinopla,  onde  forão  tãtas 


49:; 


SEinj 


SKPU 


SEFU 


113  la^Timas  do  povo,  fiuiltoa  forito  os  bouo- 
ficios  cò  quo  elle  o  ol)rigou  vivendo.  Se- 
pultarãono  na  í;íi'(!J!i  du-t  Apóstolos,  junto 
u  flUíi  niily  S.  Klona. »  Monarchia  Lusita- 
na, liv.  ;'),  wip.  24. 

—  Fififuradamuute  : 

Vao  onti-Htnr  c.o':ií(  iiuvpiin,  o  doacohrom 
Ao  povo  immcnso,  o  attíiiito,  a  pusita(;ciii ; 
Mna  jiiuUiido-HO  Hiibito  sepidtUo, 
Perseguidor  cxorcito  soberbo. 

J.   A.   DR   MACKDO,   MEDITAÇÃO,   Caut.    '1. 

—  Esconder  ou  encobrir  uma  cousa  de 
modo  quo  nào  se  veja  ou  não  se  conheça, 
ou  que  so  esqueça. 

—  (Joiífiindir,  aniortocer,  reduzir  a  es- 
tado alijccto. 

—  Sepultar-se,  v.  rejl.  Morpulliar-sc, 
cnterrar-sc,  enj^olíar-se. 

—  Sepultar-se  vivo;  deixar  o  niuiulo, 
o  tumulto,  apartar-se,  rctirar-se  de  todo 
o  trato  mundano. 

SEPULTO,  pítrt.  pass.  irreg.  de  Sepul- 
tar. 

SEPULTURA,  s.f.  (Do  latim  sepuUurn). 
Inluimaçào ;  acçào  e  etteito  de  sepultar. 

—  Cova,  lofíar  onde  se  sepulta  o  cadá- 
ver ;  tambcm  se  applica  á  cova  ou  jazij^o 
que  encerra  o  cadáver.  —  «  E  o  Infante 
dom  Henrique  Cardeal  de  Portugal  me 
dixe,  que  no  anuo  de  mil,  e  quinlientos, 
c  cinquenta,  o  cinco,  que  lie  sessenta  ân- 
uos depois  do  falecimento  dei  liei  dom 
loam,  que  estando  elle  no  eonuento  da 
Batalha,  mandara  abrir  ha  sepultura  des- 
te glorio.so  Rei,  e  vira  o  corpo  inteiro  do 
modo  arriba  dito,  e  sentira  sair  dello  hum 
suauissimo  odor.»  Damiiío  de  Góes,  Chro- 
nica  de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  45.  — 
«  O  qual  Ilojcn  ao  tempo  de  sua  morte 
hia  com  sua  mulher,  iilhos,  e  servidores, 
que  seriam  té  setenta  pessoas  chamados 
dos  moradores  de  Cufá  pêra  o  elegerem 
por  Califa,  por  a  maldade  deste;  e  sendo 
em  hum  campo  chamado  Carbalá,  alli  o 
alcançou  hum  Capitão  de  Yazit,  que  o 
matou ;  e  porque  ticou  alli  enterrado,  de- 
pois por  memoria  de  sua  sepultura  se 
fundou  huma  Cidade  chamada  Carbalá, 
do  uome  do  campo.»  Barros,  Década  2, 
liv.  10,  cap.  0.  — -  «Foi  enterrado  no 
mosteiro  do  Santa  Clara,  que  elle  man- 
dilra  fazer,  em  uma  sepultura,  que  orde- 
nou elle  mesmo.  A  imperatriz  com  a  rai- 
nha de  França  e  Espanha,  por  serem 
viuvas,  com  a  mulher  de  Polomlos,  Bel- 
car  c  imperatriz  d'Alemanha  tic;iram  den- 
tro, que  como  quem  queria  deixar  as 
cousas  do  mundo  se  eucommeudavam  ás 
de  Doo.-f.»  Francisco  de  Moraes,  Palmei- 
rim d'Inglaterra,  cap.  IGl. 

Mostrollio  o  Cardi-.al  qup  da  Komana 
Corto,  mandado  foi  ao  lícy  valeuto, 
Com  cor  defuucta,  e  alma  tra.i^iaâsada 
Vendo  consigo  a  morto  ja  tão  certa. 
Estaua  o  Roy  colérico  brandindo 
Com  torto  bra<;o  a  tesa,  grossa  lani;a 


R  o  cauallu  foroz  abrindo  u  torra, 
Fazendo  uo  sacro  Nuiiciu  u  sepultura. 

COKTU  IIKAL,  MÁUmAOlO  RK  SKI-UI.VICDA,  Cant.    13. 

C)  misi-ro  amador  sobre  a  funesta 
Aniudu  tepiUtnrti  so  debruça, 
('um  larga  voa  banha  u  fria  pedra 
Di/.cndo  alto,  ah  Lianor,  ali  Lianor  uiinhu 
(^iH^  caso  auorrccido,  (|ui-  fortuna 
Tão  c-iaul  te  apartou  destes  meu»  olhos, 
l^uc  feru  causa  foy,  ou  sorto  aduersa 
(^ue  nu  mundo  causou  um  mal  tào  grande. 
luiDKu,  cant.  17. 

—  a  E  também  jiara  dar  conta  da  fun- 
daçilo  o  principio  da  segunda  ciiiadedesto 
ffi-ande  império  que  ho  a  do  Nanquim, 
como  ja  disse,  o  destoutnis  duas  do  l'a- 
cào  e  Nacau,  de  que  atras  tenho  contailo, 
nas  quais  ambas  jazem  estes  dous  seus 
fundadores  cm  templos  muyto  nobres  o 
ricos,  niias  sepulturas  de  alabastro  verde 
e  branco  guarneciílas  douro,  j)ostas  sobre 
leões  de  prata,  cum  muitas  alanipadas  ao 
redor,  e  perfumai lorcs  de  muytas  diver- 
sidades de  cheyro.s.u  Fernrio  Mendes  Pin- 
to, Peregrinações,  cap.  'J4.  —  «  ilandou 
ver  todaias  sepulturas  do  Kegno,  para 
delias  se  notarem  as  armas,  o  insigidas, 
o  letreiros,  que  uellas  havia,  das  quaes 
armas  mandou  no  Paço  de  Sintra  pintar 
todolos  Escudos  com  suas  cores,  e  Tim- 
bres em  huma  formosa  Salla,  que  para 
isso  mandou  fazer:  alem  do  que  mandou 
fazer  hum  livro  muito  bem  luminado,  cm 
(lue  estào  pintados  os  mesmos  escudos  da 
liniiagem  ila  Nobreza  destes  1^'gnos,  ctc.» 
ilanoel  Severim  de  Faria,  Noticias  de 
Portugal,  Disc.  3,  cap.  18.  —  «Jaz  no 
Real  Convento  de  S.  Vicente  de  fora  em 
huma  excellente  sepultura  debaixo  do 
Sacrário  do  Altar  nuu".»  Fr.  Bernardo 
de  lirito.  Elogios  dos  reis  de  Portugal, 
continuados  por  D.  José  Barbosa.  —  «De 
Sintra  foi  levado  o  seu  Real  Cadáver  ao 
Mosteiro  de  Belém,  onde  se  depositou  em 
vinte  do  dito  niez  acompanhando-o  ainda 
até  a  sepultura  a  sua  antiga  felicidade, 
pois  no  mesmo  tempo  em  que  caminhava 
a  pompa  funeral  entrarão  pelo  Tejo  as  Fro- 
tas da  America  com  duas  nãos  da  índia.» 
Ibidem.  —  «  Nesta  Cidade  achamos  qua- 
tro Portugueses,  mercadores  do  Chaul, 
com  os  quaes  estiuemos  o  tempo  que  ali 
nos  detiuemos,  que  forào  sete  dias;  fa- 
zendonos  nelles  muytas  festas,  o  charida- 
des.  Huma  tarde  saliimos  todos  a  ver  a 
Cidade,  e  horfci  dei  Rey,  Baz:ir,  Castel- 
lo,  e  esta  sepultura.»  Fr.  0;ispar  da 
Cruz,  Tratado  das  cousas  da  China,  ca- 
pitulo 13.  —  «  Se  V.  M.  se  encerra  na  se- 
pultura cntào  poderá  o  Contrario  facil- 
mente, e  com  toda  a  segui-ança  mormu- 
rar  do  seu  valor.»  Cavallciro  de  Olivei- 
ra, Cartas,  liv.  1,  n."  48.  —  «Creyo  que 
o  monumento  mais  antigo  que  temos  desta 
qualidade  he  o  de  Che<>ps,  achado  na  pri- 
meyra,  e  na  mais  bella  Pvramide  do 
Egypto,  o  qual  sem  duvida  tinha  capaci- 
dade bastante   para  encerrar  o  corpo  de 


trto  grande  pessoa  como  era  aquelU  pu» 
que  fui  feito,  porem  o  certo  he  que  toma- 
das as  medidas  a  esse  ui<-j*mo  monumen- 
to, ftc  acha  que  ui)eiias  excede  á  grande- 
sa  das  nossas  sepulturas.»  Ibidem,  nu- 
mero 50. 

(^'antiísto  meu  Paulino,  que  loucura  '. 
|)u:4  lonj^os  annos  meus  lu-mprc  leoibrado  ; 
Ciiutu  aguru  dos  b:us,  untes  >{uc  o  Fado 
\A  correndo  comtigo  á  ê^pullura. 

ABBADE   DE  JAZEIITK,   rOKSIAS,    tOOI.    1,  P*g-    46. 

Pois  sabes  por  discreta  conjoctora, 
(^ue  se  pertn  da  morte  andõo  setenta, 
Oi)  rpiiuze  á  borda  estio  da  sepultura. 
IBIDEM,  pag.  49. 

—  «  Acabo  com  dizer  a  Tocemocê  que 
so  mandou  enterrar  este  snr.  em  uma 
casa  (lue  se  chama  a  (iuU,  e  o  letreiro 
que  deixou  para  a  sepultura  diz  assim.» 
Bispo  do  Gr.ào  Pará,  Memorias,  publicadas 
por  Caniillo  Castello  Branco,  pa^;.  142.— 
<  Fundou  de  nouo  pêra  :^ua  sepultara,  e  da 
Rainha  dona  Maria  sua  mulher,  e  de  seus 
tilhos  o  mosteiro  da  invocaçam  de  nossa 
Senhora  de  Bclem  junto  da  praia,  huma 
legoa  da  Cidade  de  Lisboa,  abaixo  de 
llastello  e  o  dotou  e  pouoou  de  religiosos 
da  ordem  de  Sam  IIieron\Tno.»  Damião 
de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel. 

—  Sepultura  tl^jòrwla;  entre  os  judeus 
tinLim  i>s  jazigos  camará  e  recamara ; 
cm  uma  faziam  os  ufficios  da  sepultura,  e 
em  outra  depositavam  o  cadáver. 

—  Terra  onde  morre  muita  gente.  — 
Moçambi<^ue,   sepultura  dj»  portuguezet. 

—  Levar  á  sepultura;  causar  a  morte. 

—  Descer  á  sepultura ;  morrer. 

—  Dar  sepultura ;  sepultar,  enterrar, 
pôr  cm  jazigo.  —  «Elrei,  vendo  sua  filha 
morta,  depois  de  lhe  dar  a  sepultura, 
tomou  Leonarda  sua  neta,  que  assim  lhe 
poz  nome,  e  a  metteu  na  mesma  torre 
onde  em  conversaçrio  de  algumas  donas  e 
donzellas  se  criou  té  ser  de  idade  de  qua- 
tro annos :  e  fazendo  um  encantamento 
meia  légua  da  cidade  em  um  valle  a{>a- 
relhado  pêra  isso,  a  metteu  nelle  sem 
ninguém  a  poder  ver  mais.»  Francisco 
de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap. 
itO.  —  «Isto  feito,  c  curados  os  cavalle-.- 
ros  d'Arnalta,  e  aos  mortos  dado  sepul- 
tura, tomou  a  Fiorondos  pola  mão,  que 
vendo-o  tJio  moço  e  gentilhomem,  houve 
por  muito  ver-lhe  acabar  tamanho  feito.» 
Ibidem,  cap.  102.  —  «Como  esto  inila 
estivesse  cheio  de  temor  e  medo,  conce- 
deu tudo  o  que  Floriano  qniz.  Apertan- 
do sua  ferida,  como  melhor  pôde,  se  par- 
tiu pêra  a  cGrte,  n.ão  so  detendo  mais  es- 
paço que  o  que  foi  necessário  para  dcir 
sepultura  a  seu  companheiro.»  Ibidem, 
cap.  1'29.  —  «Acabado  de  se  apartarem 
03  capitiies  com  sua  gente,  por  consenti- 
mento d'Albayzar  e  Primaliilo,  se  tira- 
ram do  campo  os  prineipes  miirtos,  pêra 
lho  darem  sepultura.    A  Dragonalte,  rei 


SEQU 


SEQU 


SER 


493 


de  Navarra,  e  Pompides,  foi  dado  carre- 
go, que  mandassem  levar  os  de  sua  par- 
te, que  se  fez  aates  das  capitanias  serem 
recolhidas  :  e  assi,  mettidos  entre  as  ban- 
deiras, se  foram  pêra  a  cidade  com  sua 
ordem.»  Ibidem,  cap.  1G7.  —  «O  qual 
fazendo  ao  seu  modo  grandes  oraçoens 
ao  Quiay  Patureu  deos  do  mar,  que  man- 
dasse lançar  aquelle  peixe  na  prava  para 
se  dar  sepultura  a  aquella  donzella  con- 
forme aos  altos  quilates  da  sua  geração, 
lhe  foy  respondido  pelo  mesmo  Quiay  Pa- 
tureu, que  convertessem  aquellas  doze 
donzellas  seu  pranto  em  musica  suave  e 
agradável  a  suas  orelhas,  e  que  elle  man- 
daria ao  mar  que  lançasse  logo  o  peixe 
fora,  e  lho  entregaria  morto  em  suas 
mãos.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  163.  —  «Os  Tigres  estauào  a 
la  mira,  quebrando  as  cadeas  por  chega- 
rem, e  dando  sobre  elle,  à  vista  de  todo 
o  pouo,  o  espedaçarão,  e  comeram,  dan- 
dolhe  em  si  mesmos  ao  miserauel  corpo 
sepultura,  e  a  alma  aos  infernos,  com  a 
morte  deste  motino  se  acabou  aquelle  es- 
pectáculo, e  recolaendose  todos,  teue  fim 
a  audiência.»  Fr.  (íaspar  da  Cruz,  Tra- 
tado das  cousas  da  China,  cap.  í-í. 


Nem  contente  com  isto  aquella  impura 
Turba  cruel,  que  cm  ódio  inda  ardia. 
Dá  no  rio  a  estes  corpos  sepultura 
Que  inda  despedaçados  os  temia. 
Fica  a  sua  bandeira  então  segura 
Depois  que  lhe  faltou  quem  lh"a  abatia. 
Com  tanto  sangue  seu,  que  esta  victoria 
Mais  lhes  trouxe  de  damno,  que  de  gloria. 

FBASCISCO  DE  ASDK.^DE,  PBISrEIBO  CEBCO  DE  DIU, 

cant.  15,  est.  13. 


SEPULTDREIRO,  s.  m.  O  que  enterra 
por  officiíi,  coveiro. 

SEQUACE.  Vid.  Sequaz. 

SEQUAZ,  adj.  2  gen.  (Do  latim  sequax\ 
Partidário,  partidista,  membro  de  bando, 
partido.  —  «Huus  doze  que  estavào  logo 
a  entrada  nas  primeyras  lapas,  tinhào  as 
vestiduras  pretas  ao  modo  dos  bonzos  de 
Japão,  e  seguiào  a  ley  de  hum  idolo  que 
fora  hum  homem  que  se  chamou  Situm- 
por  micay,  que  deixou  por  preceito  aos 
seus  sequazes,  que  em  quanto  estivessem 
vestidos  na  podridão  destes  ossos  passas- 
sem seus  dias  em  muyta  aspereza  de  vi- 
da.» Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  IGl. 

—  Que  segue,  acompanha. 
SEQUEIRA,  s.'/.  Seguidade. 

—  Appellido. 

SEQUEIRO,  s.  »i.  Logar  secco,  falto  de 
suecos  próprios  para  a  vegetação,  sem 
regadio  ou  rego. 

—  Planta  de  sequeiro ;  que  se  não 
rega,  que  não  está  em  lenteiros,  em  ter- 
renos frescos. 

SEQUELA,  ou  SEQUELLA,  s.  f.  (Do  la- 
tim sequela).  Consequência,  conclusão 
que  se  tira  raciocinando. 

—  O  acto  de  seguir. 


—  Os  da  sequela  de  alguém;  os  seus 
sequazes,  os  do  seu  bando. 

SEQUENCIA,  s.  /.  Prosa  com  consoan- 
tes a  uiodo  de  versos  ieouinos  que  em  al- 
gumas festas  solemues  se  reza  depois  da 
epistola  na  missa. 

—  Termo  de  jogo.  Cartas  seguidas  de 
um  naipe. 

SEQUENTE,  adj.  2  gen.  (Do  latim  se- 
quens  .  Seguinte. 

SEQUER,  adv.  (De  se,  e  quer^.  Ao  me- 
nos, pelo  menos.  — -  «  Elle,  o  amigo,  o 
convivente  dos  Cenáculos  e  Barbosas, 
alli,  em  meio  de  sandeus  e  fanáticos,  que 
o  fugiam  como  de  leproso,  a  quem  o  go- 
verno, sequer,  não  concedia  defender- 
se...»  Bispo  do  Grão  Pará,  Memorias, 
publicadas  por  Camillo  Castello  Branco, 
pag.  37. 


Sei  que  te  amo,  conheço  que  impossível 
Me  é  não  te  amar ;  mas  meu  amor  é  crime, 
Mas  esta  cruz...»  E  a  cruz  chegou  aos  lábios, 
E  os  lábios  a  beijá-la  não  ousaram. 
«Oh  I  se  ao  menos  sequer  tu  a  adoraras, 
Se  convertido  á  fé,  commigo  eterna 
Penitencia  fizesses  d' este  crime 
Que  ambos,  ai  de  mim!  ambos  commcttèmos... 
GABKETT,  D.  BB.uiCA,  cant.  4,  cap.  5. 


— •  A  seu  prazer,  se  quizer. 

—  Xtm  sequer  ;  nem  ao  menos. 
SEQUESTRAÇÃO,    s.  /.    O    acto  de  se- 
questrar. 

—  Separação. 

SEQUESTRADO,  part.  pass.  de  Seques- 
trar. 

SEQUESTRAR,  v.  a.  (Do  latim  seques- 
tra re.  PGr  bens  em  sequestro. 

—  Figuradamente:  Privar  do  uso, 
exercício  do  domínio,  ou  de  nossas  facul- 
dades. 

j  SEQUESTRADOR,  s.  m.  O  que  se- 
questra. 

t  SEQUE3TRAVEL,  adj.  2  gen.  Que 
pode  sequestrar-se. 

SEQUESTRO,  s.  m.  Termo  forense.  To- 
mada judicial  e  deposito  em  mãos  de  ter- 
ceiro, de  cousa  litigiosa  até  se  averiguar 
a  quem  pertence. 

—  Bens  sequestrados. 

—  Depositário  do  sequestro ;  pessoa 
em  cujas  màos  se  faz  o  deposito  ou  se- 
questro. 

—  Fazer  sequestro ;   sequestrar. 

—  Levantar  o  sequestro ;  desfazel-o, 
ficando  os  bens  livres  dello,  e  desembar- 
gados por  mandado  de  levantamento  do 
sequestro. 

SEQUIA,  s.  /.  (Do  hespanhol  sequía,. 
Seccura  da  bocca,  da  guela,  causada  pela 
sede  ou  falta  de  saliva. 

SEQUIDADE.  A'id.  Seccura. 

SEQUIDÃO,  «.  /.  Seccura. 

—  Figuradamente  :  Desabrimento,  des- 
apego, sem  agasalho,  sem  carinho  ou  af- 
fabilidade ;  seccamente. 

—  Sequidão  de  esjpirito;  a   que  soífre 


quem  é  secco  de  espirito,  na  mystica; 
pouco  fervoroso. 

SEQUILHOS,  s.  m.  plur.  Bolinhos,  ros- 
quinhas de  massa  secca  de  farinha  de 
vários  temperos  e  feitios.  =  Empregado 
por  Garção. 

SEQUIM.  Vid.  Zequim. 

SEQUINHOSO,  adj.  Secco,  árido,  falto 
de  luunor. 

SEQUIOSAMENTE,  adv.  (De  sequioso, 
com  o  suffixo  «mente»).  Com  sede. 

• —  Figuradamente  :  Com  ardor,  desejo. 

SEQUIOSO,  adj.  Sedento,  que  tem  sede. 

—  « Terra  i  echoa  confusa  vozeria 
Da  marítima  turba :  Oh  !  voz  querida, 
Doce  aurora  de  gôso  e  de  esperança 
Ao  coração  do  nauta  infraquecido. 
Do  alquebrado  sequioso  passageiro. 
Que  a  esposa,  os  filhos,  ou  talvez  a  amante, 
N'e3sa  voz  doce  e  grata  lhe  alvejaram. 
GABBETT,  CAMÕES,  cant.  1,  cap.  4. 

■ —  Que  necessita  de  rega  ou  chuva. 

—  Que  embebe,  ou  sorve  muita  agua. 

—  Que  tem  ardor,  grande  desejo  de 
vêr,  cumprir,  satisfazer  alguma  curiosi- 
dade, appetite. 

SEQUÍSSIMO,  adj.superl.  de  Secco. 

SÉQUITO,  5.  m.  Comitiva,  acompanha- 
mento, gente  que  acompanha  por  obse- 
quio.—  'iDe  que  espantados  os  outros, 
nos  seguiào  mais  tímidos,  e  cautos;  as- 
sim nos  forào  picando  todo  aquelle  dia, 
humas  vezes  ati-evidos,  e  outras  cobardes, 
e  com  este  séquito  desigual,  e  importu- 
no, hião  dando  aos  nossos  a  carga  lenta, 
mas  nunca  interrompida.»  Jacintho  Frei- 
re d'Andi-ade,  Vida  de  D.  João  de  Castro, 
liv.  4. 

—  Figuradamente :  Amizade,  benevo- 
lência, applauso,  obsequio,  popularidade. 

—  Doutrina  de  muito  séquito;  muito 
seguida  e  approvada. 

—  Seguimento  de  inimigo. 

1.)  SER,  s.  ?)i.  O  existir,  a  existência. 

XuncA  a  pensar  cheguei,  que  em  meus  vassaUos, 

Que  do  orbe  a  estimação,  e  o  ser  me  devem, 

Taij  louco  algum  houvesse,  e  taõ  ingrato. 

Que  combater  ousasse  meus  projectos ! 

Mas  o  tempo,  que  a  todos  desengana, 

Me  mostrou  quanto  errava,  e  quaõ  perdidos 

Saõ,  com  ingratos,  grandes  benefícios  ! 

DUnZ  DA  CBUZ,  HTSSOPB,  Caut.    8. 

Grande  no  Egypto  foi,  maior  na  Grécia 
Sc  descobre  o  mortal;  e  aqui  mais  nobre 
Eu  contemplo  o  meu  ser. 

J.   A.    DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,    C&Ut.    1. 

—  Ente,  cousa  que  tem  existência 
real,  ou  imaginaria. 

—  Homem  de  grande  ser ;  homem  de 
gi-ande  porte,  importância,  de  grande 
sorte. 

—  Ente,  cousa  que  existe,  ou  se  con- 
cebe como  existente  sobre  si,  ou  em  ou- 
tra cousa. 


494 


SER 


SER 


SER 


No  Orizontc  o  Monte  luvaiitado 

Parecia  c'o  Ciio  ficar  unido, 

Com  i|ue  do  ICntrcllait  vaiiai  coroado 

Sc  iiioatra,  c  dií  mil  luzcrt  guarnecido; 

Na  to.^ca  iiciiodia  ciit:\  pnf;'"lo 

O  verde  uuHfCo  cm  modo  compartido, 

Que  com  pi'rfcito  'tr  ncUc  »b  vento 

D'c3maltc  natural,  ouro  coloatc. 

mULIV   DE   MOUOA,   NOV.    DO    UOMEU,   C*Ut.   2. 


—  o  ser  d'algaein,  ou  de  ahjuma  cou- 
sa; aquillo  quo  cllo  é,  pby»ica  ou  moral- 
mente. 

—  Infinito  verbal,  que  se  toma  muitas 
vozes  como  um  substantivo.  —  O  ser  do 
hjvicm. 

—  IHur.  Entes.  —  Estes  seres. 


Mais  nobres  seres  no  seguinte  instante 
Forma  a  suprema  voz,  logo  he  cortado 
Fundo  seio  do  mar  pelo  nadantc 
De  mudos  peixes  esquadrão  cerrado : 
Vai  na  frente  arrojando  alta,  espumante 
Columna  d'agua  Leviathan  pesado ; 
Por  morada  lhe  asáigna  ambos  os  Pólos, 
Onde  o  mar  volvo  congelados  rolos. 

J.   À.   DK  MACEDO,  O  OníB-NTR,  Caut.    9,    GSt.  54. 

O  Arbitro  immortal  desde  o  começo 
Dos  tempos,  e  do  Mundo,  c  ò'ere«  todos, 
O  misturou  nas  oudas  cristalinas. 
iDcu,  Á.  NATURGZ.v,  cant.  3. 

Immerso  todo  cm  si,  e  cm  sombra  involto, 

Mystoriosos  números  medita, 

E  tira  da  Unidade  os  Seres  todos. 

Ma»  Ktorna  Unidade  he  Dcos  somente. 

Origem  perennal  dos  Heres  todos, 

DcUe  o  principio  tem,  tem  dcUe  a  vida. 

IDUU,  VIAOEU   EXTÁTICA,  Caut.   2. 

Do  Divinal  Saber  nasce  illustrado, 

Das  cousas  conhecendo  a  própria  essência : 

Impoz  seu  próprio  nome  aos  Seres  todos. 

IBIDUU. 


A  Terra  he  conhecida,  os  Seres  vivera 
Desde  o  vasto  Elefante  á  variada 
líorboleta  gentil,  que  as  flores  beija  ; 
Da  gigantesca,  colossal  BiJèa. 
IBIDEM,  cant.  4. 

Infinita  extensão  sempre  immudavel 
Na  eterna  essência  sua,  e  rXna.  em  modos, 
Vem  delia  os  Seres  só,  nella  se  tórnào 
Y.m  circulo  perenno,  em  moto  eterno. 
Aos  Gregos  diz  fecundo  Anaximandro. 
IDEM,  MEDir.içÃo,  cant.  4. 

Do  Rei  universal  dos  sereu  todos 

He  núa  a  habitai;ào,  ncnlmma  pompa. 

Nenhum  manto  sobi-rbo  a  enroupa,  c  vésto. 

EUa  mesma  o  produz,  o  Eterno  o  manda, 

A  força  vegetal  se  desenvolve. 

Do  hum  verde  peremial  se  arrèa,  o  cobre. 

IBIDEM. 

—  Ser;  estado  moral. 

2.)  SER,  V.  íí.  (Do  latim  esse).  Exis- 
tir. —  «E  Ouadalajarra  hum  tiJaliro  Cas- 
telhano per  alcaide  mòr,  o  Lopo  Cabrei- 
ra feitor,  cõ  os  mães  officiaes  a  ella  or- 
denados, quo  eom  a  geutc  d'arma3  podiaõ 


ser  cento  e  cinqiioenta  poAsoas,  c  pêra 
í^uarda  (ru(|uulla  costa  c  tauor  da  forta- 
leza, ficarão  o.-ites  dou.i  ca[)it3ert,  IWlri^çi) 
ILubclo  em  sua  nao,  c  iiornium  Diaz  Na- 
taforea.»  hunos,  Década  1,  ilv.  9,  capi- 
tulo 4. 


Toma  tudo  a  ser  pior, 
porqui;  nos  anos  tõrnamoa 
e  de  nouo  começamos 
ter  abo  mundo  mais  amor. 

GAUCIA  DE  BKZEKDE,  U18CELLAMEÁ. 


—  «A  princeza  Lionarda  n2o  pode  ser 
desencantada  senão  por  vossa  mào,  olhai 
que  nisto  inda  accrescentaes  em  vossa 
fèima :  e,  pois  em  igualdade  de  pessoa  e 
fermosura  vos  não  desmerece,  podeis  ca- 
sar com  dia  e  aecrescentar  em  vosso  es- 
tado.» Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
d'Iuglaterra,  cap.  95.  —  «E  então  não 
haverá  padrinhos  no  meio,  que  mo  estor- 
vem a  vingança,  quo  agora  podóra  to- 
mar; porem  esquecida  esta  monenco- 
ria,  que  ficará  pêra  .«ieu  tempo,  vos  peço 
que  em  nome  de  alguma  mulher,  que 
muito  estimeis,  queirais  correr  uma  lança 
comigo,  porque,  quem  a  sua  ha  de  ofle- 
recer  em  nomo  de  Targiana,  ha  de  ser 
em  cousa  de  mais  gosto.»  Ibidem,  cap. 
124. 


Se  acertarA  o  juramento 
de  ser  cá  pão  bolorento. 

ASTONIO  PBE8TE3,  AUTOS,  pag.  367. 

A  mais  dama,  mui  fermosa 
quanto  a  formosura  d.l, 
de  tudo  aquiilo  em  que  está 
o  fermosa  ó  o  ser  airosa. 
IBIDEM,  pag.  42õ. 

—  «Os  nossos  foram  entrando  a  Cida- 
de, iado-lhe  pondo  fogo  em  todas  as  ca- 
sas, que  eram  de  madeira,  de  que  se  elle 
apossou  com  sua  braveza  acostumada. 
Vendo  ElRey,  que  cuidava  que  tudo  era 
mentira,  ser  tamanha  verdade  o  que  lhe 
disseram,  não  teve  mais  tempo  que  pêra 
se  pôr  em  hum  elefante,  e  fugir,  sem  le- 
var mais  que  sua  pessoa.»  Diogo  de  Cou- 
to, Década  4,  liv.  2,  cap.  3.  —  «Ra\- 
nuncio  também  oppositor  já  era  bisneto 
na  linha  do  Infante  D.  Duarte;  mas  naõ 
se  fez  caso  da  sua  opposiçaõ,  por  ser  de- 
funta sua  mày,  que  a  devera  fazer,  e  por 
naõ  constituir  linha  differente  da  em  que 
se  achava  a  Senhora  Dona  Catharina, 
em  melhor  grão  que  elle.»  Arte  de  fur- 
tar, cap.  IG.  —  «Augusto,  Lucullo,  An- 
tónio, e  Pompeo  tambtm  a  souberão  ven- 
cer, porque  a  sua  heroicidade  do  animo 
se  oppoz  ao3  principios,  que  verdadeyra- 
montc  tiverào  para  serem  ociosos.»  Ca- 
valleiro  d'01iveira,  Cartas,  liv.  1,  n.°  13. 


Repara-so  também  o  baluarte 

Que  o  da  Yilla  dos  Rumes  ser  dizião, 


Lá  onde  wtcnta  hir.v.i  ■■.'  n  í>i!tandart« 
De  Francisco  Pac'.  ^uiào: 

E  i>f<r«|uc  elle  a».  -m  parto 

(•nde,  durando  o     •  iião 

Socc»rré-lo  u  miudu,  oc  lii';  laui,a 
Eutuo  do  que  ha  inidt<:r  grande  aba«tançA. 
r.  u'aiidkadk,  pkimeiuo  cekco  oe  Dit,  cant.  13, 
est.  42. 

Ser  cidadáo. 

EcUo... 

OABBETT,   CATÃO,   HCt.    'i ,   80.    3. 


—  Ser  nasciíla  de  inveja ;  ser  oripna- 
<la  d'ella.  —  «O  Suevo  que  não  tomou  a 
embaixada  com  a  intenção,  e  bom  zelo 
que  Tlieodorico  lhe  mandaua,  iuia^ioSdo 
ser  nacida  de  cnveja  de  o  ver  taò  gran- 
de senhor,  lhe  respondeu,  que  se  lho  pe- 
sava das  empresas  que  fazia  em  Espanha 
o  esperasse  dentro  em  França  na  soa  Ci- 
dade de  Tolosa,  onde  lhe  fizesse  resia- 
titncia,  estendendo.-e  seu  poder,  e  animo 
a  tjinto.»  Houarchia  Lusitana,  liv.  6, 
cap.  7. 

—  Estar.  —  »  Dramusiando  lhe  teve 
em  mercê  e  aceitou  o  offerecimento,  ten- 
do a  victoria  por  certa ;  porque  de  quan- 
tos alii  estavam  elle  só  os  conhecia.  D'e8- 
te  ficaram  descontentes  Oraciano,  Berol- 
do  e  Pompides,  e  o  Príncipe  Floramão  e 
outros,  que  cada  um  por  si  quizera  ser 
mcttido  no  trabalho  de  Dramusiando.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  93.  —  «O  gram  turco  man- 
dou apousentar  dentro  no  paço  a  Polen- 
dos  c  toda  a  sua  companha,  tão  providos 
das  cousas  necessárias  como  o  podiam 
ser  cm  suas  próprias  casas ;  porem  como 
sua  tenção  fosse  damnada,  uma  noite, 
antes  do  dia,  que  determinavam  embar- 
car-se  pêra  se  partir,  os  convidou  cear 
com  elle.»  Ibidem,  cap.  96.  —  «E  despe- 
dindo-se  d'ellc,  disse  a  .\rlança:  Senho- 
ra, que  mandais  que  diga  a  vossa  mãi, 
se  algum  hora  minha  ventura  me  levar 
ante  ella?  Podeis-lhe  dizer,  respondeu 
ella,  que  pêra  me  ter  por  filha  ó  neces- 
sário perder  o  ódio  a  este  cavalleiro,  e 
fazer-se  amiga  de  quem  nunca  o  cuidou 
ser ;  porque  já  agora  não  pôde  haver 
vingança  de  seus  filhos,  senão  com -per- 
der sua  filha.  De  modo  que,  se  n'is30 
não  quizer  mudar  a  tenção,  cuidando 
vingar-se,  terá  mais  pena.»  Ibidem,  cap. 
lUi.  —  «.\lbayzar  mandou  logo  por  el- 
las,  e  cl-rei  por  um  c^ivallo  pêra  sua  pes- 
soa, em  que  veio  ao  terreiro,  pesando-lhe 
daquella  discórdia,  que  não  queria  que  a 
Albayzar  acontecesse  algum  deísastre  na- 
quelles  dias,  primeiro  de  ser  entregue  ao 
imperador,  em  cuja  mão  estavam  os  pri- 
si.ineiros  que  deram  a  troco  delle.»  Ibi- 
dem, cap.  123. 


Não  vi  mais  pequeno  gosto 
nem  mór  falt.i  porá  o  ser. 
Entrcgo-vos  «'esta  arraia. 

ASTONIO  PKESTES,  ACTOS,  pag.  331. 


1 


SER 


SER 


SER 


495 


Inda  não  é  despachado  ? 
A  fortuna  cm  meu  estado 
até  n'is30  me  faz  cacha ; 
só  a  morte  é  quo  despacha 
um  corpo  ser  descançado, 
que  á  ahna  lá  se  receita 
por  botica  mui  mais  funda. 
IBIDEM,  pag.  301. 

—  «E  porque  ha  muitas  opiniijes  antre 
os  Portuguezes  que  nam  entraram  na 
China  sobre  onde  se  faz  ha  porcelana  e 
acerca  do  material  de  que  se  faz,  dizen- 
do huns  que  de  cascas  de  ostras,  outros 
que  de  esterco  de  muito  tempo  podre, 
por  nam  serem  enformados  da  verdade, 
parece  me  conveniente  cousa  dizer  aqui 
ho  material  de  que  se  faz  conforme  aa 
verdade  dita  pelos  que  ho  viram.»  Frei 
Gaspar  da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da 
China,  cap.  11. 

—  Tornar-se.  —  «Inda  que  por  nossa 
clemência,  e  intento  de  piedade,  outor- 
gamos perdão,  e  concedemos  favorável 
indulgência  á  negligencia  passada:  e  com 
ser  grave  culpa  ter  errado  atégora,  a 
mayor  censura  (com  tudo)  e  menos  digna 
de  perdão  ficarão  obrigados  aquelles  que 
com  temerária  ousadia  se  atreverem  a 
quebrar  este  nosso  edicto,  deduzido  da 
authoridade  dos  Padres  antigos.»  Monar- 
chia  Lusitana,  liv.  6,  cap.  20. —  «Antaõ 
Gonçaluez  peró  que  naõ  quisera  acceptar 
a  tal  honra  de  cauallaria,  negando  ser 
merecedor  delia:  por  comprazer  a  todos, 
foi  armado  caualleiro  per  maõ  de  Xuno 
Tristão  com  que  o  lugar  segundo  lhe  to- 
dos diziaõ  ficou  com  o  nome  que  oje  tem 
que  he  Porto  do  caualleiro.»  Barros,  Dé- 
cada 1,  liv.  1,  cap.  6.  —  iiAo  qual  por 
ser  muito  bom  eavalleiro,  e  Capitão,  elle 
Mahamed  casou  com  Fátema  sua  filha 
da  sua  primeira  mulher  Adagia.»  Idem, 
Década  2,  liv.  10,  cap.  6.  —  «E  prose- 
guindo  eu  nesta  matéria  per  modo  de 
compendio,  escreui  no  começo  da  mesma 
Chronica,  ho  que  achei  ser  mais  impor- 
tante a  estas  nauegações,  ate  ho  nasci- 
mento do  dicto  Príncipe  dom  João,  que 
foi  no  anno  do  Senhor  de  'M.  CCCCLV.» 
Damião  do  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  1,  cap.  23.  — <t Navegando  ao  lon- 
go da  costa  com  muito  prazer,  folias,  e 
tocar  de  trombetas,  e  polo  tempo  ser  bo- 
nança, hiaõ  taõ  junto  da  terra  que  viraõ 
alem  da  frescura  delia,  muitas  criações  de 
gado  grosso,  e  meudo.»  Ibidem,  cap.  35. 

Nào  sei  SC  os  fados  lhe  deram 
siimma  fasttgia  rertim. 
Rerum  nào  sei ;  mas  cu  fio 
darcm-lhe  suma  fastio 
e  no  gia  ser  hurrertim. 

AXTOSIO  PRESTES,  ACTOS,  p3g.  151. 

Parece  que  devo  ter 
maior  quinhão  na  partilha 
jA,  que  eu  levei  a  manilha 
para  eíFoito  disto  ser. 
IBIDEM,  pag.  275. 


ser  vossa  minha  paixão, 
ser  vossa  dôr  minha  dòr, 
de  qualquer  arte  quo  fòr 
sente  homem  morrer,  6  um  cão. 
IBIDEM,  pag.  3Õ1. 

— •  «Chegando  a  ella  viram  ao  pé  de 
umas  casas  nobres  e  grandes  uma  gran- 
de praça,  espaçosa  e  chãa,  cercada  toda 
de  palanques  povoados  de  muita  gente, 
que  alli  eram  vindos  pêra  vêr  a  batalha, 
que  a  seu  parecer  havia  de  ser  a  mais 
famosa  e  grande,  que  nunca  naqueila 
terra  se  fizera.»  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  de  Inglaterra,  cap.  118.  — 
«Chegando  ao  terreiro  do  paço,  levando 
as  armas  trocadas,  por  não  ser  conheci- 
do pola  divisa  do  Salvage,  que  assim 
acostumava  esconder  nos  lugares  onde  se 
queria  encobrir,  se  deteve  com  o  elmo 
erdazado,  e  mandou  um  escudeiro  á  rai- 
nha e  damas,  que  Arlança  e  as  outras 
donzellas  que  trazia  comsigo,  lhe  pedi- 
ram, que  naqueila  corte  quizesse  mostrar 
alguma  cousa  do  preço  de  sua  pessoa;  e 
como  fosse  pouco  avarento  de  suas  obras, 
quiz-lhe  fazer  a  vontade.»  Ibidem,  cap. 
123. 


Parte  o  Turco  feroz,  que  por  vencido 
O  Chri.stào  tendo  ja,  nada  arreceia, 
Mas  logo  o  faz  ser  menos  atrevido 
D"huma  parte  o  caminho,  doutra  a  areia, 
Porque  sendo  ella  solta,  elle  comprido, 
E  hum  tào  grosso  canhão  mal  se  meneia, 
Por  mais  força  quo  põe,  por  mais  que  estuda 
Pouco  ou  nada  a  carreta  então  se  muda. 

F.  d'anrr.íde,  primeibo  cerco  de  DIU,  cant.  13, 
est.  G8. 

Só  tuas  mataduras  naõ  adoro : 
Porém  com  elias  podes  felizmente 
Ser  ágil  Burro  do  Baraõ  Theodóro. 

ABBADE  de  JAZESTE,  POESIAS,  tOm.  "2,  pag.  6Õ. 

—  «E  por  isso  a  entrada  de  Deos  no 
mundo,  fov  enchendo  de  consolação  as 
almas  com  que  aula  de  conquistar  o  ceo. 
Nolite  ad  iracundiam  prouocare  filios 
resiros.  Quer  dizer  desconsolados,  ser 
ásperos  para  elles,  Vt  non  ijilsUIo  anivio 
Jiant.  porque  se  vos  farão  acanhados,  e 
que  não  prestem  para  nada.»  Paiva  d'An- 
drade,  Sermões,  pag.  105. 

Com  que  tudo  qu'esalta  antiga  Musa 
Demonstra  ser  dos  Lusos  excedido ; 
Xeste  trance  arriscado  esmorecera, 
E  a  tanta  força  desigual  cedera. 

j.  A.  DE  MACEDO,  0  OKiESTE,  cant.  11,  cst.  51. 

Pódc  a  matéria  combinada  acaso 
Ser  nestes  versos  meus  de  imagens  tantas 
Potente  Creador  ?  Dize,  Epicuro, 
As  mecânicas  leis  do  movimento, 
A  ardente  agitação  da  térrea  massa 
De  Estacio  á  fantasia  azas  prestarão  ? 
idem,  meditação,  cant.  4. 

Çhorã-la  cm  ócio  vil  é  ser  covarde, 
E  não  sor  cidadão,  —  não  ser  Romano. 
Mas  ouve... 

GARRETT,  CAXÃO,  act.    1,  SC.    1. 


—  Mostrar  ser  homem  curioso ;  obrar 
segundo  o  seu  caracter.  —  «Nestas  prati- 
cas gastou  com  nosco  hum  grande  espa- 
ço, mostrando  em  todas  as  suas  pregun- 
tas  ser  homem  curioso  e  inclinado  a  cou- 
sas novas,  e  se  despidio  de  nós  e  do  Ne- 
codá  Chim,  que  dos  mais  nào  fez  muyto 
caso.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções,  cap.  133. 

—  Ser  dado  a  alguma  cousa;  entre- 
gar-se  a  ella.  —  «Tem  estas  gentes  alem 
das  ignorâncias  ja  ditas  numa  torpeza 
abominável,  que  he  serem  dados  de  tal 
maneira  ao  pecado  nefando  da  natureza 
repugnante,  que  se  nam  estranha  de  ne- 
nhuma qualidade  antrelles.»  Fr.  Gaspar 
da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da  China, 
cap.  29. 

—  Ser  faUecido  o  •pai;  ter  morrido, 
estar  defunto.  — •  «Depois  da  morto  desta 
Rainha  se  tornou  a  tratar  de  casarem  es- 
ta Princesa  com  o  mesmo  Principe  dom 
Phelipe,  que  ja  era  Rei  de  Castella,  por 
o  Emperador  dom  Carlos  seu  Pai  ser  fa- 
lecido.» Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  4,  cap.  68. 

—  Ser  parente.  d'alguem ;  aparentado 
com  elle,  ou  por  consaguinidade,  ou  por 
aííinidade.  —  «  Este  João  Machado  era 
natural  da  Cidade  Braga,  homem  de  boa 
linhagem,  e  sendo  mancebo  estava  em 
casa  de  hum  Abbade  seu  tio,  onde  se 
veio  namorar  de  huma  sobrinha  deste 
Abbade  d'outra  parte,  sem  elle  ser  pa- 
rente delia.»  Barros,  Década  2,  liv.  6, 
cap.  9. 

—  Os  pães  e  mães  vem  a  ser  os  mes- 
tres das  Jilhas.  —  «Fora  de  Hespanha  é 
tão  ordinária  esta  arte  (em  Flandres  es- 
pecialmente) que  os  galanteios  são  per- 
mittidos,  e  devidos,  e  chega  a  tanto,  que 
os  pais,  e  mães  vem  a  ser  os  mestres 
das  filhas,  a  quem  aconselham  os  termos 
porque  se  devem  haver  com  os  seus  aman- 
tes até  os  obrigar  a  que  lhes  sejam  mari- 
dos, s  D.  Francisco  Manoel  de  Mello, 
Carta  de  guia  de  casados. 

—  Depois  d'el-rei  ser  vindo  de  França  ; 
depois  de  ter  chegado  de  França.  —  «De- 
pois dei  Rev  dom  Afl:onso  ser  vindo  de 
França  no  anno  de  setenta  e  oito,  duran- 
do ainda  as  guerras  de  Castella,  Lopo 
Vaz  de  Castello  branco,  a  que  cbamauão 
o  Torrão,  sendo  alcayde  mor  da  villa  de 
Moura,  [sem  causa  alguma  se  aleuantou 
com  a  dita  villa,  e  fortaleza  por  el  Rey 
de  Castella,  contra  el  Rey  dom  Afibnso 
que  o  criara,  e  chamouse  Conde  de  Mou- 
ra.» Garcia  de  Rezende,  Chronica  de  D. 
João  II,    cap.  20. 

—  Pôde  ser;  é  possível. 

ciprcmentc-o  quem  quizer 
que  eu  nào  quero ;  pôde  ser 
que  se  ha  mais  um  peccado. 
AKTONio  PRESTES,  AUTOS,  pag.  325. 

se  a  isso  estaes. 
é  molher,  e  pôde  $tr 


496 


SER 


SER 


SER 


t.i...  ;  o  aBsi,  fnic  bo  attcntacB 
(:  o  qiio  cu  digo,  (irtHO  i;  o  ilizur; 
ma»  HO  irtto  i'',  já  iiiollic.r 
mo  Ciibc  tudo  no  buxo. 
luiDKM,  pag.  .'!H'.I. 

Via-80  na  Cidiídn  jmitiinicuto 

Para  ao  dcfriidm-  tainanlio  espaço, 

E  f|iio  era  alli  tão  mal  d(!  corpos  d'aço 

Que  |ic)d(ni:i  urr  mui  InvciiK^nto 

I'or  muirt  furto  (|uc  tciiliu  c  duro  o  bra(;o 

(^uc  dc^ta  diífcnsão  causa  nascesse 

Por  onde  a  fortaleza  se  perdesse. 

V.    T>r,    ANDIIADK,   rRIHEIKO     CKIICO     DII    1)10,    Cint. 

11,  est.  r)2. 

—  «A  Conílcí^a  nDío  explicou  esta  couza 
cm  Frauccz.  FihIc  ser  qiio  na  Trailu(;ão 
Italiana  viesse  a  pedir  de  boca,  o  qtio 
seja  necessária  na  Lingoa  do  Traductor: 
oh  quem  to  podóra  Já  ver!  oh  Tiaduc- 
ção!»  Cavalleiro  d'01iveira,  Cartas,  liv. 
1,  n."  10. — «A  grandeza  da  Eloquência 
consisto  en»  que  não  p('ide  ser  ilospreza- 
da,  e  taniboni  em  não  poder  ser  comba- 
tida que  por  cila  mesma.»  Ibidem,  n.°  20. 
—  «Se  me  quer  mandar  o  Original  que 
8C  fez  em  Francez,  pcnle  ser  que  eu  o  re- 
duza de  outra  fi')rma  á  lingoa  Portugue- 
za,  da  qual  V.  M.  com  facilidade  o  com- 
porá em  Castelhano.»  Ibidem,  n."  21. 

—  Passar,  suceeder,  acontecer. 

—  Estar  em  ser;  não  se  haver  gasta- 
do, diniinuiilo. 

—  Ser  cum  alguém;  achar-se  com  elle, 
estar  com  elle. 

—  Ser  exe))iplo  á;  servir-lhe  d'cxem- 
plo. 

—  Ser  d'al<]uem,  d'al<juma  cousa;  ser 
seu  criado,  seu  parcial. 

—  Ser  i)re><ente ;  estar. 

—  Ser  ntaito  d'esta  casa;  ser  muito 
amigo  d'ella. 

—  Usa-se  d'csto  verbo  para  affirmar 
ou  negar  que  um  attributo  existe  em  um 
sujeito. 

—  Pertencer  a  alguma  classe  ou  cor- 
poração. 

—  Ser  (lo  domínio. 

—  Ser  digno;  merecer. 

—  Havia  de  ser;  linguagem  começa- 
da ou  projectada,  denotando  o  futuro.  — 
n  O  do  Salvage  passou  aquella  noite  com 
monos  repouso  d<>  que  costumava,  e  as 
lembranças  ile  Lionarda  eram  pêra  tirar 
qualquer  somno.  Ao  outro  dia,  acabado 
de  ouvir  missa,  o  imperador  jantou  na 
horta  de  Florida,  com  a  imperatriz,  Gri- 
donia,  e  Polinarda,  e  sua  hospeda,  dando 
o  mais  nobre  banquete  que  se  nunca  viu ; 
o  assim  era  bem,  ]k>Í8  aquello  havia  de 
ser  o  derradeiro. »  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  112.  —  «To- 
das me  parecem  a  mim  tão  bem,  disse 
elle,  que  quem  mais  tirar  da  mão  ha  de 
ser  por  seu  justo  preço.  Pois  eu,  disse 
um  dos  outros  dous,  não  quei-o  que  a  mi- 
nha fiquo  cm  vossa  escolha;  que,  depois 
que  olhei  todas,  aquella  senhora  maior  de 
corpo  me  namora;  porque  posto  qxio  seja 


pouco  formosa,  «ua  ilesposicSto  me  convi- 
da a  não  Haber  desejar  ai,  c  minha  von- 
tade me  diz,  que  alli  ficarei  de  todo  con- 
t(;ute.»  Ibidem,  eaj).   12õ. 

O  (|U0  me  pede  o  desejo: 
n(|ui  é,  n'(!sta  ha  de  nfr; 
(picro  entretanto  batiír, 
(|uo  sem  isso  é  mau  despejo. 
Quem  6  V 

Filho,  dom  liraz. 

AKTOKIO  rnESTES,  AUTO»,  pBg.    101. 

E  pois  fi-mca  havia  do  srr, 
entrastes  com  bom  prazer. 
JJofá  (|ue  eu  tomara  agora 
que  uma  menina  fora, 
coleirinha  do  crescer. 
niiDKM,  pag.  14õ. 

—  Junta-sc  aos  participios  dos  ver- 
bos, formando  a  voz  passiva  dos  mesmos. 
—  «  Por  serem  infnrmados  que  não  coni- 
prião  cum  o  (|ue  lhe  tinham  j)ronietid(),  o 
que  faziam  por  lhe  darem  auiamento,  e 
se  lhe  nam  passar  o  tempo  da  nauegaçaõ 
para  a  Imlia,  que  seu  desejo  era  mostrar- 
íhe  a  vontade  que  tinham  de  o  favorecer, 
c  cumprir  com  que  lhe  tinliam  prometido 
per  seus  contratos.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  2. 


Vimos  mo(;09  goucrnar, 
c  velhos  dcagouernados, 
fracos  em  armas  faltar, 
e  vimos  muytos  mandar 
que  dcuiam  fer  mandados. 

UABCIA  DK  BEZKNDK,  UISCELLANF.A. 


—  «  E  inda  que  comnosco  gan 
honra,  pêra  comvosco  se  não  perde,  que 
claro  está  que  ser  vencido  do  quem  nas- 
ce pcra  o  não  ser  (routrcm,  se  não  devo 
ter  por  injuria.  Este  homem  tão  desejoso 
de  brigas  é  vosso  amigo  o  priucipo  Berol- 
do,  que  não  sabe  com  quem  as  quer.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  10í>.  — «  E  posto  que  também 
sua  valentia  o  ensinasse  a  ser  confiado, 
teve  a  mesma  dita  que  tivera  o  primeiro. 
Desta  maneira  aconteceu  ao  terceiro  e 
quarto.  Parece-me,  disso  Albayzar,  que 
o  cavalleiro  das  donzellas  não  as  defeude 
tão  mal,  que  lh'as  possam  ganhar  som 
trabalho.»  Ibidem,  cap.  12i5. 

—  J)i:i)ois  da  frota  ser  dentro;  depois 
d'ella  estar  dentro.  —  «  Depois  da  frota 
ser  dentro,  Diogo  berrio  foi  mostrar  a 
dom  António  o  lugar  em  que  se  auia  de 
fazer  a  fortaleza,  ho  qual  a  juizo  de  to- 
dos pareceo  pouco  conueniente  pêro  isso, 
pelo  que  assentarão  que  se  fczcssc  em  ou- 
tro mais  perto  da  foz  em  que  auia  fontes 
(lagoa,  e  milhor  posto  pêra  desembarca- 
rem.» Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  p.art.  3,  cap.  2. 

—  l\>r  seT  já  entrado  o  inverno;  por  se 
entrar  já  no  inverno.  —  «  Pnlatcc,'>o,  de- 
pois de  ter  prestes  as  jangadas,  o  cotias 


que  lhe  mandara  o  Xabandar  do  Goa,  te- 
mendo que  nam  podci^se  entrar  a  illia  de 
"lia  sem  muito  perigo  pela  grande  guarda 
que  os  Portugueses  tinhão  em  t<jdolo8 
passos,  determinou  de  o  fazer  de  noite, 
e  esta  auia  de  f^er  de  chuua,  e  tormenta, 
a  qual  nam  podia  tardar,  por  ser  ja  en- 
trado ho  Inuerno,  que  naquellas  j<urte« 
he  muito  t'!mpestuos<).  •  iJamião  do  does, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  5. 

—  A^«o  é  o  que  cuidae»  ser. 

Nâo  hei  de  ir  co'ello. 
Que  ?  nào  é  o  que  cuidacs 
ter. 

Já  me  não  fio  d'ellc. 
Ora  hi  j.i. 

AHTOMIO  raKSTES,  AUTOS,  pAg.  395. 

—  A  minha  partida  d'e»ta  terra  não 
jióde  ser  sem  vós.  —  t  Senhor  Palmeirim, 
bem  sabeis  que  minha  partida  desta  terra 
não  piVle  ser  sem  vtis;  poi.s  o  remédio  do 
que  busco  ha  tanto  tempo  cstíl  cm  vossa 
mão:  pcço-vos,  pois  vossa  pessoa  té  ago- 
ra senão  negou  pêra  soccorro  dos  que 
houveram  mister,  vos  lembre  que  este, 
que  tendes  pêra  fazer,  não  é  menor  em 
merecimento  que  outros  que  j&  fizestes,  e 
adiante  se  vos  podem  offerecer.»  Francisco 
de  Moraes,  Palmeirim  dlnglaterra,  capi- 
tulo 95. 

—  Desejoso  de  ser  o  primeiro.  —  «  Mas 
deste  pensamento  o  tirou  um  cavalleiro, 
que  armado  de  todas  as  armas,  entrou 
no  terreiro,  desejoso  de  ser  o  primeiro, 
que  a  victoria  do  outro  levasse.»  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  123. 

—  Quem  te  metteu  ser  maridof 


Não  zombareis. 
Temeis  que  cila  vos  açoute  ? 
Piidc  ser. 

Homem  perdido, 
quem  te  metteu  ser  marido  ? 

AKTOKIO  rBESTES,  ACTOS,  pag.   109. 

—  Syn.  :  Ser,  estar. 

Ao  verbo  latino  e.sse  correspondem 
dous  verbos  portuguczcs  ser,  e  estar, 
que  os  nossos  grammaticos  nào  tem  sabi- 
do distinguir;  mas  entre  os  quaes  lia  mui 
notável  ditferença.  Ser  c  precisamente  o 
verbo  substantivo  sum  com  toda  a  sua 
força,  c  a  copula  da  proposição,  e  indica 
que  a  qualidade  que  por  elle  se  attribuc 
ao  sujeito  lhe  é  natural,  ou  permanente, 
ou  habitual.  Estar  c  uma  espécie  do  ver- 
bo auxiliar,  ou  pelo  monos  o  verbo  sum 
modificado  de  modo,  segundo  a  Índole 
da  nossa  lingua,  que  designa  somente 
uma  qualidade  accidcntiil,  transitória,  ou 
que  data  de  pouco.  Quando  dizemos  qne 
um  homem  <■  doente,  «'  bobado,  etc,  que- 
remos siginiticar  que  esto  homem  tem 
doença  habitual,  ou  que  o  ataca  a  mindo, 
que  tem  o  habito  ou  costume  do  embebe- 


I 


SERÁ 


SERÁ 


SERÁ 


497 


dar-se,  etc,  e  quando  dizemos  que  está 
doente,  que  está  bêbado,  etc,  queremos 
que  se  er.tenda  que  actualuiente  se  acha 
doente,  ou  tomado  do  vinho,  etc,  dando  a 
entender  que  não  é  este  um  estado  perma- 
nente, nem  sua  qualidade  habitual,  senào 
um  caso  accidental  e  transitório. 

Quando  queremos  dizer  que  um  homem 
nasceu  rico,  dizemos  que  é  rico :  quando 
queremos  significar  que  nào  nasceu  rico, 
que  houve  tempo  em  que  o  não  foi,  ou 
que  sua  riqueza  data  de  pouco,  dizemos 
que  está  rico. 

-}•  SERÁ.  Forma  do  verbo  ser  na  ter- 
ceira pessoa  do  singular  do  futuro  imper- 
feito (ío  modo  indicativo.  —  «  E  achando 
que  havia  mais  de  noite,  e  dia,  que  o  se- 
nhor do  prisioneiro  ho  tinha  em  seu  po- 
der, quando  lhe  fogio,  em  tal  caso  será 
o  prisioneiro  daquelle  que  o  achar,  e  ha- 
verá o  Marichal  por  avantagem  a  dizima 
dellc»  Ord.  Affons.,  liv.  1,  tit.  52,  §  21. 
— ■  «  E  se  elle  dello  nom  quiser  conhecer 
possão  delle  appellar,  e  aggravar  pêra 
nós,  e  elle  dê-lhes  o  aggravo,  ou  appella- 
çom  em  tal  caso :  e  d'outra  guisa  contra 
direito  nom  mande  penhorar,  nem  cons- 
tranger, porque  será  theudo  a  lho  coi- 
reger.»  Ibidem,  tit.  81,  §  33.  —  «E  fa- 
çã-se  desta  petiçam  Artiguos  no  que  for 
neguado,  e  recebam-lhe  sua  prova  até 
aquelie  termo,  que  o  Juiz  vir  que  será 
aguisado;  outro  sy  recebam  ao  demanda- 
do suas  excepções,  as  que  forem  direitas, 
e  aguisadas  pêra  receber.»  Ibidem,  liv.  3, 
tit.  53,  §  6.  — •  «  E  nom  ho  provando  o 
dito  creedor,  será  constrangido  de  entre- 
gar ao  devedor  a  escriptura  da  obriga- 
yom,  c  fazello  livre  de  seu  confesso.» 
Ibidem,  liv.  4,  tit.  55,  §  2. 


E  aconiselho-vos  mui  bem, 
Por  que  quem  bondade  tem 
Nunca  o  mundo  nerá  seu, 
E  mil  canceiras  lhe  vem. 

GIL  VICENTE,  ACTO  DA  FEIKA. 


—  «Ai  senhor,  disse  ella,  mal  haja  quem 
tanto  mal  fez,  quem  vos  eram  milhor 
empregadas  que  em  nenhum  e  se  isso 
muito  durar  será  grande  perda  pêra  mui- 
tos, que  tem  cada  dia  necessidade  de  ou- 
tras obras  como  as  vossas.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  96. 
—  «  Senho]-  cavalleiro,  o  grande  Astribor 
vos  manda  dizer  que  deixadas  as  armas, 
vós  e  vossa  companhia  vos  vades  meter 
em  sua  mao,  se  nào  que  será  forçado 
usar  de  crueza,  cousa  fora  de  sua  condi- 
ção.» Ibidem.  —  «O  maior  repouso  ou 
descanço  que  eu  pêra  sua  condição  sinto, 
disse  o  escudeiro,  será  achar  com  quem 
possa  correr  algumas  lanças;  e  pois  vossa 
alteza  lhe  outorgou  as  justas,  agora  ve- 
jam vossos  cavalleiros  o  que  querem  fa- 
zer, que  eu  vou-me  com  essa  resposta.  E 
fazendo  seu  acatamento,  se  despediu.» 
Ibidem,  c-ap.  123.- — «Pois  nào  vedes, 
voL.  V.  —  63. 


senhor  Beroldq,  disse  Platir,  o  que  aquel- 
las  letras  que  estão  na  pia  dizem,  que 
umas  convidam  a  beber  d'agua,  outras 
vol-o  defendem ;  mas  já  agora  que  a  de- 
feza  é  fi-aca,  bem  será  que  a  provemos. 
Então  se  chegaram  todos  á  fonte,  e  lava- 
ram n'ella  as  mãos  e  rostos  do  suor  e  pó 
e  provaram  d'agua  que  a  seu  parecer  era 
como  as  outras  aguas.»  Ibidem,  cap.  119. 
— « E  com  as  cortezias  devidas  a  tào 
boa  nova,  respõdemos,  saõ  tamanhas,  se- 
nhor, as  mercês  que  nos  tens  feitas,  que 
querertas  agradecer  cõ  as  palavi-as,  como 
a  gente  do  mundo  costuma  de  fazer  no 
tempo  dagora,  entendemos  que  será  mais 
ingratidão  que  verdadeyro  e  deviílo  agra- 
decimento, por  onde  nos  parece  que  o 
mais  acertado  será  o  silencio  metido  na 
alma  que  Deos  em  nós  pôs.»  Fernão 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.  121. 
—  «  Vê  agora,  alma  minha,  qual  dos  dous 
será  o  que  erra;  se  Chiisto,  no  que  es- 
colheo ;  se  o  mundo  no  que  te  persuade.» 
Padre  Manoel  Bordardes,  Exercícios  es- 
pirituaes,  pag.  319. 


Pelo  que  SC  lhe  fôr  isto 
será  coadjutor  de  Christo, 
atar-se-lia  polas  orelhas 
ao  bem  de  suaa  ovcllias. 

AHIONIO  FRESTES,  AUIOS,  pag.  143. 

D'homem  d'essa  calidade 
tudo  se  cuida,  e  será. 
poÍ3  por  certo  tonlio  já 
não  sor  crara  a  verdade 
onde  crara  a  cousa  está. 
IBIDEM,  pag.  297. 

—  «E  todos  estes  bens  lhe  vem  de 
naõ  ser  ladraõ :  e  naõ  o  será,  se  não  fal- 
tar a  si,  nem  a  seus  vassallos,  nem  aos 
estranhos,  como  temos  dito.»  Arte  de 
furtar,  cap.  15. 


Que  este  nome  de  Olaia,  que  amo  tanto. 
Será  de  Albano  cm  verso  celebrado. 
Feliz  assumpto  de  mais  alto  canto. 

J.  X.   DE  MiTIOS,  BULAS,  pag.   91. 

Ilhas  dispersas,  marca,  promontórios  ; 
E  nào  será  dhabitador  estranho, 
Qual  este  observas,  povoado  aquelie  ? 

J.  A.  DE  M.\CED0,  A  NATDREZA,  Caut.    1. 

O  escasso  número 
Dos  dias  meus  não  será  findo  cm  breve  ? 
Dcixa-me  pois  chorar  a  minha  mágoa, 
Gemer  co'a  rainha  dor  antes  que  desça, 
Para  mais  nào  voltar,  á  tenebrosa 
Terra  que  a  escuridão  cobre  da  morte. 
GABEETT,  CAMÕES,  cant.  2,  cap.  5. 


—  Não  sei  como  isso  será ;  ignoro  co- 
mo isso  ha-de  ser.  —  aNào  sei,  disse  um 
delles,  como  isso  será;  mas  sei  que  pri- 
meiro que  as  hajaes,  custará  tanto,  que 
vos  lembre  pêra  sempre,  e  pagueis  o 
damno  que  tendes  feito.  E  saltando  fora 
dos  cavallos  se  vieram  a  elle,   e  começa- 


ram feril-o  por  todas  partes.»  Francisco 
de  Moraes,  Palmeirim  dlnglaterra,  cap. 
116. 

—  Não  será  contente ;  nào  se  conten- 
tará. —  «E  posto  que  seu  pai  com  todo- 
los  afagos  e  modos  que  pode,  trabalha 
tirar-lhe  aquella  tenção,  jamais  o  pode 
acabar  com  ella,  dizendo,  que  té  ver 
restituidos  em  sua  liberdade  todos  vos- 
sos cavalleiros,  nào  será  contente.»  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  112. 

—  Será  de  grande  proveito  ;  virá  a  ser 
de  grande  utilidade. —  «E  se  se  continuar 
a  obra,  será  de  grande  proveito  para  to- 
do o  Reyno ;  porque  para  armas  hà  nelle 
muita  abundância  de  ferro,  e  para  a  pól- 
vora temos  da  nossa  maõ  a  maior  quan- 
tidade destes  materiaes,  que  hà  no  mun- 
do, que  he  o  salitre  do  Brasil,  e  o  enxo- 
fre das  Ilhas.»  Severim  de  Faria,  Noti- 
cias de  Portugal,  Disc.  2,  cap.  11. 

—  Será  necessário ;  será  preciso.  — 
«Hum  delles  então  olhando  para  ob  ou- 
tros lhes  disse,  quiçá  que  não  tem  estes 
homens  tão  pouca  razão  no  que  agora 
apontarão,  quão  pouca  nós  tivemos  em. 
03  escandalizarmos,  porque  pôde  bem  ser 
que  se  custume  isso  entre  elles,  porque 
assi  como  por  serem  bárbaros  carecem 
do  perfeito  conhecimento  da  nossa  ver- 
dade, assi  também  nào  será  muyto  terem 
entre  elles  tão  pouca  consciência  os  mi- 
nistros da  justiça,  que  será  necessário  ás 
partes  fazerem  mais  caso  da  aderência 
para  com  elles,  que  do  direyto  que  tive- 
rem nas  suas  causas.»  Fernão  Mendes 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  102. 

—  Quão  duro  será  isto  de  crer;  quão 
árduo  será  iíto  de  acreditar.  —  «Bem 
vevo,  quam  duro  será  isto  de  crer,  a 
quem  nunca  o  vio,  nem  ouuio,  mas  tam- 
bém sey,  não  faltarem  neste  Reyno,  tes- 
temunhas desta  verdade.»  Fr.  Gaspar  de 
S.  Bernardino,  Itinerário  da  índia,  ca- 
pitulo 11. 

—  i<ací7  será  de  entender ;  tomuT-íQ-ha. 
intelligivel.  —  «Estando  neste  perigo  três 
horas,  vendo  que  o  tempo  lhes  seruia, 
derão  às  velas  sem  leme,  ou  cousa  que  o 
podesse  ser,  tornarão  a  fazer  viagem, 
onde  cousa  fácil  será  de  entender,  que 
taes  todos  andarião,  vendose  no  meyo 
das  ondas,  em  huma  nao  sem  leme,  quan- 
do em  tempo  que  o  tinhão  forão  marrar 
com  ella  em  terra.»  Fr.  Gaspar  de  S. 
Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap.  4. 

—  Onde  será  ido  orai  onde  terá  ido 
agora? 


Onde  será  ido  ora  ? 
senhora,  estaes  lá  em  cima? 
Senhor,  si. 

Mandastes  fora 
este  moço? 

ANTOsio  PBESTEs,  ACTOS,  pag.  433. 


—  Será  hom  que  digamos. 


4'J8 


SERÁ 


SERD 


SERE 


Que  será  bom  quo  diRninoB, 
fiuo  falloinos,  í|iu!  cuiilomo»  ? 
No»  iiiijo.4  c)  não  1108  dímoB. 
N'<!Htii  artprllio  iioH  vnjnmo». 
ABTomo  rnusTE»,  Auros,  pag. 


—  Não  será  dijficnltoso ;  sorá  fácil. 

Agora  mni»  ((un  nunca  diíScijoBO 
D'huma  áspera,  cru(!l,  durii  vingança, 
Ja  para  iato  induzir  (|u(!r  o  ongcnlioBO 
Cojaçofar,  cm  (humii  tiMii  confiança  : 
Cuida  quo  mio  .terá  dillicultoso 
Sc  do  escuro  Pliitilo  favor  alcança. 
Logo  ante  ollo  so  vai,  v  com  grãa  mostra 
Do  dòr,  ante  oa  »ous  pi'»  so  luunillia  o  prostra, 
r.  nu  andiude,  ritiMiíiiio  cmico  de  diu,  cant.  I), 
est.  92. 


—  Mal  será  acudir-lhe.  —  «Desfalece 
a  índia  com  accidontes  mortaca,  peores, 
que  do  puta  coral,  e  artotica,  que  mal 
será  acodirlhc  o  IJrasil  com  alffuma  su- 
bstancia, que  a  alente,  ainda  <iuo  seja 
por  modo  de  empréstimo  :  nem  correrá 
nisso  o  ditado,  quo  naõ  he  bom  descobrir 
hum  Santo  para  cobrir  outro,  puis  tudo 
respeita,  e  serve  o  mesmo  corpo  debaixo 
de  huma  Coroa.»  Arte  de  furtar,  capi- 
tulo ()■;. 

SERACOTEAR.    Vid.   Saracotear. 

SERAFINA,  .S-.  /.  Um  tecido  do  lã  del- 
gada ])aia  forros,  cortinas,  ctc. 

f  SERAFIN,  s.  m.  Vid.  XaraOm.  — 
«Que  se  el  Rei  de  Tortugal  descjaua  a 
amizade  do  xeque  Ismael,  como  lhe  to- 
mara a  cidade  de  Ormuz,  quo  cstaua  a 
Bua  obediência,  e  lho  pagaua  cadanno 
dons  mil  serafins  de  parcas  que  ja  nisto 
não  rospondiào  as  obras  com  as  palauras, 
mas  com  tudo  que  cllc  ora  sou  anii^o,  e 
folpaua  muito  com  a  sua  :iiiiizado,.»  J);i- 
mião  de  Uocs,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  4,  ca]i.   10. 

SERAMAGO,  s.  m.  Vid.   Saramago. 

SERAMPELO,  s.  m.   Vid.  Sarampão. 

SERAMUGO,   s.   m.   Vid.  Saramugo. 

\.)  SERÃO,  s.  ?)i.  (Do  latim  seram).  O 
traballio  que  se  faz  da  bocca  da  noite 
ató  ás  oito,  novo  ou  dez  horas.  —  «Che- 
gada a  noito  foi  ao  serão,  que  o  havia 
em  casa  da  imperatriz,  e  sentando-se  jun- 
to com  Dramaciana,  que  era  sempre  o 
seu  mais  corto  lugar,  começou  praticar 
no  quo  lho  mais  ia.»  Francisco  de  JIo- 
raes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  95. 

—  O  tompi)  da  bocc4i  da  noite,  sobro 
a  tarde,  dopeis  do  anoitecer. 

—  Baile  nocturno  cm  casa  nobre,  ou 
real. 

—  Hoje  díl-se-lhe  o  nomo  de  sardo. 
Vid.  Sarão,  o  Sarào. 

2.)  SERÃO.  Fiirma  do  vorbo  ser  na  ter- 
ceira pessoa  do  plural  do  futuro  imperfeito 
do  modo  indicativo.  —  «E  assim  polo  con- 
trario quando  s.^o  bons  os  cabos  se  crê  se- 
rão molhoros.  Depois  de  partido,  ticou  a 
cidade  do  Constantinopla  tão  erma,  que 
parecia  não  ser  aquella.»   Francisco   de 


Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  f). 
—  «Agora  podeis  oscoliíer  a  outra  ])(;ra 
nosso  jiarceiro,  e  ir-vos  com  as  (|uo  lica- 
rom  ;  o  das  que  duixard(;s,  não  hajais  dn 
dídlas,  qu('  serão  bom  agasalhadas.  Pois 
ou  amlo  n'outra  volta,  di«sc  ello,  o  (|iiem 
quizor  a  sua,  pa«s(!  aquém  da  agua  o 
tomc-a  com  seu  encargo.»  Ibidem,  cap. 
12.'). 

Vive  cm  mou  coraçSo,  ou  ncllc  o  encontro ; 

Alli  Hcm  vi''0  »o  in/istra,  alli  fulgura, 

Onde  tom  Natureza  império,  e  tlirono. 

Sem  a  crença  d'huin  Ocos, que  cousa  he  Mundo? 

Fatalidade,  labyriíitiio,  abyHmo, 

Onde  accordcs  scriío  virtude  e  vicio ; 

Onde  o  Injusto  com  pA  soberbo,  iníquo, 

Impunemente  a  fronte  esmagaria. 

J.    A.    1)B    MACKDO,    MEDITAÇÃO,    Caut.    4. 

SERAPHICA,   s.   f.   Flor. 

SERAPHICAMENTE,  adv.  (De  seraphi- 
00,  e  o  sufllxo  «mente»).  Do  um  modo 
seraphico. 

—  A  semelhança  de  soraphim. 
SERAPHICO,  A,  adj.  Que  j)ertenco  aos 

seraphiu.s.  —  Ardur    seraphico. 

—  Urdem  seraphica ;  familia  seraphi- 
ca;  instihito  seraphico;  nomes  dados  á 
ordem  dos  religiosos  franciscanos. 

—  Visão  seraphica ;  diz-so  particular- 
mente de  um  extaso  de  S.  Francisco  de 
Assis. 

—  O  doutor  seraphico ;  S.  Boaven- 
tura. 

SERAPHIM,  s.  m.  (Do  latim  saraphim). 
Anjo  da  primeira  jerarchia. 

—  Estremado  no  amor  divino. 

—  Figuradamente  :  Pessoa  mui  bella  e 
prendada. 

SERAPILHEIRA,  s.  f.  (Do  francez  ser- 
pil/iere).  1'anno  d'estopa  mui  gros.sa,  e 
ralo,  do  envolver  fardos,  caixas,  ete. 
Vid.  Serpilheira. 

SERAPINO,  s.  7)1.  Uma  gomma  medici- 
nal. 

SERASQUIER,  s.  m.  Eutre  os  turcos,  o 
general  do  exercito. 

SERATULA,  ou  SERRATULA,  s.  /.  Ter- 
mo do  botânica.  Planta  cujas  folhas  são 
pareeiílas  com  as  da  bctonica. 

SERBUNO,  A,  adj. —  CaiaWo  serbuno ; 
de  côr  mais  carregada  que  a  do  cervo. 

f  SERDES.  Forma  do  verbo  ser  na 
segunda  pessoa  do  plural  do  futuro  do 
modo  eonjunctivo. 


Da  doença,  em  que  ora  ardeis, 
Eu  fora  vossa  mt^ziuha 
Si^  com  viis  serdes  a  minha. 
Ho  muito  para  notar 
Qiu»  podereis  ser  curada 
Silmonte  com  me  curar. 
Se  i|uoreÍ9,  Dama,  trocar. 
Ambos  temos  a  mt^zinlia, 
Eu  a  vossa,  e  vos  a  minha. 

C.VU.,   BKDONDILUAS. 


—  o  Desta  justiça,   se   entende  aquillo 
quo   diz    Christo   nosso  Redemptor,   em 


sam  Matheiu :  Atentay  não  façais  vossa 
justiça  diante  dos  iiomenn,  pêra  serdes 
vistos  dciles.  Querno»  líeos  ji^segurar 
nossas  mercadorias  :  e  porá  isto  nos  diz 
que  as  assellemoH  cíjm  o  scUo  da  tcnçam 
posta  nella,  e  não  na  gloria  do  mundo, 
jior.i  quo  as  nãr»  percamos.»  Heitor  Pin- 
to, Dialogo  da  justiça. 

SERÊA,  ou  SEREIA,  ».  f.  (Do  latim  «í- 
renj.  Jloustro  fabuloso,  da  cinta  para 
cima  mulher  formosa,  e  d'ahi  j)ara  baixo 
arremata<lo  em  cauda  de  peixe ;  fingiram 
os  {lootas  quo  cantavam  com  tal  suavida- 
de, que  03  navegantes  bc  esqueciam  da 
marcação  e  remos. 

Oh  Serea  das  agoas  Neptuninas, 
Amor,  que  sempre  acabas  em  rigores, 
E  em  branduras  começas,  'pial  Sertã, 
Pois  tens  cara  formosa,  e  cauda  féa. 
jiíuONviiu  oAiiiA,  roLYrueiio  E  oalaibéa. 

SEREFOLIO,  «,  TO.  Vid.  Cerefólio. 

f  SEREI.  F(')rma  do  verbo  ser  na  pri- 
meira pessoa  3o  singular  do  futuro  im- 
perfeito do  modo  indicativo. 

Sou  logo  a  mesma  brandura, 
c  porém  com  quem  me  apura 
d'e.sâe  geito  terei  d°clles. 

ANTÓNIO  raESTES,  ACTOS,  pOg.  217. 

—  «Elle  tomou  as  rédeas  ao  cavallo  o 
virou  o  rosto  pêra  o  poder  melhor  ouvir. 
Senhor  cavalleiro,  disse  o  outro,  eu  te- 
nho muita  necessidade  de  uma  dessas  se- 
nhoras; e  porque  não  sei  qual  delias  ó 
mais  pêra  contentar  um  homem,  vos  peço 
que  vós,  que  as  conheceis,  m'o  digais, 
porque  da  que  vos  mais  satisfizer,  serei 
contonto.»  Francisco  de  Moraes,  Palmei- 
rim d'Inglaterra,  cap.  \2b. 


Irás,  meu  bem,  irAs  lá,  onde  espero 
Que  mui  cedo  também  »<'ríí  prcacntc, 
Mas  não  iriis  sem  mi,  que  o  que  teu  quero 
Faz  ir  comtigo  esfaima  juntamente : 
E  em  me  dando  logar  o  iinigo  fero 
Irá  o  cor|K>  buscar  a  alma  contente, 
Que  imncii  se  apartou  hum  sf>  momento 
Do  quem  hc  todo  seu  contentamento. 

FRANCISCO  DR   ANDRADE,  PRIXEIBO  CERCO  DR  DIC, 

cant.  3,  est.  69. 

Quanto  inimigo  fui,  cordoai  amigo, 
Seu  defensor  serei.  Jamais  no  f<íro. 
No  senado  se  ergueu  mou  brado  austero 
Para  defender  crimes :  —  e  a  tal  crime 
Como  o  dcUc,  Catão  será  patrono. 

OABRF.TT,  CATÃO,    SCt.   2,  SC.   õ. 


—  Phir.  Segunda  pessoa.  —  «Peço- vos 
que  agora,  que  de  todo  vos  descubro  meu 
erro,  me  valhais;  quo  se  assim  o  não  fi- 
zerdes, sereis  causa  de  commctter  outro 
mór.  Acabadas  estas  palavras,  cahiu  com 
a  cabeça  sobre  meus  peitos,  quasi  sem 
acordo.»  Francisco  ile  Moraes,  Palmeirim 
dlnglaterra,  cap.  124. 


SERE 


SERE 


SERE 


499 


Será  bom  que  vos  caleis, 
E  mais  sereis  avisada 
Que  nào  me  respondereis  nada, 
Emquc  ponha  fogo  a  tudo ; 
Porque  o  homem  sesudo 
Traz  a  mulher  sopeada. 

GIL  VICENTE,    FARÇAS. 


Rasão,  vós  perdoareis 
por  vos  não  ficar  commercio 
outra  voz  com  quem  sabeis ; 
outra  Audromeda  sereis 
mas  não  já  livre  por  Pérsio. 

ANTÓNIO  PKESTES,  AUTOS,  pag.  77. 

Vós  sereis, 
isso  me  tem  alma  morta, 
isso  BÓ  me  desbarata ; 
vós  sois  morto,  c  quem  vos  mata 
vem-vos  espirar  á  porta. 
Quem  é  ? 

EUa  que  vos  cata. 

IBIDEM,  pag.  183. 


f  SEREMOS.  Forma  do  verbo  ser  na 
primeira  pessoa  do  plural  do  futuro  im- 
perfeito do  modo  indicativo. 

E  posto  que  folga  temos, 

seja  cuidarmos  agora 

O  que  somos,  que  seremos. 

ANTÓNIO  PEESTES,  AUTOS,  pag.  57. 

SERENAMENTE,  adv.  (De  sereno,  com 
o  suffixo  «mente")'  De  um  modo  se- 
reno. 

—  Com  serenidade. 

. —  Devagar,  brandamente. 
SERENAR,  V.   a.  (Do   latim   serenare). 
Expor  ao  sereno. 

—  Figuradamente :  Serenar  o  semblan- 
te; fazel-o  parecer  sem  alteração. 

—  Serenar  o  animo;  tirar-lhe  a  per- 
turbação, incommodo. 

—  Dissipar  as  nuvens,  névoas,  chu- 
veiros, tempestades ;  aquietar. 

—  Serenar-se,  v.  rejt.  Tornar  ao  esta- 
do socegado  antigo,  desfeita  a  alteração, 
que  produzira  a  commoçào  anterior. 

—  V.  n.  Ficar  sei'eno. 
SERENATA,  s.  m.  Musica  que  se  dá  de 

noite  ao  sereno,  como  alvorada,  ao  alvo- 
recer. 

—  Concerto  de  vozes  e  instrumentos 
feito  á  noite,  na  rua,  debaixo  das  janel- 
las  de  alguma  pessoa. 

SERENIDADE,  s.  /.  (Do  latira  sereni- 
tas).  Estado  do  tempo,  do  ar  que  é  se- 
reno. 

—  Figuradamente:  O  estado  d'um  es- 
pirito tranquillo,  de  uma  alma  sem  agi- 
tação. —  « Insto  he,  que  todos  demos 
graças  a  nosso  tSenlior  polia  misericórdia, 
que  nos  faz  liurandonos  de  semelhantes 
erros.  Não  falíeis  cousa  com  demasiado 
encarecimento,  com  excessos  de  affecto, 
ou  perturbação,  nem  a  desejeis,  ou  exe- 
cuteis, mas  em  toda  a  parte  guardareis 
serenidade,  e  liberdade  do  animo,  naõ 
vos  sogeitando  a  paixaõ.»    Fr.  Bartholo- 


meu  dos  Martyres,  Compendio  de  espiri- 
tual doutrina,  cap.  10. 

—  Paz,  tranquiilidade,  quietação. 

—  8yn.  :  Serenidade,  quietação.  Vid. 
este  ultimo  termo. 

SERENISSIMAMENTE,  adv.  (De  sere- 
níssimo, com  o  sufiixo  «mente»).  Mui 
serenamente. 

SERENÍSSIMO,  A,  adj.  superl.  de  Se- 
reno. Mui  sereno. 

—  Epitheto  d'honra  dado  aos  príncipes, 
e  antigamente  aos  soberanos. —  «O  qual 
cerco,  foi  tara  apertado,  que  de  nosso 
tempo  se  não  sabe  que  o  fosse  outro  ne- 
nhum mais,  nem  na  índia,  nem  em  Afri- 
ca, nem  em  toda  a  Europa,  ao  qual  a 
Rainha  com  conselho,  e  ajuda  deste  se- 
reníssimo Príncipe  socorreo  com  tanta 
abundância  de  gente  Portuguesa  sem  ou- 
tra nenhuma  mestura,  e  de  todalas  cou- 
sas necessárias,  que  o  Serife  depois  des- 
tar  muito  tempo  sobreste  Castello,  foi 
constrangido  daleuautar  o  cerco.»  Da- 
mião de  Góes,  Chroníca  de  D.  Manoel, 
part.  3,  cap.  27. —  «Quem  averâ  que 
sem  o  ver  o  crea?  Mas  testemunha  mo 
he  Deos,  que  era  tudo  digo  verdade,  e 
testemunhas  saõ  também  delia  quãtos  na 
nao  hiamos,  pois  por  sua  misericórdia,  e 
intercessão  da  Sereníssima  Raynha  dos 
Anjos,  por  quem  todos  chamamos,  ne- 
nhum de  nôs  faleceo  em  todos  estes  tra- 
balhos.» Fr.  Gaspar  de  S.  Bernardino, 
Itinerário  da  índia,  cap.  2.  —  «Digni- 
dade de  Homem  Medico,  ajuntar  o  pre- 
claro ornamento  de  Medico  Practico-Po- 
litico,  busca  em  Lysboa  a  sereníssima 
Aula  Regia,  e  no  magestozo  concurso  da- 
quelles  Alumnos  contempla  os  secretíssi- 
mos arcanos  da  praxe  mais  acertada,  e 
as  polidíssimas  ideas  da  Politica  mais  ti- 
na. Olha,  e  repara;  verás  huns,  adcoza- 
dos  ApoUos;  toparas  outros  naõ  mentidos 
Esculápios,  c  juraras  os  mais  elegantes  e 
políticos  Celsos.»  Braz  Luiz  d'Abreu, 
Portugal  medico,  pag.  45. 

SERENIZAR,  v.  a.  Vid.  Serenar. 

1.)  SERENO,  s.  m.  ■ —  O  sereno  da  noi- 
te; o  relento,  ar  vaporoso,  orvalhoso 
d'ella. 

—  Dormir  ao  sereno ;  dormir  ao  ar, 
ao  relento.  —  «Custume  he  da  terra,  ao 
primeiro  de  Mayo,  leuarem  todos  suas 
camas  aos  terrados,  ou  eyrados,  das  quaes 
algumas  nam  saõ  outra  cousa,  que  huns 
couros  do  Sinde  molhados  em  que  dor- 
mem ao  sereno ;  mandando  os  que  tem 
posso  aos  seus  Negros,  que  de  noite  a 
quartos  os  estejão  auanando.»  Fr.  Gas- 
par de  S.  Bernardino,  Itinerário  da  ín- 
dia, cap.  11. 

—  Levavam  as  cabeças  feridas,  des- 
cobertas ao  sol  e  ao  sereno.  —  «E  os 
outros  Portugueses  hiam  metidos  em  ca- 
poeiras com  as  cabeças  saydas  fora  me- 
tidos os  pescoços  pelas  tavoas,  de  ma- 
neira que  nam  podiam  recolher  as  cabe- 
ças  pêra   dentro,   mas   levandoas  alguns 


feridas,  assi  as  levavam  descubertas  ao 
sol  e  ao  sereno.»  Fr.  Gaspar  da  Cruz, 
Tratado  das  cousas  da  China,  cap.  24. 
2.)  SERENO,  A,  adj.  (Do  latim  sere- 
nus).  Que  está  sem  nuvens,  sem  névoas, 
sem  chuveiros;  limpo,  puro.  —  O  céo  es- 
tava sereno.  —  «Corao  as  quatro  damas 
tivessem  o  alojamento,  separado  das  mon- 
jas, com  janeílas  pêra  o  campo  e  as  noi- 
tes naquelle  tempo  fossem  serenas  e  cla- 
ras, podiam  vêr  alguma  parto  do  valle.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  142. 

Não  acha  r|ucm  o  impida,  ou  contradiga 
Nesta  viagem  toda  o  grande  Nuno, 
Mo.stra-se-lhc  a  fortuna  branda  e  amiga. 
Sempre  sereno  o  Ceo,  sempre  opportuuo : 
Também  agora  a  fúria  se  mitiga 
Do  bravo  Eolo,  e  do  húmido  Neptuno, 
E  com  tantos  favores,  tal  bonança. 
Em  bi-evc  tempo  em  Diu  ferro  lanija. 

F.   d'aNDRADE,  PBIMEIRO  CERCO  DE  DIU,  Caut.   4, 

est.  79. 

— ^  «E  fica  o  salto,  que  foy  invisível 
era  Lisboa,  manifesto  álera  da  Linha; 
como  Santelmo,  que  se  fáz  invisível  em 
tempo  sereno,  e  na  tempestade  appare- 
ce.»  Arte  de  furtar,  cap.  Õ4. 

Onde  B'cspraia  o  mar,  ond'  hoje  hc  terra? 
Onde  o  sereno  Ceo  s'  arqueia  aos  olhos? 
Onde  ródão  os  Orbes,  qu'  os  ethereos 
Campos  enchem  de  Luz? 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Cant.  1. 

Ora  lhe  prende  a  calma  a  fúria  insana. 
Mal  orvalhosos  Zefyros  co'  as  azas 
Lhe  eucrespão  brandamente  a  auperficie ; 
Dos  ligeiros  baixeis  as  brancas  vélaa 
Com  bafagem  serena  apenas  inchão. 
Dos  mudos  cidadãos  a  copia  ingente 
Da  calma  se  compraz,  e  a  doce  chamma 
Então  sente  de  amor  nas  agoas  fundas. 

IDEM,  MEDITARÃO,  Cailt.    2. 

Cego  !  Que  apraz  cuidar  que  03  Sócs,  gravados 
Por  todo  o  esmalte  azul  a  cento,  e  cento, 
Sirvão  só  de  espargir  (mortal  soberba!) 
Inúteis,  som  vigor,  languidas  luzes, 
Quando  a  noite  serena  os  astros  mostra 
No  desdobrado  véo,  vasto,  infinito? 


Sc  a  meta  transgredi ;  e  se  me  suspendo, 
Volver-se-hão  para  mim  serenos  dias. 
Da  vida  humana  em  mar  tempestuoso 
Só  Virtude  he  fanal,  só  ella  he  pólo. 
IBIDEM,  cant.  1. 

Fechou-se  para  mim...  Século  infausto. 
Em  ti  berço  me  deo  mesquinha  estrella  ; 
Ah !  Possa  inda  hum  momento,  antes  que  a  morto 
Nos  meus  olhos  derrame  a  sombra  eterna. 
Ver  renascer  a  paz,  surgir  tranquillo 
Aos  Tlu-onos,  ás  Nações  sereno  hum  dia ! 
luiDEM,  cant.  3. 

Olha  a  que  mostra  os  Ceos  diurna  Estrella 
Que  as  variadas  Estações  nos  marca. 
Cujo  calor  benéfico  alimenta 
A  habitação  terreste.  Este  Planeta 
Cujo  doce  clarão  transforma  a  noite 
N'hum  quasi  dia  pállido,  e  sereno. 

IDEM,  A  NATUREZA,  Caut.    1. 


500 


8EKE 


SERI 


SEIll 


T)a  capiicliosa  norte  inopinado 
Golpe  não  p('ido  portuvbnr  «eu*  diuH, 
Correm  serenos,  do  ai  ineáino  gOiíii. 


—  Vida   serena;   vida   soccgada,  plá- 
cida. 


E  pêra  tilo  prestes  partir, 
Audc  tilo  triatc  como  ando, 
Desejando 

A  pena  nue  está  por  vir. 
Quem  quizer  vida  serena 
Nunca  (moira  o  ((ue  eu  queria, 
]'orr(uo  daH  lioras  do  dia 
'  A  cpu)  rai!  dá  maior  pena 
Mo  traz  maior  alegria. 

OIL  VICENTE,  KAUgAS. 

—  Fiffiirailauicnte :  Soce^ado,  tranquil- 
lo,  iseuto  de  perturbação,  de  agitação. 

Vereis,  Duque  sereno,  o  cstylo  vário, 
A  nós  novo,  mas  n'outro  mar  cantado 
De  hum,  que  só  foi  das  Musas  secretario: 
O  pescador  Sincero,  quo  amansado 
Tem  o  pego  de  Procliyta  co'o  canto 
Por  as  sonoras  ondas  compassado. 
Deste  seguindo  o  som,  que  pôde  tanto, 
E  misturando  o  antigo  Mantuano, 
Façamos  novo  ostylo,  novo  espanto. 

CAU.,  EOLOOA  G. 

Quanto  cm  copia  maior  do  luz  as  fontes 
Laução  mais  vivo  ardor  sereno,  c  quedo, 
Vimos  o  mar  nos  vastos  horizontes 
O  ar  puriMireo,  o  Coo  traiiqiiillo,  e  ledo-, 
Todo  o  panno  largando,  os  altos  montes 
Se  descobrem  cobertos  de  arvoredo, 
N'arêa  meigo  escorregando  o  pego 
Dêo-no3  do  longo  aos  ânimos  socego. 

J.  A.    DE  MACEDO,  OBIENTB,  caut.  5,  CSt.  81. 

Olha  Safira  lúcida,  o  serena 
Em  que  SC  cspallia  o  (^co ;  olha  o  magoado 
Roxo,  quVnroupa  o  Lírio,  inda  mais  doce, 
luda  mais  triste  na  Ametista  brilha. 

IDESI,  NATUUEZA,  Caut.    2. 

Detenho  a  vista  na  famosa  Athenas ; 
Em  viçoso  jardim  descubro  hum  vollio, 
Olhos  serenos  tem,  tranquilla  a  fronte  : 
Ventura  ao  lado  seu  lhe  estende  os  braços. 
Ao  Templo  do  prazer  lhe  marca  a  estrada, 
Não  terreno,  c  brutal,  mas  puro,  ethéreo. 
De  Horácio,  c  de,  Petronio  il  nieuto  ignoto. 

IDKM,  UliDITAçÂO,  caut.    4. 

—  Paz  serena. 

Na  limpida  caminna  do  Oceano, 
Levão  de  hum  Polo  a  outro  ousados  Pinhos 
Muitas  V07.e^  o  bem,  e  o  mal  mais  vezes, 
Sr  em  perfeito  eiuilibrio  os  ares  pousão, 
Niio  bramo  o  vonto,  niio,  mas  quem  perturba 
Esta  serena  paz,  calma  suave  V 

IDEM,  VIAOEM  EXTÁTICA,  C.aut.   2. 

—  Toriuo  de  medicina.  Gotta  serena; 
privação  da  vista  causada  pela  paralysia 
da  retina. 

SERENSINA,  s.  /.  Termo  do  chimica. 
O  priueipio  iiuiuediato  dos  oleoá  voláteis 
de  rosas,  de  anis,  etc. 


SERGANTANA,  ».  /.  Vid.  Lagartixa. 

SEKGENTA,  x.  /.  Termo  antiquado. 
(Jri.ada,  muça  do  Bcrvir.  Vid.  Sergeute. 

SE.^GENTE,  «.  711.  Vid.  Sargente. 

—  (Jriado,  o  depois  leigo  da»  ordena  do 
Malta,   Aviz,  otc. 

SERGUEIRAS,  «.  /.  /A.  Tecido  do  la 
e  iiiilio  de  piiuco  ))rcço. 

SERGUILHA,  ».  /.  Droga  de  lã  mais 
rapaiJa,  (|ue  cilicio;  á  imitação  d'osta  se 
íaz  a  de  algoilTio,  e  a  de  seda. 

■}•  SERIA.  Forma  do  verbo  ser  na  pri- 
meira ou  terceira  pessoa  do  singular  do 
condicional  imperfeito.  Vid.  Ser. —  •As- 
saz do  muita  pequice  e  pouca  prudência, 
grande  ousadia  e  alta  presumçam  seria 
a  minLia  .se  cuida.sse  que  ha  ninguém  de 
achar  sumo  ou  sabor  ii'estc3  ditos,  pois 
sam  feitos  de  quem  uam  sabe;  pêra  mi 
só  os  iiz  por  ter  fraca  memoria.»  D.  Joan- 
na  da  Gama,  Ditos  da  freira,  pag.  21 
(ediç.  1872). —  «Antes  consentiria  ver- 
vos  morrer  Juntamente  na  prisão,  que 
usar  de  cousas  deshonestas  a  mim.  Essa 
differença  quero  quo  haja  de  mim  ao  tur- 
co, que  é  a  própria  que  ha  dautre  os 
bons  aos  mãos.  Albayzar  não  tem  culpa 
nos  erros  do  turco;  por  isso  não  seria  ra- 
zão pagar-  os  males,  que  esso  outro  faz : 
d'uma  só  cousa  me  espanto,  e  é  da  prin- 
cesa Targiaua  consentir  cousa  tão  mal- 
feita, e  não  lhe  lembrar  as  honras  e  ga- 
salUailos  desta  casa.»  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  Uti.  — 
«  Em  má  esperança  nos  pondes,  disse 
Polendos;  por  isso  seria  melhor  morrer 
todos  como  esforçados  em  poder  de  tantos 
cobardes,  que  viver  em  prisão  perpetua; 
que  esse  cavalleiro,  que  pedes,  antes  o 
iuiperador  perderia  todo  seu  estado,  que 
entregar-te  o  que  é  um  dos  melhores  do 
mundo,  e  a  quem  mor  ben»  quer.»  Ibi- 
dem.—  «E  até  mo  trazerem  preso  não 
as  exercitar  em  ai,  crendo  que  algum 
passaria  por  aqui,  que  seria  de  tauto 
preço,  que  o  traria  ante  mim,  pêra  se 
desi)brigar  do  juramento,  ou  defenderem 
que  Miraguarda  n.ão  é  tào  fermosa  como 
eu;  porque  também  a  isto  me  pareceu, 
que  acu<!iria  Floriano,  e  d'unia  maneira 
ou  d'outra  o  haveria  á  mão.»  Ibidem, 
cap.  102. —  d  De  fazer  armas  comvosco 
lev:u'ia  eu  pequeno  contentamento,  di.sse 
o  do  8alvage :  e  por  isso  folgo  haver  ra- 
são  quo  o  escuse ;  que  onde  se  gauha  tão 
pouco  como  seria  veucer-vos,  não  se  de- 
ve aventui-ar  tanto  como  é  despender 
tempo  mal  em  cousas  tão  pequenas.»  Ibi- 
dem, cap.  112. —  «Dizeis  isso,  senhor 
cíivalleiro,  disse  o  hospede,  como  quem 
não  sabe  com  quem  o  ha.  O  gigante  é 
tào  bravo  e  forte,  que  nSo  haverá  por 
muito  fazer  batalha  com  dez  cavalleii"Os: 
aventurardús  vi')s  a  vossa  moci'lade  em 
suas  mãos  não  seria  esforço,  poder-liíe-ia 
mos  chamar  outra  cousa.  P]lle  ihe  agra- 
deceu o  c-.»uselho,  mas  não  pêra  o  acei- 
tar.» Ibidem,  cap.  117. 


Julgando  ja  Neptuno  que  n-ria 
Estranho  caso  aqu<-IIe.  lo^ro  munda 
Trità/)  que  chame  oí  d>-oHi-s  da  .•'i;;ua  fria, 
(^iii:  o  mar  liabitào  d  uma  i-  d  outra  bauda. 
Tritão,  i|ue  de  »<t  filho  hc  prloria 
Do  ri.-i  c  de  Salacia  veneranda, 
I''.ra  mancebo  grande,  negro  e  feio, 
Trombeta  de  seu  pac  o  (Mm  correio. 
CAU.,  Lui.,  cant.  6,  est.  IC. 


—  « Posta  toda  esta  gente  em  terra 
que  estaua  ordenada  pêra  cõmcttcr  a  ci- 
dade: deu  dom  Francisco  seu  filho  du- 
zentos homens,  e  elle  ticou  com  o  corpo 
da  mães  gente  que  seriaõ  trezentos.* 
Harros,  Década  1,  liv.  8,  cap.  5. —  «NSo 
sei  como  o  po.ssumos  evitar;  c  inda  que 
se  possa  fazer  (o  que  eu  não  crcioj  seria 
grande  erro,  porque  ordinariamente  se- 
guimos o  que  nossos  maiores  fizera3,  de 
cujas  vidas,  e  obra»  tomamo.'s  o  exemplo 
jicra  as  nos-sas.»  Idem,  Clarimundo,  liv. 
2.  —  a  E  se  nesta  matéria  se  atentara 
só  para  a  linha  masculina,  o  Senhor  D. 
António  ficava  de  melhor  partido,  por 
ser  varaõ,  e  filho  de  Infante;  ma.s  foy  es- 
cu.so  por  illigitimo,  e  indispen.sado;  por- 
que a  dispensaçaõ  si)  seria  licita  em  de- 
feito de  oppositor  legitimo.»  Arte  de  fur- 
tar, cap.  16.  —  «Com  este  desconcertado 
estrondo  nos  partimos  para  a  cidade,  quo 
seria  dalv  pouco  mais  de  huma  legoa, 
onde  chegamos  ja  quasi  movo  dia,  e  abor- 
dados ao  primeiro  caiz  que  ae  dezia  Cam- 
palarraja,  vimos  nelle  infinidade  de  gente 
muyto  luzida,  assi  de  pé  como  de  cavai- 
lo,  e  muytos  elifantes  de  peleja  muyto 
bem  concertados,  c3  cadevras  e  caatellos 
guarnecidos  de  prata,  e  suas  panouraa  de 
guerra  nos  dentes,  que  os  faziào  muyto 
temerosos.»  Fernão  Mendes  Finto,  Pere- 
grinações, cap.  1G2. —  «Despejada  a  ci- 
liade,  poz  o  (rovcrnador  toda  a  sua  gente 
no  campo,  que  seriaõ  perto  de  quatro 
mil  homens,  e  mandou  Francisco  de  Si- 
queira com  alguns  Capitaens,  que  fo.ssom 
com  navios  do  remo  queimar  as  náos  que 
estavaij  duas  léguas  pelo  rio  dentro.» 
Diogo  de  Couto,  Década  (5,  liv.  8,  cap.  13. 
—  «O  (Joveruador  andava  muito  ocoupa- 
do  na  preparação  da  Armada,  porque  de- 
terminava hir  buscar  o.^  Rumes,  e  ficou 
embaraçado  vendo  que  se  lhe  ofl"ereciaõ 
estoutros  trabalhos  de  novo,  que  naõ  me- 
nores, nem  de  menos  obrigaç;iõ  pêra  aco- 
dir  que  os  das  galéz,  porque  estava  aqnel- 
le  Reino  arrisc.ido  a  se  perder  de  toilo,  o 
que  seria  destruição  do  Estado.»  Idem, 
Década  G,  liv.  8,  cap.  11.  —  t  E  dous  cm 
aspa  de  canto  a  canto,  fazendo  de  outro 
cercadura,  e  por  todos  cUos  pendurou 
muitos  escudos ;  posto  que  quatro,  que  fi- 
caõ  dentro  no  e-scndo,  e  i>-do  chefe  da 
bordadura,  saõ  notavelmente  maiores;  e 
feitos  a  moio  de  adargas;  estes  parecem 
dos  cinco  Reys,  que  alli  foraõ  vencidos, 
e  os  mais  seriaõ  de  outras  pessoas  princi- 
paes,  ou  dos  que  ElRey  por  sua  maõ  al- 
cançasâe.»  Manoel  Severim  de  F;iria,  No- 


SERI 


SERI 


SERI 


501 


ticias  de  Portugal,  Disc.  3,  cap.  6.  —  tO 
que  feito  traballiaria  de  despachar  as  nãos 
que  auião  de  tornar  porá  o  regno,  de  que 
seriâo  capitães,  Rui  Freire,  Fernão  Soa- 
rez,  e  Sebastião  de  Sousa.»  Damião  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  2, 
cap.  1.  —  «Feio  que  o  Conde  com  a  gente 
de  cauallo  que  trouxera  se  tornou  na 
mesma  hora  pêra  Arzilla,  donde  logo 
mandou  os  Almocadens,  Pêro  de  meneses 
mourisco,  e  George  vieira  a  descobrir,  os 
quaes  vendo  muitos  tbgos  no  Xeicaõ,  que 
he  duas  legoas,  e  mea  Darzilla,  llies  pa- 
receo  que  seria  gente  dei  Rei  de  Fez.» 
Ibidem,  part.  2,  cap.  28. 


A  males  que  nam  tem  cura 
espcral-o  da  ventura 
vam  esperança  seria, 
que  esperando  creçeria 
cuidado,  desa ventura. 

CHUISTOVÃO  FALCÃO,  OBRAS,  pag.   31. 

Se  03363  não  achassem  cá 

interpretes 

não  seriam  ellea  cacetes. 

Somos  nós,  sempre  em  nós  ha 

pôr  por  pilotos  grumetes. 

Seilor,  que  traça,  o  que  lavra 

nel  castillo? 

Uns  três  portacs. 

ANTÓNIO  PEESIES,  AUTOS,  pag.  73. 

D'outra  parte  o  não  teria 
por  tão  amoroso  e  dôcc; 
nem  amor  amar  seria 
se  tentasse  o  que  fazia 
se  amor  de  rasão  fosse 
bem  acertado  menino. 
IBIDEM,  pag.  173. 

Onde  amor  vir 
benzer-me,  fazer-lhe  obsequias, 
comer,  folgar  e  dormir, 
touros  de  palanque,  rir, 
mandal-o  a  trinta  mil  requias  ; 
amor,  ou  não  seria  elle 
amor;  mas  o  mór  engano. 
IBIDEM,  pag.  175. 

—  «ElRey  de  Pegú  esperava  cuydado- 
go  as  novas  de  seu  amado  filho,  (muyto 
certo  que  seriaõ  as  ordinárias)  quando 
soube  a  intelice,  posto  que  honrosa  mor- 
te, com  quQ  se  havia  acabado  a  gloria,  e 
o  lustre  de  seus  passados  triunfos,  en- 
grandecidos com  taS  illustres  trofeos.» 
Conquista  do  Pegú,  cap.  2.  —  «Não  sei 
como  ao  pensamento  me  veio  em  Lisboa 
se  seria  este  defunto  o  Suppico;  e  muito 
casualmente  perguntando  eu  ao  padi-e  D. 
Celestino  Teguineau  da  Providencia  que 
íim  tivera,  respondeu-me  que  ouvira  mui- 
to em  voz  baixa  dizer  que  o  mataram 
em  Compostslia,  intervindo  um  religioso 
na  morte.»  Bispo  do  Grão  Pará,  Memo- 
rias, publicadas  por  Camillo  Castello 
Branco,  pag.  113. 

Avisado  seria  approveitar-vos 

Da  occasiào.  Por  bôcca  anda  de  todos 


Que  do  joven  monarchã  se  prepara 
Nova  jornada  ás  costas  africanas. 
Em  bem  a  fade  o  eco  ! 

GARRETT,  CAMÕES,  caut.  4,  cap.  2. 


— •  As  obras  7ião  seriam  longe  d'eUas; 
não  estariam  longe  d'ella3.  —  «Os  vir- 
tuosos ficarão  contentes  e  aos  máos  não 
terão  de  que  murmurar.  Muito  agradeci- 
das foram  estas  palavras  de  Palmeirim, 
crendo  quo  as  obras  não  seriam  longe 
d'ella3.»  Francisco  de  Moraes,  Palmei- 
rim dTnglaterra,  cap.  101. 

—  Seria  mojino. 

Se  ora  fosse  tão  indino 
que  caso  algum  estrovasse 
que  um  que  um  nào  topasse, 
como  seria  mofino 
se  m'o  Deus  nào  deparasse. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  83. 

—  Não  sei  como  seria.  —  «As  chi-oni- 
cas  dos  Chins  reduzem  toda  a  nossa  chro- 
nologia  a  cousa  nenhuma;  e  se  fossem 
verdadeiras,  não  sei  como  seria.  Confú- 
cio não  é  inferior  em  bondade  de  moral 
a  Sócrates;  e  quando  os  amores  de  Phe- 
don  fossem  tam  platónicos  como  os  viu 
Mendelsohn,  ainda  assim  não  seria  o  Gre- 
go superior  ao  Chim.»  Garrett,  Camões, 
nota  E  ao  canto  4. 

—  Obras  seriam  emuladas ;  seriam  in- 
vejadas. —  «Entre  estes  últimos  viveo,  ou 
vive  ainda  hum  verdadeiro  fingidor,  cu- 
jas obras  judiciosas  serião  justamente 
emuladas  do  mesmo  Ovidio.  Fallo  do  il- 
lustre  Fontaine,  de  que  nào  ha  por  ora 
outro  exemplo. »  Cavalleiro  d'01iveira, 
Cartas,  liv.  1,  n."  11. 

—  Seria  verdade.  —  « Jlas  tanto  que 
cheguey,  onde  foy  a  primeyra  Babylo- 
nia,  antigua,  e  vi  os  mesmos  indicies, 
entam  me  persuadi,  a  que  seria  verda- 
de, e  se  os  escrupulosos  nella,  lerem  com 
atenção  Heródoto  Author  Grego,  e  Plí- 
nio, nelles  verão  estas  palauras.»  Fiei 
Gaspar  de  S.  Bernardino,  Itinerário  da 
índia,  cap.  17. 

—  Seriam  três  horas  da  tarde.  —  «Três 
horas  serião  da  tarde,  quando  chegamos 
ao  Cães  da  Cidade  Melinde,  e  não  des- 
embarcando em  terra,  mas  sò  indo  de 
vagar  com  a  vela  amisurada,  fomos  ven- 
do as  casas,  que  todas  nos  parecerão  al- 
tas, e  fermosas;  Estaua  no  Porto  gran- 
díssima Caterua  de  Mouros  cuydando  o 
tomássemos.»  Fr.  Gaspar  de  S.  Bernar- 
dino, Itinerário  da  índia,  cap.  5. 

—  Seria  licito;  seria  permittido.  — 
«Perguntou  alguém,  algumas  vezes,  se 
seria  licito  deixar  usar  a  mulher  própria 
d'aqaellas  boas  partes  de  que  a  dotou  a 
natureza ;  como  o  cantar,  o  dançar,  e 
ainda  o  fazer  versos,  e  outras  semeliian- 
tes  prerogativas,  que  em  algumas  se 
acham,  e  em  muitas  pudera  haver,  se  o 
receio  as  não  supprimisse.»  D.  Francisco 


Manoel  de  Mello,  Carta  de  guia  de  casa- 
dos. 

SERIAMENTE,  adv.  (De  serio,  com  o 
suíBxo  o  mente  d).  De  um  modo  serio. 

—  Com  seriedade. 

—  Sem  zombaria,  sisudamente. 
SERICAIA,  s.  /.  Iguaria  muito   presa- 

da  em  Malaca  por  seu  exquisito  sabor. 

SERICEO,  A,  adj.  (Do  latim  ttriceus). 
Assetinado,  que  tem  a  figura  ou  a  appa- 
rencia  da  seda. 

SERICO,  A,  adj.  (Do  latim  sericus). 
De  seda. 

SERIE,  í.  /.  (Do  latim  series).  Termo 
de  mathematica.  Ordem  de  grandezas, 
que  crescem  ou  diminuem  segundo  certa 
lei. 

— •  Continuação  ordenada  e  successiva 
de  algumas  cousas,  certo  mimero  de  cou- 
sas seguidas. 

—  Diz-se  das  divisões  em  que  se  clas- 
sificam os  objectos.  —  Esta  loteria  está 
dividida  em  tantas  series. 

—  Termo  de  marinha.  Collecção  de 
objectos  servindo  para  fazer  signaes. 

—  Termo  de  chimica.  Reunião  de  cor- 
pos homólogos. 

—  Termo  de  zoologia.  Disposição  de 
difTerentes  animaes. 

SERIEDADE,  s.  f.  (Do  latim  serietas). 
Modo,  ar,  gesto,  serio ;  aspereza,  intei- 
reza. 

—  Sinceridade  no  trato. 

—  Diz-se  em  opposição  a  graça,  zom- 
baria. 

—  Figuradamente :  Importância,  mo- 
mento d'alguma  matéria. 

SERIFE.^Vid.  Xerife. 

SERIGA,  s.  f.  Vid.  Sesega. 

SERILHAR,  V.  a.  Vid.   Sarilhar. 

SERILHO,  s.  m.  Vid.  Sarilho. 

SERINGA,  ou  SIRINGA,  s.  /.  (Do  la- 
tim si/ringa).  Tubo  de  metal,  ou  de  mar- 
fim, com  um  canudo  mais  fino  em  um 
dos  extremos;  corre  por  ella  um  êmbolo, 
ou  cabo,  com  estopada  da  grossura  do 
diâmetro  do  tal  tubo,  o  qual  êmbolo,  pu- 
xado atraz,  leva  o  ar  interior  e  deixa 
um  vazio  que  a  agua  em  que  está  mer- 
gulhado o  bico,  ou  o  chupete  da  seringa, 
vem  occupar;  carregando-se  o  êmbolo  pa- 
ra dentro  contra  a  agua,  sáe  com  força  e 
de  salto.  Ha  seringas  de  intestinos  de 
boi,  dentro  dos  quaes  se  deita  o  liquido, 
que  comprimido  sáe  pelo  bico,  canudo, 
ou  chupete;  mas  estas  dizem-se  propria- 
mente bexigas,  e  servem  para  o  mesmo 
efleito,  de  botar  ajudas,  clystéres,  injec- 
ções por  baixo. 

SERINGADA,  s.  /.  Agua  contida  na  se- 
ringa, e  que  se  expelle  com  o  êmbolo  car- 
regando para  dentro. 

SERINGAR,  V.  a.  Deitar  o  liquido  con- 
tida na  seringa,  comprimindo-o  com  o  êm- 
bolo, c  introduzLl-o  em  alguma  parte. 

—  Seringar  alguém;  molhal-o  com  o  li- 
quido contido  na  seringa. 

—  Termo  popular  e  figuaado.  Seringar 


i 


502 


SERM 


SERO 


SERP 


alguém;  apoquciitul-o,  moralmente  fal- 
lando. 

SERINGATORIO,  s.  m.  Kcmu<lio  que  se 
ha  de  introduzir  seringando  nas  cliagas 
fundas,  na  un:tlira,  ete. 

SERIO,  A,  adj.  (Do  latim  seriíis).  Si- 
sudo, grave. 

Tu,  oh  Povo  miúdo,  c  Poro  grosso, 
Que  dos  Toui-os  ao  bárbaro  combate, 
Presidido  dos  sérios  iMiipistiados, 
LA  na  praça  assistias  galhofeiro, 
Tu  testemunha  foste;  c  no  futuro. 

A.   DIXIZ  D.V  CBUZ,  JIYSSOPE,  Cant.   7. 

—  Sem  riso,  sem  zombaria,  nito  de 
graça. 

—  Af?pero,  grave  no  fallar. 

—  Loc:  Fdllar  serio;  fallar  sincero, 
sem  engano,  sem  dobrez,  sem  dissimula- 
ção. 

■■ — Syn.  :  Serio,  grave.  Vid.  este  ulti- 
mo termo. 

f  SERIOSAMENTE,  adv.  (De  serioso, 
com  o  snffixo  «mente»).  Vid.  Seriamen- 
te.—  aExaqui,  Scuhoi-a,  o  que  entendo 
seriosamente  da  Deshonra,  o  da  Calum- 
nia;  e  se  ainda  os  meus  accusadores  en- 
tenderem que  entendo  mal,  dò-lhes  V. 
E.  licença  jiara  que  entendão  o  que  qui- 
serem.» Cavalleiro  d'Uliveira,  Cartas,  liv. 
1,  n.o  51. 

\  SERIOSO,  A,  adj.  Vid.  Serio.  — 
«Credes  que  esse  emprego  nos  diverte  de 
outras  occupaçoens  mais  seriosas,  e  que 
o  vicio  de  querer  ser  eloquente,  embara- 
ça a  virtude  de  ser  Sábio.»  Cavalleiro 
de  Oliveira,  Cartas,  liv.  1,  i\.°  20.  — 
Agora  me  lembra  que  me  dissestes  que 
queríeis  huma  resposta  seriosa,  e  para 
ella  he  necessário  tomar  outro  caminho.» 
Ibidem,  n."  29. 

SERMÃO,  s.  m.  (Do  latim  sermo).  Dis- 
curso, arrazoamento,  pratica  que  se  faz 
a  alguém  para  aviso,  ensino,  etc.  —  «E 
ao  sermaõ  cstoueraõ  mui  promptos  mos- 
trando terem  contentamento  na  paciên- 
cia, e  quietação  que  tinbaõ,  per  seguir 
o  que  viaõ  fazer  aos  nossos.»  Barros,  Dé- 
cada 1,  liv.  5,  cap.  2. 

—  Figuradamente :  ReprehénsSo,  avi- 
sos, admoestações. 

—  Alguns  dão  este  nome  ás  epistolas, 
e  ás  satvras  de  Horácio,  isto  é,  ás  poe- 
sias de  ostylo  fácil,  e  quasi  em  uso  nas 
conversações. 

—  Discurso  doutrinal  evangélico,  ou 
em  elogio  de  vivos,  de  santos,  de  mortos. 
—  «Acabado  este  sermão,  diz  Sam  loam 
"qlie  leuantando  o  Senhor  os  olhos  ao  Coo, 
íez  huma  oração  ao  Padre  nesta  forma. 
Padre  chegada  he  a  hora  de  minha  pay- 
xam,  de  minha  morte,  e  resurreiçam,  e 
por  isso  glorificay  vosso  Filho,  pêra  que 
vosso  filho  vos  gíorifiquo.»  Fr.  Bartholo- 
ineu  dos  Martyres,  Catecismo  da  doutri- 
na christã.  —  «Por  isso  bradou  Pedro 
(como  se  conta  nos  Actos  dos  Apóstolos) 


dizendo  em  hum  sermão.  Todos  os  Pro- 
piíetas  dam  testemunho  do  lesu  Christo, 
que  por  seu  nome  ham  de  alcançar  ru- 
missain  de  peccados  todos  os  que  nelle 
creni.»  Ibidem.  —  «P^  no  sermão  31.  so- 
bre 03  Cantares,  diz  auer  conhecido  a 
visita  do  Senhor,  na  brandura,  que  sen- 
tio  no  coração,  c  ternura  do  affecto  apar- 
tamento dos  vicios,  mortiticaçjlo  de  affe- 
ctos  carnaes,  conhecimento,  e  displicência 
dos  defeitos  occultos,  eninionda  dos  cos- 
tumes.» Idem,  Compendio  de  espiritual 
doutrina,  cap.  l.õ. —  «S.  Bernardo,  sobre 
os  Cantares  sermão  74.  com  encolhimento 
declara  o  que  sente  contemplado,  a  sa- 
ber, que  naõ  conhece  a  visita  do  Senhor 
quando  logo  de  primeiro  entra,  ou  quan- 
do se  ausenta.»  Ibidem.  —  «E  pois  esta- 
mos em  Sermaõ  de  contas,  e  números,  se 
algum  me  perguntar  curiosamente,  que 
proporção  tem  o  numero  setenta  e  sete 
com  os  peccados,  c  perdaõ  universal  del- 
les;  Santo  Agustinho  a  descobrio  sutil- 
lissjiinamente. »  Padre  António  Vieira, 
Sermões  do  Rosário,  part.  2,  §  320.  — 
«O  sermão  mau-mau  —  mal  feito  e  com- 
prido —  é  péssimo.  Em  vez  de  se  darem 
a  Deus,  os  ouvintes  estSo  dando  ao  dia- 
bo o  pregador,  ou  já  crêem  que  o  pró- 
prio demónio  lhes  falia.»  Bispo  do  GriSo 
Pará,  Memorias,  publicadas  por  Camillo 
Castcllo  liranco,  pag.  135. 

SERMÃOZINHO,  «.  m.  Diminutivo  de 
Sermão.   Pequeno  serm.ão. 

SERMENHO.  =  Significação  incerta. 

SERMONARIO,  s.  /.  Collecção  de  ser- 
mões. 

—  Author  de  sermões. 

—  Adjectivamente :  Que  convém  ao 
serniàd.  —  O  género  sermonario. 

SERMONETÉ.  Vid.  Salmonete. 

SERMONTESIO,  A,  adj.—  Versos  ser- 
montesios  ;  versos  compostos  em  lingua- 
gem rústica.  Alguns  dào-lhe  o  nome  de 
versos  serventesios. 

SERNA,  s.  /.  Termo  antiquado.  Her- 
dade que  se  semêa,  e  tributo  que  se  pa- 
ga para  ella  ser  cultivada. 

SERÓ,  s.  )H.  Embarcação  de  remo,  asiá- 
tica. 

SERÔDIO,  A,  adj.  Tardio,  que  vem  por 
fins  da  estação  própria. 

—  Do  tarde,  depois  da  estação  das 
chuvas. 

—  Fruta  serôdia ;  fruta  do  tarde;  de 
novembro,  de  dezembro. 

—  Figuradamente  :    Chxtvas   serôdias. 
-{-  SEROM.    Frirma    antiquada,  em  vez 

de  Serão.  — «K  esto  Mandamos  que  pos- 
sam assi  fazer  per  Nossa  Autoridade,  e 
mandado  especial ;  ca  em  outra  guisa 
nom  serom  relevados  da  dita  pena,  posto 
que  digam  que  levam  as  ditas  mercado- 
rias pêra  remiir  Chrisptaaõs  cativos,  se 
pêra  ello  nom  mostrarem  Xosso  Manda- 
do especial,  como  dito  he.»  Ord.  Affous., 
liv.  4.  tit.  03,  §  4. 

SEROSIDADE,  s.  /.  Vid.  Sorosidade. 


SEROSO,  A,  adj.  Vid.  Soroso. 

SEROTINO,  A,  «//;'.  rOo  latim  seroti- 
n«*i.  ."<>ri)dio. 

SERPÃO,  «.  m.  Tennode  botânica.  Plan- 
ta do  que  ha  dua»  espécies :  iilventre,  ca- 
jás folhas  se  parecem  com  a8  da  arruda; 
o  hortense,  com  ramos  semelhantes  aoa 
do  orégão.  Vid.  Serpol. 

SERPE,  «.  /.  Serpente.  —  «Feito  isto 
se  foi  contra  o  castello,  lançando  a  ser- 
pe pola  boca  e  ventas  tSo  grande  quan- 
tidade de  fumo  negro  e  espesso,  que  todo 
o  ar  foi  congelado  delle,  de  feição,  que 
nada  se  podia  ver  assim  dentro  na  forta- 
leza como  fira  delia,  senão  algumas  cha- 
mas vivas  que  ás  vezes  por  antre  o  fumo 
sabiam  com  tamanha  fúria,  que  parecia 
que  tudo  queimavão  quanto  se  lhe  punha 
diante.»  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
d'Inglaterra,  cap.  38. 

Ah  Nymphaa  !  não  vereis 

Que  Eurydicc,  fugindo  dessa  sorte, 

Fugio  do  amante,  c  uào  da  fera  morte  ? 

Também  assi  Epcrie  foi  mordida 

Da  vibora  escondida. 

Olhae  a  serpe  occnlta  na  hcrva  vwde. 

Quem  o  rigor  não  perde,  porde  a  vida. 

CAU.,  EGLOOA  7. 

—  Figuradamente: — «Não  se  espera 
nesta  noyte  o  Boca  da  Serpe,  por  se  sa- 
ber que  estava  curando  as  suas  mazellas, 
porem  elle  chegou  com  o  irmão  do  In- 
viado.»  Cavalleiro  d'01iveira,  Cartas,  liv. 
1,  n.°  10. 


Nelle  he  tudo  ignorância,  c  tudo  he  trtva ; 
Do  pezo  oppresso  jaz  dos  males  todos, 
Traz  cm  seu  seio  os  ti'xico3  da  morte, 
Triste  gérmen  da  dor  conserva  nelle, 
Qual  serpe  que  se  enrosca  entre  as  boninas. 

J.  A.   DE  MACEDO,   ITEDITAÇÂO,  Cant.   4. 


—  Serpes  de  crystal;  aguas  que  cor- 
rem serpejando. 

—  Serpe  do  arcabuz,  ou  mosqueie;  o 
cão  da  espingarda,  ou  peça  de  metal, 
onde  se  punha  o  murrão  acceso  para  dar 
fogo  quando  as  espingardas  ainda  não  ti- 
nham fechos  com  pederneiras  ou  fuzis. 

—  An.\GiO : 

—  É  mais  velho  qne  a  serpe. 
SERPEADO,  i)art.  pass.  de  Serpear. 
SERPEAR,  ou  SERPEIAR,  v.  n.  Diz-se 

do  modo   do  se   mover,   próprio  das  sei^ 
pentes. 

—  Figuradamente :  Diz-se  dos  ribei- 
ros que  correm,  dos  rios,  fontes,  rega- 
tos, etc. 

Não  cede  alli  Bolonha  ao  grão  Tamisa, 
Menos  cedo  Florença,  que  se  esconde 
Kntrc  amenos  Jardins,  serenas  aguas 
I^  claro  Amo,  que  serpêa.  e  manso 
Oâ  campos  fertilisa,  as  flores  nutre. 

J.    A.   DE  U.VCEDO,  TIAGEM  EXTÁTICA,  Oant.   4. 

—  Diz-se  também  das  plantas,  flores, 


SERP 


SERR 


SERR 


503 


SERPEJANTE,  part.  acf.  de  Serpejar. 
Que  serpeja.  —  liio  serpejante. 

SERPEJAR,  i'.  '!.  Mover-se  sinuosa- 
mente. Vi'l.  Serpear,  termo  maií  em  uso. 

SERPENTÃO,  s.  7íí.  Instrumento  mu- 
sico de  sopro,  como  o  baixào,  mais  longo 
e  grosso. 

SERPENTANTE,  adj.  2  gen.  Termo  de 
botânica.  Reptante,  que  corre  rasteiro 
ou  de  rojo  lançando  raizes  em  diversos 
logares,  fallando  do  tronco  ou  raiz  da 
planta. 

—  Part.  act.  de  Serpentar. 
SERPENTAR.  Vid.  Serpentear. 
SERPENTÁRIA,  s.  /.  Tid.  Serpentina. 
l.j  SERPENTÁRIO,    s.   m.    Uma    cons- 

tellaçào  do  hemisplierio  boreal;  compòe- 
se  de  737  estrellas,  segundo  Képler. 

2.)  SERPENTÁRIO,  s.  m.  Ave  da  esta- 
tura de  um  ganço,  e  de  côr  cinzenta :  ha- 
bita nas  proximidades  do  cabo  da  Boa- 
Esperança,  onde  facilmente  a  domesti- 
cam; alimenta-se  de  serpentes  e  de  ra- 
tos. 

SERPENTE,  s.  f.  (Do  latim  serpens). 
Animal  reptil,  comprehendendo  a  cobra, 
a  vibora,  o  áspide,  etc.  — •  oEntào  viran- 
do o  amor  em  ira  por  vêr  que  tão  peque- 
no impedimento  lhe  tolhia  nào  poder  to- 
car sua  senhora,  arrancou  da  espada  e 
com  o  punho  d'ella  começou  dar  na  ser- 
pente, crendo  que  a  força  de  golpes  a 
desfaria,  todo  era  em  vão,  que  a  compo- 
sição d'ella  nào  era  d'essa  qualidade.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  154.  —  «Ha  outros  que  se 
chamaõ  pitaleus,  que  trazem  em  barcaças 
muyto  grandes,  muytas  invenções,  de 
animaes  bravos  muyto  para  ver  e  temer, 
em  que  entraõ  cobras,  serpentes,  lagar- 
tos muyto  grades,  tigres,  bichos,  e  outros 
muytos  de  diversas  mane^Ta-s,  que  tam- 
bém cõ  tangeres  e  bailos  mostraõ  por  di- 
nhevro.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregri- 
nações, cap.  99.  —  «No  meyo  deste  ter- 
reyro  estava  huma  coluna  de  jaspe  de  trin- 
ta e  seis  palmos  de  alto,  e  toda,  ao  que 
parecia,  de  huma  só  pedra,  encima  da  qual 
estava  hum  idolo  de  prata  em  vulto  de 
molher  que  com  ambas  as  mãos  estava 
afogando  huma  serpente  muyto  bem  pin- 
tada de  verde  e  preto.»  Ibidem,  cap. 
109. 

—  A  serpente  infernal;  o  diabo. — 
«Tentados  pela  serpente,  desobedecerão. 
Baixou  Deos  a  residenciar  a  culpa :  e 
privando-os  de  sua  graça,  e  justiça  ori- 
ginal, os  condenou  á  morte,  e  a  traba- 
lhos innumeraveis,  em  quanto  esta  naõ 
chegasse,  e  a  perpetuo  desterro  do  Pa- 
raizo.B  Padre  Manoel  Bernardes,  Exer- 
cícios espirituaes,  part.  1,  pag.  157. 

—  Termo  popular.  A  mulher  velha  e 
feia. 

—  Serpente  de  metal;  põe-se  nos  ca- 
nhões de  artilheria. 

—  Figuradamente :  Serpentes  que  mor- 
dem  em   silencio.  —  «Primeiramente  aos 


que  detraem  e  escurecem  a  fama  do  pró- 
ximo, chama  o  Sabedor  serpentes  que 
mordem  em  silencio.  E  sam  Paulo  diz 
delles.  Se  vos  mordeis  e  comeis  hums  aos 
outros,  vede  nam  vos  acabeis  de  consu- 
mir. E  nam  somente  he  culpado  o  detrae- 
dor  e  mormurador,  mas  também  aquel- 
les  que  ouuem.  Fr.  Bartholomeu  dos  Mar- 
tvres.  Catecismo  da  doutrina  christã. 
'  SERPENTEAR.   Vid.  Serpear. 

SERPENTICGLAS,  s.  m.  plur.  Os  judeus 
que  adoraram  no  deserto  a  serpente  de 
Movsés. 

SERPENTIFERO,  A,  adj.  (Do  latim  ser- 
pentifer..  Termo  de  poesia.  Que  gera 
serpentes. 

—  Que  contém  serpentes. 
SERPENTIGENA,  adj.  2  gen.  (Do  latun). 

Gerado,  rasei  lo  de  serpente. 

SERPENTINA,  s.  /.  Termo  de  botâni- 
ca. Planta  que  nasce  nas  selvas  á  som- 
bra, era  terras  quentes,  cujas  folhas  são 
\'ulnerarias,  e  a  raiz  secca  se  usa  em  pó 
na  medicina. 

■ —  Termo  de  historia  natural.  Espécie 
de  tartaruga  da  China,  cuja  cabeça  tem 
alguma  semelhança  com  a  da  serpente. 

—  Serpentina  de  alambique ;  cano  es- 
piral pir  onde  corre  a  aguardente  distil- 
lando-se;  mette-se  no  resfriador;  é  de  es- 
tanho. 

—  Castiçal  com  três  braços  e  trea  lu- 
mes. 

—  Nome  de  certa  bombarda  ou  canhão 
antigo. 

—  Palanquim  com  cortinas  usado  no 
Brazil;  o  leito  é  de  rede.  Vid.  Palan- 
quim. 

—  Vela  de  três  lumes,  que  se  accende 
nos  officios  do  sabbado  santo. 

SERPENTINO,  A,  adj.  (Do  latim  ser- 
pentinus:.  De  serpente,  da  forma  de  ser- 
pente. 

—  Fúria  serpentina ;  fúria  como  a  da 
serpente  assanhada. 

—  Peara  serpentina;  pedra  mármore 
verde  escura,  com  listrões  tortuosos,  co- 
mo 03  que  se  vêem  na  pelle  de  algtimas 
serpentes. 

—  Lingua  serpentina ;  lingua  mui  de- 
pravada, picante,  mordaz. 

—  Figuradamente  :  Astuto  como  a  ser- 
pente, e  assim  venenoso. 

SERPIGO.  Vid.  Impigem. 

SERPILHEIRA,  í.  /.  Vid.  Sarapilhei- 
ra,  ou  Serapilheira. 

SERPOL,  SERPILLO,  ou  SERPIL,  í.  m. 
(Do  latim  serpyUuin}.  Herva  secca.  Vid. 
Serpão. 

SERPULAS,  s.  m.  plur.  Termo  de  his- 
toria natural.  Género  de  animaes  mari- 
nhos, que  habitam  em  tubos  de  uma  sub- 
stancia calcarea,  pegados  aos  rochedos. 

SERRA,  s.  f.  (Do  latim  serra).  Lami- 
na de  ferro  estreita  e  longa,  que  em  uma 
das  bordas  tem  dentes  agudos  de  base 
mais  larga;  serve  para  cortar  madeiras 
e  mármores  brandos,  roçando-a  com  for- 


ça por  elles :  ha  serras  de  mão,  que  ser- 
vem para  um  só  individuo  serrar ;  ser- 
ras braçaes,  para  que  sào  precisos  dons 
serradores ;  e  serras  d'agua,  que  serram, 
movido  o  engenho  por  agua  corrente. 

—  Um  peixe. 

—  No  Brazil,  é  uma  espécie  de  cavai- 
la  pequena. 

—  Na  antiga  milicia,  era  esquadrão 
com  muitos  ângulos  a  modo  de  dentes  de 
serra. 

• —  Monte  de  penedia,  com  picos,  e 
quebradas,  ou  boqueirões. 

Lmidate  Dominum  de  terra, 
Dracones  et  omnes  ahyssi, 
E  todas  diversidades 
De  névoas  e  serra, 
Tentos,  nuvens  et  edipsi, 
E  louvae-o,  tempestades. 

GIL  VlCEinX,  AUTO  DA    HOPIHA  MESDES. 

Fulgência,  que  foi  causa  destes  males, 
Des  que  montei  e  valles  deseobrio, 
Despois  que  me  não  vio  em  toda  a  serra, 
Deiíou.  deixando  a  terra,  mágoa  aos  pais, 
Que  delia  nunca  mais  novas  souberào. 

IDEM,  EGLOGA  11. 

íluytos  se  vendem  na  terra, 
se  tem  huns  cõ  outros  guen-a, 
seruemse  de  bestas  deUcs 
polias  nõ  auer  entrelles. 
a  mais  terra  he  chão  sem  serra. 

QABCIA  DB  REZENDE,  MISCELLASEA. 


—  «Com  tudo  não  sabemos  que  o  Tur- 
co passasse  a  Pérsia,  nem  por  si,  nem 
por  seus  Capitães,  que  de  lá  nào  viesse 
perdido,  sua  gente  morta,  e  elle  afronta- 
do: não  sendo  outra  a  causa,  mais  que 
fugirem-lhe  os  naturaes  para  as  serras, 
leuãdo  cõsigo  toda  a  sorte  de  mantimen- 
tos.» Fr.  Gaspar  de  S.  Bernardino,  Iti- 
nerário da  índia,  cap.  14.  —  «Passada 
esta  deueza,  que  bem  teria  vinte  cinco 
legoas,  começamos  a  entrar  por  humas 
serras  ásperas,  e  medonhas,  no  fim  das 
quaes  em  hum  vale,  ao  longo  de  huma 
pequena  leuada,  nos  mostraram  os  ossos 
de  hum  corpo  humano,  todos  juntos,  e 
armados  metidos  entre  humas  pedras.» 
Ibidem,  cap.  16. —  «Outros,  que  derre- 
tendose  a  neue  delias,  que  he  muyta  nas 
serras  fazem  com  que  creça  tãto.  Seja  o 
que  for,  o  rio  he  o  mais  notauel  de  toda 
Ásia,  Afírica,  e  Europa,  como  no  Capi- 
tolo  sete,  e  oyto  fica  dito.  Delle  fez  o 
Papa  lulio  Segundo  deste  nome  hum  Tra- 
tado, em  que  conta  suas  grandezas,  onde 
os  curiosos  as  podem  ver.»  Ibidem,  cap. 
21.  —  «Porem  outros  mais  curiosos  que 
elle ;  dizem  ter  seu  nascimento,  em  hu- 
mas ásperas  montanhas  chamadas  mon- 
tes da  Lua,  tão  altos,  que  imaginào  os 
naturaes  passarem  as  nuuens,  por  verem 
quantas  costeào  aquellas  serras,  deixan- 
do os  altos  delias  tão  claros,  e  limpos: 
que  parece  outro  Ceo,  e  nona  terra.» 
Ibidem.  —  «Seu  assento  he  na  lomba  de 


504 


SERR 


SERR 


8ERU 


liiinia  serra,  no  pis  delia,  vimos  hum 
C!t|)i)  í,'raii(li.s«iino,  o  iiiuy  fortil,  regado 
de  imiytas  lihcinis,  que  por  ollc  correm. 
Ao  presente  iiuo  tem  a  Oiila<lo  mais  quo 
huns  peilaeos  do  muros,  som  trato,  gente, 
ou  casa  alguma.»  Ibidem,  cap.  22. 

Poíh  fiquei  na  ferra, 
Viiidc-vo!)  tio  campo ; 
(juo  quem  nina  muito 
Niio  (vípcrfi  tanto. 

r.  noDBiouES  i.ono,  pnrMVVEE.v. 

—  «E  assi  80  ha  do  entender  que  cm 
toda  esta  distancia  de  terra  uilo  ha  mais 
muro  que  o  que  toma  os  espaços  que  ha 
entre  serra,  e  serra,  no  mais  as  mesmas 
serras  servem  de  muro.»  Fernão  ]\Icndcs 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  95.  —  «  Moo- 
naa  he  huma  ci  lade  quo  esta  situada 
junto  da  dita  serra  ao  loeste  he  edifica- 
da de  taypas  francesas,  os  habitadores 
sam  mouros  gente  branca,  todos  Turqui- 
mãis  e  Persianos  vivem  per  trato  e  cria- 
çiãis  de  guados  c  lavoyras  porque  tem  da 
banda  do  oriente  muy  largos  campos  e 
de  mujtas  criações.»  Tenreiro,  Itinerá- 
rio, cap.  13.  —  «He  terra  nmyto  fria  om 
ho  inverno,  e  de  serras  muyto  altas,  que 
correm  pêra  a  banda  do  norte,  onde  me 
disseram,  que  estava  a  arca  de  Noe.» 
Ibidem,  cap.  21.  —  «Esta  serra  ho  de 
muitas  matas  de  azinhais  e  bosques,  e 
tem  caminhos  per  diversas  partes,  por 
onde  se  estes  ladrõis  acolhem.»  Ibidem, 
cap.  65.  —  «Que  de  esquailroens,  serras 
grandes,  fundos  grandes,  frontes,  quadra- 
dos de  gente,  e  de  terreno,  dobrétes, 
Cruzes,  cubos,  e  prolongados?»  Francis- 
co Manoel  de  ]\Iello,  Apologos  Dialogaes, 
pag.  169.  — «Quando  atravessei  a  serra 
pelos  trilhos  mais  curtos  e  escusos,  co- 
nheci que  o  meu  receio  fora  bem  funda- 
do. Parando  no  topo  de  uma  penedia, 
donde  so  divisava  ao  redor  quasi  toda  a 
montanha,  vi  centenares  de  fachos  que 
vacillavam,  correndo  tortuosamente  pe- 
las ladeiras,  sumindo-sc,  tornando  a  ap- 
parecer,  retrocedendo.»  A.  Herculano, 
Eurico,  cap.  8. 

—  Ir-se  ã  serra ;  ficar  desabrido,  es- 
quivo, áspero,  como  a  gente  serrana. 

—  O  mosteÍ7-o  de  Nossa  Senhora  da 
Serra,  da  ordem  de  S.  Domingos.  —  «Fun- 
dou de  nouo  o  mosteiro  de  nossa  Senhora 
da  serra  da  ordem  de  saõ  Domingos  do 
modo  que  el  Rei  dom  loaij  segundo  seu 
primo  deixou  encomendado  em  seu  testa- 
mento, fundou  do  nouo  o  mosteiro  de 
Sancta  Clara  dostremos.»  Damiíio  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  4, 
cap.  85. 

—  Conventual  na  Serra  do  Porto.  — 
«Lembra-mo  um  cónego  regular  de  San- 
to Agostinho,  couve. itual  na  Serra  do 
Porto,  que  úca  defronte  do  convento  de 
Santa  Clara.  Alguns  companheiros  con- 
servavam vários  conhecimentos  de  mos- 


teiro a  mosteiro.»  Bispo  do  Grilo  Pará, 
Memorias,  publicadas  por  Camillo  Cas- 
tolio  iiraiico,   ])ag.   121. 

—  Figuradamente  :  Serras  d'ugua;  ser- 
ras no  mar,  mui  levantadas. 

Ifir  tentar  da  fortuna  o  movimento, 

K  do.s  vontoA  cruni»  a  dura  guiTra  ? 

Vi''i-  briMihns  di!  onda»?  fcitfi  o  mar  om  tfrra 

Levantado  de  lium  vento  o  do  outro  vento  ? 

CAM.,  80RRTU8,   n."    108. 

SERRAÇÃO,  «.  /.  Vid.  Cerração. 

—  O  acto  do  serrar. 

—  Termo  popular.  A  serração  da  ve- 
lha; o  meio  da  quaresma,  cm  allusSo  a 
ser  a  quaresma  velha,  e  ser  serrada,  di- 
vidida cm  duas  metades. 

SERRADIÇO,  A,  adj.  —  Madeira  ser- 
radiça;  madeira  falqucjada  e  serrada, 
como  se  compra  para  obras  de  marcene- 
ria,  o  car[iintoria. 

SERRADO,  part.  pass.  de  Serrar.  Vid. 
Cerrado,  que  diverge. 

SERRADOR,  s.  m.  Official  que  serra 
maili;ira  com  serra  braçal. 

SERRADURA,  s.  /.  A  acção  de  serrar. 

—  O  pi'>,  ou  partículas  que  caem  da 
madeira  ))or  onde  se  serra. 

SERRAFAÇAR,  v.  a.  Termo  popular. 
Roçar  com  ferro. 

SERRAFICAR.  Termo  popular.  Vid. 
Sarrafaçar. 

SERRAFILA,  s.  m.  (Do  francez  serre-fi- 
le).  ('abo  ou  pessoa  ultima  da  fila  militar 
formada. 

SERRALHA,  s./.  Hcrva  medicinal. 

SERRALHAR,  v.  a.  Lavrar  como  os  ser- 
ralheiros. 

—  V.  n.  Fazer  bulha  como  os  serra- 
lheiros. 

SERRALHARIA,  «./.  Officina  de  serra- 
lheiro. 

SERRALHEIRO,  s.  m.  Ferreiro,  que  faz 
chaves,  fechaduras,  etc. 

SERRALHO,  s.  m.  Propriamente  é  o 
edificio,  ou  paço  onde  o  grão  senhor  mora, 
e  as  casas  em  que  elle  tem  as  mulheres 
se  chamam  harém. 

—  Figuradamente :  Lupanar,  prostí- 
bulo. 

SERRANA,  s.  /.  de  Serrano. 

SERRANIA,  s.  f.  Multidão,  ou  cordi- 
lheira de  serras.  —  «E  parti ndose  daly  a 
trees  dias,  despois  de  terem  andadas  oi- 
tenta c  seis  legoas,  em  que  puserão  treze 
dias  com  assaz  do  traballm,  por  causa 
dalguns  montes  agros  e  serranias  nniyto 
grandes  que  atravessarão,  foraõ  ter  a 
hum  aposento  grade  que  se  dezia  Tarau- 
dachit  que  estava  á  borda  de  hum  rio, 
onde  se  agasalharão  aquella  noite.»  Fer- 
não Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap. 
129. 

—  Figuradamente :  As  serranias  do 
mar. 

SERRANICA,  s.  /.  Diminutivo  de  Ser- 
rana. 


SEKRANICE,  s.  f.  Vivenda  naí  scr- 
ran. 

—  <  )n  inorlos  e  costume»  dos  serranos. 
SERRANO,  A,  a<lj.  Vid.  Serrão. 

—  tí.  Pessoa  que  habita  alguma  sem 
ou  raonte. 

SERRÃO,  A,  ÃA,  ou  AN,  adj.  Da  ser- 
ra, serrano. 

—  E  a|>pellido  ou  alcunha. 
SERRAR,   V.  a.  rDo  latim  terrare).  Se- 
parar, diviílir  cíjm  «erra. 

—  Vid.  Cerrar.  —  «  E  antes  que  me 
rcspcmdcssc,  ella  se  metteu  dentro,  e  os 
cavalleiros  serraram  a  porta  tão  prestes, 
que  Primalião  iiào  leve  temp.»  pêra  nada. 
Detondo-so  um  pouco,  ouvia  dentro  ou- 
tra maneira  de  pranto,  que  parecia  que 
todo  o  aposentamento  se  assolava.  E  não 
podendo  soflFrer  a  laf^tima,  que  lhe  fez, 
virou  rédeas  ao  cavallo  tão  descontente 
como  se  diante  de  si  vira  D.  Duardos,  do- 
brando-se-lhe  a  vontade  de  o  buscar  com 
dobrado  trabalho  do  que  té  li  passara.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  6. 

Que  hajaca  dó  do  author 
com  terceira  tão  fcrraoja. 
Porí-ra  cu  por  derradeiro 
sou  Dinheiro,  c  aqui  me  tfrro 
—  por  dinheiro  baila  el  perro. 

AHT05I0  PHESTBS,  ACTOS,  pag.  207. 

Ninguém 
me  ouvirá  j:l  mal  nem  bem, 
já  me  serro  a  mil  paredes ; 
diga,  senhora. 
IBIDEM,  pag.  389. 

—  Usa-se  também  figuradamente. 
SERRARIA,  s.  f.  Armação  de  esteios, 

travessas,  tranqueiros,  etc.,  onde  aasenta 
o  pau  lavrado,  que  se  vae  abrir  em  ta- 
boas,  ou  outras  peças  com  serras  braçaes. 
SERRATIL,  adj.  2  gen.  Termo  de  ste- 
reometria.  Corpo  serratil;  o  que  se  ter- 
mina por  cinco  superticies,  das  quaes  três 
são  parallelogrammos,  c  as  oppostas  triân- 
gulos parallelos,  iguaes,  e  similhantes. 

—  Termo  de  medicina.  Vid.  Serrino. 

SERRATULA,  *.  /.  Vid.  Seratula. 

SERRAZINA,  s.  /.  Termo  popular.  Im- 
portunação que  produz  o  que  insta  mui- 
to, e  cança  com  incommodo  repetido. 

—  /S.  2  gen.  Pessoa  que  pnxluz  o  in- 
conmiodo  de  instar  muito,  o  cançar  im- 
portunamente. 

SERRAZINAR,  v.  a.  Causticar,  incom- 
modar. 

SERREADO,  A,  adj.  Que  tem  tem  den- 
tes imbricados  como  uma  serra. 

—  Termo  de  botânica.  Diz-se  das  fo- 
lhas. 

SERRECOUTAR,  v.  a.  Alguns  d3o-lhe  a 
signitiiavão  dl. —  tomar  antecipadamente, 

SERREO,  A,  adj.  Da  figura  de  uma 
serra,  com  seus  dentes. 

—  Formatura,  ou  evolução  serrea;  na 
tropa. 


SERT 

SERRETA,  s.  f.  Diminutivo  de  Serra. 
Monte. 

SERRIDENTEO,  A,  adj.  Termo  de  botâ- 
nica. Vi  !.  Serreado. 

SERRIL,  ou  CERRIL,  adj.  2  gen.  Do 
serro;  montauhez,  agreste,  montezinho, 
rústico,  grosseiro. 

— ■  Figuradamente :  Bravo,  não  doma- 
do. 

SERRILHA,  s.  /.  Um  lavor  de  seda, 
para  adorno  de  vestidos,  com  pontas  co- 
mo serra. 

—  Lavor  no  circulo  das  moedas  para 
não  serem  cerceadas,  porque  o  cerceio 
corta  e  destroe  a  serrilha,  o  que  dá  a 
conhecer  que  é  fallida  no  peso. 

—  Nos  cabsçoes  das  cavalgaduras,  s<ão 
pontas  quasi  tão  agudas  como  as  dos  den- 
tes das  serras,  para  domar  os  cavallos,  e 
diz-se  urna  serrilha. 

SERRILHADO,  part.  pass.  de  Serrilhar. 
Quo  tem  serrilha,  fallaudo  da  moeda. 

SERRILHAR,  ou  SARRILLAR,  v.  a.  Fa- 
zer na  moela  o  f sitio  a  que  se  chama 
serrilha,  para  que  não  possa  ser  cercea- 
da, sem  se  conhecer. 

SERRINHA,  s.  /.  Diminutivo  do  Serra. 
Serra  pequena. 

SERRINO,  adj.  —  Pulso  serrino ;  diz-se 
quando  os  dedos  appiicados  sobro  uma 
certa  extensão  de  artéria,  sentem  uma 
pulsação  em  vários  pontos  ao  mesmo  tem- 
po, e  não  são  tocados  em  os  intervallos 
d 'estes  pontos. 

1.)  SERRO,  s.  m.  Serra,  moate  alto. 

Da  Escaudinavia  os  serros  orgulhoaos, 

Os  quo  bordão  o  Euxino,  os  que  rodcão 

A  barbara  Sibéria  inculta,  c  triste, 

Onde  o  Tuvcrno  se  alberga,  e  pune  o  crime  •, 

Oa  que  de  eterno  gêlo  o  campo  assombrão, 

Que  o  Tártaro  fugaz  cultiva,  e  deixa, 

Easgão-se  aos  olhos  meus,  e  as  bases  moatrão. 

J.   A.   DE  MACEDO,  MEDITAçIo,  Cant.    2. 

—  Outeiro.  Vid.  Cerro. 

2.)  SERRO,  adj.  m. — Achar-se  serro  de 
uma  conta;  achar-se  com  ella  fechada,  e 
concluida,  balançada. 

f  SERROTE,  s.  m.  Diminutivo  de  Serra. 
Serra  pequena,  de  uma  lamina  com  ca- 
bo, em  que  ha  um  olhai,  por  onde  o  se- 
guram; ou  com  cabo,  d'onde  nasce  o  ar- 
co, entre  cujos  extremos  está  estirada  a 
lamina  d'elle,  de  que  se  servem  os  cirui-- 
giões. 

SERSIFIM,  s.  m.  Termo  de  botânica. 
Planta  hortense  da  fiimilia  das  chicorea- 
ceas,  cuja  raiz  se  come. 

—  Sersifim  èravo ;  barba  de  bode. 

SERTAM,  s.  m.  Vid.  Sertão.  — «E  de- 
pois de  o  entrarmos,  vão  correndo  à  mão 
esquerda,  os  largos,  e  espaçosos  Reynos  do 
Emperador  Belulgião.  (a  quem  nos  erran- 
do chamamos  Preste  loào,  e  òs  naturaes 
Negíis),  e  os  do  Angaly,  Dobas,  e  outros 
que  estão  bem  no  seriam  da  terra;  por- 
que a  que  fica  ao  longo  do  mar  Eoxo,  he 
sogeyta  ao  Turco.»  Fr.  Gaspar  de  S.  Ber- 

TOL.  V.  —  64. 


SERT 

nardino.  Itinerário  da  índia,  cap.  7.  — 
«As  cidades,  e  lugares  que  tem  de  longo 
do  mar  saõ  pouoados  de  mouros,  e  os  do 
seriam  de  gentios.  Tem  muitas,  e  mui 
diuersas  idolatrias,  crem  muito  em  feiti- 
ços, e  agouros.»  Damião  de  Góes,  Chro- 
nica  de  D.  Manoel,  part.  2,  cap.  6. — 
«Aliem  destas  sessenta  nãos  hauia  mui- 
tos nauios  da  terra  a  que  chamam  terra- 
das,  que  seruem  da  carretar  mantimen- 
tos, e  aguoa  do  sertam  e  das  outras  ilhas 
a  Ormuz,  nas  quaes  todas,  e  nas  nãos 
dos  mercadores,  pos  muita  artelharia,  e 
gente  de  guei-ra,  de  maneira  que  assi 
nesta  armada  como  na  cidade  teria  Co- 
jeatar  dez  mil  homens  de  peleja,  que  co- 
meçara da  juntar  desno  dia  que  soube 
nouas  da  vinda  Dafonso  dalbuquerque, 
que  chegou  ao  porto  de  Ormuz,  aos  xxv 
dias  de  Septembro.»  Ibidem,  part.  2,  ca- 
pitulo 32.  —  «Passada  esta  de  cinda  es- 
tam  as  da  laoa  maior,  e  menor,  que  tem 
cala  huma  delias  Rei  que  habitam  no 
sertam  das  ilhas,  e  saõ  gentios,  assi  elles 
como  seus  vassallos,  excepto  os  que  vivem 
nos  portos  do  mar  que  sam  mouros,  saõ 
ambas  muito  fertiles  de  mantimentos  fru- 
ctas,    caças.»    Ibidem,  part.   3,  cap,  41. 

—  «  Dentro  no  sertam  desta  cidade  estaa 
outra  cidade  muyto  mais  nobre  que  esta, 
que  se  chama  Nicosia,  toda  habitada  de 
Christãos  da  Europa,  e  de  gentes  nobres, 
em  que  ha  Marquez,  e  conde,  e  he  Ar- 
cebispado, onde  eu  nam  fuy.»  Tenrei- 
ro, Itinerário,  cap.  õ2. 

SERTÃ,  ÃA,  ou  AN.  Vid.  Sartã,  ou 
Gertã. 

SERTANEJO,  A,  adj.  Que  habita  no 
sertão,  ou  mattos  interiores,  e  longe  da 
costa. 

—  Que  se  produz  no  sertão. 

—  Substantivamente  :  Costume  dos  ser- 
tanejos. 

SERTÃO,  ou  CERTÃO,  s.  m.  O  interior, 
o  coração  das  terras,  em  opposição  ao 
maritimo.  ■ — ■  oDahi  a  pouco,  em  que  a  ida 
destes  espertou  os  de  dentro  do  sertão, 
ou  como  quer  que  foi,  veyo  huma  grande 
cáfela  de  gente  a  pê  toda  preta  e  de  ca- 
bello  retorcido,  com  muito  ouro  e  marfim 
a  buscar  roupas  pêra  seu  vso.»  Barros, 
Década  1,  liv.  2,  cap.  2.  —  «Finalmente 
chegou  o  negocio  a  tanto,  que  Sargol  fu- 
gio  pêra  dentro  do  sertão  da  terra  da 
Arábia,  onde  elle  esteue  por  gouernador, 
e  foi  buscar  amparo  em  el-Rey  Soleimão 
Bernnabhon,  que  reinaua  naquella  parte, 
que  os  Mouros  propriamente  chamão 
Aman.»  Idem,   Década  2,  liv.  2,  cap.  2. 

—  «A  qual  obra  Rodrigo  Rabello  por  en- 
tão houve  por  escusada,  por  ter  outras  da 
Cidade  a  que  acudir,  e  mais  vendo  que 
Melrao  andava  com  gente  de  guerra  nas 
terras  firmes,  e  que  não  havia  nellas  Mou- 
ros de  que  temer  a  entrada  da  Ilha,  de- 
pois que  Melique  Agrij  perdco  estas  terras 
firmes,  e  o  Hidalcão  com  suas  occupações 
da  guerra  que  tinha  no  sertão  não  acudia 


SERT 


505 


a  ellas.»  Ibidem,  liv.  6,  cap.  8.  —  «E  por- 
que não  achou  entrada  pêra  ir  pelo  ser- 
tão ao  Reyno  do  Preste  João,  andou  per 
toda  aquella  costa,  té  que  se  foi  em  huma 
náo  a  Cambaya,  sendo  já  a  este  tempo 
morto  outro  seu  companheiro,  que  hou- 
vera de  entrar  com  elle  ás  terras  do 
Preste  João  Rey  da  Abexia.»  Ibidem, 
cap.  9.  —  «E  ao  tempo  que  Affonso  d'Al- 
boquerque  chegou  a  esta  Cidade,  era 
senhor  delia  hum  Xeque,  a  que  alguns 
chamavam  Rey,  cujo  nome  era  Hamed, 
o  qual  o  mais  do  tempo  estava  dentro 
no  sertão,  por  ter  guerra  com  hum  seu 
vizinho,  que  era  Rey  do  Reyno  Sana, 
cuja  metropoli  he  huma  Cidade  assi  cha- 
mada, de  que  elle  se  intitulou,  mui  anti- 
quíssima, a  que  Ptolomeu  chama  Sanare- 
gea.»  Ibidem,  liv.  7,  cap.  8.  — «Depois 
que  passou  primeiro  insulto  de  queimar  a 
Cidade  da  parte  da  habitação  delia,  de  a 
querer  outra  vez  conmietter  a  fogo,  e 
sangue,  com  que  obrigou  a  Affonso  d'Al- 
boquerque,  em  quanto  lá  estava,  mandar 
fazer  uma  tranqueira  no  cabo  da  Cidade 
té  entestar  em  hum  esteiro,  que  a  vinha 
cercando  pela  parte  do  sertão.»  Ibidem, 
liv.  9,  cap.  1. — «Foi  tamanho  o  medo 
na  cidade  neste  dia,  que  muitos  a  despe- 
jarão, e  os  principaes  delia  se  foram  a  el 
Rei  requerendolhe  que  fezesse  paz  com 
03  Portugueses,  se  nam  que  se  iriam  to- 
dos pêra  o  sertão.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  2,  cap.  17. 
—  «E  em  todas  estas  trezentas  e  quinze 
legoas  não  ha  mais  entradas  que  sós  cin- 
co que  os  rios  da  Tartaria  fazem  por  es- 
tas partes,  pelos  quais  decendo  com  im- 
petuosa corrente,  com  que  cortão  por  este 
sertão  espaço  de  mais  de  quinhentas  le- 
goas, se  vão  meter  no  mar  da  China  e 
da  Cauchenchina.»  Fernão  Mendes  Pin- 
to, Peregrinações,  cap.  95.  —  «A  terra 
em  sy  he  quasi  do  teor  do  Japaõ,  algum 
tanto  em  partes  montanhosa,  mas  no  in- 
terior do  sertão  he  mais  plana,  e  fértil, 
e  viçosa  de  muytos  campos  regados  de 
rios  dagoa  doce  com  infinidade  de  manti- 
mentos, principalmente  de  trigo  e  arroz.» 
Ibidem,  cap.  143.  —  « E  porque  ja  neste 
tempo  tinha  atoardas  que  o  Rev  do  Avaa, 
confederado  cos  Savadijs,  e  Clialeus  dava 
entrada  ao  Siammom  (que  pelo  sertão 
destes  reynos  confina  a  Loeste  e  a  Loes- 
noroeste  co  Calaminhan  Emperador  da 
força  bruta  dos  elifantes  da  terra,  como 
adiante   declararey).»  Ibidem,  cap.  153. 

Como  ae  a  bella,  e  fértil  lingua  nossa. 
Primogénita  filha  da  Latina, 
Precisasse  de  estranhos  ata\'io3, 
Súbito,  certamente !  pcnsariào, 
Que  nos  sertões  cstavão  de  Caconda, 
Quilimanc,  Sofala,  ou  Jlcçambique : 
Até  que  já  por  fim  desenganados, 
Que  crào  em  Portugal,  que  os  Portuguezes 
Erào  também,  os  que  costumes,  lingua, 
Por  tào  estranhos  modos,  afrontarão, 
Segunda  vez  de  pejo  mon-erião. 

DralZ  DA  CBUZ,  HYSSOPE,  Cant.  5. 


506 


SERV 


SERV 


SERV 


—  «E  nilo  SI)  nilo  doscoriain  do  sertão 
a  sor  cliri.stilíos  o  vassallos  do  vosna  ma- 
gcstiulo  as  naçSes  que  se  osporain,  mas 
aiada  os  cliri^tàos  e  vassallos  antigoa  des- 
ospurariain  tutaliiioiito,  e  despovoariam 
suas  aMôas,  como  outras  vezos  têm  leito, 
c  8(t  arruinaria  por  esta  via  todo  o  fun- 
damento do  Estado  e  das  eliristandades 
que  consisto  na  conservaçiXo,  e  facilidade 
de  ter  índios.»  Padro  António  Vieira, 
Cartas,  n."  15. 

E  8(5  menos  crunl,  que  o  julgo  injusto, 
Quo  cjâOí,  fiu'('llo  Ulustrou,  cobardes  soffrcm. 
Peloa  vastOii  sertõfs  som  lares  gyrào. 
Qual  Oni;,a  insocial ;  só  pasto  buscào. 

J.  A.  DE  MACRDO,  MEDITAÇÃO,  Caut.  1. 

—  «As  arvores  são  tão  grandes,  que 
no  sertão  que  vao  da  villa  de  Ourem  pa- 
ra o  Caité  não  alcançava  o  chumbo  a 
grimpa  da  arvore,  e  o?  indios  que  lá  so- 
bem pelos  sipós,  eni-olado3  n'ellc3  como 
gatos  o  macacos,  parecem  saguís,  vistos  de 
baixo.»  Bispo  do  (irão  Pani,  Memorias, 
publicadas  por  Camillo  Castello  Branco, 
pag.  22. 

—  O  sertão  da  calma;  o  legar  onde 
cila  ó  mais  ardente. 

—  Toma-se  também  por  matto  longo  da 
costa. 

SERTULÁRIA,  s.  /.  Termo  de  historia 
natural.  Espécie  do  zoophyto  ou  polypei- 
ro.  Ha  varias  espécies :  a  sertularia  plu- 
viosa, a  sertularia  espinhosa,  ete. 

SERTUM,  s.  «i.  Vestidura  de  homens, 
como  o  colleto  ou  veste  sem  mangas. 

SERVA,  s.  f.  (Do  latim  serva).  Es- 
crava. 

—  Criada. 

—  Sou  sua  serva  ;  dizem  as  mulheres 
por  eortczia. 

—  Serva  de  Deus;  muUier  entregue 
a  cxercicios  piedosos  e  religiosos.  Vid. 
Servo. 

SERVADOR,  s.  m.  Conservador,  sobre- 
nome de  Júpiter. 

SÊRVÃO.  Forma  antiquada  do  verbo 
servir,  na  terceira  pessoa  do  plural  do 
modo  conjunetivo,  em  vez  de  Sirvão.  — 
oE  em  esto  noni  servirem  os  lavradores 
do  nosso  Reguengo  de  Cajosa,  e  d'Alca- 
nhiiaens,  por  quanto  som  dello  escusados 
per  privilégios,  que  tem  dos  Reyx  que 
ante  nós  forom,  contírmados  por  nós;  e 
03  moradores  da  Villa  nom  servaõ  em 
ello,  ca  nos  praz  serem  dello  escusados 
por  esta  i'aga,  que  assy  haõ  de  fiizer.» 
Ord.  Affous.,  liv.  4,  tit.  20,  §  6. 

SERVAR-SE,  i'.  refl.  Termo  antiquado. 
Guard.ir-si',  conservar-se. 

SERVENCIA,  s.  /.  Vid.  Serventia. 

SERVENTE,  «.  m.  Homem  que  ajuda 
cm  trabalho,  c  dá  as  achegas  aos  pedrei- 
ros, etc. 

—  S.  2  gen.  Pessoa  que  serve  outra; 
soi"vo,  criado. 

—  Plur.  —  Serventes  da  peça ;  todas 


as  pessoas  que  se  empregam  na  manobra 
do  artilhoria,  á  excepçilo  do  chefe;  o  pri- 
meiro da  ilireita  é  o  itrinieiro  carregador, 
o  primeiro  ila  esquerda  o  segundo,  o  se- 
gundo da  direita  pega  no  espeque,  o  se- 
gundo da  esquerda  no  pé  de  cabra  e  dá 
bala  e  taco,  o  terceiro  da  esquerda  bota 
fog.i,  e  o  terceiro  o  penúltimo  da  direita 
na  lanada  e  soquete;  os  penúltimos  des- 
bolinam  e  os  últimos  colhem  as  talhas, 
servindo  a  retirada  o  primeiro  e  ultimo 
da  din^ita. 

SERVENTESIO,  s.  m.  Vid.  Sermonte- 
sio. 

SERVENTIA,  s.  /.  Uso,  préstimo,  uti- 
lidade. —  «Todas  as  portas  nas  entradas 
tom  couraças  e  as  couraças  que  estam  da 
banda  do  arreval  que  jaz  ao  longo  do 
rio  tem  três  portas  cada  huma,  huma  em 
frente  e  duas  nos  lados,  que  ficam  em 
serventia  das  ruas  que  jazem  ao  longo 
do  muro,  os  muros  das  couraças  sani  qua- 
si  da  altura  dos  do  dentro.»  Frei  (laspar 
da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da  China, 
cap.  G. 

—  O  serviço  de  algum  emprego,  pes- 
soalmente, ou  feito  por  outrem. 

—  De  ordinário  diz-se  do  serviço  de 
oíBcio,  em  logar  do  proprietário. 

—  Servidão,  escravidão,  pena  de  cri- 
me. 

—  Utilidade  de  passagem  ou  outra  com- 
modidade,  que  uns  edificios,  ou  partes 
d'elles,  fazem  para  outros  ou  para  legares 
abertos,  etc. 

—  Cousa  de  serviço,  ou  útil,  feita  ao 
juiz  ou  magistrado  para  o  peitar. 

—  Emprega-se  também  figuradamente. 
—  A  serventia  do  coração. 

SERVENTUÁRIO,  í.  »í.  O  que  serve  of- 
ficio  cm  vez  do  proprietário. 

1.)  SERVIA,  s.  /.  Termo  antiquado. 
Serviço. 

2.)  SERVÍA.  Forma  do  verbo  servir 
na  primeira  ou  terceira  pessoa  do  singu- 
lar do  pretérito  imperfeito  do  modo  indi- 
cativo. Vid.  Servir.- — «Cada  uma,  toca- 
da da  inveja  do  que  diante  se  via,  temia 
que  o  parecer  da  outra  lhe  podesse  pôr 
tacha.  Aquella  mostra  de  Lionarda,  que 
a  Poliuarda  pareceu  tão  grande,  lhe  fez 
dobrar  o  amor  no  seu  Palmeirim,  vendo 
que  a  fé  com  que  a  servia  era  tão  ver- 
dadeira e  clara,  que  com  tamaiiho  preço, 
como  tivera  em  seu  poder,  ganhado  com 
tanto  trabalho,  se  não  poderá  desbara- 
tar, o  Francisco  de  ^loraes,  Palmeirim  de 
Inglaterra,  cap.  112.  —  «E  na  verdade, 
Onistalda,  a  quem  Bcroldo  servia,  era 
pêra  a  terem  nesta  conta;  c  se  não  se 
achou  antre  as  outras,  foi  porque,  as  que 
Urganda  pêra  aquelle  lugar  escolheu, 
eram  tudo  extremos  da  natureza.  Acaba- 
do de  cada  um  soltar  as  palavras,  que 
lhe  a  fantosia  representava,  disse  Daliar- 
te.»  Ibidem,  cap.  120.  —  »Aõ  armas  de 
pardo  com  estremos  de  prata,  no  escudo 
em  campo  verde  uma  Uydra  de  muitas 


cabeças,  vinham  com  elle  dous  escudei- 
ros, um  que  o  servia  de  lança,  outro 
lhe  trazia  uma  facha  d  arma»  com  o  fer- 
ro dourado.  Chegando  perto,  disse  em 
voz  alta  contra  o  cavalleiro  das  Don- 
zellas.»  Ibidem,  cap.  125.  —  «E  enca- 
deandose  hum  no  outro  paraque  a  força 
lhe  ficasse  toda  junta,  no»  cometera»?  tâo 
aceleradamente,  que  nem  vagar  tivemos 
para  nos  aparelharmos,  pelo  qual  noe  foy 
forçado  lançar  as  amarras  e  a»  dríças 
assi  como  estavão  ao  mar  por  fazer  a  ar- 
tilharia le^ta,  que  era  o  que  entSo  mais 
nos  servia. »  Fernão  Mendes  Pinto,  Pe- 
regrinações, cap.  4*5.  —  «Tomando  ago- 
ra a  terra  firme  se  tomou  cJ5selho,  por 
quanto  os  ventos  eram  mudados  em  po- 
nentes  por  proa,  e  muitos  o  deram  que 
deuiamos  arribar  com  a  nao  a  Mombaça, 
assi  porque  sò  pêra  líi  seruia,  e  era  pros- 
pero, como  por  ser  impossiuel  tornarmos 
pêra  a  índia  antes  de  entrar  o  Inuemo.» 
Fr.  (iaspar  de  S.  Bernardino,  Itinerário 
da  índia,  cap.  3.  —  «Des  que  o  vi  man- 
so, quieto,  e  quasi  contente,  (que  dadi- 
uas  tudo  acabào;  llie  perguntey,  de  que 
seruia  aquella  balança,  e  talha  de  man- 
teyga?»  Ibidem,  cap.  9.  —  «Por  muros 
da  noua  habitação  semia  o  rio  Araxes 
que  a  cercaua  toda.  Nella  viuerào  Noè, 
e  seus  filhos,  e  descendentes  cento,  e  on- 
ze annos,  como  diz  Pedro  Bauter,  em  o 
qual  tempo  se  nniltiplicarão  em  tàto  nu- 
mero, que  lhes  foy  forçado.»  Ibidem,  cap. 
18.  —  «Diogo  Lopez  parccendolhe  que 
era  isto  assi  mandou  toiolos  bateis  a  ter- 
ra, sem  ficar  narmada  mais  que  o  da  ta- 
forea  por  lhe  estarem  calafetando  a  cu- 
berta,  e  seruia  de  ir  e  vir  a  terra  bus- 
car cousas  necessárias.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  2. 
—  « Havendo  quatro  mezes  que  estas  cou- 
sas eram  passadas,  e  ElRey  de  Campar 
servia  seu  officio,  não  com  nome  de  Ren- 
dara, mas  de  Maeobume,  que  acerca  del- 
les  ho  como  entre  nós  Viso-Rey,  e  isto 
por  honra  da  dignidade  real,  que  tinha, 
a  olho  começou  Malaca  de  se  nobrecer, 
tornando-se  muitos  homens  nobres  viver 
a  ella,  ijue,  por  cansa  de  não  quererem 
ser  (iovernados  per  Nina  Chetu,  eram 
idos  a  viver  á  Jauha,  e  a  outras  partes, 
cora  a  vinda  dos  quaes  começaram  de  vir 
mercadores,  e  a  terra  se  reformar.»  Bar- 
ros, Década  2,  livro  9,  capitulo  27.  — 
«As  quaes  Affonso  d'Alboquerque  man- 
dou trasladar  cm  Portugucz  per  hum  Ju- 
deo  cliamado  Samuel  natural  do  Cairo, 
do  qual  se  servia  nestes  negócios  de  in- 
terpretar por  saber  muitas  linguas.»  Ibi- 
dem, liv.  7,  cap.  6. 

Sc  havia  ferro  ontào,  frrvSa  apenas 
Para  ajudar  a  fértil  NaturM». 
Pouca  cultura  aos  Íncolas  pedia 
A  Madre  Torra ;  sÃbia  Providencia 
O  trabalho  mandou  ;  rouba  com  illc 
Aos  braços  dos  mortacs  ócio  indolente. 

1.   A.  DB  KACCDO,  A  SATUBSZA,  Cant.  2. 


SERV 


SERV 


SERV 


507 


SERVIÇAL,  aJj.  2  gen.  Que  gosta  de 
prestar  serviços. 

—  Capaz,  em  estado  de  poder  servir, 
ser  útil;  fallando  das  cousas  ou  pessoas, 
que  não  estào  velhas,  doentes  ou  desba- 
ratadas. 

—  Que  se  põe  a  servir  por  soldada. 
SERVIÇALMENTE,  adv.    (De    serviçal, 

e  o  suffixo  «mente»).  De  um  modo  servi- 
çal, prestavel. 

SERVICIAL,  s.  m.  Homem  que  ganha 
a  viJa  a  servir.  Vid.   Serviçal. 

SERVICIO,  A,  adj.  Termo  antiquado. 
Serviçal. 

SERVIÇO,  s.  Tíi.  (Do  latim  servitium). 
O  estado  de  quem  é  servo. 

—  Utilidade,  proveito. —  «E  vista  per 
Nós  a  dita  Lei,  declarando  em  ella  Dize- 
mos, que  pelos  ditos  maravidis  se  enten- 
da a  couthia,  que  os  ditos  Vassallos  de 
Nós  ham,  por  nos  servirem  no  tempo  da 
guerra,  ou  em  alguns  outros  mesteres, 
em  que  nos  compre  d'aver  delles  serviço : 
e  bem  assi  nas  terras  da  Coroa  do  Re- 
gno,  que  alguns  de  Xós  teem  de  juro,  e 
de  herdade.»  Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit. 
63 ,  §  2.  —  «E  por  tanto  a  pessoa  que 
daqni  em  diante  for  de  tal  presumpoaõ, 
que  conhecendo  os  Divinos  vasos,  e  o  uso 
delles,  os  mudar  a  seu  próprio  serviço, 
ou  08  tomar  para  comer,  ou  beber  nel- 
les :  será  condenado  a  privação  do  grão, 
ou  oflScio  que  tiver,  de  tal  modo,  que 
sendo  Secular  fique  sogeito  a  perpetua 
exc(3munhaõ,  e  sendo  Religioso  tique  de- 
posto de  seu  officio.»  Monarchia  Lusitana, 
liv.  6,  cap.  27.  —  a  A  que  a  vós  parecer 
peior  de  todas  estas,  que  trago  em  mi- 
nha companhia,  disse  o  das  Donzellas, 
essa  tomo  por  valadora,  e  em  seu  servi- 
ço quero  fazer  esta  justa  e  mostrar-vos, 
que  pêra  mim  qualquer  favor  basta.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  124. —  «O  cavalleiro  pediu 
á  rainha,  pois  el-rei  os  desfavorecia,  que 
ella  os  amparasse  e  mandasse  ás  damas 
lhe  nào  fizessem  tamanho  aggravo,  que 
promettiam  d'alli  por  diante  gastar  o 
tempo  e  offerecer  suas  forças  em  serviço 
delias  e  de  todas  as  donzellas.»  Ibidem, 
cap.  129. 

Estou  na  pouzada 
a  meu  prol,  e  a  meu  servido. 
Tomae  ora  a  capa  e  espada. 
Para  que? 

ASTOsio  PBESTES,  Arios ,  pag.  395. 

—  Fazer  serviços;  prestal-os  a  alguém. 
—  «Que  lhes  façam  serviço  os  homens 
dos  Bispos,  e  das  Igrejas  Catradaaes,  e 
das  outras,  e  dos  MoesteLros,  e  dos  Clé- 
rigos, e  esses  Clérigos  meesmos,  nos 
quaees  nom  ham  nenhum  direito  pêra 
fazer-lhes  serviço,  assy  como  a  elles  praz; 
nem  solamente  esto  nom  veda  ElRey, 
mais  sofre,  que  estas  servidoòes  a  taees 
adugam  em   nas   possissões,   e  em  os  ho- 


mens, das  Igrejas,  e  nom  o  defende.» 
Ord.  Affons.,  liv.  2,  tit.  1,  art.  24. — 
oE  pêra  mais  honrarem  a  festa  estive- 
ram alli  alguns  dias  Floriano  do  Deser- 
to e  o  princiíje  Floramào,  o  gigante  Dra- 
musiando,  Albanis  de  Frisa,  Roramonte, 
o  príncipe  Graeiano,  e  Beroldo  príncipe 
d'Hespan:ia,  Germào  d'Orlians,  D.  Ro- 
snei, Belisarte  e  Pompides,  que  todos  es- 
tes vieram  com  Vasilia,  por  fazer  servi- 
ço ao  imperador,  que  os  mais  eram  idos 
em  companhia  de  Polendos  e  guarda  de 
Targiana. »  Francisco  de  Moraes,  Palmei- 
rim d'Inglaterra,  cap.  9õ.  —  «Fez  logo 
a  mim  muito  serviço,  disse  o  imperador, 
pois  por  elle  ganhei  sua  amizade  :  e  pe- 
ço-vos  que  lhe  beijeis  por  mim  as  màos; 
e  dizei-lhe  que  a  minha  tenha  por  certa 
pêra  sempre  nas  cousas  de  seu  gosto.  O 
embaixador  disse  que  assim  o  faria,  e 
com  isso  se  despediu  mal  contente  do  que 
negociara,  como  quem  naquelle  trato  tra- 
zia engano  dissimulado.  O  imperador  fi- 
cou praticando  com  os  seus  no  mesmo  ca- 
so, contente  do  caminho  que  se  nelle 
abria,  e  muito  mais  contente  de  Mira- 
guarda,  porque  de  tudo  era  causa.»  Ibi- 
dem, cap.  112.  —  oGanhar-vos  a  vontade 
ou  ganhar-vos  as  vontades,  isto  é  o  que 
queria;  e  por  isso  trabalharei  com  fazer- 
vos  mil  serviços,  e  se  nào  me  aproveitar, 
tomarei  a  mim  a  culpa,  pois  sou  tào  mofi- 
no, que  a  quem  mereço  algum  bem,  o 
nega  por  galardão.»  Ibidem,  cap.  116. 
—  (lEu  a  acceito,  porque  sei  que  nella 
vos  hei  ainda  de  fazer  muito  serviço  em 
cousas,  que  o  tempo  descobrirá  e  que  ain- 
da estào  por  vir.»  Ibidem,  cap.  12. — 
«As  damas  praticavam  antre  si  a  razão 
porque  as  donzellas  quereriam  entregar- 
se  antes  a  outro  que  ao  cavalleiro,  sendo 
tão  extremado,  e  que  lhe  tanto  serviço 
fizera.»  Ibidem,  cap.  129. 


me  dizei  por  meu  amor, 
pcra  ver  o  que  aprendeis. 
Nào  haja  n'is30  embaraço 
se  lhe  algum  serviço  faço. 

ASTOKio  PRESTES,  ACTOS,  pag.  327. 


Nào  SC  atenta  cá  por  isso : 
fallae  embora  assentado. 
Ora  seja  eu  perdoado, 
pois  mella  faz  tal  serviço. 
iBiBXM,  pag.  141. 

—  «Donde  se  colhe,  que  naõ  defrauda- 
rão a  Sua  Magestade  mais  que  em  oiten- 
ta e  três  mil  cruzados,  pondo  em  pés  de 
verdade,  que  lhe  fizeraõ  grande  serviço, 
para  que  se  naõ  perdesse  de  todo  a  ar- 
rendaçaõ  dos  dizimes,  visto  naõ  haver 
quem  desse  por  elles  mais.»  Arte  de  fur- 
tar, cap.   10. 

—  A  obra,  ministério  do  servo,  ou  es- 
cravo ;  as  obras  ou  exercícios  de  officiaes 
públicos,  ministros,  etc. —  «Que  elle  dito 
Almirante  se  possa  servir  delles  em  suas 


merchandias,  e  enviallos  a  Frandes,  ou 
a  Genoa,  ou  a  algumas  outras  partes 
com  ellas ;  e  se  per  ventura  acontecesse, 
que  mandando  o  dito  Almirante  a  algu- 
ma parte,  em  tanto  comprisse  ho  nosso 
serviço  delles,  que  logo  o  dito  Almiran- 
te envie  por  eUes  hu  quer  que  sejam,  que 
venham  pêra  nos  servirem.»  Ord.  Affons., 
liv.  1,  tit.  54,  §  12. 


Jfas  nào  to  deleitarás 
Nas  offertas  temporaes, 
Tu  as  tiras,  tu  as  dás. 
Senhor,  nào  te  alegrarás 
Com  estes  serviços  taes. 

GIL  VICEKTE,  OBEAS  VABIAS. 


E  assi  pagam  dessa  ponta 
Bom  trabalho,  Bom  cuidado 
Bom  serviço. 

Assi  escusaes, 
sem  petição. 

ASTOSIO  PRESTES,  AUTOS,  pag;  75. 

lho  causa  o  fraco  serviço, 
que  50  o  cuida  apela  d'is30 
pcra  o  gosto  com  que  o  manda. 
IBIDEM,  pag.  155. 

—  «Isto  se  enxerga  mui  bem  na  pouca 
lembrança  que  tendes  das  obi-as  e  servi- 
ços do  snr.  Dragonalte,  que  aqui  está; 
que  sendo  tanto  pêra  lembrar,  os  pondes 
em  esquecimento,  e  não  vos  lembra  que 
sendo  tal  pessoa,  tamanho  príncipe,  tão 
singular  cavalleiro,  e  da  massa  dos  mais 
famosos  e  melhores  deste  tempo,  engeita 
sua  companhia,  conversação  e  amizade 
por  vos  servir,  oflerecendo-se  a  tantos 
perigos  conformes  a  vossa  tenção.»  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  130.  — «A  senhora  Miragiiarda  não 
pode  ser  que  com  tamanho  serviço  não 
cuide,  que  vos  deve  alguma  cousa,  pois 
03  passados  lho  não  fizeram  nunca  cui- 
dar. Florendos  tirou  o  elmo  e  abraçou  a 
Armelio  com  o  amor  que  lhe  sempre  ti- 
vera, e  mandou  pôr  o  escudo  do  vulto  de 
Miraguarda  no  lugar  onde  d'antes  soia 
estar  e  o  de  Targiana  ao  pé,  foi  muito 
gi-ave  de  soffrer  no  coração  de  Albavzar.» 
Ibidem,  cap.  108.  —  «E  cõ  tudo  advirta 
cada  hum  dos  Bispos,  que  não  cõsagre 
Igi-eja  sem  primeiro  receber  património 
para  o  serviço  delia,  confirmado  por  doa- 
ção em  escripto,  porque  não  he  culpa  le- 
ve a  temeridade  de  consagrar  huma  Igre- 
ja sem  cera,  e  sem  renda  para  sustenta- 
ção dos  que  haõ  de  servir  nella,  como  se 
fora  huma  casa  particular.»  Monarchia 
Lusitana,  liv.  6,  cap.  15.  — Nestas  trin- 
ta velas  mandou  el  Rei  três  mU,  e  qui- 
nhentos homens  de  guerra,  em  que  en- 
trauam  muitos  seus  criados,  afora  mari- 
nheiros, e  outra  gente  de  seruiço.»  Da- 
mião de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  1,  cap.  51. —  «Concluido  este  ne- 
gocio, determinou  el  Rei  de  mandar  por 
gouemador  a  índia   Diogo  lopez  de  se- 


508 


SERV 


SERV 


SERV 


queira  lioiucin  d(i  ([uo  muito  uontiaua,  o 
que  ocupara  ja  cm  muitas  cousas  lii;  hcu 
seruiço,  ile  (|uc  alf^uman  licam  aiqjontadíis 
ne.sta  (Jlirouica,  pcra  a  qual  viaí,'um  man- 
dou aparolliar  dc.x  uuob  f^ro.sHas  com  que 
partiu  dl!  Lisljoa  aos  vinte,  o  Beis  dias 
do  Mai-(;o  destauuo  do  uiil,  o  quinhentos, 
c  dozoito.»  Ibidem,  part.  4,  cap.  31. — 
«E  foy  Holto  fazendo  a  olRey  concerto,  o 
capitulayjío  de  Boinpro  sor  a  sou  serui- 
ço, p(u-quo  ao  tal  tempo  ello  cstaua  mal, 
o  (ira  imif,'0  de  Moleyxeque  Key  de  Fez, 
o  tinlia  com  ello  f^uora,  o  Babia  que  el 
Rey  continuadamente  lha  mandaria  fazer 
como  fazia."  (lareia  do  Rezende,  Chro- 
nica  de  D.  João  II,  cap.  68.  —  «Porque 
o  mesmo  he  entrar  hum  homem  Eccle- 
siastlco,  ou  secular  no  serviço  do  Tribu- 
nal da  Santa  Inquisi(;aõ,  quo  vestir-sc 
logo  de  huma  composi(,'aõ  do  acyocns, 
palaviMS,  c  costumes,  (juo  fazemos  pou- 
co, os  que  03  vemos,  quando  naõ  lhes 
falíamos  do  joelhos.»  Arte  de  furtar,  ca- 
pitulo 40. 

Com  isto  quo  oste  Turco  aqui  tem  feito, 
(Ularo  âignal  do  seu  feroz  esprito) 
T;iiito  90  iicreditou,  o  tão  accoito 
Sc  fez  auto  Uaudur,  que  do  inliuito 
Seu  exercito  foi  (lor  ello  eleito 
(Como  u'outro  lofíar  vos  snril  dito) 
Por  Capitão  Roral,  c  bum  lio  (pie  ande 
Traz  o  grande  serviço  a  mercê  grande. 

Fll.VNClSCO  n'A.!)DRADK,   PKIMEIRO  CEUCO   DE   DIU, 

caut.  2,  est.  42. 

—  «Pelo  que  em  quanto  viverdes  não 
deveis  de  temer  cousa  alguma,  mas  an- 
tes esporai  em  Nosso  Senhor,  que  vos 
ajudará,  como  agoi"a  fez  na  defonsaõ,  e 
batalha  de  Diu,  em  cuja  victoria  vós  ten- 
des muito  quo  lhe  louvar,  puis  vos  fez 
instrumento  do  tanto  serviço  sou,  e  dcl 
Rei  meu  Senhor,  e  de  tanta  honra  vossa, 
o  do  todos  os  Portuguezes,  assim  dos  que 
se  acharão  comvosco,  como  dos  que  csti- 
vórão  ausentes.»  Jacintho  Freire  d'An- 
drade,  Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv. 
4.  —  «  Mostrem-se-lhes  por  experiência 
os  fruotos  de  sua  condi(;ào,  faltando-lhes 
talvez  com  o  serviço  necessário;  porque 
se  com  esto  garrote  não  tornam  om  si, 
são  por  outro  modo  do  diflicultoso  remé- 
dio.»  Francisco  Jlanool  do  Mello,  Carta 
de  guia  de  casados,  cap.  7. 

—  Bom  offlcio,  aci,'ão  útil  que  se  faz  o 
pratica. —  «Florendos  caminhou  alguns 
dias  em  conversação  do  Albayzar  e  Flo- 
ramão,  que  levava  em  sua  vontade  che- 
gar té  o  castello  d'Almourol  por  vòr  a 
maneira,  com  quo  Miraguarda  recebia  os 
serviços  do  Florondos.  »  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  d'Iuglaterra,  cap,  103. 
—  «O  Infante  vendo  suas  boas  vontades, 
o  conhecendo  delles  serem  homens  para 
qualquer  honrado  feito  pella  experiência 
que  tinlia  de  seus  serviços,  mandoulhe 
armar  hum  navio,  a  que  chamava  Bar- 
cha  naquelle  tempo.»  Barros,  Década  1, 


liv.  1,  cap.  2.  —  «Por  baixo  ao  longo  da 
aba  do  forro  deste  tecto  ostaò  escritos 
ostCB  quatro  versos  nos  quatro  lados  das 
paredes  da  Casa  com  letras  palmares  de 
ouro : 


Pois  com  esforço,  n  leacB 
Servir/»  forào  canhados 
Com  estes,  e  outros  tacs 
Devem  do  Bor  conaurvadoB.» 

8KVKU1H   Di;  KAOIA,  KOXICIAH  DU   l'ÚBrUOAI., 

Disc.  3,  cap.  18. 


Tinha  liuro  cm  quo  screuia 
Keruiçns,  mcre.^ci  mentos, 
e  nunca  distribuhia 
B(Mn  ver  a  <piein  mais  dcuia, 
e  os  mais  justos,  o  isentos  ; 
niuytas  vezes  deu  ollicios, 
comeuJas,  e  beiíeficios 
a  homens  muy  descuidados, 
e  dellc  bem  alongados, 
por  serem  bons  o  seruicios. 

QABCIA  DE   UBZENDK,  UISCBLLIHBA. 

—  aE  nesta  ordem  entrou  na  sala,  e 
foy  assi  ate  chegar  ao  estrado  onde  csta- 
ua el  Rey,  o  depois  de  feytas  suas  mesu- 
ras 03  officiaes  tizerão  calar  a  casa,  e  ca- 
lada o  chançarel  mor  loam  Teixeyra  fez 
huma  arenga  cm  lingoagcm  dos  louuores 
dei  Rey,  e  dos  grandes  merecimentos  do 
iMar([uez,  e  seus  nniyto  assinalados,  e 
Icaiis  serviços».  Idem,  Chronica  de  D. 
João  II,  cap.  7'J. 

Tantas  constellaçòes  d'Estrella3  tantas. 
Ou  deo-Ihe  nome  fabuloso  Egipto, 
Ou  deo-Ihe  fama  a  fírecia  aduladora. 
Eternizando  os  ínclitos  «erriVos 
Do  Touro  agricultor,  Capro  fecundo. 

J.  A.  Di:  MACEDO,  A  NATUREZA,  Cant.  1. 

—  Os  vasos,  os  apparelhos  que  ser- 
vem. —  oFez  a  ponte  noua  de  coimbrã 
sobclo  rio  mondego  com  quo  ennobreceo 
muito  a  cidade.  Fez  de  nouo  os  paços  da 
ribeira  de  Muja  pnr  alli  auor  muita  caça, 
e  montaria  que  a  naquella  comarca,  nos 
quais  mandou  poer  todo  o  seruiço  neces- 
sário de  mesa,  cozinha,  camas,  leitos, 
roupa  de  linho  para  os  que  consigo  leua- 
ua.»  Damião  do  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  4,  cap.  85.  —  «Em  azeite, 
e  cera  pêra  alumiar,  e  serviço  da  casa, 
seis  leques,  e  quarenta  e  dous  azares;  e 
outros  seis,  e  trcs  azares  em  cinco  tochas, 
que  ardem  no  Paço,  c  mantimento  de  ou- 
tros tantos  escravos,  que  as  tom  na  mão.» 
Barros,  Década  2,  liv.  10,  cap.  7. 

—  O  acto  de  servir.  —  «Em  que  an- 
daõ  gastando  o  que  ham,  o  leixam  por 
oUo  d'aproveitar  seus  beens,  o  quo  nom 
ho  nosso  serviço,  e  a  nós  compro  fazer- 
mos em  oUas  alguãs  Hordenaçoões,  per 
quo  taiios  demandas  se  possaõ  refrear,  e 
as  partes  saibam  o  que  ham  de  deman- 
dar, o  defender,  e  os  Julgadores  como 
em  tal  caso  ham  de  julgar:  Porem  nós 
Dom  Joham  pela  graçft  do  DEDS  Rey 
do   i'ortugal,    etc,  com  acordo  do  nosso 


Conselho,  e  da  nossa  Corte  £azemoB  cer- 
tos (Japitulos  com  suas  dÍHtiuçooei:B  adian- 
te oscriptas,  quo  taacs  boiii.»  Ord.  Af- 
fons.,  liv.  4,  tit.  1,  §  1.  —  «E  maiidedes 
que  ajaõ  os  Bergcnte»  dos  Cleriguos  pêra 
vosso  serviço,  e  assi  os  ajaõ  dos  mestei- 
raes,  que  vivem  per  «eus  mcstcre»;  que 
lia  hy  tal  Lavrador,  quo  naS  tem  mais 
de  bum  iilho,  c  tomam-lho,  c  na5  pode 
lavrar,  nem  criar,  o  que  nSo  he  Teaw 
serviço,  o  he  dapno  do  povo.»  Ibidem, 
tit.  2'J,  §  17.  —  fl)'esta  maneira  Flo- 
riano  ficou  por  algum  temjK»  na  corte 
do  gram  turco  em  serviço  de  Targiana, 
a  quem  elle  não  j)arecia  mal,  nem  ella  a 
elle  tão  pouco:  e  dizem  que  onde  a«  von- 
tades b3o  conformes  etc.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra.  cap.  80, 
—  «E  para  seu  engano  havt-r  melhor  fim, 
levou  comsigo  Arlança  tiUia  da  nieama 
Colambar,  donzella  de  poucos  dias  e 
bons  costumes,  acompanhada  de  outras 
donzellas  pêra  seu  serviço,  e  segundo  o 
modo  que  se  isto  ordenou  e  a  confiança 
que  Colambar  tem  neste  Alfemao,  afir- 
mam qu'i  o  cavalleiro  do  Salvagem  Hera 
aqui  trazido.»  Ibidem,  cap.  117. —  «Nas 
cousas  particulares  vos  não  Calo,  porque 
El  Rey  meu  Senhor  vos  escreve  o  que  ha 
p(U'  seu  serviço,  em  reposta  da  carta  ge- 
ral que  lhe  escrevestes,  que  vinha  em 
muito  bom  estylo,  e  em  muito  boa  or- 
dem. Escrita  em  Lisboa  a  22.  de  Outu- 
bro de  1547.»  Diogo  de  Couto,  Década 
6,  liv.  6,  cap.  8.  —  «Os  grandes  lhe 
mandàraèi  dizer  que  elles  tinhaS  Rey,  e 
Principe  herdeiro  de  direito,  a  quem  jà 
tinhão  dado  obediência,  e  quo  em  seu 
serviço,,  e  em  defensão  de  eeu  Reino  ha- 
viaõ  todos  de  morrer.  Com  esta  resposta 
se  foy  o  Madunc  chegando  mais  à  Cida- 
de, e  assentou  seu  exercito  à  vista  delia, 
ticandolho  no  meyo  huma  alagoa.»  Ibi- 
dem, liv.  9,  cap.  16.  —  «E  disto  t»ido 
ho  tanta  a  abundância  quo  se  o  banque- 
te he  de  molheres,  como  muytas  vezes  se 
acontece,  também  o  serviço  pela  mesma 
maneyra  he  de  molheres,  «  de  moças  vir- 
gens muyto  fermosas,  e  muyto  ric;imente 
vestidas,  cm  tanto  que  por  serem  ellas 
estas,  se  c.asaõ  aquy  com  ellaa  muytas 
vezes  muytos  homens  nobres.»  Fernão 
MeTides  Pinto,  Peregrinações,  cap.  106. 

—  Serventia. 

—  Tributo. 

—  Donativo  do  vassallo,  dom  gratui- 
to, grado. 

—  Espécie  de  tributo,  ou  ónus  de  ser- 
vir pessoalmente,  ou  coui  dinheiro  para 
remir-se  do  pessoal. 

—  OflSciosidade,   obsequio  aos  amigos. 

—  Ftça  de  serviço.  — «E  como  era 
homem  grato,  tanto  que  soube  que  Af- 
fonso  d'Alboquerque  era  vindo  de  Mal.i- 
ca,  l.\6  mandou  algum;w  peças  do  serui- 
ço: era  que  entrou  hum  .assento  forrado 
de  ouro  ao  moio  de  tripeça,  que  lhe  el- 
Rey   de   Xarsinga   deu,  quando  so  delle 


SERV 


SERV 


SERV 


509 


espediu  por  vir  herdar,  e  sempre  foi  gran- 
de amigo  de  Fortiigueses  emqaanto  vi- 
uoo.»  Barros,  Década  2,  liv.  5,  cap.  8. 
— •  Feito  serviço  de  din/ieiro.  —  «E 
neste  mesmo  tempo  fez  o  Príncipe  Cor- 
tes na  villa  de  Montemor  o  nouo,  onde 
pollos  pouoá  pêra  estas  necessidades  da 
guerra  lhe  foy  feito  seruiço  de  diniiey- 
ro.»  Garcia  de  Rezende,  Chronica  de  D. 
João  II,  cap.  16. 

—  Presente,  mimo. 

—  Serviço  de  villão;  o  que  se  faz  por 
mero  intei-esse,  e  não  com  generosidade. 

—  Serviço  militar.  —  «Aqui  veiu  a 
mãe  das  duas  moças  em  que  fallei,  tra- 
zendo-as  em  sua  companhia.  Fallei-lhes 
na  capella,  disse-lhes  o  que  devia,  e  des- 
pedi-as  com  brevidade  e  contentes,  por- 
que Uies  prometti  que  seria  soldado  um 
irmão  de  quem  justamente  viviam  aggra- 
vadas,  e  com  effeito  está  no  serviço  mi- 
litar.» Bispo  do  Grão  Pará,  Memorias, 
publicadas  por  Camillo  Castello  Branco, 
pag.  195. 

—  Serviço  de  Deus;  o  seu  culto,  a 
pratica  da  lei  moral  christã.  —  «Porem 
por  serviço  de  DEOS,  e  prol,  e  honra 
nossa,  e  dos  nossos  Regnos  e  senhorio,  e 
de  todo  o  povoo  delles,  e  por  bem  e  pro- 
veito comunal,  que  creemos  e  pensamos 
que  desto  se  segue,  avudo  nosso  Conse- 
lho e  deliberaçam  comprida  com  os  do 
nosso  Conselho  e  Desembargo,  statuimos, 
e  estabelecemos,  e  hordenamos,  e  por  Ley 
e  Hordenaçom  poemos,  e  mandamos,  e 
defendemos.»  Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit.  2, 
cap.  6.  —  «Aqui  acabaram  de  morrer 
em  serviço  de  Deos,  e  d'ElRey  quatro 
filhos  de  Duarte  Galvão,  Jorge  Galvão, 
Manoel  Galvão,  Ruy  Galvão,  e  este  es- 
forçado Cavalleiro  Simão  de  Sousa  Gal- 
vão, que  veio  ter  o  fira  tão  peculiar  a 
elle.»  Diogo  de  Couto,  Década  4,  liv.  4, 
cap.  7.  —  «Depois  destas  cousas  assi  fey- 
tas,  e  acabadas  com  muyto  seruiço  de 
Deos,  e  muyta  honra,  e  grande  louuor 
dei  Rey,  ordenou  o  dito  Dom  Manoel 
com  o  Capitam,  que  os  Frades,  e  a  ou- 
tra gente  fossem  com  a  embaixada  a  el 
Rey  seu  senhor,  os  quaes  se  fizeram  logo 
prestes  com  muyta  diligencia.»  Garcia 
de  Rezende,  Chronica  de  D.  João  II,  cap. 
157. —  «Exercitando  as  obras  de  Miseri- 
córdia com  alegria :  solícitos,  e  seruentes 
no  espirito  em  todo  seruiço  de  Deos,  per- 
sistindo em  oraçam  com  muyta  instan- 
cia :  pacientes  nas  tribulações :  alegres 
com  a  esperança  da  coroa,  bendizendo  a 
quem  vos  mal  diz,  e  persegue :  e  a  nin- 
guém dando  mal  por  mal,  nem  vos  vin- 
gando. »  Frei  Bartholomeu  dos  Martyres, 
Catecismo  da  doutrina  christã.  —  «Este 
breue  coroUario  pus  a  qui  de  sua  vida, 
pêra  que  has  molheres,  que  andaõ  meti- 
das nas  vaidades,  e  dilicias  deste  mun- 
do, trabalhem  pola  imitarem,  e  acaba- 
rem no  seruiço  de  Deos,  quomo  ella  fez, 
ha  qual  foi  a  Castella  com  dom  Emanuel, 


por  ser  ainda  de  idade,  que  requeria  cria- 
ção de  ama,  quando  ho  la  mandarão   em 
lugixr  de  seu  irmão  dom  Diogo  Duque  de 
Viseu.»    Damião   de   Góes,    Chronica  de 
D.  Manoel,    part.    1,  cap.  5.  —  «E   cada 
hum  folgue  do  emprestar  aquillo  que  boa- 
mente lhe   couber   à   sua  parte,    pois  he 
pêra  tanto  serviço  de  Deos,   e  de  S.  A. 
e  pêra  segurança  desta  terra,  e  de   vos- 
sas mulheres,  e  filhos :  pêra  o  que    espe- 
ro que  vos  não  falte  o  favor,  e  ajuda  de 
nosso  Senhor  em  que  todos  cremos,  e  de- 
vemos confiar,  que  nos  dará  vitoria  pêra 
gloria,  e  louvor  de  seu  santo  Nome. »  Dio- 
go de  Couto,  Década  6,  liv.  10,  cap.  5. — 
«Os  officiaes  da  nao,   e  Capitão  começa- 
rão a  entender  nella  pêra  em  Septembro 
tornarem  pêra   a    índia,   como   fizerào,  e 
nosso  Senhor  os  leuou  em  paz ;  e  nos  por 
hora  a  deyxaremos :    concluyndo    sò  com 
dizer,  que  quando  lá  chegou  foy  era  es- 
tado, que  não  seruio  mais  pêra  cousa  al- 
guma :  nem   era    muyto,    pois   em    fim    o 
auía  ter,  como  tem  as  mais  cousas  da  vi- 
da, tirando  aquellas  que  vão  fundadas  no 
amor,  e  seruiço   do    Senhor    Deos.»    Fr. 
Gaspar  de   S.  Bernardino,  Itinerário  da 
índia,   cap.  4.  —  «Este  Senhor  nos  con- 
ceda perseverãça  fiel  em  seu   santo  ser- 
viço até  a  morte,  para   que    despois    nos 
conceda  a  coroa  da  vida  eterna,  pois  elle 
mesmo    a    promete,    aos    que  persevera- 
rem.» Padre  Manoel   Bernardes,  Exercí- 
cios espirituaes,  pag.  19. — ^ «Pregai  con- 
tinuamente, e  todas  quantas  vezes  poder 
ser :    porque   o    fruyto   das  pregações  de 
hum    bem    vniuersal    de   grande  seruiço 
de  Deos,  e  proueito  das  almas  e  guardai- 
uos  muyto  de   pregar    cousas  duuidosas, 
nem    difficuldades    de    doutores :    seja    a 
vossa  doutrina  clara,  recebida  e   moral.» 
Lucena,    Vida   de    S.    Francisco  Xavier, 
liv.  6,    cap.    14.  —  «Em    summa,    digo, 
que  estes  dois  annos  e  meio  se  tem  obra- 
do muito  em  serviço  de  Deus,  e  de  sua 
magestade,  e  se  têm  lançado    fundamen- 
tos a  muito  maiores  obras,  e  tudo  se  de- 
ve á  disposição  e  execução  de  D,  Pedro, 
sem  a  qual  nenhuma  coisa  se  pudera  con- 
seguir, o  muito  menos  tantas  e  tão  diffi- 
cultosas  e  de  tanta  importância.»    Padre 
António  Vieira,  Cartas,   n.°  19. 
—  Estar  ao  serviço  d'alguem. 


Aqui. 


Co 'a  noiva? 

Si, 
esta  é  a  porta  •,  vós  vos  hi, 
que  eu  me  vou,  e  porque  cllc 
uào  estava  a  vosso  serviço, 
outro  dia  o  vereis  vêr 
quando  estiver 
co'a  vontade  mais  deviso. 

ANTÓNIO  PKESTEs,  Auros,  pag.   369. 

—  A  serviço  d'el-rei. — •  «D'outra  par- 
te contendia  quanto  importava  ao  servi- 
ço d'ElRey  tomar  aquella  Cidade,  e  qua- 
manho  descrédito   era    do    nome  que  os 


Portuguezes  tinham  uaquellas  partes,  lei- 
xar  aquclle  t\'ranno  sem  castigo  dos  dam- 
nos  que  delle  tinham  recebido.»  João  de 
Barros,  Década  2,    liv.   6,  cap.  5.  —  «E 
per  estos  catures  mandou    Affonso   d'Al- 
boquerque  Provisão,    em    que    havia   por 
serviço  d'ElRey  que  Manoel  de  la  Cer- 
da   servisse    de    Capilão    da   fortaleza,  e 
Manuel  de  Sousa  de  Alcaide  mór,  e  Dio- 
ho  Fernandes  de  Beja  ficasse  por  Capi- 
tão da  Armada  que  Manuel  de  la  Cerda 
servia.»    Ibidem,  liv.   7,   cap.   1.  —  «As 
velas  eraõ  as  seguintes,  se.  seis  nãos  gros- 
sas em  que  hiam  por  capitaens,   João   da 
noua,  esta  era  a  capitaina  por  o  Vicerei 
ir  nella,  das    outras   o   eram    George    de 
Mello  Pereira,    Nuno    Vaz    pereira,    que 
hauia  pouco  que  chegara  de  Zciland,  on- 
de o  mandara   o    Vicerei,    a   cousas  que 
cumpriam  a  seruiço  dei  Rei.»  Damião  de 
Góes,    Chronica   de  D.  Manoel,  part.    2, 
cap.  38.  —  «Eu  acompanhei  os  embaixa- 
dores, como  he  costume  da  corte  Roma- 
na, e  depois  os  fui  visitar,  e  lhes  oíFereci 
toda  minha  ajuda,  em  nome  de  vossa  Ma- 
gestade, ao  serviço  de  seu  sereníssimo  Rei, 
em  todo  o  que  elles   ouuessem   mister  de 
vossa  Magestade,  a  qual  cousa  lhe  foi  mui- 
to agradável  e  entre  outras  cousas  que  di- 
xerão  de  aeu  Rei,  de  nenhuma  cousa  fol- 
gaua  tanto  como  de  ser  conjunto  per  li- 
nha de  parentesco  a  vossa  Magestade.» 
Ibidem,   part.  3,    cap.   57.  —  «De   como 
esto  dom  Aurrique  veo  ter   a   estas    par- 
tes de  Hispanha  contam  os   historiadores 
per  muitas  maneiras,  mas  a   verdade   he 
que  passando  elle  em  huma  armada   que 
hia  de  Holanda,  e   Zeilanda   a  conquista 
de  ultramar  veo   ter   a    Crunha,    e  ficou 
no   seruiço   dei    Rei   dom    Afonso.»   Ibi- 
dem, part.  4,  cap.   72.  —  «Os    quaes    to- 
dos escaparam   milagrosamente,    hos    de- 
mais foram  mortos  ou  captiuos,  e  um  fi- 
lho  de    Sidehieabentafuf,    se    saluou  nas 
ancas  de  hum  cavallo  dos  caualeiros   de 
seu  pai,  e  assi  acabou  o  esforçado  caua- 
leiro  Sidehieabentatuf  seus  dias  em    ser- 
uiço dei   Rei   dom   Emanuel,    com    tanta 
lealdade,  quanta  se  de  um  tal  caualleiro 
podia  esperar.»  Ibidem,  part.  4,  cap.  64. 
—  «E  sendo  elles  na  dita  Villa  da  Gra- 
ciosa, veyo  sobre  elles  Moleyxeque  Rey 
de  Fez  com  todo  seu  poder,  e  elles  pare- 
cendolhe   que  poUo  que   cumpria   a   suas 
honras,  e  a  seruiço  dei  Rey  não  deuiam 
de  deixar  o  dito  cerco,  ficaram  lá,  e  res- 
ponderam a*  el  Rey   por  escripto. »    Gar- 
cia de  Rezende,  Chronica  de  D.   João  II, 
cap.    81.  —  «E    porque    Pêro    de    Faria 
quando  piarty  de  Malaca  me    dera    huma 
carta  pai-a  elle,  em  que  lhe  pedia  que  se 
lá  me  fosse  necessário  o   seu  favor   para 
o  negocio  a  que  me  mandava  mo  não  ne- 
gasse, assi  por  ser  serviço  dei    Rey,  co- 
mo por  lhe  fazer  a  elle  mercê,  tanto  que 
cheguey   a   martavão,   onde   o   achey    de 
morada,  lhe  dey  a  carta.»   Fernão  Men- 
des Pinto,   Peregrinações,   cap,   153.  — 


510 


SERV 


Sf:HV 


SERV 


tO  quo  sabemos,  i)i>r  hum  estromento 
publico,  que  hii  na  (Jiilado  ílocliiin  lic, 
que  amíaudo  bum  Capitil  na  ribeira,  lan- 
çando Naiiios  aij  mar,  yitkIo  que  o  Elc- 
pbantc  quo  o-i  Ijotaua,  amiaua  ya  cauHa- 
clo,  se  fov  a  ello;  o  llie  ilisne,  irmão  quos 
me  lançar  jior  seruiço  dei  lioy  de  l^or- 
tugal,  liuma  Galoota  ao  mar?»  Fr.  Gas- 
par de  S.  Bernardino,  Itinerário  da  ín- 
dia, cap.  15.  —  «Eu  o  conhecia  pouco 
mais  que  de  vista  e  fama :  é  tant )  para 
tudo  o  demais,  como  para  soldado:  mui- 
to chriatão,  muito  executivo,  muito  ami- 
go da  justiça  e  da  razão,  muito  zeloso  do 
serviço  do  vossa  magestade,  e  observa- 
dor das  suas  rcaes  ordens,  o  sobre  tudo 
muito  dosintcressailo,  e  quo  entende  mui 
bem  toda-í  as  matérias,  posto  que  não  fal- 
le  em  verso.»  Padre  António  Vieira,  Car- 
tas, n."  1-1. 

—  Pagar  serviços.  —  «A  outra  querer 
pagar  seruiços  com  officios  do  mar  a 
quem  nunca  entrou  nello,  e  peccados,  e 
furtos  públicos,  cometidos  sem  pejo  dos 
homens,  nora  temor  de  Deos.  Porem  por- 
que nossa  historia,  se  não  faça,  odiosa  tor- 
no a  primeira.»  Fr.  tlaspar  de  S.  Ber- 
nardino, Itinerário  da  índia,  cap.  7. 

—  Serviços  sanhonneíros ;  serviços  por 
S.  João,  ou  em  cada  anuo.  Vid.  Sanhoa- 
neiro. 

—  Vaso  para  nVlle  se  evacuarem  os 
excrementos. 

—  No  Jogo  da  pella,  é  o  ultimo  dos 
pai'ceiros  que  terve  a  polia. 

—  Adagio  : 

—  Não  ha  maior  serviço,  quo  o  bom 
serviço. 

SERVIDÃO,  s.  /.  (Do  latim  servitudo). 
Captiveiro,  escravidão,  cm  opposição  á 
libenlado.  —  «Ficou  Daliarte  no  navio,  e 
Platir  e  Boroldo  se  tornaram  a  terra  on- 
de acharam  o  cavalleiro  do  Tigre  cerca- 
do de  todo  o  povo,  que  como  a  reparador 
de  suas  vidas  e  liberdade  o  vinham  vêr 
e  servir,  contentando-se  no  tim  de  tantos 
trabalhos,  tão  dura  tyraunia  e  servidão,  al- 
cauçal-o  por  senhor  ;  havendo  que  aquoUe 
era  assaz  galardão  da  fortuna  e  trabalho, 
em  que  d'anted  viviam :  não  crendo  que 
no  cabo  de  tantos  malles  lhe  estivesse 
guardado  tamanho  bom.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  119. 
—  «Aqui  um  povo  de  irmãos  se  uniu  pa- 
ra expulsar  o  domínio  africano;  de  um 
para  uutro  não  havia  servidão  nem  se- 
nhorio, nem  mister  de  castoUos  o  pontes 
levadiças.»  Gari-ott,  Camões,  nota  A. 

—  Serviço  civil,  militar. 

—  Termo  de  jurisprudência.  O  direito 
quo  alguma  herdade  tem  de  que  se  lhe  dè 
serventia  por  prédio,  terras  alheias,  bem 
como  de  usar  do  algumas  cousas  alheias, 
e  de  que  o  dono  softVa  esse  uso,  e  não  use 
de  seu  direito,  de  que  outr'ora  usaiúa  se 
nSo  devesse  essa  servidão. 

—  Servidão  urbana;  a  quo  prestam  as 
herdades,  ou  prédios  urbanos. 


—  Servidão  rui,lii:u;  a  que  fazem  o» 
prédios  rústicos,  campos,  granjas. 

—  Emprega-se  também  iiguradamenlc: 
A  servidão   da  yenlilidade, 

SERVIDO,  iiarticip.  yaia.  de  Servir.  A 
quem  se  fez  serviço.  —  «  Neste  tempo 
vendo  Diogo  mendez  de  vascogoncellos 
como  Afonso  dalbuquerque  dossimulaua 
com  cUe  sem  lhe  dar  auiamento  pêra  a 
viagem  de  Malaca  lhe  fallou  lembrando- 
ihc  quam  bem  o  tiuha  seruido  na  tomada 
de  Goa,  em  que  clle  com  toda  a  sua  gen- 
te, alem  da  muita  parte  que  tinhaõ  em 
todo  o  trabalho  lhe  íezera  sem  outra  ne- 
nhuma ajuda.»  Damião  de  Góes,  Chroni- 
ca  de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  Ití.  — 
«(^■eorge  butelho  o  fez  assi,  mas  em  che- 
gando foi  bom  seruido  de  hum  camello 
que  os  imigos  tomaram  ua  barcaça,  que 
estaua  assentado  na  poita  da  tranqueira 
e  em  guarda  delia,  e  da  porta  obra  de 
cem  mouriis,  com  tudo  não  deixou  de  aeom- 
mcter. »  Ibidem,  cap.  28.  —  «Nos  envia- 
mos a  vos  Simam  da  sylva  ridalgo  da 
nossa  casa  pessoa  de  que  muito  confia- 
mos, e  a  quem,  por  nos  ter  muito  bem,  e 
fielmente  seruido  temos  boa  vontade,  o 
qual  escolhemos  para  vos  enviar,  por  o 
termos  conhecido  por  esforçado,  e  de 
muita  fidelidade,  e  que  vos  dará  de  si 
boa  conta.»  Ibidem,  cap.  37.  —  «E  o  se- 
nhor dom  lorge  com  muyta  gente  da  dei 
lley  por  seu  mandado  se  foy  a  Villa  no- 
na de  Portimam,  onde  foy  de  dom  Mar- 
tinho senhor  da  Villa,  que  depois  foy 
Conde  delia,  seruido  com  muytos  gran- 
des banquetes,  e  el  Rey  esteue  em  Àluor 
alguns  dias,  que  se  leuantaua,  e  vinha  de 
huma  camará  onde  jazia  a  huma  casa  de- 
baixo.» (iarcia  de  Rezende,  Chronica  de 
D.  João  II,  cap.  210. 

—  Merecido,  ganhado  por  serviço. 

Haa  outros  como  prelados, 
que  sam  muy  obiidescidos , 
e  sam  Brâmanes  chamados, 
muy  seruidos.  c  louuadoâ, 
por  homcus  sanctos  auidoa. 

GABCIA  ■DY.  REZr.N-DE,  UISCKLLASEl . 

—  Sídc  servido;  havei  por  bem. 

—  Mesa  servida;  mesa  bom  provida, 
ou  mal  provida  de  iguarias,  apparelhos  e 
serventes. 

—  *Se  Drtt5 /wr  servido  d' isso;  se  Deus 
lhe  agradar.  —  «E  mandando  levar  em 
carros  huma  pia  de  bautizar  ao  alto  do 
monte  Corduba,  se  fez  o  carro  em  peda- 
ços chegando  às  portas  da  Igreja  de  Saõ 
Miguel,  quasi  mostrando  ser  Deos  servi- 
do que  se  exercitasse  alli  aquelle  sacra- 
mento.» Monarchia  Lusitana,  liv.  7,  cjip. 
24.  —  «Via  por  segura,  houve  batalha 
com  o  gigante  Calfurnio,  na  qual  por  ser 
assim  Deos  servido,  o  venci  e  matei :  fi- 
cando tão  maltratado  do  sua  mão,  e  ci>m 
tantas  e  tào  perigosas  feridas,  que  verda- 
deiramente eilas  deram  fim  a  meus  dias, 


HO  não  fQra  Boccorrido  por  três  filhas  do 
marqucz  Beltamor,  que  vossa  alteza  des- 
terrou de  seu  senhorio,  e  o  gigante  aquelle 
mesmo  dia  trouxera  pre.-as.»  Francisco 
de  Moraes,  Palmeirim  dlnglaterra,  cap. 
G5. 

—  St  u  iatUo  fôr  servido.  —  «  Daua- 
80  dom  loam  de  Castro  por  muy  obriga- 
do no  Sauto  Apostolo,  porque  entrando 
elle  no  Gouerno  da  índia  fora  o  Santo 
seruido  do  discobrir  na  sua  cidade  a  mys- 
teriosa  cruz,  que  foy  o  altar  do  seu  sa- 
crificio,  c  martyrio  do  que  ja  escreufimos 
largamente,  o  que  o  Gouernador  tomou 
por  celestial  pronostico  das  grandes  vito- 
rias, que  Deus  lho  auia  de  dar  por  hon- 
ra, e  gloria  da  me^ma  cruz.»  Lucena, 
Vida  de  S.  Francisco  Xavier,  liv.  C, 
cap.  4. 

—  jSe  fôr  servido ;  locução  de  que  usa- 
mos polida  e  cortezmente  em  logar  de 
—  se  quizir. 

SERVIDOR,  A,  «.  (Do  francez  servi- 
teurj.  Sorvo,  ou  serva.  —  «Que  ha  hy  tal 
pessoa,  que  por  merecer  hum  servidor, 
demanda  per  vossas  Cartas,  e  saõ-ihe  jul- 
guados  quatro,  ou  cinquo,  e  poem-nos  ao 
gnainho,  e  os  que  liaõ  de  lavrar,  e  man- 
ter estado  fieaõ  desfeitos :  e  esto  se  enten- 
da em  todo  Regno.i  Ord.  Âffons.,  liv.  4, 
tit.  29,  §  17. 

Abel  he  pastor 

Amigo  de  Doos  e  bom  tervidor, 
Por  isso  lhe  crcccm  a  olho  seus  gados. 
ou.  VICENTE,  Ai;io  djl  uistobia  de  DEL'S. 

—  «Queria  que  me  dissésseis  onde  vos 
mereci,  sendo  tanto  vosso  amigo  e  servi- 
dor, consentirdes  que  os  esquecimentos 
da  senhora  Polinarda  me  matem :  ao  me- 
nos, visse-a  lembrar  de  mim  e  fosse  pêra 
me  fazer  mal,  se  acha  que  outro  bem 
lhe  não  mereço.»  Francisco  do  Moraes, 
Palmeirim  d'Iuglaterra,  cap.  95. 

Veyo  Fauno  outro  paalor. 
Que  pcra  ai  vinha  buscallo, 
Seu  criado,  c  sfmidor, 
Comeijou  a  consolallo, 
O  conselho  era  pcor. 

BEBXABOIV  BIBEIBO,   EOLOOA   1. 

O  vosso  negro  ping*o-lo 
se  cumpre,  coieil-o,  aasao-lo; 
mas  moço  mslo  seri-idor 
é  senhor  de  sou  senhor 
c  o  seu  serviço  comprael-o. 

ÁXTú><io  rnESTES,  actos,  p»g.  196. 

Scntac-vos,  senhor  dontor, 
nâo  sabeis  que  tervtdor 
tendei  em  mi ;  pois  sabei 
que  sabe  a  Kaiuha  c  cl-Rci. 
IBIDEM,  pag.  161. 

Vós,  mais  dama  e  livre  que  ell*, 
PU,  mais  Temistocles  que  elle. 
Não,  que  es3 'outro  rfrt-idor 
muito  mais  uo  amor  at<51a. 
iBiDBM,  pag.  363. 


SERV 


SERV 


vSERV 


511 


Assim  diz  minha  senhora 
muitas  vezes  quo  ha  d>5  d'ella ; 
por  certo  que  d'alma  a  chora. 
Sou  eu  sua  servidora. 
IBIDEM,  pag.  449. 


—  «Os  quae.s  por  saberem  que  elle  era 
seu  seruidor,  o  auiam  de  destroir.  Pelo 
que  lho  pedia  que  pêra  se  defender,  e  po- 
der ter  suas  terras  por  el  Rei  de  Portu- 
gal, lhe  mandasse  alguma  gente,  porque 
se  o  nam  fezesse,  se  tinha  por  perdido.» 
Damicão  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  3,  cap.  4. 

—  Criado,  criada. 

—  Servidor  ih  damas;  chichisbeu. 

—  Servidores  do  azul;  moços  da  Mise- 
ricórdia, que  andam  de  túnica  azul. 

—  Serviço,  vaso  para  os  excrementos. 

—  Pessoa  que  serve  em  obras,  ser- 
vente. 

—  O  amigo,  quo  sendo  mui  affectuoso, 
deseja  servir  e  obsequiar  em  tudo  o  seu 
amigo.  —  «Outro  sy,  Senhor,  os  morado- 
res dos  vossos  Regnos  som  mui  dapnifi- 
cados  per  mingua  de  servidores,  que  nom 
podem  aver,  e  estom  em  ponto  de  se  per- 
derem a  maior  parte  de  seus  bens ;  e  por- 
que esses  servidores  pedem,  e  levaõ  ta- 
manhos jornaes,  e  tamanhas  soldadas, 
que  os  homens  não  podem  aver  prol  de 
seus  novos,  pelos  grandes  jornaes  e  sol- 
dadas que  assy  levaõ,  de  que  se  ellos 
tanto  aproveitaõ,  e  o?  que  lhes  daõ,  ficaõ 
dapnificados.»  Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit. 
29,  §  8.  —  «Querendo  em  esto  dar  lugar 
como  ajam  mais  servidores,  e  que  esses 
que  os  nom  ham  os  possaõ  melhor  aver, 
e  que  outro  sy  em  poder  desses  que  ham 
de  servir  nom  seja  theudo  morar,  senom 
com  aquelles,  a  que  he  dado  lugar,  que 
possaõ  aver  servidores.»  Ibidem,  §  10. 
—  «Pêro  porque  se  aggravaõ  os  Conce- 
lhos, e  dizem  que  lhes  minguam  os  ser- 
vidores, e  que  esses  que  hy  ha,  que  mo- 
ram com  aquelles,  que  os  nam  ham  tan- 
to mester,  e  os  boõ.s,  e  grandes  ficam  sem 
elles,  e  nom  teem  quem  nos  serva.»  Ibi- 
dem. — « E  esto  que  suso  dito  he  dos 
mesteiraaes,  que  nom  ajaõ  mancebos,  e 
servidores,  entende  ElRey,  com  tanto 
que  esses  servidores  nom  vivaõ  com  elles 
por  aprenderem  mesteres  delles ;  porque 
era  este  caso,  se  com  elles  viverem,  e 
seus  mesteres  de  feito  aprenderem,  man- 
da que  lhes  nom  sejaõ  tirados.»  Ibidem, 
§  11. —  «E  porque  outro  sy  por  aazo  da 
dita  Ley,  que  fez  o  dito  Senhor  Rey, 
nom  podiaõ  seer  costrangidos  os  filhos, 
que  quisessem  viver  com  seus  Padres  e 
Madres,  e  assy  minguam  os  servidores, 
e  som  mais  poucos,  manda  que  sem  em- 
bargo dessa  Ley,  todolos  filhos  daquoUes, 
que  podem  ser  costrangidos  pêra  morar 
per  soldada.»  Ibidem,  §  12.  —  «O  que 
pedem  é  que  nenhum  impedimento  haja 
pêra  o  poderem  fazer,  e  da  maneira  que 
estão,  esperaram   hoje  todo  o  dia,  e  fa- 


rão armas  com  os  servidores  daquellas 
que  os  quizercm  acceitar.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  129. 

perguntar  como  aqui  está, 
se  por  amo  ou  por  criado, 
que  isto  é  jugo  no  pescoço : 
quero  ver  este  destroço 
que  me  faz  meu  servidor. 

ANTÓNIO  PBESTES,  AUTOS,  pag.  131. 

\"imo9  muyto  mais  valer, 
mais  medrar,  mais  rico  ser, 
ho3  niuy  importunadores, 
quo  hos  grandes  senadores, 
que  acertam  vergonha  ter. 

G.   DE   KEZESDE,   SnSCELLANEA. 

—  «Os  quaes  todos  como  bons,  e  leaes 
seruidores  olhando  o  tempo,  e  importân- 
cia do  caso,  com  grande  amor  e  diligen- 
cia cjuiprirão  em  tudo  os  mandados  dei 
Rey.  Porque  como  chegarão,  logo  sem 
aluoroço,  perigo,  nem  contradição  as  ou- 
uerào  todas  a  mam,  em  que  poserão  al- 
cavdes,  e  pessoas  que  sobre  as  suas  me- 
najens  as  tiuessem  sempre  fielmente  a 
seriiiço  dei  Rey.»  Idem,  Chronica  de  D. 
João  II,  cap.  44. —  «Esta  obra  começou 
com  grande  pressa :  porque  faltavào  ser- 
vidores por  serem  mortos  alguns,  e  ou- 
tr<js  estarem  doentes,  acodirão  as  mulhe- 
res da  fortaleza,  assim  cazadas  como  viu- 
vas a  acarretar  os  materiaes,  como  já  fi- 
zeraõ  outras  no  outro  cerco  passado.» 
Diogo  de  Couto,  Década  6,  liv.  2,  cap.  6. 

—  Adagio  e  provérbio  : 

—  Anda  a  teu  amo  a  sabor,  se  queres 
ser  bom  servidor. 

SERVIDORA,  s.  /.  Serva  por  obsequio. 
Vid.  Serva. 

SERVIL,  adj.  2  gen.  (Do  latim  servi- 
lis).  De  servo.  —  Obras  servis. 

—  Próprio  da  baixeza  e  vileza  do  ser- 
vo ou  escravo.  —  «Acabe  ultimamente  de 
dczenganarse  a  Arte  Fabril  de  que  he 
mechanica,  servil,  e  mercenária ;  ut  pro- 
bat  text.  in  l.  maximarum  Cod.  de  exc. 
mun,  lib.  10.  et  in  l.  i.  Cod,  de  perfect. 
dign.  lib.  12.  Acursius  in  §  quod  au- 
tem,  verbo  Mechanicis,  in  Authent.  de 
non  aliin.  reb.  eccies.  Lvcianus  in  fugi- 
tivo; et  Ecclesiast.  cap.  38,  ibi:  Sic  cm- 
nis  faber,  et  architectus,  qui  noctem  tan- 
quam  diem  transigit. »  Braz  Luiz  de 
Abreu,  Portugal  medico,  pag.  268,  § 
134. 

SERVILHA,  s.  /.  Sapato  de  couro  fun- 
do, com  sola  corrida. 

—  Embarcação  sardinheira. 
SERVILHEIRO,  s.   m.  Homem  que  pes- 
ca em  servilha,  sardinheiro. 

SERVILHETA,  s.  /'.  Moça  de  servir  em 
casa,  ou  lie  jiortn  afi'>ra. 

SERVILHETEIRO,  s.  m.  Entregue  a 
amores,  e  conversação  de  servilhetas. 

SERVILIDADE,    s.  f.  Tid.  Servilismo. 

SERVILISMO,  s.  m.  Estado,  condição 
de  servo. 


—  Figuradamente :  Génio,  espirito  ser- 
vil, illiberal. 

SERVILMENTE,  adv.  (De  servil,  e  o 
suffixo  «mente»).  De  um  modo  servil. 

—  Com  animo  servil. 

—  Imitar  servilmente ;  sem  pôr  nada 
de  seu,  copiar  sem  alterar  o  que  se  tomou 
por  modelo,  com  variação  boa,  ou  melho- 
rada. 

SERVINTE,  part.  act.  de  Servir. 

—  Substantivamente:  Vid.  Servente. 
SERVIOLA,   s.  /.  Termo   de   marinha. 

Pau   que  afasta  a  amarra  do  costado  do 
navio. 

SERVIR,  V.  a.  (Do  latim  servire).  Fa- 
zer serviços,  obras  de  servo.  —  «Se  do 
dia  da  provicaçom  desta  nossa  Ley  a  doos 
meses  nom  vierem  a  nós,  pêra  fazerem 
de  sy  vassallagem  pêra  nos  servirem  co- 
mo Fidalgos  e  nossos  Vassallos,  ou  daquel- 
les  que  teem  estado,  ou  lugar  pêra  esto, 
e  nos  ham  de  servir  como  nossos  Vassal- 
los, d'hy  em  diante  percaõ,  e  nom  hajaõ 
honra,  nem  privilégios  de  Fidalgos.» 
Ord.  Affons.,  liv.  A,  tit.  26,  §  8.  — «E 
nós  dês  entom  os  privamos  de  toda  hon- 
ra, e  privilegio  de  Fidalguia;  e  manda- 
mos que  d'hy  era  dianto  sejaõ  costrangi- 
dos pêra  servir  com  os  dos  Concelhos  em 
todolos  encarregos  das  Villas,  e  Lugares, 
em  que  viverem,  assy  pelos  corpos,  como 
pelos  averes,  como  cada  hum  daquelles 
que  nom  som  Fidalgos.»  Ibidem.  —  «A 
saber,  que  se  alguns  tiverem  filhos  e  fi- 
lhas, quantos  quer  que  sejaõ,  que  taaes 
filhos  e  filhas  em  mentre  morarem  com 
seus  Padres  e  Madres,  e  os  servirem, 
que  nom  sejaõ  obrigados  a  morar  com  ou- 
tros.» Ibidem,  tit.  29,  §  5. 

Pois  que  me  mandados  ir, 
(Dise-lh'eu)  senhor,  ir-m'ci ; 
Mas  já  vos  ei  de  servir 
Sempre  por  vosa 'andarei. 
Ca  V033'amor  inc  forçou ; 
Assi  que  por  vosso  vou 
Cujo  sempr'ou  já  serei. 

CANC.   DE  TBOVAS  ANTIGAS,  D."  1. 

Pois,  senhor,  que  vos  parece? 

Desejo  de  vos  servir, 

E  não  quero  que  venha  á  cidade 

Hum  quem  não  parece  esquece. 

Paguei  soma  de  dinheiro 

A  hum  ourives  agora, 

De  prata  que  me  lavrou, 

E  paguei  a  hum  recoveiro, 

Que  he  a  dar  dinheiros  fora 

A  quem  não  sei  como  os  ganhou. 

OIL  VICENTE,  FABÇAS. 

—  « Luiz  Figueira  querendo  servir 
naquelle  negocio,  mandou  cinco,  ou  seis 
navios  pêra  hirem  dar  no  porto  dos  Nau- 
t.nques,  e  destruillos.  Estes  navios  foraõ 
áquelle  negocio  com  o  olho  nas  prezas 
que  se  esperavaõ,  e  andàraõ  pelas  costas 
dos  Nautaques  dandolhe  em  alguns  por- 
tos, e  povoaçoens  em  que  fizeraõ  algum 
dano.»  Diogo  de  Couto,  Década  6,  liv.  8, 
§  12.  —  «As  novas  se  espalharão  logo  pela 


512 


SERV 


SERV 


SERV 


Cidade,  a  que  acodira5  todos,  velhos,  o 
moços  a  fio  offcrcccrcm  ao  Vinorcv,  smido 
dos  primeiros  os  Cidaililo'»,  que  í^eiiipio 
nas  seincliiantes  noce.-ísidades  servirão 
El  Roy  com  as  fazendas,  e  pessoas.»  Ibi- 
dem, liv.  10,  §  5. —  «E  ja  que  por  t_v, 
por  seres  hum  só,  iiSo  posso  sor  ajudado, 
te  rogo  senhor  que  me  leves  comtigo, 
porque  nilo  perca  esta  alma  que  Deus  em 
mini  pôs,  o  eu  te  prometo  de  to  servir 
como  cativo  em  quanto  viver,  e  tudo  isto 
que  disse  foy  acompanhado  sempre  de 
tantas  lagrimas  que  era  cousa  piadosa  de 
ver.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap,  145.  —  «Do  dia  que  a  minha 
cabeça  so  apartou  dos  peis  de  vossa  al- 
teza para  esto  pequeno  feito  em  que  mos- 
trou gosto  que  o  cu  servisse,  a  nove  dias, 
cheguey  a  Tanauçarini.»  Ibidem,  cap. 
146. —  a  Consenti  que  me  vá  ver  com 
elle  c  que  como  vosso  mo  combata,  e  en- 
tão vereis  a  quem  deveis  mais,  ou  quem 
vos  merece  niellior  servir.  Estou  tào  de- 
terminada em  fiizer  uma  cousa,  disse  Tar- 
giana,  que  cuido  que  por  fiTç^i  a  hei  de 
cumprir.»  Francisco  de  ^loracs,  Palmei- 
rim d'Inglaterra,  cap.  86.  —  *  Esteve 
muitos  dias  Floriano  do  deserto  na  corte 
do  gram  turco,  servindo  Targiaua  em 
cousas  de  seu  gosto,  mostrando  o  preço  de 
sua  pessoa  em  todas  as  empresas,  que 
naquollc  tempo  aconteceram,  sahindo  tan- 
to a  sua  honra  e  com  tanta  gloria  e  ía- 
ma,  que  antre  os  mouros  por  cousa  divina 
era  estimado.»  Ibidem. —  «Albayzar  se 
tó  agora  venceu  tantos  teve  raz.no  de  os 
vencer  tolos,  que  Targiana  he  mais  fer- 
niosa,  que  quantas  aqui  tè  seus  escudos : 
mas  contra  viis  que  rasão  pode  haver  para 
quem  vos  serve  n.^o  vencer  o  mundo  to- 
do? Ibidem,  cap.  89.  —  «Passado  o  dia  do 
casamento,  ao  outro  dia  pola  manhãa, 
Targiana  se  despediu  da  imperatriz,  Gri- 
donia  e  Vasilia,  mostrando  muito  desejo 
de  lhe  sempre  servir,  e  ser  em  conheci- 
mento das  sinaladas  e  grandes  mercês 
que  delias    recebeu.»  Ibidem,    cap.    05. 

—  «Eu  comigo  vos  tenho  buscado  marido 
tal,  qual  me  parece  que  mereceis;  e 
guardo  pêra  isso  o  estado,  que  ficou  de 
vosso  pai,  que  vos  cu  farei  dar,  e  o  mais 
que  poder  juntar  pêra  vos  servir.»  Ibi- 
dem, cap.  124. — «Mas  que  farei,  que 
toda  a  occupação  de  meu  cuidado  é  a  tim 
d'a  servir,  e  ella  não  lhe  lembra  que 
o  faço,  por  me  negar  algum  agradeci- 
mento so  m'o  d'alli  fica  devendo?  Olhai 
com  quão  pouca  me  contento,  que  não 
quero  cm  pago  de  tantos  ti-abal!ios  outra 
satisfação,  senão  cuidar  que  algum  hora 
sente,  que  os  passo:  e  não  me  tire  del- 
les,  que  na  hora,  que  mos  ordenou,  logo 
perdi  essa  esperança.»    Ibidem,  cap.  Oõ. 

—  «A  emprcza,  que  dizeis  que  jure,  que- 
ria que  me  disscis,  que  tal  c  ;  porque  se 
n'essa  a  eu  servir  a  ella,  e  fizer  o  que 
devo  a  mim,  podo  ser  que  a  não  cngci- 
te.o   Ibidem,  cap.  102. —  «Porque  os  le- 


vavam a  suas  casas  o  comiam  e  bo\nam 
com  elles,  e  quando  clles  so  escusa vauí,  ou 
nam  nos  achavam  levavam  os  kcub  moços, 
(pie  avendo  sido  cativos  com  elles  e  sondo 
soltos  nam  os  desamparavam,  antes  acom- 
jianhandoos  os  serviam:  e  aos  moços  fa- 
ziam tanta  honra  como  aos  senhores,  i-  í^r. 
fiaspar  da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da 
China,  cap.  8. —  «Semjrc  é  bom,  por  isso, 
servir  ao  tribunal  do  santo  officio  e  estar 
bem  entabolado  com  a  ordem.  Nunca  vi 
sair  em  Portugal  jesuitas,  nem  dominicos 
em  auto  de  lê.»  Bispo  do  Grão  Pará, 
Memorias,  publicadas  por  Camiilo  Castcl- 
lo  Branco,  jiag.  90.  ■ —  «O  Mello  era  cccle- 
siastico;  mas  viu  que  em  França  o  em- 
baixador Saldanha  não  quiz  ir  cortejar 
madame  do  Pompadour,  de  que  se  origi- 
nou servir  o  seu  amo  sem  fortuna.»  Ibi- 
dem, pag.  161. 

—  Servir  d  7nesa ;  aguardar,  assistir  e 
ministrar  a  comida  e  iguarias,  tirar  pra- 
tos, talheres,  etc.  —  «O  servir  á  meza 
com  os  criados,  cousa  ó  costumada ;  mas 
em  verdade  que  estes  nossos  portuguezea 
servem  com  tal  descuido,  ou  confusão, 
que  tinha  por  não  grande  perda  o  servir 
com  as  criadas.»  D.  Francisco  Manoel  de 
Mello,  Carta  de  guia  de  casados. 

—  Servir  de;  aproveitar. —  «Este  foi 
o  fim  do  huma  negociação,  em  quo  se 
considerarão  os  interessei  mais  importan- 
tes para  esta  Monai-quia,  porém  Deos  que 
tinha  decretado  o  contrario,  dispGz,  que 
só  servisse  de  mostrar  o  Duque  D.  Nuno 
a  grande  capacidade  do  seu  talento  i.a 
fingida  benevolência  dos  Ministros  de  Sa- 
boya,  e  de  se  vêr,  que  contra  as  deter- 
minações Divinas  não  valem  as  politicas, 
nem  as  industrias  humanas. r>  Fr.  Bernar- 
do de  Brito,  Elogios  dos  reis  de  Portu- 
gal, continuados  por  D.  José  Barbosa, 
—  «Havendo  umas  muy  doces,  e  outras 
muy  violentas,  nos  podemos  servir  delias 
frequentemente  porque  as  podemos  va- 
riar de  muitos  modos."  Cavalleiro  d'01i- 
veira,  Cartas,  liv.  1,  n.°  39.  —  «Sào  des- 
tros em  furtar,  e  ha  celebres  factos  de 
que  daremos  um  ou  outro,  poilendo  servir 
esta  diversSo  ao  leitor  de  desenfastial-o 
da  leitura  c  acautelar-se  se  encontrar  os 
braguezes.»  Bispo  do  Grão  Pará,  Memo- 
rias, publicadas  por  Camiilo  Castello 
Branco,  pag.  201. 

—  Servir  de  exemplo;  ficar,  aprovei- 
tar para  tomar  exemplo,  cautela,  ou 
cousa  que  depois  se  siga,  ou  que  dò  fun- 
damento a  se  requerer  o  mesmo. 

—  Servir  a  Deus;  render-lhe  o  culto 
que  lhe  ó  devido,  occupar-se  em  obras 
religiosas.  —  «E  o  que  mais  he  que  tu- 
do, peleijamos  com  inimigos  de  nossa  fé, 
e  não  nos  pódc  faltar  favor  para  tão  jus- 
ta crtusa,  pois  servimos  ao  Deos  das  vi- 
ctorias.»  .lacintho  Freire  d'Ar.dradc,  Vi- 
da de  D.  João  de  Castro,  liv.  2.  —  «O 
meyo  de  conseguir  nome  eterno,  saõ  as 
virtudes,  e  naõ  as  vaidades ;  he  servir- 


des a  Deos  conforme  a   Ley  de  Deos,  e 

naò  servirvos  o  mundo  conforme  as  Levs 
do  mundo.»  Padre  Manoel  Bernardes, 
Eiercicios  espirituaes,  pag.  474. 

—  Imjjortar,  aproveitar,  ser  ntil,  — 
«Vimos  tanibem  muitas  embarcações  car- 
regadas de  cascas  de  laranjas  secas,  que 
servem  paru  nas  tavernas  se  cozerem  c3 
a  carne  do  caõ,  para  1/ie  tirar  o  mao  cbev- 
ro  que  de  sy  tem,  o  secarlhe  a  humida- 
de, o  fazela  mais  tesa.»  FcrnSo  Mendes 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  98.  —  «Ej* 
que  a  lingoa  nos  nSo  serve  para  isto, 
pois  não  pôde  formar  palavras  que  sejão 
capazes  de  satisfazer  a  tamanha  obriga- 
ção como  esta  cm  que  todos  te  estamos, 
servirnosha  do  pedirmts  ctjntinuamente 
com  niuytas  lagrimas  e  gemidos  a  aqucl- 
le  Senhor  que  fez  os  ecos  o  a  terra.»  Ibi- 
dem,  cap.  121. 


De  tudo  me  firri-  avèftv), 
senhora  ;  cmquanto  mart<'llo 
com  9CU  cabo  e  seu  comdço 
tem  alguma  hora  pião 
que  mo  gabo  CJitc  cagtcUo. 
A  rai  m'o  perguntou?  Já. 

ASTOSIO  PBESTES,  ACTOS,  pag.  17. 


—  «Oyto  legoas  antes  da  Cidade  topa- 
mos com  huma  agoa,  que  na  corrente  era 
muy  boa,  e  nas  poças  onde  nSo  corria 
era  sal  refinado,  e  dolle  nos  semimos  por 
vezes  na  mesa.»  Fr.  (jaspar  <le  S.  Bicr- 
nardino,  Itinerário  da  índia,  cap.  16. — 
«Não  onde  a  primeira  esteue,  que  neste 
lugar,  como  diz  o  Propheta  Isayas,  nào 
se  leuantou  mais  ca^a,  nem  se  leuanta- 
rá :  mas  só  serue  pêra  pastarem  os  Ca- 
melos, e  Caualos,  e  mais  gado  dos  Pas- 
tores Arábios  que  em  Babylonia  morSo.  > 
Ibidem,  cap.  18.  —  «E  se  essas  naõ  bas- 
tarem por  poucas  para  tantas  unhas,  ou 
naò  vos  contentarem  por  ásperas,  porque 
nem  toda  aspereza  serve  para  medica- 
mento, tenho  três  desenganos  officacissi- 
mos  para  as  emendar  suavemente,  fazen- 
do-lhes  entender,  e  abraçar  a  verdade, 
que  he  o  melhor  modo,  que  ha  de  correi- 
ção.» Arte  de  furtar,  cap.  70.  —  «E  co- 
mo estes  tempo.i-aes  do  anno  n.^o  serviam 
tanto  a  proveito  dos  navegantes  quando 
Cingápura  prosperava,  de  doas  faziam 
huuia,  e  esta  era  a  mais  commum ;  todo- 
los  que  navegavam  da  parte  do  Ponente, 
liiam  per  fora  da  Ilha  Çamatra  entrando 
per  o  canal  que  se  faz  entre  ella,  e  a 
Jauha,  ou  entravam  por  entre  ella,  e  a 
terra  de  ^lalaca.  >  Barros,  Década  2,  liv. 
6,  cap.  1.  —  «Jo-lo  Gomes  chegado  a  Ca- 
lancea,  onde  nào  achou  cousa  alguma, 
por  os  ventos  lhe  nào  servirem  pêra  tor- 
nar onde  Aflonso  d'Alboqu  rque  estava, 
começou  andar  ás  voltas  ao  mar,  e  á  ter- 
ra, nas  quaes  foi  dar  com  huma  não  de 
Chaul,  que  hia  pêra  o  estreito,  que  to- 
mou, o  sérvio  muito  naquelta  viagem  a 
Alfonso  d'Alboqaerque.»  Ibidem,  liv.    7, 


1 


SERV 


SERV 


SEsa 


Õ13 


cap.  7.  —  «Do  que  se  Pedrakirez  excu- 
sou,  dizendo,  que  quando  em  Cochim  não 
achasse  a  carga,  que  auia  mister,  que 
então  ha  iria  tomar  ha  sua  terra  delles, 
que  a  boa  vontade,  que  lhe  mostrauào, 
lhes  serueria  quando  comprisse.»  Damiào 
de  Góes,    Chronica  de  D.  Manoel,  part. 

1,  cap.  60. —  «Da  qual  victoria  mouido, 
determinou,  posto,  que  estiuesse  ferido, 
de  o  ir  abalrooar  por  lhe  ja  seruir  o  ven- 
to e  maré  mas  per  conselho  dos  outros 
capitaens  deixou  de  o  fazer,  porque  ti- 
nha muita  gente  ferida  em  toda  írota  e 
a  outra  cansada,  dizendolhe,  que  o  mi- 
Ihor  conselho  era  meterlhe  as  nãos  no 
fundo,  porque  deste  modo  os  desbarata- 
riam, com  menos  perigo.»   Ibidem,    part. 

2,  cap.  25. — •  «As  velas  da  nossa  frota 
eram  a  gale  de  Pêro  de  faria  em  que  hia 
Rui  de  Brito  Patalim  ficando  por  capitam 
da  fortaleza,  o  Alcaide  mor,  Aires  perei- 
ra de  barredo,  Fernam  peres  dandrade, 
com  quem  hiào  Simào  afonso  bisagudo, 
por  a  sua  nao  de  podre,  e  velha  ja  nam 
seruir  pêra  nada.»  Ibidem,  part.  3,  cap. 
41.  — «Mas  Deos  o  ordenou  de  maneira, 
que  em  lugar  da  presa  que  cuidauào  fa- 
zer lhes  seruirão  os  barcos  pêra  leua- 
rem  os  corpos  dos  geus  que  recolheram 
com  muita  tristeza,  por  antrelles  auer 
alguns  homens  nobres,  e  de  authoridade.» 
Ibidem,  cap.  52.  —  «Em  algumas  cida- 
des se  usa  yrem  estas  sellas  cubertas  por 
nam  dar  nojo :  serve-Lhe  este  esterco  pê- 
ra estercarem  as  hortas,  e  dizem  que 
com  elle  crece  ha  hortaliça  a  olho,  mes- 
toram  no  com  terra  e  curam  no  ao  sol, 
6  assi  se  servem  delle,  usam  em  tudo 
mais  de  engenho  que  de  força  polo  que 
com  hum  boy  lavram  fazendo  ho  arado 
de  tal  engenho  que  corta  bem  a  terra, 
ainda  que  nam  sam  os  regos  tamanhos 
como  antre  nos.»  Frei  Oaspar  da  Cruz, 
Tratado  das  cousas  da  China,   cap.    10. 

Que  importa,  que  do  Euripo  ignore  o  fluxo 
O  Sábio  de  Estagira,  se  dos  mares 
A  sempre  fixa  alternativa  serve 
A"8  mortaes  precisões '? 

J.    A.   DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,   Cant.    2. 

—  «De  mim  não  tenho  que  dizer  a 
vossa  excellencia,  porque  o  mesmo  que 
tenho  dito  serve  para  todos  os  tempos, 
pois  sou,  e  hei-de  ser  o  mesmo  em  to- 
dos.» Padre  António  Vieira,  Cartas,  nu- 
mero 21. 


Tam  quebrados,  sem  forças,  de  que  serve 
Esta  lucta  de  poucos  moribundos 
A  pelejar  por  mais  uma  hora  escassa 
De  vida  incerta  !  —  Ingano,  ingano  cego! 
Á  pátria  agonizante  e  quasi  extincta 
Que  podemos  fazer  ? 

GABRETT,  CATÃO,  act.    1,    SC.    1. 


—  Fazer    serviço   pessoal    ao    rei.  — 
«Grandemente  foi  criado  com  muito  gran- 

TOL.  T.  —  6õ. 


de  cuvdado,  e  tanto  que  teue  entender 
lhe  ordenou  logo  el  Rey  seu  pay  pessoas 
virtuosas,  prudentes,  e  muy  examinadas, 
que  delle  tiuessem  cuydado,  e  que  fos- 
sem taes  de  que  podesse  tomar  boa  dou- 
trina, e  lhe  deu  bons  mestres,  que  o  en- 
sinassem a  ler,  rezar,  e  latim,  e  escre- 
uer,  e  assi  moços  bem  ensinados,  pêra  se 
criarem  com  elle,  e  o  seruirem,  tudo  fei- 
to como  tal  pay  ordenaua,  e  tal  íilho  me- 
recia.» Garcia  de  Rezende,  Chronica  de 
D.  João  II,  cap.  3.  —  «Ora  me  beijay  ha 
mào  por  tudo,  e  seruime  muyto  bem,  que 
eu  tenho  cuydado  de  vos  honrar,  e  fazer 
merco,  e  logo  elle  e  o  tio  lhe  beijarão  a 
mào,  e  dahy  por  diante  seruio  milhor,  e 
el  Rey  o  casou,  e  lhe  fez  honra  e  mercê. » 
Ibidem,  cap.  198.  — «Quando  el  Rei  deu 
casa  ao  Príncipe  dom  Affonso  seu  filho 
antes  das  festas  me  passou  a  elle,  e  eu 
pezandome  muyto  lhe  pedi  por  mercê 
com  algumas  lagrimas,  que  me  não  desse 
ao  Príncipe,  porque  nenhuma  pessoa  de- 
sejaua  seruir  senão  a  sua  Alteza,  e  mais 
que  era  muyto  moço,  e  me  agasalhaua 
com  meu  tio,  e  passandome  ao  Príncipe 
ficaua  desagasalhado,  e  el  Rev  me  disse.» 
Ibidem,  cap.  201. — «Neste  tempo  acon- 
teceo  o  desastre  da  morte  de  Nuno  fer- 
nandez  dataide,  capitam  de  çatim  como 
se  logo  dirá  pelo  que  el  Rei  escreueo  a 
dom  Nuno  mascareuhas,  que  o  fosse  la 
seruir  em  lugar  do  morto,  e  assi  escre- 
ueo a  Rui  diaz  de  sousa  eide,  que  se  fos- 
se a  Alcácer  ceguer,  seruillo  de  capitão,  o 
que  logo  ambos  fizeram,  e  Diogo  lopez  co- 
mo leuara  por  regimento  despedio  toda  a 
armada,  excepto  sete  carauellas  com  que 
andou  aquelle  veram  em  guarda  destrei- 
to.»  Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  4,  cap.  5.  —  «Bem  se  po- 
de crer  que  pêra  negocio  tam  moderno, 
e  que  se  escreueo  em  tempo  em  que  ain- 
da vivião  muitos  dos  que  seruiam  a  el 
Rei  dom  loam  primeiro,  na  guerra,  e  na 
paz,  nam  auia  muita  necessidade  de  se 
verem  todolos  cartoreos  do  regno,  nem 
de  mandar  fazer  a  mesma  diligencia  a 
Castella,  senaõ  fora  pêra  se  também  apu- 
rarem, e  acabarem  na  verdade  as  Chro- 
nicas  dos  outros  Reis  atras,  de  que  a  no- 
ticia era  mais  remota.»  Ibidem,  cap.  38. 
—  Prestar  serviços.  — « Ja  vos  dei  con- 
ta da  pouca  que  tenho  com  toda  a  outra 
cousa  que  não  he  servir  a  .Senhora  Dio- 
nysa;  e  postoque  a  desigualdade  dos  es- 
tados o  não  consinta,  eu  não  pretendo 
delia  mais  que  o  não  pretender  delia 
nada,  porque  o  que  lhe  quero,  com  sigo 
mesmo  se  paga ;  que  este  meu  amor 
he  como  a  ave  Phenix,  que  de  si  só  nas- 
ce, e  não  de  outro  nenhum  interesse.» 
Camões,  Filodemo.  — «A  todas  estas  pa- 
lavras a  fermosa  Lionarda  esteve  calada 
e  corrida,  por  ser  ainda  tão  nova  naquel- 
la  casa;  e,  respondendo  a  Polinarda,  dis- 
se: Senhora,  eu  não  sei  que  cousa  me 
possaes  mandar,  não  sendo  contra  minha 


honra,  que  não  faça  e  receba  n'isso  mer- 
cê. Esse  cavalleiro  pêra  o  haver  por 
meu,  baste  ser  irmão  de  Palmeirim,  a 
quem  tanto  devo,  e  primo  de  vossa  alte- 
za a  quem  desejo  servir.  Se  elle  acha 
que  este  nome  lhe  pode  prestar  pêra  al- 
guma cousa,  eu  consinto  que  lhe  fique  : 
mas  quem  taes  obras  tem,  não  tem  ne- 
cessidade de  ajuda  tão  pequena  pêra  de- 
pois lhe  attribuir  a  honra  de  seus  fei- 
tos.» Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  de 
Inglaterra,  cap.  112.  —  «O  qual  por  mor- 
te de  D.  Álvaro  Pires  deu  este  cargo  ao 
Grande  D.  Nunalves  Pereira,  que  o  sér- 
vio com  grande  valor,  e  boa  fortuna.» 
Severim  de  Faria,  Noticias  de  Portugal, 
Disc.  2,  cap.  2.  — «Porem  aos  Fidalgos, 
que  naõ  serviaõ  mais  que  com  sua  pró- 
pria lança,  lhes  dava  ElRey  por  ella  75. 
livras,  que  era  a  contia  ordinária.»  Ibi- 
dem, cap.  7.  —  «Passou  a  servir  a  Tanger, 
onde  deo  de  seu  valor  as  primeiras,  mas 
não  vulgares  provas,  bem  que  destas  al- 
cançamos mais  fama,  que  noticia.  Tor- 
nou á  Corte,  chamado  por  el  Rei  D.  João 
o  terceiro,  e  como  já  seus  brios  não  ca- 
bião  no  Reino,  passou  á  índia  com  D. 
Garcia  de  Noronha.»  Jacintho  Freire  de 
Andrade,  Vida  de  D.  João  de  Castro, 
liv.  4. 

SÊS.  Forma  antiquada  do  verbo  ser 
na  segunda  pessoa  do  plural  do  presente 
do  modo  conjunctivo  ,•  hoje  substitue-se 
por  seja. 

j-  SESAMEAS,  s.  f.  plur.  Pequena  fa- 
mília de  plantas  dieotyledoneas. 

-j-  SÉSAMO,  5.  7)!.  (Do  latim  sesamum). 
Género  da  familia  das  sesameas.  A  espé- 
cie principal  é  o  sésamo  indico^  planta 
oleaginosa,  sendo  uma  das  variedades 
descriptas  sob  o  nome  de  sésamo  oriental, 
cultivada  no  Oriente,  e  fazendo  o  objecto 
de  um  CHinniercio  considerável. 

7  SESAMOIDE,  adj.  2  gen.  Termo  de 
anatomia.  Que  se  assemelha  á  semente 
do  sésamo. 

—  Ossos  sesamoides ;  pequenos  ossos 
curtos,  redondos,  que  apresentam  uma 
organisação  fibrosa,  análoga  á  da  rotula, 
que  se  desenvolvem  na  espessura  dos 
tendões,  na  proximidade  de  certas  arti- 
culações. 

f 'SESAMOIDIANO,  A,  adj.  Termo  de 
anatomia.  Que  pertence  aos  sesamoides 
do  carpo  e  do  tarso  nos  cavaUos. — Zí- 
gamentos  sesamoidianos. 

SESÃO,  í.  /.  Vid.  Sezão,  e  Sasão. 

—  Vid.  Cesão,  que  é  differente. 

SESEGA,  s.  /.  Termo  antiquado.  O  so- 
lo, o  clião  onde  está  edifício,  arvore. 
Vid.  Sessega. 

SESELI,  s.  m.  Género  da  familia  das 
umbelliferas,  espécie  de  funcho,  de  que 
ha  varias  e^pecies.^ 

SESERIGO,  s.  m.  Termo  antiquado. 
Assento,  planície.  Vid.  Sessega,  e  Sesega, 

SESGO,  A,   adj.  Torcido,  obliquo. 

—  Sereno,  socegado,  quieto. 


514 


SESQ 


SESS 


SEST 


—  Torcido,  Rcrpcauto.  —  Corrente  ses- 

ga. 

SESIA,  *.  ./'.  Tormo  de  historia  natu- 
ral. (Icnoro  do  insectos  iepidoptcro». 

SESMA.  Vid.  Sexma,  ou  Seisma. 

SESMAR,  i'.  a.  Partir,  demarcar,  di- 
vidir as  terras  e  iierUades,  como  fazem 
08  scsmoiro»  e  juizes  de  tombos  de  ter- 
ras, ou  deniarcai;rSe8. 

—  Absolutamente,  diz-so  do  que  se 
aparta,  e  retira  desconfiado. 

SESMARIAS,  e.  /.  j)l.  Dá-se  este  nomo 
iVs  dadas  das  torras,  casaes  ou  pardiei- 
ros, que  foram  de  alpuns  donos  ou  lie- 
roes,  e  se  lavravam  em  outro  tempo,  e 
estão  incultos  ao  tempo  da  dada;  ou  tam- 
bém das  maninhas,  como  as  mattas  in- 
cultas do  Brazil. 

—  Emprcija-se  também  no  sinfjular  na 
seguinte  locução:  Dar  sesmaria;  dar 
como  terra  inculta,  herdade  desaprovei- 
tada; maninho,  pardieiro  dado  para  se 
aproveitar  cultivando  o  povoando. 

—  AhaiK^ar  uma  sesmaria ;  alcançar 
uma  daila  tal. 

SESMEIRO,  s.  1)1.  Homem  encarregado 
das  sesmarias,  e  que  as  à-X. 

SESMO,  s.  m.  Vid.  Sexmo,  ou  Seismo. 

—  Logar  onde  ha  sesmarias ;  ou  a  per- 
tença que  fui  scsmada  a  alguém,  e  limi- 
tada na  sesmaria. 

SESQUI.  Palavra  derivada  do  latim 
sesque,  contracção  de  semisqitc,  do  semts, 
que  se  antepõe  a  difterentes  termos  scien- 
tificos,  e  que  significa  um  e  meio. 

SESQUIALTERA,  adj.  f.  (Do  latim  ses- 
quialttír,  do  sestjui,  e  alter).  Termo  de 
mathematicji.  Diz-se  de  duas  quantida- 
des das  quaes  uma  contém  a  outra  uma 
vez  e  meia. 

f  SESQUIAMMONIACO,  adj.  Termo  de 
chimica.  1  )iz-se  de  um  sal  animoniaco 
couteuilo  uma  vez  e  meia  outras  tantas 
bases  como  o  sal  neutro.  Diz-se  do  mes- 
mo modo  sestjuiargentico,  sesijuibarytico, 
etc. 

t  SESQUIARSENIATO,  «.  m.  Termo  de 
chimica.  Arseniato  contendo  uma  vez  e 
meia  tanto  acido  como  o  sal  neutro.  Diz- 
se  do   mesmo  modo  sesquicaròutiatOf   etc. 

j-  SESQUIBASICO,  adj.  m.  Termo  de 
chimica.  Diz-se  de  imi  sal  contendo  uma 
vez  e  meia  tantas  bases  como  o  sal  neu- 
tro corrcs]H>ndente. 

t  SESQUIFERROSO,  aJj.  vi.  Termo  de 
chiniiua.  Diz-se  de  um  sal  ferroso  con- 
tendo uma  vez  e  meia  tanta  base  como  o 
sal  neutro.  Diz-se  do  mesmo  modo  Sfsyit í- 
mangnyioso. 

f '  SESQUIFLOR,  adj.  Termo  de  botâ- 
nica, (.^ue  contém  uma  tlôr  completa  e 
outra  abortada. 

t  SESQUIHYDRICO,  adj.  m.  Diz-se  de 
um  composto  contendo  uma  vez  e  meio 
tanto  iivdrogeneo  como  o  outro  corpo. 

t  SESQUioXYDO,  s.  m.  Termo  de  chi- 
mica. Oxyilo  contendo  uma  vez  e  meia 
a  quantidade  de  oxygeneo  que  contém  o 


protoxydo  ou  o  monoxydo,  isto  é,  um 
átomo  o  moio  para  um  átomo  do  corpo 
unido  ao  oxygeneo,  ou  trcs  atonius  para 
douH  átomos  (Feste  mesmo  corpo,  etc. 

SESQUIPEDAL,  adj.  2  gen.  (Do  latim 
KfHijiiij/edaHs).  C^ue  tem  pé  e  meio  de 
longoi-. 

f  SESQUIPHOSPHURETO,  «.  m.  Termo 
do  chimica.  Pliosjthurbti)  que  contém  uma 
vez  c  meia  tanto  plio»j)horo  como  metal. 
Diz-se   <lo  mesmo  modo  sesquichlorureto, 

gesqilisillfini  In,    i'tc. 

f  SESQUIQUADRATO,  adj.  e  s.  m.  Ter- 
mo de  astronomia.  Aspecto  de  dous  pla- 
netas afastados  um  do  outro  quatro  si- 
gnos o.  meio,  ou  135°. 

t  SESQUISAL,  .«.  m.  Termo  de  chimica. 
Sal  contcndíj  unia  vez  e  meia  tanta  base 
ou  acido,  como  o  eal  neutro  correspon- 
dente. 

f  SESQUITIERCE,  a^lj.  Termo  de  ma- 
thematica.  Diz-se  de  dous  números,  ou 
de  duas  linhas,  contendo  uma  a  outra,  e 
um  terço  a  mais. 

SESSÃO,  s.  /.  (Do  latim  sessio).  O  es- 
paço (lo  tempo  que  dura  cada  assembleia 
de  alguma  corporação. — A  sessão  </o 
parlamento.  \\à.  Secção,  que  diverge. 

—  Dá-se  também  este  nome  a  cada 
uma  das  reuniões  que  tem  qualquer  cor- 
po deliberante,  quer  seja  cm  publico, 
quer  em  particular. 

—  Diz-se  do  tempo  que  ficam  as  cama- 
rás legislativas  abertas  cada  anno,  desde 
a  aliertura  até  ao  encerramento. 

SESSAR,  V.  a.  Termo  usado  em  Per- 
nambuco, província  do  império  do  Bra- 
zil. Joeirar  pela  urupema.  Vid.  Sas- 
sar. 

SESSEGA,  s.  f.  Termo  antiquado.  As- 
sento, logar  ou  solo  em  que  alguma  cou- 
sa se  edifica,  como  casa,  moinho,  lagar, 
tanaria,  etc. 

—  Vid.  Socego. 

SESSEGAR,  V.  a.  Vid.  Socegar. 
SESSEGO,  s.  m.  Vid.  Socego. 
SESSENTA,  adj.   2  gen.  num.  Numero 

composto  de  seis  dezenas.  —  Ests  livro 
não  contém  mais  de  sessenta  paginas. 

—  tí.  m.  U  producto  de  seis  multipli- 
cado por  dez.  Diz-se  do  mesmo  modo  o 
numero  sessenta. 

SESSENTESIMO,  A,  adj.  num.  ord.  Que 
segue  ao  quinquagcsimo  nono. 

SESSIL,  ailj.  2  gen.  (^Do  latim  sessilis, 
de  sedere\.  Termo  de  botânica.  Diz-se  de 
uma  parte  qualquer  que  não  tem  supporte 
particular,  que  descíinça  immediatamente 
sobre  um  outro. — Flores  sesseis.  —  Fo- 
lhas sesseis. 

—  Alfaces  sesseis ;  aquoUas  que  uão 
86  elevam. 

—  Em  pathologia:  Tumor  sessil;  que 
não  tom  piJiculo. 

-}-  SESSILIFLOR,  adj.  2  gtn.  Que  tem 
tlores  sesseis. 

SESSO,  s.  m.  (Do  latim  scssnin,  eupino 
de  sedcre).  O  anus,  ou  o  orificio  posterior 


por  onde  saem  as  matérias  excromenti- 
cias. 

SESTA,  ».  /.  A  hora  do  meio  dia,  cal- 
mosa no  estio,  em  que  ordinariamente  se 
dorme  sobro  comer. 

—  Dormir  a  sesta ;  dormir  depoia  do 
jantar. 

—  A  sesta  hatida;  dormir  a  eoat*  á 
hora  do  moio  dia. 

—  Ftcrever  sesta  por  òalfvMa ;  eng»- 
nar-80  grosseiramente.  V^id.  Balbesta. 

—  ItefendKr  das  sestas ;  defender  do 
calor  do  meio  dia. 

SESTADO,  A,  adj.  Termo  antiquado. 
iSextavado,  de  seis  faces  ou  lado*. 

SESTARIA,  s.  f.  =  Significação  incerU. 

SESTEAR,  >'.  n.  Dormir  ou  paliar  a 
BCAta,  fallando  da.i  pesRoas  ({uo  so  abri- 
gam da  calma;  di&^e  também  dos  ga- 
dos. 

—  V.  a.  — Sestear  o  gado;  condozil-o 
para  um  local  fresco,  e  abrigado  do  ca- 
lor do  moio  dia. 

SESTEIRO,  s.  m.  Na  província  da  Bei- 
ra, ú  uma  medida  de  três  ou  quatro  al- 
queires. 

—  Alguns  dizem  que  é  peeo  de  arrá- 
tel c  meio. 

SESTÉRCIO,  «.  m.  (Do  latim  tesUr- 
tius,  de  semis,  o  tertius).  Termo  de  an- 
tiguidade romana.  Moeda  de  prata,  que 
fazia  a  quarta  parte  de  um  dinheiro,  e 
valia  dous  asses  e  meio :  era  do  sestér- 
cio que  os  romanos  se  serviam  para  soas 
contas. 

—  Grande  sestércio ;  mooda  fictícia 
que  valia  mil  pequenos  eestercios,  equi- 
valendo cada  um  d'e3ted  pequenos  a  um 
vintém. 

—  Figuradamente:    Pouco  dinheiro. 

1.)  SESTO,  s.  m.  Tormo  antiquado.  Si- 
gnifica compasso  ou  outra  qualquer  me- 
dida; d'aqui  assestar,  ou  pôr  por  medida, 
borncar,  fiizer  pontaria.  E  d'aqai  vae 
a  sesto,  por  voe  a  compasso,  à  corda, 
vara,  ou  medida. 

2.)  SESTO,  adv.  usado  na  seguinte  lo- 
cução a  sesto,  porem  é  err"»  mui  frequen- 
te nos  manuscriptos,  passado  para  os  im- 
pressos ;  deve  ser  a  festo,  ou  em  festo. 
Vid.  Festo. 

1.)  SESTRO,  í.  m.  Pandeiro  usado  doe 
foliões,  sistro. 

—  Loc. :  Tomar  sestTOS;  tomar  más 
resoluções,  os  peores  partidos. 

—  Manha  de  besta. 

—  Mau  parecer,  mau  conselho. 

—  Figurada  e  popularmente :  Má  ma- 
nha, mau  habito. 

2.^  SESTRO,  A,  adj.  Esquerdo. —  iá 
sestra  "ião, 

—  Sinistro.  —  O  sestro  agouro. 
SESTROSO,  A,  oaíj.  ^De  sestro,  com  o 

suffixo  <oso>\  Que  tem  sestro,  manha, 
que  toma  más  resoluções,  opiniões,  con- 
selhos, pareceres,  contra  a  prudência  e 
honra. 

—  Cavallo  sestroso;  cavallo  manhoso. 


SETE 


SETH 


SETT 


515 


SESTRDOSO,  A,  adj.  Vid.  Sestroso. 

SESUDO,  A,  adj.  Vid.  Sisudo. 

"t"  SESUS.  Termo  antiqnado.  O  mesmo 
que  Jesus. 

SETA,  ou  SETTA,  s.  /.  Frecha  de  ati- 
rar com  arco ;  algumas  eram  armadas 
de  fogo.  —  S.  Sebastião,  soldado  do  im- 
perador Diocleciano,  foi  morto  ás  settas. 

—  Setta  do  relógio;  o  ponteiro,  ou 
mào. 

—  Figuradamente  :  Cousa  ou  palavra 
que  fere,  ou  penetra  a  alma. 

—  Settas    dos   olhos ;   olhos  mui  vivos. 

—  Settas  de  inspirações;  inspirações 
que  impressionam  muito  na  alma,  e  a 
penetram. 

—  Termo  de  astronomia.  Uma  cous- 
tellaçào,  que  confina  com  a  via  láctea,  e 
fica  perto  da  águia;  tent  quatro  ou  cinco 
estrellas,  das  quaes  a  da  ponta  se  reputa 
da  quarta  magnitude. 

—  Diz-se  também:  As  settas  do  amor, 
do  adio,  da   inveja,  etc. 

SETACEO,  A,  adj.  (Do  latim  seta).  Ter- 
mo de  historia  natural.  Que  é  da  natu- 
reza das  sedas,  das  cerdas. 

—  Que  é  provido  de  sedas,  ou  de  cer- 
das, fallando  de  um  grande  numero  de 
orgàos. 

SETADA,  ».  /.  Frechada,  golpe  com 
setta. 

1.1  SETE,  adj.  num.  card.  O  numero 
posterior  a  seis,  e  anterior  a  oito.  Vid. 
Sette. 

2.)  SETE,  s.  m.  —  O  sete  é  ponto;  um 
jogo  de  dados. 

—  Aventurar  sua  pessoa  a  qualquer 
sete;  arriscar-se  levemente. 

—  Os  três  setes ;  jogo  de  cartas. 

—  Sete  de  levar;  no  jogo  da  banca,  é 
parada,  que  se  faz  do  parolim  vencido; 
se  o  ponto  a  ganha,  paga-lhe  sete  vezes 
tanto  como  a  primeira  parada. 

—  Os  setes ;  as  cartas  de  sete  pontos, 
08  pontos  que  pintam  7,  como  G  e  az,  5 
e  2,  4  e  3  nos  dados. 

—  Seie  setes. 

SETE  EM  RAMA.  Vid.  Tormentila. 

SETEAR,  ou  SETTEAR,  v.  a.  Ferir, 
golpear  co'u  setta. 

SETE-CASAS,  s.  f.  plur.  Casas  e  offi- 
ciaes  recebedores  de  impostos  sobre  gé- 
neros, para  consumo  de  Lisboa  e  seu  ter- 
mo, que  segundo  o  seu  regimento  devem 
ir  despachar-se,  e  dar  entrada  n'ellas, 
Dá-se-lhe  hoje  o  nome  de  alfandega  mu- 
nicipal. 

SETECENTOS,  AS,  adj.  num.  (Compos- 
to de  sete,  e  centos).  Sete  centenas, 
700. 

SETEESTRELLO,  s,  m.  Termo  popular. 
Vid.  Plêiades. 

SETEIRA,  ou  SETTEIRA,  s./.  Nas  for- 
tificações antigas  e  naus,  era  aberta  es- 
treita por  onde  se  enfiavam  as  settas  dis- 
paradas contra  o  inimigo.  Usa-se  nos  edi- 
ficios;  é  mais  longa,  e  estreita  que  a 
fresta. 


SETEIRO,  ou  SETTEIRO,  s.  m.  Solda- 
do armado  de  settas. 

—  Homem  que  arremessa  settas,  que 
as  atira,  homem  que  setteia. 

SETELERAU,  ou  SETELERÁO,  s.  m. 
Panno  grosseiro  de  encapar  fardos. 

SETELEVAR,   s.  m.  Vid.  Sete  (subst.) 

f  SETEMBRAL,  adj.  2  gen.  Que  per- 
tence a  setembro. 

SETEMBRO,  ou  SEPTEMBRO,  s.  m.  (Do 
latim  september),  O  nono  mez  do  anno, 
anterior  ao  mez  de  outubro,  e  posterior 
ao  de  agosto.  —  O  mez  de  seteinhro  e  o 
mez  das  vindimas. 

—  O  dia  3  de  setembro  de  714  da 
era  vulgar;  commemora  a  batalha  do  Xe- 
rez, dada  sobre  o  rio  Guadelete,  em  que 
Rodrigo  foi  vencido  pelos  mouros. 

—  O  dia  28  de  setembro ;  anniversa- 
rio  do  príncipe  real  de  Portugal  D.  Car- 
los. 

—  O  dia  27  de  setembro  de  1863 ;  a 
celebração  por  procuração,  em  Turim,  do 
casamento   de  D.  Luiz,   rei  de  Portugal. 

- —  O  dia  16  de  setembro  de  1837 ;  o 
nascimento  de  D.  Pedro  v,  rei  de  Portu- 
gal. 

—  Em  setembro  de  1857;  a  invasão 
da  febre  amarella  em  Lisboa  no  reinado 
de  D.  Pedro  v. 

—  O  dia  9  de  setembro  de  1836 ;  a 
resolução  que  teve  logar  a  fim  de  resta- 
belecer a  constituição  de  1820  em  Por- 
tugal. 

—  O  dia  24  de  setembro  de  1834;  a 
morte  de  D.  Pedro  iv  em  Queluz. 

—  O  dia  27  de  setembro  de  1810;  a 
batalha  do  Bussaco,  dada  pelo  marechal 
Massena  por  ordem  de  Napoleão. 

—  O  dia  8  de  setembro  de  1750;  ac- 
clamaçào  de  el-rei  D.  José  i. 

—  O  dia  3  de  setembro  de  17õ8; 
conspiração  contra  a  vida  de  D.  José  i. 

—  O  dia  2  de  setembro  de  1850;  ac- 
clamação  de   1).    Filippe   I  de  Portugal. 

SETEMEZINHO,  A,  adj.  Diz-se  de  uma 
creança,  que  nasceu  aos  sete  mezes,  an- 
tes das  nove  luas. 

SETEMPLICE.  Vid.  Septemplice. 

SETENADO,  uu  SETTENADO,  A,  adj. 
Termo  de  botânica.  Folhas  seteuadas ; 
folhas  de  sete  em  rama;  cada  uma  d'el- 
las  é  composta  de  sete  foliolos,  adheren- 
tes  ao  topo  de  um  peciolo  commum. 

SETENTÍIO,  s.  m.  Vid.  Septeunio. 

SETENO,  ou  SEPTENO,  A,  adj.  Se- 
ptimo. 

—  O  seteno ;  os  sete  annos  de  edade. 

—  Termo  de  medicina.  O  dia  septimo, 
critico.  Vid.  Septimo. 

SETENTA,  ou  SETTENTA,  adj.  num. 
card.  2  gen.  Sete  dezenas,  ou  sete  vezes 
dez,  ou  7(.*. 

SETENTRIÃG.  Vid.  Septentrião. 

SETENTRIONAL,  adj.  2  gtn.  Vid.  Se- 
ptentrional. 

7  SETHEANO,  SETHIANO,  ou  SETHI- 
TO,  s.  m.  Membro  de  uma  seita  de  gnós- 


ticos que  prestavam  culto  a  Seth  no  sé- 
culo II. 

SETIA,  *.  /.  Termo  de  náutica.  Em- 
barcação pequena  da  Ásia. 

—  Cano  de  madeira  que  leva  a  agua 
aos  cubos  da  roda  dos  engenhos;  é  mais 
estreito  para  a  ponta,  para  sair  a  agua 
com  maior  impeto. 

SETIAL,  s.  m.  Termo  de  armador.  As- 
sento ornado,  que  se  põe  nas  egrejas. 

7  SETICADDA,  adj.  (Do  latim  'seta,  e 
cauda'.  Termo  de  zoologia.  Que  tem  a 
cauda  terminada  por  uma  seda. 

SETIDOBRADO.  Vid.   Septemplice. 

SETIFERO,  A,  adj.  Termo  de  poesia. 
Que  tem  sedas. 

—  Que  produz  a  seda. 

—  Que  diz  respeito  á  seda.  —  Indus- 
tria setifera. 

-{-  SETIFORME,  adj.  2  gen.  (Do  latim 
seta,  e  forma).  Termo*  de  historia  natu- 
ral. Que  tem  a  forma  de  sedas. 

SETIGERO,  A,  adj.  (Do  latim  setiger). 
Vid.  Setifero. 

SETIM,  s.  m.  (Do  francez  satin).  Se- 
da com  a  superfície   mui  lisa,  e  lustrosa. 

—  Adj.  Diz-se  de  uma  madeira  do 
Brazil,  conhecida  outr'ora  pelo  nome  de 
pequiá,  pau  setim. 

SÉTIMA,  ou  SEPTIMA,  s.  f.  —  Uma 
sétima;  no  jogo  dos  centos,  são  sete  car- 
tas do  me»mo  metal. 

—  Termo  de  musica.  Sétima  maior; 
contém  cinco  tons,  e  um  semitom  maior ; 
sétima  menor;  contém  quatro  tons,  e 
dous  semitons  maiores. 

SÉTIMO,  ou  SEPTIMO,  A,  adj.  num. 
ord,  2  gen.  Diz-se  do  numero  posterior 
ao  sexto,  e  anterior  ao  oitavo.  —  No  sé- 
timo dia  da  creaçào  do  mundo  Deus  des- 
cansou. 

■ —  A  sétima  parte. 

SETINADO,  A,  adj.  Que  tem  a  super- 
fície mui  lisa,  e  lustrosa  como  o  setim. 

SETINOSO,  A,  adj.  Vid.  Setinado. 

SETO,  s.   í/i.  ^  Significação  incerta. 

7  SETOPHAGO,  s.  w.  Género  de  inse- 
ctivoros,  em  que  se  distingue  o  setopha- 
go  vermelho  de  Swainson. 

SETOURA,  s.  /,  Fouce  de  segar  sea- 
ras, ou  feno. 

SETRA,  s.  f.  Termo  usado  na  seguinte 
locução  :  Fazer  uma  setra  ao  nome;  fa- 
zer um  lavor  com  a  penna,  que  aliás  se 
diz  guarda,  para  se  não  roubar  a  firma 
com  facilidade. 

SETRINA,  s.  f.  Teima,  pertinácia,  ses- 
tro, vaidade. 

SETRO,  s.  m.  Vid.  Sceptro,  orthogra- 
phia  preferível  e  mais  em  uso. 

SETROSSOS,  s.  m.  plur.  Termo  de 
marinha.  Cavilha  de  uma  carreta  na  ar- 
tilheria. 

SETTA,   s.  f.  Vid.  Seta. 

SETTE,  adj.  num.  card.  2  gen.  Vid. 
Septe,  orthographia  mais  em  harmonia 
com  a  etymologia  latina  septem,  e  pre- 
ferida a  sete. 


516 


HEU 


SEU 


SEU 


SETUAL.  Vi.l,  Setial. 

SEU,    ou   SEO,    SUA,    adj.  jioss.  Sifçiii- 
fica    d')!lli:,    <l'<lln,    Wellim,    d'ellas.  —  O 
seu   Jilh'>   í   pouco    cstwlioso,    e   applica- 
(lo,  —  A  sua  cimn  está  be.ni  mobilada.  — 
«Polo   <[ii'J  tolo  o  tempo,  dcpoi.s  que  ar- 
ribou de  rulopuar  até  ont2[o,    gastou  cm 
aporcohiinciitos  porá  a  jornada.  Disto  foi 
\o"()  ElKov  do  IJintiio  avisado,  c  niaadou 
pedir  Boccorro  a   Ellley  de    Pilo,  que  era 
seu  gcuro,  e  cl  lo  se  preparou  pêra  espe- 
rar Pêro  Álasearenhas,  que  sabia  que  Uie 
havia   <lo   dar  muito    trabalho  pela  expe- 
rieacia   que    tiulia  de  seu  saber,  e  esfor- 
ço.»  Barro.s,    Década  4,  liv.  2,    cap.   1. 
—  «03  captiuos   foram  quarenta,  e  bum, 
em  quo  entrou  hum  primo  do   mesmo  al- 
caide Laroz  homem  do  muita  estima  en- 
tro os  mouros,  o  dous   Xeques,  e  o  adail 
de  Moleinacer,   o  o  alcaide    Dalcacerqui- 
bir,  com  os  mais  *os  seus  caualleiros,  no 
despojo  entrarão   uoucnta,    o  três   caual- 
los    muito   bcni   ajaezados,    por   a   geuto 
desta   companhia  sor   toda   nobre,   e  mui 
bem   atauia.la.»    Damião  do   (Joes,  Chro- 
nica  de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.   70.  — 
«Mas  o  principal  que  se  ha  de  procurar, 
quo    por    amor    intellectual,    e    vontade 
promptissima    sejamos    vnidos   sempre    a 
Deos,  posto  que  desacompanhados  de  sa- 
bor, c  secos,  c  sem  fumo  de  sensiuel  de- 
iiação  padecendo,  e  leuando  puramente  a 
inten<,'aõ  em  Deos,  o  quo  seu  sancto  bene- 
plácito se  cumpra  em  nos  inteiramente.» 
Fr.  Bartholomeu  dos  Martyres,  Compendio 
de  espiritual  doutrina,  cap.  10.  —  «  Por 
tanto   despois  da    alma  estar  bem  purifi- 
cada, e  pacifica,  sem  respeito  a  seu  mes- 
mo iutorosse,  nem  ansiada  por  seu  parti- 
cular  sallario  do  prazer   sensiuel,   ou  de 
paga  de  gosto,  o  consolo  temporal,  satis- 
feita  da   suauidade,    e   brandura  do   Se- 
nhor, sem  presumir  delle   dureza,  ou  as- 
pereza alguma,    antes  posta,  e  estribada 
com  toda  a  confiança  uelle,  quo  sô,  e  todo 
he  amauel,  doce,  e  brando,  e  dignissimo 
de  ser  desejado.»  Ibidem,  cap.  13.  —  oE 
he  muito  pêra  espantar,  que  sendo  nos   a 
mesma    podridão,    c  bichos    nos   habilitou 
cm  seu  amor  taõ  liberal,  e  graciosamen- 
te, que   primeiro  nos   amou,  que  pudesse 
de  nos  ser  anuído,  com  aduertencia,  que 
se  naõ  satisfizermos  a  este   amor  agrade- 
cidos com  outro  amor,    seremos  mais  mi- 
scraueis,  que  se  naõ  ouueramos  recebido 
bem  algum,  nem  o  próprio  ser  natural.» 
Ibidem,  cap.   14. —  «E  aqui  a  scrua  de 
Deos,  soja  fevto  em  mi  segundo  tua  pala- 
ura.  Acabando  a  Sonhora  de  pronunciar 
estas  palauras  de  pei-feyta  fè  e  humildade, 
logo  foy  celebrado  e\n  seu  sagrado  ventre 
osto  mysterio  de  infinita  humildade  e  cha- 
ridade,  ajuntandose  o  Verbo  diuino  (como 
disse)  ;\  humanidade  formada  por  virtude 
do  Spirito    Sancto  de  seu  puríssimo  san- 
gue.» Idem,  Catecismo  da  doutrina  chris- 
tã.  —  «Também  contra  este  mau<lamento 
peccam  todos   os    que    tem   companhia  e 


comercio  com  o  demónio,  ou  o  chamam, 
c  vsam  do  seu  j)odcrio,  como  sam  todoí 
03  fcytieeiros,  o  feyticeirui»,  benzedeiros, 
e  benzedeiras,  aduinluidorcs,  agoureyro<, 
lan(;adores  do  Bortes,  c  assi  todos  aquel- 
les  que  vam  buscar  a  qualquer  destes 
])era  lhe  administrar  alguma  cousa,  ou 
lho  pedirem  quiilquer  outra  ajuda.»  Ibi- 
dem. —  a(Jra  vendo  a  Sancta  Madre  Igre- 
ja muytos  dos  seus  filhos  estarem  nosla 
ceguoyra,  e  mudeza  s])iritual,  presos  nos 
laços  do  diabo,  por  cada  hum  dcllos,  o 
em  pessoa  de  cada  hum  dellcs,  com  ma- 
ternal affeyto,  começa  no  principio  dcsUi 
Missa  bradar,  e  gemer  ao  Senhor  dizen- 
do. Os  meus  olhos  sempre  cstam  aleuan- 
tados  ao  Senhor,  porque  clle  liurarà  meus 
peos  do  laço.  O  Senhor,  olhay  pêra  mi, 
e  auey  misericórdia  de  mi,  porque  pobre, 
o  desemparado  sou.»  Ibidem. —  «De  man- 
so se  tornou  cruel,  mandando  fazer  hum 
injustíssimo  homicídio.  Seu  filho  Sala- 
niam,  o  peccado  da  luxuria  o  trouxe  a 
ydolatrias,  e  grandíssimos  desatinos,  sen- 
do dantes  sapientissimo,  e  fauorecido  de 
Deos.  Nam  ha  peccado  que  mais  cegue  a 
alma,  c  a  faça  quasi  carne,  e  mate  uella 
todo  o  lume  da  contemplaçam,  toda  do- 
çura, e  consolaçam  spiritual.»  Ibidem. — 
«A  estes  bens  do  Ceo  se  seguem  também 
os  do  século,  no  Leuitico  prometeo  Deos 
aos  que  guardassem  os  sabbados,  que 
lhes  daria  chuua  a  seus  tempos,  que  a 
terra  criaria  as  searas,  que  as  arunres 
se  encheriaõ  de  fructos,  que  ás  colheitas 
se  seguiriaõ  as  vindimas,  que  às  vindi- 
mas se  seguiriaõ  as  searas,  que  comerião 
o  pão  em  abundância,  que  habitariaõ  nas 
casas  sem  receyo.»  I^acerda,  Carta  pas- 
toral, pag.  248. —  «Poucas  horas  depois, 
frei  João  de  S.  Joseph  recebia  do  gover- 
no oi"dem  de  se  recolher  como  desterrado 
ao  convento  de  S.  João  do  Pendurada, 
Eutre-Douro-e-Minho.  Ordem  urgente  e 
de  cumprimento  immediato,  ordem  como 
as  dava  o  conde  de  Oeiras,  o  seu  velho 
amigo  Sebastião  José  de  Carvalho.  S. 
João  de  Pendurada  I  u  Bispo  do  Gr.ão  Pa- 
rá, Memorias,  publicadas  por  Camillo 
Castello  Bi'anco. 

—  De  seu;  por  si,  de  seu  natural. 

—  A  seu  junta-se  também  d'elle,  d'tl- 
la,  para  tirar  o  equivoco,  quanda  ha  mais 
terceiras  pessoas  de  diversos  sexos.  —  O 
seu  pai  d'ella  tratou-a  asperamente. 

—  liender-se  a  seus  pés;  prostrar-so 
aos  pés  d'elle. 

Posto  nic  tem  fortiuiii  em  Uú  estado, 
K  tanta  n  seus  pós  me  tom  rendido ! 
Não  tonho  que  perder,  ja  do  perdido, 
Nem  tenho  quo  mudar,  ja  de  mudado. 
Todo  bem  para  mim  hc  acabado : 
Daqui  dou  o  viver  ja  por  vivido ; 
Que  aonde  o  mal  he  tão  couliecido. 
Também  o  viver  mais  serA  "scusado. 
c\M.,  soxBroa,  n.»  286. 

—  Deus  lavou  os  pés  dos  seus  discí- 
pulos; Deus   lavou  os  pés  dos  discípulos 


que  elle  cluunou  para  bi.  —  iPoifl  diz  o 
Euangclista  que  se  aleuantou  o  Senhor 
da  cea  dospoix  de  comido  o  Cordeyro,  c 
tirando  a  vestidura  de  cima,  cingiove  c3 
Imnia  toalha,  e  elle  por  hí  lançou  a  agoa 
em  hunia  bacia,  e  começou  de  lauar  os 
pccs  de  seus  discípulos,  c  alimpalos  com 
a  toalhíi  que  tiidia  cingida.»  Fr.  Bartho- 
lomeu dos  Martyres,  Catecismo  da  dou- 
trina christâ. 

—  Afervora  e  imprime  Deus  em  nosêoM 
cora(;Zeg  o  seu  anior;  grava  em  noMas 
almas  o  amor  d'ellc.  —  «Com  estas  e  com 
outras  muiuis  sagradas  cerimonias  traba- 
lha a  sancta  Igreja  continuamente  de  re- 
frescar, c  auiuentar  em  nossas  almas  a 
memoria  e  lembrança  de  lESV  Christo 
crucificado,  e  aferuorar  e  imprimir  em 
nossos  corações  seu  amor.»  Fr.  Bartho- 
lomeu dos  Martyres,  Catecismo  da  dou- 
trina christã. 

—  Vòr  8.  Pedro  o  seu  Deus  a  seus 
pés;  vêl-o  prostrado  aos  pés  d'elle  S.  Pe- 
dro.—  «Ouuindo  isto,  qual  he  o  vilissi- 
mo  bicho  da  terra  que  ainda  se  atreua 
ser  soberbo,  e  pertinaz  em  ódio,  duro  em 
perdoar  as  injurias,  difficultoso  pêra  fa- 
lar a  quem  o  agrauouV  se  este  exemplo 
de  infinita  humildade,  e  mansidam  nam 
bastar  pcra  arrombar  hum  tal  coração, 
bem  poilcmos  descõfiar  de  sua  saluaçã. 
Diz  o  Euãgelista  que  chegado  o  Senhor 
a  S.  Pedro  pêra  lhe  lanar  os  pês,  pasma- 
do Pedro  de  ver  seu  Jlestre,  e  seu  Deos 
a  seus  pés,  e  pêra  tal  officio,  deu  hum 
brado.  Senhor  vos  me  aueis  de  lanar  os 
pés?  Respondeo,  Pedro  o  que  eu  faço 
ainda  que  agt>ra  não  entendas  porque  o 
taco,  despois  o  entenderas.»  Fr.  Bartho- 
lomeu dos  Martyres,  Catecismo  da  dou- 
trina christã. 

—  Satisfazer  aos  seus  appetites;  satis- 
fazer ás  próprias  paixões.  —  «E  ja  aqui 
começaras  a  entender  teu  desatino,  igno- 
rância, e  cegueyra,  que  deuendo  tu  de  te 
prezar  somente  da  nobreza,  e  alteza  de 
tua  alma,  e  assi  empregar  todos  teus  cuy- 
dados,  e  diligencias  em  affermosear,  e 
ornar,  e  negocear  sua  saluaçam,  nam  o 
fazes  assi,  mas  todo  teu  estudo  he,  re- 
crear, o  trazer  contente  tua  torpe  carne, 
satisfazendo  a  seus  appetites,  daudolhe 
seus  deleytes,  esforçandoa  contra  o  espi- 
ritu,  pêra  quo  o  empeçonhente,  pêra  que 
o  destrua,  e  lanço  em  perdiçam  |)erpe- 
tua.»  Fr.  Bartholomeu  dos  MartjTes,  Ca- 
tecismo da  doutrina  christã. 

—  Mertcer  com  a  graça  de  Deus  o  seu 
amor;  merecer  o  amor  de  Deus  com  a 
sua  graça. — «Fora    de    que  hai    poucos 

taõ  cõformes  no  humor,  opinião,  e  costu-  M 
me,  que  naõ  discrepem  algumas  vezes,  e  ■ 
se  desaueniiaõ  quebrado  o  vinculo  de 
amizade  fraterna.  Por  tanto  entregamos 
sò  a  Deos,  tratai  de  cuntentar-lhe,  e  me- 
recer com  sua  graç.a  seu  amor.»  Frei 
Bartholomeu  dos  ilartyres,  Compendio 
de  espiritual  doutrina. 


SEVE 


SEXA 


SEXT 


517 


—  De  seu  (entendendo-se  vagar) ;  des- 
cançado,  com  descanço. 

—  De  seu  se  está;  é  claro,  bem  con- 
cluído, visto,  palpável,  inquestionável, 
obvio. 

—  Substantivamente  :  O  seu ;  aquillo 
de  que  elle  é  senhor  proprietário.  —  Dar 
o  seu  a  cada  um. 

—  Pron.  poss.  quando  não  tem  claro 
o  substantivo  com  quem  concorda.  —  O 
livro  a  que  me  reporto  é  seu.  —  A  casa 
em  que  fallo  é  sua. 

SEVADEIRA,  s.  f.  (Do  francez  siva- 
dière).  Vid.  Cevadeira. 

SEVANDIJA,  s.  f.  Vid.  Cevandija,  e 
Cevandilha. 

SEVANDIJAR,  v.  a.  Termo  popular. 
Tratar  com  falta  de  decência,  tratar  in- 
decorosamente. 

—  Sevandijar-se,  r.  rejl.  Portar-se  in- 
decorosamente,  praticando  actos,  que  aba- 
tem, e  que  fazem  descer  da  dignidade  do 
homem. 

SEVANDUHA,   s.  /.  Vid.   Cevandilha. 
SEVADO,  part.  pass.  de  Sevar. 
SEVAR,  r.  a.  Vid.  Cevar. 
SEVE,  s.  f.  Vid.  Sebe,  e  Seiva. 

—  6'.  m.  —  O  seve  ;  jogo  de  dados; 
outr'ora  o  sette  é  ponto  (oriundo  do  in- 
glez  sevem. 

SEVERAMENTE,  adv.  (De  severo,  com 
o  sufSso  ementei'.  De  um  modo  severo. 

—  Punir,  castigar  severamente.  —  A  po- 
litica romaria,  que  defendia  tão  severa- 
mente as  religiões  estrangeirai. 

—  Com  gosto  severo.  —  Isso  é  escripto 
severamente. 

—  Com  severidade,  com  rigor. 
SEVERIDADE,  s.  f.  (Do  latim  severitas, 

de  sei-e;-íís;.    Qualidade  do  que  é  severo. 

—  A  severidade  produz  a  obediência. 

—  Grande  regularidade.  —  A  severi- 
dade dos  costumes,  e  do  caracter  de  um 
individuo. 

—  A  severidade  das  mulheres;  o  cui- 
dado com  que  elles  repellem  as  tentações 
amorosas. 

—  Diz-se  do  gosto  das  composições  lit- 
terarias  ou  artísticas.  —  A  severidade  do 
gosto. 

—  Diz-se  dos  climas. 

—  Seriedade  grave  de  quem  educa, 
governa;  própria  dos  velhos,  Vid.  Se- 
vero. 

—  Syn.  :  Severidade,  rigor. 

A  severidade  encontra-se  principal- 
mente no  modo  de  pensar  e  de  julgar. 

O  rigor  acha-se  no  modo  de  castigar. 

A  severidade  condemna  facilmente  sem 
admittir  escusa;  o  rigor  nem  suavisa  a 
pena,  nem  perdoa  cousa  alguma. 

Diz-se  o  rigor  do  tempo,  do  inverno, 
etc,  e  nâo  se  pôde  dizer  severidade,  por- 
que não  é  cousa  que  exista  no  animo, 
senão  que  so  experimenta  no  corpo. 

A  severidade  oppõe-se  a  equidade  oti 
a  indulgência;  ao  rigor  oppõe-se  a  bran- 
dura, e  nos  príncipes  a  clemência. 


SEVERÍSSIMO,  A,  adj.  superl.  de  Se- 
vero.   Mui   severo.  —  Leis  severíssimas. 

SEVERO,  A,  adj.  (Do  latim  severus  . 
Que  impõe  rigorosamente  as  cousas,  que 
não  tem  indulgência.  —  É  mais  severo 
para  os  outros  que  para  si  mesmo.  — 
Um  pae  severo  pt'^'''^  com  seus  jilhos. 

—  Diz-se  das  cousas  em  um  sentido 
análogo.  —  Uma  puniçõj}  severa. 

—  /6'orte  severa,  destino  severo ;  sorte, 
destino  que  trata  o  homem  sem  indul- 
gência. —  Eu  o  exponhj  aos  rigores  da 
sort^  a  mais  severa. 

—  Clima  severo ;  clima  frio  e  duro. 

—  Que  exige  uma  exactidão  rigorosa. 

—  Que  indica,  que  annuncia  que  se  é 
severo.  —  Uma  fronte  severa.  — Ar  som- 
brio e  severo. 

—  Muito  regular,  conforme  á  regra. 
—  Uma  virtude,  uma  moral  severa. 

—  Termo  de  litteratura  e  d'artes.  No- 
bre e  regular,  sem  elegância  affectada, 
sem  ornatos  affectados.  —  Um  estylo  se- 
vero. 

—  Diz-se  também  de  uma  figura  que 
tem  mais  regularidade  que  attractivo.  — 
Uma  belleza  severa. 

— ■  Leis  severas ;  leis  que  impõe  penas 
rigorosas. 

SEVÍCIA,  s.  /.  (Do  latim  scevitia). 
Termo  de  jurisprudência.  O  mau  trata- 
mento que  o  marido  dá  á  mulher,  o  pae 
ao  filho,  o  senhor  ao  escravo,  quando  ex- 
cede os  termos  da  correcção  domestica, 
etc. 

—  Dar  sevícias  ;  no  foro,  dar  sentença 
de  separação  por  sevícias,  entre  marido 
e  mulher, 

—  Figuradamente :  Crueldade  ferina, 
de  fera. 

SEVICIAR,  V.  a.  Fazer  sevícias,  mal- 
tratar cruelmente  castigando,  a  mulher, 
filhos,  escravos,  ou  pessoas  subordinadas 
a  quem  as  pôde  castigar  com  modera- 
ção. 

SEVISSIMO,  A,  adj.  superl.  de  Sevo. 
Mui  sevo. 

1.)  SEVO,  s.  »n.  (Do  latim  sevum).  Vid. 
Sebo,  ou  Cebo. 

2.)  SEVO,  A,  adj.  (Do  latim  scevus  . 
Cruel,  sanguinário,  deshumano,  cruento. 

—  Que  faz  sevícias,  que  castiga  sevi- 
ciando. 

SEVOSO,  A,  adj.  Vid.  Seboso. 

SEXAGENÁRIO,  A,  adj.  (Do  latim  se- 
xagenarius,  de  sexaginta).  Que  tem  ses- 
senta annos.  —  Um  homem,  uma  mulher 
sexagenária. 

—  Divisão  sexagenária;  divisão  que 
se  faz  de  um  todo  em  sessenta  partes,  os 
minutos  em  sessenta  segundos,  um  segun- 
do em  sessenta  terceiros,  etc. 

SEXAGÉSIMA,  *.  /.  (Do  latim  sexagé- 
sima, subentendendo-se  dies,  de  sexa- 
ginta). O  domingo  que  precede  quinze 
dias  o  primeiro  domingo  da  quaresma,  — 
O  domingo  da  sexagésima. 

f  SEXAGESIMAL,  adj.   2  gen.  Termo 


de  matbematica.  Que  se  refere  ao  nume- 
ro sessenta. 

— •  Fracções  sexagesimaes ;  aquellas 
cujo  denominador  é  uma  potencia  de  ses- 
senta. 

—  Divisão  sexagesimal ;  a  divisão  do 
circulo  em  360  graus,  subdivididos  cada 
um  em  60  minutos,  e  estes  em  60  segun- 
dos, e  estes  em  60  terceiros,  etc.  — 
Graus  sexagesimaes. 

SEXAGÉSIMO,  A,  adj.  (Do  latim  sexa- 
gesimusi.  Que  fica  depois  do  quinquage- 
simo  nono. 

t  SEXANGULAR,  adj.  2  gen.  Termo 
didáctico.  Que  tem  seis  ângulos. 

SEXANGULO,  s.  m.  Vid.  Hexágono. 

SEXCENTESIMO,  A,  adj.  (Do  latim  sex- 
centesimus).  Correspondente  ao  numero 
de  seiscentos.  Diz-so  talvez  melhor  seís- 
centesimo. 

f  SEXDECIMAL,  adj.  2  gen.  (Do  latim 
sex,  e  decimal).  Termo  de  mineralogia. 
Que  tem  a  forma  de  crystaes  terminados 
por  dezeseís  faces. 

f  SEXDIGITAL,  adj.  2  gen.  (Do  latim 
sex,  e  digitus).  Diz-se  de  uma  mão  e  de 
um  pé  que  tem  seis  dedos. 

i  SEXDIGITARIO,  A,  adj.  (Do  latim 
sex,  e  digitus).  Que  nasceu  com  seis  de- 
dos. 

—  Substantivamente :  Um  sexdigíta- 
rio. 

f  SEXDIGITISMO,  s.  m.  A  producçào 
de  seis  dedos  n'uma  ou  mais  extremida- 
des. 

7  SEXENNAL,  adj.  2  gen.  (Do  latim 
sexennis,  de  sex,  e  annus).  Que  tem  lo- 
gar  todos  os  seis  annos. 

SEXENNIO,  s.  m.  (Do  latim  sexennium). 
Espaço  de  seis  annos. 

7  SEXIFERO,  A,  adj.  (Do  latim  sexus, 
e  ferre).  Termo  de  historia  natural.  Que 
é  munido  de  órgãos  sexuaes. 

SEXMA,  s.  /.,  ou  SEXMO,  s.  m.  A  sex- 
ta parte  de  uma  vara  ou  corado. 

SEXO,  í.  m.  (Do  latim  sexus).  DifFe- 
rença  constitutiva  do  macho  e  da  fêmea 
nos  animaes  e  nas  plantas.  —  O  sexo 
masculino.  —  O  sexo  feminino.  —  Mui- 
tas plantas  reúnem  os  dous  sexos  nas 
suas  Jiôres. 

—  NòU)  ter  sexo ;  estar  privado,  por 
accidente  ou  por  velhice,  das  faculdades 
sexuaes . 

—  Collectivamente :  Os  homens,  ou  as 
mulheres. 

—  O  bello  sexo ;  o  sexo  amável,  as 
mulheres.  —  Amar  o  bello  sexo. 

—  O  sexo  fraco;  as  mulheres. 

—  O  sexo  devoto;  as  mulheres. 
SEXQUIALTERA.  Vid.  Sesquialtera. 
SEXTA,  s.  /.  Termo    de    antiguidade. 

A  terceira  das  quatro  partes  do   dia  en- 
tre os  romanos. 

—  Termo  de  liturgia  canónica.  Hora 
canónica  entre  a  terça  e  a  nôa, 

—  No  jogo  dos  centos,  são  seis  cartas 
seguidas  do  mesmo  metal. 


518 


SEXT 


SI 


SIAK 


—  Tonuo  de  uiu.iica.  A  sexta  6  ou 
maior,  (iiiamlo  contúiu  'juatio  tuna  c  uui 
Bcmitoin  maior,  ou  viewn-,  <|uaiido  coii- 
t6rn    tro.s    tou.s    o  douH  seiíiitoiís  niaioruu. 

SEXTA-FEIRA,  .'.  /.  <->  «i^xto  dia  da  se- 
mana, anterior  ao  Habbado,  e  posterior  ;l 
quinta  feira,  entre  quiuta-feira  o  o  sab- 
bado. 

—  Sexta-feira  da  Paixão,  ou  sexta-fei- 
ra  santa;  sexta-fcira  da  Hcmana  de  cn- 
doen<,'a8,  dôrea  ou  paixões  do  tíeahor,  dia 
de  »ua  morte. 

SEXTANTE,  s.  m.  (Do  latim  8ej:laniiím, 
de  *«J).  Itistrumonto  de  reflexão,  tendo 
um  limbo  dividido  em  sessenta  ^raus,  que 
serve  para  uiodir  os  anf^ulos;  esto  inatru- 
mento  njlo  tom  necessidade  do  estar  li- 
xo, conserva-se  na  mào  durante  a  obser- 
vaçílo,  o  que  o  torna  particularmente  útil 
aoa  marinheiros. 

—  Termo  de  geometria.  A  sexta  parte 
de  um  circulo,  arco  de  sessenta  graus. 

—  i*equena  constellaySo  boreal. 
SEXTARIO,  s.  m.  (Do  latim  sextariua). 

Medida  romana  para  liquides  e  seccos,  a 
sexta  parte  do  congio  o  doze  cyathos. 

SEXTAVADO,  A,  adj.  Que  tem  seis  ía.- 
ces  e  seis  ângulos. 

SEXTEIRO,  s.  ni.  (Do  latim  sextarius). 
A  sexta  parto  de  um  moio,  segundo  toda 
a  dittercn(;a  ou  numero  de  medidas  do 
que  cUo  constava;  por  exemplo,  so  cons- 
tava do  doze  alqueires,  era  o  sexteiro  de 
dous;  86  de  trinta,  era  de  cinco  alquei- 
res ;  e  sendo  de  sessenta,  constava  de 
dez. 

SEXTERCIO,  s.  m.  Vid.  Sestércio. 

SEXTIL,  adj.  2  gm.  (Do  latim  sexti- 
lis).  Termo  do  astrologia.  Asi)ecto  sex- 
til ;  o  aspecto  de  dous  planetas  que  estão 
afastados  entro  si  sessenta  graus  ou  dous 
signos  inteiros,  que  fazem  a  sexta  parte 
do  zodiaeo. 

SEXTILHA,  s.  f.  Vid.  Sextina. 

SEXTINA,  s.  /.  Estancia  de  seis  ver- 
sos em  que  as  ultimas  palavras  vem  para 
o  fim  dos  versos  das  sextinas  seguintes, 
sempre  por  esta  ordem :  o  ultimo,  o  pri- 
meiro, o  penúltimo,  o  segundo,  o  quarto, 
o  terceiro. 

SEXTO,  A,  adj.  (Do  latim  sextas).  Diz- 
se  do  numero  que  fica  entre  o  quinto  e 
o  sétimo;  que  é  posterior  ao  quinto  e  an- 
terior ao  sétimo.  ■ —  O  sexto  dia  lectivo. 

—  Substantivamente:  O  sexto.  —  «Que 
o  primeiro  giro  fora  para  impropério  da 
extenção  dos  brat,'os  de  Ohristo,  o  segun- 
do em  ilesprezo  da  sua  mysteriosa  coroa, 
o  terceiro  em  ludibrio  de  seu  precioso 
pranto,  o  quarto  cm  afronta  de  seu  diui- 
no  rosto,  o  quinto  cm  otfensa  de  seu  amo- 
roso lado,  o  sexto  em  detraci;ào  de  sua 
inefauel  diuindade.»  Lacerda,  Carta  pas- 
toral, paiT.  liU. 

SEXTOGENITO,  A,  adj.  O  sexto  geni- 
to,  o  sexto  filho. 

-j-  SEXTULO,  s.  Vi.  (,Do  latim  aextuk, 
de   »ex).  Termo  de  pharmacia.    Peso   de 


quatro  cscropuios,  equivaleato  a  b  gram- 

mas  e  10  (•iMitiírniuiinas. 

SEXTUMVIRATO,  *.  m.  Tribunal  de  seis 
magi  Tirados. 

—  (Cilicio  de  sextumviro. 
SEXTUMVIRO,    «.    ni.    Magistrado    do 

uni  tribunal  ou    junta   composta   do  seis. 
SEXTUPLO,  A,  adj.    (Du  latim    sextu- 
plos,   de  ítx).  Quo  vale  seis  vezes  tanto. 
—  12  c  sextuplo  de  2. 

—  ti.  111.  Numero  sextuplo.  —  O  sex- 
tuplo de  12  t  2. 

SEXUAL,  adj.  2  ijen.  (Do  latim  texua- 
lia,  de  sexus),  Quo  diz  respeito  ao  sexo, 
quo  o  caracterisa  nos  animaes  o  nas  plan- 
tas. —  Partas  sexuaes. 

—  tíystema  sexual ;  theoria  que  reco- 
nhece 03  dous  sexos  nas  plantas.  —  Lin- 
neo  para  estabelecer  o  systema  sexual 
das  plantas,  fez  vêr  os  pistilios  o  os  es- 
tames  em  todas  as  tlôres  e  em  todos  os 
vegetaes. 

—  Órgãos  sexuaes ;  nos  animaes,  as 
partes  geuitaes  externas ;  nas  plantas, 
os  estamcs  e  os  pistilios. 

—  Quo  diz  respeito  ao  sexo.  —  Irutin- 
cto  sexual. 

SEXUALISMO,  ou  SEXUALIDADE,  s.  f. 
O  que  forma  o  sexo,  qualidade,  modo  de 
ser  do  que  ó  sexual.— .á  sexualidade 
dus  animais,  das  plantas. 

—  Modo  de  divisão  das  partes  genitaes 
sobre  um  mesmo  individuo  ou  em  indivi- 
dues differentos. 

—  Doutrina  dos  botânicos  sexualistas, 
que  admittem  nos  vegetaes  sexos  análo- 
gos aos  dos  animaes. 

SEXUALISTA,  s.  2  gen.  BoUnico  que 
segue  o  scxualismo. 

SEYAMENTO,  s.  «i.  Termo  antiquado. 
Exe(|uias,  funeral. 

SEYAR,   V.  a.  Vid.   Seiar. 

SEYAVOGA.  Vid.  Seiavoga,  e  Seiar. 

SEYFIA.   Vid.  Seifia. 

SEYO.   Vid.    Seio. 

SEZÃO.   Vid.  Sesão,    Sasão,  ou  Sazão. 

SEZENO,  A,  adj.  Termo  de  tecelão. 
Pa  II  no  sezeno;  panno  de  IGOO  tios  de 
ordidura. 

SEZIRÃO.  Vid.  Cezirão,  ou  Cizirão. 

SEZONATICO,  A,  adj.  Diz-se  do  lugar 
onde  ha  sezões. 

—  Sujeito  a  sezões.  —  Sitio  sezona- 
tico. 

—  Maleitoso,  sujeito  a  maleitas. 
SEZÕES,  *.  /.  plur.  Termo  de  medici- 
na. Vid.  Sezão. 

SEZUDO,  A,  adj.  Vid.  Sisudo. 

—  Serio.  —  Homem  sezudo. 
SHILLING,  s.  J/l.    (Do  inglez  shilliiig). 

Moeda  de  prata  ingleza  que  vale  180 
reis  ao  par  da  nossa  moeda;  vinte  d'elles 
fazem  uma  libra  esterlina,  vinte  o  um  fa- 
zem um  guinéo. 

SI,  pron.  pess.  sing.  da  terceira  pes- 
soa, que  se  emprega  com  aa  preposições 
a,   de,  para.  Vid.  Sigo. 

—  Diz-se    das   pessoas    o   das   cousas. 


Quando  se  diz  daa  pessoas,  refer&4e  em 
geral  a  um  individuo  que  deep<;rta  uma 
idêa  vafía,  e  indeterminada.  —  Cada  um 
só  pensa  em  si. 

—  Pijde  tautbcm  tomar-se  como  am 
nomo  de  pOA.soa,  n'um  sentido  determina- 
do, quando  se  trato  de  evitar  um  equi- 
voco. —  Um  mancebo,  obeiitcendo  a  atxí 
pae,   traballia  para  si. 

—  Emprega-.io  também  quando  a  ter- 
ceira pessoa  vem  em  relaçio  comaigo 
mesmo. 

—  Fazer  as  coxisas  de  si  memo ;  fa- 
zei-as  por  seu  moto  próprio,  sem  mando, 
ou  pcrsuasilu. 

—  Exceder-se,  ou  levantar-se  sobre  si; 
fazer  obra»   maior.es  que  as  do  coetumc. 

—  Homem  sobre  si;  homem  que  u2o 
conversa  outros,  e  tem  ar  do  esquivo  e 
soberbo. 

—  Estar  em  si;  muito  em  si;  senhor 
d*  si;  o  que  nSo  está  turbado  de  paixÃo, 
mas  em  seu  accordo  e  valor. 

—  Nascer  por  si ;  sem  ser  semeado, 
nem  cultivado. 

—  Tomar  sobre  si ;  fazer  volta  do  erro, 
imprudência  que  ia  a  fazer,  considerar 
no  que  cumpre. 

—  Este  homem  não  está  em  si ;  está 
como  alienado,  distrahido,  desattento. 

—  Cair  em  si ;  conhecer  o  erro  em  que 
tinha  caído,  advertir  no  descuido,  ou 
erro. 

—  Também  se  diz :  Maior  que  si  mes- 
mo. 

—  De  si  mesmo;  de  si  próprio. 

—  Diz-se  também  outro  elle  quando  é 
idêntico  de  uma  terceira  pessoa  do  que 
falíamos. 

—  Vid.  Sim. 

—  Adagio  e  provérbio: 

—  Nào  dar  já  por  si,  nem  pela  al- 
barda. 

SIA.  Forma  variável  antiquada  de 
seer.   Estava. 

SIADES.   Forma    antiquada.  Estejaes. 

SIAHGOUSCH,  s.  m.  Termo  de  zoolo- 
gia. Quadrúpede  do  tamanho  de  um  gato, 
que  dizem  ser  na  c;i<;a  o  guia  do  leSo. 

SIALAGOGO,  A,  a^ij.  (Do  grego  *iaZt>n, 
e  agúi.  Termo  de  medicina.  Que  excita  a 
salivar.  —  Medicamento  sialagogo. 

—  Emprega-se  também  como  substan- 
tivo. —  O  sialagogo. 

SIALISHO,  s.  m.  Termo  de  medicina. 
Salivaç.^o. 

SIALOLOGIA,  *.  /.  Do  grego  siahn,  e 
loqos).  Termo  de  medicina.  Discurso  so- 
bre a  .«aliva,  tratado  sobre  a  saliva. 

f  SIALOLOGICO,  A,  adj.  Termo  de 
medicina.  Que  tem  relação  com  a  aiaio- 
logia. 

SIAR,  v.  a.  Termo  de  volateria.  Siar 
a  ave  as  azas;  cerral-as,  dejx>is  de  afer- 
rar a  ralé,  para  cair  com  cila  mais  de- 
pressa. 

—  Termo  de  náutica.  Vid.  Ciar,  e 
Seiar. 


SICA 


SIDE 


SIDE 


519 


SIATICA,  s.  f.  Vid.  Sciatica. 

SIAVOGA,  s.  /.  Vid.  Ciavoga. 

1..  SIBA,  s.  f.  (Do  latim  sepia^.  Ter- 
mo de  zoologia.  Peixe  vulçar. 

2.1  SIBA,  ou  GIBA,  s.  /.'  Vid.  Moldar, 
e  Molde. 

SIBALA,  «.  /.  Nome  dado  em  Solor  a 
certo  cenero  do  palmeiras  bravas. 

SIBANA,  s.  f.  Termo  antiquado.  Bar- 
raca, choupana,  tenda  de  campo,  palho- 
ça, cabana. 

SEBAR,  s.  m.  Termo  da  Ásia.  Embar- 
cação maior  que  o  irarangue. 

SIBILANTE,  part.  act.  de  Sibilar.  Que 
sibila.  —  Vento  sibilante. 

Bem  como  quando  a  flamma,  quo  ateada 
Foi  nos  áridos  campos,  (assoprando 
O  sibilante  Bóreas)  animada 
Co'o  vento,  o  secoo  mato  vae  queimando  : 
A  pastoral  companha,  que  deitada 
Co'o  doce  sorano  estava,  despertando 
Ao  estridor  do  fogo,  que  se  ateia, 
Eecolhe  o  fato  e  foge  para  a  aldeia. 
CAM.,  tus.,  cant.  3,  est.  49. 

SIBILAR,  V.  n.  (Do  latim  sibil<ire). 
Assoprar  com  um  zunido  agudo. 

—  Assobiar,  como  a  cobra,  a  serpente. 
SIBILARIO,  aãj.  Vid.  Sibillico. 
SIBELLA,  ou  SYBILLA,  s.  f.  Çòo  latim 

sybilla),  Xome  dado  a  muitas  mulheres 
que  se  consideravam  como  inspiradas  dos 
deuses,  e  que  appareciam  em  diversas 
partes  do  mundo.  Todos  os  auctores  va- 
riam sobre  o  numero,  e  nome  das  sybil- 
las;  a  mais  notável  de  todas  é  a  sybilla 
de  Climas,  na  Itália.  —  Predicções  da  sy- 
billa. —  Os  furores  du  sybilla.  —  Os  li- 
vros da  sybilla. 

—  Figuradamente  :  Diz-se  de  uma  mu- 
lher de  edade  que  é  má. 

SIBILLICO,  ou  SIBILLINO,  A,  adj.  (Do 
latim  si/biUinus]i.  Quo  pertence  a  uma 
sybilla.  —  O  século  sybillino.  —  Os  li- 
vros sybillinos. 

—  Livros  sybillinos ;  livros  que  conti- 
nham as  pretendidas  predicções  das  sv- 
billas. 

—  Estylo  sybillino ;  estylo  inintelligi- 
vel,  como  é  o  das  taes  prophetizas. 

■}•  SIBILLISMO,  s.  7/1.  Crença  nos  li- 
vros sybillinos. 

—  Raciocinio,  opinião  sobre  os  livros 
sybilUnos. 

"  SIBILLISTA,  s.  m.  Livro  das  sybillas, 
composto  por  ellas. 

SIBILO,  s.  m.  (Do  latim  sibilus).  Ter- 
mo pouco  em  uso.   Assobio  agudo,   silvo. 

f  SIBITAR,  V.  a.  Termo  de  náutica. 
Assobiar,  fazer  zunido  agudo. 

SICARIATO,  a.  m.  Morte  praticada  com 
faca.  ou  adaga. 

SICÁRIO,  s.  m.  (Do  latim  sicarius). 
Assassino,  armado  de  faca  de  ponta,  ada- 
ga, e  similhantes  armas  occultas  e  alei- 
vosas. —  Pagar  a  sicários. 

—  Diz-se  sobretudo  dos  judeus,  que, 
durante  o  cerco  de  Jerusalém,  matavam 


os  que  não  eram  do  seu  partido  com  es- 
padas curvas  á.  maneira  de  punhae.s,  que 
03  romanos  denominavam  sica. 

SICCATIVO,  A,  adj.  (Do  francez  sicca- 
tif).  Que  tem  a  propriedade  de  fazer 
seccar. 

—  Substancias  siccativas  ;  diz-se  par- 
ticularmente das  substancias  que  fazem 
seccar  em  pouco  tempo  as  cores  com  que 
se  misturam. 

—  Substantivamente :  Um  siccativo. 
SICERA,  a.  /.   Todo  o  licor   que  pôde 

embebedar,  excluindo  o  vinho. 

-}■  SICILIANNA,  s.  /.  Espécie  de  dança. 

—  Avia  que  se  executa,  a-|-,  em  mo- 
vimento moderado  ;  cada  medida  d'esta 
ária  começa  por  três  colcheias,  sendo  a 
primeira  um  ponto  após  uma  nota. 

SICINNIS,  s.  m.  (Do  latim  sicinnium). 
Espécie  de  baile  ou  dança,  de  que  usa- 
ram os  antigos. 

SICINNO,  A,  adj.  Próprio  dos  sicinnis- 
tas,  que  dançavam  cantando  nas  exéquias 
sons  tristes,  e  melancólicos. 

SIGLA,  s.  /.  Vid.  Sigla,  pois  Sicla  é 
talvez  erro. 

SICLO,  s.  m.  (Do  latim  siclus).  Moeda 
dos  judeus,  de  prata  pura,  valendo  qua- 
tro drachmas,  igual  a  800  reis. 

—  Grande  siclo  ;  oito  drachmas  ou 
lâ>600  reis. 

—  Siclo  árabe;  moeda  da  Per.sia  que 
valia  sete  óbolos  atticos  e  meio,  segundo 
a  opinião  mais  geral,  e  oito  óbolos  se- 
gundo alguns  auctores. 

—  Havia  também  siclos  de  cobre. 
SIGOMGRO,  s.  m.  Vid.  Sycomoro. 
SICOPIRA,   s.f.  Madeira  muito  rijado 

Brazil,  multo  boa  para  empregar  na  cons- 
trucção.  Vid.  Sipipira. 

—  Sicopira  merí,  sioopira  açu;  menos 
forte  de  fevera  e  mais  entremeada  de 
branco, 

SICRANO,  A,  s.  Nome  usado  para  de- 
signar pessoa  incerta;  corresponde  a  Fu- 
lano. 

SICROCIO,  A,  adj. —  Unguento  sicro- 
cio ;  unguento  usado  na  pharmacia, 

—  Cousa  que  significa  mais  do  que  sôa. 
SIDERAÇÃO,    s.  /.    (Do   latim  sidera- 

tio).  Termo  de  astrologia.  Influencia  sú- 
bita attribuida  a  um  astro,  sobre  a  vida 
ou  saúde  d'uma  p&ssoa. 

—  Termo  de  medicina.  Estado  de  ani- 
quilação siibita,  produzida  por  certas  doen- 
ças, que  parecem  atacar  os  órgãos  com  a 
rapidez  do  raio,  ou  do  relâmpago,  como 
a  apoplexia. 

SIDERAL,  adj.  2  gen.  (Do  latim  side- 
ralis,  de  sidus\.  Termo  de  astronomia. 
Que  tem  relação  com  os  astros.  —  In- 
Jluencia  sideral. 

—  Astronomia  sideral;  estudo  das  es- 
trellas, 

—  Revolução  sideral ;  o  tempo  que  gas- 
tam os  planetas  em  fazer  o  seu  gvro  em 
roda  do  sol. 

—  Dia  sideral ;  tempo  que  corre  en- 


tre dous  gyros  consecutivos  de  uma  mes- 
ma estrella  ao  meridiano  de  um  logar.  O 
dia  sideral  ó  um  pouco  menor  que  o  dia 
ordinário;  differe  d'elle  pouco  mais  ou 
menos  quatro  minutos. 

—  Hiyra  sideral ;  hora  determinada  di- 
vidindo o  dia  sideral  em  24  horas, 

—  Pêndulo  sideral ;  aquelle  que  mar- 
ca o  tempo  sideral, 

—  Anno  sideral  ;  tempo  comprehendi- 
do  entre  duas  coincidências  successivas 
do  centro  do  sol  com  uma  mesma  estrel- 
la; é  de  265  dias,  6  horas,  9  minutos  e 
12  segundos,  um  pouco  maior  que  o  anno 
trópico  ou  solar,  e  um  pouco  menor  que 
o  anno  anomalistico.  O  anno  sideral  co- 
meça quando  o  sol  parece  estar  no  ponto 
equinoxial  da  primavera,  e  termina  no 
gyro  apparente  do  astro  no  mesmo  pon- 
to. O  anno  sideral  excede  o  anno  trópi- 
co médio  de  20'  20",  em  consequência  da 
precessão  dos  equinoxios.  O  anno  side- 
ral ó  o  anno  trópico  augmentado  do  tem- 
po necessário  ao  sol  para  descrever  um 
arco  egual  ao  movimento  dos  equino- 
xios. 

—  Bevolução  sideral  da  lua ;  tempo 
empregado  pela  lua  para  tornar  a  occu- 
par  a  mesma  posição  em  relação  ás  es- 
trellas. 

—  Observações  sideraes  ;  observações 
supersticiosas  que  os  árabes  introduziram 
na  medicina. 

f  SIDERANTE,  adj.  2  gen.  Que  é  pro- 
duzido pela  sideração. 

SIDÉREO,  A,  adj.  (Do  latim  sidereu-s). 
Termo  de  poesia.  De  astro,  de  estrel- 
las. 

f  SIDERIDES,  s,  /,  p?wr.  Termo  de  mi- 
neralogia, Faniilia  mineral  que  contém  o 
ferro. 

f  1.)  SIDERITE,  s.  /.  (Do  latim  sideri- 
tis).  Substancia  metallica  que  se  encon- 
tra combinada  com  certas  espécies  de 
ferro. 

2.)  SIDERITE,  s.  f.  (Do  latim  sideri- 
tis).  Certa  planta  de  que  faz  menção  Plí- 
nio, e  de  que  ha  varias  espécies. 

SIDEROGRAPHIA,  s.  f.  (Do  grego  si- 
deras, e  graphó'.  Arte  de  gravar  em  aço. 

"1-  SIDEROLITHICO,  ar/J.  Termo  de  geo- 
logia. Que  tem  rochas  ferruginosas.  — As 
bacias  siderolithicas. 

SIDEROMANCIA,  s.  /.  (Do  grego  side- 
ras, e  vuinteia).  Arte  de  predizer  o  fu- 
turo por  meio  do  ferro  em  braza,  sobre 
o  qual  se  deitava  palha,  para  observar, 
pelas  figuras  resultantes  de  suas  faiscas 
ou  cinzas,  o  que  se  devia  temer  ou  espe- 
rar do  futuro. 

f  SIDEROPLESITE,  s.  f.  Ferro  carbo- 
natado magnesiano  crvstallisado. 

SIDEROSE,  s.  /.  Mineral  que  é  um  car- 
bonato de  ferro.  E  muito  variado  nas  suas 
formas. 

7  SIDEROSTATO,  s.f.  Instrmnento  in- 
ventado por  Forcault,  e  que  permitte  á 
astronomia  estudar  a  luz  dos  astros  exa- 


520 


SIGA 


SION 


8IGN 


ctamcnto  como  o  phyeico  estuda  a  luz  do 
sol  na  oamarn  oscura. 

SIDEROTECHNIA,  *.  /.  (Do  prepo  «t- 
dero»,  o  tiirknr).  Arte  fio  tratar  das  mi- 
na.^  (Ic.  fcmi  |>aia  i'Xlrahir  o  metal. 

f  SIDEROTECHNICO,  A,  adj.  Que  diz 
respeito  á  siileiíiteehiiia. 

f  SIDEROXYDO,  .«.  »«•  Género  quo  en- 
cerra (IS  (ix\ii<>H  (Ic.  ferro. 

f  SIDERURGIA,  s.  f.  Fabrico  do  fer- 
ro;  art(^  lie  trabalhar  o  ferro. 

f  SIDERÚRGICO,  A,  adj.  Quo  diz  res- 
peito il  siderurgia.  —  A  industria  side- 
rúrgica. 

SIDO,  part.  pass.  de  Ser.  Emprega-so 
com  os  auxiliares  do  possessão. 

SIEDA,  s.  f.  Assento,  cadeira,  sede, 
ou  tribunal  do  juiz.  Vid.  Seeda,  ou  Seda. 

SIEIRO,  s.  m.  Vid.  Cieiro. 

SIENCIA,  s.  /.  Vid.  Sciencia. 

SIESTRA,  s.  /.  Termo  antiquado.  Ses- 
tra. 

—  Mão  siestra ;  mão  sestra,  esquerda. 
SIFAC,  s.  ni.    Termo   do    cirurgia.   O 

peritoneu. 

SIFÃO,  s.  m.  Vid.  Bomba,  c  Siphão. 

SIFRA,  í.  /.  Vid.  Cifra. 

f  SIGAES,  ou  SIGAIS.  Forma  irregu- 
lar do  verbo  seguir  na  segunda  pessoa 
do  plural  do  modo  imperativo  ou  conjun- 
ctivo.  —  tDe  lhe  esquecer  do  que  vos  de- 
ve não  TOS  espanteis,  que  essas  cousas 
tanto  que  as  passa  logo  lhe  não  lembram. 
Os  cavalleiros,  que  defendem  vossa  for- 
mosura, tem  muita  raz.ão  de  fazer  mara- 
vilhas, e  pêra  obrigardes  os  homens  a  is- 
so as  mostras  de  vosso  parecer  bastam, 
ainda  que  este  costume  não  sigaes :  oa 
que  estão  presos  vos  peço  que  mo  man- 
deis dar,  pois  agora  já  melhor  vos  servi- 
rão soltos,  que  não  em  parte  onde  tão 
pouco  podem  aproveitar.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  102. 
—  «E  vós  senhora,  disse  o  outro  contra 
Polifcma,  que  me  mandais  que  faça.  Que 
sigais  o  mesmo  caminho  de  vosso  compa- 
nheiro, respondeu  ella,  e  também  de  mi- 
nha parte  digais  ás  damas,  que  ainda  que 
o  conselho  da  senhora  seja  bom,  melhor 
é  não  se  fiar  de  ninguém,  i  Ibidem,  cap. 
125. 

SIGALHO,  s.  ni.  Termo  popular.  Bo- 
cadinlio. 

SIGANARIA,   s.  /.  Vid.  Ciganaria. 

SIGANICE,  f.  f.  Acto  de  ciganos,  gyro 
d'elles.  Vid.  Ciganice. 

—  Emproga-s6  também  figuradamente. 
SIGANO.  Vid.  Cigano. 

SIGARRA.  Vid.  Cigarra. 

SIGARRAR,  ou  CIGARRAR,  v.  a.  To- 
mar na  bocca  fumo  do  cigarro.  Vid.  Si- 
garro. 

SIGARRILHA,  s.  /.  Diminutivo  do  Si- 
garro. 

SIGARRINHO,  s.  »i.  Diminutivo  de  Si- 
garro. 

SIGARRITA,  s.  /.  Diminutivo  do  Si- 
garro. 


SIGARRO,  ê.  m.  Tabaco  de  fumo,  pi- 
cado, o  enrolado  em  papel,  que  se  sorve 
por  uma  ponta,  depois  de  acceso  pela  oa- 
tra. 

SIGILLAÇAO,  «.  f.  Impressão,  marca, 
sifíiial. 

—  Termo  de  antiguidade.  AcçSo  de 
marcar,  ou  notar  o  sacerdote  as  victi- 
mas. 

SIGILLADA  (TERRA s  s.  f.  Termo  de 
piíarinacia.  Substancia  arpjillosa,  <le  que 
se  formam  grandes  pastillias  no  Egypto, 
d'oiulo  vinha  antigamente,  sellada  com  o 
sêllo  do  grão  senhor,  d'ondc  tivera  o  no- 
me: alli  é  usada  como  adstringente,  e  na 
Europa  sem  uso. 

SIGILLADO,  part.  pass.  de  Sigillar. 
Sellado,  fechado  com  sêllo,  ou  sinete. 

—  Usa-se  também  no  sentido  figurado. 
SIGILLAR,    V.   a.   (Do  latim  sigillare), 

Sellar,  pôr  o  séllo  em  alguma  cousa. 

—  Ant.  Penhorar,  tomar  alguma  cou- 
sa para  penhor  de  alguma  divida  ou 
crime,  porque  d'este  acto  de  penhora  se 
passava  instrumento,  em  que  se  punha  a 
tirma,  sif^nal,  ou  sêllo  do  juiz. 

SIGILLARIAS,  s.  /.  pi.  (Do  latim  sigil- 
lar iw).  Festas  que  se  faziam  em  Roma 
depois  das  saturnaes. 

SIGILLATA  (TERRAL.  Vid.  Sigillada. 

SIGILLO,  s.  7».  (Do  latim  siyilhim). 
Termo  antiquado.  Sêllo,  sinete  de  sellar. 

—  Figuradamente:   Sinete  mysterioso. 
2.)  SIGILLO,  s.  VI.  Segredo. 

—  O  sigillo  natural;  segredo  fiado  á 
probidade  d'outrem. 

—  Sigillo  da  confissão ;  não  revelar  o 
confessar  os  peccados  do  penitente  que 
confessou. 

SIGLA,  s.  f.  iDo  latim  siglia),  Diz-se 
das  letras  iniciaes  empregadas  como  si- 
gnaes  abreviativos  nos  monumentos,  me- 
dalhas, e  manuseriptos  antigos.  Ha  siglos 
em  que  uma  mesma  letra  é  dupla. 

SIGNA,  s.  /.  Vid.  Sina. 

SIGNACULO,  s.  m.  Vid.  Sêllo. 

SIGNAL,  s.  m.  Vid.  Sinal. -—«  Pede- 
vos  se  quereis  escusar  isto  por  onde  os 
outros  passam  tanto  contra  sua  vontade, 
que  de  duas  cousas  façaes  uma,  ou  vos 
torneis  por  onde  viestes,  ou  promettaes 
de  sempre  viver  no  conto  dos  tristes,  e 
pêra  signal  d'isto,  deixeis  vosso  escudo, 
c  o  nome  de  vossa  pessoa  escripto  cm  o 
brocal  delle;  porque  assim  o  quer  a  se- 
nhora a  quem  serve.»  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  de  Inglaterra,  cap.  21. 
—  «E  lá  soube  como  já  venceu  o  guar- 
dador c  defensor  do  CAstello  d'Almourol, 
e  por  força  d'armas  ganhou  o  escudo  do 
vulto  de  Miraguarda,  e  o  traz  comsigo 
pcra  vos  prcsentar  de  mistura  com  totlo- 
íos  dos  sinalados  homens,  que  na  corte  do 
imperador  Palmeirim,  pêra  ondo  agora 
cUe  vai,  se  com  elle  quizercm  combater 
om  signal  de  serdes  a  mais  fermosa  do 
unindo :  de  cuja  lembrança  tira  torças  pcra 
tamanhas  cousas,  e  lhe  nasce  ousadia  pê- 


ra perder  o  medo  a  commettal-as.t  Eli- 
dem, cap.  80.  —  •  Bem  vejo,  disAe  Dra- 
inusiaudo,  que  dizeis  verdade,  que  os  si- 
gnaes  de  vossa  viria  o  manifestam  :  porém 
com  toda  vossa  paixão,  pois  \)<ir  esta  terra 
andaes,  saber-me-heis  dizer  onde  acharei 
um  cavalieiro,  que  traz  comsigo  uni  es- 
cudo, em  que  vai  tirada  polo  natural  a 
mais  fermosa  cousa,  que  iiatureza  criou 
com  letras  ao  pé  que  diz«-m  .Mira^íiiarda?» 
Ibidem,  cap.  Hl.  —  «Tanto  a  apertaram 
aquellas  mudançaa  nov;i8,  que  nlo  se 
podendo  soflrrer,  se  recolheu  á  sua  ca- 
mará com  Dramaciana,  e  a  portas  cer- 
radas começou  torcer  as  mãos,  c  fazer 
outros  signaes  conformes  ao  (]ue  sentia, 
lançando  lagrimas  por  suas  faces  abaixo; 
de  que  Dramaciana  houve  gram  dó.» 
Ibidem,  cap.  0.'?. —  t  Porém  sendo  caso 
(jue  sua  confiança  o  engane,  que  veja  a 
peça  que  a<}ui  ha  de  deixar  em  signal  de 
vencido;  que  o  escudo,  que  pede,  quer 
sempre  que  lhe  fiquem  testemunhas  de 
sua  victoria.»  Ibidem,  cap.  110.  —  «Se- 
nhor cavalieiro,  se  o  teni[)o  e  o  lugar  mo 
não  impediram  a  vontade,  eu  vos  mostrara 
a  que  tenho  pêra  vos  servir ;  e  pois  agora 
não  posso  tirar  daqui  roais  que  a  magoa, 
com  que  fico  de  vos  não  podor  acompa- 
nhar, peço-vos,  que  em  signal  do  que  vos 
quero,  tomeis  do  mim  este  anel,  que  é 
jóia,  que  muito  estimo,  e  fique  por  pe- 
nhor d'outra  que  vos  eu  desejo  dar  de 
muito  maior  preço.»  Ibidem,  cap.  113. 
—  «<J  imperador  se  mandou  leuar  a  uma 
torre,  onde  tudo  se  via;  e  vendo  cousa 
tão  notável  e  espantosa,  não  o  houve  por 
bom  signal,  que  bem  lhe  pareceo,  que  já 
pcra  lançar  os  contrários  dos  termos  de 
seu  império,  seria  forçado  fazer-se  por 
força  e  com  despesa  de  muito  sangue  de 
seus  amigos  e  vassalos.»  Ibidem,  cap. 
160. 


Casarás  pelo  natal 

Com  mulher  som  toa  perda ; 

Sou  corpo  como  cristal, 

E  achir-lhc-has  hum  »ignal, 

No  mrio  da  coxa  es<)uerda. 

ou.   VICEKTS,  FÀBÇAS. 


Sois  VÍ8  e  o  nosso  Fernando ; 
Vi53  negaça  o  que  mostraes, 
c  cUe  aiida-o  mais  mostrando ; 
que  hei  de  crer  destes  ngnaeaf 
Eêcute-me. 
uiTOiíio  ra£STK9,  Acrroa,  pag.  307. 


—  «Terceyro  homem  se  offereceo  para 
descer,  porem  com  condição  que  o  reti- 
rassem ao  primeyro  signal  que  elle  des- 
se.» Cavalieiro  de  Oliveira,  Cartas,  liv. 
1,  n."  15. 


Triumphador  do  mundo  a  ti  me  envia. 
Suiiá  hostes  em  frente  d'e3tes  moioa 
(1  ííyriíi/  9o  apuard.ini  da  peleja... 
.\ntos  o  da  victoria.  Mas  tal  preço 
Tem  Catão  a  seus  olhos,  tanto  adora 


SIGN 


SIGN 


SIGN 


521 


O  dictador  magnânimo  as  virtudca 
De  seu  grande  iuimigo,  que  estremece 
Pela  primcií-a  vez,  —  c  mal  se  atreve 
A  seguir  a  fortuna  que  o  precede. 
OABBETx,  CATÃO,  act.  2,  SC.  5. 


—  «A  descul}3a  é  tão  extravagante 
como  a  de  um  mouro  em  Coimbra,  que 
estava  no  collegio  de  S.  Bento;  e  vindo 
de  fijra  com  siguaes  cie  não  ter  bebido 
agua,  desculpa-se  ao  abbade  que  bcher  vi- 
nho porque  já  7ião  estar  vioro.  Dizia  o 
abbade  ironicamente:  «Estar  bom  catho- 
lica  ás  direitas...»  Bispo  do  Grão  Pará, 
Memorias,  publicadas  por  Camillo  Cas- 
tello  Branco,  pag.  145.  —  «Quando  não, 
fallem  por  signaes  de  exercitatorio,  in- 
clinando a  orelha  a  modo  de  quem  appro- 
va,  cabeceando  a  uma  e  outra  parte  co- 
mo cónego  que  entra  em  coro,  ou  acolito 
que  incensa  o  povo.»  Ibidem,  pag.  57. 
—  «O  dicto  por  não  dicto.  Acompanha- 
me  sem  tugir  nem  mugir,  e  e.=gueira-te 
apenas  eu  te  der  signal.»  Alexandre 
Herculano,  Monge  de  Cister,  cap.  18. 

f  ■  SIGNALADO,  part.  pass.  de  Signalar. 
Vid.  Sinalado. 


E  de  adargas,  e  espadas, 
e  assi  aas  cutiUadas 
pellejam  atee  morrer, 
sem  se  deixarem  veuccr, 
fazem  cousas  signaladas. 

a.   DE    BEZESDB.  MISCELLijrE A . 


SIGNALAR,  V.  a.  Vid.  Sinalar,  e  Assi- 
nalar.—  «O  primeyro  hc  tido  do  Livro 
de  Job  onde  diz,  Deos  signala  a  mãe  de 
todos  os  homens  a  fim  que  cada  hum  del- 
les  conheça  as  suas  obras.»  Cavalleiro  de 
Oliveira,  Cartas,  Hv.  1,  n."  44. 

SIGNATljRÂ,  s.  /.  Vid.  Assignatura. 
—  «Gomtudo  também  algumas  vezes  (sem 
fazer  offensa  ao  livre  arbítrio  da  vontade 
humana)  a  signatura  externa  do  corpo, 
he  lingua  que  manifesta  os  occultos  aíFe- 
ctos  do  animo ;  porque  como  dis  Adaman- 
cio,  4.  o  mesmo  silencio  da  boca,  saõ  vo- 
zes com  que  a  natureza  se  explica.»  Braz 
Luiz  d'Abreu,  Portugal  medico,  pag.  319, 
§  43. 

SIGNIFERO,  s.  m.  (Do  latim  signife- 
Tus).  Entre  os  romanos  antigos,  o  mesmo 
que  entre  nós  alferes. 

SIGNIFICAÇÃO,  s.  /.  (Do  latim  signi- 
jicatio).  O  que  significa  uma  cousa.  —  A 
significação  de  um  quadro,  de  um  sym- 
holo.  —  (iNa  cabeça  tinha  huma  cousa 
como  barrete  redondo  de  vergas  douro, 
esmaltadas  todas  de  verde  e  roxo,  e  en- 
cima no  cucuruto  tinha  hum  leão  peque- 
no douro  posto  com  as  mãos  e  peis  sobre 
huma  bolia  redõda  também  douro,  de 
que  o  leão  cornado  como  ja  algumas  ve- 
zes tenho  dito,  significa  el  Rey,  e  a  bolla 
o  mundo,  e  pela  significação  destas  insí- 
gnias se  declara  ser  el  Rey  leão  coroado 
sobre  o  trono  do  mundo,  e  tinha  na  mão 

VOL.  T.  —  66. 


huma  vara  de  marfim  muyto  alva  a  ma- 
neyra  de  cetro,  de  três  palmos  de  cum- 
prido somente.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  103. 

—  Ex]ires?ão,  signal. 
SIGNIFICADO,    s.    m.    Significação. — 

«Não  me  duvide  V.  S.  de  que  Pceta 
queyra  dizer  vesga,  veja  bem  no  que  se 
mete,  porque  achará  Pwtits  em  Horácio 
com  o  significado  de  olhos  de  Bode,  e  fa- 
rá hum  grande  mal  aos  de  Vénus,  se  que- 
rendo livrala  do  defeito  que  padece  em 
hum  lho  pozer  em  ambos  de  dous.»  Ca- 
valleiro d'01iveira,  Cartas,  liv.  1,  n.°  33. 

—  Tirar  significados ;  buscar  nos  vo- 
cabulários, ou  diccionarios  as  significa- 
ções das  palavras. 

—  Ptirf.  paf-s.  de  Significar. 
SIGNIFICADOR,  A,  adj.  Vid.  Significa- 
tivo. 

SIGNIFICANTE,  part.  act.  de  Signifi- 
car. Que  significa. 

SIGNIFICAR,  V.  a.  (Do  latim  signiji- 
care).  Ter  esta,  ou  outra  significação. 

—  Termo  de  grammatica.  Exprime  o 
que  se  entende  por  uma  palavra,  por  uma 
plirase. — A  palavra  latina  LÚPUS  signi- 
fica LOBO  em  ■portuguez.  —  «Os  que  se- 
guem a  secta  de  Mafoma  tem  o  Alcorão, 
que  saõ  huns  liuros  que  a  Instancia  de 
Moauia  se  compuserão  em  Damasco,  sen- 
do elle  Halifa,  ou  Califa,  que  (como  diz 
Theatro  de  Príncipes)  significa  Reytor, 
ou  Emperador.»  Fr.  Gaspar  de  S.  Ber- 
nardino, Itinerário  da  índia,  cap.  12.— 
«Nenhum  homem  natural,  ou  estrangey- 
ro,  pode  entrar  com  armas  na  Cidade, 
mais  que  aquelles  que  a  guardam  que  saõ 
soldados  a  quem  elles  chamão,  Curqui, 
que  na  lingoa  significa  soldado  de  pè. 
Não  tem  a  Cidade  muros,  nem  as  casas 
que  saõ  todas  de  taypa,  ou  ladrilhos,  te- 
lhados, mas  somente  terrados  como  as  de 
Grmus.»  Ibidem,  cap.  13.  —  «Lembrado 
estou  que  Francisco  do  Couto  na  quarta 
Década,  diz  ser  elle  natural  da  Vilia 
Quex  junto  de  Camoreante  :  cujos  natu- 
raes  antiguamante  se  dezião  os  Massage- 
tas,  ou  Chacatayos,  e  nòs  hoje  na  índia 
chamamos  os  Mogores,  e  que  seu  primey- 
ro nome  foy  Themurcutlu,  que  quer  di- 
zer ferro  ditoso,  e  dejjois  se  chamou  Tha- 
murlangue,  que  significa  terror  do  mun- 
do, ou  ira  de  Deos.»  Ibidem,  cap.  14. — 
«Mas  depois  os  Gregos  lho  mudarão  em 
Mesopotâmia,  por  estar  entre  os  dous  rios 
Tigris,  e  Eufrates.  O  Mestre  das  histo- 
rias dà  a  razão  desta  mudança,  e  diz, 
que  a  palaura,  Meso,  em  Grego  significa 
mero;  e  Potamia,  agoas;  e  assi  como  a 
terra  dentre  Douro,  e  Minho  tem  este 
nome,  por  estar  entre  estes  dous  rios.» 
Ibidem,  cap.  18. —  «Dali  por  diãte  se 
coutarão  pela  de  Hixara,  que  significa 
peregrinação,  ou  fugida,  a  qual  fov  em 
dezaseys  de  lulho  de  seyscentos  e  treze, 
do  Nascimento  de  ChriSTO,  sendo  Mafo- 
ma de    ciucoenta,   e  quatro   de   idade.» 


Ibidem,  cap.  20.  —  «Neste  monte  se  or- 
denhauão  as  ouelhas  do  Sancto  Patriar- 
cha,  e  porque  o  leyte  que  delias  se  colhia 
era  muyto,  se  chamou  o  lugar  Aleppo, 
que  significa  monte  de  leyte,  e  delle  o 
tomou  a  Cidade,  como  hora  vemos.»  Ibi- 
dem, cap.  22.  —  «Duque  se  derivou  da 
palavra  Dux,  que  em  latim  significa 
guia,  e  Capitão.  Sendo  este  nome  gené- 
rico, se  foi  fazendo  especial  em  tempo 
dos  Emperadores  Romanos.»  Manoel  Se- 
verim  de  Faria,  Noticias  de  Portugal, 
Disc.  3,  cap.  23.  —  «Quanto  porem  a  di- 
zer este  Autor,  que  a  palavra  Eex  não  si- 
gnifica outra  couza  que  Senhor  grande,  he 
na  minha  fraca  opinião  hum  valente  des- 
propósito.» Cavalleiro  d'01iveira,  Cartas, 
liv.  7,  n.°  19. 

—  Denotar  alguma  cousa,  ser  signal 
de  alguma  cousa.  —  «D.  João  Mascare- 
nhas, depois  de  ordenar  o  enterro  dos 
mortos,  e  cura  dos  feridos,  em  que  não 
faltou  com  o  cuidado,  e  menos  com  a  fa- 
zenda, que  despendeo  sem  conta,  avisou 
por  hum  catur  ao  Governador  do  estado 
das  cousas,  significando-lhe  a  falta  que 
tinha  de  gente,  munições  e  armamentos.» 
Jacintho  Freire  d'Andrade,  Vida  de  D. 
João  de  Castro,  liv.  2.  —  «He  nota  de 
alguns  Escriturários,  que  nunca  Deos 
provéo  dous  oíficios  juntos  em  hum  só  su- 
geito :  e  para  significar  a  importância 
disto  mandava,  que  ninguém  semeasse 
dous  legumes  na  mesma  terra  :  e  quan- 
do occupava  algum  servo  seu  em  huma 
empreza,  dava-lhe  logo  com  ella  os  ta- 
lent'js  recessarios,  e  forças  convenien- 
tes.» Arte  de  furtar,  cap.  38. —  «E  fi- 
nalmente pêra  consolação  dos  mesmos  pe- 
nitentes se  canta  neste  Domingo  hum 
Euangelho  muy  fesíiual  e  alegre,  em  que 
se  conta  aquelle  magnifico  e  milagroso 
cõuite  que  o  Senhor  fez  fartando  em  hum 
dia  cinco  mil  homens,  afora  molheres,  e 
miuiuos,  com  cinco  pães  de  ceuada  e 
dous  peixes :  e  isto  pêra  significar  o  cõ- 
uite das  celestiaes  cõsolações  que  Deos 
dà  aos  vei'dadeyros  penitentes.»  Fr.  Bar- 
tholomeu  dos  Martyres,  Catecismo  da  dou- 
trina christã.*-«  Também  significaõ  com 
especialidade  males  cauzados  da  adustaõ, 
efl'ervescencía  e  ebulliçaõ  nimia  do  san- 
gue; como  febres  ardentes,  e  sinochais, 
erisypelas,  difluxos,  tabardilhos,  paroti- 
das,  pleurizes,  etc.  Como  com  toda  a  tor- 
rente dos  AA.  Médicos  affirma  o  nosso 
Francisco  Roxo ;  porque  da  influencia 
cálida,  e  secca  do  Cometa  se  altera  o  àr, 
e  consequutlvamente  padecem  os  corpos; 
de  cujos  influxos,  e  successos  fallou  dis- 
cretamente íilanílio.»  Braz  Luiz  d'Abreu, 
Portugal  medico,  pag.  439,  §  119. 

—  Dar  a  entender,  querer  dizer.  —  «E 
por  que  a  gente  vulgar  faz  o  signal  da 
Cruz,  sem  entender  os  mysterios  que  si- 
gnifica fazendoo,  será  bom  declararmolo 
logo  aqui,  pêra  que  entendendo  a  gran- 
deza dos  mysterios  que  estam  escondidos 


522 


SKIN 


SILE 


SILE 


nesta  cercmonia  mais  a  miúdo  so  ben- 
zam, o  com  iiiaÍH  dciiaoam.»  Frei  Bartlio- 
loiíicu  (Irw  Martvrcs,  Catecismo  da  dou- 
trina christã.  —  "No  cnhu  deste  Credo 
pronuiieiaiiios  aquollii  palaiira,  Aiiien,  [jor 
duas  rezòes,  A  primeira  pêra  significar 
quo  lirincmento  creemos,  coiifossainos,  o 
testomunlianios,  todas  as  verdades  quo 
nellc  8C  contem.  Por  isso  dizonio.s,  Amen, 
quo  significa,  assi  lio  certamente. n  Ibi- 
dem. —  »L();ío  que  V.  S.  mo  perguntou 
o  que  significava  vá  bugiar,  o  os  usos 
que  so  dava  a  este  termo,  recorri  a  el- 
les,  ou  para  melhor  dizer  aos  meus  Dic- 
cionarios,  o  aos  meus  Vocabulários,  e  to- 
dos me  derão  por  única  resposta  que  fos- 
se bugiar.»  Cavalleii"o  d'Oliveira,  Car- 
tas,  liv.  .3,  n.°  2. 

—  Exprimir  verbalmente  ou  por  es- 
cripto  08  nossos  pensamentos,  do  sorte 
quo  os  outros  fiquem  conhecendo  o  que 
pensamos  ou  queremos.  —  Significar  suas 
intenções. 

—  Jsso  nada  significa ;  diz-so  das  pa- 
lavras d'ondo  se  n.ão  p(')do  tirar  conclusão 
alguma. 

j-  SIGNIFICATIVAMENTE,  adv.  (Do  si- 
gnificativo, c  o  sufíixo  «mente»).  De  um 
modo  significativo. 

SIGNIFICATIVO,  A,  adj.  (Do  latim  si- 
gnijicativui:).  Que  exprime  um  grande  sen- 
tido.— Este  termo  é  bem  significativo.  — 
ServÍ7--se  de  2>alavra$  significativas. 

—  Quo  exprime  sensivclmcnto  o  pen- 
samento, a  vontade.  —  Um  gesto,  um  tom, 
um  olhar  significativo. 

—  Termo  de  arithmctica.  Algarismo 
significativo ;  diz-se  cm  opposição  ao  si- 
gnal  O,  08  algarismos  do  que  so  compõe 
imi  numero. 

—  Substantivamente :  Significação. 

SIGNO,  «.  m.  (Do  latim  signum).  Ter- 
mo de  astronomia.  Constellação  ou  ajun- 
tamento de  algumas  estrellas  fixas,  que 
so  suppõo  formarem  alguma  figura,  o  só 
se  diz  das  dozo  constoUações  do  zodiaco. 

Amor,  e  dMsto  só  nasce 
qucmquo  o  signo  se  acabasse 
amor,  não  se  acaba  o  si^o. 

ANTÓNIO  PBESTES,  AUTOS,  pag.  177. 

Ora  cstíl  assi  muito  bem, 
quo  purgatório  c  sentir. 
Em  quo  siijno  casou  com  clle? 
Não  sei,  da  mofina  miuha. 
Pois  não  vem  cUc  tão  azinha 
que  d'aqui  o  vejo  eu  n'clle, 
o  esta  mão  m'o  adeviuha. 
iBiDRu,  pag.  313. 

Não  no  direi  por  escrito, 
mas  ha  desastres  no  mundo  : 
eu  sei  se  vossa  mercê 
serã  ova  tão  mofino 
que  acertou  a  nascer  no  signo 
d'ol-rci  Nida  V  jã  so  o  ^ 
não  fia  de  r? 
iBiDKM,  pixg.  lis. 

—  «A    outava  esphci^a    demais    destoa 


dous  movimentos,  quo  tem  por  razaò  da 
decima,  o  nona  osphora,  movcndosc  do 
misccnto  para  o  poente  com  o  da  duclmu 
sobre  os  l'olo.s  do  Mundo,  o  do  poente 
para  o  nasconto  com  a  nona  espUora  so- 
lire  08  Poios  do  Zodiaco;  tem  outro  mo- 
vimento particular  sobro  huns  l'olos,  quo 
80  conBÍderaõ  no  principio  do  signo  do 
Aries,  c  no  de  Libra.»  Braz  Luiz  do 
Abrou,  Portugal  medico,  pag.  318,  §  03. 

Mas  bom  dojirossa  do  Planeta  nosso 
O  compuHSudo  giro  uos  ollios  mostra 
O  Sol  no  Signo  do  animal  do  Colcos. 

J.  A.  DK  UACUDO,  A  NATUBBZA,  Cant.  1. 

—  Os  astrólogos  attribuem  a  influen- 
cia dos  astros  na  sorte  da  gente  confor- 
mo os  signos,  e  mil  circumstanciaa  o  re- 
lações em  que  se  achão  os  astros  á  hora 
do  nascimento. 

—  Nome  das  linhas  da  escala  musi- 
cal. 

—  Signo  samão.  Vid.  Samão. 

—  Adagio  : 

—  Em  tal  signo  nasci,  quo  mais  que- 
ro para  mim,  quo  para  si. 

L)  SIGO.  O  mesmo  que  comsigo  (do 
latim  secxnn).  — •  «Defendia  mais  no  mes- 
mo casal  duas  mulheres,  que  tinham  sigo 
dous  filhos  lavradores.»  Elucid.  do  Vi- 
terbo. 

2.)  SIGO.  Forma  irregular  do  verbo 
seguir  na  primeira  pessoa  do  singular  do 
presente  do  modo  indicativo.  Vid.  Seguir. 


E  pois  qnc  esta  primeira  porta  viste, 

Nas  trcs  veras  também  de  que  te  espantes, 

E  ncllas  acharas  diuorsas  vias, 

E  modos  cora  que  o  mundo  viue  agora. 

Folgara  acompanliarte,  mas  não  posso 

O  caminho  deixar  que  agora  «igo, 

Pois  espero  por  clle  alcançar  cousa 

Que  por  nobreza  c  esforço  se  me  nega. 

COBTB  BEAL,  NAUFBAOIO  DE  SEfULVEDA,  Cant.  11. 


Ribeiros,  e  Farias  que  no  antigo 
Tempo,  ja  forão  tanto  bcllioosos 
E  03  fortes  Corte  Keaos  quo  no  perigo 
Mayor,  se  mostrào  mais  sempre  animosos, 
Para  quo  a  narração  infausta  sigo* 
Eu  para  (jue  vos  mostro  os  valorosos 
Peitos,  onde  cAtA  tanta  fortaleza, 
Pois  tudo  ha  de  sor  dor,  tudo  tristeza. 
iBiDEU,  cant.  14. 

SIGRALHA,  s.  /.  Termo  do  historia  na- 
tural. Ave  semelhante  á  gralha,  de  côr 
mais  negra  e  algum  tanto  mais  pequena. 

j-  SIGRO,   s.  m.  ant.  Século. 

SIGUENSIA,  ou  SIGUENCIA,  s.  /.  Ter- 
mo antiquá-lo.  Soqueiicia,  continuaç.ão. 

f  SIGUIMENTOS,  í.  m.  plw-  Termo 
antiquado,  ("iladas,  traições. 

SIGURELHA,  s.  /.  Vid.  Segurelha. 

SILADA,  .«.  /.  Vid.   Cilada. 

SILENCIADO,  part.  puss.  do  Silenciar. 

SILENCIAR,    r.  a.  Impôr  silencio. 

f  SILENCIARIO,  s.  m.  i^Do  latuu  »»7«i»- 
tiarius,   do  silentium).    Termo    do    anti- 


guidade romana.  OfTicial  que  fasÍA  obser- 
var o  silencio  aos  escravos. 

—  Diz-se  do  alguns  roligioBOB  que  guar- 
dam um  grande  silencio. 

—  Por  extensão :  Pessoas  que  guardam 
silencio. 

SILENCIO,  *.  m.  íDo  latim  tileiUium). 
Pastado  de  uma  pessoa  que  bc  abstém  de 
fallar. 


O  fllenrio  lhe  apraz,  c  as  mudas  balsas, 
Onde  não  cliega  estrépito  profano. 

J.   A.    Oa   MACKDO,   A  MATCBEZA.   «int.       . 


—  Ha  três  espécies  de  silencio :  o  si- 
lencio do  zelo,  o  silencio  '/'/  prudência 
na»  co7iversarJ)es,  c  o  silencio  da  pacuin- 
cia  nas  contradicçues.  —  Sócrates  acon- 
selhava aos  seus  discipulos  trea  cousas, 
a  saber :  prudência  no  animo,  vergonha 
no  rosto  c  silencio  na  lingua. 

—  Por  analogia,  diz-se  da  linguagem 
escripta.  —  O  silencio  dos  jvmaeê  toòre 
est^  facto. 

—  Passar  uma  cousa  em  silencio ;  não 
fallar  n'ella. 

—  O  silencio  da  lei;  diz-se  de  um  ca- 
so que  a  lei  não  preveu. 

—  Interrupç.lo  n'um  commercio  de  le- 
tras. —  Não  posso  explicar  vosso  longo 
silencio. 

—  Segredo. 

—  Esquecimento.  —  Lançar-te  no  abis- 
mo do  silencio. 

—  Figuradamente  :  Socego,  ausência 
de  ruido.  —  O  silencio  eterno  d'esttt  es- 
paços injinilús  me  aterra.  —  •  Maquina 
que  espantou  aos  nossos,  pelo  silencio, 
o  bi-evidado  com  que  se  havia  obrado; 
mostrando  bem,  que  não  era  esta  fabrica 
desenho  de  multidão  barbara,  e  confusa; 
porque  em  todo  o  conflicto  mostrilrão  igual 
o  valor  á  disciplina.»  Jacintho  Freire  de 
Andrade,  Vida  de  D.  João  de  Castro, 
liv.  2. 

—  Figuradamente :  Ausência  de  agita- 
ção moral. — Impor  silencio  ao»  nosso» 
sentidos. 

—  O  silencio  das  paixões;  o  tempo 
em  que  ellas  deixam  a  alma  livre  e  so- 
ccgada. 

—  Impôr  silencio  ás  paixões;  repri- 
mil-as,  obstar  que  ellas  perturbem  o  ea- 
pirito. 

—  Interrupçito  n'um  ruido,  n'um  ba- 
rulho. —  Alto  silencio. 

Já  a  tiro  os  Francos  stão  dos  levo-annados ; 
Uma  h.''Ste,  c  outra  hoste  pára.  Alto  silencio! 
(Vi;ir  manda  á  Christan  L<^gião,  que  arvoro 
^Sinal  do  preliOí  a  roxa  Cotta  de  armas. 

F.    M.  no  NASCIMEXTO,   OS   XABTTBES,  1ÍV.   5. 

—  Diz-se,  na  declamação,  das  suspen- 
sões que  faz  aquelle  que  falia. 

—  A  calada  de  todos  os  sons. 

—  Silencio  profundo;  silencio  alto. 


SILE 


SILH 


SILI 


523 


Em  silencio  profundo  em  sombra  envolto, 
Os  passos  guia  ao  pcristylo  augusto 
Do  Templo  coUossal  da  Natureza. 
Voou  co'  a  mente  acceza  em  vácuo  eterno, 
Interminável,  infinito,  e  nelle 
Infinitos  corpúsculos  de\n3a. 

J.   í.   Dl  MACEDO,   MEDITAÇÃO,  Caut.   4. 

—  Falta  de  replica,  de  resposta. 

—  Silencio  mal-soffrido ;  silencio  cons- 
trangido ;  estado  da  alma  em  que  o  indi- 
viduo deixa  de  fallar  talvez  por  cons- 
trangimento e  convicção. 

Murmurava  em  silencio  mal-sofiErido 
Da  natureza  leal  o  escasso  resto 
Que  do  antigo  despejo  lusitano 
Os  francos  sentimentos  conservava, 
Impera  o  fanatismo,  a  hypocrisia. 

GABBETT,  CAMÕES,  Caut.  6,  Cap.  2. 


—  Os  desinquietadores  do  silencio  da 
santa  justiça ;  individues  encarregados 
de  impor  silencio  pelos  chaens  do  impé- 
rio da  China.  —  «E  dando  então  quatro 
pancadas  num  sino  muyto  depressa,  hum 
dos  dous  conchalys  se  levantou  em  pé,  e 
despois  de  fazer  seu  acatamento  ao  Chaem, 
disse  em  voz  alta  que  todos  ouvissem,  ca- 
lar e  ouvir  com  prontidão  humilde  so  pe- 
na do  castigo  que  pelos  Chaens  do  gover- 
no está  determinado  aos  desinquietado- 
res do  silencio  da  santa  justiça.»  Fer- 
não Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap. 
103. 

SILENCIOSAMENTE,  adv.  (De  silencio- 
so, com  o  suffixo  «mente»).  De  um  mo- 
do silencioso,  em  silencio. 

SILENCIOSO,  A,  adj.  (Do  latim  silen- 
tiosus).  Que  guarda  silencio.  —  Filippe 
V,  nascido  com  um  senso  recto,  mas  pou- 
co enérgico,  era  silencioso,  reservado, 
desconfiado  de  si  próprio. 

— ■  Onde  se  não  ouve  ruido,  nem  baru- 
lho. - —  Uma  retirada  silenciosa. 

—  Que  não  faz  barulho.  —  Os  ])assos 
silenciosos. 

—  Silenciosas  complacências ;  em  guar- 
dar silencio  no  que  devem  dizer,  ou  cen- 
surar. 

—  Stn.  :  Silencioso,  taciturno. 
Silencioso  é  o  que  falia  pouco  e  com 

moderação.  Taciturno  é  o  que  falia  pou- 
co e  com  repugnância.  Aqueile  pude  sel-o 
contra  seu  génio,  por  prudência,  por  in- 
teresse, por  modéstia,  por  obrigação ;  es- 
te é-o  sempre  por  caracter,  por  hypochon- 
dria,  ou  por  natural  inclinação  ao  silen- 
cio. 

O  silencioso  tem  unicamente  um  ar 
serio;  o  taciturno  um  ar  severo  e  carre- 
gado. O  primeiro  é  inútil  n'uma  socieda- 
de de  gente  divertida,  porque  contribuo 
pouco  a  tornal-a  agradável ;  o  segundo  é 
mais  que  inútil,  é  pesado,  porque  inspira 
desconfiança,  ou  contribuo  com  sua  hv- 
poL-hondria  a  diminuir  o  gosto,  e  a  jovia- 
lidade dos  demais. 

1.)  SILENO,    s.  m.  Semideus,  filho  de 


Pan   e   d'uma  nympha;   companheiro  de 
Baccho.  —  Os  satyros  e  Sileno. 

—  Os  silenos ;  os  companheiros  de 
Baccho. 

—  Termo  de  antiguidade  romana.  Fi- 
gurinha de  mármore  i-epresentando  um 
sileno. 

—  íS'.  /.  Género  de  plantas  da  família 
das  dianthaceas,  de  que  se  distinguem 
varias  espécies. 

—  Adjectivamente :    Vir  tão  silena. 

nem  mocidade  fingisse 

o  que  a  condcmna, 

vir  de  tora  tào  silena 

e  que  dentro  em  si  admittisso 

mais  gloria,  que  por  ti  pena. 

AXTONIO  PKESTES,  AUTOS,  pag.  51. 

2.)  SILENO,  s.  m.  Termo  de  historia 
natural.  Quadrúpede  de  orelhas  curtas,  e 
redondas  como  o  macaco ;  é  o  ijreguiçoso 
de  Ceylão. 

SILER,  s.  VI.  (Do  latim  siler).  Arbusto 
similhante  de  alguma  maneira  ao  sal- 
gueiro e  amieiro. 

SILEX,  s.  771,  Termo  de  mineralogia. 
Género  de  pedras  comprehendendo  as 
duas  espécies  quartz  e  opalo,  constituí- 
das pelo  acido  silícíco. 

—  Pederneira,  pedra  de  ferir  lume; 
seixo. 

SILHA,  s.  f.  Termo  pouco  em  uso.  Ca- 
deira. 

—  Vid.  Cilha.  —  «Nenhum  errou  seu 
encontro,  antes  foram  dados  com  tal  for- 
ça, que,  falsados  os  escudos,  Draniusían- 
do,  e  Barrocante,  vieram  ao  chão  com 
as  sellas  antre  as  pernas  e  as  silhas  ar- 
rebentadas por  algumas  partes.»  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  94. 

—  Silha  jiontificia ;  cadeira,  sede  pon- 
tificia. 

—  Silha  de  abelhas.  Vid.  Silhar  (subst.) 
SILHÃO,  s.  m.  Espécie  de   sella  gran- 
de, para  n'ella  cavalgarem  as  mulheres ; 
tem  um  estribo  por  um  lado,  e  um  arção 
semicircular,   contra  o  qual  se  encostam. 

—  Termo  de  fortificação.  Obra  eleva- 
da, de  terra,  feita  no  meio  do  fosso  de 
redor  de  toda  a  praça. 

—  Silha  forte  e  larga. 

1.)  SILHAR,  V.  a.  Apparelhar  a  caval- 
gadura, pondo-lhe  a  sella  ou  a  albarda. 
Vid.   Cilhar. 

2.)  SILHAR,  s.  m.  Termo  de  canteiro. 
Pedra  lavrada  em  quadro  para  assentar 
na  parede,  ou  edificio  de  silharia. 

—  Particularmente,  diz-se  a  pedra  que 
na  parede  é  assentada  ao  alto,  tendo  só- 
meuto  ametade  da  grossura,  e  se  distin- 
gue n'isto  da  juntoura,  que  é  pedra  que 
alcança  toda  a  grossiu-a  da  parede,  e  do 
liadouro,  que  vai,  não  posta  ao  alto,  mas 
deitada. 

—  Silhar  de  colmeias;  base,  apoio  de 
cortiço  de  abelhas. 


—  Vid.  Arraial,  e  Cilha. 
SILHARIA,  s.  /.  —  Obra  de  silharia ; 

obra  de  silhares,   ou  lousas,  e  chapas  de 
pedra    lavrada   quadrada,    pouco   grossa,  ■ 
para  vestir  paredes  que  o  mar  toca. 

— •  Alguns  dizem  enxilharia,  e  enxe- 
laria,  mas  estes  termos  são  plebeísmos, 
e  até  erros. 

SILHARINHO,  s.  m.  Diminutivo  de  Si- 
lhar (de   colmeias).   Vid.  Armentinho. 

SÍLICA,  ou  SILICIA,  ou  SÍLICE,  í.  /. 
Substancia  que  forma  a  base  do  sílex, 
dos  quartz,  etc,  e  que  no  estado  de  areia 
se  combina  com  a  cal,  e  forma  com  ella 
uma  argamassa  resistente;  é  o  oxydo  de 
silício,  considerado  em  geral  como  um 
acido,  e  ])or  conseguinte  chamado  acido 
silícíco.  Õ  silício,  uma  das  terras  mais 
abundantes,  forma  a  base  das  pedras  mais 
duras,  que  parecem  constituir  o  nó  do 
globo. 

f  SILICATADO,  A,  adj.  Termo  de  chi- 
mica.  Diz-se  de  uma  base  que  é  conver- 
tida ao  estado  de  sal  pelo   acido  silícíco. 

SILICATO,  ou  SILICIATO,  s.  m.  Termo 
de  chimica.  Sal  produzido  pela  combina- 
ção do  acido  silícíco  com  uma  base. 

SILICICO,  A,  adj.  Termo  de  chimica. 
Acido  silicico ;  o  mesmo  que  silicia. 

—  Etheres  silicicos ;  etheres  que  se 
obtém  deitando  álcool  no  chlorureto  de 
silício. 

t  SILICICO-ALUMINICO,  adj.  vu  Ter- 
mo de  chimica.  Diz->e  de  um  sal  silicico 
unido  a  um  sal  alumínico. 

— ■  Diz-se  do  mesmo  modo  :  silicico-ar- 
gentico,  silicico-cobaltico,   etc. 

t  SILICICO-CUIVROSO,  adj.  m.  Termo 
de  chimica.  Diz-se  de  um  sal  silicico  uni- 
do a  um  sal  cuívroso. 

—  Díz-se  do  mesmo  modo :  silicico- 
mercuroso,   etc. 

f  SILICICOLA,  adj.  Termo  de  botâni- 
ca. Díz-se  das  plantas  que  só  crescem 
nos  terrenos  sílícosos. 

f  SILICIDAS,  s.  m.  jjlur.  Termo  de 
mineralogia.  Família  que  comprehende  a 
sílica  e  suas  combinações. 

f  SILICIFERO,  A,  adj.  Termo  de  mi- 
neralogia. Que  contém  sílica. 

SILÍCIO,  s.  m.  Vid.  Cilicio. 

SILICIOSO.  Vid.  Silicoso. 

SILIGIUM,  ou  SILÍCIO,  s.  m.  Metal  que 
produz  a  sílica  combínando-se  com  o  oxy- 
geneo. 

t  SILICIURETO,  s.  m.  Termo  de  chi- 
mica. Combinação  do  silício  com  um  ou- 
tro corpo  simples. 

SILICOSO,  A,  adj.  Que  é  da  natureza 
do  sílex. 

—  Que  contém  sílica. 

—  Termo  de  agricultura.  Terrenos  si- 
licosos ;  terrenos  que  fornecem  pelo  me- 
nos 0,55  de  sílica  livre.  Vid.  Siliquoso, 
que  diverge. 

SILICDLA,  s.  /.  Termo  de  botânica. 
Siliqua  cuja  altura  não  excede  quatro  ve- 
zes a  largura. 


524 


SILV 


SILV 


SUI 


f  SILICULOSO,  A,  adj.  Toirno  de  bo- 
tânica, (^iio  proiluz  ou  tuiii  Miliculae.  — 
Plantas  siliculosas. 

—  ò'.  /.  p/ur.  'VrUm  dú,  família  das 
crucitcniM. 

SILINGORNIO,  A,  mlj.  Termo  popular. 
(.lui:  t.iiíji  inauHamonto  para  ongaiuir. 

SILIQUA,  a.  f.  Termo  do  bot.iiiica. 
Fructo  aceco,  alongado,  bivalve,  cuja.s 
sementes  ontílo  ligada»  a  dous  tropliospur- 
mas  Huturaes,  ordinariamente  3e])ara(l()s 
tíi  dous  loculos  por  uma  falsa  (iivisào, 
que  niio  6  senào  un»  prolongamento  dos 
tropliospornias,  o  que  persisto  muitas  vo- 
zes após  a  queda  das  válvulas.  — A  sili- 
qua  e  a  silieula  caracteriaam  particular- 
mente a  família  das  cruciferas. 

—  Vagem. 

—  Pequeno  povo  dos  romanos. 
— ■  rSenoro  de  eouehas  bivalves. 

f  SILIQUIFORME,  adj.  2  ijan.  Termo 
de  botânica,  (^ue  tem  a  forma  de  uma 
siliqua;  diz-se  de  alguns  fructos  capsula- 
res, differindo  da  verdadeira  siliqua,  em 
quo  as  placentas  .são  alternas,  e  niío  op- 
postas  aos  lóbulos  do  stigma. 

SILIQUOSO,  A,  adj.  (Do  latim  siliquo- 
sus).  <^iio  tem  siliquas,  ou  que  se  asse- 
melha a  uma  siliqiui.  —  Plantas  siliquo- 
sas. 

—  S.  f.  plur.  Tribu  da  familia  das 
crueifiTas. 

,    SILLABA,  s.  /.  Vid.  Syllaba. 

SILLAGE,  s.  /.  Vid.  Singradura. 

SILLOGISMO,  s.  m.  Vid.  Syllogismo. 

SILLOGRAPHO,  s.  m.  (Do  grego  sillos, 
c  (jraij/iô).  Escriptor  satyrico  e  mor- 
daz. 

SILPHA,  s.  /.  Termo  de  historia  natu- 
ral. Insecto  colooptero,  de  que  se  apon- 
tam as  espécies  seguintes :  sepuUadora ; 
verdadeira,  ou  hrvqucleira ;  de  (luatro 
pontinhos;  lisa;  denegrida. 

f  SILURIANO,  A,  adj.  Termo  do  geo- 
logia. Terreno  siluriano;  serie  de  cama- 
das fossiliferas  collocadas  sobre  a  velha 
pedra  do  cantaria  rubra.  —  Formação  si- 
luriana. 

SILURO,  ou  BAGRE  DA  EUROPA,  s.  m. 
Género  do  peixes  abdominaes,  o  maior 
de  agua  doce,  pesando  ás  vezes  até  tre- 
zentas libras. 

SILVA,  s.  /.  (Do  latim  silva).  Arbus- 
to silvostro,  que  lança  variniia-i  verdes, 
flexíveis,  armadas  do  puas,  ou  espinhos 
agudos;  d'ellas  so  fazem  tapumes  de  vi- 
nhas, c  hortas. 

—  Toma-se  tambom  por  selva. 

—  Poema  como  a  canção,  cujos  con- 
soantes vão  rimados  de  dous  em  dous, 
como  os  últimos  dous  versos  das  oitavas ; 
havendo  porém  n'isto  alguma  variedade. 

—  Figurailamente  :  Silva  ile  doutrinas, 
de  conclusões ;  multid.uo  intrincada,  sem 
ordem,  nom  methodo. 

—  Silva  framboezeira :  arbusto  como  a 
silva,  que  d;í  umas  amoras  brancas,  a 
que  hoje  dão  o  nome  de  framòoezas.    Ao 


mesmo  goncro   pertence  a  amoreira  ta- 
taiba. 

—  Silva  de  agua;  ]jlanta  brazilica,  hcr- 

va  viva,  ospecio  de  sensitiva. 

—  Termo  de  alvoitaria.  São  dous  ou 
três  dedos  de  pollo  branco  .ao  longo  da 
testa,  ou  fronte,  do  cavalh)  para  as  ven- 
tas. 

—  Silva  armada ;  espessura,  grande 
nunu:io  de  gente  de  armas. 

—  Silva  í/a  praia;  planta  com  espi- 
nhas, e  varas  dobradiças,  que  nasce  uos 
areaes. 

—  Silva  niar.ha;  outro  arbusto  silvestre 
espinhoso;  tem  folhas  de  roseira,  e  llôr 
como  unia  rosa,  do  cinco  pétalas  ou  fo- 
lhas. 

—  Cilicio  de  arame. 

SILVADO,  s.  í)í.  Sitio  povoado  do  sil- 
vas espessas;  a  sarça.  —  «Meya  legoa 
delle  pêra  a  parto  do  (Jriente  jaz  hum 
sapal  muy  grande  cuberto  do  siluado, 
em  quo  andam  mnytos  Leões,  donde  vie- 
ram a  dizer  alguns,  que  aqui  fora  o  lago 
dellos,  em  que  foi  metido  o  Propheta  Da- 
niel, como  isto  não  contradiz  a  Escriptu- 
ra,  possiuel  seria  que  fosse.»  Fr.  Gasiiar 
do  S.  Bernardino,  Itinerário  da  índia, 
cap.  19. 

—  Figuradamente:  Perigo,  difficul- 
dade. 

—  Fart.  pass.  de  Silvar. 
SILVANO,  «.  «i.    (Do   latim    silvanus). 

Termo  de  mythologia.  Deus  dos  bosques, 
tiorestas,  e  campos. 

—  Figuradamente:  Homem  agreste, 
rústico. 

SILVÃO,  $.  m.  Silva  macha. 
SILVAR,   V.  n.  Assobiar. 

—  V.  a.  Produzir  som  agudo. 


De  armas,  golpes,  c  vida  deg-scntido. 
Km  salv.^r  Sogona.t  Si'i  íévo  o  intento : 
Com  custo  o  arranco  da  Romana  faria. 
Dou-lho  a.-iLlo,  no  concavo  dum  líóbre. — 
Kis  vem  perdida  flecha,  no  ar,  silraiulo. 
Que,  ao  Vellio,  era  acu  asilo  o  peito  rompe. 

F.    M.   DO  N.VSCIMENTO,  OS   UAHTT8E3,   1ÍV.    10. 


SILVATICO,  A,  adj.  (Do  latim  silvati- 
cus).  Silvestre. 

SILVEDO,  s.  m.  Vid.  Silvado. 

SILVEIRA,  s.  /.   Silva,  arbusto,  sarça. 

SILVESTRE,  adj.  2  gen.  (Do  latim  .<!j7- 
vestris).  Da  selva,  montezinho,  do  matto. 

— •  Agreste,  rude. 

—  Arte  silvestre;  nomo  dado  por  Ca- 
mões ii  medicina,  por  curar  muito  com 
vegetaes. 

—  Homem  silvestre ;  homem  creado 
nos  mattos,  ;l  similhança  dos  brutos,  ou 
feras;  selvagem. 

—  Figuradamente :  Entendimentos  sil- 
vestres. 

—  Vida  silvestre;  vida  agreste. 
SILVIA,   .•!.  /.  Pintarôxo,  ara. 
SILVÍCOLA,'."!.   2  gen.  (Do  latuu  siVl-í- 

cola).  Habitador  de  selva. 


SILVÍCOLAS,  «.  m.  plur.  fDo  latim  «»7- 
va,  c  colere).  Termo  de  entomologia.  Gé- 
nero de  insectos  coleopteroa,  que  habi- 
tam no  tronco  «las  arvores. 

SILVICULTURA,  *. /.  dJo  latim  tilva, 
c  cuttiiriij.  .Sciencia  que  diz  respeito  á 
cultura  'hn  mattas  o  suas  plantações, 

f  SILVINA,  «.  /.  Termo  de  mineralo- 
gia, ('hhjrureto  do  pota^io. 

SILVINHA,  s.  f.   Diminutivo  de  Silva. 

SILVO,  ".  m.  (J  assobio,  ou  uom  a^utlo 
das  cobras  c  serpentes. 

Ag  orientaf»  costas  africanas 
Kodcámos  de  Jalofu  c  de  .Mandinga, 
Uondc  O  curvo  fíiimbt-a  ao  Tejo  manda 
As  rica.4  páreas  do  caudal  luzente. 
As  Dorcadas  passámos,  que  dos  »i7fO« 
Das  víboras  na  arei^i  imla  retinem. 
OÀRiKTT,  CAMÕES,  cant.  4,  cap.  6. 

SILVOSO,  A,  adj.  (Do  latim  tihonu). 
Em|)eçado,  travado  com  silvas. 

SIM,  adv.  Designa  o  consentimento,  a 
approvação,  em  oppoaiçilo  a  não.  —  •  Bo- 
touse  cm  breue  tempo  pesquiza  por  toda 
a  Cidade,  andando  meu  companheyro,  e 
ou  Cu  os  Portugueses  que  nos  tinlião  aui- 
sado  sabendo  de  todos  onde  estau.^,  te 
que  finalmente  os  achamos  fechados  em 
huma  casa,  tristes,  e  chorosos,  e  pergun- 
tandoliies  so  queriào  ser  Cliristãos,  disse- 
ram todos  que  sim.»  Fr.  (jasiiar  de  S. 
Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap.  G. 
—  oE  dito  que  sim,  lhe  fazia  huma  pra- 
tica explicando-lhe  as  novas  obrigaçoeiu-, 
em  que  entrava;  e  como  em  todas  as 
acçoens  de  armas  devia  favorecer,  e  aju- 
dar a  justiça.»  ilanoel  Severim  de  Faria, 
Noticias  de  Portugal,  Disc.  3,  cap.  28. 

Descasa  casados  hão 
embora,  senhora  irmã. 
Minha  senhora  irmã,  sim, 
sou  assi  tào  cortezã. 
ÁXTúNio  rsESTEs,  ÁUT03,  pag.  2*29. 

Justificar  papeia  vem : 
quando  o  liomora  tem 
assi  posto  em  conclusão, 
ficji  a  concrusào  de  quem 
que  d'áqucm  e  mais  d'álem 
o  mais  sim  elle  é  mais  não. 
isiuKu,  pag.  391. 

— «Os  vassallos  d'Ace8tes,  animados 
com  o  exemplo  e  palavras  de  Mentor,  c»)- 
brarara  brios,  do  que  se  niio  criam  capa- 
zes. Eu  mesmo,  d'um  bote  de  lança,  dei 
por  terra  com  o  tilho  do  rei  inimigo :  sim 
tinha  a  minha  edadc,  mas  era  muito  mais 
agigantado  e  membrudo  que  eu;  por 
quanto  esto  povo  descende  d 'uma  raça  de 
gigantes,  que  toem  a  mesma  origem  «loa 
Cyclopes.B  Telemaco,  traducçào  de  Ma- 
noel de  Sousa,  e  Francisco  ilanoel  do 
Nascimento,  liv.  2.  —  «C^5mo  que  sim 
(clamilrão  todos  â  uma)  que  Madama  ha 
de  lá  fazer  éjx)ca.  —  Esse  barrete  fê-lo 
Le    lloy,    ou    Mademoiselle    Despeaux? 


SIM 


SIMI 


SIMO 


525 


(acudio  um  d'es3e3  vélhoa  peti-métres, 
que  mais  impudentes  que  os  mucos  care- 
cem da  graça,  ou  de  azoamento  que  os 
desculpa).»  Idem,  Successos  de  madame 
de  Seneterre.  —  (iD'ahi  prosegulmos  e  de 
camitilio  vimos  o  engenho  de  moer  cana 
de  assucar,  nào  com  cavallos  ou  bois  como 
03  outros,  mas  sim  com  agua,  tendo  por 
fora  uma  azenha  ou  moinho  de  cubo  ex- 
cellente.  O  dono  é  N...  natural  das  Cal- 
das da  Rainha.»  Bispo  do  Grão  Pará, 
Memorias,  publicadas  por  Camillo  Cas- 
tello  Branco,  pag.  205. 


É  morta  Roma,  sim,  morta  de  todo  : 
Aoa  filhos  or|ihams,  salve-ao-lhe  ao  monos 
Um  retalho  siquer  da  pátria  herança. 

GABUETT,  CATÃO,  act.   2,   8C.   1. 

Pae  !...  Não  ;  outro, 
Deuses,  deuses  cruéis !  não  podeis  dar-mo. 
Sim,  sim;  eu  sou  teu  pae:  de  tem-a  infância 
Como  a  filho  (c  que  filho  !)  to  amei  sempre. 
IBIDEM,  act.  3,  SC.  3. 

Sim  tu,  meu  Manlio, 
E  Juba  vai  comtigo.  —  E  Marco-Bruto 
Irá  tambiíra  :  vou-lho  mandar  que  cesse 
O  combate,  e  que  as  portas  abra  a  César. 
iBiD£u,  act.  5,  SC  7. 

Sim,  e  guarnecido 
Com  cem  freixeiros  meus :  o  passo  é  estreito. 
Fácil  de  defender  ;  nem  o  descobrem 
Tam  cedo. 

IBIDEM,  act.  5,  SC.  8. 

—  Antigamente  tomava-se  sim  por  si, 
variação  do  pronome  da  terceira  pessoa. 

Si,  pelo  aparentado 
aquclla  é  nossa  cunhada. 
Feito,  feito. 

ANTÓNIO  PUESTES,  ACTOS,  pag.  1G9. 


Pastel 
amor  de  favo  de  mel. 
Pastel  alma. 

Amor  guarida  ? 
O  mais  amor  d'ouropel. 
Busoaes  amor  ? 

Si,  buscámos. 
IBIDEM,  pag.  225. 

Moço ! 

Senhor ! 

Logo  e33'hora 
me  cscovae  essa  capa  azinha. 
E  vossa  mercê  vaa  fora  ? 
Si  senhora. 

Agora  ? 

Agora. 
IBIDEM,  pag.  289. 

—  Talvez  alterado  de  assim,  affirman- 
do  sim,  por  assim  é. 

—  Responder  de  sim;  dizer,  ou  respon- 
der sim. 

—  Emprega-se    também    substantiva- 
mente :Z)ar  u  sim  a  alguém. 


SIMA.  Vid.  Cima. —  «E  de  quando  em 

quando  nos  davaõ  muytas  gritas,  e  apu- 
padas, e  capeaudonos  com  biideyras,  e 
toucas,  nos  mostravaõ  de  sima,  do  capi- 
tel de  poupa  muytos  traçados  niia,  esgri- 
mindo cõ  elles  no  ár,  para  que  nos  che- 
gássemos a  elles,  Cõ  a  primeyra  vista 
destas  suas  fanfarrices  ficámos  nós  algum 
tanto  embaraçados.»  Fernão  Mendes  Fin- 
to, Peregrinações,  cap.  161. 

SIMARUBA,  ou  SIMARRUBIA,  s.  f. 
Termo  de  botânica.  Planta  da  Guiana,  e 
outras  regiões  da  America,  cuja  casca  ó 
empregada  em  medicina. 

t  SIMARUBAGEAS,  s.  f.  plur.  Termo 
de  botânica.  Tribu  das  rotaceas  que  se 
separam  para  formar  d'ellas  uma  famiiia  á 
parte,  e  que  tem  por  typo  a  simaruba. 

SÍMBOLO,  s.  m.  Vid.  Symbolo. 

Assim  nasceo,  brilhou  primeira  Idade  •, 
A  Primavera  he  símbolo  dos  dias, 
Qu'o  Sol  na  ereação  marcou  primeiro. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATCBEZA,  Oaut.  1. 

SIMETRIA,  s.  f.  Vid.  Symetria. 

SIMIA,  s.  /.  (Do  latim  simia).  Termo 
pouco  em  uso.  Bugio,  macaco,  animal 
mui  similhante  ao  homem. 

— ■  Figuradamente  :  O  que  arremeda. 

SÍMIL,  s.  m.  Simile. 

SIMILAR,  adj.  2  gen.  (Do  latim  simi- 
laris).  Que  é  da  mesma  natureza. 

O  Latino  Cantor  com  versos  d'ouro 
Similares  particulas  nos  mostra 
Primeira  causa  sor  do.s  ci5rpos  todos. 
Seguindo  de  Anaxágoras  a  estrada. 

J.  A.  DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Caut.  4. 

—  Termo  de  geometria.  Diz-se  dos  re- 
ctângulos, ou  parallelipipedos  formados 
pela  multiplicação  dos  números  propor- 
ciouaes  entre  si. 

—  Termo  d'optica.  Raios  similares; 
raios  igualmente  refrangiveis. 

—  Termo  de  anatomia. — -Partes  simi- 
lares, ou  órgãos  primários ;  as  partes 
fundamentaes  que  constituem  os  syste- 
mas,  e  que  se  reúnem  para  formar  os  ór- 
gãos propriamente  ditos. 

f  SIMILARIDADE,  s.  /.  Termo  didá- 
ctico. Qualidade  do  que  é  similar. 

SIMILDÕO,  s.  f.  Termo  antiquado.  Si- 
milhauça. 

SÍMILE,  s.  m.  (Do  latim  similis).  Si- 
milhança,  comparação  que  se  faz  de  uma 
cousa  com  outra,  que  se  lhe  assimilha. 

t  SIMILIFLOR,  adj.  2  gen.  Termo  de 
botânica.  Que  tem  flores  todas  similhan- 
tes. 

SIMILHANÇA,  s.  f.  Vid.  Semelhança. 

f  SIMILHANTE,  adj.  2  gen.  Vid.  Se- 
melhante. —  «Por  certo,  senhores,  disse 
o  das  Donzellas,  em  pessoas  dessa  marca 
havia  de  haver  obras  similhantes  a  elles 
e  não  ás  que  são  conformes  a  outros  quaes- 
quer;    mas    donzellas   é  a  vianda  tão  co- 


mesinha,  que  fazem  todo  o  mundo  ser  de 
seu  natural ;  o  por  i.s.so  mereceis  menos 
culpa,  e  pêra  mim,  que  muitas  vezes  sou 
tentado  destes  accidentes,  eu  a  hei  por 
pequena.»  Francisco  de  Moraes,  Palmei- 
rim de  Inglaterra,  cap.  125. 

Acabou  de  fali  ar  ;  e  confirmando 
Todo  o  sábio  Congresso  o  seu  dietame, 
Um  sussurro  no  Conclave  se  espalha. 
Ao  do  Zcphyro  em  tudo  similhante, 
Quando  nas  frescas  tardes  suspirando, 
A  bella  Flora  segue,  que  travessa 
Cá,  c  lá,  entre  as  flores,  se  lho  furta. 

DIKIZ  DA  CBUZ,  HYSSOrK,  Caut.    1. 

Ora  que  em  cocho  argênteo  as  sombras  corta. 
Tal  do  lá  me  mostrara  o  térreo  globo. 
Se  hum  momento  ao  satéllite  voara ! 
EUe  errante  também,  e  ao  Sol  opposto, 
Ora  todo  illustrado,  e  logo  em  parte. 
De  igual  figura,  e  similhante  marcha. 

J.  A.   DE  M.\CEDO,  MEDITAÇÃO,  Caut.   2. 

Da  esfera,  em  que  os  lançara  a  mão  do  Etomo, 
Jamais  tcntSo  sahir,  nunca  se  apaga 
O  cunho,  que  lhe  imprime  a  Natureza. 
O  homem  sii  da  liberdade  abusa. 
Escravo  das  paixões,  c  ao  Ceo  não  serve  ; 
Até  da  Natureza  a  voz  nào  ouve. 
Tão  dóceis  sendo  a  olla  os  brutos  todos  ; 
Coos  similhantes  seus  a  paz  cousorvão. 
IBIDEM,  cant.  3. 

—  «Mas  emfim  não  concluiu  com  dis- 
parate, similhante  ao  de  um  poeta  que 
fechava  um  soneto  de  boas  festas;  e  fal- 
lando  de  uma  moça  doente  e  nada  ga- 
lante, e  menos  enfeitada  ou  discreta,  con- 
cluía.» Bispo  do  Grão  Pará,  Memorias, 
publicadas  por  Camillo  Castello  Branco, 
pag.  70.  —  «Não  se  explica  o  horror  que 
similhante  facto  causou,  por  ser  coisa 
muito  rara  o  homicídio  em  Galliza.»  Ibi- 
dem, pag.  112. 

SIMILITUDINARIO,  A,  adj.  Em  que  ha 
semelhança. 

SIMIO,  s.  m.  (Do  latim  sÍ7nius).  Ter- 
mo pouco  em  uso.  Bugio,  macaco,  mono, 
fallando  do  macho. 

SIMITAS,  s.  f.  plur.  Termo  antiqua- 
do. Remates,  por  exemplo  dos  leitos. 

SIMO,  s.  m.  Vid.  Cimo. 

SIMONEA,  *.  /.  Talvez  erro  por  esca- 
monea. 

SIMONIA,  s,  /.  (Do  latim  simonia). 
Convenção  illicita  pela  qual  se  recebe 
uma  recompensa  temporal,  uma  retribui- 
ção pecuniária  por  alguma  cousa  de  san- 
to o  espiritual,  tal  como  os  sacramentos, 
as  orações  da  ecreia,  os  benefícios,  etc. 

SIMONIACAMENTE,  adv.  Com  simonia. 

SIMONIACO,  A,  adj.  Onde  entra,  onde 
ha  simonia.  —  Contracto  simoniaco. 

—  Que  commette  uma  simonia,  fallan- 
do das  pessoas. 

—  Emprega-se  também  como  substan- 
tivo. 

SIMONTE,  adj.  m.  —  Tabaco  simonte  ; 
da  primeira  folha  do  tabaco.  Vid.  Somen- 
te, termo  mais  próprio. 


526 


SIMP 


SIMP 


SIMP 


—  U«a-se  t!inil)cm  Hiibstuntivanicnte. 

SIMOTRACF.A,  wlj.  f.  —  Pedra  simo- 
tracea  ;    invlra  analofca  ao  azoviche. 

SIMOUN,  s.  VI.  Vento  abrazador  que 
sopra  fio  iiitiTior  da  yMVica. 

SIMPATHIA,  í>.  f.  Vid.  Sympathia. 

SIMPLACHEIRÃÒ,  ONA,  wlj.  e  s.  Tor- 
mo  popular.  Mui  sliiiplo»,  atoleimado, 
parvo. 

SIMPLACHO,  A,  adj.  c  s.  Vid.  Sim- 
placheirão. 

SIMPLALHÃO,  ONA,  adj.  o  ».  Termo 
popular  u  aufíinentativo  de  Simples.  Vid. 
Simplacheirão. 

SIMPLE,  adj.  2  (jaii.  Vid.  Simples,  ter- 
mo niai-<  Híiado. 

SIMPLEIRÃO,  ONA,  adj.  e  s.  Termo 
popular.  Vid.  Simplalhão. 

1.)  SIMPLES,  (tdj.  2  gen.  Que  nSo  ó 
composto.  —  Deus,  a  alma  são  seres  sim- 
ples. —  IdSas  simples.  —  Movimentos  sim- 
ples. 

E  nada  maia,  liacôu,  Tullio,  Archimídea ? 
Que  (!in  Viviani,  em  Galili^o  profundo 
Não  lia  maia  que  Imm  subtil,  térreo  composto 
De  delicadas  tuuicaa,  o  fibra»? 
Srtmeiito  o  simples  movimento  peido 
Fazer  que  julgue,  que  combino  o  corpo  V 
Dar-lhe  ethereo  poder,  força,  energia 
Do  transpor,  do  correr  do  eapaço  03  pontoa  ? 
j.  A.  riE  UACBDO,  UEorfAçÃo,  cant.  4. 

Da  antiga  Rliocia  vejo  o  alto  ornamento 

Bornouilli  immortal.  Na  margem  fria 

Do  diaoordante  IJaltico  diviao 

O  grande  .\uotor  daa  Munadaa,  quo  encontra 

No  comiioato  mortal  maga  harmonia 

Entro  a  corpórea,  e  sim2>les  substancia. 

J.   A.    DE  MACEDO,  VIAUKM  EITATICA,    Cant.    2. 

Pois  cu  co'a  luz  da  simples  Natureza 
Levo  os  mortaca  :l  cren(;a  de  Mysterios, 
Quo  il  Razão  não  8'oppõe,  mas  são  mais  altoa  •, 
Tom  por  baao  acgura  Omnipotência. 
IBIDEM,  cant.  2. 

—  Termo  de  chimica.  Corpos  simples; 
corpos  que  até  ao  presente  tem  sido  im- 
posaivel  decompor,  chamados  também  ele- 
mentos. 

—  íS'íies  simples  ;  saes  em  quo  o  peso 
atómico  do  acido  é  igual  ao  peso  atómico 
da  base. 

—  Termo  do  grammatica.  Diz-se  de 
uma  palavra  que  não  ó  composta. 

—  Termo  do  poética  antiga.  Pés  sim- 
ples ;  pés  do  duas  ou  três  syllabas,  por- 
que niío  podem  doeompôr-se  em  duas  ou- 
tras. 

.   —  Quo  não    é   duplo   ou   múltiplo.  — 
Sapatos  de  simples  'palmilhas. 

—  Echo  simples ;  eclio  que  repete  ca- 
da som  uma  s6  vez. 

—  Termo  do  botânica.  Haste  simples; 
baste  quo  não  é  ramiticada. 

—  Cali/.v  simples  ;  calyx  que  n.no  é 
cercado  do  um  segundo  ealyx  exterior. 

—  Flor  simples  ;  aquella  cuja  corolla 
não  tom  duplas  potalas. 


—  MiJr  simples ;  <liz-se  também  cm 
OppOHÍ(;ão  a  Jlôr  annposta, 

—  Termo  do  zoologia.  Antenna  sim- 
ples ;  antenna  <\w,  não  offcreco  prolon- 
gamento algum,  nem  ramilii-ação. 

—  Nervura  simples  ;  nervura  termi- 
nada unicamente  jior  um  [lonto  redondo. 

—  Aniniaes  simples  ;  aquellcs  que  não 
resultam  da  aggi'egac;2o  de  um  certo  nu- 
mero de  indivíduos. 

—  Copula  simples ;  aquella  que  tem 
logar  entre  dous  indivíduos  pertencentes 
a  espécies  entro  as  quaes  os  sexos  são 
scparailos. 

—  Tei-mo  do  marinha.  Ordem,  ou  li- 
nha simples ;  disposição  de  navios  de  guer- 
ra Sobre  uma  única  linha. 

—  Que  tem  poucas  luzes,  poucos  co- 
nhecimentos.—  uMuitas  vezes  acontece, 
a  Imni  cego,  por  ter  ouuido  fallar  em  co- 
res disputar  sobre  cilas  aguda,  e  douta- 
mente, posto,  que  naõ  tenha  conceito, 
nem  representação  própria  delias  na  me- 
moria, esta  leuantada  sciencia  mystica 
costuma  comniunicarsc  aos  humildes,  pos- 
to, que  gento  simples,  e  sem  letras,  e 
encobrirse  aos  eruditos,  que  as  tem  apren- 
didas, o  com  ellas  saõ  soberbos,  e  car- 
nais; porque  as  cousas  altas  c  sagradas 
não  se  concedem  dcsperdiçadamonte  aos 
animais  innnundos.»  Frei  Bartholomeu 
dos  Martyrcs,  Compendio  de  espiritual 
doutrina,  cap.  í'2. 

—  Engenho  simples ;  engenho  ingénuo, 
singelo,  sem  dobrez.  —  aPera  isto  mais 
se  aclarar  vsaromos  de  hum  exemplo.  Se 
hum  pay  excellente  em  muitas  virtudes 
tiuera  dous  filhos,  dos  quaes  hum  tratara 
do  inquirir,  c  esquadrinhar  curiosamente 
os  desenhos,  palauras  e  obras  de  seu  pay, 
pêra  se  assemelhar  a  clle  em  tudo,  mas  naõ 
o  amara,  nem  puzera  o  affocto  nclle,  mas 
o  outro  iilho  de  engenho  simples  c  sem 
esquadrinhar,  nem  perguntar  pcUas  ex- 
celleneias,  e  acções  do  pay,  sô  se  empre- 
gara em  saber,  como  contentallo,  c  obe- 
deccllo  cm  tudo.»  Frei  Bartholomeu  dos 
Martyrcs,  Compendio  de  espiritual  dou- 
trina, cap.  12. 

—  Simples  vista.  —  «Conheça  pois  o 
enteudimeuto  o  quo  lho  for  permittido  cò 
simples  vista,  abaixando  os  olhos  dili- 
gente, humilde,  e  sossegadamente,  sem 
próprio  esquadrinhar,  antes  prudentemen- 
te recuse  impulso  violento  por  não  se  de- 
bilitar, c  opiirimir  a  natureza  demasia- 
damente, mas  com  tudo  se  naõ  poder 
deixar  do  afligirsc,  nem  por  isso  se  per- 
turbe nem  desconfie,  mas  sofra  com  hu- 
mildade, e  paciência.»  Frei  Rartliolomeu 
dos  ]Martyres,  Compendio  de  espiritual 
doutrina,  cap.  11. 

—  Medica7nentos  simples ;  aquellcs  que 
não  soílrem  alguma  preparação  pharma- 
ceutica,  ou  aquclles  que  não  contém  se- 
não uma  única  substancia. 

— -Plantas  simples;  diz-se  no  sentido 
de  plantas  medicinaes. 


—  Termo  do  liturgia.  Festa  simples; 
ojicio  simples;  diz-se  em  opposição  a 
feula,  oti  oj/icio  duplo. 

—  V'ito  simples ;  voto  que  não  é  feito 
em  face  da  egreja,  nem  acompanhado  das 
formalidades  requeridas. 

—  Multiplicação,  divisão  simples;  em 
que  só  entram  grandcsas  da  menor  espé- 
cie. 

—  Termo  de  mineralogia.  Forma»  sim- 
ples; formas  terminadas  por  faces  idên- 
ticas. 

—  Que  não  tem  outra  qualidade,  nem 
outro  caracter. 

—  Simples  clérigo;  que  não  tem  a  ton- 
sura clericiíl. 

—  Simples  soldado ;  soldado  que  nSo 
tem  posto,  nem  graduação;  soldado  raso. 

—  Simples  particular ;  homem  que  não 
tem  emprego  publica,  que  não  exerce 
funcções  publicas. 

—  Doação  pura  e  simples ;  doaçKo  fei- 
ta sem  condição. 

—  Que  não  é  complicado,  que  é  fácil 
de  empregar,  de  comprehender,  de  exe- 
cutar.—  Muito  simples. 

—  Sem  ornato,  sem  fasto,  sem  affecta- 
ção.  —  Moveis  simples  e  commodos.  — 
Ter  gostos  simples.  —  Vida  simples. 

—  Diz-se  das  pessoas  :  Ser  simples  nos 
seus  trajos,   nos  seus  moveis. 

—  Sem  disfarce,  nem  malícia.  —  Ser 
simples  como  uma  pomba. 

—  Que  se  deixa  lacihnente  enganar. 

—  Diz-se  também  das  cousas.  —  Sim- 
ples obediíncia. 

—  Comida  simples ;  comida  sem  mui- 
tos adubos. 

—  Juiz  simples;  não  letrado,  juiz  or- 
dinário. 

—  Renuncia  simples ;  a  que  se  faz 
plenariamente,  som  reserva  de  titnlos. 

—  Benejicio  simples ;  sem  cura  d'al- 
mas,  sem  obrigação  de  coro.  Vid.  Bene- 
ficio. 

—  Sem  circumstancias  aggravantes. 

—  Um  simples  dito;  asserção  sem  pro- 
va. 

—  Furto  simples ;  furto  sem  arromba- 
mento, sem  violência. 

—  Vestidos  simples;  vestidos  sem  luxo. 

—  Promessa  simples ;  promessa  quo 
se  não  confirma  com  juramento. 

2.)  SIMPLES,  s.  2  gen.  Pessoa  ingé- 
nua, sem  dobrez,  singela,  espirito  sim- 
ples. 

—  Termo  de  rhctorica.  Um  doe  três 
géneros  de  eloquência:  O  simples,  o  tem- 
pcrado,  o  sublime. 

—  Pessoa  de  pouco  engenho,  pessoa 
parva. 

3.)  SIMPLES,  s.  m.  plur.  Vid.  Simpli- 
ces.  Arcos  do  madeira,  sobre  os  quaes  se 
formam  paulatinamente  os  do  edifício. 
Vid.   Gambota,  on  Cambota,  de  camba. 

SIMPLESMENTE,  adv.  ^De  simples,  e 
o  suflixo  a  mente»}.  Sem  complicação. 

—  Somente. 


SIMP 


SIMP 


SIMU 


527 


—  Sem  reserva,  e  sem  condição. 

—  De  um  modo   simples,    sem  ornato. 

—  Naturalmente,  sem  rodeio. 
SIMPLEZA,  s.  /.   Simplicidade,  falta  de 

arte,  de  adorno,  de  enfeite. 

—  Dito  singelo,  de  alma  simples,  sem 
refolho.  Vid.  Simplicidade. 

—  Singeleza  de  animo,  innocencia  e 
talvez  ignorância.  —  A  simpleza  do  co- 
ração d' este  homem  é  apreciável.  — ■  «Que, 
na  simpleza  do  seu  coração,  correram  ao 
baile  pomposamente  annunciado,  crendo 
que  essa  grande  bençãu  de  Deus  na  ter- 
ra, a  franca  e  intima  alegria,  podia  pe- 
netrar no  recinto  consagrado  ao  egoismo 
das  pequeninas  vanglorias,  ás  pontuali- 
dades  parvoas  e  á  semsaboria  de  con- 
vencional contentamento.»  A.  Hercula- 
no, Monge  de  Cister,  cap.  25. 

1.)  SIMPLICES,  s.  m.  plur.  As  drogas 
de  que  se  compõe  os  remédios,  de  que  se 
fazem  as  operações  cliimicas,  e  de  tintu- 
raria, o?  ingredientes. 

2.)  SIMpLiCES,  adj.  Vid.  Simples.  — 
«Este  artigo  e  confissam  de  huma  igreja 
Catholica  (como  he  declarado)  he  a  prin- 
cipal columna  a  que  estamos  encostados, 
e  firmados,  pêra  escapar  de  todalas  here- 
sias, e  erros,  e  nelle  consiste  toda  verda- 
deira e  sancta  Theologia  das  pessoas  sim- 
plices,  porque  em  quanto  firmemente  cre- 
rem o  que  cree  a  sancta  Madre  igreja 
Catholica  estam  seguros  de  lhe  nam  em- 
pecerem as  ignorâncias  em  as  quaes  po- 
dem cayr  por  não  alcançarem  a  alteza, 
e  subtileza  dos  mysterios  da  fee.»  Frei 
Bartholomeu  dos  Martyres,  Catecismo  da 
doutrina  christã.  —  «  D'alli  voltaram  a 
Caljpso,  que  os  esperava.  As  nymphas, 
com  os  cabellos  entrançados,  e  cândidos 
vestidos,  ministraram  umas  iguarias  sim- 
pleces,  mas  exquisitas  no  gosto  e  no 
aceio.  Não  havia  outros  guisados  mais 
que  das  aves,  por  ellas  preadas  nas  re- 
des, ou  das  feras,  que  tinham  assetteado 
na  caça.  Grandes  e  argênteas  vasilhas, 
despejavam  em  áureas  taças  vinho  mais 
saboroso  que  o  néctar ;  e  em  aceiadas 
bandejas  traziam  quantos  fructos  promet- 
te  a  primavera,  e  liberaliza  o  outono.» 
Francisco  Manoel  do  Nascimento,  Tele- 
maco,  liv.  1. 


As  Leis  então  verá  da  Natureza, 
Constantes  sempre,  simplices,  e  grandes, 
E  se  a  verdade  a  nós  sobre  inaccesso 
Aéreo  cume  d'a3pcra  montanha 
Por  entre  densa  névoa  apenas  raia. 

J.   A.   DE  aiACEDO,  A  NATUREZA,    Cant.    1. 


Não  existe  hum  lugar  no  Ceo,  na  Terra, 
Onde  homogéneo,  simpUce.  só,  puro, 
Assento  firme  tenha,  e  reino  o  fogo. 
IBIDEM,  cant.  2. 

SIMPLICIDADE,  s.  f.  (Do  latim  sim- 
plicitas).  Qualidade  do  que  é  simples,  e 
não  composto,   em  opposição  a  multipli- 


cidade, coinposição. — A  simplicidade  do 
ente  divino. 

—  Caracter  de  innocencia  sem  disfar- 
ce, sem  malícia. 

Tu  choras  cousas  que  hão 
de  ter  fim  ;  simplicidade 
maior  do  quantas  o  são. 
Disso  e  d'Athenas  me  rio. 

ANTOKIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  43. 

—  Qualidade  do  que  não  é  complicado. 

—  Qualidade  do  estylo  simples. 

—  Qualidade  do  que  é  sem  fasto,  sem 
ostentação,  sem  apparato. 

—  Qualidade  das  pessoas  que  não  pro- 
curam nem  o  fasto,  nem  o  apparato. 

■ — •  Falta  de  luz,  de  conhecimentos. 

—  Syx.  :  Simplicidade,  simpleza. 

Simplicidade  é  a  qualidade  de  ser  sim- 
ples, tanto  no  sentido  physico  como  no 
moral.  Simpleza  somente  se  diz  do  ho- 
mem no  sentido  moral. 

Simplicidade  toma-se  sempre  cm  boa 
parte,  como  negação  de  dobrez,  de  refo- 
lho. Simpleza  parece  referir-se  ao  adje- 
ctivo simples  na  accepção  de  néscio,  de 
pouco  engenho,  pelo  que  muito  se  parece 
com  ignorância  ou  parvoíce. 

A  simpleza  de  Sancho  II  era  certa- 
mente d'esta  espécie,  e  mui  differente 
da  simplicidade,  que  excluindo  a  do- 
brez, o  dolo,  a  astúcia,  o  refolho,  sabe 
unir-se  com  a  discrição  e  o  juizo.  A 
simpjleza  é  singela,  mas  tola ;  a  simpli- 
cidade é  singela,  porém  avisada. 

SIMPLICÍSSIMO,  A,  adj.  superl.  de 
Simples.  Mui  simples. 

SIMPLICISTA,  adj.  2  gen.  —  Medico 
simplicista ;  medico  que  cura  com  as 
drogas  simples  ou  receitas  que  não  cons- 
tam de  muitos  ingredientes. 

• — •  Que  se  occupa  dos  simples  medici- 
naes. 

SIMPLIFICAÇÃO,  *.  /.  Acção  de  sim- 
plificar, resultado  d'esta  acção, 

SIMPLIFICADO,  imrt.  i^ass.  do  Simpli- 
ficar. —  Um  methodo  simplificado. 

f  SIMPLIFICADOR,  s.  m.  Homem  que 
simplifica. 

SIMPLIFICAR,  i'.  a.  Tornar  simples, 
menos  composto,  menos  complicado.  — 
Simplificar  as  causas  e  generalisar  os  ef- 
feitos  deve  ser  o  fim  do  physico. 

—  Simplificar  um  quebrado;  reduzil-o 
á  expressão  mais  simples  ;  convertel-o  em 
outro,  que  lhe  seja  equivalente,  e  cujos 
termos  sejam  primos  entre  si. 

SIMPLÍSSIMO,  A,  adj.  superl.  de  Sim- 
ples. Vid.  Simplicissimo. 

SIMPLO,  s.  m.  A  simples  quantia,  ou 
capital  de  que  se  trata,  sem  juros,  cus- 
tas ou  outros  accrescimos. 

SIMPLÓRIO,  A,  adj.  Termo  popular. 
Vid.  Simplalhão. 

SIMPRES,  ndj.  2  gen.  Vid.  Simples. 

-j-  SIMPRESMENTE,  adv.  (De  simpres, 
com  o  suífixo   «mente»).   Vid.   Simples- 


mente. —  «Item.  Se  alguum  emprestou 
ouro  ou  prata  a  outrem  em  modo  e  con- 
diçom  de  emprestido  simpresmente,  ou 
pêra  se  usar  delle  a  certo  tempo,  pague 
esse  ouro,  ou  prata  pela  guisa  suso  dita.» 
Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit.  1,  §  44.  —  «A 
este  artigo  diz  ElRey,  que  pois  tanto  da- 
pno  vem  delles,  que  os  nom  aja  hy  da- 
qui em  diante,  e  manda  que  os  nom  fa- 
çam ;  e  se  os  alguém  fezer,  que  nom  va- 
lham mais  que  outro  prazo  feito  simpres- 
mente.» Ibidem,  tit.  7,  §  1.  —  «E  se  as 
partes  fezessem  alguã  conveença,  a  qual 
firmassem  antre  si,  e  despols  que  assi 
antre  elles  fosse  firmada  simpresmente, 
dissessem  que  fossem  fazer  Escriptura, 
em  tal  caso  Dizemos,  que  se  as  partes 
huma  vez  fezerom,  e  firmárom  sua  con- 
veença, nom  se  podem  mais  afastar  a 
fora  per  razom  desta  Lei,  se  lhe  outro 
algum  remédio  de  direito  nom  valesse.» 
Ibidem,  tit.  56,  §  5. 

t  SIMPREZA,  s.  /.  Vid.  Simpleza.  — 
«Porque  poderia  o  comprador  despois  da 
dita  compra  fazer  na  cousa  alguãs  bem- 
feitorias,  por  que  a  dita  cousa  seria  mui- 
to melhorada,  ou  poderia  o  dito  vende- 
dor por  sua  simpreza  seer  enganado  na 
primeira  compra,  que  fez.»  Ord.  Affons., 
liv.  4,  tit.  45,  §  5. 

SIMPTOMA,  s.  /.  Vid.  Symptoma. 

SIMUL,  adv.  lat.  Termo  pouco  em  uso. 
Juntamente,  simultaneamente,  ao  mesmo 
tempo. 

SIMULAÇÃO,  s.  f.  (Do  latim  simula- 
tio).  Termo  de  jurisprudência.  Acção  de 
simular.  —  Ha  muita  simulação  n'este 
contracto. 

—  Diz-se  também :  A  simulação  de  uma 
doença. 

—  Disfarce,  fingimento,  dissimulação. 
SIMULACRO,  s.  m.   (Do  latim  simula- 

crum).  Estatua,  idolo,  imagem. 

E  o  pertinaz  Athèo  cego,  insensível 
Poderia  dizer  í|ue  o  raéro  Acaso 
Arrancara  de  bruta  penedia 
Desfarte  atFeiçoado  aquelle  apuro 
Da  mão  do  Miguel  Angelo,  ou  Bornini  ? 
E  que  outro  acaso  sobre  a  base  firme 
O  portentoso  simulacro  alçara? 

J.   A.   DE  MACEDO,   JTEDITAçÂO,  Caut.   4. 

SIMULADAMENTE,  adv.  (De  simulado, 

com  o  suífixo  «mente»).  De  um  modo  si- 
mídado. 

—  Com  disfarce,  com  fingimento,  com 
dissimulação. 

SIMULADO,  jmrt.  pass.  de  Simular. 
Que  se  faz  parecer  como  real,  ainda  que 
o  não  seja. 

—  Doenças  simuladas ;  doenças  de  que 
se  determina  em  si  os  symptomas  por 
meios  artificiaes,  e  que  parece  ter,  a  fim 
de  se  isentar  assim  de  preencher  os  de- 
veres impostos  pela  sociedade,  ou  pelas 
leis. 

—  Que  quer  parecer  o  que  não  é. 

—  Feito  á  imitação  d'outro. 


528 


SINA 


SINA 


SINA 


—  Fingido,  em  f|nn  ha  simulaçi\o. 

—  Contracto  simulado ;  contnicto  que 
6  fingido,  ou  fundado  ciu  couna  falua, 
para  frau<Iar  os  credores,  ou  illudir  a  lei. 

SIMULADOR,  A,  a<lj.  e  s.  (Do  latim 
Simulator}.  l't)snoa  (|ue  aabe  simular. 

—  Particularmente :  Aquelle  que  si- 
mula unia  doença. 

—  Qiio  u>a  de  wimulações. 
SIMULAMENTO,  s.  m.  Termo  pouco  em 

liso.  Vid.  Simulação. 

SIMULAR,  ('.  a.  (Do  latim  siinnlare). 
Termo  de  jurispnidcncia.  Fazer  parecer 
como  real  o  que  o  não  c. 

—  Disfarçar  com  algum  dito,  ou  acçílo 
o  verdadeiro  intento,  ou  propósito  que 
temos,  dando-llio  apparencias,  que  indu- 
zem 08  outros  eiu  erro. 

—  Disfarçar,  oocultar  com  côr. 

—  Syx.  :  Simular,  dissimnlar.  Vid. 
este  ultimo  tivnio. 

SIMULCADENCIA,  s.  f.  (Do  latim  ni- 
mulcadentia).  Fipjura  do  rlietorica,  quo 
consisto  em  acabar  as  clausulas  com  ter- 
mos similhantes. 

—  Algun-;  auetores  dizem  que  ó  quan- 
do a  mesma  figura  consta  de  dous  perio- 
dos  com  igualdade  nos  casos. 

SIMULCADENTE,  adj.  2  gtn.  Vid.  Si- 
mulcadencia. 

SIMULDESINENCIA,  «.  /.  (Do  latim  si- 
muldesinentia).  Figura  de  rhetorica,  que 
consisto  em  acabar  as  clausulas  com  pa- 
lavras lunnonvnias. 

SIMULDESÍNENTE,  adj.  2  gen.  Vid. 
Simuldesinencia. 

SIMULTANEAMENTE,  adv.  Ao  mesmo 
tempo  oui  que  outros  fazem,  ou  um  só 
faz  diversas  cousas.  —  Estudar  simulta- 
neamente a   matkemafica  e  direito. 

—  Juntiinicnte. 

SIMULTANEIDADE,  s.  f.  Termo  didá- 
ctico. Existência  de  duas  ou  mais  cousas 
ao  mesmo  tempo. 

SIMULTÂNEO,  A,  adj.  Que  se  faz,  que 
tom  logar  ao  mesmo  tempo. 

—  Contracto  simultâneo  das  cores. 

—  Diz-se  de  um  modo  do  ensino  cm 
quo  o  professor  se  dirige  coustantemeute 
á  mesa  dos  discipulos  da  classe,  ou  de 
uma  divisão  da  classe,  e  lhes  faz  fazer 
ao  mesmo   tempo   os   mesmos  exercícios. 

SINA,  s.  /.  (Do  latira  signum).  Termo 
antiquado.  Estandarte,  bandeira,  insígnia 
militar,  que  os  soldados  deviam  seguir. 
Consorva-se  hoje  o  nomo  de  sina  nos  bo- 
dos, cavalhadas,  ou  sejam  romarias,  que 
algumas  camarás  do  reino  costumam  fa- 
zer em  algum  dia  do  anno,  levando  o 
juiz,  ou  algum  outro  official  a  bandeira 
real  a  certa  ermida,  ou  templo,  para  me- 
moria, e  agradecimento  de  algum  benefi- 
cio em  feito  de  armas,  que  do  céo  te- 
nham recebido. 

—  Moilornamcnte,  ha  as  bandeiras  do 
regimento  com  as  cores  d'elle,  e  a  real 
com  as  armas  rcaes. 

—  A  sorte  ou  destino  que  cada  um  ha 


de  ter,  segundo  os  decretos  etemoB  da 
Providencia.  —  «Eu  ignoro  absolutamen- 
te a  minha  sina,  o  ainda  quo  estou  ho- 
goito,  e  obediente  a  t(jdafl,  o  quaesquer 
disposiçoons  da  Providencia,  teria  horror 
do  quo  03  velhos  mo  transmutassem  em 
Caranguejo,  principalmente  neste  século 
em  que  nílo  ha  hum  Ovidio,  que  dósso 
noticias  minhas  ao  publico  jjerpctuando  a 
minha  memoria  cm  Imma  Jletamorpho- 
80.»  (Javalleiro  de  Oliveira,  Cartas,  liv. 
3,  n.o  9.  —  «O  pensamento  verdadeiro  e 
dondnanto  d'esto  poema  é  ligar  a  vida  e 
feitoa  todos  de  Camijes  como  a  um  fado, 
a  uma  sina  com  que  nasceu  —  a  de  im- 
mortalizar  o  nome  portuguez  com  o  seu 
poema.»  darrett,  Camões. 

SINABAFO,  s.  VI.  Termo  antiquado. 
Género  de  tecido  mui  tino,  sem  outra  cór 
mais  dl)  t\ui:  a  natural. 

SINADAMENTE,  adv.  Assinadamente. 

SINADO.  Vil.  Assinado. 

SINAGOGA,  .'.  /.  Vid.  Synagoga. 

SINAL,  ou  SIGNAL,  s.  m.  (Oo  latim 
signum).  Indicio,  qualquer  cousa  da  qual 
vimos  em  conhecimento  de  outra  com  que 
ella  tem  ligação  natural  como  o  fumo  é  o 
signal  do  fogo.  Pivle  ser  natural  ou  con- 
vencional, conforme  provém  da  natureza, 
ou  é  filho  da  convenção. 

Sou  contento  do  mostrar 
Poloa  sinats  que  vos  dou. 
Que  são  estes  sem  faltar. 
Que  siuacâ  podeis  vós  dar. 
Para  que  sejais  quem  sou? 

CAII.,  AMPHYTHIÕES,   act.    5,  SC.    1. 

—  aE  pelas  nouas  que  lhe  Antão  Gon- 
çaluez  deu  das  cousas  da  terra  segumlo 
o  tinha  sabido  dos  Alarues,  e  principal- 
mente pela  quãtidade  douro  que  ouue  que 
era  sinal  de  muito  que  ao  diante  se  po- 
dia descubrir :  despachou  logo  a  Nuno 
Tristão  quo  como  atras  fica,  foi  o  que 
chegou  ao  cabo  Branco.»  Barros,  Dé- 
cada 1,  liv.  1,  cap.  7. —  «Mandou  ar- 
vorar hunia  Cruz  feita  em  hum  masto,  o 
qual  sinal  era  tão  notável  por  sua  altura 
sobre  o  canal  da  parte  da  Aralúa,  que  se 
via  de  huma  légua.»  Idem,  Década  "2, 
liv.  8,  cap,  3. —  €  Acompanhou  este  voto 
com  perpetua  oraçam,  c  assistência  ao 
enfermo,  nam  se  appartando  mais  d'ello 
ate  que  espirou  com  todos  os  bons  sinaes.» 
Lucena,  Vida  de  S.  Francisco  Xavier,  liv. 
6,  cap.  13. —  «E  quanto  ao  negocio  do 
cerco,  e  guerra  da  Fortaleza  de  Diu,  foi 
mui  grande  mercê  de  Nosso  Senhor  a  vi- 
ctoria,  que  vos  alli  deo  contra  tamanho 
poder,  e  número  de  inimigos  do  sua  Santa 
Fó  Catholica,  que  de  tão  diversas  partes 
alli  erão  juntos,  e  mui  claro  sinal  de  elle 
ter  do  sua  mão  o  Estado  ile  essas  partes, 
e  lhe  dou  por  tudo  tantos  louvores,  como 
he  razão,  e  lho  devo.»  Jaciíitho  Freire 
d'Antlrade,  Vida  de  D.  João  de  Castro, 
liv.  4.  —  «Observo  que  sendo  a  Cabeley- 


ra  do  Chapelain  hum  dos  sinaes  da  sua 
Villania,  ii3o  fez  mai-í  do  que  emporca-lo 
a  cllc  mesmo,  porem  a  Peruca  de  V.  M. 
com  admiração  extraordinária,  sendo  hum 
dos  argumentos  do  seu  acevíi,  não  faz  me- 
nos do  que  sujar  a  todos.»  ÍJavalleiro  de 
Oliveira,  Cartas,  liv.  3,  n."  24. 

Terra,  exclama  lium  riacroiro,  nig  terra  á  proa: 
Já  nos  parceiít  da  CoHta  o  mur  quebrada, 
Alvait  ospuman  luvautaiulo,  «'ja, 
Ao  Ijordo  coiTc  o  Luso  alvoraçado : 
No  ar  o  bando  aquático  rcvôa 
Sinai  dos  nautjis  tanto  doscjado. 
Quando  á  Coiita  mai«  próximos  corriio. 
Palmas  uoB  moDtos  ondeando  viio. 

1.  A.    DK  MACEDO,  o  ORIERTK,   Caut.    3,    Mt.    8-3. 

—  Termo  antiquado.  Peça,  tnutc  mo- 
vei ou  semovente,  jóia. 

—  Signal  <lo  juiz;  o  seu  nome  e  firma. 

—  ()  nome  com  mie  alguém  se  assigna, 
e  firma  quo  é  do  seu  punho  e  letra.  — 
«E  após  aquelle  papel  outro,  grudado  tu- 
do logo.  E  após  aquelle  outro.  E  no  ter- 
ceiro pos  ho  Ponchassi  lio  seu  sinal  de 
letra  vermelha,  e  ho  que  se  continha  den- 
tro.» Fr.  Gaspar  da  Cruz,  Tratado  das 
cousas  da  China,  cap.  19. —  tE  manda- 
ram a  todos  que  pusessem  seu  sinal  em 
hum  papel,  pêra  que  em  quanto  elles  hiam 
aa  corte  e  se  despachavam  soas  feitos, 
manhosamente  nam  fizessem  faltar  al- 
gum.» Ibidem,  cap.  25. 

—  Marca,  vestígio. —  tFelo  Idacio,  ou 
Ursacio  assi,  com  tanto  zelo,  e  efficacia, 
que  a  demasia  dei  lo  poz  o  negocio  em 
termos,  que  conveyo  ajuntar  Concilio  na 
Cidade  de  Caragoça,  e  convocar  os  Bis- 
pos de  toda  Espaníia,  e  alguns  de  Fran- 
ça, onde  também  ficàraõ  sioaes  desta 
desaventura,  semeados  por  Marcos  em 
sua  primeira  chegada,  e  nelle.»  Monar- 
chia  Lusitana,  liv.  5,  cap.  28.  —  «Aa 
quaes  segundo  parece,  se  enchiam  da 
agua  do  Nilo  no  tempo  de  geu  crescimen- 
to per  huma  aberta  á  maneira  de  larga 
levada,  que  vinha  delle  té  esta  Cidade, 
a  qual  o  tempo,  e  os  Bárbaros  atopírara, 
segundo  a  opinião  da  gente  do  Cairo,  da 
qual  ainda  em  algumas  partes  apparecem 
os  sinaes.»  Barros,  Década  2,  liv.  8,  cap. 
1.  —  «El  Rei  dom  Afonso  de  Castella  ho 
da  batalha  do  Salado,  onzeno  do  nome, 
que  no  anno  do  Senhor  de  M.  CC.  XXXXJ, 
fez  ha  ordem  da  Banda  em  Castella,  cujo 
sinal  era  huma  faxa  do  seda  cramisim, 
com  uma  banda  douro  pelo  meo,  na  qual 
Regra  não  podia  entrar  homem,  que  naõ 
fosse  vassaílo  dei  Rei,  ou  de  seu  filho 
primogénito  herdeiro,  em  humas  cortea 
que  fez  em  Alcala  de  Henares  determi- 
nou de  poer  modo  em  huma  antigua  di- 
ferença, que  hauia  entre  has  cidades  de 
Burgos,  e  Toledo.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1.  cap.  29. 
—  «E  quando  vem  ao  sayr  dosfcis  por- 
tas, vem  todos  cos  braços  em  que  trazem 
os  sinaea  arregaçados,  paraque  os  mesmos 


SINA 


SIXA 


SINA 


529 


Chanipatões,  que  saõ  os  porteyros,  e  mi- 
nistros daquelle  negocio,  os  conheção  e 
03  deixem  passar,  e  o  que  por  algum  caso 
foy  taõ  mofino,  que  acertou  de  se  lhe 
apagar  o  sinal,  bem  pode  ter  paciência, 
e  ficarse  cos  outros  presos,  porque  ne- 
nhum remédio  ha  para  o  deixarem  sa^T 
de  dentro,  pois  nào  traz  o  sinal  que  se 
lhe  pòs  ao  entrar  da  porta.»  Fernão  Men- 
des Pinto,  Peregrinações,  cap.  108. — 
<0  lado  esquerdo  desta  figura  se  vê  aber- 
to, e  na  face  direyta  se  vê  também  o  si- 
nal da  bofetada  que  deo  o  criado  de  Cai- 
phas  em  Jesus  Ciiristo.»  Cavalleiro  de 
Oliveira,  Cartas,  liv.  1,  n.°  24. 

—  Firma  aberta  em  metal  para  man- 
dar assignar. 

—  Dar  signal  de  si ;  dar  mostra  de  si. 

Pois  nào  vos  entendeo. 
Ora  eu  ja  cheguei  a  ler 
Petrarca,  c  crede  de  mi 
Que  mmca  tal  cousa  vi. 
Onde  mora  o  bom  saber, 
Logo  dá  tinal  de  si. 
Onde  casada  puzestes, 
Dizei,  porque  não  dissestes 
La  que  yo  vi  por  mi  mal. 

CAM.,  AMPHTTBIÕES,  ECt.   1,  SC.   G. 

—  Marca  posta  na  roupa,  gado,  escra- 
vos, para  distinguir-se,  e  conhecer  de 
outros. 

—  Prognostico,  aviso.  —  «E  hum  del- 
les  a  quem  os  Cafres  chamão  Quilimane, 
dizemos  nôs  o  dos  bons  sinaes,  por  quan- 
to Vasco  da  Gama,  na  primeyra  Armada 
em  que  foy  à  índia,  os  achou  aqui  con- 
formes aos  que  elle  desejaua.»  Fr.  Gas- 
par de  S.  Bernardino,  Itinerário  da  ín- 
dia, cap.  7. 

—  Dar  signal  de  si;  dar  indicio  de  vi- 
da espontânea,  que  dá  o  que  parecia 
morto. 

—  Qualquer  marca,  mancha,  ou  ex- 
crescência, que  as  creanças  trazem  do 
ventre  materno,  no  corpo,  ou  que  os  adul- 
tos mesmo  tem,  quer  por  uma  causa  na- 
tural, quer  accidental,  como  cicatriz  de 
golpe,  cabellos  crescidos,  etc. 

—  Signal  em  branco;  o  nome  de  alguém 
escripto  em  um  papel,  antes  do  qual  no- 
me se  ha  de  escrever  cousa,  em  cuja  ap- 
provação  se  requer  o  tal  signal. 

—  Fazer  signal  a  aJguem;  fazer-lhe 
aviso,  avisal-o.  —  «A  Armada  tanto  que 
vio  o  sinal  que  lhe  fizeraõ  da  fortaleza, 
estando  jà  prestes,  e  negociada,  porque 
Nicolao  Gonçalves  ia  quem  aquelle  ne- 
gocio estava  encomendado)  tinha  arvora- 
das muitas  lanças  por  todos  os  navios, 
que  estavaõ  fermosamente  embandeira- 
dos, e  tinha  cortados  muitos  murroens  em 
pedaços,  e  acesos  os  repartio  pelos  moços, 
e  marinheiros  pêra  que  os  imigos  cuidas- 
sem que  eraõ  espingardas.»  Diogo  de 
Couto,  Década  6.  liv.  4,  cap.  1. —  «Os  nos- 
sos vendo  tanta  gente,  julgaram  hirmos 
captiuos,  e  sô  hirem  pedir  o  resgate,  Re- 

TOL.  v.  — 67. 


meterão  com  fúria  as  armas,  e  com  èllas 
chegando  mais  perto,  lhes  fiz  sinal  se 
aquietassem,  porque  todos  eram  amigos. 
Abraçaram-se  huns  aos  outros,  e  os  Ca- 
fres a  seu  modo,  também  festejarão  o  Ca- 
pitam, que  nào  cabia  de  prazer  em  ver 
tanta  humanidade.»  Fr.  (raspar  de  S. 
Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap.  10. 
— » E  porque  do  dito  baluarte  se  viram 
as  brigas,  atiraram  e  fizeram  sinal  pêra 
as  gales  virem  após  nos,  e  por  ho  bom 
vento  que  tínhamos  lhe  fugimos,  e  esca- 
pamos com  victoria.  E  navegando  por  ho 
dito  mar  cinco  dias  com  suas  noytes,  che- 
gamos aa  Ilha  de  Chipre  a  hum  porto 
que  se  chama  Alamizom.»  Tenreiro,  Iti- 
nerário, cap.  49. 

—  Dar  signal ;  mostrar,  manifestar. 
—  «Dom  Afonso  de  Noronha,  que  hia 
diante,  teue  tempo  para  mais  a  sua  von- 
tade lhe  poder  chegar,  mas  o  esforço  de 
dom  Afonso  de  Noronha  nem  espantou  o 
capitam  Coje  Abrahem  porque  com  o 
mesmo  se  achegou  pêra  elle,  e  com  igual 
vontade  se  começaram  a  ferir,  mas  como 
os  fartaques  fossem  de  vencida,  ficou  o 
seu  capitam  so  com  os  oito  que  com  elle 
fezeram  rosto,  cercados  da  nossa  gente, 
onde  todos  morrerão  como  mui  esforçados 
caualleiros  de  que  deraõ  sinal  no  sangue 
que  derramarão  dos  nossos,  posto  que 
naquelle  recontro  nam  morresse  nenhum.» 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  2,  cap.  23. 

—  Figuradamente :  Dar  signal  em 
branco;  approvar  tudo  o  que  fizer,  con- 
tractar,  ou  negociar  esse,  a  quem  se  en- 
trega a  carta  branca,  ou  signal  em  bran- 
co para  encher  o  branco  do  que  n'elle 
quizer  lançar,  ou  escrever. 

—  Marca  de  tafetá  preto,  com  varias 
figuras,  que  as  mulheres  punham  no  rosto 
como  enfeite,  e  adorno. 

—  Porção  de  dinheiro  que  se  dá  ao 
alugador  ou  vendedor,  para  os  obriga- 
rem a  cumprir  o  contracto,  de  sorte  que 
quem  o  dá,  perde-o  se  não  satisfaz  a  el- 
le. —  Dar  signal  do  aluguer  de  uma 
casa. 

—  Marca  que  deixam  no  corpo  os  açou- 
tes, as  feridas,  vergões  e  cicatrizes. 

—  Dar  signal ;  avisar,  dar  aviso.  — 
«A  nào  Sam  lacinto  conheceo  as  Ilhas,  e 
assi  se  foy  cozendo  com  ellas,  quanto  po- 
de, de  sorte,  que  sem  perigo  as  passou; 
e  sabendo  a  gente  delia  que  nos  hiamos 
perder,  ja  mais  nos  quiserão  dar  sinal, 
ou  auiso,  com  alguma  peça  de  artelharia 
dando  por  escusa  sem  empacao,  que  le- 
uauão  o  conuès  muy  empachado.»  Frei 
Gaspar  de  S.  Bernardino,  Itinerário  da 
índia,  cap.  1. 

—  Fazer  o  signal  da  cruz ;  persignar- 
se,  benzer-se. 

—  Figuradamente:  Amigos  do  meu  si- 
gnal ;  amigos  que  eu  marquei,  e  appro- 
vei  por  bons  para  meus  amigos. 

—  Termo  de  marinha.  São  as  bandei- 


ras ou  lanternas,  que  se  içam  nos  navios 
ou  fortalezas,  e  também  os  tiros  de  pe- 
ça que  methodicamente  se  dão  para  in- 
telligencia  do  que  se  quer  explicar,  ou 
da  manobra  que  se  deve  pôr  em  pratica. 

—  Loc.  ADV. :  Por  signal ;  em  prova 
de  ser  verdade  o  que  se  diz. 

—  Adágios  e  provérbios  : 

—  Signal  mortal,  não  desejar  sarar. 

—  Signal  é  de  má  besta,  suar  detraz 
da  orelha. 

—  Virtudes  vencem  signaes. 

—  Quem  signal  tem  sobre  os  dentes, 
é  honra  dos  seus  parentes. 

—  Lingua  longa,  é  signal  de  mão  curta. 

—  Grande  calma,  é  signal  de  agua. 

—  Muitas  vezes  a  cadêa  é  signal  de 
forca. 

—  Sts.:  Signal,  indicio,  mostra. 
Signal,  em   linguagem   philosophica,    é 

tudo  aquillo  que,  quando  se  percebe,  dá 
noticia  de  outra  cousa  com  que  tem  re- 
lação natural  ou  convencional.  Indicio  é 
tudo  aquillo  que  indica,  aponta  alguma 
cousa,  ou  leva  ao  conhecimento  d'ella. 
Mostra  é  a  manifestação  ou  apparencia 
de  uma  cousa  presente,  ainda  que  não  na 
totalidade. 

As  palavras,  o  gesto,  a  escriptura  são 
signaes  das  idêas.  As  nuvens  grossas  e 
carregadas  são  iivlicio  de  chuva.  As  la- 
grimas são  mostras  de  sentimento. 

O  signal  tem  relação  com  a  cousa  si- 
gnificada ;  o  indicio  não  tem  a  mesma 
ligação  com  o  objecto  indicado,  e  só  ser- 
ve de  abrir  caminho  para  elle;  a  mostra 
pôde  ser  verdadeira  ou  apparente,  pois 
se  as  lagrimas  são  ordinariamente  mos- 
tras, 03  sentimentos  também  ás  vezes  o 
são  de  grande  alegria. 

SINALADO,  part.  pass.  de  Sinalar.  Vid. 
Assinalado. — -«Este  encontro  tão  sinala- 
do pôz  tamanho  espanto  em  muitos,  que 
fez  perder  a  memoria  de  todalas  outras 
cousas  passadas,  ainda  que  de  outra  par- 
te ninguém  tivera  de  que  se  espantar,  se 
soubera  em  cujo  nome  se  elle  deu. »  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  dlnglaterra, 
cap.  25. —  «E  esteve  contando  muitos 
feitos  sinalados  do  c-avalleiro  do  Salva- 
gem,  que  mais  acendiam  o  da  Fortuna  e 
lhe  faziam  desejar  o  dia  para  achar  o 
que  tanto  desejava.  Com  este  cuidado  se 
foi  deitar  e  com  elle  se  levantou  antes 
que  a  manhãa  esclarecesse.»  Ibidem,  cap. 
35.  —  «N'isto  andaram  muito  tempo,  por- 
que Auderramete  naquelle  dia,  que  foi  o 
fim  de  todolos  seus,  quiz  também  mostrar 
o  fim  de  sua  valentia,  pelejando  com  mais 
esforço  do  que  nunca  fizera,  mostrando 
mór  alento  do  que  n'elle  havia,  dando 
golpes  tão  sinalados  e  grandes,  que  as 
armas  de  Floriano  andavam  assignadas 
d'elles,  e  as  suas  carnes  os  sentiam  em 
si.  Os  que  de  fora  viam  a  batalha,  teme- 
rosos da  braveza  delia,  não  sabiam  que 
dissesem.»  Ibidem,  cap.  80.  —  «A  mim 
me  parece  muito  bem  esse  conselho.  Do 


Õ30 


SINíJ 


SINC 


SIND 


iinporalor  vos  sei  dizer,  qiu;  aloui  de 
•folgar  com  isso  muito,  cuid.inl  ilio  fazein 
mcrcj  sinalada,  quo  esta  ú  sua  condiySío, 
o  logo  sonhora  o  doveis  pôr  eui  obra ; 
.quo  a»  cousas  bem  .'iccrtada.s  hào  de  ter 
execução  breve.»  Ibidem,  cap.  101.— 
«A  donzella  se  lançou  a  seus  pós  com 
muito  acatamento,  o  o  imperador  a  le- 
vantou dando-llie  a  mão;  cousa  que  a  uo- 
niium  estranho  fazia,  senão  quando  era 
com  alp:uuia  niercô  sinalada.  »  Ibidem, 
cap.  104.  —  aO  do  Salvagem,  Icndjrau- 
do-llie  que  dar  a  vida  a  niáos  ó  pcra  dam- 
no  do.3  boas,  sem  outra  nculuuua  detença 
lhe  cortou  a  cabeça,  dando  graças  a  Deus 
por  tào  sinalada  victoria.  O  ermitão  sa- 
hin  a  elle,  dando-!ho  sua  benção  espan- 
tado de  vôr  um  tão  monstruoso  corpo 
morto:  a  donzella,  que  j:l  trazia  outra 
côr  c  era  gentil  mulher  so  lhe  lançou  aos 
pós,  dizemk).»  Ibidem,  cap.  10(3.  —  «Pri- 
maliào  se  aflastou  com  o  do  Salvago,  e 
assim  praticando  cada  um  do  qno  mais 
lhe  a  vontade  podia,  cliogaram  á  cidade, 
oado  foram  bem  recebidos  do  povo  com 
algumas  festas  e  invenções,  por  lhe  pa- 
recer que  n'Í8ío  apraziam  ao  imperador  : 
alegria,  qno  alguns  estranharam  polo  pe- 
sar geral,  que  então  havia,  pola  prisão 
d'cl-rei  Foleiídos,  Bolear,  Onistaldo  e  os 
outros  sinalados  cavallciros,  que  o  tnrco 
tinha  em  sou  poder.»  Ibidem,  cap.  112. 
—  «Não  .sei  como  isso  será,  disse  ellc : 
com  o  pesar  que  tc-iho  de  se  mo  encobrir 
homem  tão  sinalado  não  so  púdo  perdoar 
tão  levemente :  agora,  que  vejo  os  signaes 
de  suas  mãos  nas  vossas  armas,  o  estimo 
muito  mais.»  Ibidem,  cap.  126. 

SINALAR,  v.  a.  Vid.  Assinalar. 

SINALEPHA,  s.  /.  Vid.  Synalepha. 

SINALPENDE,  s.  m.  Termo  antiquado. 
SIcdida  aLrraria  de  120  pé.s  em  quadro. 

f  SINAPICO,  nlj.  Que  diz  respeito  á 
mo-starda  e  seus  produetos,  si  sinapina  e 
seus  compostos. 

—  Ácido  sinapico ;  acido  que  6  o  pro- 
duuto  do  desdobramento  da  sinapina. 

f  SINAPINA,  .<t.  /.  Termo  de  cldmica. 
Base  não  sulfurada  que  existe  no  estado 
■de  sulfocvanhvdrato  na  mostarda  branca. 

SINAPI3AR,  t'.  a.  Applicar  sinapismos. 

t  SINAPI3INA,  .t.  /.  Termo  de  chimi- 
ca.  Jlateria  branca  sulfurada,  crvstallisa- 
vel,  cxtrahida  da  somente  da  mostarda 
branca. 

SINAPISMO,  s.  m.  (Do  latim  stnapi, 
mostarda^i.  Termo  de  medicina.  Cataplas- 
ma, que  tem  por  base  a  mostarda,  e  que 
se  applica  para  determinar  a  riibolacção 
da  parte,  o  produzir  uma  excitação  ge- 
ral, ou  tuna  revulsão. 

t  SINAPOLINA,  .>.•.  /.  Termo  de  chimi- 
ca.  Base  crystallisada  obtida  pela  acção 
do  oxydo  de  chumbo  hydratado  húmido 
na  essência  da  mostarda. 

SINAR,  V.  a.  Termo  antiquado.  Bali- 
zar, marcar  com  pendões. 

SINCA.  Vid.  Cinca. 


SINCADA,   ».  f.  Sinca. 

SINCAIJILHA,'  í.  /.  Vid.  Sancadilha. 

SINCAR,  r.  a.  Dar  cincos.  Vi<l.  Cinca. 

SINCEIRAL,  ».  VI.  Floresta,  matto  de 
cinc(!Íros.  , 

SINCEIRO,  s.  111.  Termo  antiquado.  Sal- 
guei rn. 

SINCEL,  s.   m.  Vid.  Sínzel. 

SINGELOS,  s.  m.  Terma  da  província 
da  Beira.  Os  caramelos  de  chuva  gelada, 
que  iicani  pendendo  dos  telhados  e  arvo- 
ri.'s. 

SINCERAMENTE,  adv.  (De  sincero,  e 
o  suílixo  «mente»).  De  uma  maneira  sin- 
cera. 

—  Com  sinceridade,  com  singeleza. 
SINCERIDADE,  s.f.  (Do  latim  sinceri- 

fas).  Qualidade  do  homem  sincero. 

—  Diz-sc  também  das  cousas. 

—  Lhaneza,  lisura  no  fallar,  no  proce- 
der. 

—  Falta  de  mistura,  que  corrompe,  o 
altera. 

SINCERÍSSIMO,  A,  wfj.  superl.  de  Sin- 
cero. Mui  sincero. 

—  Figuradamente :  Sinceríssima  casti- 
dale,;  castidade  mui  pura. 

SINCERO,  A,  adj.  {Do  latim  sinceras). 
Que  exprinie  com  verdade  o  que  sente,  o 
que  pensa. 

Sim,  hasdc.  — Marco 
Iladc  tarabcin  obcdccor-mc.  Ardente, 
Arrebatado  é  o  jovcn,  mas  sincero, 
Probo,  leal.  —  Pcrdoa-lhe,  cu  te  vigo. 

OAliRKTT,  C.VTÃO,   ilCt.   5,   SC.    7. 

—  Puro,  sem  mistura  de  cousa  hetero- 
génea, fallando  das  cousas.  —  Razves  sin- 
ceras.—  Prazer  2>wo  e  sincero. 

Niun  consistório  oti  consellio 

.liiiceras  razões  vereis ; 

são  alli  velhos  espelho, 

o  íls  vezes  não  achaes  mira  velho 

o  que  num  moço  achareis. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  423. 

• —  «Acho  que  tem  expressoens  que  em 
Plinio  parccerião  muito  bem,  e  que  em 
V.  M.  parecerão  muito  mal.  Este  hc  o 
meu  parecer,  c  he  sincero.  Remeto  ontra 
vez  o  j\[emorial,  o  tome  V.  M.  a  sua  re- 
zolução.»  Cavalleiro  d'01iveira.  Cartas, 
liv.  1,  n."  21. 

Vejo  no  porto  Epicuro,  o  vulgo  insano 
NeLlc  descobre  hum  impio,  cu  vejo  hum  Sábio, 
Frugal,  modesto,  taciturno,  humilde, 
Que  no  moral  prazer,  puro,  c  .tincfro. 
Suprema  quiz  constituir  ventura. 

J.   A.   DE  MACKDO,  TIAOEM  EXTÁTICA,  CUnt.   2. 

—  Lhano,  sem  dobrez,  nem  refolho. 
—  Aniino  sincero. —  Corac'f^  sincero. 


As  inclinações  varias  que  mostramos 
Não  8i»õ  firmes  cm  nós,  nem  saõ  forçosas, 
lluus  11  matérias  vis  nos  abnixamoâ. 
Outros  a  empresas  altsia,  c  famosas. 


Outros  08  latroeiuiog  inai«  amamon, 
Qui)  uii  ubrao  dign.-M  de  honra  virtuoMs, 
ftutro)  «eguimoí  Marte  hórrido,  e  fero, 
Outro.<  o  coraçào  rnanso  c  intirfro. 

COSTK  BKAl,,  XACrSAOIO  DC  SKPCLVEDA,  Cailt.  14. 

Depois  qac  vezes  mil  na  ertranha,  c  grando 
.MijIc  titfi  maravilhadoit  olhos, 
l'or  lo.igo  t<!iMpo  ab^to.-t/i    coiitcmnlAndo 
Aquella  dalto  i  iii^i-nlio  obra  entupciída, 
Ao  IJritanno  imuiortil  sagrei  coai  votos 
Sincero  o  coraçào,  miriiralina  ingi-nas. 

J.    A.    DK  HACKOO,   VIAOKM   KXrATICA,  Cant.   2. 

Soldado  fui  tambf-m  :  8';r-me-ha  ventara 
Em  mcuB  quartéis  d'hynvemo  reccbcr-vos. 
—  «A  cortezia  é  de  ânimo  niicero; 
Kcm  sou  homem,  senhor,  que  a  dcsvalio. 

OAKRBTT,  CAtÃo,  act.    1,   SC.    21. 

—  Palavras  sinceras  ;  palavras  dima- 
nadas do  fundo  do  coração,  ingénuas. 

—  Dom,  ojferecimtntu  sincero ;  dom, 
oíTerecimento  de  sã  vontade  e  pura. 

Mas  se  huma  alma,  que  tcubo. 
Agora,  ta  não  der,  para  quo  a  quero? 

Eu  oifrccer-ta  venho, 
Recebe,  Olaia,  o  dom,  vê  que  ho  rincero. 

J.  X.  DE  MATTOS,  BIMAS,  pag.   13)). 

I  SINCO.  Vid.  Cinco.  —  «  Este,  ven- 
do 6c  levantando  por  Rey,  a  primeyra 
cousa  que  foz  foy  com  aquelle  Ímpeto,  c 
fervor  do  povo,  dar  nas  casas  do  Rey 
Brama,  aonde  ostavaõ  sinco  mil  Bramító, 
e  03  matou  a  todos  à  espada,  sem  a  ne- 
nhum delles  se  dar  a  vida ;  e  o  mesmo 
fez  depois  a  todos  os  outros,  que  estavaõ 
alojados  pelos  lugares  importantes  do 
Reyuo,  e  com  isto  houve  também  à  maõ 
o  thesoiu'o  delRey,  que  naõ  era  peque- 
no.» Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  190.  —  «A  qu.al  Ai^mada  dan- 
do huma  manhã  nesta  de^aventurada  po- 
voação dos  Portuguezes,  a  cousa  foy  <le 
maneyra,  que  certifico  na  verdade  que 
não  acho  em  mim  cabedal,  nem  de  enge- 
nho, nem  de  palavras  para  cotar  por  ex- 
tenso o  quo  alli  passou  imagine-o  o  bom 
entendimento;  somente  direy  como  teste- 
munha de  vista  que  em  menos  de  sinco 
horas  quo  durou  e->te  horrendo,  e  espan- 
toso castigo  da  mão  de  Dcos.>  Ibidem, 
cap.  221. 

SINCOPA.  Vid.  Syncopa. 

SINCOS,  s.  "I.  plur.  Certos  direitos 
que  se  pagavam  em  Lisboa,  de  quaes- 
quer  fazen-ias  que  n.ào  tinham  entrado 
pela  barra. 

SINDEIRO.  5.  1)1.  Vid.  Sendeiro. 

SINDERESIS.  \id.  Synderesis. 

f  SYNDEYRO,  s.  m.  Vid.  Sendeiro.  — 
«Continuando  nosso  caminiio  por  este  rio 
acima,  chegamos  ao  outro  dia  ja  quasi 
véspera  a  hum.as  grandes  campinas  em 
quo  avia  muvta  quantidade  de  g.ado  va- 
cum, o  de  sindeyros  e  cgcas,  aos  quais 
guardavão  muytos  homens  a  cavallo  para 
08  venderem  aos  merchantes  que  os  cor- 


SING 


SINO 


SING 


531 


tão  1103  açougues  coaio  a  outra  carne.» 
Fernào  Mendes  Pinto,  Peregrinações, 
cap.  W. 

SINDICANTE,  arij.  2  (jen.  Vid.  Syndi- 
cante.  —  iSalii  em  ilm  indo-me  detendo 
quanto  pude,  como  avisei  a  vossa  alteza, 
mas  na  praia  soube,  que  o  procurador  do 
Brazil  tinha  recebido  um  escripto  de  Sal- 
vador Corrêa  no  qual  lhe  dizia,  que  elle 
fallára  com  sua  magestade,  que  eu  não 
ia  para  o  Maranhão,  e  que  o  sindicante 
tinha  ordem  de  m'o  notiticar  assim,  quan- 
do eu  fosse  embarcar-me.»  Padre  Antó- 
nio Vieira.  Cartas,  n."  7. 

SINDICAR,  V.  a.  Yid.  Syndicar. 

SINDO,  s.  ?-!.  Termo  da  Ásia.  Vid. 
Bandarim. 

SINEIRA,  s.  f.   A  mulher   do    sineiro. 

SINEIRO,  s.   »i.  Homem  qae  faz  sinos. 

— ■  Homem  encarregado  de  tocar  os  si- 
nos. 

SINERESIS,  s.  /.  Vid.  Syneresis. 

SINESTPiO,  A,  adj.  Esquerdo.  —  Bra- 
ço sinestro. 

SINETA,  s.  f.  Pequeno  sino;  é  inter- 
médio á  campainha,  e  ao  sino. 

SINETE,  «.  m.  Firma,  chaucella,  sello 
de  armas,  ou  divisa  própria  de  que  se 
usa  para  seliar,  ou  sigiilar  cartas  ou  pa- 
peis, que,  conforme  o  estylo,  ou  lei,  de- 
vem ser  sellados.  —  «E  pax-aque  tanta 
multidão  de  gente  se  possa  toda  sinalar, 
estaò  a  estas  portas  de  numa  banda  e  da 
outra  huma  grande  somma  de  chanipa- 
toens,  que  com  huns  sinetes  de  chumbo 
molhados  naquelle  bitume  a  cada  hum 
dos  que  chega  lhe  põem  logo  aquelle  si- 
nal, e  o  deixa  entrar.  E  isto  se  faz  aos 
homens  somente,  e  nào  ás  molheres,  por- 
que estas  não  estaõ  obrigadas  ao  degre- 
do do  mure.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pe- 
regrinações, cap.  108. 

SINFONIA,  s.  f.  Vid.  Symphonia. 

SIN&EL,   s.  m.  Uma  junta  de  bois. 

—  Um  singel  de  ijerdizes;  um  par 
d'ella8, 

SINGELADA,   í.  /.  Vid.  Singel. 
SINGELAMENTE,  adv.  (De  singelo,  com 
o  suffixo  «mente «)•  De  um  modo  singelo. 

—  Com  singeleza. 

SINGELEIRA,  s.  /.  Espécie  de  rede  de 
pescar. 

SINGELEIRO,  s.  m.  O  lavrador  que  la- 
vra com  um  singel. 

—  O  ganhão,  que  lavra  com  um  sin- 
gel para  outrem ;  o  que  acarreta  com  sin- 
gel. 

SINGELEZ,  s.  /.  Termo  de  poesia.  Vid. 
Singeleza. 

SINGELEZA,  s.  /.  Sinceridade,  inge- 
nuidade, falta  de  concerto,  ornato,  dis- 
farce. —  Fallar  com  singeleza.  —  «Mas 
destas  cinzas,  se  leuantou  aquelle  rayo  de 
fogo  contra  a  ca^a  Othomana,  Xà  Abay- 
bàs,  que  hoje  viue,  cuyo  amor  pêra  com 
os  Christàos,  aqui  nào  digo,  assi  por  ser 
muy  conhecido,  como  porque  a  singeleza, 
que  elle  professa,  terá  minha  verdade  por 


lisonya.»  Fr.  Gaspar  de  S.  Bernardino, 
Itinerário  da  índia,  cap.  40.  —  « Com 
que  amabilidade  condescendia  com  as 
vontades  de  seu  Esposo,  cujas  erào  sem- 
pre contradictorias  com  as  délla.  Qiianto 
mais  se  lhe  ia  espraiando  o  ingenho,  mais 
ella  se  entranhava  no  desejo  da  singele- 
za, que  nos  homens  só  cabe  em  ânimos 
grandes,  e  nas  mulheres  só  nessas  que 
lógrão  delicadas  sensações. s  Francisco 
Manoel  do  Nascimento,  Successos  de  ma- 
dame de  Senaterre. 

—  Singeleza  de  animo. 
SINGELÍSSIMO,  A,  adj.  Mui  singelo. 
SIN&ELLO,   A,   adj.  Vid.  Singelo  (me- 
lhor orthographia). 

« 

Esereve-lhe  por  ella,  não  palavras 

De  artificio  aôVitixdas,  c  alto  estillo : 

Naõ  cura  do  ornamento  imaginado. 

Xeai  se  cansa  cm  mostrar  sotil  engenho, 

Mas  com  frasi  singelía.  mil  verdades 

Lhe  diz  la  dentro  d'alma  ollerccidas 

Xo  canto  que  se  segue  as  vereis,  (luc  este 

Mais  do  que  ser  deuia  ja  se  alarga. 

COKTK  KEAL,  HXVFRXaiO  DE  SEPÚLVEDA,  COnt.    1. 

SINGELO,  A,  adj.  Sincero,  lhano,  sem 
dobrez  nem  refolho ;  ingénuo.  —  «Occu- 
pado  de  taes  imaginações,  que  versavam 
no  meu  espií-iíu,  embreuhei-me  n'um  fe- 
chado bosque,  onde  de  repente  me  saiu 
ao  encontro  um  velho,  que  trazia  um  li- 
vro na  mão.  Tinha  elle  unia  grande  cal- 
va; a  testa  um  pouco  enrugada;  a  barba 
branca  lhe  descia  até  a  cintura;  o  talhe 
era  alto  e  magestoso ;  a  tez  inda  fresca  e 
corada ;  os  olhos  espertos  e  vivos ;  a  voz 
suave;  as  palavi-as  singelas  e  doces.» 
Teiemaco,  traducção  de  Mauoel  de  Sou- 
sa, e  Francisco  Manoel  do  Nascimento, 
liv.  2. 

Catão,  esse...  esse  perfi..o  inganou-me: 
Meu  natural  singdo  c  poucos  ânuos 
Ganiram  fácil  no  inredado  laço 
Que  de  vagar  e  ha  muito  anda  tecendo. 
GAEBETT,  CATÃO,  act.  4,  SC.  4. 

—  Partida  singela ;  no  jogo,  a  que 
conta  só  por  um. 

—  Estar  singelo  de  navios;  ter  pou- 
cos. 

—  Andar  singelo ;  andar  sem  túnica, 
ou  vestido  interior. 

—  Pagar  qualquer  i^ena  pecuniária 
singela;  pagal-a  nào  em  dobro,  ou  tres- 
dobro,  ou  anoveada,  mas  uma  s.ò  porção, 
qual  a  lei  ordena. 

—  Fraco. 

—  Ter  cavallo  singelo ;  por  ónus,  sem 
obrigação  de  ter  besta  ou  outras  armas. 

—  Único.. 

—  Puro,  sem  mescla  de  cou.sas  hetero- 
géneas. —  Pudcn'  singelo. 


Que  pudor  tíim  singelo,  c  que  ú  Innocente 
Virge'  acerésce  rubores,  quando  escuta 
De  Boma  e  Bayas  des-virtuósos  gostos ! 


Que  mortal  pallidez  lhas  não  descora. 
Quando  o  fu;-or  lhe  troa  dos  Combates, 
As  lançadas,  as  mortes,  os  Captivos ! 

F.   JI.  DO  NASCIJCESTO,  OS  MABTYBES,  1ÍV.   8. 


—  Canhão  singelo ;  canhão  que  não  é 
reforçado,  mas  tem  o  metal  necessário. 

■ —  Ao  singelo  ;  singelamente. 

—  Loc.  ADY. :  As  singelas  ;  só,  sem 
companhia. 

7  SINGIBO,  i^art.  pass.  de  Singir.  Vid. 
Cingido.  —  «Na  cabeça  si:a  touca  singi- 
da,  cõ  hum  rabo  dè  seda,  que  lhe  decia 
pelas  costas  como  tivinçado,  e  sobre  cada 
oreiha  huma  ponta  do  turbante  que  em 
alguma  maneira  demonstrauSo  trazer  toa- 
lha, cõ  huma  feyção  desengraçada,  e  pou- 
co ayrosa. í  Fr.  Gaspar  de  S.  Bernardi- 
no, Itinerário  da  índia,  cap.  17. 

f  SINGIR,   r.  cr..  Vid.  Cingir. 

SINGRABljRA,  ou  SEKGRABURA,  s.  /. 
Termo  de  i:p.utica.  A  derrota  de  um  na- 
vio á  vela  em  um  dia;  o  caminho  que 
eile  faz  no  espaço  de  um  dia  natural ;  o 
espaço  que  elle  anda. 

SINGRANTE,  part.  act.  de  Singrar. 
Prompto  a  dar  á  vela. 

. — ■  Veiíder  qualipier  effeiio  singrante ; 
vendel-o  por  certo  preço,  posto  a  bordo, 
livre.de  impostos  e  despezas  ao  compra- 
dor; prompto  pai-a  se  navegar  para  fora, 
e  esportar-se.  .  :   . 

SINGRAR,  V.  à.  Termo  de  náutica.  Na- 
vegar íi  vela,  velejar,  surdir  avante. 

SIÍ-JGTJLAR,  adj.  1'  (jen.  (Do  latim  dn- 
gularis).  Que  }• um  só,  indivi- 
dual. 

—  Figuradamente :  iíaro.  extraoidina- 
rio.  —  «A  dona,  que  também  nSo  dor- 
mia, se  ergueu,  e  tomando  licença  do 
hospede,  sè  partiram  caicinho  da  gram 
cidade  de  Londres,  onde  chegaram  a  tem- 
po que  o  sol  sabia,  e  os  seus  raios-  ba- 
tiam nas  altas  torres  e  singulares  edefi- 
cios  de  que  est.nva  nobrecida.»  Francisco 
de  Moraes,  Palmeirim  d'íaglaíerra,  cap. 
35.  —  «No  meio  do  rio  em  um  ilheo,  que 
a  agoa  fazia,  estavam  uns  edeficios  gran- 
des i;e  muitos  corucheos,  ameias  e  outras 
mostras  singulares  de  uma  cor  negi-a  cu- 
bertos.  Não  se  via  cousa  alegre,  tudo  era 
a  modo  de  tristeza.»  Ibidem,  cap.  6. — 
«Disse  mais  que  se  algum  fosse  tào  sin- 
gular namorado,  que  nào  devesse  nada 
ao  que  desencantasse  a  copa,  que  este 
também  tomando-a  na  mão  a  faria  tão 
clara  a  ella  e  as  lagrimas,  como  ante 
eram,  porem  que  deixando-a,  e  toman- 
do-a outro  menos  namorado  faria  logo 
outra  mudança,  segundo  quem  a  toma- 
va.» Ibidem,  cap.  90.  —  «Como  Floramào 
do  seu  natural  fosse  mnzico,  parcceu-lhe 
também  aquelle  vilancete,  que  o  julgou 
por  a  melhor  cousa,  que  nunca  vira ;  por- 
que, alem  das  falias  serem  singulares  e 
cantarem  concertadamente,  a  manhãa  era 
pêra  isso  muito  graciosa,  e  juntamente 
por  baixo  das  ramas  das  arvores  vinha  o 


532 


SING 


SlNl 


SINO 


tom  soando  com  uma  saudailo  contoinpla- 
tiva  G  namorada.»  Ibidem,  cap.  109.  — 
«Km  lu;,'aros  convoniciitiM  om  caixados 
nas  paredes  havia  vidraças  singulares, 
qiio  (lavam  clariíladc  á  casa,  taiiihom  oc- 
cupada»  do  htutorias  antif^as,  que  oram 
diííiias  de  AO  f^astar  ncllas  algum  espa- 
ço.» Ibidem,  cap.  120.  —  «A  qual  se- 
nhora doiia  isabol  mollici-  do  Duquo  do 
Bragança,  ao  tenqio  da  prisam  do  Duque 
estaua  cm  Vilhiviçosa,  e  tanto  que  do 
caso  foy  anisada,  mandou  logo  tros  iillios 
Bcus  a  Castolla,  c  com  elles  fidalgos  de 
sua  casa,  s.  dom  Felipe  o  mayur,  que  sen- 
do moço  lá  faleceo,  c  dom  (lemes  o  se- 
gundo, (pio  ora  lio  Duquo  de  Bragança, 
e  de  (luimarãcs,  o  o  mor  senhor  Despa- 
nha,  sangue,  teri-as,  c  vassallos,  e  pes- 
soa singular  que  tomou  a  cidade  de  Aza- 
mor  aos  mouros,  depois  de  tornado  a  es- 
tes Reynos  por  el  Rey  dom  Manoel  seu 
tio,  que  sancta  gloria  aja,  e  dom  Dcnis 
lio  terceiro,  que  cm  Gastella  casou  com 
huma  filha  do  Conde  do  Lemos  herdeira 
da  casa.n  Garcia  de  Rezende,  Chrouica 
de  D.  João  II,  cap.  44.  —  «Além  das 
mais  partes  que  teve,  foy  excelente  Poe- 
ta (como  diz  Saõ  Jerouymo)  c  compoz 
singulares  versos  om  diferentes  matérias, 
particularmente,  epitáfios  que  mandava 
esculpir  nos  scpulchros  c  memorias  dos 
Martyres.i)  Monarchia  Lusitana,  liv.  5, 
cap.  27. 


Á  fó  que  por  tal  o  enfronho ; 
Rabou-nuí  tanto  o  casar, 
do  (loco  c  do  siiif/iUar, 
que  estou  já  maravilhado 
não  vos  cheirar  a  cagado, 
segundo  m'o  quiz  pegar. 

ANTÓNIO  PUIiSTES,  ACTOS,  pag.    119. 


—  » Conquistou  Santarém  soccorrido 
das  oraçijes  de  nosso  Padre  S.  Bernardo, 
a  quem  deo  por  este  favor  os  Coutos  de 
Alcobaça,  e  fundou  com  singular  ma- 
gnificência aquella  grande  Abbadia.»  Fr. 
Bernardo  de  Brito,  Elogios  dos  reis  de 
Portugal,  continuados  por  D.  José  Bar- 
bosa. —  « Parcce-me  (|ue  estes  aconteci- 
mentos tão  singulares,  farão  mais  effeito 
cm  favor  das  scicucias  Pronosticantes, 
que  as  demoustraçoeus,  o  as  contrarieda- 
des em  que  me  ouvis  sempre  falar,  lho 
farão  de  danno. »  Cavalleiro  d'01iveira. 
Cartas,  liv.  1,  n."  40. 


A  ti,  o  aoa  tilhos  teus  no  Ethereo  Templo, 
Eut\'e  03  Sábios  do  Mundo,  adoro,  c  vejo : 
Em  tudo  siiiijidar,  tu  grande  em  tudo, 
Das  letras  na  cultura  o  Mundo  illustras  ; 
Até  do  iuimenso  mar  cortando  as  ondas, 
Descobrem  teua  Horoes  hum  Mundo  ignoto. 

J.  A.   DG  MACEDO,  VtAOGU  KXTATICA,    Cant.   4. 


—  Que  aíFecta  distinguir-se  por  cousas 
quo  oUo  siS  faz,  possue,  etc. 

—  Celebre,  oxquisito.  —  «Estavam  pre- 


sas pelos  pescoços  com  cadeias  de  metal, 
que  ficaram  das  pasisadas,  e  cilas  com- 
postas também  de  metal,  por  mão  do  tão 
singular  artífice,  comofijra  Urganda;  que 
pcra  um  feito  tão  notável  se  nã(j  g.astar 
cum  o  tempo,  ]jrovendo  do  longe  as  (ir- 
denou,  c  compôz  ao  próprio  das  que  Pal- 
meirim naqucile  mesmo  lugar  vencera.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  119. 

—  Combate  singular ;  combate  d'homem 
a  homem. 

—  Termo  de  grammatica.  Numero  sin- 
gular ;  numei-o  que  indica  sò  uma  pessoa 
ou  cousa. 

—  Que  se  não  assemelha  aos  outros. 

—  De  uma  excellcncia  rara. 

—  O  singular  dos  adjectivos,  o  do» 
verbos. 

—  Syn.  :  Singular,  extraordinário.  Vid. 
este  ultimo  termo. 

—  Syn.  :  Singular,  único.  Vid.  esto 
ultimo  termo. 

SINGULARIDADE,  s.  /.  (Do  latim  sin- 
(jularitaí^).  Qualidade  (Jo  que  pertence  a 
um  si)  individuo. 

—  O  que  torna  uma  cousa  singular. 

—  Modo  extraordinário,  bizarro,  ex- 
travagante de  fallar,  de  pensar,  de  pro- 
ceder. 

—  Piar.  Acções  extraordinárias,  des- 
usadas, que  alguma  pessoa  faz  para  se 
singularizar. 

—  Propriedade  de  um  e  não  da  com- 
munidade ;  diz-se  á  má  parte. 

SINGULARISSIMO,  A,  adj.  superl.  de 
Singular.  Mui  .-íiiigular. 

SINGULARIZADO,  ;>«»•<.  pass.  de  Sin- 
gularizar. 

SINGULARIZAR,  ou  SINGULARISAR,  v. 
a.  Tornar  singular,  extraordinário. 

—  Particularizar,  referir,  narrar  minu- 
ciosamente. 

—  Fazer  que  seja  raro,  extraordiná- 
rio c  distincto  com  a  vantagem  de  todos ; 
estremar. 

—  Singularizar-se,  v.  refl.  Tornar-se 
singular. 

—  Distinguir-se,  fazor-se  saliente  por 
alguma  cousa  de  extraordinário,  e  de  or- 
dinário por  alguma  cousa  que  nada  tem 
de  louvável. 

SINGULARMENTE,  adv.  (De  singular, 
e  o  suffixo  «mente»).  De  um  modo  sin- 
gular, especial,  individual. 

—  De  um  modo  singular,  extraordiná- 
rio. 

—  De  um  modo  aftcctado,  extravagan- 
te ;  diz-se  á  má  parte. 

SINGULTO,  s.  m.  [Do  latim  singultus). 
Soluço. 

t  SINGULTUOSO,  A,  adj.  Termo  de 
medicina.  Que  tem  o  caracter  do  soluço. 

—  Respiração  siugultuosa ;  respiração 
incommoda,  quo  pai-ece  entrecortada  de 
soluços. 

SINIFICAÇÃO,  s.  /.  Vid.  Significação. 
SINIFICADO.  Vid.  Significado. 


SINIFICAR,  V,  a.  Vid.  Significar. 
SINISTRAMENTE,  adv.  CDe  sinistro,  o 

o  Kufiixo  umeate^j.   De    um    modo  sinis- 
tro. 

—  A  má  parte,  mal. 

—  t^iuccedeii-lhe  sinistramente ;  acon- 
teceu-llie  avessamente,  mal. 

SINISTRAR,  V.  a.  Tenno  om  uso  nos 
contractos  de  seguro.  Perecer,  Boffrcr  des- 
astre a  cousa  segurada. 

SINISTRO,  A,  adj.  (Do  latim  tinitUr). 
Que  faz  t(;mi;r  desgraças. 

—  Diz-si-,  (la  aiqjarcncia  sombria  e  má 
das  acç(~e.(,  dos  olhares. 

—  Diz-se  m(;smo  n;i  astrologia  :  O  a»- 
pecto  sinistro  do»  astros. 

—  Pernicioso,  perig(j80,  funesto. 

Km  vaõ  o  Thesoureiro,  era  vaõ  o  Chantre, 
Homens  austeros,  que  adular  nào  sabem, 
Soppõcm  ttoi  VCZC8  ao  siniêtro  Acordou. 

A.   DINIZ  DA  CBOZ,  BYSSÚPB,  Cant.  3. 

—  Substantivamente :  O  desastre  quo 
sobrevem  ao  navio,  ou  cousa  segurada. 

—  Desastre,  infortúnio,  mau  caso. 

—  Perigo,  damno,  perda,  ruina. 

1.)  SINO,  *.  m.  (Do  latim  signum). 
Instrumento  de  bronze,  ou  aço,  concavo, 
que  vem  alargando  para  as  bordas;  n'el- 
las  fere  interiormente  o  badalo,  para  dar 
som :  usa-se  nas  egrejas  para  convocar 
os  fieis,  e  fazer  outros  signaea. 

Afíonso  d 'Albuquerque,  irmio 
Que  foi  ao  Imperador, 
Que  sino  tem  por  senhor, 
E  por(|uc  a  sua  condi(;ão 
Nào  pudera  ser  melhor? 

OIL  VICENTE,  FABÇAS. 

—  «Adiãte  destas  terecenas  obra  do 
hmna  legoa  junto  co  rio,  num  terreyro 
muyto  grande  fechado  com  três  ordens 
de  grades  de  ferro,  vimos  trinta  casas 
postíis  em  cinco  ordens,  seis  em  cada  or- 
dem, as  quais  também  erão  muyto  com- 
pridas e  muito  bem  acabadas,  com  gran- 
des torres  de  sinos  de  metal  e  de  ferro 
coado,  e  muytos  lavores  de  obra  de  ta- 
lha, e  com  colunas  douradas,  e  seus  fron- 
tespicios  de  pedraria  lavrados  de  muytas 
invenções.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pere- 
grinações, cap.  06. — «Porque  os  mais 
(lelles  erão  sinos,  bacias,  tambores,  ata- 
bales,  sestros,  cornetas,  e  búzios,  e  so- 
bre tudo  a  grita  da  chuzma  que  parecia 
cousa  de  encantamento,  ou  para  dizer 
milhor,  musica  do  inferno.»  Ibidem,  cap. 
102.  — ((Tem  mais  duas  casas  em  quo  fa- 
zem poluora,  o  sessenta  peças  grossas  do 
art  Iharia  de  bronze,  sete  baluartes,  c 
outros  tantos  sinos  de  vigia  a  qual  fa- 
zem de  noyte  a  quartos  os  Portugueses. 
He  toda  cercada  pela  hjida  da  terra,  com  j 
huma  cana  larga,  e  funda  cõ  sua  ponte  j 
lova.liça.»  Fr.  (ia.*par  de  S.  Bernardi- 
no, Itinerário  da  índia,  cap.  11.  —  «Em 


SINO 


SINT 


SINT 


533 


este  caminho  passey  junto  de  hiima  vila, 
cercada  de  muro,  e  desabitada,  onde  vi 
ygrojas  com  torres,  e  campanairos  de  si- 
nos. E  per  este  caminho,  que  he  todo 
povoado  daldeas  e  lugares,  chegamos  aa 
cidade  de  Calepe,  em  que  avia  ja  estado 
per  duas  vezes,  de  que  tenho  ja  contado 
em  este  tratado  a  capitullos  xxxiii.»  Ten- 
reiro, Itinerário,  cap.  63. 

—  Termo  antiquado.  Signal,  assigna- 
tura. 

—  Sino  da  oração;  o  que  toca  ás  trin- 
dades ou  Ave-Marias. 

—  Sino  de  colhei-,  ou  de  correr  ;  depois 
do  sino  de  colher,  até  a  manhã  clara 
deviam  estar  fechadas  as  tabernas;  é  o 
derradeiro  sino,  que  se  tange  depois  do 
sino  da  oração. 

—  Sino  samão.  Vid.  Salmão. 

—  Vid.  Signo. 

2.)  SINO,  s.  m.  (Do  latim  sijius).  En- 
seada, seio.  — ■  «E  cheguey  em  aquelle 
dia  a  Bácora,  por  se  também  atalhar  mais 
por  terra  que  polo  dito  rio.  Este  rio  cor- 
re do  noroeste  pêra  o  sudueste,  e  metese 
em  ho  dito  mar,  e  sino  pérsico,  como  ja 
disse.»  Tenreiro,  Itinerário,  cap.  60. 

3.)  SINO.  Forma  do  verbo  sinar  na 
primeira  pessoa  do  singular  do  presente 
do  modo  indicativo. 


é  cantar  pêra  mór  choro 
c  o  mór  gosto  mo  espantas? 
Sino  á  fé  que  me  torne  moro. 
Senhor,  que  criado  é  este? 
Contentamento  imperfeito. 
Contentamento  terresto  ? 
Sim. 

ANTÓNIO  PEESTES,  AUTOS,  pag.  16. 

fcso  insano 

de  amaros  como  Cupido, 
desalmado  amor  villano 
sino  como  soberano. 
IBIDEM,  pag.  399. 

SINOBLE,  s.  VI.  Termo  de  brazão,  A 
cor  negra. 

SINOCHA,  s.  f.  Vid.  Synocha. 

SÍNODO.  Vid.  Synodo. 

SINOGA,  s.  f.  Vid.  Synagoga. 

f  SINOLOGIA,  s.  f.  Estudo  da  lingua 
e  da  escriptura  dos  chinezes ;  conheci- 
mento dos  costumes,  e  da  historia  d'estes 
povos. 

f  SINOLOGICO,  A,  adj.  Que  diz  res- 
peito á  sinologia. 

-j-  SINOLOGO,  s.  7)1.  Homem  que  tem 
conhecimento  da  lingua  chineza;  que  se 
applica  ao  estudo  d'esta  lingua,  ou  da 
historia  da  China. 

SINONIMO.  Vid.  Synonymo. 

SINOPERA,  ou  SINOPLA,  s.  f.  A  côr 
verde,  que  se  representa  na  graviu-a  por 
traços  diagonaos  da  direita  á  esquerda. 

—  Uma  tinta  aniarella  de  que  se  usa 
para  pintar  a  óleo. 

SINO-SAMÃO,  s.  m.  Termo  da  Arábia. 
Vid.  Samão. 


SINPTOMA.  Vid.  Symptoma. 

SINQUINHO.  Vid.  Cinquinho. 

■j-  SINTA.  Forma  irregidar  do  verbo  sen- 
tir na  terceira  ou  primeira  pessoa  do  sin- 
gular do  presente  do  modo  conjunctivo. — 
« De  me  ellas  metterem  em  algitma  maior 
que  esta  e  que  eu  mais  sinta,  me  guarde 
Deus,  respondeu  elle,  que  de  me  tirarem 
do  temor,  em  que  agora  vou,  nem  o  es- 
pero de  nenhuma  nem  quero  seu  favor, 
por  não  ter  que  lhe  dever  nem  cuidarem 
que  lho  devo.»  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  93. 

Jíl,  se  vos  vira  contente 
deste  mal  e  outro  maior, 
sei  que  m'en8inára  o  amor, 
a  passal-o  levcmcuto  : 
mas  pois  vossa  ooudici;ão 
quer  que  em  tudo  sinta  pena, 
quero  eu  que  o  qu'  ella  ordena 
me  fique  por  gahirdão. 
IBIDEM,  cap.  109. 

—  «Possue  Bemficahum  particular  con- 
dão do  Ceo,  que  ninguém  euti'a  por  estes 
claustros,  que  se  não  sinta  abalar,  de 
hum  certo  affecto  de  devoção.»  Fr.  Luiz 
de  Sousa,  Histoiúa  de  S.  Domingos,  part. 
2,  foi.  Õ5,  col.  1,  em  Bluteau. 

Não. 

Sangalhos  ? 

Não. 

Ançã  ? 
Nem  anceira. 

Espada-á-Cinta  ? 
Nem  sinta  nem  espada  são. 

ANTÓNIO  PBESTÍS,  ADIOS,  pag.    3G1. 

SINTAGMA.  Vid.  Syntagma. 

SINTE.  — J.  sinte.  Vid.  Acinte,  ter- 
mo mais  em  uso. 

SINTEL,  s.  VI.  Instrumento  que  serve 
em  logar  de  compasso  para  descrever  os 
circulos  mui  grandes. 

SINTILLAR,  V.  a.  Vid.  Scintillar. 

SINTINELLA,  s.  f.  Vid.  Sentiuella. 

SINTIR,  V.  a.  Vid.  Sentir. 

-}■  SINTIRA.  Forma  irregular  do  verbo 
sentir  na  primeira  ou  terceira  pessoa  do 
singular  do  pretérito  mais  que  perfeito 
do  modo  indicativo.  —  «Cõ  esta  resposta 
tornou  o  Mitaquer  para  sua  casa,  onde  o 
ja  estávamos  esperado,  e  nos  disse  isto 
que  el  Rey  lhe  respondera,  e  que  síntira 
nelle  desejo  de  nos  fazer  esmola  para  o 
caminho.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pere- 
grinações, cap.  125. 

f  1.)  SINTO.  Forma  irregular  do  vez-bo 
sentir  na  primeira  pessoa  do  singular  do 
presente  do  modo  indicativo.  —  «O  que 
aqui  mais  sinto  não  é  a  perda  da  vitoria, 
que  pêra  com  elle  não  acho  que  perdi  na- 
da ;  doe-me  a  perda  da  esperança,  em  que 
té  agora  me  sustive.»  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  de  Inglaterra,  cap.  103. 
—  «Nisto  se  chegou  a  elle  o  primeiro  co'a 
espada  nua,  dizendo :  Tenho,  senhor  ca- 
valleiro,    tamanha  vontade   de  me  expe- 


rimentar comvosco,  que  receberia  muita 
magoa  não  ser  assim ;  peço-vos  que  me 
não  negueis  este  desejo,  que  eu  sinto  em 
vós,  que  poucas  cousas  vos  podem  pôr  re^ 
ceio.  Tão  bem  mo  sabeis  pedir,  disse  Flo- 
reados, que  seria  máo  ensino  não  fazer  o 
que  quereis.»  Ibidem,  cap.  109. 

He  tudo  quanto  sinto  hum  desconcerto : 

Da  alma  hum  fogo  me  sahc,  da  vista  hum  rio  ; 

Agora  espero,  agora  desconfio  ; 

Agora  desvario,  agora  acerto. 

CAM.,  SONETOS,  n."  9. 

Eu  não  sinto  onde  consista 

A  cura  desta  doença, 

Que  ha  tão  pouca  differença, 

Que  aquelle  em  que  ponho  a  vista, 

Por  esse  dou  a  sentença. 

IDEM,  AMPIIYTBIÕES,  act.    5,   SC.    1. 

—  «Nas  mais  cousas  viuem  como  os  de 
Bagdat,  nem  eu  sinto  alguma  de  que  pos- 
sa fazer  particular  menção.  Aos  quatro 
de  Feuereiro  partimos  pêra  Escandarona 
trinta  pessoas.»  Fr.  Gaspar  de  S.  Ber- 
nardino, Itinerário  da  índia,  cap.  22. 

Mas  eu  não  sinto  a  que  fim. 
Sou  eu  mesmo  assi  sentido. 
Sentis  muito. 

Oh  !  pesasão 
sinto  tão  demasiado 
que  cu  e  o  senhor  orelhado 
imos  forros  cada  mão, 
que  é  doa  mais  ao  senhor  dado. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  185. 

— « Ninguém  em  todo  o  mundo  con- 
cebeo  em  seu  peito  amor  tão  avultado; 
porque  ninguém  concebeo  tanto,  o  mui- 
to que  tu  mereces :  e  de  compassiva 
morreria  eu,  se  capaz  te  imaginasse  de 
firmar  o  teu  amor  em  outra  Dama.  Ha- 
bituado á  maneira  com  que  eu  amo,  não 
aceitarias  com  quem  tão  ditoso  te  fizesse, 
como  o  és  comigo.  Por  mim  julgo  as  ou- 
tras Damas,  e  sinto  dentro  de  mim,  que 
só  eu  para  ti  nasci.»  Francisco  Manoel 
do  Nascimento,  Successos  de  madame 
de  Seneterre. 


Empresa  digna  de  espantar,  por  certo, 

A  rica  fantasia,  o  fogo,  a  força 

De  Tintoreto,  ou  do  Jordão  pintando  ! 

Ah  !  Não  sei  que  ardimcnto  interno  ou  sinto  '■ 

Irresistível  violência  aos  Versos 

Mc  leva  todo  ;  da  memoria  cu  tiro 

Thesouros,  cuja  posse  eu  mesmo  ignoro! 

J.   A.    DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,   Cant.  4. 

Ondo  só  sinto  o  estrcpido  da  guerra, 
Qu'cntre  si  fazem,  qa'ontre  si  conservâo 
Daquelle  mar  tumultuosas  ondas. 
Eu  vejo  a  luz,  que  a  Terra  a  Newton  deve : 
De  antigos  evos  Óptica  ignorada. 


líu  afteito  a  velar  no  horror  profundo 
Da  noite,  que  meus  êxtases  inflamma, 
Inda  siato  pavor  se  OB  ais  escuto, 


534 


SIPI 


Quando  109  ermo»  do  cspiiço  08  olhoH  voIto, 
K  acccza  fantasia  oí  astro.-»  corre. 
iDKM,  MKniTAçÃo,  cant.  3. 

Man  oli  !  quo  lur.  taininanlia  que  abrir  .nulo ! 
Lux  6  do  foí^o  c  das  luzentes  annaa 
Com  qnn  Albuquerque  vciíci!  o  altivo  Torda. 
Rendu-to  Ormuz,  G(U-uni,  Mascate  o  Goa. 
oinnnrr,  oAMÕna,  caut.  8,  oap.  18. 


2.)  SINTO,  s.  m.  Vid.  Cinto.  —  «A  ca- 
misa era  ilc  seda  brãea  iiua,  cu  listras 
(la  mesma  azul,  o  vermelha,  e  por  sinto 
liuina  íiuella  do  coyro,  larga  oyto  dedos. 
Alfange  largo,  c  grosso,  com  huma  ada- 
ga do  mesmo  Jaós,  com  suas  bainhas  de 
prata  mui  perfeitas,  c  acabadas.»  Fr. 
(iaspar  do  S.  Bernardino,  Itinerário  da 
índia,  cap.  17. 

SINUADO,  s.  m.  (Do  latim  simiatos). 
Termo  do  botânica.  Diz-so  das  partes 
quo  sSo  decompostas  em  lóbulos  salientes 
e  arredondados,  separados  por  serros 
egualmento  arredondados. 

SINUOSIDADE,  s.  f.  Qualidade  do  quo 
ó  sinuoso.  —  /wí«  rio  faz  muitas  sinuo- 
sidades. 

SINUOSO,  A,  adj.  (Do  latim  sinuosus). 
Quo  descreve,  quo  segue  uiua  linha  on- 
dulada. 

—  Figuradamente:    Á   sinuosa  lógica. 

Qual  do3ej»ste,  6  f;n\o  1'olieiano, 

A  aiimona  I..ogic:i  dictando 

A  assombrada  Florença,  A  Itália,  ao  Mundo 

A  Moral  co'a  Politica  (;iilai;a3te, 

Immortal  Fociào,  aos  Reis  dizendo, 

Que  ái5  tom  bases  na  Juâtii,a  o  Throuo. 

'  J.  X.   DE  UlCEDO,  MEDITAÇÃO,  Cant.  1. 

—  Termo  do  cirurgia.  Ulcera  sinuo- 
sa; ulcera  estreita  o  profunda. 

—  Tortuoso,  curvo. 

SINXÒ,  *.  VI.  Madeira  de  que  so  fazem 
fachos,  que  ardem  como  tochas;  é  da  ser- 
ra de  Asseri,  na  Índia. 

SINZEL,  s.  wi.  Instrumento  de  crava- 
dor,  de  ferro,  que  serve  de  bater  o  ouro 
sobre  a  pedra.  Vid.  Cinzel. 

—  Instrumento  dos  estatuários  em  ima- 
gens de  pau  ou  de  pedi-a. 

—  Instrumento  agudo  de  lavrar  pedra, 
prata  ou  ouro. 

SINZELADO,  part.  pass.  de  Sinzelar. 

SINZELADOR,  í.  m.  Otlicial  quo  sin- 
zela. 

SINZELAR,  i'.  a.  Termo  do  ourivesa- 
ria. Levantar  do  moio  relevo.  Vid.  Cin- 
zelar. 

SIO,  s.  m.  A  voz,  ou  som  com  que  se 
costuma  chamar  por  alguém,  sem  se  pro- 
nunciar o  nome. 

SIOBA,  s.  /.  Termo  de  historia  natu- 
ral. Peixe  gi-ande  e  delicado  do  Pirazil. 

SIPHÃO,  s.  m.  (Do  grego  slphon).  Vid. 
Sifão,  e  Bomba. 

SIPHILIS.  Vid.  Syphilis. 

SIPIPIRA,  s.  /.  O  mesmo  que  sicopira. 
Vid.  Sicopira. 


SIRa 

SIPÓ,  a.  m.  Espccio  de  vara  flexível  c 
trepadeira,  ile  riuo  abundam  n.s  mattas  do 
Braz  li ;  sej've  para  atar.  Vid,  Cipó. 

—  Sipó  de  chamou;  sipitsinho  mui  mu- 
cilagiuoso,  do  (pie  se  dá  o  cozimento  por 
solda;  ú  tfcpador  pelos  arbustos. 

—  Termo  de  pharmacia.  Por  antono- 
másia, é  um  sipó  liinetico. 

—  Sipó  do  reino;  vide  branca,  arbus- 
to. 

SIPOADA,  .1.  f.  (iolpo  com  sipi». 

SIPOAL,  .1.  f.  Balsa,  l(jg;ir  emmaranha- 
do  de  ramas  do  sip(3s,  onde  se  nilo  dá 
passo. 

—  Loc.  FIG.  usada  no  Brazll :  Met- 
ter  alguém  em  um  sipoal ;  mettel-o  em 
negocio  embaraçoso,  difficil  de  dar  pas- 
sos n'Glle,  ou  de  saír-se  d'cllc  a  1-impo. 

—  liJetter  alguém  em  um  sipoal ;  met- 
tel-o em  passo. 

SIRA,  s.  /.  Vid.  Xira. 

SIRAGE,  a.   m.  Óleo  de  gergelim. 

SIRANDA,  8.  /.  Vid.  Ciranda. 

SIRE,  s.  in.  (Do  fraueez  sire).  Senhor; 
titulo  dado  por  excellencia  aos  reis,  fal- 
lando-so-lhes  em  fraueez. 

SIRENA,  s.  f.  Vid.  Serèa. 

Cantem,  louvem  o  escrevam  sempre  extremos 
D'ossc3  8CU3  scmidco.scs  e  encareçam. 
Fingindo  magas  Circes,  Polypliemos, 
Si  renas,  que  coo  canto  03  adormC(;am. 
c.vM.,  Lus.,  cant.  5,  est.  88. 

SIRENICO,  A,  adj,  (Do  latim  sireiíi- 
cusi.  Termo  de  poesia.  De  seriJa. 

f  SIRENOMALO,  s.  m.  Termo  de  tera- 
tologia.  Monstro  que  tem  os  dous  mem- 
bros abdomiuaes  mui  incompletos,  termi- 
nados em  pontas,  sem  pé  distincto. 

SIRGA,  s.  /.  Termo  de  náutica.  Cor- 
da de  puxar  a  embarca^'ão  á  tôa,  leval-a 
para  onde  queremos;  cabo  que  serve  de 
alar  as  embarcuíjões  miúdas  por  terra  ou 
por  sitio  onde  se  encontra  pé,  quando  o 
remo  ou  a  vela  u3o  vencem  a  corrente. 

—  Andar  alguém  á  sirga  de  outrem; 
andar  com  elle,  acompanhando-o  como 
dependente. 

—  Trazer  alguém  á  sirga;  trazer  apijs 
de  si,  por  onde  se  quer. 

SIRGADO,  s.  m.  Termo  de  historia  na- 
tui-al.  Peixe  grande  o  bom  do  Brazil. 

—  Fart,  pass.  de  Sirgar.  Puxado  á 
sirga,  levado  a  reboque. 

SIRGAR,  i'.  a.  Alar,  puxar  com  sirga, 
dar  reboque,  prover  de  sirgas. 

—  Levar  á  sirga. 

1.)  SIRGIDEIRAS,  s.  /.  plur.  Termo 
de  náutica.  Cabos  ([ue  servem  para  car- 
regar as  velas  das  gáveas. 

2.)  SIRGIDEIRAS,  s.  /.  plur.  Cabos 
presos  a  cada  testa  das  gáveas  e  oa  seus 
chicotes  passam  por  moitões  cosidos  na 
verga,  por  ant'avantc  ao  pé  da  cruz,  que 
servem  para  a  vela  ticiír  bem  abafada  na 
mezena. 

SIRGIR,    1-.   a.  Vid.  Serzir. 


.smv 

SIRGO,   9.  VI.   Termo  antiquado.  Seda. 

—  Na  província  da  Beira,  bicho  da 
8«}da. 

SIRGUEIRO,  «.  m.  Homem  que  faz  obra 
de  lio  o  c(jrdões  de  8(;da  ou  lii. 

SIRI,  s.  m.  Termo  do  Brazil.  Mariaco 
do  pernas  de  que  ha  muitas  espécies.  O 
siri  candeia  ó  pernilongo  e  sáe  á  borda 
do  mar  onde  se  pesca  com  candeios. 

SIRIBOA,  s.  f.  Termo  du  botânica.  Es- 
pécie de  pimenta. 

SIRICAIA,  «.  /.  —  Leite  em  siricaia ; 
leite  cnzid(j  com  ovos  e  assacar,  com  fa- 
rinha ou  sem  cila,  em  meia  consistência. 

SIRIGAITA,  s.  f.  Avesinlia  da  côr  da 
carriça,  com  bico  longo ;  trepa  pelas  ar- 
vores. 

—  Figuradamente:  Mulher  e  cspecial- 
meutc  menina  inquieta,  turbulenta. 

—  Requebrada,  com  modos  attractivos. 
SIRIGUEIRO,  s.  m.   Vid.  Sirgueiro. 
SIRINGA,  s.  f.  Vid.  Seringa. 

1.)  sírio,  .1.  in.  (Do  latim  tíirius).  Ter- 
mo de  astronomia.  Constellaçào  austral, 
chamada  vulgarmente  canicula,  mas  é  o 
cão  maior. 


Outra  lísfcra,  c  Planetas,  c  outro  Pilo 
Eu  vejo,  c  perto  do  abrazado  tiirio 
Oui.o  o  latido,  sinto  as  enroladas 
Cliiuiimas  das  fauces  hórridas  rompendo. 

J.  A.  im   UACEDO,  A  HATLBEZA,  CaUt.  1. 


—  A  canicula. 

2.1  sírio,  *-.  m.  Festa  de  algum  ora- 
go,  fira  da  terra. 

—  Termo  do  Brazil.  Espécie  de  sacco 
ou  fardo  de  palha  com  que  se  tran-sporta 
farinha  de  mandiocsa,  cylindrieo  na  fei- 
ção. 

—  Vid.  Cirio,  que  é  differente. 
SIRIOURA,  s.  /.  Termo    de    botânica. 

Planta  semelhante  ao  cedro  nas  folhas, 
que  produz  flores  brancas  com  algum 
encarnado  no  meio;  sua  raiz  é  meòici- 
nal. 

SIROLICO-TICO.  As  creanças  formam 
um  jogo  em  que  vào  beliscando  os  dedos 
ás  outras,  e  dizem :  sirolico-tico,  yuet;i 
te  deu  taman/u)  òico;  será  por  ventura 
nome  fingido  de  alguma  avesinha?  Vid. 
Bico. 

SIRRO,  s.  Hl.  Vid.  Schirro. 

SIRTES,  s.  m.  plur.  Vid.  Sjrrtes. 

SIRVO.  Forma  do  verbo  servir  na  pri- 
meira pjssoa  do  singular  do  presente  do 
modo  indicativo.  Vid.  Servir.  —  «O  escu- 
do, disso  Albayzar,  eu  o  ganhei  por  força 
d'armas,  vencendo  em  batalha  igual  o 
cavalleiro  que  o  guardava;  e  não  tio  so- 
mente espero  levar  este  ante  a  senhora 
Targiaua,  a  quem  siiTO,  mas  inda  todo- 
los  d'outros  homens,  que  quizerem  de- 
fender que  Targiana  não  é  a  mais  fermo- 
sa  dama  do  mundo :  com  este  propósito 
me  vou  á  córtc  do  imperador  Palmeirim, 
ondo  melhor  que  em  outi*a  parte  cuido 
que  satisfarei  meu  desejo.»  Francisco  de 


SISB 


SISO 


SIST 


535 


Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  76. 
—  «Dizei-lhe,  que  uma  senhora  a  que 
sirvo,  não  me  dá  tanto  poder  de  si,  que 
a  possa  aventurar  com  ninguém ;  que  ve- 
nho aqui  lhe  fazer  conhecer,  que  seu  me- 
recimento e  fermosura  é  maior,  que  de 
nenhuma  das  que  traz  comsigo,  nem  quan- 
tas conhece.»  Ibidem,  cap.  123. 

SIRZINO,  s.  wi.  Termo  de  liistoria  na- 
tural. Passarinho  como  o  canário,  entre 
pardinho  e  amarello. 

SIRZIR,  V.  a.  Vid.  Serzir. 

SISA,  ou  SIZA,  s.  f.  Tributo  que  se 
paga  das  compras  e  vendas  das  victua- 
Ihas,  bestas,  bens  de  raiz  ou  proprieda- 
des, etc,  e  se  arrecada  na  alfiiudega  das 
sete  casas.  As  sisas  foram  imposições 
temporárias,  que  o  povo  em  cortes  se  im- 
punha e  cobrava,  para  -servir  a  el-rei  com 
ellas,  e  acabavam  cessando  a  necessidade 
a  que  haviam  de  supprir  ou  preenchida 
a  norma  requerida.  —  O  direito  da  sisa. 
Vid.  Cisa.  —  «Nem  querem  pagar  sisa 
como  03  outros,  que  assy  compram,  e  ven- 
dem, e  se  03  querem  penhorar,  allegam 
que  som  priviligiados,  e  o  Bispo,  e  seus 
Vigários  os  fazem  escomungar;  o  que  he 
muito  sem  razom,  ca  pois  per  direito  lhes 
esto  he  defeso,  d'aguisada  razom  nom  de- 
vem gouvir  de  seu  privilegio,  pois  delle 
usam  como  uom  devem.»  Ord.  Affons., 
liv.  4,  tit.  47,  §  1. 

Isto  é  estalagem, 
casa  de  sí.?a,  ou  portagem 
que  scrVe  do  vae  e  vem  ? 
Quem  é,  moça? 

ANTOKIO  PRESTES,  AUTOS,    pag.    135. 

—  Adagio  : 

—  O  mentir  não  paga  sisa. 
SISADO,  j)art.  pass.  de  Sisar. 

—  Figuradamente  :  Tempos  sisados  ; 
tempos  furtados  a  outros  negócios,  ou  tal- 
vez quando  ó  necessário :  a  propósito. 

SISALHA,  s.  /.  Termo  de  batefolha.  O 
que  sobra  ao  pão  de  ouro  ou  prata  em 
quanto  não  chega  ao  estado  em  que  ha 
de  ficai'. 

—  Fragmentos  ou  aparas  das  chapas 
que  se  redondeiam,  para  se  cunharem 
em  moedas. 

—  Alguns  escrevem  cisalha. 

SISANIA,  s.  f.  Vid.  Zizania. 

SISÃO,  s.  m.  Termo  de  historia  natu- 
ral. Ave  do  tamanho  da  adem,  entre 
branco  e  pardo,  com  cordão  negro  no 
pescoço. 

SISAR,  ou  SIZAR,  v.  n.  Arrecadar  a 
sisa. 

—  Figuradamente  :  Furtar  cousa  pou- 
ca em  contas,  compras,  trastes  velhos, 
etc,  costume  mau  de  servos  e  criados 
infiéis  e  seus  slmilhantes.  Vid.   Sisado. 

SISARO,  s.  m.  Herva;  espécie  de  chi- 
rivia ;  produz  fiôres  brancas, 

SISBORDO,  .s.  m.  Termo  de  náutica. 
Resbordo,    diz-se  sobrecarregada  a    em- 


barcação até  a  mottcrem   quasi  debaixo 
da  agua. 

SISEIRO,   ou  SIZEIRO,  í.  m.  Cobrador 

de  sisas,  que  arrecada  sisas. 

—  Termo  figurado  e  popvilar.  Pessoa 
que  furta  arteiramente  alguma-  parte  do 
que  lhe  confiaram. 

SI3G0LA,  s.  /.  Uma  das  peças  do  ar- 
reio (hl  cavallo. 

SISMA,  í.  /.  Vid.  Scisma. 

SISO,  s.  m.  Juízo,  prudência,  sabedo- 
ria . 

Mãe,  dos  homoiis  hc  fallar, 
E  das  mulheres  ouvir, 
E  do  bom  siso  calar, 
E  da  prudência  sentir 
O  que  não  prtdc  damnar ; 
Cuidacs  que  me  ha  de  comer? 
Eu  não  te  posw  softVir ; 
Nesta  dor  hei  de  morrer. 

GIL  VICENTE,   PARCAS. 

Eu  morria,  c  alem  disso 
Eu  não  tinha  então  mais  siso 
Do  que  aquella  porta  tom. 
Não  f aliei:»  em  querer  bom, 
Que  rapa  todo  o  aviso. 
Andando  assi  como  digo 
Escravo  da  servidora, 
Soccorri-rae  a  osta  senhora. 


E  quem  de  riba  d' Avia  for 
Fazè-lhe  por  meu  amor 
Como  SC  fosse  \-iziuho. 
Assi  que  por  me  salvar 
Fiz  esto  meu  testamento, 
Com  mais  siso  e  entendimento 
Que  nunca  me  soi  estar. 

IDEM,   OBRAS  VARIAS. 


Esta  deucmos  do  ter 
deste  mundo  tam  mudado, 
para  disso  recolher 
qucra  teuer  siso.  e  saber, 
que  o  por  vir  he  o  passado. 

GARCIA  DS   REZENDB,   MI3CELLANEA. 

—  Da  qual  foy  logo  mandado  a  Frau- 
des, e  foi  logo  auida  em  grande  preço,  e 
estima,  e  el  Rey  de  Beni  mandou  logo  a 
el  Rey  por  Embaixador  hum  seu  capitão 
de  hum  lugar  porto  de  mar,  que  se  cha- 
maua  Hugato,  homem  do  bom  saber,  e 
bom  siso,  e  forãolhe  feytas  muytas  fes- 
tas.» Idem,  Chronica  de  D.  João  II,  ca- 
pitulo 65. 


Siso,  juizo,  virtudes,  Potencias 

que  tanto  o  déstrasscm  cUes  e  ellaa, 

que  passeasse  por  céos,  por  estrellas, 

com  ter  pós  na  terra.  Ha  mais  execllcncias, 

mais  mimos,  afagos  nem  mais  charamelas 

a  estes  verdores, 

a  estas  potencias  e  mordomos  mores 

que  incorporou  n'este  organisado? 

ANTÓNIO  rUESTES,  AUTOS,  pag.  7. 


Com  tanta  discrição,  tal  siso  c  manha 
Esta  partida  ja  tinha  ordenada. 
Que  sendo  elle  senhor  de  huma  tamanha 
Eiqueza,  que  á  de  Creso  era  igualada, 


Quando  agora  se  vai  toda  o  acompanha 
Sem  ficar  na  Cidade  delia  nada. 
Porque  isto  communica  com  tal  gente 
Que  nem  huma  suspeita  d.á  somente. 

F.   D'ANDRADr.,   PRIMEIRO  CERCO  DE   DIU,  Cant.    10-, 

est.  4. 

—  «Que  DEOS  do  Ceo  se  posera  a 
olhar  o  considerar  sobre  todos  os  filhos 
de  Adam  a  ver  se  aula  algum  que  tiues- 
se  siso,  e  entendimento  pêra  buscar  a 
Deos  :  e  que  vira  que  todos  rcbelauam 
contra  elle,  todos  eram  corruptos  e  abo- 
minaueis  em  seus  cuydados  e  obras :  nem 
auia  quem  fizesse  virtude,  nem  escassa- 
mente hum.»  Frei  Bartholomeu  dos  Mar- 
tyres,  Catecismo  da  doutrina  christã. 

—  Loc.  PROV.  :  Veiider  siso  a  Catão' 
querer  dar  juizo  a  quem  elle  sobeja,  e 
ensinar  sabedoria  ao  sabedor. 

—  Fazer  siso  d'aJguma  cousa;  dal-a, 
tel-a  por  obra  de  prudência,  em  que  mos- 
tra saber. 

—  Dentes  de  siso ;  são  os  últimos  quei- 
laes  que  nascem  aos  adultos. 

—  Fazej-  mau  siso ;  fazer  uma  impru- 
dência. 

—  Discriçiiíes,  máximas  prudenciaos. 

Que  visitações  lhe  taxo? 
não  na  vou  vèr  cada  ora? 
Se  vos  não  levar  agora 
dará  com  as  casas  em  baixo, 
sairá  de  mil  sisos  fora  : 
que  é  do  senhor  vosso  irmão  ? 
onde  é? 

Foi-so  por  hi, 
6  pouco  caseiro. 

ASTOKIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  193. 

—  Loc.  ADV.  :  De  siso;  deveras,  se- 
riamente, com  força. 

—  Adágios  e  provérbios  : 

—  Não  percas  o  siso  pelo  doudo  do  teu 
visinho. 

—  Não  tem  homem  siso,  mais  que  que- 
rem os  meninos. 

—  O  bom  coração  soflro,  e  o  bom  siso 
ouve. 

—  Bebo  vinho,  não  bebas  o  siso. 

—  Quem  com  doudo  ha  de  entender, 
muito  siso  ha  mister. 

—  A  scieucia  é  loucura,  se  o  bom  siso 
não  a  cura. 

—  Quem  diz  que  a  pobreza  é  vileza, 
não  tem  siso  na  cabeça. 

—  Leve   é  a   dôr  que  o  siso   encobre. 
• —  Qual  cabeça,  tal  siso. 

—  Que  siso  de  alveitar !  mula  morta 
manda-a  sangrar! 

—  Quem  a  trinta  não  tem  siso,  a  qua- 
renta não  é  rico. 

—  Castigo  faz  o  doudo  ter  siso. 

—  Zombaria  de  siso,  mette  os  homens 
em  perigo. 

—  É  raro  na  prosperidade  o  siso. 
SISOO,  s.  711.  Vid.  Siso. 

SISORIO,  s.  m.  Termo  usado  na  locu- 
ção cómica:  De  sisorio;  muito  do  siso. 
SISTEMA,  «.  m.  Vid.  Systema. 


536 


SITI 


8ITI 


sm 


SISTRADO,  A,  aâj.  Com  BÍ8tro. 

SISTRO,  s.  III.  (])o  líitim  sisfrtim).  Ter- 
mo (lo  autifíUiilado.  Imtruiiiunto  do  iiiu- 
eica  til)  Ejíypto,  |i;ir;i  mo  dos  sacerdotes 
tl'l8Í»,  que  ora  um  pequeno  arco  de  me- 
tal, atravessado  do  muitas  baqueta»,  que 
produziam  BOin  quando  so  afeitavam. 

—  Uma  o»]iecie  do  pandeiro  com  soa- 
lhas d.'  iaiHio.  Viíl.  Sestro. 

SISUDEZA,  .s.  /.  Seriedade. 

—  Sisii,  jtrudcncia. 

—  Alpuus   escrevem   também  sisudez. 
SISUDO,  ou  SESUDO,  A,   a/j.  Sensato, 

dotado  de  siso,  j)rudento,  serio,  de  siso, 
que  tem  prudência.  —  «E  abrindo-lhe  o 
porteiro  toda  a  porta,  que  polo  postig;o 
não  cabia,  disso  contra  o  do  Salvajo.  ViVs, 
D.  cavalloiro,  mais  ousado,  que  sisudo, 
cntrofíai-vos  em  minhas  míJos,  senào  eu 
vingarei  nossas  vussas  carnes,  a  morte 
dos  meu^  com  tanta  maneira  do  crueza, 
que  me  t^nha  jjor  bem  satisfeito  da  offen- 
ça,  que  me  tizcstes.»  Francisco  do  Mo- 
raes, Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  27. 

—  Que  aftecta  siso,  prudência. 

—  Usa-so  também  substantivamente: 
Os  sisudos. 

—  Adágios  e  provérbios: 

—  Quando  o  sandeu  se  perdeu,  o  si- 
sudo aviso  colheu. 

—  O  que  faz  o  doudo  á  derradeira,  faz 
o  sisudo  á  jirimeií-a. 

—  O  sisudo,  e  o  doudo  se  descobre  no 

jogo- 

—  Boas  palavras,  e  maus  feitos  enga- 
nam sisudos,  e  néscios. 

—  Oâ  doudos  fazem  a  festa,  e  os  sisu- 
dos gostam  d'clla. 

—  O  sisudo  não  ata  o  saber  :l  es- 
taca. 

SITAR,  V.  a.  Vid.  Situar. 

I  SISYMBRO,  s.  m.  Termo  do  botâni- 
ca, (ienero  da  família  das  cruciferas. 

•l"  SISYPHO,  s.  m.  Personagem  mytho- 
logico  condmnnado  a  levar  para  o  alto 
de  uma  montanha  um  rochedo  enorme, 
que  rolava  por  ella  assim  que  o  colloca- 
va  no  cume. 

—  Fignradamcnte :  Um  trabalho  de  Si- 
sypho ;  um  trabalho  quo  se  desfaz,  e  que 
6  mister  incessantemente  recomeçar. 

SITIADOR,  A,  adj.  e  s.  Que  sitia  uma 
praça. 

SITIAL,  s.  "i.  Banco  ou  genuflexório 
com  seu  paramento,  o  almofada,  onde  as 
pessoas  reaes  se  encostam,  quando  ajoe- 
lham . 

—  Entre  os  armadores,  ó  o  apparato 
do  tafetás,  ou  velludos  para  adornar  al- 
guma capolla  com  duas  cortinas,  o  uma 
sanofíi. 

SITIANTE,  part.  acf.  de  Sitiar.  Vil. 
Sitiador. 

—  Substantivamente  :  Vid.  Sitiador. 
SITIAR,  V.  11.    Coroar,    asssodiar,    pôr 

assedio.  )iòr  sitio. 

SITIBUNDO,  A,  adj.  (Do  latim  sitibun- 
dus).  Termo  de  poesia.  Sequioso,  sedento. 


AlgunH  vilo  maldizendo  c  blaHphcmando 
Do  primeiro  qm:  ffii'^rra  fiv.  no  mundo ; 
Outro.H  u  Hrdu  durii  vào  culpando 
Do  peito  cobiçoso  e  filihundo, 
(^uu,  por  tomar  o  alheio,  o  minerando 
Povo  aventura  dii  pcnau  do  profundo-. 
Deixando  tantas  m&<;B,  tantas  esposas 
Sem  filhos,  sem  maridos,  desditosas. 
CAM.,  LU8.,  cant.  -1,  est.  44. 


1.)  SITIM,  s.  m.  Pau,  ou  madeira  para 

edifícios,  ou  outras  obras  mui  preciosas. 
Vid.  Selim. 

2.)  SITIM.  Vid.  Selim. 


Mas  panno  fino  o  delgado, 
Qual  a  raxa  e  outros  assi. 
Dura,  aqueuta,  c  he  callado. 
Amoroso,  c  dá  de  si 
Maia  que  sitim,  nem  brocado. 

CAU.,   REDONDILIIAS. 


SITIO,  s.  m.  (Do  liitim  hUus).  Espaço 
de  terra  descoberto,  o  chão  apto  jiara 
n'ellc  se  levantarem  edificios.  —  «  Das 
quaes  palavras  fica  a  duvida  bem  decla- 
rada, pois  hoje  dura  este  Templo  funda- 
do junto  a  Braga,  inda  que  despojado  de 
sua  primeira  grandeza,  todavia  com  mos- 
tras de  antiguidade,  e  posto  em  silio  cm 
que  as  muytas  parreyras  do  valle,  nos 
escusarão  as  que  Ambrósio  de  Morales 
acha  sò  em  Ourense.»  Monarchia  Lusita- 
na, liv.  6,  cap.  11.  —  «Esta  cõsidera- 
çaõ  fez,  cõ  que  por  entaõ  a  deixasse  na- 
quelle  sitio  do  próprio  modo  que  estava, 
e  posto  que  depois  a  visitasse  as  vezes 
que  vinha  por  aquellas  partos  cõ  a  oca- 
sião da  caça,  nào  tratou  nunca  de  me- 
lhorar a  pobre  ermida  em  que  estava, 
nem  o  tizera  se  a  Virgem  o  não  salvara 
de  hum  notório  perigo  ile  morte,  que 
Deos  por  ventura,  permitio,  em  castigo 
de  seu  descuido.»  Ibidem,  liv.  7,  cap.  4. 
—  « E  para  os  caminhos  ordenava,  que 
houvesse  guias,  com  os  quaes  se  deter- 
minasse o  dia  dantes  para  onde  se  havia 
de  caminhar ;  e  quo  se  escolhesse  sitio 
para  se  assentar  o  arrayal,  onde  ficasse 
fortalecido,  e  provido  de  agua,  herva, 
lenha,  e  outras  cousas  necessárias.»  Se- 
verim  de  Faria,  Noticias  de  Portugal, 
Disc.  2,  cap.  8.  —  aAflFonso  d'Aibo- 
querque  chegado  ás  portas  do  estreito, 
porque  á  entrada  não  tinha  notado  o  si- 
tio da  terra,  principalmente  a  Ilha  Me- 
hum,  onde  ElRcy  D.  Manuel  era  infor- 
mado que  se  podia  f:izer  huma  fortaleza, 
foi-se  a  ella.»  Barros,  Década  2,  liv.  8, 
cap.  3.  —  «Ser  esta  huma  d.as  mais  no- 
taueis  do  mundo,  se  tem  por  cousa  cer- 
tíssima ;  seu  sitio  he  nos  términos  de  Af- 
frioa,  huma  d.is  quatro  partes  do  mundo, 
distando  da  terra  firmo,  que  he  na  Costa 
da  .-Ethvopia  menos  de  nouenta  legoas. 
Começa  om  altura  de  doze  grãos,  e  aca- 
ba om  vinte  seys  e  movo;  tem  em  cir- 
cuyto  mil  legoas.»  Fr.  Gaspar  de  S.  Ber- 
nardino, Itinerário  da  índia,  cap.  2. 


—  Figuradamente :  Aptidio,  diapoai- 
Vão. 

—  Logar,  aasento.  —  «Seu  sitio  he  en- 
tre 08  dois  EHtreytos  de  Mecha,  c  Báco- 
ra, ficando  entre  clle»  a  parte  do  3Icyo 
Dia,  ostu  mar  \)0T  quem  ora  Limos  nauo- 
gando.  Cliamase  Fclice,  porque  das  trea 
Arábias,  ella  ho  amelhor  mai»  pouoadft 
de  Cidades,  e  no  comercio,  c  trato  roais 
abundSte,  c  rica.»  Fr.  Oaspar  de  S.  Ber- 
nardino, Itinerário  da  índia,  cap.  10. — 
«Inda  que  da  Ilha  r)rmus  aja  muitos  quo 
escreuesscm,  os  quaes  contlo  o  sitio, 
modo,  e  assento  da  Cidade:  com  tudo  não 
deyxarei  de  dizer,  o  que  nella  particu- 
larmente notey,  e  vi :  pirquc  se  c5  o 
tempo  (como  dizem)  se  muda  tudo,  ja 
pode  ser  esteja  hoje  tâo  difforente  do  que 
foy,  como  at*  cousas  todas  saò  do  qaem 
antes  erão.»  Ibidem,  cap.  11. 


Vcm-se  ArraiAes  Romanos  derelietoa ; 
¥.,  cm  filio»  vários  da-íscs  va.-(to<i  Campos, 
Do  Cavallo,  c  do  Dwno  os  esqueletos, 
Mal-9cpult03,  entre  hcrs-as.  Vi  legumes 
Do  cultivo,  e  sustento  dessas  hostes. 

r.   U.   DO  llASCIME!fTO,  OS   MABTniCS,  1ÍT.    10. 

Caseiros  vcget-ica  de  origem  Grega, 
Que  eu,  sem  saudade  interna  ver  não  pude. 
Qual  do  seu  Chão  traziào  o  nso ; 
Dobru(;ados  da  encosta,  a  várzea  cnfcitio. 
Assim  usão  Famílias  desterradas, 
Pouzar,  cm  filiot,  que  lhe  a  Pátria  avivem. 
IBIDEM,  liv.  16. 


—  «Pelas  três  da  tarde,  cheguei  á  Ca- 
sa-Forte,  tu  villa  d'Ourem,  onde  fechei 
a  visita  e  dei  as  providencias  que  me  pa- 
receram necessárias;  e,  embarcando  em 
um  bote  com  André  Corsino,  chegamos 
ao  sitio  de  Padre  Gabriel  e  ahi  ficamos.» 
Bispo  do  Grão  Pará,  Memorias,  publica- 
das por  Camillo  Castello  Branco.  — 
«Muitos  motivos  haveria  para  se  impor  Á 
primeira  egreja  o  nome  do  Salvador ;  mas 
deve-se  advertir  que  na  parte  de  Mato- 
zinhos  que  chamam  de  Bouças,  em  cujo 
sitio  esteve  a  imagem  do  Senhor,  é  gran- 
de a  devoç."io  e  a  festa  com  o  titulo  de 
Salvador.»  Ibidem,  pag.  74.  —  «A  mu- 
lher Constança  Rodrigues,  quando  foi 
com  seu  marido,  levantou  uma  egreja  a 
Santa  Catharina,  santa  que  se  celebra  no 
mesmo  sitio  de  I^N^sa  junto  ao  mar.» 
Ibidem.  —  «M.""*  de  Montagnac,  mulher 
do  cônsul  de  França,  jogava  no  sitio  da 
Luz,  na  quinta  do  Reiçand  com  o  mar- 
quez  de  Louriçal  D.  Luiz,  sendo  elle 
ainda  conde  do  Ericeira;  e  querendo 
apodar  madame  lhe  disse,  tendo  cada  um 
sua  carta  na  mSo.»  Ibidem,  pag.  153.  — 
«Na  manhã  de  20  alvejou-nos  o  dia  na 
igreja  de  Garaparú,  onde  dissemos  missa, 
e  por  falta  de  maré  ahi  pernoitamos.  No 
dia  21  fomos  com  a  maré  para  o  sitio  da 
Mocijuba,  que  fica  em  agradável  local.» 
Ibidem,  p.'»g.  172.  —  «A  falta  de  maré{ 
nos  fez  deter  uma  noite  n'este  sitio,  onde  \ 


SITT 


SITU 


SIZA 


537 


a  praga  de  morcegos  podia  converter  o 
Pharaó  e  castigar  o  Egypto.»  Ibidem, 
pag.  173.  —  «Chegamos  ao  sitio  de  Santa 
Cruz,  de  Francisco  da  Costa  onde  se  jan- 
tou. N'este  sitio  vimos  defronte  das  casas 
uma  arvore  chamada  urucuzeiro,  de  que 
se  faz  a  tinta  do  urucú.»  Ibidem,  pag. 
179. 

—  Uma  iiabitação  rústica,  e  pequena 
granja  de  frutas,  hortaliças,  legumes. 
Em  Pernambuco  dão-lhe  este  nome;  na 
Bahia  o  nome  de  roça;  no  Rio  de  Janei- 
ro o  de  chácara. 

—  Assedio,  cerco  de  praça.  —  Começar 
o  sitio  da  cidade. —  «Nisto  se  desceram 
da  sala  acompanhados  de  muitos  caval- 
leiros  da  corte  que  os  não  deixaram  té 
onde  estava  o  sitio  das  batalhas,  onde 
cavalgaram  todos  seis.  Os  cavallos  dos 
gigantes  eram  tão  grandes  e  forçosos 
quanto  parecia  myster  para  a  grandeza  e 
peso  delles.»  Francisco  de  Moraes,  Pal- 
meirim de  Inglaterra,  cap.  95. —  «Des- 
embarcarão quatro  mil  homens,  que  co- 
meçarão o  sitio  da  Cidade  á  ordem  do 
General  D.  Fradique,  e  ficou  D.  Manoel 
de  Menezes  no  mar  formando  huma  meia 
lua  para  impedir  a  fugida  dos  inimigos.» 
Fr.  Bernardo  de  Brito,  Elogios  dos  reis 
de  Portugal,  continuados  por  D.  José 
Barbosa. —  «E  ao  outro  dia  passando  á 
vista  da  cidade  de  Caixiloo,  a  não  quiz 
cometer,  por  ser  grande  e  forte,  assi  por 
sitio  e  fortificação,  como  por  ter  sabido 
que  estavão  dentro  nella  cincoenta  mil 
homens,  em  que  entravão  dez  mil  Mogo- 
res,  e  Cauchins,  e  Champaas,  gente  mais 
determinada  e  pratica  na  guerra  que  a 
da  China.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pere- 
grinações, cap.  123.  —  «Defronte  do  ba- 
luarte S.  Thomé,  que  pela  matéria,  e  dis- 
posição do  sitio,  estava  mais  aberto,  de- 
terminou levantar  outro,  que  lhe  ficasse 
igual,  ou  eminente,  para  que  batido  pelo 
alto  derribasse  as  ameyas,  tolhendo  pelei- 
jar  aos  defensores,  e  ainda  de  noite,  po- 
der fazer  reparos,  ficando  as  peças  para 
aquella  parte  assestadas  de  dia,  com  pon- 
taria certa.»  Jacintho  Freire  d'Andrade, 
Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv.  2.  — 
«Era  já  entrado  o  mez  de  Agosto,  e  o 
Governador,  como  antevendo  as  occasiões 
futuras,  não  perdia  momento  em  muni- 
cionar, e  bastecer  a  armada,  quando  apor- 
tou na  barra  de  Goa  Francisco  de  Mo- 
raes Capitão  de  hum  catur,  com  cartas 
de  D.  João  Mascarenhas,  em  que  o  avi- 
sava, que  o  Soltão  de  Cambava  juntava 
todas  as  forças  de  seus  Reinos  com  voz 
de  por  setrundo  sitio  áquella  Fortaleza.» 
Ibidem,   liv.  4. 

1.)  SITO,  A,  adj.  (Do  latim  sitiis).  Si- 
tuado. 

2.'  SITO,  í.  w.  (Do  latim  sitos).  Mo- 
fo, bafio. 

SITOPHAGO,  A,  adj.  (Do  grego  sitos, 
c  phngí)).  Que  vive  de  trigo. 

SITTÀ,  s.  /.   Termo  de  historia  natu- 

YM,.  T.— 68. 


ral.  Picanço,  ave  da  família  das  trepado- 
ras. 

SITUAÇÃO,  s.  /.  O  assento  da  casa, 
logar,  praça,  ediócio,  posição.  —  «E  por- 
que com  todo  este  temor  elles  não  vieram 
a  conclusão  pêra  Aff'onso  d'Aiboquerqae 
leixar  de  a  commetter,  primeiro  que  es- 
crevamos o  modo  que  nisso  teve,  convém 
descrevermos  a  situação,  e  força  delia.» 
João  de  Barros,  Década  2,  liv.  3,  cap.  7. 
—  «Per  a  qual  parte  podemos  dizer  ser 
este  graõ  lago  mães  vizinho  ao  nosso  mar 
Oceano  occidental  que  ao  Oriente  segun- 
do a  situação  de  Ptholomeo,  ca  do  mes- 
mo Revno  de  Congo  se  metem  nelles  es- 
tes seis  rios,  Bancàre,  Vàba,  Cuylu,  Bi- 
bi,  Maria  maria,  Zaúculo,  que  saõ  mui 
poderosos  em  agoa.»  Idem,  Becada  1, 
liv.  10,  cap.  1.  —  «Adem  he  huma  Ci- 
dade situada  na  costa  do  Ai'abia  feliz  em 
altura  do  pólo  Artico  de  doze  gráos  e 
hum  quarto,  e  segundo  a  situação  da  ta- 
boa  de  Ptolomeu,  parece  ser  aquella,  a 
que  elle  chama  jModócan,  e  a  serra  que 
está  sobre  ella  Cabubarra,  a  que  ora  os 
Mouros  chamam  Darriza,  a  qual  he  toda 
de  huma  pedra  viva  sem  arvore,  nem 
herva  verde.»  Idem,  Década  2,  liv.  7, 
cap.  8. 

—  Modo  como  imi  objecto  está  coUo- 
cado. 

—  Posição,  postura  dos  homens,  dos 
animaes. 

—  Figuradamente  :  Disposição  do  espi- 
rito. 

—  Estado  de  uma  pessoa  em  relação  á 
sua  condição,  ás  suas  paixões,  aos  seus 
interesses. 

■ — Figuradamente:  O  estado  das  cou- 
sas. 

SITUADO,  ]mrt.  pass.  de  Situar.  Sito, 
assentado,  edificado.  —  «Deste  estilo  que 
os  Reys  de  Portugal  vsarão,  escolhendo 
para  Esmoleres  mores  os  Abbades  de  Al- 
cobaça na  forma  que  dizemos,  entendo 
eu  que  ordenarão  também  os  Reys  de 
Aragão  fossem  seus  Esmoleres  mores  os 
Abbades  do  insigne  Conuento  de  Poblet 
da  nossa  Ordem,  situado  no  Principado 
da  Catalunha.»  Monarchia  Lusitana,  liv. 
5,  cap.  17. 


Os  soberbos  Gueldreses  vio,  que  as  agoas 
Do  cristalliuo  Rim  bebem  contino, 
Holanda,  e  a  Brauantc  vio  na  boca 
Deste  famoso  rio  situadas, 
E  vio  a  rica  Frandes. . . 

COBTE  BEAL,  NAUFRÁGIO  DE  SEPÚLVEDA,   Cant.   2. 

—  «Pois  o  cavalleiro  do  Tigre,  diz  a 
historia  que  apartado  de  Selvião  andou 
tanto  que  chegou  a  uma  vilJa  pequena 
situada  na  costa  do  mar,  onde  fretou  uma 
galé  de  Venezianos,  que  estava  esperan- 
do frete  havia  dias.»  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  de  Inglaterra,  cap.  115. 
—  oE  pelo  mesmo  modo  outro  rio  peque- 
no que  verte  do  Gate  pêra  o  Ponente,  ao 


qual  chamão  Aliga  onde  está  situada  a 
furtaleza  Sintacora  que  sae  defronte  da 
ilha  Anchediua  em  altura  de  quatorze 
grãos  e  três  quartos.»  Barros,  Deca- . 
da  1,  liv.  9,  cap.  1.  —  «Esta  nossa  de 
Malaca  parece  que  houve  este  epitheto 
de  Áurea  por  razão  do  muito  ouro  que  se 
traz  de  Monancíibo,  e  Barros,  que  são 
duas  Comarcas  onde  se  elle  tira  na  Ilha 
Çamatra,  que  he  a  própria  a  que  os  anti- 
gos chamam  Chersonezo,  cuidando  ser 
contínua  a  outra  terra  firme,  em  que 
ora  está  situada  Malaca.»  Idem,  Dé- 
cada 2,  liv.  6,  cap.  1.  —  «Senão  década 
cousa  destas  por  sy  ha  duzentas  tre- 
zentas embarcações,  principalmente  nos 
chandeus  e  feyras  que  se  fazem  nos  dias 
dos  seus  pagodes,  em  que  tudo  he  franco 
pelo  grande  concurso  de  gente  que  nellas 
se  ajunta,  e  as  casas  destes  pagodes  todas 
ou  a  mayor  parte  delias  estão  situadas  á 
borda  do  rio  paraque  o  carreto  das  cou- 
sas fique  menos  trabalhoso,  e  ellas  fiquem 
mais  nobres  e  mais  abastadas.»  Fernão 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.  98. 
—  «E  após  isso  pelo  muyto  proveito  que 
dahy  pode  tirar,  queyra  intentar  a  cõ- 
quista  desta  ilha,  saiba  por  onde  ha  de 
pôr  os  peis,  e  o  muyto  que  pôde  ganhar 
no  descobrimento  delia,  e  qHão  fácil  lhe 
será  conquistala.  Esta  ilha  Lequia  jaz  si- 
tuada em  vinte  e  nove  grãos,  tem  duzen- 
tas legoas  em  roda,  sessenta  de  cõprido, 
e  trinta  de  largo.»  Ibidem,  cap.  143. — 
«Com  tudo  posto  que  pêra  o  fazer  esti- 
vesse mui  debilitado,  determinou  despe- 
rar  el  Rei  de  Calecut,  e  lhe  dar  batalha, 
naqual  foi  desbaratado,  do  que  constran- 
gido se  passou  a  huma  ilha  que  se  cha- 
ma Vaipim,  situada  defronte  de  Cochim, 
leuando  consigo  todollos  Portuguezes  com 
a  fazenda  que  tinha  na  cidade,  sem  nun- 
ca os  de  sim  querer  apartar,  nem  entre- 
gar a  el  Rei  de  Calecut.»  Damião  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1, 
cap.  73. —  «Está  a  villa  situada  em  uma 
eminência  cercada  de  campinas  dilatadas, 
abundantíssimas  d'agua,  sem  que  até  aqui 
se  resolvessem  a  comprar  os  da  villa  uma 
dúzia  de  vaccas  e  três  bois,  nem  a  expe- 
rimentar a  fertilidade  d'aquelles  largos 
campos.»  Bispo  do  Grão  Pará,  Memo- 
rias, publicadas  por  Camillo  Castello 
Branco,  pag.  191. 

-{-  SITTUAR,  V.  a.  Vid.  Situar.  —  «Na 
parte  mais  ellevada  se  sittua  a  sua  nobi- 
líssima fortalesa  ;  aonde  servem  de  vigias 
os  sentidos;  de  atalayas  os  olhos;  de  ban- 
deiras os  cabellos;  de  porta  a  boca;  e  de 
soldados  do  corpo  da  guarda,  os  dentes ; 
por  onde  se  introdusem  todos  os  soccor- 
ros,  e  viveres,  como  preciso  alimento  da- 
quella  vivente  Cidade.»  Braz  Luiz  de 
Abreu,  Portugal  medico,  pag.  5. 

SITUAR,  V.  a.  Assentar,   edificar. 

—  DispCu",  arrumar  geographicamente. 

SIZA,  s.  /.  Vid.  Sisa. 

SIZÃO,  s.  7)1.  Vid,  Sisão. 


L_. 


538 


SÓ 


SÓ 


SÓ 


SIZIRÃO,    s.  m.    Termo    rio    botânica, 
riíuita,  espécie  de  crvilliaca. 
SIZO,  s.  m.  Vid.  Siso. 

Ah!  gonhor,  quo  ouso  (:  o  sizo; 

todo  o  ai 

i"'  fortuna  tom  poríil 

r(uo  gc  acaba  nm  fumo  c  rizo. 

Pretendamos  principal. 

ANTÓNIO  PBESTEH,  AUTOS,  pag.  12. 

pois  põem  «ízo  om  garridice 
o  saber  em  parvoice, 
e  tamanho  (mu  tamanino, 
tanto  iMn  tanta  meniuico. 
IDIDK.M,  pag.  17.3. 


Olha,  80  sizo  tivera 
que  ))or  ti  se  niio  perdera, 
de.safiara-o  do  gizo. 
IBIDEM,  pag.  446. 


1.)  SÒ.  Abreviatura  da  prepo3Íç.~io  Sob. 

—  SÔ  pena;  sob  pena,   debaixo  d'oUa. 
2.)  SO,  (idv.  Por  baixo. 

—  A  SO  ;  a  baixo. 

—  De  SO ;  do  baixo,  cm  graduação. 
3.)  SÔ.    Em    vez    de  senhor.  —  Ah  sô 

■patife  !  —Sò  malcreado! 

4.)  SÓ,  (idj.  inv.  (Do  latim  solus). 
Desacompanhado,  sem  outra  cousa,  ou 
pessoa.  —  8  Conta  a  historia,  que  tanto 
andou  o  cavalleiro  do  Tigre  sem  acliar 
os  outros,  que  passou  gram  parte  do  dia. 
Neste  tempo  Filistor,  que  estava  em  sua 
cilada,  teve  novas  da  espia,  que  n'isso 
trazia,  como  a  dona  e  sua  filha  vinham 
acompanhadas  de  sós  quatro  cavai leiros.» 
Francisco  de  Jloraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  10.õ.  —  «O  principe  Boroldo 
o  riatir  lhe  tiveram  em  mero  a  que  fez 
a  Daliarte,  dizendo  que  fora  a  mais  justa 
e  melhor  empregada,  que  nunca  viram; 
porque  a  habitação  da  iliia  so  pêra  elle 
parecia  aparelhada."  Ibidem,  cap.  120. — 
«O  cavalleiro  do  Tigre  se  embarcou  cora 
Arjcntao  na  sua  fusta,  com  tenção  de  ir 
tomar  terra  firme,  onde  mais  perto  po- 
desse,  c  dalli  bo  tornar  Arjentao  ;l  sua 
governança;  c  pêra  ir  assim  só,  pediu 
licença  a  Beroldo  e  Platir,  dando  por 
escusa,  que  tinha  uma  aventura  porá 
passar,  que  de  necessidade  havir  de  ir 
só,  o  parecer  a  prazo  sinalado.»  Ibidem. 

—  «EÍroi  SO  pôz  a  uma  janella,  e  vendo 
o  cavalleiro  jií  no  campo,  cercado  de  tan- 
tas donzellas,  chamou  a  rainha,  dizendo  : 
Vinde,  senhora,  vêr  a  maior  novidade  e 
a  mais  estranha  aventura  do  mundo,  que 
nunca  vi  quem  com  a  companhia  d'uma 
só  mulher,  que  costuma  muitos  dias,  não 
affroutc  logo,  o  aquelle  cavalleiro  parece- 
me  que  o  que  aos  outros  enfastia,  a  elle 
contenta.»  Ibidem,  cap.  123.  —  «  Esta 
foi  a  mais  nova  cousa  do  mundo,  disse 
olrei,  quo  o  natural  de  todos  é  fugirem 
d'uma  só  mulher,  se  a  tratam  muitos 
dias,  e  pêra  sua  condição  p.arece  aquel- 
las  são  poucas.  E  dando  licença  aos  seus 


cavallciros  se  foi  cada  um  A  sua  pousa- 
da, contentos  d.'i.s  novas  que  acharam  na 
corte  d:i  valentia  do  cavalleiro  das  don- 
zellas; porque  quanto  suas  obríw  maiores 
pareciam,  tanto  mono^  injuriados  fica- 
vam do  Hcr  vencido.s  delle.»  Ibidem,  cap. 
120. 


Km  hum  mal  outro  comera. 
Que  nunca  vem  nó  nenhum; 
K  o  triste  que  tem  hum, 
A  solTrer  outro  se  otVroça  ; 
K  8(5  polo  ter  conheça, 
Que  basta  hum  s'i  que  tenha. 
Para  que  outro  lhe  veuha. 

CAM.,  CARTA  2. 


nestes  dias,  quo  reyuou, 
tudo  mandou,  gouernou 
dom  loam  manoel  soo, 
que  se  desfez  como  poo, 
no  que  era  se  tornou. 

GARCIA  nr,  RRZF.NDE,  HISCELLAICEA. 

Ilura  ."O  mao  official, 
que  ha  em  huma  cidade, 
de.^tnie  ha  comunidade : 
vede  bem  se  faram  mal 
muytos  doâta  qualidade. 

IBIDEM. 


— « Onde  acabou  de  carregar  a  em- 
barcação da  mercadaria  em  que  tratava, 
quo  como  ja  disse,  craõ  ovas  de  sáveis, 
os  quais  nestes  rios  saõ  tantos  cm  tanta 
quantidade,  que  lhe  não  aproveitão  mais 
que  sós  as  ovas  das  fêmeas,  de  que  car- 
regai) todos  03  annos  passante  de  duas 
mil  embarcações,  e  cada  embarcação  le- 
va cento  e  cinquenta,  duzentas  jarras,  e 
cada  jarra  hum  milheyro,  por  ser  impos- 
sivel  podersc  aproveitar  o  mais.»  Fernão 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.  25. 
—  «Em  quo  averia  duzentas  e  vinte  e 
cinco  vellas,  do  que  sós  as  oitenta  e  trcs 
erão  de  alto  bordo  entre  nãos  o  G aleijes 
e  Caravellas,  e  as  mais  eraõ  Galés,  e 
bargantins  e  fustas,  em  que  se  affirmava 
que  irião  dez  mil  homens  limpos,  e  trin- 
ta mil  de  chusma,  e  do  serviço  da  ma- 
rcação, c  escravaria  Christam.»  Ibidem, 
cap.  12.  —  «E  como  ao  outro  dia  foy  me- 
nham  se  partirão  para  huma  villa  que  so 
dezia  Lindau  panoo,  onde  forão  bem  aga- 
salhados do  Capitão  delia  que  era  paren- 
te do  embaixador  da  Cauchenchina,  o 
qual  avia  sós  cinco  dias  que  chegara  de 
Fanaugrem  onde  el  Rey  ficava,  que  era 
ainda  daly  quinze  legoas.»  Ibidem,  cap. 
120.  —  «Éstc  (íonçalo  Falcão  quiçá  pa- 
reccndolhe  que  por  aquy  se  eontirmaria 
na  graça  do  Rey  do  Bramaa,  jmra  quem 
no  cerco  se  tinha  passado,  deixando  o 
Chaubainhaa  a  quem  antes  servia,  pas- 
sados sós  três  dias  depois  da  partida  dei 
Rey  SC  foy  a  este  seu  Governador,  e  lhe 
disse  que  era  cu  aly  vindo  com  huma 
embaixada  do  Capitão  de  Malaca  para  o 
Chaubainhaa.»  Ibidem,  cap.  153. —  «Sur- 
tas has  nãos  vieraõ  cem  homens  em  huma 


grande  almadia  a  bordo  da  capitania,  tob- 
tidoH  á  turqcHqua,  com  terça/los,  o  eecu- 
dfiH,  entre  o»  quaes  vinhaij  quatro  quo 
))areciars  ho.H  pri;:cipao.s,  que  cm  chegan- 
do quiseraõ  subir  á  nao,  assi  armados 
quomo  estauaõ,  com  alguns  da  compa- 
nhia, ho  que  lhes  Vasquo  da  í!ama  nai5 
consentio,  se  naò  que  elles  sós,  e  «em 
armas  entnissem  na  nao.»  I)aiiii3o  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1, 
cap.  37.  —  «E  assi  se  acaijou  de  todo  a 
execuçam  desta  batallia,  que  durou  des- 
no  meo  dia  ate  noite,  cm  que  raorrerai) 
dos  imigos  mais  de  três  mil  afora  os  Ma- 
maluquos  que  de  oitocento.s  que  eram, 
SOS  xxij  escaparam  de  serem  mortos,  ou 
captiuos,  e  Mirhocem  com '  medo  que  o 
entregasse  Miliquiaz  ao  Vice-rci,  se  aco- 
Ihco  logo  pela  i)oste  a  corte  dei  Rei  de 
Cambaia.»  Ibidem,   part.  2,  cap.  39. 


Flíbil  scena  magoa,  ao  pZ-rto,  c  ao  longe. 
Nadando,  os  líois,  c'o  susto,  os  Carros  tirão: 
Sós,  (i'tT&  da  água,  os  corno»  lhe  apparcccm. 
Semelhão  Rios,  que  o  tribuno  undo.ío 
Emb'5rcão  no  alto  pego.  Arrojão  Sálios, 
Ao  Mar  batéis  ;  cspancâo-nos  c'o«  remos. 

F.   li.   DO  NASCIMENTO.  OS    HARTIIES,  lÍT.  6. 


—  «As  orelhas  saõ  pequenas,  rodõdas, 
e  querem  parecer  cortadas :  o  naris  bay- 
xo  como  de  Gato  em  tanto  que  apenas 
se  farta  de  fôlego.  A  boca  larga  o  gran- 
de, e  o  queyxo  decima  cortado  pelo  meyo, 
e  nelle  sós  quatro  dentes,  que  saõ  aa 
prezas,  e  no  debayxo  todos  sem  lhe  fal- 
tar nenhum.»  Fr.  Gaspar  de  S.  Bernar- 
dino, Itinerário  da  índia,  cap.  17. 

—  Achar-se  um  só  com  sÓ  ;  achar -se 
sem  outrem  na  casa. 

—  Estai-  só  cValgium,  ou  str  só  d'al- 
guem ;  estar  desíicompanhado,  ser  como 
orphão  e  viuvo. 

—  Logarcs  sós  ;  legares  solitarioe,  er- 
mos, desertos. 

—  Único. 


Mas  porque  a  execução  desta  vontade 
Hum  só  momento  mais  não  se  dilate, 
Posembarcar  mandou  com  brevidade 
Pous  basiliscos  ja  para  o  combate, 
Cuja  horrenda  c  mortal  ferocidade 
Tudo  abraza,  destruo,  asíwla.  e  abate, 
Nom  são  3('s  estes  dous,  que  nesta  guerra 
Pi'ide  quantos  quizer  lançar  cm  torra. 

r.    D'ANnRADE,   FBIMCIBO  CEICO  DB  DID,  CSIlt.  15, 

est.  30. 


—  «Valho-me  sempre  das  cousas  natu- 
racs,  e  assombro-me  corto  n'e8te  caso, 
considerando  que  uma  só  gota  de  tinta 
que  caia  cm  um.i  redoma  de  agua  claris- 
sima,  b.ista,  e  sobeja  para  a  tornar  tur- 
va: e  que  para  aclarar,  e  deixar  limj 
uma  redoma  de  tinta,  não  basta  uma  pw 
pa  do  agua  clara.»  D.  Francisco  Mano 
de  jNIelh'.  Carta  de  guia  de  casados. 

5.)  SÓ,  s.    m.    I  Do  latim  folum).  Te 
mo  antiquado.  Solo,  chão,  terra. 


só 


só 


SOAL 


539 


6.)  SÓ,  adv.  (Do  latim  solum).  Somen- 
te, unicamente.  — «Porque  só  a  face  das 
paredes  de  fora  estava  composta  de  tan- 
tas galanterias  e  subtilezas,  esculpidas 
em  um  mármore  alvo  o  duro,  que  em  ce- 
ra mui  branda  parecia  difficil  poderem-se 
fazer.»  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
d'Inglaterra,  cap.  120. 


Soiilior,  V(5s  só  o  fizestes? 
Si,  que  niuguom  uic  ajudou. 
Sc  vós  só  o  conipuzcstcs, 
Crede,  quo  cxtremoís  dissestes. 
Nunca  Orlando  tal  fallou. 
Senhor,  fizestes-lhc  pé? 

CAM.,  AMriiTTBiuES,  act.  1,  SC  6. 


—  «E  mandou  assentar  em  huma  ca- 
deira a  mesa,  e  comeo  com  elle  so  pe- 
rante muytos  grandes  e  nobres  que  hy 
estauão  em  pe,  soo  por  ser  bom  caval- 
leiro.»  Garcia  de  Rezende,  Chronica  de 
D.  João  II,   cap.  144. 


Eis  logo  o  marinheiro  diligente 
Qu'isto  esperava  só,  isto  o  detinha. 
Levantando  do  mar  o  férreo  douto, 
Faz  a  vella  cahir,  que  presa  tinha ! 
Ja  o  vento  amigo  a  fere  bi-andamcnte, 
Ja  corta  a  proa  aguda  a  onda  marinha, 
Ar,  agua  o  terra  os  dous  hoje  apartava, 
Que  o  fogo  apesar  delles  ajuntava. 

F.  d'andrade,  primeiro  ckeco  db  DIU,  cant.  3, 
est.  105. 


E  se  de  ajuda  são  necessitados 
(Culpa  do  peso  so,  não  dos  meus  peitos) 
l)c  quem  devem  melhor  ser  ajudados 
Que  daqucllas  a  quem  elles  são  sujeitos  ? 
Tendo  os  seus  mesmos  peitos  esfori^ados 
Lhes  forão  qui(;á  sempre  pouco  acceito.s, 
E  30  agora  a  ajuda-los  so  moverão 
He  pela  honra  quiçá  que  disso  esperào. 
iDiDEU,  cant.  16,  est.  60. 

—  «Sò  na  ordem  de  trazer  as  Annas 
poseraò  maior  cuidado,  ordenando  que  só 
os  Chefes  tragaõ  as  Ai-mas  direitas,  que 
he  o  mesmo,  que  sem  differença ;  e  a  to- 
dos os  outros  íillios  segundos  se  lhes  põem 
alguma  poça  no  Escudo  para  ditfcrença.» 
Severira  de  Faria,  Noticias  de  Portugal, 
Disc.  3,  cap,  18. 

Eis  hi  que  me  chusa :  eu  duque  no  oéo, 
que  um  anjo  é  la  duquo,  e  só  por  na  mente 
a  prima  quebrar  no  anjo  luzente, 
a  pena  perpetua  caiu  o  deceu ; 
o  homem  vilão  que  v:l  penitente 
só  isto  me  emperra. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  4. 

Abramos  o  pranteemos 
depois. 

Só  acho  um  martelo 
e  mano  d'arêa. 
IBIDEM,  pag.  285. 

E  porque?  porque  sabia 
por  mui  certo  calandario 
que  este  amor  iutorsario 
só  nos  homens  rezcdia. 
iBiDEU,  pag.  333. 


—  «Qual  é  pois  o  meu  desejo?  Não  o 
sei.  Desejo  toda  a  minha  vida  amar-te, 
e  até  adorar-te.  Desejo,  a  ser  possível, 
que  me  ames  tu,  como  eu  te  amo.  Dese- 
jos táes  só  loucas  como  eu  os  podem  ter. 
Não  te  enoje  de  mim  o  vêr-me  em  tal 
loucura :  que  a  não  ser  por  ti,  por  ne- 
nhum outro  em  mim  coubera.»  Francis- 
co Manoel  do  Nascimento,  Successos  de 
madame  de  Seueterre. 


Em  quanto  os  brutos  animaes  só  fitão 
Debruçados  na  Terra  os  olhos  nella, 
Contem pladora  vista  aos  Ccos  levantào 
Só  por  mandado  do  Immortai  os  homens. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Caut.  1. 


Em  tão  doce  Estação,  Cantor  divino, 
Do  Tamisa  brazão,  do  Mundo  assombro, 
Qu'hc  só  menos  qu'fl-jtacio,  c  mais  que  todos, 
Prescntia  cahir  na  mente  excelsa 
Apolineo  calor  impetuoso. 


Só  deu  luxo  o  cubica  o  preço  ao  ouro  ; 
Em  si  mesma  he  frugal  a  Natureza. 
IBIDEM,  caut.  2. 

Hum  César,  só  no  vicio,  inda  fulmina 
Injusta  guerra;  bárbaros  triunfos. 
Que  a  perfídia  lhe  dá,  de  lucto  cobrem 
Triste  mãi,  triste  esposa,  e  filhos  tristes. 

IDEM,  MEDITAÇÃO,   CaUt.   2. 

O'  Vato  harmonioso,  ó  A^ate  egrégio. 
Eis  da  assombrosa  maquina  do  Mundo 
Essa,  que  chamas  mento  agitadora 
Que  á  Lua  incerta,  ao  luminar  do  dia. 
Ao  largo  campo,  ao  mar,  á  mólo  immcnsa 
Dá  vida,  e  movimento.  A  activa  força 
Só  tem  daquoUe  que  creára  o  fogo. 


Tudo  cm  ti  tinha  o  Mundo  ;  as  doutas  Musas 
Tiuhào  firmado  cm  ti  seu  Templo,  e  Throno. 
D'huui  Vate  acccita  o  pranto,  acceita  os  votos. 
Pois  o  Tejo  te  adora,  e  te  conhece : 
Entre  as  cultas  Nações,  tu  só  me  illustras. 
Nada  grande  sem  ti  no  Mundo  encontro. 

IDEM,    VIAGEM  EXTÁTICA,  Caut.    4. 

—  «SÓ  Hermengarda  abaixou  os  olhos, 
e  ajoelhou  com  as  mãos  erguidas  no 
meio  delles,  murmurando: — «Não  pos- 
so !  Abaudonae-me ! »  Alexandi-e  Hercu- 
lano, Eurico,  cap.  16. 


Bera  está.- — Ide,  meus  filhos  ; 
Ide,  que  Manlio  so  por  vós  espera 
Para  levantar  ánchora.  Adeus!  —  Marco 
Respeita  o  honrado  ancião.  —  Juba. . .  estremeces? 
Medo  não  é.  — Tu  coras.  Marco,  o  inflas 
Ao  mesmo  tempo  ?  —  Filhos  !... 

GARRETT,  CATÃO,  aCt.    5,   SC.   9. 


—  A^rto  SÓ;  correlativo  a  Mias.  —  «Por- 
que no  mesmo  tempo  Dauid  Coloyanes 
Emperador  Christào  da  Trapizonda,  teue 
da  Emperatriz  sua  molher  a  Princeza 
Despina  fermosissima  donzela,  não  só  em 
feyções,    e    excelentes    partes    naturaes, 


mais  ainda  em  todo  género  de  primores, 
e  virtudes.»  Fr.  TJaspar  do  vS.  Bernardi- 
no, Itinerário  da  índia,  cap.  21. — «Não 
só  he  verdade  quo  sou  Portuguez  pela 
graça  de  Deos,  porem  que  tenho  a  fortu- 
na de  ser  filho  de  Lisboa,  e  neto  de  hum 
Cano  chamado  por  Antonomásia,  ou  não 
sey  o  que,  o  Cano  real.»  Cavai leiro  de 
Oliveira,  Cartas,  liv.  3,  n.°  31. —  «Ar- 
mas, guerra,  victorias,  pôr  bandeiras  ini- 
migas, e  coroas  aos  pés,  são  de  hoje  por 
diante  as  obrigações  de  vossa  alteza,  e 
estas  as  minhas  esperanças.  Oh  como  aa 
estou  já  vendo  não  só  desempenhadas 
mas  gloriosamente  excedidas  ! »  Padre  An- 
tónio Vieira,  Cartas,  n.°  5. 

—  Só  iVelle;  d'ell3  único. 

—  Adágios  e  provérbios  : 

—  Bem  venhas,  se  vieres  só. 

—  O  marido,  antes  com  um  só  olho, 
que  com  um  filho. 

—  Melhor  é  estar  só,  quo  mal  acom- 
panhado. 

—  Só  me  aconselhei,  só  me  chorei. 

—  Sou  só  como  espargo  no  monte. 

—  Em  o  que  podes  só,  não  esperes  a 
outro. 

SOÃA,  ou  SOÃ,  s.  /.  Entrecosto  do 
porco  da  parte  do  espinhaço. 

SOABRIR,   V.  a.  Abrir  um  pouco. 

SOAÇAR,  V.  a.  Termo  antiquado.  Co- 
zer, assar  lentamente. 

SOADA,  s.  /.  Vid.  Toada  ria  cantiga. 
— ■  «Todos  juntamente  vinham  cantando 
a  três  vozes,  c'os  elmos  tirados,  um  vi- 
lancete  tão  entoado  e  duma  soada  mui 
galante  e  bem  composta.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  de  Inglaterra,  cap. 
109. 

—  Figuradamente:  Rumor,  fama,  bu- 
lha, estrondo. 

SOADO,  ijurt.  imss.  de  Soar.  Que  soou. 
■ —  Figuradamente :  De  que  se  falia  mui- 
to, fallado,  que  faz  grande  ruido. 

SOAGEM,  s.  f.  =  Significação  incerta. 

—  Vulgarmente  dá-se  este  nome  a  uma 
herva,  análoga  á  leituga  ou  alface  brava, 
que  comem  os  bois  e  os  porcos :  pertence 
ao  género  echium  de  Linneo  e  de  que  ha 
varias  espécies. 

SOALHA,  s.  /.  Chapinha  de  latão  en- 
fiada horisontalmente  nos  arames  do  pan- 
deiro, a  qual  ferindo  em  outra  se  faz  o 
som  agudo,  vibrando  o  pandeiro. 

—  Põr  soalhas  a  alguma  cousa;  fa- 
zer que  se  saiba,  publique  e  assoalhe. 

— ■  Termo  de  náutica.  Os  braços  da 
cruz  na  balestilha. 

SOALHADO,  [tart.  ijass.  de  Soalhar. 

—  Substantivamente  :  Sobrado  de  as- 
soalhar 08  navios. 

SOALHAR,  V.  a.  Vid.  Assoalhar. 

—  Fazer  soar  como  as  soalhas. 

• —  Soalhar  as  casas.  Vid.   Solhar. 

1.)  SOALHEIRO,  s.  m.  Sitio  onde  so 
vae  tomar  o  sol,  e  abrigar-se  ao  seu  ca- 
lor. —  «E  diz  quem  se  delia  não  conten- 
tar, querendo  outros  novos  acontecimen- 


540 


SOAR 


SOAR 


SOBA 


to3,  que  80  Vil  aos  soalheiros  dos  E3cu- 
deiroj  da  Oastanholra,  ou  ilc  AIIioj  Vc- 
dro3  o  li  iri-ijiro,  ou  oonvoi'.40  na  Rua  No- 
va cm  casa  do  líoticario;  o  iiDío  lhe  falta- 
rá quo  conte,  roróm  diz  o  Autor  que 
U30U  nesta  obt-a  da  maneira  de  Isopete. 
Ora  quauto  á  obra,  ao  nHo  parecer  bom 
a  todo.H,  o  Autor  diz  quo  entende  delia 
menos  ([uo  tolos  os  c|uc  lha  |nidercni 
emendar.»   Cauiries,   Seleuco. 

2.)  SOALHEIRO,  A,  alj.  Exposto  ao 
Boi. 

SOALHO,  s.  m.  Vid.  Solho. 

SOANTE,  part.  act.  do  Soar.  Que  sôa. 
—  «U  vós  c  franccz,  que  com  um  vous, 
recebeiTim  a  mesma  rainha  Sabá,  se  cá, 
tornara.  Teuho-o  por  demasiado  vulgar. 
O  clle,  e  dia,  um  — •  ouve  senhor  ?  Que 
diz  senhora?  ó  termo  bem  portuguez,  as- 
Sils  honesto,  e  bem  soante.»  Francisco 
Manoel  de  Mello,  Carta  de  guia  de  casa- 
dos. 

—  Assoante. 

SOÃO,  s.  7)1.  Vento  muito  calmoso  e 
abafado,  sem  viração;  vem  da  parte  on- 
de nasce  o  sol. 

—  Termo  antiquado.  O  nascente,  pon- 
to do  céo  opposto  ao  poente.  =  Querem 
alguns  que  seja  o  vento  do  norte. 

1.)  SOAR,  s.  m.  Termo  antiquado.  So- 
lar, não  cm  quanto  é  logar  ou  edifício, 
ou  terra  ou  castollo,  em  que  teve  o  seu 
principio  alguma  família  nobre  e  bem 
conhecida,  mas  sim  em  quanto  nos  mos- 
tra algum  território,  couto  ou  concelho, 
onde  alguém  executa  a  jurisdicção  ou  po- 
der que  o  soberano  lho  concede  sobro  os 
que  vivem  u'aqucllo  districto  com  leis, 
costumes  e  respectivos  foraes. 

2.)  SOAR,  V.  n.  iDo  latim  sonare).  Dar 
som,  produzil-o. —  'E  porque  de  noite 
qualquer  cousa  sôa  muito,  ouviu  aparta- 
do donde  elle  estava  queixar  um  homem 
com  palavras  tão  magoadas  e  tristes,  que 
era  multo  pêra  ter  dii  delle.  Desejando 
ouvil-o  de  mais  perto,  foi-so  contra  aquel- 
la  parte  onde  o  outro  estava.»  Francisco 
de  Moraes,  Palmeirim  d'Iaglaterra,  ca- 
pitulo 76. 

—  Retumbar. 


Mavioso  nomo  quo  tam  meigo  soas 
Noa  lusitanos  lábios,  não  sabido 
Uas  ovgulUosas  biiccaa  dos  Syeambros 
I)'C3tas  allunas  torras  —  Oh  Saudade  ! 


QABllETl',  CAMÕES,   Caut.    1,  Cap.    1. 


-  —  «Era  a  primeira  vez  que  a  sua  voz 
soava  no  meio  da  batalha,  e  a  única  pa- 
lavra que  lhe  saiu  da  boca  foi  o  nome  de 
Thcodemiro.  Esse  brado  devia  chegar 
longe,  reboando  como  o  trovão.»  A.  Her- 
culano, Eurico,  cap.  11. 

—  Ter  o  som  somente. 

—  Divulgar-se,  cspalhar-se,  correr  no- 
ticia.—  «Senhor,    disse  ella,  eu  sou  na- 


tural de3ta  terra,  c  teuho  algum  paren- 
tesco com  a  senhora  Miraguarda,  bc  Já  a 
ouvistes  numoar.  Sôa  tã)  luiigo  o  nome 
d'essa  senhora,  disso  o  das  donzelias,  que 
não  sei  onde  possa  ser  occulto.»  Francis- 
co de  Moraes,  Palmeirim  d'Iaglaterra, 
cap.  128. 

—  Cantar. 

—  Soar  dentro  n'alma ;  ponetral-a. 

— •  Soar  nos  ouvidos,  nas  oreUiaa  d'al- 
(jaeiíi;  caegar-lhe  aos  ouvidos.  —  «Nào 
foram  estas  palavras  tào  baixas,  que  dei- 
xassem do  soar  nos  ouvidos  de  Miraguar- 
da e  do  seu  cavalleiro;  e  posto  que  a 
ella  parecessem  de  homem  sem  amor  e 
sem  fé,  a  elle  pareceram  do  pessoa  livre, 
e  em  quem  o  amor  teria  pouca  parte  pêra 
lhe  fazei-  bem  nem  mal.»  Francisco  de 
Moraos,  Palmeirim  d'Iuglaterra,  cap.  127. 
—  «Ni)3,  soaadonos  isto  bem  nas  orelhas, 
lhe  dissemos,  senhores  irmãos,  ja  que  cm 
tudo  usais  virtude  em  vosso  ofiicio,  vos 
pedimos  muyto  que  nos  digais,  qual  foy 
a  causa  porque  vos  escãdalizastes  tanto 
de  vos  pedirmos  huma  cousa  que  uos  a 
nós  parecia  ser  tão  justa  e  tão  necessá- 
ria ao  nosso  desemparo,  quanto  vós  es- 
tays  vendo?»  Fernão  Jlendes  Pinto,  Pe- 
regrinações, cap.  102.  —  d  Em  quanto 
estas  cousas  passauão,  não  estaua  Ismael 
ocioso,  antes  com  hum  animo  inuoiiciuel 
andaua  arrazando  Cidades,  vencendo  cò- 
trarios,  ganhando  bãdeyras,  e  fazendo 
outros  feitos  dignos  de  seu  generoso  ani- 
mo, cujas  victorias  soãdo  nas  orelhas  de 
Thechel;  propôs  verse  comelle.»  Frei 
(raspar  de  S.  Bernardino,  Itinerário  da 
ludia,  cap.  21.  —  «E  donde  mereci  eu 
que  a  mãy  de  meu  Senhor  me  viesse  a 
visitar?  Ex  aqui  verJadeyramente  tãto 
que  a  voz  de  tua  saluação  soou  em  mi- 
nhas orelhas,  logo  o  minino  que  no  ven- 
tre trago  deu  saltos  cij  prazer.  E  ben 
auentiu'ada  os  tu  que  creste  a  embaixada 
qu3  tè  o  Anjo  trouxe  da  parte  de  Deos: 
porque  tolallas  cousas  que  por  elle  te  fo- 
rão  ditas,  em  ti  serão  compridas.»  Frei 
Bartholomeu  dos  Martyres,  Catecismo  da 
doutrina  christã. 

—  Representar  algum  som. 

—  Dar  a  entender,  e  de  alguma  ma- 
neira .significar. 

—  V.  a.  Tocar. 


FeadiMido  as  ondas  vai  a  aguda  proa 

Ufania  mostrando  em  tudo,  e  gosto, 

O  estandarte  de  varia  seda  voa 

Com  ordom  cm  legares  varioa  posto, 

O  tambor,  e  o  clarão  guerreiro  soa 

Com  mais  horrendo  som  que  bem  composto, 

Xa  popa  o  rico  toldo  roçagante 

Do  que  o  mar  he  também  partccipantc. 

FRANCISCO    d'aNDR\DE,    FRISIEIKO     CBKCO    DB    DIU, 

caut.  14,  est.  '2'2. 


Hora  acerba,  hora  terrível 
Que  nenhum  antevê,  a  todos  chega, 
E  .«0(1  como  a  tuba  derradeira. 
Q.Liiii&rr,  D.  uuaxoa,  cant.  10,  cap.  17. 


—  Dar  signal,  jirovas  evidentes  e  ob- 
vias. 

—  Cantar,  celebrar. 

—  Soar  caridwle;  prégal-a. 

—  Soar-se,  v.   rejl.  Haver  novas. 

—  Dizer-se,  divulgar-se,  contar-nc,  re- 
ferir-se. 

—  AdAOIO-S  E  PBOVEUIilOS: 

—  A  panella  em  soar,  e  o  homem  em 
iallar. 

—  A  mulher  boa,  prata  he,  que  muito 
sôa. 

—  Na  aldeia,  que  nSo  he  boa,  maÍ8 
mal  ha,  que  sôa. 

—  Não  ha  agua  maia  perigosa,  que  a 
que  não  sôa. 

—  O  bem  sôa,  e  o  mal  vóa. 

—  Casar,  casar,  sôa  bem,  e  uab';  mal. 
SOB,  prep.   (Do   latim    sub).  Debaixo. 

—  <iAs  Quaees  Leyx  vistas  per  nós,  con- 
sirando  á  cerca  delias  como  ElRey  Dom 
Joliam  meu  Avoo  de  gloriosa  memoria  em 
a  dita  sua  Ley  hordenou,  e  mandou,  que 
os  contrautos  dos  afforamentos,  e  arren- 
damentos nõ  fossem  feitos  per  ouro,  nem 
per  prata,  sob  certa  pena  em  ella  con- 
theuda.»  Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit.  2, 
§  18. 

E  pois  minha  vontade,  ordeno,  e  mando, 
iS'oÍ  pena  de  incorrer  no  desagrado 
Do  meu  Rc:il  Favor,  de  abrir  os  olhos 
Do  mundo  fascinado,  c  de  mostrar-lhc 
Que  nada  tem  de  real  vossaa  Pessoas. 
Dixiz  DA  cacz,  uTssoPE,  caut.  8. 

—  Christo  nasceu  sob  o  império  de 
Octaviano  César  Augusto;  nAâceu  quan- 
do elle  imperava. 

—  Christo  padeceu  sob  o  poder  de  Pon- 
do Pilatos;  padeceu  debaixo  do  governo 
de  Poncio  Pilatos. 

—  Usa-se  também  na  composição  de 
alguns  termos,  taes  como  sobceáer,  sob- 
color,  etc. 

—  Vid.  Sub. 

—  Ad.VGIO  K  PUOVERBIO  : 

—  Sob  a  sombra  da  nogueira,  não  te 
deites  a  dormir. 

SOBACO,  s.  m.  A  cova  debaixo  do 
braço,  onde  elle  se  une  ao  hombro.  — 
«Porque  huma  das  cegueyras  que  estes 
miseráveis  tem,  he  terem  pêra  si,  que  de 
cada  cousa  por  sy  ha  hum  Deos  particu- 
lar que  a  fez,  e  lhe  cõserva  seu  ser  na- 
tural, mas  que  este  Bigay  potim  os  pario 
a  todos  pelos  sobacos,  e  dcllc,  como  do 
pay  recebem  o  ser  por  hnraa  união  filial 
a  que  cllcs  ch.imão  Bijaporentesav.  » 
Feriiiio  Mendes  Pinto,  Peregrinações, 
cap.  IH). 

SOBALÇAR,   r.  a.  Alçar,  acclamar. 

SOBARBA,  s.  /.  Termo  antiquado.  Pe- 
ça do  chapéo,  ou  toucado,  que  ata  por 
baixo  da  barba. 

SOBARBADA,  .«.  /.  Termo  antiquado. 
Pancada  uu  golpe  debaixo  da  barba. 

—  Termo  de    cavallaria.    Barbella  de 


SOBE 


SOBE 


SOBE 


541 


corda,  ou  atilho,  que  se  coUoca  na  bar- 
ba do  cavallo. 

SOBARRENDAR,  v.  a.  Arrendar  a  ou- 
tro o  que  já  se  tomou  de  renda  a  al- 
guém. 

SOBCEDER,  V.  n.  Vid.  Succeder.  — 
«Acabadas  esta?  guerras  veo  a  falecer  el 
Rei  Rodolpho  sem  deixar  herdeiro  que 
direitamente  podesse  sobceder  no  regiio, 
e  assi  ficou  o  reguo  de  Borgonha  devolu- 
to ao  Império,  viuendo  ainda  Ottho  Eni- 
perador  tio  de  Beraklo  que  lhe  contirmou 
a  gouernauça  da  terra  de  Vienois  que  lhe 
el  Rei  Ro  lolpho  dera. »  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  4,  cap.  71. 

—  «Morto  el  Rei  Bozom,  por  nam  ter  fi- 
lhos sobcedeo  no  regno  seu  irmam  Rodol- 
pho,  03  Genoeses  sabendo  que  Bozom  era 
morto  entraram  pellas  terras  de  Moriana, 
que  eram  dos  Reis  de  Borgonha,  com 
muita  gente  sua,  e  do  Conde  de  Piamen- 
te, e  do  Marques  de  Sus,  e  dos  de  Salu- 
ce.»  Ibidem.  —  «Ouue  este  Conde  Hum- 
bert  de  sua  molher  donna  Laurença  filha 
do  Conde  de  Veniça  hum  filho  per  nome 
Amedeu,  que  lhe  sobcedeo,  e  foi  segundo 
do  nome,  e  quarto  dos  condes  de  moria- 
na que  depois  da  morte  de  seu  pai  casou 
com  donna  Guigone.»  Ibidem. 

SOBCALCO,  s.  m.   Vid.  Socalco. 

SOBCOIXA,  s.  f.  =  Termo  usado  por 
Soropita. 

SOBCOLOR,  ou  SOBCOR,  loc.  adv.  De-' 
baixo   de  côr,  de  pretexto;  apparencia. 

—  «El  Rei  dom  Emanuel,  pelas  causas 
que  atras  appontei  determinou  de  se  ca- 
sar, pelo  que  sobcor  de  visitaçam,  man- 
dou Àluaro  da  costa  seu  camareiro,  pes- 
soa de  que  muito  confiaua,  a  dar  a  bem 
vinda  a  dom  Carlos  seu  primo,  Rei  de 
Castella,  Archeduque  Daustria,  e  senhor 
dos  estados  de  Flandres,  que  então  che- 
gara daquellas  partes  a  Hispanha.»  Da- 
mião de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  4,  cap.  33. 

SOBCRESTAR,   v.  a.  Vid.  Sequestrar. 
SOBEGIDÃO,   s.  f.  Demasia,    nimieda- 
de,  excesso,  abundância  supérflua. 

—  Insolência,   excesso  do  atrevimento. 

—  «A  este  tempo  o  cavalleiro  do  Dra- 
gão, estava  tão  envolto  em  ira,  que  a 
gram  sobegidão  delia  lhe  tornou  a  falia 
por  não  responder  como  quizera,  cousa 
que  ás  vezes  acontece  a  quem  a  teme 
d'alguma,  que  muito  sentem,  e  por  esta 
razão  alguns  cavalleiros  se  levantaram 
pêra  aceitar  a  batalha.  Porem  o  gigante 
Dramusiando  primeiro  que  todos  começou 
dizer.»  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
d'Inglaterra,  cap.  93. 

—  Falta  de  moderação  prudencial. 

—  Razões  excessivas,  de  reprehcnsão, 
6  descompostura,  que  diz  quem  não  tem 
direito,  ou  auctoridade  para  as  dizer. 

- —  Atrevimento. 

—  Figuradamente :  Demasia,  excesso 
de  quem  não  se  contém  nos  justos  ter- 
mos. 


f  SOBEGIDOM,  s.  vi.  Vid.  Sobegidão. 

SOBEGISSIMO,  A,  adj.  superl.  de  So- 
bejo. 

SOBEIRA,  s.  /.  Outra  ordem  de  telha, 
debaixo  da  beira  do  telhado,  para  suster 
a  superior. 

SOBEJADAMENTE,  adv.  (De  sobejado, 
com  o  suffixo  «mente»).  Sobejameute ; 
em  excesso,  demasiadamente. 

SOBEJADO,  part.  pass.  de  Sobejar. 

SOBEJAMENTE,  adv.  (De  sobejo,  com 
o  suffixo  « mente  !))•  De  modo  que  excede 
o  sufficiente;  nimiamente,  em  demasia, 
excessivamente. 

—  Syn.  :  Sobejamente,  muito.  Vid. 
Muito. 

SOBEJAR,  V.  n.  Sobrar,  ser  de  mais 
do  necessário  em  numero,  ou  quantidade 
qualquer.  —  «Ou  seja  descontado  o  valor 
da  dita  cousa,  que  assy  foi  emprestada 
ou  comprada,  segundo  o  valor  que  valia 
a  prata  ou  ouro  ao  tempo  do  dito  ape- 
nhamento,  qual  antes  o  Senhor  do  pe- 
nhor mais  quiser;  e  o  mais  ouro  ou  pra- 
ta, que  sobejar,  lhe  seja  entregue,  se- 
gundo o  modo  que  suso  dito  he.»  Ord. 
Affons.,  liv.  4,  tit.  1,  §  4. —  «Quanto 
he  o  jireço  que  foi  emprestado,  nom  aven- 
do  por  ello  outra  pena,  posto  que  em  cila 
encorresse ;  e  que  o  mais  ouro  ou  prata, 
que  assy  sobejar,  seja  costrangido  o  que 
tem  o  penhor,  que  o  entregue  aaquelle, 
que  o  apenhou.»  Ibidem,  §  39. —  «Agu- 
ça-se  o  desejo,  e  acrescenta-se  para  o  que 
lhe  coutam;  somos  amigos  do  que  nos  de- 
fendem, e  quanto  nos  falta  de  poder,  nos 
sobeja  a  vontade.»  D.  Joauna  da  Gama, 
Ditos  da  freira,  pag.  20.  — « E  toda  a 
gente  da  Corte,  e  da  Cidade,  que  estaua 
em  pe  antre  as  grades,  que  era  muyta, 
todos  comiam  do  que  se  tirana  das  me- 
sas, que  era  em  tanta  abondança,  que 
muyto  mais  era  o  que  sobejaua,  que  o 
que  se  comia,  e  por  isso  não  auia  pessoa 
que  deitasse  mão  de  cousa  alguma,  nem 
fizesse  mao  ensino,  e  também  poios  muy- 
tos  officiaes  que  nisso  traziam  tento,  e 
poUo  castigo  que  sabiam  que  auiam  de 
auer  se  o  fizessem,  e  mais  sobejando  tu- 
do a  todos. »  Garcia  de  Rezende,  Chro- 
nica de  D.  João  II,  cap.  123. 

Quo  a  Fortuna,  que  agora  te  sobeja, 
Te  dè  por  algum  meio  não  cuidado 
Qualquer  mal,  por  pequeno  que  ellc  seja. 

J.    X.    DE    MATTOS,   EIMAS. 

—  «Mudemos  de  estancia;  vamo-nos 
para  os  Armazéns  delRey,  onde  naõ  ha 
gatos,  e  sobejaõ  bastimento,  biscouto  ar- 
redo, queijos  a  fartar,  chacinas  de  toda 
a  sorte :  e  onde  muitos  homens  de  bem 
achaõ  seu  remédio,  sem  lhes  custar  mais 
que  tomallo;  também  nós  o  acharemos, 
que  nos  contentamos  com  menos.»  Arte 
de  furtar,  cap.  29. 

— ■  O  que  sobejar  da  dita  quantia; 
o  que  sobrar  d'ella. 


—  Superar,  exceder. 

Não  foi  a  falta  cntâo  do  peito  ousado. 
Que  cm  todos  a  ousadia  então  sobeja, 
Mas  como  menos  vai  acautelado 
Do  quo  em  tão  árduo  feito  se  deseja. 
Não  vai  tão  encubtírto,  e  tão  calado 
Que  não  o  sinta  o  imigo,  e  não  o  veja, 
E  quando  dellc  foi  accommettido 
Ja  sobre  aviso  estava,  e  prevenido. 

r.  d'andrade,  pbimeibo  oekco  de  Diu,cant.  17, 
cít.  27. 


—  Quando  a  fortuna  determinou  ano- 
jar-me,  foi  para  que  a  vida  sobejasse  « 
dor;  foi  para  quo  não  me  restassem  dias 
de  vida  depois  da  dôr  passada. 

—  Adágios  e  provérbios  : 

—  As  mulheres  onde  estão,  sobejam, 
e  onde  não  estão,  faltam. 

—  A  quem  não  sobeja  pão,  não  crie 
cão. 

—  Quando  o  gosto  é  sobejo,  mais  cus- 
ta a  mecha,  que  o  sebo. 

—  Mais  vai  que  sobeje,  que  não  falte. 
SOBEJIDÃO,  s.f.  Vid.  Sobegidão. 
SOBEJISSIMO,    A,  adj.  superl.  de  So- 
bejo. 

1.)  SOBEJO,  A,  adj.  Nimio,  demasia- 
do, em  excesso,  que  excede  ao  necessá- 
rio; excessivo.  —  «Postos  nestas  angus- 
tias o  vento  que  como  touro  bramaua, 
dando  com  impetu  cruel  pelo  traquete 
nos  leuou  ambas  as  velas,  e  juntamente 
a  ceuadeyra,  tudo  feyto  em  pedaços,  dos 
quaes  muytos  se  arrestrauão  pelo  mar, 
outros  leuantados  nas  nuuens  estralando, 
foram  causa  de  se  formarem  tam  gran- 
des alaridos,  como  era  sobeja  a  rasão 
pêra  fazellos.»  Fr.  Gaspar  de  S.  Bernar- 
dino, Itinerário  da  índia,  cap.  3.  —  «Po- 
rem ao  nono  dia,  andando  com  aquelles 
enfadamentos,  tam  sobejos  que  o  mar 
tem  consigo,  mandamos  vigiar  ao  Gajey- 
ro  da  gauea,  e  depois  de  auer  hum  largo 
espaço,  que  nella  estaua,  começa  a  gri- 
tar, terra,  terra  de  Arábia,  por  proa. 
Festejamos  todos  esta  noua,  porque  com 
ella  nos  veo  entrando  o  terrenho,  com 
que  chegamos  bem  perto  delia.»  Ibidem, 
cap.  10.  —  «E  como  andava  com  sobeja 
desconfiança  do  negocio  das  galez  (que 
03  soldados  lhe  não  perdoarão  em  matra- 
cas que  de  noite  lhe  davaõ)  acabou  aquel- 
la  desgraça,  ou  desastre  de  o  desconfiar 
de  todo.»  Diogo  de  Couto,  Década  6,  liv. 
8,  cap.  12. 

Sei  tudo  — ■  e  tudo  ouvi  sobejas  vezes  ; 
Nem  posso  ouvi-lo  mais.  O  cou,  que  a  Roma 
Nos  pôs  columna  extrema  cm  seus  desastres. 
Não  quer  prantos  de  nós.  Valor,  constância, 
Virtude  são  os  únicos  remédios. 

GAERETT,   CATÃO,   act.    1,   SC    1. 

—  Atrevido,  audaz,  demasiado.  —  «E 
certo  que  em  fazer  pergunta.?  acerca  del- 
les,  trazia  ya  a  gente  enfadada;  e  posto 
que  os  de  milhor  juyzo  louuauão  a  cu- 


542 


SOBE 


SOBE 


SOBE 


riosidado,  com  tuJo  outros  achauâona  so- 
beja.» Fr.  <!;i.-<par  <lo  S.  JJernanliuo,  Iti- 
nerário da  índia,  eap.  22.  —  «NSio  tonlio 
([ue  dizor  luaiá,  o  antm  cuido  que  fui  so- 
bejo. Salvo  se  aL-rcsciíiitar  uni  aviso  do 
cousa,  com  quo  lia  muito  teuho  azar;  a 
qual  6  ver  a  uuias  mullicres  andar  sem- 
pre fazendo  fcsta.s,  pedindo-as,  proniet- 
tendo-as,  o  acccitando-as  com  o  pretexto 
que  oilas  querem.»  D.  Francisco  Manoel 
de  Mello,  Carta  de  guia  de  casados. 

—  FifíuraJanieiito:  A  sobeja  </<>. — 
iNem  mo  crimines  de  que  amo  vcr-te  a 
bra(;oa  com  a  de.->espera(;ào ;  ([uc  nào  tens 
tu  do  verter  uma  só  lagrima,  que  eu  nào 
auceie  do  enxugá-la ;  e  licide  sempre  a 
primeira  ser,  em  te  pedir  quo  briosamen- 
te supportes  o  transe  que,  por  sobeja 
dôr,  me  arrancará  a  vida.  Que  nào  hou- 
vera alii  para  mim  consolação,  se  eu  cre- 
ra, que  vim  ai>  mundo,  para  que  fosse 
tua  desconsolação  a  niiniia  ausência.  » 
Francisco  ]\Iauuel  «lo  Nascimento,  Suc- 
cessos  de  madame  de  Seneterre. 

—  Figuradamente:  Amur  sobejo. 

Menos  arde  o  Vesúvio  que  o  seu  peito, 
Menos  tem  quo  os  açus  olhos  agua  o  Tojo, 
Porém  em  fogo  o  em  agua  asâi  desfeito 
Não  torna  atraz,  mas  cresce  o  seu  desejo  •, 
Vc-so  agova  do  novo  mais  sujiito 
Áqucllc  seu  antigo  amor  sobejo. 
Porque  o  que  cm  sua  esposa  agora  entendo 
O  que  lho  sempre  teve  mais  acende. 

FUANCISCO  d'aNDK1DK,  rKIUKIRO  CCBSO  DE  DIU, 

cant.  9,  est.  57. 

—  Sobejo  no  andar,  no  fallar,  na  ani- 
mosidade, etc;  que  excede  o  justo  valor. 

2.)  SOBEJO,  s.  m.  O  que  resta,  o  que 
sobra. 

—  Aproveitar  os  sobejos  d'outrem;  o 
quo  elle  já  nào  quer,  os  restos,  as  so- 
bras. 

—  Loc.  ADV. :    Dá  sobejo ;  de  mais. 

—  Emproga-so  também  tiguradamente. 

f  SOBELÁ,  uu  SOBELLA.  Turase  adver- 
bial, poi  subre  a.  —  «Alem  disto  mandou, 
que  sobella  mesma  casa  se  posesse  huma 
bandeira  com  as  Armas  Reaes  de  Portugal, 
pêra  se  saber  que  a  tinha  dado  aos  Por- 
tugueses.» Dan\ião  de  (íoes,  Chronica  de 
D.  Manoel,  part.  1,  cap.  bS. —  «Mas  em 
todo  este  tempo  nam  quis  dom  loam  de 
Meneses  sair  a  estes,  sperando  que  deces- 
sem  mais  das  aldeãs,  a  qual  hora  acerta- 
ram de  vir  dous  caçadores  dar  sobella  ci- 
lada, pello  que  lhe  foi  forçado  descobrirse, 
e  correr  aos  que  ja  andauam  pello  cam- 
po, de  que  os  nossos  mataram  muitos,  e 
captiuaram  sessenta  almas,  e  trouxeram 
muito  gado  gi-osso.»  Ibidem,  cap.  84. 
—  «Pelo  que  no  mesmo  instante  man- 
dou sobella  fortiileza  Danchediua,  huma 
armada  ilo  obra  de  sessentji  nauios  de  re- 
mo, da  qual  ora  capitam  hum  Português 
arrenegado,  por  nomo  António  Fernan- 
dez  carpinteiro  de  uaos,  que  se  entaõ  cha- 
maua  Abedella,   que  foi  hum  dos  degra- 


dados quo  Icuara  a  Pcdralurez  cabral,  u 
deixara  cm  Qurloa,  ilondo  viera  ter  a  es- 
tas jjartes,  per  cujo  couscllío  o  Cabalo  fez 
esta  armada,  prometendoiiic  que  se  to- 
masse a  furtaleza  Danchediua,  lhe  daria 
a  (Jintacurà.v  Ibidem,  part.  2,  ca[i.  12. 
—  «Acabadas  estas  cousiis  ouue  algumas 
diferenças  entre  (iarcia  de  Mello,  e  Dio- 
go Dazambuja,  sobela  ordem  que  se  po- 
ria no  gouurno  da  cidade:  no  que  se  nau 
podendo  concertar,  (i areia  de  Mello  se 
veo  pêra  o  rcgno,  ficíindo  ahi  (ionçalo 
Mendez  Çacoto  com  os  seus  quatro  na- 
uios.» Ibidem,  cap.  18.  —  «E  foi  tama- 
nha a  desordem,  o  medo  dos  imigos,  que 
em  fogindo  tirauam  tam  sem  tento  com 
as  frechas  que  se  matauaò  muitos  huiis 
aos  outros,  do3  quaes  corpos  morto.s,  que 
per  espaço  de  três  dias  andaram  sobela 
agoa,  recolherão  os  nossos  hum  grande 
despojo.»  Ibidem,  cap.  33.  —  «Esta  pe- 
leja durou  ate  horas  de  meio  dia,  andan- 
do ja  os  nossos  tào  cansados,  que  deter- 
minou Afonso  dalbuquerque  de  se  reco- 
lher a  frota,  pêra  depois  tornar  sobela 
cidade,  milhor  apercebido  do  que  entam 
uiera.i>  Ibidem,  part.  3,  cap.  18. 

f  SOBELO.  Phrase  adverbial,  em  vez 
de  !oòre  o. 

— Sobelo  mar.  —  «Andando  assi  occu- 
pado  lhe  dixerani  que  os  mouros  tinhào 
dito  a  el  Rei  de  Calecut  que  elle  nam 
podia  estar  muito  no  passo  do  vao,  pelo 
que  pêra  el  Rei  saber  quam  de  vagar  es- 
taua,  mandou  em  huma  ponta  sobelo  rio 
fazer  liumas  casas,  e  ao  redor  delias  abrir 
huma  grande  cana  chea  dagoa,  com  que 
ticaua  como  illia.»  Damião  de  Góes,  Chro- 
nica de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  90. — 
uCom  tudo  Lopo  suarez  mandou  a  dom 
Afonso  de  ineneses,  e  a  Deaiz  Feriiandez 
de  melo  que  fossem  sondar  o  canal,  ate 
o  surgidouro,  e  acharam  que  posto  que 
as  gales  poJessem  entrar,  que  o  canal  ja- 
zia de  sorte  que  auiam  sempre  de  ficar 
com  o  costado  no  rosto  da  artelharia  dos 
imigos,  sem  se  poderem  ajudar  da  sua  so- 
belo que  ouue  conselho.»  Ibidem,  part.  4, 
cap.  13.  —  II Que  regnou  vinte,  e  seis  ân- 
uos, o  teue  grandes  guerras  com  o  Em- 
perador  Anrrique  terceiro,  as  quaes  aca- 
badas, casou  huma  sua  filha  única  her- 
deira, per  nome  Idaim  com  Eustacio  Con- 
de Bolonha  sobelo  mar  ein  França,  e  lhes 
deu  logo  em  casamento  o  Condado  de  Bu- 
lhou.» Ibidem,  cap.  72.  —  «Teuo  gran- 
des inteligências  sobelo  modo  "que  po- 
deria ter  pcra  tomar  Tetuam,  e  fazer 
nolle  huma  fortaleza,  no  que  alem  das 
diligencias  que  mandou  fazer  per  dom 
Pedro  mascarcnhas.»  Ibidem,  cap.  85. 

f  SOBEMENDA,  loc.  a<lr.  Salvo  o  vos- 
so dictame,  a  vossa  satisfaçiio,  sem  pre- 
juízo de  quem    melhor  sentir. 

SOBENTENDER.  Vid.  Subentender. 

SOBERANAMENTE,  <i./i-.  (Do  soberano, 
e  o  sutlixo  omentei'1.  De  um  modo  sobe- 
rano, com  soberania. 


SOBERANIA,  *.  /.  O  caracter  do  que 
é  soberatio,  c  os  direitos  anuexos  a  ella. 

—  lm|ierio.>iidade,  altivez. 

—  Figuradamente :  Excellencia,  supe- 
rioridade. 

—  Syn.:  Soberania,  tuperiurid/uie.  Vid. 
este  ultiiiii)  Vocábulo. 

SOBERANISSIMO,  A,  aJj.  $uperl.  de 
Soberano.  -Mui  soberano. 

SOBEKANIZADO,  pari.  pasi.  de  Sobe- 
ranizar.  Tornado  soberano,  elevado  á  so- 
beraiiia. 

SOBERANIZAR,  ou  SOBERANISAR,  v.  a. 
Tornar  soberano. 

—  Portar-se  como  soberano,  e  mand&r 
como  tal. 

—  Figuradamente:  Exaltar,  engrande- 
cer. 

SOBERANO,  A,  adj.  Independente  de 
outra  potencia  humana. 

—  Excelso,  supremo.  —  «Compunha-se 
de  oito  grandes  náos,  cuja  Capitania  era 
S.  Francisco  de  Assis  chamada  por  anto- 
nomazia  o  Monte  de  ouro,  digna  verda- 
deiramente de  taô  soberano  hospede, 
porque  nella  competia  a  grandeza  com  o 
primor.»  Fr.  Bernardo  de  Brito,  Elogios 
dos  reis  de  Portugal,  continuados  ]>or 
D.  José  Barbosa. —  «E  ja  nào  sou  deata 
mal  afortunada  e  cativa  cidade,  te  faço 
saber  por  palavras  dit-is  da  minha  boca 
na  firmeza  fiel  de  minha  verdade,  que  eu 
me  rendo  desta  hora  para  sempre  por 
vassallo  e  súbdito  do  grande  Kev  Portu- 
guez,  senhor  soberano  de  meus  filhos  e 
meu,  com  reconhecença  de  parias,  e  de 
tributo  rico  qual  ordenar  a  sua  vontade.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações, 
cap.  148.  —  «Dizendo  em  vozes  muvto 
altas,  oução  e  vejào  as  gentes  do  mundo 
a  criminosa  justiça  que  manda  fazer  o 
Deos  vivo  Senhor  da  verdade  Rey  sobera- 
no das  nossas  cabeças,  que  quer  e  lhe  praz 
que  morrão  todas  cstiis  cento  e  quarenta 
mulheres  entregues  ao  elemento  do  ar, 
porque  por  seu  conselho  seus  maridos  e 
pavs  se  levãtarai)  cõ  esta  cidade,  e  mata- 
rão por  vezes  nella  doze  mil  Bramaas  do 
reyno  Tanguu.»  Ibidem,  cap.  151. 

Aquella  ardente  machina  batida 
Dos  Cielopas  na  fragoa  de  Vulcano, 
Com  grãa  forga  na  terra  despedida 
L.4  do  Celeste  Assento  Soitfrtmo. 
De  fort;a  humana  nunca  resistida 
Antes  traz  onde  chega  o  ultimo  dano, 
Nada  a  dotem  de  quanto  acha  diante 
O  mármore,  o  a<;o,  a  rocha,  o  diamante. 

r.    DB  AXDRADK,  rUKKIBO   CEBCO  DE  DIC,  CAOt. 

9,  oât.  20. 

—  «Dous  olhos  tem  V.  Mngestade  co- 
mo duas  Estrellas;  e  se  tivera  dons  mil 
cada  hum  como  o  Sol,  todos  teriào  bem 
que  ver,  e  que  vigiar  em  seu  Império; 
taõ  grande  na  exten.<aõ.  que  se  mede  com 
a  do  mundo;  e  taõ  alto.  e  soberano  na 
grandeza,  que  se  levjinta  até  o  Ceo.» 
Arte  de  furtar,  cap.  67. 


SOBE 


SOBE 


SOBE 


543 


Uns  a  brilhante  escolha  lhe  louvarão 
Dos  Synodacs  Theologos,  do  Arronches, 
Exímio  Prógador,  que  leo  inteiro 
O  Livi-o  dos  Conceitos  predicáveis, 
O  Zodíaco  mVrano.  e  outros  muitos. 
Que  na  Eschola  Capucha  estão  em  praça, 
Do  Guardião  dos  Capuchos,  do  Roquete, 
Thomista  petulante,  e  confiado, 
msiz  DA  cBCz,  HTssoPE,  caut.  7. 


Oh  Alusa,  vis  aonde  o  ser  humano 
Se  fez  de  eterna  graça  ^^va  fonte, 
Vós,  que  não  s<5  Estrella  do  Oceano, 
E  vord?  Plauta  sois  dExcelso  monte; 
Mas  lá  no  eterno  Empyrio  soberano 
Donde  não  ha  quem  as  grandezas  conte. 
De  Estrellas  coroada,  e  Sol  vestida, 
Sois  dos  Coros  Angélicos  servida. 

ROL.   DE  MOCHA,  NOV.  DO  HOM,,   CaUt.    1,  CSt.    2. 

Firma  o  Gama  seus  pés  na  ardente  arêa 
(Cego  acaso  não  foi ;  mas  Soberano, 
Eterno  aceno)  a  terra  balancèa, 
Sem  vento  se  entumece  o  vasto  Oceano : 
De  nuvens  n"hum  momento  o  ar  se  arrêa. 
Portentosos  signaes  de  eterno  arcano, 
Com  que  patente  fez  Motor  Divino, 
D'A8Ía  a  queda  fatal,  d'Asia  o  destino, 
j.  A.  DP!  MACEDO,  O  ORIENTE,  cant.  9,   est.  28. 

Eis  só  de  hum  Vate  extático  o  sublimo, 
O  soberano  estudo,  se  levado 
Vai  nas  azas  do  aceezo  enthusiasmo. 
Para  que  era  sentir  n'alma  entranhado 
Dos  vates  do  Jordão  sagrado  fogo. 
Se  dos  Entes  á  fonte  iramcnsa,  eterna, 
Ao  som  d  Harpa  celeste  cu  não  subira? 

IDEM,  MEDITAÇÃO,  Caut.    4. 

—  Excellente. 


Nymphas,  por  quem  Castella  so  abre  c  corra ; 
Vós  que  fazeis  á  morto  mil  enganos, 
Concedei-me  ja  alentos  soberanos 
Para  que  diga  o  mal  que  Amor  encerra. 
CAM.,  S0SET03,  n."  178. 

Vedes  ahi  vosso  engano 
de  los  mas  lindos  q>ie  yo  vi ; 
não  tendes  por  soberano 
matar-vos  Valenciano 
chapim  do  Valhadoli. 

ASTOHIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  113. 

Bem  soberanos 
lavraste  os  italianos. 
Dir-vos-hei  á  puridade 
o  por  que,  por  gentis  canos, 
Portuguez  soj'a  a  ser 
que  sua  rodo 

de  linguagem  essa  parede 
fallava  por  oras,  ayer, 
que  mais,  por  sabei,  sabede. 
iBrDEM,  pag.  53.^ 

—  Altivo. 

—  O  Soberano  Artífice;  Deuí?,    a  su- 
prema magestade. 

Do  Soberano  Artifico  foi  esto 

Corpo  de  Luz  a  mais  formosa,  o  bella 

Que  visíveis  nos  são,  das  obras  suas. 

J.   A.    DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  CaUt.    3. 

Tu,  Soberano  Artifico,  só  podes 
Suster,  dar  moto  ao  barro  organisado 


Som  que  o  ligeiro  assopro  da  existência 
Nascendo  se  dissipe,  o  desvaneça  ! 
Mas  a  estructura,  a  força,  o  officio,  o  termo. 
Nesta,  que  eu  vejo,  máquina  corpórea. 
Quando  se  forma,  e  vive,  e  quando  acaba, 
He  nos  soros  orgânicos  o  mesmo. 

IDEM,  MEDITAÇÃO,  Cant.   1. 

—  O  Soberano  Architector  de  tudo; 
Deus,  a  Omnipotência  divina. 

Eu  consagro  meu  Canto  a  ti  somente, 
Oh  Soberano  Architector  de  Tudo  ; 
São  tuas  as  Canções,  que  tu  me  inspiras, 
Scjào  dignas  de  ti,  e  eternas  scjào. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Caut.  1. 

—  Usa-se  também  substantivamente  : 
O  meu  soberano;  o  meu  rei. 

—  Um  soberano;  uma  libra. 

— •  Syx.  :  Soberano,  summo.  Vid.  este 
ultimo  termo. 

SOBERBA,  s.  /.  (Do  latim  superhia). 
Elevação,  altura  da  cousa  que  fica  supe- 
rior a  outra. 

—  Figuradamente :  Orgulho,  arrogân- 
cia, altivez,  presumpção,  ufania. 


La  no  Thvrreno  mar,  hum  sitio  estéril : 
Espantoso  se  ve,  de  ondas  cercado. 
Onde  a  fera  Eaunusia  vingadora 
Tem  sua  habitação,  e  assento  esquiuo. 
Que  desde  aquelle  tempo  em  que  a  soberba 
Dos  que  guerra  ao  grão  lupitcr  mouorào 
Ficou  cora  tal  castigo,  qual  oonuinha 
Ao  intento  atreuido  e  temerário. 

nOBTK  REAL,  NAUFRÁGIO  DE  SEPÚLVEDA,  Cant.  2. 


o  mancebo  animoso  que  do  illustrc 
Antigo,  e  nobre  sangue  descendia 
Dos  generosos  Sás,  vendo  hum  daquelles 
Que  mais  soberba  inostrào,  e  ousadia. 
Que  dobi-ando  cõ  força  immensa  hum  arco 
Ncrnoso,  grosso,  e  forte  despendido 
Tinlia  luim  mote  de  agudas  mortaes  frechas 
Causando  muito  mal  aos  desarmados. 
IBIDEM,  cant.  9. 


—  <iDe  sorte  que  com  estas  vitorias 
crescia  sua  soberba  e  ufania  mui  alta- 
mente :  e  tanto  o  favoreceu  a  fortuna  e 
a  dita  pêra  mais  sua  honra,  que  todos 
estes  homens  foram  derribados  de  um  só 
encontro.»  Francisco  de  Moraes,  Palmei- 
rim d'Inglaterra,  cap.  83.  —  «Que  estes 
sejam  os  tempos,  em  que  vo.5  mais  dese- 
jo servir  ou  parecer  bem;  n'outros  que- 
ria que  vos  lembrásseis  de  mim,  que  pêra 
vencer  monstros  da  natureza,  basta  o 
merecimento  de  sua  soberba  e  a  fraca 
razão  de  sua  empreza.»  Ibidem,  cap.  94. 
—  «Os  gigantes  se  pozeram  a  uma  parte 
do  campo,  Dramusiando  com  seus  com- 
panheiros a  outra.  Barrocante,  que  se 
viu  a  si  e  aos  seus  tão  chegados  ao  fim 
e  a  esperança  perdida,   occupado    de   ira 

e    soberba,  começou    dizer.»    Ibidem.  

«A  donzella  eu  ta  defenderei,  e  quebrarei 
essa  soberba,  pêra  que  nunca  empeças 
a  outra  ;  e  pêra  que  com  melhor  vontade 


te  combatas  comigo;  sabe-te  que  eu  sou 
o  que  matei  a  Calfurnio  teu  irmào,  e  hon- 
tem  a  Bracolão,  e  agora  matarei  a  ti ; 
que  nem  tuas  forças  e  esforço  te  salva- 
rão, nem  menos  a  potencia  de  teus  deó- 
ses.»  Ibidem,  cap.  107. —  «E  inda  não 
creio  que  sua  força  só  bastasse  pêra  tan- 
to, senão  que  o  quizeram  assim  os  deoses 
pêra  castigar  suas  soberbas  e  tyrannias; 
e  por  isso  lhe  ficava  menos  culpa.»  Ibi- 
dem, cap.  115.  —  «Bem  vejo,  disse  o  gi- 
gante, que  do  acerto  do  encontro  te  nas- 
ce essa  soberba ;  porém  folgo  que  esta- 
mos em  lugar,  que  com  minha  espada 
satisfarei  meu  desejo  á  custa  do  teu  san- 
gue, rompendo  com  os  fios  delia  tuas 
carnes.»  Ibidem,  cap.  118.  —  «Primalião 
ficou  contente  do  que  seu  pai  respondeu, 
porque  n'elle  nenhuma  moderação  nem 
temperança  havia,  vendo  a  soberba  com 
que  as  palavras  destes  embaixadores  do 
Turco  vinham  sempre  misturadas.»  Ibi- 
dem, cap.  122.  —  «Bem  sei,  disse  o  ou- 
tro, que  a  soberba  com  que  vosso  senhor 
aqui  entrou,  o  ensina  a  ter  tão  pouco 
cumprimento  com  quem  o  teve  com  elle, 
pois  agora  quero  vêr  se  Ih 'a  quebrarei 
deste  encontro.»  Ibidem,  cap.  123. — 
«Almoiu'ol,  que  viu  a  presumpção  do  ca- 
valleiro  estranho,  a  soberba  com  que  al- 
li  chegara,  e  sentia  a  vontade  de  Míra- 
guarda,  que  era  ver  alguma  contenda, 
lhe  disse:  Senhor  Florendos,  olhai  quem 
tendes  diante ;  fazei  o  que  haveis  de  fa- 
zer, que  a  senhora  Miraguarda  vos  olha, 
e  por  isso  se  detém.»  Ibidem,  cap.    126. 

—  «Poude-vos  senhor  a  cavallo  e  em 
tanto  deixai-me  a  mim  provar  se  as  obras 
deste  cavalleiro  dizem  com  a  soberba :  e 
ferindo  das  esporas  ao  seu  remetteu  a  el- 
le.» Ibidem,  cap.  127. — -«Porque  além 
daquelles  que  morreram  a  ferro,  começou 
a  terra  de  os  apalpar,  e  morriam  alguns 
dos  muitos  que  adoeciam :  e  pêra  mais 
confirmação  de  sua  soberba  per  vezes 
que  Aâ'onso  d'Alboquerque  o  mandou 
chamar,  elle,  nem  o  filho  nunca  quize- 
ram vir,  simulando  doença,  e  outras  cou- 
sas.»   Barros,   Década  2,   liv.   6,  cap.  7. 

—  «E  disseraõ  que  eu  o  fazia  por  sober- 
ba, e  por  desprezo  da  justiça,  pelo  qual 
logo  aly  em  publico  me  derão  muytoa 
açoutes  e  pingos  de  fogo  cõ  canudos  de 
lacre,  de  que  aly  fiquey  quasi  morto  de 
todo,  e  assi  estive  espaço  de  mais  vinte 
dias  em  que  ninguém  me  julgou  a  vida.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap. 
153. —  «Os  Pilotos  tenhão  muy  notauel 
vigia  não  vão  marrar  nella  como  acon- 
tesceo  à  nao  Madre  de  Deos,  no  anno  de 
1595,  da  qual  senão  saluarão  mais  que 
dezaseys  pessoas,  perecendo  as  demais, 
que  a  verdade  duas  cousas  saõ,  as  que 
lanção  nestes  nossos  calamitosos  tempos 
as  nãos  a  perder;  huma  sobeja  cõfiança, 
por  lhe  não  chamar  soberba  de  Piloto-, 
o  Mestres  ignorantes,  tam  amarrados  em 
suas  teymas,  e  opiniões,  que  não  ha   ra- 


544 


SOBE 


SOBE 


SOBE 


zíJoH  l)a-itaMtcs  pci-ca  tiraloi  ilfrlla-<.»  Frei 
fiaspar  rio  S.  IJcrnanlino,  Itinerário  da 
índia,  cap.  7. 


Ma»  nilo  Um  tardou  muito  o  dcBcngíino 
Com  quo  n  Bobníba  o  juHto  Ci-o  castiga  ; 
Cliogado  ao  baluarte  Lusitano 
Eis  do  lá  fliílta  luiin  ber(;o  a  fúria  imiga, 
A  Mahaiuud  liiioontra,  o  com  grão  dano 
Lhe  abato  a  natural  unhnrfia  antiga, 
E  faz  c\\ti:  alli  vencido  apparocesífo 
Onde  cuidou  (|uo  tudo  elle  voncesse. 

PBANOIHCO    na    ANnKADF.,    l-RIMKiaO   CRBCO  I>E  DIU, 

cant.  18,  eat.  i2. 


—  «A  Doosa  Venu8,  iniiiha  Senhora, 
he  muy  ociosa,  e  imiy  inalip:na.  O  seu 
mayor  rlivertimento  hc  hiimilbar  a  sober- 
ba (las  ferinosas,  eaptivando  iniiitaH  ve- 
803  a  beilesa  jI  (li^forraidado.ti  Oavalloiro 
d'01iveira,  Cartas,  liv.  3,  n."  10. 

Oh  !  soherha  mortal !  oh  cego  orgulho  ! 
Hum  coração  corrupto  oiTusca  a  monte. 
Indócil  ao  clamor  da  Natureza, 
Da  verdade  ao  clarão  dcjvia  oâ  olho3  ! 

J.    A.    DE  MACKDO,  MEDITAÇÃO,  Caut.   4. 

Oh  soberba  mortal,  oh  mãi  dos  crimes, 
Oa  olhos  de  Demócrito  vendaste, 
Quo  vio  correr  os  Átomos  no  vácuo, 
E  uiio  vio  seu  delírio,  ou  vio  seu  erro ! 

IBIDEM. 

—  Fazer  soberba  a  alguém ;  assober- 
bal-o. 

—  Figuradamoute:  Força  superior. 

Crcscem-lho  as  ondas,  crescc-lhc  a  soberba, 
Ho  já  rio  caudal,  tom  nome,  e  fama. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Cant.  2. 

—  Sys.  :  Soberba,  orgulho.  Vid.  este 
ultimo  termo. 

SOBERBAÇO,  A,  s.  c  a^lj.  Augmcnta- 
tivo  de  Soberbo. 

SOBERBAMENTE,  adv.  (De  soberbo, 
com  o  siiíBxo  omente»).  Do  um  modo  so- 
berbo. 

—  Com  soberi)a  natural. 
SOBERBÃO,   ONA,   wlj.    o  s.  Augmen- 

tativo  de  Soberbo.  (!rande  soberbo. 

SOBERBAR,   r.  a.  Vid.  Assoberbar. 

SOBERBETE,  adj.  2  gen.  Termo  popu- 
lar. Al^-inn  tanto  soberbo. 

SOBERBIA,  .V-.  /.  (Irando  soberba. 

SOBERBINHO,  A,  adj.  c  s.  Dlmimiti- 
vo  d(í  Soberbo.   Pcípiono  soberbo. 

SOBERBISSIMO,  A,  adj.  superl.  de  So- 
berbo. Muito  soberbo. 


Islândia,  os  mares  teus  são  tronco,  o  roino 
Da  enorme,  soberbissima  Halca  ; 
Rasga,  afronta,  revolve,  opprimc  as  ondas, 
PcUi  espantosa  bocca  o  mar  sorvendo. 

J.    A.    HE  M.^CKDO,  A  NATUREZA,  Cant.    3. 

—  Figura  lamente  :  O  soberbissimo 
Ptv/íí. —  II  Sentiu  eoin  extremo  o  sober- 
bissimo Pegú  aquolla  rebolliíío,  e  conhe- 


cendo as  forsas  de  seu  contrario,  convo- 
cou tanta  gente,  elefantes,  o  artelharia, 
quanta  era  neccísaria  para  huinilliar  taõ 
[loderoRO  inimigo.  l'or  (Jeneral  do  exer- 
cito fque  assolava  os  campos,  c  esgotta- 
va  o.H  i-ioH,  por  ondo  passava)  mandou  a 
seu  filho  mais  vcil  o,  de  cujo  valor  conce- 
bera grande  opiniaí',  acompanhado  do 
Reis,  o  servido  rios  melhores  ('apitPles  de 
seus  Estados.»  Conquista  do  Pegú,  cap.  2. 
SOBERBO,  A,  adj.  (D.j  latim  eupir- 
(just.  Altivo,  prosumpçoso,  arrogante,  or- 
gulhoso. 

Vão  toda»  attestada»  ãt:  tobe.rbna, 
Valentes  e  animosas  companias. 
Da  bellicosa  Armada  hc  Capitaina 
Iluma  vclo.x  galle  Real,  c  insigno, 
De  lustrosos  mancebos  arrayada. 
De  feros  corações  c  galhardia. 
Hum  coio  de  bollis.sinia»  Niircydas 
A  leuauão  polia  via  mais  segura. 

CORTE  BEÁLjNAUFBAOIO  DE  SEPÚLVEDA,  Cant.  13. 

E  tu,  mui  soberbo  lobo  podoro.íO 

Que  trazes  as  unhas  cruéis,  c  tingida» 

No  sangue  dovclhas  de  pouco  paridas. 

Aprende  de  Christo,  cordeiro  amoroso: 

E  vós,  pomba  brava, 

(^ue  voais  isenta,  soberba,  alterada. 

Em  essas  montanhas  viveis  branda  vida, 

Tomac  por  espelho  a  pompa  escolhida  •, 

A  pomba  mui  mansa,  a  pomba  calçada. 

De  sol  hc  vestida. 

OIL  VICENTE,  AUTO    DA  III3T0IIIA  DE  DEUS. 

—  «Floriano,  quando  de  todo  conheceu 
que  era  mouro,  e  o  viu  com  palavras  tão 
soberbas,  algum  tanto  mencncorio,  disse: 
Má  emproza  mo  parece  que  trazeis,  que 
n'essa  corte  ha  tantas  damas  mais  iermo- 
sas  que  Targiana  e  tantos  cavalleiros, 
que  vol-o  combaterão,  que  hei  medo  que 
fiqueis  com  maior  quebra  do  que  vosso 
coraç.ào  vos  diz.»  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  de  Inglaterra,  cap.  7tí.  — 
«Como  Albayzar  do  sua  condiyào  fosse 
altivo  e  soberbo,  e  estivesse  enojado  de 
lhe  cngeitar  sua  cortezia,  vendo-o  tão 
perto  de  si,  o  tomou  por  um  braço,  di- 
zendo.» Ibidem,  cap.  123. —  oMas  como 
o  cavalleiro  de  sua  própria  condição  fos- 
se soberbo  e  se  prezasse  disso,  rompeu 
por  antre  todos  té  chegar  junto  do  estra- 
do da  rainha,  e  fazendo  primeiro  algum 
acatamento  ai  rei,  se  virou  contra  ella, 
dizendo:  Senhora,  eu  houve  batalha  com 
um  cavalleiro,  que  nesta  vossa  corte  es- 
teve e  justou  com  Albayzar,  que  leva  em 
sua  companhia  nove  donzellas.»  Ibidem, 
cap.  12G.  —  «Pois  o  cavalleiro  vendo-se 
derribado  e  tratado  com  taman!-.o  despre- 
zo, como  de  seu  natural  fosse  soberbo  c 
esforçado,  c  naquclla  parte  mais  que  em 
outra  o  quizesse  mostrar,  por  ser  sobre 
cousa  que  tanto  estimava,  sem  tornar  a 
cavalgar,  arrancando  da  ospa^la  o  acom- 
panhado do  sua  ira  se  veio  ao  das  Don- 
zellas  cuborto  de  seu  escudo  sem  dizer 
palavra,  que  a  paix.ào  lh'a3  impedia;  po- 
rem o  outro  companheiro  so  poz  no  meio 


dizendo. ^  Ibidem,  cap.  127.  —  íNo  qtul 
negocio  oiiue  tanto  desconcerto,  que  os 
imigos  feriram  iauití>.s  (lelioB,  entre  ob 
quacH  foram  Fcrnam  perez,  e  Poro  de 
faria  o  mataram  i'ozc,  de  que  os  conheci- 
dos foram  Rui  daraujo,  Christouam  pa- 
chcco,  C  iristouani  mascarenlia»,  Oeorge 
garccfl,  c  António  dazeucdo,  e  alguna  ma- 
labares, e  Malaios  que  com  cUch  foram 
rio  qur;  Patccatir  ficou  mui  soberbo  aui- 
sando  logo  desta  victriria  o  Principe.t 
Damião  rio  (loes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part,  3,  cap.  28. 

os  grandes  desbaratados, 
o»  lidalgos  iion  ousarem 
do  pariocr,  m-m  falarem, 
os  villãos  victoriosos, 
aoherhof,  c  podoroíos, 
cm  bu.sca  delles  andarem. 

o.    DE  BRZEHDC,   MISCELLAICA. 

O  soberbo  Sultão  treme  o  arrcctia, 
E  a  gente  quo  cUc  mauda,  c  Ih 'obedece, 
De  tal  temor  fica  então  cheia 
Que  do  ro3to  a  côr  dcâiipparcce : 
E  como  onde  o  temor  se  senhoreia 
Sempre  as  imigas  cousas  i-ngrandcco. 
Este  fez  parecer  que  o  Mogor  Wnha 
Com  muito  mór  poder  do  que  então  tinha. 

FRANCISCO  DE  ARDSAOK,  PBIMBIRO  CBBCO  DB  DIV, 

oant.  3,  C8t.  22. 

Ordena  que  hum  cruel,  soberbo  imigo. 
Em  perseguir-mc  t^into,  dure  c  insista, 
Que  nos  meus  Reinos  ja  não  tenho  abrigo, 
Nem  forças,  ou  poder  i|ue  lhe  resista : 
E  ]ior  cu  não  vêr  posta  em  tal  perigo 
A  quem  vida  me  d4  s<4  com  a  vista. 
Ordeno  esta  mortal,  oruel  partida, 
D"oude  espero  melhor  gosto  e  melhor  vida. 
iDiDEM,  cant.  3,  cat.  68. 

Não  vai,  qual  soe,  honrada  e  nobremente, 
Mas  deixa  os  apparatos  seus  primeiros, 
O  soberbo  c;ivallo,  c  juntamente 
A  guarda  dos  sessenta  alabardeiros.  . 
IBIDEM,  cant.  t?,  est.  47. 

O  soberbo  Deaõ,  que  sempre  attcnto 
Ao  meu  alto  dee<^ro,  o  santo  Hyssopc 
Vinha  trazcr-me  A  porta  do  Cabido, 
Hoje  iiaõ  só  deixou  de  vir  rcndcr-me 
(Ah  !  que  uaõ  sei,  de  nojo,  como  o  conte  !) 
DiBiz  DÁ  cBCz,  HTSsopK,  cant.  3. 

Que  dique  se  lhe  oppõe,  que  laço  o  prende? 
Ind'  atégora  arcano  impenetrável 
Ao  soberbo  mortal.  Dentro  cm  teu  seio, 
O  ar  que  forma  o  compassado  arquejo. 
Onde  encantada  a  vista  se  demora, 
Podo  manter  justíssimo  equilíbrio. 

J.  A.  DK  MACEDO,  A  SATCBEZA,  COnt.  2. 

Quebrado  escudo  de  Cambaia,  oh  mnro«. 

Oh  baluarte  da  soberba  Diu, 
Timbres  do  extincto  Lusitano  esforço. 
Sentirão  vezes  mil  tão  duro  estrago 
Do»  altos  muros  nos  fumantes  roítos 
Entro  nuvens  do  fumo,  c  pó  sulfúreo. 


Oh  soberlny  morta! !  jamais  te  abastas 
De  grandona,  de  titulos,  de  gloriai 
Choguo  teu  nomo  embora  ao  tardo  Arcturo, 
Ondo  o  gelado  habitador  divide 


SOBE 


SOBE 


SOBF 


545 


Grosseiro  pasto  com  medonhos  Ursos, 
Da  tua  gloria,  dize-me,  que  sabem 
Da  Lybia  adusta  as  tórridas  ai-éas? 

IDEM,  MEDITAÇÃO,  CaUt.    2. 


Da  aterrada  Cambaya  antigo  escudo, 
O  baluartes  da  soberba  Dio, 
Tymbres  do  antigo  Lusitano  esforço. 
Que  hoje  pezado  sente  o  Gallo  infido, 
Sentistes  vezes  mil  tão  duro  estrago. 


Tólda-se  o  ar  co'  a  sórdida  poeira : 
O  duro  golpe  sôa,  e  o  sangue  espuma. 
Ao  longe,  de  assustada,  o  pasto  esquiva 
A  timorata  cândida  Novilha, 
Do  vencedor  soberbo  o  premio,  a  palma. 
IBIDEM,  cant.  3. 


Imperceptível  turbilhão  de  corpos 
Fez  cm  Tasso  chorar  magoada  Erminia, 
E  encheo  de  Fúrias  o  soberbo  Avgante, 
Que  morre,  qual  vivco,  c  e.xangue,  e  frio 
luda  ameaça  intrépido  Tancredo? 
IBIDEM,  cant.  4. 


Em  seus  Escriptos,  quo  a  ignorância  altera, 

(Ignorância  dos  Árabes  soberba) 

Saber  cncyclopedico  descubro. 

Dos  brutos  animaes,  que  a  Terra,  os  Ares, 

E  o  Mar  no  fundo  abysmo  encerrão,  nutrem, 

(A  immcusa  turba,  as  variantes  classes) 

Plinio,  e  Bution  nos  representa  o  Quadi-o. 

IDEM,   VIAGEM   EXTÁTICA,   Caut.    2. 


—  Que  fica  superior,  mais  alto  que  ou- 
tra cousa,  de  que  está  junto,  quo  a  so- 
breleva, e  sobeja  por  cima  cFella.  — 
«Porque  Patê  Quetir  tinha  feito  huma 
cerca  de  madeira  mui  forte  com  entulho 
de  terra  per  dentro,  e  cava  per  fora,  e 
ficava  esta  parte  de  dentro  tão  soberba 
sobre  a  cava  com  o  entulho  que  sobia 
té  o  meio  da  madeira,  que  lhe  servia  em 
lugar  de  hum  forte  muro  com  muita  ar- 
tilheria  assestada  onde  convinha.»  Bar- 
ros, Década  2,  liv.  9,  cap.  1. 

—  O  soberbo  Lúcifer;  o  orgulho  do 
chefe  dos  demónios. 


Entrará  primeiro  o  muito  soberbo 
Lúcifer,  anjo  que  foi  dos  maiores, 
E  Belial  e  Satanaz,  senhores 
De  muita  maldade  de  verbo  a  verbo. 

GIL  VICENTE,  AUTO  DA  HISTORIA  DE  DEUS. 


—  Magnifico,  grandioso.  —  «  E  he  o 
que  Isayas  promettera  do  mundo  todo, 
nam  de  lerusalem  sò,  e  ludéa,  que  os  pés 
dos  pobres,  e  dos  mansos  passeariam,  e 
pisariam  nelle  as  cidades  mais  soberbas, 
e  mai,s  fortes,  onde  nam  podêram  chegar 
campos  armados.»  Lucena,  Vida  de  S. 
Francisco  Xavier,  liv,  5,  cap.  24.  — 
oSam  quadrada.s  e  tem  quatro  portas 
pêra  quatro  ruas  principaes  muv  sober- 
bas e  muy  bem  feitas,  com  torres  altas 
encima  das  portas,  feitas  em  varandas 
muy  galantes, »  Fr.  Gaspar  da  Cruz, 
Tratado  das  cousas  da  China,  cap.  8, 
VOL.  V.  —  69. 


—  kA  D,  Fernando  de  Castro  deposita- 
rão em  separado  enterro  por  se  o  Gover- 
nador seu  Pai  quizesse  trasladar-lhe  os 
ossos  a  lugar  diflerente :  lavrar-lhe-hia 
tumulo  mais  soberbo,  porém  não  mais 
iliustre.»  Jacintho  Freire  d'Andrade,  Vi- 
da de  D.  João  de  Castro,  liv,  2. 

Já  vão  perto  da  terra,  entre  os  copados 
Frescos  palmares,  c  jardins  viçosos. 
Vêem  soberbos  palácios  levantados, 
E  quaes  na  Eui-opa,  muros  alterosos: 
D'e3tranhas  sccuas  taes  como  espantados 
Cortào  com  todo  o  panno  os  espumosos 
Rolos  do  turvo  mar,  e  quando  api-õão 
A  barra,  os  ares  co'os  canhões  atrôào. 

j.  A.  DE  M.ÍCED0,  o  ORiEsiE,  cant.  7,  est.  76. 

Volúveis  grãos  de  ttírridas  arêas 

De  Amasis,  Meris,  e  Sesostris  cobrem 

Am-eos  Palácios,  e  soberbas  torres. 

IDEM,  MEDITAÇÃO,  Cant.    1. 

Desção  03  raios  ás  soberbas  Torres, 
Qu'  o  fasto  levantou,  o  o  fasto  abrazem 
De  prepotentes  monstros.  Que  valia 
Tem  arcos  tnunfaes,  pórticos  vastos. 
Marmóreos  tectos,  alizares  d'ouro? 

IDEM,  A  NATUREZA,   Caut.    2. 

E  no  meio  da  luz  brilhante,  e  pui-a 

Soberbo  alçar-so  Monumento  vejo ; 

Nelle  gravado  estava  o  nome  iliustre 

Do  tão  profundo,  e  portento.-;o  Newton, 

N'hum  Pórlido  immortal,  que  nem  de  Augusto. 

IDEM,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Cant.    2. 

De  huma  composta  côr  listões  3'estendem, 
Que  outros  compostos  gradativos  formão, 
E  adornos  são  do  Mausoleo  soberbo. 
IBIDEM,  cant.  '•}. 

O  soberbo  ananás  cresce  nos  campos, 
Que  vio  primeiro  o  intrépido  Colombo. 
A  variedade,  extático,  descubro. 
Com  que  todos  produz  a  Natureza ! 

J.    A.    DE   MACEDO,    MEDITAÇÃO,   CaUt.    2. 

—  Figuradamente :   Soberbas    arvores. 


Menos  soberbas  arvores  se  cobrem 
Entre  flores  gentis  do  opímos  fructos. 
Que  prestes  colherão  Seres  mais  nobres. 
Eis  a  Terra  fecunda,  eis  os  thesouros. 

J.  A.  DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  CaUt.  4. 

—  o  soberbo  jjavão. 

o  soberbo  Pavão  desprega  aos  olhos. 
De  Rubins,  de  Safiras  recamadas, 
Da  fluctuantc  cauda  as  penas  d'ouro, 
Mas  triste,  c  rouca  voz  o  abate,  e  avilta. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATCKEZA,  CaUt.  1. 

—  Honrar  as   cinzas  do   soberbo  Jú- 
lio com  luto  universal  da  natureza. 


Ou  foi  insipiência,  ou  foi  lisonja 

Ilom-ar  as  cinzas  do  Soberbo  Júlio 
Com  luto  universal  da  Natureza. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  HATUBBZA,  cant.  1. 


—  Soberbas  enchentes ;  enchentes  gran- 
des, arrogantes. 

Assim  destes  depósitos  correndo, 
Vêm  soberbas  enchentes,  que  se  lançâo 
Das  escarpadas  rochas,  c  que  formão 
Cascatas  naturaes  dignas  da  vista. 

J.  A.  DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  CaUt.  2. 

—  Soberbo  de  si  mesmo;  vaidoso,  cheio 
de  vaidade. 

—  Substantivamente  :  Um  soberbo.  — 
"No  qual  espero  fazer  conhecer  a  Barro- 
cante  a  parvoíce  de  sua  embaixada  e  o 
pouco  que  ganha  o  soberbo  e  descortês : 
e  se  alguém  quizer  a  batalha  com  seus 
companheiros.  »  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  d'ínglaterra,  cap.  93.  —  «Po- 
rem o  do  Tigre  ia  já  tào  alongado,  que  o 
não  ouviu ;  e  que  o  ouvira  não  voltara, 
que  os  corações  nobres  com  pequenas  cou- 
sas não  se  movem,  e  os  soberbos  com 
quaesqvier  fazem  desmancho. »  Ibidem, 
cap.  104. — ■  (iQual  he  o  soberbo  (diz  elle) 
que  andando  em  hum  adro,  e  cuydando 
na  podridam  e  fedor  de  quantos  alli  ja- 
zem, nam  torne  humilde  pêra  casa,  sen- 
do certo  que  antes  de  muyto  tempo  tal 
ha  de  ser?  Por  isso  dezia  sam  leronymo, 
que  com  difficuldade  peccaria  o  que  ca- 
da dia  cuydasse  que  auia  de  morrei*.  E 
sam  Bernardo  dezia,  que  a  summa  Phi- 
losophia  he  a  admiração  da  morte.»  Fr, 
Bartholomeu  dos  Martyres,  Catecismo  da 
doutrina  christã. 

SOBERBOSAMENTE,  aãv.  (De  soberbo- 
so,  com  o  suffixu  «mente»).  Tei-mo  anti- 
quado. Com  tom  e  ar  de  soberba,  com  ar- 
rogância e  presumpção. 

SOBERBOSO,  A,  ádj.  Termo  antiqua- 
do. Vid.  Soberbo. 

SOBERDIO,  A,  adj.  Termo  antiquado. 
Supérfluo,    superabundante,   que   sobeja. 

SOBEREIRAL,  s.  m.  Vid.  Sovereiral. 

SOBEREIRO,  s.   m.  Vid.  Sovereiro. 

SOBERNAÇÃO,   s.  f.  Vid.  Subornação. 

SOBERVA,  s.  f.  Vid.  Soberba. 

f  SOBESCREPVER,  i-.  «.  Vid.  Subscre- 
ver. —  «E  se  todas  assy  as  partes,  como 
as  testemunhas  escrepver  nam  souberem, 
emtam  huu  dos  Tabaliãees,  que  hi  este- 
verem,  a  fora  aquelle,  que  a  dita  nota 
íezer,  sobescrepva  por  estas  partes,  fa- 
zendo mençam  como  sobescrepve  por  el- 
las,  porque  ellas  nom  podem  sobescre- 
pver  pola  dita  rezam.»  Ord.  Affons.,  liv. 
3,  tit.  64,  S  •'?■ 

SOBESCREVER.  Vid.  Subscrever. 

SOBESCRITO,  jjart.  ikiss.  de  Sobescre- 
ver. 

—  S.  m.  Vid.  Sobrescripto. 

SOBESPECIE,  s.  f.  I.)iz-se  do  que  é  de- 
rivado, ou  tem  analogia  com  a  espécie  de 
que  SC  trata. 

SOBFREAR,  v.  a.  Vid.  Sofrear. 

SOBFRETAR,  v.  a.  Termo  de  náutica. 
Fretar  a  outro  o  navio,  barco,  etc,  que 
se^tinha  fretado. 


546 


SOIU 


80BI 


SOBJ 


f  SOBGEITO.  Vid.   Sujeito.  —  «Todo- 

lo8  Koyx,  o  outro»  1'riiicipcs  CkriHptaa?!.! 
dovom  fiizor  niiiito,  o  tnibalhar  como  a 
todo  sou  poilcr  HOiiipro  cui  todos  kou.s  Su- 
nhorios  sojaõ  fíuiirdíidoH  oa  Maiulado.s  do 
DEOS,  o  da  Santa  Iffreja,  o  l)UHear  to- 
dolos  caminhou,  ])or  que  o  serviço  de 
DEOS  soja  per  olles  accroccntado,  o  os 
seus  sobgeitos  bom  revidou  cm  as  cousan 
tomporaoM,  c  muito  mais  em  uqufíllo  (|ti". 
tani;c  :í  Halvaoào  das  almas.»  Ord.  Af- 
foiís.,   liv.  4,  tit.  19,  ij  1. 

SOBGRAVE,  adj.  m.  Termo  d(s  musica. 
TcrtiiJ)  sobgrave ;  teruio  abaixo  dn  f^rave. 

f  SOBIDO,  part.  jjuss.  do  Sobir.  Vid. 
Subido. 

E  vós  bolla  companha  que.  nohiiln 
Por  altos  nioiitos,  liis  exercitando 
A  dura  ca(;a  com  velloz  corrida. 
Driades  r(un  as  montanhas  habitando 
Km  danças  scmpro  andais  todas  vnidas 
Com  tal  vista  os  ares  alegrando. 

oonTE  itEAL,  NAUKB.vdio  i)K  sEPULVKnA,  caut.  9. 

—  «Maa  tornando  a  Afonso  dalbuquer- 
que,  dci)0Í3  dellc  ter  sobido  a  ladeira,  e 
ouuir  o  estrondo  que  liia  na  cidadií,  de 
artelharia  pritas,  e  brados,  mandou  a  Si- 
ntam Mavtlnz  que  chegasse  a  porta  de 
sancta  Catherina  pêra  saber  o  que  passa- 
ua,  e  ver  que  guarda  aula  na  porta  pêra 
a  ir  eommetcr.i)  Dami.io  de  Góes,  Chro- 
nica  de  D.  Manoel,  part.  3,  eap.  11. 


cousa  é  crida 

no  homem  amor  maia  snhido; 

que  vemos  tem  uma  com|)03tura, 

outra  o  moi,o,  o  grão  senhor, 

porque  da  molher  é  pôr 

arte,  gra(;a  e  formosura, 

e  do  homem  amar  amor. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  p!»g.  293. 

frequentado  é  mais  sobido ; 
porém  leva  mais  efeito 
por  cima  d'esses  espritos 
frequentar  com  o  dito  o  feito. 
IBIDEM,  pag.  311. 

SOBIMENTO,  s.  m.  Alça,  subida. 

—  Sobimeuto  de  sangue  á  garganta;  ó 
subir  a  cila. 

SOBINTE,  part.  act.  de  Subir.; Ascen- 
dente. 

SOBIR,  V.  a.  Vid.  Subir.  —  «Outro  sy 
por  aazo  doa  ditos  arrendamentos,  aflora- 
mentos, o  emprazamentos  feitos  a  certo 
ouro,  ou  a  certos  marcos  de  prata,  ou  a 
todo  juntamente,  he  per  força  sobir  mui- 
to o  valor  do  dito  ouro  o  prata.»  Ord. 
Affous.,   liv.  4,  tit.  2,  §  4. 

Ambos  SC  tornam  logo  da  cidade 
Para  a  Frota,  quo  o  mouro  bom  conhece  ; 
Sobem  il  Capitaina,  o  toda  a  gente 
Monçaide  recebeu  benignamente. 
CAM.,  LOS.,  caut.  7,  est.  28. 

—  «O  qual  foy  sobir  daquelle  deserto 


cm  corpo,  c  alma  ao  Ceo,  por  liuma  obra 
de  charidade,  que  com  hum  cJlo  vuara,  a 
qual  ello  depois  contou  c  m  voz  humana, 
a  g(!nte  do  huma  (Jatilla  quu  j)a«'<ou  pelo 
lugar  onde  esto  caso  acòteeeo.  Bem  mo 
lembra  lôr  esta  mesma  Historia  cm  Vi- 
cente Uocca,  na  «ua  Turquezcu.»  Fiei 
(iaspar  de  S.  Bernardino,  Itinerário  da 
índia,  cap.  11.  —  «Os  muros  iliz  Saò  <.'v- 
rillo,  <|ue  os  mandou  fazer  a  Ilíiyidia  Se- 
niiramis,  e  que  eram  tani  largos,  e  espa- 
çosos, que  três  carros  juntos  andau.lo  por 
elles,  sem  se  encontrarem  tinliào  em  alto 
com  pês,  e  nnl  e  ([uinhentas  torres,  que 
nelles  auia  sobião  acima  outros  cem  pfcs.» 
Ibidem,  eap.  17.  —  «E  scntandose  este, 
SC  levantou  outro,  e  com  as  mesmas  ce- 
rimonias de  cortesia  se  sobio  em  cima  na 
tribuna  onde  estava  o  Chaem,  c  tomado 
03  feitos  da  mão  de  hum  ministro  que  os 
trazia,  os  publicou  cm  alta  voz  hum  e 
hum,  com  humas  cerimonias  tfio  prolon- 
gadas quo  gastou  nisto  mais  de  huma 
hora.»  Ferníío  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  103.  —  «E  arremetendo  huma 
hora  antemanlíã  (que  foy  aos  dezanove 
de  .Junho  do  mesmo  anno  de  l.")48,)  com 
todo  este  poder  aos  muros,  lhe  arvorfiraò 
mais  de  mil  escadas,  o  sobindo  por  ollas 
asima,  os  de  dentro  lhe  resistirão  com 
tanto  e.íforso  que  cm  menos  de  mea  hora 
de  huns,  e  outros  morrerão  mais  de  des 
mil.»  Ibidem,  cap.  18G. 

Todos  03  officiacs 
nunca  deixam  seus  ofiScioa, 
nem  ham  de  sobir  ja  mais 
que  seus  anos,  e  seus  pães, 
nem  ter  moeres  bencficios. 

GARCIA  DE  REZENDE,  MI8CELLANEA. 

—  «Deceose  então  o  Príncipe  pêra  ca- 
ualgar  na  mula  quo  mandara  trazer,  o 
em  sobindo  nella  lhe  quebrou  o  loro  do 
estribo,  por  onde  tornou  a  caualgar  no 
e.uiallo,  e  apertou  então  com  dom  loam 
que  toda  via  corressem.»  Idem,  Chronica 
de  D.  João  II,  cjip.  132. 

Não,  que  esses  são  mais  matreiros, 

esses  querem 

sobir  cã,  e  ao  morrerem 

as  honras  a6  nos  letreiros, 

as  almas  onde  estiveram. 

AHTONIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  59. 

Oh !  quem  vira  de  sobir 
monte  grande,  e  offbrecor 
quo  tem  homens,  porá  vêr 
80  O  sobiam  no  comprir 
como  o  sobem  no  dircr ! 
I1IIDV.U,  pag.  291. 

quero  sobir  prestamente : 
ou  lã,  ha  cã  quo  cousoar? 
Senhor  pae ! 

I  Ia  cã  em  quo  me  sente  ? 
Senhor  sogro,  para  aqui. 
iDiDEM,  pag.  371. 

Ergueu-ae  assim  tomcroza ; 
Vio-n08,  não  foz  diaso  estima ; 


I''oi  tohin/lo  o  vallo  assima, 
Da  miidaiK^a  mais  forinoza.. 
p.  tODaiavr.»  lobo,  FuiUAmn. 

Nesta  mesma  manhia  quo  ost''  famoso 

Falcáíj  »óbe  á  Celeste  Moiuirquia, 

(>  Turc<j  pertinaz,  nunca  ocíov>, 

(^111'  o  dainiio  do-t  fhriíttàos  i*'j  perteudia. 

Assalta  o  baliiarti;  i\uo.  o  animoso 

Sousa  coa  sua  boa  companhia. 

Com  grand''  louvor  sou,  com  grSo  perigo, 

Mil  vezes  defendera  deste  imigo. 

rRANCisco  d'aíiobadk,  puihkibo  cebco  de  rir, 
cant.  16,  est.  105. 

—  «A  ti  ja  sobirão  grande»  exércitos 
de  sanctos  pêra  em  ti  perpetuamente  des- 
cansarem c  louuarem  o  Senhor :  estej»  nam 
os  exércitos  do  que  falia  sam  loam  Euan- 
gelista  na  Epistola  que  ouuistes  à  MÍHsa : 
onde  diz  que  lhe  foy  em  visam  mostrado 
grande  numero  de  sanctos  i;  bemauentu- 
rados,  asai  dos  doze  Tribus  de  Israel, 
como  de  todas  as  naçòes  do  pouo  Gentí- 
lico.» Fr.  Bartliolomcu  dos  ^lartyres, 
Catecismo  da  doutrina  christâ,  liv.  2.  — 
«Desperta,  desperta  dessa  modorra  em 
que  viucs,  e  ao  menos  como  escraua  do 
DEOS  Começa  temer  os  açoutes  eternos, 
c  vay  sobindo  mais,  o  medrando,  e  a«- 
cenderseão  em  ti  ardentes  desejos  de  glo- 
ria, e  bemauenturança  prometida  aos  fi- 
lhos de  Deo8.»  Ibidem. — <0s  Navios 
que  estavão  neste  Porto,  sem  lhes  apro- 
veytar  o  seguro  das  amarras,  huns  vara- 
rão em  terra,  outros  levados  do  Ímpeto 
do  vento  sobirão  dua.s  legoas  pelo  Rio 
Tejo.  Sobre  as  ancoras  sii  dous  fic;lrilo 
destroçando-so  todos  os  outros.  •  Cavalleí- 
ro  d'01iveira.  Cartas,  liv.  1,  n."  23. 

Dentre  os  gelos  Sarmaticos  hum  Sábio 
Volve  03  olhos  aos  Ccos,  co'  a  mente  «<í6e, 
Encara  os  penetraes  da  Natureza, 
Salva  d'opprobrio  a  alampada  do  dia. 

J.   a.    DE  MACEDO,  A  RATCHCZA,  Cant.    1. 

E  do  grande  fenómeno  espantoso. 
Exposto  sempre  á  vista,  e  scmpro  ignoto. 
Com  que  ora  sobem  nas  desertas  praias. 
Descem  outrora  as  ondas  inciuietas, 
Mais  chegada  á  verdade,  a  causa  apontas. 

IDEM,   VIAQEX  EXTÁTICA,  CAUt.    3. 

Abrio-se  o  poijo  do  profundo  Abysmo, 
E  do  fundo  infernal  aos  ares  robe 
Grossa  columna  de  medonho  fumo. 
IBIDEM,  cant.  4, 

SOBJEITAR,  r.  a.  Vid.  Sujeitar. 

SOBJUGADO,  jiart.  pa^s.  de  Sobjugar. 
Viil.  Subjugado. 

SOBJUGAR,  ou  SUBJUGAR,  v.  a.  (Do 
latim  suòjugare;  de  sub,  sob,  debaixo,  e 
jugum,  jugot.  Sujeitar,  submetter. 

Tomando  revnos,  o  terras 
por  muy  guerreadas  guerras, 
ganhando  toda  a  riqueza 
do  Soldan\  e  de  Veneza, 
sobjiijtvido  marrs,  serras. 

OABCIA  DE  BEZE>-DE,  XtSCELLAXBA. 


SOBP 


SOBR 


SOBR 


547 


—  Figurcadcamente  :  Sobjugar  os  appe- 
tites. 

—  Sobjugar  os  bois ;  jungil-os,  niet- 
tel-os  ao  jugo. 

—  Sobjugar-se,  v.  rejl.   Submetter-se. 

—  Sobjugar-se  a  outrem;  governar-se 
por  elle. 

SOBLEVANTAR,  v.  a.  Erguer,  levan- 
tar sobre  outra  cousa. 

SOBLEVAR,   i'.  a.  Vid.   Sublevar. 

f  SOBLIGAÇÃO,  s.  f.  Debaixo  de  obri- 
gação. 

SOBLINHAR,  v.  a.  Passar  por  debai- 
xo uma  linha  com  a  penna.  —  Soblinhar 
um  vocábulo  na  escripta. 

—  Termo  de  marceneria.  Lavrar  a  ma- 
deira por  debaixo  da  linha,  por  onde  de- 
vera lavrar-se,  com  defeito. 

SOBMERGER,  v.  a.  Vid.  Submergir. 

SOBMETTER,  v.  n.  Vid.  Someter. 

SOBNE&AR,  V.  a.  Vid.  Sonegar. 

SOBOLA.  Termo  antiquado,  em  vez 
de  Sobie  a.  ■ —  Sobola  tarde.  —  «Os  dous 
juncos  que  escapamos  milagrosamente, 
seguimos  por  nossa  derrota,  e  ambos  em 
hunia  conserva  fomos  até  tanto  avante 
como  a  ilha  dos  Lequios,  e  aly  com  a 
conjuneção  da  Lua  nos  deu  tamanho  con- 
traste de  vento  Nordeste,  que  nunca  nos 
mais  vimos  hum  ao  outro,  c  lá  quasi  so- 
bola tarde  nos  saltou  o  vento  ao  Oesno- 
roeste,  com  que  os  mares  ficarão  tão  ca- 
vados, e  com  escarceo  e  vagas  taõ  altas 
que  era  cousa  espantosissima  de  ver.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações, 
cap.  137. 

SOBOLE,  s.  7;í.  Tei'mo  de  botânica. 
Gommos,  bolbilhos. 

—  Termo  de  poesia.  Descendência,  ge- 
ração. 

SOBOLO.  Termo  antiquado,  em  vez  de 
Sobre  o.  — Sobolos  rios. 

SOBORAL,  s.  m.  Bosque  ou  matta  de 
soboros.  Vid.  Sobereiro. 

SOBORDENADO.  Vid.  Subordinado,  e 
Subordenado. 

SOBORNAÇAO,  s.  f.  Vid.    Subornação. 

SOBORNAR,  V.  a.  Vid.  Subornar. 

SOBORO,  s.  m.  Sobro,  sovereiro. 

SOBORPALHADOURO,  s.  m.  Vid.  Varre- 
douro  do  forno. 

SOBORRALHAR,  v.  a.  Pôr  debaixo  do 
borralho  para  cozer. 

SOBORRALHO,  s.  m. — Bolo  de  sobor- 
ralho;  cozido  debaixo  do  borralho  e  não 
em  forno. 

—  Pães  de  soborralho ;  pães  cozidos 
debaixo  da  cinza. 

SOBPÉ,  s.  m.  Pé,  raiz.  —  O  sobpé  de 
um  monte. 

SOBPENA,  adv.  Debaixo  de  pena.  — 
«Na  esteira  dos  quaes  Affonso  d'Albo- 
querque  logo  mandou  hum  batel,  e  nelle 
Bastião  Rodriguez,  que  ora  serue  de  juiz 
da  balança  da  moeda  cõ  huma  carta  a 
Diogo  Mendez,  e  assi  recado  a  duas  ga- 
lés, capitães  Duarte  da  Silua,  é  lemes 
Teixeira,  as  quaes  andauão  na  barra  que 


lhe  requeressem  que  se  tomassem  sobpe- 
na  do  caso  mayor.  Chegado  Bastião  Roiz 
a  Diogo  Mendez,  fezlhc  crer  que  Affon- 
so  d'Aiboquerque  estaua  em  uma  das  ga- 
lés.» Barros,  Década  2,  liv.  5.  —  «Nes- 
ses regnos  tenho  hum  filho,  peçolhe  que 
mo  faça  grande  como  meus  seruiços  me- 
recem, os  quaes  lhe  eu  fiz  com  minha 
seruiçal  condiçam,  pelo  que  a  elle  man- 
do que  sobpena  de  minha  bençam  volo 
requeira,  e  quanto  as  cousas  da  Lídia  el- 
las  fallaram  por  si,  e  por  mim.»  Damião 
de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part. 
3,  cap.  80.  —  «Pelo  que  eu  e  os  que  co- 
migo estavam  auer  hum  mes  que  estáva- 
mos em  Cantão,  puseram  taboas  pelas 
ruas  escritas,  que  ninguém  nos  tivesse 
nem  recolhesse  em  sua  casa  sobpena  do 
tanto,  ate  que  ouvemos  por  nosso  barato 
do  nos  hir  pêra  as  nãos.»  Fr.  Gaspar  da 
Cruz,  Tratado  das  cousas  da  China,  ca- 
pitulo 28. 

SOBPODER,  adv.  Debaixo  do  poder. — 
Padeceu    sobpoder  de  Poncio  Pilatos. 

SOBQUEIXADO.  Vid.   Soqueixado. 

SOBRA,  s.  f.  Vid.  Sobras. 

—  De  sobra ;  de  sobejo,  superabun- 
dantemente. 

SOBRAÇADO,  part.  pass.  de  Sobraçar. 
Encostado  em  alguma  pessoa,  e  firmado 
nos  braços  sobre  ella.  • — «Todas  estas  pa- 
decentes, ou  a  mayor  parte  delias  eraõ 
de  idade  de  dezassete  até  25  annos,  e  to- 
das muyto  alvas,  e  muyto  formosas,  cos 
cabellos  como  madeixas  douro,  as  quais 
hião  tão  fracas  e  tao  fora  de  sy  que  a 
caca  pregão  que  ouvião  cahião  esmoreci- 
das em  terra,  a  que  outras  molheres  que 
as  levavâo  sobraçadas  acudião  com  es- 
forços de  cousas  doces,  de  que  as  tristes 
fazião  bem  pouco  caso.»  Fernão  Mendes 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  151.  —  «En- 
tre os  quais  foy  hum  muyto  mais  nobre 
e  sumptuoso  que  todos  os  outros  da  ci- 
dade, por  nome  Quiay  Pimpocau,  deos 
dos  enfermos,  em  que  avia  huma  grande 
soma  do  sacerdotes  com  hábitos  pardos, 
e  suas  altirnas  de  damasco  roxo,  sobra- 
çadas, como  ja  disse  algumas  vezes,  a 
modo  de  estolas,  os  quais  por  serem  mais 
sábios  que  todos  os  outros  das  vinte  e 
quatro  seitas  deste  império,  trazem  huma 
certa  divisa  de  cordões  amarellos,  com 
que  andaõ   cingidos.»  Ibidem,   cap.  163. 

SOBRAÇAR,  V.  a.  Metter  debaixo  do 
braço  para  ahi  segurar. 

—  Sobraçar  alguém;  trazel-o  de  bra- 
ço ;  segurar  por  debaixo  dos  braços  ao 
que  não  pôde  suster-se  e  andar  em  pé. 

— -  Emprega-se  também  no  sentido  fi- 
gurado. 

—  Sobraçar-se,  v.  rejl.  Andar  de  bra- 
ço dado. 

SOBRADADO,  ;;arf.  pass.  de  Sobradar. 
Em  que  ha  um  ou  mais  sobrados. 

■ —  Que  tem  pavimento  de  taboas.  — 
«Foram  me  hum  dia  huns  Portugueses 
nobres  mostrar  em  Cantam  hum  banque- 


te que  fazia  hum  mercador  rico  e  honra- 
do, ho  qual  foy  pêra  folgar  de  ver.  Ha 
casa  em  que  se  dava  era  sobradada  e 
muito  linda  com  muito  galantes  janelas  e 
adufas,  e  toda  era  hum  brinco.»  Frei 
Gaspar  da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da 
China,  cap.  13. 

SOBRADAR,  v.  a.  Fazer  sobrados. 

—  Pôr  pavimento  de  taboas,  ou  arga- 
massar. 

—  Sobradar  um  edifício;  fazer-lhe  um 
ou  mais  sobrados. 

SOBRADO,  s.  m.  O  solho  ou  pavimen- 
to do  andar  da  casa,  por  cima,  e  mais 
alto  que  o  pavimento  térreo;  andar. — 
«A  Cidade  do  sitio,  e  parecer  de  fora  be 
cousa  mui  formosa,  porque  além  da  par- 
te que  jaz  ao  longo  da  ribeira,  ter  bons 
muros,  torres,  e  muitos  edifícios,  e  casa- 
rias altas  de  sobrados  e  eirados,  toda 
aquella  chapa  de  serra  que  jaz  na  vista 
do  mar  té  o  seu  cume  he  huma  pintura 
delia  obra  da  Natureza,  e  o  mais  da  in- 
dustria dos  homens.»  Barros,  Década  2, 
liv.  7,  cap.  8.  —  «A  Cidade  he  rasa,  nem 
tem  outra  Fortaleza  f^enão  as  casas  del- 
Rey,  he  de  muytas  e  muy  formosas  casas 
de  pedra,  e  cal  de  gesso,  e  do  dous,  e 
três  sobrados,  cubertas  de  terrado,  por- 
que he  muyto  quente  no  veraõ,  tem  as 
casas  huns  cataventos,  que  saõ  como 
chaminees  claras,  e  passam  arriba  dos 
ditos  terrados,  fazem-nos  no  meyo  de 
huma  casa,  e  por  elles  lhes  entra  o  ven- 
to no  verão.»  Tenreiro,  Itinerário,  ca- 
pitulo 1. 

—  Medico  de  sobrado  ;  medico  dos  mais 
acreditados  que  se  vae  consultar,  e  que 
não  visita  doentes,  ou  visita  somente  pes- 
soas gravemente  doentes. 

—  Mercadores  de  sobrado ;  que  tem 
as  lojas  em  sobrados. 

—  Meretrizes  de  sobrado. 

■ —  Part.  pass.  de  Sobrar.  Sobejo,  de 
mais  do  necessário. 

—  Homem  sobrado  ;  o  que  tem  de  so- 
bejo com  que  viva  o  se  trate ;  mais  que 
abastado. 

SOBRAL,  s.   TO.  Soveral. 

SOBRANÇARIA,  s.  f.  Vid.  Sobrance- 
ria. 

SOBRANCEIRO,  A,  adj.  Que  fica  sober- 
bo sobre  outro  mais  alto;  que  sobrepuja. 

Pitaco  .á  morte  sobranceiro  vejo  ; 

O  impotente  Tyranno  insulta,  quando 

Em  seu  peito  embebêo  ferro  homicida ! 

J.   A.   DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  CRnt.   2. 

—  Olhar  sobranceiro  d  desgraça;  o 
que  não  se  abate,  e  é  superior  a  ella. 

—  Sobranceiro  á  terra. 


Mas  suspenso,  indeciso  os  olhos  volve 
As  sendas  da  Moral ;  só  digno  estudo 
Dos  homens  o  julgou,  com  eUa  aos  Numes 
Pode  o  mortal  equiparar-sc,  quando 
A  ten'a  sohranceiro,  hum  férreo  jugo 
Sabe  impor  áa  paixões  tumultuosas. 


548 


HOim 


SOBR 


SOBR 


S  com  Horriao  atnrrador  olhando 

Ou  cuidados  dos  lieis,  dii  Corto  o  faiisto. 

J.    A.    DK   MACUnO,   VIAOKM   KXTATICA,  Callt.   2. 

—  Quo  tiiz  HubriinccriJi,  Hujic;ri(jr, 

Vojo  ii'liuin  Tlii'oiio  sohraiice.irn  n  Tiuitos 
Iiidii  nciíiia  dn  Aniobio,  (!  do  Mimicio, 
K  do  tli)i|ii(!MtR  l''irinico  Materno, 
f)  nia^;c,stiiíio  vulto  aui'i-i'S|)loii(li:nto 
Do  lianiioiiioso,  iluiJo  l^aetancio. 

j.  A.  iiK  MACi;i>o,  VIAOKM  F.xrATicA,  cant.  2. 

Com  ollc  surjo  sohraiuieiro  ao  Mundo, 
Kuavissiinos  oxtasos  me  uUioiào 
Da  tcrrona  nioiada,  o  absorto  vojo 
A  Cadeia  imuiortal  quo  os  Sores  une, 
Desde  o  Euto  principio,  ao  Vórme  ignoto. 
iDKM,  MKDirAçÀo,  caut.  4. 

—  Olhar  sobranceiro  a  ahjuem,  ou  « 
algum  objecto;  olliíir  como  superiores,  eo- 
luo  iibiiixíiudo  03  olhos  a  pessoa  ou  cousa 
infcrioi-. 

SOBRANCELHA,  s.  /.  (Do  latim  sup^r- 
ciliuiu).  Os  caljollos  quo  ticam  na  parte  in- 
ferior (la  testa,  acima  das  pestanas.  —  «E 
como  filho  quo  deseja  ajjradar  a  seu  pay, 
fazoy  que  me  alegre  cõ  sua  vista,  e  que 
me  cumpra  oste  desejo,  e  o  mais  que  nesta 
deixo  do  vos  dizer,  vos  dirá  Fingeando- 
no,  ])elo  qual  vos  poyo  que  liberalmente 
partais  comifjo  de  boas  novas  de  vossa 
pessoa  e  de  minlia  filha,  pois  sabeis  que 
he  eUa  sobraucelha  do  meu  olho  dircy- 
to,  com  cuja  vista  se  alej^ra  meu  rosto. 
Da  casa  de  Fucheo,  aos  sete  mamocos  da 
Luua.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregri- 
nações, cap.  i;55. — •  «Tinirem  as  sobran- 
celhas, fazendo,  que  o  meyo  que  fica  en- 
tro ambos  os  olhos  pareça  também  sobran- 
celha, o  que  lhe  dâ  muy  pouca  graça,  sara 
aluissimas  quasi  todas.  No  naris  costumào 
trazer  hum  briuco  de  ouro,  muyto  laura- 
do,  do  comprimento  do  mesmo  naris,  e 
pêra  que  lhe  não  caya,  furão  a  venta,  e 
por  hum  ganchlnho  a  modo  de  alfancte 
trocido,  o  tra/.cm  jiegado.»  Fr.  (!aspar 
de  S.  Bernardino,  Itinerário  da  índia, 
cap.  13.  —  «A  cabeça  se  quer  parecer 
muyto  cõ  a  do  caualo,  excepto  ter  a  tes- 
ta mais  cstreyta,  c  as  sobrancelhas  tã 
pouoadas,  que  cscaçamcnte  lhe  deyx.io 
ver  os  olhos  que  saõ  malenconizados  c 
tristes.»  Ibidem,  cap.  17. —  «As  sobran- 
celhas miúdas,  pouco  arqueadas,  e  unidíw 
íis  pálpebras :  supercilia  noii  suiit,  iiec 
lata,  fere  capillis  similia,  arcte<jue  super 
incumbunt  palpebris.a  Braz  Luiz  d'AbrL'U, 
Portugal  medico,  pag.  i;53,  §  15-i. 

—  Fazer  a  sobrancelha ;  concertal-a 
para  que  fique  bem  delgada,  e  arqueada 
arraneando  os  cabellos. 

SOBRANCERIA,  s.  /.  Acto  de  pessoa 
sobranceira,  que  mostra  altivez,  orgulho, 
animo,  etc. 

—  Fazer  sobrancerias  a  alguém ;  asso- 
borbal-o,    tratal-o  de  menor;    provocal-o. 


irrital-o  com  palavras,  de  quem  o  tem 
por  somenos,  c  cm  pouco.  ViJ.  SobraD' 
caria. 

SOBRAR,  V.  11.  (Do  latim  superare). 
Ficar  mais  alto. 

—  Sobejar,  sor  do  mais,  haver  de  mais. 

Assas,  príncipe,  assii»  nos  «oljram  uiusas 
De  dor  e  de  atiliC(,'iio,  Ai  !  todo  o  esforço, 
Toda  a  virtude  de  (Jatào  nái>  bastam 
Tara  suster  o  poso  do  infortúnio. 
OAUUKTT,  CArÃu,  act.  1,  SC.  6. 

SOBRARCO,  s.  m.  Vid.  Sobrearco. 

SOBRAS,  s.  III.  plur.  Os  sobejos,  os 
restos;  o  (pie  tica  depois  de  tirado  o  ne- 
cessário. 


Nilo  me  contes  aiuios :  conta 
minhas  c.\cellcntes  obras  ; 
obras  são  cans ;  nestas  aohras 
contas  d'ainios  se  desconta. 

BISPO  DO  uuÂo  TAitÁ,  MCMoniAS,  pag. 


SOBRE,  prep.  (Do  latim  super).  Era 
cima  de,  acima  de.  —  «E  posto  que  desta 
antiga  Cidade  nào  haja  em  nosso  tempo 
mais  quo  os  .soberbos  vestigios  de  sua 
grãdeza,  que  vemos  no  alto  de  hum  mon- 
te sobre  a  corrente  do  rio  Ave,  era  igual 
distancia  da  Cidade  de  Braga  e  Villa  de 
Cuimaràes.»  Monarchia  Lusitana,  liv.  õ, 
cap.  5. 

Zurra  sobre  mal  tamanho, 
Asno  ;  pois  quiz  teu  i)eccado 
Que  liava  tào  triste  estado 
Viesses  a  dono  estranho. 

FEBNÃO  SOROriTA,   POKSIAS   K   PB0SA8   I.X- 

EDiTAs,  pag.  133. 

—  «Não  porera  que  hum  só  gigante  o 
lançasse  fora  do  defendido;  mas  ambos 
juntamente  se  vieram  a  eíle,  que  uma 
imagem  d'ouro,  que  sobre  o  arco  da  por- 
ta estava,  a  mudo  de  velha,  vestida  de 
trajo  antigo,  lhe  bradou  que  acudissem 
ambos,  e  nào  deixassem  violar  o  seu  the- 
souro  a  homem  indigno  dclle.»  Francis- 
co de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  120.  —  «E  estivessem  jwstos  sobre 
estantes  d'ouro  mui  lavradas,  o  as  mes- 
mas estantes  assentadas  sobre  alimárias 
e  aves  do  próprio  metal,  ao  parecer  vi- 
vas e  mortas  no  assocego,  e  as  guarnições 
dos  livros  fossem  do  mesmo  toque,  eram 
cravadas  de  pedraria  poios  cantos,  e  as 
brochas  de  pedras  de  muito  preço.»  Ibi- 
dem.—  «Sei  vos  dizer,  que  sobre  uma 
capella  daquellas,  quo  leva  cada  uma  des- 
sas seulioras,  morrerei  pola  defender, 
quanto  mais  sendo  polas  guardas  a  cilas 
mesmas.  Vi'>s,  disse  o  outro,  parcce-me 
que  vireis  atTeiçoado  a  alguma  ;  e  d"ahi  vos 
vem  mostrar  animo.»  Ibidem,  cap.  12Õ. 
—  «E  fazendo  capelbis  de  flores,  as  po- 
zeram  sobre  os  toucados  e  seguiram  sua 
via,  folgando  e  motejando  uma  da  outra 


Bobro  qual  era  mais  feia  e  menos  airosa, 
ou  tinha  menos  graça:  de  sorte  (jue  com 
estes   pas.satuiiipos  de  seu    coiiUiritamento 
se  sentia  menos  o  caminho.»  Ibidem. — 
« E    mães    lic    propriudado    tão    pacitíca, 
mansa,  e  obediente,  que  sem  termos  hu- 
ma  m.^o  cm  o  murraò  aceso  sobre  a  es- 
corua  da  bombarda,  ts  a  lança  na  outra, 
nos  dá  ouro,  marfim,  çeru,  cxjurama,  açú- 
car,   pimenta,    malagueta :    e  daria  mães 
cousas,  80  tanto  quiséssemos  delia  desco- 
brir   como   descobrimos    alem    dos  pouos 
lapões,    que   passaõ  a   corça   do  nós  por 
Antípodes   e    Antichthoncs.  •  Barros,  Dé- 
cada 1,  liv.  3,  cap.  12. —  «E  foi  tanta  a 
pedrada   e  frechada   sobre   o    batei,  que 
quando  Vasco  da  Oàma  chegou  poios  apa- 
ziguar,   foi    frechailo   por  huma  perna,  e 
íioiíçalo    Alvarez    mestre    do    nauio    saS 
flabriel,  e  dons  marinheiros  leuara<3  qua- 
da  hum  sua.»  Ibidem,  liv.  4,  cap.  3.  — 
«E    este   modo    e  lugar,  foi  em  hum  Ce- 
rame  que  estaua  sobre  o  mar,  que  como 
hum   eirado   cuberto,   armado   sobre  ma- 
neira muito    bem  laurada:  onde  os  Keys 
por  seu  passatempo,  e  recreação  ás  vezes 
vinhào  dar  huma  vista  ao  mar.»   Ibidem, 
liv.  .0,  cap.  4.  —  «Os  dons  pólos,  sobre 
que  se  movem   todas  as  cousas  do  mun- 
do,   saõ    honra,    e  proveito;  e  se  por  al- 
cançar a  qualquer  destas  vaò  os  Portu- 
guezes   ao   fim   do    mundo,    com   quanta 
mais  facilidade  se  empregara?  nesta  obra, 
os   que    tiverem    para  isso  commodidade, 
que  saõ  muitos,  com  se  lhes  dar  a  juris- 
dicção   do   lugar,    que   fizerem.»  Manoel 
Sevorim  de  Faria,  Noticias  de  Portugal, 
Disc.  1,  cap.  5. —  'O  que  confessarão  eu 
o  não  .-ey,  mas  só  dou  fe  que  os  leuarão 
arrastrando,  por  terem  os  pês  pellados  do 
fogo.  Depois  destes  entrou  hum  desastra- 
do, carregado  de  ferros,  o  qual  fora  acha- 
do com  o  fui'to  nas  mãos.  Este  diante  do 
Gouernador  foy  estirado  no  chão,  e  cha- 
mado o  Elephante  pi«  sobre  elle  oa  pês, 
e  mãos  por  tanto  espaço,  ate  que  o  ma- 
tou.»  Fr.  Caspar  de  S.  Bernardino,  Iti- 
nerário da  índia,  cap.  14.  —  «Os  mesmos 
calos  tem  nos  cotouellos  das  mSos,  e  pês, 
sobre  os   quaes  dorme  com  tal  arte,  que 
do  grande  marauilha  toca  com  o  corpo  na 
terra :  e  deytados   os    carregão,   p5do-lhe 
tanta  carga,  como  elles  com  ella  se  podem 
leuantar,  sera  ajuda  doutrem,  que  de  ordi- 
nário saõ   viute  quatro  arrobas  de  pezo, 
as    quaes    Icvào  por  meses  de  caminho.» 
Ibidem,  cap.  17.  —  «E  tantos  se  arrisca- 
rão, e  trabalharão,  que  a  pezar  dos  nos- 
sos cobrirão  as  pontes  de  terra,  e  rama 
por  causa   do  fogo,  ordcnandolhes  pare- 
des pelas   ilhargas,    e  outras  pelo  meyo 
que   se  cobrirão   por    cima  de  outras  vi- 
gas,   sobre  que   se  armou  huu»  forte  ter- 
rado porá  os  debaixo  ficarem  seguros,  o 
que  tuilo  se  fez  à  custa  das  vi. Ias  de  mui- 
tos.»  Diogo  de  Couto,  Década  O,  liv.  2, 
cap.  3. —  «Os  de  dentro  acodiraò  àquella 
parte  com  muitos  artificioe  de  fogo,  que 


SOBR 


SOBR 


SOBR 


549 


lançarão  sobre  as  mantas,  e  se  consu- 
miau  elles  sem  fazerem  nenhum  nojo  aos 
que  trabalhavaõ. »  Ibidem,  liv.  7,  cap.  9. 
• — -«O  Einperailor  se  veio  ás  casas  do 
Embaixador  de  Portugal  Álvaro  Mendes 
de  Vasconcellos,  que  por  estarem  sobre 
o  mar,  erão  mais  aptas  para  honrar,  e 
festejar  a  entrada.»  Jacintho  Freire  de 
Andrade,  Vida  de  D.  João  de  Castro, 
liv.  1, 

Sobre  a  moldura  superior  s'e3tendem 

Aa  azas  fulgeutissiinas  do  Génio, 

Da  tào  diflicil  Óptica  pasmosa. 

Com  septcmplice  luz  se  cspaudem  bellas, 

Que  as  cores  todas  primitivas  guarda. 

J.  X.  DE  MACEDO,   VIAGEM    EXTÁTICA,  Caut.   3. 

Nào  falléce  o  Volcào  de  fogo  ondeante, 
Que  sobre  o  eixo  sem  cessar  se  agita 
Do  grão  astro  central ;  matéria  immensa 
Alii  produz  continuo  a  mão  do  Eterno. 

IDEM,  MEDITAÇÃO,  Cant.   2. 

E,  entre  nós,  sobre  a.  neve  alvi-rigente, 
EUa,  era  bronca  linguagem,  proferia, 
A  brados,  a  que  Deos  nos  ensinara 
Proveitosa  Oração.  Oh  Fé  Celeste, 
Qual  te  avistei,  no  Franco  Povo,  entrada ! 

F.  X.   DO  MASCIMEKIO,  OS  MABTTBES,  1ÍV.    7. 

Com  que  mandar  gravaste  sobre  a.  porta. 
Que  tem  de  Esquina  o  nome,  em  negra  pedra. 
Por  que  ninguém  a  lé-la  se  atrevesse, 
A  famosa  inscripçaõ,  em  negras  letras? 

A.    D.    DA    CBCZ,  HTSSOPE,    Caut.    7. 

— « Também  aconselha  com  muytos 
DD.  o  uzo  de  cáusticos  atráz  das  ore- 
lhas, ou  na  nuca;  e  ainda  hum  cáustico 
sobre,  ou  junto  da  commissura  coronal ; 
ainda  que  naS  trás  deste  ultimo  remé- 
dio, observação,  ou  experiência  própria. » 
Braz  Luiz  d' Abreu,  Portugal  medico, 
pag.  220,  §  õ. 

.Quanto  inda  folgo  de  vos  ver  unidos, 
De  contemplar  em  vós  esses  Conscriptos 
Que  de  sobre  o  tremendo  Capitólio 
Repartiram  os  fados  do  universo, 
E  aos  reis  vencidos,  ás  nações  prostradas 
Deram  co  a  espada  leis,  co'a3  leis  wtudes  ! 

GABBETT,  CATÃO,    act.   2,  SC.    1. 

Corri  sobre  elle  ;  —  e  fomos  longo  espaço 
No  arriscado  impênho  os  cavalleiros 
Todos :  porém  valia  a  pena  e  o  p'rigo. 
IBIDEM,  act.  4,  SC.  4. 

—  «Durante  muitas  horas,  no  meio  do 
denso  nevoeiro  acamado  sobre  as  encos- 
tas, pelas  sendas  tortuosas  das  monta- 
nhas, os  cavalleiros  que  seguiam  o  du- 
que de  Cantábria  não  ousaram  quebrar- 
Ihe  o  doloroso  silencio.  Apenas,  pela  ca- 
lada da  noite  negra  e  fria,  soava  lá  ao 
longe  o  ruido  do  Sallia,  de  cujas  mar- 
gens por  vezes  se  approximavam.»  Ale- 
xandre Hercidano,  Eurico,  cap,  13. — 
«Nas  telas,  porém,  que  dividiam  o  apo- 
sento do  logar   d'onde  pouco    antes  saíi-a 


o  eunucho  e  que  ficavam  fronteiras  á 
entrada  principal  da  tenda,  uma  figura 
humana  se  estampou  negra  sobre  o  chào 
hrilhaute  da  tapeçaria.  »  Ibidem,  cap. 
14.  —  «Ao  oriente,  e  na  borda  do  des- 
penhadeiro que  se  pendurava  sobre  Val- 
verde e  sobre  o  antigo  arrabalde  da  Lis- 
boa mourisca,  principiavam  a  alteiar-se 
os  alicerces  do  mosteiro  de  Sancta  Maria 
do  Vencimento,  editicio  histórico,  que 
completava  uma  equação,  em  que  D. 
João  I  era  para  o  mosteiro  de  Sancta 
Maria  da  Victoria  ou  da  Batalha,  como 
o  Condestavel  para  este  seu  monumen- 
to.» Idem,  Monge  de  Cister,   cap.  19. 

—  Acerca.  —  Dar  uma  explicação  so- 
bre isso.  —  «E  nam  sendo  ElRey  a  esse 
tempo  em  esse  lugar,  devem-se  as  par- 
tees  louvar  em  Juiz,  ou  Juizes,  que  ajam 
de  conhecer  da  dita  Excepçam,  e  darem 
sobre  ello  detreminaçam  como  acharem 
per  Direito,  dando  Appellaçaij,  e  aggra- 
vo  nos  casos,  honde  se  c  m  Direito  deve 
dar.»  Ord.  Affons.,  liv.  3,  tit.  Õ6,  §  õ. — 
«E  depois  desto  o  dito  Senhor  Rey  Dom 
Joham  de  gloriosa  memoria  sobre  a  dita 
Hordenaçom  fez  huma  declaraçom  em 
esta  forma,  que  se  segue.»  Ibidem,  liv. 
4,  tit.  2,  §  28,  —  «Uma  das  cousas,  que 
tem  dado  mais  cuidado  aos  Priucipes,  e 
Respublicas,  he  o  desamparo  dos  Uríâos, 
e  assim  em  todas  as  Províncias  hà  sobre 
estas  matérias  multas  leys,  e  ordenaçoens, 
porque  se  mandaò  crear,  e  acodir  a  suas 
fazendas. »  Manoel  Severim  de  Faria, 
Noticias  de  Portugal,  Disc,  1,  cap,  6. — 
«Sobre  o  nome,  e  qualidade  de  Infan- 
çoens  naõ  hà  menor  alteração  entre  os 
Aut  :ores  affirmando  muitos,  que  se  da- 
va somente  este  titulo  àquelles,  que  dos 
Infantes  descendiaõ,  e  que  por  isso  eraõ 
assim  chamados,»  Ibidem,  Disc.  3,  cap, 
22.  —  «Duarte  Pacheco  nam  contente  des- 
te desbarato,  foi  ainda  seguindo  os  imigos 
hum  bom  pedaço  ás  bombardadas,  e  sobre 
isso  saltou  em  terra,  onde  queimou  dous 
lugares  sem  aehar  nenhuma  resistência, 
o  que  feito  se  tornou  ao  passo  jà  as  qua- 
tro horas  depois  de  meo  dia,  que  tanto 
durou  este  negocio,  começando  pella  me- 
nhãa. »  Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  1,  cap.  87.  —  «De  manei- 
ra que  o  turco  vendo  a  sua  filha  já  no 
derradeiro  extremo  da  vida,  e  que  a  tris- 
teza que  a  tal  estado  a  fez  vir,  nào  se 
pode  curar  senão  com  o  que  lhe  pede, 
concedeu-liie  de  os  dar  a  troco  d'Albav- 
zar  seu  genro  soldão  de  Babylonia,  por- 
que também  seus  vassallos  apertam  por 
isso :  e  sobre  isto  vos  manda  embaixador 
que  será  aqui  hoje  té  manhàa.»  Francis- 
co de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  112.  —  «Parece-me,  disse  el-rei  á 
rainha,  que  a  máo  tempo  acertaram  oi 
cavalleiros  pêra  sua  empreza,  que  o  das 
Donzellas  não  dará  as  suas  tào  de  bara- 
to que  as  levem  sem  seu  preço,  Artisia 
com  suas  companheiras  se  desviaram  da 


companhia  das  outras  d'Arlança,  pêra 
que  se  enxergasse,  que  sobre  ellas  ha- 
via de  ser  a  diflerença.»  Ibidem,  cap. 
129.  —  «Sobre  isto  debaterão  ambos,  e 
começou  a  haver  alvoroço,  a  que  ElRey 
acodio,  e  os  apazigou,  e  por  fim  de  to- 
das as  pretençoens  se  louvàraiã  ambos 
em  ElRey,  do  que  o  Ouvidor  fez  lium 
termo  assinado  por  elles.  Acabado  isto 
fez  ElRey  a  todos  os  Portuguezes  esta 
breve  fala.»  Diogo  de  Couto,  Década  6, 
liv.  10,  cap,  11. 

Xào  hei  de  ir  fora,  senhora  ? 
ora  grão  púcaro  dagoa 
me  maudae  dar  sobre  isso  agora. 
ANTÓNIO  PBEsxEs,  AUTOS,  pag.  337. 

Gentil  graça  a  do  meu  moço  ! 
casa  sú  e  porta  aberta ! 
moço  põe  isto  no  osso  ; 
se  elle  nào  caio  no  poço 
dorme  sobre  cousa  certa. 
IBIDEM,  pag.  433. 

—  «Porem  Christo  a  quem  pertencia 
declarar  a  ley,  como  notou  Ruberto,  so- 
bre aquellas  palauras  do  Génesis,  aonde 
diz  a  Escriptura,  que  lacob  tirou  a  pe- 
dra do  bocal  do  poço,  de  que  bebiào  os 
gados  dos  Palestinos.»  Fr.  Thomaz  da 
Veiga,  Sermões,  part.  1,  col,  1,  —  «E 
ha  outras  tantas,  em  que  também  por 
ordem  da  cidade  estão  muytas  molheres 
pobres  que  saõ  amas,  e  dão  de  mamar  a 
todos  os  engeitados  a  que  de  certo  se  não 
sabe  pay  nem  mày,  porem  antes  que  es- 
tes se  aceitem  nestas  casas,  faz  a  justiça 
sobre  isso  grandes  exames,  e  se  se  vem 
a  saber  qual  foy  o  pay  ou  a  mãy  do  en- 
geitado,  03  castigào  gravemente,  e  os 
degi-adão  para  certos  lugares  que  elles 
tem  por  mais  esteriles  e  doentios.»  Fer- 
não Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap. 
112. 


Avante  passo,  attonito  contemplo 
Xas  paredes  do  Aicaçar  esculpido. 
Quanto  a  vetusta  Fysica  ignorava 
Sobre  a  essência  do  ar  :  nua  a  verdade 
Se  me  descobre,  c  manifesta  aos  olhos. 

J.  A.   DE  MACEDO,  VTAGEM  EXTÁTICA,  Caut.   4. 

E  este  mesmo  senado  inda  duvida. 
Pausado  agita,  frio  delibera 
Sobre  a  causa  da  pátria...  Ah,  não,  ó  Padres, 
Xào  vale  em  lances  d'e3tes  a  prudência, 
So  produz  enthusiasmo  as  acções  grandes. 

GABBETT,  CATÃO,  aCt.  2,    SC.    1. 

—  Superior,  acima  de.  —  «  E  ainda 
que  de  huuma  parte  fosse  hum  soo  Cre- 
dor, e  da  outra  fossem  muitos,  se  àquel- 
le  huum  soo  fosse  mais  devido,  que  a  to- 
dollos  outros,  aquelle  soo  pervaleceria 
sobre  todollos  outros,  em  tal  guisa  que 
se  naõ  esguarde  acerqua  desto  o  conto 
dos  Credores,  mas  somente  a  soma  e 
quantidade  da  divida,  como  dito  he.» 
Ord,  Affons.,  liv,   3,    tit,    131,  §  3.  — 


550 


mim 


SOBR 


SOBR 


«Tem  charamelliis,  orgEos,  c  outros  ins- 
trumentos, sam  muito  musicoa  assi  no 
canto  (lorji^ain,  como  no  tanger  dos  ins- 
trumentos, lia  na  terra  Hiuito  ouro,  c 
prata,  a  fira  o  que  vem  doutras  jironin- 
cias,  o  sobre  toilas,  o  em  mor  cantidade 
da  terra  dos  Loquoos,  (jiuo-i,  c  lapan- 
í»03.i>  Damirio  de  does,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  4,  cap.  25. —  «Porque  o 
teu  estado  nestes  dias  sobre  os  outros 
florescente,  no  fim  da  tua  idade  fiquo 
mais  abatido,  e  com  monos  fi^loria  e  lou- 
vor do  quo  té  aflora  to  i)ozeram  tuas 
obras.  Ouve  minha  embaixada,  acceita 
as  coudiyues  dolla,  e  não  tão  somente  se- 
nis senhor  do  que  quizores,  mas  inda 
nem  a  fortuna  terá  cm  que  te  empecer, 
nem  tu  de  que  lhe  haver  medo.»  Fran- 
cisco do  Moraes,  Palmeirim  dTnglaterra, 
cap.  93. —  «E  posto  que  a  liberdade  de 
Albayzar  seu  marido,  ella  sobre  todas 
as  pessoas  do  mundo  a  deseja,  avisa  vos- 
sa alteza,  que  primeiro  que  o  entregueis, 
estejam  postos  os  vossos  em  inteira  segu- 
ridade; porque  depois,  se  alguma  cousa 
Bucceder,  ella  se  haja  por  sem  culpa.  Com 
isto  se  desobriga  de  toda  a  suspeita,  que 
ao  diante  neste  caso  so  possa  ter  delia.» 
Ibidem,  cap.  112. —  «E  no  intróito  del- 
le,  logo  nos  primcyros  três  capitolos  tra- 
ta dos  banquetes  com  que  Deos  se  ha  de 
convidar,  e  que  preço  tem.  E  daly  por 
decondoncia  vem  logo  ter  ao  Rcy  da  Chi- 
na, que  na  terra  e  no  governo  delia  di- 
zem que  assiste  por  especial  graça  do 
Ceo,  por  presidente  sobre  todos  os  Reys 
que  ha  nella.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pe- 
regrinações, cap.  105.  —  «E  fazéndolhe 
huma  grossa  mercê  de  dinhejTo,  o  fez 
general  da  costa  deste  mar  com  provisões 
de  Rey  absoluto  sobre  todos  os  Oyaas, 
que  saõ  como  duques,  para  desafrõtar  es- 
tos povos  das  avexaçòes  que  os  nossos 
lhe  fazião,  e  lhe  prometeo  de  o  fazer  du- 
que de  Banchaa,  que  he  hum  estado  muy- 
to  grande,  se  lhe  trouxesse  as  cabeças 
dos  quatro  capitães  Portugueses.»  Ibidem, 
cap.  1-46.  —  aCovsa  lic  manifesta,  que 
a  excellencia,  e  preenuacncia  que  o  ho- 
mem tem  sobre  os  animaes,  e  criatu- 
ras corporaes,  eõsiste,  em  que  sò  elle 
pode  conhecer,  Lõrar,  e  amar  a  Deos. 
Porque  no  que  pertence  aas  abilidades 
corporaes,  muytos  animaes  nos  excedem.» 
Fr.  Bartholomeu  dos  Martyros,  Catecis- 
mo da  doutrina  christã. 

Sohre  esto  Sólio  fulgurante  existe 
O  Ci-endor  Supremo,  c  a  ai  se  forma 
Com  sua  Eternidade,  ;i  gloria  sua. 

J.   A.    DE  MACEDO,  A  NATUBEZA,  Oailt.    1. 

—  Sobre  gue;  pelo  que,  pelo  qual  mo- 
tivo.—  «E  se  o  demandador  vencer  a 
cousa,  sobre  que  he  a  contenda,  julgue- 
Iha  o  Juiz  por  sua,  c  faça-o  delia  catre- 
guar,  e  defenda-o  na  entregua.»  Ord.  Af- 
fons.,   liv.  4,    tit.   54,  §  1.  —  «No  qual 


caminho  antes  d;  chegar  a  Dio  tomou 
duas  nãos  de  mouros  huma  que  se  ren- 
deo,  c  outra  sobre  que,  por  se  os  delia 
defenderem  mui  esfoiTadauiente,  morre- 
rão muitos,  assi  d(;lli!S  como  dos  no-sos, 
por  se  nella  atear  fogo  de  que  ardeo.» 
Damião  de  Ooe.«,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  4,  cap.  4.5. —  «E  temendo  o  (Jliim 
quo  não  se  lhe  pudesse  defender,  veyo 
c3  ello  em  côccrto  de  paz,  cõ  algumas 
cSdiyocns  cm  quo  o  Chim  desistio  do  di- 
reyto  sobre  que  era  o  litigio,  e  lhe  deu 
mais  dous  mil  picos  de  prata  para  i»aga 
da  gente  forasteyra  que  trazia  comsigo, 
o  com  isto  ficou  o  negocio  pacifico  e  quie- 
to por  espaço  de  cinquenta  e  dous  annos, 
porque  assi  o  diz  a  mesma  historia.»  Fer- 
não Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap. 
95. 

—  Figuradamente :  Estar  sobre  al- 
guém; estar  superior  a  elle,  serdhe  supe- 
rior. 

—  Estar  sobre ;  ficar  por  padrasto ;  a 
cavalloiro. 

—  Estar  o  inimigo  sobre  a  cidade ;  es- 
tar assediando-a,  e  combatendo-a, 

—  Diz-se  que  um  navio  está  sobre, 
quando  o  vento  sopra  por  ante  avante  do 
panno,  fazendo-o  cair  sobro  o  apparelho, 
e  por  consequência  o  navio  para  a  ré ; 
diz-se:  Iraceou  sobre,  tem  o  vento  so- 
bre, 2^ôz-se  sobre. 

—  Sobre  jialavra,  sobre  seguro;  dada 
palavra,  dado  seguro,  com  confiança  do 
quem  est;l  seguro. 

—  Ser  sobre  aJguem;  ser  superior  a 
elle  em  ordem,  jurisdicção,  graduação, 
etc. 

—  Algum  tanto  mais  de. 

—  Além,  demais.  — «Mas  dizem  1:1 
que  :i  cadca  nem  por  coima  de  figos,  c  se 
me  deixo  hir,  liey  de  gastar  mais  de  dez 
mil  cruzados  no  livramento,  e  no  cabo 
naõ  ficarey  bem  limado  de  tudo,  sobre 
bem  aflligido.  Leve  S.  Pedro  o  trancc- 
lini,  que  taõ  caro  me  custa.»  Arte  de 
furtar,  cap.  9. 

—  Tomar  sobre  mim  toda  a  carga  de 
uma  mercc;  obrigar-me  por  ella.  —  «A 
senhora  Lionarda  ganha  tanto  n'isso  polo 
preço  de  vossa  pessoa,  disse  Polinarda, 
que  haverá  pouco  que  rogar ;  porém  se 
pêra  sua  condição  isto  não  basta,  eu  tomo 
sobre  mim  toda  a  cai-ga  d'essa  mercê,  e 
lhe  beijarei  as  mãos  fazer-nol-a  a  ambos, 
ficando  cu  só  na  obrigação  de  a  pagar.» 
Francisco  de  Jloraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  112. 

—  Sobre  tudo;  mormente,  principal- 
mente, acima  de  tudo.  —  «E  sobre  tudo 
em  lugares  convenientes  fontes  d'agua 
clara,  que  sabida  delias  se  sumia  por  ca- 
nos secretos,  e  logo  tornava  a  salúr  por 
esguichos  apertados  com  tamanha  fúria, 
como  lhe  fazia  trazer  a  força,  com  que 
sahia,  cahinuo  em  pias  da  mesma  pedra 
grandes  e  lavradas  do  lavor  dos  tanques.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'lngla- 


terra,  cap.  1 20.  —  » E  sobre  tudo,  qae  a 
Cidade  de  Toledo,  cabeça  de  Castella,  e 
de  toda  a  sua  Monarquia  taõ  rica,  e  po- 
jiulosa,  que  àlèm  da  grande  multidlto  da 
Nobreza,  Clero,  Mercadores,  c  Povo,  b6 
de  Oflfieiaes  de  Seda,  e  I.a.1  titdia  em 
tempo  dos  Reys  Catholicos  mais  de  lOfS. 
Teceloens;  agora  confessa  o  dito  Chro- 
nista,  que  naTS  passaS  de  &r).  todofl  Beoa 
moradores.»  Manoel  Sevcrim  de  Faria, 
Noticias  de  Portugal,  Disc.  2,  cap.  9.  — 
íAbundão  cm  gado  notauelmente,  e  em 
Pauões,  e  Bogios,  e  sobre  tudo  cm  gali- 
nhas, do  que  ha  tai:ta  cantidadc,  quo  dão 
cincoenta  por  hum  cruzado.  Vcrda<le  seja 
que  a  falta  do  dinheiro,  he  aqui  mayor, 
que  nas  outras  partes,  e  assi  tem  mais 
valia.»  Fr.  (iaspar  de  S.  Bernardino, 
Itinerário  da  índia,  cap.  4. 

Nem  bastava  privar  das  doces  vidaa 
r»â  infolicc3  corpos,  não  culpados, 
K  roubar-llies  as  fazendas  adquiridas 
Ou  por  si,  ou  por  wiiis  antepassados; 
Mas  fohre  tudo  ainda  de  fingidas 
Maldades,  os  fazia  ser  notados, 
Porque  ficassem  obras  tão  dumnadas 
Co'a  infâmia  dos  mortos  desculpadas. 

FUANCISCO  d'aHDRAT)B,    PBIMCIBO  CSBOO  DB  DIV, 

cant.  1,  est.  12. 

—  «Porem  não  declarando  se  era,  ou 
dcixaua  de  ser  cul|iado  no  caso  por  que 
morria.  Falando  nmytas  cousas,  e  fazen- 
do em  tal  tempo  alguma.s  perguntas  como 
de  homem  muy  acordailo,  e  de  grande 
esforço,  e  sobre  tudo  catholico,  e  bom 
Christão.»  Garcia  de  Rezende,  Cbronica 
de  D.  João  II,  cap.  46.  —  «O  nosso  lhe 
tornou  a  preguntar,  se  despois  deste  cas- 
tigo dera  Deos  outro  algum,  e  respondeo, 
que  geral  nenhum  outro  que  fosse  seme- 
lhante a  este,  mas  que  era  particular  cas- 
tigava continuamente  a  todos,  assi  aos 
reynos  c  aos  povos  com  guerras  e  fomes, 
como  aos  homens  com  afliçoens,  traba- 
lhos, e  doenças,  e  sobre  tudo  com  pobre- 
za, quo  era  o  remate  de  todos  os  males.» 
Fernão  Alendes  Pinto,  Peregrinações,  ca- 
pitulo ih:3. 

—  Sobre  si;  distinctamente,  separada- 
mente. —  «D'alli  se  repartia  aquella  agua 
por  lugares  diversos,  uma  pcra  uma  par- 
te, outra  por  outra,  toda  por  canos  de 
metal  postos  por  ordem,  com  que  se  re- 
gava geralmente  todo  o  jardim  e  cada 
cousa  sobre  si.  Isto  n.ão  por  mão  de  nin- 
guém; mas  a  mesma  ordenança  dos  ca- 
nos hia  visitando  e  correndo  tudo.»  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  d'InglateiTa, 
cap.  120. 

—  Fechados  sobre  si. —  «Correndo  o 
negocio  por  ordem  de  alguns  captivos  ve- 
lhos, e  dos  Christãos  mercadores  da  Adua- 
na, que  he  irm  lugar  onde  vivem  em  li- 
bordade  fechados  sobre  si.p  Jeronymo  de 
Jlendonça,  Jornada  de  Africa,  liv.  2, 
cap.  20. 

—  Parecer  vtr  sobre  *í    uma  etcuris- 


SOBR 


SOBR 


SOBR 


551 


sivia  noite.  —  «Muito  mais  temeroso  lhe 
pareceo  verem  sobre  si  huma  escuríssima 
noite  que  a  negriclão  do  tempo  derramou 
sobre  aquella  região  do  ar,  de  maneira 
que  huns  aos  outros  não  se  podiào  ver,  e 
cõ  o  asoprar  do  vento  muito  menos  ou- 
uir.»  Barros,  Década  1,  liv.  5,  cap,  2. 

—  Estai-,  andar  sobre  si;  estar  sem 
dependência,  com  isenção. 

—  Tomar  sobre  si  o  peso  da  família; 
tornar-se  responsável. 

—  Estar,  andar  sobre  si;  estar  sepa- 
rado de  outrem. 

—  Andar  sobre  st;  vigiar-se. 

—  Sobre  o  dito  caso. —  «E  depois  de 
sobre  o  dito  caso  ter  conselho,  mandou 
logo  por  embayxador  Duarte  Galuão  do 
seu  conselho  com  cartas  ao  Emperador, 
e  a  el  Rev  de  França,  e  pêra  outras  cou- 
sas que  compriani,  e  com  poder  de  des- 
afiar e  romper  guerra  com  os  inimigos 
do  dito  Rey  dos  Romãos,  e  com  quaes- 
quer  que  pêra  sua  soltura  lhe  parecesse 
necessário.»  Garcia  de  Rezende,  Chroni- 
ca  de  D.  João  II,  cap.  72. 

— -Divisar  sobre  a  campina  liquida 
ledo  espectáculo. 


Mas  que  ledo  espectáculo  devisas 
Sobre  a  campina  liquida,  qu'  apenas 
Encrespa  o  meigo  Zéfiro  co'  as  azas? 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUBEZA,  Caut.  3. 


—  Amor  sobre  tenção. 

O  caso  he :  Sobre  meus  dias, 
Em  tempo  contra  rezào, 
Veio  Amor  sobre  tenção, 
E  fez  de  mi  outro  Maneias, 
Tào  penado, 
Que  de  muito  namorado 
Creio  que  me  culpareis 
Porque  tomei  tal  cuidado ; 
E  do  velho  destampado 
Zombareis. 

GIL  VICENTE,   FABÇAS. 

—  Chegar  sobre  a  cidade;  chegar  a 
ella.  —  «Outra  jornada  conta  o  bispo  D. 
Pelayo  de  Oviedo,  que  fez  este  Rey  pe- 
las terras  a  dentro  de  Portugal,  que  ago- 
ra se  chamão  Estremadura,  e  chegando 
sobre  a  Cidade  de  Merida,  entre  outros 
despojos  de  preço,  que  alcançou  nella, 
foy  o  corpo  da  Virgem  e  Martyr  Santa 
Eulália,  e  grande  parte  do  berço  em  que 
foy  criada,  tudo  o  qual  meteu  em  huma 
arca  de  prata,  que  poz  na  Igreja  de  S. 
Joaõ  Evãgelista.t  Monarchia  Lusitana, 
liv.  7,  cap.  9. 

.  —  Paz  assegurada  sobre  tantas  victo- 
rias.  —  «Chamou  o  Bispo  D.  João  de  Al- 
buquerque, D.  Diogo  de  Almeida  Freire, 
ao  Doutor  Francisco  Toscano,  Chanceller 
Mór  do  Estado,  a  Sebastião  Lopes  Lo- 
batto,  seu  Ouvidor  Geral,  e  a  Rodrigo 
Gonçalves  Caminha,  Veador  da  Fazenda, 
aos  quaes  entregou  o  Estado  com  a  Paz 
dos  Principes  visinhos,  assegurada  so- 
bre tantas  victorias.»  Jacintho  Freire  de 


Andrade,   Vida   de    D.   João    de    Castro, 
liv.  -4. 

—  Dar  juramento  sobre  as  maças.  — 
«Aquy  detiveraõ  o  Mitaquer  hum  pouco, 
fazeiulolhe  com  muytas  cerimonias  algu- 
mas preguntas,  e  dandoihe  juramento  so- 
bre as  maças  que  os  quatro  moços  leva- 
vão,  o  qual  eile  tomou  em  joelhos,  bei- 
jando o  chaõ  por  três  vezes.»  Fernão 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.  122. 

—  A  respeito  de,  relativamente.  — 
«Finalmente  acabando  de  apresentar  to- 
das estas  peças,  sobre  as  quaes  elle  fez 
muitas  perguntas,  e  assi  sobie  as  que  lhe 
elRey  maudaua  pêra  sua  pessoa.»  Bar- 
ros, Década  1,  liv.  3,  cap.  9. —  «E 
quem  lhe  fazia  ter  maior  escândalo  del- 
Rey,  e  o  mães  indignaua  sobre  este  caso 
eraõ  paixues,  e  còpetencias  que  entre  si 
traziaõ  dous  Mouros  que  se  mostrauaõ 
grandes  amigos  delle  Aires  Corrêa,  e  o 
caso  era  este.»  Ibidem,  liv.  õ,  cap.  5. 

—  Actos  uns  sobre  os  outros;  actos  re- 
petidos sem  grande  intervallo. 

—  Depois  de,  em  cima  de. 

—  Ir,  vir  sobre;  ir  contra.  —  «lun- 
tandoselhe  cada  dia  innumeraueis  gentes 
com  que  foy  segunda  vez  sobre  Meca, 
da  qual  alcançou  huma  grade  vlctoria, 
metendo  a  Cidade  a  xaque  ;  com  que  en- 
riqueceo  os  soldados,  ficando  todos  prós- 
peros, e  elle  cheyo  de  noua  fama.»  Frei 
Gaspar  de  S.  Bernardino,  Itinerário  da 
índia,  cap.  20.  —  «Feita,  e  outras  caual- 
gadas  de  que  nam  faço  mençaõ  por  se- 
rem de  pouca  importância,  el  Rei  de  Fez 
veo  sobre  Arzilla  ja  no  fim  do  mes  de 
Abril  do  mesmo  anno  de  M.D.xvi.  com 
mais  de  cem  mil  homens,  em  que  dizem 
que  auia  trinta  mil  de  cauallo.»  Damiào 
de  Góes,  Ghronica  de  D.  Manoel,  part. 
4,  cap.  5. 

—  Em  cima  de.  —  «Depois  desta  en- 
trada sahio  dom  Aluaro  da  cidade  aos 
XXV  dias  do  mes  de  Março,  pêra  ir  sobre 
huns  Aduares  da  Enxouuia,  questão  dal- 
li  outras  doze  legoas,  mas  antes  que  la 
chegasse  achou  alguns  mouros  dos  mes- 
mos Aduares  que  andauam  espalhados 
pelo  campo  apanhar  frueta,  dos  quaes 
captiuou  cincoenta.»  Ibidem,  part.  4, 
cap.  39. 

—  Ter  dmninio  sobre  toda  a  creação ; 
dominar  em  toda  ella,  governar  em  tudo, 
porque  tudo  foi  creado. 

Este  Deoa  he  muito  amado 
E  adorado, 

Porque  ti'm  dominação 
Sobre  toda  a  creação. 

GIL  ^TCCESTE,    FARÇAS . 

—  Em.  —  Posto  sobre  cousa.  —  «Se 
preito  for  piosto  sobre  cousa,  que  nom 
pudesse  seer,  porque  he  defeso  per  direi- 
to que  se  nom  faça,  e  he  hi  posta  pena 
pêra  comprillo,  nom  se  pode  defender 
que  nom  peite  a  pena,  como  quer  que  se 


nom  deva  teer  o  preito  principal.»   Ord. 
Affons.,  liv.  4,  tit.  62,  §  3. 

—  As  casas  cahiam  sobre  a  vista  d' um 
logar.  —  «ElRey  de  Ormuz  a  este  tempo, 
com  seus  Governadores,  e  Mires,  que  são 
08  nobres  do  Reyno,  poz-se  ás  janellas 
de  suas  casas,  que  cahiam  sobre  a  vista 
deste  lugar,  per  onde  entrava  o  Embai- 
xador, o  qual  era  acompanhado  de  D. 
Garcia  de  Korouha,  como  pessoa  princi- 
pal, e  de  muitos  Fidalgos,  e  Cavalleiros, 
trazendo  o  Embaixador  o  presente  ante 
si  nesta  ordem.»  Barros,  Década  2,  liv. 
10,  cap.  4. 

—  Ir  ter  sobre  a  barra  de  Goa.  — 
(lE  de  todas  estas  náos  Francisco  Noguei- 
ra perdeo  a  sua,  e  Jorge  da  Silveií-a  pas- 
sou á  índia  per  fora  da  Ilha  de  S.  Lou- 
renço, e  foi  ter  sobre  a  barra  de  Goa  a 
oito  de  Julho ;  e  por  o  tempo  ser  muito 
verde,  não  ousando  de  entrar,  passou 
adiante  a  Anchediva,  onde  esperou  perto 
de  dous  mezes  té  se  ir  a  Cochij,  onde 
achou  AíFonso  d'Alboquerque.»  Barros, 
Década  9,  liv.  2,  cap.  2. 

—  Descer  a  nebrina  sobre  a  serra. 


Alfim  no  oceano  se  mergulha  a  lâmpada 
Do  firmamento  máxima.  Descia, 
Como  um  veo,  a  nebrina  sobre  a  serra  •, 
Ja  lho  toucava  a  frente,  e  ia  ligeira 
Pela  espalda,  inscnsivl  devolvendo, 
Té  lhe  pousar  as  orlas  na  planicie. 
GAKKETT,  CAMÕES,  cant.  9,  cap.  1. 


—  Encostar 
do  amigo. 


peito  sobre  o  peito  lea 


Poisa  no  hombro  fiel,  o  peito  incosta 
Sôhre  o  peito  leal  do  amigo...  —  Amigo 
Direi,  amigo  sim:  peja-te  o  nome, 
Orgulho  do  homem  vão,  por  dado  ao  escravo? 

GAEKBTI,  CAMÕES,  CaUt.  10,  Cap.  11. 

—  Lançar  o  fogo  sobre  alguém;  quei- 
mal-o,  vingando-se  assim.  —  «Ao  mesmo 
tempo  chegou  D.  Jeronymo  de  Castel- 
branco,  e  atravessouse  antre  as  Galês, 
pondo  a  Caravela  em  seco  no  mevo  de 
duas  delias,  sobre  quem  lançou  tanto 
fogo,  que  as  abrazou.»  Diogo  de  Couto, 
Década  6,  liv.  10,  cap.  20. 

—  Tirar  int^tiirição  sobre  alguém;  in- 
dagar d 'elle. —  «E  pêro  que  os  Direitos 
estabelecerom,  que  esta  insinuaçom  fosse 
feita  pelos  Juizes  das  terras,  a  usança 
geeral  destes  Regnos,  e  estillo  da  Corte, 
foi  e  he  usado  per  tam  longo  tempo,  que 
a  memoria  dos  homeens  nom  he  em  con- 
ti-airo,  que  taaes  doaçuoes  sejam  per  Nós 
insinuadas,  mandando  primeiramente  so- 
bre ello  tirar  enquiriçom.»  Ord.  Affons., 
liv.  4,  tit.  68. 

—  Sobre  a  tarde;  já  entrando  a  tarde. 

—  Sobre  a  noite;  pela  noite. 

—  Ad.vgios  e  provérbios  : 

—  Sobre  comer,  dormir. 

—  Sobre  cear,  passos  dar. 


552 


SORR 


SOBR 


SOBR 


—  Sobre  pcraií  vinho  bebas,  e  Bcja  tan- 
to,  que  ii;ul(!iii  elliiH. 

—  Sobre  mim  li((uo. 

—  Sobre  vossa  iiello  se  trata. 

—  Sobre  ncííi-cífura  nilio  ha  tintura. 

—  Sobre  ilinlieiro  nilo  ha  companiiciro. 

—  Aj^iiii  sobre  nixnn  num  suja,  nem 
lava. 

SOBPEABUNDANTE,  ffIJ.  Vu\.  Super- 
abundante. 

SOBREABUNDAR,  i'.  n.  Vid.  Super- 
abundar. 

SOBREAGUADO,  A,  wlj.  Cheio  tUafíua, 
coberto  d'clla,  anef^aijo. 

—  Campos,  (up-vs  sobreaguados  ;  cam- 
pos alauadds. 

SOBREALCUNHA,  s.  f.  Sobrea^pcllido. 

SOBREANCA,  .s.  /.  Vid.  Xarel. 

SOBREAPPELLIDÒ,  .í.  m.  Aleunha  ou 
solirciiomr,  addidi)  a  autru  appcUiiio. 

SOBREARCO,  s.  w.  —  Sobrearco '/oywr- 
tal ;  a  vci;:a. 

SOBREAVISO,  s.  m.  Aviso  antecipado, 
prévio. 

—  Estar  de  sobreaviso ;  prevenido  com 
aviso. 

SOBREAVONDAVEL,  adj.  Termo  anti- 
quado. Su]H'r;iliuiidante. 

SOBREAXILLAR,  adj.  2  gen.  Termo 
de  botânica.  .Sobretblheaceo. — Pedúncu- 
lo sobreaxillar. 

—  Vid.  Subaxillar,  (|uo  é  difforcnte. 
SOBREBAILÉO,  ou  SOBREBAILEU,  s.  m. 

Baiico  collocailo  sobre  outro. 

SOBREBAINHA,  s.  /.  Forro  exterior  da 
bainha. 

SOBREBICO,  íí.  m.  A  parto  superior 
do  bico. 

SOBRECABADO,  A,  adj.  Alto,  na  maior 
eminência. 

SOBRECANA,  ou  SOBRECANNA,  s.  /. 
Tumor  duro,  scni  dôr,  ([uc  se  taz  no  ter- 
ço da  caniia  <Io  braço  do  cavallo. 

1.)  SOBRECARGA,  s. /.  A  pessoa  que 
leva  instrucçòos  sobre  necrociações  da 
carita  do  navio,  representando  o  proprie- 
tário, como  seu  feitor. 

2.)  SOBRECARGA,  s.  f.  A  carpra  de 
mais  que  nào  sotlrc  o  porte  do  navio  ou 
besta. 

—  Fif^uradamcnte :  Cousa  que  aggra- 
va  o  incommodo  (jue  já  se  sentia. 

3.)  SOBRECARGA,  s.  /.  Espécie  de  ci- 
Iha  de  lã  ou  estopa  com  correia  ou  lá- 
tego, com  que  se  aperta  a  carga  depois 
de  po^ta  sobre  a  l)ôsta. 

SOBRECARREGADO,  -part.  pass.  de  So- 
brecarregar. 

—  Navio  sobrecarregado  ;  navio  c;vr- 
regado  ile  mais. 

—  Figuradamente  :  Uma  cidade  so- 
brecarregada dt'  habitantes. 

SOBRECARREGAR,  v.  a.  Carregar  com 
mais  peso  ou  car^^a  do  que  aquella  que 
peide  levar.  —  Sobrecarregar  ama  caval- 
gadura. 

—  Sobrecarregar  o  povo  com  impostos, 
tributos,   etc. 


—  Carregar  excossivamento  o  navio, 
o  ([Uc  lhe  faz  perder  as  suas  boas  quali- 
•  iade^. 

SOBRECARTA,  s.  f.  Segunda  carta  ou 
carta  pa.^sada  depois  ila  primeira,  ou  <|ue 
conlirma  c  accrescenta  :í  primeira. 

SOBRECASACA,  a.  f.  Vid.  Redingote, 
apesar  de  ser  termo  menos  em  uso  do 
(pie  aqitr.lie. 

SOBHECELESTE,  adj.  2  gen.  Do  céo, 
celestial. 

SOBRECELESTIAL,  adj.  2  gen.  Acima 
de  ceh^stc,  mais  (|uo  celestial. 

SOBRECELLENTE.   Vid.  Sobresalente. 

SOBRECENHO,  s.  m.  Carranca  (jue  se 
faz  franzindo  as  sobrancellias  e  ccrran- 
do-as. 

—  Sendilante,  earregailo. 
SOBRECÉO,  ou  SOBRECEU,  *.  m.  Ouar- 

da-pi'>,  que  liça  por  cima. 

-—  ravilh.ào,  es|iaravel. 

SOBRECEVADEIRA,  .<<.  /.  Termo  de 
náutica.  \'ela  pequena  que  tica  sobre  a 
c  evade  ira. 

SOBRECHEGAR,    r.    n.   Sobrevir, 

SOBRECHEIO,  ou  SOBRECHÈO,  A,  adj. 
Accuninlado,  aeui^ulado. 

SOBRECLAUSTRA,  s.  f.  Claustra  supe- 
rior. 

SOBRECOBERTA,  «.  /.  Segunda  cober- 
tura, ou  coberta. 

SOBRECOPA,  s.  f.  Copa,  tampa,  cober- 
tura do  vaso. 

SOBRECU,  s.  m.  O  niamniillo  que  algu- 
mas aves  tem  no  rabo,  d'ondc  saem  as 
pennas  que  o  compije. 

SOBRECURVA,  .<;.  /.  Tumor  carnoso  so- 
bre a  Junta  da  besta. 

SOBREDENTAL,  adj.  2  gen.  Que  está 
por  cima  dos  dentes. 

SOBREDENTE,  s.  m.  Dente  cavalgado 
sobre  outro. 

SOBREDITO,  ou  SOBREDICTO,  A,  adj. 
Dito,  roferiílo,  nomeado  antes,  ou  acima. 

—  «Este  cerco  se  acabou  de  poer  de  mar 
a  mar  aos  xxiij  do  mes  sobredito,  com 
muitos  bastiliioens,  tranqueiras,  e  baluar- 
tes, em  (|ue  assentaram  alguma  artelba- 
ria  de  ferro,  e  metal.»  Damiào  de  (iões, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  'ò,  cap.  11. 

—  «E  posto  que  a-si  Xerquia  apartamos 
na  maneira  sobredita,  e  com  Alcaide 
apartado,  quanto  aos  alimentos  da  terra, 
e  termo  que  ha  de  ficar  com  Azamor,  e 
com  çaiim,  nos  o  assentaremos  como  nos 
jiarcccr  que  seja  cousa  justa,  o  honesta 
pêra  cada  p;u-te,  e  enuiaremos  disso  nossa 
determinaram,  e  teremos  lembrança  do 
que  acerca  disto  nos  tendes  scripto. »  Ibi- 
dem, cap.  53.  —  «O  author  principal  que 
fez  vir  este  casamento  em  effecto,  foi  o 
sobredito  (iuilhelme  de  Crui  senhor  de 
xeures,  que  absolutamente  gouornaua  el 
Rei  dom  Carlos.  i>  Ibidem,  part.  4,  cap. 
o!5.  —  «Dahy  en>  diante  u!ío  vestissem 
mais  cousa  alguma  das  sobreditas,  somen- 
te os  homens  poderl,"io  trazer  gibões,  ca- 
rapuças, e  pantufos  de  seda,  e  as  molhe- 


rea  Baynho*,  e  cinta»,  e  bordaduras  de 
seus  vostidoB.  E  por  se  miihor  comprir, 
el  llcy,  e  a  Raynlia,  e  o  I-'rincipe,  e  o 
Duque  nunca  mais  vestir.lo  seila»,  scnSo 
nas  cousas  sobreditas.»  ííarcia  do  Re- 
zende, Chronica  de  D.  Joào  II,  cap.  04. 
—  «Ajunta  t*u  ao  sobredito  lia  gente  com- 
mum  temer  grandemente  os  lynithias  poU 
lo  ipie  ninguém  ho  ousaria  de  fazer  chriíi- 
tilo  sem  licença  delles,  ou  ao  menoH  nauí 
ousariam  nmitos  defazello.  •  Frei  íi aspar 
da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da  China, 
cap.  2X.  —  €  Tanto  que  «1  Rei  foy  enfor- 
mado de  todo  bo  sobredito,  logo  despa- 
chou de  sua  corte  hum  Quinchay,  de  que 
dissemos  acima  que  quer  dizer  chapa  dnn- 
ro,  e  que  nam  bc  mandam  semelhantes 
homens  se  nam  a  negócios  muy  impor- 
tantes.» Ibidem,    caji.  2.0, 

SOBREDIVINO,  A,  adj.  Mais  que  di- 
vino. 

SOBREDOURADO,  part.  patt.  de  Sobre- 
dourar. 

SOBREDOURAR,  v.  a.  Dourar  por  cima, 

—  Figuradamente:  Sobredourarem-se 
os  periqns. 

SOBREELEVAR,  v.  a.  Vid,  Sobrelevar. 
SOBREEMINENTE,    a^lj.    2   g<:n.    Maia 

que   cnui  <Mite. 

SOBREENTENDER,  r.  a.  Vid.  Superin- 
tender. 

SOBREERGDER,  v.  a.  Erguer  mais  al- 
to que  outra  cousa. 

SOBREERGUIDO,  part.  pass.  de  Sobre- 
erguer. 

SOBREERROGAÇÃO,  s.  f.  Obras  de  so- 
breerrogação  ;  por  maior  merecimento  de 
saivavào. 

SOBREESCREVER,  r.  a.  Escrever  por 
cima. 

SOBREESCRITO,  ou  SOBRESCRIPTO,  ou 
SOBRESCRITO,  s.  m.  (»  nome  de  pessoa 
ou  dignidade,  com  o  logar  da  habitaçilo 
que  se  escreve  sobre  a  capa  da  carta, 
para  se  saber  a  quem  é  dirigida;  vista  da 
Ciirta.  —  «Estes  Capitaens  se  foraõ  logo 
embarcar,  e  o  Capitão  D.  Pedro  da  Silva 
lhes  deu  hum  regimento  serraílo,  e  no 
sobreescripto  de  fiira  lhes  dizia  «que 
abrissem  aqucUe  tanto  que  fossem  fora 
dos  Estreitos,  e  que  fizessem  o  que  nelle 
lhes  mandava:»  e  embarcados  todos  de- 
raè  as  velas.»  Diogo  do  Couto,  Década  6, 
liv.  9,  cap.  9. 

— Figuradamente:  Rotulo,  signal  ex- 
terno. 

—  J^art.  pass.  de  Sobreescrever. 
SOBREESPERAR,   v.  a.  Esperar  muito, 

continuar  por  longo  tempo  na  esperança. 

SOBREESTADO,  part.  pass.  de  Sobre- 
estar. 

SOBREESTANCIA,  s.  f.  Seperintenden- 
cia,  vigilância,  ou  cuidado  de  vig^iar,  e 
dirieir  cfficiae.-'  inferiores  de  obra. 

SOBREESTANTE,  s.  m.  Superintenden- 
te, o  que  dirige,  vigia. 

—  Adj.  2  gen.  Que  esfcl  sobre, 
SOBREESTÀR,  v.  n.  Vid.  Sobrestar,  e 


SOBR 


SOBR 


SOBR 


553 


Sobstar.  —  «E  como  nesta  conjunção  se 
lhe  levantassem  alguns  Capitães  Mouros 
com  as  Cidades  que  tinhaõ  a  seu  cargo, 
sobreesteve  Abderramen  na  jornada  con- 
tra Christãos,  atè  pacificar  estas  difiicul- 
dades,  dando  tempo  a  Dom  Ramiro  para 
fazer  neste  meyo  tempo,  algumas  con- 
quistas importantes  nas  terras  de  Portu- 
gal.» Monarchia  Lusitana,  liv.  7,  cap. 
13. 

SOBREEXALTAR,  v.  a.  Engrandecer 
em  alto  grau,  louvar  muito. 

SOBREEXCEDENTE,  ijcu-t.  act.  de  So- 
breexceder.  Que  sobreexcede. 

—  S.  m.  O  muito  que  sobeja,  ou  exce- 
de sobre  outro. 

SOBREEXCEDER,  v.  a.  Passar  por  ci- 
ma, transmontar,  sobreelevar-se. 

—  V.  n.  Levar  vantagem  a  alguma 
cousa,  exceder  sobre  ella. 

SOBREEXCELLENCIA,  s.f.  Excesso  que 
põe  a  cousa  acima  do  excellente. 

SOBPEEXCELLENTE,  adj.  2  gen.  Mui 
excellente.  Vid.  Sobrexcellente. 

SOBREEXCELLENTISSIMO,  A,  adj.  su- 
perl.  de  Sobreexcellente.  Mui  sobreex- 
cellente. 

SOBREEXCELLER,  v.  n.  Termo  de  poe- 
sia. Exceder  muito,  levar  muita  vanta- 
gem. 

SOBREFACE,  s.  /.  Termo  de  fortifica- 
ção. A  distancia  eutre  o  angulo  exterior 
do  baluarte,  e  o  flanco  prolongado. 

—  Termo  antiquado.  Superfície. 
SOBREFOLHEACEO,  A,  adj.  Termo  de 

botânica.  Pedúnculo  sobrefolheaceo ;  pe- 
dúnculo existente  sobre  a  folba. 

SOBREGATA,  s.  /.  Termo  do  náutica. 
A  segunda  vela  redonda  do  mastro  da 
gata  ou  mezena,  que  caça  por  cima  da 
gata,  e  na  verga  d'e3te  nome. 

t  SOBREGATINHA,  s.  /.  Termo  de  ma- 
rinha. A  terceira  vela  redonda  do  mas- 
tro da  gata  ou  mezena  que  caça  na  ver- 
ga da  sobregata. 

SOBREGAVEA,  s.  f.  Peça  que  está 
acima  da  gávea. 

SOBREHUMANO,  A,  adj.  Superior  ás 
cousas  humanas. 


Porque  aqui  tal  matéria  s'ofFerccc 
A  hum  rudo  engenho,  baixo  entendimento, 
Qu'engenho3  sobrehumanof!  bem  merece 
O  sobrchumano  aeu  merecimento. 
Porém  se  a  meu  intento  não  fallece 
O  que  nunca  faltou  a  hum  bom  intento, 
Heróicos  varões,  eu  direi  tanto 
De  vóa,  que  ao  mundo  seja  inveja  e  espanto. 
F.  d'andr.íde,  primeiro  cerco  de  DIU,  cant.  1, 
est.  3. 


Começo  ja  a  temer  que  me  ordenasse 
Amor  este  tal  bem,  tão  sobrehumano, 
E  que  dentro  nesfalma  mo  arreigasse 
Com  a  continuação  dhum  e  doutro  auo, 
Para  que  d 'entro  as  mão.s  mo  arrebatasse 
Com  muito  maior  dôr,  muito  múr  dano, 
E  a33i  me  fique  o  mal  firme  o  dobrado 
Qu'em  memoria  de  bens  está  fundado. 
iBiDBM,  cant.  4,  est.  58. 
VOL.  T.— 70. 


No  Peristilo  magestoso  e  vasto. 

Eu  não  distingo  s'he  mortal,  se  hc  Nume 

Então  descubro  feminil  aspeito 

De  luz  banhado,  o  portamcnto,  ag  vozes 

Hum  snhre-humano  Ser  me  descobria. 

J.   A.    DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Cant.    1. 


Ah !  Nunca  de  meu  lado  hum  ponto  afasto 
O  volume  suavíssimo,  e  celeste 
Do  immortal  Vanier,  que  as  Leis  promulga. 
Em  sohre-huinano  Canto,  á  Agricultura. 
IBIDEM,  cant.  2. 

Sobre.-humano  prazer  se  apossa  d'alma 
Quando  desfarte  cu  só  sustento  o  Tubo 
Que  me  aproxima  o  Cco,  que  medo  o  espaço. 

IDEM,  A  NATUREZA,   Catlt.    1. 


—  Que  excede  o  saber,  e  faculdades 
do  cf)rpo,  e  alma  humana. 

SOBREHUMERAL,  s.  m.  O  ephod,  faxa, 
ou  estola  própria  do  summo  sacerdote  dos 
hebreus. 

SOBREINTENDENTE,  s.  m.  Vid.  Super- 
intendente. 

SOBREIRA,  s.f.  Vid.  Sobreiro. 

t  SOBREIRAL,  s.  m.  Vid.  Soverei- 
ral. 

SOBREIRO,  s.  m.  Vid.  Sovereiro. 

t  SOBREJOANNETES,  s.  m.  p/wr.  Ter- 
mo de  náutica.  Duas  velas,  uma  que  se 
larga  por  cima  do  joanuete  grande,  que  se 
chama  sobrejoannete  grande,  e  outra  que 
se  la)-ga  por  cima  do  joannete  da  proa, 
que  se  chama  sobrejoannete  da  proa. 

f  SOBREJOANNETINHOS,  s.  m.  plur. 
Termo  de  náutica.  Duas  velas,  uma  que 
se  larga  por  cima  do  sobrejoannete 
grande,  que  se  chama  sobrejoannetinho 
grande,  e  outra  que  se  larga  por  cima 
do  sobrejoannete  da  proa,  que  se  cha- 
ma sobrejoannetinho  da  proa. 

SOBREJUIZ,  s.  7/1.  Magistrado  antigo 
em  Portugal,  para  quem  se  recorria  dos 
juizes  inferiores ;  iam  com  alçada  ás  pro- 
víncias; e  nas  casas  de  Relação  corres- 
pondiam aos  aggravistas.  Aos  sobrejuizes 
succederam  os  corregedores  e  desembar- 
gadores dos  aggravos. 

SOBREJUSTIÇA,  s.  m.  Sobrejuiz,  cor- 
regedor. 

—  Juiz  da  alçada  sobre  outros. 
SOBRELANÇO,    s.  m.    Lanço  sobre  ou- 
tro ;  maior  lanço. 

f  SOBRELE.  Termo  antiquado,  em  vez 
de  Sobre  elle.  —  «Com  a  qual  ençarraua 
huma  parte  dos  arabaldes,  em  que  tinha 
muita  gente  de  guerra  artelharia,  e  ou- 
tras munições  onde  staua  a  mor  parte  do 
tempo  com  suas  guardas,  e  vegias  mui 
fora  de  alargar  o  regno,  posto  que  ja  de 
muitos  dias  tevesse  recado  que  o  gouer- 
nador  da  índia  auia  de  mandar  sobrele. » 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  4,  cap.  66. 

SOBRELEVADO,  pari.  pass.  de  Sobre- 
levar. Mais  alto  que  outro. 

—  O  preço  sobrelevado ;  o  preço  mui 
alto. 


SOBRELEVAR,  v.  a.   Vencer,   exceder 
em  altura,  passar  por  cima. 
■ —  SofFrer,  supportar. 

—  Vencer,  exceder. 

—  Sobrelevar-se,  v.  refl.  Levantar-so 
mui  alto,  exceder-se,  subíimar-se. 

—  Exceder,  vencer. 

—  Passar  por  alto. 

SOBRELHAS.  Termo  antiquado,  em  vez 
de  Sobre  as. 

SOBRELIMINAR,  «.  m.  Termo  de  forti- 
ficação. A  viga  que  se  atravessa  sobre  os 
esteios  perpendiculares  da  ponte  levadi- 
ça,  formando  com  elles  um  portal  de  ma- 
deira por  cima  do  liminar  da  porta,  da 
soleira. 

■f  SOBRELLA.  Termo  antiquado,  em 
vez  de  Sobre  ella.  —  «(íanhada  esta  al- 
deã, e  tirado  o  despojo,  que  se  nella 
achou,  lhe  mandaram  poer  o  fogo  de  que 
ardeo  toda.  E  quanto  a  outra  aldeã  de 
Tafuf,  dom  João  mandou  do  caminho,  an- 
tes de  chegar  a  Benaçafíz  dom  Bernardo 
Emanuel,  camareiro  mor  dei  Rei,  e  loam 
da  sylua  sobrella,  por  estar  mais  abai- 
xo.» Damião  de  (joes,  Chronica  de  D.  Ma- 
noel, part.  3,  cap.  48. 

Estando  so  ha  cidade, 
por  morrerem  muyto  nella, 
so  fez  esta  crueldade ; 
mas  el  Rey  mandou  sobrella 
com  muy  grande  brouidade, 
mnytos  foram  justiçados, 
quantos  acharam  culpados, 
homens  baixos  e  bragantes. 

o.    DE    REZENDE,   MISCELLANEÀ. 

f  SOBRELLE.  Termo  antiquado,  em 
vez  de  Sobre  elle.  —  «  Por  coifa  vsão  de 
hum  barrete,  a  que  chamão  Araxim,  que 
muytas  vezes  he  de  tella  douro,  segundo 
a  posse  de  cada  huma,  e  sobrelle  hum 
modo  de  fonil  de  prata,  porque  se  vay 
estreytando  pêra  sima,  e  sobre  este  fonil 
põem  a  toalha.»  Fr.  Haspar  de  S.  Ber- 
nardino, Itinerário  da  índia,  cap.  13. — 
«Lhes  rogou  que  nam  fezessem  mais  mal 
do  que  ja  tinham  feito,  que  elle  se  daua 
por  vingado  de  seus  imigos,  o  que  nam 
abastou  pêra  os  nossos  deixarem  de  fazer 
outra  entrada  pelas  terras  dei  Rei  de  Ca- 
lecut, e  imigos  delrei  de  Cochim  da  qual 
Afonso  Dalbuquerquc,  e  Francisco  Dal- 
buquerque,  depois  de  terem  feito  assaz 
de  mal  nos  lugares  sobre  que  foram  dar, 
se  recolheram  cora  muito  trabalho,  por 
virem  sobrelle  seis  mil  Naires,  entre  os 
quaes  auia  alguns  espingardciros.»  Da- 
mião de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  1,  cap.  78.  —  «Elle  mandou  tomar 
hum  nauio,  a  que  chamam  chãpana,  que 
estaua  surto  no  porto  carregado  de  Ar- 
roz, donde  se  azou  vir  o  Lascar  com  mais 
de  cinco  mil  homens  sobrelle,  com  quem 
ouue  huma  trauada  peleja,  cm  que  os 
imigos  forão  desbaratados,  por  caso  dos 
muitos  tiros  de  fogo,  e  bombardadas. »  Ibi- 
dem, part.  4,  cap.  27.  —  «Mas  em  che- 


554 


SOBK 


SOBR 


SOBE 


gando  aos  Aduares,  como  virara  que  com 
03  Abidcs  cstauam  ctiristSo!»,  parocendo- 
Ihes  que  seria  dom  Nuno,  kc  começaram 
de  recolbíir  do  que  nam  contoiítes  o.s  Da- 
bida  lhes  foraõ  na»  costas  tanto,  att;  (|un 
constraiipidos  fozcram  volta  sobrelles, 
cm  quo  mataram  quatro  destes  Ahides,  c 
mataram  muitos  mais  se  ILes  naõ  acodir.a 
çaide  com  al<;uiis  christàos,  que  lhes  ho 
Àdail  soltou,  o  assi  se  apartarão  jior  esta 
vez.»  Ibidem,  cap.  42. —  «Do  que  sen- 
do anisado  dom  Nuno  por  isto  nam  vir 
em  creeimonto  determinou  ir  sobrelles,  e 
pêra  so  assef^urar  dostei  Árabes  dabiiia, 
o  Garabia  (pic  estiuiam  allojados,  junto 
da  cidade,  por  conselho,  e  parecer  dal- 
pumas  pessoas,  a  que  disso  deu  conta. » 
Ibidem,  oap.  4. 

SOBRELOGE,  SOBRELOGEA,  ou  SOBRE- 
LOJA, s.  _/".  Sobrado  (jne  tica  immediata- 
mcnto  sobre  a  loja,  ou  casa  térrea,  e  por 
baixo  do  primeiro  andar;  entresoliio. 

SOBRELOTAÇÃO,  s.  /.  O  que  excedo 
da  lotarão,  ou  do  numero  certo. 

—  O  que  se  carrerja  em  uma  embarca- 
ção, além  da  sua  lotação  ordinária. 

SOBREMANEIRA,  alv.  Sem  modo,  além 
da  ju>ta  medida. 

—  Excfsisiv.i,  extraordinariamente. 
SOBREMÃO,  s.  m.  Termo    de    alveita- 

ria.  Tumor  quo  vem  sobre  a  mão  da 
besta. 

—  Cautelas  de  sobremão ;  cautelas  ex- 
traordinárias. 

—  Eiicommenãar  alguém  de  sobremão; 
encommendar  alguém  com  muitos  gabos. 

—  Loc.  ADV. :  De  sobremão;  com 
toda  a  arte  e  vagar  de  quem  está  com 
uma  mão  sobre  outra ;  de  assento,  com 
descanç.i>   e  curiosidade  para  bem  obrar. 

SOBREMARAVILHAR-SE,  v.  reji.  Admi- 
rar-se  demasiadamente. 

SOBREMESA,  s.  /.  Os  postres,  a  fru- 
ta dòee,  ctc,  que  se  servem  depois  dos 
cozidos,  massas,  assados,  etc,  para  con- 
cluir a  comida. 

SOBREMISTICO,  ou  SOBREMYSTICO,  A, 
adj.  ilystieo  por  excollencia,  ou  (jue  leva 
vantagem  ao  ser  mystico. 

SOBREMODO,  adv.  Excessivamente, 
muito. 

SOBREMUNHONEIRAS,  s.  f.  plur.  Ter- 
mo de  artilhcria.  i'cças  do  ferro  que  se 
atravessam  sobre  as  munhonoiras  dos  ca- 
nhões, para  segurar  os  munhõos  dentro 
d'ellas. 

SOBRENADAR,  v.  n.  Nadar  em  cima, 
boiar. 

SOBRENATURAL,  adj.  2  gen.  Superior 
lis  forç.is  da  natureza ;  ou  de  modo  ao 
parecer  contrario  As  suas  leis  e  ordem. 
—  «Ficamos  (como  dizem  os  sanctos)  pel- 
la  culpa  mortal  despojados  dos  bens  e 
does  sobrenaturaes,  c  aleyjados  e  cluiga- 
dos  no^  natur.ies.»  Fr.  Rartholommi  dos 
Martvres,  Catecismo  da  doutrina  christã. 

SOBRENATURALIDADE,  *.  /.  Caracter 
do  que  é  sobrenatural. 


—  Superioridade  ás  força»  da  natu- 
reza. 

SOBRENATURALMENTE,  <idv.  (De  so- 
brenatural, cuiii  I)  rtiitlixo  «meate»).  I-)e 
um   modo  subrisnatural. 

SOBKENERVO,  «.  m.  Termo  de  alvei- 
taria.  Tumor  sidjre  o  nervo. 

SOBKENOME,  *.  m.  i)  nome,  appollido, 
ou  alcunha  aci;iescentado  ao  nome  do  ba- 
ptismo. —  «Diz  a  historia,  que  pêra  sa- 
ber quem  era  este  Dramorantc,  que  P^i- 
ti-opa  tia  eh;  Dramusiando  ti;ve  um  irmão 
chamado  Dramorantc,  que  om  seu  tempo 
foi  um  dos  mais  temidos  gigantes  do  mun- 
do. Sendo  mancebo  se  namorou  d'uma 
donzella  filha  d'uma  dona  viuva,  da  «piai 
não  podendo  alcançar  nada  ])or  amorei 
nem  promes,-as,  a  tirou  por  força  de  i)0- 
der  a  sua  mãi,  c  houve  nella  aquelle  fi- 
lho, a  que  também  [lòz  nome  Dramoran- 
tc, que  depois  teve  i)or  sobrenome  o 
Cruel,  derivado  de  suas  obras ;  c  a  mài 
morreu  de  |iarto. »  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  d'Iuglaterra,  cap.  76.  —  «Esta 
fov  eleita  por  capitoa  de  todas,  forman- 
do-se  hum  esquadrão  delias,  de  que  as 
prineipaes  erào  (iracia  Rodrigues  mulher 
de  Ruv  Freire,  Isabel  Dias  casada  com 
o  Feitor  d*  ElRcy,  Catharina  Lopes  mu- 
lher de  António  (^il,  e  Isabel  Fernandes, 
que  depois  se  chamou  a  velha  de  Dio, 
digna  do  sobre-nome  que  lhe  derào.» 
Diogo  de  Couto,  Década  (5,  liv.  2,  cap. 
2.  —  »E  a  boa  velha  Isabel  Fernandes, 
que  teve  aquelle  honrado  sobrenome  da 
velha  de  Dio,  que  jà  pêra  aquelle  tempo 
trazia  muitos  bolos  de  açúcar,  e  bocados 
doces,  con-ia  os  baluartes,  e  aos  que  via 
mais  cançados,  e  fracos,  lhes  metia  nas 
bocas  alguma  daquellas  cousas,  dizendo- 
Ihes:  esforçay  filhos,  peleiay  cavalleiros, 
que  a  Virgem  nossa  vSenhora  esta  com- 
vosco. »    Ibidem,  cap.  4. 

Aqu''llc  valoroso  cavalleiro 

A  quiMíi  deu  nome  António,  c  fcimbcm  dera 

Do*  Dobreiíomes  Mendes  o  primeiro, 

E  Víiseoncellos  o  outro  apoz  este  era. 

Pelejando  então  todo  o  espaço  inteiro 

Que  ha  que  dura  a  batalha  horrenda  e  fera, 

,Ia  na  çr.irfranta  o  pique  mortal  sente. 

Também  solta  do  rosto  o  sangue  quente. 

F.    n'ANDKADB,    PBIMKIRO   tEBCO   DE   DIU,   CSOt.    19, 

est.  9'.t. 

—  Por  antonomásia :  Titulo  que  dá  a  co- 
nhecer a  pessoa. 

—  Adagio  e  provérbio: 

—  Não  ha  hnmem  sem  nome,  nem  no- 
me sem  sobrenome. 

—  Syx.  :  Sobrenome,  appeUido.  Vid. 
este  ultimo  t  -nno. 

SOBRENOMEADO.  part.  puss.  de  So- 
brenomear. 

SOBRENOMEAR,  v.  a.  Dat  por  sobre- 
nome, aiipelliilo.  alcunha. 

SOBRENUMERAVEL,  adj.  2  gen.  Que 
excede  to  los  os  números,  o  por  isso  iu- 
numeravel. 


SOBREOLHAR,  r.  a.  Olhar  por  cima 
do  liDiiiliro.  olhar  com  d>-*prL-zo, 

SOBREOLHO,  «.  wi.   Sobrancelha. 

SOBREOSSO,  ».  m.  Termo  de  alveitaria. 
Doenças  que  vem  án  bestas  de  golpe,  oo 
ferida  mibre  o  oseo,  ou  cauna  doa  péa. 
Vid.  Sobrosso. 

—  Fi^'u^adaroente  :  Cousa  que  im:om- 
moda,  I'  nioli.ita  embaraçando. 

SOBREPAGA,  *.  /.  Augmcnto  de  paga, 
salário. 

—  Addição  á  paga  estipulada  ou  ajus- 
te-la. 

SOBREPARTO,  adv.  Deiiois  do  parto. 
—  Adijfjcu  sobreparto. 

—  Substantivamente:  Doença  que  so- 
breveio ao  fiarto. 

SOBREPELLIZ,  s.  m.  (De  mperpclli- 
ciumt.  Vestidura  ecclesiastica  branca,  que 
Si'  enfia  ]ielo  pescoço,  e  cobre  em  roda  o 
corpo  até  ao  meio. 

SOBREPENSADO,  adv.  De  propósito, 
do  caso  jiensado,  acinte,  com  delibera- 
ção. 

—  P'irt.  jias».  de  Sobrepeasar. 
S0BREPEN3AR,   t- .   a.  i'ensar  outra,  e 

outras   vi/íe-:. 

SOBREPESO,  *.  m.  Sobrecarga,  peso, 
carga  excessiva  das  forças  do  que  car- 
rega . 

SOBREPOJAR,  V.  a.    Vid.  Sobrepujar. 

SOBREPOR,  V.  a.  (Do  latim  superpo- 
nerc  iVir  em  cima  de  outra  cousa. 

—  Dobrar  por  cima. 

—  Eniprega-se  tambom  figuradamente. 
SOBREPOSSE,  adv.  Além,  mais  do  que 

se  1  ''ie.  —  <'c)ti>r  sobreposse. 

SOBREPOSTO,  part.  pasí.  de  Sobrepor. 
Posto  em  cima  d'outro,  accumulado. 

A  braços  d'?  p(rante  tohrtporto 
Monte  a  monto  parece  ;  arrebatada 
Por  anjos  infemacs  a  roca  antiga 
Que  a  prumo  a  deío--íhir.am  —  e  fixada 
No  incantrdo  equilíbrio,  desafia 
Fiirças  da  natureza  c  arte  dos  homens. 
OABRKTT.  CAXUES,  caut.  9,  cap.  5. 

—  Figuradamente :  Amontoado,  accu- 
mulado. 

—  Terra  sobreposta ;  terra  que  acar- 
retam as  alluviòes,  e  crescentes  dos  rios, 
e  se  depõe  como  rateiros  em  alguma  par- 
te; diz-se  em  opposiçào  á  terra  própria 
e  nafira. 

SOBREPOSTOS,  s.  m.  plur.  Os  ador- 
nos de  galíjes,  passamanes,  fitas,  tudo  o 
que  se  põe  sobre  as  peças,  ou  folhas  ex- 
teriores, e  bordas  dos  vestidos,  jaezes, 
clc. 

SOBREPRATEAR,  v.  a.  Cobrir  com  fo- 
lha, la:i:iu:i.   ou  obra    -lelicada  de  prata. 

SOBREPUJAMENTO,   s.   m.  Excesso. 

SOBREPUJANÇA,  í.  /.  Excesso. 

SOBREPUJANTE.  part.  act.  de  Sobre- 
pujar.  Quo  sobrepuja. 

Quero  declarar-mc:  Eu,  Sorafim. 
quo  cá  chamaes  Anjo,  e  participante 


I 


SOBR 


SOBR 


SOBR 


de  mais  céo  que  o  homem,  mais  sóbrepujante, 
tanto  que  o  homem,  á  conta  de  mim 
ficava  saphira,  e  eu,  diamante. 
AKTomo  PKESTES,  AUTOS,  pag.  3. 

SOBREPUJANTEMENTE,  adv.  (De  só- 
brepujante, com  o  suíBxo  mnente»).  De 
xmi  inuào  sóbrepujante. 

SOBREPUJAR,  r.  a.  Exceder  em  altu- 
ra, em  forças,  etc.  —  «Por  detrás  destas 
casas  estava  huma  serra  de  ossos  tào  alta 
que  sobrepujava  por  cima  dos  telhados 
delias,  a  qual  era  de  comprimento  dum 
cabo  e  do  outro  da  mesma  meya  legoa,  e 
muyto  larga  em  grande  quantidade.  » 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap. 
109. 

—  Exceder,  ser  superior. 

—  T".  u.  Ficar  superior,  exceder. 

SOBREPUXAR,  v.  a.  Yid.  Sobrepujar. 

SOBREQUILHA,  s.  /.  Termo  de  náuti- 
ca. Peça  ou  aggregado  de  madeií-os,  que 
assenta  e  corre  de  popa  á  proa  sobre  as 
cavernas  para  tornar  mais  íirme  a  situa- 
ção d'ella5. 

SOBRERODELLA,  ou  SOBRERODELA, 
s.  /.  Termo  de  alveitaria.  Tumor  sobre 
a  rodella  do  joelho  das  cavalgaduras,  to- 
mando parte  da  junta. 

SOBREROLDA,"ou  SOBRERONDA,  s.  f. 
O  que  ou  os  que  ricam  para  observar  se 
a  guarnição  de  uma  praça,  se  a  ronda 
faz  as  suas  obi-igações,  se  está  nos  seus 
postos  e  estancias. 

SOBREROLDAR,  v.  a.  Vigiar  como  so- 
brend-la. 

SOBRERONDA,  s.  f.  Vid.    Sobrerolda. 

SOBFJIRONDAR,  v.  a.  Vid.  Sobrerol- 
dar. 

SOBRESAIR,  ou  SOBRESAHIR,  v.  n. 
Realçar-se,  apparecer  mais,  lustrar  mais 
que  outrem. 

—  Dar  mais  na  vista,  exceder  em  ta- 
manho, etc. 

SOBRESALENTE,  ou  SOBRESELLENTE, 
adj.  2  gen.  Mais  que  o  necessário,  des- 
tinado a  supprir  as  faltas  extraordinárias 
na  viagem  do  navio,  como  são  cabos,  ve- 
las, moitões,  vergas,  mastareus,  pregadu- 
ras,  etc,  que  estão  nas  antennas  e  paioes. 

—  Loc.  ADV.:  i)e sobresalente ;  em  re- 
serva, de  mais  do  que  é  necessário  para 
Servir  nas  faltas. 

—  Substantivamente :  O  sobresalen- 
te ;  o  supprimento  de  mais  para  suppor- 
tar  faltas  extraordinárias,  mais  que  o  ne- 
cessário para  supprir  as  faltas  na  viagem 
de  um  navio. 

SOBRESALTADO,  parf.  pass.  de  Sobre- 
saltar.  Tomado  de  improviso  em  guerra. 
—  «Mas  quando  o  das  donzellas  a  viu 
de  tào  perto  e  de  maneira  que  pode  bem 
segurar  os  olhos  n'ella,  não  pode  sua  li- 
berdade isenta  ficjir  tão  em  si,  que  se  nào 
achasse  sobresaltado  de  todo;  senão  que 
tinha  um  bem,  que  estas  cousas,  ainda  que 
o  muito  atormentassem,  não  lhe  duravam 
mais  que  emquanto  as  via:  e  virando-se 


pêra  suas  donzellas,  disse:  Que  vos  pa- 
rece, senhoras,  que  me  aconselhaes  que 
faça  ■?  Não  hajaes  medo,  disse  Polifema, 
que  n(js  o  nào  temos  de  nada  que  veja- 
nKis.i)  Francisco  de  iloraes,  Palmeirim 
dlnglaterra,  cap.  126. 

—  Cavallo  sobresaltado;  diz-se d'aquel- 
le  em  que  a  silva  pára,  e  interpola  com  a 
cGr  do  seu  pello,  e  ao  depois  torna  a  con- 
tinuar. 

—  Surprehendido. 


Em  breve  espaço  foi  disto  avisado 
O  grào  f^ilveira  lá  na  fortaleza, 
Que  com  tal  nova  assaz  sobresaltado 
Não  perde  o  seu  esprito  e  fortaleza: 
Deixa  tudo  alli  posto  a  bom  recado, 
E  CO  "a  mor  brevidade,  mor  presteza, 
E  mais  gente  que  pôde  d'^!^  parte 
A  favor  dos  que  estào  no  baluarte. 

FKAKCISCO  d'aXDBADB,  PKIMEIEO  CEECO  DE  DIU, 

caut.  10,  est.  B2. 


—  Salteado. 

—  Sobresaltada  a  historia;   interrom- 
pido o  lim  d'ella. 

—  Cheio  de  sobresalto,  de  inquietação, 
de  desassocego,  de  susto. 


Aqui,  suando  pois  como  um  Cavallo, 

Chega  o  Deão  a  tempo  que  o  Porteiro 

A  porta  da  Clausura  prompto  abria, 

E  vendo  do  Ueào  a  gram  fadiga. 

Desta  sorte  lhe  diz  sobre/Kilfado. 

•  Que  é  isto,  meu  Seuhor"?  Que  estranho  caso 

Aconteceo  a  Vossa  Senhoria; 

Que  por  baixo  da  calma  tào  intensa, 

A  nossa  caèa  o  traz  tào  afrontado  ? 

Matou  acaso  algum  dos  seus  CoUegas  ? 

Roubou  a  Sacristia  ?  » 

AXTOsio  Dixiz  DA  CBCZ,  HYssoPE,  cant.  õ. 


SOBRESALTAR,  r.  a.  Dar  de  salto, 
de  rebate  sobre  alguém. 

—  Tomar  de  improviso,  surprehender. 
saltear. 

—  Sobresaltar  os  j)ostos,  cargos,  gra- 
duações; nào  seguir  de  uns  immediatos  a 
outros,  saltar  algum  de  entremeio;  não 
seguir  a  escala,  a  ordem  estabelecida  re- 
gularmente. 

— •  Figuradamente  :  Sobresaltar  a  his- 
toria; interromper  o  fio. 

—  Interprender,   saltear. 

—  Sem  sobresaltar ;  sem  passar  o  que 
se  segue  na  serie  o  logar  a  outrem. 

—  Sobresaltar-se,  v.  refi.  Encber-se 
de  sobresaltos,  de  inquietação,  de  desas- 
socego.—  o  Porem  para  que  vos  não  en- 
ganeis comigo,  e  para  que  vos  não  so- 
bresalteis  quando  me  vires  tendo  talvez 
imaginado  outra  cousa,  vos  farey  pouco 
mais  ou  menos  o  meu  retrato.»  Cavallei- 
ro  d'01iveira,  Cartas,  liv.  1,  n."  47. 

SOBRESALTEADO,  part.  pass.  de  So- 
bresaltear. 

—  Figuradamente :  Sobresalteado  de 
prazer,   de  alegria,   etc, 

SOBRESALTÉAR,  v.  a.  Assaltar,  in- 
terprender, accommetter  de  repente.         j 


—  Sobresaltear-se,  v.  ref.  Ficar  ata- 
lhado, assustado  com  damno  inesperado. 

SOBRESALTO,  s.   m.  Salto    súbito,  ac- 
commettimento  imprevisto. 

—  Susto,  desassocego,  inquietação. 


Não  longe  deste  espesso  c  fresco  bosque 
Estaua  o  Capitão  e  sua  companha 
Quando  o  rústico  Pão,  no  liure  peito 
Sente  hum'altcração  com  que  se  afflige: 
O  coração  cuberto  de  huma  sombra 
Escura  sente  o  triste,  a  causa  ignora : 
Dalhe  de  quando  em  quando  hum  sobresalto 
Que  reuolto  sem  sangue  o  deixa,  e  frio. 

COBTE  SEAI.,  NAUFRÁGIO  DE  SEPÚLVEDA,  Cant.  9. 

Não  presto ; 
com  sohrefalto  qualquer 
o  animoso  da  mulher 
nunca  o  verás  manifesto 
senão  no  que  comottor. 

AaTOKio  PRESTES,  AUTOS,  pag.  133. 


—  Dar,    accommetter    de    sobresalto ; 

dar,  accommetter  de  surpreza. 

-^  Loc.  ADV,:  De  sobresalto;  de  re- 
pente, de  improviso. —  «Dalli  íbraõ  ter 
a  Cananor  donde  per  conselho  de  Lou- 
renço de  Brito,  por  naõ  tomarem  todos 
de  sobresalto  o  Vice-rei.  lhe  mandarão 
o  recado  per  Pêro  Danhaia.»  Damião  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  2, 
cap.  27. 

—  A  turba  em  sobresalto ;  a  turba  so- 
bresaltada. 


A  turba  em  sobresalto  então  desperta. 
Foge,  e  nas  ondas  súbito  mergulha, 
E  sobr"ella  se  aplaina  o  mar  fechado. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Cant.  3. 


SOBRESARAR,  v.  a.  Sarar  superficial- 
mente e  iiàu  jieia  raiz. 

SOBRESCREVER,  r.  a.  Vid.  Sobescre- 
ver. 

SOBRESCRIPTO,  s.  m.  Vid.  Sobescrito. 

SOBRESEER,  ou  SOBRESER,  v.  n.  (Do 
latim  suptrsedere).  Sobreestar,  esperar, 
deter-se.  parar. 

SOBRESEJA.  Forma  do  verbo  sobreseer, 
-na  primeira  ou  terceira  pessoa  do  singu- 
lar do  modo  coujunctivo.  Sobresteja. 

SOBRESELLENTE,  adj.  2  gen.  Vid,  So- 
bresaleute. 

SOBRESEMEAR,  i-.  a.  Semear  sobre  o 
semeado. 

SOBRESENHO,  s.  m.  Vid.  Senho,  e  So- 
brecenho. 

SOBRESEVER,   v.  a.  Vid.  Sobreseer. 

SOBRESIIMENTO,  s.  m.  Vid.  Sobressi- 
mento. 

SOBRESINAL,  ou  SOBRESIGNAL,  s.  m. 
Signal  sobre  o  vestido,  exterior,  á  simi- 
Ihança  da  cruz  que  traziào  os  cruzados 
para  a  gueria  do  ultramar. 

SOBEilSOLEIRA,  s.  /.  Peça  que  fica 
sobre  a  soleira  do  coche,  das  portas,  etc. 

SOBRESSALENTE.   Vid.    Sobresaíente. 


556 


SOBR 


SOBR 


SOBR 


SOBRESSIMENTO,  «.  m.  Tormo  anti- 
quíidi).  l']<|K;r,'i,  (Icuiora,  oapai,'o. 

SOBRESTANTE,  ».  m.  (^lliciro,  apouta- 
dor,  vif^ia  ilo-i  <|iio  trabalham. 

—  Pari.  (tcl.  (Ic  Sobrestar. 
SOBRESTAR,    ou    SOBRESTAR,    v.   n. 

Parar,  doscoiitinuar,  iiilo  ir  avante. 

—  Tdiua-sij  tauibum  como  verbo  activo. 
Viil.  Sobreestar,  o  Sobstar. 

f  SOBRESTE,  A,  cm  vez  do  Sobre  es- 
te, a.  —  «1*013  tenho  dito  da  grande 
preparaçam  que  el  Rei  fez  pêra  man- 
dar sobresta  nobre  cidade,  parece  ra- 
zam  trato  alí^uma  cousa  do  sitio,  e  an- 
tiguidade tlclla,  a  qual,  segundo  dizem 
03  escriptores  Arábios,  foi  oditicada  pe- 
los Africanos,  uuquella  parte,  o  Prouin- 
cia  quo  se  chama  Aduecala,  na  co8ta  do 
mar  Oceano  Athalantico  a  par  da  boca 
de  hum  rio  nauegavcl,  a  quo  os  mouros 
chamam  Ommirabih.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  47. 

SOBRESUBSTANCIAL,  adj.  2  gen.  Mais 
quo  substancial. 

SOBRETAL,  adv.  Termo  antiquado.  Fi- 
nalmente, em  conclusão. 

SOBRETEIMA,  adv.  Com  teima,  perti- 
nazmente. 

—  Obstinadamente. 
SOBRETERRESTRE,  adj.   2   gen.    Que 

está  acima  ou  sobro  a  terra. 

SOBRETOALHA,  s.  f.  Toalha  que  se 
coUoca  sobro  outra  para  resguardo  da 
primeira. 

—  Véo  ou  baetilha  collocada  sobre  a 
primeira  toalha  que  cobre  a  cabeça. 

1.)  SOBRETUDO,  s.  m.   Casacão,  espé- 
cie de  capa  que  se  veste  sobre  outra. 
2.1  SOBRETUDO,   adv.   Vid.  Sobre.  — 

—  «Senlior,  disso  ella,  quando  vos  des- 
cobri a  verdade  destes  enganos,  já  não 
foi  senão  com  determinação  de  estar  a 
toda  vossa  ordenança ;  por  isso  peço-vos 
que  vos  lembre  que  com  isto  perco  mi- 
nha mãi,  meu  património,  e  sobretudo 
poder-se  dizer  por  mim,  que  vendi  o  san- 
gue de  meus  irmãos,  pondo  a  vontade  no 
matador  delles,  e  que  por  ventura  tenl 
a  sua  em  outra  parte.»  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  d'Inglaterra,  c^p.    llõ. 

—  íE  sobretudo  haviam  por  certo,  que 
suas  lagrimas  os  remiram;  e  que  á  cus- 
ta delhis  foram  comprados  e  tirados  da 
prisão.»  Ibidem,  cap.  123. 

SOBREVENÇA,  s.  /.  A  acção  de  sobre- 
vir, sobrcsalto,  vinda  inesperada. 

SOBREVENTA.  Termo  antiquado.  Vid. 
Sobrevença. 

SOBREVENTO,  s.  m.  Cousa  que  cres- 
ce, que  sobrevem,  o  muda  sendo  impre- 
vista a  ordem  das  cousas;  bem  como  os 
ventos  impetuosos  que  sobrevem  e  per- 
turbam a  navegação. 

SOBREVESTE,  s.  /.  Vestidura  que  se 
traz  sobro  ontra. 

SOBREVESTIDO,  part.  pass.de  Sobre- 
vestir. 

SOBREVESTIR,  v.  a.  Vestir  por  cima. 


—  Figuradamente  :    Vestir-se  dos  ex- 

teri(jn;H. 

SOBREVINDO,  jjart.  acl.   do  Sobrevir. 

SOBREVIR,  v.  n.  Vir,  occorrer,  acon- 
tecer logo  depois  do  outro  auccesso,  ou 
(juando  ainda  dura.  —  «A  qual  mordendo 
o  beiço  debaixo,  a  olhandoo  com  tcrribel 
vista,  parecia  amcaçalo,  ou  pedir  dellc 
vingãça,  e  tão  estraubu  foy  o  temor,  u 
sobrcsalto  que  rccebeo,  que  dahi  a  pou- 
cas horas  lhe  sobreveyo  bum  acidoutc  de 
ai)oplexia,  de  que  morrco.»  Monarchia 
Lusitana,  liv.  CJ,  cap.  11.  —  oO  que  aca- 
ijado  SC  fez  a  vela  aos  xxv.  dias  do  mes 
de  iVbril,  e  semlo  ja  quasi  junto  da  linha 
E(juinocial  lhe  sobrevierào  calmarias  que 
duraram  catorze  dias.»  Damião  de  (,!oes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  2,  cap.  2. 

Ncsto  tempo  cm  que  ja  maia  de  verdade 
O  imigo  inoâtra  a  sua  alta  braveza, 
tSnhreieio  geral  ouferinidado 
Em  quasi  quantos  ha  na  fortaleza : 
Na  boca  ho  todo  o  damno  c  adversidade. 
Que  a  muitos  trata  então  com  tal  crueza 
Quo  com  dores  iinmensas  c  excessivas 
Orfàas  o  sós  lhes  ficào  as  gcngivaa. 

F.  DE  AMDEADE,  ruiMElBO  OEBCO  DE  DIU,  Oaut.  15, 

est.  87. 

—  o  Adverte  porem  este  A.  que  isto  se 
deve  obrar  só  nos  termos  em  que  o  Phre- 
nesi  he  essencial,  e  naij  no  que  sobreveyo, 
e  se  seguio  a  outra  febre,  como  vg.  ma- 
ligna, ou  ardente;  porque  neste  caso  ain- 
da que  acudamos  â  cabeça,  ainda  nos  liça 
por  occurcr  ao  perigo  que  se  diriva  da 
febre.»  Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal  me- 
dico, pag.  380,  §  82. 

—  Acontecer.  —  aE  pode-se  dizer,  que 
se  as  partes  acordassem  antre  si,  que  da 
venda  fosso  feita  Esoriptura  pruvica,  e 
ante  que  fosse  feita  e  acabada  a  nota  do 
estormento  da  venda,  perecesse  a  cousa 
vendida,  pcrteeneeria  toda  a  perda  delia 
ao  vendedor,  e  despois  da  carta  feita,  to- 
do o  caso,  que  sobreviesse  a  cousa,  pcr- 
teeneeria ao  comprador,  ainda  que  lhe  a 
cousa  naõ  fosse  entregue  sem  culpa  do 
vendedor :  e  semelhante  se  pode  dizer  em 
quaaesquer  contrautos,  quo  segundo  di- 
reito requerem  notoriamente  escriptura 
pruvica.»  Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit.  46,  §  4. 

—  «Ao  qual  negocio  mandou  estes  Capi- 
tães: Manuel  de  la  Cerda,  Simão  d'An- 
drade,  Fero  d'Aftbnseca  de  Castro,  e  Si- 
mão Velho,  todos  em  bateis  com  gente,  e 
apercebimento  pêra  qualquer  cousa  que 
sobreviesse.»  Barros,  Década  2,  liv.  8, 
cap.  4. 

—  Vir  depois   de  ter  vindo  uma  vez. 

—  «Senão  digo  que  ficando  eu  em  tal  des- 
posição  da  sua  delle,  que  possa  entrar  em 
outra,  que  um  por  um  a  aceito  com  todos 
três  o  com  dez  vezes  três  se  tantos  so- 
brevierem e  a  mim  a  força  o  alento  não 
desempavar  :  e  nenhum  julgue  cstas  pa- 
lavras por  desnecessárias  e  mal  ditas, 
contra  soberbos  tudo  se  soffre  e  cabe  nel- 


les.»  Francisco  de  Moraeí,  Palmeirim  de 
Inglaterra,  cap.  93.  —  €  Finalmente  elle» 
iioiivcram  todos  de  enpirar,  Hen.*io  sobre- 
vieram osoutriLS  Capitães,  que  lhes  deram 
a  vida  com  o  mantiiiicnt<j  que  traziam,  e 
ainda  com  assas  trabalho  chetráram  aonde 
Aflonso  d'Alboquerque  estava.»  Barros, 
Década  2,  liv.  ^,  cap.  4. 

—  Vir  do  repeiite,  sem  ícr  cftperado. 

—  Vir,  dar  sobro.  —  iD.  João  de 
Attayde,  como  levava  melhor  navio,  fiui 
mettendo  de  ló  tudo  o  que  pôde,  vendo- 
se  muitas  vezes  perdido,  até  que  sobre- 
veio a  noite,  com  que  se  fez  na  volta  do 
Abexim,  cm  cuja  costa  espalmou  o  navio 
no  llheo  de  Meto,  que  faz  froiite  ás  Ci- 
ilades  de  Barbara,  ••  Zi;ila.t  Jacintho 
Freire  de  Andrade,  Vida  de  D.  Joào  de 
Castro,  liv.  4. 

SOBREVIRTUDE,  «.  /.  Vio,  usado  por 
certas  fnirm  sobre  a  toalhitdia. 

SOBREVISTA,  ».  f.  Prancha  de  ferro, 
que  se  une  á  borda,  que  fazem  os  mor- 
riõcs  no  ôco  que  está  da  parto  do  rosto, 
a  qual  c  como  meia  lua. 

SOBREVIVÊNCIA,  s.  /.  Vid.  Supervi- 
vencia. 

SOBREVIVENTE,  part.  act.  de  Sobre- 
viver. Que  sobrevive  a  outro. 

—  Substantivamente :  Um  sobreviven- 
te. 

SOBREVIVER,  v.  «.  —  Sobrevivera  ou- 
trum ;  veucel-o  em  dias,  viver  mais  do  que 
elle,  e  por  tempo  depois  da  sua  morte. 

Eu  não  temo,  —  temer  t  de  covardes; 
Mas  desanimo.  Roma  est-A  perdida  ; 
E  mou  pae...  e  Catão  não  aobrevht 
A  republica. — Sou  Romano,  Juba; 
E  vejo,  satisfeito,  alçar-sc  o  golpe 
Que  uo  altar  da  pátria  badc  immolar-me. 

OAEBETT,  CATÃO,  act.    3,   8C.    8. 

SOBREXCEDENTE,  s.  /.  O  que  fica  do 
excesso  sobre  certa  quantia  determinada. 
Vid.  Sobreeicedente. 

—  Parf.  act.  de  Sobreeiceder. 
SOBREXCEDER.  Vid.  Sobreexceder. 
SOBREXCELLENTE,    part.  act.  de   So- 

brexceller.  Vid.  Sobresalente. 

—  Que  é  de  superior  excellencia.  Vid. 
Sobreexcellente. 

SOBREXCELLER,  v.  n.  Vid.  Sobreexcel- 
ler. 

SOBRIAMENTE,  adv.  (De  sóbrio,  e  o 
sufiixo  < mente» '.  De  uma  maneira  sóbria. 

—  Com  sobriedade. 
SOBRIEDADE,   s.  /.    (Do   latim  sobrie- 

tas).  Temperança,  mormente  na  bebida  e 
comida. 

—  Figuradamente :  Saber  com  sobrie- 
dade ;  saber  com  modo,  temperança,  e 
usar  bem  do  bom  saber. 

—  Syn.  :  Sobriedade,  frugalidadt.  Vid. 
este  ultimo  termo. 

SOBRINHA,  s.  /.  (,Do  latim  sobrina), 
A  filha  do  irmào,  ou  irmã,  com  respeito  a 
tios,  oa  tias.  —  «A  Raynha  sua  mãj  lhe 


SOBR 


SOBR 


SOBR 


557 


deu  por  isto  as  graças,  e  mãdou  á  cania- 
reyra  múr  e  a  sua  sobrinha  que  lhe  bei- 
jassem ambas  por  isso  os  pois,  as  quais  o 
lizerão  assi,  e  cõ  isto  se  recollieo  a  Ray- 
nha  para  o  seu  aposento.»  Fernào  Men- 
des Pinto,  Peregrinações,  cap.  142. 

Porque,  senhora  sobrinha? 
Por  uada,  senhor,  que  mente. 
Tão  luá  sois  de  aor  contente? 
Que  mente,  por  vida  minha. 

AUTONIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  305. 

SOBRINHO,  s.  m.  (Do  latim  soòrinus). 
O  filho  do  irmào,  ou  irmã,  com  respeito 
a  tios,  ou  tias. —  «Eu  na  verdade,  disse 
o  do  Tigre,  quizera  que  a  minha  e  a  tua 
se  fizera  primeiro,  que  pêra  essoutro  tem- 
po fica,  se  o  tu  assim  has  por  bem,  senão 
seja  como  tu  quizeres.  Senhor  Palmeirim, 
disseram  Platir  e  Daliarte,  não  nos  façais 
esse  agravo :  lembre- vos  que  se  vencer- 
des Pavoroso,  que  ao  outro  dia  não  que- 
rerão seus  sobrinhos  entrar  em  campo  e 
teremos  de  que  noa  temer. »  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  117. 

—  «N'isto  trabalhou  o  gigante  tanto  que 
lhe  conveio  deter-se  um  pouco  por  cobrar 
alento,  de  que  a  do  Tigre  não  pesou,  por 
ter  espaço  de  vêr  o  ponto  em  que  seus 
companheiros  iam :  e  viu  que  os  sobri- 
nhos do  gigante  andavam  quasi  desbara- 
tados e  tão  fracos,  que  trabalhavam  mais 
por  se  amparar  que  por  ofFender. »  Ibidem, 
cap.  118, —  «E  então  baixando  a  lança 
com  toda  a  fúria,  que  os  cavallos  poJeram 
levar,  arrancaram  elle  e  seus  sobrinhos, 
fazendo  tamanho  estrondo,  que  parecia 
que  a  terra  se  fundia  com  elles.»  Ibidem. 

—  «O  cavalleiro  do  Tigre,  vendo  o  gi- 
gante no  chão,  se  desceu  com  temor  de 
lhe  matar  o  cavallo,  dizendo  :  Aparta-te, 
cousa  torpe  de  teus  sobrinhos,  deixa  a 
elles,  que  bem  tem  em  que  entender  em 
si,  façamos  eu  e  tu  nossa  batalha,  que 
agora  verás  quão  perto  estou  de  te  pedir 
mercê.»  Ibidem. —  «Do  qual  Albaner  te- 
ve tempo  de  dar  sua  embaixada  ao  impe- 
rador e  lhe  contar  tudo  o  que  na  ilha 
Profunda  passara;  a  morte  do  gigante,  a 
cruel  batalha  que  o  cavalleiro  do  Tigre 
houvera  com  elle,  a  de  seus  sobrinhos 
com  Beroldo,  Platir  e  Daliarte;  de  que 
Primalião  e  Gridonia  estavam  bem  conten- 
tes, vendo  as  altas  cavallarias  de  seu  filho. » 
Ibidem,  cap.  121.  — «Este  moto  da  diuisa 
da  do  Infante,  Talant  de  Bien  faire :  o  qual 
sinal  leixou  Aluaro  Fernandez  sobrinho 
de  loaõ  (xonçaluez,  capitão  da  parte  do 
Funchal  na  ilha  da  Madeira,  que  veo  ali 
ter,  e  pelejou  cõ  seis  almadias  de  negros.» 
Barros,  Década  1,  liv.  1,  cap.  13. —  «Dom 
Affonso  de  Noronha  seu  sobrinho  como 
quem  desejaua  ver  a  noiua  com  que  o 
auião  de  desposar  pola  prouisaõ  que  le- 
uaua  d'ElRei  de  capitão  da  fortaleza  que 
se  ali  fezesse,  com  huns  poucos  de  bes- 
teiros,  e   espingardeiros  que  leuou  em  o 


seu  batel,  e  alguns  homens  que  pêra  isso 
escolheo:  tomou  primeiro  a  terra,  e  come- 
çou de  encaminhar  pêra  a  fortaleza.» 
Idem,  Década  2,  liv.  ] ,  cap.  3.  — •  «E  em 
outro  junco  vinha  hum  seu  sobrinho,  que 
por  ser  homem  de  sua  pessoa  era  temido 
naquellas  partes,  e  assi  outros  Jáos  prin- 
cipaes,  trazendo  todos  voz  que  nos  vinham 
lançar  da  terra.»  Ibidem,  liv.  9,  cap.  4. 

—  «Porém  pêra  ir  lançar  do  castello  Be- 
nestarij  hum  tal  imigo  como  nelle  estava, 
artilhado,  e  defendido  com  baluarte,  tor- 
res, e  grande  número  do  gente,  que,  se- 
gundo tinham  sabido,  passavam  de  vinte 
mil  homens,  não  se  podia  fazer  com  tão 
pouca  gente,  como  então  estava  na  ín- 
dia :  que  prazeria  a  Deos  que  traria  a  seu 
sobrinho  D.  Garcia  de  Noronha.»  Ibi- 
dem, liv.  7,  cap.  1.  —  «Dizemme,  que 
alguns  criados  do  Duque  vosso  irmão  fal- 
lão  em  el  Rei  meu  senhor,  que  Deos  ha- 
ja, quomo  não  deuem,  encomendouos  que 
sejão  todos  bem  anisados,  per  vos,  e  meu 
sobrinho,  porque  me  pesara  muito  disso, 
e  certo  se  alguns  ho  fezerem  receberião 
de  mi  grão  castigo,  porque  assi  he  razão. 
Haja  meu  sobrinho  esta  carta  também 
por  sua  por  ser  mais  em  breue  esse  des- 
pachado de  minha  mão,  em  Setuual  a  xxvj. 
dias  Dabril,  El  Rei.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  13. 

—  «Nesta  armada  do  mar  auia  mais  de 
doze  mil  homens  de  guerra,  de  que  era 
capitam  o  Príncipe  Naubeadarim,  sobri- 
nho, e  herdeiro  dei  Rei  de  Calecut,  e 
por  sota  capitam  Elancol  Naubeadarim 
senhor  de  Repelim,  de  modo  que  a  gente 
que  nestes  dous  exércitos  do  mar,  e  terra 
andaua  em  seruiço  dei  Rei  de  Calecut, 
passaria  de  setenta  mil  homens  de  pele- 
ja.» Ibidem,  part.  1,  cap.  86.  —  «Pêra  o 
que  se  fazendo  prestes  lhe  deu  hum  mou- 
ro, sobrinho  doutro  que  tinha  captiuo, 
auiso  de  como  a  huma  legoa  a  traues  Dal- 
medina  estauão  cinco  de-tes  aduares  em 
que  poderia  dar,  sem  o  sentirem,  offere- 
cendosse  por  guia  ate  o  poer  sobrelles.» 
Ibidem,  part.  3,  cap.  13.  —  «No  mesmo 
tempo  que  dom  Goterre  despachou  dom 
Fernando  seu  irmam  pêra  as  ilhas  de 
Maldiua,  mandou  também  dom  loão  de 
nionrroi  seu  sobrinho  correr  a  costa  ate 
Chaul.»  Ibidem,  part.  4,  cap.  15.  —  «Ga- 
nhada a  cidade  de  Babarem  Xeque  ha- 
met  sobrinho  de  Mocri  mandou  pedir  se- 
guro ha  António  correa  pêra  lhe  vir  fal- 
lar,  sobre  o  qual  se  viram  ambos,  e  lhe 
entregou  a  ilha  de  Babarem,  e  a  cidade 
de  que  Catifa  Raix  xarapho  logo  tomou 
posse  em  nome  dei  Rei  de  Ormuz,  como 
vassalo  dei  Rei  dom  Emanuel.»  Ibidem, 
cap.  63.  —  «Ministro  antigo  e  estimado 
da  nobreza  sem  ódio  do  vulgo,  cujas 
boas  partes  no  sobrinho  se  contragula- 
vão.»  Francisco  Manoel  de  Mello,  Epana- 
phoras,  pag.  21. 

SOBRINO,  s.  VI.  Termo  antiquado.  So- 
brinho. 


SÓBRIO,  A,  adj.  (Do  latim  sobrius). 
Temperado  no  comer  e  beber. 

Os  valentes  pincéis,  a  fantesia 
Qu'  empregara  Butíon,  pintando  ao  vivo 
O  ginete  fugaz,  ou  sóbrio,  e  forte 
Pelo  Deserto  Arábico  o  camello, 
Podem  trai;ar  o  quadro  portentoso 
Dos  pequenos  reptis,  qu'  o  domicilio 
Trazem  sempre  comsigo. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Caut.  3. 

—  Figuradamente  :  Sóbrio  nas  pala- 
vras. 

f  SOBRISSO.  Em  vez  de  Sobre  isso, 
—  «Ao  que  acodindo  Aluaro  da  costa, 
que  la  andaua  sobelo  negocio  do  casa- 
mento da  Infante  donna  Leanor:  de  que 
ja  tratei,  falou  sobrisso  a  el  Rei  dom 
Carlos,  trazendolhe  a  memoria  as  alian- 
ças, e  parentesco  delle  com  os  Reis  de 
Portugal,  e  scbre  tudo  o  do  casamento 
da  Infante  sua  irmã  com  el  Rei  dom 
Emanuel,  e  outras  razões  que  moueram 
el  Rei  a  querer  desistir  desta  empresa.» 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Ma- 
noel, part.  4,  cap.  37.  —  «Mas  como  este 
negocio  depois  passou,  e  a  sentença  que 
se  sobrisso  deu,  eu  nam  pude  alcançar, 
nem  saber  das  pessoas  que  la  estavaõ 
neste  tempo,  e  depois  estiueram  ate  que 
os  moiu-os  depois  do  falecimento  dei  Rei 
dom  Emanuel  tomaram  esta  villa  do  cabo 
de  guer  per  combate.»   Ibidem,  cap.  51. 

SOBRO,  s.  m.  Vid.  Sovereiro,  e  Sobe- 
reiro. 

SOBROÇADO,  lyart.  pass.  Vid.  Sobra- 
çado. 

SOBROÇO,  s.  m.  Vid.  Sobreosso. 

SOBROGAR,  V.  a.  Vid.  Subrogar. 

■\  SOBROLHO,    s.  m.  Vid.    Sobreolho, 

Também  da  antiga  Escola  o  docto  orgulho 
Ficou  confuso,  no  sobrolho  austero 
Em  vão  llie  chammejou  desgosto,  inveja. 
Debalde  quiz  cora  tétricos  clamores 
Oppor-30  á  prova  esplendida,  e  sublime. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  XATDBEZA,  Caut.  1. 

Que  depressa  fugis,  dourados  dias  ! 

Veio  depois  Filosofia  austera. 
Carregado  o  sobrolho,  a  tez  sombria; 
Desdenha  flores,  fábulas  desdenha. 

IDEM,  MEDITAÇÃO,  CaUt.    2. 

D'Aguia  volante  ao  paludoso  Insecto, 
Tudo  consegue  movimento,  e  ^ida. 
Ou  tudo  30  confunde,  acaba,  e  perde  : 
Se  Elle  hum  aceno  faz,  se  a  fronte  inclina. 
Se  o  sobrolho  carrega,  os  montes  fumão, 
Inflaramão-se  os  Voleões,  vacilla  a  Terra. 
E,  se  a  face  serena  ao  Mundo  amostra, 
A  pintura  dos  Ceoa  se  aviva,  e  brilha. 
IBIDEM,  oant.  4. 

Ind'  agora  immortáes  em  ti  descubro ! 

De  caindo  sobrolho,  austero  aspecto 

Quantos  sábios  extáticos  deviso, 

Todos  no  grande  pensamento  envoltos 

De  encararem  do  Slundo  o  Author,  e  causa  ! 

Este  he  só  da  scioncia  augusto  objecto, 

He  este  dos  mortaes  só  digno  estudo ! 

IBIDEM. 


558 


SOCA 


SOCO 


SOCC 


SOBROSADO,  A,  <idj.  Tirante  a  lo- 
8;i(li>. 

SOBROSSO,  í.   m.    SobrcosHO. 

—  IJh.isií  tainbíMii  110  senti-lo  titrunulo. 

SOBSCREVER,  c  <i  Vid.  Subscrever. 
—  «E  011  Luiz  TrciuessJío  Escrivilu  da 
Caincra  o  iiiaiuloi  escrever,  o  sobscrevi 
por  liceii\;!i  ([ue  para  ella  tenlio.  Tcro 
(.íodinbo.  João  lloilrifruos  Paca.  Ruy  (lon- 
çalvoH.  Ruy  ]>ias.  .Iorf,'e  Ribeiro.  Mar- 
tlioloiiiou  l)i-i|io.»  Jaciutlid  Froiro  d'An- 
dra'U;,  Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv.  ;]. 

SOBSTABELECER,  c  a.  Vi.l.  Substabe- 
lecer. 

S0B3TAR,  i'.  lí.  Erro  por  Sobreestar. 
Vicl.  f<to  termo. 

SOBTERRAR.  Vid.  Soterrar. 

SOBTHESOUREIRO,  s.  m.  Vid.  Sothe- 
soureiro. 

SOBTILHA,  s.  f.  Vid.  Sotilha. 

S0BVER3Ã0,  s.  f.  Vid.  Subversão. 

SOCA,  .v.  /.  No  Brazil  j)laiita-se  a  can- 
na  do  assacar,  e  a  primeira  producçào 
diz-se  /jlíinta,  ou  caiiiia  de  regos;  corta- 
da ella,  do.-í  pés  que  ticam  ein  turra  bro- 
ta outra  iiovidaile,  <|ue  se  chama  soca,  e 
d'esta  cortada  torua  a  brotar  a  resoca. 

—  Não  ter  nem  soca ;  uào  tor  nem  um 
ccitd. 

SOCADO,  jxirt.  pass.  de  Socar. 

—  Hiiiiiiin  socado;  liomem  dubiado,  re- 
feito, bem  conservado. 

SOCAIRO,  s.  m.  Termo  de  náutica. 
Amai  ra  do  popa. 

—  //•  no  socairo  de  alguém;  seguin- 
do-o. 

—  Ao  socairo ;  á  ré,  por  detraz  da 
popa  do  navio. 

—  Figuradamente:  /)•  ao  socairo  dn 
forSalf.za;  amparado  com  ella,  por  detraz 
d'ella. 

SOCALCO,  í.  m.  Porção  de  terra  susti- 
da, talhaudo-se  a  pii[ue,  ou  em  talud 
para  fazer  no  alto  peipieuas  planícies,  em 
terras  utontaosas,  ou  naa  encostas,  de  ma- 
neira que  vae  ticaudo  como  em  degraus. 
Vid.  Surriba. 

SOCAPA,  i)u  SOBCAPA,  adv.  Com  capa, 
côr,  j)retexto. 

—  Furtivamente. 

SOCAR,  V.  a.  Sovar,  amassar  muito  al- 
guma cousa,  de  modo  que  tique  endure- 
cida. 

—  Dar  mui'ro3.  —  »Tu  és  quem  nos  ha 
de  informar  de  quem  e  quem  n.ão  anda 
amancebado.»  Escusou-se  o  criado.  Tei- 
maram. Até  quo  o  socarão,  lingindo-se 
simples,  lhes  arrumou  com  esta.»  Bispo 
do  (irão  Fará,  Memorias,  publicadas  por 
Camillo  (^astello  Branco,  pag.  118. 

f  SOCARIO,  s.  «I.  Termo  de  náutica. 
Aman-a  com  arganóo,  ou  espias  de  amar- 
ra   (la    iiõpa. 

SOCARRÃO,  ONA,  adj.  Velhaco,  enga- 
nador,  astucioso. 

—  Substantivamente:   Í7íií  socarrão. 
SOCAVA,   s.  /.  Cava    subterrânea    por 

baixo  de  monte,  ou  em  profundeza. 


SOCAVADO,  i>nrt.  2>uss.  do  Socavar. 
C'avado  piir  baixo. 

—  Extraliido  da»  minas,  de  excava- 
(;õ(!->,  c.tc. 

SOCAVÃO,  s.  7/f.  Augiiioutativo  de  So- 
cava. 

SOCAVAR,  V.  a.   Cavar  por  baixo. 

—  l'!xtialiir  de  excavações  da  terra. 

f  SOCCEDER,  V.  n.  Vid.  Soceder.  — 
«E  se  nestes  ilias  Floiendos  e  Palmeirim, 
nem  Dramusiando  nilo  eram  alli  vindos, 
foi  por  muitas  e  mui  grandes  aventuras, 
(pio  llie  soccederam;  que  a  virtude  de  ne- 
cesáiilade  os  obrigava  seguir:  que  isto  é 
natural  de  coraçòus  nobres,  polas  aflron- 
tas  allieias  esquecerem  as  cou.-as  de  seu 
gosto.»  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
d'Inglaterra,  cap.  S.'). 

SOCCESSIVAMENTE,  adv.  Vid.  Succes- 
sivaiueute. 

SOCCO,  «.  IH.  (Do  latim  soccus).  Cal- 
çado vulgar  e  baixo,  em  opposiçào  ao  co- 
thurno  trágico. 

—  Membro  do  pedestal  das  columnas, 
o  qual  é  como  uma  base  (Pelle. 

—  Base  de  cruzes,  relicários,  etc. 

—  Dá-se  este  nome  também  em  algu- 
mas cidades  do  Douro  aos  tamancos.  Vid. 
este  ultinio  termo. 

—  An.vGios  E  PRGVEiimos: 

—  Viu-se  o  demónio  em  soccos,  e  quiz 
pizar  (18  outros. 

—  Não  é  bom  fugir  em  soccos. 

—  Pés  tortos  não  hào  mister  soccos. 
SOCCORREDOR,  A,  adj.  e  s.  Que  soc- 

corre,    que    dá    auxilio,    ajuda.  —  Deus 
soccorredor  d't  humanidade. 

SOCCORRER,  ou  SOCORRER,  v.  a.  (Do 
latim  iííccíí)-)-c)-tM.  Ajudar,  acudir,  dar 
soccorro,  auxilio.  —  «Vendoso  Jlaxencio 
obedecido  em  Roma,  e  morto  o  Einpera- 
dor  (-ialerio,  se  deu  a  tantos  vicios,  e 
aboiniiiaçoens,  que  Coustãtino  compade- 
cido das  (jueixas  que  cada  dia  lhe  che- 
garão de  Roma,  determinou  socorrela, 
e  tirar  do  Mundo  aquelle  novo  monstro, 
que  o  começava  a  tyranizar.»  Monarchia 
Lusitana,  liv.  5,  cap.  24. 


Polo  livrar 

As  VirgLMiâ  qiiei-o  chíimar. 
Que  Uic  qufirào  soecorrer, 
Ajudar  e  consolar. 
Que  Cdt.-i  ja  para  acabar 
De  morrer. 

QIL  VICENTK,  FABÇAS. 


—  «Traz  estas  palavras  lançou  tantas 
lagrimas  quantas  lhe  pareceram  necessá- 
rias pêra  dar  côr  ao  que  dizia,  dizendo 
mais.  Peço  a  vossa  A.  que  com  o  animo 
real,  com  (|ue  sempre  favoreceu  os  tris- 
tes, me  soccorra  na  maior  sem  razão  o 
aggravo,  que  se  nunca  fez  a  homem.» 
Francisco  do  Moraes,  Palmeirim  d'In- 
glaterra,  cap.  113.  —  «Xestc  tempo,  ven- 
do o  gigante  que  os  seus  eram  destroça- 
dos de  todo,    se  começou  concertar   na 


sella  com  tenção  do  ob  soecorrer,  e  sa- 
tisfazer Bua  ira.  O  cavalleiro  do  Tigre, 
que  tê  entãu  estivera  vendo  as  obraa  de 
seu»  amigos,  que  a  «eu  parecer  eram 
muito  pêra  is»o,  quando  viu  que  o  gi- 
gante He  fazia  prcKtes,  temendo  que  com 
sua  checada  ti/.es.se  al:;am  damno,  lhe 
Bahíu  diante,  dizeudo.»  Ibidem,  cap.  117. 

—  «Tornando  em  seu  acordo,  lhe  pergun- 
tou quem  era,  e  elle  respondeu :  Senhor, 
a  mim  me  chamam  R<Jcamor;  sou  amigo 
daquelles  cavalleiros  que  vencestes  da 
outra  banda  do  rio ;  e  porque  vi  que  lho 
não  podia  soecorrer,  quiz  catar  remédio 
pêra  voa  fizi-r  al(rum  j>esar,  e  este  dese- 
jo me  fez  lançar  mão  desta  doiizeila  pêra 
a  levar.»  Ibidem,  cap.  128. —  •  Passan- 
do por  baixo  do  apouseiito  da  imperatriz, 
viu  sua  senhora,  de  que  teve  tamanho 
Bobresalto,  que  algum  espaço  Hcoa  fora 
de  si,  mas  o  esforço  que  nestes  tempos 
soccorreu,  o  tornou  em  seu  acordo.  » 
Ibidem,  cap.  li>4.  —  «Florendos,  seu  fi- 
lho, foi  o  primeiro,  que  se  deceo  acom- 
panhado, e  logo  Palmeirim,  que  antre 
todos  os  christãos  foi  o  que  maior  estra- 
go fez  nos  imigos,  que  i»or  sua  mão  ma- 
tou dois  gigantes  e  outros  cavalieiros  fa- 
mosos, soccorrendo  seus  amigos  e  salTan- 
do-03  das  graniles  pressas  com  assaz  der- 
ramamento de  seu  sangue.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  169. 

—  «Mas  encaminhando  pêra  o  palmar, 
vio  a  gente  que  bia  nos  bateis  de  Afon- 
so Dalbuipierque  andar  em  terra,  do  que 
])osto  em  duuida  a  qual  das  j^artes  so- 
correria, determinou  fazello  aquella,  on- 
de foi  cometer  os  nossos  sem  nenhum 
medo,  com  hum  esquadrão  de  fartaques, 
bom  armados,  e  elle  vestido,  de  hum  lau- 
rel de  laminas  cuberto  de  cetim  creme- 
íiin,  com  huma  ceilada  dourada  na  ca- 
beça, e  no  braço  huma  muito  boa  adar- 
ga, com  huma  espada  cengida.  laurada 
de  tauxia  douro,  e  prata,  e  na  mão  hu- 
ma azagaia.»  Damião  de  Ooes,  Chronica 
de  D.  Manoel,  part.  2,  cap.  23. —  «E 
deu-lhe  conta  da  noua  que  lhe  viera,  e 
como  tinha  determinado  de  com  todo  sen 
puder  socorrer  aos  cercados,  e  como  to- 
dos os  que  presentes  estauão  por  murtas 
razões  lhe  aconselhauào,  que  em  nenhu- 
ma manerra  passasse  em  pessoa.»  Gar- 
cia de  Rezende,  Chronica  de  D.  João  11, 
cap.  'è2. —  «Rumecão,  cumo  este  era  o 
primeiro  favor  que  lhe  derào  as  armas 
nesta  guerra,  com  louvores,  e  promessas 
accendia  o  orgulho  dos  Turcos.  Entre  os 
nossos  se  derramou  huma  voz,  que  o  ba- 
luarte era  ganhado,  e  esta  fama,  ou  fos- 
se ardil,  ou  caso,  pudera  perder  a  For- 
taleza, porque  os  quo  nas  outras  estan- 
cias peleijavão,  quasi  tinhão  desampara- 
do os  postos  por  soecorrer  o  baluarte, 
que  hariào  perdido.»  Jaeintho  Freire  de 
Andrade,  Vida  de  D.  João  de  Castro, 
lir.  2.  —  «Quiz  a  Rainha  D.  Berongei- 
ra  de  Castella  como  tia  sua,  irmã  de  soa 


socc 


socc 


socc 


559 


mài,  soccorrello  com  amoestações,  e  con- 
selhos, e  dar-lhe  mulher,  nobreza,  e  go- 
verno conveniente  ao  estado,  e  conàiçaõ 
de  suas  cousas.»  Fr.  Bernardo  de  Brito, 
Elogios  dos  reis  de  portugal,  continua- 
dos por  D.  José  Barbosa. 

Vai-se-mc  o  dia  som  vêr 
meus  pobres,  proriraos  meus; 
quom  podesse  nào  perder 
ponto  de  lhes  soccnrrer, 
pois  03  bens  nossos  são  seus. 

AKTONIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  83. 

De  continuo,  o  dietame  do  meu  Bispo 

Ante  olhos  tinha  ;  instava-mc  o  Desejo 

Do  soccorrer,  com  pia  dextra,  os  miscros ; 

E  pedia,  em  mercê,  lance  opportuno 

Mc  deparasse  Deos  ;  interessando 

Com  Christo,  ao  bom  Diniz,  seu  tam  valido. 

F.    M.    DO  NASCIStEXIO,  OS  MAKTTKES,   1ÍV.    ~i  . 

—  Soccorrer  o  seu  escudo.  —  «E  como 
Dramusiando  se  partira  em  busca  delle, 
maltratado  de  muitas  feridas,  sem  con- 
sentir que  o  curassem  delias,  affirmando- 
Ihe  mais  polo  alvoroçar  que  Miraguarda 
não  esperava  que  ninguém  soccorresse 
o  seu  escudo  senào  elle,  mandando-lhe 
que  o  fosse  catar,  e  que  por  seu  manda- 
do o  fazia.»  Francisco  de  Moraes,  Pal- 
meirim d'Inglaterra,  cap.  72. 

—  Soccorrer-se,  v.  rejl.  Recorrer  pe- 
dindo auxilio,  remédio,  valer-se  de  al- 
guém. —  «Floriano,  que  não  achava  a 
quem  em  tal  passo  se  soccorresse,  en- 
commendava  suas  cousas  á  fortuna,  co- 
mo a  quem  de  todos  é  senhora.»  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  94. —  «Por  certo,  inda  que  Barro- 
cante  e  seus  companheiros  em  tal  extre- 
mo se  vissem,  nem  por  isso  os  da  outra 
parte  deixavam  de  cuidar  o  mesmo,  que 
o  cavalleiro  do  Dragão  naquella  hora  se 
soccorria  a  sua  senhora,  e  desconfiado 
de  se  ella  lembrar  delle,  consolava-se, 
havendo  por  cousa  leve  soífrer  morte 
quem  com  trabalhos  passou  a  vida.»  Ibi- 
dem. 

—  Soccorrer-se  dos  cotos,  dos  braços; 
valer-se,  ajudar-se. 

—  Soccorrer-se  ás  lagrimas;  valer-se 
d'ellas,  ajudar-se. 

—  Soccorrer-se  dos  dentes;  para  de- 
fender-se. 

SOCGORRIDO,  part.  pass.  de  Soccorrer. 
A  quem  se  deu  soccorro,  auxilio.  —  «Suc- 
cedeo  Rumeeão  ao  Pai  no  ódio,  e  cargo, 
continuando  a  guerra  com  a  obrigação  de 
General,  e  sentimento  de  filho,  tão  em- 
penhado pela  dor,  como  pelo  officio.  Man- 
dou continuar  por  seis  partes  o  entulho 
da  cava,  sendo  por  horas  soccorrido  o 
exercito  de  gastadores,  bastimentos,  mu- 
nições, e  soldados,  crescendo  por  toda  a 
parte  a  obra  que  Rumeeão  esforçava,  co- 
mo disposição  para  nos  dar  o  assalto.» 
Jacintho  Freire  d'Andrade,  Vida  de  D. 
João  de  Castro,  liv.  2. 


Cumpre,  Senhor,  que  seja  em  breve  espaço 
De  Diu  a  fortaleza  soccorrida, 
Porque  a  arente  que  tinha,  ou  do  Turco  aço 
Ou  do  trabalho  he  muito  consumida  ; 
Tal  que  ja  o  Lusitano  invicto  braço, 
Ja  a  força  Lusitana  hc  constrangida, 
Para  ter  di_'fenãào  a  fortaleza, 
Tomar  favor  da  feminil  fraqueza. 

F.    D'ASDItADE,    TRIMEinO  CKECO    DE   DIU,    Cant.    IG. 

est.  75. 


—  «Parou  o  móbil;  e,  dando  ella  um 
passeio  para  uma  das  janellas,  e  abrindo 
as  vidraças  de  cristal  que  em  frisos  de 
oiro  cabiam  para  uma  galeria  de  pintu- 
ras originaes,  appareceu-ltie  o  príncipe 
regente  a  explicar-liie  as  suas  intençOes, 
com  a  energia  diabólica  de  que  era  soc- 
corrido ;  porém  a  dama,  fumegante  d'ira, 
accLidiu.»  Bispo  do  Grão  Pará,  Memo- 
rias, publicadas  por  Camillo  Castello 
Bra'.!ci',  pag.  9o. 

SOCCORRIMENTO,  s.  m.  Yid.  Soccorro. 

SOCCORRO,  ou  SOCORRO,  s.  w.  O  adju- 
torio  dado  a  alguém,  d'aquillo  cuja  fal- 
ta lhe  causa  detrimento,  e  pôde  ser-lhe 
causa  de  grande  mal,  e  ruina.  —  <  Por 
esperar  socorro  do  Galiza,  e  de  outras 
partes,  com  quo  os  foy  demandar  a  hum 
lugar  que  o  Arcebispo  chama  Lucos,  que 
em  latim  quer  dizer  bosques,  e  os  três 
Prelados  lutos,  que  quer  dizer  lamas.» 
Monarchia  Lusitana,  liv.  7,  cap.  11. — 
«Por  esta  ra-ào  os  houveram  sem  nenhum 
impedimento;  e  havia  só  dez  dias,  que  os 
acabaram  de  ganhar :  e  porque  na  corte 
de  Inglaterra  naquelle  tempo  estavam 
poucos  cavalleiros,  não  lhe  viera  té  en- 
tão nenhum  soccorro.»  Francisco  de  Mo- 
raes,   Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.   106. 

—  (tPor  certo,  senhora,  respondeu  elle, 
se  tirar-vos  a  vi')s  delia  havia  de  ser  pêra 
me  vêr  a  mim  n'outra  mór,  melhor  me 
fora  ter  por  fazer  este  soccorro,  inda  que 
d'outra  parte  o  contcntanievito  que  tenho, 
de  o  ter  feito,  quero  que  me  fique  por 
satisfação  de  minha  pena.»  Ibidem,  cap. 
128.  —  «E  parece  que  ordenou  Deos  que 
este  caso  fosse  mães  leve,  do  que  era  na 
opinião  dos  nossos  com  hum  socorro  que 
o  Hidalcào  mandaua  aquella  noite  de 
muito  mães  gente,  cuidando  elle  que  assi 
estaua  a  fortaleza  mães  segura,  que  os 
dias  passados.»  Barros,  Década  2,  liv. 
5,  cap.  6.  —  «Haveria  neste  tempo  den- 
tro na  Cidade  Goa  té  ndl  duzentos  e 
cincoenta  homens  de  peleja,  os  quatro- 
centos e  cincoenta  Portuguezes,  em  que 
entravam  trinta,  que  logo  com  o  novo 
cerco  de  Pulate  Can  Diogo  Corrêa  Capi- 
tão de  Cananor  mandou  em  soccorro,  de 
que  vinha  por  Capitão  Francisco  Pereira 
de  Berredo,  e  todolos  mais  eram  Cana- 
rijs    da   terra.»    Ibidem,    liv.   6,   cap.  9. 

—  «Christovão  de  Brito  leisando  alli  a 
gente  darmas  que  levava  ordenada  pêra 
andar  na  índia,  com  a  necessária  á  sua 
navegação  se  partio  pêra  Cochij  a  tomar 
carga  de   especiaria  já  em  Novembro,  e 


na  paragem  de  Baticalá  achou  D.  Aires 
da  Gama,  que  com  a  nova  que  teve  do 
estado  de  Goa,  também  hia  ao  socorro 
delia.»  Ibidem,  cap.  10. —  «Em  este  es- 
tado o  tomou  a  entrada  dei  Rei  de  Sevi- 
lha que  veio  assolando  quanto  os  dous 
males  deixarão  vivo,  e  ganhando  muitas 
forças  a  que  senaõ  pode  dar  soccorro, 
pelo  que  lhe  conveio  assentar  tregoas  por 
cinco  annos  com  os  inimigos,  e  dar  nes- 
te meio  tempo  algum  allivio  a  seus  vas- 
sallos.»  Brito,  Elogios  dos  reis  de  Por- 
tugal, continuados  por  D.  José  Barbosa. 
—  «Assentado  que  se  desse  aos  Venezea- 
nos  o  soccorro  que  pediam  mandou  el 
Rei  que  tomassem  da  armada  que  tinha 
prestes  pêra  sua  passagem  trinta  nãos, 
nauios,  e  carauellas  dos  melhor  esquipa- 
dos, e  artilhados,  de  que  deu  ha  capita- 
nia a  Dom  loam  de  Menezes,  filho  de 
dom  Duarte  de  Meneses  Conde  de  Vian- 
na,  capitão  que  fora  Dalcacer,  e  alfei  ez 
mór  dei  Rei  Dom  Afonso  quiitn.»  Da- 
mião de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  1,  cap.  51.  —  «Mas  vendo  Iheabon- 
tafuf  o  pouco  socorro  que  lhe  mand.aua 
Nuno  fernandez,  se  foi  de  huma  sua  vil- 
la,  per  nome  Cernu,  de  que  lhe  el  Rei 
dom  Emanuel  fezera  mercê,  pêra  Cafim, 
com  toda  sua  casa,  e  gente  de  guerra 
bem  ordenada,  deixando  todolos  poços  do 
termo,  a  duas,  e  três  legoas  eritupidos,  e 
outros  clieos  de  trigo,  bestas  moitas,  e 
outras  çugidades,  no  que  se  detene  tan- 
to.» Ibidem,  part.  3,  cap.  5. —  «Assen- 
tou que  o  mais  certo  caminho  era  aliar- 
ssc  com  Afonso  Dalbuquerque,  pêra  lan- 
ç-ir  da  cidade  a  el  Rei,  parecendolhe  que 
o  mesmo  faria  depois  a  Afonso  Dalbu- 
querque, por  ser  estrangeiro,  e  lhe  nam 
poder  vir  soccorro  se  nam  da  índia.» 
Ibidem,  cap.  24.  —  «Sabendo  dom  loão 
o  propósito  com  que  uinha  Moleinacer 
Rei  de  Mequinez,  e  que  a  mor  parte  da 
sua  gente  era  ja  passada  anisou  el  Rei 
dom  Emanuel  per  suas  cartas,  pedindo- 
Ihe  soccorro,  que  lhe  logo  mandou,  mas 
delle  não  ouue  necessidade,  por  Moleina- 
cer se  nam  atreuer  a  uir  poer  o  cerco.» 
Ibidem,  cap.  51.  —  «Depois  de  dom  Pe- 
dro ter  feita  esta  entrada,  vieraõ  nouas 
per  via  dos  mouros  de  pazes,  que  el  Rei 
de  Fez  determinaua  vir  em  pessoa  sobre 
çafim,  do  que  dom  Nuno  avisou  el  Rei 
dom  Emanuel  pedindolhe  socorro.»  Ibi- 
dem, part.  4,  cap.  23.  —  «Embarcado  o 
Governador,  achou-se  com  treze  fustas, 
porque  áquella  hora  lhe  chegaram  três  de 
Cananor,  cheias  de  muita,  e  boa  gente, 
cujos  Capitães  eram  Francisco  Mendes 
de  Braga,  Martim  da  Silva,  e  Jorge  Vaz, 
que  D.  João  Deça  lhe  mandava  de  soc- 
corro; porque  tanto  que  teve  vista  da 
Armada  do  (iovernador,  e  vendo  arran- 
car a  do  inimigo  da  terra,  despedio  os 
navios.»  Diogo  de  Couto,  Década  4,  liv. 
õ,  cap.  3.  —  «O  Ciovernailor  ficou  nego- 
ciando o  mais  soccorro  com  muita  prés- 


560 


SOCC 


socc 


SOCE 


Ba,  e  três  dias  depois  de  D.  Francisco  do 
Menezes  foy  fazer  à  V(!la  seu  íilho,  que 
sahio  pela  barra  do  (loa  a  velha,  despe- 
dindo-o  com  inuitas  bi!n^'oens,  escreven- 
do por  elle  a  I).  .Toaõ  Mascarenhas,  e  do 
novo  a  1).  Fraiicisco  de  Monezos  (sem 
embarpi  do  Itio  jà  tor  podido)  ()ue  alli 
lho  mandava  D.  Álvaro  de  Castro  seu  fi- 
lho ])cra  nSo  fazer  maia  fiiic  o  que  ellos 
lho  mandassem,  e  assim  lho  dou  a  ello 
por  rcfjimento.»  Idom,  Década  (i,  liv.  2, 
cap.  7.  —  «Os  nossos  ficarão  muito  alvo- 
roçados com  esto  soccorro,  porque  al- 
guns mantimentos  lhes  levàraõ  as  n;Vis 
c5  que  se  romeiloàraiS.  1).  Fedro  da  Sil- 
va vondo  que  a  falta  dídles  hia  por  tlian- 
to,  e  que  não  tinlia  esiieranças  de  lhe  vi- 
rem da  Jaoà,  deu  busca  nas  casas,  e  re- 
colheo  tudo  o  que  achou,  e  o  ineteo  em 
almazons.»  Ibidem,  liv.  9,  cap.  8.  —  «E 
foi  tcão  incansável  a  dili<íoncia  com  que 
80  aprestava,  que  em  brevíssimo  tempo 
so  poz  do  verfía  (Taito  tola  a  armada,  e 
8Ó  lhe  faltavão  os  soccorros  do  Cananor, 
e  Cochini  para  levar-sc;  porque  era  tal  o 
amor,  o  obediência  com  que  lhe  assistião, 
que  as  Donas,  o  Cavai  loiros  de  Goa  lhe 
vinhão  oflerecer  os  filhos,  e  a  fazenda; 
levando  esta  armada  tantas  beiíçàos  do 
Povo,  como  outras  soem  levar  la<rrlmas, 
e  queixumes.»  Jacintho  Freire  d'Andra- 
dc,  Vida  de   D.  João  de  Castro,  liv.  2. 

—  tMoJatecSo,  que  tinha  vindo  ao  exer- 
cito cora  hum  soccorro  prrosso,  e  do  va- 
lor dos  Fortu^uezes  fallava  com  despre- 
zo, formando  diflforontc  juizo  com  as  ex- 
porioncias  doste  dia,  dizia,  que  crão  di- 
gnos de  que  os  servissem  as  gentes. »  Ibi- 
dem, liv.  2.  —  (iQue  senão  querião  tomar 
a  fiar  da  vibora,  que  huma  vez  os  morde- 
ra; porque  se  os  quizéra  matar  quando 
obrigado  de  hum  grato  soccorro,  que  fa- 
ria quando  offcndido  na  injúria  de  sou 
exercito  affrontado?»  Ibidem,  liv.  4. 

—  Ir  de  soccorro  a  ali/uma  pessoa,  ou 
cousa;  auxilial-a,  correr  cm  seu  auxilio. 

—  « Causou  em  Ba^aim  grande  alvoroyo  a 
nova  dos  Turcos,  e  se  começíiraõ  a  fazer 
algumas  pessoas  prestes  pêra  hirem  de 
soccorro  a  Ormuz,  c  primeiro  que  todos 
foy  António  de  S;\  o  Rume  (iium  Fidalgo 
em  quo  muitas  vezes  temos  falado  nestas 
nossas  Décadas).»  Diogo  de  Couto,  Déca- 
da (5,  liv.  10,  cap.  5. 

—  Mtuu\ões  de  soccorro.  —  «Este  dia, 
crescendo  o  tempo,  começou  a  eassear  o 
caravclão,  o  trincou  duas  amarras ;  e 
como  era  baixel  tào  importante,  por  tra- 
zer as  munições  do  soccorro,  tentou  D. 
Álvaro  acodir-lhc ;  o  por  mais  quo  traba- 
lharão os  marinheiros,  não  pudérâo  chc- 
gar-lho  com  a  força  do  tempo.»  Jacintho 
Freire  d'Andrade,  Vida  de  D.  João  de 
Castro,  liv.  2. 

— ■  Auxilio,  adjutorio,  recurso.  —  «Se- 
nhora, este  soccorro  agraílccei  ao  se- 
nhor Florendos  que  ahi  cstà,  pois  o  fez, 
que  eu  por  minha  desventura  jil  o  não 


faço  a  ninguém,  nem  posso  trazer  armas.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  90.  —  «Senhor,  disso  elle, 
com  voz  tão  fraca  o  cansada  quo  quasi  se 
não  ouvia;  pois  cm  vossa  casa  esteve 
sempre  certo  o  soccorro  pcra  aquellcs 
quo  o  hão  mister,  não  creio  que  a  mim, 
que  disso  tiuilu'  maior  necessidade,  nie 
faleça.»  Ibidem,  cap.  113. —  «Com  esta 
tíMição  se  saiiir.am  desta  terra,  c  obrando 
segiiixlo  o«)stnnio  do  seus  passados,  adia- 
ram o  mesmo  que  buscavam,  que  era  o 
mesmo  cavallciro  do  Salvarem,  que  os 
matou  em  batalhas  iguaes  como  esforça- 
do: j)arece  que  o  criou  Deus  pêra  soccor- 
ro de  muitos  e  amparo  destes  povos,  que 
tanto  tem)»!  viveram  mal  aventurada- 
mento.»  Ibidem,  cap.  117. 

Se  o  .inci-nrrn  dliiim  tubo,  c  hum  frapil  vidro 
I.he  aproxiiiKisso  o  Cco,  í|Uí»iito9  prodígios 
Aos  absortos  raortíics  manifestara! 

J.    A.    DE   MACBnO,   VIAOEH   KITATICA,  Ctint.    2. 

—  Vir  ao  soccorro ;  diz-se  de  alguma 
empreza  particular. 

—  O  que  se  dá  a  soldados,  o  mari- 
nheiros do  real  serviço,  quando  ostão  nos 
hospitacs,  c  se  lhes  abate  nos  soldos  dos 
que  o  ))orcebem  doentes  mesmo. 

SOCEDER,  V.  a.  Vid.  Succeder.  —  «De 
quo  a  principal  causa,  segundo  se  disse, 
foy,  a  inveja  de  seis  ou  sete  homens  que 
querião  presumir  de  fidalgos  que  se  acha- 
rão aly  presentes,  os  quais  tendo  para  sy 
que  se  Deos  permittisse  que  este  negocio 
socedesse  como  se  esperava,  o  João  Cayey- 
ro  si)  (a  quem  os  mais  não  tinhão  boa 
võtade)  ficaria  daquy  eõ  tíimanho  nome  e 
tanta  honra,  quo  seria  pouco.»  Fernão 
Mendes  Finto,   Peregrinações,  cap.  148. 

—  «E  como  hum  erro  seja  inuite  doutros, 
socedeo  que  ao  outro  dia,  fomos  sempre 
caminhando  à  vista  destas  Ilhas  das  quacs 
estauamos  afastados  seis  legoas,  sem  nun- 
ca as  conhc^.'cnnos.í  Fr.  tlaspar  de  S. 
Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap.  1. 

—  «Forão  socedendo  por  morte  de  Moa- 
uia  outros  muytos  no  Halifado,  como  fo- 
rão (^eizid,  Abdalã,  Abdimelech,  Zula- 
mo,  Aomar,  (íeizid  sejíundo  deste  nomo, 
Euclide,  e  Ocizid  terceiro,  loès,  Ma- 
ruam,  Abubalà,  Abc<lel;i,  Abdalà,  Maha- 
ineth,  Madis,  Moyscs,  Arão,  Mahamet 
segundo,  Abdalà  segundo  deste  nome ;  e 
Mahamad,  e  outros  que  vão  socedendo 
que  não  digo  por  não  ser  molesto.  •  Ibi- 
dem, cap.  20.  —  « Deixando  toda  a  Fer- 
sia  tam  desaliuada.  couio  ficou  Roma  cõ 
a  morte  do  cruel  Nero.  Socedeulhe  seu 
irmão  !Mahanieth  Cudabende,  ta  amigo 
'le  damas,  como  imigo  das  armas,  por 
cuja  floxidade,  se  pordeo  Tauris  com  ou- 
tras niuvtas  Cidades:  tè  que  finalmente 
vcyo  a  morrer  de  sua  doença. »  Ibidem, 
c^p.  21.  —  «Neste  tempo  .andauaõ  os  nos- 
sos, por  fazer  grande  calma,  todos  nus 
nadaudo,  e  pescando  aos  cagados  e  outro 


peixe,  o  era  tamanha  ha  grita,  e  matina- 
da  que  faziam  por  lhes  a  pesca  soceder 
bem  quo  a  ouuio  Hamclix,  sem  o  clles 
verem,  c  os  tomara  todos  as  mãos,  se  da 
villa  nam  repicaram,  c  tiraram  com  bur 
ma  bombarda  (grossa. ■  Damião  de  Goefl, 
Chronica  de  O.  Manoel,  part.  4,  cap.  47. 
—  «Escrevo,  porem  s<juunto  para  dizer  a 
V.  S.  quo  nesta  occasião  so  enganou  co- 
migo, c  que  isso  ra'-«mo  lhe  ha  de  soce- 
der em  outras  nmitas,  se  se  nlo  emmcn- 
dar  do  fascr  promessas  sobre  a  minha 
jialavra  antcA  de  lha  eu  dar  com  a  mes- 
ma segurança  com  que  difro  que  sou  Ami- 
f;o  e  Servidor  de  V.  S. »  Cavalleiro  d'0- 
liveira,  Cartas,  liv.  3,  n."  31.  —  «Diseia 
que  faço  grande  profusão  dos  meiu  elo- 
gios. Creyo  quo  considcraes  a  minha  po- 
bresa,  e  não  o  vosso  merecimento).  For 
pouco  que  despenda  hum  homem  de  pou- 
cos bens,  socede  muitas  visses  ser  accu- 
sado  de  pródigo.»  Ibidem,  n.*  59.  —  «E 
em  aqucUe  tempo  que  nesta  villa  estive, 
socederam  em  elle  dous  hirmãos  per  mor- 
te do  rcy,  o  ambos  estavam  desavindo*, 
e  tinham  grande  guerra  hum  contra  o  ou- 
tro.» António  Tenreiro,  Itinerário,  capi- 
tulo 26. 

SOCEGA,  *.  /.  Uma  porção  de  vinho 
que  se  toma  para  conciliar  o  aomno ;  era 
um  dos  agasalhos  da  antiga  hospitalida- 
de, de  que  se  diz  que  ha  vestigios  ainda 
agora  em  al)ruma«  casas  religiosas. 

SOCEGADAMENTE,  adv.  (De  socegado, 
e  o  sufHxo  «mente»).  De  um  modo  soce- 
gado,  trai;quillo. 

—  *. Quietamente,  tranquillamente. 
SOCEGADO,  paH.  pas$.  de  Socegar. 

—  Descanç-ado,  que  tem  socego.  — 
<Cnmeçou-se  a  atear  a  nossa  com  o  ca- 
minho que  ora  socegado ;  e,  como  o  es- 
tudante me  conhecia  de  muito  tempo, 
não  me  faltou  credito  com  os  companhei- 
ros.» Fernão  Soropita,  Poesias  e  prosas 
inéditas,  pag.  24.  —  «Apagado  o  fo^o 
em  que  Florendos  ardia,  e  elle  tomado 
em  seu  acordo  e  força  como  antes,  e  to- 
da a  gente  socegada,  o  imperador  e  im- 
peratriz com  os  outros  príncipes  e  prin- 
cezaa  se  tornaram  a  sentar,  praticando 
no  inedo  e  temor  que  Ihea  pozera  aquel- 
la  aventura. »  Francisco  de  Moraes,  Pal- 
meirim dlnglaterra,  cap.  93. 

SOCEGADOR,  A,  adj.  e  *.  Que  socega. 

—  tíomnit  socegador  d«  cuidado»  roedij- 
res:  que  ílescança,  aliivia,  aquieta. 

SOCEGAR,    V.   a.   Aquietar,  de*cânçar. 

—  <  Forem  o  cavalleiro  que  a  levava,  pê- 
ra que  lho  não  podesse  dar,  mandou-lhe 
cortar  as  pernas  ao  cavallo,  que  o  achou 
pascendo  no  campo,  de  maneira  que  sen- 
do-lbe  forçado  seguil-o  assim  a  pé,  quiz 
sua  ventura  o  alcançou  antes  de  meia  lé- 
gua, que  como  Arlança  fosse  forçosa  e 
irrande.  não  jnxlia  o  escudeiro  tanto  so- 
cegal-a,  que  não  se  deitaíise  muitas  vezes 
do  jialafrem ;  e  antes  que  a  tornassem 
subir,  fazia  alguma  detença.»  Francisco 


SOCE 


SOCI 


SOCI 


561 


de  Moraes,  Palmeirim  dlnglaterra,  cap. 
128. 
—  V.  n.  Ter  socego. 

Já  na  cidade  Beja  vae  tomar 
Vingança  do  Trancoso  deatruida 
Aôbnso,  que  não  aabo  socegar, 
Por  estender  co'a  fama  c  curta  vida. 
cAM.,  Lus.,  cant.  3,  est.  <54. 

Deixa  Paulino,  deixa  a  travessura^ 
Do  jogo,  a  que  te  arrasta  o  gonio  inquieto : 
Socega  hum  pouco  mais,  c  circunspecto 
A  orgulhosa  paixaõ  vencer  procura. 

ABB.4.DE  DE  JAZESTE,  POESIAS,   tOm.   2,  pag.    85. 

Coração  que  não  socega 

á  fó  que  tem  quem  o  chama. 

Ah  !  desconfiada  dama  ! 

cora  quem  por  tão  seu  se  emprega 

daes  do  mim  muito  m;l  fama. 

AKTOSIO  FRUSTES,  ADTOS,  pag.  290. 

Mas  em  quanto  o  canhão  profano  e  horrendo 
Nos  logarcs  que  digo  a  fúria  emprega, 
O  Turco  o  baluarte  combatendo 
Que  combateu  mil  vozes,  não  socega ; 
E  com  quanto  o  Christão  sempre  vencendo 
De  seu  desejo  ao  Turco  o  efeito  nega, 
A  victoria  porém  sempre  lhe  vinha 
Com  perda  da  melhor  gente  que  tinha. 
r.  d'andrade,  FBiJiEiBO  CERCO  DE  DIU,  caut.  7, 
est.  57. 

A  minh'alma  socfga.  Hum  Deos  conheço 

Que  8(5  pode  os  desejos  infinitos 

De  meu  peito  abastar.  A  Natureza 

Mc  leva,  me  conduz  ao  Thvono  augusto, 

E  nesta  vasta  máquina  deviso 

Da  vista  do  Immortal  gravado  hum  raio. 

J.    A.    DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Cant.    4. 


—  Deixar  modo  de  vida  irregular;  dei- 
xar-se  de  desordens,  turbulências. 

—  Deixar  de  ter  dores,  desassocego 
da  doença. 

SOCEGO,  s.  m.  Quietação,  descanço, 
tranquillidade  do  espirito,  e  do  corpo 
adormecido.  —  «E  vendo  um  temor  tão 
geral  em  todos,  temia  algum  desastre  a 
seu  senhor;  isto  porque  lhe  lembrava  o 
pouco  socego  que  a  fortuna  tem.»  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  98. 


Também  longe  éra  Eudóro,  de  socego, 
Na  ára  da  Cruz  depunha  a  interna  augustia : 
A  Deos,  que  encobre  os  seus  desígnios,  preces, 
Austeridades  d(')bra.  Mas,  vislumbrão-lhc, 
Por  entre  pranto  amargo,  c  penitencias, 
Alabastrinos  braços,  tranças  de  évano. 
Meneio  airoso,  graças,  que  de  Homero 
Ornão  a  Filha. 

F.   M.    DO  NASCIMENTO,   OS   MABTTKES,  llV.   8. 


—  Stn.  :  Socego,  quietação.  Vid.  este 
ultimo  termo. 

f  SOCESSAM,  s.  /.  Vid.  Secessão.  — 
«E  porque  el  Rey  hia  a  casar  a  Castel- 
la,  determinou  logo  ahi,  e  o  deixou  assi 
assentado,  que  sendo  caso  que  elle  ouues- 

VOL.  V,  —  71. 


se  filhos  da  Raynha,  e  o  Príncipe  fale- 
cesse primeiro  que  elle,  que  a  socessam 
do  Reyno  ficasse  ao  Infante  dom  Aftbn- 
so  seu  neto,  e  logo  ahy  o  declarou  por 
seu  herdeiro,  e  deixou  ordenado  que  o 
jurassem,  como  logo  dahi  a  pouco  com 
muyta  solemnidade  todos  jurarão  por  her- 
deiro dos  Reynos  de  Portugal,  e  dos  AI- 
garnes.»  Garcia  de  Rezende,  Chronica 
de  D.  João  II,  cap.  8. 

SOCESSÃO,  s.  /.  Vid.  Sucoessão.  — 
«E  então  lhe  deu  ElRey  por  divisa  a 
Espera,  cousa  que  parece  de  mistério,  e 
profecia  :  porque  lhe  deu  a  Esperança  de 
sua  Real  secessão,  como  ao  diante  se 
seguio,  auendo  entào  muytas  pessoas  vi- 
vas, que  antes  delle  eraõ  herdeyros :  03 
quaes  todos  depois  falecerão,  para  elle 
vir  henlar.»  Garcia  de  Rezende,  Chroni- 
ca de  D.  João  II,  cap.  46.  —  «E  con- 
certou-se  também  o  casamento  do  Prín- 
cipe, que  com  a  Infanta  dona  Isabel  fi- 
caua  desatado  de  se  fazer  com  a  Infanta 
dona  loana,  e  que  se  lhe  daria  mayor 
dote,  por  hum  grão  que  mais  era  alonga- 
da na  secessão  de  Castella,  que  a  In- 
fanta dona  Isabel.»  Ibidem,  cap.  35. 

SOCESSOR,  s.  m.  Vid.  Successor.  — 
«Porque  os  matrimónios  devem  seer  li- 
vres, e  03  que  som  per  prema  nom  ham 
boa  cima,  porem  estabelecemos  que  nós 
nem  nossos  Secessores  nom  costranguam 
nenhum  pêra  fazer  matrimonio.»  Ord. 
Affons.,  liv.  4,  tlt.  10,  §  1. 

SOCHANTRADO,  s.  m.  A  dignidade  de 
sochantre. 

SOCHANTRARIA,  s.  /.  Officio  de  so- 
chantre. 

SOCHANTRE,  s.  wí.  Official  ecclesiasti- 
co  que  entoa  no  coro  nas  fixltas  do  chan- 
tre; preside  ao  canto. 

SOCHANTREAR,  v.  n.  Exercer  o  officio 
de  sochantre. 

SOCHIAR,  V.  a.  Vid.  Esconder. 

SÓCIA,  s.  f.  Vid.  Sócio. 

SOCIABILIDADE,  s.  f.  Disposição  inna- 
ta  que  tem  os  homens  e  muitos  outros 
animaes  a  viver  em  sociedade. 

—  Modo  próprio  ao  homem  de  viver 
em  sociedade.  —  Os  grandes  j)rincipios 
da  sociabilidade. 

—  Qualidade  do  homem  social. 
SOCIAL,   adj.  2  çjen.  (Do   latim  socia- 

lis).  Que  diz  respeito  á  sociedade.  —  Um 
dos  vícios  do  corpo  social. 


Tanto  estender  o  circulo  das  luzes 
No  estado  social  o  génio  ]5(5de ! 
Foi  correndo  da  rústica  choupana, 
Por  gradações  sem  numero,  ás  soberbas 
Muralhas  do  Babel,  de  Tyro  ao  fasto, 
E  gigantescos  Pórticos. 

J.    A.    DE   M.ÍCEDO,   MEDITAÇÃO,    CaDt.    1. 

Oh  portentoso  Eg3-pto !  em  ti  contemplo. 
Em  ti  de^^30,  c  estudo  a  espécie  liumaua, 
E  me  sei  conhecer  na  origem  minha. 
No  primitivo,  o  social  estado ! 


Destas  imagens  do  terror  desvio 
Para  objecto  mais  grato  a  mento ;  c  a  vista. 
Menos  ferozes,  menos  esquecidos 
Da  antiga  sujeição,  do  império  antigo. 
Vejo  mansos  quadrúpedes,  que  aos  homens 
Na  vida  social  serviços  prestão. 
IBIDEM,  cant.  3. 


—  Que  convém,  que  é  próprio  á  socie- 
dade. 

—  Próprio  de  sócios.  —  Social  coimnu- 
nicaqão. 

—  Termo  de  historia  romana.  Guerra 
social;  famosa  guerra  que  começou  no 
anno  de  Roma  661,  e  que  teve  por  fonte 
o  desejo  que  os  alliados  de  Roma  tinham 
de  se  tornar  cidadãos  romanos. 

—  Syn.  :  Social,  sociável.  Vid.  este  id- 
timo  termo. 

f  SOCIALISMO,  s.  m.  Systema,  que 
subordinando  as  reformas  politicas,  oífe- 
rece  um  plano  de  reformas  sociaes. 

f  SOCIALISTA,  s.  Partidário  de  um 
systema  de  reformas  sociaes. 

—  Adj.  Que  diz  respeito  ao  socialismo. 
—  OjiiniZcs  socialistas. 

SOCIALMENTE,  adv.  (De  social,  e  o 
suffixo  «meute»).  Em  sociedade. 

—  Relativamente  á  sociedade,  á  scien- 
cia  social. 

—  Na  ordem  social. 
SOCIAR,  i:.  a.  Vid.  Associar. 

f  SOCIATIVO,  A,  adj.  Termo  de  gram- 
matlca.  Que  indica  a  associação  de  dous 
objectos.  —  Um  caso  seciativo. 

SOCIÁVEL,  adj.  2  adj.  (Do  latim  so- 
ciabilis).  Que  é  próprio  a  viver  em  socie- 
dade. 

—  Diz-se  também  dos  animaes.  —  A 
abelha  é  um  animal  sociável. 

—  Feito  para  viver  em  consorcio  e  con- 
versação dos  seus  similhantes. 

—  Compatível. 

• — Syn.  :  Sociável,  social. 

A  difterença  entre  sociável  e  social 
provém  da  terminação  de  cada  um  d'es- 
tes  vocábulos.  A  terminação  avel  denota 
disposição,  força,  propensão;  a  termina- 
ção ai  exprime  meramente  união,  liga- 
ção ou  dependência,  etc. 

Sociável  quer  dizer  inclinado,  propen- 
so á  sociedade;  social  o  que  effectiva- 
mente  pertence  á  sociedade,  d'ella  faz 
parte,  a  ella  se  refere. 

Sociável  só  se  diz  do  homem ;  social 
diz-se  das  relações  e  deveres,  que  resul- 
tam aos  homens  em  consequência  da  sua 
sociabilidade,  e  do  estado  de  sociedade. 

SOCIEDADE,  s.  /.  (Do  latim  societas). 
Reunião  de  indivíduos,  tendo  a  mesma 
origem,  os  mesmos  usos,  as  mesmas  leis. 

—  Reunião  d'animaes,  que  tendem  a 
um  mesmo  fim,  que  tem  um  interesse 
commum. — As  formigas  vivem  em  so- 
ciedade. 

—  Communícação,  relação. 

—  Associação,  participação. 

—  Reunião  de  pessoas  que  se  ajuntam 
para  viver  segundo  as  regras  de  um  ins- 


562 


SOCI 


tituto  relif^ioso,  ou  p;ira  conferir  «obrn 
cortas  sciencias.  —  Sociedade  '/<;  iwirnl 
chrisiã. 

—  A  sociedade  humana. 


AUi  (Vlíoblxn  ilf-íciíbro  n.  imapjom  triste, 
Quo  no  |)c(lali'i)  laliyrintlio  ciitriivii, 
Em  i\w  involvida  luimaiia  Sni-ii:ilade., 
Noin  toda  m-  nos  mostra,  ou  toda  «scondc, 
Julça  qiio  o  nosso  primitivo  estado 
Ao  nonicm  natural  fora  o  da  pucrra. 

j.  A.  hk  mackdo,  viagkm  KxrATicA,  cant.  2. 


Da  humana  fofíiedarh  a  paz  he  baee : 
Convorgoin  nesto  ponto  os  Surcs  todos : 
Fora  dollc  sií  tom  tormento  o  pena. 
O  rio  busca  o  mar,  e  a  pedra  o  centro ; 
Busca  o  fogo  inquieto  a  etheroa  parte, 
Sua  esfera  natal  ;  todos  anciosos 
Com  sempiterna  hú  repouso  auhelào. 
IDF.M,  MK.niTAçÃo,  caut.  3. 


—  Sociedade  secreta ;  associação  do 
conspirailoros. 

—  Relações  que  tem  entre  si  os  habi- 
tantes do  lun  paiz,  de  uma  cidade. 

—  Companhia  de  pessoas  que  se  reú- 
nem de  ordinário  imias  em  casa  d'outras. 
—  A  òoa  sociedade. — A  vid  sociedade. 

—  Sociedade  sabia;  reunião  de  pessoas 
que  se  aggregara  para  cultivar  as  seien- 
cias. 

—  Acto  de  sociedade ;  assim  cliamaram 
á  junta  de  pessoas  da  nobreza,  governo, 
justiça  em  cujo  nome  se  fez  uma  repre- 
sentaçito  a  el-rei  D.  Affonso  vi,  que  se 
tinha  alguma  legalidade  foi  a  convocação 
d'ellas  ser  feita  peia  rainha  regente. 

SOCINADO,  A,  adj.  Termo  antiquado. 
Inspirado,  eontado  em  voz  baixa. 

f  SOCINIAUISMO,  s.  m.  Heresia  que 
rejeita  a  Trindade  e  a  divindade  de  Je- 
sus Christo. 

f  SOCINIANO,  A,  s.  Nome  dos  heréti- 
cos que  professam  o  socinianismo. 

SÓCIO,  A,  s.  (Do  latim  socius).  O  com- 
panlioiro  de  outro,  ou  mais,  que  se  con- 
certaram para  do  mSo  commum  alcança- 
rem algum  iim. 

Oh  mudos  sócÀoí  meus,  quanto  sois  bellos  ! 
Fostes  empregos  do  mortal  primeiro, 
D'Eva  a  formosa  mão  vos  doo  cultura  •, 
K  voluntariamente  então  curvados, 
Lhe  otVorccostcs  a  flor,  lhe  dóstes  fructos ; 
A  iunoccncia  findou,  e  cm  vós  não  finda 
Riqueza,  profusão,  matiz,  e  g;ra(,-a. 

J.   A.    DE  MACEDO,  MKDITAÇÃO,  Caut.    G. 

l'ordoa-mc,  Scmpronio  :  essa  virtude 

Não  se  finije :  venceste,  couvcnccste-me. 

Ku  diwidava  —  não  de  ti,  amigo. 

Mas  de  teus  sociof.  Porcio !  — tu  bom  sabes 

Que  alma  é  a  de  Porcio  !  ■ — não  confia  u'cllo3, 

E  om  aeu  zelo  não  crê  de  liberdade. 

OAKRBTT,  CATÃO,  act.   7,  SC.   7. 

—  Membro  de  uma  associação. 

—  Figuradamente  :  Cúmplice. 

—  Adjoctivamente  :  Homens  sócios. 


SOCO 

Do»  homens  Mriof  são,  porém  vussallo»  ; 
Nu  e.sfura  liuinildi-s  são,  na  essência  brutos, 
Ma?4  inquieto  o  pensamento,  nunca 
As  incessantes  azas  equilibra. 
Solta  a  espaços  inc<'ipnitos  seu»  vAo». 
Qual  t^ueiroz  pertinaz,  (Joolt  atrevido, 
Quo,  inda  mais  de  huma  vez  gyrando  o  Globo 
líuHca  as  plagas  Austraes,  nunca  socéga, 
Anlicla  o  que  não   'ê,  despreza  o  visto, 
j.  A.  iiy,  HACKDO,  MKi>iTAç\o,  caut.  4. 


SOCO,   s.  m.  Vid.   Socco. 

SOCO,  s.  m.  Termo  popular.  Murro. 

—  Figuradamente:  Dá-so  também  esto 
nomo  ils  mossas,  que  o  peão  com  que  ati- 
ram faz  na  carniça  ou  no  peão  que  está  no 
meio  da  roda  como  alvo  para  lhe  acerta- 
rem . 

SOCOLHEDOR,  ou  SOBCOLLEITOR,  ».  m. 
Termo  antiqu.ido.  <•  substituto  ou  aju- 
dante do  ciilleitor. 

SOCOLIPE,  s.  Hl.  Termo  da  província 
da  Heira.  \'iil.   Póspello. 

SOCOLOR.  Vid.  Sobcolor. 

SOCORDIA,  s.  /.  (Do  latim  socordia). 
Cobardia,  preguiça. 

SOCORRER,  V.  a.  Vid.  Soccorrer.  — 
«Pelo  que  vos  requeyro  que  ponliais  co- 
bro em  vossas  pessoas,  porque  se  diz  que 
tem  jurado  de  como  fòr  menham  nos  ma- 
tarem a  todos,  c  por  isso  ou  ftigy,  ou 
chamay  quem  vos  socorra,  pois  por  serdes 
religiosos  vos  não  he  dado  tomardes  na 
mão  cousa  que  tire  sangue,  a  cujas  vozes 
toda  a  gente  acordou,  e  acodindo  rijo  á 
porta,  o  acharão  quasi  morto  deitado  no 
eiiaõ  de  tristeza  e  cansaço  por  ser  ja 
muyto  velho,  p  Fernão  Mendes  Pinto,  Pe- 
regrinações, cap.  78.  —  «Vendo  entaõ  o 
Capitão  e  toda  a  mais  gente  o  triste  es- 
tado em  que  nossos  peccados  nos  tinhaõ 
posto,  nos  socorremos  a  huma  imagem  de 
nossa  Senhora,  á  qual  pedimos  com  muy- 
tas  lagrimas  e  muytas  gritas  que  nos  al- 
cançasse do  seu  bento  tílho  perdão  de 
nossos  peccados,  porque  da  vida  não  avia 
ja  quem  fizesse  conta.»  Ibidem,  capitulo 
'Vòl. 

SOCORRIDO,  part.  pass.  de  Socorrer. 
Vid.  Soccorrido.  —  tO  qual  depois  que  a 
leo,  e  entendeo  por  ella  que  não  podia 
ser  socorrido  pelos  nossos,  como  sempre 
lho  parecera  que  fosso,  dizem  que  ficou 
tão  fora  de  sy,  que  com  a  grande  dôr  e 
tristeza  cahio  em  terra  como  morto,  onde 
despois  de  jazer  algum  espaço,  tornando 
om  sy  se  deu  por  vezes  muvtas  bofeta- 
das no  rosto,  lamentando  sua  triste  sor- 
te.» Fernão  Mondes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  14Í).  —  «Das  nossas  Colónias 
das  lllias  Terceiras,  e  Madeira  foi  socor- 
rido deste  Reyno  por  vezes  com  gente,  e 
com  c^avallos,  e  com  muito  trigo,  i  Se- 
verim  de  Faria,  Noticias  de  Portugal, 
Disc.  1,  eap.  1). 

t  SOCORRO,  í.  m.  Vid.  Soccorro.  — 
«E  mandandovos  agora  pedir  [ue  lhe  va- 
lhais nesta  afronta,  como  verdadeyros 
amigos,    vos  escusais  de  o  fazerdes  com 


SOCO 

roziíes  do  muyto  pouca  força,  não  mon- 
tando mais  o  cabedal  deste  socorro  todo, 
para  satisfação  de  nosso  (icfrjo,  e  segu- 
rança de  nos  estes  inimigos  não  tomaram 
o  reyno. »  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregri- 
nações, cap.  21.  —  «Para  o  que  lhe  logo 
deu  cento  c  trinta  mil  homens,  os  trinta 
mil  do  socorro  que  o  Hraniaa  tinha  mor- 
to no  Meleitay,  e  09  vinte  mil  que  aqnv 
estavão  nesta  cidade,  e  o»  oitenta  mil 
porque  se  esperava,  de  que  o  mesmo  Rey 
do  Avaa  vinha  por  general.»  Ibidem, 
cap.  1.57. —  «Dizendo  mais,  que  se  a 
justiça,  e  socorro  que  lhe  pedia,  per 
ventura  contradezia  nSo  ser  clle  Chris- 
tão,  como  outras  vezes  por  e-scusa  dou- 
tro semelhante  requerimento  lhe  manda- 
ra dizer,  que  isso  não  fizesse  duuida, 
nem  agora  o  contradissesse,  por  que  el- 
Ic,  e  todolos  seus  que  presentes  erão,  a 
que  não  falecião  nobres,  e  reaes  naci- 
mentos,  aconselhados  cm  outros  tempos 
de  suas  .santas  amoestações  vinhâo  i)ara 
em  seus  Reynos,  e  de  8ua.s  mãos  o  serem 
logo.»  fiarcia  de  Rezende,  Chronica  de 
D.  João  II,  eap.  78. — «E  não  foy  alli 
acabado  douuir,  e  porque  estando  para  o 
despacharem  veo  a  el  Rey  recado,  como 
a  villa  Dalfama  no  Reyno  de  Granada 
era  tomada,  pollo  Marquez  de  Cadiz, 
que  lhe  mandou  pedir  socorro  com  muy- 
to grande  pressa,  e  muyta  necessidade. 
E  el  Rey  tanto  que  a  nona  lhe  derão 
partio  aftorrado  a  grande  pressa  a  lhe  fa- 
zer yr  o  socorro,  que  pedia.*  Ibidem, 
cap.  35.  —  -E  em  se  leuantando  do  con- 
selho lhe  disseram,  que  a  porta  estaua 
dom  loam  de  Branches,  que  entam  che- 
gaua  de  Lisboa  pêra  o  seruir  no  dito  so- 
corro. E  porque  era  muyto  valente  ca- 
ualleiro,  e  sabia  muyto  na  guerra,  o  man- 
dou logo  entrar,  e  fez  tomar  a -sentar  to- 
dos, e  pos  dom  loam  junto  do  si.»  Ibi- 
dem, cap.  82.  —  «E  posto  que  elle  mos- 
tra isto  mais  propriamente  dos  Castelha- 
nos, e  Navarros,  como  seja  certo,  que  de 
Portugal  mandou  ElRcy  D.  Afon.so  II. 
grande  socorro  a  ElRey  seu  primo  D. 
Afonso  IX.  de  Castella,  consta  que  mui- 
tos Fidalgos  Portugueses  se  acharão  ncl- 
la.»  Severim  de  Faria,  Noticias  de  Por- 
tugal, Di.«c.  3,  cap.  6.  —  «Sendo  a  muyta 
Y&7.  dos  annos  passados,  a  que  Ihe-s  fazia 
a  guerra  mais  trabalhosa,  e  menos  pt>ssi- 
uel  o  socorro.  Mas  o  animo  incansauel, 
que  Deos  nosso  Senhor  dera  a  ambos 
pode  com  tudo. »  Lucena,  Vida  de  S. 
Francisco  Xavier,  cap.  til . 

SOCOTORINO,  A,  rvíj  De  Socotoni. 

SOCO.   ^'l■!.  Ensoço,  e  Sosso. 

SOÇOBRADO,  i-nrt.  }>,us.  de  Soçobrar. 
Vid.  Sossobrado.  —  «Assim  for.^io  nave- 
gando com  tempos  escassos,  até  que  lhe 
entrarão  os  geraes  n.a  costa  de  Guiné, 
onde  a  não  do  (íovornador  tocando,  es- 
teve soçobrada,  sendo,  na  opini.ão  dos 
mareantes,  aquelles  mares  limpos,  c  onde 
a  Carta  não  sinalava  baixos.»   Jacintho 


SOEI 


SOFÁ 


SOFP 


563 


Freire   d'An(lrade,  Vida   de   D.    João  de 
Castro,  liv.  1. 


Entve  cavados  Jlarcs  soçohrada 
Iluma  affligida  Náo  se  estava  vendo, 
E  logo  envolta  nelles  levantada 
No  concavo  do  Ceo  vai  parecendo ; 
Da  enxaicia  no  bordo  pendurada 
As  velas  vão  co'as  arvores  pendendo, 
Cujos  golpes  cruéis  mores  lisérào 
Oa  perigos,  se  mores  ser  poderão. 

BOLIM  DE  MOUKA,  NOVÍSSIMOS  DO  HOMEM,  Caut.  2, 

est.  58. 


f  SOCRÁTICO,  A,    adj.   De    Sócrates. 

—  Methudu  socrático ;  methodo  usado 
uas  argumentaçòes,  consistindo  em  con- 
tinuas insistências  de  perguntas  e  res- 
postas. 

SOCRESTAÇOM,  s.  /.  Termo  antiqua- 
do. Vid.  Sequestro. 

SOCRESTAR,    v.   a.   Vid.    Sequestrar. 

1.)  SODA,  s.  f.  (Do  francez  souda). 
Termo  de  ciiimica.  Alcali  mineral. 

—  Modernamente:  Oxydo  de  sódio. 
2.)   SODA,  s.  /.  Termo  de  historia  na- 
tural. Planta  annual. 

3.)  SODA,  s.  /.  Dôr  de  cabeça,  a  que 
03  médicos  chamam  cephalalgia. 

SODALICIO,  s.  m.  (Do  latim  sodali- 
tium\.  Sociedade  de  pessoas  conviventes. 

SODIAGO,  s.  m.  Tei-mo  antiquado.  Sub- 
diacono. 

f  SODICO,  adj.  Termo  de  chimica. 
Que  diz  respeito  á  soda  e  seus  compos- 
tos. —  Saes  sódicos. 

f  SODICO-AMMONICO,  adj.  Termo  de 
chimica.  Diz-se  de  um  sal  sodico  combi- 
nado com  um  sal  ammonico. 

—  Diz-se  do  mesmo  modo  sodico-ar- 
gentico. 

SÓDIO,  .«.  wi.  Termo  de  chimica.  Cor- 
po simples,  metallico,  que  1'órma  o  radi- 
cal, ou  o  elemento  electro-positivo  da  so- 
da, descoberto  em  1807  por  Davj*. 

SODOMIA,  s.  /.  (De  Soduma,  antiga 
cidade  da  Palestina,  em  que  se  pratica- 
va toda  a  espécie  de  luxuria).  Peccado 
contra  a  natm-eza. 

j  SODOMIAR,  V.  a.  Commetter  o  pec- 
cado de  soi'omia. 

SODOMITA,  s.  m.  O  que  commette  o 
peccado  de  sodomia. 

SODOMITICO,  A,  adj.  Que  diz  respei- 
to á  sodomia.  —  Âs  torpezas  sodomiticas. 
Vid.  Sudomitico. 

SODRA,  s.  /.  Rego  que  alguns  cavai- 
los  tem  nas    coxas,  o  que  é  bom  signal. 

SOEDADE,  s.  f.  Vid.  Soledade. 

—  Solidão. 

—  O  sentimento  de  quem  está  só,  e 
separado  da  pessoa  amada. 

—  Logar  solitário. 

SOEIRAS,  s.  /.  j)lur.  Termo  antiquado. 
O  mesmo  que  costumes,  ou  costumeiras. 
Em  alguns  prazos  se  declara  em  que  es- 
tas soeiras  deviam  consistir,  que  era  uma 
cabaça  de  vinho  e  um  pão  alvo,  ou  fo- 
gaça. 


SOER,  V.  n.  (Do  latim  solere).  Termo 
antiquado.  Costumar,  ter  por  costume.  — 
«Pegados  com  eile  quatro  cavalleiros  de 
mármore  armados  das  próprias  armas  e 
devisas,  que  os  verdadtr-iros  guardadores 
daquelles  escudos  sohiam  trazer ;  que 
como  fossem  grandes,  de  apparencia  es- 
pantosa e  membros  disformes,  davam 
mais  honra  ao  vencedor.  Nos  brocaes  dos 
escudos  estava  escripto  o  nome  de  cada 
um,  segundo  o  que  guardava.  E  posto 
que  todas  estas  cousas  em  todos  fizesse 
admiração,  o  cavalleiro  do  Tigre  nào  es- 
tava sem  ella,  que  via  as  cousas  porque 
passara,  e  parecia-lhe  que  inda  as  tinha 
presentes.»  Francisco  de  Moraes,  Pal- 
meirim d'Inglaterra,  cap.  119. 

Os  Portugueses  sohiam 

ser  nas  armas  mu}'  destrados, 

animosos  ser  sohiam, 

Os  homens  muy  delicados 

por  homens  fracos  auiam. 

GARCIA  DE  BEZBNDK,  MISCELLAmiA. 

—  «Feita  a  fortaleza,  os  da  terra  ano- 
jados das  sem  razões  que  lhe  os  nossos 
faziam  e  sobre  tudo  de  lhe  tolherem  seus 
tractos  com  os  niercailores  mouros,  e  gen- 
tios que  sohiam  de  vir  aquelle  porto,  co- 
meçarão de  tratar  mal  alguns  daquelles 
que  hiam  a  terra,  nem  traziam  manti- 
mentos á  fortaleza  como  sohião  fazer.» 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  4,  cap.  62. 

—  Syx.  :  Soer,   costumar,  estar  ajfeito. 

Soer  é  um  termo  hoje  quasi  em  des- 
uso ;  faz  synonymia  com  costumar,  porém 
distingue-se  em  que  soer  denota  conti- 
nuação da  mesma  cousa,  ou  do  mesmo 
modo  de  ser  ou  estar,  e  isto  desde  muito 
tempo :  costumar  exprime  propriamente 
a  satisfação  dos  mesmos  actos,  que  pude 
ser  recente. 

Em  rigor,  costumar  só  se  diz  das  pes- 
soas, sendo  que  soer  diz-se  das  pessoas 
e  das  cousas.  Estar  ciffeito  é  o  mesmo 
que  estar  acostumado  ou  habituado  a  fa- 
zer uma  cousa;  suppõe  facilidade  ad- 
quirida pela  repetição  de  actos,  e  sem- 
pre se  diz  das  pessoas. 

SOERGUER,  V.  a.  Levantar  algum  tan- 
to de  baixo. 

—  Soerguer-se,  i'.  refl.  Solevantar-se. 
SOESCREVER.  Vid.  Subscrever. 
SOESTABELEÇUDO.    Vid.    Substabele- 
cido. 

SOESTAMENTO,  s.  m.  Termo  antiqua- 
do.  Sequestro. 

SOESTRO,  A,  adj.  (Do  latim  sinistKr). 
Termo  antiquado.  Esquei"do. 

SOEZ,  adj.  Termo  antiquado.  Baixo, 
vil,  de  pouco  valor. 

SOFÁ,  ou  SOPHÀ,  s.  m.  Estrado  muito 
elevado  e  coberto  com  tapete. 

—  Espécie  de  canapé,  ou  marqueza  com 
costas,  ilhargas,  e  assento  estofado;  ser- 
ve para  se  sentar,  ou  para  se  deitar. 


SOFFREDOR,  A,  aãj.  Que  soffre. 

—  Capaz  de  soffrer,  de  resistir. 

Porém  antes  que  as  vellas  no  ar  despregue, 
E  com  aguda  proa  as  ondas  fenda, 
Deixa  a  Baram  Baxá  a  Cidade  entregue 
(O  que  Janizaro  era)  que  a  defenda  ; 
E  porque  mais  ousado  se  encarregue 
Daquella  defensão  que  lhe  cncommenda, 
Lhe  deixa  alli  duzentos  defensores 
De  trabalho  e  perigos  soffredores. 

FBAKCISCO  DE  ANDRADE,  PBtMEIBO  CEBCO  DE   DIU, 

cant.  13,  est.  21. 

—  Soffredor  de  injurias;  que  as  leva 
em  paciência,  sem  ira,  desafogo,  vin- 
gança. 

SÓFFRENÇA,  s.  /.  Termo  antiquado. 
Soffriniento,  aftliçào,   desgosto,    angustia. 

SOFFRENTE,  adj.  e  s.  2  gen.  Soffre- 
dor, que  soffre. 

—  Fart.  act.  de  Soffrer. 

SOFFRER,  ou  SOFRER,  i-.  a.  Aturar  tra- 
balhos, dures,  afilicções,  fomes,  injurias, 
etc. —  «Não  podendo  soffrer  em  si  os 
mimos  e  boa  vida  que  passava,  quiz  par- 
tir-se,  e  tornar  o  escudo  do  vulto  de  Mi- 
raguarda  ao  próprio  logar,  onde  antes  es« 
tava,  e  a  ella  presentar  preso  Albayzar, 
pêra  que  delle  tomasse  a  vingança  que 
bem  lhe  parecesse,  segundo  a  postura  de 
sua  batalha.»  Francisco  de  Moraes,  Pal- 
meirim d'Inglaterra,  cap.  95.  - —  «E  pos- 
to que  Miraguarda  naquelle  tempo  com 
nenhuma  cousa  poderá  ser  mais  alegre, 
assim  soube  dissimular  este  contentamen- 
to, como  se  não  o  tivera,  de  que  Almou- 
rol  ficou  tão  descontente,  que,  não  o  po- 
dendo soffrer,  lho  estranhou  com  as  me- 
lhores pahavras,  que  soube ;  que  na  ver- 
dade o  agradecimento  devido  não  se  ha 
denegar.»  Ibidem,  cap.  108.  —  «O  do 
Salvagem  ficou  algum  tanto  contente, 
vendo  quam  moderadamente  soffrera  suas 
palavras,  crendo  que,  sofiVendo  assim  ou- 
tras e  outras,  poderia  seu  desejo  ter  effei- 
to ;  porque  inda  que  a  donzella  não  fosse 
gentil  mulher,  a  disposição  de  sua  pes- 
soa, a  composição  dos  membros,  a  gran- 
deza do  corpo,  a  singular  gTaça  e  ar,  lha 
fazia  desejar,  crendo,  que  se  delia  podes- 
se  haver  fructo,  seria  digno  de  grandes 
obras.»  Ibidem,  cap.  113.  —  «Mas  como 
Alfernao  lhe  quizesse  fazer  esta  arenga, 
Colambar  não  podendo  soffrer  nem  ouvir 
taes  palavras,  determinou  fazer  um  feito 
novo  e  nunca  visto,  que  posta  na  derra- 
deira determinação  de  sua  vida,  tocada 
de  desesperação  e  do  favor  do  diabo,  se 
levantou  em  pé,  dizendo.»  Ibidem,  cap. 
121.  —  «Disse  a  rainha  depois  que  o  viu, 
não  se  pôde  negar  que  ellas  lhe  devem 
assas,  pois  por  umas  não  engeita  outras; 
e  crera,  que  pois  as  soffre  todas,  que 
eram  muito  suas  parentas,  se  entr'ellas 
não  vira  uma,  que  a  meu  parecer  é  gi- 
ganta.» Ibidem,  cap.  123.  —  «E  ao  pas- 
sar um  polo  outro  se  encontraram  com 
03  corpos  dos   cavallos ;  e  como  o  do  ca- 


5G4 


SOFF 


SOFF 


SOFF 


valloiro  do  V;illo  fonso  m.-iin  forte  c  o  do 
outro  fraco  o  cansado  do  cainiiilio,  nSo 
podoiido  soffrer  o  encontro  caliiii  iio  cliilo, 
e  poderá  fazer  al^íuni  mal  a  seu  senlior, 
se  se  |)rimeii'o  não  lanrára  fira  delle,  de 
quo  Arlanra  e  todas  suas  amigas  íicarani 
pouco  contentos,  temendo  a  fortaleza  do 
sou  contrario.»  Ibidem,  cap.  125.  —  «Nis- 
to vos  determinai  lofío,  que  cu  do  muito 
colérico  não  posso  soffrer  detenças.  Vós, 
amigo,  respondeu  elle,  »o  cuidais  que  oní 
mira  aciíareis  menos  dofisa,  que  no  outro 
de  que  vindes  descontente,  estais  euf^^ana- 
do;  que  ando  tão  costumado  a  não  temer 
palavras  ásperas,  nem  Liavcr  medo  a  cor- 
pos gigantes,  quo  não  sei  fazer  caso  dis- 
so.» Ibidem.  —  a  Por  que  esta  cousa  de 
novas,  se  vão  assim  cozidas  na  agua  tal, 
som  uma  laranja  e  pimenta  como  sável 
fresco  em  Torto  de  llugem,  não  ha  ahi 
estômago  que  as  soffra,  mormente  as  que 
eu  trazia,  que  ainda  então  acabavam  de 
sahir  da  tarrafa,  e  não  houve  tonipo  ])ara 
lhes  deitar  umas  pedrinhas  de  sal.»  Fer- 
não Soropita,  Poesias  e  prosas  inéditas, 
pag.  15.  — «Uma  senhora  de  alta  ascen- 
dência não  soffria  nmito  a  pureza  dos 
Alegretes  e  disse:  «Sim,  senhores...  com 
vinte  e  cinco  linhas  de  mouros.»  Bispo 
do  Grão  Pará,  Memorias,  publicadas  por 
Camillo  Castello  Branco,  pag.  (ÍU. 

Não  percas  por  hum  vão  contcutamcnto 
A  vista  f(uc  te  faz  viver  couteute ; 
Modera  cm  teu  favor  o  pensamento. 
Porque  menos  mal  hc,  tendo-a  presente, 
Soffrer  sua  crueza,  e  teil  tormento, 
Que  sentir  aua  ausência  otornaracute. 
CAM.,  soNEios,  n."  2-49. 

—  «  Ao  qual  logo  Aftonso  d'Alboquer- 
quo  acudiu,  mandando  Diniz  Fernando 
de  Mello,  ([ue  como  especial  cavalleiro 
que  era,  soffreo  esto  trabalho  nove  dias 
continues  com  suas  noites.»  Barros,  De- 
eada  2,  liv.  6,  cap.  5.  —  «E  naõ  poden- 
do Clarinuindo  soffrer  esta  desliom-a, 
disse  ao  Cavalleiro  da  Graça :  Senlior,  ou 
creio  quo  cm  quanto  nossa  batalha  naõ 
for  d'espada,  naõ  na  podemos  acabar, 
pois  com  as  lanças  tégora  o  naõ  fizemos : 
por  tanto  poço-vos,  que  venhamos  a  ellas 
por  dar  iim  a  nossa  contenda.»  Barros, 
Clarimundo,  liv.  2,  cap.  7. 

Pois  he  melhor  morrer,  que  03  desfavores 
Soffrer  de  huma  cruel,  o  do  huma  ingrata, 
Quo  bellos  ollioa  tem,  mas  saõ  traidores. 

ADOADE     DK     JAZKNTE,    l>Úi:3IAS,    tOUl.    2, 

pag.  127  (cdiç.  1787). 

Pois,  qual  ha  de  Vils  outros  tão  amigo 
D'huma  vida  tão  vil,  tão  vergonhosa. 
Que  queira  antes  soffrer  o  jugo  imigo 
U'huma  gente  ci-uel,  despiedosa, 
Quo  passar  por  qualquer  grande  perigo, 
Por  huma  morte  honrada  o  gloriosa, 
Qu'ao  mundo  vos  firA  tào  conhecidos 
Quauto  o  jugo  vis,  bai.xos,  e  abatidos  ! 

FRANCISCO  DK  ANDRADE,  rKlMEIBO  CEBCO  DE  DIU, 

caut.  1,  eat.  65. 


De  novo  ante  Plutio  se  proetra  o  csprito 
l'ola  nova  mercê  que  lho  fi/.cra, 
E  miMio.4  triste  já,  menos  ulHito 
I'ori|ue  vingiir-so  largiimcnte  espera  ; 
Náo  lhe  êoffreiíilo  o  «eu  ódio  iuKiiito 
A  menor  dilai^-ào,  pede  u  .Megera 
(^ue  ao  que  munda  l'lutà«  logo  obcdc^A 
lí  nisto  com  a  prcs.sa  o  favorei^a. 
iDiuEM,  caut.  12,  CBt.  89. 

Vós  ciac3-me  das  cstrcUag, 
ou  sofro-vos  como  peco. 

AHTONIQ  PBIUTES,  AUTOS,  pag.  291. 

Como  ao  marido  sofria 
bafo  tào  contagioso... 
Oli !  caso  niaravillioso 
espelho  de  cada  dia! 
isiDKM,  pag.  y09. 

Senhor,  cstaes-Ilio  Boff rendo 
põr  vo.ssa  casa  em  miséria. 
Fale,  digii,  cate  dizendo, 
([ue  eu,  senhora,  perteudo 
de  cedo  fazermos  feria. 
IBIDEM,  pag.  43õ. 

Sois  nata  de  quanto  tenho, 
iiào  snffro  o  que  outras  excedem. 
Que  farei  a  meu  desmaio? 
Vedo-me. 
IBIDEM,  pag.  441. 

—  «A  honra  de  cada  um,  e  a  cons- 
ciência sejam  n'e.ste  triste  ca.^o  os  conse- 
lheiros. Com  agudeza  definiu  este  ponto 
em  poucas  palavras  um  discreto :  Soffra 
o  marido  d  mulher  tudo,  senão  otfensas  ; 
c  a  mulher  ao  marido  oflensas,  e  tudo.» 
I).  Francisco  Jlanoel  do  Mello,  Carta  de 
guia  de  casados.  —  «Então  Mentor,  com 
tom  grave  e  severo,  lhe  diz :  Acaso,  ó 
Tolemaco  !  são  estes  os  cuidados  que  me- 
recem occupar  o  coração  do  filho  d'Ulys- 
ses?  Tracta  antes  de  sustentar  o  credito 
de  teu  pae,  e  vencer  a  fortuna  quo  te 
persegue.  Um  mancebo  que  gosta  de  se 
ataviar  com  vaidade,  qual  uma  mulher  é 
indigno  da  sabedoria,  e  da  gloria ;  bem 
merecida  so  daquolle  quo  sabe  soffrer  o 
trabalho,  e  calcar  o  appetite.»  Teiemaco, 
traducção  de  Manoel  de  Sousa,  e  Fran- 
cisco Manoel  do  Nascimento,  liv.  1. 


Tenho  íé,  que  a  estação  dessa  aspVa  vida, 
Que,  na  Familia  de  meu  Amo,  cu  snffro. 
Será  como  esta  Hor,  (luando  a  miuha  alma 
Ao  conspecto  do  Dcos  for  offrecer-ae. 

F.   M.    DO  MASCIMENXO,  OS  M.VBrVBE3,    1ÍV.    7. 

—  Diz-se  tambom  dos  animaes.  —  O 
boi  não  soffre  o  jugo. 

—  l)iz-se  das  cousas  inanimadas.  —  O 
rio  iião  soffre  a  ponte, 

—  Não  admittir,  nik»  consentir.  — 
«Aquella  noite  passou  Palmeirim  em  cui- 
dados vivos,  qu'  o  n.ão  deixaram  dormir, 
esperando  pola  claridade  do  dia  pêra  dar 
fim  ao  que  viesse,  se  a  fortuna  lho  não 
estorvasse,  e  não  se  deter  mais  naquella 
terra,  que  lho  parecia  que  com  qualquer 
detença,  que  nella  tizesse,  otfendia  a  aua 


senhora,  a  quem  tanto  amava,  e  por  ne- 
nhuma via  lhe  soffria  a  condição  ouvir 
palavras  contrarias  ao  que  trazia  na  von- 
tade.» Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
dlnglaterra,  cap.  'J7. — «Alfernao  pro- 
mcttcu  de  o  fazer  assim  :  e,  nãu  lhe  gof- 
frendo  o  coração  poder  alli  estar  maia, 
se  partiu.  O  cavalleiro  do  Salvage  se  de- 
teve cm  quanto  lhe  concertavam  armas ; 
o  passando  alguns  dias,  despediu  o  piloto 
e  marinheiros,  quo  sua  tenção  era  andar 
j)Or  aquella  terra  mais  devagar,  c  mos- 
trar as  cousas  delia  a  Arlança  c  suas 
donzelia"».»  Ibidem,  cap.  110. —  «Senhor 
Platir,  disse  o  do  Tigre,  o  que  vos  pare- 
cer isso  se  faça,  e  não  mo  nicttaes  n'ÍBBO 
que  a  mim  não  me  soffre  a  condição  vêr 
o  r<isto  a  pessoa  que  tantos  mallcs  tem.* 
Ibidem,   cap.  118. 

Oh !  não  sfiffro,  que  do  Orbe  me  dcutérrcm ! 
Tyro,  Amiithunta,  Paphos,  Ileliópolia 
Me  estão  chamando ;  c  a  minha  Estrclla  brilha 
Sobro  o  Libano ;  Templos  de  alto  esmero 
Tenho  inda,  c  tenho  Festas  tam  donõsas !... 

F.  M.  DO  NASCIMENTO,  OS  MASTrBF.S,  liv.  8. 

Cioso 
será  agora  ?     , 

É  agora  cspoao. 
Esposo  de  pão  de  calo ; 
c  por  que  vos  uào  falaca? 
Por  lhe  não  poder  sofrer 
Icixar-voi,  sua  molhcr 
lhe  ha  de  fazer  mimo.»  tacfl : 
pois  ai,  tem  bem  que  comer. 

ANTOXIO  PBESTES,  ACTOS,   pttg.  213. 

—  Poder  resistir. 

—  Dissimular. 

—  Soffrer  mal;  tolerar  com  trabalho, 
e  repugnância.  —  «Aqui  se  conta,  que 
perguntando  as  vigias,  quem  er.ío?  Rcs- 
pomlêra  hum  soldado,  que  fJarcia  líoilri- 
gues  de  Távora;  o  que  António  Moniz 
soffrendo  mal,  disse  :  que  elle  era  o  que 
alli  vinha.»  Jacintlio  Freire  d'Andrade, 
Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv.  2. 

—  Soffrer  o  ctisto  de  algum  artigo; 
poder  com  a  despeza,  que  n'elle  se  em- 
prega. Vid.  Abastar. 

—  Emprcga-so  também  no  sentido  ab- 
soluto. 


Tenho  um  feito  seu  d'abrâmo, 
já  concruso  em  meu  poder, 
não  me  deixa  arTefocer, 
como  caldo  é  paraaismo, 
mata-me. 

Haveis  de  soffrer. 

ANTÓNIO  FRESTES,  AUTOS,  pSg.  195. 

Que  vac? 

Foi  IA  meu  padrinho? 
Deshonrou-me. 

Ora  o  bom  »ofrt. 
IBIDEM,  pag.  283. 

Não  é  muita  dcscriçio 
mas  podor-3c-lhe-ha  loffrtr. 
IBIDEM,  pag.  421. 


SOFF 


SOFF 


SOFO 


565 


—  Soffrer-se,  v.  rejl.  Sapportar-se,  to- 
lerar-se.  —  fMas  elle  agradeceu-me  tào 
mal  estas  palavras,  oii  coaselbo ;  que  foi 
forçado  desafiartno-nos  ambos  pêra  esta 
corte,  e  vós  serdes  juiz  da  batalha.  Fio- 
riano,  que  de  o  ver  tão  soberbo,  estava 
não  pouco  maneacorio  e  da  moura  namo- 
rado, não  podendo  já  soffrer-se,  se  le- 
vantou em  pé,  dizendo :  Em  tempo  estás, 
Auderramete,  que  o  que  te  disse  cumpri- 
rei, o  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
d'Inglaterra,  cap.  80. —  » Porem  olhadas 
de  longe  soffria-se  melhor,  umas  davam 
graça  ás  outras,  com  que  as  ajudavam; 
e  todas  juntamente  pareciam  um  cíitasol: 
isto  era  o  mais  que  se  nellas  podia  deter- 
minar.» Ibidem,  cap.  120. 

—  Consentir-se,  admittir-se,  tolerar-se. 

Estado  c  poder  lhe  falta, 
a  lei  d'eâte  hei  por  espúria. 
Soffrer-se-ha  piedosamente 
que  a  um  rico  lhe  est«  bem 
ser  soberbo,  pois  se  tem 
o  que  tem,  por  rei,  por  gente, 
6  o  pobre  por  ninguém. 

AKTOMIO  PBE3IKS,  ACTOS ,  pag.   61. 

—  Soffrer-se  de  fazei-  alguma  cousa ; 
conter-se,  abster-se  constrangido,  e  com 
mau  grado  seu. 

—  Soffrer-se  com  alguma  cousa  incom- 
moda;  accommodar-se  a  seu  pezar. 

—  Soffra-se  ;  tenha  paciência. 

—  Tolerar-se,  aturar-se. 

Levando  —  até  que  emfim  ja  se  uào  soffre: 
Arrojá-lo  quizesto:  nào  te  culpo, 
Os  vínculos  do  alliado  te  prendiam... 
eAjuE-iT,  catIo,  act.  4,  se.  4. 

—  Adágios  e  provérbios  : 

—  Quem  não  sabe  soffrer  não  sabe  re- 
ger. 

—  Quando  fores  bigorna  soffre,  e  quan- 
do malho,  malha. 

—  Quem  soffreu,  venceu. 

—  O  bom  coração  soffre,  e  o  bom  siso 
ouve. 

—  Soffra  quem  penas  tem,  que  traz 
tempo,  tempo  vem. 

—  No  soffrer  e  abster,  está  todo  o 
vencer. 

—  O  bom  soffre,  que  o  mau  não  pôde. 

—  De  grande  coração  é  soffrer,  de 
grande  senhor  é  ouvir. 

—  Quem  bom  e  mau  não  pode  soffrer, 
a  grande  honra  não  pode  vir  ter. 

—  Morrer  por  ter,  e  soffrer  por  va- 
ler. 

—  Soffrer  rasgadura,  por  ter  formo- 
sura. 

—  Soffrer  por  ser  formosa. 

—  Duas  mortes  soffre  quem  por  mão 
alheia  morre. 

—  Soffre  por  saber,  e  trabalha  por 
ter. 

—  O  que  não  pode  ai  ser,  deves  sof- 
frer. 


—  O  bom  pae  ama-se,  o  mau  soffre-se. 

—  Quem  dá  o  seu  antes  de  morrer, 
apparelhe-se  a  bem  soffrer. 

—  Alguma  cousa  se  ha  de  soffrer  pa- 
ra embranquecer. 

—  Si'N.  ;  Soffrer,  aturar,  supjiortar, 
tolerar. 

Soffrer  exprime  a  idêa  geral  e  absolu- 
ta de  tolerar  o  mal  que  nos  acontece,  ou 
nos  fazem.  Aturar  é  soffrer  com  repu- 
gnância e  de  mau  grado.  Supportar  é 
soffrer  com  paciência  e  conformidade.  To- 
lerar é  também  soffrer  por  effeito  de  pru- 
dência ou  de  boa  educação,  porém  é  sof- 
frer em  sdencio. 

O  que  tem  desgostos  domésticos,  en- 
fermidades, se  vê  em  pobreza,  ou  inju- 
riado, soffre  ;  o  filho  submisso  atura  mui- 
to ao  pae  velho  e  rabugento;  o  homem 
caridoso  supporta  com  bom  semblante  os 
defeitos  e  fraquezas  do  próximo  ;  o  rei 
prudente  tolera  alguns  abusos  contra  sua 
authoridade  para  evitar  maiores  males. 

SOFFRIDAMENTE,  adv.  (De  soffrido, 
e  o  suffixo  «mente»).  Com  soffrimento. 

SOFFRIDO,  part.  pass.  de  Soffrer.  To- 
lerado, supportado,  aturado.  —  «Passan- 
do depois  á  Historia  achou  nella  por  des- 
graça a  noticia  de  alguns  vaticínios  jus- 
tificados, e  querendo  por-se  em  estado 
de  saber  se  o  seu  horóscopo  lhe  prometia 
da  parte  do  amor  algum  bem,  que  des- 
truísse o  mal  que  até  então  tinha  sofrido 
da  parte  do  despreso,  determinou  dar-se 
ao  estudo  da  Astrologia.»  Cavalleiro  de 
Oliveira,  Cartas,  liv.  1,  n.°  40. 

—  Paciente,  resignado. 

—  Dotado  de  soffrimento, 

—  il/a/-soffrido ;  que  não  tem  paciên- 
cia, não  dá  falhas  nem  descontos  aos  de- 
feitos e  desmanchos  alheios. 

—  3/aZ-soffrido ;  impaciente,  descome- 
dido. —  cFloriano  do  Deserto,  que  nes- 
tes tempos  costumava  ser  mal  soffrido, 
tomou  Albuzarco  polo  braço,  dizendo  : 
Cousa  fora  de  medida  e  de  compasso, 
nào  queiras  com  abastanças  nascidas  de 
tua  soberba  escusar  a  batalha,  que  eu, 
que  aqui  menos  valho  e  menos  posso,  te 
cortarei  hoje  essa  cabeça  e  darei  a  fim, 
que  mereces. »  Francisco  de  Moraes,  Pal- 
meirim d'Inglaterra,  cap.  93. 


Hum  cuidado  bem  nascido, 
Que  amor  n'alma  me  tem  posto. 
No  peito  o  trago  escondido  ; 
Mas  elle,  de  mal  soffrido, 
Logo  se  mostra  no  rosto  : 
Que  farei  para  escondeUo  ? 
Se  encobrillo  me  nau  vai, 
Que  por  mais  que  me  desvello. 
Sem  ventallo,  e  sem  dizello. 
Todos  conhecem  meu  mal. 

P.    BODBIGUES  LOBO,  PBISÍAVEBA. 


—  Vid.  Insoffrido. 

SOFFRIMENTO,  s.  m.   Tolerância,   pa- 
ciência. 


Oh  bem-aventurado  seja  o  dia 

Em  que  tomei  tão  doce  pensamento. 

Que  do  todos  03  outros  me  desvia  ! 

E  bem-aventudo  o  soffrimento 

Que  soube  ser  capaz  de  tanta  pena, 

Vendo  que  o  foi  da  causa  o  euteudimento  ! 

Faça-me  quem  me  mata,  o  mal  que  ordena, 

Trate-me  com  enganos,  desamores: 

Qu'entào  me  salva,  quando  me  coudena. 

CAM.,  ELEOIA  5. 


—  «E  indo  visitar  Dragonalte,  segun- 
do algumas  vezes  costumava,  o  achou 
lá,  e  como  nas  palavras  tivesse  o  soffri- 
mento igual  ao  repouso  e  á  condição, 
lhe  disse  que  se  determinasse  no  que  lhe 
havia  de  pedir.»  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  130. 

Eenovo  o  meu  sentimento : 
Pois  para  a  morte  naõ  vai : 
E  em  gloria  deste  tormento 
vou  cevando  o  soffrimento, 
Porque  dure  sempre  o  mal. 

F.   BODBIGUES  LOBO,    PBIILATEBA. 

—  «E  no  soffrimento  que  mostrastes 
na  morte  de  D.  Fernando  de  Castro  vos- 
so filho,  se  confirma  bem  esta  opinião ;  e 
certo  que  eu  o  senti  por  mim,  e  por  vós, 
e  houve  por  mui  grande  perda,  por  qnão 
certos  sinaes  nelle  via  de  seu  grande  es- 
forço, e  creio,  que  nisso  lho  quiz  Deos 
pagar,  com  o  tirar  de  vida  tào  trabalho- 
sa por  meios  tão  honrados,  e  de  tanta 
gloria  sua,  que  deve  ser  grande  causa  de 
vossa  consolação.»  Jacintho  Freire  d'An- 
drade,  Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv.  4. 

Voraz  incêndio,  horrível  instrumento 
de  estrago,  nào  me  aíBijas !  determino, 
tolerando  a  inclemência  do  destino, 
disputar-lhe  o  poder  ao'soff'rimetito. 

BISPO  DO  gbIo  pabá,  memorias,  pag.  152. 

—  Tolerância  de  abusos,  crimes,  mes- 
mo na  religião. 

SOFFRIVEL,  adj.  2  gen.  Que  é  possí- 
vel supportar-se. 

—  Tolerável. 

—  Em  sentido  figurado :  Medianamen- 
te bom. 

SOFFRIVELMENTE,  adv.  (De  soffrivel, 
e  o  sufiixo  «mente»;.  Não  mal,  mediana- 
mente bem  ;  toleravelmente. 

SOFI.  Vid.  Sophi. 

SOFISMA,  s.  «i.  Vid.  Sophisma. 


Xa  escura  tez  Protigoras  conheço. 

Entre  sofismas  se  revolve,  e  nega, 

Oh !  Sacrílega  audácia  !  Hum  Deos  ao  Sfundo ! 

Nem  vê  na  immensa  gradação  dos  Seres 

Reguladora  mão,  que  rege  o  Todo, 

Os  effeitos  apalpa,  e  a  causa  nega. 

J.   A.   DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,   COnt.   2. 

SOFISMAR,  V.  a.  Vid.  Sophismar. 
SOFOCAÇÃO,  s.  f.  Vid.  Sufocação. 
SOFOCABO,  part.  pass.  de  Sofocar.  Vid. 
Suffocado. 


566 


HOFIl 


SOFR 


SOGE 


SOFOGAR,  V.  a.   Vid.  SuíTocar. 

SOFOLIÉ,  s.  m.  Um  tucido  do  ul{,'odao 
ralo,  do  varias  córcu. 

SOFORAR,  V.  a.  =  Tcrniu  pouco  em 
uso.  \"\<l.  Furar  por  òai.co. 

SOFRAGANHO,  A,  wlj.  Vid.  Suffraga- 
ueo. 

SOFRAGAYO,  A,  mlj.  Termo  antiqua- 
do. SiiliVaííaiuio. 

SOFRALDAR,  v.  a.  Erf,'uer,  levantar 
a  fralda,  ou  cauda  da  roupa. 

SOFREADA,  s.  /.  A  ac^So  de  puxar  e 
recolher  a*  rédeas  de  repente,  para  reter 
e  molestar  o  eavallo  desboecailo. 

—  Fij^uradamoiite  :  As  sofreadas  dos 
remorsos. 

SOFREADO,  port.  ]>ass.  de  Sofrear. 
SOFREADURA,  .-.  /.   Vid.  Sofreada. 
SOFREAR,  ou   SOFREIAR,  i-.  «.  Tomar 
a  rédea  ao  eavallo,  e  dar-lho  sofreada. 

—  Fif^uradamonte  :  Sofrear  vs  appeti- 
tes. 

SOFREGAMENTE,  adv.  (De  sôfrego,  e 
o  .sufTixo  «mente»).  De  um  modo  sôfrego. 

— ■  (,'om  .sofreguidão. 

SÔFREGO,  A,  adj.  Que  come  com  tan- 
ta pressa,  que  mais  engole  do  que  mas- 
tiga. 

—  Olhos,  ouvidos  sôfregos;  de  ver, 
de  ouvir  alguma  cousa. 

—  Sôfrego  de  amor. 

—  InsottVido  nos  intentos,  desejos  e 
preten(;nes. 

—  Figuradamente  :  Ávido,  desejoso 
com  impaciência. 

Sôfrego  attendo,  o  volvo  aoa  Ceos  a  vista, 
Desdcnlio  idòus  do  pi-ofauo  ^•ulgo. 

J.   A.    DU   UA.CEDO,   A  MATUKKZ\,   Cant.    1. 

SOFREGUICE,  *-.  /.  Vid.  Sofreguidão, 
SOFREGUIDÃO,  s.  /.    A    ac^ào   de  co- 
mer sofregamente. 

—  Figuradamente :  O  desejo  impacien- 
te de  acabar,  do  alcançar  alguma  cousa. 

—  O  ser  sôfrego. 

SOFRER,  V.  a.  Vid.  Soffrer.  —  «Foy 
este  golpe  nmy  duro  de  sofrer  a  Osio, 
porque  faltando  nelle  a  cõstancia,  pesa- 
vallie  eutranliavelniente  de  ver  que  ou- 
trem a  tivesse,  e  mostrando  as  provisoens 
de  Constâncio  a  Clenientino,  que  era  Vi- 
gairo  do  Império  em  Espanha,  lhe  reque- 
reo  que  niTidasse  aparecer  em  Córdova 
ao  Bispo  lliberitano,  para  ser  julgado  de 
certas  culpas  que  cometera  contra  a  es- 
sência da  Fé,  e  lo}-»  de  sua  dignidade.» 
Monarchia  Lusitana,  liv.  õ,  cap,  -2b.  — 
«E  depois  de  algumas  jn-aticas  espiri- 
tuacs  oní  que  a  Santa  o  animou  a  sofrer 
com  paciência  os  trabalhos  da  enfermi- 
dade, que  iDeos  costuma  dar  para  exer- 
cício da  paciência,  vendoo  desacompanha- 
do de  gente,  e  cS  humas  angustias,  «aci- 
das de  ver  que  se  faziaõ  horas  do  o  dev- 
xar,  chegada  mais  ao  perto,  lho  disso  es- 
tas palavras.»  Ibidem,  liv.  6,  cap.  24. — 
«Corno   se   dissera,  escusada  preguuta,  a 


onde  a  estranha  o  nunca  vi^ta  paciência 
d<!  (JhrÍHto  cstaua  mostrando  quo  u.1<»  \»>- 
dia  ser  puro  homem,  quem  t^tnto  calaua 
e  sofria:  o  ])or<|uc  (Jhristo  por  esta  via 
se  rjuis  declarar  por  iilho  do  Deos,  por 
esta  mesma  (|uer  que  o  sejanio.'*  no.'».»  Fr. 
Thomaz  da  Veiga,  Sermões,  part.  1,  pag. 
12,  verão,  col.  2. 

E  |)ori|U<'  tamanho.')  casoa 
iiin  liituraiii  tur  cm  poucu, 
((uaiito  o  iiuLudo  agora  podu, 
i:  ((uaiito  pod'!  poder, 
dctcriiMiH-_v  d(!  fiiff.r, 
de  ouuir  ante»  glosadores, 
(|uc  deixar  oiicuncido 
o  (|uc  dcuia  ser  claro. 

GlUCIA  UU  lli:ZKNDE,   U1SCEL1.A!(I<:A. 

—  oE  03  mercadores  da  catila  muito 
agastados,  porque  nam  hiam  caminho  di- 
reito pêra  IJacora,  e  nam  ousavam  de  lue 
dizer  nada,  e  ho  sofriam  com  pasciencia. 
E  vendo  (|ue  tinham  pouco  euvdado  de 
se  dali  partir."  Tenreiro,  Itinerário,  cap. 
54.  —  «O  que  neste  passo  estranho  o 
mais  que  tudo,  he  sofrerem-se  neste  Key- 
no  Letrados  procuradores,  os  qnaea  se  ga- 
bai"!, que  farão  dilatar  huma  demanda 
vinte  aunod,  se  lhe  pagai-em.  O  premio, 
que  taes  letras  mereciaõ,  era  o  de  duas 
letras:  L.  e  F.  impressas  nas  costas,  e 
naò  lhe  esperarem  mais,  para  o  que  ellas 
signiticão.»  Arte  de  furtar,  cap.  48. — 
«A  idade  não  serve  de  abrigo  contra  esta 
doença.  Vio-se  huma  velha  que  a  sofreo 
tendo  setenta  annos,  huma  menina  que 
tinha  doze,  e  o  que  he  mais  para  adud- 
rar  huma  criança  que  foi  molestada  da 
mesma  doença  ua  idade  de  três  annos.» 
Cavalleiro  d'01iveira,  Cartas,  liv.  1,  n.° 
iíO.  —  u  Cuidará  agora  a  Princesa  que 
digo  tudo  isto  porque  ella  me  tem  enga- 
nado algumas  veses;  engana-se,  ninguém 
sabe  melhor  do  que  eu  conhecer,  e  discul- 
par  os  naturaes,  e  não  ha  quem  saiba  me- 
lhor do  que  eu  sofrer  com  paciência  as 
fraquesas  do  seu  próximo.  O  que  digo 
tudo  he  a  bem  de  Sua  Altesa,  o  se  isto 
fosse  diser  mal  não  dissera  a  seu  mari- 
do.» Ibidem,  liv.  i5,  n.°  15.  —  «Por  isso 
neste  cazo  he  mais  seguro  com  tjenner- 
to,  e  outros  administrar  medicamento 
purgante,  especialmente  se  o  humor  tiver 
a  natureza  de  turgeute ;  porque  certa- 
mente se  daríi  perigo  grave  se  esperarmos 
para  purgar  a  cocção,  e  preparação  dos 
humores :  donde,  attenuados  de  alguma 
sorte  03  mesmos  humores,  quanto  o  so- 
frer a  estreiteza  do  tempo,  purgaremos 
logo,  antes  que  o  humor  se  tirme  no  Cé- 
rebro.» Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal  me- 
dico, pag.  4l)õ,  §  56. 

SOFRIMENTO,  *.  m.  Vid.  Soffrimeuto. 
—  «Quem  vos  parece  que  se  saluàra/ 
Pois  que  misericórdia  pode  ser  deste  So- 
nhor  que  por  caminho  do  Ceo  em  sofri- 
mento, de  que  todos  saõ  tão  ricosV  e  ser 
a  moeda   e  os  merecimentos  cõ   que  se 


compra  o  Ceo  a<juella  de  que  cada  bum 
tem  tanto  maÍ8,  '|uanto  tem  menos  de 
tíxlas  as  outiaH  cousas.»  Paiva  de  Andra- 
de, Sermões,  ]>ag.  247. 

SOFRÍVEL,  udj.  2  ,jtn.  Vid.  Soffrivel. 
—  «Hcin  Mcv  que  Baroniu  aco.-taao  a  so- 
fríveis fundameiítoM  tem  |>or  incerta  esta 
perdição  de  Osio,  mas  como  he  diminuin- 
do a  fé  do  que  S.  Isidoro  escreve,  ha 
poucos  que  o  sigãu  nente  particular. »  Mo- 
narchia Lusitana,  liv.  ó,  cap.  2õ.  —  tDeos 
nos  livre  de  ladroeiís  f)or  natureza,  porque 
imnca  tem  emmenda;  os  que  furtaò  por 
desgraça,  mais  sofríveis  .-aò,  porque  naó 
saõ  taõ  continuo.'*.  Í3e  lia  Kevs  ladroens, 
he  questão  muito  arriscada.»  Arte  de 
furtar,  cap.  14. 

SOGÂ,  «.  /.  Corda  grossa  de  esparto 
cerado,  ou  de  outra  matéria.  —  cE  em 
certo  dia  da  Quaresma  vem  os  moradores 
do  Conselho  de  Vieira  cingidos  com  so- 
gas  e  descalços,  visitar  a  Sepultura  do 
Santo,  como  em  penitencia  do  pecado  de 
seus  antecessores.»  Monarchia  Lusitana, 
liv.  5,  cap.  5. 

—  Senhor  de  soga  e  cutelo;  que  tinha 
poder  de  impor  pena  ultima  com  baraço, 
e  cortamento  de  membi-os. 

SOGEIÇÃO,  s.  f.  Vid.  Sujeiçào. 

SOGEITAR,  V.  a.  Vid.  SujeiUr. — 
«Vendo.se  Kemismundo  senhor  absoluto 
do  Revno  dos  Suevos,  assentou  pazes  com 
os  Caíegos  naturaes  que  viviào  inda  em 
siuis  terras  sogeytoe  às  leys  d6  Império 
Romano,  sem  se  deixarem  sogeitar  das  na- 
çoens  barbaras,  que  desde  o  tempo  de  Her- 
menerico  pretendiaõ  sogeitalos.»  Monar- 
chia Lusitana,  liv,  G,  cap.  9. —  tTanto 
((ue  fazião  isto,  logo  se  os  visinhos  enso- 
berbeeiaõ.  e  entendiaõ  que  lhes  auiaò 
medo,  e  dauaõ  sobre  eiles,  o  como  os  acha- 
uaõ  desemparados  do  fauor  do  Deos,  quo 
lielejaua  por  elles,  sogeitavaõ-nos  e  tra- 
tauaõ-nos  mnyto  mal :  tornauão  a  chamar 
por  Deos,  e  faziaõ  lhe  rosto,  tornauaõ  a 
ticar  decima. I  Paiva  d'Andrade,  Sermões, 
pag.  84. 

1.)  SOGEFTO,  s.  /.  Vid.  Sujeito. 

Cujo  marauilboso  estranho  effeito 
Pausa  hum 'admiração,  hum  nouo  e^anto 
Mostrando  mil  contrários  num  togfito, 
Viude  formosas  Naiades  um  quanto 
A  matutina  luz  está  escondida, 
Kappas  vinde  agora  ouvir  meu  canto. 

coETi:  BKAL,  NAiTBAoio  PS  sKPCuvnjA ,  cant.  9. 

Essa  coutrairo  e  togrito 
tom  amor  n'c3ta  ccrteia, 
não  no  lova  gontilcza  : 
sabris  quo  achar  um  g^tú 
que  i'  de  sua  naturcia : 
desse  modo  me  cmborulha 
esto  meu  tão  feiticeiro, 
que  o  mar  cuido  que  i^  barbeiro. 
ANTosio  rassiEs,  actos,  pag.  175. 

—  «O  calouiniado  nSo  pôde  ser  cate 
sogeito,  porque  como  será  possirel  qae 


SOGI 


SOGR 


SOHI 


567 


este  mal  toque  a  hum  morto  na  sepultu- 
ra, nem  menos  a  hum  vivo  na  Innocen- 
cia?»  Cavalleiro  d'01iveira,  Cartas,  liv. 
1,  n."  õl. 

2.1  SOGEITO,  part.  pass.  irreg.  de 
Sogeitar.  Vid.  Sujeito.  —  «Esta  animosa, 
e  resoluta  pratica  del-Rey,  poz  tanto  ani- 
mo nos  seus,  que  fazendo  entrada  por 
Navarra,  a  domou  em  sete  dias,  obrigan- 
do os  naturaes  da  terra  a  lhe  pedirem 
misericórdia,  e  darem  reféns  de  viverem 
dahi  em  diante  sogeitos  à  Coroa  de  Es- 
panha.» Monarchia  Lusitana,  liv.  6,  cap. 
2Õ.  —  «E  que  ouvindo  a  Bazagom  mo- 
Iher  do  Adaa  isto  que  lhe  dezia  o  Lupan- 
too,  cubicando  essa  excellencia  que  lhe 
elle  punha  diante,  comera  da  fruita,  e  fi- 
zera também  comer  seu  marido,  e  que 
pelo  gosto  do  triste  bocado  ficarão  logo 
ambos  sogeitos  a  pena  de  morte,  e  dor, 
e  pobreza.»  Fernào  Mendes  Pinto,  Pere- 
grinações, cap.  163.  —  «Vivem  os  mais 
de  trato  e  mercadorias,  e  os  outros  per 
eriaçõis  de  gado  e  lavoyras:  e  todavia 
sam  sogeitos  a  hum  senhor  Curdi,  que 
mora  em  a  dita  vila  em  hum  boõ  castelo 
he  ysento,  e  nam  da  obediência  ao  gram 
Turco  se  nam  vohintariamente.  porque  a 
terra  he  muyto  muntuosa  e  de  serras, 
onde  nam  tem  caminhos  nem  estradas  por 
onde  em  ella  possam  entrar  exércitos.» 
Fr.  Gaspar  da  Cruz,  Tratado  das  cousas 
da  China,   cap.  26. 

SOGEYTAR,  v.  a.  Vid.  Sogeitar.  — 
«Denunciada  a  noua  secta,  e  elie  de  todos 
aclamado  por  Rey,  mandou  seus  genros  a 
conquistar  as  terras  veziuhas,  e  prècar  o 
Alchorào  àquella  canalha,  que  sem  lhe 
porem  tacha,  ou  glosa,  se  sogeytarão  a 
elle,  obrigandose  a  guardalo,  na  maneira 
que  nelle  se  continha.»  Fr.  (Taspar  de  S. 
Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap.  20. 
1.)  SOGEYTO,  part.  pass.  de  Sogeytar. 
Vid.  Sujeito.  —  «As  serras?  saõ  altíssi- 
mas, e  huma  delias  atrauessa  toda  a  Ilha, 
a  qual  sempre  está  cuberta  de  neuoa. 
Com  tudo  he  sogeyta  a  grandíssimos  or- 
ualhos,  e  furiosos  ventos  que  aqui  sem- 
pre reynào.»  Fr.  Gaspar  de  S.  Bernar- 
dino, Itinerário  da  índia,  cap.  9. —  «Sa(5 
muy  sogeytos  à  chuua,  porque  tanto  que 
escorregão,  e  caem  indo  carregados,  nun- 
ca mais  se  leuantào,  e  por  esta  causa  em 
chouendii  logo  párào.  As  fêmeas  saõ  mais 
pequenas  de  corpo,  que  os  machos.»  Ibi- 
dem, cap.  17. 

2.)  SOGEYTO,  s.  m.  Vid.  Sujeito.— 
«Nào  posso  levar,  que  se  algum  destos 
sogeytos,  que  considero  divertidos  (se  ha 
algum  que  o  esteja)  fizesse  alguma  escri- 
tura de  contrato  a  seu  vizinho,  lha  havia 
de  guardar  pontualmente.»  D.  Francisco 
Manoel  de  Mello,  Apol.  Dial.,  pag.  175. 
SOGIGADO,  part.  pass.  de  Sogigar. 
Vid.  Subjugado.  —  «A  segunda,  que  tà- 
bem  lhe  tinhào  certificado  que  tinha  o 
nosso  Rey  sogigado  por  conquista  de  mar 
a  mayor  parte  do  mundo,  a  que  também 


dissemos  que  era  verdade.»  Fernão  Men- 
des Pinto,  Peregrinações,  cap.  133.  — 
«Neste  tempo  chegou  Diogo  Dazambuja 
a  Çafim,  e  com  elle  Haliadux  (que  assi 
o  nomeaõ  os  Scriptores  Arábios,  e  naõ 
Haiisiam,  como  lhe  os  nossos  chamam)  e 
assi  03  outros  três  mouros  que  com  elle 
foram,  e  porque  Garcia  de  Mello,  e  Dio- 
go Dazambuja  viraõ  que  Haliadux,  e 
Iheabentafuf  consentiam  nas  desauenças 
que  auia  na  cidade,  como  homens  que 
queriaò  antes  ter  ante  si  discórdias  que 
serem  sogigados  de  estrangeiros.»  Da- 
mião de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  2,  cap.  18. 

SOGIGAR,   V.  a.  Vid.  Subjugar. 

SOGILHA,  s.  /.  Vid.  Soguilha. 

1.  SOGRA,  s.  /.  (Do  latim  socrus).  A 
mãe  do  marido  ou  da  mulher;  diz-se  so- 
gra do  genro,  ou  marido  de  sua  filha,  e 
da  mulher  do  filho,  ou  nora.  —  «E  tanto 
que  o  Príncipe  o  soube  acudío  logo  em 
pessoa,  e  toda  a  corte  após  elle,  e  segu- 
rou a  villa,  e  fortaleza,  e  entregou  ha  in- 
fanta Dona  Beatriz  sua  sogra,  e  mãy  do 
Duque  dom  Diogo,  cuja  era  a  villa,  e  for- 
taleza. O  que  o  Príncipe  assi  fez  por  se 
outros  indiuidamente,  e  sem  causa  se  nam 
leuantarem.n  Garcia  de  Rezende,  Chro- 
nica de  D.  João  11,  cap.  20.  —  «Pateca- 
tir  fugio  com  sua  molher,  sogra,  e  cria- 
dos para  hum  lugar  em  que  tinha  alguns 
nauios,  em  que  se  foi  pêra  laca,  do  que 
o  Príncipe  que  se  dezia  de  Malaca  foi 
mui  triste,  e  com  medo  se  foi  pêra  ilha 
de  Bíntaõ.»  Damião  de  Góes,  Chronica 
de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  28. 

2. 1  SOGRA,  s.  /.  Coxim,  que  punham 
sobre  a  cabeça  os  que  levavam  cousa  pe- 
sada n'ella. 

SOGRO,  s.  77).  (Do  latim  socer).  O  pae 
da  mulher  a  respeito  do  genro;  ou  o  pae 
do  marido  a  respeito  da  nora.  —  «Peró 
sabendo  elle  o  que  se  dizia  como  afogara 
seu  filho,  determinou  de  se  vir  logo  pêra 
Malaca,  temendo  a  maldade  do  sogro,  e 
pêra  isso  não  fez  mais  que  como  homem 
seguro  sem  cautela  alguma  metter-se  com 
Pêro  de  Faria,  que  com  huma  Armada 
andava  no  estreito  de  Sabam.»  Ban-os,  Dé- 
cada 2,  liv.  9,  cap.  6.  —  «Bubac  sogro 
delle  Mahomed,  porque  elle  lhe  morreo  em 
casa,  levantou-se  contra  Alie  acerca  da 
successão  do  estado,  e  religião,  dizendo 
que  Mahamed  tudo  o  que  ganhou,  e  ad- 
quirio  foi  com  seu  favor.»  Ibidem,  liv. 
10,  cap.  6. 


Vimos  dom  Philippe  entrar 
em  UastcUa,  grande,  forte, 
seu  soc/ro  fora  lançar, 
bem  pouco  o  vimos  durar, 
e  acabar  de  ma  rnort*. 

GABCIA  DE  REZENDE,  inSCELLANEA . 


—  «Com  o  qual  por  ser  tamanho  se- 
nhor casou  el-Rei  dom  Afonso  sexto,  don- 
na  Orraca  sua  filha  legitima,  e  quanto  ao 


Conde  dom  Raimom  de  Tolosa  que  casca 
com  donna  Eluira  filha  bastarda  deste 
Rei  dom  Afonso  elle  naõ  ouue  o  Condado 
per  herança,  mas  com  o  dinheiro  do  dote 
que  lhe  o  dito  Rei  seu  sogro  deu  em  ca- 
samento, o  comprou  a  Hugo  Aimom  filho 
de  Guilhelme  Duque  de  Aquítania  quarto 
do  nome,  e  de  huma  irmam  de  dom  E  ai- 
mom de  sam  giles,  que  era  condessa  de 
Tolosa.»  Damião  de  Góes,  Chronica  de 
D.  Manoel,  part.  4,  cap.  72. —  «E  vendo 
que  seus  emulos  tomavaõ  a  maõ  com  el 
Rei  para  o  tirarem  da  grandeza,  e  pri- 
vança  devida  a  tio,  e  sogro,  quiz  fazer 
voluntariamente  o  que  receava  se  viesse 
a  fazer  por  necessidade,  e  ausentando-se 
da  Corte  esteve  em  suas  terras  retirado 
da  vista  dei  Rei,  com  o  qual  o  acabarão 
seus  inimigos  de  odiar  em  forma,  que  o 
Infante  entendeo  convir  á  sua  honra, 
mostrar-se  ao  mundo  sem  culpa. »  Fr. 
Bernardo  de  Brito,  Elogios  dos  reis  de 
Portugal,   continuados  por  D.  José  Bar- 


Senhor  sogro,  senhor  meu, 
ninguém  poderá  tirar 
a  cada  um  o  que  é  seu, 
que  o  que  natureza  deu 
até  morte  ha  de  durar. 
A5T0SI0  PRESTES,  AUTOS,  pag.  169. 

Olhe,  senhor, 
sou  muito  seu  servidor  ; 
fizera-3e  aqui  Coimbra, 
erguera-me  por  doutor, 
o  senhor  seu  fogro  fora 
meu  padrinho,  eu  vira  o  feito 
com  óculos,  tenho  geito 
da  juiz,  fora  a  senhora 
douda  por  mim  todo  a  eito. 
IBIDE5I,  pag.  211. 


Sorvo? 


Co 'o  sogro. 

ora  isso  lhe  deu  querena 
de  li-  tão  perinho  d'alvena. 
Vac  bonito. 

IBIDEM,  pag.  213. 

Em  casa  de  seu  sogro  é  ? 
Veio  buscal-o. 
IBIDEM,  pag.  219. 


SOGUILHA,  í.  /.  Torçal  de  adornar  03 
vestidos. 

SOHIA,  ou  SOÍA.  Forma  do  verbo  an- 
tiquado soer  na  terceira  pessoa  do  singu- 
lar do  pretérito  imperfeito  do  modo  indi- 
cativo. Vid.  Soer. —  «Daliagào  foi  logo 
sobre  elle,  per  estorvar  que  o  não  ma- 
tasse, armado  das  armas  que  sohia,  e 
posto  que  Polendos  estava  maltratado, 
defendeu-se  tão  valentemente,  que  nesta 
batalha  mostrou  pêra  quanto  era;  porém 
havia-o  com  forte  imigo.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  15. 
—  «Algumas  pessoas,  olhando  de  longe, 
vêem  contra  aquella  parte  umas  torres  e 
edifícios  grandes,  e  chegando  perto  as 
perdem  logo  de  vista:  e  tomando  a  copa 
em  que   sua  filha   chorou,  que  é  esta,  e 


668 


SOIS 


SOIS 


SOL 


fazendo-lhe  perder  ;i  côr  natural,  f|ue  an- 
tes sohia  tor  por  nua  arte,  conf^cloii  as 
laf^riíiiaM  dentro,  da  maneira  (pio  aqui 
vodo.H.»   Ibidem,   cap.  Oo. 

SOIÇA,  SOICIA,  SUIÇA,  ou  SUÍCIA,  .s./. 
Exorciíio  militar  r(!K>dar,  ([U';  o8  suirtsos 
introduziram. 

—  Entro  a  plebe,  multidão  do  í,'onte 
quo  vozoia  o  apupa;  asHuada. 

—  Fazer  soiças ;  fazer  evoluções  e 
exercieioa  do  armas. 

—  Na  provincia  da  Estremadura  diz- 
86  soicia  unia  oncamisada  de  moços  a 
cavallo,  e  rapazes  com  cordas  breadas  o 
accosas. 

SOIDADE,  s.  /.  Termo  antiquado.  Sau- 
dado. 

—  Sididão.  Vid.  Soedade,  Soledade,  o 
Soidoso. 

SOIDÃO,    s.  f.  Termo   antiipiado.    So- 

li.ir.o. 

Longe,  por  osse  azul  dos  vastos  marca, 
Na  soidão  raclaucliolica  da»  aguas 
Ouvi  gemer  a  lameutosa  Alcyono, 
E  com  cila  gemeu  minha  saudade. 

OAimKTI,  CAMÕBS,  c*nt.  5,  c»p.  3. 

SOIDO,  s.  7)1.  Sonido. 
SOIDOSO,   A,    ailj.   Termo    antiquado. 
Saudoso,  (pie  inspira  saudado. 
SOIEIRA,  s.  /.  Vid.  Matricaria. 

—  Tíjrmo  auti(piado.  Offieio,  trabalho, 
occupação  do  caçador  de  coellios,  a  quo 
chamamos  hojo  espera. 

SOIS.  F(Srma  irregular  do  verbo  ser 
na  segunda  pessoa  do  plural  do  tempo 
presente  do  modo  indicativo. — «E  pois 
o  sois,  não  seria  mal,  que  em  pago  ou 
satisííKj^ão  do  quo  vos  quero  e  vos  mere- 
ço, trocásseis  alguma  hora  a  vontade  po- 
rá comigo.»  Francisco  do  Moraes,  Pal- 
meirim d'Inglalerra,  cap.  120.  —  «Não 
sei  cousa  (pio  não  faça  por  viver,  disso 
o  outro.  Pois  convém,  que  primeiro  me 
digais,  quem  sois,  e  depois  disso,  que 
no  palafroin  do  um  de  vossos  escudeiros 
vais  ;l  corto  de  ol-rei  Rccindos,  que  do 
cavallo  mo  quero  cu  servir  polo  que  mo 
matastes.»  Ibidem,  cap.  12õ. —  ((Agora, 
que  sei,  que  sois  V(')s,  tenho  em  muita 
mais  conta  o  cavalleiro  das  donzellas  e 
me  fica  mais  desejo  do  o  conhecer  :  pe- 
ço-vos  me  digais  se  lhe  vistes  o  rosto,  de 
que  idade  será,  e  se  o  conheceis  não  mo 
encubrais,  quo  receberei  nisso  grani  pe- 
sar.» Ibidem,  cap.  120.  —  ((Pcço-vos,  se- 
nlior  cavalloiro,  disse  Florondos,  que  me 
digais  quem  sois ;  quo  quanto  mais  vejo 
vossas  obras,  maior  desejo  tonho  de  vos 
saber  o  nome :  ao  menos  saberei  a  quem 
devo  tamanha  morcô.  Senhor  Florendos, 
disse  elle,  não  quero  de  mim  vos  fique 
esse  desgosto.»  Ibidem,  cap.  127.  —  «Ve- 
des acpii  duzentos  xaraíins,  dar-vos-hão 
cavallos,  o  companliia  quo  vos  leve  a 
vossa  madre,  parentes,  o  criados  tendes, 
elles  vos  darão  modo  de  vida,   pois  eu 


não  sou  poderoso  pêra  mais  :  e  liuma  8í'> 
cousa  vos  peço  polo  amor  com  que  vou 
salvei,  o  criei  estes  dias  que  em  minlia 
casa  CHtiv(!Htea,  que  vos  loinbrcis  do  meuí 
HIlioH,  ponpio  filhos,  netos,  o  bisnetos 
sois,  o  ambos  pe-isoa,  o  animo  tondíjs 
pêra  adquirir  e^tado.»  Harros,  Década 
10,  cap.  6. —  «A  máxima  das  conve- 
niências he  ter  maõ  cada  hum  no  que  ho 
sou  até  morrer,  o  naõ  largar  a  mãos  La- 
vadas, o  que  outrem  nos  ganhou  com  ci- 
las ensanguentadas.  Sois  muito  bacharel : 
naõ  mo  sejacs  Pelras  iii  cunctis ;  olliay 
que  vos  farei  Joannes  in  vinculis.  Ide- 
V03  logo  por  aquella  porta  f(')ra.»  Arte 
de  furtar,  cap.  29. 

Qual  V1I3  soii 
110  seu  (|ual  jaz  vosso  tal 
tcrlado  do  original, 
clle  antes,  vi''3  despois, 
principio  do  principal. 

ANTÓNIO  rUESTES,  AUTOS,  pag.  55. 

KcA 

o  sonlior  doutor?  soi.':  d'clle? 
O  doutor  nào,  está  cUc. 
Quem  ? 

Meu  senhor. 
IBIDEM,  pag.  203. 

Sois  um  favo 
de  musica  !  não  no  ha  mais ; 
querci-vos  ensinar  ao  cravo  ? 
O.rto  (^uc  mo  maravilho 
d'c39as  musicas  cstrosas. 
iBinEM,  pag.  247. 

E  30  cu  quero ! 

Pagar-lhe-hcis 
cs.ia  injuria. 

Sois  sua  Hcro? 
é  mui  bom  quo  o  desculpeis. 
iBiDBM,  pag.  2G5. 

Sabei  de  certo  quo  são 
irmãs  n'Í3so,  dc3can<;ae. 
Cantemos  outorga,  i>ac, 
sois  limão  de  vosso  irmão. 
iDiDEM,  pag.  267. 

Porque  lia  tanto  que  sois  ido 
d'csta  casa,  c  esta  inolher 
não  V  nad.i  de  sofrer 
tão  descuidado  marido ; 
fazeir»  aqui  padecer. 
IBIDEM,  pag.  335. 

BofA  que  o  nAo  vos  engelhe 
segnn(io  estaes  no  não  levado : 
dizei,  sois  de  Sernacelhe? 
Nem  telha  que  me  lã  telhe. 
iniDBM,  pag.  361. 

Sois  de  Santa  Comba-Dão  ? 
Nem  como  se  ainda  pinta. 
De  Cauas  de  Senhorim  ? 
Não. 

Chão-de-Coucc,  Monção, 
Boinvivcr  ? 

Não, 
nem  do  viver  bem. 


Não  n'o  está, 

vac  ji  no«  (|uin2C  degraos 

essa  junta. 

Vá  ou  nio  vá, 
«01*  parente;  c  a  qu<?  sois  cá? 
iniDRM,  pag.  363. 

Jchub!  yin  que  arrccflacB? 
Não  me  pariste,  e  mais 
do  que  cu  cuido  v/is  vfrrci». 
Senhor,  lá  m'o  puardac  ora 
por  quftin  sois,  d'algum  cajfto. 
IBIDP.M,  pag.  .397. 

SOJEITAR,  r.  a.  Vid.  SujeiUr.  —  «E 
que  vendo  o  grande  Lupantoo,  Her[)c  tra- 
gadora  da  concava  funda  da  cana  do  fu- 
mo, esto  preceito  a  que  Deoa  sojeitara  o 
homem  por  lhe  dar  merecimento  no  f'oo, 
se  f(jra  a  sua  molher,  o  lhe  dissera  que 
comesse  e  convidasse  sou  mariílo,  porque 
lhe  afirmava  que  em  comendo  ticariào 
ambos  na  sabeduria  muyto  mais  excel- 
lente.s  do  que  De(js  os  criara,  c  livres  da- 
quclla  natureza  pesada  de  que  os  compu- 
sera, com  que  num  sii  momento  seus  cor- 
pos cntrari.iõ  no  Coo.»  Fernão  Mendes 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  16.3. 

SOJEITO,  pari.  2>ass.  de  Sojeitar.  Vid. 
Sujeito.  —  «Pitau  iJicalor  novo  Chaem 
neste  santo  auditório  da  gente  estrangey- 
ra  por  vontade  do  lilho  do  Sol  leaõ  co- 
roado no  trono  do  mundo,  ao  qual  todos 
03  cetros  e  coroas  ile  todos  os  Reys  que 
govcrnão  a  terra  .saõ  soj eitos,  e  postos 
debaixo  dos  .seus  peia,  por  graça  e  vonta- 
de do  mais  alto  doa  Ceos.t  Fernão  Men- 
des Pinto,  Peregrinações,  cap.  103.  — 
íEspccul.ado  bem  este  negocio  por  alguns 
dos  nos.«ios  que  eraõ  mais  curiosos,  se  af- 
firma,  segundo  o  dito  deste  grepo,  e  pelo 
que  aly  nos  jurou  em  sua  verdade,  que 
sobre  a  libertação  destes  idolos  que  aquy 
vimos  presos,  saõ  mortos  por  algumas  ve- 
zes mais  de  três  contos  de  homens,  a 
f('pra  08  das  batalhas  passadas,  donde  se 
pf')de  ver  claramente  quanto  o  den.onio 
tem  sojeitos  estes  miseráveis.»  Ibidem, 
cap.  lti"2.  —  «Porque  huns  despiam  suas 
vestiduras  e  as  lançauam  no  cham,  por 
onde  o  Senhor  auia  de  p.assar:  outros  su- 
biam nas  amores  osgalhando-as,  e  cor- 
tandoas.»  Fr.  Bartholomeu  dos  Martvres, 
Catecismo  da  doutrina  christâ. 

SOJORNO,  .«.  m.  Casa,  habitaçXo,  mo- 
rada. 

SOJUGADO,  part.  pas$.  de  Sojugar. 

SOJUGAR,   1-.  a.  Vid.  Subjugar. 

l.)  SOL,  a^r.  StSmente,  ainda  só,  tão 
siSmente,  ao  menos. 

2.^1  SOL,  .1.  m.  (Do  latim  sol).  O  as- 
tro, cuja  luz  faz  a  claridade  do  dia. 

A  luz  do  sol  pura 
Só  a  vós  se  negue ; 
Seja  noite  escura, 
Nunc..a  a  manhã  chegue. 

CAU.,   BEDONDILUAS. 

Dos  olhos,  com  que  o  trj  escurecia. 
Levando  a  luz  em  lagrimas  banhada, 


( 


SOL 


SOL 


SOL 


569 


De  si,  do  fado,  e  tempo  magoada, 
Pondo  03  olhos  no  Coo,  asai  dizia... 

IDEM,   SONETOS,  U.°  99. 

—  «Que  em  uns  havia  arvoredos  de 
troncos  mui  grandes,  as  ramas  tão  alta.?, 
que  parecia  tocar  as  nuvens  e  tão  bastas, 
que  apenas  se  podia  andar  antr'ellas,  de 
qualidade  e  natureza,  que  na  maior  força 
da  calma  se  meneavam  com  vento,  e  o 
sol  por  antre  as  suas  folhas  não  tinha 
força  pêra  impedir  a  sombra.»  Francisco 
de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap. 
120.  —  «Em  outra  parte  Hores  continuas 
de  todo  o  armo  de  tantas  diversidades  de 
cores,  quantas  a  primavera  traz  comsi- 
go,  quando  se  mais  jefiaa.  Em  algum 
destes  campos  verdes  sem  nenhuma  ou- 
tra mistura  d'uma  erva  baixa  quasi  tosa- 
da, pêra  alli  lograr  o  sol,  quando  a  huma- 
nidade o  desejasse.»  Ibidem.  —  «Então, 
porque  isto  era  no  mez  de  dezembro,  e 
por  falta  do  sol,  que  andava  n'aquelle3 
dias  embuçado,  lhe  era  necessário  valer- 
se  do  fogareiro,  e  acertaram  em  casa  de 
descuidar-se  e  deixaram  o  mantéo  sobre 
uma  cana  a  enxugar.»  Fernão  Soropita, 
Poesias  e  prosas  inéditas,  pag.  120.  — 
«Em  o  qual  tempo  dizem  estar  a  Lua 
fraca,  e  infortunada  com  a  combustão  do 
Sol.»  André  de  Avellar,  Repertório  dos 
tempos,  foi.  278. 

Hontem  poz-se  o  sol,  c  a  noute 
cobriu  de  sombra  esta  torra, 
agora  he  jaa  outro  dia 
tudo  torna,  torna  o  sol, 
si  foi  a  minha  vontade 
para  nam  tornar  eo  tempo. 

CHKISTOVÂO  FALCÃO,  OBRAS,  pag.  30. 

—  «Sabey  que  esta  invenção  não  he 
dos  Mysticos  Portuguezes,  antes  pelo 
contrario  temos  no  nosso  Paiz  huma  Vil- 
la,  cujos  moradores  pagão  hum  Carneyro 
em  todos  os  Sabbados  em  que  se  não  vê 
o  Sol.»  Cavalleiro  d'01iveira,  Cartas,  liv. 
1,  n.o  24. 

Pouco  espaço  depois  que  o  passo  volta 
Faleiro  para  os  seus,  não  vagaroso, 
A  bella  Aurora  em  nova  luz  envolta 
Deixa  a  conversação  do  velho  esposo, 
E  ante  o  Sol  os  cabello.s  de  ovu-o  solta 
Não  sem  graã  mágoa  de  Titon  cioso, 
A  quem  a  ausência  desta  chara  amiga 
A  suspiros,  e  a  lagrimas  obnga. 

FRAMCISCO  dVnDHADE,   PRIMEIRO  CERCO  DE  DID, 

cant.  l-i,  est.  100. 

Pallido  agora  cabo,  esto  que  agora 
Fazer  cahir  mil  pallidos  cuidava, 
E  inda  que  não  vio  logo  a  ultima  hora 
Comtudo  ja  mui  perto  delia  estava. 
Porque  quando  de  novo  a  nova  Aurora 
As  estradas  ao  Sol  apparelhava, 
A  sua  alma  infiel  com  grão  tormento 
Foi  a  beber  o  eterno  esquecimento. 
rBiDEsi,  cant.  18,  est.  43. 

Com  sua  voz  omnipotente  o  Nada 
De  tudo  se  tornou  berço  fecundo : 


Com  sua  voz  na  cúpula  azulada 

Ficou  fixo,  esplcndente  o  Sol  jooundo  ; 

E  traz  co'o  moto  da  Celeste  Esfera 

O  Estio,  o  Outono,  o  Inverno,  a  Primavera. 

J.   A.    DH   MACEDO,   O   ORIENTE,   CaUt.     10,    CSt.     20. 

Só  deixa  o  Sol  que  os  olhos  lho  fitemos. 
Quando  opnco  no  eclipse  o  disco  mostra. 
Tal  he  da  humana  Natureza  a  sorte. 
Depois  da  perda  de  innocencia  antiga ! 

IDEM,  MEDITAÇÃO,  Cant.    1. 

Obra  do  grão  Copérnico  descubro 
N'outro  Globo  esculpida  immensa  esfera  ; 
Delia  he  Sol  luminoso  iinmobil  centro, 
Que  tão  próximo  a  si  Jlercurio  observa, 
Que  immerso  cm  sua  luz  se  mostra  á  vista. 

IDEM,    VL\GEM  EXTÁTICA,  CaUt.    3. 

São  milhões,  e  milhões,  conta-as  se  pódea 
Distantes  entre  si  quanto  he  distante 
De  Sirio  o  nosso  Sol ;  e  tu  conheces 
Qu'immoveis  centi-os  são  d'opaco3  globos. 

IDEM,   A  NATUREZA,   CaUt.    1. 

Do  claro  Sol  o  rosto  afogueado 
Começa  d'esparg!r  mais  fròxos  raios, 
O  frio  duvidoso,  a  calma  incerta 
Conservâo  na  Estação  doce  equilíbrio. 


—  De  sol  a  sol ;  desde  que  elle  nasce 
até  que  se  põe. 

—  Partir  o  sol  nos  duellos  ;  dividir  o 
campo  dos  duellistas,  e  postarem-se  n'el- 
le,  ou  as  fileiras  dos  exércitos,  de  ma- 
neira que  não  dê  o  sol  no  rosto  de  ne- 
nhuns, para  não  ficar  de  peor  condição 
que  os  outros. 

—  Tomar  o  sol ;  aquecer-se  a  elle. 

—  O  sol  fulgurante ;  ô  sol  brilhante. 

Oh  fulgurante  Sol,  figura,  emblema 

Do  immortal  esplendor !  Nelle  se  mostra 

Sou  immonso  Poder,  Bondade  Eterna. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATDEEZA,  Caut.  1. 

—  Sol  de  inverno;  as  mostras  de  ami- 
zade e  boa  conversação,  que  tem  bons 
princípios,  mas  duram  pouco. 

—  Adorar  o  sol  que  nasce ;  adular, 
servir  aos  novos  potentados,  poderosos. 

—  Ardente  sol  estivo ;  o  calmoso  sol 
do  estio. 


Recolhe  assi  do  livre  c  do  captivo 
Coleimão  do  ouro  e  prata  buma  grãa  copia. 
Mas  mór  a  recollieo  d'um  ódio  \\xo 
Co'a  gente  natural,  e  co'a  sua  própria; 
Que  debaixo  do  ardente  Sol  estivo 
Não  ferve  tanto  a  areia  da  Ethiopia, 
Quanto  huns  c  outros  em  ódio  estão  fervendo 
Todos  porque  roubados  se  estão  vendo. 

P.    DE   ANDRADE,    PRIMEIRO    CERCO  DE   Dltl,   Cant. 

19,  est.  18. 

—  Tomar  o  sol  ;   tomar  a  altura,  a  la- 
titude geographica. 

—  Não   deixar  alguém    a    sol    nem  a 
sombra;  perseguil-o  a  toda  a  hora. 

I      —  Pesar  o  sol ;  tomal-o. 


—  Mentir  de  sol  a  sol ;    mentir    todo 
o  dia,  sempre. 

—  Sol  posto;  diz-se   quando  desappa- 
rece  do  nosso  horisonte. 


Se  inda,  Alcipo,  te  lembras,  que  a  meu  lado 
Cansada  do  fervor  d.árido  Agosto, 
Já  quando  posto  o  Sol,  bafagem  doce 
Humedecia,  amaciava  os  ares. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Cant.  1. 

—  Casa  do  sol.  —  «Esforçado  e  leal 
capitão  dos  Portugueses  por  mercê  do 
grande  Key  do  cabo  do  mundo,  leão  for- 
te, e  de  bramido  espantoso,  com  coroa  de 
magestade  na  casa  do  Sol,  eu  o  malafor- 
tunado  Chaubainhaa  príncipe  que  fuy.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações,  ca- 
pitulo 148. 

—  A  Jilha  do  SOL 

Sabeis,  mãe,  em  que  me  fundo? 
Eu  sam  a  filha  do  Sol, 
E  se  o  mundo  teve  flor. 
Eu  sam  as  flores  do  mundo, 
E  da  presunção  maior. 
Que  som  tão  fantesiosa 
E  tão  cheia  de  grandeza. 
Que  não  prezo  sor  formosa. 
Nem  prezo  a  quem  me  preza, 
E  prezo-me  de  generosa. 

GIL  VICENTE,    FARÇAS. 

—  o  sol  sepultado ;  sol  posto,  mergu- 
lhado no  oceano. 

O  sol  jil  sepultado  só  por  vél-a, 
sem  poder  de  Neptuno  ser  detido, 
colloca  o  plaustro  d'ouro  junto  d'clla. 

BISPO   DO   GRÃO   P.«Á,   MEMORIAS,   pag.    71. 

—  Sol;  os  seus  amores.  —  «O  Conde  Pe- 
dro C-p-i  não  he  Portuguez,  V.  S.  mes- 
mo me  tem  afirmado  que  he  sevi  Compa- 
triota. Chama  Sol,  e  Estrella  aos  seus 
amores.»  Cavalleiro  d'01iveira,  Cartas, 
liv.  1,  n.°  33. 

—  Plur.  Termo  de  poesia.  Estrellas. 

Immensas  Legiões  de  Soes  observo 

Que  o  Firmamento  azul  bordão,  povoâo; 

Se  huma  Estrella  se  mostra,  outra  se  eclipga. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Cant.  1. 

Se  a  Terra,  dizes  tu,  se  outros  Planetas 
Por  centro  de  seu  giro  o  Sol  conhecem ; 
Talvez  que  os  Soes.  que  fixos,  que  engastados 
Parecem  ser  na  abobada  azulada, 
Tenho  centro  commum  n'hum  Sol  mais  piu"0, 
Mais  vasto,  e  luminoso,  e  que  dcscrcvão 
Em  roda  delle  essa  Orbita  assombrosa. 

IDEM,  VIAGEM  EXTÁTICA,  CaUt.   4. 

Cego !  Que  apraz  cuidar ,  que  os  «Soei  gravados 
Por  todo  o  esmalte  azul  a  cento  e  cento 
Sirvào  só  d'c3pargir  (mortal  soberba!) 
Inúteis,  sem  ^"igor,  languidas  luzes. 
Quando  a  noite  sereno  os  Astros  mostra 
No  de-sdobrado  véo,  vasto,  infinito? 

IDEM,  A  NATUREZA,  Cant.    1. 

—  Figurada  e  poeticamente :  Dias. 


570 


SOL 


SOLA 


SOLA 


Porém  jil  cinco  »oeê  eram  possadoH 
Que  d'alli  no»  partiramoa,  cortando 
Os  marc»  nunca  doutrem  navegados, 
Prosperamente  os  ventos  assoprando. 
CAM.,  LU8.,  cant.  5,  est.  37. 


—  Figuradamontc :  Calores  do  sol. 

—  Termo  do  poesia.  Os  olhos. 

—  Termo  popular.  Sol  cris ;  eclipse  do 
sol. 

—  Adágios  k  puovEumos  : 

—  Sol  quo  muito  madrup;a,  pouco  dura. 

—  Sol  roxo,  agua  ao  olho. 

—  Sol  posto,  obreiro  solto. 

—  Sol  na  eira,  chuva  no  nabal. 

—  Sol  o  boa  terra  fazem  bom  gado, 
que  nJlo  pastor  afamado. 

—  Sol  dabril,  abre  a  mão,  deixa-o  ir. 

—  Sol  de  janeiro,  sáe   tarde,  e  põe-so 
cedo. 

—  Sol  do  inverno  sempre  anda  detraz 
do  outeiro. 

—  Sol  de  março  pega  como  pegamaço, 
e  fere  como  maço. 

—  Nem  sabbado  sem   sol,  nem   moça 
sem  amor. 

—  Com  agua  e  com  sol  Deus  ó  crea- 
dor. 

—  Pastor  descuidado,  ao  sol  posto  bus- 
ca o  gado. 

—  Fazo  o  que  manda  o  senhor,  assen- 
tar-te-has  com  ello  ao  sol. 

—  Quando  chove  e  faz  sol,  alegre  es- 
tá o  pastor. 

—  Ha    chuva    que    secca,    e    sol   que 
rega. 

—  Por  sol  que  faça,  não  deixes  a  ca- 
pa em  casa. 

—  Amizade  de  genro,  sol  de  inverno. 

—  Hospede  com  sol  ao  lavor. 

—  Para  quem  ganhas,  ganhador?  para 
quem  está  dormindo  ao  sol. 

—  Quem  não  anda  por  frio,  e  por  sol, 
não  faz  seu  prol. 

—  Se  queres  boa  fama,  não  te  tomo  o 
sol  na  cama. 

—  Visita  de  quem  não  tiveres  dôr,  á, 
tarde,  e  sem  sol. 

—  Sai-me   ao   sol,   disse  mal    o   ouvi 
peor. 

—  O  alcaide  e  o   sol,  por  onde  quer 
entram. 

—  A  donzella  e  o  açor  com  a  espalda 
ao  sol. 

—  Em  janeiro  um  pouco  ao  sol,  outro 
ao  fumeiro. 

—  Por  Natal  sol,  e  pela  Paschoa  car- 
vão. 

—  A  mulher  e  a  gallinha  com  sol  re- 
colhida. 

—  Agua  que  deres  a  teu  senhor,  não 
a  olhes  ao  sol. 

—  Abala   pastor   com  as   espaldas  ao 
sol. 

—  Com   bom  sol   se  estendo  o   cara- 
col. 

—  Dous  soes  não  cabem  no  mundo. 
3.)  SOL,  s.  m.  Termo    de   musica.   A 


quinta  voz  do  hexacordo,  quatro  pontos 
acima  do  dtí. 

4.)  SOL,  .1.  m.  (Do  francez  sol).  Ter- 
mo antiquailo.   Solo,  chão,  terreno. 

SOLA,  s.  f.  (Do  latim  solum).  O  cou- 
ro (h;  boi,  cortido,  e  preparado. 

—  A  sola  do  sapato;  a  parte  inferior 
c  a  mais  dura  do  calçado. 

So  cu  nntflo  a  escudeirar, 
ah  !  bofi'',  que  encrespadas 
me  fiquem  as  sola»! 

ASTOMio  i-BESTEs,  AUTOS,  pag.  459. 

—  Pôr  solas ;  vid.  Solar  sapatos. 

—  Sola  do  pó;  a  parte  inferior  d'elle, 
opposta  ao  peito. 

SOLAÇOSO,  A,  adj.  (Do  latim  sola- 
tium).  Termo  antiquado.  Aprazivel,  delei- 
tavel. 

SOLAIRO.  Termo  antiquado.  Vid.  Sa- 
lário. —  «Por  se  melhor  declarar,  e  en- 
tender como  se  ham  de  contar  estes  so- 
lairos,  quanto  pertence  ao  veencer,  e 
defender,  averaõ  de  ver  aquello,  que  ao 
autor  he  julgado  do  principal  da  senten- 
ça, sem  csguardar  aqucUo,  que  he  pedi- 
do.» Ord.  Affons.,  liv.  1,  tit.  4õ,  §  12. 
—  «E  as  que  daqui  em  diante  cscrepve- 
rem,  por  quanto  cada  hum  Escripvaõ  da 
Camará  as  podo  logo  escrepver  com  pou- 
co trabalho,  mandamos  que  as  escrepvaõ 
sem  outro  solairo.»  Ibidem,  liv.  4,  tit. 
24,  í?  :i. 

SOLAM,  s.  m.  Prazer,  allivio,  consola- 
ção. Vid.  Soláo. 

SOLAMENTE,  adv.  Termo  antiquado. 
Sr>mente,  unicamente,  tão  somente.  — 
«E  outro  sy  aquelle,  que  d'outro  nosso 
Vassallo  receber  cavallo,  e  armas,  se 
antes  dos  três  annos  compridos,  ou  se 
tam  solamente  recobco  cavallo  sem  ar- 
mas, ante  do  anno  e  meio,  e  se  armas 
sem  cavallo  recebeo,  ante  do  anno  com- 
prido.. Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit.  26,  §  G. 

SOLANEAS,  s.  /.  plur.  Familia  de  plan- 
tas. Vid.  Estramonio. 

1.)  SOLANO,  s.  tn.  (Do  latim  solanum). 
A  herva  moura. 

2.)  SOLANO,  s.  m.  (Do  latim  solanus). 
O  vento  sul. 

SOLÃO,  s.  VI.  Vid.  Solào. 

SOLÁO,  í.  m.  Romance  ou  cantiga  com 
toada  musica,  ou  que  affecta  esse  estylo, 
commuramente  triste,  ou  para  allivir  me- 
lancolias. 

SOLAPA,  s.  f.  Cova  por  baixo,  e  ta- 
pada, que  se  não  vê. 


Um  pintor  tal  não  entrapa ; 
sendo  de  tudo  orphãozinho, 
muito  inho, 

sem  ter  lapa  nem  fn!ajxi, 
eira,  nem  beira,  nem  uinho. 

ASTOHIO  riISTES,  AUTOS,   pag.  347. 

—  Figuradamente  :     Astúcias,    vicioa 
occultos. 


O  atnor  tem 
mil  tolajxu,  mil  barrancos, 
fraudes  com  to<los  seus  bancos, 
nâo  basta  a  dizcl-o  bem. 

A5T0.M0  PKESTKS,  AUTO»,  pag.   221. 


SOLAPADAMENTE,  adv.  Ab  escondidu, 
com   di>laicc. 

SOLAPADO,  part.  pais.  de  Solapar.  En- 
covado |/or  liuixo. 

—  Figuradamente  :  Que  cobre  damno, 
ruina,  como  a  pedra  8rd>re  a  lapa. 

—  Animo  solapado ;  aquello  de  quem 
encobre  niahiade. 

—  Ferida  solapada ;  com  buraco  fun- 
do e  encoberto. 

—  Cheio  de  solapas,  nSo  solido,  nlo 
seguro,  que  tem  ruindade  occulta. 

—  Caõelladura  solapada;  cabello  crea- 
cido,  solto. 

—  Figuradamente  :  Minado. 
SOLAPAMENTO,  s.  m.  O  vão  da  cousa 

solapada,  socavada. 

—  Figuradamente :  Engano,  mina  oo- 
culta.  Vid.  Solapa. 

SOLAPAR,    V.  a.  Escavar  por  baixo. 

—  Figuradamente :  A  vaidade  solapou 
a  virtude;  tirou-lhe  o  fundamento  e  deu 
com  ella  em  terra. 

—  Figuradamente  :  As  formigas  sola- 
pam as  casas,  a  terra. 

1.)  SOLAR,  adj.  2  gen.  (Do  latim  *o- 
laris).  Concernente  ao  sol.  — Eclipse  so- 
lar. 

—  Anno  solar.  Vid.  Anno. 

—  Systema  solar ;  systeraa  de  Copér- 
nico, aperfeiçoado. 

Ao  mesmo  fim  v.ío  indo  os  Entes  todos, 
A  causa,  que  os  produz,  mantém,  conserva, 
Do  Systcma  iSolar  também  foi  causa. 

1.   A.    DE  HACEDO,  MEDITAÇÃO,  CAUt.   4. 

—  Espliera  solar. 


Mas  á  Esfera  .«o/iir  já  volto  as  azas ; 
A  frente  recolhida,  immoveis  olhos 
Bradão  que  volves  pelo  contro  dalma 
Dúbias  idéas,  vastos  pensamentos. 
Debalde  intentas  pcrguntar-me...  eterno 
Silencio,  escuridão,  no  seio  esconde 
Tudo  qu'alcm  do  espaço  a  mente  anhda. 

J.    A.    DE  MACEDO,  A  SATCKSZA,  Cant.    1. 


2.)  SOLAR,  adj.  2  gen.  Termo  de  ana- 
tomia. Que  diz  respeito  á  sola  ou  planta 
do  pé. 

3.)  SOLAR,  s.  m.  O  chSo  da  casa  an- 
tiga de  alguma  familia  nobre. 

—  Solar  conhecido ;  o  solar  de  nobres, 
e  fidalgos  de  avós  a  netos,  de  nobreia  e 
fidalguia  conhecida  e  indubitável. 

—  Maldizentes  de  solar ;  pessoas  gra- 
duadas que  tem  esse  vicio. 

—  Herdade,  ou  terra  onde  ha  solar ; 
isto  ò,  onde  ha  casas  fortes,  castellos, 
onde  a  nobreza  vivia,  c  dahi  defendia 
as   cidades,   rillas,   etc.   Hoje  se  diz,  e 


SOLD 


SOLD 


SOLD 


571 


chama  solar  grande  a  terra  ou  o  senho- 
rio dos  grandes  e  titulares. 

—  Solar  com  jurisdicção  ;  senhorio  dos 
que  nas  suas  terras,  e  n'elles  exercem 
jurisdicçào  por  seus  juizea. 

—  O  solar  das  boas  letras. 

4.)  SOLAR,  V.  a.  Cobrir  com  sola,  pôr 
solas. 

SOLAREGO.  Vid.  Solariego. 

SOLARENGO,  A,  adj.  e  ».  Os  que  mo- 
ravam em  terra  de  alçrum  fidalgo  de  so- 
lar, eram  como  vassallos,  e  pagavam  cer- 
tos direitos  aos  senhores  do  solar. 

SOLARES,  s.  m.  plur.  Homens  adora- 
dores do  sol. 

SOLARIEGO,  A,  adj.  Que  pertence  ao 
solar  de  nobreza. 

—  Figuradamente :  Nobre,  de  solar. 
Vid.  Solarengo. 

SOLÁRIO,  s.  m.  Vid.  Soalheiro. 

SOLAROSO,  A,  adj.  Termo  antiquado. 
Que  consola. 

SOLAS,  s.  m.  Termo  antiquado.  Vid. 
Soláo. 

—  Adj.  2  gen.  Que  consola  o  próximo. 
SOLAS.  —  Estar  a  solas ;  estar  só,  sem 

companhia. 

SALAVANGO,  s.  m.  Salto,  pendor  que 
faz  carroça,  sege  ou  coche  em  más  estra- 
das. 

SOLDA,  s.  f.  A  matéria  de  que  se  faz 
nso  para  soldar  metaes,  pedras.  Vid. 
Consolda,  e  Momia. 

SOLDADA,  s.  f.  Quantidade  de  soldos 
que  se  dão  aos  que  os  recebem,  e  por  isso 
se  chamam  soldados;  o  mesmo  que  mo- 
dernamente se  chama  soldo  militar,  e  sol- 
dada de  certos  serviços.  —  «Cá  nom  pa- 
rece menos  razom  aver  lugar  no  serviço 
feito  a  bem  fazer,  que  no  serviço  feito 
por  soldada.  Pêro  nom  he  nossa  teençom, 
que  a  dita  Ley  com  sua  declaraçom  aja 
lugar  no  meor  de  vinte  e  cinco  annos;  e 
porem  mandamos,  que  os  ditos  três  annos 
comecem  a  correr  tanto  que  esse  meor 
chegar  á  hidade  de  vinte  e  cinco  annos, 
e  ataa  esse  tempo  nom  corraõ  contra  elle. » 
Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit.  27,  §  3.  —  tOu- 
tro  sy  alguuas  homeens  braceiros,  que 
sooem  andar  aos  jornaaes,  teem  filhos,  e 
filhas,  e  por  lhos  nom  demandarem  por 
soldada,  poem-nos  a  mesteres,  e  tanto 
que  passaõ  alguuns  tempos,  tiraõ-nos  del- 
les,  e  quando  os  demandaõ  pêra  mora- 
rem por  soldada,  pooem  escusa  que  som 
postos  a  mesteres :  seja  vossa  mercee, 
que  aquelles,  que  seus  filhos  nom  tive- 
rem continuadamente  a  mesteres,  que  se- 
jaõ  costrangidos  de  morarem  por  solda- 
das.» Ibidem,  tit.  30,  §  1.  _  «Se  al- 
guém lançar  mancebo,  ou  manceba  fora, 
que  colheo  por  soldada,  de  sua  casa, 
ante  que  o  prazo  chegue,  dar-lhe-ha  toda 
a  soldada,  pois  que  o  lançou  fora  de  sua 
casa  sem  sua  culpa,  dizendo  que  nom 
quer  que  o  serva.»  Ibidem,  tit.  32,  §  1. 
—  «E  se  o  mancebo,  ou  manceba  leixar 
seu  Senhor,  ante  que  acabe  o  tempo  da 


soldada,  sem  culpa  do  Senhor,  deve-lhe 
tornar  a  soldada,  que  ja  delle  recebeo, 
dobrada,  e  servir  todo  o  tempo  da  solda- 
da :  ergo  se  for  a  prazimento  do  amo,  e 
do  mancebo.»  Ibidem.  —  «Pêro  querendo 
ante  o  dito  amo  logo  pagar  a  dita  soldada, 
e  que  lhe  fique  lugar  pêra  despois  deman- 
dar o  dito  dampno,  podel-o-á  bem  fazer, 
e  averá  lugar  pêra  o  provar,  segundo  for 
razom,  e  ao  Juiz  bem  parecer.»  Ibidem, 
tit.  33,  §  3.  —  «As  guerras  de  Flandres 
estiveram  muitos  annos  de  quedo,  susten- 
tando exércitos  grossíssimos  com  immen- 
sos  gastos,  e  soldadas  de  Cabos,  que  os 
comiaõ  com  huma  mão  sobre  outra,  pon- 
do em  pés  de  verdade,  que  tudo  era  ne- 
cessário, porque  dalli  viviaõ.»  Arte  de 
furtar,   cap.  44. 

—  ííamem  c/e  soldada;  ganhão,  que  por 
ella  se  aluga  a  outros,  mercenário. 

—  Foro  pago  em  soldos. 

—  Uma  soldada  de  pimenta;  a  porção 
d'ella  que  se  devia  dar  por  um  soldo, 
como  dinheirada,  a  que  se  dava  por  di- 
nheiro. 

—  Figuradamente :  Recompensa,  pre- 
mio. 

—  Estar  á  soldada  com  alguém. 
SOLDADEIRO,  A,  s.  Pessoa  que  recebe 

soldo,  soldado. 

—  S.  m.  O  soldado. 
SOLDADESCA,  s.  /.  A  gente  de  guerra. 

—  iSer  da  soldadesca  de  algum  gene- 
ral; ser  do  seu  exercito. 

SOLDADESCO,  A,  adj.  De  soldado. — 
Vida  soldadesca. 

SOLDADINHO,  s.  m.  Diminutivo  de  Sol- 
dado. 

1.)  SOLDADO,  s.  m.  (De  soldo).  Ho- 
mem alistado  para  serviço  militar,  exer- 
citado n'elle,  e  que  por  isso  recebe  sol- 
do ;  na  graduação  é  a  ultima  classe,  abai- 
xo dos  anspeçadas.  —  «Dom  João  ^lasca- 
renhas  os  mandou  soccorrer  por  mais  sol- 
dados, que  sahiaõ  pelo  postigo  fora,  e 
travavaõ  com  os  Mouros,  ateando-se  de 
parte  a  parte  hum  fermoso  jogo  de  arca- 
buzaria, de  que  todos  receberão  assas  de 
dano,  acodindo  a  mur  parte  dos  Fidalgos, 
e  cavalleiros  ;\quelle  negocio,  que  era  de 
importância.»  Diogo  de  Couto,  Década  6, 
liv.  2,  cap.  3.  —  «Mas  os  soldados  se 
desempulhavaõ,  dizendolhes  «que  faiavaõ 
elle^,  porque  o  seu  Capitão  lhes  não  dava 
licença  pêra  os  hirem  là  buscar,  porque 
se  lha  a  elles  deraõ  houveraõ  de  achar 
leões,  e  não  galinhas  :  mas  que  tempo  vi- 
ria em  que  lho  mostrariaõ.»  Idem,  Déca- 
da 6,  liv.  10,  cap.  3. — «D.  Diogo  de 
Noronha  chegou  ao  galeão  de  Gonçalo 
Pereira  Marramaque,  que  se  não  via  del- 
le mais  que  o  casco,  e  metendo-se  no  ba- 
tel fov  a  elle :  Gonçalo  Pereira  o  esperou 
a  bordo  com  todos  os  seus  soldados,  ba- 
nhados em  seu  próprio  sangue,  e  cheyos 
de  pólvora,  e  suor,  e  empenados  de  mui- 
tas frechas  por  todas  as  partes.»  Ibidem, 
cap.  13. —  a  Os   que  hauiam  de  dar  as- 


salto ordenou  que  fossem  Emanuel  de  la- 

cerda,  Sebastião  de  miranda,  e  Nuno  vaz 
de  castel  branco  per  huma  banda,  e  pela 
outra  junto  delles  dom  Hieronymo  de  li- 
ma, Aires  da  silua,  George  fogaça,  dom 
loão  de  lima,  Fernam  perez  dandrade,  e 
outros  capitaens  e  soldados,  dos  milhorea 
que  auia  na  frota.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,   part.  3,  cap.  6. 

—  «E  com  o  mesmo  recado  despachou 
hum  nauio  a  ilha  da  madeira,  dondelhe 
acudio  muita  gente  nobre,  e  lhe  mandou 
a  molher  de  Simam  Gonçalvez  da  cama- 
rá capitão,  e  gouernador  desta  ilha,  por 
elle  então  andar  na  corte,  huma  grande 
companhia  de  soldados  a  sua  custa,  de 
que  hia  por  capitão  Emanuel  de  Noro- 
nha, irmão  de  Simaõ  Gonçaluez  ho  qual 
Simam  Gonçaluez,  foi  homem  mui  ma- 
gnifico, e  liberal.»  Ibidem,  cap.  11. — ■ 
«El  Rei  sabendo  como  a  tranqueira  da 
banda  da  mesquita  era  entrada,  veo  so- 
bre hum  Elephante  acudir  aos  seus,  mas 
vendoos  vir  desbaratados  se  tornou  pêra 
os  paços,  com  mais  de  três  mil  soldados 
que    consigo    trazia.»    Ibidem,   cap.    19. 

—  «Mas  tornando  a  esta  armada  de  que 
era  capitam  geral  dom  António  de  noro- 
nha,  hião  nella  mais  doito  mil  soldados 
afora  officiaes  que  auiaõ  de  fazer  a  forta- 
leza, marinheiros,  e  moradores  pêra  la 
ficarem  com  suas  molheres,  e  filhos,  na 
frota  aueria  duzentas  velas,  entre  nãos, 
nauios,  gales,  e  fustas.»  Ibidem,  cap.  76. 

—  «Depois  de  despachados  António  de 
Saldanha,  Emanuel  de  lacerda,  Lopo  soa- 
rez  se  tornou  de  Goa  a  cochim,  donde 
mandou  dom  Aleixo  de  meneses  a  Mala- 
ca com  trezentos  soldados  Portugueses, 
em  três  nãos  de  que  elle  era  capitam  de 
huma,  e  das  outras.»  Ibidem,  part.  4, 
cap.  28.  —  «Alguns  dos  inimigos  que  erão 
de  mais  animo,  despois  de  tornarem  em 
sy,  quiseraõ  fazer  rosto  aos  nossos,  po- 
rem António  de  Faria  se  lançou  logo  den- 
tro muyto  depressa  com  mais  outi'03  vin- 
te soldados  que  tinha  consigo,  e  dando 
Santiago  nelles,  lhes  deiTubou  mais  de 
trinta,  e  os  que  ficarão  vivos  que  se  ti- 
nhão  lançado  ao  mar,  mandou  que  os  to- 
massem, porque  lhe  eraõ  necessários  para 
a  esquipaçaõ.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pe- 
regrinações, cap.  42.  —  «Diante  da  nos- 
sa Fortalesa  havia  hum  pequeno  braço, 
por  onde  subia  a  maré,  junto  ao  qual  es- 
tava alojado  Banha  Lao ;  perto  deste  si- 
tio mandou  o  nosso  Capitão  aos  quatro 
feridos  que  se  pusessem  a  certa  hora  da 
noyte,  e  que  vendo  sair  da  parte  do  ar- 
rayal  inimigo  hum  foguete,  desparassem 
as  escopetas,  e  fizessem  tocar  os  tambo- 
res com  toda  a  fúria,  e  o  Capitão  levan- 
do em  sua  companhia  os  vinte  e  seis  sol- 
dados que  ficavam,  ja  noyte  fechada  par- 
tio  em  busca  do  arrayal  inimigo.»  Con- 
quista do  Pegú,  cap.  õ.  —  «Alem  disto  os 
mesmos  soldados  saõ  de  ordinário  bizo- 
nhos,  e  naõ  quaes  convém  à  milicia ;  por- 


572 


SOLD 


SOLD 


.SOLD 


quo  03  soldados,  que  em  Lisboa  se  asson- 
ta3  nas  nossas  Nilos,  saõ  o.í  luais  dolles 
moços  de  quinze,  c  dezcseia  aunoa,  que 
vem  a  ser  liuina  infantaria  pueril :  e  por 
isso  vindo  a  pelejar  com  us  inimi^ío.s  de 
Europa.»  Severim  de  Faria,  Noticias  de 
Portugal,  Dise.  1,  cap.  ii.  —  «Esto  des- 
amparo dos  soldados  na  Índia,  posto,  que 
sempre  se  experimentou,  atègora  so  naõ 
tem  remediado,  e  em  quanto  so  naõ  ata- 
lhar, liaveudo  naquelle  Estado  huma  nii- 
licia  com  numero  certo  de  CompanLiias 
com  seus  Capitaeus,  c  paf^as  assinaladas, 
naõ  pôde  deixar  de  se  sefjiiir  este  danno 
gravíssimo.))  Ibidem.  —  «E  o  que  se  en- 
tão gastava  com  300.  lan^-as,  montara 
agora  nas  Armadas  em  dobrado  numero 
de  Soldados.»  Ibidem,  Disc.  2,  cap.  IG. 
—  «Acabada  a  pratica,  lho  calça vaõ  as 
esporas  dous  Cavallciros,  e  outro  lhe  cin- 
gia a  Espada,  cm  que  .signiiieava  o  antigo 
baltheo,  insígnia  própria  dos  Soldados ;  da 
cinta  lhe  arrancava  o  Padrinho  a  espada, 
e  dando-lhe  com  ella  três  vezes  ])or  cima 
do  Capacete  dizia,  o  armava  Cavalleiro, 
em  nome  do  Padre,  o  do  Filho,  e  do  Es- 
pirito Santo.»  Ibidem,  Disc.  3,  cap.  2S. 
: —  iHum,  e  outro  General  satisfez  va- 
lorosamente ás  obrigações  do  sangue,  e 
dos  lugares  porque  D.  Manoel  de  huma 
plataforma  lhe  metia  a  pique  as  embar- 
cações, e  lho  matava  os  Soldados,  que 
para  as  defenderem  assistiaò  na  mari- 
nha; e  D,  Fradique  obrigou  os  sitiados  a 
lhe  entregarem  a  Cidade  ao  primeiro  de 
Maio  de  mil  seiscentos  e  vinte  e  cinco 
annos.»  Fr.  Bernardo  de  Brito,  Elogios 
dos  reis  de  Portugal,  continuados  por 
D.  José  Barbosa.  —  iiA  qualijuer  hora 
que  se  escalar  o  Corpo  do  Príncipe  Rul- 
phodo,  sendo  em  tempo  que  haja  cerejas, 
se  lhe  achará  muito  mayor  numero  de 
Carossos  do  que  ao  Soldado  de  Metz.» 
Cavalleiro  de  Oliveira,  Cartas,  liv.  1, 
jx."  23. 

—  Do  bom  soldado  se  faz  o  bom  capi- 
tão. —  aNem  acpii  vai  tanto  o  que  dizem, 
que  do  bom  soldado  se  faz  o  bom  Capi- 
tam ;  antes  he  uecessíirio  que  nunca  lar- 
gue o  oíTicio  do  pelejar,  quem  ouuer  de 
fazer  o  de  mandar  como  conuem,  e  co- 
mo o  encomendaua  o  Apostolo  a  Tlmo- 
theo  depois  de  Bispo.»  Lucena,  Vida  de 
S.  Francisco  Xavier,  liv.  4,  cap.  4. 

—  Pobre  velho  soldado ;  pobre  vete- 
rano. 


Pasaon  por  alli  um  velho, 
Um  iwbre  velho  soldado. 
As  barbas  brancas  da  neve, 
Em  sua  espada  abordoado. 

UOMASCEIBO  OER-U.,  pUg.   2tí. 

—  Soldados  ile  espitigarda.  —  «O  Go- 
vernador lho  eoncedeo,  e  andando  D. 
Jorge  ajuntíindo  os  soldados  de  espin- 
gardas, passou  por  hum  que  estjiva  ar- 
mado  com  a    sua   às   costas,  muito  bem 


posto  no  chUo,  e  do  muita  pessoa.*  Dio- 
go de  (Jouto,  Década  O,  liv.  5,  caj).  7. 

—  Soldado  '/«  (jiawle  valor;  soldado 
animoso,  corajoso.  —  «  Ao  seguinte  dia 
despedio  D.  JoSo  Mascarenhas  em  hum 
catur  a  António  Corroa,  coui  vinte  com- 
panheiros, soldado  de  grande  valor,  a 
quem  nilo  sabemos  o  nascimeato,  se  bem 
suas  obras  o  merecido  ou  suppunhjlo  il- 
lustre.»  Jaeintho  Freire  d'Andrade,  Vi- 
da de  D.  João  de  Castro,  liv.  2. 

—  Soldados  de  puga.  —  «  No  remate 
delia  liça  a  porta  da  Fortaleza  chamada 
le.svs  cie  Mombaça,  na  qual  morâo  sem- 
pre soldados  de  i)aga,  que  continuamen- 
te a  vigião :  e  officiaos  bastantes  a  go- 
uernar  duas  ordens  de  artelharia  grossa 
que  em  -i  tem :  huma  bem  ao  lume  da- 
goa,  e  a  outra  na  praça  de  cima.»  Fr. 
(iaspar  de  S.  Bernardino,  Itinerário  da 
índia,  cíip.  õ. 

—  Figuradamente :  Homem  de  valor, 
e  saber  militar. 

—  Os  soldados  da  fortaleza;  os  que 
a  guardam  e  defendem.  —  «Pregaua  o 
padre  na  Matriz  das  nove  pêra  as  dez 
horas,  que  foram  as  da  peleja,  era  pre- 
sente o  capitam  Simam  de  Melo,  os  sol- 
dados da  fortaleza,  os  casados  da  cidade, 
a  terra  toda,  que  todos  os  ajuntou  cntani 
o  Senhor  pêra  serem  testimunhas  de  sua 
gloria.»  Lucena,  Vida  de  S.  Francisco 
Xavier,  liv.  5,  cap.  17. 

—  Pobre  soldado. — -«Não  terei,  Se- 
nhores, pejo  de  vos  dizer,  que  ao  Viso- 
Rei  da  índia  faltrio  nesta  doença  as  com- 
modidades,  que  acha  nos  hospitaes  o  mais 
pobre  soldado.»  Jiieintho  Freire  d'Au- 
drade,  Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv.  4. 

—  Soldados  janizaros. 

Xas  cabeças  liuns  feltros  vão  mostrando 
(lusigaia  dos  Jauiziiros  Soldados 
Com  que  se  cscào  dos  outros  di\"Í3ando) 
Que  em  todos  sào  de  fino  ouro  bordados ; 
Dos  quacs  ao  Ceo  se  vào  alcvantando 
DilTerentcs  plumagens,  que  tocados 
Dhum  brando  ventosinho,  então  lhes  davão 
Grão  lustro  aos  atavios  que  levavào. 

F.  d'a!(dr\de,  fbuieuio  ckbco  de  Dic,  ciint.  13, 
est.  45. 

—  Soldado  forte ;  valente,  animoso. 

O  cruel  inTonção,  ao  muudo  dada 

Li  onde  Lúcifer  para  sempre  arde, 

A  valentia  fora  hoje  estimada 

Se  acertaras  de  vir  annos  mais  tarde. 

Ja  não  vai  braço  forte,  ou  dura  espada. 

Esta  iguala  o  animoso,  c  o  que  hc  covarde, 

Toma  ja  o  arcabuz  forte  soldoiJo. 

Que  sem  cUc  serás  pouco  estimado. 

FBXNCisco  d'a.ndradk,   pbuieiro   cebco  de  dic, 
cant.  2,  est.  4^. 


E  i>orque  sendo  assaz  exercitados 
Nos  ofiicios  navaes,  o  os  entendiào, 
E  se  cumpria  ter  peitos  ousados 
Também  a  espada  o  a  lança  rovolviào, 
Ora  servem  do  bons,  fortes  soldados 
Ora  iís  cousas  uavacs  se  couvcrtíào, 


Amí  quando  ae  o  duro  imigo  oScnda 
Como  quando  no  mar  se  a  vella  .  <f.iid<- 
luioEM,  cant.  12,  est.  111. 

—  Soldados  humilde».  —  «António  Mo- 
niz, vendo  brios  tilo  honrados  em  solda- 
dos humildex,  Ília  entregou  coulia<lo,  di- 
zendo, fiava  delles  o  cre<lito,  c  a  escada, 
a  qual  logo  que  levantarão  com  deflgra- 
çado  valor,  hum  tiro  cego  lhos  estroncou 
as  cabeç;i.s.»  Jaeintho  Freire  d'Andrade, 
Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv.  3. 

—  Ii,ii-l„u-'  soldado;  s>)lda<lo  cruel. 


Cuido  que  *>  (]•■  '■'.  'ira 

Para  c-astigo  no--  'lo 

Que  fique  cno*  '  l   -ventara 

E  fique  vencedor  o  T.uco  uunado, 
Que  poderá  ser  «'SSíi  formosura 
Entregue  cm  màos  do  bárbaro  toldado : 
E.sta  lembrança  já  táo  mal  me  trati 
Que  sAmentc  o  tvmor  disso  me  mmta. 

y.  dV.ndbade,  raiXEiBO  cebco  de  Dic,c.int.   lu. 


—  Soldados  portuguezes.  —  «Ha  nestas 
Dhas  alguns  soldados  Portugueses,  e  prou- 
uera  a  Deos  que  foram  menoa,  porque 
custumào  ellca  viuer  nestas  partes,  tanto 
à  sua  vontade,  como  coatra  a  diuina : 
que  muytjis  vezes  a  liberdade,  he  causa 
de  grandes  atrevimentos.»  Fr.  (iaspar 
de  S.  Bernardino,  Itinerário  da  índia, 
cap.  4.  —  «Neste  tempo  chegou  o  solda- 
do Português,  que  em  me  veudo  beyjou 
o  habito  com  muyta  cortesia,  o  que  to- 
dos os  Mouros  notarão,  e  lhes  pareceo 
muy  bem,  e  a  mi  muyto  melhor,  que  os 
homens  anisados,  em  semelhantes  passos, 
nada  lhes  deue  passar  por  alto.»  Ibidem, 
cap.  10. 

—  Soldados  de  guarda. — «Em  quan- 
to comemos  mandou  o  Capitão  aparelhar 
algum  refresco,  e  com  elle,  e  alguns  sol- 
dados de  guarda,  nos  partimos  todos  jun- 
tos pêra  a  nossa  embarcação.  Depois  de 
darmos  vista  a  quasi  toda  a  Aldeã,  em 
que  nào  achamos  cousa  de  notar,  mais 
que  a  Fortaleza  que  era  de  taypa.»  Fr. 
Gaspar  de  S.  Bernardino,  Itinerário  da 
índia,  cap.   10. 

—  Peixe  brazileiro,  aliás  camboatá,  ou 
iamboaté. 

2.'   SOLDADO,  part.  pa»s.  de  Soldar. 

—  Coixta  soldada ;  vid.  Soldar  2). 

—  Figuradamente :  AmizacU  mal  sol- 
dada. 

SOLDADOR,  A,  adj.  e  s.  Que  solda 
meta  es. 

SOLDADURA,  *.  /.  Uniio  de  metaes 
por  meio  «ia  solda. 

f  SOLDAM,  s.  m.  Vid.  Soldão. 


Ho  gram  poder  do  Soldam 
c  do  grande  Tamorlam 
vijmos  tomar  para  si 
ho  Turcti  o  ho  Sophi 
com  poder  e  sem  auçam. 

aABCL\  DE  BE2E!n>E,  maCET.I.i  HE  >  . 


I 


SOLD 


SOLD 


SOLE 


Õ73 


E  vimos  por  eleiçam 
como  Papa  se  eleger 
por  vezes  o  gram  Soldam, 
de  Renegado  Christam 
se  auia  de  fazer. 


SOLDANELLA,  í.  /.  A  couve  do  mar. 

SOLDÃO,  L.u  SOLTÃO,  s.  m.  O  impera- 
dor dos  turcos.  —  «Mayortes  o  gran-cam, 
e  Pridos,  por  quem  elrei  d'Iuglaterra  fez 
grandes  estremos,  quando  o  achou  menos 
em  suas  necessidades,  e  Belcar,  Vernao, 
Ditrec.  o  duque  de  Drapos  de  Norman- 
dia, e  o  soldão  Belagriz,  com  quem  a 
amizade  de  D.  Duardos  pude  tanto,  que 
o  fez  deixar  seu  senhorio,  e  tornar  a  se- 
guir o  trabalho  das  armas  de  que  já  es- 
tava descansado.»  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  dlnglaterra,  cap.  14.  —  «Pal- 
meirim, que  tinha  muito  ódio  a  este  sol- 
dão polo  casamento,  que  comettera  com 
sua  senhora  Polinarda,  encontrando-o  com 
a  lança,  deu  com  elle  no  cuào.  E  a  esta 
causa  aqui  se  juntou  todo  o  peso  da  ba- 
talha, que  os  turcos  por  fazer  subir  o 
soldào  a  cavallo,  e  Primalião  a  Floranião, 
que  também  fora  derribado,  concorreram 
de  ambas  partes.»  Ibidem,  cap.  1G9. 

1.)  SOLDAR,  V.  a.  (Do  latim  solidare). 
Unir  pecas  de  metal  por  meio  da  solda,  e 
do  fogo,  que  funde  o  metal,  que  as  une. 

—  Soldar  uma  ferida ;  fazer  unir  os 
lábios. 

—  Soldar  o  vidro  com  betume,  ou  po- 
limento. 

—  Tornar  a  unir,  concertar.  —  «Espa- 
dana aguda  pisada,  e  mistui-ada  nas  me- 
zinhas para  fendas  da  cabeça,  ou  pa- 
ra soldar  os  ossos  quebrados.  »  Gabriel 
Grisley,  Desengano,  pag.  loõ,  em  Blu- 
teau. 

—  Soldar  quebra  de  palavras  proferi- 
das contra  alguém;  a  má  vontade  oífen- 
dida  com  ellas. 

— •  Soldar  a  quebrada  amizade. 

—  T'.  n.  Unir-se,  pegar-se. 

—  Soldar-se,  v.  refl.  Reconciliar-se  em 
amizade. 

—  Unir-se,  pegar-se. 

2.-  SOLDAR,  1-.  a.  (Do  francez  solder). 
Em  commercio,  quando  dous  correspon- 
dentes tem  contas  e  as  ajustam,  o  que 
deve  paga  a  diíferença,  e  isto  se  chama 
soldar  a  conta.  Vid.  Saldar. 

—  Soldar  o  damno;  iudemnisar. 

3.)  SOLDAR,  e  SOLDADEIRO.  Teem  par- 
ticular aceepçào  no  foral  de  Coimbra : 
talvez  seja  servir,  ou  merecer  soldada. 

SOLDARES.  Erro  por  Sondareza?  Tal- 
vez um  cabo  de  navio. 

SOLDO,  s.  m.  (Do  latim  soldus).  A 
paga  do  soldado,  e  official  militar ;  o  pré 
dos  soldados ;  o  que  o  rei  ou  o  publico 
dá  aos  sacerdotes,  e  quaesquer  que  ser- 
vem o  publico.  —  o  Tem  muitas  vezes 
guerra  com  os  Reis  seus  vezinhos,  pelo 
que  continuadamente  pagào  soldo  a  gran- 
de multidam  de  gente,   assi  de  pe,  como 


de  caualo. »  Damião  de  Góes,  Chronica 
de  D.  Manoel,  part.  2,  cap.  6.  —  «To- 
dos estes  Fidalgos  forão  servir  á  sua  cus- 
ta, levando  criados,  e  soldados,  sem  re- 
ceberem soldo,  com  galas,  librés,  de- 
monstradoras do  gosto  com  que  seguião  a 
guerra.  Tomou  a  armada  o  porto  de  Bar- 
celona, e  saluando  a  Capitania  Imperial, 
deo  de  si  huma  mostra  bellicosa,  e  ale- 
gre.» Jacintho  Freire  d'Andrade,  Vida 
de  D.  João  de  Castro,  liv.  1.  —  «A  fil- 
ma, que  Deos  dera  aos  poucos  Soldados 
em  Siriaò,  acodií-am  nações  de  todas  as 
partes  de  manejra,  que  chegou  o  nume- 
ro a  oytocentas  escopetas  Portuguezas 
sem  soldo,  nem  ordem  de  algum  Minis- 
tro u'ElRey,  entre  os  quaes  Sebastião 
Serraõ,  Capitão,  e  senhor  de  huma  ga- 
leota,  desejando  fazer  alguma  boa  acção, 
em  que  ganhasse  nome.»  Conquista  do 
Pegú,  cap.  8. 

— •  Soldar  a  quebrada  amizade. 

—  Moeda  antiga  que  havia  antes  de 
139Õ :  20  soldos  faziam  uma  livra;  os 
soldos  tiveram  diversos  valores  intrínse- 
cos, e  extrínsecos,  segundo  a  bondade 
das  livras.  Houve  soldos  que  valiam  um 
real,  4  ceitis,  e  4-;  outros  valeram  4-  reis. 

—  «Os  devedores  de  cada  huum  delles, 
que  ainda  nom  pagarom,  mandamos  que 
paguem  o  que  devem,  dèz  a  feitura  des- 
ta Hordenaçom  em  diante,  per  moeda 
antigua,  ou  nova,  que  se  fez  ataa  o  dito 
dia  e  Era  suso  dita,  ou  per  esta  moeda 
de  soldo  de  três  libras  e  meia,  e  cincoen- 
ta  dinheiros  por  huum,  ou  cinquoenta 
soldos  por  huum,  ou  cinquoenta  libras 
por  huã,  mais,  ou  me;ios,  segujido  for  a 
divida.»  Ord.  Affous.,  liv.  4,  tit.  1,  §  2. 

—  oE  vem  esta  paga  em  hordenada  ma- 
neira, a  saber,  vinte  brancos  por  huma 
libra,  e  huum  branco  por  huum  soldo,  e 
huum  preto  por  huum  dinheiro,  valendo 
dez  pretos  huum  real  branco,  como  ora 
valem.»  Ibidem,  tit.  2,  §  63. —  «Em  tal 
caso  terá  defalido  tanto  da  dita  Doaçom, 
e  bem  assy  da  dita  terça  soldo  por  li-\Ta, 
atee  que  a  dita  litlima  seja  primeiramen- 
te supprida;  e  feito  assy  o  dito  dpfalca- 
mento,  se  alguma  cousa  ficar  da  dita  ter- 
ça, e  Doaçom,  o  que  sobejar  da  Doaçom 
havelo-ha  o  Donatário,  e  o  que  sobejar 
da  terça  será  destribuido  segundo  a  for- 
ma do  testamento.»  Ibidem,  tit.  14,  §  6. 

Quem  do  pae,  compadre  amigo, 
perde  bençào,  é  filho  esquerdo, 
c'os  que  dous  soldos  nem  um  figo 
possam  herdar  do  que  herdo  -, 
seu  comsigo  e  meu  comigo. 

AXTONIO  PKESTE3,  AUTOS,  pag.  251. 

—  Soldo  á  livra;  proporcionadamente 
ao  principio. 

—  Contribua  cada  um  soldo  á  livra; 
á  proporção  do  que  tiver. 

—  Alguns  escriptores  dizem  que  o  sol- 
do é  estipendio  de  soldado,  e  o  soldo 
moeda. 


SOLECISMO,  s.  J/i.  (Do  latim  solcecis- 
mus).  Erro  de  grammatica  na  concordân- 
cia, ou  no  modo  de  declarar  as  relações 
das  cousas. 

SOLEDADE,  *.  /.  Solidão,  logar  solitá- 
rio. 

—  O  estado  de  quem  está  só,  e  a  sau- 
dade que  o  acompanha  da  pessoa  de  quem 
está  só,  e  desejoso. 

SOLEDÃO,  s.  f.  Vid.  Solidão. 
SOLEIRA,  s.  f.  Um  ferro  que  anda  de- 
baixo das  tesoui-as  do  coche. 

—  A  pedra  de  baixo  do  portal. 

—  Termo  de  marinha.  Taboão  que 
chega  desde  a  taleira  até  á  dianteira  da 
carreta  de  qualquer  peça. 

—  Soleira  da  espora ;  a  correia,  que 
nas  esporas  seguras  por  correias,  passa 
por  baixo  da  sola.  Vid.  Grade  da  es- 
pora. 

—  A  parte  da  estribeira  onde  assenta 
o  pé. 

—  Pedra,  ou  peça,  que  assenta  no 
chão,  por  differença  das  ombreiras,  e  do 
arco  ou  peça  superior  da  portada,  aliás 
verga,  quando  é  direita,  sem  volta  de 
arco. 

—  Plur.  Termo  de  náutica.  Abas  so- 
bre que  assentam  os  pés  dos  esbirros. 

SOLEMNE,  adj.  2  gen.  (Do  latim  so- 
lemnis).  Celebrado  todos  os  annos  com 
ceremonias  publicas  e  extraordinárias  de 
religião.  —  Sacrijicio  solemne.  —  «  Ao 
outro  dia  se  fez  huma  mui  solemne  Pro- 
cissão em  que  o  Governador  foy  vestido 
de  escarlata  por  encobrir  sua  tristeza, 
e  por  alegrar  o  povo,  que  andava  assom- 
brado das  ruins  novas  que  os  Mouros 
espalharão.»  Diogo  de  Couto,  Década  6, 
liv.  3,  cap.  7. 

—  Acto  solemne ;  acto  authentico,  re- 
vestido das  formalidades  requeridas.  — 
«E  por  elle  Diogo  Mendes  ficar  prezo  no 
castello  pelo  caso  que  atrás  fica,  Fran- 
cisco Corvinel  Feitor,  e  os  OfBciaes  da 
Camará  da  Cidade,  e  outras  pessoas  prin- 
cipaes  lhe  foram  com  acto  solemne  le- 
vantar a  menage  de  prezo,  e  lhe  entre- 
garam o  governo  da  Cidade  com  nome  de 
Capitão  delia.»  Barros,  Década  2,  liv.  6, 
cap.  8. 

—  Pomposo,  magnifico,  acompanhado 
de  ceremonias.  —  «Que  o  mesmo  faça  o 
prelado  da  Religião,  o  homem  douto,  e 
virtuoso  delia;  assista-lhes  o  marido,  dê 
auctoridade  a  suas  visitações,  que  então 
fica  a  pratica  mais  universal,  e  a  visita 
mais  solemne.»  D.  Francisco  Manoel  de 
Mello,  Carta  de  guia  de  casados. 


—  «E  como  ao  ouvido 

Chegou  à"elrei  meu  ignorado  nome?» 

—  «Sabereis  tudo!  dae-vos  pressa;  é  tempo 
De  prcparar-vos  á  solemne  audiência 

Que  havereis  do  monarcha.» 

Gi-EBETT,  CA3IÕES,  caut.  5,  cap.  14. 


—  Em  que  ha  ceremonias. 


574 


SOLE 


SOLE 


SOLF 


l'ac  mo  chama»toa?  — Kicutao  a  ortrCma 

Vontado,  o  último  rogo  o  maiidiiincnto 

Do  uiii  pae...  o  proinottui-nio  ai|iii  iruBta  hora 

Solenine,  — n'i!8tc  instanti!  dcrruílciro 

Da  despedida  — proinottoi  cuinpri-hi : 

Juraí^-nro,  lilho^! 

oÀBucrr,  catIo,  aet.  5,  se.  5. 

—  Gesto  solemne.  —  «O  frado  compri- 
miu a  fronte  com  uma  das  mãos,  como 
buscando  conter  o  tumulto  das  paixòes 
que  o  afeitavam  o  estendeu  a  outra  para 
sua  irman  com  fjesto  solemne.»  A.  Her- 
culano, Monge  de  Cister,  cap.  22. 

—  Voto  solemne ;  voto  feito  em  face 
da  igreja  com  as  formalidades  requeridas 
pelos  cânones ;  em  opposii^iío  ao  voto  siin- 
pks. 

—  Acompanliado  de  formalidades  re- 
queridas, authontico. 

—  Gosto  solemne. 

São  bona  uma  hora 
tol-09,  dão  jiòsto  sotemtte. 
Não  noa  tenho,  essa  lanijada 
fòrija  é  que  tambom  a  peuc. 

ÀNtO.NIO  PBK3TE3,   AUTOS,   pag.   439. 

—  Syn.  :  Solemne,  atithentico. 

Tudo  o  que  se  faz  com  solomnida- 
de,  com  appavato  de  ccremonias  publi- 
cas, rolijíiosas  ou  civis,  ó  solemne.  .í4íí- 
thentico  é  siS  aquillo  que  tem  auctoridade 
e  fé  publica,  quo  é  juridicamente  legali- 
sado,  sem  idêa  nenhuma  de  solemnidade 
ou  apparato. 

Solemne  refere-se  As  formalidades  ex- 
teriores, com  que  se  faz  um  acto  publi- 
co; e  autheiítico  ás  qualidades  intrínse- 
cas do  in.strumento  que  fica  fazendo  fé  e 
tendo  validade. 

SOLEMNEMENTE,  adv.  (De  solemne, 
com  o  suffix>>  «mente»).  De  um  modo 
solemne.  —  Este  casamento  fez-se  sole- 
mnemente. 

—  Com  solemnidade,  authenticamente. 
SOLEMNIDADE,  s.  f.  iDo  latim  solemni- 

tas).  Festa  celebrada  todos  os  annos  com 
pompa  o  brilho. 

—  Ceremonia  publica,  que  toma  uma 
cousa  solemne.  —  «Fez-se  no  mesmo  cas- 
tello,  porque  o  cavalleiro  do  Salvage,  de- 
sejoso de  seguir  seu  caminho,  não  quiz 
esperar  o  espa^'o  que  os  governadores  pe- 
diam pêra  ordenar  as  festas;  antes  dan- 
do pressa  ao  recebimento,  se  celebrou 
com  toda  a  solemnidade,  que  se  podia 
fazer  em  t.ú  lugar.»  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  130. 
—  «Deste  modo  ordenados  entramos  na 
Igreja  e  Conuonto  de  Sancto  António, 
que  assi  se  chama  o  que  ali  tem,  a  or- 
dem Augustiniaua.  Cantouse  a  Missa  com 
solemnidade,  e  ouuo  nella  Sermão,  o  qual 
foz  o  padro  Frov  Jliguel  do  Sam  Boa- 
uentura :  ncllo  relatou  ao  pouo  toda  nos- 
sa viagem,  onde  as  lagrimas  de  douação 
forXo  tantas,  que  a  gràJe  copia  delias, 
poderá  ser  eterna  testemunha  desta  ver- 


dade, quo  em  fim  só  lagrimas  sabem  ser 
ai  vcrdadcj-raa  das  angustias  paHHadas.» 
Fr.  (iaspar  de  S.  Ilcrnardiíio,  Itinerário 
da  índia,  cap.  4.  —  «E  foy  enterrado  na 
Igreja  mayor,  onde  jouuo  com  esperança 
do  milagres  quo  uombo  Senhor  por  olle  fa- 
zia, e  daliy  foy  depoin  leuado  ao  mosteiro 
da  Batallia  por  cl  Key  dom  Manoisl,  quo 
santa  gloria  uja,  com  muyta  infinda  honra, 
e  acatamento,  c  solemnidade,  onde  ora 
jaz  seu  corjjo,  onde  tem  iiiuytos  quo  tem 
feytos  muytos  milagres,  e  em  seu  corpo 
por  huma  buraca  quo  tem  na  sepultura  «e 
tocão  luuytas  cousas,  e  se  louão  por  relí- 
quias de  santo.»  (iarcia  de  Rezende, 
Chronica  de  D.  João  II,  cap.  214. 

—  Formalidades  que  tornam  um  acto 
authentico.  —  A  solemnidade  de  um  tet- 
tamento,  de  uiti  jurciiiioito. 

SOLEMNISAÇÃO,  ou  SOLEMNIZÃÇÃO, 
s.  /.  Acto  pelo  qual  se  solcmnisa.  —  A 
solemnisação  de  uma  fista. 

SOLEMNISADO,  ou  SOLEMNIZADO,  i>art. 
pafs.  lio  Solemnisar.  —  Anniversario  so- 
lemnisado  cimi  pi/m-pa. 

SOLEMNISADOR,  ou  SOLEMNIZADOR, 
A,  4.  i^essoa  que  solcmnisa,  celebra,  fes- 
teja. 

SOLEMNISAR,  ou  SOLEMNIZAR,  v.  a. 
Celebrar  com  ceremonia.  —  tQue  novo 
martyr  amanhece  á  companhia  para  so- 
lemnisar a  sua  memoria  no  necrológio  do 
padre  António  José,  do  padre  Guignard 
e  outros  varões,  que  serão  eterno  borrão 
e  escândalo  da  historia  para  a  posterida- 
de.» Bispo  do  Grão  Pará,  Memorias,  pu- 
blicadas por  Camillo  Castello  Branco, 
pag.  217. 

—  Tornar  solemne. 

—  Festejar  com  solemnidade. 

f  SOLEMNISSIMAMENTE,  adv.  Com 
muita  soleninidailo. 

SOLEMNISSIMO,  A,  adj.  superl.  de  So- 
lemne. Mui  solemne. 

f  SOLENNE,  adj.  2  gea.  Vid.  Solemne. 
—  «Aos  sete  dias  de  Nouembro  el  Rey  o 
fez  caualleiro,  e  deulhe  por  armas  huma 
Cruz  dourada  em  campo  vermelho,  e  as 
quinas  de  Portugal  na  bordadura.  E  no 
mesmo  dia  em  auto  solenne,  e  com  pala- 
uras  de  muy  grande  senhor  deu  a  obe- 
diência, e  fez  menajeni  a  el  Rey.»  Gar- 
cia de  Rezende,  Chronica  de  D.  João  II, 
cap.  7H. 

t  SOLENNIDADE,  s.  /.  Vid.  Solemni- 
dade. 

Caualgar  pcUa  cid.ade 
com  muyta  solenniti<MÍe, 
vor  correr,  saltar,  luctar, 
daiii^ar,  caçar,  montear 
cm  3CUS  tempos  o  hidadc. 

OABCU  DE  KF.ZKNDE,   1IISCELLA!<EA . 

j   SOLENNIZAR,    v.   a.  Vid.   Solemni- 


Com  dain;a3,  c  iuueníões  aluoroçadas 
O  falso  nacimonto  soleuniião, 


Moatralhc  a  toniarrio  da  encantadora 
Falsa  Magica  rjuuudu  a  uoua  ouuira. 

COITE  REAL,   «ACniAUIU   DE  SErLXTZDA ,  Caut.  13. 

SOLEO,  ».  m.  CliSo.  Vid.  Solo. 

SOLER,  V.  a.  (Do  latim  tolere:.  Termo 
antiqiiadcj.   Acostumar. 

SOLERCIA,  «.  /.  (Do  latim  ioUrtia). 
Industria,  habilidade,  astúcia  para  fazer, 
ou  tratar  al(.'Uma  cousa. 

SOLERTE,  (ulj.  2  yen.  i\)o  latim  ãoUn). 
Diligentt),  prudente,  sábio,  industrioso. 

SOLES,  «.  m.  Uma  pe^  de  pau,  em 
quo  80  tomam  os  buis,  quando  o  arado,  oa 
o  carro  leva  mais  de  uma  junta:  no  Br»- 
zil  dá-se-lue  o  nome  de  camòão. 

SOLETA,  I.  f.  Sola  cortaiia  para  cobrir 
8apat(js.   botas,  etc. 

SOLETRADO,  part.  pa*$.  de  Soletrar. 
Mal  li. lo. 

SOLETRAR,  v.  a.  Dar  o  som  parcial 
que  cada  letra  representa  em  uma  pala- 
vra, como  fazem  os  meninos,  quo  apren- 
dem a  ler. 


Esta  conta  demo  é, 

cu  a  acho  c  não  na  acerto; 

bdsta  é  o  homem 

que  não  lè 

nem  êoUtra  um  ceitil,  que 

ora  o  vi,  a  Deo3  me  offcrto. 

ASTONIÚ   PRESTES,   ACTOS,   pag.    3Ô9. 

—  Figuradamente:  I^er  mal. 
j-  SOLETTRAR.  Vid.  Soletrar. 

Não  vos  verei  eu  mais,  delicias  d'alma  ? 
Troncos  onde  eu  cortei  queridos  nomea 
D'amizade  e  damor,  uào  heido  um  dia 
Perguntar-vos  por  elles?  Oolettrando 
Não  irei  pelas  Árvores  crescidas 
Os  characteres  que,  cm  tenrinhas  plantas, 
Pelas  verdes  cortiças  Ihiutalhára? 
OABSETT,  CAMÕES,  cant.  5,  Cap.  II. 

SOLEVANTAR,  v.  a.  Erguer  um  pou- 
co, suerguer. 

SOLEVAR,  i'.  a.  (Do  francez  souUver). 
Erguer  de  baixo. 

—  Supportar. 

—  Levantar,  soerguer. 

—  Solevar-se,  v.  refi.  Solevantar-se, 
soerguer-se. 

SOLFA,  s.  /.  As  notas  da  musica.  — 
«Aquelle  celebre  Portuguez  a  que  tu 
chamas  Camones,  e  de  quem  ouvistes  tan- 
tas maravilhas  em  Itália,  não  sabemos 
em  Portugal  que  cantasse  solfa.»  Caval- 
leiro d'Gliveira,  Cartas,  liv.  1,  n."  4õ. 

SOLF  AR,  r.  a.  Termo  de  encaderna- 
dor. Grudar  uma  folha  singela  com  outra 
para  se  poderem  coser. 

—  Unir  grudando  algum  pedaço  á  folha 
rota  ra  margem,  ou  corpo,  para  a  £azer 
igual  á  outra. 

—  Usa-se  também  figuradamente. 

Ah,  meu  Josquim,  meu  Moralos, 
quantos  males 


SOLI 


SOLI 


SOLI 


575 


solfaes  a  me  querer  mal ! 
Não  SC  tocam  atabales, 
nem  se  enchem  montes  Xales 
se  não  d'e33e  mal  mortal. 

ANTÓNIO  PKEsiES,  ACTOS,  pag.  353. 


SOLFEAR.  Vid.  Solfejar. 

SOLFEIO,  ou  SOLFEJO,  s,  m.  A  musica 
que  se  dá  aos  principiantes  para  estuda- 
rem solfeiando. 

SOLFEJAR,  V.  a.  Cantar  as  notas  de 
musica  sem  palavras,  por  ensaio,  ou  como 
fazem  os  principiantes. 

SOLFISTA,  s.  2  gen.  Pessoa  que  canta 
por  solfa ;  que  põe  em  solfa  a  cantoria. 

—  Musica  ou  musico. 

1.)  SOLHA,  s.  /.  Peixe  do  rio,  aliás 
patruqa. 

2.)  SOLHA,  s.  /.  Armadura  usada  ou- 
tr'ora ;  espécie  de  cota  guarnecida  com 
laminas  d'aço,  ou  ferro,  quasi  da  feição 
das  solhas,  que  no  mar  se  pescam. 

Pois  juro  a  mi  que  este  camoez 

fizera  solhas  assi  por  pandeiro. 

Que  determinacs  com  Deus,  Cavalleiro? 

Archanjo  Miguel,  que  estou  a  esses  pés, 

pois  me  inhoraram 

descuidos  tão  grandes  que  por  mi  passaram. 

ASTOSIO  PIESTES,  AUTOS,  pag.  99. 

1.)  SOLHADO,  part.  pass.  de  Solhar. 
Solhado  por  cima;  forrado  de  solho  de 
taboaí. 

—  Leito  solhado ;  leito  com  suas  ta- 
boas  ou  solhos. 

—  Figuradamente :  Estrado  solhado  de 
amor. 

2.)  SOLHADO,  s.  m.  Pavimento  de  ta- 
boas. 

—  Tablado,  cadafalso,  sobrado.  Yid. 
Alcantilada. 

SOLHADURA,  f?.  /.  A  acção  de  solhar, 

SOLHAR,   V.  a. —  Solhar  as  casas  ;  pôr- 

Ihe,    assentar-lhe    o    solho,  pavimento  ou 

forro   de    taboas,    de  madeiras,  ou  de  la- 

geas,  etc.  Vid.  Assoalhar,  e  Solhar. 

—  Solhar  o  estrado,  a  cama,  o  leito; 
pôr-lhe  as  taboas,  os  solhos,  onde  as  pes- 
soas se  assentam,  onde  se  estende  o  col- 
chão. 

SOLHEIRO,  A,  adj.  Vid.  Soalheiro. 

1.)  SOLHO,  *.  77!.  Termo  de  historia 
natural.  Peixe  marinho  que  busca  os  rios; 
tem  focinho  agudo,  olhos  e  bocca  pequena, 
é  desdentado,  e  de  corpo  chato. 

2.)  SOLHO,  s.  m.  O  pavimento  da  casa. 

—  Madeira  de  soalhar  camas,  estrados, 
sobrados,  taboas  de  assoalhado.  Vid.  Soa- 
lho. 

—  Plur.  Termo  antiquado.  Solha. 

1.)  SOLIA,  s.f.  Certo  panno  ou  droga 
de  que  pelos  annos  de  1300  se  vestiam 
em  Portugal  senhoras  nobres  e  distinctas. 

—  Figuradamente:  Escudeiro  de  so- 
lia;  escudeiro  de  baixa  sorte,  não  fidal- 
go- 

—  Plur.  Solas,  sapatos,  qualquer  cal- 
çado dos  pés. 


2.)  SOLIA.  Forma  do  verbo  soler  na 
terceira  pessoa  do  singular  do  pretérito 
imperfeito  do  modo  indicativo.  Vid.  So- 
ler. 


SoUa  de  ser  assi. 
Almotacés  da  limpeza 
andaram  já  por  ahi. 

ASTOKIO  PEESTIS,  ACTOS,  pag.  339. 


SOLICITAÇÃO,  s.  /.  A  acção  de  solici- 
tar, instigação,  conselho,  impulso,  dili- 
gencia. 

SOLICITADO,  part.  pa^s.  de  Solicitar. 
Buscado,  indagado  com  diligencia,  re- 
questado. 

—  Mulher  solicitada. 

1.)  SOLICITADOR,  s.  m.  Um  official  pu- 
blico que  requer  as  cousas  da  justiça  nos 
tribunaes,  de  que  ha  numero  certo.  Vid. 
Procurador. 

2.)  SOLICITADOR,  A,  *.  Pessoa  que  so- 
licita a  fazer  mal. 

—  Agente,   diligenciador. 
SOLICITAMENTE,  adv.  (De  solicito,   e 

o  suffixo   amente»).   De   um  modo   soli- 
cito. 

—  Com  primorosa  diligencia. 
SOLICITANTE,  part.  act.  de  Solicitar. 

Que  solicita. 

—  S.   2  gen.  Pessoa  que  solicita. 

—  O  sacerdote  que  na  contíssão  induz 
o  penitente  para  fazer  mal. 

SOLICITAR,  ou  SOLLICITAR,  v.  a.  (Do 
latim  solicitarei.  Agenciar,  diligenciar  o 
despacho,  e  conclusão  de  algum  negocio 
com  cuidado  e  actividade. 

—  Inquietar,  induzir  com  razões.  — 
«Esta  he  huma  tentação  muy  geeral  cõ 
que  traz  este  tentador  enganados  a  muv- 
tos,  solicitandoos,  e  induzindoos  a  tra- 
balhar muyto  pello  mantimento,  e  trata- 
mento do  corpo.  Não  se  escusa  comer, 
mas  escusanse  tam  demasiadas  diligen- 
cias como  os  homens  fazem,  pêra  tratar 
bem  e  regalar  seu  corpo.  Daqui  viera 
tantas  inuenções  de  iguarias,  inuentadas 
nam  pêra  conseruaçam  do  corpo,  mas 
pêra  distruvçào.»  Fr.  Bartholomeu  dos 
Martvres,  Catecismo  da  doutrina  christã. 

—  Solicitar  alguém;  dar-ihe  trabalho, 
cuidado. 

—  Solicitar  a  paz. 

—  V.  ref.  —  Solicitar-se  de  alguma 
cousa;  ter  cuidados,  dar-se  trabalhos  acer- 
ca d'ella. 

—  Syx.  :  Solicitar,  aspirar.  Vid.  este 
ultimo  termo. 

SOLICITIDÃO,  s.  /.  Vid.  Silicitude. 

SOLICITO,  A,  adj.  (Do  latim  solicitus). 
Cuidadoso,  diligente.  —  oMartha  Martha 
andays  muv  solicita,  e  atiadigada,  dis- 
traindouos  por  muy  tas  cousas:  como  quer 
que  seja  verdade  que  soo  huma  cousa  he 
necessária.  Sabcy  certo  que  a  occupaçao 
e  parte  que  escolheo  vossa  irmaã,  essa 
he  a  milhor :  e   nunca  lhe  será  tirada.» 


Fr.  Bartholomeu  dos  Martyres,  Catecis- 
mo da  doutrina  christã. 


O  delirio  amoroso  então  se  augmenta : 
Deixa  hum  momento  o  ninho,  os  ares  coiia, 
O  sustento  solícita  procura  ; 
Contento  ao  ninho  volta,  alli  do  peito 
Nos  mal  abertos  pequeninos  bicos 
O  grão,  que  traz,  amante  deposita. 

J.    A.   DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,   Caut.    3. 

E  bem  como  ás  solicitas  Abelhas, 

A  terra  só  lhe  apraz,  que  as  flores  vestem 

De  que  os  suecos  melifluos  delibem, 

N'harmoniosa  Poesia,  e  muda 

Não  se  conhece  o  calculo,  mas  cores. 

IDEM,  ^^AGEM  EXTÁTICA,  CaUt.   3. 


A  natureza  pródiga  derrama 

Seus  dons,  e  farta  as  longas  esperanças 

Do  Lavrador  solicito,  o  cansado. 

IDEM,  A  NATUREZA,  Caut.    1. 


—  Syn.  :  Solicito,  cuidadoso,  Vid.  es- 
te ultimo  termo. 

SOLICITUDE,  s.  /.  Ancioso  cuidado,  e 
diligencia  em  negociar,  alcançar,  conse- 
guir alçrum  iim. 

SOLIDADE,  s.  /.  Solidez. 

SOLIDADO,  part.  pass.  de  Solidar. 

SOLIDAMENTE,  adv.  (De  solido,  e  o 
sufBxo  «mente»).  De  um  modo  solido, 
com  solidez,  iixidez. 

—  Com  boas  e  solidas  razões. 

—  Com  attenção,  reflexão,  prudência. 
SOLIDÃO,   s.  /.    (Do   latim    solitude). 

Retiro,  logar  solitário.  Vid.  Soledade.  — 
«O  mesmo  Autor  aponta  três  meios  pel- 
los  quaes  se  chega  certissimamente  a 
contemplação.  O  primeiro  intima  contri- 
ção, e  dor  das  culpas  passadas  :  o  segun- 
do, solidão,  6  retiramento  de  conuersa- 
ções  seculares;  o  terceiro,  forte,  e  cons- 
tante perseuerança  no  bem.»  Fr.  Bar- 
tholomeu dos  Martyres,  Compendio  de 
espiritual  doutrina,  cap.  lõ. 

Em  quanto  vai  nas  solidões  do  espaço 
Té  no  Infinito  se  perder,  Cleanthes 
DA  mais  úteis  lições,  virtude  inspira  ; 
(Respeito  o  Varão  justo,  admiro  o  Sábio) 
Doutos  forma  Platão,  Sócrates  probos, 
E  julga  hum  crime  a  preferencia  dada 
A  frágil  vida  sobre  o  pejo,  e  honra  ; 
Da  virtude  foi  victima,  e  colloca, 
Nos  mores  bens  da  Natureza,  a  morte. 

J.    A.   Dl  MACEDO,  MKDITAÇÂO,  Caut.    1. 

Nem  todos  nos  produz  a  Terra  toda : 
Aquelles  gostão  do  Hiperborco  clima  ; 
Outros  vicejào  pelas  férteis  margens, 
Unde  3"espraia  o  turbidento  Ganges : 
Outros  forào  buscar  pátria,  e  morada. 
Nas  tristes  solidões  d  Africa  adusta. 
IBIDEM,  cant.  2. 

Tanto  amor  maternal  nas  aves  brillia  ! 
Sympáthica  affeição,  profundo  impulso 
De  quem  só  se  desvia,  e  só  se  esquiva 
Estúpido  Avestruz,  surdo  aos  gemidos, 
Que  exhala  amor,  a  natureza,  o  sangue ! 
Sobre  as  arêas  tórridas  da  Libya, 


570 


SOLT 


SOM 


SOLI 


E  solidUe»  da  Amorica  abandona 
Oh  ovoh  Hom  cuidado,  c  dulluit  fógc. 
iniDEM,  cant.  3. 


Do  taciturno  ponnador  asylo  ! 
(Accoiidijo  sornpre  a  iiuiK<!HtoHa  Hombra, 
E  a  doco  nolitlão  doutro  om  ininba  aUna, 
Ua  Naturisza  o  porfiado  crttndo.) 
As  cm-aiiindiis  arvorca  uic  dizcui, 
Que  o  ('rcadoí'  Suproiiio  cHcuta,  acolho 
Daa  noHua»  precisões  o  grito,  o  bi-ado. 


Chepairt  ao  cimo  —  quo  incontrais?  —  deserta, 
Desabrigada  solidão  do  roclms, 
Scin  unia  tlor,  um  vordt-jar  do  relva, 
Nem  um  pallido  musgo,  (|uc  dê  vida 
A  eumiada  ostoril ! 

aAKRBTT,   CATÃO,    «Ct.    3. 


Que  to  fica  na  torra?  —  quo  perdeste? 
Um  mundo  indigno,  baldo  do  virtudes. 
Farto  do  criuKíS  —  soUdòcs  juncadas 
Do  mortos,  moribundos  —  e  assassinos. 
IBIDEM,  act.  4,  SC.   5. 


SOLIDAR,  V.  a.  (Do  latim  solidare). 
Tornar  .siilido,  fortalecer. 

—  Dar  consistência  soliJa  aos  liqui- 
des. . 

—  Figuradamente :  Fundar,  corrobo- 
rar, assentar,  confirmar,  estabelecer  com 
razões  solidas. 

SOLIDARIAMENTE,  adv.  (De  solidário, 
e  o  .sufTixo  «mente»).  Termo  de  jurispru- 
cia.  Em  solido,  por  inteiro,  sem  divis3o 
de  divida,  obrigados  todos  juntos,  o  um 
por  todos. 

SOLIDARIEDADE,  «.  /.  Termo  de  ju- 
risprudência. Diz-sc  a  respeito  de  mui- 
tos devedores,  da  obrigação  que  lhes  é 
imposta  de  pagar  um  por  todos  a  somma 
que  devem  em  commum ;  e  relativamen- 
te a  muitos  credores  de  uma  cousa,  o 
direito  quo  tem  cada  um  d'elles  do  fazer 
pagar-se    \wv  inteiro. 

SOLIDÁRIO,  A,  ailj.  (Do  latim  solida- 
re). Termo  de  jurisprudência.  Diz-sc  de 
tudo  o  que  constituo  obrigação  de  pagar 
por  inteiro  uma  quantia  a  que  ha  mais 
co-obrigados,  sendo  um  por  todos,  e  to- 
dos ]ior  um. 

SOLIDEO,  s.  w.  (Do  latim  soU  Deo). 
Barretinho  redondo  e  lizo,  que  os  ecele- 
siasticos  doutores,  e  outros  dignitários 
trazem  sobre  a  coroa  para  a  cobrir. 

SOLIDEZ,  í.  /.  (Do  latim  soliditas).  O 
caracter  do  que  é  solido. 

—  Figuradamente  :  Firmeza,  seguran- 
ça. 

SOLIDEZA,  s.  f.  Vid.  Solidez. 

SOLIDIFICAÇÃO,  s.  /.  Termo  de  chi- 
niioa.  Faoulilado,  acção  de  se  solidificar. 

SOLIDIFICADO,  part.  pass.  de  Solidifi- 
car. 

SOLIDIFICAR,  r.  a.  (Do  latim  solidas, 
c  /<i((';vt.  Toriiio  de  chimiea.  Tornar  so- 
lido um  litpúdo,  congelar. 

—  Solidificar-se,  r.  rejl.  Tomar-so  so- 
lido. 


SOLIDISSIMO,  A,  a<IJ.  snperl.  do  Soli- 
do.   .^'ui   solido. 

I.i  SOLIDO,  K.  m.   Soldo. 

•J.)  SOLIDO,  A,  udj.  (Do  latim  «oZiV/u/»). 
Que  t  ;m  con.^i^^telleia,  cujan  partículas  fi- 
cam naturalmente  na  mc.Hina  situaçilo, 
em  relaç.lo  umai  ás  outras;  ojjpòe-se  a 
li(juitl.i)  e  a  (jazoso.  —  «Nem  obsta  que 
.lob  chame  aos  Coos  solidissimos,  duro-t, 
e  re.tistentes  h  maneira  do  bronze  :  'lii 
forsilaii.  cuvi  eo  fdbricatus  es  Culn», 
qui  Kolidissiini  ijuasi  irre  fugi  sunt.  Por- 
(pic.  Eliíi  (quo  ho  o  que  falia  naquello  ca- 
pitulo) naò  quis  dizer  que  o.s  (Joos  eraò 
solides  por  duros,  o  densos;  mas  sólidos 
por  permanentes,  e  duráveis ;  da  mesma 
sorte,  que  hc  durável,  e  permanente  o 
l)roiize.»  Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal 
medico,  pag.  508,  §  38. 

Se  as  leia  dos  Corpos  solidof  se  mostrâo 
Em  manifesta  luz,  quanto  escondida 
Guardava  a  Natiu-eza  a  Lei  constante. 
Que  pez  desde  o  começo  ao  Rio  undoso, 
Que  oUc  no  curso  accelerado  observa ! 
Mil  oquaçõos  algobricas  a  escondem  ; 
líasgão-so  em  fim  mysteriosas  sombras. 

J.    A.    r>B  MACEDO,  VIAGEM    EXTÁTICA,  Cant.   4. 

Derreto,  abranda  no  inflammado  seio 
O  nolido  metal,  que  na  Bigorna, 
Obedecendo  ils  Leis  do  sábio  Artista, 
Sc  alonga,  c  veste  de  feições  diversas. 

IDEM,  A  NATUREZA,  Cant.    2. 

—  «As  thiuphadias  godas  olhavam-se 
pela  maior  parte  na  campina  onde  se  de- 
viam resolver  os  de.stinos  da  Ilespanha, 
e  bem  que  a  este  tempo  todo  o  exercito 
do  Islam  estivesse  já  cm  ordem  de  pele- 
jar, a  noite  dava  grande  vantagem  aos 
godos,  cuja  cavaliaria,  cuberta  do  armas 
defensivas  mais  solidas  que  as  dos  ára- 
bes, resistia  fiicilmente  aos  cavalleiros  do 
deserto,  para  quem  a  maior  ligeireza  e 
o  mais  destro  modo  de  acommetter  eram 
baldados  no  meio  das  trevas.»  Alexan- 
dre Herculano,  Eurico,  cap.  0. 

—  Termo  de  geometria.  Angulo  soli- 
do ;  figura  formada  por  muitos  planos 
que  se  cortam  no  mesmo  ponto. 

—  Figuradamente:  Real,  eftcctivo,  du- 
rável, que  tem  força,  que  é  bem  fundado. 

Ah!  DcUes  não  procede  anciã  contínua 

De  huma  infinita  sólida  ventura  ; 

A  sempre  ardente,  interminável  sede. 

Que  pede,  busca  um  Dcos  que  a  farte,  estanque! 

Tudo  anuuncia  hum  Crcador  supremo ; 

A  Natureza  o  diz,  minha  alma  o  scute  ; 

A  virtude  o  precisa,  cila  o  dcol:W-a, 

FicAra  para  sempre  o  crimo  impune. 

J.    A.   DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  «iUt.   4. 

—  Alimento  solido  ;  diz-se  em  opposi- 
ç.lo  ao  alimento  Injiiido.  —  O  medico  lhe 
prohiòiu  todos  os  alimentos  sólidos. 

—  Que  tem  uma  eonsistonci  k  capaz  de 
resistir  ao  peso,  ao  choque,  ao  tempo ; 
diz-s<     cm    opposiçào   a  frogil,   e  pouco 


durável.  —  Edificar  em  fundamento»  só- 
lidos. 

—  Km  termos  de  architoctara.  Diz-se 
algumas  vezes  por  maciço,  cheio. 

—  Terreno  solido  ;  terreno  consistente, 
no  qual  se  pôde  edificar  com  toda  a  se- 
gurança. 

—  Tenno  de  mineralogia.  liocha  soli- 
da ;  rocha,  uuja.t  partes  b2o  lif^adas  firme- 
mente entre  si. 

—  Termo  de  zoologia.  ArUennas  soli- 
das; aquella^  cujos  artigos  sito  sólidos  de 
sorte  a  nào  ajjresi-ntar  algum  intcrvallo. 

—  Diz-se  díis  cores  de  boa  tinta.  — 
Còr  solida. 

—  Globos  sólidos. 

.lulgavào  e.ida  Kstr<-lla  huin  Mundo  errante 
Fluctunndo  no  ar,  vasto  iiiiinito, 
Ondi'  hum  Astro  Cfutral  preside  a  muitos 
Rotantes  (Ilobos  sólidos,  opacos, 
Revcrbcrante  luz  dollo  recebera. 

J.    A.    DE   MACEDO,  VIAOEM  EXTÁTICA,  tOXlt.   2 

—  Numero  solido.  Vid.  Cobiço. 

—  S.  m.  Termo  de  mathematica.  O 
corpo  quo  tem  as  três  dimensões  de  lar- 
gura, altura  e  comprimento,  em  opposi- 
çào á  linha. 

—  Figuradamente :  O  solido  dos  ali- 
cerces.—  «He  certo  desta  firma  qm;  hou- 
ve hum  tempo  em  que  o  fundamento  da 
Astrologia  estava  no  ar,  e  se  isso  he 
certo,  da  onde  lhe  veyo  o  solido  dos  ali- 
cerces em  que  depois  se  estabcleceo? » 
Cavallciro  de  Oliveira,  Cartas,  liv.  1, 
n.»  43. 

—  Figuradamente  :  O  solido  das  his- 
torias. —  «Tudo  o  que  se  acha  na  rai- 
dade  das  Fabulas,  se  encoiitra  no  soli- 
do das  historias  mais  verdadeyras.»  ("a- 
valleiro  d"(>liveira.  Cartas,  liv.  1,  n."  11. 

—  Em  solido.  Vid.  Solidum.  —  «E 
mandamos  que  essa  niolher  seja  recebida 
a  demandar  a  dita  cousa  em  Juizo  sem 
authoridade  e  procuraçom  do  marido, 
quer  a  esse  tempo  seja  em  poder  do  ma- 
rido, quer  apartada  delle;  e  essa  cousa, 
que  elia  assy  demandar,  e  vingar,  man- 
damos que  seja  sua  própria  em  solido,  sem 
o  dito  seu  marido  em  cila  aver  parte,  e 
que  possa  delia  fazer  todo  o  que  a  ella 
aprouver,  assy  e  tam  perfeitamente,  co- 
mo se  cacada  nom  fosse.»  Ord.  Affons., 
liv.  4,  tit.  12,  §  2. —  «E  da  praUí,  e 
ouro,  e  pedraria  se  niio  pôde  saber  a  cer- 
teza, por  sor  cousa  que  geralment''  se 
encobre  e  se  nega,  somente  o  que  esto 
Rey  Bnimaa  tomou  para  sy  em  solido 
do  tisouro  do  ChaubainJaa  se  affirmou 
que  passara- de  cem  contos  douro,  dos 
quais,  como  ja  fica  dito  atnis,  el  Rey 
nosso  Senhor  perdoo  a  metade  por  nos- 
sos peccados,  e  quiçá  pela  fraqueza  ou 
inveja  clc  aniuuvs  mal  intencionados.» 
Fern.MO  Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap. 
1,M. 

SOLIDUM,  .••.  »<i.  Termo  de  jurispru- 
dência. In  solidum  ;  por  inteiro. 


SOLI 


SOLI 


SOLT 


577 


—  Este  abonador  ajiançou-se  in  soli- 
dum;  obrie:ou-se  por  toda  a  divida,  ain- 
da que  haja  outros  fiadores. 

SOLIFUGO,  A,  culj.  Que  foge  á  luz  do 
sol,  do  dia ;  nocturno. 

—  Lucifugo. 

SOLILÓQUIO,  s.  m.  (Do  latim  solilo- 
quium  .  Razoes  que  alguém  diz  fallando 
comsigo  mesmo. 

SOLIMÃO,  s.  m.  Vid.  Sublimado  cor- 
rosívi'. 

SOLINHADEIRâ,  s.  f.  Uma  espécie  de 
martello,  com  que  os  cavoqueiros  cortam 
a  pedra  nas  pedreiras,  por  baixo  da  li- 
nha traçada,  para  ficar  superficie,  que  se 
alize,  sem  gastar  a  grossura,  e  outras  di- 
mensões da  peça. 

SOLINHADO,'s.  m.  Termo  de  marinha. 
E  a  face  do  madeiro  parallela  á  altura, 
ou  á  face  que  tem  este  nome. 

— ■  Part.  jmss.   de  Solinhar. 

SOLINHAR,  V.  n.  Lavrar  pedra  ou  pau 
por  baixo  da  linha  marcada,  o  que  tal- 
vez é  defeito  do  official,  e  outras  vezes 
se  faz  para  a  peça  ficar  desbastada,  e  se 
lavrar  á  enxó,  etc,  menos  trabalhosa- 
mente. 

SÓLIO,  s.  771.  (Do  latim  solimn).  Thro- 
no. 


Pois  aos  olhos  do  hum  Deos  omnipotente 
Nada  ignoto  ao  mostra,  c  nada  escuro ; 
Ante  seu  Sólio  existe  o  que  he  presente, 
O  que  hc  passado,  o  que  será  futuro; 
EUe  te  mostra,  em  luz  resplendeeente, 
O  Templo  da  Memoria  eterno,  e  puro ; 
Onde  a  tantos  Hcriíes  se  guarda  assento, 
Que  vença  a  lei  de  Estygio  esquecimento. 

1.  X.   DR  MACKDO,  O  ORIEMTE,  Caut.     12,     eSt.    87. 

Jovo  não  ■i-inga  o  bárbaro  attentado 

De  caminhar  por  montes  de  ruiuas, 

E  por  ferros,  que  á  Pátria  o  jugo  aggravão. 

Ao  Sólio  encantador,  onde  orgulhoso 

Ao  Mundo  avassallado  as  Leis  promulgue. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NAICREZA,  Caut.  1. 

Das  Musas  me  lembrei,  deixando  hum  pouco 
O  Compasso,  que  mede  o  Mar,  e  a  Terra, 
E  que  o  Templo,  que  vejo,  enche  de  tantos 
Sábios,  que  alli  tem  sólio,  alli  morada. 

IDEM,  VIAGEM  EXI.VTICA,   Cant.    4. 

—  «Porque  todas  as  vezes  que  hiamos 
a  sua  casa,  que  foram  menos  do  que  sua 
deuaçào  merecia,  nos  beijauão  os  pès, 
que  muitas  vezes  hiào  suados,  ou  empoa- 
dos, tendose  por  indignos  de  porem  sua 
boca  no  habito :  qual  outra  Dona  lacoba 
de  sete  Sólios,  Matrona  Romana,  se  ou- 
ue  na  morte  do  Seraphico  Padre  Sam 
Francisco;  tal  aqui  toda  esta  casa  pare- 
cia.» Fr.  Gaspar  de  S.  Bernardino,  Iti- 
nerário da  índia,  cap.  11. 


Trasborda  em  júbilo  a  alma  generosa 
Do  honrado  Menezes.  Mas  não  faltam 
Ao  pé  do  sólio  nunca  —  iuda  mal !  nunca - 
Peitos  vis,  corações  á  glória  alheios. 
OABRETT,  CAMÕES,  cant.  9,  cap.  1. 
VOL.  T.  —  73. 


—  Termo  de  poesia.  O  sólio  puro;  o 
ceu,  o  ethereo  assento. 

SOLIPEDE,  adj.  es.  2  gm. — Animal 
solipede  ;  animal  com  um  só  casco,  ou 
unha  em  cada  pé,  como  o  cavallo. 

SOLITÁRIA,  s.  /.  Vid.  Solitário  (ver- 
me). 

SOLITARIAMENTE,  adv.  (De  solitário, 
com  o  sufRxu  «mente»)-  Em  solidão,  des- 
povoadamente. 

1.)  SOLITÁRIO,  A,  adj.  (Do  latim  so- 
lhar ius).  Desliabitado,  despovoado,  onde 
nào  ha  gente. 


Nas  entranhas  d'um  monte  solitário, 

Que  entre  as  nuvens  esconde  a  calva  fronte, 

Assiste  Abracadabro,  a  quem  patentes 

Os  profundos  mysterios  da  Cabala, 

E  todas  as  leis  sào  da  Onomania. 

Jfil  Globos,  mil  Compassos,  mil  Quadrantes 

Confusos  jazem  no  sombrio  alvergue. 

A.   DIXIZ  DA  CRUZ,  HTSSOPE,    Caut.    8. 

Solitária  Região  !  sempre  embuçada 
Em  névoas  ;  tempestucísa,  entristecida, 
Foreira  a  ventanias  clamorosas. 

F.    M.    DO  NASCUIEIJTO,   03    MAETYBES,   1ÍV.    9. 


Mas  entre  tantas,  e  diversas  Gentes, 
Que  o  ferro  tem  nas  mãos,  no  aspeito  as  iras, 
Eu  via  estar  em  solitário  alvergue 
Pensativos  mortaes ;  longe,  c  mui  longe, 
Em  doce  paz,  do  estrépito,  e  tumulto. 

J.   A.    DK  M.4.CED0,   A  NATUREZA,  CaUt.    1. 


Nem  parco  Agricultor  volvendo  a  terra 

Solitário  entre  montes  e  arvoredos, 

A  quem  nenhuma  culpa,  e  nenhum  crime. 

Torna  pálido  o  rosto,  o  peito  ancioso. 

Que  a  Ambição  desconhece,  o  Mundo  ignora. 


Espectáculo  solitário. 


Julgar  inliabitado  c  solitário, 
O  pomposo  espectáculo  que  avista, 
E  povoado  o  mísero  Tugúrio 
Onde  do  Inverno  inoperosos  dias 
Xo  seio  passa  da  Família  inerte  ? 

J.   A.    DE  M.VCEDO,  A  KATCREZA,  CaUt.    1. 

—  Verme  solitário ;  uma  lombriga  cha- 
ta mui  longa,  que  quando  se  quebra,  e 
não  sáe  de  todo,  torna  a  crear  cabeça. 

—  Tempos  solitários ;  occasiões  em  que 
alguém  está  só. 

—  Que  não  convive,  não  conversa  os 
seus  similhantes,  que  vive  em  despovoado. 

Branca  era  longo  i  triste  e  solitária 
Pelos  vergéis  sosinha  passciava, 
E  pelo  mais  umbroso  da  espessura 
Suas  maguaa  entre  as  flores  escondia. 

GARRETT,  D.  BEAXCA,  Caut.  10,  Cap.  12. 

—  Passai-0  solitário ;  pássaro  que  cos- 
tuma andar  só  pelos  telhados  das  casas, 
pelos  edificios  antigos. 

—  Stn.  :  Solitário,  deserto.  Vid.  este 
ultimo  termo. 


—  Termo  de  contractador  de  jóias.  Um 
solitário;  um  annel,  ou  jóia,  onde  não 
ha  senão  uma  pedra  engastada. 

SOLITAURILIAS,  s.  f.  plur.  (Do  latim 
solitaurilia) .  Sacrificios  dos  romanos  em 
que  immolavam  três  aniniaes  :  um  car- 
neiro, um  porco,  e  um  touro. 

SOLITO,  A,  adj.  (Do  latim  solitus). 
Acostumado. 

SOLITUDE,  s.  f,  Vid.  Soledade,  e  So- 
lidão. 

SOLLEMNE.  Vid.  Solemne. 

SOLLEVAR,   L-.  a,  Vid.  Solevar. 

SOLLICITAR,  V.  a.  Vid.  Solicitar. 


Vencido  o  Cabo  seu  a  Tropa  o  matta, 
E  c:n  mim  depôz  Constâncio,  o  applauso,  c  a  gloria. 
Mandou  laureada  a  minha  Carta,  a  Augusto. 
Solliciton  e  obteve  ergucr-mc  Statuas ; 
Honra  egrégia,  que  iguala  c'o  triumpho. 

F.    M.    DO  NASCIMENTO,  OS  MAETYBES,  lív.    10. 

f  SOLLICITO,  A,  adj.  Vid.  Solicito. 


Platão,  Newton,  Montagne,  Erasmo,  ou  Milton 
São  d'Atomos  subtis  simples  composto? 
Oh  pejo,  oh  confusão  do  orgulho  humano! 
Iuda  engenlios  sollicitos  descubro 
Em  degradar,  envilecer  os  homens ! 

J.  A.  DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Caut.  4. 

1.)  SOLO,  s.  m.  (Do  latim  soltis).  A 
musica  para  se  cantar  por  uma  só  pessoa, 
ou  se  tocar  por  um  só  instrumento. 

—  A  dança  em  que  dança  um  só. 

2.)  SOLO,  s.  m.  (Do  latim  solum).  Ter- 
mo de  jurisprudência.  Chão. 

SOLÓGISAR,  V.  a.  Vid.  Syllogisar. 

SOLOMIL,  s.  m.  Vid.  Selamim. 

SOLORGIA,  s.  /.  Vid.  Cirurgia. 

SOLORGIAM,  s.  m.  Vid.  Cirurgião. 

SOLPOSTO,  s.  7?».  O  occaso  do  sol. 

SOLSTICIAL,  adj.  2  gen.  Concernente 
ao  solsticio. 

—  Que  vem  no  solsticio. 
SOLSTICIO,  s.  m.  (Do  latim  solstiiium). 

Termo  de  astronomia.  Tempo  em  que  o 
sol,  sendo  o  mais  afastado  do  equador, 
parece  estacionário  durante  alguns  dias. 
—  O  solsticio  do  inverno  vem,  quando  o 
sol  está  no  trópico  de  Capricórnio,  o  que 
faz  o  dia  mais  curto  do  inverno;  o  sols- 
ticio do  estio,  quando  está  no  trópico  de 
Câncer,  o  que  dá  o  mais  longo  dia  do  es- 
tio. 

EUe  primeiro  do  Solsticio  o  ponto 
Sobre  a  Terra  marcou  ;  e  eUe  primeiro 
O  Eclipse  assustador  predisse  aos  homens, 
A  marcha  calculando  a  ethereos  orbes. 

J.    A.    DE   M.4.CED0,   VIAGEM    EXTÁTICA,   Cant.    2. 

1.)  SOLTA,  s.  f.  Maniota  de  pelar  bes- 
tas. 

—  Figuradamente :  Prisão,  vinculo. 

—  Quebrar  as  soltas;  desprezar  todos 
os  vincules  moraes,  e  termos  de  modera- 
ção. 


678 


SOLT 


SOLT 


SOLT 


—  Passo  de  soltas ;  o  que  se  ensina  aos 
eavallos,  andando  com  as  Holtas  travadas. 

2.)  SOLTA,  «.  /.  A  acçilo  de  soltar, 
fallando  dos  gados. 

—  As  soltas;  Boltamento,  em  liberda- 
de. 

—  Fazfr  soltas  de  fiados;  para  os  refa- 
zer e  «Miponlar. 

SOLTADO,  i>(irt.  pass.  de  Soltar.  Vid. 
Solto. 

SOLTADOR,   A,  adj.  o  s.  Que  solta. 

-j- SOLTAM,  *.  ni.  Vid.  Soltâo.  —  «Da- 
qui hum  tcr\'o  de  legoa  pelo  rio  arriba,  es- 
tá a  Corto  dei  Rey  de  Melinde,  chamado 
ao  presente  Soltam  Jlahainet:  homem  de 
moya  idade,  bayo  na  còr,  mas  no  aspe- 
cto aj)ni7,iuel,  e  agradaucl,  e  não  menos 
em  sua  pratica,  o  conuersaçam.»  Fr.  Gas- 
par de  S.  Bernardino,  Itinerário  da  ín- 
dia, cap.  ó. 

SOLTAMENTE,  aãv.  (Do  solto,  e  o  suf- 
fixo  «meute»).  Livremente,  desembara- 
çadamente. 

—  Figuradamente:  Licenciosamente, 
sem  vergonha,  nem  pejo;  dissolutamente. 

SOLTANIM,  s.  m.  Moeda  d'ouro  do  va- 
lor do  400  reis. 

SOLTÃO,  s.  m.  Soldão.  Vid.  Sultão.— 
«Fallava  no  poder  dos  Christãos  com 
ódio,  e  desprezo,  como  ensinando  a  Soltão 
a  conhecer  suas  mesmas  forças.  Com  es- 
tes artificios  veio  o  Soltão  a  pôr  os  olhos 
no  escravo  para  cousas  maiores ;  começou 
a  ouvillo,  ao  principio  por  curiosidade, 
logo  por  affeição.p  Jacintho  Freire  d'An- 
drade.  Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv.  2. 
—  «Injuria,  que  o  Soltão  tiderava  como 
amigo,  e  não  podia  sotYrer  como  Monar- 
cha.  Pedio  mais,  que  as  náos  de  mercado- 
res não  fossem  obrigadas  tomar  aquelle 
porto;  liberdaile  que  devia  outorgar  cm 
beneficio  do  commcrcio.»  Ibidem. 

SOLTAR,  i'.  a.  Largar  o  que  estava 
atado,  encolhido  ou  preso.  —  «E  o  que 
pior  ho,  quando  os  mandam  soltar,  levam- 
llies  grandes  carccragcns,  e  muito  maio- 
res, que  se  fossem  presos  pellas  vossas 
Justiças;  e  estendem-se  aalera  do  que 
pertcence  a  seus  OfBcios,  e  outras  muitas 
cousas  fora  de  razam ;  em  que  os  vossos 
povoos  recebera  grandes  aggravamentos. » 
Ord.  Affons.,  liv.  5,  tit.  68,  §  1.  — «E 
dando  logo  hum  daquelles  ministros  que 
chamão  upos  trcs  pancadas  num  sino,  os 
dous  Chumbius  da  execução  que  nos  trou- 
xeraij  presos,  nos  soltarão  da  corrente 
em  que  vinhiimos  metidos.»  Fernão  Men- 
des Pinto,  Peregrinações,  cap.  103.  — 
«E  porque  viera  de  contra  o  castello  d'Al- 
mourol,  achei-o  tão  namorado,  que  alóm 
de  engeitar  minha  vontade,  teve  em  muito 
pouco  minhas  pala\Tas :  por  esta  razão  o 
mandei  prender,  com  tençSo  de  o  não 
soltar;  cousa,  que  se  fez  levemente,  por- 
que estíiva  desarmado.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  102. 
—  «E  V','is,  dom  cavullciro,  entrogai-vos 
a  mim,  se  não  convém  que  sintaos  minha 


força.  Quom  em  taes  obras  as  despende, 
disso  o  do  .Salvagi;m,  nSo  me  partíce  quo 
o  deve  temor  ninguém  :  e  soltando  a  don- 
zella,  que  occupada  do  modo  bc  recolheu 
A  cela  do  ermitão,  teve  tempo  d'enlazar 
o  elmo,  jtorque  IJracdão  fazia  outro  tanto 
ao  seu.»  Ibidem,  cap.  lUO.  —  «E  j)ois  isto 
não  tem  cura  (é  se  Haber  a  verdade  do 
quo  de  mim  6  feito,  não  vos  soltarei  se- 
não ])era  que  vades  l;í  de  miidia  parte  a 
vos  presentar  ante  o  imperador,  e  lho  dl- 
gaes  tudo  o  que  passou  desd'o  dia  que  da 
corte  me  tirastes,  té  agora.»  Ibidem,  cap. 
lUi.  —  «Alguns  cavalleiros,  que  no  cas- 
tello fiaivam,  deixaram  as  armas,  vendo 
seu  senhor  morto ;  e  parecendo-lhe  melhor 
conselho  vieram  receber  Florendos  á  por- 
ta entregando-lhe  as  chaves  da  fortaleza; 
e,  antes  que  so  curasse  das  feridas  man- 
dou que  soltassem  a  donzella,  que  estava 
presa.»  Ibidem,  cap.  96. —  «Polendos, 
respondeu  o  grain  turco,  tu  deves  crer 
que  por  ti  e  polo  imperador  faria  toda 
cousa,  que  em  mim  fosse;  mas  estou  tão 
escandalisado  de  mo  não  querer  maniiar 
entregar  um  cavalleiro  ehristão,  que  em 
sua  corte  fica,  que  me  daqui  furtou  mi- 
nha filha,  que  té  que  o  não  faça,  daqui 
vos  não  hei  de  soltar  a  vos.»  Ibidem.  — 
«Targiana  em  todo  o  tempo,  que  ahi  esti- 
veram, nunca  vestiu  se  não  xerga,  e  viveu 
em  continua  tristeza.  O  turco  mandou  to- 
mar as  galés  e  soltar  Mulcyxeque,  e  ao 
outro  dia  fez  cartas  ao  soldão  de  Pérsia  e 
a  outros  príncipes  pagãos,  fazendo-lhe  sa- 
ber da  prisão  daquelles  homens  e  sua  de- 
terminação, que  era  fazer  nelles  cruezas 
dinas  de  memoria,  em  vingança  do  furto 
de  sua  filiia,  e  da  morte  de  Barrocante  e 
seus  companheiros;  que  vissem  se  queriam 
ser  a  isso  presentes,  que  esperaria  o  tem- 
po que  ordenassem.»  Ibidem. 

De  mais  lustrosas  pcnuas  se  ntaviâo 
Nas  regiões,  que  a  prumo  o  Sol  visita ; 
Se  a  Natureza  prclndii  Ibos  nega 
O  c^nto,  Uio  compensa  cm  formosíira: 
Pelos  bosques  da  America  opulenta 
São  como  flores  nítidas,  que  voão, 
Quando  os  ventos  das  arvores  as  soltão. 

1.   A.   DK  MACEDO,  JTEDITAÇÃO,  Cant.    3. 

—  Soltar  a  voz ;  fallar. 

Não  tarda  Çolcimão  em  dar  effcito 
A  este  engano  quo  trai  imaginado, 
Aceso  da  esperança  do  proveito 
E  d'animo  cruel,  nunc;i  domado. 
Mas  sinto  ja  tào  fraco  e  rouco  o  peito 
(Jue  em  vào  toltar  a  voz  tenho  tentado. 
Descansemos  hum  (lOuco,  c  tudo  quanto 
Fez  o  RaiA,  direi  ncss 'outro  Canto. 

r.  nr.  andiiaob,  rumíBO  ciBco   db  dio,  cant. 
12,  est.  139. 

E  tanto  ao  \-ivo  estA,  tal  arte  a  forma, 
Que,  SC  a  xHstA  acredito,  cu  cuido  ainda, 
Que  sólfa  a  doce  voz,  que  os  lábios  move. 

J.    A.    DK  MACEDO,  VIAOKM  KXTAriCA,  Cant.   3. 

—  Soltar  palai-ras;  proferil-as.  —  <E 


porque  com  nenhumas  razitos,  que  bllc8 
rliMeswm  nem  alegassem,  poderam  fazer 
com  Palmeirim  que  soltasse  ul^-iima  pa- 
lavra, de  que  pode-sseni  lançar  mio,  e 
dando  a  resposta  a  Carmeiio,  vieram  ao 
d(!rradeiro  remédio,  que  era  pedir-lhe  que 
da  nua  mão  ilesse  marido  á  princeza  se- 
gundo a  forma  do  tf^tamcnto  de  elrei.i 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'lDgla- 
terra,  cap.  101. 

—  Soltcir  as  rédeas  a<js  eavallos. 


Vendo  a  gente  Cambaia  tal  fraqueza 
Na  que  coo  no:iii;  foi  rictoríona, 
Agora  cobra  céprito  e  fortaleza 
O  fraco  imigo  a  faz  ser  animo«a. 
As  rMeas  aos  cavalloii  e  k  crueza 
S6lta  contra  oí  que  fogem  furiosa, 
Tira  daquell'M  c/)ri>o«  o*  espritos 
Que  ja  dos  seus  tirarão  iniinit')«. 

FnAXCISCO   DF.   AUDBADE,  rBlMBIBO  CBBOO  DB   DIO, 

cant.  9,  est.  27. 

—  Proferir,  dizer.  —  tE  antre  algu- 
mas cousas,  que  o  imperador  soltava  em 
seu  louvor,  mostrava  desejar  vêl-a  em 
sua  corte  pêra  lhe  fazer  mil  honras  e 
acabar  de  descansar  seu  neto  Florendos, 
que,  vendo  que  sua  senhora  nem  pêra  lhe 
agradecer  seus  trabalhos  mostrava  vonta- 
de, determinou  acabar  no  que  primeiro 
começara,  que  era  guardar  o  escudo  no- 
vamente: e  se  alli  viesse  alguém,  a  quo 
não  podesso  vencer,  nunca  mais  trazer 
armas  e  experimentar  sua  dita,  inda  quo 
era  máo  conselho  provar  muitas  vezes 
fortuna.»  Francisco  de  Moraes,  Palmei- 
rim d'Inglaterra,  cap.  108. 

—  Ilurrenda  esjjera  solta  a  rninadora 
fúria. 

Posto  entre  os  seus  canhòoa  então  estava 
Em  logar  assaz  cego,  e  sem  abrigo, 
Lá  d'oadc  a  sua  gcnt«  cUc  animava 
Para  não  duxHdar  este  perigo. 
Quando  huma  horrrnda  espera  lólta  a  brava 
lluinadora  fúria  dVntrc  o  imigo, 
Salic  o  feno  que  dentro  estava  preso 
Direito  ao  Falcão  vai  cm  fogo  accâO. 

FRUiClSCO  d'aNDBADE,    rBIMEIBO  CBBOO  OB  DIC, 

cant.  16,  est.  100. 

—  Soltar  as  velas  ao  vento.  —  lE  em- 
barcando-se  Targiana  na  capitana,  Po- 
lendos com  vinte  e  cinco  cavalleiros  os 
mais  principacs  se  metteu  nella,  e  os  ou- 
tros repartiu  em  as  outras  galés,  vinte  e 
cinco  em  cada  uma,  e  soltando  as  velas 
ao  vento,  que  então  eram  prospero,  cui- 
daram atravos.sar  o  mar  de  Turquia  mui 
pre.st'-'s.»  Francisco  de  Moraes,  Palmei- 
rim dlnglaterra,  cap.  96. 

—  Soltar  voz  de  oráculo. 

Voz  de  Orac'lo  Dodòna,  c  Daphnc  soltem, 
Parta-sc  o  Orbe,  entre  Atheos,  entre  FanátioM: 
Fervâo  Paiiõc»  feroics,  dè  Volnpia 
Envenenados  philtros;  quanto  larra 
Maldade  no  Orbe.  :u)  Cbristo,  aos  «eus  Coltoros 
Atríz  Perseguiçào  componha,  c  assalte-o. 
r.  M.  DO  SASCiMXirro,  06  mabttbbí,  liv.  8. 


SOLT 


SOLT 


SOLT 


579 


Delle  aprendo  a  constância,  o  honcâto,  o  justo. 

Seus  passos  seguem  Séneca,  Epictéto, 

E  vão  de  seus  oráculos  pendentes, 

E  na  esfera  moral  faz  grande  o  homem ; 

Mas  quando  fora  delia  as  azas  .vjlía. 

Quando  busca  do  Mundo  o  Author  supremo, 

He  pequeno,  he  mortal,  he  sombra,  hc  nada. 

J.   A..  DE  UACEDO,  IfEDITAçXo,  Caut.   4. 

—  Soltar  O  escudo.  —  «Nem  menos  sol- 
tar o  eâcuJo,  vendo  que  o  de  seu  con- 
trario estava  desfeito:  antes  batendo  as 
pernas  ao  cavallo  com  toda  a  força  que 
pode  levar,  o  encontrou  de  feição,  que  a 
elle  e  ao  seu  lançou  em  terra.»  Francis- 
co de  Moraes,  Palmeirim  dlnglaterra, 
eap.  96. 

—  Soltar  suspiros;  suspirar. 

—  Soltar  os  diques;  abril-os  para  que 
entre  ou  saia  agua. 

—  Soltar  o  cavallo  ao  pasto;  deitar 
solto. 

—  Soltar  uma  ancora ;  deital-a  ao  mar. 

—  Soltcir  as  velas. 


Lá  vai  duro  mortal  soltando  as  velas 
Xo  elemento  nào  seu  d'Eólo  ás  fúrias : 
Mortal  té  agora  ingénuo,  c  que  outras  praias 
Não  tinha  visto  mais  que  as  do  tranquiUo 
Ribeiro,  que  lhe  corta  os  pati-ios  campos. 

J.   A.   DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,    CaUt.    1. 

O  tempo  3c  aproxima,  avante  passa 
Nauta,  que  has  de  mandar,  forte,  e  ditoso ; 
Olha  o  Cabo  vencido,  olha  Mombaça, 
Que  ao  braço  ha  de  ceder  ■s-ictorioso : 
Vê  Melindo,  olha  o  Rei,  que  ingénuo  abraça 
O  domador  do  pélago  espumoso. 
Daqui,  no  mar  ignoto  as  velas  solta, 
Quasi  assim  dando  ao  Globo  inteira  volta. 

IDEM,  o  OBIENTE,  Caut.   1. 

o  qual  no  fim  do  mcz  que  o  Sol  recolhe 
E  no  animal  de  Frixo  lhe  dá  entrada, 
Solta  a  vcUa,  o  do  fundo  o  forro  colhe 
E  para  Goa  corta  a  onda  salgada : 
E  para  Capitão  da  terra  escolhe 
Da  animosa  gente  iUustre  e  honrada 
Que  comsigo  trouxera  companheira 
O  valeroso  António  da  Silveira. 
».  d'andrade,  pbimeibo  cebco  de  Dio,cant.  f 
est.  92. 


—  Solta  das  galés  a  horrenda  fúria. 

O  infelice  mancebo,  que  no  muro 
Acaso  estava  então  d^armas  ornado, 
Lá  onde  o  seu  feroz  esprito  duro 
Para  seu  damno  o  tinha  então  guiado, 
Quiçá  na  hora  que  estava  mais  seguro, 
E  d'hum  tão  grave  mal  mais  descuidado, 
Eis  solta  das  galés  a  horrenda  e  fera 
Mortal  fúria,  huma  grossa,  brava  espera. 

FBAhXISCO  d'a1ÍDEADE,  PBIMEIBO  CEBSO  DE  DIC, 

cant.  14,  est.  28. 


—  Quitar. 

—  Desfazer.  —  Soltar  amizades. 

—  Deixar,  abandonar. 

—  Termo  antiquado.  Permittir,  dar  li- 
cença. 

—  Soltar  as  terras;  largar  a  posse,  ou 
o  domiuio  d'ellas. 


—  Soltar  o  cão,  ou  a  ave  caçadora; 
para  fazer  presa,  morder,  aferrar. 

—  Figuradamente  :  Soltar  as  rédeas  ás 
paixões;  obedecer  a  todo  o  seu  impulso. 

—  Deixar  correr  abrindo. 

—  Figuradamente:  Soltar  a  língua; 
dizer  tudo  quanto  vem  á  bocca  sem  res- 
peito de  comedimento,  nem  de  modéstia. 

—  Soltar  o  ventre;  causar  curso. 

—  Soltar  o  registro,  ou  as  presas ;  para 
correr  o  liquido. 

— •  Soltar  p)'^^^^  'i'^^  tributos;  isentar 
d'elles,   dispensal-03. 

—  Abrir  mão,  levantar  mão. 

—  Soltar  uma  terra  que  trazia  de 
renda. 

—  Explicar,  dissolver,  desatar,  des- 
obrigar. 

—  Soltar  os  bois  do  jugo,  do  curral. 
— •  Soltar  a  outra   parte   contractante ; 

desobrigal-a  do  que  estava  obrigada. 

—  Soltar-se,  v.  ref.  Escoar-se,  des- 
embaraçar-se  das  garras,  prisões,  etc.  — 
«O  almuinheiro  deu  um  empuxão  e  sol- 
tou-se  das  mãos  dos  agarrantes.»  A.  Her- 
culano, Monge  de  Cister,   cap.  18. 

—  Soltar-se  em  doestos,  injurias;  em 
dizer  affrontas. 

—  Soltar-se  o  sangue  das  veias;  es- 
coar-se. 

—  Soltar-se  em  sangue;  esvair-se. 

—  Soltar-se  em  palavras;  fallar  com 
desafogo,  sem  modéstia,  sem  comedi- 
mento. 

—  Figuradamente :  Desfazer-se. 

—  Soltar-se  em  palavras  deshonestas ; 
proferil-as. 

—  Dizer-se  soltamente,  sem  segredo, 
nem  pejo. 

SOLTEIRAMENTE,  adv.  (De  solteiro, 
com  o  suffixo  o  mente»).  Termo  antiqua- 
do. Livremente,  desembaraçadamente. 

SOLTEIRÃO,  ONA,  s.  Teimo  popular. 
Pessoa  já  idosa  que  nunca  casou. 

SOLTEIRO,  A,  adj.  Não  casado.  —  «E 
deste  chamamento  e  constrangimento  nom 
queremos  que  sejam  escusados,  salvo  Ca- 
valleiros,  ou  Escudeiros  de  linhagem,  ou 
de  bemfeitoria,  ou  nossos  Vassallos  sol- 
teiros, e  casados,  que  nom  ham  outra 
vida,  salvo  per  seus  corpos,  e  per  suas 
armas ;  porque  a  estes  damos  licença, 
que  possam  viver  honde  lhes  aprouver,  e 
bonde  mais  entenderem  por  sua  prol,  fora 
de  nossos  Regnos,  e  sejam  escusados  de 
perderem  seus  bens.»  Ord.  Affons.,  liv. 
õ,  tit.  61,  §  4. 


Assi  que  as  tacs  feitiçarias 
São,  Senhor,  obras  mui  pias, 
E  não  ha  mais  na  verdade. 
Saiba  Vossa  Magestade 
Quem  he  Genebra  Pereira, 
Que  sempre  quiz  ser  solteira, 
Por  mais  estado  de  graça. 

GIL  VICENTE,  FABÇAS. 


Já  espero  uma  criadinha 
como  o  ouro  fermosinha. 


Antes  me  quero  solteira 
que  cuidados  tão  azinha. 

ANTOXIO  PBESTES,  AUTOS,  pag.  145. 

—  Meladura  solteira ;  nos  engenhos 
do  assucar,  é  a  primeira  que  se  faz  na 
tarefa,  e  elia  só  encho  a  caldeira,  sem 
levar  escumas  da  meladura  antecedente 
que  se  alimpou ;  a  primeira  que  se  faz 
depois  que  o  engenho  pejou  por  um  dia, 
ou  por  horas. 

—  Mulher  solteira  ;  sem  marido.  — 
«Os  piães  sam  sem  conto,  porque  facil- 
mente se  ajuntam  em  hum  exercito  mais 
de  nouecentos  mil.  Acostumam  estes  Reis 
de  trazer  em  seus  arraiaes,  ate  quatro 
mil  molheres  solteiras  a  que  pagam  sol- 
do primeiro  que  a  nenhuma  outra  gente, 
e  dizem  que  com  ellas  fazem  mais  guer- 
ra que  com  seis  tantos  homens  porque 
por  sua  causa  pelejam  com  mais  esforço.» 
Damião  de  Goe.'^,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  2,  cap.  6.  —  «Vimos  outra  rua  do 
mesmo  modo  de  mais  de  huma  grade  le- 
goa  de  cuprimento,  onde  pousavão  qua- 
torze  mil  taverneyros  que  saõ  os  da  cor- 
te, e  outra  rua  pela  mesma  maneyra, 
onde  avia  infinidade  de  molheres  soltei- 
ras, privilegiadas  do  tributo  que  pagaõ 
as  da  cidade,  por  serem  tãbem  da  corte, 
muytas  das  quais  fugirão  a  seus  maridos 
por  andarem  nesta  desaventura.»  Fernão 
Mendes   Pinto,  Peregrinações,  cap.  105. 

—  Mulheres  solteiras  ;  mulheres  mal 
procedidas. 

—  O  tempo  de  solteiro.  —  «  Andava 
um  noivo  sempre  entre  dous  cunhados 
seus,  que  nem  largava,  nem  o  largavam. 
Passava  ás  vezes  por  um  seu  amigo  do 
tempo  de  solteiro,  a  quem  tratava  com 
estranheza.»  Francisco  Manoel  de  Mello, 
Carta  de  guia  de  casados. 

—  Em  solteira ;  em  quanto  solteira, 
como  solteira. 


Assaz  de  fèa  e  engelhada 
é  a  dama  que  em  solteira 
ou  da  egreja  ou  da  feira 
não  leva  pêra  a  pouzada 
dois  dedos  de  quem  lhe  queira. 

ANTÓNIO  PBESTES,  AUTOS,  pag.  325. 

Minha  molher  se  alguma  ora 
em  solteira  amantes  tinha, 
era  então  sua  e  não  minha  ; 
se  ella  está  sezuda  agora 
quem  me  mete  ora 
dar-lhe  ventos  de  doudinha  ? 


—  Substantivamente  :    Um  solteiro. 


Má  cã  e  má  lã  me  venha 
se  assi  é. 

Juraes  falsidade, 
um  solteiro  lá  se  avenha. 

AUTomo  PBEBiES,  AUTOS,  pag.  139. 


f  SOLTEIRO,   A,  adj.  Vid.  Solteiro. 


ÕHO 


KOLT 


S(JLT 


SOLU 


—  «lluiiifi  mollier  tainhom  solteyra,  co- 
mia todos  </.s  dias  quaiitidadc  <lc  f^ifcini- 
bre,  c  huma  mollior  j)ejada  comeo  doun 
ari-atus  do  liuina  vez,  sciii  Huntir  na  gar- 
ganta o  iniiiiiiio  ardor.»  Cavalleiro  d'Uii- 
vcira,  Cartas,  liv.  1,  n."  Hi. 

SOLTO,  ]>ait.  jxiss.  irreíj.  de  Soltar. 
Livre  do  j)rirt;"lo,  de  cadeia. —  «Manda- 
mos, quo  todolos  Alvaraacs,  per  quo  os 
presos  sojauí  soltos,  Hojam  eacriptos  polo 
Escripvani  da  Alcaidaria,  o  leve  por  fa- 
zer cada  huuni  AlvarA  quatro  reis,  o 
mais  noin ;  e  em  Hm  de  cada  Imum  dolies 
ponha  a  pafjua,  quo  o  preso  ouver  do  pu- 
puar  do  carccras'cni,  jior  tal,  que  pela 
dita  jia^ua  venham  a>*  ditUfí  carcerajíuns 
a  boa  reca<laçom.i)  Ord.  Affons.,  liv.  1, 
tit.  'M,  §  4.  —  «E  por  evitar  mores 
uniões,  que  claramente  se  ordiam,  em 
que  não  podia  deixar  de  haver  muitas 
mortes  se  andiram  soltos,  os  prendi.» 
Diogo  de  Couto,  Década  4,  liv.  O,  cap. 
8.  —  «E  porque,  como  disse,  os  trezen- 
tos mil  iiomcus  que  estão  em  deposito 
nesta  jirisaõ  audão  toilos  soltos,  como  a 
pro))ria  gente  quo  vom  de  íV)ra,  tem  esta 
maneyra  jiara  não  aver  impedimento  na 
sayda.»  Fernão  ^lendes  1'into,  Peregri- 
nações, cap.  108.  —  «E  Duarte  lialuão 
depois  de  ser  chegado  a  Flandres  apio- 
uoitou  muyto  ao  Key  dos  Komãos,  posto 
que  fosse  solto,  assi  em  virtude  de  di- 
nheiro, quo  per  virtude  de  seus  poderes 
lhe  deu,  couio  em  vir  por  medianeiro, 
e  requeredor  de  sua  paz,  e  segurança, 
com  muytos  senhores  em  terras  que  o 
dito  Key  requerco,  de  que  tinha  muita 
necessidade;  o  que  tudo  acabou  a  muyto 
contentamento  seu.»  Garcia  de  Rezende, 
Chronica  de  D.  João  11,  cap.  72.  —  «De- 
])oiâ  ([ue  03  Chãs  tomam  ha  residência 
aos  Louthias,  visitam  os  troncos  e  fazem 
audiência  aos  presos,  e  soltam  os  (|ue 
merecem  soltos,  e  castigam  os  que  me- 
recem castigados.»  Fr.  (íaspar  da  Cruz, 
Tratado  das  cousas  da  China,    cap.  17. 

—  Linyua  solta;  diz-se  do  que  falia 
sem  pejo,  nem  modéstia,  nem  respei- 
tos devidos  aos  pacs,  superiores,  etc.  — 
«Figiu-ava-se-me  na  fantasia,  que  mas 
dissera  com  fúria,  e  pêra  o  mais  affirmar, 
parocei'a-me  que  a  vira  com  o  rosto  aco- 
zo,  03  olhos  envoltos  em  ira,  a  lingua 
mais  solta,  e  cruel  do  que  tinha  do  cos- 
tume, o  falia,  e  as  palavras  embaraça- 
das, como  que  o  aceleramento,  com  quo 
as  dizia,  causava  torvação  uellas.»  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  70. 

—  Dormir  a  somno  solto ;  dormir  re- 
pousadanionte. 

—  Palduras  soltas;  palavras  sem  co- 
medimento, nem  respeitos ;  licenciosas.  — 
«Auderrauioto  n3o  podendo  soflrer  pala- 
vras tão  soltas  de  um  homem  seu  capti- 
vo,  deu  com  o  olmo  tal  pancada  no  chão 
que  o  abulou,  dizendo :  o  Mafamede  co- 
mo consentes  quo  diante  mim  um  sober- 


bo cliristão  tenha  tal  ousadia  Vi  Francis- 
co de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  80. 

—  Vida  solta ;  vida  livre,  dissoluta, 
independente. 

—  Ligeiro. 

—  VeiUo  solto;  desfeito. 

AntoB  que  no  nolto  vento  o  levi-  panno 
DcsãraB  outra  vez  n'azul  o.strada, 
K  vá»  scj^uro  achar  pelo  Occiíno 
A  toi-ra  Oriuiital  tó  aqui  buscada: 
Se.  0111  inomoria  a  reténs,  do  I^íUsitano 
lícino  mo  conta  a  origem  sublimada  ; 
(Jiiaes  teiiliào  sido  os  lieis  da  iliugtrc  Rontc, 
tju'  avasaalia  destarte  o  mar  fremente. 

J.    A.    DK  MACEDO,  O  OllIKNTK,  Cailt.    H,  CSt.  3. 

—  Solta  víKja;  desfeita. 

Pizando  o  leito  ao  mar  Moysés  erfçuia 
Com  mão  segura  a  vara  portentosa ; 
D  aqui,  dalli  suspenso  o  mar  sentia 
Do  Ser  Eterno  a  voz  imperiosa  : 
K  contra  as  leis  universacs  subia 
Pelo  estranhado  espaço  onda  espumosa  ; 
Da  »<'ilta  vaga  os  Ímpetos  recéa 
O  Povo,  e  pilra  na  espraiada  arca. 
j.  A.  DK  MACKDO,  O  ORIENTE,  cant.  9,  cst.  98. 

—  Solto  da  escravidão ;  livre  d'clla. 

Por  onde  o  povo  as  onda:<  ICrythvcas, 
Solto  da  cscr:ividào,  passou  triunfante 
A  pés  enxutos  húmidas  aréas, 
Vendo  suípeu.ío  o  pélago  espumante : 
Sahio  dis  altas  Nãos  co'  as  velas  clièas, 
Correndo  a  Costa  d'Africa  c.stuante  : 
E  de  lil  pouco  a  pouco  o  mar  abrindo 
Co'  as  mercês  retornou  do  Idaspe,  ou  Indo. 
j.  A.  DK  M.icEuo,  o  oBiENiE,  caut.  13,  cst.  G9. 

—  Ventre  solto ;  ventre  que  obra  facil- 
mente, desembaraçado. 

—  Vida  solta ;  vida  dissoluta,  licen- 
ciosa. 

—  Navios  soltos;  navios  que  não  tem 
estancia,  pairo,  ou  guarda  limitada,  iin 
logar  certo,  mas  cruzam  por  onde  cum- 
pre, em  espaço,  e  tracto  de  mar  mais 
largo. 

—  Termo  de  poesia.  Vtrso  solto;  sem 
consoantes. 

—  Fallar  solto  ;  tallar  prosaicamente, 
sem  medida  de  verso,  em  opposiçào  &  fal- 
lar rimando. 

—  Almas  soltas  ;  almas  que  andam  á 
rédea  solta,  dissolutas.  —  «Primeiro  im- 
porta diz  S.  Isidoro,  purgarse  a  alma  das 
atftúções  da  terra,  das  fezes  dos  vicios,  do 
que  pertenda  chegar  simples,  o  puramen- 
te a  Deos:  porque  assim  como  he  próprio 
do  fogo  afastados  os  impedimentos  subir 
acima,  o  naturalmente  buscivr  o  seu  cen- 
tro na  parte  superior,  assim  as  almas 
soltas,  e  descarregadas  do  pezo  das  af- 
feições  inferiores  costumao  leuantarse,  e 
aspirar  ao  seu  lugar  próprio,  que  he 
Deos.»  Fr.  Bartholomeu  dos  ^[artyres. 
Compendio  de  espiritual  doutrina,  capi- 
tulo 15. 


cidu. 


Sida  solta;  séila   frouxa,   nào  tor- 
'  Solto  jjanwj;  panno  frouxo. 


Ao  duro  Nauta,  que  vifpa  ok  árcH, 
Sc  mostra  no  liorizonti;  a  negra  mancha, 
ííermcn  da  fma,  súbita  prucolU ; 
Inda  (|uc  hum  meigo  Zetiro  cnganoito 
AlVague  o  nolto  panoo,  c  ncUo  briiu|uc, 
Súbito  ferra. 

J.   AGUSTIXnO  DK  lUCKOO,  M BOITÁÇÃO,  CAOt.  2. 

—  Solto  o  trançcuio. 

Vem,  do8  C'oníinii  do  pluino,  o  Páe  buMando, 
Solto  o  trauteado,  c  nos  Corc"'íi»  pcud<:iido, 
Daiido-lhe  azas,  co'  ui,'Outc,  em  Carro  a  Druida, 
fluvío  rumor,  que  i-m  desaggravo  da  honra 
Da  Virgem  d«  Sayna,  Aldft<V'S  armara. 
Toda  a  amplidão  do  error  w  lhe  aúif^urn. 

r.   MA.tUKL  DO  NASCIUEXTO,  OS   MABTTBES,   1ÍV.    lO. 

—  Livre,  quito,  desobrigado  de  contra- 
cto, Haiiça,  abonaçâo,  garantia. 

SOLTURA,  s.  /.  Acção  do  soltor  da 
prisão,  da  cadeia.  —  «E  que  elle,  e  ou- 
tros oito  homens  houveram  á  mão  huma 
lanchara,  e  se  passaram  áqucila  Ilha  com 
esperança  de  se  salvar;  a  qual  soltura, 
c  fugida  sua  fora  per  industria  de  huuia 
filha  do  senhor,  em  cujo  poder  elles  esta- 
vam, que  trouxera  comsigo. »  IJarro-:, 
Década  2,  liv.  (i,  cap.  1.  —  «A  que  hum 
que  parecia  de  mais  autoridade  respo.n- 
(leo,  muyta  razão  he  que  nos  façais  lem- 
brança nesta  cousa  em  que  tauto  vos 
vay,  porque  nos  apliqueis  a  fazermos  a< 
diligencias  necessárias  em  menos  temp^. 
para  que  se  conclua  mais  brevement 
vossa  soltura. »  Fernão  Mendes  Pinto,  Pe- 
regrinações, cap.  102. 

—  Despejo,  desembaraço  em  qualquer 
exercício  corporal. 

—  Licenciosidade,  dissolução,  desco- 
medimento. —  «Esta  soltnra  de  ]>ala- 
vras  nunca  a  eu  tive  té  agora ;  mas, 
agora  nem  o  tempo,  nem  o  soffrimentu 
me  dão  lugar,  que  as  encubra;  e  mais  a 
vós,  a  quem  sei  que  faço  erro  não  as 
descobrir  mais  cedo.»  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  dlnglaterra,  cap.  95. 
—  «O  gigante  se  deteve  por  ver  quem 
com  tamanha  soltura  de  palavras  o  amea- 
çava, e  vendo-lhe  no  escudo  o  Tigre  dou- 
rado, que  naquelle  tempo  tão  venerado 
era  polo  mundo,  bem  lhe  pareceu  que 
não  sem  muita  confiança  de  suas  obras 
o  ousava  desafiar,  e  vendo  que  os  seus 
de  todo  eram  vencidos  e  desbaratados,  c 
alguns,  que  escaparam,  iiiam  fugindo  por 
guarecer  a  vida,  levantando  a  voz,  dis- 
se.» Ibidem,  cap.  117. 

—  Soltura  de  vicios. 

—  Desembaraço,  facilidade;  fallando 
á  boa  parte. 

—  Expliciíç.ào,  interpretação,  solução. 

—  Dizer  o  soriho,  e  a  soltara ;  dizer  tu- 
do o  que  vem  á  bocca,  som  respeito  do 
comedinionto.  nem  da  mo<^lestia. 

SOLUBILIDADE,  «.  /.  Propriedade  em 


SOLU 


SOM 


SOM 


581 


virtude  da  qual  um  corpo  pôde  dissolver- 
se  n'um  liquido.  — •  A  solubilidade  nas 
aguas  não  é  uma  propriedade  iuherente  e 
essencial  ás  suòstancias  salinas. 

SOLUÇADO,   part.  pass.  de  Soluçar. 

SOLUÇÃO,  s.  /.  (Do  latim  solatio). 
Termo  de  chimica.  Acção  de  um  liquido 
sobre  um  solido,  cujo  resultado  é  que 
este  ultimo  toma  por  si  mesmo  a  forma 
liquida. 

—  O  liquido  resultante  d'esta  acção. 

—  Afjinidade  de  solução ;  faculdade 
que  possuem  certos  líquidos  de  dissolver 
um  no  outro. 

—  Divisão,  separação  das  partes. 

—  Solução  de  continuidade;  nome  col- 
lectlvo  da  lo  em  cirurgia  ás  chagas,  ás 
fracturas,  e  em  geral  a  todas  as  divisões 
das  partes  antes  continuas. 

—  Explicação  d'uma  difficuldade. 

—  Resolução.  —  A  solução  de  um  pro- 
blema. 

SOLUÇAR,  1-.  7t.  Dar  soluços. 

—  Termo  de  náutica.  Soluçar  a  nau  ; 
jogar  de  sorte,  que  levanta  e  mergulha 
a  popa,  e  prOa  alternativamente. 

—  V.  a.  —  Soluçar  versos. 
SOLUÇO,  s.  «i.  Suspiro  redobrado  com 

uma  voz  ou  som  interrompido.  —  «E  cer- 
caraõ-no  todos  a  pé,  de  maneira  que  naò 
podendo  o  cavallo  de  Clarimundo  soÔrer 
os  soluços  chorosos,  espaiitaudo-se  de  tão 
miserável,  e  triste  cousa,  apeouse  deile, 
e  foi-se  com  aquella  companhia  a  huma 
Fonte  que  estava  antre  as  arvores,  onde 
achou  o  Emperador,  e  toda  a  flor  de  sua 
casa  lançados  a  borda  delia,  traspassados 
deste  mundo  sem  darem  sinal  de  vida, 
se  naõ  com  a  cor  com  que  a  triste  morte 
cobre  aos  seus  convidados.»  Barros,  Cla- 
rimundo, liv.  2. 

Vim  gastando  teus  sobiços 
da  Easào 

derribada  assi  no  chào, 
que  verás  beber  de  bruços 
03  que  cuidas  que  c'o  a  mão. 

ANTÓNIO  PBBSTES,  AUTOS,  pag.  51. 

—  Termo  de  náutica.  O  arfar  do  na- 
vio; o  movimento  que  elle  faz,  mettendo 
de  proa  ou  arfando. 

SOLUÇOSO,  A,  adj.  Acompanhado  de 
soluços. 

—  Que  está  soluçando. 

—  O  soluçoso  alento;  o  respirar  com 
soluços. 

SOLUTIVO,  A,  adj.  Termo  de  medici- 
na. Que  tem  a  virtude  de  dissolver. 

—  Medicamento  solutivo ;  que  resolve 
e  adelgaça  os  humores,  de  maneira  que 
saiam  pela  transpiração,  ou  se  evacuem 
para  outras  partes. 

1.)  SOLUTO,  A,  adj.  (Do  latim  solutas, 
de  solvere).  Solto,  desatado  do  vinculo, 
lei,  prisão. 

—  Oração  soluta ;  oração  solta,  sem 
rhythmo  ou  harmonia  poética,  nem  con- 
soantes ou  rimas. 


—  Part.  pass.  de  Solver. 

2.)  SOLUTO,  s.  VI.  {Dola.úmsolutuvi). 
Termo  de  chimica.  O  producto  de  uma 
solução  ou  dissolução. 

SOLÚVEL,  adj.  2  gtn.  (Do  latim  solu- 
òilis).  Termo  de  chimica.  Susceptível  de 
se  dissolver  com  algum  menstruo ;  em 
opposição  a  insolúvel. 

—  Quá  pôde  resoiver-se.  —  Problema 
solúvel. 

—  Corpos  solúveis;  aquelles  cuja  for- 
ça de  cohesão  não  é  assaz  poderosa  para 
resistir'  á  acção  dissolvente  dos  fluidos 
com  os  quaes  os  põe  em  contacto. 

SOLVABILIDADE,  s.  f.  Estado  de  uma 
pessoa  solvavel. 

SOLVAVEL,  adj.  Que  tem  com  que  pa- 
gar. —  Pessoas  solvaveis. 

SOLVÊNCIA,  s.  /.  Vid.  Solvabilidade. 

SOLVENTE,  part.  act.  de  Solver.  Que 
pagou  as  suas  dividas. 

—  Solvavel. 

SOLVER,  1'.  a.  (Do  latim  solvere).  Dis- 
solver, resolver. 

—  Solver  duvidas;  explical-as. 

—  Termo  de  pintura.  Solver  as  cores ; 
il-as  desfazendo  e  applicando  cum  um 
pincel  secco. 

SOLVIDO,  jmrt.  pass.  de  Solver.  Vid. 
Soluto. 

1.1  SOM,  s.  m.  (Do  latim  sonus).  O 
que  impressiona  o  ouvido  por  eífeito  de 
movimentos  vibratarios,  em  opposição  ao 
ruido,  em  que  os  movimeatos  se  contun- 
dem, duram  e  são  de  uma  intensidade 
desigual. 


A  VOZ,  que  aí&-oisa, 
lutei-rompcram  sons  descoaliecidos 
De  voz  de  estranho  que  na  estancia  humilde 
Entra  do  vate  :  —  «Perdoae  se  ousado 
Entrei,  senhor,  mas...  » 

GABBETT,  CAMÕES,  Caut.  10,  Cap.  21. 


—  o  som  considerado  no  ponto  de  vis- 
ta musical. 

—  Sons  harmónicos.  Vid.  Harmonia. 

—  A  lingua  dos  sons  ;  a  musica. 

—  Diz-se  das  articulações  de  uma  lin- 
gua. 

—  Termo  de  medicina.  Som  intesti- 
nal; aqucUe  que  produz  o  intestino  con- 
tendo gazes. 

—  Cantar  ao  som  dos  instrumentos ; 
cantar  acompanhando  e  accommodando  a 
voz  au  som  d'clles. 

—  Figuradamente:  Cantar  ao  som  do 
<^ue  embolsa. 


E  que  dom  açougue  é  tal 
que  lhe  vem  por  natural 
cantar  ao  som  do  que  embolsa ; 
grande  bem  quero  ala  bolsa 
da  banda  do  meu  punhal. 

ANTÓNIO  PKESTES,  AUTOS,  pag.  129. 


—  Sons  cadentes. 


O'  grande,  unico  genio !  Oh  !  Quem  podéra 
Aproximar-se  a  ti  nos  sois  cadentes, 
Com  que  do  mar  ao  Vencedor  consagro 
Nào  inglório  Troféo,  que  aos  Evoa  mostra 
Talvez  do  humano  o-íforço  a  mór  façanha, 
Destinada  do  Ceo  somente  aos  Lusos. 

J.   A.    DB  MACEDO,   VIAQEU  EXTÁTICA,   Caut.    2. 

—  Ao  som  da  vontade,  da  natureza; 
conforme  a  vontade,  a  natureza. 

—  Ao  som  da  razão;  como  ella  or- 
dena. 

—  Estar  em  som  de  guerra ;  de  resis- 
tir, etc. ;  em  humor,  em  resolução,  esta- 
do, figura,  para  isso. 

—  C/iegar  á  praça  em  som  de  paz; 
chegar  como  quem  vae  de  paz. 

—  Em  som  de  sair;  em  disposição  e 
attitude  de  sair-. 

—  Navegar  ao  som  dos  mares;  nave- 
gar a  arbítrio  d'elles. 

—  Loc.  FIG.  :  Ao  som  do  paladar;  ao 
gosto. 

—  Ao  som  da  sua  paixão;  segundo  o 
que  ella  quer  e  inspira. 

—  Estar  cm  som  de  guerra;  estar  em 
ar,  apparencia  d'isso. 

—  la-me  ao  som  por  onde  os  mais  iam  ; 
seguia  o  fio  da  gente,  fazia  como  os  mais. 

—  Dizer  alto  e  de  bom.  som ;  dizer  sem 
receio,  com  despejo,  e  dissolutamente. 

—  Botar  d'elle  esse  som. 

Desmanchar  este  castello 
fazer  outro  mais  devoto, 
que  este  é  bello  e  não  é  bello. 
Tu  botas  d'elle  esse  somf 

ANTÓNIO  PHESIES,  AUTOS,  pag.  32. 

—  Sons  melodiosos ;  sons  cheios  de  me- 
lodia. 


Ah!  Que  se  esquiva  aos  sons  melodiosos 
Da  Lusa  Poesia  o  aceeuto  agreste 
Da  Lingua  do  Tamisa,  e  do  Danúbio ! 
Foge  ao  compasso,  e  magica  harmonia! 
De  Cumberlande,  e  Coduvorth,  e  do  Hume 
Alli  descubro  os  magestosos  Vultos. 

J.   A.    DE   MACEDO,   VIAGEM  EXTÁTICA,    CaUt.    2. 

— -Andar  o  mundo  de  outro  som;  se- 
guir outros  estylos. 

—  Syn.  :  Som,  tom. 

Som  é  a  impressão  que  faz  no  ouvido 
o  ar  vibrado,  como  o  som  da  voz,  da 
trombeta,  do  sino,  dos  tiros  d'artilheria. 
2'om  é  som  determinado  apreciável,  como 
o  dos  instrumentos  músicos. 

O  som  da  voz  está  determinado  pela 
constituição  physica  do  órgão  vocal ;  é 
suave  ou  áspero,  agradável  ou  desagra- 
dável, fraco  ou  forte.  O  tom  da  voz  é 
uma  inflexão  determinada  pelas  afteições 
interiores  de  que  uma  pessoa  se  acha  pos- 
suído, e  quer  dar  a  conhecer.  Segundo  as 
occasiões,  é  elevado  ou  baixo,  imperioso 
ou  subnússo,  triste  ou  alegre. 

2.)  SOM.  Fimna  antiquada  do  verbo 
ser,  em  vez  de  sou  ou  savi. 


582 


SOMA 


SOMB 


SOMB 


3.)  SOM.  Forma  antiquad/i  Ao  verbo 
ler  na  terceira  pessoa  do  plural  do  pre- 
sente do  nioJo  indicativo.  Vid.  Ser.  — 
«O  nono  arti^^o  iic.  Que  dizem  que  som 
afçravaJos,  p(jr  quanto  pousam  com  elies 
eiu  suas  casas,  especialmente  os  Bciieíi- 
ciados  das  Ifcrojas  Catbadraaes,  o  que  be 
contra  Direito  Comum,  t  Ord.  Affons., 
liv.  2,  cap.  6.  —  «E  vistos  per  Nós  os 
ditos  estabelicimentos,  declarando  :lcerca 
delle-i,  quanto  a  Nós  bem  cabe  fazer  com 
justiça,  Mandamos,  e  Poomos  por  Lei, 
que  quanto  he  aa  primeira  parte,  honde 
faliam  dos  que  levam  armas,  ferro,  ma- 
deira, etc,  que  som  cousas  mais  estrei- 
tamente, 6  com  maior  pena  defesas. > 
Ibidem,  liv.  4,  tit.  63,  §  2. 

1.)  SOMA,  ou  SOMMA,  s.  /.  Termo  de 
matlicmatica.  Kosultailo  das  quantidades 
addicionailas.  —  A  somma  das  unidades. 
—  A  somma  dos  termos  de  uma  ei^uação. 

—  Quantidade.  —  «1'assa  ao  longo  de 
muitas  terras  incultas  e  despovoadas  de 
grandes  matos  e  arvoredos,  onde  ha  innu- 
meraveis  Alifantes  e  muitas  Bufaras,  de 
que  eu  vi  por  aquella  terra  muita  soma  del- 
ias bravas,  e  nierus,  que  sam  como  boas 
muUas,  e  humas  .alimárias  que  chamam 
naquollas  partes  Badas.»  Fr.  (uíspar  da 
Cruz,  Tratado  das  cousas  da  China,  cap. 
3.  —  «Tem  el  Rey  ([uantas  molhores  quer: 
e  das  portas  a  lentro  quasi  todo  ho  serviço 
he  de  molheres:  pollo  que  tem  multa  mul- 
tidam  delias  e  assi  tem  soma  de  capados 
e  nam  ha  outra  gente  das  portas  aden- 
tro, o  Ibidem,  cap.  22.  —  «Ha  também 
outras  embarcações  em  que  vem  grande 
soma  de  molheres  velhas  que  servem  de 
parteyras,  e  daij  mezinhas  para  botarem 
as  crianças,  e  fazerem  parir  ou  n.ão  pa- 
rir.» Ibidem.  —  «E  passada  esta  casa,  em 
que  não  ouve  detença  de  cerimonia  ne- 
nhuma, chegamos  a  outra  que  se  chamava 
Tigihipau,  na  qual  também  avia  outra 
grande  soma  do  gente,  porem  esta  estava 
armaila,  c  toda  em  pé,  a  qual  posta  em 
cinco  flleyras  tomava  todo  o  comprimento 
da  casa,  o  tola  o>ta  gente  tinha  seus  tro- 
çados guarnecidos  de  chujiaria  douro  pos- 
tos ás  costas.»  Ibidem,  cap.  122.  —  Afas- 
tados desta  mesa  dez  ou  doze  passos  es- 
tavào  dous  apparadores,  em  que  avia  bai- 
xellíia  muyto  ricas,  com  grande  soma  de 
peças  de  prata  de  toda  sorte  feitas  ao  tor- 
no.» Ibidem,  cap.  124.  —  «Naij  avia  in- 
da  bem  duas  horas  que  estávamos  surtos 
nesta  calheta  de  Miaygimaa,  quando  o 
Nautoquim  príncipe  desta  ilha  de  Tani- 
xumaa  se  veo  ao  nosso  junco  acompanha- 
do de  muytos  mercadores  e  de  gente  no- 
bre, cõ  grande  soma  de  caixões  eheos  de 
prata  para  fazer  fazenda.»  Ibidem,  cap. 
133. 

—  Abundância.  —  «Pelo  qual  vendose 
Pêro  de  Faria  muyto  desabcrcebido  de 
tudo  o  necessário  para  este  cerco,  e  com 
rauvta  falta  de  gente,  quiz  tentar  valerse 
destes  cem  homens,  assi  por  estarem  mais 


perto,  o  poderem  acudir  mais  depressa, 
como  também  jior  terem,  como  quem  an- 
dava iia'|uullo  (ifTiciu,  muyto  grUdc  soma  de 
nmniçrie»  nccus-^arias  a  esto  cerco  que  es- 
perava.» Ididem,  cap.  144. —  «K  man- 
dando surgir  o  junco  junto  da  ilha,  se  fez 
prestos  com  todos  os  seus  em  três  embar- 
cações de  remo,  com  lium  falcHo  e  cinco 
berços,  e  sessenta  homens  Jaós  e  Lusõea 
com  muyto  boas  armas,  em  que  avia 
trinta  com  espingardas,  e  os  mais  com 
lanças  e  frechas,  e  muyta  soma  de  pa- 
nellas  de  pólvora,  e  outros  artifícios  de 
fogo  convenientes  a  nosso  propósito.»  Ibi- 
dem, cap.  145. —  «Que  lançavaõ  muito 
pêra  fora  pêra  dalli  descobrirem  bem  os 
imigos,  donde  os  começarão  a  fustigar 
com  soma  de  arcabuzaria,  e  com  alguns 
falcoons,  com  que  lhe  lizeraõ  bem  de  da- 
no :  não  desistindo  cõ  tudo  os  Mouros  da 
obra,  nem  os  nossos  de  os  escandalizar.» 
Diogo  de  Couto,  Década  6,  liv.  2,  capi- 
tulo 9, 

—  Conclusão,  a  substancia,  e  resumo. 

—  Vid.  Summa. 

2.)  SOMA,  s.  /.  (Do  latim  suminum). 
Altura,  logar  levantado,  que  domina  a  sua 
circumvisinliança. 

o.)  SOMA,  adv.  ant.  Em  summa,  em 
conclusão,  tinalmente. 

4.)  SOMA,  s.  f.  Embarcação  pequena 
usada  no  Chincheo. 

SOMADA,  s.  /.  Assomada,  altura,  lo- 
gar levantado. 

SOMADO,  part.  pass.  de  Somar.  Addi- 
cionado. 


E  milhor  não  contar  nada 
de  torra  que  mais  uào  monta 
contada,  que  uào  contada ; 
cstíl  per  hi  tão  somada 
que  pei-dc  quem  d'ella  conta. 
ANTONio  PBEsrEs,  AUTOS,  pag.  373. 


—  Resumido. 

SOMANA,  s.  /.  Vid.  Semana. —  cOs 
quaes  todos  debaixo  da  c;ipitania  de  Pê- 
ro Barreto,  se  partirão  de  Quiloa,  perà 
índia,  na  somana  sancta  do  anno  de 
M.  D.  vj,  e  chegaram  a  Anchediua  a  xviij. 
de  ilayo,  omle  todas  inuernarào,  saluo 
Lucas  Dafonseca  que  passou. »  Damião  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  2, 
cap.  9. 

SOMAR,  V.  a.  Averiguar,  achar  a  quan- 
tia resultante  de  inuiUis  parcellas,  ou  por- 
ções de  grandeza  da  mesma  espécie. 

—  Figuradamente:  Resumir,  dizer  em 
resumo.  Vid.  Assomar. 

—  Somar-se,  v.  rcjl.  Resumir-se. 
SOMARIO,  s.  í?),  Vid.  Summario. 
SOMATOLOGIA,  s.  f.  (Do  grego  soma- 

toSf  c  logos).  Termo  de  medicina.  Trata- 
do das  partes  solidas  do  corpo  humano. 

SOMBRA,  s.  /,  (Do  latim  umòra).  A 
falta  de  luz,  produzida  pela  interposição 
de  um  corpo,  que  não  dá  passagem  aos 
raios. 


Se  vae  porto  do  Sol,  mais  luz  derrama, 
Sc  dello  longe  va«,  maia  tombra  o  cobro. 

J.   A.  DK  MACEDO,  A  KATUKEZA,  CaOt.  1. 

Nem  o  doce  crepúsculo  se  vira, 
(tn  quando  o  cUro  Sol  no  mar  se  .itufa, 
Nem  todo  lie  dia,  nem  hu  noite  o  Mundo, 
Kutro  purpura,  c  êomhra  a  vista  inc«rta ! 

IDEM,  VIAOEM   EXTÁTICA,  CaOt.    1. 

Enthusiaamo,  que  cm  minha  alma  fervo, 
Te  contrmpla,  te  admira,  i;  quasi  adora. 
Km  teu  ciaro,  vastíssimo  horiaontc- 
As  grada(;õc8  da  Luz,  da  iomira  vejo. 
IBIDEM,  cant.  4. 


—  Diz-se  que  a  vida  dos  homens  passa 
como  sombra. 

—  A  sombra ;  ao  amparo,  ao  abrigo. 
—  «Ao  primeiro  dia,  que  começaram  a 
caminhar,  a  horas  de  véspera  chegaram 
a  um  valle  gracioso  e  grande,  cheio  d'ar- 
voredos,  c  muitas  boninas  por  baixo,  que 
era  tempo  delias.  No  cabo  delle  estavam 
duas  tendas  armadas  junto  do  uma  fonte 
de  muita  agua;  e  á  sombra  de  uns  ale- 
mos altos,  arredor  da  fonte,  andavam  qua- 
tro donzellas  brincando  umas  com  outras.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  dlngla- 
terra,  cap.  110.  —  «Ha  nestas  Ilhas  moi- 
tas monstruosidades,  de  que  não  falíamos, 
e  entre  ellas  huma  arvore,  que  quem  se 
põe  á  sombra  do  Ponente,  mata  logo,  se- 
não vam  buscar  a  sombra  do  Levante, 
que  ho  seu  antídoto.»  Diogo  de  Couto, 
Década  4,  liv.  7,  cap.  8.  —  «E  ponco 
desviados  do  caminho  virão  que  sobre 
huns  penedos  á  sombra  de  humas  altas 
amendoeiras  cantavão  duas  pastoras  de 
arrazoado  parecer  ao  som  de  uma  &auta, 
que  hum  velho  tangia,  o  qual  a  tocava 
com  muita  graça;  e  dous  pastores  com  as 
mãos  na  face  encostados  sobre  a  do  pene- 
do as  ouvião.»  Francisco  Rodrigues  Lo- 
bo, Primavera. 

Minha  inimiga  bella, 
Gloria  da  minha  dor,  c  a  cansa  dolla, 
Em  cuja  mão  Amor  depositado 
Tem  a  minha  Fortuna,  c  o  meu  cuidado: 
Tu  honras  estes  bosques,  c  estas  praias, 
Ora  encostada  k  sombra  de  altas  faias. 
Ora  pizando,  quando  aqui  passêaa, 
Com  branco  pé  as  húmidas  arêas. 
j.  X    DE  MATTOS,  BiMAS,  pag.  252. 

—  As  sombras  da  morU.  —  «Qual  é  o 
homem  i,diz  o  Real  Profeta)  que  chegou 
a  ver  a  luz  da  vida,  e  se  escusasse  de 
ver  as  sombras  da  morte?»  Padre  Ma- 
noel Bernardes,  Exercicios  espirituaes, 
pag.  399. 

—  Arvores  de  sombra;  arvores  que  se 
plantam  para  a  darem,  e  estarmos  ao  fres- 
co debaixo  d'ellas.  —  «  Bem  é,  senhor 
Palmeirim,  disse  Bercldo,  que  as  tenhaes 
em  pouco ;  pois  pêra  vós  nenhuma  pôde 
ser  muito ;  mas  nem  por  isso  as  tenhaes 
em  pouco,  que  na  verdade  não  sâo  pêra 
isso.  Satiafor  os  levou  a  ama  saia  gran- 


SOMB 


SOMB 


SOMB 


583 


de,  singular  de  ver  a  obra  d'ella,  e  tér- 
rea, corria-lhe  um  tanque  d'agua  pola 
porta,  de  que  se  regava  um  jardim  po- 
voado de  muitas  arvores  delias  pêra  fru- 
eta,  outras  pêra  sombra,  posto  tudo  por 
sua  ordem  e  em  seu  lucrar.»  Francisco  de 
Andrade,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap. 
119. 

—  Termo  de  poesia.  Os  manes,  as  al- 
mas dos  mortos,  as  regiões  dos  mortos. 
—  Descer  ás  sombras  t- às  e  escuras. 


Imagiuae  tamanhas  aventuras, 
Quaoõ  Eurystheo  a  Alcides  inventava ; 
O  leão  Clconeo,  Harpias  duras, 
O  porco  de  Ervmantho,  a  Hydra  brava  : 
Descer  emfim  ás  sombras  vàs  e  escuras, 
Onde  os  campos  de  Dit«  a  Estyge  lava  ; 
Porque  o  maior  perigo,  a  mor  at&-onta, 
Por  vós.  oh  Rei,  o  esprito,  e  carne  é  pronta. 
CAM.,  Lns.,  cant.  4,  est.  80. 

—  .ás  sombras  do  sepulchrO;  do  infer- 
no; as  trevas. 

—  Estar  á  sombra;  estar  no  logar  on- 
de não  dardejam  os  raios  do  sol. 

—  Terra    habitada  pelas  sombras   da 
morte. 


Terra  do  mingua  e  trevas,  habitada 
Pelas  sombras  da  morte  —  onde  mais  ordem 
Que  o  sempiterno  horror  ha  hi  nenhuma. 
OAEBETT,  CAMÕES,  caut.  2,  cap.  5. 

—  A  sombra  do  diadema. 

Kão  se  acoitam 

Mollemente  na  purpura  paterna 
Os  filhos  de  João,  nem  se  crem  grandes 
Em  torpe  ociosidade  vegetando 
A  sombra  do  diadema  que  em  suas  frentes 
Descuidadas  não  pesa  :  — Henrique  o  grande, 
O  sábio  Henrique,  o  protector  philosopho. 
eASBETT,  CAMÕES,  cant.  8,  cap.  8. 

—  As  sombras  da  ment-e  humana. 


Da  ment«  humana  as  sombras  afugenta. 
Rompe  com  luz  recônditos  arcanos, 
Com  sapiência  próvida  alimenta, 
Dados  ao  erro,  os  míseros  humanos : 
O  fado  extremo  de  Israel  lamenta. 
De  perto  vendo  aproximar-se  os  annos, 
Queterna  assolação,  total  ruina. 
Devem  trazer  á  escrava  Palestina. 

j.  A.  DE  M.\cEDO,  o  OBiESTE,  caut.  10,  est.  24. 

—  Mudas  sombras. 

Sobre  as  bases  das  Íngremes  muralhas 
Que  cem  canhões  horrisonos  defendem. 
Por  entre  mudas  sombras  vão  cavando. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  HATCBEZA,  Cant.  2. 

—  A  tinta  com  que  se  pintam  as  som- 
bras. 

—  Diz-se  de  um  individuo  que  sempre 
acompanha  outro,  que  é  a  sua  sombra. 

—  Receber  alguém  com  boa  sombra ;  re- 
cebel-o  com  bom  ar,  boa  cara,  mostras  e 


—  .íl  sombra  dos  séculos. 

Quem  pódc  agora  a  Natureza  toda 
Contemplar  dhum  só  golpe  ?  A  Poesia 
Que  rompe  os  duros  cárceres  da  morte 
Que  na  sombra  dos  séculos  penetra, 
Que  fiada  em  si  mesma,  as  ígneas  azas 
Deáfcre  alem  dos  Ceos,  alem  doa  astros. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  SATUBEZA,  Caut.  3. 

Taes  tem  sido  teus  dons,  nobre  Elemento, 
A  tal  preço  compraste  Altar,  Incenso, 
Que  nos  antigos  séculos  de  sombras 
O  Persa  adorador  te  consagraTa. 
IBIDEM,  cant.  2. 

—  Visào,  espectro,  phantasma. 

Vào  após  esta  sombra :  e  acaso  he  sombra 
Quanto  na  Terra  se  chamou  Ventura, 
Doce  bem  dos  mortaes  que  busc^o  todos? 
Dos  prazeres  na  posse  acaso  a  encontra 
Entre  os  jardins  frugaes  paico  Epicuro  ? 
Das  paixões  na  victoria  acaso  existe"? 

J.    A.    DE    MACEDO,    MEDITAÇÃO,    Caut.    1. 

—  Cobrir   a    terra    de  palpáveis  som- 
bras. 

Espande-se,  dilata-sc,  cobrindo 
A  Terra  toda  de  palpáveis  sombras, 
Por  onde  Insectos  denegridos  gírão  •, 
Tudo  corrompem,  coutaminào  tudo 
Onde  chegão  co'  as  azas  pestilentes. 

J.   A.    DE  MACEDO,  VIAGEM   EXTÁTICA,   Cant.    4. 

—  Xegras  sombras. 

Cesse  ja  a  tempestade,  e  o  duro  inuemo, 
Passe,  c  leue  consigo  sombras  negras 
Rompase  o  manto  escuro  tenebroso 
Que  as  amorosas  almas  tem  sombrias. 
Desfaçase  o  Bulcão,  da  ncuoa  espessa, 
E  o  infelice  vapor  molesto,  e  triste, 
Venha  ja  o  resplandor  do  louro  Apollo 
Aclare  destes  dous  o  mal  oeeulto. 

COBTE  REAL,  HAUFBAGIODE  SEPÚLVEDA,  Oaut.    4. 

O  forte  Capitão  dissimulando 
A  dor  que  o  coração  e  a  alma  lhe  passa 
Esforça  a  frac^  gente  com  palauras 
Que  vida  lhe  vào  dando  ao  fraco  sprito. 
A  marítima  costa  chegão,  quando 
O  louro  ApoUo  ao  mar  ja  se  entregaua, 
Estendcndose  la  huma  negra  sombra 
Por  donde  Aurora  mostra  a  luz  do  dia. 
IBIDEM,  cant.  IG. 


—  A  sombra;  com  pretexto. 

—  Defeito  leve. 

—  Fazer  sombra;  servir  de  amparo. 

—  Sombras  espessas. 

Quando  envolto  em  tormenta,  e  sombra  espessa 
Passou,  sem  medo  á  morte,  a  Austral  baliza 
Vergonha,  e  confusão  da  audácia  humana 
Desde  que  em  curvo  lenho  a  frágil  vida 
Ao  capricho  entregou  do  vento,  c  mares. 

J.  A.   DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Cant.    2. 

De  todo  Urânio  a  hypothcse  não  prova ; 
luda  envolta  a  deixou  na  espessa  sombra. 
IBIDEM,  cant.  3. 

—  Cimereas  sombras  d' alongada  noite. 


Do  Pólo  o  Cidadão  dcstróo  com  ello 
Cimereas  sombras  dalongada  noite, 
Que  abafa  as  regiões  do  frio,  e  moiie. 

J.   A.   DH  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Cant.   3. 

—  As  sombras  da  magestosa  natureza. 

Com  seu  exemplo  mostra,  c  nos  descobre 
Que  o  melhor  era  ignoto,  e  que  podemos 
Com  porfiado  estudo  dentre  as  sombras 
Da  magestosa  Natureza  hum  dia, 
Despedaçado  o  véo,  á  luz  traze-lo, 
(Elle  o  caminho  mostra,  e  o  vai  ti'ílhando) 
E  assim  tocarmos  da  verdade  o  termo. 

J.   A.   DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,   Caut.   2. 

—  A  sombra  escura. 

Olha  acceso  Rubim,  na  sombra  escura 
Da  noite  em  si  conserva  a  luz,  c  o  dia. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NAICBEZA.  Caut.  2. 

—  Penetrar  as  sombras  do  nada. 

Que  vista  pôde  penetrar  as  sombras 

Do  nada  cm  que  o  Senhor  continha  o  Mundo  ? 

Eis  onde  pára  absorto  o  Entendimento, 

E  a  sciencia  mortal  se  cála  humilde. 

J.    A.    DE  M.ÍCED0,  A  K.'Í.TCBEZA,  Caut.    1. 

—  Logar  de  má  sombra ;  logar  triste, 
melancólico. 

—  Figura,  representação,  ou  imagem, 
typos  significativos  do  que  ha  de  reali- 
sar-se. 

—  As  sombras  ynetaphi/sicas. 


Dêo-te  o  trabalho  pão,  nunca  a  lisonja, 
Nunca  o  bater  servil  de  hum  Grande  á  porta. 
Reprovo  em  ti  doutrina,  e  louvo  o  homem. 
Nas  sombras  Metaphisicas  te  perdei, 
Conservando  a  virtude  intacta,  e  pura. 

J.    A.  DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  CaUt.  2. 


Apparencias,  cousas  sem  ser. 


Quasí  perdem  seu  tom  da  Lira  as  cordas. 
Quando  destarte  o  labvrintho  encaro 
Da  linguagem  dos  Cálculos,  que  he  sombra, 
Que  estrema  imniensamente,  e  que  divide 
O  frio  Euclides  do  fervente  Milton. 

J.   A.  DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Cant.   4. 

—  Figuradamente  :  Metter   na  escuri- 
dade, nào  deixar  figurar. 

—  Não  querer  nem  por  sombras;    não 
querer  de  forma  alguma. 

—  A  sombra  do  amor. 


Um  plátano  frondoso  que  hi  crescia, 

Em  cujo  liso  tronco  tantas  vezes 

Se  incostou.  aguardando  a  hora  tardia, 

—  Prazo  dado  d'amor,  que  é  tardo  sempre! 

Cuja  sombra,  em  luar  pouco  propicio 

A  amantes,  o  occultou  de  agudas  vistas 

De  curiosos-piofauos  e  ininii^os... 

G.ABSETT,  CAMÕES,   Caut.    10,   Cap.    13. 

—  Cançado  de  luctar  com  as  sombras. 


584 


SOMB 


SOMB 


SOMB 


Eia  cangado  do  lutar  co'a8  nomhra» 
l'cIo  diííco  do  Sol  donfiro  o»  voo», 
I>o  novo  c<irto  as  orbita»  nos  Antros, 
Atrai!  di'ixo  Saturno,  c  .lovo,  c  Marte, 
Improviso  clarão  meus  olhos  fore. 

J.  A.  PE  MACKDO,  A  HAriar.ZA,  cant.  1. 

—  A  iJenaa  sombra. 


Do  século,  cm  que  vivo,  a  »omhra  donsa 
ICu  rasgarei  com  vivo  cnthusiasmo : 
Açaimnda  deixando  a  negra  Inveja, 
Ao  menos  (|uando  o  corpo  cm  cova  humilde 
A  morte  me  esconder. 

J.   A.    DE  MACr.DO,   VIAOEM  EXTÁTICA,  Caut.    1. 


—  Ver  a  verãade  envolta  em  sombras 
igiiaes. 


Debalde  inquiro  os  sábios  que  primeiro 

Kntre  os  mortaes  Filósofos  se  acchimào!... 

Que  apertados  conlins  prescriptos  forão 

Do  humano  entendimento  A  forija,  aos  voos ! 

Se  outros  grandes  oráculos  c>!cnto, 

Vejo  em  sombras  iguaes  verdade  envolta. 

J.   A.    DK   MACEDO,  URDITAÇÂO,   Cant.    4. 


—  Vèr  as  sombras  na  brilhante  alam- 
pada  do  inundo. 


Buscào  O  Sol  no  Sol,  o  alli  descobrem 
As  nno  cuidadas  niAculas ;  ou  foste, 
Immortal  Galileo,  tu,  (cujos  olhos 
Do  luz  mais  viva  enchera  a  Natureza) 
O  primeiro  talvez,  que  a»  .?om'ir<is  \'ira, 
Nessa  brilhante  alampada  do  Mundo. 

J.    A.    DE  MACEDO,  VIAOEM   EXTÁTICA,   Caut.    2. 


—  Vestígios,    leves   noções   e  tinturas 
ou  descri pções. 

—  Ar,  apparencia. 

—  Imagem  apagada,  cxtincta. 

—  Dar  sombras;  assombrar,  não  pro- 
duzir luz. 

Alem  se  abria,  e  se  encurvava  o  porto 
Do  famoso  Pyrôo !  No  mato  espesso, 
Que  entro  pedras  além  se  enlAça,  e  cresce, 
As  lizas  Faias,  PlAfcinos  viçosos 
DEpicurio  aos  Jardins  jA  derào  .lombras. 

1.   A.   DE   MACEDO,   MEDITAÇÃO,   Caut.   2. 

—  Lcva-me  a  calma  á  sombra  amena. 


Leva-me  a  sede  adusta  á  fonte  fria, 
A  calma  ;i  sombra  amena  ;  e  á  mole  cama 
Assim  que  a  noite  a  escuridão  derrama, 
O  doce  somno  pela  maõ  me  guia. 

ABBIDK  DE  JAZESTE,  POESIAS,  pag.  729. 

—  Diz-se  também  ila  pessoa  que  facil- 
mente se  assusta  c  perde  o  animo. 

—  Termo  do  historia  natural.  Peixe 
maritinui ;  o  mesmo  que  ombrina. 

SOMBRAÇ.^DO,  part.  pass.  de  Sonibra- 
çar. 

SOMBRAÇAR,    v.  a.  Yid.  Sobraçar. 

SOMBREADO,  part.  pass.  de  Sombrear. 
Coberto  do  sombras,  que  está  á^  sombra 
de  arvores,  edifícios,  etc. 


—  ÍJoa-se  também  substantivamente, 
como  terriiii  de  pintura. 

SOMBREAR,  v.  a.  Assombrar,  cobrir, 
encídirir  com  sombra. 

—  Termo  de  pintura.  Pôr  as  sombras, 
o  escuros. 

SOMBREIRA,  f.  f.  Termo  de  botânica. 
Planta  qu''  tem  Ibihas  largas  e  redonda-s, 
e  produz  flGre.s  azuos  com  a  íigura  do 
jasiiiin-*. 

SOMBREir.EIRO,  s.  m.  Homem  que  faz 
soinlirciro.-i,  an  chapi'!03. 

SOMBREIRINHO,  í.  m.  Diminutivo  de 
Sombreiro.  Ciiaiiolinlio. 

— -  Sombreirinho  de  mão;  chapéo  de 
sol  j)equeno. 

—  Plur.  —  Sombreirinhos  do  telhado; 
liorva,  aliá.s  cuncilhas,  ou  concelhos.  Vid. 
Orelha  de  monge. 

SOMBREIRO,  s.  m.  Chapéo. 

Toma  1:1  osso  sombreiro  ; 
F.u  sam  ja  acrecentado 
Kscudciro  encavalgado, 
Depois  serei  cavalleiro. 
Que  o  anno  for  acabado. 
Ando  ja  quasi  privado 
(^omo  quem  no  melhor  anda, 
Agora  Tcr-mo  om  demanda, 
Acho-rae  tiio  salteado 
Como  o  gato  na  varanda. 

OII-  VICENTE,   FABÇAS. 

—  «Ila  nesta  terra  duas  maneiras  de 
sacerdotes,  huiis  que  trazem  as  cabeças 
de  todo  rapadas,  trazem  estes  nas  cabe- 
ças huns  barretes  grossos,  como  de  pano 
de  sombreiro,  e  detrás  sam  altos  e  chàos, 
diante  mais  altos  que  detrás  quasi  hiima 
mão  travessa,  mas  feitos  cm  ameas :  os 
seus  trajos  sam  pelotes  brancos  feitos 
ao  moio  dos  seculares.»  Fr.  Tíaspar  da 
Cruz,  Tratado  das  cousas  da  China,  ca- 
pitulo 27. 

—  A  cousa  que  faz  sombra  ou  assom- 
bra. 

—  Guarda-sol  na  índia  portugueza. 

—  Sombreiro  de  sol;  sombreiro  de  pé 
alto;  o  que  se  chama  hoje  chapéo  de  sol. 

—  Peixe  monstruoso  que  deteve  o  na- 
vio de  Rui  Vaz  Pereira,  além  do  cabo 
da  Boa  Esperança,  sustendo  com  a  cau- 
da o  leme,  e  abarcando  com  as  barbata- 
nas os  dous  costados;  a  cabeça  era  gran- 
de como  pipa,  e  tinha  resfolegadouros  ou 
tromba  por  onde  lançava  maior  espadana 
de  agua  que  a  baleia. 

—  Ad.vgio  : 

—  Em  janeiro  sete  espelhos  e  um  som- 
breiro. 

SOMBRELLA,  s.  /.  Termo  de  botâni- 
ca. Vaso  de  barro,  uma  grande  choca  de 
lata,  ou  um  cesto  cvlindrico  de  vime, 
abertos  de  ilharga ;  servem  para  fazer 
sombra,  ou  abrigar  as  plantas  dos  ven- 
tos. 

SOMBRERETE,  s.  m.  Diminutivo  de 
Sombreiro. 

SOMBRIA,  s.  f.  Termo  de  historia  na- 


tural.   Ave   bcirense.    Tem   a  forma  da 
cotovia. 

SOMBRIO,  A,   <vlj.    Diz-Bc  dos  Jogares 
onde  exi-te  sombra. 


Ao  longo  do  BíTcno 

Tejo,  suave  e  brando, 

N'hum  vallc  daltas  arvores  ãombrio 

Estava  o  triste  Almcno 

Suspiros  cspalliando 

Ao  vento,  e  does  lagrimas  ao  rio. 

CAU.,  EOIX>GA  2. 


—  A  sombria  noite. 

Do  mar  nas  frias,  cspumant^^s  ondas 
Vej.i  estendido  o  Bra<;o  omnipotente  ; 
Os  vifntos  chama,  ajunta,  esparge,  c  B<jlta', 
.■V  seu  império  entrega  o  vasto  Ctcosno ; 
Faz-lhc  um  .aceno,  Jis  iras  lho  (mcadvia. 
Km  toda  a  parte  cst.d  presente,  em  toda; 
At«''  nos  vt'o5  tristonhos,  e  peaidos. 
Com  que  a  sombria  noite  os  Coos  nos  tolda. 

J.    A.    DB    MACEDO,    MEDlTAÇÃO,   Cant.    4. 

—  Arvores  sombrias;  ar\-orc8  que  fa- 
zem sombra. 


A  quem  depois  dêo  Ciccro  mais  luzes 
Nas  Questões  Académicas,  que  em  Baias 
Entre  Oradores  Coii.sules  ventila, 
E  nas  alas  das  arvores  sombria» 
Do  fresco,  c  ameno  Tusculo  resolve. 

J.   A.   DE  MACEDO,  VIAGEM    EXTÁTICA,  Cailt.   2. 

—  Homem  sombrio ;  homem  triste,  tris- 
tonho. 

—  Homem  sombrio ;  homem   carrancu- 
do, severo. 

—  A  lua  envolta  em  vto  sombrio. 


A  congerie  dos  Ccos,  dos  Soes,  do  Todo, 
Hum  ponto  se  me  antolha,  c  brilha  apenas. 
Qual  Acronautji  vè  d'alem  das  nuvens, 
As-!om.ar  iihorizonto  a  argêntea  Lua 
Toda  envolta  do  eclipse  cm  vco  sombrio. 

J.   A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  CaOt.  1. 

—  Feito  :l  sombra,   como  os   mimosos 
gostam,  sem  trabalho,  e  com  molleza. 

—  A  Groelandia  sombria. 


Na  Groelandia  barbara,  c  sombria. 
Deserto  onde  esmorece  o  fogo,  a  vida. 
Por  entre  montes  cternacá  de  golo, 
Qu'  aboião  pelo  mar  fervido,  c  grosso, 
Seu  triste  alvergue  tem,  próprio  he  s<'>mcnt<3 
Tão  vasto  campo  do  Cardume  immenso. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  SATUBEZA,  Cant.  3. 

—  A  tt:rra  sombria  e  triste. 

Corre  a  Terra  tambrm  .sombria,  o  triste. 
Dos  Globos  sogue  a  Lei,  sou  m.ito  he  vario, 
E  nmrca  as  I-^taçucs.  Tu  fosto,  oh  Terra, 
Das  vistas  iraiuortaes  objecto,  c  termo. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Cant.  1. 

—  Vio   sombrio. 


SOME 

Immortal  Galileo,  ao  dia,  ás  Luzes, 
Que  teu  saber  profuudo  aos  homens  trouxe. 
Se  oppoz  a  cega  audaz  insipiência  ; 
Inda  agora  ae  opp5e,  q'lium  véo  sombrio 
Tentou  no  Sena  despregar-te  cm  cima. 

J.    A.   DE   MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,    Cant.    2. 

—  Adagio  e  provérbio: 

—  Nào   farás    horta  em  sombrio,  nem 
edifiques  a  par  do  rio. 

—  Syx.  :  Sombrio,  opaco.  Vid.  este  ul- 
timo termo. 

SOMBROSO,  A,  a<1j.  (De  sombra,  com 
o  siiffixo  «oso»).  Que  faz  sombra. 

—  Que  pioiluz  sombra. 
SOMEIRÒS,  s.  m.  plur.  Dous  paus  que 

susteem  a  furça    do    movimento    da  im- 
prensa. 

—  Someiros  dos  órgãos;  espécie  de 
caixas  on'le  existem  os  folies. 

SOMENOS,  aiJj.  2  gen.  Inferior  na  bon- 
dade, qualidade,  graduação.  —  «Avendo 
de  tratar  da  cidade  de  Cantão,  dou  pri- 
meiro lium  aviso  aos  leitores,  que  antie 
as  cidades  nobres,  cantão  lie  huma  antre 
muitas  menos  nobre  da  China,  e  muito 
somenos  em  edifícios  que  outras  muitas: 
inda  que  he  mais  populosa  que  muitas, 
isto  dito  por  todos  os  que  ha  viram  e  an- 
daram pella  terra  dentro,  onde  viram 
outras  muitas.»  Fr.  Oaspar  da  Cruz, 
Tratado  das  cousas  da  China,  cap.  6. 

—  Assucar  somenos;  assucar  inferior 
ao  branco,  e  melhor  que  o  mascavado;  o 
branco  baixo  inferior. 

SOMENTE,  adv.  Só,  unicamente,  não 
mais. 


Pêra  que  he  paronvelar? 
Que  queira  ser  peecador 
O  lavrador; 

Nào  tem  tempo  nem  logar 
Xera  somente  d'alimpar 
Ag  gotas  do  seu  suor. 

niL  VICEXTE,ALTO  DA  BABCA  DO  PCBGA- 
TOBIO. 

Colherei  alguma  couainha, 
Somente  por  ir  asinha 
E  nào  tardar. 
Coihei,  rosa,  dessas  rosas. 

IDEM,  FABÇAS. 

Vós  nào  haveis  de  fallar 

Com  homem,  nem  mulher  que  seja; 

Somente  ir  á  Igreja 

Não  vos  quero  eu  leixar. 


— ■  «Pede  de  mercê  a  vossa  alteza  haja 
por  bem  mandar  aos  seus  justar,  porque 
a  todos  08  desafia  um  por  um;  reservan- 
do somente  o  príncipe  Primalião  vosso  fi- 
lho, porque  contra  elle  não  tomará  lança. 
Muito  folgou  o  imperador  daquelle  acon- 
tecimento por  ser  cousa,  que  podia  dar 
contentamento  a  Lionarda,  e  nobreza  á 
sua  corte,  parecendo-lhe  que  o  cavalleiro, 
que  tal  feito  co;nmettia,  confiava  em  suas 
obras;  e  respondeu  ao  escudeiro  com  um 
semblante  alegre   e  risonho.»  Francisco 

TOL.  V.  —  74. 


SOME 

de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap. 
111. —  «E  humas  letras  que    dizem  isto 
desta    própria    maneyra,    estão   inda  oje 
esculpidas  num  escudo  de  prata  que  está 
pendurado    encima  na   volta  do  arco  de 
huma  porta  da  cidade  que  agora  se  cha- 
ma Pommicotay,   que  he  a  principal  de 
todas  as  portas,  na  qual  estào  continua- 
mente por  honra  e  memoria  desta  profe- 
cia,   quarenta  alabardejros   com  seu  ca- 
pitão.  E  em  cada  huma  das  outras  estào 
quatro  somente  para  darem  razão  do  que 
cada  dia  pur  ellas  entra  e  sae.»    Fernão 
Mendes   Pinto,    Peregrinações,  cap.   94. 
• —  «O    que   entendenilo    o    Monvagaruu, 
por  quem  aly  se  governava  tudo,  acenou 
ao  Queitor,    que  vinha  um  pouco  detrás 
delle,   que  fizesse  entrar  os  estrangevros 
somente,  e  abrindose  outra  vez  as  portas 
para  este  efteito,  começarão  de  entrar  os 
Bramaas,  e  nós  os  Portugueses,  e  de  vol- 
ta com  nosco  fov  tanta  a  gente  que  co- 
meteo  a  entrada.»    Ibidem,  cap.  162.  — 
«E  os  oitenta  somente,  que  erão  os  majo- 
res, estavào  em  pé,  presos  todos  por  ca- 
deas   de   ferro,    e   cõ   colares  grossos  do 
mesmo  aos  pescoços,  e  alguns  cõ  algemas 
nas   mãos,    e  os  pequenos   que  jazião  no 
chão  como  filhos  destes  mayores,  estavão 
cingidos  pelas  cintas  de  seis  cm  seis  com 
outras  cadeas   mais  delgadas,  e  por  fora 
das  grades   em   duas    outras  file^-ras   de 
três  em  três  a  fileyra,  estavão  duzentos  e 
quarenta   e  quatro   gigantes    de   bronze, 
de  vinte  e  cinco  palmos  cada  hum,  com 
suas  alabardas   e  maças  ás  costas.»    Ibi- 
dem. —  « A  qual  estaua  assentada  em  hum 
pedaço  de  terra  torneado  d'agua  salgada 
com  que  fica  em  ilha,  tudo  terra  baixa  e 
alagadiça,    dõde    se   causa    ser   ella   mui 
doentia:    cujas    casas    eraõ  palhaças,  so- 
mente   huma    mesquita,    e   as   do  Xeque 
que   eraõ  de  taipa  co  eirados  per  cima.» 
Barros,    Década    1,    liv.    4,    cap.    4.  — 
«Acabado  este  feito,  que  durou  espaço  de 
três  oras,    e   custou  a  vida  do  pajem  de 
Tristão  d'Acunha,   e  de  seis  ou  sete  que 
falecerão  despois  dos  cincoenta  e  tantos 
feridos    que  ali   ouue:    acharão    que   dos 
Mouros  morrerão  passante  de  oitenta,  e 
captivos  hum   somente  chamado  Homar 
que  era  mui  bom  piloto  da  costa  da  Ará- 
bia, e  despois  aproueitou  muito  a  Affonso 
d'Alboquerque,    em   quanto    ali    andou.» 
Idem,  Década  2,  liv.  1,  cap.  3. —  «Tam- 
bém em  as  nãos  não  havia  tantas  muni- 
ções, e  somente  com  huma  forja,  que  todo 
dia  estava  occupada  em  repaii-ar  as  armas 
dos    homens,    não    se   podia   fazer   tanta 
obra  como   havia  mister  huma  fortaleza 
de  madeira,  e  mais  a  terra  era  tão  pes- 
tífera,  que  não  poderiam  os  homens  atu- 
rar  hum    trabalho    tão    apressado    como 
convinha   no   fazer  daquella  fortaleza,  e 
adoecendo-lhe    no   meio    da    obra,  ficava 
sem  gente,  e  sem  fortaleza.»  Barros,  Dé- 
cada 2,    liv 


SOME 


585 


que  nauios  redondos  não  podiam  tomar 
da  Mina  por  caso  das  grandes  correntes, 
somente  nauios  latinos,  e  isto  porque  em 
nenhuma  parte  da  Christandade  os  ha 
senão  as  carauellas  de  Portugal,  e  do  AÍ- 
garue,  e  os  galeões  de  Roma,  que  não 
são  pêra  nauegar  tam  longe.»  óarcia  de 
Rezende,  Chronica  de  D.  João  II,  cap. 
lõO.  —  «Porque  usando  somente  de  cer- 
tos livrinhos  estrangeiros,  que  trataõ  das 
cores,  e  metaes  dos  Escudos,  todo  seu 
intento  poseraõ  em  explicar  estas  cores.» 
Severim  de  Faria,  Noticias  de  Portugal, 
Disc.  3,  §  18.  ^-  «Também  se  diz  san- 
eia, porque  dado  caso  que  nam  sejam 
sanctos  e  spirituaes  todos  os  que  nella 
estam,  antes  mais  tenha  de  peccadores  e 
amadores  deste  mundo,  que  de  sanctos  e 
spirituaes,  toda  via  somente  nella  se  po- 
dem achar  sanctos,  e  fora  delia  nam  pode 
auer  sanctidade.  E  por  tanto,  por  rezam 
da  milhor  e  mais  principal  parte  da  Igre- 
ja que  sam  os  sanctos,  se  chama  a  igre- 
ja sancta.»  Fr.  Bartholomeu  dos  Marty- 
res.  Catecismo  da  doutrina  christã. 

Que  a  mi's6  presteis  somente. 
Uesherdo  irraàos  e  parentes 
d"um  ceitil,  nenhum  se  conte 
por  meu  sangue,  nem  me  alíronte. 
ASTomo  PEESTEs,  AUTOS,  pag.  87. 

Somente  sei  te  vejo  convertido, 
Do  cisne  mais  armonico  de  Apollo, 
No  Cuco  mais  nojento  de  Cupido. 

ABBADE  DE  JAZENTE,  POESIAS,  tOm.  2,  pag.  77. 

—  «He  tudo  o  que  posso  dizer  a  V.  S. 
nesta  matéria,  na  qual  seria  grande  in- 
justiça culpar  somente  as  molheres  ordi- 
nárias.» Cavalleiro  d'01iveira,  Cartas, 
liv.  1,  n.°  3õ. 


De  meus  versos  cantado  eternamente 

Foras,  illustre  Mouro,  se  meu  canto 

Xào  tivera  outro  objecto  aqui  presente. 

Do  que  eu  m  ensoberbeço  e  me  hom-o  tanto; 

Que  com  imaginar  n'elle  somente 

Até  ás  claras  estrellas  m'alevanto, 

Jlas  a  falta  da  minha,  ou  doutra  historia, 

Nào  poderá  tirar-te  a  tua  gloria. 

FBAXCISCO  DK  ANDBADE,  PBIMKIBO  CEBCO  DE  DIU, 

cant.  2,  est.  12. 

Huma  sômeiúe  a  minha  historia  conta, 
Porque  todas  nào  podem  ser  contadas. 
Se  alguém  me  der  para  ella  attento  ou%ndo 
Não  se  arrependerá  de  ter-me  ouvido. 

F.    d'asDH.ÍDE,  PBIMEIBO  CEBCO  DE  DIU,  Caut.   6, 

est.  31. 


Abre  a  porta,  que  a  ti  do  alto  c  temido 
Plutão  mandado  sou,  bem  se  conhece. 
Treme  Pluto  somente  em  ter  ouvido 
O  nome  de  quem  só  teme  e  obedece, 
Cerra  o  postigo,  o  lá  por  escondido 
Logar  sahe  fora.  e  ante  clles  apparece : 
Espanta-se  o  Sultão  do  que  então  via, 
Porém  a  fúria  nào,  que  o  conhecia. 
iBiDEu,  cant.  12,  est.  96. 


w>.„„  ^,    ....   6,  cap.   5 «El  Rey  por     a         i       ■     i^ 

+OV  a  AtiiTi  miarrlQrl.1  fa„  «-™  •  j         '^  P'^""  ''°  ™J^  altura,  c  massa,  e  bosques, 

tei  a  3iina  guardada  íez  crer  em  sua  vida,  |  Sombras  pequenas  são,  ou  nada,  aqucUes 


586 


SOME 


SOME 


SOMI 


InutniA  propugnÃciilo!)  da  HcBporía 
IIojc  c  ii'liuni  tempo  da  Hobnrbíi  Uomn, 
Escudo  imponcfvavcl,  que  fómrntr. 
Annibal  dividio,  quando  a  viiipança 
TrouxR  do  Dido  a  Trnsiinéiio,  t:  (_'anna«. 
j.  A.  nu  MAcr.DO,  MrniTAçÃo,  cant.  2. 


Ao  tenebroso  Drspota  da  E'«!hrtla 
Nào  foi  d:ido  corror  circulo  immcnso  ; 
A  ti,  lliilVon,  pnrinitto  a  Natureza, 
Quo  o  véo  levantes,  quo  do  sous  niystoriog 
bojas  tdmentc  interprete  Bubliino. 
iniDEM,  cant.  3. 

—  Excepto,  monos,  scnito. 

—  Tão  somente. 

Do  Filosofo  a  vista  em  grandes  quadros 
Tilo  somente  se  apraz,  as  leis  indaga, 
l'or  quo  em  torno  do  Sol  rápido  corra 
Em  movimento  elliptico  o  Planeta. 

J.  A.  I)F.  MACEDO,  A  NATUREZA,  Caut.  1. 


—  Não  Ião  somente.  —  « Lembramlo- 
Ihe  tainbcm  as  mortos  d'algiins  principes 
seus  antopa.«sado8  diante  dos  muros  da- 
quolla  famosa  Constantinopla;  e  que  es- 
tas cousas  não  tão  somente  liaviam  de 
fazer  magoa  nos  corações  daquelles  a  que 
tanto  tocJivam,  mas  aeeniler  sempre  o 
desejo  porá  a  vingança  dollos.»  Francis- 
co de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  59.  —  «E  não  tão  somente  aconte- 
ceu isto  á  donzclla  mas  ainda  a  sua  des- 
cripção,  que  era  grande,  ficou  tão  torva- 
da, que  por  ura  espaço  não  soube  que 
lho  dizer;  cousa  que  muitas  vozes  acon- 
tece a  quem  vê  alguma  de  que  recebe 
espanto  :  porém,  depois  de  tornar  em  si, 
corrida  do  seu  descuido  e  do  que  lhe 
acontecera,  disse:  Senhora,  Arnalta,  priu- 
ceza  de  Navarra,  minha  senhora,  vos 
manda  beijar  as  mãos  com  o  amor  e  von- 
tade que  tem  pêra  vos  servir  e  conver- 
sar.» Ibidem,  cap.  110.  —  «Mas  assi  hum 
como  o  outro  se  descuidarão  tanto  do  ne- 
gocio, sendo  do  tanta  importância,  que 
nam  t.im  somente  nam  proueraõ  nisso, 
mas  nem  nas  cousas  necessárias  pêra  de- 
fenderem a  fortaleza,  se  lha  viessem  cer- 
car, porque  ncUa  naõ  auia  mantimentos, 
nem  agoa  que  lhe  polesse  abastar  quin- 
ze dias,  e  os  baluartes  cstauam  de  cali- 
dade  que  se  naõ  poderam  despejar  cm 
três  dias  pêra  se  assentar  a  artelliaria.» 
Damião  de  (loes,  Chronica  de  D.  Ma- 
noel, part.  4.  cap.  79. 

—  Não  somente ;  diz-se  em  opposição 
a  mas,   mas  também. 


Não  somente  quem  o  crca: 
Nem  sentem  as  crcaturas 
Quo  ba  do  morrer  som  candea 
E  espirar  As  escuras, 
C3omo  triste  em  terra  alhca. 

On.  VICENTE,   FARÇAS. 


—  «E   outros   ficarão  enterrados  ao  p6 
da  aruore   onde  se  disse  a  primeira  mis- 


sa que  ficou  em  adro  da  Igreja  doucçaS 
do  S.  lorge,  em  quo  hoje  Deos  lie  lou- 
uado  o  glorificado,  naõ  somente  do-i  no.s- 
808  que  vaí5  liquuila  cidaic,  mas  ainda 
dos  Ethiopa.s  da  sua  comarqua,  que  per 
baptismo  naõ  contados  em  o  numero  dos 
fieis.»  Barros,  Década  1,  liv.  3,  cap.  2. 
—  »E  de|)ois  qu«-  foz  algumas  entradas 
nos  piívos  (lorgijs,  de  quo  houve  victo- 
ria,  c  começou  ter  nome  de  cavallciro, 
não  somente  so  ajuntou  a  ellc  nuiito  po- 
vo da(|uella  gente  que  seu  avó  Xeque 
Juué  pcdio  a  Tanor  Langue,  (como  dis- 
semos,) mas  ainda  se  veio  ajuntar  com 
elle  hum  Capitão  das  Comarcas  chama- 
das Diarbec  com  té  quatrocentos  de  ca- 
vallo,  o  <|ual  iiavia  nome  Abedi  Bec.» 
Idom,  Década  2,  liv.  10,  cap.  6. — «O 
que  sei  que  v<')s  fizestes,  mostrando  ain- 
da no  esquecimento  da  morte  do  filho,  a 
lembrança  do  que  cumpria  a  meu  servi- 
ço; das  quaes  cousas  a^sim  .serei  sempre 
lembra<lo,  que  não  somente  vo-las  coidie- 
cerei  com  grande  contentamento  delias, 
mas  ainda  com  muita  mercê.»  Jacintho 
Freire  d'Andrade,  Vida  de  D.  João  de 
Castro,  liv.  4. —  «Nam  sam  isto  etteitos 
d'amor  próprio,  nem  curiosidade  natural, 
he  o  poder  da  diuina  graça,  que  como 
encomenda  a  obra,  assi  inclina,  e  ch.i- 
ma  os  obreiros;  nam  do  Portugal  somen- 
te, mas  também  da.s  outras  prouincias  tle 
Hospanha,  e  Itália,  e  torlas  as  mais,  a 
que  a  necessidade  de  conseruar,  e  defen- 
der a  fè  nas  próprias  terras  nam  prohibe 
irem-na  a  dilatar  )iela>:  allieas.»  Lucena, 
Vida  de  S.  Francisco  Xavier,  liv.  6,  cap. 
19.  —  «Ordenou  também  hum  Collegio 
de  frades  de  S.  Bernardo  em  a  Vniuer- 
sidaile  de  Coimbra,  donde  scspora  que 
sahiaij  homens,  que  não  somente  ajiro- 
ueitem  muito  na  ordem  mas  também  dem 
muita  doctrina  onde  quer  quo  cstiuerom.» 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  3,  cap.  72.  —  "E  não  somente  fov 
isto  nos  paços  Deuora,  mas  em  todo  o 
Reyno,  tanto  que  a  noua  fov  sabida,  sem 
mandalo  dei  Rcy,  senão  de  suas  próprias 
vontades,  faziam  todas  as  fest-as  que  po- 
diam.» tí areia  <le  Rezende.  Chronica  de 
D.  João  II,  cap.  115.  —  «E  assim  naõ 
somente  ileste  tempo  por  diante  naõ  cres- 
ceo  a  gei;te  neste  Reyno,  como  era  con- 
veniente para  as  muit.-is  povoaçoetis,  que 
nelle  havia,  e  para  se  poder  defender,  e 
olfonder  aos  inimigos,  mas  alem  disto  se 
foi  despovoando  com  as  muitas  armadas 
cheias  de  gente,  que  c^da  anno  partem 
de  Portugal  para  estas  Conquistas;  c  com 
as  muitas  Colónias,  que  so  tiraõ  para  es- 
tas povoaçoens.»  Manoel  Sovorim  de  Fa- 
ria, Noticias  de  Portugal,  Disc.  1,  cap. 
2.  —  1 E  o  peor  he,  que  confessa  hum 
Contratador  dos  nossos  num  livro,  que 
apresentou  ao  Conselho,  que  todas  as 
amarras,  e  cordoalhas,  que  nos  manda- 
rão de  Flande.*,  naõ  somente  eraõ  as 
peoros,  mas  de  propósito,  o  por  industria 


falsificadas,  e  fallidas,  para  qao  naZ  pa- 
ilosscm  8r;rvir,  ««i  naò  com  a  apparoncia.» 
Ibidem,  cap.  3.  —  «Poríin  com  mais  li- 
bi-rlade,  que  oh  Reys  L<jngobardofl,  por- 
que não  somente  Ihcí  deu  estes  Senhorios 
em  sua  vida,  como  cntaò  muitos  tinbaS; 
mas  para  seus  descendont»-»,  com  condi- 
ção que  lhe  guardassem  fiiielidaílo,  e  ro- 
conhecessem  vassalagem.»  Ibidem,  Diiic. 
3,  cap.  23. 

Nem  sómenfe  %  jornada  lhe  concede 
Cunha,  inag  r|uaMto  p<'>d<'  ih 'a  agradece, 
Niida  llic  nega  entào  áo  que  lhe  jxíde. 
Que  muito  m.nis  cuida  inda  que  merece. 
Com  isto  o  ajuntamento  se  despede, 
E  ja  por  toda  a  parte  »e  engrandece. 
Deste  Illustre  Varào  o  enfon,o  raro 
Que  nesta  obra,  c  em  mil  outras  se  vio  claro. 

FBAKCIBCO  DF.  ANDBAOr ,   PRIMF.IIO  CKmOO  0«   DÍU, 

eant.  5,  est.  76. 

Vcndo-a  agora  cm  poder  da  iraiga  gente, 
E  não  sAmenie  em  vão  ir  seu  conceito 
Mas  que  faz  que  aos  imigos  se  accrcsccnte 
O  poder,  e  que  o  seu  tenha  defeito. 
Menos  medroso  assaz  que  descontento 
I)'huma  grãa  confusão  se  lhe  enche  o  peito. 
Mil  cousas  ditterentes  imagina 
Mas  cm  nonhuina  cmfim  se  determina. 
IBIDEM,  cant.  11,  est.  45. 

SOMEOS.  Vid.  Somenos. 

SOMERGER,  o  SOMERGIR.  Vid.  Sumer- 
gir,  e  Submergir. 

SOMETER,  "u  SOMETTER,  ou  SUBMET- 
TER,  r.  a.  Sujeitar,  reduzir  debaixo  do 
poder. 

—  Someter  os  sentidos  d  razão ;  crer 
antes  o  que  cila  dita,  do  que  o  que  os 
sentidos  mostram. 

—  .Subjugar,  sujeitar. 

—  Someter-se,  v.  rejl.  Sujeitar-se,  ren- 
der-se,  obedecer  ás  ordens,  á  vontade  de 
alguém. 

—  Humilhar-se.  —  «Porque  ainda  que 
muito  nos  alegremos  no  dia  de  seu  nas- 
cimento, todauia  iiquella  nam  pode  dey- 
xar  de  si-r  mesturada  cõ  alguma  pay- 
xam,  e  dor,  cõ  ideràdo  as  necessidades, 
e  pobrezas  em  que  naceo,  o  frio  que  pa- 
deceo,  e  outras  misérias  humanas,  a  que 
nascendo  se  someteo,  e  finalmente  con- 
siderando a  morte  e  paixão  pêra  que  na- 
ceo, c  como  do  presépio  auia  de  passar 
à  cruz.»  Fr.  Bartholomeu  dos  Martyres, 
Catecismo  da  doutrina  christã. 

SOMETIDO,  "u  SOMETTIDO,  part.  jyass. 
de  Someter.  Sujeito,  subjugado,  mettido 
debaixo. 

—  Usa— se  no  sentido  figrurado. 
SOMETIMENTO,  s.   m.    Sujeiçio,    acto 

de  sr.bníottor. 

SOMICHAS.  Vid.  Semichas. 

SOMICHO,  A,  a'lj.  Vid.  Submisso, 
baixo. 

SOMIDEIRO,  s.  m.  Vil.  Somidoaro. 

SOMIR,   1-.  a.  Vid.  Sumir. 


Não  ha  por  onde  vos  tomem, 
sois  daa  muito  eostumaxes ; 


SOMM 


SOMN 


SOMN 


587 


desconfianças  vos  somem; 
parece  que  onde  ha  homem 
uào  dovcm  vogar  rapazes : 
falo  verdade,  senliora, 
quem  vos  agrave  nào  tenho. 

AiíTONio  PRESTES,  ACTOS,  pag.  295. 


tão  ciosa  vos  não  gaho, 
que  nem  todo  anno  ha  nabos. 
Senhor  tio,  quero  muito, 
desconfianças  me  somem, 
e  quem  quer  não  dá  mais  frui  to. 
iBrDBM,  pag.  311. 

—  «Perdem-se  petiçoens,  somem-se  pro- 
visoens,  faltaõ  os  Oráculos,  respondem 
sesta  por  balhésta,  fazem-vos  do  Ceo  ce- 
bola, metem-se  no  escuro  dos  segredos, 
com  mysterios  que  nau  ha :  e  Deos  nos 
dé  boas  noites.»  Arte  de  furtar,  cap.  38. 

Desce  ao  fundo  do  mar  Marsigli,  indaga 
Quantos  thesouros  no  seu  seio  encerra ; 
Tào  vasto,  e  tão  veloz,  qual  o  Danúbio 
Desde  a  larga  vertente  á  foz  immensa, 
Por  onde  ao  negro  mar  se  lança,  e  some. 

3.   À..  DE  UACEDO,  VIAGEU  EXTÁTICA,  Caut.  4. 

SOMISSÃO,  i.  /.  Vid.  Submissão. 
SOMITEGARIA,   s.  /.    Termo   popular. 
Mesquiutiez,  avareza. 

—  Termo  antiquado.  Sodomia. 
SOMITEGO,   cu   somítico.  Termo  an- 
tiquado. Vid.  Sodomita. 

—  Vulgarmente  diz-se  do  que  é  nimia- 
mente parco,  mesquiniio,  tacanho. 

SOMITIMENTO,  s.  m.  Termo  antiqua- 
do. Somitimento  do  inimigo;  suggestào  do 
demónio. 

—  Inspiração  malvada,  astúcia  perni- 
ciosa, perverso  conselho,  que  dolosamen- 
te, e  como  ás  escondidas,  se  introduz  nos 
corações  damnados. 

SOMMA,  s.  f.  Vid.  Soma.  —  «E  per 
nom  caírem  nas  penas,  que  teem  promet- 
tidas  nom  pagando  aos  ditos  termos  as 
ditas  sommas  d'ouro  ou  prata,  em  que 
som  obrigados,  dam  mais  da  dita  nossa 
moeda  por  o  dito  ouro  ou  prata,  do  que 
he  o  seu  verdadeiro  valor  per  respeito  da 
prata,  que  teem,  e  assy  íica  a  nossa  moe- 
da viltada,  e  despreçada,  e  abaixada :  a 
qual  cousa  he  grande  perda,  e  dapno  a 
nós,  e  aos  nossos  Regnos,  e  senhorio,  e  a 
todo  nosso  povoo.»  Òrd.  AfFons.,  liv.  4, 
tit.  21,  §  3.  —  «Almourol,  que  a  isto 
presente  estava,  vendo-os  sem  lanças, 
mandou  trazer  somiaa  delias  de  dentro 
do  castello,  e  os  escudeiros  serviram  a 
cada  um  de  seus  senhores  com  a  sua.u 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  109. 


Muitos  lhe  vejo,  mas  um 

lhe  nào  vi :    ■ 

muitos  sem  um,  somma  em  si 

unidade  de  nenhum. 

Pois  Athenas  que  é  de  ti ! 

AJilOSIO  PKESIE3,  AUTOS,  pag.   41. 


E  depois  disto  em  Roma, 
soo  com  três  dias  chouer 
cm  octubro,  o  Tibrc  toma 
agoa  tanta,  em  tanta  somma, 
que  foi  espanto  de  ver. 

GABCIA  DSt  BEZEXDE,  lUSCELLASEA. 

Vem  grã  somma  a  Portugal 
cadàuo,  também  aas  ilhas, 
he  cousa  que  sempre  vai, 
e  tresdobra  ho  cabedal 
em  Castella,  e  nas  Antilhas. 


—  «E  ao  longo  das  paredes  de  huma 
parte  e  da  outra,  muyta  somma  de  ído- 
los grandes  e  pequenos  em  diversas  figu- 
ras todos  dourados,  os  quais  postos  em 
prateleyros  por  muyto  boa  ordem,  toma- 
vào  toda  a  largura  e  comprimento  das  pa- 
redes, e  á  vista  dos  olhos  parecia  que 
eraõ  todos  de  ouro.»  Fernào  Mendes  Pin- 
to, Peregrinações,  cap.  110.- — «Na  qual 
aruore,  e  outras  cousas  de  Uuminiu-a,  e 
nas  Chronicas  despendi  per  sua  couta  hu- 
ma grào  somma  de  dinheiro.»  Damião  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  2, 
cap.  19. 

SOMNAMBULISMO,  í.  m.  Termo  de  me- 
dicina. Affecçào  das  funcções  cerebraes 
caracterisada  por  uma  espécie  de  aptidão 
para  repetir  durante  o  somno  as  acções  de 
que  se  contrahiu  o  habito,  ou  para  execu- 
tar diversos  movimentos,  mas  sem  que 
depois  de  acordar,  alguma  lembrança  ti- 
que do  que  se  passou. 

—  Somnambulismo  magnético;  estado 
nervoso  particular  em  que  se  pode  lan- 
çar por  uma  espécie  de  influencia  moral, 
os  indivíduos  de  uma  grande  susceptibili- 
dade, e  mormente  as  mulheres  hysteri- 
cas. 

SOMNAMBULO,  A,  aJJ.  (Do  latim  som- 
nus,  e  ambulo).  Que  dormindo  anda  em 
pé,  como  se  estivesse  acordado. 

—  >S'.  Pessoa  que  se  levanta,  obra,  e 
falia  estando  a  dormir. 

SOMNIFERO,  A,  adj.  Termo  de  poesia. 
Que  traz  ou  causa  somno. 


Quando  do  elaro  Sol  ferventes  luzes 
Do  brumoso  Leão  mais  vivos  raios 
Começão  d'e8pargir,  se  embota  o  viço. 
Foge  o  matiz  das  melindrosas  flores, 
Somiiifero  vapor  encurva  as  plantas, 
Desfoiha-se  a  Cocem,  desmaia  a  Eosa. 

J.   A.    DE  SLACEDO,  A  SAIUKEZA,  CaUt.    1. 


SOMNIFICO,  A,  adj.  Vid.  Somnifero. 

SOMNIGERO,  A,  adj.  Vid.  Somnifero. 

SOMNO,  ou  SONO,  s.  m.  (Do  latim  som- 
nus).  O  descanço  do  animal  cançado 
pelo  adormecimento  natural  de  todos  os 
sentidos.  —  «Aconteceu  que  neste  tempo 
Arlança,  a  quem  o  seu  amor  mais  ator- 
mentava, vendo  que  as  outras  donzellas, 
vencidas  de  somno  ou  de  trabalho,  ador- 
meceram, tendo  o  seu  cuidado  esperto,  já 
desesperada  de   o  ver  esquecido  delia.» 


Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  124. 

Como  é  mole  o  meu  dinheiro ! 
folga-me  a  cabeça  nelle  ; 
aqueste  é  o  travesseiro 
de  meu  bem  -,  sus  somno  inteiro. 

ANTÓNIO  PltESTKS,  AUTOS,  pag.    87. 

E  assi  se  nomeavam  ? 
D'este  modo  assi,  que  alli 
veviam  pelo  si ,  si ; 
era  seu  comer  e  somno 
darem  o  seu  a  seu  donno. 
IBIDEM,  pag.  141. 

—  «Quando  a  intenção  he  infrigidar 
mais,  e  provocar  o  somno,  podemos  uzar 
dos  remédios,  que  commummente  se  pro- 
põem no  capitulo  do  Phrenesi  dirigidos  a 
consiliar  somno,  e  a  temperar  o  estuante 
calor  da  Cabeça.»  Braz  Luiz  d'Abreu, 
Portugal  medico,  §  119. 


Depois,  dormindo  docemente  a  sesta, 
Se  lhe  figura,  no  melhor  do  somno, 
Que  andando  de  passeio  pela  Quinta, 
Com  passos  lentos  a  ellc  se  chegava 
Da  nora  o  velho  Burro,  e  alçando  o  rabo, 
Dous  couces  lhe  pregava  no  vazio. 
DINIZ  DA  CRUZ,  urssoPE,  caut.  7. 


Do  mago  somno  o  bálsamo  gostoso 
Os  trabalhados  membros  me  prendia. 
Dando  á  minha  alma  momentânea  tregoa 
A  herança  minha,  lúgubre  amargura. 

J.   A.    DE  JIACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Cant.   1. 


—  Somno  profundo.  —  «O  remédio 
mais  efficax  que  tenho  achado  para  exci- 
tar o  doente  de  qualquer  somno  profun- 
do, ou  outro  qualquer  affecto  capital  em 
que  seja  necessário  coiToborar  a  Cabeça, 
e  excitar  os  espíritos  animais  torpicos ;  e 
nebulozos,  he  ajuntar  a  huma  onça  de 
agoa  da  RainLa  de  Ungria  verdadeira, 
outo,  ou  des  gottas  do  espirito  da  vida, 
cuja  receita  vay  a  trás  no  sintagma  da 
dor  de  Cabeça,  introduzindo  pelos  nari- 
zes repetidas  vezes  torcidas  de  algodão 
molhadas  na  dita  mixtura.»  Braz  Luiz  de 
Abreu,  Portugal  medico,  pag.  493,  §  86, 

—  Somno  cheio;  somno  nào  interrom- 
pido. 

—  O  somno  da  morte;  o  somno  per» 
petuo. 

—  O  estado  de  quem  está  dormindo. 

—  O  somno  eterno;  o  somno  da  morte, 

—  iQue  pretendes  de  mim  ?»  disse  a  voz  ouça 
Do  squelcto  :  «a  que  vens?  Porque  vieste 
De  meu  eterno  somno  despertar-me  ? 
Pésa-te  a  paz  dos  mortos,  homem  vivo?» 

GAKBETT,  CAMÕES. 

—  Tomar  somno ;  dormir,   adormecer. 

—  Dormir  o  somno  do  ijeccado;  estar 
no  lethargo  d'elle. 


588 


SO.MO 


SOND 


aONE 


—  Dormir  o  somao  'io  esquecimento. 

—  Fifçiirailamoiito :  O  ropouHO  do  espi- 
rito. 

—  Entregar-se   ao  somno;   <leitar-8e  a 
dormir. 


«Adôrnoa  de  veatiil,  não  mais  voa  mancho. • 
Co'Sacro  gume,  o  nivco  oAllo  invéato, 
E  o  aangiui,  vm\  capajana,  Hiio  de  rojo. 
Vollôda  vórga,  e  cáe.  Aaaim  no.í  aulcoa, 
Quo  Iiil  Hcgado,  a  Coifeira  o  cúlo  inclina, 
E,  pesada  de  afun,  ho  ontn'ga  ao  somno. 

P.  M.   no  NASCIMKNIO,  08  MAliiVUKS,  1ÍV.   10. 


SOMNOLENCIA,  s.  f.  Termo  do  modi- 
cina.  <'i-aii'l(í  Ictliar^^^o  ou  modorra. 

SOMNOLENTO,  A,  w^lj.  Termo  de  me- 
dicina. Quo  tom  rcla(;rio  ooni  a  soinuoleu- 
cia.  —  Um  estado  somnoleiíto. 

—  Quo  se  movo  tardamente,  o  como 
que  vai  ehoio  de  somno. 

Que  eu  deixe  vossos  nomes  envolvidos 
Entre  a  treva,  que  cs;)alha  somnnle.nta 
A  agua  estofa  do  sombrio  Lethcs. 
DINIZ  DA  CRUZ,  uYssorE,  oant.  7. 

—  Que   apenas  se  levantou  do  dormir. 
SOMNORENTO,    A,    a<lj.    Vid.    Somno- 

lento. 

SOMONTE,  (i'lj.  —  Tabaco  somonte  ;  é 
do  pi')  fino  mai.-í  inferior. 

—  AigLius  dizem  simonte.  Vid.  este 
vocábulo. 

-}•  SOMOS.  Forma  do  verbo  ser  na  pri- 
meira pessoa  do  plural  do  presente  do  mo- 
do indicativo.  Vid.  Ser.  —  «Ou  a  outras 
quaaesquer  pessoas:  nom  embargando  que 
esses  contrautos  sejam  desaftbrados,  e  se 
obriguem  a  yjagar  ouro,  ou  prata,  ou  seu 
direito,  e  intrinsieo  valor,  ou  como  vales- 
sem aos  tempos  das  pagas,  ou  que  logo  se 
obriguem  a  dar  certo  dinheiro  por  marco 
de  prata,  ou  moeda  d'ouro;  porque  soomos 
corto  quo  esto  he  mais  que  o  seu  direito 
valor.»  Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit.  2,  14. 
. —  «Nam  ha  quem  se  defenda  de  onvc- 
jas:  de  meninos  a  começamos  a  ter;  so 
somos  pro<pero3  somos  euvejados,  se  po- 
bres e  abatidos,  temos  cnveja  doutros.» 
D.  Joanna  da  Cíaraa,  Ditos  da  freira, 
pag.  23-24  (ediç.  1872).  —  «Soniior,  res- 
pondeu elle,  ambos  somos  naturaes  deste 
reino :  a  mim  chamam  Brandamor,  e  a 
meu  companheiro  Sigeral;  e  porque  ha 
muitos  dias  que  juntamente  seguimos  as 
aventuras  quizemos  vir  provar-nos  nesta 
do  escudo  do  vulto  de  Miraguai-da,  onde 
antes  quo  víssemos  o  guardador  delle,  ti- 
zeraos  batalha  com  aquellc  cavalleiro  das 
donzellas,  que  se  d'aqui  partiu,  da  qual 
saímos  tão  maltratados,  como  nos  vedes.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Iiigla- 
terra,  cap.  120. 


Que  do  pessoa  a  pessoa 
80  falam  desbarretados  •, 
maa  porquanto  somos  machos 


levemos  uns  dcaempachoi 
que  não  paguomoa  doíiiraa. 
ANTÓNIO  rnKsTKB,  AUToH,  pag,  1 

Senlior  primo,  aomoa  nía. 
(^uanfeu  hei-no.í  de  abraçar, 
l'j  (;u  liei  ni(!  d 'esfregar, 
meu  Huulior,  primo  por  vóa. 
iiiiDKu,  pag.  167. 

I)eo-noa  o  volbo  uo  cofre 
dez  mil  dobras  em  dinheiro, 
tiio  peguciro : 

somos  irinãoa,  não  ao  aoIVre 
«êrdea  cm  maia  que  ou  herdeiro, 
pois  não  aoia  maia  Dom  Inofrc. 
iKiDKsi,  pag.  27.5. 


—  "  Somos  obrigados  a  guardar  seis 
preceptiis  do  sancto  Euangclho  quo  nos- 
so Senhor  Icsu  Christo  oncommeudou  per 
sua  boca,  de  darmos  de  comer  aos  famin- 
tos, do  bebitr  aos  que  haõ  sede,  agasa- 
lhar os  peregrinos,  vestir  os  nus,  visitar 
os  enfermos,  consolar  os  presos. »  Damião 
de  Lioes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part. 
3,  cap.  (Jl. 

SONAJAS.  Vid.  Soalhas,  Pandeiro. 
SONANCIA,   6.  /.    Termo    de   musica. 
tíom  simples,  tom. 

SONANTE,  adj.  2  gen.  Vid.  Soante. 

—  Sonoro. 

SONATA,  s.  /.  Termo  de  musica.  Peça 
de  musica  instrumental,  comjjosta  de  qua- 
tro ou  cinco  pedaços  de  caracteres  diver- 
sos. 

SONDA,  s.  /.  Prumo  cora  que  os  náu- 
ticos examinam  a  altura  do  mar. 

—  Altura  do  mar,  rio. 

—  O  fundo  em  que  a  sondareza  toca, 
e  pára;  a  matéria  d'elle. 

— Tenta  de  cirurgião;  algumas  são  elás- 
ticas de  gomma  de  borracha,  solidas  ou 
Ocas,  ou  vasadas  com  uma  fenda  junto 
da  ponta  para  extrahir  a  ouriua  da  bexi- 
ga, ou  injectar  por  doutro  da  sonda  al- 
gum liquido  n'olla,  pela  via  da  ourina, 
ou  urcthra  onde  ella  entra,  e  se  conserva 
querendo. 

SONDADO,  part.  pass.  de  Sondar. 

SONDAR,  V.  a.  Examinar  a  altura  do 
mar,  rio,  lançando  a  sonda.  —  «Pelo  quo 
logo  Vasqu  >  da  Gama  mandou  a  Nicoiao 
Coelho,  por  ha  sua  nao  ser  pequena,  que 
fosse  diante  sondando  ate  aquella  ilha 
donde  lios  barcos  sairão.»  Damião  de 
Gojs,  Chronica  de  I>.  Manoel,  part.  1, 
cap.  36.  —  «O  que  lhe  elle  muito  agra- 
deceo,  elegendo  logo  porá  isso  Nuno  vaz 
pereira,  dizenlolhe,  que  tiraua  esta  hon- 
ra de  si  pêra  lhe  dar,  como  seu  amigo 
que  era,  e  porque  a  sua  nao  era  grande, 
c  demaudaua  muita  agoa,  mandou  com 
elle  Diogo  pirez.  pêra  na  galo  ir  sondan- 
do diante.»  Ibidem,  part.  2,  cap.  39.  — 
«Passando  assi  Nuno  vaz  adiante  pêra 
aferrar  a  nao  de  ilirhoccm  lho  fez  Dio- 
go Pirez,  que  liia  diante  sondando,  sinal 
quo  amainasse  por    achar   pouca    agua. 


Mirhocem  vendoo  «urto  alargou  a  amar- 
ra, c  sem  nenhum  medo  o  veo  a  f-r- 
rar  jicr  hum  bordo,  o  que  também  fez 
Nuno  vaz.»  Ibidem. — «A  couna  que  el 
liei  sobro  todas  mais  dc<cjaua  era  ter 
na  costa  do  mar  da  Harbaria  muita»  vii- 
la.s,  c  lugares,  e  porque  ja  tinha  manda- 
do sondar  ho  rio  da  Mamora,  c  inforraa- 
çam  per  espias  do  lugar  maia  seguro,  em 
que  na  boca  d  elle  hu  podia  fazer  uma 
fcjrtaleza.»  Ibidem,  part.  3,  cap.  7G. — 
«Mandou  o  (Japitão  }ilnr  sondar  o  rio,  e 
ajjalisar  com  ramas  o  canal  para  fugir 
dos  bancos:  e  i^abendo  pela  sondii,  que 
tiiihão  as  caravelas  fundo,  coinetteo  a 
entrada  a  tempo  que  o  inimigo  vinha 
com  duas  galés,  e  uutro.s  navios  bu«car 
a  nossa  armada,  jjorque  pebis  espias  en- 
tendeo,  que  crào  navios  mercantis,  em 
razão  de  haverem  visto  da  terra  doua 
caravclòes  simiente,  por  estarem  os  fus- 
tas, c  galeotas  cubertaa  com  a  sombra 
de  huma  ponta  torcida  em  voltas  que  alli 
faz  o  rio.»  .lacintho  Freire  d'Andrade, 
Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv.  4.  — 
«Pas.sada  a  tormenta,  ao  quinto  dia  co- 
meçou o  vento  cm  no=so  fauor,  com  o 
qual  nos  sahimos  das  Ilhas,  indo  a  bar- 
quinha do  Mestre  diante,  e  neila  Frar.- 
ci>co  Lobato  com  o  prumo  na  mão,  son- 
dando o  mar  do  canal  temendo  ouuessc 
algum  bayxo,  por  andar  o  mar  niuy  in- 
quieto por  causa  dos  grades  cardumes  do 
peyxe,  que  entre  aqucllas  Ilhas  se  cria, 
e  sabida  a  verdade  nos  sahimos  dclle  se- 
guindo no-^so  c;íminho.»  Fr.  Gaspar  de 
8.  Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap. 
3.  —  «Andaua  a  este  tempo  o  batel  son- 
dando o  mar,  pcra  lançarmos  ferro  em 
se  tomado  fundo,  o  qual  não  se  pode 
achar,  por  sar  uiuyto.»  Ibidem. 


Pódc  acaao  Epicuro  eipor-me,  como 
Possa  sor  movimento  cm  corpo  inerte 
Arquitcctor  de  leis,  sotvlando  o  ptgo 
Do  humano  coração  V  Sii  movimento 
Hum  Tácito  produz?  S«5  ellc  o  firma 
Escrutador  dos  Íntimos  segredos. 
Que  o  tortuoso  Cortezão  sepalta  ? 

J.    A.   DU  UACEOO,  UXDITAÇÃO,   CSnt.   4. 


—  Sondar  o  negocio;  sondar  a  cons- 
ciência; examin.ar  o  fundo  interior,  oc- 
culto,  encoberto,  dissimulado. 

—  Sondar  um  homem  ;  procurar  conhe- 
cer o  seu  caracter,  principio.  Índole,  etc. 

—  Figuraiiamente  :  Sondar  o  animo, 
o  coração;  tentar  descobrir  o  que  está 
occulto  n'clles. 

SONDAREZA,  s.  f.  Termo  de  nauticsa. 
O  cabinho  que  se  agarra  ao  prumo  com 
que  se  averigua  a  altura  e  qualidade  do 
fundo;  é  marcado  ou  graduado  conve- 
nientemente. 

SONDES.  Termo  antiquado,  pi^r  sois. 

SONEdAÇÃO,  .<.  ./'.  Vid.  Sonegamento. 

SONEGADAMENTE,  adv.  De  um  modo 
occulto,  occultamente. 


SONE 

SONEGADO,  part.  pass.  de  Sonegar. 
Furtado,  ileseucarainhado.  —  «Ha  tam- 
bém outros  homeus  mais  gi-aves  a  que 
chamão  mongllotos,  que  comprão  deman- 
das de  cousas  civis  e  crimes,  e  compraõ 
também  escrituras  e  posses  antigas,  e  co- 
nhecimentos de  cousas  sonegadas  por 
aquillo  em  que  se  concertao  cõ  as  par- 
tes. Ha  outros  que  vem  noutras  embar- 
cações que  curão  de  boubas  com  darem 
suadouros,  e  curam  também  chagas  e  fis- 
tulas incuráveis.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  99. 

—  S.  ijlur.  Os  objectos  que  se  furta- 
ram ao  inventario,  rol,  estado. 

SONEGADOR,  A,   s.  Pessoa  que  sonega. 
SONEGAMENTO,  s.  m.  A  acção  de  so- 
negar. 

—  A  acção  de  occultar,  de  não  dar  a 
rol,  ou  ao  manifesto,  o  que  se  devia  ma- 
nifestar. 

SONEGAR,  V.  a.  Não  dar  ao  rol,  ao 
censo,  ao  inventario  para  se  empadroar, 
aquillo  que  quem  sonega  devia  manifes- 
tar. 

—  Sonegar  homens ;  não  o^  dar  a  rol 
para  serviço  publico  ou  contribuição,  etc. 

—  Furtar,  descaminhar. 


Que  me  sonegou  um  boi 
que  lavrava,  que  cva  ousão: 
era  um  boi  almoxarife. 
Pagava  ? 

Era  um  pino  d"ouro, 
boi  de  nata. 

AMTONIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  197. 


— •  Sonegar  serviços ;  negar  aquelle  a 
quem  foram  feitos,  que  se  lhes  fizessem ; 
não  querer  recouhecel-os  por  nào  ser 
obrigado  a  galardoal-os. 

SÒNETEAR,  1-.  a.  Fazer  sonetos. 
f  SONETEIRO,  A,  s.  Pessoa  que  faz 
sonetos.  —  «Maria,  por  exemplo,  é  mui- 
to mais  bonito  e  poético  do  que  Mareia 
GU  Marilia  com  que  nos  seccavam  os  poe- 
tas e  soneteiros  da  eschola  que  ultima- 
mente morreu,  apunhalada  e  invenenada 
pelos  Antonys  de  aguda  pêra  e  longas 
melenas.  Até  aqui,  e  muito  mais  alem, 
vou  eu  com  a  revolução.  Mas  n'este  lo- 
gar  conservei  o  anagramma  em  respeito 
ao  meu  heroe  e  mestre.»  Garrett,  D. 
Branca,  Notas. 

SONETINHO,  s.  m.  Diminutivo  de  So- 
neto. Pequeno  soneto. 

S0NETI3TA,  s.  2  gen.  Pessoa  que  com- 
põe sonetos. 

SONETO,  s.  m.  Poema  de  quatorze  ver- 
sos hexanietros :  dous  quartetos  e  dous 
tercetos  rimados  entre  si,  segundo  as  leis 
da  metrificação.  —  «Não  ha  ahi  mais  que 
dizer  senão  que  o  soneto,  que  com  esta 
vai,  me  custou  a  cravejar,  o  que  Deus 
sabe ;  e  porque  não  ficasse  cá  entre  o  re- 
traço da  manjadoura,  pareceu-me  melhor 
envial-o  nesia  maré,  em  que  não  seja 
para  mais  que  para  se   ver  n'elle  mais 


SONH 

de  vagar,  como  em  selha  d'agua,  um 
pouco  do  muito  que  passo  cá.»  Fernão 
Soropita,  Poesias  e  prosas  inéditas,  pa- 
gina 10. 

Mais  torto  o  mai3  direito  que  um  espeto, 
Encerra-.ie  .a  trovar  um  mcz  arrêo, 
E,  no  fim  delle,  sahe  com  um  soneto. 


Fostes  discreto  em  armar-vos 
d'arma3  de  christão  discreto ; 
temporaes  são  um  soneto 
que  cá  canta  o  mundo  a  parvos, 
nào  a  um  Sara  João  quieto. 

ANTÓNIO  PBESTES,  ACTOS,  pag.  12. 

Como  ? 
Que  digo  um  notório  preto. 
Jeau !  sedo  ora  di.screto, 
e  vós  pareceis  um  momo. 
Este  cst.á  gentil  soneto ! 
quem  buscaes  ? 
IBIDEM,  pag.  167. 

— ■  «Eu,  meu  Amigo,  para  dizer  a  V. 
M.  a  verdade,  sou  hum  daquelles  que 
não  entendem  o  Soneto,  e  isso  he  o  mes- 
mo que  socedeo  ao  seu  Critico.»  Caval- 
leiro  d'01iveira,  Cartas,  liv.  1,  n.°  7. 

SONHADO,  part.  2Jass.  de  Sonhar. 

De  turbilhões,  de  vórtices  so}^hados. 

Noa  jardins  de  Epicuro  se  assentava, 

Ecnovador  dos  átomos  errantes 

Pensativo  Gassendi,  c  em  treva  involto 

Corpuscular  Filosofia  ensina, 

Onde  engenho  só  brilha,  c  nunca  hum  passo 

A'  aó  profícua  experiência  avança. 

J.  A.   DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  CaUt.   4. 

Tantas  constelações  de  estrellaa  vejo, 
Que,  da  terra  distante,  iuda  confusas 
Xos  sonliados  confins  do  espaço  existem. 

IDEM,  MEDITAÇÃO,  Caut.    2. 


SONH 


589 


—  Figui-adamente :    Que  não   é    real; 
imaginado. 

SONHADOR,  A,  s.   Pessoa  que  costuma 
sonhar. 

—  Pessoa  que  sonha  a  miude. 
SONHAR,   V.  a.   (Do   latim   somniare). 

Ter  um  sonho. 


Durmo,  sonho,  desperto,  e  a  luz  do  dia 
Do  mundo  ao  espectáculo  me  chama ; 
E  aqueUc  objecto  entaõ,  que  mais  m'inflama 
A  mover  aa  paixoens  me  principia. 

ABBADE     DE     JAZENTE,    POESIAS,    tOm.    2, 

pag.  129  (ediç.  1787j. 

—  Ter  cuidado,  ou  receio,  ou  qualquer 
atfeição  forte  a  respeito  d'alguma  cousa 
ou  pessoa,  que  a  obriga  a  sonhar  com 
ella  em  bem  ou  mal. 

Quereis-me  fazer  cuidar 
Que  poderia  sonhar 
O  que  pelos  olhos  vi  ? 
Xunca  voa  eu  moieci 
Quererdea-me  exprimeutar. 
cAu.,  AUPBYiaiuEs,  act.  3,  SC  4. 


—  «E  el  Rey  mandou  logo  chamar  o 
Chumbim  que  fora  no  dar  da  sentença,  e 
lhe  deu  cota  de  tudo  o  que  passava,  assi 
do  que  elle  sonhara,  como  do  que  sua 
mãy  lhe  pedira,  e  lhe  elle  concedera, 
pelo  qual  todos  lhe  beijarão  a  maõ,  e  lhe 
louvarão  muyto  o  que  tinha  feito,  e  mã- 
daudo  logo  revogar  a  sentença  que  era 
dada,  e  dar  outra  em  que  nos  perdoava, 
escreveo  huma  carta  ao  Broquem  da  ci- 
dade que  dezia  desta  maneyra.»  Fernão 
Mendes  Pinto,    Peregrinações,  cap.  142. 


Soia  tão  jóia ! 
Eu,  que? 

Pesar  do  meu  pao 
dizeis  a  um  homem  —  esperac, 
c  em  vóa  o  vir  não  sonha. 
Voaaa  mercê  nào  me  ponha 
tanto  a  chuaa. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  117. 


—  «He  a  maldade  destas  unhas  mali- 
ciosas mais  detestável,  quando  toca  no 
bem  comum,  e  da  Coroa,  que  nos  con- 
serva, e  sustenta  a  todos.  Naõ  sey  se  o 
sonhey,  ou  se  mo  contou  pessoa  fidedi- 
gna:  caso  he  que  me  assombra!  Valha  o 
que  valer:  se  naõ  succedeo,  servira  de 
documento,  para  que  naõ  aconteça,  li  Arte 
de  furtar,  cap.  27.  —  «Vós  sonhastes  o 
mesmo  que  verieis  com  muito  contenta- 
mento, sem  embargo  da  compavxào  ap- 
parente  que  me  mostraes.  Eu  farey  de 
sorte  que  vos  não  dé  semelhante  alivio 
nem  hoje,  nem  outro  dia.»  Cavalleiro 
d'01iveira,  Cartas,  liv.  1,  n.°  52. 

Em  seu  lugar  as  gárrulas  escolas 
Sonharão  nome  occulto,  occulta  força: 
D"odio,  e  de  amor  combate,  e  guerra  eterna  ; 
Horror  do  vácuo,  e  qualidade  ignota. 

J.   A.   DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,   Caut.    3. 

—  Sonhar  em  alguma  cousa;  andar 
sempre  cuidando  n'ella. 

—  Sonhar  com  alguém,  ou  alguma  cou- 
sa; ter  sonho  a  respeito  d'es8a  pessoa, 
ou  cousa. 

—  Dá-se  o  poder  de  sonhar  ás  quali- 
dades por  as  pessoas  que  as  teem. 

SONHO,  s.  in.  (Do  latim  somnium).  Re- 
presentação de  alguma  cousa  ou  succes- 
80,  que  se  faz  á  nossa  alma,  em  quanto 
dormimos. 


Tremendo  fico  todo,  e  alienado, 
Nào  sei  se  foi  ficção,  se  foi  verdade 

Se  foi  sonho,  ou  se  foi  imaginado. 
Tirandome  com  tanta  breuidadc 
O  bem  porque  sospiro,  e  me  iutristeço. 
Torna  com  noua  e  estranha  crueldade. 

COBIE  REAL,  NAUFRÁGIO  DE  SEPÚLVEDA,  CaUt.  2. 

Alli.  deapois  d'acordado. 
Coo  rosto  banhado  cm  ágoa, 
Deste  sonho  imagmado, 
Vi  que  todo  o  bem  passado 
Não  he  gôato,  mas  he  mágoa. 

CAU,,  BEDONDILHAS , 


590 


SONI 


tíONO 


SOOM 


Doco  sonho,  suave  o  soberano, 
So  por  mais  loiíRO  tempo  me  diuái-a  ! 
Ah  quem  de  «o/i/io  tal  nuiicii  iieonhiiii, 
Poiíi  havia  de  \èv  tal  descn(;aiio! 

IDKM,    SONBrOH. 

Do  teu  Priíioipe  alli  ti:  iiMiiuiidiíui 
As  leinbraii(;aii  (|ue  na  alma  lhe  inoravão ; 
Que  8cmpi'0  ante  seus  ollioí  te  trazião. 
Quando  do»  tiius  formoaos  HO  apartavão ; 
Do  noite  cm  doces  sonlios  (pie  nieutião. 
De  di.1  em  iKMKsamcntos  ipie  voavão ; 
E  i|UHiito  cm  fim  cuidava,  c  (pianto  via, 
ICrào  tudo  memoria»  do  alegria. 
iDBu.,  LU3.,  cant.  3,  est.  121. 

Oh  cego  engano  de  um  mortal  cuidado, 
Limitada  prisào  do  pensamento, 
tSonho  mas  ainda  sonho  abreviado 
Julg:indo-3e  com  livre  entendimento  ; 
Olha  se  tudo  aciuillo  fosse  dado 
N'hum  mando  .sú,  a  cujo  moviuicuto 
Até  o  mesmo  Fado  se  movesse 
A  quão  pouco  o  (|uc  pude  s'cstende3sc. 

kOL.  UE  aouiiA,  Nov.  DO  uoM.,  caut.  -1,  est.  24. 

Sonho,  sonho  não  foi,  que  mil  confusas 

Na  fantasia  imagens  atropoUa  : 

Extasis  foi  somente,  e  conduzido 

De  hum  Génio  habitador  do  excelso  Olympo 

(Eu  a  meu  lado  o  vi),  que  me  frau((uêa 

Ferrolhados  umbraes  de  eterno  arcano, 

E  n'hum  centro  de  luz  me  amostra  o  Quadro 

Da  varia  Natureza,  e  sempre  a  mesma. 

J.   A.    DE  MACEDO,  VIAGKU  EXTÁTICA,  Cant.    1. 

—  Dizer  o  sonho,  e  a  sultura.  Vid. 
Soltura. 

—  Os  sonhos  doD  philosoij/ws ;  as  opi- 
niões iTelles  seui  fuialauiento. 

—  Figiiradaineuto:  Cousa  iujagiuada, 
sem  ser,  nem  realidade. 

Pátria,  oh  pátria!  —  dizia  —  é  pois  um  sonho 
Kssa  visão,  que  por  celeste  a  tive '? 
Teu  nome  eternizar,  dar  biado  á  fama. 
Que  de  ti  digno,  digno  de  Natércia 
As  gerações  pasmadas  me  aeclamasscm  '.... 
oAHRErr,  CAMÕES,  caut.  4,  cap.  14. 

—  «Mas  islo  é  um  sonho,  venerável 
abbade  !  —  prosoguiu  o  moyo  cisterciense 
com  voz  afogada.  —  Q.uo  posso  eu  fazer! 
Appellar  para  a  justli^a  d'ol-rei,  com  a 
esperança  da  qual  o  bom  Fr.  Loiírcnyo 
pensou  que  me  confortava!»  A.  Hercula- 
no, Monge  de  Cister,  cap.  9. 

—  riur.  Massa  leve  de  fariulia,  e 
ovos,  frita  ás  boletas  em  manteiga  (ou 
azeito\  e  ])assada  por  calda  de  assucar. 

SONICEPHALO,  s.  7».  (Do  latim  sonus, 
e  do  grogo  ktpkulê).  Kome  vulgar  dado 
a  alguns  insectos  coleopteros  que  produ- 
zem um   zunido  .«ingular. 

SONIDO,  s.  m.  (Do  latim  sonitus).  Som, 
cstroiLdo,  ruido. 

SONIL.  Titulo  honorifico  dos  jiersas  a 
respeito  da  religiito,  e  que  significa  sks- 
tentador,  e  seguidor  da  verdade. 

SONIPEDE,  adj.  2  gen.  (Do  latim  so- 
7iipes).  Termo  de  Poesia.  Que  faz  som  ca- 
minhando. 

—  Usa-se    também    substantivamente. 


SONO,  «.  m,  Vid.  Somno. —  «E  em  ou- 
tra carta  deftcnde  aos  Ciiristilos  que  nam 
se  entristeciam,  nem  chorem  demasiada- 
mente seus  defuntos,  como  fazem  os  (jen- 
tios  que  nam  esperilo  resurreiyilo,  mas  se 
consolem,  crendo  que  a  morte  do  bS 
Christilo,  pêra  a  alma  he  certa  beinauen- 
turança,  e  pcra  o  corpo  he  hum  sono  de 
que  ha  de  acordar  resurgindo  em  carne 
immortal.B  Fr.  15artholomcu  dos  Marty- 
res,  Catecismo  da  doutrina  christâ. 


C!ontinua  successão  de  luz,  c  sombra, 
(,!ue  aos  mortaes  o  tr.abalho,  o  «0/10  intima 
A'  infatigável  Terra,  e  sempre  varia 
Nas  suas  producijõcs.  Eternas  fontes 
Que  borbulhão  do  Centro,  ao  Centro  voltào. 

J.  A.  DF.  UACKDO,  A  KATUBEZA,  Caut,  1. 

Onde  debalde  o  Potentado  chama 
Fagueiro  nono,  que  o  punhal  embote 
Da  inquieta  ambi(^ão,  do  insano  orgulho. 


Kluctua-lhe  a  madeixa  ondada,  c  loura 
Pelo  marmóreo  collo,  c  niveoa  hombros ; 
Aviva-lhe  o  carmim  das  brandas  faces 
O  mesmo  sono,  que  lhe  jirende  os  olhos 
(Sono  avaro  e  cruel,  ao  Edem  tu  roubas 
Dons  Astros,  ou  dous  Sócs  8'Eva  repousa). 


A  miserável  presa  immovel  fica, 
E  tenta  cm  vão  dos  la(,-09  dcsprcnder-so, 
E  do  robusto  pescador,  qu'  assombro ! 
iBiDKM,  caut.  3. 

SONOLÊNCIA,  s.  /.  Vid.  Soumolencia. 

SONOLENTO,  A,  adj.  Vid.  Somnolento. 

f  SONOMETRIA,  s.  f.  Arte  de  medir 
as  rel;u;"ics  linrnionieas  dos  sons. 

-;-  SONOMETRICO,  A,  adj.  Q.ue  diz  res- 
peito á  sonometria.  —  Insti^umentus  sono- 
metricos. 

SONOMETRO,  «.  m.  (Do  latim  sonus,  e 
metron].  Termo  de  physica.  Instnnuento 
próprio  para  medir  as  relaçòes  harmóni- 
cas dos  so:is. 

SONORAMENTE,  adv.  De  um  modo  so- 
noro. 

—  Com  mn  som  cheio,  sonoro. 

SONORENTO,  A,  adj.  Vid.  Somnolento. 

SONORIDADE,  *.  /.  (Do  hitim  suiiori- 
tas  .  Qualidade,  caracter  do  que  é  sonoro. 

SONORO,  A,  adj.  (^Do  latim  sonorus). 
Que  produz  som  alto  e  claro. 

Afastai,  afastJii :  deixai  passa-lo; 
Que  é  o  grande  Salgado,  cujo  nomo 
Por  todo  o  Alem-tejo,  em  suas  trompas, 
Com  sonoro  louvor  publica  a  Fama. 

A.    D.    DA    CBUZ,  UYS30PK,    COUt.    7. 

Guadiana,  tuas  aguas,  de  assustadas, 
Vcjo-as  atrás  volver.  —  Que  anjo  do  morto 
E  esse  que  discorre  dala  rra  ala 
Co^i  fulminante  espada?  .lorra  o  sangao, 
Treme  a  terra  debaixo  dos  pés  duros 
Dos  ardentes  cavallos.  soa  o  valle, 
Lan(;as  escallam,  os  broqueis  sonoros 
Estalando  rotíuom.  —  i  láauTiago !  » 
OAHBsrr,  CAUÕBS,  cant.  8,  cap.  G. 


—  Terra  da  minha  pátria !  abro-me  o  seio 
Na  morte  ao  menos,  lirevu  ejiua^-o  occupa 
(>  cadáver  d'iim  filho    Eu  eu  fui  teu  filho... 
ICm  que  Ut  liei  dciiinercido,  <j  pátria  minha? 
Nà')  foi  meu  bra^o  sio  caiii|>o  das  batalliaa 
Sogar-te  louros  V  Meus  êoiuiro»  liymuoii 
Nao  voaram  por  ti  á  eternidade  V 
E  tu,  mãe  dcscaroavcl,  me  ingeitajite! 
iBiDBH,  caut.  10,  cap.  16. 


—  EstrondoBO. 
SONOROSO,  A,  adj.  .Sonoro. 

—  Harmonioso,  cheio  de  lianuonia. 

Ao  sonoroso  pranto. 

Que  as  águas  enfreava 

Rcspoudi;  o  valle  umbroso. 

De  tanta  voz  o  acecnto  t<-meroao 

Na  outra  parte  do  rio  retumbava ; 

Quando,  da  phantasia 

O  silencio  rompendo,  assi  dizia. 

CAM.,   EGU.iGA  2. 

SONOUTE,  ou  SONOITE,  *.  /.  O  cre- 
púsculo da  noute,  ou  pouco  depois  da 
noute. 

SONSA,  s.  f.  Sagacidade  com  disfarce, 
dissimulu^rio. 

—  Loc.  ADV.:  Pela  sonsa;  com  saga- 
cidade coberta,  e  disfarçada  com  sim- 
pleza. 

S0N3ICE,  s.  f.  Vid.  Sonsa. 

SONSO,  A,  adj.  Astuto,  e  fino,  que 
cobi'e  a  sua  esperteza  com  ar,  e  mostras 
de  simpleza  e  tolice. 

SONSONETE,  s.  m.  O  accento  oratório, 
com  que  .-^e  profere  alguma  ironia,  ou  re- 
tlexào  maliciosa. 

SONTO,  adj.  m.  Diz-se  de  uma  espé- 
cie de  chá  mui  estimado  na  China. 

SOO.  Termo  antiquado,   por  Sob. 

—  Algumas  vezes  substitue  Só. 

—  Termo  antiquado,  por  Sou. 
SOODES.   Termo   antiquado,    por  Sois. 
7  SOOMENTE.  Termo  antiquado.  Vid. 

Somente.  —  «E  se  as  partes  fezessem  al- 
guma conveença,  a  qual  firmassem  antro 
si,  e  despois  que  assi  antre  elles  fosse  fir- 
mado simpresmente,  dissessem  que  fos- 
sem fazer  Escriptura,  em  tal  caso  Dize- 
mos, (|ue  se  as  partes  hunia  vez  fezerom, 
e  firmárom  sua  conveenç^i,  nom  se  po- 
dem mais  afastar  a  fora  per  razom  desta 
IjCÍ,  se  lhe  outro  algum  remédio  de  di- 
reito nom  valesse ;  porque  em  tal  caso  a 
Escriptura  nom  he  da  essência  do  con- 
trauto,  mais  soomente  he  pêra  provar 
como  css;is  partes  contrataram.»  Ord.  Af- 
foDS.,  liv.  3,  tit.  57,  V?  5.  —  «E  s< 
devedor  de  cada  hum  dos  casos  do 
gundo  Oajútulo  oflerect^^o  soomente  o  que 
devia  da  moeda  antigua,  ou  nova  que  se 
fez  at:ia  o  primeiro  dia  de  Janeiro  da 
Era  de  mil  quatrocentos  e  vinte  c  qua- 
tro annos,  a  cinco  libras  por  huma  da , 
moeda  feita  nos  tempos  suso  devisados,  » 
saber,  dês  Janeiro  da  Era  de  mil  quatro- I 
centos  e  trinta  annos,  ataa  Janeiro  £mj 
de  mil  quatrocentos  c  trinta  e  sois  annoe.»  i 
Idem,  liv.  4,  tit,  1,  §  10.  —  tMaisaind»! 


SOOM 


SOPÉ 


SOPH 


591 


ha  de  pensar,  e  seu  dezeio  lia  de  seer,  que 
as  Leyx,  e  Constituiçoões,  e  horclenaçoòes, 
que  assy  fezer,  sejam  feitas,  e  hordena- 
das,  e  estabelecidas  pêra  boa  hordenança 
da  terra,  o  governança  sua,  e  pêra  o  di- 
to povoo  viver  em  boa  e  direita  policia, 
das  quaees  o  principal  fundamento  e  en- 
tençom  ha  de  seer  em  proveito,  e  em 
bem  comunal ;  ca  segando  os  Direitos,  a 
prol  comunal  primeiramente  ha  de  seer 
de  todos  em  geeral  oolhada,  vista,  e  e^- 
guardada,  e  preposta  ao  bem,  e  prol  de 
algumas  pessoas  tà  soomente.»  Ibidem, 
tit.  2,  §  1.  —  «Logo  he  per  direito  va- 
liosa, em  tal  caáo  nom  podendo  os  her- 
deiros aver  toda  sua  lidema  pela  heran- 
ça do  finado  sem  a  dita  terça  e  Doaçom, 
entom  desfalcar-se-ha  soomente  da  dita 
terça  tanto,  per  qae  a  dita  lidema  seja 
supprida  de  todo.»  Ibidem,  tit.  14,  §  4. 

—  «A  qual  Ley  vista  per  nós,  manda- 
mos que  se  guarde  em  a  dita  Cidade  de 
Évora  soomente,  segundo  em  ella  he  con- 
theudo,  porque  poios  moradores  delia  foi 
soomente  assy  requerido ;  e  quanto  he 
aas  outras  Cidades,  e  Villas  do  Regno, 
mandamos  que  se  guarde  o  Direito  Co- 
mum.» Ibidem,  tit.  21,  §  6.  —  «E  esto, 
que  dito  he,  mandamos  que  aja  lugar 
nom  soomente  na  venda  do  foro  volun- 
tária, que  se  faz  pnr  vontade  do  foreiro, 
mais  ainda  queremos  que  aja  lugar  na 
venda  necessária,  que  se  faz  por  manda- 
do e  autoridade  de  Justiça  contra  vonta- 
de do  vendedor.»   Ibidem,   tit.  37,  §  4. 

—  n  Disserom  os  Sabedores  antigos,  que 
compilarom  as  Leix  Imperiaaes,  que  se 
alguum  homem  vendeo  alguma  cousa  mo- 
vei, ou  de  raiz  por  preço  certo,  ainda 
que  o  contrauto  seja  de  todo  perfeito,  e 
a  cousa  entregue,  e  o  preço  paguado,  se 
for  achado  que  o  vendedor  foi  enganado 
em  a  dita  venda  aallem  da  meetade  do 
justo  preço,  pode-a  desfazer  per  bem  do 
dito  engano,  ainda  que  o  engano  nom 
procedesse  do  comprador,  mas  soomente 
se  cauzasse  da  simpreza  do  vendedor.» 
Ibidem,  tit.  45. —  «Como  querees,  disse 
hum  daquelles  Castelhanos,  que  a  possa 
cometer  tal  cousa  ;  caa  em  este  mesmo 
lugar  foi  ja  desbaratado  o  escol  d'EIRev 
nosso  Senhor,  onde  forom  mortos  muitos 
homens,  e  muitas  armas  perdidas,  que 
soomente  naquellas,  que  acharom  pelos 
caminhos  fezerom  os  Mouros  bem  três 
mil  floris.»  Inéditos  de  historia  portu- 
gueza,  tom.  2,  pag.  508.  —  «Mas  pode 
ser  que  pergunteys,  donde  procede  que 
hum  homem  venha  a  tanta  cegueyra  e 
desatino,  que  blasfeme  das  cousas  diui- 
nas  como  estes  faziam,  e  como  ainda 
agora  alguns  fazem,  cortando  com  sua 
lingoa  não  soomente  pella  honrra  dos 
homens,  mas  pi-llas  de  Deos  e  dos  san- 
ctos :  Como  he  possiuel  desenfrearense 
ern  blasfémias,  donde  não  tirão  nem  de- 
leyte  de  sua  carne,  nem  proueito  de  sua 
bolsa?  Do  fim  do  presente  Euangelho  se 


pode  colher  a  resposta.»  Fr.  Bartholo- 
meu  dos  Martyres,  Catecismo  da  doutri- 
na christã.  —  «Esta  vila  he  rasa  e  sem 
cerca,  soomente  cm  o  alto  delia  estaa 
hum  castelo  com  cerca,  por  muitas  par- 
tes derribado.  Aqui  estaa  hum  capitão 
polo  grão  Turco  com  pouca  gente.»  An- 
tónio Tenreiro,  Itinerário,  cap.  36. 

SOOPÉ.  Vid.  Sopé. 

SOPA,  s.  /.  (Dl)  francez  soti^pe).  Pão 
embebido  em  caldo,  leite,  etc. 

—  Estar  á  sopa  d' outrem ;  comer  da 
sua  panella  ou  mesa,  por  mercê. 

—  Bêbado  como  uma  sopa ;  embebe- 
dado de  vinho,  licores,  etc. 

—  Estar  feito  imia  sopa  ;  estar  muito 
molhado. 

—  Plur.  Refeição  commum  e  ordiná- 
ria no  refeitório  das  conimunidades  reli- 
giosas, comida  frugal,  moderado  ban- 
quete. 

—  Adágios  e  provérbios  : 

—  Cahiu-lhe  a  sopa  no  mel. 

—  Não  ficou  sopa  por  molhar. 

—  Da  mão  á  bocca  se  perde  a  sopa. 

—  Deitar  sopas,  e  ferver,  não  pôde 
tudo  ser. 

—  Sopa  de  mel  não  se  fez  para  a  boc- 
ca do  asno. 

—  As  sopas  e  os  amores  os  primeiros 
são  os  melhiires. 

—  A  uma  bocca  uma  sopa. 
SOPADA,  í?.  /.  Quantidade  de  sopas. 
SOPÃO,    ONA,  adj.  e   s.  Termo   popu- 
lar. ]k'berrão,  beberrona. 

SOPAPO,  s.  711.  Pancada  com  a  mão 
gafa  nas  bochechas  de  quem  os  apara,  e 
enchendo-as  de  vento,  para  dar  som  sain- 
do o  ar  comprimido. 

—  Figuradamente  :  Dar  pancadas. 
SOPÉ,   s.  m.  Sobpó. 

—  Cambapé  na  lucta. 

—  Loc.  ADV.:  Ao  sopé;  para  baixo,  ao 
fundo. 

SOPEADO,  part.  j^ass.  de  Sopear. 

—  Figuradamente:  Privado  do  seu  al- 
vidrid. 

SOPEADOR,  A,  s.  e  adj.  Que  sopeia. 
SOPEAMENTO,   s.  m.  A   acção    de    so- 
pear. 

—  O  estado  da  pessoa  ou  cousa  sopeada. 

SOPEAR,  V.  a.  Metter  ou  trazer  de- 
baixo dos  pés.  —  «Saõ  officios,  que  vos 
daõ  po<ler  para  sopear,  e  ficar  superior  a 
todos  :  e  se  bem  considerardes  tudo,  nada 
disto  tendes  de  vijs;  tudo  vos  vem  dos 
outros,  quo  volo  pódcm  tirar  com  vos  ne- 
gar h  uma  cortezia.»  Arte  de  furtar,  cap. 
70. 

—  Trazer  em  temor  e  obediência. 

—  Embaraçar  o  movimento,  a  acção, 
reprimir. 

SOPEE.   Termo  antiquado.  Vid.  Sopé. 

SOPEIRA,  .?.  /'.  Tigela  para  sopas;  pra- 
to para  cilas.  Viil.  Terrina. 

SOPEIRO,  A,  ou  SOPISTA,  s.  2  gen. 
Pessoa  que  está  ás  sopas  em  alguma  casa, 
communidade,  etc. 


—  Amigo  de  sopas,  que  gosta  d'ellas. 
SOPENA,  adv.   Sobpena. 

Que  lli'a  estou  esparregando 
como  alfaça,  c  que  ai  nào  faça, 
snpeiia  do  quo  faltaudo 
descair  de  minha  graça. 

ANTÓNIO   PRKSTKS,    AUTOS,    Jiag.    557. 

SOPENDO,    A,    adj.  Termo  antiquado. 

Supprido,  saneado,  remediado. 

SOPEREROGAÇÃO,  s.  m.  Vid.  Superar... 
SOPESADO,  part.  pass.   de  Sopesar. 

—  Figuradamente:  Dado  com  regra. 

—  Calculado,  nào  liberal. 
SOPESAR,  V.    a.  Tomar    o    peso,  para 

medir  e   proporcionar  a  força  necessária 
para  arrojar. 


A^edca-mo  aqui  Rei  vosso  c  companheiro 
Que  entro  as  hmcas  e  sottas,  c  os  aruezcs 
Dos  inimigos  corro  c  vou  primeiro  : 
Polejae  verdadeiros  Portuguczcs.  — 
Isto  disso  o  magnânimo  guerreiro ; 
E  sopesando  a  lança  quatro  vezes, 
Com  força  tira  ;  o  d'cste  único  tiro 
Muitos  lançaram  o  ultimo  suspiro. 
oAM.,  Lus.,  cant.  4,  est.  .38. 


—  Soffrer. 

—  Equilibrar,  contrapesar. 

—  Figuradamente  :  Dar  com  regra,  e 
parcimonia. 

—  Sopesar-se,  v.  refl.  Ficar  em  equi- 
líbrio, equilibrar-se. 

- —  Termo  de  volateria.  Fugir  a  ave 
com  a  ralé,  ou  dar  com  ella  dous  pulos 
diante  do  caçador. 

SOPESO,  s.  m.  Acção  de  tomar  o  peso 
á  lança  jjava  a  despedir. 

SOPETEAR,  V.  a.  Molhar,  embeber  a 
miude  o  pão  em  algum  caldo. 

SOPHÁ,  s.  m.  Vid.   Sofá. 

SOPHETIM,  ou  SOTERIM,  s.  m.  Juizes 
d'cntre  os  judeus. 

SOPHI,  s.  m.  Titulo  dos  reis  da  Pérsia. 

SOPHISMA,  ou  SOFISMA,  s.  m.  (Do  gre- 
go sophisma).  Argumento  falso,  engano- 
so, que  não  conclue  bem,  porque  pecca 
em  termos  e  cm  fn-ma. 

—  Syií. :  Sophisma,  ijarallogísmo.  Vid. 
este  ultimo  termo. 

SOPHISMADO,  part.  pass.  de  Sophis- 
ma r. 

SOPHISMAR,  V.  a.  Usar  de  sophisma, 
argumentar  como  um  sophista. 

—  Encfdjrir  com  razões  falsas. 
SOPHISTA,  s.  2  gen.  e  adj.  (Do  grego 

sophistês).  Primitivamente  entre  os  gre- 
gos, uma  pessoa  hábil,  experimentada  nos 
negócios  da  vida  particular  ou  publica. 

—  Pessoa  que  usa  de  sophismas. 
SOPHISTARIA,  .->.  f.   Vid.  Sophisteria. 
SOPHISTERIA,   s.  /.    Cousa,    ou    razão 

sophistica,  faisa,  com  côrcs  ou  apparencia 
de  verdade. 

SOPHISTICAÇÃO,  s.  f.  Acção  de  des- 
naturar   uma  substancia   medicamentosa 


592 


SOPO 


SOPR 


SOPR 


pelív  mistura  frauduloca  fio  substancias 
inortos,  ou  de  uma  qnaliiladií  inferior. 

—  Couwa  H()|)liistifa. 

—  En^';iMO,  ciivill!i(,írio,  lofíro. 
SOPHISTICADO,  part.  pass.  do  Sophis- 

ticar. 

SOPHISTICAMENTE,  futv.  (De  sophis- 
ticn,  (•  (1  Hiiflixi;   «meute»).  De  um  modo 

POJilustico. 

—  Oavillosamente,  com  sophismas. 
SOPHISTICAR,   i'.  a.  Falsificar  drogas, 

mctacs,  «te. 

—  Sophisticar  o  entendimento,  a  cons- 
ciência; corromper  para  cair  cm  erro, 
desconhecer  a  verdade,  o  os  deveres,  en- 
ganar com  sophismas  a  prudência,  o  co- 
raçSo. 

—  V.  n.  Argumentar  cavillosamonte, 
como  sophista,  servindo-se  de  raciociuios 
cavillosos. 

SOPHISTICO,  A,  aJj.  Próprio  do  so- 
2)liist;i. 

—  Falso,   com  apparencia  de  verdade, 
SOPHOCLEO,    A,    a'Jj.    De   Sophoclcs, 

pertencente  a  Sophocíes,  celebro  poeta 
grego. 

SOPHOMANIA,  s.  f.  (Do  grego  sophos, 
e  iiKDna).  Allcctaçào  da  philosophia. 

—  Mania  da  sabedoria. 

SOPINHA,  K.  f.  Diminutivo  de  Sopa. 
SOPISTA,  s.  2  gen.  Vid.  Sopeiro. 
SOPITADO,  part.  pass.  de  Sopitar. 
SOPITAR,    i'.  a.  Fazer  adormecer,  cair 
em  sonino. 

—  Sopitar  a  dor,  as  paixMs;  fazel-as 
cessar. 

SOPITO,  A,  adj.  (Do  latim  sopHus). 
Adormeeiílo,    adormentado. 

—  Kinpre'jra-sc  tambom  liguradamento. 
SOPONTADURA,  .s.  /.  Pontinhos  que  se 

collocam  por  baixo  de  algumas  letras, 
ou  palavras,  para  sigiial  que  estão  de 
mais. 

SOPONTAR,  V.  a.  Pôr  pontos  por  bai- 
xo de  jialavras,  etc.  Vid.  Sopontadura. 

1.)  SOPOR,  s.  m.  (Do  latim  sopor\. 
Modorra,  soninoleneia,  pesadelo. 

2.)  SOPOR.   Vid.  Sotopor. 

3.)  SOPOR,  c.  (í.  Vid.  Suppôr.  —  «Con- 
tarcy  agora  hnma  liistoria  a  V.  A.  Houve 
na  minlia  terra  hum  Duque  que  falando 
Latim  como  qualquer,  se  sopunha  homem 
douto  em  todas  as  matérias.»  Cavalleiro 
d'(Hiveira,  Cartas,   liv.  1,  n."  38. 

SOPORADO,  A,  adj.— Massa  soporada ; 
massa  eoin  virtude  de  produzir  somno. 

SOPORAL,  ndj.  2  gen.  e  s.  Termo  de 
anatomia.  .Mguns  auctores  querem  dar- 
Iho  a  mesma  siffnifieação  que  carótida. 

SOPORARIA,  s.  /.  Vid.  Soporal. 

SOPORATIVO,  A,  adj.  (Do  latim  sopo- 
rativHn).  Que  tem  a  virtude  do  fazer 
adormecer.  —  O  ópio  é  um  soporativo. 

—  Figuradamente:  Que  enfada,  que 
aborreee. 

SOPORIFERO,  A,  adj.  (Do  latim  sopo- 
rifcrits).  Que  tem  a  virtude  de  fazer 
adormecer.  —  iSubstaiicia  soporifera. 


—  Figuradamente :  Enfadonho,  monó- 
tono. 

SOPORIFICO,  A,  ndj.  Vid.  Sopori- 
fero. 

SOPORISAR,  oti  SOPORIZAR,  v.  a.  Ter- 
mo pouco  om  uso.  Fazer  cair  em  sonino 
mui  profundo. 

—  FiguradamoFite  :  Soporisar  a  c/ns- 
ciencin,   i<s  remursos. 

SOPOROSO,  A,  adj.  Termo  de  medici- 
na. Que  teui  sopor,  que  tom  relação  com 
o  sopor. 

—  Doenças  soporosas ;  aquellas  que 
a.ào  acompanhadas,  ou  caractcrisadas  por 
um  adormecimento  profundo,  por  um  es- 
tado ciimatii-o.  Vid.  Comatoso. 

SOPORTADOR,  A,  *■.  Pessoa  que  so- 
porta. 

SOPORTAL,  .f .  m.  A  parte  de  baixo  do 
portal. 

SOPORTAMENTO,  s.  m.  Entretenimen- 
to, senti:n(;a,  conservae.ào. 

SOPORTAR,  ou  SUPPORTAR,  v.  a.  (Do 
latim  suppovtare,  de  sub,  n  portara).  Sus- 
ter o  peso  d'alguma  cousa. 

—  Soflrer  com  paciência.  —  «Item. 
Ainda  lia  mester  que  seja  esforçado,  por- 
que nom  duvide  de  soportar  os  perigoos, 
que  ao  Castello  vierem ;  e  sabedor  con- 
vém que  seja,  porque  saiba  fazer,  c  agui- 
sar  as  cousas,  que  conveem  aa  guarda,  e 
defendimento  delle.»  Ord.  Affons.,  liv.  1, 
tit.  62. —  «E  sam  Peiiro  na  primeira 
Epistola  diz,  alaridos  tratay  vossas  mo- 
Ihercs,  conuersay  com  ellas  com  toda  a 
prudência  e  cortesia,  fazendolhes  honra 
como  a  vaso  mais  fraco,  e  sabendo  sopor- 
tar com  descriçam  suas  fraquezas,  e  pas- 
sar por  ella>.i>  Fr.  Bartholomeu  dos  Mar- 
tyres.  Catecismo  da  doutrina  christã. 

—  Supportar  tributos;  soffrer  pagan- 
do-os. 

—  Figuradamente:  Suster. 

—  Supportar  despezas;  fazel-as  com 
gravame. 

—  Sustentar,  manter.  Vid.  Soporta- 
mento. 

—  Svx.  :  Supportar,  soffrer.  Vid.  Sof- 
frer. 

SOPORTAVEL,  adj.  2  gen.  Que  é  possí- 
vel supportar-se,  soffrivel. 

SOPORTAVELMENTE,  adv.  iDe  sopor- 
tavel,  com  o  suíTixo  «mente»).  De  um 
modo  supportavel. 

—  Tolcravclmente,   soffrivelmente. 
SOPOSTO.    Vifl.    Supposto.  —  «Donde 

nasce,  andarem  nellcs,  gramlissimos  ban- 
dos de  Imns  passares,  a  que  chamào  Tur- 
rins,  que  por  onde  passam,  fazem  som- 
bra como  nuucns,  que  pode  omparar  do 
Sol.  !Muyto  saõ  pcra  ver  neste  campo  sua 
gràdeza,  porque  neiles  começa  a  entrar  a 
Arábia:  soposto  que  inda  aqui  senão  te- 
nha por  tal.i>  Fr.  (!aspar  de  S.  Rcrn.ar- 
dino.  Itinerário  da  índia,  eap.  10. 

SOPRADO,  part.  pass.  de  Soprar.  Re- 
fi-eseado  com  o  ar. 

SOPRADOR,  A.  Vid.  Assoprador. 


SOPRANO,  ».  m.  Tiple,  a  voz  mais  alta 

da  munica. 

-  -  K  voz  de  mulher. 
SOPRAR,   V.  a.  Vid.  Assoprar. 


K  Hf!  a  tomar  liçjiõ  Vciiu»  t<:  anima 

l)a  frautii,  c  iiiairt  da  lira,  f|uc  t'.-  aquenta, 

Sopra  ao  canudo  t';u,  o.  af-Ki  a  prima. 

ABBADf:   DK  JAZKJÍTr,  I-OCKtAU,    pag.   57. 

Pousa  MOA  lábios  tomondo  tubo, 
Sdpra-lhv.  o  ar,  n  harmónico  rc-!<oa, 
Ora  cm  prito  guorrciro  !icc«iidi?  an  ira«, 
Ora  n  hum  (Jora^ão,  d°nuior  vaaaallo. 
Doces  dcIir|uioH  de  ternura  excita. 

J.    A.    DK   M-VCKW),   A  XATLHKZA,  Cant.    2. 


—  Figuradamente :  Sopra-lhe  a  ven/u- 

ra;  favorece-o,  auxilia-o. 

—  Usa-so    também    substantivamente. 

Oa  vordcncpros  tcÍTO»  corpolontOB 
Cruzão  daqui,  dalli,  troncos  annosos; 
Cedro»,  quií  ondrào  coo  toprar  dos  vontos, 
AUi  dihitão  ramos  pavoroeoit : 
Melancólicos  timbres,  c  ornamontOB 
Do  sepulchro  os  cyprcstoB  luctuosoa 
Tanta  tristi-za  dao  na  selva  escura, 
Qu°inda  lic  menor  o  horror  da  aepultnra. 

J.  A.  DB  MACEDO,  o  OKIBDTB,   Cant.    11,    CSt.    19. 

SOPRESADO,  part.  pass.  de  Sopresar. 

SOPRESAR,  V.  a.  Fazer  presa,  apre- 
sar. 

SOPRICAÇÃO,  .o.  /.   Vid.   Snpplicação. 

SOPRICAR,  V.  a.  Termo  antiquado. 
Vid.  Supplicar. 

SOPRILHO,  .•'.  m.  Seda  muito  rala,  o 
leve. 

SOPRIOR,  í.  m.  Religioso  que  snppre 
nas  faltas  do  prior. 

SOPRIORA,  s.f.  Vid.  Soprioreza. 

SOPRIOREZA,  5.  /.  Religiosa  que  faz 
as  vezes  da  prioreza. 

SOPRIR,   c.  a.  Vid.  Supprir. 

SOPRO,  s.  m.  Assopro. 


E  com  tfu  nnpro  o  espirito  crcaatc 
No  mortal  penâixdor,  meu  trcnio  inflammn : 
Tu  scí  i>odi'9  vencer  co'  a  luz  que  csnargDs, 
Tu  dissipar  do  entendimento  a  sombra. 
Em  que  tu  mesmo  a  magcstade  escondes 
De  teu  Sólio  immortal,  daa  obras  tuas. 

J.    A.    r>B  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Caot.    1. 


Da  Natureja  escuta  a  voz  suave, 

E  sopro  avivador,  que  atêa  o  fogo, 

Tão  grato  ao  coração,  que  hc  dcUe  a  vida. 

IDEM,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Cant.   2. 

Artificiaes  virtudes  são  aa  vossas, 
Não  as  que  o  .«>)/>rí)  dos  eternos  dcusca 
Influiu  n"»lma  do  homem.  Marco,  Marco, 
A  ^•irtude  é  m.ais  bell»,  mais  formosa 
Do  que  teus  vàos  philosophoâ  a  pintam. 
Não  é  esse  esqueleto  dcscaniado 
ApAs  o  qual  subis  estéreis  montes 
Por  eAniinho  de  fragas,  prooipicios... 

GABBETT,  CATÃO,  SCt.   3,  SC.    1. 


O  sopro  da  rida. 


SORD 


SORR 


SORR 


593 


Com  elle  se  mantém  da  vida  o  sopro, 
Sem  ellc  se  desfaz,  e  foge,  acaba. 
Poi-ím  se  algum  vapor  pútrido  infesta 
Este  corpo  subtil,  qu'  envolve  os  corpos. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATCKEZA,  Cant.  2. 


—  o  doce  sopro  vital. 

Do  envenenado  seio  da  Ethiopia, 
Onde  montões  dinsectos  corrompidos 
Mandào  aos  ares  pútridos  miasmas, 
S'eucorpora  no  ar,  se  lhe  corrompe 
Doce  sopro  vital,  de  quantos  males 
Horrenda  alluviào  tiagella  o  Mundo  ! 

J.    A.    PE    M.VCEDO,    A    XATUBEZA,   Cant.    2. 

SOQUEIRA,  s.  /.  Raizaine  das  cannas, 
que  iica  rente  da  terra  depois  de  corta- 
das. 

SOQUEIXADO,  A,  culj.  Atado  por  baixo 
do  queixo. 

SOQUEIXO,  s.  m.  A  volta  que  se  dá 
por  baixo  do  queixo  com  qualquer  panno. 

SOQUETE,  s.  771.  Termo  de  marinha. 
Espécie  de  maço  roliço  com  que  se  cal- 
ca a  pólvora,  a  bala  e  o  taco,  dentro  da 
peça ;  o  seu  diâmetro  é  igrual  ao  da  bala 
respectiva,  e  o  seu  comprimento  excede 
dezoito  pollegadas  ao  da  alma  da  peça 
em  que  serve. 

SOQUETEAR,  v.  a.  Carregar  a  pólvora 
com  o  soquete. 

SOQUIR,  V.  a.  Termo  popular.  Co- 
mer ás  escondidas. 

SOR.  Abreviatura  de  Soror.  Irma,  ti- 
tulo de  freiras. 

SORAR,   V.  a.  Converter  em  soro. 

SORAVALKADA,  s.  f.  Multidão  de  fru- 
ta espalhada  sem  ordem. 

— •  Alguns  dizem  sorvalhada,  das  sor- 
vas caídiças,  que  se  recolhem  quando 
íimollecem  no  mesmo  pomar. 

SORÇA,  s.  f.  Vid.  Capoeira. 

SORDA,  s.  /.  Vid.  Açorda. 

SÓRDES,  s.  /.  A  matéria  grossa  e  pe- 
gaiosa  das  chagas. 

'SORDICIA,  s.  f.  Vid.  Sórdes. 

SORDICIE,  s.  y.  Vid.  Sordicia. 

SORDIDAMENTE,  adv.  (De  sórdido,  e 
o  suffixo  «mente»).  De  um  modo  sór- 
dido. 

—  Com  sordidez. 

SORDIDEZ,  ou  SORDIDEZA,  s.  f.  O  es- 
tado do  que  é  sórdido. 

—  Torpeza,  inimundicie. 
SÓRDIDO,  A,  adj.  (Do  latim  sordidus). 

Sujo. 

—  Homem  sórdido ;  homem  que  faz 
porcarias,  e  mormente  o  venal  no  cargo, 
posto,  offieio. 

—  Baixo,  e  com  o  pouco  aceio  d'esta 
classe. 

—  Que  se  adquire  por  meios  torpes, 
baixos,  indecentes. 

Já  de  antigos  delírios  despojada, 

So  oUa  aualysa  os  simplices,  nào  busca, 

Lisongeando  sórdida  avareza. 

As  pedras  converter  (que  insânia!)  em  ouro! 

J.   A.   DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,    Cant.    4. 

voL.  V.  — 75. 


De  Tarenio  a  fadiga  illustra  hum  Newton  •, 
Correm  iJretoens  o  Mar,  e  o  Globo  cercão ; 
Vão,  levados  de  sórdido,  o  terreno, 
Insaciável  interesso  de  ouro, 
Yào  illustrar  com  tudo,  e  dar  grandeza 
A'  vasta  esfera  das  Sciencias  todas. 


SORDINA,  í.  /.  Vid.  Surdina. 
SORDIR,  ou  SURDIR,    v.  a.    Sair    fora 
da  agua,  de  baixo  para  cima. 

—  8aír  tora  do  logar  onde  estava  oc- 
culto. 

—  Ir  avante  navegando. 

—  Vir  acima. 

SORIA,  s.  /.   Espécie  de  biirel. 

S0RITE3,  s.  m.  (Do  grego  sôreitês). 
Termo  de  lógica.  Argumento,  ou  racio- 
ciuio,  que  consta  de  uma  serie  de  pro- 
posições, das  quaes  a  seguinte  explica  o 
attributo  da  sua  antecedente. 

SORNA,  s.f.  Grande  preguiça,  e  inér- 
cia. 

—  Uma  soma ;  muito  vagar,  com  que 
se  falia,  obra,  anda. 

SORNAR,  V.  a.  Fazer  as  cousas  com 
sor  na. 

SORNEIRO,  A,  adj.  Que  faz  as  cousas 
de  vagar,  e  como  que  dormindo,  por  pre- 
guiça, ou  por  malicia, 

SORO,  s.  m.  (Do  latim  sorus).  Humor 
aqueo,  que  se  separa  do  leite,  deitando- 
Ihe  algum  acido,  ou  cousa   que  o  coalhe. 

—  Humor  aqueo,  lymphatico,  que  an- 
da mi.sturado  no  sangue,  etc. 

SORODEO.  Vid.  Serôdio. 

SOROMENHO,  s.   m.   Pereira  brava. 

SOROR,  .«.  /.  (Do  latim  soroo-).  Titulo 
dado  ás  freiras.  Vid.   Sor. 

SOROSIDADE,  s.  f.  Humor  seroso  ou 
aqueo,  que  se  mistura  no  sangue  e  nos 
outroí  humores. 

SOROSO,  ou  SEROSO,  A,  adj.  Da  na- 
tureza do  soro,  que  tem  soro. 

—  Termo  de  medicina.  Aqueo. 
SORPRENDER,  v.  a.  Vid.  Surprender. 

—  Tomar  de  súbito. 

—  Enganar  por  falta  de  consideração, 
e  com  apnarencia  que  deslumbra. 

SORPRÉSA,  ou  SURPREZA,  s.  /.  So- 
bresalto,  enleio  por  falta  de  considera- 
ção, que  acompanha  os  casos  súbitos,  que 
deslumbram,  enleiam  o  entendimento. 

—  Tomar  a  praça  por  sorpreza.  Vid. 
Interpresa. 

SORPRESO,  part.  pass.  de  Sorprender. 
Espantado,  admirado,  enleado  com  cousa 
súbita. 

SORRAEAR,  v.  a.  —  Sorrabar  aíí/item; 
andar  atraz  d'elle,  fazendo-lhe  cortezias, 
obséquios.  Vid.  Rabear. 

SORRATE.  Termo  usado  adverbialmen- 
te  :  A  furto,  sorrateiramente. 

SORRATEIRAMENTE,  adi.  (De  sorra- 
teiro, com  o  suffixo  «mente»).  De  um 
modo  sorrateiro. 

—  De  soirate. 

SORRATEIRO,  A,  adj.  Que  faz  as  cou- 
sas com  mansa  sagacidade,  ratoneiro. 


—  Que  faz  as  cousas  a  furto,  mansa- 
mente, com  ardis,  e  artimanhas. 

Vem  sorrateira. 
Yá-se  encostar. 

Acho  a  cama 
isca  da  doença  acinte. 

AKToxio  PBESTEs,  AUTOS,  pag.  233. 

—  Olhar  sorrateiro  como  de  porco; 
olhar  a  furto,  por  baixo  das  pestanas, 
sem  levantar  a  cara. 

—  Figuradamente  :  Doenças  sorratei- 
ras ;  doenças  que  se  manifestam  quan- 
do tem  produzido  grande  estrago. 

—  Morder  o  cào  sorrateiro  ;  vir  ca- 
lado ferrar  a  sua  dentada. 

SORREIÇOM.   Vid.  Subrepção. 

SORRELFA,  s.  /.  Termo  popular.  Dis- 
simulação mansa  para  iliudir,  para  enga- 
nar. 

—  Emprega-se  também  adverbialmen- 
te :  A  sorrelfa. 

SORRELFO,  A,  adj.  Que  se  serve  de 
branda  dissimulação  para  enganar. 

—  Termo  popular.  Avarento. 

—  Substantivamente  :    Um  sorrelfo. 
SORRETICIO,  A,  adj.   Termo   antiqua- 
do. Vid.  Sobrepticio. 

SORRIDENTE,  part.  act.  de  Sorrir. 
Q.ue  se  sorri. 

SORRIDO,  pjart.  pass.  de  Sorrir.  Para 
quem  outrem   se  sorri  por  agasalho,   etc. 

SORRINTE,  part.  act.  de 'Sorrir.  Vid. 
Sorridente. 

SORRIR,  V.  a.  (Do  latim  subridere). 
Abrir  a  bocca  um  pouco,  rindo-se  com 
modéstia. 

—  Dar  sorriso  a  qualquer  gesto  de  ale- 
gria. 

—  Diz-se  também  por  zombaria. 

—  Sorrir-se,  v.  rejí.  Sorrir,  abrir  a 
bocca  rindo-se  modestamente.  —  «Ao  que 
António  de  Faria  se  sorrio  algum  tanto 
secamente,  porque  entendeo  que  ja  elles 
atinavão  que  erão  furtadas,  e  lhes  disse 
que  elles  fazião  aquillo  como  homens 
mancebos,  e  filhos  de  mercadores  ricos, 
que  por  serem  moços  estimavão  as  cou- 
sas em  menos  do  que  valião;  a  que  elles 
dissimulando  o  que  ja  entendião,  respon- 
derão, assi  parece  que  deve  ser  como  di- 
zes.» Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  44.  —  «A  que  o  Mitaquer,  e 
nós  todos  com  elle.  levantando  as  mãos 
em  sinal  de  lho  darmos  graças,  beijamos 
o  chaõ  três  vezes  dizendo,  hipausinafapó 
lagaõ  companoo  ducure  viday  hurpane 
marcutó  valem,  que  quer  dizer,  sobre  mil 
gerações  descasem  teus  peis,  porque  fi- 
ques senhor  dos  que  habitão  a  terra,  ao 
que  se  elle  sorrio,  e  disse  para  hum  prín- 
cipe que  estava  junto  com  elle,  falão  co- 
mo gente  que  se  criou  entre  nós.»'  Ibi- 
dem,  cap.  12Õ. 

—  Figuradamente  :  Sorrir-se  na  terra 
a  primavera. 

—  Sorrir-se  o  mez  das  Jlôres. 


594 


SOIIT 


SORT 


SORT 


SORRISO,  s.  m.  Um  principio  de  riso, 
do  (jui!  rto  sorri. 

—  Mostra  do  hoiievoloncia,  do  favor. 

—  Figiiradaiaunto :  O  sorriso  dos  gran- 
des. 

Paradoxo,  (|UC!  iirrastii,  c  f|Uo  deslumbra 

O  Gonobriíio,  fliictiiniitci  Siibio, 

Quo  o.s  boinoiM  aborroci!,  o^  lioinons  busca  •, 

f)  catado  iiirtocinl  dn.n  biutos  louva, 

E  inondi/ía  Ilo.^  auveoá  alizarca 

O  pão  dos  GraiKb;»,  o  norrim  doUcs; 

Amargo  como  o  iol,  \il  como  o  lodo. 

J.  k.   DK  MACEDO,  \TAOEM   EXTÁTICA,  Cant.   2. 

—  Fipcuradaniento :  Os  sorrisos  d' ou- 
trem . 

SORROBOLHADOURO,  .«.  m.  Termo  an- 
tiiiuadu.  ()  varredouro,  oh  vasculho  do 
forno. 

SORTE,  s.  /.  (Do  latira  sor$).  Acaso, 
accidento. 

O  crime  d  d'cllc. 
Do  tyranno,  c  não  nosso...  ou  ó  da  sorte. 
Sc  Deua  Óptimo  Máximo  o  pci-mitte, 
O  homem  fraco... 

GARRETT,  CATÃO,   act.   5,  SC    3. 

—  Classe,  espécie,  casta.  —  a  Acabado 
o  comer,  que  durou  bom  espaço,  e  as  me- 
zas  levantadas,  entrou  pola  porta  da  iior- 
ta  lima  donzella  vestida  de  nej>T0,  os  tou- 
cados da  mesma  sorte  do  vestido,  acom- 
panhada de  dous  escudeiros;  e  primeiro 
que  f.iUasse  ao  imperador  beijou  as  mãos 
á  imperatriz,  a  Gridonia,  o  Polinarda,  a 
qual  abraçou  porque  conheceu  ser  uma 
das  quo  Targiaiia  trouxera  comsigo :  d'al- 
11  se  foi  ao  imperador  pêra  lhe  beijar  as 
mãos  ;  ello  nem  Primalião  lh'as  não  de- 
ram, antes  o  imperador  a  recebeu  com 
ècu  costumado  gasalhado,  pcrguntando- 
Ihe  por  pua  senhora.»  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  112. 
—  «Antre  algumas  cousas  notáveis  que 
aquy  vimos  foy  huma  rua  de  mais  de 
com  embarcações  carregadas  de  idolos  de 
jiao  dourados  de  muytas  sortes  qtie  se 
vendião  para  se  offerecercm  nos  pagodes, 
e  a  fi')ra  isto,  peis,  e  pernas,  e  braços,  e 
cabeças,  que  homens  doentes  eõpravão 
para  offcrecerem  por  sua  devaçalj.»  Fer- 
não Slendcs  Pinto,  Peregrinações,  cap. 
98.  —  «E  porquo  as  cousas  desta  quali- 
dade são  de  monos  preço,  se  permite  aos 
que  tratão  uellas  tratarem  em  muvtas 
sortes  delias,  porque  a  tudo  se  tem  res- 
peito ;  com  tuilo  se  fazem  certas  fran- 
quezas mais  numas  cousas  que  em  outras, 
porque  não  falte  quem  venda  tudo.»  Ibi- 
dem. —  «E  acertando  hum  dia  de  yr  ter 
a  hum  paul  onde  avia  grande  soma  de 
aves  de  toda  a  sorte,  matou  nelle  com  a 
munição  humas  vinte  o  seis  marrecas.» 
Ibidem,  cap.  UU.  —  «Arvoredos  de  toda 
a  sorte  como  em  l">panlia:  tudo  aruado 
o  posto  ao  cordel.  Aeiju-ostiis  muyto  gran- 
des c  muyto  juntos  postos    cm   duas  or- 


dena com  caminho  por  antro  elles  qne 
ao  meo  dia  parece  noytc  e  tam  noyte  quo 
areceey  dontrar  dentro,  colhem  em  esta 
orta  tanta»  toM»  em  ho  teiiipu  delias  que 
cada  clia  passava  do  doze  mil  aratiMs.i 
Fr.  (laspar  da  Cruz,  Tratado  das  cou- 
sas da  China,  cap.  G. 

NAo,  do  Uniapate 
Oitava  cila  maÍM  pintada. 
(Juo  «oWe  dl!  ca«;a  ipicr  ? 
1'orco-f  moiitc!/.!'.-),  voados. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  451. 

—  O  Da  segunda  casca  fazem  toda  a 
sorte  do  louça,  e  va^os  muy  coriosos  de 
beber,  dos  quaos  se  seruem  os  pobres,  e 
muy  bom  caruão  porá  os  ouriues.  Do 
fniyto  vários  mantimentos,  como  saíj  la- 
nhas, cocos,  copra,  iagra,  azeyte,  vinho, 
agoa,  vinagre,  assacar,  agoa  ardente, 
maçans,  e  outra  fruyta.»  Fr.  Gaspar  de 
S.  Bernardino,  Itinerário  da  índia,  ca- 
pitulo o. 

E  que  tudo  o  que  achar  hi  lh'encommcnda 
Nestas  casas,  ou  n'outras  da  Cidiule, 
Ou  seja  de  dinheiro,  ou  de  fazenda 
11c  qualquer  outra  sortit  ou  qualidade, 
t.'uc  pertencer  ao  morto  Roi,  entenda, 
Por  tudo  lance  mào,  tudo  arrecade, 
V.  dá-lhe  juntamente  por  preceito 
(i>uc  dos  armazéns  seja  o  mesmo  feito. 

F.  D'ANnRADE,  PBrUEIRO  CERCO  DE  DIO,  Cant.  8, 

est.  51. 

—  Maneira,  modo,  geito,  arte.—  «Tra- 
zia as  armas  de  pardo  com  manchas 
amarellas  por  ellas,  o  elmo  da  mesma 
sorte,  e  tinha-o  tirado,  c  encostada  a  ca- 
Jjcça  sobre  elle,  com  o  rosto  no  clião.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  87.  —  «Mas  seja  nossa  bata- 
lha, disse  Albayzar,  pois  tanto  te  pre- 
zas, de  ti,  desta  sorte :  que,  se  mo  ven- 
ceres, alem  de  ganhares  esse  escudo  com 
todolos  outros,  me  leves  ante  Miraguar- 
da  c  ella  determine  de  minha  vida  o  que 
quizer;  e  sendo  tu  vencido,  que  a  senho- 
ra Targiana  po.ssa  fazer  de  ti  o  mesmo.» 
Ibidem,  cap.  89.  —  «Ao  outro  dia,  de- 
pois do  dcsencantaincnto  de  Lionarda, 
começou  do  acodir  gente  de  toda  a  co- 
marca a  ver  sua  natural  senhora.  As  fes- 
tas se  começaram  de  sorte,  que  o  prin- 
cipio delias,  segundo  o  fundamento  que 
levaram,  parecia  feito  a  fim  de  não  ter 
tim.  Que  isto  tem  as  cousas  grandes  pa- 
recer que  SC  não  podem  acabar. »  Ibidem, 
cap.  101.  —  «Florendos,  ainda  que  cui- 
dou desviar-se,  não  pode  tanto  que  um 
delles  o  nào  encontrasse  com  os  peitos 
do  cavallo,  de  sorte  que  o  derribou ; 
caindo  porem  sobre  as  mãos,  sem  Flo- 
rendos poder  fazer  damno  a  nenhum  nas 
pessoas  nom  nos  eavallos. »  Ibidem,  cap. 
102.  —  «Niis  somos  aqui  <]uatro.  temos 
(]uatro  guardadores,  (pic  não  podem  tar- 
dar muito,  justai  com  ellos  uni  e  um,  e 
o  que  de  vós  fOr  vencido  podeis    levar  a 


Hiia :  de  maneira  quo,  se  vencerdes  to- 
dos, levar- no8-heis  toda»  quatro,  que  pou- 
co maior  pejo  serãu  nove  que  cinco,  e 
se  vos  venoorcm  a  v.!».'?,  p  rdorei*  outraa 
quatro,  e  ficar-vo»-ha  uma  :  de  sorte  que, 
de  qualquer  sorte  que  vos  nesta  justa 
aconteça,  ficareis  sempre  com  ganho 
Ibidem,  cap.  116.  —  iMuito  folgou  el- 
rei  e  a  rainha  <le  vèr  em  sua  caiui  aven- 
tura <laquella  sorte,  polo  pouco  oostnnte 
que  alli  havia  della.s;  que  tudo  »e  guar- 
dava pêra  a  corto  do  imperador,  onde 
todos  cavalleiroH  famosos  queriam  ir  dar 
toque  a  suas  obras :  e  se  algumas  se  acon- 
teciam em  Ilespanha,  eram  no  castcllo 
d'Almourol ;  e  por  isso  a  corte  carecia 
delias.  El-rei  vendo  a  rainha  embaraça- 
da na  resposta,  e  que  punha  o*  olhos 
n'elle  pêra  ver  o  que  mandava,  lhe  dis- 
6-.«  Ibidem,  eap.  12.3. —  tDesta  sorte 
passaram  á  terceira  carreira,  e  nesta  fo- 
ram 03  enconti-os  de  mais  força,  ou  o 
causou,  que  andavam  jamais  fracos,  que 
o  das  Donzellas  perdeu  um  dos  estribos 
e  quazi  se  encostou  ao  arç.ão  trazeiro,  o 
Albayzar  perdeu  ambos  e  se  abraçou  ao 
collo  do  cavallo.  Corrido  cada  um  de  lhe 
acontecer  aquelle  desar,  tomaram  outras 
lanças.  Albayzar  disse  ao  das  Donzellas: 
Peço-vos,  senhor  cavalleiro,  qne  haja  an- 
tre nós  algum  concerto  e  seja  este.»  Ibi- 
dem, cap.  124. 

Da  BÓrte  que  acontece 

Ao  inisero  docnto, 

Da  cura  despedido, 

Quo  o  Medico  advertido 

Tudo  quanto  doseja  lhe  concede ; 

O  Amor  me  oonsontia 

Espcran(;ns,  desejos  e  ousadia. 

CAH.,  CASÇÂO  6. 

De  que  sorte,  a  outra  pedra 
mui  sem  calma  ? 
Pedra  da  3ah'aç&o  d°alina 
das  sete  obi-as  com  quo  medra 
o  que  n"cllas  não  encalma. 

ANrONIO  PRESTES,  APTOS,   pSg.  27. 

—  cDa  mesma  sorte  venceo  aos  Cas- 
telhanos na  famosa  batalha  do  Amexial, 
sendo  Governador  das  Armas  D.  Sancho 
Manoel,  Conde  do  Villa-Flor.  Havia  en- 
trado pela  Província  do  Alom-Téjo  D. 
Joaõ  da  Áustria,  nlho  natural  do  Filippe 
IV.  com  hum  exercito  digno  de  taõ  gran- 
de (General.»  Fr.  P.er:  ardo  de  Brito.  Elo- 
gios dos  reis  de  Portugal,  continuados 
por  D.  .Tose  Barbosa.  —  «ImaginárSo  nos- 
sos Avós  hum  erro,  cujas  partes  temTjhe- 
gado  aos  nossos  dias,  e  crvrào  que  havia 
mcvos  seguros  para  obrigar  huma  pessoa 
a  que  amasse.  Estes  meyos  empregarXo- 
se  de  duas  sortes,  e  tinhão  dous  nomes.» 
Cavalleiro  d'Olivcira,  Cartas,  liv.  1,  nu- 
mero 29. 


Para  as  náo-i  di'?:a  .--■■(■'(■  ok..;  rr.iHU 
Com  a  possível  pressa  c  brevidade, 


SORT 


SORT 


SORT 


59Õ 


Em  mil  partes  alH  vai  encontrando 
De  vários  auimacs  gràa  quantidade, 
Que  o  verde  prado  viio  atravessando 
Som  temor  de  ninguém,  com  liberdade, 
Porque  a  cada  hum  falta  o  duro  imigo 
De  que  mil  vezes  tem  morte,  ou  perigo. 

FRAUCISCO  dVsDRADE,   PRiaEIKO  CEKCO  DE  DIU, 

cant.  4,  est.  70. 

Aqui,  03  tui-vos  olli03  esfregando, 
O  Deaõ  abre  a  boca,  estende  o.s  braços, 
A  cabeça  levanta,  e  desta  sorte 
Ao  Monstro  enganador  irado  falia : 
Que  frenezi  é  este,  velha  tonta  ? 

ASTONIO  DIMZ  D.\  CBUZ,  HYSSOPE,  Caut.  2. 

—  uO  primeiro  acaba  na  po.<se  do  que 
se  desejou;  o  segundo  começa  n'ella:  mas 
de  tal  sorte,  que  nem  sempre  o  primeiro 
engendra  o  segundo,  nem  sempre  o  se- 
gundo procede  do  primeiro.»  D.  Fran- 
cisco Manoel  de  Mello,  Carta  de  guia  de 
casados. 

—  Figuradamente :  Fazer  boas  sortes ; 
diz-se  em  analogia  com  os  enganos  que 
o  toureador  ou  capinha  faz  ao  boi  com 
destreza,  e  sem  damno  seu.  —  tSe  elie 
a  toireára,  faria  boas  sortes ;  mas  ordi- 
nariamente estas  assim  fazem  toiros  os 
maridos.  Suppòem-se  Cornelios  Tácitos 
com  toga  os  que  não  fazem  exemplo  por 
sua  casa.»  Bispo  do  Grào  Pará,  Memo- 
rias, publicadas  por  Camillo  Castello 
Branco,  pag.  123. 

—  Porção,  quinhão  que  se  dá  na  par- 
tilha. 

—  Homem  de  sorte ;  homem  de  gra- 
duação. 

—  O  destino,  fado,  aquillo  que  a  Pro- 
videncia nos  quer  conceder. 

Ah  fermosa  Lianor,  tanto  fermosa. 
Quanto  iufolice  triste,  e  sem  ventura, 
Ah,  graciosa  Lianor,  tanto  graciosa 
Quanto  desengraçada  em  sorte  escura. 
Desditosa  Lianor  tão  desditosa 
Quam  perfeita,  e  acabada  em  fermosura, 
Que  lastima  nos  faz  ó  Lianor  bella 
Ver  como  á  morte  vas  sem  mereceUa. 

COETE  BEAL,  NAUFBAGIO  DE  SEPÚLVEDA,  CaUt.   15. 

Vós,  Portuguezes  poucos,  quanto  fortes. 
Que  o  fraco  poder  vosso  nào  pezaes ; 
Vós,  que  á  custa  de  vossas  varias  mortes 
A  Lei  da  vida  eterna  dilatacs : 
Assi  do  Ceo  deitadas  sào  as  sortes, 
Que  vós,  por  muito  poucos  que  sejaes, 
Muito  façaes  na  sancta  christandadc : 
Que  tanto,  oh  Christo,  exaltas  a  humildade ! 
CAu.,  Lcs.,  cant.  7,  est.  3. 

Tiverão  perfeição  no  Egypto  as  Ai-tes, 
Declinarão  por  fim ,  por  fim  morrerão  ; 
Que  u  sorte  em  tudo  dos  mortaes  hc  esta  ! 

J.   A.    DE   MACEDO,   MEDITAÇÃO,   CaUt.    1. 

—  «  Se  é  crime  »  continuou  «ter  aJma  e  vista. 
Foi  essa  a  única  offensa  que  lhe  hei  feito 
Ao  vingativo  conde.  Por  má  sorte. 
Laços  fataes  de  sangue  lhe  prendiam 
De  meus  suspii'os  o  adorado  objecto. 

GABBETI,  CAMÕES,  CaUt.  3,  CEp.  13. 

—  Incerteza  de  fortuna,  ou  desgraça, 
perda  ou  ganlio. 


Ora  he  pêra  ver  : 

Tome  Vossa  Alteza  qualquer  que  quizcr. 
Que  todo  ho  verdade  as  fortes  que  sào, 
Tomac  desses  sete  planetas  que  lii  vào 
A  que  vos  vier. 


GIL  VICE.N-TE,    FAKÇAS. 


—  «Em  todas  as  cousas  que  ham  de 
cometer,  ou  caniinKos  por  mar  ou  por 
terra,  usam  de  sortes  e  lançam  nas  dian- 
te dos  seus  Ídolos.  As  sortes  sam  dous 
paos  feitos  ao  modo  de  mea  noz,  chãos 
de  huma  banda,  e  roliços  da  outra.»  Frei 
Gaspar  da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da 
China,  cap.  27.  —  oE  porque  disto  ve- 
nho mal  contente,  quero-me  vingar  no 
que  me  pôde  dar  menos  contentamento, 
por  isso  lançai  sortes  de  duas  cou.sas  qual 
vos  vem  melhor,  fazerdes  batalha  comi- 
go e  esperardes  a  fortuna  delia  e  no  fim 
perderdes  a  vós  e  vossas  donzellas,  ou 
largarm'a3  por  vossa  vontade.»  Francis- 
co de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  125.  —  «Por  isso,  seahoras,  lançai 
sortes,  em  cujo  nome  e  com  cujo  favor 
hei  de  justar,  oa  fazer  batalha ;  que  ago- 
ra quero  ver  a  quem  levo  comigo,  ou 
quão  bem  despendi  meu  tempo  em  vos 
servir  e  acompanhar.  Como  o  natural  das 
mulheres  é,  que  inda  que  algumas  de  si 
con^ieçam  que  devem  pouco  á  natureza, 
são  tão  vãas,  que  a  mais  feia  não  con- 
fessa, que  outra  alguma  em  fermosura 
lhe  faz  vantagem;  esta  vaidade  natural 
as  fazia  tão  confiadas,  que  não  havia  ne- 
nhuma na  companhia,  que  não  cresse  de 
si,  que  em  seu  nome  se  podia  desbaratar 
todo  o  mundo.»  Ibidem,  cap.  126. 

—  Cair  em  sorte;  saír-lhe  em  sorte, 
tocar-Ihe  pela  repartição.  —  «Me  não  pe- 
sa de  vos  cair  primeiro  a  sorte,  por  me 
não  ver  n'esse  trabalho  :  folgo  que  me 
saiu  melhor  o  partido  do  que  cuidava, 
pois  a  afi'ronta  é  só  vos.sa,  e  o  gosto  de 
lograr  essa  senhora  será  d'ambos.»  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  128.  —  «No  qual  tempo  ElRej'  D. 
Manuel  mandando  Pedralvares  Cabral 
pêra  a  índia,  lhe  deo  este,  e  outros  de- 
gredados pei'a  os  lançar  nas  terras,  per- 
que  fossem  pêra  descubridores ;  e  acon- 
teceo  a  sorte  a  João  Machado  ficar  em 
Melinde,  como  escrevemos.»  Barros,  Dé- 
cada 2,  liv.  6,  cap.  9. 

—  Boa  fortuna,  ventiu-a  possível,  e 
esperada. 

—  Põr-se  em  sorte  ;  pôr-se  a  risco,  em 
perigo. 

—  Ter  sorte. 

Do  sol  peitada  foste,  cruel  morte. 
Para  o  livrar  de  quem  o  escurecia  ; 
E  da  lua,  que  ante  ella  luz  não  tinlia. 
Como  de  tal  poder  tiveste  sorte? 
E  se  a  tiveste,  como  tão  asinha 
Tornaste  a  luz  do  mundo  em  terra  fria  ? 

CAM.,  SOKETOS,  U."  230. 

—  No  jogo,  ponto  de  ganhar. 

—  O  papel  em  branco    ou    com   o  nu- 


mero e  declaração  do  premio,  que  se  tira 
das  rodas  da  loteria,  e  outras. 

—  Estar  lançada  a  sorte;  o  dado,  di- 
ta, ou  feita  cousa  de  acontecimento  certo 
o  arri.scado,  dado  o  passo  perigoso. 

—  O  destino,  fado. 

Já  que  hc  taõ  infeliz  a  humana  sorte, 

Que  para  claro  abono  da  verdade 

Naò  basta  a  vida,  ho  necessária  a  nioi'te. 

ABBADE  DE  JAZF.NTE,  POESIAS,   pag.    99. 

—  « Hum  dos  notaueis  castigos  que  lhe 
podem  dar,  he  dizcrlhes  palauras  injurio- 
sas. Gillio  diz  que  de  noyte  chorão,  ge- 
mem, e  lamentão  sua  pouca  sorte,  pois 
fo}'  tal  que  os  chegou  a  seruirem  em  offi-' 
ci  3  bayxos,  e  de  pouca  honra.»  Fr.  Gas- 
par de  S.  Bernardino,  Itinerário  da  ín- 
dia, cap.  15. 

O  Ceo,  que  para  varia  sorte  o  chama, 
A  hum  calafate  Portuguez  o  entrega, 
Grão  sabor,  discrição  nelle  derrama, 
Grande  engenho  e  agudeza  lhe  nào  nega ; 
Grandemente  por  isto  o  senhor  o  ama  : 
E  depois  acontece  que  navega 
Lá  para  o  Oriental  Reino  o  mar  bravo, 
E  leva  em  companhia  o  seu  esci-avo. 

P.   DE  ANDBADE,  PRIMEIRO    CERCO  DE  DIU,  CaUt. 

2,  est.  66. 


Foi-lhe  então  contra  as  ondas  concedida 
Maior  força  da  sua  imiga  sorte. 
Xão  para  lh"outorgar  mais  longa  vida 
Senão  para  lhe  dar  mais  triste  morte. 
IBIDEM,  cant.  8,  est.  15. 

Ja  te  fui  importuno,  eu  o  conheço. 
Sê-lo  agora  de  novo  não  devera. 
Do  ti  recebi  mais  do  que  mereço, 
jVIas  foi  como  quem  és,  nào  como  eu  era : 
E  se  não  foi  o  fim  qual  o  começo. 
Se  inda  agora  consente  a  minha  fera 
Sorfe,  que' o  meu  imigo  o  meu  possua. 
Fraqueza  foi  dos  meus,  nào  falta  tua. 
IBIDEM,  cant.  12,  est.  83. 

Este  ousado  Mogor,  depois  que  o  forte 
Braço  seu,  e  da  sna  companhia, 
Com  tanta  perda,  estrago,  e  tanta  morto 
De  Cambaio  esquadrão  que  o  defendia, 
E  com  tanto  favor  da  imiga  sorte 
Que  sempre  he  favorável  á  ousadia. 
Por  entre  tanto  imigo  abrio  a  estrada. 
Para  o  Eio  Indo  faz  sua  jornada. 
IBIDEM,  cant.  9,  est.  76. 

E  ás  descobertas  plagas  do  oriente 
Ir  demandar  essa  escondida  sorte, 
Esse  feito,  essa  glória  promettida 
De  ingrandecer  o  ninho  meu  paterno. 
GABBETT,  CAMÕES,  cant.  3,  cap.  22. 


—  Homem  de  ■pouca  sorte  ;  homem  dos 
vulgares,  dos  communs. 

—  O  damno,  ou  o  engano  que  o  tou- 
reador faz  ao  boi  destramente,  e  sem  pre- 
juízo seu. 

—  Dar  sorte  de  terra  de  sesmaria; 
vir  por  heiança  sorte  de  terra. 

—  Adágios  e  proveebios  : 


596 


mniT 


soitv 


KOSP 


—  Oiido  nao  lia  iiiortu,  não  li;i  mil 
sorte. 

— •  A  má  sorte  inviíLir  forte. 

—  t^iioiii  !i  sorte  iilliuia  oHtiinii,  a  huíi 
dijaustiiiiii. 

—  Syx.:  Sorte,  fortuna.  Vid.  e.sto  ul- 
timo  V()iill)lll>). 

SORTEAÇÃO,  .S-.  /.  Vi.l.  Sorteio. 

SORTEADAMENTJE,  adu.  (Do  sorteado, 
o  o  Mnfllxo    iiuente"!.  L\tr  sorto. 

SORTEADO,  part.  yass.  do  Sortear. 
Tiradi>  \MV  sorte,  escolhido  por  sorte. 

—  Fiirneeido  do  varias  espeoios  de  cou- 
sas. Vid.  Sortido. 

—  Misturado  com  varias  sortes. 

—  Figuradauioutc :  Vida  sorteada  de 
crimes  c  peccados, 

—  Fazundu  sorteada ;  fazenda  que  tem 
as  poças  inolliores,  o  inferiores,  do  diver- 
sas cores,  otc. 

—  Dnnzella  sorteada;  donzclla  esco- 
lhida .-i   SOl't0. 

SORTEADOR,  A,  s.  Pessoa  quo  sorteia. 

—  Pessoa  que  lança  sortes  para  adivi- 
nhar. 

SORTEAMENTO,  s.  m.  Vid.  Sorteio. 
SORTEAR,   V.  a.  Repartir  por  sorte. 

—  Kiieolher,  eleger  por  sorte. 

—  Entrar  eui  sorte  de  loteria,  as  cou- 
sas que  so  haviam  do  sortear. 

—  Rifar. 

—  Dividir  entro  si  por  sortes. 

—  Sortear  o  murcador  as  fazendas; 
compor  a  bala,  ou  caixas  de  peças  do 
varias  côrcs  o  bondade. 

—  Figuradamente  :  Sortear  a  vida  mes- 
clada de  prazeres,   gostos,  ctc. 

—  Sortear-se,  v.  reji.  Dividir-sc  por 
sorteio,  quinhões,  partilhas. 

SORTEGAMENTO,  s.  m.  O  resultado 
das  sortes  i]ui'.  se  lançaram,  o  sorteamento. 

SORTEGAR,  v.  a.  Termo  antiquado. 
Deitar  sortes,  sortear. 

SORTEIO,  s.  m.  A  acção  de  sortear, 
de  tirar  as  sortes  a  vèr  a  quem  cabo  a 
sorte,  ou  a  obrigaçíio  de  fazer  alguma 
cousa. 

—  O  compor  de  varias  sortes,  qualida- 
des, sortiniento. 

SORTE  IRO,  *-.  m.  Vid.  Sorteador. 

SORTEIAS,  s.  /.  plur.  Termo  anti- 
quado. Anileis  quo  sorviam  de  adornar 
os  (lodos.  Os  nossos  maiores  disseram  sor- 
tellias,  o  ainda  depois  so  chamou  tíortclha 
uma  villa  na  comarca  do  Castello  Branco, 
sem  duvida  por  quo  um  annel  s-lo  as  suas 
armas  presentes,  havendo  sido  antigamen- 
te uma  meia  lua. 

—  Sorteias  das  virtudes ;  anneis  em 
cujas  pedras  so  julgava  consistir  alguma 
virtude  natural,  ou  supersticiosa,  para 
curar  algumas  enfermidades,  ou  livrar  do 
alguma  doença,  ou  nialelieio. 

SORTEO,  s.  m.  Vid.  Sorteio. 

SORTIDA,  *•.  /.  (Do  francez  sortie). 
Saída  de  uma  parte  dos  cercados  contra 
os  corcadores  na  guerra. 

—  Passo  para  sair  ao  inimigo. 


—  Porta  pequena,  ou  postigo,  quo  nas 
fortifieaçõos  se  faz  por  baixo  do  terraple- 
no ao  fosHO  para  haver  commuuicaçilo 
com  a  ])raça  abrigada  do  fogo  do  ini- 
migo. 

SORTIDO,  pnrt.  pass.  de  Sortir.  —  ylr- 
iiiazem,  Inja  sortida;  armazém,  loja  que 
tom  bom  sortimento. 

—  Caixa,  fardo  de  fazendas  sortidas ; 
caixa,  fardo  do  varias  sortes  c  qualida- 
des, projiria.í  para  a  venda. 

—  Produzido,  causado,  obtido. 

—  Adiado,  tirailo  om  sorte. 
SORTIJA,  ».  /.  Termo  antiquado.  Sorti- 

Iha,  annel,  e  jóias  de  homem  e  niuilier. 

—  Joijiis  lie  sortijas.  Vid.  Candieiro. 
SORTILÉGIO,   s.    m.    Maleiicio   do  que 

so  servem  aquelles  que  a  plebe  cousidora 
feiticeiros. 

—  Sorteio. 

SORTILEGO,  A,  a<lj.  e  s.  Que  faz  sor- 
tile^rios. 

SORTILHA,  *■.  /.  Annel. 

—  Argolinha. 

SORTIMENTO,  s.  m.  Provisão  do  mer- 
cadorias, drogas,  etc,  de  varias  sortes. 

—  Sorteio. 

SORTIR,  V.  a.  (Do  latim  sortire).  Pro- 
duzir, alcançar. 
• —  Tirar  por  sorte. 

—  Sortir  a  loja  de  mercadorias ;  pro- 
vêl-a  de  variedade  d'ella3. 

—  Fazer  sortimento. 

—  Sortir-se,  v.  reJl.  Prover-so  de  fa- 
zenda de  toda  a  espécie. 

■ —  Fazer  o  seu  sortimento. 

SORUMBÁTICO,  A,  adj.  e  s.  Termo 
popular.  Sombrio,  triste,  carrancudo,  hy- 
poeoiidrieo,  melancólico. 

SORVA,  .f.  _/'.  O  fructo  da  sorveira. 

SORVAL,  adj.  2  gen.  Que  se  sorve., — 
l'era  sorvai. 

SORVAR,  V.  a.  Fazer  aniolleeer  a  carne 
da  fruta,  e  ter  principio   de  fermentaçrio. 

SORVEDOURO,  s.  m.  Termo  de  mari- 
nha. \'^oragem  do  rio,  ou  mar,  onde  a 
agua  faz  redemoinho,  e  ferve,  levando 
ao  fundo  o  (|ue  alli  cáe. 

SORVEDURA,  s.  /.  Vid.  Sorvo. 

SORVEIRA,  s.f.  (Do  latim  sorbus).  Ar- 
vore quo  produz  as  sorvas,  fructo  peque- 
no, redondo,  côr  de  pomo,  o  qual  para 
se  comer  é  mister  quo  amolleça  em  pa- 
lhas, e  so  sorve. 

SORVER,  V.  a.  (Do  latim  sorbere).  Be- 
ber aos  poUcos,  inspirando  ou  recoUieudo 
a  respiração,  atraz  da  qual  entra  o  liqui- 
do que  se  sorve.  —  Sorver  um  ovo. 

Vc3  aqucllo  ? 
Aqiicllo  sanguo  ó  quo  ó  o  raeu,  escravo. 
iS'orrí-o,  fíotta  a  frotta,  coV-stes  hibios  ; 
K  entrou  no  oorai;ào,  todo;  —  aqui  todo 
Mo  doixou  a  vingani;a  inthcsourado. 

QARBKTr,  CATÃO,   act.    Õ,    8C.    11. 

—  Figuradamente  :  Levar  para  o  fun- 
do, submergir. 


PclaB  cntrauhu  lobrcgax  «c  afunda, 
Sorrr.-lhr  a  turra  Oí  muros,  o»  palmeio*, 
N<!iii  (tVíciíta  clamor,  tii-m  vo/,  nem  pranto 
\h>6  luirturavciít  axn^uWàoi  ueiiu. 
j.  A.  im  MACEDO,  A  SATUBKZA,  cant.  2. 


—  Chupar,  embeber.  —  O  pão  sorve  o 
cluí.  —  A  esponja  sorve  a  (ujua  ou  outro 
ijualrjuer  liijuido. 

—  Soffrer  sem  dar  a  entender  a  bua 
dór,  i)u  iucommodo.  Vid.  EnguUr. 

—  Sorver-se,  v.  reJl.  .Sumir-»e,  sub- 
mc!rgir-se. 

SORVETE,  «.  VI.  OonfeiçSo  do  sumo 
de  frutas  com  ciilda  de  oAHUcur  oui  ])on- 
to  mui  alto,  a  qual  se  guar<Xa  para  hg 
desfazer  em  agua,  e  beber,  uiuuo  a  limo- 
nada de  calda  para  guardar-âe.  —  Um 
sorvete  de  luve. 

—  Limonada  ambreada  usada  muito 
jielos  turcos. 

—  Toma-sc  também  pelo  sumo  de  qu;il- 
quer  fruta,  ou  qualquer  creme,  gela- 
dos. 

—  Composiçiio  feita  de  limSo,  assacar, 
âmbar,  etc. 

SORVETEIRA,  «.  /.  Vaso,  espécie  de 
balde  'If  gelar  sorvetes,  bcbid.ns,  etc. 

SORVIDO,  part.  pass.  de  Sorver.  En- 
gulido. 

—  Bebido  aos  poucos,  inspirando  oa 
recolhendo  a  rcsplraçriy. 

—  Levado    para  o  fundo,  submergido. 

—  Figuradamente:  Absorto,  enleva<Jo. 
— -Figuradamente:   Naus  sorvidas  do 

mar. 

SORVINHO,  s.  «).  Diminutivo  de  Sor- 
vo. Sorvo  pequeno. 

SORVO,  s.  m.  A  acção  de  sorver  be- 
bendo. —  Beber  a  sorvos. 

—  A  porção  que  uma  vez  se  sorve. 
SOSANO,  í.  m.  Termo  antiquado.  Des- 

eml)aiaço,  resolução, 

SOSLAIO,  s.  m.  Termo  nstado  na  se- 
guinte locução:  Ao  soslaio,  em  soslaio; 
não  em  cheio,  de  esguelha,  por  um  lado. 
—  «Tornado  a  seu  posto  viu  que  Gracia- 
no  com  toda  a  força  que  o  uavallo  podia 
trazer,  vinha  pêra  clle;  e  pondo  as  ptar- 
nas  ao  cavallo,  o  encontrou  no  meio  do 
escudo  com  tanta  força,  que  falsando  o 
com  todas  as  outras  armas,  deu  com  elle 
no  chão,  e  de  feito  o  mateira  se  o  encon- 
tro não  fura  algum  tanto  em  soslaio;  elle 
ticou  em  salvo  porque  o  outro  errou  o 
seu.»  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
d'Inglaterra,  cap.  111. 

SOSO,  aJv.  Termo  antiquado.  Acima, 
sobre. 

—  Em  soso.  Vid.  Sossa. 

—  Outrora  era  Suso. 
SOSOBRAR,   V.  a.   Vid.  Sossobrar. 
SOSPEIÇÃO,  í.  /.  Vid.  Suspeição. 
SOSPEITA,  tf.  f.  Vid.  Suspeita. 


Era  largo  circuito  lnl^c;^o.  toUi'? 
I.usranvs  ouJe  i>ode  auor  fo*peita. 
K  voudo  aâàoàscgado  tudo  auisau 


I 


SOSP 

Ao  capitão,  dizendo  que  se  embarque. 
A  dona  Liauor,  o  aos  doua  miuinos 
Nos  braçoâ,  no  melhor  batel  oâ  passa, 
A  outi-a  gouto  o  aogue  como  em  sorte 
Lhe  coube  a  embarcação  mais  oportuna. 

COETE  BEAL,  NAUFRJIGIO  DE  SEPULVED.l,  Caut.  14. 

—  «E  que  na  ora  que  el  Rey  visse  o 
Príncipe  seria  tam  alegre,  e  contente, 
que  lhe  esqueceriam  quaesquer  sospeitas, 
ou  mas  vontades  que  nntre  elles  ouuesse. 
Do  que  o  Duque  mostrou  ser  satisfeito,  e 
muy  alegre,  e  na  deligencia,  que  logo 
pos  pêra  se  aperceber,  e  no  desejo  que 
amostrou  pêra  em  tudo  seruir  el  Rev,  e 
o  Príncipe,  mais  parecia  entam  aw-v  nel- 
le  amor,  e  lealdade,  que  o  coatravru.» 
Garcia  de  Rezende,  Chronica  de  D.  João 
II,  cap.  41. —  «Dom  Aluaro  de  Souto 
mayor  filho  de  dom  Pedro  Aluarez  de 
Souto  mayor,  que  foy  Conde  de  Cami- 
nha, e  era  Galego,  neste  anno  de  qua- 
trocentos e  oitenta  e  seis  ioy  preso  em 
Lisboa  per  mandado  dei  Rey  com  sos- 
peita  de  traycào.»  Ibidem,  cap.  63. — 
«Este  conhecimento  induz  a  alma  ao  erro, 
e  he  o  que  a  faz  entrar  na  desconfiança 
por  meyo  das  sospeitas,  das  conjecturas, 
e  das  duvidas  que  vay  formando.»  Ca- 
valleiro  d'(Jiiveira,  Cartas,  liv.  1,  n.°  13. 

SOSPEITAR,  V.  a.  Vid.  Suspeitar.  — 
« E  com  quàto  sospeitamos  o  que  isto 
podia  ser  polias  atoarda.s  que  ja  trazía- 
mos de  mais  lõge,  não  deixamos  de  vel- 
lejar  até  dentro  do  porto,  onde  surgimos 
com  muyto  recado,  e  fazendo  por  cirimo- 
nia  de  paz  nossa  salva  custuinada.»  Fer- 
não Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap. 
148. — Côfesso  que  me  enfadey  e  senti 
algum  tanto  agastado,  por  ver  que  o  nos- 
so Malemo  se  daua  cõ  hum  vagar,  que 
sospeitey  hirem  forros  a  partir.  Meu  cS- 
pauiíeyro  tomaua  o  Ceo  cò  as  mãos  por 
ver  que  nlo  daua  á  vela.»  Fr.  Gaspar 
de  S.  Bernardino,  Itinerário  da  índia, 
cap.  5.  — ■  «Dom  Francisco  vendo  que  el 
Rei  lhe  nao  vinha  falar  como  lhe  manda- 
ra dizer  per  cinco  mouros,  que  com  re- 
ceo  do  que  ja  sospeitaua  não  quis  deixar 
tornar  a  terra,  ao  outro  dia  pela  menhà 
vinta  três  dias  de  lulho.»  Damião  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  2, 
cap.  2. 

—  Sospeitar-se,  i-.  i-efi.  Vid.  Suspei- 
tar. 


Olha  esto  coração  sogeito  a  tanta 
Pena,  que  a  sospeitarse  erro  seria, 
Olha  esfaima  por  ti,  e  cm  ti  mudada: 
Que  outra  cousa  não  quer  mais  que  ser  tua. 
O  do30  vida  minha  olha  que  morro 
No  meyo  de  mil  males  arrastado, 
Ollia  esta  liugua  muda,  olha  o  trabalho 
Do  meu  cansado,  c  triste  pensamento. 

CORTE   REAL,  NAUFRÁGIO    DE    SEPÚLVEDA,  Cailt.  G. 

—  «De  maneira  que  das  dez  vellas  da 
armada,  ficarão  aos  nossos  a  (4alé,  duas 
Galeotas,  e  quatro  fustas,  e  dos  outros 
três  navios  as  duas  Galeotas  deraõ  á  cos- 


SOSS 

ta  na  ilha  de  Tobasoy,  como  ja  disse,  e 
da  outra  fusta  .se  não  soube  nenhuma 
noua;  mas  sospeitouse  que  a  comera  o 
mar,  ou  dera  á  custa  em  alguma  das  ou- 
tras ilhas.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pere- 
grinações, cap.  146. 

t  SOSPEÍTA,  s.  f.  Vid.  Sospeita,  e 
Suspeita.  —  «Em  quàto  estas  cousas  se 
fasiam  mandaram  dentro  em  huma  coua 
como  sepultura  por  fogo  a  huma  foguey- 
ra,  em  que  tízerão  meter  os  pès  a  três 
homens,  por  auer  sospeytas  que  erão  la- 
drões. Gò  estes  tratos  dauão  os  tristes 
tam  grandes  gritos,  que  nam  auia  pessoa 
que  delles  senam  doesse.»  Fr.  Gaspar  de 
lá.  Bernardino,  Itinei-ario  da  índia,  capi- 
tulo 14. 

f  SOSPEYTAR,  V.  a.  Vid.  Sospeitar,  e 
Suspeitar.  —  «Fique  na  lembrança,  este 
dito,  porque  he  muy  necessário  pêra  o 
adiante.  A  mesma  noticia  se  tem  da  mais 
terra  de  Asiria,  Arábia,  e  Palestina,  sem 
que  aya  lugar,  ou  parte,  junto  a  estas 
em  que  se  possa  sospeytar  estivesse  em 
algum  tenipu.»  Ibidem,  cap.  22. 

t  SOSPIRO,  s.  m.  Vid.  Suspiro. 

Que  se  voa  bem  esguardays 
VOS  (vós)  sosjjiros  nunca  vistes. 
cAKc.  DE  KEZEXDE,  tom.  1 ,  pag.  13. 

SOSQUINADO,  2^a>-t-  pass.  de  Sosqui- 
nar. 

SOSQUINAR,  V.  a.  Termo  pouco  em 
uso.  Fazer  propender. 

—  Sosquinar-se,  v.  reji.  Inclinar-se  a 
favor  de  alguém. 

SOSSA.  Termo  usado  adverbialmente : 
Pedra  em  sossa;  pedra  sem  cal,  sem  ou- 
tro liame.  Vid.  Ensosso. 

j  SOSSEGADO,  part.  j^iass.  de  Sosse- 
gar. Vid.  Socegado.  —  «Estando  nós  en- 
tre tanto  quietos,  e  sossegados,  ouuindo 
cada  hora  suas  mortes,  e  desastres :  que 
na  verdade  se  as  duas  casas  andarão  lia- 
das em  parentesco,  custaranos  muvto, 
vermonos  liures  de  tantos  infiéis,  quâtos 
uellas  ha.»  Fr.  Gaspar  de  S.  Bernardi- 
no, Itinerário  da  índia,  cap.  20.  —  «Es- 
tes amigos,  e  seruos  de  Deos,  particula- 
res de  sua  casa  liuremente  gozaõ  de  hu- 
ma saucta  e  sossegada  liberdade,  qual 
couuem  a  filhos  adoptiuos,  e  mimosos  de 
Deos,  fora  de  todo  cuidado,  fora  de  toda 
a  pertLu-baçào,  e  medo  da  morte,  e  do 
Pui-gatorio,  e  do  Inferno,  e  de  todas  as 
cousas,  que  podem  fazer  mal  de  pena  a 
alma,  ou  ao  corjjo  aqui,  e  na  outra  vida, 
por  mais  duraueis,  que  sejào.»  Fr.  Bar- 
tholomou  dos  Martyres,  Compendio  de 
espiritual  doutrina,  cap.  10. 

SOSSEGAR,  V.  a.  Vid.  Socegar. —  «E 
desejando  sossegar  a  vontade  ao  Duque 
de  Bragança,  e  fazelia  conforme  as  cou- 
sas de  seu  seruiço,  o  apartou  hum  dia 
na  capella  dos  paços  dentro  na  cortina, 
perante  dom  Fernam  Qonçaluez  de  Mi- 
randa, Bispo  de  Lamego,  e  seu  capellào 


SOST 


597 


mor,  e  lhe  fez  hum;i  faia  nesta  maneira.» 
Garcia  de  Rezende,  Chronica  de  D.  João 
II,  cap.  36.  —  oE  muy  secretamente  por 
meo  Dantào  de  Faria  se  vio  com  el  Rey,. 
a  quem  meudamente  tudo  descubrio,  e 
que  o  que  tinuào  determinado  era  mata- 
remno  a  ferro,  e  recolherem  o  Príncipe 
por  mar  a  Cezimbra,  e  que  por  logo  com 
elle  sossegarem  o  Reyno  o  leuantariào 
por  Rey,  e  que  o  seria  em  quanto  o  Du- 
que quisesse,  o  que  ficaria  em  sua  mão, 
e  vontade.»   Ibidem,  cap.  58. 

SOSSEGO,  s.  rn.  Vid.  Socego. 

S0S30.  Vid.  Sossa. 

—  Calhaus  era    sosso ;    calhaus   soltos. 
SOSSOBRA,  s.  /.  Vid.  Sossobro. 
SOSSOBRADO,    part.   pass.   de    Sosso- 

brar.  Revolvido  de  baixo  para  cima,  e  ao 
contrario. 

—  Mettido  para  dentro. 
SOSSOBRAR,  V.  a.   Revolver  de  baixo 

para  cima,  e  vice-versa. 

—  Jletter  por  dentro  de  outra  cousa. 

—  Figuiadamente  :  Sossobrar  o  ani- 
mo;  perturbal-o  muito,  mettel-o  para 
dentro,  abatel-o,  submei-gil-o,  submet- 
tel-o. 

—  Sossobrar  a  nau;  voltal-a  de  bai- 
xo para  cima,  e  ir  a  pique. 

—  Sossobrar-se,  v.  reji.  Revolver-se 
de  baixo  para  cima. 

— •  Figuradamente :  Sossobrar-se  o  ani- 
mo; perturbar-se,  agitar-se,  abater-se. 

—  V.  n.  Subverte]--se,  abysmar-se, 
afundar-se. 

—  Ficar  perdido. 

SOSSOBRETA,  s.  f.  O  mau  agouro, 
que  o  jogador  toma  de  quem  se  lhe  põe 
ao  pé.  —  Tomar  sossobreta  co-m  alguém. 

—  Hoje  c!iama-se-lhe  zanga,  grima. 
SOSSOBRO,   s.  m.    A   acção    de   sosso- 
brar-se o  navio,  e  o  efieito  d 'esta  acção. 

—  Perigo,   caso   sinistro,    adversidade. 

—  Figuradamente:  Sossobro  do  ani- 
mo; grande  agitação. 

SOSTENTAR^  v'  a.  Vid.  Sustentar.  — 
«Attirmào  os  uaturaes,  que  quando  não 
achão  què  dar  de  comer  aos  filhos,  se  fe- 
rem no  peyto,  e  como  os  Pilicanos  cõ 
seu  próprio  sangue  os  sostentão :  con- 
corda com  isto  a  Mouarchia  Mística.  E 
Pierio  diz  que  mais  andão  a  pè  do  que 
corre  hum  caualo.»  Fr.  Gaspar  de  S. 
Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap.  9. 
—  «Por  a  grande  nmltidão  de  Camelos, 
carneiros  de  cinco  quartos  sem  armação ; 
caualos  de  gentil  rassa,  ligeyros,  fortes, 
bem  talhados,  e  que  melhor  sostentam  a 
fome,  e  sede,  que  todos  os  outros,  tem 
inuyto  encenso,  myrrha,  e  as  melhores 
fruytas  daquellas  partes.»  Ibidem,  cap. 
10.  —  «O  negocio  he,  que  o  Camelinho 
vem  metido  em  Imm  folie  (assi  como  os 
pintos  nos  uuos)  do  qual  não  pode  sahir 
antes  de  passarem  três  dias,  nem  tardar 
mais  que  ate  os  noue,  nos  quaes  a  mãy 
o  sostenta  sò  com  o  lamber,  bafo,  e 
quentura,  e  quantos  dias  se  detém   den- 


598 


SOST 


tro  nesta  licxi^ía,  fioiíi  naliir  <lill.i,  tantofl 
depois  Bondo  fçniiKlu,  podo  eaiiiiiiliar  seiu 
bebor.  n  Ibidem,   eap.   17. 

SOSTER,  ou  SUSTER,  u.  a..  (iJo  latim 
susIiiiKre).  .Soj,'urar  alf^uiua  cousa,  para 
quo  não  possa  cair. 

—  Fifíurailainoiíto  :  Sustentar,  conser- 
var, fazer  quo  se  uíío  porca,  acabe. 

Quiz  apontoiíi-  a  vida, 
ttn-imcy  me  á,  oBporau(;a 
por  ma  eoder : 
aohcy  ((uo  ora  perdida  ; 
também  a  sua  lembrança 
fny  perder. 

D.   JOANKA  DA   GAMA,   DITOS  DA  FRF.IBi, 

pag.  88  (odiv-  do  1872). 

Vida  foi  pozada  c  crua 

A  saúdo  qu'ou  snslinha; 

Qu'cin  qnauto,  Sculior,  a  tinha, 

Tomor  perigo  na  sua, 

Mo  fez  doaeuidar  da  minba. 

CAM.,  AMi'uynuõi:s,  aot.  2,  80.  2. 

—  oComunmentc  os  bomens  tem  huma 
molher,  ha  qual  compram  por  sou  di- 
nheiro mais  ou  meuo.í,  segundo  ellas  sam, 
a  seus  pays  e  mays.  Poile  toda  via  cada 
hum  ter  tantas  niolherc.-i  quantas  podo 
soster :  mas  huma  he  ha  principal  com 
quo  vivem,  c  tom  as  outras  apousontadas 
cm  dlver.-<as  casas.»  Fr.  daspar  da  Cruz, 
Tratado  das  cousas  da  China,  cap.  15. 
—  oNoste  mesmo  anno  de  M.  D.  V.  por 
consentimento,  e  vontade  dei  Rey  fez 
loam  Lopes  de  Sequeira  huma  fortaleza 
em  Guadauabar  do  cabo  de  Guer  pêra 
dentro,  contra  Aguiló,  a  que  pos  nome 
de  Saucta  Cruz,  a  qual  fortaleza  ello 
dopois  soltou  a  El  liei  pola  nào  poder 
soster,  e  cl  Rei  lhe  fez  por  isso  mercê.» 
Damião  de  tíoes,  Chroiiica  de  D.  Ma- 
noel, part.  1,  cap.  94. —  «Também  na 
Epistola  grandemente  aluoro^<a  a  Igreja 
os  fieis  o  penitentes,  trazendolhes  á  me- 
moria 8ua  grande  nobreza  e  dignidade, 
6  dizoudolhes  que  se  lembrem  que  nam 
sam  filhos  de  escraua,  como  eram  os  lu- 
deos  filhos  da  loy  velha,  (jue  com  temor 
do  penas  sostinha  seus  súbditos  cm  obe- 
diência: mas  quo  sam  filhos  da  verda- 
deyramonte  liuro,  e  senhora,  s.  da  sau- 
cta Cidade  de  lerusalem  celestial,  que 
ho  a  companhia  dos  bemauenturados,  em 
a  qual  ja  estamos  com  as  esperan(;as,  e 
Bftudadès,  o  amor,  ainda  que  quanto  ao 
corpo  mortal  peregrinemos  na  terra.»  Fr. 
Bartholomeu  dos  Martyres,  Catecismo  da 
doutrina  christã. 

—  Soster  o  credito,  a  reputação.  Vid, 
Conservar,  Mauter. 

—  Soster  a  fc ;  defendel-a. 

—  Soster  CS'  gastos;  supprir  a  ellefí. 

—  Soster  (IS  penas ;  supportal-as,  sof- 
frol-as. 

—  Soster  uma  casa;  fazer  com  que 
se  não  arruino  om  credito,  o  bens. 

—  Soster  a  lei;  observal-a. 


SOTA 

—  Soster-se,  i.-.  ifjl.  Conscrvar-so  se- 
guro, lixo,  iminovel. 

SOSTIDO,  part.  paus.  do  Soster.  Su.s- 
tentado. 

—  Conservado,  mantido. 

—  Defendido. 

—  Soflrido,  bupportado. 

—  Ob.Horvado,  cuaijirido  á  risca. 
SOSTIMEKTO,  «.    ;;i.  A  acção  de   bub- 

tor,  do  conservar,  de  defender,  do  man- 
ter. 

—  Fundo,  cabedal,  supportamento, 
soccorro  preciso,  o  indi.spensavel  para  al- 
guma cousa  KC  manter,  o  lc\ar  ao  preten- 
dido fim.  —  O  sostimento  da  guerra. 

SOSTRA,  s,  f.  Termo  autiíjuado.  Vid. 
Costra. 

1.)  SOTA,  s.  «1.  JIoço  da  estrebaria. 

2.)  SOTA,  s.  f.  Figura  de  mulher  nas 
cartas  de  jogar,  aliás  dama.  —  Sota  t/e 
paus,  de  cupus,  etc. 

Sc  matador  ergue  quem 
a  que  é  sota,  morta  tem, 
que  ganho  de  lá.  se  nota. 
ANTÓNIO  i-itKSTEs,  Auros,  pag.  377. 


Oh  !  como  1830  é  bom  !  porém, 

gentil  desdém, 

não  estaca  vós  ahi,  que  sois  sota? 


Oh  !  bem  sei  que  levacs 
mais  abundância  que  a  sota, 
mas  é  toni!ir-mo  da  lua 
falarem-ine  i  mão  de  fóra. 
IBIDEM,  pag.  37'J. 

—  S.  in,  —  Um  sota  ;  cocheiro  inferior, 
ou  segundo,  o  que  vai  a  cavallo  nos  coches 
de  vários  tiros,  ou  juntas,  e  o  cocheiro,  na 
almofada;  postilhão. 

—  Chefe,  capataz  de  algumas  compa- 
nhias de  otlicios  o  servidores  públicos. 

—  Cliofo  de  airuadoiros. 
SOTAALMIRANTE,    s.   m.    Vid.    Soto- 

almirante. 

SOTACAPITAINA,  ou  SOTACAPITANEA, 
s.  /.  Nau  (hi  guerra  que  serve  de  capi- 
tania. 

SOTACAPITÃO,  s.  m.  Segundo  capitão, 
imnicHato. 

SOTACOCHEIRO,  s.  m.  O  cocheiro  subs- 
tituto, (jue  supju-e  o  primeiro. 

SOTACOMITRE,  s.  j».  Termo  de  mari- 
nha. Segunilo  comitre,  quo  faz  as  vezes 
de  comitre. 

SOTAEMBAIXADOR,  ,■!.  m.  Segundo  em- 
baixador na  grailuai.ã.)  a  respeito  do  pri- 
meiro. Vil!.  Sotoembaixador. 

SOTAESTRIBEIRO,  s.  m.  Segundo  cs- 
trilu-iro,  que  substituo  o  primeiro. 

SOTAINA,  A.  /.  Vestidura  uiais  longa 
que  a  casaca,  talar,  aberta  por  diante, 
tomada  com  botòcs,  como  a  trazem  al- 
guns moços  de  conventos.  Vid.  Sotana. 

—  !S.  m.  Dá-se  este  nome  aos  padres, 
fallando  em  mau  sentido.  —  Um  sotaina. 


SOTE 

SOTAL,  loe.  prep.  Com  tanto,  debaixo 
de  tal,  sob  tal  condier.o. 

SOTANA.  Vid.  Sotaina. 

SÓTÃO,  «.  til.  Caia  tcj  rea  por  baixo  do 
sobrado,  o  do  primeiro  andar  que  está  ao 
olivel,  ou  no  andar  da  roa. 

—  (Jova,  adega,  abobada  no  baixo  do 
edifício. 

—  Dão-llie  alguns  o  nome  de  logea. 
SOTAPILOTO,  ou  SOTAPILLOTO,  «.  m. 

Vid.  Sotopiloto.  —  «O  Sotapilloto  Mit- 
noel  Rodrigues,  que  andaua  enfermo,  me 
cliamou  a  parte,  dizendo.  Padre  men,  a 
nào  da  Imlia  como  se  encosta,  nSo  Be  Ba- 
bo mais  virar,  por  tanto  auiiie  ao  Capitilo 
Mór,  ponha  cobro  nos  bateis,  pêra  quo 
assi  nod  possamos  todos  saiuar.  Desta  ma- 
neira se  passou  aquella  noyte,  que  por 
me  parcacer  huma  Imagem  do  luyzo,  creo 
sempre  me  lembrará,  e  là  [«ela  niailruga- 
da  a  nào  com  a  cnchento  da  maré,  se 
foy  pouco,  e  pouco  leuantando. »  Fr.  Gas- 
par lie  S.  Ben.ardino,  Itinerário  da  ín- 
dia,  cap.  2. 

SOTAQUE,  s.  m.  Dito,  apodo  do  vul- 
go, com  allusão  reprehensiv.a,  picante. 

SOTAVENTADO,  adj.  Vid.  Sotaventea- 
do. 

SOTAVENTEADO,  A,  adj.  Termo  de 
náutica.  Diz-.>e  'lo  navio  que  fica  a  so- 
tavento. 

SOTAVENTEAR,  v.  a.  DesgauLar  o 
barlavento,  fazer  ficar  a  sotavento. 

—  Sotaventear-se,  v.  rejl.  Perder  o 
navio  o  barlavento,  cair  a  sotavento. 

SOTAVENTO,  ou  SOTOVENTO,  s.  ni.  A 
borda  do  navio  opposta  áquella  d'onde  so- 
pra o  vento;  oppijo-se  a  barlavento,  ficar 
sotaventeado  do  lado  opposto  d'õnile  ven- 
ta, com  desvantagem  para  o  jogo  d'arti- 
Iheria,  e  manobras. 

SOTEA,  s.  /.  Varanda  no  alto  da  caaa 
para  tomar  o  sol.  Vid.  Sótão. 

—  Casa  baixa  para  o  fresco,  sotSo. 

—  Alguns  parece  quererem  dar-lhe  a  si- 
gnificação de  arca  descoberta,  que  fica  no 
meio  <!as  ca.^as,  c  no  mais  baixo  d'ella8. 

SOTERIA,  s.  /.  (Do  progo  sOtêria). 
Connio.-iiçào  em  verso  cm  louvor. 

SOTEKIM,  s.  )».  Vid.  Sophetim. 

SOTERNOCAMENTE,  adv.  Termo  anti- 
quado. Sorrateiramente,  por  artimaubaa 
occultas. 

SOTERRAÇOM,  s.  /.  Termo  antiquado. 
Funeral,  enterro,  acto  de  metter  debaixo 
da  terra. 

SOTERRADO,  part.  pass.  de  Soterrar. 

SOTERRAMENTO,  s.  m.  O  acto  de  en- 
terrar, si>tiTras,'ào. 

SOTERRANEAMENTE,  adv.^  Por  baixo. 

SOTERRANEO,  ou  SUBTERRÂNEO,  A, 
adj.  il)o  latim  subterrauiuí'^.  Que  mora 
por  baixo  da  terra,  quo  existe  por  baixo 
dVlla.  —  Estrada  subterrânea. 

SOBTERRANHO,  A,  «dj.  Termo  anti- 
qua.io.  Vi.l.  Subterrâneo. 

SOTERRAR,  ou  SUBTERRAR,  r.  o. 
Metter  debaixo  da  terra. 


SOTT 


SOU 


sou 


599 


—  Enterrar,  sepultar. 

—  Esconder,  occultar. 

—  Soterrar-se,  v.  refl.  Metter-se  por 
baixo  da  terra,  esconder-se,  occultar-se. 

—  Srx. :  Soterrar,  enterrar.  Vid.  este 
ultimo  V(icabulo. 

SOTERRENHO.  Vil.  Soterranho. 

SOTERREO.  Virl.  SuMerreo. 

SOTHESODREIRO,  s.  ni.  Ministro  ec- 
clesiastico  que  faz  as  vezes  do  thesou- 
reiro. 

SOTICAPA,  adv.  Termo  antiquado. .De- 
baixo da  capa. 

f  SOTIL,  adj.  2  gen.  Vid.  Sutil,  e  Su- 
btil. 


Pinctores,  luminadorea 
agora  no  cume  estem, 
ouriuizes,  esculptores 
sam  mais  sotis,  c  melhores, 
que  quantos  passados  sam. 

GAKCIA  DE  BEZESDE,  1USCELLAÍT.A. 


—  iHe  senhoria  de  Veneza,  e  nella 
tem  hum  governador,  que  chamam  Po- 
testade, e  assi  gente  de  guarniçam  e  boa 
artelhafia,  e  no  veram  algumas  galees 
sotis,  que  arrodeam  e  guardào  toda  a 
Ilha  de  Turcos  cossayros.»  Tenreiro,  Iti- 
nerário,   eap.  52. 

SOTILICAIRO,  s.   «i.  Ave  como  o  pato. 

—  Ha  outra  espécie  que  uào  vôa,  por- 
que nào  tem  pennas  nas  azas,  e  berram 
como  os  burros. 

SOTILIZAR,  V.  a.  Vid,  Subtilizar. 

1.)  SOTO,  prep.   ant.   Debaixo. 

2.)  SOTO.  Vid.  Souto. 

SOTOALMIRANTE,  s.  m.  Segundo  al- 
mirante. 

SOTOAR,  s.  m.  (Do  francez  sautoir). 
Termo  de  brazào.  O  mesmo  que  santoVj 
aspa. 

SOTOCAPITÃO,  s.  m.  Official  do  na- 
vio, inferior  ao  capitão,  e  que  suppre  em 
sua  falta,  seu  tenente,  ou  segundo  em 
commando. 

SOTOCOCHEIRO.  Vid.  Sotacocheiro. 

SOTOEMBAIXADOR,  s.  m.  Homem  que 
vae  com  o  embaixador  para  o  aconselhar 
e  fazer  as  suas  vezes  nas  faltas. 

SOTOMESTRE,  s.  m.  Official  do  navio, 
inferior  ao  mestre,  e  que  faz  as  vezes 
d'elle  na  sua  ausência. 

SOTOMINISTO,  s.  m.  Substituto,  que 
faz  as  vezes  do  ministro. 

SOTOPILOTO,  s.  m.  Vid.  Sotapiloto. 

SOTOPOR,   V.  a.  Pôr  debaixo.' 

SOTOPOSTO,  A,  part.  pass.  de  Soto- 
por.  Collocado  por  baixo,  posto  pela  par- 
te de  baixo. 

SOTRANCÃO,  ONA,  adj.  Dissimulado, 
com  cara  triste  e  severa,  que  encobre 
animo  ufiino  e  mau. 

SOTRANCAR,  i;.  a.  Abarcar  ou  tomar 
no  meio. 

SOTTERRADO,  ou  SOTERRADO,  part. 
pass.  de  Soterrar,  ou  Sotterrar.  Vid.  So- 
terrado. —  «Esteue  assi  o  corpo  do  Du- 


que publicamente  no  cadafalso  á  vista 
de  todos  por  espaço  de  uma  ora,  e  de 
allv  sem  dobrarem  sinos,  nem  auer  cho- 
ro, o  cabido  da  Sé  com  a  Clerezia  da  ci- 
dade, com  suas  Cruzes,  e  mujtas  tochas 
acesas  o  leuarão  honradamente  ao  Mos- 
teiro de  S.  Domingos,  onde  foy  soterra- 
do na  Capella  mayor. »  Oarcia  de  Re- 
zende, Chronica  de  D.  João  II,  cap.  46. 

Que,  afim  que  a  Alma  desfira  o  vigor  todo. 
Jazer  deve  alguns  tempos  sotíerrada, 
Xos  desabridos  gelos  da  Fortuna. 

F.    M.   DO  XASCIMEKTO,  OS  StASTTBES,  1ÍV.    7. 

7  SOTTERRAR,  v.  a.  Vid.  Soterrar. 
—  «E  estes  que  vivem  de  criar  estas 
adens  tem  junto  das  casas  em  que  morào 
huns  charcos  dagoa  em  que  trazem  dez 
doze  mil  adinhos  huns  mayores  e  outros 
mais  pequenos  :  e  para  tirarem  os  ovos 
tem  em  humas  casas  como  terecenas  muv- 
to  cõpridas  vinte  trinta  fornalhas  cheyas 
de  esterco,  e  nelle  sotterrão  duzentos, 
trezentos  e  quinhentos  ovos  juntos,  e  ta- 
pando as  bocas  das  fornalhas  paraque  o 
esterco  esteja  quente,  os  deixào  assi  es- 
tar até  o  tempo  que  lhes  parece  que  po- 
dem ja  ser  para  sayrem.»  Ferrão  Men- 
des Pinto.  Peregrinações,  cap.  97. 

SOTURNO,  A,  arij.  Termo  popular. 
^Corrupção  de  Saturno,  planeta  que  in- 
ilue  melancolia).  Triste,  taciturno,  hypo- 
condrico. 

Xào  sei  que  te  persevera. 
Sou  muito  soturno. 

És? 
Sou  Koroega  ; 
do  dia  nào  se  me  pega. 

AliTONIO  PKESTES,  ACTOS,    pag.    17. 

Que  tem? 

Soturnas  em  si 
de  vivenda  muito  amara, 
e  mais  nào  sei  que  anda  aqui. 
IBIDEM,  pag.  355. 

—  Casas  soturnas ;  ca=as  sombrias,  que 
inspiram  tristeza  e  melancolia. 

—  Figuradamente  :  Dia  soturno  ;  dia 
escuro,  triste  e  quieto. 

SOU.  Forma  do  verbo  ser  na  primeira 
pessoa  (lo  singular  do  presente  do  modo 
indicativo.  Vid.  Ser.  —  «O  do  Tigre  o 
alevantou  e  abraçou,  dizendo :  A  hon- 
ra e  cortezia  que  de  vós  recebi  em  ter- 
ra, onde  se  não  consentia  fazer  a  nin- 
guém, eu  sou  bem  em  conhecimento  del- 
ia; e  quanto  mais  era  defeso  fazer-se  a 
ninhuma  pessoa,  tanto  maior  é  a  obriga- 
ção em  que  vos  tico.  u  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  dTnglaterra,  cap.  119. 
— •  «Não  sou  tão  de  bom  contentar,  dis- 
se el-rei,  que  com  tão  pequeno  compri- 
mento me  satisfaça;  mais  pois  vossa  von- 
tade é  não  vos  conhecer,  peço-vos  que 
aiguma  hora  passeis  por  minha  casa  me- 
nos encuberto,  que  só   pelo   que   vi  de 


vossas  obras,  se  vos  fará  toda  a  honra, 
ainda  que  de  vós  mais  não  saiba.»  Ibi- 
dem, cap.  124.  —  «Endereçando  as  pa- 
lavras al-rei,  me  dê  licença,  que  tenho 
muito  que  fazer  n'outra  parte;  e  perdoe-' 
me  nào  lhe  dizer  quem  sou,  que  por  ago- 
ra não  é  em  mim :  baste  que  estou  a  seu 
sei-viço  aqui  e  em  todo  lugar,  b  Ibidem. 


Eu  sou  aqueUe  occulto  e  grande  Cabo, 
A  quem  chamaes  vós  outros  Tormentório  ; 
Que  nunca  a  Ptolomeo,  Pompomo,  Estrabo, 
Pliuio.  e  quantos  passaram,  fui  notório  ; 
Aqui  toda  a  Africana  Costa  acabo 
Neste  meu  nunca  visto  promontório, 
Quo  para  o  polo  Antárctico  se  estende : 
A  quem  vossa  ousadia  tanto  offende. 
cAii.,  Lcs.,  cant.  5,  est.  50. 

Já  Tol-os  qnizera  vêr 
começados ;  so't  perdida 
por  nas  obras  da  outra  vida 
termos  fazer,  com  dizer 
nào  prolongarmos  ferida. 

ASTOXIO  PKESTES,  ACTOS,  pag.  14. 

D'Í330  me  corro. 
Ha  de  ser. 

Sou  muito  de  me  dizer 
o  physico  de  que  morro, 
primeiro  o  hei  de  saber. 
IBIDEM,  pag.  37. 

Soíi  Lúcio  Yitruvio, 
quando  quero  nào  me  passa. 
Se  perdi  celestial 
nào  perdi  meu  entender 
que  foi  meu  angelical. 
IBIDEM,  pag.  49. 

De  Fernão  Dacunha  sou. 
Folgará  pois,  vos  mandou 
ver-vos  mais  crioUio  em  passo. 
Que  me  falta  ? 
IBIDEM,  pag.  127. 

Fará-,  que  é  toda  aparada 
de  limpeza,  eu  sou  caqueiro. 
EUc  chama-vos... 
míDEM,  pag.  213. 

Nào,  eu  hei-o  de  estripar  ; 
a  mi  carvão  !  sou  eu  lar 
para  carvão  a  mi  ?  bem  ! 
dae  ao  demo  fantasmas,  nora, 
deixao  aa  casas,  nào  moreis 
mais  aqui,  chimpae-vos  fora. 
IBIDEM,  pag.  409. 

Se  eu  esse  lhe  pareço, 
do  direito  e  do  avesso 
sou  outro. 

IBIDEM,  pag.  417. 

De  que? 

Chis, 
á  fé  que  tudo  entendemos, 
o  csti-emos 

não  quero  no  que  eu  mal  fiz  ; 
sou  mais  diabo  que  os  demos. 
IBIDEM,  p;ig.  121. 

Tu  cuidas  que  sou  de  ourela 
dims  certos  nymfos  Cupidos, 
qne  por  nào  favorecidos 


600 


SOUB 


SOUB 


SOUB 


logo  lho  cAn  a  ospiíiholii? 
cu  nrio,  (Ml  bi^lio  K<'i"i<'o'*- 
iDiDKM,  pag.  t-lf). 

—  o  A  que  olle  rospontloo,  valhame 
Deo8,  coino?  tau  luau  liomuiii  sou  cuque 
isso  fatiai'  não  ajas  niotlo  do  cousa  iie- 
nluiina,  assentate  o  dcacansarás,  (|uo  bem 
vejo  qiio  estás  afrontado,  c  dcspoús  que 
estiveres  mais  em  ty  te  dircy  o  porquo 
mildey  matar  esse  Mouro  que  trouxeste 
coratig:o,  porque  se  fora  Fortuguez,  ou 
Cliristão,  eu  te  juro  em  minha  loy  que  o 
niío  fizera,  inda  que  me  matara  hum  fi- 
lho.» Fernão  Mendes  Finto,  Peregrina- 
ções, cap.  19.  —  «Eu  te  esconjuro  da 
parte  de  nosso  Senhor  Jesu  Chri.sto  que 
me  dip;a.s  quem  és,  a  que  elle  cõ  muytas 
mais  laj^rimas  rospõdoo,  sou,  irni.ão  meu, 
hum  poijro  Christaõ  Portuf^uez,  por  nome 
Vasco  Calvo,  irmão  de  Diogo  Calvo  que 
foy  Capitão  da  nao  de  dom  Nuno  Ma- 
noel, natural  do  Alcouchete,  que  agora 
faz  vinte  e  sete  annos  que  n'csta  terra 
fuy  cativo  com  Tomo  Pircz,  que  Lopo 
Soarez  mandou  por  embaixador  a  este 
Rey  Chim,  que  despois  acabou  dcsestra- 
damcnte  por  hum  d(!.<arranjo  de  hum  Ca- 
pitão Portuguez.»  Ibidem,  cap.  1H5. — 
«A  mim  chamam  Floriano  do  Deserto, 
sou  filho  do  D.  Duardos,  príncipe  de 
Inglaterra,  e  da  infanta  Flerida,  neto  do 
imperador  Palmeirim.»  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  VM. 
—  «Se  não  fôi-a  a  moléstia  de  meu  Ir- 
mão, que  })retexta  os  meus  devaneios, 
todos  os  de  casa  assei. tarião  que  sou  lou- 
ca rematada.  Pouco  falha,  que  o  eu  não 
seja;  e  pelo  desconcerto  desta  Carta  po- 
des tirar  o  desmancho  do  meu  juizo;  e 
delia  tirarás  os  motivos  de  arguir-me.» 
Francisco  Manoel  do  Nascimento,  Suc- 
cessos  de  madame  de  Seneterre. 


IIc  esto,  he  esto  o  domicilio  augusto, 
Quo  o  Divino  Arohitocto  aos  homens  dóra ; 
Eu  (lelle  foii  iion;ào,  eu  nelle  existo  ; 
Em  quanto  os  brutos  aniraaes  a6  fitào 
Na  torni  os  olhos,  foi  ao  homem  dado 
A  vista  apascentai'  no  cthéreo  assento, 
Descortinando  a  abAbada  azulada, 
Em  cujo  o3pa(;o  immcuso  astros  vaguêão. 

J.    A.    DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Caut.   2. 

f  SOUBE.  Fitrma  do  verbo  irregular 
saber  na  ]irinu>ira  ou  terceira  pessoa  do 
singular  do  pretérito  perfeito  do  modo 
indicativo.  Vid.  Saber.  —  «Então  soube 
delle  como  depois  que  o  derribaram,  se 
viera  a  pó  da  arvore,  on<le  o  Palmeirim 
achou,  a  esperar  Floramão  e  Platir  por 
um  concerto  que  antr'elles  havia,  e  achau- 
do-os  já  alli,  lhe  deu  conta  como  aquclles 
cavalleiros  levavam  as  donzellas,  e  o  que 
passara  com  olles,  por  onde  os  seguiram 
té  os  alcançar."  Francisco  do  Jlcraes, 
Palmeirim  dlnglaterra,  cap.  55.  —  «Al- 
bayzar  foi  á  prizào  por  sua  própria  pes- 
soa, que  era  no  baixo  tFuma  torre,  onde 


a  achou  sem  outro  nenhum,  com  uns  fer- 
ros pequenos  o  delgados  no8  pes;  e  per- 
guntando se  havia  outra  prisam  no  cas- 
tollo  soube  que  não,  então  a  trouve  ondo 
Floreados  estava  tam  denacordada  e  per- 
dirla,  que  Albayzar  a  não  conhecia.» 
Ibidem,  cap.  !)(>.  —  o  Mas  clle,  que  o  viu 
lanradu  ante  eila,  o  cila  |)erdida  a  eór, 
fyryando  n'Í8to  a  condição  pola  contentar, 
lho  disse  rindo :  Heni  soube  Alfernao,  se- 
nhora, onde  punha  sua  esperança,  tendo 
todalas  outras  perdidas ;  e  ])0Í8  asHini  so 
soube  .salvar,  valha-lhe  sua  rlescrição  c 
acordo.»  Ibidem,  cap.  l]b.  —  «E  como 
Nunalvrez  soube  que  el  Rey  de  castella 
so  partya  do  an-ayal,  c  porque  lhe  foy 
dito  que  leuaua  consigo  niuytos  mortas, 
e  doentes,  e  entendeo  que  hyrya  a  alõga 
per  o  caminho,  pos  era  sua  vontade  de 
liie  hir  atalhar  ao  caminho,  e  cõ  ajuda  de 
Deos  o  dosbaiatar. »  Chronica  do  condes- 
tabre de  Portugal  Dom  Nuuo  Aivrez  Pe- 
reyra,  cap.  3G. 

Asai  mo  querem. 

As3Í,  quem  ? 
Quem  melhor  mo  soube  ver. 
Quem  ha  de  ser? 
sois  vós,  riue  sois  o  seu  bera. 
AKroNio  PRESTES,  ACTOS,  pag.  385. 

—  «ElRey  de  Cananor  tanto  que  sou- 
be parte  destas  obras  que  elle  andaua  fa- 
zendo taõ  vizinhas  ao  seu  porto  o  man- 
dou visitar  e  assi  lhe  escreueraõ  os  nos- 
sos que  j:\  estauaõ  com  elle,  dandolhe  no- 
uas  do  estado  da  terra:  aos  quaes  elle 
i-espoiídeo  e  a  elRey  de  Cananor  dando- 
lhe agradecimento  pelo  bom  tratamento 
delles.»  Barr.is,  Década  1,  liv.  6,  cap.  'ò. 
—  «ElRey  ilahamed  como  soube  que  es- 
tes navios  eram  alli  chegados,  raandou- 
Ihe  muito  refresco,  mostrando  estar  á 
obediência  d'ElRey  como  escravo  que  era 
seu.»  Idem,  Década  2,  liv.  6,  cap.  1. — 
«Do  qual  Portuguez,  que  se  chamava  João 
Viegas,  Aflonso  d'Alboquerque  soube  ser 
elle  hum  dos  vinto  e  quatro  homens,  que 
ficaram  cativos  em  ilaiaca  do  tempo  de 
Diogo  Lopes  de  Sequeira.»  Ibidem.  —  «E 
posto  que  Aflbuso  d'Alboquerque  mandou 
fazer  diligencia  em  sua  busca,  nunca  o 
puderam  achar :  o  depois  se  soube  ser 
ido  pêra  ElRey  Jlahamed,  que  fora  de 
Malaca  por  tratos  que  andaram  entre  el- 
Ics,  onde  esteve  alguns  annos,  té  que  per 
seu  favor  veio  cobrar  o  Royiio  do  Pacem, 
em  que  durou  pouco,  como  veremos  em 
seu  tempo.»  Ibidem,  ciip.  7.  —  «E  se- 
gundo se  depois  soube,  era  mercador  da 
linhagem  dos  Mouros,  homem  que  a  Rai- 
nha llena  madi-e  do  Preste  chamado  Da- 
vid, trazia  em  negócios  de  o  mandar  a 
diversas  partes,  por  seu  filho  David  nes- 
te tempo  ser  pouco  mais  de  doze  annos 
de  idatU',  e  ella  governava  o  Reyno.» 
Ibidem,  liv.  7,  cap.  G. —  «Aííbnso  d'Al- 
boquurque  como  soube  estes  lugares  onde 
estavam,    determinou    que    de    caminho, 


indo  correndo  a  costa,  a»  levaria  comsi- 
go;  e  partido  de  Chaul,  lhe  foi  entregue 
«m  Danda  huma  carregada  de  pimenta.» 
Ibidem,  liv.  8,  cap,  tí,  —  «Eu  «ou  filho 
lio  líronay,  sujeito,  e  vassalo  dei  Rei  do 
Ungria :  depois  que  tomei  urniHH  gastei  o 
tempo  em  busca  do  «eu  filho  Claríniun- 
do,  nesta  demanda  assi  conm  tenho  an- 
dado por  muitiw  partes,  assi  vim  a  e«ta 
vossa  R:  ai  Corte  onde  soube  que  estava, 
e  porque  mais  o  conheyo  por  .suas  famo- 
sas obras,  que  por  vista,  beijarei  as  vos- 
sas Reacs  mãos  por  mandarmo  mostrar, 
se  premente  na?  he.»  Idem,  Clarimundo, 
liv.  2,  cap.  4.  —  «E  porque  soube  que 
Diogo  da  Silveira  estava  com  to  la  sua 
Armada  na  ponta  de  Dio,  o  mandou  ctia- 
niar  pêra  que  o  fosse  e^^pcrar  em  Baçaim, 
e  liie  mandou  o  Alvará  tTEIRey,  porque 
o  fazia  Capitão  mór  do  mar  'la  índia. 
Com  este  recado  se  fez  Diogo  da  Silveira 
á  vela,  e  atravessou  a  Baçaim,  e  surgio 
sobre  aquella  barra,  aonde  já  estava  Ma- 
noel de  -Vlboquorque.»  Diogo  de  Couto, 
Década  4,  liv.  8,  cap.  3.  —  lO  Visorey 
chegou  a  Coulaõ,  e  alli  soube  do  ajunta- 
mento dos  Príncipe  i  Malavares  em  Bar- 
dela,  pelo  que  despedio  aquella  eml)arca- 
ção  com  as  cartas  que  atraz  dissemos  no 
derradeiro  Capitulo  do  oitavo  livro. » 
Idem,  Década  6,  liv.  9,  cap.  1.  —  «D. 
Álvaro  lha  deu,  e  elle  se  foy  a  nào,  e 
levaria  a  ancora,  c  soltas  as  velas  sahi- 
raõ  03  soldados  da  camera,  e  tomàraõ  o 
criado  de  D.  Álvaro  nos  braços,  e  deraõ 
com  elle  em  hum  balaõ,  e  o  mandarão 
pêra  Malaca.  D.  Álvaro  ccrmo  soul)e  o 
caso  ficou  taõ  apaixonado,  que  esteve 
pêra  hir  atò  a  Sunda  apoz  a  nào:  mas 
( lonçalo  Vaz  de  Carvalho  foy  fazer  sua 
viagem.»  Ibidem,  liv.  10,  cap.  7. 

Deste  grande  ao  primeiro 
cincoeuta  dias  ouue, 
nos  quais  todos  per  inteiro 
tremendo  deu  tal  m.irtciro, 

(|ual  tegora  se  uon  foube. 

OABCIA  DE  BEZEXDE,  MI5CEIXAHKA. 

—  «Em  que  com  temor  do  ódio  dei 
Rey,  que  contra  si  maginauam,  consulta- 
uam  a  maneira  que  teriam  para  contra 
elle  se  valerem.  Em  que  claramente  so 
soube,  que  o  voto,  e  teaçam  do  Marquez 
cada  vez  era  mais  aceso  com  desamor,  e 
deslealdade  contra  el  Rey,  e  que  per  to- 
dalas maneiras  precuraua  desobediência, 
e  rompimento.»  Idem,  Chrooica  de  D. 
João  II,  cap.  oO.  —  Neste  tempo  estando 
el  Rey  em  Lisboa  lhe  tomaram  os  Fran- 
ceses huma  carauella  da  Mina  com  muy- 
to  ouro,  tendo  paz  com  França.  Tanto 
que  o  soube  teue  sobre  isso  conselho  com 
08  principaes  que  na  corte  estauào,  e  to- 
dos lhe  aconselharam  que  mandasse  so- 
bre isso  huma  pe-soa  a  el  Rey  de  Fran- 
ça.» Ibidem,  cap.  146.  —  «Professou  a 
Musicj»,  o  estimou  a  caça,  c  foi  excellen- 
te   cm   huma,  e  outra  :   naõ  teve  valido, 


SOUB 


SOUB 


SOUB 


601 


mas  soube  eleger  Ministros  para  o  aju- 
darem IV)  «governo.»  Fr.  Bernardo  de 
Brito,  Elogias  dos  reis  de  Portugal,  con- 
tinuados por  D.  José  Barbosa. 

—  Não  se  soube  de  certeza.  —  «Ha  ou- 
tra província  se  chama  Quichio.  Tem 
esta  provinda  onze  cidades.  Ha  outra  se 
chama  Fuquom.  Ha  outra  Quinsi.  Ha 
outra  Vinara.  Ha  outra  Siquam.  Ha  ou- 
tra se  chama  Siensi,  ho  numero  das  ci- 
dades destas  ultimas  províncias  nam  se 
soube  de  certeza.»  Tenreiro,  Itinerário, 
cap.  5. 

—  Como  depois  se  soube. 

E  para  que  de  todo  os  persuadisse 
A  esta  guerra  que  eutào  lhes  propuzera, 
{Como  depois  se  soube)  também  disse 
Que  elle  tinha  por  certo,  e  que  certo  era 
Que  tanto  que  de  nova  flor  vestisse 
O  valle  e  o  monte  a  fresca  primavera 
Alli  viriào  ter  com  grossa  armada 
Os  Turcos,  bem  provida  e  apparelhada. 

FBANCISCO    dVnDRADE,    PBIMEIUO     CEBCO    de    DIU, 

cant.  10,  est.  34. 

—  Ha  mui  pouco  tempo  que  soube 
que...  —  «Ha  muy  pouco  tempo  que  sou- 
be que  era  hum  académico  da  Academia 
Francesa,  e  Icmbra-me  que  encontrando 
as  suas  obras  antes  de  saber  esta  Lín- 
gua, as  tinha  por  obras  de  hum  Carpin- 
teyro  de  oÉBclo,  e  não  de  hum  Académi- 
co de  nome.»  Cavalleiro  d'01iveira,  Car- 
tas, liv.  1,  n."  37. 

—  Soube  mais  de  sua  mulher.  —  «Sou- 
be mais  de  sua  mulher  que  andando  este 
fidalgo  inquieto  nas  visínhanças  do  mos- 
teiro de  Chellas,  zeloso  por  vGr  em  o  si- 
tio certo  rebuçado,  mettera  m.ão  á  espa- 
da, em  que  era  destro  e  valente  soldado.» 
Bispo  do  Gr.^o  Pará,  Memorias,  publica- 
das por  Camillo  Castello  Branco,  pag. 
133. 

—  Soube;  teve  conhecimento.  —  «A 
gente  de  guerra  que  el  Rei  de  Calecut 
deixara  nas  tranqueiras  que  mandara  fa- 
zer em  Cochim,  no  dia  qUe  a  nossa  ar- 
mada chegou,  se  acoUieo  pêra  Cranga- 
nor,  por  lho  assi  ter  mandado  dizer  el 
Rei  de  Calecut,  como  soube  que  a  nos- 
sa frota  era  Chegada  a  Cananor.»  Da- 
mião de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  1,  cap.  77. —  «Mas  loam  homem, 
nem  Lopo  Chanoca  nam  achou,  porque 
eram  idos  por  terra  a  Melinde  buscar 
mantimentos,  c  dos  que  achou  nas  cara- 
uellas  soube  que  com  tormenta  se  apar- 
taraij  da  outra  armada,  e  que  loaõ  ho- 
mem descobrira  antes  de  chegar  ao  cabo 
de  boa  Sperança  três  Ilhas,  dez  legoas 
huma  da  outra.»  Ibidem,  part.  2,  cap. 
3.  —  « Depois  deste  desconcerto  a  oito 
dias,  soube  Nuno  fernandez  que  estaua 
este  arraial  dei  Rei  de  Marrocos  assen- 
tado acerca  da  costa,  no  cabo  de  Cantim, 
sobello  qnal  foi  dar  a  boca  da  noite,  es- 
tando ellcs  ceando,  de  que  tomou  dous 
aduares.»    Ibidem,    part.   3,   cap.  34.  — 

•voL.  V.  —  76. 


« Estando  ainda  Afonso  dalbuquerque  em 
Onor,  veo  ter  com  elle  Melrrao,  de  quem 
soube  que  mandaua  a  Çabaim  delcam 
XX  mil  homens  em  socorro  de  Benasta- 
rím,  aconselhandoo  que  se  apressasse  por 
chegar  a  Goa  antes  que  esta  gente  vies- 
se porque  depois  teria  grande  trabalho 
em  guardar  a  Ilha,  como  em  tomar  a 
villa.»  Ibidem,  cap.  28. —  «Mas  antes 
de  chegarem  a  Campar  soube  George 
Botelho  como  el  Rei  de  Língua  gen- 
rro  dei  Rei  de  Bintam,  tinha  cercado  o 
Rei  de  Campar,  cujos  capitães  ímigos 
eram  por  elle  ser  nosso  amigo,  e  porque 
a  gente  do  cerco  era  muita,  e  a  nossa 
pouca  despachou  George  botelho  huma 
lanchara  a  George  dalbuquerque,  a  pe- 
dírllie  gente,  e  nauios  pêra  ir  socorrer  a 
este  nosso  amigo.»  Ibidem,  cap.  63.  — 
«Raíx  Nordim  como  a  pessoa  a  que  toca- 
ua  o  cargo,  por  ser  Guazíl  da  cidade, 
mandou  também  perà  praia  a  gente  dei 
Rei,  e  alguma  da  cidade,  toda  armada, 
em  que  entrauaõ  duzentos  soldados  de 
Raiz  hamed,  que  trazião  saias  de  malha, 
capacetes,  e  ailargas,  o  qual  como  soube 
que  Afonso  dalbuquerque  estaua  no  Ma- 
draçal,  ordenou  que  el  Rei  se  fosse  logo 
pêra  la,  e  adiantandosse  de  toda  a  com- 
panhia entrou  onde  elle  estaua  mui  des- 
envolto, sem  dar  sinal  do  que  determina- 
ua  fazer,  que  era  matalo.»  Ibidem,  cap. 
68. — -«Belo  que  determinou  Nuno  fer- 
nandez de  os  ir  buscar,  como  soube  per 
seus  espias,  que  a  isso  mandou,  que  es- 
tauam  certos  ao  pe  dos  montes  Claros 
para  onde  partio  ao  dia  seguinte,  que  fo- 
ram dezanoue  de  Maio,  do  anno  do  se- 
nhor de  M.  D.  xvi,  com  quatro  centas, 
e  trinta  lanças  de  Christai^s,  e  alguns 
homens  de  pe  besteiros,  e  espingardeiros, 
dizendo  que  hia  comer  as  cruas  com  os 
Alarues.»  Ibidem,  part.  4,  cap.  6. — 
«Morreram  dos  mouros  assi  homens  co- 
mo niolhcres,  contando  os  que  mataram 
na  caualgada  mais  de  cento,  e  ciucoenta 
dos  de  cauallo,  dous  na  peleja,  e  outros 
dous  no  passo  as  cspingardadas,  foram 
muitos  feridos  como  se  depois  -soube.» 
Ibidem,  cap.  44.  —  «Onde  tendo  a  ja 
começada  chegou  dom  Aleixo  de  mene- 
ses  por  quem  soube  a  certeza  da  nona 
que  lhe  mandara  Meliquiaz  tornando  Dor- 
muz,  de  ser  chegado  a  índia  dom  Duar- 
te de  meneses  por  gouernador,  depois  de 
cuja  vinda  chegou  diante  da  barra  de 
Chaul  Hagamahamed  com  as  mais  das 
fustas  do  Meliquiaz.»  Ibidem,  cap.  60. 
-{-  SOUBEMOS.  Forma  do  verbo  irre- 
gular saber  na  primeira  pessoa  do  plural 
do  pretérito  perfeito  do  modo  indicativo. 
Vid.  Saber.  —  «A  segunda  jornada  vindo 
por  huns  campos  grandes,  achamos  hum 
curuchco  de  boa  altura,  que  era  todo 
feyto  de  cabeças,  e  caveyras  de  vea- 
dos assim  como  parede :  e  do  Mouro 
que  hia  em  nossa  companhia  soubemos 
que  o  Sufi,  a  mandara  fazer   no   tempo 


que  na  dita  terra,  fizera  huma  caça  com 
todo  o  seu  arrayal,  de  que  elle  muyto 
gostava.  »  Tenreiro,  Itinerário,  cap.  9. 
—  «A  qual  laçou  a  auoar,  com  hum  es-, 
cripto  ao  pescoço,  em  que  breuemente 
se  contaua  quanto  passamos  cos  Arábios ; 
e  tanto  que  alargarão  o  amor  delles, 
aguiou  pêra  a  Cidade,  onde  ella  os  ti- 
nha, e  no  mesmo  dia  chegou  cõ  a  noiTa, 
como  nôs  depois  soubemos.»  Fr.  Gaspar 
de  S.  Bernardino,  Itinerário  da  índia, 
cap.  22. 

f  SOUBER.  Forma  do  verbo  irregular 
saber  na  primeira  ou  terceira  pessoa  do 
singular  do  futuro  do  modo  conjunctivo. 
Vid.  Saber.  —  «Outro  sy  dará  Cartas, 
per  que  mandem  correger  os  bens  dos 
Concelhos,  e  Orfoõs,  e  Espritaaes,  e  Al- 
bergarias, se  achar,  ou  souber,  que  an- 
dam dapnificados,  como  vir,  que  seja 
mais  seu  proveito.»  Ord.  Affons.,  liv.  1, 
tit.  õ,  §  11.  —  «E  se  acontecesse  que  no 
começo  do  Feito  as  partes,  ou  cada  huma 
delias  nam  fossem  casados,  e  depois  do 
preito  começado  alguma  delias,  ou  ambas 
casarem,  tanto  que  o  Juiz  esto  souber, 
assine-lhes  termo  a  que  traguam  as  Pro- 
curações das  molheros,  e  vam  per  o  Fei- 
to em  diante,  como  dito  lie ;  e  se  o  Juiz 
esto  nom  fezer,  aja  a  pena  suso  dita.» 
Idem,  liv.  3,  foi.  45. 

Filha,  dae  por  acabada 
vossa  guerra,  descançac, 
que  jiigora  sois  casada ; 
não  vos  dê  nada  de  nada, 
ride-vos  dç  vosso  pae, 
segundo  o  souler  mostrar, 
que  tem  nisso  muita  dôr  ; 
tons  tal  marido  e  senhor 
que  não  te  ha  de  desherdar. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  489. 

f  SOUBERA.  Forma  do  verbo  irregu- 
lar saber  na  primeira  ou  terceira  pessoa 
do  singular  do  pretérito  mais  que  perfei- 
to do  modo  indicativo.  Vid.  Saber.  — 
«Com  este  recado  foi  Affouso  muito  le- 
do, e  mandou  logo  visitar  Sultão  zeinal, 
per  Fernam  perez  dandrade,  fazendo- 
Ihes  muitos  ofFerccimcntos,  desculpandos- 
se,  que  se  soubera  que  elle  vinha  naquel- 
le  junco  que  o  nam  mandara  commeter.» 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Ma- 
noel,   part.  3,  cap.  112. 

Naquelle  mesmo  dia  que  apresenta 
Ko  Cco  O  seu  esprito  o  Sousa  ousado. 
Entre  os  Christàos  hum  novo  ardil  se  inventa 
Quiçá  nunca  antes  visto,  nem  usado : 
Descubrir  delle  o  author  mil  vezes  tenta 
Meu  canto,  mas  foi  sempre  cm  vào  tentado. 
Pois  nem  a  fama  disse  quem  elle  era, 
Que  bem  o  sonhtra  cu  se  cila  o  dissera. 

F.  dVkdkade,  primeiro  cerco  de  DIU,  cant.  17, 
est.  98. 


f  SOUBERAM.  Forma  do  verbo  irre- 
gular saJ>er  na  terceira  pessoa  do  plural 
do  pretérito  mais  que  perfeito  do  modo 


602 


SOUB 


SOUB 


SOVE 


indicativo.  Vid  Saber. — «Os  outros  ar- 
renegados quando  souberam  o  concerto 
da  oiitrcf,';i,  c  quo  haviam  do  ir  ter  an- 
te Aflfonso  d'Albuqiicr(juc  (luizeram  es- 
capulir; ma»  como  os  Capitães  do  Roz- 
tomocan  viram  que  a  salvação  de  suas 
vidas  estava  na  entruf2fa  dcllc.s,  tive- 
ram mito  e  ontreg^ilram-us  a  Jiastião  Ro- 
drigues, que  os  sc^íurou,  e  consolou  no 
que  temiam  de  Attbnso  d'Alboqu6rque.í 
Barros,  Década  2,  liv.  7,  capitulo  5.  — 
«E  o  Duquo,  e  a  Duquesa,  irmãos  da 
Raynlia,  tanto  que  a  noua  souberam 
acudiram  logo  de  Beja,  onde  estauara,  e 
foram  ora  sua  cura,  e  visitações  muy  con- 
tínuos e  diligentes,  c  a  Raynlia  esteuo 
do  todo  a  morte  com  seu  testamento  foy- 
to,  confessada,  comungada,  o  vngida,  tu- 
do como  muy  Oatholica  Princesa.»  0 ar- 
eia de  Rezende,  Chronica  de  D.  João  II, 
cap.  180.  —  «Ao  outro  dia  quo  isto  pas- 
sou chegilram  áquella  barra  duas  fustas 
da  companhia  de  Martim  Affonso,  de 
que  eram  Capitães  Duarte  Mendes  de 
Vasconcellos,  e  João  Coolho,  que  soube- 
ram de  huns  pescadores  como  alli  tinham 
chegado  huns  poucos  de  Portuguezes  que 
estavam  na  Cidade.»  Diogo  de  Couto, 
Década  4,  liv.  4,  cap.  10.  —  «Mais  ar- 
dilosos se  portarão  outros  taes  na  mes- 
ma praça:  souberaõ  que  vinha  do  cele- 
bre Lorvaõ,  por  occasiaõ  de  Natal,  hu- 
nia  valente  consoada  para  o  Bispo.»  Ar- 
te de  furtar,   cap.  66. 

f  SOUBERAS.  Forma  do  verbo  irregu- 
lar saber  na  segunda  pessoa  do  singular 
do  pretérito  mais  que  perfeito  do  modo 
indicativo.  Yid.  Saber. 


Nem  fovas,  Magalhães,  n'hum  fi-agil  pinho 
Buscar  ii'luim  mar  ignito,  a  gloria,  a  morto, 
luda  existiras,  Mexicano  Irapeiio  ! 
Souberas.  Indostão,  que  liavia  o  Tojo, 
Sem  dclle  vcv  o  fcvro,  e  Ilcrócs  da  guerra. 

J.   A.    DE  MACKDO,  .MKDITAÇÃO. 


■[  SOUBERDES.  Forma  do  verbo  irre- 
gular saber  na  segunda  pessoa  do  plural 
do  futuro  do  modo  subjunctivo.  Vid.  Sa- 
ber. —  «Bem  sei,  senhor  cavalleiro,  que 
o  costume  desta  mlnl>a  fortaleza  vos  pa- 
recera cousa  contra  razão :  porém  como 
a  ira  á?  vezes  tem  esto  mal,  que  faz  usar 
e  commctter  cousas  contrarias  de  quem 
as  faz,  não  vos  espantareis  depois  que 
souberdes  a  causa,  que  pêra  isto  tcvo.n 
Francisco  do  Jloracs,  Palmeirim  d'In- 
glaterra,   cap.  102. 

f  SOUBESSE.  Fórraa  do  verbo  irregu- 
lar saber  na  primeira  ou  terceira  pessoa 
do  singular  do  pretérito  mais  que  perfei- 
to do  modo  subjunctivo.  Yid.  Saber.  — 
«Salvo  sendo  essa  molher  achada  por 
tam  desasisa  la,  que  se  podesse  mover  a 
ello  sem  justa  razom,  ou  nom  soubesse 
governar  a  dita  demanda  pêra  a  trazer 
a  boa    perfeiçam.i'    Ord.  Affons.,  liv.    4, 


tit.  11,  §  2.  —  «O  terceiro  mildoa  pela 
marinha  com  a  ordem  de  se  ir  fcmpre 
marchando  pela  terras  marítimas,  e  W.1- 
ba  Be  ficou  a  trás  cõ  a  melhor  o  mais 
luzida  gente  do  exercito,  para  acudir  àa 
partes  onde  soubesse  que  relevava  sua 
presença.»  Mouarchia  Lusitana,  liv.  6, 
cap.  2b.  —  «Na  qual  arma-la  auia  sete- 
centos Mamahicos,  trezentos  Turcos,  mil 
mouros  dos  regnoa  de  Tunez,  e  de  (ira- 
da, cspingardeiros,  e  bombarrleiros,  de 
que  algui:3  eraõ  mestres  de  fundir  arte- 
Iharia,  ha  mais  gonte  eraõ  frecheiros  de 
lanças,  e  espadas,  todos  bem  armados, 
entre  os  quacs  hauia  mais  de  sesenta 
Christàos  leuantiscos,  soubesse  de  cer- 
to.» Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  4,  cap.  12.  —  «Vindo  este 
dia  em  que  se  a  nao  osperaua,  mandou 
Pedraluarez  ter  vigia  no  mar:  parecen- 
dolhc  que  se  cila  soubesse  estarem  ali, 
per  ventura  passaria  tanto  ao  mar  da 
nossa  armada  que  naõ  fosse  vista.»  Bar- 
ros, Década  1,  liv.  5,  cap.  6. —  «E  por- 
que ellas  vinham  em  lingua  Chaldea  po- 
dia-as  luandar  trasladar  per  pessoa  tícl  : 
cá  por  ventura  no  Reyno  de  Portugal 
não  haveria  quem  as  soubesse  interpre- 
tar, e  per  ellas  veria  a  tenção  iTElRev 
seu  Senhor,  e  a  causa  da  vinda  delle 
Mattheus.»  Idem,  Década  2,  liv.  7,  cap. 
6.  —  «E  bem  era,  que  pois  Dcos  me  li- 
urara,  dandome  por  tantas  vezes  vida, 
em  tempo  que  eu  não  fazia  ya  caso  del- 
ia; agora  a  soubesse  arriscar,  por  seu 
amor,  oíForecendome  a  perdella,  que  en- 
tão seria  ella  bem  ganhada,  quando  sò 
pelo  seruir  fosse  perlida.»  Fr.  Gaspar 
de  S.  Bernardino,  Itinerário  da  índia, 
cap.  õ.  —  «A  qual  verdade  neguão  com 
as  obras,  ainda  que  com  a  boca  confes- 
sem aquelles  de  tal  maneira  viuem  como 
se  Deos  não  tiuesse  com  as  obras,  e  cou- 
sas dos  homens,  como  se  não  soubesse 
nossos  pcccados,  ou  nam  tivesse  zelo  de 
justiça,  pêra  os  castigar.»  Fr.  Bartholo- 
meu  dos  Martyres,  Catecismo  da  doutri- 
na christã,  liv.  1,  cap.  7.—  -E  tingin- 
do sor  i*crca<lor  ostrãgeyro  soubesse  miu- 
damente a  verdade  da  nossa  vin^ia  áquel- 
le  lugar,  porque  segundo  a  informação 
que  este  lhe  desse,  dctenninaria  ello  nis- 
to o  que  lho  parecesse  justiça.»  Fernão 
INIendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.  140. 
—  «Fazia  mui  áspera  penitencia,  e  nun- 
ca o  viaõ  apartado  da  oraçaõ,  nem  se 
ouvia  em  sua  conversação,  e  palavras 
cousa  que  soubesse  a  impaciência,  e 
queixume  do  aggravo,  posto  que  os  ti- 
vesse de  algumas  pessoas,  que  ousilraS 
tratar  sou  nome  com  menos  decência  do 
que  se  lhe  devia.»  Fr.  Bernardo  de  Bri- 
to, Elogios  dos  reis  de  Portugal,  con- 
tinuados por  D.  .losó  líarbosa. 

f  SOUBESTE.  F,u-ma  do  verbo  irregu- 
lar saber  na  segunda  pessoa  do  singular 
do  pretérito  perfeito  do  modo  iudicntivo. 
Vid.  Saber. 


Da  muda  habitação  do  eRquccimento 
Ab  foubaite  cxtrahir,  o,  alfortuuaUo 
I»gra  com  dia»  o  florente  Kstado 
N'liiuaas  dcfcza,  c  noutia»  ornamento. 

ADBADE  DE  JÀZRKTE,   POKSUg,   tOm.   2,   p*g.    113. 

Tanto,  oli  Hallcr,  tens  cxtanis  puderSo, 
Tu  que  do<  Alpc»  a»  nlvosa»  frcnt<'B 
Soubeste  descrever:  «e  tu  correra» 
O  Caucuso  gelado,  o  Tauro,  o  Gate. 

J.  Ã..   DB  UACCDO,  Â.   SATUBEZA,  Cant.  2. 

I  SOUBESTES.  F.ii-ma  do  verbo  irre- 
gular saber  na  segunda  pessoa  do  plural 
do  pretérito  perfeito  do  modo  indicativo. 
Vid.  Saber. 


D"Í930  é. 

Agora  êouhettetf 
ponctra-vo*  cem  mil  peitos 

verdes  peneira  ou  joeira, 
ou  trcpeu,  ou  gato  preto. 

AKTONIO  PBESrCS,  ACTOS,  psg.  3Õ3. 

SOUTO,  s.  m.  Matta,  bosqae  espesso, 
denso,  junto  do  rio,  alameda  para  passeio 
sombrio. 

—  Matta  que  dá  lenha,  capoeira  de  ar- 
bustos, que  se  cortam,  e  nlo  dão  madeira 
de  rojo,  ou  para  obra. 

—  E  talvez  de  castanheiros  e  de  arvo- 
res similhantes. 

SOUTRO.  Abreviatura  antiquada  de 
£ss'outro. 

1.)  SOVA,  s.  f.  Pisa  de  pancadas. 

—  Levar,  dar  uma  sova  de  pancadas; 
tirada  a  traslação  de  sova,  pisada,  cal- 
cada de  animacs  que  andam,  e  da  amas- 
sadura  do  pão  que  se  sova. 

2.)  SOVA,  ?.  m.  Termo  da  Africa.  Go- 
vernador <le  província,  em  diversos  rei- 
nos da  Africa. 

SOVACO,  í.  m.  Vid.  Sobaco. 

SOVADO,  part.  pass.  de  Sovar. 

— -Areia  sovada  <le  animaes;  areia  pi- 
sada, calcada  das  pégalas  d'elles. 

—  Bolos  sovados ;  bolos  amassados  com 
ovos,  maiito-.ga,  etc. 

SOVADURA,  s.  /.  A  acçSo  do  moer. 

SOVAQUETE,  s.  m.  Termo  de  jogo.  O 
tirar  a  jiolla  da  casa  quando  BÁe-  apert.ida. 

SOVAR,  V.  <í. —  Sovar  o  pão;  amass.ir, 
revolvendo  a  farinha  com  agua,  a  fim  de 
ficar  bem  amassada. 

—  Figuradamente  :  Os  animaes  sovam 
a  ferra  moUe ;  correndo  por  ella  muitas 
vezes,  espojando-se. 

—  Figuradamente :  Pisar.  —  Sovar  coni 
pauradaf. 

SOVARO,  .<!.  m.  Vid.  Sobro. 

SOVELA,    í.    /.  Instrumento   de  ferro, 
ou  aço,  como  agulha  grossa,  c  talves  com 
quinas  vivas  com  que  os  sapateiros  e  cor- 
reeiros furam  a  sola  para  entrar  pelo  ba-     Ai 
raeo  a  soda  com  o  fio.  II 

SOVELADA,  s.f.  Golpe  com  sovela.  on 
sovel."ii>. 

SOVELÃO,  s.  Hl.  Angmcntativo  de  So- 
vela. Orando  sovela. 


SPAR 


SPEI 


SPER 


603 


SOVELEIRO,  ?.  m.  Homem  que  faz  so- 
velas. 

SOVERAL,  s.  m.  ilatta  de  sovereiros. 

SOVEREIRO,  s.  m.  Termo  de  botâni- 
ca. Sobro,  arvore  bem  conliecida. 

—  Figuradamente:  Homem  mui  alto. 

—  Yid.  Sobereiro,  orthograpliia  prefe- 
rível. 

SOVERO,  s.  wi.  Vid.  Sovereiro. 
SOVERSÃO,  s.  f.  Viu.  Subversão. 
SOVERSIMENTO,  s.   m.  Vid.   Subversi- 
mento. 

SOVERSIVO.  Vid.  Subversivo. 
S0VER30R.  Vid.  Subversor. 
SOVERTER,  V.  a.  Vid.  Subverter. 

Vimos  também  soirerfer 
em  Grada  muvtos  lugares, 
e  muyta  gente  morrer, 
e  tal  terremoto  ser, 
que  serras  foram  algares. 

GABCIA  DE  EEZE3ÍDE,  MISCEIXAXEA. 

SOVINA,  s.  f.  Torno  de  pau,  ou  toiure- 
jão,  ou  torno  bifurcado. 

—  S.  m.  Termo  popular  e  figurado: 
Homem  mesquinho,  misero,  somitego.-^ 
Toma-se  n'este  sentido  no  feminino. 

SOVINADA,  s.  f.  Golpe,  picada  de  ins- 
trumento ponteagudo. 

—  Figuradamente :  Dicto  picante,  ex- 
pressão pungente. 

SOVINAR,  V.  a.  Metter  cousa  aguda, 
que  vai  entrando  difficilmente. 

—  Figuradamente :  Molestar,  afliigii", 
incommodar. 

—  Picar. 

SOVINARIA,  s.  m.  Mesquinheza. 

SOVREIRO,  s.  m.  Vid.  Sovereiro. 

SOZIKHO,  ou  SOSINHO,  A,  adj.  Dimi- 
nutivo de  SÓ ;  significando  a  tristeza,  a 
compaixão  de  quem  está  só. 

SPADA,  s.  /.  Vid.  Espada. 

SPADOA,  s.  /.  Vid.  Espadoa. 

SPAGIRIÇO.  Vid.  Espagirico. 

SPAEI,  ou  SIPAHI,  s.  m.  Cavalleiro 
turco. 

—  Soldado  de  cavallaria  do  exercito 
francez  em  Argel. 

1  SPAKTAR,  V.  a.  Vid.  Espantar.  — 
«Estando  pêra  partir  deste  porto  lhe  veo 
fallar  Timoja  em  hima  ilheo  que  esta  ao 
mar  de  Onor,  e  lhe  dixe,  que  se  span- 
taua  muito  de  se  ir  naquelle  tempo,  e  com 
huma  tal  armada  ao  mar  Darabia  fazer 
fortalezas,  segundo  se  dezia,  tendo  a  ilha, 
e  cidade  de  Goa  tào  vezinhas,  onde  esta- 
uam  fazendo  por  mandado  do  Çabaini  dal- 
cào  senhor  delia  vinte  nãos  de  castellos, 
como  as  nossas.»  Damião  de  Góes,  Chro- 
nica  de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  3.  — 
«No  qual  tempo  Eaix  soleimam  Jhe  man- 
dou uma  carta  scripta  em  Castelhano, 
aqueixandosse,  como  per  graça,  que  se 
spantaua  de  nam  hir  ser  seu  hospede, 
pois  Q  estaua  esperando,  pêra  o  festejar.» 
Ibidem,   part.  4,  cap.  13. 

SPARADRAPO,  s.  m.  (Do  francez  spa- 


radrap).  Panno  untado  de  remédio  que 
se  applica  ás  chagas  e  feridas  para  as  co- 
brir. 

SPARGELAR.  Vid.  Espargelar. 

SPARGIMEÍÍTO,  s.  vi.  Vid.  Espargi- 
mento. 

SPARGIR,  f.  a.  Vid.  Espargir. 

SPAROS,  ou  PARGOS,  ou  SARGOS,  s.  m. 
Termo  de  historia  natural.  Género  de 
peixes  ósseos,  ou  tUoracicos. 

SPARSILE,  adj.  2  gen.  (Do  latim  spar- 
silis).  Termo  de  astronomia.  Estrellas 
sparsiles ;  as  estrellas  errantes,  que  estão 
espalhadas  por  uma  e  outra  parte  no  ceu, 
e  que  não  formam  consteliaçào. 

7  SPARSO,  A,  aJj.  Vid.  Esparso. 

Nào  desce.  d'onde  orou,  Tribuna  fúnebre. 
Desalinhada  a  veste,  sparsa  a  coma. 
Em  brônzeo  trigono  assentada  a  Druida, 
Tocha  ardente  a  soua  pés,  punhal  na  destra... 

r.   M.  no  NASCULESTO,  os  MABTYKES,  1ÍV.  3. 

SPATANGO,  s.  771.  Termo  de  zoologia. 
Género  de  vermes  echinordermes,  ou  que 
tem  espinhos  na  pelle. 

SPATHIGO,  A,  adj.  Termo  de  chimica. 
Que  participa  da  natureza  do  spatho. 

—  Acidu  spathico  ;  acido  conhecido  mo- 
dernamente pelo  nome  de  acido  jiuorico. 
Vid.  Fluor. 

—  Ferro  spathico ;  mina  de  ferro  fino 
que  com  facilidade  se  converte  em  aço. 

SPATHO,  s.  m.  Tei"mo  de  mineralogia. 
Diz-se  de  todos  os  mineraes  folheados, 
que  se  encontram  unidos  ás  miuas. 

—  Spatho  calcareo;  carbonato  de  cal. 

—  Spatho  jiuor;  fluato  calnativo. 

—  i-éAispatho.  Vid.  Kaolim. 

f  SPECIARIA,  í.  /.  Vid.  Especiaria. 
—  ecEntrestas  nãos  foi  huma  a  do  Mouro 
Cogecem  Micidi  de  Calecut  sobre  que  se 
armou  esta  briga,  na  qual  se  nào  achou 
nenhuma  speciaria,  donde  manifestamen- 
te se  vio  que  ou  os  Mouros  enganarão  el 
Rei  de  Calecut,  dandolhe  a  entender  que 
estaua  carregada,  ou  que  el  Rei  movido 
per  conselho  dos  seus  (que  pela  môr  par- 
te favoreciam  aos  Mouros)  cons^ntio  na 
mesma  treiçào.»  Damião  de  Góes,  Chrc- 
nica  de  D.  Manoel,  part.  1,  cíip.  59. 

SPECTACULO,  s.  m.  Vid.  Espectáculo. 

Ninguém  toda  to  abrange,  oh  Natureza  ! 
Hum  só  pequeno  insecto  ab.sorve  hum  Sábio, 
Seja  hum  novo  Linneo,  hum  Plinio  seja 
Da  Natureza  interprete  fecundo. 
Que  nela  inteira  Creaçào  vagando 
Do  Verme  humilde  aos  asti'0s  se  levanta. 
Inda  meus  olhos  sôfregos  nào  posso 
Apartar  do  spectaculo  dos  mares, 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATCEEZA,  Caut.  3. 

SPECTAR,  V.  a.  Vid.  Despeitar,  e  Es- 
peitar. 

SPECULAR.   Vid.  Especular. 

SPECULARIA,   s.    /'.  Vid.  Especularia. 

SPEITAMENTO,  s.  m.  Vid.  Espeita- 
mento. 


SPEITANTE.  Vid.  Espectante. 

SPEITAR.  Vid.  Bespetlar,  e  Espeitar. 

7  SPERAR,  V.  a.  Vid.  Esperar.  —  «De 
Pandaraue,  que  he  cinco  legoas  de  Cale- 
cut, foraõ  jentar  a  huma  pouoaçaõ  que 
se  chama  Capotati,  ho  Catual  em  huma 
casa,  e  Vasquo  da  Gama  em  outra,  aca- 
bado ho  jentar  sembarcaraõ  todos  em  al- 
madias,  e  foraõ  obra  de  hum.a  legoa  per 
hum  rio  arriba,  em  que  estauaõ  muitas 
nãos  grossas  varadas  em  terra,  cubertas 
com  folhas  de  palma,  onde  desembarca- 
rão, e  tornarão  a  sobir  em  outros  dous 
andores,  que  hos  alli  estauão  sperando.» 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  1,  cap.  40.  —  «El  Rei  de  Calecut 
vendo  quanto  ao  contrario  do  que  spera- 
ua  lhe  succederào  os  dous  combates,  co- 
mo de  sua  condicam  era  vario,  quisera 
desistir  desta  guerra,  e  a  mesma  vonta- 
de achou  em  muitos  dos  seus.»  Ibidem, 
cap.. 87.  —  «Estando  ainda  alli  veo  ter 
com  elle,  per  dentro  dos  rios.  Rui  darau- 
jo  scrivão.da  feitoria  de  Coulào  com^  car- 
tas do  feitor  António  de  Sà,  per  que  o 
auisaua,  como  os  mouros  da  terra,  con- 
fiados na  victoria  que  sperauam  que  el 
Rei  de  Calecut  ouresse  delle,  os  cerca- 
rão, e  matarão  hum  homem.»  Ibidem, 
cap.  92.  —  «O  mouro  se  lhe  lançou  aos 
pès,  e  dixe  que  el  Rei  de  Mombaça,  co- 
mo soubera  as  nouas  da  tomada  de  Qui- 
loa,  se  começara  de  aperceber,  e  que 
pêra  isso  tinha  Ja  na  cidade  quatro  mil 
soldados,  e  muita  artelharia  assentada  no 
muro,  e  torres,  e  que  alem  desta  gente 
speraua  ainda  dous  mil  homens.»  Ibidem, 


part. 


cap.    3.  —  «Chegada   toda   esta 


frota  a  barra  de  Chaul,  as  gales,  e  fus- 
tas vinham  de  longo  da  costa,  a  sombra 
da  terra,  e  o  galeam,  e  quatro  nãos  de 
largo,  a  vista  dos  que  estauaõ  na  cida- 
de, pelo  que  cuidaram  os  nossos  que  era 
Afonso  Dalbuquerque,  que  cada  dia  spe- 
ravam  na  Índia,  Dormuz,  onde  andaua 
darmada,  como  se  ao  diante  dirá.  i  Ibi- 
dem, cap.  2õ.  —  «O  que  dito  começaram 
os  de  pe  a  caminhar  peras  casas  as  quais 
acharam  vazias,  e  Pêro  de  Menezes  dixe 
a  dom  Francisco  que  lhe  jjedia  que  spe- 
rasse  com  toda  a  gente  que  queria  subir 
hum  pouco  pella  serra  a  descobrir  as  ou- 
tras casas  e  ver  o  que  la  hia.»  Ibidem, 
part.  3,  cap.  9.  —  «Depois  deste  cerco 
alguns  dos  Bárbaros,  e  Arábios  se  fezerào 
vassallos,  e  tributários  a  el  Rei  dom  Ema- 
nuel, e  os  que  ficarão  de  guerra  por  an- 
darem juntos  em  cabildas  com  seus  adua- 
res,  não  foi  logo  Nuno  Fernandez  buscar, 
sperando  tempo  conueniente  pêra  O  fa- 
zer.» Ibidem,  cap.  13. —  «Depois  que  en- 
trou mais  em  idade  se  deu  a  liçaõ  de  li- 
uros  sagrados  de  que  recebeo  muito  frn- 
cío.  He  de  sua  condição  encolhido,  e 
vergonhoso,  o  que  he  causa  muitas  vezes 
de  não  contentar  muito  os  homens  no 
bom  acolhimento  que  elles  dos  Príncipes 
speraõ  nem  tratar   o   que   entende,  com 


604 


SWIl 


SPLA 


STAD 


tanta  Holtura  como  algumas  vezes  ho  ne- 
cessário.» Ibidem,  cap.  21.  —  «i^clo  que 
8cm  mais  sperar,  partio  tlalli  porá  (ioa, 
ondo  em  cliegariclo  per  coiiseilio,  c  pare- 
cer, assi  dos  i{ue  eoii8Í;,'o  icuaua,  como 
dos  que  cstauaõ  na  cidade,  mandou  logo 
cercar  lienastai-im  pela  baiiila  do  mar, 
no  que  ouue  grande  resistência."  Ibidem, 
cap.  'JH.  —  «Ma»  os  Mouros  nau  spera- 
raõ  tanto,  jjoríjuo  auto^í  do  conselho  ser 
acabado,  os  que  roldauiio  mandarão  dizer 
a  dom  Duarte  que  ja  eram  eliegados,  e 
tiniião  )J03to  fogo  as  eiras  que  cstauâo 
junto  da  cidade,  o  qual  se  ateou  tanto, 
c  tam  de  súbito,  que  dos  muitos  se  en- 
xergaua  qut!  era  gente  de  pe  a  que  o  pu- 
nha.» Ibidem,  cap.  31.  —  «O  que  feito 
dom  Duarte  tomou  .seu  caminho  ao  outro 
dia  pêra  tanger  pelo  porto  dalleixe,  mas 
achando  nouas  que  audauão  mouros  na- 
quelle  campo  sperando  por  elle,  se  tor- 
nou Arzilla,  com  a  cavalgada,  n  Ibidem, 
part.  4,  cap.  '2'2. 

SPERGUNTAR.  Termo  antiípiado.  Vitl. 
Perguntar. 

SPERMACETI.  Vid.  Espermacete. 

SPERMATINA,  ou  ESPERMATINA,  .'•■.  /. 
Termo  de  ehiniica.  Matoiia  animal  parti- 
cular, que  entra  na  fíirmaí^ào  do  esperma, 
que  tem  muita  analogia  com  a  albumina 
e  com  a  fibrlna. 

SPHACELO,  s.  m.  (Do  grego  sphnka- 
los).  Termo  de  medicina.  Vid.  Esphacelo. 

SPHENOIDE,  aãj.  o  s.  (Do  grego  sphhi, 
e  eidos).  Termo  de  anatomia.  Diz-se  do 
osso  basilar  do  eraneo. 

SPHERA,  s.  /'.  ^'id.  Esphera. 

SPHERAL.  Vid.  Espheral. 

SPHERICO,  A,  adj.  Vid.  Espherico. 

SPHESPA,  s.  /.  Vespa  solitária  de  di- 
versas espécies. 

SPHINCTER,  s.  m.  (Do  grego  sphig- 
ktêr).  Termo  de  anatomia.  Certo  musculo 
que  serve  de  fechar  o  apertar  as  carnes. 
—  O  sphincter  do  anus. 

SPHINX,  ou  SPHINGE,  s.  m.  Monstro 
fabuloso. 

—  Termo  de  zoologia.  Borboletas  de 
que  ha  três  genex'03. 

—  (leueto  de  insectos  coleopteros. 
SPICANARDO,    s.  m.  Termo   de   phar- 

macia.  i^lanta,  espécie  do  nardo  da  Ín- 
dia. 

SPIRACULO,  s.  VI.  Vid.  Espiraculo. 

f  SPIRITO,  ií.  m.  Vid.  Espirito. 

De  grnue  dor  o  rpirífo  do  coiitino 
Trás  atfliííido,  inquieto,  c  som  ropouso, 
Iluma  mortal  anguátiu  ao  peito  enfermo 
Trás  dernib;ulo,  triste,  enfraquecido. 
Das  entranlias  ardidas  mil  sospiros 
Claro  m03trào  intrínseca  agonia, 
Cuberto  o  ooraij.ào  do  negra  nuue, 
De  modos,  de  temores,  o  roceyoa. 

COKTR  B£AL,  N\UPRAG10  DE  SEPUL^TIBA,  CiUlt.  2. 

—  «A  primeira  he.  que  assi  como  elle 
foy  concebido  \nAo  spirito  sancto,  assi  nos 
procuremos  a  regeneraram  e  eoucebimen- 


to  spiritual,  o  que  de  carnaes  sejamos 
feitos  spirituaes  e  íiliio»  de  DEO.S,  sem 
o  qual  concebimeuto  neidiuma  cousa  va- 
lemos, e  millior  nos  fora  nunca  ser  nas- 
cidos neste  mundo,  u  Frei  Ijartliolomeu 
dos  Martyros,  Catecismo  da  doutrina 
christã.  —  «E  respondendo  o  pouo,  Essit 
mesmo  Senhor  seja  com  teu  spirito.  J'^ 
eutam  torna  a  dizer  o  sacerdote,  Sursum 
corda,  que  quer  dizer,  Aleuantay  os  co- 
rações, e  responde  o  pouo,  Ilubenm i  ad 
Dominum,  ia  temos  aleuautados  os  cora- 
ções a  Doos,  quasi  dizendo,  Assi  o  faze- 
mos. E  respondido  isto,  diz  o  sacerdote, 
(Iraeias  agamos  domino  Deo  nostro.»  Ibi- 
dem. —  «O  espirito  do  vinho  quando 
sahe  do  EoUi/ilo  acende-se  da  mesma  fir- 
ma á  luz  de  huma  vella,  o  em  quanto 
dura  o  spirito  dura  a  chamma,  que  arde 
somente  no  vapor.»  <Javalleiro  d'01ivei- 
ra.  Cartas,  liv.  1,  n.°  15.  —  oSem  mor- 
rer estiio  as  suas  almas  separadas  dos 
seus  corpos.  Estes  são  compostos  de  ma- 
téria, porem  vivem  como  se  somente  de 
spirito  fossem  formados.»  Ibidem,  n.°  28. 
—  «He  necessário  diser-vos  que  este  Ca- 
valheiro sendo  sobrinho  do  Senhor  Con- 
de do  Tarouca  he  hum  dos  spiritos,  e 
ao  mesmo  tempo  hum  dos  corpos  mais 
delicados  que  se  conhecem,  e  que  a  sua 
estatura  sendo  das  mais  bem  formadas 
he  medíocre."  Ibidem,  n."  õO.  —  «Acha- 
sc  em  hunia  agitação  continuada  tanto 
de  corpo  como  de  spirito,  e  jamais  se 
observa  tranquilla  em  hum  lugar,  se  con- 
sidera que  em  outi'o  se  aciía  huma  As- 
semblea  mais  numerosa.»  Ibidem,  liv.  3, 
n."  44. 

1  SPIRITU,  s.  nu  Vid.  Espirito.  — 
«Privança  alevauta  os  spiritus  e  atina 
as  graças,  e  muda  condições,  dá  animo, 
o  esforça  o  coração. «  D.  Joanna  da  Ga- 
ma, Ditos  da  freira,  pag.  Õ3  (ediçào  de 
1872).  —  «Por  isso  irmãos  procuray  com 
toda  diligencia  de  orar  em  spiritu,  puis 
o  senhor  diz,  que  os  verdadeiros  orado- 
res, o  adotadores,  oraram,  e  adoraram  o 
Padre  Celestial  em  siiiritu,  e  em  verda- 
de. Pellíkqual  o  Senhor  diz.  Filho  daaie 
teu  coraçam.B  Frei  Barthulomcu  dus  Mai'- 
tvres.  Catecismo  da  doutrina  christã. 
■  f  SPIRITUAL,  adj.  2  yen.  ViJ.  Espi- 
ritual. —  «A  terceyra,  que  amemos  o 
próximo  spiritual,  c  sanctamente,  assi 
cumo  nos  auemos  de  amar  a  nos,  e  nam 
carnalmente,  s.  que  amemos  o  próximo 
por  amor  de  Deos,  cuja  feytura  hc,  de- 
sejandolhe  a  graça  de  Deos,  e  os  outros 
bens  dalma,  e  de  tal  maneyra  o  amemos 
que  lhe  nam  façamos  a  vontade,  nem 
consintamos  com  elle  cm  algum  peccado, 
porque  agrauai-,  ou  otfender  a  l>eos  por 
amor  do  pi'oximo,  nem  he  ciiaridade,  mas 
destruvçani  ilolla.»  Fr.  líartaulonicu  dos 
Martvros.  Catecismo  da  doutrina  christã. 

SPLANGHNOGRAPHIA,  .v.  /.  Do  grego 
sphi<icJinou.  e  tjraidiò).  Descripçào  anató- 
mica das  entranhas. 


SPLANCHNOLOGIA,  «.  /.  Parte  da  ana- 
tomia "|ui-  tr.ita  'i.ii  i-iiliiiiilias. 

SPLANGHNOTOMIA,  *./.  Dissecção  ana- 
tómica lios  iiitc-tiiiu*. 

SPLEEN,  *.  m.  iDo  grego  npUn).  Ter- 
mo iuglez  que  designa  tristeza,  hypocou- 
dria. 

SPLENALGIA,  «.  /.  <;Do  grego  «^tón,  c 
ahjiix:.   iJór  do  baço.  ' 

SPLENARGIA,  «.  /'.  Vid.  Splenalgia. 

SPLENETICO,  A,  'adj.  Termo  .le  medi- 
cina. Diz-se  dos  que  est.no  accommettíd/M 
das  opilaçõe-)  e  obstrucções  no  baço. 

—  Diz-sc  também  dos  medicamentos 
próprios  para  as  opilaçòes  e  obstrucçSes 
do  b.i.,u. 

SPLENICO,  A,  adj.  (^ue  diz  reajieito  ao 
baçu. 

SPLENITE,  s.  /.  Termo  de  medicina. 
Intianniiaçào  do  baço. 

SPLENOLOGIA,  s.  f.  Tratado  sobre  a 
spleniti-. 

SPONDIL,  SPONDILO,  ou  SPONDYLO. 
Vid.  Espoudyl. 

SPONDYLIDA,  s.  m.  Termo  de  historia 
natural.  Insecto  de  cór  pret;i,  que  habita 
na  madeira. 

SPONTANEO,  A,  adj.  Vúl.  Espontâneo. 

SPONTAR,  f.  a.  Termo  do  barbeiru. 
Spontar  as  melenas ;  cortar  as  pontas 
d'eMas. 

SPORADE,  adj.  2  gen.  íDo  grego  ipo- 
ras).  Termo  de  astronomia.  ViJ.  Spar- 
sile. 

SPORADICO,  A,  ctAj.  Termo  de  medi- 
cina. Disiierso. 

—  Moléstias  sporadicas ;  moléstias  que 
atacam  um  só  inuividuo,  ou  alguns  isola- 
damente; que  apparecem  em  qualquer 
tempo  e  logar,  e  independentes  de  in- 
fluencia cpidemica. 

SPREMUNTAR,  v.  a.  Termo  antiquado. 
Experimentar,  averiguar,  inquirir,  requi- 
sitar. 

7  SPRITO,  s.  m.  Vid.  Espirito. 

No  forte  cora(,-ão  ciusaua  fpritos, 
A  retaguarda  leua  com  duzentos 
Esforijados  varões,  dos  quais  setenta 
Tem  nomo  Portuges,  mas  os  que  tício 
(Ainda  que  animosos)  saò  catiuos. 

COETK  BSAL,  XACFBAOIO  TtT.  3EPl"L\"EDA,  Cant.  8. 

SPUMA,  s.  /.  Vid.  Escuma. 
SPURCICIA,  í.  /.  Vid.  Espurcicia. 
SPURCU,   A,   adj.    (Do  latim  s^urciwi. 
Immundo,  sujo. 

—  Fiffuradamente :  Torpe. 
SQUENANTO,  ou  ESQUENANTO,    «.   »ii. 

Termo  de  botânica,    llc.va  medicinal  da 
Índia   e   Arábia,  parecida   com  a  grama. 
SQDINA,  s.  /.  Vid.  Esquina. 

—  Raiz  medicinal. 
SSA.    adj.  ant.  Sua. 
STA.  Vid.  Esta. 

STADA.  Termo  antiquado.  Vid.  Es- 
tada. 

STADO.  Vid.  Estado. 


STER 


STRA 


STYM 


605 


-  STALA,  s.  /.  Termo  antiquado.  Pre- 
sépio, ou  presepe. 

STALAGTITE,  s.  f.  (Do  grego  stala^ 
ktos).  Concreção  ritrea  ou  pedregosa  for- 
mada pelas  aguas  que  filtram  por  fendas 
nas  grutas,  e  nos  subterrâneos. 

STALLO,  s.  m.  (Do  latim  stallus).  Ter- 
mo antiquado.  U  mesmo  que  stada. 

STANÇA,  s.  /.  Vid.  Estanca. 

—  Termo  antiquado.  Estancia. 

STAPHIL,  s.  m.  Termo  pouco  em  uso. 
Açoute,  ou  azorrague  de  correias. 

STAPHILINO,  s.  m.  Coleoptero  de  di- 
versas espécies. 

STAPHISAC-RIA,  s.  f.  Vid.  Estaphisa- 
gria. 

f  ST  AR,  V.  n.  Vid.  Estar. 

«Quem  bem  tem  e  mal  escolhe, 

Por  mal  que  lhe  venha  nào  se  anoje.» 

Renego  da  descrição, 

Comiuendo  ú  demo  o  aviso, 

Que  sempre  cuidei  que  nisso 

Stava  a  boa  condição. 

GIL  VICEÍTTE,  FABÇAS. 

STASE,  s.  f.  (Do  grego  staô).  Termo 
de  medicina.  Immobilidade  do  sangue 
noa  vasos  capillares, 

STATARIO,  A,  adj.  —  Comedia  stata- 
ria;  comedia  em  que  ha  pouca  acçào, 
poucos  aftectos ;  diz-se  em  opposiçào  á 
motor  ia. 

STATICA.  Vid.  Estática. 

STALHOUDER,  s.  m.  Nome  do  jiriíuei- 
ro  magistrado  da  republica  hoUandeza  : 
era  hereditário. 

STAVY.  Termo  antiquado,  por  estável, 
firme,  seguro. 

STEARINA,  s.  /.  (Do  grego  stear).  Ter- 
mo de  chimica.  Substancia  extrahida  do 
sebo,  gordura  do  carneiro  ou  do  boi,  e 
que  junta  com  a  elaína  forma  o  mesmo 
sebo  :  também  se  encontra  em  a  rnyrica 
cerifera,  e  no  óleo  coucretado  de  mus- 
cada. 

STE ATITE,  s.  f.  Espécie  de  gTeda  em 
folhas,  que  dLssolvida  em  agua  faz  es- 
cuma á  similhança  do  sabão. 

STEDE.  Vid.  Esteve. 

STEGANOGRAPHIA,  s.  f.  Vid.  Estega- 
nographia. 

STELLARIA,  s.  /.  Certa  herva. 

STELLIONATO,  s.  m.  Vid.  Estellio- 
nato. 

STENOGRAPHIA,  s.  /.  Vid.  Estenogra- 
phia. 

ESTERCORARIA,  ou  ESTERCORARIA, 
adj.  f.  —  Cadeira  estercoraria ;  cadeira 
em  que  o  summo  pontilice  se  senta  no  dia 
da  sua  sagraçào. 

STEREOCEROS,  s.  m.  plur.  Termo  de 
bistona  natural.  Familia  de  insectos.  Vid. 
Histerelhos. 

STEREOGRAPHIA,  s.  /.  (Do  grego  ste- 
reos,  li  ijriiphòi.  Representação  dos  corpos 
sólidos. 

STEREOGRAPHICO,  A,  adj.  Concer- 
nente á  stereogi-aphia. 


—  Edição  stereographica ;  edição  de 
letras  abertas,  e  nào  em  typos  ou  formas 
movediças. 

STEREOLOGIA,  s.  /.  (Do  grego  stereos, 
e  lotjosi.  Estudo  dos  sólidos  orgânicos. 

STEKEOMETRIA,  s.  f.  (Do  grego  ste- 
reos, e  rnetron).  A  sciencia  que  se  occu- 
pa  dos  sólidos  geométricos. 

STEREOSCOPO,  ou  ESTEREOSCOPO, 
s.  TO.  {\)o  gTego  stereos,  e  o  skopeô).  Ins- 
trumento de  í\')rma  de  óculo,  que  tem  na 
extremidade  uma  fenda,  em  que  se  colio- 
cam  objectos  de  pintura,  etc,  para  aug- 
mentarem  em   perspectiva. 

STEREOTOMIA,  s.f.  (Do  grego  síereos, 
e  teinnO).  Sciencia  que  ensina  a  secção 
dos  corpos  sólidos,  como  nos  portis  da 
architectura  dos  muros,  abobadas,  pe- 
dras,  etc. 

STERNON,  s.  m.  (Do  grego  sternoii). 
Termo  de  anatomia.  Parte  óssea,  que  vem 
do  alto  do  peito  ao  extremo,  e  rim  d.'elie, 
na  qual  as  costellas  e  as  claviculas  estào 
articuladas. 

STERNUDAÇÃO,  s.  f.  Vid.  Esternuda- 
ção. 

STERNUTATORIO,  s.  m.  Vid.  Esternu- 
tatorio. 

STETHOSCOPO,  s.  m.  (Do  grego  ste- 
thôs,  o  shopeô).  Termo  de  medicina.  Ins- 
trumento em  forma  de  tubo  que  trans- 
mitte  ao  ouvido  do  medico  todo  o  estron- 
do  que  se  faz  ouvir  no  peito  do  doente. 

STEVADAME,  s.  m.  Termo  antiquado. 
Estiva. 

STEVADAMENTE,  adv.  Termo  antiqua- 
do.  Estivai  lamente,  por  medida  certa. 

STHENIA,  s.  f.  (Do  grego  sthenos). 
Termo  de  medicina.  Excesso  de  força, 
exaltação  da  acçào  orgânica ;  diz-se  em 
opposiçào  á  asthenia. 

STHENICO,  A,  adj.  O  contrario  de  as- 
thenico.  Vid.  Stheuia,  e  Asthenia. 

STIGMATISADO,  part.  pass.  de  Stigma- 
tisar.  Vid.  Estigmatisado. 

STIGMATISAR,  v.  a.  Vid.  Estigmati- 
sar. 

STIGMATOGRAPHIA,  ou  ESTIGMATO- 
GRAPHIA,  s.  f.  iDo  grego  stigma,  e  gra- 
phôi.  Arte  de  escrever  com  pontos. 

STO.  Termo  antiquado.  Isto. 

STOICO,  A,  adj.  Vid.  Estóico. 

Ah!...  Catão. — Esperas  d'elle 
Que  attenda  ao  bem  commum,  que  deixe  os  sonlios 
De  sua  sfoica.  van  philosophia, 
Que  sacrilique  o  orgulho  de  um  systema?... 

GAKBETT,   CAtIo,   aCt.    1,    SC.    3. 

STOLIDO,  A,  adj.  Vid.  Estólido. 

STRABISMO,  s.  m.  (Do  grego  strabis- 
mos).  Termo  de  cirurgia.  Má  posição  do 
olho  dentro  da  sua  orbita. 

STRANGEOMANIA,  s.  /.  Admiração 
exagerada  das  cousas  das  nações  estran- 
geiras. 

STRANGURIA,  s.  f.  (Do  grego  straggu- 
riá).  Desejo  frequente  e  involuntário  de 


urinar,  mas  acompanhado,  de  difBculdade, 
de  maneira  que  com  dores  se  urina  ás 
gottas. 

STRANHAR,  v.  a.  Vid.  Estranhar. 

• — Termo  antiquado.  Alhear  a  estra- 
nhos, fora  da  avoenga,  ou  familia,  algu- 
ma herdade. 

STREPIDAR,  V.  a.  Vid.  Estrepitar. 

STRIA.  Vid.  Estria. 

STRIGTO,  A,  adj.  Vid.  Estricto. 

STRIGE,  s.  f.  (Do  latim  síria;).  Termo 
de  zoologia.  Avo  iioctui'na,  e  maléfica. 

-j-  STRONDO,  s.  m.  Vid.  Estrondo.  — 
Strondo  de  trombetas. —  «O  lugar  onde 
se  todos  ajuntarão,  foi  a  par  do  ribeiro 
de  Sever,  que  demarca  estes  dous  regnos, 
ficando  os  Castelhanos  de  huma  banda 
dellcj  e  os  Portugueses  da  outra,  sem  se 
mouerem.  Stando  assi  todos,  sem  auer 
outra  mais  fala,  que  muito  strondo  de 
trombetas,  atabales,  e  charamellas,  de 
huma,  e  da  outra  parte  o  Conde  de  villa 
Houa  passou  o  ribeiro,  e  foi  beijar  a  mão 
a  Rainha,  que  estaua  entre  o  Duque 
Dalua.»  Damião  de  Góes,  Chronica  de 
D.  Manoel,  jiart.  4,  cap.  34. 

STROPHE,  s.  /.  Vid.  Estrophe. 

STRUCTURA,  *.  /.  Viil.  Estructura. 

STUDO,  s.  ;■«.  Vid.  Estudo. 

STULTILOQUIO,  s.  /,/.  Vid.  Estultilo- 
quio. 

STULTO,  A,  adj.  Vid.  Estulto. 

STYGE.  Vid.  Estige. 

STYGIO,  A,  adj.  Vid.  Estigio. 


A  fúria,  que  de  longe  ja  a  conliece, 
Ch(gaudo-se  para  ella,  os  ares  corta, 
E  diz  :  Manda-te  o  Rei  a  que  obedeço 
Quanto  cerra  a  iirofunda  Htiiyia  porta 
Que  a  este  esprito  que  elle  ama  e  favorece 
Ajudes,  nhum  negocio  que  Ihimporta. 
Xao  di.isc  mais,  e  atraz  o  passo  volta, 
Logo  o  esprito  desta  arte  a  lingoa  solta. 

F.  DE   AXnaADE,    PKIMEIUO  CEBCO  DE  DIU,  CSut.  9 

est.  lOtJ. 

STYGMA,  s.  f.  Termo  de  historia  natu- 
ral. Abertura  pela  qual  entra  o  ar  no 
corpo  dos  insectos. 

STYGMATIZAR,  i:  a.  Vid.  Estigmati- 
zar. 

STYL.  Vid.  Hastim,  e  Estim. 

STYLITA,  adj.  2  gen.  (Do  grego  stylos). 
Que  vive  em  pé  sobre  uma  columna. — 
tí.  Simão  stylita. 

STYLLO,  s.  m.  Vid.  Estylo. 

7  STYLO,  s.  m.  Vid.  Estylo. 

De  eternidade  e  fama :  louva  o  stylo 
Xobrc  c  terso,  de  pompa  ou  singeleza, 
Qual  o  pede  a  matéria  ;  o  sacro  fogo 
Do  pátrio  amor,  de  glória,  de  heroísmo. 
Que,  dum  por  um,  nos  versos  lhe  scintiUa. 
GARRETT,  camões,  caut.  9,  cap.  1. 

STYLOBATO,  s.  m.  (Do  grego  styloba- 
fes).  Termo  de  architectura.  Pedestal  de 
uma  columna. 

STYMPHALIDES.  Vid.  o  Diccionario  de 
mythologia. 


SUAV 


SUBC 


SUBD 


STYPTICIDADE,  s.  f.  Vid.  Estypticida- 
de. 

STYPTICO,  oti  ESTYPTICO,  A,  adj. 
(Do  Jatiiii  Hlj/plicus).  Aii.striii,r,'i!iite. 

—  Siilj.itaiiLiv.inioiito:  O  styptico  dus 
vitriuli)s.  Viil.  Estitico. 

STYS.  Vi'l.  Eslim,  o  Hastim. 

SUA.  l'\iriua  v:iri;ivel  leiuiuiiia  de  Seu. 
Vid.  Seu. 

SUADIR,  V.  a.  Vid.  Persuadir. 

SUADO,  purt.  pass.  do  Suar.  Banhado 
em  suor. 

—  Fin^uradamentc:  Adquirido  com  tra- 
balho. 

SUADOR,  A,  ailj.  c  s.  Que  súa. 
SUADOURO,  s.   Jit.  Rcniodio  sudorífico. 
—  Tomar  um  suadouro. 

—  Suadouro  das  scllas;  dous  coxius  de 
lã,  ([lio  asariitam  sobre  o  corpo  do  cavai- 
lo  j)ara  não  o  molestar,  pegados  na  ar- 
marão da  sella,  ))or  baixo  d'ella. 

SUÃO.  Vid.  Soão. 

SUAR,  V.  n.  (Do  latim  siidare).  Lan- 
çar suor  pelos  poros.  —  Suar  dos  pés. 

—  Sair  em  gottas. 

—  Figuradamente:  Matar-se  com  tra- 
balho. 

-—Suarem  as  estatuas  dos  deuses;  en- 
cherem-se  do  humidailc  como  suor. 

—  V.  a.  Soltar  pi.-loc3  poros  algum  li- 
quido. —  Chrldi)  suou  sanijue  no  horto. 

—  Suar  camisas  em  louvar  outrem; 
cançar  n'iãso. 

—  Adquirir  com  grande  trabalho;  pa- 
gar com  elle  alguma  cousa. 

—  Humedecer  a  roupa  com  suor. 

—  Expellir  por  suor. 

SDARDA,  s.  f.  Nódoa  de  lã  suja  de 
suor,  ou  azeitada  de  mais  antes  de  car- 
dar-se. 

—  Iinmumlicia  dos  pannos,  que  largam 
no  pisão,  pi-ocedida  do  azeite,  com  que 
são  fabricados, 

SUARENTO,  A,  adj.  Húmido  com 
suor. 

SUASÃO,  s.  /.  (Do  latim  suasio).  Vid. 
Persuasão,  e  luduzimento. 

SUASIVO,  A,  adj.  Vid.  Suasório. 

SUASÓRIO,  A,  adj.  Que  serve  de  per- 
suailir.  —  Kazòcs  suasórias. 

SUAVE,  adj.  2  jeií.  (Do  latim  siiavis). 
Brando,  aprazivd  aos  sentidos. 

—  Figuradamente:  Agradável,  leve, 
brando. 

SUAVEMENTE,  adv.  (De  suave,  o  o 
suflixo  «mente»).  De  um  modo  suave, 
com  suavidade. 

- — •  Cmii  melodia. 

SUAVIDADE,  s.  /.  (Do  latim  suavitas). 
O  caracter  do  que  é  suave,  c  aprazível 
aos  sentidos. 

• —  Emproga-se  também  no  sentido  fi- 
gurailo. 

suavíssimo,  a,  adj.  superl.  do  Sua- 
ve. Mui  suave. —  Vocábulos  suavíssi- 
mos. 

suavizar,  ou  SUAVISAR,  v.  a.  Tor- 
nar suave. 


— ■  Figuradamente:  Abrandar,  miti- 
gar, iiiodciar.  —   Suavisar  "  castujo. 

SUAZORIO.  Vid.  Suasório. 

1.^  SUB.  Termo  antiquado.  O  mc-ímo 
que  sob. 

—  U.'<a-se  ra  composi^^iio. 

2.)  SUB.  Prefixo  que  entra  na  composi- 
i;ã<)  <!(!  nniito.i  termo.s  de  botânica  e  de 
chimica;  6  partícula  diminutiva,  e  eigni- 
lica  um  lauto,    quasi,  um  pouco. 

-}-  SUBA.  Fiirma  do  verbo  subir  na  ter- 
ceira ou  primeira  pessoa  do  singular  do 
presente  do  modo  conjuuctivo.  Vid.  Subir. 

Eterno  Iici,  beuigno  o  jjicdoBO, 

(^uc  com  a  tusi  remiste  a  uosíia  morte, 

Porque  o  ea]irito  anto.^  cego  c  tenebroso 

Receba  luz,  c  sutia  a  mclíior  itortc, 

Recebe  uo  teu  seio  glorioso 

Este  teu  íiel  servo,  ousado  c  forte, 

Cy)ue  dofrndoudo  o  teu  nome  infinito 

Kendoo  o  valuroso,  invicto  esprito. 

F.    dV.NDHADF.,  flIIMKIBO  CKBCO  DE   DIU,  Caot.   2, 

est.  55. 

SUBACIDO,  adj.  Acido  om  menor  grau. 
SUBALAR,  adj.  e  «.  Vid.  Subalares. 
SUBALARES,   s.  /.  plur.  (Do  latim  sub- 
alarisK  Poniias  sob  as  azas. 

—  Cousa  que  está  debaixo  do  abrigo, 
ou  protecção  d'outra. 

SUBALTERNAÇÃO,  s.  f.  Dependência 
que  a  cousa  subalternada  tem  da  supe- 
rior. 

SUBALTERNADO,  port.  pass.  de  SuL- 
alteniar-se.  Vi  1.  Subalterno. 

SUBALTERNAMENTE,  adv.  Em  qua- 
lidade de  subalterno,  subordinado  a  ou- 
trem . 

SUBALTERNAR,  l-,  a.  Alternar,  reve- 
zar. 

—  Subalternar-se,  v.  rejl.  Revezar-se, 
alternar-.«o. 

SUBALTERNO,  A,  adj.  (Do  latim  sub, 
o  alter).  Do  interior  graduação. —  «Del- 
ia foi  por  Almirante  Lobo  Furtado  de 
Mendonça,  Conde,  do  Rio,  e  por  Cabos 
subalternos  Manoel  Carlos  de  Távora 
Conde  de  S.  Vicente,  e  Sargento  Mór  de 
Batalhas,  e  Pedro  de  Sousa  de  Castello 
Branco,  Coronel  do  Regimento  da  Ar- 
mada Real.»  Frei  Bernai-do  de  Brito, 
Elogios  dos  reis  de  Portugal,  continua- 
dos por  D.  Jcsé  Barbosa. 

SUBARBUSTO,  s.  m.  Termo  de  botâni- 
ca. i*huita  er.tre  o  arbusto  o  a  hcrva. 

SUBAXILLAR,  adj.  2  geií.  Termo  do 
botânica.  Que  sáe  por  baixo  da  axilla. 

SUBBASSI,  í.  m.  Offieial  de  justiça  en- 
tre os  tuixos,  como  entro  nós  meiri- 
nho. 

SUBCARBONATO,  s.  m.  Termo  de  chi- 
mica. Ndino  genérico  dos  sãos,  em  que 
o  acido  carbónico  se  encontra  com  exces- 
so de  baf>e. 

SUBCEDER,  V.  a.  e  n.  Vid.  Succeder. 
—  a  No  anno  do  Senhor  de  mil.  e  deza- 
noue  faloceo  Geofroi  Duque  de  Lorraina, 
e  por  nam  deixar  tilbos  subcedeo  uo  du- 


cado Hou  irraito  (JozoUon  Condo  de  Bu- 
Ihom,  a  esto  fíozidlon  !;ubccd60  Oodefroi 
o  brioso,  ou  barbuio  t-r-.ii  lilio.»  Damião 
de  ( locM,  Chronica  de  D.  Manoel,  part. 
4,  cap.  72. 

SUBCESSIVO,  A,  adj.  (Do  latim  sub- 
ceísicuni.  Que  é  de  sobejo  ou  de  rcwto. 

—  Horas  subcessivas;  hora»  de  de»- 
canço.  \'i(l.  Subcessivo. 

SUBCINERICIO,  A,  (uJj.  (Do  latim  «uó- 
ciiieriliusi.  Cozido  de  Buborralbo.  Vid. 
Soborralho. 

—  Cõr  subcinericia ;  cór  cinzenta. 
SUBCLÁVIO,   A,  adj.  (Do  latim  *u6cZ<*- 

vius).  Teimo  de  anatomia.  Veiat  subclá- 
vias;   qui;  i^-tào  debaixo  das  clavículas. 

SUBCUTÂNEO,  A,  adj.  (Do  latixa  tntb- 
cutanvus  .  Termo  de  medicina.  Que  está 
por  baixo  da  cuti.s  ou  da  pelle. 

SUBDELEGAÇÃO,  «.  /.  A  aoçAo  <le  sub- 
debígar.  ^ 

SUBDELEGADO,  pari.  pass.  de  Subde- 
legar. 

—  Juiz  subdelegado;  juiz  a  quem  se 
subdelegou  a  jurisdicção. 

—  Substantivamente  :  Uvi  subdelega- 
do. Vid.  Delegado. 

SUBDELEGANTE,  part.  act.  de  Subde- 
legar. C^uc  suli.lelega. 

SUBDELEGAR,  v.  a.  (Do  latim  »nW&- 
leyave).  Substituir  o  delegado  por  um 
outro  que  o  sn]']ira. 

SUBDELEGAVEL,  adj.  2  ge».  Que  é 
ó  possível  snbdelci:ar. 

SUBDIACONATO,  s.  m.  O  estado  do 
que  tem  ordens  de   subdiacono. 

SUBDIACONO,  í.  VI.  Clérigo  da  ordem 
da  epistola,  que  ó  a  primeira  das  maio- 
res. 

SÚBDITO,  A,  adj.  (Do  latim  aubditus). 
Sujeito,  submottido.  —  o  A  Só  de  Astor- 
ga  tenha  a  própria  Cidade  de  Astorga,  e 
Leão,  que  eatà  .sobre  o  Rio  Urbico,  Be- 
riso,  Pedj-a  esperar.te,  Antirebrc,  Calde- 
ias, Marellos  de  cima,  e  Marellos  debai- 
xo, Senure,  Frogelons,  e.  Pericoa:  onze 
súbditas  a  huma  só  Igreja.»  Monarchia 
Lusitana,  liv.  6,  cap.  14. 


Ó  que  era,  o  que  existia,  quando  os  Seres 

N:\o  tinliào  acodido  á  voz  Suprema 

Do  Eterno,  que  os  chamou  !  Bradou-lbes,  logo 

Ante  seus  olhos  tubditof  se  mostrio, 

Nada  sendo  até  alli  :  mas  quo  existia 

Onde  ora  alpestre  moutt>  a  espádua  eleva  ? 

J.   X.   DE   MACEDO,  A  XATCBKZ.I,    C-aUt.    1. 


—  íS.  Pessoa  sujeita  a  superior,^  quer 
seja  pae,  quer  rei,  quer  mestre,  etc.  — 
«Satiafor  não  ticára  meu  súbdito,  mas 
como  companheiro  igual  será  tractado  de 
mim,  assim  polo  merecimento  de  sua  poa- 
soa,  como  polo  mandamento  vosso»  que 
de  necessidade  bei  do  cumprir,  como  se 
fosse  divino  preceito,  p  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  d'Iuglaterra,  cap.  120. 
—  tDom  Eduarte,  etc.  Fazemos  saber 
que  a  nos  be  dito,  que  uú  estremo  dessa 


SUBE 


SUBI 


SUBI 


607 


Comarca  a  nosaa  moeda  he  posta  em  mui 
pequena  valia  per  respeito  da  moeda  de 
Castella,  ca  geeralmente  he  costume  de 
dar  por  três  brancas  de  Castella  dous 
reaes  brancos,  do  que  os  nossos  súbditos, 
e  natiiraes  recebem  gram  dapuo  e  per- 
da.» Ord.  Affons.,  liv,  4,  tit.  70,  §  1.— 
«Andando  neste  trabalho  ate  a  entrada 
do  Inuerno,  e  logo  no  anno  seguinte  tor- 
nou a  fazer  o  mesmo,  e  esercitaua  pes- 
soalmente todolos  officios  de  Prelado  que 
podia,  baptizando  algiunas  crianças,  e 
na  visitaçam  examinaua,  e  inqueria  por 
si  as  vidas  de  seus  súbditos,  principal- 
mente Ecclesiasticos.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  27. 

— •  it  Quando  em  conselho, 
Franco  ouvireis  o  meu  ;  mas  fora  delle, 
Eeal  senhor,  respeito  e  obediência 
Sào  os  deveres  únicos  dum  súbdito.  » 

—  «O  homem  que  sois,  Menezes,  bem  conheço  : 
Amei-vo3  desde  a  infância,  e  inda  vos  amo. 
Sois  meu  amigo,  sei-o,  c  tam  sincero, 

Tam  leal  o  nào  tenho.  » 
SÀREETT,  CAMÕES,  cant.  6,  cap.  7. 

SUBDIVIDIR,  V.  a.  Fazer  divisão  de 
divisão.  —  Subdividir  um  género  em  espé- 
cies. 

-  —  Subdividir-se,  v.  refl.  Tornar-se  em 
snbdivisòeí  o  que  já  era  dividido.  Vid. 
Dividir-se. 

SUBDIVISÃO,  s.f.  Divisão  de  um  mem- 
bro de  outra  divisão. 

SUBDUPLO,  A,  adj.  Que  é  metade  de 
outro. 

SUBEMPHITEOSIS,  s.  /.  Termo  de  ju- 
risprudência. Contracto  que  faz  o  em- 
phyteuta  ou  foreiro  de  um  prazo,  de  o 
emprazar  a  outro  com  authoriJade  e  li- 
cença do  direito  senhorio,  a  que  os  pra- 
gmáticos dào  o  nomo  de  prazo  de  prazo, 
Vid.  o  vocábulo  Emphyteosis. 

SUBEMPHITEOTA,  ou  SUBEMPHYTEU- 
TA,  s.  2  gen.  Pessoa  que  toma  de  em- 
prazamento um  prazo  da  mão  do  foreiro 
ou  emphvteuta  d'el!e. 

SUBEMPHITEUTICAR,  v.  a.  Termo  de 
jurisprudência.  Emprazar  segunda  vez, 
fazendo  prazo  a  prazo,  que  se  faz  dan- 
do o  foreiro  de  ura  prazo,  de  um  em- 
prazamento a  outro  esse  mesmo  prazo 
■por  uma  certa  pensão,  precedendo  con- 
sentimento do  senhorio. 

SUBENTENDER,  v.  a.  Supprir  com  o 
entendimento  o  que  não  vae  expresso. 

-;-  SUBERATO,  s.  m.  Termo  de  chimi- 
ca.  Nome  genérico  dos  saes  formados 
pela  combinação  do  acido  suberico  com 
as  differentes  bases. 

SUBERBA,  s.f.  Vid.  Soberba. 

Do  longo  navegar  alfim  ao  termo 
Desojado  chegámos  :  da  sube.rba 
Cidade  d'Albuquevque  os  muros  entro. 
GARRETT,  CAMÕES,  cant.  4,  cap .  0. 

t  SUBERBO,  A,  adj.  Vid.  Soberbo. 


Do  castellão  suberbo.  Xas  ameias 
Se  me  antolhavam  hórridas  cabeças 
Hirta  a  grenha,  co'as  carnes  laceradas 
Do  corvo  —  certo  amigo  dos  tyraunos. 
Que  i-egalado  o  trazem.  Tristes  victimas  ! 
GARRETT,  camões,  caut.  7,  cap.  3. 

f  SUBERICO,  A,  adj.  Termo  de  chimi- 
ca.  Acido  suberico ;  acido  que  se  obtém 
decompondo  a  cortiça  pelo  acido  azotico. 

t  SUBERINA,  s.  f.  Termo  de  chimica. 
Tecido  da  cortiça  purificado  considerado 
como  um  principio  immediato,  tendo  por 
caracter  fornecer  o  acido  suberico  pelo 
acido  azotico. 

-{-  SUBERONA,  s.  f.  Termo  de  chimi- 
ca. Producto  da  distillação  do  suberato 
de  cal. 

f  SUBEROSO,  A,  adj.  Termo  de  botâ- 
nica. Que  tem  a  consistência  da  cortiça. 

—  As  rellulas  suberosas. 

—  Parte  suberosa;  a  parte  anterior 
da  casca,  que  toma  uma  cór  mais  escu- 
ra, cessa  de  communicar  á  actividade  vi- 
tal, e  muitas  vezes  secca  completamente. 

SUBFEUDATARIO,  s.  m.  Feudatario  de 
outrem. 

SUBFEUDO,  s.  m.  Termo  em  uso.  Terra 
que  o  vassallo  feudatario  dava  a  alguém 
com  a  natureza  do  feudo,  e  obrigações,  e 
encargos  feuilae.s. 

f  SUBFUSIFORME,  adj.  2  gen.  Que  tem 
quasi  a  firma  de  um  fuso. 

SUBFRAGANHO,  ou  SUBFREGANHO. 
Termo  antiquado.  Vid.  Suffraganeo. 

f  SUBGEITO.  Vid.  Subjeito,  e  Sujeito. 

—  «Que  o  xeque  Ismael  defendesse  a  seus 
subgeitos,  que  nam  andassem  com  o  ça- 
baim  dalção  nem  o  seruissem  na  guerra 
que  contra  ei  Rei  tinha.  Isto,  e  tudo  o 
demais  que  ho  cmbaixailor  dixe  cscreuia 
bum  secretairo  do  xeque  Ismael,  dos  quaes 
apontamentos  o  gouernador  lhe  trouxe 
dahi  a  três  dias  a  repusta  seguinte.»  Da- 
mião de  Góes,  Chroaica  de  D.  Manoel, 
part.  4,  cap.  10. 

j-  SUBGLOBULOSO,  A,  adj.  Que  tem 
uma  fiu-nia  qu;i>i  globulosa. 

SUBHASTAÇÃO,  s.  /.  (Do  latim  suhhas- 
tatio).  Termo  do  jurisprudência.  Arrema- 
tação, venda  que  se  faz  dos  bens  do  de- 
vedor, na  praça  publica,  por  auctoridade 
de  justiça. 

f  SUBHASTAR,  v.  a.  Termo  de  juris- 
prudência. Vender  por  subhastação. 

SUBIDA,  s.  /.  A  acção  de  subir.  — 
«Então  Ihõ  contou  miudamente  o  que  pas- 
sara ;  e  quando  veio  a  aquelles  passos  do 
lago  que  cercava  a  ilha,  e  a  maneii'a  do 
batel  com  que  se  navegava,  e  depois  a 
subida  do  cesto,  a  imperatriz  e  suas  da- 
mas haviam  aquelle  perigo  por  tamanho, 
que  perdiam  a  eôr.»  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  d'Inglaterra,   cap.   104. 

—  «N"a  qual  pertia  de  querer  trepar,  e 
subir.  Pêro  Mascarenhas  se  mostrou  mais 
desejoso,  que  outro  algum,  commettendo 
a  subida  per  os  piques  da  gente  de  Or- 
denança, o  qual    trabalho  lhe    não    fun- 


dio  a  seu  propósito.»  Barros,  Década  2, 
liv.  7,  cap.  4.  —  «Assentado  isto  deu 
D.  Álvaro  de  Castro  a  vela  pêra  Xael, 
aonde  chegou  na  entrada  de  Abril,  e 
entrou  dentro  com  todos  os  navios,  sem 
da  fortaleza  lhe  atirarem  bombardada  al- 
guma, e  logo  desembarcou  em  terra,  com 
toda  a  gente,  e  mandou  ordenar  algumas 
escadas  dos  destures  dos  navios,  pêra  co- 
meterem a  subida.»  Idem,  Década  6,  liv. 
G,  cap.  6. 

Mas  uem  por  isso  as  outras  detiveríXo 
O  curso,  ou  perde  a  gente  a  confiança, 
Antes  á  praia  todos  se  vierào 
Com  mór  pressa  e  desejo  do  vingança; 
Saltando  logo  cm  terra  os  que  couberão 
Xo  desembarcadouro,  sem  tardança, 
Nenhum  subir  acima  entào  duvida, 
Que  era  toda  a  parte  vê  fácil  subida. 

F.    d'aNDRADI-.,   PRIMEIRO   CERCO   DE    DIU,  Caut.    18, 

est.  18. 

—  A   ladeira   por  onde   se  sobe,   a  en- 
costa. 

—  Figuradamente:  A  subida  da  alma 
a  Deus;  a  sua  elevação. 

—  Ad.\gio  e  provérbio  : 

—  De  grande  subida,  grande  cahida. 
SUBIDISSIMO,    A,  adj.   superl.  de  Su- 
bido,  ilui  subido. 

SUBIDO,  j;iaí-í.   pass.   de   Subir.   Alto, 
elevado. 

Vento  é  cuidar  ninguém 
que  em  si  vive  t.ào  subido 
que  uão  pode  ser  caído 
e  que  d'altivo  lhe  vem. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  61. 

De  estatura  commnm  se  me  antolhava, 
Mas  logo  a  vi  subida  atr  co'a  frente 
Ir  topetar  ua  abobada  do  Templo. 

J.   A.    DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Caut.   2. 

De  mais  subido  premio  outra  esperança 
Me  alentava. . .  Ai  de  mim !  um  longo  sonho 
Minha  existência  ha  sido.  —  E  pois  que  nada, 
Nada  ja'gora  me  ficou  na  terra... 
GARRETT,  CAMÕES,  caut.  4,  cap.  17. 


As  m'rapha3_  invoquei  do  Tejo  ameno. 

Que  em  mim  orçassem  novo  ingenho  ardente 

Que  a  tam  subida  imprésa  se  elevasse. 


—  Subido  a  rei;  elevado. 

—  Estijlo  subido  ;   sublime,  levantado. 

—  Havendo  subido  uvi  piouco  do  monte. 
—  «Portanto  achareis  poucos  que  che- 
guem ao  cume  da  contemplação,  porque 
auendo  subido  hum  pouco  do  monte  pe- 
dragoso,  e  asperoso,  sintindo  a  difficulda- 
de,  e  moléstia  delle  descorçoão,  nem  pro- 
curão  ir  auante,  donde  rasulta,  que  mui- 
tas vezes  tornaõ  atras,  e  caem  embaixo : 
e  se  intentão  outra  vez  a  subida,  come- 
cem de  nouo,  sendo  necessário  neste  ca- 
minho espiritual  não  parar,  se  não  pas- 
sar, sempre  adiante,  e  melhorarse.»  Fr. 


608 


SUBI 


SUBI 


SUBI 


Bartholomeu  dos  Martyre»,  Compendio  de 
espiritual  doutrina,  cap.  l'>. 

—  Kiii/rii/i')  subido;  /ini;ii  subido;  vir- 
tude subida. 

—  Excollontc,  precioso,  eminente. 


Sancta  Dona  A'iolniito 
Do  f  Jiiiii,  de  tinindo  nstima, 
Aíiil  niihiila.  limito  acima 
D'o»timai-,  iionhum  palauto ; 
l'(((;o-V09  ou, 

K  a  Dona  Ittabp.l  (VAbriMi, 
Qiio  liajnis  di^llo  |)ic(l:idc. 
Co  siso  quo  Deoit  voí  dou, 
Qiio  não  moura  do  sniideu 
Em  tal  idade. 

OII,  VICENTE,   FARÇA8. 


Õ  portentoso  Esfcicio,  c  to  niorcccm 
Do  mais  subião  ^■atc•  o  tyinbre,  a  filoria  : 
Jamais  te  volvo  as  paginas  divinas, 
Quo  cm  tnim  não  sinta  dorvamar-so  o  fogo 
De  impetuoso,  audaz  ontlnisiasmo, 
Quo  me  faz  coidiccor,  palpar  absorto, 
Oude  •couKfCO  luimaua  linguagem 
A  ser  por  oxccUoncia  a  voz  das  Musas ! 
j.  A.  nE  M\cF.no,  MEDITAÇÃO,  caut.  1. 

SUBIMENTO,  s.  m.  Orcscimento,  aug- 
mento.  acccsso.  ^'icl.  Sobimento. 

SUBINTELLECTO.  Via.  Sobentendido. 

SUBINTENDER.  Vi-l.  Sobentender. 

SDBIR,  i.  (t.  (Uo  latim  sulnve).  Ir  de 
baixo  para  cima.  —  Subir  os  degraus.  — 
«Quando  Palmeirim  viu  que  pêra  subir 
aquella  altura  não  havia  outro  caminho, 
guiado  ainda  das  lembranças  de  quem 
servia,  cuidou  por  algumas  vezes  se  dei- 
xaria as  armas,  crendo  que  l!ie  podiam 
fazer  pejo,  c  desarmando-as  pêra  Ucar 
mais  leve,  se  quiz  só  co'a  espada  metter 
no  cesto.»  Francisco  de  Moraes,  Palmei- 
rim d'Inglaterra,  cap.  99.  —  «Os  da  com- 
panhia t!c  I).  Álvaro  de^astro,  que  pe- 
lejavaõ  encurralados  ao  muro,  Hzcraõ  to- 
dos cousas  dignas  de  muito  maior  escri- 
tura, porque  alli  carregou  Rumecan  com 
o  seu  esquadrai"),  apertando  tanto  com  el- 
les,  quo  encravarão  nas  paredes  Ruv 
Freire,  Francisco  (Uiilherme,  e  outros,  os 
mais  ajudando-se  huns  aos  outros  o  me- 
lhor que  pu<lciaò  subirão  o  muro.»  Dio- 
go de  Couto,  Década  ti,  liv.  3,  cap.  6. 

Subindo  a  escada, 
porque  é  muito  ci^rto  n'clla 
ou  dcseol-a  cntranibolhada, 
ou  nicdil-a  atravessada, 
ompei;o  nisto  ao  pé  d'eUa. 

ANTÓNIO  PBESTKS,  AnTOS,  pag.  il3. 

—  Figuradamente:  Subir  a  corda; 
exagerar,  dizer  mais. 

—  Subir  a  ■phantasia;  levantar  a  sua 
prcsum])i;ão  c  persamentos. 

—  Subir  aljinem  a  honras,  e  dignida- 
des;  elcval-o  a  cilas. 

—  Levar,  lazer  chegar  alguém,  ou  al- 
guma cousa  ao  alto. 

—  Levantar. 


—  Elevar. 

—  Subir  II  jihautagia;  aspirar  a  mais. 

—  Fi;íaradiniicutc:  Subir  de  ijontu; 
elevar,  levantar. 

—  V,  n.  Passar  para  lugar  maiu  alto 
d'a(|uellc  em  que  se  estava.  —  «E  assim 
praticando  com  ullas  ontraram  no  pateo 
do  castello,  quo  estava  lageado  de  umas 
jicdras  negras:  e  dahi  subiram  a  unia 
sala  grande  e  mal  oi)rada,  feita  ao  mo  lo 
antigo,  onde  o  veio  reC'd)(T  uma  donzella 
ncompanliada  d'outras  donas  o  don/dlas.  k 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  dlngla- 
terra,  cap.  11  ;5. 


Sc  liV  no  assento  Etherco,  onde  subiste, 
Memoria  desta  vida  se  consente, 
Não  to  esi|iiei;as  de  iiquello  amor  ardente, 
yuc  ja  nos  olhos  ineus  tão  puro  viste. 

CAM.,  SONETOS,  n."  19. 


Alma  gentil,  qnc  á  firme  otcrnidadu 
Subiste  clara  c  Talerosamonto, 
Cá  durará  de  ti  perpetuamente 
A  fama,  a  gloria,  o  nome  c  a  saudade. 
IBIDEM,  n."  229. 


—  «Alem  disto  como  as  cousas  exterio- 
res saõ  mudaueis,  c  perecedeiras,  foi  en- 
caminhado o  homem  a  passar  das  cousas 
exteriores  á  consideração  das  interiores, 
nem  parar  ahi,  senaõ  passar,  e  subir  das 
interiores  as  celestiaes :  por  tanto  bai  da 
miserauel  alma,  que  deleitandose  nos 
bens  temporaos  exteriores  parou,  sem 
tratar  de  subir  mais  alto.»  Fr.  Bartholo- 
meu dos  Martyres,  Compendio  de  espiri- 
tual doutrina,  cap.  14. 

Entaõ  de  Senhorias  toda  a  Casa, 

Qual  dura  picante  enxame  de  mosquitos, 

Azoinada  se  vio :  umas  da  bocca 

Em  borbotões  lho  sahcin,  outras  lhe  outraõ 

Pelas  grandes  orelhas  lisongeiras, 

E  e>ihindo-\\\e  ao  cérebro,  a  cabeça 

De  illustrissimos  flatos  lhe  enchem  toda. 

ASTOKIO  Dl.NUS  DA  CRCZ,  HYSSOPE,  Caut.   7. 

Que  da  escura  prizão  doo  hu  ao  Mundo, 
Talvez  não  longe  da  verdade  as  azas 
Desfira  eu  Vate  extático,  que  xnbn 
Inda  além  dos  confins,  onde  não  chegão, 
O'  sábio  Hallcy,  teus  cálculos,  teus  vidros. 

J.    A.    r>«    MACEDO,    MKDITAÇÃO,   Caut.    2. 

—  Subir  rffl  est>/lo;  escrever  ou  fallar 
em  estvlo  levantado. 

—  Figuradamente:  Subir  á  jxrfeiciio. 
—  «Estes,  que  dizem  isto,  e  se  disculpào 
assim,  se  hão  de  reputíir  por  couanles  de 
pouco  animo,  não  so  pcrsuaclindo  os  taes, 
que  he  grande  sinal  de  imperfeição,  não 
procurar  a  pessoa  ser  perfeita,  e  não  per- 
tender  com  t<ido  o  cuidado,  e  diligencia 
subir  :l  perfeição.»  Frei  Bartholomeu  dos 
Martyres,  Compendio  de  espiritual  dou- 
trina, cap.  i;'>. 

—  Subir  acima.  —  «E  dado  que  aos 
debaixo  CMneçaraõ  lenar  diante  si  a  boto 
de  lança,  o  os  espingardciros  e  besteiros 


despejauai)  as  janelae  dos  outros  de  qae 
recebia^  damno:  toda  via  (;ra  taiito  o  que 
lhe  tuziaõ  dos  eirados  que  coriueo  aos 
nusso-i  entrarem  )>claK  casas  e  subirem 
acima  onde  o8  Mouros  estauaò.i  Barros, 
Década  1,  liv.  ><,  cap.  ;>. 

—  Subir  ao  ar  em  um  glubo  aerottatí- 
co;  olevar-se. 

—  Subir  de  )/re<;o;  tomar-so  mais  caro. 

—  Subir  na  virtude;  crescer  n'clla. 

— •  Subir  a  alguma  dignidade;  ser  elft- 
vado,  ser  promovido  a  ella. 

—  Subir  alguma  cousa  ao  pensamento^ 
vir,  occorrcr. 

—  Subir  a  uma  gramU  santidade  ;  ele- 
var-se  a  ella. 

—  Subir  a  consulta;  é  ir  ás  mSos  dos 
ministros,  que  dcs|iacliam  com  el-rei. 

—  Subir  sobre ;  elevar-se  mais. 

—  O  vinho  sobe  á  cal^eça;  pcrtnrba-a. 

—  Subir  d':  pensamento  ;  «-nsoberbeccr- 
se,  tornar-se  orgulhoso,  aspirar  a  cousas 
mais  elevadas. 

—  Trepar.  —  i EntSo  mandando  aoa 
scudciros  que  os  levaísem  pola  rédea, 
assim  a  fio,  um  diante  d'outro,  começa- 
ram a  subir.  E  primeiro  (jue  chegassem 
ao  escampado,  onde  Palmeirim  achou  o 
padrão  com  as  ktras,  que  diziam  :  «XSo 
passes  mais  avante»  gastaram  grande  es- 
paço.» Francisco  de  Mora'^s.  Palmeirim 
d'Inglaterra,  cap.  119. 

Disse  então  a  Velloso  ham  companheiro 
ÍComcçando-30  todos  a  sorrir  i: 
OiJá,  Velloso  amigo,  aqui-Ue  out;"iro 
lie  melhor  do  descer,  que  de  mbir. 
CAM.,  Lus.,  cant.  5,  est.  3õ. 

Com  mír  pressa  nas  barcas  vão  entrando 

Da  com  que  ao  baluarte  antes  ^/iifrio, 

E  ja  as  ondas  comeeão  de  ir  cartando 

Para  tornar-se  la  donde  partirão; 

Mas  como  entre  si  vão  arrczoando 

De  quão  pouca  gente  era  a  quem  fugirão. 

Em  todos  tal  vergonha  sobreveio 

Qnc  pMc  então  mais  nelles  que  o  recoio. 

F.    D'\NnRADB,   PRIVEISO  CEBCO  DE  I>ID,eailt.    18, 

est.  25. 

—  «E  quando  com  o  j)Czo,  e  alvoroço 
de  subir  tornou  a  quebrar,  n.^o  somente 
dos  alabardciros,  que  estavam  debaixo, 
defiram  esmagados,  e  mal  feridos,  mas 
ainda  muitos  dos  cabidos  se  vieram  espe- 
tar nas  alabardas,  que  foi  consa  piedosa 
de  ver.»  Barros,  Década  2,  liv.  7.  cap. 
0.  —  «O  primeiro  que  subio  na  f  )rtaloza 
foi  Emanuel  de  Lacerda,  c  após  elle  Sc- 
bastiam  do  miranda,  e  Nuno  vax  pereira, 
os  outros  nos  lagares  que  lhe  forâo  enco- 
mendados, der.^o  todos  naquclle  dia  mo»- 
tras  de  mui  esforç.ad()s  caualleiros.»  Da- 
mião de  Góes.  Chronica  de  O.  Manoel, 
part,  3.  cap.  G.  —  «Neste  tempo  Garcia 
de  sousa  com  os  que  cora  elle  estaua  que 
nam  quisoraõ  decer  ptdas  cordas  jxilo  te- 
rem ]>or  afronta,  .«e  defondiam  com  mui- 
to esforço,  sem  nenlium  tios  mouros  ou- 
sar de  subir  ao  cubelo,  no  qual  debate 


SUBI 


SUBI 


SL^BI 


609 


deram  huma  pe(ira']a  no3  narizes  a  Dio- 
go estaco  tio  de  Diogo  estaco,  qxie  com  o 
guião  de  Dom  loam  i!e  lima  na  mam  ma- 
tai"ão  sobelo  muro.»  Ibidem,  cap.  43. — 
«Mas  Rumecão,  crendo,  que  tão  continua 
resistência  nos  teria  consumidos,  como  o 
ferro  que  cortando  se  gasta,  ajuizando 
nossa  fraqueza  de  seu  mesmo  estrago, 
bradou  aos  seus,  que  subissem  a  tomar 
posse  da  Fortaleza,  que  já  não  havia 
quem  se  llies  oppuzesse.»  Jacintho  Frei- 
re d'Andrade,  Vida  de  D,  João  de  Cas- 
tro, liv.  2. 

ATÍ3Ínhar-sc  Filis  quiz  ao  Céo, 
Para  mais  o  illustrar  :  que  fez "?  subio : 
E  porque  o  Claustro  as  luzes  lhe  encobrio, 
Fez  nova  h.ibitaçaõ  no  corucheo. 

ABB&DS  DE  JAZESTE,  POESIAS,  pag.    105. 

E  como  03  Portuguczes  que  o  meneio 
Da  Alfaudcga  da  Tília  a  cavgo  tinhào 
Nell.1  estarão  cutâo,  coino  lhes  veio 
A  nova  dos  imigos  que  alli  vinhão, 
Com  grande  espanto  assaz,  não  sem  receio 
D'hum  mal  que  ellos  então  mal  advinhão, 
Logo  todos  n  hum  corpo  se  ajuntarão 
Subir  ao  baluarte  trabalharão. 

FR.VNCISCO  d'A!ÍDBADE.  PRIMEinO  CEKCO  DX  DIC, 

eant.  10,  est.  58. 

—  «Assi  a  alma  que  tem  aferrada  a 
anchora  de  sua  esperança,  na  pátria  ce- 
lestial, pêra  que  onde  ÍESV  CHRISTO 
subio,  ainda  que  nam  viua  neste  mundo 
sem  ventos  e  ondas  de  tentações,  e  fra- 
quezas veniaes,  toda  via  nam  se  alaga, 
nam  se  quebra  por  peccado  mortal,  em 
quanto  a  esperança  viua,  e  fundada  em 
amor  estaa  pegada  no  Ceo.»  Fr.  Bartho- 
lomeu  dos  Martvres,  Catecismo  da  dou- 
trina christã. 

Se-lo-ha  :  por  eile  subirei  aos  Rostros, 
E  heide  pedir,  rogar,  supplice,  humilde, 
Impeubar  quanto  sou  e  valho  em  Roma, 
E  aleançar-lhe  o  perdão,  volvê-la  á  pátria. 
Mas  ve  que... 

GAKBETT,  CATÃO,  act.   2,   BC   5. 

—  Subir  ao  throno  do  Immortal;  ele- 
var-se  até  elle,  chegar  até  elle. 

Em  sua  alma  assomou  da  gloria  um  raio, 
OuWo-se  a  vez  primeira  a  voz  das  Musas, 
Elle  o  Vate  primeiro :  cm  almos  hvmnos 
Subio  ao  Throno  do  Immortal  seu  brado. 

J.  A.   DE  MACEDO,  MEDrrAçlo,   Caot.  4. 

—  Nao  subir  de ;  não  exceder. 

—  Subir-se,  u .  rejl.  Elevar-se,  levan- 
tar-se.  —  a  Chegado  com  esta  pompa  ao 
cadafalso,  onde  era  quasi  toda  a  Cidade 
ver  aquelle  acto,  de  que  ainda  não  en- 
tendiam o  fim.  subio-se  a  elle,  e  come- 
çou em  mui  alta  voz  dizer  as  cousas  que 
per  nós  fizera,  e  os  perigos  que  por  isso 
elle  passara,  por  méritos  das  quaes  cou- 
sas Aôonso  d'Alboquerque  lhe  dera  o  of- 
ficio  que  tinha  de  Bendára,  que  elle  té 
aquella   hora   servira,   o   qual,  (segundo 

TOL.  Y.— 77. 


lhe  era  dito.)  elle  mandava  que  elle  nun- 
ca o  servisse  mais,  e  fosse  dado  o  ofiicio 
a  outra  pessoa  »  Barros,  Década  2,  liv. 
9,  cap.  6. 

Vendo  a  gente  infiel  que  a  Portugucza 
Do  logar  em  que  está  não  passa  avante. 
Como  tanto  então  vem  em  ódio  aeeza. 
Quanto  brava,  feroz,  quanto  arrogante. 
Querendo  ja  dar  fim  áquclla  empreza 
A  que  cuidava  d,í-lo  nhum  instante, 
Alguns  delles  snbindo-se  aos  telhados 
D"alli  vào  commetter  os  baptisados. 

F.  d'.ixi>r.\.de,  peisteibo  cebco  de  DIU,  cant.  12, 
est.  7. 


—  Subir-se  em  um  cavallo;  montar. 

SUBITAMENTE,  adv.  (De  súbito,  com 
o  suffixo  «mente»).  De  um  modo  súbito, 
de  repente.  —  «Però  primeiro  que  elle 
chegasse  a  esse  efteito  lhe  succedeo  outro 
não  esperado  delle,  e  foi  que  eIRey  de 
Tanor  subitamente  em  hum  passo  lhe 
saio  e  o  desbaratou.»  BaiTos,  Década  1, 
liv.  7,  cap.  10.  —  «Assi  morreo  subita- 
mente outro  pouco  depois,  que  arreme- 
teo  com  a  espada  feita  a  hum  irmam  da 
Companhia,  por  nam  consentir  que  se 
aleuantasse  hum  pagode.»  Lucer.a,  Vida 
de  S.  Francisco  Xavier,  liv.  6,  cap.  6. 
—  «A  sua  primeira  acção,  he  deter  o  ar, 
pára  que  alli  se  attempere  a  sua  frialda- 
de, e  naõ  entre  subitamente  ao  bofe,  a 
quem  poderia  offender,  sendo  muyto  frio; 
por  isso  03  que  estaõ  destituhidos  desta 
partícula,  segundo  o  Philosopho,  morrem 
Ptlivsicos;  e  a  razaõ  he;  porque  aquellas 
viaí5  sem  a  defensa  de  Vuvla,  e  os  seos 
espíritos  se  refrigeraS;  e  desta  sorte  fa- 
zendo-se  os  excrementos  mais  crassos 
com  o  ar,  se  tornaõ  mais  acres  pella  de- 
mora, que  nellas  tem ;  de  que  se  segue 
exulceraçaõ  no  bofe.»  Braz  Luiz  d'A- 
breu,   Portugal  medico,  pag.  83,  §  1Õ3. 

As  ondas  se  arrojou;  como  espantadas 
Do  eõcavado  penedo  se  afastarão ; 
Como  em  montanhas  liquidas  formadas 
A  tão  triste  espectáculo  pararão  : 
Subitamente  as  nuvens  carregadas. 
Como  em  negra  tormenta  fuzilarão ; 
Do  mar  tragado  o  corpo  ao  fundo  desce, 
E  da  vista  dos  Ceos  dcsapparece. 

j.  A.  DE  MACEDO,  O  OHiEXTE,  cant.  2,  cst.  74. 

SUBITANEAMENTE,  adv.  (De  subita- 
neo,  com  o  suffixo  emente»).  Vid.  Subi- 
tamente. 

SDBITANEO,  A,  adj.  (Do  latim  subita- 
neiís).  Apressado,  de  repente,  de  impro- 
viso. —  Morte  subitanea. 

1.)  SÚBITO,  í.  m.  Repente,  cousa  que 
sobrevem  sem  se  e.'perar. 

—  Empreza  de  armas,  ataque  repenti- 
no, de  arrebate. 

—  O  primeio  ímpeto,  ou  movimento 
das  paixões. 

—  Feito,  acção  impremeditada. 

—  Surpreza,  sobresalto. 

—  Loc.  ADV. :  Be  súbito  ;  de  repen- 


te, improvisadamente,  subitamente.  — 
«Partido  Pedralurez  Cabral  desta  terra 
de  Sancta  Cruz  a  hum  Domingo  xxiiij. 
de  Maio  se  armou  himi  bulcaõ,  e  trás  el- 
le huma  trouoada  com  tanta  força  de 
vento,  e  taõ  de  súbito,  que  a  vista  huns 
dos  outros  çoçobraraõ  quatro  nãos,  sem 
delias  escapar  cousa  viua.»  Damião  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1, 
cap.  Õ7. 

—  Glosar  de  súbito  ;  glosar  de  impro- 
viso. 

• — Plur.  Ditos  repentinos,  e  discretos. 

—  SvN'. :  De  súbito,  de  repente. 

Os  clássicos  servem-se  indifferentemen- 
te  d'estes  dons  termos ;  todavia  é  mui 
racional  que  se  e-stabeleçam  entre  elles 
distincções.  De  súbito  exprime  o  que 
acontece  ou  se  faz  sem  pensar,  nem  obrar,  _ 
e  n'um  fechar  de  olhos.  De  repente  indi- 
ca que  a  cousa  se  faz,  ou  acontece,  sem 
demo7a,  em  continente. 

O  salteador  assalta  de  súbito,  o  raio  fe- 
re de  súbito,  o  pregador  falia  de  repente. 

De  súbito  exprime  mais  rapidez  que 
de  repente,  e  accrescenta-lhe  a  idêa  de 
imprevisão. 

2.)  SÚBITO,  A,  adj.  íTio  latim  subi- 
tus).  Repentino,  improviso. 

Olha  a  torra  de  Ulcinde  fertilissima, 
E  de  Jaquete  a  íntima  enseada  ; 
Do  mar  a  enchejite  súbita  grandíssima, 
E  a  vasante  que  foge  apressurada. 
CAM.,  Lus.,  eant.  10,  est.  106. 

Do  Marinheiro  audaz  se  mostra  aos  olhos 
Ao  longe  u "Horizonte  a  negra  mancha. 
Gérmen  da  feia,  súbita  proc?lla. 

J.  A.  DE  MACEDO,  Á.   NATCKEZA,  CSnt.  2. 

—  Toma-se  também  adverbialmente : 
/)•  súbito;   Lr  de  repente,  de  improviso. 

Xão  me  era  honesto  (bem  julgáesi  ir  súbito 
Despedir  Segenax  do  meu  Castello, 
(Tam  débil  inda  a  vi)  mas,  pouco  a  pouco. 
Forças  cobrou  ;  e  em  mim  crescendo  o  prigo, 
Fingi  Carta,  em  que  os  manda  o  César  soltos. 
Antes  que  partào,  quiz  faUar-me  a  Filha : 
Cortei  ázo  a  recíprocos  pesares. 

F.  M.  DO  NASCDIESTO,  OS  MAHTTBES,  !ÍV.    IO. 

Súbito  hum  denso  véo  d'horror  profimdo 
Cobre  dos  Ceos  a  cúpula  azulada  ; 
Rouba-?e  á  vista  dos  mortaes  o  Jlnndo, 
Sem  astros  fica  a  noite  carregada : 
Mostra  súbita  luz  raio  iracundo, 
Mas  logo  fica  escuridão  pezada  ; 
Fere  o  Jogue  espantado :  a  altiva  Cort« 
Ficou  coberta  do  terror  da  morte. 

J.   A.   DE  MACEDO,  O  ORIENTE,  Cast.    11,  CSt.   80, 

Delle  den-ama  a  peste,  a  fome,  a  guerra. 
Juncados  de  cadáveres  os  campos, 
Estranha  vista !  súbito  ficarão. 

IDEM,  A  SATUBEZA,  Caut.    1. 

Nasce  súbito  o  Sol,  mas  não  deslumbra, 
Xem  fere  co'  a  luz  súbita  teus  olhos, 
Xem  eahe  na  Terra  de  repente  a  noite. 
IBIDEM,  cant.  2. 


610 


SUBJ 


SUBJ 


SUBL 


Do  todo  di»»olvoo :  dÍHcordia,  c.  guerra 
AmotiiiadoH  ontro  n\  conscrviVi ; 
D'oiipo»tOi)  poiítort  nnhilo  voando, 
Ainoiítoão  110  ilr  pnzadas  mivoíio. 
ii)i;m,  MKinrAçÃo,  cant.  2. 


Suhiln  o  Trjo  aiu-iforo,  os|n-aii'ido, 

E  largo,  (!  fundo,  o  proOpUorto,  o  turvo, 

Como  aHHombriulo  vú  :  vo1v«iti-8R  ondoadaH 

Nos  altoB  tópoH  flâmulas  ligeiras 

Das  volivola-i  uAoa  :  mais  doiiso  hum  boaiui;  ' 

Já  ví  de  perto ;  na  forrada  proa 

Jaz  mal  si^guro  o  doscovado  medo 

IJo  mercador  avaro. 


SUBJACENTE,  adj.  2  geií.  (Do  latim 
siiOjttcnis).  (^>uc  c.itá,  ([lio  Jiiz   por  baixo. 

SUBJECÇÃO,  s.  f.  Termo  clc  littoratu- 
r.a.  Figura  ilc  rliotorica,  que  consiste  em 
interrogar  o  adversário,  c  cm  suppôr 
sua  resposta,  ou  cin  prever  o  que  poi le- 
ria ilizer,  e  cm  prepai-ar  íranto-inào  a 
rejilica. 

SUBJECTAR,  V.  a.  Vid.  Sujeitar. 

-j-  SUBJECTIVAMENTE,  adv.  (Do  sub- 
jectivo, com  (I  suflixii  «mente»).  Termo 
de  philosopliia.  Do  uma  maneira  subje- 
ctiva. 

1  SUBJECTIVAR,  v.  a.  Termo  de  phi- 
losophia.  Tomar  subjectivo,  considerar 
como  tal,  lazer   dopiuider    do   subjectivo. 

f  SUBJECTIVIDADE,  s.  /.  Termo  de 
philosopliia.  Qualidade  do  que  é  subje- 
ctivo. 

—  Conjuiicto  do  que  é  subjectivo. 
SUBJECTIVO,  A,  adj.  Termo  do  philo- 
sopliia. (Juo  diz  respeito  ao  sujeito. 

—  Diz-so,  cm  opjiosição  ao  objectivo^ 
do  que  se  passa  no   interior  do  espirito. 

—  Mcthudo  subjectivo ;  metiiodo  em 
que  o  ponto  de  parti<la  c  uma  concepçrio 
ào  espirito,  que  suppõe  a  priori  um  cer- 
to principio  metaphysieo  d'ondc  tira  as 
deducções. 

—  Conce/jçõe.s  subjectivas;  aquclias  que 
dimanam  directamente  do  espirito,  sem 
mistura  notável  das  concepções  objecti- 
vas. 

—  Termo  de  grammatica.  Voz  subje- 
ctiva ;  diz-se  da  voz  activa,  em  opposi- 
ção  á  voz  objectiva,    ou  passiva. 

—  Caso  subjectivo;  diz-se  do  nomina- 
tivo. 

—  Substantivamente :   O  subjectivo. 

-}■  SUBJECTO.  Vid.  Sujeito,  e  Subjei- 
to.  —  «E  ho  primeiro  reyno  que  com  ci- 
la confine  da  banda  do  mar  da  india,  he 
hum  que  se  eliama  Cauchim  cliina  quo 
terá  cem  legoas  pouco  mais  ou  monos  ao 
longo  da  costa  do  mar,  fazendo  ho  mar 
huma  grande  entrada  por  antre  elle  e  ha 
ilha  Dainão,  que  he  de  cincoenta  legoas 
de  comprido,  e  he  ja  de  Chinas :  e  no 
cabo  desta  enti-ada  entesta  este  reyno 
com  ho  reyno  da  China,  e  ho  subjecto  ao 
rey  da  ciiina.»  Fr.  I '.aspar  da  Cruz,  Tra- 
tado das  cousas  da  China,  cap.  3.  —  «El 
Rey  teue  lugar  de  se  acolher  a  hum  do 


tros  castcllos,  que  nella  auia,  onde  com 
alguns  dos  HoiH  escaiiou.  E  como  os  te- 
mores nos  mãos,  nani  durem  mais,  que 
em  quilto  está  viua  a  causa  ilcllos,  pas- 
sada a  presente  tornou  a  sor  quem  d.^tes 
era,  senilo  se  fez  outro  pior  que  os  iiiaos 
custumcs,  como  diz  o  i'hilosopho  aiw>  lia- 
liitos  que  com  diíTiculdado,  se  mudào  do 
s(!us  subjectos.»  Vr.  (iaspar  de  S.  Ber- 
nanlino,  Itinerário  da  índia,   cap.  13. 

SUBJEITAR,  ca.  Vid.  Sujeitar.— «E 
IHjrijUii  el  lioy  tem  tanto  ciiydado  do  go- 
verno do  seu  royno  e  lio  traz  tam  bem 
regido,  com  ser  tam  grande  como  he  ho 
sostenta  e  conserva  unido  em  paz  ha 
muito  numero  de  annos  sem  nenhuns 
rey  nos  entrarem  a  possuyr  nada  na  Chi- 
na, antes  ha  China  subjeitou  e  teve 
muitos  reyuos  e  muitas  gentes  subjcltas 
po!lo  seu  singular  governo.»  Fr.  (uíspar 
da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da  China, 
cap.  22. 

SUBJEITO.  Vid.  Sujeito.  —  «E  esguar- 
dando  mis  que  tanto  que  compre  ao  nos- 
so Estado,  c  ao  bem  publico  dos  nossos 
subj eitos  serem  ricos,  e  abastados,  tanto 
mais  devemos,  e  somos  theudo  de  olhar 
por  prol  dos  nossos  Regnos,  e  naturaaes, 
que  dos  l'"strangeiros,  e  tolher,  e  arredar 
aqiicllo,  per  que  lhes  pode  seor  emlnvrga- 
do  de  lazer  sua  prol,  e  accreccntar  em 
seus  algos.»  Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit.  4, 
§  2. 

SUBJUGAÇÃO,  s.  /.  Acto  de  subjugar, 
c  cíTcito  d 'esta  acção. 

f  SUBJUGADO,  'part.  pass.  de  Subju- 
gar. Viil.  Sobjugado,  Sojugado,  e  Sogi- 
gado. 


Ormiu,  Qiiiloa,  SFombaça, 

Sofala,  Cocliim,  Mcliiide, 

Como  cm  espoUios  daliiido, 

TJuluze  quanta  lie  sua  graça. 

E  chegareis 

A  Goa  o  perguntareis 

Se  he  ainda  aubjiigada 

Por  peita,  rogo,  ou  espada? 

Veremos  se  pasmareis. 

OIL  VICENTR,  PAJtÇAS. 


—  «Foy  esto  reyr.o  dos  I.aos,  ou  Siões 
màos  subjugado  poios  Bramas  (dos  quaes 
logo  diremos)  no  ."vnno  de  cincoenta  e 
scys :  e  antre  alguns  que  trouxeram  a 
l*eguu  cativos  trouxeram  alguns  Chinas 
que  os  Laos  tinham  cativos,  como  me 
afirmou  hum  Jorge  de  I\Iello,  que  foy  por 
capitam  da  viajem  de  Peguu.»  Fr.  (ias- 
par  da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da  Chi- 
na, cap.  ;>. 

SUBJUGADOR,  s.  »i.  O  que  subjuga, 
mette  debaixo  do  jugo. 

SUBJUGAR,  i:  a.  Vid.  Sobjugar,  So- 
jugar,  o  Sogigar. 


Dosque  cu  quebrei  desse  Tiranno  o  jugo. 
Tratei  desempenhar,  com  digno  clVoito, 
O  Poder,  que  por  vós,  me  foi  confiado. 
O  Orbe  vos  subjuguei.  Daqui  os  prantos 


Do»  Filho»  deiMC  Adam,  qucha\iiU> 
I)c  occiípar  vomos  thronos  vcnturtíso». 

y.   M.   1)0  MAHCIMEIITO,  O»  MARTYBE»,  1ÍV.   8. 

—  «Misera  de  mim!  que  delle  receia- 
va  intcirar-nic  cu  nicsuia,  c  que  agora 
avcrigúo  (|ue  lia  impulsos  do  ánim«  im- 
possiveis  de  subjugar,  e  de  os  esconder 
dos  olhos  du  aiiiiz.L  le.»  Idem,  SuccessoB 
de  madame  de  Sencterre. 

SUBJUNCÇÃO,  ».  /.  Ajuntamento  im- 
raediato  i!(í   unia  cousa  á  outra. 

SUBJUNCTIVO,  A.  adj.  Que  pertence 
ao  subjunctivo.  —  Conjtincçòet  Bubjuncti- 
vas. 

—  Oração  subjunctiva;  oraçilo  n3o 
principal. 

—  O  modo  subjunctivo. 

—  16.  m.  Termo  de  grammatica.  Modo 
do  verbo  que  exprime  a  existência,  esta- 
do ou  a  acção  em  uma  rclaçilo  de  depen- 
dência com  um  outro  verbo  ao  qual  elle 
está  submettido.  —  Ou  tempos  do  sub- 
junctivo. —  O  subjunctivo  exprime  a 
acçào  de  um  modo  dependente,  subordi- 
nado, incerto,  condicional,  em  summa, 
de  um  modo  não  absoluto,  e  que  suppòe 
sempre  um  indicativo. 

SUBLEVAÇÃO,  ít.  /.  A  acção  de  sub- 
levar-so. 

SUBLEVADO,  part.  pass.  de  Sublevar. 

SUBLEVADOR,  s.  m.  Homem  que  sus- 
cita a  sublevaçrio. 

1.1  SUBLEVAR,  V.  a.  (Do  latim  siible- 
vare).  Levantar  de  baixo  para  cima. 

—  Fazer  que  os  súbditos  se  rebellcm, 
e  se  levantem  contra  o  seu  legitimo  se- 
nhor, superior  ou  rei. 

—  Sublevar-se,  v.  reji.  Rebellar-se. 

—  Revoltar-sc,  amotinar-se. 

2.)  SUBLEVAR,  v.  n.  =  Termo  pouco 
em  liso.  Soceorrer  alguém. 

SUBLIMAÇÃO,  s.  f.  (Do  latim  subli- 
matio.  de  sublimare).  Termo  de  chimica. 
Operação  pela  qual  um  corpo  solido,  vo- 
latilisado  pelo  calor  n'um  vaso  fechado, 
chega  junto  da  parede  superior  d'este 
vaso.  onde  passa  ao  estado  solido  e  ahi 
se  fixa. 

SUBLIMADO,  part.  pass.  de  Sublimar. 
Levantado,  exaltado,  elevado. 

Da  nebulosa  HoUanda  os  Sábios  rejo 
Do  Templo  augusto  omntns  i!itK'imrutnf. 
Que  os  brilhantes  faróos  do  Tibre  arrancão 
l)"cntre  as  sombras,  e  p.''  de  antigos  evos, 
K  com  douto  trabalho  esclarecidos 
Ignorado  thcsouro  ao  Mundo  offcrtào, 
Àos  olhos  perfeiçAo,  lures  A  Mente. 

J.    A.    DK  MACCPO,  VIAeejí  EXTÁTICA,  CAIlt.  4. 

EUa  pode  encantar  Génios  sublimes. 
Cuja  imagem  feliz  n'hum  bronze  ctcmo 
Em  si  conserva  o  siiíjlimculo  Alcaç-ar. 
iBinEsi,  caut.  1. 

O  Indo,  que  dá  nome  á  terra,  fende 
Do  antigo  Poro  os  Tíeinos  fiihlhiwios. 
Os  vítótôs  c-JimiHís  do  Delly  defende 
Dos  Povos  do  Mogol  contrclle  armados  : 


SUBL 


SUBL 


SUBL 


611 


Seu  curso  ao  Reino  de  Cambaia  estende, 
E  aUi,  rasgando  os  mares  empolados, 
Com  tanta  força  vem  ua  crjuorea  vêa, 
Que  o  fluxo  do  Oceano  ao  longe  eufrêa. 

IDEM,  o  ORIENTE,  Caut.  6,  Oãt.  47. 


—  Termo  de  cliimica.  Que  é  producto 
da  sublimação.  —  Metaes  sublimados. 

—  tí.  m.  Termo  de  chimica.  O  produ- 
cto da  sublimação. 

—  Diz-se  sobretudo  de  certas  prepara- 
ções de  mercuuo. 

—  Sublimado  corrosivo;  o  solimuo,  ou 
o  azougue  com  acido  muriatico  subli- 
mado. 

SUBLIMAR,  V.  a.  Termo  de  chimica. 
Elevar  u'um  espaço  livre,  por  meio  do 
calor,  as  partes  voláteis  da  sua  substan- 
cia secca,  e  recolliel-as.  —  Todos  os  me- 
taes são  susceptiveis  de  se  sublimarem 
pela  acção  do  fogo. 

— -  Toma-se  algumas  vezes  também  por 
vaporisar. 

—  Levantar  á  altura  mui  elevada  de 
dignidade,  lionra,  etc. 

-T-  Termo  de  chimica.  Fazer  sublima- 
ção. 

—  Figuradamente  :  Sublimar  o  homem. 
—  dEliano  sublima  tanto  suas  cousas, 
que  affirma  hum  delles  escreuer  versos 
em  Latim,  o  que  eu  tenho  por  fabula.» 
Fr.  Gaspar  de  S.  Bernardino,  Itinerário 
da  índia,  cap.  15. 


Nem  tanto  aquelle  grão  perigo  estima 

Que  deixo  cllo  de  ser  o  dianteiro, 

Nem  o  ofEcio  que  tem  tanto  o  sublima 

Que  nào  seja  ao  que  cumpre  elle  o  primeiro  ; 

E  com  SC  aventurar  esfoi^-a  e  anima 

Para  o  seguir  o  amigo  c  companheiro, 

A  que  o  pelouro  imigo  tanto  enfreia 

Que  descubrir-se  então  muito  arreceia. 

PKANCISCO   d'aNDR,VDE,    PBIMEIBO  cerco   de   DIU, 

cant.  16,  est.  98. 


—  Sublimar-se,  v.  rifl.  Elevar-se  em 
altura,  levantar-se. 

SUBLIMATORIO,  A,  adj.  Termo  de  chi- 
mica. Que  respeita  ás  sublimações,  e  ser- 
ve n'essas  operações. 

—  xS'.  m.  Termo  de  Chimica.  Vaso  que 
serve  para  as  sublimações. 

—  Termo  de  alchimia.  Sublimatorio  dos 
philosophos ;  o  ovo  dos  sábios,  em  que  a 
pedra  se  coze. 

SUBLIMAVEL,  adj.  2  gen.  Susceptível 
de  se  sublimar  chimicamente. 

SUBLIME,  adj.  2  gen.  (Do  latim  su- 
blimis).  Alto,  elevado,  levantado.  —  oE 
como  foi  aquelle,  em  que  o  Reino  chegou 
a  ponto  sublime,  que  todos  tem  antes  de 
sua  declinação,  nada  intentou,  que  dei- 
xasse de  levar  ao  lim  com  prospero  suc- 
cesso.»  Fr.  Bernardo  de  Brito,  Elogios 
dos  reis  de  Portugal,  continuados  por  D. 
José  Barbosa. 

Co'a3  mais  vivas  Paixíjes,  iusig-ne  Ingenbo ; 
Nimio,  no  estudo,  c  nos  prazeres  nimio. 


Néga-lhc  a  Impulsos,  a  índole,  repouso ; 
Irascivcl,  siihlime,  inquieto,  bárbaro, 
Xo  perdão  implacável,  se  oftendido. 

F.    M.    DO  NASCIMEXTO,  OS  MAKTTBE3,    1ÍV.   4. 


Meditação  profunda,  alem  dos  Astros, 
Nas  azas  da  osoaldnda  fantasia, 
Do  Palácio  immortal  mostrou-me  ao  longe 
O  magesto.so  Pórtico,  c  mais  nada. 
Sublime  Alcaçar  destinado  ao  Justo. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  CaUt.  1. 

Eis  meus  sublimes  êxtases  pararão : 
Meditação  profunda  além  dos  Astros 
Jle  fez  voar  na  abóbada  soberba, 
Que  a  habitação  mortal  cobrir  parece. 
O  magestoso  jjavimento  agora 
Eu  devo  contemplar ;  prodígios  novos 
Era  larga  copia  aos  olhos  se  otYerecoin 
Neste  terreno  globo,  alvorguc  humano. 

IDEM,  MEDITAÇÃO,  Caut.   2. 


Dos  ares  cidadãos,  vinde  a  meus  versos. 
Da  Providencia  paternacs  cuidados 
Do  taciturno  Athêo  aos  olhos  brilhão, 
!ío  alguma  ]voz  no  ar  contempla  as  aves. 
Que  pandas  azas  arrogante  bate 
Com  vôo  magestoso  Águia  sublime! 
IBIDEM,  oaut.  3. 


E  somente  o  mortal  soberbo,  c  duro. 
Do  sublime  dever  se  affi-onta,  c  cora 
A  que,  innocentc,  a  voz  da  Providencia, 
Já  destinado  o  tinha,  e  julga  officio 
Apoquentado,  e  vil  d'aluia3  liumildcs 
A  Terra  dividir  com  lizo  arado : 
E  julga  s6  de  gloria  emprego  digno, 
Alastrar  de  cadáveres  a  Terra  ! 


Daqui. não  vem  do  Espirito  siMime 
O  sublime  poder,  que  só  n'hura  ponto 
Vôa,  siibe,  ipcnctra  esto  Universo. 
Que  prodígio  inaudito!  Então  seria 
O  etfeito  inda  maior,  que  a  própria  causa ! 
IBIDEM,  cant.  4. 


Contemplação  sublime !  EUa  me  accende 
Impetuoso  Enthusiasrao  n"alma  ; 
He  este  único  Livro,  onde  medito. 
Onde  estudo ,  ondc'sei ;  elle  a  meu  Canto 
Dá  força,  dá  vigor,  pompa,  harmonia; 
Elle  ao  consorcio  do  supremo  Nume 
Neste  desterro  a  estrada  me  frauquêa. 


Tivorão  tal  idúa  antigos  Sábios, 
Que  tão  sublime  opinião  vestirão 
Das  cores  da  Razão,  qual  tu  fizeste 
Na,  que  eu  to  imito,  extática  viagem, 
Em  que.  profundo  Kcpler,  te  lançaste 
Da  Creação  aos  términos  não  vistos. 
Nem  da  humana  Razão  jamais  marcados. 

IDEM,  VIAGEM  EXTÁTICA,   CaUt.    2. 


E  03  votos  são  suhlimes  pensamentos, 

São  Oftercndas  extasis  ardentes, 

V(5os  da  Mente,  que  se  guinda  aos  Astros, 

Correndo  immenso  espaço.  Aquclla  Dcosa. 

Que  o  berço  tem  nos  ceos,  que  é  dom  dos  Numes 

Que  das  artes  hc  Aíãi.- dollas  hc  premio. 

De  magestade,  e  de  bel!o.za  cheia, 

Taes  holocaustos  com  prazer  acolhe. 


Podem,  meu  filho,  etcmisar  i  o  Mundo 
O  mesquinho  mortal  meus  dons  sublimes, 
E  as  idêas  altíssimas,  e  claras. 


Oh !  Sublime  doutrina  !  Ah  !  Tu  podcste, 
Dentro  da  Escola  de  Florença  outr'ora, 
O  eloquente  escutar  Policiano ; 
Ficine  he  teu  interprete,  e  te  iguala. 

IBIDEM. 

Hum  erro  foi  da  fraca  intelligenoia, 

Não  passa  ao  coração  trauquillo,  e  puro. 

Ama  a  wtude.  O'  Séneca,  foi  este 

Teu  pensamento  nas  lições  sublimes, 

Com  que  a  Lucilio  instrucs  no  honesto,  e  justo. 

IBIDEM. 

Mas  eu  duros  metaes  deixo  nas  sombras. 
Distem  pouco  do  Inferno,  eu  busco  o  Quadro, 
Que  tão  visível  mostra  a  Natureza, 
Só  digno  dos  mortaes,  sublime  estudo! 
D 'alma  Sciciicia  fonte  exuberaute  ! 
IBIDEM,  cant.  4. 

De  meus  sublimes  extasis  desperto, 
E  me  vejo  na  Terra  escura,  e  triste. 
Habitação  do  crime,  e  da  desgraça, 
E  mo  ijarcoe  que  chegara  o  tempo, 
Promcttido  no  extático  Profeta  ! 


—  íÈ  phrase  mui  commum  entre  nós, 
mas  que  não  deixa  por  isso  de  ser  poéti- 
ca e  nobre,  como  são  grande  parte  dos 
modos  de  dizer  familiares.  Convém  mui- 
to distinguir  o  que  é  familiar  n'uma  lín- 
gua, do  que  so  é  vulgar:  aquelle  é  quasi 
sempre  figurado  e  sublime,  este  rasteiro 
e  muitas  vezes  vicioso. »  Garrett,  Camões, 
nota  D  ao  carto  9. 

No  largo  oceano,  em  próspera  bonança 
As  atrc^ndas  naus  vão  navegando. 
Dos  ceos  o  alto  poder  stiUime  e  dino 
A  consellio  as  menores  potestades 
Sobre  tamanha  iniprêsa  convocava. 
IBIDEM,  cant.  7,  cap.  15. 

—  Figuradamente:  Dons  sublimes. 

—  Termo  de  anatomia.  Respiração  su- 
blime ;  respiração  acompanhada  do  movi- 
mento das  azas  do  nariz  e  da  elevação 
do  thorax  durar.te  a  inspiração. 

—  Que  se  eleva  a  uma  grande  altura 
intellectual  ou  moral,  fallando  das  pes- 
soas. —  Génio  sublime. 

Attcnta  escuta  :  a  luz  que  aos  olhos  mostra 
Quanto  em  quadros  ostenta  o  Ceo,  c  a  Terra, 
Brilhava,  e  nào  sabida,  em  fim  do  excelso 
Astro  natal  desceo  génio  sublime. 

J.   A.  DE  MACEDO,  A  SATOBEZA,  Cant.  1. 

Pensamento  foi  teu,  sublime  engenho, 
Quando  de  ignoto  Mundo  a  Mundo  ignoto 
Levaste  a  passear  Matrona  imbelle. 
Do  prazer  filosófico  em  ligeiras 
Azas  de  acceso,  vivo  enthusiasmo. 

IDEM,   VIAGEM   EXTÁTICA,   Cant.    2. 

A  teu  sublime  engenho  a  Natureza 

Sem  véos  se  mostra,  e  desabrocha  o  seio ; 

Tiveste  Bustos,  Inscripçõcs,  c  Templos, 


G12 


SUBL 


SUBM 


SUBN 


Cidades  Hcto  o  Berço  te  disputão  ; 
Poi-  ((UB  és  .suii  fillio  ii  Greciíi  iii<riioje  lio  ;;nitíde 
Dou-tu  inaioi-  bra/.ào,  verteo-tc  lunii  Popi; ! 
IDF.M,  Mh;Dii'Ar;Âo,  caiit.  1. 


—  Geometra  sublime. 


Euti-u  (^rtti!,^  ambos  Maupertuirt  doviso, 
K  sobro  liuin  Globo  estendo  aiiroo  compasso 
Involto  0111  coi-raçõos  do  algente  Pólo, 
Geóiiuítra  sahliine,  os  gnlou  lho  mede. 

IDKM,    VUUKM    KXTAllCA,  Cailt.    3. 

—  o  sublime  pintor  da  natureza. 

No  Cadafali;o  infamo  expira  o  filho 
Do  sahliine  Pintor  da  Natiirrza, 
Sobi-e-hiimano  iSulíou,  que  alli  fulgura. 

J.  A.   I>K  MACEDO,  VIAGKM  EITAIIOA,  Cant.  2. 

—  Exceliente,  iiiagaiíico. 

Quo  mageatosos,  que  sublimes  quadros 
Afamái-ào  teu  Uaiito  ;  se  tu  viras 
Alem  das  Nuvens  ásperas  montanhas, 
Onde  o  mortal  quo  sobo,  observa,  o  uota 
Brilhar  por  cima  o  Coo  sereno  e  claro. 

J.  A.  DE  MAOKUO,  A  NATUREZA,  Cant.  2. 


SUBLIMEÃO,  adj.  Termo  antiquado. 
Eiiiiiuuitc,  grande,  sublimo  como  por  ex- 
cellcncla. 

SUBLIMEMENTE,  adv.  (Do  sublime,  c 
o  .-íuffixo  umeuteu).  Oo  um  modo  subli- 
me. —  FiiUuu  sublimemeute. 

SUBLIMIDADE,  s.  /.  (,Uo  latim  suUi- 
mitds).  Qualidade  do  que  é  sublime.  —  A 
sublimidade  '/"S  jiensamcntos,  da  lingua- 
gem. —  .1  sublimidade   de  uma  sciencia. 

—  Exaltação  na  (.spiritualidadc. 

—  O  ser  superior  á  compi-ehensão. 

—  Figuradamente:  O  alto  ponto  de 
fortuna,  do  honra. 

SUBLIMISSIMO,  A,  adj.  suj)erl.  de  Su- 
blime.  Mui  sublimo. 

SUBLINGUAL,  adj.  Termo  de  anatomia. 
Que  estií  situado  sob  a  língua. 

—  Glândula  sublingual ;  glândula  sa- 
livar que  está  situada  na  espessura  da 
parede  inferior  da  bocca,  abaixo  da  par- 
te anterior  da  lingua. 

SUBLOCAÇÃO,  s.  /.  Termo  de  juris- 
prudência. O  acto  de  dar  de  aluguer  a 
outrem,  o  que  já  se  tem  pelo  mesmo  ti- 
tulo. 

—  O  contracto  do  locai,'ão,  que  o  con- 
ductor  celebra  com  outrem. 

SUBLOCAR,  V.  a.  Termo  de  jurispru- 
dência. Dar  de  aluguel  a  outrem  o  que 
se  tinha  já  alugado. 

—  Fazer  sublocação. 

SUBLUNAR,  adj.  2  gcn.  (Do  latim  sub- 
lunaris).  Quo  está  entre  a  terra  e  a  or- 
bita da  lua.  —  Ka  me  julgo  o  mais  drs- 
graqado  dvs  individuos  sublunares.  — ■ 
«CUama-se  Zodíaco  toma  lo  o  nome  da 
palavra  Grega  Zoi,  que  quer  dizer  vida; 
por  quauto  o  Sol,  e  os  Planetas,  que  dis- 


correm por  aquolles  sígnoa  influem  na 
vida  do  todos  os  sublunares.  Os  nomes 
dos  doze  MÍgnos  .silo :  Aijuarii,  Aries, 
'lauro,  Geininis,  Câncer,  Leo,  Virg/j,  Li- 
bra, E.^icurpio,  Sagitário,  Capricórnio,  e 
Pisces.v  Braz  Luiz  d' Abreu,  Portugal 
medico,  pag.  .õl4.  §  õl. 

—  O  globo,  o  mundo  sublunar;  a  ter- 
ra, c  a  atinosphcra. 

SUBMARINO,  A,  adj.  (Du  latim  sub,  o 
maré).   Pur  ijaixo  do  mar. 

—  Alguns  dizem  submarinho. 

f  SUBMENTAL,  adj.  2  gen.  (Do  latim 
sub,  e  nientum).  Termo  do  anatomia.  De- 
baixo da  barba.  —  Artéria  submeatal. 

SUBMERGIDO,  part.  pas.s.  de  Submer- 
gir. (\ili.rtii  pelas  aguas,  subvertido  pc;lo 
mar,  [leias  ondas,  merguliiado  pela  agua. 
—  Navios  submergidos. 

—  Termo  de  botânica.  Díz-se  das  plan- 
tas quo,  de  ordinário  submergidas,  elevam 
suas  llôres  íijra  da  agua  no  momento  da 
fecundação,  e  descem  para  a  agua  logo 
depois. 

SUBMERGIR,  v.  a.  (Do  latim  submerge- 
re).  (Jubrir  d'agua,  metter  debaixo  da 
agua. 

EneapoUad.is  furiosas  vagas 

Tudo  vão  nub/nergir,  húmidas  praias 

Já  limiti/s  nào  são...  porém  não  temas. 

J,  A.  DE  MACEDO,  A  KATUBHZA,  CaUt.  .3. 

—  Submergir  os  cuidados  em  vinho; 
afogar. 

—  Submergir  o  animo,  o  espirito  em 
trabalhos;  subverter,  opprimir,  mergu- 
lhar, afogar. 

SUBMERSÃO,  s,  /.  A  acção  de  submer- 
gir n'am  liquido. — A  submersão  de  um 
navio. 

—  (íraude  e  furto  inundação. 

— ■  Termo  de  cirurgia.  Submersão  do 
casco;  abater-se  o  casco  com  a  pancada. 

f  SUBMERSÍVEL,  adj.  2  gen.  Que  pôde 
submcrgir-.-^o. 

—  Termo  do  botânica.  Diz-se  de  uma 
planta  aquática  que  se  mergulha  na  agua 
depois  da  florescência. 

SUBMERSO,  jjarí.  pass.  irreg.  de  Sub- 
mergir. 


Segurando  aos  mortíie»,  que  nunca  a  terra 
Submersa  ficaril  nas  turvas  ondas 
De  hum  mar  universal,  onde  aboiAra 
O  Iculio  guardador  da  espécie  humana. 
No  seio,  o  superfície  inda  descubro 
Sinaos  eternos  do  funesto  abalo. 
Na  face  irregular  do  Globo  os  vejo. 

J.    A.    DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Caut.    1. 

SUBMETTER,  v.  a.  Vid.  Sometter.  — 
oE  poi-que  de  todo  n.To  sejais  perfeito, 
fostes  nestes  casos  submetter  a  raz.^o  á 
vontade;  e  então  ticaes  mandado  por  ella 
e  assim  trazeis  o  cuidado  occupado  em 
parte,  onde  por  ventura  se  não  lembrara 
de  vós,  o  que  vos  fazem  esquecer  do  que 


vos  mais  deve  leinbiar.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  101. 
—  «Mas  elle,  inda  qui  a  sua  liberdade 
isenta  té  então  fosse  má  de  submetter  a 
cuidados  namorados,  n.aquella  hora  não 
polc  tanto  sua  iseiiçio,  que  em  alguma 
parte  se  nào  achasse  combatida  dellcs; 
rpie  o  parecer  do  Liunarda  ora  poderoso 
de  fazer  estes  «streuios.  O  imperador 
Vendo  o  caminho  desembaraçado,  disse 
contra  a  priuceza:  Senhora,  quem  antes 
nos  defendia  a  estrada  por  força,  agora 
nol-a  deixa  por  vontade;  vamo-nos  antes 
que  achemos  (|ucm  nol-a  torne  a  impe- 
dir, inda  que  já  agora,  tendo  tal  defen- 
sor do  nossa  parte,  não  sei  de  quem  se 
possa  ter  melo.»  Ibidem,  cip.  111. — 
«Entretidos  em  submetter  e  pôr  a  sacco  as 
opulentas  cidades  do  nicio-dia,  contentes 
com  as  veigas  feracissimas  da  Betiea,  da 
Lusitânia  e  da  Carthaginense  e  com  o  sol 
quasi  africano  que  as  aquecia,  que  vi- 
riam elles  buscar  nas  brenlias  intracta- 
veis  e  frias  da  íiallecia  e  da  Cantábria  ?• 
Alexandre  Herculano,   Eurico,  cap.  12. 

SUBMETTIDO,  part.  pass.  de  Submet- 
ter. Vid.  Somettido. 


Aos  séculos  cu  mostro  o  mar  vencido, 
(Vasto  Império  do  vento  tormentoso) 
Descoberto  o  Oriente,  e  nclle  erguido 
Lusitano  Pendão  victorioso : 
En  mo3ti"o  d'Asia  o  colo  suhmellido 
Dos  Roiâ  de  Lysia  ao  Thro;io  poderoso ; 
E  acclamo  neste  memorando  feito 
Unidos  Povos  mil  com  laço  estreito. 

J.    A.    DE    MACEDO,  O  OBIESTK,  Caut.    1,  CSt.   3. 


SUBMINISTRAÇÃO,  s.  /.  A  acção  de 
submi:.i>trar. 

SUBMINISTRADO,  part.  pass.  de  Sub- 
ministrar. 

SUBMINISTRADOR,  A,  s.  Pessoa  que 
subndnistí  a. 

SUBMINISTRAR,  v.  a.  (Do  latim  *u6- 
viinistrarei.  Acudir  com  o  necessário, 
dar. 

—  Fornecer,  prover,  d;ir. —  Submiuis- 
Irar  pão. 

SUBMISSÃO,  s.  /.  ^Do  latim  submis- 
sio).  Diz-so  ein  opposição  á  elevação. 

—  Obsequio,  obediência. 

—  Figuradamente:  O  contrario  da  al- 
tivez, humildade,  humiliação  espontânea. 

—  Syn.  :  Submissão,  obediência.  Vid. 
este  ultimo  vocábulo. 

SUBMISSO,  jiart.  pass.  irreg.  de  Sub- 
metter. Haixo,  nào  alto. 

—  Humilde. 

Do  Sol,  da  Lua,  a  paraUaie;  nada 
Ha  mister  Magalhacus :  honra,  e  \-ingtui<;a, 
Eis  todo  O  Globo  ciround:ido,  e  os  M«rc3 
-Vos  pés  de  hum  Portugue/.  submi^foi  £cào, 
Ac<;ão  talvez  maior  do  esforço  humano  I 

J.    A.    DE  MACEDO,  VIAGEM   EXTÁTICA,  Cant.   4. 

SUBNEGAR,  v.  a.  Vid.  Sonegar. 


SUBR 


SUBS 


SUBS 


613 


SUBORDENADO.  Vil.  Subordinado. 

SUBORDINAÇÃO,  s.  /.  {Do  latim  subor- 
dinatio,  de  sub,  e  ordinare).  Certa  ordem 
estabelecida  entre  as  pessoas,  e  que  faz 
que  umas  dependam  das  outras.  —  A  su- 
bordinação mantém  a  disciplina  no  exer- 
cito. —  O  espirito  de  subordinação. 

—  Particularmente :  Dependência  de 
uma  pessoa  a  re-<peito  de  outra. 

—  Dependência  em  qua  certas  cousas 
estão  a  respeito  de  algumas  outras. 

—  Termo  de  grammatica.  A  dejDendeii- 
cia  de  um  verbo  em  relação  a  outra  pa- 
lavra da  uieania  plirase.  — Si/ntaxe  de 
subordinação. 

SUBORDINADAMENTE,  adv.  (De  subor- 
dinado, e  o  i^uffixo  «mente»).  Com  sabor- 
diaaeào,  coui  sujeição.  —  Viver  subordi- 
nadamente, 

SUBORDINADO,  j}art.  pass.  de  Subor- 
dinar. Que  é  mandado  estar  ás  ordeus,  e 
dependente  d'outrem. 

—  Pnqjosição  subordinada ;  proposição 
cujo  sentido  depende  da  principal. 

—  Sujeito  ao  arbitrio. 

—  S.  Pessoa  que  está  sob  as  ordens, 
e  dependência  d'outrem. 

SUBORDINADOR,  A,  adj.  es.  Que  põe 
em  subordinação,  que  a  produz,  e  ins- 
pira. 

SUBORDINAR,  v.  a.  Prescrever  subor- 
dinação. 

—  Sujeitar,  fazer  dependência. 

—  Subordinar-se,  v.  reji.  Submetter- 
se,  sujeitar-se. 

SUBORNAÇÃO,  s.f.  Vid.  Soborno. 

SUBORNADO,  [jart.  pass.  de  Subornar. 
Peitail".  Vid.  Sobornar. 

SUBORNADOR,  s.  m.  Homem  que  su- 
borna as  teítemuukas,  os  juizes,  etc. 

SUB  ORNAMENTO,  s.  m'.  Acção  de  su- 
bornar. 

—  Suborno,  subornação. 
SUBORNAR,  V.  a.  (Do  latim  suhornare). 

Corromper  o  animo  de  alguém  para  o  in- 
duzir a  proceder  mal. 

—  Subornar  officios,  cargos;  adquiril-os 
com  suborno. 

—  Subornar  os  soldados  de  um  capitão ; 
para  deixp.rem  o  seu  lado,  partido,  ser- 
viço; corrompel-os,  seduzil-os, 

SUBORNO,  ou  SOBORNO,  s.  vi.  A  acção 
de  subornar. 

SUBPEDANEO,  A,  adj.  Vid.  Supedaneo. 

SUBREGANO,  s.  m.  Termo  antiquado. 
Casal,  ou  prazo,  que  pagava  leitão,  mar- 
rão, ou  espádua  de  porco. 

SUBREPÇÃO,  s.f.  (Do  latim  subreptio). 
O  acto  de  diligenciar  alguma  ordem,  de- 
creto, lei,  bulia  subrepticia,  calando  cou- 
sa ou  circumstancias,  que  sendo  expres- 
sas, não  se  concederia  o  pedido  ou  graça. 

SUBREPTICIAMENTE,  adv.  (De  subre- 
pticio,  e  o  íuffixo  '< mente í).  De  um  mo- 
do subrepticio,  a  furto. 

SUBREPTICIO,  A,  adj.  (Do  latim  sub- 
repticins).  Alcançado  por  surpreza,  com 
engano,   embuste,  e  falsa  informação  que 


se  dá  a  quem  conce  le. — Bulia  subre- 
pticia. 

SUBRIGIO,  s.  m.  Termo  antiquado.  Fi- 
dalgo de  primeira  nobreza,  não  titular, 
immediata  abaixo  de  rico-homem. 

SUBROGAÇÃO,  s.  /.  (Do  latim  subro- 
gatio,  de  subrogare) .  Termo  de  jurispru- 
dência. Acto  pelo  qual  se  subroga.  — 
Segurar  uma  hypotheca  por  subrogação. 
— Subrogação  de  pessoas. — Subrogação 
cZe  cousas. 

SUBROGADO,  part.  jyass.  de  Subrogar. 
Passado  por  herança,  successão. 

SUBROGADDR,  A,  s.  Pessoa  que  sub- 
roga, que  substitue. 

—  Adj.  —  Acto  subrogador;  acto  que 
subroga  um  tutor  a  outro. 

SUBROGANTE,  part.  act.  de  Subrogar. 
Que  subroga,  que  substitue. 

SUBROGAR,  V.  a.  (Do  latim  subrogare). 
Teimo  de  jurisprudência.  Substituir  al- 
guém . 

—  Subrogar  u  ma  cousa  a  outra ;  pol-a 
em  logar  d'ella. 

—  Subrogar-se,  v.  rejl.  Tomar  para  si, 
assumir  o  que  era  d'outrem,  o  de  que  ou- 
trem tinha  o  exercício. 

f  SUBROGATORIO,  A,  adj.  Que  subro- 
ga.—  Acti'  subrogatorio. 

SUBSCES3IV0,  A,  adj.  —  Horas  subs- 
cessivas  ;  horas  que  sobram  do  trabalho,  e. 
que  reservamos  para  recreações  honestas, 
e  ócio. 

SUBSCREVER,  v.  a.  (Do  latim  subscri- 
bere).  Escrever  debaixo  de  outros  vocá- 
bulos. 

SUBSCREVIMENTO,  s.  m.  Termo  anti- 
quado. Assignatura,  subscripção. 

SUB3CRIPÇÃ0,  s.  m.  (Do'  latim  suh- 
scriptio).  O  assignado  abaixo  de  algum 
coutexto  de  palavras. 

—  Summario  do  substancial  das  cartas 
que  el-rei  ha  de  vêr,  e  subscrever. 

—  Lista  dos  nomes  de  pessoas  que  as- 
signam  promessa  de  dar,  ou  contribuir 
para  alguma  obra,  ou  pessoas  dinheiro, 
ou  qualquer  ajuda. 

—  Fechar-se  a  subscripção  ;  preencher- 
se  o  limite  da  sua  conta. 

—  Abrir  uma  subscripção  ;  assignar 
n'ella. 

SUBSCRITO,  ouSUBSCRIPTO,  part.pass. 
de  Subscrever. 

—  ò'.  Vid.  Sobescrito. 
SUBSCRITOR,  ou  SUB3CRIPT0R,  A,  adj. 

e  s.  Pessoa  que  subscreve  o  seu  nome 
obrigando-se  a  entrar  com  certa  somma 
para  alguma  compra,  despeza,  empreza, 
tracto ;  e  particularmente  se  diz  para  a 
edição  d'a]gum  livro. 

SUBSECIVO.  Vid.  Successivo. 

SUB3EGUTIVAMENTE,  adv.  (De  sub- 
secutivo,  com  o  suffixo  «mente»).  Segui- 
damente. 

SUBSEGUIR-SE,  v.  rejl.  (Do  latim  sub- 
sequi).  Seguir-se  imniediatamente,  sem 
metliar  tempo  ou  intervallo. 

SUBSEQUENTE,  adj.  2  gen.   (Do  latim 


subsequens).  Que  segue,  que  vem  depois. 
—  Um  testamento  subsequente  anmilla  o 
primeira. 

SUBSERVIENTE,  adj.  2  gen.  Condes-, 
cendente,  fácil  em  acceder  ao  voto,  ou 
vontade  de  outrem. 

—  Que  serve  com  diligencia,  e  se  ac- 
commoda  servilmente  á  vontade  dalguem. 

SUBSIDENGIA,  s.  /.  Termo  de  phar- 
macia.  Separação  espontânea  das  partes 
ou  fezes,  que  turvam  um  liquido,  sim- 
plesmente em  consequência  do  repouso, 
ou  quietação. 

SUBSIDIAR,  V.  a.  (Do  latim  subsidia- 
re).  Ajudar,  dar  auxilio,  auxiliar. 

SUBSIDIARIAMENTE,  adv.  (De  subsi- 
diário, com  o  suffixo  «mente»).  De  um 
modo  subsidiário,   em   auxilio,   adjutorio. 

SUBSIDIÁRIO,  A,  adj.  Que  vem  em  - 
auxilio  a  alguma  cousa  de  principal. 

—  Termo  de  jurisprudência.  Que  ser- 
ve para  fortificar  um  meio  principal.  — 
líeios  subsidiários. 

—  Figuradamente  :  Estudos  subsidiá- 
rios ;  os  que  facilitam  a  intelligencia,  e 
o  uso  de  outros. 

—  Acção  subsidiaria  ;  a  que  se  dá  aos 
pupillos  contra  os  juizes,  que  lhe.  deram 
maus  tutores,  que  não  tem  por  onde  in- 
demnisem  os  seus  pupillos. 

SUBSIDIO,  s.  »)!.  (Do  latim  subsidium). 
Soccorro  de  dinheiro  que  os  vassallos  dão 
a  seu  soberano. 

—  Soccorro  de  dinheiro  que  um  estado 
dá  a  uma  potencia  alliada,  em  consequên- 
cia dos  tratados  anteriores. 

—  Levantamento  de  dinheiros  feito  pa- 
ra as  necessidades  do  estado. 

— •  Figuradamente :  Subsidio  da  do- 
minação; o  que  concorre  para  a  sua  ins- 
tituição, ou  conservação.  - —  Subsidio  dos 
mortos. 

—  O  subsidio  litterario;  o  tributo  que 
se  paga  para  a  sustentação  dos  professo- 
res de  letras. 

—  Auxilio,  soccorro,  adjutorio.  —  «E 
finalmente  Sotira,  Salpe,  Lais,  Olym- 
pias,  Thebana,  citadas  por  Plinio,  8.  nes- 
tes últimos  séculos  Margareta,  e  Mada- 
ma  Fouqueth,  como  consta  dos  seos  es- 
criptos;  e  outras  muytas,  que  passo  em 
silencio,  porque  lhes  basta,  que  andem 
na  boca  da  Fama;  todas  diligentes  inda- 
gadoras dos  preceitos  desta  preclarissima 
Arte,  para  credito  do  sexo,  e  subsidio 
da  Natur.za.  I)  Braz  Luiz  d'Abreu,  Por- 
tugal medico,  pac  249,  §  77. 

SUBSISTENCIA,"^  s.  f.  (Do  latim  sub- 
sisteniia).  Nutrição  e  mantença. 

—  Permanência,  estabilidade,  e  con- 
servação das  cousas. 

—  Existência  individual,  o  acto  pelo 
qual  uma  subsistência  se  torna  incommu- 
nicavel  a  outra,  como  o  supposto,  e  indi- 
viduo. 

SUBSISTENTE,    part.    act.  de   Subsis- 
tir. Que  subsiste. — Religião  subsistente. 
SUBSISTIR,    u.  a.   (Do  latim  subsiste- 


614 


SUHS 


SU15tí 


SUIiS 


ra,  (lo  Hiib,  c  t^i^turit,  íi-oqiUMititivo  ilo 
estava).  Turmo  do  pLilo.sdpliia.  Exintir  iia 
8UÍI  «ubrttancia,  c  sor  imlividual,  du  ma- 
neira (iu(!  HO  iiilo  podo  coinniunicar  a  ou- 
tra ccmua  como  o  siijiposto  uu  individuo. 

—  Fi;;iiradanionto:  l)iz-sc  de  toda»  as 
cousas  (pio  suljsistein  na  idi^a. 

—  Faliaado  das  pessoas,  viver  e  eii- 
trctcr-80. 

—  Continuar  a  existir,  a  sor.  —  «Sc  o 
mal  não  subsiste  no  calmnidador,  nem 
no  ealumniaio  onde  ko  iof;o  (lue  cu  aclia- 
rcy  a  sua  oxistonciaV»  Cavaliuiro  d'Oii- 
veira.  Cartas,  liv.  1,  n."  õl.  —  «Verda- 
dcyraiuoutc  tonlio  para  mim  c|ue  lic  lium 
mui  em  tal  íVjruia  imaginário,  (luo  me 
lio  (^uasi  impossivol  aehar  o  sogcito  cm 
(juo  subsiste.»  Ibidem. 

E  o  grão  podor  porf(UC  tiithsifte  o  Mundo 
NíViuillo  cxistivÁ,  í|uc  obviga  o  lioiiicm 
A  siiapiMid(M--si^  (íxtíitico,  o  confuso? 
Do.scouc.rto  f:it:il  do  Enteudimento, 
Quci'  tudo  dcxidir,  c  iguoi-a  tudo! 
Quor  em  tudo  rciuav,  c  arrasta  fiTros ! 
O  circuMifutío  Nada  o  aporta,  o  iV.cha, 
O  inliuito  lliii  fogo,  e  ousa  avrostalloV 

J.   A.    DB   MAUKUO,  HBDITAÇÃO,   Callt.   4. 


Dco  Leia  íl  Natureza,  u  as  Leis  xubsintem  ; 
Matoria,  Kapa(;o,  Movimento,  e  Tempo 
Pende  do  aceno  seu.  t'o'  a  voz  s/pmeute 
Tirou  do  Nada  a  niaiiuina  do  Mundo  ; 
Invisível,  presente,  abrange  o  Todo. 

IDKM,  A  NATUltE/.A,  Caut.    1. 


Quaos  pelo  fértil  campo  ao  vento  ondeào 

As  pállidas  lispigas,  tacs  os  Mundos, 

A  voz  do  Eterno  Ser  sn  avan(;.ào  promptos, 

Parào  a  ouvir-lhc  a  Lei,  cscutíio,  voào, 

E  uas  prescriptas  orbitas  se  movem 

IC  sempre  moverão,  ((ue  a  Lei  siihulste 

Té  ((uc  á  Voz  do  Innnortal  suspenda  o  Temi; 

As  nuuca  froxas,  incansáveis  azas. 


SUBSOLANO,  s.  m.  Vento  do  levanto, 
em  (ipp()s'u;.-i()  .-i  favunio. 

SUBSTABELECER,  v.  a.  Estabelecer 
outrem  doljaixo  de   um,  em  sua  falta. 

■ —  Sul.)rup;ar. 

—  Substituir. 

SUBSTABELECIDO,  part.  jmss.  de  Sub- 
stabelecer. 

SUBSTABELECIMENTO,  s.  m.  A  ac^ao 
de  substabelecer,  as  palavras  com  quo  se 
substabelece. 

SUBSTANCIA,  ou  SUSTANCIA,  s.f.  (Do 
latim  su/>í:l(tiili(i,  de  t:nò,  e  atitrc).  Termo 
do  pliilosophia.  O  que  subsiste  por  si  mes- 
mo, ditVcriailo  do  aceideute  que  S(j  subsis- 
te no  individuo. 

—  Aqui  Ho  ([ue  é  como  base  das  proprie- 
dades, qualidades,  attributos  e  accidentos 
das  cousas  corporaes,  e  espirituacs. 

—  O  quo  luv  de  essencial,  e  importan- 
te n'iun  cscripto,  n'um  acto,  n'um  nego- 
cio, etc.  —  «A  substaucia  da  qual  em- 
baixada orjio  oftbrccimentos  do  sua  pes- 
soa e  do   seu   Koyno,  o  quauto  desejaua 


Hua  aiiii/.ad(!  e  commorcio  das  couBas  que 
cm  l/ortii^íal  auia  ]n:r  ci>mmuta(;?to  da« 
quo  tiiilia  o  Hcu  reyiio.»  liarros,  Década 
1,  liv.  .'),  cap.  i».  —  «F(;rquc  a  substan- 
cia da  carta  que  cUes  e8crcueia(">,  era 
cripaiit.ircmiie  como  cllo  tractaua  mal  as 
cousas  de  (Jalecut,  o  qual  estaua  com 
grande  dosojo  do  o  receber  pêra  assen- 
tar paz,  amizade  c  commcreio  da  manei- 
ra que  ello  ({uisesso,  por  terem  sentido 
que  o  Camorij  ncrdiuma  cousa  matis  de- 
sejaua.» Ibidem,  liv.  6,  cap.  3.  —  cA 
substancia  da  qual  vinda  era  pedirem 
paz,  e  qiio  clRey  se  queria  fazer  tribu- 
tário (relRoy  do  Portugal  (|ue  pcra  o 
passado,  bastasse  por  satisfaçai"»  d'alguma 
culpa  se  a  tiniiaí")  em  defender  sua  terra, 
a  morte  de  seu  fillio  e  do  nmitos  que  o 
aconqjauharão  ncUa.  «  Ibidem,  liv.  7, 
cap.  4. —  «Fez  lei  no  anuo  de  M.  D. 
XV.  em  Lisboa,  perque  declarou  que 
qualquer  cscriuriu  da  fazenda  ou  da  ca- 
mará, que  no  sumario  dos  aluaras  dis- 
crei)assc  da  substancia  do  original  fosse 
degradado  peia  Ilha  de  S.  Thome,  e 
perdesse  o  officio,  e  toda  sua  fazenda 
amctade  pcra  quem  o  acusasse,  e  a  ou- 
tra amotade  pêra  sua  camará,  e  que  os 
aluaras  nam  tiucssem  vif;or.»  Damião  de 
Gocs,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  4, 
cap.  8(5. —  nE  hum  dia  estando  elle  es- 
creuendo  pcra  el  lley  de  Castella,  o  eu 
so  com  elle  no  escritório,  por  eu  ver  ser 
cousa  de  muyta  substancia  estaua  com 
o  rosto  virado  pcra  outra  parte,  e  elle 
querendo  a  pena,  quando  me  vio  estar 
virado  disse.»  Cíarcia  de  Rezende,  Chro- 
nica de  D.  João  II,  cap.  201.  —  a  Mas 
poniue  (is  verdadeyros  descubridores  de 
suas  fontes  foram  os  nossos  Portugueses, 
pcra  quem  Doos  tinha  guardado  seu  des- 
cobrimento, com  outros  de  mais  substan- 
cia, a  cuja  conta  ricou  dar  a  vcrdadcyra, 
e  mais  certa  rclayào  delias.»  Fr.  (i aspar 
de  S.  Bornardino,  Itinerário  da  índia, 
cap.  21. 

—  Jlateria  de  que  um  corpo  ò  forma- 
do, e  em  virtude  da  qual  tom  proprieda- 
des iiarticulares.  —  «No  mcyo  da  sub- 
stancia do  cérebro  se  observa  certa  par- 
ticula  mais  dura,  e  cândida,  a  qual,  se 
chama  Medida  do  Cérebro ;  e  por  razaõ 
da  dureza  se  denomina  também  Corpo 
culluzo:  no  meyo  deste  corpo  se  desco- 
brem dous  ventrículos  chamados  anterio- 
res, superiores,  dextro,  e  siiiist7-o,  ou  la- 
teraes  e  estes  dous  saíS  os  mais  amplos,  e 
dillatados  ventrículos  do  cérebro.»  Hraz 
Luiz  d'Abreu,  Portugal  medico,  pag.  64, 

§  :«. 

—  Termo  de  anatomia  gorai.  Substan- 
cias ortianicas,  ou  principies  iinmedia- 
tos;  corpos  líquidos  ou  sólidos,  quo  nào 
s.MÍo  nem  crystallisaveis,  nem  voláteis  em 
decomposii,'ào. 

—  Diz-se  dos  seres  espirituacs,  em  op- 
posiçrio  aos  seres  inaleriaes. 

—  Aquillo  que  subsiste  por  si. 


Ttaiigilo  da  {ngil  vida  a  infltuvnl  tí^n ; 
C^uuiido  «u  acaba  a  pjiz,  c  o  lai;o  cst&lA 
])|)^  eii-iii',Mito»  na  iniirtal  imbflnncin. 
Abre  o  grcinio  outra  vez,  o  o.i  deuprczado» 
Trofeofl  da  crua  morte  c»cond<!,  c  fecha. 

J.   A.   UL  MACKIJO,  A  NATCKKZA,  Caut.  2. 

Ob  fogo  activo,  inc/ignita  imljflaitcia! 
Ilapidiítsimo  fluido,  >|uc  abraiigi^g 
A  Natur(;za  inbiira,  a  mão  do  Eterno 
'l'o  imprime  o  vivo,  accelcrado  ui<jto ; 
Ella  no-i  corpoií  te  concentra,  e  guarda, 
niiucu. 

E  «nrá.í  sempre  occulta  á  tnciito  liuinana, 
Siihnlatvin  <;lem(!ntarV  Qual  atrevido 
Proiiictlico  de.íin-egou,  desliro  as  azas 
A  devassar  da  Natureza  o  seio : 
Agriís  vereda.'»,  íngreme  caminho ! 
Mil  conductorea  me  oílerecc  a  Kiioila ; 
Maa  entre  bintoa  dirídído  fica, 
Su»i)Cn80  o  vôo  do  fervente  engenho. 

IBIDIUl. 

No  'l'odo  descoljrío  principio  activo, 
Agitador  espírito  entranhado 
Pela  infinita  (sorporal  HLhstanria  ; 
Movimento  lhe  dá,  calor,  c  vida. 
iDiDEU,  caut.  4. 

E  que  outra  cousa  he  Deu»,  clama  o  sublime 
Profundo  preceptor  do  ingrato  Nero, 
Mais  do  que  a  eterna,  imaicoda  Natureza, 
De  (pie  attributos  sào  snljslannia  cxtenaa, 
E  pura  intellec(;ào,  foríja  dirina, 
Que  todas  as  por(;õc3  do  corpo  anima ! 


Applaude  o  erro  do  Romano  Vate, 
Qm;  Imma  milinlaneia  a6  n'Orbc  conhece 
líizendo  afouto  em  Verso  alti-nonante 
•  Tudo  o  que  vês,  o  o  que  nào  vê»  he  Jovc.» 

IDFM,   \°IAGF.M  KXTATICA,  Cant.   2. 


Abrem  primeiro  ao  Panteísmo  a  porta ; 
Á  idéa  tua,  <5  Luso  lãraclita. 
Quando  encaraste  a  única  »>ih»tanexa 
(,)ue  vária,  e  só,  modificíida  existe. 
Ilum  véo  sobro  este  pi'lago  lancemoa, 
Colhe  só  no  Parnaso  amenas  flores. 


Com  cUc  huma  substancia  oní  Dooâ  aò  vira : 

Infinita  c.\tensào,  e  os  modos  vários. 

Membros  de  hum  corpo  sõ.  mas  infinito. 

Do  Preceptor  de  Nero  este  o  deiirio ! 

Tem  limite  o  vastíssimo  Oceano, 

Intr.ansgrcdiveiâ  a  Kazão  tem  marcos. 

Nem  pode,  al<!'m  dos  qnacs,  dar  maisbam  passo. 

IBIDEM. 

Piza-so  a  immensa  fluida  siibsianeia, 
E  yX  sridior  do  Afar  n'hum  curvo  Lenho. 
Nao  lhe  basta  ao  mortal  da  Terra  o  Sceptro. 
IBIDEM,  cant.  4. 

Ethoreo  assopro  a  maquina  dirige. 
Assopro  animador,  simples,  activo, 
(^•uha  de  sempre  existir,  siibsiancia  pura, 
Pcnaa,  prevê,  rccorda-ac,  rcfloctc, 
N'um  ponto  sobe  ao  Coo,  n'hum  ponto  deacc. 

IDKM,  A   NATUaEZA,  COnt.    í. 


Mas  incógnita  a  nós  julgas.  quTio  casa 
Substancia  elementar  ?  Qual  atrevido 
Promethco  despregou,  desfiro  as  axas 


SUBS 


SUBS 


SUBT 


615 


A  dovasaax"  da  Natureza  o  seio, 
Agras  Veredas,  iiigreme  caminho ! 
IBIDEM,  caiit.  2. 

He  substancia  subtil,  ligeira,  e  viva, 
A  quem  luz,  e  calor  continuo  seguem, 
E  o  mais  ignoto  ás  gárrulas  Escolas. 


—  Figurarlamente :  O  qixe  nutre  o  es- 
pirito como  a  substancia  nutre  o  corpo. 

—  A  principal  furça,  poder,  riqueza  da 
terra,  do  estado. 

—  Naus  cie  'pouca  substancia ;  naus  de 
pouca  carga. 

—  Caldo  substancioso, 

—  A  parte  nutritiva  e  alimentosa.  — 
«Dà  hum  ladrão  destes  tímidos  em  huraa 
Alfandega,  tira  o  miolo  a  duas  caixas  de 
açúcar,  e  naõ  repara  em  derreter  huma 
dúzia  delias  com  agua  que  lhes  botou  por 
cima,  para  que  se  cuide,  que  o  mesmo 
caminlio  levarão  as  duas,  cuja  substancia 
elle  encaminhou  para  sua  casa,  e  que  as 
humidades  do  mar,  e  do  sitio  obrarão 
aqueUe  mào  recado.»  Arte  de  furtar, 
cap.  24. 

—  Loc.  ADv. :  Em  substancia;  sum- 
mariamente,  em  resumo. 

SUBSTANCIADO,  pari.  ^^ass.  de  Sub- 
stanciar. 

SUBSTANCIAL,  aàj.  2  gen.  (Do  latim 
substantíalig,  de  substantia).  Termo  de 
philosophia.  Que  pertence  á  substancia 
de  alguma  cousa.  —  A  santidade  sub- 
stancial e  incarnada. 

—  Alimentoso,  cheio  de  substancia  nu- 
tritiva. —  «Sermão  bem  feito  mas  grande 
é  como  banquete  esplemlido  de  iguarias 
delicadas  e  substanciaes ;  come  a  gente 
com  gosto,  mas  em  meio  do  banquete 
está  saciada  e  talvez  com  fastio;  e,  se  o 
tempero  ou  falta  de  sal  desagrada,  mais 
cedo  chega  a  naiizea. »  Bispo  do  Gríio 
Pará,  Memorias,  publicadas  por  Camillo 
Castello  Bianco,  pag.  135. 

—  Figuradamente:  Essencial,  impor- 
tante. 

—  Diz-se  das  obras  do  espirito.  — ■ 
Dir-vos-hei  o  que  ha  de  substancial  neste 
livro, 

■ — Que  contém  cousas  importantes. 

—  Substantivamente :  O  substancial 
de  uma  cousa.  —  «O  mais  substancial 
de  sua  embaixada  era  tratar  casamento 
do  Archeduque  Daustria  dom  Carlos  com 
a  Infante  donna  Isabel  sua  iilha,  e  do 
Principc  dom  loão  seu  filho  com  a  Infante 
donna  Leanor  irmãa  do  mesnio  dom  Car- 
los.» Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  4,  cap.  1. 

SUBSTANCIALMENTE,  adv.  (De  sub- 
stancial, e  o  suffixo  «mente»).  Quanto  á 
substancia.  —  No  Sacramento  da  Eucha- 
ristia  recebe-se  o  corpo  de  Ckristo  real  e 
substancialmente. 

—  Em  substancia. 

—  Importante,  e  mui  utilmente. 


f  SUBSTANCIALIDADE,   s.  /.  Natureza 

substancial. 

t  SUB3TANCIALISAR,  v.  a.  Conside- 
rar como  substancia. 

SUBSTANCIAR,  v.  a.  Termo  de  medi- 
cina. Dar  comeres  substanciaes  para  da- 
reuí  força  o  vigor. 

—  Expor  em  substancia,  summaria- 
mente. 

—  Vigorar,  dar  forças. 
SUBSTANCIOSO,  A,  adj.   Que    dá   sub- 
stancia, que  nutre,  vlíjora. 

SUBSTANTIFICO,  A,^adj.  Termo  de  mo- 
dina.  Que  nutre,  substancial,  de  sub- 
stancia. 

SUBSTANTIVADAMENTE,  adv.  (De 
substantivado,  e  o  suffixo  «mente»). 
Usando  do  adjectivo  como  se  fora  sub- 
stantivo. 

SUBSTANTIVADO,  part.  pass.  de  Sub- 
stantivar.—  Adjectivo  substantivado;  ad- 
jectivo que  se  usa  como  se  tora  substan- 
tivo. —  (_)  aqradavel,   o   útil. 

SUBSTANTIVAMENTE,  adv.  Á  maneira 
de  substantivo.  —  Muitos  adjectivos  se 
tomam  substantivamente. 

SUBSTANTIVAR,  v.  a.  —  Substantivar  os 
adjectivos;  usar  d'elies  substantivados. 

SUBSTANTIVO,  A,  adj.  Diz-se  todo  o 
nome  d'ente  designado  pela  idêa  de  sua 
natureza,  ou  de  sua  svibstancia. 

—  Final  substantivo  ;  tinal  que  per- 
tence aos  substantivos. 

—  O  verbo  substantivo ;  o  verbo  ser, 
que    expiúme  a  existência  por  si  mesmo. 

—  Termo  de  chimica.  (JOres  substan- 
tivas ;  cores  que  se  combinam  com  os 
estofos  em  virtude  da  sua  affinidade  pró- 
pria. 

—  Substantivamente :  O  substantivo  e 
o  adjectivo. 

SUBSTAR,  V.  n.  Vid.  Sobrestar. 

SUBSTATORIO,  A,  adj.  —  Mandado 
substatorio  ;  que  ordena  sobrestar  na  exe- 
cução de  alguma  ordem,  sentença. 

SUBSTITUIÇÃO,  s.  f.  A  acção  de  sub- 
stituir, ou  ser  substituído. 

—  Substituição  pupillar;  aquella  em 
que  o  pae  se  nomeia  herdeiro  em  falta  de 
filho  seu,  menor  de  quatorze  annos,  por 
morte  d'esse  filho,  ou  por  elle  não  fazer 
testamento,  ain.da  que  herdasse  o  pae. 

—  Substituição  vulgar;  a  de  um  her- 
deiro em  falta  de  outro. 

SUBSTITUÍDO,  part.  pass.  de  Substi- 
tuir. Posto  eui  logar  d'outrem. 

—  Bens  substituídos ;  bens  transmit- 
tidos  por  substituição. 

—  S.  m.  Aquelle  que  c  herdeiro  por 
substituição.  —  O  substituído. 

SUBSTITUIR,  V.  a.  (Do  latim  substi- 
tuere,  de  sub,  e  statuere).  Pôr  uma  pes- 
soa, uma  cousa  no  logar  d'outra. 

—  Termo  de  jurisprudência.  Appellar 
alguém  para  uma  successão  depois  de  um 
outro  herdeiro,  ou  na  sua  falta. 

—  Diz-se  do  mesmo  modo  das  heran- 
ças que  se  deixam  por  substituição. 


—  Substituir  tíwrt  cadeira ;  fazer  as  li- 
ções, ou  prelecções  d'ella  em  vez  do  len- 
te proprietário. 

SUBSTITUTO,  A,  í.  Pessoa  que  exerce 
as  funcçòes  de  uma  outra.  —  «Em  Cas- ' 
tella  com  o  Rey  D,  Pedro,  em  Finança 
com  Gilperio,  em  Suécia  com  Christier- 
no,  em  Dinamarca  com  Herico,  em  Por- 
tugal com  D.  Sancho  Capello,  que  foy 
excluído  do  governo  por  sua  frouxidão,  e 
teve  a  seu  irmaõ  o  Conde  de  Bolonha 
por  seu  substituto.»  Arte  de  furtar,  ca- 
pitulo 16. 

SUBSTRACÇÃO,  s.  f.  Penitencia  canó- 
nica do  tei-ceiro  grau,  que  se  impunha  na 
primitiva  egreja. 

SUBSTRACTÒ,  A,  adj.  Prostrado,  liga- 
do pelas  carnes  peuitenciaes  á  pena  de 
substraeção. 

7  SUBSTRATUM,  s.  m.  (Do  latim  sub- 
stratiim,  de  sub,  e  strcdum).  Termo  de 
philosophia.  O  que  existe  nos  seres  inde- 
pendentemente de  suas  qualidades,  e  o 
que  serve  de  base  a  elles. 

SUBSTRUCÇÃO,  s.  /.  (Do  latim  sub- 
stnictio).  (J  fundamento  de  um  edifício, 
construcção  subterrânea. 

—  Diz-se  particularmente  dos  edifícios 
antigos,  nas  ruínas  dos  quaes  se  levanta- 
ram modernos. 

SUBSULTAR,  v.  n.  (Dn  latim  subsulta- 
re).  Termo  de  poesia.  Saltar  muitas  ve- 
zes. 

SUBTENDER,  i;.  n.— Linha  que  sub- 
tende o  arco;  linha  que  lhe  fica  sub- 
te''sa. 

SUBTENSA,  .9.  /.  Termo  de  geometria. 
Linha  tirada  dos  extremos  de  dous  lados 
que  furmam  um  angulo  opposto  a  ella; 
fica  por  baixo  do  arco  descripto  de  um 
extremo  ao  outro  dos  mesmos  lados. 

—  Adjectivamente :    Linha    subtensa. 
SUBTERFÚGIO,  s.  m.   (Do  latim  subter- 

fugium).  Jlcio  artificioso  para  se  livrar 
de  um  embaraço. 

SUBTERFUGÍR,  v.  n.  (Do  latim  suòter- 
f}igere).  Fugir,  escapulir  com  algum  sub- 
teidugio. 

SUBTERRÂNEO.  Vid.  Soterraneo.  — 
«Assim  precedeo  também  à  batalha  de 
Canas  huma  profusíssima  expiração  de 
fogos  subterrâneos  no  Monte  Mongibelo, 
como  Icndira  Silio ;  e  semelhante  succes- 
so  se  anticipou  também  ao  roubo  de  Pro- 
sérpina, como  Claudiano  nota  e  o  des- 
crevo Appiano.»  Braz  Luiz  d  Abreu,  Por- 
tugal medico,  pag.  414,  §  55. 


Pelas  gargantas  de  oscilantes  montes 
Este  fogo  central  se  arroja,  e  sobe ; 
Torrentes  subterrâneas,  donde  uascem 
Sulfúreas  agoas  férvidas,  que  torna 
Úteis  á  ^^da  a  mão  da  Mediciua. 

J.   A.   DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Cant.   2. 


o  crime  a  perturbou,  ficaste  mudo 
Na  triste  noite,  que  ao  fatal  delicto 
Primeira  se  seguio :  roncos  medonhos 


616 


SUBT 


SUBT 


SUBT 


Do  embravecido»  mares  »o  oitciitilrAo, 

éliiblr.rraiieoi  trovõor),  ir<'«;i;ii;()  il  mii.ii;o. 
IIIIUKM,  Cilllt.    3. 


SUBTERRAR.   Vi^l.  Soterrar. 

SUBTERREO,  A,  nJj.  (Do  latim  snb- 
terretis).  Suliturruiico,  (juo  cstii  debaixo 
da  turra. 

SUBTHESOUREIRO.  Vid.  Sobthesou- 
reiro. 

SUBTIL,  afij.  2'gcn.  (Do  latim  suhti- 
lis).  Delgado,  tino,  tonuo. 

Manda  vir  das  cstancinH  o  qiio  inteiro 
E  o  que  ncUiiii  c.-itó  inullioi-  armjido, 
Manda  t[w  lá  iio  iiiiigo  o  csjjiiifíardeiro 
Súltii  o  cluiinbo  siihlil  arjcbatado, 
Que  iin|)Oriâivc>l  8CiA  não  ser  certeiro, 
Tauto  dos  Turcos  he  tudo  occupado. 
Ma»  o  inie  agora  quer  dii^er  meu  canto 
Ku  sei  que  dará  a  todos  fíosto  e  espanto. 

FBA!l(!ISCO   DANDRinK,    1'UI.MKIItO  CURCO    DB   BIO, 

caut.  19,  est.  88. 

Porque  o  chumbo  nubtil  também  lho  clioga 
Que  d'outra  parte  s  Uta  outra  espingarda  ; 
Cahe  morto  este  também,  e  aqucUc  honrado 
Entra  de  dous  no  inferno  acompanhado. 
iniDi-.M,  caut.  li),  est.  Oi. 

Do  agudas  lan(;as  esquadrão  cerrado 
A  já  vingada  espiga,  escuda,  c  fecha : 
Com  seu  pezo  opulenta  inclina  a  fronte, 
Assim  da  tempestade  esquiva  os  golpes. 
A  pragana  subtil  o  assalto  veda 
A'  mui  voraz  sofreguidão  das  aves. 
j.  A.  DK  sucKno,  MKnirAÇÃo,  caut.  3. 

O  subtil  instrumento  he  obra  sua. 

Que  desde  a  Torra  ao  Ceo  modo  a  distancia ; 

Do  maior  dos  mortaes  nas  màos  o  entrega 

O  Nauta  rortugnez,  Senhor  dos  Mares, 

Que  he  ser  dcUcs  Senhor  dar  volta  ao  Globo, 

Som  outra  guia  mais  que  csfor(;o,  o  honra, 

E  a  vingani;a  também,  mas  d'huma  afronta. 

IDEM,  VIAGEM  EXTÁTICA,  CaUt.  2. 

Ab  roscas  faces,  a  nevada  fronte, 
As  douradas  madeixas,  que  fluctuão 
Como  cm  ondas  subtis  no  ebúrneo  coUo, 
A"8  Letras  dão  mais  luz,  brilho  ás  Scicncias : 
Talvez  30  illuda  o  nosso  entendimento  : 
Mas  ditosa  illiísào,  ditoso  engano ! 


No  rovolto  Oceano,  onde  hoje  as  ondas 

Furiosas  mugindo  aos  ares  sobem, 

Quaes  montanhas  dVispuma  onde  hoje  os  Ventos, 

Como  implacáveis  Drspotas  pelcjào, 

A  paz  então  reinou,  Zetiros  meigos 

Pelos  aros  subtis  equilibrados 

Da  liquida  plauicic  a  face  incrcspào. 

IDEM,   A  NATUREZA,  Cant.     1. 

Elástico,  subtil,  presente,  occulto, 
Que  pelo  espaijo  imnienso  abrange  os  Corpos, 
Sempre  agitado,  c  fluido  se  miíve. 
Se  a  for(;a  o  comprimio,  mais  for(;a  adquiro. 
IBIDEM,  caut.  2. 

Não  tom  n'aljftva  amor  setta  mais  doce ! 
Mas  com  que  força  o  braijo  omnipotente 
Do  ar  subtil  a  maquina  sustenta  ! 
Qu'  exacta  proporijào,  qu"  oxacto  acorde 
Vejo  entro  o  ar,  c  os  corpos  luminosos ! 


DcBto  fogo  guLlil,  parto  do  Inferno, 

Eléctricas  uor(;ricrt,  (\n'  etieito»  obruo 
No  Bisio  maternal,  licu  ubra/ado 
Sem  vér  do  dia  a  luz  mimoso  Infante ; 
Quasi  autos  do  viver,  já  BoHro  a  morto. 


Canta  as  can(;ues  los  tempos  que  jiaBsaram 
Ao  som  da  harpa  invisivcl  i|uc  lhe  tangem 
Os  domados  espiritoa  que  a  servem. 
Como  o  subtil  Aricl,  por  invcucivel, 
Incantado  feiti(;o... 

GAHBKTr,  CAMÕES,  caut.  7,  cap.  1. 

—  Que  é  da  natureza  de  penetrar.  — 
Um  vaneno  subtil. 

—  Diz-se  dos  Hentidos  fjuo  tem  agude- 
za. —  Ttr  u  ouvido  subtil. 

—  Euibarcui^ão  subtil;  eniljarca^rio  levo 
e  pequena. 

—  Jnlerpretaçno  subtil. 

—  Subtil  enyenhn. 


Matérias  dignas  são,  que  cm  toda  a  parte 
Delias  cante  o  subtil  engenho  agudo 
A  virtude,  a  sciuncia,  o  governo,  a  arte. 
Dote  hum  da  natureza,  outro  do  estudo ; 
Ma.s  as  obras  do  fero,  horrendo  .Marte 
Como  em  honra  e  louvor  passào  por  tudo, 
Assi  também  matéria  são  mais  dina 
Do  quo  mais  gastou  d'agua  Cabalina. 

P.   d'aNDRADE,  PltlUEIBO  CEBCO  DE   DIU,  Caut.    17, 

est.  2. 


—  Diz-se  também  das  peíssoas.  — 
((Nào!?  Parece  impossível,  meu  excellen- 
tc  amigo,  que  nào  alcanceis  de  golpe  o 
que  quero  dizer;  vr)s,  que  sois  t3io  subtil. 
Ôlhac!  Contar-vos-hei  uma  historia.»  A. 
Herculano,  Monge  de  Cister,  eap.  16. 

—  Subtil  imitido. 

Tal  manha  buscou  ja,  para  que  aquelle 
Que  de  Auchises  pario,  bem  recebido 
Fosse  no  campo,  que  a  bovina  pello 
Tomou  de  espaço,  por  subtil  partido. 
Seu  filho  vai  buscar,  porque  só  nelle 
Teem  todo  seu  poder,  fero  Cupido ; 
Que  assi  como  nar|uella  empresa  antiga 
A  ajudou  ja,  nesfoutra  a  ajude  c  siga. 
OAM.,  Lus.,  cant.  9,  est.  23. 

—  Matéria  subtil ;  matéria  mais  del- 
gada que  o  ar. 

—  Fino,  engenhoso ;  fallando  das  cou- 
sas. 

SUBTILEZA,  í. /.  (Do  latim  ntbtilitau). 
Qualiilaik;  do  que  é  subtil. — .á  subtile- 
za (/"  veneno.  —  A  subtileza  do  esi)irito. 

—  «No  pé  da  rocha  tolas  aqucllas  aguas 
se  recoluiam  em  tanques  cercados  de  uma 
pedra  cristalina  lavrada  do  maçonaria 
d'obra  romana,  cheia  de  tanta  subtileza 
c  galanteria  pêra  dar  contentamento  aos 
olhos  quanto  ao  juízo  humano  seria  tra- 
balhoso eomprehendor. »  Francisco  de  ilo- 
raes,   Palmeirim    d'lnglaterra,  c.np.   \'20. 

—  «E  prouvera  a  Doos,  que  uaõ  tivera 
tanto  do  nobro,  naõ  s.)  peio  que  llie  con- 
cedemos do  suas  subtilezas,  senaõ  tam- 
bém, pelo  que  lho  negai5  outros  da  ma- 


téria, em  quo  se  occupa,  o  sugeitos,  em 
que  Ko  aclia.»  Arte  de  furtar,  cap.  2. 

—  Termo  de  tlieol<.;.'ia.  O  dote  sobre- 
natural en)anado  da  alma  ;.'loriosa,  pelo 
qual  o  corpo  «e  torna  capaz  do  penetrar, 
<;  couip<!n«ítiar-»e  cohj  outro  corpo. 

—  Subtileza  de  mãos;  a  de.ítrcaa  com 
que  Hc  faz  com  fila»  alfruma  couca  «cm 
BC  entender,  ou  «cntir  o  como. 

—  Figuradamente :  Subtileza  de  enge- 
nho; delicadeza;  que  percebe,  e  inverte 
cousa»,  e  razões  delicadas,  abstractas. 

—  Sy\.  :  Subtileza,  aslucia,  ardil,  ar- 
teiricc,   tarjacidade. 

Em  sentido  material  bc  chama  subtile- 
za a  tenuidade  de  um  corpo  dcl^^a  lo  o 
tonue.  Em  Bcntido  metaphorico,  subtile- 
za é  jjerspicacia  de  engenho.  Em  nentido 
morai,  subtileza  ó  a  qualidade  de  um 
talento  perspicaz,  o  qual  examina::do  miu- 
damente a»  cousas,  ob.servafjdo  a.s  diffc- 
rente.s  partes  entre  si  e  as  suas  relações 
ou  com  o  todo  e  com  as  circumstancias 
e  objectos  exteriores,  chega  a  conhcccl-os 
de  um  modo  mais  claro  e  positivo  que 
aquelles  que  não  p;ozam  d'e.^ta  qualirla- 
dc ;  tendo  sobre  elles  o  que  é  dotado  de 
engenho  subtil  a  vantagem  de  poder  di- 
rigir-se  melhor  em  todos  os  seus  pensa- 
mentos e  acções.  A  subtileza  c  uma  qua- 
lidade boa  em  si,  útil  e  apreciável,  raaa 
detestável  quando  se  faz  aso  d'ella  para 
maus  fins. 

A  astúcia  6  uma  subtileza  manhosa, 
que  ordinariamente  se  emprega  em  fazer 
damno  e  fraudar.  Alguma"!  vezes  toma- 
se  também  á  boa  parto. 

O  ardil  é  astúcia  com  que  se  quer  lo- 
grar algum  intento,  e  se  verifica  deslem- 
brando e  enganando,  e  sobretudo  enco- 
brindo com  fingidas  apparencias  o  mal 
que  se  quer  fazer.  A  astúcia  occulta  m.-ls 
intenções ;  o  ardil  seus  passos  e  meios : 
a  astúcia  adianta,  mettendo-se  na  sul)ti- 
leza;  o  ardil  no  disfarce  com  que  pro- 
cede, 

A  arteiricc  c  palavra  antiquada  que 
significa  astúcia  má,  enganosa,  fraudu- 
lenta: toma-se  sempre  cm  má  parte.  A 
arteirice  consiste  especialmente  no  artifi- 
cio e  mentira  com  quo  procede  o  arteiro. 

A  sagacidade  è  a  penetração  do  espi- 
rito que  consiste  em  descobrir  o  que  é 
mais  difficil  e  occulto  nos  negócios,  etc. : 
também  significa  o,  astúcia,  com  que  se 
inventam  e  traçam  os  meios  de  alcançar 
alguma  cousa,  e  se  presentem  os  embara- 
ços, e  di'=cobrcm  os  meios  de  os  ata- 
lhar. 

SUBTILIDADE,  .«.  /.  Del.eadeza,  gran- 
de tcnui  i.ado  do  c^rpo  cu  de  SU.1S  partes. 

SUBTILISAÇAO,  ou  SUBTILIZAÇÃO,»./. 
Termo  de  cliimica.  AcçSto  de  snbtilisar 
certos  líquidos  polo  calor  do  fo^o. 

-}■  SUBTILISADO.  ouSUBTILIZADO.part. 
pii.<:s.  do    Subtilisar.  T.  rrad.i  subtil. 

SUBTILISADOR,  oa  SUBTILIZADOR,  A, 
s.   Inventor  de  subtilezas. 


SUBU 


succ 


succ 


617 


SUBTILISAR,  ou  SUBTILIZAR,  v.  a. 
Tornar  subtil,  delicado,  penetrante. 

—  Adelsayar. 

—  Keiiuzir  a  pó  subtil. 

—  Discorrer  com  subtileza,  disputar 
subtilmente. 

—  Inventar  com  delicadeza. 

SUBTILIS3IM0,  A,  adj.  superl.  de  Su- 
btil. Mui  subtil. —  «Ceo  racional,  ou  Mar 
animado  o  descreve  o  subtilissimo  Ca- 
raffa  i.  Como  Ceo,  saõ  nelle  estrellas, 
os  olhos;  Sol,  o  entendimento;  espheras, 
os  sentidos.  Tem  por  Lua,  a  vontade ; 
por  signos,  as  delineações:  por  Planetas, 
os  membros;  por  Zenith,  a  cabeça;  por 
Nadir,  os  pòs;  por  Oriente,  as  vig-iiias; 
por  Occaso  o  somno.»  Braz  Lviiz  d' Abreu, 
Portugal  medico,  pag.  4,  §  7. 


Do  Priisao  Lidador,  Monareha,  c  Sábio, 

O  Amigo,  o  Mcsti-o,  a  Lnz,  a  Gloria,  e  tudo, 

Mendeliíon  subtiiissimo  apparcce ! 

Nào  subio  mais  Platão,  quando  do  BoUo 

Ptírfeito  no  Ideal  co'os  Sábios  dava 

Na  douta  Athenas  o  exemplar  sublime. 

J.   Jl.   de  SU.OEDO,  VIAGEÍl  EXTÁTICA,  CaUt.   2. 

Do  fios  subtílissimos  tecidas, 

Mas  do  matéria  indissolúvel,  crào 

As  vestes,  que  cila  traja,  c  que  formadas 

Porão  por  ella  mesma  obra  pasmosa, 

Que  do  cândido  pé  ao  collo  ebúrneo 

Forma  diversos  gráos. 


SUBTILMENTE,  adv.  (De  subtil,  e  o 
suffixo  «mente»).  De  um  modo  subtil, 
com  subtileza. 

Este  interpreta  mais  que  subtilmente 
Os  textos :  este  faz  o  desfaz  leis : 
Este  causa  os  perjúrios  entre  a  gente, 
E  mil  vezes  tyrannos  torna  os  reis. 
CAji.,  Lus.,  caut.  8,  est.  99. 

—  Em  partes  muito  ténues. 

—  Discorrer  subtilmente  ;  discorrer 
agudamente. 

SUBTiLISSMAMEKTE,  adv.  (Do  sub- 
tilissimo, e  o  suíBxo  «mente»).  Mui  sub- 
tilmenti^ 

SUBTRACÇÃO,  s.  /.  Termo  de  arith- 
metica.  (Viu.  Diminuição).  Operação  que 
consiste  em  deduzir  um  numero  de  outro 
para  lhe  achar  a  difFerença. 

—  A  acção  de  privar,  privação.  — 
Subtracção  da  firaça. 

SUBTRACTIVO,  A,  adj.  Que  se  ha  de 
subtrahir,  e  deduzir  de  outro.  —  Numero 
subtractivo. 

SUBTR.4HID0,  part.  pass.  de  Subtra- 
hir. 

SUBTRAHIR,  v.  a.  Tirar,  privar,  re- 
tirar. 

—  Subtrahir-se,  v.  refl.  Fugir,  eva- 
dir-ao,  retirar-se. 

SUBURBANO,  A,  adj.  (Do  latim  suòur- 
lianiin).   Próximo   á   cidade,    visinho   dos 
arrabaldes  da  cidade. 
•voL.  V.  — 78. 


SUBURBICARIO,  A,  adj.  Dizia-se  das 
cidades  sulmiettidas  ao  governo  do  pre- 
feito de  Roma. 

—  Diz-se  das  províncias  de  Itália  que 
compõe  a  diocese  de  Roma,  e  das  egre- 
jas  estabelecidas  n'estas  províncias.  — 
Provindas  suburbicarias.  —  Bispos  su- 
burbicarios. 

SUBÚRBIO,  s.  m.  Os  arrabaldes  de  al- 
guma cidade.  —  Os  subúrbios  de  Coim- 
bra são   luiviosos  e   decantados. 

SUBVASSALLO,  s.  m.  Vassallo  de  ou- 
tro vassallo,  dependente  de  senhor  feu- 
dal. 

SUBVENÇÃO,  s.  f.  (Do  latim  subvin- 
tio).  Auxilio,  soecorro,  allivio. 

SUBVEKTANEO,  A,  adj.  —  Ovo  sub- 
ventaneo ;  ovo  infccumlo. 

SUBVERSÃO,  s.  /.  (Do  latim  subver- 
sio).  Ruina,  destruição,  caída. 

—  Termo  de  medicina.  Subversão  do 
estômago;  desordem  da  força   concretiva. 

—  Perversão  moral. 
SUBVEaSIVO,  A,   adj.  (Do    latim  sub- 

versum,  de  subvertere).  Que  destroe,  que 
tende  a  subverter. 

— •  Figuradamente  :  Doutrinas  subver- 
sivas. 

SUBVERSOR,  A,  s.  Pessoa  que  sub- 
verte. 

SUBVERTEBOR,  A,  adj.  e  s.  Que  sub- 
verte. 

SUBVERTER,  ou  SOVERTER,  v.  a.  (Do 
latim  subvertere).  Derribar,  destruir,  ar- 
ruinar, transtornar,  sossobrar. 

—  Subverter  os  costumes;  estragal-os, 
perdel-os. 

—  Subverter-se,  v.  reji.  Arruinar-se, 
destruii--se,  derribar-se. 

—  Subverter-se  o  navio  no  mar;  sub- 
morgir-ise,  ser  comido  das  ondas. 

SUBVERTIDO,  ou  SOVERTIDO,  part. 
pass.  de  Subverter.  Sossobrado,  subuicr- 
gido,  destruiiio,  arruinado. 

SUBVERTIMENTO,  s.  m.  A  acção  de 
subverkT-so,  ue  subverter. 

SUGAR,  V.  a.  Termo  da  Beira.  Vid. 
Chuchar. 

SUCÇÃO,  s.  f.  Termo  de  medicina. 
Acto  de  chupar. 

—  Termo  de  phvsica.  Acto  pelo  qual 
se  eleva  uui  liquido  a  certa  altura. 

SUCCEDENHO,  s.  m.  Termo  da  Beira. 
Vid.  Successo,  e  Incidente. 

GUCCEDER,  V.  n.  (Do  latim  succedere). 
Vir  posterior  em  ordem,  em  tempo. 

— ■  Seguir-se.  — •  «E  porque  quada  hum 
nai3  perca  seu  trabalho,  também  escreueo 
a  chronica  deste  Rey  dom  Affonso,  to  a 
morte  do  Infante  dom  Pedro,  e  a  chroni- 
ca delRey  dom  Duarte  seu  padre,  as  quaes 
Rui  de  Pina  que  o  succedeo  no  officio 
fez  suas,  pelo  que  emendou  e  accrescen- 
tou  nellas.»  Barros,  Década  1,  liv.  2, 
cap.  2.  —  «E  por  elle  Soldão  neste  tem- 
po ter  morto  três  grandes  Capitães  da- 
quclles,  que  per  ordenança  do  Reyr.o  o 
podiam  succeder  nelle,  e  hum  que  tinha 


por  Governador  da  Cidade  Damasco,  com 
temor  de  lhe  fazer  outro  tanto,  não  quiz 
ir  a  seu  chamado,  e  estava  levantado  com 
favor  do  Xeque  Ismael,  eram  para  elle 
todas  estas  cousas  huma  grande  confu- 
são, porque  em  nenhuma  confiava. »  Idem, 
Década  2,  liv.  8,  cap.  3.  —  aDepois  El- 
Roy  D.  Felippe  Prudente,  deixando  por 
Governador  deste  Reyno  ao  Archiduque 
Alberto,  lhe  deixou  Guarda  Tudesca,  e 
por  Capitão  delia  D.  Francisco  de  Sou- 
sa, a  qual  se  foi  continuando  com  os  Go- 
vernadores, e  VisoReys,  que  lho  suoce- 
deraõ,  atè  Sua  Magestade,  que  Deos 
guarde,  que  admittio  os  Tudescos,  que 
ainda  achou  com  os  outros  Alabardeiros 
da  sua  Guarda,  que  dantes  tinha.»  Se- 
verim  de  Faria,  Noticias  de  Portugal, 
Disc.  2,  cap.  4.  —  «Os  documentos  e  Or- 
denaçoens,  que  alléga,  naõ  se  entendem 
assim.  O  primeiro  lugar  da  Ordenação, 
que  aponta,  procede  nos  bens  da  Coroa, 
que  saõ  havidos  por  Concessão  dominica 
do  Rey,  e  conforme  a  Ley  Mental,  por- 
que se  deu  ordem  de  succeder  nos  bens 
da  Coroa,  naõ  se  differem  Jura  ha'redi- 
tario.n  Arte  de  furtar,  cap.  16. —  «M(k- 
mente  que  de  tal  devido,  como  o  dito  D. 
Joaõ  Henriques  havia  com  o  dito  D.  Fer- 
nando, he  da  parte  das  mulheres;  que 
segando  costume,  e  ley  de  Espanha,  dos 
filhos  a  fora  naõ  podem  succeder  em  tal 
dignidade.»  Ibidem,  cap.  16. 

A  côr  mudando, 
Um  tempo  immovcl  fica ;  mas  a  raiva 
Siiccedeiião  ao  desmaio,  entra  escumando 
Na  grande  sacristia,  c  d'alli  passa 
Para  o  Altar  mór,  aonde  se  reveste, 
Onde,  como  costuma,  em  contrabaixo, 
Sem  saber  o  que  diz,  a  Missa  cauta. 

DINIZ  DA  CKUZ,  HYSSOPE,  Oaut.    3. 

— ■  Entrar  na  vagante,  ou  em  logar  de 
outi'o. —  «Em  a  qual  Cidade  como  foi 
conhecido  lhe  fezeram  os  gouernadores, 
e  todalas  outras  pessoas  nobres  que  nella 
viuiam,  muita  cortesia,  e  dahi  se  tornou 
ao  regno,  e  fez  vida  com  sua  molher,  de 
que  ouue  dom  Theodosio  que  o  sucedeo, 
e  donna  Isabel,  que  casou  com  o  Infante 
dom  Duarte  filho  dei  Rei  dom  Emanuel.» 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Ma- 
noel, part.  1,  cap.  21.  —  «Casou  el  Rei 
D.  Duarte  com  D.  Leonor,  filha  dei  Rei 
D.  Fernando  o  primeiro  de  Aragaõ,  e  Si- 
cília, de  quem  houve  D.  Affonso,  que 
lhe  succedeo  no  Reino,  e  o  primeiro, 
que  em  Portugal  se  chamcu  Príncipe  em 
vida  do  Pai.  O  Infante  D.  Fernando 
Duque  do  Viseu,  Mestre  das  Ordens  de 
Christo,  o  Sant'Iago,  que  casou  com  D. 
Britis,  filha  do  Infante  D.  Joaõ,  de  que 
nascerão  a  Rainha  D.  Leonor,  e  el  Rei 
D.  Manoel.»  Fr.  Bernardo  de  Brito,  Elo- 
gios dos  reis  de  Portugal,  continuados 
por  D.  .losé  Barbo.^a.  —  «Houve  el  Rei 
da  Rainha  D.  Britis  o  Infante  D.  Afibn- 
so,  que  morreo  menino  em  Penella,  e  jaz 


618 


SUCC 


SUCO 


SUCC 


em  Santarém  no  Mosteiro  tio  S.  Domin- 
gos; o  Infantes  D,  Diniz,  quo  morrco  me- 
nino, jaz  cm  Alcobaça ;  o  Infante  D. 
Joaõ,  que  morrco  moço,  jaz  cm  Oilivclas 
junto  do  seu  avô  :  a  Infante  D.  Maria, 
que  canou  com  ol  Rei  ilc  CastcUa;  o  In- 
fante D.  I'u'lro,  que  llu;  succedeo  no 
Reino;  a  Infaiito  D.  Leonor  niulber  dei 
Rei  D.  Pedro  o  quarto  de  Arafíaò.»  Ibi- 
dem. —  «Teve  ol  Rei  da  Rainha  D.  Bri- 
tis  sua  mulher  o  Infante  D.  Diniz,  quo 
lhe  succedeo  no  Reino:  O  Infante  D. 
Affonso  Hcnhor  de  Portalofíro,  e  outras 
Villas :  O  Infante  D.  Fernando  que  jaz 
em  Alcobaça,  o  morrco  moço:  A  Infanta 
D.  Branca,  Abbadcça  quo  fui  do  Lorvuõ, 
o  depois  das  Elgaa  do  Burfíos:  A  Infan- 
ta D.  Constança  que  morreo  em  Castol- 
la,  indo  visitar  seu  avô,  c  jaz  em  Alco- 
baça.» Ibidem.  — «Casou  el  Rei  D.  Af- 
fonso cora  D,  Urraca  Hlha  dei  Rei  D. 
Affonso  oitavo  do  CastcUa,  e  do  D.  Leo- 
nor fdha  dcl  Rei  Joaõ  de  Inglaterra,  de 
que  liouvc  o  Infante  D.  Sancho  que  lhe 
succedeo  no  Reino;  D.  Aflbuso,  que  foi 
Conde  de  Bolonha  em  França,  e  depois 
Rei  de  Portugal.»  Ibidem.  —  «A  Lan- 
çaróta  Paçanha  seu  filho  Manoel  Paça- 
nha,  a  quem  por  naõ  deixar  filho  macho, 
succedeo  seu  Irniaõ  segundo  Carlos  Pa- 
çauiia;  o  qual  teve  duas  filhas,  Dona  lic- 
nebra,  que  casou  com  o  Comlc  D.  Pedro 
de  Meneses  primeiro  Capitão  de  Ceita, 
com  quem  houve  o  Almirantado.»  Ma- 
noel Sevorim  de  Faria,  Noticias  de  Por- 
tugal, Dise.  2,  eap.  13. —  «E  na  Batalha 
do  Montijo  houve  quasi  a  mesma  gente: 
e  com  tudo  nestas  occasioens  naõ  junta- 
rão 03  Castelhanos  mais  gente,  que  a 
nossa  em  numero  considerável,  e  o  mes- 
mo succedeo  na  batalha  das  Linlias  de 
Elvas,  em  ipie  os  Castelhanos  tinhaõ  14:> 
Infantes,  e  õ;).  cavallos,  nòs  8,).  Infan- 
tes, e  2;>õ00.  cavallos,  na  do  Amexial, 
ou  Canal,  nos  excedião  em  mais  trez  mil 
cavallos,  ainda  que  a  Infantaria  era  pou- 
co menos  que  a  nossa.»  Ibidem,  eap.  í). 
—  «E  por  naõ  ter  delia  filhos  succedeo  no 
cargo  Ruy  do  Mello,  Senhor  de  ]\Iello, 
casailo  com  a  segunda  filha  de  Carlos 
Paçanha.»  Ibidem,  cap.  li).  —  «E  por  naõ 
ter  delia  filhos,  suceodeo  Nuno  Vaz  de 
Castelbrauco,  por  ser  filho  de  Catharina 
Paçanha,  neta  do  Almirante  LançanUe 
Paçanha,  e  a  este  succedeo  seu  sobrinho 
Lopo  Vaz  de  Azevedo  filho  de  sua  Ir- 
mãa  Isabel  Vaz  Paçanha,  e  de  Gonçalo 
Gomes  de  Azevedo  Alcaide  Mòr  de  Alen- 
quer, o  qual  teve  a  António  de  Azevedo, 
que  foi  Almirante,  o  esto,  a  D.  Lopo  de 
Azevedo,  em  cuja  linha  se  conservou  es- 
ta dignidade.»  Ibidem. 

—  Sair  bem  ou  mal.  —  «Posto  Ruy 
Lourenço  cn\  caminho  a  dar  esta  vista  a 
Mombaça,  succedeo  lhe  também  o  nego- 
cio que  tomou  per  vezes  duas  n.aos  e 
três  zan\bueos :  nos  quaes  viuhaõ  doze 
Mouros  homens  mui   priueipaes  da  cida- 


de da  Hraua  que  está  abaixo  do  Melinde 
com  legoas.o  Barros,  Década  1,  liv.  7, 
cap.  4. 

—  Succeder  nlr/uma  cousa  a  alrjuem; 
sortir,  sair-lhe  como   traçara,  aproveitar. 

—  Succeder  na  kcrum^a;  vir  a  ser  se- 
nhor d'ella  por  inorte  do  instituidor. 

—  Tomar  o  logar,  as  vezes  que  o  ou- 
tro tinha. 

—  Sujeitar,  obedecer.  —  cA  Deus  e  a 
vossa  niagestade  pedimos  todos  os  reli- 
giosos (Postas  missões,  lhe  mande  vossa 
niagestade  succeder,  quando  vossa  nia- 
gestade assim  o  tenha  ordenado,  pessoa 
de  tal  talento  e  christandade,  quo  leve 
jjor  diante  o  que  elle  tem  começado.» 
Padre  António  Vieira,  Cartas,  n."  18. 

—  Acontecer.  —  «No  fim  dos  três  an- 
nos  e  meyo,  enti-ando  já  o  Santo  nos 
quatorze  de  sua  idade,  succedeo  visitar- 
so  a  prisaõ  por  alguns  Mouros  nobres  do 
serviço  dei  Rey  Abderramcii,  ou  fosse 
para  darem  liberdade  a  cativos,  ou  para 
outro  fim  que  não  sabemos.»  Monarchia 
Lusitana,  liv.  7,  cap.  19. —  «O  anno  da 
I lixara  que  aqui  aponta,  de  quatrocentos 
e  dez,  disse  eu  escrevendo  a  Chronica  de 
Cister,  que  naõ  condizia  com  a  era  de 
César,  quo  alli  aponta,  crendo  que  esta- 
va demasiada  em  dez  annos,  porque  a 
peregrinação  de  Mafoma,  (como  jà  to- 
quey  em  sou  lugar,  e  se  collige  das  his- 
torias Árabes)  succedeo  no  anno  de  Chris- 
to,  seiscentos  e  treze,  por  onde  ouuera 
de  ficar  nesta  doaçaõ  assinado  anno  de 
quatrocentos  e  hum,  e  não  quatrocentos 
e  dez.»  Ibidem,  cap.  26.  —  «Porem  quan- 
to haver  batalha  com  este  cavallciro,  não 
o  hei  de  consentir,  que  não  sei  o  que 
succederá,  e  o  imperador  teria  de  que 
se  queixar  de  mini.»  Francisco  de  jMo- 
raes,  Palmeirim  d'Iuglaterra,  caj).  12-4. 
—  «Acabado  isto,  chegou-lhe  desejo  ile 
as  perder  a  ellas,  que  esta  era  sua  con- 
dição. Pois  tornamlo  ao  mais  que  naquel- 
Ic  caminho  succedeu,  oscreve-se,  que  ao 
quint  >  dia,  depois  que  partiu  da  corte 
do  llespanha,  caminhando  uma  tarde  por 
um  campo  raso  cuberto  de  flores  alegres 
e  cores  diversas,  fez  descer  todas.»  Ibi- 
dem, cap.  Í25.  —  «Mas  viis  que  o  não 
tendes  com  ninguém,  nem  ninguém  6 
bem  quo  vol-o  tenha  polo  desamor,  com 
que  as  ti'ataes,  eneommendai-vos  a  vós 
mesmo,  quando  em  alguma  affronta  vos 
virdes ;  e  se  vos  succeder  mal,  dai  a  vi'>s 
a  culpa,  e  não  a  guardeis  pêra  quem  es- 
tá fora  delia:  que  visto  está,  que  nenhu- 
ma destas  senhoras,  que  aqui  vem,  ò  pê- 
ra tão  pouco,  que  om  seu  nome  não  pos- 
saes  entrar  em  campo  contra  quem  qui- 
zerdes,  se  o  desamor  com  que  as  eon- 
versaes,  vol-o  não  estorvar.  »  Ibidem, 
cap.  12(5.  — «Florendos  ficou  algum  tan- 
to descontente  de  ver  a  fortab^za  de  seu 
contrario,  temendo  succeder-lho  algum 
desastre  com  que  sua  senhora  tornasse 
fazer  algum  extremo  com  elle.»  Ibidem, 


cap.  127.  —  « AíToíiso  d'Alboquerque, 
posto  quo  estes  moradores  o  apertavam 
muito,  quasi  imputando  a  cilo  o  mal  que 
ao  diante  succedesse  com  «ua  breve  par- 
tida, todavia  este  zelo  que  vio  naquellas 
pessoas  tão  princij)aes,  do  quem  depen- 
dia a  governança,  e  uAsocego  da  terra,  o 
segurou  mais  em  sua  ida;  e  dando-lhe 
por  isso  muitas  graças,  e  as  razões  quo 
obrigavam  acudir  ao  csta/lo  da  índia,  os 
espedio,  e  dahi  a  três,  ou  quatro  dia»  se 
partio  com  quatro  velas.»  Barro»,  Déca- 
da 2,  liv.  6,  cap.  7.  —  «Mas  como  pelo 
tempo  adiante  succedesse  o  contario,  D. 
Branca  Rainha  de  França  irmã  de  eua 
mãi  o  casou  com  Matliildc,  Condcça  de 
Bolonha,  que  havia  pouco  que  viuvara  de 
Filippe  o  Crespo,  filho  do  Filippe  Au- 
gusto Rei  de  França.»  Fr.  Bernardo  do 
Brito,  Elogios  dos  reis  de  Portugal,  con- 
tinuados por  D.  José  Barbosa.  —  «Em 
castigo  desta  culpa  succedeu  que  entre 
os  alheios,  que  contava,  descobrio  o  buc- 
cesso  de  hum  amante,  a  quem  não  sabia 
a  dama,  que  acertou  a  ser  a  mesma  a 
quem  elle  queria :  a  qual  sabendo  o  con- 
to, e  tendo  por  manifesto  o  seu  primeiro 
amor,  de  envergonhada  delle  próprio  o 
deixou,  oeeupando-se  em  outros  pensa- 
mentos. »  Francisco  Rodrigues  Lobo, 
Desenganado,  pag.  172. 

Essa  líivro  Bom  Trabalho, 
porf|UC  .1  elle  aconteceu 
não  entender  n'outro  atalho. 
Qual  das  portas  succetleu  ! 

Ascroxio  PHiíSTES,  ACTOS,  pag.  27. 

—  «Posto  que  em  algumas  partes  a 
Ilha  seja  fresca,  e  apraziuel,  cõ  tudo  pela 
mayor  parte,  he  sccji,  deserta,  e  escalua- 
da,  o  que  nasce  do  pouco  que  nella  cho- 
ue,  que  muytas  vezes  succede  passar 
quasi  todo  o  anno,  sem  nella  chouer; 
clõde  vem  ter  poucos  rios,  pois  nào  pas- 
são  de  quatro,  e  muy  pequenos.»  Fr.  Gas- 
par de  S.  Bernardino,  Itinerário  da  ín- 
dia, cap.  9.  —  «Aa  ]>rim;i  noyte  fiz  dar 
hum  rebate  falso,  pêra  ver  o  csonio  se 
auiam  em  tomalas,  c  os  despertar  pêra  o 
que  sucedesse.  ^las  em  toda  ella  nâo 
sentimos  cousa  alguma.  Tanto  que  a  cs- 
trella  dalua  sahio,  se  deu  por  toda  a  Ca- 
filla,  o  leua,  leua,  cõ  que  partimos,  dese- 
josos de  chegar  a  Cidade  Romus,  que  da- 
qui nos  ficaua  catorze  legoas,  por  nos 
acharmos  em  huma  feyra,  que  no  dia  se- 
guinte se  fazia.»  Ibidem,  cap.  16.  — 
«Assi  que  dest.as  duas  vezes,  como  dou- 
tras que  03  de  Calecut  cometeram  o  pas- 
so do  vao,  e  sespalharam  pella  terra  porá 
destruir  alguns  lugares  de  Cochim.  sem- 
pre foram  desbaratados,  sucedendo-lhe 
tudo  ao  contrario  do  que  sperauani.»  Da- 
mião de  Góes,  Chrouica  de  O.  Manoel, 
part.  1.  cap.  73.  —  «(íraças  quo  lhe  suc- 
cedèraõ,  por  ser  cousa  do  Infante  IXmi 
Luiz,  e  que  lhe  elle  encomendava  muito. 


succ 


succ 


succ 


619 


Este  Fidalgo  sabendo  dos  navios  que  se 
faziaõ  prestes  pêra  o  Estreito,  como  an- 
dava muito  desconfiado  da  jornada  pas- 
sada, desejando  de  llie  succeder  cousa 
em  que...»  Diogo  de  Couto,  Década  6,  liv. 
9,  cap.  2.  —  «Succedeu  em  Lisboa,  que 
fazendo  huma  Confraria  em  certa  Igreja 
a  festa  do  seu  Orago  muito  solemue, 
ajuntou  para  isso  muita  prata  de  casti- 
çaes,  alampadas,  peviteiros,  e  caçoulas, 
que  pedio  por  empréstimo  a  outras  Igre- 
jas, Mosteiros,  e  Irmandades :  e  como  o 
thesouro  era  de  muitos,  tinbaõ  direito  to- 
dos para  virem  buscar,  e  levar  as  suas 
pessas.»  Arte  de  furtar.  —  «Melhor  suc- 
cedeo  a  hum,  que  vi  em  Évora  (Caste- 
lhano era)  fez  hum  theatro  na  praça,  poz 
nelle  dous  caixoens  de  canudos  de  un- 
guento milagroso,  que  servia  para  todos 
os  males :  bailou  sua  mulher,  e  huma  fi- 
lha, que  volteava  por  cima  de  huma 
mesa.»  Ibidem,  cap.  31. 

O  nome  Portuguez  por  si  sáraentc 
Com  tào  alto  temor  nellc  se  assenta 
Qu'e3ta  forte  Cidade,  e  forte  gente, 
Nem  tudo  o  mais  que  forte  se  apresenta, 
Não  podem  segura-lo  no  presente 
Naufrágio,  que  lhe  mostra  esta  tormenta. 
E  dizem  que  a  Cidade  elle  deixara 
Se  o  que  succedeo  não  Ih 'o  estorvara. 

r.    DK  ANDRADE,   FKIU£ISO    CEECO   DE  DIU,  Cilnt. 

2,  est.  36. 

E  se  o  Senhor  Eterno  e  Soberano 
Com  cousas  que  succedem  cá  na  terra 
Costuma  a  descubrir  ao  povo  humano 
O  que  o  futuro  tempo  esconde  e  encerra, 
Bem  mostra  isto  que  canto  ao  Lusitano 
Povo,  o  ditoso  fim  que  nesta  guerra 
Que  se  lhe  vai  agora  apparelhando 
Lhe  teoni  guardado  o  Coo  amigo  e  brando. 
IBIDEM,  cant.  10,  est.  9. 

—  «A  uns  parece  que  se  deve  recolher 
o  casado  sempre  a  uma  hora ;  e  tal,  que 
possa  muito  bem  antes  d'ella  haver  ne- 
gociado o  que  LiC  pôde  succeder,  sem  dar 
sobresalto  na  tardança.»  Francisco  Ma- 
noel de  Mello,  Carta  de  guia  de  casados. 
—  «Pouco  mais  remédio  sóhem  ter  estas 
taes  condições,  que  uma  grande  prudên- 
cia com  que  se  atalhem.  Aconselharia  a 
aquelle  a  quem  tal  succedesse,  se  apar- 
tasse o  possível  de  viver  nas  cortes,  e 
grandes  lugares.  Quem  grita  no  despo- 
voado, é  menos  ouvido. »  Ibidem. 

—  V.  a.  —  Termo  pouco  em  uso.  Her- 
dar, adquirir  por  success.ão. 

—  Ceder,  obedecer. 

SUCCEOIDO,  j»a?-f.  pass,  do  Succeder. 
Acontecido.  — •  «E  daqui  procedeo  o  erro 
de  alguns  escriptores,  em  contarem  as 
cousas  succedidas  na  Arábia,  por  aconte- 
cidas na  Per.sia;  a  conta  de  hum  Eev  as 
senhorear  ambas,  deferindo  huma  da"  ou- 
tra tanto,  como  França,  de  nossa  Espa- 
nha.» Fr.  Gaspar  de  8.  Bernardino,  Iti- 
nerário da  índia,  cap.  IG. 

—  Substantivamente^  O  successo,  o 
que  tem  succedido. 


SUCCEDIMENTO,  s.  m.  Termo  antiqua- 
do. (J  successo. 

—  Succes,-;ao. 

SUCCENSO,  A,  aJj.  Acceso,  incendia- 
do. 

SUCCESSÃO,  s.f.  (Do  latim  successiu). 
O  acto  de  succeder. 

—  Serie  do  pessoas  ou  de  cousas  que 
se  seguem  sem  interrupção.  —  «Forque  o 
nosso  ilahamede  Auconij  era  morto,  e  so- 
bre a  successaõ  do  Reyno  estaua  a  ter- 
ra posta  em  bandos  assi  entre  os  Mom"Os, 
como  acerca  do  capitão  Pêro  Ferreira,  e 
oííiciaes:  e  posto  que  Cyde  Barbudo  em 
aquelle  negocio  fez  pouco  por  não  poder 
mães,  fez  muito  com  sua  chegada  h  ín- 
dia.» Barros,  Década  1,  liv.  10,  cap.  6. 
—  «Na  hora  que  el  Rei  faleceo  lios  se- 
nhores, e  pessoas  principaes,  que  ahi  eraõ 
presentes,  cujos  nomes  em  sua  Chronica 
saõ  declarados,  abriram  ho  testamento,  e 
ho  fezeraõ  ler  per  Rui  de  Piuna  Chronis- 
ta,  e  ho  mandarão  logo  per  três  do  con- 
selho a  dom  Emanuel  Duque  de  Beja, 
ho  qual  ja  sabia  da  successaõ  do  Regno, 
por  lho  el  Rei  ter  mandado  dizer,  antes 
que  morresse,  per  Aires  da  Sylua  seu  ca- 
mareiro mòr  e  per  dom  x\luaro  de  Cas- 
tro.» Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  1,  cap.  1. — •  «E  que  se 
por  via  de  casamento,  ou  successaõ  de 
parente  mais  chegado  acontecer,  que  se 
venhaõ  unir  duas  Casas,  e  Morgados  de 
differentes  instituidores,  e  geraçoeus  em 
hum  só  particular,  o  filho  mais  velho  des- 
te ultimo  possuidor,  succeda  somente  em 
hum  destes  Morgados,  qual  elle  quizer 
escolher,  e  o  filho  segundo  fique  succe- 
deiido  no  outro.»  Severim  de  Faria,  Noti- 
cias de  Portugal,  Disc.  1,  cap.  7. —  «Por 
morte  do  Marquez  foi  Condestable  ElRey 
D.  Manoel,  sendo  ainda  Duque  de  Beja, 
e  depois  que  entrou  na  successaõ  do 
Reyno,  deu  este  oíficio  a  D.  Afonso  filho 
natural  do  Duque  de  Viseu  seu  Irmaõ.» 
Ibidem,  Disc.  2,  cap.  2. 

—  Morrer  sem  successaõ  ;  morrer  sem 
herdeiros.  —  «O  Infante  D.  Henrique, 
que  foi  Cardeal,  Arcebispo  de  Lisboa,  de 
Braga,  e  de  Évora,  e  Abbade  de  Alco- 
baça, e  finalmente  Rei  de  Portugal :  O 
Infante  D.  Duarte,  que  casou  com  D.  Isa- 
bel filha  de  D.  Jaimes  Duque  de  Bragan- 
ça, de  que  nasceo  o  senhor  D.  Duarte, 
que  morreo  sem  successaõ;  a  senhora  D. 
Maria  que  casou  com  Alexandre  Fariie- 
sio  Príncipe  de  Pai-ma,  e  Placencia.»  Fr. 
Bernardo  de  Brito,  Elogios  dos  reis  de 
Portugal,  continuados  por  D.  José  Bar- 
bosa. 

—  O  direito  de  successaõ.  —  «A  maior 
parte  da  gente  foi,  que  a  capitania  delle 
se  desse  a  Diogo  Mendes  de  Vasconcel- 
los,  em  que  concorriam  as  qualidades  que 
convinham  pêra  isso,  visto  também  como 
Francisco  Pantiya  Alcaide  mór  quasi  de- 
sistio  do  direito  da  successaõ.»  Barros, 
Década  2,  liv.  6,  cap.  8. 


—  Por  successaõ  do  temido;  por  uma 
longa  serie  de  tempo. 

—  Herança,  os  bens  que  uma  pessoa 
deixa  morrendo.  —  A  partilha  da  suc- 
cessaõ. 

—  Diz-se  também  do  modo  de  trans- 
missão das  heranças.  —  Successaõ  dire- 
cta. —  Successaõ  collateral.  —  Successaõ 
sol)  beneficio  de  inventario. 

—  A  vinda  d'alguma  cousa  posterior 
em  tempo. 

—  Termo  antiquado :  Morgado,  ou  ca- 
pella. 

—  A  successaõ  na  índia;  no  governo 
da  índia,  era  patente  que  designava  o 
successor  do  vice-rei  no  caso  d'elle  mor- 
rer, antes  d'el-rei  lhe  dar  successor. 

—  Figuradamente :  A  cousa  em  que  se 
succede  por  morte,  vagante  de  quem  a 
tinha. 

SUCCESSIVAMENTE,  adv.  (De  succes- 
sivo,  com  o  suffixo  «mente»).  Um  após 
outro,  não  simultaneamente.  —  «Tiveraõ 
sucessivamente  o  Pontificado,  Saõ  Sisto 
Segundo  do  nome,  natural  de  Athenas, 
dous  annos,  dez  meses,  e  vinte  e  ires 
dias,  e  Diomsio  que  governou  seis  an- 
nos, dous  meses,  e  quatro  dias,  o  primei- 
ro dos  quaes  padeceo  martyrio,  e  o  se- 
gundo morreo  em  paz ;  e  foraõ  ambos  se- 
pultados no  Cemeterio  de  Calisto.»  Mo- 
narchia  Lusitana,  liv.  5,  cap.  24.  —  «E 
que  tanto  que  ho  dicto  Sprital  fosse  aca- 
bado, mandaua  que  se  tirassem  cada 
anno  dous  captiuos  pobres  Portugueses, 
que  servissem  no  dicto  Sprital  aos  Offi- 
cios  Divinos,  por  tempo  de  hum  anno,  e 
no  lugar  destes  enti-assem  hos  que  se  ti- 
rassem trás  elles,  e  assi  pêra  sempre  suc- 
cessivamente.»  Damião  de  Góes,  Chro- 
nica de  D.   Manoel,  part.  1,  cap.  1. 

SUCCESSIVEL,  adj.  2  gen.  Susceptível 
de  succeder  como  herdeiro,  ou  de  outro 
modo. 

SUCGESSIVO,  A,  adj.  (Do  latim  succes- 
sii-iis,  de  successwm,  supino  de  succedere) . 
Diz-se  de  certas  cou.sas  cujas  partes  se 
seguem  umas  ás  outras  seminterrupção. 
—  Movimento,  pj-o^/cesso  successivo.  — 
A  ordem  successiva  das  noites  e  dos 
dias. 

—  Diz-se  de  certas  cousas  que  aconte- 
cem com  pouco  intervallo  umas  das  ou- 
tras. —  Descobertas  successivas.  —  Per- 
das successivas. 

- — Termo  de  jurisprudência.  Direitos 
successivos ;  direitos  que  se  tem  n'uma 
successaõ. 

—  Horas  successivas.  Yid.  Subscessi- 
vo. 

SUCCESSO,  s.  íH.  (Do  latim  successus, 
de  succedere).  O  que  aconteceu  em  con- 
sequência d 'alguma  ordem,  lei  previa. 

—  Acontecimento,  acaso. 


AUi  Candalo  estA  Eey  dos  Lideres 
A  Giges  amostrando  neciamentc 
O  bellissimo  corpo,  a  lisa  carne 


620 


HUCC 


sucl; 


succ 


Da')U'?lla  qni!  nxcedia  a  branca  ncuo. 
MaH  a  iiinlInH'  nabiiiido  o  baixo  iiitoiito 
]).)  inarido  iiidiuiJo  a  tal  bidic.a, 
AfroMtada,  o  corrida  do  minvim, 
Satisfeita  co  a  inortc  dolla  liça. 

OOUTK  BEAL,  NAUFHAOIO  I>K   HErULVKDA,  Caut.   3. 

CroscRiido  CO 'os  sumesMs  bons  primeiros 
No  poitQ  as  ousadias,  descobriram 
Pouco  c  iioiico  caminhos  estrangeiros, 
yuo  uns  siiocudcndo  aos  outros  proseguiram. 
D(!  Africa  os  moradores  dcrraílciros 
Austraes,  que  nunca  as  8('te  (laminas  viram, 
Koram  vistos  de  nús,  atraz  deixando 
Quantos  estão  os  Trópicos  queimando. 
CAM.  Lus.,  cant.  8,  est.  72. 

—  «Contar  os  successos  «lesta  Ciilade; 
as  prophecias,  e  visòcs  quo  iiella  aconte- 
cerão, seria  encher  grandes  linros,  e  quasi 
tresladar  a  líiblia  orn  Portugucs.»  Fr. 
(laspar  de  tí.  líernardiMo,  Itinerário  da 
índia,  cap.  18. —  «Vendo  hiiii.s  que  quan- 
do podião  terra,  Ihe.s  traziao  outros  be- 
tumo, o  quando  betumo  terra:  conhece- 
ram o  successo  ser  marauilhoso,  e  que 
lhes  conuinha  parar  com  seus  intentos, 
como  fizerão.»  Ibidem.  —  «De  todo  e.ste 
successo,  foy  logo  pela  Pomba,  anisado 
o  Bax;\  de  liabylonia,  que  vindo  com 
mão  armada  sobro  o  Burlxa,  que  eutani 
©•■ítaua  cm  Anua  CMade  da  Arábia,  bem 
doscuydado,  deu  sobr'elle,  a  quem  com 
todo  o  mais  pouo,  pôs  a  fio  de  e.?pada, 
leuando  tudo  quanto  achou  na  Ciilade 
sem   perdoar  a  cousa  alguma.»   Ibidem 


cap. 


lAs    novas    deste   successo 


chegaram  a  Chaul  entrada  de  Setembro 
por  algumas  náos  de  Moca,  que  áquelle 
porto  foram,  com  que  Chrlstovão  de  Sou- 
sa ficou  desalivado,  e  logo  as  enviou  ii 
Lopo  Vaz;  Pouco  depois  chegou  áquella 
fortaleza  Francisco  Mendes  de  Vascon- 
cellos  com  as  cartas  de  Pêro  !Mascaro- 
nhas,  D.  Simão,  autos,  e  mais  papeis  que 
levava,  porque  soube  ficar  Pêro  Masca- 
renhas obedecido  por  Governador  em  Ca- 
nanor,  aprescntando-lhe.»  Diogo  de  Cou- 
to, Década  4,  liv.  ;3,  cap.  6. — «E  logo 
dahi  a  alguns  dias  despachou  este  embai- 
xador, em  cuja  companhia  mandou  com 
embaixada  ào  Xeque  Ismael,  Fernão  go- 
mez  de  lemos  com  trinta  ile  eauallo,  e  por 
acessor  loão  de  Sousa,  e  por  Secretario 
(lil  Simoens,  o  por  lingoa  (iaspar  Xirez 
boticairo  por  fallar  muito  bem  a  Persia- 
na, das  quais,  que  partiram  Dormuz  a 
cinco  dias  de  Jlaio,  deste  anno,  de  Jl.D.xv, 
o  do  sucesso  de  sua  viagem,  e  embaixa- 
da, tratarei  na  quarta  parte  desta  Chro- 
niea.»  Dannão  do  Cíoes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  3,  cap.  (J8.  —  «Affirma 
também  esta  historia,  que  cu  nuiytas  ve- 
zes ouvi  lòr,  que  jiassados  cinco  dias  des- 
pois  deste  successo,  viraõ  huma  menham 
vir  pelo  rio  abaixo  a  armada  das  trinta 
jangiis  nuiyto  bem  concertadas,  e  sem 
gente  nenhunui.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  93.  —  «E  dito  isto 
assi  por  estas  próprias  palavras,  diz  a  his- 


toria quo  logo  naquoilo  instante  o  menino 
caliio  morto  cm  tei-ra,  do  qual  successo 
(se  as^i  foyi  a  Naneai  coiti  c<j.Ioí  os  seus 
ticarilo  assaz  u  <pauta<Io8.  ■>  Ibidem.  — 
<i  Despidiudose  com  isto  os  quatro  Tani- 
goros  nos  derão  para  todos  quatro  tacis, 
e  nos  disserSo,  n.ão  vos  esque^-ais  do  agra- 
decerdes a  Deos  o  bò  successo  que  tives- 
tes no  vosso  negocio,  porque  peccareis 
gravemente  se  lho  desconhecerdes  tama- 
nha mercê.»  Ibidem,  cap.  104.  —  «E 
muyto  coutcnte  do  bom  successo  que 
neila  tivera,  o  outras  particulariílados  que 
folgarão  muyto  de  saber,  prineipalmonte 
quando  lhes  disse  que  el  Kei  despois  de 
despidida  toda  a  gente  que  trouxera  coni- 
sigo,  se  passara  aforrado  a  Fanaugrem, 
onde  avia  ja  quasi  um  mes  que  estava 
occupado  em  cayas  e  pescarias,  e  com 
tenção  de  yr  invernar  a  lluzamguee,  que 
hu  a  metropoli  ileste  império  Cauchim.» 
Ibidem,  cap.  12'J.  —  «E  as.si  mo  deixey 
aly  ficar  em  companhia  do  João  Cayeyro 
com  fundamento  de  me  yr  no  junco  como 
fosse  tempo,  e  continuey  com  elle  no  tra- 
balho deste  Cerco  por  espaço  de  quarenta 
e  seis  dias,  que  foy  o  tempo  que  esto  Rey 
Bramaa  aquy  mais  se  deteve,  do  qual 
aquy  brevemente  direy  hum  pouco,  por- 
que me  paieee  ipio  os  curio.sos  folgarão  de 
saber  o  successo  que  teve  nesta  guerra 
o  Ohaubainhaa  líey  de  Martavão.o  Ibi- 
dem, cap.  148.  —  «Em  tempo  deste  feli- 
ci.ssimo  liei  se  acabou  de  descobrir  a  Ín- 
dia Oriental,  por  D.  Vasco  da  Gama,  a 
quem  el  Kei  por  esta  viagem,  o  por  ou- 
tra que  tornou  a  fazer  áquellas  partes, 
ambas  com  prospero  successo,  fez  Conde 
tia  Vidigueira,  e  Almirante  do  mar  da 
índia,  para  elle,  e  seus  descendentes.» 
Fr.  Bernardo  do  Brito,  Elogios  dos  reis 
de  Portugal,  continuados  por  D.  José 
Barbosa.  —  «Coneluio-se  em  fim  a  jorna- 
da com  taõ  pouca  oi"dera,  e  taõ  grandes 
despezas,  que  as  pessoas  experimentadas 
na  guerra  adevinhavaõ  destes  principies 
o  successo  que  veio  a  ter. »  Ibidem.  — 
«Logo  que  o  Ciovernador  chegou  a  Cioa, 
dando  os  primeiros  dias  ao  gosto  dos  suc- 
cessos passados,  não  querendo  dar  outros 
ao  descanço,  como  homem  que  tinha  a 
paz  por  vicio,  a  guerra  por  costume,  pas- 
sou a  Agaçaim,  donde  despedio  a  D.  Dio- 
go de  Almeyda  Freire,  com  novecentos 
homens,  para  que  desalojasse  o  inimigo 
que  estava  com  quatro  mil  soldados  nas 
aldeãs  visiuhas.»  Jaciutho  Freire  d'Ai\- 
drade.  Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv.  4. 
—  « E  nos  rios  de  Kaeol  ordenou,  que  fi- 
cassi'm  alguns  navios  para  defensa  das 
Aldeãs  visinhas;  cujos  lavradores  desam- 
paravão  as  terras,  vendo  o  dondnio  del- 
ia^í,  incerto,  o  contingente  peia  instabili- 
dade dos  successos  da  guerra.»  Ibidem. 


As  uovas  desta  armada,  o  o  seu  iutcnto 
Tor  alguns  que  a  \*ida  então  dcixilrào 
Vão  ao  ccutro  da  torra,  o  lá  uo  aâscuto 


Avorno,  cm  breve  capavo  so  ospalh&rio  : 
K  dliuTM  iroutroA  correndo,  ii'lmm  momento 
Ao  C.itnbaio  Itaudur  taiiib<.Mn  clicg.lráo, 
t^i'  e-itava  triste  awaz,  po.-  quão  are8M 
Tivera  [lola  Inveja  o  bcu  tiixfjmo. 

PBlXelHCO  DK   AXDBADK,  PKIMKIBIJ  CCKCO   VK  DIU, 

cant.  12,  cat.  77. 


Deu  causa  a  csti!  nicnuno  miserável 
Applicar-B(!  ao  si-riiço  d.i  bombarda, 
I'or  erro  mal  s-abido,  o  desculpável, 
Ct  negro  p<>,  ijue  serve  na  eíjúngarda. 
Mas  num  feito  aisais  raro,  as  ia/,  notável, 
K  de  memoria  digno,  U  me  aguarda 
No  baluart)!  da  Vill.i,  ir-ine  lá  quero, 
Onde  causar  cspauto  c  gosto  ciipcro. 
luiDEM,  cant.  14,  oit.  45. 

—  «Vestiu-se  Mar;;arida,  c  foi  aíâiítir 
ao  parto  de  sua  criada,  que  tilo  mal  a 
si-rvia;  tratou  de  bcu  regalo,  e  o  que  é 
mais,  <lc  bua  honra;  mandando  a  todas 
aquelias  de  quem  se  ajudou,  que  sob  pena 
lie  sua  de^;íl•al;a,  nenhuma  degcobrinse 
este  successo.  i-  D.  Frauciico  Manoel  de 
Mello,  Carta  de  guia  de  casados. 

—  Successo  de  momenlo ;  successo  pas- 
sageiro. 

—  Conclusão,  bom  êxito  do  negocio. — 
«Naõ  deixa  o  conselho  de  ser  bom,  por 
sahir  o  successo  mào;  nem  o  mào  con.se- 
Iho  deixa  de  o  ser,  por  ter  bom  successo; 
porque  o3  successos  .saõ  da  fortuna,  e  de- 
pendem (las  execuçoens;  que  muitas  ve- 
zes por  serem  màs,  damnaõ  a  bondade 
dos  conselhos;  e  também  por  serem  boas, 
emendaij  ás  vezes  o  erro  do  conselho.» 
Arte  de  furtar,  cap.  30. 

Este,  ou  que  o  iiicc«j>so  deste  feito 
A  ncvoa  do  temor  lhe  desfizesse 
De  que  notado  foi  sempre  o  seu  peito, 
Ou  que  a  morte  chamii-lo  ja  quizesae 
Animado  hoje  assaz  e  satisfeito. 
Importuna  o  Silveira  que  lhe  dosso 
Licença,  c  companhia  com  que  possa 
Tomar  aquella  po«,'a  forte  c  grossa. 

r.    DE    ANDBADE,   raUtXlBO    CUBCO     DR    DID,    CAUt. 

20,  est.  ii-2. 

—  O  mau  successo.  —  «Mas  certos  fi- 
dalgos, (lu  leva  los  do  inveja  do  accres- 
centamento,  e  grandeza  que  os  parentes 
de  D.  Ignez  teriaõ  no  Reino  por  sua  cau- 
sa, ou  de  outras  a  quo  naò  sabemos  mais, 
que  o  máo  successo,  tratarão  com  el  Rei 
D.  Aftbn.^io,  que  para  evitar  inconvenien- 
tes em  seus  estadt>3  seria  bom  matar  a 
D.  Ignez  de  Castro.»  Fr.  Bernardo  de 
l)rito,  Elogios  dos  reis  de  Portugal,  con- 
tinuados por  D.  Josó  Barbosa. 

—  Progresso  do  que  se  desenvolve. 

—  Successo  de  enfhiuiasmo;  successo 
louco,  nuiito  forte,  e  acompanhado  de  ma- 
nifestações apaixonailas  do  publico. 

—  Cvm  pouco  successo;  iniVuctuoaa- 
nientc. 

—  Não  ter  um  grande  successo;  n.^o 
ser  bem  succedido. 

—  Resultado,  êxito.  —  Esjurai  o  suc- 
cesso yiie  terá  e^ta  aventura.  —  Quero 
it-V  o  successo  d'isso. 


i 


succ 


suco 


SUDO 


621 


—  Syíí.  :  Successo,  cafasfrophe.  Vid, 
este  ultimo  termo. 

SUCCE3S0R,  A,  s.  Pessoa  que  succede 
em  herança,  em  officio,  posto,  governo, 
vagatura.  —  «iNa  qual  posse  como  pru- 
dente barào  e  animoso  Príncipe,  por  naõ 
leisar  duuidas  a  seus  successores  com  os 
Príncipes  da  chi-istandaile,  logo  se  deter- 
minou com  clRei  dom  Fernando  de  Cas- 
tella.i)  Barros,  Década  1,  liv.  3,  cap.  12. 
— ^  «A  falta  do  successor  varaõ  fez  com 
que  o  Condado  de  Castella  viesse  por  di- 
reita successào  a  el  Rey  Dom  Sancho  de 
Navarra,  como  marido  da  Ravnha  Dona 
Elvira,  irmãa  mais  velha  do  mal  logi-ado 
Conde  Dom  Garcia.»  Monarchia  Lusita- 
na, liv.  7,  cap.  27.  —  «Na  conquista  das 
terras  coube  a  Ale  Arábia,  a  Odmào 
Egypto,  e  muyta  parte  da  Affrica,  a  Bu- 
bequer  a  Palestina,  e  a  Ornar  a  Pérsia. 
Em  quanto  estes  quatro  Capitães  anda- 
uão  nestas  cõquistas,  viueo  Mafoma  em 
Almedina,  e  sendo  ja  velho,  e  cheo  de 
dias,  fez  seus  apontamentos,  em  que  no- 
meou por  seu  immediato  successor  no 
Halifado,  a  seu  genro  Ale.»  Fr.  Gaspar 
de  S.  Bernardino,  Itinerário  da  índia, 
cap.  20.  —  f  E  porque  tao  bom  Chronista 
senam  ha  de  contradizer,  seuam  com  mui 
certas,  e  viuas  razoens,  he  necessário 
que  com  ellas  declare  o  erro  que  teue  na 
conta  dos  Reis  Dinglaterra,  dos  quaes  o 
primeiro  que  se  chamou  Duarte,  foi  tilho 
do  grande  rei  Alured,  o  segundo  Duarte 
foi  o  que  teue  titulo  de  martyr,  porque 
por  treiçam  da  Rainha  Alfreda  sua  ma- 
drasta foi  morto,  o  terceiro  Duarte  foi 
referido  no  Gathalogo  dos  Sanctos  confes- 
sores, o  quarto  Duarte  foi  sucessor  dei 
Rei  dom  Henrrique,  terceiro  que  faleceo 
no  anno  do  Senhor  de  M.CClsxi].»  Da- 
mião de  Ooes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  .3,  cap.  24.  —  «Pela  morte  do  Car- 
deal Rei  D.  Henrique  cujo  ódio  para  com 
a  Casa  de  Bragança  lhe  fez  mais  obsti- 
nada a  sua  natural  irresoluçaõ,  ficou  a 
grande  Monarquia  de  Portugal  sem  suc- 
cessor declarado.»  Fr.  Bernardo  de  Bri- 
to, Elogios  dos  reis  de  Portugal,  conti- 
nuados poi  D.  José  Barbosa. 

—  Syn.  :  Successor,  herdeiro.  Vid.  es- 
te ultimo  vocábulo. 

SUGCESSORIO,  A,  adj.  Que  trata  da 
successào. 

—  Lei  successoria,  pacto  successorio; 
sobre  heranças  futuias,  que  as  regula. 

SUCCINO.  Vid.  Âmbar. 

SUCCINTAMENTE,  adv.  (De  succinto, 
com  o  suffixo  «mente»).  De  uma  manei- 
ra succinta. 

—  Em  poucas  palavras. 
SUCCINTO,  A,   adj.  (Do  latim  succinc- 

tus,  de  suòj  e  cinctus).  Que  tem  poucos 
termos,  em  opposiçâo  a  prolixo.  —  Um 
discurso  succinto.  —  Uma  relação  suc- 
cinta. 

—  Sy\.  :  Succinto,  preciso.  Vid.  este 
ultimo  vocábulo. 


sueco,  s.  m.  (Do  latim  succus).  A 
parto  Immida  das  plantas  e  do  corpo  ani- 
mal, e  que  contém  o  que  n'ella3  é  mais 
substaucial,  e  as  nutre,  repara,  humede- 
ce, etc. ;  sumo. 


Quanto  espontânea  dá !  Quanto  obrigada  ! 
Que  perfumes  exhála  !  Quantos  suecos 
Rica  transfere,  ás  arvores,  ás  plantas  ! 
E,  sempre  liberal,  mais  amplo  volta 
O  pequeno  dopúaito.  que  ao  seio 
Esperançoso  Lavrador  lhe  lança  ! 

1.   A.    DF.  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  CaUt.    2. 


SUCCOLENTO,  A,  adj.  Vid.  Succulento. 

SUCCOSO,  A,  adj.  Que  tem  ííucco,  nào 
árido. 

SUCCULENTO,  A,  adj.  (Do  latim  suc- 
eiilentus).  Toj-mo  de  poesia.  Succoso,  não 
árido,  que  tem  sueco. 

■ —  Cheio  de  sueco,  de  chorume. 

SUGCUMBIR,  V.  a.  (Do  latim  succum- 
bere).  Cair  debaixo,  abater. 

—  Diz-se  de  uma  mulher  que  cede  á 
seducçào. 

—  Nào  resistir,  deixar-se  ir. 

—  Figuradamente :  Ser  acabrunhado 
pelo  peso  dalguma  cousa  comparado  a 
um  fardo. 

—  Absolutamente:  Morrer,  perecer,  fe- 
necer. 

—  Figuradamente :  Ceder  a  forca  maior 
physica  ou  moral ;  a  medos,  ameaças,  pei- 
ta, etc. 

f  SUCESSÃO,  s.  f.  Vid.  Successào.— 
«Na  morte  de  Caiiguia,  e  nova  suces- 
são de  Cláudio  seu  tio,  irmão  de  seu  pay 
Germânico,  mostrou  a  ventura  suas  mu- 
danças ordinárias,  porque  sendo  o  novo 
sucessor  (inda  que  tào  parente  da  casa 
Imperial)  muy  pouco  favorecido  e  esti- 
mado dos  Emperadores,  e  achando-se  no 
paço  ao  tempo  que  os  conjui-ailos  tiràraò 
a  vida  ao  sobrinho.»  Monarchia  Lusita- 
na, liv.  õ,  cap.  4. 

Continua  sucessão  da  noite,  e  dia 
Publica  sabias  Leis,  a  Natureza 
Reconhece  a  impulsão,  a  voz  escuta 
De  seu  Supremo  Auctor,  o  Sol  lha  entende. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATCBEZA ,  Caut.  1. 

—  «Ordenou  neste  anno  de  M.  D.  xv, 
mandar  a  este  negocio  dom  António  de 
Noronha  seu  scriuam  da  puridade,  que 
depois  foi  Conde  de  Linhares,  irmào  de 
dom  Fernando  Marques  de  viila  real,  e 
a  successào  se  dom  António  falecesse 
nesta  viagem.»  Damião  de  Góes,  Chroni- 
ca de  D.  Manoel,  part.  4,  cap.  74. 

SUCIA,  s.  /.  Termo  popular.  Socieda- 
de, companhia,  convivência,  fallando  dos 
vadios,  tafues,  e  até  ladrões. 

■j-  SUCO,  s.  m.   Vid.  Sueco. 

Dentro  era  seu  seio  precioso  suco 
Forma  hum  tecido  de  brilhantes  globos. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Cant.  3. 


SUCRIOSO,  A,  alj.  Termo  antiquado. 
Fino,  ténue,  delgado. 

SUCU30,  ou  SUCCUBO,  A,  adj.  (Do  la- 
tim succubus,  de  succubare,  de  sub,  e 
cubare).  Que  liça  por  debaixo  no  acto  da 
copula  carnal. 

—  Diabos  succubos ;  os  que  fazem  as 
vezes  de  mulheres  em  taes  actos.  Vid. 
Incubo. 

SUCULAS.  Vid.  Hyadas. 

SUGURIJÚ,  ou  SUGURUYÚBA,  s.f.  Ter- 
mo de  historia  natural.  Cobra  do  Brazil 
conhecida  pelo  nome  de  cobra  de  veado. 

—  Cobra  monstruosa  que  engole  um 
veado  inteiro,  quebrando-lhe  o  corpo  com 
as  voltas,  ou  roscas  do  seu  corpo  com  que 
o  aperta :  anda  nos  rios,  e  veua  prear  em 
terra,  quando  ás  margens  dos  rios  não 
vão  animaes,  em  que  se  ceve;  diz-se 
também  que  se  enrola  nos  homens  para 
os  engulir,  c  despedaçar.  Alguns  dizem 
que  mata  os  animaes  mettendo-lhes  a  eól- 
ia pelo  anus;  outros  dizem  que  enrola  o 
rabo  em  algum  tronco  para  segurar  me- 
lhor a  sua  ralé,  que  lhe  não  escape  com 
esforços.  Talvez  será  a  giboya  aç?<,  gran- 
de cobra  aquática.  Diz-se  que  as  ha  no 
dique  da  cidade  da  Bahia. 

f  SUDAÇÃO,  5.  /.  (Do  latim  sudatio, 
de  stidare).  Termo  de  medicina.  Acto  de 
suar  ou  fazer  suar  para  um  fim  therapeu- 
tico. 

SUDÁRIO,  s.  7n.  (Do  latim  sudarius). 
O  panuo  de  alimpar  o  suor. 

Ja  no  sudário  in volto,  ja  nas  andas 
Os  doridos  amigos  o  conduzem 
A  morada  dos  findos. . .  Repentino, 
Do  coração  começa  o  calor  vivo 
A  dovolver-se.  manso  e  manso,  ás  veias. 
GARKETT,  CAMÕES,  caut.  3,  cap.  4. 

—  O  santo  sudário  ;  aquelle  panno  em 
que  se  representa  a  figura  de  Christo  fe- 
rido, e  atormentado,  e  se  mostra  nos  ser- 
mões de  sexta-feira  de  Paixão.  Vid.  Ve- 
rónica. 

SUDATORIO,  adj.  e  s.  (Do  latim  su- 
daforiusi.  Vid.  Sudorífico. 

SUDEIRO,  s.  m.  Toalha  ou  lenço  de 
alimjiar  o  suor. 

SUDOMITICO,  A,  adj.  Diz-se  do  sodo- 
mita, que  usa  do  peccado  contra  a  natu- 
reza. Vid.  Sudomitíco. 

f  SUDORATO,  s.  m.  Termo  de  chimí- 
ca.  Saes  formados  pelo  acido  sudoríco. 

t  SUDORÍCO,  A,  adj.  Termo  de  chí- 
mica.  Acido  sudoríco ;  acido  tirado  do 
suor. 

SUDORIFERO,  A,  adj.  Vid.  Sudorífico. 

SUDORÍFICO,  A,  adj.  Termo  de  medi- 
cina. Que  provoca  o  suor. — Eemedios 
sudoríficos. 

—  Substantivamente :  Tomar  sudorí- 
ficos. 

t  SUDORÍPARO,  A,  adj.  Termo  de 
anatomia.  Que  produz  o  suor.  — As  (jlan- 
dulas  sudoríparas. 


622 


SUFF 


6UFF 


SUFF 


SDDRO,  ».  m.  Ti;rino  da  Afiia,  O  qtio 
tini  ;i  siini  das  paliiníiivirt. 

—  ( Imit.d  incclianica. 

SUDUESTE,  ou  SUDOESTE,  «.  w.  Pon- 
to do  liorisontc  ou  ilo  compasso  collocado 
a  igual  dirttaiicia  do  oustc,  e  do  Bul. 

—  Vento  quo  tem  o  meio  ontre  o  sul  c 
o  oeste.  —  «A  primeira  a  quem  nos  cha- 
mamos do  Comaro,  o  os  nnfíro.H  Anpa- 
ziya,  que  he  de  todas  a  mais  alta  pela 
bamla  do  Sul,  se  corre  Nordeste  Sudues- 
te.  A  outra  quo  ao  Sul  desta  tica,  a  quem 
os  da  terra  cliamào  Maòto,  se  corre  a 
Lessueste,  e  a  Loesnoroeste. »  Fr.  (!as- 
par  de  8.  Bernardino,  Itinerário  da  ín- 
dia. —  «A  terceyra,  quo  be  Mulale,  se 
anda  a  Leste,  e  a  quarta  do  Sudueste. 
A  outra  que  cliamào  Anzuanc  fica  em  o 
meyo  destas.  Entre  ellas  vay  hum  canal 
de  dez  legoas,  todo  limpo,  e  de  muyto 
fundo  ate  poer  o  fjaroupes  em  terra,  sem 
tocar  nelie.»  Ibidem. 

SUEIRAS,  s.  /.  plur.  Termo  antiqua- 
do. Certas  pedras  preciosas,  talvez  safi- 
ras, com  ([ue  .se  ornavam  as  sellas. 

SUESTE,  s.  m.  Vento  entre  o  sul  e  o 
leste. 

SUETO,  s.  7)1.  (Do  latim  assuctus).  Dia 
feriado  extraordimxrio  nas  escolas. 

SUEVOS,  s.  m.  plur.  Nome  dado,  pe- 
los romanos,  desde  Júlio  César  até  Se- 
ptimio  Severo,  aos  povos  da  Grande- 
Germania. 

—  Oo  suevos,  assim  como  os  vândalos 
e  godos,  indadiram  a  península.  —  «Tam- 
bém vemos  como  os  Suevos  tiverão  de- 
pois de  03  Vândalos  serem  partidos  para 
Africa  o  mesmo  senhorio,  pois  dividindo 
a  diocese  de  Leão,  a  estendem  até  os 
moutes  Pireneos,  e  dizem  que  este  dis- 
trito lhe  dorão  os  Reis  Suevos,  e  nomean- 
do alguns,  nos  descobre  outro,  de  que 
nossos  Authores  fazem  pouca  lembrança." 
Mouarchia  Lusitana,  liv.  G,  cap.  14. —  «E 
por  urio  iicar  cousa  dos  Suevos,  que  n.uo 
conquistasse,  mandou  Theodorico  a  Ceu- 
rila  8  'u  Capitão  com  hum  bom  terço  de 
gente,  a  ganhar  as  terras,  que  elles  pos- 
suhiaõ  em  Andaluzia  e  contra  os  que  se 
retirar.ão  ao  interior  de  (ializa,  mandou 
03  outros  dous  Capitães,  chamados  Neri- 
eo.»   Ibidem,  eap.  7. 

SUFFICIENCIA,  *.  /.  (Do  latim  sujfi- 
cientia).  Abastança  physica,  ou  de  habi- 
lidade, destro,  etc. 

—  Confiado  em  ^ua  sufficiencia;  con- 
fiado em  que  tem  o  saber,  prudência,  ou 
authoridade  adequada. 

—  Toma-se  também  por  capacidade, 
aptidão,  habilidade. 

SUFFICIENTE,  adj.  2  gen.  Que  basta, 
basUiute. — Estes  homeiís  são  sufficientes 
para  dffcuder  a  praça.  —  oE  nom  pro- 
veendo  a  ello,  como  devo,  se  achado  for, 
que  a  dita  exciçom  he  sufficiente  pêra 
embarguar  a  dita  prueuraçoni,  nom  seja 
mais  recebido  o  dito  Procurador,  c  pro- 
codaõ    pelo    feito    em    dianto,    como    for 


achado  per  direito.  •  Ord.  Affons.,  liv. 
1,  tit.  1;>,  4}  11. —  «E  por<|Ue  n;i  casa 
do  ciuel  houuesse  milho:'  expediȒntc  no 
despacho  da  justiça,  ordenou  neila  maÍ4 
sobre  juizes,  dos  que  dantes  hauia,  c  aa- 
8Í  aos  desembargadores  desta  casa,  quo- 
mo  aos  da  casa  da  Supplicaçaõ  acrecen- 
tou  noa  ordenados,  porque  hos  que  dan- 
tes tinliaõ  naõ  eraõ  sufficientes  porá  se 
dcUcs  podctrem  manter,  u  Dainiilo  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  9. 
—  n^'asco  Fi-niahdez  césar  foi  homem 
do  quem  se  cl  Rei  dom  Emanuel  seruio 
em  muitas  cousas  por  o  achar  pêra  Í8>o 
mui  sufficiente  assi  nas  da  guerra,  como 
em  outros  negoceos,  e  o  mesmo  fez  el 
Rei  dom  Toam  terceiro,  seu  filho,  o  qual 
depois  de  ter  seruido  dous  annos  de 
Adail  em  Azamor,  e  ter  feito  as  entra- 
das de  que  fiz  mençam.»  Ibidem,  part. 
4,  cap.  í)7.  —  «E  vendo  quam  pouco  a 
indu.stria  de  todos  aproueytaua,  ordena- 
mos correr  em  popa,  pêra  onde  nos  le- 
vassem 08  ventos,  e  ondas,  pois  a  em- 
barcação nào  era  sufficiente,  pêra  mos- 
trar o  rostro  aos  trabalhos,  que  a  triste 
ventura  cada  hora  nos  reprosentaua.»  Fr. 
Gaspar  de  S.  Bernardino,  Itinerário  da 
índia,   cap.  10. 

—  Hábil,  apto,  capaz. 

—  Graça  sufficiente ;  graça  quo  basta 
para  converter  o  peccador.  —  •£  logo 
ajuntaua  que  pois  Deos  nosso  Senhor  a 
todos  dera  sempre  graça  sufficiente  para 
o  seruirem,  csperaua  em  sua  díuina  mi- 
sericórdia, e  noâ  merecimentos  de  sua 
esposa  a  Igreja  santa,  e  nos  da  Compa- 
nhia de  JESV  muy  particularmente,  lha 
daria  a  elle  com  muytas  forças ;  pêra 
que  vsaudo  bem  da  mesma  graça  o  nam 
otfendesse,  antes  o  seruisse  como  preten- 
dia.» Lucena,  Vida  de  S.  Francisco  Xa- 
vier, liv.  G,  cap.  12. 

—  Syx.  :  Sufficiente,  bastante.  Vid.  es- 
te ultimo  vocábulo. 

SUFFICIENTEMENTE,  adv.  (De  suffi- 
ciente, e  o  sufrixo  «mentei»).  Bastante, 
tanto  q\i,anto  é  preciso. 

SUFFICIENTI3SIM0,  adj.  superl.  de 
Sufficiente.  Jlui  suiHciente. 

SUFFIXO,  s.  m.  Termo  de  grammati- 
ca.  Diz-se  das  syllabas  ou  letras  que  se 
ajuntam  depois  das  raizes,  para  determi- 
nar a  sua  idêa  geral,  e  fazer-lhe  repre- 
sentar um  papel  como  partes  do  discur- 
so. —  Suffixos  primários.  —  Suffizos  se- 
cundários. 

—  Adj.  —  Letra  suffizã.  —  Particula 
snífixa. 

SUFFOCAÇÃO,  *.  /.  (Do  latim  suffoca- 
tiu).  Perda  de  respiração  ou  extrema  dif- 
culdade  de  respirar. 

—  Asphyxia  produzida  pela  presença 
de  um  corpo  estranho  que  obstrue  a  pha- 
rynge.  c  intercepta  a  passagem  do  ar. 

—  Termo  de  medicina  legal.  Caso  em 
que  um  obstáculo  é  levado  violentamente 
á  entrada  do  ar  nos  órgãos  respiratórios, 


taes  como  a  conipreoMão  das  parcles  do 
peito  e  o  tapamento  directo  daa  narioad 
e  dii  bocca. 

—  Termo  do  medicina.  Suffocação  da 
madre;  ataque  de  hvKteria. 

SUFFOCADO,  part.  pa**.  de  Suffocar. 
Que  pcrdo  a  re«piraçâo.  —  SutFocado  por 
um  ar  ardente. 

—  Interceptado,  cortado,  detido. 

—  Por  extensão:  O  nio  suffocado  dt 
soluços;  qiiasi  inanirua<io. 

—  (^ue  morre  por  »uffocaç3o. 
SUFFOCADOR,  A,  adj.  Que  aaffoca.  — 

Calma  sufTocadora. 

—  Usa-s(!  t:imbi;m  substantivamente. 
SUFFOCANTE,  p'iri.  act.   de  Suffocar. 

Vid.  Suffocador,  e  Suffocativo. 

SUFFOCAR,  V.  a.  (Do  latim  suffocare). 
Fazi-r  jieriler  a  respiração,  fallando  de 
algum    vapor  mcphitico. 

—  Matíir  por  Buflocação. 

—  SufTocar  a  voz,  o  a^nto;  supprimir. 

—  SufTocar  os  clamores  da  justiça,  o$ 
boatos  da  calumnia;  reprimir,  fazer  ca- 
lar, supprimir. 

—  SufTocar  o  valor,  o*  talentos ;  obs- 
tar a  que  cUea  se  exercitem  e  manifes- 
tem. 

—  Suffocar  a  justiça  dos  requennUi; 
não  lhes  deferindo. 

—  Privar  da  vida,  suffocando. 

—  Suffocar-se,  v.  rtjl.  —  Suffocar-se 
cc'm  alguma  cousa;  perder  a  rcspiraçEo 
com  ella.  —  «Apenas  chegou  ao  meyo 
delle  levando  huma  luz  na  mão,  começou 
a  gritar  que  o  tirassem  outra  vez  porque 
se  sufocava.»  Cavalleiro  d'Uliveira,  Car- 
tas, liv.  1,  n."  15. —  «Nào  deve  suffo- 
car-se e  abafar  com  o  peso  de  gravissi- 
mos  negócios;  divirta-se  em  boa  hora  e 
embora,  nem  isto  é  contra  a  virtude,  an- 
tes é  exercício  de  eutrapélia,  na  doutri- 
na de  S.  Thomaz.i  Bispo  do  Grão  Pari, 
Memorias,  publicadas  por  Camillo  Cas- 
tello  líraneo,  pag.  184. 

SUFFOCATIVO,  A,  a.]j.  Que  suffoca. 
—  Vapí/r  suffocativo. 

—  Figuradamciite:  A  pobreza  suffoca- 
tiva  da  justiça ;  faz  calar  ou  baldar  03 
juítos  requerimentos  do  pobre. 

SUFFRAGANEO,  A,  adj.  (Do  latim  suf- 
fraga]ieus).  Sujeito,  subordinado. — Bi*' 
pados  suffraganeos. 

—  Usa-sc  também  substantivamente. 

SUFFRAGAR,  i-.  a.  (Do  latim  sufra- 
garei. Apoiar  com  seu  voto,  spprovar, 
favorecer. 

—  Rogar  por  alguém  com  sufiEragioe, 
ajudal-o  com  elles. 

—  Suffragar  as  mortos;  orar  por  el- 
les. 

SUFFPAGIO,  í.  m.  (Do  latim  sufra- 
gium^.  Declaração  que  de  um  modo  qual- 
quer se  faz  de  sua  vontade  n'nnia  elei- 
ção, n  uma  deliberação.  —  TVmar  os  sof- 
fragios. 

—  Por  extensão  :  AdhesSo,  approva- 
çilo. 


SUGE 


suaG 


SUJE 


623 


—  Termo  de  liturgia  catholica.  Ora- 
ções que  se  fazem  em  certos  dias  do  aa- 
no  no  tim  de  laudes  e  de  vésperas  para 
a  commemoraçào  dos  santos. 

—  SufFragios  dos  santos:  as  orações  que 
os  santos  fazem  a  Deus  em  favor  dos  que 
o  invocam. 

SUFFRAGANHO,  A,  adj.  Vid.  Suffraga- 
neo. 

f  SUFFRIMENTO,  s,  m.  Vid.  Soffri- 
mento.  —  «Todas  suas  cousas  temos  por 
tamanha  bemaventurança,  que  somente 
darem-nos  presumpçaõ  que  sentem  o  que 
ellas  ordemnau,  estimamos  em  tanto,  que 
nos  fica  suffrimento  pêra  quantas  dores 
nos  cataõ.»  Barros,  Clarimundo,  liv.  2, 
cap.  6. 

SUFFRUTESCENTE,  adj.  2  gen.  Que  é 
da  natureza  e  tamanho  do  subarbusto. 

SUFFUMIGAÇÃO,  s.  /.  (Do  latim  suf- 
fuviigatio,  de  sub,  e  fumigatió).  Vid. 
Suffumigio. 

SUFFUMIGIO,  s.  m.  Termo  de  medici- 
na. Vapor  que  se  applica  a  alguma  parte 
para  a  curar.  —  Suffumigio  de  enxofre. 

SUFFDSÃO,  s.  .?'.  (Do  latim  sufiísio, 
de  suffundere,  de  sub,  e  fundere).  Ter- 
mo de  medicina.  Acto  pelo  qual  um  hu- 
mor se  derrama  sob  a  pelle,  e  ahi  se  tor- 
na visivel  em  consequência  da  sua  accu- 
nmlacào. 

-j-  SUFICIÊNCIA,  s.  f.  Vid.  Sufficien- 
cia.  —  «Sam  destribuydos  os  ofticios  por 
el  Rey  com  conselho  dos  capados,  segun- 
do os  merecimentos  e  suficiência  de  cada 
hum.  As  capitanias  dam-se  segundo  ha 
cavalaria  e  feitos  de  cada  hum  na  guer- 
ra.» Fr.  Gaspar  da  Cruz,  Tratado  das 
cousas  da  China,  cap.  17. 

SUFISTARIA,  s.  f.  Vid.  Sofistaria. 

SUFOLIE,  s.  m.  Certo  estofo  d'algo- 
dào. 

SUFRAGANTE.  —  Dclicto  sufragante  ; 
erro  por  flagrante. 

f  SUFRIVEL,  adj.  2  gen.  Vid.  Soffri- 
vel.  —  oMuytas  vezes,  corre  nella  hum 
vento,  cujo  nome  he  Sui'im,  que  quanto 
elle  he  mayor,  t<àto  sua  quentura  menos 
sufriuel,  e  se  vos  enroupaes  e  cobris 
bem,  ficaes  frio:  e  se  vos  descobris  porá 
desabafardes,  morreis  cõ  calma.  E  com 
ter  esta  propriedade  a  agoa  no  cântaro, 
ou  pote,  fala  tam  fria,  que  de  muito  pa- 
rece não  se  poder  beber.»  Fr.  fíaspar 
de  S.  Bernardino,  Itinerário  da  índia, 
cap.   11. 

SUFUF,  s.  VI.  Termo  de  pharmacia. 
Qualquer  medicamento  que  se  toma  em 
pó. 

SUGADO,  fart.  pass.  de  Sugar.  Vid. 
Chupado. 

SUGADOR,  adj.  e  s.   Vid.  Chupador. 

SUGAR,    V.  a.  Vid.  Chupar. 

SUGEITAR,  V.  a.  Vid.  Sujeitar. —«E 
se  algum  dia  houve  bruto  que  se  sugei- 
tasse  a  outro  de  differente  espécie,  foy, 
naõ  porque  a  natureza  o  inclinasse  a  isso, 
mas  por  alguma  conveniência  útil  para  a 


conservação  da  vida.  Ha  entre  os  ho- 
mens estados  taõ  diversos,  que  se  dis- 
tinguem entre  si  mais,  que  as  espécies 
dos  brutos.»  Arte  de  furtar,  cap.  58. — 
«Faça  muito  por  sustentar  a  reputação, 
e  credito  de  sua  pessoa,  pra-que  terá  quem 
o  sirva,  e  todos  se  lhe  sugeitaráõ.  Ale- 
sanrlre  Magno  divulgou,  que  era  rilho  de 
Júpiter,  para  ser  respeitado,  o  obedeci- 
do; justifique  a  causa  que  tem  para  fa- 
zer guerra,  e  divulgue-a  com  Manifes- 
tos ;  porque  dá  animo  aos  soldados,  que 
o  servem,  e  acovarda  os  contrários.»  Ibi- 
dem,  cap.  22. 

SUGEITO.  Vid.  Sujeito.  —  «Donde  se 
infere,  que  quando  ha  uniaõ  de  amor  en- 
tre taes  sugeitos,  naõ  he,  porque  a  natu- 
reza os  incline  a  isso,  he  a  conveniência 
do  interesse ;  e  como  esta  vay  diante 
sempre,  sempre  vay  fazendo  seu  ofíicio, 
aproveitando-se  do  amor  para  suas  conve- 
niências.» Arte  de  furtar,  cap.  58. 

SUGERIDO,  part.  pass.  de  Sugerir. 
Lembrado,  inspirado. 

SUGERIR,  ou  SUGGERIR,  v.  a.  (Do  la- 
tim suggerere).  Lembrar,  fazer  vir  ao 
pensamento.  —  «Eram  condições  que  en- 
tão maravilharam  os  coevos  e  hoje  sug- 
gerem  desejos  de  aquilatar  o  valor  in- 
trínseco de  tamanho  sujeito.»  Bispo  do 
Grão  Pará,  Memorias,  publicadas  por 
Camillo  Castello  Branco,  pag.  5. 

—  Inspirar,  advertir. 
SUGESTÃO,   s.  f.  Insinuação  má. 

—  A  acção  de  suggerir,  de  fazer  lem- 
brar, de  apontar,  aconselhar. 

—  Syn.  :  Sugestão,  insinuação.  Vid. 
este  ultimo  vocábulo. 

SUGESTIVO,  A,  adj.  Que  contem  sug- 
gestào,  que  se  dirige  a  suggerir  noticia, 
resposta. 

—  Que  suggere,  inspira,  encaminha  de 
comnium  o  mal. 

SUGESTO,  ou  SUGGESTO,  s.  m.  (Do 
latim  suggestus).  Tribuna  ou  púlpito  d'on- 
de  os  oradores  fallavam  ao  povo  romano. 

SUGIDADE,  s.f.  Vid.  Sujidade. 

SUGIGADO,  part.  pass.  de  Sugigar. 
Vid.  Subjugado. 

SUGIGAR,   V.  a.  Vid.  Subjugar. 

SUGILLAÇAO,  s.  /.  (Do  latim  sugiUa- 
tio).  Termo  de  medicina.  Ligeira  echy- 
mose  cutânea,  de  causa  espontânea,  ou 
de  causa  exterior. 

—  Lividez  cadavérica. 

SUGINHO,  A,  adj.  Diminutivo  de 
Sujo. 

SUGIR.  Termo  da  província  da  Beira. 
Vid.  Chupar. 

SUGISTORIO,  ou  SUGITORIO,  s.  m. 
Homem  que  ia  na  procissão  do  Corpo  de 
Deus  em  Coimbra,  vestido  ridiculamente, 
que  com  espada  e  rodella  andava  diante 
da  serpe  procurando  cortar-lhe  a  lingua, 
e  depois  batalhava  com  ella.  Vid.  Segito- 
rio. 

SUGO,  s.  m.  Vid.  Sueco. 

-{■  SUGGAR,  V.  a.  Vid.  Sugar.  —  «Ou 


pode  também  ser ;  porque  se  capacitaõ 
por  suggestaõ  do  Demónio,  (isto  se  en- 
tende com  mayor  fundamento  das  que 
saõ  ja  velhas)  que  beben'lo,  e  suggando 
o  sangue  dos  meninos,  haò  de  tornar  a' 
renovar  a  mocidade,  que  ja  tem  perdido; 
por  supporem,  que  o  sangue  dos  lactan- 
tes restaura,  e  vigGra  o  húmido  radical ; 
como  adverte  Marsilio  Ficiuo.»  Braz 
Luiz  d'Abreu,  Portugal  medico,  pag. 
623,  §  143. 

SUIÇA,  s.  /.  Companhia  fingida  de  pai- 
sanos vestidos,  e  marchando  como  os  sol- 
dados para  brinco  e  festa.  Vid.  Soiça. 

SUICIDA,  s.  2  gen.  Pessoa  que  dá  a 
morte  a  si  mesmo. 

SUICIDAR-SE,  V.  refl.  Matar-se. 

SUICÍDIO,  s.  in.  (Do  latim  sui,  e  ccb- 
des).  Acção  d'aquelle  que  se  mata  a  si 
mesmo. 

SUIDADE,  s.  /.  Termo  de  jurisprudên- 
cia. O  estado  d'aquelle  que  era  herdeiro 
necessário  de  algum  testador,  como  o  fi- 
lho que  estava  debaixo  do  pátrio  poder 
ao  tempo  da  morte  do  pae,  o  qual  se  cha- 
ma herdeiro  seu,  e  necessário. 

SUÍNO,  A,  adj.  (Do  latim  sui?ms,  de 
suis).  De  porco,  ou  coucernente  ao  por- 
co. —  Carne  suina. 

SUISSA,  s.  f.  Vil.  Soiça. 

—  Flur.  Termo  popular.  Os  cabellos 
que  se  deixam  crescer  na  cara  desde  as 
orelhas  até  perto  da  bocca. 

SUJAMENTE,  adv.  (De  sujo,  e  o  suffi- 
xo  ímeuíe»).    De  um  modo  porco,  sujo. 

—  Sordidamente,  no  physico  e  no  mo- 
ral. 

SUJAR,  V.  a.  Tornar  sujo.  —  Sujar  os 
vestidos. 

—  Figuradamente  :  O  peccado  suja  a 
alma. 

—  Sujar-se,  v.  rejl.  Tornar-se  sujo, 
porco,  emporcalhar-se. 

—  Figuradamente  :  Macular-se,  fazer 
acto  torpe,  indecoroso,  feio. 

—  Adagio  e  provérbio  : 

—  Quem  mal  falia,  sua  lingua  suja. 
SUJEIÇÃO,  s.  /.    (Do  latim  subjectio). 

O  Bstadu  da  pessoa  ou   cousa  sujeita,  su- 
bordinada e  dependente. 

—  As  muUieres  íem  sujeição  dos  mari- 
dos. 

—  O  pejo,  o  encolhimento  que  temos  a 
re=:peito  de  alguma  pessoa. 

SUJEITA,  s.  /.  Mulher  que  se  não  no- 
meia. 

SUJEITADO,  part.  pass.  de  Sujeitar. 
Submettido,  sujeito. 

SUJEITADOR,  A,  adj.  e  s.  Que  sujei- 
ta, que  subjuga,  que  avassalla. 

SUJEITAR,  V.  a.  (Do  latim  suhjedum, 
de  subjicere).  Tornar  sujeito  o  que  era 
livre  e  independente  por  meio  de  armas. 

Terrestres  animaes  o  Author  Supremo 
Aos  homens  mjeitou  ;  nelles  doraiuão, 
Drtdoá  ás  precisões,  mas  nunca  ao  criuie. 

J.    A.    DK   MACEDO,    ItEDITAçlo,   Caut.    1. 


624 


SUJE 


SUJO 


SULA 


—  Ter  sujeito,  Bub jugarlo,  e  sem  livre 
acçHo. 

—  Figuradamuiite :  Sujeitar  ci/in  ra- 
ziks, 

—  Fipuraflamento  :  Fazer  obedecer,  — 
Sujeitar  a  vontade  á  ratão,  á  lei. 

—  Sujeitar-se,  v.  rejl.  Limitar  a  sua 
liberiLado  a  alffiim  respeito,  reinJer-se, 
por  exemplo,  an  amor,  A  K'i,  ao  supei-ior, 
ctc.  —  oK  cl  Rei  (lo  Jíalabar,  Coroman- 
del,  e  Paiifli,  c  outros  do  diveríias  Na- 
ç3es,  o  Seitas,  se  sujeitarão  voiuntaria- 
niento  á  Lei  de  S.  Tiiomc.  Veio  tempo 
em  que  o  Santo  foi  morto  por  miloa  do 
hum  Jiramene,  e  coni  seu  sangue  fez  esta 
Cruz.n  .laointliD  Freire  d'Andrade,  Vida 
de  D.  João  de  Castro,   liv.  1. 

SUJEITISSIMO,  A,  adj.  superl.  de  Su- 
jeito. 

1.)  SUJEITO,  7í«)-/.  paus.  irreg.  de  Su- 
jeitar. Que  fica  por  baixo. 

—  Dócil,  obediente,  obsequioso. 

—  Reduzido  à  suiei(,'iío,  subjupríido,  re- 
duzido ao  senhorio,  dominio,  mando,  obe- 
diência. —  «Porém  primeiro  esteve  olhan- 
do o  vulto  do  Miraffuarda,  que  lhe  pare- 
ceu a  mais  formosa  cousa  do  mundo,  e  se 
então  não  tivera  a  vontade  em  outra  par- 
te tão  sujeita,  soubera  mal  determinar 
quem  fazia  vantage  uma  á  outra,  Poli- 
narda  a  ella,  ou  oUa  a  Polinarda.»  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  61. 


Fiado  iifi  promessa,  c  consciência 
Do  Ef;íis  >roniz :  maâ  não  consente  o  peito 
Do  moço  illuatre  a  outrem  ser  sujeito. 
CAM.,  i.us.,  cant.  3,  est.  .36. 

A  origem  das  mudanças  do  seus  peitos ; 
Estas  letras  aqui  por  longos  anos 
Digão  a  coraçõíâ  a  amar  xiijcitos 
Em  peito  varonil,  que  do  ventura. 

IDEM,  OITAVAS. 


Mas  porque  ja  bastantcnicnto  agora 
Teom  dado  execução  a  seu  conceito, 
Çoineçào  cm  tornando  a  nova  Aurora 
A  cruel  bateria  dar  eftcito  : 
E  vendo  o  baluarte  cA  de  f>ra 
Que  era  a  Gas;)ar  de  Sousa  então  xitjettn 
Cora  menos  defensões  fpio  os  outros  tinhâo, 
O  sou  furor  prinieií-o  a  elle  encaminhão. 

fka;«cisco  d'.vndb.<de,  priui:ibo  ckrco  de  did, 
cant.  15,  est.  55. 

Ella  alli  tinha  hum  filho,  a  quem  devido 
Por  seu  grande  valor,  grão  louvor  era, 
Aroço,  a  quem  dera  Mendes  o  apellido, 
E  o  grão  Santo  d'As3Ís  o  nome  dera  ; 
r)a  velha  mãe  com  tal  amor  querido 
Qual  o  filho  da  que  honra  a  alta  Cythora 
Nunca  soube  imprimir  naquelle  poito 
Que  elle  fazer  a  si  quiz  mais  sujeito. 
IBIDEM,  cant.  IG,  est.  30. 

Que  dèo  primeiro  impulso  ã  massa  inerte, 
Quando  os  Ente.s  chamou  do  nada  A  vida. 
O  moto  desigual  da  argêntea  Lna 
A  teus  profundos  c.!>lculo9  siijeita-i. 

J.  A.   OE  HACEDO,  VIAUKM  EXTÁTICA,  Caitt.  O. 


Só  na  matoria  encontra  hum  fogo  nctÍTO, 
Que  o  corpo  iiiiriien.-«i  abrange,  e  ncUo  existe, 
Principio  anunador  dn^  Kuteii  todoA, 
Ao  Pado  Eterno,  c  inc<ignito  «iijeUoi. 
IDEU,  MKDiTAçÃo,  cant.  4. 


—  «Fiiippe  II  de.iejava  deixar  em  Lis- 
boa um  lillio,  que  uascidn  o  creado  entre 
portuguezo.-f,  fizesse  menos  pecado  o  gri- 
liiãí»  com  i|ue  gemiam  .^^^i(ritos  a  Castclla.» 
Bispo  do  (iràu  l'arii,  Memorias,  publica- 
das por  Camillo  Castello  liranco,  pag.  28. 

—  Exposto  a  aiguuia  cousa. 

Qualquer  que  nnsoor  sujeito 
A'  maldita  conjunção, 
Sem  nenhuma  appellação. 
Nem  cstylo  de  direito, 
Pi'rtence  A  nossa  prisão, 
Assim  como  quem  nascer 
Na  conjunção  desastrada 
Em  que  peccou  Lúcifer. 

OIL  ^^CESTE,  AUTO  DA  CAKAKÊA. 

—  Domado. 

—  A  matéria  sujeita;  que  é  sujeito, 
assumpto  do  discurso,  de  que  se  trata. 

—  E  sujeito;   é  captivo,  escravo. 

2.1  SUJEITO,  s.  m.  Homem  que  se  não 
nomeia. 

—  Súbdito,  vassallo. 

—  índole,  capacidade. 

—  O  objecto,  assumpto  de  que  se  tra- 
ta, em  algum  discurso,  arte,  poema,  e 
historia. 

—  Sujeito  da  proposição;  o  termo  ou 
termos  com  que  signiticamos  a  pe.ssua  ou 
cousa  de  quem  o  verbo  affirma  alguma 
propriedade  ou  attril)uto.  Ha  sujeitos  di- 
versos e  outros  cognatos  do  verbo,  ou 
nascidos  da  mesma  idêa,  e  raize.s,  por 
exonipli),  o  comer  come-se,   ctc. 

f  SUJEYÇÃO,  s.  /.  Vid.  Sujeição.  — 
«Disseraõ  mais  que  negauaõ  cpie  Deos 
como  poderoso  creára  todas  as  cousas 
quantas  havia  no  Mundo  para  serviço  do 
homem,  mas  que  as  que  destas,  depois 
procederão,  iicâraõ  peia  sujeyçaõ  que  tem 
ao  pcccíido,  taõ  imperfeytas  em  sua  na- 
turcsa,  que  de  serem  amargosas,  duras, 
e  bravas,  não  tinhão  em  si  substancia 
nenhuma  pelo  que  foy  necessário  para  se 
elias  redusirem  â  perfevção  do  seu  pri- 
meiro ser,  nascer  Amida  de  todas  ellas,» 
Paiva  d'Andra de,  Sermões,  part.  1,  pag. 
213. 

SUJIDADE,  s.  /.  Falta  de  limpeza,  de 
aceio. 

—  Os  excrementos  do  corpo  humano. 

—  Immundicia. 

—  Plur.  Termo  popular.  Termos  inde- 
centes e  deshonestos. 

SUJO,  A,  atij.  Porco,  sórdido,  não  lim- 
po, não  aceiado. 


Vè-3C-lhe  huma  presença  veneranda. 
Digna  assaz  de  real  sceptro  e  coroa. 
Com  velhos  traji^s,  vis,  e  sujo.'  anda. 
Mal  ornado,  o  composto  na  pessoa; 


Mofltrando-M  vem  coxo  dlmina  banda, 
Doutra  w  lhe  vêem  iuluh  tom  que  voa. 
Cego  hc  de  todo,  c  quem  jiôi-  nellc  o  tffnto 
Vé  que  i»  vczcB  lhe  fnltji  o  entendimento. 

r.  o'axdbadr,  pbimbibo  cr«io  dk  diu,  cant.  12, 
est.  07. 

—  Figuradamente :  Sórdido,  torpe,  in- 
decente. 

—  Impediílo,  pejado,  entrcnieiado. 

—  Deshone-ito,   impudico,  indeooroao. 

—  C/iaga  suja ;  a  que  tem  súrdee. 

—  Luro  sujo;  livro  cheio  de  erroe, 
incorrecto,  sem  correc\-3o. 

SUL,  «.  m.  A  parte  do  umndo  oppos- 
ta  ao  noi°te;  o  meio  dia. —  ■£  &»ni  cami- 
nhamos te  os  nouc  do  mes,  em  que  noa 
achamos  em  doze  grãos,  da  baiii.'a  do  Sul, 
vendo  esta  taide  auibai*  as  nãos,  qne  sem- 
pre juntas  ai>-qui  viemos,  .-is  Ilhas  cio  Co- 
maro,  das  quaes  tízerilo  terra  firme,  e 
costa  de  Moçambique.»  Fr.  'iasparde 
S.  Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap. 
1. —  «Ficaudo  Araxa,  e  seu  marido  c<) 
outros  (|ue  se  c^itentarào  da  terra,  ajiar- 
tareuise  os  mais  a  buscar  outra  cm  quo 
msÀi  comodamente  podessem  pasar  a  vi- 
da ;  e  tomando  o  caminho  do  Sul,  ou 
Jleyo  dia,  vierão  parar  em  hum  campo 
largo,  e  apraziuel,  apto,  e  couueniente  a 
seu  intento,  a  que  poserão  nome  Senaar, 
que  quer  dizer,  leuante.se  o  que  dorme.» 
Ibidem,  cap.  18.  —  t  Estas  palanras  re- 
petem quatro  vezes,  virados  pêra  o  Orien- 
te, Ponente,  Norte,  e  Sul:  as  quaes  di- 
zem quatro  veze.-}  cada  dia.  A  primeira, 
duas  horas  ante  manhiiã.  A  segunda,  ao 
uieyo  dia.  A  terceira,  ao  pôr  do  Sol.» 
Ibidem,  cap.  19.  —  «Da  banda  do  Norte 
tem  o  í>gipto,  e  do  Sul  os  montes  da 
Lua,  dos  quaes  saem  rios  de  que  se  fa- 
zem grandes  alagoas,  donde  nasce  o  Ni- 
lo que  corre  toda  esta  terra,  e  a  do  Egi- 
pto ate  sair  no  mar  medeterranio,  junto 
da  cidade  Dalexandria,  fronteira  da  ilha 
de  Chipre.»  Damià*>  de  (loes,  Chronica 
de  D.  Manoel,  part.  5,  cap.  62. 

De  nebuloso  Sid  prescrutadores : 

A  gloria  de  busc4ir  no  Mundo  hum  Mundo, 

Se  ao  pensativo  Batavo  i>ertencc, 

A  pertinaz  navegador  Uritano, 

No  Tejo  as  bases  tem,  no  Tejo  a  fonte; 

Mais  aJéra  de  Queiroz  nenhum  se  avança. 

J.    A.   DE  MACEDO,  VIAOEM    EXTÁTICA,  Cant.   4. 

—  Termo  de  náutica.  O  ponto  canli- 
nal,  opposto  ao  norte,  ou  a  constellaçilo  da 
rosa  menor;  o  vento  que  sopra  d'aquelle 
ponto. 

—  A  America  do  sul;  o  sul  do  sul. 

—  O  vento  é  sul;  sopra  da  re^So  do 
sul. 

—  Absolutamente:  O  vento  do  sul. 

—  Adj.  —  O  polo  sul ;  o  polo  antár- 
ctico ou  austral. 

—  (rratis  de  latitude  sul;  aquelles  quo 
vào  110  cquaiKir  para  e^tc  i'iilo. 

SULANO,  .«.  m.  Vul.  Solano. 
SULA-PATOLA,  s.  /.  Termo  de  historia 


SÚLF 


SULF 


SULF 


625 


natural.  Ganso  patão,  de  bico  comprido, 
agudo,  levemente  denteado,  e  de  cauda 
igual,  que  nào  excede  as  azas. 
"  SULAVENTEAR,  v.  n.  Termo    de  náu- 
tica. I)e'caíi-  para  sulavento. 

SULAVENTO,  í.  m.  Vid.  Julavento,  e 
Sotavento. 

SULCAR,  r.  a.  (Do  latim  sulcare).  Fa- 
zer regos  com  o  arado  na  terra. 

—  Termo  de  náutica.  Cortar  as  ondas. 
—  Os  navios  sulcando  os  mares.  —  i  Po- 
rem em  quàto  a  nao  vay  de  vagar,  sul- 
cando as  ondas  do  largo  Occeano,  e  o 
tempo  nos  dà  lugar  perà  bõ  dizer  da  Ilha 
vS.  Lourenço,  o  que  Faque  Volay  hia  co- 
tando, ajudàdonos  dos  Authores,  que  me- 
lhor delia  sentirão.»  Fr.  Gaspar  de  S. 
Bernardino,  Itinerário   da  índia,  cap.  2. 


XSo  hia  o  ferro  da  fatal  biponne 
As  Faias  profanar  nos  altos  montes 
Para  s'ilcar  o  mar  de  ignotos  climas ; 
ííem  laigos  muros,  nem  profundos  fossos 
Das  Cidades  o  circulo  fecha  vão. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  SATUBEZA,  Caut.  2. 


Para  sulcar  o  mar  de  ignotos  climas. 
O  medonho  fragor  de  Mareia  tuba 
Nunca  assustava  os  tímidos  ouvidos  ; 
Nem  desvelada  mài,  á  voz  da  guen-a. 
Ao  peito  os  filhos  enfiada  unia. 

IDEM,   MEDITAÇÃO,   Cant.    2. 


SULCO,  s.  VI.  (Do  latim  siihits).  Rego 
do  arado. 


Orçács  amjos  viris?  Morrer  vo.s  mandão 
Em  dofcadoT  Tyrannos,  nas  fronteiras. 
Ou  a  sulcos  rasgar,  que  os  alimentem. 

r.   U.   DO  KASCIMEKTO,    OS    M.4RTTBES,  1ÍV.   9. 

Útil  á  vida,  e  péssimo  instrumento: 
Feito  em  severo  arado  os  su/cos  abre, 
E  a  Madre  Terra  lhe  agradece  os  golpes : 
Ditosa  usura,  que  sustenta  os  homens! 
EUe  os  mármores  fende,  cUc  os  aliza  -, 
Ao  mortal  dá  sustento,  e  dá  guarida  ; 
Nos  montes  da  Livonia  o  pinho  abát«. 
Em  que  ás  ondas  s'eutrega  o  n.iuta  ousado, 
E  vai  n"hum  laço  só  ligar  dois  Mundos. 

J.    A.   DE  MACEDO,   MEDITAÇÃO,   Caut.    2. 

t  SULFACETICO,  A,  adj.  Termo  de 
chimica.  Acido  sulfacetico;  corpo  que  se 
forma  pela  acção  do  acido  sulfúrico  anhy- 
dro  sobre  o  acido  acético  puro. 

f  SUIFACIDO,  s.  m.  Termo  de  chimi- 
ca. Xonie  dado  aos  sulfuretos,  que  nas 
suas  combinações  com  outros  corpos,  re- 
presentam o  papel  d'acido,  ou  do  corpo 
electro-negati  vo . 

f  SULFARSENICO,  adj.  Termo  de  chi- 
mica. ^4f i(/o  sulfarsenico ;  composto  de 
acido  de  enxofre  e  arsénico  corresponden- 
te ao  acido  arsénico. 

7  SULFARSENIOSO,  adj.  Termo  de  chi- 
mica. Acido  sulfarsenioso;  combinação 
de  acido  de  enxofre  e  arsénico  corres- 
pondente ao  acido  arsenioso. 

•TOL.  Y.  —79. 


SULFATADO,  A,  adj.  Termo  de  chimi- 
ca. Comljiuado  com  mn  sulfato. 

— -  Da  natureza  do  sulfato,  em  que 
entra  sulfato. 

—  Aguas  mineraes  sulfatadas;  aguas 
que  contém  sulfato  de  ferro,  posto  que 
este  epitheto  seja  applicavel  a  todas  as 
que  contém  quaesquer  sulfatos. 

SULFATE,  SULFATO,  ou  SULPHATO,  s. 
?)i.  Termo  de  chimica.  Xome  dos  saes  pro- 
duzidos pela  combinação  do  acido  sulfú- 
rico com  as  bases  salificaveis. 

7  SULFATICO,  adj.  Termo  de  chimi- 
ca. Ether  sulfatico ;  ether  composto  que 
se  obtém  fazendo  chegar  vapores  d'acido 
sulfúrico  anhydro  a  um  balão  contendo 
ether  completamente  livre  d'agua. 

7  SULFATIZAÇÃO,  s.  f.  Termo  de  chi- 
mica. Traiisformaçào  em  sulfato. 

SULFATIZAR,  v.  a.  Termo  de  chimica. 
Reduzir  a  sulfato,  ou  saturar  de  sulfa- 
to outra  substancia. 

SULFATIZAVEL,  adj.  2  gen.  Que  se 
pôde  reduzir  ou  converter  em  sulfato. 

f  SULFAZOTITO,  s.  m.  Grupo  de  saes 
de  base  potassa  que  se  obtém  fazendo 
deitar  acido  sulfuroso  gazoso  n'uma  so- 
lução concentrada  de  potassa. 

SULFERINO.   Vid.  Sulfúreo. 

7  SULFHYDRATO,  ,>!.  m.  Termo  de  chi- 
mica. Xome  genérico  dos  saes  produzi- 
dos pela  combinação  de  certos  sulfuretos 
com  o  acido  sulfnvdrico. 

t  SULFHYDRIGO,  adj.  Termo  de  chi- 
mica. Acido  sulfhydrico  ;  combinação  do 
hydrogeneo  e  do  enxofre,  mui  espalhado 
na  natureza.  E'  um  gaz  incolor,  de  nm 
cheiro  fétido  de  ovos  podres,  mui  solúvel 
na  agua. 

7  SULFHYDROMETRO,  s.  m.  Pequeno 
tubo  graduado,  de  vidro,  destinado  a  de- 
terminar a  proporção  de  enxofre  contido 
nas  aguas  sulfurosas  uaturaes  ou  artifi- 
ciaes,  enchendo-o  d'uma  solução  extrahi- 
da  do  iodo.  Este  instrumento  é  fundado 
na  propriedade  que  possue  o  iodo  de  des- 
locar o  enxofre,  e  de  subsíituir-se  n'elle 
equivalente  por  equivalente. 

7  SULFISATINA,  s.  /.  Termo  de  chi- 
mica. Prodncto  da  acção  do  gaz  sulfhy- 
drico na  solução  de  isatina. 

7  SULFITO,  s.  m.  Termo  de  chimica. 
Xome  genérico  dos  saes  formados  pela 
combinação  do  acido  sulfuroso  com  as 
bases. 

-}-  SULFOANTIMONIATO,  *.  m.  Termo 
de  chimica.  Xome  dos  saes  formados  pe- 
lo acido  sulinantimonico  e  pelas  bases. 

I  SULFOANTIMONICO,  adj.  Termo  de 
chimica.  Acido  sulfoantimonico ;  sulfure- 
to d'antimonio  acido,  correspondente  ao 
acido  antimonico. 

1  SULFOBASE,  s.  f.  Termo  de  chi- 
mica. Sulfureto  que  representa  o  papel 
de  base,  chamado  também  sulfitreto  bá- 
sico. 

f  SULFOCARBONATO,  s.  m.  Termo  de 
chimica.  Sal  obtido  pela  combinação   de 


um  sulfureto  básico  com  o  sulfureto  de 
carbono. 

f  SULFOCARBONICO,  adj.  Termo  de 
chimica.  Acido  sulfocarbonico,  ou  sulfu- 
reto de  carbone ;  combinação  do  carbone 
e  do  enxofi"e. 

7  SULFOCHLORURETO,  s.  m.  Termo 
de  chimica.  Combinação  do  enxofre  com 
o  chlornreto. 

-}•  SULFOCYANOGENO,  s.  77?.  Sulfureto 
de  cvanogeno. 

t'SULFOGLYCERICO,  A,  adj.  Termo 
de  chimica.  Acido  suifoglycerico ;  produ- 
cto  da  acção  do  acido  sulfúrico  sobre  a 
glycerina. 

'  "l  SULFOLEICO,  adj.  Termo  de  chimi- 
ca. Producto  da  acção  do  acido  sulfúrico 
sobre  a  oleína. 

t  SULFOPURPURICO,  adj.  Termo  de 
chimica.  Acido  sulfopurpurico  ;  acido  ob- 
tido dissolvendo  o  Índigo  pelo  acido  sul- 
fúrico fumegante. 

f  SULFOSAL,  s.  m.  Termo  de  chimi- 
ca. vSal  formado  pela  combinação  de  um 
enxofre  metallico  electro-negativo  ou  sul- 
facido  com  um  sulfureto  electro-positivo 
ou  sulfobase. 

f  SULFOVINATO,  y.  vi.  Termo  de  chi- 
mica. Sal  formado  pelo  acido  sxxlfovinico 
e  pelas  bases. 

7  SULFOVmiCO,  adj.  Termo  de  chimi- 
ca. Acido  sulfovinico;  acido  que  se  obtém 
aquecendo  o  acido  sulfúrico  com  o  álcool. 

SULFUR,  ou  SULPHUR,  s.  m.  (Do  la- 
tim sulphur).  Vid.  Enxofre. 

f  SULFURABILIDADE,  5.  /.  Termo  de 
chimica.  Qualidade  do  que  é  sulfuravel. 
—  A  suliurabilidade  dos  metaes. 

SULFURADO,  i^art.  i)ass.  de  Sulfurar. 
Enxofrado,  preparado  com  enxofre. 

SULFURAR,  ou  SULPHURAR,  i-.«.  Ter- 
mo de  chimica.  Fazer  entrar  o  enxofre 
em  combinações. 

—  Enxofrar,  saturar,  preparar  com  en- 
xofre. 

f  SULFURAVEL,  adj.  Termo  de  chimi- 
ca. Que  pôde  ser  sulfurado. 

SULFÚREO,  A,  adj.  Da  natureza  do 
enxofre. 

—  Em  que  ha  partículas  de  enxofre, 

Lanção  lá  nos  Christãos  mil  differentes 
Artcficios  de  fogo,  cora  que  cspalhão 
Sulfúreas  o  mortacs  chammas  ardentes 
Nos  que  naqucUa  parte  se  agasalhão ; 
Traz  i,sto  confiados  e  contentes 
Os  imigos  entrar  dentro  trabalhão, 
Havendo  que  a  taos  chammas,  e  ao  seu  braço 
Durará  a  resistência  pouco  espaço. 

F.  d'ahdradk,  pkimeiro  cerco  d»  DIU,  cant.  17, 
est.  112. 

Vêem-ae  logo  nos  ares  levantados 
Mais  de  vinte  que  o  pó  sulfúreo  afFen-a, 
E  coos  corpos  de  lá,  despedaçados 
E  feitos  em  carvões  descera  á  terra ; 
Outros  tantos  ficarão  maltratados 
Desta  ardente,  apressada,  mortal  guerra. 
Os  Christãos,  que  esta  ajuda  bera  conhecem. 
Quão  bem  podem  então  a  favorecem - 
reiDEM,  cant.  19,  est.  106. 


626 


SULF 


SULT 


SUME 


Do»t'nrt«  niii  iioHflaA  inão»  he  raio  nrdnnto 
Esao  »idfure.o  pí,  qu'o  Mmulo  !ihhoI:i. 

J.  A.  DB  MACEDO,  A  NATUBKZA,  Olllt.  2. 


Poios  f^Ai-f^antas  do  abrnzado»  montou 
Ertto  incêndio  ciMitral  nu  iirrojii,  o  iMíbo, 
TorrontoH  siibtcrr.inoíiB  donde  naricoin 
Snlfurca-1  n^çoas  forvida^í,  rnio  torna 
Utois  ii  vida  a  mão  da  Mi^dicina, 
Tildo  no  triíitR  cavcniono  «cio 
Da  Turra  inoiítra  o  fogo  agrilhoado. 
ininicM. 


Apagada  a  sulfúrea  labareda 
Kodobra  a  noito  a  triste  obscuridade ; 
De  novo  fuzilou,  da»  nuvens  rompo 
Com  berro  estrepitoso  o  fogo,  a  morto. 

inlDEU. 


Em  quanto  aíisim  da  recurvada  proa 
Fi.tas  pendem  as  ancoras  n'area, 
O  ar  do  e9pai;o  a  espaço  o  bronze  atroa, 
Quando  n  mi/furea  massa  arde,  o  se  atoa  ; 
Como  de  hum  lucto  sepulehral  Lisboa 
Se  mostra  envolta  de  pezarcs  chêa ; 
Correndo  o  feito  vai  do  boca  cm  boca, 
A  todos  interessa,  o  a  todos  toca. 

IDEM,  o  ORIENTE,  Caut.  2,  CSt.   11. 

—  Panellas  sulfúreas ;  pancllas  cheias 
do  enxofre  o  outra;  drogas  inflanimaveis 
para  a  tcuerra. 

—  Intlammavcl  como  o  enxofro. 


Repentino  relâmpago  me  assusta, 

Ou(;o  horrendo  trovão,  vojo  espantoso 

Trilho  abrazado  do  sulfúreo  raio. 

Arma  nas  mãos  do  Eterno,  arma  espantosa, 

Que  sempre  aterra  o  máo,  e  humillia  o  justo. 

Onde  80  forja,  c  se  prepara  a  sota. 

Que  tão  rápida  vem,  quo  as  nuvens  rasga ! 

J.   A.   DE  MACEDO,  VIAOEM  EXTÁTICA,  Cant.    1. 

Toucado  horrendo  da  empestada  grenha, 
Quo  na  sulfúrea  linfa  as  fauces  molhem. 
Ergueu  a  frente,  os  Áspides  silvarão. 
Quando  rasgadas  as  Tartarcas  sombras 
Das  fauces  íi'hum  volcão  so  lança  ao  Mundo. 

IDEM,   A  NATUREZA,  Cant.    1. 


l>hir.  Enxofres. 
!.  Termo  do  cbimiai. 


SULFURES,  í 

SULFURETO, 
Combiuaçào   do   enxofre  com   os    corpos 
metalloiílcs  ou  com  os  metacs. 

SULFÚRICO,  adj.  m.  Termo  de  chimi- 
ca.  Que  diz  respeito  ao  cnxoire. 

—  Acido  sulfúrico;  acido  liquido,  de 
consistência  oleaginosa,  que  no  seu  maior 
estado  de  coucentraçào  conserva  ainda  o 
quinto  do  seu  peso  (Fagua. 

—  Acido  sulfúrico  anhydro;  ò  solido, 
crystallisavel  em  aguUias  brancas,  e  bri- 
lhantes, e  niagnetisadas. 

—  Acido  sulfúrico  monohi/d ratado ;  ó 
o  acido  sulfúrico  or.linario,  e  incolor. 

—  Acido  sulfúrico  alcoolisado ;  c  um 
adstringente. 

f  SULFURIFERO,  A,  adj.  Que  contóm 
enxofro. 

SULFURINO,  A,  adj.  Sulfúreo. 
SULFUROSO,  A,  adj.  [Do  latim  sulphu- 


rotUK,  áasu/phnr).  Que  «'i  da  natureza  do 
enxofre.  —  fíjiha/ui-õeii  sulfurosas  e  mi- 
Hcrnes. 

— ■  Aijiia  sulfurosa ;  agua  que  coutóin 
em  dis-folufj-ão  sues  de  enxofro,  o  que  des- 
envolve aeiílo  Hulfliyilrieo. 

—  Tormo  de  chiiniea.  Acido  sulfuro- 
so ;  acido  formado  j)ela  coinbustilo  do  en- 
xofro no  ar;  i;  uin  gaz  sulfocantc. 

—  Diz-so  tamli^.m  dos  sues  em  que  en- 
tra o  acido  sulfuroso,  ou  que  Uics  corres- 
pomliMii  pela  composição. — /bVie»  sulfu- 
rosos. 

SULIA,  .s'.  f.  Vid.  Solia. 

SULPIIATIZAR,  V.   a.  Vid.  Sulfatizar. 

3ULPHAT0,  .«.  «1.  Viil.  Sulfato. 

SULPHUREO,  A,  adj.  Vi.l.  Sulfúreo.  — 
«Nas  de  Itália,  onde  ha  muitas  matérias 
sulphureas,  seriSo  os  exemplos  dc.-ítas  in- 
llammaçoens  muy  ordinários,  so  se  de-<- 
ces.se  frequentemente  com  in/,e«  ao<  Po- 
ços.» Cavalleiro  d'Oliveira,  Cartas,  liv.  1, 
n.»  15. 

SULTAM,  s.  w.  Vid.  Sultão.  —  ffHuma 
tarde  vimos  pas.sar  pela  ponte  o  Sultam 
Mahameth,  homem  louro,  olhos  verdes,  as 
feyçõcs  delgadas,  idade  corenta  annos,  e 
no  gesto  mais  afidalgado  de  quantos  c3 
cllc  Inani.»  Fr.  Claspar  de  S.  Bernardino, 
Itinerário  da  índia,  cap.  19. 

SULTANA,  s.  /.  Titulo  das  mulheres 
do  grào  senhor. 

—  Sultana  favorita;  aquclla,  que  é  da 
parte  do  sultão,  o  objecto  de  um  favor 
particular. 

SULTANIM,  s.  7)1.  Moeda  douro  quo 
corro  cm  Turquia,  no  Egypto  o  nos  esta- 
dos barliarescos. 

SULTÃO,  5.  »i.  Vid.  Soldão. 

Ferreira  o  companheiro  não  engoita, 
r>eva-o  por  seu  Faraute  na  viagem, 
Fi  cm  entrando  cm  Cambaia  se  aproveita 
Do  seu  esporto  engenho,  o  da  linguagem: 
I.,ogo  CO 'o  6WAto  tovo  tào  estreita 
Amizade,  que  a  todos  foz  vantagem, 
Tal  era  o  sou  saber  e  habilidade 
Quo  bastava  a  ganhar  qualquer  voubidc. 

KR.^NCISCO    dVnDBADE,     PRIMEIRO    CERCO    DE    DIU, 

cant.  2,  est.  83. 

Aclião  iiplle  riquezas  escondidas. 
De  que  huma  quantidade  tal  havia. 
Que  com  ellas  o  insaciável  Midas 
Engeitára  o  que  Haccho  ortorccia. 
Porque  além  do  Sultão  alli  mettidas 
Ter  todas  quantas  possuia. 
Tinha  muitos  despojos  quo  tomara 
Em  Reinos  qu«  adquirira,  o  saqueara. 
míDEM,  caut.  3,  est.  -10. 

A  gente  do  Snlfin.  c  a  que  foi  dada 
Ao  inundo,  liV  na  terra  do  Ponento, 
Tanto  que  o  Sol  a  nova  luz  dourada 
Veio  mostrando  IA  polo  Oriento, 
Vondo  de  todo  ja  desampar.ada 
A  fortaleza,  desta  imig-i  gente, 
Se  tornào  a  embarcar,  e  o  mar  navegSo 
10  oom  prospero  tempo  a  Diu  ohogão. 
IBIDEM,  cant.  5,  est.  lUí. 

Cliogados  ao  Sull^io,  os  agasalha 

Com  mostras  d'amor  graude  o  verdadeiro, 


Polo  Reino  d'alli  logo  se  ctpaUia 
Que  ous.ido  faz  o  iiuvo  Cjiiipaiilieiro. 
D'hunia  parte  para  outra  tv  trabalha 
íírâo  toin|>o  H«m  parar  hum  dia  iiití'iro, 
Maa  do  imigo  Mogor  iiào  liouvc  vista 
Nnin  outra  cousa  acliou  que  lho  rcitiata. 

IBIOKM,  C6t.  79. 


Soguc  tu,  Sonsa,  a  ElRei  tSo  aprcMado 
Que  ou  do  (iovomudor  Imin  pouoo  canto, 
O  qunl  do:K)is  que  á  toldu  foi  tornado, 
Entendendo  bem  toda  u  gente  <|uaiito 
Cumpria  da  infiel  vida  privado 
Sor  o  imipo  Sultão,  com  grande  cupanto 
Os  olho»  nelle  i>'ie,  (•  inda  duvida 
8c  das  mãos  se  lhe  foi  são  o  com  vida. 
loiDEM,  cant.  7,  est.  12. 


Parto-se  cora  veloz  curso  ligeiro 
A  fúria  tnmbcm  nisto  diligente', 
O  esprifo  do  Sultão  por  c<>iiq)anheiro 
Leva  também  a^ora  juntaineiitc  ; 
O  qual  agor.a  mais  f|UC  de  primeiro 
Alvoroçado  vai,  ledo  o  contento. 
Porque  leva  huma  grande  oontiança 
Que  ao  sou  ódio  igual  tcni  a  vinçaiiça. 
ininEM,  cant.  12.  est.  IlO. 


SULVENTO,  s.  m.  O  vento  sul,  do  moio 
dia. 

SUM,  adv.  Termo  antiquado.  Acha-so 
precedido  das  jirepo.^ições  de,  eni,  de  a/m. 
—  Viver  em  sum,  de  sum,  de  com  sum. 
Vid.  Súu. 

SUMA.  Vi-l.  Summa. 

SUMACA,  s.  /.  Embarcação  pequena, 
rasa,  de  dous  mastros. 

—  Barco  de  navegaçjlo  commercial  cos- 
teira r.o  Brazil. 

—  <!enero  de  embarcaçSo  ligeira  que 
servo  para  transporte. 

SUMAGRADO,  part.  pass.  de  Suma- 
grar. 

— •  Tormo  de  tinturaria.  Embebido  no 
sumagre. 

SUMAGRAR,  v.  a.  Tingir  ou  embeber 
a  lã  ou  panno  em  um  banho  de  sumagre, 
para  que  tome  mais  facilmente  a  côr 
preta. 

SUMAGRE,  í.  Vi.  Termo  de  botânica. 
Planta,  com  cuja  folha,  c  casca  do  tronco 
60  curtem  couros,  o  pelles. 

—  Serve  na  tinturaria. 
SUMARENTO,    A,  adj.  Que  tem  sumo, 

sucoi>. 

SUMBAIA.  Vil.  Zumbaia. 

SUMEAS,  s.  /.  plur.  Termo  de  náuti- 
ca. T:il>o,i-i  o:nu  que  se  refaz  o  repara  o 
leme. 

f  SUMERGIDO,  part.  pasa.  de  Sumergir. 
Vid.  Submergido.  —  «^las  se  algum  ho- 
mem estranho  perturbar  as  dita.s  herda- 
des usurpãdoas  para  si,  seja  sumergido 
com  Dataõ,  o  Abiraõ,  e  vã  para  .*empre 
ao  Inferno  cõ  Judas  o  tròdor.  Foy  feita 
o.sta  carta  de  testamento,  na  era  de  oito- 
centos e  oito  (que  he  aiino  de  Christo,  se- 
teoontos  e  sot-nta'i  no  mez  de  Abril.» 
Monarchia  Lusitana,  liv.  7,  o.ap.  S. 

SUMERGIR,  r.  <i.  Vid.  Submergir. 


I 


SUMI 


SUMM 


SUMM 


627 


/.    Termo  popular.  Vid. 


SUMIÇAO, 
Sumiço. 

SUMIÇO,  s.  VI.  —  Levar  sumiço  ;  per- 
der-sc  de  vista,  nào  se  achar,  nào  se  sa- 
ber da  eimsa  que  levou  sumiço. 

SUMIDIÇO,  A,  adj.  Que  desapparece, 
e  SC  some  com  facilidade. 

SUMIDO,  pari.  pass.  de  Sumir,  iletti- 
do  para  baixo  do  olivel,  escondido. 

—  Homem  sumido  do  rosto;  que  é  mui 
magro. 

—  Sumido  alguém  em  si  mesmo  de  hor- 
ror. 

SUMIDOURO,  s.  m.  Abertura  profunda, 
ou  cousa  analuga,  por  onde  escoa,  e  por 
onde  se  some  a  agua. 

—  Figuradamente :  O  sumidouro  de, 
vícios. 

SUMIDURA,  s.  /.  Desapparecimento, 
SUMILHER,  s.  m.  —  Sumilheres  da  cor- 
tina; ecclesiasticos  fidalgos,  que  correm  a 
cortina  da  tribuna  d'el-rei  na  capella 
real,  e  fazem  outras  cousas  do  serviço 
d'ella. 

—  Houve  também  sumilheres,  offieiaes 
mores  de  diversos  serviços  da  pessoa,  e 
casa  dos  reis. 

—  Sumilher  da  camisa ;  que  a  vestia 
ao  rei. 

SUMIR,  ou  SOMIR,  v.  a.  Submergir, 
metter  a  pique,  afundar. 

Ti  que  em  Lixboa  cahio 
da  C503ta  gram  cantidadc 
duas  ruas  destruhio, 
duzentas  casas  sumio. 
foy  gram  temor  na  cidade. 

G.   DE    EEZEXDB,  MISCELLASKA. 


f.     (Do    latim    summus) 


—  Figuradamente :  Occultar,  esconder, 
encobrir,  nào  dar  a  perceber. 

—  Sumir-se,     v.    rejl.    Submergir-se, 
afundar-se. 

—  Desapparecer  da  vista. 

Cousa  branca,  may  cõnrida, 
directa  com  gram  medida, 
bem  ((uiuze  uoutea  se  vio, 
pouco  e  pouco  se  sumio, 
te  aer  desaparecida. 

o.   DE  KEZESDE,  MISCELLASEA . 

Muyta  gente  se  sumio : 
foy  muy  gram  destruição, 
ha  mor  que  ae  nunca  vio 
desta  3ort«,  nem  ouuio 
do  Tibre  tal  perdição. 

IBIDEU. 

(O  Pejo,  e  o  Furor  llie  dobra  as  forças!) 
Berra,  salta,  esconjura,  põe  preceitos. 
Sem  descansar,  talhando  os  subtis  ventos: 
Mas  tudo  em  vão  ;  que  leves  e  seguros. 
Nadando  pelos  ares  se  sumirão 
Oa  novos  Antropógriphos  uaa  nuvena. 
A.  Ddiz  n.v  cBuz,  HTS30PE,  cant.  8. 


—  Sumir-se  a  voz;  não  poder  soar  de 
modo  que  se  ouça. 

SUMISSÃO,  s'.  f.  Vid.  Submissão. 


SUMMA, 
Somma. 

—  A  substancia  resumida. 

—  O  máximo  grau. 

—  Resumo,  epitome  do  mais  principal. 

—  Loc.  ADV.  Em  summa;  resumida- 
mente, em  uma  palavra,  em  substancia. 
—  «Baste  saber  era  summa,  que  assi  se 
haviam  os  nossos  poucos  navios  entre 
aquelle  grande  número  de  velas,  como 
se  hão  03  lobos  em  hum  pegulhar  de  ove- 
lhas. >'    Barros.   Década  2.  liv.  9,  cap.  õ. 

SUMMAMENTE,  adv.  (De  summo,  e  o 
suffixo  ameutes).  Muito,  em  extremo. — 
« Agardecemos  meu  cõpanheyi-o,  e  eu 
muvto  este  auiso,  e  vendonos  cij  el  Rev 
lhe  estranhamos  summamente  consentir 
nesta  venda,  pois  a  vontade  dei  Rev  de 
Espanha,  de  quem  elle  era  vassalo,  nào 
era  outra  que  saluar  aimas,  e  tiralas  das 
vnhas  do  inimigo  de  nossa  saluaçào.» 
Fr.  Gaspar  de  S.  Bernardino,  Itinerário 
da  índia,  cap.  G.  —  «Summamente  dese- 
jey  trazer  a  este  Reyno,  huma  pequena 
Cruz  do  Mochamo,  por  me  parecer  que 
o  Apostolo  Sam  Thomè  a  faria  por  suas 
màos :  Mas  nem  a  diligencia  cõ  que  a 
procurey,  nem  dadiuas  que  por  ella  pro- 
meti, bastaram  pêra  a  poder  auer.»  Ibi- 
dem, cap.  10. 

—  Em  supremo  grau. 
SUMMAR,  i!.  a.    Vid.    Sommar,  termo 
mais  em  uso. 

SUMMARIAMENTE,  adv.  (De  summa- 
rio,  com  o  suffixo  «mente»).  Eui  summa, 
brevemente,  de  uma  maneira  summaria, 
resxmiida,  em  anacephaleose,  em  substan- 
cia.—  «Atras  fica  dito  o  que  Duarte  de 
lemos  fez  ate  chegar  a  Ormuz,  depois  de 
por  falecimento  de  seu  tio  George  da- 
guiar  ser  elegido,  em  Moçambique,  por 
capitam  darmada  que  auia  dandar  no  ca- 
bo de  Guardafum,  e  porque  ainda  nam 
sahi  da  ordem  acostumada,  que  he  fazer 
juntamente  inençam  do  que  os  capitaens 
passaram  em  suas  viajens,  trattarei  sum- 
mariamente  neste  anno  de  M.  D.  si,  o 
que  lhe  aconteceo  depois  de  ser  em  Or- 
muz ate  tornar  a  Lisboa.»  Damião  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3, 
cap.  15. 

—  Proceder  summariamente  ;  proceder 
sem  figura,  sem  as  formalidades  usuaes, 
sem  as  demoras  do  processo  ordinário. 

SUMMARIAR,  v,  a.  Reduzir  a  summa, 
ou  summario. 

—  Termo  do  foro.  Tratar  em  resumo  a 
causa,  proeessal-a  sem  as  delongas  ordi- 
nárias. 

—  Summai'iar  um  reu;  fazer-lhe  um 
processo  ordinário,  em  certos  casos  e  cri- 
mes, fazendo-se  autos  de  accusação,  ou 
denuncia,  instituídos  com  os  ditos  das 
testemunhas. 

—  Resumir,  recopilar  em  summa,  ou 
em  breve. 

1.)  SUMMARIO,  s.  m.  (Do  latim  sum- 
marium).    Compendio    de    pontos    princi- 


paes,  e  mais  substanciaes  de  um  livro, 
discurso,  etc;  epitome,  resumo,  epilo- 
go, ai.acephaleose. 

—  O  processo  summario. 

—  Emprega-se  também  no  sentido  fi- 
gurado. 

2.1  SUM5IARI0,  A,  adj.  —  Processo 
summario ;  em  que  se  procede  summaria- 
mente. 

SUMMARISSIMO,  A,  adj.  superl.  de 
Summario.   Mui  summario. 

—  Eniprega-se  também  no  sentido  fi- 
gurado. —  I^rocesso  summarissimo. 

SUMMIDADE,  s.  f.  (Do  latim  summi- 
tas).  A  ponta  e  extremo  mais  alto. 

—  A  summidade  dos  ramos;  as  fran- 
ças. 

SUMISSÃO,  s.  f.  Vid.  Submissão. 
SUMMISSO,    ou    SUMISSO,    adj.    Vid. 
Submisso. 

—  Termo  de  cirurgia.  Veias  summis- 
sas;  veias  ténues,  e  quasi  sumidas. 

SUMMISTA,  s.  m.  Escriptor  do  summa, 
de  doutrina  moral,  epitomista. 

SUMMO,  A,  adj.  (Do  latim  summus). 
O  mais  alto,  supremo,  ultimo.  —  O  sum- 
mo amor. 


Deus,  cui  proprium  est  miserere, 
Porque  o  seu  próprio  he  perdoar. 
De  todo  a  sanha  nào  quer  executar, 
E  a  summa  bondade  assim  Ih 'o  requeve. 

GIL  VIGESTE,  ACTO  DA  HISTOBIA  DE  DELS. 

Para  o  summo  Poder,  que  a  etherea  côrtc 
Sustenta  só  co'a  vista  veneranda 
Implorámos  favor  que  nos  guiasse, 
E  que  nossos  começos  aspirasse. 
CAM.,  Lcs.,  cant.  4,  eat.  86. 

— ■  Máximo,  maior,  extremo. 
—  O  Summo  Deus;  o  supremo  Senhor 
de  tudo. 


Em  nenhuma  outra  cousa  confiado. 
Senão  no  summo  Dcos  que  o  cio  regia  • 
Que  tào  pouco  era  o  povo  baptizado, 
Que  para  um  só  cem  Mouros  haveria. 
CAM.,  Lus.,  cant.  3,  eat.  43. 

Bem  que  tudo  se  guie  a  ser  cumpridos 
De  Deos  summo  os  Decretes. 

F.    M.  DO  NASCIMENTO,  OS  SIAKiyRES,  liv.    8. 

o  supremo  Deus,  o 


—  O  Summo  Be 
Omnipotente. 


Pelas  margens  do  Indo,  e  iramenso  Ganges 
Meditadorcs  Brâmenes  deviso. 
Que  em  sombra  muito  espessa  a  luz  involvcm 
E  a  verdade  com  Symbolos  ensinão.  ' 

Confúcio,  o  grão  Filosofo,  descubro, 
Que  da  luz  natural  levado  apenas. 
Achara  o  Summo  Bem  só  na  virtude. 
Kuuca  he  feliz  o  criminoso,  nunca ! 

J.  A.  DE  JIACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  CZUt.   2. 

Summamente.  — 


—  Adverbialmente 
Deus  é  Summo  sábio. 

—  Substantivamente:  Cimo,  cume. 


628 


8UMP 


Tenho  o  mesmo  principio,  a  incarna  causa, 
(Jiie  ti-m  fliiaiito  no  o^;)a^;o  imincnso  oiijto. 
Ku  profiiiidn  liarinoiíia  nm  tudo  ailmiio, 
Vojo  0111  tiidi)  o  ficomctrico  oompartSO, 
Vejo  uiiifdiiiii;  lei,  ordein,  oadóa. 
No  miuinio  lium  amiol,  o  outro  uo  siimmo. 
j.  A.  DE  MACEDO,  UKDirA<;lo,  caiit.  4. 

Fijíuradiímuntc  :    O    summo  da  la- 

droice.  —  «Taça  siiõ  03  homcu.s  ladroeií.s, 
que  80  ajudaS  de  iDãus  alhoyas :  sayem- 
80  de  sua  esfera,  o  vau  mcudifíar  nas 
alheyas  modos,  e  instrumentos,  com  que 
mais  furtem.  Naõ  se  contentar  hum  la- 
drão coiu  duas  mãos,  que  lhe  deu  a  na- 
tureza, o  com  cinco  dedos  que  lhe  poz 
cm  cada  hunia,  armados  com  muito  for- 
mosas unhas,  e  hir  buscar  mãos  alheyas, 
o  emprestadas,  para  mais  fartar,  e  pou- 
par as  suas  para  outros  lanços,  he  o  sum- 
mo da  lailroíce.»  Arte  de  furtar,  cap.  i>7. 

—  Vid.  Cimo,  e  Cume. 

—  Syx.  :  Summo,  nupremo,  soberano. 
Summo  é  o  latim  sumiuus,  e  significa  o 

mais  alto  c  elevado,  o  que  mais  sobresáe 
em  seu  geuero.  Diz-se  summo  pontijlce, 
summo  amor,  em  summo  çirau,   ete. 

Supremo  designa  o  ultimo,  o  maior  na 
graduação,  de  mor  excellcucia  no  sou  gé- 
nero. Diz-se  o  dia  supremo,  o  supremo 
mando,  ete. 

Soberano  designa  o  que  é  supremo  cm 
auctoridade  ou  poder,  e  usa-se  como  sub- 
stantivo para  designar  o  senhor  absolu- 
to no  domínio  o  governo  dos  seus  vassal- 
los. 

SUMMULA,  s.  /.  (Do  latim  sivmmula). 
Suunnasinha,  o\i  breve  epitome  doutri- 
nal ;  chauia-se  assim  por  antonomásia  a 
Summula  dn  dialéctica. 

SUMMULISTA,  s.  m.  Homem  versado 
na  sumnmla  escholastico-pcripathetica. 

1.)  SUMO,  s.  m.  O  sueco  que  se  extra- 
hiu,  e  espreme.  —  O  sumo  de  laranja, 
de  limão,  ete.  —  «Por  bebida  ordinária 
se  usaríi  de  agoa  puríssima  cosida  com 
cevada  ou  azedas,  ou  sumo  de  romaãs, 
ou  de  lima3,  ou  de  cidra,  ou  cosida  sim- 
plexmciTte,  ou  juutandolhe  hum  pouco  de 
xarope  rosa<lo,  acetoso,  de  romaãs,  ou 
violado.»  Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal 
medico,  pag.  384,  §  103. 

—  O  sueco  nutritivo  vegetal,  ou  ani- 
mal. 

-:-  Sueco  da  carne,  o  chorume. 
2.)  SUMO,  A,  adj.  Vid.  Summo. 

—  O  Sumo  Bem;  o  supremo  Deus,  o 
Omnipotente.  Vid.  Summo. 

ello  ho  toda  bondade, 
clle  ho.  toda  verdade, 
cUe  he  o  sumo  bom, 
cUo  d:\  sor,  o  aoatera 
nossa  fraca  humanidade. 

OAKCIA  DK   KEZEXDE,  MISCELL.VSKi. 

SUMOSO,  A,  adJ.  Que  tem  sumo,  sue- 
coso. 

SUMPÇÃO,  s.  /.  Acto  de  engulir,  con 
sumpção. 


bUMP 

SUMPTO,  .s.  w».  (Do  latim  aumptus). 
Termo  pouco  em  uso.  Vid.  Custo  de  des- 
peza. 

SUMPTUÁRIO,  A,  adj.  (Do  latii»  sum- 
■plaarius).  Quo  diz  respeito  a  dcapezas,  a 
gastos. 

—  Lein  sumptuárias  ;  leis  que  pijc  mo- 
do aos  gastos,  e  Uespezas  dos  cidadãos. 

SUMPTUOSAMENTE,  adv.  (De  sumptuo- 
so, com  o  suílixo  « mente "j.  De  um  modo 
sumptuoso,  magiiilieeiíte. 

—  Ciisto^amoate,  preciosameutc. 
SUMPTUOSIDADE,  «.  /.  (Do  latim  8um- 

ptuositas).  Custosa  magniliceucia,  precio- 
sidade. 

Syn.:   Sumptuosidade,    uij^o.    vid. 

este  ultioio  termo. 

SUMPTUOSÍSSIMO,  A,  adj.  superl.  de 
Sumptuoso.  Mui  sumptuoso,  mui  magui- 
tlco.  —  «  U  templo  deste  idoio  he  hum 
sumptuosíssimo  eiliticio  que  está  uo  meyo 
deste  campo  em  hum  outeyro  redoudo 
(pie  tem  mais  de  meya  legoa  cm  roda, 
chàfrado  toilo  ao  picão  em  altura  de 
quinze  braças,  e  delias  acima  esta  hum 
muro  de  cantaria  muyto  alva  de  três 
braças  com  seus  baluartes,  o  cubellos,  e 
torres  ao  nosso  modo.»  Feruào  Aieudes 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  lòU. 

SUMPTUOSO,   A,    adj.   (Do   latim  aum- 
ptnnsus).  De  grande  custo,  adornado,  ap- 
parelhado  á   custa  de  grandes   despezas, 
maguilieeute.  —  «E  sobretudo  Braeuiào, 
que  pêra  vingança  delles  deixou  sua  ama- 
da pátria  e   natureza,  fazendo   sacritieios 
sumptuosos    e  graudes,    crendo    que   uo 
merecimento  delles  estava  o  galardiW  cer- 
to   com  vletoria  de  muito  louvor  e  espan- 
to!» Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  de 
Inglaterra,  cap.   107.  —  «Despois  de  ser 
morta  toda  esta  gente,  a  cidade  abrasa- 
da, e  os  edihelos  de  casas  particulares,  e 
teinploa  sumptuosos,   e  tuuo  o  mais  que 
uella  avia  posto  por  terra,  sem  aver  cou- 
sa  que    tieasse   em  pé,    se  detiveraò  aly 
sete  dias,  e  no  iim  delles  se  tornarão  pa- 
ra a  cidade  do  Pequim  onde  então  o  seu 
Rey  estava,  e  doudo  os  maudai-a  a  aquel- 
le  feyto,  os  quaes  levarão  comsigo  inliui- 
daJe*  douro  e  de   prata  sem    outra  tazeu- 
da  nenhuma,    por   não    terem   em   que  a 
levassem,    porem  a   toda   pusoraõ  o  togo 
antes  que  se  partissem,  para  que  os  Chins 
a  não  lograssem.»  Feruão  Mendeá  Piuto, 
Peregrinações,  cap.  117.  —  «Na  Villa  de 
Mafra   está   cilitieaudo    Imm    Templo  taò 
magnifico,  e  sumptuoso,  que  sem  duvida 
será  o  melhor  de  todo  o  Keiuo.»  Fr.  Ber- 
nardo de  Brito,  Elogios  dos  reis  de  Portu- 
gal, continuados  por  D.  José  Barbosa. 
>(  lios  Kei3,  e  Rainhas  foraò  visiUr  o  Du- 
que a  sua  cíisa,  e  jazendo  na  Ciuiia  jui-ou 
hos   i'rincipes,    o  lhes  deu  sua  meuajem. 
Dcguadalajara  foraò  a  Calataude  primei- 
ra ddade  ilo  regno  Daragão  onde  solhes 
fez   luim    sumptuoso   recebimento,  e    hos 
viorâo  receber  muitos  dos  senhores,  e  no- 
bres do  regno.»  Damião  do  Coes,   Chro- 


SUOR 

nica  de  D.  Manoel,  part.  1.  cap.  30. — 
«(J  que  sempre  se    fez,  e  faz  d>-poÍB  que 
esta  capella    su   conuertco  no   sumptuoso 
mosteiro,  quo  no  incitmo  lugar  fundou  cl 
rei  dom  Emanuel   depois  que  V;i/^quo  da 
(iaiiia  tornou  da  índia.»  Ibidem,  |)art.  3, 
cap.  03.  —  o  Tem  muitos,  c  mui  sumptuo- 
sos templos,    a  que   chamam    Varelas,  e 
mosteiros    de  frades,  o  freiras  editica*lo8 
ao  modo  do  ca.  A  liogoagem  em   quo  re- 
zam, e  fazem  estes  oíTieios,  naiii  eutendo 
seitam  quem  na  estuda,  que  he  como  en- 
tre nos,  o  I./atiin.»    Ibidem,  part.  4,  cap. 
25.  —  «Acabou   a  obra  da  agiioa  de  la- 
gos, mandou   abrir  o  paul  de   muja:  de- 
pois ([ue  começou  de  conquistar  a   índia 
mandou   de    uouo   fazer  os   magníficos,  e 
sumptuosos  paços  da  ribeira  «le    Ijsboa, 
jicia  onde  se  fui  dos  daicaçoua  sem  mais 
tornar  a  viuer  nelles.»    Ibidem,  cap.  85. 
—  «Dez   legoas   do   Alejjpo  eucòtramos, 
em  huma  serra,  c<)  hum  sumptuoso  edi- 
ficio,    mas    miiy   arruynado;    dcziam  al- 
guns qus  Cothofredo  de  Bulham,  o  man- 
dara  e<]ificar;    defronte  delle    está    hum 
Castello,  que  deuia  seruir  de  guarda  do 
Templo,  que  isso  representa  aquella  obra 
por  algumas  sepulturas  que  nella  vimos.» 
Fr.  Gaspar  de  S.  Bernardino,  Itinerário 
da  índia,  cap.  22. 


Dá-mc  isso  contentamento. 
Ora  c4 

dcst 'outra  banda  estará 
muito  bem  o  Entendimento, 
que  Deos  pcra  Dcos  me  dá. 
E  ]ior'|ue  se  não  comexja 
obra  jà  tão  sumptuosa  ? 

AMTOKIO   PBKSTES,   ACTOS,   pag 


14. 


—  Que  dispende  em  preciosidades  e 
raagiiitíeoneias  com  mão  liberal,  e  franca. 

SUNTUOSO,  A,   adj.   Vid.  Sumptuoso. 

SUOR,  s.  m.  (Do  latim  sudur).  O  hu- 
mor excremeiíticlo,  que  se  separa  pelos 
poros  do  corpo,  ordinariamente  em  gotas 
visíveis.  —  »Disse-lhe  Manoel  Jo.ào,  que 
era  bom  tomar  hum  suor  frio  feito  com 
agoa  de  pacoulas,  e  que  na  Cidade  de 
Rapa  vira  curar  hum  homoni  a  sua  Po- 
lãca  com  a  agoa  destinada  da  flor  da  Ro- 
manceyra.í)  Cavalleiro  d'01iveira,  Cartas, 
liv.  1,  n.»  25. 

Tremi  confuso,  o  vaoillantc  o  passo 
Entre  contrários  pensamentos  movo. 
Quasi  lium  frio  suor  me  banha  a  fronte ; 
Quasi  de  voa  era  vòa  agudo  frio 
O  curso  ao  sangue  fervido  entorpeço. 

J.    A.    DK   MACliDO,   VIAGEM   KITATICA,  Oaot.   1. 

—  Fructo  de  grande  trabalho. 

—  Figuradamente:  Estar  em  suores 
frios;  est.ar  em  apertos,  aftroutas,  traba- 
lho extremo. 

—  Trabalho.  —  Viver  em  suor. 

Mas  porcjue  nenhum  graúdo  bem  se  alcanç* 
Sem  grkudes  oppresâõcs,  o  em  todo  o  feito 


SUPE 


SUPE 


SUPE 


629 


Segue  o  temor  os  passoa  da  caperança, 
Que  cm  siíór  vivo  sempre  de  seu  peito  ; 
Me  moritras  tu  tão  pouca  confiança 
D'c3ta  minha  verdade,  scin  respeito 
Das  rasõea  em  contrario,  que  acharias 
Se  não  cresses  a  quem  não  crer  devias. 
CAM.,  Lus.,  cant.  8,  est.  67. 


Mas  vosso  bom  discurso  nada  ignora: 

Diverti-voa  embora ; 

E  lá  do  grande  Mcnalo  vizinho 

Achareis  de  caminho 

A  comnmnicaçào  dos  seus  cultores, 

Que  com  tantos  suores 

As  terras  fabricando. 

Úteis,  e  novos  troncos  enxertando 

Mostrão  a  prcgni(;.oao3  descuidados 

Mil  saudosos  frutos  sazonados. 

J.   X.   DE  MATTOS,  RIMAS,   pag.   222. 

Impaciente  Empédocles  ji  vejo, 

Que  julga  (ó  vào  discurso,  ó  vãs  idéas !) 

Suor  do  Térreo  Globo  o  vasto  Oceano. 

J.   A.    DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Caut.   2. 

A  espada  não  guardou  do  invicto  Cosar, 
Nem  dos  dous  Scipiões  o  escudo,  c  a  lança : 
Do  naufrágio  salvou  de  TuUlo  as  obras  ; 
O  tão  douto  suor  de  ambos  os  Plinios. 
IBIDEM,  cant.  4. 


—  a  Já  tlizeiíl  que  virá  outro  governa- 
dor, e  então  tudo  será  como  d'aiites  era; 
o  eu  em  parte  assim  o  temo,  porque  to- 
dos os  que  cá  costumaram  vir  atégora 
traziam  os  ollios  só  no  interesse,  e  todos 
03  interesses  d'esta  terra  consistem  só  no 
sangue  e  suor  dos  Índios.»  Padre  Antó- 
nio Vieira,  Cartas,  n."  14. 

—  Syn.  :  Suor,  transpiração.  Vid.  este 
ultimo  termo. 

f  SUOVETAURILIO,  s.  m.  (Do  latim 
suovetaurilia,  de  sus,  ovis,  e  taurus). 
Sacrificio  de  um  porco,  de  uma  ovelha,  e 
de  um  touro. 

SUPEDANEO,  s.  m.  Banco  que  se  col- 
loca  debaixo  dus  pés;  escabello,  peanka. 
Vid.  Suppedaueo. 

—  Estrado  de  madeira,  próximo  ao  al- 
tar, onde  o  sacerdote  tem  postos  os  pés. 

SUPENHORAR,  v.  a.  Dar  em  penhor. 
SUPERABUNDÂNCIA,    «.  /.    Mais    que 
abundância  de  viveres,  provisões,  etc. 

—  Figuradamente :  Superabundância 
de  merecimentos ;  para  ser  digno  e  bene- 
mérito de  pi'eniios,  de  honras,  etc. 

SUPERABUNDANTE,  part.  act.  de  Su- 
perabuudar.  Mais  que  bastante. 

SUPERABUNDANTEMENTE,  adv.  (De 
superabundante,  com  o  suffixo  «mente»). 
Com  superabundância. 

SUPERABUNDAR,  v.  a.  Dar  mais  que 
bastante. 

—  V.  n.  Haver  mais  do  que  ó  bas- 
tante. 

SUPERADDITO,  A,  adj.  (Do  latim  su- 
jjeradditus).  Termo  pouco  em  uso.  Accros- 
centado,  ajuntado,  posto  por  de  mais. 

SUPERADO,  imrt.  pass.  de  Superar. 
Vencido. 


Alli  03  Chvistâos  Arménios,  e  outros  muitos 

lacobitas.  Cismáticos,  distinctos 

Dos  outros  Morauitas,  superados 

São,  dos  que  a  aaera  fè  Christaã  confcssaõ. 

Alli  a  tórrida  Zona  tem  tal  força. 

Que  aos  soua  habitadores  os  abrasa, 

E  para  mitigar  tal  ardor,  vsaõ 

Os  Cataucntos  tanto  celebrados. 

CORTK  RE.VL,  NAUFRÁGIO  DB  SEPÚLVEDA ,  Caut.  6. 

Olha  csfoutra  bandeira,  c  vê  pintado 
O  grão  progenitor  do3  Reis  primeiros: 
Ni5s  Húngaro  o  fazemos,  porem  nado 
Creui  ser  em  Lotharingia  os  catraugoiros : 
Depois  de  ter,  co'os  Mouros,  superado 
Crallegos  c  Leoaezes  cavalleiros, 
A'  casa  saneta  passa  o  sancto  Henrique  •, 
Porque  o  tronco  do3  Reis  se  sanctilique. 
CAM.,  LUS.,  cant.  8,  est.  9. 

SUPER-ALTARE,   ou  SOBRE-ALTAR, 

s.   IH.    Termo  antiquado.  Pedra  d'ara,  ou 
altar  portátil. 

—  Docel,  pallio,  ou  sobreceu  com  que 
algum  altar  se  cobria,  e  ornava. 

SUPERAR,  V.  a.  (Do  latim  superare). 
Vencer,  levar  de  vencida. 

—  Figuradamente :  Levar  vantagem, 
exceder. 

—  Superar  o  passo  difficil ;  passal-o, 
transpGl-o. 

SUPERA VEL,  adj.  2  gen.  (Do  latim  su- 
perahilis).  Que  se  pôde  superar,  vencí- 
vel. 


Depois  do  quanto  affan,  do  quanto  estudo 
Tu,  Saladini,  a  theoria  expunhas. 
Que  escúllio  da  Mecânica  se  chama, 
Xào  saperavel  quasi  a  eugenho  humano  ! 

J.    A.    DE   MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,    Caut.   4. 


— ■  Figuradamente  :  Paixões  superá- 
veis. 

SUPERBISSIMO,  A,  adj.  Vid.  Soberbis- 
simo. 

SUPERCHERIA,  s.  /.  Fraude  feita  com 
astúcia,  embuste. 

—  Dulo,  engano,  má  fé. 

—  Velhacaria,  trapaça,  astúcia  fraudu- 
lenta. 

SUPERCILIO,  s.  m.  (Do  latim  superci- 
liwiii).  Termo  pouco  em  uso.  Sobrance- 
lha. 

—  Figuradamente :  Soberba,  sobera- 
nia. 

SUPEREMINENCIA,  s.  /.  (Do  latim  su- 
pereminentia).  Elevação,  grau  d'excellen- 
cia,  em  que  vima  pessoa  ou  cousa  se  acha 
constituída  a  respeito  de  outra. 

SUPEREMINENTE,  adj.  2  gen.  Sobre- 
levado, sobroerguido. 

SUPEREMINENTISSIMO,  A,  adj.  superl. 
de  Supererainente.  Mui  supereminente. 

SUPERENTENDER,  v.  a.  Vid.  Superin- 
tender, termo  hoje  em  uso. 

SUPEREROGAÇÀO,  *./.  Acto  que  trans- 
cende, e  pas.ía  os  termos  da  obrigação, 
não  nece.^isaria  para  a  salvação.  —  Obra 
de  supererogação. 

SUPEREVANGELIA,  s.  /.  Termo  an- 
tiquado.  Capa  preciosa,  com  que  os  sa- 


grados evangelhos,  ou  melhor  o  códice, 
em  que  elles  estavam  escriptos,  e  a  que 
hoje  se  chama  missal,  se  compunha,  e 
ornava ;  em  veneração,  e  honra  do  sagra- 
do texto.  Não  só  de  custosas  telas,  até 
mesmo  de  laminas  de  ouro,  ou  prata,  e 
algumas  vezes  gravadas  de  finas  pedras, 
se  cobriam  as  pastas.  d'estes  sagrados  li- 
vros, testificando  com  demonstrações  de 
tanto  preço  o  respeito  que  se  consagrava 
ao  seu  auctor. 

SUPERFETAÇÃO,  s.  f.  (Do  latim  super, 
c  fwtus).  Termo  de  physiologia.  Conce- 
pção dtí  um  feto  quando  outro  existe  já 
na  madre. 

f  SUPERFICE,    s.  f.  Vid.   Superfície. 

A'  super fice  torna  o  Corpo  exangue, 
O  marinheiro  audaz  da  preza  ufano 
Leva  o  despojo  enorme  á  praia  nua. 
Toda  a  cobre  co'  o  corpo,  e  toda  a  assombra. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Caut.  3. 

SUPERFICIAL,  adj.  2  gen.  (Do  latim 
super jicialis,  de  superjicies).  Que  é  rela- 
tivo á  superfície. 

—  Que  só  existe  á  superfície.  —  Â  le- 
são é  superficial.  —  Uma  (^ueimadella  su- 
perficial. 

— ■  Termo  de  botânica.  Parasitas  su- 
períiciaes;  plantas  que  vivem  á  superfí- 
cie dos  vegetaes,  sem  lhes  tirar  o  sus- 
tento. 

—  Figui-adamente :  Que  não  é  profun- 
do, que  não  vae  ao  interior. 

—  Que  não  é  solido,    e  bem  fundado. 
SUPEUFICIALIDADE,   s.  f.   Estado   do 

que  é  superfícial. 

SUPERFICIALMENTE,  adv.  (De  super- 
ficial, com  o  suffixo  «meute»).  A'  super- 
fície. 

—  De  um  modo  superficial. 

—  Não  profundamente. 
superfície,   s.  f.    (Do  latim   superji- 

cies).  Termo  de  geometria.   A  longura,  e 
largura,   sem   altura,  nem  profundidade. 

—  A  lai-gura  exterior  do  corpo,  a  ex- 
tensão. —  « Esta  terra  toda  he  de  pedra 
hume,  como  tal  cinzenta,  o  cheiro  he  de 
enxofre,  e  logo  abaixo  da  superfície  de 
pedra  hume,  he  tudo  pedraria  dura.» 
António  Cordeiro,  Historia  Insulana,  liv. 
5,  cap.  9. 

Com  ello  vai,  correndo  ao  fundo  algoso, 
Eecha-ae  o  mar,  tremendo,  e  a  superficie 
Da  tempestade  atroz  conserva  a  imagem ; 
Esvaindo-ae  em  aangue,  urrando  espira, 
E  logo  aboia  o  corpo  montanhoso. 

J.    A.    DF.  M.ICEDO,  MEDITAÇÃO,  Caut.   3. 

Mal  orvalhosos  Zéfiros  co'  as  aaaa 
I>he  oncrespào  brandamente  a  superfieie, 
Dos  Tirauno3  dos  ares  a  cohorte 
Brame  encerrada  nas  Eólias  grutas. 
Dos  mudos  Cidadãos  a  copia  ingente 
Da  calma  se  compraz,  gira  brincando. 

IDEM,  A  NATUREZA,   Cant.    3. 

—  O  exterior,  a  flor  do  corpo. 


630 


SUPE 


SUPERFINO,  A,  'í/j.  Finisáiino.  —  Pa- 
l)el  superfino. 

SUPERFLUAMENTE.  adv.  (De  supér- 
fluo, com  o  8uffii:o  a  mente»).  De  um 
inodo  supérfluo. 

Do  sol)oici,  (Icsnuceísariaiuente. 

SUPERFLUIDADE,  «.  /.  (Do  latim  au- 
jterjluitas).  Excesso,  sobejidào,  e  dema- 
sia. 

Ha  mal  igual  no  iiiartoiro 
do  a(,-oiigc,  o  do  terreiro 
dii  inollier  feita  cm  voatadcs 
fiuc  for(;am  siipei-Jluiiludes, 
que  lierdom  voíâo  dinlipíro  ? 

A.NTomo  ruESTKa,  altos,  pag.  113. 

—  Cousa  .supcrtlua. 

—  Particulaiuiento  :  Cousa  de  luxo. 

—  l'lur.:   Od  cxeremeutos. 
SUPÉRFLUO,  A,  a,lj.   (Do  latim  super- 

Jliins).  Muis  ipic  bastante,  Jesneccsíario, 
inútil  por  excesso,  demasiado.  —  «O  que 
eu  tenlio  por  mui  certo,  que  vós  fareis 
sempre  inteiramente,  quanto  humana- 
meute  se  puder  fazer.  Do  modo  que  es- 
crevestes a  Sua  Alteza  nSo  estou  menos 
contente,  porque  vierão  vossas  Cartas  nmi 
bem  ordenadas,  e  nellas  todas  as  cousas 
necessárias,  e  nenhumas  supérfluas ;  e 
bem  se  vè  nellas  o  mesmo,  quo  acima 
digo,  e  que  entendeis  as  cousas,  e  que 
tendes  zelo,  e  desejo  do  as  fazer  sem  res- 
peito tcmjioral  de  amor,  nem  interesse.» 
Jacintlio  Freire  d'Andrade,  Vida  de  D. 
João  de  Castro,  liv.  3.  —  «Vorèm  para 
nenliuuia  cousa  he  mais  necessária  a  nuil- 
tidaõ  de  gente,  que  para  a  Milieia;  por- 
que como  os  soldados  sai5  ordinariamente 
a  gcMite  supérflua  na  R;publiea,  naõ  ha- 
vendo destes  muitos,  naõ  pôde  liaver  exér- 
citos grandes,  com  os  quaes  somente  se 
fundarão  as  quatro  Monarquias.»  Severim 
de  Faria,  Noticias  de  Portugal,  Disc.  1, 
cap.  1. 

—  Substantivamente:  O  supérfluo. — 
«Já  o  sev,  sem  que  me  digam:  houve- 
ram-se  como  a  rapoza  uo  galinheiro,  em 
que  entraram  :  cevaraõ-se  uào  si'i  no  neces- 
sário, senaõ  também  no  supérfluo.  Naõ  se 
contentaõ  com  se  verem  fartos,  e  chcyos, 
como  esponjas,  querem  engordar  com  aci- 
plpes.»  Arte  de  furtar,  cap.  42. 

—  Syn.  :  Supérfluo,  escusado.  Vid.  este 
ultimo  vocábulo. 

SUPERHUMERAL,  adj.  2  gen.  e  s.  Vid. 
Sobrehumeral. 

SUPERITENDENCIA,  s.  /.  Inspecção, 
direito,  ou  cuidado  ile  vigiar,  e  dirigir  aos 
quo  entendem  em  alguma  obra,  trabalho, 
provisões  de  bocca,  o  guerra,  etc.  —  «E 
concedia-se  aos  Consehieiros ;  e  àqiielles, 
que  no  Paço  tiuhaõ  superiutendeucia  cm 
algum  particular  ministério;  e  preccdiaõ 
a  outros  Ministros  inferiores,  chamando-os 
Condes  daquclle  ofl'uio.»  Sevei'im  de  Fa- 
ria, Noticias  de  Portugal,  Disc.  3,  cap. 
25. 

SUPERINTENDENTE,  s,  m.  Sobreestau- 


SUPE 

to,  o  que  tem  a  superintendência  cm  al- 
guma olira. 

SUPERINTENDER,  v.  n.  Ter  a  super- 
intendência. 

1.)  SUPERIOR,  ndj.  2  gen.  (Do  latim 
suijerus).  Que  e.>tá  mais  alto. —  «Os  scri- 
ptores  antigos  j)artem  a  Ethio[iia  em  su- 
perior, o  inferior,  no  qual  superior  Orien- 
tal estil  o  lugar,  c  terra  do  Çofala,  na 
costa  do  mar  a  quo  chauiaõ  Pra^sodum. 
Estas  duas  Ethiopias  tomarão  nomo  de 
Ethiopo,  filho  de  Vulcano,  que  foy  Rei, 
c  senhor  delias.»  Damiào  de  Coes,  Cbro- 
nica  de  D.  Manoel,  part.  2,  cap.  10.  — 
oE  com  este  trabalho  tenho  outro  igual, 
ou  superior  a  elle,  aldcmenos  para  mim 
muito  mais  iiicomportavel  de  todos,  que 
são  as  grandes  oppressõcs,  e  continues 
achaques,  que  me  dào  os  L.i8qucrins  por 
paga,  de  que  lhes  eu  dou  muita  certeza, 
porque  doutra  maneira  se  me  iriilo  todos, 
e  ficarei  só  nesta  Fortaleza.»  .laeintlio 
Freire  d'Andrade,  Vida  de  D.  João  de 
Castro,  liv.  3.  —  «Trazia  o  inimigo,  ao 
parecer,  hum  corpo  de  oito  mil  homens 
regidos  por  seus  Cabos,  a  que  chamào 
Modeliares,  destros  naquelle  modo  bár- 
baro de  cometter,  e  retirar,  superiores 
aos  nossos  no  número,  e  na  agilidade,  e 
sem  dúvida  hum,  e  hum  nos  forào  derri- 
bando a  todos,  se  os  não  fizera  afastar  a 
nossa  espingardaria,  de  que  receberão 
damno,  e  temor  grande,  vendo  cahir  al- 
guns subitamente  mortos.»  Ibidem,  liv.  4. 


Do  ti,  Filosofia,  ávido  amautt', 
E  lembrado  do  Tejo,  em  teu  Palácio 
Os  filhos  teiiâ,  do  Tejo  habitadores. 
Nlium  throno  igual,  ou  superior  a  muitos. 
Vi  collocido  o  portentoso  Nunca. 
Astros,  Astros  do  Ceo  prondc-voa  este. 

J.  A.  DB  UACEDO,  VIAGEM  KITATICA,  Caot.  2 


—  Emanado  do  superior. 

—  Extremado  com  vantagem. 

—  Que  tem  jurisdicção  ou  direcção  so- 
bre os  súbditos. 

—  Figur.adamente  :  Que  estil  em  maior 
graduação,  dignidade. — «Na  de  Castel 
Rodiigo  ora  maior  o  numero  da  sua  gen- 
te do  que  o  nosso,  e  na  de  Montes  Cla- 
ros se  era  inferior  em  mil  Infantes,  era 
superior  cm  mais  de  mil,  e  seis  centos 
cavallos.»  Manoel  Severim  de  Faria,  No- 
ticias de  Portugal,  Disc.  2,  c^»p.  9.  — 
«A  quem  em  certo  modo  podemos  chamar 
máxima ;  pois  iw  valor,  c  lealdade  he  su- 
perior n  todos;  c  em  pioder  he  tamanha, 
que  Reinando  ElRey  D.  Afonso  III.  guer- 
reou Portugal  juntamente  contra  todos 
os  Reynos  do  Espanha,  o  BiU-baría.»  Ibi- 
dem. 

2.)  SUPERIOR,  A,  *.  Que  tem  jurisdic- 
ção  sobre  os  súbdita*  num  convento. — 
"E  este  fov  o  espirito  e  cstylo  do  P.  M. 
Francisco  que  jiolo  guardar,  em  todo  o 
tempo  quo  foy  superior  da  nossa  Compa- 
nhia na  índia,  nunca  deixou  de  fazer  por 


.SUPE 

bí  mesmo  todos  (^s  trabalhoa.»  Lucena, 
Vida  de  S.  Francisco  Xavier,  liv.  4,  ca- 
pitulo 4. 

—  Religioha,  que  governa  algum  con- 
vento; abbadessa,  prioreza,  regente. 

—  Pe8.'4oa  feminina  superiora  a  outras. 
SUPERIORATO,  *.  rn.  (JflTicio,  dignidade 

de  superior,  ou  nupohora. 

—  Figuradamente:  O  superiorato  dtt 
repuòlicu  das   Itltrai. 

SUPERIORIDADE.  *.  /.  (Do  latim  *u^ 
rioritat).  Preeminência,  auctoridadu,  ex- 
cellencia. 

—  Cargo  de  superior  n'um  convento. 

—  Syn.  :  Superioridade,  auctoridade, 
poder,   soberania,  stulnjrio. 

Superioridade  é  a  preeminência  de 
uma  jiessoa  sobre  outra,  em  qualquer  do- 
te ou  qualidade.  Auctoridade  é  a  supe- 
rioridade que  provém  da  lei  natural  ou 
[lositiva,  com  direito  de  se  fazer  obede- 
cer. Soberania  é  a  auctoridade  do  sobe- 
rano com  poder  absoluto  e  independente 
sobre  03  vassallos.  Senhor  é  a  auctoridade 
com  império  e  dominiu. 

Superioridade  denota  preemiocncia 
comparativa,  e  encerra  idêa  do  compara- 
ção, o  que  não  acontece  com  os  vocábu- 
los auctoridade,  poder,  soberania  o  domi- 
nio,   ou  senhorio. 

Poder  c  a  auctoridade  com  força  de  se 
fazer  re.sp.-itar.  e  obedecer. 

I  SUPERIORMENTE,  adv.  (De  supe- 
rior, com  o  suffixo  «mente»).  De  uma 
maneira  superior. 

—  De  um  modo  excellente,  perfeita- 
mente. 

SUPERLATIVAMENTE,  adv.  (De  super- 
lativo, c  o  suffixo  «mente»).  Em  grau 
superlativo. 

—  Extremamente,  em  extremo. 
SUPERLATIVO,  A,  adj.   (Do  latim  su- 

perlativus).  Termo  de  granimatica.  Que 
exprime  a  qualidade  boa  ou  má  elevada 
ao  mais  alto  grau.  —  Adjectivo  superla- 
tivo. —  ^Is  terminaçZes  superlativas  na 
lingua  latina. 

—  Por  extensão :  Quo  tem  um  cara- 
cter excellente. 

—  Substantivamente  :  Um  superlativo. 


Uma.  de  exalçado 

no  muito  que  era,  ser  nada  tomado  ; 
a  outra  de  vOr,  o  não  como  elle 
no  superliUivo,  que  só  era  d'clio. 
ASTOKio  rBKSTES,  ACTOS,  pag.  3. 


—  Superlativo  absoluto;  aquellc  que  ex- 
prime uma  qua' idade  elevada  a  um  grau 
muito  alto  sem  relação  a  outra  coosa  ou 
pessoa ;  )ior  exemplo :  mui  sábio. 

—  Superlativo  relativo;  aqnoUe  que 
exprime  a  qualidade  com  relação  a  outra 
pessoa  ou  a  outra  cousa ;  por  exemplo  :  o 
Ilidis   íabiii. 

SUPERNAL,  adj.  2  gen.  Superior,  su- 
perno. —  Gi-a^a  supernal. 


SUPE 


SUPE 


SUPI 


631 


SUPERNO,  A,  adj.  (Do  latim  supernus). 
Superior. 

—  Excellente,   soberano. 


DeLxa  de  seu  terceiro  orbe  o  governo 
E  o  caminlio  lá  faz  soberbii  ft  irada 
Direita  ao  Ceo  Empirio,  onde  o  superno 
Júpiter  tem  a  sua  alta  morada  ; 
E  tocada  n'hum  ódio  novo  e  interno 
Yai  no  amor  de  seu  pae  mui  confiada 
Que  a  vingari  da  Portugueza  geuto 
A  quem  disto  ella  culpa  põe  somente. 

T.  dUndrade,  pbqip.ieo  ckbco  de  Diu,cant.  16, 
est.  46. 


—  A  luz  superna;  a  luz  do  mundo, 
em  opposiçíio  ;ls  trevas  do  inferno, 

SUPERNUMERARIO,  A,  adj.  (Do  latim 
supernumerarius) .  Que  excede  ou  se  ajun- 
ta ao  justo  numero,  af 'a-a  o  numero  es- 
tabelecido, decretado,  convencionado. 

—  Alguns  dizem  supranumerário. 

—  S.  m.  O  official  ou  empregado  além 
do  numero  legal. 

SUPERO,  A,  arlj.  (Do  latira  superas). 
Superior  ou  de  cima;  diz-se  em  opposi- 
ção  a'i  infero.  Vid.  Infero. 

-J-  SUPÉROXYDAÇÃO,  s.  /.  Termo  de 
cliimica.  Oxydação  com  excesso  doxvda- 
çào. 

SUPERPARTIGULARIS,  adj.  Termo  de 
aritíimetica,  e  de  musica.  Género  super- 
particularis ;  é  o  segundo  género  de  pro- 
porção desigual,  quando  a  quantidade 
maior  contém  a  menor  uma  vez,  e  mais 
uma  parte  do  mesmo  numero. 

SUPER? ARTIENS,  adj.  2  gen.  Termo 
de  arithmetica,  e  de  geometria.  Género^  ou 
razão  superpartiens ;  é  a  que  tem  um  nu- 
mero com  o  outro  a  que  elle  contem  uma 
vez,  e  mais  algumas  partes  d 'esse  nume- 
ro ;  por  exemplo :  2  terços,  ou  2  quin- 
tos, etc. 

SUPERPOSIÇÃO,  s.  f.  Termo  didácti- 
co. O  acto  de  pôr  uma  linha,  uma  super- 
fície, um  corpo  sobre  outro. 

SUPERPURGAÇÃO,  s.  f.  Purgação  im- 
moderada  ou  excessiva,  produzida  por 
substancias  mui  irritantes. 

SUPERROGAÇÃO,  s.  /.  Vid.  Superero- 
gação. 

SUPERSÃO,  s.  f.  Termo  de  chimica. 
Fogo  de  supersão ;  faz-se  quando,  para 
se  distillar  por  descenso,  se  applica  fogo 
por  cima  da  matéria. 

7  SUPERSECREÇÃO,  s.  /.  Termo  de 
medicina.  Secreçiio  excessiva. 

•}-  SUPERSENSÍVEL,  a^lj.  Termo  de  phi- 
losopliia.  Que  escapa  aos  sentidos. 

SUPERSTE,  adj.  2  gen.  (Do  latim  su- 
persfes).  Que  sobrevive  a  outri. 

SUPERSTIÇÃO,  s.  /.  (Do  latim  super- 
sfitio).  Sentimento  de  veneração  religio- 
sa, fundado  no  temor  ou  ignorância,  pelo 
qual  muitas  vezes  somos  levados  a  falsos 
deveres,  a  chimeras,  e  a  pôr  confiança 
cm  cousas  imp  tentes.  —  A  piedade  é 
differente  da  superstição. 

—  Particularmente  :    Và    observância 


religiosa  praticada  pelos  antigos  e  defen- 
dida pela  egreja. 

—  Và  presagio  que  se  tira  d'acciden- 
tes  puramente  fortuitos. 

—  Praúca  supersticiosa;  crença  su- 
persticiosa. —  «Que  aqaellas  tenras  flo- 
res, que  começavào  a  abrir  no  jardim  da 
Igreja,  não  as  quizesse  deixar  desabriga- 
das ás  injurias  do  ardor  da  idolatria ; 
que  pois  viei'ão  com  armas  limpar  aquel- 
le  mato  de  superstições  gentílicas,  não 
se  espantasse  de  saliir  lastimado  das  es- 
pinhas e  cardos  da  infidelidade.»  Jaciu- 
tlio  Freire  d'Andrade,  Vida  de  D.  João 
de  Castro,  liv.  4.  —  «Aclia-se  contudo 
entre  os  mesmos  Romanos  hum  grande 
numero  de  pessoas  rasonaveis,  que  con- 
demuárão  as  ditas  superstiçoens.  Kào  se 
pôde  ler  cousa  mais  judiciosa  nesta  ma- 
téria, que  o  que  se  acha  escrito  ua  Puar- 
salia  de  Lucauo.»  Cavalleiro  de  Oliveira, 
Cartas,  liv.  3,  n."  11. 


Se  o  meu  ha-de  nomear,  —  tu  ci-uél  o  sabes.  — 
«  Quiz-lho  ás  luperstirões  dar  pleno  córtc 
Mas  (nem  que  impio  fosse  eu,  em  pertendõ-lo) 
A  Druida  me  atalhou.  » 

r.  M.  DO  HASciMExro,  os  H.VRTrRES,  liv.  10. 


—  Figuradamente :  Todo  o  excesso  de 
cuidado  em  qualquer  matéria  que  seja. 
—  A   superstição  Utieraria. 

SUPEI.STIGIOSAMENTE,  adv.  (De  su- 
persticioso, e  o  sufiixo  «mente»).  De  um 
modo  supersticioso. 

■ — ■  Figuradamente :  Levado  o  escrúpu- 
lo até  ao  excesso. 

t  SUPERSTICIOSIDADE,  í.  /.  Tendên- 
cia paru  a  superstição. 

SUPERSTICIOSO,  A,  adj.  (Do  latim  su- 
ptrsticiosus).  Que  tem  superstição.  —  O 
povo  o  vienos  supersticioso  c  sempre  o 
viais  tolerante «iíuitos  Autores  anti- 
gos, que  forào  muito  mais  supersticiosos 
do  que  nós,  conciderárão  r.atural  a  for- 
mação desta  figura,  não  atribuhindo  este 
sucesso  a  mdagre,  nem  também  o  se- 
guinte.» Cavalleiro  d'Oiiveira,  Cartas, 
liv.  1,  n.°  24. 

—  Onde  ha  superstição.  —  Uma  devo- 
ção supersticiosa. 

—  Figuradamente  :  Que  peeca  por  ex- 
cesso de  escrúpulo. 

—  Homem  supersticioso ;  homem  en- 
tregue á  superstição. 

—  Observante  com  escrúpulo. 

—  Que  faz  religião,  dever  sagrado 
dalgunia  cousa. 

SUPERSUB3TANCIAL,  adj.  2  gen.  Mui- 
to substancial,   por   extremo  substancial. 

SUPERTUNICAL,  s.  vi.  Vestidura,  que 
se  lançava  sobre  a  túnica. 

SUPERVACANEO,  A,  adj .  (Do  latim  su- 
pervaraneus).    Inútil,  baldado,  supérfluo. 

SUPERVACUO,  A,  adj.  (Do  latim  super- 
vacuus).  Supérfluo,  vão,  inútil,  superva- 
canoo. 

SUPERVENÇÃO,  s.  f.  (Do  latim  super, 


e  veiiere).  A  acção  de  sobrevir,  de  sobre- 
chegar. 

SUPERVENIENTE,  adj.  2  gen.  (Do  la- 
tim supervi  niens).  Que  sobrevem. 

SUPERVIVENGIA,  s.  f.  A  acção  de  so- 
breviver, i!e  vencer  em  dias  a  outrem. 

—  Dar  a  alguém  a  supervivencia  do 
officio ;  dar-lhe  o  direito  de  o  servir  pelo 
tempo,  que  o  doado  vencer  em  dias  de 
vida  ao  seu  antecessor. 

—  Certidão  de  supervivencia ;  de  que 
sobrevivi  á  doença. 

SUPERVIVENTE,  part.  acf.  de  Super- 
viver.  Que  sobrevive  a  outrem. 

—  Substantivamente:  Um  supervi- 
vente. 

SUPERVIVER,   V.  n.  Vid.    Sobreviver. 
SOPETÃO,  s.  m.   O  mesmo  que  Súbito. 

—  Loc.  ADV.:  De  sopetão ;  mui  subi- 
tamente. 

3UPET0.  Vid.  Supito. 

SUPILIPÉ.  Vid.  Póspello. 

SUPINAÇÃO,  s.  f.  (Do  latim  supinatio, 
àe  supinus).  Termo  de  physiologia.  Acção 
de  virar  para  traz,  ou  o  movimento  que 
os  músculos  supinadores  fazem  executar 
ao  aute-braço  e  á  mão. 

—  Termo  de  pathologia.  Posição  de 
um  doente  deitado  de  costas.  —  O  doen- 
te está  em  supinação. 

SUPINABOR,  adj.  e  s.  vi.  Termo  de 
anatomia.  Nome  dado  aos  músculos  que 
seguram  o  ante-braeo  e  a  mão  pela  parte 
exterior,  de  sorte  que  a  face  anterior  da 
mão  se  torna  superior. 

1.)  SUPINO,  í.  wi.  (Do  latim  supinus). 
Termo  de  grammatica  latina.  Parte  do 
infinito  latino  que  serve  para  formar  mui- 
tos tempos,  e  que  na  essência  só  existe 
sem.  nome  verbal. 

—  Supino  activo ;  forma  nominativa  ou 
accusativa. 

—  Supino  passivo;  forma  ablativa. 

—  Os  nossos  clássicos  servem-se  fre- 
quentes vezes  do  participio  pelo  supino. 

— ■  O  supino  serve  para  declarar  o 
complemento  ou  acabamento  da  acção  do 
verbo,  d'onde  se  deriva. 

—  Xa  nossa  lingua,  o  supino  é  inde- 
clinável. 

2.)  SUPINO,  A,  adj.  Alto,  elevado. 

—  Que  está  de  barriga  para  o  ar. 

— -Ignorância  supina;  a  ignorância  vo- 
luntária, de  que  nos  não  tiramos  por  de- 
masialo  desleixo. 

SUPITAMENTE,  adv.  (De  supito,  e  o 
suffixo  «mente»).  Vid.  Subitamente. — 
«Albayzar,  que  havia  grande  pedaço  que 
se  sostinha  na  presença  de  Targiana, 
afrontado  das  armas,  cançado  do  espiri- 
to, desfallecido  das  forças,  supitamente 
sem  nenhum  acordo,  caiu  no  chão,  de  que 
o  cavalleiro  negro  deu  graças  a  sua  se- 
nhora, como  quem  andava  já  pêra  fazer 
o  mesmo.»  Francisco  de  Moraes,  Palmei- 
rim d'Jnglalerra,  cap.  89.  —  «Os  muros 
fortíssimos  da  cidade  de  Hierico,  cayram 
supitamente  a  som  de  trombeta.  O  sol  se 


832 


8UPP 


SUPP 


SUPP 


flotouc  no  Oco  por  hum  pramle  espaço 
sciiii  HG  iriDUcr,  \>cyii  quo  o  jiouo  ilo  UKíJS, 
quo  pcilojíiua  coiilni  mnn  <ni«iiiiíí08,  aca- 
baHsu  (lo  o.s  (lostniyr.  K.stau  o  outras  ma- 
rauillias  viram,  mns  iiaiii  llios  foy  dado  a 
verdadoyra  luz  «'terna,  culxirta  com  a  nn- 
ucmicinha  de  carno  da  incniao,  o  posta 
em  hum  pro.sopio  por  amor  do  nos.»  Fr. 
Hartholoinou  dos  Martyres,  Cathecismo 
da  doutrina  christã. 

SUPITANEO,  A,  w/j.  Vid.  Subitaneo. 

1.)  SUPITO,  A,   'ulj.  Vid.   Súbito. 

—  Irado,  accolerado  cm  colura,  as.so- 
niado. —  «Esta  fortuna  cousa  ó  de  cada 
hora,  assim  como  veio  supita,  assim  se 
passará  codo:  saí  (Fessa  camará,  vejani- 
vos  03  marinheiros,  pêra  quo  tomem  ani- 
mo porá  trabalharem  como  devem.  Assim 
Boccorria  o  velho  a  toda  a  parte  com  a 
])rovidcncia  necessária.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  115. 

—  o  Porém  (dia  lhe  toi  á  m.ào,  pesando- 
Iho  do  tamanha  e  supita  mudança,  bus- 
cando palavras,  com  quo  a  mais  arrei- 
gasse na  primeira  tendão,  dizendo :  Se- 
nhora, credes  v<^s  que  o  que  Floriano 
usou  com  Tarf^iana  se  possa  usar  comvos- 
co?»  Ibidem,  cap.  122. 

—  Arrebatada.  —  Supita  tormenta.  — 
«Porque  sendo  muitas  vezes  seus  exérci- 
tos prestes  e  concertados,  ou  o  mar,  com 
supita  tormenta,  anefrou  suas  náos,  o  des- 
truiu suas  grossas  frotas,  ou  antro  os 
príncipes  delias  se  levantaram  discórdias, 
e  dissensões,  que  com  morte  de  muitos 
atalhou  o  fim  de  sou  propósito,  n  Francisco 
do  Moraes,  Palmeirim  d'Inglatera,  cap.  30. 

• —  TjOC.  adv.  :  De  supito;  suliitamcnte. 

—  «Romctteudo  a  ellc  do  supito,  posto 
que  jA  o  tomaram  apercebido,  cneoutra- 
ram-no  com  tanta  força,  que  arrebentando 
a  cilha,  deram  com  elle  no  chão.»  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  102. 

2.)  SUPITO,  s.  m.  ímpeto,  pensamento 
súbito,  vontade. 

SUPOR,  V.  a.  Vid.  Suppor,  e  Presup- 
por.  —  f  Consiste  em  certos  eaboUos  a  quo 
chamamos  cans  ou  caens,  que  nos  fasom  tào 
velhos  como  suponho  qne  er.ào  os  mesmos 
Antigos.  Lá  virá  tempo  cm  que  o  sejamos 
para  outros,  assim  como  os  outros  o  siio 
agora  para  nós.»  Cavalleiro  d'01iveira, 
Cartas,  Hv.  3,  n.°  10. 

SUPORAR,  i'.  a.  Vid.  Supurar. 
SUPOSITA,     s.    /.     Termo    antiquado. 
Traiiaça,  enredo,  maquinação. 

SUPPEDANEO,  .«.  m.  (Do  latira  guppe- 
daneiim).  ^'id.  Supedaneo. 

SUPPEDITAR,  r.  a.  (Do  latim  sitpiie- 
ditltn'^.  Subníinistrar,  fornecer. 

SUPPLANTAÇÃO,  .s.  /.  Acto  de  supplan- 
tar. 

—  Figuradamente :  Engano,  fraude, 
trapaça,  traição. 

SUPPLANTADO,  part.  i)ass.  de  Supplan- 
tar.  Mottido  debaixo  dos  pés,  pisado,  tri- 
lhado. 


—  Figuradamente:  Derribado,  prostra- 
do. 

SUPPLANTADOR,  A,  s.  Pessoa  que  sup- 
j)bmta. 

SUPPLANTAR,  v.  a.  Cl>o latim  siipplanta- 
re).  Mífttor  d(d>aixo  dos  pés,  trilhar,  calcar. 

—  Figuradaiiiento  :  Derribar,  prostrar 
aos  pés  o  vencido. 

—  Alguns  dSo-llie  a  significação  de  ar- 
mar cambapé,  dar  traça  com  que  alguém 
so  arruino;  usar  fio  sancadilhas  para  der- 
ribar alguém;  fazer  piTdor  a  alguém  o 
credito,  o  favor,  a  afleiç.^o  quo  tinha  para 
com  uMia  jicssoa,  ete. 

SUPPLEMENTAR,  adj.  2  (jen.  Que  serve 
de  Bn])ploniento,  do  auxilio. —  Um  cre- 
dito snpplementar. 

—  Termo  do  geometria.  Anrjulos  sup- 
plementares;  aquelleseuja  somma  é  egual 
a  dons  ângulos  rectos. 

—  Cordds  supplementares ;  aqnellas 
que  na  ellipse,  partindo  de  um  mesmo 
ponto,  tendem  ás  extremidades  de  um 
mesmo  diâmetro, 

SUPPLEMENTÁRIO,  adj.  Vid.  Supple- 
mentar. 

SUPPLEMENTO,  s.  m.  (Do  latim  sirpple- 
)iientii>ii).  ()  que  se  dá  para  supprir. — 
J)eu-se.-lhe  tunto  cm  dinheiro  para  sup- 
plemento  da  divisão. 

■ —  O  supplemento  de  um  livro;  o  que 
se  junta  a  um  livro  i>ara  supprir  o  que 
falta  n'elle.  —  Puòlicou-se  mn  supple- 
mento  a  esta  obra. 

—  Termo  de  geometria.  O  supplemen- 
to de  um  angulo;  o  que  é  mister  ajuntar 
a  um  angulo  para  formar  dous  ângulos 
rectos. 

—  Supplemento  da  edadc;  a  acçSo  de 
dar  por  enchido  o  tempo,  ou  idade,  que 
a  lei  requer  para  o  menor  poder  fazer  va- 
lidamente alguns  actos. 

SUPPLETORIO,  A,  adj.  Que  suppre. 

—  Jurainiiniit  suppletorio  ;  juramento 
que  se  dá  quando  falta  inteira  prova  nos 
casos  da  prova  semiplena,  por  mandado 
do  juiz. 

SUPPLICA,  s.  f.  Rogativa,  preces  hu- 
mihles. 

—  As  palavras,  ou  cscriptura  em  que 
ella  so  faz. 

SUPPLICAÇÃO,  s.  /.  (Do  latim  suppli- 
catio).  Acçào  de  supplicar. 

—  Casa  da  supplicação ;  tribunal  da 
corte  d'osto  reino,  onde  se  recorria  por 
aggravo,  ou  appellação  de  certos  juizes, 
e  das  Relações  em  certos  casos.  Vid. 
Paaço,  c  Desembargador. 

■ —  (  h-açrio  feita  com  instancia  c  submis- 
são, preces,  supplica. 

— ■  Tr  o  feito  por  supplicação  ;  ir  o  feito 
por  aggravo,  ou  appellação. 

SUPPLICADO,  part.  pass.  de  Suppli- 
car. Pedido  com  humildade,  e  submissa- 
mente. 

—  Substantivamente:  O  supplicado; 
no  foro,  pessoa  contra  quem  o  supplicante 
requer. 


SUPPLICANTE,  part.  acl.  de  Supplicar. 

—  tí.  '^  <jen.  1'eKsoa  quo  HUjjpiica,  qao 
requer,  que  pede  em  juizo. —  *K  os  sup- 
piicantes  (-So  todos  geralmente  façudos  e 
de  umas  carau  muis  largais  que  cscarpea- 
das,  de  maneira  que  ee  lhes  jHjgerdes  um 
avental  diante,  jurarei  que  hão  cosinhei- 
ros  de  sua  alteza,  e  que  aguardam  pelo 
leite  para  o  manjar  branco.»  Fernão  Ro- 
drigues Lobo  iSoropita,  Poesias  e  prosas 
inéditas,  pag-  62. 

SUPPLICAR,  V.  a.  (Do  latim  tupplka- 
rt,  <lc  sup^  por  luh,  e  plicare).  Rogar, 
pedir  submissaniente,  e  com  humildado, 
—  «Pêra  que  exhortawie  os  Rei»  Chris- 
tãos  a  fazerem  guerra  a  hum  tam  pode- 
roso imigo  de  nosm  Hancta  Fé,  o  que 
aproueitou  tant*')  quanto  o  fez  das  outras 
vezes,  supplicou  no  mesmo  tempo  ao  Pa- 
jia  ({w,  a  ladrões,  nem  falsairos  valessem 
ordens.»  Dau)iào  de  <loes,  Chronica  de 
D.   Manoel,   part.  4,  cap.  20. 

—  Supplicar  alguém;  pedir-lhe  Buppli- 
cando. 

—  Pedir  de  joelhos. 

—  Absolutamente  :  Rogar,  pedir. 

Minha  extrema  vontade,  hadc  o  meu  filho 
Desprczíir  de  BCu  pac!  O  último  rogo 
,)A  ffiitf)  flóbrc  a  margem  do  sepidchro, 
Hasdn  esriupcél-o  t«V  Catão  tupjÀíra, 
Pude  Catão,  e  Uruto  uào  o  attcnde! 

OABBBTT,  CÀTÂO,    SCt.  5,  BC.'  9. 

SUPPLICATORIO,  A,  ndj.  Quo  tem  o  ca- 
racter da  supplicação. 

—  Carta  supplicatoria ;  rogativa  de 
supplica. 

SUPPLICE,  adj.  2  gen.  (Do  latim  tup- 
pleri.    (^ue   supplica.  —  Mãos  snpplices. 

SUPPLICIAR,  V.  a.  Castigar  com  pena 
afílietiva. 

■ —  Dar  pena  de  morte. 

SUPPLICIO,  «.  ni.  (Do  latim  suppli- 
cium).  Punição  corpórea  ordenada  por 
sentença  da  justiçai ;  c-aetigo,  pena  affli- 
ctiva. 

—  Pena  de  morte. 

— Figuradamente:  Grande  e  longo  tor- 
mento, atHicçào. 

—  Os  supplicios  eternos ;  os  castigos 
eternos,  a.s  penas  do  inferno.  —  íQuc  lú- 
gubre lhe  choraria  tudo  em  volta  d'elle! 
Uns  frades  suspeitosos,  cuidando  qne  o 
consolarem  o  desterrado  lhes  acarrearia 
lenha  e  betume  para  os  supplicios  eter- 
nos. Uma  casa  e=eura,  silenciosa,  cheia  da 
toada  gemente  do  vento  a  sibillar  noe  vo- 
Ihos  vigamentos!»  Bispo  do  Grão  Pará, 
Memorias,  publicadas  por  Camillo  Cas- 
tello  Branco,  pag.  37. 

—  Por  extensão,  tudo  o  qne  produz 
uma  forte  dôr  do  corpo,  e  que  dura  al- 
gum tempo. 

—  Figuradamente  :  Grande  sotfrimento 
mora!. 

SUPPOER,  f.  n.  Termo  antiquado.  Vid. 
Suppor. 


SUPP 


SUPP 


SUPP 


633 


SUPPONENDO,  A,  adj.  Presupposto, 
dado. 

SUPPOR,  V.  a.  (Do  latim  suppon&re). 
Pôr  como  certo,  por  hypothese. 

—  Siippôr  culija  a  alguém;  iiiipôr-lh'a, 
ou  cuidar  que  a  teru. 

—  Conjecturar,  imaginar. —  «Conside- 
ra primeiramente,  como  o  peccador,  em 
certo  modo  não  tem  a  Deos  por  Deos. 
Isto  parece  que  dá  a  entender  o  Senhor, 
quando  diz:  Se  eu  sou  Pay,  se  eu  sou  Se- 
nhor: Si  Pater  ego  sum:  si  Dominus  ego 
sum:  como  suppondo,  que  o  peccador  nào 
assenta  bem  nestas  verdades,  porque  com 
as  suas  obras  contradiz  a  sua  fó.»  Padre 
Manoel  Bernardes,  Exercícios  espiriíuaes, 
pag.  83.  —  «Suppoem  agora,  que  além  de 
bemfeitor  era  seu  pay,  além  de  pay  era 
Rey,  e  naõ  só  Rey,  mas  pessoa  sagrada : 
oh  como  se  agravaria  mais,  e  mais  este 
delicto!»  Ibidem,  pag.  8õ. —  «E  se  ten- 
des entendimento,  como  suppomos,  sois 
obrigado  a  crer,  que  em  vicios  naíj  pcxle 
haver  gloria,  nem  descanço ;  assim  o  al- 
cançarão, e  escreverão  até  os  mayores  ido- 
latras do  mundo.»  Arte  de  furtar,  cap. 
70.  —  «E  vendo  com  profunda  observa- 
ção tanta  diversidade  de  particulas,  tanta 
differença  de  instrumentos,  tanta  abun- 
dância de  operaçoens  em  huma  fabrica  de 
taõ  pouco  vulto;  e  tudo  com  tanta  ordem, 
tal  disposição,  tal  armonia,  nos  sittos,  nos 
movimentos,  e  nos  productos  admiráveis 
daquella  parte;  que  ha  dizer,  ou  que  ha  de 
suppor,  senaõ  que  a  Cabeça  he  o  mais  no- 
bre, o  mais  singular,  e  o  mais  elevado  com- 
posto do  corpo  humano?!)  Braz  Luiz  de 
Abreu,  Portugal  medico,  pag.  87,  §  171. 
—  «Tinha-se  depois  deixado  conduzir  sem 
opposição  até  ao  pé  do  cadáver  de  Beatriz, 
não  aó  porque  no  estado  de  demência  em 
que  suppunha  e,  até  certo  ponto,  estava 
Fr.  Vasco,  a  resistência  somente  serviria 
de  lhe  excitar  as  fúrias,  mas  também  por- 
que o  bom  do  prelado  trazia  o  espirito  tão 
arrobado  de  doçura  o  placidez,  que,  se  o 
porteiro  Fr.  Julião  ou  outro  súbdito  seu 
ainda  mais  somenos,  quizesse  alevantar- 
Ihe  a  grimpa,  elle  o  teria  tolerado  com 
inteira  equanimidade  philosophica,  ou  an- 
tes com  perfeita  abnegação  evangélica.» 
A.  Herculano,  Monge  de  Cister,  capitu- 
lo 3o. 

- —  Pôr  uma  cousa  falsificada  em  vez  da 
verdadeira,  ou  dal-a  por  verdadeira. 

SUPPORTADO,  part.  pass.  de  Suppor- 
tar. 

SUPPORTAR,  V.  a.  Vid.  Soportar. 

SUPPORTE,  s.  m.  Termo  de  botânica. 
A  parte  que  sustenta  outra. 

SUPPOSIÇÃO,  s.  /.  (Do  latim  snpposi- 
tio,  de  fupponere).  Acto  de  suppór. 

—  Conjectura,  opinião  que  não  é  apoia- 
da em  provas  positivas.  —  Uma  suppo- 
sição  atrevida. 

—  Producção  de  uma  peça  falsa.  — 
Supposição  de  testamento. 

—  Supposição  de  nome,   de   pessoa;  a 


acção  de  pôr  um  nome,    uma  pessoa   em 
logar  d 'outra. 

—  Supposição  de  filho;  acção  fraudu- 
losa,  tendo  por  fim  fazer  reconhecer  uma 
creança  por  li  lho  ou  filha  d'aquelles  de 
quem  nasceu. 

—  Attribuição  de  uma  obra  a  tempos, 
ou  a  um  auctor,  ao  qual  não  pertence. 

—  Homem  de  supposição ;  homem  há- 
bil, capaz  de  qualquer  enipreza. 

—  Supposição  de  authvridade ;  res- 
peito. 

—  Partes,  talentos,  requisitos  para  al- 
gum emjirego. 

—  Syk.  :  Supposição,  hypothese.  Vid. 
ejte  ultimo  vocaluilo. 

SUPPCSITAÇÃO,  s.f.  Termo  de  theo- 
logia.  Uniào  de  duas  naturezas  em  um 
só  supposto. 

SUPPOSITADO,  part.  pass.  de  Suppo- 
sitar. 

SUPPOSITAR,  V.  a.  Termo  de  theolo- 
gia.  Unir  duas  naturezas  em  um  só  sup- 
posto. —  Suppositar  a  divindade. 

SUPPOSITICIO,  A,  adj.  (Do  latim  sup- 
posititius).  Supposto,  attribuido  falsa- 
mente a  alguém. 

SUPPOSITIVO,  A,  adj.  Vid.  Suppositi- 
cio. 

SUPPOSITORIO,  s.  m.  Termo  de  me- 
dicina. Substancia  medicamentosa  solida, 
em  fijrma  de  cone  longo,  que  se  intro- 
duz no  auus,  já  para  provocar  as  eva- 
cuações intestinas,  já  para  actuar  como 
lenitivo. 

1.)  SUPPOSTO,  part.  jmss.  de  Suppôr. 

—  Posto  por  hypothese.  —  Este  facto 
supposto  verdadeiro. 

—  Allegado  como  verdadeiro,  fallando 
de  alguma  cousa  falsa.  —  Í7?íi  testamento 
supposto. 

—  Que  se  faz  passar  por  filho  ou  filha 
d'aquelles  que  lhe  não  são  nada. 

—  Imaginado  e  não  real. 

—  Attribuido  fal-^amente. 

—  Syn.  :  Supposto,  apocrypho . 
Supposto   é   a    palavra  latina  supposi- 

tus,  e  significa  o  que  se  põe  falsamente 
em  logar  do  verdadeiro;  diz-se  particu- 
larmente do  livro  ou  obra  que  falsamen- 
te se  attribue  a  quem  não  é  seu  auctor. 
Ápocrypho  é  palavra  grega  que  signi- 
fica cousa  secreta,  não  conhecida  antes, 
cujo  auctor  não  é  conhecido.  Em  lingua- 
gem ecclesiastica  dá-se  este  nome  a  todo 
o  livro  duvidoso,  de  auctor  incerto,  e  de 
pouca  ou  nenhuma  fé,  que  a  egreja  ca- 
tholica  não  incluiu  no  numero  dos  escri- 
ptores  authenticos  e  divinamente  inspira- 
dos. 

Ainda  que  a  auctoridade  do  livro  sup- 
posto se  repute  suspeitosa,  pôde  comtu- 
do  conter  doutrina  boa  e  verdadeira,  pois 
por  erro  se  tem  attribuido  a  auctores 
obras  que  não  escreveram ;  dos  livros 
apocryphos  não  permitte  a  egi-eja  que 
se  tirem  Pi-gumentos  para  provar  as  ver- 
dades theologicas. 


2.)  SUPPOSTO,  s.  m.  Termo  de  philo- 
sophia.  A  individualidade  da  substancia 
completa  e  incommunicavel. 

—  O  que  pôde  subsistir  por  si,  sem 
dependência  da  substancia  que  lhe  está 
unida. 

—  Cousa  supposta,  attribuida  falsa- 
mente a  alguém. 

—  Loc.  conjunctiva:  Supposto  que;  ca- 
so que,  na  supposição.  —  «Porque  sup- 
posto, que  algumas  das  authoridades  so- 
breditas só  fallaõ  da  Oraçaõ  em  com- 
mum,  e  por  tanto  se  podem  também  en- 
tender da  Vocal,  he  certo,  que  tudo,  o 
que  se  diz  da  excellencia,  e  utilidade  da 
Oração  Vocal,  muito  melhor  qviadra  á 
Mental.»  Padre  Manoel  Bernardes,  Exer- 
cícios espirituaes,  part.  1,  pag.  2. —  «Mas 
supposto  que  a  boa  morte  fosse  custosa 
para  os  Justos,  em  razaõ  do  seu  traba- 
lho, todavia  lhe  sahio  mui  barata  em  ra- 
zaõ do  seu  premio.»  Ibidem,  pag.  453. 
—  «E  supposto  que  huma  pessoa  diga 
com  a  boca  (o  lhe  pareça  que  também  o 
diz  com  o  coração)  que  de  si  naõ  pôde 
nada,  e  só  confia  na  ajuda  de  Deos  :  as 
mais  vezes  se  engana,  por  falta  de  co- 
nhecimento próprio :  e  a  prova  disso  he, 
que  quando  cae,  e  falta  a  seus  propósi- 
tos, se  desalenta,  e  entristece :  o  que  naõ 
fora,  se  só  em  Deos  confiara. s  Ibidem, 
pag.  61. 

SUPPRESSÃO,  s.  f.  (Do  latim  supjjres- 
sio).  Acto  de  supprimir.  —  A  suppressão 
de  um  emprego. 

—  Termo  de  medicina.  Suspensão  de 
uma  evacuação  habitual.  —  Suppressão 
da  transpiração.  —  Suppressão  da  mens- 
truação, das  hemorrhoidas. 

—  Diz-se  também  de  uma  affecção  cu- 
tânea cuja  erupção  tinha  já  principiado. 
— •  Suppressão   da  escarlatina. 

—  Absolutamente:  A  suppressão  do 
jluxo  menstrual. 

—  Antigo  termo  de  chimica.  Fogo  de 
suppressão;  fogo  que  se  faz  cobrindo 
um  navio,  e  o  que  contem  de  areia,  no 
qual  se  põe  carvões  accesos,  a  fim  de  que 
a  matéria  receba  calor  por  cima  e  por 
baixo. 

SUPPRES30,  part.  pass.  irreg.  de  Sup- 
primir. Vid.  Supprimido. 

SUPPRESSORIO',  A,  adj.  Que  supprime. 

SUPPRICAÇOM,  s.  /.  Termo  antiquado. 
Vid.  Supplicação. 

SUPPRIDOR,  A,  í.  Pessoa  que  sui^pre. 

SUPPRIMENTO,  s.  ?«.  A  acção  de  sup- 
prir. 

—  Addição  para  remediar  ou  acudir  ao 
que  falta.  Vid.  Supplemento  da  edade. 

SUPPRIMIDO,  part.  pass.  de  Suppri- 
mir. 

—  Figuradamente  :  Jlodcradc,  repri- 
mido. 

—  Calado. 

—  Mandado  recolher. 

—  Exfincto,  ai.nullndo. 
SUPPRIMIR,  ou  SUPRIMIR,  v.   a.   (Do 


634 


SUPP 


latim  supprtmere).  Atalhar  o  passo,  cor- 
rente, etc. 

—  Impor  silencio. 

—  Extinguir,  cassar,  aiinullar. 

—  Calar,  iiílo  inoncioiiar. 

—  Reprimir. 

—  Supprimir  ctin/o;  extinguir. 
SUPPRIR,  ou  SUPRIR,    v.  a.    Comple- 
tar o  ((uo  falta. 

—  Substituir. 


No  gyro  melancólico  o  Planeta, 
Quo  no  lucto  dos  Coo;)  nos  «nppre  o  dia 
Primeiro  mostra  as  pontas  prateadas, 
Qual  arco  donde  salic  setta  estridente", 
ProRrossivo  clarão  cresce,  e  lhe  deixa 
Cheio  o  disco  de  luz  suave,  e  branda. 

J.  A.  DR  MACEDO,  MKDITAçÃO,  Cant.  2. 


—  Encher,  satisfazer. 

—  Supprir  rt  alguém;  dar-lhc  o  noces 
sario  por  assistência  graciosa. 

—  Supprir  a  estatura;  do  baixo. 

—  Supprir  o  alcance  da  vista;  ao  quo 
a  tem  curta. 

—  Supprir  as  vezes  de  outrem  em  sua 
falta;  fazer  as  suas  vezes. 

—  Dar  o  que  falta,  e  é  o  necessário. 

—  V.  n.  Substituir-se,  subrogar-se  em 
falta  de  outra  cousa  ou  pessoa,  e  encher 
as  suas  vezes. 

—  Supprir  o  justo  pi-eço ;  dar  o  que 
faltava  i>ara  o  completar,  refazel-o. 

SUPPRIVEL,  adj.  2  gen.  Que  ó  possí- 
vel supprir-se  por  outra  cousa  ou  pessoa. 

—  Erro  supprivel  du  processo;  que 
nEo  o  annuUa,  seudo  a  falta,  ou  defeito 
supprido  ])clo  juiz  a  tempo,  o  antes  da 
soutcn(;a  iinal. 

SUPPURAÇÃO,  s.  /.  (Do  latim  supjm- 
ratio).  Termo  <le  pathoiogia.  A  formação, 
a  cvacua(,'?io  do  pús.  —  A  chaga  vem  d 
suppuração. 

SUPPURADO,  pnrt.  pass.  do  Suppurar. 
Que  rntiou  em  suppnraçào.  —  í7?íí  tumor 
suppurado. 

f  SUPPURANTE,  part.  act.  de  Suppu- 
rar. Que  cst;l  u'um  estado  de  sujipura- 
ção.  —  Uma  chaga  suppurante. 

SUPPURAR,  i\  n.  (Do  latim  suppura- 
re).  Trausformar-so  em  pús,  ou  matéria 
cozida,  a  que  eompunlia  algum  tumor. 

—  V.  a. — Suppurar  matéria;  cozel-a, 
lançal-a. 

SUPPURATIVO,  A,  adj.  Termo  do  me- 
dicina. Que  facilita  a  suppuração.  —  Un- 
guento suppurativo. 

—  S.  m.  Os  suppurativos  são  do  ordi- 
nário vesicantes  extensos  n'um  corpo 
gordo. 

—  Diz-se  algumas  vezes  da  inflamraa- 
ção  que  6  susceptível  de  conduzir  á  sup- 
puração. — -  Lijlamma^ão  suppurativa  das 
ami/qilidas. 

SUPPURATORIO,  A,  adj.  Que  cstA  sup- 
purando. 

—  Que  acompanha  a  suppuração.  — 
Febre  suppuratoria. 


SUPR 

SUPPUTAÇÃO,  s.  /.  Acção   de  suppu- 1 

tar. 

—  <!onta,  computação. 
SUPPUTADO,    part.    pass.    «le    Suppu- 

tar. 

SUPPUTAR,  i».  a.  (Do  latim  supputa- 
re).  Calcular,  contar,  computar,  fazer 
conta. 

SUPRA,  prep.  lat.  Acima. 

—  Tem  uso  na  composição  das  pala^ 
vras.  —  No  tratado  su^Tà-muncionado. 

—  Sargento  supra ;  sargento  quo  não 
é  o  do  numero  ordenado  á  companhia, 
como  ha  nos  terços  milieianus.  Diz-se  do 
mesmo  modo  ajudante  supra. 

f  SUPRA-AXILLAR,  adj.  2  gen.  Ter- 
mo de  botânica.  Que  estií  situado  acima 
da  axilla  de,  uma  folha. 

SUPRACITADO,  A,  adj.  Citado  acima, 
citado  antes. 

f  SUPRAJURASSICO,  A,  adj.  Termo 
de  geoloí;'ia.  Diz  se  dos  terrenos  superio- 
res ao  calearco  jurássico. 

f  SUPRA-LAPSARIO,  s.  m.  (Do  latim 
supra,  o  lapsus).  Membro  de  uma  seita 
calvinista  que  ensina  quo  Deus,  sem  ter 
respeito  :ls  boas  ou  más  obras  dos  ho- 
mens, resolveu,  por  um  decreto  eterno,  e 
por  conseguinte  antcrioi'  ;l  queda  de  Adão, 
salvar  uns,  e  condemnar  outros. 

f  SUPRAMUNDANO,  A,  adj.  Termo  de 
philosophia.  Que  está  acima  do  mundo, 
que  está  n'um  mundo  superior. 

1  SUPRANATURALISMO,  s.  m.  Termo 
de  philosophia.  O  que  existe  f('>ra  e  aci- 
ma do  curso  ordinário  das  cousas. 

—  Doutrina  quo  admitte  uma  inter- 
venção sobrenatural  no  numdo. 

t  SUPR ANATUR ALISTA,  s.  m.  Homem 
que  a^lmitte  cousas  sobrcnaturaes,  que 
pensa  que  acima  da  onlcm  natural  exis- 
te uma  ordem  sobrenatural. 

SUPRANO,  s.  m.  Termo  do  musica. 
Yid.  Soprano. 

SUPRANUMERADO,  A,  adj.  Numerado 
antes,  aciíu.i. 

SUPRANUMERÁRIO,  A,  adj.  Vid.  Su- 
peruumerario. 

7  SUPRASEN3IVEL,  adj.  2  gen.  Que 
está  acima  dns  scntiiios. 

f  SUPRATHORACICO,  A,  adj.  Que  está 
colloca  lo  acima  do  thorax. 

SUPREMACIA,  s.  /.  Superioridade  aci- 
ma de  todos  os  outros.  —  Roma  obteve  a 
supremacia  na  guerra. 

—  Supremacia  anglicana;  soberania 
que  o  rei  ou  a  rainha  exercem  em  toda  a 
extensão  da  jurisdicção  espiritual. 

—  Juramento  de  supremacia ;  juramen- 
to pelo  qual  os  inglezes  reconhecem  seu 
rei  c(nno  chefe  da  egreja. 

SUPREMAMENTE,  adv.  (De  supremo, 
com  o  sufHxo  iimeutei).  De  um  modo  su- 
premo. 

—  Em  grau  supremo. 

—  Em  ultima  grau. 
SUPREMAZIA,    í.   /.    Vid.    Suprema- 
cia. 


SUPR 

8UPREMISSIM0,  A,  adj.  superl.  de  Su- 
premo.   -Mm  nii|jrcnio. 

SUPREMO,  A,  adj.  (Do  latim  supre- 
iiiHn,  firma  superlativa  do  siiperi.  Quo 
está  acima  de  tudo.  —  Attesto  os  supre- 
mos podi^res  dos  grawlet  deuses. 

—  O  principal,  o  primeiro.  —  «E  »o 
elles  por  isso  lhe  fizerem  algum  mal  tem 
muyto  grande  pena,  porque  ellas  tem  aly 
seguro  do  Tutão  da  corte,  que  he  o  su- 
premo em  tolas  as  cousas  que  tocHo  i 
casa  do  Itey.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pe- 
regrinações, eap.  10.'). 

—  O  poder  supremo;  a  auctori'lade  do 
monarcha. 

—  Deus  supremo ;  <>  nummo  Deus. 

Que  cousa  he  Natureza?  ímpio  Svgtem», 
Quo  com  cila  confunde  hum  Deofi  êupremo! 
A  viaivcl,  eterna  Intclli^encia, 
Não  hc  da  Natureza  cffeito,  he  causa, 
j.  Á.  Dl  XÁcr.DO,  MKDiTAçXo,  caot.  4. 

—  O  ser  supremo;  Deus. 

Scntc-to  a  força  a  gfve  amortecida, 
Plantas,  arbustos,  arvores  nbr/dhào. 
Tal  o  supremo  Ser,  de  si  principio, 
De  si  mesmo  se  nutre,  e  se  sustenta, 
j.  Á.  DF.  MAcr.DO,  MEDITAÇÃO,  cant.  2. 


O   supremo    bem;    o   suramo    bom, 


Deus. 


Com  tacs  liçõc«  hc  grande  hum  Monedémo ; 
Não  conhece  outro  bem  mais  que  a  Virtude. 
Esta  o  mipremo  bom.  que  eterno  dura : 
Nelle  não  tem  poder  Fortuna,  ou  Fado. 
Tudo  dentro  em  si  mesmo  o  homem  conserva  ; 
Quando  escuta  a  Razão,  despreza  o  Fasto, 
E  discordantes  appetitcs  dilma. 

J.   A.   DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  CaOt.   2. 


—  O  ente   supremo  ; 
que  nos  douiina;   Deus. 


o    ser    super  lor 


Crcou  Deos  no  principio  os  Ceos,  o  a  Terra. 
Que  és,  Knte  Supremo,  e  como  existes? 
Onde  morada  tens  V  Onde  achar  posso 
Quem  sA  possa  os  desejos  infinitos 
De  minha  alma  abastar?  -V  Natureza 
Pude  a  seu  Throno  conduzir-me  acaao? 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  HATCBKZA,  Caot.  1. 

—  O  mais  alto,  o  mais  elevado.  —  «O 
qual  entre  esta  gentilidade  toda  se  inti- 
tula   por  grão    mais  supremo,  senhor  do 
elifaute  branco,  outro  era  o  Rcy  dos  Mo- 
goros,  cujo  reyno  e  senhorio  jaz  por  den- 
tro  do   sertão   entro   o   Coraçone  que  he 
junto    da    Pérsia;    e   o   reyno   de  Dely  e        ■ 
Chitor,  e  hum  Emperador  que  se  chama-       M 
va  o  Carão,  cujo  senhorio,  segundo  aquy        * 
soubemos,  contina  por  dentro  dos  montes 
de  (í onc.ilid.au  em  sessenta  grãos  .avante, 
com    huma   gente   a   que  os  naturae-s  da 
terra  ehamão  Moscoby.i  Fernão  Mendes 
Pinto,  Peregrinações,  eap.  124. 


SUPR 


SURD 


SURD 


635 


Tu  domas  as  paixões,  tu  me  aproximas 
Da  suprema  veutura  ao  gráo  supremo; 
Em  ti  consiste  o  mérito,  a  nobreza ; 
Se  tu  nào  formas  os  brazõcs,  são  crimes. 

J.    A.    DE  MACEDO,  ItEDITAÇÃO,   Caut.    1. 


—  Preço    supremo ;    preço    summo,    o 
máximo. 

—  Cousa  suprema ;  cousa  a  melhor  do 
seu  género,  ou  a  mais  bem  feita. 

—  Ter   o    supremo    mando;    governar 
sem  ser  subalterno  a  outrem. 

—  Celeste,   divino.  —  A  suprema  ma- 
gestade. 

Quem  pôde  assignalar  limite,  ou  termo 
A's  producções  do  Artífice  Supremo  f 
Eterno  Crcador  dimmeusos  Corpos, 
O  espaço  povoou,  torna  mais  bello 
Destarte  o  claro  Ceo,  e  eterno  Campo. 

J.  A.  DE  ILACEDO,  A  SATUKEZA,  Caut.    1. 

Estes  os  bons  qu 'Artífice  Supremo 
Com  mào  paterna,  e  pródiga  nos  manda 
Dos  immensos  depósitos  dos  mares. 
IBIDEM,  cant.  3. 

Este  Supremo  Artífice  derrama 
No  grande  corpo  do  Universo  a  chamma ; 
Com  ella  a  força  eléctrica  penetra 
Quantos  seres  abraage  a  Natureza ; 
Se  as  dimensões  do  corpo  observo  nelles, 
Forças  tira  de  si,  forças  augmcnta. 
IDEM,  MEDITAÇÃO,  cant.  2. 

Quem  poderá  marcar  limite,  ou  termo 
A's  producções  do  Aitifice  supremo ! 
O  Eterno  creador  de  immensos  corpos. 
O  espaço  povoou,  toma  mais  boUa 
Destarte  a  etherea  cúpula,  que  cobre 
Este,  onde  existo,  domicilio  augusto. 


Na  estrema  pequenez  de  hum  Deos  a  gloria 
Lésser,  profundo  indagador,  descobre  ; 
Do  amargurado  Atheo  confunde  os  erros, 
Quando  a  suprenia  intelligencia  mostra 
Nas  leis,  na  consti-ucçào,  no  instincto,  e  moto 
Que  nestes  Seres  impalpáveis  brilhão. 
IBIDEM,  caut.  3. 

—  Que  pertence  aos  últimos  momentos 
da  vida;  extremo.  —  O  momento  supre- 
mo. —  Às  vontades  supremas  de  um  mo- 
ribundo. —  A  suprema  ajonla.  —  «Era 
a  oração  d'alma,  férvida,  procello.sa,  que 
oâ  agitava :  era  essa  oração  que  todos 
nós  sabemos  no  momehto  de  suprema 
agonia  e  que  nenhumas  palavra.s,  nenhu- 
ma escriptura  poderiam  representar ;  ora- 
ção que  é  um  mysterio  entre  Deus  e  o 
homem  e  que  nem  os  anjos  comprehen- 
dem.i)  A.  Herculano,  Eurico,  cap.  18. 

—  Dia  supremo ;  o  estremo  da  vida. 

—  Lagrimas  supremas ;  lagrimas  pelo 
morto. 

—  As  honras  supremas  ;  as  honras  fú- 
nebres, as  exéquias. 

—  Usa-se  também  substantivamente. 

Eu  dizia  que  as  Potencias 
em  quanto  lavram  os  portaes 


SC  pozessem  por  figura, 

c  veremos 

o  que  debuxado  temos, 

que  taes  ficam  na  postiu'a 

e  que  mostram  seus  supremos. 

AMTONIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  33. 

—  Syx.  :  Supremo,  suvimo.  Vid.  este 
ultimo  termo. 

SUPRESITO,  s.  m.  Termo  antiquado. 
Tudo  o  que  são  pertenças  de  uma  he- 
rança . 

SUPRICAÇÃO,  s.  f.  Termo  antiquado. 
Vid.  Suppiicação. 

SUPRICAÇOM,  s.  /.  Termo  antiquado. 
Vid.  Supricação. 

f  SUPRICAR,  V.  a.  Vid.  Supplicar.  — 
«E  pêro  que  essa  Ley  nom  fo.sse  escripta 
no  Livro  da  Chancellaria,  passarom  po- 
rem Cartas  na  forma  delia  a  algumas 
Villas.de  seus  Regnos,  que  lhe  por  ello 
enviarem  supricar,  e  bem  assy  a  alguns 
lugares  dos  ditos  coutos,  segundo  somos 
dello  informado.»  Ord.  Affons.,  liv.  1, 
tit.  118. 

SUPRILHO,  s.  m.  Vid.  Soprilho. 

SUPRIMENTO,  s.  vi.  Vid.  Supprimen- 
to. 

SUPRIMIR,  V.   a.  Vid.  Supprimir. 

SUPRIR,  V.  a.  Vid.  Supprir.  —  «Pêra 
suprir  a  qual  necessidade,  parecendolhe 
que  per  as  pouoações  que  estauão  pelo 
rio  acima,  se  achariào  alguns,  mandou 
as  galés,  bargàtim,  e  alguns  bateis  das 
nãos  com  gente,  que  o  fossem  buscar  e 
quando  o  não  podessem  auer  per  dinhei- 
ro, que  fosse  á  ponta  da  espada.»  Bar- 
ros, Década  2,  liv.  3,  cap.  4. 

-f  SUPURAÇÃO,  s.  /.  Vid.  Suppura- 
ção. 

SUPURAR,   V.  a.  Vid.  Suppurar. 

I  SUPURATIVO,  A,  adj.  Vid.  Suppu- 
rativo. 

f  SUPURATORIO,  A,  adj.  Vid.  Sup- 
puratorio. 

f  SUQUERICANO,  A,  a-7j.  =  Significa- 
ção incerta.  Palavra  talvez  forjada  por 
António  Prestes,  para  significar :  (/we  se 
deseja,  que  se  quer  por  seu. 

Dinheiro  vida,  cm  alora, 
dinheiro  suquericano, 
mangericào  todo  auno, 
melhor  amigo  d 'agora. 

AKTOKIO  PKESTES,  AUTOS,  pSg.  201. 

SURA,  s.  /.  O  sumo  extrahido  da  bai- 
nha do  cacho  da  palmeira,  do  qual  de- 
pois de  distillado  se  faz  a  nipa,  ou  a 
fula. 

SURCAR,    Í-.  a.  Vid.  Sulcar. 

SURDAMENNTE,  adv.  iDe  surdo,  e  o 
suffixu  «meuteij).  De  um  modo  siu-do,  de 
uma  maneira  que  íe  não  ouve. 

—  A  surda,  caladamente,  á  surdina. 
SURDEAR,  V.  n.  Fingir-se  sui-do. 
SURDEZ,  s.  /.  Vid.  Surdeza. 
SURDEZA,  s.  /.  Doença   que   obsta    a 

que  se  ouça. 


—  Mau  estado  do  sentido  da  audição. 
SURDIDO,   part.  pass.  de  Surdir. 

—  ^4.  caicavel  surdido;  á  surda,  sem 
fazer  barulho. 

SURDINHO,  A,  adj.  e  s.  Diminutivo 
de  Surdo.  Algum  tanto  surdo,  imi  pouco 
surdo. 

SURDIR,  V.  a.  Termo  de  náutica.  Vid. 
Sordir.  —  «Este  homem  se  chamaua  Fer- 
nam  loureuço,  que  como  cahio  da  nao, 
em  surdindo  arriba  dagoa,  alevantou  hum 
braço  pêra  que  o  vissem,  e  dixe  a  alta 
voz,  que  mandassem  ter  tento  nelle  ate 
pela  manhã,  porque  ate  entam  se  atreuia 
nadar,  o  que  o  capitão  fez,  e  foi  ao  ou- 
tro dia  tomado.»  Damião  de  Góes,  Chro- 
nica  de  D.   Manoel,  part.  2,  cap.  2. 

Entre  tanto,  surdindo  a  Noite  escura 
Do  Bosphoro  Cimmerio,  c  despregando 
As  estellautes  azas,  envolvia 
Todo  o  nosso  Emisphorio  em  densa  treva  ; 
Quando  na  Casa  do  Deaõ  triumphante, 
Ajuutando-se  vaõ  os  Convidados. 

ASIOSIO  DIKIZ  DA  CBUZ,  HYSSOPB,  Oaut.    7. 

Co  peso,  c  apenas  surdem  á  flor  da  água. 
No  cortar  esse  Estreito,  (affan  d'úm  dia) 
Menos  d'uma  hora,  cmpenhào  na  viagem. 

F.  U.   DO  NASCLMESTO,  OS  MAETTKBS,  1ÍV.    10. 

Alli...  alli  jamais  pé  de  homem  vivo 
Depois  do  pôr  do  sol  entrar  nào  ousa  •, 
E  so  do  alto  da  serra  o  pegureiro 
Viu  luzinhas  —  signal  certo  de  bruxas  — 
A  surdir  e  a  esconder-se  a  um  lado  c  outro. 
Saltando  como  estrellas  namoradas 
Que  via  o  grego  antojador  de  favas. 
GABBETT,  CAMÕES,  caut.  6,  cap.  22. 

SURDO,  A,  adj.  (Do  latim  surdus). 
Diz-se  d'aqueUe  a  quem  falta  o  sentido 
da  audição.  —  «Mas  com  quem  fallo,  ou 
que  presta  o  que  digo,  pois  pêra  me  ou- 
vir sois  surda,  pêra  me  fallar  muda,  tu- 
do o  com  que  me  podeis  dar  vida  tendes 
morto,  o  que  me  dá  peca,  esse  acho  vi- 
vo pêra  mais  meu  damno?»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  120. 

—  Que  nào  produz  barulho  nem  es- 
trondo. —  Surdos   açoutes. 

■ —  Que  se  nào  ouve  nem  sente.  —  Vo- 
zes surdas. 

—  Marchar  ás  surdas;  marchar  pela 
calada,  em  silencio,  para  não  ser  sen- 
tido. 

—  Que  não  ouve,  que  não  presta  at- 
tenção.  —  Homem  surdo  ás  j^alavras  de 
Deus. 

—  Que  não  obedece,  que  não  se  sujei- 
ta. —  Nau  surda  ao  leme. 

—  Remo  surdo  ;  de  maneira  que  se  não 
ouça  o  bater  dVlle  nas  aguas. 

—  Lima  surda ;  que  se  não  ouve, 

—  Substantivamente  :  Pessoa  que  não 
tem  o  sentido  da  audição. 


Olhac  cá,  senhor  Dinheiro, 

a  isso  porei  o  ferro  ; 

sois.  Dinheiro,  surdo  e  mudo. 


630 


SURG 


SURG 


SUBO 


cu  molhcr,  <amor  o  dama, 
rjil'}  a'iior  i';  o  f|iii)  AC,  ilin:i, 
]»o'm  amor  não  voiicn  ttulo 
oomo  tudo  u  hí  cliuma  ? 

ANTÓNIO  ruKsrBj,  Auroi,  pag.  i!07. 


—  Quo  (U).siittoiulo,  posaoii  que  não 
presta  attunyiHo. 

—  Á  surda ;  jiola  calaila,,  para  iiilo  ser 
sentido,  iim  siloucio. 

—  Al)A(!10S  K  IMtOVERUlOS  : 

—  Nuo  ba  pcor  surdo,  que  o  quo  nuo 
quer  ouvir. 

—  Dize  ao  iloiido,   mas  não  ao  surdo. 

—  Nciu  barbeiro  mudo,  nom  eautor 
surdo. 

—  L'or  domais  lio  a  citoia  no  moinlio, 
quaudo  o  moleiro  ó  surdo. 

—  Tão  surdo  é  aquelle  quo  ouve,  e 
não  entendo,  como  aquelle  que  uão  ouve. 

—  Des  que  mo  não  paj^fam,  surdo  me 
faço. 

SUPiDO-MUDO,  A,  (fij.  e  *.  (Termo 
composto  de  surdo,  o  mudo).  Pessoa  que 
ésurda  e  muda  eoiijuuctauiento. 

—  Pessoa  que  não  tem  o  sentido  da 
audição,  nem  o  dom  da  palavra  conjuu- 
ctaniente. 

SURELO,  s.  m.   Vid.    Carapào  (peixe). 
1.)  SURGIA,  s.  f.  Vid.  Cirurgia. 
2.)  SURGIA.    F.íruia   do    verbo   surgir 
na  primeira  ou  terceira  pessoa  do  singu- 
lar do  pretérito  imperfeito  do  modo  indi- 
cativo. 

•}-  SURGIAM,  s.  ,n.  Vid.  Cirurgião.  — 
«Mestre  António,  Surgiam  mor  destes 
Reynos,  foy  ludeu,  e  quando  se  tornou 
Christão  el  Roy  folgou  miiyto,  c  lhe  fez 
muyta  honra,  porque  lhe  tinha  boa  von- 
tade, e  era  bom  letrado.»  Garcia  de  Re- 
zende, Chronica  de  D.  João  II,  capitu- 
lo 91. 

SURGIDOURO,  s.  m.  Termo  de  náuti- 
ca. Lojíar  onde  os  navios  surgem,  e  estão 
ancorados;  ancoradouro.  —  c Porque  era 
taõ  amaçado,  e  sem  a  comum  semelhança 
da  outra  gente  que  tiuhaõ  visto,  que  se 
tornarão  logo  os  do  batel  a  dar  razaõ  do 
que  viraõ,  e  que  o  porto  lho  parecia  bom 
surgidouro.»  Barros,  Década  1,  liv.  ã, 
cap.  2. —  «Dalli  se  partio  para  outro  lu- 
gai"  dei  Rei  de  Ormuz  dez  legoas  deste, 
mais  rico,  e  mais  pouoado,  e  de  mor  tra- 
to, per  nome  Masquate,  situailo  entre 
duas  serras,  em  quo  se  faz  huma  baia  de 
muito  bom  surgidouro,  e  posto  que  fosse 
raso  como  Curiate,  era  à  seruintia  delle 
pêra  a  baia  cerrada  de  serra  a  serra, 
com  huma  tranqueira  de  maileira  de  duas 
faces  entulhada  de  terra,  com  alguma  ar- 
telharia,  o  sos  duas  portas  muito  estrei- 
tas porá  a  seruintia  do  mar,  ao  qual  lu- 
gar chegou  Afonso  Dalbuquerque  aos 
dous  dias  de  Septembro.»  Damião  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  2, 
cap.  31.  —  i'0  capitão  doUa  duuiloso  se 
era  aquella  frota  do  amigos  se  do  imigos, 
veudo  chegar  has  uaos  pêra  o  surgidou- 


ro, 80  voo  com  alguns  frjclieiros  a  huma 
moíquila  que  oUà  junto  da  praia,  domle 
vendo  que  os  iiossds  vinhaò  de  gucjrra, 
sairão  a  Mm  determinados  de  lhe  defen- 
der, ({ue  aam  saisse  cm  torra,  o  que  uam 
podendo  fazer  se  recolherão  a  mesma 
mo^(luita,  sendo  ja  o  seu  capitão  acollii- 
do  porá  cidade  com  parte  dos  seaí,  o  que 
estoutros  foraõ  também  constrangidos  fa- 
zer.» Ibidem,  cap.  3(1.  —  t  A  arte,  e  a 
natureza  a  íizerão  defensável  por  terra, 
assegurando-so  da  ambição  dos  Régulos 
visiiihos,  o  incursões  doi  Alarves  Ará- 
bios, que  com  importunas  correrias  mo- 
lestão  a  campanha.  Está  no  porto  huma 
pequena  ilha  medianamente  fortitica'la,  a 
que  os  naturaes  chamão  Cirá;  defronte 
liça  outro  surgidouro,  abrigado  de  mui- 
tos ventos,  onde  costumão  dar  fundo  mios 
quo  navegão  a  iMeua.»  .lacintuo  Freire 
d'An(lrade,  Vida  de  D.  João  de  Castro, 
liv.  4.  —  «Assi  que  lie  melhor  nauegar 
pelo  meyo  do  canal  em  que  podem  lan- 
çar ferro  cada  hora,  do  que  ao  longo  da 
terra.  Se  quiserem  tomar  porto  na  Ilha 
lebel  Zocòr,  ou  na  outra  mais  abayxo,  a 
que  chamão  Fertão,  bem  o  podem  fazer, 
porque  ambas  tem  os  surgidouros  quie- 
tos, e  seguros ;  com  tãto  tpie  não  aja  des- 
cuydo  na  vigia  dos  imigos  que  Ja  mais 
aqui  faltão.»  Fr.  íta-ipar  de  S.  iJernar- 
diiiu,  Itinerário  da  índia,  cap.  8. 

SURGIR,  V.  n.  {Do  latim  surf/ere).  Ter- 
mo de  marinha.  Aportar,  lançar  ferro  no 
porto,  ancorar,  vir  do  fundo,  do  mergu- 
liio,  lançar  duas  amarras,  e  dar  fundo 
com  ellas.  —  Surgir  a  bom  porto.  —  «En- 
trou com  todalas  nãos  cheias  de  badeiras 
e  o-tendartos:  e  por  mostrar  n'esta  pri- 
meira vista  quo  era  costumado  a  ver 
mães  populosas  cidades,  e  maior  numero 
do  nãos,  e  que  todalas  daquelle  porto  es- 
timaua  em  pouca,  foi  surgir  em  meyo  de 
cinco,  que  erão  as  macs  poderosas,  prin- 
cipalmente a  d'elRci  de  Càbaya  chamada 
Jlerij,  o  tão  vizinlio  delia,  que  ticarão  as 
bovas  d'ambas  cntrccambadas.»  Barros, 
Dccada  2,  liv.  2,  cap.  3.  —  «Peró  por 
líste  recado  de  Tiinoja  tardar  mães  do 
que  Afionso  d'Alboqucrque  queria,  dete- 
uese  pouco  em  Anchediua,  e  foi  surgir 
no  rio  de  Goa  a  vinte  dias  de  Nouembro 
do  anno  de  quinhentos  e  dez.»  idem.  Dé- 
cada õ,  liv,  2,  cap.  8.  —  «E  temendo  não 
ser  limpo  pêra  surgir  com  tamanha  fro- 
ta, e  também  não  darem  humas  náos  per 
outras,  mandou  amainar  todalas  velas 
com  fundamento  de  pairar  aquella  noite.» 
liem.  Década  2,  liv.  7,  cap.  7.  —  «E 
ch"ga!ulo  a  hum  rio  que  ao  pôr  do  sol 
vimos  ao  rumo  de  Leste,  mandou  surgir 
huma  legoa  ao  mar  delle,  porque  o  junco 
em  que  vinha  era  grade,  e  demandava 
nuiyto  fun.lo,  e  se  temia  ilos  muytos  bai- 
xos que  todo  .aquelle  dia  tínhamos  visto, 
e  mandou  a  Cbjistovào  Borralho  que  fos- 
se na  lorcha  cos  seus  quatorze  soldados 
por  dentro  do  rio,  e  visão  que  fogoa  erio 


os  que  defronte  aparecião.  t  Fernão  Men- 
des Pinto,  Peregrinações,  cap.  42.  — 
«Neste  tempo  começando  ja  a  ventar  a 
viração,  bo  fez  á  vella  cjm  muyta  festa 
e  regozijo,  o  as  gáveas  tol<la<ias  do  seda, 
e  com  Bua  bandeyra  de  veniaga  á  Chara- 
china;  paraque  os  (|ue  aasi  o  vissem,  en- 
tendessem que  ora  ello  mercador,  e  nSo 
gente  da  outra  maneyra,  e  dalv  a  huma 
hora  surgio  no  porto  defronto  do  caiz  da 
cidade.»  Ibidem,  cap.  48.  —  «E  seguin- 
do pela  mesma  derrota  por  espaço  do 
mais  de  nove  dias,  quo  era  aos  vinte  e 
três  da  nossa  viagem,  surgimos  cm  huma 
ilha  pequena  que  se  dczia  Pisamluree,  na 
qual  foy  necessário  ao  NecoJá,  que  era  o 
Mouro  capitão  do  junco,  fazer  huma 
amarra,  o  tomar  agoa  c  leuha.»  Ibidem, 
cap.  144.  —  iCom  esta  armada,  e  outros 
iiauios  da  terra,  em  quo  ida  gente  do 
Malabar  a  soldo  foi  Afonso  dalbuquerque 
surgir  diante  de  Mascate.»  Dami<V)  de 
Gocs,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3, 
cap.  66.  —  "Despedida  a  terrada,  segulo 
sua  viajem,  e  sendo  a  vista  do  Goa  sen- 
tindo em  sua  disposiçilo  se  lhe  chegar  a 
hora  da  morte,  mandou  a  hum  seu  cria- 
do que  no  bargantim  se  adiantasse,  o  lho 
fosse  chamar  Fr.  Domingos,  vigário  go- 
rai seu  confessor,  que  veo  ter  com  elle 
sábado  a  noite,  a  mesma  hora  em  que 
surgio  na  barra.»  Ibidem,  part.  3,  cap. 
80.  —  íE  aju:itando-se  tudos,  trataram 
de  fazer  dar  o  navio  á  costa :  e  pêra  isso 
buscaram  muitos  ardiz  até  lhe  irem  cor- 
tar as  amarras  de  noite,  e  de  margidho; 
mas  foram  sentidos  pela  grande  vigia  quo 
03  nossos  tinham,  c  logo  surgiram  com 
outra  amarra,  mandando-a  guarnecer,  c 
forrar  com  cadeias  de  ferro.»  Diogo  de 
Couto,  Década  4,  liv.  2,  cap.  3.  —  «D. 
Rodrigo  partio  pêra  Maluco  com  o  seu 
galeão,  e  o  de  D.  João  Coutinho,  e  a  nào 
de  Bernaldim  de  Sousa,  e  chegou  aquel- 
la fortaleza  este  Outubro  passado,  e  sur- 
girão em  Talanganie,  aonde  Bernaldim 
de  Sousa  estava  com  a  sua  nào.»  Idem, 
Década  6,  liv.  9,  cap.  10.  —  «Christo- 
vaõ  de  Sà,  soube-se  o  seu  Piloto  marear 
melhor,  porque  tanto  que  tomou  fundo 
na  costa  da  índia,  foi  metendo  de  lò 
pêra  se  pôr  abalravento  de  Goa,  como 
fez,  e  foy  haver  vista  da  terra  por  Cara- 
pataõ,  e  dalli  fov  demandar  a  barra  de 
Goa,  aonde  surgio  quasi  no  mesmo  tem- 
po quo  Martim  Corroa  da  Silva  tomou 
Angoiiiva.»  Ibidem,  liv.  (>,  cap.  7.  — 
«Sendo  dez  deste  mez,  surgirão  na  bar- 
ra de  (Soa  cinco  náos,  de  oito  que  tinhaS 
partido  do  Reino,  de  que  era  Capitão 
mòr  Diogo  Lopes  de  Sonsa.  Os  mais  Ca- 
pitaens  eraõ  Francisco  Lopes  de  Sousa, 
quo  trazia  a  Capitania  de  Maluco,  Jaco- 
me  de  ilello,  L.>po  de  Sousa,  e  Mioer 
Bernanlo.»  Ibidem,  liv.  9,  cap.  16. 

—  Levantar-sc,  crescer  em  altura,  er- 
guer-se  de  baixo,  apparecer,  crescer  para 
fora. 


i 


SURG 


SURP 


SURR 


637 


Hebe  é  filha  de  Juno ;  e  surge  a  Cypria 
Da  uudoaa  spuraa,  o  são  sua  prole  aa  graças. 
Logo,  na  Lyra  outôo  a  humana  0;-lgem, 
Que  animou  Promotheo,  com  luz  roubada. 

F.    MAXOKL  DO  NASCIMENTO,  03  MARTYRES,  1ÍV.    2. 

D'um  acaso  a  Opúiião  surge  a  raiudo  ; 
E  sempre  a  Opinião  é  quem  dá  a  voga. 
Podéra  em  gentes  eu  de  todas  classes 
Meu  prólogo  fundar ;  que  neste  Mundo 
E  tudo  prevenção,  porfia,  cAbala: 

Justiça?  pouca,  ou  nada  ; 

Tal  foi,  tal  será  sempre  : 
Pois  vai,  como  enxurrada,  abrào-lhe  passo. 

IDEM,  FABULAS  DE  L.iFONTAINE,   1ÍV.    3,  n."  14. 

Tu,  Soberano  Auctor,  a  cujo  aceno 

Snryio  do  Nada  a  machina  do  Mundo, 

Com  teu  sopro  imuiortal  meu  génio  inflamma  ; 

Qual  outr'ora  iuflammou  Vates  sublimes 

Cele.ste  inspiração,  e  as  obras  tuas 

Em  Canções  divinaes  aos  Ceos  alçarão. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Caut.  1. 

E  uesta  vasta  maquina,  hum  sò  raio 
Da  Vista  Divinal  ficou  gravado  ? 
Eia,  surge,  oh  minha  alma,  as  azas  toma 
E  vôa  alem  do  Sol,  pergunta  aos  Astros 
Onde  se  eleva  o  Throuo  Magestoso 
DaquoUe  a  cujo  assopro  ellcs  girarão  ? 


Porém  dos  Povos,  que  as  Romanas  armas 
Mettèrão  a  grilhões,  surge  brilhante 
Da  Sapiência  a  Luz.  Vê  na  Germânia 
O  grande  Sábio,  que  no  Sol  descobre 
A  sombra  que  te  eucheo  de  luto,  e  magoa. 


Da  escura  noite,  do  brilhante  dia 
Igual  a  duração,  se  pesa  e  marca 
Na  celeste  balança  :  assim  d'Outouo 
Surge  a  frente  de  pâmpanos  cercada. 
De  fructos  suavíssimos  Pomona 
Forma  grinaldas  mil,  constante  as  mostra 


O  indagador  da  Natureza  surge 
Do  sono  cm  que  jazeo,  rompe  as  Cadeias 
Da  ser^nl  ignorância,  as  azas  solta 
Apoz  o  grande  explorador  Britano, 
Ao  fulgor  da  verdade  antigos  erros, 
Antiga  opinião,  qual  sombra,  fogem. 


Que  pomposo  espectáculo!  Descubro 
Astro,  que  vibra  luz,  que  fornia  o  dia, 
Estrella  immobil,  que  menores  globos 
Prende  em  seu  Turbilhão,  e  a  Luz  lhes  manda. 
Inextinguível  Formosura  !  A  Terra, 
Quando  tu  surges,  vive;  e  se  te  esooudes, 
Então  da  triste  noite  os  véos  sombrios 
De  luto  melancólico  a  circundão. 


Mas  progressiva  escuridão  3'avança. 
O  ar  forma  os  crepúsculos  do  dia 
Quando  surge  do  Ganges,  quando  pousa 
Da  occidua  Thetis  nos  cerúleos  braços. 
iBiDEji,  cant.  2. 

Deste  humilde  principio,  e  tão  pequeno, 
Surgio  da  antiga  Roma  o  férreo  Throno, 
Que  do  Globo  aos  confins  mandou  cadêas ; 
N'huma  cabana  humilde  origem  teve, 
N'ella  Rómulo,  e  Numa  as  Leis  dictavào, 
Ao  novo  asilo  universal  chamando 
Do  Lacio  antigo  indígenas  incultos. 

IDEM,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Oant.    1. 


Virá  talvez  hum  tempo...  (ah !  Se  na  Terra 
Não  tornar  a  surgir  Waudalo  Império!) 
Em  que  nos  mostrem  Lentes  mais  polidas, 
E  d"outra  sorte  architectados  tubos. 
Que  foi  verdade,  e  luz  tão  vasta  idéa ! 
IBIDEM,  cant.  4. 


Quasi  vejo  surgir  Numes  na  Terra, 
A  cujo  aceno  os  corpos  obedecem  ; 
Mas  são  disposições,  são  leis  profundas. 
Que  as  sombras  arrancou  da  Natureza 
O  estudo  da  Mecânica  profundo. 


Quem  fez  surgir  do  bárathro  dos  mares 
Tão  dispersas  porções  do  térreo  Globo  ? 
Acaso  o  vasto  incêndio,  que  remuge 
Nas  lôbregas  entranhas  oscilantes 
Da  humana  habitação,  com  força  immensa 
Fez  erguer  do  Oceano  o  leito  escuro  ? 

IDEM,    MEDITAÇÃO,   Caut.    2. 


O  temerário  ardor,  produz,  e  cria 
A  cada  instante  hum  Mundo  imaginário. 
Tal  he  dos  erros  seus  a  origem  triste, 
E  o  Cahos  filosófico  foi  este. 
Surgem  delle,  Epicuro,  os  tons  fantasmas ; 
Perde-se  aqui  Demócrito,  e  Leucippo. 
IBIDEM,  cant.  4. 


Sobre  as  azas  da  Fé  minha  alma  surge, 

E  nova  luz  á  Natureza  outorga. 

Moysés,  Moysés  fallou,  e  hum  Deos  o  inspira. 

IBIDEM. 


Necessidade  eterna,  immóvel  ordem, 
Os  seres  faz  nascer,  e  acaba  os  seres ; 
Em  constantes  períodos  eternos 
Sempre  descobre  a  maquina  do  Mundo ; 
Ora  ao  Nada  tornando,  ora  surgindo, 
Vai  sentido  a  impulsão  da  Lei  do  Fado  ; 
E,  SC  a  substancia  eterna  intacta  fica. 
Morrem,  renascem  de  continuo  as  formas. 


—  <i  Depois  é  que  surgiu  o  homem  e  a 
podridão,  a  arvore  e  o  verme,  a  bonina 
e  o  emnmrchecer.»  A.  Herculano,  Euri- 
co, cap.  4. 

—  Figuradamente:  Elevar-se,  alçar- 
se. 

^Surgir  á  mente;  subir,  occorrer- 
llie. 

—  Proseguir  navegando. 

—  Surgir  d  mente;  nascer,  levantar-se 
n'ella. 

—  V.  a.  —  Surgir  duas  ou  ires  ancoras  ; 
dar  fundo  com  duas  ou  trea  ancoras. 

SURILHO,  A,  adj.  Diminutivo  de  Suro. 

SURIRPANO,  s.  m.  Certa  insígnia  usa- 
da na  Índia  portugueza. 

-j-  SURIRRITAÇÃO,  s.  /.  Termo  de  Me- 
dicina. Irritação  mórbida. 

SURO,  A,  adj.  Derrabado  naturalmen- 
te, sem  rabo,  sem  cauda. 

—  Galliiiha  sura;  tem-se  por  mais  ami- 
gas dos  gallos;  poedeiras  e  criadeiras. 

—  Frade  suro,  monge  suro;  monge  que 
tem  Corda,  mas  nào  diz  missa. 

SURPAGI,  s.  m.  Soldado  de  presidio 
entre  os  turcos. 


1  SURPREHENDENTE,  adj.  2  gen.  Yid. 
Surprendeute. 

t  SURPREHENDER,  v.  a.  Vid.  Sur- 
prender.  —  «Finalmente  tem  pouca  reli- 
gião; porque,  lendo  maus  livros,  falta-lhé 
tempo  e  sciencia  para  examinar  os  agu- 
dos sophismas  com  que  os  seus  detestáveis 
authores  quizeram  surpreheuder  os  que  o 
lessem  com  similhante  espirito.»  Bispo  do 
Grão  Pai-á,  Memorias,  publicadas  por  Ca- 
millo  Castollo  Branco,  pag.  78. 

SURPRENDENTE,  adj.  2  gen.  Que  sur- 
prehende,  que  toma  de  improviso. 

—  Que  produz  surpreza. 
SURPRENDER,  v.  a.  Tomar  uma  cousa 

de  improviso. 

—  Chegar  ao  pé  de  alguém  sem  ser  es- 
perado. 

—  Induzir  em  erro,  engano. 

—  Obter  fraudulentamente,  por  artificio. 

—  Tomar  por  surpreza. 

—  Fazer  uma  surpreza. 

—  Espantar,  admirar. 

—  Saltear,  interprender,  assaltear.  Vid, 
Sorprender. 

SURPRENDIDO,  part.  pass.  de  Sur- 
prender.  Tomado  de  improviso. 

—  Induzido  em  erro,  enganado. 

—  Espantado,  admirado. 

—  A.ssalteado,  salteado,  interprendido. 
SURPRESA,  ou   SURPREZA,   s.  f.  Vid. 

Sorpresa. 

Tu,  jocosa  Thalia,  agora  dize 
Qual  seu  espanto  foi,  sua  sur2)resa, 
Quando  á  porta  chegando  costumada, 
Nclla  o  Deaõ  naõ  vio,  uaõ  vio  o  Hyssope. 
DINIZ  DA  cBuz,  HYssofE ,  cant.  3. 

SURPRESO,  A,  adj.  Surprehendido,  to- 
mado de  repente. 

—  Espantado,  admirado. 

—  Induzido  em  erro,  enganado. 
SURRA,    s.  /.    Grande  somma,  grande 

quantidade.  —  O  menino  leva  uma  surra 
de  açoutes;  metapiíora  tirada  do  surra- 
dor  dos  couros,  e  golpes,  com  que  os  alim- 
pa surrando-os. 

—  Coça,  tunda,  sova. 
SURRADOR,  s.  m.  Homem  que  surra. 
SURRAFAÇAR,  v.  a.  Vid.  Sorrafaçar. 
SURRAMENTO,    s.  m.   O    beneficio  que 

o  surraJor  faz  aos  couros  no  carnaz,  e 
tinta. 

SURRÃO,  s.  m.  Bolsa  de  couro  usada 
pelos  pa.9tores,  em  que  levam  o  comer  e 
outras  cousas  do  seu  uso. 

—  Sacco  de  couro  que  cobre  da  chuva 
o  que  vai  encerrado  n'elle.  —  Um  surrão 
de  trigo. 

SURRAPA,  s.  f.  Vinho  que  se  damnou. 

—  Vinho  mau. 

SURRAR,  V.  a.  Tirar  o  pêllo  das  pel- 
les,  e  alimpar-lhes  o  carnaz. 

—  Açoutar,  fustigar,  dar  surra  de  açou- 
tes. 

—  Gastar  a  superfície  com  o  uso,  fa- 
zel-a  escabrosa. 


638 


SURT 


SURT 


SUSC 


—  Surrar-se,  t>.  rejl.  Termo  jiopular. 
Ir-so  a  fiirti). 

SURRATE.  Termo  popular  usado  adver- 
bialmeiíto,  anti^pondo-llio  a  prcposiçilo  de. 
—  Dl'  surratc  ;  ás  escondidas. 

SURRATEIRO,  A,  adj.  Vid.  Sorrateiro. 

SURREIÇÃO,  s.  /.  Vid.  Resurreição. 

SURRELFO,  A,   adj.  Vid.  Sorrelfo. 

f  SURRENAL,  adj.  2  gen.  (Do  iiitiin 
ren,  o  snr).  Termo  de  anatomia.  Que  está 
collocado  acima  dos  rius. 

—  C'u]>su?a.i,  ou  glandulaíi  surrenaes ; 
glândulas  vasculares  sem  vesículas  fecha- 
das, o  som  canaos  excretores,  situadas 
acima  dos  rins. 

SURREPTICIO.  Vid.  Subrepticio. 
SURRIADA,  «.  /.   Termo  de  artilhcria. 
Descarga  de  tiros  de  artilhcria. 

—  Figuradamente :  Uma  surriada  de 
alleluias. 

—  Loc.  POP.:  Dar  surriada;  dar  apu- 
pada. 

SURRIBA,  s.  f.  Termo  de  agricultura. 
A  excavaçào  feita  na  terra  para  que  fi- 
que fofa,  e  lancem  dente  com  mais  faci- 
lidade as  arvores,  que  se  dispõe. 

—  Nos  outeiros  e  encostas  onde  se 
planta  fazem  surribas,  com  paredões,  que 
sustendo  a  terra  dão  lugar  a  fazer  se  uma 
planura,  o  por  cima  de  uma  outra  encos- 
tada a  outro  paredão,  ctc.  Vid.  Socalco. 

SURRIBAR,  V.  a.  Fazer  surribas. 

f  SURRIOLA,  s.  f.  Termo  de  náutica. 
Dá-so  este  nome  áquelles  paus  que  se 
costumam  deitar  pelos  lados  do  castello 
de  proa,  para  ;is  embarcações  miúdas  se 
amarrarem. 

SURRIPIAR,  V.  a.  (Do  latim  surripe- 
re).  Termo  popular.  Furtar  ás  escondi- 
das, ás  oeeultas. 

SURRIR,  V.  n.  Vid.  Sorrir,  termo  mais 
usailo.  —  «Surriose  o  Piloto,  e  tomado 
cinco  cocos  03  lançou  ao  mar,  cõ  os  quaes 
lançarão  a  fugir  aquellea  que  os  toma- 
rão :  os  outros  que  também  os  prctendiào 
Ike  forão  no  alcance,  e  encoutrandose  tó- 
rios cm  terra,  foy  tanta  a  pancaila,  gri- 
ta, e  peleija,  sobre  quem  os  leuaria,  que 
nos  demos  por  bem  vingados.»  Fr.  Gas- 
par de  S.  Bernardino,  Itinerário  da  ín- 
dia,  cap.  5. 


Afcu  rosto  de  vergonha,  e  aasiin  mo  iir{;úo : 
E  eu  fóite,  e  eu  moijo,  chúio,  <iuaiulo  um  viMho, 
Curvado  pelos  auiios,  vom  gui-riíulo 
Sob  ciirga,  tanto  li  miuha  dosconforme! 

r.   M.    DO   NASCIMKNrO,  03  MAUTYUES,  1ÍV.    7. 


SURTIR,  i'.  n.  Voar  alto,  remoutar-se 
mui  altaneiro  voando.  Vid.  Surto. 

1.1  SURTO,  part.  pass.  do  Surgir. 
Fundeado,  aportado,  ancorado,  seguro  no 
fundo.  —  «Ao  outro  dia  seguinte  chega- 
rão estes  nossos  navios  ao  rio  de  Calan- 
tSo,  e  vendo  que  estavào  surtos  nelle  os 
três  Juncos  de  ijue  tivoíaõ  novas,  os  co- 
meterão muyto  esforçadamente,  e  com 
quanto  os  de  dentro   trabalharão   quanto 


pudera!)  pelos  defenderem.»  Fernão  Men- 
des i'into.  Peregrinações,  cap.  :55.  —  «E 
porque  neste  iiilvu  tenjpo  lhe  falecerão  a 
nioiher  o  a  lilha,    elle   como   dosespoiado 
se  lançara  huma  noite  ao   mar   na  barra 
de  Diu,  com  aquello  moço  «eu  filiio,  don- 
de por  terra  fora  ter  a   yurrate,    o  dahy 
se  viera  ter  a  ^lalaea  cm  huma    nao   du 
Clareia  de  tíaa  Capitão  de   Baçaim,   don- 
de por  mandado  ile  dõ  Estevão  da  Gama 
fora  á  China   com   Christovão    Sardinha, 
(pie  fora  feitor  do   Maluco,  o  qual  estan- 
do  huma  noite  surto  em    Cincaapura,  o 
Quiay  Taijão  senhor  daquelle  junco  ma- 
lara  com  mais  vinte  e  seis    Tortugueses, 
e  que  a  elle  por  ser  bombardcyro  dera  a 
vida,  e  o  trazia  comsigo  por  seu    Cõdes- 
tabre.i)  Ibidem,    cap.   43.  —  «E   despois 
de  fazer  dar  a   morte  ao    Similau    e   aos 
outros  seus  cõpanheyros,  que  foy  cõ  lhes 
mantiar  lançar  os  miolos  fora  com  huma 
trauea,  assi  como  elle  íizera  cm  Liampoo 
a  Gaspar  de  Mello    e  aos   outros   Portu- 
gueses, se  embarcou  logo  cõ  trinta  solda- 
dos no  batel  e  nas  raãchuas  em   quo  os 
inimigos  vierão,  e  com  conjunção  de  ma- 
ré e  de  bom  veuto,  em   menos  do   huma 
hora  chegou  ao  junco   que    estava  surto 
dentro  no  rio  huma  legoa  adiante  donde 
nós  estávamos.»    Ibidem,  cap.  40. —  »A 
qual    o    Similau   disse    cjue    se    chamava 
Fanjus,  e  chegandouos  bem  a  ella  entra- 
mos em  huma  muyto   formosa  angra    de 
quarenta  braças  de  fundo  que  a  manev- 
ra  de  meya  lua  tíeava  abrigada  de  todos 
os  ventos,  na  qual  podião  muyto  bem  es- 
tar   surtas    duas    mil    nãos,    por    muyto 
grades  que  fossem.»   Ibidem,  cap.  71. — 
oE  que  por  aquelle  rio,  em  cuja  boca  es- 
távamos surtos,  que  se   dezia   Paatebe- 
uam,  aviamos  co  nome  do  Senhor  do  ceo 
de  yr  cõ  a  proa  a  Leste,    e  a  Lessueste 
demandar   outra   vez   a   enseada   do  Nã- 
quim  que  atrás  tínhamos  deixado  duzen- 
tas e  sessenta  legoas,  porque   toda   esta 
distancia  de  caminho  tínhamos    multipli- 
cado em  mór  altura  do  que  era  onde  nos 
demorava  a  ilha  (jue  hiamos  buscar.»  Ibi- 
dem, cap.    72.- — -«Estando    huma  noyte 
surta  num  lugar  que  se  dezia  Catebesoy, 
se  criara  sobre  ella  huma  nuvem    preta, 
a  qual   lançando   de   sy   muytos   fuzis    e 
euriscos,  chovera  delia  huma  agoa  muy- 
to grossa,  de  gotas  tão  quentes  em  tanto 
estremo,  que  dando  na  gente   quo  neste 
tempo  estava  ainda  acordada,  a   fez   lan- 
çar toda  ao  rio.»  Ibidem,  cap.  93. 


Quo  cousa  é  ver  um  parvo  namorado ! 
Harto  a  um  canto  aonde  enxerga  a  dama, 
Coubecc-o  toda  a  rua,  c  anda  embui;ado. 

f.   R.   LOUO  30110FITA,  1\>ESIJIS   E  PBOSAS  UiEDITAS, 

pag.  48. 


—  sStandn  assi  António  corroa  surto 
acabo  de  seis  dias  se  ajuntou  com  elle 
ha  frota  dei  Kei  Dormuz,  o  as  outras  ve- 
las da    sua   armada,    saluo  os   fustas   de 


que  huma  arribou  a  Ormuz,  e  a  outra 
cliogon  tendo  ja  acabado  o  negocio  a  que 
fora.»  Damião  de  Gocs,  Cbrouica  de  O. 
Mauoel,   part.  4,  cap.  03. 

2.)  SURTO,  8.  VI.  O  vôo  arrebatado 
que  a  ave  toma  para  o  alto,  eui  quo  ae 
remonta  muito. 

—  Emprega-se  também  no  eontido  fi- 
gurado. 

SURTÚ,  «.  m.  (Do  francez  êurUjut,  de 
sur,  e  t<nit).  Sobrecasaca,  cosadlo  que 
KC  veste  ])or  cima  do  casaco. 

SURTUM,  ».  m.  Veste,  que  nSo  fecha 
pelo  meio  do  ventre,  mas  passa  a  abo- 
toar-se  a  um  lado  do  corpo,  com  duas 
ordens  de  botões. 

SURZIDO,  purt.  paus.  de  Surzir.  Vid. 
Zurzido. 

SURZIR.  Vid.  Zurzir. 

SUS,  iitterj.  (do  latim  »í/«,  acima»  que 
vale  tanto  como  acima,  tende  coragem, 
erguei  os  espiritos. 

Ora  voiísa  meroê  qncira 
dcâc-obrir-mc  aqui  por  que 
anda  assi  d°es3a  manoira  ; 
e  diga-m'o  de  cadeira, 
faça-rac  hoje  esta  mcroí-. 
Ora  fut! 

ANTÓNIO  PBESTES,  ACTOS,  pag.   195. 

Stiit,  crguoi-vo3,  irmãos,  que  esta  é  a  bora, 
Esta  6  a  bora  tremenda  e  sagrada : 
Vinde,  vinde  fazer  penitencia, 
Lcvantai-vos,  que  a  liora  ó  chegada. 

0A11KF.TT,   D.    BBAXCA,  CBDt.   6. 

SUSANO,  ou  SUSÃO,  ÃA,  adj.  Termo 
antiquado.  Diz-se  em  opposição  a  jií$ão, 
jusano,  e  significa  superior,  do  alto,  de 
cima. 

—  Veia  susana;  veia  da  testa,  do  al- 
to da  cabeça. 

■J-  SUSCARPIANO,  A,  adj.  Termo  de 
anatomia.  Que  está  situado  sobre  o  carpo. 

SUSCEPTILIDADE,  *.  /.  Termo  de  me- 
dicina. Disposição  a  resentir  as  influen- 
cias, e  a  contrahir  as  doenças. 

—  Termo  do  philosophia.  Capacidade 
de  receber.  —  A  susceptibilidade  dos 
contrários. 

—  Exaltação  da  sensibilidade  physica 
e  moial  que  se  observa  particularmente 
nas  atfecções  nervosas. 

—  Disposição  a  chocar-sc  mui  facil- 
mente. —  Ferir,  offender  a  susceptibili- 
dade de  aJgiu-m.  —  tíer  de  uma  susce- 
ptibilidade   ridícula. 

SUSCEPTÍVEL,  adj.  2  gen.  (Do  latim 
susceptibilis,  de  susceptum,  supino  de 
suscipere).  Que  pode  receber  certas  qua- 
lidades, cortas  modificações.  —  Nós  so- 
mos susceptíveis  de  amizade,  de  justiça, 
e  de  humanidade. 

—  Esta  passagem,  esta  proposição  i 
susceptível  de  muitus  sentidos,  de  inter- 
pretaqiM.s  differenies;  é  possível  dar-lhe 
muitos  sentidos  e  diversas  interpretações. 

—  Fácil   de  offender.  —  Um  espirito, 


SUSM 


SUSO 


SUSP 


639 


um  caracter  susceptível.  —  Minha  tia  é 
orgulhosa  e  susceptível  como  todos  os  dia- 
bos. 

SUSCEPTIVO,  A,  adj.   Susceptível. 

SUSCITAÇÃO,  s.  /.  (Do  latim  suscita- 
tioi.  A  acçào  de  suscitar. 

SUSCITADO,  part.  pass.  de  Suscitar. 
Excitado,  acceso. — A  perseguição  sus- 
citada aos  christãos  nas  ilhas  do  Ja- 
pão. 

SUSCITADOR,  A,  s.  Pessoa  que  sus- 
cita. 

SUSCITAR,  r.  a.  (Do  latim  suscitare). 
Fazer  nascer,  fazer  apparecer  n'um  cer- 
to tempo,  fallaiido  dos  homens  extraor- 
dinários que  Deus  envia. — A  impieda- 
de augraenta,  e  Deus  suscita  no  Orien- 
te um  rei  mais  soberbo  e  mais  formidá- 
vel do  que  todos  os  que  tinham  appare- 
cido  até  entào :  é  Nabucodonosor.  —  A 
experiência  ensiiia-nos  ainda  que  Deus 
suscita  de  tempos  a  tempos  mulheres 
fortes  que  elle  eleva  acima  das  fraquezas 
ordinárias  da  natureza. 

—  Diz-se  também  das  cousas. 

Clara  c  brilhante  a  lua.  Oh  !  que.  memorias 
N'alma  do  vato,  esse  aatro,  a  hora,  o  sitio 
Não  suscitam  amargas  ? 

GABBETT,  camões,  cant.  10,  cap.  13. 

—  Em  um  sentido  desfavorável,  fazer 
nascer  o  que  podo  prejudicar,  perturbar, 
6  acabrunhar.  —  Os  amigos  de  Péricles 
o  accusaram  de  elle  ter  suscitado  a  guer- 
ra do  Peloponeso. 

—  Excitar,  accender.  —  Suscitar /ogro. 

—  Em  termos  da  Escriptura :  Suscitar 
a  prole  do  irmão ;  fazer  reviver  o  nome 
do  irmão  morto  sem  posteridade,  despo- 
sando a  viuva,  o  que  era  usado  entre  os 
judeus. 

f  SUS-COCCYGIANO,  A,  adj.  Que  está 
defronte  ou  acima  do  coccvx. 

f  SUS-HEPATICO,  A,  àdj.  Termo  de 
anatomia.  Que  está  situado  acima  do  li- 
gado. 

—  Veias  sus-hepaticas ;  veias  próprias 
do  fígado;  abrem-se  na  veia  cava  abdo- 
minal. 

t  SUS-HYOIDEO,  A,  adj.  Termo  de 
anatomia.  Que  está  situado  acima  do  osso 
hyoide. 

"  -j-  SUS-JACENTE,  adj.  2  gen.  Termo 
de  geologia.  Formações  sus-jacentes  ;  no- 
me dado  ás  formações  volcanicas,  porque 
nào  somente  penetram  as  outras  rochas, 
mas  ainda  as  excedem. 

f  SUS-MAXILLAR,  adj.  2  gen.  Que  está 
situado  na  raaxilla  superior. 

—  O  osso  sus-maxillar ;  o  osso  da  ma- 
xilla  superior. 

t  SUS-MAXILLO-LABIAL,  adj.  2  gen. 
Termo  de  anatomia.  Diz-se  do  musculo 
próprio  do  beiço  superior. 

7  SUS-MAXÍLLO-NASAL,  adj.  2  gen. 
Termo  de  anatomia.  Diz-se  do  musculo 
transverso  do  nariz. 


f  SUS-METATARSIANO,  A,  adj.  Ter- 
mo de  anatomia.  Que  está  situado  sobre 
o  metatar.so. 

f  SUS-NASAL,  adj.  2  gen.  Termo  de 
anatomia.  Situado  acima  do  nariz. 

—  Osso  sus-nasal,  ou  osso  próprio  do 
nariz;  osso  par,  achatado,  formando  a 
parte  superior  da  cavidade  nasal,  e  apre- 
sentando, unido  ao  seu  congénere,  a  fi- 
gura de  um  coração  da  carta  de  jogar. 

f  SUS-NASO-LABIAL,  adj.  2  gen.  Ter- 
mo de  anatomia.  Diz-se  de  um  musculo 
achatado,  tendo  sua  origem  na  superfície 
do  osso  sus-nasal. 

SUSO,  adv.  Termo  antiquado.  Acima, 
d'antes.  —  OrdenaçZes  suso  escriptas.  — 
«E  mandamos  que  esta  nossa  Hordena- 
çom  aja  lugar  em  todolos  casos  suso  di- 
tos, e  em  cada  huum  dellcs,  e  em  todo- 
los direitos,  e  tributos  :  salvo  nas  vizita- 
çooens  dos  Arcebispos,  e  bispos,  e  Prela- 
dos, que  as  ham  daver.»  Ord.  Affons., 
liv.  4,  tit.  1,  §  24.  —  «Foi  publicada 
esta  Hordenaçom  suso  escripta  a  novo 
dias  do  mez  de  Fevereiro  da  Era  de  mil 
quatrocentos  e  quarenta  annos  per  Joha- 
ne  Meendes  Corregedor  em  a  Corte  d'El- 
Kev,  que  sya  em  audiência  ouvindo  os 
feitos,  em  Monte  Mór  o  Novo.  E  eu 
Joham  Martins  esto  escrepvi.»  Ibidem, 
tit.  2,  §  11.  — «Forom  publicadas  na 
Cidade  de  Líxboa  per  mim  Filippe  Affon- 
so  nos  Paaços  d'ElRey,  perante  Diego 
Affonso  Ouvidor  em  sua  Corte,  que  sya 
em  audiência,  as  ditas  declaraçooens,  e 
Hordenaçom  suso  escripta  aos  vinte  e 
dous  dias  do  dito  mez,  e  Era  sobre- 
dita.» Ibidem,  §  õ9. —  «Que  pêra  esto 
forom  chamados,  e  juntos  no  alpende- 
re  do  Moeesteiro  de  Sau  Domingos,  fo- 
rom poblicadas,  e  lendas  per  mim  Gon- 
çalo Pires  Escripvào  da  Chancellaria  es- 
tas Hordenaçooens  suso  escriptas.  E  logo 
polo  dito  Affonso  Domingues  foi  manda- 
do da  parte  do  dito  Senhor  com  acordo 
dos  Vereadores,  e  homeens  boõs  da  dita 
Villa,  que  poze.?sem  homens  boõs,  e  eixe- 
cutores  certos  pêra  fazerem  cumprir  es- 
tas cousas.»  Ibidem,  tit.  4,  §  8.  —  lE  se 
estes  todos  quatro  hy  nom  poderem  seer, 
que  os  doos,  que  hy  poderem  seer,  façam 
nas  cou.sas  suso  ditas,  se  cumprir,  e  man- 
dem fretar  as  Naaos  pela  Costa,  se  cum- 
prir, aa  custa  daquelles,  que  as  quiserem 
carregar.»  Ibidem,  tit.  õ,  §  11. —  «E  o 
Tabelliam,  que  hy  poser  seu  signal,  ou  o 
que  hy  poser  seello  autentico  aja  a  pena 
suso  dita:  e  desto  aja  ElRey  as  duas 
partes,  e  o  accusador  aja  a  terça  parte, 
assy  como  suso  dito  he.»  Ibidem,  tit.  6, 
§  3.  —  «E  dizemos  que  ainda  que  as  di- 
tas cousas  nam  possam  pollos  suso  ditos 
ser  obrigadas,  poro  ficarom  esses  devedo- 
res obrigados  a  pagar  as  dividas,  por  que 
essas  cousas  forem  apenhadas,  e  poderom 
por  ellas  seer  demandados ;  e  quando  fo- 
rem condapnados,  far-se-á  a  eixecuçom 
nos    outros    seus    beens,    assi    como    nos 


beens  de  qualquer  outro  do  povoo  conda- 
pnado.»  Ibidem,  tit.  53,  §  2. 

Chamava  lá  «uso  —  acima, 
e  cá  baxo,  aca  juso  : 
cursou  depois,  fez  o  buzo, 
veio  a  cada  voz  mais  prima. 

ASTOmo  PRESTES,  AUTOS,  pag.  5o. 

—  A  suso  ;  acima. 
SUSOBDICTO.  Vhl.  Sobredicto. 
SUSODITG.  Vid.  Susobdicto. 

f  SUS-ORBITARIO,  A,  adj.  Termo  de 
anatomia.  Que  está  situado  acima  da  or- 
bita. 

—  Abertura  sus-orbitaria ;  nome  dado 
a  uma  abertura  completada  por  um  liga- 
mento que  apresenta  a  arcaila  orbitaria 
no  seu  terço  interno. 

SUSPECfo.  Vid.  Suspeito. 

SUSPEIÇAM,  5.  /.  Vid.  Suspeição.  — 
oE  se  lhe  ouver  alguma  suspeiçam,  por- 
que o  queira  recusar  por  sospeito,  ponha 
a  suspeiçam  em  forma,  e  esse  Juiz  da 
execuçam  cometa  a  dita  recusaçam  a  hum 
homem  boom,  em  que  se  as  partes  lou- 
vem, pêra  desembarguar,  como  achar  que 
he  direito;  e  quando  as  partes  se  nam 
quizerem  louvar  em  o  dito  homem  boom, 
o  Juiz  recusado  de  seu  OfBcio  escolha 
esse  homem  bom,  a  que  os  cometa  sem 
malicia,  o  mais  a  pr;\zer  das  partes  que 
o  bem  fazer  possa.»  Ord.  Affons.,  liv.  1, 
tit.  101,  §  3. 

SUSPEIÇÃO,  s.  f.  (Do  latim  suspicio). 
Desconfiança  da  probidade  do  juiz,  ou  de 
outra  causa  por  que  se  receie,  que  haja  de 
julgar  mal,  auctorisada  pela  lei  que  se 
diz  de  direito,  ou  por  facto  da  parte  ad- 
versaria, ou  do  juiz,  que  é  suspeição  do 
homem,  ou  do  facto. 

—  Toma-se  também  por  suspeita  do  ca- 
racter ou  malfeitoria  de  alguém. 

SUSPEITA,  s.  f.  Desconfiança  pouco 
fundada.  —  «Saindo-lhe  ao  encontro,  co- 
mo os  tomasse  sem  suspeita,  levemente 
os  desbarataram,  e  a  ellas  tomaram  pre- 
sas, e  nos  mesmos  palafrens  as  fizeram 
tornar  polo  caminho  que  trouxeram.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  105.  —  «E  ao  longo  do  mar 
nos  lugares  de  suspeita  poz  outros  Capi- 
tães com  artilheria  necessária,  e  o  Prín- 
cipe seu  filho,  e  o  genro,  cada  hum  com 
seu  corpo  de  gente  haviam  de  acudir  on- 
de vissem  maior  pressa,  e  elle  ficava  pêra 
quando  o  mal  fosse  muito  acudir  f>om  ou- 
tro corpo  de  gente,  que  havia  de  estar 
com  elle  em  guarda  de  sua  pessoa  com  os 
Elefantes  de  seu  estado.»  Barros,  Déca- 
da 2,  liv.  6,  cap.  3.  — ■  «Espedidos  estes 
Capit.ães,  foram  ferindo,  e  recebendo  fe- 
ridas por  o  caminho  que  hiam  a  tomar  a 
mesquita,  a  qual  lhe  os  Mouros  despeja- 
ram como  gente  que  os  queria  metter  em 
cilada,  e  nella  houvei-a  Diniz  Fernandes 
de  cahir  com  toda  a  gente  de  sua  capita- 
nia que  o  acompanhava,  e  somente  huma 


640 


SUSP 


SUSP 


SUSP 


cousa  lhe  doo  a  suspeita  il<lla.»  Ibidem, 
cap.  f).  —  «Porque  como  as  cou.sas  da  ín- 
dia cstavauí  fracas  jior  a  nova  'iiiu  se  ti- 
nha do  estado  cm  que  ficava,  c  per  via 
do  Levanto  tinha  p]liicy  nova  que  o  Sol- 
drio  mandava  novamente  fazer  outra  Ar- 
mada pei-a  enviar  1:1,  por  razilo  da  outra 
que  lhe  desbaratou  o  Viso-Rey  D.  Fran- 
cisco, havia  suspeita  que  podiam  também 
haver  Rumes  na  Índia.»  Ibidem,  liv.  7, 
cap.  2.  —  «E  alli  em  Moçambique  acliou 
hum  criado  de  D.  Aires  da  (!ama,  que 
da  torna  viac^cm  da  Índia  ficou  doente, 
por  o  qual  soube  todalas  novas  da  índia, 
assi  do  estalo  do  cerco  de  Ctna,  como  da 
Ida  de  Affonso  d'Alboquerque  a  Malaca, 
e  a  m:l  suspeita  que  havia  dello  ser  par- 
tido, as  quaes  novas  puzeram  a  D.  Gar- 
cia em  muita  confusíto.»  Ibidem. —  «A 
chefiada  dos  quaes  cativos  a  Cocliij  com 
toda  a  frota  do  I).  ÍJarcia;  e  Jorge  de 
Mello,  foi  hum  dns  maiores  prazeres  que 
Affonso  d'Alboquerque  vio,  e  que  mais 
contentamento  lhe  deo  que  quantas  A'ito- 
rias  teve :  cá  esta  grossa  Ai-mada  cm  sou 
animo  acabou  de  as  confirmar,  o  tirar  de 
muitas  suspeitas  que  clle  tinha,  como 
adiante  veremos.»  Ibidem,  cap.  3.  — 
«E  aos  Ouazis,  e  Capitães  que  esta- 
vam da  mão  de  Raez  llamed  om  as  Vil- 
las,  e  fortalezas  do  Rc.vno  do  Ormuz,  foz 
também  Aftonso  d'Alboqucrque  tirar  del- 
ias, e  entregar  a  homens  sem  suspeita  da 
Cidade,  e  ainda  com  fiança,  c  escrituras 
em  modo  de  menagem.»  Ibidem;  liv.  10, 
cap.  5.  —  «Mas  o  que  nesta  viajem  pas- 
sou SC  nam  sabe,  porque  nunca  mais 
apareceo,  nem  se  soube  delle  noua,  a  tar- 
dança do  qual,  o  m;\  suspeita  que  se  co- 
mcçaua  a  ter  de  sua  viajem  causaram  o 
mesmo  infortúnio  a  Miguel  corte  Real, 
porteiro  nvW  dei  Rei,  que  polo  grande 
amor  que  tinha  a  seu  irmam  determinou 
do  o  ir  buscar,  e  partio  de  Lisboa  aos 
dez  dias  de  Maio  de  M.  D.  ii.  com  duas 
nãos  sem  nunca  dello  se  mais  haucr 
noua.»  Damião  de  Ooes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  1,  cap.  67.  —  «Esta  repos- 
ta foi  com  tantas  outras  abstauças,  que 
logo  so  tomou  suspeita  que  tudo  auiào 
de  ser  enganos,  como  se  achou  por  expe- 
riência, porque  cl  Rei  nam  sporaua  mais 
que  o  dia  cm  quo  auia  dcntrar  o  seu  al- 
mirante.» Ibidem,  part.  3,  cap.  18. — 
«Eate  concerto  foi  feito  om  tanto  segre- 
do, quo  sete  ou  oito  annos  que  Pàteonuz 
gastou  cm  fazer  huma  armada  pêra  a 
conclusam  do  que  tinha  determinado  se 
nam  descobrio,  nem  se  teve  delle  suspei- 
ta, no  qual  tempo  mandaua  dessiniidaila- 
monte  pessoas  de  que  se  fiaua  a  Malaca 
sob  spccia  do  mercadores.»  Ibidem,  cap. 
41.  —  «Para  te  castigar.  Ingrato,  das 
suspeitas  que  concebeste,  essas  te  deixo ; 
o  o  teu  tormento  fora  duvidar  do  que  te 
devera  ser  suave,  se  me  creras  leal  e  ter- 
na. Fácil  me  fora  dcsmaginar-tc;  quando 
mormente,  para  socêgo  próprio,  me  é  ve- 


dada a  liberdade  de  offonder-te.  Mas 
quero  dcixar-te  nc^so  engano  para  vin- 
gança minha;  e  se  crédito  díls  ao  meu 
.ânimo  ilissaboreado,  dá  por  justas  as  tuas 
conjecturas  todas,  e  ilá-me  a  mim  pela 
mais  infiól  de  todas  as"  mulheres. »  Fran- 
cisco Manoel  do  Nascimento,  Successos 
de  madame  de  Seneterre. 

Quê !  inti^rpretasto 
O  snu  dizer  assim? — Nilo  di''»,  amigo, 
A  viins  KHipnlim  nttcnçiio  funosta. 

OABRICTT,  CATÃO,   act.    1,  SC.    6. 

O  bárbaro  sou  cu:  o  n'áneia  d'alma 
Harbaro  me  chamei,  traidor,  infame, 
(^uc  assim  to  c.xpuz  a  pérfidas  simpeilat . 
iniDEM,  act.  3,  .SC.  7. 

—  <i  Começavam  a  alevantar-sc  algumas 
suspeitas  de  que  Alie  .se  havia  tornado 
christão;  mas  ninguém  ousava  affirmá-lo 
com  certeza;  poi-quc,  habitando  clle  n'um 
sitio  ermo,  não  havia  quem  o  podesso  ob- 
servar.» Alexandre  Herculano,  Monge  de 
Cister,  cap.  4. 

—  Conjectura. 

—  Syn.  :  Suspeita,  desconfiança.  Vid. 
este  ultimo  termo. 

SUSPEITADO,  part,  2>css.  de  Suspei- 
tar. Conjectura'Io,  desconfiado. 

Tu  noa  dcacobrc  que  paiz  é  este, 
Nem  fumpeitarlo  de  Euvopea  gente, 
Quo  torra  é  cata,  que  se  enfeita,  o  reste 
De  alegre  Primavera  cm  Ceo  clemente? 
Se  ha  ucUa  lium  povo,  que  soccorroa  preste 
A  quem  )ierdido  vai  no  mar  fervente, 
Quem  sejas  tu,  que  machina  prestante 
He  cata,  que  se  eleva  ao  Ceo  brilhante  ? 

J.    A.    I>E  MACEDO,  o  OIltENTE,  ClVnt.  5,  C3t.   38. 

—  Substantivamente :  O  suspeitado. 
—  «Fui  ciosa:  mas  onde  ha  grande  amor 
lavra  o  ciúme.  Ciosa  sim,  mas  sem  bru- 
teza; que  entre  os  vislumbres  dos  zelos, 
e  os  assomos  do  despeito,  distingui  sem- 
pre que  eras  tu  o  suspeitado.  Mas  que 
falhas  não  encontro  no  teu  modo  de  amar; 
e  quão  mal  o  entendes  !  Como  vem  claro 
o  pouco  amor  que  te  jaz  no  peito ;  e  o 
que,  quando  o  não  estudas,  te  escapa  do 
coração,  tão  pouco  digno  é  do  anu)r.» 
Francisco  Manoel  do  Nascimento,  Suces- 
sos de  madame  de  Seneterre. 

SUSPEITADOR,  A,  y.  Pessoa  que  sus- 
peita, que  tem  por  costume  suspeitar. 

SUSPEITAR,  V.  a.  (Do  latim  suspicta- 
re).  Conjecturar,  desconfiar. —  «O  caval- 
loiro  da  Fortuna  teve  cm  muito  ouvir-se 
nomear  cm  terra  tão  estranha,  c  desvia- 
da de  sua  crcação:  e  suspeitando  que 
aqucUe  podia  ser  Daliarte  do  Valle  Es- 
curo, duvidava  polo  ver  tão  mancebo,  que 
de  tão  poucos  dias  não  se  esperava  tama- 
nhas obras.  Daliarte,  que  entendeu  sua 
suspeita,  lhe  disse  :  Senhor  Palmeirim,  de- 
sejo tanto  servir-vos,  que  vos  quero  tirar 
da  duvida  om  que  vos  vejo.»  Francisco 


do  Moraes,  Palmeirim  dlnglatenra,  cap. 
33. —  «Arniciio,  itula  que  por  vezes  po- 
zesse  08  olhos  em  Floreiídos,  nunca  o  co- 
idieceu  pola  differonça  das  armas,  porem, 
vendo  Florani.ào,  logo  suspeitou  qnem 
podia  ser,  e  veudo-lhe  o  encudo  do  vulto 
de  Miraguarda  se  c-rtificdu,  e  logo  se  foi 
pêra  elle,  dizendo:  Senhor,  já  agora  vos 
podeis  descobrir  a  quem  tHo  pouca  razão 
tendes  de  vos  encobrir,  e  mais  vindo  com 
o  preço  ganhado,  que  de  principio  vos  fez 
perder.»  Ibidem,  cap.  108.  —  «Quando 
Colainbar,  que  té  li  occupára  a  vista  no 
imperador  e  naqucllas  senhoras,  se  virou 
contra  Alfernao  c  o  conheceu,  suspeitan- 
do quo  lhe  fizera  alguma  traiçSo,  polo 
vêr  tão  dassocego,  deu  um  grito  tio  fira 
do  costume  das  outras  mulheres,  que  pa- 
recia que  a  sala  se  fundia.»  Ibidem,  cap. 
121. 

O  I'ac  anda  om  sacrificios 
Aos  deoscs,  que  lha  dem 
A  Siiudc  que  convém  ; 
Dizendo  que  por  seus  \'icios 
O  mal  a  seu  filho  vem. 
Eu  fispeilo  quisto  são 
Alguns  novos  amorínbos. 
Que  tcrA  no  corarão. 

CAX.,  SF.LECCO. 


—  «Neste  tempo  vio  Tlonçalo  vaz  hum 
mouro  de  cauallo  que  vinha  muito  seguro 
faldrcjanilo  a  serra  de  Bcnamares,  do  que 
suspeitando  que  aueria  gente  Dalcacer, 
ou  de  outras  partes,  espalhada  pello  cam- 
po, determinou  de  o  ir  sperar  com  Infarte 
dalmeida  em  hum  passo  estreito.»  Damião 
de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3, 
cap.  3õ. 

—  T''.  n.  Ter  desconfiança,  desconfiar. 


Bofo.  segundo  vou  vendo, 
Se  esta  postem  a  vier. 
Como  PU  mmpfito.  a  creacor, 
Muito  ha  que  delia  entendo 
O  fim  que  piJde  vir  ter. 

CAM.,  FILODEMO,  aCt.   2,  SC.    3. 


—  «Não  pude  entrar  dentro,  que  achei 
a  porta  occupada  de  dous  gigantes  teme- 
i-osos  e  grandes,  que  a  guardam.  Agora, 
senhor,  a  podeis  ir  ver,  que,  segundo 
suspeito,  naquella  casa  deve  estar  algum 
gram  thesouro  guardado  de  muito  tempo 
pêra  galardão  dos  outros  trabalhos,  que 
nesta  terra  passast<"s.i>  Francisco  de  Mo- 
raes,   Palmeirim   d'Inglaterra,   cap.  120. 

—  «Roztomocan  quantio  o  vio  tão  indina- 
do,  c  solto  em  j^alavras,  confirmou  o  que 
se  dcllc  suspeitava,  estar  meio  alevanta- 
do,  e  como  homem  prudente  c  manhoso 
fez  a  esto  ni^gocio  dous  rostos,  que  lhe 
muito  aproveitaram  ]>cra  tudo  lhe  ficar  na 
mão.»    líarros.  Década  2.  liv.  l>.  cap.  9. 

—  «C.ostella  SC  suspeita,  que  tem  a  culpa 
do  que  Portugal  pai!ccc  nesta  parte;  por 
que  alargou  a  maõ  para  seus  intentos;  ou 
porque  a   tinha  entaS  mais   cheja,   qnt 


1 


SUSP 


SUSP 


SUSP 


641 


hoje  som  as  encteiites  de  ouro,  e  prata, 
que  lhe  vinhaõ  do  mundo  novo.»  Arte  de 
furtar,  cap.  56. 

SUSPEITO,  A,  ad.j.  (Do  latim  sitspectiis). 
De  quem  se  suspeita,  se  desconfia. 

Este  jugo  cruel,  d'homem  alheio, 

Com  que  trata  ao  que  he  estranho,  e  o  que  sujeito 

O  poz  em  tal  cuidado,  em  tal  receio, 

Que  se  velava  mais  do  mais  acoeito  •, 

O  que  tem  do  mercês  c  honras  mais  cheio. 

Lhe  vem  depois  a  ser  o  mais  suspeito, 

Porque  a  mortífera  honra  e  a  dignidade 

Motivo  he  dodio,  mais  que  d"amizade. 

F.  d'a5drade,  pbimeiko  CERCO  DE  DIU,  cant.  1, 
est.  19. 

—  A  que  se  pôz  suspeita. 

—  De  fé  duvidosa,  de  probidade,  inte- 
gridade duvidosa. 

—  Em  que  se  nâo  deve  fazer  confian- 
ça. 

—  Palavra  suspeita;  pala^Ta  que  nào 
é  clássica,  nem  conhecidamente  dalingua 
a  que  se  attribue. 

—  De  quem  se  pode  com  razào  descon- 
fiar. 

—  Dar-se  o  juiz  por  suspeito ;  decla- 
rar que  tem  razoes  para  não  julgar  n'a- 
quelle  caso,  por  haver  circumstancias, 
que  façam  duvidosa  a  sua  probidade,  e 
rectidão. 

—  Auctor  suspeito ;  auctor  cuja  fé  his- 
tórica não  é  sem  duvidas,  auctor  cuja  dou- 
trina pôde  conter  erros. 

—  And<ir  suspeito  ;  andar  com  receio 
de  ser  enganado. 

—  Homem  suspeito  de  phthysica;  ho- 
mem tocado  d'ella.  Diz-se  do  mesmo  mo- 
do :  homem  suspeito  de  tratante,  de  ma- 
roto,  de  velhaco. 

SUSPEIT0S.4MENTE,  adv.  [De  suspei- 
toso, e  o  suíSxo  «mente»).  De  um  modo 
suspeitoso. 

—  Com  suspeita,  cora  desconfiança. 
SUSPEITOSO,  A,  adj.  De  que  se  pôde 

ter  suspeita,  desconfiança  e  receio. 

—  Que  produz  má  suspeita,  descon- 
fiança. 

—  Logar  suspeitoso ;  logar  que  não 
está  bem  seguro,  e  defendido.  — ^  «A  pon- 
te do  rio,  que  divide  a  Cidade  em  duas 
partes,  por  ser  lugar  mais  suspeitoso, 
onde  os  nossos  podiam  desembarcar,  fez 
ElRey  nella  liuma  força  de  madeira  com 
muita  artilheria  em  lugar  de  fortaleza,  a 
capitania  da  qual  deo  a  Tuam  Bandam, 
que  era  o  Mouro  que  andava  nos  recados 
entre  elle,  e  Afibnso  d'Alb()querquc,  por 
ser  pessoa  principal.»  Barros,  Década  2, 
liv.  6,  cap.  3. 

—  Dado  a  suspeitar,  receoso,  descon- 
fiado. 

—  Homem  suspeitoso ;  homem  de  fé 
suspeitosa. 

—  Que  causa  receio,  temor,  e  descon- 
fiança. 

'■^—  Suspeito,  cuja  verdade  é  incerta  e 
receosa. 

Voi.  V.  — 81. 


SUSPENDER,  V.  a.  (Do  latim  suspende- 
re).  Sustentar  um  corpo  no  ar,  de  sorte 
que  fique  pendente.  —  Ligaram-lhe  os  pés, 
e  suspenderam-no. 

—  Suspende-se  uvi  cavalloj  sustenta-se 
no  ar,  em  cei-tas  operações,  já  para  o  fer- 
rar, já  também  em  certas  doenças,  para 
o  impedir  de  ficar  deitado. 

—  Figuradamente :  Interromper,  não 
continuar.  —  Uma  morte  súbita  e  surpre- 
hendeiite  que  suspendeu  o  curso  de  nos- 
sas victorias.  —  O  frio  excessivo  dos  in- 
vernos suspendia  o  curso  dos  rios. 


Mas  O  Luso,  a  quem  n"alma  se  alevantam 
Ideas  que  as  da  pátria  suspenderam, 
Desfarte  diz:  —  Amigo,  um  dever  triste 
Mo  chama,  a  quê  uào  sei :  cobrc-o  mysterio 
Cora  veo  impenetrável.  Minha  vida 
Toda  ha  sido  de  estranhas  aventuras. 
G.vBEEiT,  CAMÕES,  cant.  4,  cap.  2. 

—  Suspender  um  trabalho;  interrom- 
pei-©. 

—  Suspender  seus  pagamentos ;  diz-se 
de  uma  casa  de  commercio  que  não  pode 
pagar,  pelo  menos  momentaneamente,  o 
que  deve. 

—  Diz-se  de  uma  lei  que  se  interrom- 
pe por  um  certo  tempo. 

—  Parar  por  algum  tempo.  —  As  tro- 
2}as  suspenderam  a  marcha. 

Deste  abysmo,  na  sombra  augusta,  eterna, 
Profundo  explorador,  seus  olfios  fita  ; 
Jlas  deslumbrado,  attóuito  suspende 
Ka  margem  deste  mar  seu  passo  ousado. 

J.    A.    DE    MACEDO,    MEDITAçlo,    Cant.    1. 

Sigo  co'a  vista  os  Lenhos  atrevidos, 
Que  vão  da  Aurora  devassar  o  Império  •, 
Ferventes  mares,  soltas  tempestades, 
Mais  do  que  he  dado  á  humana  valentia. 
Tem  contrastado  indómitos ;  mas  chegão 
Ao  padrào  tormentcso,  onde  indignada 
Da  ousadia  mortal  a  Natureza, 
Fazia  suspender  denodo  humano. 


Vai  Cooke,  vai  Byron  cercando  a  Terra 
Por  inda  não  tentada,  incerta  via ; 
Então  suspendem  denodada  marcha, 
Quando  em  gelado  n)ar,  gelada  terra 
Da  Natureza  no  Decreto  attentão. 

IDEM,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Cant.   2. 


—  Figuradamente:  Prohibir,  impedir 
alguém  do  exercício  de  suas  funcções, 
sem  lhe  tirar  o  caracter  de  que  está  re- 
vestido. —  Suspender  um  ecclesiastico  das 
funcç(ks  sagradas. 

—  Pasmar,  enlear,  admirar. —  Suspen- 
der os  sentidos. 

—  Figuradamente :  Suspender  o  jui- 
2c;   não  julgar,  não  decidir. 

—  Termo  de  musica.  Fazer  uma  sus- 
pensão. 

—  Entreter  com  esperanças,  medos, 
etc.  —  Suspendera  vida  com  a  esperança. 

—  Termo  de  náutica.  Pendurar,  pren- 


der ao  alto,  aprestar-se  para  velejar,  ar- 
rancando a  ancora  do  fundo. 

• —  Suspender  uma  ancora;  arrancal-a 
do  fundo,  virando  fortemente  ao  cabres- 
tante sobre  a  sua  amarra,  até  se  tornar 
a  pôr  no  logar  do  navio  em  que  estava 
antes  de  ser  fundeado. 

—  Suspender  as  laricas;  nas  justas,  é 
levantai-a  do  hombro  ou  coxa,  cousa  de 
um  dedo,  para  que  vá  quieta. 

—  Suspender  um  espasmo  a  outro;  fa- 
zer que  se  nào  sinta,  ou  soôra,  interrom- 
per, paral-o. 

—  Suspender-se,  v.  rejl.  Elevar-se,  al- 
cantilar-se,  encapellar-se.  —  Suspende- 
ram-se  as  ondas  no  Atlântico. 

SUSPENDIDO,  part.  pass.  de  Suspen- 
der. Vi(i.  Suspenso,  termo  mais  em  uso. 

SUSPSNDIO,  s.  m.  (Do  latim  suspen- 
diu7n].  Forca,  garrote. 

SUSPENSÃO,  5.  /.  (Do  latim  suspensio, 
de  suspensum,  supino  de  suspendere). 
Acção  de  suspender,  estado  do  que  está 
suspenso.  —  O  ponto  de  suspensão  de 
uma  balança. 

■ —  Modo  de  suspender. 

—  Termo  de  veterinária.  A  suspensão 
de  um  cavallo  que  se  quer  impedir  de  fi- 
car constantamente  deitado,  durante  cer- 
tas doenças  dos  órgãos  locomotores,  pôde 
ser  praticada  por  diíFerentes  meios. 

—  Termo  de  chimica.  Estado  de  uma 
substancia  existente  n'um  liquido  sem  se 
precipitar. 

—  Notne  dado  a  um  phenomeno  ópti- 
co, em  que  os  objectos  afastados,  vistos 
no  horisonte,  parecem  simplesmente  sus- 
pensos no  ar,  pela  differença  de  mira- 
gem onde  ha  de  mais  uma  imagem  in- 
vertida ;  o  facto  é  que  na  suspensão  a 
segunda  imagem  existe,  mas  é  extrema- 
mente achatada,  e  reduzida  a  uma  di- 
mensão infinitamente  pequena,  o  que  im- 
pede de  a  vêr. 

—  Intermissão  temporária. — A  sus- 
pensão  da  febre. 

—  Suspensão  de  armas;  a  intermissão 
momentânea  dos  actos  de  hostilidade. 

—  Estado  de  um  _  homem  em  incerte- 
za, na  duvida.  • —  «E  verso  agudo,  accin- 
temente  agudo  para  marcar  mais  a  sus- 
pensão, e  quebra  de  ideas  que  a  accom- 
panha.»  Garrett,  Camões,  nota  L  ao  can- 
to 3. 

—  Acção  de  impedir,  de  prohibir  um 
funccionario  de  suas  funcções  por  um 
certo  tempo. 

—  Termo  de  grammatica.  Sentido  in- 
terrompido. —  A  suspensão  marca-se  por 
uma  serie  de  pontos, 

—  Figura  de  estylo  que  consiste  em 
ter  os  ouvintes  em    admiração   e   pasmo. 

—  Grande  attenção. 

—  Arrebatamento,  enlevo,  enleio,  ex- 
tasis. —  «He  com  tudo  de  aduertir,  que 
amar  a  Deos  com  suspensão,  e  sem  cõ- 
curso  dos  sentidos  naõ  he  sinal  euidentis- 
simo  da  vniaõ  passiua,  porque  a  tal  sus- 


642 


SUSP 


SUSP 


SUSP 


pensa5  dos  sentidos  parados  também  so 
acha  na  vnlDio  actiiia.»  Fr.  n.irtlioloincii 
dos  Martyres,  Compendio  de  espiritual 
doutrina,  cap.  11.  —  «11»  tamboin  tio  sa- 
bor, que  assim  como  a  còpungào,  ou  de- 
uaçaõ  30  se^^uo  despois  da  mc(iitaçai5  as- 
sim o  amor,  c  suspensão  extática  se  se- 
gue depois  da  contoiii])lai;aõ,  o  qual  arre- 
bata, e  puxa  polia  alma  pêra  o  Cco.s 
Ibidem,  cap.  12. 

—  Termo  de  musica.  Ponto  de  sus- 
pensão ;   siçnal  jiara  fazer  pausa. 

—  Suspensão  de  mãos;  no  manejo,  con- 
siste em  o  cavai  lo  erguei -as  ao  ar,  e  fi- 
car a=!sim  por  algum  tempo. 

SUSPENSIVO,  A,  adj.  (Do  latim  siis- 
pensum,  supino  de  suspendere).  Termo 
de  jurispru  lencia.  Que  suspende,  que  im- 
pede de  continuar. 

—  Termo  de  grammatica.  Que  suspen- 
do o  scntiilo.  —  O  genitivo,  sendo  um  ca- 
to suspensivo,  !he  fez  esperar  todas  as 
id^MS  (jue  o  orador  lhes  não  podia  apre- 
sentar ao  v}esmo  tempo. 

—  Pontos  suspensivos ;  pontos  collo- 
cados  em  seguida  uns  dos  outros  quando 
o  sentido  est;l  suspenso  e  incompleto. 

SUSPENSO,  part.  pass.  irreg.  do  Sus- 
pender. Que  c.st;í  ligado  e  sustido  no  ar, 
de  sorte  que  fique  pendente.  —  Tumulo 
suspenso  na  abobada  do  templo.  —  «En- 
tre dous  grandc-i  penedos,  cada  hum  dos 
quaes  sac  com  sua  ponta  ao  mar,  e  ficaõ 
suspensos  no  alto  da  roclia,  em  forma, 
que  parecem  ameaçar  ruina  a  quem  os 
contempla  da  prava.»  Monarchia  Lusita- 
na, liv.  7,  cap.  3. 

—  Impedido  do  exercício  de  suas  func- 
ções.  —  «Feita  esta  prisão,  com  que  os 
capitííes  ficarão  suspensos  de  suas  capi- 
tanias, que  olle  Atfonso  d'Alboquerque 
dou  a  outros  fidalgns  :  mandou  tirar  o 
culpado  donde  o  tinhão,  e  foi  leuado  em 
hum  batel  per  bordo  de  todalas  nãos  cõ 
pregoes  que  denunciavão  o  seu  crime, 
té  que  per  derradeiro  o  enforcarão.»  Bar- 
ros, Década  2,  liv.  5,  cap.  7. 

—  Interrompido,   descontinuado. 

Mil  oonduotoros  mo  offoi-ocp  a  Escola, 
Mas  entro  tantos  dividido  fica, 
Su^ptnso  o  vòo  do  forvontc  engenho. 

J.  A.  DF.  MACEDO,  A  NATUREZA,  Cant.  2. 

—  «o  raanuscripto  foi  começado  em 
S.  Thvrso,  talvez  ahi  pelos  vinte  o  pou- 
cos mais  annos  do  frade,  continuado  em 
Lisboa  e  no  Pard  cora  apontamentos  de 
viagens,  e  suspenso  no  derradeiro  anno 
de  vida  do  author.»  Bispo  do  Grão  Pa- 
rá, Memorias,  publicadas  por  Caraillo 
Castcllo  Branco,  pag.  42. 

—  Por  extensão:  Diz-se  das  cousas  em 
oquilibrio. 

—  Phrase  suspensa;  phrasc  cujo  sen- 
tido está  incompleto. 

—  Carruagem  suspensa  ;  carruagem 
sustida  sobre  molas. 


—  Enlevado,  enleado. — «Extasi  per- 
tence somente  ao  entendimento,  o  dasse 
quando  o  entendimento  de  tal  maneira 
he  suspenso  em  seu  próprio  acto,  o  ces- 
são de  sorte,  que  tambom  as  potencias 
inferiores  jtella  mesma  razão  suspendas 
cossaõ  totalmente  de  suas  acções.»  Frei 
Bartholomeu  dos  Martvres,  Compendio 
de  espiritual  doutrina,  cap.  12. 

—  Em  suspensão,  hesitante,  perplexo, 
incerto. 

—  Batalha  suspensa;  batallia  sem  ser 
deciílida  contra  algum  dos  partidos. 

—  Ficar  suspenso  de  sxa  empreza ; 
não  lhe  ser  licito  começal-a  ou  conti- 
nual-a. 

—  Attonito,  admirado,  pasmado. 

D<!  fantásticos  bons  se  rcpresentào 
('om  alvovogos  fnlsos  e  finfados 
listando  as.si  enganado  está  contente 
Isouta  du  tristezas  a  nicii:oria 
Snupfiino  liça  c  tristo  quando  abertos 
Os  olhos,  da  ticijào  se  desengana. 

COBTE   BKAL,  NAUFRÁGIO   DE   SEPÚLVEDA ,  CSUt.  14. 

—  «E  declarando-lhe  então  a  razão 
disto  pelas  meltiores  c  melhor  enfeitadas 
palavras  que  ent.ão  occorrerão,  esteve 
hum  pouco  suspenso,  e  btdindo  três  ou 
quatro  vezes  com  a  cabeça  disse,  para 
hum  homem  velho  que  estava  junto  del- 
le,  conquistar  esta  gente  terra  tào  alon- 
gada da  sua  pátria,  dá  claramente  a  en- 
tender que  deve  de  aver  entro  oUes  muy- 
ta  cubica  e  pouca  justiça.»  Fernão  Men- 
des Pinto,  Peregrinações,  cap.  122. 

Pedra  emsosao, 
é  gente  d'agricultara ! 
Ilomcus,  vindes  mui  siiapensos ! 
Dizem  que  é  Liccnceado. 
E\n  qne  arte  c  agraduadoY 

ANTOSIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  IGl. 

Com  tanta  luz  attonito,  suspenso, 
Volvo  os  olhos  de  hum  l.ado,  e  bem  no  meio 
Do  Templo  augusto  hum  Monumento  estava ; 
Por  argênteos  degrAos  3'avança,  e  sobe, 
Mas  com  trabalho,  a  base  alabastrina. 

J.    A.   DE   M.VCEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,   Cant.   2. 

1.)  SUSPENSÓRIO,  s.  m.  (Do  francez 
suspetisdire).  Termo  ilo  cirurgia.  Ligadu- 
ra destinada  a  sustentar  o  escroto  nos 
individues  afFiictados  de  alguma  doença 
nos  órgãos  genitaes. 

—  Plur.  São  duas  fitas,  ou  tecidos 
compridos  de  seda,  linho,  etc,  ordinari.a- 
mente  com  elásticos,  e  casas  nas  pontas, 
que  pendendo  de  um  o  outro  lado  dos 
hombros  vão  abotoar  nos  ci'»ses  da  calça, 
ou  calção,  liara  o  tor  suspendido. 

2.)  SUSPENSÓRIO,  A,  adj.  Termo  de 
medicina.  Que  suspende  o  curso  do  ura 
humor. 

SUSPIRADO,  part.  pass.  de  Suspirar. 
Que  su-ipinui. 

—  Diz-se  da  cousa  pela  qual  se  sus- 
pira. 


—  Mui  desejado. 

Infatigável  segador  menea 

O  braço  armado  de  encurvada  fouco, 

Sôfrego  abate  da  risonha  Ceres 

Oa  miMpirivlof  dons,  moiit'>es  d'c.4pigag 

O  Campo  que  as  gerou  d'outr'art';  cnfeitio. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  lATDKBZA,  Caat.  1. 

SUSPIRADOR,  A,  s.  Pessoa  que  sus- 
pira. 

SUSPIRAR,  V.  a.  (Do  latim  suspirare). 
Dar  suspiros. 

Olha  por  outras  partes  a  pintara. 
Que  as  estrcllas  fulgentes  vâo  fazendo : 
Olha  a  Carrctta,  attenta  a  Cyno^ura, 
Andromcda,  e  seu  pai,  c  o  Drago  horrendo: 
V(3  de  Caítsiopéa  a  formosura, 
E  do  Orionte  o  gesto  mctuondo, 
Olha  o  Cysnc  morrendo,  que  niuipira, 
A  Lebro,  os  Cães,  a  Nao,  c  a  doce  Lyra. 
CAM.,  Lus.,  cant.  10,  est.  88. 

—  «Nesta  gãbiduria  mvBtica  se  ha  de 
proceder  com  ordem.  Porque  primeira- 
mente deuemos  ser  taõ  entrados  do  te- 
mor do  luiz  seuero  Christo  Senhor  nosso, 
a  quem  hetnos  do  dar  conta,  que  do  inti- 
mo (lo  coração  clamemos,  dizendo :  sus- 
piraua  com  gemido  do  coração.»  Frei 
Bartholomeu  dos  Jlartyrea,  Compendio 
de  espiritual  doutrina,  cap.  13. 


Eis  o  soberbo  Turco  aceso  em  ira 
Que  aquella  injuria  tem  om  grande  estima. 
De  novo  abato  a  Cruz,  do  cima  a  tira, 
Ergue  a  sua  bandeira,  e  põe-na  em  cima. 
Pires  arde  outra  vez,  geme  c  tiupira, 
E  a  sua  companhia  acende  e  anima. 
Tenta  outra  vez  co'oa  seus  este  combate 
Ergue  o  pendão  Christào,  o  Turco  abate. 

F.  dVkdr.vde,  primeiro  cerco  de  DIU,  cant.  15, 
est.  6. 

Acabou  do  fallar  ;  e  confirmando 
Todo  o  sabio  Congresso  o  sou  dictame. 
Um  sussurro  no  Conclave  se  espalha, 
.\o  do  Zephyro  cm  tudo  similhante. 
Quando  nas  fre«5a3  tardes  ximpirando, 
.\  bella  Flora  segue,  que  travessa 
Cá,  c  lá,  entre  as  flores,  se  lhe  furta. 

AKTOSIO  DINIZ   DA  CRUZ,   HISSOPE,  C.aut.    1. 

Põem  de  lado  o  teu  Deos.  Dize,  se  ouviste, 
Ka  noite  de  Hontem.  xii*pirar.  no  Bisque? 
Carpir-se  uma  Aura  ?  Estar  gemendo  a  Fonto  ? 
Nessa  Fonte,  nessa  Aura,  nas,  que  eréscem. 
Flautas  nos  teus  balcões,  diva  eu  gemidos. 

P.    M.   DO  NASCIMENTO,  03  MABTTRBS,  1ÍV.    10. 

Suxpirava  cu,  nessa  Aura,  c  nessa  Fonte, 
Mal  que  te  sube  grato  o  rcmurmurio. 
Que  a  Fonte  faz  manando,  a  Aura  correndo. 
Vio  Vellêda,  em  meu  r-sto,  que  apiedado 
Fiquei  do  seu  fallar  falto  de  sizo. 


Deteve  a  vista  o  Déspota  do  Inferno, 

E  siifpirou.  c  extático  hum  momento 

(>  Coo  lhe  não  lembrou,  fez  pausa  o  Ódio, 

Mas  a  Inveja  gritou,  vingança,  e  crimas 

De  novo  aos  ígneos  olhos  lhe  assomarão ; 

Contra  o  iimocento  par  medita  estragos : 

Trausforma-se  em  Serpente,  e  tenta,  e  vence. 

J.  Á.  DB  MACEDO,  A  NATCBEZA,  CAnt.  1. 


SUSP 


SUSP 


suss 


643 


—  Exprimir  com  gemidos,    com  suspi-  I 
ros. 

—  Desejar  muito.  • —  «  Ellea  cuidam 
que  vivem  seguros,  porque  os  filhos  de 
D.  Duardos  estão  mui  louge  d'ella ;  e 
d'outra  parte  dizem  que  não  suspiram 
por  outrem,  que  contra  estes  tem  deter- 
minado pelejar  té  morrer  ou  vingar  a 
morte  de  seus  irmãos.»  Francisco  de  Mo- 
raes,   Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.    106. 

—  «Tal  he  o  peccador,  que  perdeo  o  di- 
reito á  pátria,  que  he  o  Ceo,  perdeo  a 
commuuicaçaõ,  e  familiaridade  dos  An- 
jos, e  Santos,  que  saõ  os  amigos ;  naõ 
tem  a  consolaçaS' do  Espirito  Santo:  tudo 
nello  saõ  misérias;  e  o  que  mais  he,  que 
nem  suspirar  sabe  pela  pátria,  como  os 
desterrados  suspiraõ.»  Padre  Manoel  Ber- 
nardes, Exercícios  espirituaes,  pag.  181. 

—  «Naquelle  espantoso  dia  todos  o  vere- 
mos em  forma  humana,  huns  com  gran- 
de alegria,  e  consolaçam,  s.  os  bons  que 
neste  mundo  viuendo  o  amaram  e  suspi- 
raram por  esta  segunda  vinda,  e  perfeita 
manifestaçam  de  seu  Reyno,  dizendo  de 
corayam.  Venha  o  teu  Reyno.»  Fr.  Bar- 
tkolomeu  dos  Martyres,  Catecismo  da 
doutrina  christã. 

Pelas  costas  raaritimas  em  baudoa 
As  vê  do  largo  mar  o  nauta  allbuto, 
Que,  já  cançado  do  lidar  co'  as  ondas, 
Suspira  pela  terra;  cilas  lha  mostrào, 
Inda  que  á  vista  occulta,  no  horizonte. 

J.   A.    DK  MACEDO,    MEDITAÇÃO,   Caut.    3. 

—  d  Suspiram  pelo  meu  antecessor... 
Mas  que  suspiros !  de  sorte  elles  são,  que 
me  é  preciso  mandal-os  suffocar  na  ca- 
deia, por  serem  explicados  em  verso  sa- 
tyrico  ou  libello  famoso.  Ninguém  suspi- 
re por  mim  com  tantn  que  não  caia  sobre 
mim  o  suspiro  de  Isaias :  Ve  mihi  quia 
tacui!»  Bispo  do  Grão  Pará,  Memorias, 
publicadas  por  Camillo  Castello  Branco, 
pag.  26. 

—  V.  a.  Exprimir  com  suspiros  e  ge- 
midos. 


D'e3pritos  gloriosos  via  o  Sousa 
O  ar  naquella  parte  ornado,  e  cheo, 
E  na  celeste  luz  vio  almas  sanotaa, 
Alegres  hir  voando  ao  ceo  Impireo. 
Os  olhos  após  ellas  leuantando, 
Attouito  iicaua,  einmudocido, 
Suspirando,  e  dizendo,  ah  quem  se  fora 
Entre  tal,  e  tão  sancta  companhia. 

COBTB   BB  AL,  NAUFRÁGIO   DE   SEPÚLVEDA,  Caut.    10. 

—  Lamentar  suspirando. 

—  Desejar  com  grande  anciã. 


Tal,  na  Cidade  eterna,  insigne  mármor 

Nos  affigura  Endymião,  que  dorme. 

Da  trinomina  Déa,  creu  Cymódoce 

O  amante  vêr,  e  suspirar  Diana 

No  sussurro,  que  faz,  no  bosque,  o  Zéphyro. 

Toma  um  clarão,  qvie  escapa  entre  os  arbustos 

Pela,  do  alvo  brial,  ondeante  falda 

Da  Deosa,  que  se  occulta. 

F.   M.   DO  NASCIMENTO,  03  MAKTYEES,  1ÍV.    1. 


—  Usa-se  também  svxbstantivamente  : 
O  suspirar  á  pregação.  —  «  Também 
o  suspirar  á  pregação,  fazer  gestos  com 
a  cabeça,  como  que  lhe  contenta  o  que 
se  disse,  rezar  desentoado,  compassar  a 
musica,  são  cousas  que  não  houveram  de 
ser.»  Francisco  Manoel  de  Mello,  Carta 
de  guia  de  casados. 

SUSPIRO,  s.  wi.  A  respiração  mais 
prolongada,  que  de  ordinário  é  produzi- 
da por  alguma  paixão,  como  amor,  tris- 
teza, etc.  —  Soltar  suspiros. 


Entanto,  em  vão,  suspiros  vãos  espalha; 
E  qualquer  bem,  que  possa  descançal-a. 
Sempre  amor  Ih 'o  atalhou,  sempre  Ih 'o  atalha. 

FEKNÃO  SOROPITA,  POESIAS  B  PKOSAS  INÉDITAS, 

pag.  112. 

Caem  as  nymphas,  lançam  das  secretas 
Entranhas  ardentissimo.-í  sus2nros : 
Cabe  qualquer,  sem  vêr  o  vulto  que  ama, 
Que  tanto  como  a  vista  pôde  a  fama. 
oAM.,  LOS.,  cant.  O,  est.  47. 

Só  de  quantas  idéas  tenho  feito, 
Útil  pôde  sor  esta 
Desse  teu  coração,  desse  teu  poito 
llum  suspiro  me  empresta. 

J.   X.   DE  MATTOS,  IÍI.MA3,  pag.    137. 


—  «E  se  lá  o  outro  prizioneiro  em  hum 
castello,  se  contentava  com  atirar  settas 
para  aquella  parte  onde  ficava  a  sua  pá- 
tria :  muyto  mais  razaõ  he,  que  os  mor- 
taes,  que  estamos  prizioneiros  neste  mun- 
do arremessemos  settas  de  desejos,  e  sus- 
piros para  a  nossa  pátria  bemaventura- 
da,  que  he  o  Ceo.»  Padre  Manoel  Ber- 
nardes, Exercícios  espirituaes,  pag.  67. 
—  «Porem  o  tempo  eiu  que  o  Senhor  se 
ausentaua,  diz,  auer  bem  conhecido,  por- 
que assim  como  huma  panella  que  serue 
ao  lume,  tirada  delle  se  esfria  assim  pel- 
la  ausência  do  Senhor,  começaõ  a  esque- 
cer, e  afrouxar  as  cousas  interiores,  de 
modo,  que  a  alma  se  entristeça  te  o  es- 
poso tornar  pêra  ella,  e  outra  vez  o  af- 
fecto  tomar  calor:  por  onde  a  alma  de- 
nota deue  com  suspiros  deue  clamar  ao 
Senhor,  dizendo.»  Fr.  Bartholomeu  dos 
Martyres,  Compendio  de  espiritual  doutri- 
na, cap.  lõ.  —  d  Acabemos  esta  pratica 
com  aquelle  suspiro  que  hum  sancto  deu 
sobre  este  passo  dizendo :  O  Senhor  apra- 
zauos  que  assi  como  o  Verbo  diuino  se 
vestio  do  carne,  assi  meu  coração  de  pe- 
dra se  torno  de  carne,  se  faça  molle,  pê- 
ra que  o  penetrem  as  setas  de  vossas  ins- 
pirações.» Idem,  Catecismo  da  doutrina 
christã.  —  «Que  suspiros,  vozes,  e  la- 
grimas aqui  seriam  V  Huus  maldezião  ao 
))rímeiro  que  tentou  nauegar  o  brauo 
mar ;  outi-os  com  huma  mal  formada  voz, 
pediam  confissão,  e  a  Deos  perdão ;  e  ou- 
tros a  quem  o  frio  suor  hia  cobrindo,  nem 
animo,  nem  forças  tinhão  pêra  pedilo.» 
Fr.  Gaspar  de  S.  Bernardino,  Itinerário 
da  índia,  cap.  1. 


Ferve  a  cólera,  espuma,  assoma  aos  olhos 
O  qucute  sangue,  se  o  furor  mo  ins])ira3. 
Mas  fogo  o  sangue,  as  lagrimas  borbulbào 
Se  hum  piedoso  suspiro  amante  cxhalas. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUEEZA,  Caut.  2. 

Foi  pouco  o  que  passou,  nada  o  que  resta : 
As  pulsações  do  coração  ae  afrôxão : 
Dos  lábios  vai  fugir  susjnro  extremo. 
Foi-me  a  Terra  madrasta,  ingrato  o  homem. 

IDEM,    VIAGEM   EXTÁTICA,   Caut.    3. 

Suspiros  da  viuva,  aia  do  orpham  triste, 
Lagrymas,  sangue  c  morto  offereeendo... 
aAHKETT,  CAMÕES,  caiit.  4,  cap.  11. 

—  Figuradamente  :  Nuvens  de    suspi- 
ros. 


Vinde  em  marés  de  pranto  aos  olhos  turvos, 
Espalhao-vos  em  navens  do  suspiros, 
Desatfogae-lhe  o  peito  comprimido; 
Para  um  so  coração  é  muita  migua. 

GAEUETT,  D.  BRANCA,  Caut.  2. 

—  Figuradamente :  Os  suspiros  d'uma 

avena. 


Para  a  passar  contente :  e  que  vai  pouco 
(Sendo  tam  curta  !)  haver  atroado  o  Mundo 
Co  clangôr  dos  Clarins,  ou  ameigado 
Os  bosques,  c'os  suspiros  d'uma  Avena. 

F.    M.    DO  NASCIMENTO,  OS  MARTYRES,   1ÍV.    9. 

—  Figuradamente:  Desejo  vehemente, 
e  forte. 

t  SUS-PUBIANO,  A,  aJj.  Termo  de 
anatomia.  Que  está  acima  do  púbis. 

—  Cordoes  sus-puLianos ;  ligamentos 
redondos  da  madre. 

f  SUS-PUBIO-FEMURAL,  adj.  2  gen. 
Termo  de  anatomia.  Que  é  relativo  ao 
púbis  e  ao  fémur.  —  Musculo  sus-pubio- 
femural. 

SUSQUINAR.  Vid.  Sosquinar. 

f  SUS-SCAPULAR,  adj.  2  gen.  Termo 
de  anatomia.  Que  está  acima  da  omoplata. 

— -8.  —  O  sus-scapular  inferior ;  o 
musculo  sub-espinhoso :  o  sus-scapular 
superior;  o  musculo  sus-espinhoso. 

f  SUS-SPHENOIDAL,  adj.  2  gen.  Ter- 
mo de  anatomia.  Que  está  acima  do  sphe- 
noide. 

—  Canal  sus-sphenoidal ;  canal  par- 
tindo da  face  superior  ou  interna  do  sphe- 
noide,  e  terminando    no  hiato   orbitario. 

SUSSO.  Vid.  Suso. 

f  SUSSURRANTE,  part.  act.  de  Sus- 
surrar. Que  sussurra.  Vid.  Susurrante. 
—  A  sussurrante  abelha. 


Oftorecendo  il  sussurante  Abelha 
No  cálice  mimoso  o  nectai  puro. 
Quasi  o  limbo  do  disco  auri-spiendente 
No  purpúreo  Horisonto  apparecia. 

J.   A.   DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  cant.    1. 

SUSSURRAR,  V.  a.  Vid,  Susurrar. 
f  SUSSURRO,  í.  m.  Vid.  Susurro. 


6U 


SUST 


o  arco  afírouxando  a  raeio,  o  ouvido  á  cacuta 
Do  sit<iiiiirrO  do  I'iXi':rcito  inimií^o, 
Do  bulicio  daa  oiidau,  ou  do.í  |)io.í 
De  Avi!í)  braviart,  r|uo,  no  oHcuro,  voão ; 
Do  innurf  l''adoj  volvendo  o.^  devaiirio-ij 
Disso  outro  mim  :    -Vai  iieiejai-  por  líárljaros, 
Por  tyrauuoi  da  minha  am;ida  (írfcia,^ 
Com  iiarbaros,  i[uo  nunca  me  olVcndí-rio  ! 

P.   H.    UO  NASaiJIBNTO,  09  MAKTTUKg,    1ÍV.    ''<  ■ 

Quo  a  cilas  Vallonguciras, 

Que  andaõ  mentindo  formas  do  arrieiras, 

Km  vcriio  chulo,  em  métrico  desgarro 

Dinis  Iiunia  vez  xó,  outra  vc;!  arre ; 

K  BC  a  voz  dos  ornrios  no  siassnrro 

Sc  perder,  podtirás  cui  voz  de  burro 

Tamijom  metrilicar, 

Que  vem  a  ser  o  mesmo,  que  zurrar. 

abbauf:  Dií  jAZB.NrE,  roEsiAB,  tom.  2,  pag.  33. 

As  espraiadas  ondas  sobre  a  arêa. 
Com  ligeiro  sumtiirro,  a  branca  espuma 
Erguem,  batendo.  A  Fabula  diria 
Que  volvem  ledos  Alcionios  dias. 

J.   A.   DE  IIACEDO,  A  KATUIIEZA,  Cant.    3. 

D'oiidc  consoladora  se  exlialava. 
Como  um  cHssiirro  de  viçosas  folhas, 
A  alma  brisa  da  nouto,  refrescando 
Os  corpos  então  áridos  das  chammas 
Com  que  o  touro  celeste  em  fúria  ardia. 

OAUBETT,  CAMÕES,  CiUt.  1,  Cap.  IG. 

SUSTANCIA,  s.f.  Vid.  Substancia,  or- 
thographia  niaÍ3  correcta.  —  «E  não  me 
detenho  cm  dar  relação  do  que  me  elles 
preguutavào,  e  eu  respõdia,  porque  co- 
mo tudo  erào  cousas  de  pouca  sustãcia, 
parccome  que  nào  servirá  de  mai.s  que 
de  encher  papel  cõ  cousas  que  dem  uiais 
fastio  que  ííosto.»  Fcruào  i\Itínde3  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  130.  —  «Consistindo 
pois  toda  a  sustancia  da  thcologia  mys- 
tica  em  amor,  pede  a  matéria,  que  diga- 
mos das  propriedades  delle  alguma  cou- 
sa. Certamente  o  amor  arrebata,  vne, 
satisfaz.  O  rapto  he  hum  vehomente  en- 
leuameuto,  e  huma  efficaz  operação  actua- 
da na  parte  superior  da  potencia  racio- 
nal, com  que  cessaõ  as  operações  das  po- 
tencias inferiores,  ou  pello  menos  de  tal 
maneira  se  enfraquecem,  e  dobilitão,  que 
de  nenhum  modo  impedem,  ou  detém  as 
acções  da  potencia  superior.»  Fr.  Bartho- 
lomeu  dos  Martyres,  Compendio  de  es- 
piritual doutrina,  cap.  12. 

f  SUSTANCIAL,  uJj.  2  gen.  Vid.  Suh- 
staucial.  —  «Us  outros  artiguos  nam  di- 
go por  estes  serem  os  mais  substanciaes. 
Aos  quaes  respoudeo  Vtetimutaraja,  que 
quanto  as  cartas  quo  cscreucra  ao  Prín- 
cipe tilho  do  Hei  quo  fora  de  Malaca,  quo 
era  verdade  o  ter  feito.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  25. 
SUSTAR,  V.  n.  E  erro  frequente  no 
foro  jíor  Sobrestar,  ou  Sobreestar.  Vid. 
Sobreestar. 

■{■    SUS-TAHSIANO,   A,    aJj.  Termo  de 
anatomia.  <.^uc  está  situado  sobre  o  tarso. 
SUSTATORIO,  A,   adj.  Vid.  Substato- 
rio. 


SUST 

SUSTENIDO,  ».  w».  Termo  de  musica. 
Nota  musical,  quo  serve  de  mostrar  quo 
a  iiguru  ({UO  está  na  linha,  ou  intcrvallo, 
onde  so  assignoii,  lia  de  subir  meio  ponto. 

SUSTENTAÇÃO,  s.  /.  A  acção  de  sus- 
tentar. 

—  8ustento.  —  f  Para  sustentação  da 
mesa  dos  pobre.),  que  se  dá  aquy  pelo 
amor  do  Duos  a  todo  o  género  do  pessoa 
quo  se  quiser  assentar  a  ella,  o  so  lhe 
dá  casa  e  cama  muyto  limpa  o  bem  cõ- 
certada  por  tempo  de  três  dias  somente, 
salvo  8c  hc  molher  prenhe,  ou  enfermo 
que  não  possa  caminhar,  aos  quais  se  dá 
gasalhado  mais  tempo,  porque  a  tudo  se 
tem  respeito,  ci>nforme  á  nece.ísidade  quo 
se  oflereco.u  Fernão  Mende.s  Piuto,  Pe- 
regrinações, cap.  lOU. — -uEde  toda  a 
mais  massa  das  rendas  do  reyno,  que 
he  huma  nmyto  grande  quantidade  de 
picos  de  prata,  se  fazem  três  partes,  das 
quais  huma  he  para  a  sustentação  do  es- 
tado real,  e  do  governo  do  reyno,  outra 
para  a  defensão  das  terras,  e  provimento 
dos  almazcns,  e  das  armadas,  e  a  outra 
se  põem  cm  tisouro  aquy  nesta  ciilade 
do  Pequim.»  Ibidem,  cap.  113.  —  «A  se- 
gunda causa  porque  falta  a  gente  deste 
Reyno,  he  por  naõ  terem  oflScios,  com 
que  ganhem  de  comer  por  sua  industria, 
que  he  o  meio,  que  Deos  deo  para  a  sus- 
tentação do  cada  hum.»  Severim  de  Fa- 
ria, Noticias  de  Portugal,  Disc.  1,  capi- 
tulo 2. 

SUSTENTÁCULO,  í.  w.  (Do  latim  sus- 
tentaculuni).  Cousa  que  sustém  outra. 

—  Figuradamente:  tíupporte,  apoio, 
amparo;  pessoa  que  ampara,  protege. 

SUSTENTADO,  part.  j^ass.  de  Susten- 
tar. Alimentado. 

—  Defendido  de  hostilidades  na  guer- 
ra. —  «Deste  lugar  forão  descendo  ao 
nmro  até  á  Igreja  do  Apostolo  6aut-Ia- 
go,  que  íicava  encostada  ao  mesmo  ba- 
luarte, mettendo-se  nos  altos  da  casa ; 
com  o  que  ticou  o  baluarte,  e  a  Igreja, 
a  metade  sustentado  dos  Mouros,  e  a 
outra  dos  nossos.»  Jacintho  Freire  d'An- 
dradc.  Vida  de  D.  Castro,  liv.  2.  —  «Se 
quando  se  sei-viiio  as  Commendas  em 
Africa  em  tempo  delRey  D.  Manoel,  e 
D.  Joaõ  111.  luivia  mais  de  300.  lanças 
sustentadas  pelos  Fronteiros  (porque  to- 
do o  homem  nobre  hia  cingir  a  primeira 
espada  daquellas  partes)  como  naõ  suc- 
cederia  agora  o  mesmo  havendo  certeza 
de  serem  providos  V»  Severim  de  Faria, 
Noticias  de  Portugal,  Disc.  2,  capitu- 
lo 10. 

—  Apoiado  em  base,  parede,  pilar. 

—  Emproga-se  também  liguradamente : 
lioina  sustentada  na  juí^tiça. 

SUSTENTADOR,  A,  s.  Pessoa  que  sus- 
tenta. 

—  Pessoa  que  defende,  protege,  e  am- 
para. Vid.  Sustentante. 

—  Pessoa  que  alimenta»,  que  nutre,  que 
I  mantém.  Vid.  Sustentar. 


SUST 

SDSTENT AMENTO,  «.  m.  Cousa  que 
8ustc'-m,  faz  existir,  i-  coiLservar-se  outra. 

SUSTENTAÇÃO.  \'i'!.  Supportamenlo, 
Manutenção,  Entretenimento,  e  Suppri- 
mento. 

SUSTENTANTE,  part.  act.  de  Susten- 
tar. C^ue  HiLitunta,  que  alimenta. 

—  Que  defende,  que  protege. 

—  Sub.stantivamente :  Pusitoa  que  sus- 
tenta  theses,  ou  conclusões  magnas. 

—  Sustentar. 

SUSTENTAR,  ou  SOSTENTAR,  v.  a. 
(Do  latim  iasttittare).  Su.-ter,  supportar. 

Vendo  Phebo  perdida  ja  a  esperança, 
E  o  fundamento  vão  que  o  ninlfiitana. 
Vendo  o  golpe  cruel  com  quo  a  fortuna. 
Deu  fim  cruel,  c  amargo  a  seus  amores 
Coui  lagrimas  o  rosto,  e  o  peito  banha 
Lamenta,  chora,  c  gcrac  o  caso  acerbo. 
Sobesse  ao  quarto  Cf:o,  mas  numa  [todra 
Estes  versos  deixou  primeiro  escriptoa. 

COBTE  BRAL,  NACFBAOIÚ  DE  SEPÚLVEDA,    Cant.    17. 

—  «Sustentou  o  cerco  de  Coimbra  con- 
tra el  Rei  Eujuni  que  trazia  trezentos  mil 
homens  de  guerra.  Ganhou  Leiria  duas 
vezes,  Torres  Novas,  e  outros  muitos  lu- 
gares.» Fr.  Bernardo  de  Brito,  Elogios 
dos  reis  de  Portugal,  continuados  por 
D.  José  Barbosa. 


Nem  tanto  nesta  pia  obra  se  assenta 
Que  nella  só  consuma  a  noite  c  o  dia. 
Mas  quando  o  Sol  nas  ondas  se  aposeuta 
E  a  noite  polas  terras  se  estendia, 
Arrimada  a  hum  bordão,  em  que  tuttenía 
O  seu  pesado  corpo,  se  sahia 
Ella  de  casa  então,  a  dar  etfeito 
Ao  que  lhe  pede  o  forte,  viril  peito. 

F.  d'asdbaob,  pbimeibo  cbbco  dk  DIU,  cant.  16, 
est.  34. 

—  (E  nesta  tamanha  disformidade  era 
muyto  bem  proporcionado  em  todos  os 
membros,  salvo  na  cabeça,  que  era  huin 
pouco  pequena  para  tamanho  corpo,  o 
qual  monstro  sustentava  em  ambas  as 
mãos  hum  pilouro  do  mesmo  ferro  coado 
de  trinta  e  seis  palmos  em  roJa.»  Fernão 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.  126. 


Çc  transparente  talco  fabricado 
É  o  largo  edifício,  que  siigtentau 
Cem  delgadas  columnas  de  missanga. 

A.   DISIZ  DA  CBUZ,  HVSSOPE,  Cant.   1. 


o  corpo  fermosissimo  se  cobre 

De  hum  sondai  claro  azul,  qu^catrellas  bordão. 

Na  dextra  mão  sustenta  huma  grinalda. 

Do  pedraria  Oriental  composta, 

E  acena  de  cingir  com  ella  a  frente. 

J.   A.    DK  MACEDO,  riAOEM  EXTÁTICA,  Cant.   3. 


C\TO  siistfiita  na  invencível  dextra 
O  piofieuo  alvião.  Da  antiga  Roma, 
Do  antigo  Mundo  os  árbitros  invictos, 
Curiós,  Fabricios,  Scipiòes,  e  Fabios, 
Da  frente  augustii  o  loiro  desataudo. 
Da  charrua  o  timão  com  elle  eufcitào. 
IDEM,  MEDrTAçÃo,  cant.  2. 


SUST 


SUST 


SUST 


645 


EUe  sustenta  das  ligeiras  Aves 
Oâ  VÔ03  rapidÍ33Ímo3,  com  elle 
As  animadas  maquinas  se  movem. 

IDEM,  A  NATUREZA,   Cant.    2. 


Inunda,  fertiliza  o  eampo  extenso, 

Sou  leito  lie  largo,  c  fiiudo,  c  sobre  a  espádua 

Do  grào  peso  orgulhosa  as  Xáos  sustenta, 

E  fatigado  da  carreira  immensa 

Do  nunca  cxliausto  mar  pousa  no  seio. 

Té  ciue  do  mar  sahindo  cm  giro  eterno 

Venha  rio  outra  vez,  girar  na  terra. 

IBIDEM. 

—  Sustentar  a  conservação  dos  bons ; 
seguil-o.s,  conserval-os. 

—  Conservar,  manter.  —  «Foy  seu  in- 
tento, que  como  aquella  era  a  primeira 
occasião,  em  que  se  avistava  com  o  ini- 
migo, importava-lhe  muyto  mostrarse  va- 
loroso, para  que  os  bárbaros  entendessem 
que  eram  estimados  em  pouco,  e  os  Por- 
tuguezes  sendo  acometedores,  pelejaram 
com  brio,  e  generoso  valor  para  susten- 
tarem a  opinião,  que  tinhaõ  em  todo  o 
Oriente.»  Conquista  do  Pegu,  cap.  4. 

—  Sustentar  a  venda ;  ilemorar  a  ex- 
tracção para  obter  grande.5  preços,  al- 
çal-os,  e  encarecel-os  nos  mercados. 

—  Sustentar  a  verdade  contra  os  ini- 
migos d'ella. 

—  Sustentar  o  bando,  o  partido,  as 
partes,  e  a  causa  de  alguém;  defendel-o, 
protegel-o. 

—  Termo  de  náutica.  Diz-se  também 
da  nau  que  supporta  a  fúria  das  ondas, 
e  o  fogo  nos  combates  navaes. 

— •  Defender. 

Ah !  quem  voz  fez  que  os  Ímpetos  da  guerra 
Nào  susteittassets  com  valor  ousado, 
Despresando  o  temor  que  a  vida  encerra  ? 
A  vida  por  a  Pátria  e  por  o  Estado 
Pondo  nossos  avós,  a  nós  deixarão, 
Em  terra  e  mar,  exemplo  sublimado. 

CAM.,  ELEGIA  10. 

Tinha  o  castello  em  guarda  na  cidade 
Onde  agora  as  irmaàs  sabias  estão. 
Hum  varão,  forte,  e  leal  de  qualidade: 
De  iUustre  sangue  e  antiga  geração, 
íso  serabrante  mostraua  grauidade 
No  peito  honrada  e  alta  opinião, 
Dom  Martinho  de  Freitas  se  chamaua, 
Que  a  parte  do  Eey  Sancho  sasteutaua. 

COBTE  BEAI,,  KAOFKAGIO  DE  SEPÚLVEDA,  Caut.    13. 

—  «E  que  fora  disto,  quantas  mais 
Fortalezas  sustentássemos,  tanto  mais 
fracos  ficaríamos.  Deste  parecer  foraõ 
muitos  Conselheiros  d'El-Rey  D.  Manoel, 
demaneira,  que  chegou  a  dizer  o  Gover- 
nador Afonso  de  Albuquerque,  que  mais 
merecia  a  ElRey,  por  lhe  defender  Goa 
dos  Portuguezes,  que  pela  tomar  duas 
vezes  aos  ilourds.»  Severim  de  Faria, 
Noticias  de  Portugal,  Disc.  1,  cap.  o. 
—  «E  no  d'ElRey  D.  Joaõ  III,  susten- 
tou a  índia,  lazendo-lhe  guerra  no  mes- 
mo tempo  três  Emperadores,  que  foraõ 
Carlos  V.    Emperador  de  Alemanha  nas 


Malucas,  o  Graõ  Turco  Emperador  de 
Constantinopla  em  Cambaia,  e  o  Samo- 
rim,  qua  também  tem  a  suprema  dignida- 
de, ou  Império  dos  Naii-es  no  Malavar,  e 
de  todos  elles  alcançou  gloriosas  vitorias.» 
Ibidem,   Disc,- 2,  %d. 

Da  Gothica  invasão,  naufrágio  horrendo. 
Os  thesouros  salvou,  que  o  Jlundo  eapantâo. 
Que  mais  que  as  armas  sastentárào  Roma, 
E  no  seio  da  Gloria  iuda  a  sus  teutão. 

J.    A.    DE  MACEDO,    VIAGEM  EXTÁTICA,  CaUt.   4. 

—  Suster,  resistir. 

Sustentando,  contendo  o  marte  adverso... 
—  E  a  mim  de  tanto  prigo  e  tanta  glória 
Xão  me  hade  caber  nada ! 

GABRETT,   CATAO,    act.    5,   SC    6. 

—  Defender  com  razões. 

Que  não  tem  nisso  razão. 
Mal  o  podeis  sustentar,  pois 
cego  o  vedes  pintar, 
menino,  e  arco  na  mão. 

ANTOíiio  PRESTES,  Auros,  pag.  423. 

—  «Como  se  dissera,  não  podia  ser 
mayor  erro,  que  estando  Adão  condenado 
à  morto,  então  como  quem  de  propósito 
trataua  da  vida,  chamar  a  sua  molher 
Eua :  este  mesmo  erro  sustentamos  ainda 
oje,  que  sendo  tão  certa  e  ordinária  a 
morte  de  cada  hum,  assi  tratamos  da  vi- 
da, como  se  não  ouuera  de  ter  fim,  e  a 
este  nosso  erro  acode  a  Igreja  Sâta  lera- 
brandonos  oje  em  estas  palauras  o  que 
somos,  e  auemos  de  ser.»  Fr,  Thomaz 
da  Veiga,  Sermões,  part.  1,  pag.  3,  ver- 
so, col.  2.  —  «Se  eu  quizesse,  ou  me  ati'e- 
vesse  a  argumentar  comvosco  nesta,  ou 
em  alguma  outra  matéria,  seria  agora  a 
occasião  de  sustentar  o  contraino  do  que 
escrevi,  ciiseudo-vos  abertamente  que 
creyo  nas  propriedades  da  dita  Vara.» 
Cavalleiro  d'01iveira,  Cartas,  liv.  3,  n.° 
38. 

—  Segurar,  suster,  supportar.  —  oFer- 
não  Peres  foi  o  primeiro,  que  começou  a 
subir  por  huma  escada,  levando  o  seu 
guião  diante,  que  arvorou,  e  sustentou 
no  muro.  Quasi  ao  mesmo  tempo  subiu 
Pêro  Botelho  com  o  mesmo  risco,  e  for- 
tuna que  o  primeiro.  Estes  franquearão 
aos  mais  a  subida.»  Jacintho  Freire  de 
Andrade,  Vida  de  D.  João  de  Castro, 
liv.  4. 

—  Suster,  manter. 

Sustenta  meu  viver  huma  esperança 
Derivada  de  hum  bem  tão  desejado. 
Que  quando  nelia  estou  mais  confiado, 
Mór  dúvida  me  põe  qualquer  mudança. 
CAM.,  SONETOS,  n.°  270. 

—  «Porem  se  de  tractardes-me  assim, 
sois  satisfeita,  não  tenho  de  que  me  aggra- 


var,  que  em  fim  o  que  quereis  isso  que- 
ro, e  do  mal  que  me  fazeis  vivo  conten- 
te, cuidando  que  o  sereis  vós,  que  na  con- 
fiança disto  me  sustento,  e  pode  ser  que 
nào  acerto.»  Francisco  de  Moraes,  Pal- 
meirim d'Inglaterra,  cap.  120. 

—  Sustentar  o  seu  caracter,  a  sua  di- 
gnidade; defender,  não  se  desmentir, 
portar-se  em  harmonia  com  elles. 

—  Sustentar  o  campo,  a  batalha;  não 
recuar,  resistir  ao  inimigo,  defender-se 
d'elle, 

—  Segurar  o  quo  vai  a  cair,  segurar  a 
cousa  que  está  encostada. 

—  Alimentar,  manter,  dar  o  necessá- 
rio para  viver,  prover  de  viveres.  — «Ha 
também  certos  bairros  em  que  se  agasa- 
Ihaõ  homens  pobres  e  de  bom  viver,  que 
a  cidade  também  sustenta  á  custa  dos 
procuradores  que  sustentãu  demandas  in- 
justas em  que  as  partes  nào  tem  justiça, 
e  de  julgadores  que  por  aceitação  de  pes- 
soas, ou  por  peitas  não  correm  cos  feytos 
conforme  a  justiça,  de  manej-ra  que  em 
tudo  se  governa  esta  gente  com  nmita 
ordem.»  Fei-não  Mendes  Pinto,  Peregri- 
nações, cap.  112. —  «A  que  o  Mitaquer 
respondeo  em  uos.ío  favor  o  que  algumas 
vezes  lhe  tínhamos  dito,  que  éramos  ca- 
sados na  nossa  terra,  e  com  muytos  filhi- 
nhos, e  tão  pobres  que  nào  tínhamos  mais 
que  o  que  lhe  grangeavamos  por  nossa 
industria  e  trabalho  com  que  pobremente 
os  sustentávamos.»  Ibidem,  cap.  125. — 
oSustentando-se  delia,  naõ  só  o  que  a 
cria,  mas  os  que  a  cardaõ,  fiaõ,  urdem, 
tecem,  tingem,  cortaõ,  cozem,  e  a  for- 
mão em  mil  matérias,  e  a  levaõ  de  hum 
lugar  a  outro.»  Severim  de  Faria,  Noti- 
cias de  Portugal,  Disc.  1,  cap.  4. —  «E 
quando  os  acontiàdos,  ou  por  velhice,  ou 
por  impedimento  algum,  naõ  podiao  hir 
à  guerra,  eraõ  obrigados  a  dar  armas  aos 
que  em  seu  lugar  hiaõ,  e  para  que  os 
acontiàdos  em  cavallos  os  sustentassem 
com  menos  despeza,  mandou  ElRey  D. 
F'ernando  applicar  o  dizimo  do  seu  quinto, 
e  hum  dia  de  soldo,  dos  que  com  licença 
se  ausentavaõ  do  campo.»  Ibidem,  Disc.  2, 
cap.  11.  —  «Podem  casar  quantas  vezes, 
e  com  quantas  molheres  quiserem,  e  tanto 
que  tem  qualquer  desgosto,  ou  enfada- 
mento cõ  ella,  logo  que  lhe  dão  Talaca, 
que  he  o  mesmo  que  licença  pêra  hir  em- 
bora, e  logo  tomào  outra;  Sò  o  primeiro 
filho  sustentão,  e  tem  por  seu,  os  mais 
dão  a  criar,  a  quem  lhes  parece  que  os 
poderá  sustentar.»  Fr.  Gaspar  de  S.  Ber- 
nardino, Itinerário  da  índia,  cap.  9. 

Em  nossa  habitação,  nosso  dominio, 
Que  formosura  antiga,  o  sempre  nova! 
Que  multidão  sem  numero  de  seres, 
Qu'cm  três  Reinos  divide  a  Natureza, 
Ko  seio  maternal  sustenta,  e  guarda. 

J.   A.   DE  MACEDO,  A  N.ITUEEZA,  CaUt.    2. 

—  Sustentar  alguém  em  alguma  espe- 
rança; couserval-o,  entretel-o  u'ella. 


646 


SUST 


SUST 


SUST 


—  Sustentar  theses,  conclusTtes  magnas  ; 
dofcndol-arf  coiu  razões  o  aifíunientos. 

—  Tcniio  de  jurispruílciiciu.  Sustentar 
os  embargos;  il;ir  razòcu  porque  ollus  so 
hão  do  roccibor. 

—  Sustentar  o  cerco;  dofcudor-so  con- 
tra os  ccrcadoros. 

—  Sustentar  uma  amiga;  niantel-a. 

—  Sustentar-se,  «>.  rejl.  Alimentar-se, 
viver;  uianter-so.  —  «lia  taiiibcni  oiitias 
casas  como  uiosteyros,  em  ([uo  se  sus- 
tentão  uiuyta  soma  de  moças  órfãs,  as 
quais  a  ciilado  provce,  e  casa  á  custa 
das  fazendas  que  perdem  aquollas  que 
seus  maridos  accusaraõ  por  adultérios,  e 
dão  a  isto  por  razão,  que  Já  que  aqueila 
se  quiz  perder  por  sua  dealionestidade,  que 
se  empare  co  seu  liuma  oriatn,  ])ois  he 
virtuosa,  porque  assi  se  castiguem  humas, 
e  se  euiparem  outras.»  Fernão  Mendes 
Pinto,  Peregrinações,  eap.  112. 

—  «Mantor-se,  couservar-se. —  «V.  M. 
pôde  diser  o  que  quiser,  e  entender  o  que 
ílie  parecer,  porem  se  o  Amor  não  tem 
mais  alimentos  que  o  dos  favores  como 
V.  M.  julga  para  sustentar-se,  também 
creyo  que  não  tem  outro  alicerce  quo  o 
da  diíTiculdade  jiara  sostcr-so.»  CavuUei- 
ro  d'Ulivelra,   Cartas,  liv.  2,  u."  22. 

Tal  o  Supremo  Ser,  aó  do  ai  moaino 

Se  nutre,  se  .itistenta  independente, 

No  Throiio  eterno  triumphanto  sempre, 

Do  tempo  afronta  a  sanha,  c  quebra  a  fouoc. 

J.    A.    IlE    MACF.DO,    A    NATUllKZA,    OaUt.    1. 

É  mais  bella,  mais  pui-a  e  digna  do  homom 
A  do  carvalho  civico.  Vai,  Juba  : 
Salva  erfseâ  cidadãos.  Eu  também  tenho 
Amor  á  minha  glória,  e  aqui  estou. —Quanto 
Pude  iuda  Bruto  snstentar-se  ? 

QABBEXT,  CATÃO,  ftOt.   5,    8C.   G. 

—  Ter-se,  resistir. — Sustentar-se  con- 
tra o  Ímpeto   (las  ondas. 

—  Syn.  :  Sustentar,  nutrir.  Vid.  este 
ultimo  termo. 

—  Syn.  :  Sustentar,  defender.  Vid.  es- 
te ultimo  vtKabulo. 

SUSTENTÁVEL,  adj.  2  gen.  Que  6  po.s- 
sivel  sustentar-se,  defender-se,  ou  seguir- 
se,  fallando  de  uma  opinião,  doutrina, 
etc. 

SUSTENTO,  s.  »i.  Alimento,  mantimen- 
to.—  «Oh  amante  dulcíssimo  de  minha 
alma,  que  para  sinal  de  que  naõ  taltareis 
á  vossa  palavra,  naõ  só  me  dais  a  niaõ,  se- 
não a  vós  todo  !  Oh  sustento  divino,  com 
quo  fortalecida  minha  fé,  e  espei-ança, 
podem  andar  até  o  monte  de  Deos,  ([ue 
ke  vossa  gloria ! »  Padre  Manoel  Bernar- 
des, Exercícios  espirituaes,  pag.  333. 


Hum  sopro  forma  a  vida,  hum  80j)ro  a  finda 
A  boca,  igual  prodígio  !  orgào  primeiro, 
Onde  recebe  a  uiáquina  o  sustento. 
Onde  se  forma  a  voz,(pie  exalta  o  homom, 
Cauul  pasmoao  dos  conceitos  d'alma  ! 

J.    A.   DU  MACKDO,  MEDITAÇÃO,  Caut.   1. 


Do  acaso  produc<;ão,  do  acaso  cffoito : 
Kis  nova  maravilha,  eis  novo  arcano 
Neata  estancia  mortal  de.^cubro,  c  vejo : 
He  flua  formo.íura,  hc  seu  «uftfjito 
Trincipio  avivador  nos  cutcd  todoa. 
iuii>i:ii,  OAUt.  '2. 

Ella  o  muttnto  Ihet  procura,  o  prompta 
A'  cilada  Oè  esquiva,  ao  damuo,  á  morto: 
Da  prole  o  doce  amor  sustenta,  c  nutre; 
Ella  lhes  firma  as  leis,  c  o  pacto  escreve 
De  hum  divorcio  eternal  entro  contrários. 
Na  IloUanda  aunuviada  o  Sábio  occulto 
Oa  considero  autúiiiatoa  inertes  : 
Errou  noa  turbilhões,  errou  nos  brutos. 
luiDKu,  caut.  3. 


—  Figuradamente  :  Amparo,  arrimo, 
encosto,  abrigo. 

—  Manutenção,  conservação. 

—  Cousa  que  sustém  outra. 

SUSTENTOR,  s.  m.  Vid.  Sustentador. 

SUSTER,  V.  a.  Vid.  Soster.  —  t Pal- 
meirim se  contentara  de  casar  comvosco, 
e  eu  sei  delle  que  esta  esperança  o  sus- 
tém, e  que  se  lha  alguém  negasse,  mor- 
reria: favoreeei-o  e  olhai-o;  sinta  em  vós 
algum  agradecimento  do  que  vos  mere- 
ce, que  isso  o  trará  tão  contento  que  o 
fará  tornar  mais  prestes,  ■  que  vós  que- 
reis.» Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  de 
Inglaterra,  cap.  9õ.  —  «Peço  jior  mercê 
que  a  troco  deste  serviço  me  queiraes 
dizer  qual  é  a  razão,  que  vos  move  a  sus- 
ter este  custume.  Senhor,  respondeu  Ar- 
nalta,  porque  qualquer  detença  pôde  fa- 
zer damno  a  essas  feridas,  vos  peço  vos 
recolhais  ao  castello,  que  depois  de  ser- 
des curados  delias,  e  também  os  meus 
das  suas,  vos  responderei.»  Ibidem,  cap. 
102. — «Ao  outro  dia,  depois  do  embai- 
xador partido,  acabando  o  imperador  de 
comer  na  sala,  acompanhado  d'alguns 
grandes,  entrou  pola  porta  um  homem 
velho,  tão  arrugacio  e  fraco  da  muita  ida- 
de, que  parecia  que  quasi  se  não  podia 
suster  nos  pés.  Como  tivesse  a  pessoa 
grande  e  authorisada,  juntamente  co'a 
alvura  da  cabeça  e  barba,  fazia  nelle 
credito  pêra  se  não  duvidar  cousa  que 
dissesse.»  Ibidem,  cap.  113.  —  «Levarei 
saudade  do  meus  malles,  que  me  traziam 
contente,  e  com  a  lembrança  de  os  per- 
der sentirei  muito  mais  mal ;  porem  se 
na  outra  vida  ha  memoria  do  que  nesta 
iica,  u'essa  me  sustentarei  té  que  a  veja ; 
que  nenhum  descanço  perfeito  me  pode 
ticar  em  quanto  miulia  alma  na  contem- 
plação de  sua  essência  se  não  estiver 
sustendo.»  Ibidem,  cap.  115.  —  «Não 
sem  mistério  se  regava  de  contino,  que 
esta  agua  era  de  tanta  excelência  ou  a 
propriedade  da  terra  o  causava,  que  na 
virtude  delia  se  sustinha  cada  cousa  sem 
corromper.  Tanto  tiveram  que  ver  os 
cavalleiros  em  algumas  destas  cousas, 
que  se  fez  hora  de  comer,  no  qual  se  de- 
tiveram pouco,  que  quizeram  tornal-as  a 
ver  mais  de   vagar.»   Ibidem,  cap.    120. 


—  «E  eu  acerca  das  mercês  fui  tão  re- 
gistado, que  em  quatro  annos  poderia  dar 
por  mandado  de  V.  A.  trinta  e  dous  mil 
cruzados,  (como  se  verá  pelo  livro  do 
Secretario,)  e  do  meu  caixão  fiz  mercê 
de  mais  de  quatro  mil  e  quinhentos  cru- 
zados, por  suster  homens  que  muito  maia 
mereciam.»  Diogo  de  Couto,  Década  4, 
liv.  G,  cap.  8. 


Logo  naquella  noite,  aquclla  parte 
Da  Tftlla  que  á  munhàa  he  muiii  visinha, 
('oube  ílqueLlcs  que  seguem  o  estandarte 
Do  Souaa  que  por  nome  Ixipo  tiulia ; 
Ertte  forte  varào,  no  baluarte 
Que  os  assaltos  cruei.-;  então  ruglinha 
Foi  vigiar,  no  tempo  que  atraz  digo, 
E  grãa  parte  dos  seus  leva  eomsigo. 

FBANXISCO    u'ANriBADE,     PtíHUlliO     CEBCO    DB    DIU, 

caut.  17,  est.  33. 


—  «O  marido  dessa  excellonte  criada 
corria  diante  da  nossa  carruagem.  De- 
préval  sustinha  só  a  oonversaçiio,  por- 
quanto o  que  sua  mulher  e  mais  eu  po- 
diamos  fazer,  era  olharmo-nos,  encobrir 
as  lágrimas,  e  fazer  votos  porque  nos 
consentissem  os  succéssos  tomarmos  a 
viver  unidos.  Por  fim  me  embarquei  com 
o  marido  de  Agostinlia.»  Francisco  Ma- 
noel de  Na.<cimento,  Successos  de  mada- 
me de  Seneterre. 


Descubro  Prometheo.  c  o  yelho  Atlante, 
Que  a  Poesia  co'oâ  pincéis  Divinos 
Xaa  expressivas  fabulas  nos  pinta. 
Hum  com  fogo  doa  Ceoa  dá  vida  ao  barro. 
Outro  o  pczo  sustém  do  excelso  Olimpo. 

J.   A.  DE  UACEDO,  TIAOEM  IIXTATICA,  Caut.   2. 

E  tal  Libertador  Deos  lhe  prepara. 
Que  he  quasi  hum  Deos  noa  Divinaes  portentos ; 
Sustem  nas  mãos  prodigiosa  vara. 
Com  que  domiua  os  mesmos  clementoa  ; 
Com  ella  o  raio  estrepitoso  pira, 
Solta  com  cila  oa  sibilantes  ventos ; 
Com  ella  o  Sol  aponta,  o  Sol  reverte, 
Sc  o  Nilo  toca  em  aauguc  se  converte. 
iDEu,  o  OBieHTB,  cant.  9,  est.  86. 

Vejo  03  milagres  do  aaaombroso  Atlante, 
Que  parece  que  oa  Ceoa  sustem  na  capádoa, 
Descubro  as  fundas,  hórridas  cavennis. 
Que  o  coração  da  Lybia  era  torno  abrasão. 
iDKM,  MEDITAÇÃO,  cant.  2. 

EUo  d'hura  CAoa  tal  arranca  os  Mundos, 
Novo  Atlauto  dos  Ceoa  sustem  seu  pedO, 
E  oa  faz  hum  doutro  ser  o  apoio,  a  regra. 

IDEM,  A  NATCBEZA,  Cailt.    1. 

—  «Quando,  portanto,  Mossem  Natha- 
nael  viu  entrar  os  dous  farçolas  mestei- 
raes,  e  o  alnminheiro,  custou-lho  a  sus- 
ter uma  lagrvma  de  terna  conpuncçSo, 
e  n'um  arrebatamento  de  euthusiasmo 
espichou  uma  pipa  ainda  atestada,  en- 
cheu um  cangirào  de  canada  e  meia  e 
pô-lo,  rodeiado  de  três  malgas  novas  de 
barro  vermelho,  diante  dos  freguezes  re- 
cemviudos,  assentados  já  a   este   tempo 


susu 


SUXA 


SY 


647 


n'um  poial  de  pedra  que  corria  ao  redor 
do  aposento.»  A.  Herculano,  Monge  de 
Cister,  cap.  18. 

SUSTINENGIA,  s.  /.  Sustenção,  acção 
de  sustentar. 

SUSTINENTE,  s.  m.  Empregam  alguns 
escriptores  esta  palavra  na  siguificaçào 
de  perna,  em  virtude  de  serem  a3  per- 
nas as  que  supportam  e  servem  de  apoio 
e  supporte  ao  corpo  hiamano. 

SUSTITUIR,  V.  a.  Vid.  Substituir,  or- 
thograpliia  mais  correcta. 

SUSTITUTO,  s.  m.  Vid.  Substituto, 
orthographia  preferível. 

SUSTO,  s.  7)1.  Medo  de  perigo  impre- 
visto e  de  sobresalto. 


O  sutto  deixa  pois,  que  brevemente 
Tu  mo  verás  tornai-  sem  frio,  ou  febre, 
A  gozar  de  teus  mimos,  teus  favores. 

A.    D.    DA    CHUZ,  HYSSOPE,    CaUt.    6. 


Oh  funebre  ânsia ! 
Que  a  mim,  que  a  todo  instante,  dos  Ccos  desces, 
E  que  a  alma,  inda  hoje,  embebes-me  de  siistos! 
Disso  .Eud<5ro,  e  ficou,  c'os  cílhos  fitos. 

F.    M.   DO  NASCIMEXTO,  03  MABTYBES,  1ÍV.    4. 

—  i  Não  experimentei  aquelle  susto 
que  erriça  os  cabellos,  e  gela  o  sangue 
nas  veia.?,  quando  os  deuses  se  commu- 
nicam  aos  mortaes :  levantei-me  senhor 
de  mim;  e  ajoelhando,  com  as  mãos  er- 
guidas ao  ceo,  adorei  Minerva,  a  cujo 
favor  intendi  dever  este  oráculo.»  Tele- 
maco,  traducção  de  Manoel  de  Sousa,  e 
Francisco  Manoel  do  Nascimento,  liv.  2. 

Do  centro  escuro  da  pesada  Terra 
Eu  deixo  a  escuridão,  fique  esoondida 
Eternamente  alli  triste  Avareza 
Do  thesouro,  de  susto  acompanhada. 

J.  A.  DB  MACEDO,  A  KATUREZX,  Cant.  2. 

—  «O  conde  de  Tarouca  João  Gomes 
da  Silva  foi  da  casa  de  Alegretes,  a  qual 
presume  ser  puritana;  ainda  que  o  ge- 
nealógico Josó  Freire  dizem  se  arriscara 
intentando  provar  que  não  existia  famí- 
lia puritar.a,  e  de  puro  susto  emniude- 
ceu.»  Bispo  do  Grão  Pará,  Memorias, 
publicadas  por  Camillo  Castello  Branco, 
pag.  66. 

SUSUESTE,  s.  VI.  Vento  de  sul  para 
sueste. 

SUSURRADO,  part.  iJass.  de  Susurrar. 
—  Noticia  susurrada. 

SUSURRADOR,  A,  adj.  Que  susurra, 
que  faz  susurro,  que  zune. 

SUSURRANTE,  part.  act.  de  Susurrar. 
Que  produz  susurro,  e  zunido. 

SUSURRAR,  V.  n.  (Do  latim  snsurra 
re).  Causar  susurro,  fazer  zunido,  zunir 


A  branda  viraçJo,  que  entre  arvoredos 
Co'  a  love  pluma  snsurrando  brinca, 
O  fulgurante  Sol  que  nalta  cima 
Dos  Ceos,  ardendo,  anima  este  Universo, 


Me  clamão,  que  no  fogo  ethereo,  o  puro 
Brilha  do  Sol,  que  sobre  os  roucos  ventos. 

J.  A.  DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Caut.  4. 

—  V.  a.  Mexericar,  levantar  mexeri- 
cos para  produzir  inimizades. 

SUSURRO,  s.  m.  (Do  latim  sitsurrus). 
Zumbido,  fallando  do  som  que  fazem  as 
abelhas. 

—  O  susurro  dos  ventos,  das  folhas 
das  arvores.  Vid.  Ciciar,  termo  mais 
próprio. 

—  Ruido  leve  de  uma  pessoa  que  falia 
em  voz  baixa,  em  segredo. 

SUTIL,  adj.  2  geri.  Vid.  Subtil,  ortho- 
graphia mais  correcta. 

De  cristal  transparente  loua  a  espada, 
D'esmaltados  lauores  guarnecida, 
Luuas  de  suauc  cheiro,  e  a  camisa 
Das  obras  mais  sutis  de  Lusitânia. 
Soberbo  de  alcançar  por  tal  tormento 
Tào  alto  gualardào,  e  que  a  ventura 
Não  tem  mais  que  lhe  dar,  pois  lhe  da  todo 
Quanto  preço,  e  valor  no  mundo  auia. 

CORTE  BEAL,  NAOFBAGIO  DE  SEPCLVEDA,    Cant.   4. 

SUTREFUGIO,  s.  m.  Vid.  Subterfú- 
gio. 

SUTURA,  s.  /.  (Do  latim  sutura,  de 
suere).  Termo  de  cirurgia.  (Jperaçào  que 
consiste  em  cozer  as  extremidades  de 
uma  chaga  para  obter  a  sua  ligação  e 
união.  —  Sutura  de  pontos  separados. 

—  Termo  de  botânica.  Nome  dado  ás 
linhas  geralmente  pouco  salientes  que  in- 
dicam 03  pontos  onde  as  rupturas  devem 
ter  logar. 

—  Termo  de  anatomia.  Juntura  de 
dous  ossos  do  craneo,  ou  da  face,  reuni- 
dos por  dentilhões. 

—  Sutura  fronto-parietal ;  sutura  do 
frontal  com  os  dous  parietaes. 

—  Sutura  frontal;  aquella  que  une 
conjunctamente  as  duas  peças  ósseas  de 
que  o  frontal  .se  compõe  na  origem. 

—  (ienero  de  conchas  bivalves. 

f  SUTURADO,  part.  pass.  de  Sutu- 
rar. Que  oflerece  uma  sutura,  que  tem 
uma  sutura  saliente. 

SUTURAL,  adj.  2  gen.  Que  diz  res- 
peito ás  suturas. 

—  Termo  de  botânica.  Dehiscencia  su- 
turai de  um  pericarpo;  aquella  que  se 
faz  por  uma  sutura  marginal. 

f  SUTURAR,  V.  a.  Termo  de  cirurgia. 
Praticar  uma  sutura.  —  Suturar  uma  fe- 
rida. 

SyU.  Significa  o  mesmo  que  Siiu,  Sum. 

SUU,  adv.  Termo  antiquado.  De  siiu; 
juntamente.  Diz-se  do  mesmo  para  a  lo- 
cução em  siiu. 

—  De  SUU  equivale  a  en  sembra,  que 
quer  dizer  juntamente  com  outro,  ou  ou- 
tros. Vid.  Sum. 

SUXAR,  V.  a.  Largar,  soltar  afrou- 
xando. 

—  Tormo  antiquado.  Dispensar,  abran- 
dar, remittir. 


SUXO,    A,  adj.   Solto,  alargado,  desen- 
tesado. 

—  Termo  antiquado.    Dispensado,    re- 
mittido,  abrandado. 

—  Cinta  suxa ;  cinta  que  não  é  aper- 
tada ao  corpo. 

—  Curda  suxa  ;  corda  bamba. 
SUZ.  Vid.   Sus. 

1.)   SY.  Variação   do  pronome   da  ter- 
ceira pessoa  que  se  emprega  com  as  pre- 
posições. Vid.    Si.  —  «Se  as   aqui  freta- 
rem   pêra    Lixboa    os   vizinhos   da   Villa 
pêra  aver   de    peso,    que    sejam  fretadas 
per  quatro    homens    boõs   da    Cidade,  os 
quaees  homens  boõs  sejam  daquelles,  que 
pêra  Frandes  carregarem  em  as  Naaos  e 
Navios,  e  enlegerem  antre  sy.»    Ord.  Af- 
fons.,  liv.  4,  tit.  5,  §  3.  —  «E  teem  por 
bem,  que  aquelles   homens  boõs,  que  en- 
legerem antre  sy,  jurem  aos  Santos  Avan- 
gelhos,    que   bem,    e  direitamente  fretem 
as  Naaos  per  aquella  guisa,  que  elles  en- 
tenderem,   e  virem    que  he   bem,  e  pro- 
veito da  Cidade,  e  bem  dos  Mercadores, 
e  razom    também    convinhavel    pêra    os 
Mercadores,  como  pêra  os  Navios  e  Naaos, 
e  cada   huma   Naao   ou  Navio,    como  se 
avierem    com    os    Mercadores.»   Ibidem, 
§  4.  —  «E  os    ditos   Tetores,   e  Curado- 
res, e  Executores,    etc.    nom   ajam,  nem 
os  possam  aver  ja  mais  per  sy,  nem  per 
outrem    os    ditos  beens;  e  avendo-os  per 
alguma  guisa  qualquer  que  seja,  percam 
o  preço,  que  por  elles  derem,  e  seja  pêra 
nos.»  Ibidem,   tit.    41,    §  1. —  «António 
de    Faria    mandou    CÍiristovão    Borralho 
em  companhia  dos  dous  a  visitar  o  Quiay 
Panjão,    e   lhe    escreveo    huma   carta  de 
muytos  comprimentos,  e  lhe  fez  grandes 
oftVu-ecimentos  de  sua  amizade,  de  que  o 
cossayro   Panjão  se  mostrou  tão  cõtentc 
e  ufar.o,  que  não  cabia  em  sy  de  vaida- 
de.»   Fernão   Mendes   Pinto,   Peregrina- 
ções, cap.  Õ6.  —  «Então  nos  fez  aly  tra- 
zer  de    comer   perãte  sy,   e   nos  mãdou 
que   comêssemos,   o    que   nós   fizemos  de 
muyto  boa  vutade,  e  elle,  por  ser  doente 
e  enfastiado  mostrou   que  folgava  de  nos 
ver  comer.»  Ibidem,  cap.  8.3.  — •  «E  man- 
dandonos    chegar  para  junto  de  sy,  nos 
preguntou  muytas   cousas,  a  que  respon- 
demos como   era  razão,   o  que  ella,  e  to- 
das as  mais  que  estavão  presentes  folga- 
rão muyto  de  ouvir.»  Ibidem,    cap.  128. 
—  «Nos  quais  levou  setenta  mil  homens, 
com  determinação  de  yr  em  pessoa  espiar 
o  reyno  do  Avaa,  e  dar  de  sy  huma  mos- 
tra á  cidade,  para  ver  cos  olhos  as  forças 
delia,  e  que  poder  averia  myster  para  a 
tomar,  e  a  cabo  de  vinte  e  oito  dias  des- 
te caminho.»  Ibidem,   cap.  Iõ7.  —  «Por- 
que lhes    aíBrmava  quo  só  no  castigo  da 
carne  estava  o  merecimento  do  ceo  muy- 
to mais  que  em  outra   cousa  nenhuma,  o 
que  quanto  mais   sem   piedade  se  matas- 
sem por  sy,    tanto    mais    largamente  lhe 
avia  Deos  de  dar  todos  os  bens  que  sem- 
pre lhe  pedissem.»  Ibidem,  cap.  161. 


Ô48 


SYCO 


SYLL 


SYLL 


2.)  SY,  por  Sim.  —  «  O  Cl  aspar  de 
Meirelez  lhe  preguntou  ciitao,  hc  des- 
pois  que  Deos  criara  todas  aquellas  cou- 
saa  do  (jue  tinha  tratado,  obrara  mais 
na  terra  algumas  obras  de  justiça  ou  de 
misericórdia,  o  ollo  disso  que  sy,  porque 
claro  estava  que  nntica  no  homem  dei- 
xara de  avor  culpas  para  eo  castigarem, 
nem  em  Deos  faltara  vontade  para  llius 
perdoar.»  Ibidem,    cap.   ]63. 

—  Outro  sy ;  por  outro  sim.  —  «Por 
as  grandes  dcferonças,  que  oa  dos  nossos 
Regno^,  asai  Clérigos,  como  Leigos  fezo- 
roín,  e  fazem  antro  as  moedas  dos  nossos 
Antecessores,  e  outro  sy  antre  aa  nossas, 
forom,  e  som  causa  de  se  moverem,  co- 
mo se  cm  cada  iuim  dia  movem,  antre 
elles  muitas  demandiía,  o  contendas.» 
Ord.  Affons.,  liv,  4,  tit.  1,  §  l.  —  «Ou- 
tro sy  possam  comprar  per  sy,  ou  per 
seus  homens,  e  mancebos,  que  com  elles 
viverem,  avor  de  peso  pêra  carregar,  e 
levar  per  outras  partes  fora  da  terra :  e 
estas  vendas,  o  compras  possam  fazer  em 
Tavira,  o  em  Faarom,  e  em  Silvos.»  Ibi- 
dem, tit.  4,  §  15. —  «Outro  sy  dizemos, 
que  se  pode  fazer  a  venda,  aiuda  que 
nom  estevesse  a  cousa  comprada  diante 
do  comprador,  e  vendedor,  consentindo 
ambos  na  vemla,  como  dito  he.»  Ibidem, 
tit.  o5,  §  1.  —  «Fero  se  o  vendessem  a 
seu  filho,  e  este  seu  tilho  o  vender  fora 
da  avoenga,  seu  Irmaaõ,  ou  sa  Irmaam, 
se  os  ouver,  podem-no  demandar,  e  aver 
de  tanto  por  tanto.  Outro  sy  os  netos, 
ou  bisuetos  dos  suso  ditos  o  podem  de- 
mandar, e  aver  de  tanto  por  tanto.»  Ibi- 
dem, tit.  38,  §  3.  —  «Outro  sy  nom  po- 
do nenhum  demandar  herdamento,  que 
foi  dado  a  foro,  de  tanto  por  tanto,  e  po- 
derá aver  tercerdia  de  prazo,  e  mostrar 
sobro  a  demanda  de  tanto  por  tanto.» 
Ibidem,  §  7. 

SYBARITA,  s.  e  aJj.  2  gen.  Habitan- 
te de  Sybaris.  —  D'este  numero  era  tímia- 
dijoides,  o  mais  rico  e  o  7nais  voluptuoso 
dos  sybaritas. 

—  Figuradamente :  Pessoa  que  leva 
uma  vida  niolle,  e  voluptuosa,  e  cheia  de 
prazeres. 

f  SYBARITICO,  A,  adj.  Que  pertence 
aos  svbaritas,  qm^  lhes  diz  respeito. 

I  SYBARITISMO,  s.  m.  Requinte  vo- 
luptuoso. 

SYBILLA,  s.  f.  Vid.    Sibilla. 

f  SYCEPHALÍANO,  A,  <i'lj.  Termo  de  te- 
ratologia.  Uroiisfrus  sycephalianos;  mons- 
tros onde  ha  fusão  de  duas  cabeças. 

SYCOMORO,  s.  »).  Arvore  grande,  nnii 
ramosa,  dura,  e  forte,  que  se  assemelha 
il  figueira  pelo  seu  fructo,  e  A  amoreira 
pelas  suas  folhas;  figueira  douda. 

-}•  SYCONE,  y.  w.  Termo  de  botânica. 
O  onero  de  fructo  composto,  contendo  um 
grande  numero  de  drnpasinhas,  prove- 
nientes de  tlòvos  femininas. 

SYCOPHAGO,  A,  adj.  (Do  grego  ai/kon, 
e  phagô).  Que  vivo  de  figos. 


SYCOPHANTA,  «.  m.  (Do  grego  ti/co- 
phantèx).  (Jalumniador,  impostor,  falso 
accusador. 

—  Termo  pouco  cm  uso.  Malsim,  dela- 
tor do  culpas  leves  em  si,  a  que  a  lei  iid- 
qua  pòe  grande  pena. 

—  Figurailamentc :  O  iiypocrita  estra- 
nhador  de  faltas  leves. 

—  tS.  /.  Uma  das  maiores  espécies  do 
carochas. 

SYCOSE,  «.  /.  (Do  grego  sykôsis).  Ter- 
mo de  medicina.  Doença  dos  folliculos 
pilosos  caracterisada  pela  erupç3o  sucees- 
siva  de  pustulasinhas  acuminadas,  simi- 
Ihantes  ás  da  cuperose,  espalhadas  ou  dis- 
postas em  grupo  pela  barba,  lábio  supe- 
rior, regiões  sub-maxillares,  e  as  partes 
lateraes  da  face. 

-j-  SYENITA,  s.  /.  Espécie  de  rocha 
granítica. 

f  SYENITICO,  A,  adj.  Que  contém  a 
syenita.  , 

'  SYHA,  ou  SSYHA.  Termo  antiquado. 
Terceira  pessoa  do  singular  do  pretérito 
imperfeito  do  modo  indicativo  do  verbo 
seer;  toma-so  por  eslava.  Vid.  Sia. 

SYLLA.   Vid.    Scilla. 

SYLLABA,  s.  /.  (Do  grego  syllabê). 
Som  produzido  por  uma  só  emissão  de 
voz,  e  que  se  compõe,  jil  de  uma  vogal 
só,  já  de  vogaes  e  consoantes. 

Item,  que  As  do  meu  baivro  Xymplias  bcllas 
Farás  versos;  poriin  com  tacs  caiitellas, 
Que  de  todo  haõ  do  oucher  auaa  medidas, 
E  aa  Hyllabas  tcraõ  bem  allbridas. 

ABBADE  DE  JAZEMTE,  POESIAS,  tOm.  2,  pOg.  33. 

—  Syllaba  longa;  aquella  cm  que  a 
voz  se  prolonga. 

—  Syllaba  breve ;  aquella  em  que  a  voz 
passa  rapicla. 

—  Syllaba  pura;  aquella  que  contém 
só  uma  vogal. 

—  Syllaba  composta ;  aquella  que  con- 
tém um  diphthongo. 

SYLLABADA,  .«./.  Termo  popular.  Erro 
no  acci-nto,  ou  quantidade  da  syllaba. — 
Dar  uma  syllabada. 

SYLLABAR,  v.  n.  Juntar  as  letras  por 
syllabas. 

—  Soletrar. 

SYLLABARIO,  A,  adj.  —  Menino  sylla- 
bario ;  menino  que  sabe  syllabar. 

—  iS.  M.  Livrinho  por  onde  os  meni- 
nos aprendem  a  lêr. 

—  Parte  d'este  livro  em  que  as  letras 
se  reúnem,  e  firmam  svllabas. 

f  SYLLABICAMENTE,'  adv.  (De  sylla- 
bico,  com  o  suflixo  «mente»).  Por  sylla- 
bas, de  mna  maneira  svllabica. 

SYLLABICO,  A,  adj.\Do  latim  sylla- 
èicusl.  Q.ue  diz  respeito  ás  syllabas. 

—  Valor  syllabico ;  proporção  da  du- 
raçilo  de  uma   syllaba  á  d'outra  syllaba. 

—  Escriptunt  syllabica;  escriplura  em 
que  cada  syllaba  é  representada  por  um 
só  caracter. 


—  iJipIdhrnigo  syllabíco ;  aquelle  quo 
faz  ouvir  cm  uma  só  syllaba  as  duas  vozea 
consecutivas  que   formam   o  «lip.ithongo. 

—  Vertos  syllaiiicoE;  diz-se  cm  oppo- 
sição  aos  VI  rsos  vielricog,  grego»  ou  lati- 
nos, cm  que  aa  syllabas  tinham  o  valor 
de  um  tempo,  ou  de  duus  teui(>os. 

—  Termo  de  umsica.  Canto  syllabico ,' 
canto  om  que  cada  nota  corre«poude  a 
uma  syllaba. 

f  SYLLABISMO,  *.  m.  Systema  de  es- 
crijitui.i  (MM  que  se  representa  por  um 
único  si^nal  a  syllaba. 

SYLLEPSE,  s.'f.  (Do  grego  »yllepti$). 
Termo  de  grammatica.  Figura  pela  qual 
se  faz  concordar  uma  palavra  com  aquel- 
la a  que  correspoudo  no  pensamento,  e 
nSto  com  aquella  a  (jue  corresponde  na 
plirase.  A  syllepse,  rara  na  prosa,  ó  fre- 
quente ua  poesia.  Ha  três  espécies  de  syl- 
lepse, a  saber:  syllepse  de  numero,  do 
género,  e  da  pessoa. 

—  Syllepse  de  numero;  aquella  em  quo 
as  palavras  estcão  na  relaçSo  de  numero. 

—  Syllepse  do  género;  aquella  em  que 
as  palavras  correspondentes  não  slo  do 
mesmo  género, 

—  Syllepse  da  pessoa;  aquella  em  que 
as  palavras  correspondeatea  nào  estão  na 
mesma  pessoa. 

—  Termo  de  oratória.  Figtira  pela  qual  j 
uma  mesma  palavra  é  tomada  em  dous  I 
sentidos  diversos  na  mesma  phrase.  ■ 

t  SYLLEPTICO,  A,  adj.  Termo  de 
grammatica.  Que  diz  respeito  á  syllepse. 
—  tíentido  sylleptico.  —  Emprego  sylle- 
ptico. 

SYLLOGISAR,  ou  SYLLOGIZAR,  v.  a. 
(Do  grego  syllogizomai).  Raciocinar  por 
syllogismo. 

—  Arguniertar. 

SYLLOGISMO,  s.  m.  (Do  grego  syllo- 
gismos).  Termo  de  lógica.  Argumento 
composto  de  três  proposições,  a  maior,  a 
menor,  e  a  consequência  deduzida  neces- 
sariamente das  outras  duas.  O  syllogismo 
é  a  firma  real  da  demonstração  lógica. 
Seu  fim  é  desenvolver  uma  proposiçào 
duvidosa  ou  controversa  de  uma  proposi- 
ção mais  geral  tida  por  certa ;  exemjdo : 
Um  assassino  merece  a  morte;  ora  MilSo 
é  um  assassino,  logo  Milào  merece  a  mor- 
te. A  maior  e  a  menor  chamam-se  premis- 
sas. — ■  Fi/rmular  as  regras  do  syllogis- 
mo. —  Fazer  um  syllogismo.  —  (.'o»w«- 
i^uencia  do  syllogismo.  —  «A  consequên- 
cia he  legitima :  c  o  syllogismo  está  i>a 
figura  Darij.  Dos  í^criptercs  Politics, 
mostraõ.  que  as  Scieneias  nobilitaõ,  Aris- 
tóteles, 10.  Aulo  Gellio,  11.  Cornei io  Tá- 
cito, 12.  Plinios,  e  Cassiodoro,  13.  qne  A 
em  huma  das  suas  epistolas  dis  assim :  ^ 
Doctrina  facile  exurnat,  generosumque 
et  iam  e.r  ignóbil  i  nobihm  facit.*  Braz 
Luiz  dWbreu.  Portugal  medico,  pag.  249. 

SYLLOGISTICAR,  v.  a.  Termo  de  lógi- 
ca. Aigiuiit  iitar  i!e  um  modo  syllogistico. 

SYliiOGISTICO,  A,  adj.   Que  pertence 


SYIIB 


SYMB 


SYIMB 


649 


ao  syllogismo.  —  A  tkeoria  syilogistica. 
—  A  forma  syilogistica. 

—  Cadeia  syilogistica ;  diz-se  algumas 
vezes  do  sorites. 

SYLPHO,  ou  SYLPHIDE,  s.  /.  Nome 
dado  ao5  pretendidos  génios  elementares 
do  ar. 

SYLVA,  s.   f.  Vid.  Silva. 

SYLVANO,  s.  e  adj.  Vid.  Silvano. 

SYLVESTRE,  adj.  2  gen.  Vid.  Silves- 
tre. 


E  quando  seja  amor,  será  forçado ; 

E  se  forçado  fôr,  serA  teu  dano. 

Hum  parecer  nào  queiras  mais  que  humano 

Em  hum  sylvestre  adorno  ver  tornado. 

CAM.,  SONETOS. 


SYMBOLICAMENTE,  adv.  (De  symboli" 

CO,   com  o  suffiso  «mente»).  De  um  modo 

symbolico:  por  symbolos. 

'  SYMBOLICO,  À,   adj.  (Do  latim  symbo- 

licus).    Que  tem  o  caracter  de  symbolo. 

—  Que  serve  de  symbolo.  —  Lingua- 
gem  synjbolica.  — •  As  ceremonias  symbo- 
licas. 

—  Diz-se  de  uma  espécie  de  escri- 
ptura  hieroglyphica. 

—  Termo  do  architectura.  Columna 
symbolica ;  columna  que  por  attributos 
designa  uma  nação,  ou  qualquer  acção 
memorável. 

—  Livros  symbolicos,  ou  authenticos  ; 
nome  dado  pelos  lutheranos  aos  livros 
que  dizem  respeito  á  confissão  de  fé,  isto 
é,  á  confissão  de  Augsbourg,  aos  artigos 
de  Smalcalde,  e  á  pequena  confissão  de 
Luthero, 

—  Geometria  symbolica ;  aquella  que 
estuda  as  equações  das  linhas  e  superfí- 
cies, na  sua  máxima  generalidade,  sem 
se  preoccupar  de  saber  se  suas  represen- 
tações geométricas  se  acham  serem  reaes 
ou  imaginarias. 

SYMBOLISâÇAO,  ou  SYMBOLIZAÇÃO, 
s.  f.  Acção  de  symbolisar,  de  represen- 
tar por  s;N-mbolos. 

• — ■  Similhança,  sympathia,  congruência 
de  uma  cousa  com  outra,  que  é  svmboli- 
sada  pelo  symbolo. 

SYMBOLÍSADO,  part.  pass.  de  Symbo- 
lisar. Representado  por  symbolo,  emble- 
mado. 


Destes  accessos  êxtases  me  arranca 
A  Fadiga  outra  vez.  Conserva,  ó  filho, 
Dentro  d'alma  gravado  isto  que  observas, 
E  quando  em  voos  rápidos  desceres 
A  tão  mesquinha  habitação  terrena, 
Aos  transportados  homens  o  annuncía  : 
Vai  declarar  insólitos  prodígios. 
Na  Mole  sepulchral  íymholisados. 

J.  A.    DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,    Cant.    3. 


SYMBOLISADOR,  s.  m.  Inventor,  insti- 
tuidor de  symbolos. 

— '  Adjectivamente :  Os  symbolisadores 
moralistas. 

tot.  V.  — 82. 


SYMBOLISAR,    ou  SYMBOLIZAR,   v.  a. 

Representar  por  um  symbolo. 

—  Imitar,  representar,  parecer. 

—  V.  n.  Ter  reciproca  conformidade, 
frisar  bem.  —  O  sol  symbolisa  com  o 
ouro. 

—  Fallar  por  symbolos. 

—  Symbolisar  wna  cousa  de  outra;  de- 
clarar, explicar  uma  com  outra  que  lhe 
seja  similhante. 

'SYMBOLISMO,  s.  m.  Termo  de  philo- 
sophia.  Estado  do  pensamento  e  da  lín- 
gua em  que  os  dogmas  são  somente  ex- 
pressos por  symbolos. 

—  O  ser  symbolo,  ter  relação  de  sym- 
bolo. 

—  Symbolismo  natural;  o  das  religiões 
do  Oriente. 

—  Symbolismo  nnthropomorphico ;  o 
das  reliLiiòes  mais  esclarecidas  da  Gré- 
cia, em  que  a  arte  e  a  personalidade  hu- 
mana tem  um  caracter  fixo. 

1.)  SYMBOLO,  s.  m.  (Do  latim  symbo- 
luvi).  Figura  ou  imagem  que  serve  para 
designar  alguma  cousa,  quer  por  meio  da 
pintura  ou  da  esculptura,  quer  por  dis-" 
curso.  —  O  cão  é  o  symbolo  da  Jidelida- 
de. —  O  leão  é  o  syTnbolo  do  valor.  —  O 
cynismo  forma  um  contraste  revoltante 
com  os  cabellos  brancos,  symbolo  da  sa- 
bedoria e  da  pureza. 


O  cavallo  mal  pensado 
pela  m;i  vida  que  passa, 
julgarão  a  do  creado 

symbolo . 

ANTOXIO  PBESTES,  AUTOS,  pSg.  231. 


Cada  Tribu  a  seu  symbolo,  se  aduna. 
Abelhas  tem,  por  symbolo,  a  mais  nobre, 
Ou  três  choupas  de  lança.  Pharamundo 
Eége  (idoso)  a  Sicambra,  ao  Neto  dando 
Algum  terço  a  reger. 

P.    M.    DO  NASCIMENTO,  OS  JIABTTRES,  1ÍV.    6. 

Não  tem  na  base  fulgida  esculpidos 

Outros  symbolos  mais  da  gloria  sua. 

Que  nào  seja  o  seu  nome,  ellc  só  basta ; 

Diz  mais  que  a  Historia,  e  mais  que  a  Poesia. 

De  longe  erguendo  o  braço,  o  Busto  mostrào 

Yalisneri,  Ai-istotcles,  e  Plinio. 

J.   A.    DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,    Cant.    2. 

De  huma  matéria  original  extractos, 
Dous  pedestaes  estão,  que  no  encendrado 
Ouro  conservào  symbolos  diversos  ; 
Servem  de  base  a  lúcidas  columnas. 
IBIDEM,  cant.  3. 

Não  folhagens  de  Acantho,  e  de  Cypreste 
Alli  poz  Escidtura ;  cm  vez  de  enfeite. 
Em  vez  de  tristes  symbolos  da  Morte, 
Só  gravou  ilathematico  Instrumento, 
Com  que  medir  dos  Ccos  a  immensa  estrada 
Usa  Idéa  Astronómica  sublime. 


Pelas  ^Margens  do  Indo,  c  immenso  Ganges 
Meditadores  Bràmencs  deviso. 
Que  em  sombra  muito  espessa  a  luz  involvem, 
E  a  verdade  com  Symbolos  ensiuão. 


Confúcio  o  grão  Filosofo  descubro, 
Que  da  luz  natural  levado  apenas. 
Achara  o  Summo  Bem  sõ  na  virtude. 
Nunca  hc  feliz  o  criminoso,  nunca  ! 
IBIDEM,  cant.  2. 

O  fulgurante  Sol !  Figura,  emblema 

De  esplendor  immortal !  E's  dello  a  copia ; 

Vate  inspirado  cm  ti  seu  throno  observa  ; 

Symbolo  és  ^^vo  da  bondade  eterna  ! 

Com  chamma  ardente,  e  pura,  o  Mundo  aclaras, 

O  cáhos  foge,  se  lhe  a  face  amostras  ; 

Os  entes  todos  teu  fulgor  aviva, 

E  purifica  os  Elementos  todos. 

IDEM,  MEDITAÇÃO,  Cant.    2. 

—  Entre  os  gregos,  dava-se  este  nome 
ás  palavras,  aos  signaes  pelos  quaes  os 
iniciados  nos  mysterios  de  Ceres,  de  Cy- 
beles,  de  Mithra,  se  reconheciam. 

—  Particularmente:  Signal,  indicio,  fi- 
gura representada  nas  medalhas,  e  serve 
para  designar,  quer  homens,  quer  di- 
vindades, quer  paizes,  províncias,  cida- 
des. —  Coimbra  tem  por  symbolo  uvi  bra- 
zão.  —  Os  symbolos  da  cidade  de  Lis- 
boa. 

—  Termo  de  lithurgia  catholica.  Sym- 
bolos sagrados;  os  signaes  exteriores  dos 
sacramentos.  —  Jesus  Christo  deu-nos  seu 
corpo  e  seu,  sangue  na  Eucharistia,  sob  o 
symbolo  do  pão  e  do  vinho. 

—  Formulário  que  contém  os  princi- 
paes  artigos  da  fé.  —  O  symbolo  dos  ar- 
tigos, —  O  symbolo  de  Nicua. 

—  Symbolo  dos  apóstolos ;  aquelle  que 
foi  estabelecido  pelos  apóstolos,  e  que  co- 
meça por  estes  termos:  Creio  em  Deus 
Padre,  Todo-Poderoso,  Creado^'  do  cêo  e 
da  terra,   etc. 

—  Symbolo  ckimico;  nome  dado  pelos 
chimicos  ás  lettras  iniciaes  pelas  quaes, 
para  abreviar,  designam  os  corpos  ele- 
mentares. —  O  e  S  são  os  symbolos  do 
oxygeneo  e  do  enxofre. 

—  Syíí.  :  Symbolo,  emblema,  divisa, 
empreza,   tenção. 

Symbolo  é  uma  figura  ou  imagem  sen- 
sível, que,  pela  representação,  nos  dá  a 
conhecer  outra  cousa.  O  symbolo,  por  isso 
que  é  uma  espécie  de  signal,  deve  ter  al- 
guma relação  natural,  ou  convencional, 
com  o  objecto  representado.  — ■  O  trian- 
gulo é  o  symbolo  convencional  da  Trin- 
dade. Na  mythologia  havia  grande  nume- 
ro de  symbolos,  taes  eram  o  thyrso,  o 
tridente,  o  raio,  o  caduceo,  etc,  que  re- 
presentavam Baccho,  Neptuno,  Júpiter, 
Mercixrio,  e  seus  diversos  poderes  segundo 
a  fabula. 

Emblema  é  uma  figura  symbolica,  que 
allude  a  alguma  moralidade,  ou  jjensa- 
mento,  que  ordinariamente  se  declara  por 
alguma  letra,  mote,  ou  rotulo  á  figura. 
O  emblema  é  uma  allegoria  pintada  ou  es- 
culpida, que  falia  aos  olhos  e  á  imagina- 
ção.—  Uma  figura  esbelta  com  azas,  e 
tendo  na  bocca  uma  trombeta,  é  o  emble- 
ma da  fama. 

Divisa  é  propriamente  uma  figiu-a  sym- 


650 


SYME 


SYJIP 


SYilP 


bolica  quo  alf^uom  usa  para  diatiiiccuir-so 
(los  outros,  at-oiupanhaila  (l'alífuina  lotra 
ou  mote,  quo  exprimo  os  projectos  ou  in- 
tentos (lo  (|uom  a  traz. 

Eiiipir.za  ora  a  divisa  quo  os  cavalioi- 
ros  mandavam  pintar  ou  pravar  nos  es- 
cudos, quo  indicava  a  quo  iam  emprelica- 
dor,  ou  imaiíem  relativa  á  nmpreza  que 
tomavam;  dopeis  foi  também  a  pintura 
ou  osculptura  synibolica  de  fayaidias  illiís- 
tros  que  as  pessoas  nobres  trazem  nos  es- 
cudos acompanhadas  de  alguma  letra  ou 
moto. 

Tenção  ó  a  figura  no  escudo  allusiva 
ao  pensamento  ou  desenlio  do  dono  d'elie. 

2.)  SYMBOLO,  A,  aJj.  —  Partes  sym- 
bolas;  os  respectivos  escotes. 

SYMBOLOLOGIA,  s.  /.  (Do  grego  si/m- 
bolds,  e  /o(/<(.«).  Termo  de  medicina.  Parte 
da  modicina,  que  trata  dos  signaes  ou 
dos  svmptomas  das  doenyas. 

-[•  SYMBOLOLOÍjICO,  a,  adj.  Termo  de 
medicina.  Que  diz  respeito  á  symbololo- 
gia. 

SIMETRIA,  ou  SYMMETRIA,  s.  /.  (Do 
grego  sj/n>i't)-ia).  Rf.lai;ão  de  grandeza  e 
de  figura  que  as  partes  de  um  corpo  tem 
entre  ai  e  com  o  todo. 

—  Tormo  de  botânica.  Symetria  Jlo- 
ral;  a  disposiçilo  relativa  dos  differentcs 
verticiilos  da  fior. 

—  Plano  de  symetria;  todo  o  plano 
quo  divido  a  flor  cm  duas  metades  syme- 
tricas. 

—  Eixo  de  symetria ;  a  recta  geomé- 
trica segundo  a  qual  os  planos  de  syme- 
tria múltiplos  se  cortam  no  centro  da 
flor. 

—  Termo  de  anatomia.  A  regularidade 
de  fórma  que  apresenta  a  maior  parte  dos 
órgãos  impares  da  economia  animal,  ór- 
gãos, de  que  uma  das  metades  lateraes  se 
assemelha  quasi  sempre  exactamente  a 
outra  metade. 

—  Simiiliança  perfeita  que  apresentam 
ontre  si  os  orgiios  pares  situados  um  á  di- 
reita, outro  á  esquerda  da  linha  media. 

—  Em  zoologia,  a  symetria  binaria 
pertence  aos  vertebrados  e  aos  articula- 
dos; a  symetrfa  radiada  aos  echinodei'- 
mcs. 

—  Toda  a  espécie  do  arranjo  segundo 
uma  corta  ordem,  uma  certa  proporção. 
—  F(7S')s  arranjados  com  symetria.  —  A 
symetria  de  uma  2)iantação. 

—  Ordem,  disposição,  economia  de  uma 
obra  d'espirito. — A  symetria  de  um  dis- 
curso. 

—  Symetria  de  estylo;  correspondência 
que  tom  entre  si  as  palavras  e  os  mem- 
bros de  uma  phrase. 

—  Termo  de  geometria.  Estado  das  fi- 
guras <iuo  são  svnictricas. 

SIMETRICAMENTE,  adv.  (Do  syme- 
trico,  o  o  suffixo  «mente»).  Do  um  modo 
symetrii'0. 

—  ("'om  symetria. 

SIMÉTRICO,  A,  adj.    Que   tem  syme- 


tria. —  Disposição  symetrica.  —  Phrate» 
symetricas. 

—  Termo  de  inineraiogla.  Diz-so  de 
uma  variedade  cuja  fúrmu  attinge  um 
certo  limite  que  lhe  d;l  a  sviiietria. 

—  Ternu)  de  zo.jlogia.  Quo  é  susceptí- 
vel de  ser  dividido  cm  doas  lados  eguaes 
por  um  plano. 

—  Termo  do  anatomia.  Parles  syme- 
tricas; |)artcs  qiu!  .sitiiada.s  na  linha  me- 
dia, sàu  divididas  por  esta  linha  om  duas 
metades  simillianlos,  <m  ([uc  situadas  iJos 
dous  lados  d^^Mta  linha,  teiun  uma  simi- 
Ihaiiça  porloita. 

—  Tormo  do  geometria.  Figuras  syme- 
tricas ;  figuras  cujos  elementos  são  reci- 
procamontc  eguaes,  mas  invorsamonte 
ilispostus,  do  maniMr.i  que  a  subrtíposiçào 
ó  impossivel. — Ângulos  sólidos  symetri- 
cos.  —  Polyedros  symetricos. 

—  Termo  do  alirebra.  Funcção  sy- 
metrica; funcção  que  se  conserva  a  mes- 
nui  (piando  se  muda  mutuamente  ou  umas 
nas  outras  as  letras  quo  cila  contém. 

—  i'"allando  das  pessoas :  Homem  sy- 
metrico;  aquollo  que  faz  tudo  por  com- 
passo e  ]ior  medida. 

SIMETRISADO,  part.  pass.  de  Syme- 
trisar. 

SYMETRISAR,  ou  SIMETRIZAR,  v.  a. 
Tornar   symetrico,    dispor  em   symetria. 

—  V,  n.  Tornar  symetrico  cora  outra 
cousa. 

SIMIO.  Vid.  Simio. 

SIMODIO  LISTRADO  DA  AMERICA, 
s.  m.  Termo  de  historia  natural.  Espé- 
cie de  peixe  agulha  do  Brazil  do  género 
dos  búzios. 

\  SIMPATHETICO,  A,  adj.  Sympathi- 
co.  =  Desusado. 

—  Tormo  de  pharmacia  antiga.  Un- 
guento sympathetico.  —  « Nas  compozi- 
çoes  officinaes  entra  a  Jlumia  no  pcNs 
contra  casum,  na  Athanasia  Magna  no 
Unguento  sympathetico,  no  emplastro 
Apostolorum  e  no  negro,  no  Ceroto  pro- 
herniosis,  no  Laudano  opiado  etc.  A  tin- 
ctura,  ou  extracto  da  Múmia  de  Quorco- 
tano  he  alexipharmaca  rcsistre  grande- 
mente ;\  podridão;  tem  grande  uzo  nos 
affoctos  do  peito,  na  asthma,  na  ptliisica 
ete.»  Braz  Luiz  d' Abreu,  Portugal  me- 
dico, pag.  40,  i?  141. 

SIMPATHIA,  s.  /.  (Do  grego  s;ptipa- 
fkeia).  llciação  que  existe  entre  dous  ou 
mais  órgãos  mais  ou  menoa  afastados  uns 
dos  outros,  e  quo  faz  com  quo  um  d'eUos 
participe  das  sensações  descobertas,  «ui 
das  acções  executadas  por  outro.  —  Ha 
sympathia  entre  as  partes  de  um  mesmo 
órgão,  e  entre  os  órgãos  diversos  de  um 
mesmo  apparelho. 

—  Termo  de  pathologia.  Influencia 
morbiila  que  um  órgão  lesado  exerce  so- 
bro certos  outros,  que  não  são  directa- 
mente atacados. 

—  Inclinação  instinctiva  quo  attrahc 
duas  pessoas  uma  para  a  outra. 


—  Tormo  do  philosophia.  A  faculdade 
que  temos  de  participar  dai  i)ena»  e  do» 
prazeres  do.s  outros.  —  A  sympathia  «er- 
ve  lie  contrapeso  ao  egolumo, 

—  Espécie  de  iiicliiiaçrio  suppoAta  pe- 
los antigos  entre  oa  differontc»  corpo»; 
tendência  a  unirem-se.  —  Ab  sympathias 
entre  certos  animaet.  —  O  viercario  une- 
se  ao  ouro  por  sympathia. 

—  Relação,  conveniência  que  oortas 
cousas  tem  entre  td.  —  Jía  uma  certa 
sympathia  natural  entre  certos  sons  e  a* 
einoçòf.s  dl    nossa  alma. 

—  Vid.  Amor. 

1  SYMPATHICAMENTE,  adv.  (De  sym- 
pathico,  com  o  sufRxo  «mente»).  De  um 
moio  Hvmiiathico;  com  svmpathia. 

SIMPATHICO,  A,^  adj.'  Termo  de  phi- 
sioli));ia.  Que  depende  de  sympathia. 

—  Tormo  do  pathologia.  Afiecçues  sym- 
pathicas  d'um  órgão;  phenumenos  mórbi- 
dos <[ue  sobrevem  n'esse  órgão  sem  que 
algiuna  causa  morbifica  actue  directamen- 
te sobre  elle,  mas  pela  reacção  de  um  ór- 
gão primitivamente  lesado. 

—  Termo  de  anatomia.  Nervo  grande 
sympathico ;  conjuncto  do  systema  ner- 
voso ganglionario  considerado  como  nào 
formando  senão  um  duplo  cordão  nert-oso 
situado  no  interior  das  cavidades  splan- 
chnieas,  um  á  direita,  outro  á  esquerda 
da  colurana  vertebral. 

—  Que  opera  por  sympathia. 

Ao  fixo  Luminar  no  immobil  Polo 
Manda  que  os  passos  lhe  dirija  iuccrtoe 
Pela  ciMipiíia  azul,  que  st-  coiifuudc 
Co'  a  extrema  linha  dliorisontc  escuro, 
Que  sempre  vai  fugindo,  c  quando  a  nuvem 
Com  densos  véos  lhe  esconde  o  brilho  eterno, 
Manda  A  Tevra  que  abrindo  o  seio  escuro 
A  s)/inpathica  pedra  lhe  oacrcça. 

J.   A.    DE  MACEDO,  >1AGEII  EXTÁTICA,  CUlt.  é. 

Tanto  amor  maternal  nas  aves  brilha ! 
Sympáthica  atTei<;ão,  profundo  iuipuLio 
De  quem  ai  se  desvia,  e  sõ  se  esquiva 
Estúpido  Avestruz,  surdo  aos  gemidos, 
Que  cxliala  amor,  a  natureza,  o  sangue  I 
Sobro  as  arèas  t>5rridaâ  da  Libya, 
E  solidões  da  America  abandona 
Os  ovos  sem  cuidado,  c  delles  íige. 
IBIDEM,  cant.  3. 

Antes  que  vissem,  que  incessante  o  P<51o 
A  sympafhira  pedra  Ihe^s  marcava 
A  nào  banhada  ostrella  n'Oecano, 
Ella  inunovel  fanal,  que  a  novos  Mundoe 
A  vereda  aclarou.  De  Grccia,  e  Roma 
Foi  muito  froxa  a  Luz. 

IDEU,  A  NATCBErA,  CAItt.    1 

Fic-a  escondida,  portentosa  causa  ; 
Conhecer  teu  author  basta  il  minb«  alma. 
S;/mp<Uhica  attrac^ão  Newton  descobre 
No  Globo  melancólico  da  Lua. 

IDEU,  MEDITAÇÃO,  Cailt.   2. 


—  Que  pertenço  á  sympathia.  —  Qua 
lidades  sympathicas. 

—  Diz-sc  das  pessoas  que  experimen- 
tam sympathia,  ou  que  conciliam  entre  si 


à 


SYMP 


SYN 


SYNA 


6Õ1 


sympathia.  — Este  homem  é  mui  sympa- 
thico. 

SYMPATHI3ANTE,  part.  ad.  do  Sym- 
pathisar.  Qae  tem  sympataia. — Almas 
sympathisaiites. 

SYMPATHISAR,  ou  SYMPATHIZAR,  v.  a. 
Ter  sympathia.  —  Sympatliisar  j)ouco 
com  alguém. 

—  Ter  relações  de  conformidade,  de 
conveniência.  —  A  virtude  não  sympa- 
thisa  tanto  com  a  paixão  que  produz  o 
vicio. 

f  SYMPETALICO,  A,  adj.  Termo  de  bo- 
tânica. Diz-se  dos  estames,  quando,  pela 
reunião  das  pétalas,  fozem  com  que  uma 
corolia  polypetala  pareça  nionopetala. 

SYMPHONIA,  s.  /.  Reuniào  de  vozes, 
conjuncto  de  sons. 

—  Symphonia  característica ;  aquella 
que  tem  por  fim  pintar  qualquer  caracter 
moral,    ou  qualquer  plienomeno  physico. 

—  Instrumentos  de  musica  que  acom- 
panham as  vozes.  —  Musica  vocal  com 
symphonia,  sem  symphonia. 

-{-  3YMPH0NISTA,  s.  m.  Homem  que 
compõe  musica. 

—  Homem  que  compõe  svmphonias. 

-{-  SYMPHYSANDRIA,  s.  /.  Termo  de 
botânica.  Vigésima  classe  no  systema  de 
Linneu,  comprehendendo  as  plantas  de 
flores  simples,  cujos  estames  são  soldados 
conjunctamente  pelas  antheras  e  pelos  fi- 
letes; corresponde  á  syngenesia  monogâ- 
mica. 

f  SYMPHYSANDRICO,  A,  adj.  Que  diz 
respeito  á  symphysandria. 

—  Estames  symphysandricos  ;  aquelles 
que  são  reunidos  pelas  antheras  e  pelos 
filetes. 

t  SYMPHYSEOTOMIA,  s.  /.  Termo  de 
cirurgia.  Operação  que  consiste  em  pra- 
ticar a  secção  da  fibro-cartilagem,  unin- 
do conjunctamente  os  dous  ossos  do  pú- 
bis. 

f  SYMPHYSIANO,  A,  adj.  Termo  de 
anatomia.  Que  diz  respeito  a  uma  sym- 
physis. 

—  Cutelo  symphysiano;  instrumento 
cortante,  com  o  qual  se  põe  em  pratica 
a  svmphvsedtomia. 

4  SYMPHYSIOGYNA,  adj.  Termo  de 
botânica.  Plantas  symphysiogynas ;  plan- 
tas em  que  os  órgãos  femininos  estão  sol- 
dados entre  si. 

SYMPHYSIS,  s.  f.  (Do  grego  symphy- 
sis).  Termo  de  anatomia.  Conjuncto  dos 
meios  pelos  quaes  se  asseguram  as  rela- 
ções mutuas  dos  ossos  entre  si. 

—  Particularmente :  Articulação  immo- 
vel  dos  dous  ossos,  e  mormente  dos  ossos 
da  bacia.  —  Symphysis  pubiana.  —  Sym- 
physis  sacro-iliuca. 

SYMPHYTO,  í.  m.  Vid.  Consolida 
maior  (horvai. 

I  SYMPIEZOMETRO,  s.  m.  Barómetro 
de  reservatório  d 'ar,  gozando  de  uma  sen- 
sibilidade maior  que  o  barómetro  de  mer- 
cúrio. 


f  SYMPLEGIIGO,    A,   adj.    Termo    de 

historia  natural.  Que  está  entrelaçado 
com  um  outro  ci^rpo. 

—  S.  m.  Uma  das  peças  ósseas  da  ca- 
beça dos  peixes. 

f  SYMPLOSE,  s.  /.  Termo  de  rhctori- 
ca.  Figura  de  palavras,  sendo  uma  repe- 
tição, que  consiste  em  começar  muitos 
membros  de  phrases,  e  acabal-os  pela 
mesma  pnrase. 

j-  SYMPODE,  s.  m.  Termo  de  anato- 
mia. Entre  os  ascidios,  pimpolho  compos- 
to do  eixos  de  gerações  diversas,  simu- 
lando um  eixo  de  uma  só  peça. 

f  SYMPODICO,  A,  adj.  Que  apresenta 
os  caracteres  do  sympode,  que  se  refere 
a  elle. 

f  SYMPTHOMA,  s.f.  Vid.  Symptoma. 
—  «Por  isso  Avicena  Fen.  i.  3.  tract.  5. 
cap.  I.  definimlo  a  Vertigem  rompe  nes- 
tas palav]'as  :  Vertigo  est,  ut  habenti  ipsam 
imagineiur,  quod  res  super  ipsum  volvau- 
tur,  et  quod  ejus  cerebrum,  et  corpus  ipsius 
revolvantur,  quare  non  regit  se,  ita  ut 
Jirmetur,  immo  cadit.  Tomou  este  acha- 
que a  sua  denominação  da  parte  affecta, 
e  do  sympíhoma ;  por  que    Vertigo  vale 

0  mesmo  que  affectus  vertíeis ;  porque  pa- 
rece que  se  vira  a  cabeça  de  sima  para 
baixo.»  Braz  Luiz  d'Abreu,  pag.  286, 
§  14. 

SYMPTOMA,  s.  m.  (Do  grego  sympto- 
ma). Phenomeno  insólito  na  constituição 
material  dos  órgãos,  ou  nas  funcções,  que 
se  acha  ligado  á  existência  de  uma  doen- 
ça, e  que  se  pode  determinar  durante  a 
vida  dos  doentes,  —  Os  symptomas  da 
pleuresia.  —  Os  symptomas  da  peste.  — 
«Advirta  que,  em  mulheres,  as  queixas 
uterinas  são  complicadas  por  certo  modo 
com  convulsões  e  outros  symptomas  ex- 
traordinários que  ainda  médicos  muito 
doutos  se  costumam  enganar,  entendendo 
são  coisas  sobrenaturaes.»  Bispo  do  Grão 
Pará,  Memorias,  publicadas  por  Camillo 
Castello  Branco,  pag.  13. 

—  Figuradamente  :  Indicio,  presagio. 
SYMPTOMATICO,    A,    adj.    Termo    de 

medicina.  Que  é  o  efteito  ou  o  sympto- 
ma de  alguma  outra  aflecção.  —  Febre 
symptomatica. 

—  Doença  symptomatica ;  doença  que 
não  é  senão  um  symptoma,  e  que,  quan- 
do esta  outra  aífecção  termina,  cessa  im- 
mediatamente,  condição  sem  a  qual  ella 
constituiria  uma  deuteropathia. 

—  Medicina  symptomatica,  ou  medi- 
cina dos  symptomas ;  methodo  de  trata- 
mento que  consiste  em  atacar  os  sympto- 
mas dominantes  de  uma  doença,  e  não  a 
própria  doença. 

t  SYMPTOMATOLOGIA,  s.  /.  Parte  da 
medicina  que  trata  dos  symptomas  das 
doenças. 

SYMPTOSE,  s.  /.  (Do  grego  sympfô- 
sis).  Termo  de  pathoiogia.  iíagreza,  atro- 
phia  de  todo  o  corpo  ou  parte  d'elle. 

1  SYN.  Preposição  grega  que  vale  com, 


6  entra  na  composição  de  diversos  ter- 
mos, como  synagoga,  sjnodo,  etc.  Esta 
preposição  grega  transfornia-se  em  sym, 
antes  de  b,  p,  e  m,  como  acontece  em. 
symbolo.  sympathia,  etc. 

SYNA,  s.  /.  Termo  antiquado.  Bandei- 
ra. Vid.  Sina. 

t  SYNABELPHIA,  s.  /.  Estado  dos 
monstros  sviiailelplios. 

t  SYNADELPEO,  adj.  Termo  de  te- 
ratologia.  Montros  synadelphos ;  mons- 
tros quo  tem  um  tronco  único,  mas  du- 
plo em  todas  as  suas  regiões,  e  oito  mem- 
bros, entre  os  quaes  quatro  parecem  ser 
dorsaes,  e  dirigidos  superiormente. 

SYNADO,  A,  adj.  (Do  latim  signatus). 
Termo  antiquado.  Vid.  Assinado. 

SYNAGOGA,  s.  f.  Assemblêa  dos  fieis 
na  antiga  lei.  —  «Para  Hollanda  fugiu 
um  capucho  com  a  abbadessa  de  Santa 
Anna,  chamada  Laureana.  Deu  elle  o 
nome  á  synagoga;  mas  foi  modo  de  vi- 
ver segundo  affirmaram  ao  cónego  D, 
Joaquim  Bernardes  em  Hollanda.»  Bispo 
do  <írão  Pará,  Memorias,  publicadas  por 
Camillo  Castello  Branco,  pag.  88. 

—  Depois  do  estabelecimento  do  chris- 
tianismo,  a  synagoga  diz-se  em  opposição 
á  egreja  christã. 

■ —  Logar  em  que  os  judeus  se  reuniam 
fora  do  templo,  para  fazer  as  suas  ora- 
ções. 

—  Logar  onde  presentemente  os  judeus 
se  reúnem  para  o  exercício  de  sua  reli- 
gião. 

SYNALEPKA,  s.  f.  Termo  de  gram- 
matica.  Reunião  de  duas  syllabas  em  uma 
só,  quer  por  synerese,  quer  por  crase, 
quer  ]ior  elisão. 

SYNALLAGMATICO,  A,  adj.  (Do  grego 
synallagma).  Termo  de  jurisprudência. 
Diz-se  dos  contractos  que  contém  obriga- 
ções reciprocas  entro  as  partes.  O  con- 
tracto é  synaliagmatico  ou  bilateral,  quan- 
do os  pactuantes  se  obrigam  reciproca- 
mente uns  para  com  os  outros. 

f  SYNANCEA,  s.  f.  Género  de  peixes 
acantao}itL-rv£;'ios. 

t  SYNANTHEREO,  A,  adj.  Termo  de 
botânica.  Diz-se  dos  estames  que  são  sol- 
dados pelas  antheras. 

—  S.  f.  plur.  Familia  das  plantas  que 
tem  por  caracter  cinco  estames  de  file- 
tes distinctos,  sendo  as  antheras  soldadas 
entre  si,  e  formam  um  tubo  atravessado 
por  um  estylo  simples  que  excede  um  sty- 
gma  bífido. 

f  SYNANTHIA,  s.  f.  Termo  de  botâ- 
nica. Monstruosidade  que  consiste  na  sol- 
dadura anormal  das  flores  vísinhas  pelos 
invólucros  ou  pelo  supporte. 

f  SYNAPTOSE,  s.  f.  Termo  de  chimi- 
ca.  Espécie  de  fermei  to,  chamado  tam- 
bém emulífina,  que  se  desenvolve  nas 
amêndoas  amargas  sob  a  influencia  da 
agua,  e  que  actuando  sobre  a  amygdali- 
na,  produz  o  acido  cvanhvdrico. 

I  SYNARTHROIDÀL,  àdj.  2  gen.  Ter- 


652 


SYNC 


ino  <le  anatomia.  Qiio  tem  logur  por  »y- 
iiiirthroHo. 

SYNARTHROSE,  «.  /.  (l>o  grego  syn- 
nart/irosis).  Tornio  da  anatuiiiia.  Articu- 
layito  (jiio  nào  i)C!rmitte  o  movimento  doa 
OSB03  quu  filia  uno. 

f  SYNATHROISMO,  s.  wi.  Figura  de 
rhetoriea,  pola  qual  so  acuumula  n'uiiia 
phrasc  muitos  termos,  cuja  significação  ú 
correlativa,  muitos  adjectivos,  muitos  ver- 
bos, ou  muitas  proposições  complcmenta- 

SYNAXE,  ou  SYNAXIS,  s.  f.  Nome 
dado  ás  roíuiiucs  dos  cliriatilos  primitivos, 
e  íi  santa  communUão. 

—  Os  santos  niystorios,  o  sacrifício  da 
missa,  nos  antigos  monumentos. 

-]■  SYNCARPO,  s.  m.  Termo  de  botâ- 
nica. Fructo  composto  proveniente  de 
muitos  ovários  tornados  carnudos,  e  sol- 
dados entre  si. 

SYNCATEGOREMATIGO,  A,  Termo  do 
lógica.  Qui!  pi')do  conter  potencialmente 
uma  iiiflnidado  fio  paites.  Vid.  Catego- 
rematico. 

f  SYNCHONDROSE,  s.f.  Termo  do  ci- 
rurgia. União  de  dous  ossos  por  uma  car- 
tila!;cin . 

f  SYNCHONDROTOMIA,  s.  /.  Termo 
de  cirur-ia.  Seerão  de  uma  syiichondro- 
se,  ou  do  uma   cartilagem  iiiteraríicular. 

f  SYNCHRONICO,  A,  adj.  Que  é  do 
mesmo  tempo. 

—  Quadro  synchrouico;  quadro  onde 
estão  unidos  os  íactos  acontecidos  om 
diversos  legares  na  mesma  epocha. 

—  Diz-se  dos  phenomenos  que  se  eflfe- 
ctuam  ao  mesmo  tempo,  como  a  contrac- 
ção dos  dous  veutriculos  do  coração,  ctc. 

f  SYNCHRONISAR,  v.  a.  Estabelecer 
um  sviiclironismo. 

SYNCHR0NI3M0,  s.  m.  Relação  de  cou- 
sas acontecidas  no  mesmo  tempo.  —  O 
synchrouismo  de,  dous  acoutecinteiitos. 

—  Simultaneidade  de  dous  plienome- 
nos,  como  a  das  pulsações  cardíacas  e  ar- 
teriacs. 

SYNCHRONISTA,  adj.  e  s.  2  gen.  Con- 
temporâneo. 

SYNCHRONO,  A,  adj.  (Do  grego  syn, 
o  chroiwíi).  Que  se  faz  ao  mesmo  tempo, 
no  mesmo  momento.  Quando  dous  corpos 
cahem  ao  mesmo  tempo  no  chão,  diz-se 
que  suas  quedas  são  synuhrouas. 

f  SYNCHRONOLOGIA,  s.  /.  Tratado 
dos  svnchronismos. 

f  SYNCHY3E,  s.  /.  Termo  de  gram- 
matica.  Figura  de  construeção,  ou  antes 
vicio  de  estylo  pelo  qual,  destruindo-se  a 
ordem  natural  das  palavras,  se  torna  a 
pkrase  difiu-il  de  comprclicuder. 

f  SYNGHY3I3,  s.  m.  Termo  de  medi- 
cina. Syuchysis  brilhante;  affecção  chro- 
nica  não  dolorosa  do  ollio,  caracterisada 
por  pontinhos  brilhantes,  similhantes  a 
pequenas  faiseas  mui  numerosas,  sem  ces- 
sar renascentes,  o  que  se  tornam  visíveis, 
cada  uma  d'ella3  durante  muitos  segundos. 


SYND 

f  SYNGLINAL,  adj.  2  gen.  Termo  de 
geologia.  Líit/tu  uyaclinal ;  em  quo  as  ca- 
mailas  <jue  se  cuivam  cm  direcçijcs  oppos- 
tas  teniiuiu  a  rcunii'ciii-se. 

SYNGOPA,  fi.  /.  (Do  grego  si/gliojjê). 
Termo  de  grammatica.  DiminuiçSo  de 
uma  iutra  ou  de  uma  ayllaba  no  meio  de 
uma  palavra. 

SYNGOPADO,  part.  pass.   de  Syncopar. 

SYNGUPAL,  adj.  2  gtn.  Termo  de  lue- 
dicina.  Que  se  retcre  á  syncope. 

—  FvOre  syncopal;  febre  iatermittente 
perniciosa,  caracterisada  por  syiicopes  rei- 
teradas. 

SYNGOPAR,  V.  a.  Fazer  uma  syncopa 
u'uma  palavra. 

—  Elidir  uma  syllaba  ixo  meio  da  dic- 
ção. 

—  rroaunciar,  escrever  fazendo  syn- 
copa. 

—  F-guradamente :  Reduzir,  diminuir. 
SYKGOPE,   *■.  /.    Termo    de    medicina. 

Diminuição  súbita  e  momentânea  da  aeçào 
do  coração,  com  interrupção  da  respira- 
ção, das  sensações  e  movimentos  voluntá- 
rios. 

SYNCOPISAR,  ou  SYNCOPIZAR,  v.  a. 
Termo  de  meuiciua.  i'roduzir  syucope. 

—  V.  n.  Ter  syucope,  cair  em  syn- 
cope. 

-[■  SYNGRANEANO,  A,  adj.  Termo  de 
anatomia.  Diz-su  da  uiaxlUa  superior. 

SYNGRETISMO,  s.  in.  íjystema  de  phi- 
sopliia  grega  que  consiste  em  fundir  con- 
junctamente  os  diversos  systemas.  —  As 
disputas  que  se  levantaram  continuamen- 
te entre  tantas  seitas  deram  logar  ao  syu- 
cretismo,  isto  é,  a  um  systeina  pelo  qual 
se  cmprehendia  conciliar  todas  as  opi- 
niões, e  mormente  as  dos  priucipaes  phi- 
iosophos. 

—  Confusão  de  opiniões. 

f  SYNGRETISTA,  *.  /.  Partidário  do 
syucretismo. 

'  -[•  SYNGRISE,  s.  /.  Termo  antiquado  de 
chimica.  fassagem  do  um  corpo  liquido 
ao  estado  solido. 

f  SYNDAGTYLO,  adj.  Termo  de  zoolo- 
gia. Que  tem  os  dedos  reunidos. 

SYNDERESIS,  ou  SYNUERE3E,  s.  f. 
(Do  grego  .^/jnteresig).  Termo  de  devoção. 
Remoi'so3  de  consciência. 

—  O  instiucto  moral,  e  o  conhecimento 
natural  do  bem  e  i!o  mal. 

SYNDESMOliRAPHIA,  6'.  /.  (Do  grego 
syndcsmvs,  e  grap/tê).  Termo  de  anato- 
mia. Descripção  dos  ligamentos. 

SYNDESiflOLOGIA,  s.  /.  Termo  de  ana- 
tomia. Tratado  dos  ligameuios. 

I  SYNDEoMO-PHARYNGIANO,  A,  adj. 
Termo  de  anatomia.  Fascicuio  syudesmo- 
pharyngiauo ;  fascicuio  carnudo  que  taz 
parte  do  constrictor  superior  da  pharyu- 

f  SYNDESMOSE,  s.  /.  Termo  de  ana- 
tomia. União  do<  ossos  por  ligamentos. 

f  SYNDESMOTOMIA,  *.  /.  Dissecção 
dos  ligamentos. 


SYNIl 

SYNDIGAÇÃO,  «.  /.  Acto  de  sj-ndicar. 

—  liili)iinarão  ju  licial. 
SYNDICANTE,    pari.  act.  de  Syndicar. 

Que  vai  syniiicar. 

—  íSulj>lautivamente:   Um  syudicante. 
SYNDICAR,    V.    n.    Tomar    informação 

judicial  do  procedimento  de  algum  juiz, 
ou  magistrado,  ou  qualquer  pessoa  que 
teve  oilicio,  mando,  ou  governo  por  el- 
rei,  a  quem  se  tira  reside. icia;  ou  tirar 
devassa  sobre  algum  caso. 

—  Figuiadamenle :  Censurar,  repre- 
hendcr,  criticar. 

SYNUICATURA,  t.  /.  (J  offieio  do  syn- 
dicante. 

—  A  acção  de  syndicaj". 

—  Figuradamente:  CeiíBura,  critica, 
reprclunsão. 

SYNDICO,  «.  /.  (Do  grego  tyndikos). 
Deputado,  procurador  de  cortes,  commu- 
nidiídes,  coliegiadas,  universidades,  ca- 
marás. 

SYNECDOCHE,  s.  f.  (Do  grego  syTiekdo- 
cliéj.  Figura  pela  qual  se  toma  o  género 
pela  espécie  ou  a  espécie  pelo  género,  o 
todo  pela  parte  ou  a  parte  peio  todo; 
exemplo :  as  i/ndaa  pelo  mar,  as  velas  pe- 
los navios,  etc. 

-{•  SYNECHIA,  «.  /.  Termo  de  medici- 
na. Adherencia  do  iris  com  a  córnea,  ou 
com  a  capsula  crvstallina. 

SYNEDERIM,  /.  m.   ViJ.  Synhedrim. 

SYNEDRIO,  s.  m.   Vi  1.  Synhedrim. 

SYNERE3I3,  ou  SYNERESE.  s.  f.  (Do 
grego  synairesis,  de  syn,  c  hairêo).  Ter- 
mo de  grammatica.  U  ajuntamento,  ou 
contracção   de    duas    vogaes  cm  uma  só. 

SYNERGIA,  s.  f.  Termo  do  physiolo- 
gia.  Cuncurso  d'acção,  de  esforço  entre 
diversos  órgãos  e  diversos  músculos. 

—  Associação  de  muitos  órgãos  para  o 
cumprimento  d'uma  fuucção. 

7  SYNERGICO,  A,  adj.  Que  diz  respei- 
to á  syuergia. — As  contracções  synergi- 
cas  de  vtuitos  músculos. 

I  SYNESTHETICO,  A,  a.lj.  Termo  de 
physiologia.  Que  experimenta  uma  sensa- 
ção simultaneamente  com  um  outro  ór- 
gão. —  As  partes  synestheticas  da  retina 
>i'uin  e  n'oufro  olho. 

SYNEVROSIS,  «.  /.  iDo  grego  syn,  e 
nevron'*.  Svmphv  is  ligamentosa. 
SYNFONIA,  s.  f.  Vid.  Symphonia. 
SYNGENESIA,  5.  /.  Termo  de  boUnica. 
Classe  lio  systema  de  Linneu,  que  com- 
prehcnde  as  plantas,  cujas  flores  tem  seus 
estames  reunidos  pelas  antheras. 

SYNGRAPHO,    í.   /.    ^Do  grego  «;/n.  c 
graphò'.  Tonno  de  jurisprudência.  Escri- 
'  pto   particular,    que    não   só   é  assignado 
I  pelo    devedor,    mas    tjkmbem    conjmicta- 
,  mente  pelo  credor,  ou  por  outras  pessoas 
I  para  maior  se-irurawça. 
I      SYNHEDRLrl,  SINEDRIM,  SANHEDRIM, 
'  SENHEDRIM,   ou  SYNHEDRIO,  *.  m.  No- 
me que  ni>  temi>o  de  Je-us  Cliristo  tiulia 
o    supremo    conselho   dos    judeus,    cujos 
I  membros    succederam  aos   70  escolhidos 


SYXO 


SYNT 


SYNT 


653 


por  Moysés  sob  outra  denominação :  n'e3- 
te  tribu:ial  eram  rleculidos  o?  negocies  do 
estado,  e  da  rôligiào. 

f  SYNIZESIS,  s.  /.  Termo  de  cirm-gia. 
Occlusão  da  pupilla  produzida  por  uma 
inflammação  espontânea,  ou  que  sobrevem 
em  segai'.'.a  á  operação  da  cataracta. 

SYNOCHO,  ou  SYNOCHA,  s.  (Do  latim 
aynochuá).  Termo  de  medicina.  Febre 
continua,  sem  augmento  nem  diminui- 
ção; diz-se  mui  particularmente  da  febre 
inflammatoria,  porque  de  todas  as  conti- 
nuas, esta  é  a  que  tem  um  curso  mais 
uniforme,  mas  os  antigos  também  davam 
esto  nome  á  febre  pútrida,  ou  gastro-en- 
terite  mui  intensa. 

SYNODAL,  adj  2  gen.  Que  pertence  ao 
synodo.  —  Regulamentos  synodaes. 

Uns  a  brilhante  escolha  lhe  louvarão 
Dos  Synodaes  Thcologos,  do  Arronches, 
Exímio  Pregador,  que  Ico  inteiro 
O  Livro  dos  Conceitos  predicáveis, 
O  Zodíaco  sob'rano  c  outros  muitos, 
Que  na  Esohola  Capucha  estào  em  praça. 
Do  Guardião  dos  Capuchos,  do  Roquete, 
Thomista  petulante,  e  confiado. 
DiMiz  DA  canz,  HYssoPE,  cant.  7. 

SYNODATICO,  s.  m.  Tributo,  que  se 
paga  em  Braga  durante  algum  synodo; 
são  oitocentos  reis  por  cada  pia  ou  egreja 
onde  se  baptisa. 

SYNODICO,  A,  adj.  Termo  de  astrono- 
mia, lievolução  synodica  da  lua,  ou  mez 
synodico  ;  tempo  empregado  pela  lua  para 
tornar  a  oecupar  a  mesma  posição  em 
relação  á  terra  e  ao  sol ;  é  o  tempo  de- 
corrido entre  duas  luas  consecutivas.  — 
O  mez  synodico  da  lua  é  de  29  dias,  12 
horas,  44  minutos,  e  2  segundos ;  esta  ex- 
pressão emprega-se  somente  em  opposi- 
ção  ao  mez  periódico  ou  mez  sideral  da 
lua,  que  é  de  27  dias,  7  horas,  43  minu- 
tos, e  11  segundos,  tempo  que  o  satellite 
gasta  em  fazer  sua  revolução  em  volta  da 
terra. 

—  Anno  synodico;  aquelle  que  conduz 
a  terra  a  uma  mesma  longitude  com  um 
planeta :  ha  pois  tantos  annos  synodi- 
C08  differentos  quantos  planetas  ha  circu- 
lando como  a  terra  em  volta  do  sol. 

SYNODO,  s.  m.  (Do  grego  si/nodos). 
Concilio  universal,  ou  ecuménico,  ou  par- 
ticular, nacional,  ou  provincial. 

—  Termo  de  astronomia.  A  conjuncção 
de  dous  planetas  no  mesmo  grau  da  ecli- 
ptica,  ou  no  mesmo  circulo  de  posição, 
onde  unem  as  suas  influencias. 

SYNONYMIA,  s.  /.  Figura  de  rhetorica, 
que  consiste  em  ajuntar  synonymos,  ou 
antes  termos  de  significação  aproximada, 
que  pareçam  synonymos. 

—  Em  historia  natural,  concordância 
de  diversos  nomes  que  se  tem  dado  a 
um  mesmo  animal,  a  uma  mesma  planta. 

SYNONYMICO,  A,  adj.  Que  pertence 
á  synouymia.  —  As  discussões  syaoaymi- 
cas. 


—  De  synonymo. 

SYNONYMO,  A,  adj.  (Do  grego  st/n,  e 
onyma).  Diz-se  cie  uma  palavra  que  tem,- 
pouco  mais  ou  menos,  o  mesmo  sentido 
que  uma  outra,  como:  fugir  e  safar-se; 
morrer  e  ferecer,    etc. 

—  Em  historia  natural,  diz-se  dos  no- 
mes dilFerentes  que  servem  para  designar 
o  mesmo  ser. 

—  S.  m.  De  signilicação  idêntica  ou 
similhante. 

—  Plur.  Titulo  de  certas  obras,  em 
fúrma  de  diccionario,  no  qual  vem  ex- 
plicadas as  diÔereuças  das  palavras  sy- 
nonvmas. 

SYNOPSE,  ou  SYNOPSIS,  s.  f.  (Do  gre- 
go synupsis),  Summario,  resumo,  epito- 
mo,  compendio. 

SYNOPTICO,  A,  adj.  Que  diz  respeito 
á  svnopse.  —  Methodo  synoptico. 

SYN03TE0L0GIA,  s.  f.  (Do  grego  syn, 
osteon,  e  logos).  Termo  de  anatomia.  Tra- 
tado das  articulações  e  dos  seus  meios  de 
união. 

7  SYNOSTOSE,  ».  /.  Termo  de  anato- 
mia. Soldadura  dos  ossos. 

—  Syuostose  craneana;  soldadura  das 
differeutes  peças  que  formam  o  craneo. 

SYNOVIA,  I.  f.  (Do  grego  *yn,  e  ôon). 
Termo  de>  anatomia.  Humor  exbalado  pe- 
las membranas  syuoviaes  que  forram  a 
superficie  das  cavidades  articulares. 

f  SYNOVIAL,  adj.  2  gen.  Termo  de 
anatomia.  Que  diz  respeito  á  synovia.  — 
Os  saccos  synoviaes. 

—  Membranas  synoviaes  ;  membranas 
análogas  ás  serosas  por  sua  disposição, 
mas  que  diíFerem  d'ellas  em  que  o  fluido 
que  ellas  segregam  c  espesso,  viscoso,  e 
habita  no  sacco  membranoso  em  quanti- 
dade iiotavel. 

—  Capsulas  synoviaes ;  saquinhos  mem- 
branosos  sem  abertura,  esbranquiçados, 
semi-transparentes,  delgados  e  moUes, 
formados  de  uma  única  folhinha  que  se 
desprega  sobre  as  superficles  das  cavida- 
des articulares  diarthroides,  e  nos  si- 
ties onde  existem  muitos  tendões. 

t  SYNOVINA,  s.  f.  Termo  de  chimlca. 
Substancia  orgânica  coagulavel  própria 
á  synovia,  e  diíferente  da  albumina. 

f  SYNOVITE,  s.  f.  Termo  de  medici- 
na. Inflammação  das  membranas  syno- 
viaes. 

SYNTAGTICO,  A,  adj.  Concernente  á 
svntaxe. 

'  SYNTAGMA,  s.  m.  (Do  grego  synta- 
gma).  Termo  didáctico.  Tratado  de  al- 
gum assumpto  dividido  em  classes  e  nú- 
meros. 

—  CoUecção,  pecúlio  de  direito,  ou  ou- 
tro assumpto  doutrinal. 

SYNTAXE,  s.  /.  (Do  grego  syntaxis). 
Termo  de  grammatica.  Modo  de  unir  en- 
tre si  as  palavras  de  uma  phrase,  e  as 
phrases  entre  si. 

—  Parte  da  grammatica  que  trata  do 
arranjo  das  palavras,  da  construcção  das 


orações,  das  relações  lógicas  das  pHrases 
entre  si,  e  das  leis  geraes  e  particulares 
que  se  devem  observar  para  tornar  iima 
linguagem  e  seu  estyio  correctos,  puros 
e  elegantes. 

SYNTELGLGGIA,  s.  f.  (Do  grego  syn, 
telos,  e  logot).  Termo  de  economia  poli- 
tica. Sciencia  que  ensina  os  meios  de 
prover  ás  necessidades  do  estado  politico 
com  os  recursos  do  estado  social ;  conhe- 
cida vulgarmente  pelo  nome  de  sciencia 
da  fazenda,    ou  finanças. 

SYNTERESIS,  s.  /.  Vid.  Synderesis. 

SYNTHESE,  ou  SYNTHESIS,  s.  f.  (Do 
grego  synthèsis).  Methodo  de  composição. 

—  Termo  de  chimica.  Operação  pela 
qual  se  reúnem  os  corpos  simples  para 
formar  os  compostos,  ou  os  corpos  com- 
pestos  para  formar  outros  d'uma  compo- 
sição mais  complexa. 

—  Acção  de  recompor  um  corpo  com 
seus  elementos  separados  pela  analyse. 

—  Termo  de  pharmacia.  Composição 
dos  remédios. 

—  Termo  de  cirurgia.  Reunião  de  par- 
tes divididas. 

—  Termo  de  lógica.  Processo  lógico, 
que  opposto  á  analyse,  desce  dos  princí- 
pios ás  consequências,  e  das  causas  aos 
effeitos. 

—  Termo  de  philosophia.  Operação 
mental  pela  qual  se  construe  um  svs- 
tema. 

—  Termo  de  mathematica.  Demons- 
tração das  proposições  pela  única  deduc- 
ção  d'aquellas  que  já  estão  provadas. 

—  Termo  de  grammatica.  Figura  que 
consiste  em  reunir  em  uma  só  duas  pala- 
vras primitivamente  separadas. 

SYNTHETICAMENTE,  adv.  (De  synthe- 
tico,  e  o  suffixo  «mente»).  De  um  modo 
synthetico.  —  Demonstrar  syntheticamen- 
te   uma  proposií^ão. 

—  Conforme  o  methodo  synthetico,  de- 
duzindo das  definições  consequências  ti- 
radas da  natureza  da  cousa  pihysica,  ou 
moral,  ou  metaphysica,  que  comprehende 
a  mathematica,  e  seus  theoremas,  ou  con- 
clusuts :  diz-se  em  opposição  ao  methodo 
analytico. 

SYNTHETICO,  A,  adj.  Termo  de  chi- 
mica. Que  ajuda  a  formar  uma  synthe- 
se,  a  reproduzir  por  synthese.  —  Expe- 
riências syntheticas  relativas  aos  meteo- 
rites. 

■ —  Que  pertence  á  synthese.  —  Metho- 
do synthetico.  —  Demonstração  synthe- 
tica. 

—  Que  é  hábil  para  a  synthese.  — Es- 
pirito  synthetico. 

t  SYNTHRONE,  adj.  Termo  do  poly- 
theismo.  ■ —  Divindades  synthrones  ;  di- 
vindades representadas  assentadas  egual- 
mente  em  thronos. 

SYNTONIA,  s.  ,?'.  Termo  de  musica. 
Continuação  do  mesmo  som. 

t  SYNT ONINA,  s.  /.  Fibrina  muscu- 
lar. 


654 


SYSS 


■[  SYNTROPHICO,  A,  adj.  Tcnno  de 
botiinica.  Ciiit;  vivo  em  uui  outro  corpo 
vivo,  Hcm  SC  luiti-ir  «rd lo. 

-[-  SYPHILIDE,  8.  /.  'Icniio  de  medici- 
na. Nnuic  .lalo  :is  adccrnos  cuUucaH  qiio 
estão  debaixo  da  doijoiídeacia  da   sypbi- 

lis. 

f  SYPHILIGRAPHIA,  ».  /.  DescripçHo 
da  sypliilis. 

f  SYPHILIGRAPHICO,  A,  aJj.  Quo  diz 
respeito  á  dcscriíiv-io  da  sypliilis. 

f  SYPHILIGRAPHO,  s.  m.  Auctor  quo 
descrevo,  a  svj)hiiÍ8. 

SYPHILIS,"  s.  /.  (Do  latim  syphilis). 
Toniio  de  modicina.  Doença  espccitíca 
transniittida  polo  contacto,  e  pela  he- 
rança, caracterisada  cm  seus  dillerontes 
períodos  por  certos  accidentcs,  cuja  evo- 
lução é  subordinada  á  acçào  do  virus  sy- 
philitico,  o  cuja  marcha  é  ordinariamen- 
te determinada;  distincta  das  allVcçõcs 
venéreas,  quo  se  ganham  pelo  contacto, 
mas  que  se  não  tornam  próprias  da  cons- 
trucção. 

—  Termo  po]iular.  Gallico. 

f  SYPHILISAÇÃO  s.  /.  Termo  de  me- 
dicina. Espécie  de  saturação  dos  órgãos 
vivos  pelo  virus  ayphilitico. 

SYPHILITICO,  À,  adj.  Que  pertence  á 
svjihilis.  —  l'i)ií.s  syphilitico.  —  xlcci- 
dentas   syphiliticos. 

—  Substantivamente:  Os  syphiticos  ; 
os  doentes  atVectados  da  syi)hilis.  —  Um 
hospital   lie  syphiliticos. 

f  SYPHILOIDE,  adj.  2  yen.  Que  tem 
a  fiUMua  lia  svphilis. 

f  SYPHILÒMANIA,  .s.  /.  Termo  do  me- 
dicina. Monomania  ([uc  consiste  em  Julgar 
que  se  está  com  aftecção  syphilitica;  cn- 
■contra-se  não  só  entre  os  syphiliticos  cu- 
rados, mas  também  entro  aiiuelles  que 
não  tem  nem  aecidentes  syphiliticos,  nem 
accidontes  venéreos. 

SYRENICO.  Vid.  Sirenico. 

SYRIACO,  A,  £«/;'.  Diz-se  da  língua  que 
fallavam  os  antigos  povos  da  Syrla. 

—  Que  está  eseripto  em  lingua  syria- 
■ca. — As  tmducções  syriacas  dos  aucto- 
res  gregos. 

—  Substantivamente:  O  syriaco;  a 
-a  lingua  svriaea. 

.  f  SYRINGOTOMIA,  s.  f.  Termo  de  ci- 
rurgia. <  )])eraçrio  da  fistula  ]ior  incisão. 

f  SYRINGOTOMO,  s.  m.  Termo  de  ci- 
rurgia. Instrumento  quo  servia  outrora 
para  a  operação  da  fistula  no  anus. 

SYRIO,  s.  m.  Vid.  Sirio. 

SYRONES,  s.  7)1.  7;/ií>-.  Lombrigas  pe- 
quenas ((uo  nascem  entre  a  pelle  e  a  car- 
ne, e  produzem  anciãs  e  choros. 

SYRPHOS,  s.  m.  plur.  (Do  grego  si/r- 
2)kos).  Termo  de  historia  natural.  Géne- 
ro de  insectos  dipteros. 

SYRTES,  s.  m.,  ou  f.phn:  (Do  grego 
si/rtis).  Bancos  mui  perigosos  pai"a  os  na- 
vios, onde  exi  tem   pienhascos. 

f  SYSSARCOSE,  s.  /.  Termo  de  ana- 
tomia. União  doa  ossos  por  meio  das  car- 


SYST 

nc8  e  dos  músculos ;  tal  é  a  uniilo  das 
omoplatas  com  as  costas. 

-j-  SYSSIDERO,  «.7/1.  Meleorite  conten- 
do fenci  com  graus  pedregoso». 

I  SYSTALTICO,  A,  adj.  Termo  de  phy- 
sioliigia.  Que  tem  o  caracter  da  systole. 
—  Moviíiiciitij  systaltico  das  urUriua. 

SYSTEMA,  «.  111.  (Do  grego  systilma). 
Um  composto  de  partes  coordenadas  eu- 
tre  8Í.  Descartes  6  propriamente  o  pri- 
meiro que  tratou  do  systema  do  mundo 
com  algum  cuidado  e  alguma  extensão. 

—  Systema  do  mundo;  dá-se  este  no- 
me á  reunião  e  disposição  dos  corpos  ce- 
lestes, o  á  ordem  pela  qual  estes  corpos 
estão  situados  relativamente  uns  aos  ou- 
tros, e  segundo  o  qual  elles  se  movem. 

—  Termo  de  anatomia.  Conjuncto  das 
partes  similares. 

—  Constituição  politica,  e  social  dos 
estados.  —  O  systema  feudal.  —  O  sys- 
tema representativo. 

—  Em  historia  natural,  toda  a  classifi- 
cação methodica  dos  entes  naturaes. 

—  O  systema  métrico;  o  conjuncto 
das  medidas  deduzidas  do  metro  como 
base  fundamental. 

—  Systema.  òiòliographico;  ordem  quo 
se  segue  na  classificação  dos  livros. 

—  Termo  de  geologia.  Synonymo  de 
terreno. 

—  Plano  que  se  forma,  meios  que  se 
propõem  para  acertar  em  alguma  cousa. — 
Systema  de  condticta.  —  Systema  de  go- 
lerno.  —  «Quando  a  semelhança  se  não 
descobria,  disia-se  para  salvar  o  syste- 
ma, que  o  modelo  era  o  de  algum  ani- 
mal desconhecido.»  Cavalleiro  d'Ollvei- 
ra,  Cartas,   liv.  2,  u.°  44. 

—  Systema  solar;  systema  de  Copér- 
nico mais  ai>erfeiçoado,  cm  que  se  e<ta- 
belece  que  o  sol  está  fixo  no  centro  do 
universo,  e  a  torra  e  os  outros  planetas 
gvrando  em  volta  d'elle. 


Do  S;istema  Solar  como  aberríiutcs, 
Em  torno  doutro  centro,  cu  vejo  a  torva 
Ijíuoa  face  de  excêntricos  Cometas, 
Tardios  em  iiiostrar-ae,  infaustos  sempre 
Ao  vulgo  iudouto,  aos  piiUidos  Tyranos. 
Em  cujas  màoi  vacilla  o  Sceptro,  c  uuuca 
Fixo  na  frente  o  Diadema  existe. 

J.   A.   DE  MACEDO,  VIAOBSI  EXTÁTICA,  CaUt.  1. 

Ilhas  descubro,  altíssimas  inoutanhas, 

De  cuja  aérea  frente  se  derrama 

A  luz  reflexa,  que  na  Terra  bate; 

Luz,  que  Uie  en\-ia,  c  lhe  diffunde  o  Astro, 

Que  no  centro  do  circulo  pnsmoso 

O  ÍStjstema  Solar  ao  diz,  o  chama. 

lUIDKU. 


Mas  eonhecer-Uie  as  Leia,  nuis  sujeitnr-lho 
O  mo\-imeiifo  ao  CJílculo  jirofundo, 
E  na  dúplice  opposta,  iminenaa  força. 
Com  que  lio  levado  ao  centro,  o  dcUe  fogo 
No  Siistema  Solar  fechado  o  corpo. 
Como  dest'arto  o  circulo  descreva. 
E  3C  mova  maia  rápido,  ou  maia  tardo. 
Na  raxào  da  distancia  ao  centro  imniobil, 


SYST 

Tu  »/>  podRSte,  Newton  portentoso, 
Tai,'H  inysterios  eipór  com  luz  raaio  clara. 
iiuiiKU,  cant.  3. 

—  Doutrina,  por  meio  da  qual  se  dis- 
põe e  coordenam  todas  as  noções  parti- 
culares. 

Sobre  as  ruínas  de  *v»í<mcu  tantos 

()uc;o  a  voz  da  Vi;rdude  augusta,  e  simples. 

J.    A.    OK   UACK.UO,  A   KATLBIZA ,  CAUt.    1. 

Viios  nyftemwi,  que  as  girrulaa  Escolas 
Em  fantásticos  tbronos  collocário, 
Vào  no  abyitmo  caliir,  donde  sahirio. 
A  (!.tiioriencia  b/)  corrige,  emenda, 
Quanto  á  t<-imosa  obaervaçilo  so  oppanha. 

IDKM,  TIAOEM  KXTATICA,  Cant.   4. 

Entre  raios  de  luz  maia  fulpurantcs 
Vejo  o  profundo  Sócrates,  o  Justo, 
(Quanto  sor  pode  impura  Natureza, 
Calva,  c  ru{ro:<a  a  frenti',  a  tez  sombria: 
Ao»  movimentos  d  alma  attcnto  sempre, 
Do  coração  no»  pcnetraca  entrando, 
{'om  sorriso  Socrático  escarnece 
f)a  vãos  »i/rf<ma'  físicos  do  Mundo, 
Que  á  mente  dos  mortacs  ignotos  deixa. 
No  seio  immeraoa  do  M^itor  Supremo. 
iBiDBU,  cant.  2. 

Vejo  Aristipo,  Anthistftues  descubro; 
Hum  busca  o  aummo  bem  no  inerte,  c  baixo 
Prazer,  que  encanta  os  corporaes  sentidos; 
O  lisonjeiro  do  8.ig:iz  Augusto, 
Teu  it/ftema  tal  foi ;  teus  auroos  Vcrsoa 
Si'imentc  o  ("ortezão,  c  Amor  rcspirào 
Entre  as  infames  libações  de  Baccho. 

IRIDEU. 

Esta  no  Mundo  profícua,  ignota  fonja. 
De  teu  continuo  meditar  foi  obra, 
Ó  Génio  do  Tamisa,  <-âte  prodiçio : 
EUe,  (í  Oenio  profundo,  a  teu  Svftema 
A  base  foi  lançar,  e  abrio  caminho. 
IBIDEM,  Ciint.  3. 

Ab!...  Catão.  —  E3i>er«9  d'clle 
Que  attenda  ao  bera  coramum .  que  deixo  os  sonhos 

De  sua  stoica,  van  pliilosophia, 

Que  sacrifique  o  orgulho  de  um  tyitemaf... 

OABBETT,  CATÃO,    act.    1,  SC.    3. 

—  Systema  do  universo;  o  aggregado 
de  corpos  de  que  elle  consta,  suas  rela- 
ções, leis,  conforme  as  varias  hypotheses 
dos  philosophos. 

—  Systema ;  um  dos  elementos  da  scien- 
cia,  a  dispo.«iição  dos  factos,  de  modo  que 
forme  um  corpo  unieo. 

—  Termo  de  musica.  Systema  musico; 
o  seguimento  de  dous  ou  mais  intorval- 
los,  que  fazem  duas  ou  mais  consonan- 
cias. 

—  Syx.  :  Systema,   thtoria. 
Systema  significa   em  geral   enlace  de 

principies,  máximas  c  conclusões  relati- 
vas a  uma  matéria.  Tlteoria  é  o  conheci- 
mento especulativo  da  essência  e  quali- 
dade das  cousas. 

Systema  6  mais  exteuso  que  theoria, 
em  linguagem   scientifica,    e  refere-ee  á 


SYST 


SYST 


SYZI 


655 


coordenação  do?  factos  ou  princípios  ge- 
raes,  mais  que  á  relação  entre  as  causas 
e  os  cfFeitos.  Tkeoria  é  ordinariamente  a 
exposição  das  relações  entre  os  pheno- 
menos  naturaes,  fundada  em  observações, 
experiências  ou  cálculos. 

Usa-se  também  da  palavra  systema 
para  designar  doutrina  hvpothetica,  e  na 
accepção  de  norma  de  proceder  de  pes- 
soas ou  governos.  Os  inglezes  tem  por 
systema  reduzir  na  paz  a  marinha  mili- 
tar eífectiva ;  em  nenhum  d'estes  casos 
se  usa  a  palavra  tkeoria. 

SYSTEMAR,  r.  a.  Pôr  em  systema, 
reiuzir  a  svstenia. 

SYSTEMATICAMENTE,  aãv.  (De  sys- 
tematico,  com  o  suffixo  «mente»).  De 
um  modo  systematico. 

—  Por  svstema,  seíjuindo  um  svstema. 
SYSTEMATICO,  A,  ^adj.  Que  sè  refere 

a  um  systema. 

—  Em  que  ha  systema. 

—  Diz-se  das  pesseas  que  formara  um 
systema,  que  adoptam,  e  seguem  um  sys- 
tema. 

—  Diz-se,     na    linguagem    geral,    das 


opiniões,    dos   sentimentos    aos    quaes  se 
entestam  como  a  um  systema. 

—  Substantivamente  :  Um  systemati- 
co. —  Alguns  systematicos. 

t  SYSTEMATISAR,  v.  a.  Reunir  fa- 
ctos a  opiniões  em  um  só  corpo  de  dou- 
trina. —  Systematisar  uma  sciencia. 

f  SYSTEMATOLOGIA,  s.  f.  Historia  dos 
systemas. 

t  SYSTEMATOLOGICO,  A,  adj.  Que 
diz  respeito  á  systematologia. 

SYSTOLE,  s.  /.  (Do  grego  systoU,  de 
systellS).  Termo  de  physiologia.  O  esta- 
do do  coração  em  que  as  fibras  muscula- 
res d'e3te  órgão  estão  em  contracção;  o 
que  determina  a  compressão  das  partes 
contraliidas,  isto  é,  a  diminuição  do  seu 
volume,  e  de  suas  cavidades  em  todos  os 
diâmetros  simultaneamente. 

—  Systole  arterial;  compressão  das 
artérias,  devida  á  sua  elasticidade,  que 
faz  que  ellas  voltem  sobre  si  mesmas 
depois  de  terem  sido  distendidas  pelo 
sangue  que  expelle  a  systole  ventricu- 
lar. —  A  systole  arterial  coincide  com 
a  diástole  cardíaca. 


—  Licença  poética  pela  qual  se  em- 
prega como  breve  uma  svllaba  longa. 

f  SYSTOLICO,  A,  adj'.  Que  tem  rela- 
ção com  a  systole.  —  Movimento  systq- 
lico. 

f  SYZETESE,  s.  f.  Figura  de  rheto- 
rica  pela  qual  se  começa,  e  se  estabelece 
uma  discussão. 

■j-  SYZETETE,  s.  m.  Diz-se  de  certos 
doutores  judeus,  que  buscam  os  sentidos 
allegoricos  e  mythicos  da  Escriptura. 

SYZIGIO,  s.  77i.  (Do  grego  syzigiO,  de 
syn,  eztíiguyô).  Termo  de  astronomia.  Po- 
sições do  sol  e  da  lua,  quando  estes  as- 
tros estão  em  conjuncção  ou  em  opposi- 
ção,  isto  é,  á  lua   nova,    ou  á  lua  cheia. 

—  Diz-se  também  dos  planetas. 

—  Termo  de  poesia  antiga.  Reunião 
de  muitos  pés  em  um  só.  —  O  latim  li- 
bertale  é  um  epitrite  formado  pelo  syzi- 
gio  de  um  espundeo  e  de  um  trocheo. 

—  Syzigios  valentinianos ;  no  gnosti- 
cismo,  determinações  e  pessoas  da  essên- 
cia divina,  desenvolvendo-se,  dous  a  dous, 
cada  ionio  masculino,  tendo  a  seu  lado 
um  ionio  feminino. 


IWR 


*.  j)i.  Vigésima  letra  do  al- 
phabeto  portuguez,  decima 
sexta  consoante. 
-  v.í-BMi  — No  alphabcto  physiolo- 
FíJ^jSÍ  gico  o  t  é  a  momentânea 
dental  dura;  a  branda  ou  sonante  em 
que  elle  muitas  vezes  degenera  é  o  d, 
no  respectivo  órgão;  o  t  degenera  tam- 
bém em  muitas  linguas  em  s,  principal- 
mente diante  d'outro  t  ou  d. 

—  Na  passagem  do  latim  ao  portuguez 
o  t  foi  muitas  vezes  abrandado  cm  d :  me- 
ta deu  meda,  moiieta  deu  moeda,  etc. ; 
n'alguns  casos  esse  d  nascido  de  t  foi  de- 
pois syncopado:  impigem  de  imjjedifjem 
do  latim  impetiginovi ;  amaes  de  amades 
do  latim  amatis. 

—  Um  T  gi-ande,  um  t  pequeno.  Um 
T  de  caixA   alta;  um   t  de  caixa  baixa. 

—  Como  abreviatura  o  t  designava 
160  e  com  um  traço  horisontal  por  cima 
160000. 

—  T  designa  tolo.  —  Ter  um  t  na  tes- 
ta; ser  tolo.  —  Pôr  a  alguém  um  t  Tia 
testa;  logral-o  como  tolo. 

—  O  t  em  portuguez  tem  sempre  a 
mesma  pronuncia  forte  e  dura;  nunca  se 
pronuncia  senão  isolado  como  as  outras 
consoantes,  isto  é,  não  dobrado.  No  final 
d'algiins  nomes  estrangeiros  não  se  pro- 
nuncia, como  Mahomet,  pron.  Mahomé, 
Murat,  etc.  Deve  porém  pronunciar-se 
nos  nomes  allemãcs,  inglezes  e  de  todas 
aquellas  linguas  em  que  ello  se  pronun- 
cia n'es3e  caso,   como  em  Mozart,  etc. 

—  Vejamos  alguns  testemunhos  dos 
grammaticos  portuguezes  acerca  do  t. — 
«T  dobrão  attento,  attencção,  attentado, 
attonito,  attrahaer,  attribuir,  attrição,  e 
os  nomes  próprios  Atteio,  Attico,  Attica, 
Attilio.  Item  gaito,  gotta,  gotto,  mctter, 
arremetter,  permiftir,  prometter,  Scotto, 
Scottia,  scetta.  Item  os  diminutivos  em 
.te.  ou  .ta.  como,  verdetfe,  pequenette, 
peqxienetta,  mocetfs,  mocetta,  etc.»  Duar- 
te Nunes  de  Leão,  Orthographia  da  lin- 

voL.  V.  —  83. 


gua  portngueza.  —  «A  Letra  T  he  uma 
das  mudas,  c  tê  muyto  parentesco  com 
o  d,  (como  diz  Quintiliano),  se  nam  que 
o  t  se  forma  com  mays  espirito,  ain- 
da que  no  mesmo  logar,  e  com  a  lín- 
gua mays  levantada  para  o  pádar,  do 
que  o  d,  que  se  forma  com  ella  entre  os 
dentes ;  e  por  esta  semelhança  os  antigos 
escreviam  muytas  palavras,  em  que  en- 
trava d  por  t,  como  set,  por  sed;  atven- 
tus  por  adventus ;  como  diz  Vitoriuo ;  c 
Alexanter,  (Jnssantra,  por  Alexandre, 
Cassandra,  segundo  Quintiliano;  e  ou- 
tros pelo  contrario  escreviam  d,  por  t, 
como  amavid,  por  amavit.s,  João  Franco 
Barreti),  Orthographia  da  lingua  portu- 
gueza,  pag.  163. —  «A  Letra  T,  que  he 
muta,  pronuncia-se,  applicando  mais  for- 
te, e  altamente,  de  que  na  Letta  D  a 
parte  anterior  da  lingua  aos  dentes  de 
cima.  Us  Gregos,  e  Hebreus  chamam  Tan, 
ou  Than,  a  esta  Letra,  a  qual  com  sua 
figura  representa  a  Cruz,  em  que  mor- 
reu N.  Senhor  Jesu  Christo,  Redemptor, 
e  Salvador  do  Mundo.  Por  esta  repre- 
sentaçam  foi  sempre  a  mesma  Letra  húa 
feliz  Nota,  ou  Signal  de  redempçam,  gra- 
ça e  vida.»  Fr.  Luiz  do  Monte  Carmelo, 
Compendio  de  orthographia,  pag,  418. 

TÁ.    Interjeição    equivalente    a    tende 
mão,   parai. 


Ó  já  díil-a 
fora  om  mi  acompanhal-a. 
Quero  d'aqui...  tá,  não  quero, 
essa  honra  qucvo  cscu9Ml-a, 
porque  hei  medo  de  achar  cA 
minhas  primas  dona  Hilária, 
dona  Bernalda  :  se  vá, 
João  Antão  abastará. 
Hei  de  ir. 

AXTONIO  PRESTES,  AUTOS,  pag. 


TÃ,  por  Tam.  —  «E  quasi  no  meyo 
delle  a  mayor  lagvja  que  os  homens  des- 
cobrirão, chamada  Cafa,  ou  Bethe  no  co- 


raçam  da  qual  está  a  Ilha  Meroè  onde  a 
Raynha  Sabà  fundou  huma  Cidade,  cha- 
niâdoa  de  seu  próprio  nome,  a  qual  affir- 
ma  Paulo  louio  ser  tã  grande  que  con- 
tém trcs  Raynos.i)  Fr.  Gaspar  de  S.  Ber- 
nardino, Itinerário  da  índia,  cap.  8. 

TAA,  s.  Assim  denominavam  os  mou- 
ros cada  uma  das  cabildas  ou  almolcellas, 
compostas  de  nmitos  aduares,  em  que  di- 
viiiiam  algumas  porções  de  terra.  Tal  foi 
em  Hespauha  a  divisão  que  elles  fizeram 
das  montanhas  das  Alpuxarras,  que  re- 
partiram em  onze  taas,  que  eram  como 
cabeças  de  partido,  julgados,  ou  conce- 
lhos, governados  por  um  chefe,  e  todos 
sujeitos  a  um  só  rei,  a  quem  pagavam  os 
devidos  direitos,  e  tributos. 

—  Termo  antiquado.  Até,  atá. 
TAAES,  plur.  ant.   de  Tal.    Vid.    Tal. 

—  «E  porem  os  Adays,  e  os  Almoca- 
deens  devem  muito  catar,  que  levem 
comsigo  piaaens  nas  cavalguadas,  e  em 
outros  feitos  de  guerra  taaes,  que  sejam 
usados  da  terra,  e  destas  cousas  que  su- 
so  dito  havemos.»  Ord.  Affons.,  liv.  1, 
tit.  67. —  «E  dizemos,  que  se  algum  ho- 
mem ouvesse  alguma  cousa  per  titolo  de 
compra,  escaimbo,  ou  doaçom,  ou  qual- 
quer outro  titolo  semelhante,  e  em  cada 
hum  dos  ditos  contrautos  lhe  fosse  dado 
poder  per  aquelle,  de  que  a  dita  cousa 
ouve,  pêra  filhar  e  aver  a  posse  delia,  di- 
mitindo  e  desemparando  a  dita  posse  de 
si,  em  taaes  casos  e  cada  hum  delles 
Mandamos,  qiie  aquelle,  que  assi  a  dita 
cousa  ouve,  possa  per  sua  autoridade  aver 
e  cobrar  a  posse  delia.»  Idem,  liv.  4,  tit, 
64,  §  7. 

TABACAL,  s.  m.  Logar  plantado  de  ta- 
baco, herva. 

f  TABACICO,  A,  adj.  Que  diz  respei- 
to ao  tabaco. 

—  Acido  tabacico ;  mistura  de  ácidos 
malico  e  citrico,  extrahido  do  tabaco. 

TABACO,  s.  m.  Planta  que  se  cultiva, 
e  se  prepara  de  diversos  modos,   que  se 


658 


TABE 


TABE 


TABI 


masca,  que  se  fuma  o  que   se   aorve    em 
pó  pelas  ventas. 

—  Dá-so  também  esto  nomo  ou  ;i  plan- 
ta mesmo,  ou  ao  ])(')  feito  d'olla,  o  qual 
80  toma  pelas  ventas,  o  do  <iuo  ha  mui- 
tas espécies,  como  o  simonte,  rapé,  prin- 
ceza,  esturro,  reserva  do  mestre,  maçaro- 
ca, kentucki,  vírginia,  Jlêr  jjicada,  im- 
perial, jlôr  escolhida,  ctc,  ou  ils  folhas 
inteiras  soccas  ao  sol. 

—  Tabaco  de  fumo;  o  que  ao  usa  nos 
cachimbos,  sorvendo-se  o  fumo  da  hcrva 
queimada  n'ollcs. 

—  Tabaco  de  fumo;  o  cigarro,  o  clia- 
ruto. 

f  TABACOLOGIA,  s.  f.  Tratado  sobre 
o  tabaco. 

TABALHIOM,  s.  m.  Termo  antiquado. 
Vid.  Taballião. 

TABALINHO,  s.  m.  Vid.  Atabalinho. 

TABALLIADEGO,  s.  m.  Termo  antliiua- 
do.  OfTicii)  fie  tabellião. 

TABALLIADO,  s.  »«.  Vid.  Tabelliado. 

TABALLIÃO,  .t.  m.  Vid.  Tabellião. 

TABANCA,  s.  f.  Termo  da  Ásia.  i'or- 
tagom,  mesa  }iara  airecadaí^ãu  de  direito. 

TABANEZ.   Vid.  Tavanez. 

\  TABANIANOS,  s.  m.  plur.  Familia 
de  insectos  dipteros,  á  qual  pertence  o 
moscardo. 

TABÃO,  .•!.  m.  Vid.  Tavão. 

TABAQUE,  s.   m.   Viil.  Atabaque. 

TABAQUEAR,   u.  a.  Dar  tabaco. 

—  Tomar  tabaco. 

—  Termo  popular.  Lograr,  pctear. 
TABAQUEIRA,  s.  /.  Vid.  Tabaqueiro. 

—  Tonia-sc  por  caixa  de  tabaco;  bo- 
ceta de  tabaco. 

TABAQUEIRO,  A,  s.  Tessoa  que  faz  ta- 
baco. 

—  Pessoa  que  vende  tabaco. 

—  Vid.  Tabaquista. 
TABAQUISTA,  í.    2    gen.    Tcasoa    que 

toma  tabaco,  que  faz  uso  d'elle. 

TABARDILHA,  *.  f.  Diminutivo  de  Ta- 
bardo. 

TABARDILHO,  s.  m.  Febre  podre,  que 
arroja  ;l  pello  umas  pintas  como  picadas 
de  pulgas  ou  gr.àosinhos  de  varias  cores. 

TABARDO,  ou  TABARRO,  s.  m.  Termo 
antiquado.  Uma  capa,  um  casacão,  ou 
um  capote  com  capuz  o  mangas. 

—  Adagio  k  mtovEuuio  : 

—  Tabardo  o  botas  cobrem  as  costas. 
TABAREO,  ou  TABARÉU,  «.  »!.  Solda- 
do de  orilcuanc;a  ;  mal  cxereitadn. 

TABARRO,  s.  m.  Vid.  Tabardo. 

TABARZET,  íí.  ;)i.  Espécie  de  assuear 
branco  e  duro,  quo  se  faz  de  umas  can- 
nas  como  as  do  iirazil. 

TABAXIR,  s.  m.  Termo  da  Arábia.  As- 
suear de  bambii. 

—  Tabaxir  dos  alfaiates;  espécie  de 
giz  branco  de  que  os  alfaiates  se  costu- 
mam servir. 

TABAZ,   s.    m.    Lobo. 
TABEFE,  s.    m.    Leito    engrossado   ao 
lume  com  assuear  e  ovos. 


—  Termo  do  Alemtejo.  A  agua  quo 
fiea  dl)  leit(!  coalhado  para  se  qucijar. 

TABELLA,  s.  f.  (Do  latim  tabeliã).  Ta- 
boasinha  cm  <]uc  ostào  registrados  os  no- 
mes do  algumas  ])essoas;  pautas. 

—  Tc.iino  lio  jjharmacia.  Electuario  so- 
lido feito  cm  tal.iadaa. 

TABELLIADO,  «.  m.  Officio  do  tabel- 
liXo.  Vid.  Taballiado. 

—  Imposto  ou  tributo  antigo.  —  «O 
jirimeiro  capitulo  he:  Que  os  contrautos 
de  compras  o  vendas,  locayoòcs,  enpres- 
tidos,  cstipulacoões,  o  permis.soòes  antro 
vivos,  ou  causa  mortia,  e  Icguadoa  lei- 
xados  em  testamentos,  ou  abintestado,  e 
afloramentos,  e  arrondamcntos,  censos,  e 
tributos,  como  som  portagcena,  açouga- 
gens,  ehanccllarias,  portarias,  taballia- 
dos.»  Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit.  1,^2. 

TABELLIÃO,  s.  m.  (Do  latim  tabellio). 
Oflicial  pulilico  quo  faz  as  escripturas  c 
instrumentos  em  que  se  requer  autlieiiti- 
cidaile  legal,  e  conserva  os  traslados  d'el- 
las  nas  notas,  reconhece  os  siguacs,  ctc. 
Vid.  Taballião.  —  «De  qualquer  termo 
em  que  for  escripta  rcvellia,  e  fczor 
meonyom  do  como  a  parte  foi  apregoa- 
da, levani  o  Taballiam,  ou  Esci-ipvaõ 
desse  termo  da  parte,  em  cujo  favor  he 
o  termo,  dous  brancos.»  Ord.  Affons., 
liv.  1,  tit.  3."i,  §  5.  — -  «A  qual  Cédula 
porleúda,  o  dito  Concelho  pedio  a  mim 
dito  Tabellião,  (juc  a  tornasse  em  publi- 
ca forma  sob  meu  signal ;  o  de  mais  man- 
darem todos  em  hum  acordo  a  Vasco  íiil 
Chanceller  do  Concelho,  que  scellasse  es- 
te Estormcnto  do  Seello  pendente  do  Con- 
celho por  maior  firmeza  nas  ditas  cousas, 
o  esto  foi  feito  no  dito  Logo,  no  dito 
dia,  e  na  Era  suso  dita.»  Ibidem,  liv.  4, 
tit.  ;"),  §  12.  —  «E  mando  a  todolos  Ta- 
belliaães  dos  meus  Regnos,  que  registem 
esta  minha  Caita,  e  a  leam  hunia  vez  na 
domaã  em  Concelho  nas  Villas,  o  Luga- 
res do  meu  Senhorio.  Dante  em  Lixboa 
dezoito  dias  de  Mayo.  Ellley  o  mandou 
com  Conselho  da  sua  Corte.  Domingue 
Auncs  a  fez  Era  de  mil  e  trezentos  e 
cincoenta  e  dous  annos.»  Ibidem,  tit.  G, 
§  4.  —  oE  Jlando  a  touoios  Taballiaães, 
(]ue  esta  Carta  virem,  que  a  registem. 
Dada  em  Coimbra  a  cinquo  dias  de  Ja- 
neiro Era  de  mil  o  trezentos  o  trinta  c 
dous  anims.»  Ibidem,  tit.  64,  §  3.  —  «E 
nom  veendo  elles  as  ditas  Cartas,  ou  ou- 
tro alguum  justo  titulo,  per  i(ue  lhes  pcr- 
ten^'a  a  cousa,  de  que  assi  querem  filhar 
a  posse,  assi  como  testiimcuto,  ou  code- 
eilio,  ou  Carta  de  foro  feita  polo  senhor 
da  cousa,  em  tal  caso  Mand.imos,  que 
esses  Taballiãaes  lhes  nom  dem  estor- 
mentos  de  taae.>  posses.»  Ibidem,  §  7. 
— •  «E  03  Nossos  Tabaliaães  lhe  possam 
dar,  e  de  feito  dem  Estormentos  públi- 
cos de  como  assi  filharom  a  dita  posse 
sem  outro  mandado  de  Justi«;a,  veendo 
esscá  Taballiaães  primeiramente  as  Car- 
tiis  das  compras,  escaimbo,  ou   doaçoões 


feitas  sobro  as  ditas  Cousas,  de  que  assi 
os  ditos  compradores,  escainibadores,  ou 
Donatários  quiserem  filliar  a  dita  posse.» 
Ibidem. 

—  Escriytura  lavrada  nas  notas  do  ta- 
bellião ;  (-,sei-iptura  lançada  u'ellas. 

TABELLIAR,  i-.  a.  Fazer  as  vczca  ou 
o  officio  ilc  tabelliito. 

TABELLIO  A,  adj.  f.  —  Letra  tabel- 
liõa ;  letra  larga,  mal  feita  o  encadeada. 

—  Palavras  tabelliõas;  palavras  que 
80  dizem  por  formalidade,  sem  intento  do 
se  cuni['rircm,  Kcni  olhar  nem  fazer  caso 
daquillo  a  (pic  cilas  obrigam. 

TABERNA,  s.  f.  (Do  latim  taberna). 
Vid.  Taverna.  —  «Desde  o  jialacio  até  a 
taberna  e  o  j)rostibulo ;  desde  o  mais  es- 
plendido viver  até  o  vegetar  do  valgacho 
mais  rude,  todos  os  logares  e  todas  as 
condições  tem  tido  o  seu  romancista.»  A. 
Herculano,   Eurico,   Prol. 

TABERNÁCULO,  e.  m.  íDo  latim  taber- 
naculum).  Uma  capella  portátil  da  arca 
entro  os  hebreus.  —  «Xa  Carpentcria  foi 
Caim  o  primeiro  quo  edificou  casas,  o 
edificios  do  madeira,  como  adverte  Fr. 
Bernardino  de  Busto.  Também  o  lllostre, 
e  Saucto  Varaõ  Noo  a  ennobrecoo  no  ce- 
lebrado artefacto  da  sua  Arca ;  cuja  hon- 
ra se  adiantou  na  obra  do  tabernáculo 
do  Templo,  e  na  da  Arca  do  testamento, 
alem  de  muytas  outras  ol)ra8  em  ambas 
as  Leis.»  Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal 
medico,  pag.  128,  §  88. 

Coino  que  a  humanas  cousas  retirados, 
Sc  iiicovarain  nns  facss  drg<:abiJa.4 
Os  olhos,  oudc  a  luz  quasi  assemelha 
A  lâmpada  que  avdou  no  taherntwulo 
Inteira  a  noutc,  c  ao  arraiar  do  dia 
Fallccc  á  mingua  d"oleo. 

QARKRTT,  cAuuES,  cant.  1,  cap.  13. 

—  Uma  divisilo  do  templo  dos  judeus 
onde  estava  o  altar  com  os  pàes,  etc,  e 
onde  aó  ora  permittido  eatrarem  os  sa- 
cerdotes, e  03  ministros  do  templo. 

—  O  tabernáculo  da  Virgem;  o  úte- 
ro, ou  ventre  cm  que  Curisto  andou. 

—  No  Novo  Testamento :  Os  taberua- 
culos  eternos;  a  morada  celeste,  a  liabi- 
taçrio  dos  bemavcnturados. 

TABERNARIO,  A,  adj.  (Do  latim  ta- 
bernarius).  De  taverna  ou  loja. 

—  Figuradamente  :  Do  gente  de  ta- 
verna . 

TABI,  s.  m.  (Do  francez  tabis).  Tafe- 
tá grosso  ondado. 

TABICA,  s.  /.  Termo  de  marinha.  A 
peça  da  borda  de  um  navio,  que  cobre  o 
alcatrato,  c  é  a  ultima  da  borda;  peça 
quo  se  embute  nas  cabeças  das  taboas 
para  n.^o  racharem  quando  se  serram. 

—  Termo  tio  Brazil.  Um  sipó  forte  c 
grosso,  de  trazer  na  mão  como  chibata. 

TABICAR,  V.  a.  Termo  de  náutica, 
iletter  tabicas  nas  cabeças  das  taboaa 
pai'a  ii."io  racharem  quando  se  serram. 

TABIOO,  A,    adj.  (Do   latim  tabidus). 


TABO 


TABO 


TABU 


659 


Termo  de  medicina.  Consumido  pela  po- 
dridão, pela  corrupção. 

—  Poilre,  corrupto,  ethico. 

f  TABIFICO,  A,  adj.  Termo  de  medi- 
cina. Que  produz  a  corrupção,  a  podri- 
dão. 

TABIQUE,  s.  m.  Parede,  ou  repartimen- 
to  feito  de  taboas  e  arcoâ  de  pipas,  ou 
fasquias  serradas,  para  depois  de  tudo 
pregado  se  encher  de  cal,  e  se  rebocar. 

—  Parede  de  tabique ;  parede  delgada 
feita  de  tijolos. 

—  Vid.  Frontal,  que  é  differente. 
TABLA,    adj.     m.  —  Diamante     tabla. 

Vid.  Chapa. 

TABLADO,  s.  m.  A  parte  do  theatro, 
onde  03  actores  recitam,  onde  os  dança- 
dores dançam,  etc. 

—  Cadafalso. 

TABLILHA,  s.  /.  No  truque  do  taco,  ó 
a  taboa  ao  redor  da  banda  de  dentro. 

—  Fazer  as  cousas  por  tablilha ;  fazer 
as  cousas  não  por  si,  indirectamente,  por 
medianeiros,  com  rodeios,  geitos,  e  meios. 

—  Loc. :  Dar  na  bola  por  tablilha; 
dar-lhe  nào  directamente,  mas  por  movi- 
mento reUexo. 

TABO,  s.  77!.  Uma  embarcação  da  Ásia. 

TABOA,  ou  TÁBUA,  s.  f.  (Do  latim  ta- 
bula). Peça  de  madeira  plana,  de  vario 
longor,  grossura,  e  largura;  d'ella  se  fa- 
zem portas,  mesas,  cadeiras,  bancos,  etc. 
—  «E  Diógenes  vendo  que  hum  Astró- 
logo explicava  as  estrellas  pintadas  em 
huma  taboa,  e  que  chamava  a  algumas. 
Errantes;  disse  com  equivoca  graciosida- 
de :  Nad  mintais,  bom  homem,  que  as  es- 
trellas naõ  erraõ;  mas  estes;  apontando 
para  os  ouvintes :  6.  Ne  mentiaris,  bane 
vir,  stellce.  nequid  errant,  sed  hi.í>  Braz 
Luiz  d'Abreu,  Portugal  medico,  pag.  561, 
§  187. 

No  naufrágio  geral,  uma  so  tábua 
Que  36  posaa  atFerrar,  conduz  ás  vezes 
(Embora  moribundo)  á  praia  o  uauta. 

OABBETT,   CATÃO,    act.    2,   SC.    1. 

—  aLeiam,  que  ó  melhor  isto  que  em 
o  mosteiro  de  Santarém  gastar  o  tempo 
do  silencio  em  dar  com  o  pé  na  taboa  da 
janella  e  com  a  chave  na  mesma,  che- 
gando pela  continuação  a  fazer  um  bu- 
raco. Se  um  d'estes  martellasse  na  cabe- 
ça com  o  triste  Larraga,  sabia  definições 
moraes  ao  menos.»  Bispo  do  Grão  Pará, 
Memorias,  publicadas  por  Camillo  Cas- 
tello  Branco,  pag.  51. 

—  Mesa  de  comer. 

—  Mesa  de  jogo. 

—  Cartaz,  folha,  ou  prancha,  em  que 
as  matérias  de  uma  sciencia  estão  diges- 
tas, e  recopiladas  methodicamente,  e  em 
resumo  para  se  verem  mais  facilmente,  e 
com  uma  só  vista  d'olhos. 

—  Termo  de  anatomia.  Lamina  óssea 
larga. 

—  Figuradamente:  Taboa  rasa;  o  en- 


tendimento sem  noções,  sem  idéas,  como 
a  ignorância  natural  ao  homem. 

—  Quadro  do  pintor. 

—  A  taboa  do  pescoço  do  cavallo; 
aquella  face  plana  de  cada  lado. 

—  Mappa,  estampa,  ou  qualquer  folha 
com  pintura. 

—  Plur.  Termo  de  náutica.  Taboa  de 
canto  quebrado;  pranchões  que  assentam 
no  canto  de  cima  da  cinta  do  grosso,  da 
popa  á  proa,  menos  grossos  que  os  d'el- 
ías. 

—  Taboas  do  rebordo;  as  que  enxo- 
vam,  ou  entalham  na  quina. 

—  Taboas  dos  trincanizes;  pranchões 
mais  grossos  que  os  do  assoalhado  das 
cobertas,  e  que  ficam  unidos  aos  trinca- 
nizes pelo  lado  inferior  d'elles. 

—  Dá-se  também  este  nome  a  todas  e 
quaesquer  escripturas  exaradas  em  pau, 
metaes,  pedras,  pannos,  pergaminhos, 
palmas,  juncos,  papyros,  e  toda  a  matéria 
bem  disposta  para  n'ella  se  imprimir, 
gravar,  ou  escrever  alguma  escriptura. 

—  Termo  de  mathematica.  Seguimento 
de  cálculos,  dos  quaes  se  precisa  para  va- 
rias operações. — j4s  taboas  loganjthni- 
cas  de    Callet. 

TABOADA,  «.  /.  índice  de  livro.  — 
«Podemos  chamar  a  hum  homem  destes, 
o  Índex  de  todos  os  bons  livros,  a  Taboa- 
da  de  todas  as  sentenças,  e  o  Calendário 
de  todas  as  discriçoens.»  Cavalleiro  de 
Oliveira,  Cartas,  liv.  1,  n.°  17. 

—  Quadrado  arithmetico,  em  que  se 
ensina  a  multiplicação  dos  números,  e  ou- 
tras noções  elementares  de  arithmetica. 

TABOADO,  s.  m.  Reunião  de  taboas. 

TABOÃO,  s.  m.  Augmentativo  de  Ta- 
boa. Taboa  grande  e  grossa,  pranchão  de 
taboa. 

f  TABOAZINHA,  s.  /.  Diminutivo  de 
Taboa.  Pequena  taboa.  Vid.  Taboinha. — 
«Estes  presos,  tãto  que  pela  justiça  saõ 
entregues  nesta  prisaõ,  de  que  se  passa 
certidão  a  quem  os  leva,  os  soltão  logo 
das  prisões  em  que  vieraõ,  e  andSo  todos 
soltos  sem  terem  mais  que  huma  taboa- 
zinha  pequena  de  quasi  hum  palmo  de 
comprido,  e  quatro  dedos  de  largo,  muvto 
delgada,  na  qual  está  escrito,  Foão  de  tal 
lugar,  condenado  ao  degredo  geral  por 
tal  caso,  entrou  em  tal  dia  de  tal  mez  e 
de  tal  anno.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pe- 
regrinações, cap.  108. 

TABOCA,  s.  /.  Canna  brava  do  Brazil, 
cercada  de  puas  mui  solidas  e  agudas. 

TABOCAL,  s.  m.  Local  onde  ha  tabo- 
cas, niatta  d'ellas. 

TABOINHA,  s.  /.  Diminutivo  de  Ta- 
boa. Taboa  pequena.  —  «E  os  que  com- 
praõ  isto  andSo  pelas  ruas  tangendo  em 
humas  taboinhas  como  quem  pede  para 
Saõ  Lazaro,  e  assi  declaraõ  o  que  querem 
comprar  porque  naõ  deixão  de  entender 
quão  cujo  he  o  seu  nome  próprio,  e  quão 
mao  para  se  apregoar  pe^as  ruas.»  Fernão 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.  98. 


TABOLA,  ou  TABULA,  s.  /.  (Do  latim 
tabula).  Peça  redonda  de  osso  ou  marfim, 
de  que  se  usa  para  jogar  o  gamão,  as  da- 
mas, etc. 

—  Figuradamente :  Pessoa  que  não  tra- 
balha. 

—  Termo  antiquado.  Mesa. 

—  Loc:  Entrar  a  alguém  tabola  de 
fazer  alguma  cousa;  vir  a  occasião,  che- 
gar-lhe  a  vez. 

—  Tabula  rasa.  Vid.  Taboa. 

—  A  real  tabola,  ou  tabola  de  Setúbal; 
onde  se  percebem  impostos  de  pescados, 
e  outros;  mesa  de  publicanos. 

— -Ser  tabola  que  não  joga;  diz-se 
d'aquelle  que  não  faz,  nem  influe  em  na- 
da, que  não  tem  acção,  nem  modo. 

—  Adagio  e  provérbio  : 

—  Fulano  é  tabola  que  não  joga. 
TABOLADO,    s.  m.    (Do    latim    tabula- 

tum).  Bastida  de  taboas. 

—  Pavimento  levantado  do  chão,  feito 
d'ellas. 

—  Anteparo  de  taboas. 

—  Tirar  o  tabolado;  exercício  militar 
antigo.  Vid.  Tavolado. 

TABOLAGEM,  s.  f.  —  Dar  tabolagem ; 
dar  casa  de  jogo  de  tabelas. 

TABOLÃO,  s.  771.  Taboa  de  buxo,  em 
que  trabalha  o  ourives. 

TAEOLEIRINHO,  s.  f.  Diminutivo  de 
Taboleiro.  Pequeno  taboleiro. 

TABOLEIRO,  s.  m.  (Do  latim  tabula). 
Peça  do  serviço  usual;  é  uma  taboa  de 
madeira  com  bordas  levantadas  sobre 
ella,  para  que  não  caia  para  fora  o  que 
vai  n'elle. 

—  Nas  escadas,  depois  de  alguns  de- 
graus ha,  talvez,  uma  pequena  planície, 
d'onde  nasce  uma  outra  escada,  e  esta 
planície  se  diz  taboleiro. 

—  Taboleiro  de  gamão ;  é  peça  no  mes- 
mo estylo,  com  casas  para  as  tabelas. 

—  Também  é  taboleiro  toda  a  planí- 
cie sobre  degraus,  que  fica  em  redor  das 
egrejas,  ou  outros  edificios. 

"tÁBOLETA,  s.  /.  Diminutivo  de  Tabo- 
la. Taboinha  pintada,  ou  cousa  similhan- 
te,  pendurada  em  signal  de  que  se  vende 
alguma  cousa;  n'ella  se  indica  o  que  se 
vende  na  loja,  andar,  etc. 

—  Termo  antiquado.  Lamina,  pasta. 

—  Taboleta  d' ourives  d'ouro;  espécie 
de  caixa  com  vidros,  onde  elles  põem  as 
peças  já  feitas,  para  serem  vistas.  Vid. 
Taceira. 

TAB0RD0,  s.  m.  Certa  vestidura  anti- 
ga. Vid.  Tabardo,  e  Atabarda. 

TABORITA,  s.  m.  Hereje  da  seita  de 
João  IIuss. 

TABU,  s.  m.  O  assucar,  que  não  coa- 
lhou bem  na  forma,  nem  entesta  para  se 
lhe  botar  barro,  e  purgai- o,  por  ser  quei- 
mado ao  apurar,  ou  mal  limpo. 

—  Locução  do  Brazil :  Fazer  tabu  ; 
diz-so  dos  engenhos. 

TÁBUA,  í.  /.  (Do  latim  tabula).  Vid. 
Taboa. 


660 


TAÇA 


TACÍI 


TACO 


TABÚA,  s.  f.  Pallia,  que  survo  par.a 
fazer  estoiras  {írosaa'*,  ctc. 

—  Loc.  l'Oi'. :  Mandar  alguém  á  tá- 
bua; uiaiuliil-o  bugiar,  uu  cousa  sinii- 
Ihante,  como  a  tolo  e  inepto,  e  bom  jjara 
esteirciro  de  tabúas. 

TABUAL,  a.  m.  Chão  de  tabúas. 

TABULA,  a.  f.  Vid.  Tabola. 

f  TABULAR,  adj.  2  gtn.  —  Logary- 
thmos  tabulares ;  os  logarytbmos  das  ta- 
bo.is. 

■  TABULARIO,  s.  m.  (Do  latim  tahida- 
riuin).  Taboa,  ou  cartaz,  onde  se  escre- 
viam os  actos  públicos,  que  os  gregos  de- 
nominavam tjramiuatophilacia. 

—  Adj.  f.  —  Iiupresaão  tabularia.  Vid. 
Xylographico. 

TABULATO,  s.  m.  Tabla>lo,  cadafalso, 
bailéo,  obra  feita  do  madeira  para  ii'ella 
80  fazor  algiun  acto  solomne,  representa- 
ção. 

TABULEIRO,  s.  m.  Vid.  Taboleiro.  — 
«Mandou  fazer  de  nouo  o  cães  da  pedra 
do  Lisboa,  o  tabuleiros  de  longo  da 
praia,  c  chafarises  da  cidade  tudo  de  pc- 
di-a  canto.  Mandou  fazer  o  terrcií-o  que 
esta  diante  dos  paços  da  ribeira  de  Lis- 
bti.\  que  era  tudo  praia,  o  que  se  fez  com 
gram  trabalha,  e  despesa  ate  se  ganhar 
ao  mar,  como  agora  esta.  Começou  a  casa 
dalfandega  de  Lisboa  a  qual  acabou  el 
Rei  dom  .Toam  seu  filUo.»  Damião  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  4, 
cap.  85.  —  «Seis  mulheres  a  traziaõ  em 
outros  tantos  tabuleiros,  fraca  tropa,  ain- 
da que  copiosa,  para  taõ  alentados  com- 
batentes, quo  lhe  cortarão  o  passo,  antes 
de  chegarem  &  Cidade;  e  aliviando-as  da 
carga,  as  lizeraõ  voltar  de  vasio,  enehcn- 
do-ae  do  doces  para  a  festa,  e  carregan- 
do-se  de  amargozes  para  a  Quaresma.» 
Arte  de  furtar,  cap.  t3l5. 

TABULISTA,  s.  m.  Homem  que  faz  ta- 
bolas  geométricas,  ou  astronómicas. 

TABURNO,  s.  m.  Degrau,  estrado. 

TAÇA,  s.  /.  Vaso  do  beber,  de  bocca 
larga,  c  pouco  alto,  de  vidro,  ou  de  bar- 
ro, ou  de  metal. 

—  Figura'lamente :  Htmiem  amigo  da 
taça;  homem  amigo  de  vinho. 

TAÇALHO,  s.  m.  Vid.  Tassalho. 

TACAMACA,  ou  TACAMAHACA,  s.  /. 
Gomma,  ou  resina  de  uma  arvore  da  ín- 
dia. 

TACAMAQUEIRO,  s.  in.  Termo  de  bo- 
tânica. Arvore  também  chamada  ckotipo 
balsâmico,  que  d;l  a  gomma  tacamaca. 

TACANHAMENTE,  adv.  (De  tacanho,  e 
o  suffixo  «mente»).  De  um  modo  taca- 
nho. 

—  Com  taoanhoza,  mesquinhamente. 
TACANHARIA,    s.  f.   Vid.  Tacanheza. 
TACANHEAR,   v.  a'.  Alcançar   com  as- 

tiicia.  ciim  f  aude,  c  arte  de  tacanho. 

TACANHEZA,  s.  /.  Acto,    obra,   condi- 
ção de  t.ioauUo. 
.  TAGANHICE,  s.  /.  Tacai^heza. 

—  Illiberalidade  avara. 


TACANHO,  A,  adj.  Fraudulento,  astu- 
to para  o  mal,  volhaco,  trapaceiro,  quo 
eugaiia  com  más  artes,  e  embustes. 

—  Mesquinho,    misero,    pobre,    escaco. 
TACANIÇA,  *.  /.   Termo  de    pedreiro. 

A  agua,  ou  lanço  do  telhado,  que  cobre 
03  lados  do  edifieio,  chamados  cabeceiras, 
isto  ó,  08  que  não  sSo  da  frontaria,  o  tra- 
zeira. 

TACÃO,  i.  771.  Sola  do  salto  do  sapato, 
da  bnta,  do  botim,  etc. 

TACEIRA,  s.  /.  Termo  de  ourives.  O 
balcào  ou  mostra<lor,  onde  elleá  tem  as 
taças  á  mostra.  Hoje  usam  taboletas,  lou- 
ceiras. 

—  Alguns  escriptores  dizem  que  é  uma 
espécie  de  pequeno  armário  com  lios  de 
arame  na  parte  dianteira,  entre  os  quaea 
SC  vêem  as  peças  de  prata,  e  dizem  que 
03  ourives  do  ouro  lhe   chamam  tabuleta. 

TACHA,  s.  /.  (Do  francez  tache).  Man- 
cha, macula,  nódoa,  defeito,  falta  quo  se 
põe  em  alguém. 

—  Figuradamente :  Prego  de  cabeça 
dourada,  ou  prateada. 

—  Espécie  de  tacho  grande. 

—  Censura  do  defeito.  Vid.  Taxa. 
TACHADA,   s.  /.    Um    tacho    cheio    de 

cousa  que  n'olle  se  coze.  —  Uma  tacha- 
da de  jiapas. 

TACHADO,  part.  pass.  de  Tachar. 

—  Maculado,  manchado. 

—  Censurado,  notado.  Vid.  Taxado. 
TACHADOR,  A,  s.  e  adj.   (De  tacha,  e 

o  suffixo  «dõr»).  Que  pòe  tacha,  nota, 
que  diz  os  defeitos,  que  os  põe  em  publi- 
co, o  faz  advertir  u'elles. 

—  Censurador. 

TACHÃO,  s.  m.  Tacha  grande,  prego 
de  cabeça  dourada,  de  ornar  arreios,  ca- 
pas de  livros  gi  andes,  etc. 

TACHAR,  i'.  a.  Notar,  censurar.  Vid. 
Taxar. 

TACHIM,  s.  t/l.  Bolsa  ou  capa  de  cou- 
ro para  resguardar  um  livro  que  está  ri- 
camente encadernado. 

TACHINHA,  s.  /.  Diminutivo  de  Tacha. 
Tac.a  pequena. 

TACHO,  í.  m.  Vaso  de  cobre,  ou  ara- 
me, com  azas  nas  bordas,  no  qual  vaso 
se  aquece  agua,  e  outros  usos:  serve  tam- 
bém para  vários  misteres  a  biirdo. 

TACHONADO,  A,  adj.  Cravado  de  te- 
chões. 

TACHONAR,  v.  a.  Cravar  de  tachões; 
guarnecer  com  tachões. 

TACHOSINHO,  ».  jh.  Diminutivo  de 
Tacho.  Pequeno  tacho. 

TACHYGRAPHIA,  .'.  /.  Arte  do  escre- 
ver mui  rapidamente  por  abreviaturas,  ou 
signaes,  que  representam  as  letras,  ou 
muitas  -svllabas,  de  sorte  que  se  escreve 
o  que  o  orador  mais  rápido  diz  :  esta  arte, 
restaurada  em  nossos  dias,  estava  em 
grande  nso  entro  os  jiovos  romanos. 

i  TACHYGRAPHICAMENTE,  idv.  (De 
tachygraphico,  com  o  suãixo  «mente»). 
Por  meio  da  tachygraphia. 


TACHYGRAPHICO,  A,  adj.  Qoc  ijerten- 
ce  :i  t:ic!ivgra|i!íia,    que    lhe  diz  rejipcito. 

TACHYGHAPHO,  ».  m.  rI)o  grego  ta- 
chas, t:  grapfuj,.  Homem  que  se  occupa 
da  tachygraphia. 

—  Homem  que  escreve  por  abreviatu- 
ras rapidamente  com  letras,  e  aigoaes 
que  encurtam  a  escriptura  ao  longo,  e 
ordinário. 

f  TACHYMETRO,  «.  m.  Instrumento 
que  serve  j>ara  medir  a  velocidade  do 
movimento  de  uma  machina. 

TACINHA,  ».  /.  Diminutivo  de  Taça. 
Taça  pequena. 

TACITAMENTE,  ate.  MJe  Ucito,  com 
o  sufíixo  «mente»;.    De  um  modo  tácito. 

—  Sem  palavras,  expresaCeis,  sem  con- 
venção, ou  ajuste  expresso. 

TÁCITO,  Á,  adj.  íDo  latim  taeitvt). 
Calado,  sem  palavras. 

—  Que  não  faz  rumor. 

—  Que  se  entemle,  e  deduz  d'alguma 
acção,  desacompanhado  de  palavras. 

f  TACITURNAMENTE,  adv.  (De  taci- 
turno, com  o  snffixo  «mente •).  De  um 
modo  taciturno. 

TACITURNIDADE,  *.  /.  (Do  latim  taci- 
tunulas).  Humor  de  uma  pessoa  taci- 
turna. 

—  Termo  de  pathoiogia.  Silencio  mór- 
bido e  prolongado,  no  symptoma  das  af- 
focções  nervosas,  e  mormente  da  melan- 
colia. 

—  Silencio  que  se  guarda. 
TACITURNO,    A,  adj.   (Do    latim    taci- 

turnus).   Que  é  de  humor   de  fallar  pou- 
co, silencioso,  que  falia  pouco. 


Vejo  o  frio  Danúbio,  o  grão  BruclLei« 
Nascido  foi  para  illuãtrar  o  Mundo : 
Dèo-lho  03  Annacs  da  Sapiência  humana. 
Mais  do  que  o  Sab'0  da  Kstagira  escuro, 
Mais  do  que  fura  Lvcofroiite  o  Vate, 
Vejo  a  Kant  taciturno,  ou  vejo  o  Euigma 
Não  dccifravel,  não,  a  Édipo  em  Thebas. 

J.    A.    DE   UÀCEDO,  VIAOEli  KXTÁIICA.,  CSnt.   2. 


ns- 


—  Sombra  taciturna  ;  sombra  que  i 
pira  silencio. 

As  mãos  apalpão  sombra  taciturna. 
Não  ?urgc,  não  se  vê  no  Egypto  o  dia, 
lirilha  ao  reato  do  Mundo  a  luz  diurna, 
Tudo  hc  noite  no  Egyto  espessa  e  fria : 
Dentro  as  trevas  então  da  eterna  fuma 
A  dura  movto  horrifie*  Bahia, 
Nas  mãos  a  fouce  traz,  que  o  Muodo  asaola, 
Milbocuâ  de  primogénitos  degola. 

j.  Â.  DB  UAOEDO,  o  oBiuiTB,  cant.  9,  est.  90. 


—  Diz-se  também :  Um  espirito  taci- 
turno,  am  caracter  taciturno. 

—  Que  se  torna  taciturno. 

—  Syn.:  Taciturno,  silencioso.  Vid. 
este  ultimo  termo. 

TACO,  5.  m.  Hastca  de  pau  torneada, 
de  que  se  usa  para  dar  impulso  ás  bolas 
no  jogo  do  bir.:ar,  e  outros. 

—  Termo   de   náutica.    Piar.   Buchas 


TACT 


TAES 


TAFI 


661 


das  peças  de  artilheria ;  são  feitas  de  fio 
de  carreta. 

—  As  bucbas  de  madeira,  destinadas 
a  encher  os  rombos,  que  fez  no  costado 
do  navio  a  artilheria  inimiga. 

—  Peça  da  atafona,  em  que  assenta  o 
carrete. 

TACTEAR,  V.  a.  (Do  latim  tactus). 
Apalpar,  tomar  conhecimento  pelo  tacto 
das  mãos. 


Nada  posso  som  ti.  Se  teus  prodígios, 

Ua  ebúrnea  Lira  tiKteando  as  cordas, 

Em  almos  hiinnos  celebrar  portendo, 

Em  circulo  mortal  fechado  existo, 

Onde  da  humana  insipiência  a  nuvem 

Me  rouba  objectos  mil,  que  os  que  me  cercão 

Quasi  infinitos  Horizontes  guardào. 

J.  A.  DE  MACBDO,  A  NATUBKZA,  Caut.  1. 

Té  màos  Imporiaes  viste,  ó  Florença, 
Depoudo  o  Soeptro,  tactear  Cadinhos, 
Tanto  pode  o  prazer,  podo  o  prestigio  ! 
Mas  se  dellcs  a  Purpura  nào  foge, 
Fogem  por  certo  as  Musas  dVspantadas. 

IDEM,   VIAQEM  EXTÁTICA,  Cant.    4. 


—  Figuradamente :  Tactear  os  espíri- 
tos, o  negocio. 

TÁCTICA,  *.  /.  (Do  grego  taktos).  A 
arte  de  combater,  e  empregar  as  três  ar- 
mas principaes,  de  infanteria,  de  caval- 
laria,  e  de  artilheria,  nos  terrenos  e  po- 
sições que  lhe  são  favoráveis.  A  táctica 
executa  os  movimentos  que  sSo  ordena- 
dos pela  estratégia.  A  táctica  consiste 
em  ordenar  as  tropas  em  batalha,  e  fa- 
zer as  evoluções  com  esquadras  e  exér- 
citos. 

TÁCTICO,  s.  m.  Homem  que  entende 
bem  a  táctica,  que  é  hábil  n'tílla. 

TACTICOGRAPHIA,  s.  /.  (Do  grego  ta- 
ktikS,  e  graphú).  Delineação  das  mano- 
bras militares;  representação  graphica 
das  evoluções  bellicas. 

TÁCTIL,  aòj.  2  gen.  (Do  latim  iacti- 
lis,  de  tactus).  Termo  didáctico.  Que  é 
ou  pude  ser  objecto  do  tacto.  —  A  vista 
descobre  a  luz  e  as  cores;  o  ouvido  é 
afFectado  pelos  sons ;  o  gosto  pelos  sabo- 
res; o  olfaío  pelos  cheiros,  e  o  tacto  pe- 
las diíFerentes  qualidades  tactis  dos  ob- 
jectos. 

—  Que  diz  respeito  ao  tacto,  ao  to- 
que. 

t  TACTILMENTE,  adv.  (De  táctil,  e 
o  suffixo   «mente»).  De  um    modo  táctil. 

TACTO,  s.  m.  (Do  latim  tactus).  Um 
dos  cinco  sentidos  que  pertence  ao  órgão 
cutâneo,  e  que  faz  julgar  de  certas  qua- 
lidades dos  corpos,  de  sua  solidez,  ou  de 
sua  tluidez,  de  sua  humidade,  ou  de  sua 
seccura,  de  sua  temperatura,  etc.  —  O 
exemplo  d'este  illustre  cego  prova  que  o 
tacto  póJe  tornar-se  mais  delicado  e  fino 
que  a  vista,  quando  é  aperfeiçoado  pelo 
exercício.  —  O  tacto  é  o  primeiro  senti- 
do que  se  desenvolve  e  o  ultimo  que  se 
extingue. 


Como  impalpáveis  átomos  s'esquivão 
Do  indagador  profundo  ao  tacto,  á  \'Í3ta ; 
Esconde-se  a  figura,  e  muitas  vezes 
A  existência  também  :  miuimos  seres. 
Em  que  toda  se  mostra  a  Omuipotencia. 

J.  A.  DK  MACEDO,  A  NATLBEZA,  Cant.  3. 

—  Figuradamente  :  Juizo  tino  e  segu- 
ro em  matéria  de  gosto,  de  conveniência, 
e  do  uso  do  mundo.  —  Este  homem  tem 
tacto.  —  Finura  de  tacto. 

—  Pelo  tacto  ;   ás  apalpadellas. 

—  O  toque  de  um  corpo  em  outro. 

—  Vid.  Toque,  e  Contacto. 
TACTURA,  s.  /.  A   acção    de  tocar,  e 

de  ferir  os  instrumentos. 

TADEGA,  s.  f.  Uma  herva,  ou  arbus- 
to, que  tem  o  tronco  felpudo. 

TAEL,  í.  m.  Moeda  do  Oriente.  O  tael 
divide-se  em  dez  más,  cada  más  em  dez 
condorinos,  e  este  em  dez  cackes.  —  «E 
que  a  fora  estes  lhe  rendia  mais  esta 
cidade  outros  cem  mil  taeis  dos  teares 
da  seda,  da  cânfora,  do  açúcar,  da  por- 
celana, do  vei-melhão,  e  do  azougue,  das 
quais  cousas  nos  disserão  que  avia  aquy 
grandíssima  quantidade.»  Fernão  Men- 
des Piato,  Peregrinações,  cap.  96. 

1.)  TAES,  s.  VI.  Peça  de  ferro,  espé- 
cie do  bigorna  cravada  em  cepo,  usada 
pelos  ourives;  sobre  elle  batem  os  me- 
taes. 

2.)  TAES,  plur.  de  Tal.  Vid.  Tal.  — 
«Estas  e  outras  cousas  passou  o  caval- 
lelro  Triste  comsigo  só,  por  onde  Prima- 
liào  acabou  de  conhecer  que  era  seu  fi- 
lho Florendos,  e,  como  quem  já  passara 
polo  fio  d'outras  taes  imaginações  no 
tempo  da  sua  Gridonia,  doiam-lhe  as  suas 
como  se  nl>so  fora  a  principal. u  Francis- 
co de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  õl.  —  «Deixa  a  historia  de  fallar 
nelles,  por  fallar  da  partida  d'Albayzar, 
de  cujas  obras  é  bem  que  se  faça  memo- 
ria, pois  não  eram  taes  que  mereçam  es- 
quecimento.»  Ibidem,  cap.  130. 

Se  acazo  algum  dos  taes  diligcnceia 
Saber  astuto  em  que  me  ocupo  agora. 
Pelo  naõ  precizar  a  vir  cá  fora. 
Eu  lhe  digo  o  que  faço  nesta  aldeia. 

ADBADE  DE  JAZENTE,  POESIAS,  tOm.  2,  pag.  101. 

Ha  também  costumes  tats 
em  Pegu,  que  homens  cupetem, 
a  qual  delles  terá  mais 
em  seus  membros  genitais 
cascaueis,  onde  os  metem, 
ha  sua  carne  cortando. 

a.   DB   KEZENDB,  UI3CELLANBA. 

Vimos  taes  cousas  passar 
em  nosso  tempo  e  idade, 
que,  se  se  ouuiram  contar, 
por  mentira  e  vaidade 
se  ouueram  de  julgar. 

IBIDEM. 


ou  VÚ3,  molhor,  alguma  ora 
com  dinheiro  vos  achastes, 
e  o  emprestastes 


á  escada,  c  o  p.iga  agora, 

ou  não  entendo  taes  contrastes. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  413. 

sem  o  hospede,  armastes 
muitas  contas,  taes  euleios 
que  tudo  em  carvão  achastes. 
iBiDBH,  pag.  409. 


• — «Senhores  dos  taes  lugares,  e  tem 
assento  nas  Cortes  depois  do.s  Fidalgos 
do  Conselho.»  Severim  de  Faria,  Noti- 
cias de  Portugal,  Disc.  3,  cap.  27. 

-Mli,  só,  (mais  soffrido,  que  cm  vêr  Bárbaros 
Entrar  na  Chuça)  eu  sobre  murchas  folhas, 
^Icdiava  o  dia;  aUi,  desamparado, 
Me  sutibeava  o  faino  das  unturas. 
Com  que  de  Freixos  amassavão  cinzas, 
(Pommada  de  táes  grenhas)  c  o  ruin  cheiro 
Das  carnes  que  grclhavão  ;  e  o  ar  captivo 
Da  Choça,  em  fumo  pcremial  densada... 

F.    M.    DO  NASCIMENTO,  OS  MABTYBES,  1ÍV.    7. 

Da  frstmea,  as  vozes  iaes,  a  ponta  afliada 
Furioso,  ao  Gallo,  Chloderico  alonga, 
Dizendo  (bem  que  a  voz  lhe  atalhe  a  Cólera) 
Nem  olhos  pòr-lhe  ousaras. 


Se  cm  taes  indagações,  se  em  taes  estudos 
Mui  longe  do  confuso  Labyrintho 
Das  humanas  paixões,  de  infaustos  erros. 
Aprende  a  conhecer,  e  amar  o  Eterno, 
Só  de  bens  larga  Fonte,  immenso  Oceano. 

J.    A.    DE   MACiíDO,   VIAGEM   EXTÁTICA,    CaUt.    1. 

Taes  so  observão  Exércitos  contrários 
Nos  campos  teus,  e  frigidas  montanhas. 
Oh  Germânia  infeliz,  e  Hesperia  afllicta, 
Aeomctter-se  em  fervida  peleja. 

rOEM,  A  NATUEEZA,   Cailt.   2. 

Taet  as  eternas  Leis,  qu'  a  Natui-ez» 
Submissa,  e  muda  observa,  quando  a  terra 
Do  seio  entorna  as  liquidas  correntes. 


TAFACEIRA.  s.  ./''.  Vid.  TaCcira. 
TAFÁCIRA,  s.  /.  Vid.  Taficira. 
TAFETÁ,  s.  wi.  Estofo  de  seda  brilhan- 
te. —  Vestido  de  tafetá. 


Não  se  ha  cá  por  fidalguia 
de  noite  como  de  dia 
sem  calção  de  tafetá, 
que  roçando  um  n 'outro  vá 
rebuço  de  fantasia. 

ASTOHIO  PBE3TE3,  AUTOS,  pag.  1Õ9. 


—  fAs  Gentias  nam  curão  destas  cou- 
sas, mais  que  nas  orelhas,  as  quaes  furão 
tanto  que  a  muytas  cõ  o  pezo  do  ouro, 
ou  prata,  lhe  chegam  ao  pescosso,  gar- 
ganta, e  ainda  aos  ombros.  As  camisas 
das  Persianas,  e  Turcas,  saõ  muy  finas 
de  tafetá  de  cores,  lauradas  no  cabeção, 
e  magas."  Fr.  Gaspar  de  S.  Bernardino, 
Itinerário  da  índia,  cap.  13. 

TAFIA,  s.  /.  Aguardente  que  se  faz  do 
melaço  do  assucar. 


GG2 


TAFU 


TAIP 


TAL 


TAFICIRA,  s.  f.  (lenoro  <lo  tocMo  da 
Indi.-i,  ]iint;ilo  de  côni.s  cm  li.stnH,  o  ra- 
mo» HÍiiiilliaiit(;.i  ás  chitas. 

f  TAFONA,  5.  /.  Vid.  Atafona. 

Traz-voi  ci  por  ailuriMitc  V 
í^oiilioni,  si,  quií  o  doinandam. 
K  dinlieiío  tão  corrente 
adclaDciuH  uiitrc  a  ^unto 
([ue  por  tafonaa  anduin. 
iiroxio  puams,  autos,  pag.  141. 

TAFONEIRO,  s.  m.  Vid.  Atafoneiro. 

TAFOREA,  .'.  /.  EinlKircavão  asiática 
do  guorra,  ou  de  transporto.  —  «Dado  o 
recado,  Feniain  do  magalhacns  so  tornou 
para  taforea  por  llio  assi  dizor  Garcia  de 
Sousa  ([uc  íicaua  ncUa  com  inuito  pouca 
gente,  o  coatramcàtre  cm  chegando  a  ga- 
uoa  vio  estar  hum  dos  Malaios  que  era  o 
filho  do  Vtetimutaraja,  detrás  de  Diogo  lo- 
pez  eom  hum  eris  nico  arrineado,  c  (juc  ou- 
tro Malaio  ([ue  estaua  defronte  deste  lhe 
acenaua  que  o  não  fezesse,  como  quo  lhe 
dezia  ([ue  não  ora  ainda  tempo,  por  não  ve- 
rem o  sinal  da  fumaça.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  2. 
—  fl^jllo  qual  a  mais  da  dita  armada  se 
desarmou,  e  mandou  el  Rey  ontam  o  dito 
Fernam  Martinz  Mascarenlias  eom  trinta 
carau(dlas,  e  taforeas,  e  com  elle  cento 
o  cincoonta  de  cauallo,  homens  fidalgos, 
e  caualloiro.s  de  sua  guarda.»  (! areia  de 
Rezende,  Chronica  de  D.  João  II,  cap.  76. 

TAFUL,  adj.  e  s.  2  gtn.  Quo  é  joga- 
dor por  oflRcio,  ou  por  habito.  —  «Aqui 
podem  entrar  os  tafues,  que  jogaõ  com 
dados  falsos,  e  cartas  marcadas,  cujas 
unhas  oecultas  com  taes  disfarces  se  ma- 
nifestaõ,  e  fazem  sua  pi'eza  com  mãos 
continuadas  em  ganhos,  para  quem  vay 
senhor  do  jogo,  e  sabedor  da  maranha. 
E  nisto  naõ  ha  opinião,  quo  os  escuse  de 
furto  mais  aleivoso,  que  o  do  ladraõ,  que 
saltoa  nas  estradas.»  Arte  de  furtar,  cap. 
55. 

—  Figuradamente :  Taful  no  seu  ofi- 
cio; o  quo  o  sabe  muito,  e  o  executa  bem 
por  muita  pratica. 

—  Figuradamente :  Que  vive  alegre- 
mente, e  se  entrega  a  toda  a  espécie  de 
divertimentos. 

—  Modernamente  emprega-se  também 
no  sentido  de  casquilho,  peralta,  pintale- 
gretc,  etc. 

TAFULAO,  ONA,  s.  m.  Augraentativo 
de  Taful. 

TAFULAR,    i'.    )i.  Fazer  vida  de  taful. 

TAFULARIA,  s.  f.  A  vida  do  taful,  o 
porte  delle.  —  Entregar-se  á  tafularia. 

—  Direito  real  antigo  que  se  pagava  a 
ol-i-ei:  talvez  fosse  das  casas  de  jogo.  Vid. 
Voz. 

—  Ajuntamouto  do  tafues. 

—  Por  tafularia;  por  funcçào,  diverti- 
mento cm  sucia  do  similhantes  gentes  es- 
túrdias. 

—  Casa  de  tafularia ;  c^vsa  do  jogo. 
TAFULHAR,    r.  a.  Termo  popul:.r.  Ta- 


par embutindo,  ou  embebendo  alguma 
cousa,  que  tapo  a  abertura. 

TAFULHO,  s.  m.  O  qua  se  embebe  para 
t'ifalliar,  ou  tapar. 

TAFULICE,  í.  /.  Vid.  Tafularia. 

TAFUR,  f.  o  adj.  Vid.  Taful. 

TAGANA,  «.  /.  Vid.  Tainha,  e  Fataça. 

TAGANTAR.  Vid.  Ataganlar. 

TAGANTE,  «.  m.  Termo  antiquado. 
(iolpu  de  Jiçoutc,  ou  azorrague,  quo  corta 
c  n^talha  a  carne. 

—  Fart.  ucl.  do  Tagantar,  e  do  Tagar 
TAGAR,    i'.  a.  Teruio  antiquado.  (Jor- 

tar,  ferir. 

1 .)  TAGARELLA,  .?.  2  gen.  Pessoa  que 
falia  muito,  c  dcscntoadamente.  —  EsU 
homem  é  um  lagarella. 

2.)  TAGARELLA,  TAGARELLADA,  s.  f. 
Gritaria,  motim. 

TAGARELLAR,  r.  n.  Termo  popular. 
Dar  á  taramela,  fallar  muito  do  cousas 
frivolas,  ou  que  cumpria  calar. 

TAGARELLICE,  «.  /.  O  vicio  de  fallar 
muito. 

—  Cousa  de  pouca  importância  dieta, 
ou  escripta. 

—  Indiscrição. 

TAGAROTE,  s.  vi.  Espécie  de  falcão 
africano,  o  qual  é  tido  por  bafari. 

—  Figurada  c  popularmente :  O  homem 
pobre,  que  vai  onde  lho  dão  de  comer,  e 
devora  quanto  pôde;  de  ventre  aventu- 
reiro e  voraz. 

TAGE,  .«.  7H.  Termo  da  Arábia.  Coroa. 

TAGECIA,  s.  /.  Termo  de  botânica. 
Cravo  (lo  defuneto. 

TAGEDA,  s.  /.  Vid.  Tagueda. 

TAGICO,  A,  iidj.  De  Tejo,  rio  do  Lis- 
boa. —  A  tagica  lyra. 

TÁGIDE,  s.  /.  Termo  de  poesia  e  my- 
thologia.  Nympha  do  Tejo. 

—  Figuradamente:  Damas  lisbonenaes. 
TAGRA,    «.    /.    Medida   de   vinho,  seis 

das  quaes  faziam  meio  almude  coimbrão, 
que  6  um  cautaro  de  vinte  e  quatro  quar- 
tilhos. Era  pois  a  tagra  uma  ta(;a  que 
levava  uma  canada  de  vinho;  o  era  esta 
a  raçào  d'elle  que  D.  Aíionso  Sanches 
mandava  dar  diariamente  ás  religiosas  de 
Villa  do  Conde,  de  que  era  o  fundador, 
e  dotador  magnifico. 

TAGUEDA,  s.  /.  Herva. 

TAIEO.  =  Palavra  de  significação  in- 
certa, cn\pregada  por  Camões  no  Rei  Se- 
leuco.  Parece  querer  dizer  se;n  saòor,  »;»- 
discreta. 

f  TAIFA,  s.  f.  Termo  de  náutica.  A 
porção  de  soldados  e  marinheiros  que  na 
occasiào  de  combate  guarnecem  a  tolda  e 
o  castello  de  proa,  designando-so  taifa  da 
jiôpn,   e  taifa  da  proa. 

TAIMADO,  A,  adj.  Fino,  repassado, 
velha,  o  ca  limo  c  muito  astuto,  malicioso. 

TAIMBO,  .S-.  VI.   Vid.  Tambo. 

TAINHA,  s.  /.  Termo  do  historia  natu- 
ral. Peixe  vulgar  do  rio;  aliáa  fataça, 
ou  tagana. 

TAIPA,  s.  /.  Parede  feita  de  terra,  ou 


barro  calcado  entre  dous  taboJSes  paralle- 

lo»,  ou  taipaes,  a  cuja  'listancia  6  pro- 
porcionada a  grossura  da  jiarede;  esta  é 
taipa  de  pilão,  ou  <1*  foriiiigão.  V^id. 
Pilão,  e  Formigão. 

Sfliihora,  qup  laipa  I:  «Ma  ? 
tapacK  o  que  bcin  parpccT 
ora  L-Ane  rojto  ap^iaroça. 

AVTOiío  Pisaras,  Auroa,  pag.  183. 

—  Taipa  real;  rebocada  de  mistura  de 
cal,  c  barro. 

—  Taipa  efe  ttie;  6  do  esteios  gradados 
com  ripas,  ou  vara»,  e  cheios  os  víos  de 
barro  mollo,  com  que  depois  se  cmboça  o 
alisa  a  parede  d'c«ta  taipa.  Vid.  Sebe. 

—  Plur.  Termo  de  náutica.  I^cciuss 
das  jtrras  írartiilicria,  tapa. 

TAIPADO,  part.  pasi.  de  Taipar.  Fe- 
chado, atalliado  com  parcdoa  de  taipa. 
Vid.  Taipal. 

TAIPAL,  s.  m.  Termo  usado  no  plu- 
ral. As  taboas  entro  as  quaes  se  calca  o 
barro,  quando  se  faz  a  parede  de  taipa. 

—  Parapeitos  de  terra  taipada  em  tor- 
no dos  arraiaes;  ontrincheiramento  de 
taipas. 

—  Adj.  2  gen.  —  Carro  taipal;  o  que 
tem  bordas  altas  de  taboas,  no  leito,  para 
levar  cousas  niiudaa,  entre  os  taipacs;  o 
com  m  um  dos  carros  tem  fueiros  petos 
lados,  que  contém  a  carga  no  leito  de 
grade  com  c.ideias  de  taboas. 

—  Parapeitos  taipaes;  parapeitos  fei- 
tos de  taipa. 

TAIPAR,  V.  a.  Socar  a  taipa,  oa  fazol-a 
de  terra. 

TAIPEIRO,  í.  Til.  OflBcial  que  faz  Uipa. 

TAIREL,  s.  m.  Pareço  ser  erro  por  ba- 
tel,  ou  taurel,  de  taurim. 

TAITÁ,  *.  /.  Vid.  Tatá. 

TAIXA,  s.  f.  Vid.  Taxa,  e  Tacha,  que 
diflercm  entre  si. 

TAIXAR,  V.  a.  Vid.  Taxar.— «E  tira- 
dos estes  casos,  a  iii'>s  praz,  que  os  que 
assy  forem  taaes  pessoas,  que  sejaò  pêra 
servir  outrem,  que  sejaõ  pêra  ello  cos- 
trangidos  pelas  Justiças  da  terra,  pela 
guisa  que  se  usava  nos  tempos  dos  outros 
Reyx,  taiiando-lhes  as  soldadas  pela  gui- 
sa, que  nós  acordamos  em  nosso  Senho- 
rio, p  Ord.   AffoQS.,  liv.  2,  tit.  29,  §  6. 

TAJAÇÚ,  s.  «1.  Termo  de  historia  ua- 
tural.  Javali  ou  porco  dos  mattos  da  Ame- 
rica, conhecido  em  Cayenna  pelo  nome 
de  porco  dos  bostjues, 

TAL,  adj.  2  gen.  (Do  latim  talit). 
Igual,  similhante  a  outra  cousa  doscripta. 
—  «E  porque  elles  fazem  mui  mal  dea- 
pensarem  com  a  Ley,  e  fazem  todo  con- 
tra nosso  mandado,  nom  avendo  tal  po- 
der; com  acordo  dos  do  Nosso  Conselho 
peemos  por  Ley,  e  Mandamos,  que  ne- 
nhum Alquaide  maior  nom  dê  licença, 
nem  mande  trazer  armas  nenhumas  a  ne- 
nhuns, que  com  elle  vivào,  nem  a  outras 
nenhumas   pessoas   daquellas,   a  que  per 


TAL 


TAL 


TAL 


663 


Nós  he,  ou  for  defeso.»  Ord.  Affons.,  liv, 
1,  tit.  23,  §  53.  —  «E  esto  uoiii  aja  lu- 
gar nas  casas  da  morada,  que  alugarem 
pêra  morar,  em  quanto  andarem  nos  di- 
tos Officlos;  porque  tal  aluguer  e  arren- 
damento polerom  licitamente  fazer  sem 
embargo  d'esta  Lei.»  Ibidem,  liv.  4,  tit. 
61,  §  1.  —  «Ou  antre  algum  delles,  e 
aquelle,  de  cuja  herança  se  trautava,  per 
que  nom  herdasse  em  sua  herança,  ou 
outro  semelhante;  porque  ainda  que  tal 
contrauto  em  alguns  casos  nom  valha  per 
direito,  pode-se  pêro  confirmar  per  jura- 
mento segundo  Direito  Canónico,  por 
nom  seer  tao  reprovado  como  os  outros. » 
Ibidem,  tit.  62,  §  6.  —  « E  se  algum 
Chrisptaaõ  fosse  achado  a  fazer  o  cou- 
trairo,  fosse  feito  servo  daquelle,  que  o 
achasse  tal  cousa  fazendo ;  e  aalem  desto 
todos  seus  beens  fossem  confiscados  pêra 
a  Coroa  dos  Regnos  daquelle  Rei,  ou 
Princepi,  cujos  sobditos  fossem  aquelles, 
que  03  assi  achassem  levar  as  ditas  cou- 
sas vedadas.»  Ibidem,  tit.  63.  —  «Aca- 
bando de  lho  metter  na  mão,  antes  de  es- 
perar resposta,  se  foi  traz  as  outras :  o 
do  Salvagem  contente  daquellas  palavras, 
depois  de  deitar-se  na  cama,  metteu  o 
anel  em  um  dedo  da  mão  esquerda;  mas 
como  este  anel  fosse  forjado  pcra  aquelle 
fim,  acabado  de  o  metter,  ficou  sem  ne- 
nhum acordo,  porque  uma  pedra,  que 
nelle  vinha,  era  de  tal  composição  e  qua- 
lidade, que  em  quanto  lho  não  tirasse 
fiíra  não  acoi-daria.»  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  113. 
—  «Eu  sou  esse,  que  perguntas,  disse  o 
do  Tigre,  e  folgo  muito  de  a  quereres  em 
tal  lugar,  pêra  que  em  publico  se  veja 
como  Deus  castiga  teus  erros.  Ora  pois 
assim  te  praz,  disse  o  gigante,  fique  pêra 
amanhã,  que  hoje  é  já  tarde,  e  em  tanto 
mandarei  concertar  o  campo,  onde  se  ha 
de  fazer  batalha.»  Ibidem,  cap.  117. 

Ja  vos  pregnoi  as  janellas, 
Porquo  não  vos  ponhais  ncUas  ; 
Estareis  aqui  encerrada 
Nesta  caga  tão  fechada, 
Como  freira  d'OudiveLlas. 
Que  poccado  foi  o  meu  ? 
Porque  me  dais  tal  prizão  ? 

SIL  TICBXTE,  FABÇAS. 

So  nunca  fora  outra  tal, 
Disséramos  que  era  mal 
Por  serdes  vós  a  primeira ; 
Somos  eira  de  cangrejos. 

inEM,  COMEDIA  DE  BCBENA. 

Vi  que  em  Africa  aqueceo 
ser  morte,  e  fome  muy  forte  : 
cauallos,  e  gado  morrco, 
muy  ta  geuto  percsceo, 
nunca  foy  tal  fome  e  morte. 

o.    DE    P.EZEXDB,    MISCELLANBA. 


—  «Todavia  Aífonso  d'Alboquerque, 
por  ser  de  tal  Príncipe,  e  elle  Embaixa- 
dor o  visitar  de  sua  parte,  lhe  fez  muita 


honra,  e  gazalhado.  E  depois  quando  este 
Embaixador  se  foi  pêra  Ormuz,  havendo 
embarcação  em  Goa,  per  ordenança  de 
Aftonso  d'Alboquerque,  mandou  com  elle 
hum  Miguel  Ferreira,  homem  honrado,  e 
de  bom  saber  natural  de  Beja  com  reca- 
do seu  ao  Xeque  Ismael  Rey  da  Pérsia. » 
Barros,  Década  2,  liv.  7,  cap.  3.  —  «O 
qual,  posto  que  fez  muita  honra  a  Diogo 
Fernandes,  não  lhe  concodeo  a  fortaleza 
em  Dio,  dizendo,  que  se  Melique  Gupi 
escrevera  a  AíFonso  d'Alboquerque  que 
elle  a  dava,  tal  não  era,  casa  de  feitoria 
si,  e  a  fortaleza  em  Çuri^ate  que  o  mes- 
mo Melique  Gupi  tinha,  ou  em  cada  hum 
destoutros  dous  lugares,  Maim,  e  Bom- 
baim.» Ibidem,  liv.  10,  cap.  1. 

Sou  d 'escrúpulos  mui  f6ra, 
nem  com  almofada  tcd 
cm  que  lavraes  tão  louçã, 
não  faleis,  nem  com  didal. 

AKTOXIO  PRESTES,  AUTOS,  pSg.  2i3. 

Olhae  cá,  senhor,  minha  filha 
não  é  quem  cuidas,  é  vento 
atrcvcr-30  pensamento 
querer  correr  tal  manilha  ; 
tem  lo.ige  o  merecimento 
minha  filha. 
iBiDPiM,  pag.  485. 

—  «Confesso  que  o  amor  da  honra, 
pôde  bem  ser  que  excessivo,  arruine  a 
minha  fortuna.  Comtudo  não  me  posso 
arrepender  de  hum  tal  amor  vendo  que 
a  elle  devo  o  favor,  e  toda  a  honra  que 
V.  S.  me  faz.»  Cavalleiro  d'01iveira. 
Cartas,  liv.  2,  n.°  16.  — •  algnis  perpen- 
diciãaris :  He  certa  exhalaçaõ  chamada 
assim,  porque  trás  a  fonna  de  huma  figu- 
ra piramidal  de  tal  sorte  direita,  como  se 
fora  medida  pello  perpendiculo  geométri- 
co, a  que  o  vulgo  dos  officiais  chama  pru- 
mo.» Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal  me- 
dico, pag.  -423,  §  7õ. 

Colhêr-me  veio,  em  tal  aíTògo,  o  Dia  ; 
E,  co'  elle,  vozes: — -Sus,  Romano  Escravo. 
Pélle  de  Javali,  com  que  me  cubra, 
Corno  de  Boi  me  dão,  por  onde  beba, 
E  um  seceo  peixe,  para  o  meu  repasto. 

F.   M.    DO  SASClmEXTO,   OS    MABTTBES,   1ÍV.    7. 

Queres  ouvil-o  ? 

E  porque  não  ? 

Discorda 
Condescendência  tal  de  teus  princípios. 

GABBETT,   CATÃO,   aCt.    2,    SO.    4. 

—  «Certo  é  que  o  tal  duque  fazia  diá- 
rio da.s  indecencias  e  misérias  de  muitas 
pessoa.s  illustros;  vendo  o  mundo  o  casti- 
go em  sua  casa  sem  passar  a  terceira  ge- 
ração. Aprendamos,  e  tenhamos  compai- 
xão das  misérias  do  mundo,  e  ate  daj  do 
duque  e  sua  casa.»  Bispo  do  Grão  Pará, 
Memorias,  publicadas  por  Camillo  Cas- 
tello  Branco,  pag.  160. 

—  Algum. 


—  Refere-se  ao  attributo. 

—  Emprega-se    também    nas  compara- 
ções e  exagerações. 

—  Agua  tal;  agua  sem  mistura,  agua 
pura. 

—  Emproga-se   como    palavra  correla- 
tiva. 


que  do  qne  príga  aconselha 
não  do  que  elle  é  peccador  ; 
mas  cu  sou  do  qual  pastor 
tal  a  cabra,  tal  a  ovelha. 

ASTONIO  PBÍSTES,  AUTOS,  pag.  31Õ. 


—  Em  tal  extremo;  muito,  a  tal  pon- 
to. —  «Que  na  verdade  é  tanto  pêra  lou- 
var, que  parece  que  hi  se  esmerou  em 
tal  extremo  a  natureza,  que  a  fez  pêra 
mostra  de  toda  sua  perfeição ;  e  não  é  de 
erêr  senão  que  Palmeirim  tem  a  razão 
cega,  a  vontade  penhorada  em  outra  par- 
te.» Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
dlnglaterra,  cap.  104. 

—  De  tal  maneira;  de  tal  sorte. — 
«Porque  dizem  que  na  carne  onde  toca- 
va qualquer  daquellas  gotas,  a  queimava 
de  tal  maneyra,  que  com  huma  dôr  in- 
comportável lhe  penetrava  até  o  mais  in- 
trínseco dos  ossos,  sem  aver  vestido  nem 
outra  cousa  alguma  que  sobre  sy  puses- 
sem que  lhe  pudesse  fazer  resistência.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações, 
cap.  93. 

—  Em  tal  guisa;  em  tal  modo,  de  tal 
maneira,  de  tal  sorte.  —  «E  quanto  he  aa 
Lei  d'ElRey  Dom  AfFonso  o  Quarto,  que 
falia  na  pena  posta  e  prometida  no  con- 
trauto illicito  e  reprovado  per  Direito, 
Dizemos  que  nom  aja  lugar  nos  contrau- 
tos  torpes,  ou  que  segundo  razom  natu- 
ral nom  podem  seer  compridos  de  feito, 
ou  som  reprovados  per  direito  em  tal 
guisa,  que  nom  podem  seer  confirmados 
per  juramento.»  Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit. 
62,  §  6.  —  «Os  quaaes  contrautos  som 
contra  Direito  Comuum,  e  reprovados  per 
elle  em  tal  guisa,  que  nom  podem  seer 
confirmados  per  juramento  ;  ca  seendo 
taes  contratos,  que  ainda  que  fossem  con- 
tra Direito,  pudessem  ser  confirmados  per 
juramento,  em  taaes  casos  Mandamos  que 
haja  lugar  a  dita  Lei.»  Ibidem. 

—  Em  tal  caso.  —  «E  esto  que  dito  he 
averá  lugar  no  caso,  quando  o  devedor 
principal  for  presente,  a  saber,  na  Afilia, 
hoade  for  morador,  ou  em  seu  termo ;  e 
seendo  elle  ausente  do  termo,  ou  da  Vil- 
lo,  hu  for  morador,  era  tal  caso  poderá 
seer  demandado,  e  condapnado  sem  o  pri- 
meiramente seer  o  principal  devedor.» 
Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit.  54,  §  3.-— «E 
quando  algum  fosse  preso  per  autoridade 
de  Justiça,  e  aprisoado  em  carcer  pruvi- 
co,  em  tal  caso,  se  elle  quiser  fazer  obri- 
gaçom,  ou  algum  outro  contrauto  a  aquel- 
le, per  cujo  requerimento  foi  preso,  ]\Ian- 
damos  que  nom  valha,  salvo  seendo  hi 
presente  o  Juiz,  que  o  mandou  prender.» 


664 


TAL 


TALA 


TALA 


Ibidem,  tit.  57,  §  3.  —  «Se  essa  Senten- 
ça (l'appellaçom  fosse  dada  contra  ello 
injiiHtainonte  o  contra  direito,  ])0.r  igno- 
rância lios  Juizes,  ou  por  fazer  injuria  a 
esse  reco  (leiíiiiiiiiailo,  ou  grn^a  ao  de- 
mandante, oin  tal  caso  nom  soja  aquelie, 
que  foi  nomeado  c  chamado  por  autor, 
theudo  a  correfrer  e  compoer  essa  de- 
manda assi  vonciíla  ao  reoo  principal- 
mente demandado,  porque  a  injuria  ou 
gra^^a  feita  pelos  Juizes  ao  demandado, 
ou  ao  domamiador  nom  deve  em  tal  caso 
cmpeeccr  ao  que  foi  nomeado  por  autor.» 
Ibidem,  tit.  .''lO,  v>  G.  —  «E  se  a  divida 
descender  (ra!fi;num  nialeficio,  ou  casi  ma- 
lefício, em  que  alp;uom  fosse  condapnado, 
em  tal  caso  deve  esse  devedor  geeral- 
raente  seer  proso,  ataa  que  pague  da  ca- 
dea.»  Ibidem,  tit.  67,  §  5. 

—  Sub  tal  condição ;  debaixo  de  simi- 
Ihante  condição.  —  «Diz  o  Direito,  que 
se  algum  homem  vender  a  outro  alguma 
cousa,  quer  movei,  quer  raiz,  sob  tal 
condiçom,  que  se  o  comprador  nom  fozer 
a  pagua  ataa  hum  dia  assinado,  que  a 
venda  seja  nenhuma,  se  a  pagua  nom 
fezer  ata  aquelie  dia.  a  venda  será  ne- 
nhuma, segundo  a  condiçom.»  Ord.  Af- 
fons.,  liv.  4,  tit.  .57,  §  3. 

—  Substantivamente  :  O  tal.  —  «Quem 
ateegora  esteuo  em  sua  dureza,  e  nam 
quis  mimendar  sua  vida  e  fazer  peni- 
tencia por  suas  grandes  culpas,  se  hoje 
esconjurado  pella  morte  o  payxam  do 
DEOS  ainda  fica  duro  o  surdo,  que  re- 
médio se  podcraa  achar  pêra  sua  conuer- 
sam?  Bem  podemos  dizer  que  o  tal  he 
hum  daquellcs  a  que  Sam  Paulo  cliama- 
ua  filhos  de  desconfiança,  que  quer  dizer 
homem  de  cuja  saluaeam  se  pode  descon- 
fiar.» Frei  Barthdlomcu  dos  Martyres, 
Catecismo  da  doutrina  christã. 

—  Que  tal  ê? 


Quéa  entrar  n'um  certo  engano 
comigo  de  parceria  ? 
Que  tal  è."} 

A!«TO!(I0   PBKSTK5,   ACTOS,   pag.    219. 


—  Com  tal  que;  comtanto  que. 

—  Pov  tal ;  comtanto. 

—  Tal  ^jor  tal ;    condiç.Tlo,  ou    retorno 
igual  ao  outro. 

—  Adágios  e  provérbios  : 

—  Quem  faz  mal,  espere  outro  tal. 

—  Taes  somos  nós,  taes  sereis  vós. 

—  Taes  como  taes.  Tal  por  tal. 

—  Taes  alfaces  para  taes  beiços. 

—  Tal  vae  de  guerra. 

—  Tal  ó  o  servo,  como  o  senhor. 

—  Qual  o  rei,  tal  a  grei. 

—  Tal  te  vejas  entre   inimigos,  como 
pássaro  na  m?lo  de  meninos. 

—  Tal  genro  como  o  sol  de  inverno, 

—  Tal  é  o  dado,  como  seu  dono. 

—  Tal  &  a  casa  da  dona  sem  escudei- 
ro, como  fogo  sem  trasfogueiro. 


—  Qual  o  pne,  tal  u  filho;  qual  o  fi- 
lho, tal  o  pae. 

—  Tal  grado  liaja,  quem  o  asno  pon- 
toa. 

—  Qual  cabeça,  tal  siso. 

—  Tal  ó  o  rábilo  pela  manhJI,  como  a 
laranja  A  tarde. 

—  Qual  6  Maria,  tal  filha  cria. 

—  Tal  6  o  demo,  como  sua  mao. 

—  Tal  virá,  que  tal  queira. 

—  Qual  é  o  cão,  tal  6  o  «lono. 

—  A  tal  posta,  tal  talho. 

—  Com  taes  me  acho,  tal  me  faço. 

—  Emprc^sta^ife  c  n3o  cobraste,  e  se 
cobraste  não  tanto,  o  se  tar.to  não  tal, 
e  se  tal  inimigo  mortal. 

—  O  ladrão  cuida  que  todos  taes  são. 
TALA,  s.  /.   Peça    plana    do    madeira, 

que  se  põe  com  outras  em  redor  de  algu- 
ma cousa,  que  se  quer  apertar,  a  qual  cm 
meio  d'ellas  so  diz  entalada;  em  redor 
da  perna  ou  braço  quebrado  põe-se  talas, 
para  o  ter  seguro  e  direito,  encanado. 

—  Estar,  metter-se,  vèr-se  em  talas ; 
metter-se  em  angustias,  apertos,'  casos 
difficeis  para  todos  os  lados. 

—  O  acto  de  talar  os  campos. 

—  Ficar  entre  duas  talas. 

—  Plur.  São  também  linlias  com  an- 
zoes  aboiados. 

TALABARTE,  s.  m.  Talim,  boldrié,  cin- 
tuião. 

TALACA,  s.  f.  Termo  da  índia.  Repu- 
dio, ou  liltollo  de  repudio. 

TALADOR,  s.  7/1.  Homem, que  tala,  de- 
vastador. 

TALAGA,  .«.  /.   Uma  arvore  da  índia. 

TALAGARÇA,'  ou  TALAGARSA,  «.  /. 
Panno  grosso  e  ralo,  sobre  o  qual  se  faz 
a  tapeçaria. 

TALÂGAXA,  s.  f.  Espécie  de  tecido 
de  linho.  Vid.  Talagarça. 

TALAGREPO,  í.  /.  Termo  da  Ásia.  Um 
sacerdote  ou  religioso  da  Ásia.  —  tE 
perguntando  nós  aos  Chins,  se  tinha  aquil- 
lo  conto,  responderão  que  sy,  porque  tu- 
do estava  escrito  por  matricolas  das  três 
mil  casas  que  os  talagrepos  tinhaõ  cm 
seu  poiler,  o  que  não  avia  casa  daqnel- 
las  que  uão  rendesse  cada  anno  de  dous 
mil  tacis  para  cima,  de  propriedades  que 
defuntos  lhe  tinhaõ  deixado  por  descargo 
de  suas  almas.»  Fernão  Jlendes  Piuto, 
Peregrinações,  cap.  100.  —  «Avendo  ja 
cinco  dias  que  este  Rey  Bramaa  aquy 
era  chegado,  a  Riiynlua  cercada,  que  era 
a  que  governava  por  seu  marido,  o  mã- 
dou  visitar  com  hum  rico  presente  de  pe- 
ças douro  o  pedraria  por  hum  talagrepo 
religioso  de  mais  de  cem  annos,  6  tido 
entre  ellcs  por  homem  santo,  pelo  qual 
lhe  escrcveo  huma  carta  que  dizia  assi.» 
Ibidem,  cap.  154.  —  t Huma  das  quais 
foy  aos  cinco  da  lua  em  que  se  publica- 
rão os  jubileus,  huma  procissaS  que  te- 
ria de  cumprimento,  segundo  o  esmo  dos 
nossos,  mais  de  três  legoas,  na  qual  se 
affirmou  pelo  dito  de  toda  a  gente,   que 


hião  quarenta  mil  sacerdotes  das  vinte  e 
quatro  seitas  que  ha  nesto  império,  dos 
quais  muytos  tinhaõ  differentes  dignida- 
des, como  eraõ  grepos,  talagrepos,  roo- 
lin»,  neepois,  bicos,  sacureun,  c  chanfa- 
rauhos.»  Ibidem,  cap.  KiO. 

TALAMBOR,  «.  T)i.  A  fecha^lura  de  tar 
lambor  não  é  como  as  ordinárias,  mofl 
tem  na  parte  interior  uma  peça  que  mo- 
vo a  lingueta  ou  a  levanta,  a  cliave  é  fê- 
mea, e  o  buraco  ordinariamente  do  tret 
ou  quatro  cantos  para  preniler  e  fazerem 
volver  a  peça  quo  inovo  a  lingueta,  pe- 
gada pela  parto  detraz  da  fechadura, 
além  da  que  está  dentro,  segura  mais  a 
porta  caindo  em  uma  peça  fixa  nn  om- 
breira mesma  onde  e«t;i  o  buraco  para  a 
lingurta  inti^rior. 

TALAMENTO,  t.  m.  Acto  de  talar,  de 
devastur. 

TÁLAMO,  «.  m.  Vid.  Thalamo. 

TALAN,  í.  m.  Termo  antiquado.  Vid. 
Talante. 

TALANHO,  í.  m.  Género  de  sacrifi- 
cio  gentílico  usado  entre  os  povos  do 
Pogú. 

TALANTE,  ou  TALENTE,  ».  m.  Termo 
antiquado.  Ciosto,  desejo,  prazer,  von- 
tade. 

TALÃO,  í.  771.  A  parta  do  cooro  do  sa- 
pato, quo  se  levanta  para  cobrir  o  calca- 
nhar. 

—  Termo  de  alvcitaria.  O  casco  das  _ 
bestas,  onde  as  pontas  da  ferradura  as-  m 
sentam  atraz.  ^ 

—  Termo  de  náutica.  Talão  da  cai- 
xa ;  a  peça  que  fica  no  extremo  da  qui- 
lha, onda  encaixa  o  pé  da  roda. 

—  Termo  de  agricultiira.  Uma  vara  de 
vinha  mais  curta  que  a  guarda;  deixa-se 
ao  fazer  da  poda,  o  fica  janto  á  teira. 
Vid.  Fiel. 

TALAPÃO,  «.  m.  Sacerdote  siame,  ou 
do  Pi'gi'i. 

f  TALAPOY,  ».  m.  Nomo  dado  aos  sa- 
cerdotes buddhistas  de  Siam  pelos  euro- 
peus, quo  são  uma  espécie  de  monges 
mendicantes  ou  pregadores.  Os  talapoys 
são  no  Pegú  o  mesmo  que  os  bonzos  são 
na  China,  e  na  Tartíiria  os  lauiils.  —  Os 
talapoys  de  Siam  fazem  cortar  o  cabello 
e  as  sobrancelhas  aos  meninos,  cuja  edu- 
cação lhes  é  confiada.  —  O  tanto  grtpo 
talapoy.  —  «Este  santo  grepo  talapoy 
mavor  da  casa  dourada  do  santo  Quiay, 
que  por  sua  autoridade  e  austera  vida 
leva  poder  de  minha  pessoa,  relatará  au- 
to seus  pais  tudo  o  mais  que  nesta  lhe 
pudera  dizer  do  que  c^invem  á  minha  en- 
trega, porque  seguro  eu  na  realidade  da 
sua  palavra,  se  quietem  as  alterações 
que  continuamente  combatem  minha  al- 
ma.» Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  149. 

\:<  TALAR,  f.  a.  DevastJir,  destruir, 
estragar,  arruinar,  quein:ar  as  cidades, 
casas,  ctc,  como  faz  o  inimigo. 

—  Termo  de  poesia.  Sulcar,  fender. 


TALE 


TALH 


TALH 


665 


—  Talar  os  campos;  retalhal-os,  abrll-os 
para  os  desalagar. 

—  Figm-adamente  :  Talar  um  homem; 
derribal-o. 

Já  sei  por  onde  caminho. 
Esse  homem  não  mo  falei-í. 
deneaeá-mo  com  a  thcsoura. 
Asiosio  PBESTES,  Anros,  pag.  341. 

—  Talar  as  arvores ;  deital-as  por  ter- 
ra, derribalas. 

2.)  TALAR,  culj.  2  gen.  (Do  latim  fa- 
laris^.  —  Habito  talar;  habito  que  chega 
até  ao  calcanhar,  como  o  dos  clérigos, 
dos  frades,  etc. 

TALAREJO,  s.  rn.  Uma  peça  do  fi-eio 
dos  cavallos. 

TALARES,  s.  m.  plur.  —  Os  talares 
de  Mercúrio;  são  duas  azas  que  lhe  pin- 
tam nos  calcanhares  para  ir  com  mais 
pressa. 

TALAZIA,  s.  /.  Termo  antiquado.  Ta- 
lha, em  que  estava  o  vinho  que  se  ven- 
dia aquartilhauo. 

TALCO,  s.  m.  Silicato  de  magnesia 
anhydra,  substancia  esverdeada,  esbran- 
quiçada ou  pardacenta,  susceptível  de  se 
dividir  em  laminas  finas  mais  ou  menos 
transparentes,  que  oôerecem  dous  eixos 
de  dupla  refracção.  De  todos  os  talcos 
o  branco  é  o  melhor. 

TALEIGA,  s.  f.  Sacco  pequeno. 

—  Uma  taleiga  de  trigo;  são  quatro 
alqueires. 

—  Sacco  de  levar  mantimento  em 
acção  de  guerra.  Vid.  Argãa,  e  Argáo. 

—  Taleiga  de  azeite;  sào  dous  cântaros 
da  medida  de  Lisboa. 

—  Adagio  e  provérbio: 

—  Fazenda  em  duas  aldeias,  pão  em 
duas  taleigas. 

TALEIGADA,  s.f.  A  porção  que  se  leva 
em  uma  taleiga. 

TALEIGO,  s.  m.  Sacco  estreito,  e  com- 
prido, que  leva  dois  alqueires  de  trigo. 

—  Adágios  e  provérbios  : 

—  O  taleigo  de  sal  quer  cabedal. 

—  O  fidalgo,  e  o  galgo,  e  o  taleigo  do 
sal  junto  do  fogo  os  hão  de  achar. 

TALEIRÃO,  s.  m.  Vid.  Taleiras. 

TALEIRAS,  s.  /.  plur.  Termo  de  náu- 
tica. Travessas  que  unem  as  laicas  das 
carretas,  ou  reparos  de  artilheria;  a  pri- 
meira taleira  mais  próxima  da  bocca  da 
peça  se  chama  dianteira,  a  segunda  bai- 
xa, a  terceira  alta  ou  da  mira,  e  a  quar- 
ta taleirão,  ou  taleira  da  conteira. 

TALENDANCIA,  s.  f.  Termo  antiqua- 
do. Talendancia  de  razões;  talvez  avon- 
dança. 

TÁLENTÃO,  s.  m.  Augmentativo  de 
Talento.  *írande  talento,  fallando  da  apti- 
dão de  um  individuo  para  o  estudo  das 
scieueias. — Este  homem  é  um  talentão. 

T ALENTE,  í.  m.  Vid.  Talento. 

TALENTO,  s.  m.  (Do  latim  talentum). 
Certo  peso  d'ouro,  ou  de  prata,  de  diver- 

TOL.    T.  — 84. 


803   valores,   conforme  os  diversos  paizes 
em  que  se  usava. 

Nos  documentos  de  Hespanha  e  Portu- 
gal até  os  fins  do  século  xii  se  fazia  men- 
ção frequente  do  talento  d 'ouro,  que  o 
infractor  da  escriptura  devia  pagar  ao 
que  fielmente  a  cumprisse,  e  talvez  ou- 
tro tanto  ao  senhor  da  terra.  Quasi  to- 
das as  nações  antigas  tiveram  o  seu  ta- 
lento d'ouro  e  prata,  já  como  peso,  já 
como  moeda.  E  prescindindo  agora  de 
talentos  grandes  ou  pequenos,  o  talento 
d'ouro  constava  de  60  minas,  e  cada 
mina  de  100  drachmas,  que  sendo  em 
umas  partes  maiores  e  em  outi-as  meno- 
res, por  força  devia  alterar  o  valor  das 
minas,  e,  portanto  o  talento.  A  drachma 
valia  3  soldos  e  meio  de  tornezes.  Te- 
mos, portanto,  que  o  talento  d'ouro  se 
compunha  de  60  minas,  e  de  6:000 
draciímas,  e  21:000  soldos  tornezes,  ou 
de  França,  que  outr'ora  ainda  valiam 
alguma  cousa  menos  que  o  real  portu- 
guez  de  6  ceitis.  Da  nossa  moeda  houve 
talento  de  3Ó600,  de  láSOO,  e  também  de 
36  reis :  se,  porém,  foi  do  valor  da  mar- 
cha que  em  Portugal  se  usou,  e  que  hoje 
pelo  valor  do  om-o  vale  lláOOO  reis,  te- 
mos averiguado  o  preço  que  davam  ao 
nosso  talento.  Viterbo,  Elucidário. 

—  Enterrar  os  talentos;  não  os  cidti- 
var. 

—  Habilidade,  aptidão,  tendência  na- 
tural para  o  estudo  das  sciencias  e  das 
artes.  —  «Não  ha  cousa  como  ser  discre- 
to, porem  na  companhia  em  que  vos 
achaes  de  que  vos  pôde  servir  o  talen- 
to?» Cavalleiro  d'01iveira.  Cartas,  iiv.  1, 
n.»  31. 

Quanto,  quanto  em  Parthénòpe  te  exaltas  ! 
Alli  mais  SC  cultiva,  e  mais  se  apura 
Do  Maquinista  Siculo  o  talento, 
Que  atalha  os  voos  das  Eomanas  Águias. 
A  força  em  tudo  cede  ás  Artes  sabias ! 

J.    A.   DB  .\LVCEDO,  TIAGEM  EXTÁTICA,  Cant.   4. 

—  Este  homem  é  um  grande  talento ; 
é  sujeito  de  muita  habilidade,  muito  apto. 

TALENTOSO,  A,  adj.  Hábil,  apto  para 
o  estudo  das  sciencias,  das  artes. 

—  Termo  antiquado.  Alegre,  desejoso, 
satisfeito,  contente. 

TALER,  s.  m.  Moeda  da  Allemanha, 
Polónia,  etc,  do  valor  de  480  reis  appro- 
ximadauiente. 

1.)  TALHA,  s.  /.  Vaso  de  barro  de 
grande  bojo,  bocca  estreita,  e  fundo  có- 
nico; serve  para  guardar  azeite  nas  ade- 
gas, etc. ;  modernamente  fazem  também 
talhas  de  folha  de  flandres  para  guardar 
azeite,  porém  sào  menos  bojudas. 

—  Dá-se  também  este  nome  a  vasos  de 
barro  muito  mais  pequenos,  com  os  quaes 
até  as  mulheres  iam  buscar  agua  á  fonte. 

2.)  TALHA,  s.  /.  Termo  "de  náutica. 
Apparelho  composto  de  moitào,  e  cader- 
nal, com  cabo  gornido,  ora  em  um,  ora 
em  outro,  consecutivamente. 


—  Talha  de  rabicho;  aquella  que  na 
alça  do  sen  moitão  leva  o  rabicho,  para 
poder  ser  applicado  onde  convier. 

—  Talha  do  leme ;  com  que  se  tem  mão 
n'elle  em  tormenta. 

—  Talha  do  laiz;  cabo  fixo  na  testa 
de  qualquer  gávea,  dous  palmos  de  ordi- 
nário abaixo  da  ultima  fírra  de  rizes, 
e  que  passando  pelo  reclamo  do  laiz  da 
verga,  serve  de  alliviar  o  panno,  para  fa- 
cilitar a  manobra  de  metter  nos  rizes. 

3.)  TALHA,  s.  /.  Contribuição,  impos- 
to, colleeta,  exacção  que  se  lança  por 
cabeça,  e  na  qual  todos  sào  contados,  con- 
forme os  seus  respectivos  cabedaes,  e  ha- 
veres. Taes  são  as  talhas,  ou  fintas  de 
uma  certa  e  determinada  somma,  que  se 
láneam,  e  repartem  a  um  povo,  conce- 
lho, cidade,  província  ou  reino. 

■ — Soldada,  jornal,  porção. 

—  Preço  certo.  Vid.  Talhado. 

4.)  TALHA,  s.  /.  Termo  de  jogo.  No 
jogo  da  banca,  dá-se  esta  denominação  a 
cada  uma  das  vezes  que  o  banqueiro  aca- 
ba de  virar  todas  as  cartas  do  baralho. 
—  Ganhar  na  primeira  talha,  e  perder 
na  segunda. 

ò.)  TALHA,  s.  /.  Termo  da  Ásia,  Em- 
barcação de  pequeno  porte  do  mar  de  Ma- 
luco. 

6.)  TALHA,  s.  /.  Termo  de  ourivesa- 
ria. O  fragmento  de  metal  que  se  tira  ao 
lavrar  com  a  ponta  do  buril.  Ha  talha  de 
entalhador  de  buril  em  metal,  e  laihinas 
que  servem  de  estampar  pinturas. 

—  Obra  de  talha ;  obra  de  relevo  que 
fazem  os  entalhadores,  e  escuiptores  ima- 
ginários. 

7.)  TALHA,  s.  f.  Certo  numero  de 
achas,  ou  feixes  de  lenha,  de  tojo,  de  car- 
radas; porém  o  numero  varia  segundo  os 
logares,  e  o  mesmo  era,  e  é  nas  marinhas, 
onde  se  marcam  os  alqueires,  dando-se 
em  uma  vara  um  talho  para  marcar  o 
numero  dos  que  se  embarcam :  e  o  que 
dá  os  alqueires,  quando  chegam  ao  nu- 
mero de  10,  ou  12  por  exemplo,  grita  ao 
marcador  talha,  isto.  é,  que  dê  um  ta- 
lho, que  vale  os  tanto  alqueires  do  cos- 
tume. 

—  Talha  de  fuste;  pedaço  de  pau,  taboi- 
nha,  cavaco,  ou  ramo,  no  qual  diagonal- 
mente cortado  em  duas  partes,  em  cada 
uma  d'ellas  se  escreviam,  ou  imprimiam  al- 
gumas letras,  ou  siguaes,  que  declaravam 
a  divida,  ou  a  sua  paga;  ficando  uma  em 
poder  do  credor,  e  outra  em  poder  do 
devedor,  que  lhes  serviam,  ou  de  obriga- 
ção de  divida,  ou  de  quitação  d'el]a. 

—  O  pau  em  que  se  marca  o  numero 
das  talhas,  com  certos  golpes,  como  fa- 
zem os  rústicos. 

TALHADA,  s.  /.  Porção  cortada  de  ou- 
tra cousa.  —  Uma  talhada  de  melancia. 

—  O  caldo  em  talhada ;  o  caldo  mui 
grosso. 

TALHADEIRA,  s.  /.  Instrumento  de 
talhar,   cortar,  fender,  de  diversas  gran- 


668 


TALH 


TALH 


TALH 


dezas,  o  para  vários  usos;  6  cunha  do 
ferro,  c  talvez  tallia  ilo  ferro  frio. 

TALHADINHA,  s.  /.  Diminutivo  de  Ta- 
lhada. T.ilhada  pequena. 

TALHADO,  i)art.  pass.  de  Talhar.  Cor- 
tado. 

—  Retalhado,  cortado. 

—  Temjju  talhado  ;  tempo  convenciona- 
do, aju.stado. 

—  Lavrado  de  talha. 

—  Alcantilado. 

—  Cortado  a  pique. 

—  Renda  talhada ;  renda  certa  por 
ajuste,  detorniiuada. 

—  Que  tem  certo  talho,  ou  feiçílo. 

—  Letras  talhadas  ao  buril. 

—  Pedra   talhada. 

—  Figuradamente :  Disposto,  hábil, 
moldado. 

1.)  TALHADOR,  s.  m.  Homem  que  cor- 
ta a  carne. 

—  Carniceiro,  cortador  de  açougue. 
2.)  TALHADOR,  s.  m.  Cutelo,    faca  de 

talhar  carne. 

—  Prato  grande,  aliás  trincho. 
TALHADURA,  s.  f.  Vid.  Tolhedura. 

—  Talhadura  d' agua ;  porção  d'agua, 
talho;  medida  rústica  das  aguas,  pela 
■qual  se  entende  uma  vèa  d'agua,  bastan- 
te a.  regar,  ou  limar  um  prado,  campo, 
ou  lameiro. 

TALHAFRIO,  s.  m.  Um  instrumento 
de  lavrar  dos  marceneiros. 

TALHAMAR,  s.  vi.  Uma  peça  solida  e 
angular,  que  se  oppõc  á  Ibrça  da  agua, 
para  que  não  dê  em  cheio  na  superticie 
plana;  põe-sc  nas  proas  dos  navios  sobre 
a  roda,  e  talvez  ó  de  aço  cortante  para 
talhar  as  con-cntes,  com  que  se  atraves- 
sam as  barras  estreitas :  nos  arcos  das 
pontes  os  talhamares  são  de  pedra. 

—  Termo  de  náutica.  O  ajuntamento 
dos  madeiros,  que  unidos  ;l  roíla  da  proa, 
no  sentido  do  vante,  formam  a  parto  mais 
saliento  d'ella,  bcque. 

—  Obra  angular  para  dividir  nos  rios 
a  vèa,  o  ])cso  da  .agua. 

TALHAMENTO,  s.  m.  Talha,  repartição. 

—  Pagar,  ou  dar  de  talhamento ;  se- 
gunda a  talha  dos  cabe.çõi-s,  ou  outros 
impostos,  ou  fintas  como  foram  talhadas 
á  pessoa  obrigada  a  ella ;  pagar  de  ta- 
lha tanto. 

TALHANTE,  }>art.  aci.  de  Talhar.  Cor- 
tante. —  Vròu  talhante. 

—  íS.  m.  Vid.   Talante. 

TALHÃO,  «.  m.  —  Um  talhão  de,  hor- 
ta; 6  o  espaço  do  chão  ontre  dous  regos, 
a  modo  de  alfobre,  e  maior  que  elle,  on- 
de 30  põe  hortaliça. 

TALHAR,  i'.  a.  (Do  francez  tailler). 
Cortar. — ^.i.Mi  sesmalhauam  fortes  lori- 
gas  c  britauam  o  espeçauam  e  talhauam 
escudos  capilinas  bacinetes.»  Livros  de 
Linhagens,  t.  ií,  pag.  186,  em  Portugal. 
Mou.  Hist.,  Scriptores,  tom.  1. 

—  Talhar  evi  cortezias,  dfspezas,  etc. ; 
cortar,  arbitrar,  ou  distribuir. 


—  Fazer  o  ofHcio  de  cortador  nos  ta- 
lhos dos  açougues. 

—  Talar,  devastar,  destruir. 

—  Talhar  um  vestido;  cortal-o  á  fei- 
ção do  corpo  (lo  seu  dono. 

—  Aquinhoar  a  quantia  que  se  ha  de 
pagar. — Talhar  vddadxi.  —  «Os  Verea- 
dores haõ  de  fazer  avcenças  poios  Jor- 
naaes,  o  empreitadas  com  os  que  feze- 
rcm  as  obras,  c  as  outras  cousas,  que 
comprem  ao  Concelho,  e  talhar  soldadas 
com  os  Porteiros,  e  com  os  outros,  que 
liam  de  servir  o  Concelho,  o  por  seus 
mandados  hani  de  seer  pagados,  e  d'ou- 
tra  guisa  nom.»  Ord.  Affons.,  liv.  1,  tit. 
2«,  S  21. 

—  Talhar  a  empreitada  cam  os  offi- 
ciaes ;  aju^tal-a. 

—  Talhar  preitos  das  carnes  com  os 
carniceiros ;  convencionar. 

—  Figuradamente  :  Talhar  urna  cousa 
por  outra;  fazel-a  á  imitação. 

—  Relatar,  contar.  —  "  Porque  nam 
soomente  tem  muita  multidam  de  ilhas 
ao  longo  da  costa,  mas  muito  grande 
costa  pela  qual  se  navega:  c  alem  disto 
toda  ha  China  por  dentro  se  navega  e 
toda  se  cori'e  por  rios  que  ha  talham  to- 
da e  regam,  que  sam  muitos  e  muito 
grandes.»  Fr.  Gaspar  da  Cruz,  Tratado 
das  cousas  da  China,  cap.  9. 

—  Entalhar,  esculpir  em  madeira,  pe- 
dra. 

—  Dar  talho,  fender,  sulcar. 

DcUc  o  pobre  se  apraz,  ditoso  estado ! 
Ditosa  condi(,'ão,  basta-lhc  hum  nada, 
E  cora  cllo  a  Fortuna  alegre  aftVouta ! 
Outros  mil  l;'i  devisas,  qu'  em  cardume 
De  gosto  ditícreute  as  ondas  talh^to. 

J.  Á..  DH  MACEDO,  A  SATURrZA,  COIlt.   3. 

TALHARIM,  i-.  m.  Certa  massa  em  pe- 
dacinhos de  varias  feições,  vinda  de  Itá- 
lia, e  se  coze  em  caldo  adubado  com 
queijo  raspado,  ou  manteiga. 

TALHE,  í.  m.  (Do  francez  taille).  A 
estatura  e  feição  do  corpo. 

—  Figuradamente :  A  forma  do  vesti- 
do, o  corto  afeiçoado.  —  E  um  bom  ta- 
lhe de  vestido. 

—  8yn.  :  Talhe,  estatura.  Vid.  este 
ultimo  termo. 

TALHER,  í.  m.  Dú-se  este  nome  á  fii- 
ca,  Colher  c  garfo,  que  se  põe  na  mesa 
a  cada  pessoa. 

—  Mesa  de  vinte  talheres ;  mesa  de 
vinte  pessoas,  com  serviço  para  ellas. 

—  Peça  de  mesa,  com  repartimentos 
para  galhetaíi,   saleiros,  pimenteiros,  etc. 

TALHINHA,  s.  /.  Diminutivo  de  Ta- 
lha.  Talha  pequena. 

—  Termo  de  marinha.  ^lachina  para 
levantar  pesos  pequenos. 

TALHO,  s.  Hl.  (iolpe  com  o  fio  ou  gu- 
me de  faca,  ou  instrumento  de  cortar  em 
geral. 

—  O  copo,  em  que  ca^la  cortador  cor- 


ta, e  d'onde  distribue  a  carne  no  açou- 
gue. —  « Aflírniaraõnos  tàbeni  estes  Chins 
que  tem  esta  cida<lo  oento  e  sessenta  ca- 
sas de  açougues  ordinários,  em  cada  hu- 
ma  das  quais  avia  cem  talhos  do  todas 
as  carnes  quãtas  se  crião  na  terra,  por- 
que de  todas  enta  gente  cjme.i  Fern2o 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.  107. 
—  «E  da  carne  que  se  comprar  de  ta- 
lho, ou  cnxerqua,  não  se  pagará  nenhum 
direito.»  Doo.  de  1.t12,  cm  Viterbo,  Elu- 
cidário. 

—  Talho  do  peixe;  o  mesmo  que  o  ta- 
lho da  carne;  o  cepo,  ou  banco,  ou  bar- 
raca, onde  o  peixe  se  vendia,  ou  fosse 
inteiro,  ou  fosse  em  posta.  De  cada  nm 
d'este-!  talhos  se  pagava  de  foro  ao  direi- 
to senhorio  um  moio  do  p3o,  que  era  de 
trinta  c  dous  alqueires,  á  excepção  com- 
tudo  da  venda  dos  peixes  atuns,  que 
aqui  se  clianiam  tuphos,  por  quanto  es- 
tes não  se  vendiam  nos  talhos,  sendo  re- 
servados ao  real  fisco. 

—  Talho  do  sal;  nas  marinhas,  é  a  di- 
visão (rdlas  onde  o  sal  se  faz,  cortadas 
cm  tabolciros,  onde  a  agua  do  mar  so 
ovapora,  e  o  sal  se  cr^-stallisa,  e  d'ahi  se 
distribuo. 

—  Talho  de  matto ;  porção  que  se  com- 
pra para  tirar  lenha;  ou  de  capoeiras  pa- 
ra se  derribarem,  e  apodrecerem  para  es-         J 
trumes.  I 

—  Figuradamente:  Trazer  alguém  ao 
talho ;  tra/,ol-o  a  fazer  cousa  que  lhe  pe- 
za,  ou  que  lhe  repugna. 

—  O  cepo  sobre  que  põe  a  cabeça  o 
que  ha  de  ser  degollado. 

—  Corte  total  da   arvore,  tilhaniento. 

—  Dar  talho  em  alguma  negociação, 
duvida,  ou  embaraço;  o  corte,  o  meio  do 
a  resolver,  de  a  decidir. 

—  Entrar  a  alguém  talho  de  fazer  al- 
guma cousa;  chegar-lhc  a  sua  vez,  o  seu 
gyro,  turno.  Vid.  Talhadura  de  agua. 

—  Forma,  feição. 

A  princiíial  fresta  que  tem  seu  cruzeiro, 
a  meia  laranja  de  sua  capoUa, 
8CU  miraõlho,  e  que  seu  craveiro 
Di'03  organisou 

o  homem  que  vemos,  c  como  entalhou 
seuâ  membros  propincuoa ;  no  ta!ho,  na  tela 
influiu-lhf  a  alma,  c  dou-lhc  pêra  cUa 
tacs  vcadorcâ  qual  casa  lhe  ornou. 
A>-rosio  rar.sTBs,  actos,  pag-  7. 

—  Trabalhar  luis  vúnas  metallicas  a 
talho  aberto;  trabalhar  sem  fazer  poços, 
nem  galerias,  mas  abrindo  a  terra,  por 
onde  se  segue  a  vêa,  que  fica  descober- 
ta ao  ar,  e  na  direcção  horisontal. 

—  Talho  bom,  ou  mau  de  letra ;  a  for- 
ma que  lhe  dá  quem  escreve  bem,  ou 
mal. 

—  Tomar  talho  de  vida;  tomar  modo 
de  vida. 

—  Talho  do  corpo ;  a  feiç.ão  do  todo. 

—  Figuradamente:  Talho  de  lingua; 
maledicência,  censura  de  linguas  ociosas. 


TALO 


TALV 


TAM 


667 


—  Plur.  Tabolcii-03  do  brejo,  ou  ar- 
rozaes  cortados  por  valias  mestras,  ou 
sargentas,  para  os  desalagar,  e  conser- 
var húmidos,  quaes  requer  este  grão. 

TALI.  Vid.  Talim. 

TALIÃO,  s.  m.  (Do  latim  talio).  Puni- 
ção que  consiste  em  tratar  um  criminoso 
do  mesmo  modo  como  elle  tratou  os  ou- 
tros. —  Pena  de  talião.  —  Lei  de  ta- 
lião. 

TALIGA,  s.  /.  Taleiga,  d'onde  vem 
teiga,  que  é  uma  medida  de  quatro  al- 
queires rasados,  que  talvez  variava  se- 
gundo as  terras  e  ibraes,  e  moios. 

TALIM,  ou  TALY,  s.  »«.  Correia  a  ti- 
racoUo,  d'onde  pende  a  espada. 

TALÍNGA,  s.  /.  Termo  de  marinha. 
Cabo  que  termina  em  varias  pernas. 

-j-  TALINGADO,  pai-t.  pass.  de  Talin- 
gar.    Atado,  liado. — Arpéos  talingados. 

TALINGADURA,  s.  /.  Termo  de  mari- 
nha. Acto  de  taliugar,  a  acção  de  pren- 
der o  cabo  da  amarra  á  argola  da  an- 
cora. 

TALINGAR,  v.  a.  Termo  de  marinha. 
Atar,  ligar  arpéos  em  cadêas  de  ferro; 
fazer  a  amarra  fixa  ao  anete  da  ancora, 
ou  qualquer  ostaxa,  ou  virador  noa  ane- 
tes  das  ancoretas,  ancoretes,  etc. 

TALINTOSO,   A,   adj.  Vid.   Talentoso. 

TALIONAR,  V.  a.  Termo  pouco  em 
uso.  Punir,  castigar  com  pena  egual,  e 
similhante. 

—  Vindicar  do  mesmo  modo. 
TALIONETE,  s.  m.   Castigo,   vingança 

de  outro  tanto  mal,  pena,  como  faz  o  ag- 
gressor. 

TALISCA,  s.  /.  Fenda,  gineta,  resquí- 
cio. 

TALISMAN,  ou  TALISMÃO,  í.  m.  Kome 
dado  a  certas  figuras,  ou  caracteres  gra- 
vados em  pcilra,  ou  metal,  aos  quaes  se 
attribuem  as  relações  com  os  astros,  e 
virtudes  extraordinárias,  conforme  a  con- 
Btellação  sobre  que  estão  gravadas. 

TALISMANICO,  A,  adj.  Que  pertence 
ao    tali.sman.  —  Caracteres   talismanicos. 

TALITRE,  s.  m.  Piparote. 

TALITRO,  s.  m.  Vid.  Talitre. 

TALLAR,  V.  a.  Vid.  Talar. 

TALMUD,  ou  THALMUD,  s.  m.  (Do  he- 
breu talmude  do  verbo  lamaJ).  Antiga 
collecção  das  leis,  dos  costumes,  tradi- 
ções e  opiniões  dos  judeus,  compiladas  pe- 
los seus  doutores.  —  O  Talmud  de  Jeru- 
salém.-~  O  Talmud  da  Babylonia,  que  é 
o  mais  estimado. 

t  TALMUDICO,  A,  adj.  Que  pertence 
ao  Talmud.  — ■  Decisões  talmudicas.  — 
Dmdor  talmudico. 

TALMUDISTA,  s.  2  gen.  Pessoa  que  é 
sectária  das  doutrinas  do  Talmud  ;  diz- 
se  em  opposiçào  ao  karaifa. 

TALMDDISTICO,  A,  adj.  Vid.  Talmu- 
dico. 

TALO,  s.  m.  (Do  grego  tkalos^i.  Termo 
de  botânica.  Nas  folhas  das  plantas,  e 
arvores,  é  uma  fibra  grossa,  e  de  ordiná- 


rio visivel,  que  corre  pelo  meio  d'ellas,  e 
se  vae  ramificando,  e  de  ordinário  se 
continua,  ou  forma  a  mesma  peça  com  o 
pésinho,  que  as  une  ao  ramo.  —  Um  talo 
de  couve. 

—  Talo  das  palmeiras ;  o  miolo  bran- 
co, que  talvez  chamam  palmito. 

TALON,  s.  m.  Termo  de  architectura. 
Um  dos  membros  dos  capiteis,  aliás  pru- 
mos,  ou  pesons. 

TALOSO,  A,  adj.  Concernente  ao  talo ; 
que  tem  talo. 

TALPARIA,  s.f.  (Do  latim  íaZpa).  Ter- 
mo de  cirurgia.  Abcesso  produzido  no 
pericianeo,  ou  entre  elle,  e  o  craneo. 

I  TALPIFORME,  adj.  2  gen.  Que  tem 
a  forma  de  toupeira. 

-}■  TALPOIDE,  s.  m.  Género  de  mam- 
miferos  roedores. 

TALUD,  s.  m.  (Do  francez  talus).  In- 
clinação, que  se  dá  á  superficie  exterior, 
e  lateral  de  um  muro,  de  modo  que  d'al- 
to  a  baixo  vá  engrossando.  Vid.  Alam- 
bor. 

TALUDO,  A,  adj.  Que  lançou,  e  tem 
talo  rijo.  —  Couve  taluda. 

—  Figuradamente  :  Homem  taludo  ;  ho- 
mem crescido. 

TALVEZ,  adv.  Por  ventura.  —  «Mui- 
tas podem  ser  as  causas.  I.  Porque  tal 
vez  naõ  ha  quem  lho  persuada,  e  ensine : 
e  aqui  se  pode  applicar  aquillo  de  8.  Pau- 
lo.» Padre  Jlanoel  Bernardes,  Exercícios 
espirituaes,  pag.  3.  —  «A  mesma  auto- 
ridade com  que  V.  P.  intitula  erro  hum 
descuido  que  achou  na  minha  carta,  faria 
talvez  mortaes  as  venialidades  que  en- 
contrasse na  minha  consciência ;  não  sou 
escrupuloso,  nem  sou  amigo  de  escrupu- 
losos.» Cavalleiro  d'01iveira,  Cartas,  liv. 
1,  n."  14.- — "ApoUo  também  aposto  que 
não  acha  huma  só  figa  sobre  o  seu  furor, 
e  para  pagar  a  Domieiano  estou  temendo 
que  seja  necessário  dar-se  o  Cavallo  Pé- 
gaso talvez  por  dous  réis  de  cominhos.» 
Ibidem,  n.°  33. 


Valente  marafona  foi  por  certo 
A  tal  Madama  Helena !  E  quem  foi  esta  ? 
Diz  a  letra  Madama  Pena-Lopes, 
íProscauia  o  Deaõ)  talvez  seria 
Taõ  boa,  como  essoutra?  —  Essa  (respondo 
O  douto  Jubilado)  é  doutra  laia. 
A.  Di^'iz  DA.  cBcz,  HTSSOPE,  caut.  5. 


S'  em  Athcnas,  Alcipe,  então  viveras 
Talvez  Electra  só  nào  fora  aos  Astros. 

J.    A.   D£  ILACZSO,  A  NATUSEZA,  Cant.    1. 

Ella  nas  mãos  do  Fundador  de  Eoma 
Erguco  primeiro  o  ferro  fratricida ; 
Ella,  ta},vc,z  na  rígida  Bigorna 
Bateo  primeiro  refulgente  espada, 
E  nào  soflrendo  o  mérito,  e  virtude. 
Da  terra  afugentou  justiça  e  pejo. 

IDEM,  A  NATUREZA,  Cant.  2. 

Juba,  Sei  pião  cahiram  por  seu  ferro... 

Inda  fumma  talvez  a  areia  ardente 

Da  Numidia,  insopada  em  sangue  fresco; 


E  no  vasto  silencio  do  deserto 

Inda  arquejam  talvez  corpos  romanos. 

G.IKKETT,   CATÃO,   act.    2,   SC.    1. 

Que  por  meu  zelo — -indiscreto,  cego, 
Demaziado  talvez  —  puz  em  perigo 
A  tua  glória,  a  não-mancbada  fama 
Do  mais  iliustre  príncipe  da  terra. 
vBiDKM,  act.  3,  SC.  7. 

D"alli,  quando  seguras  avançarem 
Aa  legiões  de  César,  repentino 
A  retaguarda  súbito  lhe  cortas  ; 
Emtaiito  nús  á  frente  os  commettêmos : 
E  a  que  julgam  victoria  indisputável, 
Ser-lhe-ha  talvez  misérrima  mina. 


—  Pôde  ser  que,  quiçá,  acaso. 

—  Alguma  vez. 

TALY,  s.  m.  Vid.  Talim. 
TAM,  adv.  Vid.  Tão. 

Porque  não  te  abrandava 

Este  amor  que  me  tu  tam  maJ  pagaste. 

CAII.,  EGLOGA  4. 

E  03  outros  que  isto  vem 
muy  pouca  enmenda  tem ; 
antes  andam  tam  mundanos, 
como  se  fossem  seus  annos 
como  de  Matusalom. 

GABCIA  DE  BEZENDE,  MISCELLAÍOIA . 

Por  sua  gram  formosura 
fiiy  no  mundo  nomeado 
angélica  criatura, 
nimca  foy  tal  desuentura, 
nem  Príncipe  tam  amado. 

IBIDEM. 


—  «São  tam  compassiuos  de  condição, 
que  se  o  mar  anda  brauo,  botamlhe  cou- 
sas de  comer  sô  a  fim  de  que  se  abran- 
de, e  amanse.»  Fr.  Gaspar  de  S.  Ber- 
nardino, Itinerário  da  índia,  cap.  12. 

Como  é  que  Diocleciano,  tam  agudo 

Xo  discernir  os  Homens,  quiz  tal  César? 

Decretos  são,  dessa  alta  Providencia, 

Que  esvaece  os  projectos  vãos  dos  Princepes, 

E  03  Conselhos  do3  Povos  desbarata. 

F.   M.   DO  SASCIMENTO ,  os  MABTTBES,  1ÍV.  4. 

Seu  nome  so  é  como  um  sêllo  augusto 
Que,  a  despeito  dos  numes,  sanctifica 

A  causa  que  elle  abraça  ;  — é  força,  ingente, 
Antemural  onde  o  Ímpeto  se  quebra 
De  tantos,  tam  vaido.sos  inimigos. 

GAKBEIT,  CATÃO,  aCt.    1,    8C.    5. 

Juba, 

Que  tens,  que  tam  severo  respondeste 
Ao  senador  ?  Tam  triste  e  pensativo 
Fitas  no  chão  os  olhos  carregados  ; 
Em  que  meditas  ? 

IBIDEM,   SC.    6. 

Tu  púd  3  inda  ser  o  amparo,  o  abrigo 
Da  abandonada  pátria.  A  liljerdade 
Acabou  :  mas  seus  filhos  desherdados. 
Foragidos,  caçados  como  feras 
De  sei-ra  a  serra,  e  do  povoado  ao  monte, 
Hasde  desempará-los,  quando  podes 
Alli^ar-lhe  as  penas,  protegê-los, 


(JtàH 


TAMA 


Sfir-lliM  piíd?...  Oh!  nilo  posso mai». . .  Huccmnhe 
O  corarão  Iam  volho  á  iniij^oa,  ao... 
iiiiDuu,  act.  2,  HC.  2. 

(»  lioiiicin  '|uu  iis.iim  obrou  foi  hoincíiii  Uc  honra, 
Cumpriu  sua  obrif,';i<,!lo.  —  Man  outroa  mcio.í 
'l'(!in  de  iinijrcgar  iiiain  ecrton,  maiit  seguros, 
Quem  ne  abalaiii,'a  a  itnpn'-Ma  tatn  diflicil, 
So  baldo,4  não  ■puT  vor  cuidado  o  riscoa. 
luiuuii,  act.  4,  dC.  ■'!. 

.la  vacillanto  raâo  abro  o  ataliudc... 
Amortalliavam  candido.4  vcMtidort 
O  coipo  iiiiida  airO:«)  d'uma  dama 
Nào  morta  no  botão  d"anuOíl  vii,o:<05. 
Mas  na  dcsabrocliada  flor  da  vida, 
Tiim  dfilicada  não,  porõm  mais  bella. 
Velada  a  face  tinha;  ma.4  conhece-a... 
QueniV  o  jjuerrciru...  quem  V  o  seu  uuiautc. 
iDiiM,  CAMÕES,  caut.  2,  cap.  1-1. 


-j-  TAMALANES,  culj.  Desasai.iado,  ini- 
priuloate,  iitolciíiuido,  revoltoso. 

TAM-A-LA  VEZ,  adv.  Torino  antiquado. 
Aljíiuu  tiiuto,  alguma  cousa,  de  algum 
modo. 


Quo  V03  praz  ?  errei  ? 
pois  quanfoutro  nào  no  sei 
se  me  esqueceu  de  o  mamar : 
sabeis  vós  o  que  eu  diria 
sem  errar  litmíUavez 
muito  bem  V 


AUrONIO  TRESTES,  AUTOS,  pag, 


1G5. 


—  Raras  vezes. 

TAMANCAS,  s.  /.  plur.  Vid.  Taman- 
cos. 

TAMANCOS,  s.  m.  j^lur.  Cal(;ado  rústi- 
co, quo  oui  voz  da  sola  tom  uuia  peça  de 
cortiça,  ou  outra  madeií-a,  alta;  usa-se 
para  audar  pela  lama. 

TAMANDUÁ,  s.  m.  Termo  de  historia 
uatural.  Vid.  Tamendoà. 

TAMANHÃO,  ONA,  a<lj.  Termo  popu- 
lar. Augmciitativo  de  Tamanho.  =  Hoje 
usa-se  com  desprezo,  fallaudo-se  de  uui 
komeui,  mui  graúdo  de  corpo,  e  peque- 
no de  espirito. 

—  Tamanhão  já  grande;  diz-se  do  me- 
ço e  do  muito  alto. 

—  láubstautivamcute  :    Um   tamanhão. 
1.)  TAMANHO,  ii.   m.    Grandeza,   altu- 
ra. —  [íiiKi   crcnn^u  d'esle  tamanho. 

2.)  TAMANHO,  A,  ulj.  lYio  grande. 


Zurra  sobro  mal  tamanho. 
Asno  •,  pois  quÍ2  teu  poccado 
Quo  para  tão  triste  estado 
Viesses  a  dono  estranho  ! 

F.   SOKOPITA,   POESIAS   K   PU03AS  INÉDITAS, 

pag.  133. 


—  «Pois  desta  luta  foi  tamanha  a  que- 
da quo  meu  bem  deu  entro  uuias  pedras, 
que  quebrou  os  fociukos;  e  por  dcarom 
tão  esfarrapados  que  lhe  não  podiào  bo- 
tar pedaço;  por  conselho  dos  Pnysicos 
lhos  cortarão  por  lhe  uelles  não  saltarem 
erpes.»  Cam.,  Seleuco,  Prol. 


TAMA 

Porque  lí  lamanhas  pena»  no  ollbrecc 
l'or  o  pec.c»do  .ilheio,  e  erro  iunano, 
O  Trino  iJi-os?  Porque  o  augrito  humano 
Nio  pôde  CO  o  ca.ítigo  que  merece. 

CAM.,  SO.fETO»,  n."  200. 


—  «Acabado  de  lho  beijar  aa  mios  o 
lizeram  (irid(jnia  e  \'a.~iilia.  Palmeirim, 
que  só  cm  sua  senhora  Poliiiarda  levava 
o  coraç.Hi),  tanto  que  a  viu,  postos  os 
olhas  em  terra  para  lhe  beijar  as  mios, 
sentiu  tamanha  fraqueza  nello,  'lue  sem 
neuluim  sciítido,  quasi  desmaiado,  caiu 
no  chào.D  Francisco  de  Moraes,  Palmei- 
rim dJnglaterra,  cap.  94.  —  «E  que  vos- 
sas obras  j)or  ventura  vos  pnuliauí  em 
tama!i:.a  alteraçrio,  que  vos  eisiiicm  a 
engeitar  as  cousas  de  tamanho  preço, 
lombre-vos  quo  ás  vezes  em  os  priaci- 
pios  da  idade  promotte  a  fortuna  e3])e- 
runças,  que  <lepois  se  tornam  v-^as.»  Ibi- 
dem, cap,  101.  —  «E  lançando-so  ans 
pés  do  cavalleiro  do  Tigre,  com  palavras 
e  oftereeimeaios  mostrava  agradecer-lhe 
tamanha  mercê,  petiimlo-lhe  que,  pois  já 
com  tantos  trabalhos  a  livrái-a  de  seus 
contrários,  a  ajuda.s.se  a  cobiar  sua  tilha; 
que  sem  isto  o  vencimento  doUes  pêra 
cila  seria  de  pouco  contentamento.»  Ibi- 
dem, cap.  105.  —  «E  entrando  dentro 
no  de  sua  mài,  vendo  tamanho  destroço 
darmas  e  sangue,  pareceu-lhe  que  ainda 
naquella  lugar  não  estava  segura,  tíua 
mài  a  tirou  d 'este  receio  com  leval-a  nos 
braços,  os  olhos  cheios  de  lagrimas,  ge- 
raJas  no  ainor  com  que  a  criara,  man- 
dando-lhe  que  rendesse  as  graças  de  ta- 
manho beneficio  a  quem  tanta  mercê  lhe 
lizcra.»  Ibidem. —  tE  um  delles  vendo 
tamcuiha  ousadia,  começou  a  dizer :  Cer- 
to, estremada  doudice  é  a  vossa,  pois 
ainda  por  vós  mesmo  vindes  buscar  o 
castigo  ([ue  mereceis  por  vossa  nescida- 
dc.B  Ibidem.  —  «Eu  nào  sei  com  que  vos 
[lague  tamanha  mercê  senão  com  vos  lou- 
var vossas  obras  em  a  corte  do  impera- 
dor Vcrnao  pêra  onde  vou;  que  na  ver- 
dade ellas  sào  taes,  que  pareceria  erro 
estarem  caladas  em  nenhuma  parte.»  Ibi- 
dem, cap.  lOG.  —  «E  ponjne  já  a  este 
tempo  era  saida  a  lua  e  a  batalha  se  via 
claramente,  vendo  a  donzella  tamanho 
mal,  catregou-se  logo  á  perda,  que  natu- 
ral cousa  é  onde  o  medo  abrange  a  des- 
espei'ação  vir  ti-az  elle,  e  mais  se  ó  an- 
tro mulheres,  onde  o  esforço  é  mais  fra- 
co; que  pêra  tudo  lhe  fallece  conselho, 
tirando  nas  cousas  do  appetite,  que  n'is- 
to  o  seu  tomado  de  prestes  é  meluor,  que 
o  do  mais  discreto  sábio  do  mundo  bus- 
cado por  muitos  dias.»  Ibidem,  cap.  107. 
—  «Albayzar  lho  quizera  beijar  as  màos 
por  tamanha  mercê,  que  na  verdade  era 
grande  pêra  o  receio  que  levava,  segun- 
do o  que  de  sua  condioção  lhe  conta- 
vam.» Ibidem,  cap.  108.  —  «Acabado 
d'o  determinarem,  se  foram  á  ermida, 
onde  o  acharam  algum  tanto  fraco  e  mal 


TAMA 

disposto,  o  vendo-«  tão  moço,  pareccndo- 
llic  cousa  fora  do  ra.^íão,  quem  em  IaI  ida- 
de houvc-sse  tamanhas  obras,  um  dellw, 
que  antre  os  outros  era  havido  por  mais 
eloquente;.»  Ibidem.  —  «Porém  era  ontre 
clles  tamanha  a  fome,  que  ant^sx  queriam 
aventurar  o  cor[>o  ao  ferro  dos  nossos 
por  vir  furtar  hum  pouco  de  arroz  á  Ci- 
dade pelas  ca.sas  onde  sabiam  (juc  fica- 
va, que  penlcr  a  vida  por  não  comer.» 
IJarros,  Década  2,  liv.  H,  cap.  8.  —  «A 
este  tempo  chegou  o  Duque  «eu  tio,  qo« 
de  Tomar  acudio  á  triste  noua,  o  qual 
cm  e.-itremo  ao  Princi|ie  amaua,  porque 
Keiii]ire  se  criarão  au)bo8  em  iiunia  nie-a, 
c  huiii.i  cama,  o  fazi.i  tamanho  pranto 
com  tão  grande  sentimento,  e  tristeza, 
quo  Cíjm  quanto  elle  ticaua  então  por 
herdeiro  do-ntes  Reynos  deixara  na<)uclla 
hora  outra  mayor  secessão  polia  vida  e 
saudc  do  Principc.»  (iarcia  de  Rezende, 
Chronica  de  D.  João  II,  cap.  132. — 
«Com  a  noua  de  tamanha  vitoria  foi  el 
Rei  de  Gochim  mui  ledo,  pelo  que  man- 
dou ao  Príncipe  de  (Jociíiin  que  fosse  lo- 
go visitar  Duarte  Pacheco,  disculfiando- 
sc  de  o  não  fazer  elle  em  pessoa,  por  fi- 
car em  guarda  da  cidade.»  Damilo  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1, 
cap.  67.  —  «Com  tudo  per  conselho,  e 
parecer  de  todos  foi  socorrer  a  nao  com 
a  carauclla  de  Diogo  Pirez,  e  batel  de 
Ciiriítouão  jusarte,  a  qual  achou  em  ta- 
manho ajierto  que  so  mais  tardara  dili- 
cilmente  se  poderá  defender.»  Ibidem. — 
<E  achandoo  ja  na  lauchnra  dei  Rei  de 
Lingua  que  tinha  destroçada,  entrou  per 
ella,  e  de  hnma  em  outra,  elle,  e  o  mes- 
mo George  botelho  as  fezerão  despejar 
todas,  e  foi  tamanho  o  medo  dei  Bei  de 
Lingua,  e  dos  seus.»  Ibidem,  part.  3, 
cap.  63.  —  «Nós,  espantados  de  uma 
cousa  taõ  nova,  iiie  respondemos  que  lhe 
peuiamos  que  nos  dicesse  que  homem  era 
aquelle,  ou  porque  dizia  que  nos  queria 
tamanho  mal  a  que  ella  disse,  que  do 
porque  uaõ  sabia  mais  que  dizer  elle  que 
hum  nos.so  grande  Capitão  por  nome  Hey- 
tor  da  Sylveyra  lhe  matiira  seu  pay,  e 
dons  irmãos  em  hnma  nao  que  lhe  toma- 
ra no  estreyto  de  Meca,  vindo  de  Judâ 
[tara  Dabul.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pe- 
regrinações, cap.  37.  —  «E  despoia  de 
paridas,  ou  lançadas  pelos  sobacus  estas 
crianç.as,  as  quais  atBrmão  que  foraõ  trin- 
ta e  três  mil  e  trezentas  e  trinta  e  três, 
as  duas  partes  de  fêmeas  e  hnma  de  ma- 
chos, porque  dizem  que  asai  avia  sempre 
de  aver  no  mundo,  tic^ira  tão  debilitada 
daqnelle  parto,  por  nào  ter  quem  a  pro- 
vesse do  necessário,  que  lhe  deu  hum  v.i- 
gado  de  fraqueza  tamanho,  que  cayra 
morta  cm  terra,  sem  nunca  mais  se  le- 
vantar ategora.»  Ibidem,  cap.  111.  —  «O 
qual  pur  sua  iutiidta  bondade  e  miseri- 
córdia quiz  tomar  a  seu  cargo  pagar  pe- 
k>s  pobres  aquillo  a  que  suas  fracas  for- 
ças não  podem  chegar,  que  a  ty  e  a  teua 


TAMA 


TAMB 


TAMB 


669 


filhos  dê  tamanho  conhecimeuto  da  sua 
verdade  que  por  elle  mereças  ter  parte 
nas  suas  promessas  despois  que  nesta  vi- 
da viveres  muyto  largos  aunos.»  Ibidem, 
cap.  121.  —  cO  que  elle  ouvio  com  mos- 
tras de  ter  cõpaixào  de  nós,  que  nos  de- 
raõ  algumas  esperanças  de  o  acharmos 
favorável  ao  nosso  propósito,  e  disso  pa- 
ra o  Mitaquer,  folgo  de  saber  que  tem 
lá  tamanho  penhor  como  esse  que  di- 
zem, para  lhes  cumprir  com  mais  gosto 
o  que  em  meu  nome  lhe  prometeste.» 
Ibidem,  cap.  125.  —  «Os  desta  terra, 
para  quem  este  modo  de  tiro  de  fogo  foy 
cousa  tào  nova  como  para  os  de  Tanixu- 
maa,  vendo  huma  cousa  que  até  entaõ 
naõ  tinhaõ  visto,  foy  tamaiiho  o  caso  que 
fizeraõ  disso,  que  o  naõ  sey  encarecer.» 
Ibidem,  cap.  136.  —  «Em  que  o  Chau- 
bainhaa  lhe  dissera  que  estava  o  tisouro 
que  fora  do  Bresagueào  passado  Rei  de 
Peguu,  e  que  da  quantidade  do  ouro  lhe 
disse  que  eraõ  cento  e  trinta  mil  bicas, 
de  quinhentos  cruzados  cada  bica,  que 
ao  todo  vinhaõ  a  ser  sessenta  e  cinco  cou- 
tos douro,  e  que  dos  pães  de  prata  que 
também  vira  na  bralla  do  Quiay  Ado- 
caa  Deos  dos  trovões  não  sabia  a  quan- 
tidade certa,  mas  que  com  seus  olhos  vi- 
ra tamanha  copia  delia,  que  quatro  boas 
nãos  a  nào  esgotariau. »  Ibidem,  cap.  148. 
—  «O  dedo  niemiiiho  se  deue  euydar  ser 
hum  rio,  quasi  tamauho  como  o  Tigris, 
a  quem  os  Turcos  chamào  Diala.  Este 
se  mete  três  legoas  abayxo  de  Babylonia 
no  rio  Tigris,  onde  se  acaba,  e  perde  o 
nome.  Ho  dedo  que  fi^ca  junto  ao  memi- 
nho  se  deue  fingir  que  he  o  Tigris,  e 
entre  estes  dous  rios  está  hoje  Babylo- 
nia, ou  Bagdat,  que  tudo  he  huma  cou- 
sa.» Frei  Gaspar  de  S.  Bernardino,  Iti- 
nerário da  índia,  cap.  18. 


Toraae-mc,  fei-rae-me  aqui, 
SC  fugir,  lanijae-mc  braga. 
Quem  ha  de  vcncer-rae  irmauho 
e  com  direito  tamanho. 
tào  docicado.  tào  tenro. 


a  me  nao  pagar  com  genro, 
todo  a!  me  íica  estranho. 


ANTOSIO  PRESTES,  AUTOS,  pag. 


1G3. 


TAMANINO,  A,  aJj.   Pequenino. 

—  Ficar  tamanino  de  alguma  cousa ; 
ficar  com  grande  medo  d'ella,  encolher- 
se,  metter-se  por  dentro  de  pavor. 

TÂMARA,  s.  /.  Termo  de  botânica. 
Fructo  dOce  de  cei-ta  espécie  de  palmei- 
ra. —  Ha  uvas  ferraes  tâmaras,  nào  pre- 
tas.—  «O  mantimento  dos  naturaes  he 
miiho,  tâmaras  de  toda  sorte,  e  geralmen- 
te leite  que  lhe  serue  de  comer  e  beber,  n 
Barros,  Década  2,  liv.  1,  cap.  3.  — •  «O 
mantimento  ordinário  da  gente  desta  ter- 
ra, saò  cabras,  màteyga,  leyte,  peixe, 
algumas  tâmaras,  e  eruas,  sem  outra  cou- 
sa, e  cõ  esta  pouquidade,  viuem  tam  con- 
tentes, como  86  viuerào   em   algum  Pa- 


rayso,  tam  boa  he  nossa  natureza  de 
contentar,  senam  que  nòs  a  custumamos 
mal,  e  a  pomos  em  mao  foro.»  Fr.  Gas- 
par de  6.  BeruarJino,  Itinerário  da  ín- 
dia, cap.  9. 

TAMAREIRA,  s.  f.  A  palmeira  que  dá 
as  tâmaras. 

TAMAREZ,  adj.  f.  —  Uva  tamarez ; 
uma  espécie  de  uva  vulgar. 

TAMARGAL,  s.  m.  Logar  onde  ha  mui- 
tas tamargueiras. 

TAMARGUEIRA,  s.  /.  Arbusto. 

TâMARINDãL,  s.  VI.  Matta,  bosque  ou 
plantio  ue  tamarindos. 

TAMARINDOS,  s.  m.  plur.  Uma  va- 
gem parda  com  caroços  polposos  agrido- 
ces, que  se  comem,  e  usam  na  medicina. 

TAMARINHEIRO,  s.  m.  Termo  de  botâ- 
nica. A  arvore  que  produz  os  tamarin- 
dos. 

TAMARINHO,  s.  m.  Vid.  Tamarinhei- 
ro.  —  (iPois,  se  quiser  fallar  particular- 
mente de  todas  as  mais  cousas  de  ferro, 
aço,  chumbo,  cobre,  estanho,  latào,  co- 
ral, aiaqueca,  cristal,  pedra  de  fogo, 
azougue,  vermelhão,  marfim,  cravo,  noz, 
maça,  gengivre,  canelia,  pimenta,  tama- 
rinho,  cardamomo,  tincal,  anil,  mel,  ce- 
ra, sândalo,  açúcar,  conservas,  manti- 
mento de  fruitas,  farinhas,  arrozes,  car- 
nes, caças,  pescados,  e  ortaliças,  disto 
tudo  avia  tanto,  que  parece  que  faltào 
palavras  para  o  encarecer.»  Fernão  ileu- 
des  Pinto,  Peregrinações,  cap.  107. 

TAMARIS,  s.  /.  Vid.  Tamargueira. 

TAMARU,  s.  m.  Lagostim  mante,  ou  tâ- 
mara do  Brazil;  pertence  ao  género  das 
lagostas. 

TAMATIA,  s.  /.  Termo  de  historia  na- 
tural. Ave  gallinacea  dos  paizes  quentes; 
tem  o  bico  grosso,  pontudo,  comprimido 
pelos  lados,  rasgado  até  aos  olhos,  chan- 
frado nas  extremidades,  e  guarnecido  de 
grandes  cerdas,  ou  pennas  delgadas. 

—  Tamatia  aquática  do  Pará;  tem  o 
bico  mui  largo  da  direita  íi  esquerda,  for- 
mado como  duas  colheres  appiicadas  uma 
á  outra  do  lado  concavo;  é  cinzento,  e  o 
macho  tem  um  martinete  mui  comprido 
na  cabeça;  vive  sobre  as  arvores  que  bor- 
dam os  rios,  d'onde  se  lança  sobre  os  pei- 
xes,  de   que  se  alimenta  ordinariamente. 

—  Tamatia  do  Brazil;  é  de  um  ruivo 
alaa'anjado,  e  esbranquiçado  por  baixo, 
com  um  collar  negro. 

TAMBACA,  s.  /."Termo  de  chimica.  Es- 
pécie de  cobre  muito  fino  que  vem  da 
China. 

TAMBARANE,  s.  m.  Uma  pedra  bran- 
ca como  um  ovo,  que  trazem  ao  pescoço 
certos  sacerdotes  da  Ásia,  e  é  o  seu  idolo. 

—  Figuradamente:  O  tambarane  das 
meretrizes ;  o  seu  idolo,  ou  o  que  as  pas- 
sa no  commercio,  como  os  índios  passam 
por  alto,  ou  descaminham  fazendas,  e 
ninguém  entende  com  o  tiirto  a  respeito 
e  reverencia  do  tambarane. 

TAMBEIRA,  s.  f.  Termo  da  provinda 


da   Beira.   A  madi-iaha  dos  esposados  no 
dia  das  suas  bodas. 

TAMBÉM,  adv.  Igualmente  bem.  — 
«Largtívme  neste  particular,  porque  an-  ■ 
dey,  e  vi  todos  estes  mares,  que  ja  pode 
ser  não  terem  vistos,  os  que  saõ  de  con- 
traria opinião  da  minha,  e  quem  quiser 
ver  Fr.  Diogo  Phelippe  Bei-goinate,  acha- 
ra ser  tsmíbem  deste  meu  parecer;  e  dei- 
xado agora  gastar  o  tempo  em  argumen- 
tos, a  quem  o  tem  mais  largo  do  que  eu 
tenho.»  Fr.  Gaspar  de  S.  Bernarilino, 
Itinerário  da  índia,  cap.  11.  —  «E  tam- 
bém desta  manqueira  vi  eu  sangrar  já 
muita  gente  de  capa  preta,  principalmen- 
te aos  que  pagam  páreas  ao  snr.  cupido 
que  nesta  conjuncção  fazem  grandes  alar- 
dos.»  Fernão  Rodrigues  Lobo  Soropita, 
Poesias  e  prosas  inéditas,  pag.  32. 

E  do  priol  disse  algorrem '? 
Não  fallou  nem  mal  nem  bem. 
Também  elle  he  bom  piloto. 

GIL  VICENTE,  AUTO  PASTORIL  POBTUGUEZ. 

—  «Porque  este,  tanto  que  da  floresta 
da  Fonte  Clara  se  apartou  de  Palmeirim 
e  de  Trofolante  e  os  outros  que.se  ahi 
acharam,  correu  muitas  partes  passando 
por  muitas  aventuras,  e  fazendo  por  onde 
ia  cousas  de  notável  fama,  lembrando-lhe 
que  só  seus  feitos  o  podiam  fazer  fiimo- 
so;  pois  03  de  seus  passados  não  sabia 
quaes  foram:  e  também  o  que  se  ganha 
por  seu  dono  é  melhor,  que  o  que  fica  dos 
antigos.»  Francisco  de  Moraes,  Palmei- 
rim d'Inglaterra,  cap.  20.  —  «Quiz  sua 
dita  que  nos  mesmos  dias  veio  ahi  ter 
outro  cavalleiro,  que  chamam  Floriano  do 
Deserto,  que  se  parece  muito  comvosco; 
nào  sei  se  lhe  sois  alguma  cousa ;  e,  além 
de  suas  palavras  poderem  tanto  comigo, 
que  me  fez  soltar  o  preso,  de  mim  fez 
também  o  que  quiz,  promettendo-me  de 
tornar  a  me  ver,  e  dando-me  alguma  es- 
perança de  casar  comigo.»  Ibidem,  cap. 
102. —  <E  pediu  conselho  a  Palmeirim, 
que  alem  de  lhe  louvar  seu  propósito,  quiz 
que  também  de  sua  parte  vos  pedisse 
esta  mercê.  A  rainha  Carmelia  vos  man- 
da dizer  que  vos  lembre  que  té  agora  não 
negastes  a  ninguém  nenhuma  cou  a  que 
parecesse  justa.»  Ibidem,  cap.  104.  — 
«Se  estais  descontente  de  me  nào  derri- 
bardes a  vosso  salvo,  também  eu  poderia 
ter  o  mesmo  descontentamento  de  o  não 
fazer  a  vós,  se  não  respeitasse  mais  que 
o  desejo  da  victoria.»  Ibidem,  cap.  127. 
—  dToda  via  d'uma  cousa  estou  descon- 
tente, que  se  depois  do  vencer  vos  lem- 
brar tão  pouco  como  agora,  nào  ser  essa 
a  primeira  ingratidão,  que  vos  vi  usar, 
que  nelle  mesmo  tomei  a  experiência :  se 
me  vencer  não  me  deve  doer  muito,  pois 
suas  obras  nào  costumam  ser  vencidas 
d'outrem;  e  também  porque  vou  achan- 
do, que  vencido  ou  vencedor  pêra  com 
vossa  condição  isenta  tudo  me  será  um.» 


670 


TAMli 


Ibidem,  cap.  144.  —  «Rui  «lo  Sousa  clie- 
fCado  íi  ell(i  ii-.z  ho  a  witcsia  ao  modo  floí- 
te  nosso  reyiio,  e  cllíuy  também  a  sua 
segundo  o  seu:  pondo  a  mà»  direita  no 
chão  como  quo  tomuua  pó  dellc,  e  corroo 
osta  mito  pelos  peitos  do  Rui  do  Sousa,  o 
depois  poios  seus,  que  ora  a  maior  corto- 
sia  quo  entro  ellcs  se  podia  fazer.»  J5ar- 
ros,  Década  1,  Hv.  15,  cap.  <.).—«(>  qual 
rco  lhe  1'odraiuaroz  coucudeo  ])olo  com- 
prazer, e  também  porquo  na  pratica  (luo 
Airos  Corroa  com  cUo  tcucssc  jxjÍs  auia 
de  sor  comprida,  o  contirmasso  macs  no 
amor  e  loaldado  que  niostraua  ter  ao  sor- 
uiço  dolHcy  sou  senhor,  e  asai  foi.» 
Ibidem,  iiv.'  õ,  cap.  .'J.—  «D.  Álvaro  do 
Noronha  depois  de  prover  nas  n:íos,  o  loz 
também  na  defensão  da  fortaleza  por  esta 
maneira.  No  baluarte  Santo  André  poz 
por  (Capitão  1).  Francisco  ile  Almeida,  h- 
iho  do  D.  l*edro  do  Almeida  de  Évora, 
e  lho  deu  duzentos  o  quarenta  homens.» 
Idem,  Década  G,  liv.  10,  cap.  2.—  «E  re- 
colhendo então  desordenadamente  os  que 
pelejavão,  clle  se  veyo  retirado  para  o  seu 
arraval,  onde  aqueílc  dia  esteve  quieto, 
entendendo  somente  no  enterramento  dos 
mortos,  e  na  cura  dos  feridos,  de  qae 
também  ouve  hum  grande  numero,  de  que 
a  mayor  parte  dospois  morroo,  por  serem 
as  setas  com  que  os  Ohius  lhes  tiravão 
ervado3  cõ  huma  peçonha  taõ  forte  que 
nenhum  remédio  lho  aproveitava.»  Fer- 
não Mendes  l'into,  Peregrinações,  cap. 
118. 

E  innia 
beiços  do  lobo. 

Também 
iaso  ouvi. 

Fel  de  pardaos. 
laso  ouvi  o  outros  uictaea. 

JUITONIO  PRESTKS,  AUTOS,   p.ag.   217. 

Também  rao  cu  acho  mal  d'ellc, 
que  não  vi  quinliào  nenhum 
ncin  para  jurar  por  cllc. 
iRiDEM,  pag.  2.33. 

Ajudar  manilha  rae. 
Também  raou  cunhado  tenho 
por  contrario? 
iBiDKM,  pag.  2G7. 

«Também  ordenou  outra  Officina  de 

pólvora  na  Cidade  de  Lisboa,  que  durou 
ato  nossos  tempos  ;  e  governando  D.  Dio- 
go da  Sylva  iMarquez  de  Alcnipier,  so 
tornou  a  refazer  a  mesma  Casa  antiga.» 
Soverim  do  Faria,  Noticias  de  Portugal, 
DÍ8C.  2,  cap.  11.  —  «i^or  isso  também 
antes  do  prologo  não  pedimos  licença  aos 
ociosos  para  lhes  dedicar  a  obra,  que 
também  é  da  mola:  fique  uma  por  lUitra 
e  sempre  coherontes.»  Bispo  do  Cr.^o  l^a- 
rá,  Memorias,  publicadas  por  Camillo 
Castello  Branco. 


Dietaudo  as  condi(;õe3  de  faz,  da  Guerra, 
A  Oliveira  pacifica  eula^audo 


TAMB 

Da  victoria  alcaiit,-adji  eterno»  louro», 

A  Krouto  enramará  sua,  e  do  Vate, 

(^le  o  MOine  do  Moiiarclia  no»  Coos  i-rgufndo, 

O  seu  tamhf.ni  na  Terra  inimortali«a. 

J.    i,    1)K  MACKIIO,  VIAOKH    KXrATICA,   Cailt.    4. 


—  Tanto,  a>-siin. —  «E  se  o  dito  meu 
Almoxarife,  e  Kscripvam  noni  quiserem 
demandar  a  dita  pona  nos  ditos  «liuheiros, 
entom  os  demande  outro  qualquer  do  l'o- 
voo,  também  da  Cidade,  como  do  fora.» 
Ord.  Affons-,  liv.  4,  tit.  5,  8  16. 

—  Juntamente  com.  —  ulrraoey  eu  tà- 
bem  para  consolar  minhas  ovelhas,  c  para 
pailecer  juntamente  com  cilas  trabalhos, 
e  perscguii;õos  polo  amor  de  Jesv  (Uiris- 
to;  porque  não  recebia  a  dignidade  do 
Bispo  8.'(  para  o  tempo  da  prosperidade, 
mas  antes  para  o  dos  trabalhos.»  Monar- 
chia  Lusitana,  liv.  (J,  cap.  2.— «Quo 
ocupou  também  a  Lisboa  por  lha  entre- 
gar seu  cidadão  o  morador  Lusi.lio,  qnc 
tinha  o  governo  delia.»   Ibidem,   cap.  9. 


Emfim  tu,  que  estás  aqui, 
Estavas  ja  li  primeiro  ? 
Seíior,  crca  que  oa  ansi. 
Eu  nunca  (mtendi  do  ti,  _ 
yu'cra8  também  chocarrciro. 

CAM.,  AMriiYTBiuEs,  act.  3,  SC.  -. 


E  máo. 
La  causa  que  mo  condcmna. 
Ou  do  casa ! 

Quem  ú  ? 

Helena. 
Pois  vem  iamheni  MeualAo  V 
Menahlo  noui  1'olicena. 
Pergunta  que  quer. 

ASTOído  PRKSTEa,  AUTOS,  pag.  4õ3. 

Mas  quc!...Ta,Manlio!  —  tu  íomicm  com  ellca! 

UABBETT,  CATÃO,  aCt.   4,  8C.    2. 

—  Do  mesmo  modo,  assim  mesmo.  — 
«O  Cafar  também  ticou  ferido  do  hu- 
ma ruim  espiíigardada  por  hum  braço, 
e  perdeo  mais  de  ((uarenta  dos  seus.  Os 
outros  navios  da  cõpanhia  de  Luiz  Fi- 
gueira, tanto  que  yiraõ  o  seu  Capitaõ 
mòr  rendido,  e  morto,  se  foraõ  afastando, 
e  deraõ  ;\  vela  com  o  Toncnte  rijo,  o  fo- 
raõ fugindo  pêra  f.ira  do  Estreito.»  Dio- 
go de  Couto,  Década  H,  liv.  U,  cíip.  3. 
—  «Joaõ  da  Fonseca  Capitão  de  Còchim 
com  a  gente  de  sua  companhia  desem- 
barcarão pela  parte  do  Norto,  e  entra- 
rão naquellcs  esteiros,  quo  estavaõ  tam- 
bém entupidos  com  estacadas,  o  depois 
de  as  desfazerem,  e  arrancarem  saltivraõ 
em  terra,  e  metèraõ  tudo  a  torro,  e  a 
foío,  matando,  e  cativando  muita  geu- 
te";»  Ibidem,  liv.  10,  cap.  lõ.  — «Vimos 
também  ^eomo  ja  disse)  por  este  no  aci- 
ma muytos  vancõcs,  lanteaas,  e  barcaças 
carregadas  de  quãtos  mantimentos  a  ter- 
ra e  o  mar  podem  produzir,  e  isto  em 
tanta  abundância,  que  realmente  affirmo 
que  nai3  sey    como    nem  cõ  que  palavras 


TAMB 

o  i)os«a  contar,  porque  n3o  «e  ha  de  ima- 
ginar que  lia  desta-t  coiuaa  a  quiltidado 
que  ha  nestas  terras  que  por  cá  ne  sa- 
bem.» Fernão  Mendes  l'int/j,  Peregrina- 
ções, cap.  íffi.  —  fMa»  que  a  exccUeiicia 
dessa  falia  que  tens  hc  dos  liabiladorea 
da  casa  do  fumo,  cuja  proprio<lade  e  na- 
tureza priaicyra  foy  tábem  catar  cò  vo- 
zes suaves,  inda  que  agora  chorem  e  ge- 
mão  no  lago  da  noite  como  cie»  esfaima- 
dos, que  rangem  os  dentea,  e  ensopado* 
na  baba  do  ódio  dos  homenfl,  se  lhe  en- 
xerga a  escuma  de  suas  maldades  nae 
offeiisas  quo  fazem  ao  que  vive  no  mais 
alto  dos  Ccos.»  Ibidem,  cap.  1K5.  —  cFa- 
ra  as  mollieres  publicas  que  na  velhice 
vieraõ  a  adoecer  de  algumas  doenças  in- 
curáveis, h.i  também  outras  casas  da 
me.sma  inaneyra,  cm  que  saS  curadas  e 
providas  muvto  abastadamente  á  custa 
das  outras  mollieres  publicas  do  mesmo 
officio,  para  a  qual  obra  cada  huma  des- 
ta.s  paga  de  foro  hum  tanto  cada  mes, 
porque  tàbem  cada  huma  destas  pi'>de  vir 
dcspois  a  cayr  na  mesma  infirmidade,  e 
então  as  outras  ([ue  forem  sãs  pagario 
para  cila  o  que  cila  agora  em  eam  paga 
para  aa  outras  doentes.»  Ibidem,  cap. 
112.  —  tE  outra  causa  da  minha  ida  nÍo 
menos  importante  que  esta  era  yr  tam- 
bém chamar  hum  Lançarote  (iuerreyro 
que  então  andava  na  costa  de  Tanauça- 
rim  com  cem  homens  em  quatro  fustas 
com  nome  do  alevantado,  paraque  acu- 
disse á  fortaleza,  porque  se  tinha  por 
nova  certa  que  vinha  o  Rey  do  Achem 
sobre  cila.»  Ibidem,  cap.  144.  —  e Vi- 
mos também  outros  da  seita  de  hum  que 
se  chamava  Codomem,  que  acabaõ  seus 
dias  por  andarem  gritando  continuamen- 
te, e  batendo  com  a  maõ  na  bijca,  pelos 
montes  de  dia  e  de  noite  em  vozes  mur- 
to  altas,  dizen>lo  sem  descançarem  flo- 
diimem,  Godomem,  até  que  cjiem  mortos 
no  chaõ  por  naõ  poderem  tomar  fôlego.» 
Ibidem,  cap.  161. 

Porque  oomo  lá  então  huma  e  outra  espada 
Não  esteja  hum  momento  *5  ociosa, 
K  elle  qui/,  em  fazendo  lá  a  entrada 
Que  a  au.i  aos  infiéis  fosse  damnosa, 
A  primeira  ferida  acompauliada 
Eoi  logo  doutra,  grande  e  perigosa, 
Que  na  e^íbe^a  fea  seu  duro  offeito. 
Lá  onde  a  outra  lamltm  o  tiuha  feito. 

VRASCisco  d'asdbai>k,   PBiJiiiao   ciaoo  oa  pio, 
caut.  IS,  cat.  Gl. 

iDe  hum  enfermo  que  arde  em  fe- 
bre. De  hum  impetuoso  que  tem  muito 
fofo.  De  um  obstinado,  lambem  dizemos 
que  se  queyma  na  defeza  das  suas  opi- 
ni  ens.»  Cavalleiro  d'01iveira,  Cartas, 
liv.  1,  n.°  15.  —  tEstas  palavras  na  bo- 
ca de  hum  Provinciano,  ou  também  na 
de  hum  Provincial,  faícm-so  celebres,  e 
memoráveis,  porem  na  de  hum  Cortesão, 
e  na  de  hum  Cavalheiro  são  somente  ri- 
síveis, e  celebradas.»  Ibidem,  liv.  3,  n.° 


TAMB 


TAME 


TANA 


671 


6.  —  aQaeria  também  este  aver  de  nos 
ho  Ambre  antes  que  viesse  ho  Louthia 
daquella  cadeira,  que  se  esperava  cada 
dia  por  elle  para  entrar  de  novo :  por- 
que este  era  soomentes  Locotente.»  Fr. 
Gaspar  da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da 
China,  cap.  19. 

Boa  consonância  dá 
dai-  a  Dc03  o  que  Dcos  deu ; 
mas  d 'aqui  vos  digo  eu 
que  esto  Cezar  que  aqui  está 
quer  também  dardes-lhe  o  seu. 
ANTouio  PBKSTEs,  ACTOS,  pag.  93. 


em  que  cu  fora  um  gargantão, 
mais  me  erguera  estes  espritos 
um  só  queijinho,  um  lacão : 
aabei  que  não  tem  perdão 
se  manda  também  cabritos. 
míDEM,  pag.  155. 


Nem  d'Í330  me  não  affasto: 
será  escusado  gasto 
palavras  pêra  comnosco ; 
casar-mc-hei  também  comvosco 
se  com  a  filha  não  abasto. 
IBIDEM,  pag.  16-3. 

—  «O  segundo  o  Conde  D.  Pedro,  na 
historia  do  qual  Rey  se  nomeaõ  também 
o  Conde  D.  Ramiro,  e  D.  Pedro  das  As- 
túrias, que  se  acharão  com  o  Infante  D. 
Sancho  na  batalha,  em  que  venceo  a  El- 
Rev  de  Sevilha.»  Severim  de  Faria,  No- 
ticias de  Portugal,  Disc.  3,  cap.  2õ. 

Até  que  já  por  fim  desenganados, 
Que  eraõ  em  Portugal,  que  os  Portuguezes 
Eraõ  também,  os  que  costumes,  língua, 
Por  taõ  estranhos  modos,  afrontarão, 
Segunda  vez  de  pejo  morreriaõ. 

AHTOSIO  DINIZ  DA  CBUZ,  HISSOPE,  Oant.    5. 

Se  O  foco  do  Sabor,  a  Itália  culta 

Ao  portentoso  Galilco  nào  dera 

O  berço,  e  também  cárceres  c  fen-os. 

De  louros  immortaes,  por  certo  a  frente 

Nào  cingira  Britannia,  e  a  Gália  menos. 

J.    Á.    DB   MACEDO,   VIAGEM  EIT.VTICA,   Caut.    2. 

—  De  tal  sorte  bem,  ou  bem  a  tal 
ponto. 

— ■  Mas  também ;  diz-se  como  correla- 
tivo a  não  só. —  «A  segunda  espécie  cha- 
mase  Thenaculum,  ou,  como  lhe  chamaõ 
outras,  Columna;  que  tem  a  cauda  com- 
prida, e  larga  ;  e  he  de  natureza  de  Jú- 
piter; e  significa  que  haverá  pureza  no 
ar,  e  chuvas  oportunas ;  especialmente  se 
o  cometa  aparecer  em  algum  dos  signos 
aquáticos;  mas  também  promette  graves 
doenças,  como  saõ  febres  synochais,  pleu- 
rizes,  afFectos  da  Cabeça,  e  outras  mais.» 
Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal  medico, 
pag.  437,  §  107. 

1.)  TAMBO,  ou  TAIMBO,  ouTAMO,  s.  m. 
Termo  antiquado.  O  thalamo,  ou  leito  de 
casados. 

—  Solemnidades   e   festas  da  voda;  o 


acto  de  casar,   e  talvez   assento  distincto 
para  os  noivos,  ou  estrado  na  egreja. 

2.1  TAMBO,  s.  m.  Banco,  mesa  baixa, 
escabello. 

—  Comer  em  tambo ;  o  mesmo  que  co- 
mer em  terra,  ou  debaixo  da  me<a:  ce- 
remonia,  que  nas  solemnidades  religio- 
sas já  desde  a  sua  origem  se  praticou. 

TAMBOEIRA,  s.  f.  Termo  do  Brazil. 
A  mamlioca  pequena,  e  mal  grada,  e  as- 
sim a  canna  que  cresceu  mal,  de  go- 
minhos  mui  curtos,  e  muitos  nós. 

TAMBOR,  s.  m.  Cylindro,  ou  cano  de 
madeira  elástica,  ou  metal,  que  tem  nas 
boccas  um  couro  ou  pelle  de  carneiro, 
que  ferido  com  as  baquetas  dá  som;  usa- 
se  na  milieia  para  fazer  signaes,  e  regu- 
lar a  marcha  ;  caixa  de  guerra.  —  «E  ao 
sõ  de  muytos  tãbores  tocados  ao  seu  mo- 
do, se  vieraõ  chegando  para  hum  pagode 
de  grandes  ofBcinas  chamado  Petiiau  Xa- 
mejoo,  que  estava  hum  pouco  afastado 
dos  muros,  e  trazião  na  diàteyra  muytos 
corredores  em  cavallos  ligeyros,  que  te- 
cendo huns  pelos  outros  com  suas  lanças 
terçadas,  roldavSo  todas  as  sete  batalhas, 
e  toda  a  mais  fardagem  que  vinha  na 
vanguardia.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pe- 
regrinações, cap.  117. 

— ^  Homem  que  toca  tambor. 

—  Peça  do  freio  de  que  se  formam  os 
assentos. 

—  Tambor-7)ioV;  o  chefe  dos  tambores 
do  regimento. 

—  Tambor  do  relógio;  o  cylindro  aber- 
to por  uma  cabeça,  onde  está  mettida  a 
mola  real. 

—  Nus  engenhos  d'as?uear,  forram-se 
os  eixos  de  moer  a  canna  com  argolas 
de  ferro,  ou  com  tambores;  (stes  são  cy- 
lindros  de  ferro  coado,  inteiriços. 

TAMBORETE,  s.  m.  Cadeira  rasa  sem 
braços;  tem  espaldar,  á  differença  dos 
mochos,  que  são  rasos  de  braços,  e  es- 
paldares. 

—  Termo  de  marinha.  Pranchões  com 
que  se  fortificam  as  enoras  pela  parte 
de  cima  das  cobertas;  os  linguetes  tam- 
bém tem  tamboretes. 

—  Tamboretes,  ou  mesas  dos  lingue- 
tes ;  são  uns  pedaços  de  pranchas,  que  se 
pregam  sobre  as  cobertas,  unidos  aos  lin- 
guetes pela  parte  onde  estão  encavilha- 
dos,  para  os  conter  mais  firmes. 

TAMBORIL,  s.  m.  Um  tambor  pequeno 
que  se  toca  por  festa  nas  aldeias. 

—  Certo  peixe. 

TAMBOR!LEIRA,  s.  /.  A  mulher  rústi- 
ca, que  t'K-a  tamboril. 

TAMBORILEIRO,  s.  m.  Homem  que 
toca  tamboril. 

TAMBORILETE,  s.  m.  Diminutivo  de 
Tamboril. 

TAMBORIM,    s.  m.  Tamboril. 

TAMEIRA,  s.  f.  Termo  antiquado.  Vid. 
Tambeira. 

TAMENDUÁ,  s.  m.  Termo  de  zoologia. 
Animal  do  Brazil,  que  tem  a  lingua  lon- 


ga, e  crlindrica,  a  qual  mettendo-a  onde 
ha  formigas,  recolhe  coberta  d'ellas,  que 
lhe  servem  de  pasto. 

TAMIÇA,  s.  f.  Cordel  delgado  de  es- 
parto, para  diversos  usos. 

TAMICEIRO,  5.  TO.  Homem  que  faz  ta- 
miças,  e  as  vende,  e  trata  n'isso. 

TAMINA,  s.  /.  Vaso  que  no  império 
do  Brazil  serve  de  medir  a  pitança,  a 
ração  diária  da  farinha,  que  se  dá  aos 
escravos. 

—  Figuradamente :  A  ração  de  fari- 
nha diária. 

TAMIS,  s.  m.  (Do  francez  tamis).  Ins- 
trumento que  serve  para  passar  as  maté- 
rias pulverisadas  ou  liquidas  espessas.  — 
Tamis  fino. 

—  Panno  de  lã  inglez. 

—  Peneira  de  seda  delgada,  fechada 
por  cima,  e  por  baixo  com  tampos  de 
couro,  para  receber  o  que  se  peneira  em 
baixo,  e  não  voar  pela  bocca  acima  o 
pó. 

TAMO,  s.  m.  Vid.  Tambo. 

TAMOEIRO,  s.  m.  Peça  de  couro  crú, 
ou  madeira,  que  prende  na  chavelha  da 
carga,  ou  canzis,  quando  os  bois  puxam 
o  carro,  ou  arado. 

—  A  peça  de  pau  que  vai  como  tiran- 
te entre  Juiita  e  junta  de  bois,  ou  de  uma 
junta  ao  cabeçalho  do  carro  ou  do  arado, 
ou  á  peça  <\q  madeira  de  rojo  nos  arras- 
tos da  grande. 

TAMPA,  s.  f.  Peça  com  que  se  tapa, 
e  cobre  a  bocca  de  um  vaso,  caixa,  esto- 
jo,  etc.  _ 

TAMPÃO,  s.  m.  Tampa  grande. 

—  Qualquer  tampa,  capa,  tapadoura 
ainda  pequena. 

TAMPELO,  ant.  Vid.  Templário. 

TAMPO,  s.  771.  Vid.  Tampa. 

TAMPOR,  s.  m.  Vinho  artificial  de 
Borneo. 

TAMPOS,  s.  m.  A  peça  de  madeira, 
que  compõe  o  lado  superior,  ou  infe- 
rior. 

—  Tampos  da  rebeca,  da  viola,  da  gui- 
tarra ;  o  que  cobre  o  vão. 

TAMPOUCO,    adv.    iieg.    Também  não. 

TAMSOMENTE,  adv.  (composto  de  tam, 
e  somente).  Unicamente. 

TAMUGE,  ou  TAMUJO,  s.  m.  Uma  plan- 
ta, que  SC  dá  por  terras  estéreis. 

TAMUNGO,  s.  m.  Em  Malaca,  signifi- 
ca o  nii^snio  que  patrão  da  ribeira. 

TANADAR,  *.  m.  Termo  da  Ásia.  Ofi- 
cial que  arrecada  para  as  fazendas  as 
rendas  das  gançarias.  —  «Depois  da  par- 
tida destes  embaixadores  veo  recado  a 
Afonso  dalbuquerque  de  hum  embaixador 
do  Empcrador  da  Ethiopia  Rei  do  Abe- 
xi,  de  como  o  tinha  preso  o  tanadar  de 
Dabul,  pedindolhe  que  o  fezesse  soltar, 
por  quanto  vinha  pêra  com  sua  embaixa- 
da ir  a  el  Rei  de  Portugal,  a  quem  o 
Emperador  do  Abexi  o  mandaua.»  Da- 
mião de  (iões,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  3,  cap.  30. 


672 


TANG 


TANADARIA,  s.  /.  O  ofliclo  <1"  tana- 
dar. 

—  O  t"rritori(i,  ou  dintricto  sujeito  a 
um  tanadnr.  —  «E  jiosto  (pie  com  n  fron- 
te dii  f,ni(!rra  qut!  cllo  tra/.ia  ordenada 
porá  dofonuao  daquoUas  tanadarias,  ás 
vezes  fazia  a  arrecadaí;íIo  delias  com  tra- 
balho, limito  maior  o  teve  tanto  quo  com 
força  de  pente  veio  sobre  oUe  hum  (Jiij)i- 
tilo  do  Ilidalcíío  chamado  Tulate  í'aii,  tó 
que  per  dorr.idiiiro  vimlo  este  l*ulate  Can 
a  lhe  dar  hunia  batalha,  Melrao  lhe  sá- 
bio, o  o  desbaratou  com  quatro  mil  pcães, 
e  quarenta  de  eavallo  que  tinha,  tendo 
Pulate  Can  muito  maior  número  do  pen- 
te.» Baríos,  Década  2,  liv.  G,  cap.  8. — 
(tAs  rendas  que  tem  nas  terias  ila  Ará- 
bia, o  Pérsia  são  de  Villas,  e  Lugares 
nos  portos  de  mar,  e  alpuns  dentro  pola 
terra;  e  os  prliicipaes  são  como  cabeya 
de  Almoxarifado,  (fallaudo  pelo  nosso 
uso,)  aos  quaes  acodem  todolos  outros  da 
sua  Comarca,  (como  dissemos  das  tana- 
darias  do  (joa,)  o  aos  (íovernadores  des- 
tas prlncipaes  cabeças  chamam  elles  (Uia- 
zil,  e  ao  ofEcio  Cuazilado.»  Ibidem,  liv, 
10,  ca]..  7. 

TANADO,  A,  fvlj.  (Do  francez  tanné). 
Termo  antiquado.  Côr  de  castanha. 

TANAJURA,  s.  /.  Formiga  de  azas, 
mui  gramle,  o  barriguda,  que  comem 
torrada  alguns   matutos  de  Pernambuco. 

TANAZ.Vid.  Tenaz. 

TANCHA,  s.  /.  Instrumento  de  pes- 
car. 

TANCHAGEM,  -•<.  /.  Ilerva  vulgar. 

TANCHÃO,  t.  "1.  Estaca,  ramo  que  se 
dispije  para  vir  a  ser  arvore. 

—  Estaca  com  que  se  cscostam  as  par- 
reiras. 

TANCHAR,  V.  a.  Enterrar,  cravar, 
pregar. 

TANCHOAL,  s.  »i.  Campo  de  tanchoei- 
ras. 

TANCHOEIRA,  *.  /.  Tanchão,  estaca, 
ou  ramo  limpo  da  rama,  que  so  planta 
para  se  fa/.cr  arvore. 

TANGA,  s.  /.  Moeda  asiática  portu- 
gucza  que  vale  três  vinténs:  As  tangas 
brancas  em  Salsote  c  Bai'dez  valem  150 
reis,  e  cm  Goa  valem  96. —  «As  rique- 
zas, que  grangeou  na  Ásia,  forão  suas 
heróicas  obras,  que  neste  papel  virão  a 
ler  08  futuros  com  saudosa  memoria.  No 
seu  escritório  se  acharão  trcs  tangas  la- 
rins,  e  humas  disciplinas,  com  sinaes  de 
usar  muito  delias,  e  a  guedelha  da  bar- 
ba, que  havia  empenhado.»  .Tacintho  Frei- 
re d'Andrívie,  Vida  de  D.  João  de  S«s- 
tro,  liv.  4. 

—  No  Brazil  e  Ásia  portugucza,  ó  a 
peça  do  pauno,  que  é  longor  de  vara  o 
meia,  ou  duas  varas  sem  feitio,  que  enro- 
lada na  cintura,  o  pendendo  como  uma 
fralda,  é  aquillo  com  que  os  índios  se 
oncacham,  e  cobrem  as  ]iartcâ  vergonho- 
sas da  cintura  até  ao  joelho. 

—  As   tangas    de    vanti   de  foro    cor- 


TANG 

rente;  Hão    palmares   repartido»  do  mes- 
mo modo  que  aH  tangas  de  cunto. 

—  Tangas  de  cunln ;  na  AKÍn,  não  cen- 
sos encabeçados  em  terras  <|ue  HoLejain 
das  várzea-;,  incertos,  e  repartidos,  pelos 
que  os  arrematam  proporcionaliiieiite. 

TANGADO,  part.  pass.  de  Tangar.  En- 
cachado  em  tanga. 

TANGANHÃO,  s.  m.  O  que  vonde  e 
trata  <  iii  eseravaria. 

■  -  llwmcni  que  eufi-ita  as  mercadoria» 
para  as  r  píitar  mellior.  Vid.  Tangomão. 

TANGANHEIRA,  adj.  f.  Termo  usado 
110  commereio  ilc  escravos.  Ne<jra  tan- 
ganheira;  de  peitos  caídos,  e  uào  do  pé, 
ou  ataeado.s,  e  valem  monos. 

TANGAR,  V.  a.  Encachar   com  tanga. 

—  Tangar-se,  v.  rejl,  Cobrir-sc  á  roda 
da  cintura  com  tanga. 

TANGARA,  s.  /.  Termo  de  historia  na- 
tural. Avo  do  Brazil,  de  que  ha  varias 
espécies. 

TANGARÚ,  s.  »i.  Espécie  de  tangara 
ruiva  da  l  Uivana. 

TANGEDOR,  A,  s.  Pessoa  quo  toca,  to- 
cador. —  Taugedor  de   instrumentos. 

Tanf/edor  quizcni  ser, 
mns  miiic:i  jiiidc  tanger 
soiiào  viola  de  sonuio, 
o  poiti  lioi  do  esporar  passo. 

ANTÓNIO   rnKSTF.3,   AUTOS,    pilg.    329. 

—  «Foi  mui  musico  de  vontade,  tanto 
que  as  mais  das  vezes  que  estaua  em  des- 
pacho, e  sempre  pela  sesta,  e  depois  que 
se  lançaua  na  cama,  era  com  ter  musica, 
e  assi  para  esta  musica  de  camará,  como 
paia  sua  capoUa  tinlia  estremados  canto- 
res, e  tangedores,  que  lhe  vuihaõ  de  to- 
dalas  partes  Dcaropa.u  Damião  de  G oca, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  4,  cap. 
84. 

—  Tangedor  de  bestas;  que  as  tange 
nos  engeulios  de  assucar. 

TANGEDOUROS,  s.  m.  plur.  Dous  paus 
roliços  usa' los  no  folie  dos  ferreiros. 

TANGEFOLLES,  s.  m.  Ilomcni  que  tan- 
ge os  folies  do  ferreiro,  ou  dos  órgãos 
músicos. 

—  Pessoa  que  dá  conversa,  e  mantém 
pratica  a  um  fallador  de  vaidades,  e  de- 
vaneios, que  o  faz  fallar,  o  lhe  puxa  pela 
lingua. 

TANGENCIAL,  adj.  2  gcn.  Termo  de 
geometria.  Que  é  tangente,  que  se  refere 
ás  tangentes. 

—  Coordenadas  tangenciacs;  systema 
de  geometria  aualytica  no  qual  as  super- 
iicies  e  as  curvas  são  detinidas  pelas  suas 
tangentes,  e  seus  planos  tangentes. 

—  Termo  de  mecânica.  Força  tangen- 
cial; jirojecçào,  na  trajectória  d'um  mo- 
vei, da  torça  que  actua  sobre  cUe. 

1.)  TANGENTE,  s.  /.  Termo  de  geome- 
tria. Linha  recta  tangente. 

—  rrtdiUinu  das  tuugentes;  problema 
danalyso,  om   quo  so  propõe  detea-miuar 


TAKG 

a»  tangentes  a  uma  curva,  cuja  oquação 
6  conhecida. 

—  MelJmdo  das  tangentes ;  rcuniSo  dos 
processos  de  calculo  eoui  <>  auxilio  dos 
quacd  so  resolve  oHtc  j^roblema. 

—  Eru  geometria.  Tangente  de  um  ar- 
co de  circulo;  linha  levada  a  uma  dat 
extremidades  do  arco  de  circulo,  o  pro- 
longada até  ao  ponto  em  que  ella  encon- 
tra o  raio  pausando  pela  outra  extremi- 
dade do  arco. 

—  No  calculo  trigonométrico,  a  tangen- 
te de  um  arco  é  o  nunicro  positivo  ou 
negativo  que,  tendo-»e  tomado  jior  uni- 
dade o  comprimento  do  raio,  medo  o  com- 
primento d'e8ta  tangent'1.  Em  todo  o 
triangulo  eopherico  rectângulo,  a  tangen- 
te d'nm  lado  é  cgual  ao  producto  Ha  téin- 
gente  do  lado  opposto  pelo  seno  do  ou- 
tro lado. 

2.1  TANGENTE,  part.  act.  de  Tanger. 
Termo  de  geometria.  Que  toca  uma  linha 
ou  uma  superfície  em  um  só  ponto. 

—  Duas  curvas  sJo  chamadas  tangen- 
tes cm  um  ponto,  quando  uma  mesma  li- 
nha recta  lhes  ó  tangente  a  ambas  n'e8.se 
ponto. 

—  Um  plano  é  chamado  tangente  a 
uma  supcrticie  em  um  ponto,  seguindo 
uma  linha,  quando  cortam  as  rectis  tan- 
gentes a  todas  as  curvas  que  -e  podem 
traçar  sobro  esta  superficie  por  este  ponto 
ou  por  todos  03  pontos  d'esta  liniia.  Do 
mesmo  modo,  a  superfície  é  tangente  ao 
plano. 

—  Tocante. 

1.)  TANGER,  V.  a.  (Do  latim  tangere). 
Tocar.  —  Tanger  viola,  guitarra.  —  «Este 
Chaem,  por  ser  mais  honrailo  que  todos 
os  outros,  traz  hum  estado  tão  grandioso 
como  qualquer  Tutão,  porque  traz  trezen- 
tos Jlogorcs  de  guarda,  e  vinte  e  quatro 
porteyros  de  maça.s,  e  trinta  e  seis  ino- 
Iheres  cm  facas  brancas  com  jaezes  de 
prata,  e  gualdrapas  de  seda,  tangendo 
em  estromentos  suaves  e  cantando  a  el- 
les, com  que  fazem  musica  a  seu  modo 
niuvto  bem  concertada.»  FemSo  Mendes 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  lOti. —  «Apoa 
isto  pegarão  dez  ou  doze  no  (íaspar  de 
Jleirelcz,  e  o  fizoraõ  quasi  por  força  tan- 
ger, o  o  levarão  comsigo  até  o  lugar  on'le 
avião  de  queymar  o  defunto,  conforme  ao 
uso  de  suas  gentílicas  seitas.»  Ibidem, 
cap.  116.  —  «E  como  esto  Gaspar  de 
!Meirelez  era  musico,  e  tangia  numa  vio- 
la, e  canUiva  uiuyto  ;irrazoad;iiuente,  que 
são  partes  muyto  ;ig-radaveis  a  esta  gen- 
te, porquo  o  mais  do  tempo  gastão  em 
banquetes  e  delicias  da  carne,  gostavao 
aly  muyto  dclle,  c  era  muytas  vezes  cha- 
mado piu'a  estas  cousas,  das  quais  sempre 
trazia  huma  csm<da  com  que  o  mais  do 
tempo  «os  remediávamos.»  Ibidem. — «E 
ao  longo  delia  hum  pouco  mais  afastadas 
estavào  trint;i  e  duas  molheres  muyti^ 
fcrmosas,  que  tangendo  em  ditVercutcs  es- 
tromentos,   fazião    huma    musica    muyto 


TANG 


TANG 


TANQ 


673 


para  folgar  de  ouvir.»  Ibidem,  cap.  122. 
—  <iE  tocando  então  as  moiheres  os  es- 
tromer.tos  que  ant -s  tangião  el  Eey  por 
entào  uào  íiiilou  mais,  somente  ao  reco- 
lher lhe  disse,  eu  verey  a  carta  do  Xina- 
rau  meu  irmcào,  e  responderey  a  ella  con- 
forme ao  teu  desejo  paraque  te  partas 
alegre  diante  de  mira  :  a  que  o  embaixa- 
dor sem  responder  nada  se  tornou  a  pros- 
trar ao  pé  da  tribuna  pondo  por  três  ve- 
zes a  cabeça  no  degrao  em  que  estava 
assentado.»  Ibidem,  cap.  130.  —  «E  tan- 
gendo as  palmas  a  modo  de  alegria,  en- 
trarão dentro  no  junco,  e  hum  delles  que 
no  aspeito  parecia  de  mais  autoridade  me 
disse,  antes,  senhor,  que  peça  licença 
para  falar,  te  rogo  que  vejas  essa  carta 
para  por  ella  me  dares  credito  ao  que 
disser,  e  saibas  que  sou  esse  que  ella  diz : 
e  com  isto  me  meteo  huma  carta  na  mão 
emburilhada  num  trapo  bem  cujo.»  Ibi- 
dem,  cap.  145. 

Mercúrio  tangendo  foles, 
castollos  que  matam  brasa 
e  a  guerra  morta; 
cmfim  que  as  armas  á  porta 
c  03  mouros  entram  em  casa 
epa  isto  é  que  mo  a  mi  corta. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  33. 

Qual  Petrarclia  !  inda  m'agravo 
do  Pctraroha,  mui  mais  bravo 
que  dez  mil  Petrarchas  foi, 
boi  que  tangeria  cravo. 
IBIDEM,  pag.  197. 

Eis  á  porta  está  tangeiulo  ; 
todo  o  mal  que  te  constrange, 
Leonarda,  é  aquelle  que  taiige. 
IBIDEM,  pag.  181. 

—  «E  porque  eu  começaua  de  tanger 
bem  me  mandaua  ensinar,  e  me  ouuia 
muytas  vezes  na  festa,  e  de  noite  na  ca- 
ma, e  me  gabaua  tanto,  e  tantas  vezes, 
que  eu  não  cuydava  em  outra  cousa  se- 
não em  seruir,  e  aprender. »  Garcia  de 
Rezende,  Chronica  de  D.  João  II,  cap. 
205.  — •  «Usam  de  huma  maneira  de  cra- 
vos que  tem  muitas  cordas  de  fio  de  La- 
lam, tangemnos  com  as  unhas,  que  pêra 
isto  criam,  soam  muito  e  fazem  muy  boa 
armonia:  tangem  muitas  vezes  muitos 
instrumentos  juntos  concertados  em  qua- 
tro vozes  que  fazem  muito  boa  consonân- 
cia.» Fr.  Gaspar  da  Cruz,  Tratado  das 
cousas  da  China,  cap.  14. 

Nào  sem  pungente  magoa  os  Lusos  vião 

Hum  tão  novo  espectáculo  tristonho, 

Desafinados  Anafins  tsnyfiào 

Os  negros  á  porfia  em  som  medonho : 

Era  rudes  cançoeus  barbaras  carpião 

Da  humana  vida  o  passageiro  sonho  •, 

Do  nuvens  cobre  o  Ceo  pesado  manto, 

Qu'hum  tom  maia  triste  dèo  da  morte  ao  canto. 

J.  A.    DE  M.1CKD0,  o  ORIENTE,  caut.   4,  CSt.   43. 

— Tanger  trombetas  para  vários  signaes 
voi..  V.  —  85. 


de  guerra ;  accommetter,  recolher,  montar 
a  cavallo  para  sair  ao  inimigo  com  os 
fronteiros  da  praça,  fazer  sign ai  de  irem 
a  cavalgada. 

—  Termo  antiquado.  Tocar,  pertencer, 
dizer  respeito. 

—  Celebrar  em  musica  de  instrumento. 

—  Tanger  as  bestas ;  afanal-as,  ou  aos 
bois  com  aguilhão,  dar-lhes  golpes  para 
que  espertem,  e  se  apressem,  ou  andem. 

—  Adágios  e  provérbios: 

—  Aprende  alto  e  baixo,  e  como  te 
tangerem  assim  dança, ;  ou :  Como  me  tan- 
gerem, assim  bailarei. 

—  Genro  pelo  papo  me  vai  tangendo. 

—  Já  morreu  por  quem  tangiam. 

—  Asno  por  lama  o  demo  tange,  e  pelo 
pó  o  demo  haja  d'elle  dó. 

—  A  besta  que  muito  anda,  nunca 
falta  quem  a  tanja. 

2.)  TANGER,  s.  m.  Vid.  Toque. 


Tu  qués 
que  t'o  faça  aqui  vir  ter  ? 
Ah  !  que  tanger  tão  francez  ! 
Passava  amor  su  arco  desarmado... 
Ah !  meu  bem  se  tu  pas.sáras 
passara  amor  tão  ladrão  ; 
passou  um  com  outro  então 
tào  amor,  tão  esfólaoiáras. 

ANTÓNIO  PEESTES,  AUIOS,  pag.    ISl. 


—  Plur.  Termo  em  desuso.  Tocatas, 
soadas,  ou  sonatas  de  instrumentos  mú- 
sicos. 

TANGERINA,  s.  /.  Vid.  Laranja. 

—  Diz-se  que  é  laranja  oriunda  de 
Tanger. 

TANGIDO,  pari.  pass.  de  Tanger. 

TAKGIMENTO,  s.  m.  Termo  antiquado. 
Toque,  co-itacto,  tocamento. 

TANGÍVEL,  aJj.  2  geií.  Sensível  ao  ta- 
cto. 

TANGOMÃO,  s.  m.  Homem  que  na  costa 
d'Africa  vai  ao  sertão  resgatar  e  comprar 
escravos.  Vid.  Sertanejo.  D'esta  palavra, 
de  que  usam  as  Ord.  Affons.,  iiv.  1, 
tit.  16,  §  6,  tem  sido  a  interpretação  mui 
vária  e  discordante.  Os  que  dizem  que 
tangomão  é  o  que  foge,  e  deixa  a  sua 
patiia,  e  morre  fora  d'ella,  ou  por  suas 
culpas,  ou  por  seus  particulares  interes- 
ses, tocaram  sem  duvida  no  verdadeiro 
espirito  da  lei;  pois  se  a  sentença  pro- 
nunciada contra  os  bens  do  tangomão  ha 
de  subir  á  presença  d'el-rei,  para  decidir 
se  elles  pertencem  ou  não  ao  real  fisco, 
fica  manifesto  que  o  dono  morreu  ausente 
e  fugitivo.  Xào  negaremos  comtudo,  que 
havendo  pas.5ado  esta  palavra  de  Guiné 
a  Portugal,  se  entenda  particularmente 
dos  que  fugcm  e  morrem  por  toda  a  Gui- 
né c  Cafraria. 

TANGUEIRO,  s.  m.  —  Uns  tangueiros 
de  latão  mourisco. 

—  AJj.  —  Pannos  tangueiros ;  pannos 
de  encachar. 

TANGUL,  s.  «i.   Cobre  da  Barbaria. 


Assento  baixo   feito  de 
,  Amigo  de  se  poupar  ao 


Tangefol- 


Vid.  Tan- 
toque    de 


TANHO,  s. 

taboa. 

TANJÃO,  s. 
trabalho. 

TANJASNO,  s.  m.  Termo  de  historia 
natural.  Ave  que  tem  antipathia  com  os 
jumentos. 

TAKJEFOLLES,    s.    m.  Vid. 
les. 

TANJUDO.  Termo  antiquado, 
gido.  —   Campa    tanjuda; 
campa. 

TANNANTE,  adj.  2  gen.  Termo  de  chi- 
mica.  Que  participa  do  tannino. 

—  Que  participa  da  casca  do  carvalho, 
empregada  no  cortume  dos  couros. 

TANNATOS,  s.  m.  plur.  Termo  de  chi- 
mica.  Compostos  salinos  produzidos  pela 
combinação  do  tannino,  ou  do  acido  tan- 
nico  com  as  bases. 

TANNICO,  A,  adj.  Termo  de  chimica. 
Que  diz  respeito  ao  tannino. 

—  Licor  tannico  ;  solução  d'acido  tan- 
nlco. 

—  Injecção  tannica ;  injecção  emprega? 
da  contra  a  hemorrhagia. 

—  ÂciJj)  tannico ;  o  que  se  extrahe  do 
tártaro. 

TANNINO,  s.  7íi.  Termo  de  chimica. 
Substancia  que  se  encontra  na  casca  do 
carvalho,  e  em  outros  vegetaes,  e  que 
torna  estas  substancias  próprias  para  cor- 
tir  as  pelles. 

\  TANNOGELATINA,  s.  f.  Termo  de 
chimica.  Substancia  flocosa,  insolúvel,  e 
quasi  indestructivel,  composta  de  tanni- 
r:0,  e»  gelatina,  e  formando  a  base  do 
couro. 

t  TANNOKELANIGO,  A,  adj.  Termo 
de  chimica.  Acido  tannomelanico ;  cor- 
po que  se  produz  expondo  ao  ar,  n'um 
vaso  chato,  uma  solução  de  tannino  n'uma 
dissolução  enérgica  de  potassa. 

TANOA,  s.  /.  A  fabrica  de  pipas,  e 
toneis,  para  agua,  vinhos,  azeites,  etc. 

TANOAR,  V.  a.  Exercer  o  officio  de 
tanoeiro. 

—  Figuradamente  :  Espancar  alguém, 
dar-lhe  pancadas. 

TANOARIA,  ou  TANOEIRIA,  s.  f.  Bair- 
ro de  tanoeiros. 

—  Officio  de  tanoeiro. 

TANOEIRO,  s.  7n.  Homem  que  faz  pi- 
pas, toneis,  barris,  etc. 

TANQUE,  s.  m.  Eeservatorio  onde  se 
ajunta  agua,  e  que  se  considera  como  es- 
tagnada. —  «Junto  a  estas  capellas  tem 
aposentos  muyto  grandes,  com  jardins  e 
bosques  espessos  de  grande  arvoredo,  e 
muytas  invenções  de  tanques,  e  fontes, 
e  bicas  dagoa.  E  as  paredes  das  cercas 
saõ  forradas  por  dentro  de  azulejos  de 
porcelana  muyto  fina,'  e  por  cima  pelos 
espigoens  tem  muytos  leoens  cõ  bandey- 
ras  douradas,  e  nos  cãtos  das  quadras  cu- 
rucheos  muyto  altos  de  diversas  pintu- 
ras.» Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  105. 


674 


TANT 


TANT 


TANT 


—  Termo  do  marinha.  Reservatório 
feito  do  ferro  para  conduzir  a  agua  nos 
navios. 

—  Reservatório,  onde  se  conduzem  as 
aguadas  dos  navios,  feitos  segundo  as  di- 
mensões que  ellea  tom  no  porJlo. 

—  Tanques  ilas  polés ;  logares  próxi- 
mos aos  cscovcns,  o  separados  do  resto 
das  cobertas,  ou  do  convcz,  por  um  ma- 
deiro que  se  prega  de  bombordo  a  esti- 
bordo, e  dentro  dos  quaes  estào  as  tinas 
da  baldeação;  tem  embornaes  sobre  si 
para  escoar  a  agua  que  aili  se  derrama, 
servindo  do  preservar  que  ella  molhe  o 
resto  do  navio. 

—  Nos  engenhos  d'assucar  serve  de  re- 
colher o  melaço  que  purga  das  formas. 

TANQUIA,  s.  f.  Medicamento  feito  de 
ouropiníonto,  c  cal. 

f  TANTALATO,  s.  m.  Termo  de  chi- 
mlca.  S;il  ]iro(luzido  pela  combinação  do 
acido  tantalico  com  uma  base. 

f  TANTALICO,  adj.  m.  Termo  de  chi- 
mica.  Acido  tantalico  ;  o  peroxydo  de  tân- 
talo. 

f  TANTALICO-AMMONICO,  adj.  Ter- 
mo de  cliimica.  Diz-se  de  um  sal  tantali- 
co combinado  com  um  sal  ammoniaco. 
Diz-sc  do  mesmo  modo :  taiitalico-calcico, 
tanfalico-potassico,  etc. 

f  TANTALITE,  s.  m.  Termo  de  chimi- 
ca.  Sal  fonnatlo  pela  combinação  do  aci- 
do tantaloso  omn  uma  base. 

1.)  TÂNTALO,  *•.  m.  Termo  de  chiml- 
ca.  Metal  novo,  descoberto  em  ISOl  na 
America  do  Norte,  a  que  se  deu  também 
o  nome  de  columbium.  ' 

2.)  TÂNTALO,  s.  m.  Personagem  da 
mythdlogia. 

\  TANTALOSO,  adj.  m.  Termo  de  clii- 
mica.  Acido  tantaloso;  diz-se  do  oxydo 
tantalico. 

TANTEAR,   r.  n.  Vid.  Tentear. 

TANTITO,  A,  adj.  Termo  popular.  Pe- 
quenino, pequena  porção. 

TANTO,  A,  adj.  (Do  latim  taiitus). 
TSo  grande.  —  « E  vendo-o  tão  gentil-ho- 
mem,  e  o  desejo  com  que  lhe  buscava 
descanço,  lembrando-lhe  juntamente  com 
isto  o  engano  que  com  clle  usara,  o  fim 
pêra  que  o  fizera,  não  tovc  aqui  tanta 
força  a  morte  do  seus  irmãos,  que  não 
virasse  o  ódio  em  amor. »  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  d'Iuglaterra,  cap.  ILõ. 
—  «Tornando  a  enrcstar  as  lanças  corre- 
ram a  terceira  carreira  com  toda  a  fúria 
que  os  cavallos  poderam  levar,  o  encon- 
trando-se  em  cheio  dos  corpos  e  escudos, 
foi  de  tanta  força  o  encontro  que  os  ca- 
vallos não  se  podendo  suster,  topando 
tambcni  um  com  o  outro,  vieram  ao 
chão  com  seus  senhores.»  Ibidem,  cap. 
127. 


Puro  Amor !  se  p.ifcava  s<5  tal  vista 
Todo  o  mal  qiiP  por  ti  rac  fez  meu  fado, 
Porque  quizoate  que  a  levasâo  o  tempo? 
£  se  o  asai  quizeato,  porquo  a  vida 


Me  deixas  para  vfr  Innia  crueza, 
Quando  cm  nilo  vi-la  »■<  vejo  o  rcmi-dio? 

CAU.,  ar.XTILBA  3. 


Comprou-me  o  amor, 
Sem  lhe  fazer  preço: 
Eu  não  lhe  mereço 
I)ar-mc  desfavor. 
Oá-rae  tanta  dor, 
Que  ando  apoz  elle 
Pelo  que  mo  deve. 

IDKM,  BEDONDILUAS. 


Nunca  vi  tal  esperar, 
Nuuca  vi  tal  a  vantagem, 
Nem  tal  modo  de  agradar. 
Nossa  eonta  ho  tão  pequena, 
E  ha  tanto  que  hc  devida, 
Que  morre  de  promettida, 
E  i)i'ço-a  ja  com  tanta  pena. 
Que  depcnno  a  minha  vida. 

GIL  VICRKTE,  F.mçAS. 


—  «  Assentadas  estas  e  outras  cousas 
que  auia  pêra  fazer  en  Quiloa,  em  que 
Nuno  Vaz  mostrou  ter  tanta  parte  de 
prudência  como  tinha  de  caualleiro:  lei- 
xando'aU  por  official  a  Luis  Mendez  de 
Vasconcelos  que  viera  em  sua  companhia, 
partiose  pêra  Çofala.»  Barros,  Década  1, 
liv.  10,  cap.  6.  —  «Vista  esta  carta  pulo 
Ivoy  Braniaa,  lhe  respondco  logo  com  ou- 
tra cheya  de  muytas  promessas  e  jura- 
mentos que  tudo  o  pas.^ado  poria  em  es- 
quecimento, e  que  a  ello  proveria  com 
hum  estado  de  tantas  terras  e  rendas  que 
ficasse  bem  contente,  o  que  despois  lhe 
cumprio  bem  mal  como  adiante  direy.D 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações, 
cap.  149. 


Pouco  traz  isto  oâ  três  que  g;overnavão 
Juntamente  co'o  moço  aqueila  terra, 
Vendo  chegado  o  tempo  em  que  espcravào 
Descubrir  o  que  seu  esprito  encerra. 
Com  tanta  pressa  o  exercito  ajuntavão 
Para  darem  effeito  .-'iquella  guena. 
Que  dez  mil  de  cavallo  juntos  tinhão 
E  quinze  mil  dos  outros  que  a  pé  vinhão. 
F.  d'akdr\de,  rnixEiRO  ceeco  de  Dii:,cant.  8, 
est.  Ui. 


—  «Nelles  andamos  trcs  dias,  leuando- 
nos  o  tempo  à  parte  do  Sinde,  e  posto 
que  o  vento  aqui  se  mudou,  não  se  virou 
com  tudo  a  fúria  dclle,  que  nunca  os  ma- 
les facilmente  se  mudão.  Estando  de  ta- 
tás angustias  cercados,  leuanta  o  Piloto 
hum  grande  brado  dizendo.»  Frei  <! as- 
par de  S.  Bernardino,  Itinerário  da  ín- 
dia, cap.  10.  —  «Sorrirãosc  tolos,  fost'^- 
jando  muyto  a  afcyção  que  neste  parti- 
cular niostrauamos.  E  depois  de  estarmos 
aqui  cou.-sa  de  meya  hora,  nos  louarão  ao 
jogo  da  choca,  onde  Ochaã  com  os  mais 
a  jugaram  a  caualo,  com  muita  desenuol- 
tura,  e  graça,  inda  que  com  tantas  gri- 
tas, como  elles  costumão  fazer  em  qual- 
quer pequeno  excesso.»  Ibidem,  cap.  15. 


—  «Pois  em  nenhuma  parte  da  Europa 
se  dà  a  seda  com  tanta  perfeição  como 
cm  Portugal,  como  nota''  os  autborea  Ita- 
lianos, e  só  falta  occuparem-se  mais  nes- 
te arteficio.»  Severim  de  Faria,  Noticias 
de  Portugal,  Disc.  1,  cap.  4.  —  «E  as 
cinco  estrellas  significai?  o  Cruzeiro  do 
Polo  Antartico,  por  o  Brasil  ficar  no  outro 
Emispherio:  o  Lea<5,  o  valor,  c-m  que  se 
houve  na  Conquista  daquella  Capitania, 
por  serem  próprios  dos  Coelhos  os  cinco 
castellos  por  outras  tantas  povoaçoens, 
que  na  Capitania  fiz-ra.»  Ibidem,  Disc. 
3,  cap.  10. —  tQuer  dizer,  que  de  nJSo  se 
pejarem  de  Deos,  num  do  mundo,  vieraiS 
á  tanta  dissolução,  que  naõ  perdoaraS  a 
nenhum  género  de  maldade,  e  assi  pedia 
o  mesmo  Rey  Santo  a  Deos,  que  còfun- 
disse,  e  enuergonhasse  a  seus  inimigos, 
auendo  que  esse  era  o  mais  certo  meio 
de  sua  emmenda.»  Fr.  Thomaz  da  Vei- 
ga, Sermões,  part.  1,  foi.  72,  col.  2. — 
«Por  morte  de  Nero  (que  com  tanta  ale- 
gria foy  ouvida  do  Senado  e  povo  Roma- 
no) aclamarafJ,  e  obedecerão  por  Empe- 
rador  a  Sérgio  Oalba,  sendo  o  primeiro 
que  sem  adopção  nem  parentesco  algum 
com  a  casa  dos  Césares,  entrou  tia  JIo- 
narchia  só  pelo  direito  das  armas.»  Mo- 
narchia  Lusitana,  liv.  5,  cap.  8. 


Ásia  de  tanta-'  mara\nlha9  cliêa 
Das  marceus  do  Mecôn,  do  Ganpcs,  do  Indo 
Grinaldas  te  prepara,  c  ta»  cnastra. 
Tão  bellaa,  quaes  as  pinti  o  China  astuto. 

J.  a.   I>E  MACEDO,  TIAOEM  EXTÁTICA,  Cant.  2. 


—  Esses  nossos  honrados  companh<uros 
De  tanta  cicatriz  innobrecidos. 
Que  a  espada  fcintas  vezes  impuiiharam, 
Tanto  sansrue  verteram  por  scfruir-nos. 
Por  defender  da  pátria  a  sancta  causa, 
De  suas  vidas  acaso  a  mesma  pátria 
Não  nos  confiou  a  nós  cuidado  e  guarda  V 

GABBBTT,  CATÃO,   aCt.  3,  BC.   1. 


—  Outro  tanto ;  igual  porção,  a  mes- 
ma cousa  ou  cousa  idêntica.  —  «Se  algu- 
ma molher  se  obriguasse  a  outrem  por 
cousa,  que  a  ella  perteencia ;  assy  como 
se  ella  comprasse  a  herança  d'algum  de- 
funto, e  se  obriguasse  a  algum  creedor 
do  dito  defunto  por  alguma  divida,  em 
que  ellc  fosse  obrigado;  ou  se  alguma 
molher  obrigada  a  algum  seu  creedor,  ao 
qual  ouvesse  dado  certo  fiador,  ella  de- 
pois se  obrigasse  a  aquelle  seu  fiador,  que 
a  fiara  por  outra  tanta  quantidade,  como 
fosse  a  da  primeira  obrigaçom,  em  que  a 
ello  primeiramente  fiara.»  Ord.  Affons., 
liv.  4,  tit.  18,  §  7.—  «Se  ella  tanto  de- 
seja servir-se  delias,  re.sjx)ndeu  o  do  Sal- 
vage,  mal  and.istes  era  n.^ío  bnscíirdes-me 
mais  cedo,  que  trazia  outras  tantas,  e 
fora  o  serviço  mainr :  comtudo  nem  estas 
a  servirão,  nem  eu  confessarei  o  que  que- 
reis, que  seria  confessar  mentira.»  Fran- 


TAXT 


TAlíT 


TANT 


675 


cisco  de  Morae?.  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  130. 

—  Tão  grande  espaço.  —  «E  também 
em  modo  de  premio  do  trabalho  de  tãto 
caminho,  era  dada  ao  embaixador  huma 
cruz  pequena  da  feição  da  que  leuaua 
pêra  elRey  que  lhe  lançauào  ao  coUo  : 
com  a  qual  elle  ticaua  liure  e  isento  de 
toda  seruidào,  e  preuilegiado  na  terra 
donde  era  natural,  ao  modo  que  entre 
nóa  são  os  commendadores.»  Barros,  Dé- 
cada 1,  liv.  3,  cap.  4. 

—  Tào  grande  quantidade,  tão  grande 
porção.  —  «A  Seniiora  Condeça  Fabricia 
merece  encontrar  o  Lobo,  pois  que  vay 
tantas  veses  ao  Bosque  contra  o  conse- 
lho de  seu  marido.»  Cavalleiro  de  Oli- 
veira, Cartas,   liv.  1,  n.°  Ò2. 


Do  privado  iuteresse  ignora  a  meta, 
E  nem  se  muda,  nem  se  altera,  como 
Tantas  vezes  no  Mundo  amor  se  muda. 

J.   A.   DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Cant.    1. 


- — Emprega -se  como  correlativo  a  quan- 
to. —  «E  se  ouverem  officios  mais  peque- 
nos, assy  como  Taballiaàes,  Escrivaães, 
ou  outros  Officios,  per  que  gaanhem  de 
comer,  pague  cada  huuin  pola  primeira 
vez  tanta  conthia,  quanta  ha  de  pagar 
o  que  ouver  conthia  de  cinquo  mil  libras: 
e  sua  barregaà  a  meetade  da  dita  con- 
thia: e  com  estes  andem  os  Celorgiaàes, 
6  suas  barregaàs. »  Ord.  Affons.,  liv.  õ, 
tit.  18. 

— Tanto,  pedindo  que,  significa  tal.  — 
«Estaudo  Affonso  d'Alboquerque  nesta 
prática,  foi  tanta  a  faria  da  nossa  gen- 
te, havendo  por  injuria  aquella  sultura 
dos  Mouros  em  sua  face,  que  com  ímpe- 
to de  vingança  começou  a  correr  huma 
voz  per  todos  :  A  elles,  a  elles. »  Barros, 
Década  2,  liv.  7,  cap.  4.  —  «A  qual  era 
tanta  que  todos  os  cãpos  eraõ  cheyos  del- 
ia, sem  aver  cousa  que  pudesse  romper 
por  nenhum  caminho,  e  chegados  assi 
com  esta  ordem,  ou  antes  desordem,  ao 
castello  de  Lautir,  que  era  o  primeyro 
forte  do  nove  espias  que  tinha  o  campo, 
em  que  avia  huma  grande  força  de  sol- 
dados, achamos  ja  nelle  hum  príncipe  fi- 
lho dei  Rey  da  Pérsia  chamado  Guijay 
Paraõ,  o  qual  el  Rey  aly  tinha  mandado 
para  levar  o  Mitaquer  consigo. »  Fernão 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.  120. 
—  *Foy,  e  prendeo  muytos  homens,  e 
outros  degradou  da  cidade,  e  eraprazou 
pêra  a  Corte,  e  pos  nisso  tanta  força,  e 
diligencia,  que  pacificou  tudo.  E  porque 
alguns  homens  ficarão  escandalizados  del- 
le,  mandarão  a  el  Rey  huns  grandes  ca- 
pitules de  cousas  que  la  fizera.»  (íarcia 
de  Rezende.  Chronica  de  D.  João  II,  cap. 
151.  —  uElRey  D.  Afonso  V.  armou  a 
seu  irmaõ  o  Infante  D.  Fernando  Caval- 
leiro com  tanta  solennidade,  que  quasi 
o  menor  apparato  desta  pompa  foi  prece- 


derem diante  deste  magnifico  acto  mil 
tochas,  quatrocentas  levavaõ  Cavalleiros, 
e  as  seiscentas  Escudeiros  dos  mais  luzi- 
dos da  Corte,  todos  vestidos  de  hum  tra- 
go, e  libre.»  Severim  de  Faria,  Noti- 
cias de  Portugal,  Dlsc.  3,  cap.  28. 

—  De  tal  graduação, 

—  Tanto  elh  como  os  mais ;  assim  elle 
como  os  outros. 

—  Com  tanto  que;  com  tal  condição 
que.  —  aK  dizemos,  que  se  ao  tempo  da 
venda  e  compra  o  comprador  pensava 
seer  a  cousa  do  vendedor,  ainda  que  es- 
se vendedor  lhe  nom  prometesse  a  com- 
poer  a  dita  cousa,  no  caso  que  lhe  fosse 
veencida,  esto  nom  embargante  será  theu- 
do  a  lha  compoer,  seendo-lhe  vencida, 
com  tanto  que  seja  per  elle  nomeado,  e 
chamado  por  autor  aa  demanda  ao  tem- 
po que  deve,  como  suso  dito  he.»  Ord. 
Affons.,  liv.  4,  tit.  Õ7,  §  12. 

—  Loc.  ADV. :  Por  tanto.  Vid.  Por- 
tanto. —  «E  por  tanto  Dizemos,  que  se 
alguma  das  partes  dissesse,  que  a  outra 
lhe  ficou  a  fazer  Escriptura  desse  con- 
trauto,  e  despois  lha  nom  quiz  fazer,  e 
por  tanto  ho  nom  pode  provar  per  escri- 
ptura.» Ord.  Affons.,  liv.  3,  tit.  57,  §  6. 
—  uE  por  tanto  em  todos  estes  casos  e 
outros  semelhantes  essa  conveença  nom 
-tem  fijmidão,  nem  pôde  valer,  senam  des 
que  a  Escriptura  he  feita,  e  leuda,  e  as- 
sinada pelas  partes;  e  por  esta  razom, 
segundo  direito,  cada  huma  das  partes 
se  pode  afastar  afora,  ante  que  firme 
essa  conveença  per  seu  nascimento.» 
Ibidem,  liv.  4,  tit.  56,  §  4.  —  «E  se 
despois  que  a  dita  venda  fosse  de  todo 
acabada,  o  comprador  vendesse,  desse, 
ou  escambasse  a  cousa  comprada  a  al- 
gum outro,  nom  leixaria  por  tanto  o  ven- 
dedor de  poder  demandar  o  dito  compra- 
dor polo  beneficio  d'esta  Lei.»  Ibidem, 
tit.  45,  §  7.  —  Por  tanto  hum  dos  maio- 
res castigos,  com  que  Deos  ameaçava 
antigamente  seu  povo,  era  dizeudo-lhe, 
que  deixaria  aquella  Republica  sem  Ca- 
pitaens,  e  soldados.»  Severim  de  Faria, 
Noticias  de  Portugal,  Disc.  2,  cap.  1. — 
«E  por  tanto  volio  mando  outra  vez  pê- 
ra que  vos  diga  algumas  cousas  que  lhe 
dixe,  e  vos  peço  que  o  que  vos  o  dito 
Coiealeam  pedir  o  façaes,  e  o  nam  dete- 
nhaes,  e  o  despacheis  ceio,  e  me  enuieis 
alguns  mestres  de  fundir  artelharia,  e 
bombardeiros,  c  eu  os  contentarei  como 
elles  quiserem.»  Damião  de  C4oes,  Chro- 
nica de  D.  Manoel,  part.  4,  cap.  11. — 
« E  por  tanto  o  sétimo  grão  he  dos  pací- 
ficos, dos  quaes  diz  o  Senhor,  Bemaven- 
turados  os  pacíficos,  ou  negoceadores  de 
paz,  porque  elles  seram  chamados  filhos 
de  Deos,  que  he  Deos  de  paz,  e  amor. 
Os  dous  derradeyros  degraus  desta  celes- 
tial escada,  sam  dos  que  padecem  perse- 
guições por  amor  de  Deos.»  Frei  Bar- 
tholomeu  dos  Martyres,  Catecismo  da 
doutrina  christã.  —  «E  porque  o  primei- 


ro peccado  (que  foy  a  rajz  do  peccado 
original  em  que  nascemos)  começou  em 
a  molher  porquato  ella  foy  a  que  induzio 
Adam  a  peccar:  por  tanto  dobrou  Deos 
a  pena  na  molher  que  paria  filha :  esta- 
belecendo que  a  que  paria  filho  ficasse 
euitada  da  entrada  do  templo  por  espa- 
ço de  quarenta  dias:  e  a  que  paria  filha 
por  espaço  de  oitenta.»  Ibidem.  —  aE 
por  tanto,  di%-iuo  he  o  conselho  do  mes- 
mo S.  Paulo,  quando  diz :  Nemo  se  sedu- 
cat:  si  quis  viJ^tur  inter  vos  sapiens  in 
hoc  sceculOf  stultus  jiat,  ut  sit  sapiens. 
Sapientia  enim  hujus  mundi,  siultitia  est 
apud  Deum.  Xaõ  nos  enganemos  huns 
com  outros,  e  cada  hum  consigo.  Se  al- 
gum de  nós,  naõ  digo  he  na  realidade, 
mas,  parece  sábio,  saiba,  que  para  na 
verdade  o  ser,  he  necessário  fazerse  nés- 
cio.» Padj-e  Manoel  Bernardes,  Exercí- 
cios espirituaes,   pag.  315. 

—  Entre  tanto.  Vid.  Entretanto. 


Entre  tanto  o  Deaõ  confuso,  afflicto 
Passava  as  horas,  na  memoria  tendo 
Do  lavdeado  Gallo  o  infausto  annuncio. 

A.    DLSIZ   DA  CBCZ,   HYSSOPE,   CEUt.    8. 


—  Tanto  2^^''  tanto;  preço  igual,  ou 
recompensa  igual  ao  que  se  nos  deu,  ou 
fez. —  «E  querendo-a  aver  tanto  por  tan- 
to, a  elle  deve  seer  vendida,  e  quando  a 
assy  nom  quizesse  aver,  poderá  esse  fo- 
reiro  vendella  a  quem  lhe  prouver,  com 
tanto  que  nom  seja  das  pessoas  defesas 
em  Direito.»  Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit. 
37,  §  4.  —  «Despois  que  naceo  esse  me- 
nino, vinha,  casa,  ou  herdamento,  que 
seja  d'avoenga  deste  menino,  ou  menina, 
bem  poderem  demandar,  e  aver  esse  her- 
damento tanto  por  tanto,  despois  que  fo- 
rem de  revora  comprida,  se  a  venda  fe- 
zerom  depois  que  forom  nados.»  Ibidem, 
tit.  38,  §  2. 

—  AIgu7n  tanto  ;  pouco.  —  «  Chegan- 
do-se  mais  a  elles,  conheceu  que  eram 
Franciào  e  Onistaldo,  de  que  algum  tan- 
to ficou  contente,  crendo  que  dando-lhe 
conta  do  que  a  Palmeirim  acontecera, 
estimariam  pouco  o  trabalho  de  o  ir  bus- 
car, que  este  é  um  bem  que  a  amizade 
tem,  08  grandes  perigos  estimal-os  pouco 
nas  cousas  onde  se  ella  ha  de  mostrar.» 
Fi-ancisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  55.  — « E  tornando  algum 
tanto  em  seu  acordo,  pondo  os  olhos 
nella,  começou  dizer :  Senhora,  agora  ve- 
jo o  que  não  cuidava  e  já  me  não  espan- 
to fazer  tamanhos  extremos  este  vosso 
cavalleiro,  pois  por  tamanho  extremo  se 
combate.»  Ibidem,  cap.  60.  —  «E  lem- 
brevos  o  que  lhe  vistes  fazer  em  Quan- 
sy,  e  por  ahy  julgareis  o  que  vos  podem 
fazer  a  vós.  Os  Tártaros  ficarão  algum 
tanto  espantados  de  nos  verem  altercar 
huns  cos  outros,  e  falarmos  alto,  que  he 
cousa  que  elles   entre  sy   não   custumão, 


676 


TANT 


TANT 


TÃO 


è  no»  roprcndcrão  com  bo;is  ]);il.ivr;iK, 
(lizonilo,  fjU(j  iiiiiirt  ])n)|)rii>  i!)';i  il.'i«  t\w- 
lliorc.s  ialliu-ciu  alto  o  doíiíni toado,  ])0Íh 
iiíto  tom  trovo  ii;i  linpjoa.»  Foriiílo  Men- 
diga finto,  Peregrinações,  caji.  118. — 
«A  quo  uUc  rospoiídeo  alf^uin  tanto  agas- 
tado, bofú  senhore.i,  qiio  quanto  il  mi- 
nha, cu  a  estimo  agora  tilo  pouco,  quo  se 
algum  destes  bárbaros  ma  quiscsso  Jugar 
il  primeyra,  vos  certifico  que  c3  quais- 
quer duas  sota»  a  mctosse  logo  no  pri- 
nioyro  invito,  porque  bem  entendido  est:i 
que  nào  hc  esta  a  gonto  quo  nos  lia  de 
dar  a  vida  pelo  resgate  que  jjrctcnda  do 
nós,  como  fazem  o^  Mouros  do  Africa,  e 
ja  qu'e  ushí  lie  tanto  monta  ojc  como  a 
nienham.»  Ibidem. 

—  Tanto  <2iu: ;  logo  que.  —  «E  dize- 
mos ainda,  (pie  tanto  que  a  venda  e 
compra  he  Hrmada  per  conscnfinionto 
das  partes,  deve  logo  primeiramente  o 
vendedor  d'entrergar  a- cousa  vendida  ao 
comprador,  o  dos  y  o  comprador  deve 
logo  pagar  o  preço  ao  von<lodor,  por  que 
assi  foi  vendida.»  Ord.  Affons.,  liv.  4, 
tit.  GO,  §  2.  —  fiíi  tauto  que  foy  manhàa, 
querondo  Jorge  Cabral  passar  em  busca 
dos  Amoucos,  não  o  consentirão  os  Ve- 
readores, e  sobre  isso  lho  tizeraõ  grandes 
requerimentos,  com  o  que  sobreestove.» 
Diogo  de  Couto,  Década  ti,  liv.  *J,  cap. 
2.  —  « Os  [lOucos  que  escapamos  deste 
miserável  naufrágio,  que  naõ  foríío  mais 
quo  vinte  o  quatro,  a  fora  algumas  mo- 
Iheres,  tanto  que  a  nienham  foy  clara 
conhecemos  quo  a  terra  em  que  estáva- 
mos era  do  Lequio  grande,  pelas  mostras 
da  ilha  do  fogo  e  a  serra  de  Tavclacão.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações, 
cap.   188. 

Tanto  quo  estus  louvores  !icab;Vião 
Ein  damuo  àoi  Christíloâ  logo  pntpiiderâo, 
(íiití  osto  acto  por  tão  pio  então  julgilrào 
Como  esfoutro  que  (louco  untes  lizei'ào. 
Logo  iilgumiis  bombardas  asáentánio 
]')aqucllii3  que  os  Cliristrios  nntes  perderão, 
.Tunto  d'hum  cnoá  que  estava  cditicado 
Lá  onde  o  Maudouiin  lie  nomeado. 

K.  r>'ANnuAr>E,  riiiMKiuo  ckeco  de  diu,  caut.  11, 
est.  70. 

—  Um  tanto;  uma  quantia. —  «Estan- 
do na  qual  jirosporidado  do  fortuna  fale- 
ceo,  leixando  hum  iilho  per  nome  Mamud 
Xá,  ao  qual  elRoy  do  DeliJ  confirmou 
naquello  estado  que  tinha  seu  pao  :  com 
lho  poer  encargo  do  jiagar  cada  hum  an- 
no  mães  hum  tanto  do  que  o  pao  paga- 
ua.»  Barros,  Década  5,  liv.  2,  cap.  2. 


Sabè-la,  c  tua  franqueza  —  tam  uotavcl ! 
Mo  auima,  é  dilVorento,  opposta  t\  d'ctle. 
K  logo  no  senado  licido  impnguil-la, 
Abertil  o  nnainento.  Em  vivas  cores 
Heido  pintar  o  estado  miserável 
])a  pátria,  o  nosso  ;  o  abysmo  a  quo  a  arrastámos 
Se,  para  imo  quebrar,  nossa  virtude 
Não  dobra  um  tanto  ao  peso  da  fortuna. 
o.uiRKTr,  c.vrÃo,  uot.  1,  se.  3. 


—  Nãi>  tanto.  —  "Senhor  All)anis,  di»- 
sc  FloreiídoH,  quem  as  armas  exercita 
não  HO  ha  de  oscandalisar  de  qual(|uer 
mudança,  que  nellas  ache.  Arnalta  me- 
rece muito,  jioróm  não  tanto,  que  com 
isso  «c  deva  escurecer  o  merecimento  <lo 
outras,  que  lhe  a  elia  nSo  devem  nada : 
folgai  deste  ilosastro  vos  acontecer  antre 
vossos  servidores  o  amigos,  que  se  era 
outra  parte  fora,  tivéreis  mais  que  Bcn- 
tir.»  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
dTnglaterra,  cap.  1();5.  —  «K  pois  quai- 
(pu;r  destes  modos  (pio  elle  commettesse, 
por  causa  do  grande  apparato  que  tra- 
zia, de3cspei'ava  os  nosso.s,  com  que  lhe 
dava  dobrado  animo  do  que  tinham  ;  de- 
via elle  Pato  Unuz  commetter  este  nego- 
cio não  tanto  ;'i  força  de  braço,  mas  com 
parte  de  prudência,  e  do  vagar,  e  não 
tão  apressado  como  viuha.u  Barros,  Dé- 
cada  2,  liv.  9,  cap.  õ. 

—  iVeni  tanto. 

Uma  liora 
Breve,  escassa... 

Nem  tanto  porventura ! 
Oh,  Catão,  approveita-a,  que... 
uAuunTT,  CATÃO,  act.  5,  8C.  0. 

—  Tanto  mais.  —  «As  damas,  que  mui- 
to afFeiçoadas  eram  ás  cousas  de  Flora- 
mão,  d'alli  por  diante  o  foram  tanto 
mais,  que  nenhuma  sua  lhe  podia  pare- 
cer mal.  A  donzella,  que  viu  que  o  im- 
perador e  todos  davam  a  aventura  por 
acabada,  disse  em  voz  alta.»  Francisco 
de  Moraes,  Palmeirim  d'Iuglaterra,  ca- 
pitulo !)1. 

—  Não  jíicreço  tanto ;  nào  sou  digno 
de  tanto. 


A  mi  não  me  fizeste 

Alguma  scmrazào ;  que  bem  couhe<;o 

Que  tauto  não  mcrei;o : 

l'"izcstc-a  jVqucUo  bem  firme  c  sincoro 

Que  sabes  que  te  quoro, 

Em  lhe  tirar  a  gloria  merecida. 

Perca,  <iucm  te  perdoo,  tambcui  a  vida. 

CAMÕES,  EQLOUA  4. 


—  Dizemos  multiplicando,  dons  tan- 
tos, o  dobro;  ires  tantos,   o  triplo,  otc. 

—  Tantos  por  tantos ;  em  igual  nume- 
ro de  ambas  as  bandas,  ou  partidas. 

—  Comprei  por  tanto  ;  comprei  por  tal 
preço. 

—  Em  tanto ;  om  tanto  modo,  a  tal 
ponto,  em  tào  grande  maneira. 

—  Tauto  é  \-erdade;  ó  tào  verdade. 

—  Diz-so  fallando  com  incerteza  do 
que  excedo  ao  numero  tixo  de  dezenas, 
centenas,  o  não  entra  na  casa  seguinte. 
—  tíessi  nta  e  tantos. 

—  tiinto  tanto  os  Uus  males,  como  o 
sentia  se  fusseni  i^roprios ;  com  o  mesmo 
gx"au  do  dôr. 

— Tomado adverbialmcnte:  Tanto;  tan- 
tos mezes,  por  tão  largo  tempo. 


Mando,  no  t«  oonhccj^moB, 
1'orquc  tnrilo  desejaiiKH 
'J"eui»  ciigitnos  ? 
E  *«  asHi  te  qucrcmoi), 
Mui  Rcm  catuvi  no»  quciíainoH 
de  tcuB  dunoa. 
CAU.,  i;AiirA  2. 


—  «Essa  pergunta,  senhor  cavalleiro, 
disse  o  ermitão,  vos  não  qui/.era  ouvir, 
que  me  |iareco  quo  naiice  de  desejardes 
haver  batalha  com  qualquer  delles;  e 
porque  cada  um  ó  pêra  tanto,  que  nSo 
sei  HC  bastarão  porá  o  vencer  os  melho- 
res três  cavalieiro.s  desta  terra,  tirai-vos 
d'e8se  pensamento.»  Francisco  do  Mo- 
raes, Palmeirim  dlaglaterra,  cap,    106. 

—  «Isto  o  fez  a])ertar  tanto  com  os  ou- 
tros, quo  a  um  derrilx>u  uni  braçu  com 
a  espada,  o  quarto  deu  comsigo  no  mar, 
onde  com  o  peso  das  armos  foi  afogado,  t 
Ibidem,  cap.  ll.õ. —  «Que  posto  que 
n'ella8  o  desamor  seja  de  mais  dura  que 
o  amor,  vêl-o  perseverar  tanto  em  seu 
serviço  e  fazer  obra.s  muito  pêra  estimar, 
e  além  d'isso  ser  mancebo  e  gentil  ho- 
mem, que  ante  eíla  tinha  muito  preço, 
lho  voltou  algum  tanto  a  vontade,  e  fa- 
vorecia suas  cousas  com  alguma  mais  af- 
feição  do  que  sohia.»    Ibidem,  cap,    130. 

—  «E  estando  elHey  em  Almeirim,  vin- 
do iiuin  dia  da  caça  foy  assy  de  caminho 
a  casa  da  llaynha,  e  teue  com  ella  ajun- 
tamento :  a  llaynha  tinha  em  hum  Anel 
huma  esmeralda  de  inuy  preço,  que  muy 
estimaua,  a  qual  por  esquecimento  não 
tirou  do  dedo,  e  se  lhe  quebrou  em  pe- 
daços. E  quando  assi  a  vio  pesandolhe 
niuyto  disse  a  el  Rey :  Senhor,  a  minha 
esmeralda  com  quo  tanto  folgaua  he 
quebrada.»  Garcia  de  Rezende,  Chroni- 
ca  de  O.  João  II,  cap.  1, 


Da  Geometria  portentosas  Linhas, 

Em  que  tunto  s'e.xalta  o  engeuho  humano! 

J.    A.    DK   IHCF-DO,   VIAOEM   EXTÁTICA,   C*nt.    1. 


TÃO,  adv.  Vid.  Tanto.  — «Cada  um 
pGz  os  olhos  em  si  e  vendo  suas  armas 
rotas,  e  tão  forte  inimigo  diante,  n3o 
sabiam  que  esperassem,  senào  aqueile 
dia  ser  o  derradeiro  dos  que  tinham  de 
vida.  Pouco  80  detiveram  que  nào  tor- 
nassem a  sua  porfia,  não  podendo  soffrer 
tamanho  repouso.»  Francisco  do  Moraes, 
Palmeirim  dlnglaterra,  cjip.  3l). — «Eu 
estou  tão  espantado,  disso  Primaliào, 
que  todalas  cousas,  que  d"anted  sohia  ter 
em  muito,  se  devem  estimar  pouco  om 
comparação  desta.  •  Ibidem,  cap.  'ò6.  — 
«Eu  vos  digo,  disse  o  outro,  que  tão  of- 
ferecido  estou  a  me  perder  por  ellae,  que 
nào  partirei  daqui  sem  levar  o  escudo 
comigo;  e  folgiira  que  fora  por  batalha, 
pcra  mais  meu  gosto:  porem,  pois  nào 
acho  com  quem  a  taça,  leval-o-hei  sem 
cila ;  ao  monos  por  onde  lôr,  se  a  ima- 
gem delle  me  der  algum  caidado,  pondo 


TAO 


TAO 


TAO 


677 


os  olhos  nella  ficarei  logo  contente.))  Ibi- 
dem,   cap.  127. 

Estava  a  Ilha  á.  terra  tão  chegada, 
Que  um  estreito  pequeno  a  di\'idia : 
Uma  cidade  n'f'lla  situada, 
Que  na  fronte  do  mar  apparecia. 
oiM.,  LU3.,  cant.  4,  est.  103. 

—  «Todos  os  naturaes  da  terra  acudi- 
ram á  praia,  e  vendo  fazer  aquillo  a  hum 
homem,  que  hia  com  nome  de  Governa- 
dor, estavam  pasmados  de  cousa  tão 
feia.»  Diogo  de  Couto,  Década  4,  liv.  2, 
cap.  5.  —  «Soltaõ  Maliamude  Kev  de 
Cambava  era  tão  mào,  e  tão  cruel,  que 
aborrecia  a  todos  os  vassallos.  E  de  mui- 
tas brutalidades,  que  delle  se.contaõ,  só 
duas  diremos  pêra  prova  bastante  de  sua 
maldade. >  Idem,  Década  6,  liv.  10,  cap. 
16.  —  «E  eram  tão  contentes  do  modo 
deste  ganho,  que  partidos  alguns  juncos 
delles  pêra  sua  terra,  se  leixou  alli  ficar 
hum  filho  de  hum  Piloto  em  modo  de  Ca- 
pitão de  tó  cera  delles  a  ganhar  sua  vida 
naquellas  obras,  por  ser  mancebo  que  com 
a  oommunieaçào  dos  nossos  tomou  a  lín- 
gua, e  folgava  com  a  conversação  del- 
les.» Barros,  Década  2,  liv.  6,  cap.  6. — 
«E  para  notarmos  bem  a  causa  deste  tão 
desacustumado  estrondo,  nos  pusemos  a 
olhar  o  donde  procedia,  e  vimos  que  era 
de  aver  em  cada  huma  destas  casas  qua- 
renta fornalhas,  a  razão  de  vinte  por  ban- 
da, com  quarenta  bigornas  muyto  grades, 
em  cada  huma  das  quais  malhavão  oito  ho- 
mens a  cõpasso  tão  apressadamente,  que 
quasi  não  davão  lugar  aos  olhos  para  o  en- 
xergarem.» Fernão  Mendes  Finto,  Pere- 
grinações, cap.  96. —  «E  voltandose  para 
nós  nos  disse,  vós  outros  idevos  muyto 
embora,  e  a  menham  a  estas  horas  estay 
prestes  para  quando  vos  eu  mandar  cha- 
mar, e  com  isto  nos  fomos  todos  tão  con- 
tentes quãto  era  razão.»  Ibidem,  cáp. 
121. —  «E  dalli  foy  logo  para  sua  casa, 
aonde  com  grande  alvoroço,  e  contenta- 
mento deu  conta  do  que  passava  a  sua 
mulher,  a  seus  filhos,  e  parentes,  de  que 
todos  ficarão  muyto  alegres,  e  se  deraõ 
por  isso  muytas  ai  vi  caras  huns  aos  ou- 
tios,  como  entre  elles  se  costuma  em  des- 
posorios  tão  honrados  como  estes.»  Ibi- 
dem, cap.  199.  —  «E  por  mais  leys,  que 
se  façaõ  contra  esta  gente  taõ  perniciosa 
à  Republica,  naõ  hà  executallas,  ainda 
que  sobre  isto  se  fizeraõ  muitos  discui-- 
sos,  e  livros,  que  andaõ  impressos  pc)r 
muitas  partes  de  He^spanha. »  Sevei-im  de 
Faria,  Noticias  de  Portugal,  Disc.  1,  cap. 
6. —  «Pelo  que  em  corroboraçaõ  deste 
taõ  importante  intento  se  poderiaõ  orde- 
nar os  meios  seguintes,  com  que  se  aca- 
bariaõ  mais  casamentos  convenientes  para 
as  mulheres  nobres,  e  fidalgas.»  Ibidem, 
cap.  7. — «Nem  conti-a  isto  se  pôde  di- 
zer, que  se  assim  for,  naõ  quererão  os 
homens    casar  com  taõ   pequenos  dotes, 


porque  como  todos  forem  desta  sorte,  for- 
çosamente os  haò  de  aceitar,  como  ve- 
mos, que  acontece  hoje  a  todos  os  Mor- 
gados.» Ibidem. —  «He  taõ  necessária  a 
conservação  das  cousas,  que  igualmente 
as  produzio  a  natureza  com  os  meios  con- 
venientes para  sua  defensão.»  Ibidem, 
Disc.  2,  cap.  1. 

De  meus  avás  que  apresento 
atados  nestes  cordões. 
Ora  deixe-mc  co'o  cargo, 
cu  estudarei  t^io  largo 
que  no  estudo  faça  calo. 

AsroNio  PEESTES,  ACTOS,  pag.  151. 

Mais  vos  digo 
que  é  tão  diabo  comsigo 
este  mal,  quo,  mal  poccado ! 
maia  se  tira  ao  mal  cuidado 
que  ao  bem  que  é  mais  nosso  amigo. 
IBIDEM,  pag.  307. 

—  «As  quatro  filhas  de  Esculápio,  Hi/- 
gea,  Panacea,  Aegle,  e  Jaso,  forão  taõ 
adeosadas  na  Medicina,  que  o  Oráculo 
delia  Hippocrates  tomou  as  primeiras  duas 
por  testemunhas  da  sua  doutrina.  Appol- 
linem  medicum,  et  ^sculaplum,  Hygcuam- 
que,  ac  Panaceam  juro.  De  Aegle  e  Jaso 
fas  memoria  Hermippo;  e  de  todas  qua- 
tro, Pliiiio.»  Braz  Luiz  d'Abreu,  Portu- 
gal medico,  pag.  248,  §  74. 


Ei-lo  que  cita  Ciceros,  Yirgilios, 
Sobrados  rasgos  de  eruditas  plumas. 
Tão  longa  elle  estirou  sua  parlenda. 
Que  a  maldita  relê  teve  azo,  o  folga. 
De  o  vergel  cm  mil  partes  destruírem. 

FEANCISCO  MANOEL  DO  NASCIJIENTO,   FABULAS  DK 

LAFOSTAiNE,  lív.  3,  n.f  40. 


Do  fogo  que  despede  a  copia  ingente 
Não  lhe  enfraquece  a  força  igual,  eterna, 
Tão  luminoso  lírilha,  c  ferve  agora 
Como  ardeo,  fulgurou  no  instante,  e  dia 
Em  que  acodio  do  Xada  á  voz  do  Eterno. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUKEZA,  Cant.  1. 

—  Tão  grande;  graade  a  tal  ponto. — 
«Em  todo  Alentejo  he  taõ  grande  o  nu- 
mero de  homens,  que  desejaõ  aforar  ti- 
tulo para  huma  casa;  que  na  Freguesia 
da  Caridade  termo  de  Monçaràs  tem  o 
Cabido  de  Évora  huma  Aldeã  de  muitos 
moradores  numa  herdade  sua  deste  nome, 
e  cada  hum  destes  moradores  afoi-ou  ao 
Cabido  somente  o  sitio  para  fazer  a  casa, 
dando  cada  anno  do  foro  hum  cruzado 
por  elle.»  Severim  de  Faria,  Noticias  de 
Portugal,  Disc.  1,  cap.  õ. —  «Foi  dei 
E,ei  D.  Sebastião  particular  acceito,  tian- 
do-lhe  os  maiores  negócios,  e  lugares  do 
Reino ;  fez  diversas  embaixadas  a  Castel- 
la,  França,  Roma,  e  Saboya.  Foi  do  Con- 
selho do  Estado,  e  único  Veador  da  Fa- 
zenda :  e  entre  cargos  tão  grandes,  aca- 
bando valido,  moiTeo  pobre. »  Jacintho 
Freire  d'Andrade,  Vida  de  D.  João  de 
Castro,  liv.  4. 


—  A  tal  ponto,  em  tanto  modo. — 
« Hum  homem  honrado  disse  hum  dia  a  el 
Rey  mal  doutro,  dizendo,  que  sendo  ca- 
sado com  huma  muyto  honrada,  e  muvto 
boa  molher,  era  tão  mao  que  tinha  vinte 
mancebas. »  Garcia  de  Rezende,  Chronica 
de  D.  João  II,  cap.  103.  —  «Mas  dirmeis 
que  ainda  que  a  Cruz  de  Christo  prometa 
todos  esses  bens,  que  he  tão  espantoso  o 
nome  delia  por  quão  significador  he  de 
trabalho,  que  he  para  espantar  auer  pou- 
cos que  a  sigão.  Ao  que  vos  responde  S. 
Basílio  por  mym,  dizendo  que,  Tristium 
fost  Cnicem  Domini  vnitata  est  natura 
rerum.y»  Paiva  de  Andrade,  Sermões, 
pag.  246. 

Para  moço  d'esta  clima, 

porque  em  tão  máo  não  se  alague, 

do  pão  fazer-lhe  azorraguc. 

ANTÓNIO  PBESTES,  AUTOS,  pag.  435. 

E  mais 
ha  de  ir  tão  das  ai-riladaa, 
tão  preites... 

IBIDEM,  pag.  459. 

—  «Vemos  maridos  tão  industriosos, 
que  neste  mesmo  accidente  desgraçado, 
achão  os  meyos  de  fazer  fortuna,  mudan- 
do os  cornos  imaginários  em  Cornucopias 
do  verdadeyra  abundância.»  Cavalleiro 
de  Oliveira,  Cartas,  liv.  1,  n.°  12. 

—  Tão  apressadamente ;  com  tanta  pres- 
sa. —  «Alem  disto  achamos  a  El  Rey  ca- 
sado outra  vez  com  a  Infàta  Dona  Te- 
resa Florentina,  filha  de  Dom  Sacho 
Abarca  Rey  de  Navarra,  tão  apressada- 
mente, que  ou  Artiga  viveo  pouco  casada 
com  El  Rey,  ou  naò  foy  mais  amiga  sua; 
quo  a  meu  ver  he  o  mays  certo.»  Monar- 
chia  Lusitana,  liv.  7,  caji.  21. 

—  Tão  louco;  louco  a  tal  ponto. 

Folguei  d'espreitar  aquelle  compadre, 

mas  nào  tão  louco 

que  descubra  mais  ser  elle. 

ANTÓNIO  PBESTES,  AUTOS,  pag.  253. 

—  Tão  particularmente;  com  tanta 
particularidade. —  «Dom  Francisco  de 
Almeida  posto  que  naõ  teuesse  sabido  taõ 
particulamente  a  successaõ  destes  Reys 
como  ora  contamos :  todavia  per  Maha- 
med  Anconij  soube  como  o  pouo  não  es- 
taua  muito  satisfeito  deste  Habi-aemo,  e 
quanto  todos  desejauaò  aleuantar  Rey 
íjue  fosse  mães  chegado  a  linhagem  ver- 
dadeira delles,  e  a  causa  porque  o  so- 
friaõ.»  Barros,  Década  1,  liv.  8,  cap,  6. 

• —  Tão  pouco.  —  «E  disseraõ  para  o  Mi- 
taquer,  inda,  senhor,  que  os  não  manda- 
ras vir  ante  t}'  para  mais  que  para  lhe 
matares  a  fome,  por  não  morrerem  á  min- 
goa,  como  parece  que  ouvera  de  ser,  não 
fizeste  tão  pouco  que  não  fosse  ganhares 
esses  nove  escravos,  que  para  te  servirem 
em    Lãçame  te  hão  de  ser  muyto  bõs,  e 


G78 


TAPA 


TAPA 


TAPE 


f|iiii;á  (|uo  taiiilxiu  para  os  venderes  por 
mais  de  mil  tacis,  du  (|iial  dito  Imiis  e  os 
outros  estivera^  entro  sy  írraucjíído  Imm 
prando  espaço. «  F(!rn?lo  Mondes  1'iuto, 
Peregrinações,  eap.  11!). 

—  Tão  jjrct:les ;  tão  [)roinpto.  —  «E  o 
capitão  com  a  mais  frente  que  pode,  por- 
que nílío  poderiílo  táo  prustes  desembar- 
car, foy  dar  sobre  elles,  com  os  quaes 
pelejou,  o  sendo  os  Mouros  muyto  mais 
08  desbaratou  todos,  e  matarito  nouccen- 
tos  Mouros,  e  forilo  niuvtos  feridos,  c  ca- 
ptiuariío  quatrocentas  almas,  iiomuns,  c 
molherc^,  (]ue  trouxerJln  a  esto?  Revnos 
com  muytos  cauallos,  o  outro  nuivto  des- 
pojo, c  isto  sem  nenhum  perij^o  dos  (Jhi-is- 
t.^os.»  Garcia  de  Rezende,  Cnronica  de 
D.  João  lí,  t-ap.  G7. 

—  Tão  cedo. 

Nâo  leva  cila  a  nomeada 
ião  cedo  ;  uão  digo  iTida, 
caio-mc,  que  inorrem  muito. 

ANTÓNIO  PBKSTES,  AUTOS,   pjlg.  389. 

—  Tão  alto;  alto  a  tal  ponto.  —  «De 
agradecimento,  por  se  dij^nar  este  Senhor 
do  o  admittir  em  sua  presença,  e  de  o 
chamar  para  exercício  taõ  alto,  e  que  he 
próprio  dos  Anjos.»  Padre  Manoel  Ber- 
nardes, Exercícios  espirituaes,  pag.  21. 

TÃOBEiVI,  <^/i',  Vid.  Também,  ortho- 
grapliia  mais  om  uso. 

TÃOSOMENTE    Vid.  Tamsomenle. 

1.)  TAP4.  A-.  /.  Tcjmo  de  alvcitaria. 
A  primoira  das  quatro  paries,  de  que 
consta  o  casco  das  bestas. 

—  Te/mo  de  artilheria.  Espécie  de 
taco  á  feiçào  da  bocca  da  peça,  com  en- 
feites torneados  e  tiul,  que  se  liga  á  man- 
gueira da  mesma  peça;  serve  de  a  tapar, 
a  Hm  de  que  não  ent.-e  humidade  que 
inutilise  a  carga. 

2.)  TAPA,  s.  ,.i.,  ou  /.  (Do  franocz 
tape). —  Um,  ou  uma  tapa;  uma  bofeta- 
da, golpe;  d'aqui  vem  tapa-6t»cca,  tapa- 
olhis,  etc. 

TAPA-BOCA,  ou  TAPA-BOCCA,  s.  f. 
Pancada  para  fazer  calar. 

—  Figuradamente :  Cousa  que  impõe 
silencio. 

TAPADA,  s.  /.  Cerca  de  arvoredo,  e 
matta  onde  se  cria  caça,  tapada  com  muro, 
ou  parapeito.  Vid.  Parque,  Coutada,  e 
Cerrado. 

TAPADEIRO,  s.  iu.  Tampa. 

TAPADO,  [nirt.  pass.  de  Tapar.  Co- 
berto com  tampa.  —  «Outros  vimos  tajii- 
bem  de  outra  seita  que  se  chamarão  Ta- 
xilacoens,  que  morrem  inda  muyto  mais 
bestialmente  que  todos  estoutros,  porque 
se  metem  em  lapas  uuiyto  pequenas,  e 
muyto  tapadas  que  ja  para  isso  tem  fei- 
tas ao  propósito  de  sua  tenção,  o  fazendo 
dentro  grandes  fumaças  de  cardos  e  ra- 
mos do  trovisco  verde  se  deisaõ  assi  afo- 
gar.» Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  161. 


—  Mídhtr  tapada ;  mulher  incapaz  ])ara 
o  coito,  tendo  tapada  a  entrada  da  natu- 
reza. 

—  Embuçado,  com  o  rosto  coberto. 

—  Fechado. 

Ilu/.ilo,  rica  tella 

parccu-tc  bum  asai  n'csta  sela  ? 

c  tua-H  Tot  'iicias  ii  \w.a  de  pnccados, 

ali!  baixos  descuido.^,  ali !  olhoj  lunwlot 

cheioi  de  nuvuiis,  de  cal,  do  remela. 

AVrOMIO  riESTEg,  AUTOS,  pag.  09. 

—  <iNo  Levitico  se  mandava,  que  o 
lionic.n  leproso  tivesse  a  cabeça  de.scu- 
berta,  e  os  vestidos  descozidos,  e  a  boca 
tapada  com  os  mesmos  vestidos :  Habebit 
Vtistimc^.ita  disauta,  caput  nudum,  os  ves- 
ti: coutectum.  Toda  a  virtude  imperfeita 
tem  suas  noilaa  de  leprosa:  e  para  estas 
se  curarem,  devem  descobrir-oc,  tapando 
juntamente  a  bocca  para  a  desculpa  de'- 
las.»  Padre  Manoel  Bernardes,  Flores- 
ta, pag.  22. 

—  Tecido  bem  fechado.  —  Panno  ta- 
pado. 

—  Amor  tapado. 

Anioi  topado  parece 
([ue  é  filho  d'atafoneiro, 
e  que  traz  algum  argueiro. 

ANTÓNIO  i-iiESTEs,  AUTOS,  pag.  425. 

—  S.  f.  pluv.  As  embuçadas,  meretri- 
zes. 

TAPADOR,  s.  ;«.,  ou  TAPADOURA,  s.  f. 
Peça  do  tapar. 

—  Tapador  da  caldeira. 

—  Ce<ta,  paiicUa,  testo. 
TAPADOORO,    s.    m.    Peça    do    coche, 

que  está  na  ponta  do  eixo,  e  sáe  fora  da 
ruda . 

TAPADUR4,  í.  /.  Vallado,  tapigo,  ta- 
pume, sebe,  qualque.-  cerca  de  quinta. 

TAPAEMBORNAES,  s.  m.  plur.  Termo 
de  náutica.  Peças  de  couro  que  tapam  os 
emboru:'es  por  fora,  para  não  entrarem 
por  elle-;  as  ondas. 

TAPAGEM,  s.  /.  Tapigo,  tapume,  cer- 
ca de  agro,  ou  quinta.  Vid.  Tapume. 

—  Cerca  de  defensão  militar. 

—  No  Brazil  chamam  tapagem  a  quo 
se  faz  com  varinhas  nos  rios,  onde  se 
lançou  coca,  ou  tinguí  para  metter  nos 
vãos,  covos,  ou  giquis,  onde  o  peixe  vem 
cair. 

TAPAMENTO,  s.  m.  Tapigo,  tapume, 
cerca  de  sebes. 

—  Parede  de  tapamento ;  parede  que 
divide  os  quartos,  e  camarás  umas  das 
outras,  e  tapam  cm  redor  a  sua  capaci- 
dade. 

—  Tijolo  de  tapamento ;  tijolo  propor- 
cionado para  as  paredes  de  t:ipamento,  e 
uso-i,  pouco  largo.  Vid.  Tabique. 

TAPAOLHO,  i.  »i.  Termo  popular.  Bo- 
fetão pe'os  olhos. 

TAPAR.  V.  a.  Cobrir  com  tampa,  ou 
tapadoura. 


—  Encí)brir,  occultar,  fechar.  —  *A 
bocca  do  peccador  tapa  a  «ua  maldade, 
quando  a  pertondc  escu-iar:  e  a  maldade 
tapa  a  bocca  do  peccador,  quando  peU 
mesma  escusa  o  acabou  de  convencer. 
(Jom  que  o  seu  cscudo  se  torna  em  lan- 
ça, e  a  desculpa  om  nova  culf>a.>  Padre 
Manoel  Bernardes,  Floresta,  j<ag.  2H. 

—  Tapar    a    bocca    a    alguém ;   fazel-o 
calar,   com   peita  ou  razão  convinc«ntf, 
fazer  que  «e  não  queixe,    ou  quo  nâo  r 
prehenda  aquelle  a  quem  se  tapa  a  bocca. 

.Movo,  (|ucr«:8-rae  matar? 
Quf  dciculpa  pos.io  cu  dar 
Melhor  qu'iMtc  meu  cuidado? 
E  iiào  ha  mais  que  fawrV 
Com  ÍA8o  a  boca  me  tjpa 
Para  mais  onda  dizer  V 
cAH.,  AMPavraiôes,  act.  ã,  ac.  4. 

—  Encobrir,  fechar,  escurecer. 

Não  as  rirão  Timi^carea,  e  Hiparco, 
De  Pitheas  os  cálculos  falharão. 
A  vista  lhes  tapou  ncvoa  sombria 
Qu'  em  séculos  depois  rompeo  o  acaso. 

J.  A.  ca  MACEDO,  A  RATCBEZA,  Cant.  1. 

^fas  SC  O  frio  he  maior,  cândidos  víllos 
Couduzidos  do  vento  os  campoé  cobrem, 
Quando  o  Inverno  di-sprcg:i  inertuj  azas, 
Com  triste  escuridão  tapando  os  ares. 

ID£U,  VIAOEU  EXTÁTICA,  Cant.    1. 

—  Tapar  a  bocca  a  alguém;  iazel-o  ca- 
lar com  medo. 

—  Cerear  com  sebe,  grades,  muros, 
paredes. 

—  Tapar  a  casa  de  taipa  de  sebe  com 
barro  nos  vãos  da  grade. 

—  Figuradamente  :  Tapar  o*  olhos  d 
consideyai;ão  do  perigo;  desattender,  nSo 
querer  reflectir,  fechar  os  olhos. 

TAPEÇARIA,  s.  f.  Os  panuos  da  arma- 
ção, e  concerto  das  casaé,  colgaduras, 
tapizus,  usados  de  commum  pelo  inver- 
no. Vid.  Tapeceria. 

—  Figuradamente :  A  relva,  e  flores 
do  prado.  —  •  Entrados  na  cova  estes  ca- 
valleiros  e  outros  muitos,  acharam-na  tão 
grande  em  si,  que  parecia  um  labyrin- 
tho,  e  da  uma  e  da  outra  parto  estava 
toldada  de  tapeçaria,  em  que  aquelles 
tão  preçadod  inlantes  Palmeirim  e  Flo- 
riano  tanto  tempo  se  criaram,  que  eram 
pelles  d.alimaria.'*,  que  o  Salvage  e  seus 
íeiJes  tinham  mortas  yor  espaço  de  mui- 
tos dias,  que  nella  viveram.»  Francisco 
de  Moraes  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap. 
40.  —  «E  polas  tori-es,  e  muros,  e  luga- 
res mais  altos  da  Cidade,  e  Villas  aoia 
muytas  bandeyras  de  suas  cores  e  armas, 
e  muyt03  tiros  do  fogo,  que  em  chegando 
todos  juntamente  tirauào,  e  muytas  feòtas 
e  folias  de  homens  e  moças  muyto  bem 
vestidas,  e  as  ruas  armadas  de  tapeça- 
rias, enramad.as,  e  espadanas.»  Garcia 
de  Rezende,  Cbronica  de  D.  João  II, 
cap.  121. 


TAPI 


TARA 


TARD 


679 


TAPECEIRO,  í.  m.  O  que  faz  tapece- 
rias. 

TAPECERIA,  s.  f.  Yid.  Tapeçaria. 

TAPERA,  s.  /.  Termo  do  Brazil.  Quin- 
ta, ou  fazenda,  que  algum  tempo  se 
grangeou,  e  que  depois  se  abandona,  e 
deixa  fazer  matto,  ou  sapezal,  por  can- 
çada. 

TAPETADO,  pai-í.  pass.  de  Tapetar. 
Vid.  Tapizado. 

TAPETAR,  V.  a.  Vid.  Tapizar. 

TAPETE,  s.  m.  Alcatifa  de  cobrir  o 
solho  da  casa,  bancos,  escadas,  etc.  To- 
ma-se  po/  peça  com  que  se  faz  e  co- 
bre a  cama,  á  maneira  dos  gregos  e  ro- 
manos. —  «E  em  toda  a  mais  largura  da 
casa  estavão  assentadas  em  alcatifas  e 
tapetes  ricos  murtas  molheres  moças 
muvto  alvas  e  muvto  fermosas,  qre  se- 
gundo o  esmo  dos  nossos,  seriào  mais  de 
duzentas.  Esta  casa,  assi  na  maravilhosa 
fabrica  delia,  como  na  grande  ordem  e 
concerto  de  tudo  o  que  nella  avia,  affir- 
mo  em  verdade  que  representava  huma 
tão  rica,  tào  horosa,  e  tão  extraordinária 
magestade.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pere- 
grinações, cap.  162. 

TAPIA,    5.  f.  Taipa. 

TAPIA  DO  "brazil,  ou  PÉ  DE  MORTO, 
s.  Ml.  Termo  de  botânica.  Arvore  da 
America.  O  fructo  d'esta  arvore  é  pare- 
cido com  a  laranja. 

TAPIGO,  s.  m.  Sebe  de  matto  travado, 
tapagem.  Vid.  Tapume. 

— ■  Tomadia  que  se  faz  nas  terras  dos 
concelhos. 

—  Pôde  ser  também  pejamentos  de 
baldios,  ou  tomadas,  e  usurpações  com 
cercas,  dos  pascigos,  e  logradouros  ge- 
laes,  e  do  commum,  ou  concelheiro. 

—  Tapigos  de  boccas  de  ruas,  para  as 
i^efender  ao  inimigo;  tranqueira,  tran- 
quia,  atalho,  cortadura  que  veda  a  en- 
trada como  os  das  lavouras  as  vedam  do 
gado,  que  as  destrua. 

TAPIOCA,  s.  /.  Bolo  feito  da  gomma 
de  mandioca  meio  secca,  cozido  no  forno 
de  cozer  a  farinha. 

—  Bolo  de  tapioca,  farinha  de  tapio- 
ca ;  bolo,  farinha  da  dita  massa,  ou  gom- 
ma que  assenta  na  manipueira  espremida 
da  mandioca  ralala,   ou  moida. 

TAPIRETE,  ou  ANTA  DO  BRAZIL,  s.  »i. 
Termo  de  historia  natural.  Animal  da 
America  meridional. 

TAPIZ,  *.  m.  Vid.  Colgadura,  e  Tape- 
çaria. 

TAPIZADO,  part.  pass.  de  Tapizar. 
Ornado,  coberto  com  tapiz. 

—  Figuradamente  :  A  terra  tapisada 
de  boninas. 


Na  Terra  tapizada  de  boninas, 
Surgem  Seres  orgânicos,  e  nova 
Xo  local  movimento  a  vida  mostrào ; 
A  fórina  he  varia,  o  numero  infinito, 
A  formosura,  o  talhe,  o  gesto  assombra. 

J.  À..   DE  JIACEDO,  i.  KATUBEZA,  Cant.    1. 


TAPIZAR,  V.  a.  Ornar,  cobrir  com  ta- 
piz. 

—  Figuradamente  :  Tapizar  a  terra  de 
boninas, 

TAPONA,  s.  /.  Termo  popular.  Panca- 
da forte,  que  se  dá  para  causar  dor. 

TAPULHO,  s.  ?/».  Peça  com  que  se  ta- 
pa, ou  r.Ulia. 

TAPUME,  s,  m.  O  mesmo  que  tapa- 
gem, 

põe  tapume  a  fonte  limpa, 
nada  a  tudo,  tudo  a  nada, 
são  emfim  estes  perfiz. 

AHTOKIO  PRESTES,  ACTOS,  pag.  303. 

TAPUYA,  s.  2  gen.  Gentio  do  Brazil. 

TAQUARA,  s.  /.  Canna  brava  do  Bra- 
zil, taboca,  mais  grosseira  que  as  da  Eu- 
ropa. 

—  Taquara  açú;  mui  grande  em  altu- 
ra de  muitas  varas,  gi-ossa  e  solida,  em 
cujo  Oco  os  Índios  guizam  comer,  e  d'el- 
las  se  fazem  escadas  seguras,  e  mui  le- 
ves para  armar  egrejas,  e  edifícios  mui 
elevados. 

TAQUARAÇÚ,  s.  m.  No  Brazil  dá-se 
esta  denominação  á  bambueira. 

TAQUARAL,  s.  m.  Selva  de  taquaras, 
tabocal. 

taquígrafo,  í.  m.  Vid.  Tachigra- 
pho,  orthographia  mais  correcta. 

TARA,  s.  /.  O  abatimento,  que  se  dá 
pela  estimativa  ao  peso  de  algum  género 
em  razão  da  caixa,  sacco,  ou  outra  capa 
em  que  vem  guardado,  e  incluso,  e  den- 
tro do  qual  se  pesa  a  tara  das  caixas, 
ou  caixões  d'assucar,  dos  saccos  de  café, 
etc.  Em  certos  volumes,  fardos,  e  caixas 
a  tara  vai  marcada,  indicando  o  que  a 
capa,  sacca,  ou  caixão  pesou  antes  de  se 
enfardarem,  ensaccarem,  encaixarem  os 
effeitos. 

—  Figuradamente:  Falha,  quebra. 

TARABELHO,  s.  ?íí.  A  peça  de  madei- 
ra, que  tem  a  cabeça  embebida  no  cairo, 
ou  corda  da  serra,  e  serve  de  a  arrochar, 
e  apertar.  Vid.  Trebelho,  que  é  diôe- 
rente. 

TARACENA,  s.  f,  Vid.  Tercena,  termo 
mais  em  uso. 

TARALKÃO,  s.  m.  Termo  de  historia 
natiu'al.  Nome  de  uma  ave  vulgar. 

—  Loc.  POP. :  Metter-se  a  taralhão; 
tornar-se  faceto,  engraçado,  entremetter- 
se  a  dar  regras,  onde  não  deve  fazer, 

TARAMBOLA,  s.  /.  Termo  de  historia 
natural.  Nome  de  uma  ave. 

TARAMBOTE,  s.  m.  Termo  popular. 
Musica  lie  vozes  e  instrumentos. 

TARAMELA,  ou  TRAMELA,  í.  /.  Peça 
de  pau,  que  gyra  sobre  um  prego,  e  ser- 
ve de  fechar  armários,  etc, 

—  Termo  de  náutica.  Pedaço  de  ma- 
deira que  se  prega  pela  parte  superior 
da  retranca,  e  lhe  serve  de  cunho,  para 
que  ella  se  conserve  na  situação  devida ; 
é  também  um    pedaço    de  prancha,    que 


assenta  sobre  a  retranca,  para  qtie  elle 
não  mude  a  sua  devida  situação;  é  pre- 
gada no  pródigo,  e  passando  pelos  chas- 
sos,  vai    terminar   no    costado  do  navio. 

—  Nos  moinhos,  é  taboa  pendente  so^ 
bre  a  roda,  e  produz  som,  em  quanto  el- 
la se  move.  Vid.  Citola. 

—  Soltar  a  taramela;  começar  a  fal- 
lar. 

—  Loc.  POP.:  Dar  á  taramela;  fallar 
muito. 

TARAMELAR,  v.  a.  Vid.  Taramelear. 
TARAMELEADO,  part.  pass.  de  Tara- 
melear. 

—  Visita  tarameleada  ;  visita  em  que 
se  deu  muito  á  taramela. 

TARAMELEAR,   v.  n.  Fallar  muito, 

— -  Dar  á  taramela. 

TARAMP ANTÃO,  s,  m.  Voz  feita  por 
onomatopeia,  para  imitar  o  som  de  um 
tambor. 

TARANTA,  s.  /.   Um  bicho. 

—  Insecto   volátil    comprido,  e  negro. 

TARANTELLA,  s.  f.  Termo  de  medici- 
na. Composição  musica  de  som  violento, 
para  dança,  com  que  antigamente  se  ti- 
nha por  certo  curarem-se  os  mordidos 
da  taiantula. 

TARÂNTULA,  s.  /.  (Do  latim  tarântu- 
la). Termo  de  historia  natural.  Aranha 
ve-ienosa,  cuja  mordedura  produz  effei- 
tos extraordinários ;  dizem  que  se  cui-a 
com  certos  sons  musicaes, 

TARAR,  V.  a.  (De  tara,  com  a  termi- 
nação verbal  «ar»).  Pesar  o  caixão,  sac- 
ca, ou  capa  do  género  que  se  encaixa  e 
vende  a  pes',  para  abater  a  tara  no  peso 
do  que  se  contém,  que  deve  ir  marcada 
na  cabeça  da  caixa,  no  fardo,  sacca,  etc, 

TARAS ANA>  s,  /.  Vid.  Taracena. 

TARASCA,  s.  /.  Mulher  feia,  e  de  má 
condição. 

—  Termo  popiilar.  Espada  velha. 
TARCÊNA,  s.  f.  Armazém.  Vid.  Ter- 
cena. 

TARDADA,  s.  /.  Tardança,  detença, 
demora. 

TARDADOR,  A,  adj.  Que  tarda,  que 
faz  tudo  com  delongas. 

—  Vagaroso,  moroso,  procrastinador, 
passeiro.  Vid.   Tardão. 

TARDAMENTE,  adv.  (De  tardo,  com 
o  suffixo   «mente»).  De   um   modo  tardo. 

—  Com  vagar,  vagarosamente,  com 
tardança. 

N,  TARDAMENTO,  s.  m.  Delonga,  deten- 
ça, demora. 

TARDANÇA,  s.  f.  Delonga,  vagar,  tar- 
aança,  demora.  —  «E  se  em  pendendo  a 
condiçom  a  cousa  vendida  fosse  peiorada, 
ou  dapnificada  em  alguma  parte,  e  des- 
pois  fosse  a  condiçom  comprida,  todo  o 
dapnificamento  e  peioria  perteenceria  ao 
comprador  :  salvo  se  o  vendedor  fosse  em 
mora  e  tardança  d'entregar  a  cousa  ao 
comprador.»  Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit. 
4G,  §  3. — -«Ca  em  tal  caso  pola  culpa 
da  tardança,  em  que  o  dito  vendedor  foi, 


680 


TARD 


TARD 


TARD 


encosta-so  a  elle  com  o  (lapnificiímonto, 
que  fleapois  aconteceo  aa  cousa  voinlitla 
ante  «la  condiçom  coiupri'la.»  Ibidem.  — 
«Ao  que  tlizois  que  coiiHiiita  qui;  Liuiiar- 
da  venha  estar  em  iniulia  cana,  e  (|ue 
ii'ella,  case,  eu  n2o  faço  nenlium  serviço 
a  ella  nem  á  raiulia  Carnuilia ;  autos  re- 
cebo a  maior  mercê  c  honra  que  nunca 
foi  feita;  e  quanto  maior  fôr  .sua  tardan- 
ça, mas  afípravo  so  mo  faz.»  Kiancisco 
de  Jloracs,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap. 
104. 


Bom  6  pormos  cá  lembrança 
ond«  logo  03  olhos  firain  ; 
alcmbrjir,  fazermos  lan(,'a 
a  dc:<ciiiclos  da  tardatu^a 
que  cA  do  carnaz  nos  viram. 

ANTÓNIO  PUBSTES,  AUTOS,  pag.  14. 


A  gravoza  da  dôr  então  o  obriga 
A  doixar  algum  tompo  o  quo  pprtcndo, 
Do  novo  estimulada  a  fúria  antiga 
Se  lho  alevanta  cm  dobro,  se  lhe  acende, 
E  asai  tanto  que  a  dôr  se  lho  mitiga 
E  o  mal  quo  antes  sontia  pouco  otteudo, 
Nào  faz  hum  só  momento  de  tardança 
Para  tomar  do  novo  mal  vingança. 

FRANCISCO   DE   ANDRADK,  mi.MEIRO   CERCO  DB   niC, 

caut.  10,  est.  8a. 


—  A  acção  lio  tarilar. 

TARDÃO,  ONA,  ou  ÔA,  s.  ou  adj.  Vid. 
Tardador. 

TARDAR,  V.  11.  (Do  latim  tardare). 
Kào  chegar,  não  succeder  dentro  do  tem- 
po dado,  ou  cm  quo  se  esperava,  e  é  suf- 
liciente. —  «O  gigaute  Almourol  espan- 
tado da  braveza  da  batalha,  como  aqucl- 
le  que  nunca  vira  ontra  tal,  e  levamlo 
as  novas  delia  a  Jliraguarda,  nào  tardou 
muito  que  a  uma  janclla  se  poz  um  pano 
de  seda  broslado  de  troços  d'ouro,  pcra 
dalli  a  estar  vendo,  acompanhada  de  suas 
donas  e  donzcllas.n  Francisco  do  Moraes, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  60.  —  o  Não 
tardou  muito  que  ;i  porta  do  cerco  che- 
gou Bclisarte,  filho  de  Belcar,  armado 
de  armas  de  pardo  e  branco,  no  escudo 
em  campo  branco  um  Sagitário  com  um 
arco  nas  mãos.»   Ibidem,  cap.  83. 

Não  piíde  muito  tardar 
Nova  SC  ha  de  toruar 
Nos3'amo  pêra  a  pousada. 
Asinha. 

Três  annos  ha 
Que  partio  Tristão  da  Cunha. 

OIL  VICENTE,   FARCAS. 

—  «E  que  segundo  nova  elle  u.ão  po- 
deria tardar,  porque  ilanl  Rcc  seu  imi- 
go  que  lá  andava,  o  apressava  muito  com 
a  nova  que  tinha  do  elle  querer  jiassar  a 
Tartaria.n  Barros,  Década  1',  liv.  10, 
cap.  li. 

—  Vir  tardo. 

—  Haver-so  com  tardança. 


—  Domorar-se,  dilatar-se. 

!'oia  tanto  tarda  o  prajicr, 
K  tunto  dura  o  pczar, 
iíouvoni  Dtxjs  do  fazer 
Que  o  pezar  pudera  sor 
1'razor  p«ra  «o  lograr. 

OIL  VICE.NrH,  rAUi,A». 

.Muito  tarda  o  meu  volhcte  ; 
amisad>'fl  Invauí  dia ; 
coino  lua  já  dormia  ; 
é  corto  que  ha  cá  banquete 
hoje  á  minha  levcria. 
ANTÓNIO  rBESTEs,  AUTOS,  pag.  273. 

—  «Meu  Deos,  Ucão  tardeis  tanto  :  ac- 
celeray-vos,  e  tiray-mo  desta  terra  de 
misérias :  morra  eu  para  vos  ver,  e  vcja- 
vos  para  viver  eternamente.  Oh  vida 
morta  acaba  de  morrer,  para  quo  eu  co- 
mece a  viver  a  vida  viva.»  Tadre  ^la- 
nocl  Bernardes,  Exercícios  espirituaes, 
pag.  bb. 

—  V.  a.  Espaçar,  procrastinar,  demo- 
rar, retardar. 

1.)  TARDE,  í.  /.  O  espaço  do  dia,  des- 
de o  meio  dia  até  á  noite.  —  «Comtudo, 
cilas  o  dctivei-am  alguns  dias,  no  tiui  dos 
quaes  se  diz,  que  uma  tarde  chegou  ao 
valle,  onde  o  castello  dArnalta  no  reino 
de  Navarra  estava  assentado,  e  foi  a  tem- 
po que  a  mesma  Ai-nalta  com  .suas  da- 
mas saíra  á  caça  d'esmerilhõe3,  o  estive- 
ra presente  a  uma  batalha  em  que  Dra- 
goualte  filho  do  duque  Drapos,  vencera 
um  cavalleiro,  que  nào  quizera  conceder 
nas  condições,  com  quo  elle  guardava  o 
valle.  p  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
d'Ingiaterra,  cap.  130.  — «Peró  como 
Lourenço  de  Brito  a  tudo  estaua  proui- 
do,  posto  que  o  dia  foi  do  grande  traba- 
liio,  e  o  combate  durou  atè  a  tarde : 
aprouue  a  Deos  que  todo  aquellc  grande 
ajiparato  e  estrondo  que  os  Mouros  tra- 
ziào  se  tornou  cm  seu  danno;  por  que 
pella  parte  da  terra  ainda  que  vieraõ  pe- 
lejar com  os  nossos  a  mão  tenente  que- 
rendo subir  per  as  tranqueiras,  foi  tanta 
a  mão  decepada  delles  que  ali  ficou  e 
tantos  03  corpos  espedaçados  da  artelha- 
ria,  que  fez  arredar  os  traseiros.»  Bar- 
ros, Década  2,  liv.  1,  cap.  5.  —  «Du- 
rando assi  o  combate,  ja  sobela  tarde 
anilando  eido  Mançor,  capitam  da  cida- 
de, que  alli  tinha  Moleizeam,  como  seu 
soldado,  animando  os  seus  sobelo  muro 
lhe  derào  do  nosso  campo  com  hum  tiro 
de  bombarda  pelos  peitos.»  Dami.ào  i!e 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  })art.  3, 
cap.  47.  —  «As  cinco  hoias  da  tarde  des- 
amarramos da  lUui,  e  tanto  que  a  per- 
demos do  vista,  indo  demandar  a  Arábia 
nos  acalmou  o  vento  de  tal  modo,  que 
não  andamos  em  oyto  dias  corenta  le- 
goas,  nos  «luacs  os  marinheyros,  porque 
o  Bangayo  andaua  pouco,  o  assoytauào 
com  cabos  de  corda-s,  dcshonrando  com 
palauras  injiu-iosas,  o  mal  cõpostaa,  por 


80  fazer  zorreiro,  e  perguiço»o,  como  fa- 
zem os  N.iyres  na  Índia  aos  Elephan- 
te.-i.»  Frei  (lasfiar  de  S.  iV-rnardiíio,  Iti- 
nerário da  índia,  cap.  10.  —  tMaie  abay- 
xo,  estaua  a  ossada  de  huma  Cidade  sem 
huuia  casa  inteira,  nem  gcfito  uella.  Ao 
outru  dia  a  tarde  di;suobriraos  do  bum 
alto  a  Cidade  Autiochia,  da  qual  foy  na- 
tural Sam  lo.ào  Chry.«ist(>mo,  o  o  Euan- 
gclista  Sara  Luca.s.«  Ibidem,  cap.  2'À, 


Amo  d  Outono  os  dia.3  duvidoso-t ; 
A  pallidcz  mistura  a  luz,  e  a  sombra 
Quando  na  tardf.  languida  «'embuça 
O  claro  Cco  de  acastelladiis  nuvens 

J.  A.  DR  UACEDO,  A  NXTCBKZA,  CADt.  1. 


2.)  TARDE.  Substantivo  ujsado  adver- 
bialmente.  Fora  do  tempo  em  que  devia 
vir,  fazer-se,  acontecer;  diz-so  ciu  opposi- 
çào  a  cedo,  — «Andando  Francisco  Dalbu- 
querque  occjpado  nesta  obra  quatro  dias 
(iepois  de  ser  começada,  chegou  Afuoso 
Dalbuquerque  a  Cochim,  com  as  suas  trea 
iiaos,  c  a  gente  asaz  bem  disposta,  posto 
que  na  viajem  passa.^sem  muitas  tormen- 
tas, e  tempos  contrairos,  quo  lhe  estua- 
ram chegar  tão  tarde,  com  cuja  vin  ia 
.so  acabou  a  fortaleza  com  môr  brcuida- 
de. »  Damião  de  Gocs,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  3,  cap.  47.  —  t A  fortiti- 
caçiaõ  doa  lugares  maritimos  começou 
ncsto  Rcyno  mais  tarde ;  porque  como 
naquelle  tempo  havia  poucas  mercancias, 
e  comércios  com  os  Estrangeiros,  naò  ti- 
nhaõ  03  Cossarios  em  que  fizessem  suas 
prezas.»  Severim  de  Faria,  Noticias  de 
Portugal,  Disc.  2,  cap.  12. 

—  De  tarde  em  tarde ;  de  longe  a  lon- 
ge, com  iutervallo  de  tempo  em  meio. 
—  Fazer  uma  cousa  só  de  tarde  em  tar- 
de. —  «Ho  mesmo  acontece  também  nas 
revistas  antes  desta  derradeira.  Quando 
querem  executar  esta  justiça,  como  seja 
cousa  que  se  nam  faz  se  mim  de  tarde 
em  tarde  ahi  grande  terror  em  todos  os 
da  cidade,  e  andam  atemorizados.  Fe- 
cham-se  todas  as  tendas  nam  se  vende 
nada,  nem  trabalha  uinguem.»  Frei  Gas- 
par da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da  Chi- 
na, cap.  20. 

—  Fi')ra  do  tempo  preficripto,  ou  pró- 
prio, por  ser  depois  d'elle. —  «O  que  os 
nossos  vendo  se  foram  perà  cidade  ja  a 
oras  de  meio  dia  e  com  quanto  Ticssem 
tarde,  ciiegarào  a  tempo,  porque  os  que 
el  Rei  do  Bintam  mandara,  per  terra, 
com  outros  que  auia  na  cidade,  que  eram 
nesta  conjuraçam,  deram  de  madrugada 
na  fortaleza  com  tauto  ímpeto,  que  a  po- 
soram  em  aperto.»  Damião  do  Góes, 
Chrouica  de  D.  Manoel,  part.  4,  cap.  35. 


Embora  ! 
Minha  mensagem  dei.  Cos-ir  perdoa, 
Mas  não  a  ingratos.  Chora-lo-hei#  }\  tarde. 

GABBETT,  CATÃO,  aCt.  2,  8C.  Õ. 


TARD 


TARE 


TARP 


681 


Manlio,  meu  amigo, 
Baste  este  adeus.  Nào  mais  :  sejamos  homens  : 
Adeus !  — Parte,  que  é  tarde.  — Adeus  ! 
IBIDEM,  act.  5,  SC.  7. 

—  Diz-.se  em  opposição  a  em  breve,  de- 
pois de  largo  tempo. 

— Emprega-se  também  adverbiado  com 
os  adic-etivo.^  e  verbo.s :  "YaTàe  prudente. 

TARDEIRO,  A,  ad^.  Vid.  Tardio. 

TARDEZA,  s.  f.  Falta  de  diligencia, 
presteza,  alacridade  para  fazer  as  cou- 
sas; preguiça. 

TARDIAM,  ou  TARDIÃO,  s.  m.  Nome 
de  certa  dança  antiga. 

TARDIAMENTE,  adv.  (De  tardio,  e  o 
suffixo  «mente»).  Passado  o  tempo,  e  en- 
sejo opportuno. 

—  De  iim  modo  tardio. 
TARDIGRADO,  A,   adj.  (Do  latim  tar- 

digraihis).  Termo   de   poesia.   Que   anda 
devagar. 

—  Termo  de  zoologia.  Que  caminha 
com  lentidão. 

—  Vid.  Bradypo. 

— -  S.  VI,  plur.  Familia  dos  mammife- 
ros  anguiculados,  que  não  tem  dentes 
incisivos,  e  cujos  dedos  sao  reunidos  até 
ás  unhas,  de  ordinário  mui  alongados. 

—  Nome  de  um  género  de  vermes  mu- 
nidos de  quatro  pares  de  tubérculos  lo- 
coniotores  armados  de  ganchos,  e  gozan- 
do da  propriedade  de  voltar  á  vida  pelo 
contacto  da  acua  como  os  rotiferos. 

TARDIJUMENTO,  s.  m.  Termo  de  poe- 
sia. Jumento  que  anda  devagar,  com 
lentidão. 

TARDINHA,  s.  f.  Diminutivo  de  Tar- 
de. Próximo  ao  anoitecer. 

—  Loc:  A  tardinha;  á  bocca  da 
noite. 

TARDINHEIRAMENTE,  adv.  (De  tardi- 
nheiro,  e  o  suffixo  amente»).  De  um  mo- 
do tardinheiro. 

—  Vagarosamente,  tardamente,  com 
preguiça. 

TARDINHEIRO,  A,  adj.  Remisso,  frou- 
xo, vagaroso,  tardonho. 

TARDIO,  A,  adj.  Que  vem  ou  succede 
além,  e  depois  do  justo  tempo,  e  do  tem- 
po conveniente. 

Ah  !  que  me  alongo  mais  !  Deseubi-o  ao  perto 
Froxamente  movendo-ae  a  tardia 
Do  frigido  Saturno  ingente  mólc. 

í.   A.   DE  MACEDO,   A  M.V.TnKKZA,  CSnt.    1. 

—  Serôdio. 

—  Detençoso,  vagaroso,  remisso,  pre- 
guiçoso. 

—  Que  vem  junto  ao  tim,  ou  termo 
de  algum  periodo. 

—  Tardio  em  resolver-se,  em  executar, 
cumprir,  pagar. 

—  Que  se  move  devagar. 


O  Boi  tardio  as  trilha ,  c  dócil  leva 
Sobre  os  sonoros  eixos  ao  Celleiro 
.  voL.  V.  —  86. 


Do  próvido  Cultor ;  tudo  se  alegra 
Colhendo  a  plenas  mãos  fartos  thesouros, 
Qu'o  Ceo  benigno  reproduz  continuo. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATCBEZA,  Cant.  1. 


—  Que  sáe  tarde.  —  A  longa  e  tardia 
doença. 

TARDÍSSIMO,  A,  adj.  superl.  de  Tar- 
do.  3Ini  tardo. 

TARDO,  A,  adj.  (Do  latim  tardus).  Va- 
garo.so,  preguiçoso. 

Porque  tardo  se  mova  o  frio  Arcturo, 
E  porque  tanto  com  fulminea  espada 
Ameace  Orion. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  KATUHEZA ,  Cant.  1. 


Ao  golpe  dão  signal ;  cinzentas  manchas 
Entre  sulfúrea  eôr  vagão  no  rosto, 
O  sangue  perde  a  purpura  nas  veias, 
Ora  tardo,  ora  rápido  se  agita. 
IBIDEM,  cant.  2. 


—  Pigro,  inerte,  pouco  activo. 
— •  Que  percebe  diíEcilmente. 

—  Que  não  anda,  ou  falia  expedito, 
desembaraçado. 

TARDONHO,  A,  adj.  Vid.  Tardo. 

—  Tardio,  tardinheii'o. 

TARDOZ,  s.  /.  A  face  da  pedra  de  can- 
taria, que  se  deixa  tosca  por  ficar  para 
dentro  da  parede.  Vid.  Lioz. 

TARECENA.  Vid.  Tarcena,  ou  Tercena. 

TARECO,  A,  s.  Termo  popular.  Pessoa 
sem  assento,  de  nenhum  senso,  idiota  pre- 
sumido; que  falia  a  torto  e  a  direito. 

—  Plur.  Termo  popular.  Trastes  ve- 
lhos, de  pouco  valor. 

TAREFA,  s.  f.  A  porçã)  de  trabalho, 
e  obra  que  se  deve  acabar  dentro  de 
certo  tempo;  empreitada. 

—  Figuradamente  :  O  trabalho  rural, 
litterario,  magistratico,  de  obrigação,  ou 
tomado  por  vontade. 

—  Nos  engenhos  de  assucar  é  a  por- 
ção de  cauna  que  se  moe  em  um  dia: 
na  Bahia  chamam  uma  tarefa  de  canna 
á  planta  que  occupa  terra  de  trinta  bra- 
ças em  quadro,  e  são  ordinariamente  cin- 
co carros  de  semente  plantados  á  enxa- 
da, ou  seis  de  arado;  tem  tantas  tarefas 
de  regos,  ou  de  socas;  são  900  braças  de 
supei-iicie,  cujas  cannas  um  engenho  de 
agua  bom  moedor  pode  moer  em  24  ho- 
ras. 

—  Tarefa  redonda;  tarefa  em  que  se 
não  perde  meladura;  as  tarefas  dos  en- 
genhos tirados,  ou  postos  em  movimento 
pelos  bois,  ou  cavalgaduras  fazem  regu- 
larmente oito  meladuras,  ou  mais  nos  en- 
genhos d'agua. 

—  Tarefa  d' azeite;  o  vaso  para  onde 
corre  o  azeite,  e  a  agua  ruça  das  ceiras, 
onde  ella  se  separa  do  azeite. 

TAREGA,  s.  rn.  Negociador  de  tarecos, 
contractador  d'elles. 

TAREGICAGEM,  s.  /,  Emprego,  exer- 
cício de  contractar  em  tarecos. 


TAREIRA,  s.  /.  Peixe  brazileiro,  de 
que  ha  duas  espécies :  lareira  do  alto,  e 
do   rio. 

TARELO,  s.  m.  Termo  popular.  Falla^ 
dor  impertinente,  que  presume  de  muito 
saber,  e  que  pouco  sabe  solidamente. 

—  Superficial  em  suas  idêas. 
TARGANA,   s.  /.  Tainha,  fataça. 

—  Peixe  da  forma  do  arenque,  de  côr 
de  cinza,  riscado  de  preto. 

TARGETA,  s.  /.  Vid.  Tarjeta. 

TARGO,  ou  TARGUM,  «.  m.  Antigo 
comnientario  chaldaico,  chamado  também 
paraphrase  chaldaica  do  Velho  Testamen- 
to, que  se  fez  depois  do  captiveiro  de 
Babvlouia,  para  auxiliar  a  ignorância  dos 
judeus  que  tinham  esquecido  o  hebraico. 

f  TARGUMICO,  A,  adj.  Que  diz  res- 
peito ao  targum. 

■{-  TARGUMISTA,  s.  m.  Classe  de  escri- 
ptores  hebraicos   paraphrastos  da  Biblia. 

TARIFA,  s.  /.  Quadro  da  indicação 
temporária  ou  permanente  dos  direitos  a 
pagar  pela  navegação,  passagem  dos  rios, 
exportação  e  importação  de  mercadorias. 
—  A  tarifa  da  alfandega. 

—  Termo  de  jurisprudência.  Estado 
dos  direitos  ou  emolumentos,  passados 
em  conta  aos  funccionarios  públicos,  e 
aos  ofiiciaes  ministeriaes,  para  os  difi"e- 
rentes  actos  do  seu  ministério. 

—  Papel,  quadro  do  preço  de  certas 
mercadorias. 

— -Tarifa  das  moedas;  quadro  indican- 
do o  valor  corrente  das  moedas. 

f  TARIFADO,  part.  pass.  de  Tarifar. 
Reduzido  a  tarifa.  —  Mtrcadorius  tarifa- 
das. 

TARIFAR,    1-.  a.  Reduzir  a  tarifa. 

TARIG,  s.  7?!.  Livro  das  vidas  dos  ca- 
lifas successores  de  Mahomet. 

TARIMA,  s.  /.  Estrado  que  se  alcati- 
fa, e  põe  debaixo  do  docel. 

—  Estrado  alto,  em  que  os  soldados 
dormem  nos  quartéis,  e  corpos  de  guar- 
da. Vid.  Tarimba. 

TARIMBA,  s.  f.  Vid.  Tarima. 

TARJA,  s. /.  (Do  francez  targe).  Peça 
de  pintura,  ou  escnlptura  com  talha,  de 
ordinário  em  ramos,  flores,  festões,  que 
cercam  um  claro,  onde  vai  um  escudo 
d'armas,  alguma  inscripção,  ou  cousa  si- 
milhante. 


Uma  tarja  aqui  queria 
muito  bella. 
esculpido  letras  n'ella 
que  digam  Ave  Maria, 
por  não  me  esquecer  dizel-a. 

AMTONIO  PRB3TBS,  ACTOS,  pag.  14. 


—  Escudo. 

—  Vid.  Escudete. 

TARJETA,  í.  /.  Diminutivo  de  Tarja. 

f  TARPEIA,  adj.  f.  —  Rocha  Tarpeia ; 
em  Roma,  parte  do  monte  Capitolino, 
d'onde  se  precipitavam  os  condemnados 
á  morte. 


682 


TARS 


TART 


TART 


^  TARPEIRA,  í,.  f.  Vid.  Trapeira. 

TARRAÇADA,  s.  /.  Termo  popiiUr. 
Oraiuli-  iiorrMo,  imiita  (juantiiladc. 

■j-  TARRACENA,  «.  m.  Aiiti{,'ii  Wrma 
do  Tercena.  —  «E  pêra  (|ii(j  cstiucssern 
imiyto  l)(!iii  tíuariladaH  foz  cm  aif^uma» 
comarca.i  iiouíim  tarraceuas,  em  que  ca- 
tauain  niuyto  bom  concertadas,  o  poucr- 
nadaH.  Jí  nosto  mesmo  armo  mandou  co- 
moçar  a  caua,  e  {^riUo  torre  do  Oliuenya, 
do  ([uo  aod  Rcv8  de  f 'a.stella  pesou,  o  com 
muytoa  rofío.s  lhe  maiidai-ão  dizor,  o  pe- 
dir, que  em  tempo  de  tanta  paz,  tanta 
amizade  como  antro  eilos  aula,  nào  se  de- 
uiara  de  luinia  parte,  nem  da  outra  fazer 
cousas,  de  que  so  podosse  presumir,  nom 
Bospoitar.»  (4nrcia  de  Rezende,  Chronica 
de  D.  João  II,  cap.  70. 

TARRACHA,  $.  f.  Prego  roli(;o,  cuja 
parte  ati':  ao  meio  6  lavrada  com  uma 
quina  viva  e^^piral,  a  qual  se  embebo  no 
vilo  espiral  da  porea,  o  prende  n'ella. 

—  Parafuso  de  tarracha ;  que  tem  a 
ponta  lavrada  espiralmcnte. 

TARRACHADO,  part.  pass.  do  Tarra- 
char.  ^'id.  Atarrachado. 

TARRACHAR,    v.  a.   Vid.   Atarrachar. 

TARRACINE,  s.  /.  Vid.  Tercena. 

TARRAFA,  .«.  /.  Rede  com  que  pesca 
um  homem  si) ;  é  redonda,  com  pesoâ  á 
borda,  lança-so  de  pancada,  o  các  aber- 
ta; tem  no  centro  uma  corda  por  onde 
se  tira,  e  các  fechada  com  o  pcixo  den- 
tro. 

—  Termo  ligurado  c  popular.  Capa  ro- 
ta, e  velha,  d'ouile  vem  atarrafada. 

TARRAFADO,  part.  pass.  de  Tarrafar. 

TARRAFAR,  ou  TARRAFEAR,  r.  n. 
Pescar  com  tarrafii. 

TARRAMAQUE,  s.  m.  Ornato,  ou  or.fci- 
tc  de  vestido  usado  outr'ora. 

TARRANQUIM,  s.  m.  Embarcação  da 
Ásia. 

•TARRANTEZ,  s.  m.  Vid.  Terrantez. 

TARRATAM,  s.  /.  Ave  aquática,  vul- 
gar. 

—  Espécie  de  adem  real. 
TARRAXA,  s.  f.  Vid.  Tarracha. 
TARRAXAR,   v'.  a.  Vid.  Tarrachar. 
TARRAZBORRAZ,  adv.  Termo  popular. 

Sem  i^rdeni,  em  confusito. 

-    TARREIRA,  s.  /.  Vid.  Tareira. 

TARRENTORIO,  s.  »i.  Vid.  Território. 

TARRO,  s.  m.  (Do  grego  tarrus).  Vaso 
em  que  os  pastores  recolhem  o  leite,  em 
quanto  o  vão  ordenhando. 

—  Tarro  de  cortiça ;  vaso  para  se  be- 
ber por  etle. 

\  TARSALGIA,  s.  /.  Termo  de  medi- 
cina. Anthralgia  do  tarso. 

TARSEIRO,   s.   w.  Espécie  do   Icmure. 

I  TARSIANO,  A,  aãj.  Termo  de  anato- 
nomia.  (.^.ue  pertence  ao  tarso,  que  lhe 
diz  respeito. 

—  Ossos  tarsianos ;  nome  dado  algu- 
mas vezes  coUeetivamonte  aos  ossos  do 
tarso. 

—  Articulaiiiks  tarsianas ;  compreken- 


de-8c,  Hob  o»to  nome,  a  do  aotragalo  com 
o  calcanhar,  a  das  duas  fileiras  do  tarso 
cntrt!  si,  o  as  dos  ossos  da  segunda  filei- 
ra t;ntre  si. 

TARSO,  «.  m.  Termo  do  anatomia.  A 
parte  posterior  do  pó,  composta  dos  sete 
ossos,  eucravadoH  uns  nos  outros. 

—  (J  terceiro  artigo  do  pé  das  aves. 

—  Nos  crustáceos,  u  sexta  |)ci;a  da» 
patas  simples. 

—  A  ultima  parto  das  patas  dos  inse- 
ctos. 

t  TARSO -METATARSIANO,  A,  adj. 
Termo  do  anatomia.  Quo  diz  respeito  ao 
tarso  e  ao  metatarso. 

—  ArticulaqTtes  tarso-metatarsianas ; 
as  dos  ossos  da  seguinla  ))halango  do  tar- 
so com  os  ossos  metatiivianos. 

f  TARSO-PHALANGIANO,  A,  adj.  Ter- 
mo de  anatomia.  Que  diz  respeito  ao  tar- 
so o  ás  phalangcs. 

—  Liíjamento  tarso-phalangiano ;  nome 
dado  ao  ligamento  sesamoideo  superior  do 
meml)ro  posterior. 

f  TARSORRAPHIA,  s.  /.  Termo  de  ci- 
rurgia. Sutura  (las  cartilagens  tarsianas. 

TARTADA,  .v.  /.  Espécie  de  barco  na 
Índia.  Vid.  Tartana. 

TARTÁGO,  .«..  )/f.  Vid.  Catapucia  menor. 

TARTAMELEAR,  v.  7i.  Balbuciar,  fal- 
lar  nuil  de  me  lo. 

TARTAMELO,  A,  a,Jj.  Termo  antiqua- 
do. Tartaniu  1(1,  tardo  em  fallar. 

TARTAMUDEAR,  v.  n.  Gaguejar,  bal- 
buciar.— ^  «E  as  línguas  lhes  tartamu- 
deiavam,  c  as  pálpebras  lhes  vendavam  e 
ilcs vendavam  successivamente  o  iris,  e  os 
estômagos  proniincntes  lhes  arfavam  com 
um  movimento  peristaltico  dennisiado  sen- 
sivel.B  A.  Herculano,  Monge  de  Cister, 
cap.  23. 

—  Syx.  :  Tartamudear,  balbuciar.  Vid. 
este  ultimo  termo. 

TARTAMUDO,  A,  adj.  e  s.  (íago,  tarta- 
melo. 

TARTANA,  s.  /.  Termo  de  marinha. 
Nome  de  um  pequeno  navio  do  Mediter- 
râneo, cuja  fiiriua  alongada  é  análoga  á 
dos  chebeks;  anda  a  remo,  ou  com  vela 
latina. 

TARTARANETO,  A,  .•?.  Vid.  Tataraneto. 

TARTARANHA,  .■;.  /.  Termo  de  historia 
natural.  Ave  d':  eai;ar,  c  rapina,  que  bas- 
tardeia,  c  degenera  das  phenas. 

—  Barco  i\í'.  pescar  r.o  rio  Tejo. 
TARTARANHAO,  í.  vi.  O  macho  da  tár- 
tara nUa. 

TARTAREAR,  v.  >i.  Termo  popular.  Ta- 
ramelar. 

—  Fallar  tataro,  ou  tártaro,  linguagem 
que  se  uTio  percebo. 

1.)  TARTAREO,  A,  adj.  (Do  latim  tar- 
tareus).  Termo  de  poesia.  Infernal. 

2.)  TARTAREO,  A,  adj.  (Do  latim  tar- 
tarumã.    Da  i  atureza  do   tártaro  (sarro). 

l.)  TARTARICO,  A,  adj.  TarUreo, 
pertencente  ao  tartai"o. 

2.)  TARTARICO,  A,  adj.  Termo  de  chi- 


mica.  Que  diz  reH]jeito  ao  tártaro  o  seus 
compostos. 

—  Acido  tartarico;  acido  qao  bc  en- 
contra cm  muitos  fructos  acidou,  raírmen- 
te  na  uva,  e  que  <•  o  elcnjonto  couistitu- 
tivo  do  tártaro,  onde  eotá  cuiii binado  com 
a  potassa. 

—  Liminuida  tartarica ;  limonada  feita 
com  o  acido  turtarico. 

—  Xarvpc  tartarico;  xarojic  foito  com  o 
acido  tartarico  unido  ao  xaropo  aaiaca- 
rado. 

t  TARTARIMETRIA,  *./.  Em  chimica, 
metbodo  aualytico  que  consiste  cm  Bub- 
metter  ao  alcalimctro  o  carbonato  de  po> 
tassa  proveniente  da  substancia  do  tár- 
taro. 

TARTARISADO,  ou  ZADO,  j>art.  patê. 
de  Tartarisar,  ou  Tartarizar. 

TARTARISAR,  ou  TARTARIZAR,  r.  a. 
(Do  francez  tartarivnri.  Termo  de  chi- 
mica. 1'rej'arar  com  tártaro,  purificar  por 
meio  do  sal  Uirtaro. 

1.1  TÁRTARO,  s.  m.  Vid.  Tataro. 

2.)  TÁRTARO,  o.  m.  (Do  grego  tárta- 
ros). Termo  tlc  poesia.  O  inferno. 

3.»  TÁRTARO,  s.  m.  Nome  d'um  povo 
originário  do  Turkestan;  deu-se  vagamen- 
te este  nome  a  todos  os  pov  >s  da  Ásia 
niodia,  depois  ao  mar  Caspio,  até  ás  co.*- 
tas  orientacs.  —  •£  subindo  logo  nas  cos- 
tas destes  três  Portugueses  todos  os  Tár- 
taros qi\,e  cstavão  ao  pé  das  escadas,  o 
que  também  fizcraõ  com  muyto  esforço, 
assi  por  terem  seu  Capitão  diante,  como 
por  serem  de  sua  natureza  quasi  tSo  de- 
terminados como  Japões,  em  muyto  bre- 
ve cspa(;o  foraõ  encima  do  moro  roai.s  de 
cinco  mil  dos  da  nossa  parte,  os  quais 
com  o  Ímpeto  que  levav.^o  fizeraõ  retirar 
os  Chins.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pere- 
grinações, cap.  119. 

4.^  TÁRTARO,  s.  m.  iDo  latim  tartti- 
rtinil.  JNIatei  .a  térrea,  e  salitrosa,  que  ee 
pega  na  parede  dos  toneis  de  vinho;  d'e3- 
ta  se  tira  o  sal  tártaro,  puriticando-a,  la- 
vando-a,  e  calcinando-a  a  fogo  de  rercr- 
l)ero,  que  se  diz  também  cryòtal  tártaro. 
Vid.  Sarro. 

TARTAROSO,  A,  adj.  Termo  de  chimi- 
ca. Que  tem  as  qualidades  do  tártaro. — 
Sedimento  tartaroso. 

—  Aciilo  tartaroso ;  nome  antiquado  do 
acido  tartarico. 

TARTARUGA,  .«.  /.  Termo  de  historia 
natural.  Amphibiode  cov.cha;  tem  quatro 
pés;  da  concha  se  fazem  pentes. 

—  Termo  popular.  Pessoa  velha  e  feia. 
-{■  TARTARUGO,   s.    m.    Nome  popular 

do  diabo,  dado  por  causa  da  matéria  cór- 
nea dos  seus  pés,  etc. 

Piero-to,  pastor  minitro. 
Quo  foâto  inn  £rr:in  noccador. 
Sonhor  tnrturujo,  digo 
(juo  montfs  como  bcstígo, 
Salvanor. 

o.    VICEHTK,   ACTO  OÁ.  BA<CA   DO   PUBOATO- 
BIO. 


TASC 


TAUM 


TAUT 


683 


I  TARTRALICO,  A,  adj.  Termo  de  chl- 
mica.  ^ei(/ci  tartralico;  producto  da  acção 
do  calor  a  200°  sobro  o  acido  tartrico 
hydratado  durante  um  cui-to  espaço  de 
tempo. 

f  TARTRANICO,  A,  adj.  Termo  de  cliL- 
mica.  Acido  tcirtranico ;  producto  da  de- 
composição do  otker  tartrico  pelos  alca- 
lis. 

-{•  TARTRANIDE,  s.  f.  Termo  de  chimi- 
ca.  Producto  da  acçào  do  ammouiaco  so- 
bre o  ether  tartrico. 

TARTRATO,  s.  m.  Termo  de  chimica. 
Nome  genérico  dos  saes  formados  pela 
combinação  do  acido  tartrico  com  as  ba- 
ses. 

—  Tartrato  acidulo  de  potassa;  bitar- 
trato  de  potassa,  sal  que  existe  todo  for- 
mado em  muitas  matérias  vegetaes,  e 
mormente  na  uva. 

TRATRICO,  A,  adj.  Termo  de  ctdmica. 
Vid.  Taríarico,  e  Tannico. 

j  TARTRIMETRO,  s.  ni.  Instrumento 
análogo  ao  alcalimetro,  que  serve  para 
estabelecer  o  valor  commercial  da  sub- 
stancia do  tártaro,  ou  do  bitartrato  de  po- 
tassa. 

f  TARTRITE,  s.  /.  Termo  de  chimica. 
Antigo  synonymo  de  tartrato. 

f  TARTRORORETO,  s.  m.  Termo  de 
chimica.  Nome  dado  aos  compostos  em 
que  o  acido  bórico  entra  como  uma  base 
alcalina  na  composição  de  certos  tartra- 
tos  duplos. 

f  TARTROGLYCERICO,  A,  alj.  Termo 
de  chimica.  Acido  tartroglycerico ;  corpo 
obtido  pela  combinação  da  glycerina  com 
o  acido  tartrico. 

f  TARTROSO,  A,  adj.  Que  tem  a  qua- 
lidade do  tártaro.  Vid.  Tartaroso. 

-}■  TARTROVINICO,  A,  adj.  Termo  de 
chimica.  Producto  da  combinação  do  aci- 
do tartrico  com  o  álcool  ordinário. 

TARTUFO,  s.  m.  Personagem  de  uma 
celebre  comedia  de  Molière. 

— -Falso  devoto,  hvpocrita. 

TARUGA,  s.  /.  Termo  de  historia  na- 
tural. Animal  do  Peru,  que  participa  da- 
feições  do  carneií-o,  o  do  bode,  cuja  lã 
serve  para  chapéus. 

TARUGAR,  V.  a.  Termo  de  carpinte- 
ria.  Segurar  e  prender  com  tarugo. 

TARUGO,  s.  m.  Torno,  ou  prego  de 
pau,  que  se  embebe  para  segurar  duas 
taboas  borda  com  borda,  embebido  em 
ambas  as  peças;  mecha. 

TASCA,  s.  f.  Taverna  mui  ordinária, 
onde  vai  comer  e  beber  a  gente  de  baixa 
classe. 

TASCANTE,  part.  act.  de  Tascar. 

TASCAR,  1-.  71.  Vid.  Tasquinhar. 

• — ^  Tascar  o  cavallo  o  freio;  mordel-o 
entre  os  dentes. 

—  Tascar  o  javali  escuma ;  lançal-a 
da  bocca,  rangendo  os  dentes. 

TASCO,  s.  «i.  Estopa  grossa,  ou  to- 
mentos,  que  se  separam  do  linho,  quando 
o  tascam. 


TASNA,  ou  TASNEIRA,  s.  /.  Planta 
perenne,  herva  medicinal. 

TASQUINHA,  á.  /.  Diminutivo  de  Tas- 
ca. 

—  Diminutivo  de  Tasco. 

■ — Cutelo  de  pau,  com  que  se  usa  tas- 
car o  linho. 

TASQUINHAR,  i-.  a.  Termo  popular. 
Separar  o  tosco  do  linho  com  a  tasqui- 
nha. 

—  Comer. 

TASSALHAR,  c.  a.  Vid.  Atassalhar. 

TASSALHO,  s.  m.  Termo  popular.  Tira 
larga.  —  Um  tassalho  de  carne. 

TATÁ,  s.  m.  Voz  onomatopaica  com 
que  as  creauças  chamam  pae. 

TA  TÁ.  Interjeição  de  quem  se  ad- 
mira. 

TATAIBA,  s.  f.  Vid.  Amoreira  tataiba. 

TATAJUBA,  s.  /.  Termo  de  botânica. 
Arvore  do  Brazil,  que  tem  maileira  ama- 
rella  de  que  se  extrahe  tinta,  como  do 
pau  Brazil  a  vermelha. 

TATAME,  s.  m.  Geuex-o  de  estrado,  ou 
coberta  do  pavimento. 

TATARAMUDO.  Vid.  Tartamudo. 

TATARANETO,  A,  s.  Termo  popular. 
Neto  ou  neta  em  terceiro  logar ;  terceiro 
neto. 

—  Plur.  Os  derradeiros  netos  que  lia 
de  produzir,  e  haver,  ou  houve  na  gera- 
ção. 

TATARANHA.  Vid.  Tartaranha. 

TATARAVÕ,  s.  m.,  e  TATARAVÓ,  s.  f. 
O  avG  ou  a  avó  mais  remota  dos  antigos 
da  familia. 

TATARO,  A,  s.  e  adj.  Que  pronuncia 
mudando  defeituosamente  o  c  em  t. 

—  ÍT-ago. 

TATAURANA,  s.  /.  Termo  de  historia 
natural.  Lagarta  cabelluda  do  Brazil ; 
algumas  tocando-lhe  os  cabellos,  ou  pel- 
los  queimam,  ou  produzem  dor  como  quei- 
madura, que  dura  ás  vezes  24  horas,  e 
tocada  com  o  dedo  doem  as  articulações, 
a  munheca,  e  juntas  do  braço  até  ao  so- 
baco. 

TATIBITATE,  ou  TATIBITATI,  s.  e 
adj.  2  geií.  Vid.  Tartamudo. 

—  Que  não  sabe  o  que  quer,  que  he- 
sita em  tudo,  e  nada  decide. 

TATIBITATIBI,  adj.  e  /.  2  gen.  Termo 
popular,  (iago,  tataro,  tartamudo,  tata- 
ranuido.  Vid.  Tatibitate. 

TATU  DO  BRAZIL,  s.  m.  Termo  de 
historia  natural.  (4euero  de  mammiferos, 
que  só  possue  dentes  molares ;  seu  corpo 
é  defendido  por  duas  escudellas  escamo- 
sas, uma  anterior  sobre  as  espáduas,  ou- 
tra posterior  sobro  a  garupa,  e  entre  es- 
tas um  certo  numero  de  bandas,  ou  meias 
cintas.  Ha  varias  espécies  que  se  distin- 
guem pelo  numero  das  cintas.  Vid.  En- 
cobertado. 

TATUA,  A\  /.  A  vespa  da  America;  é 
toda  negra. 

TAUMATURGO,  s.  m.  Vid.  Thauma- 
turgo. 


TAUPLA,  s.  /.  Traste  antigo. 

TAUREO,  A,  adj.  (Do  latira  taureus). 
De  touro.  Vid.  Taurino. 

TAURIFERO,  A,  adj.  Com  grande  abun- 
dância de  touros. 

TAURIFORME,  adj.  2  gen.  Termo  de 
poesia.  Que  tem  a  fSrma  de  um  touro. 

TAURIM,  s.  m.  Uma  espécie  de  em- 
barcação da  Ásia. 

-}-  TAURINA,  s.  /.  Termo  do  chimica. 
jMateria  crystallisavel  que  se  encontra  na 
bilis  do  boi. 

TAURINO,  Á,  adj.  (Do  latim  taurinus)^ 
De  touro,  taui-eo. 

—  Escudo  taurino ;  escudo  de  pelles 
de  touro. 

TAURO,  s.  m.  (Do  latim  taurus).  Um 
dos  signos  do  zodiaco;  entra  o  sol  n'elle 
em  abril;  compõe-se  de  cincoenta  estrel- 
las. 

f  TAUROBOLICO,  A,  adj.  Que  diz  res- 
peito a  um  taurobolio.  —  Altar  taurobo- 
lico. 

TAUROBOLIO,  s.  m.  Termo  d'antigui- 
dade.  Sacrifício  d'expiaç2o,  mui  commum 
ao  terceiro  e  quarto  séculos  da  era  chris- 
tã;  degolava-se  um  touro  sobre  uma 
grande  pedra  cravada,  e  atravessada  de 
muitos  buracos;  sobre  esta  pedra  existia 
um  fosso,  no  qual  o  ente  de  expiação  re- 
cebia em  seu  corpo,  e  no  seu  rosto  o 
sangue  do  animal. 

—  Altar  que  os  sacerdotes  faziam  ele- 
var para  perpetrar  um  serviço  solemne, 
quasi  sempre  em  honra  de  Cybele. 

j  TAUROCHOLATO,  s.  m.  Termo  de 
chimica.  Taurocholato  de  soda;  principio 
encontrado  na  bilis  de  todos  os  mammi- 
feros, á  excepção  do  porco. 

7  TAUROCHOLICO,  A,  adj.  Termo  de 
chimica.  Acido  taurocholico ;  acido  obti- 
do pela  decomposição  do  choleato  de  soda, 
um    1103  principies  constituintes  da  bilis. 

TAUROMACHIA,  s.  /.  (Do  grego  tau- 
ros,  e  macJiê).  Arte  de  combater  os  tou- 
ros. 

—  Combate  dos  touros. 

7  TAUROMACHICO,  A,  adj.  Que  diz 
respeito  á  tauromachia. 

TAUSA,  s.  f.  Termo  de  antiguidade. 
Talha,  ou  taxa  do  que  alguém  devia  pa- 
gar de  imposto. 

TAUSACOM,  «.  jii.  Termo  antiquado. 
Taxação,  ou  taxa. 

TAUSAR,  ou  TAUSSAR,  v.  a.  Termo 
antiquado.  Taxar,  limitar  preço. 

—  Figuradamente  :  Pôr  limites. 
TAUTO,  s.   in.  Vid.  Tacto. 

-}•  TAUTOCHRONISMO,  s.  m.  Egualda- 
de  dos  termos  durante  os  quaes  certos 
effeitos  se  produzem. 

—  Termo  de  mechanica.  Propriedade 
dos  movimentos,  ou  das  oscillações  de 
um  pêndulo. 

TAUTOCHRONO,  A,  adj.  (Do  grego 
tauto,  e  chronos).  Que  tem  logar  em  tem- 
pos eguaes. 

—  Curva  tautocbrona ;  curva  tal,  que 


684 


TAVK 


TAXA 


TAYO 


se  se  deixa  cnir  um  corpo  posado  ;io  lon- 
go de  sua  concavidade,  chefíari  Bcniprc 
ao  ponto  mais  baixo  ao  nicímo  tempo, 
de  qualquer  jionto  (|uc  o  l'iii;a  partir. 

TAUTOGHAMMA,  s.  m.  (Do  },Tt--o  (au- 
to, e  (iraminu).  Terá  áo  vorso  em  quo  80 
empregam  «iiuieiite  palavras  quo  come- 
^m  todas  pela  muisuia  letra. 

—  Adjectivaiiieiito  :  Versvs  tautogram- 
mas;  vensos  cujas  palavras  couioi,'ani  pe- 
las inesinas  letras. 

TAUTOLOGIA,  5.  /.  (Do  prego  tauto, 
o  hxjus).  Termo  didáctico.  Kepetiyào  de 
uma  mesma  idèa  por  dittereiUcd   termos. 

f  TAUTOLÓGICO,  A,  adj.  Que  tem  o 
caracter  da  tautologia.  —  Estytu  tautoló- 
gico. 

—  Echo  tautológico ;  ocho  que  repete 
muitas  vezes  os  mesmos  sons. 

TAUTOMETRIA,  s.  /.  (Do  prcfío  iauto, 
e  vietroii).  Termo  didáctico.  Ilepetiçào  de 
uma  mesma  modiíia. 

f  TAUTOPHONIA,  *■.  /.  Ropetivào  ex- 
cessiva do  mesmo  som. 

TAUXIA,  s.  f.  Embutido  do  ouro,  ou 
prata  em  obra  de  ferro  ou  a^o. 

• — Figuradamente:  Utn  rostinhô  de 
tauxia;  de  côr  alva  e  rosada. 

—  Figuradamente  :  Embutido,  marche- 
taria de  madeira. 

TAUXIADO,  pdvt.  pass.  de  Tauxiar.  La- 
vrado de  tauxia. 

TAUXIAR,  V.  a.  Lavrar  de  tauxia. 

—  ^Matizar  de  coros  qualquer  fundo 
com  embutidos  do  metaes,  pedras,  madei- 
ras, madrepérolas,  etc. 

—  Usa-se  também  figuradamente. 
TAVANEZ,  adj.  2  gen.  Inquieto,  trefo. 
TAVÃO,  s.  Hl.  (Do  latim  taòanus).  Ata- 

biío,  mosca  que  moi-ile  e  chupa  o  sangue. 

TAVEDA,  s.  /.  Termo  de  botânica. 
Planta  de  follias  similhantcs  ás  da  olivei- 
ra; produ/.  tlôres  de  eheiro  grave. 

TAVERNA,  ou  TABERNA,  s.  f.  (Do  la- 
tim taberna).  Casa  onde  se  vende  por 
miúdo  o  vinho,  azeite,  e  alguma  cousa 
de  comer. 


Ó  taveritax  da  Ribeira, 
Nào  vos  verá  a  vila  uinguem 
Mosquitos,  o  verão  que  vciu, 
Por(\ue  sereis  aroeira. 
Triste  que  scr.á  de  mi  ! 
Que  ma  ora  vos  ou  vi ! 
Que  uia  ora  me  v>ís  vistes ! 
Que  ma  ora  me  paristes, 
Klàú  da  Hllia  do  ruim ! 

OIL  VICEKrS,  OBBAS  VABIAS. 


—  Adágios  e  provérbios  : 

—  Se    nào    bebo    na    taverna,    folgo 
ii'ella. 

—  A  tu  por  tu,  como  em  taverna. 

—  Meu  dinheiro,  teu  dinheiro,   vamoa 
á  taverna. 

TAVERNAL,  adj.  2  ,jti».  De  taverna. 
TAVEKNARIO.  Vid.  Tabernario. 
TAVERNEIRA,    s.  /.   Mulher    que    tem 
tíiverna. 


—  AuAoio  li  imíovkuhkj: 

—  No  inverno  forneira,  no  verilo  ta- 
verneira. 

TAVERNEIRO,  s.  m.  Homem  que  tem 
taverna. 

—  Adjoc  ti  vãmente:  De  taverna,  que 
se  vende  atavoriuido.  Vid.  Atavernado, 
do  ramo. 

TAVERNINHA,  «.  /.  Diminutivo  do  Ta- 
verna. iN-quena  taverna. 

TAVOA,  i.  /.  Vid.  Taboa.  —  «Ksta  ta- 
uoa  (dizem  os  sanctosj  he  a  sagrada  eon- 
lissam,  feyta  ao  próprio  sacerdote  que 
tem  cura  de  almas,  ao  qual  o  Seuiior  dou 
poder  pêra  em  jtossoa  dello  jicrdoar  e  ab- 
soluer  dos  peecados  que  lhe  fossem  con- 
fessados, dizendolhe,  A  quem  quer  que 
perdoares  seus  peecados,  serlheam  per- 
doados :  a  quem  nlto  perdoares  n;im  liie 
seram  pordoarios.»  Frei  Hartliok)meu  dos 
Martyres,  Catecismo  da  doutrina  chris- 
tà.  —  «E  na  tavoa  leva  escritas  as  cul- 
pas porque  anda  aa  vergouha.  E  anda 
assi  três  ou  quatro  di:iâ  segundo  as  cul- 
pas ho  mereeeni.u  Fr.  (laspar  da  Cruz, 
Tratado  das  cousas  da  China,   cap.    21. 

—  tíello  dou  tavoas ;  o  sello  commum 
das  cartas  regias,  o  redondo  que  se  im- 
prime nas  cartas.  Vid.  Taboa. 

TAVOADA,  *.  /.  Vid.  Taboada. 
TAVOADO,  s.  m.  Vid.  Taboado. 
TAVOINHA,  s.  f.    Diminutivo    de    Ta- 
voa.  Vid.  Taboinha. 

TAVOLA,  í.  /.  Vid.  Tabola. 

—  Mesa  <le  Jogo. 

—  Tavola  redunda;  mesa  de  officiaes 
onde  se  paga  algum  tributo,  imposto. 

TAVOLADO,  s.  m.  Termo  usado  na  se- 
guinte hieuçTio  :  Lam;ar  a  tavolado ;  era 
jogo  de  exercicio  militar  antigo,  ipie  con- 
sistia om  lançar  por  terra  um  castello  de 
madeira  com  tiros  de  arremesso. 

TAVOLAGEIRO,  A,  adj .  — Jogador  Xa- 
volageiro ;  que  joga  em  casa  de  jogo. 

TAVOLAGEM,  á.  /.  Termo  antiquado. 
Todo  e  quahpier  jogo  de  sorte. 

—  Dar,  ter  tavolagem;  ter  casa  de 
jogo,  do  tavolas,  dados  ou  cartas. 

TAVOLEIRO,  s.  m.  Vid.  Taboleiro.  — 
«Entrando  por  esta  porta,  se  faz  um  pa- 
teo  muy  grande  e  quasi  quadrado,  que 
será  quasi  do  carreira  dum  ea.vallo  e  no 
meo  faz  hum  corredor  pouco  menos  da 
largura  da  porta,  que  corro  dereito  da 
porta  ate  hum  tauoieiro  umy  grande  que 
esta  no  cabo  do  pateo,  ho  qual  he  tudo 
lageado  de  pedras  quadradas  ciun  om- 
breiras que  daram  pola  cinta  a  hum  ho- 
mem e  vay  alto  na  altura  da  entrada  do 
portal,  que  ticii  soo  hum  degrao  no  cabo 
delle  ao  tavoloiro,  e  ho  pateo  nos  lados 
deste  corredor  he  baixo  que  deeem  a  oUe 
por  degraos.»  Tenreiro,  Itinerário,  ca- 
pitulo (5. 

TAVOLETA,  í.  /.  Vid.  Taboleta. 

1.1  TAXA.  ou  TAIXA,  *■.  /.  (Do  fran- 
cez  tax<i\.  Preço  leito  legalmente  para  as 
cousas  de  venda. 


—  Figuradamente :  Modo,  termo,  li- 
mite. 

—  Tributo,  imposto. 

—  Pôr  taxa.  Vid.  Taxar. 

—  Fiiruradamente :  l'òr  taxa;  limi- 
tar, dei-larar  até  onde  se  {«ide  chegar. 

2.,  TAXA,  í. /.  Vid.  Tacha. 
TAXAÇÀO,    ».  f.    (Do    latim    taxatio). 
Acç-rio  de  taxar. 

—  Tributo  qne  pagavam  aos  recebedo- 
res das  r(;ndaé  del-rei,  as  pe«sua«  qae  as 
deviam. 

TAXADAMENTE,  adv.  (De  taxado,  e  o 
sufíixo  «mente»).  Limitadamente,  Km 
demasia  ou  quebi-a. 

TAXADO,  jiart.  patu.  de  Taxar.  1'osto 
o  preço  ás  cousas,  almota4;ado. 

—  lieprehendido  por  deftsitos. 

—  Dado  com  taxa,  regradamentu. 

—  Taxado  em  ijuvír,  emrt»j)<mdtr;  (^xíq 
dá  audiências  e  respostas  curtaa. 

TAXADOR,   A,  «.  e  adj.  Que  taxa. 

TAXAR,  r.  a.  (Do  latim  taxart).  Pôr 
em  virtude  do  legitimo  poder  o  preço  áa 
cousas  de  venda.  —  Taxar  at  mercado- 
rias. 

—  Taxar  as  mercês ;  dal-as  sem  libera- 
lidade. 

—  Censurar,  notar,  reprehender.  Vid. 
Tachar. 

—  Figuradamente :  Regrar,  limitar, 
moderar. 

—  Assig^ar  certa  porçSo. 

—  Taxar  as  palavras  de  louvor ;  nJlo 
ser  amplo  e  liberal  d'ellas. 

—  Adagio  : 

—  Jornada  de  mar  náo  se  pôde  ta- 
xar. 

TAXATIVO,  A,  adj.  Que  taxa,  qne  li- 
mita, restringe. 

f  TAXIARCO,  s.  in.  Termo  de  antigui- 
dade, (.ifficial  superior  nos  exércitos  gre- 
gos. 

f  TAXIDERMIA,  s.  /.  Arte  de  prepa- 
rar a  pelle  e  o  esqueleto  dos  aniniaes 
mortos,  de  sorte  a  conservar-lhes  todas 
as  suas  fiu-nuus. 

•{-  TAXIDERMICO,  A,  adj.  Que  diz  res- 
peito á  taxiiiermia. 

f  TAXILOGIA,  í.  /.  8ciencia  das  das- 
siti  cações. 

I  TAXINOMIA,  ou  TAXIONOMU,  *./. 
Parte  da  botânica  que  trata  das  classiti- 
cações  das  plantas,  das  leis  e  das  regras 
que  devem  determinar  o  estabelecimento 
dos  methodos  e  svstemas. 

f  TAXINOMICÒ,  A,  uJj.  Que  diz  res- 
peito á  Uixiuomia. 

TAXIS,  ^•.  "i.  Do  grego  taxis^.  Ter- 
mo de  cirurgia.  Pressfio  methodica  quo 
se  exeice  com  a  mào  sobre  um  tumor 
heruiario  para  o  reiiuzir. 

TAXO,  í.    ..  Vid.  Tacho. 

TAXOLOGIA,  *.  /.   Vid.  Taxilogia. 

TAXONOMIA,  s.  f.   Vid.  Taxinomia. 

TAYATAYA,  .«.  /.  Termo  de  historia 
natural.  l';ií*;»ro  palmipede. 

TAYOBA,   í.  /.    Termo    de    botânica. 


TE 

Planta  do  Brazil,  de  foliia  larga,  que  se 
come  cozida :  tem  mangará  como  inhame. 

TAYOCA,  s.  /.  Termo  do  Brazil.  For- 
miga grande  e  negra,  cuja  mordedura 
dóe  e  queima. 

TE.  Pronome  da  segunda  pessoa,  e  que 
completa  directa  ou  indirectamente  a 
acção  do  verbo. 


Se  a  uão  vires  esquecer 
do  que  dizes,  que  te  quer, 
c  aceitar  o  presente, 
eu  quero  e  sou  reeonteute 
que  nem  só  me  queiras  ver. 

ANTÓNIO  PBESTES,  ACTOS,  pag.  323. 

—  Equivale  a  a  ti,  conforme  as  diffe- 
renças  com  que  usamos  de  me,  e  a  mim. 

Eu  digo  ? 
falo  isto  aqui  comtigo, 
nó  mais,  que  a  modo  te  conto. 
E  que  negro  encobridor, 
encobridor  do  máo  pezar  ! 

UiTONIO  PEESXES,   ACTOS,   pag.    iríT . 

—  «Oh  ^perança  bemaventurada,  que 
já  te  vás  trocando  em  posse !  Oh  fé,  co- 
mo estás  perto  da  vista  I  Oh  amor  que 
por  toda  a  eternidade  has  de  ser  perfeito 
amor ! «  Pajlre  Manoel  Bernardes,  Exer- 
cícios espirituaes,  pag.  450. 


Bruto  não  cede  assim,  nem  te  abandona. 
E  hcide  fazê-lo  eu  ? 

GABBETT,  CATÃO,   ECt.    Õ,   SC.    7. 

—  Fallando  a  pessoas  com  quem  se 
não  tem  familiaridade,  usa-se  de  lhe  por 
civilidade,  em  vez  de  te. 

—  Indica  relação  de  possessão,  do  que 
é  da  segunda  pessoa,  e  usa-se  por  teu, 
tua. 

TÉ.  Preposição    antiquada.    Vid.   Até. 

—  iiAlíernao  durou  té  outro  dia.  Ao  im- 
perador pesou  muito  disto  e  a  Primaliào 
também;  mas  a  imperatriz  e  outras  priu- 
cezas  folgaram  por  se  ver  desabafadas 
de  Colambar,  que  andavam  assombradas 
delia.»  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
d'lnglaterra,  cap.  39.  — ■  «Do  Toro  pêra 
baixo,  que  lie  já  na  costa  da  Arábia,  on- 
de ella  vizinha  com  a  de  Egypto,  ajun- 
tam-se  aqui  ambas  estas  duas  costas  com 
dous  cabos  que  se  oppõe  hum  defronte 
de  outro,  que  não  haverá  entre  elles  mais 
distancia  que  de  três  léguas  :  passados  os 
quaes  cabos,  torna-se  logo  a  terra  encur- 
var com  enseadas,  e  pontas  té  chegar  á 
povoação  de  Suez  ultimo  seio  deste  mar 
Roxo.»  Barros,  Década  2,  liv.  8,  cap.  1. 

—  «Começarão  todos  três  com  essas  que 
tinhào,  despejar  a  praça  do  cães  de  mui- 
tos Mouros  e  (íentios  que  acodirão,  e  tan- 
to se  chegarão  ao  cães,  té  se  fazerem 
senhores  d'algumas  nãos  que  estauão  com 
a  proa  em  terra  primeiro  que  dom  Lou- 


TEAD 


TECE 


685 


renço  chegasse  a  força  de  remo  chamado 
pela  artelharia.í  Ibidem,  liv.  1,  cap.  4. 


Não  te  lembre. 


3uer's-te  ir? 

Vou. 
Té.  porta  vos  quero  ir  vèr. 

ASIOIIO  PBFSTES,  ACTOS,  pig.  227. 

—  Té  li;  por  até  alli.  —  aPolinarda, 
que  té  li  com  a  força  da  paixão  tivera  os 
espíritos  mortos  e  a  lingua  muda,  algum 
tanto  consolada  das  palavras  de  Drama- 
ciana,  começou  dizer.»  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  95. — 
«Ficando  da  outra  parte  em  contrario,  a 
desditosa  Ai'abia  lelice,  na  qual  toda  a 
terra  que  jaz  té  a  Ilha  Gamaram  he  do 
Xeque  de  Adem;  e  daqui  tè  ludà  do  Xa- 
rife  de  lazem ;  onde  se  acaba  esta  Ará- 
bia, e  entra  a  Pétrea.»  Frei  Gaspar  de 
S.  Bernai-dino,  Itinerário  da  índia,  ca- 
pitulo 7. 

1.,,  TÊA,  ou  TEIA,  s.  /.  .^Do  latim  te- 
la). Todo  o  panno  tecido  do  comprimen- 
to da  ordidura. 

—  Teia  de  aranha ;  o  tecido  de  fios, 
onde  ella  está  e  habita. 

—  Caiiellada  da  teia;  a  parte  desigual 
ao  outro  pauno. 

—  Loc.  FiG.:  Dar  os jios  á  teia;  aca- 
bar, fenecer,  perecer. 

—  Obra  de  madeira  ou  pedra  com  que 
em  varias  egrejas  ficam  os  homens  sepa- 
rados das  mulheres. 

—  Teia  das  jicstas;  o  circulo  ou  o  cer- 
co, outr'ora  liça,  dentro  da  qual  se  fa- 
ziam as  justas  e  torneios. 

—  Figuradamente :  Tuviar  alguém  nas 
teias ;  nos  enredos  e  nas  tramas  que  te- 
ceu. 

—  Figuradamente :  Teia  de  enganos,  de 
imijostiiras,  de  mentiras. 

—  Manttr  a  teia;  justar  como  o  prin- 
cipal auctor  das  justas,  ou  toi'neios. 

—  Twnar  a  teia ;  occupal-a  para  jus- 
tar como  mautedor. 

—  Figuradamente:  A  teia  da  vida, 

—  Termo  de  anatomia.  Tecido  reticu- 
lar. —  As  teias  do  coração. 

—  Adágios  e  provérbios  : 

—  Muitas  maçarocas  fazem  a  teia,  que 
não  uma  cheia. 

—  O  trigo,  e  a  teia  á  candeia. 

—  A  teia  bem  tecida  ao  curar  mais 
embebida. 

—  A  mulher  parida,  e  a  teia  ordida 
nunca  lhe  falta  guarida. 

—  A  mulher  que  não  vela,  não  faz 
grande  teia. 

2.  TÉA,  ou  TEIA,  s.  /.  (Do  latim 
tieda).  Facho,  ou  tocha. 

—  Teias  yiupciaes;  tochas  accesas  que 
os  antigos  levavam  adiante  dos  noivos. 

—  Figuradamente:  Teiis  nu pciaes ;  nú- 
pcias. Vid.  Teda. 

TEADA,  s.  /.  Teia  de  panno. 

—  Lençaria. 


TEAGEM,  s.  /.  Tela,  tecido,  membra- 
na reticular,  pellicular,  folie. 

—  A  membrana  cellular  com  gordura. 
TEAR,   s.  ;/i.  Machina  ou  engenho  que- 

serve  de  tecer  pannos. 

—  Tear  do  relógio;  toda  a  rodagem 
d'elle. 

—  Instrumento  de  que  os  encaderna- 
dores se  servem  pai-a  coser  livi-os. 

—  Adágios  e  provérbios  : 

—  Um  só  pollegar  tarde  vai  ao  tear. 

—  Mais  vai  magro  no  tear,  do  que  gor- 
do no  monturo. 

TE  ARA,  s.  /.  Vid.  Tiara. 

TEATRO,  í.  m.  Yid.  Theatro. 

TECA,  s.  y.  Madeira  da  índia,  própria 
para  naus. 

TECEDEIRA,  s.  /.  Mulher  que  tece 
panno,  etc. 

Houvéreis  de  ser  casado 
co'e3ta  dama  tecedeira 
aqui  fronteira  ; 
vinheis-llie  dito  e  pintado. 

ANTÓNIO  PBESTES,  ACTOS,  pag.  387. 

TECEDOR,   s.  m.    Tecelão. —- Tecedor 

de  paiiiios,  de  sSda$,  etc. 

—  Figuradamente:  Tecedor  de  enre- 
dos, d£  mentiras,  etc. 

TECEDURA,  s.  f.  A  acção  de  tecer. 

—  Os  fios  que  atravessam  a  ordidura. 

—  Figuradamente :  Trama. 
TECELAGEM,  «.  /.  O  trabalho,   o  offi- 

cio  de  tecelão,  ou  de  tecelCa. 

—  Tecedura,  tecimento. 

TECELÃO,  s.  m.  Homem  que  tece  pan- 
nos, sedas;   tecedor. 

Forte  combate ! 

um  tecelão  mais  uào  tece 

do  que  eu  hoje. 

ANTÓNIO  PBESTES,  ACTOS,  pag.  135. 

TECELÔA,  í.  /.  Vid.  Tecedeira. 

TECER,  i'.  a.  (Do  latim  fexere).  Pas- 
sar os  tios  por  entre  o  ordume,  e  formar 
a  teia  de  linho,  là,  ou  seda.  —  «Ha  tam- 
bém na  terra  muito  algodão,  que  as  mo- 
Iheres  fiaõ,  de  que  fazem  cordas,  e  re- 
des, que  usam  por  camas,  penduradas  no 
ar,  em  paos,  ou  aruores,  mas  delle  naõ 
fazem  pannos,  porque  naõ  sabem  tecer. 
Saõ  muito  dados  a  agouros,  feitiços,  e 
deste  ofiScio  ha  entrelles  homens,  e  mo- 
Iheres,  a  que  chamaõ  pagès,  aos  quaes 
crem  tudo  o  que  dizem,  e  os  tem  em 
muita  estima,  e  acatamento.»  Damião  de 
Ooes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1. 
cap.  56. —  oElla  fui  a  que  por  credito 
desta  Arte  famosa,  pendeuceou  entre  as 
mais  custosas  competências  com  a  cele- 
brada Arachnes  taò  experta  naqueUe 
tempo  na  arte  de  tecer,  e  bordar,  que 
presumio  roubar  a  Minerva  a  primasia, 
por  suppor  sem  semelhante  a  sua  subti- 
leza.» Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal  me- 
dico, pag.  110,  §  44. 


G8(J 


TECI 


TEED 


TEIAI 


—  Andur  ein  idas  o  vindas. 

—  Tecer  uma  iieijuciai;uo ;  entabolar. 

—  Tecer  desí/mças;  sur  auctor,  o  no- 
gociíidor  d'olla!). 


A  seu  Babor  cu  paiittod  llio  ontorprcc, 
E  BC  em  paz  m:  mantcm,  rto  ei|UÍlibr«(lo 
O  fogo  vire,  liberal  no;»  munda 
Mil  venturas,  mil  boua ;  mait  it'ollo  perda 
Eatc  equilibrio,  quo  deacrm;»»  tece! 
Tu  éa  da  Natureza,  oh  fogo  activo. 
j.  1.  iiu  uici:i>o,  k  X1TUUK2A,  caut.  '2. 


—  Travar,  liar. 

—  Figuradaiucnte:    Tecer  teia;   tecer 
enredo,  intrifia. 

—  Coiiipôi-. —  O  tempo  tudo  tece. 


Ksto  tcMipo  tildo  tece. 
Uo  caao  ii  ((uc  veiu  me  dô 
cadii  um  d'cllea  rasão, 
a  (|uc  tim  c  a  que,  porquo. 

ANTOXIO  PBESTE3,  ACTTOS,  pAg-   205. 


—  Tecer   um  discurso;  compul-o. 

—  Tecer  ver.ini  ,•  fazel-os,   coinpCl-OB. 
f  TECHNIGAMENTE,  adv.  (Uo  techni- 

co,  com  o  suffixo  «mente»).  Í)e  um  mo- 
do tecliuieo,  segundo  Oâ  processos  techni- 
cos, 

TECHNICO,  A,  adj.  (Do  grego  techni- 
kos,  de  technè).  Próprio  a  uma  arte,  que 
pertence  a  uma  arte.  — Processos  techni- 
cos. 

—  Termos  technicos ;  termos  privati- 
vos de  tal  sciencia,  de  tal  arte. 

—  Fersos  technicos ;  versos  que  con- 
tém a  expressão  de  qualquer  regra,  de- 
finição ou  jirincipio. 

TECHNOGRAPHIA,  s.  /.  (Do  grego  te- 
chnè, c  graphosi.  Dcscripção  das  artes  e 
seus  proces.^oâ. 

t  TECHNOLITHA,  s.  /.  Termo  de  mi- 
neralogia. Pedra  que  representa  desenhos 
d'obJectos  particulares  ;is  artes. 

TÈCHNOLOGIA,  s.  /.  (Do  grego  techiiê, 
e  loyus).  Tratado  das  artes  em  geral.  — 
Uma  technolcgia  cumplefa. 

—  Explicaçrio  dos  termos  próprios  ás 
differeutes  artes  e  misteres. 

I  TECHNOLOGICO,  A,  adj.  Que  per- 
tence ás  artes  em  geral.  —  Nomenclatura 
technologica. 

7  TECHNOLOGO,  adj. — Os  escriptores 
technologos  ;  aquelles  que  escrevem  em 
artes  o  misteres. 

f  TECHNOMORPHITA,  s.  /.  Termo  de 
mineralogia.  l*edra  que  tom  a  forma  dos 
objectos  particulares  ás  artes. 

1.)  TECIDO,  part.  pass.  de  Tecer.  Or- 
dido. 

—  Figuradamente:  Fabula  òcin  teci- 
da; vida  òem  tecida. 

—  Figuradamente:  Tecido  cm  paren- 
tesco ;  alliauçado. 

2.)  TECIDO,  s.  m.  Panuo  tecido.— 
Os  tecidos  de  lã,  de  sida,  etc. 


TECIMENTO,  «.  m.  Vid.  Tecedura,  Te- 
celagem. 

TECLA,  s.  /.  Peça  do  orgUo,  do  piano 
ou  do  cravo,  em  que  o  tocador  carrega 
com  o.^  dedos  para  tirar  sons  do  instru- 
mento. 

—  Armaililha  de  caçar  aves. 

—  Figuradamente :  Tocar  em  abjuma 
tecla ;  fallar  em  alguma  matéria,  a  pro- 
pósito para  o  tini  que  se  intenta,  ou  eon- 
tbruio  ao  geuio  daquelle  a  (luem  se  falia. 

—  Figuradamente :  O  orgào,  cravo, 
piano  forte. 

TECLADO,  a.  vu  Todas  as  teclas  de 
um  urgào,  piano  ou  cravo.  —  Teclado  dt 
mu  r/í  III. 

f  TECOLITHA,  «.  /.  Pedra  quo  se  en- 
contra nas  esponjas,  o  que  se  julgava 
própria  para  dissolver  os  cálculos  uriná- 
rios. 

TECTO,  s.  m.  (Do  lathn  tectum).  A 
cobertura  da  casa,  pola  parte  superior 
d  ella,  com  telhas  sobre  o  madeiramento, 
se  não  é  coberto  de  terrado,  ou  argamas- 
sado. 

Outro  mio  menos  assombroso  vive 
Sob  argi-ntados  tecto»,  c  seus  Paços 
Com  profusão  lhe  enfeita  a  Natureza. 

J.  A.  DE  UACKDO,  A  KATCUEZA,  Cant.  3. 

—  «O  que  havia  d'odio  nesta  burla 
atroz  só  plenamente  o  comprehendia  um 
individuo  dos  que  aili  estavam.  Era  o 
Abbade  de  Alcobaça,  o  qual,  collocado 
atraz  do  gi'upo  dos  cortezàos,  depois  de 
dizer  o  que  quer  que  foi  ao  ouvido  do 
Chanceller,  punha  os  ollios  no  tecto,  er- 
guia as  màos,  persignava-se,  deixava 
peuder  resignadamente  a  cabeça,  e  sus- 
pirava possuído  de  cntranhavel  magua, 
murmurando  :  Desgraçado  mancebo  I  » 
Alexandre  Herculano,  Monge  de  Cister, 
cap.  21. 

TEÇUME,  s.  m.  Vid.  Tecido. 

1.)  TEDA,  5.  /.  [Do  latim  teda).  To- 
cha, teia  de  alumiar. 

2.)  TEDA,  s.  f.  Certa  arvore  resinosa, 
que  parece  ser  variedade  do  pinheiro. 

TE-DEUM,  *-.  m.  Termo  latiuo  signi- 
ficando o  cântico  da  egroja  que  se  diz 
ordinariamente  no  tim  das  matinas,  o  se 
canta  extraordinariamente,  com  pompa  e 
ceremouia,  para  dar  graças  a  Deus  por 
uma  victoria,  ou  por  outro  qualquer  acon- 
tecimento feliz. 

—  Caremonia  que  acompanha  esta  ac- 
ç.no   de  graças.  —  Assistir  ao  Te-Deimi. 

TEDIFERO,  A,  adj.  (Do  latim  ta:difer). 
Quo  traz  teia,   ou  tocha. 

TÉDIO,  s.  «1.  (Do  latim  tivdium).  Fas- 
tio, nojo,   moléstia. 

TEDIOSO,  A,  (>.(/.  Que  produz  tédio. 

TEDO,  pur  Teúdo.    Vid.    esta   palavra. 

TEEDOR,  s.  e  adj.  2  gen.  Termo  an- 
tiquado.  Que  tem,  oceupa,  o  dá  estorro. 

—  (.'  que  tem,  possue. 

—  Teedor  de  estradas    e    caminhos;  o 


ladrilo  publitMJ,  que  com  mSo  armada,  e 
violuutaniente,  oceupa,  tom  e  embarga 
coitei  legares,  roubaiwlo  os  passageiros : 
este  uilo  goza  da  iminunidade  da  egr«jaf 
a.ssim  como  nem  o  incendiário  das  searaii, 
nem  o  que  insidiutamcate,  e  de  propósi- 
to, c  só  a  fim  de  injuriar,  commette  ai-. 
gum  delieto. 

TEEIGA,  *.  /.  Vid.  Teiga  de  Abrahão. 

TEEIRO,  «.  ni.  =r  Significação  incerta. 

TEENÇA,  «.  /.  Termo  antiquado.  De- 
tença, d'doiiga,  posse  corporal. 

TEENTE.  Vid.  Tenente. 

TEEYA.  Fcirma  do  verbo  tetr  na  ter- 
ceira pessoa  do  singular  do  pretérito  im- 
perleito  do  modcj  indicativo,  em  vez  de 
Tinha.  Vid.  Ter. 

TEF,  «.  m.  Uma  semente  da  Ethio- 
pia. 

TEFILIM,  ou  TEPHILIM,  ».  m.  «ama- 
mento lia  hvpocrisia  judaica. 

TEGELADA,  s.  f.  Vid.  Tigelada. 

TEGELO,  í.   m.  Vid.  Tijoulo. 

TEGEREMO,  A,  adj.  Termo  antiquado. 
Deeniio  terceiro. 

TEGESÚ,  s.  m.  Termo  de  historia  na- 
tural. Ave  do  Brazii,  maior  que  o  peni. 

TEGICO,  A,  adj.  Do  Tejo,  ou  perten- 
centií  ao  Tejo. 

TÉGORA,  pur  Até  agora. 

TEGUMENTO,  s.  m.  iDo  latim  t^jumen- 
tum  .  Termo  de  historia  natural.  Tudo  o 
que  serve  para  encobrir,  para  envolver. 
..1  pelle  é  o  tegumento  do  corpo  do  ho- 
mem. 

—  Termo  de  botânica.  Tegxmiento  ^ro- 
prio;  invólucro  imniediato  da  amêndoa 
de  uma  semente,  ou  spermoderma. 

—  Tegumentos  jiorae»;  o  calyx  e  a 
coroUa,  os  invólucros  immediatos  dos  or- 
gjios  sexuaos. 

TEGURIO,  í.  m.  Vid.  Tagnrio. 
TEIA.  Vid.  Tèa. 
TEIADA,  s.  /.  Vid.  Teada. 
TEIGA,  s.  /.  (Do  latim  tegis\.  Va^  de 
palha  como  cesta,  tecida  em  roletes. 

—  Teiga  de  Abra/tão ;  medida  quo  no 
Alemteio  leva  dous  modios. 

TEIGULA, 
Teiira. 

TEIMA,   i. 
contuiiiacia. 

TEIMADO,  part.  pass.  de  Teimar. 
Acompanhado  de  teima. 

TEIMAR,  V.  n.  Insistir,  estar  pertinaz 
em  alguma  cousa. 

TEIMOSAMENTE,  adv.  (De  teimoso,  o 
o  sufiixo  •  mente»  .  De  um  modo  tei- 
moso. 

—  Com  teima. 

—  Arincadamente,  tenazmente. 
TEIMOSO,  A,  adj.  Qae  teima,  que  in- 
siste, que  porfia.' 

—  Obstinado,  pertinaz,  porâoso. 

O  bom  casado 
n.<lo  tom  essa  calidade. 
Muito  bom,  gentil  comento  ; 


/.     Termo    antiquado. 
Pertinácia,    obstinaçlo, 


TELE 


TELH 


TELH 


687 


acho-vos  agoas,  fcrmoza, 
quo  segundo  sois  teimosa 
mandareis  em  testamento 
que  vos  enterrem  ciosa. 

AJfTONIO  PEESTES,  ACTOS,  pSg.   289. 

Teimoso  indagador  lhe  mostra  a  fronte ; 
Estes  03  passos  são  da  Xatnreza 
Magestosos,  e  simplices  :  debalde 
Estrepitosa  Escola  lhe  assignála 
Outro  principio  ás  liquidas  correntes. 

J.  A.  DB  MACEDO,  A  XATCBEZA,  Oant.  2. 


TEIOR,  s.  m.  Yid.  Theor. 

1.)  TEIRA,  s.  f.  Vid.  Talão. 

2.)  TEIRA,  s.  f.  Tfcrmo  de  historia  na- 
tural. Peixe  do  género  do3  chetodon- 
tes. 

TEIRÓ,  s.  m.  (Do  grego  teirõ).  A  peça 
da  rabiça  do  arado,  que  tem  mão  no 
dente. 

—  Tomar  teiró  com  alguém;  pegar 
sempre  ás  razões  com  elle,  engar  com 
elle  por  má  vontade  que  se  lhe  tem,  ter 
tenção  com  elle. 

—  Figurada  e  popularmente :  Pegui- 
lho, teima. 

TEIROGA,  s.  /.  Vid.  Teiró. 

TEITO.  Termo  antiquado.    Vid.  Tecto. 

TEIXE,  5.  m.  Peça.,  brinco  ou  dixe  de 
ouro,  ou  prata,  de  que  outr'ora  se  usava, 
e  cujo  feitio  hoje  se  iscnora. 

TEIXO,  s.  m.  (Do  latim  taxus).  Arvo- 
re funesta,  fúnebre,  melancólica.  E  ve- 
nenosa. 

TEIXUGO,  s.  7H.  Termo  de  zoologia. 
Ar.inialejo   como   a  rapo.?a,  muito  gordo. 

TEJADILHO,  í.  m.  O  tecto  da  sege,  ou 
coche,  ou  cadeirinha  de  braços  de  arruar. 

TEJOILA,  s.  f.  Termo  de  alveitaria. 
Um  osso  do  casco  do  cavallo. 

TELA,  s.  /.  (Do  latim  tela).  Teia. 

—  Armadilha  de  três  laços  de  tomar 
perdigões. 

—  Loc. :  Pôr  as  telas  a  alguvi  nego- 
cio; dar-lhe  principio,  armar  a  effeitual-o, 
e  a  conseguil-o. 

—  Tecido  de  seda,  prata,  ou  ouro.  — 
n  Huns  cobrem  de  telas  as  paredes :  ou- 
tros tomáraõ  cobrir  seu  corpo  de  panno 
grosseiro. »  Padre  Manoel  Bernardes, 
Exercícios  espiriíuaes. 

—  Teia  de  justas,  e  torneios;  e,  d'aqui, 
tela  de  juizo,  por  se  fazerem  em  taes  le- 
gares as  provas  por  combates,  e  duellos, 
que  era  uma  espécie  de  provas  judicia- 
rias. 

-j-  TELANGIESTASIA,  s.  /.  Termo  de 
medicina.  Dilatação  dos  vasos  afistados 
do  coraçào,  ou  dos  vasos  capillares. 

TELARIA,   s.  /.  Multidão  de  telas. 

TELCHINOS,  s.  771.  plur.  Mágicos  a 
que  se  attribuia  a  invenção  de  diversas 
artes. 

t  TELEGRAMMA,  s.  m.  Despacho  tele- 
graphico. 

TELEGRAPHIA,  s.  f.  Arte  de  empre- 
gar os  telegraphos. 

■ —  Tratado  sobre  esta  arte. 


—  Arte  de  corresponder-se  prompta- 
mente,  e  a  grandes  distancias. 

TELEGRAPHICO,  A,  adj.  Que  diz  res- 
peito ao  telegrapho.  —  Signaes  telegra- 
phicos. 

—  Noticia,  despacho  telegraphico ;  no- 
ticia,  despacho   chesrado  pelo  telegrapho. 

j  TELEGRAPHIGAMENTE,  adv.  (De  te- 
legraphico, com  o  suiBso  «mente»).  Por 
meio  do  telegrapho. 

7  TELEGRAPHISTA,  s.  m.  O  empre- 
gado que  transmitte  os  despachos  tele- 
graphicos. 

f  TELEGRAPHAR,  v.  a.  Transmittir 
um  despacho  com  o  auxilio  dos  signaes 
telegraphicos;  corresponder  pelo  telegra- 
pho. 

TELEGRAPHO,  s.  m.  (Do  grego  tele,  e 
graphos).  Machina  collocada  sobre  um  lo- 
gar  elevado,  que  serve  para  transmittir 
ao  longe  noticias,  etc. 

—  Telegrapho  náutico;  instrumento 
destinado  a  transmittir  os  signaes  pelo 
mar. 

• —  Telegrapho  eléctrico ;  que  se  com- 
munica  por  iios  d'arame. 

f  TELEMETRIA,  s.  f.  Arte  de  medir 
as  di.^tancias. 

f  TELEMETRICO,  A,  adj.  Pertencente 
á  telemetria. 

7  TELÉMETRO,  s.  m.  Instrumento  des- 
tinado a  avaliar  rapidamente  as  distancias. 

TELEOLOGIA,  s.  /.  (Do  grego  teh,  e 
logos).  Termo  de  philosophia.  Doutrina 
das  causas  finaes,  isto  é,  a  que  explica 
os  seres  pelo  iim  apparente  ao  qual  elles 
sào  destinados. 

7  TELEOLÓGICO,  A,  adj.  Que  diz  res- 
peito á  teleologia. 

TELEOLOGO,  s.  m.  lusti-umento  para 
conversar  a  grandes  distancias. 

TELEPHONIA,  *.  /.  (Do  grego  tele,  e 
phonè).  Termo  de  phvsica.  Arte,  meio  de 
fazer  chegar  ao  longe  os  sons. 

—  Arte  de  corresponder  a  grandes  dis- 
tancias por  meio  do  som,  ou  telegraphia 
acústica. 

t  TELEPHONICO,  A,  adj.  Que  diz  res- 
peito á  telephonia. 

7  TELESCÓPICO,  A,  adj.  Que  se  faz 
com  o  telescópico.  —  Observações  teles- 
cópicas. 

—  Que  se  vê  só  com  o  auxilio  do  te- 
lescópio. —  Estrellas  telescópicas. 

—  Planetas  telescópicos  ;  planetas  si- 
tuados entre  Marte  e  Júpiter. 

TELESCÓPIO,  s.  m.  (Do  grego  tek',  e 
skopeô).  Nome  genérico  dos  instrumentos 
d'optica  destinados  a  observar  os  objectos 
afastados ;  a  imagem  d'estea  objectos  é 
formada  pela  reflexão  dos  raios  lumino- 
sos sobre  espelhos,  e  amplificada  em  se- 
guida por  vidros  de  augmento. 

—  Pequena  consteliação  meridional. 
1.)  TELHA,    s.   f.    (Do  latim    tegula). 

Peças  de  barro  de  certa  grossiu-a,  cozidas 
em  fornos,  que  servem  de  cobrir  os  tectos 
das  casas,  sobre  ripas,  ou  taboas. 


—  De  telhas  a  baixo;  cá  na  terra. 

—  Casa  de  telha  vã;  a  que  não  tem 
forro  por  baixo  da  telha. 

—  Adágios  e  provérbios  : 

—  Fallar  das  telhas  abaixo. 

—  Quebrar  telhas. 

—  Telha   de  egreja  sempre  goteja. 

2.)  TELHA,  s.  /.  Termo  antiquado. 
Chapéu  usado  no  toucado  das  mulheres, 
com  as  abas  de  um  lado  e  outro  dobradas 
para  as  faces,  armação  que  lhe  dava  a 
figura  de  telha. 

8.1  TELHA,  s. /.  Vid.  Til,  e  Tilia. 

TELHADINHO,  s.  m.  Diminutivo  de 
Telhado.   Pequeno  telhado. 

1.)  TELHADO,  s.  m.  A  obra  de  telhas, 
que  cobre  a  casa.  —  «Os  nossos  tanto  que 
souberaõ  estarem  Mouros  nas  casas,  se 
foraõ  huns  poucos  a  elles,  e  sobindo-se  em 
cima  dos  telhados  os  destelhàra<5,  e  com 
as  espingardas  naõ  faziaõ  senaõ  derribar 
nelles.»  Diogo  de  Couto,  Década  6,  liv. 
9,  cap.  9.  —  íEUe  que  logo  conheceo,  o 
que  eu  delle  pretendia,  (que  muvtas  ve- 
zes saõ  fáceis  de  conhecer  certas  vonta- 
des), nos  leuou  a  sua  Igreja,  que  na  lin- 
goa  da  teiTa  se  diz  Mochamo,  a  qual  era 
pequena,  e  bayxa  com  três  portas  iguaes 
a  sua  grandeza,  cuberta  de  argamaça, 
sem  telhado,  mas  com  terrado  falando  ao 
castume  daquellas  partes,  p  Fr.  Gaspar 
de  S.  Bernardino,  Itinerário  da  índia, 
cap.  9. 

- — •  A  agua  do  telhado ;  é  um  ponto 
d'elle,  com  seu  pendor  particular. 

—  Telhado  de  levadio;  de  telhas  so- 
brepostas sem  cal.  Vid.  Levadio. 

■ — •  Loc. :  Assim  vos  pondes  no  telha- 
do ;  assim  me  negais  obrigações  e  servi- 
ços com  esquivança,  e  vos  haveis  por  des- 
obrigado. 

—  Figuradamente :  Ter  telhados  de  vi- 
dro; ter  defeitos,  faltas. 

—  Adágios  e  proa'ekbios  : 

—  Assim  é  o  marido  amarellado,  como 
casa  sem  telhado. 

—  Quem  tem  telhado  de  vidro,  nào 
atire  pedras  ao  do  visinho. 

—  Horta  sem  agua,  casa  sem  telhado, 
marido  sem  cuidado,  de  graça  é  caro. 

—  A  moça  no  telhado  nào  anda  a  bom 
recado. 

2.)  TELHADO,  parf.  pass.  de  Telhar. 
Coberto  de  telha,  ou  cousa  que  cobre 
como  telha.  —  Casas  telhadas  de   tijolo. 

— -Figuradamente:  As  casas  telhadas 
de  gente;  occupando  a  gente  os  telhados 
por  não  caber  nas  janellas. 

TELHADOR,  *.  v\.  Homem  que  faz  te- 
lhados. 

—  O  que  tapa  a  tigela  de  barro. 
TELHADURA,  s.  /.   A  acção  de  telhar. 
TELHAL,   s.  m.  Fabrica  de  telhas,  te- 

Iheira. 

TELHÃO,  .«.  m.  Tellia  grande. 

TELHAR,    V.  a.  Cobrir  com  telha. 

TELHEIRA,  s.  f.  Olaria  de  fazer  te- 
lhas. 


688 


TEMA 


TEME 


TEME 


—  Tdhal. 

TELHEIRO,  «.  m.  Tocto  do  uraa  ou 
duas  íipruíis  do  telha  vil,  onde  traballiani 
abriffiido.i  os  canteiros,  ctc. 

—  líomora  que  taz  tullias. 
TELHINHA,  «.  /.  Diminutivo  do  Telha. 

—  1'hir,  Dou8  |)eda^'08  do  louça,  quo 
08  rapazes  coatumani  tocar  ferindo  ura  no 
outro,  entre  os  dous  dedos  da  milo  di- 
reita. 

TELHO,  s.  VI.  Testinho  de  telha,  can- 
tara ou  ii)U(;a  do  barro. 

TELILHA,  s.  /.  Tela  <lolf;ada. 

TELIZ,  s,  f.  Panno  que  serve  para  co- 
brir a.  seila  do  cavallo  era  quanto  o  ca- 
valleiro  está  apeado;  do  ordinário  traz  bor- 
dadas as  suas  arinns  e  insifínia-s. 

TELLA,  s.  /.  Vid.  Tela. 

f  TELLINA,  s.  /.  tíenero  de  conchas 
bival  vtM. 

f  TELLURATO,  s.  w.  Terrao  de  chimi- 
ca.  Sal  produzido  pela  corabina(;ào  do 
acido  tcllurico  com  unia  base. 

TELLURITO,  «.  m.  Termo  de  chiniica. 
Conibinaç3o  do  telluro  com  os  metaes  ele- 
ctro-positivos. 

TELLURO,  s.  >n.  (Do  latira  tellus).  Ter- 
mo de  chiniicA.  Metal  solido,  descoberto 
nas  minas  d'ouro  da  Tranaylvania;  6  de 
côr  branca  azulada,  brilhante,  luminoso, 
fundivcl  e  mui  volátil. 

f  TELLURICO,  A,  adj.  Que  diz  res- 
peito á  terra,  pela  sua  intluencia  sobre  os 
corpos  organisados.  —  As  forças  telluri- 
cas. 

f  TELLURIDE,  s.  m.  Termo  de  chinii- 
ca. Corabinaçfio  do  telluro  e  de  um  corpo 
simples. 

f  TELLURISAL,  s.  m.  Termo  de  chi- 
micií.  iSal  produzido  pela  combinação  dos 
tellururatos  entre  si. 

■]■  TELLURISMO,  s.  m.  Nome  pelo  qual 
se  de<ii:na  to  lo  o  macrnetismo  terrestre. 

t  TELLURHYDRICO,  A,  oflj.  Termo  de 
chimica.  Aci'di>  tellurhydrico ;  acido  hy- 
drotellurico,  sraz  incolor,  de  cheiro  des- 
agradável a  ovos  em  putrefacção. 

t  TELLUROSO,  A,  <"lj.  Termo  de  chi- 
mica. Acido  telluroso ;  acido  o  raenos 
oxygenado  formado  de  telluro  e  de  oxy- 
gcneo. 

t  TELLURURATO,  .-\  vi.  Termo  de  chi- 
mica. Conibinaçrui  do  telluro  e  de  ura 
corpo  simplii». 

t  TELODYNAMICO,  A,  adj.  Que  exer- 
ce, que  transuiitttí  unia  potencia  ao  longe. 

TELONARIO,  s.  m.  O  administrador  do 
telonio. 

TELONIO,  s.  w.  (Do  grego  tehnton). 
Casa  ou  raosa  onde  estavam  os  rendeiros 
das  rendas  publicas,  e  arrecadadores  d'el- 

1»8. 

—  Na  universidade,  é  a  junta  dos  op- 
positores  que  suggeriam  a  matéria  aos 
que  uTio  estavam  promptos  para  disserta- 
rem nclla.  —  /■"fizer  telonio. 

TEMA,  i.  J7I.  Vid.  Thema. 

TEMÃO,  s.  m.  Vid.  Timão. 


TEMBLAR,  v.  a.  Termo  de  niu«ica 
pouco  era  u»o.  Pôr  accordes  os  instrumen- 
tos, Hogundu  a  porpor<;IU>  barinonica. 

—  Emproga-se  Uimbeni  no  hcutido  de 
combinar  os  i'cgií<tros  dos  órgãos  com  o 
toque  ou  o  Hom  do  acto  religiono. 

TEMEROSO,  A,  (ulj.  Termo  antiquado. 
MedroM),  iemcri'80,  quo  treme  de  susto. 

TEMENTE,  />arl.  ad.  de  Temer.  Que 
terae.  H^mem  temente  «  Jji:u». —  «E 
tomarão  logo  trazendo  conirtigo  sois  da- 
quellos  de  pé  que  pareciaõ  ser  ministros 
de  Justiça,  ou  ao  menos  ijaquella  que  en- 
tão cuydavaraos  que  Deos  queria  que  se 
fizesse  de  nós,  e  estes,  por  mildado  dos 
de  cavallo,  no  i  ataraõ  a  todos  de  três  em 
três,  c  cora  mostras  de  piedade  nos  dis- 
seraò  que  nai3  ouvesscmos  medo,  porque 
el  Rey  dos  Lequios  era  homem  muyto 
temente  a  Dcos,  e  inclinado  por  natureza 
aos  pobres.»  Fern.^o  Mendes  Pinto,  Pe- 
regrinações, cap.  138. 

TEMER,  V.  a.  (Do  latim  temere).  Ter 
temor,  recear.  —  «O  cavalleiro  do  Dra- 
gão e  Floriano  ajudavani-sc  tanto  de  sua 
presteza  e  manha,  temendo  os  golpes  de 
seus  contrários,  que  os  mais  dellcs  lhes 
faziam  dar  era  v.~io ;  e  por  cí^ta  razRo  an- 
davam menos  feriílos  e  traziam  os  gigan- 
tes inaltratailos.).  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  94.  —  «O 
c-avalleiro  do  Dragik»  se  desviou  trio  des- 
contente pola  ferida  que  lhe  dera,  temen- 
do que  o  podesse  pôr  em  perigo,  que  an- 
tes não  quizera  victoria  d'Albarroco,  se 
com  cst'outro  desgosto  se  havia  de  apa- 
gar.» Ibidem.  —  >iNào  andou  muito  quan- 
do contra  a  mão  esquerda  viu  atravessar 
dous  eavalleiros,  a  quem  conheceu  polas 
armas,  um  ser  Beroldo  e  outro  Platir,  e 
bradou  lhe  que  o  esperassem :  elles  o  co- 
nheceram, o  veudo-o  daquella  sorte,  ba- 
nhado em  lagrimas,  temendo  os  desastres 
da  fortuna,  lhe  perguntaram  que  causa  o 
fazia  assim  vir.»  Ibidem,  cap.  115. 

Não  teme.  não  espcr.i. 

Não  pende  da  fortuna  ou  vãos  cuidndos 

A  consciência  pura. 

ANTÓNIO  FERKKIRA,  OPES,  1ÍV.  1,  H.*  3. 

—  «E  virandose  entào  para  nós,  que  a 
este  tempo  estávamos  todos  prostrados  no 
chão,  e  com  as  mãos  levantadas,  como 
quem  adora  a  Deos,  nos  disse,  ey  tama- 
nha piedade  da  vossa  miséria,  e  tenho 
tamanha  dôr  da  vossa  pobreza,  quo  vos 
certifico  em  boa  verdade,  o  assi  me  elia 
valha  diante  dei  Rey,  que  mais  quisera 
agora  sor  cada  hum  de  vós  outros,  com 
ter  em  mira  o  que  vejo  cm  vós,  que  este 
cargo  que  por  meus  peccados  agora  te- 
nho, porque  temo  niuyto  eseaudalizar- 
vos.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  i;V.». —  «Mandou  quo  nenirauí 
andasse  pela  cidade,  proueudosse  j>or  via 
dalgrins  seus  amigos  gentios  das  cousas 
necessárias  pêra  o  iuueruo,  temendo  qne 


então  o  cometoMom  os  mouros,  o  que  sa- 
bendo os  gouernadorcH  da  (.'idade  por  lho 
assi  ter  nian<lado  a  Rainha,  lhe  offerece- 
rara  toda  a  ajuda,  e  faiior  que  lhe  foMso 
nec^s^ario.»  Damião  de  0(.>cs,  Chronica  de 
D.  Manoel,  part.  4,  cap.  15. 


Certo  f|ue  Iic  do  fjucm  ftmo; 
Quç  08  diton  que  nella  aohci 
São  todos  di>  Fil'jdi-mo. 
K^te  homem,  rjne  atrenmcnto 
Hí  c»t/>  ')ue  foi  tomar? 
(^iial  scri  seu  fundamento? 
cAji.,  rtLODFiio,  act    "_'   --   •' 


—  f  E  ilaqui  por  diante  começou  de  se 
afastar  algura  tanto  da  terra  cõ  que  de 
noite  passou  o  cabo  a  que  ora  chamamoa 
das  correntes :  porque  começa  a  ooeta  on- 
curuarsc  tanto  i)era  dentro  passado  ellc, 
que  sentindo  \'a''co  da  (>.ãma  que  as 
agoas  o  apanhauSo  pêra  dentro,  temeo 
ser  alguma  enseada  penetrante  donde  na5 
pudesse  sair.»  Barros,  Década  1,  liv.  4, 
cap.  3.  —  cTemendo  que  commanicando 
este  negocio  com  elle  fossem  logo  oê 
Mouros  auisados,  por  não  se  guardar 
muito  .vjgredo  entre  elles  principalmente 
como  tocaua  cm  cousas  nossas.»  Ibidem, 
liv.  7,  cap.  11.  —  «Porque  como  os  con- 
selhos d'elRey,  era3  logo  postos  nos  ouui- 
dos  do  Çamorij  quis  prouer  no  que  auia3 
de  fazer  sem  o  comunicar  cõ  eIRey,  te- 
mendo o  dano  que  lhe  podia  sobre  vir  to- 
mando o  Çamorij  na  sna  industria  ardil 
de  os  offender.»  Ibidem,  cap.  7. —  tCom 
isto  ao  longo  do  mar  cm  [lartes  que  ellos 
temiam  poder  desembarcar  pente,  tudo 
era  fazer  paliçadas,  e  repairos,  assestan- 
do nelles  artilheria,  como  quem  mostrava 
querer-se  defender  vindo  o  ca.so  pêra  isso, 
e  também  a  fim  de  temorizar  os  nossos 
nestes  apercebimentos.»  Idem,  Década  2, 
liv.  6,  cap.  3.  —  «E  ainda  chegon  o  te- 
mor a  tanto,  que  temendo  que  os  nossos 
juntamente  Com  ellcs  entr.issem,  cimo 
aconteceo  na  tomada  de  Goa,  fechÁram  a 
porta  hum  pouco  c«do,  com  qne  muitos 
ficaram  de  fora.»  Ibidem,  liv.  7,  cap.  4. 

Morte  dura ! 
é  receio  vida  escura, 
quo  não  piKÍc  mi'ir  mal  acr 
do  que  ante  mão  temer 
o  que  \-Í9ta  não  segura. 

jLSTOMio  paKsrKS.  actos,  pag.  297. 

É  inimigo, 
nâo  teme.  vive  comsigo. 
vae-90  faiendo  men  amo. 
larpEii,  pag.  4S3. 

O  nobre  enthusiasmo,  o  patríotísino 

Quo,  audaz  mas  firme,  ardido  mas  prudente. 

P'rigos  não  basca  —  mas  uõo  Umt  os  p'rigoa, 

K.tíos  nfio  troa  —  maí  não  tomo  os  raios, 

Kstc  valor.  <•  Marco,  esta  oii»;ulia 

Foi  a  dos  Sei  piões,  ora  a  dos  Fabios, 

Ksta  ó  so  da  razão  —  e  so  romana. 

CAaKETT,  CATÃO,   SCt.   2,   9C.    1. 


TEME 


TEME 


TEMO 


689 


—  Temer  alguém ;  ter-lhe  medo. 

—  Temer  a  alguém  de  outrem,  ou  de 
algum  mal;  recear  que  lhe  venha. 

—  Temer  alguma  cousa;  ter  receio 
cVella  causado  por  medo. 

—  Temer-se,  v.  rejl.  Recear-se.  — • 
«Cufahu-im,  vendo  entrar  estes,  temen- 
dosse  (jue  as.-i  o  fiiriam  todolos  que  vi- 
nhào  no  batel,  se  lançou  fora  da  fusta, 
com  todolos  que  com  elle  hiam,  sem  nella 
ficar  pessoa  nenhuma,  na  qual  querendo 
entrar  dom  António  após  estes  cinco,  em 
pondo  o  pe  na  fusta  lhe  derào  do  muro 
hunia  frechada  no  lagarto  da  perna  es- 
querda.» Damião  de  Góes,  Chronica  de 
D.  Mauoel,  part.  3,  cap.  7.  —  «E  ElRcy 
D.  i'edro  11  para  a  guerra  de  1704.  em 
que  se  temia  alguma  iuvasaõ  marítima, 
jnandou  guarnecer  de  grande  numero  de 
Fortes  toda  a  Marinha  de  Lisboa  desde  a 
Torro  do  Bugio  ate  Casilhas,  e  da  Forta- 
lesa  do  S.  Giaõ  ate  o  Grillo.»  Severiui  de 
Faria,  Noticias  de  Portugal,  Disc.  2,  ca- 
pitulo 12. 

—  Temer-se  de  alguém;  recear  mal  a 
si  por  via  dclle.  —  «Disto  se  escusou  El 
Rey,  assim  por  se  temer  do  outro,  como 
por  ser  seu  genro,  seu  parente,  e  Mouro 
como  elle.  Mas  depois  tendo  alguns  agra- 
vos dello,  disse  a  Bernaldim  de  Sousa, 
que  naquella  matéria  podia  fazer  tudo  o 
que  lhe  bem  parecesse,  que  elle  o  ajuda- 
ria com  tudo  que  pudesse.»  Diogo  de 
Couto,  Década  6,  iiv.  8,  cap.  10.  —  «Che- 
gados elle,  o  Bernaldim  de  Sousa  a  Ma- 
laca, sempre  se  ficou  Bernaldim  de  Sousa 
temendo  delle,  porque  se  iiouve  elle  por 
muito  aflrontado  do  modo  com  que  pro- 
cedeo  com  elle.  E  ficando  assim  em  Ma- 
laca sem  se  encontrarem,  vej^o  D.  Rodri- 
go a  adoecer  de  humas  febres,  e  o  dia 
que  tomou  a  purga,  foy  ella  tal,  que  co- 
meçou a  arder  por  dentro,  e  a  gritar  por 
agua,  dizendo  que  se  lhe  abrazavão  as 
entranhas,  e  com  esta  angustia  morreo 
logo.Ji  Ibidem,  Iiv.  10,  cap.  7. 

—  Temer-se  de  si,  de  sua  fraqueza, 
paixões,  erros,  etc. 

—  Toma-se  substantivamente : 

Ah  !  quantos  homous  tem  gastados 
esta  Índia  ! 

Como  o  mar ; 
á  bofe,  molher  senhora, 
se  não  fora 
o  temer,  c  o  arrecear 
de  enviuvardes  alguma  hora, 
na  índia  andara  eu  agora. 

AUTOKIO  PRESTES,  AUTOS,  pig.  387. 

—  Adágios  e  provérbios  : 

—  Quem  não  deve,  nào  teme. 

—  Quem  pouco  sabe,  pouco  teme. 

—  Rei  se  nomeio,  quem  não  teme. 

—  Ninguém  é  fiel  a  quem  foe  temer. 

TEMERARIAMENTE,  adv.  (De  temerá- 
rio, e  o  suffixo  «mente»).  Do  um  modu 
temerário.  —  Lançar-se  temerariamente 
no  perigo. 

TOfc.  V.  —  87. 


—  Ao  acaso,  inconsideradamente, 
TEMERÁRIO,  A,  adj.  (Do  latim  temera- 
rius).    Arriscado,    arrojado,    sem   o    pru- 
dente receio,  e  temor. 


E  se  afiigeuta  indagador  ousado 

Que  o  temerário  passo  alli  dirige, 

O  magcstoso  aspecto  então  de  perto 

A  mostrará  aem  nuvens,  e  sem  sombras. 

J.   A.  DB  M.\CEn0,  A  NATDBEZA,  Caut.   1. 


Jlas  a  quaes  fins  o  temerário  vòo 
Tu  lhe  quizestc  dar,  oh  Natureza  ? 
Tào  estanho  favor,  tal  beneficio 
Da  Providencia  he  prova,  ho  delia  hum  brado, 
Contra  as  vorazes  fúrias  do  inimigo 
O  corpo  lhos  defende,  a  vida  escuda. 
iniDEM,  oaut.  3. 


Que  nos  convém  fazer  ?  Como  devemos 
Traetar  esse  homem  temerário,  ardido, 
Ambicioso,  insaciável?  —  A  fortuna 
Tem  coroado  seus  crimes  com  victorias. 

OABKETr,  CATÃO,  act.   2,  SC    1. 


—  Que  annuncia  temeridade,  que  tem 
o  caracter  da  temeridade. 

—  Jaizo  temerário;  juizo  sem  funda- 
mento. 

—  Termo  de  theologia.  Proposição  te- 
merária ;  proposição  que  leva  a  inducções 
contrarias  á  verdadeira  doutrina. 

—  Substantivamente;  Um  temerário. 
TEMERIDADE,  s.  f.   (Do  latim   temeri- 

tas).  f^aita  de  ordem  providencial. 

—  Excessivo  atrevimento,  audácia  im- 
prudente, arrojamento. 

TEMEROSAMENTE,  adv.  (De  temeroso, 
e  o  suffixo  «mente»).  De  um  modo  teme- 
roso. 

—  Com  temor. 
temerosíssimo,    a,   adj.    superl.   de 

Temeroso.  Mui  temeroso. 

temeroso,  ou  TEM0R0S0,  A,  adj. 
Que  produz  temor.  —  «Dramuslando, 
confiando  era  sua  força  e  valentia,  pele- 
java menos  como  cavallciro  destro,  que 
como  gigante  temeroso;  e  isto  fez  que  a 
batalha  antre  elle  e  Barrocante  andou  mais 
brava  e  perigosa  que  nos  outros.»  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  94.  —  «Mas  como  as  cousas  daquelle 
dia  fossem  diftereutes  dos  passados  em 
que  alguns  provaram  aquella  aventura, 
a  cidade  se  cubriu  de  névoa  tão  espessa 
e  negra  e  um  tom  tão  temeroso  e  triste, 
que  ninguém  tinha  o  juizo  tào  livre,  nem 
animo  tão  esforçado,  que  se  sentisse  isen- 
to do  medo,  que  aquelles  temores  repre- 
sentavam.» Ibidem,  cap.  98.  —  «Caval- 
gava em  um  cavallo  murzello  e  estava  en- 
costado sobre  a  lança  posto  o  conto  no 
chão,  tão  temeroso  e  feroz,  que  só  com 
aquella  mostra  criava  temor  a  quem  o 
via.»  Ibidem,  cap.  H7. 

Examine  inrolou,  cahiu  por  terra 
O  temeroso  Drago  que  amparara 


As  Quinas  tanto  sec'lo :  então  primeiro 
O  leão  do  Pyrenc  o  olhou  sem  medo. 

OARRETT,  CATÃO,   act.    G,   SC.   4. 


—  Que  tem  medo. 

Estavam  pelos  muros  temerosas, 
E  de  um  alegre  medo  quasi  frias, 
Eezando  as  mães,  irmãs,  damas  c  esposas, 
Promettendo  jejuns  e  romarias. 
CAM.,  Lus.,  cant.  4,  est.  26. 

—  «Com  a  qual  cousa  elle  hia  temero- 
so parecendolhe  ter  nisso  oíFendido  a  el- 
Rcy  de  Cochi j  :  e  tomado  estoutras  acha- 
lo  Ília  mães  em  termos  de  guerra  que  de 
paz.»  Barros,  Década  1,  Iiv.  5,  cap.  8. 

TEMIDO,  part.  j)ass.  de  Temer.  Que 
temo.  —  «E  esta  gloriosa  vitoria  que  nosso 
Senhor  deu  aos  nossos  foy  no  mcz  de 
Setembro  do  anno  de  1.Õ44  na  véspera  e 
dia  do  Arcanjo  Saõ  Miguel,  com  a  qual 
o  nome  Portuguez  ficou  tão  celebrado  e 
tão  temido  por  toda  esta  costa  que  em 
mais  de  três  annos  se  não  falou  noutra 
cousa.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregri- 
nações, cap.  146. 

Como  foy  obedecido 
de  tantos,  e  tam  sobido, 
tam  temido,  e  acatado, 
em  brcue  tempo  acabado 
foy,  e  ja  nào  he  sabido. 

GARCIA  DE  REZENDE,  MISCELLAMEA. 


—  Temente,  temeroso. 

TEMÍVEL,  adj.  2  gen.  Que  se  deve  te- 
mer, que  c  para  temer. 

—  Syn.  :  Temível,  formidável.  Vid.  es- 
te ultimo  vocábulo. 

TEMOEIRO.  Vid.  Tamoeiro. 

TEMONEIRO,  s.  m.  Termo  de  marinha. 
Piloto,  o  .que  rege  o  temão  ou  o  leme  da 
embarcação. 

TEMOR,  s.  m.  (Do  latim  timor).  Pai- 
xão do  animo  que  faz  fugir  dos  riscos, 
perigos,  e  cousas  que  se  receiam  por  dam- 
nosas.  —  «Quem  neste  tempo  pozera  os 
olhos  na  formosa  Polinarda,  bem  lhe  sen- 
tira nas  mudanças  do  rosto  os  temores, 
em  que  o  seu  coração  estava;  que  natu- 
ral é  quem  vive  com  receio  perdel-o  com 
poucas  cousas.»  Francisco  de  Jloraes, 
Palmeirim  de  Inglaterra,  cap.  104.  — 
«Duarte  Pacheco  sentindo  esta  descõfian- 
ça  e  temor  que  elRey  trazia,  o  esforçou 
promettendolhe  que  por  saluaçaõ  de  sua 
pessoa  e  estado  elle  cõ  quantos  eraõ  em 
sua  companhia  tinhaõ  offerecido  as  vi- 
das :  e  que  com  este  propósito  aceptado 
ficar  em  .sua  ajuda  como  elle  sabia,  e 
taÍ3  longe  de  sua  pátria  que  naõ  tinha 
outro  amparo  se  não  as  armas.»  Barros, 
Década  1,  Iiv.  7,  cap.  5. 


No  primciro3medo  estão 
os  temores  c  os  receios  ; 
d'este  não  passam  nem  vão, 


690 


TE1\I0 


TEMP 


TEMP 


que  ao  ha  maia,  mais  nilo  silo 
qiio  iif;iiraR  do  bons  idaíoh. 

ANTÓNIO  PBR8TK8,   AOTOÍ,  pllg.    40fl. 

—  Figuradamente :    Pessoa    ou    couf<a 
que  causa  temor. 

Já  na  agii»  ci-giiendo  vilo  com  grniido  prfsna 
Com  as  argoiitea»  cmidii»  branca  cícmna  ; 
Doto  CO 'o  i)nito  corta,  c  ntravoHna 
("oin  mai»  furor  o  mar  do  que  c^istuma ; 
Salta  NÍ8(i,  Ncrinc  se  arremessa 
Por  cima  da  agua  crespa,  cm  fori;a  Humma ; 
Abrom  caminlin  as  ondas  cncurvadaB, 
Do  temor  das  Neníidas  apressadas. 
CAM.,  Lcs.,  cant.  2,  est.  20. 

—  Receio  fundado  de  darano  futuro. 


E  mo  culpas  sem  concerto, 
Pois  f]uc  viste  no  deserto 
O  podor  quo  Cln-isto  tem, 
Que  atéfcora  foi  cubcrto  ? 
Porém  quom  adivinhara 
Que  no  mundo  visse  cu 
Ncnbuin  homem  que  ousara, 
E  som  temor  mo  lançara 
Por  fõrija  fc5ra  do  n\ou  V 

OIL  VICKNTK,   AUrO  DA    CANANÉA. 


—  «E  no  porto  com  favor  de  jMouros 
de  Calecut  que  alli  estavam,  trataram 
mal  os  nossos,  tomandu-lhes  o  que  leva- 
vam, sem  ousarem  de  lhos  fazor  mais 
damno,  com  temor  do  que  poderiam  re- 
ceber em  suas  pessoas  os  mercadores  que 
levava  AfFonso  d'Alboquerquc  couisigo.» 
Barros,  Década  2,  liv.  7,  cap.  1. 

80  poder  não  hei  do  ser 
d'uns  que  cuidam  que  no  ir 
sem  temor  estA  o  ferir, 
c  vem  co'o  quo  vão  fazer. 

AHTOSIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  411. 

—  Medo  respeitoso. 

Entrada  do  temor  religioso, 
Portento  lho  era  um  ruido,  \\m  rumor  lévc ; 
A  vaga,  que  se  empiUa,  e  remurmura, 
Crê,  ser  Leões,  que  rugem,  quando  desce 
('ybiMe  ao  Monte  CEchalio;  c  o  raro  arrulho. 
Do  Troca?.,  córneos  crê,  sons  de  Diana, 
Que  anda  a  csiçar,  no  pedregoso  Thuria. 

riU^MCISUO    MANOEL  PO  NASCIMENTO,  OS    HARrTKES, 

liv.  1. 

Com  taoâ  filtros  o  peito  se  Ihca  torna 
Impenetrável  ao  temor  da  morte ; 
D'huma  cobiça  vil  seu  peito  escravo 
Afronta  A  escuridão,  sopèa  o  susto. 
Eu  lhos  chamara  Ueróos,  s'outro  tivera 
Motivo  a  intrepidez,  motivo  a  fúria. 

J.   A.    DB  MACP.DO,  A  NATOREZA,  CaUt.   2. 

—  Syn.  :  Temor,  medo.  Yid.  esto  ulti- 
mo vocábulo. 

—  An.xoios  K  puovF.nmos: 

—  l\')de  liavcr  sotfrimcnto  na  dôr,  e 
não  no  temor. 

—  Por  temor  não  percas  honor. 

—  O  temor  lie  uma  mortal  dôr. 


—  O  temor  nompro  «ufipeita  o  peor. 
TEMORISADO,  ou  TEMORIZADO,  parf. 

pritig.  lie  Temorisar.  \'il.  Alemorisado. — 
«  ('om<e(»u  de  bralar  de  uma  jaueila  c'os 
que  ficavam,  animaiido-os,  que  houvessem 
vergonlia  de  tamanha  fraqueza,  o  que  tc- 
vo  tanta  furça,  '[un  lha  dobraram  a  ellcs 
pêra  cometter  a  Florcndos  com  muita 
maior  soltura  do  (|ne,  cm  todo  o  ília  mo.s- 
traram  :  mas  clle,  temorizado  de  seu  dam- 
no, confiado  na  lasào  com  (|ue  jjclejava, 
fazia  taes  maravilha.s,  quo  em  pouco  cs- 
ynrn  matou  um  dos  três  que  ficavam.» 
Fiaiicisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  74. 

TEMORISAR,  -m  TEMORIZAR,  v.  n. 
Vi  I.  Atemorizar. 

TEMOROSO,  A,    a'lj.    Vid.    Temeroso. 

TEMPAM.  Termo  antiquado,  por  Tem- 
po. 

TEMPE,  s.  /.  (Do  grego  tempê).  Ter- 
mo de  poesia.  Jardim,  legar  deleitavel, 
e  .'uneno. 

TEMPERA,  s.  f.  A  consistência,  que 
se  dá  ao  ferro  ou  aço,  com  certos  artifí- 
cios. 

—  Termo  de  volateria.  A  disposiç,'ío 
que  so  dá  á  ave,  antes  de  entrar  a  caçar 
no  outro  dia. 

—  Uma  das  peças  do  arado. 

—  Cunha  usada  nas  moendas  dos  en- 
genhos, entre  as  chumaceiras,  e  cabeças 
da  ponto;  e  para  chegar  os  bronzes,  os 
niancaos  de  cima  aos  eixos,  ou  cabeças 
dos  aguilhijes,  e  ter  os  eixos  concheg.ados 
em  boa  proporção,  para  espremerem  as 
cannas. 

—  Figuradamente:  Modo,  gosto,  usan- 
ça, estvlo. 

—  lima  cunha  do  carro  dos  bois. 

—  O  banho  cm  que  se  dá  a  tempera 
do  ferro,  ou  do  aço. 

—  Pintura  á  tempera;  cujas  tintas  fo- 
ram desfeitas  com  colla,  ou  agua. 

—  Termo  pouco  em  uso.  Temperatu- 
ra. —  A   tempera  do  ar. 

TEMPERADAMENTE,  adv.  (De  tempe- 
rado, com  o  sufRxo  fl mente »^.  Do  uiu 
modo  temperado. 

—  Com  moderação,  com  mo  lo,  com 
temperança.  —   Comer  temperadamente. 

—  L"oni  parcinionia  razoada. 
TEMPERADÍSSIMO,  adj.  snp.  de  Tem- 
perado.  Mui  temperado. 

TEMPERADO,  pnrt.  pass.  de  Temperar. 
Adubado. 

—  Ar  temperado;  ar  que  n.no  é  muito 
frio,  nem  muito  quente. 

—  Em  que  se  guarda  a  temperança. 

—  Instrumento  temperado;  instrumen- 
to preimrado  para  dar  sons  regulares. 

—  Moderado. 

—  Temperado  homem;  homem  comedi- 
do, moderado. 

TEMPERADOR,  A,  .1.  Pes.soa  quo  tem- 
pera. 

—  Fiunr.elamento:  Moderador. 
TEMPERAMENTO,  s.  m.  (Do  latim  Um- 


peramentum).  CompluiçAo,  constitaiçSo  do 
corpo  animal,  a  mÍHtura  dos  humores 
nVdle. 

—  Temperança,   moderaç.lo,   modéstia. 
— -Figuradamente:  .\  índole,  génio. 

—  Qualquer  cousa,  que  abranda,  o  cor- 
rige a  iortiililo,  acrinionia,  e  dusubrimen- 
lo  da«  cou.sa»  piíysicaí,  ou  moracs. 

—  Temperamento  doar;  a  qualidAde 
de  ser  qu'nte,  ou  frio,  secco,  ou  hamido, 
etc.  ;  tciii|ierie,  temperatura. 

TEMPERANÇA,  «.  /.  (Do  latim  ttmpe- 
rantiui.  Moileração.  —  tO  imperador  fi- 
cou com  Argolante  ouvindo  maiu  por  cs- 
tonso  tudo  o  que  passara :  logrando  aquel- 
le  prazer  tão  moderadamente,  quo  nin- 
guém podia  conhecer  nelle  nenhum  aba- 
lo, ante.s  j)erguntava  e  ouvia  tudo  com 
tanta  temperança,  como  se  a  pratica  fo- 
ra sobre  cou.-as  i!e  cuda  dia.»  Francisco 
de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap. 
4.5.  —  « Em  aquella  terni  muytaa  vezea 
se  acontece  sete,  e  oyto  annos  naõ  cho- 
ver nella.  He  muyto  temperada  em  o  in- 
verno, e  veralí,  e  por  cau.sa  desta  tempe- 
rança que  tem,  se  criaõ,  e  augmcnta  em 
tanta  abastança,  os  homerw,  que  (segun- 
do me  dis.seraõ)  as  mais  das  vezes  pariaõ 
as  molhercs  iluas,  e  três  crianças. t  Ten- 
reiro, Itinerário,  cap.  43. 

—  Modéstia. 

—  Temperatura. 

—  Virtude  moral  que  regula,  e  mode- 
ra os  desejos,  e  paixões  desordenadas, 
mormente  os  appetites  sensimes. 

—  Temperança  em  ceder  dos  »eu$  di- 
reitns ;  não  usar  d'elle3  por  respeito. 

—  Moderação  no  comer  e  no  bel>er. 

—  Syx.  :  Temperança,  moderaqno,  fru- 
galidnde.  Vid.  estes  dous  ultimoe  ter- 
mos. 

TEMPERANTE,  paH.  act.  de  Tempe- 
rar.  Que  tem  a  virtude  da    temperança. 

—  Termo  de  medicina.  Que  tem  a  vir- 
tude de  temperar,  de  moderar  a  activida- 
de mui  grande  da  circulaçiio.  —  Uma  be- 
bida temperante. 

TEMPERAR,  v.  a.  (Do  latim  tempera- 
rei. Adubar  a  comida  para  lhe  dar  bom 
sabor. 

—  Moderar,  modificar.  —  lAo  que  di- 
zem no  quinquagesimo  quinto  artigo,  quo 
alguns  scrviçaaes  nom  querem  servir,  se 
lhes  nom  derem  quanto  demanda?,  e  aas 
vezes  demandaõ  pelo  serviço,  que  ham  de 
fazer,  mais  do  que  vai  a  couía,  que  ham 
de  fazer:  e  que  fosse  nossa  merece  que 
o  temperássemos  per  guisa,  que  elles 
possaõ  aver  mantimento,  e  os  Lavradores 
possaõ  aver  quem  nos  serva.»  Ord.  Aí- 
fons.,  liv.  4,  tit.  20,  §  1. — «Quem  se 
presa  do  emendar  o  mundo,  vem-lhe  de 
cuidar  que  entende  tudo.  em  tudo  que- 
rem entender,  e  casados  com  seus  pró- 
prios p;iroceros,  querem  t»vloe  temperar 
a  seu  ponto,  o  tal  mandar  chamo  cu  des- 
mandar.* D.  Joanna  da  Gama,  Ditos  da 
freira,  pag.  55. 


j 


TEMP 


TEMP 


TE3IP 


691 


Pois  v<Js  isso  temperar. 
que  isto  ha  de  custar  lançadas. 
Qual  <iuerei3"?  que  pelejamos 
ou  enganadas  ? 

XSTOSIO  PBE3TKS,  ACTOS,   pag.    í 


—  Diminuir  o  excesso  de  uma  qualida- 
de physica. 

—  Socegar,  calmar,  moderar. 

—  Diminuir  a  intensidade  de  uma  qua- 
lidade moral. 

—  Refrescar,  fallando  dos  calores  do 
corpo,  mórbidos  ou  não. 

—  Temperar  o  acido  com  agua,  ou 
doce. 

—  Fazer  abrandar  o  génio  forte  com 
algum  artiticio  e  meio  suave. 

—  Figuradamente  :  Temperar  o  estylo 
coin  o  seu  sal. 

—  Temperar  a  língua;  não  offender 
com  ella  ninguém. 

—  Concertar  cousas  desordenadas. 

—  Temperar  o  ferro ;  dar-lhe  a  tem- 
pera, subil-o  de  ponto,  tornal-o  mais  ri- 
jo e  consistente. 

—  Temperar  o  relógio;  dar-lhe  corda 
e  regulal-o. 

—  Loc.  AXT. :  Temperar  alguém  de 
algum  aggravo,  ou  paixão;  fazer  com 
que  se  desagaste. 

—  Temperar  a  língua  alheia  com  a 
orelha  própria;  não  fazendo  caso,  ou  fa- 
zendo-se  surdo  ás  injurias. 

—  Termo  de  medicina.  Abrandar,  mo- 
derar, mitigar. 

—  Temperar  o  instrumento  musico  ;ía- 
zer-lhe  o  concerto  necessário  para  que  dê 
sons  regulares;  atinal-o. 

—  Temperar  desavindos;  compôl-os. 

—  Termo  de  volateria.  Temperar  o 
falcão;  dar-lhe  a  tempera. 

—  Temperar  os  affectos;  moJeral-os. 

—  Temperar  a  paz  com  a  guerra. 

—  Temperar  as  leis;  moderal-as,  mo- 
difical-as. 

—  Termo  de  náutica.  Temperar  as  ve- 
las; mareal-as  segundo  o  vento,  e  pru- 
dentemente. 

—  V.  n.  Fazer  alguém  boa  harmonia. 

—  Temperar-se,  v.  reji.  Moderar-se  no 
trabalho,  despeza,  paixões,  etc. 

—  Conciliar-se. 

—  Temperar-se  nas  palavras;  não  as 
dizer  offensivas,  mas  sim  com  mansidão. 

—  Temperar-se  no  comer,  beber,  f al- 
iar, etc;  moderar-se  em  tudo  isto. 

TEMPERATURA,  s.  f.  (Do  latim  tem- 
peratura. Disposição  do  ser  vivente,  tem- 
peramento. 

—  Estado  sensivel  do  ar,  que  aífecta 
nossos  orgàos,  conforme  é  frio  ou  quen- 
te, secco  ou  húmido. 

—  Grau  apreciável  de  calor  que  reina 
em  um  logar  ou  em  um 'corpo. 

TEMPEREIRO,  s.  m.  Nome  do  ferro 
que  as  tecedeiras  pregam  em  as  duas  ou- 
relas do  panno  que  vão  tecendo,  para 
que  elle  nào  encolha. 


—  Phir.  Quatro  paus  que  se  pregam 
da  nora  para  o  eixo. 

TEMPERIE,  s.  /.  (Do  latim  temperies). 
Termo  puuco  em  uso.  Vid.  Tempera- 
mento. 

TEMPERILHA,  s.  /.  Cousa  com  que  se 
tempera  o  calor,  o  frio,  os  sabores. 

—  Figuradamente  :  Cousa  com  que 
temperamos  as  condições  de  outros  a  nos- 
so geito. 

TEMPERILHO,  s.  m.  O  modo  e  destre- 
za da  re  lea  de  que  usa  o  cavalleiro. 

—  Figuradamente  :  Temperilho  dos  ne- 
gócios. Vid.  Tempero. 

• —  Plur.  Adubos  gulosos. 
TEMPERO,   s.  m.  O    sal   e    adubos   da 
paiiella. 

—  Figuradamente :  Geito  ou  meio  com 
que  se  ajusta  e  concluo  o  negocio  ;  com 
que  se  modera  ao  queixoso,  agastado. 

—  Termo  de  medicina.  O  effeito  do  re- 
médio temperante. 

TEMPESTADE,  s.  f.  (Do  latim  tempes- 
tas  .  Temporal  de  vento,  tormenta,  mar 
alterado.  —  «Porque  como  andavam  qua- 
si  de  guerra  os  Chinas  com  os  Portugue- 
ses, quando  vinham  as  armadas  sobre 
elles,  alevantavam  se  e  sayam  se  ao  mar 
e  estavam  em  lugares  mal  emparados  dos 
tempos  :  poUo  que  vindo  as  tempestades 
perdiams'?  muitos  dando  aa  costa,  ou  em 
alguns  baixos.»  Frei  Gaspar  da  Cruz, 
Tratado  das  cousas  da  China,  cap.  23. 
—  «As  exhaiaçoens  Castor,  e  Pollux  se 
apparecem  no  fundo  da  Xao,  ou  ao  lume 
da  agoa  predizem  tempestades;  porque 
mostraõ,  que  a  perturbação  do  àr  supe- 
rior as  naõ  deixa  subir ;  e  se  se  divizaõ 
nos  mastos,  ou  velas  indicaõ  serenidade, 
porque  se  vê,  que  os  ventos  as  naõ  po- 
dem dissipar;  como  dis  o  Plinio.»  Braz 
Luiz  d'Abreu.  Portugal  medico,  pag. 
430. 


He  sua  duração  ã  Eternidade, 
Deste  circulo  eterno,  o  Centro  he  tudo, 
E  03  limitjis  se  escondem  no  infinito. 
Produz  a  seu  sabor  a  tempestade. 
O  mar  amotinado  acalma,  e  enfreia, 
E  seus  Decretos  immudaveis  guião 
Do  raio  estragador,  rodeio,  e  golpe. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  XATURE2A,  Caut.  1. 

Oh  ne^ra  tempestade,  oh  filha  horrenda 
Do  Estio  abrazador  n'Africa  ardente, 
Nas  azas  do  Tufão  ealiginosas 
Do  Occidental  Xereo  no  império  voas. 
IBIDEM,  cant.  2. 

O  raio  assustador  da  tempestade, 
Medonha  producção :  se  rasga  as  nuvens, 
Enfia  o  crime,  o  incrédulo  desmaia. 


E  tu.  frondoso  Libano,  qu'os  Cedros 
Expões  á  tempestade,  expões  ao  raio. 


Figuradamente :  Tempestade  de  ar. 


—  Figuradamente:  Tempestade  de  des- 
gostos, de  trabalhos.  —  «Levanta-te,  al- 
ma, e  date  pressa,  que  já  passou  o  in- 
verno, e  tempestade  dos  trabalhos,  e  he 
chegada  a  primavera  do  descanço :  vem 
do  deserto,  vem,  e  serás  coroada :  como 
me  alegrara,  aindaque  sou  indiguo  de 
tanto  bem!»  Padre  Manoel  Bernardes, 
Exercícios  espirituaes,  pag.  5õ. 

—  Tempestade  de  tempestades. 
TEMPESTEAR,    v.    a.    Excitar,    fazer 

tempe^■tade. 

—  Maltratar  e  destruir  com  grandes 
e  repetidos  golpes. 

—  V.  n.  Mover-se  com  a  perturba- 
ção em  que  andam  os  elementos  nas  tem- 
pestades. 

—  Tempestear  com  alguma  cousa;  ex- 
pGl-a  ás  tempestades  e  temporaes  com 
que  se  consuma. 

TEMPESTIVAMENTE,  adv.  (De  tem- 
pestivo, e  o  suíExo  «mente»).  De  um  mo- 
do tempestivo. 

—  A  propósito,  a  tempo,  opportuna- 
mente. 

TEMPESTIVO,  A,  adj.  (Do  latim  tem- 
pestivus).  Opportuno,  que  vem  a  tempo 
e  a  propósito. 

TEMPESTUOSIDADE,  s.  /.  O  ser  tem- 
pestuoso. — •  A  tempestuosidade  dos  ma- 
res. 

TEMPESTUOSO,  A,  adj.  (Do  latim  tem- 
pestuosos). Qutí  está  sujeito  ás  tempesta- 
des, ou  que  produz  as  tempestades. 

Longe  do  Mundo,  ou  mar  tempestuoso 
O  tranquillo  Filosofo  só  busca 
Silencio,  e  solidão,  verdade,  e  estudo. 

J.  A.   DE  KACEDO,  A  NATUBEZA,  Caut.   1. 

—  Procelloso. 

—  Também  se  diz  da  pessoa  ou  cousa 
que  devasta,  que  estraga  como  a  tem- 
pestade. 

—  Figuradamente  :  Hora  tempestuosa 
da  morte. 

—  Que  produz  tormentas  e  tempesta- 
des. 

TEMPINHO,  .<.  m.  Diminutivo  de  Tem- 
po. 

TEMPLÁRIO,  *.  m.  Cavalleiro  da  ex- 
tincta  ordem  do  templo.  Dá-se-lhe  este 
nome  por  primeiramente  se  estabelecer 
no  logar  onde  em  outro  tempo  esteve  o 
templo  de  Salomão. 

1.^  TEMPLE,  s.  m.  Vid,  Tempero,  e 
Moderação. 

2.)  TEMPLE,  ou  TEMPRE,  s.  m.  No- 
mes pelos  quaes  se  designa  a  ordem  do 
templo  creada  em  Jerusalém  pelo  anno 
de  1118  e  estincta  por  Clemente  v  em 
1311,  sobre  cujas  minas  se  fundou  em 
Portugal  a  ordem  militar  de  Christo. 

TEMPLO,  s.  m.  (Do  latim  templum). 
Edifício  publico  consagrado  á  Divindade 
nos  povos  que  tem  um  culto.  —  «E  por 
me  não  deter  ja  mais  nas  cousas  desta 
grande  cerca,  deixarey  de  contar  outras 


092 


TEMP 


TEMP 


TEMP 


muytas  qiii>  nella  viinoH,  a«HÍ  do  ciUlieios 
nobres  e  ricos,  como  do  templos  ilu  seus 
pagode.'),  e  pCtos  arraadiis  sobro  coliiiias 
de  podra  iiiiiyto  groasas,  a  ciuninliofl  to- 
doa  calçados  do  liif^eas  muyto  primas,  e 
todos  muyto  iarpo-i  o  bom  acabado.-',  e 
muyto  conipi-ido.-í,  o  ([UO  do  iiuina  banda 
c  da  outia  tem  aua.s  "cratlcs  <!(■.  torro  muy- 
to bem  foita.H,  jiorquc  das  cou.saa  quo  jo 
tenho  ilito  se  poderá  collof;ir  quais  saõ  as 
que  doixo  por  dizer,  pcjis  todas  so  jjarc- 
com  liumas  com  as  outras.»  Feruilo  Men- 
des Pinto,  Peregrinações,  cap.  10(5. 


OvelliiiÁ  iinmolar,  no  Templo  vainort 

A  Ci'tc9,  quo  lis  Lnis  dA,  ao  Srtl,  que  aventa 

Og  Uaíoá,  que  liào  de  vir.  líojiiiido  iia  ciUidatt, 

Na  de.\ti-n  as  libações,  rodeemos  o  ândito 

Da  Ara,  a  que  borrifou  sangue  da.í  victiinas: 

Pio  farro  se  enipóline,  e  averiguemo» 

Qual  Gínio  ignoto  a  Eudóro  patrocina. 

F.  U.  DO  NASCIMENTO,  08  M1BTYBE3,  1ÍV.  8. 

Neste  Templo  hc  guardado  o  grande  arcano. 
Disso,  o  brônzeo  ferrolho  »  bum  cofre  abria ; 
Dcllc  hum  lenço  extrahio,  que  ao  Lusitano 
Kstranhiiidimo  quadro  otVorcoia  : 
Quando,  o  Velho  llics  diz,  fôr  do  Oceano 
Cortada  a  parte  austral  profunda,  o  fri* 
Por  mui  fortes  líaroens  de  ferro  armados, 
Mudar-sc-hão  d'A8Ía  do  reponte  os  Fados. 

J.  A.  DK  UACBUO,  O  OBIEXTK,  Caut.  5,  CSt.   GO. 

o  Génio  a  voz  erguendo  ao  Throuo  aponta, 
E  com  celeste  accnnto  assim  rac  exclama : 
Mortal,  a  quem  foi  dado  entrar  no  Templo, 
Onde  alvergue  quiz  ter  Sabedoria, 
Olha  o  Monarcha  teu,  coutia,  exulta. 

IDEU,   VIAQEU  EXTÁTICA,   CaUt.    4. 

Legislador  Americano,  os  Evos 

Teu  nome  guardarão,  Nollet,  t^'U  nome 

Do  Templo  nas  abobadas  gravado 

Eternamente  vivirii,  se  as  Artes 

Barbaridade,  que  estcrmina  tudo, 

Quizer  poupar  d'alluvião  de  ultrajes. 

Que  ás  Leis,  A  Natureza,  aos  Ceos  tem  feito. 

IBIDEU. 

Ilida  te  presta  culto,  iuda  te  acata 
O  que  bebo  uo  Ilidaspe,  iuda  te  adora 
Deutro  do  Templo  o  morador  do  Ganges. 
iDEU,  A  NATUREZA,  cant.  2. 


—  Absolutamente  e  por  exceiiencia :  O 
templo  que  Salomão  edificou  em  Jerusa- 
lém por  ordem  de  Deus,  o  que  foi  des- 
truído por  Ilerodes. 

—  Figuradamente:  O  templo;  o  con- 
juacto  das  idèas  christris. 

—  O  iMVo  templo;    a  egreja    clirlstà. 

—  Egreja  consagrada  ao  culto  catUo- 
lico. 

— Diz-se,  entre  os  protestantes,  do  edi- 
fício onde  se  fazem  as  ceremouiaa  do 
culto. 

—  Â  ordem  do  templo ;  a  ordem  dos 
templários,  religiosos  militares,  boje  ex- 
tincta. 

—  Templo  títerno. 


Depois  quo  o  Trace  bárbaro,  e  que  o  Seita 
Do  Eurota»,  e  Hypocreno  os  margens  pizào. 


De  líollaudn  n  cerração,  de  ilollanda  o  clima 
Não  deixãu  de  briliiar  mo  Tr.tiipln  eterno. 

J.   A.  1»:  MACEDO,  VIAOKIl  KXTATICA,  CaDt.   4. 

—  Syn.  :    Templo,    egreja.    Vid.    este 
tiltimo  termo. 

TEMPO,  s.  m.   (Do    latim    tempum.    A 
medida  da  duraçilo  das  cousas. 

—  Espaço. 


Como  por  tempo  eterno  to  apartaste 
De  quoiii  tão  longe  andava  de  perder-tc  '■ 
Puderão  es.sa8  águas  dcfender-te 
Que  não  visses  rjuem  tanto  magoaste? 

CAM.,  80SET0S,   n.*  170. 


—  «O  tempo  he  de  tantas  mentiras 
que  nam  ouso  dizer  algumas  verdades; 
mas  elio  as  vay  mostrando,  que  he  gran- 
de estragador  de  tudo,  e  descobre  o  en- 
coberto.» D.  Joanna  da  Gama,  Oitos  da 
freira,  pag.  64  (edição  de  li<l'2i. 


O  tempo  não  dá  alegria 

verdadeyra ; 

tirado  pola  iieira 

sai  vasia  ; 

ninguém  tem  o  que  queira 

uem  se  conhece  ; 

cada  hum  pena  padece 

cada  dia. 

IBIDEU,  pag.  99. 


—  «Avi-sanos  o  tempo  que  he  ligeiro, 
corre  depressa  o  prestes,  passa  e  passâ- 
mo  nos  nós,  abreviamse  os  dias,  nam  os 
podemos  alargar :  mas  podemo-los  apro- 
veytar,  curando  com  diligencia  da  alma.» 
Ibidem,  pag.  (35.  —  «O  tempo  de  seu  Im- 
pério, foy  de  pouco  mais  de  dous  ânuos : 
morreo  em  idade  de  70.  e  tiitos  ânuos, 
e  seu  filho  eutr.àdo  por  20:  no  de  Chris- 
to,  duzentos  e  trinta  e  nove:  4197.  da 
(Jreaçaõ  do  Jlundo.»  Monarchia  Lusita- 
na, liv.  5,  cap.  16.  —  «Levautouse  Eli- 
pãdo  Bispo  de  Coimbra,  e  disse.  Naõ  po- 
deremos todos  comprir  isto  da  mesma  ma- 
neyra,  mas  pareccndovos  bem,  taçao  cada 
hum  conforme  lho  permitir  o  tempo.» 
Ibidem,  liv.  6,  cap.  2.  —  •Durou  o  tem- 
po do  Império  de  mày,  e  filho  dezanove 
aunos,  o  nuiis  durara  se  concluirá  a  pra- 
tica de  casamento  que  iiouve  entre  ella  e 
Carlos  Magno.»  Ibidem,  liv.  7,  cap.  1. 
—  «Porem  se  Palmeirim  em  tempo  al- 
gum mostrou  sua  alta  proeza,  foi  neste, 
que  nenhum  goijie  dava,  que  n.^io  derri- 
basse cavalleiro  morto  ou  tcrido,  sem  ne- 
nhuma arma  poder  resistir  sua  força.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  78.  —  «No  uio.-mo  tempo  c. le- 
garam Platir  e  Beroldo,  que  com  o  mes- 
mo cuidado  dos  outros  faziam  sua  via- 
gem. E,  vendo  que  o  desejo  do  cavallei- 
ro do  Tigre  era  nào  ir  ninguém  com  elle, 
so  metteram  no  navio  de  Daliarte.»  Ibi- 
dem, cap.  115. 


Ji  neste  Irmpo  a  vista  m:  encandoa, 
K  o  rosto  cobre  um  (laUido  suave. 

HÁ   Uy.  tlCVEZeil,  MALACA  COXlJ.,  Iiv.   12,  Mt.  33. 

—  «Porque  por  espias,  que  trasia  na 
campanha,  foy  avisado  que  El-Kev  de 
.langoinii  ajunt-iva  gente,  e  em  breve 
tempo  estaria  i<obre  a  Fortaleza,  cubriíi' 
do  os  c-impos  de  homens,  e  elefantes  de 
peleja.»  Conquista  do  Pegú,  cap.  7. 


Vi-iidii  jn  iiiKii-  ('■uijtit  o  i  1111  .uiiindu 

imigo  pertinaz,  que  de  tal  geito 

Do  mar  o  baluarte  he  ja  batido 

(^ue  liLim  caminho  assaz  largo  hc  nellc  feito 

Por  onde  po<lc  ja  ser  comincttido. 

De  novo  se  lhe  ac«itd<>  o  ac^so  peito, 

Toma  novo  furor  e  uontiau^'a 

De  tomar  neste  du  outro  grãa  Wngança. 

rUAMCISCO     D'AXbaAOE,     1'KIIIÍIH  ■    '   1  «' "    '■«■     ' 

cant.  18,  est.  21. 


—  «Ilum  mercador  rico  de  os  mogores 
no  tempo  que  com  os  Chinas  contrata- 
vam veo  a  ter  nmita  conversaçam  c  muy 
familiar  amizade  com  hum  I»uthia  prin- 
cipal da  cidade  onde  contratavam,  ao 
que  servia  com  grandes  dadivas  de  cou- 
sas que  de  sua  terra  lu<!  trazia.»  Frei 
riaspar  da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da 
China,  cap.  28.  —  «E  mandando  passar 
disso  hum  padraõ  geral  por  todas  as  ci- 
dades (jue  eraõ  cabeças  doa  anchacilados 
das  comarcas,  diz  a  chronica,  que  trazen- 
dolho  jiaraquo  o  assinasse  com  hum  sine- 
te douro  que  trazia  uo  braço,  com  que, 
por  ser  cego,  o  custuniava  de  fazer,  logo 
em  o  assirando  lho  dera  Deos  vista  per- 
feita, a  qual  sempre  tivera  todo  o  tempo 
que  despois  viveo,  que  foraíi  quatorze 
annos.»  Fernão  Meudi-s  Pinto,  Peregri- 
nações, Ciip.  113.  —  «Bemdito  e  louvado 
seja  o  dulcissimo  nome  de  nosso  Ser.hor 
Jesu  Ciiristo,  pois  a  cabo  de  tanto  tem- 
po e  em  tamanho  desterro  permitiu  ve- 
rem meus  olhos  homem  Cáriatâo,  que 
professasse  a  ley  de  meu  Deos  posto  na 
Cruz.  Qu.^do  eu  ouvy  huma  cousa  ta3 
nova,  e  tão  lõge  do  que  eu  esperava,  fi- 
quoy  tào  sobressaltado,  que  afastandome 
rijo  atrás  mais  que  pasmado,  lhe  disse 
alto.»  Ibidem,  cap.  116. —  «E  partindo- 
nos  daqui  assàa  enfada<los,  e  maltratados, 
e  sobre  tudo  muyto  faltos  do  necessário, 
navegámos  por  conselho  doa  pilotos  por 
outro  rio  muyto  mais  largo  que  o  estey- 
ro  que  tínhamos  deba^•xo,  por  tempo  de 
nove  dias,  no  fim  dos  quaes  prouve  a 
Deos  ijue  cliegàmus  a  huma  boa  povoa- 
ção, que  se  dizia  Tarem,  cujo  senhor  era 
súbdito  do  Cauchim.»  Ibidem,  cap.  128. 


Todos  vimos  fallescer, 
cm  breue  temjvy  morrer, 
e  nenhum  durou  três  aunos. 
Portugueses.  CastcUanos 
ja  ho9  quer  Deos  juntos  vex. 

0.U1CLA  DK   BEZEaOS,  MtSCEUJLSKA. 


TEMP 


TEMP 


TEMP 


693 


Neste  estado  da  simples  Natureza 
Eiiatio  lougo  ieinpo  a  cspeeie  humana, 
Ah  !  Foi  Cata  por  certo  a  Idade  douro  ! 

J.   A.   DE  MACEDO,  VIAGEM   EXTÁTICA,   Cailt.    1. 


—  «A  fiiria  crescia  ao  passo  que  os 
fugitivos  se  embrenhavam  na  maior  es- 
pessura da  floresta.  Durante  algum  tem- 
po, elles  tinham  podido  descortinar  os 
pincaros  das  montanhas  e,  lá  muito  ao 
longe,  03  mais  altos  cabeços  do  Vinnio, 
que  reflectiam  o  luar  no  sen  manto  pra- 
teiado  de  neve. »  Alexandre  Herculano, 
Eurico,  cap.  lò. 

—  Occasião,  vagar,  logar. 

—  Passar  o  tempo ;  passal-o  occapa- 
do  ou  divertido.  —  «Eram  nioç-os,  e  muita 
a  liberdade  das  grades  d'aquelle  miserá- 
vel tempo.  Emqaaiito  durava  a  missão 
não  se  fechavam  palratorios,  como  hoje 
se  usa.  Por  alli,  pois,  se  passava  o  tem- 
po.» Bispo  do  Grão  Pará,  Memorias,  pu- 
blicadas por  Camillo  Castello  Branco, 
pag.  96. 

—  JVi/jrt  tempo. 

Que  de  si  nada  tem  :  delia  procede 

O  magestoâo  Meteoro,  ornato 

Das  nuvens,  c  do  Cco,  que  o  docto  Coro, 

Da  Natureza  interprete,  e  dasMusas, 

Cliamou  n'um  tempo  a  Filha  de  Thaumanto. 

í.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Caut.  1. 

—  De  pouco  tempo ;  de  pequeno  espaço 
de  tempo.  —  «E  neste  pouco  tempo  que 
esteue,  grande  numero  daquelle  pouo  pa- 
gão recebeo  o  baptismo.  Depois  para  fauo- 
recer  estes  Christãos  contra  aquelles  que 
naõ  queriaõ  vir  a  fè:  mandou  o  Infante 
alguma  gente,  e  por  capitão  delia  Antaõ 
(jonyaluez  seu  guardaroupa.»  Barros, 
Década  1,  liv.  1,  cap.  12.  —  aAinda  que 
o  officio  de  Capitão  dos  Ginetes  parece 
deve  ser  mais  antigo  neste  Reyno,  toda- 
via naõ  se  faz  delle  menção  nas  historias, 
senaõ  de  pouco  tempo  a  esta  parte.»  Se- 
verim  de  Faria,  Noticias  de  Portugal, 
Disc.  2,  cap.  -i. —  «Pelo  que  estando 
huma  Família  Titulada,  aiada  que  seja 
conhecida  de  pouco  tempo,  rica  preferida 
à  outra  mais  antiga,  se  ate  entaõ  não  al- 
cançou semelhante  dignidade.»  Ibidem, 
Disc.  3,  cap.  1. 

—  Estado  da  atmosphera. 


Naquclle  tempo  brando 

Em  que  SC  vê  do  mundo  a  formosura. 

Que  Thetis  descansando 

De  seu  trabalho  está,  formosa  c  pura. 

Causava  Amor  o  peito 

Do  mancebo  Poleo  d'hum  duro  efieito. 

CAM.,  ODE  11. 


—  «Partida  a  armada  com  mui  bom 
tempo  chegou  dom  Francisco  ao  portai 
Dale,  na  costa  de  (juine,  onde  se  deteue 
nouc  dias,  fazendo  augoada,  e  foi  alli  bem 
festejado  do   Rei   da  terra.»  Damião  de 


Góes,    Chronica  de  D.    Manoel,   part.   2, 
cap.  2. 

—  Em  tempo  de  alguém,  ou  do  tempo 
de  alguém;  na  epocha  em  que  elle  viveu 
ou  existiu.  —  «Todos  estes  montes  deste 
couto  a  dentro  som  coutados  de  porcos, 
e  porcas,  bácoros,  e  bácoras  montezes,  e 
de  fogos,  e  armadilhas;  e  qualquer  que 
errasse  em  cada  huma  destas  cousas,  que 
pagasse  quinhentas  libras  da  moeda  an- 
tiga; e  esto  em  tempo  d'ElRev  Dom  Jo- 
ham.»  Ord.  Affons.,  liv.  1,  tit".  67,  §  l.õ. 
• — ■  «Vos  mandamos,  que  ponhaaes  nas  di- 
tas vintenas  todolos  homens  do  mar,  e 
do  rio,  e  todolos  outros,  qite  andarem  em 
barcas  de  carreto,  e  de  passagem,  e  an- 
darem na  enxavegua,  e  aa  sardinha,  e 
sempre  acustumarom  de  poer  em  vintena 
em  tempo  dos  outros  Reix  que  ante  Nós 
forom  ;  tazendo  a  dita  declaraçom  aaquel- 
les,  que  do  novo  poserdes,  e  o  dia,  e  era 
em  que  se  poserem  na  vintena  do  vin- 
taneiro,  que  o  pooem.»  Ibidem,  tit.  70, 
§  2. —  «A  qual  Ley  vista  per  nós  man- 
damos que  se  guarde,  segundo  em  ella 
he  contheudo,  porque  nos  parece  seer 
justa,  e  sempre  assy  foi  usada,  e  guarda- 
da nos  tempos  dos  outros  Reyx,  que  ante 
nos  forom  ata  ao  presente.»  Ibidem,  liv. 
4,  tit.  6,  §  õ. —  dAs  cousas  do  tempo 
delRey  dom  Aflbnso  como  elle  prometteo, 
nào  as  achamos,  parece  que  teria  a  von- 
tade e  naõ  o  tempo  :  ou  se  as  escreueo  se- 
rão perdidas  como  outras  escripturas  que 
o  tempo  cousummio.»  Barros,  Década  1, 
liv.  2,  cap.  1.  —  «Pelo  que  se  estas  mer- 
cadorias se  introduzirão  em  nosso  tempo 
só  pela  industria  dos  particulares;  com 
quanto  mòr  facilidade,  e  felicidade  se  po- 
derão introdusir  as  outras,  que  aponta- 
mos, pelo  poder,  e  authoridade  dos  Prín- 
cipes?» Severim  de  Faria,  Noticias  de 
Portugal,  Disc.  1,  cap.  4.  —  «Naõ  havia 
delles  numero  certo,  mas  em  tempo  d'El- 
Rey  D.  Sabastiaõ  o  foraõ  somente  doze.» 
Ibidem,  Disc.  2,  cap.  2.  —  «Estes  Caval- 
leiros  da  guarda  no  tempo  da  guerra  an- 
davaõ  no  Exercito  com  o  seu  Guarda 
Mòr  armados,  e  a  cavallo,  seguindo  a 
Pessoa  d'ElRey,  seguraudo-o;  alem  do 
qual  teve  também  depois  o  Oapitaò  dos 
Ginetes  parte  deste  cuidado,  como  adian- 
te veremos.»  Ibidem.  —  «Na  batalha  de 
Aljubarrota  levava  a  bandeira  Real  Lopo 
Vaz  da  Cunha  por  seu  irmaõ  Gil  Vaz  da 
Cunha:  e  nas  mais  empresas  d'£lRey  D. 
Joaõ  I.  exercitou  o  ofticio  Joaõ  Gomes  da 
Silva,  e  por  sua  morte,  o  deu  ElRev  ao 
Conde  de  Viana  D.  Pedro  de  àlenèzes, 
que  o  teve  em  todo  o  tempo  d'ElRev  D. 
Duarte,  cujo  ^Uferes  Mòr  era  sendo  In- 
fante.» Ibidem,  cap.  4.  —  «Este  numero 
de  gente  cuidaò  alguns,  que  foi  diminuin- 
do, porque  crescendo  grandemente  as 
nossas  Conquistas,  foi  necessário  dividir- 
se  a  gente  Portugueza  por  eilas :  de  ma- 
neira, que  em  tempo  de  Damiaõ  de  Góes 
pagava  ElRey   20:000  soldados  fora  da 


Barra;  e  assim  riaò  lie  muito,  que  iizes- 
scm  estes  no  Reyno  falta. »  Ibidem,  cap. 
7.  —  «Entrarão  depois  algumas  Famílias 
de  Castella  no  tempo  do  nos?o  Rev.  D. 
Pedro,  e  muitas  mais  nos  d'ElRev  D. 
Fernando  pela  pretençaõ,  que  teve  de  se 
fazer  Senhor  daquelle  Reyno  a  servir  El 
Rey  D.  Joaò  I.  assim  nas  guerras  de 
Castella,  como  na  tomada  de  Ceita,  vie- 
raõ  muitos  Fidalgos  de  França,  e  Ingla- 
terra.» Ibidem,  Disc.  3,  cap.'  1. —  «De- 
pois da  e:itra']a  dos  Árabes  em  Hespanha 
se  começou  a  usar  das  insígnias  nos  Es- 
cudos mais  ordinariamente  em  tempo  do 
nosso  primeiro  Rey  D,  Afonso  Henri- 
riques,  e  de  seu  primo  ElRoy  D.  Afonso 
VII  de  Castella,  como  o  mostra  douta- 
mente o  Chroiusta  Ambrósio  de  Morales, 
e  o  Arcebispo  D.  António  Agostinho.» 
Ibidem,  cap.  6. —  «Começarão  estes  Offi- 
cios  em  tempo  d'ElRey  D.  Joaõ  I,  por- 
que atè  entaõ,  pelas  poucas  mudanças, 
que  houve  em  Portugal,  eraõ  todo.s  os 
Nobres  conhecidos;  e  paciricamente  pos- 
suhia  cada  hum  as  heranças,  e  honras, 
que  de  seus  passados  alcançara.»  Ibidem, 
cap.  18. 

—  Ao  tempo;  na  occasião.  —  «E  en- 
tende-se  o  engano  da  parte  do  vendedor 
aalem  da  meetade  do  justo  preço,  honde 
se  a  cousa  vendida  valia  per  verdadeira 
e  cumunal  estimaçom  ao  tempo  do  con- 
trauto  dez  libras,  foi  vendida  algum  tanto 
por  menos  de  cinco  libras ;  e  da  parte  do 
comprador,  se  a  cousa  comprada  valia 
per  cumunal.»  Ord.  Affons.,  liv,  4,  tit. 
•i^»)  §  1- —  «O  qual  penitenciado  foi  en- 
tregue àquelle  honrado  e  catholico  barão 
dõ  Gõçalo  que  muito  ajudou  a  este  Rey 
nas  cousas  da  fé ;  e  porque  ao  tempo  que 
se  baptizou  este  capitão  tomou  o  nome 
delle  dõ  Gonçalo,  elle  o  fez  capitão  d 'al- 
guma parte  das  suas  terras  cm  o  reco- 
lhimento de  suas  rendas.»  Barros,  Dé- 
cada 1,  liv.  3,  cap.  10. 

—  A  tempo;  em  occasião.  —  «George 
dalbuquerque  inuernou  em  Moçambique 
com  noue  nãos,  porque  as  quatro  de  que 
eram  capitães  Lopo  de  brito,  Pêro  da  syl- 
ua,  loam  roiz  dalmada,  e  Francisco  da 
cunha  passaram  a  índia,  e  forão  ter  a 
Cochim  a  tempo  que  se  andana  Diogo  lo- 
pez  de  sequeira  fazendo  prestes  pêra  ir 
ao  mar  Darabia.»  Damião  de  Góes,  Chro- 
nica de  D.  Manoel,  part.  4,  cap.  36. 

—  Em  seu  tempo ;  na  epocha  em  que 
elle  viveu  ou  existiu. —  «ElRey  Dom  Do- 
nis  de  grande  e  louvada  memoria  em  seu 
tempo  fez  Lei  em  esta  foima,  que  se  se- 
gue. >•  Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit.  õ6. — 
«ElRey  Dom  Donis  da  famosa  e  esclare- 
cida memoria  em  seu  tempo  fez  Lei  em 
esta  forma,  que  se  segue.»  Ibidem,  tit. 
57.  —  «E  despois  desto  o  muito  virtuoso, 
e  de  grande  fama  ElRey  Dom  Affonso  o 
Quarto  em  seu  tempo  acerca  deste  passo 
fez  outra  Lei  em  esta  forma,  que  se  se- 
gue.»   Ibidem,  tit.   62,  §  2. —  «Disto  se 


694 


TEMP 


TEMF 


TEMF 


queixava  Pliiiio  cm  seu  tempo  ilizendo, 
Latifandia  jjerdidere  Itatiaiu;  (jue  a 
grandoza  das  berdadc»  tinha  feito  a  Itulia 
cstoril;  c  quo  havia  ]m>s;iiio  o»ta  coblva 
tanto  avante,  que  atè  AtViea,  que  ora  a 
mili  da  aljuiidaiicia,  iioeedsitaua  de  tri- 
go.» Severiíii  <lo  Faria,  Noticias  de  Por- 
tugal, Disc.  1,  cap.  5. 

—  Tempo  ccrtu;  tempo  determinado. — 
«E  j)ur  tanto  disserom  os  Direitos,  que 
BB  o  eomprador  o  o  vendedor  na  eompra 
o  venda  aeordasseni,  que  tornando  o  ven- 
dedor ao  comprador  o  prcyu,  que  ouve 
pola  cousa  vendida,  ataa  corto  tempo,  a 
venda  fosse  desfeita,  e  a  cousa  vendida 
tornada  ao  dito  vendedor,  tal  avoen^-a  e 
condiçom  assy  acordada  pelas  ditas  par- 
tes vai,  e  he  aprovada  por  direito.»  Ord. 
Affons.,  liv.  4,  tit.  40. —  «E  porque  mui- 
tas vezes  acontece  aquelle,  ou  aquelles, 
a  que  a  dita  cousa  a-si  foi  apenhada,  de- 
uiandareni  o  comprador  deliu,  dizendo 
contra  clle  que  lho  pague  a  divida,  por 
que  a  cousa  foi  apenhada,  ou  lhe  dê  a 
dita  cousa,  que  assi  comprou,  pêra  have- 
rem per  ella  sua  divida,  o  que  achámos 
per  direito,  que  vindo  ao  tempo  certo  po- 
dom-Bo  justamente  fazer.»  Ibidem,  tit. 
52. 

—  Loc. :  Ao  viesmo  tempo;  simultanea- 
mente. —  «Confessemos  aiiula  que  ver- 
gonhosamente a  sua  gloria.  Nós  somos 
ao  mesmo  tempo  bons,  e  igualmente 
mãos.»  Cavalleiro  d'01iveira,  Cartas,  liv. 
1,  n.o  2S. 

—  Epocha. 


Dar-voa-hei  quanto  tiver, 
Para  taes  tempos  como  cates. 
Quem  tivera  voz  dos  Cooâ, 
Pois  escutar  me  quizcstes  ! 
Assi  paroc,a  cu  a  IVoa, 
Como  lho  viís  parecoatcs. 

OAM.,  FILODKMO,   UCt.    1,   SC.    15. 


—  trarecendolho  que  a  nossa  guerra 
seria  ao  modo  das  armadas  passadas,  de 
ir  e  vil"  com  carga  da  especiaria  nos  tem- 
pos de  nossa  mõi;ão :  e  de  camir.lio  fazer 
algum  dauino  se  achássemos  tlisposiy.^io 
pêra  isto.»  Barros,  Década  1,  liv.  10, 
cap.  4. 

Folgo  do  a  tal  tempo  virdes 
que  por  mais  uào  seja  agora 
que  vèr-voi  cata  aonliora 
que  sei  que  folgais  servirdes. 

ÀKTONIO  PKESl-ES,   AUTOS,    pag.   24. 

Onde  lia  cases  dcacngauoa 
tão  assi  considerados 
ja/.cin  tempoD  bom  gastadoa 
e  aprovcitjidos  annoa 
pêra  dias  dcdcani,-ado3. 

IDIDF.U. 


—  «De  modo,  que  na  virtude  da  Tem- 
perança 80  poderá  comparar  esta  nossa 
llepublica   até  o  tempo  do  Jiossoa  Avós 


com  a  taò  celebrada  dos  Lacedemonio8.i 
Severim  de  Faria,  Noticias  de  Portugal, 
Disc.  2,  cap.  1.  — «ElUey  D.  Afiouso 
V.  lez  novas  leys  de  quantias  das  fazeu- 
da<,  c|ue  se  guardarão  atè  o  tempo  d'Kl- 
Itoy  IJ.  Manoel,  as  quaes  renovou  El- 
Key  D.  Joaõ  111.  e  ultimamente  Ellley 
D.  Seba.-itiaõ,  que  «aõ  as  (jue  hoje  so 
guardaõ.»  Ibidem,  cap.  II.  —  «QueixSo- 
80  hoje  que  nào  tem  para  pagar  as  deci- 
mas, com  que  Elliey  lhos  defende  as  vi- 
das ;  e  niJs  vemos,  que  lhes  sobeja  para 
gastarem,  no  que  lhes  n.Mlo  lie  necessário 
para  a  vida.  Apod.ào  este  tempo  com  o 
antigo :  chamJio  ao  passado  idade  de  ou- 
ro, e  ao  presente  século  de  ferro:  e  nós 
sabemos,  que  quem  entik»  tiniia  hum  anel 
de  ouro  com  hum  par  de  colheres,  e  gar- 
fos de  prata,  achava  que  possuia  muito.» 
Arte  de  furtar,  cap.  44. —  «Prosegui- 
mos  este  santo  tempo  da  guerra  spiritual 
porque  Quaresma  nà  he  outra  cousa  sc- 
nam  hum  tempo  especialmente  depurado 
pêra  pelejar  contra  os  iniuugos  de  nossa 
alma,  è  particularmente  cõtra  nòs  mes- 
mos :  porque  o  homem  não  tem  muyor 
enemigo  de  sua  saluaçã  que  a  si  mesmo.» 
Frei  IJartholomeu  dos  Martyres,  Catecis- 
mo da  doutrina  christã.  —  «Em  fim,  o 
Urego  conimentador  Fernando  Nuno  Glo- 
ria dos  Académicos  em  Salamanca;  e  o 
Joco-serio  Francisco  de  Quese,  que  os 
professores  desta  Arte  saõ  fabula  ao  Fo- 
vo,  Corrt-olas  do  tempo,  gyras  do  lucro, 
pestes  da  bolça.  Carcomas  da  vida,  phan- 
tasmas  das  letras,  e  oráculos  da  ignorân- 
cia.» Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal  me- 
dico, pag.  ir>i5,  §  VÒ2. 

Estca  oa  lidos,  Alcyoneos  dias, 

Tào  bem,  tão  bem  na  Fabula  pintixdos ; 

Eu  verdade  a  julguei!   Ditoso  tempo, 

Ditosa  condii;ào  da  idade  tenra  ! 

Era  meu  nome  Ovidio,  e  ils  doutaa  artes 

Miulia  alma,  entào  novel,  sou  grémio  abria. 

J.    À.   DE   I1.VCED0,  liEDITAçÃO,  Caut.   2. 

—  Á  este  tempo ;  a  esta  occasião,  n'es- 
ta  occasião.  —  «O  qual  cuidando  que  hia 
bem  aviatlo,  foi-se  mettcr  em  lugar  com 
que  se  houvera  de  perder,  e  vinte  e  tan- 
tos homens  que  levava:  cá  a  esto  tempo 
Fernão  Peres  tinha  entrada  a  primeira 
cerca,  e  ás  lançadas  hia  encurrelaudo 
pêra  a  segunda  hum  grande  número  de 
^Mouros,  ao  encontro  dos  quaes  poloa  en- 
treter Pato  Quetir  sahia  donde  estava.» 
Barros,  Década  2,  liv.  í»,  cnp.  1.  —  fEu 
entào  tornando  mais  em  mym,  me  deter- 
miney  yr  saber  o  que  era,  ou  o  que  que- 
ria, e  encaminhando  para  onde  clle  esta- 
va, CO  meu  pao  na  mào,  o  fuy  seguindo 
para  dentro  da  azinhaga  onde  elle  ja  a 
este  tempo  mo  estava  esperando,  e  che- 
gando a  clle,  sem  até  entào  cuydar  del- 
le  outra  cousa  senão  que  era  Ciiim,  se 
me  lançou  aos  peis,  e  com  grandes  solu- 
ços e  muy tas  lagrimas  começou  a  dizer,  t 


FernSo  Mendes  Pinto,  Peregrinações,  ca- 
pitulo 116.  —  t  Desta  inaneyra  chegamos 
á  ca-ia  da  audiência  em  que  estava  a 
guarda  do»  inítdstros  ila  justiça,  onde 
nos  detivcrão  hum  grande  es|;aço,  por- 
que ainda  a  este  tempo  naõ  eraò  ho- 
ra» de  fazer  negocio,  mas  chegada  a  ho- 
ra SC  derão  três  pScadas  num  aino,  e  se 
abrio  outra  porta  que  estava  defronte.» 
Ibidem,  cap.  15^. 

—  iJar  tempo;  ilar  occasião,  dar  azo. 

—  *K  crecendo  com  isto  a  cólera  aos  sol- 
dados, lhe  disseraõ,  que  poi«  tinha  assen- 
tado de  sayr  em  terra,  nilo  esperiisse 
mais,  jiorque  seria  dar  tempo  aos  inimi- 
gos para  ajuntarem  muyta  gente.»  Fer- 
não Mondes  Pinto,  Peregrinações,  capi- 
tulo Gò. 

—  Loc. :  Ganhar  tempo;  por  meUer 
tempo  em  ineio,  ou  yoirar  tempo ;  dila- 
tar a  conclusão  do  negocio,  prolougal-a, 
demoral-a,  e-spaçal-a,  teinporizal-a,  delon- 
gal-a;  porém  esta  pkrase  é  considerada 
como  gallicismo. 

Faz  mui  bera 

ganhar  te.mpo  em  quanto  o  tem. 
Reza  mil  Ave-Mariaa. 
D'amigo  de  Deus  lhe  vem. 

ASIOXIO  riESTES,  ACTOS,  p^.  Gl. 

—  OccasiSlo,  conjunctura. 

Outra  vez  os  aperta  com  estreito 
Kogo  ja  contumaz,  c  eiicarecido, 
yuc  do  aUi  não  se  vão,  até  que  ordena 
Dcoa  tempo  c  coujuni,'ào  pêra  partirac. 

COBTK  KEAt.,NAL'FKAOI0   DK  SBPCLYEDA,  CAIlt.    14. 

—  O  A  que  o  Cbircâ  respondeu :  Naõ 
he  isto  tempo  de  te  lembrar  isso,  pois 
es  discreto,  e  entendes  qual  he  a  condi- 
ção do  povo  desconcertado,  que  sempre 
segue  o  mal,  a  que  naturalmente  se  in- 
clina.» Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções,  cap.  192. 

Que  me  qnés,  Jão  dos  cmprsstos  ? 

(^ue,  senhora,  que  de  gastos  ! 

haveis  de  ser  ciosa 

ipio  uào  O  tempo  de  fastoa: 

pcra  que  era  agora  cA, 

jantar  seu  tio? 

ANTOMO  FBKSTES,   ADTOS,  pag-   313. 

IIa\-ia  muito  que  era  ido? 
Tempo  ha  e  bem  comprido. 
Sc  deixou,  é  mcnoa  dõr. 
iBiDEu,  pag.  3S9. 

Deus  lhe  dê  benção  de  fmito. 
Pois,  comadre,  tempo  é  j4. 
Kào  quero  eu  tal  eanseir*. 
iBirr.»,  pag.  Xib. 

—  Km  tempo  ;   outr 'ora,  antigamente. 

—  «Assi  que  com  este  padraõ  que  foi  o 
derradeiro  em  tempo,  leixou  Vasco  da 
Giuuma  nesta  viagem  postos  cinquo  pa- 


TEMP 


TEMP 


TEMP 


695 


drões :  Saõ  Raphael  no  rio  dos  bons  si- 
naes,  Saõ  lorge  em  Moçambique,  Sancto 
Spirito  em  Melinde,  Sancta  Maria  nestes 
ilheos,  e  o  vitimo  per  sitio  em  Calecut 
chamado  Saõ  Gabriel.»  Barros,  Década 
1,  liv,  4,  cap.  10. 

—  Estação.  —  «O  qual  perde.o  a  maior 
parte  delias  cu  a  variação  dos  tempos,  e 
principalmente  despois  que  tomamos  Ma- 
laca :  porque  lançados  os  Mouros  Malaios 
daquella  cidade  buscarão  nouas  pouoa- 
ções  ao  longo  daquella  costa.»  Barros, 
Década  1,  liv.  9,  cap.  1. 

—  As  marés  no  tempo  d'aguas  vivas; 
na  occasião  d'aguas  vivas.  —  «E  a  razão 
deve  ser  por  causa  daquelle  sal,  e  enxo- 
fre, e  vieyros  em  certas  conjuncções  de 
Lua  crecerem  e  mingoarem,  como  as  ma- 
res no  tempo  dagoas  viuas.  Depois  de 
notadas  as  cousas,  que  eram  dignas  de  o 
serem.»  Fr.  Gaspar  de  S.  Bernardino, 
Itinerário  da  índia,  cap.  11. 

— •  No  tempo  presente  ;  na  occasião  pre- 
sente, na  actualidade.  —  aPara  que  no 
tempo  presente  possamos  constituir  hum 
varão  sábio,  e  hum  talento  útil.»  Fran- 
cisco Manoel  de  Mello,  Apologos  dialo- 
gaes.  —  «Esta  ventagem  tem  posto  no 
tempo  presente  a  casa  Othomana  em  tão 
miserauel  estado,  que  não  sabemos  quan- 
do se  vio  em  outro  semelhante,  e  per- 
mittirà  Deos  sedo  a  vejamos  de  todo  aca- 
bada, e  destruyda.»  Frei  Gaspar  de  S. 
Bernardino,  Itinerário  da  índia,  capitu- 
lo 14. 

—  Figuradamente  :  O  temporal,  a  tor- 
menta. —  «Essa  foi  a  razão,  porque  a 
outra  fermosa  fazia  concerto  com  a  mor- 
te, prometendo  de  se  lhe  entregar  cada 
vez  que  a  chamasse,  com  tanto  que  a 
defenderia  do  tempo,  que  a  não  envelhe- 
cesse.» Francisco  Manoel  de  Mello,  Apo- 
logos dialogaes,   pag.  36. 

—  N'este  tempo  ;  n'esta  epocha.  ^«El- 
Rey  de  Cochij  neste  tempo  não  se  tinha 
visto  ainda  com  o  Almirante,  e  porque 
soube  que  audaua  pêra  entrar  em  seu 
porto  huma  nao  de  Calecut  que  vinha  de 
Ceilão,  a  qual  era  de  hum  Mouro  de  Ca- 
lecut chamado  Nine  Mercar,  temendo  que 
em  Vicente  Sodrè  saindo  a  tomasse.»  Bar- 
ros, Década  1,  liv.  6,  cap.  6.  —  «Sem 
neste  tempo  sair  da  cidade  cousa  que  os 
fizesse  aluoroço,  que  lhe  dana  suspeita, 
não  quererem  sair  os  Mouros  ao  largo 
por  os  acolher  nas  ruas,  que  por  serem 
estreitas  se  poderiaõ  melhor  ajudar.)'  Ibi- 
dem, liv.  8,  cap.  õ.  — ■  «Neste  tempo  os 
Mouros  estavam  já  necessitados  de  mui- 
tas cousas,  principalmente  de  mantimen- 
tos, tí  assi  de  pólvora,  e  pelouros,  porque 
todas  estas  os  nossos  navios,  que  davam 
á  bateria  por  mar,  lhe  impediam  a  não 
virem  da  terra  firme.»  Idem,  Década  2, 
liv.  7,  cap.  5.  —  «A  primeira  Armada, 
que  neste  tempo  de  Lisboa  sahio,  foi  de 
(jalés,  com  as  quaes  D.  Fuás  Roupinho 
desbaratou  nove  Galês  de  Mouros  no  Ca- 


bo de  Espichel,  e  depois  desta  yitoria 
teve  outras  na  Costa  do  Algarve,  e  no 
estreito  do  Gibraltar.»  Severim  de  Fa- 
ria, Noticias  de  Portugal,  Disc.  2,  cap. 
13.  —  «Deste  tempo  ficarão  em  Itália 
os  Marquesados  de  Mantua,  e  Ferrara, 
e  as  Províncias  ditas  Marca  de  Ancona, 
e  Trivizana.»  Ibidem,  Disc.  3,  capitu- 
lo 24. 

—  Metter  tempo  em  meio;  esquecer 
com  o  andar  do  tempo;  delongar  a  con- 
clusão do  negocio. 

—  Termo  de  musica.  Uma  das  trea 
partes  da  medida,  e  proporção,  que  con- 
siste em  levantar,  e  abaixar  a  voz  um 
certo  numero  de  vezes,  em  quanto  se  can- 
ta e  faz  o  compasso. 

—  A  tempos;  de    quando  em  quando. 

—  O  tempo  é  para  twh) ;  o  estado  po- 
litico das  cousas,  os  costumes  soffrem 
tudo. 

—  Tomar  o  tempo  a  alguém ;  estor- 
val-o,   entretelo. 

—  Termo  de  grammatica.  A  epocha,  a 
que  se  refere  o  attributo,  significado  pelo 
verbo,  designado  pelas  variações  ou  ter- 
minações d'elle. 

— •  Ganhar  tempo  ;  apressar-se  para  al- 
cançar outrem,  que  saiu,  ou  principiou  a 
fazer  alguma  cousa  primeiro. 

—  Termo  de  dança  e  manejo  de  armas. 
Dizem-se  as  occasiões  memoradas,  em 
que  se  fazem  certos  movimentos,  e  acções. 

—  Roda  do  tempo.   Vid.  Roda. 

—  Sem  tempo;  fura  do  tempo. 

—  Loc.  ADv. :  A  tempo,  ou  a  seu  tem- 
po ;  em  boa,  ou  própria  occasião. 

—  Tomar  tempo  para  fazer  alguma 
cousa;  tomar  espaço  dentro  do  qual  a 
possa  fazer. 

—  De  tempo  em  tempo ;  de  quando  em 
quando. 

—  ^4  tempos  e  tempos,  ou  de  tempos 
a  tempos;  passando  tempos  entre  uma  ida 
e  outra. 

—  Ganhar  tempo;  abreviar,  fazer  al- 
guma cousa  em  breve  tempo. 

—  Andar  com  o  tempo;  mudar  o  seu 
modo  de  proceder,  e  adoptal-o  aos  gover- 
nos, usos  e  costumes,  e  estylos  que  se 
vão  succedendo,  e  alterando. 

— ■  Diz-se  a  duração  limitada,  relativa- 
mente á  eternidade. 

■ —  Tei-mo  de  astronomia.  Tempo  so- 
lar; tempo  regulado  no  movimento  do 
sol. 

—  Tempo  sideral;  tempo  regulado  no 
movimento  da  esphera  celeste. 

—  Tempo  astronómico;  tempo  subdivi- 
dido cm  24  horas  que  se  conta  de  um 
meio  dia  a  outro. 

—  Tempo  civil;  tempo  dividido  em 
dous  períodos  de  12  horas  cada  um,  cujo 
começo  ó  á  meia  noute. 

—  Tempo  periódico;  tempo  que  um 
corpo  celeste  emprega  em  fazer  uma  re- 
volução completa  em  volta  de  um  ponto. 

—  Divindade  pagã  que  se  representa 


sob  a  figura  de  um  velho  com  azas,  ten- 
do uma  fouce  na  mão. 


Berço  c  Campa  da  Morte,  dirás  plagas! 
Não  as  compassa  o  Tempo:  c  durar  devem, 
Depois  que  este  Universo  fôr  desfeito, 
Qual  Tenda,  que  se  armou,  para  um  só  dia. 

F.   M.  DO  NASCIMENTO,  OS  MARTTKF.S,  líV.    8. 

A  dextra  poderosa  o  TemjM  alçando. 
Na  cinza  o  deixará,  ficando  apenas 
No  Mundo  as  maldições  na  campa  sua. 

J.  X.   DE  MACEDO,  A  RATDBEZA,  Cant.  1. 


—  Particularmente:  Successão  dos  dias, 
das  horas,  dos  momentos,  considerada  em 
relação  aos  trabalhos,  ás  occupações.  — 
O   tempo  «'  mais  precioso  que  o  ouro. 

—  Os  séculos,  as  differentes  edades,  as 
difterentes  epochas.  —  Os  tempos  histó- 
ricos. —  Os  tempos  fabulosos. 

—  O  abi/smo  dos  tempos  ;  os  séculos 
remotos,  em  que  tudo  se  perde,  tudo  es- 
quece. 

—  Até  á  consummação  dos  tempos  ;  até 
ao  fim  dos  séculos. 

—  O  bom  tempo ;  o  tempo  de  nossos 
pacs. 

—  Diz-sc  por  ironia :  Ainda  és  de  bom 
tempo  1 

—  Diz-se  das  differentes  edades  da 
vida. 

—  Uma  grande  epocha  prevista. 

— •  Os  signaes  do  tempo;  certos  signaes 
que  annunciam  a  gravidade  dos  aconte- 
cimentos. 

—  Os  últimos  tempos ;  os  tempos  mais 
próximos  do  juizo  universal. 

—  O'  tempos,  6  costumes!  locução  ex- 
clamativa para  se  queixar  e  lamentarem 
os  tempos  e  os  costumes. 

—  A  estação  própria  a  cada  cousa.  — 
O  tempo  fias  colheitas,  das  vindimas. 

—  O  tempo  da  Paschoa ;  o  tempo  pas- 
chal;  03  dias  durante  os  quaes  as  festas 
da  Paschoa  se  celebram. 

—  Figuradamente:  A  côr  do  tempo; 
a  natureza  das  circumstancias, 

—  Adágios  e  provérbios  : 

—  A  seu  tempo  vem  as  uvas,  e  as  ma- 
çãs maduras. 

—  Vae-se  o  tempo,  como  o  vento. 

—  O  tempo  anda  e  desanda. 

—  Quem  tempo  tem,  e  por  tempo  es- 
pera, tempo  é  que  o  demo  lhe  leva. 

—  Perdendo  tempo,  não  se  ganha  di- 
nheiro. 

—  Soffra-se  quem  penas  tem,  que  atraz 
de  tempo  tempo  vem. 

—  Alto  mar,  e  não  de  vento,  não  pro- 
mette  seguro  tempo. 

—  O  tempo  cura  o  enfermo,  que  não  o 
unguento. 

—  No  tempo  em  que  se  come,  não  se 
envelhece. 

—  Tempo  de  guerra,  mentiras  por  mar, 
c  por  terra. 

—  Tempo,  e  hora  não  se  ata  com  sega. 


696 


TEMP 


TEMP 


TEMP 


—  N<1o  p(5e  Doiis  tempo  cm  huiiIhi- 
tempo. 

—  Distirifívic  o  tempo,  i!  concordaráH  o 
direito. 

—  O  tempo  do  íiiiior  <•  nilo  tol-o. 

—  O  tempo  é  j-clof,'io  (Ju  vida. 

—  O  tempo  ií  mestre  de  tudo. 

—  N't!»tf.  tempo  oii  todoí  são  umus,  ou 
80  diz  iiiiii  do  todoH  0-1  IxinH. 

—  Mudado  o  tempo,  mudado  o  coiiHo- 
Iho. 

—  Mudíi-íto  o  tempo,  mudado  o  ponsa- 
raento. 

—  Tempo  tom  a  choca,  o  tempo  tem 
quem  a  jot,'a. 

—  Qual  o  tempo,  tal  o  tento. 

—  O  tempo  ilá  remédio,  oudo  falta 
conselho. 

—  Nilo  ha  tão  mau  tempo,  «luo  o  tom- 
po  nílo  allivio  ticu  tormento. 

—  Bom  saber  é  calar,  ató  sor  tempo 
de  fallar. 

—  Ao  porijío  com  tonto,  ao  remédio 
com  tempo. 

—  Boa  é  a  nove,  que  a  sou  tempo 
vem. 

—  Horta  para  passatempo,  posta  com 
tempo. 

—  Lavra  com  tempo,  e  vá  por  ambos. 

—  Tempo  traz  tempo,  o  chuva  traz 
vento. 

—  A  boa  ceia  ante  tempo  se  enxertia. 

—  Tempo  á  choca,  e  tempo  a  quem  a 
joga.  ^ 

—  Syn.  :  Tempo,  duru<;ão.  Vid.  oste 
ultimo  termo. 

TÊMPORA,  ou  TÊMPORAS,  s.  /.  ;j?u)-. 
(Do  latim  tenipus).  Termo  de  anatomia. 
Fonttís  da  cubeija. 

TEMPORADA,  s.  /.  ( iramlo  espado  de 
tom])o,  tempo  largo  c  dilatado. 

1.)  TEMPORAL,  s.  m.  Tempestade,  tor- 
menta (jue  dura  e  passa  em  tempo  limi- 
tado.—  íE  dahi  em  diaute  posto  que  ti- 
ueraõ  algums  temporaes  que  se  achaõ 
em  tão  comprida  viagem,  quando  veo  a 
vinte  cinquo  de  lullv  surgio  em  Mo(;am- 
biquo.»  Barros,  Década  1,  liv.  7,  cap.  9. 
—  «E  posto  que  esto  novo  estado  do  Ma- 
laca desfez  o  outro  tào  antigo  de  Cingá- 
pura,  a  principal  causa  foram  o  curso  doa 
temporaes,  com  que  totalmente  a  Cida- 
de se  desj)ovoou,  porque  do  muz  de  Se- 
tembro em  diante  té  entrada  i.le  Dezem- 
bro cursam  os  ventos  Ponentes,  e  No- 
roestes, que  entram  per  este  canal  que 
faz  a  Ilha  Oamatra,  e  a  costa  da  terra 
firme  de  ]\Ialaca.»  Idem,  Década  2,  liv.  15, 
cap.  1.  —  «Mas,  se  lhes  homem  pòe  aâ 
pernas,  é  tão  fácil  do  enxergar  a  diffrreu- 
ça  que  não  ha  mister  óculos  de  encaches 
para  vèl-a;  mas.  sen>  embargo  d'isto,  por 
que  estes  temporaes  a  não  alterassem, 
determinei  de  lhe  fazer  amainar  toda  a 
sobei-ba  passada.»  Fernão  Soropita,  Poe- 
sias e  prosas  inéditas,  |)ag.  19. 

— ■  Figuradamente  :  Temporal  d\irti- 
Ihtria. 


2.)  TEMPORAL,  adj.  2  qen.  Quedara, 
o  {jassa  diMitro  do  uni  limitado  tumpo; 
que  nào  ó  eterno,  iiiu«  traiiHi tório.  — 
aPurque  ci5  OHtu  isca  do  bon»  temporaes 
quo  dcmpre  ali  uuiaO  de  achar,  recebe»- 
sem  OA  da  fé  niudiuute  u  doctrina  dos 
nossos,  u  qual  affecto  era  o  aeu  |iriiici- 
|ial  intento.»  Harroa,  Década  1,  liv.  '■'>, 
ca|>.  1.  —  «E  peio  ijue  as  clitas  Leix 
Imperiaaes  defendessem  as  <lit»lH  merca- 
dorias serom  as.-d  lovailas,  iioni  poserom 
pena  certa  temporal  a  aquelles,  (|uo  o 
contrairo  fezesseui,  leixando-as  em  alvi- 
dro  dos  líoix,  e  Princcpes  das  terras,  a 
quo  esto  porteoncer.»  Ord.  Affons.,  liv. 
4,  tit.  GH,  s}  1.  —  «Esta  tal  ainda,  que 
soja  excrcita<la  com  grandissimos,  e  nio- 
lestisrtimos  negócios,  nem  por  isso  fica 
desaproueitada  no  espirito,  porque  tudo 
deixa  ]iassar,  nem  se  detém  nas  cousas 
temporaes  pello  habito,  e  costum»  do 
chegarso  presto  a  Deu3,  e  porse  firme  em 
sua  presença  diuina  com  fen'oroso  alVe- 
cto,  e  intenyão.»  Froi  liartliolomcu  dos 
Martyrcs,  Compendio  de  espiritual  dou- 
trina, eap.  10.  • —  «Que  di;,'-o  de  males 
temporaes?  pois  (]ue  uem  os  males  Hpiri- 
tuaos  e  peccados  grauissimos  podem  tirar 
este  prazer  à  ahua  contrita  e  confijida  oin 
DEUS.  Antes  diz  sancto  Agostinho,  En- 
tiústeçaso  o  peccador  do  peccado  que  fez: 
e  tendo  tal  tristeza  alegroso  niuyto  por- 
(jue  a  tem.  Cò  muyta  rezam  logo  o  glo- 
rioso Apostolo  nos  poom  tão  doce  manda- 
mento ili/.endo.»  Idem,  Catecismo  da  dou- 
trina christã. 

—  Profano ;  não  sagrado,  não  espiritual. 

—  Termo  de  anatomia.  Coinmissurti 
temporal;  das  fontes  da  cabeia.  Vicl. 
Têmpora. 

—  Homens  temporaes ;  que  andam  com 
os  tempos,  e  se  aeconimodam  a  elles,  e 
suas  vicissitudes,  sem  ordem,  ou  systema 
de  proceder,  e  governo  razoado,  e  inva- 
riável. 

—  05  ossos  temporaes ;  um  direito,  e 
outro  esquerdo,  situados  nas  partes  late- 
raes  o  inferiores  da  cabeça. 

—  ApoMVfuse  temporal ;  larga  expan- 
são tíbrasa  fixa  cm  toda  a  linha  cui-va 
temporal  e  na  arcada  zygomatiea. 

—  Musculo  temporal;  nmseulo  cujas 
fibras  nascem  dii  fossa  e  da  apone\Tose 
temporaes;  liga-se  :l  apophvse  coronoidc 
da  maxilla  inferior. 

—  O  poder  temporaf;  ontende-se  o  po- 
der temporal  do  papa. 

—  Secular,  em  opposiçilo  a  ecclesias- 
tico. 

—  Diz-se  em  opposição  a  espiritual. 
TEMPORALIDADE,  *■.  /.  ^Do  latim  tem- 

por<ililns,  de  lemporalis).   O  caracter  ue 
ser  temporal. 

—  Poder  temporal. 

—  As  cousas,  e  bons  do  mundo,  e  vi'la 
presente. 

—  Plur.  Fructos,  benesses  dos  eccle- 
siasticos,  ganhos,  proveitos,  lucros. 


—  Fi(^uradamonte:  Am  temporalidades 
(l'eita  vida. 

—  l'rniicar  com  o*  tr.cUtiaitieo*  ae 
temporalidades;  executar  as  peiuut,  que 
art  leiíi  iiiipòem  aua  juizcit  ecctei«ia«tioos, 
que  nJlo  execuUim  o»  uiaudadort,  ou  car* 
tun  )'ogatorittri  iÍok  juizei)  em  ca«08  du  re- 
curHOs  il  curótt,  etc. 

TEMPORALIZAR,  u.  a.  Tornar  tempo- 
ral. 

TEMPORALMENTE,  adv.  (De  temporal, 
o  o  HUÍIixo  «meate»).  Por  algum  tempo, 
em  ojijjosieão  a  eternanieiUe. 

—  Polafl  cousa*  teiii|Kira<:«. 

—  Humatiameiite,  não  ej4pirituaimeiito 
nas  eouf-.us  teinpiiraes. 

TEMPORANEO,  A,  adj.  Que  dura  tem- 
po liiiiiuido,  o  iiu  de  turniinar  em  certa 
epoclm,  ou  espaço. 

—  Teinpiirario. 

TEMPORÃO,  Ã,  ou  ÃA,  ou  AH,  adj. — 
Fructij  temporão ;  que  vem  maÍ0  cedo 
quo  a  maior  parto  doa  outros,  e  ao  prin- 
cipio, ou  antes  do  outomno,  ou  da  sazão 
dos  serôdios. 

—  (Jfw-gar,  começar  temporão;  mais 
cedo  que  os  outros,  antecipadamente. 

—  Antes  do  tempo,  prematurameute. 

—  Chuva  têmpora;  «iiz-se  jm  opposi- 
çào  á  serôdia. 

—  Casar  temporão;  com  cedo. 

—  Homem  temporão  para  o  oficio;  ho- 
mem muito  moro,  n."»o  maduro  para  elle. 

—  Com  cedo,  aiio  tarde,  e  fór*  do 
tempo. 

—  Substantivamente :  tíer  doa  tempo- 
rãos ;  ser  dos  que  vem,  ou  £azem  oa  cou- 
sas cedo,  e  dos  primeiros. 

TEMPORARIAMENTE,  wlc  De  tempo- 
rário, o  o  sufiixo  «mente»).  De  um  modo 
temporário. 

—  Por  algum  tempo,  nilo  perpetua- 
mente. 

TEMPORÁRIO,  A,  adj.  (Do  latim  t*m- 
pornrlus  .  Temporaueo.  uão  perpetuo. 

TÊMPORAS,  s.  ./■.  plur.  Sào  três  dias 
de  jejum,  quarUt,  sexta  e  siibbado, 
que  ha  em  cada  huma  das  quatro  esta- 
ções do  auno  em  uma  semana.  —  As  têm- 
poras de  6.  Mtitheus. 

TEMPORISAÇÃO,  ou  TEMPORIZAÇÃO, 
í.  /.  Acção  lio  temporisar.  —  A  tempori- 
sação  íni  cirurgia. 

—  Temporisamento. 
TEMPORISADOR,   ou   TEMPORIZADOR, 

A,  s.   e  ttdj.  Que  temporisa.  —  .Actj  tem- 
porisador. 

TEMPORISAMENTO,  ou  TEMPORIZA- 
MENTO,  s.  m.  A  acç.ào  de  temjwrisar, 
e-om  que  se  ganha  tempo  para  melhorar-se. 

—  Tempori.<açào. 
TEMPORISANTE,    ou   TEMPORIZANTE, 

part.  (ic?.  de  Temporisar.  Que  temjKiriâa. 
—  Ilxiiieiis  lemporisautes. 

TEMPORISAR,  ou  TEMPORIZAR,  i-.  «. 
(^Do  francez  t«wpori'«tri.  Ganhar,  pairar 
tempo,  metter  tempo  em  meio  quando 
convém  eapa<^r,  niio  vir  á  conclusão. 


TENA 


TENA 


TÈNÇ 


697 


—  Passar  tempo. 

—  Accommodar-se  ao  tempo,  ceder  ás 
circumstancias. 

—  Temporisar  com  alguém ;  haver-se 
por  seu  respeito  de  maneira,  que  não 
quebremos  com  elle,  ou  nos  inimizemos. 
Vid.  Contemporisar,  Pairar. 

—  Esperar  que  alguém,  ou  as  cousas 
venham  a  meliior,  ou  a  geito,  e  ensejo 
de  acabarmos  os  negócios  por  bem. 

—  V.  a.  Delongar,  espaçar,  dilatar, 
prolongar. 

f  TEMPORO-AURICULAR,  aãj.  2  gen. 
Termo  de  anatomia.  Que  pertence  á  re- 
gião temporal  e  ao  ouvido. 

—  Musculo  temporo-auricular ;  o  mus- 
culo superior  do  ouvido. 

f  TEMPORO-CONCHINIANO,  A,  adj. 
Termo  de  anatomia.  Nome  dado  ao  mus- 
culo inferior  do  ouviílo. 

t  TEMPORO-MAXILLAR,  adj.  2  gen. 
Termo  de  anatomia.  Que  pertence  á  fon- 
te da  cabeça,  e  á  maxilla. 

—  Articiãação  temporo-maxillar ;  arti- 
culação que  tem  logar  entre  o  condylo  da 
maxilla,  de  uma  parte,  a  porção  anterior 
da  cavidade  glenoide,  e  a  apophyse  trans- 
versa do  temporal,  da  outra  parte. 

f  TEMPORO-SUPERFICIAL,  adj.  »,.  Ter- 
mo de  anatomia.  Xervo  temporo-superfi- 
cial ;  ramo  collateral  do  nervo  maxillar 
inferior. 

TEBIPRAMENTO,  s.  m.  Vid.  Tempera- 
mento. 

TEMPRAR,  V.  a.  Vid.  Temperar. 

TEMPREIRO,  s.  m.  Vid.  Templário. 

TEMPTAÇÃO,  s.  /.  Termo  antiquado. 
Vid.  Tentação. 

TEMULENCIA,  s.  f.  (Do  latim  temu- 
Icntia).  Bebedice,  embriaguez. 

TEMULENTO,  A,  adj.  (Do  latim  tevm- 
lentus).  Termo  pouco  usado.  Embriagado, 
bêbado. 

TENAÇA,  s./.  Vid.  Tenaz  1). 

TENACIDADE,  s.  /.  (Do  latim  tenaci- 
tas).  Qualidade  do  que  é  tenaz. 

—  Resistência  que  os  corpos  oppõem 
aos  esforços  que  tendem  a  rompel-os, 
quer  por  choque,  quer  por  pressão,  ou 
tracção. 

—  Propriedade  que  tem  os  metaes  du- 
ctis,  reduzidos  a  fio  de  um  pequeno  diâ- 
metro, de  supportar  um  certo  peso  sem 
se  quebrar.  ■ —  Toda  a  liga  destroe  ou  di- 
minuo a  tenacidade  dos  metaes ;  a  do  ouro 
é  tão  forte  como  um  fio  d'este  metal.  — ■ 
A  tenacidade  é  a  resistência  que  as  mo- 
léculas de  um  metal  dúctil  offerecem  á 
sua  desunião;  avalia-se  pelo  peso  que 
pôde  ter,  sem  se  romper,  um  fio  metallico 
de  um  diâmetro  determinado. 

—  Ligação  e  encadeamento  das  partes 
de  que  são  compostos  os  diô'orentes  terre- 
nos. 

—  Resistência  de  certos  animaes  de 
serviço  á  fadiga,  ás  privações. 

—  Figuradamente:  Ligação  invai"iavel 
a  uma  idêa,  a  um  projecto. 

TOL.  T.  —  88. 


—  Sua  memoria  é  c?e  uma  grande  te- 
nacidade; retém,  sem  se  esquecer,  aquillo 
que  uma  vez  decorou. 

—  Aferro,  avareza,  apego. 
tenacíssimo,  a,   alj.  superl.   de  Te- 
naz.  Mui  tenaz. 

—  Abraços  tenacissimos  ;  abraços  mui 
apertados. 

TENALHA,  s.  f.  (Do  francez  tenaille). 
Instrumento  de  ferro,  composto  de  duas 
espécies  de  maxillas  que  se  abrem  e  se 
apertam  para  agarrar. 

—  Instrumento  de  que  se  servem  para 
cortar  as  cartilagens. 

—  Termo  de  fortificação.  Tenalha  sim- 
ples ;  obra  que  tem  na  frente  dous  ân- 
gulos salientes  e  um  reintrante;  compõe- 
se  de  duas  faces. 

—  A  tenalha  dobre,  ou  jlanqueada,  tem 
na  frente  quatro  faces  qiie  se  flanqueiam 
reciprocamente  cada  duas,  e  formam  dous 
ângulos  reintrantes  e  três  salientes. 

TENALHÃO,  s.  m.  Augmentativo  de 
Tenalha.  Termo  de  fortificação.  Luneta 
que  se  faz  defronte  das  faces  da  meia 
lua. 

TENANTO,  t.  m.  Termo  de  anatomia. 
Vid.  Corda. 

TENARIA,  s.  f.  Vid.  Tanaria,  ou  Pel- 
lame. 

1.)  TENAZ,  a.  f.  Instrumento  de  me- 
tal, que  consiste  em  duas  peças  unidas 
por  um  eixo;  com  duas  extremidades 
d'elle  se  agarra,  e  afferra  com  força  nas 
cousas ;  é  empregado  pelos  ourives,  fer- 
reiros, etc. 

—  Na  milicia  romana,  era  esquadrão 
disposto  n'esta  figura :  ,\i. 

—  Plur.  Tenazes  dos  caranguejos;  as 
unhas  com  que  se  pegam,  e  agarram  ás 
cousas. 

—  Vid.  Tenalha. 

2.)  TENAZ,  a'lj.  2  gen.  (Do  latim  U- 
nax).  Termo  de  botânica.  Diz-se  das 
plantas  que  se  aferram,  que  se  agarram. 
—  Urna  haste,  uma  folha  tenaz. 

—  Que  se  apega,  que  se  agarra  a  al- 
guma cousa  para  apertar. 

—  Diz-se  de  um  corpo  cujas  partes 
adherem  fortemente  umas  ás  outras. 

—  Metal  tenaz ;  metal  que  suppor- 
ta  uma  pressão  considerável,  sem  que- 
brar. 

—  Rocha  tenaz ;  rocha  que  com  diffi- 
culdade  se  quebra. 

—  De  que  se  não  pôde  desfazer,  que 
se  não  pôde  desviar,  fallando  das  pes- 
soas. 

—  Aferrado,  obstinado,  immudavel. — 
Homem  tenaz. 

—  Diz-se  também  das  cousas  :  Prejuí- 
zo tenaz. 

—  Ter  a  memoria  tenaz ;  não  se  es- 
quecer do  que  aprendeu. 

—  Escaco,  avaro,  illiberal. 

—  Gente  tenaz ;  gente  seccante,  ma- 
tante,  pegajosa,  que  nunca  acaba  o  que 
tem  para  dizer. 


TENAZINHA,  5.  /.  Diminutivo  de  Te- 
naz. Pequena  tenaz. 

—  Instrumento  de  que  se  servem  as 
mulheres  para  arrancar  os  cabellinhos 
da  t^^sta,  cara,  etc. 

TENAZMENTE,  adv.  (De  tenaz,  com  o 
sufiixo  «mente»).  De  uma  maneira  te- 
naz. 

—  Com  tenacidade. 

TENÇA,  s.  /.  Termo  de  historia  natu- 
ral. Peixe  que  vive  em  tanques,  lagoas, 
e  rios. 

TENÇA,  s.  /.  A  quantia  que  el-rei  dá 
para  sustento  em  razão  dos  serviços,  e 
vulgarmente  aos  cavalleiros,  durante  a 
vida  do  tencionario.  Outr'ora  era  uma 
porção  igual  aos  juros  do  casamento,  es- 
posouro,  ajudouro,  que  se  davam  ás  don- 
zellas  do  paço,  etc,  em  quanto  lh'o3  não 
pagavam,  e  das  moradias,  e  assentamen- 
tos, e  mercês  a  fidalgos,  que  estavam  por 
embolsar.  A  tença  é  temporária,  e  ríía- 
licia,  o  juro  para  os  herdeiros,  de  a  quem 
se  deram.  —  «E  porque  as  outras  penas 
de  morte,  e  desterros,  e  privação  dos 
bens,  teenças,  e  couthias  avemos  por 
muj  graves  nos  casos,  em.  que  taaes  pe- 
nas som  postas  em  esta  Ley,  fique  a  nos 
guardado  pêra  lhe  dar-mos  aquellas  pe- 
nas, que  nos  bem  parecer,  e  que  se  re- 
querer aa  grandeza,  e  graveza  dos  er- 
ros que  fezerem.»  Ord.  Affons.,  liv.  2, 
tit.  60,  §  20. —  «Em  premio  do  poema 
Alfonso  deram  habito  de  Christo  a  Bote- 
lho; porém,  como  lhe  não  pagaram  a  ten- 
ça, largou  o  habito.  Perguntado  por  el- 
rei  D.  João  V:  «não  trazeis  o  habito?» 
Respondeu :  —  Não  senhor :  não  sou  ce- 
rineu  da  cruz  sem  me  pagarem...»  Bispo 
do  C4rão  Pará,  Memorias,  publicadas  por 
Camillo  Castello  Branco. 

—  Termo  antiquado.  O  acto  de  ter, 
possuir. 

—  Vir  á  nossa  tença ;  vir  ao  que  nos 
importa. 

—  Termo  antiquado.  Sustentamento, 
defeza,  conservação. 

—  Surgidouro  de  Jirme  tença  ;  onde  a 
ancora  prende  bera,  e  não  esgarra. 

—  Ter-se  ás  tenças  d' outrem;  fiar-se, 
e  fazer  depender  d'elle  o  que  nos  é  ne- 
cessário. 

—  Certo  peixe.  Vid.  Tença. 

f  TENÇAM,  s.  m.  Vid.  Tenção. 


E  por  nam  ir  adiante 
om  tam  errada  tençam, 
por  buscar  a  pcrfeiçam 
acolhi  me  a  osto  palanque 
da  santa  religião. 

D.   JOANJfA  DA  GAMA,   DITOS   DA   FREIRA, 

pag.  90. 


TENÇÃO,  s.  /.  Intento,  propósito,  von- 
tade. —  «E  porque  lhe  pareceu  que  pas- 
sando perto  poderia  ter  algum  embaraço, 
que  lhe  estorvasse  o  caminho,  desviou  o 
cavallo  por  outra  parte;  por  sua  tenção 


TENÇ 


TENÇ 


TEND 


ji2Io  Hcr  occiípar-sc  om  cousas  que  o  po- 
flcas(írn  dut^r. »  Franci«c,o  do  Morao», 
Palmeirim  d'Inglaterra,  e;ij).  7H. —  o  Vos- 
sa tenção,  diAM:  o  do  Salvaf(om,  ó  tanto 
do  af,'raflecor,  que  o  maÍH  que  mo  daqui 
póaa  6,  que  o  pouco  qu(!  tenho,  nào  iiic 
dá  lugar  a  paf^ar-vos  o  muito  que  mcro- 
coÍ8  :  mas  já  que  pêra  isto  minhas  forças 
nJlo  l)a8tani,  a  clrci  d'lngh»torra,  niou 
senhor,  pedirei  o  galardito  de  tamanho 
serviço,  ccnui  lho  fazei*.»  Ibidem,  cap. 
108.  —  <(I)'ahi  por  diunto  o  cavallciro 
do  Salvago  a  tratou  com  mais  cortesia  c 
amor,  tendo  conheciuicnto  do  que  lhe  de- 
via, mudando  a  tenção  com  que  d'ante3 
a  olhava :  oxtromo  pêra  louvar  muito ; 
porque  sua  inclinação  era  tão  dada  aos 
apetite^»  da  carne,  que  a  poder  forçar 
era  muito  pêra  acíradocar.»  Ibidem,  cap. 
115.  —  «O  cavallciro  da  Torre  mancn- 
corio  deste  desastre,  arraneí>u  da  espada 
com  tenção  de  haver  hat/iiiia.  Senhor 
cavallciro,  disse  o  outro,  nau  queria  que 
tantas  vezes  experimentásseis  um  vosso 
amigo,  que  vos  tanto  deseja  servir.»  Ibi- 
dem, cap.  127. —  «Dizendo  isto,  se  che- 
gou A  arvore  com  tenção  de  o  tirar: 
mas  o  cavallciro  das  Donzellas,  como  se 
disso,  estava  já  a  cavallo,  e  vendo  que 
Florendos  estaria  occupado  na  cura  do 
gigante,  o  não  via  o  que  pas^^ava,  não 
quiz  que  em  sua  presença  se  lho  íizcsse 
tamanha  oflcpsa.»  Ibidem.  —  «A  Arlan- 
j;a  fez  a  rainha  algumas  mercês,  e  dou 
peças  do  muito  preço,  quando  o  cavallci- 
ro do  Salvago  se  despediu,  que  esta  o 
suas  criadas  levava  comsigo  com  a  ten- 
ção que  se  já  disso.»  Ibidem,  cap.  120. 
—  «r)'aHi  por  diante  sentiu  meuos  as  fe- 
ridas, quo  eram  curadas  por  mão  d'Ar- 
nalta.  Trcs  dias  depois  d'isto  chamaram 
os  governadores  do  r^ino,  que  sabendo  a 
tenção  delia,  c  tendo  conhocimeuto  das 
obras  o  virtudes  de  Dragonalte,  appro- 
varam  o  casamento  por  l)om  e  convenien- 
te ao  estado  e  anthoridadc  de  sua  senho- 
ra.» Ibidem,  cap.  130. —  'O  amor  ó  po- 
deroso, o  onde  ello  quer  não  lia  ahi  ra- 
zão, quo  tenha  força,  ordenou  que  entre 
estes  pensamentos  podesse  vèr  quem  nic 
faz  passar  por  clle^,  pos  os  olhos  em  mira 
não  sei  om  quo  tenção,  mas  o  erro,  em 
que  cahi,  a  traição,  que  commetti,  mos 
fez  parecer  irosos,  quo  isto  é  natural  de 
culpados,  desde  ali  tomei  aborrecimento 
a  quantas  razões  meu  entendimento  me 
tinha  representadas,  se  minha  atíeição 
me  parece  bom,  esta  me  mate,  esta  quo- 
Tri  seguir.»  Ibidem.  —  «Dous  dias  depois 
de  serem  partidos,  chegarão  a  lium  cas- 
tcllo  que  se  dezia  Nixiamoco,  no  qual  o 
Natitlcor  de  Lançame  general  dosta  bar- 
bara gente  assentou  sou  campo,  e  se 
atrincheyrou  pur  todas  as  partes  com 
tenção  do  o  assaltar  ao  outro  dia.  por 
se  dizer  quo  quando  por  ahy  passara  pa- 
ra Quansy,  lhe  matavaõ  os  Chins  aly  com 
homens  em  huma   cilada  que   lhe  fizeraiJ 


do  que  estava   muvto  magoado,  i  Fernão 
Mendes   Pinto,  Peregrinações,  cap.  117. 

A  teiuylo 
Dco3  a  sabe.  Agora  ar)ui 
jaroia  «'■crota  o  mcttida. 

ANTÓNIO  PRKSTF.H,  AUTOS,  pag.   2.^7. 

Nào  í-  mal,  mii»  descrição. 
l'oÍ8  esta  ò  minha  teiiçÃo 
nVstfi  diisafio  em  quo  entro. 
Nào  8cril  H(!m  alf^iin  cuoiitro 
ou  fèvera  do  coiidii;ão. 
iniDKM,  pag.  307. 

—  itLouváraij  os  amigos  a  tençaS,  c  o-t 
vensos,  e  muito  mais  as  partes  de  quem 
a  mandara,  que  o  pastor  sabia  gabar  ex- 
tremadamente;  e  porque  vio  nellos  tam 
boa  a  tençaõ  para  seus  cuidados  (que  he 
o  que  mais  estima  quem  dcllos  vivo)  Ihea 
raoitrou  a  resposta,  que  mandava  ao  en- 
ganozo  favor,  que  recebera.»  Fi'ancisco 
Rodrigues  Lobn,  Desenganado. —  «ElRey 
como  sua  tençaõ  nesta  armada  que  fazia 
era  por  lhe  parecer  que  no  doscuberto  ti- 
nha justiça :  por  cõprazcr  a  elRcy  dom 
Fernando  mamlou  cessar  delia  to  primeiro 
se  detcrmi;iar. »  Barros,  Década  1,  liv.  'P>, 
cap.  11. —  «Com  :vs  quaes  ])alauras  per 
que  ellc  mostraua  ordenar  tu'lo  a  bem  de 
paz,  em  obras  negaualhc  o  necessário 
quo  auiaõ  mister,  em  quo  Vasco  da  (ià- 
ma  entendia  parte  da  sua  tençaõ :  c  co- 
meçou logo  requerer  sen  despacho  sem 
outra  carga  de  especcaria. »  Ibidem,  liv. 
4,  cap.  8.  — «E  caladamente  veio-so  com 
toda  sua  frota  pelo  rio  a  baixo,  e  ello 
diante  todos,  por  tor  huma  forte,  e  for- 
mosa lanchara  do  comprimento  de  huma 
galé,  mui  armada,  o  guerreira  com  té 
duzentos  o  tantos  homens,  com  tenção  de 
abalroar  com  o  Capitão  niór  da  nossa 
frota.»  Idem,  Década  2,    liv.    9,  cap.  7. 


Eis  logo  a  diligente  mensageira, 
Co'a  cabeça  de  cobras  toda  ornada, 
Com  aspeito  feroz,  voa  ligeira 
I>o  cíprito  do  Sultão  acompanhada, 
Accvescentando  mais  noUe  a  primeira 
Furibunda  íf/içm,  fera,  e  damnada, 
F.  tudo  o  que  visita  ontão  do  mundo 
Deixa  também  damnado  e  furibundo. 

F.  r>K  AsnRiriK,  i'bimkiko  cf.boo  dk  piu,cant. !), 
est.  99. 


Niio  receio 
Onde  estiver  Catão,  violência  alguma 
Contra  quem  livremente,  c  como  6  d'homom, 
Dd  sou  voto  o  tençfto. 

OARRKTT,  CATÃO,  act.    1,   SC.    3. 


—  Termo  antiquado.  Briga,  rixa,  vol- 
ta, má  vontade. 

—  O  significado,  o  symbolo  do  alguma 
cousa. 

—  Intento,  assumpto. 

—  l'areeer  cpie  se  dá   por  cscripto  nos 
autos  pelos  desembargadores. 

—  Modo  de  pensar,  intenção. 


—  O  que  alguém  demanda,  ou  se  pro- 
p5o  conseguir  em  juizo. 

—  Dize.v  Tiiisga  /jor  tenção ;  applicar 
o.H  merecimentos  do  riacriticio  por  alguma 
pessoa,  ou  negocio. 

—  Nos  escudos,  a  figura  que  dá  a  en- 
tonder  os  intentos  c.  euiprezas,  que  tinlui 
tomado  o  dono  d'clle. 

—  Pela  mesma  tenção ;  com  o  mesmo 
fim,  respeito,  intuito. 

—  Figuradamente:  A  tenção  da  Ui; 
a  sua  mente,  o  «o:itido  verdadeiro,  obje- 
cto que  o  leL'islador  BC  pr"põe  ncíla. 

TENCEIRO,  «.  VI.  Termo  antiquado. 
Rtíc-id)e  lor  lia-i  rendas  do  concelho. 

TENCIONADO,  jjurt.  pcus.  de  Tencio- 
nar. J'ii'iij  tencionado;  em  quo  o  desem- 
bargalor  já  rlcu  ou  escreveu  sua  tenção 
nas  appcilaçõcs,  etc. 

—  Intr.nt.i  !o,    projectado. 

TENCIONAR,  r.  a.  Dar  o  desembarga- 
dor o  seu  voto  na  causa  por  cscripto,  em 
latim,  para  verem  depois  aquillo  cm  que 
se  hão  de  acordar,  nos  factos  appellados, 
etc. 

—  V.  n.  Termo  usaílo  no  sentido  de 
int-ntar,  ter  intento^  fazer  tenção.  Vid. 
Teacoar. 

TÉNCIONARIO,  A,  aJj.  o  ».  Qne  rece- 
be ten(.a. 

TENÇOAR,  V.  n.  É  mais  analógico  que 
Tencionar,  todavia  está  obsoleto.  Vid. 
Tencionar. 

TENÇOEIRO,  A,  a^lj.  Que  traz  má  von- 
tade a  alguém,  c  rixa  com  elie. 

—  ObstiPiado,  pertinaz,  teimoso,  reiíi- 
tente,  rixoso.  —  <>   rillno  é  tençoeiro. 

TENÇOM,  ou  TEENÇOJI,  «.  /.  Termo 
antiquado.  Vil.  Tenção,  orthographia 
mais  correcta.  —  «E  achamos  per  Direi- 
to que  aquelle,  quo  vende  huma  cousa  a 
dous  em  desvairados  tempos,  merece  pena 
de  falso;  a  qual  pena  queramos  que  tique 
em  ai  vidro  do  .Tulgador,  segundo  a  culpa 
em  que  for  achado  o  dito  vendedor,  e  a 
teençom  que  ouve  em  vender  huma  cou- 
sa a  dons.»  Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit.  42, 

í?  -'■ 

TENDA,  s.  /.  Casa  de  vender  viveres, 
vinho,  licores,  etc. 

—  Levantar  as  tendas;  arnial-as  para 
pousar,  abarracar-se. 

—  Tenda  inteira  ;  tenda  armada. 

—  Tenda  de   mi/rtos,   de  Jasmins. 

—  Barraca  de  campanha. —  «E  a  cllc 
lhe  parcceo  isto  bem,  para  o  que  mandou 
logo  chamar  a  mayor  parte  dos  nobres,  e 
os  fez  ajuntar  no  campo  em  que  estavão 
as  tendas,  on  lo  em  voz  alta  do  cima  de 
hum  cavallo,  llics  foz  huma  falia,  em  que 
Ihe^  declarou  a  razão  par.aque  aly  foraõ 
juntos,  e  sobre  cila  se  altercou  hum  gran- 
de espaço,  com  tanta  variedade  de  pare- 
ceres, que  por  ontão  .«c  não  pôde  tomar 
conclusão  em  oou^a  alguma.»  Fernão 
Mendes   Pinto.  Peregrinações,  «»p.  118. 

—  Levantar  as  tendas  o  ejxrcifo;  para 
pelejar,  ou  marchar. 


TEND 


TENE 


TENO 


699 


TENDAL,  s.  ni.  Espécie  de  tolda  íixa 
sobre  a  primeira  coberta  do  navio. 

—  Nos  engenhos  d'assucar,  o  espaço, 
onde  se  assentam  as  formas  do  assucar 
nas  casas  da  caldeira ;  nas  casas  de  pur- 
ga assentam-se  em  furos,  ou  taboas  fu- 
radas postas  sobre  andainas,  e  purgam- 
_se:  nos  tendaes  esfriam  e  coalham. 

—  O  logar  onde  se  tosquiam  as  ove- 
lhas. 

TENDÃO,  s.  m.  (Do  latim  tendo,  ouis). 
Termo  de  anatomia.  Cordão  ou  fascículo 
iibroso  mais  ou  menos  longo,  algumas  ve- 
zes redondo,  mas  o  mais  das  vezes  acha- 
tado, de  um  branco  luzidio,  distincto  do 
musculo  pela  natureza  de  suas  fibras,  e 
por  não  ser  contractil. 

—  Tendão  de  Achilles;  grande  tendão 
chato,  foruuido  na  parte  anterior  e  poste- 
rior da  perna,  pela  reunião  dos  teudões 
dos  músculos  gémeos,  e  ligando-se  á  par- 
te inferior  da  face  posterior  do  calcanhar : 
é  assim  chamado  por  ser  n'este  sitio  que 
Paris  feriu  Achilles. 

TENDEDEIRA,  s.  /.  A  taboa,  sobre  que 
se  dá  ao  pão  a  ligura  ordinária. 

TENDEIRO,  A,  s.  Pessoa  que  tem  ten- 
da, e  vende  n'ella. 

Hum  de  meus  Bisavós  foi  mercador, 
Outro  foi  de  Alfaiate  oflicial, 
Outro  tendeíro  foi  sem  cabedal, 
E  outro,  que  Juiz  foi,  foi  lavrador. 

AUBADB  DH  JAZENTE,  POESIAS,  tum.  2,  pag.  93. 

—  Adagio  e  provérbio: 

—  Moço  guloso  não  é  bom  para  ten- 
deiro. 

TENDÊNCIA,  s.  f.  (Do  latim  tendere). 
Inclinação,  propensão,  direcção  natural, 
pendor. 

TENDENTE,  part.  act.  de  Tender.  Que 
se  encaminha,  e  dirige  a  algum  lito,  alvo, 
ou  lim. 

—  Que  propende,  e  que  se  encami- 
nha. 

—  Ventos,  ou  monção  tendente ;  que  le- 
vam ao  ponto  destinado,  e  são  tesos  ou 
continues. 

TENDER,   V.  a.   (Do   latim  tendere).  — 
Tender  o  2'uo;  dividir  a  massa  em  pães. 
— -Tender  «  mão;  estendel-a. 

—  Eucaminhar-se,  dirigir-se. 

—  Tender  a  massa;  estendel-a  sobre 
uma  taboa  com  um  rolo  de  pau,  para  a 
tornar  delgada  o  em  folhas. 

—  Tender  o  vento  as  velas;  enchel-as 
bem. 

—  Tender  as  velas;  desfraldal-as. 

—  V.  n.  Tocar  de  alguma  cousa,  ir 
chegando  a  certo  estado. 

—  Inclinar. 

—  Ter  pendor,  ou  direcção. 

—  Tender  em  alguma  cousa.  Vid.  En- 
tender iiella. 

—  Tender-se,  i'.  refl.  Estender-se, 
alargar-se. 

TENDIDO,   iiart.   pass.    de  Tender.  — 


Bandeiras  tendidas;  bandeiras  desprega- 
das. 

—  Velas  tendidas  com  o  vento;  velas 
inchadas,  tesas,  enfunadas. 

—  Tendida  lança;  em  pé. 

—  Ver  a  olhos  tendidos ;  vêr  a  olhos 
longos,  esforçando  a  vista  para  vêr  os 
objectos  remotos. 

"TENDILHA,  s.f.  Diminutivo  de  Tenda. 
TENDILHÃO,  s.  m.  Tenda   de   campa- 
nha,  pavilhão. 

—  Uma  ave.  Vid.  Tentilhão. 
TENDINOSO,  A,  adj.  (Do    latim   tendi- 

nosus).  Termo  de  anatomia.  Que  diz  res- 
peito aos  tendões,  que  é  da  natureza  dos 
tenilijes.  —  Tecido  tendinoso.  — Inserções 
tendiuosos. 

—  Diz-se  das  carnes  que  tem  muitas 
fibras  tendinosas. 

TENEBRA,  s.f.  Termo  antiquado.  Tre- 
vas, escuridão. 

TENEBRARIG,  s.  m.   Candieiro   que  se 
accende   durante   o   officio  das  trevas  no 
tempo  da  semana  santa. 
^^TENEBRIA,    s.f.    Termo    antiquado. 
Trovas,  escuridão. 

TENEBRICOSIDADE,  s.f.  Escuridão  da 
vista,  etc.  Vid.  Teuebricoso. 

TENEBRICOSO,  A,  adj.  (Do  latim  te- 
neòricosus).  Acompanhado  de  escuridão, 
ou  perturbação  da  vista  e  do  entendi- 
mento. 

TENEBRIDADE,  s.  /.  Trevas,  escuri- 
ilao. 

TENEBROSAMENTE,  adv.  (De  tenebro- 
so, com  o  sufíixo  «mente»).  De  um  modo 
tenebroso. 

—  Mui  obscuramente. 
TENEBROSIDADE,  s.  /.    O  caracter  do 

que  é  tenebroso. 

—  Figuradamente :  'A  tenebrosidade 
de  pensamentos  escuros. 

TENEBROSO,  A,  adj.  (Do  latim  tene- 
òrosusi.  Unde  ha  trevas,  escuridão.  —  «O 
escuro  também  tem  seus  grandes  na  mi- 
nha terra.  Quanto  mayar  he  menos  se  vê, 
he  o  enigma  com  que  defiiãmos  em  Por- 
tugal, aquellcs  escuros  tenebrosos  que 
aqui  tenho  visto  muy  raramente.»  Caval- 
leiro  d'01iveira,  Cartas,  liv.  3,  n."  3. 


Nem  a  vontade  da  raaão  decente 
Neage  caminho  escuro  e  tenebroso, 
Man  eu  sou  tal...  aqui  lhe  não  consente 
Que  diga  mais  o  Filho  piedc^o, 
Onde  lhe  replicou :  Sogui-amente 
Pódca  seguir  o  paaao  duvidoso, 
Poia  a  suguirmoa  a  rasào  inclina 
O  que  o  Grande  Decreto  determina. 

UOL.   DE  aOUKA,  NÓV.   DO  HOM.,    CEut.    3,  OSt.    20. 

o  Vate  pensador  ;  digna-te  as  portas 
Franquear-me  huma  vez,  possa  abrazado 
Na  luz  do  facho  teu  romper  doa  montca 
0  tenebroso  seio,  abjamo  escuro. 

J.    A.   DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Cant.2. 

E  CampaueUa,  e  Bruno,  c  a  uós  maia  perto 
Quem  ^uer  que  foate  tu,  que  ao  Mundo  déatc 


A  tenebrosa  producçâo,  que  chamas 
Da  Natureza  enfático  Syatema. 

IDE.M,  VIAGEM  EXT.VTICA,  Cant.   2. 

—  Idêas  tenebrosas ;  idêas  da  c(3r  das 
regiões  infernaes,  dcscriptas  pela  poe- 
sia. 

—  Figuradamente  :  Matéria  tenebro- 
sa; matéria  obscura,  diíTicil  de  enten- 
der-se. 

—  Syn.:  Tenebroso,  escuro.  Vid.  este 
idtimo  termo. 

TENENCIA,  s.  f.  O  cargo  do  tenente, 
do  que  tem  algum  posto  por  outrem. 

—  OfHcio,  administração  da  repartição 
do  tenente  general  de  artilheria,  o  offi- 
eiaes  que  servem  na  dita  repartição. 

—  Á  casa  em  que  habita  o  que  tem  a 
teuencia. 

—  Nos  armazéns  da  tenencia  estavam 
todos  os  depósitos  de  armas,  e  ahi  ço  fa- 
ziam as  de  toda  a  sorte. 

TENENTE,  s.  m.  (Do  latim  tenens).  O 
que  tíuppre  o  logar  de  outrem  que  o  en- 
carregou de  fazer  as  suas  vezes,  oflicial 
immediato  e  inferior  ao  capitão. 

—  Tenente  general;  posto  superior  ao 
do  marechal  de  campo. 

—  Posto  militar,  superior  ao  alferes, 
inferior  ao  capitão. 

—  Tenente  coronel;  po-to  inferior  ao 
coronel. 

—  Termo  antiquado.  Governador  de 
cidade  por  el-rei. 

—  Tenente  dos  Césares;  os  que  por 
elles  governavam,  e  em  seu  logar  e  ve- 
zes. 

—  lia  tenentes  de  marinha,  ha  capi- 
tães tenentes,  inferiores  aos  capitães  do 
mar  e  de  guerra. 

— •  Loc.  :  Pelejar  á  mão  tenente ;  pe- 
lejar mui  perto,  e  travados  o>  combaten- 
tes. 

—  Tenente  rei;  governador  por  el-rei 
de  fortaleza,  praça  de  armas. 

TENESMO,  s.  m,  (Da  grego  tênesmos). 
Termo  de  cirurgia.  O  puxo  que  toma 
quem  tem  o  ventre  embaraçado  para 
obrar. 

TENESMODICO,  A,  adj.  Acompanhado 
de  tenesmo. 

TENETA,  ou  TENETE.  Vid.  Tineta. 

TENIA,  s.  /.  (Do  latim  twnia).  Ter- 
mo de  zoologia.  Verme  solitário,  lombri- 
ga chata  e  de  muitos  pós  de  longor  ás 
vezes,  cuja  expulsão  se  obtém,  segundo 
dizem,  com  cozimento  de  raiz  ou  casca 
de  romeira  em  maior  ou  menor  dose;  se 
quebra  não  morre,  mas  reforma-se  em 
outra  inteira.   Vid.  Solitária. 

TENIFUGO,  A,  adj.  Termo  de  medici- 
na. Que  afugenta  a  tenia. 

TENIR.   Vid.  Tinir. 

1.)  TENOR,  s.  m.  Voz  de  homem  en- 
tre contralto  e  contrabaixo. 

E  que  lhe  leva  o  tenor 
de  garganta  todo  o  anno 


700 


TENS 


TENT 


TENT 


tcrroiroslnho  mou  mano 
com  trabaja  o  marcador. 

ANTOmo  PBKsriíS,  Auroa,  pag.  l-".l 

—  Ilomoin  quo  canta  n'esta  voz. 

2.)  TENOR,  s.  III.  Nu  índia,  ospocic 
do  vaso. 

3.)  TENOR,  í.  m.  Vid.  Theor,  o  Es- 
tylo. 

TENRAMENTE,  adv.  (De  tenro,  o  o 
Biiffixo  tmenteu).  Do  um  modo  tuuro. 

—  Até  ficar  tenro. 

—  Viil.  Ternamente. 

TENREIRA,  a.  /.  Termo  antiquado.  Vi- 
tolla. 

TENREIRO,  A,   adj.  Teuro. 

TENRILHO,  ou  TENRINHO,  A,  adj.  Di- 
minutivo do.  Tenro.  Um  puuco  tonro. 

TENRÍSSIMO,  A,  adj.  superl.  do  Ten- 
ro. Mui  tenro. 

—  Emprega-3o  taml>em  no  sentido  fi- 
gura Jo. 

TENRO,  A,  adj.  Molle,  brando. 

Nii8  eutriuihas  da  Terra  ignota  fori;» 
Os  escondidos  gcrmca  desenvolve, 
Nod  boâiiuua,  verdes  jil,  canoras  avos, 
E  05  rebanhos  pacilicos  nos  Valles, 
De  amor  suguem  a  lei,  e  a  voz  cscutão. 
Matutino  vapor  deixa  aljofradas 
As  tenras  plantas,  iiue  nos  prados  crescem. 
No  diamantino  orvalho  as  azas  niolhão 
Os  inconstantes  Zéfiros  quo  voão. 

J.  A.  DE  MACUnO,  A  NATDREZA,  Caut.  1. 

Sc^  cUe  esmalta  nos  viçosos  pr.idos 
A  teiini  flor,  encurva,  o  doura  as  mossea, 
EUo  no  rico  Outono  aos  doces  fructos 
Perfeita  madurez,  sabor  reparte. 
Abasta,  aformosea  a  Natureza. 
IBIDEM,  cant.  1. 

—  Figiu-adameuto :  Christão  tenro  nu 
fé;  novo  converso,  não  firme. 

—  Delicado. 

—  Idade  tenra;  a  do  menino  ou  do 
moço. 

—  Engenho  tenro ;  cultivado  do  novo, 
níto  formado. 

—  Sloilo,  por  novo  o  recente. 

—  Tenro,  por  temo. 

TENRURA,  í.  /.  O  caracter  do  que  é 
tonro. 

—  Vid.  Ternura. 

TENSA,  s.  f.   Vid.   Tença. 

TENSÃO,  s.  f.  (Do  latim  tensio).  O  es- 
tado dos  corpos  estirados,  e  não  bambos. 
—  A  tensão  dos  corpos. 

—  Vid.  Tenção,  que  differc. 

TENSIVO,  A,  adj.  Termo  de  medici- 
na. Puxado,  tirado,  teso,  acompanhado 
de  tensão. 

—  Dor  tensiva ;  dOr  acompanhada  do 
um  aeatiineuto  de  distensão  em  a  parte 
paciento,  como  a  da  formação  de  um 
abscesso,  o  a  que  se  sente  na  reducção  de 
um  mombro  deslocado. 

TENSO,  A,  adj.  Termo  de  medicina. 
Vid.  Tensivo. 

TENSOEIRO.  Vid.  Tençoeiro. 


Tio  naufrágio  teni;oeiro 
que  uilo  tenha  um  eordcal : 
esse  senhor  seja  tal 
(|uo  oori  queira  ouvir  primeiro. 

ANTÓNIO  PHBSTH»,  AUTOH,    pag.   97. 

TENTA,  *.  /.  Instrumento  cirúrgico  do 
tentar  o  fundo  das  feridas  penetrantes,  e 
outras. 

—  Tcnno  do  anatomia.  Tenta  do  cere- 

UlLo. 

TENTAÇÃO,  s.  f.  (Do  latim  tentalio). 
liiduiiÍMieuto  a  obrar  alguma  cousa,  e 
mi'irmeutc  o  mal.  Vid.  Rédea.  —  tNam 
pedimos  ao  Senhor  que  .se  uam  alleuan- 
tem  contra  nos  tentações,  que  tal  cousa 
nam  pode  yer,  e  ainda  que  pudesse  ser, 
nam  nos  vinha  bem  nunca  ser  tentados, 
porque  quem  uam  he  tentado,  nem  pro- 
uado,  luim  scra  coroado:  Onde  uam  hay 
batalha,  nam  ha  victoria  nem  coroa.  U 
Saneto  Dauid  dezia:  tíenhor  tentaymc,  c 
prouayme.ii  Frei  Bartholomeu  dos  Mar- 
tyrc.s,  Catecismo  da  doutrina  christã.  — 
«A  curiosidade  lie  grandis.simo  impedi- 
mento pêra  a  contemplação,  se  o  homem 
procura  esta  por  causa,  ou  por  vontade 
de  a  experimentar,  ou  mostrar  aos  outros 
sua  excellencia  e  naõ  por  se  conhecer,  e 
se  ter  por  mais  vil,  o  baixo,  conhecida, 
e  deseuberta  niais  profundamente  sua  in- 
sufliciencia,  e  reconhecida,  e  venerada  a 
perfeição  de  Deos,  pêra  assim  se  esfor- 
çar mais  contra  as  tentações,  e  habilitar 
com  mais  promptidão  pêra  a  guarda  dos 
uumdamentos  diuinos.»  Idem,  Compendio 
d'espiritual  doutrina,  cap.  13. —  «Uu- 
tios,  ouuiudo  o  rumor,  e  ladrido  dos  cães 
infernacs  se  atemorizão,  e  offereeida  qual- 
quer tentação  descaem,  sendo  antes  con- 
ueaiente  desprczalos,  e  passar  briosamen- 
te auante.»  Ibidem,  cap.  15.  —  nA  ten- 
tação nos  apressa  no  caminho  da  virtu- 
de, como  a  espora  ao  bruto ;  a  tentação 
nos  dá  a  conhecer  nossas  faltas,  como  as 
perguntas  do  exame  descobrem  a  igno- 
rância :  e  torna  o  nosso  coração  compas- 
sivo para  com  os  próximos,  como  o  que 
foy  enfermo,  sabe  ser  enfermeiro. «  Padre 
Manoel  Bernardes,  Exercícios  espirituaes, 
pag.  3l5l). 

—  O  tentar,  começar  qualquer  obra, 
querer  obrar  alguma  cousa.  Vid.  Tenta- 
tiva. 

—  Cair  em  tentação ;  consentir  em  obrar 
mal. 

—  Tentações  diabólicas ;  tentações  in- 
sinuadas polo  diabo.  —  aLembrc-te  que 
são  tentações  diabólicas,  que  arma  o  dia- 
bo com  laços  aprasiveis,  em  que  a  fra- 
queza da  carne  cada  dia  eae.  Padre  disse 
o  do  tjalvagem,  isto  são  obras  da  huma- 
nidade, a  que  se  não  pode  fugir,  e  o  de- 
sejo ó  tão  delicado,  que  lança  mão  da 
cousa  a  que  se  o  coração  atleiçoa. »  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.    lOli. 

TENTACULOS,  s.  m.  plur.  Termo  do 
historia  mitural.   Membranas,  ou  espécie 


do  braços  moveis,  liexivei»,  ou  alonga- 
dos, privativos  dos  peixe.-*  do  género  dos 
nioUuscos,  quo  lhes  ijorveii),  bstendcn- 
do-os,  ou  oacoliiondo-o»,  a  apalpar  os  ob- 
jectos, ou  a  a;,'arrareui  a  sua  presa. 

TENTADO,  pari.  pai»,  de  Tentar.  Ex- 
perimentado, apalpado. 

—  Induzido  a  obrar  mal.  —  tMaa  ai  al- 
guuii  de  taS  fraco  sojcito  pella  fraquoza 
do  espirito,  e  pouca  consistência,  que  1©- 
uaQ  pesadauicutc  estar  sem  companhia, 
ou  persistir  eiii  hum  lugar  aturadamente, 
e  se  intentaõ  aturar,  saõ  teatados  de 
diuersos  vicios,  cntristcccuise,  afroxSo, 
agastaõssc,  os  quais  haõ  de  ser  mudadus 
pêra  cxercicioa  ila  vida  actiua.»  Fr.  IJar- 
tholomeu  dos  Martyres,  Compendio  de 
espiritual  doutrina,  cap.  15. 

—  Tentado,  i>or  Atteutado. 
TENTADOR,  A,  «.  (De  tentar,  e  o  suf- 

fixo  dôr).  Pcriãoa  que  tenta. 

—  U  demónio. 

—  Adjectivamente:  Que  tenta,  que  se- 
duz.—  Espirito  tentador. 

TENTAME,  ou  TENTAMEN,  s.  m.  (Do 
latim  tentanieii).  Ensaio,  tentativa. 

TENTAMENTO,  *.  m.  Intento,  desejo 
eviíleute  de  tazer  alguma  cousa. 

TENTANTE,  part.  act.  de  Tentar.  Que 
tenta,  tentador. 

TENTAR,  V.  a.  (Do  latira  UnUirej.  In- 
duzir a  obrar  mal.  —  «Disse-me  que  sa- 
Inndo  hum  dia  pida  porta  da  Carestia  se 
tentou  a  achetar  na  Feyra  huma  Caatoila 
para  trazer  a  -ua  molher,  c  que  fora  caso 
muito  Celde  achar-se  sem  o  Cotncõhioa 
para  a  pagar  depois  ile  a  ter  ajustado.» 
Cavalleiro  d'01iveira,  Cartas,  liv.  1,  n.° 
25. 

—  Commetter. 

Os  que  mostrarão  aos  mortacs  a  estrada 
D  alma  justiça  alli  rcâplaudeciào  ; 
Os  que  co'a  mente  accesa,  :ls  Musaa  dada, 
Sobre  as  azas  do  canto  aos  Ceos  subião : 
Os  que  primeiro  á  terra  fecundada 
Com  provideute  arado  o  sulco  abriào. 
Os  quousilrào  primeiro  cm  frágil  pinho 
Tentar  do  mar  o  liquido  caminho, 
j.  A.  Dr.  MACEDO,  o  ORiExrB,  out.  G,  est.   G4. 

—  Tentar  a  fé;  procurar  corrompel-«. 

—  Tentar  o  vau;  experimentar  se  se 
pôde  vadear. 

—  Tentar  a  acqão,  a  demanda;  inten- 
tar, propor,  começar. 

—  Expòr-se  aos  perigos. 

—  Procurar,  fazer  diligencia  para  ob- 
ter alguma  cousa. 

—  Induzir  a  obrar  qualquer  cousa. 

—  Experimentar,  apidpar,  provar. 


Tentemoi 
Este  velho.  —  Scíuir  os  teus  conselhos 
Moderados,  prudentes. 

OAESETT,  CATÃO,  aCt.    1,    SC.    3. 

—  Tentar  a  Deus;  querer  fazer  prova 
do  seu  saber,  e  poder  infinitos. 


TENT 


TENT 


TEOR 


701 


—  Intentar,  commetter. 

—  Tentar  a  sorte ;  experimentar  a  sorte. 

—  Tentar  a  pra<^a;  aecoinmetter  para 
vèr  se  se  pode  levar  de  sobresalto,  por 
mal  vifíiada. 

TENTATIVA,  s.  /.  Acto  com  que  se 
tenta,  e  experimenta  alguma  cousa  de 
acontecimento  incerto,  ou  desconhecido. 

—  Prova,  ensaio,  experiência. 

—  Acto  de  prova  de  capacidade,  que 
se  faz  nas  universidades. 

—  Teutamen,  ensaio  escripto. 
TENTATIVO,    A,  adj.  Que   tenta,    ins- 
tiga. 

TENTE,  part.  act.  de  Ter. 

—  A  mão  tente.  Vid.  Teeute,  e  Te- 
nente. 

TENTEADO,  part.  pass.  de  Tentear. 
Examinado  profundamente. 

—  Disposto. 

—  Calculado,  lançadas  as  contas.  — 
aElRey  ainda  que  era  homem  prudente, 
e  tinha  tenteado  quanto  proueito  podia 
receber,  neste  nouo  caminho  que  os  nos- 
sos abrirão  pêra  dar  maior  saida  às  suas 
especearias.B  Barros,  Década  1,  liv.  4, 
cap.  9. 

TENTEADOR,  A,  adj.  e  s.  2  gen.  Que 
tenteia,  examina. 

TENTEAR,  i:.  a.  Examinar  com  a  tenta 
o  fundo  da  ferida. 

— -Sondar,  examinar. —  t  Finalmente 
por  esta  razaõ  e  outras  de  paixões  e  diííe- 
renças  que  entre  elle  e  o  Camorij  auia, 
o  principalmente  por  causas  do  seu  pro- 
ueito que  elle  tenteou. »  Barros,  Década 
1,  liv.  5,  cap.  8. 

Ganhae  embora, 
tenteae,  que  tendes  uma  : 
vós  as  daea  ? 

Eu  sou  contente. 
ASI05II0  PEEsxEa,  AUTOS,  pag.  379. 

—  Conduzir,  dirigir  as  cousas  aos  seus 
fins  com  tento  e  prudência. 

—  Proporcionar. 

—  Calcular  com  tentos. 

—  Lançar  contas. 

—  Figuiadamente :  Tentear  o  fundo  do 
rio. 

—  Tentear  com  a  espada;  ir  apalpando 
com  ella. 

—  Figuradamente:  Tentear  a  vida. 

—  Dar  tento,  reparar,  observar,  atten- 
der. 

—  Tentear  as  eonprezas,  a  natureza  do 
negocio. 

TENTELOGO,  s.  m.  Termo  antiquado. 
Substituto,  logar-tenente,  que  exerce  o 
cai'go  nas  faltas  do  proprietário. 

TENTILHÃO,  s.  m.  Termo  de  zoologia. 
Ave  vulgar,  do  feitio  do  verdelhão  nos 
cotos  das  aziís,  e  tendo  na  cauda  umas 
peunas  brancas. 

TENTIM,  s.  m.  —  Tentim  p<yr  tentim ; 
com  toda  a  minudência  e  exactidão,  como 
quem    conta    e    calcula  por  tentos,  como 


ainda  no  jogo  se  couta  por  peças  de  mar- 
fim, ou  madrepérola,  ou  tentos,  uns  maio- 
res de  que  cada  um  valo  5,  ou  10,  ou  20 
á  convenção,  outros  menores,  talvez  os 
tentins,  pai-a  unidades,  e  talvez  para 
fracções  d'ella3. 

1.)   TENTO,   s.   m.    Sentido,    attônçào, 
cuidado. — Dar  tento  ás  cousas. 


Agora,  quoro  eu  fallar 
Neatc  caso  com  maia  tento  ; 
Quero  agora  perguntar: 
E  do  siso  his  vús  tomar 
IIiiui  tão  alto  pcuaameuto  V 
Certo  hc  minha  maravilha, 
Se  vós  iãto  nào  sentis 
Bem. 

cAM.,  FiLODEMO,  act.  1,  SC.  5. 

Mal  cuidado 

são  os  amantes  destapados, 

tão  enlevados  em  si 

o  tão  promptos  nos  encargos 

que  fica  o  tento  por  hi, 

e  o  mundo  como  c  Argua 

vê  daqui  e  vê  d'alli. 

AHT05I0  PRESTES,  AUTOS,  pSg.  295. 

Quanto  o  máo  peito  ao  odio  mais  ae  entrega 
Menos  pôde  cubrir  o  seu  intento, 
Quanto  a  crueza  o  maia  dosasaoccga 
Tanto  maia  o  sentido  perdo,  e  o  tento: 
Donde  acontece  humas  vezes  que  lhe  cega 
Eate  odio  de  tal  sorte  o  entendimento, 
Que  o  que  faz  para  mal  de  seu  imigo 
Sc  lhe  torna  em  cruel,  duro  castigo. 

rKANCISCO     d'aNDBADE,     PRIMEIBO     CEBCO    D«!    DIU, 

cant.  7,  est.  2. 

—  «E  de  Cantão  ate  onde  esta  el  Rey 
dizem  eomunmente  que  sam  seys  meses 
de  caminho:  pelo  que  me  parece  que  os 
Portugueses  nani  tomaram  bem  os  tentos 
aa  grandura  da  província  de  Sanxi.»  Fr. 
Cl  aspar  da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da 
China,  cap.  29. 

—  Sem  tento ;  sem  cuidado,  sem  at- 
tenção. 

—  Fazer  o  tento  em  alguma  cousa; 
ter  o  sentido  attento. 

—  Trazer  tentos  na  vida;  calcular, 
lançar-lhe  contas,  olhar  a  evitar  erros  e 
males. 

—  Trazer  alguma  cousa  no  tento  ;  tra- 
zel-a  no  sentido,  attentar  por  ella. 

—  Figuradamente:  Projecto,  calculo 
para  se  governar  na  vida,  medrar,  me- 
Ihorar-se. 

—  Loc.  ADV.:  Á  tento;  com  attenção. 

—  A  tento;  apalpando.  Vid,  Tentear. 

—  Matar  a  tento ;  pouco  a  pouco,  pau- 
latinamente. 

—  Dizer  a   tento  ;   dizer  devagar. 

—  Fallar  a  tento ;  fallar  ao  certo,  co- 
mo sobre  cousas  certas. 

—  Adagio  e  pkoverbio  : 

—  O  homem  ande  com  tento,  e  a  mu- 
lher não  lhe  toque  o  vento. 

2.)  TENTO,  s.  7)1.  Grão,  ou  pedrinha, 
de  que  se  usava  para  fazer  contas,  e  com 
que  hoje  se  aponta  o  que  se  ganha  no 
jogo. 


—  Termo  de  pintura.  Vara  delgad;i, 
em  que  o  pintor  encosta  a  mão  direita 
para  correr,  e  lavrar  mais  firme. 

—  Envite  no  jogo  da  pella;  vale  4. 
multi])lieado3  por  lõ  ganhos. 

TENTORIO,  s.  m.  (Do  latim  tentorius). 
Termo  pouco  em  uso.  Vid.  Tenda,  e  Bar- 
raca. 

TÉNUE,  adj.  2  gen.  (Do  latim  tenuis). 
Que  é  de  pouca  substancia,  não  succoso. 

—  Fraco,  débil. —  «O  quinto  Osso  he 
ténue,  duro,  solido,  e  quadrangular ;  o 
qual  com  o  seo  companheiro  constituhe  a 
parte  do  naris  mais  eminente,  e  8U[ierior. 
A  estes  des  ossos  accrescentão  Columbo, 
e  Luurencio  o  undécimo ;  o  qvial  se  acha 
coUocado  sobre  o  palato  intimo ;  e  serve 
de  dividir,  à  maneira  de  hum  muro,  a 
parte  mais  inferior  do  naris.  A  sua  for- 
ma he  semelhante  ao  ferro  do  hum  ara- 
do.» Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal  medi- 
co, pag.  77,  §  115.  —  lAs  Pidpebras  te- 
nues,  hum  pouco  carnozas,  e  arrugadas: 
Pálpebra:  sunt  ténues,  attameu  aliquan- 
tulum  carnosa},  et  magna,  et  profundarum 
sugarum,  et  versus  oculi  angulus  multa- 
rum  subtilium  plicarum. »  Ibidem,  pag. 
333,  §  153. 

—  Que  é  mui  delicado,  que  ó  pouco 
compacto. —  Um  frio  ténue. 

—  De  pouca  importância,  de  pequeno 
valor,  estima.  —  *  Mas  o  conceito,  que 
disso  fazemos  he  taõ  escuro,  e  ténue,  que 
até  os  Santos  Padres,  fiiUando  em  outras 
matérias  copiosamente,  nesta  se  achaõ 
muy  diminutos.»  Padre  Manoel  Bernar- 
des, Exercícios  espirituaes,  pag,  308. 

Padres,  viemos 
A  este  conselho  por  mais  alto  impenho, 
Para  maior  objecto.  Desviaram 
Prevenções  generosas  de  amizade, 
De  mui  cega  amizade  ■ —  para  um  ténue, 
Incou3Íd'raveI,  minimo  interesse. 

GAKRETT,  CATÃO,   aCt.    2,  SC.   2. 

—  Delgado. 

—  Esmola  ténue  ;   esmola  pequena. 
TENUIDADE,  s.  f.  (Do  latim  tenuifas). 

Qualidade  do  que  é  ténue. 

—  A  delgadeza,  pouco  corpo  dos  sóli- 
dos, ou  líquidos. 

TENUISSIMO,  A,  adj.  superl.  de  Té- 
nue.  Mui  ténue. 

TEOLOGIA,  s.  f.  Vid.  Theologia,  ter- 
mo mais  usado  e  em  harmonia  com  a  ety- 
mologia. 

TEÓLOGO,  s.  m.  Vid.  Theologo,  termo 
mais  em  uso,  e  mais  conforme  á  etymo- 
logia. 

TEOR,  s.  m.  Vid.  Theor,  termo  mais 
usado,  o  mais  em  harmonia  com  a  ortho- 
graphia  etymologica.  —  «  Quero-vos  dar 
conta  de  hum  Soneto  sem  pernas,  que  se 
fez  a  hum  certo  recontro  que  se  teve  com 
este  destruidor  de  bons  propósitos,  e  não 
se  acabou,  porque  se  teve  por  mal  em- 
pregada a  obra,  cujo  teor  é  o  seguinte.» 
Camões,  Carta  2. 


702 


TKU 


TEB 


ti:k 


TEOREMA,  i.  //i.    Viil.  Theoreina. 

TEORIA,  s.  /.  Viil.  Theoria. 

TEÓRICA,  «. /.   Vi.l.  Theorica. 

TEPE,  n.f.  Termo  di-  foitilica(;ilo,  Tor- 
rilo  lio  li^^ura  do  cimliíi,  ou  in-i-iiiiu  ilc  trc-i 
facoí,  do  torra  f^orda,  o  travado  com  raí- 
zes do  griíiun,  <iu(í  ntí  usa  na  fortifica- 
i^Tw.  Vld.  Céspedes. 

•{•  TEPELO,  *".  "i.  Termo  de  botânica. 
Cada  uma  das  pe^wia  de  uu>  perigouo,  ou 
iuvoluero  Uoral. 

TEPEZ,  aJj.  2  jcn.  Termo  popular. 
Coutumaz,  jicrtinaz. 

f  TEPHROMANCIA,  ».  /.  Espocic  do 
adiviiiliai;riu,  cm  ijue  so  serviam  da.s  cia- 
z«s  dl<^  i^acrilicios. 

TEPIDAMENTE,  adv.  (De  tépido,  com 
o  suílixo  «meute").  Do  um  nmdo  tépido. 

—  Com  pouco  calor. 

—  Jlornamouto. 

TEPIDEZ,  s.  f.  Estado  do  corpo  tépi- 
do, monio. 

—  Tepor. 

TÉPIDO,  A,  adj.  \\)o  latiui  itpidus). 
Pouco  iiuonte,  moruo.  —  «Também  diz 
que  as  Androlhinlius  trazem  a  fama  de 
Muurdmia  a  todos  03  paizes  Europisti- 
cos.  Quau-U)  tem  alj^uni  catarro  cura-so 
com  agoa  tépida,  a  que  oUe  chama  agua 
Eáclaiidecídti:  para  aquouta-la  deyta  liu- 
ina  braza  doutro  do  copi-  quo  está  clieyo, 
e  a  isto  lio  quo  cliama  nsclundecêr  a  sua 
afjjoa  medicinal.»  Cavallciro  d'Oliveira, 
Cartas,  11  v,  1,  n.°  25. 

—  Fijíuradamento  :  Tibio,  frouxo,  ne- 
gliííoute. 

TEPOR,  s.  m.  (Do  latim  tepor).  O  es- 
tado do  corpo  tépido,  da  agua  do  fonte 
não  gélida,  das  aguas  therniaos,  etc. 

TÉQUE,  por  Até  que. 

TÉQUI,  por  Até  aqui. 

1.)  TER,  i'.  ('.  Possuir,  conservar  em 
seu  poder  aquillo  do  que  c  senhor.  — 
«Item.  Que  nenhum  nom  braado  armas, 
armas  em  ua  hoste,  por  o  grande  priguo, 
quo  poderá  acontecer,  o  que  DEOS  de- 
fenda; e  esto  sob  per.a  de  perder  o  me- 
lhor cavallo,  que  tever,  se  fur  liomem  de 
armas,  ou  bcesteiro  de  cavallo ;  e  se  for 
beesteiro  a  pee,  ou  page  perderá  a  oi-e- 
Iha  direita;  e  so  for  fidalgo,  ou  cavallci- 
ro, seja  cscamiieutado  segundo  o  caso  for, 
o  a  calidado  de  sou  estado.»  Ord.  AHons., 
liv.  1,  tit.  51,  §  47.  —  «E  se  ao  dito 
termo  do  seis  dias  vierom  o  concorrerem 
muitos  creodores,  ou^'a-os  o  Juiz,  e  fai;a- 
Ihes  direito,  entregando  o  dito  preito,  o 
quantidade,  &c.  a  aquelle,  que  melhor 
direito  tever,  segundo  a  llordonai;om  do 
ElRey  Dom  Donis  sobre  tal  caso  feita; 
e  nom  vindo  algum  crcedor  ao  dito  ter- 
mo, faça  o  Juiz  entregar  o  dito  preço  c 
quantidade  ao  dito  vendedor,  pois  nom 
vom  quem  lho  embíu-gue.»  Ibidem,  liv. 
4,  tit.  53,  v?  '2.  —  «O  que  minha  miseri- 
córdia foz  com  a  alma  do  Salamaõ,  que- 
ro telo  eucuberto  aos  homens,  para  que 
03  peccados  da  incontinência   sejaõ  mais 


evitado»  do  todos.»  Honarchia  Lusitana, 
liv.  5,  cap.  l'J.  —  «Teve  crsto  Princlpo 
(a  qim  vulgarmente  chainilo  Uoy,  as  mo- 
moiias  (|Uo  íaluò  dello)  huuia  tiiha  clia- 
madii  Eucratis,  ou  Eugiaeia,  que  alóm 
das  outnu  perfoyçoens  naturacs,  teve  a 
do  ser  Christãu,  o  particular  zeladora  da 
honra  o  Fi  dt  Josv  Ciiristo.»  Ibidem, 
cap.  21.  —  «Va-8e  um  por  outro,  que 
para  passar  meu  uial  basto  o  coutenta- 
mento  de  Aabcr  por  quem  o  passo;  mas 
servir  sem  esperança,  o  viver  com  ella 
perdida,  nllo  sei  se  a  vida  o  jiodcrá  sof- 
frcr,  que  os  males  continuados  desfavo- 
recidos do  algumas  mostras  alegres,  ou 
enganos,  que  os  sustenham;  prestes  des- 
baratam quem  os  tem.»  Francisco  de 
Moraes,  Desengano. 


tciie  dons  Aiccbispudos, 
Abadias,  o  Bispados, 
fez  dous  irmãos  Arcebispos, 
])arciitos,  aiiiipott  ISinpos, 
u  criados  miiy  houriidos. 

OAUOI^    PB    BCZKXD»,    UISCELLÁXaA. 


He  loiígft  V 

a^iui  inui  perto. 

Esfon;ae,  não  desmaieis; 

e  audciiios, 

Qu'alli  lia  todo  concerto 

Mui  certo : 

Quantas  cousas  querereis 

Tudo  teiules. 

OIL  VICENTE,   ACTO  DA  ALUA. 


—  «Pois  tendo  o  Infante  esta  minha 
informação  approuada  per  muitos  que 
concorrião  em  huuia  mesma  cousa,  come- 
çou a  poer  cm  execução  esta  obra  (jue 
tãto  desejaua  :  mandando  cada  a-.ino  dous 
e  trea  nauios  que  lhe  fossem  descobrindo 
a  costa  alem  do  cabo  de  Nam,  que  he 
adiante  do  cabo  da  tiuilo  obra  de  doze 
legoa-.»  Barros,  Década  1,  liv.  1,  cap. 
2.  —  «Donde  se  vo  clai'o  o  favor  de  Dcos, 
que  temos  da  nossa  parte;  pois  naõ  so- 
mente nos  conserva,  mas  ainda  nos  faz 
superiores  a  c.stes  contrários,  dandonos 
delles  gloriosas  vitorias.»  Sevcrim  de  Fa- 
ria, Noticias  de  Portugal,  Disc.  2,  capi- 
tulo 9. 


Bem  cotthe<;o  que  uão  posso 
Ter  tão  alto  pensamento  ; 
Mas  disto  só  me  contento. 
Que  se  paga  com  ser  vosso 
O  mór  mal  do  meu  tormento. 

CAM.,    SELEUCO. 


Sc  teiu!  de  Maioral  a  dignidade, 

Com  Cabana  abundante,  o  largo  aprisco  ; 

Porque  acuriís  dos  Doures  a  impiedade? 

AJIHADE  DK  JAZBNTK,   POESIAS,   tom.   "2,   pag.   ST. 


Se  Franco  cíintava  bem, 
Kra  por  i*so  estimado  : 
K  hoje  qtiii,'ais  que  lie  culpado 
Por  essa  piwto  que  tem. 

r.   BÚDBIOCES  LOBO,  SCLOOXS. 


—  «Nos  maloi  da  c<Mta  tem  muvto 
brasil,  u  pao  preto,  do  quu  tudos  o«  ân- 
uos «•;  carr<;gaò  muit  de  c^-m  juacj»  para 
a  (Jhioa,  AynSu,  Lc«]uios,  (.'aml>oja,  e 
Ciiamp.'i:  o  tem  mais  iiiuvta  cora,  mel, 
o  açúcar.»  Fcruilo  Meud';*  Pinto,  Pere- 
grinações, cap.  1^'J.  —  «Num  coui  oe 
e  grimldores,  os  quacs  tem  a«  espadas 
grossas  c  as  pcruao  deigadaii.»  Va«oon- 
ccilos.  Arte  militar,  pag.  28.  —  «A  cu- 
j:i  contii  ticou  terem  muyt-i,  cm  fazerem 
guardar  inteiramente  a  interprutaçlo  que 
elle,  e  ueu  amigo  Thechel  eiuinaulo,  que 
cm  tudo  era  a  mesma  de  Al>.-.»  Fr-i  Gas- 
par de  S.  Ikrnar  lino,  Itinerário  da  ín- 
dia, cap.  21.  —  «E-ita  ilha  de  Moçambi- 
que tem  nmito  bom  ]>ort<j,  jaz  em  terra 
baixa  alaga<li<;a,  u  doentia,  hos  piinci- 
pacs  ilella  eraõ  mouro<  baços  de  diuersaa 
naçõc.-",  que  tratauào  dalii  pêra  muitas 
]iartes,  hos  naturaes  saS  negros,  aasi  Itos 
da  ilha,  quomo  da  t'-rra  fírme,  viucm  em 
casas  de  taipa  eubertas  de  paliia.»  Da- 
mião do  <i<ics,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  1,  cap.  'à6. 

Viva  o  bom  Cordial !  viva  a  Tisana, 
Quo  me  veio  a  VcTsaUies,  empalhada. 
Como  o  boui  Hedemptor,  nos  veio  ao  Muixlo 
Teixdo,  por  bcryo,  palhas 
r.  u.  DO  SAíciMciíio,  oBBAS,  tom.  11,  pag.  27i.i. 

—  Ter  por  òem ;  approvar.  —  «O  Con- 
celho, e  homens  bous  da  dita  Cidade 
veendo  e  consirando  o  dapno,  que  se  lhes 
eude  seguia,  e  poderia  seguir  hindu  este 
feito  adiante,  ouverom  conâelho,  e  teve- 
rom  por  bem,  arredando  seu  dapno,  e 
chegando  seu  proveito,  que  as  Naaos  c 
Navios  quo  se  ouverem  de  fretar  no  Por- 
to pêra  averem  de  c;irregar  d'aver  de 
peso,  o  outro  sy  algumas  Naaos.»  Ord. 
Affons.,  liv.  4,  tit.  5,  §  3.  —  «E  se  ou- 
ver  dellc  a  meetado,  nom  se  possa  delle 
partir,  ataa  que  o  serva  meo  anuo.  £  se 
alguns  contra  esto  forem,  teemos  por  bem 
que  sejaõ  presos  hu  quer  que  forem  acha- 
dos, e  nom  sej.\o  soltos,  ataa  que  paguem 
em  dobro  o  que  levarem,  e  as  custas 
que  sobre  esto  fezerem.»  Ibidem,  tit.  2G, 

—  Ter  tempo ;  ter  vagar,  occasiSo.  — 
«Estivemos  em  Pemba  5.  dias,  nos  quaes 
cm  quanto  temos  tempo  será  bom  contar 
das  ilhas,  que  ja  nos  ticlio  atras,  ainda 
que  de  passagem,  pois  lo.^o  de  Barros, 
Damuio  de  líoea,  Feruiio  Lopes  de  Cas- 
tanheda, Diogo  do  Couto,  Frey  António 
de  Sam  Romão,  Pêro  de  Maris,  e  em 
particular  Frey  loão  dos  Sanctos  na  sua 
Ethvopia  Oriental  nellas  fulào.»  Frei 
Gaspar  de  S.  Bernardino,  Itinerário  da 
índia,  cap.  4. 

—  Ter  propt^Uo  de  fazer  alguma  cou- 
sa ;  ter  intento  de  a  fazer.  —  «N«i8  te- 
mos ordenado  em  nossa  fazenda,  que  hos 
casamentos  que  agora  se  desembargaõ, 
se  paguem  a  dinheiro,  sem  poer  de  nouo 


TER 

tenças,  por  elles,  e  alguns  que  ficarão 
do  tempo  passado,  temos  propósito  de 
hos  mandar  pagar  ho  mais  cedo,  que  se 
possa  fazer,  e  assi  do  tempo  dei  Rei  meu 
senhor,  e  primo,  que  Deos  haja,  tal  or- 
denança ficou  em  nossa  fazenda.»  Da- 
mião de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  1,  cap.  26. 

—  Ter  principio;  principiar,  começar. 
— «Pelo  que  pois  por  este  meio  das  Co- 
lónias teve  a  povoação  do  Reyno  princi- 
pio, naõ  se  lhe  pôde  buscar  outro  mais 
próprio,  nem  mais  fácil,  para  se  povoar, 
principalmente  Alentejo;  que  c  -m  ser 
quasi  tanta  terra,  como  o  restante  de 
Portugal,  esta  quasi  deserta,  e  com  mui 
poucas  Villas,  e  Lugares.»  Severim  de 
Faria,  Noticias  de  Portugal,  Disc.  1,  ca- 
pitulo 5. 


Neste  estado  infeliz  de  hum  Mundo  occulto 
Teve  principio  a  humana  Sociedade, 
Fonte  de  tantos  bens,  fonte  dos  males, 
Que  do  combate  das  paixões,  sào  obras. 

J.   A.   DB  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Caut.   1. 


—  Ter  em  si ;  conter  dentro  de  si.  — 
f  A  Cidade  de  Damasco  he  muvto  gran- 
de e  muvto  notável  Cidade,  e  muvto  gros- 
so povo  como  cabeça  de  Reino.  Tem  em 
si  muytas  cercas,  e  divisões  de  edificios, 
e  paredes,  huns  chegados  aos  outros,  e 
de  muitos  pumares  entremetidos  pela  Ci- 
dade.» Tenreiro,  Itinerário,  cap.  33. 

—  Ter  o  titulo;  intitular-se.  —  «E  em 
quanto  elle  esteve  prezo  em  Castella,  te- 
ve o  titulo  de  Almirante  D.  Joaõ  Tello 
irmaõ  da  Rainha  Dona  Leonor.»  Severira 
de  Faria,  Noticias  de  Portugal,  Disc.  2, 
cap.  13. 

—  Ter  em  mais;  avaliar,  estimar. — 
iBrandamor  lhe  foi  beijar  a  mão  pola 
humanidade  que  n'e!le  achava.  Chegan- 
do-se  mais  perto  el-rei  o  conheceu,  e  teve 
em  mais  o  caso,  por  ser  tido  por  valen- 
te cavalleiro;  e  logo  o  mandou  curar, 
havendo  dó  de  o  vêr  em  tal  estado,  nào 
fallando  em  ai  senão  maravilhas  de  quem 
o  pozera  n'elle.9  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  129. 

—  Ter  vida;  viver.  —  «E  Pêro  dal- 
poem,  para  nelle  ficarem  em  seu  lugar  o 
que  elle  naõ  quis  consentir  dizendo  que 
ainda  tinha  pes  pêra  andar,  e  mãos  pêra 
pelejar,  e  lingoa  porá  fallar,  e  siso  para 
reger,  e  esforço  pêra  mandar  ainda,  que 
fosse  de  cama,  que  em  quanto  teuesse 
vida  não  hauia  ninguém  de  mandar  no 
jungo.»  Damião  de  Góes,  Chronica  de 
D.  Manoel,  part.  3,  cap.  19. 

—  Ter  a  esperança  perdida. 

O  menos  que  IhVntrejmei, 
Foi  esta  cansada  vida  : 
Caído  que  nisto  acertei. 
Porque  de  quanto  esperei 
Tenho  a.  esperança  perdida. 

C.IM.,  BEDONniLHAS. 


TER 

—  iVao  ter  espaço  para  alguma  cou- 
sa; não  ter  tempo  para  ella.  —  «Nom 
terrey  espaço  pêra  te  confessar  o  que 
per  avareza  contra  ti  pequey.»  Fr.  João 
Claro.  Opúsculos,  pag.  198,  em  Inéditos 
d' Alcobaça,  tmi.  1. 

—  Ter  ]}or  certo;  crer,  julgar,  enten- 
der. —  (iQue  determinaram  quebrar  a 
instrucção  que  lhes  fora  dada;  e  sair  a 
elle.  tendo  a  vingança  e  a  victoria  por 
certa :  e  depois  de  o  castigar,  tornar  a 
sua  guarda.»  Francisco  de  iloraes,  Pal- 
meirim d'Iaglaterra,  cap.  105.  —  aMui 
contente  ficou  o  Emperador  com  estas 
palavras,  crendo  que  menos  bastavaõ  pê- 
ra o  ter  por  certo :  mas  como  as  cousas 
que  o  hovnem  muito  daseja,  sempre  tem 
hum  receio  de  as  naõ  alcançar.»  Barros, 
Clarimundo,  liv.  2,  cap.  4. 

—  Consei-var  em  seu  poder  aquillo  de 
que  é  senhor.  —  «Outro  sy  que  mandem 
da  Nossa  parte  aos  Arrabys  dos  Judeos, 
e  aos  Alquaides  dos  Mouros,  que  ouver 
nos  ditos  lugares,  que  esta  meesma  ma- 
neira tenham  com  os  Judeos  e  ilouros, 
de  que  teem  carrego,  a  que  acharem 
alguns  privilégios,  o  o  façam  assy  com- 
prir,  como  dito  he.»  Ord.  Affons.,  liv. 
2,  tit.  39,  §  5, 


Sabe,  senhor,  que  girão 
tem  aqui  o  meu  jantar 
de  boa  constelação? 
que  por  elle  nào  dirão 
—  estou  porá  arrebentar? 
AKTOxio  PBESTF.s,  .vcTos,  pag.  189. 


E  a  corte  gentil  fragoa, 
tem-me  tão  ensaboado 
que  de  limpo  e  esperneado 
me  beberií  o  boi  na  agoa. 
Minha  Grimanoza  Fróes, 
ah !  senhora. 

IBIDEM,  pag.  349. 


—  «Porque  tendo  as  Famílias  Nobres 
de  Roma  nos  pateos  das  casas  por  insí- 
gnias as  imagens  de  seus  antepassados 
de  páo,  ou  cera,  com  as  cores,  e  propor- 
çoens  de  cada  hnma  a  mais  natural,  que 
podia  ser.»  Severim  de  Faria,  Noticias 
de  Portugal,  Disc.  3,  cap.  17.  —  «O 
mestre  cellestial  daynos  algum  sinal  por- 
que possamos  conhecer  se  temos  vosso 
spirito  e  amor,  se  somos  perfilhados  em 
filhos  vossos.  Respondenos  o  Senhor  com 
as  ditas  palauras,  dizendo:  Quem  he 
de  Deos,  gosta  de  ouuir  as  palauras  de 
Deos,  e  doutrina  celestial.»  Fr.  Bartho- 
lomeu  dos  ]Martyres,  Catecismo  da  dou- 
trina christã. 

—  Ter  nova ;  ter  noticia.  —  «Entrado 
o  Turco  nella,  não  se  deteve  mais  que 
vinte  dias,  por  ser  chamado  pelo  Gover- 
nador de  Constantinopla  com  nova  que 
teve,  que  na  Christandade  se  fazia  huma 
grossa  Armada  pêra  vir  sobre  ella.»  Bar- 
ros, Década  2,  liv.  10,  cap.  6. 


TER 


703 


—  Ter  por    si  alguém;  tel-o    em    seu 
abono,  favor. 


Teutates  tens  por  ti :  que  por  minha  arte, 
Dos  Céos  conseguirei  que  te  prosperem. 
Farei  sahir,  das  brenhas,  nossos  Druidas 
E  eu  própria,  um  ramo  Carvalhal  brandindo, 
Na  dextra,  irei  diante,  nas  batalhas. 

F.   M.   DO  SASCIMESTO,  OS  UABTTBES,  lIV.   10. 

—  Ter  conselhos ;  recebel-os.  —  «Ante 
da  partida  do  qual  teue  elRey  muitos 
con-elhos,  porque  como  a  sua  ida  a.ssi  po- 
derosamente se  causou  por  razão  dos  tra- 
balhos do  mar,  e  perigos  da  terra  que 
Pedraluarez  Cabral  passou,  e  por  outras 
cousas  que  vio  e  experimentou  na  com- 
municaçào  que  teue  com  os  Príncipes  da- 
quellas  partes.»  Barros,  Década  1,  liv.  6, 
cap.  1. 

—  Ter  em  terra;  receber  em  terra. — 
»Però  tanto  que  os  Mouros  o  teuerão  em 
terra  á  vista  dos  nossos,  como  quem  lhe 
queria  mostrar  o  gasalhado  que  farião  a 
quem  saisse  em  terra,  derãolhe  tanta 
pancada  que  o  ouuerão  de  matar,  se  lhe 
os  nossos  nãn  socorrerão  tirando  cõ  algu- 
mas espingardas  aos  Mouros,  que  os  fe- 
zerão  apartar  da  praya.»  Barros,  Década 
2,  liv.  1,  cap.   1. 

—  Ter  poder  de  fazer  alguma  cousa. 
—  «Pois  o  amor  teve  poder  de  o  fazer 
engeitar,  e  ter  em  pouco,  a  fermosura  e 
património  de  Lionarda,  que  são  duas 
cousas  que  poxacas  vezes  em  uma  pessoa 
se  ajuntam,  engeitando-a  de  casamento, 
que  pelos  naturaes  do  reino  lhe  foi  com- 
mcttido.í  Francisco  de  Moraes,  Palmei- 
rim dTuglaterra,   cap.  104. 


Esta  formosa  donzella 
Em  mi  teve  tal  poder. 
Que  folguei  de  me  perder  ; 
rois,emfim,  vim  achar  nella 
O  que  não  cuidei  de  ser. 

CAM.,   FILODEMO,   act.   4,   SC.    6. 


—  Ir  ter  a  alguma  parte.  —  «D'alli 
foram  ter  a  mosteiro  de  frades,  que  com 
muita  diligencia  os  curaram,  que  na  casa 
havia  quem  o  sabia  bem  fazer.  Dramu- 
siando  se  despediu  com  propósito  de  cum- 
prir o  que  prommetêra  a  Floriano.»  Fran- 
cisco de  Moraes.  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  87.  —  «Com  o  qual  depois  de  che- 
gado a  ilha  de  Diuarri  veo  ter  aos  sxiij 
dias  Dabril  hum  Canarim  natural  de 
Goa,  que  lhe  dixe  como  as  terras  de  Ban- 
da, e  do  senhor  de  Conda!  eram  chega- 
dos dons  capitaens  do  Çabaim  dalcão, 
com  muita  gente,  pêra  entrarem  a  ilha 
de  Goa.»  Damião  de  Góes,  Chronica  de 
D.  Manoel,  part.  3,  cap.  4. 

—  Ter  clareza  sobre  alguma  coxtsa ; 
esclarecer-se  sobre  ella.  —  «Tem  a  cla- 
reza sobre  a  aiitiguidade,  segundo  Sci- 
piaõ  Amirato,  que  ainda  que  seja  moder- 
na,   vai    mais,    que   a    antiguidade    sem 


704 


TER 


TER 


TER 


ella.i  Severim  de  Paria,  Noticias  de  Por- 
tugal, Diftc.  3,  cap.  1 . 

— ^  Ter  absolvição;  V-r  iicrilJto. 


Ora  quorois  f|uo  faltjinos 
vordudo,  como  lioiiiom  dizV 
oiidi!  teiJin  aH!íolvi(;iio 
nunca  cOBtiinia  batnr, 
nào  Boi  80  tonlio  tslí&o. 

ANTÓNIO  niESTEg,  AUTOS,   pag.  421. 

—  Ter  amor  a  a/jiiein;  amal-o,  tor-llic 
affeiçílo. 

O  doco  fii)!  aiitrc  oapiíihas. 
Credo  o  amor  «cm  mudanira 
Quo  vos  tf.nhn  c  quo  vou  digo. 
Asa!  húmus  primas  minhas 
K  toda  esta  vizinhança 
Todos  tom  amor  comigo  : 
Dom  Isagalia  liar.iband 
E  Jlabi  Abram  Zaciito, 
O  Doncgal  coroui;!. 

QII,   VIOKNTK,    FAUVAS. 


—  Ter  com  alguém,  ou  um  navio  com 
outro;  íicompanhal-o,  nílo  ficar  atraz. 

—  Fiííurailamoato:  Valer. 

—  Ter  ulfjnma  cousa,  ou  dever  com  al- 
ffuem ;  ter  negocio,  rola^'ão  com  elle. 

—  Termo  aiUlíjuado.  Defender. 

—  Deter,  demorar. 

—  /»•  ter  com  ahiuem;  ir  bii?eal-o,  cii- 
contral-o  a  alp;an)  logar. 

—  Ter  em  nenhuma  conta  alguma  cou- 
sa de  alguém;  não  lho  ligar  importância. 
—  «Mas  atentay  irmãos,  que  se  quereis 
ser  conuidadoa  no  conuite  das  consola- 
ções da  alma,  lia  mister  que  imiteis  os 
conuidado.s  neste  conuite,  em  vos  assen- 
tar sobro  o  feno  dr.s  consolai;ues  carnacs 
o  térreas,  pisando-as  aos  pecs:  tendoãs 
cm  nenhuma  conta :  porque  impoasiuel  lie 
gozar  do  humas  e  de  outras.»  Fr.  Bar- 
tliolomeu  dos  Martyres,  Catecismo  da 
doutrina  christã. 

— •  Ter  jtisfir^a.  —  «  E  se  dizeis  que 
tendes  Justi(;a  paraquo  se  vos  olhe  por 
olla,  isso  se  ha  ile  ver  no  feito  per  onde 
a  causa  se  ha  de  Julgar,  e  n.ào  pelo  quo 
outrem  de  fi')ra  possa  lembrar,  porque  as 
controvérsias  e  differenças  sobre  quo  se 
armão  as  demandas  catre  os  litigàtes, 
nunca  se  averiguão  bem  com  replicas  e 
treplicas  desnecessárias,  nem  com  libei- 
los  c  contrariedades  fora  de  ordem,  ar- 
guidas mais  para  escurecer  o  entreter  a 
justiça  a  qtu'm  a  tem,  que  i>ara  aclarar  o 
darlho  oxceuçUo.»  Fernão  Mendes  i'into, 
Peregrinações,  cap.  102. 

—  Ter  armas  para  se  defender,  — 
«Floriano  vendo  a  viveza  de  Auderramc- 
te,  a  craoza  de  seus  golpes  o  o  esforço 
com  quo  se  combatia,  ns-ando  do  que  ha- 
via ncUo,  começou  líc  o  ferir  com  outra 
brave/.a  de  golpes  tanto  por  cima  dos 
sous,  que  em  pouco  espaço  nem  o  mouro 
teve  armas  pêra  delendcr  as  carnes,  nem 
escudo   pêra  se   cobrir,   nem  forças  peia 


pelejar,  tão  dcsfallocido  OBtara  de  tudo.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  ca]).  W>. 

—  Ter  raiva  a  alguém:  fi-r-lhi-  ulio, 
odialo. 

Oh,  qun  raiva  lho  cu  lenho!  Alma  rnbcldf, 
Til  mo  oppvimnB  o  o  piso  nbhorrecido 
DVssHS  tiins  virtiidi;*.  (^uaiiU)  cu  dera 
K  to  poduMU  vor  um  criíiio  ualmu ! 
oAuuKiT,  cArÂu,  act.  1,  RO.  4. 

—  Ter  por  iliviaa  uma  pomba. —  cO 
mosmo  conta  Luis  Ariosto,  o  António 
Tonroyro,  que  as  vio  lançar,  como  eu  vi : 
o  outros  muytos ;  o  porque  08  AssirioB, 
como  diz  Frey  i^odro  da  Veyga,  foram  os 
primeiros  inuontorcs  destes  eorreos,  orde- 
naram terem  suas  armas  por  diuisa  iiuma 
Pomba,  como  in(ia  agora  tem.»  Fr.  (ias- 
par  de  8.  Bernardino,  Itinerário  da  ín- 
dia, cap.  22. 

—  Ter  pouca  necessidade  de  saber  uma 
cousa;  necessitar  pouco  de  a  saber.  —  «O 
do  Tigre  se  chegou  a  elle,  dizendo:  Saber- 
me-heis,  senhor,  dizer  quem  são  uns  ca- 
valleiros,  que  c;i.  diante  vão,  ou  que  aíFron- 
ta  03  faz  ir  com  tanta  pressa?  De  o  sa- 
bor tendes  pouca  neeossiilade,  disse  o  ou- 
tro ;  porém  porque  n'isso  não  se  perde 
nada,  nem  vi')s  lho  podeis  fazer  peccado, 
nem  mercê,  dir-vol-o-hei.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  d'Inglalerra,  cap.  104. 

—  Ter  uma  cousa  por  incrível ;  jul- 
gal-a,  crêl-a  como  tal.  —  «E  outras  va- 
rias cousas  ha  no  mundo,  mais  nuvraui- 
Ihosas  que  estas,  as  quacs  não  cspantão 
;\quol!cs  que  anilando  por  elle;  virão  ou- 
tras tanto,  e  mais  notaueis,  mas  sò  creo, 
as  terão  por  incrediuois,  todos  aquelles, 
cuja  incredulidade  nasce  mais  da  fi-aque- 
za  de  seu  animo,  e  pouca  curiosidade  de 
as  ver,  e  saber;  que  da  falta  delias.» 
Frei  Gaspar  de  S.  Bernardino,  Itinerá- 
rio da  índia,  cap.  1 1 . 

—  Ter  melhor  cuidado;  cuidar  com 
aiinoo.  —  «E  se  ja  foram  outra  vez  açou- 
tados e  nam  se  emendaram,  maudaos  me- 
ter algun.s  dias  no  tronco,  alem  de  os 
açoutar,  pcra  que  com  estes  castigos  dal- 
li  por  diante  tenham  milhor  cuydado.  Se 
acha  que  nem  aprendem,  nem  tem  abili- 
dade,  lançaos  das  escolas.»  Frei  (iaspar 
da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da  China, 
cap.  17. 

—  Considerar,  julgar,  entender. 


Pois  ha  alii  tantos  enganos 
Qiio  condomniio  minha  sorte  ; 
Kiio  o  tenho  já  por  forte, 
Se  A  volt.1  de  tantos  danos 
Viesse  também  a  morto. 

CAM.,  SKLKUrO. 


Senhor 
antes  eo'  engano  licàmos, 
qnc  por  engano  nào  tfmos 
ouganar-uos  por  amor. 

ASTOMio  rsssTEs,  AUTOS,  pag. 


Tcnho-a  por  boUa  du  bellM, 
Ir.tn-tM  a  mi  por  suinDUi  bom, 
cia-nio  de  mil  novellai) ; 
cinfim,  que  Ovidio  me  tom 
IA  no  e/'0  fcitíi  oétrella». 
IBIDEM,  pag.  .321. 

<!hovcm  «ím  v/m  d'altanaría, 
terdfã  isso  oin  fant>'itia 
iiic  fazciít  d<>r  de  cliaquoea. 
Lidar  comvoíco  /:  morrer. 
iBiDKM,  pag.  307. 

—  «JIou  companheiro  ciT  os  main,  qnc 
com  elle  ficarão,  an<lauão  ]iela  prava, 
qua.Ȓ  ilesesperadoH,  de  eu  po<lcr  tomar, 
tendome  ju  |>or  captiao,  porque  auia  mais 
de  seis  horas,  quo  eu,  e  o  soldado,  dellet 
nos  apartáramos,  nem  os  nosMM  Arábios 
que  trouxeram  a  agoa,  souberam  dar  de 
níis  mais  nonas,  que  ficarmos  na  Aldeã, 
onde  elles  não  entrarão.  iVstoa  nestua 
duuidas,  nòâ  que  appareciamoa.i  Frei 
(Iaspar  do  >S.  Bernardino,  Itinerário  da 
índia,  cap.  10. 

Qnasi  de  a  tor  por  Mày,  por  domicilio: 

A  cultura  despreza  altivo,  e  louco, 

Uo  arado  o  liso  ferro  alonga  cm  lança, 

Converto  a  curva  fouce  cm  dura  OBpada, 

K  contra  a  própria  espécie  a  cinge,  empunha. 

Nascendo  agricaltor,  morre  guerreiro. 

J.    A.    DP.  MArifDO,  A   HATOBZA,   Cant.   2. 

—  Não  ter  mais  que  escodrinhar. 

Não  tcru  mais  que  c.^ícodrinhar, 
que  essa  agoa  a  ha  do  cegar 
quando  quer  que  o  ordenares, 
c  um  quanto  lhe  falares 
que  és  o  outro  ha  de  cuidar. 

ANTO.NIO  rBEtTBS,  AITTOS,  p*g-  ^3. 


—  Julgar,  crer.  —  tOs  Boticários  de- 
duzem o  principio  da  sua  Arte  donde  a 
Medicina  confessa  a  sua  origem;  tendo 
por  hum  dos  principais  argumentjs  da 
sua  honra,  o  ser  recommendada  pello 
mesmo  Deos  ao  mundo  para  se  conserva- 
rem perduráveis,  e  eternas  nelle  as  obras, 
e  exercicios  dos  '  seos  Alumnos;  como 
affirmaõ  estas  palavras  do  Eccle.-ia«tico.» 
Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal  medico, 
pag.  116,  ^  64. 

—  Valer,  ser  egual. 

—  Ter  negocio  com  alguém.  Vid.  Ha- 
ver. 

—  Deter,  demorar. 

—  Passar.  —  Ter  hoa  viagevi. 

—  Ter  "1(10 ;  suster  quo  n3o  caia. 

—  Ter  para  si;  ser  d'opiniSo. 

—  Ter  a  prome!>sa;  cumpril-a. 

—  Possuir  qualidades  da  alma,  o  mo- 
raes. 

—  Ter  de  encontro;  resistir  ao  choque, 
embate. 

—  Ter  iiiyij'i.  Vid.  Invejar. 

—  Ter-vos-hão  isso  â  cubica ;  attriboi- 
rJio,  julgarão  que  ó  cubica. 

—  Dizer,  aftirmar. 


TER 


TER 


TERÇ 


705 


—  Que  tendes  com  isso?  que  vos  im- 
porta V 

—  Figuradamente  :  Ter  mão ;  apoiar, 
patroL-i.iar  que  se  nào  perca,  arruine. 

—  Ter  em  pouco,  ou  em  muito;  ava- 
liar, estimar. 

—  Emprega-se  também  como  verbo 
auxiliar,  junto  dos  participios  passivos. 
—  «Pois  n<ào  lie  cousa  crivei  que  tendo 
contado  a  morte  de  Ermigario,  e  o  modo 
com  que  foy  afogado  no  Rio  Guadiana, 
dissesse  na  mesma  pagina  poucas  regras 
abaixo,  que  Hermenerico  morrera  de  sua 
doença  de  a  padecer  sete  annos  contí- 
nuos, se  03  não  tivera  por  pessoas  diver- 
sas.» Monarchia  Lusitana,  liv.  6,  cap.  6. 


Essa  está  gontil  desculpa 
Para  hojo  dar  a  Alemcna  ! 
Tem-no  mandado  chamar, 
E  cilc  cstA  tào  descuidado  ! 

CAM.,  AMPiivTsiÕES,  act.  õ,  SC.  4. 


—  «Era  a  outra  consideraçam,  que 
tendo  o  Rey  tomado  a  mulher,  e  morto  o 
marido,  e  sendo  o  liomicidio  tam  diíFe- 
rente  crime  do  adultério,  todavia  na  pa- 
rábola somente  se  faz  caso  da  represen- 
taçam  d'e3te  dizendo,  que  mandou  o  rico 
buscar  liuma  só  ouilhinha  que  o  pobre  ti- 
nha cm  sua  casa  pêra  banquetear  o  hos- 
pede, sem  chegar  a  dizer  que  sobro  o 
roubar  o  mandara  matar.»  Lucena,  Vida 
de  S.  Francisco  Xavier,  liv.  6,  cap.  10. 
—  «Exemplo  do  que  temos  dito,  seja  o 
que  vemos  nas  Vendas-Novas,  onde  a 
charneca  he  de  área  mais  solta,  e  que  pa- 
recia mais  infructifera.»  Severim  de  Fa- 
ria, Noticias  de  Portugal,  Dlsc.  1,  capi- 
tulo 5. 


Se  vèa  que  ando  enlevado 
n'e3ta  obra,  até  vêr  n'clla 
seu  último  fim  lavrado, 
por  que  tens  negociado 
tào  mal  o  seu  mestre  d"clla  ? 
Não,  o  mestre,  ellc  virá 
como  vier. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  17. 


O  desenho 

do  que  começado  tenho 
já  mo  afronta,  nào  no  quero; 
o  que  quero,  esta  arte,  engenho. 
Mestre,  nós  façamos  conta 
vós  o  cu ;  por  escusado 
hei-o  até  qui  começado. 
IBIDEM,  pag.  75. 


Os  vossos  maus  presupostos 
terão  isso  a  mau  fim  posto ; 
ponde  isso  a  mtilhor  encosto, 
t[ue  quem  não  passou  desgostos 
não  pôde  conhecer  gosto. 
iBiDBM,  pag.  113. 


Partes,  amor? 

Si ,  convém ; 
isto  é  feito. 

Tens  sabido? 
Dae-me  boa  nova. 

voL.  V.  —  89. 


Sabeis 
que  é  amor? 

iBiDK.M,  pag.  225. 

com  quem  tenho  dado  n<5, 
nó  que  só  morte  desata, 
esta  só  d 'amor  me  mata, 
esta  mo  ha  de  matar  scí. 
IBIDEM,  pag.  321. 

Meus  prejectos  têem  falhado 
Com  a  estúpida  plebe  :  vis  !  adoram 
O  homem  que  eu  abhorreço,  que  detesto, 
Esse  Catão,  esse  ídolo  de  néscios! 

GARRETT,    CATÃO,    aCt.    1,    SC.    4. 

—  «Arraya-raiuda!  tendes  vós  já  ele- 
gido, entre  vós  outros,  cidadãos  bem  fa- 
lantes e  avizados  para  propor  vossos  em- 
bargos e  rascados  contra  este  maldicto  e 
descommunal  ca.-^amento  d'elrei  com  a  mu- 
lher de  Joào  Lourenço  da  Cunha?»  Ale- 
xandre Herculano,  Arrhas  por  foro  de 
Hespanha,  cup.  1. 

—  Pôr,  metter,  guardar  em  algum  le- 
gar. — •  Ter  dinheiro  na  gaveta. 

—  Ter-se,  v.reji.  Conter-se,  reprimir- 
se. 

—  Reputar-se,  julgar,  crêr-se.  —  «Assi 
que  e.stas  como  ha  dos  Pigmeus  se  deve 
ter  por  cousa  fabulosa,  liça  em  todo  ho 
dito  coiijeitura  bastante  pêra  poder  se 
conjeiturar  quam  grande  rey  seja  ho-da 
China  e  quam  estendida  seja  em  suas  ter- 
ras ha  me.^nia  China.»  Fr.  Gaspar  da 
Cruz,  Tratado  das  cousas  da  China, 
cap.  4. 

—  Ter-se  em  pé ;  suster-se. 

—  Fazer  fundamento  de  alguma  cousa 
para  obter  outra. 

—  Ter-se  dito;  designa  tempo  compor- 
to pretérito.  —  «Nem  obsta  o  terse  dito, 
que  a  Medicina  emmenda  as  queixas  do 
corpo,  e  a  Ethica  os  vicies  da  alma,  e 
que  quanto  he  menos  que  a  alma  pres- 
tante o  corpo,  tanto  deve  ser  mais  que  a 
Medicina  preclara  a  Ethica.»  Braz  Luiz 
d'Abreu,  Portugal  medico,  pag.  116,  S 
149. 

—  Ter-se  colhido  fructo;  ter-se  apro- 
veitado, ter-se  tirado  fructo.  —  «Este  foy 
o  principio  da  residência  do  Maluco,  que 
depois  do  collegio  de  S.  Paulo  de  Goa,  e 
residência  do  cabo  de  Comorij,  parece 
precede  em  tempo  ás  mais  casas  da  nossa 
Companhia  nas  partes  da  índia:  o  uo 
trabalho  dos  sugeitos,  e  fruyto,  que  se 
tem  colhido,  também  se  deue  contar  en- 
tre as  primeiras.»  Lucena,  Vida  de  S. 
Francisco  Xavier,  liv.  4,  cap.  14. 

—  Ter-se  alguma  cousa;  estar  contente 
e  seguro  com  ella. 

—  Ter-se  com  alguma  cousa;  comba- 
ter-se,  resistir-se. 

—  Adágios  e  provérbios  : 

—  Faze  por  ter,   vir-te-hão  vêr. 

—  Não  tem  real,  nem  ceitil. 

—  Não  tem  eira,  nem  beira,  nem  ramo 
de  iiírucira. 


—  Não  tem  nada,  quem  nada  lhe  bas- 
ta. 

—  Mais  tem  o  rico  quando  empobrece, 
do  que  o  pobre  quando  enriquece. 

—  Quem  muito  mel  ou  azeite  tem,  nas 
versas  o  deite. 

—  Tem^  ífazenda,  e  olha  bem  d'onde 
venha. 

• —  Tanto  vai  cada  um  na  praça,  quan- 
to vai  o  que  tem  na  caixa. 

—  Quem  a  muitos  ha  de  manter,  muito 
ha  de  ter. 

—  Quem  muito  tem,  muito  gasta;  quem 
pouco  tem,  pouco  lhe  basta ;  e  quem  nada 
tem,  Deus  o  mantém. 

—  Quem  deve  cento,  e  tem  cento  e 
um,  não  deve  a  nenhum. 

2.)  TER,  s.  m.,  ou  TERES,  s.  m.  pi.  Ha- 
veres, bens,  cabedaes. 

TERCANAL,  .«.  m.  Certo  estofo  antigo 
e  próprio  para  vestimentas  e  ornatos  de 
egrejas. 

TERÇA,  s.  f.  Uma  parte  do  todo  que 
se  divi^liu  em  três  partes. 

—  Peça  de  madeira,  que  se  lança  por 
baixo  dos  caibros  para  não  dobrarem  ou 
sellarem. 

—  A  terça  parte  da  herança,  ou  patri- 
mónio de  que  cada  qual  pôde  dispGr, 
mesmo  que  tenha  herdeiros  forçados,  como 
bem  quizer.  —  «E  nom  abastando  a  dita 
terça  pêra  ello,  entom  será  defalcada  da 
dita  Doaçom,  e  nom  se  fará  defalcamento 
da  dita  Doaçom  ateo  que  toda  a  terça 
seja  desfalcada.»  Ord.  Affons.,  liv.  4, 
tit.  14,  §  9. —  «E  que  isto  se  observe 
com  as  mesmas  condiçoens,  com  que  hoje 
naõ  pôde  o  pai  dotar  mais,  que  a  terça  a 
huma  filha.»  Severim  de  Faria,  Noticias 
de  Portugal,  Disc.  1,  cap.  7.  —  «O  pri- 
meiro he  fazer-se  outra  ley,  que  nenhum 
pai,  ou  mài  possa  dotar  a  huma  filha, 
mais,  que  a  legitima  da  filha,  e  da  sua 
terça  a  parte,  que  pro  rata  lhe  couber.» 
Ibidem. 

—  Uma  das  horas  canónicas  depois  da 
prima,  ás  nove  horas  da  manhS. 

—  Plur.  A  terça  parte  das  rendas  dos 
concelhos  applicadas  pelos  povos  para 
fortificações  e  praças  do  reino. 

—  AD.A.GIO  E  PROVÉRBIO  : 

—  Para  ir  á  mesa,  mais  se  requer, 
que  ser  hora  de  terça. 

TERÇÃ,  ou  TERÇÃA,  ou  TERÇAN,  adj.  e 
s.  —  Febre  terçã  ;  febre  periódica  de  trea 
em  três  dias.  —  o  António  Barboza  de  No- 
vais morador  na  sua  quinta  de  Arada  jun- 
to de  Aveyro  padeceo  no  Agosto  de  1723 
huma  terçãa  doble  continua  acompanha- 
da de  hum  symptoma  taõ  pernicioso,  que 
ao  passo  que  hia  subindo  a  acessão,  se 
hia  lastimo.saraente  innanindo  do  sangue 
com  huma  formidável  dyscnteria.»  Braz 
Luiz  d'Abreu,  Portugal  medico,  pag.  208, 
§  204. 

1.)  TERÇADO,  s.  m.  Espada  curta,  cur- 
va e  larga.  —  «O  Mitaquer  chegado  a 
elle,  que  o  estava  esperando  á  entrada  do 


706 


TERC 


TERC 


TERC 


castollo,  8C  doceo  do  cavíillo  em  que  liia, 
e  tirou  da  cinta  o  terçado  que  levava,  e 
lho  offerecco  em  joellio.s,  bcijandb  pri- 
moyro  a  terra  cinco  vezes,  (|ue  lie  ceri- 
monia de  cort(!.<ia  usada  entro  elles.» 
í^crnão  Mendes  l'into,  Peregrinações, 
cap.  1L>0. 

2.)  TERÇADO,  j>art.  i>n8a.  de  Terçar. 
—  A  lança  terçada  pur  cima  do  pescoço 
do  cavallo.  Vid.  Terçar. 

- —  Pão  terçado ;  trigo,  centeio,  e  mi- 
lho de  cuila  um  '/j. 

TERÇADOR,  A,  adj.  Torcoiro,  media- 
neiro,  intercessor. 

TERÇA-FEIRA,  s.  /.  O  terceiro  dia  da 
semana,  posterior  á  sogunda-feira,  e  an- 
terior ;í  quarta-feira. 

Que  dia  c  hoje  ?  terça-feira ; 
vide  quando  vos  erguestes 
SC  po.snstcs 
os  olhos  n'alguma  peneira. 

ANTÓNIO  PBESTES,  AUTOS,  pag.  353. 

TERÇAO,  s.  ?)i.  Ramo  do  vide,  que 
nasce  da  cepa,  o  que  o  podador  devo  dei- 
xar quamlo  osladroa  a  cepa.  Vid.  Tor- 
sào,  ou  Torção,  quo  divergem. 

TERÇAR,  V.  a.  Jli.sturar  trc3  cousas, 
de  que  se  faz  um  composto;  d'ondc  se  de- 
riva pão  terçado ;  cal  terçada ;  amassa- 
da com  agua  c  areia. 

—  Terçar  a  lança,  espada,  cajado ; 
pegando  n'ello  atravessado  diagonalmen- 
te, e  de  maneira  quo  fique  firme  para  re- 
bater o  golpe,  e  aparal-o  no  firme,  e  em- 
pregal-o  com  força.  A^^id.  Terçado. 

—  Vid.  Traçar. 

nó  mais  que  a  terçar  do  fora. 
Que  6,  senhor? 

O  quo  fòr. 
ANTÓNIO  ritKSTHS,  AUTOS,  pag.  437. 


Jíl  vós,  villão,  cscu.sacs? 
quero  de  vós  que  terceis 
como  Uie  eu  fingir,  nó  mais. 


—  Terçar  a  capa.  Vid.  Traçar. 

—  V.  n.  Ser  terceiro,  intercessor  por 
alguém. 

—  Favorecer,  servir,  auxiliar,  ajudar. 
— ■  Dividir  em  três  poryijes. 
TERÇARIA,  s.  /.  Deposito  de  terceiro, 

que  nào  é  nenhum  dos    litigantes  e  inte- 
4'ossados. 

TERÇAS,  s.  /.  phir.  —  As  terças  do 
unno;  os  quartéis  de  três  em  três  mezes. 

—  Terças  pontijicaes :  as  torças  partes 
das  rendas,  ou  oblações  feitas  ás  cgrejas, 
que  pertencem  :í  mantcnça  dos  bispos, 
ficando  as  outras  para  o  clero,  c  fabrica. 

—  As  terças  dos  conccllios.  Vid.  Ter- 
ça. 

TERCEIRA,  .S-.  /.  :Mediaueira,  interces- 
sora. 

—  Termo  de  musica.  Consonância,  que 


comprehende  o  intervallo  de  dous  tons  o 
meio, 

—  Alcoviteira. 

—  Kinpreira-se  também  liguradamente. 
TERCEIRAMENTE,  adr.  Em  terceiro  Jo- 
gar 

1.)  TERCEIRO,  A,  adj.  Quo  está  logo 
depois  do  .segundo,  que  está  entre  o  se- 
gundo e  o  quarto. 

Do  Herodes  em  Ucthlein,  <;ÍH  do  Oriente 
Vem  0S.1OS  Magos  lieis  nlto  dizendo, 
Onde  cstà  o  i|uc  nacco  Key  dos  Hebraicos? 
Erttaua  na  terceira  outro,  que  hum  touro 
Ferocissimo,  e  forte  acompanhaua, 
físte  cscreue  também,  e  na  escritura 
Estas  palauras  tae»  bem  ae  cntcndiào. 
iMandado  de  Gabriel  (as  U-tras  dizem). 

COBTF.  RF.AL,  NACFHAO10  I)R  SEPUI-VEDA,   CaHt.    10. 

—  «E  p:Ta  esta  guarda  seer  feita  com- 
pridamente,  devem  seer  esguardadas  cin- 
quo  cousas :  a  primeira,  que  sejam  os  Al- 
quaides  taacs,  como  convém  pcra  guar- 
darem 08  Castellos :  a  segunda,  que  os 
Alquaidcs  meesmos  façam  o  que  devem: 
a  terceira,  que  tenham  lii  comprimento 
de  homens:  a  quarta,  de  mantimento:  e 
a  quinta,  (Tarmas.»  Ord.  Aifons.,  liv.  1, 
tit.  (52,  §  1.  —  «Yj  se  contra  esto  algum 
homem  nobre,  ou  algum  outro  quiser  hir, 
soja  penado  em  quinhentos  soldos;  e  se 
ataa  terceira  pena  se  nom  quiser  corre- 
ger,  perderá  quanto  tiver,  e  será  lança- 
do fora  da  terra.»  Ibidem,  liv.  4,  tit.  25, 
§  1 .  —  « E  qualquer  que  as  trouver,  pas- 
sado o  dito  tempo,  se  for  Conde,  Mees- 
tre,  ou  Priol  do  Espital,  ou  outros  Caval- 
leiros,  ou  Escudeiros  de  grande  condi- 
çom,  que  pola  primeira  vez  pague  cin- 
quo  mil  libras,  o  pola  segunda  dez  mil, 
c  pola  terceira  porca  as  terras,  c  a  con- 
thia,  que  de  nós  houver.»  Ibidem,  liv. 
õ,  tit.  93,  §  3.  —  «O  terceiro  era  For- 
nam Soares,  debaixo  d-  cuja  capitania 
hiiio  Rui  da  Cunha,  fíonçalo  Carneiro,  e 
loaõ  Colaço,  os  quaes  três  capitães  em  se 
acabando  da  perceber,  cada  hum  deles 
partio  logo  de  maneira  que  antes  de  mea- 
do Abril,  estas  três  armad.is  quo  eram 
todas  de  nãos  grossas  partiram  perà  Ín- 
dia.» Damião  de  fiocs,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  2,  eap.  13.  —  «Eexuiplo 
disto  seja  Quinto,  Fábio,  Máximo,  Ovi- 
cula.  O  primeiro  jiodemos  hoje  chamar 
nome  próprio,  o  segundo  sobrenome  na 
Familia,  o  terceiro  Appellido,  c  o  quar- 
to também  Alcunha.»  Severim  do  Faria, 
Noticias  de  Portugal,  Disc.  3,  cap.  2.  — 
"Terceira.  Porque  dizer:  ^Ví  tjuehramos 
amòos  o  jijinii,  era  derivar  a  falta  pró- 
pria da  do  seu  mostro,  e  sócio,  o  allegal- 
lo  por  complico  e  exemplar.  Assim  fez 
nosso  pae  .Vdam,  quamlo  perguntado  por- 
(jue  comera  contra  o  preceito,  mcteo  con- 
sigo a  Eva,  e  ao  mesmo  Deos;  a  Eva  que 
lhe  deu  o  pomo,  c  a  Deos  que  lhe  dera  a 
Eva.»  Padre  Manoel  Bernardes,  Flores- 
ta, cap.  23.  —  «Terceira:  procede  tam- 


bém de  propor-mos  cousa»,  que  no  pre- 
sente estado  nos  naD  conv<'-in  ;  ou  por  de- 
masiadas para  aa  poucas  forçaii  de  nosso 
espirito;  ou  por  o.-cisionadas  á  vanglo- 
ria.» Idem,  Exercícios  espirituaes,  jtag. 
Gl.  —  «Ali-io  (Jadamu.-to  onfeK^a  que  a 
vio  algumas  vezes.  E  no  terceyro  liuro 
da  historia  Turquozca,  se  trati  algumas 
vezes  nella.  Da  cayxa  nHo  tenho  ea  du- 
uida,  ma.-  da  ossada  Dco.t  sabe  o  qae  foy 
delia.»  Frei  ílaspar  de  S.  Bernardino, 
Itinerário  da  índia,  cap.  8.  —  cSeja  o 
que  for,  eu  de.sejey  em  extremo  yr  vela; 
mas  nom  Mouro,  nem  ludeu  ache}'  quo 
se  atreuesse  a  outro  tUto.  Esta  magoa  ti- 
ue,  ate  que  ao  terceiro  dia,  a  horas  de 
véspera  iios  |iartim'is;  e  a  boca  da  noy- 
te,  chegamos  ao  rio  (!opal.>  Ibidem,  cap. 
IG.  —  «A  terceyra  h«  esta  deserta,  por- 
que hora  caminho,  na  qual  nSo  ha  mon- 
tes, nem  vales,  nem  pedra,  nem  arca, 
nem  cou.sa  que  impida  a  vista  em  tanto 
que  se  pode  ver  huma  pessoa  oyto  e  no- 
ne  legoas  do  espaço,  tS  direyta,  e  play- 
na  ho  toda  a  terra  que  parece  hum  mar 
em  calma.»   Ibidem,  cap.  17. 

—  Terceira  ordem  de  marcha ;  o  mes- 
mo que  ordem  da  retirada. 

—  Ordem  terceira;  ordem  derivada 
das  ordens  religio.sa.s,  em  quo  entram  pes- 
soas leigas ;  tem  alpruns  dos  estatutos  re- 
ligiosos, ou  ate  uso.í  c  costumes  e  prati- 
ca de  devoção.  Ha  também  religioso*  ter- 
ceiros, ou  da  terceira  ordem  de  S.  Fran- 
cisco,  etc. 

—  Jlhas  terceiras;  nome  de  uma  das 
ilhas,  pos.3essòes  de  Portugal. —  tPrinci- 
palmente  âqnelle,  que  eraõ  oflSciaes  des- 
te mister  da  Coographia,  por  a  pouca 
distancia  que  aula  das  ilhas  terceiras  a 
estas  que  descobrira  Coiom,  sobre  o  qual 
negocio  teue  muitos  conselhos:  em  que 
assentou  de  mandar  logo  a  dom  Francis- 
co d'Almeida  filho  do  conde  de  Abrantes 
dom  Lopo,  cõ  huma  armada  a  esta  par- 
te.» Barros,  Década  1,  liv.   3,  cap.   11. 

2.)  TERCEIRO,  s.  m.  Medianeiro,  inter- 
cessor do  paz,  de  perdSo.  —  *E  n.ào  se 
descuidando  nesta  matéria,  foi-se  ver  com 
ElRey  de  Tanor,  e  lhe  pcdio  que  fosse 
terceiro  entre  elle,  e  o  (.rovernador,  e 
os  concertasse,  o  qne  elle  prometteo  de 
fazer.  E  logo  se  foi  a  Chalé  ver  com  o 
(Governador,  quo  o  recebeo  com  grande 
apparato,  c  lhe  doo  huma  cspaila  de  ou- 
ro esmaltada,  com  outroa  pclras  curio- 
sas.» Diogo  de  Couto.  Oecada  4,  liv.  7, 
cap.   12. 

—  Que  faz  ofBcios  por  alguém. 

—  Figuradamente :  .Alcoviteiro. 
TERCENA,  í.  /.  Annazem.  —  tFez  de 

nouo  as  casas  da  contrataçam  de  Guine, 
e  da  índia,  debaixo  do  aposento  destes 
paços  da  ribeira,  começou  as  tercenas 
da  porta  da  Cruz,  as  quaes  mandou  fa- 
zer pcra  se  nella  guardar,  e  fundir  arte- 
Iharia,  o  assi  as  de  cata  que  fara^,  e  a 
casa  da  poluora  cm   Lisboa,  e  a  casa  da 


TERÇ 


TERE 


TERM 


707 


armadia  em  Sanetarem.»  Damião  de 
Cioes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  4, 
eap.  95. 

—  Dá-se  hoje  em  Lisboa  este  nomo  á 
fileira  de  casas  eguaes,  abaixo  da  fre- 
guezia  de  Santos,  sobre  o  rio,  que  ser- 
vem de  celleiros. 

TERCENARIO,  s.  m.  Beneficiado  em 
terça  parte  dos  benesses. 

TERCENEIRO,  s.  m.  Homem  que  tra- 
balha nas  tercenas. 

TERCER.  Termo  antiquado.  Terceiro. 
TERCERDIA,  s.  f.  O  prazo  de  três  an- 
nos,  três  mezes,  três  semanas  e  três  dias, 
que  a  lei  concedia  para  se  cobrar  alguma 
cousa  cobravel,  e  exigivel  segunda  a  Jei 
da  avoenga,  ou  preferencia  na  acquisi- 
ção  de  tanto  por  tanto. 

TERCESIMO.  Vid.  Trigésimo. 
TERCETAR,  v.  n.  Fazer  tercetos. 
TERCETO,  s.  m.  Ramo  de  poema;  com- 
pue-se  de  três  versos,  dos  quaes  o  pri- 
meiro e  o  terceiro  são  consoantes,  ou 
os  três  versos  do  primeiro  terceto  são 
consoantes  com  os  do  outro ;  nos  terce- 
tos ordinários  rimam  o  primeiro  e  ter- 
ceiro versos  com  o  segundo  do  terceto 
antecedente,  e  o  segundo  verso  com  o 
primeiro  e  ultimo  do  terceto  subsequen- 
te. 

TERCIA,  s.  f.  Vid.  Terça.  Uma  das 
horas  canónicas  menores. 

TERCIAR,  V.  a.  Vid.  Terçar. 
TERCIÁRIO,  A,  (tf^j.  De  terceira  gran- 
deza. 

—  Formado  em  terceiro  log>ar. 
— •  Termo  de  geometria.    Terreno  ter- 
ciário. 

TERCIENA.  Vid.  Tercena. 
TERCINELA,    ou    TERCIONELA,    s.  f. 
Uma  droga  de  seda  de  Itália,  mais  forte 
que  o  tafetá. 

f  TERCIO.  Vid.  Terceiro.  —  «Porque 
doze  foraõ  escolhidos  à  honra  dos  doze 
Apóstolos,  e  o  decimo  tercio  era  o  mes- 
mo Rey  Artur.  Depois  o  Emperador  Car- 
los Magno  fez  outra  companhia  de  doze 
Cavalleiros,  a  que  chamou  Pares,  que 
quer  dizer  iguaes;  e  por  isso  também 
comiaõ  em  mesa  redonda,  onde  naõ  ha 
cabeceira.!)  Severim  de  Faria,  Noticias 
de  Portugal,   Disc.  3,  cap.  11. 

TERCIODECIMO,  A,  at^j.  O  mesmo  que 
decimotercio ;  um  decimo  terceiro. 

TERCIONARIO,  A,  adj.  e  s.  Pessoa  que 
soífre  febre  terçã. 

TERCIOPELLÓ,  adj.  —  Velludn  tercio- 
pello ;  de  ti-es  pêllos. 

l.;i  TERÇO,  s.  m. —  Um  terço;  a  ter- 
ça parte.  —  «E  quãdo  estas  embarcações 
se  ajuntào  nestas  feyras,  se  ordena  del- 
ias hunia  cidade  muyto  grade  e  muvto 
nobre,  que  ao  longo  da  terra  toma  com- 
primento de  mais  de  huma  legoa,  e  qua- 
si  de  hum  terço  de  largo,  em  que  ha  mais 
de  vinte  mil  embarcações,  a  fora  balões, 
e  guedees,  e  manchuas  que  não  tem  con- 
to, por  serem  embarcações  muyto  peque- 


nas, e  em  que  a  gente  negocea. »  Fernão 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.  98. 

—  A  terça  parte  da  carreira  das  jus- 
tas. 

—  Ser  terço  de  alguma  cousa;  ser  bom 
meio  de  a  obter. 

—  Figuradamente:  Terço  de  navios; 
como  divisão. 

—  Terço,  e  quinto;  eram  porções  de 
património,  de  que  podiam  dispor  os  tes- 
tadores, ainda  tendo  herdeiros  forçados; 
o  terço  dos  bens  adquiridos,  o  quinto 
dos  herdados;  hoje  só  dispomos  livre- 
mente da  terça,  tendo  herdeiros  forca- 
dos. 

—  Porção  de  soldados,  que  tem  varia- 
do no  numero  das  companhias,  quasi  um 
regimento:  os  terços  auxiliares  tinham 
por  chefes  os  mestres  de  campo,  e  agora 
coronéis. 

—  Terços  da  abobada,  da  columna,  da 
espada;  a  terça  parte  da  sua  largura, 
omle  estas  cousas  são  mais  fortes. 

TERÇO,  s.  m.  O  macho  de  uma  espé- 
cie de  ave  de  rapina.  Açor,  falcão,  ga- 
vião terço,  são  inferiores  aos  primas  das 
suas  espécies.  Vid.  Treçó. 

TERÇO,  A,  alj.  Termo  antiquado.  Tei- 
moso, contumaz,  pertinaz. 

TERÇOL,  s.  m.  Empola  que  nasce  na 
capella  do  olho,  e  suppura. 

—  Vid.  Hordeole. 

f  TEREBENTHINA,  s.  f.  Nome  colle- 
ctivo  das  resinas  liquidas,  que  são  sue- 
cos odoríferos,  semi-liquidos  e  glutinosos 
d'arvores  da  familia  das  coníferas  e  das 
terebinthaceas. 

TEREBINTHACEAS,  s.  f.  plur.  Termo 
de  botânica.  Faniilia  de  plantas  que  tem 
por  tvpo  o  terebintho. 

TEREBINTIA,  ou  TEREBINTINA,  «.  /. 
Vid.  Terebenthina. 

TEREBINTINADO,  A,  adj.  Que  parti- 
cipa da  terebintina. 

TEREBINTINO,  adj.  Vid.  Terebinti- 
nado. 

TEREBINTO,  ou  TEREBINTHO,  s.  m. 
(Do  grego  ttrebinfhos}.  Termo  de  botâ- 
nica. Arvore  resinosa  de  altura  mediana, 
cujo  fructo  vem  apinhado ;  do  tronco  se 
tira  por  incisão  a  terebintina. 

TEREBRA,  s.  f.  (Do  latim  terebra). 
Uma  machina  de  guerra  antiga. 

TEREBRAR,  v.  a.  (Do  lathn  terebrare) . 
Furar  com  verruma. 

TEREBRATULA,  s.  /.  Termo  de  zoolo- 
gia. (Jenero  de  conchas  bivalves,  de  que 
ha  varias  espécies. 

TERECENA,  s.  /.  Vid.  Tercena.  —«Es- 
tes quatro  moços  e  o  Mitaquer  que  era 
o  que  nos  guiava,  passarão  daquv  por 
hum  corredor  armado  sobre  vinte  e  seis 
colunas  de  bronzo,  e  delle  entramos  em 
huma  grande  sala  de  madeyra  como  te- 
recena,  na  qual  estava  muvta  gente  no- 
bre, em  que  avia  alguns  estrangeyros 
Mogores  e  Pérsios,  Berdios,  Calaminhãs, 
e  Bramaas    do    Sornau    Rev    de    Sião.» 


Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações,  ca- 
pitulo 122. 

TEREBEM,  s.  f.  Termo  de  historia  na- 
tural. Verme  que  róe  a  madeira.  —  A 
teredem  aclavada. 

TERES,  s.  m.  plur.  Vid.  Ter  (substan- 
tivo) . 

TERGEMINADO,  A,  adj.  (Do  latim  íer- 
geminatus).  Termo  de  botânica.  Que  fúr- 
ma  três  dobras.  Diz-se  de  uma  folha 
composta,  cujo  peciolo  commum  termina 
por  dous  peciolos  secundários,  tendo  ca- 
da um  um  par  de  foliolos  na  parte  supe- 
rior, em  quanto  que  o  peciolo  commum 
tem  um  terceiro  par  na  origem  dos  dous 
peciolos  secundários. 

TERGEMINO,  A,  adj.  (Do  latim  terg&. 
vtinus).  Termo  de  poesia.  Triplo,  tresdo- 
brado,  porque  eram  três  em  um  corpo. 

TERGIVERSAÇÃO,  s.  f.  (Do  latim  ter- 
giversatio).  Variação  de  razões,  ou  meios 
para  fugir,  evadir-se,  e  escapar-se  de 
executar  alguma  cousa. 

TERGIVERSADOR,  A,  s.  e  adj.  Que 
usa  de  tergiversações. 

TERGIVERSANTE,  part.  act.  de  Ter- 
giversar. Vid.  Tergiversador. 

TERGIVERSAR,  r.  a.  iDo  latim  tergi- 
versare).  Dar  as  costas. 

—  Figuradamente:  Variar  de  razões, 
e  meios  para  escapar,  fugir,  escusar,  ou 
defender  alguma  cousa  com  meios  e  ra- 
zões alheias  do  assumpto. 

TERGO,  s.  m.  (Do  latim  tergus).  To- 
ma-se  por  Costas.  =  Desusado. 

TERICIA,  í.  /.  Termo  popular.  Vid. 
Icterícia,  e  Atericía. 

TERIÓ  DE  GOA,  s.  wi.  Termo  de  his- 
toria natural.  Animal  do  género  dos  for- 
migueiros; vive  na  Africa. 

TERISTRO,  s.  m.  Vid.  Theristro. 
TERJURAR,  V.  a.  Vid.  Tresjurar,  ter- 
mo mais  em  uso. 

TERME,  s.  m.  Termo  de  historia  natu- 
ral. Insecto  destruidor  da  Africa  e  Ame- 
rica e  até  da  índia,  de  que  ha  varias  es- 
pécies, a  saber:  o  terme  fatal,  o  terme 
mordaz,    etc. 

TERMENTINA,  íj.  /.  Vid.  Terebíntía. 
TERMINAÇÃO,  s.  /.  (Do   latim  termi- 
natio).  Termo  de  grammatica.    Desinên- 
cia. 

—  Conclusão,  remate,  fira  d'alguma 
cousa. 

TERMINADO,  part.  j^ass.  de  Terminar. 
Acabado,  limitado. 

TERMINAL,  adj.  2  gen.  (Do  latim  ter^ 
minalis).  Termo  de  historia  natural.  Díz- 
se  do  que  termina  uma  parte,  do  que 
fóiMua  a  extremidade  d'ella. 

—  Termo  de  anatomia.  Fio,  ou  jilett 
terminal;  filamento  concavo  que  termina 
a  dura-mater  rachidiana. 

—  Termo  de  botânica.  Diz-se  de  todo 
o  órgão  que  nasce  no  vértice  de  um  ou- 
tro. —  Gomos  terminaes. 

—  Termo  de  antiguidade  romana.  Que 
diz  respeito  aos  limites.  —  Lei  terminal. 


708 


TERM 


TER»! 


TERM 


—  Final,  ultimo,  derrarleiro,  termi- 
nante 

TERMINANTE,  pnrf.  art.  ile  Terminar. 
Que  termina. 

—  Razões  terminantes ;  razões  que  de- 
cidem c  fazem  neabar  a  questão. 

—  I^is  terminantes;  leis  que  provam 
bem. 

—  SiN. :  Terminante,  decisiva.  Vid. 
este  ultimo  termo. 

TERMINANTISSIMO,  A,  adj.  superl. 
do  Terminante.  Mui  terminante. 

TERMINAR,  v.  u.  [Do  latim  termina- 
)•(',  de  turmiaus),  Vôr  termo,  limitar.  — 
«.\  objurííação  com  que  terminei  o  poe- 
nui,  a  moilo  do  enini/  do  ])rovoii<;al,  ou 
com  mais  cxacção  de  acre  sirventc  que 
fustiga  um  crime  público  —  em  todo  o 
caso  era  merecida;  porque  é  certo  que 
Nação,  Rei  e  (lovòrno,  todos  peccaram 
do  culposa  incúria  em  não  ter  feito  a 
a  minima  diligencia  pai'a  descubrir  o 
monumento  de  sua  maior  gliiria.»  Gar- 
rett,  Camões,  nota  E  ao  cant.  10. 

—  Dar  demarcaçíjes,  e  termos  de  es- 
tancia, o  de  vivenda  arrumando,  gra- 
duando, descrevendo  geographicamente. 
•    —  V.   n.  Acabar,  perecer. 

—  Concluir. 

—  Terminar-se,  v.  rejl.  Acabar-se,  li- 
mitar-se,  eoiK'luir-so. 

TERMINATIVAMENTE,  adv.  (De  termi- 
nativo,  e  o  suíTixo  «mente»).  De  um  modo 
termi  nativo. 

—  Relativamente  ao  termo,  ao  obje- 
cto. 

TERMINATIVO,  A,  adj.  Termo  de  gram- 
matica.  Que  forma  a  terminação. 

—  Que  diz  respeito  ao  termo,  ao  obje- 
cto de  unu\  acção,  otc. 

TERMINO,  s.  ;)í.  (Do  latim  terminus). 
Termo,  raia,  limite,  contim. 


Ku  descubro  estes  Ccos,  cu  vejo  os  Astros, 

Do  brai;o  omuipotento  obra  primeira. 

Portentosa  extensão,  continuo  vòo 

Pelo  tio  de  séculos  iinmcnsoa 

Nào  te  cliog-.íra  aos  termino!',  que  a  meute 

Mal  to  assignalii  uos  confins  do  Xada. 

J.  A.  Di:  MACEDO,  A  NATUBHZA,  CiUt.  1. 

Tal  ho  d'alniii  a  illusiio,  inda  «"estendem 
A  moid,  c  mais  os  términos  do  Globo. 

IBIDEM. 


E  o  pensamento  em  fim  profundo,  c  forte 
Do  mundo  alem  dos  términos  se  lança. 


TERMINOLOGIA,  s.  /.  (Do  latim  termi- 
nas, e  do  grego  logos).  Reunião  dos  ter- 
mos teehnicos  duma  sciencia,  ou  de  uma 
arte.  —  .á  terminologia  chimica. 

—  Sciencia  dos  t>.'rmos  teehnicos,  ou 
das  idèa;  que  oUes  representam. 

TERMO,  s.  in.  (Do  latim  tenninus).  Li- 
mite, marco,  signal  posto  nos  confins  da 
terra. 


—  Fazer  termo ;  fazer  fim,  ces.iar.  — 
«Porque  aqui  tí/.eraõ  o  primeiro  termo, 
e  de  maior  esperança  do  seu  dusc')bri- 
mento  pêra  que  conuinlia  dir.sporen.sc  com 
as  consciências  em  estado,  que  suas  pre- 
zes fossem  accejjtas  a  Dco.s,  e  mães  por 
sor  tempo  de  quaresma  cm  que  a  Igreja 
obriga  a  i.sso.»  Uarros,  Década  1,  liv.  4, 
cap.  4. 

— •  Tempo  fixo  para  n'ellc  se  fazer  al- 
guma cousíi;  espaço,  prazo. 

—  Assiijnar  termo ;  obrigaç.lo  de  fa- 
zer, ou  deixar  de  fazer  certa  cousa  den- 
tro de  certo  tempo. 

—  O  espaço  do  tempo  concedido  aos 
litigantes  no  foro;  c,  iraqui,  a  termos 
largo.v;  de  longo  a  longo  tempo. 

—  i*Víst;r  termos  de  murte;  estar  expi- 
rando. 

—  Estado  conveniente.  —  «O  VisoRey 
por  que  tinha  muito  que  fazer  no  despa- 
cho das  nãos,  c  o  tempo  era  mui  breue 
pêra  a  partida  delhis,  naò  se  pode  ali 
mais  deter  que  outo,  ou  dez  dias  em 
quanto  acabou  de  cortar  bem  aquella 
ponta  de  terra  em  que  estaua  elegida  a 
fortaleza,  o  começou  de  a  poer  em  ter- 
mos que  ficaua  pêra  se  a  gente  poder 
bem  defender.»  Barros,  Década  1,  liv. 
9,  cap.  4. 

— -Modo,  geito  que  se  leva  nos  negócios, 
com  que  se  fazem  as  cousas. —  «E  j)or- 
que  pêra  leixarcm  estas  cousas  do  esta- 
do da  guerra  postas  em  termos  que  po- 
dessem  auer  carga  da  cspecearia,  era 
necessário  fazer  alguma  demora,  ordena- 
rão de  carregar  a  António  do  Capo  pêra 
vir  diante  dar  noua  a  ElRey  da  perdição 
de  Vicente  Sodré  e  das  victorias  que  ti- 
nhao  auido  do  Camorij  de  Calecut.»  Bar- 
ros, Década  1,  liv.  tí,  cap.  2. 

—  Comarca,  terras  de  lavor. —  «Estes 
começarão  a  esciíraniuçar  de  huma  parte 
para  outi"a,  e  o  fizeraõ  taõ  bem,  e  tão 
dcspejadamente,  que  as  mais  das  vezes 
se  cneijtravão  huns  com  os  outros,  e 
muytas  delias  caiiião  três  quatro  no  chaõ, 
por  onde  se  eutendeo  que  devia  de  ser 
gente  do  termo  que  era  aly  ^^nda  mais 
por  força  que  por  sua  vontade.»  Fernão 
Mendes  Tinto,    Peregrinações,   cap.   (J5. 

—  As  locuçijes  particulares  ás  artes, 
sciencias,  etc. —  «Cheyo  Ciida  hum  dos 
termos  da  Arte  que  mais  exercita,  nào 
pódc  evita-los  nos  discursos  por  mais  que 
quevra,  empregando-os  a  toda  a  hora,  c 
usando  delles  em  toda  a  occasião.»  Ca- 
valleiro  d'01iveira.  Cartas,  liv.  1,  n.°  39. 

—  Obrigação  por  escripto  :l  ordem  do 
juiz,  de  fazer  ou  deixar  de  fazei-  certa 
cousa  dentro  de  certo  tempo. 

—  Ser  alguma  cousa  termo  de  morte  a 
alguém ;  ser  de  sunuua  perda  c  do  maior 
desgosto. 

—  No  calculo,  é  um  membro  de  pro- 
porção. 

—  Fim  em  que  pára  alguma  cousa. 

—  Em  termos  ?iaòeis;   sendo  factivel, 


sem  inconveniente,    ou   prejuízo  de  ter- 
ceiro. 

—  Fim,  limite  plivaico  ou  moral. — 
«Mas  o  Tnao  termo  de  Severo  fez  com 
que  os  Soididos  l'retorianos  eleges.sem  a 
Maxeucio  em  seu  despeito,  o  os  seus  pró- 
prio» lhe  cortíissem  a  cabeça:  e  a  fíale- 
rio  que  vinha  com  as  Legioena  de  Orien- 
te a  castigar  este  insulto,  acabou  a  vida 
huma  postema  pelos  annos  de  Christo,  de 
."511.  e  4'Jt!H.  .la  Creaçlo  do  Mundo.» 
Monarchia  Lusitana,  liv.  ú,  cap.  24.  — 
«E  que  aos  procuradores  do  desemparo 
dos  pobres  se  desse  também  vista,  para 
que  no  termo  dos  cinco  dias  que  lhe  fo- 
rão  assinados,  allegassem  por  nossa  can- 
sa o  que  fosse  direyto.»  Fernão  Mendes 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  101. 


De  hum  Dcos  Omnipotente  as  Dbraa  canto, 

Elias  são  prova  da  ciistcncia  aua. 

De  meus  versos  serão  matéria,  c  termo. 

].   A.  DE  MACEDO,  A  NATCSEZA,    Oant.    1. 


—  Espaço  que  abrange  a  jurísdicçSo  dos 
seus  juizes.  —  «E  vindo  a  esse  termo  al- 
guuni  seu  creedor,  que  amostre  sua  divi- 
da claramente  per  Escriptura  pruvica, 
que  lhe  nom  for  embargada,  ou  tolhida 
pelo  dito  vendedor,  faç.i-lhe  o  dito  Juiz 
])agar  sua  divida  jielo  preço,  e  quantida- 
de, que  assi  for  consinada;  e  se  alguma 
cousa  ficar,  faça-a  entregar  ao  dito  ven- 
dedor.»  Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit.  53,  §  2. 

—  Termos  rt partidos ;  terras,  herda- 
des demarcadas  entre  os  differentcs  se- 
nhores, e  heroes. 

—  Dicção,  vocábulo,  palavra.  —  « E  o 
Satyrico  significa  pelo  mesmo  termo  ter 
sabido  da  idade  juvenil,  dizendo:  Per- 
misit  sparsisse  óculos  jam  canJidus  um- 
bo.t  Severim  de  Faria,  Noticias  de  Por- 
tugal, Disc.  3,  cap.  3.  —  «Este  nome  .õt- 
nhor,  se  derivou  do  latino:  Stnior,  que 
quer  dizer  o  mais  velho;  e  conforme  a 
Seipiaõ  Amirato  se  começou  a  nsar  deste 
termo,  pelo  de  Dominus.  depois  da  en- 
trada dos  Longobardos  em  Itália,  t  Ibi- 
dem, cap.  27. 

Sabeis  que  proouratorios 
são  uns  termos  porcntoriOB 
pêra  íi»  hoc  siito  vincei, 
parmcno  nào  ni'o  distriuccs. 

AXTOMO   FHESTES,  AUTOS,  pag.    121. 

—  Meio  termo ;  temperamento  para 
compor,  concertar  alguma  t-ousa  em  bem. 

—  Modo  de  portar-sc  em  cousas  de 
cortesia,  urbanidade,  maneira,  modo  de- 
licado, e  cortez. 

—  Meios  termos ;  modos  de  escapar, 
tergiversações  do  que  n.ào  quer  obrar, 
executar,  cumprir;  rodeios,  ambagens. 

—  Levar  a  cousa  por  seus  termos; 
leval-a  ordenadamente,  conforme  o  uso, 
e  meios  próprios. 


TERO 


TERR 


TERR 


ro9 


—  Syn.  :  Termo,  fim,  palavra.  Vid.  es- 
tes dous  últimos  vocábulos. 

-j-  TERMOS.  Inlinito  pessoal  do  verbo 
ter.  —  aUeípois  de  termos  cumprido  cõ 
Deos,  e  com  os  padres,  assi  carnaes  co- 
mo spirituaes  (que  em  alguma  maneira 
nos  saij  em  lugar  de  Deos)  tica  cumpri- 
mos com  os  mais  próximos,  não  os  dani- 
ticando,  nem  agrauaudo  em  cousa  algu- 
ma. Y,  porque  entre  as  cousas  corporaes, 
a  vida  he  a  mais  principal,  e  deue  ser 
mais  estimada,  por  tãto  o  mayor  dano 
que  podemos  fozer  a  hum  próximo,  he 
tirarlho  a  vida.»  Fr.  Bartaolomeu  dos 
Martyres,  Cateoismo  da  doutrina  chris- 
tã. 

TERNADO,  A,  adj.  Termo  de  botâni- 
ca. Três   em  rama,   fallando  das    folhas. 

—  Fixado  três  a  três. 

TERNAL.  Termo  antiquado.  Vid.  Ter- 
nário. 

TERNAMENTE,  adv.  (De  terno,  com 
o  suffiso  «mente»).  De  um  modo  terno. 

—  Com  ternui'a. 

TERNÁRIO,  A,  adj.  (Do  latim  ferna- 
rius'..  De  três. 

—  Termo  de  musica.  Compasso  em 
três  tempos  eguaes.  de  ti-es  partes. 

TERNAS.  Vid,  Ternos,  nos  dados. 

TERNATEZ,  adj.  2  yen.  Natural,  ou 
pertencente  a  Ternate. 

TERNEIRA,  5.  /.  Noviliia,  de  carnes 
tenras. 

—  Vitella.  Vid.  Tenreira. 
TERNEZA,  s.  /.  Vid.  Ternura. 
TERNISSIMAMENTE,  adv.  superl.  Mui 

ternamente. 

TERNÍSSIMO,  A,  adj.  superl.  de  Terno. 
Muito  terno.  —  O  terníssimo  amur. 

1.)  TERNO,  s.  f.  Qualquer  apparelho 
que  para  ser  completo  precisa  de  três 
cousas  similhantes. 

—  Três  pessoas. 

—  Ternos  ;  nos  dados  de  jogar,  designa 
os  três  pontos,  quando  os  pintam  ambos 
de  um  lanço. 

2.)  TERNO,  A,  adj.  De  coração  bran- 
do,  mavioso,  compassivo. 

—  Figm-adamente :  O  terno  grilhão. 

Férreo,  c  terno  grilhão  ao  mar  bramoso 
Lançou  na  moUe  arêa  a  5Iào  do  Eterno, 
Sempiterno  decreto  alli  presente. 

J.  A.  DF.  MACEDO,  A  NATCBEZA,  Caut.  3. 

—  Figuradamente:  Que  indica  a  ter- 
nura do  animo. 

TERNURA,  s.  /.  O  caracter  do  que  é 
terno. 

—  Brandura  maviosa. 

TEROLERO,  s.  /".  Um  som  a  que  se 
dançava,  e  a  dança  feita  a  esse  som. 

Mas  de  todo  teroUro. 
Vão  filhas  de  atafoneiros, 
e  mil  ^"illueò  ruins, 
com  barras  e  carmezins, 
debrús  e  demos  inteiros, 
todo  Valença  em  chapins  ; 


e  minha  filha,  que  é  cume 
do  cume,  dos  cumes  d'ella3  ? 

AKioxio  PRESTES,  Auros,  pag.  ibl. 

TERRA,  s.  f.  (Do  latim  terra).  O  mais 
pesado  dos  quatro  elementos,  que  ordina- 
riamente cria    03  vegetaes.  —  iPelo  que 
nos  postos,  onde  a  terra  naò  for  boa,  se  i 
naõ  de  charneca,  pôde  servil'  do  que  di-  1 
zemos ;    ou   assim   mesmo  de  escellentes  \ 
colmeares,   como  se  vè  na  Serra  de  Ser-  j 
pa,  na  de  Portel,  e  no  termo  de  i^almel-  , 
la.»   Severim   de  Faria,  Noticias  de  Por- ^ 
tugal,  Disc.  1,  cap.  õ. 

Oh !  minha  Rasão,  que  fruito 
pode  a  terra 

produzir,  pois  te  desterra 
onde  o  muito  do  mais  muito 
que  nelle  vive,  se  encerra. 

AXTOsio  PBESiEs,  Auros,  pag.  40. 

—  O  mundo,  os  homens.  —  a  Por  gran- 
de louvor  he  contado  ao  Rev,  ou  a  qual- 
quer outro  Princepy  da  terra,  seer  fran- 
co, e  liberal,  usando  com  seu  povoo  de 
franquezas  e  liberdades,  e  dWtras  eixen- 
çooens;  e  muito  mais  deve  seer  louvado 
quando  he  avudo  por  justo.»  Ord.  Affons., 
liv.  õ,  tit.  1. 


Este  planeta  escolhido 
Escolheo,  porque  he  profundo, 
O  mais  alto  bom  do  mundo. 
Muitos  bens  deu  Deos  na  terra, 
Porém  se  este  não  ^-icra, 
Nunca  nos  amanhecera. 

GIL  VICE5IE,  I-ABÇAS. 


Leda  serenidade  deleitosa. 
Que  rejiresenta  em  terra  um  paraíso ; 
Entre  rubis  e  perlas  doce  riso, 
Debaixo  de  ouro  e  neve  côr  de  rosa. 

CAM.,  SOSEIO  u."  78. 


Essa  eterna  Eazào  por  mim  conhece, 
Quo  30  descobre,  que  fulgura  em  tudo, 
Quanto  descobre  o  Coo,  quanto  na  Terra 
Kosâos  olhos  attonitos  contemplào. 

J.  A.   DE  MACEDO,  VIAGEM  EIT.VTICA,  Caut.    2. 

Distancia,  que  confunde  a  mente  humana, 
E  que  a  luz  nhum  momento  abrange,  e  corre. 
Sábio  traçou  Meridiana  Linha, 
E  por  ella  nos  mostra  o  variante 
Moto  veloz  da  Terra  ao  Sol  em  torno. 
IBIDEM,  cant.  4. 


Ali !  meu  pae  como  hade 
Resistir  so  por  si  á  conjurada 
1'òrça  de  homens  e  fados  ?  E  so  elle 
Na  terra,  —  e  a  terra  toda  é  ja  de  César. 

OABBETT,   CATÃO,   act.    1,    SC.    Õ. 

—  Regiào.  —  oE  aquelle,  que  ouver 
de  dar  a  dita  gaança,  perca  outro  tanto, 
como  for  o  principal  que  recebeo,  e  seja 
todo  pêra  a  Coroa  dos  nossos  Regnos :  e 
per  aqui  entendemos,  que  poderá  o  con- 
trauto  usureiro  tam  iniicito  da  nossa  ter- 


ra, e  Senhorio  seer  esquivado.»  Ord. 
Affons.,  liv.  4,  tit.  19.  §  1.  — «Porque 
como  viraõ  hir  os  primeiros  em  desbara- 
to, logo  todos  se  passarão  da  outra  banda, 
do  Estreito,  que  eraõ  terras  de  Bisme 
Naique,  hum  vassallo  do  Rev  de  Canarà. 
Manoel  Rodrigues  Coutinho  mandou  tam- 
bém passar  sua  mulher,  e  filhos,  e  elle 
com  os  que  o  seguirão  também  o  tizeraõ.» 
Diogo  de  Couto,  Década  6,  liv.  10,  cap. 
9. —  «Feito  isto  cometeo  o  Camereiro 
mòr  com  os  Portuguezes  as  terras  do  Ma- 
dnne  por  huma  parte,  o  Príncipe  das  Ger- 
ias pela  outra,  e  o  Tríbuly  Pandar  pela 
outra  de  Pelande.  Pela  parte  por  onde  o 
Camereiro  mòr  entrou  lhe  sahio  ao  en- 
contro o  Capitão  geral  do  Madune  com 
quem  tiveraõ  os  nossos  alguns  recontros, 
em  que  o  desbaratarão.»  Ibidem,  cap.  12. 
—  «A  estas  terras  chamavaõ  Solares,  de- 
rivando o  nomo  da  palavra  latina  soluni, 
que  quer  dizer  terra,  e  assento,  donde  o 
homem  está.»  Severim  de  Faria,  Noticias 
de  Portugal,  Disc.  3,  cap.  2. 

Magnificência,  c  lei  de  verdade  : 
dae-lhe  vós,  gentes  de  todas  as  terras, 
a  honi'a  dorida,  armae  vossas  guerras 
em  só  veneral-o  de  toda  a  vontade. 

ASTOXIO  PBESTES,  AUTOS,  pag.  95. 

Não  lhe  faz  o  alho  febre, 
tem  perdiz,  coelho,  lebre, 
criação,  todo  o  bem  mero ; 
é  terra  de  como  quero 
uào  do  como  me  requebre. 
IBIDEM,  pag.  159. 

Alguidar. 

Nào  lhe  quiz  ella  fallar. 
Panella. 

Bem  se  pode  alimpar  d'eUa. 
Que  gente  esta  para  os  nabos 
da  inha  terra ! 
IBIDEM,  pag.  461. 


—  «Pelo  que  eu,  como  quem  vay  de 
caminho,  nào  farey  mais  que  apontar  as 
mais  celebres,  e  principaes,  assi  ^^or  não 
ser  molesto,  como  por  não  an-iscar  o 
credito  a  que  estão  ofierecidos  os  que 
tratão  muitas  cousas  das  terras,  donde 
nào  saõ  naturaes.»  Fr.  Gaspar  de  S. 
Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap.  8. 
—  «Os  que  quiserem  facilmente  enten- 
der a  onde  esta  ao  presente  a  Cidade  es- 
tendào  pêra  o  Oriente  a  mão  esquerda  vi- 
rado a  palma  pêra  bayxo:  tudo  o  que  fi- 
car bem  junto  ao  dedo  meminho  he  Ará- 
bia deserta,  em  cujo  destricto  cae  pro- 
priamente a  terra  a  que  chamào  Sjria.» 
Ibidem,  cap.  18.  —  «Que  he  ja  cento,  e 
cincoenta  legoas  de  Malaca  na  parte  da 
mesma  costa  chamada  Queda  frol  da  pi- 
menta de  toda  aquella  terra :  e  sentindo 
passar  de  noite  cosido  com  ella  hum  pa- 
raó  de  pescadores,  mandaram  logo  a  elle 
por  saber  da  agoada  (que  dos  Achens  ja 
nam  auia  pensamento)  querendo  pêra  si 


710 


TERK 


TERU 


TERK 


nesta  einproaa  D.ios  iioaso  Senhor  a  f,'lo- 
ria  toda,  iiaiii  hó  de  caiiitam  |K;lejaiido, 
mas  do  piloto  fíuiaudo.u  Lueeua,  Vida  de 
S.  Francisco  Xavier,  liv.  f),  cap.  l."». — 
iEiii  esta  terra  vi  lainhiiui  cm  cila  Mou- 
roa  casados  cò  Cliiistau« :  o  guanlavuõ 
sua  Icv.  DisHoraô  <|ue  o  seu  Mafainedc 
deyxara  aiiuolle  Privilcfíio.  Esta  Cidade 
tem  quatro  portas  por  oude  se  sorve  para 
fíira  sobre  que  estaõ  fermosas  torre»,  em 
quo  pousai)  Turcos  os  ([uaos  guardào  de 
continuo  estas  portas  com  suas  armas  e 
o.spiufíardas :  e  as  fecliai5  to^laa  as  noytes, 
e  tem  por  ordenança  ucnliuma  pcissoa  es- 
tran^'cvra,  nem  mercador  saliir  jiara  fora 
sem  iuim  sinal,  ou  selio  do  (íovornador, 
c  15axà  dulla,  e  ao  que  o  naõ  acliaõ  jiren- 
deniuo  ato  saber  que  homem  hc.»  Ten- 
reiro, Itinerário,  cap.  28. 

—  O  planeta  que  habitamos ;   compõe 
se  de  terra,  mares,  rios,  lagos,  ctc. 


O  souliov  Embaixador 
Do  Ccsar  Imperador 
Creio  <\nc  iiacoo  no  ceo  •, 
Maí  se  ua  terra  naceo, 
(iual  planeta  cm  seu  favor 
Foi  a  (luc  lhe  aconteceo  ? 

ou.  VICENTK,  KARÇAS. 

—  «Acabadas  as  palavras,  como  já  es- 
tivessem prestes,  embrac-ados  os  oseudos, 
as  lanças  baixas,  i)artiram  com  tamanho 
estrondo,  que  parecia  fundir  a  terra.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'lngla- 
terra,  cap.  94.  —  «Mas  porque  a  guerra 
se  divide  cm  terrestre,  e  marítima,  fal- 
laremos  primeiro  da  terra,  como  mais 
principal,  discorrendo  pelos  maiores  offi- 
cios  do  exercito,  dando  particular  noticia 
de  cada  hum,  com  tudo  o  que  pertence  à 
Milicia  antiga. »  Soverim  de  F;  ria,  Noti- 
cias de  Portugal,  Disc.  2,  cap.  1. 

Um  quer  ser  Rei,  e  mais  Deos, 

outros  dominam  por  guerra, 

um  iiuer  terra,  outro  quer  céos, 

e  para  tão  vãos  aleos 

nào  ha  tantos  céos  ucm  terra. 

Ora  c:l  iV  judicatura 

jA  tiz  jura, 

preito,  homonagc  c  mais  loi 

dessem  chamado  de  líci 

aer  acordo  uem  pintura. 

AsiTosio  PBKSTES,  Auros,  pag.  301. 

Cahe  a  prumo  do  lá,  c  hum  pouco  as  azas 
No  ar  equilibrou  próximo  A  Terra. 

J.  A.  DE  MACKPO,  A  NATUREZA,  Cant.  1. 

Kis  súbito  80  enrola  a  névoa  osíicssa, 
Súbito  á  vista,  ao  longe,  estranhos  montes 
So  iiiostrào  n'horizonte,  cmmaranhadas 
lUouli;i3  que  o  brai;o  humano,  o  ferro  diuo 
Inda  não  tinhào  profanado.  A  ternt 
Do  centro,  e  lados  encurvada,  acolhe 
Em  largo  bolso  o  mar,  o  os  combatidos 
Lenhos  convida  a  repousar  seguros. 


A  3Vrr(i  nossa  Mãy,  qu'  em  seu  regaço 
Nos  recebo  u.isoeudo,  c  nos  sustenta, 


I  1'.  quando  as  justas  mãos  da  Knturcxa 
llasgão  da  frágil  vida  a  iiistavi-1  Teu. 
iniuKU,  caiit.  2. 

—  Terra  chã;  não  cercada,  sem  mu- 
ros. —  tNcHta  ordem  aballaram  toilos  per 
huuia  terra  ehau'  de  moutas,  c  mato  raro, 
tendo  J:l  Nuno  fernandes  nian<lando  iJio- 
go  Lopes  almocadem  com  dous  mouros  a 
descobrir,  e  nas  costas  delles  fornati  Do- 
minguez,  com  alguns  besteiros,  c  esjún- 
gardeiros.i  Dami.^io  de  (iões,  Chronica  de 
D.  Manoel,  part.  3,  axy.  75. 

—  ]>i/.-sc  a  co.sta,  em  opposiçSo  ao 
mar. —  «Henrique  de  Sousa  Cliichorro 
CapitaíJ  do  Còchim  fortificou  nmito  bem 
a  Cidade,  e  ElRcy  do  Còchim  .ijuntou 
perto  de  quarenta  mil  homens  pêra  de- 
fender seu  Reino.  Disto  avisárSo  por  ter- 
ra ao  Governador  por  muitos  Patam.ares, 
que  chegarão  logo  apoz  Fernaij  Rodri- 
gues de  Mariz.»  Diogo  do  Couto,  Dé- 
cadas. 


O  mar,  a  terra,  os  ares  estendidos 
Em  si  contém  partículas  diversas. 

J.  A.  DE  UACCDO,  .A  NATUUKZA,  Caut.  2. 

Qu'  os  incansáveis  Batavos  lhe  punhào, 
Cobro  as  Cidades,  c  confunde  os  Campos ; 
Onde  era  lloUanda  ho  mar,  onde  era  terra 
Husca  debalde  o  navegante  absorto. 


Ditoso  ilanoel  forçar  podéra, 

Dando  a  vèr  ;is  Nações  mais  largo  o  JFundo, 

Dando  nomes  ao  Mar,  limite  ã  Terra. 

IDEU,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Caut.   4. 

—  Sair  a  terra;  desembarcar.  —  «So- 
bre estes  pregoens  nào  deixarão  de  sahLr 
a  terra  alguns  soldados.  E  dizendo  ao 
Capitaij  que  andavaõ  alguns  na  praya, 
se  mctco  em  huma  embarcaçaíj  pequena 
com  grande  paixrio,  e  chegando  à  prava 
vio  nella  Dom  Rodrigo  de  Menezes,  e 
chegando  perto  delle  lhe  disse  alto.»  Dio- 
go de  Couto,   Década  G,  liv.  9,  cap.  20. 

—  Entregar  á  terra  o  corpo;  sepul- 
tal-o,  enterral-o.  —  «ilanda  dobrar  os 
sinos,  acender  círios,  preceder  o  estan- 
darte da  Cruz,  cantar  os  seus  Ministros, 
ordcnarse  huma  procissão :  ultimamente 
entrega  aquelle  corpo  â  terra  como  hum 
deposito  precioso,  mostrando  nas  muitas, 
e  misteriosas  ceremonias,  de  que  uza,  o 
caso  que  faz  delle.»  Padre  Manoel  Ber- 
nardes, Exercícios  espirituaes,  pag.  483. 

—  Deí:eMbarcar  cm  terra;  saltar  cm 
terra.  —  «.\onde  ainda  estavaõ  os  navios 
de  D.  Joaõ  Coutinho,  e  os  mais  quo  ti- 
nhão  partido  de  Ternate,  e  embarcouse 
na  caravela  cõ  Manoel  Roto,  aonde  este- 
ve atò  ser  monç.ão,  sem  desembarcar  om 
terra,  por  se  niío  encontrar  com  D.  Ro- 
drigo de  Menezes,  piu-quo  se  ficou  te- 
mendo delle.»  Diogo  de  Couto,  Década  6, 
liv.  9,  cap.  20. 


—  Terra  firme ;  o  continente.  —  tCon- 
clue-Ho  primo,  que  nem  as  Uuas  do  ()coa«- 
no  forSo  alguma  hora  part<'s  da  terra  fir- 
nie,  uem  no  Oceano  houve  a  fabulosa 
lUui  Atlanta.»  António  ("ordeiro,  Histo- 
ria Insulana,  liv.  1,  cap.  D». 

—  A  fria  terra;  a  M;pultura. 

—  JJcir  em  terra;  derribar,  deitar  ao 
cbSo. 


De  que  ?  d'um  iiadit : 
molheres  naturalniontc 
dão  logo  cm  terra  eoo  facho 
8<j  douvirem  us.ida.  quente 
as  assombra  uin  accidente. 

A.VTOSIO  PUE8TE»,  ACTOU,  pag.  365. 


—  Terra  fria ;  terra  fresca,  terra  pou- 
co quente.  —  «Est^t  terra  e  comarqua  he 
bem  liabitada  e  de  muytas  aldeoa  e  lufa- 
res de  lavradores  mouros  e  TurqnimSis  : 
he  muy  fria  terra  hc  estava  toda  cubcrta 
de  neve  com  que  tevemos  niuyto  tra- 
balho por  nos  c.ayrcm  aa  bestaa  com  as 
carregas.»  Tenreiro,  Itinerário,  capitu- 
lo 14. 

—  Coni  os  Joelhos  postos  em  terra;  com 
os  joelhos  no  chiio.  —  «A  que  os  grepos  de 
cima  do  carro  acudiâo  logo  com  muyta 
pressa,  e  cortandolhe  a  cabeça  a  niostra- 
viio  ao  povo,  o  qual  também  cos  joelhos 
postos  em  terra,  e  as  màos  alevantadas, 
dezia  cÍj  huma  grande  grita,  cheganos 
Senhor  a  tempo  que  por  te  servir  faça- 
mos o  mesmo.»  Fern.ão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  160. 

—  Frustrar  os  rostos  em  terra ;  incli- 
nar-ic  para  o  chão.  —  «E  chegando  ao 
R'')lim,  que  os  recebeu  affavelmcnte,  se 
lhe  prostrarão  com  os  rostos  em  terra,  e 
depois  de  estarem  assim  hum  pouco,  hum 
delles  que  parecia  ser  o  mayoral  de  to- 
dos, pondo  03  olhos  no  Ròlim,  lhe  disse.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações, 
cap.  169. 

—  Senhor  de  terras ;  senhor  de  pro- 
priedades. —  «  Donos,  os  antigos,  que  era 
o  mesmo  que  Domínios,  e  Senhores ;  cora 
tudo  o  nome  de  Senhor  de  terras  se  veio 
a  usar  tanto,  que  os  que  as  pussuiraõ 
com  jurisdicçalj,  deixarão  por  elle  o  nome 
de  Vassallos ;  e  principalmente  des  do 
tcmj)o  d'ElRey  D.  Afonso  V.  para  cá, 
chaniando-os  ElRey  em  suas  Provisoens, 
e  Alvarás.»  Severim  «lo  Faria,  Noticias 
de  Portugal,  Diac.  3,  cap.  27.  —  «As  lan- 
ça-i,  e  mais  gentes,  com  que  os  Senhores 
de  terras  serviaõ  os  Reys  na  guerra,  el- 
le.s  tinhaõ  mesmo  obrigação  de  os  arma- 
rem, como  so  lo  na  Chronica  d'ElRey  D. 
Fernando.»  Ibidem,  Di.sc.  2,  cap.  11. 

—  Metter  terra  «;«i  meio ;  fugir,  ausen- 
tar-se  para  longe. 

—  Terra  das  verdadts;  o  ceu,  o  Em- 
pyreo,  o  paraíso. 

—  Gatjtar  o  inimigo  terra;  ir  entran* 
do  pelo  campo,  ou  território  do  contra- 
rio. 


I 


TERR 


TERR 


TERR 


711 


—  Terra  gallega;  terra  de  má  qualida- 
de, infructifera,  e  de  charneca. 

—  Terra  virgem;  a  que  nunca  foi  ca- 
vada. 

—  A  minha  terra  ;  a  minha  pátria. 

—  Caíi-  em  terra;  nascer. 

—  Ganhar  terra  com  alguém;  alcan- 
çar a  sua  graça,  favor,  com  lisonja,  adu- 
lações, serviços,  etc. 

—  Ser  terra ;  ser  mortal. 

—  Navegar  terra  a  terra,  ou  cosido 
com  a  terra ;  navegar  mui  chegado  á 
costa. 

—  Panno  da  terra ;  panno  fabricado 
no  paiz,  e  não  estrangeiro. 

—  Terra  ponderosa.  Vid.  Barytes. 

—  Ir  morar  a  terra  secca ;  fora  das 
marinhas,  ou  costa  do  mar. 

—  Pôr  em  terra  ;  derribar,  derruir,  ar- 
razar. 

—  Termo  antiquado.  Terra  calva;  dá- 
se  este  nome  áquella  terra  que  está  lim- 
pa de  matto,  e  afructada.  Hoje  dá-se  este 
nome  áquella  terra  que  pela  sua  má  qua- 
lidade não  dá  matto,  nem  hervas. 

— •  Adágios  e  provérbios  : 

—  A  terra,  posto  que  fértil,  se  não 
descança,  faz-se  estéril. 

—  A  agua  salobre  na  terra  secca  ó 
doce. 

—  A  terra  lavrada  em  agosto  á  ester- 
cada dá  de  rosto. 

—  A  terra  que  não  cobre  a  si,  mal 
cobrirá  a  mira. 

—  Os  erros  dos  médicos  a  terra  os  co- 
bre. 

—  Deita  terra  sobre  terra,  saberás  o 
pão  que  leva. 

—  Quem  em  terra  boa  semeia,  cada 
dia  tem  boa  esti-eia. 

—  Deita  esterco  ao  pão,  que  as  terras 
t'o  pagarão. 

—  Cunhados,  e  ferros  d'arado  debaixo 
da  terra  prestam. 

—  Toda  a  terra  é  uma,  e  a  gente  qua- 
si  quasi. 

—  Em  terra  de  senhorio,  não  faças 
teu  ninho. 

—  Nem  tanto  ao  mar,  nem  tanto  á 
terra. 

—  Cada  terra  com  seu  costume;  ou: 
Em  cada  terra  seu  uso. 

—  Cada  terra  com  seu  uso,  cada  roca 
com  seu  fuso. 

—  O  boi  bravo,  mudando  a  terra,  é 
mudado. 

—  O  boi  bravo  na  terra  alheia  se  faz 
manso. 

—  Vê  o  mar,  e  sê  na  terra. 

—  Com  má  gente  é  remédio  muita 
terra  em  meio. 

TERRAÇA,   s.   f.   Vid.  Terrado. 
TERRACENA,  s.  /.   Vid.  Tercena. 
7  TERRAÇO,  «.   m.  Vid.  Terraça. 


Ingratisáimo  ai  vergue,  oude  passea 
Sobre  terraços  lúcidos  a  Pompa, 
A  Soberba  incivil,  o  insano  Luxo, 


Onde  em  sofás  de  purpura  adormece. 
Ministra  do  Prazer,  a  vil  MoUeza, 
Que  perfumes  Arábicos  respira 
Da  rica  veste,  e  mórbidos  Oabellos. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  XATUBEZA,  Cant. 


TERRADA,  s.  /.  Navio  pequeno  de 
guerra  c^a  Ásia.  —  «E  ainda  que  os  Mou- 
ros andauão  já  escarmentados  da  faria 
da  nossa  artelharia,  tanto  fez  com  as  ter- 
radas,  que  tornarão  outra  vez  ás  nossas 
nãos  a  lhe  lançar  dentro  áquella  chuua 
de  settas;  no  qual  cometimento  como  os 
nossos  tinhão  ja  mães  tento  nellas,  mete- 
rão no  funuo  quinse  ou  vinte. i  Barros, 
Década  2,  liv.  2,  cap,  3.  —  «E  alem 
desta  prouimento  per  todalas  ilhas  e  lu- 
gares de  ambas  aquellas  costas  de  seu 
estado  :  tinha  Coge  Atar  ordenado  huns 
barcos  pequenos  chamados  terradas  re- 
partidas em  tal  ordem,  que  de  cada  lu- 
gar seu  dia  trouxessem  aguoa  e  manti- 
mentos pêra  a  cidade.»  Idem,  Década  3, 
liv.  2,  cap.  2. 

TERRADEGO,  s.  m.  A  quadragésima 
parte  do  valor  do  prédio  aforado,  que  o 
foreiro  paga  ao  seuhor  directo,  com  lau- 
demio,  quando  elle  lhe  concede  que  alie- 
ne o  prélio.  Vid.  Quarentena. 

TERRADEGUEIRO,  s.  m.  O  cónego  da 
sé  de  Coimbra,  que  cobra  os  terradegos, 
ou  laudemios  pertencentes  ao  cabido.  Vid. 
Terrado. 

TERRADIGO,  s.  m.  Termo  antiquado. 
Renda  que  se  paga  pela  terra  alheia  que 
se  cultiva. 

TERRADINHA,  í.  /.  Diminutivo  de 
Terrada. 

1.  TERRADO,  s.  m.  Espaço  de  terra 
que  uma  tenda  occupa  na  feira,  ou  o  que 
toda  a  feira  occupa,  e  de  que  se  pao-a 
certa  porção  ao  senhorio  d'ella. 

—  O  pavimento  do  edifício.  —  «Cer- 
tefico  de  verdade,  que  era  a  gente  a  nos 
ver  tanta  que  foy  forçado  com  paos,  e 
pancadas  arredalos,  porque  as  ruas,  ja- 
nellas,  e  terrados,  tudo  estaua  cheo,  sem 
auer  huma  pessua  que  nos  fizesse  descor- 
tesia, ou  mal  algum :  antes  andauão  to- 
dos pasmados,  e  marauilhados  do  nosso 
modo  de  viuer,  que  o  lingoa,  e  os  Por- 
tugueses hiâo  declarando  aos  principaes.» 
Fr.  Gaspar  de  S.  Bernardino,  Itinerário 
da  índia,  cap.  13. 

—  Área  descoberta,  argamassada,  so- 
bre a  casa,  onde  se  passeia,  e  que  a  co- 
bre em  vez  de  telhado.  — •  «As  casas  de 
denti-o  sara  feytas  dos  mesmos  edifícios 
de  barro,  e  terrados :  he  de  grande  ajun- 
tamento d.e  mouros  Arábios  que  aqui  en- 
cerrem do  deserto  pêra  tratarem  suas 
mercadorias.»  Tenreiro,  Itinerário,  ca- 
pitulo 61. 

—  Foro  das  propriedades  que  se  ven- 
dem em  Coimbra,  e  seu  território,  que  se 
paga  aos  bispos  condes. 

2.)  TERRADO,  A,  adj.  Coberto  com 
tecto  argamassado.  —  Casa  terrada. 


TERRAL,  adj.  2  gen.  De  terra,  oppos- 
to  a  do  mar. 

—  Substantivamente  :  Vento  que  sopra 
da  parte  da  terra, 

TERRANQUIM,  s.  m.  Uma  espécie  de 
embarcaçàu  da  índia. 

TERRÁNTEZ,  adj.  2  gen.  Natural  da 
terra  d'onde  se  diz  que  alguém,  ou  algu- 
ma cousa  é  terrantez. 

—  Uva  terrantez ;  filhote  do  paiz. 
TERRÃO,  s.    m.    Vid.    Torrão,    termo 

mais  em  uso. 

TERRAPLENADO,  part.  pass.  de  Terra- 
plenar. 

TERRAPLENAR,  v.  a.  Encher  algum 
vão,  e  atacal-o  de  terra  para  o  tornar  ma- 
ciço. 

TERRAPLENO,  s.  ?ji.  —  Terrapleno  de 
reparo;  a  superfície  horisontal  do  repa- 
ro, por  onde  andam  os  soldados,  e  labora 
a  artilheria  nas  fortificações. 

—  Qualquer  terra  com  que  se  enche 
algum  vão  para  o  aplanar,  sustendo-a  com 
miu'0,  cerca.  etc. 

TERRÁQUEO,  A,  adj.  Da  terra  como 
planeta.  —  Globo  terráqueo.  —  ''  Outros 
finalmente  entenderão,  que  nas  terras  oc- 
cidentais  se  acabava  o  mundo  terráqueo, 
a  quem  terminavaõ  as  agoas  do  Occeano ; 
como  tiveraõ  para  sy  Pomponio  Mela,  1. 
Pindaro,  2.  e  Plinio,  3.  donde  veyo  a  di- 
zer Virgilio:  4.»  Braz  Luiz  d'Abreu, 
Portugal  medico,  pag.  511,  §  42. 

TERRASSO,  s.  m.\\à.   Terraço. 

TERRASTÃO,  Ã,  ÃA,  ou  AN,  adj.  Ter- 
mo antiquado.  Da  mesma  terra,  nào  es- 
tranho, terrantez. 

TERRATORIO,  *.  m.  Vid.  Território. 

TERREAL,  adj.  2  gen.  Da  terra,  ter- 
restre, mundano. 

—  Paraíso  terreal;  paraíso  em  que  o 
primeiro  homem  foi  coUocado  depois  que 
foi  creado,  e  onde  achava  tudo  quanto 
fosse  necessário  para  si,  sem  ser  mister 
trabalhar. 

TERREAR,  v.  n.  Apparecer  a  terra  des- 
coberta. 

— Haver  claros  em  um  campo  semeado. 

—  Adagio  e  provérbio: 

—  Em  janeiro  põe-te  no  outeiro,  e  se 
vires  verdear  põe-te  a  chorar,  e  se  vi- 
res terrear  põe-te  a  cantar. 

TERREIRO,  s.  th.  Pedaço  de  plano  es- 
paçoso, e  despejado.  —  «A  roda,  pêra  liie 
deixar  terreiro,  o.  que  tudo  fez  a  poder 
de  peitas,  comprando  a  seus  donos  os 
chãos  muito  bem.  E  tendo  tudo  feito  á 
sua  vontade,  provêo  a  fortaleza  de  Capi- 
tão ;  pêra  o  que  elegeo  Diogo  Pereira 
muito  honrado.»  Diogo  de  Couto,  Déca- 
da 4,  liv.  7,  cap.  13. 

Mas  tem  maõ...  j;l  lá  vem  pelo  ferreiro 
Quem  te  alegre  :  Joaõ  prepara  a  faca  ; 
Que  lie  chegado  o  soccon-o  do  rendeiro. 

AJIBADB  DE  JAZESTE,   POESIAS,  pag.   89. 

—  «E  com  isto  lhe   deraò  entrada  por 


712 


TERR 


TERR 


TERR 


outra  que  estava  defronto,  o  chef^íimofl  a 
liiiin  f^ranilc  terreyro  ícyto  cm  quadra 
como  crasta  do  coiiv(3nto,  no  qual  csta- 
vjto  ((uatro  íile\  ra.s  ilc  o.statuas  do  bron- 
ze em  ii^'ura  do  homens  a  modo  do  bcI- 
vapons  com  niaça.s,  o  coroas  do  mesmo, 
poroin  tudo  cozid"  om  ouro.  d  Fernão 
Mondes  l'iuto.  Peregrinações,  cap.  122. 
—  <i  Sobro  hum  toso  que  a  terra  fazia  pa- 
ra a  banda  do  Sul,  estava  feito  iium  ter- 
reyro alto  fociíado  todo  com  nove  ordens 
do  eirados  de  forro  pai'a  o  (piai  se  sobia 
por  i|uatro  entradas.»   Ibidem,  caj).  12tj. 

—  fvogar  onde  os  pastores  se  ajuntam 
a  cantar  o  a  bailar. 

—  Lograr  onde  se  oxercitam  a  tirar  a 
besta,  o  outros  tiros  ao  tito,  ou  alvo.  — 
«EUa  lha  nílo  deu,  antes  levantando-se 
do  estrado  se  i'oeolheu  a  uma  casa,  que 
saia  ao  terreyro,  onde  so  faziam  as  l)a- 
talhas,  se  po/,  a  uma  janolla  sobre  um 
panno  do  seila  a  esperar  os  cavalleiros, 
que  não  tardaram  muito,  armados  das 
próprias  armas,  com  que  estiveram  ante 
cila.»  Francisco  do  Moraes,  Palmeirim 
d'lnglaterra,  cap.  80. —  «Em  quanto  al- 
li  esteve  praticando  com  cila,  chegaram 
ao  terreiro  dez  liomens  de  servi^'o  com 
armas  ás  costas,  o  um  gigante  com  elles, 
quo  as  preseutou  aos  quatro  companhei- 
ros, dizendo.»  Ibidem,  cap.  118.  — «D'a- 
hi  postos  a  uma  ]iartc  do  terreiro,  com 
03  contos  das  lan^^as  no  ehào,  e  cUos  en- 
costados a  ellas,  despediram  uni  escudei- 
ro com  recado  al-rei.»  Ibidem,  cap.  129. 

—  Logar  com  eJiticio  cm  Ijisboa,  onde 
80  leva  o  trigo  a  vender. 

—  Fazer  terreiros  de  ■patacão;  fazer 
grandes  bazotias,  promessas. 

—  Uuitar  e  bailar  de  terreiro;  can- 
tar o  bailar  de  chusma,  todos  ao  mesmo 
tempo. 

—  Tirar  a  terreiro ;  desafiar,  provo- 
car. 

—  Fazer  sair  do  logar  seguro,  o  cer- 
rado a  descoberto. 

—  Fazer  terreiro  ;  logar,  praya,  des- 
pejando o  ([ue  estava  occupado,  afugen- 
tando talvez  o  inimigo. 

—  Ser  terreiro  dn  aburrecimento  de  al- 
gum; ser  o  objecto  publico,  do  geral. 

—  Adjectivamonte  :  ('asas  terreiras ; 
casas  térreas. 

TERREMOTO,  «.  m.  Tremor  de  terra. 
—  «Desta  notaucl  mudani^a  procedeo  cha- 
mar-se  a  Cidade  Babvlonia,  quo  he  o 
mesmo  que  dizer  de  eonfusílo.  A  historia 
Escliolastica  diz,  que  mandou  Deos,  hum 
terremoto  graudissimo,  e  huma  fúria  de 
ventos  tà  fortes,  que  toda  a  derribfirão, 
e  arrazarào.í  Frei  li  aspar  de  8.  Bernar- 
dino, Itinerário  da  índia,  cap.  18. 

—  Figuradamente :  Estrondo,  abalo, 
ruína.  —  «Aqui  foy  o  retinir  das  armas, 
os  gritos,  o  estrondos  de  liuns,  e  outros, 
os  instrumentos  que  se  não  deixavaõ  de 
tocar,  a  artelharia  que  fazia  seu  terre- 
moto, de  sorte  que  tudo  fazia  taõ  grande 


confusaií,  que  parecia  que  toda  a  maqui- 
na do  mundo  se  sovertia.»  Diogo  de  Cou- 
to, Década  <i,  iiv.  2,  cap.  .'). 

TERRENAL,  adj.  2  ijen.  Termo  do  poe- 
sia. 1  >.i  ti-rja. 

TERRENAMENTE,  adv.  (Do  terreno,  o 
o  suffixo  omenteoy.  De  um  modo  terre- 
no, s(!cuadariamente. 

TERRLNHO,   A,  adj.  Terreno. 

—  Substautivaniento :  Vento  que  aopra 
da  terra. 

1.)  TERRENO,  *.  jii.  (Do  latim  terre- 
niuií).  A  terra  jiara  agricultura,  ou  solo 
para  cliticios. 

2.)  TERRENO,  A,  ailj.  Do  terra,  ter- 
restre, mundano. 

Entre  os  Seroa  orgânicos,  qiie  tom&o 
Lugar,  que  a  Lei  na  crciu^íio  lhes  dera, 
Jnda  aos  Coes  não  levanta  a  fronte  altiva 
Humana  Crcatura,  inda  debalde 
Pelo  terreno  alvergue  os  Ceos  fitávão 
Ávidas  vistas,  (|ue  o  Monarcha  buscão. 

J.   A.  VT.   MACEDO,  A  NATUBEZA,  Caut.  1. 

Rio-nic  d'isso  c  d'AthcnB8 : 
uma  causa  ha  tão  91'iiiicnte 
oude  liào-dc  ter  fim  vidente 
todas  as  cousas  terrenctn  : 
nisto  vive  muito  crente, 
não  te  enganes,  isto  sabe. 

A!(T0!«I0  PKH3TK3,  ACTOS,  pag.    18L 

—  «o  coração  aberto,  as  cousas  terre- 
nas derranui  o  affecto,  que  conuinha  re- 
colher, e  dedicar  sO  a  Deos.  Este  he  hum 
torpe  visco  com  que  temos  prezas  as 
asas,  e  derribadas  pêra  naij  poder  voar 
ao  alto.»  Fr.  Bartholomeu  dos  Martyres, 
Compendio  de  espiritual  doutrina,  capi- 
tulo 13. 

—  Ventij  terreno  ;  terreal.  Vid.  Terre- 
nho. 

TERRENTO,  A,  adj.  Que  tem  mistura 
de  terra. 

TERRENTORIO,    ant.  Vid.    Território. 

1.)  TÉRREO,  A,  adj.  (Do  latim  terreus). 
Da  natureza  da  terra. 

—  Terrestre,  terra(iueo.  —  O  térreo 
globo. 

Alma  do  térreo  Globo,  oh  Sol  brilhante, 
Se  teus  raios  os  corpos  onfrariueccm, 
Tu  penetras  os  frutos  saborosos, 
Teu  Calor  salutifcvo  os  sasona  ! 

J.  A.  DK  MACRDO,  A  HATUBEZA,  Cant.  1. 

Tu  não  ignoras,  te  diss'  ou,  que  o  mesmo 
(Juadro,  que  a  Lua  aos  olhos  te  otYercce, 
Ora  que  em  coche  argênteo  as  sombras  corta, 
Tal  delia  te  mostrara  o  íerreo  globo. 


Tempo  vinV,  qu'  os  séculos  não  párão, 
Em  qu'  até  no  Equador  se  extinga  o  fogo 
Qu'  ora  ferve  no  seio  ao  Icrreo  Globo, 
Qual  nos  Tolos  j;\  vês  amoitecido, 
Onde  a  vida  aeabou,  e  a  morte  habita. 

lUGM,  A  NATfKKZA,  caUt.    '2. 

A  portentosa  Náutica!  Descubro 

NcUa  a  prova  maior  do  engenho  humano ! 


Noila  D  laço  communi  dos  Povo»  todos ! 
Fora  estranho  a  si  mesmo  o  tirreo  Globo, 
Ignoto  o  v.iHto  Mar,  c  a  Ti:rra  ignofci, 
8c  a  tal  ponto  de  audácia,  ou  d'-  virtude 
O  humano  corarào  não  «c  cleTira  I 

lOr.H,  TIAOeiI  EXTÁTICA,  Caot.   4. 

—  Lin/ui  térrea,  ou  h'iri$imlal ;  na 
pintura,  a  que  se  imagina  tirada  pela  bu- 
perticie  dos  pés  da  figura. 

—  Côr  térrea;  côr  da  terra. 

—  Cams  térreas ;  íu»  que  uJh)  slo  de 
sobrado,  r(!i:tes  ao  clijlo. 

—  Enletidtr  terreo ;  entendimento  raa- 
toiro. 

TERRESTRE,  adj.  2  gen.  (Do  latim 
lerrrulrigi.  l'ertcncente  á  torra. 

TERRIBEL,  ndj.   2  gen.  Vid.  Terrível. 

TERRIBILIDADE,  n.  f.  Qualidade  do 
que  c  tiii  ivci. 

TERRIBILISSIMO,  A,  adj.  superl.  de 
Terrível.  Mui  terrível. —  O  terribilissi- 
mo  dia  du  juízo. 

TERRICOLA,  .1.  2.  gen.  (Do  latim  ter- 
ra, e  adere  I.  Habitador  da  terra,  pessoa 
que  a  habita. 

—  Pessoa  que  vive  sobre  a  terra. 
TERRICULAMENTO,    s.    m.    Medo,    aa- 

snndjj'aiiii-nto. 

TERRIFICANTE,  yart.  act.  de  Terrifi- 
car.  'ÍU"  pr»;  terror,  que  causa  medo. 

TERRIFICAR,  i-.  a.  ( Do  latim  terrijica- 
re).    ('au-ar    ti-rror,   produzir,  pôr  medo. 

TERRÍFICO,  A,  adj.  Que  produz  ter- 
ror. 

TERRIGENO,  A,  adj.  |E)o  latim  Uni- 
genusi.  Termo  de  poesia,  (icrado  da  ter- 
i-a,  filho  d'elia. 

TERRINA,  a.  /.  V.iso  de  barro,  porce- 
lana ou  prata,  de  f<>rma  redonda,  ou 
oblonga,  que  serve  de  levar  ás  mesas  sopa 
com  caldo. 

TERRIPLENAR,  r.  a.  Vid.  Terraple- 
nar. 

TERRIPLENO.  Vid.  Terrapleno. 

TERRISONO,  A,  adj.   De  som  terrível. 

TERRITORIAL,  adj.  2  gen.  Quo  é  re- 
lativo ao  território.  —  Justiça  territo- 
rial.—  Imposto  territorial. 

—  liarantido  pelo  território.  —  Man- 
datos territoriaes. 

—  ^[ar  territorial  Je  um  paiz;  espa- 
ço limiUido  por  uma  espécie  de  fronteira 
maritima. 

TERRITÓRIO,  s.  m.  (Do  latim  territo- 
rius,  «lo  terra'.  Extensão  de  terra  depen- 
dente do  um  império,  d'uma  provi iicia, 
de  uma  cidade,  de  uma  jiu-isdicçào,  etc. 
—  «  Alòm  destes  Condes,  que  serviaõ  no 
Taco  aos  Reys  Ooilos,  havia  outros  nas 
Cidades  principaes  das  Províncias  que  as 
governavaõ,  e  seus  territórios,  como  ago- 
ra os  Corregedores.»  Sevcrim  de  Faria, 
Noticias  de  Portugal,  Disc.  3,  cap.  25. 

—  O  circuito  a  que  abrange  o  gover- 
no e  jurisdicçào  do  juiz  ou  prelado  terri- 
torial ;  comarca. 

TERRÍVEL,  adj.  2  gen.  (Do  latim  ter- 
ribitis).  Que  produz  terror. 


TERR 


TESA 


TESO 


713 


E  o  terrível  deus  do  Capitólio, 
O  Génio  de  Qiiirino  que  está  u"elle, 
E  deante  do  qual  o  próprio  César, 
César  á  frente  de  hostes  invenciveis. 

QABBETT,  CATÃO,   act.    1,   SC.    5. 


—  Que  se  faz  sentir  fortemente,  fal- 
lando  das  cousas.  —  Vento  terrível.  — 
Tempo  terrível. 

Qaando  os  terríveis  Aquilões  usurpão 

Dos  Ares  estensissimos  o  império, 

Do  triste  Inverno  o  manto  luctuoso 

Se  estende  pelos  Ceos,  e  á  vista  os  rouba. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Cant.  1. 

—  Estranho,  extraordinário. 
TERRIVELMENTE,  adv.    (De   terrível, 

com  o  suffixo    «mente»).    De  um   modo 
terrível. 

— ■  Extremamente,  excessivamente. 

—  Com  terror. 

TERROADA,  s.  /.  Arremesso,  tiro  com 
terrào.  —  «O  qual  esteiro  como  era  es- 
treito profundo,  e  com  ribas  tão  altas  que 
ficava  em  partes  a  terra  sobre  agua  per- 
to de  duas  lanças,  tornáram-se  os  nossos 
abaixo  ao  rio  largo;  porque  como  nâo  sa- 
biam a  terra,  temeram  que  vies.sem  os 
imigos,  e  de  cima  ás  terroadas,  quando 
não  tivessem  outra  cousa,  os  metteriam 
no  fundo,  fazendo  fundamento  de  os  ter 
allí  encerrados,  e  em  ttào  estreito  cerco 
como  elle?  tinham  ElRey  Abedelá.»  Bar- 
ros, Década  2,  liv.  9,  cap.  7. 

TERROR,  s.  m.  (Do  latim  terror).  Medo 
violentJ  que  se  sente,  produzido  de  ma- 
les, ou  perigo  que  ameaça. 


Contra  o  terror  da  Morte  estriba,  atJouto 

Em  que  o  adorem  por  Deos,  —  por  Deus  eterno. 

F.   M.   DO  NASCIMENTO,  OS  MAKTYBES,  1ÍV.    4. 

—  «Mas  por  outra  parte  nào  porey 
também  muyta  culpa  a  quem  me  nào 
der  muvto  credito,  ou  duvidar  do  que  eu 
digo,  porque  realment'3  affii-rao  que  eu 
mesmo  que  vi  tudo  por  meus  olhos,  fico 
muytas  vezes  confuso  quando  imagino 
nas  grandezas  desta  cidade  de  Pequim, 
no  admirável  estado  cõ  que  se  serve  este 
Rey  Gentio,  no  aparato  dos  Chaens  da 
justiça,  e  dos  Anchacys  do  governo,  no 
terror  e  espàto  que  em  todos  causaõ  os 
seus  ministros,  e  na  sumptuosidade  das 
casas  e  templos  dos  seus  Ídolos,  e  de  tu- 
do o  mais  que  ha  nella.»  Ferncão  Mendes 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  114. 


Não  forma  os  Numes  o  terror,  não  forma, 
Mas  quando  toca  o  Ceo,  conhece  o  Eterno 
O  vicio  qu"o  negou  ;  sui-gc  o  remorso, 
Do  erro  a  voz,  e  da  illusào  se  cala. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUKEZA,  Cant.  2. 


Quem  pode  ou\-i-lo.  vé-lo  ao,  c  n'alma 
Nâo  sente  um  religioso  terror  sancto, 

•  VOL.  V.— 90. 


Que  opprime  e  eleva,  humilha  e  exalta  o  ânimo 
Como  o  aspecto  de  um  nume  ? 
GAEKETT,  CAiSo,  act.  1,  SC.  5. 

—  Figuradamente:  Objecto  de  espanto. 

—  Entrar  no  porto  com  terror ;  cau- 
sando-o. 

—  Causar  terror;   produzíl-o. 

TERRORISMO,  s.  m.  O  systema  de  go- 
vernar ou  maquinar  novidades  no  estado 
incutindo  terror. 

TERRORISTA,  s.  2  gen.  Pessoa  que  se- 
gue o  svstema  do  ten-orismo. 

—  Amedrontador. 

—  Homem  que  obriga  com  terrores, 
espantos. 

TERRORIZAR,    v.   a.  Inspirar  terror. 

—  Territicar. 

TERROSO,  A,  aflj.  Térreo,  cheio  de 
terra. 

TERRULENTO,  A,  adj.  Termo  de  poe- 
sia. Terroso,  cheio  de  terra,  de  pó,  de 
lama. 

—  Figuradamente :  Vil,  baixo,  ras- 
teiro. 

TERSÃO.  Vid.  Torsão. 

TERSAROLA,  s.  /.  Género  de  arma  de 
fogo,  arcabuz. 

TER3ISSIM0,  A,  adj.  superl.  de  Terso. 

TERSO,  A,  adj.  (Do  latim  íe)-sus^.  Lim- 
po, lustro.so,  polido.  —  Metal  terso. 

—  Estylo  terso  ;  estrio  puro,  corre- 
cto, sem  affectaçào,  limado. 

—  Estylo  terso  e  valente.  —  «A  phra- 
se  sempre-cheia,  elevada,  e  culta;  valen- 
te o  stylo,  e  terso  ;  bem-guardado  ás  pes- 
soas, e  aos  lugares,  o  deciíro;  e  (o  qae 
bem  assinaladamente  compete  conside- 
rar) erudição  vastíssima  e  recôndita,  não 
colhida  em  óbvios  florilégios,  antes  be- 
bida em  meditada,  variissima  leitura.» 
Francisco  Manoel  do  Nascimento,  Os 
Martyres,  nota  ao  liv.  10. 

TERSO.  Víd.  Terçol. 

TERSOL,  s.  m.  Termo  antiquado.  Toa- 
lha do  altar,  em  que  o  sacerdote  enxuga 
03  dedos  ao  lavabo. 

TERZO,  s.  m.  Vid.   Terso. 

TÊS.  Vid.  Tez. 

TESAMENTE,  adv.  (De  teso,   e  o  suf- 
fixo   «mente»)- 
xar. 

l.j  TESÃO,  í. 
so,  e  estirado. 

—  Tesão  dM 
temente  forte. 

—  Pervicacia 


Rijamente,  sem  afrou- 
A  força  do  corpo  te- 
;  da  que    é    constan- 


rande  constância. 

—  Tesão  do  monte;  ingremidade  diffi- 
cil  de  subir-se. 

—  Figuradamente  :  O  tesão  da  agua. 

—  O  tesão  das  pernas;  a  força  d'el- 
las. 

—  Diz-se  ordinariamente  da  tesura  de 
uma  parte  obscena  do  homem. 

2. 1  TESÃO,  s.  ii).  Uma  rede  de  pesca 
vulgar. 

TESAR,  i'.  «.  Termo  de  marinha.  En- 
tesar ou  atesar. 


—  Tesar  os  ovens,  ou  estaes;  é  estirar, 
fazer  tesos  os  cabos,  ou  cordas. 

TESCÃO,  adj.  Termo  popular.  Vid. 
Vadio. 

TESIDÃO,  s.  f.  Caracter  do  que  é 
teso. 

1.)  TESO,  A,  adj.  Estirado,  nào  suxo, 
não  bambo,  não  frouxo. 

—  Com  força,  ímpeto.  —  «Ao  qual  lu- 
gar os  moradores  chamaõ  Huaba,  e  per 
ellas  corre  tão  teso,  e  assi  está  cortada 
a  pique  a  penedia  sobre  a  terra  onde  el- 
le  cae  com  aquella  furía,  que  podem  pas- 
sar per  baixo  a  pê  enxuto  ao  longo  des- 
ta agrura  da  penedia.»  Barros,  Década 
1,  liv.  3,  cap.  3. 

—  O  chão  teso ;  o  chão  duro. 

—  O  mais  teso  do  exercito;  a  tropa 
mais  forte,  animosa,  valente. 

—  Áspero. 

—  Homem  teso ;  homem  que  não  se 
deixa  dobrar  facilmente. 

—  Immovel. 

—  Inteiriçado. 

—  Monte  teso ;  monte  alcantilado,  du- 
ro de  subir,  íngreme. 

—  Tornar  teso  ;  tornar  depressa. 

—  Ter  teso  em  alguma  cousa;  snster- 
se  com  vigor. 

—  O  chão  teso;   o  chão  duro. 

—  Figuradamente  :  Vento  teso ;  vento 
rijo,  forte. 

—  Olhar  teso ;  fitando  a  vista  com  o 
rosto  levantado;  encarar  sem  pejo  nem 
vergonha. 

—  Testo,  constante,  não  tímido  em  di- 
zer o  seu  parecer,  em  resistir  a  preten- 
ções,  a  injurias,  etc. 

—  A  agua  corria  tesa ;  a  agua  corria 
com  ímpeto. 

—  Chuva  tesa;  chuva  forte,  rija. 

—  Forte,  robusto,  valente. 

—  Com  grande  ímpeto. 

—  Adverbialmente :  Rijamente. 

—  Ter  teso  ;  suster,  levantar  com  to- 
da a  força,  estirando  os  músculos. 

—  Estar,  jicar  teso ;  díz-se  no  jogo  de 
parar  d'aquelle  que,  depois  de  ter  jogado 
e  perdido  tudo,  fica  sem  dinheiro  nenhum 
do  que  trazia. 

2.)  TESO,  s.  m.  O  alto  monte  íngre- 
me, e  difficil  de  subir.  —  «Mas  não  an- 
daram muito,  quando  contra  a  banda  es- 
querda, onde  estavam  umas  arvores  al- 
tas, virão  sobre  um  teso  um  castello  for- 
te e  bem  obrado  ;  ao  pé  delle  em  parte, 
que  os  olhos  não  podiam  descobrir,  ouvi- 
ram gram  ruído  de  armas,  com  tamanho 
estrondo,  que  por  todo,  ou  a  mór  parte 
daquelle  valle  retombava.B  Francisco  de 
Jloracs,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  75. 
—  ffC)  qual  pela  maneira  dos  outros,  co- 
mo se  sentio  ferido,  também  fez  volta 
per  hum  teso  de  huma  rua  assima,  que 
os  nossos  não  quizeram  seguir,  porque 
tinham  o  sentido  na  ponte  que  lhe  Af- 
fonso  d'Alboquerque  mandou  que  tomas- 
sem.» Barros,  Década  2,  liv.  6,  cap.  4. 


714 


TEST 


TEST 


TEST 


—  Ter  algum  negocio  em  teso ;  hus- 
tol-o  firmemente,  sem  afrouxar  ou  ce- 
der. 

— •  Com  as  lanças  em  teso ;  com  ellas 
tesas.  ■< 

TESOURA,  s.  /.  Instrumento  de  cortar 
panno,  couro,  mctaos;  ó  do  duas  peças 
unidas  por  um  eixo,  afiadas,  e  usa-so  d'el- 
las  aportando  uma  contra  a  outra. 


V('dc9-me  aqui  som  a.  Moura, 
Trosfiiiiado  snm  teKoura, 
Vcdoa-me  aqui  snm  cavalln, 
Sem  solla,  som  manpodoura, 
E  som  gallinha  nem  guUo. 

OIL  VICKNTK,    FAnÇAS. 


—  Peça  de  dous  paus  em  aspa,  cm 
que  se  serra  a  madeira  antes  de  se  ra- 
char oní  lenha;  c  também  é  de  carpinte- 
ria,  e  sobro  ellas  se  sustém  a  cumieira 
dos  odificios. 

—  Nas  avos,  dizem-se  as  primeiras  pen- 
nas  da  ponta  da  aza,  menores  que  as  pen- 
nas  reaes. 

—  Termo  de  cavallaria.  Fazer  tesou- 
ra; diz-se  do  cavallo  mal  emboccado,  quo 
dil  com  a  cabeça  para  uma  o  outra  parte. 

—  Tesouras  de  couro  do  cocha;  ser- 
vem de  su-ttentar  dotraz  o  balanço. 

TESOURADA,  .t.  /.  ('mlpc  com  tesoura. 

TESOUREIRO,  .-.')/i.  Vil.  Thesoureiro. 

TESOURO,  .?.  m.  Vid.  Thesouro.  —  « E 
elle  Juntou  per  esta  guisa  ante  dhuum 
anno  naquellcs  castellos  tam  grande  te- 
souro, que  era  estranha  cousa  de  veer, 
e  este  foi  o  começo  do  muy  gram  tesou- 
ro que  clRei  Dom  Pedro  depois  tove  jun- 
to, segundo  adcante  contaremos.»  Fer- 
não Lopes,  Chronica  de  D.  Pedro  I,  ca- 
pitulo \'ò. 

TESOURINHA,  s.  ./'.  Diminutivo  de  Te- 
soura. 

—  Figuradamente:  Fazer  tesourinha 
com  os  dedos;  porfiar,  ateimar,  não  ce- 
der da  porfia  nem  no  ultimo  extremo. 

—  Tesourinha  das  vides.  Vid.  Elo. 
TESSERA,  í.  /.   Peça    de    osso  ou  de 

marfim  como  os  dados,  com  pintura  nas 
faces;  d'ellas  usavam  os  romanos  na  guer- 
ra para  senha,  ou  eomo  de  boletins  para 
o  pagamento  de  soldo  e  viveres. 

TESSUM,  s.  H).  Tela  repassada  do  ou- 
ro ou  prata.  Vid.  Tissii,  ortiiographia 
mais  plausível. 

TESTA,  s.  /.  A  parte  do  rosto  desde  as 
BobranceJhas  atò  il  raiz  do  cabello.  —  «E 
quando  chegou  a  ver  o  que  tanto  dese- 
java, pondo  os  olhos  com  attenção  no 
Apostolo,  vio  quo  tinlia  humas  letras  de 
ouro  na  testa  quo  diziaõ,  PAVLO  PRE- 
GADOR DE  OMRISTO,  o  quo  visto, 
com  o  mais  que  ouviria  ao  Santo,  foy  di- 
vinamente alumiada,  e  prostrãdosc  aos 
pós  do  Apostolo,  lhe  pedio  a  bautizasse, 
e  assi  ella,  como  seu  marido  Probo,  e  a 
gente  do  sua  casa  c  outros  muitos  da- 
quella  terra  foraõ  bautizados.»  Mouarchia 


Lusitana,  liv.  .5,  cap.  7.  —  «E  tornando 
o  Nuno  (Joeliio  a  replicar,  que  llic  rogava 
(pie  tomasse  tmlo  cm  paciência,  porque 
assi  o  mãda^■a  Deo»  cm  sua  santa  ley,  o 
ormitSo  pondo  a  mão  na  testa  a  modo  de 
espanto,  e  bulindo  cinco  ou  sois  vezes 
com  a  cabeça,  sorrindose  do  que  lhe  ti- 
nha ouvido,  lho  respondeo.  Certo  que 
agora  vejo  o  que  nunca  cuidey  que  visse 
nem  ouvisse,  maldade  por  natureza,  c 
virtude  fingida,  (|uc  iio  furtar  e  pi-cgar. » 
Fernão  Mondes  Pinto,  Peregrinações,  ca- 
pitulo 77. 

Ahi  jA  vem,  já  rac  sua  a  testa, 
não  sei  ao  mo.  ouvio  aqui ; 
dou  a  vida  por  mamada 
c  csborracliada. 

ANTÓNIO  PBI8TB8,  AUTOS,  pftg.   419. 

—  «Entramos  nelle,  e  a  primeira  cousa 
que  vi,  foy  a  figura  de  hum  Elephante, 
posta  em  hum  altar,  com  trcz  olhos  de 
prata,  dous  em  seu  lugar,  e  o  outro  no 
meyo  da  testa.  Perguntey  a  causa  de 
adorarem  hum  animal  tam  feo,  e  nam  ao 
Deos  que  o  criara?»  Fr.  (Jaspar  de  S. 
Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap.  12. 

—  Figuradamente :  Cabeça. 

—  Fazer  testa;  tazer  frente. 

— -Testa  coroada;  um  rei,  um  soberano. 

—  Fazer  testa  ao  inimigo;  resistir-lhc 
de  frente  a  frente. 

—  ^l  testa  da  ala,  do  exercito;  na  fren- 
te d'elle. 

—  Testa  'la  vela;  o  espaço  comprehen- 
dido  entre  o  impunidouro  das  velas  e  o 
punho  das  escotas  ou  amuras,  no  qual  se 
fixam  as  bolinas,  sergideiras,  apagape- 
noes,  e  garrunchos. 

—  Plur.  Nas  galeotas,  os  vãos  entre 
banco  e  banco,  onde  se  faziam  beliches, 
ou  ranchos  dos  criados  d'el-rci.  Vid.  Forte. 

TESTACEO,  A,  adj.  (Do  latim  testa- 
ceus).  Termo  de  liistoria  natural.  Que  tem 
conchas  como  as  ostras,  bribigòes,  lagos- 
tas, etc.  —  Os  animaes  testaceos. 

—  Substantivamente  :  0.<  testaceos  ; 
03  mollusco-;  cujo  corpo  é  coberto  de  um 
involuero  soliilo  de  uma  ou  mais  peças. 

TESTAÇOM,  s.  7)i.  Termo  antiquado. 
Pôr  testações ;  fazer  sequestro,  embar- 
gar, talvez  03  scUos  nas  portas  açambar- 
cadas; coima,  ou  communicação  de  pagar 
encontros. 

TESTAÇUDO,  A,  adj.  Cabeçudo,  con- 
tumaz. 

TESTADA,  s.  /.  O  espaço  de  estrada, 
rua,  onde  terunna,  (<  que  acompanha  o 
longor  da  casa,  ou  quinta,  ou  tapigo. 

—  Figuradamente :  Alimpe  cada  qual 
sua  testada ;  emende  cada  qual  os  seus 
defeitos. 

TESTADOR,  A,  .•;.  Pessoa  que  fez  tes- 
tamento. —  «Que  naõ  fossem  nomeadas 
pelo  testador,  se  gastasse  tudo  nestes  ca- 
samentos. E  assim  se  poderiaõ  ordenar 
outras  cousas  somolhautes,  para  quo  este 


intento  pudc«8C  ter  effeito.i  Sererim  de 
Faria,  Noticias  de  Portugal,  Disc.  1, 
cap.  ti. 

TESTAMENTÁRIA,  *.  /.  O  officio  de 
testamenteiro. 

—  O  que  pertence  ao»  bons  do  {alle- 
cido. 

—  Dar  conta  da  testamentária;  dar 
conta  da  admiiústraç^o  dos  bens  de  al- 
gum testador. 

TESTAMENTARIO,  A,  adj.  (Do  latim 
testameutarius,  do  t^istamentum).  Qut  diz 
respeito  ao  testamiMito. 

—  Disposição  testamentária ;  disposi- 
çíío  contida  n'um  testamento. 

—  Herdeiro  testamentario ;  herdeiro 
por  testamento. 

—  Tutor  testamentario;  tutor  dado 
em  testamento;  tutor  que  nilo  ó  legitimo, 
nem  dado  jiclo  niatri-trado. 

1.)  TESTAMENTEIRO,  A,  *.  Pessoa  en- 
carregada pelo  te>tador  da  execução  do 
testamento.  — «Enformad'i  per  Leterados 
dos  Nossos  Regnos,  achamos  per  Direito, 
que  03  Testamenteiros,  Tetores,  e  Cura- 
dores dos  meores  podem  comprar  as  cou- 
sas dos  finados,  e  dos  meores,  cujos  Tes- 
tamenteiros, e  Tetores,  e  Curadores  fo- 
rem, com  tanto  que  aa  comprem  publica- 
mente, andando  em  pergom  publico,  ces- 
sante toda  arte,  o  qualquer  outro  engano,  t 
Ord.  Affon.,  liv.  4,  tit.  41.  —  «E  se  o  tes- 
tamenteiro ouver  alguum  embargo  lidomo 
necessário  per  que  nom  possa  coniprir  a 
voontade  do  dito  testador  no  tempo  do  dito 
anno,  ou  naquelle  que  polo  testador  for 
assinado,  coum  dito  he,  soprique  a  nóe  so- 
bre ello,  e  ni)3  lhe  proveeromos,  segundo 
acharmos  per  direito  que  se  bem  pode,  e 
deve  fazer  com  serviço  de  DEUS.  e  prol 
da  alma  do  finado.»  Ibidem,  tit.  104,  §  3. 

—  Os  dativos  são  testamenteiros  no- 
meados pelo  juiz  A  testamentária  deserta 
por  ser  o  fallecido  o  testamenteiro,  ou 
lançado  <lo  enearíro  por  dispensado. 

2.)  TESTAMENTEIRO,  A,  adj.  —  Tutor 
testamenteiro ;  tutor  testamentario. 

TESTAMENTO,  s.  m.  ^Do  latira  t«tta- 
mndum.  de  testari).  Acto  authentico  pelo 
qual  se  declaram  as  ultimas  vontades.  — 
«O  terceiro  caso  he,  se  o  Padre,  ou  Madre 
deffendeo,  ou  embargou  a  seu  filho,  ou 
filha,  que  nom  faça  testamento  livremen- 
te segundo  sua  verdadeira  vontade,  que- 
rendo esse  filho,  ou  filha  fazer  seu.»  Ord. 
Affon.,  liv.  4,  tit.  UK).  §  2.— «O  qual 
hoje  em  dia  he  neste  império  da  China, 
na  Ilha  do  Japaõ  na  (.'hauchenchina,  em 
Camboja,  e  em  Siaõ,  do  qual  nestas  ter- 
ras eu  vi  muy  tas  casas;  e  declarando  no 
seu  testamento  que  era  esta  sua  ultima 
vontade  a  l\aynha  sua  mãy,  quo  naquel- 
le tempo,  era  viuva,  e  de  idade  de  cin- 
coenta  annos,  o  não  consentio.  dizendo 
que  já  que  seu  lilho  qu^-ria  morrer  na  Re- 
ligião que  tinha  pri>fe,-:sado,  e  deyx.ir  o 
Reyno  scui  legitimo  hcrdeyro,  ella  que- 
ria  dar   remédio   a  este  dano,  e  logo  se 


TEST 


TEST 


TEST 


715 


casou  com  hum  seu  sacerdote  por  nome 
Silau,  de  idade  de  vinte  seis  annos,  e  o 
fos  a  pejar  de  niuytos  jurar  por  Rey.» 
Fernào  Mendes  Pinto,  Peregrinações, 
cap.  92. 

Abramol-o,  e  vêr-se-ha 
se  fez  testamento  ou  uào, 
e  tomarão 
para  o  dó. 

A!<•To^^o  PBE3TES,  ACTOS,  pag.  28Õ. 

—  «Quem  naõ  ve  que  tam  bem  era 
effeito  do  mesmo  licor  da  planta  de  Noe, 
dispôs  esta  verba  em  testamento,  o  qual 
se  naõ  havia  de  abrir,  senam  despois 
delle  morto"?  Mas  em  fim  a  agua  apaga  o 
fogo,  e  o  vinho  a  razão  (disse  S.  Basilioj : 
Quem  admúdum  aqua  contraria  est  igni, 
sic  immodestia  vini  rationem  extinguit.o 
Padre  Manoel  Bernardes,  Floresta,  pag. 
12. 

—  Testamento  militar;  testamento  fei- 
to na  guerra,  sem  as  formalidades  usadas 
nos  outros  testamentos. 

—  Testamento  de  morte;  escripto  ou 
discurso  que  attesta  os  últimos  sentimen- 
tos de  uma  pessoa. 

—  O  Velho  TestEimento  ;  os  livros  sa- 
grados que  precederam  o  nascimento  de 
Jesus  Christo.  —  oMas  em  seu  lugar  vsào 
03  Hebreos  do  Testamento  Velho,  e  Ley 
que  Deos  deu  a  Muyses,  inda  que  muyta 
parte  delia  entemlida,  como  elles  querem, 
e  uào  como  deuem.»  Fr.  (iaspar  de  S. 
Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap.  12. 

—  O  Xovo  Testamento;  os  1í%tos  sagra- 
dos posteriores  ao  nascimento  de  Jesus 
Chi-isto. 

—  Morrer  com  testamento ;  morrer  dei- 
xando testamento.  —  «E  no  caso  que  o 
dito  finado  morresse  com  testamento,  ou 
com  alguma  outra  postumeira  voontade. 
Mandamos  que  possa  leixar  esses  bens 
assi  comprados  a  quem  lhe  aprouver,  com 
tanto  que  os  nom  leixe  a  cada  huma  das 
pessoas  defesas,  segundo  suso  avemos  dito 
e  declarado.»  Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit.  48, 
§3. 

—  Testamento  olographo;  é  o  que  o 
testador  tem  escripto  todo  por  sua  pró- 
pria màO;  e  assignado. 

—  Testamento  nuncupativo  ;  testamento 
feito  de  palavra,  de  viva  voz. 

—  Cartas  de  doações  e  títulos  authen- 
ticos,  como  testemunho  das  vontades  dos 
pactuantes. 

—  Testamentos  eram  as  casas  religio- 
sas, solares,  e  casaes  fundados  por  fidal- 
gos e  senhores,  de  que  os  herdeiros  e  suc- 
cessores  tinham  algum  emolumento,  ou  o 
total  das  rendas,  ou  pitanças,  cavallarias, 
pousadas,  casamentos,  etc,  que  lhes  vi- 
nham por  avoengo.  Vid.  Herdeiros,  e  Na- 
luraes. 

—  Adágios  e  provérbios: 

—  Se  queres  testamento,  faze-o,  es- 
tando são. 


—  Boa  mesa,  mau  testamento. 
TESTÃO,    s.    m.    Vid.    Tostão,    termo 
mais  em  uso. 

do  quinze  testões  tirar 
quautas,  Atfouào  ?  dezoito  ? 
aqui  é  Tasco  co'o  folar ! 
era  dezoito,  e  tomar  oito 
e  dez  serra  o  biscoito. 


ASIONIO  PBESIES,  AUTOS,  pEg 


359. 


TESTAR,  V.  a.  Declarar  por  acto  o  que 
se  quer  que  seja  executado  depois  da 
morte.  —  «Apraz,  e  cõvem  à  voluntária 
serenidade  de  nossa  gloria  de  vos  dar- 
mos, e  testarmos  duas  partes  da  Villa 
de  Alvalat,  e  a  serra  do  mesmo  Alvalat, 
ou  atè  onde  parte  com  a  fonte  dourada, 
ou  aiuda  ametade  da  Pedrulha.»  Monar- 
chia  Lusitana,  liv.  7,  cap.  21. 

— •  Termo  antiquado.  Attestar,  encher 
algum  vaso. 

—  Dispor  em  testamento. 

f  TESTEFICAR,  v.  a.  Vid.  Testificar. 
—  «Ha  cabeça  de  seu  reyno  se  chama  ho 
gram  Samarcam,  que  nos  Mappas  se  cha- 
ma cabeça  de  Tartaria :  estes  sam  conta- 
dos aatre  os  Scythas,  como  testefica  Jo- 
sepho  no  livro  primeiro  das  antiguidades, 
os  quaes  segundo  elle  descendem  de  Ja- 
pha  filho  de  Xoe  pur  Magog.»  Fr.  (jas- 
par  da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da  Chi- 
na, cap.  4. 

TESTEIRA,  s.  /.  A  parte  dianteira. 

—  Armadura  da  testa  dos  cavalios  aco- 
bertados. 

—  Testeiras  da  serra.  Vid.  Testicos. 

—  Testeira  da  mesa;  as  peças  em  que 
se  pegam  as  ilhargas,  mais  curta  que  el- 
las;  e  do  mesmo  modo  as  testeiras  dos 
caixões. 

—  Testadas  de  terras  collimi tares. 
TESTEIRO,  s.  m.  Termo  antiquado.  O 

mesmo  que  testeira,  por  testada.  Vid. 
Testeira. 

TESTEMOIO,  ou  TESTEMOYO,  ou  TES- 
TEMONIO,  s.  y/i.  Termo  antiquado.  Tes- 
temunho, documento. 

TESTEMUNHA,  s.  /,  Pessoa  que  dá  tes- 
temunho d'alguma  cousa.  A  testemunha 
jura  perante  a  parte  adversa  do  que  a 
dá,  produz  ou  nomeia,  que  dirá  a  verda- 
de dos  factos,  usos  e  costumes,  ou  esty- 
los,  e  retirada  dá  o  seu  testemunho  em 
segredo  ao  juiz,  e  ao  escrivão,  que  o  es- 
creve, excepto  nos  casos  de  acareação. 
Modernamente  dá  o  seu  testemunho  em 
audiência  pitblica,  em  presença  da  par- 
te, etc.  —  «Testemunhas,  que  a  esto  pre- 
sentes forom  Vicente  Esteves,  e  Francis- 
co Annes,  e  Esteve  Annes  Tabelliàes,  e 
Joham  Gordo  Almoxarife  do  Ifante,  e 
Martim  Paes  Juiz  da  dita  Cidade,  e  Ctou- 
çalo  Nogueira  Cavalleiro,  e  Joham  Du- 
raães,  e  íiíartim  Pires  Alvarinho,  e  Vas- 
co Gil,  Miguel  e  Joham  Vicente,  e  Go- 
mes de  Freitas,  e  Estevom  de  Freitas,  e 
outros  muitos.»  Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit. 
õ,  §  12.  —  aPero  se  os  accusadores  mos- 


trarem perante  as  Justiças  da  terra,  hu 
essas  accusaçoòes  forem  feitas,  que  nom 
podem  seguir  essas  accusaçoòes,  por  pro- 
veza  que  ham,  se  desto  as  Justiças  fo- 
rem certas,  e  jurarem  esses  accusadores, 
que  nom  fezerom  essas  accusaçoòes  ma- 
liciosamente, digam-lhes  os  nomes  das 
testemimhas,  per  que  entenderem  que  se 
provaróm  essas  accusaçoòes,  e  entom  nom 
sejam  presos,  nem  lhes  façam  alguimi 
mal  por  esta  razom ;  e  os  Concelhos  pa- 
guem essas  custas,  como  dito  he.»  Idem, 
liv.  õ,  tit.  30,  §  5.  —  «E  assi  ferido  es- 
tive no  muro  sem  nunca  me  ir  á  pousa- 
da, alli  me  curaram,  e  fiquei  até  os  Mou- 
ros alevantarem  o  cerco.  E  além  dos  que 
nomeei,  será  boa  testemunha  Luiz  da 
Silveira,  que  nos  vio  neste  auto.»  Diogo 
de  Couto,  Década  4,  liv.  6,  cap.  7. 

—  Figiu-adamente :  Cousa  que  serve 
de  prova  de  algum  facto. 

—  Testemunha  de  vista;  testemunha 
ocular,  que  presenciou  o  facto.  —  a  E 
Christouão  da  Costa  se  dâ  por  testemu- 
nha de  vista  do  tal  ofFerecimento.  Fr. 
loào  de  S.  Geminiano,  e  Eliano  nam 
acabão  de  encarecer  sua  continência,  e 
como  aborrecem  o  adultério,  e  que  ja 
mais  tem  coyto  que  com  huma  só  fêmea, 
e  isto  em  parte  que  não  possa  ser  visto 
de  algum  viuente.»  Fr.  Gaspar  de  S. 
Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap.  lõ. 

—  Tirar  testemunhas ;  inquiril-as. 

—  Não  vale  testemunha ;  a  consciên- 
cia não  é  testemunha   que  valha  credito. 

—  Duas  pedras  que  se  fixam  ou  en- 
terram de  um  lado  e  outro  dos  marcos, 
e  talvez  duas  arvores,  que  assim  mesmo 
estão,  e  teem  no  meio  a  arvore  testemu- 
nha, marco  ou  divisão. 

—  Toma-se  também  na  forma  mascu- 
lina. 

TESTEMUNHADO,  j^art.  jmss.  de  Tes- 
temunhar. Affirmado  por  testemunhas, 
assignado  e  autheuticado  com  ellas.  — 
Escriptura  testemunhada.  —  Casamento 
testemunhado.  —  «  Que  em  quanto  elle 
naõ  praticasse  com  a  própria  pessoa  de 
Coje  Biquij  pêro  que  recados  lhe  fossem 
dados  de  sua  parte  testemunhados  per 
aquelle  moço  que  ali  estaua,  naõ  os  auia 
por  seus.»  Barros,  Década  1,  liv.  7,  ca- 
pitulo 9. 

TESTEMUNHADOR,  A,  adj.  Que  dá  tes- 
temunho, que  comprova,  que  afiirma. 

TESTEMUNHAR,  v.  a.  Testificar,  di- 
zer como  testemunha  d'aquillo  que  diz. 
—  «E  por  testemunhar  fitlsamente,  e  em 
tal  caso,  foy  por  justiça  degolado,  e  es- 
quartejado na  praça  de  Santarém.  E  ao 
dito  dom  Aluaro  fez  el  Rey  muyta  mer- 
cê, como  por  sua  innocencia  merecia,  e 
elle  fora  de  moço  criado  dei  Rev.»  Gar- 
cia de  Rezende,  Chronica  de  D.  João  II, 
cap.  63. 

—  Figuradamente:  Attestar,  fallando 
de  cousas  insensíveis.  —  As  feridas  tes- 
temimham  o  serviço  militar. 


716 


TEST 


TEST 


TETA 


TESTEMUNHAVEL,  adj.  2  ynu.  Quo  dá 
tcstuiiiiiulii>,  que  (iá  i'ó. 

—  Diz-.Ho  (lo  qualquer  carta   autlienti- 

Ca  lio   llÍsp()tíÍ(,'ÍÍO    )H!^'Í.l. 

—  Carta  testeinuuhavel  d')  ai/ç/ruvo, 
ou  appellaiiilo ;  ò  oh|>ccÍo  do  atteata(;So, 
que  dá  o  oáoriv.lo  quo  eacrcvo  poraiitis  •> 
juia  de  quo  ao  .'i^íf^r.iva,  do  como  do  fautu 
80  at;jírav<iu,  ou  iippollou  d'cllo,  o  o  juiz 
o  uao  ,'iiliiilltiu. 

TESTEMUNHO,  «.  m.  (Do  latim  tesíL- 
moniuia).  \  ik-po.si<,'ão  da  to.stomuulia. 
—  aCorro.spomle  a  tudo  o  mais  o  teste- 
munho (loHto  Concilio,  quo  dis  manda- 
rão 03  Tadros  de  Africa,  o  Urioiite,  que 
saõ  oa  dous  lumes  da  Jf^reja  Santo  Apos- 
tinlio,  o  Saõ  Jorouviiio,  constituiyocns 
contra  os  erros  de  Prisciliano  por  mão 
do  hum  venerável  Sacerdote.»  Monarchia 
Lusitana,  liv.  6,  cap.  27.  —  «Uostas 
grandezas  quo  so  achào  em  cidados  par- 
ticulares deste  imiiorio  da  China,  so  pô- 
de bom  coUif^ir  qual  será  a  f^rridoza  del- 
ia todo  junto,  mas  para  quo  ella  tique 
inda  mais  clara,  não  deixarey  de  dizer 
(ao  o  meu  testemunho  he  dipno  do  fé) 
quo  nos  vinte  e  hum  annos  que  durarão 
os  meus  infortúnios,  cm  que  por  vários 
accidentes  do  trabalhos  que  me  socce- 
dião.»  Fornãi)  ^lêndea  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  'J9.  —  «Aqui  como  diz  Da- 
niel foy  a  onde  os  três  moços  Sidrach, 
Misa,h,  o  Abdonago  forão  metidos  na  for- 
nalha por  mandado  de  Nabiichdonosor,  e 
o  lago  dos  Leões  em  que  Daniel  Propho- 
ta  foy  lançado.  O  testemunho  do  Sãcta 
Susana.»  Fr.  (raspar  de  S.  Bernardino, 
Itinerário  da  índia,   cap.   18. 

—  Levantar,  asnacar  testemunho  ;  im- 
putar, o  attribuir  falsamente  alguma  ac- 
ção má  a  alguém  ;  calumniar. 

—  Figuradamoute:  Fé,  prova.  —  «E 
eu  Aôbuso  Romaea  Tabeliiam  de  suso  di- 
to, a  rogo  e  a  mandado  do  dito  Conce- 
lho, este  Estormento  com  minha  maaõ 
própria  eseropvi,  o  mou  signal  hy  puge 
em  testemunho  «lo  verdade,  que  tal  he.» 
Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit.  õ,  §  12. 

Testemunhos, 
Sii  porque  não  voiu  á  luz 
nossas  cruzes,  nossos  cunhos. 

À.NT0NI0  PBESItlS,  AUTOS,  pag.   81. 

Muna,  nào  lho  levanteis 

testcmiíiiho  assi  tào  féro, 
que  (!U  não  quero. 
IBIDEM,  pag.  205. 

—  «Quem  conhoceo  o  poder  da  diuina 
justiça?  Se  apurardes  Senhor  as  culpas, 
quem  aturara  V  e  outi*os  testemunhos  da 
iufalliucl  verdade  do  castigo,  e  juizo, 
quo  Dcos  tara  sobro  os  pecadores.»  Fr. 
Bartholomeu  dos  Martyres,  Compendio 
de  espiritual  doutrina,  cap.  13. 

—  CoiiSil  que   la/,  te. 

—  Não  vaUr  testemunho.  Vid.  Teste- 
munha. 


—  Dar  testemunho  ;  tcatomunhar.  — 
«Eu  não  te  nogo,  Albayzar,  ser  mui  oh- 
forçado  cavalleirij,  tpie  lhe  vi  fazer  tíiC« 
obras,  que  dão  testemunho  iTisso.  Porém 
tão  pouco  te  confea.so  quo  o  tticudo  de 
Miraguarda  clle  o  ganhasse  por  força, 
porque  nem  eu  o  aci,  ueni  creio  i«so  de 
quem  o  guardava,  o  parecer  o  formo.iura 
da  senhora  Targiana  dino  é  do  mui  gran- 
des obras.»  Francisco  de  Moraes,  Palmei- 
rim d'Inglaterra,  cap.  80.  —  «liemlitto, 
e  louvado  soja  aquolle  Sen'ior,  quo  com 
verdade  so  deve  conhecer  do  todo-i  jior 
scuhor,  de  cujas  obraa  santas  feytaa  })or 
.suas  <livina8  mãos  nos  ostaõ  dando  teste- 
munho a  claridade  do  dia,  e  a  pintura 
na  noyte  c3  todas  as  mais  magnifieenciaH 
da  sua  misericórdia  obradas  em  him.» 
Fernão  llondca  Pinto,  Peregrinações, 
cap.  19;').  —  «Esto  ao  presente  he  o  que 
diuide  a  Pérsia  ila  Arábia  deserta,  c  por 
còaeguinte  Romus  he  a  vitima  Cidade; 
ao  menos  por  esta  parte,  pertencente  a 
Coroa  Persiana.  Verdade  seja,  que  anti- 
guamente,  não  foy  esta  Monarchia  tani 
limitada,  como  a  vemos  agora,  poia  Ar- 
taxerses,  Alexandre  Magno,  Dário,  o  ou- 
tros tambom  erão  senhores  dos  liabylo- 
nios,  como  dão  testemunho,  as  historias 
diuinas  e  humanas.»  Frei  <!aspar  de  S. 
Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap.  16. 

—  Adagio  k  proveuuio  : 

—  De  arruidos  guartc,  nâo  aeráa  tes- 
temunho, nem  jiarte. 

—  Syn.  :  Testemunho  de  amizade,  e 
mostras  de  amizade. 

Não  pôde  existir  amizade  sem  que  se 
manifeate  exteriormente.  Se  esta  mani- 
festação nào  passa  de  maneiras  agradá- 
veis, palavras  obsequiosas  e  lisonjeiras, 
ou  acolhimento  benévolo,  etc.,  damos- 
Ihe  o  nome  de  mostras  de  amizade.  Se 
por  ventura  se  attender  a  bons  officios,  a 
serviços  úteis,  a  conselhos  acertados,  a 
auxilio  e  soccorro  na  necessidade  ou  na 
desgraça,    são   testemunhos   de  amizade. 

N'um  amigo  tingido  póde-so  achar  tal- 
vez mostras  de  amizade,  que  realmente 
não  existe :  aó  o  veriladeiro  amigo  nos 
dará  testemimhos  de  que  c  sincera  sua 
amizade. 

—  SvN. :  Testemunhos 
demoitstra(;ões  de  amiz<ide. 
mo  vocábulo. 

TESTICOS,  s.  Vi.  pitu: 
da  serra  do  carpinieiroi  sào  aa  duas  tes- 
teiras, ou  cabeceiras  ondo  so  oncaixii  o 
alfeisar,  e  se  prende  a  folha,  e  o  caLi'o. 

f  TESTICULAR,  adj.  2  <jeii.  Tei-mo  de 
anatomia.  Que  perteuce  aoa  testículos. — 
.1  l/ols<i  testicular. 

TESTÍCULO,  .V.  m.  (Do  latim  testicu- 
lum).  Termo  de  anatomia.  Corpo  glandu- 
loso  que  serve  no  macho  para  preparai-  a 
matéria  destinada  á  geração. 

—  Diz-se  também  o  ovário. 

—  Testículo  de  cão.  Vid.  Bexiga  de 
cão. 


(/«   amizade,  e 
Vid.  este  ulti- 


Os  testicos 


—  Testículo  </e  fttvU.  Vid.  Agnocasto. 
TESTICULOSO,  A,  adj.  Quo  ó  C4.nc«r- 

iicnto  aos  toHticidos. 

—  Tormo  de  botânica.  Que  6  bilo- 
bado. 

—  Ca/ifula  testiculosa;  que  se  asse- 
melha ao  «•siToto. 

TESTIFICAÇAO,  ».  f.  A  acção  de  te»- 
titicar,   t<  -teiiiiinho. 

TESTIFICADO,  /^art.  pai»,  de  Testifi- 
car.  Te.neni  unhado. 

TESTIFICADOR,  A,  adj.  o  $.  Que  tes- 
tifica, que  teUemunha. 

TESTIFICAR,  v.  a.  (Do  latim  Uttifica- 
re).  Testemunhar,  'lar  testemunho. 

—  Figurad/imento :  Comprovar,  de- 
monstrar com  testemunho. 

TESTILHO,  s.  m.  Testeira  da  caixa,  ou 
caixãii. 

TESTIMUNHO,  *.  m.  Vid.  Testemu- 
nho. 

TESTINHO,  «.  m.  Diminutivo  de  Testo. 
Testo  pequeno. 

—  Cacosinho. 

TESTO,  *.  m.  rDo  latim  tettam).  A 
tampa  de  barro  da  panella  que  vac  ao 
lume,  bem  como  a  dos  cântaros  e  outros 
vasos. 

—  Testo  de  barro;  pedaço  de  bar- 
ro amassado  com  que  se  barra  alguma 
cousa. 

—  Testo  do  boi,  touro ;  o  casco  da  ca- 
beça. 

—  Vaso  de  barro  que  contém  a  cal 
para  se  caiar. 

—  Testos  d4  telha :  peílaços  d'ella. 

—  ^'id.  Texto,  que  é  differente. 
TESTO,  A,  adj.  Figuradamente:  Tes-^, 

animoso  em  fazer  cousas  de  esforço  e  pe- 
rigo, cabeçudo. 

TESTUDAÇO,  A,  adj.  Augmentativo  de 
Testudo. 

—  Villào  testndaço ;  villão  mui  con- 
tumaz. 

TESTUDEM.  Vid.  Testudo  (aubsun- 
tivo) . 

1.1  TESTUDO,  A,  adj.  Testo,  teso,  tes- 
tndaço. 

2.)  TESTUDO,  s.  m.  (Do  latim  testu- 
do). Defeza  que  oa  soldados  romanos  fa- 
ziam cobrindo  as  cabeças  com  os  escu- 
dos, quando  iam  á  ass;iltada,  ficando  o 
esquadrão  com  apparencia  de  uma  tarta- 
ruga em  suas  conchas.  Vid.  Favelada.  j 

TESURA,  s.  /.  A  força  que  tem  qual- 
quer cor|io  teso. 

—  Rispidez  altiva  com  elaçXo. 

—  Figuradamente  :  De  condição,  rigi- 
deza. 

TETA,  s.  /.  vDo  grego  titihoi).  Mama, 
peito. 

No  pico  de  C!>cj»rpa(i:i  penodia 

A  potiilanto  Cubra  se  poiíJura ; 

Nào  tomo  o  procipicio,  c  busca  anciosa 

-Vmargíis  frtlli;»s  do  poudouto  arbusto  ; 

Píis  apojadas  tfltu'  \v>s  derrama 

(Innocente  alimento  !'  bum  néctar  doce. 

J.    JL.   DB   MACEDO.   UCDITAÇXO,  CAnt.    3. 


TETO 


TETR 


TETR 


717 


—  Espada  á  teta ;  modo  de  a  trazer 
antigo. 

—  Figuradamente  :   Uma  teta  de  terra. 

—  Modernamente  diz-se  das  fêmeas 
dos  animaes. 

—  Um  tetas;  diz-se,  por  injuria  e  des- 
prezo, a  um  homem  molle  e  que  para 
nada  serve. 

f  TETÂNICO,  A,  adj  (Do  latim  teta- 
nicus).  Termo  de  medicina.  Que  tem  te- 
tanos.  — Accidardes  tetânicos. 

—  Que  é  aíFectado  de  tetanos. 

f  TETANOIDE,  í.  /.  Termo  de  medi- 
cina. Diz-se  dos  pheuomenos  convulsivos 
produzidos  pela  str\-ch.niaa  e  semeliiantes 
aos  do  tetanos. 

TETANOS,  s.  m.  (;Do  grego  tetanos). 
Termo  de  medicina.  Doença  caracterisa- 
da  pela  rigidez  e  tensào  convulsiva  de 
um  maior  ou  menor  numero  de  múscu- 
los, e  algumas  vezes  de  todos  os  múscu- 
los submettidos  ao  império  da  vontade: 
produz  uma  immobilidade  absoluta,  que 
nem  a  vontade  do  doente,  nem  os  esforços 
d'outrem  saberiam  vencer. 

—  Tetanos  intermitt-eyites ;  espécie  de 
nevrose  sem  gravidade,  observada  sobre- 
tudo nas  mulheres. 

TETERRIMO,  A,  adj.  (Do  latim  Ut^r- 
rimus).  Termo  de  poesia,  iiuito  escuro, 
hediondo,  feíssimo.  —  Espelunca  teter- 
rima. 

TETEYA,  s.  f.  Termo  da  provincia 
do  Brazii.  Brinco  de  meninos. 

TETIM,  s.  m.  Argamassa  de  pó  de  ti- 
jolo, com  cal  e  azeite. 

TETOR,  s.  m.  Vid.  Tutor,  orthogra- 
phia  mais  em  uso.  —  «O  segundo  Capitulo 
he:  Que  os  depósitos,  e  guardas,  e  con- 
decilhos,  e  recebimentos  feitos  per  a  moe- 
da antigua,  ou  nova,  que  se  fez  ataa 
postumeiro  dia  de  Dezembro  da  Era  de 
mil  e  quatrocentos  vinte  e  três  aunos, 
per  Almoxarifes,  Tetores,  ou  Cui-ado- 
res.»  Ord.  Affons.,  liv.  -4,  tit.  1,  §  3.  — • 
oE  como  tal  cousa  era  sabuda,  todolos 
que  voontade  tinham  para  lançar  em  as 
ditas  cousas,  afastavam-se  de  lançar  em 
ellas,  sabendo  que  por  em  ellas  lança- 
rem nom  as  aviam  d'aver,  pois  que  os 
ditos  Testamenteiros,  Tetores,  ou  Cura- 
dores as  queriaò  aver  tanto  por  tanto.» 
Ibidem,  tit.  41.  —  «E  foi-nos  dito  per  al- 
guàs  pessoas  d'autoridade,  que  muitas 
vezes  acontecia  em  taaes  compras  e  ven- 
das fazerem-se  grandes  conluios  e  enga- 
nos, porque  quando  se  aviam  de  fazer  as 
ditas  compras  e  vendas,  os  ditos  Testa- 
menteiros, Tetores,  ou  Curadores  lança- 
vaõ  fama  pela  Cidade,  ou  Villa,  honde 
se  as  ditas  vendas  aviam  de  fazer,  que 
elles  queriam  comprar  as  ditas  cousas, 
que  se  de  vender  aviam,  e  avellas  tanto 
por  tant  >,  como  as  outrem  ouvesse  d'a- 
ver.i)  Ibidem.  —  «E  aalem  de  todo  esto 
mandamos,  que  se  ao  despois  for  achado, 
que  03  ditos  beens  forom  rematailos  aos 
ditos  Testamenteiros,   Tetores,   ou  Cuida- 


dores por  menos  a  quarta  parte  do  justo 
preço,  possa  a  dita  venda,  e  remataçom 
seer  revogada,  e  desfeita  per  todos  aquel- 
les,  a  que  tal  cousa,  o  negocio  possa  per- 
teencer  per  alguã  guisa,  em  tal  maneira, 
que  os  ditos  compradores  nom  recebam 
proveito  alguum  ou  gaança  de  sua  malí- 
cia ou  negrigencia,  honde  devem  seer 
verdadeiros,  e  em  todo  bem  diligentes.» 
Ibidem,  §  2.  —  «E  porque  ha  deferença 
antre  elles  tetores,  ou  curadores,  enten- 
demos a  fallar  de  cada  huum  delles  apar- 
tadamente, primeiramente  d'aquelle,  que 
estabelece  o  Padre  a  seus  filhos,  e  dos 
outros,  que  decendem  delles.»  Ibidem, 
tit.  83.  —  iSerá  escusado  de  ser  Tetor, 
ou  Curador  em  todo  caso  aquelle,  que  for 
Fidalgo  de  linhagem,  ou  Cavalleiro  de 
Espora  dourada,  ou  Doutor  em  Leix,  ou 
em  Degrataaes,  ou  em  Fisica;  e  ainda 
que  cada  huum  dos  sobreditos  queira  seer 
Tetor,  ou  Curador,  nom  deve  seer  a  ello 
recebido.»  Ibidem,  tit.  88,  §  10. 

TETRA.  Prefixo  grego,  que  empregado 
na  linguagem  scientifica  sisrnifica  quatro, 
j  TETRACENTIGRADO,  adj.m.—  Ther- 
viametro  tetracentigrado ;  thermometro 
dividido  em  400  graus  entre  o  mercúrio 
fundente  e  o  fervente,  inventado  com 
o  fim  de  evitar  as  temperaturas  negati- 
vas nas  observações  meteorológicas. 

t  TETRACERÓ,  A,  adj.  Termo  de  zoo- 
logia. Que  teui  quatro  antennas. 

■j-  TETRACHEIRO,  adj.  Termo  de  zoo- 
logia. Diz-se  dos  quatro  membros  que 
terminam  por  mãos. 

TETRACORDIO,  ou  TETRACHORDIO,  s. 
m.  (Do  gi'ego  tetra,  e  chordc).  Termo  de 
musica.  Serie  de  quatro  sons  difterentes 
distantes  uns  dos  outros  por  três  inter- 
vallos. 

TETRACORDO,  s.  m.  Lyra  de  quatro 
cordas. 

j  TETRAGTICO,  A,  adj.  Que  só  admit- 
te  quati-õ  números,  quatro  algarismos.  — 
Arirhmetica  tetractica. 

f  TETRADACTYLO,  A,  adj.  Termo  de 
zoologia.  Que  tem  quatro  dedos  em  ca- 
da pé. 

•}■  TETRADA,  s.  f.  Termo  de  philoso- 
phia  antiga.  Reunião  dos  quatro  primei- 
ros números  naturaes  :  1,  2,  3,  4. 

•}-  TETRADRACHMA,  s.  /.  iloeda  grega 
de  prata. 

TETRADYNAMIA,  s.  /.  Nome  dado,  no 
systema  de  Liuneu,  a  uma  classe  com- 
preheudenJo  plantas  munidas  de  seis  es- 
tames,  sendo  quatro  mais  longos  que  os 
outros. 

7  TETRAEDRAL,  adj.  2  gen.  Que  tem 
a  f  jrma  de  um  tetraedi'o.  — •  Superjicíe 
tetraedral. 

TETRAEDRO,  s.  m.  (Do  grego  tetra, 
e  hedra).  Termo  de  geometria.  Solido 
comprehendido  sob  quatro  faces. 

t  TETRAFIDO,  A,  adj.  Termo  de  his- 
toria natural.  Dividido  em  quatro  lóbu- 
los separados  por  senos  profundos. 


t  TETRAGONAL,  adj.  2  gen.  Que  se 
refere  ao  tetragono. 

TETRAGONO,  adj.  (Do  grego  tctrago- 
nos).  Termo  de  historia  natural.  Diz-se 
de  tudo  o  que  oíferece  quatro  ângulos  e' 
quatro  lados.  —  Capsula  tetragona.  — 
Anthera  tetragona. 

—  Termo  de  astrologia.  Aspecto  tetra- 
gono ;  aspecto  de  dous  planetas  que  es- 
tão a  distancia  de  90  graus. 

—  S.  m.  A  superfície  de  quatro  lados. 
TETRAGRAMMATON,  s.  vi.  (Do  grego 

tetragrammaton).  Nome  de  quatro  letras, 
e,  por  excellencia,  o  nome  de  Deus,  que 
na  lingua  grega  e  latina  se  escreve  com 
quatro  letras. 

TETRAGYNIA,  s.  /.  (Do  grego  tetra, 
e  gynt:).  Termo  de  botânica.  Quarta  or- 
dem das  treze  piimeiras  classes  do  sys- 
tema sexual,  que  comprehende  as  plan- 
tas cujas  tíôres  tem  quatro  pistillos. 

f  TETRAHYDRICO,  adj.  Termo  de  chi- 
mica.  Composto  tetrahydrico ;  composto 
que  tem  quatro  proporções  de  hydroge- 
neo  para  uma  proporção  de  outro  com- 
ponente. 

I  TETRALOGIA,  s.  /.  (Do  grego  tetra, 
e  logos).  Termo  de  antiguidade  grega. 
Reunião  das  quatro  peças  de  theatro  que 
os  poetas  apresentam  ao  publico;  as  trea 
pi-imeiras  eram  tragedias  e  a  quarta  era 
um  drama  satyrico. 

TETRAMERÒS,  s.  m.  plwr.  (Do  grego 
tetra,  e  meros).  Termo  de  entomologia. 
Classe  de  insectos  coleopteros,  que  tem 
quatro  articulações  em  todos  os  tarsos. 

-{-  TETRAMETRIGO,  A,  adj.  Termo  de 
mineralogia.  Diz-se  das  substancias  cu- 
jos crystaes  se  referem  a  um  systema  de 
quatro  eixos. 

TETRAMETRO,  s.  m.  (Do  grego  tetra, 
e  metron).  Diz-se  de  um  verso  grego  ou 
latino  composto  de  quatro  pés  no  género 
dactylico,  e  de  oito  pés  no  género  jam- 
bico. 

TETRANDRIA,  s.  /.  Termo  de  botâ- 
nica. Nome  dado,  no  systema  de  Linneu, 
a  uma  classe  e  duas  ordens  abrangendo 
as  plantas  munidas  de  quatro  estames. 

t  TETRANDRO,  A,  adj.  Termo  de  bo- 
tânica. Que  tem  quatro  estames.  —  Flor 
tetrandra. 

-;-  TETRAPETALA,  adj.  f.  Termo  de 
botânica.  Que  tem  quatro  pétalas.  —  Co- 
rolla  tetrapetala. 

TETRAPHALANGARCHIA,  s.f.  (Do  gre- 
go tetra,  phalagx,  e  archS).  Capitania  de 
quatro  phalanges. 

f  TETRAPHILLO,  A,  adj.  Termo  de  bo- 
tânica. Que  se  compõe  de    quatro    folhas 
ou  filiolos. — Invólucro  tetraphillo. 
TETRAPLO.  Vid.  Quadruplicado. 
7  TETRAPODO,  A,  adj.  Termo  de  zoo- 
logia. Que  tem  quatro  pés. 

TETRAPODOLOGIA,  s.  f.  (Do  grego 
tetra,  podos,  e  logos).  Termo  didáctico. 
Parte  da  historia  natural  que  trata  dos 
animaes  quadrúpedes. 


718 


TEU 


TEUT 


TEZO 


f  TETRAPTERO,  A,  adj.  Toruio  de 
liintoii:i  natural.  (^110  tom  (juíitro  azan. 

TETRARCHA,  «.  /.  (Do  ricíío  ittrar- 
chês,  (lo  letni,  e  arc/ic\.  1'riiiciiie  dojion- 
donto  do  um  podor  superior,  cujuá  o.sta- 
dos  oram  pouco  mais  ou  ujoao:^  a  quarta 
parto  (li)  reino. 

TETRARCHIA,  s.  f.  A  qualidade,  o 
districti)  lio  titnirclia. 

TETRASTICHO,  «.  m.  (Do  greRO  tetra, 
e  stichií).  1'ooma  do  ((uatro  vcr.sos. 

f  TETRASEPALO,  A,  a,lj.  Termo  de 
botânica.  Quo  U'in  quatro  divisiles  no 
calvx. 

-j-  TETRASPERMO,  A,  adj.  Termo  de 
botânica.  Qiu^  tom  quatro  .sementes. 

TETRASYLLABO,  A,  adj.  Termo  do 
grammaticií.  Composto  do  quatro  sylla- 
bas. 

f  TETRATOMICO,  A,  adj.  Termo  de 
chimlca.  Diz-se  do  um  átomo  que  tom 
quatro  pontos  (Taltrac^-rio,  e  dos  corpos 
que  não  s.ào  saturados  senão  por  quatro 
átomos  de  um  outn)  corpo.  —  O  carbone 
(s  um  elemento  telratomico,  porque  um 
átomo  de  carbone  lixa  invariavelmente 
quatro  átomos  de  um  elemento  inonoato- 
uiico,  ou  dous  átomos  de  um  elemento 
diatoniico. 

TETRAZ,  s.  m.  Termo  de  historia  na- 
tural. Oi^ucro  de  aves  gallinaceas;  divi- 
dciu-.^^c  i-ni  trcs  familias. 

TÉTRICO,  A,  adj.  (Do  latim  tetricus). 
Carregado,  tristemente  grave,  melancó- 
lico. 

—  Áspero,  triste,  rigoroso,  severo. 
TETRO,  A,  adj.  Negro,  maculado,  man- 
chado. 

—  Figuradamente :  Nonie  tetro  e  fe- 
dorento 

TETUBAR,   V.  n.  Titubear. 

TETUDO,  A,  adj.  Mamudo,  peitudo. — 
Mitl/itr  tetuda. 

TEU,  TUA,  adj.  poss.  Que  pertence  a 
ti,  do  que  teus  o  dominio.  ■ — •  Teu  livro. 
—  «Dize  se  começíis-ses  a  fallar  com  hum 
homem,  e  deixaudoo  com  a  palavra  na 
boca  te  posesses  a  fallar  com  teu  escra- 
uo,  nam  lhe  farias  grande  injuria':'  Esta 
fazes  a  Deos,  distraindote  por  vontade, 
ou  por  negligencia. »  Fr.  Bartholonieu 
dos  Jlartyres,  Catecismo  da  doutrina 
christã,  iiv.  1,  cap.  37. 


O  vilào, 
como  cstiV  teit  cora(;ão 
tão  fora  do  riue  esto  estil? 
teu  soulior  (wiiio  não  voin? 
Perderia  1;\  o  vir 
o  acliaril  i\\iem  uo  detém. 

ANvoNio  PKESXES,  Auros,  pag.  313. 


Quem  lhe  ora  vira  esta  diir  ! 
Se  SC  vio  (lueiu  maia  padei;»  ! 
quoiii  y\  aeu  giro  acabasso  ! 
quo  (!■  de  teu  seiílior,  Fernando  V 
Sonliora,  cstHva  esporando 
que  por  ello  porguntasae. 
IBIDEM,  pag.  3"27. 


Hei  dp  morrcjr  muito  cedo, 
para  quo  >'  curar  de  inaii)  prática ! 
Olliac-inc  i|U(!  ru^&o  csiui  ? 
(|iio  /•  do  teu  aoiihor  ? 
('orno  mu  dúo  a  cabeça! 


Enzagoala 
o  púcaro  dú  leu  seulior, 
eiicho-o  hi  á  porta. 
IBIDEM,  pag.  337. 

Muitos  na  antiga  idado,  o  na  pruacnto, 
Teit  erro  assoberbou  !  No  PeripAto 
Eu  Vejo  o  PanteisMio,  «  o  vejo  nesse, 
Que  a  verdiid(?  indagou. 

J.    A.    DE   MACEDO,   VIAOEM   EXTÁTICA,  Cant.    4. 

Oli  alma  Natureza,  oh  >Iày  dos  Entes, 
Olha  íi  morte  o  que  faz,  piza  teiix  foros, 
Tuas  Leis  descouhccc,  lai^s  quebra. 

IDEM,    A   NATUBEZA,   Caut.   2. 

Oh  mimoso  Cantor,  qu'entre  os  gelados 
E  bellicosos  Sannatas  ferozes 
Não  te  podias  esquecer  do  Tibrc, 
S'o  teu  engenho  divinal,  teu  ostro 
Pôde  dos  mudos  habitantes  d'agoa 
Expor  a  Natureza,  expor  o  instincto. 
iDiDEM,  caut.  4. 

Porém  cllo  .s.ibe 
De  3edi(;õe9  cm  que  entram,  são  cabeíjas 
Muitos  de  teus  mais  intimes  amigos, 
Fallou-mc  em  Decio,  e  occultas  conferencias... 

OARBETT,  CATÃO,  act.    3,  80.    7. 

Pae,  nSo  to  deixo. 
Não  eu  !  >íaldizo  embora  o  lilho. 

Filho ! 
Es  cruel  com  teu  pae. 

ímpio  me  chama. 
IBIDEM,  act.  5,  SC  8. 

—  Relativo  a  ti.  —  Por  teu  respeito 
procedi  d'este  modo. 

TEUCRO,  A,  adj.  Troiano,  ou  concer- 
nente a  Tróia. 

TEÚDO,  ou  THEUDO,  part.  pass.  anti- 
quado (lo  verbo  Ter.   Tido,  obrigado. 

f  TEUGUAUXÉS.  s.  m.  pi.  Certas  tro- 
pas asiáticas.  —  «E  ao  outro  dia  uma 
hora  auto  nionhã,  tocando  niuytos  tàbo- 
res  e  pifares,  e  outras  nuiytas  diversida- 
des de  instrumentos  guerreiros  ao  seu 
modo,  o  campo  foy  posto  na  ordenan(;a 
que  lhe  era  dada,  mandando  diante  seus 
atalavas,  e  corredores,  e  ordcnaniio  capi- 
tacns  da  vanguardia,  e  teuguauxés,  que 
he  outro  modo  de  for<,'a  que  ellos  costu- 
m.to  Icuar  detrás  de  toda  a  bagage.  e 
gente  de  serviíjo,  com  que  o  campo  cami- 
nha muvto  mais  seguro  do  que  se  custu- 
ma  entre  m^s.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,   cap.  12o. 

t  TEUTATES,  .«.  »i.  Divindade  a  quem 
os  {raulezes  ofFereciam  vietimas  humanas. 


Vellèda,  débil  Druida,  que  oierça 
Os  vossos  sacritiuios,  restou  uflica. 
Oh  Virgens  de  Sayna,  (Ilha  sagrada  1 ! 
Das  servas  da  Ara  tua,  Virgens  uóve, 


Uniu  eu  vivo.  Náo  tur/ui,  TeuUftet, 
Nem  Temploii,  neta  .Ministrou   K  pois  morta 
T()da  a  Esperam;*  cm  núsV  Dii-meas  alviçaraa: 
Sei,  que  livrar-no*  vem  i>otiiitc  .\lliado. 
r.  M.  DO  XASciMCiro,  oa  masttbeí,  Iiv   ít 


TEUTONICO,  A,  adj.  o   «.  Germânico, 

ou  de  Allcmunha. 

—  Diz-se  d'uma  espécie  de  escriptora 
gothica.  —  Letra»  teutoaicas. 

TEX,  «,  /.   Vid.  Tez. 

TEXO,  I.  m.  Vid.  Teixo. 

TEXTO,  ».  m.  (Do  latim  («xíuí  .  As 
propriíi.s  palavras  de  algum  auctor,  do 
um  livro,  consideradas  relativamente  aos 
commentarios,  ás  glos.sa.H. 

—  Passagem  da  Escriptura  Sagrada, 
que  fiirma  de  ordinário  o  assumpto  do 
sermão,  e  por  onde  o  priigador  começa. 

—  Caracter  ou  letra  typopraphica. 

—  Flur.  As  coUecções  do  direito  ro- 
mano, ou  canónico. 

TEXTUAL,  adj.  2  gen.  Que  é  do  texto. 

—  Citado  coi.formemente  a  um  texto. 
—  Uma  citiirilo  textual. 

TEXTUALMENTE,  adv.  (De  textual,  e 
o  suffixo  tmente>;.  L>e  uma  maueira  tex- 
tual. 

—  Conforme  o  texto,  com  aa  próprias 
palavras  do  texto, 

f  TEXTUARIO,  *.  m.  Livro  onde  nlo 
ha  senão  o  texto,  sem  commentarios,  sem 
notas.  —  Um  textuario  da  ISiòiia. 

TEXTURA,  8.  /.  (Do  latim  Uxtura).  O 
tecido. 

—  A  disposição  daa  partes  internas  que 
compi3em  um  corpo.  —  A  textura  dvt 
tendões,  ou  músculos,  das  metnOranas  se- 
rosas.—  .á  textura  das  fibras.  Vid.  Grã. 

TEXUGO,  s.  m.  Vid.  Teixugo. 

TEYA,  í.  /.  Vid.  Teia,  ou  Tèa.  — 
«Eíte  grauue  Autor,  e  não  eu  foi  o  que 
chamou  a  Chapelain  Conservador  viór  das 
Aranhas,  diseudo  que  depois  de  estar  dez 
annos  sem  o  visitar  por  causa  de  certaa 
diferenças  que  tlverão,  hindo  depois  desse 
tempo  a  sua  cosa  o  achou  em  uma  came- 
ra,  ondo  observou  as  mesmas  teyas  de 
Aranha  quo  passavão  de  huma  porte  á 
outi-a,  e  que  ellc  tinha  visto  outras  vezes 
antes  de  se  desgostjir  com  elle.  que  he  o 
mesmo  que  diser  que  as  tinha  conservado 
da  mesma  forma  em  dez  annos.»  Caval- 
leiro  d'01iveira.  Cartas,  Iiv.  3,  n.'  24. 

TEYO.  Termo  antiquado.  Vid.  Tio. 

TEYOR.  Vid.  Theor. 

TEZ,  s.  /.  A  pcUe  mais  externa,  e  del- 
gada. —  A  tez  do  rosto. 

—  A  epiderme. 

TEZO.  Vid.  Teso.  —  «Da  banda  do 
Sul  estão  os  Paços  de  ElRey  sobre 
hum  tezo,  que  são  feitos  a  modo  do 
huma  fermosíi  fortaleza,  com  seus  mu- 
r(^s  muito  grossos.»  Diogo  de  Couto.  Dé- 
cada (5,  Iiv.  S,  cap.  7.  —  tE  lembrame 
([ue  os  muros  erSo  todos  de  taypa,  bay- 
xos,  e  pouco  gr.ssos,  e  em  partes  que- 
brados.   Delles  perto  de  meya  legoa  em 


THEA 


THEI 


THEO 


719 


hum  tezo  vi  o  castello  com  onze  torres 
tà  fracas  como  elle?,  e  certo  que  me  per- 
suadi o  castello,  e  muros  estarem  mais 
por  se  dizer  que  os  tiulia :  do  que  pêra 
defensão  da  terra.»  Fr.  Gaspar  de  S. 
Bernardino.  Itinerário  da  índia,  cap.  14. 
I  TEZODRA,  5.  /.  Vid.  Tesoura. 

Tezoura  de  sobre  pentem 
foi  a  freclia  em  meu  desmaio. 
Que  fim  deste  ? 

ASTOSIO  PKE3TES.  AUTO!,  pag.    175. 

THALAMO,  s.  m.  (Do  grego  thalamos). 
Leito  conjugal. 

Porque  o  vendeste,  rei :  não  foi  cegueira 
Perdoável  de  amor,  senão  cubica, 
Fria  crueza  de  ambição  a  tua... 
Se  do  vendido  thcdamo  as  saudades 
Vingadouras  talvez  vêem  perseguir-te  ? 

GARRETT,  D.  BBASCA,  Caut.  9. 


—  Termo  de  poesia.  Núpcias,  vodas. 

Nelles  expira  a  eandida  innooencia, 
O  pejo  agonizante,  o  amor  da  Pátria : 
A  sacra  fé  dos  thalamos  expira. 

3.   A.  DE  MACEDO,  A  NAJUBEZA,  CaUt.  2. 

—  Os  thalamos  da  aurora,  do  sol;  o 
ponto  d'on']e  nascem. 

THALASSOCRACIA,  s.  /.  (Do  grego 
thaíassa.  e  kratos).  Império  do  mar. 

7  THAMNOPHILO,  s.  m.  Género  de  in- 
sectos crdeopteros. 

7  THANATOLOGIA,  s.  /.  Tratado  da 
morte,  theoria  da  morte. 

7  THANOMETRO,  s.  /.  Thermometro 
destinado  a  ser  introduzido  no  estômago 
ou  no  recto,  cuja  temperatura  desce  ra- 
pidamente a  20'  depois  da  morte  real,  a 
que  nào  tem  logar  a  morte  apparents. 

THÀO,  s.  m.  Me^lida  itinerária  do  Pe- 
gú,  egual  a  uma  légua  portugueza. 

THÁD,  «.  m.  A  ultima  letra  do  alpha- 
beto  hebraico. 

THAUMATURGO,  adj.  e  s.  (Do  grego 
thaumatns,  e  ergon).  Que  faz  milagres. 
—  São  G-rfqorio.  Thaumaturgo. 

THAUMATURGIA,  s.  /.  Obra  dos  thau- 
maturgos. 

-{-  THÉ,  í.  m.  (Do  francez  thé).  Pala- 
vra franceza,  comtudo  adoptada  pelo 
Cavalleiro  d'01iveira  nas  suas  Cartas, 
significando  uma  bebida  mui  vulgar,  que 
é  o  chá.  —  Beber  o  thé.  —  «A  rasào  que 
teve  para  executar  esta  loucura,  foi  por- 
que huma  molher  a  quem  elle  amava,  e 
que  vendia  Café,  intentou  lavar  a  tassa 
por  onde  tinha  bebido  o  Thé  ;  nào  que- 
rendo consentir  ao  amante  que  bebes- 
se por  ella  antes  de  estar  limpa.»  Caval- 
leiro d'01iveira.  Cartas,  liv.  1,  n."  41. 

THEAME,  í.  /.  Pedra  que  se  forma  nos 
montes  da  Ethiopia,  que  lançíi  de  si  o 
ferro  com  propriedade  opposta  á  pedra 
iman. 


THEANDRICO,  A,  adj.  (Do  grego  theos, 
e  androí  .  Que  respeita  a  Deus  feito  ho- 
mem . 

THEANTHROPIA,  s.  /.  (Do  grego  t/w.os, 
e  anthropos).  Attribuição  a  Deus  das  qua- 
lidades humanas. 

THEATINO,  A,  adj. —  Clérigo  theatino ; 
regular  de  S.  Caetano. 

THEATRAL,  adj.  2  gen.  Que  pertence 
ao  theatro. —  Costumes  theatraes. 

—  Voz  theatral;  voz  forte,  em  opposi- 
ção  ás  brandas,  que  se  ouvem  só  nas  sa- 
las. 

THEATRALMENTE,  adv.  (De  theatral, 
e  o  snffiso    mente  ■  .  A  modo  de  theatro. 

THEATRISTA,  adj.  2  gen.  Pessoa  que 
representa  em  theatro. 

—  Adjectivainente :  Sócios  theatristas. 
THEATRO,   í.   7ÍÍ.  (Do  grego  ilieatron). 

Logar  onde  se  representam  dramas,  onde 
se  dão  espectáculos. 


Já  se  vai  ao  Theatro,  ao  jogo,  á  dança, 
Já  se  conversa,  e  nào  se  desconfia; 
Pois  de  hum,  e  do  outro  sexo  a  companhia. 
Em  logar  de  inquietar-nos,  nos  descança. 

ABBADE  DE  JAZENTE ,  POESIAS,  pag.  103. 


—  Figuras  de  theatro  ;  os  que  repre- 
sentam o  que  nào  são. 

—  As  \egras  do  theatro ;  do  que  res- 
peita aos  dramas,  representadores  e  de- 
corações do  theatro. 

—  Este  actor  nasceu  para  o  theatro ; 
tem  disposições  naturaes  para  represen- 
tar bem. 

—  Figuradamente:  A  publicidade.  — 
O  theatro  das  desgraças. 

Mas  o  mortal  dos  Elementos  todos 
Sem  acordo  e  razão,  s'escuda,  e  arma 
Para  extei-minio  seu:  da  mesma  Terra 
Forma  o  theatro  daa  desgraças  suas  : 
Elle  a  desdenha,  ultraja,  e  3'envergonha. 

J.  A.  DH  MACEDO,  A  NATUBEZA,  Cant.  9. 

—  Logar  onde  se  passa  algum  aconte- 
cimento. —  O  Porto  foi  o  theatro  da 
guerra  entre  os  dous  irmãos,  D.  Pedro 
IV  e  D.  Miguel. 

—  Figuradamente :  Diz-se  do  que  se 
passa  no  corpo,  no  espirito. —  O  pulmão 
é  o  theatro  dos  pketiomenos  da  respira- 
ção. 

7  THEBAIDA,  s.  f.  Logar  deserto  no 
Egypto,  aonde  se  retiravam  piedosos 
chiústão? ;  assim  chamado  por  estar  pró- 
ximo da  cidade  de  Thebas. 

THEBANO,  A,  adj.  e  s.  Natural  de  The- 
bas, ou  pertencente  a  Thebas. 

THEIFORME,  adj.  2  gen.  Termo  de 
pharmacia.  Em  forma  de  chá. 

—  Infusão  theiforme ;  infusão  que  se 
prepai-a  como  a  do  chá. 

7  THEINA,  s.  f.  Termo  de  chimica. 
Principio  activo  do  chá,  análogo  ao  do 
café. 


THEISMO,   s.  m.  Tid.  Deismo. 

THEISTA,  s.  2  gen.  Yid.  Deista. 

THELALGIA,  s.  /.  (Do  grego  thelê,  e 
algos'-.  Termo  de  medicina.  Dôr  nas  ma- 
mas. 

THELESIOGNOSIA,  s.  /.  (Do  grego 
thelêsis,  e  gnõsis).  Termo  didáctico.  Co- 
nhecimento profundo  dos  eíFeitos  da  von- 
tade. 

THELESIOGRAPHIA,  s.  /.  (Do  grego 
theltsis,  e  graphos).  Descripçào  dos  phe- 
nomenos  da  vontade. 

f  THELITE,  s.  /.  Termo  de  medicina. 
Inflammaçào  das  mamas. 

THEMA,  s.  m.  (Do  gi'ego  thema).  O  tex- 
to, ou  palavras  breves  de  que  o  pregador 
tira  o  assumpto  do  seu  sermão,  e  que  no 
começo  d'elle  dão  a  conhecer  a  matéria 
de  que  vai  a  tratar. 

—  Figuradamente :  Propósito,  presup- 
posto. 

—  Assumpto,  sujeito. 

—  Contexto  de  palavras. 

—  Matéria  de  obrigação  que  se  dá  aos 
estudantes  para  traduzir  de  uma  lingua 
para  a  que  elles  estudam. —  Um  thema 
latino.  —  Um  thema  grego. 

THEMIAMA.  Vid.  Thymiama. 

THEOCRACIA,  s.  f.  iDo  grego  theos,  e 
kratos).  Governo  em  que  os  chefes  da  na- 
ção são  considerados  como  os  ministros  de 
Deus,  ou  dos  deuses,  ou  pertencentes  a 
uma  raça  sacerdotal. 

THEOCRATICO,  A,  adj.  Que  pertence 
á  theocraeia,  que  tem  o  caracter  da  theo- 
cracia.  —  Governo  theocratico, 

f  THEOCRATICAMENTE,  adv.  (De  theo- 
cratico, e  o  suffixo  «mente»).  De  uma 
maneira  theocratica. 

f  THEDIOGÊA,   s.  f.  Justiça  de  Deus. 

—  Parte  da  theologia  natural  que  se 
occupa  da  justiça  divina,  e  que  tem  por 
fim  justificar  uma  providencia,  refutando 
as  objecções  tiradas  da  existência  do  mal. 

THEODOLITO,  s.  m.  (Do  francez  theo- 
dolite).  Instrumento  de  astronomia  e  de 
geodesia,  que  serve  para  medir  directa- 
mente os  ângulos  reduzidos  ao  horisonte, 
e  as  distâncias  genitaes. 

f  THEODOSIANO,  A,  adj.  Que  perten- 
ce a  Theodosio  o  magno. 

—  Código  theodosiano ;  código  publi- 
cado em  458,  sob  Theodosio  o  moço. 

THEOFORIO,  ou  THEOPHORIO,  Á,  adj. 
(Do  grego  t/ieophoros).  Divino,  inspirado 
por  Deus. 

THEOGONIA,  s.  /.  (Do  grego  theos,  e 
gonos).  Geração  dos  deuses. 

—  Todo  o  systema  religioso  no  paga- 
nismo nas  relações  dos  deuses  entre  si  e 
com  o  mundo. 

THEOLOGAL,  adj.  2  gen.  Que  diz  res- 
peito á  theologia. 

—  Diz-sc  das  virtudes  que  tem  prin- 
cipalmente. Deus  por  objecto,  e  sào  as 
mais  necessárias  para  a  salvação  eterna. 

—  As  três  ri>'ínrfes  theologaes;  a  fé,  a 
esperança  e  a  caridade. 


120 


TIÍEO 


THEO 


THER 


—  Prebendado  theologal;  com  obriga- 

ç?ln  '1(1  iPr  tlieologiív  nas  ciitliodrnes. 

THEOLOGIA,  s.  f.  (Do  írro^ío  t/ieos,  o 
hxjds).  Sci(3iicia  (te  J)('U.s  o  da*  coiisaf) 
divinas,  acerca  do  que  se  devo  cròr  a  esso 
respeito,  e  so  diz  dogmática;  ou  acerca 
do  que  se  devo  ohrar,  e  se  diz  moral.  — 
«Ja  Luís  Bi  baldo  a  collocou  a  primeira 
entre  as  Scienciaa;  por  prcsuadirso  nad 
podoalf^unia  alcansarso  sem  ílramniatica; 
c  com  muita  espocialidado  a  saijrada 
Theologia,  para  a  qual  se  roquere  ( Iram- 
matica  Latina,  (rroíía,  Ilobrayca,  e  Cal- 
dea.»  Braz  Luiz  d'Abrcu,  Portugal  me- 
dico, pag.  127,  §  98. 

—  Doutrina  das  consa-i  ilivinas.  —  A 
theologia  pagã.  —  A  theologia  dos  ma- 
hometaiio»,  dos  índios. 

—  Doutrina  da  rcligiSío  cbristil.  —  A 
theologia  catfwlira.  —  A  theologia  pro- 
teatanti'.  — •  Bachard,  licenciado,  doutor 
em  theologia.  —  A  faculdade  de  theolo- 
gia. 

—  Theologia  canónica;  legislação  da 
egreja. 

—  Theologia  litúrgica;  ensino  das  cc- 
rcmonia^i  Ao  culto. 

—  Theologia  nu/stica ;  a  contemplação. 
—  «Alijumas  vozes  resulta  disto  hum 
prazer  inostimauel,  que  naõ  se  podo  de- 
clarar, que  so  chama  Jubilo,  dondo  dizem 
alguns,  e  com  rezão,  que  sem  amor  não 
se  pode  chamar  contemplação.  Porem 
perguntares,  que  cousa  he  Theologia  mys- 
tica?  ao  que  se  respondo,  quo  lio  huma 
noticia  do  Deos,  alcançada  por  experiên- 
cia, quando  a  parte  superior  da  votado 
SC  vne  com  olle  por  amor,  ao  quo  ninguém 
podcr.â  chojjar  jamais,  sonaõ  for  purifica- 
do dos  afVectos  impuros,  e  terrenos,  assim 
como  03  lenhos  verdes,  e  húmido?  naõ 
daij  matéria  ao  fogo  prender  nellcs  tò  es- 
tarem secos,  e  dispostos.»  Fr.  liartholo- 
meii  dos  Martyres,  Compendio  de  espiri- 
tual doutrina,  cap.  12.  —  jSo  perguntar- 
des, porque  razão  os  taes  theologos  não 
sentem  a  suauidade,  e  doçura  da  contem- 
plação, rospondcroi  om  huma  palaura,  qne 
não  cutrão  noHa  polia  porta,  quo  mostrou 
o  Apostolo  S.  Paulo,  quamlo  disso:  se  al- 
gum entre  vos  pároco  sábio,  façasse  igno- 
rante, pêra  vir  a  saber,  humilhesse,  ten- 
dose  por  tal,  e  de  nenhuma  sufficiencia 
em  respeito  da  theologia  mystica,  que  he 
a  contemplação.»  Ibidem,  cap.  15. 

—  Theologia  positiva ;  parte  da  theolo- 
gia que  comprohende  a  Escriptura  Sa- 
grada, a  historia  occlcsiastica,  as  decisões 
dos  SS.  Padres,  dos  papas  e  dos  conci- 
lies. 

—  Theologia  dogmática;  exposição  das 
crenças. 

—  Theologia  moral;  ensino  das  regras 
do  proceder. 

—  Theologia  natural;  noções  sobre 
Deus,  o  bom,  i>  o  mal. 

—  Doutrina  thoologica.  —  A  theologia 
dos  Padrts. 


—  Diz-se    da»    opiniSes    particulares, 

mais  ou  menos  roeobidas  entro  as  eocri- 
pturas  occhísiasticas.  —  Grtijs  pontos  da 
theologia  de  Santo  Atpjstinho. 

THEOLOGICAMENTÉ,  adv.  (Da  theolo- 
gico,  o  II  suíTixo  «mente»!.  (Jonformo  os 
princípios  da  theologia. 

—  Como  theologo. 

—  D(!  um  modo  thoologico. 

1.)  THEOLOGICO,  A,  a'dj.  Que  diz  res- 
peito A  tliO(do;íia.  —  As  inateriat  theolo- 
gicas. 

2.)  THEOLOGICO,  s.  m.  Homem  quo 
sabe  theologia,  que  escreve  sobro  theolo- 
gia. 

—  Por  extensão,  estudante  em  theolo- 
gia. 

THEOLOGISAR,  ou  THEOLOGIZAR,  v.  n. 
Disciirrta'  throlo.i,'icamonti'. 

THEOLOGO,  8.  VI.  Vid.  Theologico 
(suli-tnntivc). 

THEOMANCIA,  s.  /.  (Do  grego  theos, 
e  manteia).  Adivinhação  pelo  nomo  do 
Deus,  ou  pela  inspiração  supposta  de  uma 
divindade. 

I  THEOPESCHITO,  í.  m.  Hereges  quo 
affirmavam  que  a  natureza  divina  tinha 
soffrido  sobro  a  cruz. 

THEOPHANIA,  s.  f.  (Do  grego  theos, 
o  phainosi.  Entre  os  gregos,  appariçào 
ou  revelação  da  Divindade. 

—  Man ifes tacão  divina. 
THEOPHOBIA,  s.  f.  (Do  grego  theos,  e 

phobos).  Grande  temor  de  Deus,  que  t;il- 
vez  faz  endoudecer,  como  o  hydrophobo 
aborrece  tudo  o  que  é  ou  lhe  parece 
agua,  a  quo  tem  horror. 
'  I  THEOPNUSTIA,  s.  f.  Termo  didá- 
ctico. Inspiração  divina. 

THEOR,  s.  in.  (Do  latim  tenor).  O  con- 
texto da  oscriptui'a.  —  «  E  depois  desto 
ElRey  Dom  Affonso  o  Terceiro  acerca 
deste  passo  fez  outra  Ley,  de  que  o 
theor  tal  he.»  Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit. 
10,  §2. 

—  Theor  de  vida;  carreira,  procedi- 
mento, conducta. 

—  A  lança  guarda  o  theor ;  segue  o 
mesmo  caminho,  c  direcção. 

—  Figuradamente :  Jlodo,  m.aneira,  es- 
tylo.  —  «  Chegado  Diogo  lopez  de  se- 
queií-a  a  Cochim  da  viagem  que  fezera 
ao  mar  Darabia,  alem  das  cartas  que  lhe 
Gaspar  da  sylua  deu  el  Rei  em  Diu, 
achou  outras  do  mesmo  theor  em  Cochim 
que  lhe  trazia  (teorgo  de  brito,  nas  quaes 
lhe  mandaua  que  se  el  Rei  de  Cambaia 
nam  quisesse  dar  a  fortaleza  em  Diu,  lhe 
fczesso  guerra,  e  trabalhasse  por  tomar 
aquella  cidade,  e  ha  poer  a  seu  man- 
do.» Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  4,  cap.  60.  —  «E  por  sete 
bandeiras  que  lhe  tomou  das  mesmas  co- 
res, e  feição,  e  doulho  hum  Elmo  de  prata 
aberto  guarnecido  douro,  o  o  Paquife  «lou- 
ro, e  vermelho,  e  por  Timbro  huma  ban- 
deira vermelha  de  ponta.»  Ibidem,  part. 
1,  cap.  100. 


Os  Francos  tem,  quo  Meroreo  é  frueto 

Da  S[>o«a  de  Clodiuii,  c  um  Mooistro  Oceânico 

I'or  occulto  theor  miraculoso. 

r.  M.  DO  »A«'.uii!»ro,  o»  MÁBirirs,  liv.  6. 

—  duardeir  o  theor ;  fazer  pelo  mes- 
mo nioilo. 

THEORBA,   8.  f.  Vid.  Tiorba. 

THEOREMA,  *.  m.  (Do  grego  theôrê- 
ma).  To  la  a  pro{KMÍç3o  que  precisa  d'uma 
demonstração  para  se  conhecer,  e  tomar- 
se  evidente. 

—  Termo  de  geometria.  Proposição  e 
demontitração  de  qualquer  verdade  espe- 
culativa. 

THEORETICAMENTE,  adv.  /Do  theore- 
tico,  com  o  .iiiíTixo  1  mente  >>.  iJe  um 
modo  t  :(!<niiico.   eipeenlativamento. 

THEORETICO,  ou  THEORICO,  A,  adj. 
Qiie  pi.rtjncc  :i  theoria,  especulativo,  em 
oji]io-tii;ào  a  pratico. 

THEORIA,  ou  THEORICA,  *.  /.  (Do 
grego  t/ieOriaj.  Cimhecimento  especula- 
lativo,  c  que  nSo  passa  á  pratica  dks  cou- 
sas conhecidas. 

—  A  theoria  dos  planeta» ;  a  sciencia 
dos  movimentos,  distancia,  e  grandeza 
d'elles. 

—  Syn.  :  Theoria,  systema.  Vid.  esto 
ultimo  termo. 

THEORICO,  A,  adj.  Pertencente  a  uma 
theoria.  Vid.  Theoretico. 

—  Substantivamente  :  Pessoa  versada 
nos  princípios  c  nos  elementos  de  uma 
arte,  mesmo  sem  a  exercer. 

—  Auctor  de  uma  theoria.  Vid.  Theo- 
rista,  que  é  differente. 

THE0RI3TA,  s.  2  gen.  Pessoa  que  en- 
sina, propõe,  excogita  theorias,  doutrinas 
thcoricas.  em  opposição  a  praxitta. 

THEOSEBIA,  s.  f.  (Do  grego  theosé- 
heia).  ( 'ulto.  ou  veneração  devida  a  Deus. 

THEOSOPHIA,  s.  f.  (Do  grego  theos,  e 
sophos<.  Especulação  de  certos  illumina- 
dos  que  pretendem  pôr-se  em  communi- 
çSo  com  a  Divin<lade,  em  receber  dons 
particulares,  em  dirigir,  ou  combater  a 
sua  intluencia  ou  intervenção,  quer  por 
intermédio  dos  demónios  em  certos  phe- 
nomenos  que  se  suppõe  contrários  ás  leis 
naturaes,  quer  por  intermédio  dos  as- 
tros, ou  dos  Huidos. 

f  THEOSOPHICO,  A,  adj.  Que  perten- 
ce í\  tlieosopliia. 

I  THEOSOPHISMO,  ••f.  m.  Caracter  das 
especulações  thcosophicas. 

—  Nome  dado  por  Kant  ao  systema 
dos  philosophos,  que,  como  Mallebranche, 
crêem  vèr  tudo  em  Deus. 

I  THEOSOPHO,  *.  "I.  Homem  que  en- 
sina ou  ]iratiea  a  theosophia. 

THERAPEUTICA,  í.  /.  (Do  grego  th«- 
rapeutiki').  Parto  da  medicina  que  tem 
por  objecto  o  tratamento  das  doenças, 
quo  d:Í  os  preceitos  sobre  a  escolha  c 
aviministração  dos  seus  meios  curativos, 
c  sobre  a  natureza  dos  medicamentos.  — 
Ctirao  de  therapeutica. 


THER 


THES 


THES 


721 


f  THERAPEUTICO,  A,  adj.  Que  diz 
respeito  ao  tratamento  das  doenças.  — 
Meios  therapeuticos. 

THEREBENTINA,  THEREBINTINA,  THE- 
REBINTO,  ftc.  Vid.   Terebintia,  etc. 

THERIACOI.OGIA,  ou  TiiERIOCOLOGIA, 
s.  /.  (Do  grego  tMrion,  e  logos).  Trata- 
do dos  aniniaes  venenosos. 

THERIAGA,  s.  /.  (Do  grego  tMrion). 
Vid.  Triaga. 

THERIOTOMIA,  s.  f.  (Do  grego  tM- 
rion, e  tome).  Anatomia  dos  auimaes. 

THERISTRO,  s.  m.  (Do  grego  tlieros). 
Género  de  veu,  ou  vestido  leve,  de  que 
outr'ora  usavam  as  mulheres  no  tempo 
do  verão. 

THERMA,  s.  f.  (Do  grego  thermé).  Ca- 
sa de  banlio  de  agua  quente. 

THERMAL,  adj.  2  gen.  —  Aguas  ther- 
maes ;  aguas  quentes  naturalmente,  de 
que  se  usa  para  banhos  medicinaes;  de 
com  muni  sào  impregnadas  de  partes  sul- 
phureas,   etc. 

j  THERMICO,  A,  adj.  Que  diz  res- 
peito ao  calor.  —  Os  caracteres  thermi- 
cos  das   doenças. 

— •  Machinas  thermicas ;  machinas  des- 
tinadas a  refrescar  ou  a  aquecer  o  ar  das 
habitações,  e  a  fabricar  gelo. 

f  THERMOBAROMETRO,  s.  m.  Instru- 
mento que  reuuc  as  propriedades  do  ba- 
rómetro ás  do  thermometro. 

f  THERMOCHIMICA,  s.  f.  Theoria  dos 
phenoiuenos  caloriticos  que  acompanham 
os  pheuomenos  ehinucos. 

THERMOCO,   .s.  m.  Vid.  Tremoço. 

f  THERMODYNAMICA,  s.  f.  A  scieu- 
cia  da  força  produzida  pelo  calor.  —  A 
thermodynamica  molecular. 

-j-  THERMOELEGTRICIDADE,  s.  f.  Ele- 
ctricidade desenvolvida  por  imia  mudan- 
ça de  temperatura. 

—  Parte  da  phvsica  que  trata  dos  phe- 
nomenos  d 'esta  ordem. 

f  THERMOELECTRICO,  A,  adj.  Que 
diz  respeito  á  thermoelectricidade,  ou  ao 
calor  e  á  electricidade. 

—  Diz-se  dos  phenomenos  resultantes 
das  correntes  eléctricas  que  se  podem  ex- 
citar uos  metaes  pelo  uuico  facto  das  va- 
riacõe=;  da  t  -mperatura. 

THERMOLOGIA,  .?.  /.  (Do  grego  ther- 
niê,  o  logos).  Termo  didáctico.  Tratado 
do  calor. 

—  Doutrina  do  calor. 

t  THERMOMAGNETISMO,  s.  m.  Ter- 
mo de  phvsica.  Magnetismo  desenvolvido 
pelo  cahir. 

-{-  THERMOMETRICO,  A,  adj.  Que  diz 
respeito  A  tliermometria.  — Medida  ther- 
mometrica. 

THERMOMETRO,  s.  vi.  (Do  grego  ther- 
mê,  e  metron).  Instrumento  que  dá  a  co- 
nhecer a  temperatura  da  atmosphera;  ó 
um  tubo  de  vidro,  no  qual  está  encerra- 
do espirito  de  vinho  ou  azougue  que,  ra- 
refeito pelo  calor  atmospherico  sobe  no 
tubo,  condensado  baixa,  e  se  recolhe  no 

VOL.  V.  —  91. 


globosinho;  põe-se  encostado  a  uma  pe- 
quena taboa  graduada,  para  se  conhecer 
o  estado  do  calor  ou  frio. 

— ^  Thermometro  de  Reaumur ;  aquelle 
cuja  escala  é  dividida  em  80  graus  en- 
tre o  gelo  fundente  e  a  agua  fervente. 

— Thermometro  centígrado;  aquelle  cu- 
ja escala  está  divida  em  100  graus  entre 
o  gelo  fundente  e  a  agua  fervente. 

—  Termómetro  de  Fahrenheit ;  aqueWe 
que  está  dividido  em  212  graus,  a  par- 
tir da  congelação  do  mercúrio  até  á  agua 
fervente.  O  termo  do  gelo  fundente  e  o 
zero  do  thermometro  centigi'ado  e  de 
Reaumur  corresponde  a  32°  de  Fahre- 
nheit, e  fica  180°  para  corresponder  aos 
100  e  aos  80  graus  do  thermometro  cen- 
tígrado e  de  Reaumur. 

—  4  graus  de  Reaunnir  valem  b  centi- 
grados,  e  9  de  Fahrenheit. 

—  Thermometro  differencial ;  instru- 
mento próprio  para  medir  as  differenças 
de  temperatura. 

—  Thermometro  eléctrico ;  circuito  fe- 
chado, composto  de  um  fio  de  ferro  ou 
de  cobre,  soldados  a  seus  pontos  de  união, 
no  qual  se  encontra  um  galvanometro 
guardando  perfeitamente  zero. 

f  THERMOMULTIPLICADOR,  s.  m.  Ap- 
parerfto  thermometrico  mui  sensível  for- 
mado pela  reunião  da  pilha  thermoelc- 
ctrica  de  Nobili  com  o  galvanometro. 

f  THERMOPHYSIOLOGIA,  s.  /.  Theo- 
ria dos  phenomenos  caloroficos  que  se 
produzem  durante  as  acções  physiologi- 
cas. 

f  THERMOSCOPIO,  s.  m.  Instrumento 
destinado  a  descobrir  mui  pequenas  mu- 
danças de  temperatura. 

THESBITINO,  A,  adj.  e  s.  De  Thes- 
bis,  ou  pertencente  a  Tliesbis. 

THESE,  .s.  /.  (Do  grego  thesis).  Pro- 
posição que  se  expõe  para  a  controvér- 
sia, e  que  alguém  defende ;  conclusão ; 
asserção  em  geral ;  differe  de  hi/pothese. 

■ — •  Proposição  de  philosophia,  de  theo- 
logia,  de  direito,  de  medicina,  que  se 
sustenta  publicamente. 

—  O  aggregado  de  proposições  que  o 
estudante  sustenta  para  ser  recebido  co- 
mo licenciado,  ou  doutor. 

—  A  disputa  menor  das  theses.  —  As- 
sistir a  uma  these. 

—  As  conclusões  magnas  no  acto  gran- 
de. —  Defender  theses. 

THE30URAD0,  s.  /.'Officio  de  thcsou- 
reiro. 

THESOURARIA,  .t.  /.  Logar  onde  se 
guardam  os  thesouros  do  estado. 

—  Thesourado,  emprego  do  thesou- 
reiro. 

—  A  repartição,  ou  casa  onde  estão  os 
cofres  de  alguma  arrecadação  do  estado, 
e  onde  trabalham  o  thesoureiro,  e  seus 
subalterno-;. 

THESOUREIRO,  s.  m.  O  guarda  do 
thcsouro,  ou  dos  cofres  d'alguma  arreca- 
dação . 


—  O  que  tem  a  seu  cargo  a  arrecada- 
ção das  receitas,  e  distribuição  da  despe- 
za  de  uma  corporação,  irmandade,  etc. 
Nas  casas  e  companhias  commerciaes  diz-- 
se  o  caixa. 

—  O  thesoureiro  d' urna  egreja;  o  que 
guarda  as  alfaias. 

THESOURO,  s.  m.  (Do  grego  thZsau- 
ros).  Casa,  ou  arca  onde  está  o  dinheiro, 
jóias  e  preciosidades. 

De  iguarias  suaves  o  diyinag, 
A  quem  não  chega  a  egypcia  antigua  fama, 
Sc  accuniulam  os  pratos  de  fulvo  ouro, 
Trazidos  lá  do  Atlântico  thenouro. 
CAM.,  Lus.,  cant.  10,  est.  3. 

—  «Herdou  o  Reino  sendo  de  trinta  e 
dons  annos,  em  que  achou  boa  cópia  de 
thesouro  assim  em  dinheiro  amoedado, 
como  em  barras,  e  achara  muito  mais, 
senaõ  foraõ  as  guerras,  que  el  Rei  D. 
Joaõ  seu  pai  teve  com  Castella,  e  as 
conquistas  que  fez  em  Africa,  e  sobre 
tudo  os  gastos  com  que  el  Rei  D.  Fer- 
nando desbaratou  os  thesouros  do  Reino, 
e  deixou  seus  vassallos  perdidos.»  Frei 
Bernardo  de  Brito,  Elogios  dos  reis  de 
Portugal,  continuados  por  D.  José  Bar- 
bosa.—  «Jà  que  lhes  nam  dá  do  que 
dirá  a  gente,  nam  me  diram,  onde  acha- 
rão estes  thesouros,  sem  hirem  á  índia; 
ou  que  arte  tiveram,  para  medrarem 
tanto  em  tam  pouco  tempo,  para  que  os 
desculpemos  ao  menos  com  a  visinhan- 
ça?»  Arte  de  furtar,  cap.  42. 

—  Thesouro  d'el-rei;  thesouro  do  rei, 
erário  publico.  —  «E  tirada  esta  despe- 
za,  o  mais  que  sobejava  se  mettia  no 
thesouro  delRey;  e  senão  foram  algumas 
liberdades,  que  antigamente  eram  conce- 
didas aos  vizinhos,  tivera  este  Reyuo  do- 
brada renda. »  Barros,  Década  2,  liv.  10, 
cap.  7. 

—  Figuradamente:  Multidão  de  di- 
nheiro, barra. 


Com  mercês  feitas,  c  outras  que  offerece, 
O  seu  charo  thesouro  lh't'ncommenda. 
Porque  o  peito  leal,  que  bem  couheee. 
Era  maior  lealdade  asai  o  acenda: 
Mas  porque  isto  inda  pouco  lhe  parece. 
Para  que  Acefarcào  melhor  entenda 
Que  cousa  esta  hc  que  só  delle  fiava. 
Também  estas  palavras  lh'ajuiitava. 

F.    d'aNDRADÍ?,    PRIMEinO    CERCO    DF.    DIU,     Cailt.    3, 

est.  03. 


Hum  fecundo  calor  excita  os  Entes, 
Seus  thesouros  os  Ceos  então  dcrramão, 
Ao  regaço  da  Terra  as  agoas  descem. 
Entorpecidas  molas  lhe  vigorào, 
Reanimão-se  as  Arvores,  e  a  seve 
Deixa  o  frio  torpor,  gira  nos  troncos. 

J.    A.    DE  MACEDO,  A  N.VTDREZA,  Caut.    1. 

He  seu  calor  a  fonte  minca  exhausta 

Dos  fhesonros.  dos  dons  que  a  Terra  ostenta; 

Mil  dadivas  lhe  envia,  c  não  recebe 

Da  Terra  galardão.  Renasce  c  vive 


722 


THEU 


THEZ 


THOR 


A  Natureza  amortecida,  fumndo 
A'8  cavorna»  do  Polo  o  iiivorno  foge. 


Embora  triste  horror  boub  olho»  vejic, 
Somente  o  cora(;ào  busca  tlifuonron. 
iniDKM,  cant.  '2. 

Nunca  farto  A>:  inipi^rioH,  do  tlimonrnn, 

O  mar  ai*rtob(M"bou,  o  as  Lcíh  severa» 

Com  que  bnn;o  immortal  huiiH  Tovos  d'outro.s 

Portendeo  aoparur,  quiz  pôr  distantes! 


A  voz  da  Poesia,  o  mais  seguro 
Orgào  por  ondis  a  Natureza  falia. 
Seus  milagres,  seus  dons  nunca  de  todo 
]  íado  chegar  a  expor  •,  de  maravilhas 
Nunca  se  estanca  o  poi-ennal  thfsouro, 
Delias  todas  corri  pequena  parte. 
iDiDKu,  cant.  3. 


—  Pôr  cm  thesouro  ;  entlicsourar. 

—  Fazer  thesouro  da  amizade  de  al- 
guém; gr.iiig'cnl-;i,  obtel-iv,  conscrval-a 
como  um  thesouro. 

—  Os  thesouros  da  gelo,  e  da  chuvei- 
ros. 

—  Thesouro  publico.  Vid.  Erário. 

—  Thesouro  de  virtudes,  de  2>aciencia, 
ãe  'i^rudentes  avisos. 

—  O  oclilicio,  oníle  trabalham  es  em- 
pregados (lo  thesouro. 

—  Ou  thesouros  da  mundo. 

Os  thesouros  do  mundo.  Não  a  aoccito. 
Marco,  dil-nic  attcn(;ão  —  ao  teu  amigo... 
Amigo  tu ! 

Outr"ora  m'o  chamavas. 

O.VBHK.TT,  CATÃO,   act.    3,   SC.    1. 

THESSALICO,  A,  adj.  o  s.  Natural  da 
Thossalia,  concenieutc  à  Tlicssalia.  — 
Moiile  thessalico. 

THESSALONICENSE,  adj.  e  s.  2  yen. 
Natural  uu  portonucnte  il  The.^ísalia. 

THETICO,  ou  THETIO,  A,  adj.  De  Thc- 
tis,  ou  fonccrneutc  a  Thctis. 

THETIS,  s.  /.  Termo  de  mythologia. 
Uma  das  deusas  do  mar,  que  foi  lu.ãe  do 
Achilles. 

—  O  mar. 

—  Género  de  conchas  bivalves. 

—  Planeta  telescópico,  descoberto  eiu 
1852. 

THEÚDO.  Vid.  Teúdo.  —  «Poro  se  al- 
guuui  dos  dito-í  homoeus  adoecer,  ou  en- 
velhecer cm  nosso  serviço,  que  nom  pos- 
sa servir,  que  o  dito  Almirante  nom  seja 
theudo  de  mandar  por  outros  cm  lugar 
dellcs,  em  quanto  estes  homens  forem  vi- 
vos, o  nom  poderem  servir;  e  o  dito  Al- 
mirante pcra  sempre  devo  de  mantccr  os 
ditos  vinte  horaoens  de  (Icnoa  pêra  nos- 
so serviço.»  Ord.  Affons.,  liv.  1,  tit.  54, 
§  14.  —  «Eui  tal  caso  mandamos  que  o 
devedor  seja  theudo  de  tornar  o  que  re- 
cebeo,  ou  cincoenta  libras  por  huma  des- 
ta moeda,  som  embargo  da  consinaçoni, 
o  deposiçom,  o  o  devedor  possa  aver  a 


moeda,  qu(!  cunsinou,  o  depóse.»  Idem, 
liv.  4,  tit.  1,  §  9.  —  «E  posto  que  eiu 
alguuns  destes  contrautos  susy  ditos,  fei- 
tos c  cíilobradoH  em  cada  huum  destes 
trcs  tempos,  fosso  dito  que  o  devedor  pa- 
gasto  das  moerias,  que  corressem  aos 
tempos  das  ));igas,  mandamos  que  o  dito 
devedor  seja  theudo  a  [)agar  da  moei  ia, 
quo  coi'ria  no  tempo,  que  se  fez  o  dito 
coiitrauto :  o  8C  foi  feito  no  aano  da  Era 
do  mil  c  quatroc';i.tos  c  vinte  c  quatro 
annos,  pague  da  dita  moeda,  ou  dez  li- 
bras por  Jiuma  desta  do  real  do  três  li- 
bras e  meia.»  Ibidem,  §  17.  —  «E  nas 
que  des  entom  a  ca  forom  feitas  nom  aja 
lugar,  e  os  devedores  sejam  theudos  de 
pagar  esso  (|ue  doverom,  como  se  c.^sas 
obraçooens,  c  consinaçooens  nom  fossem 
feitas,  como  per  nós  he  hordonado.»  Ibi- 
dem, §  23.  —  «Em  tal  caso  como  este 
nom  será  a  jjarto  theuda  de  pagar  nc- 
nhuã  cousa  por  corrogimento  das  ditas 
casas,  e  malfeitorias,  salvo  so  de  seis  me- 
zes  ante  da  publieaçom  desta  Ilonlena- 
çom  foK  cintemente  essas  malfeitorias.» 
Ibidem,  §  'ò'i.  —  «E  se  o  assy  nom  fize- 
rem, e  achado  for  depois  quo  esses,  que 
assy  viviam,  som  theudos  d'entrcgar  al- 
guã  rem  a  esses,  de  que  se  assy  parti- 
rem, que  outro  tanto  entreguem  a  n<')S 
do  seu  esses,  que  os  assy  partir  nom  qui- 
serem quando  lhes  foi  fronta  !o.o  Ibidem, 
tit.  26,  §  2.  —  <iE  se  o  denumdado  dis- 
ser ao  autor,  a  que  se  chamou,  que  o  de- 
fenda, e  esse  autor  nom  quiser  vir  a 
dcfendello,  ou  se  vier,  o  o  nom  quiser 
defender,  se  o  demandado  defendendo  a 
cousa,  sobre  que  he  a  contenda,  for  del- 
ia vencido,  o  autor  soja  theudo  de  a  dar 
dobrada  a  aquelle,  a  que  a  cousa  foi  ven- 
dida, ou  escaimbada,  ou  a  seu  iierel,  se 
esta  cousa  foi  vendida,  ou  escaimbada 
per  elle,  ou  por  aquelle,  cujo  hcrel  he.» 
Ibidem,  tit.  òO,  §  1. 

THEURGIA,  s.  f.  (Do  grego  theos,  e 
ergon).  Seiencia  de  fazer  maravilhas  em 
nome  e  virtude  de  Deus,  e  das  potesta- 
des celestiacs,  ou  deuses  celestes. 

—  Theurgia  medicai;  cura  das  doen- 
ças por  intervenção  dos  deuses. 

f  THEURGICO,  A,  adj.  Que  pertence, 
que  tem  rclaeào  eum  a  theurgia. 

f  THEZOURO,  .•'.  »).  Vid.  Thesouro. 


Sabei,  senhora, 
que  nesta  fé  nào  vivo,  mouro  ; 
se  perto  nascera  o  ouro 
quesaís  tão  ouro  uào  fòrn 
no  estimar  de.  seu  thezoiiro. 

AXTONio  PRKSTEs,  ACTOS,  pag.  485. 

E  por  fazor  vaõ  thezoiiro, 
Também  seu  fim  descobriste, 
Que  ati'  o  inferno  abriste 
Minas  de  inferno,  o  de  ouro. 

F.  BODKtOUES  LOBO,  ECLOQAS. 


—  «No    mesmo  Thezouro  do    Impera- 


dor, 80  conserva  a  figura  do  Christo  Se- 
nhor Crucificado,  nasci  lu  cm  hum  talJo 
de  couve.  Este  tallo  coberto  de  casca  hc 
da  grandeza  do  hum  covado,  e  de  côr 
verde  escuro.»  Cavalleiro  d'()liveir», 
Cartas,   liv.   I,  n.°  24. 

THIMIANA.  Vi  I.  Thymiana. 

THIO.   \'i  i.   Tio,  terui"  cm  uso. 

f  THIONATO,  9.  m.  Termo  do  chimi- 
Cíi.  Noiíi'!  p-Dorico  diis  sacs  quo  os  áci- 
dos das  seriei  tliionicLS  formam  com  as 
ba:c«. 

f  THIONICO,  A,  ofJj.  Termo  de  chinu- 
ca.  (^uc;  <iiz  respeitíj  ao  euNofre  e  aeuu 
comj)o-tos. 

■;  THIONIDES,  «.  rn.  plur.  Tormo  de 
chindea.  Família  dos  corpos  que  encer- 
ram o  enxofre. 

THLASIS,  ou  THLASMA,  *./,  (Do  gre- 
go t/Uasis,  ou  tldasinu).  Termo  de  cirur- 
gia. Contusão,  ou  fractura  do»  ossos  cha- 
tos. 

THLIP3IA,  s.  /.  (Do  grego  thlípeia). 
Termo  de  uie>ticina.  Compressílo  das  pa- 
redes moveis  de  um  vaso  por  alguma 
causa  externa. 

I  THOMARISTA,  s.  m.  Que  segue  ou 
exiiue  as  iloutritiiis  de  S.  Thomaz. — 
"Approvaram  as  universidades  de  Coim- 
bra e  Évora,  o  julgou  a  causa  o  bispo 
de  Ijiiuiego,  aquelle  insigne  thcologo  e 
thomarista  frei  Feliciano  de  N.  Senho- 
ra.. Jíispo  do  íir.ào  Pará,  Memorias,  pu- 
blicadas por  Caniillo  Casteilo  Ikanco, 
pag.  101. 

t  THOMISMO,  s.  m.  Doutrina  de  S. 
Thomai:  d'Aquino,  particularmente  sobre 
a  prcde^stinaçào  c  a  graça. 

f  THOMISTA,  «.  ni.  Partidário  do  tho- 
mismo. 

—  Adj.  Qnc  pertence  ao  thomismo. 
THONNEA.  Vid.  Thymiea. 
THORACETE.  \'U.  Cossolete. 
THORACICO,  A,  alj.  Tei-mo  de  medi- 
cina. Do  peito. 

—  Quo  pertence  ao  thorax.  —  Capaci- 
dade thoracica. 

—  Membros  thoracicos ;  os  membros 
superi  res,  porque  estão  articulados  com 
as  partes  lateracs  e  superiores  do  tho- 
rax. 

—  Regiões  thoracicas  ilo  tronco;  dis- 
tingue-se  de  cada  lado  a  regi.ào  thoracica 
anterior,  que  corresponde  aos  muacnioa 
peitoraes,  c  a  regiSo  thoracica  lateral, 
(juo  eorrcspoiide  ao  grande  dentado. 

—  Vísceras  thoracicas;  os  pnlmSes  c 
o  coraçíio  contidos  no  thorax. 

—  Ciinal  thoracico ;  grande  tronco 
lymphatico  formado  pela  reuni.ão  succes- 
siva  de  todos  os  vasos  lymphaticos  doa 
membros  inferiores,  do  abdómen,  e  do 
membro  superior  esquerdo,  e  do  lado  es-  H 
quvrdo  da  cabeça,  ilo  pescoço  c  do  tho-  f 
rax. 

-^  THORACIDE,  s.  m.  Termo  de  zoo- 
logia. Parte  anterior  do  corpo  de  um 
crustáceo. 


THRO 


THUR 


THYR 


723 


f  THORACOCENTHESE,  s.  /.  Operação 
cirúrgica  quo  consiste  em  atravessar  a 
parede  do  thorax,  a  fim  de  dar  saída  ao 
liquido  amontoado  na  pleura. 

f  THORACODIDYMO,  s.  m.  Termo  de 
teratologia.  Diz-se  dos  monstros  soldados 
a  partir  do  tliornx,  .Valto  a  baixo. 

t  THORACOSCOPIA,  í.  /.  Termo  de 
medicina.  Arte  de  examinar  o  peito. 

j-  THORACOZOARIO,  adj.  Diz-se  dos 
animaes  em  que  predominam  os  órgãos 
do  peito. 

t  THORADELPHO,  s.  m.  Termo  de  te- 
ratologia.  Género  de  monstros  duplos  mo- 
nocephalicos,  em  que  os  troncos  se  reú- 
nem acima  do  umbigo  com  dous  mem- 
bros thoracicos,  e  separados  em  baixo 
sem  partes  supernumerarias. 

THORAX,  s.  71).  (Do  gi-ego  í/íoroa.').  Ter- 
mo de  anatomia.  O  peito  que  encerra  os 
bofes  e  o  coração. 

—  Primeiros  anneis  que  seguiram  a 
cabeça,  nos  crustáceos  e  nos  articula- 
dos. 

—  Nos  insectos,  segmento  intermediá- 
rio do  corpo,  que  tem  patas. 

THORINA,  s.  /.  Termo  de  chimica. 
Terra  mineral,  cujo  radical  é  o  thorio, 
metal  modernamente  descoberto. 

—  Oxydo  de  tliorio. 

THORÍNIO,  s.  m.  Termo  de  cbimica. 
Metal  descoberto  por  Berzeliiis,  produzi- 
do do  mineral  thorina.  Vid.  Thorina. 

THORIO,  s.  m.  Termo  de  chimica.  O 
radical  metallico  da  thorina. 

—  ^letal  terroso. 

THORITE,  s.  m.  Termo  de  chimica. 
Mineral  raro  da  Norwega;  terra  branca 
em  que  se  encontra  a  thorina. 

THORO,  í.  m.  O  leito  conjugal. 

THRACIA,   s.  /.  Regi«ào  da  Ásia. 

—  Certa  pedra  que,  segundo  alguns, 
se  accende  com  agua  e  se  apaga  com 
azeite. 

THRACIO,  A,  ar]j.  Da  Thracia,  ou  per- 
tencente á  Thracia. 

THRACONICO,  Â,  wlj.  Traidor,  enga- 
nador, que  nào  guarda  fé,  como  os  povos 
da  Thracia,  qive  eram  tidos  por  engana- 
dores e  falsos. 

THRASONISMO,  s.  m.  Insolência,  te- 
meridade. 

THREICIO,  s.  m.  Vid.  Thracia. 

THRENOS,  s.  m.  plur.  (Do  grego  ikre- 
nos).  As  lamentações  de  Jeremias. 

—  Figuradamente  :  Lamentações,  las- 
timas, maguas. 

THREPSIOLOGIA,  s.  f.  (Do  grego  tre- 
psis,  e  logos).  Termo  didáctico.  Sciencia 
que  se  occupa  dos  meios  de  alimentar  os 
animaes  domésticos,  e  de  cuidar  n'elles. 

THRONO,  s.  m.  (Do  grego  thronos). 
8olio,  assento  elevado  onde  os  reis,  im- 
peradores e  principes  soberanos  se  sen- 
tam em  funccòes  solemnes. 


Carta  sou  de  l:i  estarem, 
n'esae  throno, 


não  Estio,  mas  Outono 
pcra  lá  fortificarem 
em  mais  gloria  de  seu  donno. 
.vNiosio  pjiESTEs,  AUTOS,  pag.  93. 

Da  Croação  da  Natureza  toda 

Alem  do  iramerLso  Circtdo,  seu  TJtrono 

Quiz  erguer  o  Iramortal.  De  perto  o  vejo, 

Que  a  luminosa  Fé  raeua  passos  guia, 

I)o  tanta  luz  nos  raios  se  esvaece 

O  Mundo  aos  olhos  meus :  pequena  Estrella 

Assim  foge,  assim  vôa,  se  no  extremo 

Limite  oriental  desponta  o  dia. 

J.    X.   DE  JUCICDO,  A  KAIUKEZA,  Caut.    1. 


No  meio  do  clarão  vejo  no  Throno 
Cercado  de  esplendor  MIGUEL  Primeiro. 
O  Génio  a  voz  erguendo  ao  Throno  aponta, 
E  com  celeste  acceuto  assim  mo  exclama. 

IDEM,   ■^^AGEU  EXTÁTICA,  Cant.    4. 

A  que  mora  no  germe,  occulta  força, 
A  que  a  tudo  dá  forma,  e  dá  figura. 
Por  mim  vai  conhecer  a  origem  d'alma, 
Qual  tenha  em  corpo  humano  assento,  o  throiio. 
IBIDEM,  cant.  2. 


A  luz,  que  a  França  vio  brilhar  mais  pura. 
Quando  o  Grande  Luiz  subira  ao  Throno, 
Que  eterna  Fama,  eternos  monumentos 
A'  grào  roda  dos  séculos  deixara. 
IBIDEM,  cant.  4. 


Do  Jlar  a  agitação,  do  Vento  a  fúria 
Com  frágil  lenho  voador  se  enibrida. 
Sentado  cm  ligneo  throno.  e  fluctuante 
Appavece  o  mortal  Eei  do  Universo; 
A  seu  arbítrio  o  Mar  divide,  c  rasga. 


Lysia  cm  mais  de  ura  Monarca,  um  Pai  conhece. 
No  throno  muitos  vio  lembrados  sempre 
Da  condição  mortal,  que  iguala  a  todos. 

IDEM,  MEDITAÇÃO,   CaUt.    1. 

Jíui  ravo  este  espectáculo  gozarão 
Os  miseros  mortaes,  quando  no  throno 
Triste  Roma  hum  só  vio :  ao  ^lundo  escravo 
Dictava  o  crime  us  leia,  lançava  os  forros. 


—  Figuradamente:  O   poder  soberano 
dos  reis,  a  potencia  soberana. 

—  Plur.  Anjos  de  terceira   ordem   da 
primeira  jerarchia. 

THURIBULARIO,  s.  m.  O  ministro  que 
incensa  com  o  thuribulo. 

»THURIBULO,  s.  7n.  (Do  latim  thurihu- 
lum).  O  vaso  onde  se  queima  incenso, 
preso  por  cadêas  para  se  poder  pôr  em 
movimento. 


Ceilão  entre  seus  bálsamos  as  tece, 
E  o  suave  vapor,  que  Aiu-ora  exhala 
Lá  no  berço  onde  nasce,  e  espalha  rosas. 
Em  dourados  tlinribulos  te  envia. 
Nào  tiverão  os  líeis  tributos  destes; 
Ao  Poder  se  negou,  déo-sc  á  Sciencia. 

J.    A.   DE  MACEDO,  VIAOEM  EXTÁTICA,  Caut.   2. 


THURICREMO,  A,  arlj.  (Do    latim  thu- 
ricremus).  Termo  de  poesia.  Altares  thu- 


ricremos ;  altares  onde  se  queima  in- 
censo. 

THURIFERARIO,  A,  adj.  O  que  minis- 
tra o  thuribulo. 

—  tí.  m.  Homem  que  nas  ceremonias- 
da  egreja  tem  o  thuribulo  e  a  naveta 
com  o  incenso. 

THURIFERO,  A,  adj.  (Do  grego  thuri- 
fer).  Que  produz  incenso. 

THURIFICAÇÃO,  s.  /.  A  acção  de  in- 
censar. 

THURIFICADOR,  s.  m.  Homem  que  in- 
censa a  Deus,  uu  aos  falsos  deuses. 

THURIFICANTE,  ;jrtrí.  act.  de  Thurifi- 
car.  Vid.  Thuriflcador. 

THURIFICAR,  v.a.  Incensar. 

THUSCO.  Viii.  Toscano. 

THYESTEO,  A,  adj.  De  Thyestes. 

—  Figuradamente:  Cruel,  atroz. 

—  Substantivamente  :   Um  thyesteo. 
THYMBRA,     ou    THYMBREIRA,    s.   f. 

Planta  odorífera  que  se  assimilha  ao 
thvmo. 

THYMELE,  s.  /.  (Do  grego  thymelê). 
Espécie  de  púlpito  levantado  na  orchestra 
grega.    - 

THYMIAMA,  ou  THIMIAMA,  s.  f.  (Do 
grego  thjraiaiaa).  Perfumes  aromáticos, 
que  se  queimam  nos  altares.  Vid.  Timiama. 

THYMIATECHNIA,  s.  f.  (Do  gi-ego  fhy- 
miama,  e  techiiêj.  Termo  didáctico.  Arte 
de  compor  pei^fumes. 

f  THYMIGO,  A,  adj.  Termo  do  anato- 
mia. Que  diz  respeito  ao  thymo.  —  Ar- 
térias thymicas. 

—  Termo  de  medicina.  Asthma  thy- 
mica ;  doença  das  creanças,  que  sobrevem 
por  accesso  mui  cui-to,  sobretudo  de  noi- 
te, e  produz  subitamente  a  morte. 

THYMO,  s.  m.  Tomilho. 

—  Termo  de  anatomia.  Corpo  oblongo, 
glandifornie,  situado  deti*az  do  sterno. 

THYNNEA,  s.  /.  (Do  grego  thynnos). 
Sacrifício  que  os  pescadores  faziam  a  Ne- 
ptuno, matando  um  atum  para  ter  aquelle 
deus  propicio  a  fazer  boa  pesca. 

THYROIDE,  adj.  2  gen.  (Do  grego  %- 
rus,  e  eidos).  Termo  de  anatomia.  Car- 
tilagem thyroide ;  a  maior  das  da  laryn- 
ge,  de  que  ella  occupa  a  parte  anterior 
superior. 

—  Glândula  thyroide  ;  corpo  situado 
na  parte  anterior  inferior  da  larynge  e 
nos  primeiros  anneis  da  tracchêa  artéria, 
e  que  parece  muitas  vezes  composto  de 
dous  lóbulos  ovóides,  seguros  um  ao  ou- 
tro por  uma  espécie  de  tubérculo  trans- 
versal . 

f  THYROIDITE,  s.  f.  Inflammacão  do 
corpo  thvroide. 

THYRSIGERO,  A,  adj.  (Do  latim  %r- 
siger).  Termo  de  poesia.  Que  traz,  e  usa 
de  thyrso. 

THYRSO,  s.  m.  (Do  grego  thyrsos). 
Termo  de  poesia.  Um  dardo  ornado  de 
hera,  e  pampilhos,  de  que  andavam  ador- 
nadas as  bacchantes :  é  insignia  de  Bac- 
cho,  e  das  Evias. 


r24 


TI 


Tllil 


TIDO 


—  Termo  de  botânica.  Modo  do  iiiHo- 
rescencia  pelo  qual  as  ilorcs  estiUo  iIíuijoh- 
1 13  0111  caclios  coiuj)()8tort  di;  |)e(liculo8  ra- 
mosos, sendo  os  do  meio  mais  largos  quo 
os  interiores  o  os  superiores. 

THYRSOSO,  A,  aJj.  Termo  de  botani- 
c:i.  <i'ue  il;i  as  tloros  em  tliyrso. 

THYSICO,  A,  a,lj.  Vid.  fisico. 

TI.  Forma  variável  do  pronome  da  se- 
gunda pessoa  tu,  que  se  usa  com  as  pro- 
j)08Í^õus  u,  de,  ou  pui-,  ou  suOre,  sem, 
2>ara. 

C  90  (lo  ti  OS  aparta,  logo  toi-nas 
A  essa  primoira  mínima  estatuía. 
Miiy  justo  tom  tal  nome  pois  Antlicros, 
Olhandote  se  chama  Rospoiídnncia. 
Esto  a  si'ii  cargo  tem  vinj^ar  agrauoa 
E  as  injurias  do  Amor  satlsfazclas, 
A  este  oontanU  tu,  c  davas  parte 
Do  teus  trabalhos,  penas,  o  dos^oJtos. 

roarr.  heil,  naukragio  de  ski-clviída,  caut.  2. 


Vossa  merco  não  m'a  dò. 
Mas  autos  n  ti  a  dou. 
Por  que,  senhor? 

ANTÓNIO  PKK3TE3,  AUTOS,  pag.  125. 

Está  muito  bem  assi ; 
ora  mais  quero  do  ti 
quo  (piem  quer  a  burla  bula 
ha  de  buscar  a  cscíipula 
com  Ivigir  quo  a  põe  de  si. 
luiDF.u,  pag.  323., 

Meus  ais 

caíam  sobre  fi,  não  mais 
quo  te  esborrachem. 
iDiDF.M,  pag.  445. 

Soceorre  Eterno  Pao,  Senhor  Supremo, 
Porque  eu  om  mar  tào  larjío  desatino, 
<)ud'hum  naufrágio  certo  espero  e  temo 
Se  mo  faltar  o  teu  favor  divino : 
Nem  m'atrevo  chegar  a  tanto  estremo 
D'alto  verso,  sem  ti.  tpie  o  fa(;a  dino 
Daquelles  quo  por  ti  com  peitos  fortes 
Derão,  c  receberão  cruois  mortos. 

P.  n'ANDRAnE,  PBIMEIBO  CEBCO  DE  DIU,  Caut.    1, 

est.  -2. 


Obrigou-o  a  fazer  isto  que  digo 
Vêr  quo  os  passados  Reis  isto  fizerào. 
Pois  perdoo  esta  terra  o  seu  antigo 
Rei,  o  os  fados  a  ti  t'a  concederão, 
Nào  sejas  a  esta  idade  tu  só  iuiigo, 
Da-rae  o  que  os  outros  Reis  sempre  mo  derão 
A  tào  causada  idade  sempre  humanos, 
Valha-mo  nisto  a  posse  do  com  anos. 
luiDEU,  caut.  8,  est.  CS. 


Eu  sempre  para  ti  só  cjuiz  a  vida, 
O  que  desejei  sempre  tinha  agora, 
Mas  n'hum  gravo  tormento,  convertida 
Vejo  esta  gloria  estando  tu  do  fora : 
Não  queiras  que  por  ti  veja  cu  perdida 
A  vida,  o  bom,  e  o  gosto  sA  n'huma  hora, 
Fogo,  foge,  amor  meu,  do  msil  presente 
Porque  vivendo  tu,  moura  eu  contento. 
IBIDEM,  caut.  9,  est.  03. 

Por  largo  espado  o  deixa  o  Nigromante 
Repousar  em  descíiuijo,  até  que  ao  vè-lo 


De  todo  do  desmaio  recobrado. 

Com  mofa,  v  compaixão  a.ssiin  lhe  falia : 

—  Não  cuidei,  (jue  tão  pouco  csfori;o  tiuluiS, 

Preguii;oso  Deão,  iuibelle,  e  fraco; 

t^ue  uma  Hontença  contra  ti  vibrada 

Te  lizesso  perder  de  todo  o  alento : 

Mas  és  Cónego  cm  fim,  e  tauto  banta ! 

DINIZ  DA  CBUZ,  HY880PE,  CUUt.  tí. 

Por  ti  me  é  fácil  tudo.  Nós,  da  purpura 
Muito,  já  (como  o  sabes)  dispozemos. 
Em  segredo,  armarei  nossos  Soldados. 

r.    M.    1)0  N.VSCIMENTO,  09  SIAUTVnt.B,  1ÍV.    10. 

—  Diz-so  também  te  por  a  ti,  que  vale 
o  mesmo. 

—  Ti,  antepondo-se-lho  a  preposiçilo 
com,  dir-so-ba  melhor  cam  tigo,  e  nSo 
com  ti. 

1.1  TIA,  s.  /.  A  irniri  do  pae  ou  da 
mãe,  avi)  ou  avô,  a  respeito  do  sobrinbo 
ou  sobrinha.  —  «Como  luc  acho  inuy  dis- 
posto para  zombar  das  loucuras,  e  daa 
extravagâncias  que  exeeutuo  os  humanos, 
nSo  faço  mais  do  que  rir-me  dos  seus  ter- 
rores pânicos,  e  dos  seus  presagios  des- 
propositados. A  idade,  e  o  costume  tem 
eontirmado  em  tal  tornia  esta  doença  na 
Senhora  de  que  vos  falo  e  em  vossas 
Tias,  que  temo  que  para  nenhuma  delias 
possa  haver  remédio. »  Cavalleiro  de  Oli- 
veira, Cartas,  liv.  3,  n.°  11. 

2.  i  TIA.  Termo  antiquado,  por  tinha, 
do  verbo  ter. 

TIARA,  s.  f.  (Do  latim  tiara }.  Ur  nato 
da  cabeça  usado  ofitr'ora  entre  os  persas, 
os  arménios  e  os  judeus. 

—  Mitra  poutitícal  do  papa. 

—  Figuradamente:  Ter  a  tiara;  ser 
papa. 

—  Pôr  a  tiara  na  cabeia  de  alguém; 
fazel-o  papa. 

—  Figuradamente :  A  dignidade  pa- 
pal. —  Mostrou-se  digno  da  tiara. 

TIBEZA,  s.  /.  Vid.  Tibieza. 

TÍBIA,  *.  /.  (Do  latim  tibia).  Termo 
de  anatomia.  O  osso  mais  grosso  da  per- 
na, situado  na  pai'te  anterior  e  interna 
d'este  membro. 

—  Tei'ceira  ai'ticulação  das  patas  dos 
insectos. 

—  Trombeta  fraiitada. 

TIBIAL,  (í(//.  2  çien.  (Do  latim  tibia- 
lis,  de  tibiai.  Termo  de  anatomia.  Que 
pertence,  que  tem  relação  á  tibia.  —  Ar- 
téria tibial.  —  Nervos  tibiaes. 

—  Penuas  tibiaes ;  aqucUas  que  guar- 
necem a  perua  da  ave. 

—  Substantivamente :  O  tibial  ante- 
rior;  musculo. —  O  tibial  pusteriur. 

TIBIAMENTE,  adv.  ^De  tibio,  e  o  suf- 
tixo  umeute»'.  De  um  modo  tibio. 

—  Com  tibieza,  com  Irouxidão,  frou- 
xamente. 


Quando  a  Fernando  marchaates 
asâi  ipie  a  moija  tic^isse 
eu  vos  vi  a  prima  face 
que  tibiamente  a  tomastes. 

AMOiaO  FBESTCS,   ACro»,   pftg.   M'» 


—  Pelejar  tibiamente ;  pelejar,  com- 
bater sein  calor. 

TIBIEZA,  o.  j.  Touco  calor,  do  corpo 
murno. 

—  Figuradamente  :  Pouca  actividade, 
frieza,  trouxidSo. 

—  Tepidez, 

TIBIO,  A,  ndj.  Tépido,  morno. 

—  Xào  férviílo,  ii3o  fervoroso. 

—  líemisso,  frouxo,  sem  eiiergia. 

—  Substantivamente:  O»  tíbios;  o8  re- 
missos.—  «E  03  que  se  sintiilo  culpados 
na  .sensualidade,  se  pesavlo  a  algodio,  o 
frouxel,  e  paulia,  e  roujm,  e  vinho,  e 
cheyros,  porque  deziào  que  e8ta«  erau  as 
cousaíi  que  serviào  para  este  peccado.  Us 
tibios  e  froxos  no  amor  de  Deus,  e  ava- 
rentos no  dar  das  esmolas  ee  pe.sav?lo  a 
dinheyro  amoedado  de  cobre,  estanho,  e 
prata,  ou  a  pet.arf  douro,»  Fernão  Men- 
des Pinto.  Peregrinações,  cap.  161. 

I  TIBIO-MALLEOLAR,  adj.  2  gen.  Ter- 
mo de  anatomia.  Veia  tibio-malleoUr ; 
a  grande  veia  sapheiía,  que  corresponde 
á  tibia  e  ao  malleolo  interno. 

7  TIBIO-TARSIANO,  A,  aJj.  Termo  de 
anatomia.  Diz-se  da  articulação  e  doa  li- 
gamentos que  unem  a  tibia  com  o  astra- 
galo,  um  dos  ossos  do  tarso. 

—  Termo  de  cirurgia.  Amputação  tibio- 
tarsiana ;  amput<içllo  praticada  na  arti- 
cularão lia  perna  com  o  jx'. 

TIBORNA,  s.  f.  Pào  quente  embebido 
em  azeite  novo  para  se  comer.  —  Fazir 
tibornas. 

TICO,  s.  VI.  Termo  de  medicina.  Tico 
doloroso;  convulsão  com  dor  ou  nevral- 
gia, 

—  Tico  convulsivo. 

TIC-TAC,  s.  ni.  Onomatopeia  exprimin- 
do um  ruído  secco  resultante  de  om  mo- 
vimento regulado.  —  tíem  cessar  o  cora- 
ção me  faz  junto  de  vós  tic-tac. 

TIÇÃO,  s.  :íi.  (Do  latim  titio,.  Acha 
de  lenha  accesa  ou  meia  queimada. 

—  Tiriuo  de  pedreiro.  Assentar  o  tijo- 
lo de  tição ;  com  o  lougor  para  o  fundo, 
ticando  a  testa  ou  o  mais  estreito  á  face 
da  p>arede. 

—  Figuradamente:  Tição  do  inferno; 
o  que  induz  a  peccar. 

—  .\DAGI0.'<   E   PKOVKRlilOS  : 

—  Xem  estopa  com  tições,  nem  mu- 
lher com  varões. 

—  Dous  ruins  e  dous  tições  nunca 
bem  os  compões. 

TIÇOADA,  í.  /.   Pancada  com  tiçào. 

TIÇOEIRO,  s.  m.  Instrumento  de  ati- 
çar o  fogo;  ê  de  ferro  nas  chaminés  de 
carvào. 

TIDO,  parf.  pass.  do  verbo  Ter.  Vid, 
Havido.  —  «Tem  tido  diversas  pelejas 
com  outra  qualidade  ile  Gigantes  mari- 
nhos que  intentiirào  entrar  no  seu  domí- 
nio, mas  sem  ctTeito,  tendo  elle  mostrado 
em  todas  as  occasioens  que  he  o  mais 
forte.»  Cavalleiro  d'01íveíra.  Cartas,  liv. 
1,  n.»  69. 


TIGR 


TIL 


TIMB 


TIFEO,  A,  adj.  Pertencente  ao  gigan- 
te Tii.jo.  — Armas  tifeas. 

TIGELA,  s.  f.  Vaso  covo  de  barro  para 
sopas. 


Jlestre,  parece  psta  .iquella 
de  molher  que  é  luzidia, 
eis  ixir  aqui  lhe  corria 
o  emprasto  da  tigela; 
vedes,  Mestre"? 

Bom  estaria, 
parece-lhe  inda  isso  aM? 

AJÍTOKIO  PRESTES,  ACTOS,    pag.    57. 


—  A  tigela  ãa  casa;  vaso  de  barro, 
onde  se  ajuntam  as  aguas  da  cozinha, 
etc,  para  depois  se  despejarem. 

—  Fidalgo  de  meia  tigela ;  o  que  não 
é  dos  mais  illustres,  e  que  apenas  tem  o 
foro.  Os  fidalgos  moradores  da  casa  d'el- 
rei  andavam  alistados  nos  livi-os  da  cozi- 
nha d'el-rei,  e  recebiam  raçào,  e  talvez 
guisada,  que  aos  menos  classificados  se 
daria  menor.  Yid.  Morador,  Livros  da 
cozinha,  e  Cozinha. 

—  Adágios  e  provérbios  : 

—  Fidalgo  de  meia  tigela. 

—  Fidalgo  de  quarto  de  tigela. 
TIGELÃSA,  s.  f.  Uma  tigela  cheia. 

—  Figuradamente :  Geute  que  está  tias 
estalagens  eiu  tigelada;  gente  que  está 
promiscuamente,  sem  distincções  deco- 
rosas, com  as  familiaridades  do  com- 
nium. 

—  Camarões,  sardinhas  de  tigelada; 
guisados  em  tigelas  com  certos  adu- 
bos. 

—  Ter  vento  de  tigelada;  ter  nada 
para  comer. 

—  Tigelada  de  frigir;  caço. 
TIGELINHA,  s.  /.   Diminutivo    de    Ti- 
gela. 

—  Tigeliuha  de  cor;  em  que  vem  a 
cOr  para  os  arrebiques  do  rosto. 

TIGELO,  s.  m.  Termo  antiquado.  Yid. 
Tijolo. 

TIGRE,  s.  2  gen.  (Do  grego  tigris). 
Animal  feroz,  da  feição  do  gato.  —  «E 
assi  huns  se  occupavão  em  caças,  de  que 
ha  infinidade  nesta  terra,  principalmente 
de  veados  e  porcos  monteses ;  outros  em 
montear  tigres,  badas,  onças,  zevras, 
iiões,  bufaras,  vacas  bravas,  e  outras 
muytas  diversidades  de  alimárias  nunca 
vistas  nem  nomeadas  cá  na  Europa,  de 
maneyra  que  os  mais  fragueyros  sempre 
andavào  no  mato.»  Fernão  Mendes  Pin- 
to, Peregrinações,  cap.  Iõ8.  —  «Daqui 
se  foy  pêra  hum  canto,  onde  sempre  e<- 
teue  baylando.  Após  elle  sahirão  três  Ti- 
gres, hiuD  delles  branco,  e  de  corpo  dis- 
forme, os  dous  melados,  e  mais  peque- 
nos, presos  por  cadeas  de  ferro,  os  quaes 
apresentou  a  seu  senhor,  quem  os  trazia ; 
Fizerào-lhe  sinal  que  se  afastasse;  e  aos 
porteyros  de  maça,  ordenassem  a  gente 
que  era  infinita.»  Fr.  Gaspar  de  S.  Ber- 
nardino, Itinerário  da  ludia,  cap.  14. 


Virão  teus  olhos,  denodado  Almagro, 

Incorruptos  cadáveres  daquelles 

Tigres,  qu'  ao  lado  teu  sangue  anhelavão. 

J.  À..  DE  ILLCtVO,  i.  NATCRXZA,  Caut.  2. 


TIGRESINHO,  ou  TIGREZINHO,  s.  m. 
Diminutivo  de  Tigre.  Tigre  pequeno. 

TIGRINO,  A,  adj.  De  tigre,  de  côr  de 
tigre. 

TIIMENTO,  s.  m.  Termo  antiquado. 
Acto  de  ter.  de  deter  o  caminhante. 

TIJEGNACÚ  DO  BRAZIL,  s.  m.  Termo 
de  historia  natural.  Ave  da  Ameiúca,  de 
um  bello  preto,  com  o  dorso  azul  celeste, 
e  uma  poupa  de  um  vermelho  pui'o. 

TIJOLEIRO,  s.  m.  Homem  que  faz  ti- 
jolo. 

TIJOLO,  s.  m.  Pedaço  de  barro  com 
feição  regular,  cozido  ao  fogo  para  edifi- 
car; ladrilho.  —  «As  quais  eraõ  povoa- 
das de  lugares  pequenos  de  duzentos  até 
quinhentos  vezinhos,  alguns  dos  quaes 
eraõ  cercados  de  tijolo,  mas  não  que  bas- 
tasse para  os  defender  de  quaisquer  bõs 
trinta  soldados,  por  ser  a  gente  toda 
muyto  fraca,  e  sem  armas  nenhumas, 
mais  que  sós  paos  tostados,  e  alguns  tre- 
çados  curtos,  com  huns  paveses  de  ta- 
boas  de  pinho  pintados  de  vermelho  e 
preto.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregri- 
nações, cap.  52.  —  «Passadas  estas  cam- 
pinas, que  podião  ser  de  dez  ou  doze  le- 
goas,  cliegamos  a  huma  villa,  que  se  cha- 
mava Juuquileu,  cercada  de  tijoilo,  com 
cspigoeus  por  cima  do  muro,  sem  ameya 
nenhuma,  nem  baluarte,  nem  torre,  como 
os  outros  de  que  tenho  contado.»  Ibidem, 
cap.  90. —  «Nesta  cidade  nos  affirmaraô 
que  tinha  el  Rey  de  renda  todos  os  an- 
iios  S(')  das  minas  de  prata  dous  mil  e 
quinhentos  picos,  que  saõ  quatro  mil 
quintais,  e  a  fora  esta  renda  tem  outras 
muytas  de  muytas  cousas  differeutes. 
Esta  cidade  não  tem  mais  força  para  sua 
defensão  que  sij  hum  fraco  muro  de  tijo-. 
lo  de  oito  palmos  dos  meus  de  largo,  e 
huma  cava  de  cinco  bi'aças  de  largo,  e 
sete  palmos  de  fundo.»  Ibidem,  capitu- 
lo 132. 

—  Doce  de  tijolo,  ou  tijolo  de  guaia- 
lada;  doce  feito  de  guaiabas,  da  figura  de 
tijolo.  Diz-se  também  tijolo  de  limão,  e 
de  arasá. 

l.i  TIL,  s.  m.  Signal  orthographico 
equivalente  ao  m  e  ao  n,  coUocado  sobre 
as  vogaes  nasaes. 

■ — •  Sobrancelhas  de  til ;  sobrancelhas 
mui  delgadas,  que  é  belleza. 

—  Figuradamente  :  Um  til ;  cousa  mí- 
nima. 

2.)  TIL,  s.  m.  Vid.  Tilia. 

—  Pranchas  de  escuro  til. 


Pranchas  de  eâcu<o  tiL  rudo  lavradas. 
Do  apposento  as  paredes  guarneciam. 
Sobre  uma  banca  de  egual  custo  e  obra 
Poisava  antiga  cruz  d"onde  pendia 
Agonizante  o  Chriato  :  lavor  fino 


Que  no  iudico  dente  u  ísiào  devota 
Dum  neophyto  dAsia  executara. 
GAKBEiT,  CÀUÕES,  cant.  3,  cap.  1. 

TILÃO,  í.  m.   Vid.  Til. 
TILASY,  s.  /.  Planta. 
TILDE,  s.  /.  Vid.  Til. 
TILHA,   .<.  /.  Termo  de  marinha.    Co- 
berta, coxia  do  navio. 

—  Em  terra,  é  platafiiraia. 

1.)  TILHADO,  í.  m.  Termo  antiquado. 
Vid.  Tiihá. 

2.)  TILHADO,  A,  adj.  Que  tem  tilhá 
ou  coberta.  —  Embarcações  tilhadas. 

TILIA,  *.  /.  (Do  latim  tilia).  Til,  te- 
lha ;  arvore. 

TIMÃO,  ou  TEMÃO,  s.  m.  (Do  latim 
terão}.  Leme. 

—  Temão  do  arado,  ou  do  carro ;  o  ca- 
beçalho onde  se  jungem  os  bois  que  o 
tiram. 

—  Uma  das  peças  de  que  se  compõe  o 
trabuco. 

—  Moeda  da  Pérsia. 

—  Toma-se  por  queimão,  ou  roupão 
grande  aberto  por  diante;  diz-se  na  pro- 
víncia do  Brazil. 

TIMB  AL,  s.  m.  Instrimiento  de  musi- 
ca usado  pela  milicia  na  cavallaria. 

—  Pastelão  de  frangos  ou  pombos  gui- 
sados. 

^  Plur.  Espécie  de  tambores  de  co- 
bre, usados  nas  orchestras. 

TIMBALEIRO,  *.  m.  Homem  que  toca 
timbales. 

TIMBÓ,  s.  m.  Cipcj  trepador  de  muita 
gro5siu-a,  que  no  Brazil  se  malha  nos 
rios  para  embarbascar  o  peixe,  que  vae 
fugindo  da  agua  inficionada  com  o  sueco 
do  timbó  cair  nos  giquis,  que  estão  en- 
fiados nas  cercas  com  boqueirões,  ou  ta- 
pagens,  que  a  espaços  atravessam  o  rio 
onde  se  bota  a  tinguijada;  ou  em  cur- 
raes  que  tomam  a  largura  dos  rios. 

TIMBRADO,  part.  pass.  de  Timbrar. 
Que  tem  timbre. 

TIMBRAR,  V.  a.  Termo  de  brazão. 
PGr  por  timbre  alguma  peça  de  armaria. 
—  Timbrar  o  escudo. 

TIMBRE,  s.  m.  (Do  francez  timbre). 
Insígnia  que  se  põe  sobre  o  escudo  de 
armas,  para  distinguir  os  graus  da  no- 
breza. 

Agora  sim  (se  acaso  naõ  receias 
Desperdiçar  os  timbrei,   que  ainda  guardas, 
Dos  edifícios  teus  sobre  as  ameias). 

ABBADE  DK  J.\ZIXTE,  POESIAS,  pag.    118. 

Eu  digo  Urânio,  de  Albion  soberba 
Timbre,  iJlustre  brazão.  Pôde  primeiro 
Mostrar  d"alta  verdade  a  estrada  ignota 
Co 'o  vôo  rapidíssimo  do  génio, 
Da  cor  a  estancia  incógnita  penetra, 
He  froxa,  he  sem  vigor,  Pieria  chamma 
Fará  seguir-lhe  os  extasis  divinos  ! 

J.    A.    DE   itACEDO,    A   SATTJHEZA,    CaUt.    1. 

Do  árduo  Pindo,  e  d'Hypocrene  os  timbres, 
Se  inda  a  frauta  de  Titiro  escutamos. 


726 


TIMO 


TI  Ni} 


TIXII 


E  o  Mavclo  Hom  dii  }Io:n('i-icíi  'JVoínbctn 
l)t:  Diilo  110  tlcrttiiio,  o  110  du<'Oo 
I)(!  Tufiio  iiiuliiz,  (lo  |)iedo,*i  Kuíii». 

IDKU,   VliLllKM    EXTÁTICA,   CUllt.    4. 


—  «Vinilo  iv  110:130  primeiro  intento  oh 
Gentios,  os  ]5aneuatííi,  silo  gcnto  mais 
aconnnoiia'la  uom  -a  razílo,  e  «lo  mc- 
llior  natural,  quo  to;las  as  outras  nações 
infiéis;  inaneos  do  comliyíto;  f^randes  cha- 
tins,  ou  mercadores,  em  cuyo  trato  tom 
por  timbre,  falar  sempre  verdade,  cousa 
de  quo  mnyto  se  prczilo.»  Frei  Gaspar 
do  8.  Bernardino,  Itinerário  da  índia, 
cap.  12. 

—  Vestidura  anti<ra  de  mulher. 

—  tíer  o  timbre  dun  oradores ;  ser  o 
mais  exeel lente,  o  cumulo,  o  remate,  o 
extremo,  o  aupjc,  a  f^"inipa,  a  coroa. 

—  Figuradamonte:  Acção  gloriosa  que 
exalta  e  onnoliroce. 

—  Fazer  timbre  de  alguma  cousa;  ía- 
zer  matéria  do  gloria,  d'honra. 

—  Som  que  produz  o  timbre. 

—  Qualidade  sonora  de  uma  voz,  de 
um  instrumento.  —  Esle  violão  tem  mui- 
to timbre. 

TIMIAMA,  s.  /'.  Drogas  ou  hervas  aro- 
máticas. Vid.  Thymiama. 

TIMIDADE,  s.  /.  Vid.  Timidez. 

TIMIDAMENTE,  adv.  (De  timido,  e  o 
sufBxo  n mente»).  De  \\m  modo  timido. 

—  (^om  temor,  acanhadamente. 
TIMIDEZ,   s.  f.  A  qualidade  de  ser  ti- 
mido. 

TIMIDISSIMO,  A,  «'//.  superl.  de  Ti- 
mido. Mui  timido. 

TIMIDO,  A,  adj.  (Do  latim  timidus). 
Que  tom  temor,  acanlia'lo,  sem  desemba- 
raço, não  ousado,  eucolhido,  sem  bom 
despejo. 

Sou^^  meigos  olhos,  timidoií,  crav.ados 
Ncllo,  Eiidiro...  Feiíj.ijos?...  fci(;i"'C3  donosas, 
Ondo  transUi/.cm,  quantos,  lavi-ào,  na  alma. 
Movimentos,  c  os  que  a  alma  mslis  escondo. 

F.   M.   DO   NASCiaENlO,  os   MAETYUES,  1ÍV.   8. 


Eis  d'outra  sorte  as  ondas  enroladas 
Comei;ào  de  bramir,  o  estalo,  os  roncos 
Terra  aos  timnlos  nautas  anuuuciào. 

J.  A.  DK  MACKUO,  A  NAILBEZA,  CaUt.  1. 


—  Não  valente,  medroso. 

—  Diz-se  das  acções,  do  discurso,  do 
caracter,  etc. 

—  Substautlvameute  :    Um   timido. 

Voltào  rosto  08  Tíomauos,  que  fugião  ; 
No  poito  do  uiAis  frouxo,  do  msUs  timido 
De  golpe  entra  a  esperauça.  Tal,  no  Eòo, 
Se  assoma  matutino,  na  tormenfcx, 
O  Sol ;  o  o  Lavrador,  que  alentos  cobra 
Admira  o  como,  om  toda  a  Natureza. 

F.  M.  DO  NASCIMENTO,  OS  MARrVKliS,  llv.   G. 

TIMOCRACIA,  s.  /.  Governo  om  que 
as  tuncções,  c  as  houras  são  reservadas 
para  os  mais  ricos. 


TIMON,  K.  tu.  Termo  antiquado.  Vid. 
Timão. 

TI;íIONEIRA,  .V.  f.  Tormo  do  marinha. 
íjogar  ou  vão  no  jiavio,  onde  anda  o  pin- 

eoto  do   leme. 

TIMONEIRO,  s.  m.  (Do  francez  limo- 
7ii(:r).  Termo  de  n)arinlm.  Marinheiro  quo 
vao  ao  If-mc  o  o  maneja. 

TIMORATAMENTE,  adv.  (Do  timorato, 
e  o  suífixo  «mente»).  Do  um  modo  timo- 
rato. 

TIMORATO,  A,  adj.  Cheio  de  temor 
de  obrar  mal.  —  ('iinaricnria  timorata. 

TIMORISAR,  ou  TIMORIZAR,  v.  a.  Vid. 
Atemorisar. 

TIMPANITIS.  Vid.  Tympanitis. 

TÍMPANO,  ou  TIMPANILHO.  Vid.  Tym- 
pano. 

TIMUCO,  s.  m.  Termo  de  historia  na- 
tural. 1'eixe  agulha  do  Brazil ;  tem  o 
queixo  superior  mui  curto,  e  o  inferior 
prolongado  om  uma  ponta  estreita  mais 
conijirida  que  a  cabeça. 

TINA,  s.  /.  (Do  latim  tina).  Vasilha 
de  aduella  como  uma  pipa  cerrada  pelo 
meio,  para  agua  e  outros  liquides. 

—  Vasilha  de  madeira,  folha  de  flan- 
dres, ctc,  para  banhos,  com  feitio  pró- 
prio. 

TINADA,  s.  /.   Uma  tina  cheia. 

TINALHA,  s.  /.  Tina,  dorna  ou  pe- 
quena cuba,  que  sorve  para  recolher  e 
pisar  a;  uvas  e  ainda  o  vinlio. 

TINCA,  s.  f.  Termo  de  historia  natu- 
ral. Feixe  de  alagôa.  Vid.   Tença. 

TINCAL,  s.  m.  O  bórax,  ou  sal  que 
ajuda  a  derreter  o  ouro. 

Âmbar,  almizcre,  tincal, 
lenheloes,  cordial, 
licorne,  ruybarbo  tem, 
cássia,  sândalos  tauibom, 
cansar,  aguila,  o  isto  tal. 

OAIICIA  DK  UEZKNDIf,  MISCELLAXBA. 

TINCALEIRA,  .s.  /.  Vaso  onde  está  o 
tincal,  (jue  se  usa  na  fundição  do  ouro, 
e  para  soldar  peças  d'olle. 

TINCTO,  part.  pass.  irreg.  de  Tingir. 
Vi.i.  Tinto. 

TINDO,  por  Tido,  part.  pass.  de  Ter. 

TINEA,  s.  /.  (Do  latim  tinea).  Traça, 
caruncho. 

1.)  TINELLEIRO,  s.  m.  Homem  que 
provê  o   tinello. 

•2.)  TINELLEIRO,  A,  adj.  Que  come 
em  tinello  de  algum  senhor,  que  dá  me- 
sa ou  tinello  commum  A  família  do  cria- 
dos, ctc. 

TINELLO,  s.  »i.  Casa  onde  comem  os 
cria'lo<  e  fâmulos  todos  om  mesa  redonda. 

TINETA,  s.  /.,  ouTINETE,  s.  m.  Ter- 
mo iHijiul.ir.  Dogma,  opinião  errónea. 

TINGIDO,  part.  juiss.  do  Tingir. 

TINGIDOR,   A.  Viil.  Tintureiro. 

TINGIDURA,  í.  /.  Acto  de  tingir. 

TINGIR,  r.  a.  (Do  latim  tiiujere).  Dar 
côr   a    panuos,    eèdas,    etc,  mettendo-as 


cm  tinta  liquid.i.  —  «O  mesmo  se  pôde 
dizer  do  p^o  do  Brasil,  e  pastel  das  Ilha«, 
que  sendo  qnaoi  ineroadoria;»  estanques, 
nò<  as  damos  om  matéria  simples  a  todas 
as  Naçoens  da  Kuropa  para  com  cilas 
tingirem  os  seus  paiinos,  podendo  nus 
usar  dos  mesmos  tratos,  e  ser  os  vende- 
df)r08  dos  pannos,  e  naõ  og  comprado- 
res.» Severim  de  Faria,  Noticias  de  Por- 
tugal, Disc,  1,  cap.  4. 

—  Figuradamente  :  Tingir  o  ro$lv. 


Então  te  déatca  ver  no  ardente  rosto 
Do  Luminar  diurno;  iMitiio  lani,'aste 
No  Campo  azul  dos  ('eo^  rotante»  Astroa : 
Tu  da  nunciada  pax  tin/fiAtf  o  ronto 
Da  multifonne  côr,  listÀo  soberbo  ! 

J.   A.    DK   UACKDtj,   A   NATIKKZA,  CUIlt.    1. 

—  Figuradamente  :  Tingir  as  mitog. 


E  quando  isto  tarobem  lhe  fallocia 
No  sangue  fraternal  as  mãos  litigia. 

FRANCISCO    d'a>-DBADE,    I-KIUEIBO    CKBCO    DK    DIl', 

cant.  1,  est.  10. 


—  Tingir-se,    v.  r-fl.  Tomar  côr. 
TINGITANO,   A,  o-Vj.    e  *.   (Do    latim 

tinfjitnavs).  De  Tanger,  concernente  á 
cidade  de  Tanger. 

TINGUEIRO,  adj.  m. — Bote  tingnei- 
ro  ;  espécie  de  embarcaçilo  pequena  usa- 
da no  Tejo. 

—  Substantivamente:  Um  tingueiro. 
TINGUI,   .«.   m.  Cip/i  qne  se  massa  nos 

rios  c  é  venenoso  para  os  peixes,  que  os 
faz  ombarbascar,  e  ir  cair  aos  curraes  e 
tapagens.  Vid.  Timbó. 

—  Herva  que  mata  gado  vaccum  no 
Brazil,  e  talvez  doença  maligna  que  lhes 
causa  o  calor,  e  marchas  corridas. 

TINGUIJADA,  s.  /.  Termo  do  Brazil. 
Pescaria  com  tingui;  troviscadas  com 
tingui,  timbó  e  outros  venenos  paia  o- 
peixes. 

TINGUIJADO,  part.  pass.  de  Tinguijar. 
Herva' lo,  e  doente  do  tingui.  —  Gado 
tinguijado. 

TINGUIJAR,  V.  a.  Termo  do  Brazil. 
—  Tinguijar  os  rios;  lançar  u'elle3  o  tin- 
gui. 

—  Tinguijar  o  gado ;  morrer  o  gado 
de  tingui  ou  herva  venenosa,  e  assim  o 
peixe  com  a  tinguijada. 

1.)  TINHA.  s.  /.  Do  latim  ÍÍM«a).  Es- 
pécie de  lepra  quo  dá  na  cabeça,  e  faz 
cair  o  eabello. 

—  Figuradamente :  Defeito. 

—  Termo  antiquado.  Tina  para  fabri- 
co do  vinho. 

•}-  2.1  TINHA.  Forma  do  verbo  Ur  na 
primeira  ou  terceira  pessoa  do  singular 
do  pretérito  imperfeito  do  modo  indica- 
tivo. 


O  insigne  varão  vendo  desfeito 

Co  a  morte  do  Falcào,  o  que  intentaua 


4 


TINH 


TINH 


TINH 


727 


Consente  o  casamento,  e  dissimula 

A  magoa,  o  grande  dor  que  tviha  n'alma. 

COnTE  REAL,  NAUFRÁGIO  DF.  SEPULVP.DA,  Caut .  3. 

—  íiE  o  outro  quando  vio  em  hum  tem- 
plo esculpidas  algumas  façanhas  de  Ale- 
xandre, entristeceo-se,  por  se  ver  em 
idade  em  que  o  outro  conquistou  o  Mun- 
do, e  elle  nào  tinha  feito  nada.»  Barros, 
Clarimundo,  Epistola.  —  «E  assi  hia  em 
outro  nauio  Aluaro  de  Freitas  comenda- 
dor de  Aljazur,  homem  bem  fidalgo,  e 
que  nos  Mouros  de  Granada,  e  Bellama- 
rini  íinlia  feito  grades  prezas. «  Idem, 
Dscada  1,  liv.  1,  cap.  11. —  «Porque 
alem  das  paixões  antigas  que  por  nossa 
causa  tinha  com  o  Rev  dcUa,  se  desta 
feita  nào  ficara  destruído  totalmente,  el- 
le Rey  de  Meliude  padecera  muito  mal, 
e  a  causa  era  esta.»  Ibidem,  liv.  8,  cap. 
8.  —  «P.  Porque  deixastes  ir  de  Ormuz 
três  Mouros,  que  Rax  Xarrafo  degradou? 
R.  Porque  R:ix  Xarrafo  tinha  alçada  de 
V.  A.  pêra  matar,  quanto  mais  pêra  de- 
gradar.» Diogo  de  Couto,  Década  4,  liv. 
6,  cap.  8.  — ■  «O  macho  he  tão  cioso,  que 
em  quanto  a  fêmea  está,  no  ninho,  nào 
deixa  passar  alguém  por  perto,  e  logo 
arremette  a  morder,  principalmente  mu- 
lheres prenhes  que  perseguem  mais.  Ha 
tamanhos  morcegos,  que  diz  Gabriel  Re- 
bello,  que  médio  hum,  que  tinha  sete 
palmos  de  huma  ponta  da  aza  á  outra.» 
Ibidem,  liv.  7,  cap.  10.  —  «O  pano  do 
muro  que  corria  na  face  era  mayor,  e 
mais  grosso  que  os  das  outras  atraz.  Em 
cada  ponta  tinha  dous  baluartes  muy 
grades,  e  pelo  muro  muitas  guaritas  mui- 
to bem  proviías  de  gente,  e  muniçoens.» 
Idem,  Década  6,  liv.  8,  cap.  7.  —  «Era 
este  homeai  hum  muito  bom  cavalleiro, 
e  na  companhia  de  Manoel  Boto  tinha 
pelejado  muito  bem,  e  do  dia  que  o  fe- 
rirão a  hum  mez  morreo,  estando  jà  são 
da  espingardada.»  Ibidem,  liv.  9,  cap. 
11. —  oE  assi  por  estas  pregimtas  como 
por  outras  qne  llie  fez  António  de  Faria, 
entendemos  que  não  tinha  esta  gente  ate 
agora  noticia  nenhuma  da  nossa  verdade, 
mais  que  somente  confessarem  de  boca  o 
que  seus  olhos  lhe  mostrão  na  pintura  do 
Ceo,  e  na  formosura  do  dia,  a  que  con- 
tinuamente por  suas  çumbayas  alevantão 
as  mãos  dizendo,  por  tuas  obras,  Senhor, 
confessamos  tua  grandeza.  Com  isto  os 
mandou  Antoião  de  Faria  pôr  livremente 
em  teiTa,  candolhe  primeyro  algumas  pe- 
ças, de  que  foraõ  muy  to  contentes.»  Fer- 
não Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap. 
48.  —  «O  qual  no  meyo  de  hum  circulo 
tinha  pintado  hum  homem  quasi  da  fei- 
ção de  hum  cágado  cos  peis  para  cima  e 
a  cabeça  para  baixo,  com  huma  letra 
que  dczia  Ingualec  finguau,  potim  aqua- 
rau,  que  quer  dizer,  tudo  o  que  ha  em 
mym  hc  assi.»  Ibidem,  cap.  83.  —  íÁs- 
sim  forão  encalhar  Junto  a  Surrate,  onde 
forão  cativos,  e  levados  a  Soltão  Maha- 


miid,  que  os  mandou  aprisionar,  e  met- 
ter  na  masmorra,  onde  tinha  Simão  Feio 
com  outros  Portuguezes.»  Jacintho  Frei- 
re d'Andrade,  Vida  de  D.  João  de  Cas- 
tro, liv.  2. 


Eolo  naquella  hora  solta  tinha 

A  Iwm  grào  vento  a  prisào  que  cm  si  o  encerra, 

Que  com  gràa  força  entào  ferindo  vinha 

AqucUe  líio,  c  toda  aquella  terra. 

Também  a  imiga  estancia,  que  visinha 

Estava  ao  Rio,  faz  áspera  guerra 

Aos  que  por  elle  viuliào  navegando, 

Co 'o  ferro  que  o  canhão  está  lançando. 

FHASCISCO  DE  AKDKADE ,  PRIMEIRO  CERCO  DB  DIU, 

cant.  5,  est.  4õ. 


—  «Tinha  este  Abdear  Rahmaõ  huma 
filha  muito  gentil  molher  com  quem  per 
consentimeiito  da  mài,  conucrsaua,  hum 
mouro  mancebo,  e  de  bom  parecer,  per 
nome  Alia^lux  filho  de  Guisimem.»  Da- 
mião de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part. 

2,  cap.  IS.  —  «Por  este  embaixador  reee- 
beo  Afibnso  dalbuquerque  iiunia  carta  de 
cinci.ienta  Portuguezes  que  el  Rei  de 
Cambaia  tinha  em  seu  poder,  que  foram 
dar  a  costa  em  huma  nao  em  que  dom 
Afonso  de  noronha  partira  de  çocotora 
onde  se  elle  afogara,  e  outros  que  come- 
terão   o  mar    em  taboas.»   Ibidem,  part. 

3,  cap.  10.  —  «E  ferirem  muitos,  entre 
03  quaes  foi  Cojequi  tanadar,  de  huma 
espingardada  de  que  depois  morreo,  di- 
zendo, como  esforçado  caualleiro,  que 
lho  nam  daua  nada  morrer,  se  não  por 
ser  em  sua  cama,  e  leito,  que  se  fora  às 
lançadas,  e  cutiladas  com  os  Turcos,  a 
que  tinha  por  capitães  imigos,  que  sua 
alma  fora  descançada  desta  vida.»  Ibi- 
dem, part.  3,  cap.  21.  —  «Finalmente 
mouido  dom  Goterre  da  ma  vontade  que 
tinha  a  Ferna,m  caldeira,  e  da  boa  que 
tinha  a  sua  molher,  determinou  de  o 
mandar  matar,  de  que  deu  o  cargo  a 
hum  loam  gomez  escriuam  da  feitoria  de 
Goa,    homem   esforçado.»    Ibidem,  part. 

4,  cap.  17.  —  «Auia  tãbem  no  mesmo 
porto  outra  nao  Francesa,  que  hia  pêra 
Marcelha  com  cujo  Patrão  meu  cõpa- 
nheyro  se  auiou,  sem  eu  saber  nada,  e 
depois  de  ter  tudo  ordenado  me  disse  ti- 
nha escrúpulo  de  passar  a  terra  Sancta, 
pois  ficaua  desuiada  do  caminho,  mais  de 
duzentas  legoas,  e  nossas  licença-,  não 
no  la  darem  mais  que  pêra  fazermos  no.s- 
sa  viagem  direita. «  Fr.  Gaspar  de  S. 
Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap.  22. 
— ^  «E  se  alguns  políticos  cuidavaõ,  que 
melhoraria  Portugal  de  forças  contra  ini- 
migos, nao  foy  assim ;  e  a  experiência 
mostrou  o  contrario ;  porque  Portugal 
conserva-se  com  a  paz,  que  tinha  com 
todos  os  Príncipes ;  e  Castella  com  guer- 
ra, que  mantêm  a  todos.»  Arte  de  fur- 
tar, cap.  16. —  «E  naõ  sem  causa  tinha 
o  coo  atòagora  estes  thesouros  em  si  es- 
condidos, e  fechados,  e  oje  tauí  magnifi- 
camente os  abrio  ao  género  humano,  por- 


que também  ate  o  presente  nã  tinha  a 
terra  enuiado  ao  ceo  algum  fruyto  seu 
digno  de  se  nelle  receber.»  Fr.  Bartho- 
lomeu  dos  Martyres,  Catecismo  da  dou- 
trina christã.  —  «E  que  o  que  derru- 
basse o  inimigo,  e  o  naõ  prendesse,  par- 
tiria ametade  do  preço,  com  o  que  de 
novo  o  prendesse,  e  o  que  sobreviesse  a 
hum  soldado,  que  tinha  outro  preso,  e 
matasse  o  prisioneiro  sobre  a  partilha, 
perdia  armas,  e  cavallo,  para  o  Condes- 
table. «  Severim  de  Faria,  Noticias  de 
Portugal,  Disc.  2,  cap.  8.- — -  «E  para  is- 
so tinha  seus  Ouvidores,  Alcaides,  e  Mei- 
rinhos, Carcereiros,  e  mais  officiaes  de 
Justiça,  e  dos  Alcaides  se  appellava  para 
o  Almirante,  e  do  Almirante  para  ElRey  : 
e  esta  jurisdicçaõ  começava  do  dia,  que 
sahia  do  Porto  cora  a  Armada,  até  que 
se  desembarcava.»  Ibidem,  cap.  lo. — 
«Fernão  Gomes  natural  de  Lisboa,  se 
obrigou  a  EiRey  D.  Aâbnso  V.  a  conti- 
nuar o  descobrimento  da  Costa  de  Afri- 
ca, que  tinha  começado  o  Infante  D. 
Henrique.»  Ibidem,  Disc.  3,  cap.  16. — 
«Porque  cada  hum  por  si  naõ  tinha  for- 
ças bastantes  para  o  fazer ;  e  unÍ2-em-se 
todos,  era  qiiasi  impossível,  pela  grande 
multidão  delles.»  Ibidem,  cap.  2õ. 

Prégou-me  paz  de  ab  inicio 
contra  vicio, 

coutra  ódio,  e  quem  no  tinha  ; 
achei  n'ellc  frontespicio 
d'alma,  que  tal  fosse  a  minha. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  267. 

tinha  n'clla  a  honr.a  um  marco 
e  o  marido,  nào  sei  como, 
bafejava  mal. 
IBIDEM,  pag.  309. 

—  «Hum  dia  que  ella  se  tinha  aparta- 
do da  companhia,  c  que  se  achava  lendo 
dentro  em  hum  Bosque,  Amoldo  não  só 
a  seguio  mas  lhe  disse  impertinentemen- 
te, que  por  força  ou  por  vontade  lhe  de- 
clarasse o  seu  horóscopo.»  Cavalleiro  de 
Oliveira,  Cartas,  liv.  1,  n.°  40. 

Ja  lhe  tinha  perdoado. 

GARRETT,  CATÃO,   act.   4,  8C.    3, 

f  TINHAM.  Forma  do  verbo  te}-  na  ter- 
ceira pessoa  do  plural  do  pretérito  im- 
perfeito do  modo  indicativo.  Vid.  Ter. 
— ■  «E  certo  que  tinham  elles  nisto  ra- 
zão ;  porque  como  todolos  nossos  pêra 
aquelle  acto  de  acoinpanhar  ElRey  iissi 
a  pé  se  armái-am  das  melhores,  e  mais 
frescas  armas  que  tinham,  era  cousa 
muito  pêra  ver,  e  louvar.»  Barros,  Dé- 
cada 2,  liv.  10,  cap.  õ.  —  «O  que  aca- 
bado o  Yicerei  mandou  logo  recolher  to- 
da a  artelhaiia  que  os  imigos  tinham 
nas  estancias,  e  no  mesmo  dia  se  embar- 
cou, e  se  veo  a  Cananor,  pêra  despedir 
Tristão  da  Cunha,  com  as  cinco  nãos,  a 
que  so  faltaua  a  carga  do  gengiure,  don- 


728 


TINH 


TI  NT 


TINT 


de  se  partio  aos  seto  dias  do  mes  do  De- 
zembro do  mil,  o  quinlioiítos,  c  suto,  e 
voo  ter  a  Moyaiiil)i(|iie  a  nono  do  la- 
neiro  do  mil,  e  (|iiiniioiito-<,  c  oito.»  \)ti- 
miSlo  do  (jioes,  Chroiiica  de  D.  Manoel, 
part.  2,  cap.  21. 

f  tínhamos.  Fiirma  do  verbo  fer  na 
prinioira  jicsnoa  do  plural  do  pi"etorito 
imperfoito  do  modo  indicativo.  Vid.  Ter. 

—  alí  pO'lindo  nótt  todos  do  joellios  ao 
Cliifuii  (|uo  nos  deixasse  yr  a  torra  a  vcr 
a(|uillo  quo  ai|uellos  homens  nos  doziào, 
o  pcrri»  (l<5iitio  so  csousou  dizendo,  que 
tínhamos  louf^-o  o  Ilibar  onde  aviamos  do 
yr  dormir,  do  ((uo  ficamos  assaz  descon- 
solados.» Fernào  Mendes  Pinto,  Peregri- 
nações, cap.  9(5.  —  «Este  nosso  nojifocio 
SC  pôs  lof^o  na  mão  do  prometer  da  Jus- 
tiça, o  qual  veyo  lopo  com  libello  contra 
nós,  e  num  dos  artigos  delle,  o  qual  pro- 
vou com  dezasseis  tostomunlias,  veyo  di- 
zendo quo  nós  oramos  ffento  som  temor 
nem  conhecimento  do  Deos,  nem  tínha- 
mos mais  quo  conlcssalo  com  a  boca, 
como  podia  fazer  qualipicr  uniuuil  bruto 
se    soubesse    fallar.  »    Ibidem,  cap.    llõ. 

—  « Avendo  ja  oito  meses  o  meyo  que 
estávamos  neste  cativeyro  om  que  passa- 
mos assaz  de  trabalhos  e  necessidades, 
porque  nào  tínhamos  de  que  nos  susten- 
tássemos, se  não  do  alf^umas  fracas  es- 
mollas  que  tirávamos  pela  cidade. u  Ibi- 
dem, cap.  117.  —  <iE  mandandonos  logo 
tirar  a  todos  novo  a  parte  das  prisões 
quo  ainda  tínhamos,  que  craõ  as  ferro- 
pcas  dos  peis,  e  as  cadeas  dos  pescoços, 
nos  jurou  pelo  arroz  que  comia,  do  tanto 
que  chegasse  ao  Pequim,  nos  apresentar 
a  el  Rey,  e  cumprir  quãto  nos  tinha  pro- 
metido, sem  falta  nenhuma,  e  do  nos 
passar  logo  disso  hum  formão  assinado 
com  letras  douro,  porque  pudéssemos 
descauçar  na  verdade  da  sua  ])alavra.» 
Ibidem,  cap.  119. —  «O  Capitão  cossay- 
ro  lho  respoudeo  que  éramos  de  huma 
terra  que  se  chamava  Malaca,  a  onde 
avia  niuytos  ânuos  que  tínhamos  vindo 
de  outra  quo  se  dezia  Portugal,  cujo 
Rey,  segundo  nos  tinha  ouvido  algumas 
vezes,  habitava  no  cabo  da  grandeza  do 
mundo.»  Ibidem,  cap.  133. 

TINHÃO,  .S-.  m.  Augmentativo  de  Ti- 
nha. 

f  tínheis.  Forma  do  verbo  ter  na  se- 
gunda pessoa  do  plural  do  pretérito  im- 
perfeito cio  modo  indicativo.  Vid.  Ter. 


com  essa  snidaes  feito  Papa ; 
mus  se  haveis  mister  pousada 
osta  liitheis  vos  a^ui. 

ANTOMO  PHESTrS,    AUTOS,  pSg.    í^Oí*. 


TINHOSO,   A,  aJj.   Quo   tem  tinha.  - 
Cíiòeça  tinhosa. 

—  AuAiiios  K  ruovKKiuos: 

—  Um  tinhoso  queria  (pie  todos  o  fos 
som. 


—  Nunca    lavei    cabeça    que    me   nâo  I 
saísse  tinhosa. 

TINIDO,  ou  TINNIDO,  «.  m.  O  som 
agudo  dos  luetaes,  campainhas  e  vidros. 

—  Tinido  do»  ouvido»  (por  doença). 
Vid.  Tinir. 

TINIDOR,  A,  uilj.  Termo  de  poesia. 
Diz-so  dos  metaes  que  dão  um  som 
agudo. 

TINILHO,  «.  VI.  Especio  de  louro  bravo. 

TININTE,  adj.  2  tfen.  Que  tino. 

TINIR,  ou  TINNIR,  o.  n.  (Do  latim 
liiiiiirii.  Dar  som  agudo,  fallando  dos 
nic^taos. 

—  lia  occasiões  nm  que  os  ouvidos  tin- 
nem,  ou  sentem  como  de  si  mesmos  um 
som  agudo. 

1.)  TINO,  í.  m.  Instincto  natural. — 
oOuvo  tàbem  outros  defuntos  quo  deixa- 
rão rendas  paraque  nos  despovoados  e 
nas  charnecas  aja  casas  em  quo  se  tc- 
nhão  grades  luminárias  de  noite,  paraquo 
os  que  caminhão  não  percão  o  tino  oe 
suas  jornadas,*  e  aja  tàbem  vasilha-í  cõ 
agoa  para  clles  beberem,  o  casas  para 
doscançarcm.»  Fernão  ]\Iendes  Pinto,  Pe- 
regrinações, cap.  99. 

—  A  memoria  local,  que  conservamos 
de  noite,  e  que  nos  guia  andando,  ou 
fazendo  alguma  cousa  ás  escuras,  ou  per- 
didos, e  desencaminhados,  e  marchamos 
a  acertar. 

—  O  juízo  natural. 


Em  Mombaça  ciicont/ei  duvo  inimigo. 
Astuto  e.nginio,  o.  bnibara  cilada, 
M.as  sentio  logo  os  golpes  do  castigo, 
Provando  o  fio  á  Lusitana  ("spada: 
Dlium  naufrágio  cm  ccrtissirao  perijo, 
EiTOii  sem  tino  a  fliictuanto  Armada, 
Mas  contrastando  um  mar  tempestuoso. 
Vim  no  teu  reino  abrigo  achar  ditoso. 

J.   A.    DB  MiCKnO,  o  OlllKNTK,    Caut.    7,    CSt.  03. 


—  O  senso  commum. 

—  Sagacidade  natural,  que  faz  desco- 
brir as  cousas  ignoradas. 

—  Atirar  a  artil/ieria  pelo  tino ;  para 
a  parto  d'onde  se  sente  o  rumor. 

2.)  TINO,  .«.  m.  Tormo  antiquado. 
Tina,  vaso  jiara  oloo,  vinho,  otc. 

TINOTE,  .V.    m.    O  cérebro. 

TINTA,  s.  /.  Liquido  corado  para  tin- 
gir. 

—  Figuradamente :  Cores,  sombrris  de 
perdidos  costumes. 

—  Loc.  POl'. :  Tomar  muita  tinta; 
toruar-se  mais  familiar  do  que  a  cortezia 
solfre,  tomar  ctuifiança. 

—  Còr,  representação,  idòa. 

—  Meia  tinta;  é  a  que  rica  entre  ob 
claros  ou  altos,  e  os  escuros  ou  sombras; 
a  tinta  geral  que  so  dá  antes  de  la- 
vral-os. 

—  íJncommemlar  alijnem  de  boa  tinta; 
recommendal-o  com  louvor. 

—  Fazer-sr  de  melhor  tinta ;  toruar-sc 
,  mais  polido,  culto. 


—  Sombra  desfeita  em  óleo,  agua,  eól- 
ia, ou  gomma  para  pintar. 

—  Tomar  tinta  de  afijnma  couta;  ad- 
quirir al'/un]a  qualidadi^  o'<dla. 

—  Vi  I.  Tinto. 

TINTE,  «.  /.  Termo  antiquado.  Vid. 
Tinturaria. 

TINTEIRO,  8.  wi.  Vaso  onde  so  tem  a 
tinta  com  que  so  escreve. 

Nessa  posse  de  goiítos  soberanos, 

Ksi|uccido  da  penna,  e  do  tint^ro, 

Sú  te  lembrei)  di;  mim,  iia<j  dos  mcoB  iidiioh. 

ABBADK  DE  JAZEXTB,  P0KBIA8,  pag.  75. 

—  ÍjOC.  I  Ficar  no  tinteiro;  omittir-sc 
o  que  se  havia  do  escrever,  ou  dizer. 

—  Vid.  Tinto. 
TINTIM.   Vid.  Tentim. 
TINTINI,  s.  VI.  Um  jogo  probibi<lo. 
TINTO,  jiart.  poês.  irreg.  de  Tingir. 

—  Tinto  d^  verdade;  representado  com 
as  cores  da  verdade. 

—  Maculado,  manchado. 

—  Figuradamente  :    Tinto    em   tamju^. 

Assim  tialn»  em  sangue,  assim  banhados 
De  piedoso  orvalho,  noute  c  dia. 
Sempre  tristes  scrcLs,  sempre  acatados. 

FF.HNÂO  ROROPirA,  POESIAS  B  flOSAS  HIEDITAS, 

pag.  2;). 

—  tO  qual  insulto  tanto  que  o  elle 
soube,  andamlo  já  os  .láos  com  as  mãos 
tintas  do  sangue  dos  mortos,  mandou  al- 
guns Capitães  que  acudissem  a  isso,  os 
quaes  fizeram  recolher  a  Patê  Quetir  na 
Povoação  Upi.»  Harro^,  Década  2,  liv.  O, 
cap.  7.  —  «E  numa  geneila  da  me-sma 
torro  estavào  dous  mininos  e  huma  mo- 
Iher  ja  de  dias  chorando,  e  embaixo  ao 
pé  delia  estava  hum  homem  feito  em 
quartos  nmyto  ao  natural,  que  dez  ou 
dozo  Castelhanos  estavão  matiindo,  todos 
armados,  e  com  suas  chuças  e  alabardas 
tintas  em  sangue,  p  Fernão  Mendes  Pin- 
to, Peregrinações,  cap.  68. 

— •  O  i''Sto  tinto  da  cor  da  morte;  o 
rosto  iini.aroUo. 

—  Penna  tinta  em  fel,  calumnia,  ódio. 

—  Tinto  de  ira ;  com  semblante  iroso. 

—  Figuradamente:  O  ronto  tinto  de 
pudor  vir(iinal;  o  rosto  vermelho  por. ver- 
gonha. 

TINTOR,  y.   m.  Tintureiro. 

TINTOREIRA,  *.  /.  Peixe  do  mar  mui 
grande  da  firma  da  oorvina,  que  se  en- 
contra na  cosUi  de  Cambava. 

TINTURA,  .-!.  /.  <Do  latim  titictura).  A 
acç.ão  de  tingir. 

—  Cu»i-*r,<!tiç3M  sSo  a  tintura  dot  cos- 
tumes; taes  s5o  os  costumes  como  os  d.as 
peíisoas  com  quem  tratamos. 

—  CÔr. 

—  Agua  ei'irada  pelas  parte»  separadas 
do  corpi>,  quo  esteve  infundido  n'clla. 

—  Figura<lamente:  Noticia  boa,  ou 
leve  c  superficial. 


TIQU 


TIRA 


TIRA 


729 


TINTURARIA,  s.  f.  Officiaa  de  tingir. 

—  O  exercício  ou  a  arte  de  tingir. 

—  Drogas  de  tinturaria ;  drogas  que 
servem  para  tiogir  lãs,  sodas,  linhos, 
etc. 

TINTUREIRA,  s.  f.  Vid.  Tintoreira. 

1.)  TINTUixEIRO,  A,  s.  Pessoa  que  tin- 
ge lãs,  sedas,  |)annos,  etc. 

2.)  TINTUREIRO,  A,  adj.  —  Uva  tin- 
tureira; espécie  de  uva  negra. 

—  Plantas  tintureiras ;  plantas  que 
dão  féculas  que  tingem. 

TIO,  s.  ?)í.  (Do  grego  iheios).  O  irmão 
do  pae  ou  da  mãe,  a  respeito  dos  iilhos 
de  sua  irmã  ou  irmão,  e  sobrinhos.  — 
«Ao  qual  ello  esforçou  muito  com  a  ar- 
mada de  seu  tio  Vicente  Sodrè,  que  fi- 
caua  pêra  o  mães  do  tempo  do  veraõ  an- 
dar naijuella  costa  em  fauor  seu  e  des- 
truição do  Caraori  j :  a  que  elle  mandaua 
que  fosse  feito  tanto  damno,  que  em  se 
defender  teria  assaz  trabalho.»  Barros, 
Década  1,  liv.  7,  cap.  1.  —  «Porque  Dio- 
go de  Mello  era  primo  com  irmão  de  mi- 
nha mãi,  e  íicava-me  em  lugar  de  tio,  o 
mesmo  era  de  minha  mulher  irmão  de 
sua  mài,  e  Capitão  daquelia  fortaleza,  o 
mais  era  de  oitenta  aunos.»  Diogo  de 
Couto,  Década  4,  liv.  6,  cap,  8. —  «E 
despois  que  cõ  outra  nova  ceremonia  to- 
dos fizerão  suas  cortesias,  se  forão  assi  a 
pé  até  a  entrada  do  paço,  onde  acharão 
hum  homem  velho,  que  dezião  que  era 
tio  dei  Re.y,  por  nome  Vuemmiserau,  de 
mais  de  oitenta  annos  de  idade,  acompa- 
nhado de  muytos  senhores  e  gente  no- 
bre, ao  qual  os  embaixadores  ambos  por 
outra  nova  cerimonia,  beijarão  o  treçado 
que  tinha  na  cinta.»  Fernão  Mendes  Pin- 
to, Peregrinações,  cap.  130. 

TIORBA.  s.  f.  Alaiule  maior,  e  de 
mais  cordas. 

TIPITI,  s.  m.  Termo  do  Brazil.  Teci- 
do cyllndrio  de  palhas,  dentro  do  qual 
se  mette  a  massa  da  mandioca  moída  na 
roda  paia  se  espremer  a  manipueira ;  pòe- 
se  em  um  cabo  do  tipiti  peso  de  pedra, 
com  que  elle  se  alonga,  e  aperta  a  mas- 
sa, e  a  espreme,  pendurado  de  outro 
cabo  por  uma  azelha,  em  que  termina,  o 
que   se  usa  em  falta  de  prensas  de  pau. 

TIPLE,  s.  7)1.  A  voz  mais  alta  na  con- 
sonância musica,  e  a  mais  alta  das  ti'es, 
que  são  tenor,  baixo  o  contralto. 

—  Um  tiple;  individuo  que  cauta  a  di- 
ta voz. 

TIPOYA,  s.  /.  Termo  do  Angola  e  Bra- 
zil. Serj)entina,  palanquim  de  rèdo. 
f  TIPRE,  s.  m.  Vid.  Tiple. 


Esporão,  virá  Leonor 
para  tipre? 

E  diz  lôa? 
Muito  bem. 

AKTONio  rKESTES,  AUTOS,  pag.  463. 

TIQUETAQUE,  .-^.  /.    (Do    francez   tric- 
trac).  Um  jogo  de  tabolas;  gamão. 
,  voL.  V.  —  92. 


TIRA,  s.  /.  Retalho  de  panno,  ou 
seda. 

—  Expedição,  pressa. —  Ir  á  tira. 
.   TIRA-BKAGAL,  s.  f.  o  m.  Talvez  fun- 
da de  potroso. 

TIRA-BRAGUEL,  s.  f.  Vid.  Tira-ver- 
gal,  e  Tira-bragal. 

TIRAGOLLO,  s.  m.  (composto  de  tira, 
e  colio).  Correia  atravessada  do  lado  do 
pescoço  para  o  lado  do  corpo  opposto  por 
baixo  do  braço,  no  qual  se  lova  algu- 
ma cousa  suspensa.  —  «Do  elmo  descem 
penduradas  duas  corroas,  que  parece  ti- 
veraõ  principio  do  Baltheo,  ou  tíracollo, 
insignia  própria  da  Milícia  Romana.»  tíe- 
verim  de  Faria,  Noticias  de  Portugal, 
Dísc.  3,  cap.  17.  —  «E  passando  pelo 
meyo  de  toda  esta  gente,  chegamos  a 
hum  grade  pátio  do  recebimento  das  ca- 
sas, onde  estava  hum  Mandarim  tio  dei 
Rey,  por  nome  Monvagaruu,  homem  de 
mais  de  setenta  annos,  acompanhado  de 
gente  muyto  nobre,  com  muitos  capitães, 
e  senhores  do  reyno,  e  em  torno  delle  es- 
tavão  doze  mininos  ricamente  vestidos, 
com  cadeyas  douro  grossas  a  tiracolo,  e 
maças  de  prata  aos  ombros.»  Fernão 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,   cap.  162. 

—  O  tiracoUo  dn  terçado;  talabarte. 
TIRADA,  s.  f.  Extracção,  saca,  expor- 
tação, levada  de  géneros  de  commercio. 

—  De  tirada.  Vid.  Frecha. 

■ — -Vulgarmente  diz-se  estirada  por  ti- 
rada, audar  apres.sado,  ou  de  longo  ca- 
minho. 

—  Espaço  largo  de  caminho,  andadu- 
ra, e  de  tempo. 

—  Tirada  do  preso  á  justiça ;  tiral-o, 
libertal-o. 

TIRADEIRAS,  s.  /.  j^lur.  Nos  engenhos 
do  Brazil,  coixlas  entre  as  quaes  vão  pre- 
sas as  bestas  que  puxam  as  almanjarras; 
pegam  nos  peitoraes,  e  atraz  nos  cambões 
presas  ás  almanjarras. 

TIRADO,  yari.pass.  de  Tirar.  Puxado. 

—  Excepto.  —  «Foi  homem  de  boa  es- 
tatura de  corpo,  tirado  o  cabello,  e  bar- 
ba castanha  tirante  mais  a  loura  que 
preta,  os  olhos  negros,  o  rosto  cheio  e 
bem  corado,  cheio  mais  de  Magestade 
que  de  fermosura.»  Fr.  Bernardo  de  Bri- 
to, Elogios  dos  reis  de  Portugal,  conti- 
nuados por  D.  José  Barbosa. 

—  Privado.  —  «Pêro  se  taaes  bens,  ter- 
ras, ou  feudos  forem  obrigados  aa  moiher 
pelo  marido,  ou  ao  marido  pula  moiher 
per  consentimento,  o  authoridade  do  Se- 
nhorio, em  tal  caso  o  que  assy  ficar  vivo 
este  em  posso  de  taaes  beens,  e  nom  seja 
delles  tirado  ataa  a  dita  obrigaçom  seer 
pagada,  ou  per  direito  determinado  que 
nom  deve  teor  tal  posse.»  Ord.  Affons., 
liv.  4,  tit.  12,  §  2. 

—  Letra  tirada;  letra  feita  á  pres.sa, 
e  má,  ou  letra  de  mão;  diz-se  em  oppo- 
sieão  ;i  redonda,    de  imprensa. 

— -Tirado  «o  natural;  reti-atado  fiel- 
mente. 


• —  Carta  tirada  do  latim;  carta  tra- 
duzida do  latim. 

—  Que  diz  respeito  e  allusão. 

—  Garo  tirado ;  pela  fieira,  em  fio. 
TIRADOR,  A,  s.  Pessoa  que  tira. 

—  Pessoa  que  tira  fio  douro  pela 
fieira. 

—  Pessoa  que  puxa. 

—  Termo  de  imprensa.  O  quo  tira  a 
folha  impressa;  o  official  quo  imprime. 

—  Termo  de  marinha.  O  chicote  do 
cabo  de  qualquer  apparelho,  talha,  colhe- 
dor,  etc,  pelo  qual  se  ala. 

TIRADURA,  s.  /.   O  acto  de  tirar. 

-[-  TI.^AES.  Forma  do  verbo  tirar  na  se- 
gunda pessoa  do  plural  do  presente  do  mo- 
do indicativo.  Vid.  Tirar.  —  «Hide  porem 
pregar  este  Evangelho  aos  Cambayos,  e 
ás  Naçoens  azedas  que  não  gostão  dos 
doces,  o  vede  o  fructo  quo  tiraes  do 
vosso  sermão.»  Cavalleiro  de  Oliveira, 
Cartas,  liv.  1,  n."  16. 

TIRAFUNDO,  s.  m.  Sacafundo,  espécie 
de  verruma  u.sada  dos  tanoeii'os,  c  bom- 
bardeiros ;  o  cabo  tem  um  aro  de  ferro. 

TIRAGEM,  s.  ,/■.  Tirada. 

—  Termo  de  impressão.  Acto  de  se 
metterem  as  folhas  no  prelo  para  se  im- 
primirem, e  o  efteito  d'e3te  acto.  Diz-se 
também  das  chapas  para  estampas,  da  11- 
thographia,  etc. 

—  Uma  tiragem  de  800  exemplares; 
uma  folha,  ou  obra  de  que  se  imprimem 
800  exemplares  a  seguir. 

TIRALINHAS,  s.  f.  Instrumento  metal- 
lico  para  traçar  linhas  com  tinta. 

TIRÂMENTO,  s.  m.  Saca,  levada  para 
fora,  exportação. 

—  Termo  antiquado.  Cobrança,  arre- 
cadação. 

—  O  tirar,  isenção. 

f  TIRAMOLLA,  s.  /.  Termo  de  marinha. 
Diz-se  do  acto  de  tocar  qualquer  appa- 
relho; d'este  mesmo  termo  se  servem 
quando  tocam  o  virador  do  cabrestante, 
com  o  fim  do  emendar  o  apparelho  para 
tornar  a  viral-o. 

TIRAMOLLAR,  v.  a.  Termo  de  marinha. 
—  TiramoUar  uma  talha;  amainar,  ar- 
riar. 

t  TIRANIA,  s.  /.  Vid.  Tyrannia.  — 
«Q,uiz  sua  ventura  que  acabou  nestas 
obras  pêra  na  outra  vida  alcançar  galar- 
dão delias  :  teve  quatro  filhos  conformes 
a  elle:  os  dous  que  eram  mais  homens, 
que  chamavam  Calfurnio  e  Camboldão, 
não  lhe  soffrendo  o  animo  viver  em  tão 
pequena  terra,  habitavam  em  outras  par- 
tes, onde,  não  consentindo  Deus  suas  ti- 
ranias, foram  mortos  por  mão  d'um  só 
cavalleiro,  que  se  chama  o  do  Salvagam, 
que  cá  não  lhe  sabemos  outro  nome.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  dlngla- 
terra,  cap.  117. 


Inspirado  das  Miizas  doutamente  ; 
E  ferido  de  Amor  com  tirannia, 


730 


TIRA 


Juntaste,  isiibio  amigo,  a  melodia 

Ao  violoiito  estridor  da  chirnu  ardonto. 

ADRADK  UR  JÀZKNTI'.,   POESIAS,   P^g.    77. 


TIRANO,  s.  m.  Vi'l.  Tyranno. 
1.)  TIRANTE,   s.  m.  Oordii,  ou  correia 
de  puxar  por  alí,'iiiiia  cousa  ata-la  a  clie. 

—  «Ao  rdlor  desta  figura  estava  Imiiia 
grande  soma  do  Ídolos  pequenos  todos 
dourados,  postos  em  joellios  com  as  mitos 
levantadas  para  cllo  como  r|uc  o  adora- 
vão,  e  em  quatro  tirantes  do  ferro  que 
estavão  por  derredor,  ostavilo  conto  e  ses- 
senta e  dous  candioyroM  de  prata,  com 
seis,  sete  e  dez  toi-cliias  cada  huni.»  Fer- 
não Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap. 
109. 

—  Os  tirantes  do  andor;  as  varas  que 
levam  sobre  os  liombros  quem  os  carre- 
gara. 

—  Termo  antiquado.  Caibro,  pequena 
viga. 

—  Barra  de  ferro  atravessada  do  uma 
a  outra  parede  do  editicio;  linha;  sorve 
de  n'ella  se  pendurarem  os  candieiros, 
etc. 

—  Braços  de  cadeiras  de  an-uar,  ou- 
tr'ora  de  braços,  varaes. 

2.)  TIRANTE,  ijart.  act.  de  Tirar. 

-  —  Cúr  tirante  a  vermelho;  cOr  que  se 
approxima  a  olla. 

TIRÃO,  6-.  m.  Puxão. 

—  Estirào,  camitihõ  longo. 

TÍRÃO.  Fóriua  variável  do  verbo  tirar 
na  terceira  pessoa  do  plural  do  presente 
do  modo  indicativo.  Vid.  Tirar. 


No  canto  atras  passado  (se  vos  lembra) 
No  batel  vistos  ja  quasi  allagados 
Esto  bom  capitão  com  quanta  gente 
NaqucUa  cmbavca(;ão  primeiro  viuha. 
Com  afronta  o  trabalho  clicga  o  grande 
Batel  (das  bvauas  ondas  constrangido) 
Em  brcue  espaço  a  terra  onde  saltando 
Estes  fortes  varões  a  Lianor  tirão. 

CORTR   REAL,  JIAUFRAOIO   DE   SEPÚLVEDA,    Cant.    8. 


Isto  dizendo  (ira  com  presteza 
Os  olhos  donde  \-ia  tanto  estrago, 
Tantos  ardis,  e  motlos  contrafeitos. 
Tanta  mintira,  tanta  falsidade. 
iBiDiu,  cant.  2. 


Pelo  que  nella  imprimira 
A  força  da  mesma  dor, 
Mas  naõ  sabondo  que  amor 
Nem  se  aparta,  uom  se  tira. 

K.    RODRIGUES  LODO,    PR1.MATEBA. 


—  «Mas  dlríl  alguém,  que  tudo  isto 
saõ  ninhorias,  que  naõ  tiraõ  honra,  nem 
dosmandaõ  casamentos.  Seja  assim.  Va- 
mos avante:  Paulo  inaiora  cnnamits.  Le- 
vantemos do  ponto,  e  venha  a  Juizo  gen- 
te mais  granada,  o  os  que  provóm  as  ar- 
madas, o  frotas  di'lR  >v  nosso  Soahor,  se- 
jam os  primeiros.»  Arte  de  furtar,  cap. 
5-1. — «Isto  uàio  tira  dar  sua  magestade 
as  Commendaa  a  quem  Ibe  parecer  j  porque 


TIRA 

alem  das  de  graça,  que  aaS  livres,  pôde 
dar  a»  outras  j)ara  filhos,  c  netos,  acoi- 
tar ronunciaçoens,  como  se  ordena  na- 
quollo  ultimo  capitulo  acima  referido.» 
Severim  de  Faria,  Noticias  de  Portugal, 
Díbc.  2,  cap.  16. 

Nevados  Cyanes,  que  o  mi-u  carro  tirão, 
MiinosaH  Dansas,  namoradas  S<'Ivag 
KestivAos  Sacrifioiori  jubilosos... 
K  esse  leve  desconto  das  Olcgtcg 
Alegrias,  viraõ  Christàos  roubar-m'oV 

F.    H.    DO  NASCIMENTO,  03   MABTrBKS,   1ÍV.   8. 

Do  Epicureo  Lucrécio  ontiio  descubro 
O  pensativo  descarnado  aspeito. 
< »  centro  tira  ao  ^lundo,  o  finge  Mundos, 
Que  intínito.j  lançou  no  eterno  espaço. 

J.   A.    DK  MACEDO,  VIAGEM   EXTÁTICA,   Cant.    2. 

—  «Escrúpulos  da  reza  çi/i  ni'o3  tira  o 
breviário.»  Pedro  da  Motta  prohibiu-lho 
a  liçào  d'outro  livro,  excepto  os  Exercí- 
cios de  perfeição  do  padre  Affonso  Ro- 
drigues.» Bis|>o  do  Grão  Pará,  Memo- 
rias, publicadas  por  Camillo  Castello 
Branco,  )iag.  88. 

TIRAPÉ,  s.  ni.  Correia  estreita,  e  fe- 
chada de  maneira  qne  faz  um  circulo, 
quo  08  sapateiros  mettem  por  um  cabo 
deb:iixo  da  sola  do  pé,  e  com  o  outro  se- 
guram a  obra  no  banco,  ou  sobre  a  for- 
ma no  joelho. 

TIRAR,  V.  a.  e  »».  (Do  francez  tirer). 
Tjcvar,  fazer  sair  de  algum  logar. — Ti- 
rar alyuem  da  cadeia. 


Além  de  lho  tirar  o  regimento 
Da  Cidade,  c  que  ncUa  não  mandassem, 
Quiz  doa  nossos  também  coasentimcnto 
Que  as  suas  nãos  os  mares  navegassem 
Sem  na  viagem  ter  impedimento, 
Nem  nas  mercadorias  que  levassem, 
E  que  estas  nãos  por  onde  quer  que  iriâo 
Seguros  se  os  quizcssem,  Icvariào. 

FRANCISCO    d'aNDRADE,    PRIMEIBO     CERCO    DU    DID, 

cant.  5,  est.  39. 


—  «Porque  na  verdade  he  grande  afrõ- 
ta  para  elles,  e  sobre  que  tem  feito  voto 
de  em  quanto  os  naõ  tirarem  daquy  naõ 
celebrarem  festa  nenhuma  em  que  se  en- 
xergue alegria,  nem  nas  suas  brallas  e 
casas  de  oraçAÕ  se  accendeo  mais  fogo 
ató  o  dia  de  oje,  nem  se  acenderá  em 
quanto  aquy  estiverem  cativos.»  Fernào 
Mendes    Pinto,  Peregrinações,   cap.  1G2. 

—  Tirar  informaçies;  informar-se. — 
"Mandava  ElRey  por  doze  Adaiz  tirar 
informaçoens  com  juramento  do  Adail, 
que  estava  para  se  fazer,  e  afíirmando 
oUes,  que  tinha  as  quatro  qualidades  re- 
quisitas, lie  dava  ElRey  espada,  cavai- 
lo.»  Severim  de  Faria,  Noticias  de  Por- 
tugal, Diíc.  2,  o^ip.  G. 

—  Puxar,  mexer.  —  «A  donzella,  a 
quo  O  medo  do  vèr  lhe  fez  esquecer  o  ou- 
tro cuid.ido  em  que  d'antos  estava,  ti- 
rando polo  cavalleiro  do  Salvago,  o  fez 
acordar,  dizendo  lho  quo  junto  delle  ea- 


TIRA 

tava  outro  BracolBo.»    Frandíco  de  Mo- 
raes,  Palmeirim  dluglaterra,  cap.    107. 

—  Dexpir. 

Capuz  lhe  chamo  eu,  «ciihor. 
Tirat-o. 

ASTOXIO  PRBXTM,  ACTO»,  pftg.  ■'J41  . 

—  Deduzir,  colligir.  —  tO»  nouos  com 
desestimação  da  vida  divertido  o  horror 
do  tantos  apparatos,  animando-oe  com 
discursos  conforiiiC»  ao  tempo,  tirando 
da  necessidade  concelho  para  m  couiias 
f)rosontc«.»  .lacintlio  Freire  d'Andrado, 
Vida  de  0.  João  de  Castro,  liv.  2. 

—  Arrancar.  —  •  Ha  em  Ormus  huma 
pedra,  que  iie  a  própria  de  qae  se  fazem 
as  casas,  chamada  pedra  pcyxe,  a  qual 
ja  mais  na  apoa  se  vay  ao  fundo,  e  sem- 
pre anda  sobre  ella ;  e  pelo  contrario 
hum  pao  a  quo  chamilo  Horrà,  que  na»- 
cc  dcbayxo  dagoa,  e  deytSdoo  nella  se 
vay  ao  fundo,  e  tirandoo  delle,  e  pondoo 
ao  fogo,  arde  logo  como  se  fosse  de  Oli- 
ue>Ta:  nem  as  cozinhas  gast^  outro 
mais  que  este;  donde  na  Indi.a  corre  hum 
adagio  que  diz.»  Frei  f raspar  de  S.  Ber- 
nardino, Itinerário  da  índia,  cap.  11. 

—  Tirar  juizos;  informar.  —  tFoi  mui- 
to dado  ha  Astrologia  judiciaria,  em  tan- 
to que  no  partir  das  nãos  pcra  a  Índia 
ou  no  tempo  que  as  esperaua  mandaua 
tirar  juizis  por  hum  grande  Astrólogo 
português,  morador  em  Lisboa,  per  nome 
Dioguo  mendez  vezinho.»  Damião  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1, 
cap.  8. 

—  Tirar  vantagens  de  alguma  couta; 
colher  vantagens  d'ella.  —  «He  impossí- 
vel que  eu  dcyxe  de  tirar  sempre  venta- 
gens  da  companhia  de  V.  A.  A  qae  hon- 
tem  consegui  tiio  grande  que  nSo  só  me 
fez  Imperador,  porem  Augusto;  imagi- 
nando-me  como  elle  mesmo  no  lugar  que 
V.  A.  me  destinou  na  sua  mesa,  íksen- 
do-rao  sentar  entre  huma  viuva  que  cho- 
ra por  quem  Deos  tem.*  Cavalleiro  d'0- 
liveira.  Cartas,  liv.  3,  n.*  17. —  •£ 
quem  não  possue  em  si  assaz  melindro 
para  tirar  vantujens  d'um  Amante  satia- 
feito  do  seu  amor,  pécca  pelo  coração, 
nào  pela  ventura.  Vem,  e  vem  logo  ra- 
titicar-me  esta  verdade,  que  pouca  fine- 
za a  minha  fora,  se  atniz<asse  cu  esse 
instante  com  o  prolixo  desta  Carta.  Bem 
ícl  que  ils  Uoras  que  eu  te  escrevo  to  é 
verdade  vires  vèr-mc :  e  dado  que  em 
conversar  comtigo  por  cscripta  me  dê 
gosto,  outro  gCsto  maior  l!:o  preferira  eu, 
que  é  o  da  tua  presença.»  Francisco  Ma- 
noel do  X.osciraento,  Successos  de  mada- 
me de  Seneterre. 

—  Tirar  a  vida  ao  j>ae;  matal-o. — 
«Era  ja  nascido  ne.*tc  tempo  hum  filho 
termosissimo  a  Martha,  e  Arduel,  a  quem 
cliamaram  Ismael,  em  cujo  nascimento, 
se  pronosticar.^io  muytas  cousa»,  e  quan- 
do  pareceo  aos   pays   poderiSo   gozar  o 


TIRA 


TIRA 


TIRA 


731 


fructo,  que  tantas  esperanças  ao  mundo 
prometia,  entào  os  criados  de  laeupo  lhas 
cortarão,  tirando  a  vida  ao  pay  cõ  tanta 
crueldade,  e  dureza.»  Frei  Gaspar  de  S. 
Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap.  21. 
—  Livrar,  pôr  em  salvo.  —  «Cõquis- 
tou  depois  disto  as  terras  de  Biscava,  ti- 
randoas  da  mào  de  Romanos,  que  possu- 
liiaõ  inda  algumas  e  ganhando  por  com- 
bate a  Cidade  de  Amava,  ouve  delias 
gi-àdes  riquezas,  daqui  passou  aos  montes 
chamados  Aregenscs,  que  conforme  ao 
discurso  da  historia  que  leva  o  Abade 
Joào  de  Valclara,  deviaõ  de  sor  contra  a 
Província  de  Galiza,  e  sayndolhe  ao  en- 
contro Aspidio,  que  era  senhor  daquellas 


ficou 


vencido,  e  cativo   com 


montanha 

sua  mulher  e  filhos,  deixando  a  terra  .so- 
geita  ao  Império  dos  Godos.»  Monarchia 
Lusitana,  liv.  6,  cap.  16.  —  «Afonso  dal- 
buquerque  lhe  respondeo,  que  hia  buscar 
ao  mar  de  Arábia  hiima  armada  de  Ru- 
mes que  tinha  per  noua  certa  estar  pres- 
tes para  partir  perà  índia,  e  que  poios 
tirar  daquelle  trabalho  os  vinha  buscar, 
e  que  quanto  a  cidade  de  Adem,  que 
queria  com  ella  paz,  com  tanto  que  se 
fszessem  vassallos,  e  trebutarios  a  el  Rei 
dom  Emanuel  seu  senhor  o  que  fazendo- 
Ihes  daria  todalas  liberdades,  e  priuile- 
gios  que  fossem  honestos.»  Damião  de 
Góes,    Chronica  de  D.  Manoel,  cap.  43. 

Tem  meu  pae  já  outro ^caso 
eoutra  mim. 

Agrave  e  apélle. 
Casei-voa  a  furto  d'elle, 
foi  tírar-me  maid  um  praao 
c  pôr  dous  agravo3  n'ellc. 
ANTÓNIO  PBESTEs,  Í.BTOS,  pag.  237. 

—  Tirar  as  magnas  e  peccados  do  mun- 
do.—  «O  Senhor  enuiay  cedo  aas  terras 
aquelle  Cordeyro  que  se  ha  de  eusenlio- 
rear  delias,  aquelle  Cordeyro  sem  magoa 
que  ha  de  tirar  as  magoas,  e  peccados 
do  mundo,  e  tirados  ha  de  ter  bemauen- 
tm-ado  senhorio  sobre  os  corações  dos  ho- 
mens. Também  aquclloutras  que  com  os 
mesmos  desejos  auia  dito  Dauid.  Mos- 
traynos  Senhor  vossa  Misericórdia,  day- 
uoã  o  Saliiador  que  n(js  prometestes.» 
Frei  Barthulomeu  dos  Martyres,  Catecis- 
mo da  doutrina  christã. 

—  Fazer  sair. —  «Por  festa  da  qual 
entrada  mandou  Aftbnso  d'Alboquerque 
embandeirar  a  frota,  e  tirar  toda  a  arti- 
Iheria.»  Barros,  Década  2,  liv.  7,  cap. 
10.  —  «E  chegando  àquella  Cidade  lhe 
poz  taõ  estreito  cerco,  que  lhe  mandou 
aquelle  Rey  cometer  todos  os  partidos 
que  quizesse,  tirando  q  Alifante  branco 
que  elle  havia  por  cousa  religiosa,  aíSr- 
mandolhe  que  sobre  elle  havia  de  perder 
seus  Reinos.»  Diogo  de  Couto,  Década  6, 
liv.  7,  cap.  8.  —  «Estes  irmãos,  tirando 
os  cintos,  e  atados  huns  nos  outros,  os 
lançarão  a  huma  ameya,  e  sobindo  por 
elles  acima,  levantai-aô  huma  bandeií-a,  e 


por  alli  foi  entrada  a  Mesquita,  e  mortos 
03  Mouros.»  Severim  de  Faria,  Noticias 
de  Portugal,  Disc.  3,  cap.  16.  —  «O  ma- 
rido se  empregou  inutilmente  na  diligen- 
cia de  lhe  tirar  este  costume,  e  hum  dia 
zombando  delia  lhe  trouxe  de  presente 
hum  pedaço  tão  grande  de  Alabastro  que 
mal  podia  com  eíle.»  Cavalleiro  d'01ivei- 
ra.  Cartas,  liv.  1,  n.°  16.  —  «Tendo  dous 
anéis  de  ouro,  e  prata,  meíendo-os  em 
hum  ninho  de  Andorinhas,  devxando-os 
estar  nelle  nove  dias,  tirando  depois  am- 
bos, ficando  com  hum,  e  dando  outro  ;l 
pessoa  amada,  dizem  também  muitos  que 
ella  amará  por  força,  e  eu  também  não 
deyxo  de  entender  que  ella  amará  se 
quizer.»  Ibidem,  n.°  30. 
—  Privar,  fazer  perder. 

Meu  dinheiro  uão  é  meu; 

de  meus  dinheiros 

são  03  pobrca  dcspenaciros : 

tirar  a.  pobres  o  seu 

d';u3  clamarão  esses  outeiros. 

ANTÓNIO  PUESTES,  ADT03 ,  pag.  85. 

Tirar-lhe  ar[uella  gotiuha 
que  Avareza  a  bôoa  empola 
grande  otfeusa  o  desconsola; 
qual  sem  folha  fica  a  vinha 
fica  o  pobre  sem  a  esmola. 


Siuto-me  muito  aborrida 
de  só  vèr  mear  um  gato  ; 
assi  me  mato, 
comer  é  /ira)--me  a  vida, 
a  perdiz  me  cheira  a  pato. 
IBIDEM,  pag.  2i5. 

Parte  o  misero  logo  com  gràa  pressa 
Na  palavra  d'ElRei  mui  confiado, 
Dia  o  noite,  de  caminhar  nào  cessa, 
Ja  para  vèr  a  pátria  alvoroçado. 
Espera,  Mouro,  espera,  que  a  promessa 
De  seres  brevemente  despachado 
Não  he  dar-te  a  mercê  que  teus  pedida. 
Mas  tirar-ta  a  fazenda,  e  mais  a  vida. 

p.  d'andeade,  puimeiko  cebco  de  DIU,  cant.  6, 
est.  7. 


—  Mandou  tirar  palavras  na  edição 
romana.  —  «N'este  memorial,  pois,  mos- 
tra a  ascendência  de  muita  gente  da  gran- 
deza hespanhola  maculada,  principiando 
pelos  descendentes  de  Ruy  Capam,  ju- 
deu, de  quem  o  nosso  conde  D.  Pedro,  no 
Livro  das  Linhagens,  diz  que  fora  bapti- 
sado  em  pé,  dando  a  entender  que  fora 
neophito  ou  christào  novo;  palavras  que 
mandou  tirar  na  edição  romana  o  mar- 
quez  de  Castel  RocLrigo  estando  em  Ro- 
ma.» Bispo  tio  Grão  Pará,  Memorias,  pu- 
blicadas por  Camillo  Castello  Branco, 
pag.  65. 

—  Tirar  os  olhos;  arraucal-os. —  «Na 
qual  uizem  todos  os  Autores,  que  fazem 
menção  desta  historia,  que  ouve  El  Rey 
às  mãos  o  Mouro,  que  matara  a  ElRev 
Dom  Aâonso  seu  sogro  (por  seu  mal  taõ 
conhecido  de  todos)  a  quem  fez  tirar  os 


olhos,  e  cortarlhe  ambas  as  mãos,  e  hum 
pè,  como  instrumentos  principavs  do  cri- 
me que  cometera.»  Monarchia  Lusitana, 
liv.  7,  cap.  28. 

—  Tirar  o  chapéu  a  alguém;  descobrir- 
se,  em  signal  de  delicadeza,  e  respeito. 
— « Pelo  contrario,  segundo  as  memorias 
de  Egnacio,  certo  Varaõ  por  nome  Pe- 
di-o,  e  Pay  de  Laurencio  Celso,  Duque  de 
Veneza  foi  pertinaz  em  naõ  descobrir  a 
Cabeça  na  prezença  do  filho,  que  nunca 
que  o  encontrava,  foi  possível  tirarlhe  o 
chapeo,  por  mais  que  a  isso  o  persuadirão 
03  amigos,  e  familiares.»  Braz  Luiz  de 
Abreu,  Portugal  medico,  pag.  283,  §  12. 

—  Exceptuar. —  «Dizem  os  Parseos, 
que  03  filhos  de  Alie,  e  Fatama,  e  seus 
doze  netos,  tirando  Mahamed,  tem  pre- 
minencia  sobre  todolos  Profetas :  respon- 
dem os  Arábios,  que  esta  premineucia  he 
sobre  todolos  homens,  mas  não  sobre  os 
Profetas.»  João  de  Barros,  Década  10, 
cap.  6. —  «As  molheres  coniunmente,  ti- 
rando as  do  longo  do  mar  e  as  dos  mon- 
tes, sam  muito  alvas  e  gentis  molheres, 
tendo  algumas  os  narizes  e  olhos  bem  fei- 
tos.» Fr.  Gaspar  da  Cruz,  Tratado  das 
cousas  da  China,  cap.  15.  —  «Em  cada 
casa  de  cada  hum  destes  tirando  ho  Lu- 
thissi,  que  he  dos  cinco  ho  menor,  ha  dez 
que  sam  como  assistentes,  que  sam  tam- 
bém de  muy  grande  autoridade.»  Ibidem, 
cap.  16.  — •  «Em  Puchio  cavo  a  casa  dum 
p-irente  dei  Rey  e  matou  quantos  avia  na 
casa,  tirando  hum  menino  de  sete  ou  oito 
annos  sou  filho,  ho  qual  foy  levado  a  el 
Rey,  e  dia  e  noite  se  ouvia  na  terra  roy- 
do  como  de  sinos.»  Ibidem,  cap.  29.  — 
«Ninguém  sendo  Chefe  pcjdo  trazer  as 
Armas  com  outra  mistura,  tirando  se  o 
for  de  muitas  geraçoens;  porque  entaõ  as 
poderá  trazer  juntas.»  Severim  de  Faria, 
Noticias  de  Portugal,  Disc.  3,  cap.  18. 

—  Imitar,  arremedar,  faliando  de  co- 
res. 

—  Tirar  u»)a  linha;  descrevel-a. 

—  Privar  por  força,  ariebatar. 

—  Tolher,  impedir,  obstar. 

—  Diminuir,  deduzir  parte  de  outra 
cousa. 

—  Termo  de  impressão.  Vid.  Tiragem. 

—  Apartar,  desviar. 

—  Copiar,  retratar. 

—  Trazer  alguém,  fazer  sair. 

—  Dissuadir. 

—  "lirar  as  brigas.  Vid.  Briga. 

—  Attrahir. 

—  Fazer  vir,  chamar. 

—  Extrahir,  exportar,  transportar. 

—  Tirar  alguém  do  seu  sentido;  pri- 
val-o  do  juizo,  e  advertência  para  com- 
metter  erro,  ou  culpa. 

—  Figuradamente  :  Obrigações  que  ti- 
ram por  mim. 

—  Cor  que  tira  a  outra;  approximar- 
se,  declinar,  achegar-se  a  ella,  ter  visos 
d'ella. 

—  Tirar  esíHo/as;  pedil-as. 


732 


TIRA 


TUIA 


TIKA 


—  Atirar. 

—  Tirar  urros;  abolir  di^  <iualrjuor  mo- 
do com  razões,  leis,  piiwn. 

—  Tirar  al<juma  cousa  do  sentido  a  ai' 
giiem;  fazor  csfiuecor,  abandonar. 

—  Tirar  òal/ta;  promover,  desafiar. 
Vid.  Bulhento. 

—  Fii,Miiailara6iito :  Tirar  òarro  á  pa- 
rede; fa/A-r  diligencia  a  vôr  no  se  obtom. 

—  Tirar  dividas ;  cobrar  jiidicialniouto. 

—  Tirar  forças  da  fraqueza;  fazer  a- 
forçoa  extraordinários,  e  para  que  nPio  ha 
forças. 

—  Tirar  ouro,  prata ;  fazel-o  em  fio. 

—  Tirar  o  bocado  da  òocca;  privar-se 
do  necessário  alimento. 

—  Tirar  os  foros;  cobral-oa,  exigi l-os, 
arrecadai -09. 

—  Figuradamente :  Tirar  alguém  a  ter- 
reno; fazer  com  que  alguém  se  mostre 
em  qualíjuer  gonoro  de  feitos,  e  acções. 

—  Tirar  de  uma  lingua  em  outra;  tra- 
duzir. 

—  Tirar /^aZaura  d' alguém;  fazel-o  fal- 
lar. 

—  Tirar  á  luz;  publicar. 

—  Tirar  palavra  d'elle;  tirar  a  pro- 
messa, obrigação. 

—  Figuradamente  :  Tirar  algucm  a  ter- 
reno; desafiar,  provocar. 

—  Tirar  tença,  mercê,  graça,  casamen- 
to; obter  despacho,  mandado,  desembar- 
go para  os  receber  das  thesourarias,  al- 
moxarifados, e  dos  respectivos  pagadores, 
6  consignações. 

—  Tirar  a  ave  os  pintos  dos  ovos;  fa- 
zel-03  sair  d'elle3,  cobrando-os  e  fonien- 
tandoos  com  o  seu  calor.  Vid.  Empoihar, 
e  Incubar. 

—  Loc.  POP. :  Tirar  os  olhos  a  alguém 
por  alguma  cousa;  perseguil-o,  incommo- 
dal-o  com  affinco  j)or  ella. 

—  Figuradamente :  Ter  por  alvo. 

—  Tirar  sangue ;  sangrar. 

—  Tirar  por  alguma  cousa;  exigir  a 
satisfacjào  d'el!a. 

—  Tirar  um  vestido;  botal-o  novo. 

—  Feios  domiiujos  se  tiram  os  dias  san- 
tos;  de  umas  cousas  se  deduzem  as  ou- 
tras similhantes. 

—  Tirar  a  siía  verdade,  ou  honra  a  lim- 
po; averigual-a,  e  fazel-a  appareeer, 
apural-a  de  más  suspeitas,  ou  calumnias. 

—  Tirar  para  alguma  parte;  caminhar 
para  lá  á  pressa,  ou  velejar. 

—  Tirar  alguma  cousa;  sair  com  ella. 

—  Loc.  POP.:  Tirar  a  sardinha  do 
fo(jo  com  a  mão  do  gato ;  servir-se  de  ou- 
trem em  seu  proveito  e  com  risco  de  quem 
serve. 

—  Loc.  PIO. :  Tirar  o  veu  dos  olhos 
de  alguém ;  alumiar  a  cegueira  do  seu 
ontenilimento. 

—  Tirar  uma  estocada.  Vid.  Atirar. 

—  Tirar-se,  i'.  rejl.  Sair,  afastar-se  do 
logar  onde  está. 

—  Des(Mnbaraçar-se,  livrar-se. 

—  Tirar-se  alguém  d«  cuidados,  e  fa- 


zer alguma  cousa;  diz-se  do  que  accom- 
mctte  sum  consideraçilo,  e  dciiattcutada- 
mente. 

—  Substantivamente:  Ao  tirar  do  hra- 
ço.  —  €  Floreados  ao  tirar  do  braço,  tor- 
nou em  si,  o  tirando  os  olhos  donde  os 
guiava  o  coração,  corriíJo  de  sou  e-iquo- 
cimeiito,  disso:  Senhor  cavalleiro,  peza- 
mo  haver  batalha  couivosco,  que  mo  to- 
maes  em  tempo  c  hora,  que  estou  com 
armas  d'avantage.»  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim   d'Inglaterra,   cap.  110. 

—  Adágios  k  puíjveuiuos  : 

—  Tirar  a  castanha  do  fogo  com  a  mSo 
do  gato. 

—  Tirar  com  barro  á  parede  ató  que 
pegue. 

—  Tirar  forças  da  fraqueza. 

—  Tirar  o  bocado  da  bocca,  dal-o  a  ou- 
trem. 

—  Tirar  á  cega  lagarta. 

—  Tirte   lá  ganho,  não  uie  dês  perda. 

—  I)\inde  tiram  e  n.ào  põem,  cedo  che- 
gam ao  lundo. 

—  Manda,  e  faze-o,  tirar-te-ha  do  cui- 
dado. 

—  Peso,  o  medida,  tiram  o  homem  de 
fugida. 

—  Cria  o  corvo,  tirar-te-ha  o  olho. 

—  Jantar  tarde,  o  cear  cedo,  tiram  a 
merenda  de  permeio. 

—  Ouçào  de  palma,  não  o  tira  toda  a 
barba. 

—  Se  queres  agua  limpa,  tira-a  da 
fonte  viva. 

j  TIRARA.  Forma  variável  do  verbo  ti- 
rar na  primeira  ou  terceira  pessoa  do  sin- 
gular do  presente  do  modo  inilicativo.  Vid. 
Tirar.  —  «E  poudose  uelle  o  matador, 
depois  de  caminhar  toda  a  noyte  a  mòr 
pressa,  quando  viera  o  outro  dia,  se  acha- 
ra no  próprio  em  que  tirara  a  vida,  a 
seu  amigo,  e  conipanheyi-o:  donde  foy 
achado,  e  morto  por  justiça,  e  deste  era 
a  ossada  que  hora  vianios.»  Fr.  (!as]>ar 
de  S.  Bernardino,  Itinerário  da  índia, 
cap.  12.  —  «Luimrio  de  Borgonha,  Cla- 
ribalti  d'Ungria  tiraram  armas  brancas : 
no  escudo  em  campo  verde  medronhos 
d'ouro.  Flamiano,  Esmeraldo  o  fermoso, 
sahiram  com  outras  de  morado  e  roxo  e 
pintasirgos  de  nuiitas  cores,  e  nos  escu- 
dos era  campo  bi-anco  umas  nuvens  cer- 
ra las.»  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
d'Iuglaterra,  cap.  38.  —  «Chegados  a 
(íeilolo  o  Capitão  mamlou  acabar  de  der- 
ribar a  fortaleza,  e  achíiraõ  nella  muitas 
covas  abertas,  de  que  tiràraõ  muita  fa- 
zenda. Catabruno,  que  já  se  chama  San- 
gage,  des  aquelle  dia  quo  sahio  da  forta- 
leza com  as  mulheres,  nunca  mais  tornou 
a  ella  em  quanto  os  nossos  alli  cstivoraõ, 
e  fez  huma  povoaç^no  naquelle  lugar  aon- 
de se  deixou  ficar.»  Diogo  de  Couto,  Dé- 
cada 6,  liv.  O,  cap.  13.  —  «A  este  cle- 
mentíssimo Príncipe  (cujas  cinzas  venero 
como  de  Senhor,  choro  como  de  Pai\  de 
baixo  do  sagrado  da  paz,  tirarão  os  Por- 


tuguezoR  a  vida  com  escândalo  de  todos 
o8  Reirt,  o  nSí>  menor  injúria  de  «eus  vas- 
salloH,  indignos  de  o  iiavt-runj*  nido  de 
Principe  tAo  grande,  pois  insensiveis,  e 
ingratos,  ortUtDos  alimentando  os  homici- 
das do  nosso  Motiarcha  em  nossa  mesma 
casa,  gozamlo  como  herança  a  Praça,  que 
assegurarão  com  tJo  atroz  delictí».»  ja- 
cintlio  Freire  d 'Andrade,  Vida  de  D.  João 
de  Castro,  liv.  2. 

Do  frigido  Saturno  o  ingentp  plobo, 

Seu  aniiul.  seus  s.itnUitCi»,  recebem 

Dcllc  o  c:ilnr,  a  fori^  attraidom. 

Qual  gciitirào  uo  iustaiito,  cm  <|uc  do  inerte 

Nada  o  tirara  o  lJrai,o  fliniiipoteiit».'. 

J.    A.    DE  MACEDO,   A  SATCIUA,  Caut.  1. 

Enlão  das  cultas  pampinotas  vides 

So  iirárílo  primeiro  03  dona  de  liromio ; 

Rntào  luxo  cnáinou  tinpr  por  fasto 

Co'a  preciosa  purpura  do  Tyro 

Do  verme  industrioso  a  tcnuo  baba. 

IDEM,   VIAOEM   EXTÁTICA,  Cant.    1. 

f  TIRAREMOS.  Forma  variável  do  ver- 
bo tirar  na  primeira  pessoa  do  plural 
dn  futuro  imperfeito  do  modo  indicativo. 
Vid.  Tirar. 


Fica  nos  bum  rcracdio  mal  seguro, 

I  Mas  eu  n.io  vejo  aporá  outro  ao  presente  ( 

Que  o  darmos  nossas  anuas  a  estes  Cafres: 

('crtiticandolhc  assi  sermos  amigos. 

Tumbtnn  lhe  tiraremos  a  sospeita, 

E  o  modo  que  de  nós  tem  coucebido, 

K  vendo  a  nossa  fácil  amizade 

Damos  hão  facilmente,  o  que  iiedirmos. 

COBrS  BEAL,   MACFBAOIODB  SErCLTCDA,   CAnt.  15. 


•}•  TIRAS.  FArma  do  verbo  tirar  na  se- 
gunda pe.ssoa  do  singular  do  presente  do 
modo  indicativo.  Vid.  Tirar. 

Quem  a  mudou  tam  azinha  ? 
Iluma  si  razau,  que  tínha 
Por  si,  que  cm  ser  mulher. 
Esse  engano  he  mui  geral  : 
Nem  todas,  Fernando,  o  saõ, 
Mas  tu  tiras  a  razaò 
Do  sou  erro,  o  do  teu  mal. 

FBASCISCÚ  BODBiaUES  LOBO,    BCUMAS. 

•}■  TIRASSE.  Forma  variável  do  verbo 
tirar  na  primeira  ou  terceira  pessoa  do 
singular  do  pretérito  mais  que  perfeito 
lio  modo  conjunctivo.  Vid.  Tirar.  —  «E 
porque  com  esta  determinação  de  pele- 
jar, 03  mercadores  viram  suas  fazendas 
postai  em  ventura  de  as  perder,  posto 
que  El-líey  mandou  lançar  pregões,  qne 
ninguém  tirasse  cousa  alguma  da  Cida- 
de. •  Barros,  Década  2,  liv.  6,  cap.  3, 


E  pedir  que  me  tirasMm 
Este  mal  do  âus;H'itar 
Que  mo  vejo  atormentar, 
Indaque  mo  cotifesiiassciu 
Quanto  mo  pvkle  matar 
cAM.,  aEooin>ii.aAS. 


TIRA 


TIRI 


TIRO 


733 


—  o  Pelo  qual  era  razão  que  ja  que  a 
morte  lhes  tinha  tirado  o  premio  que  me- 
recerão por  suas  obras,  Uie  uão  tirasse 
o  ruundo  a  memoria  que  se  Ihea  devia, 
o  qual  aos  bõs  e  animosos  faria  inveja 
com  que  se  lhes  acrecentasse  o  animo.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações, 
cap.  1Ó2.  —  «Praza  a  Deus  que  nos  nào 
hajamos  cansado  debalde;  como  seria,  se 
no  cabo  de  v.  m.  haver  ouvido  muito,  e 
de  haver  eu  dito  muito,  d 'aqui  nào  tirás- 
semos algum  proveito.»  D.  Francisco 
Manoel  de  Mello,  Carta  de  guia  de  ca- 
sados. 

TIRA-TEIMA,  s.  /.  Termo  popular. 
Pau  forte  e  geitoso  para  dar  pancadas,  e 
assim  obrigar  o  teimoso  a  ceder. 

TIRATESTA,  s.  f.  Género  de  arreio 
de  guarnecer  a  testeira  do  cavallo. 

•j-  TIRÀVÃO.  Forma  variável  do  verbo 
tirar  na  terceira  pessoa  do  plural  do 
pretérito  imperfeito  do  moio  indicativo. 
Vid.  Tirar.  —  «Donde  trouxeram  trinta 
e  sete  bombardas  de  ferro,  em  que  en- 
travam peças,  que  lançavam  pelouros 
quasi  de  palmo  em  diâmetro,  ficando  o 
baluarte  em  nosso  poder  sem  muito  tra- 
balho, por  uão  haver  nelle  quem  o  de- 
fendesse, senào  alguns  Mouros  que  tira- 
vam com  a  artilheria.»  Barros,  Década 
2,  liv.  7,  cap.  10.  —  «E  começando  a 
encaminhar  com  nosco  para  sua  casa,  os 
upos,  que  erào  os  beleguins  que  nos  tra- 
ziào,  o  nào  querião  consentir,  o  nos  de- 
ziào  que  fossemos  pedir  esmolla  pela  ci- 
dade como  nos  era  mandado  pelo  Chifuu, 
senào  que  nos  levariào  á  embarcação,  e 
isto  dezião  pelo  interesse  que  disso  lhes 
cabia,  que,  como  já  disse  era  a  metade 
de  toda  a  esmolla  que  tirávamos.»  Fer- 
não Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap. 
91.  —  «E  tiravão  com  elles  para  o  Ceo, 
dizendo  que  os  mandavào  a  Deos  de 
presente  pela  alma  de  seu  pay,  ou  filho, 
ou  molher,  ou  pela  da  pessua  por  quem 
aquillo  fazião,  e  no  lugar  onde  cahia 
qualquer  destes  pedaços,  era  tanta  a  gen- 
te sobre  elles  para  os  tomarem,  que  ás 
vezes  se  afogavào  huns  cos  outros.»  Ibi- 
dem, cap.  160.  —  «Passado  o  inverno 
se  fez  a  vella  perá  índia,  com  tenção  de 
outra  vez  dar  em  Adem,  em  cujo  porto 
achou  algumas  nãos,  e  geluas,  varadas 
em  terra,  junto  com  o  muro  das  quaes 
tirauão  a  frota  mui  a  meude,  com  bom- 
bardas, e  o  mesmo  faziam  da  ilha  de  Gi- 
ra, e  do  alto  da  serra  com  hum  trabu- 
co.» Damiào  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  3,  cap.  44.  — •  «E  mandou 
cercar  de  mar  a  mar  com  mui  altos  vai- 
los  e  profundos  fossados,  e  bastilhoens, 
em  que  fez  assentar  muita  artelharia, 
delia  mui  grossa  de  ferro,  e  metal,  com 
que,  e  com  a  spingardaria,  e  besteiros 
que  tirauaõ  dos  vallos,  que  estauão  a 
tiro  de  besta  do  muro  da  villa,  fazião 
dentro  muito  danno.»  Ibidem,  part.  4, 
cap.  5.  —  cA   todas  estas  palavras  Ar- 


lança  nào  tirava  os  olhos  delle,  e  inda 
que  conhecesse  de  si  que  sua .  fermosura 
nào  era  merecedora  delias,  folgava  com 
aquelles  enganos,  que  é  natural  de  mu- 
Iheies. »  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
d'Inglaterra,  cap.  llõ. 

TIRAVERGAL,  s.  m.  Couro  como  man- 
gote,  que  firma  ou  prende  os  machos  á  li- 
teira. 

TIRAZ,  s.  m.  Certo  panno  de  linho 
com  alguns  ramos,  ou  feitios  como  as  ta- 
lagaxas:  deu-se-lhe  este  nome  talvez  em 
allusào  ao  tirio,  ou  purpura  em  que  os 
taes  ramos  se  usavam. 

•{-  TIRE.  Forma  variável  do  verbo  tirar 
na  primeira  ou  terceira  pessoa  do  singu- 
lar do  modo  conjunctivo.  Vid.  Tirar.  — 
oEssa  (disse  a  pastora)  he  tal,  que  nem 
quero  que  a  suspeita  do  lugar  me  tire 
de  ouvir :  e  para  que  essa  razão  te  nào 
escuze,  saiamos  ao  prado,  que  o  publico 
nos  dará  mais  liberdade.»  Francisco  Ro- 
drigues Lobo,  Primavera.  —  «Ainda  que 
eu  creio  que  quem  ruins  obras  gastou 
todo  seu  tempo,  no  porvir  fará  algumas, 
de  que  tire  o  galardão  de  todas.  Arlan- 
ça  lhe  agradeceu  sua  vontade,  e  Alfer- 
nao  por  seu  mandado  foi  preso,  temen- 
do-se  que  por  sua  arte  fizesse  algum  en- 
gano.» Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
d'Inglaterra,  cap.  115.  —  «Eu  quando 
dey  casa  a  meu  filho,  deylhe  os  meus 
iiuros  da  cosinha,  para  que  elle  á  sua 
vontade  escolhesse  nelles  os  moradores 
que  quisesse,  antre  os  quaes  elle  escolheo 
a  ti.  Ora  como  queres  tu  que  lhe  tire  eu 
nenhum  daquelles  que  elle  por  meu  man- 
dado escolheo-?»  Garcia  de  Rezende, 
Chronica  de  D.  João  II,  cap.  201. 

•{-  TIREIS.  Forma  do  verbo  íiVa?'  na  se- 
gunda pessoa  do  plural  do  presente  do  mo- 
do conjunctivo.  Vid.  Tirar.  —  «E  pois  a 
ella  doe  mais  a  perda  de  seus  filhos,  nào 
lhe  tireis  o  gosto  da  vingança  de  suas 
mortes:  embarquemo-nos  pêra  a  ilha,  en- 
treguemos-! ho  assim  vivo  e  ella  determi- 
ne o  modo  e  fim  de  sua  morte,  como  lhe 
melhor  parecer  e  lho  ensinar  a  dor  e 
paixão,  que  comsigo  tem.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  d'Iuglaterra,  cap. 
113.  —  «Sobrinha  o  que  vos  mais  reve- 
la, he  que  tireis  desse  tronco  algum  en- 
xerto, que  fique  preso,  por  isso  não  vos 
descuydeis,  e  quando  não  puder  ser  de 
Carvalhal,  seja  de  Coruicabra.»  Francis- 
co Rodrigues  Lobo,  Corte  na  Aldêa,  Dia- 
logo G. 

TIRICIA,  s.  /.  Vid.  Iclericia. 

TIRICIADO,  A,  adj.  Da  côr  de  quem 
tem  tiricia. 

TIRINHA,  s.  /.  Diminutivo  de  Tira. 
Pequena  tira. 

TIRINTIMTIM,  s.  m.  Som  imitativo  de 
trombeta  por  onomatopeia,  como  taranta- 
ra,  com  que  Ennio  entre  os  romanos 
quiz  significar  o  som  bellico. 

TIRITANA,  s.  /.  Vid.  Parietaria. 

—  Manteu  de  serguilha,  de  que  se  ser- 


vem as  rústicas,  trazendo-o  por  cima  d 'ou- 
tro manteu.  Vid.  Tricana. 

TIRITAR,    y.  n.   Tremer  com  frio. 

TIRO,  s.  m.  Acto  de  atirar. 

—  Errar  o  tiro;  errar  a  pontaria,  o 
alvo;  desacertar. 


Sóltão  logo  o  mortal  chumbo  damnoso 
Só  naquelle  que  a  longa  escada  afferra, 
Qualquer  do  que  soltou  fica  gostoso 
Porque  então  iienlium  dellcs  o  tiro  erra. 
Tal,  que  quantos  estão  (easo  espantoso) 
Ferrados  nas  escadas  vem  a  terra, 
Qual  manda  a  alma  ao  profundo  senhorio. 
Qual  vivo  solta  o  sangue  cm  grosso  fio. 

F.    n'AXDEADE,  PBIMEIBO  CEBCO  DE  DIO,Cant.    19, 

est.  33. 


—  Distancia  onde  alcança  o  tiro.  — 
«E  estado  pouco  mais  de  tiro  de  espin- 
garda afastados  dos  muros,  arremeterão 
a  elles  com  huma  grita  taõ  espantosa 
que  parecia  que  se  ajuntava  o  Ceo  com 
a  terra,  e  arvorando  mais  de  duas  mil 
escadas  que  pai-a  isso  traziào,  lhe  deraõ 
o  assalto  a  toda  em  roda,  por  todas  as 
partes  que  puderaõ,  subindo  pelas  esca- 
das acima  muyto  determinadamente,  e 
sem  nenhum  medo.»  Fernão  Mendes  Pin- 
to, Peregrinações,  cap.  117.  —  «Nesta 
pressa  veo  a  memoria  a  Lourenço  de 
Brito,  que  estaua  na  fortaleza  hum  tiro 
mais  grosso,  e  mais  furioso  que  as  Sphe- 
ras,  e  camellos,  a  que  chamaõ  Serpe, 
pela  qual  mandou  logo,  e  em  tão  boa 
hora  lhe  pos  o  condestabre  Rutgerte  Gel- 
dres  o  fogo,  que  leuou  huma  das  sacas 
em  pedaços  no  ar  ao  que  os  nossos  de- 
ram liuma  grande  grita.»  Damiào  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  2,  cap.  16. 

—  A  pólvora  de  uma  carga,  e  a  car- 
ga disparada. 

—  Figuradamente:  Os  tiros  da  calutn- 
nia,   da  sensualidade. 

—  Tiro  cego;  tiro  sem  pontaria  certa. 

—  Um  par  de  tiros.  —  «E  vendo  es- 
tar a  espingarda  |iindurada,  nào  me  quiz 
acordar,  com  propósito  de  tirar  primeyro 
hum  piar  de  tiros,  parecendolhe,  como 
elle  despois  dezia,  que  naquelles  que  elle 
tomava  não  se  entenderião  os  que  lhe  eu 
prometera,  e  mandando  a  um  dos  moços 
fidalgos  que  fosse  muito  caladamente  ac- 
cender  o  murraõ,  tirou  a  espingarda  dõ- 
de  estava. »  Fernão  Mendes  Pinto,  Pere- 
grinações, cap.  136. 

—  Arma  d'onde  se  dispara  o  pellouro, 
dardo.  —  Muitos  tiros  c/e  artilheria  gros- 
sa. —  «Ja  serião  duas  horas  da  noyte 
quando  chegamos  á  bocca  do  rio,  e  an- 
coramos nella  com  tenção  de  pela  me- 
nham  yrnios  surgir  á  cidade.  E  despois 
de  estarmos  quietos,  ouvimos  por  vezes 
muytos  tiros  de  artelharia  grossa,  com 
que  algum  tanto  ficamos  embaraçados  e 
duvidosos  no  que  fariamos.»  Fernão  Men- 
des Pinto,   Peregrinações,  cap.  148. 

—  Distancia  a  um  tiro  de  pedra.  — 
«Despois  de  vistas  todas  estas  cousas  cõ 


734 


TIRO 


TlSl 


TISD 


assaz  esjunito  «Ics  toilo.s,  nos  partimos  des- 
te pagodo  <ic  TiuafíOOffoo,  o  continuamos 
uoá.so  cauiiulio  pur  osp.iyu  de  mais  trezu 
dias  om  quo  clie^^auios  a  duas  nmjtu  í^rau- 
des  oidadwj,  situadas  :l  Ijorda  do  rio  de- 
frõto  liuma  da  outra  isiii  distancia  de  pou- 
co mais  do  um  tiro  do  podra,»  Fornào 
!Mcudcí  riuto,  Peregrinações,  cap.  1G2. 
—  «Poucos  dias  depois  deste  encontro, 
tiucmos  outro,  pêra  todos  do  grande  ad- 
miraram ;  quo  foy  darmos  com  quatro 
fontes,  apartadas  huma  da  outra  lium 
tiro  do  pcilra.  i*era  mi  foy  o  mayor  ex- 
tremo, que  vi  da  Índia  atò  este  Reyno.u 
Frei  (iaspar  do  S.  Jiurnardiuo,  Itinera- 
rio  da  índia,  cap.  22. 

—  A  ci)usa  com  que  se  atira. 

—  Estar  a  tiro ;  estar  cm  pontaria,  por 
alvo. 

—  Figuradamente:   Aliusão,  remoque. 

—  Figuradamente  :  Errar  o  tiro ;  nào 
fazer  cÔeito  a  allusSo,  remoque. 

—  Ve  tiro;  rapidamente.  Vid.  Fre- 
cha. 

—  Intento  mau,  o  que  se  faz  para  ob- 
ter. 

—  O  calabre  com  que  se  ajunta  mais 
um  boi  ou  besta  ao  arado,  ou  eocbo. 

—  Um  tiro  de  bastas ;  uma  parelha  de 
quatro  ou  seis  éguas,  que  tiram  pelo  co- 
che, 

—  Animaes  de  tiro  ;  animaes  de  puxar 
todo  o  género  de  carruagens;  bois,  bês- 
taó,  mulas,  ete.,  em  opposição  a  animaes 
de  carga. 

—  Um,  dous,  ou  três  tiros ;  juntas, 
ou  parelhas  de  bois  ou  bestas  de  puxar 
carros,  carretas,  etc. ;  ás  vezes  os  tiros 
Silo  singelos,  entiadoa  um  atraz  o  outro, 
e  cada  tiro  ó  um  animal,  como  nos  gran- 
des carros  inglczes. 

tirocínio,  s.  m.  (Do  latim  tiroci- 
niuin<.  O  ousiao,  e  estudos  do  princi- 
piante ou  bisonho  nas  artes  litteraria, 
militar  ou  mechanica,  c  algum  modo  de 
vida. 

TIROLICO-TICO.  Vid.  Sirolico-tico,  e 
Bico. 

TIROTEIO,  s.  m.  Termo  de  núlicia. 
Fogo  do  espingarda  em  encontro  com  o 
inimigo,  nrio  em  descarga  ceiTada,  mas 
em  tiros  disparados  succesaivamente,  ou 
do  cspayo  em  espaço, 

■}•  TIROU.  Forma  variável  do  verbo  ít- 
rar  na  terceira  pessoa  do  singular  do 
pretérito  perfeito  do  modo  indic-iitivo. 
Vid.  Tirar.  —  «A  fazenda  desta  não  se 
tirou,  e  vcudeo,  dando-se  as  partes  aos 
soldados,  o  ticárom  a  ElRey  forros  mais 
de  sessenta  mil  pardáos,  a  tora  o  ouro,  e 
prata  quo  aia  no  batel,  (pio  montava 
mais.»  Diogo  do  Couto,  Década  4,  liv. 
4,  cap.  9.  —  «Foram  juntamente  tào  des- 
fallecidos  delias,  qvie  Dramusiando  caiu 
no  cliao,  o  o  cíivalloiro  da  Fortuna  se 
sentou  junto  dcUe,  que  nem  pêra  lhe  ti- 
rar o  elmo  se  ati"eveu  estar  em  pé.  Logo 
desceram    todos    os    prisioneiros,    e   D. 


Duardos  o  tirou  a  Dramusiando  pcra  que 
lltu  desse  o  ar,  pedindo  ao  da  Foi-tuna, 
pois  a  vi'jtoria  claramente  era  suii,  nSo 
qiiizoriSe  mais  vingança  o  do  feito  se  con- 
tentasse.» Francisco  do  Moraes,  Palmei- 
rim d'Inglaterra,  cap.  41.  —  «E  como 
as  mais  delias  toai  por  natural  acabado 
de  se  determinarem  em  alguma  cousa 
quererem  logo  a  execuçilo  delia,  quiz 
sem  mais  detença  mandar-lhe  cortar  a 
cabeça;  mas  a  este  tempo  chegou  o  ca- 
valleiro  velho,  que  a  tirou  desta  tençrio 
dizendo.»  Ibidem,  cajj.  Ili5.  —  «Foi  tan- 
ta a  gente,  ipie  se  tirou  das  Províncias, 
(|Uo  tem  em  llespanlui,  que  se  achaõ  os 
Ueynos  de  Castella  quasi  todos  despovoa- 
dos.» tícverim  de  Faria,  Noticias  de  Por- 
tugal, Disc.  2,  cap.  y. —  «E  em  a  Prin- 
cesa sahindu  el  lley  se  foy  a  ella,  e  com 
muyto  grande  cortesia  se  pos  á  mào  es- 
quei'da,  e  assi  vieram  caminho  da  Cida- 
de, o  a  Princesa  ainda  (|ue  a  el  Key  nào 
leuaua  polia  mào,  porque  era  muy  pru- 
dente, e  muy  cortes,  tirou  a  luua  da 
mão  daquella  parte  donde  el  Rey  hia,  e 
sempre  leuou  a  mào  descuberta,  que  lo- 
go se  julgou  por  molher  de  muyto  pri- 
mor, e  de  grande  acatamento,  e  assi  vie- 
ram.» Uarcia  de  Rezende,  Chrooica  de 
D.  João  II,  cap.  l'2'ò.  —  «Levava  doze 
fustas  de  remo,  de  que  tirou  cento  e 
vinte  soldados  escolhidos,  e  com  elles  foi 
caminhando  com  a  segurança  de  quem 
hia  buscar  hum  Príncipe  amigo,  e  obri- 
gado, e  sobre  tudo,  senào  liei  ainda,  ao 
menos  grato  já,  e  benévolo  ás  verdades 
da  Lei  que  lhe  pregávamos.»  Jaeintho 
Freire  d'Andrade,  Vida  de  D.  João  de 
Castro,  liv.  4.  —  «Para  o  conseguir  ti- 
rou a  vida  á  mesma  molher  que  amava. 
He  acção  barbara,  porem  he  verdadeyra, 
e  foi  executada  por  hum  Monarca.»  Ca- 
vallciro  il'01iveíra.  Cartas,  liv.  1,  n." 
37. —  «E  cahiudo  seo  iilho  uaquelle  pec- 
cado;  sem  faltar  as  beaevolencias  de  Pay, 
nem  despir  as  rcctidoens  do  Juiz,  tirou 
hum  dos  Olhos  ao  filho,  e  outro  asy  pró- 
prio; para  que  o  iilho  visso  a  sua  Ce- 
gueira nas  atlliçoens  do  Pay ;  e  o  Pay 
mostrasse  a  sua  piedade  nos  mesmos  cas- 
tigos do  iilho;  a  que  alludio  eruditamen- 
te Camerario.»  Braz  Luiz  d'Abrou,  Por- 
tugal medico,  pag.  Ibl. 

TIR-TE.  Abreviatura  de  Tira-te. 

TIRUDO.  Termo  antiquado,  porTeúdo. 

TIRUELA,  s.  /.  Estofo  de  seda,  oriun- 
do lie  Castella. 

TISANA,  s.  /.  (Do  latim  ptisana).  Be- 
bida que  não  contém  na  dissolução  senão 
uma  pequena  quantiiiadc  de  substancias 
medicamentosas,  e  que  se  administra  nas 
doenças  para  auxiliar  a  acçÃo  dos  medi- 
camentos mais  activos. 

tísica,  s.  /.  Doença  produzida  de 
chagas  no  bofe.  Vid.  Phthisica. 

Tísico,  A,   adj.  e  í.  Que  tem  tisica. 

—  Frango,  gallinha  tisica;  mui  ma- 
gros. 


—  Plur.  Dá-se  e*te  nomo  também  aos 
leques  delgados,  que  vem  da  China,  de 
papei  r;  varetinhaí  de  pau. 

T  TISIPHONE,  *.  /.  Uma  da«  três  fu- 
fiuias. 

TiSIQUIDADE.  «.  /.  Vid.   Ethiguidade. 

TISNA,  ji.  f.  A  niancha  preta  que  in- 
fecciona o  corpo,  e  com  que  alguém  tal- 
vez por  desattentíi  se  suja.  V^id.  Tisnar, 
e  Tisne. 

TISNADDRA,  «.  /.  A  mancha  do  cou- 
sa tisi  u>la. 

TISNAR,  V.  a,  Ennegrecer  com  car- 
vão, fumo. 

—  Figuradamente :  Tisnar  a  reputa- 
ção, a  J anui,   etc. 

—  Tisnar-se,  v.  rejl.  Sujar-se  com  fu- 
mo, com  carvão,  felug'-ui,  niancbar-ac. 

—  Figuradamente :  Tisuar-se  a  repu- 
tarás, a  fama,  etc. 

TISNE,  s.  vt.  A  côr  que  o  fumo  pro- 
duz na  tez. 

TISOURA,  «.   /'.  Vid.  Tesoura. 

t  TI30UREYR0.  Vid.  Thesoureiro.  — 
«Este  Ídolo  era  o  da  invocaç-aõ  de  todo 
este  edifício,  e  se  chamava  Muchiparom, 
o  qual  deziào  os  Chins  que  era  tisourey- 
ro  de  todos  os  ossos  dos  mortos,  e  que 
vindo  aquella  serpe  que  tinhamoa  visto 
para  os  roubar,  clle  lhe  tirav.a  com  aquel- 
Ic  pilouro  que  tinha  nas  maõs,  por  onde 
ella  logo  com  medo  fugia  para  a  conca- 
va funda  da  casa  do  fumo,  onde  Deos 
a  tinha  lançado  por  ser  muyto  má.  » 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações, 
cap.  109. —  «Pelo  que  sendo  este  tyran- 
no  avisado  de  todas  estas  cousas,  temen- 
do poder  ser  esta  a  mais  certa  occasiào 
de  se  perder  que  todas  as  outras  de  quo 
se  poiia  arrecear,  se  tornou  logo  a  forti- 
ficar o  Prom  com  muyto  mayor  instancia 
do  que  até  então  tinha  feito,  porem  antes 
que  so  partisse  daquellc  rio  onde  estava 
surto,  que  seria  huma  legoa  deíta  cidade 
do  Avaa,  mandou  o  Branima  sen  tisou- 
reyro  por  nome  Diosoray  (em  cujo  poder 
eu  atras  ja  disse  que  estávamos  os  oito 
i^ortugueses  cativos)  por  embaixador  ao 
Calantluhan.»  Ibidem,  cap.  Iõ7. 

j  TISOURO,  s.  III.  Vid.  Tesouro.  —  «A 
isto  respondeo  o  Mitaquor,  aíTirmovos  a 
todos  quo  por  nenhum  caso  o  faça  el  Rey, 
aiuua  que  por  isso  lhe  dem  o  tisouro  da 
China,  porque  se  o  fizesse,  seria  quebrar 
a  verdade  de  sua  palavra,  com  que  se 
^>erderia  toda  a  reputação  da  sua  gran- 
deza, pelo  <)ual  he  escusado  tratar  de 
cousas  que  nào  podem  ser.  nem  he  bom 
quo  sejão.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pere- 
grinações, «ip.  121.  —  «A  tercevra,  que 
era  tão  rico  o  nosso  Rey  de  ooro  e  de 
prata,  que  se  ailirmava  que  tinha  mais 
de  duas  mil  casas  cheyas  até  o  telhado, 
e  a  isto  respondemos,  que  no  numero  de 
duas  mil  casas  nos  nào  certidcavamos, 
por  ser  a  terra  e  o  rey  no  em  sy  tamanho, 
e  ter  tantos  tisouros  e  povos,  que  era 
impossível  poderseihe  dizer  a  certeza  dis- 


TITE 


TITU 


TlTU 


735 


so.»  Ibidem,  cap.  133.  —  sE  eu  pela 
grande  obrigação  que  por  isto  lhe  tenho, 
vos  certifico  que  estou  tSo  desejoso  de 
lhe  fazer  a  vontade,  que  dera  agora  gran- 
de parte  da  minha  terra  porque  Deos  me 
fizera  hum  de  vós  outros,  assi  para  o  yr 
ver,  como  para  lhe  dar  este  gosto  que  eu 
entendo,  pelo  muyto  que  sey  da  sua  con- 
dição, que  elle  estimará  mais  que  todo  o 
tisouro  da  China.»  Ibidem,  cap.  135. — 
«Pareceiídoihe  que  por  seu  meyo  poderia 
ser  salvo  do  perigo  em  que  se  via,  e 
mandou  cometer  a  Joaò  Cayeyro  que  se 
embarcasse  de  noite  nas  quatro  iiaos  que 
alv  tiidia,  para  que  o  salvasse  com  sua 
molher  e  seus  filhos,  e  lhe  daria  por  isso 
a  metade  do  seu  tisouro.»  Ibidem,  cap. 
148.  —  «E  com  muytas  lagrima^  e  sus- 
piros disse,  ah  Portugueses  Portugueses, 
quào  mal  pagastes  ao  desaventui-ado  de 
mim  o  muyto  que  por  muytas  vezes  te- 
nho feito  por  vós,  parecendome  que  em 
o  fazer  assi  fazia  tisouro  de  vossa  ami- 
zade, paraque  como  leais  me  valêsseis 
numa  tamanha  necessidade  como  esta  em 
que  agora  me  vejo,  da  qual  cousa  eu 
nào  queria  nem  pretendia  mais  que  vida 
para  meus  filhos,  e  enriquecer  o  vosso 
Rev,  e  tervos  comigo  em  minha  terra.» 
Ibidem,  cap.  149. —  «Mas  esta  sua  dili- 
gencia nào  foy  tanto  por  este  respeito 
que  elle  dezia,  quanto  por  salvar  pri- 
meyro  o  tisouro  do  Chaubainhaa.  E  por 
esta  causa  esteve  dous  dias  sem  tratar 
do  negocio  dos  cativos  que  tinha  em  seu 
poder,  que  foy  o  tempo  que  bastou  para 
elle  pôr  em  cobro  todo  o  tisouro.»  Ibi- 
dem, cap.  151. 

TISSIEROGRAPHIA,  s.  f.  Gravura  em 
relevo  sobre  pedra,  nova  iuvençào  de 
Tissier. 

TISSÚ,  s.  m.  (Do  francez  tissu).  Tela 
forte  bordada  de  ouro. 

f  TITANATO,  í.  m.  Termo  de  chimica. 
Sal  produzido  pela  combinação  do  acido 
titânico  com  uma  base. 

t  TITÂNICO,  A,  adj.  Tei-mo  de  chi- 
mica. Diz-se  de  um  acido  e  de  um  oxydo 
de  titano. 

—  Diz-se  dos  saes  produzidos  por  este 
acido. 

—  Que  pertence  ao  titano.  —  Sulfureto 
titânico. 

f  TÍTANICO-AMMONIACO,  A,  adj.  Diz- 
se  de  um  sal  titânico  combinado  com  um 
sal  ammoniaco. 

f  TITANIDE3,  s.  f.  plur.  Familia  de 
substancias  mineraes  que  se  compõe  de 
titano  e  suas  combinações. 

f  TITANIFERO,  k,'  adj.  Que  contém 
titano. 

TITANO,  s.  m.  Vid.  Menachanite. 

TITÃO,  ou  TITAN,  *.  m.  Termo  de 
poesia.  O  sol. 

TITELA,  s.  /.  O  peito  carnudo  da  ave. 

- —  Ttr  titela  ;  ser  peitudo,  animoso, 
corajoso. 

—  O  lado  das  aves,  que  se  cobre  com 


as  azas,  e  por  onde  se  examina  se  estão 
gordas. 

—  Figuradamente:  Era  o  nosso  reino 
a  titela  da  Europa;  a  parte  mais  esti- 
mada d'ella. 

—  Adagio  e  provérbio  : 

—  Do  capão  a  perna,  da  gallinha  a  ti- 
tela. 

TiTEREAR,   r.  n.  Manejar  os  títeres. 

TITEREIRO,  s.  m.  Homem  que  maneja 
os  títeres. 

TÍTERE,  s.  m.  Boneco,  ou  figura  mo- 
vida por  engonços,  a  que  se  faz  repre- 
sentar certas  farças  para  o  vulgo. 

TITHONIA,  s.  f.  Termo  de  poesia.  A 
aurora. 

TITHYMALO,  s.  m.  (Do  grego  tifhyma- 
los).  Termo  de  botânica.  Herva  maleitei- 
ra  maior.  Viu.  Euphorbia. 

TITULAÇÃO,  s.  /.  (Do  latim  titillatio). 
Impressão  produzida  pelas  cócegas  bran- 
das, o  pnu-ito. 

TITULADO,  part.  pass.  de  Titillar. 
Pruido. 

—  Figuradamente:  A  vaidade  titillada 
pela  lisonjaria. 

1.)  TITULAR,  adj.  2gen.~  Veias  ti- 
tillar es  ;  veias  que  estão  debaixo  dos  so- 
bacos. 

2.)  TITILLAR,  v.  a.  (Do  latim  titilla- 
re).  Pruir,  causar  prurido. 

—  Figuradamente  :  ■  Lisonjear  agrada- 
velmente, e  excitar  com  prazer.  Vid. 
Pruir. 

TITIM,  s.  m.  Termo  do  Brazil.  Espé- 
cie de  coca  para  matar  peixe :  parece  de- 
ver ser  antes  tingui?  Vid.  Tingui. 

TITINA,  s.  f.  Termo  de  historia  natu- 
ral. Avesinha  que  tem  as  penuas  cinzen- 
tas, salpicadas  de  branco;  frequenta  as 
terras  de  lavoura. 

TITIRE,  s.  í/i.  Vid.  Titere. 

TITIREIRO.  Vid.  Titereiro. 

j  TITOLO,  s.  m.  Vid.  Titulo.  —  «Como 
fizeram  a  hum  moço  China,  porque  es- 
tando os  Portugueses  presos  lhes  servia 
de  lingLia,  per  onde  os  Louthias  lhe  de- 
ram titolo  6  insígnias  de  Louthia,  por 
saber  falar  Português.»  Fr.  Gaspar  da 
Cruz,  Tratado  das  cousas  da  China,  ca- 
pitulo 17. 

TITOR,  í.  m.  Vid.  Tutor. 

TITUBANTE,  part.  act.  de  Titubar. 

—  Figuradamente :  Incerto,  vacillante 
em  contrarias  razões,  nos  juizos,  nas  re- 
soluções, e  no  obrar. 

TITDBAR,  V.  n.  (Do  latim  titubare). 
Perder  a  estabilidade,  firmeza,  ir  cain- 
do; nào  se  ter  bem  em  pé. 

—  Estar  incerto. 

—  Figuradamente:  Titubar  a  língua; 
não  fallando  ordenadamente,  perturban- 
do-se. 

TITUBEAÇÃO,  ou  TITUBIAÇÃO,  s.  /. 
Ind(.t -rminaçào,    irresoluçào,    vacillaçào. 

TITUBEADO,   ;jrtrf.    //«s.v.  de  Titubeai'. 

TITDBEAR,  ou  TITUBIAR,  v.  n.  Vid. 
Titubar. 


TITULADO,  part  pass  de  Titular.  Fun- 
dado em  titulo. 

—  Que  tem  titulo. 

—  Ca?as  tituladas.  Vid.  Titular. 

1.)  TITULAR,  adj.  2  gen.  Que  tem  ti-' 
tulo  de  graduação. 

—  Bispo  titular ;  bispo  em  exercicio 
da  diocese  de  que  se  intitula. 

—  Ahbade  titular;  aquelle  que  tem  o 
beneficio  com  suceessão  no  eargo  ou  não 
em  commendã. 

—  Substantivamente :   Um  titular. 

2.)  TITULAR,  V.  a.  Dar  titulo,  intitu- 
lar. 

—  Escrever  em  livro  de  padrões  e  ti- 
tules authenticos,  d'onde  constem  as 
acções  e  direitos ;  explical-os,  dar  titulo 
authentico  aos  credores  do  capital,  e  seus 
juros. 

TITULEIRO,  s.  7?j,  Termo  antiquado. 
Inscripção  sepulchral,  ou  epitaphio 

TITULO,  s.  m.  (Do  latim  titulus).  Ro- 
tulo, inscripção. 

—  Pretexto.  —  A  titulo  de  commercio. 
— «Donde  se  causou  assentar  elle,  que  na 
cidade  de  Quiloa  se  fizesse  huma  forta- 
leza :  porque  com  ella  e  outra  em  Moçam- 
bique, e  amizade  que  tínhamos  com  el 
Rey  de  Melinde,  ficaua  toda  aquella  cos- 
ta Zanguebar  debaixo  do  titulo  de  seu 
commercio,  pêra  mães  facilmente  se  subs- 
tentar  huma  fortaleza  em  Çofala.»  Bar- 
ros, Década  1,  liv.  9,  cap.  6.  —  «E  por- 
que Alie  se  escusou  disso,  dizendo  que 
não  podia  matar  tanto  número  de  gente 
como  se  acharam  na  morte  de  Otthoman, 
Mauhya  começou  de  lhe  fazer  guerra  com 
titulo  que  elle  Alie  mandara  matar  Ottho- 
man.» Idem,  Década  2,  liv.  18,  cap.  6. 
—  «Ofterece  cada  qual  os  vinte,  e  os  trin- 
ta cruzados,  que  naõ  tem,  e  para  os  fa- 
zer vende  até  a  capa  dos  hombros :  e  tanto 
que  os  dá  por  baixo  da  capa,  logo  esca- 
pa, e  livra  o  filho  a  titulo  de  manco, 
sendo  mais  escorreito,  que  hum  veado.» 
Arte  de  furtar,  cítp.  8. 

—  Denominação  de  dignidade. — Deu- 
Ifie  o  titulo  de  conde,  de  duque,  etc.  — 
«O  qual  Príncipe  dom  João,  que  foi  Rei 
destes  regnos,  segundo  do  nome,  neto  do 
Infante  dom  Pedro  sendo  Príncipe,  e  ca- 
sado com  a  Princesa  donna  Leanor,  ouue 
hum  filho  de  donna  Anna  de  mendonça, 
dama  que  andaua  em  casa  da  Rainha, 
donna  loanna  de  Castella,  e  de  Leam, 
esposa  dei  Rei  dom  Afonso,  pai  do  dito 
Príncipe,  a  qual  desempossada  dos  seus 
regnos  pelos  Reis,  dom  Fernando,  e  Rai- 
nha dona  Isabel  viuia  em  Portugal  com 
tittilo  de  Excellente  senhora.»  Damião  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1, 
cap.  45. —  nNeste  mesmo  anno  despois 
dei  Rei  ser  casado  acrecentou  ao  titulo 
que  tinha  do  Rei  de  Portugal  e  dos  Al- 
garues,  daquem,  e  dalém.  Mar  em  Afri- 
ca, senhor  de  Guiné,  o  titulo  da  conquis- 
ta, navegaçam,  e  comercio  de  Ethiopia, 
Arábia,  Pérsia,  e  da  índia,  títvdo  tão  hon- 


736 


TITU 


TITU 


TIVE 


roso  quanto  o  ho  a  mesma  conquista.» 
Ibidem,  cap.  -Ki.  —  «Auto.-»  (juc  dom 
lonin  (lo  M()n()s(!rt  partisse  <le  Lirtlxia  cl 
Koi  por  lho  í^ratiticar  os  muito»  Horiii(,'().s 
que  dello  tinha  reoohiilo,  lhe  deu  titulo 
do  Conde  da  Villa  do  Tarouqua,  na  co- 
marqua  da  Hiiii^a.»  Ibidem,  cap.  bl. — 
«Pelo  (|U(i  lhe  pedia  jior  auior  de  Nosso 
Senhor  IKSU  0111ílST(J  quo  de  tudo  fi- 
zesse uiereo  a  seu  iriiuim  lioiíi  JJinis,  com 
o  iiiosiiio  titulo  do  Duípic,  no  que  faria 
Rcnii<,'()  a  JJcos,  o  a  ello  assinada  mercê.» 
Ibidem,  cap.  (íl. —  «Dos  quaes  este  dom 
Martinho  do  (^astclhranco  ora  o  mais  ve- 
lho, a  quem  ol  Rei  dom  Emanuel  deu  titulo 
de  Conde  do  viUa  miva  do  porlimam,  e  ban- 
deira quadrada,  c  f  )i  também  veadur  da  fa- 
zenda ilel  liei  dom  loam  sejíundo,  e  dei  Rei 
dom  Emanuel,  c  camareiro  mor  ih)  i'riu- 
cipe  dom  loam  seu  filho.»  Ibidem,  part.  4, 
cap.  70.  —  «E  porijiic  cuni  a  sua  entrada 
desta  cidade  ello  tomou  o  titulo  do  Viso- 
Roy,  de  que  elRoy  dom  Jlanuol  mandaua 
que  se  intitulasse  segundo  forma  da  pro- 
uisaõ  que  leuaua,  e  cm  quanto  esteue  na 
Índia  descubrio  e  conquistou  muitos  lu- 
gares da  costa  delia.»  Barros,  Década  1, 
liv.  8,  cap.  U). —  «O  primeiro,  que  esto 
cargo  teve  em  Portugal,  foi  1).  Álvaro 
Pires  de  Castro  Conde  do  Arraiolos,  e 
atò  entaõ  fazia  neste  Royno  o  oflicio  de 
Condestable  o  Alferes  Mòr;  e  de  entaõ 
atègo)'a  tivoraõ  sompro  o  título  de  Con- 
destable, ou  Infantes,  ou  os  mais  princi- 
paes  Senhores  do  Royno.»  Sevei'im  de 
Faria,  Noticias  de  Portugal,  Disc.  2, 
cap.  2. —  «Atè  o  tmnpo  d'EiRcy  D.  Fer- 
nando, o  Alferes  Mòr  irEIRey  era  o  Ge- 
neral do  Exercito,  como  jà  apontamos,  e 
fazia  o  ofiíeio  de  Condestable,  e  Marichal, 
como  consta  do  seu  titulo  no  Regimento 
da  guerra.»  Ibidem,  cap.  4. —  «p]  assim 
quando  qualquer  destas  cousas  he  insigne, 
não  illustra  menos  a  família,  quo  muitos 
Titules.»  Ibidem,  Disc.  ò,  cap.  1.  —  «O 
qual  deu  Titulo  tlc  Duque  de  Coimbra  ao 
Senhor  D.  Jorge  filho  bastardo  do  mesm  > 
Rcy  D.  Joaõ  II.  o  ao  Infante  D.  Luiz 
seu  filho,  o  fez  Dmiuo  de  Boja. »  Ibidem, 
cap.  23.  — «El-Rey  D.  Jlauoel  coacedeo 
aos  primogénitos  dos  duques  de  Aveiro  o 
Titulo  de  Jlarquez  de  Torres  Novas;  e 
D.  Joaõ  111  fez  Marquez  de  Ferreira  a 
D.  Rodrigo  do  Jlello  Condo  de  Tentú- 
gal.» Ibidem,  cap.  24. —  «E  assim  ncsie 
Reyno  iio  Titulo  particular,  e  so  diz  tem 
obrigação  de  sahir  em  lugar  d'ElRey  a 
desafio,  cm  caso  que  seja  chamado  a  cam- 
po. ElRey  D.  Afonso  VI.  fez  Baraõ  da 
Ilha  Grande  a  Luiz  de  Sousa  de  Mace- 
do.» Ibidem,  cap.  26.  —  «Disso  vemos 
hoje  assaz  de  exemplos  cm  Espaniia,  on- 
de os  mais  dos  primogénitos  dos  Duques 
tem  Titulo  de  Duques,  ou  de  Jlarqueses, 
c  os  dos  Marqueses  de  Condes.»  Ibidem. 
—  «Eu  as  tive  seuípro  por  virtuosas,  e 
sinto  que  V.  S.  me  fai;a  oateuder  ago- 
ra o  contrario,  uào  só  porque    cilas   per- 


dem o  credito,  mas  também  porque  V. 
S.  destroe  o  sou,  «juaudo  assim  prejudi- 
ca ao  lio  duas  Damas,  por  todos  os  ti- 
tules senhoras,  e  por  todos  os  princípios 
veneraiias.»  Cavalleiro  do  Oliveira,  Car- 
tas,  liv.  I. 

Pouco  tempo  a  lograste,  o  so  te  engana 
Inda  o  titulo  novo  do  (Jidado, 
liicoida  o  nomo  antigo  do  Arrifana. 

AIIBADU   DK  JAZK.STE,   funSIAS,  pag.    IIG. 

Os  tUidon  faust/igos,  quo  prediga 
Illuso  o  Src  lo,  u  Slóitos,  lá  famosos, 
NosHij  baratino  as  Alinad,  sáo  Uirnicnto, 
Sao  Vingauija  v  Voidadií.  Vur  prididas 
'iVi-uas  [)n'c(!á,  i|ue  ao  Cio  manda  a  Amizade, 
Na  uiasnioiTU  infernal,  lhe  avcxa  os  uuiuios. 

F.    M.   DCJ  NA8CIUKNT0,  08  liAHTYUES,  1ÍV.    8. 

—  «Escrevc-se  d'este  homem  quo  foi 
ello  o  primeiro  que  montou  peidas  do  ar- 
telharia  a  bordo  de  naus ;  o  ó  certo  que 
merecendo,  por  suas  proesas,  ser  conde 
da  Ribeii'a,  com  o  titule  de  Camará  do 
Lobos,  faz  honra  á  sua  pátria,  maior- 
mente  sendo  tantas  as  casas  illustres  que 
d'clle  tem  origem  ou  alliani;a.»  Bispo  do 
Grào  i'ar;i,  Memorias,  publicadas  por  Ca- 
millo  Castello  liranco,  pag.  72. 

—  Frontispício,  rosto  dos  livros. 

—  Em  direito,  o  principio,  ou  causa 
por  que  se  adquire. 

—  Adquiro-so  a  titulo  oneroso,  dando-se 
ou  fazendo-se  alguma  cousa  jior  aquillo 
que  se  dá  ao  adquiridor;  a  titulo  gratui- 
to, quando  quem  adquire  nào  se  obriga 
a  prestar,  ou  a  fizer  nada  ao  que  lhe  dá. 

—  Figuradamente  :  As  escripturas  dos 
contractos  em  ([ue  so  funda  o  direito  das 
partes,  e  que  o  attestam.  —  «Nem  outro 
sou  aver  per  nenhuum  titulo,  ou  figura 
de  nenhuum  contrauto,  nem  per  outra 
maneira  d'engano  pcra  mercarem,  ou 
venderem  fora  da  dita  Cidade,  e  luga- 
res, quo  lhes  per  nós  he  outorgado,  as 
ditas  mercadarias,  nem  façaõ  com  elles, 
nem  com  outros  de  fora  de  nossa  torra 
companhia.»  Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit.  4, 
ij  14. —  «E  vista  per  Nós  a  dita  Lei, 
adendo  e  declarando  em  eila  Dizemos, 
que  se  aquclle,  que  he  demandado  em 
Juizo  por  alguiiui  cousa,  que  houve  d'al- 
guem  por  titulo  de  compra,  ou  escaimbo, 
ou  qualquer  outro  titulo,  o  recea,  e  teme 
de  lhe  seer  veencida,  deve  nomear  e  cha- 
mar aipiello,  de  que  a  ouve,  que  lho  ve- 
nha seer  autor  aa  demanda,  (juo  lhe  por 
cila  he  feiui.»  Ibidem,  tit.  òí),  §  2.  — 
«Em  todo  C41S0,  lionde  o  comprador  d'al- 
guma  cousa,  ou  qualquer  outro  possui- 
dor, que  a  ouve  per  algum  outro  titulo, 
foi  delia  esbulhado,  ou  roubado,  ou  lhe 
foi  furtada,  ou  ella  pcrocco  per  algum 
caso  f>rtuito.»    Ibidem,  >;  7. 

—  l'iu   titulo;   um  fidalgo  titular. 

—  Ir  de  bom  titulo  a  tilgunu  parti'; 
ir  com  bons  intentos,  com  propósitos  ho- 
nestos. 


—  Mulher  de  ruim  titulo;  maihc-r  de 
má  nota,  de  má  rcputai,i<1o,  de  porto  Jeo- 
honesto. 

—  líoviem  fie  mau  titulo;   suspeito. 

—  Moeda  de  ruim  titulo;  moeda  íalli- 
da  no  valor  intrinsoco. 

—  Nnvio  lie  mau  titolo;  de  corsário. 

—  IxjC.  adv.  :  A  titulo;  com  pretex- 
to, cór. 

TITYMALO.  Vid.  Tithymalo. 

j  TIVE.  FiMina  variável  do  verbo  ter 
na  primeira  |>csHoa  do  singular  do  preté- 
rito perfeito  do  modo  indicatiro.  Vid. 
Ter.  —  «Senhor,  quatorze  annos  ha  que 
sam  pre<<(>,  e  em  quanto  tiue  fazenda  pê- 
ra peitar  sempre  me  alongar.^o  meu  fev- 
to,  e  agora  que  ja  nilo  tenho  cousa  algu- 
ma me  julgaram  á  uiorte,  e  se  ent.lo  me 
matiirilo  eu  soo  padecera,  o  á  minha  mo- 
Iher  e  tíllios  ficaraliio  fazenda  pêra  se 
manterem,  e  agora,  senhor,  matam  todos 
pois  tudo  gastei  por  alongar  a  vida,  olhe 
vossa  alteza  isto  com  olhos  de  pie<ladc,  e 
de  tam  virtuoso  Rcy  como  he.»  fiarcia 
de  Rezende,  Chronica  de  D.  João  II,  ca- 
pitulo Ít8. 

f  TIVER.  Forma  variável  do  verbo  ter 
na  ])rimeira  ou  terceira  pessoa  do  singular 
do  futuro  dl)  modo  conjunctivo.  Vi^i.  Ter. 
—  «Em  iguaes  Títulos  de  dignidaiJe  se- 
rá mais  clara  a  f-imilia,  que  tiver  maior 
numero,  e  a  maior  dignidade  (aimla  que 
menos  em  numero)  vence  a  multidão  das 
menores.»  Severim  de  Faria,  Noticias 
de  Portugal,  Disc.  3,  cap.  1.  —  «Con- 
vém a  saber,  se  tiver  duas  filhaa,  ame- 
tade  da  ter^^a.  e  se  tiver  trez  filhas,  a 
terça  part'-  da  terça,  e  assim  das  mais.» 
Ibidem,  Disc.  1,  cap.  7. 

7  TIVERA.  Fitrma  variável  do  verbo  ter 
na  primeira  ou  terceira  pessoa  do  singu- 
lar do  pretérito  mais  que  perfeito  do  mo- 
do indicativo.  Vid.  Ter. 


Acabar  de  me  perder 

F.ira  ja  muito  melhor  ; 

Tire.ra  fim  esta  dor, 

Que  nào  podendo  m6r  ser, 

Cada  vez  a  sinto  mor. 

Po  vós  desejo  esconder-mc, 

E  do  mi  principalmente. 

Onde  ninguém  possa  ver-me  ; 

Que  pois  me  ganho  cm  pcrdor-me, 

Ando  perdido  entre  a  gcnto. 

CAM.    KF.POSPILllAS . 


—  «O  imperador  lhe  fez  nmito  gasa- 
Ihado,  pedindo-lhe  perd.io  se  o  dia  d'an- 
tes  tivera  algum  descuido  cerca  de  sua 
pessoa.  Senhor,  disse  elle,  bem  sei  que 
a  cousa  que  se  mais  estima,  faz  esquecer 
as  outras  de  menos  valia :  vossa  alteza 
nào  tem  de  que  pedir  perdão,  nem  eu 
de  que  me  aggravar.  •  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  dlnglaterra,  cap.  122. 
—  «E  se  a  agoíi  do  rio  tiuera  po<ler  nas 
cousas  iizas,  e  vidradas,  até  estas  for.^io 
ya  acabadas,  e  consumidas.  Aqui  foy 
onde   pregou   o    Prophcta   lonas,    depois 


TIVE 


TIVE 


TIVE 


737 


que  a  Balea  o  vomitou  no  Ponto  Euxi- 
no,  alem  de  Constantinopla,  como  diz 
losepho  em  '^uas  antiguidades.»  Frei  (jas- 
pai"  de  S.  Bernardino,  Itinerário  da  ín- 
dia, cap.  17. — «Ho  que  dicto  maudou 
tirar  às  bombardadas  às  almadias  que 
com  medo  se  acolherão,  ho  que  el  Rei  de 
Calecut  sentio  muito,  e  se  tiuera  sua  ar- 
mada no  mar,  mandara  commeter  has 
nossas  nãos,  mas  tinha  ha  varada  em 
terra,  por  ser  inuerno,  e  naquellas  par- 
tes naõ  navegarem  se  naõ  no  veram, 
que  là  he  no  tempo  do  nosso  inuerno.» 
Damirio  de  C4oes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  1,  cap.  43. 


Tal  determinação,  e  tal  braveza, 
Faz  o  Goveruador  maia  animoso, 
E  logo  ordena  alli  com  gràa  presteza, 
Que  commctta  o  prudente,  o  valoroso. 
Com  gente  pela  porta,  a  fortaleza. 
Grande  Heitor  da  Silveira,  que  famoso 
Tanto  pudera  ser,  quanto  o  Troiano, 
Se  tirera  outro  Homero,  ou  Mantuauo. 

FRANCISCO  DK  ANDRADE,  PRIMEIRO  CERCO  DE   DIU, 

cant.  1,  est.  79. 


Maa  tal  era  o  temor  que  o  Turco  e  o  Persa 
Ja  desta  imiga  gente  concebera, 
E  ella  era  nisto  doUes  tão  diversa 
Que  por  mais  que  hoje  o  imigo  a  combatera. 
Se  mostrAra  a  fortuna  emfira  adversa 
A  gente  do  Baudiir  que  a  is.so  viera, 
So  iiào  tivera  então  por  defensores 
Os  Lusitanos  braços  vencedores. 
IBIDEM,  cant.  5,  est.  60. 


—  «Se  tiuera  em  minha  maõ,  todo  o 
poder,  e  gloria,  o  Senhorio  dos  Ceos,  e 
terra,  o  rendera  ao  pé  de  vosso  real  tro- 
no :  porque  só  vós  sois  Senhor,  só  vós 
sois  digno,  só  vós  sois  o  Altíssimo,  que 
vive,  e  reyna  som  principio,  sem  fim,  e 
sem  mudança.»  Padre  Manoel  Bernardes, 
Exercicios  espirituaes,  pag.  51. 

f  TIVE  SÃO.  Forma  variável  do  verbo 
tej-  na  terceira  pessoa  do  plural  do  pre- 
tei-ito  perfeito  do  modo  indicativo.  Vid. 
Ter.  —  «O  Príncipe  o  e.^timou  muito,  e 
assim  elle,  e  Manoel  Pereira  fizeraõ  em 
quanto  durou  o  cerco  cousas  muito  notá- 
veis, e  dignas  de  mayor  galardão,  do 
que  ambos  tiveraõ.»  Diogo  de  Couto, 
Década  6,  liv.  6,  cap.  5.  —  «Assim  que 
estas  vontades  conformes  praticadas  mui- 
tas vezes,  tiveram  tanto  poder  que  vie- 
ram ao  effeito  delias,  onde  Floriano  che- 
gou ao  fim  do  que  esperava  e  entrou  no 
começo  do  aborrecer  ou  enfastiar,  cousa 
que  alguns  homens  tem  por  natural,  e 
Targiana  perdeu  o  que  se  deve  muito 
estimar  e  se  depois  não  cobra.»  Francis- 
co de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  86.  —  «El  Rei  dom  Fernando,  e 
ha  Rainha  dona  Isabel,  quomo  tiverão 
certeza  do  tempo  em  que  el  Rei  dom 
Emanuel,  e  ha  Rainha  dona  Isabel  ha- 
uiào  de  partir  de  Portugal,  ordenarão 
cortes  cm  Toledo,  pêra  ho  tempo  em  que 
lhes  pareceo  que  poderiaõ  ahi  ser,  pêra 
.    voL.  V.— 93. 


03  logo  fazerem  jurar  por  príncipes  her- 
deiros, e  se  irem  ha  Aragão  fazer  ho  mes- 
mo.» Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  1,  cap.  29.  — ■  «Mas  estes 
Etiiiopes  a  meu  Juizo  deuem  de  ser  os 
da  terra  do  Abexi,  por  ser  gente,  que  a 
nniito  tempo  que  tem  lei,  e  delia  era  a 
Rainha  Sabà,  que  veo  visitar  a  Salamaij, 
e  daquelle  tempo  pêra  ca  tiueram  conhe- 
cimento da  lei  que  Deus  deu  aos  ludeus 
per  mão  de  Moysem,  e  não  os  que  jazem 
do  mar  Darabia,  ate  o  cabo  de  boa  Spe- 
rança,  o  o  sinal  disso,  he  serem  taõ  in- 
cultos e  bárbaros  como  sam.»  Ibidem, 
part.  2,  cap.  10. — «Tendo  os  mouros 
por  noua  que  el  Rei  dom  Emanuel  que- 
ria passar  em  Africa,  tiueram  inteligên- 
cias per  hum  Pêro  arraez  Português  que 
estaua  captiuo  na  mesma  villa.>  Ibidem, 
part.  3,  cap.  52.  —  «O  Reyno  dos  Per- 
sas tiveraõ  successivamente  depois  de 
Sapor,  Varanaues,  Cermasat,  e  Isdiger- 
des,  a  quem  sucedeo  Isdigertes  tutor  do 
minino  Theodosio,  filho  de  Archadio;  de 
quem  ja  falamos  acima:  e  porque  as  guer- 
ras, e  pazes,  que  tinh.ào  com  os  Empera- 
dores,  vão  brevemente  tocadas  em  seu 
lugar,  as  nào  torno  a  repitir  neste.»  Mo- 
narchia  Lusitana,  liv.  .5,  cap.  30.  —  «E 
assi  desviando  da  communicação  da  gen- 
te, se  foy  desenfadando  em  muyta  caça 
daltenaria,  a  que  se  dezia  que  fora  sem- 
pre muyto  affeiçoado,  e  nestes  passatem- 
pos, e  em  outros  de  mõtarias  e  de  outras 
caças  que  os  povos  lhe  tinhão  apparelha- 
do,3,  passou  a  mayor  parte  deste  cami- 
nho, dormindo  as  mais  das  noites,  por 
fragueyrice,  no  mais  espesso  dos  matos 
em  tendas  que  para  isso  levava.»  Fernão 
Mondes  Pinto,  Peregrinações,  cap.  131. 
—  «Os  quais  todos  pelas  vestiduras  de 
que  hião  ornados,  e  pelas  divisas  e  insí- 
gnias que  levavão  nas  maõs,  se  conheciaõ 
quais  erão  huns  e  quais  erão  outros,  e 
conforme  á  dignidade  que  tinhão  assi 
eraò  reverenciados  do  povo,  porem  estes 
naõ  hiaõ  a  pé,  como  os  outros  sacerdotes 
communs.»  Ibidem,  cap.  161. —  «Fun- 
dou-lhe  as  primeiras  casas,  que  tiveraõ 
no  Reino,  e  favoreceo  tanto  seu  instituto 
(vendo  quaõ  proveitosa  era  para  as  al- 
mas) que  em  seu  tempo,  e  dei  Rei  D. 
Sebastião  seu  neto,  chegarão  á  grandeza 
de  muitas  casas,  e  Collcgios  que  vemos 
no  Reino,  e  nas  conquistas  delle  fizei'aõ 
sempre,  e  fazem  hoje  grande  fruto  na 
conver.-iaõ  dos  infiéis.»  Frei  Bernardo  de 
Brito,  Elogios  dos  reis  de  Portugal,  con- 
tinuados por  D.  José  Barbosa.  —  «E  as- 
sim até  os  Gentios  tiveraõ  o  morrer  pela 
pátria,  e  defensão  delia  pela  mais  glo- 
riosa acçaõ  da  vida,  donde  pelas  leys  de 
Licurgo  se  mandava,  que  em  nenhum 
sepulchro  se  posesse  epitaphio.»  Severira 
de  Faria,  Noticias  de  Portugal,  Disc.  2, 
cap.  1.  —  «Tinhaõ  os  Reys  hum  Arma- 
dor Mòr,  cujo  ]jriiicipal  cargo  era  guar- 
dar as  armas  da   Pessoa   Real :    também 


alguns  Moços  Fidalgos  serviaõ  de  Pa- 
gens da  lança.»  Ibidem,  cap.  2.  —  «Os 
que  atégora  tiveraõ  esta  dignidade,  fo- 
raõ  Gonçalo  Vasques  do  Azevedo,  seu 
genro  Gonçalo  Vaz  Coutinho  Senhor  de' 
Leomil,  Vasco  Fernandes  Coutinho  pri- 
meiro Conde  de  Marialva,  D.  Fernando 
Coutinho  seu  segundo  filho,  D.  Álvaro 
Coutinho,  D.  Fernando  Coutinho  o  que 
morreu  em  Calecut,  D,  Aluaro  Coutinho, 
D.  Fernando  Coutinho,  D.  Fernando 
Mascarenhas  filho  de  D.  Jorge  Mascare- 
nhas Marquez  de  Montalvão.»  Ibidem, 
cap.  3.  —  «Pelo  que  naõ  perderão  o  Rey- 
no pela  força  dos  Castelhanos,  senão  pe- 
la divisão,  que  entre  si  tiveraõ,  levan- 
tamlo  três  Reys  juntos  dous  irmãos ;  o 
mais  velho  dos  quaes  era  pay  do  Rey 
Chico.»  Ibidem,  cap.  9.  —  «E  assim  naõ 
merece  nome  de  batalha  a  pequena  bri- 
ga, que  tiveraõ  em  Alcântara,  como  diz 
Justo  Lypsio  na  sua  Politica  cap.  3.  Si 
prcelium  dixerim  veterani  Exercitus  cum 
seminermi,  et  urbana  turba  congressio- 
jiem.»  Ibidem. —  «O  mesmo  estilo  tive- 
raõ os  Godos,  e  as  outras  Naçoens  do 
Norte,  que  senhorearão  Espanha.»  Ibi- 
dem, cap.  12.  — ■  «E  além  destes  direi- 
tos, em  muitas  partes  tinhaõ  grossas  ren- 
das de  herdades,  e  próprios  applicados 
às  Alcaidarias.»  Ibidem.  —  «Pelo  que 
para  evitar  confusão,  acrescentarão  os 
sobrenomes,  ajuntando  o  nome  dos  pais 
aos  seus,  e  por  isso  se  chamarão  patroní- 
micos; destes  usaraõ  mais  os  Gregos, 
que  os  Romanos ;  mas  nem  por  isso  ti- 
veraõ os  Latinos  menor  numero  de  no- 
mes ;  porque  muitas  vezes  tinha  hum  ho- 
mem quatro  nomes,  que  eraõ  pronome, 
nome,  cognome,  e  agnome.»  Ibidem, 
Disc.  3,  cap.  2.  —  «As  Barras,  Faxas, 
Bandas,  e  Escaques,  tiveraõ  origem  dos 
Alemaens,  que  como  aflBrmaõ  alguns  Au- 
thores,  costumavaõ  trazer  listrados  os 
Escudos  de  cores,  c  se  prezavão  mui  dis- 
to. E  senhoreando-se  estes  das  Provin- 
das do  Império,  introduzirão  seus  costu- 
mes nos  povos,  que  sojeitaraõ.»  Ibidem, 
cap.  õ. 

Em  ti  fireriío  berço  Lockc,  e  Torapson, 
Boile,  Dorhan,  que  a  Natureza  indaga, 
E  lhe  arranca  do  seio  altos  mysterios ! 

J.    A.    DE   MACKDO,   VIAGEM  KITATICA,  Caut.   2. 

f  TIVEREM.  F''>rma  variável  do  verbo 
ter  na  terceira  pessoa  do  futuro  do  modo 
conjunctivo.  Vid. Ter.  —  «Porque  se  man- 
da; que  03  que  tiverem  2ÕO.-5000.  reis 
de  fazenda,  tenhaõ  cavallos,  e  os  de 
100f>000  reis,  arcabuz,  e  os  moradores 
dos  lugares  chãos,  meias  lanças.»  Seve- 
rim  de  Faria,  Noticias  de  Portugal,  Disc. 
2,  cap.  11. 

-j-  TIVESSE.  F.írma  variável  do  verbo 
ter  na  primeira  ou  terceira  pessoa  do  sin- 
gular do  pretérito  mais  que  perfeito  do 
modo  indicativo.  Vid.  Ter.  —  «Porque  o 


738 


TIVE 


TOAL 


TOAR 


verdadeiro  desencantar  nHo  pertencia  se- 
não a  quem  ambas  qualidades  tivesse : 
e  inda  que  outro  algum,  Boudo  especial 
cavalleiro,  a  tivesse  na  niilo  nilo  sendo 
namorado,  a  copa  nào  faria  nHulan(;a.i) 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  dlugla- 
terra,  cap.  00.  —  «E  porque  Já  lhe  de- 
ram novas  da  prisilo  d'elrci  Tolendos, 
Belcar  e  os  outros  seus  conipanhoiros, 
niandou-lhe  que  em  quanto  o  turco  os  ti- 
vesse presos  se  fosse  á  corte  de  Recin- 
dos  rei  do  Ilespanba,  e  nella  estivesse 
sob  sua  obediência  e  mandado  todo  o 
tempo,  que  os  cavalleiros  do  niiperador 
estivessem  cm  prisão.»  Ibidem,  cap.  108. 
—  «O  do  Tigre  poz  os  olhos  nelle  o  viu 
que  todo  envolto  em  ira  bradava  com  os 
dez,  que  matassem  aos  outros,  e  tives- 
sem pejo  do  ter  necessidade  de  aventu- 
rar sua  pessoa  em  tão  pequena  ompreza. 
Mas  03  três  esforçados  cavalleiros,  que 
lhes  lembrava  que  vencidos  aqucUes,  que 
tinham  diante,  lhe  ficava  maior  trago 
por  passar,  faziam  maravilhas.»  Ibidem, 
cap.  117.  —  «Sem  a  nenhum  que  tivesse 
nome  de  Christaõ  se  dar  a  vida,  e  come- 
teo  ;l  molher  que  se  fizesse  íjeutia,  e  ado- 
rasse hum  Ídolo  que  o  seu  Tucào  mestre 
do  junco  levava  numa  arca,  c  que  assi 
desatada  da  ley  Christam  a  aisaria  com 
elle. »  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  46.  —  «Muyto  tempo  estive 
sem  me  detarminar  so  iria  a  lapam,  pos- 
to que  de  lá  ja  tivesse  todas  as  boas  in- 
formações. Mas  depois  que  Deos  nosso 
Senhor  me  deu  a  sentir  dentro  de  miniia 
alma  que  fosse,  que  se  queria  lá  seruir 
de  mim,  parcceome,  que  se  o  deixara  do 
fazer,  fora  peyor  que  os  próprios  iulieis 
do  lapain.»  Lucena,  Vida  de  S.  Francis- 
co Xavier,  liv.  6,  cap.  12. 


Os  doua  bons  Capitães  antes  que  desaom 
O  assalto,  aos  Lusitanos  Jofeusores, 
Maudiíião  ((lie  as  bombardas  dispcndcssem 
HÁ  nas  partes  os  seus  bravos  furores 
Por  onde  bào  de  assaltar,  porque  tivesxcm 
Entradas  mais  capazes,  o  maiores. 
Nào  ha  nisto  doton(;a,  mas  ja  sòa 
O  grosso  estrondo,  e  o  ferro  mortal  vòa. 

PRAMCISCO   d'aNDRADE,   miJIEIBO  CKRCO  I>E   DIC, 

cant.  19,  est.  28. 


—  «O  se  tivéssemos  os  olhos  da  alma 
abertos,  o  alumiados  pêra  enxergar  os 
dannos  e  desbarato  que  hum  peccado 
mortal  faz  em  huma  alma  quo  cst<iua  cm 
graça  com  Dcos.»  Frei  Dartholomcu  ilos 
Martyres,  Catecismo  da  doutrina  christã. 

f  TIVESTE.  Forma  variável  do  verbo 
ter  na  segunda  pessoa  do  singular  do 
pretérito  perfeito  do  modo  indicativo. 
Vid.  Ter. 

Essa  de  ti  tão  amada 
molhcr  rica,  antes  que  fosse 
autos  comtigo  casada, 
quo  mào  tiveste  dada 
do  tomares  d"ella  posse, 
tinha  um  certo  servidor 


amante,  que  se  queriam 
corno  0.4  ollios  com  i(UO  viam. 

ASTONIO  I-IIH8TKS,   AUTOS,   pBg.    321. 


TIVOLI,  s.  m.  Cidade  dos  estados  ro- 
manos, de  um  aspecto  mui  pittoresco  e 
agradável. 

—  Jardim  publico,  onde  ha  muitas  es- 
pécies de  divertimento»,  jogos,  ctc. 

TIZOURA,  «.  /.  \i.i.  tesoura. 

TMESE,  ou  TME3IS,  k.  f.  (Do  grego 
tmesiu).  Termo  de  gi-anunatica.  Figura 
quo  consiste  em  dividir  uma  palavra  com- 
posta, mettendo  outra,  ou  (jutras  em  meio; 
como  far-te-kei,  por  te  farei. 

TO.  D  caso  pronominal  te  elidido  com 
o  artigo  o,  por  te  o,  oa  t'o.  —  Por  isso 
t'o  (ligo. 

TÓ.  Jlonosyllabo  de  que  nos  servimos 
para  chamar  os  cães. 

TOA,  s.  f.  Termo  de  marinha.  A  sir- 
ga, cabo,  ou  corda,  que  a'  embarcação 
maior  dá  á  menor  para  a  levar  a  rebo- 
que; cabo,  corda  atada  da  proa  ou  popa 
do  navio  a  um  ponto  tixo,  ou  a  outra  em- 
barcação, para  se  alarem  por  ella  os  de 
dentro, do  navio. 

—  A  toa ;  a  esmo,  sem  leme,  nem  go- 
verno. —  o  Que  30  não  fezesse  á  vela  por 
o  el  Rei  de  Calecut  assi  mandar,  do  que 
não  fazendo  caso,  mandou  aos  mestres 
da  frota,  que  cada  hum  em  seu  batel  ar- 
mados lhe  fossem  meter  aquella  nao  ha 
toa  dentro  no  porto,  o  que  fezerão  sem 
contradição.»  Damião  de  Ooes,  Cbronica 
de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  5'j. 

—  Figuradamente  :  Andar  á  toa ;  an- 
dar sem  conselho,  sem  governo. 

—  Passar  os  cavallus  á  toa;  tirados 
por  uma  corda  para  atravessar  o  rio. 

—  Andar  d  toa  de  alguém,  ou  ser  le- 
vado á  toa  d' elle,  ou  de  alguma  cousa; 
seguir  as  suas  direcções,  o  andar  como 
preso  a  ellas,  e  aos  seus  conselhos,  pro- 
ceder por  arbítrio  alheio. 

TOADA,  s.  /.  Tom. 

—  Fallar  pela  mesma  toada;  fallar  na 
mesma  substancia,  o  confoi'midado. 

—  A  musica  com  que  a  letra  se  acom- 
panha. Vid.  Soada. 

—  Tomar  as  palavras  pela  toada ;  no 
sentido  do  som. 

TOADO,  part.  j^css.  de  Toar.  Que 
toou. 

—  Harmonioso. 

TOALHA,  s.  /.  Peça  de  panno  de  li- 
nho ou  de  algodão,  que  serve  de  enxu- 
gar as  mãos,  etc. —  «Aciíbado  o  jura- 
mento traz  o  Copeiro  Mor  huma  copa 
dourada  sem  cobertura  com  agoa,  e  o 
Veador  a  toalha ;  c  ElRey  na  forma  jà 
dita  lança  a  agoa  pela  cabeça  ao  Arauto, 
o  lhe  põem  o  nome  da  princij^al  Cidade, 
que  ha  por  bem,  c  tomando  ElRey  a  toa- 
lha na  fiunia  já  dita,  o  Rey  do  Armas 
vira  a  cota  ao  novo  Ai-auto,  o  l.io  põem 
o  Bra/aõ  à  maõ  direita.»  Sevcrim  de  Fa- 
ria,  Noticias  de  Portugal,  Disc.  3,  cap. 


19.  —  t Feito  o  juramento,  o  Copeiro 
M<jr  traz  outra  copa  dourada  com  eua 
cobertura,  e  o  Veailor  huma  toalha,  e 
tomando  EiUoy  a  copa,  lança  ao  novo 
Rey  de  Armas  a  a^joa  pela  cabeça,  e  lhe 
põem  o  nomu  da  Província,  que  ha  por 
bem.»  Ibidem. 


Irem  alli  erpier  toalha 

e  Bcliar  taboa,  haver  nisso 

muitos  Zeuiis,  qac  dêem  falhs. 

AHTOXIO  rSESTEa,  ACTOS,  psg.  43. 

Tcna  grande,  vé» ; 
uma  toalha  atoalhada 
lii  jaz  lavada, 

dagna  A*  mãos;  traz<fi-m'a  chia. 
De  que,  velho? 
iBiDEH,  pag.  279. 

Mestre,  qnc  toalha»  trazeis? 
Todo  venho  cn.saboado ; 
singulares,  milagrosjis, 
I'oiide-lh'a8  limpas,  mimosas, 
que  as  sinta  eu  em  mim  macias. 
iBtDEii,  pag.  341. 


—  Peça  de  panno  de  linho  ou  de  algo- 
dão do  tiajo  antigo,  que  as  mulheres  cos- 
tumavam trazer  na  cabeça. 

—  Toalha  de  mesa ;  toalha  de  cobrir  a 
mesa. 

TOALHETE,  s.  m.  Termo  antiquado. 
Guardanapo. 

TOALHINHA,  s.  f.  Diminutivo  de  Toa- 
lha. Toalha  jicquena. 

TOANTE,  part.  act.  de  Toar.  Vid. 
Toar. 


Eia,  entorna  esta  luz,  que  eleva,  acccnde. 
Os  íilmoâ  sons  da  Cithara  toante. 
Que  aó  de  Gregos,  e  Komanos  Vates 
Tógora  ousou  seguir  caui^õcs  humildes. 

J.    A.    DK   1Í.VCED0,   UEDITAÇÃO,  CAnt.    1. 

Quazi  das  negras  ondas  engolido 

Com  lastimos;^  voz  seu  Fado  accusa, 

Aos  sons  magoados  da  toante  Lira 

Do  mais  fundo  do  mar  súbito  ao^ide, 

E  sobre  a  espadoa  lhe  prepara  hum  throno. 

IDEU,  A  NATCBEZA,   COnt.   3. 


—  Termo  de  poesia.  Palavras  toan- 
tes ;  palavras  que  terminam  em  duas 
syllabas  similhantes  pelas  vogacs. 

—  »S.  ífí.  Nome  dado  a  Júpiter,  por 
fazer  trovões. 

TOAR,  V.  a.  (Do  latim  tonart).  Produ- 
zir, dar  som  forte,  soar. 

Da  narração  do  Eud.^ro  «'.cançou  pouco 
Dcmiidoco,  que  .>  ouvio  de  Encantos  nua, 
De  Naufrágios,  de  Circcs,  Poliphemos. 
Só  cie  n'un3  sons,  que  toTio  vir  de  lloméro. 

F.  M.   VO  NASCIITEXTO,  03  HASTVBKS,  iív.  5. 

—  Figuradamente :  Trovoj;ir. 

—  Toar  alguma  cousa  bem.  ou  mal; 
agradar,  parecer  bem  ou  mal,   verdadei- 


TOCA 

ra,  ou  falsa,  como  o  tom,  ou  tom  musico 
bem  sonante. 


Muito  tarda  este  Toar  ; 
o  diabo  quào  mal  toa. 
quão  mal  tiue  no  chegar : 
é  um  moiulio  esperar, 
não  ha  cousa  que  mais  moa. 

Axroxio  PBEsrts,  ACros,  pag.  117. 


TOARDAS.  Vid.  Atoardas. 

j  TOBAJÁRAS,  s.  m.  plur.  Nome  (i'uma 
tribu  in  .igena  do  Brazil. —  «O  mesmo 
entenderam  a  respeito  dos  indios  tobajà- 
ras  da  sen-a  de  Ibiapaba,  todos  os  capi- 
tjies  mais  antigos  e  experimentados  d"e3ta 
conquista,  os  quaes  o  anno  passado  sendo 
chamados  a  conselho  peio  governa  lor  so- 
bre as  prevenções  que  se  deviam  fazer 
para  a  guerra  que  se  temia  dos  hollande- 
zes,  responderam  todos  uniformemente, 
que  nào  havia  outra  prevenção  mais  que 
procurar  por  amigos  os  indios  tobajáras 
da  sen-a;  porque  quem  os  tivesse  da  sua 
parte  seria  senhor  do  Maranhão.»  Padj-e 
António  Vieira,  Cartas,  n,"  17. 

TOCA,  s.  f.  Buraco  no  tronco  da  ar- 
vore, rocha  ou  terra  onde  o  coelho,  e  al- 
guns animaes  se  recolhem. 

—  Termo  figuratio  e  popular :  Casebre. 
TOCADILHO,  s.  w.  Um  dos  jogos  de  ta- 
belas. 

TOCADO,  part.  pass.  de  Tocar. 

—  Tocado  de  vinho;  meio  embriagado. 

—  Tocado  da  mão,  da  ira  do  Senh/r ; 
aquelle  a  quem  elle  enviou  doenças,  tra- 
balhos. 

—  Chegado,  attingido. 

Se  cruzaras  a  foz,  viras  a  immensa 
Perdida  u"horizonte  azul  nlanicie ; 
E  na  vasta  exteusào,  perdida,  absorta 
Julgaras  ter  tocado  o  termo  ao  Mundo. 

J.  A.  DE  XACEDO,  A  XATUBEZA,  CaUt.  1. 

—  Figuradamente :  Tocado  o  animo  de 
algum  vicio,  de  vaidade,  de  compaixão; 
encetado,  eivado. 

—  Fruta  tocada ;  fruta  que  começa  a 
apodrecer. 

—  Encetado,  principiado,  começado. 

—  Tocado  o  cor  pi)  de  mal  contagioso ; 
eivado,  encetado,  infeccionado,  ferido. 

TOCADOR,  A,  s.  Pessoa  que  toca  ins- 
trumentos músicos. 

TOCADURA,  s.  /.  Vid.  Toque,  Conta- 
cto, e  Encontro. 

TOCAMENTO,  í.  m.  Acção  de  tocar. 

—  Tocamentos  torpes;  na  mulher,  entre 
08  deus  sexos. 

—  Toque,  contacto. 
TOCANO,  *.  m.  Vid.  Tucano. 
TOCANTE,  part.  act.  de  Tocar.  Que  é 

relativo,  concernente. 

—  Affectuoso,  pathetico,  impressivo, 
mavioso,  piedoso,  lastimoso. 

—  Commovente.  —  Sermão  tocante. 
TOCAR,   1-.  a.  e  n.  Chegar  algum  corpo 

a  outro,  applical-o  junto,  e   talvez  dar- 


TOCA 

lhe  um  impulso,  fazer  abalo,  impressão. 
—  «E  não  lhe  respondendo  ninguém  a  to- 
das as  cinco  vezes  os  dous  moços  que  re- 
preseatavão  a  justiça,  e  a  misericoi'dia  se 
tocarão  ambos  com  as  insígnias  que  ti- 
nhào  nas  maõs,  e  disseraõ  com  huma  voz 
entoada,  sejão  li-\Tes  e  soltos,  conforme  á 
sentença  que  justamente  se  deu.»  Fernão 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.  103. 
—  Chegar  mui  perto. 

Dalhe  hum  pesado  golpe,  e  nas  enxárcias 
Hum  zunido  espantoso  se  leuanta. 
A  seca  arvore  brada,  e  ja  rendida 
Deixase  vir  abaixo  feita  em  rachas. 
A  gauca  e  mastareo  que  toca  as  nuues 
Olhando  com  desprezo  os  de  ca  baixo  : 
A  siia  presunção,  antes  altiva 
Humilda  está  debaixo  ja  das  ondas. 

COBTE  BEAI,,  HAUF&AGIO  DE  SEPULTEDA,    Cant.    7. 

Com  a  água  que  lhe  toca  brandamente ; 

Abranda  o  ferro  forte  a  fortaleza. 

Se  lhe  toca  também  o  fogo  ardente : 

Em  ti  só  desconheço  a  nativreza  ; 

Que,  a  ser  de  pedra  ou  ferro  totalmente, 

Ja  teu  peito  cruel  fôra-desfeito 

Das  águas  e  das  chammas  do  meu  peito. 

CAII.,  ÉCLOGA  õ. 


—  «Bastou  isto  pêra  entrai-mos  no  pa- 
teo,  onde  el  Rey  nos  recebeo  aeompa- 
nhandoo  alguns  Arábios  velhos,  os  quaes 
nos  auiíarào,  que  não  chegássemos  a  elle, 
nem  lhe  tocássemos  com  as  mãos,  iuda 
que  fosse  cõ  tenção  de  lhe  querermos  bey- 
jar  as  suas.»  Fr.  Gaspar  de  S.  Bernar- 
dino, Itinerário  da  índia,  cap.  17. 

Do  So!  o  império  deixo,  e  toco  ousado 
Alem  d"Urano  os  términos  da  Esfera. 

J.  A.  DE  HACEDO,  A  SATUBEZA,  Cant.  1. 

Inda  assim  mesmo  o  termino  nào  toca 

Do  Palácio,  que  hum  Deos  fundara  ao  homem ! 

IDEM,  MEDITAÇÃO,  Cant.    1. 

—  aA  tão  honrados  Turcos,  e  valentes 
Janizaros,  como  estais  presentes,  toca  acu- 
dir pela  honra  de  vossa  gente,  e  de  vosso 
Império,  como  causa  mais  justa  da  guer- 
ra, que  fazemos;  que  ainda  que  Cambava 
tem  exércitos,  e  soldados,  não  conuem  á 
reputação  do  Grão-Senhor  vingar  suas  in- 
júrias com  as  armas  alheias.»  Jacintho 
Freire  d'Audrade,  Vida  de  D.  João  de 
Castro,  liv.  2. 

—  Tirar  sons  de  instrumentos  músi- 
cos, para  fazer  signaes. 


Leuantàose  no  mar  por  todas  partes 
Os  estranhos  sequases  de  Xeptuno, 
Huns  foc'o  conchas  vãs,  outios  mil  saltos 
Com  alesrria  dào  nas  claras  ondas. 
Com  cardumes  espessos  de  olebea 
Fraca  gente  fervendo  o  mar  se  mostra. 

COBTE  BEAL,  SACFBAGIO  DE  SEPÚLVEDA,  Cant.  6. 


- —  «As  molheres  então  tocarão  de  novo 
seus   inátrumentos   como  antes  faziào,  e 


TOCA 


739 


seis  delias  dançarão  com  seys  mininos 
pequenos  por  espaço  de  três  ou  quatro 
credos,  e  após  estes,  dançarão  sejs  mini- 
nas  muyto  pequenas  com  sevs  homens 
dos  mais  velhos  que  estavão  na  casa,  que 
a  todos  nos  pareceo  muyto  bem.»  Fernão 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.  163. 
—  «Elle  depois  de  todos  serem  em  terra 
mandando  tocar  as  trombetas  com  gran- 
des gritas  começou  de  subir  a  ladeira  que 
vai  ter  aquella  porta  dos  Bacharéis,  e 
com  elle  Francisco  pereira  coutinho,  Pêro 
dafonseca  de  castro  António  de  sa  Bal- 
thesar  da  silua.  Pêro  coresma,  George 
nunez  de  Leam,  George  da  sylua,  Hiero- 
nymo  Cerniche,  Rui  Galuam,  George  Bo- 
telho, António  de  Matos,  Sabastiam  de 
miranda.  Simão  martins,  e  outros  homens 
nobres.»  Damião  de  Góes,  Chronica  de 
D.  Manoel,  part.  3,  cap.  11. 

E  que  entenda  este  Lucano. 
E  que  nào  toco  de  puas, 
que  piquem  pedir-lhe  á  face, 
maa  vindo-me  mercês  suas 
com  uma  mào,  ir-lhe-hei  com  duas. 
ASTOsio  PBESTEs,  ACTOS,  pag.  129. 


Até  agora 
não  deitou  palavra  fura 
que  nào  falasse  o  devido  ; 
o  que  cUe  desconfiou 
desconfiara  eu  também, 
e  andou  bem 
em  tocar  o  que  tocou. 
IBIDEM,  pag.  417. 


—  «E  como  se  os  males  por  aqui  se 
acabassem,  nos  abraçamos  todos  dizendo 
com  voz  alta:  boa  viagem.  Tocarãose  as 
charamelas,  e  assi  contentes,  e  prazen- 
teyros,  entramos  na  Baya  Chique  Chaque, 
onde  em  bom  fundo,  lançado  ancora  des- 
cansamos;» Fr.  Gaspar  de  S.  Bernardi- 
no, Itinerário  da  índia,  cap.  3. 

—  Estar  contíguo,  estar  mui  perto.  — 
«Ainda  estas  palavras  não  eram  acaba- 
das quando  elle,  e  Libusante  da  Grécia 
se  encontraram  com  tanta  força,  que  Li- 
busante veio  a  terra  polas  ancas  do  eaval- 
lo,  ficando  Palmeirim  tão  inteiro  na  sella 
como  se  o  não  tocara,  de  que  o  impera- 
dor foi  tào  contente  como  espantado  :  por- 
que este  Libusante  era  então  o  melhor 
cavalleiro  de  toda  a  Grécia:  de  casta  de 
gigantes,  posto  que  elle  o  não  fosse.  E 
assim  passou  por  elle  com  sua  espada  na 
mão  fazendo  maravilhas  em  armas.  O 
príncipe  Florendos  se  encontrou  com  Tro- 
folante  o  medroso :  e  ambos  passaram  um 
polo  outro.»  Francisco  de  Moraes,  Pal- 
meirim dlnglaterra,  cap.  12.  —  «Toman- 
do outra  lança,  que  lhe  deu  um  escudei- 
ro d'algumas  que  el-rei  sempre  mandava 
ter  pêra  taes  tempos,  derribou  da  mesma 
maneira  Arpiâo,  que  foi  o  segundo  que 
saiu ;  ficando  tão  inteiro  na  selía  como  se 
o  não  tocaram,  de  que  os  três  compa- 
nheiros  ficaram    bem  descontentes,   que 


740 


TOCA 


TOCA 


TODA 


nilo  erain  costumados  a  aer  dorribados  tilo 
Icvoíuonto.u  Ibidem,  oii[>.  12'J. 

(.'o'a  dcflmodida  iiltisaimii  Coliimnii, 
iln'ií  oxtroiiia  pai-to  dAtinoífoi^a  Inca, 
Quer  opprimir-tH  oiii  vão,  ([ua  fori;a  ojiposta 
Lho  tolho  o  pcBO,  Ofl  impetcs  doaanua. 

J.  X.   DB  MAOEDO,  A  NATOUBZA,  Oaut.  2. 

Dizor  rospóito,  ser  couccrnonto,  ser 

relativo.  —  « E  quanto  ao  quo  tocaua  a 
cllíj  Almirantu,  pudião  ser  curtos  quo  dcs- 
pois  quo  Dco.s  o  loua^sc  a  Portu^^al :  clli! 
runrosciitaria  auas  cousas  a  ulUuy  sou  so- 
nlior,  do  uianuira  que  ua  priuioira  armada 
prouosso  como  elles  fossem  consulados.» 
Jkrros,  Década  1,  liv.  6,  cap.  6. —  «O 
quo  vos  poço  é  que  mo  dois  licença,  quo 
mo  armo  o  determine  de  todos  o  quo  tòr 
minha  vontade ;  e  no  que  toca  a  vós,  con- 
tiai,  (jue  em  quanto  m'a  vida  durar,  serei 
em  coulioeimento  do  que  vos  dovo,  porá 
vol-o  pagar  o  servir  no  quo  mais  a  vossa 
honra  o  f^osto  tocar.»  Francisco  de  i\Io- 
raes,  Palmeirim  d'Iiiglaterra,   cap.  11;'). 

pois,  HÓ  pelo  que  mo  toca, 
do  teus  gnicioáOd  risos 
por  osses  olhos  uarcizoa 
perderei  sizo  de  roca, 
quanto  mais  desfoutros  sizos. 

ANTÓNIO  PRBSTKS,  ADTOa,  pag.  445. 

—  «No  que  tocava  às  velas,  e  causas 
judiciaes,  que  uas  mais  preminencias  do 
cargo  corriaõ  com  o  Uuque  de  Guima- 
raens  seu  Irmaõ.»  Severim  de  Faria, 
Noticias  de  Portugal,  Disc.  2,  cap.  2. 

—  Mencionar,  fallar.  —  uFezlhe  a  pra- 
tica D.  Rodrigo  Frojaz,  lilho  do  Conde 
Dom  Frojaz  Vcrmuiz,  o  que  cegou  sobre 
Oviedo,  como  jâ  tocamos  acima,  que  por 
senhor  do  muitas  terras  em  Tortugal,  e 
Galliza,  e  valeroso  Cavaileyro  por  sua 
pessoa,  crèraõ  todos  fosse  melhor  ouvido 
delRev,  o  suas  razoeus  melhor  adnútti- 
das,  que  de  nenhum  outro.»  Mouarchia 
Lusitana,   liv.  7,  cap.  2í). 

—  Tocar  niuna  matéria  ;  íaWnT  n'ella. 
—  <íE  Onuphi-lo  Pauuino,  sem  nomear 
nem  excluir  a  Espanha,  diz  que  andou 
S.  Pedro  pregando  por  todas  as  Froviu- 
cias  do  Occidente :  toca  nesta  matéria 
Morales  e  Pineda,  e  eu  com  referir  o 
que  achei,  a  deixo  com  sua  duvida,  pos- 
to quô  nào  vejo  impossível.»  Monarchia 
Lusitana,  liv.  5,  cap.  7. 

—  Pertencer,  competir  om  ofiBcio,  ou 
por  direito. 

Toca-vo3  escolher.  Voto  quo  a  César 
So  iuvio  legação,  paz  se  proponha  : 
Vejamos  se  um  tractado  pôde  ainda 
As  relíquias  salvar  da  liberdade  •, 
Ou  antes  —  iiubotar  ;V  tyraunia, 
Pouco  que  seja,  o  guino  assacalado. 

OASBNTT,  CATÃO,  act.  2,  30.   1. 


Ia  (|uo  no  mcyo  viu)  do  caudaloso  : 
l'rofuiido,  largo  Rio,  o»  quo  gouemào 
O  iiauio  sotil  em  r|uc  váo  juntos 
O  Sou^a  eoiii  lyiaiior,  e  os  seus  meninos 
l'or  nao  tonar  hum  bai.xo  o  batei  torcem, 
Daquella  via  o  rasto  que  atras  deixào, 
Os  i|UO  nos  outros  trcs  bateis  us  ondas, 
Rompendo  vão  com  fori;a  na  dianteira. 
coaTK  BKAL,NAUPKAuio  DK  gRFui.vaDÁ,  cant.  15. 


—  Inspirar,  mover. 

—  Tocar  de  passarjam  uma  matéria; 
fallar  levemente  nella,  por  «e  dirigir  a 
fallar  em    outra,    cm  quo   havenl  demo- 


tel. 


Não  tocar  um  baixo ;  torcer  o   ba- 


—  Tocar  onde  ahjixeia  lhe  doe ;  fallar- 
llie  em  cousa  do  que  elle  se  sente,  c  que 
lhe  despraz. 

—  Caber  em  sorte,  ou  porção. 

—  Tocar  os  bois ;  taiigel-os  com  o  açou- 
te, vara,  aguilhào. 

—  Cau.-sar  impressão  sensivel,  mavio- 
sa, de  compaixão. 

—  Tocar  na  honra,  reputação ;  dizer- 
Ihe  respeito. 

—  Produzir  vicio. 

—  Tocar  de  alijama  cousa;  ter  perto 
a  mistura  delia;  approximar-se  na  na- 
tureza, Índole. 

—  Tocar  a  nau  no  fundo;  dar  n'elle. 

—  Censurar,  notar,  picar. 

—  Instigar,  estimular.  Vid.  Eivar,  o 
Encetar. 

—  Figuradamente :  Tocar  o  ceu  com  o 
dedo;  fazer  impossíveis. 

—  Graças  que  toquem;  graças  que  fi- 
ram, offeniiam,  mordam. 

—  Tocar  os  jiyos ;  pôr  na  figueira  uns 
taes  insectos,  de  cuja  entrada  em  certos 
figos  se  causa  um  grande  crescimento 
dcUes. 

—  Tocar  o  jiainel;  dar-lhe  os  toques, 
com  que  tique  bem  acabado. 

—  Tocar  o  navio  algum  porto;  ir  a 
elle  de  passagem.  Vid.  Arribar. 

—  Tocar  o  ouro,  ou  a  prata;  passal-o 
pela  pedra,  para  ahi  avaliar  os  seus  qui- 
lates, comparando  o  toque  ou  côr  que 
deixa  com  o  das  pontas  já  quilataU:is 
do  ensaiador.  D'aqui  se  origina  a  pedra 
de  tocar. 

—  Tocar  á  bomba;  extrahir  por  meio 
d'ella  a  agua  depositada  no  fundo  inte- 
rior do  navio. 

—  Tocar  o  apparelho,  ou  talha;  alli- 
viar-lhe  as  voltas. 

—  Tocar  em  vento;  o  acto  de  paneja- 
rem as  testas  das  velas,  a  barlavento. 

—  Tocar-se,  v.  rejl.  EsUir  chegada 
uma  pessoa  ou  cousa  á  outra,  em  parte 
ou  no  todo  do  corpo,  o  mais  possível  e 
sem  intervallo  algum  de  permeio. 

—  Tocar-se  a  besta ;  tocar  com  o  cas- 
co nas  pernas,  e  ferir-se. 

—  Figuradamente :  Vossa  mercê  não 
se  toca  de  jíar ;  ntio  faz  mal  á  sua  fa- 
zentla  fiando-a  de  quem  talvez  lhe  não 
pague. 

—  Figuradamente:    Pedra    de    tocar; 


a(|UÍllo  de  que  usamos  para  averiguar  a 
bondade  da^í  cousas. 

—  Tocar  arma  falsa;  termo  u^ado  na 
milícia  para  significar  dar  rebate  falso,  to- 
car a  n:bate  sem  «e  realizar  perigo. 

TOCATA,  s.  f.  Termo  popular.  Peça 
do  musica  instrumental. 

TOCE,  s.  f.  Vid.  Tosse. 

TOCHA,  «.  /.  Vela  grande  do  cera, 
branilAo. —  «Ao  qual  leixou  esta.i  duas 
j)e(;as  de  que  elle  vsaua :  hum  candeeiro 
que  serue  ao  presente  diante  da»  pessoas 
notaiiois,  como  cà  entre  nus  a  tocha,  c 
por  isso  (IS  nosBOK  lhe  deraS  esto  nome : 
per  a  qual  peça  que  dà  luz,  CHte.s  jirin- 
eipes  antiguaniente  cntendiaij  a  luz  e 
claridade  do  intendimento  que  tinhaS  so- 
bre os  outros  hoinems,  e  a  outra  peça  foi 
huma  espada  per  que  siguiticaua  o  poder 
real.»  Barros,  Década  1.  liv.  9,  cap.  3. 
—  « E  toda  a  gente  da  Cidade  foy  posta 
com  muyta  breuidadc  em  danças,  e  fo- 
lias, com  infindas  tochas  na  praça,  o  no 
terreiro  dos  paço-,  e  por  todas  as  ruaa 
principacs,  e  tanta  gente  honrada,  e  no- 
bre, e  assi  a  do  pouo,  que  n3o  cabia, 
nem  so  vio  nunca  tanto  aluoroço,  e  ale- 
gria, c  muytos  velhos,  e  velhas  honra- 
das com  o  .sobejo  prazer  foram  juntos 
cantar,  o  bailar  diante  dei  Rey,  o  a  liay- 
nha,  cousa  de  <]ue  suas  idades  os  bem 
escusauam.»  tiarcia  de  Rezende,  Chro- 
nica  de  D.  João  II,  cap.  115. 

—  Velador,    douzelia    sobre  a  qual  so 
põe  o  candieiro. 

—  Figui-adamente:  A    negra   tocha  de 
execráveis  crimes. 


No  refalsado  coração  lhe  ardia 

A  uegi-a  tocha  de  execráveis  crimes. 

GARBKTI,  CATÃO,   aCt.    3,    SC.    3. 


e  Facho. 
/.    Castiçal   grande  de 


—  Vid.  Tea, 

TOCHEIRA,  í 
tocha.-*. 

TOCHEIRO,  s.  111.  Vid.  Tocheira. 

TOCHO,  s.  7íi.  Termo  antiquado.  Pau, 
cacete. 

TOGO,  í.  "1.  Tronco  de  arvore,  cepo 
que  ficou  na  terra,  cortada  a  arvore  ou 
arbusto. 

TODA,  s.  f.  Termo  de  historia  natu- 
ral. Ave  conhecida  por  este  nome. 

TODALAS,  por  Todas  as.  —  Todalas 
naçZes  do  mundo.  —  «item.  Que  todalas 
teri-as,  casaaes,  herdades,  viuluis,  oli- 
vaaes,  pumares,  e  quaeesquer  outras  her- 
dades, que  logo  no  começo  noa  temj>03 
passados  forom  dadas  a  certas  medi- 
çoões,  a  saber  a  mèo,  ou  a  terço,  ou 
a  quarto,  ou  a  quinto,  ou  alugadas,  e 
depois  fezerom  aveenças,  e  contraatos, 
ou  artbrameiítos  de  novo.»  Ord.  Affons., 
liv.  4,  tit.  1,  §  34.  —  «  Barj-ocante, 
que  nos  taes  tempos  costumava  ter  ac- 
eordo  sobejo  e  o  temor  penlido,  vendo 
Albarroco  tào  desacordado,  com  a  espa- 
da   na    mào  se   chegou  a   elle    com  ten- 


TODA 


TODA 


TODA 


741 


çâo  de  o  deíFender,  e  começou  sua  bata- 
lha   com    Dramusiando   tauto    pêra    ver 
que  com  ella   parecia   escurecer  todalas 
outras,    que   naquella    corte    se    viram. > 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  dlngla- 
terra,   cap.    94.  —  «Nesta    própria    ora 
aconteceo    outro    caso   de    mais   lastima ; 
que  alguns,  que  por  fraca  disposição  ain- 
da ficaram  na  cidade    assolada,  antes  de 
se  partirem,  segundo  Primalião  ordenara, 
vendo  o  campo    coalhado  de   mortos  e  os 
vivos  tão  aborrecidos  da  vida,  que  tam- 
bém queriam  acabar,  por  que,  se  alguns 
imigos   ficassem,  nào  achassem   com  que 
satisfazer  sua   perda,   metteram  a  roubo 
todalas    cousas  da    cidade,    e    trazidas   á, 
praça  principal  delia,  as  consumiram  com 
fogo.»  Ibidem,   cap.    169.  —  «Traz   Poli- 
fema  todalas  outras   afirmaram  por  bom 
o  que  a  primeira    dissera;  que  o  natural 
de  cada  uma  era   vèr   discórdia  e  perigo 
em  todo  género  de  pessoa.»  Ibidem,  cap. 
127.  — ■  «Esse   possiuil,   e  dereytamente 
conuem  todalas  cousas  a  despoer. »  Regra 
de  S.  Beuto,  cap,   2,  em  Inéditos  d'Al- 
cobaça,  tom.    1.  —  «E   dito   por  el   Rey 
naquella    hora    emprenhou    do    Príncipe 
dum    loam   seu    fillio,   que    sobre  todalas 
cousas  muyto  estimarão,  o  qual  pario  na 
muyto    nobre    e    sempre  leal    cidade  de 
Lisboa,    nos    paços    Dalcaceua.»    Garcia 
de  Rezende,  Chronica  de  D.  João  II,  cap. 
1.  —  «E    elle    lhe   respondeo :    Senhora, 
tomayo    em  mu>'to  boa    estrea,  que  pra- 
zerá a  nosso   Senhor  que  agora  concebe- 
reis hum   filho,  que    estimareis  mais  que 
todalas  esmeraldas   do    nuindo.»  Ibidem. 
—  «O  qual  baptismo,  se  elle  Caramança 
aceptasse,  e  recebesse,  elle  Diogo  d'Azã- 
buja    em    nome    delRey    seu  senhor  lhe 
pi'omettia  dali  em   diante   de  o  auer  por 
amigo    e   irmão    nesta  fé  de  Christo  que 
professaua,    e    de   o    ajudar   em  todalas 
cousas    que   delle    teuesse    necessidade.» 
Barros,  Década  1,  liv.  3,  cap.  1.  —  «Ai- 
res   Corrêa   como    todalas   palauras   del- 
Rey   eraõ    desculpas,  e   a  somma  e   con- 
clusão   delias    acabaua    dizendo    que     se 
naõ  podia  mães    fazer :  desta,    e  d'outras 
vezes  que  lá  foi  sobre  o  mesmo  caso  naõ 
vinha    contente   delle.»    Ibidem,    liv.    õ, 
cap.  5.  —  íE   que    quanto  a    commetter 
as  náos,  nisso  se  aventurava    morrer  al- 
guma  gente,    e    hum   homem  que   fosse, 
importava  mais  que  todalas  náos,  a  qual 
contradição  nào  aprouve  muito  a  Affonso 
d'Alboquerque.»  Idem,  Década  2,  liv.  8, 
cap.   4. — ^  «Nesta    peleja  perdeo   el  Rei 
muita  mais    gente,    que  em  todalas  ou- 
tras,   sem    dos    nossos    morrer    nenhum, 
cousas    que    euidentemente  se   pode  crer 
ser  milagrosa.»    Damião   de  Góes,   Chro- 
nica de  D.   Manoel,  part.  1,  cap.   89.  — 
« Os  quaes  pareceres  fezerão  tamanha  mu- 
dança em  el  Rei,  que  nam  tam  somente 
lhe  quis  conceder  o  que  pedia  mas  antes 
assentou   de  o  fazer   vir  pêra  o  regno,   e 
mandar  por  gouernador  Lopo  soarez  dal- 


uarenga,  parecendolhe  que  na  execuçam 
de  fazer  embarcar  Afonso  dalbuquerque 
faria  todalas  diligencias  necessárias,  por 
saber  que  nam  era  muito  seu  amigo,  as- 
sentado isso  se  deu  pressa  a  armada  que 
aquelle  anno  auia  de  ir  perà  Lídia,  que 
era  de  treze  nãos,  na  qual  alem  dos  ma- 
reantes foram  mil,  e  quinhentos  soldados, 
em  que  entraua  muita  gente  nobre.»  Ibi- 
dem, part.  3,  cap.  17. —  «O  que  tudo 
posto  em  ordem  correndo  todalas  azes, 
animaua  cada  hum  com  sua  acostumada 
prudência,  e  grande  esforço,  dizendolhes 
o  que  auiào  de  fazer  mandando  logo  abal- 
lar  o  exercito.»  Ibidem,  cap.  50.  — •  «Que 
descobrindo  mais  de  seis  ilhas,  que  el 
Rei  escolheria  para  sim  as  seis,  e  elles 
duas  das  quaes  lhe  fazia  mercê  da  quin- 
zena parte  de  todalas  rendas,  e  direitos 
Reaes  que  coubessem  a  Coroa  de  Castel- 
la,  e  isto  rebatidos  os  custos.»  Ibidem, 
part.  4,  cap.  37.  —  aQuanto  mais  nos 
que  esperamos  c  roa  eterna,  nos  auemos 
de  refrear  de  todalas  carnalidades  e  vay- 
dades  que  impedem  nosso  curso"?  e  de  mi 
podes  tomar  exemplo :  porque  eu  nam 
prego  as  verdades  do  Éuàgelho  e  vida 
Christaã,  como  quem  açouta  o  ar,  mas 
castigo  meu  corpo  e  o  faço  andar  sojeyto 
ao  spirito,  porque  nam  aconteça,  que  pre- 
gando aos  outros  me  condemne  a  mim.» 
Fr.  Bartliolomeu  dos  Martyres,  Catecis- 
mo da  doutrina  christã. 

TODAVIA,  adv.  Ainda  assim,  comtudo, 
não  obstante,  apesar  de. 


Prcgoae  quem  tem  demanda, 
Que  venha  aqui  a  terreiro 
E  diga  em  que  termos  anda. 
E  venha  o  bauco  todavia 
Muito  bom,  muito  direito. 
Quem  quizer  hoje  esto  dia 
Ver  mao  pezar  de  seu  feito, 
Não  tardo  huma  ave-maria. 

GIL   VICENTK,   FABÇAS. 


—  lO  das  Donzellas  os  satisfez  com 
palavras  muito  de  agradecer,  pedindo-lhe 
todavia  que  polo  que  cumpria  a  elles 
mesmos,  deixassem  aquella  demanda,  e 
não  houvessem  por  injuria  o  que  suas  da- 
mas fizeram  com  elles,  que  n'ellas  nun- 
ca o  anmr  é  tão  firme,  que  com  qualquer 
cousa  não  se  desbarate.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  129. 
—  «Não  sei  como  isso  será,  disso  elle, 
mas  sei  que  todavia  o  hei  de  matar,  se 
se  não  desdisser  do  que  disse,  ou  vós  me 
prometterdes  um  dom  qual  eu  vos  pe- 
dir.» Ibidem,  cap.  130.  —  «O  qual  se- 
não morreo  cego,  acabou  todavia  preso, 
mantendose  desmolas,  que  algumas  pes- 
soas nobres  lhe  mandavão,  deixando  aos 
Portugueses  exemplo  de  virtude  invencí- 
vel, aos  Estrangeiros  de  invejoso  espan- 
to, aos  Reys  de  satisfação  injusta,  e  ao 
Mundo  todo,  das  inconstancias  da  refor- 
ma.»   Monarchia  Lusitana,  liv.    6,    cap. 


11.  —  «Todavia,  isto  he  para  praguon- 
tos  :  aos  quaes  diz  que  responde  com  hum 
dito  de  hum  Philosopho,  que  diz :  Vós 
outros  estudastes  para  jjratfuejar,  e  eu 
para  desprezar  praguentos.  Eu  com  tudo' 
quero  saber  da  Farça,  em  que  ponto  vai.» 
Camões,   Seleuco. 


Poâtoque  ho  para  pasmar 
Vèr  hum  caso  tão  estranho, 
Toãaria  hei  de  attentar, 
So  poderei  concertar 
Hum  desconcerto  tamanho. 

iDSM,  AUPHTTEiÕEs,  act.  3,  SC.  4. 


—  «Dom  Lourenço  como  tem  este  recado 
de  seu  pae,  peró  que  era  tão  incerta  nona, 
como  a  elle  tinha:  todauia  mandou  reca- 
do ás  nãos  de  Cochij  que  se  auiassem  o 
mães  cedo  que  podessem  pêra  estarem 
prestes,  se  alguma  cousa  sobreuiesse.» 
Barros,  Década  2,  liv.  2,  cap.  7.  —  «O 
Chaumigrem  ainda  que  ficou  assas  sobre- 
saltado  com  aquella  nova,  todavia  a  dis- 
simulou por  entaõ  com  tanto  esforso,  e 
prudência,  que  ninguém  enxergou  nelle 
turbação  alguma,  mas  vestindo-se  de 
humas  vestiduras  ricas  de  setim  carme- 
sim, brosladas  de  ouro,  e  com  hum  col- 
lar  de  pedraria  ao  pescoço,  mandou  cha- 
mar todos  os  Capitães,  e  senhores  daquel- 
le  exercito,  e  com  semblante  alegre  lhes 
disse.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  190.  —  «Nobre  e  esforçado 
senhor  Capitão,  peçovos  muyto  peia  rea- 
lidade da  vossa  progénie,  que  me  não 
cerreis  as  orelhas  com  este  pequeno  es- 
paço que  vos  quero  faliar,  e  que  olheis 
que  ainda  que  sou  Moura,  e  cega  por 
meus  peccados  no  claro  conhecimento 
da  vossa  santa  ley,  todavia  por  ser  mo- 
Iher,  e  porque  ja  fuy  Raynha,  me  de- 
veis de  ter  algum  respeito,  pondo  piado- 
samente  os  olhos  de  homem  christão  em 
meu  desemparo.»  Ibidem,  cap.  29.  —  «E 
que  o  que  daly  por  diante  fizesse  união  nos 
bazares,  ou  tii-asse  sangue  a  qualquer  pes- 
soa, fosse  morto  a  açoutes  no  mesmo  dia. 
Esta  sentença  nos  foy  logo  publicada,  e 
ainda  que  a  ouvimos  coui  assaz  do  lagri- 
mas, por  vermos  o  miserável  estado  a  que 
éramos  chegados,  todavia  a  ouvemos  por 
menos  má  que  a  primeyra.»  Ibidem,  cap, 
115.  —  lE  apertando  el  Rey  todauia  mui- 
to nisso,  e  per  muytas  vezes,  o  Príncipe 
lhe  pedio  muyto  por  mercê,  que  tal  lhe 
não  mandasse,  porque  em  nenhuma  ma- 
neira o  avia  de  fazer,  ainda  que  nisso 
lhe  fosse  desobediente,  e  que  soubesse 
certo  que  muyto  mais  estimaua  por  ser 
seu  filho,  que  ser  Rey  de  muvtos  Rev- 
nos.»  (larcia  de  Rezende,  Chronica  de 
D.  João  II,  cap.  18.  —  «E  inda  que  al- 
gumas provindas  sam  muito  distantes  da 
corte,  que  não  podem  vir  os  correos  aa 
corte  dentro  de  hum  mes :  todavia  de  tal 
maneira  se  concertam  que  cada  lua  ha 
de  ter  el  Rey  ha  relaçam    de   cada    pro- 


742 


TODE 


TODO 


TODO 


viiicia,  inda  quo  lumiíi  seja  Jo  mais  tom- 
])(>  ([iiií  outra  [)t!r  hiima  jirovincia  Ciítar 
)ii;rl()  I'  (.iitia  li)iií,'o."  Vn;\  1  ^-Hpar  ila 
•  íriíz,  Tratado  das  cousas  da  China,  ca- 
jiitulo  -22. 

Só  mo  quero  oo'o9  mous  dontcd 
como  cHiiárago  no  monto. 
Toihinn  cu  vou  causado, 
o  Hol  inc  curto, 

fiiz  qui!  a  calma  mais  8u  encurte. 
ANio.Nio  i-nEsrias,  Auros,  pag.  '61. 


Todaria  não  zombemos, 
nem  n'i,í»o  tempo  rjastcmos  : 
c.stou  jil  n'o„.a  demanda 
a  levar  n'olla  por  banda 
o»  meus  vinte  cinco  remos. 
TniDEM,  pag.  121. 


Senhor,  todavia  Pataca 
em  levar  vossa  molher? 


iDiDEM,  pag 


227. 


Todaria  é  fallceido  seu  marido 
que  Dcoa  haja  ? 
luiDKM,  pag.  38'J. 

—  «Saiba,  todavia,  a  mulher  sisuda, 
que  deve  honrar  a  quem  seu  marido 
honra;  o  o  homem  honrado,  que  a  nin- 
gueui  deve  dar  azo  quo  a  sua  mulher 
perca  o  respeito.»  Frauci^^co  Manoel  de 
Mello,  Carta  de  guia  de  casados,  cap. 
9.  —  «Quando  (dipo)  mo  comparava  com 
suaa  roupas  tào  finas,  e  tão  ricamente 
bordailas,  c'os  diamantes,  que  únicos  lhe 
cobrião  o  seio  inteiramente  nú,  e  lhes 
adornavão  os  braços  arremangados  até 
aos  hombros,  c'os  cabellos  com  muita  ar- 
te e  iiticados,  que  todavia  desmentiíto  ex- 
traordinariamente com  as  sobrancelhas; 
porque  umas  os  tinhão  louros  com  so- 
branoôllias  pretas ;  outras  as  tinhão  lou- 
ras, e  03  cabeilo.s  pretos:  o  por  certo  que 
bonitas  as  nilo  achava.»  Francisco  Ma- 
noel do  Nascimento,  Successos  de  mada- 
me de  Seneterre.  —  « Deixando  outros 
d(!  menor  monta  e  nota,  Volt:iirc,  que  to- 
davia sabia  o  seu  pouco  de  Iripjlez  e  em 
luf^laterra  havia  demorado,  diz  blasfé- 
mias quasi  incríveis  quando  se  mette  a 
traduzir  as  sublimidados  de  Milton  ou  as 
oriçinaes  c  enérgicas  altivezas  de  Shaks- 
peare.  Epjuaes  barbaridades  eommetteu 
pretendendo  revelar  o^  mysterios  de  Dan- 
te.» (larrett,  Gamões,  liv.  .3,  nota  yl. — 
«Todavia,  as  armas  polidas,  ordenadas 
cm  feixes,  e  as  stalactitos  seculares,  pen- 
duradas do  tecto,  reverberando  o  clariío 
da  fuíijueira,  davam  ao  topo  da  lapa  um 
aspecto  esplendido,  que  de  algam  modo 
assemelhava  esta  habitação  de  feras  a 
luua  sala  d 'armas  de  paços  afortaleza- 
dos.»  Alexandre  Herculano,  Eurico,  ca- 
pitulo v^. 

—  Ainda. 

TODEIRO,  s.  »i.  Termo  do  historia  na- 


tural,  íicnero   de   aves,    Bimilhantes  aoa 
tordos  marinlin.'4. 

TODIHOJE,  u<lj.  Termo  popular.  líoje 

toijo  o  dÍ!l. 

].l  TODO,  A,  (iflj.  nrl.  (do  latim  to- 
las) (juc  iiiilica  a  totalidade  do.s  indi- 
víduos. —  «(J.s  lleix,  que  anto  N/w  fo- 
rem, hordenaroni  e  estabeleceram  por 
Ley,  que  se  hum  homem  obripou  todos 
seus  bens,  ou  alj^uma  certa  cousa  cm  es- 
jiocial  a  outrem,  o  despois  vendido,  ou 
enallu^ou  al;,'uma  da.s  cousas  assi  obriga- 
das, sempre  essa  cousa  assi  vendida,  ou 
enalheada  passe  com  seu  encarrego  a 
aquelle,  a  que  assi  foi  vendida,  ou  ena- 
lheada.» Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit.  .ó2. — 
«Assi  como  se  ali^iini  prometesse  a  outro, 
que  o  faria  herdeiro  em  parte,  ou  em  torlo 
sob  certa  pena;  ou  lho  fezosse  doaçom 
antre  vivos  valedora  do  todos  seus  bens 
moviis  o  de  raiz,  avudos  e  por  aver,  sob 
certa  pena;  ou  fosse  fdto  algum  contrau- 
to  sobre  herança  d'algum  vivente,  per 
que  aquelle,  que  nom  devia  ser  seu  her- 
deiro, o  seja  sob  certa  pena.»  Ibidem, 
tit.  62,  §  6.  —  «  Lii  acharam  a  min*  par- 
te da  gente  da  cidade,  porque  todos  as- 
sim príncipes  e  senhores,  como  de  toda 
qualidade,  acudiram  áquella  parte  com 
(Icsejo  de  ver  os  prisioneiros.  Já  a  este 
tempo  Folendos  estava  em  terra  desem- 
barcado com  Belcar,  Onistaldo  e  outros 
muitos.»  Francisco  do  Moraes,  Palmei- 
rim dTnglaterra,  cap.  122.  —  «Portan- 
to que  mandasse  lançar  pregão,  que  nin- 
guém fos.se,  nem  viesse  senão  nestas  ter- 
radas :  e  mais  lhe  pedia  que  na  Cidade 
houvesse  todo  assocego  sem  alvoroço  al- 
gum, por  quanto  elle  era  vindo  pêra  bem 
de  tolo  .seu  Reyno.»  Barros,  Desada  2, 
liv.  10,  cap.  3.  —  «E  porque  com  todo 
este  temor  elles  não  vieram  a  conclusão 
pêra  Aífonso  d'Alboquerque  leixar  de  a 
commetter,  primeiro  quo  escrevauu)s  o 
modo  que  nisso  teve,  convém  descrever- 
mos a  situação,  e  força  delia.»  Ibidem, 
liv.  7,  cap.  7.  —  «O  Bramíi  que  havia 
muitos  mezes  que  estava  naquelle  cerco, 
e  se  esperava  pelas  enchentes  daquelle 
rio  que  alagaõ  todos  aquelles  campos, 
fez  com  elle  pazes  com  estas  coudiçoens.» 
Diogo  de  Couto,  Década  G,  liv.  7,  cap. 
8.  —  «Fez  Syuodo,  e  Constituições,  as 
milhores  que  pode,  e  todo  dinheiro  do 
8ynodatico  ordenou  que  se  gastasse  em 
casamento  do  orphans,  o  na  fabrica  de 
humas  mui  boas  scholas  que  se  fizeram 
e  poz  nellas  mui  lums  mestres.»  Damião 
de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part. 
3,  cap.  27. —  «E  após  cllcs  vinhão  dous 
granules  e  altos  cadaíalsos  com  ro  las  per 
dentro,  que  homens  faziam  andar,  sem 
vers.i  como  audauão,  os  quaos  erão  rica- 
mente pintados  douro,  e  muyto  bem  fey- 
tos,  e  ord.onados  com  nuivtas  e  ricas  ban- 
deiras, todos  cheos  databaleyros  com  os 
atabales  polias  bordas  dos  cadafalsos  da 
parte  de  fora,  que  faziilo  tamanho  roido 


por  serem  tantos,  qm;  se  n8o  ouuia  nin- 
guém, e  os  atabaleyros  vinhilo  UAo»  sem 
tííriírai  de  homens.  •  'íarcia  (le  Uezendo, 
Chronica  de  D.  João  II,  cap.  12X. 

Ifos  poiio-1  da  .\l''m:iiiha 
vimoH  Indo»  leiíantados, 
contra  o»  graiidoa  adjiintado», 
c  cntrolleii  guerra  citCrauba. 

—  «Para  o  que  foi  el  liei  a  Taraçona 
em  Aragaò,  o  os  compoz  em  sua»  pre- 
tonçòos,  compondo  de  volta  outras  dis- 
córdias que  havia  entre  o  Castelhano,  e 
Aragonez,  deixando  hum,  e  outro  obri- 
gados com  dadivas,  o  empréstimos  do 
diidieiro,  e  todos  os  fidalgos  de  ambos 
08  Reinos  admirados  de  sua  liberalida- 
de.» Fr.  Bernardo  de  Brito,  Elogios  dos 
reis  de  Portugal,  continuados  por  D. 
José  Barbosa.  —  «Der.1o  os  Mouros  fogo 
á  mina  em  dez  de  Outubro,  a  qual  re- 
bentou sem  damno  pela  face  de  fSra,  re- 
troceilendo  o  fogo  por  achar  resistência 
nos  repuxos,  e  virão  os  Mouros  por  den- 
tro outra  parede  levantada,  espantados 
de  que  antevíamos  os  fins  de  todos  seus 
desenhos,  não  lhes  valendo  a  força  nem 
a  industria  contra  tão  valcrosos,  c  pre- 
venidos inimigos.»  Jacintho  Freire  d'An- 
drade,  Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv. 
2. — «Feito  isto,  o  abraçava  o  Padri- 
nho, e  lhe  dava  paz,  e  elle  fazia  o  mes- 
mo a  todos  os  outros  Cavalleiros,  que 
alli  ,so  achavaõ.  Estas  ceremi.nias  se  usaõ 
ainda  hoje  com  os  que  saõ  admittidos  nas 
C>rdens  Militares.»  Severim  de  Faria, 
Noticias  de  Portugal,  Disc.  3,  cap.  28. 
—  oE  com  as  armas  nas  mãos  estivemos 
todo  aquelle  tempo  atee  que  amanheceo 
com  grande  arrecco  de  ladrões.  E  como 
amanheceo,  logo  fomos  dar  huma  carta 
que  traziamo-;  dei  rcy  de  Bácora  ao  Xe- 
que da  dit.a  vila:  e  por  cila  nos  fez  muy- 
to gasalhado :  e  mandou  logo  fazer  muy- 
to bom  de  comer.»  Tenreiro,  Itinerário, 
cap.  63. 

Não  acha  quem  o  impida,  ou  contradiga 
N"*3ta  viagem  toda  o  grande  Xuno, 
Mostra-íO-lhe  a  fortuna  branda  o  amiga. 
Sempre  sereno  o  t'oo,  sempre  opportuno : 
Também  agora  a  fúria  se  mitiga 
Do  bravo  Eolo,  e  do  húmido  Neptuno, 
E  com  tiiutos  favores,  t.-vl  bonança, 
Em  breve  tempo  inn  Diu  forro  lan(,-a. 

F.   DB  AXOSADE,   PUMBIBO   CEBOO  DB  DIO,  Okltt. 

4,  est.  70. 

—  «E  diz  bem;  porque  em  duvida  de 
todos  os  Reys  se  ha  de  presumir  bem  : 
mas  quando  as  couzas  saõ  evi'lente^,  naõ 
ha  escusa,  que  as  livre.  A  evidencia  das 
injustiças,  que  Castella  usou  com  Port  i- 
gal  sessenta  annos,  que  o  teve  suíreito. 
mostrará  o  Capitulo  seguinte.»  Arte  de 
furtar,  cap.  16.  —  «Depois  de  dar  to- 
dos os  seus  beus  aos  pobres   entrou  em 


TODO 


TODO. 


TODO 


743 


hum  Boaque,  onrle  edificou  uma  Cabana, 
e  onde  subsistia  das  charidades,  e  esmol- 
la<  dos  seus  Amigos.»  Cavalleiro  d'OU- 
voira,  Cartas,  liv.  3,  n."  36.  —  sProcu- 
rai,  (j  alma  minha,  pareceruos  também 
com  os  prezos,  que  por  culpas  estam  na 
cadea,  os  quaes  nenhuma  cousa  desejam, 
mais,  que  a  liberdade,  sò  n'esta  cuidam, 
isto  mostram  desejar  por  sinais,  e  pala- 
uras  diãto  do  juiz,  dos  auogados  e  de  to- 
dos aquelles,  que  hão  mister  lhe  dem  fa- 
uor :  em  quanto  dura  a  prisaõ  não  tem 
uontade  de  rir,  e  zombar,  ou  conversar 
ociosamente  com  os  companheiros  encar- 
cerados, mas  humilhandose  sò  fallào  de 
suas  misérias,  e  de  que  modo  poderão 
liurarsse  delias.»  Frei  Bartholomeu  dos 
Martyres,  Compendio  de  espiritual  dou- 
trina, cap.  15.  —  «Quantas,  em  vez  de 
agradarem  aos  que  as  vêem,  por  essa 
própria  diligencia  escandalisam,  e  vão 
como  convidando  o  riso,  e  a  mofa  da 
gente  que  pretendiam  admirar,  e  aífei- 
çoar,  pôde  ser!  Este  abuso  é  digno  de 
que  o  marido,  logo  que  o  conhecer  o  ata- 
lhe por  todos  os  meios;  porque  a  idade  o 
não  emenda,  antes  o  accrescenta. »  Fran- 
cisco Manoel  de  Mello,  Carta  de  guia  de 
casados. 


Dependo 
Todo  o  êxito  d'aqui.  Dá-me  a  tua  deitva: 
Ninguém... 

GABSETT,   CATÃO,   act.    3,    SC.    7. 


—  Todos  os  hoviens ;  toda  a  humanida- 
de, toda  a  gente.  —  «E  como  o  natural 
de  todos  03  homens  he  nestes  semelhan- 
tes tempos  trabalharem  por  conservar  a 
vida,  sem  lembrança  de  outra  cousa  ne- 
nhuma, era  tamanho  o  desejo  que  todos 
tinhão  da  salvação,  que  não  prociu-avão 
por  mais  qiie  pelos  meyos  que  para  isso 
podião  ter,  pelo  qual  esquecida  de  todo  a 
cubica,  se  entendeo  logo  com  toda  a  pres- 
teza em  alijar  a  fazenda  ao  mar.»  Fer- 
não Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap. 
61.  —  íAchiles  que  servia  de  terror  ao 
mundo  vestido  de  armas  brancas,  foi  o 
riso  de  todos  os  homens  que  o  virão,  e 
que  o  considérão  ornando-se  com  justi- 
llios,  e  com  sayas.»  Cavalleiro  d'01ivei- 
ra,  Cartas,  liv.  1,  n.°  29. 

—  Todas  as  feições  de  mulher ;  todas 
as  formas  de  mulher.  —  «Lhes  appare- 
cem  de  contino  as  gengiuas,  nam  tem 
queyxo  debayxo  em  modo  que  pareça 
ter  barba,  porque  se  lhe  escoa  junto  dos 
dentes  como  a  raya.  Nam  tem  braços, 
mas  em  seu  lugar  humas  barbatanas  lar- 
gas, 6  compridas.  Daqui  ate  o  fim  do 
corpo  tem  todas  as  feyções  de  molher.» 
Frei  Gaspar  de  S.  Bernardino,  Itinerá- 
rio da  índia,   cap.  6. 

—  Empregar  todas  as  razões  para  al- 
guma cousa.  —  «Empregou  ella  todas  as 
rasoens  para  o  despersuadir  do  intento, 


fasendolhe  entender  que  apesar  da  incer- 
tesa  das  suas  prediçoens,  ellas  seriam 
bastantemente  capases  do  lhe  faserem 
impressão  que  se  efleituasse  fatal,  quan- 
do não  fossem  favoráveis.»  Cavalleiro  de 
Oliveira,  Cartas,  liv.  1,  n."  40. 

—  Sahir  por  voto  de  todos.  —  «Che- 
garão os  motins  de  Flandres  hum  dia  a 
estado,  que  se  haviaõ  de  concluir  com 
huraa  batalha,  em  que  meterão  os  levan- 
tado.s  o  resto.  Entrarão  em  conselhos  os 
Castelhanos,  e  sahio  por  voto  de  todos, 
que  pelejassem,  porque  estavaõ  de  me- 
lhor, e  mayor  partido.  Advertio-os  o  Pre- 
sidente, que  ficavai5  todos  sem  rendas,  e 
sem  remédio  de  vida,  se  as  guerras  se 
acabavaò.s  Arte  de  furtar,  cap.  44. 

—  Todas  as  linhagens  do  reino;  todas 
as  descendências.  —  «Para  isto  ordena- 
rão os  Reys  de  Armas,  em  cujos  livros 
mandarão  pintar  as  insignias  de  todas 
as  Linhagens  do  Reyno.»  Severim  de 
Faria,  Noticias  de  Portugal,  Disc.  3, 
cap.  18. 

—  Absolver  a  todos;  perdoar  a  todos. 

—  «  E  preguntado  se  vinhaõ  os  Reys  da 
China  a  aquelle  lugar  algum  anuo,  ou 
em  que  tempo,  respondeo  que  não,  por- 
que o  Rey,  por  ser  filho  do  Sol,  elle  po- 
dia absolver  a  todos,  e  ninguém  o  podia 
condenar  a  elle.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  77. 

—  Os  frades  eram  todos  doentes;  es- 
tavam totalmente  doentes.  —  «  E  re- 
ceando de  os  Frades  morrerem,  e  dese- 
jando jaa  da  Raynha  ser  Christãa,  por- 
que os  Frades  eram  ja  todos  doentes, 
preguntou  a  Frey  António,  a  quem  o 
carrego  ficou  sobre  os  outros,  se  com  toda 
sua  doença  poderia  soomente  fazer  a  Ray- 
nha Christãa,  porque  elle  estaua  de  ca- 
minho para  a  guerra,  e  folgaria  mu^-to 
de  deyxar  a  Rainha  Christãa,  e  sem  isso 
lhe  pareceria  que  não  seria  vencedor, 
nem  tornaria  dela.»  Garcia  de  Rezende, 
Chronica  de  D.  João  II,  cap.  161. 

—  Em  toda  a  parte;  em  todo  o  logar. 

—  «Estes  na  guerra  o  acompanha vaõ  em 
toda  a  parte,  e  na  paz  assistiaõ  no  Paço, 
e  dormiaõ  juntos  à  Camará  Real.  Po- 
rem depois  usaraõ  os  Reys  do  Fidalgos 
em  lugar  destes  Cavalleiros,  e  tinhaõ  as 
entradas  livres,  como  os  Gentis  homens 
da  Camará  na  Casa  de  Borgonha.»  Se- 
verim de  Faria,    Noticias    de   Portugal, 


Di 


cap. 


<  Exaqui    hum    enca- 


recimento que  me  faz  chorar  o  coração, 
vendo  correr  as  aflitas  Deosas  por  toda 
a  parte,  buscando,  e  pedindo  dinheyro 
emprestado  sobre  os  seus  enfeites,  e  so- 
bre o^  seus  ornatos.»  Cavalleiro  de  Oli- 
veira, Cartas,  liv.  1,  n.°  33. 

Matérias  dignas  são,  que  em  toda  a  parto 
Delias  cante  o  subtil  engenho  agudo 
A  virtude,  a  seiencia,  o  governo,  a  arte, 
Dote  hum  da  natureza,  outro  do  estudo  ; 
Mas  as  obras  do  fero,  horrendo  Jlarte 
Como  em  hom-a  e  louvor  passão  por  tudo, 


Assi  também  matéria  são  maia  dina 
Do  que  mais  gastou  d'agua  Cabalina. 

FK.uicisco  d'andbadb,  pbimeiro  cebco  de  mu, 
cant.  17,  eat.  2. 

—  Para  toda  a  hora ;  para  todo  o  tem- 
po. —  «E  sendo  obrigados  a  tello  a  pon- 
to para  toda  a  hora,  que  lho  pedirem, 
aproveitando-se  da  confiança,  que  se  faz 
delles,  metem  o  dito  dinheiro  em  seus 
tratos  de  compras,  e  vendas,  com  que 
vem  a  ganliar  no  cabo  do  anno  muitos 
mil  cruzados.»  Arte  de  furtar,  capitu- 
lo 61. 

—  Levar  a  todos  presos  a  alguma  par- 
te. —  «O  Capitão  Pêro  de  Faria,  que  es- 
tava pegado  com  o  Governador,  ouvindo 
aquillo,  lhe  pedio  que  se  recolhesse,  que 
elle  levaria  a  todos  prezos  á  fortaleza : 
fello  o  Governador  assi,  e  Pêro  de  Faria 
subio  assima,  e  disse  aquelles  Fidalgos  o 
multo  grande  serviço  que  naquelle  nego- 
cio tinham  feito  a  ElRey,  que  lhe  fizes- 
sem mercê  de  se  irem  com  elle  pêra  a 
fortaleza,  onde  elle  pousava,  até  se  quie- 
tarem aquellas  cousas.»  Diogo  de  Couto, 
Década  4,  liv,  2,  cap.  11, 

—  Todos  os  religiosos;  todos  aquelles 
que  se  entregam  á  vida  do  espirito.  — 
«Procurei  u'este  Estado,  que  todos  os  re- 
ligiosos nos  conformássemos  na  doutrina ; 
e  porque  o  não  pude  conseguir,  passei  ao 
reino :  pedi  a  junta  que  vossa  magestade 
mandou  fazer  dos  maiores  letrados  de  to- 
das as  profissões ;  procurei  que  na  mes- 
ma junta  se  achassem  os  provinciaes  das 
religiões  d'e3te  Estado,  para  que  sendo 
testimunhas  de  tudo,  e  dando  também 
seu  voto,  ordenassem  a  seus  súbditos  o 
que  deviam  guardar,  e  também  esta  dili- 
gencia não  aproveitou.»  Padre  António 
Vieira,  Cartas,  n.°  16. 

—  Ter-  conselho  com  todos  os  do  seu 
conselho.  —  «Estando  el  Rey  em  Almada 
no  mes  de  Agosto  deste  anno  de  mil  e 
quatrocentos  e  oitenta  e  oito  teue  conse- 
lho com  todos  os  do  seu  conselho,  que 
presentes  erão,  sobre .  o  casamento  do 
Príncipe  seu  filho.»  Garcia  de  Rezende, 
Chronica  de  D.   João  II,  cap.  73. 

—  Em  todo  o  tempo;  em  toda  a  occa- 
sião,  em  todas  as  epochas,  —  «Porque 
polia  enformação  que  ja  a  este  tempo  ti- 
nha do  lugar,  e  terra  ser  naturalmente 
doentia,  e  o  rio  não  se  poder  em  todos 
os  tempos  nauegar  até  a  dita  fortaleza, 
ja  tinha  assentado,  que  em  caso  que  o 
dito  lugar  fora  feyto,  e  não  cercado,  de  o 
mandar  despouoar,  e  derribar.»  Garcia 
de  Rezende,  Chronica  de  D.  João  II,  cap. 
81.  —  «E  posto  que  vossa  magestade 
chame  a  D.  Pedro  de  Mello  para  mais 
perto  da  real  pessoa  de  vossa  magestade, 
por  concorrerem  n'este  fidalgo  as  quali- 
dades mais  necessárias  para  o  tempo  pre- 
sente, como  n'elle  tenho  conhecido  em 
todo  o  tempo  que  o  tratei,  entendo,  e 
assim  o  peço  a  vossa  magestade,  que  na 


744 


TODO 


TODO 


TODO 


mesma  possoa  do  D.  Peflro.»  Padro  An- 
tónio  Vieira,    Cartas,  n."  18. 

—  Todas  fts  (InmuH  <ln  corte;  toda»  as 
senhoras  da  corto.  —  «Conconlarílo  am- 
bos que  com  o  pretexto  dt;  divertir  ao 
Príncipe,  viriào  siiecessivaniente  á  sua 
camará  todas  -m  Datna.s  da  Corte.»  Ca- 
valleiro  d'(Jliv(íira,  Cartas,  liv.  1,  n."  i50. 

—  Todas  estas  três. 

Todnn  catas  três,  b5o  as  qun  a  bnlloza 
E  a  f^ra(;a  do  Ijianor  mais  auoviecRiii  : 
Todas  tros  saõ  tocadas  mas  não  (tanto 
('oino  a  princesa  Ampliitrito)  da  cnutíja. 
Dizoin  riun  entrou  soberba  isenta,  e  liure 
No  9CU  luuncdo  Reino  com  desprezo, 
K  cõ  vaà  pr(iHump(;.ão,  tratando  as  Nim))lias, 
A  ipicin  da  fe.rinosura,  a  honra  lio  deuida. 

COBTi;   RKAL,,  NAUl-RAUIO  DK   SE1-L'LVEI)A ,  Cant.  7. 

—  De  toda  d  sorte;  du  todo  o  modo, 
do  toda  a  maneira. 


Ipocrcsia  sou  a  Dcos  odiosa 
Sancta  vida  professo,  o  mundo  abraço. 
Do  ignorantes  prezada  co  estes  cumpro 
E  faço  quanto  quero,  inda  que  injusto. 
Vio  entrar  por  aqui  dn  toda  sorte, 
Do  gcntu  tanta  copia  qim  não  cabe, 
Iluns  em  tristes  sembrantes  escondidas 
Dissoluçõíís  secretas  o  outros  males. 

COBTIÍ  EKAI,,NAUrBAQIO  DE  SKPUT.VKDA ,  Cant.    11. 


—  Entre    todos    to   escolho;    de   prefe- 
rencia a  todos  te  elejo. 


«Maguato  principal  da  minha  Corto, 
Eu,  para  executar  este  projecto, 
Entre  todon  te  escolho  :  diligente 
Parte  a  cumpril-o  ;  pois  de  tuas  artes, 
E  de  ti  só  confio  a  grande  empreza.» 
DINIZ  DA  cBuz,  HYssopR,  cant.  1. 


—  Alma  cheia  de  toda  a  sabedoria,  e 
graça ;íúmix  repleta  d'ella,  completamente 
sábia.  —  «De  maneira  que  licou  huma  pes- 
soa, verdadeiro  Dcos  o  vei"dadeiro  ho- 
mem :  tendo  duas  naturezas  perfeitas, 
humana  e  diuina  em  huma  soo  pessoa.  E 
no  mesmo  momento  de  sua  Encarnaí^ão 
foy  sua  sacratissima  alma  chea  de  toda  a 
sabeduria  e  ijraça  infinitamente.»  Frei 
Barthi>lomcu  dos  Martyres,  Catecismo  da 
doutrina  christã. 

— -Todos  juntos;  juntando-se,  reunin- 
do-se  todos. —  «Os  quaes  todos  juntos  se 
fez  a  vela,  e  o  primeiro  lu!?ar  que  viram 
Dafrica  foi  Larache,  que  os  da  frota  qui- 
aorào  cometer  se  lho  dom  António  con- 
sentira, que  por  euitar  o  aluoro(,'o  que  so- 
bre isso  se  ja  fazia  mandou  correr  do 
longo  da  costa,  o  aos  xxiii  dias  do  lanho 
véspera  de  S.  loam  baptista  chcíjou  a  bar- 
ra do  rio  da  Mamora,  huma  hora  ante  sol 
posto.»  Damião  de  lioes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  ?>,  cap.  76.  —  «E  prepara- 
dos nòs  IH)  modo  coavoniento  a  tào  bom 
propósito,  Autoaio  do  Earia  fez  o  sinal 
que  disse,   c  arromoteo  logo  correndo,  o 


nAs  todos  Juntos  cõ  olle,  e  chegando  á 
lanteaa,  nos  apoderamos  logo  delia  som 
contradição  alguma,  e  largando  os  proi- 
zes  com  que  ostava  atracada,  nos  afasta- 
mos ao  mar  obra  de  hum  tiro  de  besta.» 
Feru.^ii  Alendcs  1'iuto,  Peregrinações,  ca- 
pitulo 04. 

—  Todo  o  pruser  da  ininhri  vida;  a 
completa  salisfayrio,  alegria  da  vida.  — 
«Sim.  Que  o  teu  contentamento  o  prezo 
eu  em  muito;  e  por  to  ver  contente,  me 
dera  eu  por  bem  venturosa,  se  todo  o  pra- 
zer lia  minlia  vi<la  o  sacrificasse  a  um  ins- 
tante de  tmi  gosto.  <Jh!  como,  sem  hesi- 
tar eu  o  faria !  Porque  n.^o  ós  tu  como 
(Hl?  Sc  quanto  cu  te  amo,  me  amaras  tu, 
que  ventura  i)ara  mis  ambos  !  A  tua  Dita, 
a  minha  fora,  e  mais  completa  ainda  fora 
a  tua.»  Francisco  Manoel  do  Nascimento, 
Sucessos  de  madame  de  Seneterre. 

—  tíenhor  de  todos  os  bens;  que  se 
aporlorou  de  todos  olles.  —  «E  daqui  vem 
o  direito,  que  faz  aos  vencedores  senho- 
res do  todos  os  bens  rios  vencidos :  c 
tudo  se  devo  regular  pela  oftensa  preté- 
rita, e  paz  futura.  Se  entre  os  bens  dos 
inimigos  SC  acharem  alguns  de  amigos, 
dovomse-lhes  restituir.  Se  os  damnos  fei- 
tos aos  inimigos  bastarem  para  a  satisfa- 
ção, nai")  se  piídeni  extender  aos  innocen- 
tes.»  Arte  de  furtar,  cap.  21. 

—  Eijrojas  e.vpostas  a  todas  as  incle- 
mências do  tempo;  ogrcjas  corruptas  e  es- 
tra'gadas  em  raz.no  do  mau  tempo.  —  «Da 
mesma  maneira  sabemos,  que  as  Igrejas 
do  Cochim,  e  Coulão,  que  de  novo  se  co- 
meçarão, estão  por  acabar,  descubertas, 
e  expostas  a  todas  as  inclemências  do 
tempo,  o  que  não  si')  parece  mal,  mas 
ainda  he  em  prejuízo  do  edificio;  pelo  que 
mandareis  que  se  continuem  até  se  aca- 
bar, sem  reparar  no  custo ;  o  isto  por 
uiãos,  e  traça  dos  melhores  Architectos, 
o  Offieiaes.»  Jacintho  Freire  d'Andrade, 
Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv.  1. 

—  Todos  CS  mosteiros  c  egrejas. —  «E 
per  mandado  dei  Rey  forão  feitos  em  to- 
dos os  Slosteíros,  e  Ygrejas,  grandes  e 
deuotas  exéquias,  em  que  muy  deuota- 
mente  eneommendauão  sua  alma  a  Dcos.» 
( tareia  do  Rezende,  Chronica  de  João  II, 
cap.  22. 

—  Todos  professainos  a  fé  de  Christo ; 
todos  somos  chi-istãos. 


Cõ  bâdeira  aruorada,  e  em  som  de  guerra, 
Dizeinos  se  a  quereis?  ou  paz  segura? 
O  Sonsa  inda  que  fraco  lhe  responde 
Com  seuera  presença,  o  graue  aspecto, 
Christiios  somos,  a  fé  sacra,  e  diuina 
Do  lESV  Christo  todos  profoss:unos. 

COUTE  BEAL,  NAVFBAGIO  DE  SEPÚLVEDA,  «VUt.  15. 


—  Com  toda  a  sua  frota ;  com  toda  a 
sua  esquadra.  —  «Chegado  Aftonso  d'.\l- 
boqucrque  ;i  barra  de  Goa  com  toda  sua 
frota,  loixou  em  baixo  as  uãos  grandes 
da  ciirga,  o  levou  acima  ao  porto  de  Goa 


as  de  pequeno  porte,  que  podiam  leve- 
monte  ir  pelo  rio.»  Harros,  Década  2, 
liv.  7,  ca|).  4. 

—  Todo  o  mundo;  tola  a  humanidade, 
to  la  a  gente,  todos  os  homens,  —  Uesa/iar 
todo  o  mundo.  — -  Estar  em  paz  com  todo 
o  mundo. 

Quando  hum  novo  jumento  principia 
A  saltar,  norque  tem  a  Mài  presente, 
E  com  brincos,  c  coice*  ignaliaento 
A  rizo  lodo  o  mundo  d>jsatia. 

AiiuADi:  DE  JAZE.xrE,  poEsiAfi,  pag.  67. 

—  «O  qual  capitão  por  assegurar  a 
gente  da  terra,  e  lhe  terem  boa  vontade, 
determinou  do  mandar  ao  Rey  <la  terra, 
que  estaua  longo  polio  «ertilo,  hum  pre- 
sente, o  qual  lhe  logo  mandou  per  cer- 
ta} Christãos  de  muytas  cousas,  dcsua- 
riadas  as  humas  das  outras,  e  lhe  mandou 
dizer  como  ha  dita  armada  era  dcl  Rey 
de  Portugal,  que  com  todo  o  mundo  tinha 
paz,  e  amizarle.»  (jarcia  de  Rezende, 
Chronica  de  D.  João  II,  cap.  1Õ5. 

—  Todos  os  moradores  de  Cochim ;  to- 
dos os  habitantes  de  Cochim. —  «Surtos 
os  navios,  chamou  o  (Tovernador  os  Ca- 
pitacns,  c  lhes  di-sse  que  ao  outro  dia  ha- 
via de  dar  em  terra,  que  se  fizessem  pres- 
tes: mandoulhes  que  fizessem  alardo  da 
gente  que  havia  pelas  embarcaçocns,  o 
que  olles  foraõ  fazer,  e  acbãraõ  seis  mil 
homens  Portuguezes,  com  todos  os  mora- 
dores de  Còcliim  que  alli  foraij  logo  em 
Tones,  e  outras  embarcaçoens.»  Diogo  de 
Couto,  Década  6.  liv.  8,  cap.  13. 

—  Todos  vel/utcos  da  primeira  plana. 


«Que  inércia  é  esta?  Quo  preguiça,  oh  Lara, 
Que  os  membros,  c  sentidos  te  adormenta. 
Quando  por  inimigos  tens  em  Campo 
O  gordo  Bispo,  o  Abreu,  o  Ramalhete, 
Velhacos  todos  da  primeira  plana  ?• 

ASTOSIO  DINIZ   DA  CBUZ,  HT3S0PB,  Oailt.   5. 


—  Todos  os  circumstantes ;  todos  os  es- 
pectadores, todos  os  quo  o  cercavam. 


Piega  um  grande  escarro, 
Com  que  assustou  os  Circunstantes  lodo*, 
E  de  novo  começa  :  Oh  !  so  cu  lograsse 
A  grande  dita  de  nascer  cm  Roma, 
E  alli,  na  tenra  idíide,  me  tivessem 
Qual  miscro,  e  novel  frangão  castrado, 
Que  ontào  s6  dignamente,  em  tino  tiple, 
Qual  Ac.hillcs,  nas  Operas  d°ltalia. 
Do  teu  gravo  Senado  cjuitiria 
A  acçào  maior,  que  \"irão  as  Idades  ! 
Asrosio  pisu  DA  CBCz,  BTssoPB,  cant.  7. 

—  Todas  (IS  cousas  do  reino ;  tudo  o 
que  dizia  respeito  ao  reino,  tudo  o  que 
lhe  pertencia. —  «Despedi  ias  todas  aa 
cousas  do  Reino,  ficou  o  tíovernador  fa- 
zendo prestes  toda  a  Armaila  jvira  se  em- 
barcar, e  acodir  às  cousas  de  Cambava, 
porque    catavaõ   prenhes,   e  podiaõ  parir 


TODO 


TODO 


TODO 


745 


novos  trabalhos.»  Diogo  de  Couto,  Déca- 
da 6,  liv.  7,  cap.  3. 

—  Todas  as  cousas  tocantes  ao  meneio 
das  aniladas;  tudo  o  que  lhe  diz  respeito, 
que  lhe  é  concernente.  —  «Distante  obra 
de  hum  quarto  de  legoa  da  cidade  Pa- 
naajú,  onde  então  o  Rey  dos  Batas  se  es- 
tava fazendo  prestes  para  yr  sobre  o 
Achem,  o  qual  tanto  que  soube  do  pre- 
sente e  carta  que  lhe  eu  levava  do  Capi- 
tão de  Malaca,  me  mandou  receber  pelo 
Xabandar,  que  he  o  que  governa  com 
mando  supremo  todas  as  cousas  tocantes 
ao  meneyo  das  ai-niadas.»  Fernão  Mendes 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  14. 

—  Os  deleites  d'esta  vida  cifram-se  to- 
dos nos  cinco  sentidos;  resumem-se  n'el- 
les.  —  íOs  deleites  nesta  vida  nos  cinco 
sentidos  se  cifrão  todos:  e  os  da  vista 
com  ser  dos  sentidos  o  mais  nobre,  saõ 
de  qualidade,  que  a  noite  os  rouba;  e 
nisso  que  vemos  de  dia,  ainda  que  nos 
alegre,  remos,  que  ha  mais  defeitos  para 
aborrecer,  que  perfeiçoens  para  estimar.» 
Arte  de  furtar,  cap.  70. 

—  Todos  os  homens  de  sangue ;  toda  a 
gente  nobre,  de  nobreza. —  eOs  quaes 
mortos  foraõ  loão  Corrêa,  Duarte  d'Olan- 
da,  Esteuaõ  d'Alrneida,  Diogo  Machado : 
todos  homems  de  sangue  e  que  de  moços 
se  criarão  na  camará  do  Infante,  e  assi 
outros  escudeiros  e  homems  de  pé  de  sua 
criação  que  com  os  mareantes  podião  ser 
dezanoue  pessoas.»  Barros,  Década  1, 
liv.  1,  cap.  14. 

—  Todos  presentes;  em  opposição  a  to- 
dos ausentes. —  «E  presentes  todos,  abrio 
o  Veador  da  fazenda  hum  cofre,  em  que 
estavam  guardadas  as  successòes  da  go- 
vernança da  índia,  que  eram  três,  que 
trouxe  comsigo  o  Conde  Almirante  D. 
Vasco  da  Gama  quando  veio  por  Viso- 
Rey,  que  foram  as  primeiras  que  á  índia 
vieram.»  Diogo  de  Couto,  Década  4,  liv. 
1,  cap,  1. 

—  Dar  embarcação  a  todos ;  embarcar 
a  toda  gente.  — ■  «Mandou  lançar  pregões, 
que  ninguém  fugisse  sob  pena  de  morte, 
por  quanto  ello  queria  dar  embarcação  a 
todos  pêra  passarem  sem  perigo,  e  jíode- 
rem  levar  suas  fazendas,  segundo  tinha 
concedido  nos  seus  apontamentos ;  e  que 
em  quanto  não  fossem  passados  á  terra 
firme,  qualquer  Portuguez,  ou  pessoa  que 
fizesse  algum  damno  a  algum  Mouro,  que 
morresse  por  isso.»  Barros,  Década  2, 
liv.  6,  cap.  5. 

—  Todos  em  geral;  toda  a  gente,  ge- 
nericamente fallando.  —  «E  assi  lhe  fo- 
rão  feitas  outras  mu^-tas  honras,  e  fauo- 
res  de  honrados  aposentamentos,  presen- 
tes, e  visitações,  em  que  claro  se  via  o 
muyto  prazer,  e  contentamento,  que  to- 
dos em  geral,  e  especial  com  sua  hida 
tinhào.B  fi areia  de  Rezende,  Chronica  de 
D.   João  II,   cap.  114. 

—  Todos  os  portuguezes ;  toda  a  nação 
portugueza.  —  « O  Viso-Rey  lhe  entregou 

yoL.  V.  —  94. 


Dom  Rodrigo  de  Lima,  e  o  Embaixador 
Zagazabo,  e  todos  os  Portuguezes,  e  os 
presentes  que  levavavam  assi  pêra  o  Go- 
vernador, o  Rey  de  Portugal,  como  pêra 
o  Sumnio,  e  Santo  Pontífice.»  Diogo  de 
Couto,  Década  4,  liv.  1,  cap.  4.  —  «O 
qual  Arcebispo  na  sua  Chronica  que  es- 
creueo  em  liuguoa  Latina  diz  que  el  Rei 
dom  Afonso  Anrriques  primeiro  Rei  de 
Portugal  foi  casado  com  dunna  Maphalda, 
filha  do  Conde  de  moriana,  pelo  que  sam 
muito  de  reprender  nossos  Ctironistas,  e 
os  que  composeram  os  liuros  das  linha- 
gens, sendo  todos  Portugueses  de  terem 
dada  tam  ma  conta  da  verdadeira  proge- 
nia  da  Rainha  donna  Maphalda  primeira 
Rainha  destes  reguos.»  Damião  de  Góes, 
Ciironica  de  D.  Manoel,  part.  4,  cap.  71. 

—  Em  todos  os  reinos  e  estados  da 
Europa.  —  lE  pois  neste  Reyno  naS  ha 
ley,  que  as  prohiba,  claro  está,  que  po- 
dem ser  admittidas,  assim  como  o  saõ 
em  todos  os  Reynos,  e  Estados  da  Eu- 
ropa, de  que  ha  innuraeraveis  exemplos, 
que  traz  Tira<£uel.  tom.  1.  i^.  10.  á  n. 
4.  e  assim  est;l  declarado  em  Portugal,  e 
se  colhe  da  doaçaõ  feita  ao  Conde  D. 
Henrique,  e  sua  nmlher  Dona  Theresa, 
que  dizia:  Para  elle,  e  seus  successores.» 
Arte  de  furtar,  cap.  16. 

—  Todos  quatro.  —  a  Com  estas  viti- 
mas palauras  (que  nam  ha  quem  com  o 
Rey,  não  deseje  ter  valia)  ficou  tão  con- 
tente, que  chegando  a  ellas  nos  mandou 
assentar,  e  aquelle  dia  jantamos  todos 
quatro  na  sua  Forta'eza.  E  porque  tem 
no  comer  differente  modo  do  nosso,  di- 
rey  o  que  lhe  notey.»  Fr.  Gaspar  de  S. 
Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap.  12. 

—  Todos  os  mais;  todos  os  outros. — 
«E  querendo  logo  com  muyta  pressa  pro- 
ver no  remédio  da  soltura  delles,  pelo 
perigo  que  entendia  que  podia  aver  na 
tardança,  lhes  mandou  huma  carta  por 
hum  destes  Chins,  ficando  por  elle  em 
reféns  todos  os  mais.»  Fernão  Mendes 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  63.  —  «E  lo- 
go após  ellcs  os  Arménios,  o  logo  os  Ja- 
niçaros  e  os  Turcos,  e  todos  os  mais  nos 
lugares  que  lhe  a  elle  bem  pareceo,  e 
com  esta  ordem  chegava  esta  gente  es- 
trangeyra,  como  ja  disse  até  o  dopo  dei 
Rey,  onde  estava  a  gente  Bramaa  da 
guarda  do  campo.»  Ibidem,  cap.  149. 

—  Contar  todo  o  caso;  contal-o  com- 
pleto, inteiro.  —  «E  assi  enuiou  outra  ao 
Papa  escripta  em  Latim,  em  que  contou 
todo  seu  caso,  e  conuersam  á  Fe,  com 
palauras  de  muyta  deuaçao,  e  grandes 
louuores  dei  Rey :  e  dos  outros  seus  fo- 
rão  feytos  Christãos  vinte  quatro  na  ca- 
sa dos  contos  da  dita  Villa,  muyto  hon- 
radamente.» Garcia  de  Rezende,  Chroni- 
ca de  D.   João  II,   cap.  78. 

—  Descer  todos  do  cadafalso.  —  «  E 
acabada  esta  grande  ceremonia  de  justi- 
ça, que  durou  muyto,  se  decerão  todos 
do   cadafalso,  e  logo  foy   posto    fogo  nel- 


le,  6  a  estatua,  e  o  cadafalso  todo  assi 
como  estaua  foy  queymado,  cousa  que 
pareceo  espantosa.  E  o  Marquez  sendo 
disto  sabedor  foy  muy  enojado,  e  triste, 
e  dahy  a  pouco  tempo  se  finou  em  Cas- 
tella,  bonde  elle  estaua.»  Garcia  de  Re- 
zende, Chronica  de  D.   João  II,  cap.  49. 

—  Todo  o  honiicidio ;  todo  o  acto  de 
um  homem  matar  outro.  —  « Peccado 
grauissinio,  que  ainda  agora  nam  falta 
entre  Christãos  :  mais  graue  de  sua  na- 
tureza que  todo  o  homicídio,  e  que  todo 
outro  peccado  em  que  se  faz  damno  ao 
próximo.»  Fr.  Bartholomeu  dos  Marty- 
res.  Catecismo  da  doutrina  christã. 

—  Todas  as  cousas  terrestres;  todas  as 
cousas  da  terra,  do  mundo.  — •  «Não  cui- 
dando preteritamente  que  em  satisfazer 
aos  desejos  dos  sentidos  hoje  se  vê  for- 
çado a  renuncia-los.  Poderá  hum  homem 
destes  ter  a  mínima  idea  da  satisfação 
sublime,  e  durável,  que  resulta  da  con- 
templação, e  do  exercício  das  faculdades 
da  sua  alma  immortal?  He  possível  que 
conheça  os  celestes  êxtases  de  hum  spi- 
rito  desembaraçado  de  todas  as  cousas 
terrestes"?  Creyo  que  não.»  Cavalleiro  de 
Oliveira,  Cartas,  liv.  3,  n.°  9. 

—  Todos  os  christãos;  toda  a  chris- 
tandade,  todo  o  mundo  chrístão. —  «E 
ainda  que  todos  os  Christãos  nam  che- 
guem a  ter  ygual  deuaçam,  ygual  fer- 
uor,  e  promptidam  nas  cousas  do  Senhor, 
baste  que  cada  hum  trabalhe  de  fazer 
este  vnguento  o  mais  perfeyto,  e  fino 
que  poder,  nam  confiando  em  suas  for- 
ças, e  diligencia,  mas  na  graça,  e  ajuda 
do  senhor,  pola  qual  ha  de  chamar  ins- 
tante, e  continuamente,  dizendo.»  Frei 
Bartholomeu  dos  Martyres,  Catecismo  da 
doutrina  christã. 

—  Todos  os  inimigos  da  fé;  todos  os 
contrários  e  inimigos  da  religião.  —  Des- 
ajiar  todos  os  inimigos  da  religião.  — 
«Eu  foaõ  desafio  todos  os  inimigos  da 
Fé,  e  de  meu  Senhor  ElRey,  e  da  terra, 
e  o  mesmo  fazia  para  as  outras  três  par- 
tes do  Mundo.»  Severim  de  Faria,  No- 
ticias de  Portugal,  Disc.  2,  cap.  6. 

—  Todo  o  povo ;  toda  a  gente  popu- 
lar. —  «El  Rei  por  mostrar  a  todo  o  po- 
uo  o  rico  presente  que  recebera,  mandou 
poer  hum  jaez  douro  da  gineta,  que  com 
as  outras  peças  do  presente  vinha,  em 
hum  cauallo  muito  formoso,  no  qual  ca- 
ualgim,  e  nelle  veo  ate  se  meter  na  al- 
madia,  em  que  foi  fallar  a  Pedralurez, 
que  o  jà  estaua  sperando  com  todolos  ca- 
pitaens  da  frota,  cada  hum  em  seu  batel, 
todos  de  festa.»  Damião  de  Góes,  Chro- 
nica de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  Õ7. 


Seu  governo  se  escara,  no  Monárchico, 
Partido  cm  vários  Reis.  Sc  urprentc  é  o  prigo, 
Se  uno  em  um  só.  Blazona  a  Tribu  Salia 
De  mais  nobre  :  e  em  tal  couta  a  tem  os  Francos. 
Pharamundo  6  seu  Rei.  Todo  esse  Povo. 

F.   M.  no  NASCIMEKTO,  OS    MABITBES,  1ÍV.   7. 


746 


TODO 


TODO 


TODO 


—  Todas  as  armas  de  guerra;  todas 
a,i  arma»  bellicas.  —  «Aqui  havia  pran- 
do  numero  do  acubortado.i,  cossoleten, 
arcabuzLs,  lanças,  cHcudiw,  c  todas  as 
mais  anuas  di!  ícut^rra.»  .Sevorim  de  Fa- 
ria, Noticias  de  Portugal,  Diac.  2,  ca- 
pitulo 1 1 . 

—  Toda  a  (jante  chrisfã ;  todo  o  mundo 
cliristjlo. 


Ma»  a  fjontP  iiifiol,  (\no  dpnatina 
K  doutro  no  consumo,  o  dosospórn, 
Voudo  quo  |)odciii  dou:»  o  quo  iinapiua 
Qui;  Ioda  a  Christàa  gcutc  não  pudúra, 
Com  dobrado  fiuor,  so  determina 
Vencer  aquella  invicta  c<^pia  fera, 
Meneia  com  iinÍ£;o,  duro  braço 
Hum  a  comprida  lancj.a,  outro  o  curto  aço. 

F.    d'aNDR\DE,    PHIMKIRO  CERCO  DF.  DIU,Cant.  11, 

C8t.  63. 


—  Toda  a  gente  ;  todo  o  povo.  —  «Des- 
pedindo entaõ  ElRey  toda  a  ^onte,  que 
o  acõpanhàra,  ceou  recolhido  cõ  sua  mu- 
lher, o  seus  filhos,  e  naií  quis  quo  ho- 
mem alí^uui  por  entaõ  o  servisse,  porque 
o  banquete  ora  à  cota  da  Rainha.»  Fer- 
não Mondes  Pinto,  Peregrinações,  cap. 
223. 

—  Toda  a  gente  do  termo. —  «E  que 
cada  anno  se  fizessem  dous  alardos  ge- 
raes,  hum  pelas  Oitavas  da  Páscoa,  o 
outro  por  dia  do  S.  Miguel ;  e  que  so 
ajuntasse  toda  a  gente  do  tjrmo  na  ca- 
beça da  Capitania;  onde  polo  Capitão 
Mòr,  Sargento  Mòr  fossem  ordenados,  o 
se  exercitasse,  assim  a  gente  de  cavallo, 
como  de  pé.»  Severim  de  Faria,  Noti- 
cias de  Portugal,  Disc.  2,  cap.  10. 

—  Todas  as  diversidades  de  névoas; 
todas  as  variedades  d'ellas. 


Landate  Dominum  de  terra. 
Dracones  et  omnei^  abys.i;/, 
E  todiif  diversidades 
De  névoas  c  serra, 
Ventos,  nuvens  et  edipsi, 
K  louvao-o,  tempestades. 

OIL  TICESTB,  AUTO  DA  .VOFINA  MENDES. 


—  Todo  O  filho  de  fidalgo  vassallo.  — 
•  E  a  todo  o  filho  de  Fidalgo  Vassallo, 
que  nascia,  se  mandava  logo  huma  carta 
da  contia  de  seu  pai,  com  que  cresceo 
este  numero  do  Vassallos  aconti:\ilos  cm 
grande  maneira  atò  o  tempo  d'ElRey  D. 
Fernando.»  Severim  do  Faria,  Noticias 
de  Portugal,  Disc.  2,  cap.  7. 

—  Estar  proinpto  a  toda  a  adversida- 
de; estar  disposto,   preparado  para   ella. 

E  sendo  aasi  que  o  nó  desta  amizade 
Entre  vís  firmemente  permaneça. 
Estará  prompto  a  toda  advor.sidade, 
Que  por  guerra  a  tou  reino  se  ollereça, 
Com  gente,  armas,  e  náos... 
CAM.,  Lus.,  caut.  7,  est.  tio. 

—  Todo   a<iuelle    dia;  aquelle    dia    in- 


teiro. —  « E  caminhando  todo  aquelle 
dia,  fomos  aquella  noyte  dormir  a  iuima 
alde.i  de  Cliristrios  Arábios,  e  .Jacobitas. 
E  ao  outro  dia  caminlianilo  per  terra 
habitada  <ie  niuytas  aldeãs  desta  comar- 
ca, fomos  dormir  a  huma  cai^vancara  que 
estava  herma,  o  desabitada.»  Tenreiro, 
Itinerário,  cap.  64. 

—  Morramos  todos  ;    deixemos  de  vi- 
ver, de  existir. 

Tu  !  — nnnca. 
A  ti  é  que  ollcs  buscam. 

So  com  cllca !... 
Nào  to  obedeço.  — Amigos,  companhciroB, 
Defendamos  Catão;  morramos  todnn... 
Soldados,  cu  governo  ainda  em  Utica. 

OAHRKTT,  CATÃO,  aCt.    4,  80.    3. 


E  mulheres. 
Que  não  podemos  defender  a  pátria, 
A  liberdade. 

Mas  queremos  todo» 
Morrer  por  seu  magnânimo  caudilho. 
Queremos  :  — •  por  Catão  !  —  morrer  I 
iDiDEM,  act.  5,  SC.  6. 

—  Todo  o  necessário;  tudo  o  preciso. — 
«Chegado  dom  Pedro  a  Portugal,  el  Rei 
dom  Emanuel  mandou  fazer  prestes  toda- 
las  cousas  que  cumjjriam  pêra  dom  Hen- 
rique filho  dcl  Rei  doui  Afonso  de  Maui- 
congo,  e  dom  Pedro  com  sua  companhia 
irem  a  Roma,  maudandolhes  dar  para  o 
caminho  todo  o  que  lhes  foi  necessário, 
asâi  de  dinheiro  como  em  caualgaduras, 
e  gente  que  com  elles  mandou.»  Damião 
de  Góes,  Chrouica  de  D.  Manoel,  part. 
3,  cap.  39. 

—  O  trabalho  de  todas  estas  machi- 
nas.  —  «E  estas  saõ  as  verdadeiras  unhas 
rediculas:  c  a  graça  melhor  do  todas  he, 
que  o  trabalho  de  todas  estas  maquinas, 
que  consiste  em  cathequizar,  e  bautizar 
os  Neophitoa,  fica  todo  ás  costas  dos  Pa- 
dres da  Companhia  do  S.  Roque,  sem 
terem  por  isso  próes,  nem  procalços  mais, 
que  03  do  muito  que  merecem  para  com 
Deos,  que  lho  pagará  no  outro  mundo,  i 
Arte  de  furtar,  cap.  G6. 

—  Em  i>iiga  de  todos  estes  serviços ; 
em  reumuoraçào  de  todos  elles.  —  «Em 
paga  de  todos  estes  serviços  me  pren- 
doo  Nuno  da  Cunha  em  Cananor  pela 
maneira  que  se  sabe,  mandando  lançar 
pregões  infames  contra  mim.»  Diogo  de 
Couto,  Década  4,  liv.  6,  cap.  7. 

—  Toma-se  também  isoladamente  sem 
ter  claro  o  substantivo  a  que  so  refira. 
—  «E  scndo-lhe  proposta  a  humilde  peti- 
ção dos  Suevos,  e  alegadas  as  rezoens 
que  avia  j)ara  se  conceder,  foy  tal  a  effi- 
cacia  das  palavras  com  que  Idacio  Bispo 
de  Lamego  propoz  a  embaixada,  em  no- 
me tio  todos,  o  o  abalo  que  fez  no  animo 
delRev  a  presença  de  tantos  Prelados  ve- 
neráveis, que  prostrados  a  seus  pés  lhe 
pediaõ  misericórdia,  p  Monarchia  Lusita- 
na, liv.  G,  cap.  7. 


Mas  com  intento  honrado,  c  virtuoso 
Na.s  inãnn  do  FrcitJiu  lodo»  promet«írio 
I)í>  o  aromj>anliar  na  leda  ou  triste  sortc 
Inda  '[ue  passem  todo»  polia  morte. 

roBTr.  BEAL,  NACFKAaiO  DK  BKPLXYKDA,  CHOt.  13. 

Inchando  a»  bocca*  cnchom  do  gros»c-ira« 
Dortcoiic<!rtada'»  V07.c»  o  ar  sereno, 
Se  a  cjisfi  algum  rumor  bc  mouo,  ou  passa 
lunto  delias  a  rti's.  que  o  prado  busca, 
O  ronco  canto  doixão  saltão  lod/u 
No  lainoso,  rouolto,  turno  charco, 
Empiuando  cos  pés  as  aguas,  fogem, 
Sí  pretendendo  cm  tal  medo  saluarse. 
IBIDEM,  cant.  15. 

Acode  o  Sousa  alli,  deixa  o  perigo 
Geral  em  todo»,  »6  esto  rccca, 
Por  huma  parte  vo  pcrdersc  a  ponto, 
Por  outra  vo  morrer  a  por  quem  viue, 
Entre  eiítes  dous  extremos  pede  o  trlstís 
A  Deos  fauor,  c  em  tal  pressa  remédio : 
Manda  que  o  batel  grande  ao  mar  va  logo 
Que  esperanças  da  nuo  ja  as  tom  pordidM. 
IBIDEM,  cant.  7. 

—  «Ao  qual  requerimento  respondeo 
ElRoy,  que  hum,  o  hum  lhe  parecia  qae 
aqucUes  Portuguezes  per  bom  modo  se 
queriam  todos  acolher:  peró  como  Meli- 
que  Gupi  era  homem  mui  acceito  a  El- 
Rey, e  desejava  nossa  amizade  por  lhe 
importar  á  navegação  de  suas  náos,  tan- 
to tral)alhou  n'isso,  que  aprouve  a  ElRoy 
dar  licença  a  Fr.  António  do  Loureiro 
por  ser  Religioso.»  Barros,  Década  2, 
liv.  7,  cap.  3.  —  (Dada  e.sta  ordem  como 
haviam  de  aahir,  quando  veio  pela  ma- 
nhã, todos  estavam  tào  prestes,  qtie  era 
breve  tomaram  terra  sem  liaver  quem 
lha  defendesse,  p  a-que  a  tenção  dos  Mou- 
ros foi  esperar  o  Ímpeto  dos  nossos  de- 
trás dos  muros,  e  nào  fora  delles,  por 
duas  causas.»  Ibidem,  cap.  9.  —  «Geral- 
mente os  Mouros  chamào  a  este  mar,  Ba- 
bar Corzum,  que  quer  dizer  mar  cerrado, 
pêro  que  este  nome  dão  elles  mães  pro- 
priamente ao  mar  Caspio,  por  nào  ter 
entrada  alguma :  e  outros  lhe  chamào 
mar  de  Mecha,  por  a  casa  que  ali  tem 
da  abominação  do  seu  ^laiiamed,  e  todos 
se  espantão  de  lhe  chamarmi>s  mar  Roxo.» 
Ibidem,  liv.  8,  cap.  1.  —  «O  qual  juizo 
se  havia  de  fazer  em  Meca,  e  Alie  se  ha- 
via de  ir  pêra  a  Cidade  Cufá,  donde  ello 
viera  aquelle  caso,  a  qual  he  nas  corren- 
tes do  Eufrates  abaixo  de  Bapadad,  e 
Mauhya  fieasse  onde  catava,  por  todos 
estarem  apartados  assi  os  juizes,  como  os 
contendores.»  Ibidem,  cap.  6.  —  «Tenieo 
a  disposição  que  via,  jvira  algum  motim, 
a  que  atalhava,  encarecendo  o  miserável 
estado  dos  nossos,  e  a  infallibilidade  que 
tinha  da  victoria.  Fez  pagas  aos  solda- 
dos, e  mandou  pregar  pelos  Cacizea  a 
certeza  da  gloria  para  todos  os  que  mor- 
ressem nesta  guerra,  e  as  mercês  com 
que  o  Soltão  ha\-ia  de  remunerar  aos  li- 
bertadores da  Pátria,  não  ?e  esquecendo 
do  temporal  á  volta  do  Diviío.»  Jacin- 
tho  Freire  de  Andrade,  Viaa  de  D.  Joào 
de  Castro,  liv.  2. 


TODO 


TODO 


TODO 


747 


Aqui  n'hnma  profunda  cova  escara 

Oâ  inquietos  Tentos  encerrados 

Júpiter  pòz,  e  com  bem  forte  e  dura 

Prisào,  a  todos  tem  presos  c  atados : 

E  para  que  inda  possa  mais  segura 

Mente  alli  seus  furores  ser  domados, 

Lhe  pôz  também  hum  grande  monte  em  cima, 

E  hum  Eei  lhes  deu  que  os  mande  e  os  reprima. 

FBA>XI3C0  d'aKDEADB,    PRIUEIBO  CXBCO  DE  DIU, 

eant.  4,  est.  10. 


—  «ííaõ  sey  Senhor  se  vo3  vem  bem 
provardes  tantas  vezes  vossa  fortuna  com 
03  Portuguezes  :  porque  pela  experiência 
que  todos  temos  delles,  bem  se  sabe,  que 
ninguém  pôde  levar  delles  a  melhor,  s 
Diogo  de  Couto,  Década  6,  liv.  9,  cap. 
5.  —  «O  mesmo  fez  el  Rey  de  Ormus,  e 
os  irmãos  da  Misericórdia,  e  todos  os 
Portugueses,  e  o  Capitam  dos  Gentios. 
Mas  de  todos  o  que  mais  se  auentejou, 
foi  o  irmào  de  S.  Fraxcisco  António  Dal- 
caceua,  e  soa  molher,  e  familia. »  Frei 
Gaspar  de  S.  Bernardino,  Itinerário  da 
índia,  cap.  11.  —  tE  chegando  ao  cha- 
fariz nos  chamou  que  nos  chegássemos 
para  elle,  o  que  nós  logo  fizemos  com 
nossas  cortesias  devidas,  de  que  elle  fez 
pouco  caso  por  nos  ver  pobres,  elle  la- 
çando logo  na  agoa  as  espigas  que  tinha 
na  mão,  nos  disse  que  puséssemos  as 
mãos  nellas,  e  nós  o  fizemos  logo  todos 
por  nos  parecer  que  era  assi  necessário 
para  a  paz  e  cõformidade  que  pretendia- 
mos  ter  cõ  elles.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  82.  —  «Aly  desem- 
barcamos 08  nove  que  ficamos  vivos, 
todos  presos  em  huma  corrente,  e  cõ- 
nosco  também  o  Bisix>  Abexim,  o  qual 
hia  tão  ferido  que  ao  outro  dia  falle- 
eeo  com  mostras  de  muvto  bom  Chris- 
tão,  o  que  a  todos  nos  animou,  e  nos  con- 
solou muyto.»  Ibidem,  cap.  5.  —  €Va- 
mos  á  segunda  couza.  Que  presidio  po- 
remos nas  fronteiras?  Vinte  mil  Portu- 
guezes, diz  o  primeiro  voto^  e  he  o  de 
todos.  E  de  donde  havemos  nós  de  tirar 
vinte  mil  Portuguezes?  Vem  cá  máo  ho- 
mem, não  vés  que  se  fizermos  isso  duas, 
ou  três  vezea,  que  ficará  o  Reyno  despo- 
voado, e  ermo?»  Arte  de  furtar,  capitu- 
lo 29. 

—  Todos  ^ralmente;  todos  em  geral. 
—  «O  que  a  todos  geralmente  pareceo 
muyto  bem,  assi  pelo  concerto  grande  da 
musica  com  que  foy  feito,  como  pela 
muyta  devação  que  causou  em  toda  a 
gente,  com  que  em  toda  a  igreja  se  der- 
ramarão mnytas  lagrimas.»  Fernão  Men- 
des Pinto,  Peregrinações,  cap.  69. 

—  Todos  entre  si  faziam  guerra  cruel; 
todos  se  guerreavam  cruelmente  uns  aos 
outros.  —  tFaziaõ  estes  todos  entre  si 
taõ  cruel  guerra,  que  elles  per  si  se  con- 
sumirão; e  por  isso  sendo  cativo  o  Rev 
Chico  pelos  Castelhanos  duas  vezes,  os 
Reys  Catholicos  o  tornarão  logo  a  pôr  em 
sua  liberdade,  para  que  tornasse  a  sus- 
tentar o  seu  bando,   o  que  foi  de  tanto  | 


effeito,  que  morto  seu  pay  pelo  tio,  elle 
entrou  em  Granada.»  Severim  de  Faria, 
Noticias  de  Portugal,  Discurso  2.  capi- 
tulo 9. 

—  Todos  os  annos;  annualmente,  cada 
anno.  —  «Disto  pode  servir  de  exemplo 
a  Cidade  de  Milaõ,  que  ue  das  mais  po- 
pulosas de  Europa;  e  huma  das  causas 
de  seu  crescimento  he  dotarem-se  todos 
os  ânuos  nella  mais  de  800.  Órfãs.» 
Ibidem,  Disc.  1,  cap.  6. 

—  Todo  o  necessário;  tudo  o  que  é 
mister.  —  «Para  o  qual  el  Rey  mandou 
dom  Fernando  de  Meneses,  filho  mavor, 
e  herdeiro  do  Marquez  de  Villa  Real, 
pessoa  de  muyto  merecimento,  que  de- 
pois foy  Marquez.  E  depois  de  el  Rey 
com  elle  estar,  e  tomar  coacrusão  do  que 
ania  de  fazer,  partio  pêra  Cevta  com 
cincoenta  velas,  que  no  Algar  ue  com 
muyta  breuidade  forào  armadas,  e  apa- 
relhadas de  todo  o  necessário,  e  nellas 
muyta,  e  boa  gente,  e  assi  chegou  a  Gi- 
braltar.» Garcia  de  Rezende,  Chronica  de 
D.  João  II,  cap.  111. 

—  Jazerem  todos  mortos  ;  estarem  todos 
sem  vida.  - —  «António  de  Faria  com  to- 
dos os  mais  que  com  elle  estavão,  correo 
logo  á  proa  com  muyta  pressa,  e  quando 
vio  os  moços  jazer  todos  mortos  huns  so- 
bre os  outros,  ficou  tào  cortado,  que  não 
podendo  ter  as  lagrimas,  pondo  os  olhos 
no  Ceo.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregri- 
nações, cap.  51. 

—  Dar  á  alma  todo  o  contentamento; 
dar-lhe  completa  satisfação,  inteiro  gosto 
e  prazer.  —  «Á  que  prestào  estas  ausên- 
cias arrufadas?  faltào-nos  ellas  inevitá- 
veis? Vem  dar  á  minha  alma  todo  o  con- 
tentamento, nesse  curto  praso  de  nos  ver- 
mos sem  constrangimento.  Escréves-me 
que  me  desejas  vêr  para  me  pedir  per- 
dão; vem,  vem,  quando  para  mais  não 
fora,  que  para  me  dizer  injúrias.  Vem, 
que  te  requeiro  que  venhas  :  porque  que- 
ro antes  vêr-te  esses  olhos  agastados,  que 
privar-me  de  vê-los.»  Francisco  Manoel 
do  Nascimento,  Successos  de  madame  de 
Seneterre. 

—  Todos  encommendassem  a  alma  de 
alguém  a  Deus;  todos  orassem  a  Deus 
por  elle.  —  «Veyo  o  primeiro  dia  de  fes- 
ta depois  da  chegada  do  P.  Francisco, 
começou  de  pregar  ao  pouo,  e  estando  no 
meyo  do  Sermam  disse  subitamente  que 
todos  encommendassem  a  Deos  a  alma 
de  loam  Galuam,  porque  era  fallecido.» 
Lucena,  Vida  de  S.  Francisco  Xavier, 
liv.  4.  cap.  5. 

—  Todos  os  soccorros;  todos  os  auxi- 
lios.  —  iXa  parte  mais  ellevada  se  sittua 
a  sua  nobilissima  fortalesa ;  aonde  ser- 
vem de  vigias  os  sentidos;  de  atalavas 
os  olhos;  de  bandeiras  os  cabellos;  de 
porta  a  boca:  e  de  soldados  do  corpo  da 
guarda,  os  dentes;  por  onde  se  introdu- 
sem  todos  os  soccon-os,  e  viveres,  como 
preciso  alimento  daquella  vivente  Cida- 


de.» Braz  Luiz  d  Abreu,  Portugal  medi- 
co, pag.  5. 

—  Todos  mui  agastados;  todos  mui 
afflictos,  e  agoniados.  —  «Partidos  esteg 
quatro  nauios  de  Lisboa  em  que  hiam 
afora  pessoas  nobres  duzentos  besteiros, 
e  espingardeiros,  chegaram  com  bom 
tempo  a  Çafim,  onde  Gonçalo  Mendez 
achou  Diogo  Dazambuja,  e  Garcia  de 
Mello,  e  com  elles  Diogo  de  Miranda,  e 
Emanuel  da  Sylveira  netos  de  Diogo  Da- 
zambuja, e  Francisco  Dalmeida,  e  Fran- 
cisco Dabreu  seus  sobrinhos,  dom  Garcia 
de  Sá,  e  Lionel  Dabreu,  Simaõ  da  Syl- 
va,  e  George  da  Maia,  todos  mui  agasta- 
dos pela  pouca  verdade  que  lhes  os  mou- 
ros tratauam. »  Damião  de  Góes,  Chro- 
nica de  D.  Manoel,  part.  2,  cap.  18. 

—  Todos  foram  mui  alegres ;  todos  ca- 
minharam com  muita  satisfação.  —  ilsto 
assentado  Afonso  dalbuquerque  se  foi  de 
noite  a  terra  ver  com  os  capitães  que  la 
estauam,  aos  quaes  dixe  em  conselho, 
que  sua  determinaçam  era  matar  Raix 
hamed  do  que  todos  foram  mui  alegres, 
assentando  logo  o  modo  que  se  nisso  auia 
de  ter,  e  que  fossem  armados  secreta- 
mente 03  que  o  auiaõ  de  matar,  porque 
se  arreceaaam  que  fezesse  o  mesmo  Raix 
hamed  com  sua  valia,  como  de  feito  fez.» 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  3,  cap.  68. 

-■ —  Toda  esta  noite ;  a  noite  completa, 
inteira.  —  «A  donzella,  a  que  ficara  mais 
que  sentir,  e  menos  de  que  se  contentar, 
esta  maginação,  e  vêr  o  esquecimento  do 
cavalleiro,  a  fez  estar  toda  a  noite  acor- 
dada, descontente  de  si  mesma,  e  arre- 
pendida de  seu  erro;  cousa  que  pouco 
lembra  antes  de  caírem  n'elle.»  Francis- 
co de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  107.  —  aEl  Rey  dizem  que  olhan- 
do para  sua  mãe,  lhe  respondeu:  Certo 
senhora,  que  toda  esta  noyte  sonhey  que 
me  via  preso  diante  de  hum  Juis  muyto 
irado,  o  qual  me  dizia,  pondo  três  vezes 
a  mão  no  seu  rosto,  como  que  me  amea- 
çava.» Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  142. 

—  Todos  os  doutores;  todos  os  homens 
graduados  em  alguma  universidade.  — 
«Finalmente  ao  que  diz  da  prescripçaõ, 
e  posse,  respondemos,  que  a  naõ  pude 
haver  em  Reynos ;  e  he  de  todos  os  dou- 
tores, que  não  se  pode  dar  em  nenhuma 
matéria  sem  boa  fé,  titulo,  e  consenti- 
mento das  partes  tácito,  ou  expresso.» 
Arte  de  furtar,  cap.  16. 

—  Todo  o  maldizer;  toda  a  maledicên- 
cia que  prejudica.  —  «Quem  he  solto  de 
lingoa  he  de  o  ser  da  consciência ;  todo 
o  maldizer  que  prejudica  se  ha  devtar  da 
memoria  como  peçonha,  que  a  quem  nam 
tendes  boa  vontade  hum  mosquito  vos  pa- 
rece hum  alifante,  e  hum  arguevro  de 
mal  seu  huma  trave.»  D.  Joanna  da  Ga- 
ma, Ditos  da  freira,  pag.  33. 

—  Todos  vivos;  todos  com  vida. 


748 


TODO 


TODO 


TODO 


Das  lj!irc;ift  quo  iirrombou  ii  iirtilluiría 
Al^uin  a  Hiilfíada  oiula  agora  iiiollia, 
iliM  como  outao  o  mar  ao  mar  corria 
Kaz  com  r|uc  a  barca  Hàa  04  nio  rocolha. 
Manda  logo  o  Silveira  liuma  almadia, 
Pois  quo  não  ha  ninguiMn  ja  quo  111 'o  tolha, 
E  uuila  doui  quii  doutro  OA  rccollicsacm 
Para  que  vivos  toilo«  \h'06  troujGMom. 

r.  n'jLHi)ukae,  i-uiuKiuo  cebco  de  diu,  cant.  18, 
eat.  47. 


2.)  TODO,  «.  wt. —  Um  todo;  qualquer 
cousa  com  todaa  aa  suaa  partes  integran- 
tes. 

—  O  todo;  a  maior  parte,  ou  o  maior 
bumoro  do  partes  o  membros.  Vid.  Tudo. 


Qu'adoroin  como  nó.s,  o  incousos  quoiuicm 
Ao  Sompitonio  Auctor  que  rege  o  todo... 

J.   A.    Dn  MACEDO,   A  NATUUEZ.V,  Cailt.    1. 

—  Ao  todo  ;  contendo  tudo. 

—  Tou\a-so    taniboai  advorbialmente 
Enxovalhar-sc  todo. 


Noutra  parto  vio  outro,  também  desta 
Catholica,  e  sagrada  companhia: 
Aguardando  com  ledo  rojto  a  morto, 
(^uo  ja  por  Duoj  lhe  (ístaua  rouelada. 
De-!  Mouros  arrastando  o  corpo  louào 
Oheyo  todo  de  sprito  almo,  e  diuino 
Num  profundo,  c  veloz  rio  SíipultíLo, 
Os  membros  ([uebrautados,  o  desfeitos. 

C.   UEAL,  NAUrUAOIO  DE  SEPÚLVEDA,  Cailt.     10. 

Nio  quero  mais  comparar-vos ; 
^^stos  já  pião  do  filhos  ? 
assim  este  em  seus  cadilhos 
ó  todo  pião  de  parvos. 

ANTÓNIO  fRESTES,  AUT03,  pag.  119. 

Aquello  boi  mo  apanhou 
o  todo  me  cnsovalhou  ; 
estou  da  cabeça  aberto. 
IBIDEM,  pag.  199. 

Por  oudo  iroraos,  senhora  ? 
Por  mais  perto  :  mou  marido 
todo  é  parola. 
iBiDEji,  pag.  417. 

Que  a  terra  é  todo  viço, 
não  ha  mais  ouro  mociço ; 
é  ondo  diz  a  cantiga 
111  de  Traz  dos  Montes 
uascem  meus  amores. 
IBIDEM,  pag.  303. 

—  (Zela,  o  nau  perde  a  paz ;  dá,  e 
naõ  perde  o  dominio;  castiga,  o  naò  per- 
de o  amor.  Todo  lie  olhos  para  coiilieccr, 
todo  màoâ  para  obrar  :  aeuhum  lugar  o 
cinge,  e  com  todos  os  lugares  se  pene- 
tra: nenhuma  duração  o  mede,  o  todas 
as  duraçocus  possuo  em  bum  s^')  iudivi- 
sivei  sem  principio,  sem  tim,  sem  suc- 
cessaõ,  ou  nuilum^a.»  Padre  Manoel 
Bei'nardes,  Exercicios  espirituaes,  pag. 
53.  —  «Marcial  o.-ít;l  todo  choyo  de  se- 
melhantes exemplos,  porem    he    necessá- 


rio que  o  Autor  faça  rcHexilo,  em  que  ho- 
meiítu  por  zombaria,  c  para  se  critica- 
rem íi-i  bayxezas  dos  pretendentes,  ho 
dava  em  Roma  o  titulo  de  liey  áquolie.i 
a  (juem  os  me.smos  pretendentes  faziito  a 
corte.»  Cavalleiro  d'01iveira.  Cartas,  liv. 
1,  n.»  17. 

No  meditar  profundo  embevecido, 
O  guerreiro,  que  aguarda  ha  muito  a  hora 
í.enfa  da  noite,  nào  deu  fc  da  névoa 
Que  húmida  todo  em  derredor  o  fecha. 
UAuBKTr,  CAMÕES,  caut.  9,  cap.  12. 

—  Loc.   AUV. :    De  todo  ;    totalmente. 

—  «Com  esta  deterniinaçào  armados  e 
postos  a  eavallo,  mandaram  abrir  a  por- 
ta, o  lançar  uma  ponte,  quo  atravessava 
a  cava  porá  sair  ao  campo :  mas  o  caval- 
leiro do  Tigre,  nào  querendo  esperar  fi')- 
ra,  ainda  a  ponte  nrio  foi  de  todo  lançada, 
quando  se  lançou  dentro,  o  achou  já  no 
pateo  os  quatro,  todo»  a  eavallo,  que,  que- 
riam sair.»  Francisco  de  Jloraes,  Palmei- 
rim d'Inglaterra,  cap.  10.').  —  «Que  a 
culpa  de  cUe  alli  vir  fora  dos.se  nie.smo 
1'ulate  Can  n.ão  escrever  ao  llidalcão  o 
que  tinha  feito,  o  liavia  mister  pêra  aca- 
bar de  levar  de  todo  aquella  empreza  na 
mão.»  Barros,  Década  2,  liv.  6,  cap.  9. 

—  «Do  moio  que  para  concluir  Ja  o  que 
destas  estalagens  quiz  dizer  assi  em  so- 
ma, do  todo  o  dinheyro  que  se  gasta 
nestes  banquetes  se  tira  a  quatro  por  cen- 
to, de  quo  o  Xipatom,  dá  os  dons,  c  os 
que  dào  os  bantiuetes  os  outros  dous. » 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap. 
106.  —  «Passado  assim  aquelle  pequeno 
espaço,  em  que  a  noyte  se  cerrou  de  to- 
do :  que  podia  ser  de  pouco  mais  de  mea 
hora,  mãdou  o  Padre  por  hum  menino 
chamar  o  piloto,  e  lhe  disse,  que  louvas- 
se a  Deos  nosso  Senhor,  cuj;is  eraõ  aquel- 
las  obi'as,  o  màdasse  logo  fazer  a  nao 
prestes,  porque  aquelle  contraste  nào  du- 
raria muyto.»  Ibidem,  cap.  214. 

Dos  cruéis  é  a  crueza, 

e  dos  brutos 

delictos  desassolutos ; 

dos  magnânimos  franqueza, 

dos  de  todo  o  mal  corruptos. 

Nào  vos  hão  do  ouvir  agora. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  97. 

—  «E  para  que  naõ  tiquem  de  todo  em 
esquecimento,  apontaremos  aqui  algum:is 
brevemente.»  8evcrim  cie  Faria,  Noticias 
de  Portugal,  Disc.  2,  cap.  8.  —  «Porém 
acudirão  a  esta  obrigação  alguns  parti- 
culares, movidos  do  zelo  do  bem  com- 
mum,  por  naõ  se  acabar  a  memoria  da 
Nobreza  do  todo.»  Ibidem,  Disc.  3,  ca- 
pitulo 18. 


A  gente  do  Sultão,  o  a  que  foi  dada 
Ao  mundo,  IA  na  terra  do  Ponente, 
Tanto  que  o  !^1  a  nova  luz  dourada 
Veio  mostrando  hl  polo  Oriento, 


Vendo  do  Ío/U)  j&  dosam  purada 

A  fortaleza,  deiita  iiiiiga  g"-nto, 

Sc  t/irnào  a  embarcar,  c  o  mar  navcgão 

K  c/im  prospero  tempo  a  Diu  chegio. 

r.    D^ANDIUDB,   PRIMEIRO  CERCO  DE  DIC,  Cint.  5, 

est.  Ct;. 


Vendo  o  Silveira  o  grilo  fervor  que  havia 
Km  quem  he  natural  miulo  e  fra<|ac<a, 
Kspantado,  mus  ledo,  jwrquc  via 
.Mudada  em  seu  favor  a  natureza, 
Lhe  disse,  que  pois  elU  umí  o  i|ueria 
Que  file  os  nào  soltar.'!,  t^Miha  Cí:rtcza, 
(^'onteute  cila  com  tal  resposta  fica 
E  de  todo»!',  applaca  c  pacifica. 
uiiDEM,  cant.  18,  c«t.  90 


Por<'-m  nio  sei  se  fora  mais  ditoiu 
Km  se  render  de  todo  ao  mar  e  ao  vento 
Ficando  assaz  contente  e  gloriosa. 
K  CO 'o  ganho  dhum  tão  h^-roico  intento, 
Que  a[)Oz  via  tào  larga  c  trabalhosa 
Chegar  ao  fim  ao  porto  a  salvamento 
Ondo  eu  sei  que  ha  Ac  ter  (e  não  me  cn^no) 
Outro  naufrágio  már  c  de  mór  dano. 
IBIDEM,  cant.  20,  est.  3. 


Sendo  esta  noite  à  Lua  cnt£o  negada, 
Por  interposii,ão  da  opaca  terra, 
A  partecipaçào  da  luz  usada 
Que  o  Sol  de  natureza  em  si  encerra, 
De  todo  SC  mostrou  quasi  eclipsada 
Com  que  mais  se  escurece  a  noite  c  cerra, 
E  quiçfl  que  este  inAo  c  u3:ido  agouro 
A  partida  appressar  fez  maia  ao  Mouro. 
IBIDEM,  est.  87. 


—  «Seja  esta  a  primeira  tezoura,  que 
aguentará  muitos  furtos,  ainda  que  naS 
diminua  muito  os  ladroens;  porque  os 
que  o  saõ  por  natureza :  Naturam  expel- 
lunt  furca'.  Mas  para  extinguir  estes, 
ou  nioderallos  de  todo,  he  de  grande  im- 
portância a  segunda  tezoura,  que  so  cha- 
ma Milicid ;  de  que  já  digo  grandes  prés- 
timos.» Arte  de  furtar,  cap.  67.  —  «Da- 
uid  vendo  o  pouo  adigido,  e  quo  nSo  ti- 
nha que  allegar  )íor  cUo  senão  males,  al- 
legalhe  cõ  ò  cõcerto  que  tinha  feito  cí5  o 
pouo  de  Israel,  que  nunca  cm  nenhum 
tempo  os  auia  de  destruir  de  todo.  E  pa- 
receme  que  allude  a  hum  lugar  do  Leui- 
tieo,  no  qual  antre  outras  cousas  que  diz 
deste  concerto  de  Deos  diz  estas  pala- 
vras.» Paiva  d'Andrade,  Sormões,  part. 
1,  pag.  223. 

Hoje  me  deixa  a  frauta  ;  hoje  discttrde 
De  todo  eurouqueceo  :  que  sortilégio 
Di/.ei-me,  S  Musa,  lhe  embaraça  agora 
A  doce  melodia  dos  seus  Ocos  ? 

ABBADE  DC  JAZEKTK,  POESIAS,  tOm.  2,  pSg.    14. 

De  sorte  que  em  qu.alquer  pcitD, 
Sem  esperançíi,  ou  favor 
Do  seu  dczejado  objeito, 
Naò  s«5  falta  Amor  perfeito; 
Mas  falta  do  todo  Amor. 

EBAKCISCO  BODBiaLES  LOBO,  PRIMAVERA. 


—  iVendo  que  era  contra  a  critica  de 
hum  Soneto,  vi  que  u2o  podia  ser  contr» 


TODO 


TODO 


TODO 


749 


mira,  e  comecey  a  deácançav ;  e  veado 
qiij  o  S.ineto  era  de  V.  M.  de.scaucey  do 
todo.»  Cavalleiro  d'01iveira,  Cartas,  liv. 
1,  n.°  7. 

Por  largo  csjiíiço  o  (loisa  o  Nigromante 
Kepousar  era  doaeauíjo,  até  que  ao  vê-lo 
Ue  todo  do  desmaio  recobrado, 
Com  mofa,  c  compaixão  asâim  lho  falia: 

—  Não  cuidei,  que  tão  pouco  esforço  tinhas, 
Preguiçoso  Deào,  imbellc,  e  fraco: 

Que  uma  sentença  contra  ti  vibrada 
Te  tizesse  perder  de  todo  o  aleuto : 
Mas  Í8  Cónego  em  fim,  e  tanto  basta ! 

A.    D.    DA    CRUZ,   HYSSOPE,    Cant.     8. 

—  «Já  de  primeiro  a  distancia  em  que 
te  visse  de  mim ;  logo  alguns  assomos  de 
devoção;  tambeui  o  receio  de  estragar  de 
todo  a  minha  saúdo  com  tanta  falta  de 
dormir,  tanto  desassocêgo;  e  a  pouca  es- 
perança de  que  voltes :  a  frieza  d'e8se 
teu  amor,  e  da  tua  de^5pedida;  o  parti- 
res de  Portugal  com  tão  ruins  pretex- 
tos; e  outras  mil  razões  tão  inúteis,  e 
que  bem  valem  as  dittas,  parecião  pro- 
metter-me  seguridade  de  soccôrro,  em 
caso  de  precisálo.»  Francisco  Manoel  do 
Nascimento,  Successos  de  madame  de 
Seneterre.  —  «Com  que  ficará  de  todo 
perdendo-se  a  missão,  e  o  fructo  que 
d'ella  se  espera.  E  com  a  justificação  da 
residência  a  que  nos  ofterecemos  (que  ora 
o  ponto  em  que  reparava  o  conselho)  fica 
o  negocio  sem  inconveniente  algum.» 
Padre    António    Vieira,    Cartas,    u.°   tj. 

—  «Uma  palavrinha  aqui  somente:  Li- 
cenças antes  da  dedicatória  e  prologo  í 
Sim  senhores.  Então  que  tem?  queriam- 
naa  no  rabo  do  livro,  como  fazem  os  fran- 
cezes?  Não  estamos  de  todo  á  frauceza; 
nem  Cicero  escrevia  sempre  more  attico, 
isto  é,  á  grega.»  Bispo  do  tirão  Pará, 
Memorias,  publicadas  por  Gamillo  Cas- 
tello  Branco,  pag.  47. 

—  Adágios  e  provérbios  : 

—  Quem  faz  bem  ao  astroSo,  não  per- 
de parte,  senão  todo. 

—  Quem  segue  alguma  cousa,  ou  al- 
cança parte,  ou  toda. 

—  Toda  a  cousa  tem  logar,  a  quem 
abençoar. 

—  Nem  de  todo  o  pau  se  faz  mercúrio. 

—  Toda  a  terra  ó  uma,  e  a  gente 
quasi  quasi. 

—  Todos  03  caminhos  vão  ter  á  ponte, 
quando  o  rio  vae  de  monte  a  monte. 

—  Estorninhos  e  pardaes,  todos  somos 
eguaes. 

TODOLOS,  por  Todos  os.  — Todolos  ho- 
mens.—  «Outro  sy  manda  ElKey  a  todo- 
los Taballiaães  e  escripvàaes,  que  daqui 
em  diante  em  todalas  escripturas,  que  fa- 
zerem, ponham  Era  do  Nascimento  de 
Nosso  Senhor  Jesus  Christo  de  mil  e 
quatrocentos  e  vinte  e  dous  ânuos,  sob 
pena  de  privaçom  dos  oíBcios.»  Ord. 
Affons.,  liv.  4,  tit.  1,  §  58.  —  «E  man- 
damos a  todolos  Corregedores,  Juizes,  e 


Justiças  que  assy  o  julguem,  e  d'outra 
guisa  nom,  posto  que  esses  contrautos, 
obrigações,  prazos,  foros,  e  arrendamen- 
tos sejam  feitos  a  nós,  ou  aa  Raynha  mi- 
nha molher,  e  a  nossos  filhos,  e  Irmãos, 
ou  a  Igrejas,  e  Moesteiros.»  Ibidem,  tit. 
2,  §  14.  —  «A  qual  Ley  vista  per  nós, 
declarando  em  ella  dizemos,  que  per  Di- 
reito, assy  Canónico,  como  Civil,  he  lici- 
ta, e  permissa  em  alguns  casos  a  usura, 
a  saber;  se  fosse  por  algum  promettido 
algo  em  casamento  com  alguma  molher, 
e  lhe  nom  fosse  logo  pago  aquello,  que 
lhe  assy  fosse  promettido,  seendo-lhe 
apenhada  por  ello  alguma  cousa,  em 
tal  guisa  que  o  que  casasse  podesse  aver 
todolos  fruitos,  e  novos  daquella  cousa 
apenhada,  atee  lhe  seer  compridamente 
pago  todo  o  principal.»  Ibidem,  tit.  19, 
§  2.  —  «E  se  esses  Juizes,  ou  cada 
hum  delles  ouverem  per  certa  enforma- 
çom,  que  todolos  ditos  creedores  som 
presentes  em  esse  lugar,  ou  hi  morado- 
res, façam-nos  citar  j)er  Porteiro,  que 
a  seis  dias  peremptoriamente  venham  pe- 
rante elles  mostrar,  e  allegar  de  seu  di- 
reito sobre  o  dito  preço,  dinheiro,  ou 
quantidade  assi  consinada,  pêra  lhe  seer 
feito  comprimento  de  direito  e  justiça.» 
Ibidem. 

A  benç3,o  de  Deos 
Caiu  na  caldeira 
De  Kuuo  Alvres  Pereira, 
Que  abondo  cresceu 
E  todolo  deu. 

cANc.  POPUL.,  pag.  10. 

—  «E  enr  esto  chegou  Álvaro  Mendes 
por  accorrer  a  seu  filho,  e  remessou  o 
i\Iouro,  e  não  pôde  acertar,  e  aos  brados 
deste  Mouro,  que  eram  grandes,  e  de 
grande  sentimento  volverem  todolos  ou- 
tros Mouros,  que  hiaoi  juntos  com  animo 
forte,  e  ardido,  no  que  mostraram  sua 
bondade,  começando  huma  nova  peleja 
com  os  nossos,  onde  de  huma  parte,  e  da 
outra  os  golpes  não  hião  em  vão.»  Inédi- 
tos de  historia  portugueza,  tom.  2,  pag. 
i3õ8.  —  «E  pêra  evitar  estes  inconvenien- 
tes que  alguma  ora  ha :  quando  alguns 
sam  presos  por  graves  negócios,  ou  os 
presos  tem  grandes  adversários  escrevem 
todolos  sinais  dos  presos,  e  fazem  nos  as- 
sinar ao  pee  da  escritura,  pêra  que  assi 
nam  pos.sam  usar  dalguma  das  malícias 
sobreditas.»  Tenreii'o,  Itinerário,  cap.  20. 


Porque  por  astrolomia 
Conheço  03  seus  nascimentos, 
í>  pola  tílosomia 
Sei  todolos  pensamentos 
Que  trazem  na  fantesia. 

GIL  VICENTE,  PAKÇA3. 


—  «E  porém  saberá  V.  A.  que  este 
auto  foi  de  tanto  seu  serviço,  que  nunca 
cuidei  que  se  offerecesse  caso  em  que  tão 


bem  empregasse  o  desejo  que  tenho  de  o 
servir,  assi  visinho  da  morte  como  estou : 
porque,  á  primeira  pregação,  os  christãos 
novos  desapparecêrão  e  andavão  morren- 
do de  temor  da  gente,  e  eu  fiz  esta  dili- 
gencia e  logo  ao  sábado  seguinte  segui- 
rão todolos  pregadores  esta  minha  ten- 
ção.» Gil  Vicente,  Obras  varias.  —  «E 
porque  geralmente  todolos  que  navega- 
vam per  fora  da  Ilha,  por  ser  viagem 
mais  segura  ainda  que  comprida,  estavam 
seguros  de  invernar,  como  indo  por  den- 
tro, ao  modo  que  ora  vemos  os  nossos 
navegantes  daqui  pêra  a  índia,  que  quan- 
do partem  tarde,  vam  per  fora  da  Ilha 
de  S.  Lourenço  por  terem  os  tempos 
mais  largos.»  Barros,  Década  2,  liv.  6, 
cap.  1. —  «O  qual  todolos  do  catur  hou- 
veram por  morto,  porque  o  vento  do  pe- 
louro o  sombrou  com  que  cahio,  e  assi 
assinalado  daquella  ousadia  chegou  aos 
navios,  onde  logo  mandou  lançar  hum 
pregão,  que  qualquer  bombardeiro  que  lhe 
quebrasse  aquelle  basalisco,  lhe  dava  cem 
cruzados.»  Ibidem,  cap.  ò. —  «E  sobre 
tudo  todolos  escravos  que  podia  haver  á 
mão,  como  entravam  na  sua  povoação, 
nunca  dalli  sahiam,  os  quaes  logo  mandava 
metter  no  serviço  da  obra  que  fazia,  que 
era  fortalecer-se.»  Ibidem,  cap.  7.  —  «E 
não  somente  em  as  náos,  que  Aífonso  d'Al- 
boquerque  despachou  com  carga  {)era  este 
Reyno,  veio  o  Embaixador  do  Çamorij 
com  grandes  presentes  pêra  ElRey  D. 
Manuel;  mas  ainda  elle  lhe  mandou  ou- 
tros, que  todolos  Príncipes  daquellas  par- 
tes lhe  tinham  enviado.»  Ibidem,  liv.  8, 
cap.  6,  —  «A  qual  peleja  acabada,  em 
que  Cide  Iheabentafuf  fez  feitos  de  taõ 
estremado  caualleiro,  que  pos  espanto  a 
todolos  que  o  vii-ã,  elle  seguio  seu  cami- 
nho pêra  Çafim,  onde  per  consentimento 
de  Nuno  fernandez,  assentou  suas  ten- 
das, e  arraial  pegado  com  os  muros  da 
cidade.»  Damião  de  Góes,  Chronica  de 
D.  Manoel,  part.  3,  cap,  51. —  «Este 
aucto  ordenou  que  se  tizesse  na  Egreja 
de  Sam  Giam  da  cidade  de  Lisboa,  ao 
qual  foram  presentes  todolos  senhores 
que  andauam  na  Corte,  e  muitos  fidal- 
gos, e  caualleiros  dos  quaes  o  que  lhes 
calçou  as  esporas.»  Ibidem,  part.  4,  cap. 
4. — «Pelo  que  vendo  que  ja  tinha  por 
imigos  todolos  daquella  comarca,  se  foi 
caminho  de  Zeiland,  em  busca  de  Lopo 
soarez,  que  quando  o  despachou  se  fícaua 
fazendo  prestes  pêra  naquella  ilha  per 
mandado  dei  Rei  dom  Emanuel,  fazer 
huma  fortaleza.»  Ibidem,  cap.  27. 

—  Todolos  dias,  por  tudus  os  dias.  — 
«Os  Chijs,  que  Atíbnso  d'Alboquerque 
tinha  por  vizinhos,  como  todolos  dias  o 
vinham  visitar,  vendo  sua  determinação 
em  querer  entrar  na  Cidade,  como  ho- 
mens escandalizados  d'ElRey,  otferecê- 
rani-se  a  elle  pêra  sahir  em  terra  em  sua 
companhia,  o  que  lhe  elle  agradeceo,  e  não 
I  acceitou. »  Barros,  Década  2,  liv.  6,  cap. 


750 


TOFO 


TOLD 


TOLD 


4.  —  «Do  manoini  (|iie  hon  scns  flespan- 
tJU),  o  nos  oiitroH  muito  inai«  de  mia  vir- 
tude, e  fe  ((iic  tom  Coui  n(l■^^lO  Senhor,  o 
isto  faz  todolos  dias,  e  [irefca  como  dito 
tenho  a  vos-ia  alteza.»  iJaiiiiito  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  4,  capitu- 
lo 3. 

—  Todolos  rasos,  por  todos  os  casos,  — 
«E  aja  lu^ar  eiu  todolos  casoa  cm  ella 
conthoudos  antro  (]uaaes([uor  pessoaa,  de 
qualquer  estado  e  coudi<;om  que  sejílo, 
posto  que  foHacm  ante  da  feitura,  e  pu- 
blicaçom  delia,  salvo  noâ  casos,  que  jA 
forem  por  senttnira  julpados,  e  determina- 
dos, e  as  partes  ontrejíue^.»  Ord.  Affons., 
liv.  4,  tit.  1,  §  4ii.  —  íMan<iauius,  que 
em  todolos  casos,  em  que  pela  dita  Hor- 
deuaçom  niandilmos  pagar  duzentas  e  cin- 
coenta  libras  por  huma  paguem  daqui  em 
diante  quinhentas  libras  por  huma.i  Ibi- 
dem, §  12. 

—  Todolos  df/mingos,  por  fodoí  os  do- 
mingos.—  (Jontinnadamente  todolos  do- 
mingos, e  dias  sanctos,  e  alguns  de  fazer 
cm  quanto  foi  casado  dana  seraõ  as  da- 
mas, e  galantes,  em  qne  to  los  dançauaò, 
e  bailauam,  e  elles  algumas  vezes.»  Da- 
mião de  Uoes,  Chronica  de  O.  Manoel, 
part.  4,  c.ap.  «4. 

—  Todolos   annos,  por  todos  os  annos. 

—  «O  que  tinha  sabido  daqnellas  partes, 
depois  que  de  lá  vieram,  era  o  que  geral- 
mente audava  todolos  annos  per  boca  de 
Mouros,  que  vinham  Kunies,  o  que  elle 
havia  por  fabula.»  Barros,  Década  2,  liv. 
10,  cap.  2. 

—  Todolos    meses,    por  todos   os  mezes. 

—  «Alem  disto  hum  Emperador  do  Abe- 
xi,  per  nome  iSemeute  de  lacob,  ordenou 
em  louuor,  e  honra  da  mesma  Senhora 
Saneta  Maria  xxxin.  dias  de  guarda, 
pelo  discurso  de  todo  o  anno,  o  em  lem- 
brança da  nascença  de  nosso  Senhor  lesu 
Christo,  ordenou  que  aos  XXV.  dias  de 
todolos  meses  do  anno  t^e  fezesse  festa,  e 
se  guardasse  aquelle  dia.»  Damiào  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3, 
cap.  (51. 

TODOLHOS,  por  Todos,  mudado  o  s 
final  em  1  por  euphonia,  e  hos,  artigo, 
em  os.  Todos  os.  Vid.  Lho. 

TODOPODEROSO,  A,  adj.  Que  podo  tu- 
do, omnipotente. 

—  Substantivamente:  O  Todopodero- 
so ;   Deus. 

TOESA,  s.  /.  (Do  francez  toise).  Medi- 
da franceza  de  seis  pés  de  rei. 

TOFACEO,  ou  TOPHACEO,  A,  adj.  Ter- 
mo de  medicina.  Concernente  ao  tofo. 

—  Concreçtio  tofacea.  Vid.  Tofo. 

—  «li.  m.  Termo  de  mineralogia.  Pe- 
dra  branda  chamada    pelos   naturalistas 

tufo,    ou    ti'f,i. 

—  Vid.  Tophaceo. 

TOFEL,  s.  m.  Instrumento  de  musica, 
como  pandeiro,  ou  adufe. 

TOFO,  ou  TOPHO,  s.  m.  Termo  de  ci- 
rurgia. Deposito  d«  substancia  dura,  co- 


mo OHsca,  qne  bo  fji ma  já  no  interior  doa 
orgiloH,  já  cm  volta  das  articulaçSes. 

—  Vid.  Tufo  ípedia\ 

TOGA,  *.  /.  (Do  latim  toga).  Vestidu- 
ra romana,  talar,  com  mangas;  era  de 
homens,  de  escravo»  e  meretrizes,  que 
não  podiam  usar  da  estola  matronal. 

—  Entro  nós  indica  vestidura  do  ma- 
gistrado. 

IJrcve  a  audiência  foi ;  nio  sobra  o  tempo 
Para  as  saiicta-t  fuiici;'"os  de  iiia^istrudo 
A  militares  róis :  is  armas  cedo 
A  toya  mal  prezada.  — Audicucia  é  fiada. 
oABBtin,  CAM.,  caut.  7,  cap.  H. 

—  Figuradamente  :  A  magistratura. 
TOGADO,  ou  TOGATO,  A,  adj.  (Do  la- 

latiui  toijntns).  Que  traz  toga. 

—  Que  tem  emprego  em  que  é  mister 
usar  de  toga. 

—  tí.  m.   Magistrado. 
TOICINHO,  s.  m.  Vid.  Toucinho. 
TOIÇA,  s.  f.  Vid.  Touca. 

TOISON,  3.  m.  O  tasão  da  ordem  de 
cavallaria  de  Hespanha. 

TOJADILHO,  s.  m.  Vid.  Tejadilho,  me- 
lhor orthographia. 

TOJAL,  s.  m.  Matta  de  tojo. 

—  Possuir  dous  tojaes ;  possuir  quaei 
nada,  cousa  de  pouco  valor,  de  pouca 
importância. 

•j-  TOJALINHO,  s.  m.  Diminutivo  de  To- 
jal. —  «Ilamelix  veo  per  oncubcrtas  atte 
ho  toj alinho,  e  nam  hos  voudo  encami- 
nhou pêra  o  rio  doce,  o  que  nam  pode 
fazer  sem  o  verem  da  villa,  ao  que  se 
loguo  deu  reiíique.»  Damiào  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  4,  capitu- 
lo 47. 

TOJEIRA,  s.f.  Vid.  Tojo. 

TOJEIRO,  s.  m.  Homem  que  acarreta 
lenha  para  os  fornos  de  pão. 

TOJO,  s.  Til.  Termo  de  botânica.  Ar- 
busto que  é  todo  espinhoso  sem  folhas; 
serve  «le  accendalhaa  para  o  fogo. 

TOLA,  s.  /.  Termo  popular.  A  cabeça. 

—  Loc. :  Dar  na  tola;  dizem  as  amas 
aos  meninos. 

TOLAMENTE,  adv.  (De  tolo,  com  o 
suffixo  «mente»}.  De  um  modo  tolo. 

—  Ineptamente.  sem  juizo. 

TOLAN,  s.  /.  Termo  popular.  Logra- 
ç3o  a  tolo. 

—  Comer  de  tolan ;  comer  gratuito,  á 
custa  do  logrado.  Vid.  Tolina. 

TOLANOS,  s.  m.  phir.  Termo  de  al- 
veitaria.  Os  regos  que  tem  o  cavallo  no 
pa;ar. 

TOLÃO.  Augmentativo  de  Tolo.  Vid. 
Toleirão, 

TOLDA,  .«.  /.  Primeira  coberta  exte- 
rior dos  navios  ou  barcos,  sobre  que  a 
gente  anda.  —  Tolda  da  proa. 

—  Tolda  do  viuho;  a  côr  escura  que 
clle  toma  perdendo  a  transparência,  a 
Cor  viva,  e  a  limpeza  apirrada. 

—  O  logar  mais  publico  do  navio,  on- 


do  «o  devo  appar<,-cer  com  decência :  de- 
signa também  o  logar  onde  so  deve  fazer 
todo  o  castigo  eiceniplar,  lêr  á  guarniçSo 
o  regimento  provisioiuil,  e  artigo*  de 
guerra,  etc. ;  nas  embarcaçriea  de  guerra 
é  aonde  existe  a  guarda,  oudo  se  dá  o 
santo,  e  «c  distribuem  as  ordens;  é  o  lo- 
gar do  commandanto  na  occasiSo  do  com- 
bate, ou  manobras. 

—  Obra  do  panno,  que  cobre  oa  bar- 
cos e  navios,  para  abrigar  do  sol,  e  chu- 
va, e  que  vai  sobre  a  coberta;  toldo. 

TOLDADO,  jjart.  pass.  do  Toldar.  Co- 
berto com  toldo.  —  «E  porque  quando 
elle  tornou  com  ellcs,  entrou  com  a  fus- 
ta toldada,  e  embanileírada  mostrando 
muito  prazer,  houveram  o^  Mouros  que 
aquclla  festa  nlo  era  por  mantimentos, 
mas  que  levava  nova  que  náoe  do  Rotbo 
eram  chegadas  a  algum  porto  dnqaclla 
costa,  que  os  desconsolou  muito,  vendo 
ser  passado  todo  o  inverno  sem  ter  leva- 
do nas  mãos  a  Cidade  como  cuidaram  no 
principio  da  entrada  da  Ilha.»  Barros, 
Década  2,  liv.  6,  cap.  10.  —  «Ha  tàbem 
outras  embarcações  toldadas  do  sela,  em 
que  se  fazem  muytas  farças,  e  muvtos 
jogos  de  diversas  manevras,  a  que  mny- 
ta  gente  do  povo  concorre  para  seu  pas- 
satempo.» Fernão  Mendes  Pinto,  Pere- 
grinações, cap.  98. 

—  Luz  toldada ;  luz  que  nio  é  clara, 
como  os  dias  de  nevoeiro,  a  que  existe 
nos  loirares  húmidos,  e  cheios  de  vapor, 
nos  paúes,  mattas,  nos  dias  chuvosos,  etc. 

—  O  ar  toldado ;  o  ar  nublado,  an- 
nuviado,  escurecido  com  nuvens. 

D°a^a  huma  serra  n'outra  embate,  catála, 
Ao  longe  sôa  horrisouo  bramido, 
Fuzila  o  ar  toldado,  pstcnde  a  noit« 
Fechada,  e  tristo  as  aias  pavorosas, 
j.  A.  DE  iLiCEDO,  A  KATmuuA,  cant.  3. 

—  Vinho  toldado;  vinho  nSo  transpa- 
rente, que  fica  escuro. 

—  Dia  toldado  de  muita  nebrina ;  dia 
turvo,  escuro. 

TOLDAR,  i'.  a.  Cobrir  com  toldos.  — 
«E  por  causa  do  ardor  do  Sol,  qne  assa- 
va os  homens,  frechas,  e  zervatanas  her- 
vad.as,  que  os  Mouros  tiravam  de  alguns 
eirados  das  casas  mais  vizinhas  á  ponte, 
mandou-a  Affor.so  d'Alboquerque  toldar 
com  Velas  das  náos,  que  deo  a  vida  a  to- 
dos.» Barros,  Década  2,  liv.  6,  cap.  5. 

—  Offuscar,  nublar,  annuviar,  escure- 
cer. 


Salvo,  torra  innocii.t.-.  iiif'-t  v  nuvem 
.tAmais  tnld(  toua  Iíntos  horiwntos. 
Nem  solta  tompestado  as  ondas  turre 
Do  rio,  que  teus  Campos  fcrtiliia. 

1.   A.  DB  KACBDO,  A  KATCIEZA,  CUlt.  9- 


mento. 


Figuradamente:    Toldar   o   tntendi- 

0. 

Toldar-se,    c.  re/í.  —  Toldarem-se 


TOLE 


TOLH 


TOLH 


751 


os    céus;  offuscarem-se,    encherem-se   de 
nuvens. 

Toldào-se  03  claros  Ceo3,  súbito  fogom 
Doa  assustados  olhos  :  repentina 
Parece  surge  a  noite,  escura,  e  feia, 
Rompe  o  triste  clarão  dhum  pólo  a  outro, 
Easgão-se  as  nuvens,  súbito  chammeja 
O  rápido  relâmpago  medonho. 

J.  A.  DH  MACEDO,  A  NATUREZA,  Cant.  2. 

—  Toldar-se  o  vinho;  tornar-se  escu- 
ro, e  turvo. 

TOLDO,  í.  m.  Tulda  do  barco,  o  que 
serre  para  abrigar  do  sol. 

—  Plur.  Aggregado  de  pannos  de  brim, 
CUJ03  lados  teui  a  configuração  dos  bor- 
dos do  navio,  e  no  prolongamento  dos 
quaes  ha  paus,  introduzidos  em  castanhas 
pregadas  no  costado  ou  borda,  para  no 
topo  superior  d'elles  se  amarrarem  os  fieis 
dos  ditos  toldos ;  nas  embarcações  miú- 
das 03  fieis  prendem  para  a  borda. 

—  Os  do  navio,  quo  tem  no  seu  meio 
umas  aranhas  com  muitas  pernadas,  pre- 
sas por  cabos  que  se  chamam  prlgalhos, 
para  os  levantar,  ou  abaixar  quando  fôr 
preciso;  o  tombadilho,  tolda,  convez,  e 
castello  do  proa  tem  cada  um  o  seu  tol- 
do para  evitar  o  sol,  c  o  sereno  em  cer- 
tos climas. 

TOLEDANO,  A,  adj.  e  s.  Natural  de  To- 
ledo. 

TOLEIMA,  s.  f.  Termo  popular.  To- 
lice. 

TOLEIRÃO,  ONA,  adj.  Augmentativo 
de  Tolo.    Grraude  tolo. 

TOLEJAR,  V.  11.  Dizer,  ou  fazer  toli- 
ces. 

TOLER.  Termo  antiquado.  Vid.  To- 
lher. 

TOLERADAMENTE,  adv.  (De  tolera- 
do, com  o  suffixo  «mente»).  De  uma 
maneira  tolerada. 

—  Com  tolerância. 

TOLERADO,  part.  pass.  de  Tolerar. 
Permittido,  consentido. 

—  Exeommungadu  tolerado ;  aquelle 
com  quem  os  fieis  podem  communicar; 
differe  muito  do  vitando. 

TOLERÂNCIA,  s.  f.  (Do  latim  tohran- 
tia).  A  acçào  de  tolerar,  sofFrer. 

—  Em  matéria  de  religião :  Tolerân- 
cia theologica,  ou  catholica,  ou  religio- 
sa; a  condescendência  que  tem  uns  para 
com  03  outros,  tocando  certos  pontos  que 
não  são  considerados  como  essenciaes  á 
religião. 

—  Tolerância  civil;  a  permissão  que 
um  governo  concede  de  praticar  outros 
cultos  como  o  culto  reconhecido  pelo  es- 
tado. 

—  Debaixo  do  ponto  de  vista  philoso- 
phico,  admissão  de  principio  que  obriga 
a  não  perseguir  os  que  não  pensam  como 
uóà  em  matéria  de  religião. 

—  Disposição  d'aquelles  que  suppor- 
tam  com  paciência  opiniões  oppostas  ás 
suas. 


—  Dissimulação  com  cousas  prohibi- 
das. 

—  Casas  de  tolerância;  casas  de  pros- 
tituição. 

—  Termo  de  medicina.  Faculdade  que 
tem  03  doentes  de  supportar  certos  remé- 
dios. 

—  Syn.  :  Tolerância,  indulgência. 

A  tolerância  consiste  em  sofí^rer  o  mal, 
ou  o  abuso,  fazendo  que  se  ignore  sua 
existência,  ou  sua  malieia;  porém  ella 
não  o  consente,  nem  o  permitte,  e  não 
renuncia  a  castigal-o. 

A  indulgência  ou  dissimula  as  culpas, 
ou  as  perdoa  facilmente.  Esta  pôde  vir 
da  bondade,  ou  da  fi-aqueza ;  aquella  vem 
da  prudência. 

TOLERANTE,  part.  acf.  de  Tolerar. 
Que  tolera,  soíFre;  que  permitte. 

—  Diz-se  principalmente  era  matéria 
de  religião.  —  Utn  zelo  tolerante.  —  A 
religião  catholica  é  a  mais  severa,  e  a 
menos  tolerante  de  todas  as  religiões, 

—  Indulgente. 

i  TOLERANTISMO,  s.  m.  Termo  de 
theologia.  Opinião  d'aquelle3  que  levam 
mui  longe  a  tolerância  theologica. 

—  Nome  dado  por  dissimulação  ao  sys- 
tema  d'aquelles  que  crêem  que  se  devem 
tolerar  n'um  estado  todas  as  espécies  de 
religião. 

TOLERAR,  V.  a.  (Do  latim  tolerare). 
Permittir  tacitamente,  dissimular  com  a 
cousa  digna  de  castigo,  censura. 

—  Exercer  a  tolerância  religiosa. 

—  Diz-se  também  fallando  das  pessoas. 
—  Tolerar  alguém. 

—  Levar  com  paciência. 

—  Não  perseguir  por  opiniões  politi- 
cas, por  discm-sos,  etc. 

—  Permittir  por  lei  cultos  dissidentes 
da  religião  do  estado,  e  da  maioria  da 
nação. 

—  Vid.  Soffrer,  e  Approvar,  que  dif- 
ferem . 

TOLERÁVEL,  adj.  2  gen.  (Do  latim 
tolerahilis,  de  tolerare).  Que  se  pôde  sup- 
portar, tolerar.  — •  Isso  não  é  tolerável. 

—  Que  admitte  perdão,  não  rigoroso, 
indulgente. 

—  Nào  muito  defeituoso. 

TOLERAVELMENTE,  adv.  (De  tolerá- 
vel, com  o  suffixo  «mente»).  De  um  mo- 
do tolerável. 

—  Softrivelmente. 

1.)  TOLETE,  5.  m.  (Do  francez  tolet). 
Termo  de  marinha.  Cavilha  á  borda  do 
barco,  ou  embarcações  miúdas,  em  que 
se  fixa  o  remo,  por  meio  de  uma  corda 
entrançada,  que  se  chama  estrepo,  que 
serve  de  peia  ao  remo. 

2.)  TOLETE,  adj.  2  gen.  Algum  tanto 
tolo,  um  pouco  tolo. 

TOLETEIRA,  s.  /.  (Do  francez  íc-/i'è- 
?tí).  Termo  de  marinha.  Pequena  eleva- 
ção na  borda  dos  barcos,  botes,  onde  se 
mettem  os  toletes. 

TOLHEDURA,  s.  f.  Termo  de   volatc- 


ria.  O  excremento  das  aves  da  caça.  Vid. 
Talhadura. 

TOLHEITO,  í.  m.  Termo  antiquado. 
Vid.  Tolhido,  e  Tolhimento. 

TOLHER,  V.  a.  (Do  latim  tollere).  Pro- 
hibir,  vedar.  —  «Isto,  pêra  nos  degraos 
vazios  antre  huma  grade  e  a  outra  se  re- 
colher, e  estar  muyta  gente  sem  pejar  a 
saia,  e  verem  todos  muyto  bem,  sem  to- 
lherem vista  huns  aos  outros,  os  quaes 
eram  pessoas  lionradas,  cortesãos  e  ci- 
dadãos, que  ally  eutrauam  per  mandado 
dos  mestres  salas ;  e  da  grade  de  cima 
estauam  as  mesas,  e  os  •  seruidores  que 
delias  estauam  ordenados,  os  que  eram 
necessários,  e  mais  não.»  Garcia  de  Re- 
zende, Chrouica  de  D.  João  II,  cap.  118. 

—  I?rohibir,  evitar,  defender,  obstar. 
—  «E  per  esta  Ley  nom  tolhemos  a  pe- 
na, que  he  posta  per  ElRey  Dom  Donis 
em  sua  Ley  aos  forçadores,  a  qual  ho 
encorporada  no  Titulo,  Dos  que  forçosa- 
mente filhaõ  posse  da  cou^a,  que  outrem 
possue,  que  he  no  Quarto  Livro  da  nos- 
sa reformaçom.»  Ord.  Affons.,  liv.  5,  tit. 
27,  §  1.5. —  «Pêro  naõ  tolhemos  aas  par- 
tes poderem  dar,  e  oferecer  em  pagua- 
mento  do  dito  preço  ouro,  ou  prata  em 
Marco,  á  valia  daquello,  que  per  nos  he 
Ordenado,  segundo  se  acerqua  dello  am- 
bos acordarem.»  Idem,  liv.  -4,  tit.  1,  §  2. 


Porque  vou 
mil  vezes  pêra  nioel-o 
c  tu,  filha,  vens  tolhel-o, 
que  isso  é  o  que  o  damnou. 
Se  o  quero  lançar  fora 
tu  veus-me  rogar  por  elle. 

ANTÓNIO  PRESTES,  ACTOS,  pag.  125. 


Olhae,  senhora, 
cu  nào  vos  folho  vestirdes, 
calçardes  ;  janela,  ir  fora 
é  todo  me  destruirdes. 
IBIDEM,  pag.  243. 

Jlostra  o  Governador  alegre  rosto 
Ao  presente,  e  responde,  que  nesta  hora 
Ir  vêr  ElEci  lhe  fora  hum  grande  gosto 
Mas  que  a  indisposição  lhe  tolhe  ir  fura  ; 
Porém  como  se  achar  melhor  disposto 
A  falta  supprirá  que  teve  agora. 
Torna-se  o  Jfouro  logo  satifeito, 
A  dar  conta  ao  Sultão  do  que  tem  feito. 

T.  d'andb.4.de,  primeiro  cebco  de  Din,  cant.  6, 
est.  60. 


—  Tolher  a  citação;  embargar  com  al- 
legações. 

—  Tolher  o  penhor  ao  porteiro;  impe- 
dir a  penhora. 

—  Privar. 

—  Toma-se  também  por  talhar. 

—  Obstar,  estorvar. 

—  Tolher  os  membros;  baldal-os,  tor- 
nando-os  tolhidos. 

—  Tolher-se,  i-.  rejl.  —  Tolher-se  dos 
membros;  perder  o  uso  d'elles  por  se  en- 
colherem com  doença;   baldar-se  d'elle3, 

—  Ficar  paralytico, 


752 


TOM 


TOMA 


TOMA 


TOLHIDO,  part.  jms».  de  Tolher. 

—  i';irul\tico. 

—  Ficar,  ou  andar  de  falias  tolhidas 
com  ahjuein;  uZo  so  fallar  por  iiiiuiii5a.(le 
cum  cllo. 

—  Tolhido  l/e  membros;  baliliulo  d'()l- 
loH. 

TOLHIMENTO,  «.  m.  A  ac^ào  do  to- 
lher. 

—  Tolhimento  de  penhor;  nSo  consen- 
tindo ijouhorur,  ou  tomando  por  força  o 
penlior, 

—  Tonia-se  tanibom  por  talhamento. 

—  Paralysia. 

TOLHO,  *•.  m.  Poixo  da  íif,'ura  do  par- 
go, quo  so  j)esca  no  Al^íarve. 

TOLICE,  s.  /.  Tolcinia,  a  qualidade  do 
que  ó  tolo. 

—  Parvoice. 

—  Dito,  ou  acto  do  tolo. 

—  Estupidez. 

TOLINA,  «.  /.  Termo  popular.  Logra- 
çíío  do  que  come,  e  leva  as  cousas  gra- 
tuitamente a  algum  tolo. 

TOLINAR,  V.  a.  e  n.  Termo  popular. 
Lovar  á  tolina,  chupar,  fazendo  tolo  a 
qu'>ni  s(í  dt^ixa  comer  assim. 

TOLINEIRO,  A,  adj.  o  s.  O  guilhote 
que  gosta  do  comer,  e  gozar  do  alheio 
COMI  lahia,  boa  feiyao  c  taes  artes. 

TOLINHO,  A,  adj.  Diminutivo  do  To- 
lo. Algum  tanto  tolo,  tolete. 


Item,  que  A  scrvilheta  do  viainho, 
Por  qupin  andaste  sempre  mui  toliiiho, 
E  sem  Júpiter  ser,  nem  cila  Europa, 
Transformado  te  vi  por  cila  em  'stopa, 
Teus  versos  fa(;as  sempre,  que  hc  preciso, 
Inda  andando  confuzo,  andar  com  cizo. 

ABB\DB  DE  JAZENTE,  POESIAS,  pag.  33. 


TOLLE,  s,  m.  (Do  latim  tolle,  impera- 
tivo de  tullere).  Termo  usado  na  seguin- 
te locução:  Tomar  o  tolle;  ir-se,  despe- 
di r-s  o. 

TOLLETE,  adj.  Yiá.  Tolete. 

TOLO,  A,  adj.  Insensato,  sem  bom  jui- 
zo,  inepto. 

E  mais,  quando  por  consoquoneia  justa 
Mo  vens  a  chamar  fôlo ;  pois  sabida 
A  maior,  do  naõ  sor  eu  bom  Poeta, 
A  conclusão  qualquer  rapaz  a  tira. 

ABBADK  DE  JAZKNTE,  POESIAS,  pag.  23. 

—  Esfar  tolo  de  alguma  cousa ;  estar 
muito  admirado  d'ella. 

TOLONA,  s.  /.  de  Tolão.  Toleirona. 

TOLONTRO,   s.  »í.  Tubcra,  caroço. 

— •  Tumor  produzido  por  golpe  na  ca- 
beça. 

1.)  TOM,  s.  m.  Certa  inflexão  da  voz. 


Chum  tom  do  voz  noa  falia  horrendo  c  grosso, 
(}ue  jiareceo  saliir  do  mar  profundo : 
Arrepião-ae  as  carnes  e  o  cjd)ollo 
A  mi  o  a  todos,  só  de  ouvi-lo  e  vo-lo. 
CAM.,  Lus.,  cant.  5,  est.  -kl. 


;  ser  o   auctor   a 

Vid.  este  ultimo 
,-uI- 


—  Certo  grau  de  elevação  da  voz,  ou  o 
abatimento  d'ella,  ou  de  outro  nom.  — 
oJlas  tanto  que  ou  imigos  o  viram  larga- 
ram a  iiao  fugindo  poià  banda  de  Hopc- 
lim,  Duarte  Pacheco  os  não  quis  seguir, 
nem  mcno.s  entrar  na  nao,  porque  ja  ouuia 
tom  do  boinljardas  o  (juc  lhe  parceeo  que 
seria  no  vao  de  Camlialam,  jielo  que  logo 
voltou.»  Dami.no  do  (joes,  Chronica  de 
D.   Manoel,   part.  1,  cap.  Hl. 

■ —  Figuraiiamento :    O  tom  do  tstylo. 

—  Figuradamente :  O  brado. 

Que  nilusca  que  mo  faz  ostc  mancebo ! 
Ambos,  ambos  d,e  dous.  —  E  como  attcctam 
Do  pae  o  tom  sentencio.*»  c  grave, 
A  pomposa  virtude,  o  olhar  austero  ! 

OARREXT,  CATÃO,  aCt.    1,   BC.    4. 

—  Dar  o  tom  nos  coros;  ferir  o  som 
em  quo  so  ha  do  cantar. 

—  Loc. :  Dar  tom  ás  fibras;  restituir 
a  cilas  tensão,  o  força  natural. 

—  A  este  tom  me  disse  outras  cousas; 
conformes  a  esta. 

—  Loc.  ror. :  Sem  tom  nem  som;  des- 
propositadamente, sem  jjroposito. 

—  Figuradamente :    Dar    o    tom    nas 
sociedades,  modas,    etc 
quem  os  mais  imitam. 

—  Vid.  Tono. 

—  Syn.  :  Tom,  som. 
vocábulo. 

2.)  TOM,  s.  m.  Herva   oíEcinal, 
garnientc  pencedano. 

3.)  TOM,  s.  IH.  Na  Ásia,  editicio  como 
alcorão. 

-[  TOMA.  Forma  do  verbo  tomar  na 
terceira  pessoa  do  singular  do  presente 
do  modo  indicativo.  Vid.  Tomar. 

Eis-me  toma  o  quo  lhe  dou, 
assi  nestoutro  fingido 
que  maneira  ou  que  sentido 
liei-de  ter  do  em  que  estou 
a  tornar-uie  em  seu  marido  ? 

ANTÓNIO  PKESTES,  AOTOS,  pag.  323. 

Senhor,  não  me  faleis,  Mcrida 
quando  toma?  isto  m'importa  ; 
aqui  não  me  pranteis  horta 
com  Dom  Duardos  o  Fiérida, 
porque  isso  não  me  conforta. 
IBIDEM,  pag.  485. 

—  «Ha  primeira  que  esta  da  banda  da 
Índia  he  ha  pruvincia  de  Cantaõ,  ha  ca- 
beça desta  provinda  he  ha  cidade  de 
Cantaõ,  da  qual  toma  dcnomiuaçam  ha 
província.»  Fr.  Gaspar  da  Cruz,  Tratado 
das  cousas  da  China,  cap.  5. 

Tens  cheio  o  coração  de  ignoto  fogo, 

A  quem  mortacs  no  .Mundo  amor  ohamilrão, 

\  quem  puro  prsizer  nos  Ceos  se  chama. 

Este  puro  prazer  do  gozo  alheio 

Toma  foi\a,  c  calor,  e  tudo  a  todos 

ISe  apraz  de  ser,  c  se  derrama  inteiro. 

J.   A.  DE  M.VCEnO,  VI.iaGM  EXTÁTICA,  C4nt.   1. 

TOMADA,  e.  /.  A  acção  do  tomar. 


—  Presa,  expiígnação.  —  <E  a  outra 
daria  cauxa  a  que  cilas  acudissem  áquel- 
la  parte,  o  entretanto  teria  ello  tempo 
pêra  fazer  Pua  fortaleza  hcui  estar  Hem- 
pre  com  a  lauça  na  mão,  e  também  po- 
dia dar  lium  salto  om  Malaca,  como  ee 
fez  na  tomada  da  barcaça  com  a  artilhe- 
ria,  Bcndo  a  nonsa  Armada  no  rio  do 
Muar.»  ParroH,  Década  2,  liv.  9,  cap.  2. 
—  t(J  qual  anno  fui  nc.^íte  licyno  hum 
dos  mais  prosiicros,  e  do  maior  prazer 
que  ellc  vio  |)or  cau.«a  da  índia:  «já  não 
somente  vieram  muitii«  náo.'<,  o  bem  car- 
regadas de  especiaria,  mas  aimla  novas 
da  tomada  do  Malaca,  e  do  feito  de  Be- 
nestarij,  esta  embaixada  do  Preste,  ou- 
tra (PEIRey  do  Ormuz,  ('como  já  disse- 
mos,) muitas  cartas,  e  presentes  de  ou- 
tro.s  Principes  ilo  todo  aquelle  Oriento.» 
Ibidem,  iiv.  7,  cap.  6.  —  «Ciiegou  logo 
dalii  a  poucos  dias  a  <  >oa  huma  nao  que 
^liliquiaz  mandaua  carregada  do  manti- 
mentos a  Afonso  Dalbuquerquc,  o  nella 
hum  messageiro  per  quem  o  mandaua  vi- 
sitar, e  dar  o  prolfaça  da  tomada  do  Ma- 
laca.» Dannào  de  (joes,  Chronica  de  D. 
McUioel,  part.  3,  cap.  'óO.  —  cCom  estas 
nonas  abrandou  Duarte  de  Jjomoe,  e  fi- 
cou iVfouso  Dalbuquerque  desa8.-iombrado 
delle,  fazendolhe  com  tudo  muita  corto- 
sia,  mas  nem  isto  abastou  pêra  lhe  Duar- 
te de  lemos  manter  a  palaura  que  lhe 
dera  de  o  acompanhar  na  tomada  de 
(!oa.»  Ibidem,  cap.  15.  —  f  Sabida  pelos 
moradores  das  cidades  de  Tite,  e  Alme- 
dina a  tomada  Dazamor  as  despejarão  de 
todo,  do  que  certificado  o  Duque,  man- 
dou tomar  posse  da  de  Tite,  e  Nuno  fer- 
nandez  dataide  capitam,  e  gouernador 
do  çafim  a  foi  tomar  de  Almedina.»  Ibi- 
dem, cap.  47.  —  «O  qual  liomezeanes 
do  zurara  (que  também  foi  Chronista,  e 
guarda  mor  da  mesma  torre)  na  Chroni- 
ca que  fez  da  tomada  de  Septa  no  capi- 
tulo iii,  diz  (pie  compôs  por  mandado  dei 
Kei  dom  Duarte,  sendo  Infante,  a  Chro- 
nica do  dito  Rei  dom  loam  seu  pai,  com 
que  nam  poilc  chegar  que  ate  a  tomada 
de  Scpta.»  Ibidem,   part.  4,  cap.  38. 

—  Acção  de  prender.  —  Pagar  tanto 
de  tomada. 

—  Acção  de  tomar  cobrando  o  que  se 
nos  deve  por  foro,  ou  direito. 

TOMADETE,  adj.  2  pen.  Diminutivo  de 
Tomado,  usado  na  seguinte  Kicuç.ão :  To- 
madete  do  vinJi/j;  qnasi  bêbado,  quasi 
embriagado,  tocado  do  vinho. 

TOMADIA,  s.  f.  A  acção  de  tomar 
conquistando,  captivando. 

—  Termo  antiquado.  Direito  de  tomar 
mantimentos,  e  roupas  entre  os  senhores, 
vassallos  e  mallados. 

TOMADIÇO,  A,  adj.  Agastadiço,  enfa- 
dadiço,  accelerado,  assomado,  desconfia- 
do, viilronto. 

TOMADO,  1'art.  /«k-í.  de  Tomar.  Oa- 
rdiado  por  armas,  ctmquista^lo.  captiva- 
do.  —  «Os  quacs  lhe  não  quizeram  abrir 


TOMA 


TOMA 


TOMA 


753 


nem   dar   entrada,    de   que  a  dona  ficou 
muito  triste,  lemlarando-lhe,  que  além  de 
vêr  sua  filha  perdida,  achava  sua  fazen- 
da e  casa  tomada  de  imipo?.»    Francisco 
de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap. 
105.  —  «A  villaziuha  tomada  assim  pela 
rédia,    sem   lhe  mandarem  ver  os  cascos 
nem  a  desalbardarem,  quer-se  parecer  a 
Lisboa,    principalmente   os  picões  d'alts- 
naria  que   se   querem    também    inbridar 
á    íjuisa   dos    lisbonenses.  s     Fernão    So- 
ropita.   Poesias   e  prosas    inéditas,   cap. 
19.  —  «E  verdadeiramente  que  na  espe- 
rança, se  a  elle  teve  de  galardão,  não  se 
enganou  comnosco,  porque  tomada  a  Ci- 
dade,   Aífonso    d'Alboquerquo  lhe  pagou 
esta   sua   obra   com   honra,   e  mercê  que 
lhe   fez,  a  qual   foi    causa    de  sua  morte 
voluntária,     (como    adiante   veremos    em 
seu    lugar).!    Barros,    Década  2,   liv.   tí, 
cap.  3.  —  «Bernaldim  de  Sousa,  como  D. 
Álvaro  tinha  tomados  os  lemes  a  todas 
as  embarcaçoens,    e  estavão  quebrados  o 
Capitão,  e  elle,  manilou  dissimuladamen- 
te   embarcar  o  seu  fato,  e  o  dia  em  que 
esperava  de  se  fazer  à  vela,    tendo  pres- 
tes  de   noite  huma  embarcação  ligeira.» 
Diogo  de  Couto,  Década  6,  liv.  10,  cap. 
7.  —  «E  a  briga  se  travou  entre  huns  e 
08   outros  tão  brava,  e  tanto  sem  pieda- 
de,   que  em  pouco  mais  de  meya  hora  o 
negocio  ficou  logo  concluydo,  e  o  castel- 
lo  tomado  cõ  morte  de  dons  mil  Chins  e 
Mogores  que  estavão  dentro  nelle,  e  dos 
Tártaros  não  mais  que  até  cento  e  vin- 
te.»   Fernão  Mendes    Pinto,    Peregrina- 
ções, cap.  119.  —  íAvendo  ja  quasi  oito 
meses   que   estes   nossos  cem  homens  an- 
davão  nesta  costa  embarcados  em  quatro 
fustas    muyto   bem  concertadas,  em  que 
tinhão  tomadas  vinte  e  três  nãos  de  pre- 
sas muyto  ricas,  e  outros  muytos  navios 
pequenos.»    Ibidem,    cap.   146.  —  «Após 
isto  provendo  cõ  muyta  pressa  na  fortifi- 
cação   das  duas  fustas  e  da  Galé  que  ti- 
nhaõ  tomado,  as  abalroarão  com  a  riban- 
ceyra  da  parte  do  Sul,  e  lhe  assestarão 
cinco   peças   grossas  que  defendião  a  en- 
trada  da  angra.»    Ibidem.  —  «E  porque 
os  Franceses  com  os  Venezeanos  se  não 
concertarão,    os  Franceses  recolherão  as 
mercadorias  a  seus  nauios,  e  vendei-ão  as 
gales  que  el  Rey  comprou,  e  mandou  le- 
uar  a  ribatejo,   ate  ver  o  que  a  Senhoria 
de  Veneza  ordenaua  delias.  E  assi  defen- 
deo  que  ninhumas  cousas,  que  das  ditas 
gales  forão  tomadas,  em  seus  Reynos  não 
fossem    compradas,    o    que   assi    se  com- 
prio.s    Garcia  de   Rezende,  Chronica  de 
D.  João  II,  cap.  58.  —  «De  maneira  que 
antes  de  Afonso  dalbuquerque  ter  acaba- 
do o  conselho,  Aluaro  marreiro  tinha  ga- 
nhado  o   baluarte,    com    que   se  a  gente 
começou  daluoroçar,  dizendo  que  comba- 
tessem   a    cidade,    pois    aquelle    baluarte 
era  tomado.»   Damião  de  Góes,  Chronica 
de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  43. 

—  Apanhado,    agarrado. —  «E    muito 

TOL.  V.  — 95. 


mães  quando  lhe  contarão  dons  Jlouros 
Guzarates  captiuos  que  foraõ  tomados  em 
Momljaça  o  que  viraò  fazer  aos  nossos 
naquella  cidade,  e  ouuiraõ  do  que  leixa- 
uaò  feito  em  Qniloa.»  BaiTos,  Década  1, 
liv.  8,  cap.  9. —  «Dentro  deste  terreyro 
estava  posto  em  pé,  encostado  a  hum  cu- 
bello  de  cantaria  muyto  forte  e  alto,  o 
mais  disforme  e  espantoso  mostro  de  fer- 
ro coado  que  os  homens  podem  imaginar, 
o  qual  tomado  assi  a  esmo,  se  julgava 
que  seria  de  mais  de  trinta  braças  em 
alto,  e  seis  de  largo,  n  Fernão  Mendes 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  126.  —  «E  a 
serra  foy  tomada  com  as  oitenta  peças  de 
artilharia,  e  el  Rey  ferido,  as  tranquey- 
ras  queimadas,  os  vallos  derrubados,  e  o 
Xemim  Brum  general  do  campo  morto, 
com  mais  de  quinze  mil  homens,  em  que 
entrarão  seiscentos  Turcos,  e  foraò  toma- 
dos quarenta  elifantes,  e  outros  muytos 
mortos,  e  oitocentos  Bramaas  cativos.» 
Ibidem,  cap.  155.  —  tNào  quero  deixar 
de  dar  novas  minhas  a  v.  m.  porque  sei 
que  V.  m.  as  estimará,  sendo  melhores 
do  que  a  falta  d'ellas,  e  a  tardança  da 
minha  viagem  haverão  lá  prognosticado. 
C;l  se  cuidou  que  éramos  tomados  ou  per- 
didos, e  para  tudo  houve  occasiào,  por- 
que lidamos  com  inimigos,  com  tempes- 
tades, com  outros  infinitos  géneros  de 
trabalhos  e  perigos,  de  todos  os  quaes  foi 
Deus  servido  livrar-me  o  trazer-me  ao 
cabo  de  59  dias  a  Paris,  onde  fico  ao 
serviço  de  v.  m.,  de  saúde,  que  nào  é 
pouco,  havendo  padecido  tanto.»  Padre 
António  Vieira,  Cartas,  n.°  2. 

—  Tomada  a  benção:  recebida.  —  o  Elle 
senhor  studa  o  sãcto  Fuaiigelio,  e  tanto 
que  o  sacerdote  acaba  de  dizer  Missa  lhe 
pede  a  bençam,  a  qual  tomada  se  põem 
a  pregar  ao  pouo  com  muito  amor,  e  com 
muita  caridade,  rogando-lhe,  e  pedindo- 
Ihe  pelo  amor  de  nosso  Senhor  que  se 
conuertào,  e  tornem  pêra  Deos.»  Damião 
de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel. 

—  LiçZes  tomadas;  lições  dadas,  rece- 
bidas. —  «Achava-se  redusida  a  tratar  os 
mesmos  conhecimentos  antigos  de  Mes- 
tres; e  pessoas  sabias  de  quem  tinha  to- 
mado muitas  liçoens,  porem  desta  parte 
nào  havia  esperança  de  faser  progressos 
no  amor,  nem  na  galantaria.»  Cavalleiro 
d'01iveira,  Cartas,  liv.  1,  n.°  40. 

—  Adoptado,  recebido,  usado,  usurpa- 
do. 

Toda  a  tua  glória,  victorioso  AfiFonso, 
Esgc  appellido  insigne  que  haa  (ornado 
Ao  destruidor  da  desleal  Carthago, 
Nódoa  tam  negra  á  fama  te  nào  lavam. 
OAKBETT,  CAMÕES,  cant.  8,  cap.  9. 


mada. 


Figuradamente:    Passara  alma  to- 


uào  digo  nada 


Eu,  cunliada, 


Nào,  vós  sois  todo  fradênho 
alma  passara  tomada. 

ANTÓNIO  PRESTES,  ACTOS,  pag.  267. 

—  Tomado  de  medo;  medroso,  cheio  de 
medo. 

—  Diz-se  também  do  animal  de  tiro, 
ou  de  carga  por  inchado,  ou  ferido  da 
sella,  albarda,  e  arreios. 

—  Tomada  a  cadella,  ou  outra  fêmea 
do  animal  que  anda  em  brama. 

— ^  Agastado,  aggravado,  escandalisado. 

—  Tomado  do  vinho;  bêbado,  tocado 
d'elle. 

—  Tomado  á  fome,  á  sede,  ao  frio, 
etc;  apanhado  d'elles. 

—  Tomado  de  sornno,  de  ciúmes;  pos- 
suído delles. 

—  Picado,  oífendido,  resentido. 

— -  Cousa  tomada  ás  mãos;  cousa  co- 
nhecida, apalpada,  averiguada,  concluída. 

—  Mentira  tomada  ás  mãos;  mentira 
palpável. 

—  Tomado  de  amor;  ferido,  ou  pos- 
suído d'elle. 

—  Tomado  de  pobreza. 

—  Tomado  do  demónio ;  possesso  d'elle. 

—  Tomada  a  besta;  maguada,  ferida, 
molestada. 

1.)  TOMADOR,  s.  m.  Homem  que  to- 
mou alguma  praça,  ou  presa  náutica. 

2.)  TOMADOR,  A,  s.  Pessoa  que  toma 
alguma  cousa. 

TOMADOURO,  ou  TOMADOR,  s.  m.  Ter- 
mo de  náutica.  Pedaço  de  gaxeta,  que 
disseminado  e  pregado  pelas  vergas,  ser- 
ve para  ferrar  o  panno,  amarrando-o  con- 
tra ellas,  ou  um  cabinho  delgado  que  ser- 
ve para  o  mesmo  fim.  Vid.  Gaichete. 

TOMADURA,  s.  /.  Matadui-a,  ferida  de 
besta  que  se  tomou  da  sella,  ou  albarda 
mal  cheia,  ou  carga  mal  posta,  nas  cos- 
tellas,  ou  na  cernelha,  etc. 

7  TOMAE.  Forma  do  verbo  tomar  na 
segunda  pessoa  do  plural  do  modo  impe- 
rativo. Vid.  Tomar. 


Deus  cm  nós  Ih 'os  tem  doado 
e  elles  são 

os  seus  cofres,  que  nós  não ; 
de  lh'o3  darem  é  Deus  o  dado, 

nós  —  tomae  ;  elles,  a  mão. 

AKTOXIO  PRESTES,  ACTOS,  pag.   83. 

Eil-o,  tomae-o,  senhora. 
Mana,  casei  com  partido 
de  cial-o  dcãd'agora. 
Emfim  que  fazeis  de  mim? 
IBIDEM,  pag.  229. 

Mande-me  cobrir  primeiro. 
Não,  que  vindes  encalmado  ; 
tomae  ar,  pobre  barbeiro, 
que  pintado 
T03  está  desbarretado, 
até  nisso  sois  inteiro. 
IBIDEM,  pag.  339. 

E  morrer 
ir  CO 'isto  !  tomae,  vamos  ; 


754 


TOMA 


TOMA 


TOMA 


pároco  i»to  já.  graça ;  quo? 
I)'aqui  logo  ondo  tomilmo»? 
Qhím  (|Uo  110»  iião  dotculiamort  V 
Vá,  Hobi'o  vosHa  incroÍ! 
Vindo  cedo. 

iniDEu,  pag.  .397. 

Poso  a  sSo  Poto, 
tomae  IA. 

Não  mo  está  bom, 
nom  mo  convom 
tom.ar  isso. 

iniDEM,  pag.  403. 


f  TOMAES.  Forma  do  vorbo  tomar  na 
segunda  pessoa  do  plural  do  tempo  pre- 
sente do  modo  indicativo.  Vid.  Tomar. 
—  «Albayzar  não  pôde  soffrer  taes  j)ala- 
vras  por  tocarem  em  sua  senhora;  dis.se 
contra  Floriano :  V(')3,  cavalleiro,  sabeis 
bem  o  tompo,  em  quo  me  tomaes ;  porém 
se  vos  atreverdes  ir  a  essa  corte  no  tem- 
po em  quo  ou  ahi  estiver,  quo  senl  cedo, 
1:1  vos  mostrarei  quão  differentc  6  o  me- 
recimento de  Targiana  do  das  outras  mu- 
lheres, se  sobre  isso  vós  ousardes  comba- 
ter comigo.»  Francisco  de  Moraes,  Pal- 
meirim d'Inglaterra,  eap.  76. 


E  VÓ8  vos  soguracs  ? 
EUo  é  o  preso,  o  o  que  el-rci 
diz  :  per  bom  hei 
que  se  solto  solto.  Tomaes  f 
JjA  jil  tomo,  c  cl-roi,  dixci, 
por  isso  ó  preso  T 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  367. 


TOMAMENTO,  s.  m.  Termo  antiquado. 
A  acção  do  tomar.  —  O  tomamento  de 
armas. 

-}-  TOMAMOS.  F(5rma  do  verbo  toinar  na 
primeira  pessoa  do  ])laral  dn  tem]io  pre- 
sente  do   modo   indicativo.  Vid.  Tomar. 

—  «Com  o  estômago  em  paz,  tomamos 
cavalgaduras  que  nos  acompanhassem  até 
Santarém,  para  onde  foi  o  caminho  Já 
monos  trabalhoso,  posto  que  a  calma 
nos  encontrasse.»  Fernão  Soropita,  Poe- 
sias e  prosas  inéditas,  pag.  26.  —  «Mas 
dali  pouco  mais  de  meya  legoa,  vimos 
outra  pouoação,  ci5  sua  fortaleza  porá 
a  qual  tomamos  nosso  caminho;  nelle  to- 
pamos com  dous  Persianos,  aos  quaes  os 
nossos  perguntarão  onde  acharíamos  agoa. 
ilostraramnos  ao  longe  humas  Palmey- 
ras,  dizendo,  que  ao  pè  delias  nascia 
huma  fonte,  o  que  não  sabiào  doutr.-i,  que 
mais  porto  estiuesse.»  Frei  (íaspar  de  S. 
Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap.  10. 

—  (ilvntas  as  cousas  quo  nos  eoiiuinh.uo 
tomamos  lingoa,  a  quem  todos  se  entre- 
garão, com  pacto,  c  cõeerto,  de  nos  poer 
cm  a  Cidade  Aleppo  em  Turquia,  prouen- 
donos  ã  sua  custa  de  todo  o  necessário 
atè  botica,  que  siS  porá  este  effeyto  leuou 
consigo,  na  maneira  possiuel.»  Ibidem, 
cap.  12. 

TOMAR,  V.  a.  Receber  o  que  se  d;i. — 
«E  por  que  o  croedor  nom  quiz  tomar  a 


pagua,  o  devedor  reteve  cm  sy  a  moeda, 
que  offereceo;  em  este  caso  mandamos 
que  pague  pela  dita  moeda  antigua,  ou 
nova,  que  foi  feita  iles  o  primeiro  dia  de 
Janeiro  Era  de  mil  e  quatrocentos  o  vin- 
te e  três  annos,  ou  a  settetita  libra.s,  por 
um  d'osta  moeda  de  tros  libras  e  meia.» 
Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit.  1,  §  10. 

—  Ganhar  por  armas,  conquistar,  ca- 
ptivar.  —  «A  onde  logo  per  hum  degre- 
dado em  companhia  de  hum  dos  Mouros 
mandou  dizer  a  clRey  quem  era  c  o  ca- 
minho que  fazia  e  a  necessidade  que  ti- 
nha de  piloto  :  e  que  esta  fora  a  causa  de 
tomar  aquellos  homems,  pedindo  que  lhe 
mandasse  dar  hum.»  Barros,  Década  1, 
liv.  4,  cap.  6. —  «Por  a  qual  razão,  posto 
que  o  tempo  era  mui  perigoso  pêra  nave- 
gar, e  agente  vinha  mui  anojada  do  mar, 
o  outra  enforma,  provido  o  melhor  que 
pode,  cspedio  a  Pêro  Mascarenhas  que 
fosse  tomar  qualquer  porto  das  nossas 
fortalezas  da  Índia  pêra  esforçar  a  gente, 
sabendo  ser  elle  vivo:  Cil  pelas  novas  que 
D.  Aires,  c  Christovão  de  Brito  l;l  deram 
também  o  haviam  por  perdido.  Idem,  Dé- 
cada 2,  liv.  7,  cap.  2.  —  «Porém  não  lhe 
foi  assi  leue  de  tomar,  porque  ante  de 
chegarem  ;l  estancia  em  que  tinham  asses- 
tada sua  artilharia,  acharão  hum  mamillo 
de  terra  que  se  torneaua  de  aguoa  com 
preamar,  a  maneira  de  ilheo,  e  de  maré 
vazia  ião  do  lugar  a  elle  a  pè  enxuto: 
em  o  qual  por  ser  soberbo  sobre  a  praya, 
fezerão  hum  mò  lo  de  baluarte  onde  es- 
tauão  obra  de  cincoenta  homens,  gente  es- 
colhida em  guarda  de  certas  peçis  de  ar- 
telharia.»  Ibidem,  liv.  2,  cap.  2. 


ITo  Duque  vimos  chegar 
n  Azainor,  logo  tomalo, 
vimos  aobrello  leuar 
mais  de  dous  mil  de  cauallo 
tantas  legoas  sobro  mar. 

QARCIA  DR   REZENDE,   MISCELLANBA. 


Mas  vimoslho  tanto  dar, 
o  tanto  deixar  tomar 
hos  grandes  toda  CastcUa, 
que  elles  erão  03  Eeya  delia. 


—  «Primeiramente.  Quanto  ao  primeiro 
artigo,  que  se  ate  o  presente  tempo  esti- 
uera  el  Rei  de  Ormuz  a  seruiço  dei  Rei 
dom  Emanuel,  e  em  quanto  assi  estiuesse 
lhe  quitaua  sete  mil,  c  quinhentos  xcra- 
tins  cadanno,  que  hc  ametade  das  parcas 
e  isto  dando  lugar  quo  se  fezosso  fortjv- 
leza  na  cidaile  Dormus,  e  que  se  lhe  apro- 
uesse  de  tomar  a  ilha  de  Babarem  para 
si  que  entíiõ  lhe  quitaria  os  xv  mil  xera- 
tins.»  Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  3,  cap.  66.  —  « Despejados 
os  paços,  el  Rei  se  tornou  parellos,  acom- 
panhado de  todolos  portugueses  que  esta- 
uaõ  om  terra,  e  de  numero  infenito  dos 
da  cidade  c  por  o  lugar  ser  o  mais  forte 


delia,  Afonso  dalbuquerque  os  entregou 
perante  os  principaes  ípie  nili  estauam  a 
el  Rei,  e  a  Raix  nor<lim  tomando-lhes  a 
menagem  que  teriam  aquelia  fortaleza  por 
el  Rei  dom  Emanuel  seu  senhor.»  Ibidem, 
cap.  68.  —  oTinha  ordenado  de  tomar 
Terter,  que  he  hum  castello  muito  forte, 
cinco  legoas  Dalniedina,  o  quatro  da  casa 
do  caualeiro,  pêra  nelle  fazer  outra  for- 
taleza.» Ibidem,  part.  4,  cap.  85.  —  «Se 
o  senhor  Mitaquer,  Nauticar  de  T^ançaroe 
nos  der  hum  assinado  seu  em  nome  dei 
Rey  de  nos  mãdar  pôr  seguros  nas  agoas 
do  mar  da  ilha  do  Ainão,  donde  nos  pos- 
samos yr  livremente  para  nossa  terra, 
quiçá  que  lho  faroy  eu  tomar  o  castello 
cõ  muyto  pouco  trabalho.»  Fcrn3o  Men- 
des Pinto,  Peregrinações,  cap.  118, — 
«Despois  que  tivemos  comido  tratou  co 
Joríje  ^Mendez  pela  informação  que  lhe 
tinhão  dado,  do  modo  que  se  teria  no  to- 
mar do  castello,  e  lhe  fez  muytas  pro- 
messas de  grandes  honras,  e  rendas,  e  va- 
lia com  ol  Rey.»  Ibidem,  cap.  119. — 
«Espantou  a  Rumecào  a  ira,  aos  Turcos 
o  desprezo,  e  por  não  ter  D.  Álvaro  em- 
bainhada a  espada  dos  seus,  em  quanto 
não  chegava  a  batalha,  mandou  alguns 
navios  de  Baçaim,  e  Chaul  tomar  a^  Goi- 
vas que  b.osteeião  o  inimigo. »  Jacintho 
Freire  d'Andrade,  Vida  de  D.  João  de 
Castro,  liv.  2.  —  «Sobre  ha  qual  estando 
eu  em  Ormuz  fuy  enformado  por  gente 
que  daquellas  partes  veo  a  contratar  a 
Ormuz,  quo  vinha  ho  Rey  de  Rusia  com 
muito  exercito  pêra  lha  tomar  tendo  lhe 
Ja  tomadas  das  outras  duas  cidades  que  ho 
turco  lhe  tinha  em  suas  terras.»  Frei  < ías- 
par da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da  China, 
cap.  3. —  «Ao  Pontitice  lho  fica  o  Turco 
seu  ailuersario,  e  emulo  capital,  com  quem 
continuamente  anda  em  guerra :  e  posto 
que  este  em  numero  de  gente  e  artelha- 
ria,  ponha  muytas  vezes  o  Persa  em  con- 
fusão, tomémdo-lhe  as  íVaças,  Cidades, 
Fortalezas,  e  Castelos.»  Frei  Gaspar  de 
S.  Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap. 
14. —  «O  qual  quando  ElRey  o  queria 
tomar,  era  obrigado  a  dar  cem  livras 
Portuguesas,  e  delias  tinha  o  Almirante 
a  quinta  parte.»  Severim  de  Faria,  Noti- 
cias de  Portugal,  Disc.  2,  cap.  13. — 
«Quando  ElUey  D.  Afonso  V.  passou  a 
Africa  a  tomar  Arzilla,  o  acompanhar.aõ 
cinco  Irm.ãos  ila  Familia  dos  Pimentcis 
naturaes  de  Villa  Real.»  Ibidem,  Disc. 
3,  cap.  16. 

—  Receber,  acceitar,  ouvir.  —  «E  eo 
n'isto  não  quizcrdes  fazer  seu  rogo,  será 
forçailo  sair  fora  e  tomar-vol-0  por  for- 
ça, cousa  que  n.ão  queria,  por  nSo  ter 
diiferença  com  cavalleiros  desta  terra. 
Fermosa  donzella,  disse  Florendos,  bem 
se  parece  que  esse  cavalleiro  sabe  mal 
o  muito  que  o  escmlo  custa  a  quem  si» 
com  os  olhos  o  logra,  quai.to  mais  lev.ol-o 
tão  Icvomente.»  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  110.  —  «E 


TOMA 


TOMA 


TOMA 


755 


todos  me  perdoay  por  não  tomar  vossos 
pareceres,  que  autes  que  dom  loam  vies- 
se o  tinha  assi  assentado,  e  se  perigos 
passar,  era  muyto  mayor  perigo  estào 
muytos  fidalgos,  o  cavalleiros  por  me 
seruirem,  os  quaes  eu  muyto  estimo,  e 
também  Nosso  Senhor  dará  sua  ajuda, 
pois  que  he  por  seu  seruiço,  è  contra  os 
inimigos  da  sua  Sancta  Fé  Catholica:  c 
com  isto  se  leuantou,  e  como  Príncipe 
muy  esforçado,  virtuoso,  e  piadoso  por 
saluar  os  seus,  determinou  logo  o  mais 
em  breue  que  podesse  lhe  soccorrer  em 
pessoa. D  Garcia  de  Rezende,  Chronica 
de  D.  João  II,  cap.  82.  — •  «Do  que  por 
suas  cartas  deu  conta  a  el  Rei  dom  Ema- 
nuel, mandandoho  visitar  por  Monsieur 
de  la  Chaulx  seu  camareiro,  e  do  seu 
conselho  que  depois  de  o  el  Rei  despedir 
foi  tomar  el  Rei  dom  Carlos  na  Crunha, 
onde  se  hauia  de  embarcar.»  Damião  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  4, 
cap.  48. 

—  Tomar  posse;  recebel-a,  apossar-se. 

—  «Assi  que  por  esta  razaõ  como  pêra 
ir  tomando  maior  posse  daquelle  grade 
estado  que  lhe  Deos  tinha  descuberto, 
ordenou  de  mandfv  este  anno  de  qui- 
nhentos e  quatro  huma  grossa  armada  a 
capitania  mòr  da  qual  deu  a  Lopo  Soa- 
res filho  de  Rui  Gomez  d'Aluarenga 
chanceler  mor  que  fora  destes  Reynos 
em  tempo  d'elRey  dom  Afí'onso  o  quin- 
to.» Barros,  Década   1,    liv.    7,   cap.   9. 

—  «O  que  feito,  Roçalcão  confiado  na 
muita  gente  que  ja  tinha,  não  tam  so- 
mente nam  quis  entregar  os  Portugue- 
ses como  fora  assentado  nas  pazes  mas 
antes  mandou  dizer  a  Diogo  mendez  que 
lhe  largasse  a  cidade,  senão  que  faria 
sobre  isso  guerra,  ao  que  respondeo  que 
viesse  elle  tomar  a  posse,  que  pêra  lha 
dar  tinha  ja  prestes  as  testemunhas,  mas 
estas  erão  as  armas  com  que  lha  auia  de 
defender.»  Damião  de  Góes,  Chronica 
de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  21.  —  «Des- 
pedido dom  Aleixo  dom  Duarte  se  foi  a 
Goa,  e  dahi  a  Cochim,  e  sem  usar  ne- 
nhum comprimento  dos  que  Diogo  lopez 
usara  com  Lopo  soarez,  se  foi  da  nao 
aposentar  na  fortaleza,  tomando  logo  pos- 
se da  gouernança  da  índia.»  Ibidem, 
part,  4,  cap.  65. 

—  Agarrar,  apanhar,  recolher.  —  «Nes- 
te mesmo  tempo  que  Affonso  d'ArDoquer- 
que  espedio  Pêro  d'Alboquerque  com  es- 
ta Armada,  mandou  Diogo  Fernandes  de 
Beja  a  ElRey  de  Cambaya  assentar  as 
cousas  da  fortaleza,  que  lhe  tinha  conce- 
dido em  Dio,  o  qual  Diogo  Fernandes 
hia  bem  acompanhado  com  té  vinte  ca- 
valgaduras, que  havia  de  tomar  na  Ci- 
dade de  Çurrate,  de  que  era  senhor  Me- 
lique  Gupi  nosso  amigo.»  Barros,  Déca- 
da 2,  liv.  10,  cap.  1.  —  «As  outras  duas 
laiiteas  sintindo  a  revolta,  largarão  as 
amarras  por  mão,  e  fugirão  a  remo  e  a 
vella  com  tanta  pressa,  que  parecia  que 


o  diabo  hia  nellas,  mas  nem  isso  bastou 
para  deixarmos  de  tomar  ainda  huma 
delias,  assi  que  das  quatro  nos  ficarão  as 
três.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  47.  —  «Apontarão  da  banda 
de  fora  com  huma  espingarda  nelle,  e 
tomando-0  pela  cabeça,  deraõ  com  elle 
morto  no  chaõ,  e  acodindo  os  seus  aos 
gritos  do  menino,  achàraõ  jà  o  Capitão 
morto,  e  correndo  a  voz  pela  fortaleza, 
acodirão  todos  a  sua  casa,  sem  saberem 
donde  aquillo  podia  vir,  e  alli  de  com- 
mum  consentimento  elegerão  por  Capi- 
tão hum  Fidalgo  pobre,  acanhado,  mas 
bom  homem,  e  bom  Christaõ,  chamado 
D.  Artur  de  Castro.»  Diogo  de  Couto, 
Década  6,  liv.  7,  cap.  2.  —  «E  quando 
chegaõ  os  navios  para  tomar  a  carga, 
entregalhos  cozidos  por  outro  tanto  mais 
do  que  lhe  custaram,  como  se  o  manda- 
rão negociar  só  para  si,  e  nam  para  toda 
a  companhia,  cujo  era  o  cabedal,  com 
que  efteituou  o  primeiro  lanço.»  Arte  de 
furtar,  cap.  6.  —  «Assi  o  fez  três  dias, 
e  noytes,  sem  a  nao  nelles  atrauessar 
nunca,  nem  tomar  de  luua,  ou  por  da- 
uante,  o  que  certo  foy  euidentlssima  ma- 
rauilha.»  Frei  Gaspar  da  Cruz,  Itinerá- 
rio da  índia,  cap.  4.  —  «E  inquerindo 
dos  Cameleyros  a  causa  daquella  noui- 
dade,  contaram,  que  no  próprio  lugar 
vindo  dous  companheyros,  hum  delles 
matara  ao  outro,  por  lhe  tomar  hum  pou- 
co de  dinheiro,  e  o  caualo  em  que  vi- 
nha.» Ibidem,   cap.  10. 


Aqui  vendo  que  em  vão  tomar  pretendem 
O  Sultão,  que  com  azas  lhe  fugia, 
A  roubar  polo  Eeino  então  se  estendem. 
Onde  nada  este  intento  lh'inipedia. 
Depois  que  com  cubica  não  se  aecendem. 
Porque  jí  o  roubo  e  apresa  os  enfastia, 
Usào  então  d"estranha8  crueldades, 
Sem  respeitar  a  sexos,  nem  a  idades. 

F.   D'ANnBADE,  PBI5IEIE0  CEHCO  DE  DIU,  Caut.   3, 

est.  53. 


Este,  ou  que  o  bom  sacceeso  deste  feito 
A  névoa  do  temor  lhe  desfizesse 
De  que  notado  foi  sempre  o  sou  peito, 
Ou  que  a  morte  cUama-lo  ja  quizessc 
Animado  boje  assaz  e  satisfeito, 
Importuna  o  Silveira  que  lhe  desse 
Liceuça,  e  companhia  com  que  possa 
Tomar  aquella  pe(;a  forte  o  grossa. 
IBIDEM,  cant.  20,  est.  62. 


—  «Nesta  cidade  foram  os  Turcos  que 
me  levavão  preso  pedir  alvaraa  ao  Baxaa 
delia,  pêra  pola  sua  jurdiçam  poderem 
tomar  bestas  e  o  necessário  sem  dinhei- 
ro, e  elle  nolo  deu.»  Tenreiro,  Itinerá- 
rio, cap.  33. 

—  Emprega-se  também  na  significação 
de  comer. 


Fazem-me  dôr  de  cabeça ; 
mas  por  seus,  emque  não  queira 
me  força  cm  toda  a  maneira 
que  a  tomar-lh'os  obedeça. 


E'  certo  que  vem  marras? 
Não  pecas  c  pouco  sãs. 

ANTÓNIO  PBESTF.S,   AUTOS,  pag.    155. 

Basta  que  o  ouro  é  bem  louro  ; 
eu  determino  tomar 
esta  maçã,  e  fundil-a, 
e  depois  de  a  enfuudiçar 
o  ouro  que  se  tirar 
martelal-o,  dal-a  lila. 
iBiDEU,  pag.  407. 


—  Tomar  repouso;  repousar,  descan- 
çar.  —  «Mas  Dom  João  Mascarenhas 
não  tomando  repouso,  mandou  com  muita 
pressa  carretar  muitas  traves,  tavoas,  e 
portas,  que  tudo  foy  levado  por  aquellas 
valorosas  matronas.»  Diogo  de  Couto, 
Década  6,  liv.  2,  cap.  3. 

—  Tomar  o  sacramento  da  eucharis- 
tia;  recebel-o,  commungar.  —  «O  qual 
nam  se  ha  de  pedir  nem  esperar  se  nam 
cõdicionalmeute,  conuem  a  saber  de  ser 
pêra  mais  seruir  a  nosso  Senhor.  E  por 
isso  todos  os  doentes  que  estam  em  pe- 
rigo, com  gram  deuaçam  deuem  tomar 
este  Sacramento,  se  estimam  a  saluaçam 
de  sua  alma.»  Frei  Bartholomeu  dos  Mar- 
tyres,   Catecismo  da  doutrina  christã. 

• —  Tomar  por  força  uma  ãonzella; 
desposal-a  impreterivelmente.  —  «Felis- 
tor,  sabendo  que  ámanhãa  a  hão  de  le- 
var a  outro  castello,  onde  determinam 
fazer  o  casamento,  se  vai  lançar  esta 
noite  em  um  bosque  junto  do  caminho 
por  onde  hão  de  passar,  pêra  a  tomar 
por  força  e  casar-se  com  ella,  e  matar  os 
que  lha  quizerem  defender :  e  porque  não 
seja  sentido  vai  tanto  depres.sa  metter-se 
em  sua  cilada,  que  é  d'aqui  gram  peça.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap,  104. 

—  Tomar  conta  de  mim;  cuidar,  pen- 
sar em  mim. 

Ora  quero  praticar 
Si5  comigo  hum  pouco  aqui ; 
Que  despois  que  me  perdi, 
desejo  de  me  tomar 
Estreita  conta  de  mi. 

CAM.,  FILODEUO,  aot.    1,  SC.    1. 

—  Reputar,  haver  como  tal,  conside- 
rar. —  «Não  é  lanço  de  ânimos  grossei- 
ros deixar-se  penetrar  de  saudades  e  to- 
mar por  alivio  a  continuação  d'ellas.» 
Fernão  Soropita,  Poesias  e  prosas  inédi- 
tas, pag.  37. 

—  Tomar  a  companhia  de  alguém; 
acompanhal-o,  ir  com  elle.  —  «Que  eUes 
levavão  propósito  de  passar  pelas  ilhas 
Canateas,  e  fazer  hum  salto  na  ilha  da 
Palma,  onde  esperauaõ  fazer  alguma  pre- 
za de  proueito,  que  elle  diuia  tomar  sua 
companhia,  pois  vinha  taõ  tarde  pêra  ir 
âs  partes  de  Guiné.»  Barros,  Década  1, 
liv.  1,  cap.  11. 

—  Tomar  2^a(/9-í'«Ãos;  apadrinhar-se, 
ter  protecções.  —  «Pêra  o  quietar,  me 
auenturey  a  abraçalo,   no  que  me  lan- 


756 


TOMA 


TOMA 


TOMA 


ç.aua  a  perrlor  ho  Ioí^o  llie  não  acudira 
(M  JUT03,  cocoH,  C!  milho,  (|uo  forão  os  inc- 
llioros  j)ailrinluj:H  qiio  um  sunidllianto  ca- 
so ou  poilcra  tomar,  pois  com  cllcs  ho 
aplacou  do  sua  fiiij2;iiia  cólera.»  Fn-.i 
Oaspar  do  S.  Hoi-nardino,  Itinerário  da 
índia,  cap.  1 . 

—  Tomar  md  suspeita  d'alfjuiivt ;  dcs- 
coniiar  em  mal  d'cllo,  suspeitar  mal  d'cl- 
Ic.  —  «V.asco  da  Oamma  por  llio  esto 
(Janà  ter  dito  quào  pcquoua  distiicia  auia 
da  cidado  aos  jiaços  didRoy,  vendo  que 
iiaõ  vinha  aquellc  dia,  c  quo  ora  passa- 
do a  maior  parto  do  outro,  começou  to- 
mar má  suspeita  dello.»  liarros,  Década 
1,  liv.  4,  cap.  H. 

—  Tomar  caminho  para  alguma  parte; 
Bcfíuir  a  direcção  para  essa  parto.  — 
«Nuno  fernandez,  depois  de  ser  cm  Al- 
medina deixou  alli  Cido  Iheabcntafuf  o 
tomando  seu  caminho  porá  Çafim,  che- 
fiou a  cidado  terça  feira  cm  so  poendo  o 
Sol,  onde  foi  recebido  com  muita  ale.f^ria, 
c  o  mesnKj  se  fez  a  dom  loào  em  Aza- 
mor,  ])orque  as  nouas  que  se  logo  espa- 
lharam antes  de  cho.n;ar(!m  foraõ,  que 
eram  os  mais  delles  mortos,  o  captiuos.» 
-Damião  do  («oes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  1^,  cap.  50. 

—  Tomar  o  partido  d'alguem ;  ser  par- 
tidário d'elle,  seguir  as  suas  opiniões, 
idêas,  etc.  —  «Não  foi  conviílado  o  car- 
deal Accinoli,  sondo  núncio  actual,  por 
estar  a  corto  mal  satisfeita  do  seu  proce- 
der, polo  que  respeita  aos  Jesuítas,  to- 
mando o  partido  do  cardeal  llezzonico 
que  os  fauorece  e  ó  nepote  do  papa  rei- 
nante elemento  Xil.»  Bispo  do  (-irão  Pa- 
rá, Memorias,  publicadas  por  Camillo 
Castollo  Branco,  pag.  104. 

—  Ap])rehouder  com  a  mão,  pegar  com 
ella  em  alguma  cousa.  —  «E  tomando 
huma  espingarda  me  fuy  com  ello  a  ter- 
ra, onde  metendo-nos  pela  espessura  do 
mato,  não  caminhariamos  por  clle  pouco 
mais  de  com  passos,  quando  descubrimos 
num  escampado  huma  grande  bãda  do 
porcos  monteses  que  andavão  foçando 
junto  do  hum  charco  dagua.»  Fernão 
Mondes  Pinto,  Peregrinações,  cap.  144. 

—  Tomar  o  mu;  agarral-o,  pegar-lhe 
nas  rédeas,  leval-o  &  reata. 

Nunca  cu  vi  bufalinhoiro 
Tão  prestes  tornar  o  mii. 
15rauc'Anui',9  luaiia,  ere  tu 
Quo,  como  Jo3U  hl)  Jcsu. 

OIL   VICENTE,  AUro   DA   FEIUA. 

—  Tomar  empreza. 

Sc  me  isto  o  Côo  concedo,  o  o  voéso  peito 
Digna  oui preza  tomar  do  sor  cantada, 
Como  a  prosaga  monte  vaticina. 
Olhando  a  vossa  inclinação  divina. 
cAu.,  Lus.,  caut.  10,  oat.  155. 

—  Tomar  forças  ;  roforçar-se,   tornar- 


86  forte,  recuperal-aí.  —  «Sabesso  de  al- 
guns contemplatiuos  mui  adiantados  nes- 
ta viiiào  amonjsa,  que  n.uitas  vezes  eu- 
fraquicirio,  o  i)adociào  achaque»,  quo  os 
obrigaua  a  estar  cm  cama  por  occasião 
deste  continuo,  o  aferuoradisnimo  exercí- 
cio, por  onde  sai^  forçados  afroixar  algu- 
ma cousa,  e  abrandar  na  applicaçào, 
vsar  do  milhoros  mautimeutos  pura  to- 
mar mais  forças,  pêra  quo  assim  as  cor- 
poraes  não  se  dauillquem,  e  desbaratem 
euidentemonte,  o  so  faça  tudo  com  pru- 
dência, e  moderação.»  Frei  Bartliolomeu 
dos  Martyroi,  Compendio  de  espiritual 
doutrina,  caji.  1 1 . 

—  Tomar  armas;  pegar  em  armas, 
servir  militarmente.  —  «Os  gigantes  Al- 
buzarco  o  Albarroco  companheiros  de 
Barrocanto  não  queriam  acoitar  a  bata- 
lha, dizendo,  que,  pois  já  não  entravam 
em  campo  com  gigantes,  que  lhe  dessem 
mais  cavíilleiros,  que  pêra  um  jjor  um 
não  (]ueriani  tomar  armas.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap,  93. 

—  Tomar  informat^ãu  d' alguma  cousa; 
informar-se  d'ella,  inquirir.  —  «Chega- 
dos nós  a  este  porto,  surgimos  no  meyo 
de  huma  angra  que  faz  a  terra  junto  de 
hum  pequeno  ilhoo,  que  demora  ao  sul 
da  entratla  da  barra,  onde  nos  deixamos 
estar  sem  salvarmos  o  porto  nem  fazer- 
mos estrondo  nenhum,  com  dcturnunaçaõ 
de  tanto  que  fosse  noite  mandarmos  son- 
dar o  rio,  o  tomar  informação  do  que  se 
pretendia  saber.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  48. 

—  Fazer  tomar  a  alguém  i>ensaiiieiitos 
contrários;  fazel-o  pensar  de  um  modo 
diverso  do  que  até  alli  tinha  pensado.  — 
«A  muytos  comete  a  yra,  mas  os  discre- 
tos saom-lhe  ao  encontro  com  a  resam 
que  a  amansa,  e  lhe  faz  tomar  pensa- 
mentos eontrayros,  e  com  calar-so  dam 
paz  a  si  e  aos  outros.»  D.  Joanna  da 
O  ama.  Ditos  da  freira,  pag.  32. 

—  Tomar  um  remédio;  ou  pela  bocea 
como  alimento,  recebendo-o  no  estômago, 
ou  recebeudo-o  por  baixo  nos  intestinos. 
—  «Curam-se  facilmente  as  mordeduras, 
se  o  mordido  não  ó  delicíido,  tomando 
inuuediatamento  o  próprio  excreto  huma- 
no, que,  como  esto  abunda  de  muito  sal 
volátil,  com  mais  algumas  partes  que  de- 
posita a  natureza,  fazem  admirável  effei- 
to,  lavando  e  curtando  a  parte  ferida 
com  azeite  do  Portugal.»  Bispo  do  (írào 
Pará,  Memorias,  publicadas  por  Camillo 
Castello  Branco,  pag.  190. 

—  Tomado  á  face. 


Isto  está  tomado  &  faço 
qual  Bo  nssi  determinou 
quem  cuidando  se  acertou 
u'alguma  cousa  não  crrasso 
nem  ai  n'ello  começou. 

ANTÓNIO  ruKSTES,  AUTOS,  pag.  1G9. 


Tomar  na  e^parrella. 


Ponho  a^ora  j)or  c^iutclla 
que  CHtavu  ou  om  C;fta  donzclla 
falando-ihc  dulecs  franças  •, 
quiim  voí  dotou  confiaiiçaA 
de  mo  tomar  iia  csparrnia  ? 

ANfoíio  i-aBsrza,  autos,  pag.  127. 

—  Tomar  alyuem  d'as8uadn ;  rcccbol-o 
com  algazarra,  gritaria,  c  tumulto. 

Goiítil  profia ! 
Vcm-me  tomar  d'asmiada  ? 
Vamos,  quo  csti  onfsulada 
a  noiva,  j4  de  saudosa. 

A.NrONIO  ruKSTKB,  ALTOS,  pag.    193. 

—  Tolher,  atalhar. 

—  Usurpar. 

—  Tomar  um  tilulu  fjualijuer;  nsar,  fa- 
zer uso  d'elle  legitimamento. 

—  Tomar  as  armut ;  voBtil-as  o  levar 
as  de  ferir. 

—  Tomar  alguém  pela  mão;  leval-o  e 
guial-o. 

—  Tomar  as  fralda»  do  vestido ;  apa- 
nhal-as. 

—  Tomar  o  caminho  de  Roma;  metter- 
sc  a  clle,  pôr-se  em  marcha  para  lá. 

—  Tomar  a  cOr ;  tingir -se,  receber  a 
tinta. 

—  Tomar  cOr;  corar. 

—  Tomar  o  alheio;  fartar,  roubar. 

—  Eniender,  julgar,  interpretar. 

—  Considerar. 

—  Occupar. 

—  Achar,  encontrar. 

—  Imitar,  adoptar. 

—  Desejar. 

—  Tomar  a  morte  por  anos  mãos;  ma- 
tar-se,  ou  fazer  com  que  morra. 

—  Tomar  a  occasiào;  usar,  aprovei- 
tar-se  delia. 

—  Tomar  «  luz;  tolher,  tirar  pondo-se 
diante  do  corpo  luminoso. 

—  Tomar  gosto  tm  alguma  cousa;  re- 
ceber e  tel-o  com  ella  depois  de  a  tratar, 
conversar. 

—  Tomar  alguém  fogo;  irar-se,  eaquen- 
tar-se. 

—  Tomar  eiisino;  aprender,  seguir  do- 
cilmente os  preceitos  dados. 

—  Tomar  aves,  peixes;  caçivl-os,  pes- 
cal-os. 

—  Tomar  assento;  resolver  por  assen- 
to cm  accordo  de  consulta,  deliberação, 
etc. 

—  Figuradamente :  Tomar-vos  a  morte 
de  suliito. 

—  Tomar  a  bem,  a  mal ;  receber  em 
bem,  em  mal. 

—  Sobrevir,  alcançar,  apanhar. 

—  Tomar  assento;  sentar-se. 

—  Tomar  casa ;  alugal-a,  pôr  casa. 

—  Tomar  a  alguém  depoimento;  pôr 
por  escripío  o  escrivão  o  que  alguém  em 
Juizo  depòe. 

—  Tomar  conselho ;  aconselhar-se. 

—  Tomar  amizade,  ou  ódio  a  alguém; 
vir  a  ter-lhe  amizade,  ou  ódio. 


TOMA 


TOMA 


TOMA 


757 


—  Tomar  o  fresco;  expôr-se  a  elle. 

—  Tomar  o  gosto;  provar. 

—  Fiejuradamente  :  Tomar  o  gosto; 
examinar,  experimentar. 

—  Figuradamente:  Tomar  a  mão;  met- 
ter-se  adiante,  fazendo-se  o  primeiro  em 
algum  negocio. 

—  Tomar  ordens;  ordenar-se  de  pres- 
bytero. 

—  Tomar  oi-dens  dt,  alguém;  recebcl-as 
d'elle. 

—  Tomar  a  noute  a  alguém  em  conver- 
sas; detel-o  toda  a  noute;  nâo  o  deixar 
repousar. 

—  Tomar  o  tempo.  Vid.  Tempo. 

—  Tomar  sentido ;  attender,  prestar 
attençào. 

—  Tomar  o  tempo  a  alguém;  interrom- 
per-lh'o,  occupar-lli'o. 

—  Tomar  as  dores  por  alguém,  ou  por 
parte  d' alguém;  mostrar-se  sensível  aos 
seus  males,  ou  desgostos,  como  se  fossem 
próprios. 

—  Locução  de  marinha:  Tomar  a  cos- 
ta na  mão;  navegar  segundo  a  direcção 
da  costa. 

—  Tomar  somno;    descançar,    dormir. 

—  Tomar  o  navio  terra;  aportar. 

—  Tomar  paixão;  apaixonar-se. 

—  Tomar  a  figura  de  hão ;  transfor- 
«lar-áe  n'elle. 

— -  Tomar  fôlego,   alento ;  respirar. 

—  Tomar  o  animal  a  fêmea;  ajuntar- 
se  para  a  fecundar. 

—  Tomou-me  o  somno;  adormeci. 

—  Tomar  fogo  a  lenha,  a  j^olvora ;  av- 
der. 

—  Tomar  a  palavra;  diz-se  para  dar 
a.  entender  o  que  se  adianta  a  fallar  pri- 
meiro que  03  outros  em  algum  ajunta- 
mento, e  sobre  algum  negocio  de  que 
n'elle  se  trata. 

— -  Emprega-se  também  com  preposi- 
■Çcão :  Tomar  de  outro  bem. 


Ouço,  vejo,  e  sofro,  escuito, 
sou  de  vidro  ueste  horaem  ; 
e  vidro  sabe  que  tem  ? 
tem  perigo  estalar  logo 
com  qualquer  bafo  de  fogo, 
pois  tomar  de  outro  bom 
veja  qual  será  meu  jogo. 

ANTÓNIO  PKESTES,  AUI03,  pag.  311. 


—  Tomar  a  mal;  levar  a  mal,  lançar 
á  má  parte,  escandaiisar-se. 

—  Tomar  «  sua  conta  alguma  cousa; 
encarregar-se  d'ella,  tel-a  a  seu  cuidado. 

—  Tomar  ás  mãos;  apanhar,  agarrar, 
prender. 

—  Tomar  covi  alguém ;  pegar  com  el- 
le, ter  razões,  dar-lhe  culpas  de  alguma 
cousa. 

—  Tomar  alguém  em  palavras ;  fazel-o 
dizer  ou  confessar  cousa  a  elle  damnosa, 
com  razoes  capciosas. 

—  Tomar  por  amigo,  juiz,  arbitro  ;re- 
cebor  o  que  se  lhe  dá,  ou  por  escolha. 


—  Tomar  em  coche;  receber  n'elle  a 
pessoa  que  vai  no  coche. 

—  Tomar  alguma  cousa  a  peito ;  olhar 
para  cila  como  importante,  fazer  conta 
de  a  concluir. 

—  Este  homem  tomou-me  á  sua  conta ; 
engou  commigo  para  me  perseguir. 

—  Tomar  ás  inàos ;  convencer,  colher 
evidentemente. 

—  Ora  tomai-vos  lá  com  elle;  havel- 
vos  com  ello,  cmbaraçai-vos  com  elle. 

—  Tomar  em  caso  de  honra ;  julgar, 
ter  o  caso  em  conta  de  cousa  que  toca 
á  honra. 

—  Tomar  em  consideração  alguma  cou- 
sa; ter-se  conta  com  ella,  olhar  ao  seu 
mérito,  ou  demérito. 

—  Tomar  por  escripAo  alguma  cousa ; 
escrevel-a,  para  que  nào  esqueça. 

—  Tomar  alguma  cousa  sobre  si ;  en- 
carregar-se d 'ella. 

—  Tomar-se  e?»  auto  alguma  cousa; 
fazer  auto  d'e]la  o  escrivão,  ou  o  notário 
competente,  para  que  depois  a  todo  o 
tempo  conste. 

—  Tomar  por  si  algum  dito;  julgar 
que  o  di.sseram  pela  pessoa  que  o  toma 
por  si. 

—  Tomar  a  bem;  receber  approvando. 

—  Tomar  por  perdido;  apprehenden- 
do,  coutiscando  o  que  pelas  leis  perde  a 
pessoa  a  quem  se  toma. 

—  Tomar  sobre  si  alguma  divida,  obri- 
gação; toruar-se  responsável  pelo  cum- 
primento d'ella. 

—  Tomar-se,  v.  reji.  Agastar-se,  oíFen- 
der-se. 

—  Engar-se,  pegai'-se  entre  si,  ter 
razões.  —  «  ChamaÕ-se  Nereidas  de  seu 
pay  Xereo,  Deus  antiquissimo,  o  qual  se 
convertia  em  varias  formas,  foy  filho  de 
Ponto,  e  da  Deosa  Thetis,  tomando-se  es- 
tes consortes  por  todo  o  mar,  conforme 
o  diz  Hesiodo.»  Vasconcellos,  Artefactos 
symetricos  e  geométricos,  liv.  2,  cap.  35. 

— •  Deixar-se  preoceupar,  imbuir-se.  — 
«  O  promotor  arrezoou  contra  nós  em 
quatro  artigos  tão  difamatorios,  e  por  pa- 
lavras tào  descorteses,  que  o  Chaem  se 
afrontou  de  as  ver.  E  tomando-se  muyto 
do  mao  insino  e  desconcerto  delias  Thas 
mandou  logo  riscar  todas  e  sahio  com 
hum  despacho  que  dezia.i)  Fernão  Men- 
des Pinto,   Peregrinações,  cap.  101. 

—  Tomar-se  de  ira,  vaidade,  cólera ; 
deixar-se  vencer,  perder  o  uso  da  ra- 
zão. 

—  Adágios  e  pkovekbios  : 

—  ye  queres  ter  boa  fama,  não  te  to- 
me o  sol  na  cama. 

—  Mais  vale  um  toma,  que  dous  te 
darei. 

—  Uma  figa  ha  em  toma,  para  quem 
lhe  dão,  e  não  toma. 

—  Toma  casa  com  lar,  e  mulher,  que 
saiba  fiar. 

■ —  Tomai  lá  o  que  vos    vem  da  bocca. 

—  A  pouco  pão  tomar  primeiro. 


—  Penhor,  que  corre,  ninguém  o  to- 
me. 

—  Ao  villão,  dá-lhe  o  pé,  o  toma  a 
mã. 

—  Cousa  de  dar,  e  tomar. 

—  Tomar  o  ceu  com  as  mãos. 

—  Tomar  o  freio  nos  dentes. 

—  Tomar  experiência  em  cabeça  alheia. 

—  Tomar  as  de  villa  Diogo. 

—  Toma  a  garça  no  ar. 

—  Tomaes  sesta  por  balhesta. 

—  Arrenego  das  senhoras,  que  são  de 
aqui  o  tomam,  alli  o  deixam. 

—  Se  te  dá  o  pobre,  é  para  que  mais 
te  tome. 

—  Quem  sabe  dar,  sabe  tomar. 

—  A  quem  o  demo  toma  uma  vez, 
sempre  lhe  fica  um  geito. 

—  Cança  quem  dá,  e  não  cança  quem 
toma. 

—  O  rei,  que  não  toma,  quando  do 
seu  não  ha,  a  vós  do  seu  dá. 

—  Quem  pássaro  lia  de  tomar,  não  o 
ha  de  enxotor. 

—  Mãe  e  filhos,  por  dar  e  tomar  são 
amigos. 

—  Ao  villão  dá-lhe  o  dedo,  tomar-te- 
ha  a  mão. 

—  O  prudente  tudo  ha  de  tomar,  an- 
tes de  armas  tomar. 

—  O  que  reparte,  toma  a  melhor  parte. 

—  Syx.  :   Tomar,  receber,   acceitar. 
Tomar  é   a  acção    material    com    que 

nos  apoderamos  de  uma  cousa.  Receber 
é  a  acção  formal  com  que  acceitamos  ou 
havemos  o  que  se  nos  dá. 

Eecebe-se  do  amigo  um  presente  que 
nos  manda,  e  toma-se  materialmente  da 
mão  do  criado  que  o  traz. 

Receber  exclue  simplesmente  a  nega- 
tiva ou  acto  de  recusar.  Acceitar  parece 
indicar  um  consentimento  ou  uma  appro- 
vação  mais  expressa. 

Para  tomar  basta  a  vontade  e  acção 
do  que  toma;  porém  para  receber  não 
basta  a  vontade  e  acção  do  que  recebe, 
porque  se  necessita  também  que  concor- 
ra a  vontade  e  acção  do  que  dá.  Não 
posso  receber  o  que  não  me  dão,  porém 
posso  tomal-o ;  assim  que  o  que  furta  to- 
ma,  e  não  recebe. 

Recebem-se  graças,  acceitam-se  servi- 
ços, obséquios.  Recebe/mos  de  bom  ou  mau 
grado ;  acceitamos  com  agi-ado  e  boa  som- 
bra. 

Deve  o  homem  mostrar-se  agradecido 
aos  benefícios  que  recebeu.  Não  se  deve 
desprezar  nunca  o  que  se  acceitou. 

Tomamos  as  armas  para  ir  á  guerra,  e 
não  as  recebemos,  nem  acceitamos. 

1.)  TOMARA,  s.  /.   Arma  cruel. 

f  2.)  TOMARA.  Forma  do  verbo  tomar 
na  primeira  ou  terceira  pessoa  do  singu- 
lar do  pretérito  perfeito  do  modo  indica- 
tivo. Vid.  Tomar.  — •  «E  perguntado  quan- 
to tempo  avia  que  se  levantara,  e  que 
navios  de  Portugueses  tinha  tomado,  e 
quantos   homens   mortos,   e  que   fazenda 


758 


TOMA 


roubada;  disse  que  de  seto  annoa  a  esta 
jiartc,  o  primoyro  navio  quo  tomara  fo- 
ra o  juiicu  <lo  íjiiys  (lo  Pavia  no  rio  de 
Liainpoo,  cuin  quatrociMito.s  bai'03  do  pi- 
meuta  Hciii  dro^a  iioiihuiiia,  ondo  matara 
dezoito  PortuguosoH,  a  f.ira  08  seus  es- 
cravos, de  quu  uilo  fazia  caso,  por  não 
serem  gente  (|uc  o  satisfizesse  no  quo  ti- 
nha jurado.»  FcrnSo  Mendes  Pinto,  Pe- 
regrinações, cap.  51. 

Eata  noite  também  aquella  gonto 
Que  do  Coja(;ofar  scruc  o  cutandarto, 
Fazendo  quo  a  Cidiidc  a  chiiiniiia  ardente 
Sinta  primeiro  nMuinia  e  n'outra  parte, 
Tanib(Mn  damniticada  e  descontento 
Antod  do  8«r  nianhàa,  dalli  se  parto, 
E  o  loj^ar  com  grão  medo  dosampAra 
Que  coin  grau  conliani;a  antes  tomara. 

rUANCISCO  UK   ANDK/kDE,   PEIHEIBO  OEBCO  DK   DIU, 

caut.  20,  est.  88. 

—  «As  de  S.  frei  Gil  tomara  também 
ver,  e  me  lembra  que  as  tinha  antiga- 
mente um  esparteiro  da»  portas  da  Mou- 
raria, em  um  de  quatro  livros  d'estas  cu- 
riosidades, que  elle  emprestou,  agora  faz 
vinte  ânuos,  ao  padre  Joào  de  Vascon- 
cellos,  quando  compunha  o  livro  da  Res- 
tauraçSo  do  Portugal,  que  imprimiu  com 
nome  do  doutor  Gregório  de  Almeida.» 
Padre  António  Vieira,  Cartas,   n."  23. 


Ou  boa  lagem  calijada 

autre  os  tens  tomara  cu  penca 

não  de  cardo,  de  juvenca 

que  ergue  o  pé  pêra  aguilhada. 

ASTONIO  PEESTK3,  AUTOS,  pag.  25. 


Pois  bofé,  quo  andastes  bem, 
tomara  antes  cnganar-vos 
quo  ha  homem  de  matar  parvos 
d'aqui  té  Jerusalém  •, 
pois  querem,  quero  leixar-vos. 
IBIDEM,  pag.  227. 

Aqui  ? 

Aqui,  quo  cu  o  vi, 
c  por  isso  outras  tomara. 
luiDEu,  pag.  3õ5. 

mostro  o  tempo  o  quo  quizcr, 
que  se  me  dessem  a  escolher 
tomársí  agora  capucho. 
IBIDEM,  pag.  389. 


—  o  Item.  Jlandou  que  se  pagasse  ame- 
tade  da  prata,  que  el  Ri'i  dom  Afonso 
seu  pai  tomara  das  Egrejas  peras  guer- 
ras de  Castella.  porquo  ha  outra  metixde 
dera  ho  Papa  ao  dicto  Roi  dom  Afonso, 
e  assi  ho  quo  faltava  por  pagar  do  di- 
nheiro, que  se  tomou  dos  orphaos  perá 
mesma  guerra,  o  também  do  dinheiro 
emprestado.»  Damião  de  Góes,  Chronica 
de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  1.  —  «Em 
quo  forma  se  podem  oxorcitar  os  sobre- 
ditos atíectos?  Tomara  alguns  exemplos 
práticos  por  onde  me  governasse.»  Padre 


TOMA 
Manoel  Bernardes,  Exercícios  espirituaes, 

pag.  :u. 

-(•  TOMARÁ.  F<»rnia  do  verbo  twiar  na 
terceira  pessoa  do  singular  do  futuro  ini- 
perfoito  do  modo  indicativo.  Vid.  Tomar. 

Co'  o  lavor  pôde  passar. 
Diz  minlin  !-enliora  quo 
llie  fará  grande  mercê 
mandal-a  desenganar 
antes  quo  o  dinheiro  dé  ', 
se  é  tal,  80  a  tomará. 

ÁMTONIO  rUESTEB,  AUIOS,  pag.  4Ó1 . 

—  •  Imaginará  que  ás  niinlias  lágrimas 
deve  a  vossa  approvação;  tomará  em  brio 
renunciar  á  felicidade;  prolongará  no.ssa 
incerteza,  e  seus  tormentos.  Por  mais 
desamparada  que  no  mundo  se  veja  uma 
mulher  tão  scusivel  como  Suzanua,  gran- 
de tem  de  ser  o  esforço  que  ella  faca  an- 
tes que  se  resolva  a  vir  ter  com  um  noi- 
vo, se  na  carta  lhe  apontáes  tal  nome.» 
Francisco  ^(anocl  do  Nascimento,  Suc- 
cessos  de  madame  de  Seneterre. 

f  TOMAHÃO.  Forma  do  verbo  tomar 
na  terceira  pessoa  do  plural  do  futuro 
imperfeito  do  modo  indicativo.  Vid.  To- 
mar. 

•f  TOMARÃO.  Forma  do  verbo  toviar  na 
terceira  pessoa  do  plural  do  pretérito  per- 
feito do  modo  indicativo.  Vid.  Tomar.  — 
«Como  se  dissera,  que  na  era  de  1077.  que 
he  anno  de  Christo,  1039.  se  tomarão 
muitos  Povos  nos  estremes  do  Douro,  assi 
alem,  como  a  quem  de  sua  corrente,  por 
Villar,  Turpim,  Almeida,  a  Idanha  ate 
Riba  Tcjo.u  Mouarchia  Lusitana,  liv.  7, 
cap.  28.  —  «Kisto  tomaram  outras,  c  pos- 
to que  o  cavalleiro  negro  fosso  destro  e 
esforçado,  Albayzar  lho  fazia  taiuta  van- 
tagem, que  nesta  segunda  carreira  o  der- 
ribou por  cima  das  ancas  do  cavallo,  per- 
dendo elle  ambos  estribos,  e  eo'a  força 
do  encontro  quo  recebeu,  lhe  foi  forçado 
abraçar-se  ao  colo  do  seu.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  dlnglaterra,  cap.  84. 


E  hij  mataram  Christãos, 
armas,  ancoras  tomarátn, 
cadeas  douro  deixaram, 
e  auees  nos  dedos  sàos. 

a.   DE   BEZEKDE,   UISCELLAMEA. 


—  «Partido  Vasco  da  Gama  daquelle 
lugar  de  perigo,  ao  seguinte  dia  achou 
douâ  zambucos  que  vinhaõ  porá  aquella 
cidade,  de  que  tomarão  hum  com  treze 
Mouros,  porque  os  macs  se  lançarão  ao 
mar.»  Barros,  Década  1,  liv.  4,  cap.  õ. 
—  «D.  João  de  Lima,  e  os  outros  Capi- 
tães também  andavam  em  outro  trabalho, 
e  maior  do  que  tiveram  os  (luc  tomaram 
a  ponte;  e  esta  foi  a  causa  do  logo  não 
acudirem  a  cila,  como  lhe  Aflbnso  d'Al- 
boquorque  tinha  mandado.»  Idem,  Déca- 
da 2,  liv.  6,  cap.  4. —  «O  qual  dia  pa- 
rece que  aprouue  a  nosso  Senhor  que  fos- 
se todo  por  nós :  porquo  mandado  Affonso 


TOMA 

d'Alboquerqae  a  Garcia  de  Soasa,  e  a 
lorge  d'AcunLa  naqui-lla  própria  noite  á 
outra  parte  da  terra  lirnie,  onde  chamSo 
BanJes,  dciilo  no  baluarte  que  os  Mouros 
lá  tinhão,  o  qual  tomarão,  e  toda  a  ar  te- 
lharia  que   netie  auia.»    Ibidem,  cap.  õ. 

—  «E  a  causa  deste  damno  foi,  que  sa- 
bendo 08  !&Iouros  que  navegavam  o  mar 
Roxo,  pêra  onde  cilas  hiam  carregadas, 
como  elle  Affonso  d'Alboquerque  era  den- 
tro, temendo  de  o  encontrar,  partiram 
dos  portos  da  índia,  onde  tomaram  carga 
quasi  no  iim  da  monç3o  do  tempo,  pare- 
ccndo-lhes  que  a  este  seria  elle  sabido  do 
estreito.»  Ibidem,  liv.  8,  cap.  6. —  «E 
porque  hum  tilho  seu,  chorando  se  lhes 
<|U'ixou  deste  grande  mal,  lho  lançara? 
vivo  ao  mar,  atado  de  pees  e  mãos,  e  a 
elle  meterão  em  ferros,  e  lhe  liavào  todos 
03  dias  muytos  açoutes,  e  lhe  tomairão  sua 
fazenda,  que  erào  mais  de  seis  mil  cru- 
zados, dizendo,  que  não  era  licito  lograr 
bens  de  Deos,  senão  os  MassolevmCea, 
justos  e  santos  asi  como  ellea.»  Fernão 
Mendes   Pinto,  Peregrinações,   cap.   43. 

—  «Ávido  conselho  sobre  o  que  nisto  se 
faria,  se  assentou  por  parecer  dos  mais 
que  os  dous  Mouros  que  se  tomarão  se 
não  inquirissem  com  tratos  como  eètava 
determinado,  assi  por  nào  os  escandali- 
zarem, como  por  não  ser  necessário.»  Ibi- 
dem, cap.  48.  —  «E  fo  se  receber  elRei 
dom  Fernando,  ao  qual  chegarão  quasi 
em  saindo  da  cidade,  e  em  ho  vendo  se 
dtícerào,  e  por  ha  pressa  da  gente  ser 
muita,  ho  mordomo  niór,  e  ho  capitão  dos 
genetes  tomarão  dom  George  nos  braços, 
por  ser  moço,  e  baixo  do  coipo,  pêra  po- 
der.» Damião  do  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  1,  cap.  2è.  —  «Neste  auno 
de  M.  D.  xvi.  estando  Diogo  lopez  de 
sequeira  em  Arzilla  tendo  as  sete  cara- 
uellas  que  lhe  ticarão  ancoradas  no  are- 
tice,  tomarão  duas  fustas  de  L..rache  bu- 
ma  carauella  que  vinha  do  algarue  sem 
lhe  estoutras  poderem  valer,  posto  que 
fosse  bem  perto  da  villa,  por  ser  maré 
vazia,  com  que  não  podiâo  sair.»  Ibidem, 
part.  4,  cap.  8.  —  «Os  do  batel,  que  to- 
maram o  caminho  de  Chaul,  quiz  Deos 
j)agar-lhes  sua  desbumanidade,  (porque 
não  cuidem  que  ha  quem  possa  fugir  a 
seus  castigos,^  e  assi  foram  dar  com  a 
Armada  de  Dio,  que  já  andava  fora,  que 
seriam  trinta  e  treJ  galeotas  mui  bem  pe- 
trechadas,  de  que  era  Capitão  mór  bum 
valente  Mouro  cluimado  Alixá.»  Diogo 
de  Couto,  Década  4,  liv.  4,  cap.  9. — 
«Sabia  pela  Cidade  às  vezes,  para  ver  as 
cordas  delia:  e  entre  algumas  que  vi  em 
huma  praça,  vi  enforcado'  três,  ou  qua- 
tro carapuções  do  Sufi  que  tomarão,  e  ca- 
tivarão os  donos  delles,  por  se  quererem 
muyto  grande  mal  huns  aos  outros:  pe- 
las gentes  do  Reyuo  do  Sufi  mal  dizerem 
em  publico  dos  seus  Profetas,  a  que  hum 
chamào  Otumaõ,  e  outro  o  mar  Bubaca.» 

I  António  Tenreiro,  Itinerário,  cap.  28. 


TOMA 


TOMA 


TOMA 


759 


Ora  aquelles  que  passaram 

escarraram 

e  detiverara-se  alli ; 

folgara  que  me  tomaram 

n'outro  tempo,  não  já  assi. 

ANTÓNIO  PRE3TKS,  AUTOS,  pag.  263. 

—  oE  sendo  certo,  que  em  Castella,  e 
em  outras  partes  de  Espanha  se  tomarão 
as  Cruzes,  Aspas,  Luas,  e  Estrellas  pela 
occasiaõ  da  guerra,  que  naquellas  Pro- 
víncias ouve  com  os  Mouros.»  Severim 
de  Faria,  Noticias  de  Portugal,  Disc.  3, 
cap.  6.  —  «Os  Vasconsellos  descendem  dos 
de  Ribeira,  os  quaes  tomarão  por  armas 
as  ondas,  alludindo  à  Ribeira.  E  como 
03  Vasconcellos  suceederaõ  no  Senhorio 
grande  dos  Ribeiros,  e  seu  iilustre  san- 
gue, trouxeraõ  também  suas  armas.» 
Ibidem,  cap.  15.  —  «Muitas  Familias  to- 
marão por  armas  daquella  Casa,  e  Fa- 
milia  donde  tiveraõ  seu  tronco,  de  que 
podem  ser  exemplo  as  que  descendem 
dos  Revs. »  Ibidem.  —  «E  por  se  preza- 
rem de  semelhante  invenção,  tomarão 
por  divisa  das  suas  armas  huma  Lua  no- 
va, a  que  chamavaõ  Mynoides.  O  Mez 
dividise  em  Lunar,  e  Solar.  O  Mez  Lu- 
nar he  o  movimento,  ou  curso  synodico, 
que  fòs  a  Lua  desde  que  se  aparta  do 
Sol,  c  torna  a  recorrer  com  elle,  despois 
das  suas  phases,  ou  apparencias  costuma- 
das de  Lua  nova,  quarto  crescente,  etc. 
Gasta  este  Cvclo  29  dias,  12  horas,  44 
minutos,  e  3  segundos.»  Braz  Luiz  de 
Abreu,  Portugal  medico,  pag.  529,  § 
129. 

f  TOMARDES.  Forma  do  verbo  tomar 
na  segunda  pessoa  do  plural  do  futuro  do 
modo  conjunctivo.  Vid.  Tomar. —  «Mas 
porem  arreceamos  que  os  mouros  per  on- 
de auia  de  passar  ho  tomarem,  e  se  vos 
ouuerdes  por  bem,  do  qu3  nos  teremos 
muito  contentamento  quererdes  casar  vos- 
sas filhas  com  nossos  filhos,  e  enuiarde- 
las  cá,  6  tomardes  nossas  filhas  para  vos- 
sos filhos,  volas  enviaremos  la,  com  seus 
dotes  do  mirita  somnia  douro,  o  prata.» 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  3,  cap.  59. 

j  TOMAREIS.  Forma  do  verbo  tomar  na 
segunda  pessoa  do  plural  do  futuro  im- 
perfeito do  modo  indicativo.  Vid.  Tomar. 
—  «A  peça,  que  pedis  qiie  oôereça,  nào 
tenho;  vencei-me,  que  depois  tomareis  a 
satisfação  á  vossa  vontade.  Parece-rae 
também,  disse  Florendos,  que  não  tenho 
que  dizer.  N'isto  se  concertou  uma  ja- 
nella  pêra  Miraguarda  vêr  a  batalha.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  110. 

f  TOMAREM.  Fíirma  do  verbo  tomar  na 
terceira  pessoa  do  plural  do  futuro  do 
modo  conjunctivo.  Vid.  Tomar.  —  «Fov 
o  Concilio  que  fez  celebrar  em  Lugo,  a. 
que  concorrerão  os  Prelados  e  Sacerdotes, 
da  mavor  parte  de  Galiza,  para  efeito 
(segundo  parece  de  huma  antiga  escri- 
ptura  que  ha   na   mesma    Cidade,    cujo 


principio  já  referimos  acima)  de  se  darem 
á  execução  as  cousas  determinadas  no 
Concilio  de  Braga,  e  tomarem  determi- 
nação final  na  divisão  dos  Bispados,  que 
inda  naõ  estava  bem  liquidada,  onde  atri- 
bue  só  ao  Bispado  de  Lugo,  os  onze  Con- 
dados repartidos  por  suas  demarcações.» 
Monarchia  Lusitana,  liv.  6,  cap.  16.  — 
«Ha  causa  foi  porque  de  tomarem  hos 
filhos  aos  ludeus  senão  podia  recrecer 
ninhum  dano  aos  Christãos,  que  andaõ 
espalhados  pelo  mundo,  no  qual  os  ludeus 
por  seus  peocados  nam  tem  regnos,  nem 
senhorios,  cidades,  nem  villas,  mas  antes 
em  toda  parte  onde  viuem  sam  peregri- 
nos, e  tributários,  sem  terem  poder,  nem 
authoridade  pêra  executar  suas  vontades 
contra  has  injurias,  e  males  que  lhes  fa- 
zem.» Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  1,  cap.  20. 

1.)  TOMARES,  s,  m.jilur.  — Ter  dares 
e  tomares  com  alguém;  ter  conversações, 
tractos,  disputas. 

f  2.)  TOMARES.  Forma  do  verbo  tomar 
na  segunda  pessoa  do  singular  do  futuro 
do  modo  conjunctivo.  Vid.  Tomar. 

-{-  TOMARMOS.  Forma  do  verbo  tomar 
na  primeira  pessoa  do  plural  do  futuro  do 
modo  conjunctivo.  Vid.  Tomar.  —  "Adiã- 
te  descobrimos  o  Bande.l  velho,  e  o  cabo 
Dofar,  os  Beduins,  e  o  Bandel  dagoa,  e 
outras  terras  de  Mouros  sem  tomarmos 
porto  em  alguma  delias.  Atè  que  chega- 
mos ao  cabo  de  Guarda  Fuy,  onde  se 
acaba  a  vitima  parte  da  segunda  do  mun- 
do.» Frei  Gaspar  de  S.  Bernardino,  Iti- 
nerário da  índia,  cap.  7. 

f  TOMASSEM.  Forma  do  verbo  toviar 
na  terceira  pessoa  do  plural  do  pretérito 
mais  que  perfeito  do  modo  conjunctivo. 
Vid.  Tomar. —  «No  mar  (posto  que  os 
Cossarios  Olandezes,  e  Inglezes  tomassem 
duas  Náos  da  índia  Oriental,  huma  na 
Ilha  de  Santa  Elena,  e  outra  á  vista  do 
Reino,  que  por  arribar  vinha  mui  destro- 
çada, e  com  a  gente  toda,  ou  morta,  ou 
mui  enferma)  alcançou  por  seus  Capitães 
vietoria  de  muitos  baxeis  iuimigos,  em 
alguns  dos  quaes  se  ganhou  uma  preza 
mui  rica,  e  enfreou  sua  ouzadia  de  ma- 
neira, que  se  pode  navegar  no  Oceano 
com  mais  quietação,  e  menos  perigo.» 
Frei  Bernardo  de  Brito,  Elogios  dos  reis 
de  Portugal,  continuados  por  D.  José 
Barbosa.  —  «El  Rey  lhes  respondeo  que 
bem  via  quanta  razão  tinhão  no  que  lhe 
dezião,  pelo  que  lhes  rogava  que  lhe 
aconselhassem  o  que  então  devia  de  fa- 
zer, a  que  elles  disseraõ  que  esperasse 
pelo  bonzo  Teixe  andono,  e  não  tomasse 
outro  conselho,  porque  por  elle  ser  mais 
santo  que  todos  lhe  affirmavão  que  só  com 
lhe  pôr  a  mão  lhe  daria  saúde,  como  ja 
fizera  a  outros  nmytos,  de  que  elles  eraõ 
testemunhas.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pe- 
regrinações, cap.  137.  —  aE  com  outros 
duzentos  de  cauallo  mandou  Martinho 
Helche,  tio  de  Molei  Abrahem,  irmam  de 


sua  mãi,  que  fosse  pola  varzia  sair  aho 
valle  de  George  Vieira,  pêra  que  tomasse 
estes  almogaures  no  meo.»  Damião  de 
<Toes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  4, 
cap.  47.  —  «Dom  loam  coutinho  antes  de 
chegar  Arzilla  escreueo  per  hum  barco  de 
pescadores,  de  que  era  Araez  Lopo  afilha- 
do, a  dom  Duarte,  avisandoho  dalgumas 
cousas  necessárias  ao  tempo,  e  sazom 
delle,  mandando  aos  pescadores  que  a 
força  de  remo  tomassem  Tanger, »  Ibi- 
dem, cap.  5.  —  «O  Visorey  se  aposentou 
na  feitoria,  e.logo  despedio  seu  filho  D. 
Fernando  de  Menezes  cÕ  quinhentos  ho- 
mens pêra  se  hir  meter  na  Cidade  da  Co- 
ta, pêra  que  tomasse  os  passos  delia,  por- 
que ninguém  sahisse  pêra  fora :  o  que  D. 
Fernando  fez,  pondo  hum  Capitão  com 
cem  homens  em  guarda  das  casas  de  El- 
Rey,  pêra  que  se  não  bulisse  em  cousa 
alguma,  fazendo-se  estas  prevençoens, 
que  escandalizarão  a  muitos.»  Diogo  de 
Couto,  Década  6,  liv.  9,  cap.  17.  —  lE 
que  para  isso  tomassem  três  dias  de  es- 
paço, em  que  por  jejuns,  lagrimas,  e  bra- 
dos pedissem  todos  a  huma  voz  remédio 
e  socorro  ao  alto  Senhor  das  misericór- 
dias, em  cuja  mão  estava  muyto  certo 
este  remédio  que  pretendião. »  Fernão 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.  92. — 
«Todavia  logo  mandou  vir  diante  si  qua- 
tro ou  sinco  escravos  brancos  com  boas 
espingardas  que  mas  amostrassem  se  eraõ 
boas,  e  que  as  tomasse  na  maõ,  o  eu  lhe 
disse  que  eraõ  muyto  boas,  tornando-me 
a  dizer  outra  vez  que  estivesse  alli  com 
elle  alguns  dias,  e  que  veria  a  guerra 
que  elle  tinha  com  aquellas  gentes.»  An- 
tónio Tenreiro,  Itinerário,  cap.  26. 

!Manda  o  Capitão  a  este  que  tomasse 
A  b.ircaça  que  em  companhia  andava 
IA  de  Lopo  de  Sousn,  e  a  presentasse 
Ao  baluarte  que  o  Falciío  mandava  ; 
E  que  a  recolher  ncUa  lhe  ajudasse 
Quando  no  baluarte  entào  estava 
Que  para  a  guerra  sirva  ou  lhe  convenha, 
Artilharia,  ou  gente,  ou  mais  que  tenha. 

p.  d'andrade,  priueibo  cerco  de  Dio,cant.  10, 
est.  105. 

t  TOMASTES.  Forma  variável  do  ver- 
bo tomar  na  segunda  pessoa  do  plural 
do  pretérito  perfiito  do  modo  indicativo. 
Vid.  Tomar.  —  Tomastes  bom  conselho, 
—  «Bom  conselho  me  parece  que  tomas- 
tes, disse  o  escudeiro  do  gigante,  que, 
pois  está  claro  serdes  vencido,  será  com 
menos  vossa  deshonra.  Essa  certeza,  dis- 
se Platir,  tereis  vós,  e  os  que  o  muito 
desejarem,  que  a  nós  outra  esperança 
nos  fica.»  Francisco  de  Moraes,  Palmei- 
rim d'Inglaterra,  cap.  118. 

TOMATE,  í.  m.  Termo  de  botânica. 
Hortaliça  vulgar,  espécie  de  fructo  que 
nasce  de  uma  planta  pequena  com  talos 
felpudos,  cheiro  forte,  para  guisar  mo- 
lhos; c  de  côr  vermelha  em  maduro,  e 
tem  florinhas  amarellas   d'onde  nasce  o 


*760 


TOMA 


TOMB 


TOME 


fructo  que  ó  roclonflo,  ou  clivi(li'lo,  antos 
marcado,  como  alguns  niolõo.s  com  regos 
a  espaços,  otc. 

TOMATEIRO,  s.  m.  1'lanta  hortense 
que  ])1'ihIuz  ih  tomates, 

f  TOMÁVÃO.  F<')i-ina  variável  <lo  vit1)0 
tomar  na  terc<!Íra  pessoa  do  plural  do 
pretcrito  inípcrtoito  do  modo  indicativo. 
Vid.  Tomar.  —  «No  movo  desta  nossa 
ociosidade,  hum  dos  três  que  éramos,  por 
nomo  Diogo  Zoimoto,  tomava  algumas 
vezos  por  passatempo  tirar  com  huma 
espingarda  ipio  tinha  do  seu,  a  que  ora 
niuvto  inclinado,  e  na  qual  era  assaz  des- 
tro.» Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  134.  — •  «E  por  tV)ra  ipiauto 
•tomava  toila  grandesa  do  terroyro  esta- 
rão p^issante  de  mil  arcabuzeyros,  o  qua- 
trocentos homens  em  bons  cavallos  acu- 
bertados,  e  a  fora  estos  a  gente  do  povo, 
que,  como  digo,  não  tinha  couto.»  Ibi- 
dem, cap.  224. 


Cora  grando  cn^onho  a  faz,  o  com  gi-andc  arte, 

Ccroa-a  de  forto  imiro,  o  larga  cava, 

Quo  toma  da  Ilha  muito  maior  parte 

Do  que  a  povoa(;ão  antes  tomara; 

Põe  aqvii  a  torre,  alli  o  baluarte, 

Onde  a  ncceaaid  idn  o  demandava, 

Do  grossa  artilharia  lhe  põe  tanto 

Quo  nada  tomo,  cm  tudo  causo  espanto. 

r.  D'ANnii\DE,  rm.MKiRO  cunco  dk  diu,  cant.  6, 
est.  23. 


—  «PedraUiarez  por   nào   Icixar   à  el- 
Rei  com  esta  prosumjiçaõ  que  a   mingua 
do  cabedal  naõ  tomaua  mais  carga,  man- 
dou mostrar  aos  seus  officiaes  quo  anda- 
uaõ   neste  negocio   dous  ou   três   cofres 
cheos  de  dinheiro  em  ouro :  dizendo  que 
elle  tinha  ainda  tanto  dinheiro  que  bem 
poderá  carregar  cinco  ou    seis    nãos  que 
lhe  o  mar  comera,  porque  pêra  todas  le- 
uaua  cabedal,  mas  c<nno  aquellas  que  ali 
trazia  hiaij  ja  abarrotadas    com   a    carga 
que  lhe  dera  olKcy  de  Cochij  uaõ  podia 
leuar  raaes,  nem  sua  vinda  àquello  porto 
fora   por  razaõ   de   carga,    somente   por 
seruir  elRey.»  Barros,  Década  1,  llv.  5, 
cap.  9.  —  f  Duarte  pacheco    como   soube 
da  chegada  dei  Hei  de  Calecut,  e  da  fro- 
ta que  vinha  sobrclle,  mandou  dar  cabos 
da  carauella  a  hum  dos  bateis,  o  daquel- 
le  ao  outro  guarnecidos    com    cadeas    de 
ferro  gi-ossas,  com   que  tomauam  todo   o 
passo,  na  qual  ordem,  com  muitas  bom- 
bardadas,  receberam  esta  armada  dol  Rei 
de  Calecut,  de  que  em  chegando  arrom- 
baram alguns  paraos,  o    mataram   muita 
gente,  sem  dos  nossos  perigar  nenhum.» 
Damião  de  Coes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  1,  cap.  86.  —  cDos  homnes  do  mar 
pescadores,  e  barqueiros,  para  o  que  es- 
tavaõ  todos  alistados,  e  quando  sahiaij  as 
Calos,  tomavaõ  a   vintena   desta  gente, 
que  ora  hum  do   vinte,    para   os   pòr   ao 
remo,  e  o  Anadel  ílòr  tinha  cargo  de  os 
mandar  assentar  nestes  livros,  que   cha- 


niavari  de  Armaçafí,  e  ob  constrangia  a 
virem  por  moio  do  sous  Officiaes,  a  quem 
chamavaò  Vintoiíeiros.»  rtevcrim  de  Fa- 
ria, Noticias  de  Portugal,  Disc.  2,  cap. 
14.  —  íD'osso  modo  esse  desconsiderado 
mancebo  quo  so  computava  com  a  sua 
aflei<;rio,  quando  menos  prezava  a  nobre- 
za que  punha  atalho  ao  cumprimento  de 
seus  desejos;  a  tomava  agora  por  guia, 
quando  ella  sous  ilosignios  apadriídiava ; 
sacrificando  unicamente  ao  amor  em  uma 
e  em  outra  circumstancia. »  Francisco 
I\Ianoel  do  Nascimento,  Successos  de  ma- 
dame de  Seneterre. 

TOMBA,  ».  /.  Itomondo  no  rosto  do 
sapato  on   bota. 

TOMBADILHO,  «.  »i.  Termo  de  mari- 
nha. Meia  coberta  sobro  o  castollo  da 
popa. 

TOMBADOR,  n.  m.  Homem  quo  faz  tom- 
bo, ou  atondja  terras,  etc. 

—  Homom  quo  d;l  tombos,  lançando 
do  alto  a  baixo,  ou  levantando,  o  dei- 
xando cair,  —  Tombador  de,  feArag. 

TOMBAMENTO,  s.  m.  Termo  pouco  em 
uso.  Acçru)  de  tombar,  e  etlcito  d'esta 
acç.MO. 

TOMBAR,    i'.  n.  Cair. 

—  Retumbar. 

—  V.  a.  Dar  tombo,  derribar,  botar 
de  alto  para  baixo. 

—  Figuradamente  :  Tombar  o  inundo 
de  leste  a  oeste. 

—  Tombar  terras;  dar,  tombo,  derri- 
bar, fazer  tombo,  lançar  em  tombo,  ou 
por  assento  as  terras  o  propriedades  com 
suas  confrontações,  medidas  e  todas  as 
clarezas  necessárias  para  constar  o  nu- 
mero, e  qualidades  de  quaesquer  proprie- 
dades e  rendas  de  alguém. 

TOMBO,  s.  m.  Queda,  ou  golpes  que 
dil  a  cousa  caindo,  volvendo-se,  e  saltan- 
do. —  Os  tombos   do  dado. 

—  Inventario  authentico  dos  bens  e 
terras  de  alguém  com  suas  confrontações, 
rendas  e  direitos,  encargos,  demarcações, 
etc. 

—  Figuradamente  :  Dlz-so  do  homem 
muito  noticioso  e  erudito. 

—  Rede  de  tombo ;  espécie  de  rede 
do  caçar  aves, 

—  Figuradamente  :  Diz-so  do  homem 
que  sabe  as  noticias  e  anecdotas  da  ter- 
ra onde  vivo,  conhece  tudo,  e  dá  infor- 
mações de  todos. 

—  Julgar  a  justiça  aos  tombos  do  da- 
do; incertamente,  sem  conselho  certo  c 
determinado,  como  acontece  a  sorte  aos 
litigantes  sob  juizes  maus. 

—  Torre  do  tombo ;  a  casa  em  que  se 
conservam  os  livr.'S,  registros  ou  origi- 
naes  das  leis,  cscripturas  publicas,  con- 
tractos e  ti'atad(is  com  as  nações  estran- 
geiras, etc,  e  outros  papeis  authenticos 
do  reino.  —  «Jlandou  logo  screver  os 
tombos  autênticos  de  todas  as  propriada- 
dcs,  foros,  rendas,  c  obrigações,  quo  se 
tinhSo  a  estas  casas,  e  capellas,   de  que 


mandou  fazer  do  cada  hnm  dous  liuros, 
hum  pêra  ficar  nos  cartorcos  das  mesmas 
casas,  c  outro  pêra  se  lauçiir  na  Torro 
do  tombo  do  regiio,  mas  deites  mui  pou- 
cos se  trouxeram  a  oUa,  o  (jue  seria  per 
negligencia,  o  culjia  das  po.^soas  a  quo 
elle  encomendou,  o  encarregou  que  o 
fozossetn.»  Dami.lo  do  Coes,  Cbroaica  de 
D.  Manoel,   caji.  04. 

TOMBORO,  «.  m.  Termo  antiquado. 
Em  Ura;.'ança  tomava-.io  por   Onni/ro, 

f  TOME.  Fi»rma  do  verbo  tfjmar  na 
primeira  ou  terceira  pessoa  do  singular 
lio  presente  do  modo  conjunctivo.  N\>\. 
Tomar.  —  «D  EscripvSo,  que  os  ouver 
de  fazer,  tome  huma  doljra  de  papel,  e 
através  delia  ponha  o  dia,  e  mez,  e  era, 
o  lugar,  ent  que  se  livra,  o  desembargua, 
e  logo  a  fundo  dous  iledos  comece  poer 
as  petiçoões,  como  buso  ho  declarado,  com 
suas  perguntas,  e  entre  petiçom,  e  pe- 
tiçom  icixe  espaço  do  dou»  dedos.»  Ord, 
AffoDS.,  liv.  1,  tit.  4,  §  16. 

Mas  Ja  quo  foi  minha  cstrclla 
Ser  diabo,  e  ter  tal  nomo, 
Guardae-vos,  que  vos  não  tomt. 

CÁM.,  BF.DOMDlLnAS. 


E  quem  .nlcançsdo  tem 
Tamanho  contentamento ; 
Por  con8crv!Í-lo  convém 
Que  tome,  por  mantimento 
A  fome  de  tanto  bem. 

iPEu,  AMFaiTBiÚEs,  act.  3,  SC.  1. 

Nome  t  muito  á  maneira 
de  minha  filha,  que  tomt 
castelo,  arvoro  c  bandeira  : 
va-se  :  olhe  quo  o  esporo 
á  meia  noute. 

i.NTo:<io  PBESTES,  ACTOS,  pag.  487. 

7  TOMEI.  Forma  do  verbo  tomar  na 
primeira  pessoa  do  singular  do  i>reterito 
perfeito  do  modo  indicativo,  Vid.  Tomar. 

Enganosas  esporíinças 
Pois  sem  rC3.'«m  vos  tomei 
com  ellas  vos  deixarei. 

CRISTÓVÃO  FALCÃO,  OBRAS,  pAg.   34   (cdiç. 

do  1S7U. 


-J-  TOMEIS.   Forma  do  verbo  tomar  na 
segunda  pessoa 
modo  conjunctiv 


UiUUlO.      1.  Ill  111.*    tn-í     1  v-1  k^v     wit.^'       *i« 

tia  pessoa  do  plural  do  presente  do 
conjunctivo.  Vid.  Tomar. 


Filha  Inez,  assi  vivais 
Que  tomeis  esse  senhor 
Escudeiro  cantador 
E  caçador  de  pardnes, 
Sabedor,  rovol vedor, 
Fallador,  gracejador, 
Afteitado  pola  mão, 
E  sabe  do  gavião  : 
Tomnc-o  por  num  amor. 

on.  \1CEXTF.,    r.VBs-AS. 


Emque  não  queira. 
nSo  tomeis  uisso  eanceira. 


TOMO 


TOMO 


TOMO 


761 


Comprein'a,  por  vida  miaha, 
é  bonita,  é  de  meu  geito, 
está-me  bem,  como  que. 
AjíTONio  PBESTES,  AUTOS,  pag.  383. 


-j-  TOMEM.  Fijrma  do  verbo  tomar  na 
tei'ceira  pessoa  do  plural  do  presente  do 
modo  coujunctivo.  Vid.  Tomar. 

A  virtndo  ha  mor  bem  que  esse? 
notem  isso,  e  isso  tomem, 
ter  uma  no  sentido. 

AKTOXIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  309. 

-{-  TOMEMOS.  Forma  do  verbo  fojnarna 
primeira  pessoa  do  plural  do  presente  do 
modo  conjunctivo.  Vid.  Tomar. 

Cortemos  palavras  d"obra, 
ó  cabo  d'ellas  tomemos 
Sancta  Helena,  e  arranquemos. 
Eu  quero-as,  quero  obra 
que  o  farei,  torna  faremos. 

ANIOXIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  37. 


Isso  é  bom  mote ! 
tomae  chocos  que  vos  dom  ; 
olhae  que  este  abexim  xem, 
tom-emol-o  por  guilhotc. 
iBiDEa,  pag.  408. 


TOMENGIO,  s.  m.  Termo  de  historia 
natural.  Pequeno  pássaro  do  Brazil,  de 
grandeza  superior  á  de  uma  cigarra,  de 
pennas  de  diversas  cores,  e  de  suave 
canto  :  tem  virtude  medicinal. 

TOMENTELLO,  s.  m.  Vid.  Tomento. 

TCMENTINA,  s.  /.  Herva. 

TOMENTO,  s.  m.  (Do  latim  tomentum). 
Parte  librosa  áspera  do  linho,  que  se  tira 
ao  assedado,  e  é  a  ultima  escoria  ou  alim- 
padura  para  o  afinamento  d'elle. 

TOMENTOSO,  A,  adj.  Termo  de  botâ- 
nica. Diz-se  das  superficies  cobertas  de 
cotanilho  com  pellos  compridos. 

TOMILHO,  s.  m.  .\rbusto  de  diíFeren- 
tes  espécies,  odorífero.  E  das  suas  flores 
que  as  abelhas  extrahem  o  melhor  mel. 

TOMIM,  ?.  m.  Termo  antiquado.  Peso 
inferior  á  oitava. 

TOMO,  s.  m.  (Do  latim  tamus).  Volume 
que  faz  parte  de  uma  obra  impressa  ou 
mannscripta. 

—  Emprega-se  algumas  vezes  simples- 
mente por  volume.  —  Mandou  imprimir 
todas  as  suas  obras  era  um  tomo. 

—  Figuradamente :  Fazer  o  segundo 
tomo  de  alguém ;  assimilhar-se-ihe  em  al- 
guma cousa.  —  Sois  um  segundo    tomo. 

—  Figuradamente  :  Importância,  sub- 
stancia, momento,  que  tem  corpo,  ser  e 
realidade.  —  Cousa  de  pouco  tomo.  — 
«Fingir  grande  negoceo  em  cousa  de 
pouco  tomo.»  Jorge  Ferreira  de  Vas- 
concellos,  Eufrosina,  act.  1,  se.  1. 

—  Homem  de  tomo  e  de  lombo;  ho- 
mem bem   fornido  de  membros  e  lombo. 

—  Figuradamente:  Homem  de  tomo  e 

voL.  V.  —  96. 


de  lombo;  homem  de  merecimento,  e  va- 
lor. 

—  Syx.  :  Tomo,  volume. 

Tomo  é  termo  de  litteratura,  e  designa 
as  differentes  partes  em  que  um  author 
divide  a  sua  obra.  Volume  é  termo  de 
livreiro  ou  de  encadernador,  e  designa 
um  livro  impresso,  encadernado  ou  bro- 
chado. 

O  volume  pôde  conter  muitos  tomos, 
e  o  tomo  pôde  fazer  muitos   volumes. 

A  encadernação  separa  os  volumes;  a 
divisão  da  obra  distingue  os  tomos. 

Uma  obra  p:')de  formar  um  só  volume; 
mas  não  se  dirá  um  só  tomo,  e  nunca 
pôde  ter  menos  de  dous  tomos. 

N.ào  se  deve  julgar  da  sciencia  de  um 
author  pela  grandeza  do  volume.  Ha  bas- 
tantes obras  em  muitos  tomos  que  seria 
melhor  que  se  reduzissem  a  um  só. 

\  TOMO.  Forma  do  verbo  tomar  na 
primeira  pessoa  do  singidar  do  presente 
do  modo  indicativo.  Vid.  Tomar. 

acerca  lá  d'um  morgado 
que  pola  linha  lhe  vem, 
afora  outro  que  tem 
cm  que  estii  encabeçado, 
e  muitos  casaes  ;  também 
muito  dinheiro  :  ora  emfim 
cu  o  tomo  sobre  mim; 
vós  n'isto,  lilha,  assignae. 

ANTOHIO  PRESTES,  ABIOS,  pag.  153. 

Já  tomo, 

escreve  d'ella  Plutarco; 
era  uma  matrona  honrada 
e  com  um  Hieron  casada 
também  grego,  homem  notável, 
tinha  o  bafo  insuportável, 
e  cila  um  dia  perguntada... 
Essa  é,  que  por  ahi  ia. 
IBIDEM,  pag.  309. 

TOMORO,  s.  m.  por  Cômoro.  Vid.  Tom- 
boro. 

-}■  TOMOU.  Forma  do  verbo  tomar  na 
terceira  pessoa  do  singular  do  pretérito 
perfeito  do  modo  indicativo.  Vid.  Tomar. 
—  «Um  dia  tomou  el-rei  seu  avô  no  apou- 
sento  de  Flerida,  e  sendo  presente  D. 
Duardos,  lhe  propoz  estas  palavras :  Por- 
que sempre,  senhor,  ouvi  dizer  que  a  boa 
obra  com  outra  melhor  se  deve  satisfa- 
zer, e  que  a  ingratidão  nos  príncipes 
mais  que  nos  outros  homens  se  ha  de  es- 
tranhar, lembrando-me  ser  vosso  neto, 
em  quem  este  erro  nunca  coube,  me  pa- 
receu que  seria  digno  de  muita  culpa  n.ào 
o  remedar  nesse  costume  como  em  ou- 
tros, que  inda  que  pola  fama  sejam  mui- 
to de  estimar  antre  virtuosos,  este  se  de- 
ve ter  em  mais.»  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  66. —  «Se- 
nhor, respondeu  elle,  em  bom  tempo  vos 
tomou  esse  desejo,  que  se  em  outro  vié- 
reis, essa  vossa  mocidade  fora  posta  no 
derradeiro  extremo  da  vida:  que  nos  dias 
passados  foi  senhor  delia  um  gigante  por 
nome  Bravorante,  cruel  e  cheio  de  toda 


malicia  e  engano,  costumava  ter  espias 
em  todos  seus  portos  pêra  o  informarem 
se  nelles  entravam  algum  cavalleiro  ou 
donzella.B  Ibidem,  cap.  117. —  c  Antão 
Gonçaluez,  tornando  se  pêra  este  Reyno 
veo  pelo  cabo  branco :  onde  em  huma  en- 
trada que  fez  em  huma  aldeã  tomou  cin- 
coenta  e  cinco  almas,  a  fora  outras  quo 
perecerão  em  seu  defendimento. »  Barros, 
Década  1,  liv.  1,  cap.  10. —  <  No  qual 
acto  foy  tanta  a  lagryma  de  todos,  que 
neste  dia  tomou  aquella  praia  posse  das 
muitas  quo  nella  se  derramaõ  na  partida 
das  armadas  que  quada  anno  vão  a  estas 
partes  que  Vasco  da  Gamma  hia  desco- 
brir: donde  com  razão  lhe  podemos  cha- 
mar praia  de  lagrymas  pêra  os  que  vão, 
e  terra  de  prazer  aos  que  vem.»  Ibidem, 
liv.  4,  cap.  2.  — •  «E  se  leixou  estas,  mães 
adiãte  na  paragem  de  Grp.nganor  tomou 
duas  que  vinhaõ  cõ  màtimentos  pêra  Ca- 
lecut: e  por  saber  per  os  Mouros  que  as 
nauegauaõ  serem  d'outros  da  mesma  ci- 
dade, cõ  a  qual  ficauaõ  em  ódio  as  quei- 
mou.» Ibidem,  liv.  õ,  cap.  8.  —  «AfFon- 
80  d'Alboquerque  em  quanto  Abrahem 
Bec,  e  o  Embaixador  do  Xeque  Ismael 
estiveram  na  Cidade,  e  elle  ordenou  es^ 
tas,  e  outras  cousas,  por  segurança  da- 
quelle  Reyno  de  Ormuz,  nunca  os  tomou 
por  parte  nisso,  ante  por  medianeiros,  co- 
mo a  homens  nobres  tão  acceitos  ao  Xe- 
que Ismael,  e  sempre  em  todos  aquelles 
negócios  qualquer  causa  que  lhe  elles  re- 
queriam, folgava  de  fazer.»  Idem,  Déca- 
da 2,  liv.  10,  cap.  5.  —  «Elle  em  huma, 
e  nas  três  vinham  Jorge  Nunes  de  Leão, 
Pêro  d'Alpoem,  que  era  nas  em  que  fo- 
ram da  índia,  e  Simão  Martins  em  hum 
junco,  que  tomou  naquelle  caminho,  to- 
do amarinhado  de  Jáos,  em  que  entra- 
vam muitos  carpinteiros,  calafates,  e  offi- 
ciaes  mecânicos.»  Ibidem,  liv.  6,  cap. 
7.  —  «Dom  alvar  perez  porque  o  uyo 
desarmado  nom  lhe  quis  dar  com  o  ferro 
da  lança,  e  tomou  o  conto  e  deulhi  com 
ele  no  escudo.»  Livros  de  linhagens,  t.  3, 
pag.  199,  cm  Portugal.  Monumenta  His- 
tórica. —  «Aqui  derribarão  o  Alferes  da 
bandeira  do  Gil  Fernandes  de  Carvalho, 
e  hum  Jorge  Borges  acodio  com  muita 
pressa,  e  a  tomou,  e  se  poz  em  cima  da 
tranqueira  com  ella.»  Diogo  de  Couto, 
Década  6,  liv.  9,  cap.  9. 


Tomou  assi  esta  impressa 
por  vontade,  ou  dcuaçam, 
de  modo  que  em  cõclusam, 
foy  assi  fecta  Duquesa, 
sem  sabermos  ha  razam. 

G.VSCIA  DE  REZEKDE,  MISCELLAKEA. 


—  «E  desta  determinação  que  el  Rey 
tomou  de  em  toda  maneira  socorrer  em 
pessoa,  e  descercar  seus  fidalgos,  cria- 
dos, e  caualleiros,  foy  logo  el  Key  de 
Fez  anisado. »  Idem,  Chronica  de  D. 
João    II,    cap.    82.  —  «E   logo   com   os 


762 


TOMO 


TOMO 


TONE 


Bispos,  e  capollâos  qiio  erSo  presentes, 
com  muyta  dcuaçâo  e  loinljran<;a  do  Deus 
tomou  a  dcrraileira  vnc^rio,  tuo  inteiro  na 
Fe,  o  com  tanta  acusa^ào  de  si  mesmo, 
quo  a  todos  fazia  iiuioja.»  Ibidem,  cap. 
212.  —  «Pois  saiba  o  Senhor  Mestre  do 
Oanipo,  quem  quer  que  be,  que  iica  sen- 
do cm  coiiaeiencia  taõ  grande  ladra(5,  co- 
mo 08  seus  Capitaens.  Respondcme  nc- 
gandomo  a  consequência;  porque  nada 
tomou  para  si.»  Arte  de  furtar,  cap.  7. 
—  «Neste  cainiiilio  tomou  liuui  zanibu- 
quo  com  quatorze  mouros,  entre  os  quaes 
hum  delles  parecia  ho  senhor  do  todos, 
homem  j)rudent6,  natural  da  mesma  ci- 
dade, de  quem  se  informou  dos  negócios 
da  Índia,  o  daquella  costa,  c  cm  special 
do  regao,  c  cidade  de  Moliule.»  Damião 
do  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part. 
1,  cap.  37.  —  «D^rpois  desta  eaualguda 
entrou  dom  Aluaro  aos  vinte  de  !Maryo 
pela  Enxouuia  pêra  ir  dar  em  huus  Adua- 
rcs,  quo  eâtauaõ  doze  legoa:i  da  cidade 
Dazamor,  e  no  caminho  a  trcs  iegoas 
delia  em  amanhecendo  encontrou  huma 
cáfila,  quo  atrauessaua  pêra  Duquala, 
que  guiauam  vinte  mouros  dos  quaes  to- 
mou 03  dozanoue  com  toda  a  cáfila.» 
Ibidem,  ynu-t.  4,  cap.  39.  —  «Passados 
poròm  alguns  dias,  que  Loreno  vivia  em 
A  conversação  dos  pastores  daquelle  lu- 
gar, onde  tomou  sua  cabana,  hum  dia 
antes  quo  amanhecesse,  acordando  de 
hum  doeo  sonho,  eni:  que  a  imaginação  o 
tinha  enlevado,  ouVio  huma  suave  voz, 
quo  cantava  do  pé. de  hum  castanheii'o, 
que  cora  sua  rama  cobria  a  porta  da  ca- 
bana de  Egerio ;  e  por  nau  perturbar  a 
gloria  que  na  alma  lhe  eauzava  aquella 
eaudade,  até  o  fôlego  reprimia  por  naõ 
•«uapirar,  e  ouvir  a  cantiga,  que  oraõ  es- 
tas endechas.»  Francisco  Rodrigues  Lo- 
.bo,  Primavera. 

Assim  ao  quo  tomou  Rolado  spasmo 
Toda  a  apparcnto  vida,  os  membros  rijos, 
Som  cõr  os  lábios,  pròiio  o  sanfíus...  é  morto: 
Ergue-se  o  carpir  d'orp!iami,  da  viuva. 

OIBBETT,    CASIUK3,  Caut.   3,  Cap.   4. 

—  Tomou  Chriato  a  pessoa  dos  pobres; 
rocebeu-a.  —  «Santo  Agostinho  diz,  que 
tomou  Christo  a  pessoa  dos  pobres,  e 
quiz  que  ouuisaemos  a  elle  em  qualquer 
(lellos  para  tirar  todas  as  escusas,  a  dei- 
xar do  fazer  esmola,  c  vsar  de  ehari  la- 
de :  porque  que  escusa  pode  dar  aquelle, 
a  quem  seu  Senhor,  c  seu  Deos  podo  hum 
pedaço  de  pam?»  Paiva  de  Andrade, 
Sermões,  pag.  117. 

—  Tomou  a  vingant;a;  vingou-se. 


Vimos  flou  filho,  quo  hordou, 
que  foy  Duque  Galeai;o, 
que  loam  Audré  dcsliom-ou, 
do  que  Toam  Aiidró  tomou 
a  vingança  om  brouo  espaço. 

alBCU  DE  REZEMOS,  MiaCBLL^!(BA . 


—  Tomou  terra;  ganhou-a,  conquis- 
tou-a. 

Matou  ho  Duíjue  de  Gandia, 
senhores  de  senhoria, 
quautiiB  torras  que  tomou, 
como  tam  cedo  accabou 
preso  e  morto  som  valia. 

U.   UB    IIKZeNUB,  MISCELLANEA. 

—  Tomou  as  insignias  reaes;  apodo- 
rou-so  d'ellas,  veUiu-as,  collocou-as  s(j- 
bro  os  houibros. —  «Este  como  era  muito 
j)rudento,  o  prevenido,  dando-lhe  o  reca- 
do da  parte  de  ElRey  a  desoras,  cousa 
nilo  costumada,  parocendolhc  mal  aquelle 
negocio,  80  sahio  logo  fora  da  Cidade,  e 
foy-se  meter  em  huma  mesquita.  Boran- 
dim  tanto  que  amanhcceo,  tomou  as  insi- 
gnias reaes,  e  se  poz  na  cadeira,  c  man- 
dou chamar  Mostafá  Carman,  e  iiearcan, 
c  llie  fez  grandes  pi-omessas  pêra  que  lhe 
fizessem  a  veneração  como  a  seu  Rey,  o 
que  fez  Bcarcaii  Abexim:  mas  Mostafá 
Carman  dissimulando  com  o  negocio,  sa- 
hindo-se  pêra  fura  se  poz  cm  hum  cavai- 
lo  muito  ligeiro,  o  se  partio  pela  posta 
pêra  Barochc  a  ilar  rebato  a  Madre  Jla- 
luco,  genro  do  Coge  Çofar,  que  era  hum 
dos  rege  lorcs  do  Keyno.»  Diogo  do  Cou- 
to, Década  6,  liv.  10,  cap.  IG. 

— •  Tomou  a  costa  de  Moçambique,  — 
oE  com  este  desengano  se  fez  á  vela  ca- 
minho da  índia,  o  com  hum  temporal 
que  lhe  deu,  Payo  de  Sà  tomou  a  cesta 
de  Moçambique,  e  dahi  foi  ter  ;l  Imlia 
em  companhia  da  armada  quo  partio  des- 
te Reyno  aquelle  anno,  c  loão  Serrão 
tomou  rioa  (como  ora  dissemos).»  Bar- 
ros, Década  2,  liv.  G,  cap.  10. 

—  Tomou  o  caminho  mais  apressado ; 
seguiu  uma  direcção  com  mais  pressa  do 
que  imaginava.  —  «Onde  achou  nonas 
que  Moloi  Mafiimedc  Rei  de  Fez,  e  Mo- 
loinacer  Rei  de  Maquincz,  vinhiío  cercar 
Azamor,  com  graõ  podor  de  gente,  pelo 
que  dom  loaõ  tomou  o  caminho  mais 
aprcjsa  lo  do  quo  cuidava,  e  por  o  rio  de 
Aguz  ir  cheo  so  deteue  trcs  dias  em  o 
passar,  onde  roceboo  cartas  do  Rui  bar- 
roto, e  da  mulher  do  Nuno  fornaudez 
que  estaua  cm  çafim,  e  de  Cide  Alimei- 
main  alcaide  de  Almedina,  jierquc  lhe 
afirmarão  tcrâsc  por  certo  esta  noua. » 
Damião  de  Ooes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  3,  cap.  49. 

—  Tomou  posse  do  governo;  assenho- 
reou-se  d'ellc.  —  «E  para  que  se  veja, 
como  as  cousas  vaõ  muitas  vezes  nesta 
parte,  contarey  o  quo  succedeo  ha  pou- 
cos annos  em  huma  praçA,  onde  foy  pro- 
vido por  Capitai)  mor  certo  cavalheiro, 
que  presumia  de  grande  soldado:  o  no 
primeiro  dia,  em  que  tomou  posso  do  seu 
feliz  governo,  lhe  foraõ  pedir  o  nome 
para  as  rondas  daquella  noite.»  Arte  de 
furtar,  cap.  38. 

—  Tomou  Lisboa ;  conquistou-a,  capti- 
vou-a,    ganhou-a  á  forçíi   de   armas.  — 


«Conieçou-8e  a  exercitar  a  Milicia  Portu- 
guesa no  mar,  depois,  que  EIRey  D. 
•Afonso  Ileni-iques  tomou  Lisboa,  assim 
pela  grandeza  e  capacidade  do  Porto, 
coino  pela  abundância,  que  nelle  hà  de 
madeira;  o  mais  nmteriaes,  que  para  ar- 
mar Navios  saò  necessários.»  .Sevcrim  de 
Faria,  Noticias  de  Portugal,  Disc.  2, 
cap.  13. 

—  Tomou  o  porto  de  CalaiaU;  apor- 
tou a  Caiaiate.  —  «O»  quaea  despedidos, 
mandou  Diogo  iojtcz  queimar  a  ilha  de 
Dalaça,  que  os  mouros  com  medo  da  sua 
frota  tinhaí)  despejada,  acolhendosso  a 
terra  firme,  o  quò  feito  se  foz  a  vela  pêra 
Ormuz,  e  de  caminho  tomou  o  porto  de 
Caiaiate,  onde  achou  fícorge  dalbuquer- 
que,  que  de  Moçambique,  o. ide  inuerna- 
ra  com  as  nãos  de  sua  capitania  ho  fora 
buscar  ao  cabo  de  Ouardafum,  como  lho 
mandara  dizer  a  Moçambique  por  Gon- 
çalo lie  loulct  Dami.ío  de  Goe»,  Chroni- 
ca de  D.  Manoel,  part.  4,  cap.  4b. 

—  Tomou  por  annas  uma  cruz,  — 
«Destes  foi  hum  o  Conde  D.  Rodrigo 
Frojaz  Pereira;  e  assim  tomou  por  armas 
esta  Cruz.»  Severiín  de  Faria,  Noticias 
de  Portugal,  Disc.  3,  cap.  6. 

TONA,  s.  f,  Pelle,  casca  ile  i)ouca 
grossura,  suporficie.  —  A  tona  da  cebola. 

—  Uma  tona  de  terra,  ou  areia;  uma 
camada  de  pouca  grossura. 

—  Loc. :  A  tona  da  agua;  quasi  á  su- 
perficie. 

TONADILHA,  s.  /.  Termo  popular. 
Cantiga  rústica,  o  própria  da  gente  cam- 
pestre. 

TONANTE,  adj.  e  s.  m.  Epitheto  poé- 
tico dado  a  Júpiter. 

—  Termo  popular.  Vadio,  pessoa  de 
más  jialavras  e  acções. 

TONDINHO,  s.  m,  (Do  francez  tondin). 
Termo  de  architoctura.  Pequeno  toro, 
moldura  redonda  da  grossura  de  uma  va- 
rinha, que  serve  para  adornar  a  base 
das  columnas.  Vid.  Astragalo. 

TONE,  s.  m.  Uma  espécie  de  embar- 
cação da  Ásia,  conhecida  outr'ora  pelo 
nome  de  almadia. 

TONEL,  í.  7)1.  Vaso  de  aduella  que 
comporta  cincoenta  até  setenta  e  cinco 
e  mais  almude.s,  ou  duas  pipas. 

—  Plur.  Toma-se  por  toncladat,  medi- 
da do  buço  do  navio. —  «A  capitaina  em 
que  Ília  a  Infante  ora  huma  nao  que  ae 
chamaua  Sancta  Catherina  de  monte  si- 
nal de  mil  toneis,  que  se  fez  na  índia, 
o  geral  darmada  era  dom  Martinho  de 
Castelbranco,  Conde  de  villa  noua  de 
portimam,  filho  uc  dom  Gonçalo  de  Cas- 
telbranco, o  que  rompeo  primeiro  a  bata- 
llia  do  Castro  queimado  que  el  Rei  dom 
Afonso  desbaratou.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Mauoel,  part.  4,  cap.  70. 

TONELADA,  s.  /.  Medida  pela  qual  se 
calcula  o  porte  e  frete  dos  navios,  acer- 
ca da  carga,  c  se  avalia  pelo  peso;  dous 
mil  arráteis  formam  uma  tonelada. 


TONO 


TOPA 


TOPA 


763 


—  Figuradamente  :  Porte  do  navio. 

—  Fijíuradamente  :  Peitos  de  mais  to- 
neladas de  valor,   de  hi-ios,   etc. 

TONELARIA,  s.  /.  Vid.  Tanoaria. 

TONELEIRO,  s.  m.  O  tanoeiro,  que  faz 
toneis. 

TONELETES,  s.  m.  (Do  francez  tmme- 
let).  —  Toneletes  das  armaduras,  ou  lei- 
tos d'armas;  são  uma  como  fralda,  ou 
fraldixo,  ou  peças  que  descem  da  cintura 
talvez  até  aos  joelhos,  como  pernas  sepa- 
radas unias  das  outras. 

TONIA,  s.  /.  Termo  de  medicina.  Vi- 
gor; diz-se  em  opposição  a  atonia.  Vid. 
Tonicidade. 

TONICIDADE,  s.  /.  Termo  de  medici- 
na. Estado  do  que  é  tónico,  consistindo 
Já  n'uma  manifestação  particular  da  elas- 
ticidade inlierente  a  certas  partes,  já  nos 
modos  de  contracção  muscular  das  fibras 
estriadas  sob  certas  influencias  nervosas. 

TÓNICO,  A,  adj.  (Do  grego  tonos).  Ter- 
mo de  medicina.  Que  offerece  resistência 
e  elasticidade,  fallando  de  um  tecido  or- 
gânico. —  Força  tónica. 

—  Termo  de  pathologia.  Espasmos  tó- 
nicos ;  diz-se  das  crispações  regulares 
ainda  submettidas  á  vontade,  em  opposi- 
ção a  espasmos  chronicos. 

—  Diz-se  dos  medicamentos  que  tem 
o  poder  do  excitar  lentamente  e  por 
graus  insensíveis  a  acção  orgânica  dos 
differentes  systemas  da  economia  animal, 
e  de  liies  augmentar  a  força  de  um  modo 
prolongado. 

—  Termo  de  musica.  A  nota  tónica; 
o  som  principal. 

—  Echo  tónico ;  aquelle  que  só  repete 
certos  sons,  ou  que  modifica  aqueJles  que 
transmitte,  de  modo  a  alterar-íhes  sensi- 
velmente a  natureza. 

—  Substantivamente  :    Um  t  onico. 
TONIDO,  s.  Mi.  Vid.  Sonido. 
TONILHO,  s.  m.  Toad^    musica,  acom- 
panhada de  instrumento,     ou  voz. 

TONINHA,  s.  /.  Atum  fêmea  novo. 

TONINHO,    s.  m.  Atum  pequeno  novo. 

TONIONEIA,  s.  /.  Termo  de  zoologia. 
Ave  do  Brazil,  mui  pequena,  e  que  se 
diz  ser  a  mais  pequena  ave  do  mundo. 

TONITRUOSO,  A,  adj.  Exposto  a  tro- 
voadas, sujeito  a  ellas,  infestado  d'ellas. 

1.)  TONO,  s.  m.  (Do  latim  tonus). 
Tono  musico,  ou  modo;  uma  idêa,  e  de- 
terminada disposição  de  harmonia;  moda, 
ária,  musica  de  alegrar  e  recrear,  pro- 
fana. 

—  LOC. :  Pôr-se  em  tono  de  fazer  al- 
guma cousa;  pôr-se  em  som,  e  modo,  e 
disposição,  act ). 

—  Tom  de  voz  de  quem  falia. 

2.)  TONO,  s.  TO.  Titulo  de  grande  no 
Japão. 

s.  /.  O  concerto  que  se  faz    á 
adega,    toneis,  pipas,   e  outros 


TONOA, 

louça   da 
vasos. 

—  Loc 
tal  louça. 


Fazer  a  tonoa;  concertar  a 


TONOEIRO,  s.  m.   Vid.  Tanoeiro,   or- 

thographia  preferivel,  e  termo  hoje  mais 
em  USD. 

TONOTEGHNIA,  s.  /.  (Do  grego  tonos, 
e  technc).  Termo  de  musica.  Arte  de  no- 
tar as  árias  em  geral,  fallando  mais  pro- 
priamente dos  órgãos  portáteis,  etc. 

TONSAR,  V.  a.  Tosquiar,  cortar  ca- 
bello  ou  lã. 

TONSURA,  s.  /.  (Do  latim  tonsura). 
Ceremonia  da  egreja  catholica,  pela  qual 
o  bispo,  entrando  um  individuo  no  esta- 
do ecclesiastico,  lho  dá  o  primeiro  grau 
da  clericatura  cortando-lhe  uma  parte  do 
cabello.  —  Receber  a  tonsura. 

—r.  Tomar  a  tonsura ;  entrar  no  estado 
ecclesiastico. 

—  Coroa  que  se  faz  na  cabeça  aos. clé- 
rigos, subdiaconos,  diáconos,  etc,  cor- 
tando-lhes  os  cabellos. 

— ■  A  acção  de  tosquiar,  ou  aparar  o 
cabello  da  cabeça,  ou  da  barba  longa, 
ou  de  outro  qualquer  cabello. 

TONSURADO,  part.  pass.  de  Tonsurar. 

TONSURAR,  V.  a.   Dar  a  tonsura. 

—  Abrir,  ou  fazer  a  tonsura. 

TONTAS.  Termo  usado  na  seguinte  lo- 
cução :  As  tontas,  ou  a  tontas ;  sem 
tento,  em  confusão,  desordenadamente, 
á  desfilada. 

TONTEAR,  V.  n.  Fazer,    dizer   tolices. 

—  Estar,  ficar  tonto,  ter  tonturas. 
TONTEIRA,  s.  f.  Lesão  do  juizo    cau- 
sada pela  senectude. 

—  Dito  ou  acto  de  quem  tem  simi- 
Ihante  lesão. 

—  Lesão  do  juizo  produzida  pelo  som- 
no,  vinho,  etc.  Vid.  Tonto. 

TONTICE,  s.  /.  Vid.   Tonteira. 

TONTINHO,  À,  adj.  e  s.  Diminutivo 
de  Tonto.  Algum  tanto  tonto,  um  pouco 
tonto. 

TONTO,  A,  adj.  De  juizo  leso  com  os 
annos. 


Naõ  sei  a  que  respeito 

Me  subio  estn.  imnge.m  ao  conceito. 

Sou  velho,  c  aobrc  velho  tambom  tonto: 

Porém  tu,  que  és  rapaz,  e  que  és  maia  pronto. 

Em  quanto  lhe  penetras  a  medula, 

Pé  ante  pé  irei  na  tua  mula 

Entrando  pelo  centro  do  Parnazo, 

Porque  me  naõ  prcsinta  o  Grau  Pegázo. 

ABBADE  DK  JAZESTE,  POESIAS,  pag.  29. 

Ama  (diz  o  Deaõ)  para  que  é  tonta? 
Por  ventura  naõ  sabe  o  graõ  litigio, 
Que  trago  com  o  Bispo  ;  em  que  meu  brio, 
O  meu  ser,  minha  gloria  se  intcrcsaaõ  ? 

DINIZ  DA  CBUZ,  IIYSSOPE,  Caut.    8. 


—  Substantivamente:  Um  tonto,  uma 
tonta. 

TONTURA,  s.  f.  Tonteira  de  cabeça 
por  fraqueza.   Vid.  Tontice,  quo   diflere. 

TOPA,  jí.  /.  Um  jogo  infantil,  que  se 
joga  com  um  osso  de  quatro  faces. 

TOPADA,  s.  f.  Golpe  de  encontro  com 
o  pó. 


—  Loc.  POP. :  Dar  uma  topada;  obrar 
mal  por  fi-agilidade,  fraqueza  inconside- 
rada. 

TOPADO,  part.  pass.  de  Topar. 

e  a  coitada,  c  o  coitado 
topados  de  máo  calçado 
de  ir  a  pé  com  lama  e  chuva. 

ANTÓNIO  PRF.STES,  AUTOS,    pag.    391. 

TOPAR,  V.  n.  e  a.  (Do  grego  topazein). 
Encontrar  com  alguém,  ou  com  alguma 
cousa  imprevistamente,  por  acaso,  de  pro- 
pósito. —  «  Agardeceo  esta  lerabrãça: 
mas  que  ao  presente  não  auia  causa  pêra 
o  fazer,  e  largandose  em  cõprimentos, 
como  elles  custumão  sem  passarem  del- 
les,  escreueo  por  sua  mão  em  quatro  de- 
dos de  papel,  estas  palauras  em  Arábi- 
go. Se  topardes  estes  Cacises  Frãgues, 
hòrayos,  que  tambom  eu  vos  honrai-ey.» 
Fr.  C4aspar  de  S.  Bernardino,  Itinerário 
da  índia,  cap.  17. 

não  é  mouta  bofageu, 

dava  a  marmeluta  já. 

O  Senhor,  passac-mc  ao  sul 

d'aquelle  outeiro, 

e  no  mais,  que  o  meu  dinheiro 

não  queira  hoje  Berzabul 

que  tojye  algum  dizimeiro. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  89. 

—  «Sendo  ellas  taõ  queridas  e  vene- 
radas delles,  que  qualquer  molher  que 
for  per  hum  caminho,  se  com  ella  topar 
o  filho  do  Rey  hâ  lhe  de  dar  lugar  por 
onde  passe  e  elle  estar  quedo.»  Barros, 
Década  1,  liv.  10,  cap.  1 .  —  «Assi  que 
ao  tempo  que  elle  estava  nesta  obra  che- 
gou Bairim  Bonari  seu  Embaixader,  e 
folgou  de  o  topar  alli,  por  lhe  não  dar 
trabalho  de  passar  o  mar,  e  ir  buscallo 
á  índia,  e  assi  folgava  de  estar  tão  vizi- 
nho da  Pérsia,  por  cada  dia  ter  novas 
de  sua  Real  pessoa,  e  as  mandar  a  El- 
Rey  seu  Senhor.»  Idem,  Década  2,  liv. 
10,  cap.  5. 

Topou  me,  e  disso  :  Essa  sede, 
Floricio,  naõ  vem  da  calma. 
Naõ  (disse  eu)  quo  nasceu  d'alma ; 
Que  agua  dos  olhos  me  pede. 

FEANCI3C0  RODBIQDES  LOBO,  PRIMAVERA. 

—  «Antes,  disse  o  preso,  desejo  muito 
de  ouuir.  Disse  então  o  amigo.  Embar- 
cado eu  em  Barcelona  cõ  outros  passa- 
geiros, tanto  nauegamos  pelas  duuidosae 
ondas  do  mar  mediterrano  atrauessando 
o  golfaõ  de  Lião,  que  em  poucos  dias  vi- 
mos terra  de  Itália :  o  indo  ferindo  clj  os 
duros  remos  as  salgadas  agoas  do  pego 
Ligustico  a  par  de  Genoua,  fomos  topar 
cõ  hum  nauio,  de  que  eu  soube  taes  no- 
nas, qne  me  foy  necessário  deixar  a  com- 
panhia, o  que  fiz  cõ  assaz  soydade. » 
Heitor  Pinto,  Dialogo  da  tribulação,  ca- 
pitulo 7. 


784 


TOPE 


TOJ'í 


TOQU 


—  Loc.  POP. :  Homem  que  topa  tudo; 
diz-sc  (lo  qiic  acccita  todos  os  negócios 
bou8  c  mau*;  o  frascario,  que  ii3o  esco- 
lhe os  objectos  fias  suas  torpezas,  e  so 
mistura  com  boas  e  iiuls  mulheres;  que 
bebe  o  come  do  tudo. 

—  Figuradamente :  Topar  a/m  o  amor. 

Mas  panv  íjuo  {•  gastar  mais  papelada? 

Quem  topar  co'amor,  beiíza-sc  dcUe, 

P  éinprcguo  antes  o  seu  om  piuboada.     ''. 

IfHRNÃO  HOHOPITA,   rOUSIA»  E   I'B0SA8  INBDITAB, 

pag.  f)õ. 

—  Figuradamente :  Dar. 

—  Topar  com  ou  olhos ;  roHectir,  repa- 
rar. 

—  Termo  de  jogo.  Topar  a  banca ; 
na  parada,  ó  tel-a,  ou  acceital-a. 

—  Topar-se,  v.   rcfl.  Enc(mtrar-sc. 
1.)  TOPAZ,  s.  m.  "Vid.  Topázio. 

2.)  TOPAZ,  f.  m.  Termo  da  Ásia.  Chris- 
tão  mcsti(,'o  de  Jlalaca. 

—  Alguns  authores  dão-llio  a  signili- 
çào  de  Uiiijua,  ou  interprete. 

TOPÁZIO,  s.  m.  (Do  grego  topazion). 
Pedra  preciosa  transparente  o  brilhante, 
de  côr  amarella. 

Deixão,  sem  magoa,  ingemios  habitantes 
Nas  iiiãoa  do  voiicodov  ricos  tbcsouros  ; 
Rubiuá  aeeczas,  pálidos  topázios, 
São  pediaâ  no  Peru,  na  Europa  Numes. 

J.    A.   DE  MALKDO,   MBDUAçÃo,  Oaut.    1. 

o  pallido  Topázio  onde  hc  mais  bella 
A  pallidez  do  Goivo,  e  da  Giesta. 

IDKU,   A  NATUHEZA,  CUnt.   2. 

TOPE,  s.  m.  Ohoque,  encontro  de  duas 
cousas  que  se  topam,  —  O  tope  das  bo- 
las no  jogo. 

Pharamundo,  rodeando  olhos  medonhos, 
Bparsas  aa  càus  aos  ventos  matutinos, 
Assentado  no  tópc  da  fogueira, 
A  vista  debruçava  ao  Filho,  ao  Noto. 

V.   U.    DO  MASCIMGNIO,   03   MARTYSES,  1ÍV.   6. 

—  Termo  de  marinha.  Extremo  supe- 
rior dos  mastros.  —  Tope  da  proa. 

—  Layo  de  íita  que  se  põe  no  vestido, 
calçado  ou  chapéu. 

—  Óbice,  obstáculo. 

—  Golpe  de  martello  nas  ferrarias. 

—  Tope  da  gávea;  a  mais  alta  sum- 
midade  d'ella,  onde  a  vela  içada  topa,  c 
não  pódu  ir  mais  acima. 

—  Tope  da  mesa.  Vid.  Topo,  e  Cabe- 
ceira. 

TOPETADA,  s.f.  Cabeçada,  encontrão. 

—  Marrada  de  touro,   carneiro. 
TOPETAR,   V.   n.  Jlarrar. 

—  Figuradamente  :  Chegar,  alcançar 
uma  altura. 

TOPETE,  s.  m.  (Do  francez  toupet). 
O  cabello  de  diante  da  ciibeça,  que  so 
rica,  e  penteia.  —  «O  nono  artigo  he  tal. 


Dík  qae  mote  ElRcy  cm  Offlcáos  pruvi- 
cos  os  .íudouB,  c  leixa-lhes  trazer  tope- 
tes, como  a  (Jhrisptailos,  e  nom  quer  >*<>• 
frer,  que  os  eostrangam  polas  dizimas  de 
suas  possissoiJes,  contra  os  seus  artigos 
vicenimo  sétimo,  e  tricesiino  sétimo.»  Ord. 
Affons.,  liv.  2,  tit.  4. -r-iEm  entrildo 
pela  porta  da  Fortaleza,  a  primeira  cou- 
sa que  vemos,  he  a  ymagcm,  e  figura  de 
Afonso  de  Albuquerque  que  Deos  tenha 
em  gloria,  com  huiiia  barba  que  lhe  dá 
pela  cinta,  como  cllo  a  trazia  bem  diffo- 
rento  das  do  agora,  em  que  os  homens  as 
mudarão  pcra  o  topete  da  cabeça,  e  com 
razão,  porque  a  que  he  tam  leue,  bem  he 
que  lho  ponh3o  algum  pezo.n  Fr.  Gaspar 
do  S.  Bernardino,  Itinerário  da  índia, 
cap.  11. 

Descobre,  ó  Deur.a  cega,  muito  embora 
O  escondido  topi;te  \  loucii  gente, 
Que  8usponder-te  intenta,  e  diligente 
Da  passagem  feliz  te  observa  a  liora. 

AJia.u>E  DB  JAZKNTE,  POESIAS,  tom.  2,  pag.  119. 

Espcrae, 
levacs  O  topete  á  vela ! 
vós  vedes  isto  ? 

ANTÓNIO  puKSTKS,  AUTOS,  pag.  417. 

—  Topete  dos  cavallos;  o  cabello  que 
ellcs  tem  sobre  a  testa. 

TOPETEIRA,  s.  /.  Peça  de  arreio,  ar- 
madura que  se  colloca  na  testa  do  cavai- 
lo.  Vid.  Testeira. 

TOPETADO,    A,   adj.  Que  traz  topete. 

TOPHO,   8.   m.  Vid.  Tofo. 

TOPIARIA,  s.  /.  (Do  latim  topiaria). 
A  arte  de  fazer  figuras  de  murta,  e  ou- 
tros arbustos  nos  jardins. 

TÓPICA,  s.  /.  A  arte  de  achar  argu- 
mentos. 

—  A  doutrina  dos  lugares  tópicos. 

1.)  TÓPICO,  A,  adj.  (Do  latim  topi- 
cus).  Que  diz  respeito  aos  lugares. 

—  Divindade  tópica;  divindade  que 
preside  a  um  lugar. 

—  Febres  tópicas,  ou  locaes;  varieda- 
de de  febres  intermittontes  anómalas. 

—  Termo  de  medicina.  Diz-se  doa  me- 
dicamentos que  se  empregam  no  exte- 
rior. 

—  Termo  de  rhetorica.  Lugares  tópi- 
cos ;   synonyrao  de  lugares  communs. 

—  Figuradamente :  Que  so  refere  exa- 
ctamente áquillo  de  que  se  trata.  —  Lin- 
guagem substancial  e  tópica. 

2.)  TÓPICO,  s.  m.  Tratado  sobre  os 
lugares  communs.  —  Os  tópicos  de  Aris- 
tóteles. —  Os  tópicos  de   Cicero. 

TOPINAMBA,  s.  /.  Xome  pelo  qual  se 
designavam  os  indígenas  d;v  America  me- 
ridional. 

TOPINAMBOR,  «.  m.  Termo  de  botâ- 
nica. l'la;ita  vivaz  da  America;  tem  tu- 
bérculos ])arecidos  com  as  batatas,  os 
quaes  se  comem. 

TOPINHO,  s.  m.  Termo   de  alveitaria. 


O  cavallo,  ca  basta,  que  pouAa  xímente 
110  chilo  a  parte  anti:rior  do  pó. 

1 .1  TOPO,  s.  m.  O  remate,  a  ultima 
parte  onde  termina  alguma  cousa.  — 
«Dons  estrados,  di.stinctos  pela  diversa 
elevaçilo,  occupavam  um  dos  topos  do 
espaçoso  aposento.»  Alexandre  Hercula- 
no, Ifonge  de  Cister,   cap.  25. 

—  Plur.  (J«  extremos  das  vigas,  ou 
barrotes. 

2.)  TOPO,  í.  m.   Choque,  encontro. 

TOPOGRAPHIA,  s.  f.  /Do  grego  topoi, 
e  graphnh).  DeHcripçâo  minuciosa  de  um 
lugar  particular. 

—  Arte  do  representar  sobre  um  pa- 
pel a  configuraçSo  de  uma  porçHo  de 
terreno  com  todoa  os  objectos  que  ostSo 
;'i  Bua  miperfieie. 

TOPOGRAPHICAMENTE,  oflv.  (De  to- 
pographico,  e  o  .suffixo  «mente»).  Segun- 
do a  topoerrapiíia. 

TOPOGRAPHICO,  A,  adj.  Que  perten- 
ce á  topographia.  — Descrip^ão  topogra- 
phica. 

TOPOGRAPHO,  s.  m.  Homem  que  se 
occapa  da  tiqjographia. 

■f  TOPOLOGICO,  A,  adj.  Que  diz  res- 
peito ao  conhecimento  dos  lugares. 

I  TOPONYMIA,  s.  f.  A  designação  das 
localidades  por  seus  nomes. 

TOQUE,  s.  m.  Tocamento,  contacto. 
Vid.  Tacto. 

S'hum  toque  sA  de  fogo  o  enxofro  accendc, 
Se  dilatado  o  ar  quebra  as  cadeias, 
E  nas  Cavernas  hórridas  gespandc. 
Eis  J!Í  rcborabào  nos  profundos  vaUea. 

J.    A.   DIÍ  MACEDO,  A  SATOEEZA,  Cant.   2. 

—  Figuradamente  :  Leve  impulso.  — 
«Aos  deste  toque,  porque  com  habilida- 
des alheias  quizeram  mercadejar,  condem- 
na  o  tempo  a  cornos  perpétuos  que  é  o 
castigo  que  melhor  calça  ao  seu  erro.» 
Fernriu  Rodrigues  Lobo  Soropita,  Poesias 
e  prosas  inéditas,  pag.  109. 


Qu'o3  duros  Nautas  (c  tão  broncos  erão, 
Qu'o  milagroso  ioqiie  d'harmouia 
Não  poderão  sentir)  no  mar  lançarão. 

J.   A.    DK  MACEI>0,    A  HATUREZA,  Cant.    3. 


—  Toque  a  postos ;  designa-se  tocan- 
do a  chamada  na  c;iixa  de  guerra. 

—  Pedra  do  toque ;  aquella  em  que  se 
roça  o  ouro,  ou  prat;i  para  da  còr  que 
n'ella  deixam  so  esmar  o  quilate. 

—  Demonstração  da  bondade  ou  mal- 
dade da  cousa. 

—  Golpe,  pancada. 

—  Prova,  ensino,  experiência. 

—  Som  do  instrumento  soante. 

—  Dar  toque;   tocar,  topar. 

—  Figuradamente :  Quilate. 

—  Golpe  no  sino,  á  porta  para  abri- 
rem. 

—  Toques   da  mão  de  Detit. 


TOEC 


TORC 


TORE 


765 


—  Toques  de  pincel ;  os  rasgos  d'elle 
nas  sombras  e  luzes,  da  maneira  dos 
quaes  se  indica  e  deixa  sentir  o  caracter 
do  objecto  representado. 

—  Dar  um  toque  na  murmuração  j 
murmurar  sem  ferir,  sem  escaudalisar, 

TOQUE  EMBOQUE,  s.  m.  Jogo  de  bola 
com  aro,  etc. 

TOQUEIRO,  s.  m.  Termo  antiquado. 
Vid.  Toqueixo. 

TOQUEIXO,  s.  m.  Termo  antiquado. 
Toucado  antigo  de  mulher. 

TORAL,  s.  m.  O  cabeção  da  camisa 
das  mulheres,  separado  da  fralda,  como 
algumas  mulheres  do  vulgo  usam  fazel-as, 
de  lençaria  mais  grossa. 

—  O  toral  da  lança ;  o  terço  mais 
forte  d'ella. 

TORANJA,  s.  /.  Vid.  Toronja. 

TORÃO,  s.  m.  Bolo  de  nozes,  amên- 
doas e  mel. 

TORAR,  V.  a.  Cortar  com  a  serra  a 
arvore,  dividil-a  em  toros. 

TORCAZ,  adj.  2  gen.  Vid.   Pombo. 

TORÇAL,  s.  m.  Cordão  de  diversos 
fios  de  seda,  ouro,  etc. ;  servia  de  orna- 
to nos  vestidos  antigos. 

—  Hoje  serve  para  casear  vestidos. 
TORÇÀLADO,  í.  m.  Vid.  Torcelado. 
TORÇÃO,   s.  m.  Vid.  Terçol. 

—  Termo  de  alveitaria.  Torcilhào. 

—  Torção  do  ventre ;  dor  aguda  nos 
intestinos  produzida  de  cólica  bili  sa. 

TORCEDELLA,   s.  f.  Vid.  Torcedura. 
TORCEDOR,  s.   vi.  Pessoa  que  torce  e 
aperta  com  moléstia,  e  tortura. 

—  Figuradamente  :  Homem  que  dá 
tractos. 

—  Torcedor  dos  seus  méritos. 

—  Figuradamente  :  O  amor  profano  é 
torcedor  dos  corações  humanos. 

—  Cousa  com  que  molestamos  alguém, 
para  o  dobrarmos  a  nosso  intento. 

TORCEDURA,  «.  /.  O  acto  de  torcer. 

—  Volta  que  dá,  por  exemplo,  o  rio 
tortuoso. 

—  Alteração  feita  na  cousa  torcida. 

—  Torção. 

—  Justiça  sem  torcedura;  sem  violên- 
cia d'ella,  sem  se  desviar  do  recto  cami- 
nho. 

TORCELADO,  ou  TORÇÀLADO,  A,  adj. 
Ornado  de  torçal. 

TORCER,  V.  a.  (Do  latim  torquere). 
Fazer  volver  qualquer  cousa  sobre  si, 
de  maneira  que  se  desarranjem  as  fibras. 
• —  Torcer  um  braço. 

—  Torcer  a  verdade  da  historia;  afas- 
tar-se  d'ella. 

—  Torcer  o  caminho ;  ir  com  rodeio, 
e  não  via  recta. 

—  Torcer  o  rosto  ao  inimigo ;  retirar- 
se  d'elle. 

—  Torcer  o  passo ;  voltar  atraz,  ou 
afastar-se  do  caminho  que  se  tomara. 

—  Torcer  as  leis;  dar-lhe  sentido  for- 
çado e  mal  applicado. 

—  Torcer  alguém;   mudal-o   violenta- 


mente, com   força   do   seu   systema,    in- 
tento, conselho,  ou  presupposto. 

—  Torcer  a  vinha;  amanho  que  se 
faz  á  vinha,  para  que  a  vara  do  vinho 
fique  logo  nos  primeiros  olhos  da  vide. 

—  Torcer  a  cara;  dar  as  costas,  em 
opposição  a  fazer  resto. 

—  Desviar,  afastar. 

—  Tirar  a  direcção,  ou  posição  recta. 

—  Torcer  os  olhos,  a  bocca. 

—  Torcer  as  rédeas;  viral-as  para  mu- 
dar o  caminho. 

—  Torcer  urna  sentença ;  dar-lhe  sen- 
tido não  recto. 

—  Torcer  os  textos,  oráculos;  accom- 
modal-08  a  outros  propósitos. 

—  Torcer-se,  v.  rejl.  Dobrar-se. 

—  Torcer-se  a  peitas;  fazendo  sem- 
justiça,  ou  cousa  deshonesta  por  ellas. 

-^  Torcer-se  a  lisonjas ;  dobrar-se  a 
dizel-as. 

—  Figuradamente:  Torcemo-nos  para 
onde  nos  inclina  a  vista  do  principe ; 
imitamos  ainda  fazendo  violência  ao  nos- 
so natural. 

—  Torcer-se  a  abatimentos ;  reduzir- 
se  a  fazel-os,  e  a  sofFrel-os  violenta- 
mente. 

—  Torcer-se  o  alfange;  ficar  com  os 
fios  dobrados,  torcidos,  não  cortar. 

—  V.  n.  Não  seguir  a  direcção  recta. 

—  Torce  a  planta. 

—  Hi/inem  de  antes  quebrar  que  tor- 
cer ;  de  antes  quebrar  que  ceder  violen- 
tamente do  que  é  razão  e  honesto. 

TORCHADO.  Vid.  Trochado. 
TORCIA,  s.  /.   Violência,  torcedura. 

—  Interpretação  forçada. 

1.)  TORCICOLLO,  s.  m.  Volta  tortuosa. 

—  Gyro,  rodeio. 

—  Termo  de  historia  natural.  Uma  ave 
vulgar. 

—  Figuradamente :  Ambiguidade  de 
palavras.  —  «E  lançadas  vossas  contas, 
acliaes  na  vossa  opinião,  que  nada  ficaes 
a  dever,  e  que  se  vos  deve  muito,  pelo 
muito  que  ganhastes.'  Muito  tinha  eu 
aqui  que  discorrer :  mas  fiquem  estes  tor- 
cicollos  de  reserva  para  o  capitulo  20.  > 
Arte  de  furtar,   cap.  12. 

2.)  TORCICOLLO,  A,  adj.  (Do  latim 
tortumcollum) .  Que  deita  a  cabeça  á  ban- 
da, e  tem  o  pescoço  torto. 

—  jS'.  7)1.  Espécie  de  rheumatismo  pas- 
sageiro, que  prende  o  pescoço  com  do- 
res. 

-^  Figuradamente  :  Hypocrita,  coilo, 
pescoço  torcido. 

TORCIDA,  s.  /.  Fios  de  linha  ou  de 
algodão  torcidos  para  mecha  das  can- 
deias e  velas,  matuUa. 

TORCIDAMENTE,  adv.  (De  torcido,  e 
o  suffixo  "mente).   De  um  modo  forçado. 

—  Entender  torcidamente  as  palavras. 
TORCIDO,  part.  pass.  de  Torcer. 

—  Figuradamente  :  Estrada  torcida  ; 
estrada  tortuosa,  não  direita. 

—  Olhos  torcidos;  olhos   de  invejoso. 


— ^  Juízo  torcido  ;  juizo  errado. 

—  Levado  com  violência. 

—  Caminho  não  torcido  ;  caminho  re- 
cto, não  tortuoso. 

—  Sentido  torcido  ;  interpretação  tor- 
cida; sentido,  interpretação  violenta  das 
leis;  palavras  mal  interpretadas. 

—  Figuradamente:  Caminhos  torci- 
dos ;  mau  methodo,  má  ordem  que  atraza 
nos  estudos. 

—  Rosto  torcido ;  rosto  d'aquelle  que 
desapprovou. 

—  Vista  torcida  ;  vista  do  que  mette 
um  olho  pelo  outro. 

—  Ferros  torcidos  ;  ferros  que  pren- 
dem na  caixa  da  liteira,  e  no  varal. 

—  Com  lançamento  tortuoso. 

—  Escada  torcida ;  escada  de  caracol. 

—  Coração  torcido;  coração  de  quem 
segue  os  caminhos  torcidos,  e  desviados 
da  verdade,  da  caridade. 

—  Substantivamente :  Tirar  o  torcido 
do  coração;  endireitar  os  caminhos  tor- 
cidos da  má  vida,  etc. 

TORCILHÃO,  s.  m.  Torção,  cólica  que 
dá  nas  bestas. 

TORCIMENTO,  s.   m.   Vid.  Torcedura. 

TORCIONARIO,  A,  adj.  Acompanhado 
de  torção  ou  torsão. 

TORCULO,  s.  m.  (Do  latim  torculum). 
Machina  de  lapidar. 

—  Pequena  prensa. 

TORDA,  s.  f.  Termo  de  historia  natu- 
ral. Ave  aquática  do  mar  do  norte,  que 
vive  quasi  sempre  sobre  a  agua. 

—  A  torda  mergulheira  do  norte;  é  ne- 
gra pela  parte  superior,  e  branca  pela 
parte  inferior. 

■}-  TORDIÃO,  s.  m.  =  Significação  in- 
certa. 


Que  farão  co'ella  na  mão ! 
Bem  digo  cu. 

Ora  no  mais... 
Beijae  agora  o  tordião. 
Já  este  mal  é  iii  eterno  ; 
tempos  ha  que  está  em  deposito. 

A.NT0NI0  PRESTES,   ACTOS,  pag.    76. 

TORDILHO,  A,  adj.  —  Cavallo  tordilho ; 
côr  de  tordo,  com  pello  mesclado  branco 
e  preto. 

1.)  TORDO,  s.  m.  Termo  de  historia 
natural.  Peixe  do  género  dos  labros;  é 
grande  e  verde  malhado  de  araarello. 

2.)  TORDO,  s.  m.  (Do  latim  turdus). 
Uma  ave  vulgar  branca  e  preta,  de  que 
ha  varias  espécies.  E  do  género  do  mel- 
ro, e  similhante  a  elle. 

—  Tordo  dos  remedos ;  pássaro  ameri- 
cano, notável  pela  facilidade  com  que 
imita  o  gorgeio  de  todas  as  aves,  motivo 
por  que  os  selvagens  o  denominam  pássaro 
das  cem  linguas ;  o  seu  próprio  canto  é 
mui  agradável,  e  soprepuja  ao  do  rouxi- 
nol, segundo  dizem  os  viajantes. 

TOREUMATOGRAPHIA,  s.  /.  (Do  grego 
toreumatos,    e  graphos).    Descripção    doa 


766 


TORM 


TOllM 


TOUM 


bíiixos-relevos,  ou  niuiu-rtílovoi  tloB  tem- 
pos aiiti^oM. 

TORGA,  s.  f.  Urzo. 

TORGÃA,  s.  f.  Torfí.i. 

TORI,  s.  TO.  Tunuo  da  Ásia.  Um  legu- 
me tio  i(uo  KC  faz  a  oraa. 

TORIBIOS,  *■.  m.  i/lar.  Coutas  do  crys- 
tal  qiii!  vem  da  Índia. 

TORIONDO,  adj.  Vid.  Touriondo. 

TORMA,  s.  /.  Vid.  Turma. 

TORMENTA,  s.  /.  (Jraiulo  agitaçilo  do 
mar    com    vento   rijo;   borrasca,  tcmpea- 

D'ar|ui  fomos  cortando  muitos  dia», 
ICntrc  tormentas  tristoé  O  b(«i;nn;ii*. 
No  liiifío  iiiai-  fazoiíJo  iiov:irf  v\a^, 
Sií  couduzidrtj  do  iirdaart  cápoi-am;a9 : 
Co 'o  iniir  um  tciniio  aivd:Vmoí  cm  porfias, 
Quo,  como  tudo  n'clli!  3ilo  mudança», 
C(nTeiito  u'ello  aoliilmos  tão  posBanto, 
Quo  passar  não  deixava  por  diauto. 
CÁM.,  LOS.,  caut.  5,  est.  06. 

—  «E  crecendo  com  tudo  a  tormenta 
cada  vez  mais,  uos  deixamos  yr,  com  as- 
saz de  trabalho,  ao  som  do  mar  atò  quasi 
o  Sol  posto,  cm  quo  o  Junco  acabou  de 
se  abrir  do  todo.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  137. —  «Dos  quaeí» 
alguns  foraõ  ter  a  Imlia,  e  dahi  a  Portu- 
gal, porque  a  sua  nao  depois  do  mea  des- 
carregada cora  tormenta  deu  a  costa  na 
mesma  ilh.t  de  Teruato,  a  qual  oUes  che- 
garam aos  XXVI.  dias  do  luuho,  tendo 
naucgadas,  pola  conta  que  faziam  mil,  o 
quinhentas  legoas,  do  dia  que  partirão  da 
ilha  de  Tidoro  ate  tornarem  a  Ternate. » 
Dami.ão  de  (?toe.s,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  4,  cap.  7.  —  «Vasco  da  Cunha,  se- 
guindo a  instrucção  que  levava,  foi  reco- 
lhendo os  navios  que  achou  naquoUas  en- 
seadas desaparelliados  da  tormenta,  e 
com  elles  entrou  cm  Raçaim,  onde  achou 
o  Capit.^o  Mór  D.  Jcronymo  de  Menezes 
com  quinze  navios  aprestados  para  soc- 
correr  Diu,  empenhado  de  novo  com  o 
sentimento  da  morte  de  seu  irmão  D. 
Francisco,  que  temos  referido.»  Jacintho 
Freire  d'Andrado,  Vida  de  D.  João  de 
Castro,  liv.  2. 

IvOpo  do  Sousa  aqui  so  mo  aprcsonta, 
Uello  quero  cantar,  a  ollo  quero  irmo, 
E  nisto  quo  dizer  meu  canto  intenta 
Hem  soi  quo  fol^anw  todos  dourimio. 
l'nrte-30  esto  tarabcm,  o  a  gràa  tormenta 
Lil  da  parto  o  lançou  da  torra  firmo, 
E  como  ja  a  maré  então  vazasse 
Forçado  fui  que  em  torra  alli  ficasse. 

F.    D'ANnR\DP.,  PUlMKlllO  CEBCO  DK  DIU,  Caut.    11, 

est.  2G. 

Do  nãos  grãa  companhia  navegando 
Vai  com  favor  do  vouto  o  da  ventura. 
Que  d'hum  porto  sahirão  juntas,  quando 
As  espallia  a  tormenta  brava  o  dum : 
Esta  hum  porto,  aquolla  outro  vai  buscando 
Ondo  cuida  que  pode  ostav  segura. 
Tal  osta  gonto  so  mo  i-oprosonta 
Quo  ospalha  do  Mogor  a  gtàa  torraouta. 
iBiDKM,  oaut.  5,  ost.  45. 


Nom  pára  uiitto  a  liorronda  batoria 
Porque  odio  tudo  prova,  tudo  intenta, 
ITuma  parte  também  da  frontaria 
Do  baluart«  nonte  esta  tormentn ; 
Também  lhe  ctigào  toda  a  artilharia, 
De  (|U0  so  alegra  as^az,  c  Be  contenta 
O  iinigo,  que  lia  que;  toom,  com  grande  gloria, 
Pois  subida  ja  toem,  corta  a  victoria. 
iDiPKki,  caut.  14,  cBt.  52. 


Tal  na  imaginação  so  me  apresenta 
O  nobre  Sousa,  o  qual  inda  ([uo  forto 
Sem  temor  nilo  entrou  nesta  tormenta 
Porquo  o  esforço  não  tira  o  medo  k  morte. 
iDiDF.u,  caut.  G,  est.  52. 


—  aE  embarcado  hum  dia  á  noyte  lo- 
go, demos  il  vela  com  bõ  vento  saimus 
do  dito  porto,  cinco  ou  seis  legoas,  nos 
veyo  vento  contrario,  o  tormenta,  que 
aquella  noyto  tivemos  toda  muyto  gran- 
de, e  o  dia  seguinte  chegamos  a  horas  de 
véspera  ao  porto,  o  Cidade  do  Famagos- 
ta,  primeyro  porto,  que  daquella  banda 
cst;l  para  a  Ilha  de  Chipre,  ondo  logo  dcs- 
embarquey  as.^^az  enjoado,  e  maltratado 
da  dita  tormenta  que  passara  era  esta 
travessa  do  mar.»  António  Tenjeiro,  Iti- 
nerário, cap.  64. 

D 'hum  mal  em  apparoncia,  os  Ccos  costumão 
Muitos  bens  derivar,  e  huma  tormenta 
Imporio  aos  Lusos  dco,  ã  Europa  hum  Mundo. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  SATUEEZA,  Caut.  1. 

—  o  cabo  das  tormentas;  hoje  é  o 
cabo  da  Boa  Esperança,  posto  esto  nome 
por  D.  Joào  II,  para  animar  assim  os 
portuguezes  á  navcgayào  para  as  índias. 


Éramos  cêrca  do  famoso  cabo, 
A  quo  mudou  boa  esperança  o  nomo 
Que  primeiro  lhe  dêmos,  das  tormeiUas. 
aABBETT,  CAiiÕES,  caut.  4,  csp.  8. 


—  Figuradamente :  Trabalho  perigoso. 

—  Tormentas  <lu  es/ac/y ;  as  revoluções 
e  perturba(,-ões  grandes  d'elle. 

—  Agitayào,  tumulto.  —  a  Se  o  tempo 
tégora  com  seus  ameaços  vos  tirou  do 
vosso  natui-al,  lá  vos  ácarào  outros  espa- 
ços mais  largos,  com  qiie  vos  vingueis 
destes  dias  com  outros  dias  de  vosso  con- 
tentamento: a  tormenta  é  menos,  e  cjida 
voz  será  menos ;  por  isso,  senhora,  per- 
ilei  o  receio ;  limpai  essas  lagrimas,  que 
n.ão  são  esses  olhos  taes  que  os  devais 
aggravar  com  ellas :  lançal-as  outrem  por 
vós  isto  mo  parece  justo;  chorardes  vós, 
por  nenhuma  cousa  o  posso  consentir. » 
Francisco  do  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  115. 

—  Tormenta  da  fortuna,  de  cuidados, 
de  trabalhos;  trabalhos,  desgostos. 

—  Correr  tormenta ;  padecer,  soffrer 
a  tormenta,  atural-a,  sotfrel-a  sobre  amar- 
ra, e  n,-\o  .i  vela. 

TORMENTAR,  v.  a.  Vid.  Atormentar. 


TORBtENTATIVO,    A,    adj.  Atormenta- 
dor, qui-   jiroduz  loiin<-nto. 
TORMENTILLA,  ». /.  iíerva. 

—  Planta  ro.--acea  quo  lança  talos  del- 
gados, tirantes  a  venuelho,  com  foUias 
que  sácm  de  sete  cm  Aetc  no  mesmo  pé. 

TORMENTO,  «.  m.  (Do  latim  t<jrmen- 
tum).  Acto  de  atormentar. 

—  A  pena,  a  dór,  afliicçao,  angustia 
corporal . 


Horas,  pontos  n  momentos. 
Os  cursos  da  natureza 
Mc  desf-jão  dar  tormmto»  ; 
O»  mais  ledos  cleuieiitos 
Mc  presontão  mais  tristeza. 

OIL  VICEXTK,  ODBAS  TAMAI. 

Sc  tomo  a  minha  pena  em  penitencia 
Do  error  em  que  cahio  o  pensamento, 
NÃO  abrando,  mas  d.'bro  mea  tormrnio. 
Que  a  tanto,  e  mais,  obriga  a  paciência. 
CA».,  soxno  n."  94. 

N'cstc  pasío  .icordci  ou 
c  o  meu  content.tmcuto 
que  eu  cuidava  que  era  meu, 
deu-mo  depois  tal  tormento 
qual  nunca  cousa  me  deu : 
Nam  sei  eo  que  a  dita  custava 
porque  n.atn  me  outorgava 
que  n'esta  gloria  ficara, 
ou  pois  jaa  que  ac<irdava 
que  d'isto  n.am  acordara. 

CUEISTOTÂO  FALCÃO,  OnBAS,  pSg.   13. 

Sc  meus  cuidados  perdesse 
meus  tormentos  pordcria, 
se  jaa  dclles  mVsquecesao 
de  mim  lembrança  teria. 
Oh  quem  d"e'lcs  se  esquecera, 
0  1  esquecer  esperara 
ditoòo  quem  os  perdera 
pois  perdcodo-os  se  cobrara. 
iBioBu,  pag.  22. 

NcUc  verás  (so  tu  do  esquecimento 
As  agoas  naõ  levaste  ao  Céo  comtígo) 
A  grandeza  cruel  do  meu  tormento. 

ABBADE  DE  J.VZEmX,  POESIAS,  pag.   131. 


—  «Assi  comiam  e  beviam  e  alli  fa- 
ziam seus  feitos,  ho  que  lhes  nam  era 
pequeno  tormento  e  pena :  e  hiam  assen- 
tados dentro  nas  capoeiras,  e  eram  leva- 
dos aas  costas  de  homens.»  Frei  (Taspar 
da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da  China, 
cap.  24.  —  iNem  outro  sy  podem,  nem 
devem  passar  ao  n.«o  de  tormentos  em 
causas  criminais,  ainda  na  prezença  dos 
maiores  indicies;  jurtal.  ^fíh'tes  cod.  de 
qua-stionibus,  ubí  Cyn.  et  Bart.  Paris, 
de  Puteo  tract.  de  Si/ndicatu,  verbo,  do- 
ctor,  cap.  2  à  num.  I.  3,  et  6  se  bem 
que  a  nossa  Ordenação  exceptua  certos 
cazos,  em  que  os  Nobres,  e  Doutores  po- 
dem ser  atormentados.»  Braz  Luiz  de 
Abreu,  Portugal  medico,  pag.  255,  §  97. 

Seu  moto  desigual  vejo,  c  contemplo. 

Donde  procede  o  variado  aspecto. 

Com  quo  sempre  nos  Coos  so  mostra  aos  olhos, 


TORN 


TORN 


TORN 


767 


No  eixo  obliquo  de  seu  giro  errante, 
Do  pensador  Astrónomo  tormento, 
Poia  jAmaÍ3  a  seus  cálculos  se  ajusta. 

J.   A.   DE  MACEDO,  VIAGEM  EITATIOA,  Catlt.    1. 


Tractos,  torturas. 


Tanto  maiores  tormentos 
Forào  sempre  os  que  softi, 
Daquillo  que  cabe  cm  mi, 
Que  não  sei  que  pensamentos 
São  08  para  que  uasei. 

CAM.,  BEDONDlX-IiAS. 

Estando  socegado  já  o  tumulto 
Doa  deoaes  e  de  seus  recebimentos, 
Começa  a  descobrir  do  peito  occulto 
A  causa  o  Thyoneo  de  seus  tormentos. 
CAM.,  ms.,  cant.  6,  est.  26. 


—  «E  se  por  aqui  nam  acabam  de 
compreliender  ha  verdade,  lhe  dam  mui- 
to açoute  e  tormentos  pêra  que  por  huma 
via  ou  outra  acabem  de  saber  ha  verda- 
de do  negocio  de  que  inquirem  ou  devas- 
sam :  nam  usam  de  juramento  porque 
nhum  de  seus  deoses  estimam.»  Fr.  Gas- 
par da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da  Chi- 
na, cap.  20.  —  «Vasco,  Vasco!  Desgra- 
çado! Aquelle  fez  mais  do  que  isso  :  amou 
e  abençoou  os  que  lhe  cuspiram  nas  fa- 
ces e  lhe  tiraram  a  vida  nos  tormentos 
da  cruz.í  A.  Herculano,  Monge  de  Cis- 
ter, cap.  3. 

—  Figuradamente:  Tormento  do  ani- 
mo; animo  apaixonado,  com  alguma  pai- 
xão. 

TORMENTÓRIO,  A,  adj.  —  O  cabo  tor- 
mentório; o  cabo  onde  ha  muitas  tor- 
mentas, o  cabo  da  Boa  Esperança. 

TORMENTOSO,  A,  adj.  Onde  ha  tor- 
mentas, tempestuoso,  procelloso.  —  O 
calo  tormentoso. 

—  Figuradamente :  Que  produz  tor- 
mentas. —  Cuidados  tormentosos. 

-}-  TORMINAL,  adj.  2  gen.  Vid.  Tor- 
minoso. 

TORMINOS,  s.  m.  Termo  de  medicina. 
Djsenteria  com  dor  e  puxos. 

—  Dores  que  sobrevem  depois  do 
parto. 

f  TORMINOSO,  A,  adj.  Termo  de  me- 
dicina. Que  está  sujeito  á  dysenteria  com 
dores  e  puxos. 

1.)  TORNA,  í.  /.  O  dinheiro  que  se  dá 
a  quem  trocou  comnosco  alguma  cousa 
dando-nos  outra  de  mais  valor,  e  quem  a 
recebe  dá  a  torna  para  ficar  egual. 

—  O  que  o  herdeiro  melhorado  na  par- 
tilha, que  levou  cousa  de  mais  valor  que 
o  seu  ju.sto  quinhão,  dá  aos  co-herdeiros 
para  ficarem  egualados  todos. 

t  2.)  TORNA.  Forma  do  verbo  tornar 
na  terceira  pessoa  do  singular  do  pre- 
sente do  modo  indicativo.  Vid.  Tornar. 

Onde  chegando  os  dous  algum  espaço 
Em  se  darem  esforço  ambos  gastarão, 


ifas  com  t.al  dôr,  e  amor,  que  oa  peitos  d'aço, 
E  03  mais  duros  penedos  abrandarão  : 
Dando-se  ambos  cmíim  o  ultimo  abraço, 
Co'os  olhos  aomprc  hum  no  outro  so  apartarão, 
Ella  na  ornada  camará  se  encerra, 
Elle  outra  vez  se  tonui  para  a  torra. 

FKAXCISCO  DE  AUDEADE,  PBIMEIRO  CEKCO  DE  DIO, 

caut.  3,  est.  101. 


A  falta  dos  Eemciros,  e  a  grãa  pressa 
Com  que  a  maré  vasava  neste  instante 
Faz  com  que  a  leve  fusta  se  atravessa 
Que  hia  ja  dos  Christàos  assaz  distante. 
Comtudo  do  remar  ElRei  nào  cessa, 
Porém  mais  torna  atraz,  que  vai  avante, 
Que  contra  a  gràa  corrente  arrebatada 
Nào  basta  pouca  gente  e  ja  cansada. 
IBIDEM,  cant.  7,  est.  65. 


—  «Lopo  Soares  por  Capitão  mór  á 
índia  1  este  he,  e  não  podia  ser  outro;  e 
Diogo  Mendes,  e  Diogo  Pereira,  que  eu 
mandei  prezos  ao  Reyno  por  culpas  que 
tinham,  JilRey  Nosso  Senhor  os  torna  cá 
mandar,  hum  por  Capitão,  e  Feitor  de 
Cochij,  e  outro  por  Secretario!  tempo  he 
de  acolher  á  Igreja,  e  assi  fico  eu  mal 
com  ElRey  por  amor  dos  homens,  e  mal 
com  03  homens  por  amor  d'ElRey.»  Bar- 
ros, Década  2,  liv.  10,  cap.  8.  —  «Ha 
também  outros  muitos  animaes  bravos. 
Ha  algumas  arvores  despiaho  como  li- 
mões e  laranjas  e  muitas  balsas  dubas 
por  aquelles  matos.  Quando  tornam  estes 
Laos  pêra  sua  terra  por  yrem  contra 
corrente  vam  em  três  meses.  Faz  este 
rio  huma  maravilha  na  terra  de  Cambo- 
ja digna  de  se  contar.»  Frei  Gaspar  da 
Cruz,  Tratado  das  cousas  da  China,  cap, 
3.  —  «Ora  torna  ja  em  teu  acordo,  e  co- 
nhece tua  insensibilidade:  e  ao  menos 
instantemente,  ora,  e  pede  ao  Senhor, 
que  assi  como  elle  fez  que  o  minino  S. 
loão  (o  qual  ainda  a  si  mesmo  nam  sen- 
tia) sentisse,  e  alegrasse  com  sua  visita- 
ção, e  no  ventre  da  mãy  desse  saltos 
com  prazer:  assi  faça  que  tu  sintas  as 
cousas  de  tua  saluaçam,  e  te  alegres  cõ 
ellas,  e  abras  logo  a  porta  ao  Saluador 
quando  te  vier  visitar  com  suas  sanctas 
inspirações,  pêra  que  elle  na  hora  da 
morte  te  abra  a  porta  da  vida  eterna.» 
Frei  Bartholomeu  dos  Martyres,  Catecis- 
mo da  doutrina  christã. 


Se  ja  cantei  amor,  se  amor  não  canto, 
Culpas  do  tempo  são,  que  vai  mudando 
O  meu  cantar  alegre  em  triste  pranto. 
O  tempo,  que  tão  leve  vai  voando, 
Delio,  não  torna  mais ;  e  assi  fugindo, 
Mil  claros  desenganos  nos  vai  dando. 

CAM.,  EGLOGA  12. 


—  «D.  Manoel  de  Lima  se  oflferece  a 
ficar  nella.  Toma  António  Moniz  algu- 
mas nãos.  Vingança  barbara  dei  Rei  do 
Cambava.  Avisos  de  Ormuz.  Descripção 
de  Baçorá.  Os  Turcos  se  fortificâo  nella. 
Vai  D.  Manoel  de  Lima  para  Ormuz;  e 
D.   João  Mascarenhas  torna  a  ficar  em 


Diu.»  Jacintho  Freire  d' Andrade,  Vida 
de  D.  João  de  Castro,  liv.  3. 

Ora  arrotando,  para  dentro  torna. 
Ardia  cntaõ  em  calma  toda  a  terra, 
E  o  calor,  que  as  goelas  lho  scccava. 
Lho  faz  bradar  por  agua,  c  caramelos. 

DIKIZ  DA  CEUZ,  HTSSOPE,  CaUt.    1. 

TORNABODA,    s.  f.    Vid.    Tornavoda. 

TORNADA,  s.  f.  A  acção  de  tornar,  de 

voltar  para  aquella  parte  d'onde  se  saiu. 

—  A  porção  de  liquido  que  sáe  de  al- 
gum vaso  a  que  se  tira  o  batoque,  ou 
que  se  abre  por  esse  modo,  tirando-lhe  o 
torno. 

TORNADIÇO,  A,  adj.  Que  muda  de  re- 
ligião, e  passa  a  professar  outros  dogmas  : 
dava-se  este  nome  aos  mouros,  e  judeus 
conversos. 

—  Que  deixou  o  amo,  ou  senhor  com 
quem  vivia,  e  foi  servir  a  outrem. 

—  Desertor. 

—  Usa-se  também  substantivamente. 
TORNADO,   -part.   -pass.  de  Tornar.  — 

«Porem  avendo  Eu  conselho  com  os  da 
Minha  Corte,  estabeleço  e  ponho  por  Lei 
pêra  todo  sempre,  que  se  algum  per  sua 
força  esbulhar  outro  de  sua  casa,  ou  her- 
dade, ou  d'outra  possissom,  de  que  este 
em  posse,  nom  seendo  ante  chamado, 
nem  ouvido  com  seu  direito  como  o  di- 
reito quer,  que  o  forçador  perca  o  direi- 
to, que  ha  na  cousa  forçada  que  esbu- 
lhou, e  o  esbulhado  seja  logo  tornado  aa 
posse  da  cousa  de  que  o  esbulharem.» 
Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit.  64,  §  3. 

Corre  hum  medo  improuiso  pollos  ossos 
Destes  Cafres  que  tal  não  presumião, 
Esfriase  lhe  o  sangue  nas  entranhas. 
Da  espada  vendo  a  luz,  do  Souaa  a  ira. 
Tornados  so  arremessão,  qual  primeiro 
Pode  e  no  rnanso  Kio  se  mergulhão, 
Mas  logo  em  pouco  espaço  sobre  as  ondas 
Outra  vez  deamayados  forão  vistos. 

CORTE  HEAL,  NAurnAQio  DE  SEPÚLVEDA,  cant.  15. 

— « Tornado  elRsy  pêra  sua  casa  a 
prouer  em  as  cousas  desta  pratica,  ficou 
Duarte  Pacheco  em  outra  cõ  os  capitães 
e  principaes  pessoas  que  cõ  elle  andauaõ 
naquelles  trabalhos.»  Barros,  Década  1, 
liv.  7,  cap.  7, 

Pia  que  viuuou  primeiro 
he  ^nua  por  derradeiro  : 
vi  três  mortas  antes  d'ella, 
outra  tornada  a  Cagtella 
com  jovas  o  com  dinheiro. 

GARCIA  DE  REZENDE,  ÍUSCELLAKEA. 

—  «Este  virado  pêra  o  Oriente,  podo 
as  mãos  nas  orelhas,  começa  a  gritar  com 
huma  voz  mny  alta,  sentida,  e  vagarosa, 
estas  palauras.  Ala,  híc,  Bar,  Axahel, 
Alà  helíj  e  leJa,  J\Iahameth,  Rasid  Ala. 
As  quaes  tornadas  do  Arábio  em  Portu- 
guês, querem  dizer  Deos  grande  não  tem 
outro   Deos,   Mafamede  he  Embayxador 


768 


TOIIN 


TORN 


TORN 


dò  Dcos.p   Fi'ei   fiaupar  de  8.  Bernardi- 
no, Itinerário  da  índia,  cap.  li). 

liarbeiraA 
nos  ucharAs  jil  lornadai  : 
onde  íb,  pagem  ? 

Vou  comprar 
de  cear  porá  meu  amo  ; 
senhora,  quer-mc  fallar? 
Com  tisoura  c  pcntem? 

ANTÓNIO  PBE8TK6,  ADTOS,  pag.    177. 

Tens  esses  eabellos  já, 
de  negros,  corvos  tornadot 
que  oram  os  me.^moí  cruzados: 
Ija  maia  sarro  cm  casa  ? 
iDiDuif,  pag.  481. 

—  Tornado  a  mim ;  a  meu  siso,  pru- 
dência. 

—  Voltado,  convertido;  o  converso  de 
sua  lei,  ou  cronça  a  outra  diversa. 

—  Figuradamente:  Tornado  o  coração 
humn)ii)  hrnfdl. 

TORNADOR,  s.  m.  Vid.  Torneador. 

TORNADOURA,  s.  /.  Instrumento  de 
torcer  e  dobrar  arcos  para  tauoa  de  to- 
nel, pipa,  etc. 

TORNADURA,    s.  /.  Vid.  Tomadoura. 

f  TORNAE.  Forma  do  verbo  tornar  na 
acfíunda  pessoa  do  plural  do  imperativo 
futuro.  Vid,  Tornar. 


Pois  é  assi. 
TTjrnne-mc,  tio,  a  chamar, 
tornao,  tornae-mo  a  provar. 

ANTÓNIO   PHBSTB8,  AUTOS,  piVg.    165. 


Bem  vinda  scaos,  senhora, 
mas  se  dacs  c.<'a  c  vestido 
tiil  <jual  dá  vosrto  marido 
íor/iac-voâ  vós  muito  embora. 
iBinsM,  pag.  231. 


A  tal  ora  mariseca  ? 
que  é  isto?  boa  seja  a  vinda : 
dizei-me,  é  isto  vir  vêr 
se  dou  jii  fios  A  tèa  ? 
for/iíie-voâ,  i-llie  dixer 
que  ainda  tora  que  tecer 
mais  vinte  ânuos  vHa  mea. 
iBiDEu,  pag.  255. 


Eu  Ih 'o  darei ;  não  í  tanto. 
Se  m'o  não  d;l,  não  no  quero. 
Pois,  moija,  íor;iae-o  a  levar. 
E  cu  não  lh'o  irei  tomar; 
traze. 

Nâo  trigas  ! 

Que  foro ! 
Eu  tambom  quero  mandar. 
iBiDKii,  paig.  337. 

Tpdavia  me  tornae 
a  minha  capa. 
iBiDKM,  pag.  397. 


TORNAISE,    ou   TORNESE,  aJj.   2  jen. 
o  ».  m.  —  tiohios  toruaises. 

1^  Torneses  de  prata,  de  D.  Fedro  I; 


valiam  7  soldos,  2  ceitis  mais  */s)  ^  dá 
moela  do  agora  40  reis. 

—  Ao.s  torneses  peliten  d'el-rei  D.  Fer- 
nando n.~io  HO  aclia  valor  certo. 

TORNAMENTO,  «.  m.  Termo  antiqua- 
do. Tornada. 

f  TORNAMOS.  Fcirma  do  verbo  tomar 
na  priíiifira  ])es,-<ia  ilo  plural  do  tempo  pre- 
Hcnti!  do  moilo  indicativo.  Vid.  Tomar. 
—  «E  isto  feito  no.s  tornamos  a  bordo,  o 
jior<iuo  Ja  a  este  tempo  era  ^^ua^>i  meia 
noite  se  nilo  fez  eiitRo  mais  que  recollier- 
se  toda  a  presa  no  junco,  e  a  frente  que 
se  tomou  foy  toda  metida  debaixo  da  cu- 
bertii,  onde  esteve  até  pela  meiíliam,  que 
vendo  António  de  Faria  que  era  gente 
triste,  e  a  mais  delia  mollieres  velhas  que 
nào  j)restavào  para  nada.»  Fern.^ío  Men- 
des i'into.  Peregrinações,  cap.  47. 

TORNAR,  V.  n.  Voltar  ao  logar  d'onde 
saiu  aquelle  que  torna;  voltar  de  jorna- 
da.—  «Acabando  elRey  sua  conclusão 
sobro  o  fazer  da  casa,  sem  responder  ao 
mães  do  baptismo  que  lhe  foi^amoestado, 
espediose  do  capitão  tornando  na  ordem 
era  que  veo,  c  elio  licou  com  os  mestres 
da  obra  entendendo  no  eleger  donde  se 
fundaria  a  fortaleza.  •   Ban-os,  Década   1, 


:}, 


cap. 


«Ua  quaes  tanto  que  se 


apartarão  da  praia,  o  fizeraõ  tornar, 
quasi  como  que  o  queriaõ  ter  nella  por 
anagaça  pêra  quando  o  fossem  recolher 
cometterem  alguma  maldade,  da  maneira 
Tjue  mostrarão.»  Ibidem,  iiv.  4,  cap.  3. 
—  «Tornando  a  .seu  cíiminho  e  sendo  já 
mui  perto  da  costa  do  Melinde,  saltou 
ooni  elle  hum  tempo  traucssão  que  deu  com 
a  nao  de  Senhor  de  Toar  em  hum  baixo 
onde  se  perdeo,  .«alnandose  porem  toda  a 
gente.»  Ibidem,  Iiv.  5,  cap.  9.  —  «Affonso 
d'Alboquerque  tornando  a  seu  caminho, 
não  tardou  muito  que  nào  tomaram  dous 
juncos:  o  primeiro  tomou  D.  Joào  de  Li- 
ma, Simão  de  Miranda,  e  Simào  Aâbnso, 
por  lhe  cahirem  ra  esteira  em  que  elle 
hia  pêra  Malaca,  onde  se  houve  muito 
grossa  preza.»  Liem,  Década  2,  Iiv.  6, 
cap.  2.  —  «E  tinha  cUc  nisso  razào,  por- 
que Patê  Quotir  era  cavallciro,  e  homem 
astucioso,  costumado  a  sotFrer  nossaa  ar- 
mas; e  sem  duvida  se  elle  não  fora  ido, 
ou  Patê  Onuz  o  topara  no  caminho,  tor- 
nando com  elle,  muito  mal  nos  houvera 
de  fazer.»  Ibidem,  Iiv.  9,  c;ip.  5. — 
«Neste  tempo,  seudo  eu  avisado  por  cartas 
do.s  dous  Portugueses  que  ticaraõ  em  Ta- 
uixumaa,  que  o  cossa}TO  Chim  com  quem 
aly  viéramos,  se  fazia  prestes  para  se 
partir  para  a  China,  dey  conta  disso  a  el 
Rey,  e  lho  pedy  licença  para  me  tornar, 
a  qual  me  elle  deu  muyto  levemente,  e 
com  palavras  de  muytos  agradecimentos 
pela  cura  do  seu  filho.»  Fernão  Mendes 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  137.  —  tE 
tornando  a  loani  (iomez  Dabreu,  passada 
a  tormenta  se  embarcou  no  batel,  cui- 
dando que  acharia  a  nao,  posto  que  a  na3 
visse  no  lugar  onde  ticara,  e  nisto  andou 


alguns  dias  de  longo  da  co«ta,  eom  alma- 
dia^í  que  el  Rei  mandara  com  ellc.»  Da- 
mião do  Góes,  Cbronica  de  D.  Manoel, 
part.  2,  cap.  21.  — «Naiu  achando  loam 
pirez  nenhum  recado  deste  negocio,  naue- 
gou  dalli  a  çofalla,  e  de  çofalta  toriioa  a 
Adem,  e  de  Adem  ao  Cairo,  pêra  se  dalli 
tomar  ao  regno  wm  Afonso  de  paiua, 
onde  assentarão  de  se  ajuntar,  pêra  lo- 
uarem  nonas  u  el  Kei  do  r|ue  cada  hum 
fezera,  onde  achou  loam  pirez  de  CouilhS 
dous  ludeus  Portugueses  qnc  lhe  derSo 
cartas  dei  Rei,  dos  quaes  soube  como  Afon- 
so de  paiua  morrera  alli.i  Ibidem,  part. 
.3,  cap.  58. 

Fiandeiro  me  tortuir  ; 
e  outro  rei  do»  líircanos 
Artnbano,  cujos  aiinog 
não  recreava  em  mais  tratos 
que  armar  cm  casa  a  ratos ; 
irei  pelos  mesmos  canos. 

ANTOKIO  FRESTItS,  AUTOS,  pag.  291. 

Vendo  O  governador  qnc  com  sapcrao 
Favor,  tinha  acabado  seu  intento, 
E  quo  era  isto  ja  em  Março,  quando  o  inverno 
13atc  .13  portas  do  oriental  assento  ; 
Qucrcndo-.se  tornar  ao  seu  governo 
Ivevanta  o  ferro.  aMUi  a  vclla  ao  vento, 
Volta  a  popa  i  Cidade,  ao  mar  a  proa, 
£  torua-so  a  Isveruar  na  nobre  Gos. 

Y.  d'a.vdrai>e,  pkihkibo  cesco  D>  DIC,  CMtt.  5, 
est.  90. 


—  «E  pois  es  cõpanheiro  e  parente  do 
Deos  em  a  natureza,  não  degeneres  de 
taõ  .alto  parente,  tornado  às  antiguas  vi- 
lezas c  carnalidades.  Diz  mais  o  glorioso 
Euàgelista  que  entrado  o  Anjo  S.  Oa- 
qriel  na  camará  dõde  a  senhora  estaua 
recolhida,  a  saudou,  dizendo,  Deos  te 
salue  chea  de  graça,  o  Senhor  he  cBtígo 
benta  es  tu  em  as  molheres.»  Frei  Bar- 
tholonieu  dos  Martyres,  Cathecismo  da 
doutrina  enrista. 

—  Tornar  etn,  ou  a  si;  recobrar  os  sen- 
tidos, o  abimo. 

—  Fazer  outra  vez  o  mesmo,  £uel-o 
de  novo,  segunda  vez,  —  i Grande  eípaço 
se  sustiveram  uns  o  outros  na  batalha, 
sem  se  sentir  fraqueza  em  nenham,  mas 
o  trabalho  de  sua  porfia  foi  tamanho,  que, 
começando  já  desfalecer  os  alentos,  se  ar- 
redaram pêra  os  tornar  criar  de  novo.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  94.  —  «Mas  como  o  cavalleiro 
do  Tigre  tivesse  pouco,  ainda  o  dia  não 
era  de  todo  claro,  quando  mandou  tomar 
a  enfrear,  e  guiou  contra  onde  lhe  pare- 
cia que  os  outros  caminhavam.  E  de  ver 
que  os  niio  ach.ava,  e  o  dia  era  mui  alto, 
queria  estalar  com  pesar :  quo  isto  ó  n.a- 
tural  do  animo  grande  em  cousa  que 
muito  deseja  não  ter  paciência.»  Ibidem, 
cap.  104. —  «Depois,  tomando  a  mudar 
o  propósito  eom  tenção  do  o  manilar  ás 
damas  da  rainha  de  Hespanha,  que  dese- 
java pareccr-lhe  bem,  o  mandou  desar- 
mar   ao   seu  escudeiro  delie  mesmo,  que 


TORN 


TORN 


TORN 


769 


com  lagrimas  lhe  pedia  que  o  Bão  ma- 
tas>e.»  Ibidem,  cap.  128.  —  «Espedidos 
estes  Mouros  com  mercê  que  lhe  fez,  fi- 
cou só  cora  Diogo  Fernandes,  e  Pêro  d'Al- 
poom ;  e  tornando  ler  a  carta  de  Cide 
Alie,  quando  veio  a  dizer  que  vinha  Lopo 
Soares  por  Capitão  mór.»  Barros,  Década 
2,  liv.  10,  cap.  8.  — •  «E  varejando  a  mo- 
nição  da  roca  por  cima  deu  no  convés  dou- 
tra lorcha  que  vinha  hum  pouco  mais 
atrás,  e  lhe  matou  o  Capitão,  e  seis  ou 
sete  que  etavão  junto  delle,  do  que  as 
outras  duas  ficarão  tào  assombradas  que 
querendo  tornar  a  voltar  para  terra,  se 
embaraçarão  ambas  nos  guardins  das  ve- 
las de  maneyra  que  nenhuma  delias  se 
pôde  mais  desembaraçar,  e  assi  presas 
huma  na  outra  e-tiveraõ  ambas  estacadas 
sem  poderem  yr  para  trás  nem  para  dian- 
te.» Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações, 
cap.  59.  —  «Ha  outros  doutra  seita  que 
se  chama  Trimechau,  que  tem  por  opi- 
nião que  quanto  tempo  hum  homem  vive 
nesta  vida,  tanto  ha  de  esta''  morto  de- 
baixo da  terra,  e  despois  por  rogos  des- 
tes seus  sacerdotes  se  ha  de  tornar  a  sua 
alma  a  meter  numa  criãça  de  sete  dias, 
para  de  novo  viver  naquelle  corpo,  até 
tomar  forças  para  tornar  em  busca  do 
corpo  velho  que  deixou  na  cova,  para  o 
levar  ao  Ceo  da  Lua,  onde  dizem  que 
dormirá  huma  grande  soma  de  annos,  até 
se  converter  em  estrclla,  e  que  aly  ficará 
fixo  para  sempre.»  Ibidem,  cap.  114. — 
«E  tornando  de  novo  a  nos  mandar  tra- 
zer mais  arroz,  e  feijões  cozidos  com  brin- 
gellas,  nos  rogou  que  comêssemos,  porque 
folgava  muvto  de  nolo  ver  fazer,  o  quf  1 
gosto  lhe  nÓ3  então  demos  de  muvto  boa 
vontade.»  Ibidem,  cap.  119. 

Oh !  quando  cila  outra  vez  n'aqucl)c3  braços 
O  tornar  a  apertar,  quando...  Armas  soam 
De  cavallciroa,  c  coraeis  nitrindo 
No3  átrios  do  palácio...  escuta...  E  ellc, 
O  seu  Pedro,  ob  ventura!  «Eipôso,  espô  o!» 
G.iEBíTT,  CAMÕES,  caut.  7,  cap.  23. 

—  Pôr-se  no  estado  de  que  se  saiu.  — 
«Tornando  ao  propósito,  Albayzar,  depois 
que  fez  o  acatamento  que  devia,  tornou 
a  cavalgar  tão  solto  e  airoso  como  quem 
de  novo  criara  forças,  e  tornando  a  pôr 
o  elmo,  disse  ao  cavalleiro  Negro.»  Fran- 
cisco de  Jloraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  89.  —  «Mas  tornando  ao  que  toca 
aos  negócios  da  guerra,  que  Afonso  Dal- 
buquerque,  e  Francisco  Dalbuquerque  fa- 
ziâo  a  el  Rei  de  Calecut  foi  em  tanto 
crecimento. »  Damião  de  Góes,  Chronica 
de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  79. 

—  Tornar  em  damno,  proveito;  con- 
verter-se  n'elle. 

—  Tornar  por  si;  acudir  pelas  suas 
cousas. 

—  Termo  antiquado.  Tornar  a  ahjuoii 
culpa,  erro,  abuso;  atalhar,  providenciar, 
vindical-o  castigando. 

voL.  V.  — 97. 


—  Tornar  sobre  si;  reconhecer  a  culpa. 

—  Tornar  por  alguma  cousa  ;  vir  atraz 
buscal-a. 

—  Tornar  atraz ;  recuar,  retroceder. 

—  Tornar  em  si;  diz-se  do  que  ia  a 
dizer,  ou  fazer;  ou  estava  dizendo,  ou 
fazendo  inadvertidamente  alguma  cousa, 
que  quizera  occultar,  e  se  avisa  e  corri- 
ge do  seu  descuido,  ou  inadvertência. 

—  Tornar  pelo  credito,  pela  hovra  de 
alguém ;  acudir  por  ella  como  defensor. 

—  Figuradamente  :  Tornar  á  religião 
abjurada. 

—  V.  a.  Restituir. —  «E  sendo  ja  ar- 
mada prestes  chegou  a  el  Rey  hum  men- 
sageyro  dei  Rey  e  da  Raynha  de  Castel- 
la,  os  quaes  por  serem  certificados  que  a 
dita  armada  hia  contra  outra  sua  que  lo- 
go la  auia  de  tornar,  man(Lirão  reque- 
rer a  el  Rey  que  a  não  mandas.:e,  ate  se 
ver  per  direyto,  em  cujos  mares  e  con- 
quistas o  dito  descubrimento  cabia.»  Gar- 
cia de  Rezende,  Chronica  de  D.  João  II, 
cap.  16õ.  —  «E  assi  mandou  outro  tanto 
a  cidade  do  Porto,  e  Aueyro.  E  03  do- 
nos todos  delias  se  forão  a  el  Rey  de 
França  clamar,  e  pedir  que  lhes  fizesse 
tornar  o  seu.»  Ibidem,  cap.  140. 

—  Fazer  de  novo,  segunda  vez. 

Ob !  mão  peito. 
Só  este  basta  tornal-a 
magriuh..,  triste,  farnotioa. 

AMIONIO  PRESTES,  AUTOS,   pag.    440. 

—  Tornar  a  culpa  a  alguém;  imputar- 
Ih'a. 

—  Retribuir. 

—  Dar  dinheiro  ou  equivalente  áquel- 
le  com  quem  trocamos  uma  cousa  pela 
outra,  ficando  com  a  de  maior  valor 
aquelle  que  dá  as  tornas. 

—  Tornar  mào ;  resistir. 

—  Jludar,  transformar,  transfigurar. 
— •  Entre  tanoeiros,    dar   volta  ao  arco 

com  a  tornadoura. 

—  Dar  em  troco  de  dinheiro  maior,  o 
que  restamos,  a  quem  nos  pagou  o  que 
devia,  dando  somma  de  mais. 

—  Rejponder  ao  que  se  diz  ou  per- 
gunta. 

—  Dar  ao  coherdeiro  cousa  que  com- 
pense a  maioria,  que  vale  a  nossa  sorte 
ou  quinhão. 

—  Traduzir. — Tornar  palavras  lati- 
nas  cm  portuguez. 

—  Tornar-se,  v.  refl.  Pa£  -ar  do  estado 
em  que  está,  physico  ou  moral,  a  outro 
differento. 

—  Voltar,  ir-se.  —  «E  virando-se  con- 
tra o  velho  não  o  viu,  nem  soube  pêra 
onde  lôra.  Então  teve  por  certo  que  sras 
lagrimas  eram  nascidas  de  engano,  e  não 
de  cousa  que  lhe  doesse;  e  não  sabendo 
determinar-sc,  depois  de  cuidar  mil  vai- 
dades, poz  em  sua  vontade  correr  toda 
aquella  terj-a,  e  se  não  achasse  novas, 
tornar-se  a  casa  do  imperador  com  aquel- 


las  da  perda  de  seu  senhor,  pêra  que  com 
ellas  seus  amigos  quizecsem  buscal-o, 
querendo  que  da  diligencia  de  muitos, 
algum  fructo  se  tiraria.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  113.' 

—  Tornar-se  a  alguém  quem  vevi  en- 
fastiado; pegar  com  esse,  e  desafogar 
com  elle  a  paixão. 

—  Converter-se  a  outra  seita,  religião, 
credo,  reduzir-se  a  outra  crença. 

—  Transformar-se,  tomar  a  figura,  fa- 
zer-'e. 

—  Adágios  e  provérbios  : 

—  Tornar  á  vacca  fria. 

—  Tornar  a  engatinhar. 

—  Tornar  para  traz  como  caranguejo. 

—  Tornará  o  maio  de  lagos. 

—  Não  sou  rio,  por  não  tornar  para 
traz. 

—  Em  abril  vae  onde  has  de  ir,  e  tor- 
na a  teu  covil. 

f  TORNARAM,  ou  TORNARÃO.  Forma 
do  verbo  tornar  na  terceira  pessoa  do 
plural  do  pretérito  mais  que  perfeito  do 
modo  indicativo.  Vid.  Tornar.  —  «Nisto 
se  tornaram  arredar  e  Floramão,  que 
naturalmente  era  de  condicção  nobre, 
sentindo  a  fraqueza  do  outro,  quiz  vêr 
SC  com  menos  da  vida  o  faria  deixar  a 
batalha,  dizendo  :  Senhor  cavalleiro,  já 
vedes  que  a  verdade  de  vos.sa  porfia  não 
está  tão  clara  como  dizeis  ;  confessai  que, 
iuda  que  a  senhora  Arnalta  seja  o  que 
vós  dizeis,  outras  ha  no  mundo  que  são 
mais  formosas  que  ella.»  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  103.  — 
«E  cavalgando  r.o  cavallo  do  gigante,  que 
o  seu  estava  com  uma  perna  quebrada  da 
peleja,  que  houveram  com  elle,  so  tor- 
naram á  ermida.  Os  escudeiros  de  Ba- 
leato  fugiram  pêra  um  dos  castellos  levar 
novas  aos  seus.»  Ibidem,  cap.  107.  — 
«;E1  Rei  de  Aarú,  animando  então  os 
seus  com  palavras,  e  promessas,  quais 
naquelle  tempo  se  requerião,  ellos  com 
Ímpeto  determinado  derão  nos  inimigos, 
e  se  tornarão  a  senhorear  do  baluarte, 
com  morte  do  Capitão  Abexim,  e  de  to- 
do.? os  mais  que  já  estavão  dentro. »  Fer- 
não Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap. 
26.  —  «Passados  os  nove  dias  que  aquy 
estivemos  pregos  nos  tornarão  a  embar- 
car, e  navegando  por  hum  muvto  grande 
rio  acima,  em  sete  dias  chegamos  á  cida- 
de de  Nanquim,  que  alem  de  ser  a  de 
toda  esta  Monarchia,  he  também  metro- 
puli  dos  trcs  rcynos  de  Liampoo,  Fanjús, 
e  Sumbor.»  Ibidem,  cap.  85.  —  «Allu- 
dindo  isto  a  Pêro  Dayala  que  era  manco 
de  hum  pé,  e  a  dõ  Garcia  por  ser  homem 
hum  pouco  enleuado  e  vão:  e  sem  outra 
conclusão  se  tornarão  pêra  Castella.  » 
Barros,  Década  1,  liv.  3,  cap.  11. — 
« Mas  como  eraõ  muitos  logo  tornarão  a 
encher  os  lugarcj,  recrescendo  a  crueza, 
c  fúria  da  batalha  por  todas  as  partes, 
tanto  que  parecia  que  se  desfazia  o  mun- 
do   em  gritos,    e    bramidos.»    Diogo    de 


770 


TORN 


TORN 


TORN 


Couto,  Década  6,  liv.  2,  cap.  8.  —  «Das 
Colónias,  quo  jiassaraõ  o  Oalio,  pa<lece- 
mos  ituiiios  ])roiuiz();  ])or(|uo  cuiiio  estars 
mais  perto,  o  iiolias  naij  intentamos  guer- 
ras com  Príncipes  confinantes,  naõ  nos 
occuparaõ  tanta  pente,  o  os  que  a  ellas 
foraõ,  tornarão  a  vir  com  mais  faciliiia- 
do  ao  iniísnio  Ueyno.»  Soverim  do  Fa- 
ria, Noticias  de  Portugal,  Disc,  1,  cap. 
3.  —  «  l);u|ai  HO  partiràd  perà  índia 
Dion;o  do  MoUo,  e  Martini  Coelho  aos 
xviij  dias  do  mes  d(!  Nouonihi-o,  e  por 
acharem  ventos  contrairos  se  tornarão  das 
ilhas  de  Maluane  a  Moçambique,  onde 
arribarão  aos  .seis  dias  do  mes  do  No- 
uembro,  sem  ato  entilo  serem  chefiadas 
outras  nenliumaa  nãos  das  que  partirão 
do  regno,  que  as  que  ja  dixe.»  Damião 
de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part. 
2,  cap.  14.  —  «Com  tudo  elles  se  torna- 
rão sem  ne,!?ociar  nada  do  quo  leuauaõ  a 
cargo,  e  assi  ficaram  ello,  o  o  Oabaim 
dalcam  som  auerom  entrada  destes  caual- 
los  em  suas  torras,  quo  era  cousa  que 
muito  descjauam,  e  Afonso  dalbuquerque 
sem  alcançar  cousa  nenhuma  das  quo  lhe 
a  elles  mandara  pedir.»  Ibidem,  part.  'ò, 
cap.  66. — -«Ouvi  diser  que  esto  (íigante 
se  fisera  em  i)cdaço3  algumas  vezes,  e 
que  so  tornara  a  formar,  porem  lie  cou- 
za  que  nunca  vi,  c  se  a  crcyo  he  porque 
assim  me  foi  dita  por  muitos  homens  ver- 
dadeyros,  c  dignos  de  fé  que  presencia- 
rão o  caso.»  Cavalleiro  d'(Jlivclra,  Cartas, 
liv.  1,  n.»  49. 

Pedras  om  que  03  Romanoa  se  tornaram, 
Vossas  imagens  scntlr.ão  a  aftVonta 
Quando  a  minha  —  levada  em  pompa  infame 
Dcante  do  vonccdoí-... 

QARRKir,  CATÃO,  act.  3,  SC.  2. 

—  Modernamente  escrevc-se  tornaram 
para  o  pretérito  perfeito  e  mais  que  per- 
feito do  modo  indicativo,  e  tornarão  para 
o  futuro  imperfeito  do  mesmo  modo;  dis- 
tinguindo d'esta  forma  um  tempo  do  ou- 
tro. 

■\-  TORNAREI.  F(>rma  do  verbo  tornar 
na  primeira  pessoa  do  singular  do  futuro 
imperfeito  do  modo  indicativo.  Vid.  Tor- 
nar. 


Esse  Conde  e  outros  assi 
Por  agora  hão  do  ficar, 
P'outrcm  podeis  perguntar: 
Mas  eu  tornarei  aqui, 
E  Viís  me  ouvireis  f.iUar. 

OIL  VICKNTR,  KAUÇAS. 


f  TORNAREM.  F(')rma  do  verbo  tornar 
na  terceira  pessoa  do  plural  do  futuro  do 
modo  conjunctivo.  Vid.  Tornar. 


Tornarfm-te  tào  esquerda  ! 
grande  descuido  adquiriram 
ca  quo  do  ti  desistiram. 

ANTÓNIO  PBESTBS,  AUTOS,  pag.  40. 


•|-  TORNAREMOS.  Forma  do  verbo  tor- 
nar na  jirinieira  pessoa  do  plural  do  futu- 
ro inij)eif(;ito  do  modo  indicativo.  Vid. 
Tornar. 

Com  tanta  graça  cantacs 
que  nos  poilii»  bem  tornar 
dinheiro  em  cima  ond<5  ostae». 
riem  embargo»,  neui  demandas 
loriuiremoí  de  bom  griído, 
flc  o  dinheiro  fôr  cunhado 
com  coiiccH  de  maclio  d  andas, 
depois  da  mosca  picado. 

ANTÓNIO  PUKSTES,  ALTOS,   pag.    47. 

-|-  TORNARIA.  Forma  do  verbo  tornar 
na  primeira  ou  terceira  pessoa  do  singu- 
lar do  modo  condicional.  Vid.  Tornar.  — 
«Porque  se  lhe  dessem  logo  o  premio, 
naõ  lho  ficava  cil  qiio  esperar,  e  naõ  ser- 
viria taõ  diligent.',  nem  tornaria  taõ  ce- 
do, deixaiHÍo-sc  engodar  lá  com  outros 
lucros,  e  que  porderiaõ  hum  sujeito  de 
grandíssimo  }i)estimo.i)  Arte  de  furtar, 
cap.  13.  —  «Quanto  és  cruel  comigo! 
Nào  me  escreves,  nem  me  posso  atalhar 
de  t'o  dizer;  o  tornaria  a  cíuneçar,  se  o 
Official  nào  instasse  por  partir.  Parta  em- 
biu-a  :  que  mais  por  mim  escrevo  do  que 
por  ti  mesmo;  consiUo-me.  Bem  sei  que 
ha  de  assustar-te  o  prolixo  d'esta  minha 
Carta,  e  que  a  niio  hás-de  lêr.  Em  que 
te  offendi,  para  tanto  me  maltratares? 
Quem  te  instigou  a  vires  cnvenenar-me  a 
vida?»  Francisco  Manoel  do  Nascimento, 
Successos  de  madame  de  Seneterre. 

-j-  TORNARMOS.  Forma  do  vorbo  tor- 
nar na  primeira  pessoa  do  plural  do  fu- 
turo do  modo  conjunctivo.  Vid.  Tor- 
nar. 

—  Usa-se  também  no  infinito  pessoal, 
—  «Dalli  fez  toda  a  guerra  que  pode  ao 
Camorim,  maudandolhe  dar  om  muitas 
povoaçoens  que  lhe  os  nossos  abrazàraõ, 
e  queimíiraõ;  e  deixallo-hemos  assim  ago- 
ra por  tornarmos  a  continuar  com  o  Vi- 
sorev,  que  jà  ileixàmos  em  Columbo.» 
Diogo  de  Couto,  Década  6,  liv.  H,  c;ip.  18. 

-{-  TORNASSE.  Fiirma  do  verbo  tornar 
no  pretérito  mais  (jue  perfeito  do  modo 
conjunctivo.  Vid.  Tornar.  —  lE  antes  que 
tornasse  receber  outro,  levantando-se  de 
pressa,  so  encostou  a  uma  arvore,  que  ti- 
nha o  pé  grosso,  esperando  sua  fortuna, 
tão  quebrantado  da  queda  e  encontro  do 
cavallo,  que  lho  parecia  que  os  ossos  lhe 
dcix:'n;i  moiílos.»  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  102. —  «Es- 
tas jialavras  me  entendco  mal,  mas  pare- 
ce, que  lhe  soaram  bom,  que  me  mandou 
duas  ou  três  vezes  que  Ih.as  tornasse  a 
dizer,  e  porque  no  poríugnez  mas  enten- 
dia peior,  quiz  quo  as  dissesse  em  caste- 
lhano, e  virando  o  rosto  para  uma  dama, 
quo  estava  da  outra  parte,  mo  deixou,  o 
praticou  com  cila,  parece  me  a  mim,  (jue 
á  minha  custa.»  Idem,  Desculpa  de  uns 
amores.  —  «  E  foi  t;imanho  o  seu  conten- 
tamento despois  quo  ieo  a  carta  que  lhe 


elRey  escreuia  (a  qual  era  em  Arauigo) 
que  naõ  conoeutio  que  Aires  Corrêa  se 
tornasse  à  na<j :  o  mandou  dizer  a  Pe- 
"Iraluarez  que  lhe  pedia  ouue^.fe  por  bem 
que  Aires  Corrêa  HcaHi<e  lá  uquella  noite, 
e  ao  dia  seguinte,  pêra  praticar  na«  cou- 
sas d'elRoy  de  Portugal.»  1'arro»,  Deca- 
da  I,  liv.  f),  cap.  3. —  «Acabado  isto 
tudo  por  serem  ja  mais  de  trus  heras  des- 
pois da  meya  noite,  nos  tomamOB  para  a 
nossa  pousada,  taõ  espantados  do  que  vi- 
ramos quanto  da  mesma  coupa  «o  pôde 
entender  que  era  razilo.»  Feriiâo  Mendes 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  116.  —  «E 
por  ser  muyto  tanlo,  e  aver  no  capo 
muytoB  feridos,  a  que  necessariamente  se 
avia  de  acudir,  se  ai>8entou  que  o  outro 
dia  seguinte  se  tomassem  todos  a  ajun- 
tar no  mesmo  luiíar,  para  fo  tomar  reso- 
lução no  que  so  tinha  altercado,  e  com 
isto  se  recolherão  cada  bum  para  a  sua 
estancia.»  Ibidem,  cap.  118.  —  «E  le- 
vantandose  entào  da  cadeyra  em  que  ja 
estava  assentado,  man'lou  aos  Peretandaa 
que  nos  tornassem  á  prisaS,  da  qual  se- 
riamos ouvidos  confonne  A  piedade  que 
cl  Key  quisesse  ter  de  nós,  com  que  to- 
dos ficamos  bem  tristes  e  desconsolados, 
e  sem  nenhuma  esperança  de  vidií.»  Ibi- 
dem, cap.  140,  - —  «A  isto  dixe  hum  dos 
presos.  Senhores  nam  ajays  medo  que 
nam  pode  açoutar  esse  moço.  E  na  ver- 
dade soubemos  que  era  assi,  porque  se- 
gundo suas  leys  nam  avia  culpa  porque 
ho  pudesse  mandar  açoutar,  e  tinha  pena 
se  ho  fizesse.  Ouvindo  ho  lyuthia  a  voz 
do  preso,  mandou  com  presteza  que  ho 
tornassem  ao  tronco.»  Tenreiro,  Itinerá- 
rio, caj).  19.  —  «O  que  dom  lyiurenço 
nam  quis  fazer,  dizendolhe,  que  nam  pa- 
recia bom  conselho  meter  taõ  boas  nãos 
no  fundo  que  o  milhor  era  leualas  a  seu 
pai  pêra  com  ellas  fazer  guerra  aos  mes- 
mos Rumes,  se  outra  vez  tornassem  a 
índia.»  Damião  de  Coes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  2,  cap.  2.'i.  —  «A  qual 
como  Diogo  lopez  tornasse  de  Ormuz 
queria  assentar  com  clle,  e  que  pêra  isso 
lhe  mandaria  seus  embaixadores,  como 
soubesse  que  era  vindo,  com  estas  nouas 
foi  Rui  de  melo  mui  alegro,  e  todolos 
que  morauam  em  (íoa  e  lho  agradeceo 
mu'to  per  messageiros,  que  mandou  cora 
os  dei  Rei,  ha  que  fez  taes  presentes, 
quaes  mereciam  semelhantes  noua.«.»  Ibi- 
dem, part.  4,  cap.  61.  —  «Certo  que  <?stA 
obra  de  fazer  que  hos  ludeus  se  tornas- 
sem Christãos,  foi  digna  de  muito  lou- 
nor,  posto  quo  se  delia  podessem  seguir 
hos  inconueniontes,  que  no  conselho  dei 
Rei  forão  apontados,  e  muitos  outros  que 
se  depois  virão  em  que  se  entaõ  poderá 
mal  cair,  porque  r.inhuma  perda  podia 
vir  ao  Regno  pela  conneríaõ  desta  gen- 
te, que  se  poiiesse  estimar  perda,  cm 
compaiaçam  do  que  se  ganhou  em  conhe- 
cerem lia  verdade  do  ipie  hauiaõ  de  crer.» 
Ibidem. 


TORN 


TORN 


TORN 


771 


Seu  proveito  :  oia  outro  bate ; 
se  tornasse  ora  a  ser  esse  ? 
já  isto  acinte  parece : 
toma  a  vêr. 

ANTOXIO  PEESTES,  ACTOS,  pag.  135. 


TORNASOL,  s.  m.  Gyrasol, 

—  Vid.  Tornesol. 

-{■  TORNAVA.  Forma  do  verbo  tornar  na 
primeira  ou  terceira  pessoa  do  singular 
do  pretérito  imperfeito  do  modo  indicati- 
vo. Vid.  Tornar. —  «Em  quanto  o  escu- 
deiro tornava,  se  desarmou  por  enxugar 
as  armas  e  vestido,  que  dagoa  llie  iicára 
maltratado;  perguntando  á  donzella  que 
desastre  a  trouxera  contra  aquella  parte, 
ou  porque  causa  aquelles  cavalleiros  a 
queriam  forçar. »  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  128. —  «E 
se  agora  vissem  que  estas  promessas  e  es- 
peranças desarmavam  em  vão,  e  torna- 
vam as  coisas  a  correr  pelo  estylo  que 
d'antes,  nenhum  credito  se  daria  mais 
entre  os  indios  ás  leis  e  ordens  de  vossa 
magestade,  e  nem  ás  palavras  dos  gover- 
nadores; e  03  missionários  perderiam  toda 
a  opinião  e  auctoridade  que  têm  com 
elles.»  Padre  António  Vieira,  Cartas, 
n.»  15. 

TORNAVIAGEM,  s.  /.  Volta  ao  porto 
d'on<lo  se  tinha  antes  partido. 

TORNAVODA,  s.  /.  Segunda  voda  fei- 
ta em  casa  de  cada  um  dos  sogros  dos 
noivos. 

—  Adagio  e  provérbio  : 

—  Nào  ha  voda  sem  tornavoda. 
TORNEADO,    part.   pass.   de  Tornear. 

Lavrado  ao  torno,  roliço,  redondo. 

—  Figuradamente  :  Feito  com  traba- 
lho, e  sem  escabrosidades. 

—  Cercado.  —  Ilha  bem  torneada  de 
agua. 

—  Figuradamente :  Braços,  p)^i'n(i^  tor- 
neadas ;  braços,  pernas  roliças,  feitas  sem 
feições  angulosas. 

—  Figuradamente  :  Composição  tornea- 
da ;  de  bom  contorno,  fácil,  sonora,  sem 
escabrosidades. 

TORNEADOR,  s.  m.  Homem  que  lavra 
ao  torno. 

—  Instrumento  dos  espingardeiroa. 

—  Banco  de  quatro  pés  dos  segeiros, 
sobre  que  elles  trabalham  certas  cousas 
das  rodas  grandes. 

TORNEAR,  ou  TORNEJAR,  v.  a.  La- 
vrar ao  torno,  dando  uma  forma  redon- 
da, roliça,  sem  escabrosidades. 

—  Dar  volta,  ir,  andar  em  torno,  ou 
cercar  em  torno.  —  «No  qual  tempo  cada 
hum  dos  nossos  Capitães  trabalhava  por 
fazer  alguma  entrada  torneando  a  cerca, 
por  os  Mouros  acudirem  todos  ao  lugar 
onde  Fernão  Peres  commettia  querelios 
entrar.»  Barros,  Década  2,  liv.  9,  capitu- 
lo 1. 

—  Tornear  os  braços,  o  pescoço;  dar- 
Ihes  uma  feição  roliça,  sem  feições  angu- 
losas. 


—  Cingir,  circumdar,  rodar,  circular. 
Gargantilha  que  tornêa  o  collo. 

—  No  seutido  de  justar,  vid.  Tor- 
neiar. 

—  V.  n.  Gyrar,  dar  volta,  ir,  andar 
em  torno. 

Do  fantástico  império  despojada 
A  Terra,  já  Planeta,  e  Globo  errante 
Gira,  foriièa  o  Sol,  e  igual  aos  outros 
Tristes  Globos  sem  luz  no  espaça  ondêa. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  KATUBEZA,  Caut.  1. 

TORNEARIA,  s.  /.  Rua  onde  ha  tor- 
neiros de  lavrar  obra  de  madeira. 

-j-  TORNEI.  Forma  do  verbo  tornar  na 
primeira  pessoa  do  singular  do  pretérito 
perfeito  do  modo  indicativo.  Vid.  Tor- 
nar. 


Não  sei  eu  o  que  passou 
em  quanto  isto  passey, 
mas  junto  commigo  achei 
quem  este  mal  causou 
depois  jaa  que  em  mim  torney. 
caaiSTOvlo  falcão,  obras,  pag.  12. 


TORNEIADOR,  s.  m.  Homem  que  en- 
trava nos  tiirneios,  justador. 

TORNEIAR,  V.  a."  Fazer  o  jogo  do  tor- 
neio, exercitar-se  n'elle.  Vid.  Tornear. 

—  Emprega-se  também  no  sentido  de 
lavrar  ao  torno.  Vid.  Tornear. 

TORNEIO,  s.  7)i.  Espécie  de  jogo  imi- 
tando as  escaramuças  na  guerra,  feito 
por  cavalleiros  em  quadrilhas.  Vid.  Justa. 

—  No  sentido  de  feitio  dado  ao  torno, 
vid.  Tornêo. 

—  Syx.  :  Torneio,  jusía.  Vid.  este  ul- 
timo vocábulo. 

TORNEIRA,  s.  /.  Torno  de  pipa  ou 
barril. 

TORNEIRO,  s.  m.  Homem  que  lavra 
obras  de  coco,  de  pau,  marfim  ou  metal 
ao  torno,  e  pule  a  elle  as  de  prata  de 
martello,  das  maiores  desigualdades  que 
esto  deixou. 

f  TORNEIS.  Forma  do  verb  >  tornar  na 
segunda  pessoa  do  plural  do  presente  do 
modo  conjunctivo.  Vid.  Tornar.  —  «Ou 
vos  torneis  por  onde  viestes,  ou  jureis 
que  ella  é  a  mais  fermosa  do  mundo,  e 
assim  o  combataes  toda  vossa  vida  a 
quantos  o  contradisserem,  ou  promettaes 
de  nunca  exercitar  armas  senão  em  uma 
empreza,  que  vos  ella  mandar. »  Fran- 
cisco de  Sloraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  102. 

TORNEJA,  s.  /.  O  calço  de  pedra,  col- 
locado  debaixo  da  roda  do  carro  ou  se- 
ge, quando  estão  em  ladeira. 

TORNEL,  s.  «i.  Uma  argola  cravada 
em  uma  hastea  de  metal,  sobre  a  qual 
se  revolve  para  todos  os  lados. 

f  TORNEM.  Finma  do  verbo  tornar 
na  terceira  pessoa  do  plural  do  presente 
do  modo  conjunctivo.  Vid.  Tornar.  — 
«A  este  artigo  responde   ElRey   que  tal  1 


artigo  como  este,  nom  deveerom  de  poer, 
porque  elles  sabem  bem,  que  he  artigo 
de  Corte  de  Roma  antre  elle,  e  os  Pre- 
lados, e  a  Clerizia,  que  nenhumas  pes-- 
soas  Ecclcsiasticas,  nem  Igrejas  nom  pos- 
saõ  gaanhar  nenhuns  bens,  nem  póssis- 
soões  nos  seus  Reguengos,  ca  o  Direito 
Cõmuum  as.-5Í  manda;  e  tal  defesa  lhe 
poserom  os  Reyx,  ainda  que  nom  fosse 
feito  artigo ;  e  posto  que  alguns  beens  se- 
jam dados  a  alguns,  ainda  he  esperança, 
que  se  tornem  aa  Coroa  do  Regno,  o  que 
nom  seria  despois  que  os  a  Igreja  ouves- 
se.»  Ord.  Affons.,  liv.  2,  tit.  7,  §  30. 


Essas  novas  lhe  levarei 
A  Alcmena,  que  torne  em  si, 
Porque  cila  tem  maior  guerra 
Co  "os  temores  de  perdello, 
Qu'elle  CO 'o  Rei  dessa  terra. 

CIM.,  AMPUYTBIÕES,  aCt.   1,   SC.   6. 


—  «Elle  senhor  studa  o  sãcto  Euange- 
lio,  e  tanto  que  o  sacerdote  acaba  de  di- 
zer Missa  lhe  pede  a  bençam,  a  qual  to- 
mada se  põem  a  pregar  ao  pouo  com 
muito  amor,  e  com  muita  caridade,  ro- 
gando-lhe,  e  pedindolhe  pelo  amor  de 
nosso  Senhor  que  se  conuertao,  e  tornem 
pêra  Deos.»  Damião  de  Oocs,  Chronica 
de  D.  Manoel,  part.  4,  cap.  3. 

f  TORNEMOS.  Forma  do  verbo  tornar 
na  primeira  pessoa  do  plural  do  presente 
do  moio  conjunctivo.  Vid.  Tornar.  — 
Tornemos   a  foliar  no  mesmo  assu7npto. 


Hufá  !  amores  pardeos  ! 
Agora  tornemos  niís 
Fallar  na  morte  do  meu  pae. 
Ficou  hum  asno  da  gcneta, 
E  somos  quatro  irmãos... 

GTL  YIOENTE,  PABÇAS. 


—  «Bem  vejo,  disse  Dragonalte,  que 
esse  partido  não  me  vinha  mal,  se  esti- 
masse a  vida  mais  que  outra  cousa  ;  mas 
porque  ella  é  a  que  agora  menos  me  lem- 
bra, perca-se  muito  embora,  e  tornemos 
a  nossa  batalha,  que  não  a  quero  depois 
das  outras  esperanças  perdidas.»  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  dlnglater- 
ra,  cap.  130. 

TORNENSE.  Vid.   Tornaise. 

TORNÊO,  s.  m.  O  feitio  que  dá  o  tor- 
neiro, arredondando,  e  tirando  os  ângu- 
los e  escabrosidades. 

—  Figuradamente:  O  contorno.  —  O 
tornêo  dos  braços,  das  pernas,  do  pes- 
coço. 

—  No  sentido  de   justa,  vid.   Torneio. 
TORNESE,   ou  TORNEZ,    A,    a<lj.  e  s. 

Vid.  Tornaise. 

TORNESOL,  s.  m.  Termo  de  botânica. 
Planta  annual  que  dizem  seguir  o  curso 
do  sol,  e  de  que  ha  varias  espécies. 

—  Termo  de  tinturaria.   Massa    azul, 


772 


TORN 


TíJKN 


TORN 


usada  na  tinturaria,  conhccifla  também 
pelo  nomo  do  tornesol  di:  Itollunda,  ou 
em  yasias. 

—  Em  cliimica  aerve  para  conhecer  a 
presenya  dos  ácidos. 

TORNEYAR,  v.  a.  Vid.  Tornear,  e 
Torneiar. 

TORNILHEIRO,  mlj.  e  s.  O  soldado  quo 
deserta  do  rej^imento  para  sua  casa  ou 
para  outro  rof^jiuierito,  c  diíTere  do  deser- 
tor cjuo  vac  para  o  inimigo.  Vid.  Torna- 
diço. 

TORNILHO,  s.  m.  Castigo  militar  quo 
se  dá  atravessando  uma  arma  sobro  o 
pescoço  do  homem,  e  outra  peia  curva 
das  pernas,  e  apcrtando-as  com  correias, 
de  maneira  que  façam  curvar  e  dobrar  o 
corpo,  com  pena,  c  nmlcstia. 

—  Torno  pequeno.  Vid.  Tominho. 

TORNINHO,  s.  m.  Diminutivo  de  Tor- 
no. Turno  pc(jueno,  com  que  os  ferreiros 
apertam  as  peças  que  querem  limar  para 
as  ter  fixas. 

TORNIQUETE,  s.  m.  Termo  de  cirur- 
gia. Instrumento  de  cirurgia,  que  servo 
para  suspender,  por  meio  da  compressíio, 
a  saída  do  sangue  na  principal  artéria  de 
um  membro,  cm  que  se  quer  executar 
alguma  operação. 

1.)  TORNO,  s.  m.  (Do  latim  tornus). 
Engenho  de  toi'nciro,  quo  consta  de  dous 
cepos  oude  estão  cravados  dons  eixos  de 
ferro  agudos,  nos  quaes  se  prende  a  pe- 
ça que  se  revolve  n'elles  por  meio  da 
corda  de  um  arco. 

—  Canudo,  com  seu  batoque  ou  rolha, 
o  qual  se  embebe  em  um  buraco  da  pi- 
pa, e  dá  saída  ao  liquido  contido  ii'eUa. 

—  Instrumento  de  ferro  fixo  em  um 
banco,  com  parafuso,  que  ajunta  as  boc- 
cas,  em  que  os  ferreiros  prendem  a  peça 
que  querem  limar. 

—  Figuradamente  :  Torno  de  agua ; 
qualquer  bica  d'onde  sáe  espadana  forte. 

—  Espécie  de  prego  quadrado  ou  ro- 
liço, do  pau,  maior  ou  menor,  para  pre- 
gar, como  os  de  pinho  com  que  os  sapa- 
teiros costumam  pregar  os  tacões. 

2.)  TORNO,  s.  w.  Volta. 

—  Certo  exercício  de  manejo,  que  dif- 
fere  do  cm-acol  e  voltas. 

—  Besta  de  torno.  Vid.  Besta. 

—  Loc. :  Em  torno ;  em  ruda,  em  vol- 
ta, ao  redor,  em  gvro.  —  «Em  torno  da 
qual  tinha  huma  eaua,  e  com  a  terra  que 
tirarão  delia,  entulhou  os  paos  da  madei- 
ra entre  hum  e  o  outro  a  maneira  de 
talpacs  em  altura  que  fosse  amparo  ;ios 
que  andassem  por  dentro.»  liarros,  Dé- 
cada 1,  liv.  10,  cap.  2. —  «Vendo  Ru- 
niociío  os  muitos  mortos  que  cstavrio  em 
torno  dos  baluartes,  e  que  os  sous  aco- 
diaõ  já  con\  obediência  mais  remissa, 
mandou  tocar  a  recolher ;  retirando  com 
pressa  os  mortos,  o  feridos,  como  para 
cobrir  aos  seus  o  damno,  aos  nossos  a 
victoria.»  Jacintho  Freire  d'Andrade,  Vi- 
da de  D.  João  de  Castro,  liv.  2. 


A»  Ioíh,  a  i)ropor(;5o,  o  o  iiioto  vário, 

Cotn  (jiio  o  |)rc.-)(:iipto  circulo  descrevem, 

Uc  um  coriio,  rjiie  In;  ciTitral,  girando  em  torno. 

J.   ±.   Di:  MACKDO,  VIAOKM   KXTATICA,  Caut.    2. 


Dobiiixo  dellc  lia  onda:)  enroladas 
Como  presas  d'amoi-  quedas  ficárào, 
Os  Tritões,  u8  Nereidas  Bcut'"ão 
O  fo;(0  seu  nas  húmidas  mor.adas, 
Em  torno  os  brandos  Zoiiros  adejio, 
Do  cândido  r('jía(;o  entornão  flores 
No  ebúrneo  seio  da  mimosa  Ueosa. 

IDCM,    A  NATOUEZA,  Cant.    3. 


Cobrcm-se  cm  lòrno  Ort  campo.í  dilatados 
De  falanffes  armigeras,  valentes  ; 
Hispanos  esquadrocns  marcham  formados, 
De  inulti-formcs  Povos  dirtereutcs  : 
Dcixào,  passando,  os  montes  aplainados, 
Soccào,  bebendo,  as  rápidas  correntes : 
E  jA  chegava  o  estrago,  e  vinha  a  guci/a 
Ao  coração  da  Lusitana  terra. 
iDEu,  o  ORiBNTH,  caut.  8,  cst.  30. 


—  Pôr  a  vela  em  torno  da  espada; 
manobra  de  mareaçíto  aTitiga. 

■}•  TORNO.  Forma  do  verbo  tomar  na 
primeira  pessoa  do  singular  do  presente 
do  modo  indicativo.  Vid.  Tornar. 


Mis  SC  cu  torno  out,.'0  camir'io, 
Kào  ha  ella  assi  de  ser. 
Porém  quereis-mc  dizer 
Hum  responso  ou  huma  aquesta, 
Que  m'aparc  Deos  a  cesta, 
E  dar-vos-hei  do  que  tiver? 

GIL   VICF.NTK,  FAUÇAS. 


f  TORNOU.  Forma  do  verbo  tornar  na 
terceira  pessoa  do  singular  do  pretérito 
perfeito  do  modo  indicativo.  Vid.  Tornar. 
—  «Mas  Paudaro,  que  o  achou  tào  perto 
e  nào  era  pouco  acordado,  o  levou  nos 
braços,  e  o  apertou  tanto  comsigo,  que 
lhe  parecia  que  o  espcdaçava,  e  assim 
deu  com  elle  a  seus  pés  sem  acordo,  e 
d'alli  foi  levado  acima.  Logo  tornou  abrir 
a  porta ;  mas  Belcar  e  Polendos  foram 
tão  prestes  com  elle,  que  lhe  não  deram 
lugar  para  a  cerrar  sem  entrarem  am- 
bos.» Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
d'Inglaterra,  cap.  15.  —  «  Ciiegando  a 
ellas,  se  desceu  dando  o  cavalio  a  Sel- 
viiio,  e  dcitando-se  ao  pé  de  uma  da- 
quclias  arvores,  esteve  tanto  espaço  cui- 
dando cm  sua  senhora,  té  que  o  mesmo 
cuid.ado  o  adormeceu,  e  lá  contra  meia 
noite  tornou  a  acordar,  que  nem  o  som- 
no  consentia  algum  repouso.»  Ibidem, 
cap.  76.  —  « Depois  de  curados,  Sol- 
viam tornou  á  cidade  por  andas,  e  nel- 
las  os  levaram  a  casa  de  um  cavallei- 
ro  nobre  e  r'L'ij,  que  ahi  perto  vivia,  on- 
de sem  nenhum  acordo  estiveram  os  pri- 
meiros dias.»  Ibidem,  c;ip.  81. — «Pois 
vendo  que  pêra  tamanho  mal  outro  esfor- 
ço era  mister,  tornou  em  si  e  mandou 
Selviani,  que  a  gram  pi-essa  fosse  a  uma 
cidade,  que  estava  ahi  perto,  a  fazer  vir 


quem  o  curasse,  posto  que  a  seu  parecer 
isto  era  trabalho  cBcusado.»  Ibidem.  — 
•  O  cavallciro  mostrou  (jut;  recebia  n'Í8so 
mercê;  e  fallaado  só  com  a  donzclla,  ella 
tornou  fira,  e  chegando  onde  estava  Flo- 
rendos  e  FloramTio,  disse:  Senhores,  aquel- 
le  cavalleiro  do  batel  vos  pede  lhe  man- 
deis o  escudo  do  vulto  de  Miraguarda 
pêra  sua  senhora  determinar  dello  o  que 
mcliior  lhe  parecesse.»  Ibidem,  cap.  110. 

—  «El-rei  o  acompanhou  íúia  da  cidade 
grande  espaço,  d'alli  encommendando-lhe 
seus  iilho.s,  e  pedindo-lhe  que  beijasse  as 
màuB  ao  imperador,  e  desse  encomnien- 
das  a  seus  amigos,  se  tornou  pcra  a  ci- 
dade, onde  lhi3  jiarecou  (jue  tuii>  achava 
HÚ ;  que  no  paço  e  cm  ca.sa  da  rainha, 
onde  os  dias  passados  havia  tanto  pra- 
zer, estava  toda  pessoa  tâo  desviada  de 
o  ter,  como  se  houvera  alguma  cousa,  de 
que  aquelle  desgosto  nascesse.»  Ibidem, 
cap.  129. —  (Destas  vaidades  achei  cheio 
o  pensamento,  c  aconselhava-mc  que  aa 
composesse,  mas  lomou-me  a  parecer 
maior  vaidade  mandar-lbas;  basta  que 
tenha  em  pouco  quem  as  passa,  o  não 
veja  as  palavras,  com  que  se  dizem,  pa- 
ra que  também  as  dezestimu. »  Idem, 
Desculpa  de  uns  amores.  —  «Ante  quan- 
do tornou  á  terra  firme  defronte  da  Ilha 
Cainaram,  mandou  dizer  a  Affonso  d'Al- 
boquerque,  que  pão  podia  vir  a  elle,  jtor- 
que  o  Xeque  o  mandava  vir  alli  em  po- 
der de  certos  homens  que  o  traziam  pre- 
zo, não  pêra  lhe  trazer  recaído,  siimente 
pe)-a  ver  se  com  elle  podia  resgatar  sua 
mulher,  e  filhos.»  Barros,  Década  2,  liv. 
8,  cap.  3.  —  «E  naõ  podendo  Gonçalo 
Vaz  de  Távora  alcançar  mais,  se  tomou 
com  algumas  prezas  que  tomou,  e  nave- 
gando de  longo  da  costa  da  Arábia,  foy 
tomar  o  porto  de  Caxèm,  e  se  viu  com 
aquelle  Rey,  que  lhe  fez  muitos  gasalha- 
dos.»  Diogo  de  Couto,  Década  6,  liv.  8, 
cap.  5.  —  «Franqueada  a  desembarcaç.^io 
chegou  o  Visorey  a  terra,  e  desembarcou 
com  todo  o  poder,  e  começou  a  assolar, 
e  destruir,  e  pôr  a  ferro,  e  a  fogo  todas 
aquellas  Ilhas  daquella  parte,  matando,  e 
cativando  muita  gcute,  e  depois  de  nào 
haver  cousa  alguma  em  pê,  se  tornou  a 
embarcar,  e  se  foy  pcra  a  Armada.»  Ibi- 
dem, liv.  10,  cap.  15.  —  «E  com  tanta 
pressa  tornou  logo  a  repavrar  o  que  ca- 
hira,  com  estacadas,  e  entulhos  de  pedra 
em  sossa,  em  que  a  mayor  parte  da  gen- 
te trabalhava,  que  em  doze  dias  tornou 
a  Fortalosa  a  ficiir  no  estado  primeyro,  c 
com  ilous  baluartes  mais  da  ventigem.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações, 
cap.  32.  —  "E  cõ  isto  me  deu  hum  gi*ã- 
de  couce  para  que  espertiísse,  e  me  tor- 
nou a  dizer,  falia,  còfessa  de  quem  fuste 
piitado,  e  quàto  to  dcrão,  o  como  se  cha- 
uuio,  e  onde  vivera.»    Ibidem,  cap.    136. 

—  «Pois  sabe,  lhe  tornou  o  Chiscâ,  que 
este  iic  o  pago,  que  elles,  e  o  Mundo  cos- 
tumaS  dar  aos  que  na  vida  foraõ  taõ  e»- 


TORN 


TORO 


TORQ 


773 


quecidos  do  temor  da  justiça  Divina,  co- 
mo tu  foste,  e  praza  a  Deos  que  te  de 
graça  para  que  ueste  pequeno  espaço  de 
vida  te  arrependas  do  que  fizeste.»  Ibi- 
dem, cap.  192.  —  «O  Fucaraiidono  ag- 
gravado  delRey  porque  lhe  nau  fizera  o 
que  lhe  pedira,  se  tornou  para  sua  casa 
com  03  seus  parentes,  e  assentou  com  el- 
les  de  por  si  só  fazer  tudo  o  que  ueste 
caso  lhe  parecesse,  que  ora  sua  honra  : 
porque  de  gente  fraca,  e  que  podia  pou- 
co era  requerer  por  justiça  o  que  por  si 
naõ  podia  efieytuar.»   Ibidem,  cap.    200. 

—  «E  recebido  ho  recado,  logo  assi  co- 
mo veo  correndo  se  tornou  correndo  com 
ho  caixão  a  embarcar  pêra  levar  ho  Am- 
bre  como  lhe  mandavam  ao  Tutão  pêra 
delle  ser  mandado  a  el  Rey.»  Fr.  Gaspar 
da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da  China,  cap. 
19. —  «Com  esta  uoua  foi  Afonso  Dalbu- 
querque  mui  triste,  mandando  logo  fazer 
aparelhos  para  se  defender  das  balsas  sem 
dizer  pêra  que,  mas  ellas  não  vieram  e 
assi  lho  tornou  a  mandar  dizer  loam  ma- 
chado, que  estivesse  prestes,  porque  os 
inimigos  o  auiào  de  ir  cometer  por  már 
com  huma  grossa  armada  e  muita  gente.  > 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Ma- 
noel, part.  3,  cap.  6.  —  « E  porque  el 
Rei  lhes  inandaua  nestas  cartas  que  se- 
não viessem  sem  irem  a  Ormuz,  e  sabe- 
rem certeza  deste  preste  loão  das  ín- 
dias, loão  pirez  se  tornou  a  Adem,  e 
Dadem  nauegou  a  Ormuz,  e  Dormuz 
tornou  a  Meca,  e  dahi  foi  ao  monte  Si- 
nai, ver  a  casa  da  bemauentuvada  sancta 
Catharina,  donde  tornou  ao  Thor  do  qual 
lugar  veo  ter  a  Zeila.»  Ibidem,  cap.  30. 

—  «O  qual  Gaspar  chanoca  foraja  outra 
vez  a  Narsinga  como  fica  dito,  e  tornou 
sendo  Afonso  dalbuquerque  em  Malaca, 
e  hum  embaixailor  que  el  Rei  de  Narsin- 
ga mandaua  com  hum  presente  a  el  Rei 
dom  Emanuel,  por  não  achar  Afonso  dal- 
buquerque se  tornou  pêra  Narsinga,  pelo 
qual  respeito  de  auer  a  cidade  de  Bati- 
çala  tornou  a  mamlar  la  outra  vez  Gas- 
par chanoca. »  Ibidem.  • —  «  No  mesmo 
anuo  veo  a  este  regno  hum  fidalgo  in- 
glês, per  nome  loam  valope  oôerecer- 
sse  a  el  Rei  pêra  o  ir  seruir  a  Africa, 
onde  esteue  dous  annos  na  cidade  de 
Tanger,  em  que  despendeo  muito  do  seu, 
pelo  que  el  Rei  lhe  deu  o  habito  da  Or- 
dem de  Christus,  e  lhe  fez  outras  mercês 
com  que  se  tornou  mui  contente  pêra 
sua  terra.  Ibidem,  part.  4,  cap.  20.  — 
«E  porem  nas  festas  do  casamento  do 
Príncipe  dom  Affonso  com  a  Princesa 
Dona  Isabel  se  despensou  em  todo  a  di- 
ta ley,  e  acabadas  se  tornou  logo  muy 
inteiramente  a  comprir.»  Garcia  de  Re- 
zende, Chronica  de  D.  João  II,  cap.  64. 

—  Tornar-se   em  pó ;  reduzir-se,    con- 
verter-se  em  nada. 


ncstea  dias,  que  rcynou 
tudo  mandou,  gouernou 


dom  loam  manoel  soo, 
qun  se  desfez  como  poo, 
no  que  era  se  tornou. 

GAUCIA  DK  REZUNDE,  MlSCKLLANEi, 


—  Tornou-se  j^ara  casa ;  voltou  para 
ella,  foi  para  ella.  —  «E  acabado  de  o 
assi  degolar  se  tornou  pêra  a  casa,  don- 
de o  Duque  sayra,  por  o  mesmo  corre- 
dor, sem  ninguém  saber  quem  era,  e  o 
pregão  dizia  assi :  lustiça  que  manda  fa- 
zer el  Rey  nosso  senlior,  manda  degolar 
dom  Fernando,  duque  que  foy  de  Bra- 
gança, por  cometer  e  tratar  trayção,  e 
perdição  de  seus  Reynos,  e  sua  pessoa 
Real.»  (.Tareia  de  Rezende,  Chronica  de 
D.    João  II,  cap.  46. 

—  Tornou-se  para  a  cidade;  voltou, 
foi  segunda  vez  para  ella.  —  «Acordou 
de  0.S  cometer,  dos  quaes  tomou  dous  que 
lhe  dixeram  que  os  Aduares  andauam 
muitos  afastados  dalli,  pelo  que  se  tor- 
nou perá  cidade  sem  ir  mais  adiante.» 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Ma- 
noel, part.  4,  cap.  30. 

—  Tornou   atraz ;  recuou,  retrocedeu. 


Vio-o,  tomou  logo  atraz 
Com  termo  contente,  e  brando ; 
Fogio  triste  de  Fernando, 
Foi  couteute  ás  maõs  de  Braz. 

KBA.SCI3C0  BODEIQUES  LOBO,    ÉCLOGAS. 


—  Tornou- vos  dona;  converteu- vos, 
fez-vo3  senhora. 

Fui-me  embora. 
Andáveis  douua  c  senhora, 
este  homem  toniou-vos  donua, 
dcu-vo3  co'a  senhora  fora. 
Que  tal  veio  a  meu  poder, 
Deus  me  ha  de  fazer  justiça. 
Fará,  fará. 

ANTÓNIO  PBESIES,  AUTOS,  pag.  215. 

TORNOZELO,  s.  m.  Cabeça  do  osso  re- 
saltada  da  perna,  de  um  e  outro  lado 
d'ella,  junto  ao  pé. 

—  Homem  de  três  tornozelos ;  homem 
rijo. 

—  Figurada  e  popularmente  :  Prezar- 
se  de  não  ter  tornozelos;  prezar-se  de 
bem  feito,  t  delicado. 

1.)  TORO,  s.  »t.  O  tronco  da  arvore, 
limpo  da  rama. 

—  Figura  amente :  O  corpo,  destron- 
cados os  membros. 

—  Yid.  Thoro. 

2.)  TORO,  s.  111.  Termo  de  architectu- 
ra.  Argolão,  circulo  grande,  moldura  re- 
donda, e  grossa  das  bases  das  columuas. 

TORONJA,  s.  /.  Arvore  e  fruta  de  es- 
pécie media  entre  o  limão  e  a  laranja, 
maior  e  mais  carnuda. 

TOROSO,  A,  adj.  (Do  latim  torosus). 
Carnudo,  que  tem  polpa,  e  grossura  de 
carne. 

—  Alguns  escrlptorea  latinos  dão  este 
nome  ao  pescoço  dos  bois. 


TORPE,  adj.  2  gen.  (Do  latim  turpís). 
Que  produz  torpor,  ou  acompanhado  de 
entorpecimento. 

—  Ignominioso,  indecoroso,  infame. 

—  Deshonesto,  impudico,  indecente. 
TORPECER,    V.  n.  (Do   latim    tvrpesce- 

re).  Tornar-se  trôpego,  ou  ficar  sem  po- 
der andar,  ou  agitar-se  com  entorpeci- 
mento,  ficar  dormente. 

TORPEÇO.  Vid.  Tropeço. 

TORPEÇQDO,  A,  adj.  Termo  popular. 
Que  torpeça  por  velho,  ou  fraqueza  nas 
pernas. 

TORPEDO,  s.  /,  Termo  de  historia  na- 
tural. Peixe  eléctrico.  Vid.  Tremelga. 

TORPEMENTE,  adv.  (De  torpe,  com  o 
sufiixo  «mente o).  De  um  modo  torpe. 

—  Com  torpeza. —  «Estes  sam  os  scy- 
thas  muy  celebrados  nos  historiadores,  a 
que  autre  os  mais  scythas  chamam  Masa- 
getas,  dos  quaes  afirmam  nam  averem 
sido  senhoreados  de  nhumas  outras  na- 
ções :  estes  sam  os  de  quem  se  escreve 
averem  afugentado  muy  torpemente  a 
Vejoim  Rey  dos  egípcios,  e  ho  mesmo  fi- 
zeram a  dario  Rey  dos  persas.»  Fr.  Gas- 
par da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da 
China,  cap.  4. 

TORPEZA,  s.  /.  Deshonestidade.  — 
«Fora  as  ilesquitas  pequenas  que  sa3 
muytas,  tem  a  Cidade  catorze  muy  sum- 
ptuosas, das  quaes  três  saõ  de  estranha 
grandeza,  com  seus  Alchorães  tam  altos 
nas  paredes  (que  saõ  lauradas  a  modo  de 
enxadres  muy  curiosas)  como  baixos  pe- 
las torpezas,  que  delles  cada  dia  se  pre- 
goão,  e  ensinão.»  Frei  Gaspar  de  S.  Ber- 
nardino, Itinerário  da  índia,  cap.  14. 

—  Cousa  que  está  mal  ao  homem,  e 
que  lhe  é  indecorosa. 

—  Fealdade, 

—  Figurada  e  popularmente:  As  par- 
tes pudendas,  as  vergonhas. 

—  Rtcdar  a  torpeza;  ver  as  partes 
pudendas. 

—  Revelar  a  torpeza;  na  mulher,  usar 
d'ella,  ter  copula  carnal  com  ella. 

TORPIDADE,  *.  /.  Torpeza. 

TORPÍSSIMO,  A,  adj.  swi>erl.  de  Tor- 
pe.  Mui  torpe. 

TORPOR,  s.  m.  (Do  latim  torpor).  O 
estado  d'aquelle  que  tem  membro  insen- 
sível, adormecido  como  a  quem  tocou  a 
tremelga.  —  «Se  porem  sem  febre  algu- 
ma houver  dor  vehemente,  e  continua  de 
cabeça  promette  torpor,  lethargo,  epile- 
psia, parlesia,  distençaò  dos  nervos,  ou 
algum  aftecto  dos  olhos ;  especialmente 
se  naõ  ceder  aos  remédios ;  porque  estas 
queixas  procedem  de  abundância  de  pi- 
tuita  crassa  cumulada  no  cérebro. d  Braz 
Luiz  d'Abreu,  Portugal  medico,  pag. 
173,  §  68. 

—  Tibieza,  desleixamento,  acidia. 

—  Figuradamente  :  Torpor  nas  cousas 
da  vida,  nas  de  Deus. 

TORQUEZ,  s.  /.  Espécie  de  tenaz,  de 
que  usam  os  sapateiros,  etc. 


774 


TORE 


TORR 


TOUR 


E»!i3.  &  a  riuc  04  meus  gabam, 
Jioa  torqtítz  do  gomoiitcH. 

ANTÓNIO   PKESTES,   AUlO»,   pilg.    25. 

Hoas  frieira»  javaria 
que  lhe  eu  víhmo, 
o  cada  uma  o*  «nnolissc 
com  l.orqiir.i  peloH  periiij, 
ou  (laldart  das  ([uo  eu  pudiaJC. 
iBiDKM,  pag.  41. 

TORQUEZA,  ou  TORQUESA,    ».  /.    Po; 

dfii  procio.síi,  (Irt  cOr  azul  tonetc,  mui 
Una  e  trinisparuiite. 

TORQUEZADA,  ».  /.  Fciida,  golpe, 
pancaila  de  turquez. 

TORRA,  «,/.  — Torra  ile  pão.  Vid. 
Torrada. 

TORRADA,  s.  /.  Fatia  do  pão  tonado. 

TORRADO,  pai-t.  jjuss.  do  Torrar.  See- 
co  ao  sol,  ou  au  lume. 

—  Tostado. 

Se  raaÍ3  câtreito  circulo  formasse, 
D'oppo-!to  esccsso  de  calor  torrada, 
Da  vida  habita(;ào  talvez  uão  fora. 

i.   A.    DG  UACUDO,  A  NATDREZA,  Cailt.    1. 

O  ar  qu'  o  peito  cxliala  immundo,  c  gro»ao 
Os  já  corruptos  are»  mais  agjjrava  ; 
As  torradíis  uiitranhaa  ulcerosas 
Jámaia  ae  abaatão  da  corrcute  liufa. 
iBiDF.H,  caut.  2. 


—  «Estes  que  aquy  vimos  nos  disseraõ 
que  naõ  comião  ordinariamente  mais  que 
sós  ervas  cozidas  com  feijocus  torrados, 
o  alguma  fruyta  silvestre,  que  por  hum 
buraco  da  furna  lho  botavào  outros  Sa- 
cerdotes como  craustais  que  tinhão  euy- 
dado  de  proverem  estes  penitentes  con- 
forme ao  que  mandava  a  ley  que  cada 
hum  doUes  seguia.»  FernSo  Mendes  Tin- 
to, Peregrinações,  cap.  lljl. 

—  Vid.  Tórrido. 

TORRANTEZ,  aJj.  /.  —  Uca  torran- 
tez;  uva  branca  de  tez  muito  delgada, 
multo  sujeita  a  apodrecer. 

—  Alguns  dizem  tcrrantez. 
TORRÃO,  s.  III.  Um   pedayo   de   terra 

presa  e  separada  da  outra. 

—  Figuradamente :  Taiz,  região,  terra. 

—  Torrão  de  alicant<i;  corto  bolo  com 
amêndoas. 

—  Torrão  iievado;  espécie  do  bolo. 

—  Figuradamente :  Um  pedaço.  —  Um 
torrão  de  assucar. 

TORRAR,  V.  a.  (Do  latim  torrere),  Sec- 
car  muito  ao  aol,  ou  ao  lumo.  —  Torrar 
café,  pão,  etc. 

TORRE,  s.  VI.  (Do  latim  tin-ris).  Editi- 
cio  forte  fabriwido  em  aljíuma  parte  para 
se  acolherem  u'ello  do  inimigo,  o  de  lá  o 
ofienderom ;  hoje  as  que  restam  servem 
de  prisões,  casas  de  armas,  etc,  e  as  que 
se  fazem,  são  para  se  pôrom  sinos  junto 
com  as  egrejaa ;  nas  fortalezas,  a  princi- 
pal era  a  torre  da  meiuiíjtim,  onde  o  go- 
vernador, alcaide-mór  fazia  juramento  de 


defendel-a,  a  todo  o  «eu  poder,  a  qual 
nilo  se  entregava  senlto  a  quem  tivesse 
direito  do  levantar  a  menagem  da  forta- 
leza ao  capitão  d'ella. 

Do  Conde  atrei(;oado  alli  bo  mostra 
A  merecida  morte,  o  da  maia  alta 
Torre,  do  priíicipitl  tiMoplo  deitado 
1'ello  ditigudo  ar,  o  lleapaiihul  iiiapo, 
Moatrallie  na  ribeira  grilo  reuolta 
De  gallcs  Castelhanas  que  acometem 
('om  for(;ji  as  Portuguesas,  deste  aasalto 
Tão  repentino,  pouco  pruucnidaa. 

UORTE  BKAW,  NAUiraAOIO  OK  SEI-DLVCDA,  Cailt.  13. 

—  «A  Cidade  do  sitio,  e  parecer  de 
fora  ho  couaa  nmi  formosa,  porque  além 
da  parte  que  jaz  ao  longo  da  riheira,  ter 
bons  ujuros,  torres,  o  muitos  editicios,  c 
casarias  altas  de  sobrados,  e  eirados,  toda 
aquella  chapa  de  serra  quo  jaz  na  vista 
do  mar  té  o  seu  cume  he  huma  pintura 
delia  obra  da  Natureza,  e  o  mais  da  in- 
dustria dos  homens.»  Barros,  Década  2, 
liv.  7,  cap,  8.  —  «Dalli  ate  a  Alcaç.oua, 
cm  que  a  doze  torres,  e  duzentas,  e  qua- 
tro braças  de  nmro,  deu  Nuno  Fernan- 
dez  a  guarda  a  dom  Rodrigo  de  noronha, 
debaixo  de  cuja  capitania  estauam  os  lu- 
deus  da  cidade,  de  que  eram  capitaens 
isac  benzamerro,  e  Ismael,  da  primeira 
torre  Dalcaçoua  ate  a  torre  grande  era  a 
estancia  de  loaõ  do  freitas,  e  de  seu  ir- 
mão Antão  de  Freitas  da  ilha  da  madei- 
ra.» Damião  de  (iões,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  o,  cap.  12.  —  «Acima  del- 
les  estaua  Luis  Datouguia,  tilho  de  Fran- 
ciscaluercz  prouedor  da  mesma  ilha,  em 
cuja  capitania  caiam  noue  torres,  com 
cento  o  três  braças  de  muro.»  Ibidem. 
—  a  Muitas  serras  da  banda  dos  Bramas 
c  dos  Laos  sam  cortad;i3  em  degraos  muy 
bem  feitos  c  no  alto  da  serra  so  faz  hum 
baixo  muy  bem  cortado,  no  qual  esta 
huma  torre  muy  alta,  que  se  yjíuala  en- 
cima como  ho  niilis  alto  da  sorra,  ha  qual 
he  muy  forte,  midio  se  ha  parede  de 
huma  torre  aas  entradas  da  porta  e  era 
de  grossura  de  seys  braças  e  mea.»  Fr. 
liaspar  da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da 
China,  cap.  7.  —  «Que  posta  sobre  anco- 
ra no  meyo  do  rio,  ella  s.)  o  defendera, 
quanto  mais  a  fortaleza  e  torre,  porque 
era  a  niayor,  e  mais  forte,  e  armada  nao 
(]uu  se  nunca  vio.»  (iarcia  de  Rezende, 
Chronica  de  D.  João  II,  cap.  181.  —  «Da 
mesma  forma  se  arruinarão  muitos  Cam- 
panários e  Torres  ;  e  disserSo  muitos  avi- 
zos  daquellas  partes,  que  era  impossível 
explicar  a  desolação  que  este  funesto  ac- 
cidonto  tinha  causado.»  Cavalleiro  á'0- 
livcira,  Cartas,  liv.  1,  n."  23. 

D'uma  Torre  appontava  certo  Bardo 

Propheticíi,  Cathólicos  jaxigos, 

Quo  algum  dia,  o  lugar  fariuo  céJebre. 

F.    H.    DO  MASClilENTO,  03   MABTVBES,   hT.    10. 

—  «Destes  Solares,  e  torres  há  ainda 


mnitoB  neste  Reyno,  como  Ra5  os  de 
Abreu,  Ataíde,  Bayai»,  Britto,  (.-'arvalho, 
Ciitdia,  Faria,  Góes,  Lima,  Nobreza,  Pe- 
reira, Samj^ayo,  Souza,  Sylva,  Vascon- 
cell(j8,  e  outros  nmitus,  donde  estes  Aj>- 
pcllidos  tiveraiT  hcu  principiei  Severim 
du  Faria,  Noticias  de  Portugal,  Disc.  8, 
cap,  2. 

—  A  torre  do  tombo.  Vid,  Tombo. 
—  «Das  plantas,  e  montéas  deste»  luga- 
res 86  fizeraij  dou»  livros,  que  mandou 
ElKey  pòr  na  Torre  do  Tombo,  onde 
ainda  cstatl,  para  todo  o  tempo  e»tar  pre- 
sente no  que  convinha  aos  ditos  lugares, 
para  o  soccorro  dclies;  além  dos  quaes 
hà  no  Reyno  mais  de  400.  povos  cerca- 
dos, e  acasttílladwH,  po-to  que  ao  antigo.» 
Severim  de  Faria,  Noticias  de  Portugéil, 
Disc.  2,  cap.  12.  —  «E^te  Rui  de  pina 
foi  nestes  regnos  guarda  mor  da  torre  do 
Tombo,  e  Chronista,  o  qual  começou  a 
chronica  dol  Rei  dom  Emanael,  em  que 
continuou  ate  a  tomada  Dazamor,  e  mor- 
te do  Dom  Toam  de  menoze»  que  foi  no 
anno  de  M.D.xiiii.  sem  fazer  mençam 
de  muitas  cousa*. •  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  4,  cap.  37. 

—  As  torres  de  vosso  anir  to ;  a  sua 
fortaleza. 

—  Termo  de  poesia.  Velivolm  torres  ; 
naus  de  guerra. 

TORREADO,  jmrt.  pass.  de  Torrear. 
Munido,  fortificado  com  torres. 


Teua  tristes  Paia  oa  torreado»  muros 
Da  cativa  Lisboa  assim  no  abvsmo 
Virão  entrar,  e  sepultar-se :  tõdoa 
As  ondas  virão  do  cerúleo  Tejo 
Àa  metas  mttiiraes  transpor  furiosas. 

J.    A.    Dli  HACEDO,  A  KATCBEZA,  CaUt.   2. 


—  As  paredes  torreadas ;  altas  e  fortes 
como  as  torres. 

—  FAephante  torreado ;  com  torres  de 
madeira,  d'onde  vai  a  gente  fasendo  ti- 
ros aos  inimigos  na  guerra. 

TORREANTE,  part.  act.  de  Torrear. 
Que  se  eleva  em  altura  e  cume  como  a 
soberba  torre, 

—  Termo  de  poesia.  O  torreante  cume 
ás  nuvens  ergue. 

TORREÃO,  s.  "1.  Torre  grande. 

—  Figuradamente :  Torreão  de  nuvétu ; 
nuvens  amontoadas. 

—  A  parte  mais  elevada  de  algnm  edi- 
fício. 

TORREAR,  V.  a.  Fortificar,  munir  com 
torre,  ou  torres. 

—  Figuradamente :  Torrear  os  campo». 

—  V.  «.  Termo  de  poesia.  Apparecer, 
mostrar-se  alto,  levantado  á  estatura  de 
torre. 

TORREÃO.  Parece  dever  ser  Torteau. 
Vid.  Tortão. 

TORREFACÇÃO,  s.  /.  (Do  latim  iorre- 
factio).  Termo  de  chimica  e  de  pharraa- 
cla.  Exposição  á.  acção  do  fogo  de  uma 
substancia   solida,  secca,  mineral  ou  ve- 


TORT 


TORT 


TORV 


776 


getal,  quer  para  separar-lhe  algrms  prin- 
cípios voláteis  ou  para  desenvolver-Ihe 
mil  principio  novo,  quer  para  determi- 
nar-lhe  a  oxydação. 

TORREFACTO,'  A,  adj.  (Do  latim  torre- 
factus).  Termo  de  pharmacia.  Bem  tor- 
rado . 

TORREIRA,  s.f.  —  A  torreira  do  sol;  o 
lopar,  a  hora  em  que  elle  é  niaií  ardente. 

TORREJADO,  ou  TORREYADO,  part. 
pass.  de  Torrejar.  Vid.  Torreado. 

TORREJAR,  V.  a.  Vid.  Torrear. 

TORRELHA,  s.  /.  Um  Jogo  antigo  as- 
sim denominado,  e  prohibido. 

TORRENTE,  s.  m.  (Do  latim  torrcns). 
Agua  passageira,  que  cáe  e  corre  tesa, 
sem  canal  certo. 

—  Figuradamente :  Torrentes  d'har- 
monia ;    muitas  harmonias. 

Oh  tu,  por  quem  s'explica  a  Natui'eza 
Em  mágicos  acceutos,  Catalani, 
Quando  do  ebuinco  peito  ao3  ares  mandaa 
Celestiais  torrentes  d'harraonia. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATURKZA,  Cant.  2. 

Sombrios  Pireneos  donde  em  torrentes 
Dizem  correra  o  ídolo  do  Mundo, 
O  pálido  metal.  Vês  levantadas 
Jlontanhas,  com  qu'ao  Ceo  a  Arménia  acena. 

IBIDEM. 

—  A  torrente  de  um  povo  inteiro ;  a 
multidão,  o  maior  numero  d'elle. 

E  que  píde  elle  so  contra  a  torrente 
D"um  povo  inteuo,  uma  nação  d'escravog 
Que  liumildea  correm  a  accurvar-se  ao  jugo ! 

GAEKETI,  CATÃO,   act.    1,   SC    6. 

TORRESMO,  s.  m.  A  parte  membranosa 
e  torrada,  que  fica  da  banha  frita  do  porco. 

TÓRRIDO,  A,  adj.  (Do  latim  tórridas). 
Queimado,  mui  ardente,  torrado. 

—  Zona  tórrida ;  zona  que  fica  no  meio 
das  temperadas. 

TORRIJAS,  s.  /.  plur.  Fatias  torradas, 
embebidas  em  vinho,  e  cobertas  d'ovos. 

TORRINHA,  s.  f.  Diminutivo  de  Torre. 
Torre  pequena. 

TORRO,  í.  m.  Vid.  Tarro. 

TORROADA,  s.f.  Multidão  de  torrões. 

—  Golpe  com  torrão. 
TORSÃO,  s.  m.  Vid.  Torção. 
TORSOL.  Vid.  Hordeole. 

TORTA,  s.  /.  Pastel  de  massa  grossa, 
dentro  da  qual  estão  pombos,  carne,  fru- 
ta, guisados  dentro  d'elle. 

TORTÃO,  ou  TORTEAU,  s.  vi.  (Do  fran- 
cez  torteau).  Termo  de  brazão.  Arruella, 
ou  peça  mui  similhante  a  ella,  ou  do  fei- 
tio da  torta. 

TORTEIRA,  s.  /.  Vaso  de  cobre,  em 
que  a  torta  se  põe  a  cozer. 

TORTELOS,  AS,  adj.  plur.  Termo  po- 
pular. Que  tem  os  olhos  tortos. 

TORTILHA,  s.  f.  Torta  pequena. 

1.)  TORTO,  A,  adj.  (Do  latim  tortus). 
Não  direito. 


Senhor,  não,  nenhum  meroça 

ser  torto  doantc  d'os3c. 
Xào  ha  quem  se  tenha  a  vêr-vo8 
quem  sois,  porque  me  sostcnha. 
Sou  um  siso,  que  Deos  tenha 
não  se  perca. 

AxroNio  PRESTES,  AUTOS,  pag.  183. 

Sc  me  vedes  vós  quando  ontro 
cu  sou  torto  ou  aleijado, 
se  engelhado? 
pois,  pesar  de  Siio  Coentro, 
como  vou  nem  como  entro. 
IBIDEM,  pag.  241. 

Deus  Ih 'a  ponha  : 
com  quem  falia  o  ^nllào  perro? 
Oh  !  péz'ó  meu  avô  torto, 
fala  com  quem  mo  tem  morto, 
que  nào  ha  pedir  socorro, 
nem  podemos  tomar  porto. 
Pezar  de  meu  pao,  senhora, 
tirae  d'ahi  esse  \'iUào. 
IBIDEM,  pag.  461. 

— -  Que  olha  de  travez. 

—  De   torto  em  travez;  diz-se  do  que 
não  olha  direito  a  quem  está  anojado. 

—  Figuradamente :    Não   recto    moral- 
mente. 

—  Retorcido. 


Também  estão  aquellcs  que  nas  fortes 
Bocas,  e  agudas  vnhas  estribando 
Fazem  torto  caminho,  estauão  outros 
Em  varia  forma,  e  em  género  diuersos. 
Todos  com  tal  silencio  que  parece 
Xào  auer  em  tal  parte  cousa  viua. 
Mas  fique  Protheo  aqui  com  .seus  amores 
Que  me  sinto  chamar  do  Sousa  insigne. 

CORTE   REAL, NAUFRÁGIO  DE   SEPÚLVEDA,  Cant.    14. 

2.)  TORTO,  s.  m.  Injuria,  semrazao. 

—  A  torto ;  sem  razão. 

• —  Plur.  Dores  de  barriga  que  sobre- 
vem talvez  ás  paridas. 

—  ADAGIO.S  E  PROVÉRBIOS  : 

—  Melhor  é  ser  torto,  que  cego  de 
todo. 

—  Levantou-se  a  torta,  e  poz-se  no 
espelho. 

—  Na  terra  dos  cegos  o  torto  é  rei. 

—  Não  ha  cego  que  se  veja,  nem  torto 
que  se  conheça. 

—  Quem  torto  nasce,  tarde  ou  nunca 
se  endireita. 

—  Besteiro  torto  atb-a  aos  pés  e  dá  no 
rosto. 

—  Rio  torto  dez  vezes  se  passa. 

—  Quem  mal  enforca,  tira  o  pé  da 
torta. 

—  Pés  tortos  não  hão  mister  sócco. 

—  A  torto  e  a  direito. 

TORTUAL,  s.  m.  Barra  de  madeira  que 
se  mette  no  olho  do  fuso  do  lagar  para  o 
fazer  volver. 

TORTULHO,  s.  m.  Gogumelo  de  comer, 
ou  dos  bravos  e  venenosos. 

—  Molho  de  tripas  atadas  para  ven- 
der. 

—  Figuradamente  :  Pessoa  baixa  e  gor- 
da com  defeito. 


TORTUOSIDADE,  s.  /.  Estado  do  que  é 
tortuoso. 

—  A  tortura,  o  lançamento  tortuoso. 
TORTUOSO,    A,  adj.  (Do  latim  tortuo- 

sus).  Que  não  leva  curso  direito,  mas  em 
voltas.  —  «A  maior  parte  do  qual  corre 
tortuoso  em  voltas  meudas,  principal- 
mente do  resgate  pêra  baixo,  te  se  me- 
ter no  mar  em  altura  de  treze  grãos  e 
meio,  ao  sueste  do  cabo  a  que  chamamos 
Verde.»  Barros,  Década  1,  liv.  3,  cap.  8. 
—  «Nesta  parte  do  assuear  o  abbade  fora 
um  monstro  de  eloquência,  e  houvera  um 
momento  em  que  pelo  tortuoso  e  estreito 
espiraculo  que  as  trouxas  d'ovos  deixa- 
vam nas  fauces  dos  seus  dous  companhei- 
ros perfeitamente  accordes  com  elle  em 
opiniões  austeras,  os  applausos  tinham 
prorompido  impetuosos.»  Alexandre  Her- 
culano, Monge  de  Cister,  cap.  23. 

—  Meios  e  vias  tortuosas  para  alcan- 
çar alguma  cousa;  meios  não  rectos:  to- 
ma-se  á  má  parte. 

TORTURA,  s.  f.  Inflexão,  dobra,  volta 
do  que  não  é  direito,  nem  tem  o  lança- 
mento de  uma  linha  recta. 

—  Termo  popular.  Grande  embaraço, 
desarranjo.  Vid.  Tormento,  Tracto. 

—  Figuradamente  :  Diz-se  era  opposi- 
ção  á  rectidão  prudencial,  e  á  moral. 

—  Tortura  da  bocca,  e  dos  olhos  torci- 
dos. 

TORUDO,  A,  adj.  Vid.  Toroso. 

TORULO,  s.  ííi.  Termo  de  botânica. 
Elevação  bojuda  e  circular,  que  ha  em 
algumas  vagens, 

TORVA,  s.  f.  Termo  de  antiguidade. 
Impedimento,  estorvo,  obstáculo. 

—  Opposição,  perturbação. 

I  TORVAÇAM,  s.  /.  Perturbação.  Vid. 
Torvação.  —  «E  deyxada  a  toruaçam  que 
desta  noua  teue  o  maldito  Hcrodes,  e  to- 
dolos  mãos  que  viuiam  em  lerusalem, 
todauia  alli  pellos  Doutores  da  ley  fo- 
ram informados  que  se  era  nascido,  nam 
podia  ser  senão  em  Belem  porque  assi 
estaua  Prophetizado.»  Frei  Bartholomeu 
dos  Martyres,  Catecismo  da  doutrina 
christã. 

TORVAÇÃO,  s.  f.  (Do  latim  turbatio). 
Desordem  do  animo  com  paixões,  de  me- 
do ou  ira.  —  tE  mesturandosse  aueria  tor- 
uações,  e  escândalos,  e  assentamos  nis- 
so, com  outras  cousas  que  com  nosco 
mais  assentarão,  assi  do  que  nos  paga- 
ram de  tributo,  como  em  outras  cousas, 
de  que  leuam  assento,  e  capitules  que 
enuiainos  a  dom  Pedro  de  sousa  nosso 
capitam  Dazamor,  porque  alli  hão  de 
acudir  segundo  forma  dos  ditos  poderes 
e  assentos.»  Damião  de  Góes,  Chronica 
de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  53. 

—  Susto,  que  produz  o  receio  do  ini- 
migo. 

—  ^1  torvação  do  bem  publico ;  a.  i>eT- 
turbaçào  d'tílle. 

TORVADO,  part.  pass,  de  Torvar.  Per- 
turbado, 


776 


TOSA 


TOSC 


TOST 


Ai  r|uo  farúi  dVmpaohuda ! 
0I\  vorgonlio.ia  do  mi, 
Como  vou  .ibragindn, 
Amara,  corrida  n  tnrmdn  ! 
Mft»  prnsna  mis  traz  aqui, 
Oiido  nio  vejo  lo),Mr, 
Emfiuo  homem  i|iiuira  mijar. 
Nem  ouso  cupirrar  Homimto, 
Por  ulfiuiHii  uilo  «o  Boltar 
Antrc  (íeiíte. 

nil,  ViruNTB,   r*BÇAB. 

TORVAMENTE,  adv.  (Do  torvo,  c  o 
sufíixii  «meiíle»).  (Join  olhos  torvou. 

TORV AMENTO,  s.  m.  Dosassocego,  tor- 
va<,-ilo,  iii()uiotaçào. 

TORVAR,  i).  a.  (Do  latim  turbare). 
Perturbar. 

—  Fazer  torvo. 

—  Fifturailaiiiente  :  Torvar  o  animo; 
perturbal-o,  escurecer  a  razào  com  pai- 
xão. 

—  Perturbar  os  sentidos. 

—  Vi'l.  Turbar. 

TORVELINHO,  s.  m.  O  redemoinho  que 
resulta,  por  cxcuipln,  dos  ventos  cacon- 
traJcií»,  o  das  chuvas. 

TORVELLIM,  TORVELLIN,  ou  TORVEL- 
LINO.  Vid.  Torvelinho. 


Calla :  r|uo  prrsto 
Ilas-de  avistar  uui  torfrlHn  flainmívomo, 
Quo  a  paasajjom  das  ahnas  to  denoto. 
Não  ouves  jA  gritar  ?  Kis  que  VellOda 
Emmudecc ;  o  a  escutar  o  ouvido  atHa. 

F.    M.    no  NASCIMKNTO,  08  KARTVUKS,  1ÍV.  10. 


TORVISCO.  Vid.  Trovisco. 
.     1.)  TORVO,   A,  arij.   (Do  latim  fwuiis). 
Terrível,  que  manifesta  ira,  o  produz  ter- 
ror. —  O  semblante  torvo.  —  ^1  torva  ca- 
tadura. 


Melhor  dirias  reacção  dos  hábitos 
Quo  mn  iiístautc  vergou  a  natureza. 
— -«Avante!»  chima  o 'orço  mestre  «Avante!» 
Como  quo  invergouhado  do  inomeuto 
Que  involuntário  ao  cora<;;io  cedera. 
OABBETT,  cAMÕKs,  cant.  1,  cap.  11. 


2.)  TORVO,  .<.  m.  Termo  antiquado. 
Impedimento,  obstáculo,  estorvo. 

TORVOLINHO,  s.  m.  Vid.  Torvelinho. 

TOSA,  s.  /.  Termo  popular,  usado  n'e3- 
ta  l()cui;ão  :  Dar  ama  tosa  de  jiaii ;  dar 
pancadas,  dar  pauladas. 

TOSADO,  part.  jjasf.  de  Tosar. 

—  Figuradamente:  iíaròa  tosada ;  bar- 
ba tosquiada. 

TOSADOR,  5.  m.  ITomem  quo  to,«a  es- 
tofos de  lã.  —  «E  modo  de  falar.  Se  ou- 
visse as  historias  daquelle  estavanado 
que  andam  om  praçA,  isso  é  que  é  do 
fíizcr  arrepiar.  Não  acabava,  se  come- 
çasse a  ontiá-las.  Quer  saber  uma  fres- 
quinha (]ue  mo  contou  hontom  a  minha 
fregueza  de  pescado,  que  mora  na  rua 
das  Esteiras,  na  c^^quina  do  terreiro  de 
S.  Juliào  por  baixo  da  ermida  da  Oli- 
veira,  defronto   de  um  tosador?»  cBem 


8oi;  bem  sei:  do  mestre  Inoire,  que  tem 

uma  iilha  já  (!Hpiga<la...»  «F  >i  com  CBca 
mesma  o  caa(í...»  Alexandre  Ilerculano, 
Monge  de  Cister,  cap.  14. 

TOSADURA,  .•*.  /.  A  acção  de  tosar,  o 
trabalho  feito  polo  touador. 

l.j  TOSAO,  ou  TOZAO,  «,  m.  (Do  fran- 
cez  tiii.inni.  l)  véllo  do  carneiro. 

—  Figuradamente  :  O  véllo  do  carnei- 
ro em  metal,  iii.signia  da  ordem  do  tosão 
d 'ouro. 

2.)  TOSÃO,  (i<'j.  IH.  A  maneira  do  to- 
são. 

TOSAR,  V.  a.  Cortar  o  vóllo  aos  ani- 
macs  lanígeros,  tosquiar. 

—  Tosar  a  murta;  aparar  por  egual. 

—  Fi.;íuradamente  :  Roer. 

—  Tosar  o  punno ;  aparar-Ihc  e  egua- 
lar  a  felpa,  antes  de  so  lhe  dar  a  gomma. 


Eu  isro  rão  vo-lo  nego. 
E  logo  dahi  a  lium  auno, 
1'era  ajuda  de  casar 
Ilua  oi-fan,  mandastes  dar 
Meio  covado  de  pai  lo 
D'Alcobai;a  por  tnsar. 

OIL   VICKNTB,    FARÇÀS. 

TOSCAMENTE,  adv.  (De  tosco,  e  o 
suffixo  «mente").  De  um  modo  tosco. 

—  ( 'irosseiramente. 

—  Sem  adorno,  simple.^mente. 

—  No  estado  de  tosco,  sem  lavor,  nem 
feitio. 

TOSCANEJAR,  u.  n.  Estar  dormindo, 
abrindo  e  cerrando  os  olhos  com  somno. 
Vid.  Vanguejar. 

—  l'i'ndiT,  «piebrar  com  somno. 
TOSCANO,    A,    adj.    Natural   da    Tos- 
cai... 

—  O  céo  toscano  cheio  d'astros. 

Dcsie  globo  da  Terra,  c  quasi  ignoto 
No3  espaços  Bcm  fim,  c  onde  espalhados 
Por  mão  dOmnipotc.ite  os  Mundos  girão  ; 
E  se  o  Toscano  Ce3  d'Astros  hc  cheio. 
Que  ao  t'irono  Mcdioêó  dócil  forroArão. 

J.   A.    DK  MACEDO,  VIAGF.M  EXTÁTICA,  Cant.  2. 

TOSCO,  A,  aàj.  Som  trabalho  de  artí- 
fice, e  como  sáe  das  mãos  da  natureza. 

—  Ilude. 

Vojsa  mercê  csti  zombando  ? 
Pardios,  se  is-ío  não  é  jogo, 
não  ando  eu  mór  bem  buscando ! 
Vilão,  vós  não  scj.icâ  tòfco. 

ANTOSIO  PRF.STF.S,   AUTOS,  pag.    343. 

Novo  Alcide%  Senhor,  meu  tosro  verso 
Amparai ;  que  hc  mais  anlua  resistência 
Vencer  aa  forças  de  lium  Destino  adverso. 

J.   X.   r>K  MATT03,  SIMAS. 

—  Sem  cultura. 

—  Obra  tosca ;  obra  mal  feita. 

—  Tosca  Ufra. 


Tu  iiS  podes  vencer  co'a  luí  que      pargos 
De  meu  Entendimento  a  sombra  espessa : 


iàò  etla  diviniia,  ellii  lovanta 
Inculto,  dcbil  canto,  c  tofn  Lira. 

1.  X.   t>E  MACEDO,  X  «ÁTCHKZA,  CaUt.  1  . 

—  Loc.  PUOV. :  Ainda  que  seja  tosca, 
bem  vejo  a  mouca. 

TOSQUENEJAR,  i'.  a.  Vid.  Toscane- 
jar. 

TOSQUIA,  t.  f.  A  acçlo,  traUlho,  e 
tempo  de  tosquiar. 

—  Loc.  figurada  o  popular  :  Fazer  a 
tosquia  a   nm  rifão;   criticar,    ceusurar. 

TOSQUIADO,  ifirt.  pojii,.  de  Tosquiar. 

TOSQUIADOR,  ».  m.  Homem  que  tos- 
quia. 

TOSQUIADURA,  «. /.  Vid.  Tosquia. 

TOSQUIAR,  V.  a.  Aparar  rente  a  iS 
da.s  ovi  lha». 

—  Figuradamente :  Tirar  por  meios 
illicitos. 

—  Tosquiar  o  yovo;  tirar  d'elle  senri- 
ços,  presentes,  peitas,  ete. 

—  Figuradamente :  Tosquiar  o$  cabei- 
los;  cortal-os,  aparal-os. 

—  Adágios  e  pkoveruio.s  : 

—  Depois  de  rapar  não  ha  que  tos- 
quiar. 

—  Moça  é  Maria,  quando  so  tosquia. 

—  Ir  por  15,  e  vir  tosquiado. 

1.)  TOSSE,  s.  /.  (Do  latim  tussis).  Mo- 
vimento ou  esforço  do  bofe  irritado,  para 
lançar  do  peito  com  a  respiraçJU)  aqoillo 
que  incommoda  e  molesta. 

—  Tosse  secca ;  tosse  em  que  nada  se 
lança  fira. 

—  Loc.  PROV.  FIO.  :  D'alli  vem  a 
tosse  ao  gato;  cousa  que  molesta  al- 
guém, e  lhe  é  occa.sião  de  queixa. 

2  )  TOSSE,  ou  TOSE,  *.  /.  Disfarce, 
illusão,  dis.simulação. 

TOSSEGOSO,  ou  TOSSIGOSO,  A.  adj. 
Doente  de  tosse. 

T03SEZINHA,  ou  TOSSESINHA,  ».  >. 
Diminutivo  de  Tosse.  Ta^se  branda. 

T033IDELA,  í   /.  O  tossir,  tosíe. 

TOSSIDO,  «.  "i.  Indicio  de  querer  di- 
zer ou  fazer  alguma  cousa  com  signal  de 
tosse. 

TOSSIGOSO,  A,   adj.  Vid.  Tossegoso. 

TOSSINHA,  s.f.  Diminutivo  de  Tosse. 

TOSSIR,  ou  TOSSIR,  v.  n.  í;Do  latim 
tussire).  Soffrer  a  tosse,  ou  o  movimento 
que  faz  o  bofe  irritado. 

—  Figuradamente  :  lançar  f«\ra  de  si. 
TOSTA,  í.  /.  Fatia  de  pão  torrado.  — 

Uma  tosta. 
TOSTADO,  part.  pass.  de  Tostar. 

—  De  cor  .adusta.  —  Leitão  tostado. 

—  Paus  tostados ;  eram  uns  paus  com- 
pridos agudos  na  ponta  e  queimados  no 
fogo,  de  que  outr'ora  usavam  os  portu- 
puezes  dando-lhe  tal  tempera,  que  os  en- 
dureciam como  ferro.  —  «O  qual  como 
tem  acostumado  per»  aquclle  mister  da 
peleja,  começarão  de  lhe  a^souiar,  e  fa- 
zer outras  noticias  jvr  que  o  mandauão  : 
de  maneira  que  metidas  entre  elle  oemo 
cm    cjquadrão   de   seu   amparo,   dali  era 


TOTA 


TOTA 


TOUC 


777 


tanto  o  pao  tostado  sobro  os  nossos,  que 
começarão  log-o  de  cair  alguns  feridos  e 
trilhadds  do  gado.»  Barros,  Década  2, 
liv.  3,  cap.  10. 

—  Emprega-se  também  substantiva- 
mente :    Um  tostado. 

TOSTADURA,  s.  /.  A  acção  de  tos- 
tar. 

TOSTÃO,  s.  m.  (Do  francez  testou). 
Moeda  de  prata  que  vale  100  reis  na 
nossa  moeda  portugueza.  No  reinado  de 
cl-rei  D.  Manoel  havia  tostões  d' ouro, 
que  tinham  o  preço  do  quarto  dos  portu- 
guezes,  segundo  parece,  e  tostões  de  pra- 
ta que  valiam  cem  reis. 

meus  palmitos  dix  enchuga, 
são  esses  Nuno  madruga  ; 
cuidaram,  é  certo,  que  eram 
03  mcu3  toifõcst  castelhanos, 
mantonga  Dios  a  mia  manos. 
Não  é  por  vós. 
Que  seja  por  meus  avás. 

tMTONio  PRESTES,  AUTOS,  pag.  369. 

—  Era  o  lavrador  de  boa  tempera,  que 
naõ  se  acanhava  a  medos,  nem  ameaças ; 
deu  comsigo  na  Corte,  lançou-se  aos  pés 
delRey,  coiitou-lhe  o  caso :  mandou-o  El- 
Rey  agasalhar  cem  hum  tostaõ  por  dia, 
e  hum  cruzado  para  sua  mulher,  e  filhos 
á  custa  do  fidalgo,  que  mandou  logo  cha- 
mar à  Beira.»  Arte  de  furtar,  cap.  23. 
—  «O  Duque  lhe  respondeo  que  muito 
mal,  porque  moedas  nonas  faziam  sempre 
mudança,  c  carestia  no  preço  de  todalas 
cousas,  e  que  com  esta  que  fezera,  por 
humas  luuas  que  se  vendião  por  trinta 
reis  pediam  ja  meo  tostão,  dito  pêra  os 
Reis  lançarem  delle  mam.»  Damião  de 
Góes,  Chronica  de  D,  Manoel,  part.  4, 
cap.  20. 

T03TÃ0ZINH0,  s.  m.  Diminutivo  de 
Tostão. 

TOSTAR,  V.  a.  (Do  latim  fostum).  Met- 
ter  no  fogo,  seccar  muito  até  quasi  quei- 
mar. 

—  Dar  cor  escura. 

—  Tostar-se,   v.  rejl,  Queimar-se. 

—  V.  11.  Ficar  bebendo  depois  de  le- 
vantada a  mesa,  e  fazendo  saúdes  que 
dão  os  do  convite. 

1.)  TOSTE,  adv.  (Do  francez  toste). 
Termo  antiquado.  Cedo,  logo. 

—  Fazer  toste  ;  fozer  depressa. 
2.)  TOSTE,  ndj.  2  gnn.  Breve. 
TOSTEMENTE,  adv.  (De  toste,  com  o 

suffixo  <i mente»).  Termo  antiquado.  De- 
pressa. 

1.)  TOSTO.  Vid.  Toste  (adverbio), 
2.)  TOSTO,  A,  adj.  (Do  latim  tostnm). 
Termo  de   poesia.    Tostado,    torrado,   as- 
sado. 

TOTAL,  adj.  2  gen.  De  todas  as  par- 
tes integrantes. 

—  Total  perdição.  —  a  O  Capitão  ven- 
do-o  assim  o  tomou  por  hum  braço,  e  o 
arremeçou  por  diante  delle,  dizendolhe 
que  fosse   trazer  liuma  panella  de  polvo- 

wl".  V.  — 98. 


ra,  e  ao  passar  por  diante  delle  lhe  de- 
raõ  huma  espingardada  de  cima  de  hum 
eirado  da  Igreja,  onde  jà  estavaò  alguns 
Turcos,  do  que  o  Abexim  cahio  morto 
aos  pès  do  Capitão,  que  quiz  Deos  polo 
por  seu  amparo,  porque  se  não  executas- 
se uelle  a  cruel  espingardada,  porque  fo- 
ra total  perdição  daquella  fortaleza.  » 
Diogo  de  Couto,  Década  6,  liv.  2,  capi- 
tulo 6. 

—  Completo.  —  «Faltou-so  á  Real  Ca- 
sa de  Bragança  com  algumas  prehemi- 
nencias,  e  cortezias  devidas  á  sua  gran- 
deza, e  concedidas  por  Reys  passados. 
Entregarão  o  menêo  deste  Reyno,  e  seu 
total  governo  a  dous  Ministros,  cunhado, 
e  genro,  que  correspondendo-se  hum  em 
Madrid,  e  outro  em  Lisboa,  com  intelll- 
geucias  diabólicas,  nos  tyrannizavaõ.  » 
Arte  de  furtar,  cap.  17.  —  «Esta  Carta 
me  lançou  n'um  aniquilamento  total  : 
vinte  vezes  a  li,  sem  me  poder  capaci- 
tar do  conteúdo  delia.  Meu  filho  fugiti- 
vo !  meu  filho  afastando-se  de  mim,  en- 
tregue á  mais  escura  dese-peração!  Que 
terrível  golpe  no  peito  d'uma  Jilãe,  que 
em  vèz  d'esse  golpe  aguardava  agradeci- 
cimentos!»  Francisco  Manoel  do  Nasci- 
mento, Successos  de  madame  de  Sene- 
terre. 

TOTALIDADE,  s.  f.  O  todo  em  nume- 
ro, ou  das  ]iartes  do  uma  cousa. 

TOTALISSIMAMENTE,  adv.  superl.  de 
Totalmente. 

T0TALIS3IM0,  A,  adj.  superl.  de  To- 
tal. —  Jlíilagre  totalissimo. 

TOTALMENTE,  adv.  (De,  total,  com  o 
suffixo  «mente»).  Inteiramente,  de  todo. 
—  «As  cousas  da  gentilidade  hião  muy 
de  cayda,  a.ssy  com  a  diligencia  do  Em- 
perador  Theodosio,  ci:>mo  por  huma  nova 
ley  que  os  dous  irmãos  Archadio  e  Ho- 
nório fizeraõ  em  que  totalmente  se  pro- 
hibia  com  penas,  o  culto,  e  veneração 
dos  ídolos.»  Monarchia  Lusitana,  liv.  5, 
cap.  30.  —  «Nem  hai  que  espantar  des- 
tes fauores  da  alma  sancta,  porque  o  en- 
tregar.se  liure,  e  totalmente  a  Deos  com 
semelhante  vnião,  dispõem  a  tanto  quan- 
to o  Senhor  costuma  larga,  e  magnifica- 
mente outorgar  neste  estado,  e  obrar,  ao 
qual  a  razão  do  entendimento  deue  humi- 
Iharse  sem  contradição.»  Fr.  Bartholomeu 
dos  Martyrcs,  Compendio  de  espiritual 
doutrina,  cap.  10.  —  «Contemplação,  he 
huma  applicação,  c  vista  da  alma  mui  des- 
perta, e  liure  de  outros  cuidados,  e  sò  in- 
tenta, e  entregue  ao  conhecimento  de  cou- 
sas espirituaes  totalmente.»  Ibidem,  cap. 
12.  —  «No  mesmo  tratado  em  o  capitulo 
69.  e  70.  diz  o  Sancto  Doutor.  Entendei 
que  tanto  mais  tendes  de  amor  de  Deos, 
quanto  menos  tiuerdes  de  amor  das  cria- 
turas. Pello  que  sentindo  em  vosso  peito 
alguma  grande  recreação,  ou  impulso  de 
affeição,  que  não  ajais  experimentado,  at- 
tentai  com  diligencia,  se  he  alguma  cousa 
que  vos  alegre,  e  console  fora  de  Deos,  e 


d'ysso  conhecereis  o  grão,  porque  se  algu- 
ma criatura  vos  deleita,  he  sinal,  que  ainda 
não  estais  penetrada  de  amor  diuino  total- 
mente.» Ibidem,  cap.  11. —  «Por  graúdo 
que  seja  o  absurdo  deste  costume  não 
deyxa  de  ser  muy  commum.  O  vulto 
ignorante,  os  meninos  innocentes,  e  vós 
outras  as  molheres.  Senhoras  molheres, 
não  são  03  únicos  culpados  desta  mania, 
pois  que  também  reina  entre  os  homens 
da  primeyra  qualidade,  e  de  grande  su- 
posição. Os  mesmos  sábios  não  são  exem- 
ptos  totalmente.»  Cavalleiro  d'01iveira, 
Cartas,  liv.  3,  n."  11.  —  «Muytos  nega- 
rão esta  ditferença  de  verdadeiros  homens 
na  esphera  da  nossa  natureza ;  porque 
Aristóteles,  e  Alberto  Magno,  ainda  que 
admittem  Pygmeos,  tem-nos  por  hum 
certo  género  de  bogios.  Ulysses  Aldro- 
vando,  e  Escaligero  totalmente  os  ne- 
gão. »  Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal  medi- 
co,   pag.  9,   §  26. 

TÒTO,  s.  7)i.  Nome  pelo  qual  as  crian- 
ças costumam  chamar  o  cão  pequeno. 

TOUCA,  s.  /.  Adorno  de  lençaria,  que 
as  freiras  e  viuvas  trazem  na  cabeça,  e 
parte  da  testa.  —  «A  força  d'estes,  mor- 
reu uma  filha  do  conde,  talvez  profun- 
damente sentida  da  injusta  presumpção 
de  seu  concui-so.  Foi  a  criada  para  San- 
ta Clara;  e  o  conde  se  vestiu  de  manto 
e  toucas  ])ara  fallar  A  manceba.  Quanto 
não  riria  Omphale  vendo  Hercules  de 
roca,  se  a  fabula  fosse  verdadeira?  De- 
veria chorar.»  Bispo  do  Círão  Pará,  Me- 
morias,  publicadas  por  Camillo   Branco, 

pag.  ne. 

—  Espécie  de  rebuço  usado  dos  homens 
antigamente  para  se  cobrirem,  e  não  se- 
rem conhecidos. 

—  Trunfi,  que  traziam  os  antigos  sa- 
cerdotes, e  trazem  hoje  os  asiáticos  e 
mouros;  é  uma  faxa  de  lenço  longa, 
como  um  ramo  de  lençol,  e  servia  tal- 
vez para  se  alarem  por  ellas  aos  muros, 
e  similhantes  necessidades. 

TOUCADO,  s.  m.  Ornato  da  cabeça  das 
mulheres. 

Pois  vejo  o  que  nam  via 
trarei  bastos  os  toucados, 
que  03  que  no  mundo  trazia 
tinham  03  fios  delgados, 
cortam  toda  a  alegria. 

D.   JOANN.t  DA    GAMA,   DITOS  DA  FBEIRA, 

pag.  91. 


Anda  Tejo  A  Fragucira. 
E  dir.As  a  ta  mãe  mais, 
Que  me  guarde  os  corporaes, 
Que  me  ficão  na  cantareira. 
E  o  caloí  achará 
No  almáreo  de  ca 
Atado  cos  seus  toucados, 
E  os  aniitos  pendurados 
Onde  a  rainha  espada  cstil. 

GIL    VICEMTE,    FARÇAS. 


Sem  Castclla,  castelhanos: 
de  modo  que  não  abastados 


778 


TOUF 


TOUR 


TOUT 


do  o  fallarom,  mas  perdidos 

por  italiano3  vontido», 
c  Vonoza  no»  toiícadoK 
dulf.e.  França  nos  ouvido». 

AUTONio  riiESrpi»,  AUTOS,  pag.  f)'!. 


2.)  TOUCADO,  pari.  pass.  do  Toucar. 
TOUCADOR,  n.  m.  Banca  com  ou  appa- 
rolhos  do  toucar. 

—  A  casa  onde  alguom  touca  a  cabeça. 

—  Fanno  <lc  atar  a  cabo(;a  para  con- 
servar os  cabellos  com  algum  concerto 
quando  no  dornio. 

TOUCAN,  ou  TUCANA.  Vid.  Tucano. 

—  Nome  lio  uma  constellayào  austral 
situada  entre  a  que  chamam  Indo  o  a 
rhenix. 

TOUCAR,  V.  a.  Concertar  o  caboUo. 

—  rôr  o  toucado,  usar  por  toucado. 

—  V.  n.  Pôr  o  toucado. 


Olhão  osto  liyro  que  6  o  Evangolho 
qno  a  ogroja  hoje  canta,  o  como  o  cspoUio 
n'ollo  vos  ví'do,  vesti  c  toiírae. 
Doixao  vàs  folias. 

ANTOKIO   PRESTK.g,  AUTOS,  pag.    101. 


TOUCA,  s.  f.  o  pó  do  castanheiro  d'on- 
de  .saem  as  varas  do  quo  se  fazem  arcos. 

—  Das  cannas  d'assucar  o  pé,  d'ondo 
ellas  nascem  lilhada.^. 

TOUCEIRA,  .■?.  f.  (Irando  touca,  ou  pé 
filhailo  lie,  muitas  vergouteas,  ou  cannas. 

TOUCINHEIRO,  A,  s.  Pessoa  quo  vendo 
toucinho. 

TOUCINHO,  s.  m.  A  gordura  grossa  que 
occupa  03  lombos  do  porco,  pegada  ás 
pelles. 

—  Termo  de  fortificaç.ão.  São  os  mu- 
ros cheios  de  torra  para  cobrir  subita- 
mente nas  baterias. 

—  Toucinho  do  eco;  uma  cspecio  de 
doce  delicado. 

—  Dizer  de  ahjiiem  o  que  Mafwna  não 
disse  do  toucinho;  dizer  muito  mal  de  al- 
guma pessoa,  ou  cousa. 

—  Adágios  e  puovkrhios: 

—  Oalado  como  toucinho  cm  sacco. 

—  N.íío  ha  sermão  sem  Santo  Agosti- 
nho, nom  panoUa  som  toucinho. 

—  Saramago  com  toucinho  6  manjar 
de  homem  mesquinho. 

—  No  queijo,  o  pernil  do  toucinho,  co- 
nhecerás a  teu  amigo. 

—  Disso  do  vós  o  que  não  disso  Ma- 
foma  do  toucinho. 

TOUGA,  s.  /.  Tormo  antiquado.  Vid. 
Touca. 

TOUGUE,  a.  m.  Espocio  do  bandeira, 
ou  estandarte,  lovada  por  um  alferes 
dianto  do  grSo-turco  quando  sáe  a  ca- 
vai lo. 

TOUPEIRA,  s.f.  (Do  latim  taipa).  Ter- 
mo de  zoologia.  Animalejo  de  quatro  pés, 
cujos  olhos  mal  se  distinguem ;  vive  por 
baixo  da  terra,  que  fossa  com  uma  faci- 
lidade exti-ema. 


—  Figuradamente :  O  homem  cego  do 
entendimento. 

—  AlJAOIO   E  PROVÉRBIO: 

—  Não  lia  couHa  encoberta,  senão  aos 
olhos  da  toupeira. 

f  TOUQUA,  «.  /.  Vid.  Touca.  —  «Vi- 
nha a.ssentado  em  Imma  cadeira  despaldas 
darame,  e  no  assento  delia  huma  almo- 
fada de  veludo,  e  aos  pôs  outra :  trazia 
vestida  huma  cabaia  de  damas(|uo  crami- 
sim,  forraila  do  cetim  verde,  o  imma  tou- 
qua  futcada.»  Damião  do  (íocb,  Chronica 
de  D.Manoel,   part.  I,  ca[).  'M. 

TOUQUINHA,  s.f.  Diminutivo  do  Tou- 
ca. 

TOURA,  s.  /.  (Do  latim  taura).  Vacca 
est(!ril. 

—  Os  judeus  e  mouros  diante  da  pom- 
pa e  cavalgada  do  rei  e  da  rainha.  Vid. 
Tourinhas. 

Vimos  f,  andes  judarias, 
judens,  giiinola»,  c  linra», 
também  mouras,  mourarias, 
seu»  bailos,  galantavias 
de  muyta:*  fiM-moaas  mouras. 

OABCIA   DE   REZENDE,   MISCELLAREA. 

—  O  pentatcuco  hebraico  sobre  o  qual 
se  tomava  o  juramento  dos  judeus  tole- 
rados n'osto  reino. 

—  Em  Uespauha,  familia  judenga, 
certo  tributo  judcngo. 

TOURADA,  s.  /.  Manada  do  touros. 

—  Toureada. 

TOURAL,  s.  m.  O  sitio  onde  o  coelho 
do  matto  costuma  estercar,  e  onde  se  lhe 
faz  espera. 

TOURÃO,  s.  m.  O  sacarrabo,  bicho  que 
devora  as  galliuhas. 

—  lonvão  fétido.  Vid.  Foetta. 
TOURARIAS,  .f.  /.  plur.  Tormo   popu- 
lar. Desordens,  estrondos,  estraladas. 

—  Fazer  tourarias ;  fazer  cousas  do  es- 
trondo. 

TOUREADA,  s.f.  Termo  popular.  Com- 
bate de  touros,  tauromaehia. 

—  Figuradamente :  Apupada. 
TOUREADOR,  s.  m.  Homem  quo  corre 

os  touros,  e  os  agarroeha,  ou  metto  no 
corro  ])or  jogo.  Viil.  Tauromaehia. 

TOUREADO,  part.  pass.  de  Tourear. 
Esperado  o  ferido  no  corro  o  touro. 

TOUREAR,  V.  n.  Esperar,  o  ferir  o  touro 
no  corro,  e  fazer  sortes  com  ellc. 

—  Endoudecer,  enlouquecer,  praticar 
acções  do  homem  insensato. 

—  V.  a.  Termo  figurado  e  popular. 
Investir,  apupar. 

TOUREIRO,  *.  VI.  Homem  que  traz  o 
tange  os  touros. 

—  Homem  que  toureia.  Vid.  Tourea- 
dor. 

TOUREJÃO,  s.  m.  Torno  de  pau  da  roda 
da  carri'ta. 

TOUREJAR,  1-.  (í.  o  í).  Vid.  Tourear. 
TOURÍL,  .«.  Hl.  Curral  do  gado  vaceum. 
TOURINHAS,  a.  /.  piíir.  Jogo,  espectá- 


culo onde  RO  tourêam  norilhas  mansas,  e 
talvez  arremedo  d'ella«,  fingindo-»e  tou- 
ro.H  do  cana'4tra<i  com  cabeias  fingiflas;  oe 
judeu.s  costumavam  dar  i;Htc»  divertimen- 
tos aos  reis,  quando  iam  á«  terras  onde 
haviam  judiarias  :  cítes  recebimentos  eram 
com  jogoH,  dança»,  o  festa». 

—  Oedula.s,  Htas  ou  listòes  do  perga- 
minho em  que  ettuvam  escriptos  os  man- 
dainentoK  da  lei  ou  parte  do  |ientateuco, 
e  que  principalmente  eram  as  Philacté- 
rins,  que  os  saduceus  e  phariscus  traziam, 
como  coroas,  na  cabeça,  o  pendentes 
diatite  dos  olhos,  ou  atadas  nos  pulsos, 
como  braceletes;  entendendo  material- 
mente o  preceito  divino  que  lhes  man- 
dava trazer  sempre  a  lei  diante  dos  olhos, 
c  nos  dedos  das  mãos,  isto  ó,  que  os  seus 
pensamentos  e  obras  sempre  a  elle  se 
conformassem.  Do  mesmo  modo  se  deno- 
minavam 08  livrinhos  quadrados,  de  illu- 
minação,  e  preciosamente  cobertos,  e  nos 
quaos  algum  ou  alguns  capítulos  dos  cinco 
livros  de  Movsés  so  achavam  exarados. 
Nas  mesmas  occasiõcs  quo  das  tourat, 
usavam  alguns  judeus  das  tourinhas,  por 
serem  mais  vaiclosas,  c  portáteis. 

—  Adagio  e  provérbio: 

—  E  como  as  tourinhas,  sempre  cáe 
em  pé. 

TOURINHO,  a.  m.  Diminutivo  do  Ton- 
ro.    Pii|U(!io  touro. 

TOURIONDA,  adj.  f.— Vacca,  novilha 
tourionda;  vacca  quo  anda  com  os  tou- 
ros no  cio  ou  na  brama.  Vid.  Turíondo. 

TOURO,  a.  m.  (Do  latim  taunui).  Boi 
novo,  não  capado. 

—  Figuradamente :  Laru^ar  a  capa  ao 
touro;  deixar  tudo  para  so  salvar. 

—  Vèr-se  iu>3  comos  do  touro ;  vêr-se 
em  perigo,  em  grande  aperto. 

—  Plur.  Espectáculo  em  qne  am  ca- 
valleiro  com  capinhas  açulam,  e  inves- 
tem, o  ferem  o  touro  no  corro,  e  se  li- 
vram das  suas  pontas  e  ataques. 

—  AO.VGIOS  E   PROVÉRBIOS: 

—  Metto  o  touro  no  laço,  que  asinha 
vem  o  prazo. 

—  Pelejam  os  touros,  mal  pelos  ra- 
mos. 

—  Fechar  as  portas,  que  soltam  oa 
touros. 

—  Doixou-me  nas  pontas  do  toaro. 

—  Cuarda  da  volta  do  touro. 

—  Touro,  galgo,  barbo,  todos  tem  se- 
zão em  maio. 

—  Ao  doudo  c  ao  touro,  dá-lhe  o  corro. 

—  Faze-tc  morto,  deixar-te-ha  o  touro. 

—  Certos  sào  os  touros. 

—  Deitar  a  capa  ao  touro. 

—  Ter-se  visto  nos  cornos  do  tenro. 

—  Quando  o  trigo  ò  louro,  é  o  barbo 
como  touro. 

TOUSAR,  r.  a.  Termo  antiquado.  Vid. 
Taixar. 

TOUTA,  .<.  f.  Vid.  Toutiço. 

TOUTEADOR,  A,  aJJ.  e  a.  Que  faz 
douilicea,  que  as  diz. 


TRAB 


TRAB 


TRAB 


779 


TOUTEAR,  V.  n.  Dizer,  ou  fazer  dou- 
dieiís,  (loiídejar. 

TOUTIÇADA,  s.  /.  Pancada,  golpe  no 
toutiço. 

TOUTIÇO,  s.  m.  A  parte  trazeira  e  in- 
ferior da  cabeça. 

Entrei  alli  tão  gentil  peça, 
tão  paralítico,  tão  mosto, 
tão  desgosto, 

que  chamava  aos  pés  cabeça, 
e  ao  meu  toutiço  rosto. 

ANTÓNIO  PEESTE3,  ADTOS,  pag.  347. 

TOUTINAS,  s.  /.  plur.  Vid,  Toutiva- 
nas. 

TOUTINEGRA,  s.  f.  Termo  de  historia 
natural.  Ave  maior  que  o  pintasirgo;  tem 
a  cabeça  negra  no  alto,  o  pescoço  cin- 
zento, e  o  corpo  pardo  com  pennas  ne- 
gras. 

TOUTIVANAS,   s.  f.    Vid.  Doudivanas. 

TOXICO,  s.  «i.  (Do  grego  toxikon).  Ve- 
neno, peçouba. 


A  sórdida  Cubica,  que  deTúra 

A  substancia  do  misei-o  pupilo, 

Que  a  terra  profanando  até  lhe  rasga. 

Faminta  d'ouro,  as  lobregas  entranhas; 

A  sombria  Calumnia  envolta  em  nuvens 

Dalli  seus  negros  tóxicos  vomita. 

J.    A.    DE  UACEDO,  MKDITAçIo,  Caut.    1. 


—  Ad jectivamente :  Substancia  toxi- 
ca ;  sub.stancia  que  tem  a  propriedade  de 
envenenar. 

TOXIGODENDRON,  s.  m.  (Do  grego  to- 
xikon, e  dendrun).  Termo  de  botânica. 
Arvore  do  verniz,  espécie  de  sumagre  mui 
veneno-so. 

TOXICOGRAPHIA,  s.f.  (Do  grego  toxi- 
kon, e  (jraphus).  Termo  didáctico.  Des- 
cripçào  doíi  venenos. 

TOXICOLOGIA,  s.  /.  (Do  grego  toxi- 
kon, e  logos).  Sciencia  que  trata  dos  ve- 
nenos e  dos  tóxicos. 

—  Tratailo  sobre  os  venenos. 
TOXICOLÓGICO,   A,  adj.  Que  pertence 

á  toxicologia. 

TOXICOLOGO,  s.  m.  Homem  que  se 
applica  á  toxicologia. 

—  Auctor  de  uma  toxicologia. 
TOXOLOGIA,  s.  f.   (Do  grego  toxus,  e 

logos).  Tratado  sobre  os  partos. 

TRAAER,  V.  a.  Termo  antiquado.  Vid. 
Traer. 

TRABAL,  adj.  2  gen.  Termo  de  poesia. 
Prego  trabal;  prego  grande  de  pregar 
traves. 

f  TRABALHA.  Forma  do  verbo  traba- 
lhar na  terceira  pessoa  do  singular  do 
presente  do  modo  indicativo.  Vid.  Tra- 
balhar. 


Em  vão  o  Capitão  sua,  e  trabalha, 
Porque  todos  ao  medo  obedociào  ; 
Polo  campo  o  Mogor  hoje  se  espalha 
Fugindo  aos  que  ja  delle  antes  fugião  : 


Hoje  o  chegão  á,  morte  o  arnoz  e  a  malha 
Que  antes  da  mesma  morte  o  defendião. 
Hoje  se  faz  Mogor  o  que  he  Cambaio 
E  em  quem  o  desmaiava  põe  desmaio. 

FRANCISCO    d'anDRADE,     PRIMKIBO     CEBCO    DH    DIU, 

cant.  9,  est.  26. 

Levanta  quanto  púdc  a  voz,  o  brada 
O  triste  velho,  aos  seus,  que  inda  vivia, 
E  com  a  fraca,  e  ja  debilitada 
Força,  trabalha  então  quanto  podia 
Por  se  livrar  dos  pés  da  sua  irada 
Ardente  c  impetuosa  companhia. 
Que  entre  estes  teve  agora  mór  perigo 
Que  entre  o  maior  furor  do  ferro  imigo. 
IBIDEM,  cant.  19,  est.  69. 

Estas  embarcações  Silveira  espalha 
Polas  partos  que  na  Ilha  tem  fraqueza. 
Porque  a  cisterna  em  si  não  agasalha 
Inda  agua,  e  outra  não  ha  na  fortaleza ; 
Porque  com  quanto  nella  se  trabalha 
Com  mui  grãa  diligencia,  grãa  presteza, 
Inda  estava  então  mal  sutScieute 
Para  dar  de  beber  áquella  gente. 
iniDEU,  cant.  10,  est.  82. 

TRABALHADAMENTE,  adv.  (De  traba- 
lhado, com  o  suffixo  «mente»).  Com  tra- 
balho, laboriosamente. 

TRABALHADEIRA,  «.  ou  adj.  f.  Mu- 
lher entregue  ao  trabalho. 

TRABALHADO,  pari.  pass.  de  Traba- 
lhar. Cançado  de  trabalho,  peleja,  tor- 
menta. 

—  Afadigado. 

—  Posto  em  trabalho. 

—  Obrado  com  arte. 

—  Trabalhado  das  'perseguições,  das 
doenças;  perseguido  por  ellas. 

—  Lasso,  fatigado. 

1.)  TRABALHADOR,  s.  m.  Obreiro,  ga- 
nhão que  dá  achegas  á  obra;  que  traba- 
lha em  lavouras,  e  navios.  —  «Assi  que 
em  cada  huma  destas  casas  trabalhavão 
continuamente  trezentos  e  vinte  homens, 
que  a  esta  razão  em  todas  as  doze  casas 
se  vinbão  a  montar  três  mil  oitocentos  e 
quarenta  trabalhadores,  a  fura  outra 
muyta  gente  que  trabalhava  noutro  ser- 
viço.» Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  96. 

E  casou  co'azeitona. 
Senhor,  ha  trabalhadores 
vilões  ruins  que  são  bellos 
pêra  fazerem  castellos. 
ANTomo  PRESTES,  AUTOS,  pag.  G5. 

—  «Julgai  se  o  desgraçado  que  estava 
dentro  gritaria  ainda  mais  do  que  o  ou- 
tro Trabalhador  que  tinha  sabido.»  Ca- 
valleiro  d'01iveira.  Cartas,  Uv.  1,  n." 
15.  —  «la  um  trabalhador  dormir  junto 
ao  convento  de  8anta  Clara  e  levava  em 
uma  condecinha  fechada  uma  andorinha, 
a  qual  creava  os  íilhos  em  ninho,  junto 
á  janella  do  frade;  e  entregue  a  andori- 
nha a  uma  certa  freira,  escrevia  ella  pe- 
las cinco  horas,  por  exemplo.»  Bispo  do 
Grão  Pará,  Memorias,  publicadas  por 
Camillo  Castello  Branco,  pag.  121. 


2.)  TRABALHADOR,  A,  adj.  (De  traba- 
lhar, com  o  suffixo  «dôr»).  Entregue  ao 
trabalho,  que  não  passa  a  vida  ociosa, 
que  pensa  no  trabalho. 

— ■  Syn.  :  Trabalhador,  laborioso.  Vid. 
este  ultimo  termo. 

f  TRABALHÃO.  Forma  do  verbo  traba- 
lhar na  terceira  pessoa  do  plural  do  pre- 
sente do  modo  indicativo.  Vid.  Traba- 
lhar. —  «Que  trabalhão  de  dia,  e  de  noi- 
te com  as  suas  mortificações,  e  austeri- 
dades  para  domarem  o  orgulho,  e  a  inso- 
lência da  Naturesa. »  Cavalleiro  d'01ivei- 
ra,  Cartas,  liv.  1,  n."  28. 


Deixa  o  Carpathio  velho  o  antigo  assento, 
fílauco,  Nereo,  Tritão,  vão  a  busca-los. 
Vão  também  neste  alegre  ajuntamento 
As  formo.sas  Nereidas  visita-los, 
Que  cora  brando  e  suave  movimento 
Trabalhão  quanto  podem  festeja-los. 
As  cabeças  com  perlas  enlaçadas 
De  corais,  ou  de  conchas  coroadas. 

P.   D 'ANDRADE,    PRIMEIRO  CBBCO  DE  DIU,  CaUt.  7, 

est.  43. 

Com  grande  Ímpeto  aos  Turcos  se  arremeasão 
Que  alli  mais  de  duzentos  se  agasalhão, 
Artcficios  de  fogo  então  não  cessão, 
Que  huma  grãa  cópia  então  no  imigo  espalhão, 
Co'as  lanças  apoz  isto  os  atravessào, 
E  tanto  os  tratão  mal,  tanto  trabalhão, 
Que  com  morto  do  muitos  lhe  he  forçado 
Perder  o  Turco  quanto  tem  ganhado. 
IBIDEM,  cant.  19,  est.  46. 


TRABALHAR,  v.  n.  Usar  das  forças  e 
engenho  para  praticar  alguma  obra  rús- 
tica, de  architectura,  de  intelligencia,  ou 
de  mechanica.  —  «E  chamando  os  povos 
todos  a  cortes,  lhes  deu  conta  desta  sua 
determinação,  a  qual  a  todos  pareceo 
muyto  bem.  e  muyto  necessária,  e  para 
ajuda  desta  obra  taõ  importante,  lhe  de- 
rão  dez  mil  picos  de  prata;  que  por  nos- 
sa conta  saõ  quinze  cotos  douro,  a  rezão 
de  mil  e  quinhentos  cruzados  cada  pico, 
e  a  fora  isto  se  diz  que  lhe  derão  mais 
duzentos  e  cinquenta  mil  homens  para 
trabalharem  nesta  obra  em  quãto  ella  du- 
rasse, de  que  os  trinta  mil  dizem  que 
eraõ  officiais  examinados,  o  os  mais  gen- 
te de  serviço.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  95. 

Ver  ouriuez  trabalhar 
hum  dia  por  hum  \'intem  ? 
e  fazem  tudo  tam  bem, 
quo  nam  ha  que  milhorar. 

GABCIA  DE  BEZEKDE,  MISCELLANEA. 

—  «Em  fim  chegarão  a  igualar  a  cava; 
e  pelo  baluarte  de  Gil  Coutinho,  que  se- 
não podia  entulhar,  atravessarão  gran- 
des mastos  com  taboas  pregadas,  que 
lhes  servião  de  ponte,  para  picar  o  muro, 
o  que  se  lhes  não  pode  defender  cora  a 
artelharia,  por  trabalhar  cubertos.»  Ja- 
cintho  Freire  d'Andrade,  Vida  de  D.  João 
de  Castro,  liv.  2. 


780 


TRAB 


TUAIJ 


TKAB 


Irinão!)  deixao  iaso  agora, 
outra  vez  {■■  dadii  a  hora 
do  traballio  ;  traUdliae. 

ANTOJIIO  PRK8TEB,  AUTOS,  pag.   Cl. 


—  Fazer  esforços,  praudes  diligen- 
cias.—  «E  esto  por  inuitivs  razoocns,  a 
sabur,  porque  os  que  tecin  os  ditos  alVo- 
ranionto.s,  e  arrondaineutos  peia  dita  frui- 
sa  a  certo  ouro  ou  prata,  ou  a  ouro  e 
prata,  convcin-ilíca  do  trabalhar  por  lia- 
vcroin  o  ilito  ouro  ou  prata,  o  dar  por  el- 
los  mais  do  que  aguisadaiucnte  valoin, 
pcra  avereiu  de  pagar  o  dito  ouro  ou 
jjrata  aos  tempos  que  som  obrigados.» 
Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit.  2,  §  3.  —  «E 
porque  tinha  suas  cousas  por  tão  certas, 
coino  a  oxpcrieucia  dalgumas  lho  fazia 
crer,  vivia  com  tjintú  cuidado,  que  elle  o 
fez  usar  de  maiores  cautellas,  do  que  té 
alli  iizera;  porque  o  temor  faz  espertar 
a  providencia;  trabalhando  do  haver  pêra 
sua  guarda  taes  ajudadorcs,  que  não  so- 
mente com  elles  podesse  viver  sogui-o  dos 
grandes  receios,  que  aquellas  palavras 
lhe  poseram,  mas  antes  metesse  em  sua 
prisão  todos  os  famosos  cavalleiros  do 
mundo,  pêra  ncUes  vingar  a  morte  de 
Franarque  seu  pai.»  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  10. 

—  Trabalhar  o  navio  mt  tormenta;  sof- 
frer  os  incommodos  que  cila  d;i,  que  ella 
causa. 

—  Procurar,  lidar  para  conseguir,  di- 
ligenciar. —  o  O  estado  Eolesiastico  de 
Espanha  (posto  que  os  Godos  e  Suevos 
fossem  Arriauos)  não  deixava  de  perse- 
verar na  pureza  da  ley  Evangélica,  tra- 
balhando os  Bispos  de  sustentar  sua  in- 
teireza, no  meyo  dos  trabalhos  e  perse- 
guições, que  de  força  aviaõ  de  padecer 
por  esta  c^usa.»  Monarchia  Lusitana, 
liv,  6,  cap.  10. 

—  Figuradamente :  Trabalhar  o  nosso 
calor  sobre  a  nossa  humidade.  —  «Os 
Elementos  que  nos  fazem  incessantemen- 
te a  guerra  sem  que  nós  a  percebamos 
são  as  duas  causas  do  tim  ao  qual  todos 
corremos  precipitadamente.  O  nosso  ca- 
lor trabalhando  sempre  sobre  a  nossa 
humidade  pouco  a  pouco  a  consome,  e 
a  destroe.»  Cavalleiro  d'01iveira,  Cartas, 
liv.  19,  n.»  2. 

—  V.   a.   Dar  trabalho,  fadiga. 

—  Trabalhar  o  cavallo;  fazel-o  traba- 
lhar. 

—  Procurar,  diligenciar,  negociar,  afa- 
nar para  obter. 

—  Figuradamente :  Trabalhar  alguém ; 
dar-lhe  em  que  entender. 

—  Trabalhar-se,  i".  rejl.  Dar-se  tra- 
balho por  alcançar  alguma  cousa. —  «Tra- 
balhem-se  de  saber  parte  dos  malfeito- 
res, e  os  prender;  e  se  na  terra  nom 
forem,  saboram  hondo.  som,  e  enviar  re- 
cado aos  Juizes,  o  Justivas,  ()ue  os  pren- 
dam, e  lhos  enviem.»  Ord.  Affons.,  liv. 
1,  tit,  2G,  §  22. 


—  Adágios  e  pkovkkuios  : 

—  Mais  (juero  c.itar  trabalhando,  que 
ciiorauilo. 

—  Quem  trabalha,  tem  alfaia. 

—  Trabalhar  com  todo  o  corpo. 

—  Quem  não  trabalha,  não  come. 

—  Madruga  c  verás,  trabalha  e  te- 
rás. 

—  Moço  de  frade,  mandae-o  comer  o 
não  que  trabalhe. 

—  liula  <pie  entres  na  villa,  e  soltos 
o  gabão,  se  uão  trabalhares,  não  te  da- 
r;io  pão. 

—  Não  do  ollioj  quo  choram,  senão  de 
mãos  que  trabalham. 

—  Quem  uão  trabalha,  não  mantém 
casa  farta. 

—  Sotfrer  por  saber,  e  trabalhar  por 
ter. 

—  Mais  vale  bom  folgar,  que  mau  tra- 
balhar. 

f  TRABALHARAM,  ou  TRABALHARÃO. 
Forma  do  verbo  traòulhar  na  terceira 
pessoa  do  plural  do  pretérito  perleito  do 
modo  indicativo.  Vid.  Trabalhar.  —  «E 
tendo  executado  uclla  as  eruoldades  or- 
dinárias, achando  a  terra  fértil,  e  acomo- 
dada para  viver,  trabalharão  na  uivlsaõ 
quo  se  fez  «iepois  desta  conquista,  e  des- 
truição primeira,  que  lhe  ticasse  para  a 
cultivarem  e  fazerem  nella  assento,  como 
iremos  vendo  no  discui'so  da  historia. » 
Monarchia  Lusitana,  liv.  (5,  cap.  2.  — 
sE  como  a  náo  era  grande,  poderosa,  e 
com  tanta  gente,  por  muito  que  os  nos- 
sos trabalharam,  a  uão  puderam  entrar, 
licaudo  assi  ab  ii-dados  todo  aqueile  dia, 
e  noite,  pelejando  de  ambas  as  partes 
sem  tomarem  descanço.»  Diogo  de  Cou- 
to, Década  -1,  liv.  1,  cap.  G.  —  «Ao  ou- 
tro dia,  posto  que  os  nossos  estavam  can- 
sados, e  a  mór  parte  feridos,  tanto  tra- 
balharam, tào  altas  proezas  lizeram,  que 
com  grande  damno  dos  inimigos  entra- 
ram a  náo,  e  mettòram  todos  os  delia  á 
espada,  sem  lhe  ticiír  algum.»  Ibidem. 

7  TRABALHASSE.  Forma  do  verbo 
traballuir  na  primeira  ou  terceira  pessoa 
do  siugular  do  pretérito  mais  que  perfei- 
to do  modo  conjunetivo.  Vid.  Trabalhar. 
—  a  Espantado  Àutonio  de  Faria  do  muy- 
to  que  disto  e  doutras  cousas  o  íSimiiau 
lhe  dezia,  e  muvto  mais  destes  Gigauhos, 
e  da  desformidade  dos  seus  corpos,  e 
membros,  lhe  rogou  que  trabalhasse  to- 
do o  possivel  por  lues  mostrar  algum 
delles,  porque  llie  affirmava  que  o  Pre- 
zaria mais  quo  se  lhe  desse  todo  o  ti- 
soui'o  da  Chiua,  a  que  elle  respondeo.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap. 
73.  —  »Os  bateis  quo  estavào  no  passo 
lio  vao,  de  hum  dos  quaes  era  capitam 
Christouào  jusarte,  o  do  outro  Simão  dan- 
di'ade,  com  os  paraos,  e  c^itures  de  Co- 
euim,  em  que  andaua  Lourenço  moreno, 
e  o  iVincipo  de  Ooeuim  com  mil  Naires, 
com  que  guardaua  a  estacada,  tiueram  o 
passo  a  ol  Kei  de  Calecut  com  tauto  es- 


forço, quo  nunca  o  a  sua  gento,  por  mui- 
to que  idsso  trabalhasse,  j»ode  passar, 
no  que  estiueram  ate  que  a  maré  Ibes 
fez  tomar  a  couclusam  dusta  peleja,  que 
foi  mais  braua,  c  mais  cruel,  do  que  o 
foram  todalas  outras,  na  qual  el  Rei  de 
Calecut  perdoo  muita  gento. •  Damião  de 
Coes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1, 
cap.  íll. 

f  TRABALHAVA.  F.)rma  do  verbo  ira- 
ballvir  na  i)rnneira  ou  terceira  pessoa  do 
singular  do  jireterito  imperfeito  do  modo 
indicativo.  Vid.  Trabalhar. — »E  sentin- 
do que  quem  tanto  trabalhava  por  se 
encobrir  seria  csensailo  luuudar  por  elle, 
o  uão  fez.  Porém  o  prazer  geral  de  Flo- 
ramão  ser  vencido,  fez  esquecer  o  pezar 
de  se  não  conhecer  o  vencedor,  e  não  ó 
muito  de  espantar  destas  mudanças,  que 
a  fortuna  traz  comsigo,  pois  suas  cousaa, 
de  gloria  ou  miséria  andam  sempre  .acom- 
panhadas.* Francisco  de  Moraes,  Palmei- 
rim dTnglaterra,  cap.  25.  —  «Cada  um 
veado  a  fortaleza  de  seu  inimigo,  traba- 
lhava por  mostrar  o  fim  de  seu  esforço  : 
os  golpes  eram  dados  sem  piedade,  as 
armas  não  os  soffriam  de  maneira  que 
por  força  as  carnes  padeciam.  Quem  vi- 
ra esta  batalha  bem  poderá  dizer  ser  a 
mais  brava  que  vira.p   Ibidem,   cap.  87. 

—  fE  porque  o  cavalleiro  das  armas  ne- 
gras naquella  terra  era  mui  conhecido, 
trabalhava  por  se  encobrir  a  todos :  ao 
outro  dia  em  amanhecendo  ouviu  missa, 
armado  de  todas  armas,  em  uma  ermida, 
que  estava  fjra  da  cidade.»  Ibidem,  cap. 
89.  —  «Adiante  desta  cidade  obra  de 
duas  legoas  estavão  doze  casas  muyto 
compridas  a  modo  de  terecenas,  em  que 
trabalhava  muyta  copia  de  gente  em  fun- 
dir e  apurar  pastas  de  cobre,  onde  o  tu- 
multo e  o  estrondo  que  os  martellos  fja- 
zião  era  tamanho,  que  se  ahy  ha  cousa 
na  terra  que  se  possa  parecer  co  inferno 
não  deve  ser  outra  se  não  esta.»  Fernão 
Mendes   Pinto,  Peregrinações,  cap.    96. 

—  «Não  evde  dar  isso  a  esse  homem, 
porque  não  sabe  ter  huma  lança  na  mSo, 
nem  trazer  huma  espada  na  ciuta.  Que 
não  ei-a  contente  de  lazer  honra  e  mercê 
aos  valentes  homens,  e  bons  caaalleiros, 
mas  ainda  dava  a  entender  que  a  não 
auia  de  fazer  aos  que  taes  iiào  fossem. 
Por  onde  todos  trabalhauam  de  o  ser, 
ou  ao  menos  de  o  parecer.»  Garcia  de 
Rezende,  Chronica  de  D.  João  II,  cap. 
190. 

f  TRABALHEI,  ou  TRABALHEI.  Forma 
do  verbo  trabaUuir  na  primeira  pessoa 
do  pretérito  perfeito  do  modo  indicativo. 
Vid.  Trabalhar.  —  «Na  própria  tarde 
trcibalhey  por  nos  hirmos,  porque  enten- 
ili,  se  este.ideriam  os  desgostos  a  outroe 
mavores  se  ali  dormíssemos.  O  Capitão 
da  Cadlla  se  pós  ao  caminho,  e  ao  outro 
dia  chegamos  ja  bem  de  noyte  ao  rio 
Carca,  junto  dello  descansamos,  bem  pe- 
sarosos de  o  não  podermos  passar  da  ou- 


TEAB 


TRAB 


TRAB 


781 


ira  banda.»  Fr.  Gaspar  de  S.  Bernardi- 
no, Itinerário  da  índia,  cap.  16. 

TRABALHO,  s.  m.  Exercício  corpóreo, 
rústico  ou  meclianico.  — •  «Logo  os  man- 
daram apousentar  pêra  repousar  do  tra- 
balho passado.  Os  príncipes  foram  aga- 
salhados dentro  na  casa  do  imperador, 
segundo  sempre  costumava,  quando  cue- 
gavam  de  simílliantes  lugares  ;  mas  an- 
tes que  acabassem  de  se  despedir,  entrou 
pola  sala  um  escudeiro  Turco,  que  che- 
gando ao  imperador  em  presença  de  to- 
dos, lhe  disse. »  Francisco  de  Moraes,  Pal- 
meirim d'Inglaterra,  cap.  122.  —  (tAcha- 
rào  os  dias  mui  pequenos,  com  tantos 
frios,  e  neues  que  as  pas  a  lançavam 
fora  das  nãos,  com  o  qual  trabalho  do- 
brou o  cabo  aos  xxvi  dias  do  mes  de 
lunho,  cento,  e  setenta,  e  cinco  legoas 
a  la  mar,  e  chegandosse  o  mais  que  po- 
de a  terra,  lhe  deo  aos  dons  dias  de  Ju- 
lho huma  tão  forte  trovoada,  que  rom- 
peo  as  velas  da  sua  nao.»  Damião  de 
Goss,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  2, 
cap.  2.  —  «Nem  elle  quer  dizer  outra 
cousa  nas  palauras  com  que  vai  prose- 
guindo  assi  na  mesma  carta.  Muytas  ve- 
zes me  tem  Deos  nosso  Senhor  dado  a  sen- 
tir dentro  em  minha  alma  de  quantos  pe- 
rigos, e  trabalhos  corporais,  e  espirituais 
me  guardou  pelos  deuotos,  e  contínuos 
sacrifícios,  e  orações  de  todos  os  que  mi- 
litam debaixo  da  bemdita  Companhia  de 
lESV,  e  dos  que  depois  que  nella  mili- 
taram estam  ja  na  gloria  com  graude 
triumfo.í  Lucena,  Vida  de  S.  Francisco 
Xavier,  lív.  õ,  cap.  20. 


Commetti,  persevVei  no  ousado  intento ; 

Trabalho  d'anno3  foi :  e  emfim  completo 

Com  elle  k  doce  pátria  me  voltava 

Xo  beuigno  favor  esperançado 

De  meus  concidadõos,  no  de  um  monarcha 

Prezador  das  viitudes,  do  heroísmo 

Que  em  meua  versos  cantei. 

GABBETT,   CAMÕES,   Caut.    4,  Cap.     17. 


—  «Pois  03  índios,  que  conhecem  a  li- 
berdade, e  são  de  natureza  preguiçosos 
não  ha  quem  os  metta  a  caminho;  fo- 
gem do  trabalho  para  a  ociosidade ;  não 
param  em  casas  particulares,  excepto 
emquanto  andam  divertidos  com  as  ín- 
dias e  malucas,  por  cuja  causa  oá  casam 
os  senhores.»  Bispo  do  (írào  Fará,  Me- 
morias, publicadas  por  Camillo  Castello 
Branco,  pag.  184. 

—  Cousa  que  íncommoda,  afflíge  o  cor- 
po ou  o  espirito,  incoramodo  afflictivo. — 
«Por  quanto  eu  depois  de  muitos  traba- 
lhos, e  perigos  que  padeci,  contra  os 
Mouros  no  castelo  de  Monte-Mór,  que 
elles  queriaõ  destruir,  e  cativar  minha 
pessoa,  e  os  venci  pela  Divina  miseri- 
córdia, e  matey  no  rio  e  alcança  setenta 
mil  pouco  mais  ou  menos.»  Monarchia 
Lusitana,  liv.  7,  cap.  14.  —  «Vosso  vul- 
to posto  no    escudo  d'Albayzar  por  uma 


parte,  e  vosso  parecer  por  outra,  nin- 
guém 03  pode  ver  que  de  mui  grandes 
trabalhos  fique  livre  :  assim  é  que  seja, 
que  a  quem  a  natureza  tào  estremada 
fez  pêra  algum  estremo  a  havia  de  fa- 
zer.» Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
d'Inglaterra,  cap.  87. — «A  quem  este 
receio  chegava  mais  era  a  Selviao,  sen- 
tindo não  estar  presente  aos  trabalhos 
de  seu  senhor,  e  passar  por  elles  com 
verdadeiro  amor  como  os  leues  ci-iados 
tem,  o  que  os  senhores  mui  bem  sentem 
e  mal  agradecem.»  Ibidem,   cap.  99. 


Porém  a  deosa  Cypria,  que  ordenada 
Era  para  favor  dos  Lusitanos, 
Do  padre  eterno,  e  por  bom  génio  dada, 
Quo  sempre  os  guia  já  de  longos  annos, 
A  gloria  por  trabalhos  alcançada, 
Satisfação  de  bem  sotfridos  danos, 
Llie  andava  já  ordenando  e  pretendia 
Dar-lhe  nos  mares  tristes  alegria. 
cAJí.,  Lcs.,  cant.  9,  est.  18. 


—  «Sofrem  immensos  trabalhos  os  no- 
bres corações  com  duas  grandes  compe- 
tidoras, que  sam  necessidade  e  vergo- 
nha; se  esta  se  perde,  tudo  he  perdido  : 
bem  caro  se  compra  o  que  com  rogos  se 
acquire.»  D.  Joanna  da  Gama,  Ditos  da 
freira,  pag.  43. —  «Grande  consolaçam 
he  ter  companhia  nos  trabalhos.»  Ibidem, 
pag.  62. — «E  depois  de  acabado  com 
grande  custo,  e  trabalho,  o  fez  chegar  ao 
muro  com  os  Alifantes,  pêra  por  elle  o 
entrar,  levamlo  dentro  muitos  homens  de 
espingardas,  e  algumas  peças  de  artelba- 
ria,  e  muitas  panelas  de  pólvora,  e  ou- 
tros artifícios  de  fogo.»  Diogo  de  Couto, 
Década  6,  liv.  7,  cap.  9.  —  «E  tornan- 
do à  nossa  ordem,  a  guerra  ficou  du- 
rado todo  o  inverno  com  muitos  traba- 
lhos, gastos  e  despezas,  com  que  tam- 
bém os  imigos  ficàraò  bem  quebrantados.» 
Ibidem,  liv.  8,  cap.  9.  —  «Nós  então 
vendo  o  em  que  o  Jorge  Mendez  se  que- 
ria meter,  e  da  maneyra  que  se  penho- 
i-ava  no  que  prometia,  e  que  os  Tártaros 
lançavão  mão  disso,  o  reprendemos  todos 
dizendo,  que  se  não  metesse  em  cousa 
que  nos  desse  trabalho,  e  nos  pusesse  em 
risco  de  perdermos  as  vidas.»  Fernão 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.  118. 
—  «A  gente  nobre  anda  vestida  de  seda, 
em  cavallos  bem  ajaezados,  e  as  molhe- 
res  saõ  muyto  alvas  e  fermosas.  Estes 
dous  esteyros  e  o  rio  de  Ventinau  de  que 
atrás  fiz  menção,  passamos  com  muvto 
trabalho  e  perigo,  por  causa  dos  muytos 
cossayros  que  avia  nelles,  e  chegamos  á 
cidade  de  Manaquileu,  que  está  situada 
ao  pé  dos  montes  de  Comhay  na  arrava 
dos  revnos  da  China  e  do  Cauchim,  na 
qual  estes  embaixa<Iores  ambos  forao  bem 
recebidos  do  Capitão  delia.»  Ibidem,  cap. 
129. — -oE  desta  maneyra  caminhamos 
cinco  dias  cõtinuos  com  tanto  trabalho 
quanto   a   mesma   cousa   dá   a  entender, 


sem  em  todos  elles  acharmos  cousa  que 
comêssemos  senào  alguns  limos  do  mar, 
e  no  fim  destes  dias  prouve  a  nosso  Se- 
nhor que  chegamos  a  terra. »  Ibidem, 
cap.  138.  —  «E  respondeu  que  geral  ne- 
nhum outro,  que  fosse  semelhante  a  es- 
se, mas  que  em  particular  castigava  con- 
tinuamente a  todos,  assim  aos  Reynos,  e 
aos  povos  com  guerras,  e  fomes,  como 
aos  homens  com  afflicçues,  trabalhos,  e 
doenças,  e  sobre  tudo  com  pobresa,  que 
era  o  remate  de  todos  os  males.»  Ibidem, 
cap.  164. —  «Eu,  disse  o  amigo,  não  hia 
tam  alto  como  isso,  falava  daquelle  des- 
canso, que  comummente  te  dizemos  que 
tem  os  que  tem  menos  trabalhos.  Nem 
esse,  disse  o  preso,  me  parece  a  mim  que 
eu  nunca  terey:  porque  meus  nojos  e 
grandes  desauenturas  me  tem  tam  fistu- 
lado o  coração,  3  tã  atalhadas  todas  as 
vias,  per  onde  lhe  pode  vir  esse  descan- 
so, que  por  esta  razão  a  nà  terey  eu,  se 
tiuer  pêra  mim  que  será,  o  que  não  tem 
caminho  pêra  poder  ser.»  Heitor  Pinto, 
Diálogos,  cap.  1. 

Em  trabalhos  tam  suaves 
Gastei  doces  Primaveras, 
Hora  cativando  as  feras, 
Hora  perseguindo  as  aves. 

FRANXISCO  BODOIGITES  LOBO,  rBUÍAN^EBA. 


Não  bastavâo  trabalhos,  com  que  vivo  •, 
Mil  milhões  de  suecessos  não  cuidados. 
Que  me  trazem  da  geute  fugitivo. 

J.  X.   DE  MATTOS,  BIMAS,  pag.  231. 


—  «o  que  concluído  entrelles  ambos, 
e  alguns  outros  que  os  queriam  compra- 
zer, sem  nenhuma  fornia,  nem  ordem  de 
justiça  mandou  a  George  botelho  que  fos- 
se a  sua  casa,  e  lho  trouxesse  preso,  do 
que  se  elle  excusou,  porque  era  seu  ami- 
go, e  o  conhecia  por  bom  homem,  e  leal 
aos  Portugueses,  dizendo  a  George  dal- 
buquerque  que  nam  acertaua  em  fazer  o 
que  fazia,  porque  alem  dei  Rei  de  Cam- 
par ser  inuocente  do  que  lhe  punham  na 
cidade  per  sua  moite  auia  dauer  mais 
reuoltas,  e  trabalhos  dos  que  ouuera  pe- 
la morte  de  Vtetimutaraja  que  Afonso 
dalbuquerque  mandara  justiçar. »  Damião 
de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3, 
cap.  29. —  «Mas  aqui  se  offerece,  ó  Ca- 
tholico,  hum  efficaz  motivo  para  teres 
paciência  com  os  trabalhos.  Porque  se 
todos  universalmente  padecem,  tu  por- 
que mavor  razaõ  naõ  padecerás?  Se  naõ 
podes  eximir-te  de  homem,  como  queres 
eximir-te  de  miserável?»  Padi-e  Manoel 
Bernardes,  Exercícios  espirituaes,  pag. 
132. —  oE  para  Mesti-es  se  poderáõ  man- 
dar buscar  os  Teceloens  da  índia,  que 
saõ  os  melhores  do  mundo,  e  fazer  em 
Lisboa  03  canequins,  e  bofet.às.  que  là 
himos  buscar  com  tanto  trabalho,  e  pe- 
rigo. »  Severim  de  Faria,  Noticias  de 
Portugal,  Disc.  1,  cap.  4. 


782 


TRAB 


TIIAU 


TRAB 


Alikn  d'iiiflo,  Apulcio  nu-i  informa, 
C^uo  por  tnalicia  d 'uma  certa  Kotifi, 
F.m  aiiio,  ii'iiin  iimtaiit'!,  HO  f<)riii;ir:i 
E  corno  asno  paaíilra  mil  trahulho». 


A.  Di.Niz  vt\  ciiuz,  nrs 


—  Loc. :  Não  pcrdijtí  a  trabalho  ;  iiHo 
o  poupei,  isto  c,  trabuliioi. 

—  Kiitrar  nus  trabalhos,  c  perigos  do 
parto;  estar  com  ilòrc:i  ;i  parir. 

—  Fifíuriidaiiicntc  :  Trabalho  do  en- 
tendimento ;  em  composições. 

—  A  diíficuldailc  o  iiicouimodo  do  tra- 
balhar. —  «E  SC  prostiiõ  dullcs  em  mon- 
tes, e  em  caças,  e  em  outroa  trabalhos, 
o  llios  dapniticaõ,  e  vom-lhos  oiifjcitar,  c 
fazer  demandas  que  llios  filhem,  dizendo 
que  som  maaos,  e  fracos,  c  doentes,  o 
maliciosos,  e  outras  tachas  muitas  que 
lhes  pooem,  <lo  que  lhes  recrecem  deman- 
das, e  trabalhos,  o  occupaçuões  cm  ella 
mais  que  em  suas  lavoiras,  e  em  aprovei- 
tamento do  seus  beeus.»  Ord.  Affons., 
liv.  4,  tit.  21,  §  2. 

Do  RrauJo  rspanto  o  medo  dcâmayda 
Quebrantada,  aem  força,  e  ijuasi  morta  : 
Os  seus  meninos  ambos  desombarcào, 
Não  como  em  tal  idade  lhes  couninlia 
Mas  com  trabalho  c  pressa  arrebatados 
Por  dous  robuíítos  homens,  destes  brai^os 
As  orneis,  c  soberbas  ondas  pondo 
Grande  força,  tiraloS  pretendiào. 

C.    UKAL,  NAUFK.laiO  DF.  SBrULVEDA,  Caut.    8. 


Despois  que  os  Portugueses  do  trabalho 
Do  caminlio  se  mostrào  descansados, 
Assentào  de  buscar  aquolle  líio 
Que  de  Lourenço  Marquez  tiuha  o  nome. 
iBiDUM,  cnnt.  14. 

—  «O  qual  sobrosalto  lhe  deu  muito 
trabalho,  porque  naõ  se  api-oueitauaõ  da 
artilhcria,  ca  lho  ficaua  taõ  alta  que  naò 
podia  pescar  os  zambucos  c  barcos  que 
estauuò  pegados  no  costado  do  nao,  e  so- 
lueuto  lhe  seruiaõ  beatas,  espingardas,  e 
pedradas.»  Barros,  Década  1,  liv.  O,  cap. 
7.  —  «O  Jesu  Ohristo,  amores  de  minha 
alma,  pelaâ  dores  da  vossa  sagrada  Pav- 
xão  que  nos  não  desampareis  :  e  a  este 
modo  outras  muytas  palavras,  de  quito 
estou  bem  lembrado  no  fim  das  quaes  in- 
clinado a  cabeça  sobre  o  púlpito  como 
que  deseàçava  daquelle  trabalho,  esteve 
quedo  obra  do  dous,  ou  trcs  Credos,  e 
toruandoa  a  levantar,  com  rosto  alegre, 
c  bem  assombrado  disse  aos  que  estavaõ 
presente.»  Fernrio  Mendes  Pinto,  Pere- 
grinações, cap.  207. 

era  boi  que  rac  diziam 
quo  lá  no  alto  onde  estava 
a  sua  carno  cantava, 
trabalhos  dcscauçariam. 

ANTOxio  PEEsrEs,  AUTOS,  pag.  187. 

—  fE  pois  ja  dixe  díus  seitas,  idola- 
trias, e  costumes  do  ilalabar  em   geral 


razão  he  quo  om    particalar   diga  da  ci- 
dade do  Calecut,  pois  tanto  trabalho  non 

deu  dcscobrilia,  e  tantos  ha  commuuica- 
çaò  delia,  como  se  aiio  diante  vera.i  iM- 
miilo  dti  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  1,  cap.  42. —  tAlguus  dos  hos.sos 
que  andauilo  apar  dcllc  o  leuaram  logo  a 
nao  pêra  que  o  curassem,  aos  quauri  an- 
dando neste  trabalho,  som  vencerem, 
nom  serem  vencidos,  acudio  Francisaj 
de  tauora,  que  com  a  sua  nao  veo  afer- 
rar a  de  Mirhocem  pela  outra  banda,  na 
qual  se  lançou  com  hum  golpe  de  gente.» 
Ibidem,  part.  2,  cap.  3'J.  —  cisto  he  do 
notar  que  a  abertura  que  o  Elephante 
fez  entre  o.s  dous  barões  de  ferro  per  on- 
de passou  foi  tam  pequena,  que  com  tra- 
balho podia  iiuni  homem  de  comum  esta- 
tura, vestido  em  pelote  passar  por  olla, 
mas  o  medo,  e  industria  do  natureza  lhe 
deraõ  ho  gelto  pêra  poder  .^^air  per  hum 
tam  pequeno  lugar.»  Ibidem,  part.  4, 
cap.  18.  —  «Pois  ja  tenho  dito  a  quem 
coube  o  trabalho  desta  Chronica  dei  Rei 
dom  Emanuel  razam  he  que  declare  o  que 
jiassa  acerca  das  dos  outros  Reis  destes 
regnos,  o  que  uam  alcancei  tam  facil- 
mente que  me  nam  pareça  serem-me  os 
que  louam  gosto  de  lerem  taes  liuros  em 
nmita  obrigaçam  por  lhes  dar  a  entender 
neste  brcue  discurso,  o  que  elles  p  r  ven- 
tura nam  poderam  aleanç;ir  senam  com 
muitos  annos  destudo.»  Ibidem,  cap.  38. 


Do  Rliodus  o  ^audi-uiiiko  uiiiárm^o, 

I>ait  agua4  eupaiitallio, 
de  dilatado»  aiioos  foi  trabalho. 

uiniHj  vo  oBÃo  i-AaÁ,  McMumAd,   pag.  80. 


Nem  Porcio,  nem  Cat&o,  uinguctn  o  saiba ; 
Ou  baldámod  trabalho. 


oAiuETT,  CATÃO,  act.  3,  ic.  7. 


—  Este  fez  explorar  d'aurora  os  berços 
Com  baldados  trabalhos,  —  que  essa  dita 
Ao  feliz  Manoel  o  ceo  guardava. 
QARRKTT,  camõls,  caut.  8,  cap.  9. 


—  A  mechanica,  lavoura  que  se  exerce. 

—  Figuradamente :  O  effeito,  fructo  do 
trabalho.  —  «Por  cujo  trabalho,  e  aluguel 
de  casas  em  que  os  sete  Christàos  mora- 
mos, que  erào  meu  companheiro,  eu,  o 
nosso  lingoa  Diogo  Fernandez,  e  os  mo- 
ços que  nos  seruiam,  se  pagar."io  doze  la- 
rins,  e  estes  forào  todos  os  direitos,  pa- 
gas, c  peytas,  que  o  nosso  Faraute  fez, 
em  toda  a  Pérsia  de  todo  seu  fato,  e  fa- 
zenda que  nào  era  pouca.»  Frei  Gaspar 
de  S.  Bernardino,  Itinerário  da  índia, 
cap.  It).  —  tNella  vimos  hum  Turco  de 
nouenta  annos,  que  passnua  do  cincoenta 
que  aqui  moraua,  e  nella  determinaua 
acabar  seus  dias.  Considerando  estiue  o 
espirito  daquella  cansada  idade,  e  a  paga 
que  de  seu  trabalho  auia  ter  no  fim,  que 
era  pena  o  inferno  sem  fim :  e  o  pouco  quo 
em  mi  auia,  esperando  a  gloria  sem  me- 
recela. »  Ibidem,  cap.  20. 

Empenou,  o  trabalho 
não  corro. 

Como  ? 

Encalhou. 
Não  lho  achaes  uma  regra  ? 

Não. 
A-NTOSio  PRKsrKS,  ALTOS,  pag.  187. 


TRABALHOSAMENTE,  adv.  (De  traba- 
lhoso, e  o  sullixo  emente*).  De  um  modo 
trabalhoso. 

—  (Juni  difliculdad'',  com  trabalho. 
TRABALHOSÍSSIMO,  A,  adj.  tujKrl.  de 

Trabalhoso.   Mui  trabalhoso. 

TRABALHOSO,  A,  adj.  Que  moleaU,  que 
dá  trabaiiio.  —  «Primeiramente,  costuma 
offreccrse  nio  pequena  difficuldade,  por- 
que assim  como  he  mui  trabalhosa  cousa 
arrancar  de  raiz  huma  aruore  plantada 
de  muito  tempo,  o  que  esta  mui  arraiga- 
da, pêra  a  trasplantar,  assim  he  difficul- 
tosissima  cousa  reduzir  a  vida  espiritual  o 
animo  acostumado  a  vida  mundana.»  Frei 
Bartholomeu  dos  Martyres,  Compendio  de 
espiritual  doutrina,  cap.  15. 

—  Parto  trabalhoso ;  parto  difficil,  com 
perigo  de  vida. 

—  Homem  trabalhoso  di  condirão ;  ho- 
mem forte,  diflieil. 

—  Tempos  trabalhosos ;  tcmpoa  em  que 
ha  trabalhos. 

—  O  lUitino  trabalhoso. 

f  TRABALHOU.  F.jrma  do  verbo  traba- 
lhar na  terceira  pessoa  do  singular  do 
pretérito  perfeito  do  modo  indicativo. 
Vid.  Trabalhar. —  «Da  maneira  que  ello 
o  cuidou  foi,  que  o  cavalleiro,  querendo 
vingar  o  desgosto  que  recebera  na  que- 
bra do  escudo,  trabalhou  tinto,  deu  tan- 
tos golpes,  que  no  fim  delles  ficou  pêra 
se  n.ào  bolir:  e  ainda  que  FlorenJos  oe 
mais  lhe  fize.^se  dar  em  tío,  d'outro8,  de 
que  se  nào  polia  guanl.ar,  andava  algum 
pouco  ferido.»  Francisco  de  Moraes,  Pal- 
meirim d'Inglaterra,  cap.  110. —  «Mas 
como  o  demónio  cõ  estas  obras  de  se  ba- 
ptizar quada  dia  muita  gente,  elle  perdia 
grade  jurisdição,  trabalhou  por  lhe  ficar 
em  penhor  alguma  pessoa  real  per  a  qual 
pudesse  cobrar  o  perdido.»  Barros,  Dé- 
cada 1.  liv.  3,  cap.  10. 

TRABEA,  s.  /.,  ou  TRABEO,  t.  m.  Toga 
dos  romanos. 

TRABOLHAR,  v.  a.  Termo  antiquado. 
Vid.  Trabalhar. 

TRABUCADA,  s.  f.  O  estrondo  produ- 
zido pelos  carros  quando  rodam  pelas  cal- 
çadas. 

TRABUCADO,  part.  pass.  de  Trabucar. 

TRABUCADOR,  í.  m.  Termo  popular. 
Negocia.ior  <;a  viila,  trabalhador. 

—  Adjoctivamente  :  Que  trabuca. 
TRABUCAR,  ou  TREBDCAR,  r.  a.  Em- 
bater com  o  trabuco. 

—  Trabucar  uma  anbarcaçào;  £uel-a 
voltar. 


TRAÇ 


TRAC 


TRAC 


783 


—  Figuradamente :  Trabalhar  muito, 
e  com  barulho. 

—  V.  n.  Emborcar-se  a  embarcação, 
voltar-se  sobre  iim  lado,  e  alagar-se. 

—  Trabucar-se,  v.  refl.  Usa-se  na  si- 
guificaçào  do  verbo  neutro. 

TRABUCO,  s.  m.  Machina  bellica  an- 
tiga com  que  se  atiravam  grandes  pedras 
dentro  das  praças. 

—  Arcabuz  de  grosso  calibre. 

—  Phtr.  Chari'.tos  assim  denominados. 
TRABUQUETE,    s.   m.    Diminutivo    de 

Trabuco. 

—  Talvez  fosse  casa  da  moeda,  ou  de 
cambio  de  moedas,  de  Coimbra;  onde  ain- 
da hoje  se  conserva  a  rua  da  moeda.  Em 
Titerijo,  Elucidário. 

TRABUZANA,  s.f.  Termo  popular.  Tor- 
menta. 

TRACA-ARTERIA,  ou  TRACHA-ARTE- 
RIA,  s.  /.  'Do  grego  tracJieia,  e  de  arté- 
ria). Termo  de  anatomia.  Canal  composto 
de  argolas  cartilaginosas,  que  se  estende 
desde  a  base  da  larynge  até  os  bron- 
chios,  e  serve  de  communicar  o  ar  ex- 
terno com  o  bofe;  é  juntamente  orgào 
da  respiração  e  da  voz. 

TRACALHAZ,  s.  m.  Yid.  Tracanaz. 

TRACANAZ,  s.  m.  Termo  popular. 
Grande  pedaço.  —  Um  tracanaz  de  quei- 
jo, de  pào.  etc. 

1.1  TRAÇA,  s.  /.  (Do  grego  trôx).  Bi- 
cho que  róe  a  roupa ;  anda  em  um  casu- 
losinho,  e  depois  se  transforma  em  uma 
pequena  borboleta :  rúe  também  livros  e 
papeis. 

2.)  TRAÇA,  ?.  /.  (De  traçar).  A  plan- 
ta, rascunho,  ou  desenho  feito  pelo  artí- 
fice a  respeito  da  obra  que  se  ha  de  rea- 
lisar. 

—  Rastc,  vestígio. 

—  Mestre  da  traça;  architecto. 

—  Figuradamente:  Meio,  industria  de 
se  alcançar  alguma  cousa.  —  tEntendi 
então  que  sua  magestade  tinha  mudado 
de  traça,  e  com  esta  noticia  e  supposição 
me  fui  mais  desassustado  para  a  caravel- 
la,  onde  achei  o  sindicante,  mas  elle  não 
me  disse  cousa  alguma.»  Padre  António 
Vieira,  Cartas,  n."  7. 

—  A  esta  traça;  d'e8t6  modo,  n'este 
gosto,  estylo. 

—  O  plano. 

1.)  TRAÇADO,  #.  m.  Vid.  Terçado, 
termo  mais  em  uso. —  «Porque  fizestes 
com  Diogo  de  Mello,  que  emprestasse  di- 
nheiro a  ElRey  de  Ormuz  pêra  pagar  as 
parcas  sobre  hum  traçado?  E  porque 
mandastes  tomar  a  Diogo  de  Mello  o  tra- 
çado que  tinha  d'ElRe_v  em  penhor  do 
dinheiro?»  Diogo  de  Couto,  Década  4, 
liv.  6,  cap.  8. 

2.)  TRAÇADO,  part.  pass.  de  Traçar. 
Debuxado,  delineado,  prefigurado. 


Alto  sus,  PQi  or.T.  benta 
seja  esta  obra  começada  ; 
não  dilatemos  mais  nada 


cada  um  tome  a  ferramenta 
da  traça  que  lhe  é  traçada. 

AXTOKIO  PHESTKS,  ACTOS,  pag.  29. 

—  Roído  da  traça. 

—  Projectado,  delineado  no  conc?ito. 

—  Substantivamente:  Plano  de  uma 
estrada  em  projecto. 

—  Vid.  Traçamento. 

TRAÇADOR,  A,  s.  Pessoa  que  traça  al- 
guma cou^a. 

—  U^a-se  também  adjectivamente. 
TRAÇAMENTO,  s.  m.  Risco,  traç^a,  pri- 
meira? linhas. 

TRAÇÃO,  s.  /.  —  A  tração  do  seu  ros- 
to; a  forma,  traça,  perfil. 

— •  S.  m.  Pedaço,  estilhaço,  traço. 

1.)  TRAÇAR,  v'.  a.  Dar  a  traça,  dese- 
nhar. 


Mestre,  traçastes  mui  bem, 
mui  perfeito : 

virem  os  portaes  d"e3se  geito 
com  estes  três  versos,  tom 
isío  primor,  cu  o  aoceito. 
AXTOsio  PEESTEs,  AUTOS,  pag.  .32. 

Se  poetas,  oradores, 
philosophos,  quem  quizerdcs, 
me  disserdes 
que  o  traçaram  pintores, 
por  pouco  que  me  aqui  derdes 
vos  direi  eu,  olhos  verdes, 
que  nem  todos  tratam  amores. 
iBroEM,  pag.  -423. 


—  Dar  traça,  meio  de  obter  alguma 
cousa. 

—  Descrever  alguma  figura. 

—  Delinear,  meditar  um  plano,  proja- 
cto,  etc. 

—  Traçar  a  capa;  tomar-lhe  as  pontas 
debaixo  do  braço,  ou  dobrar  a  capa,  e 
cobrir  o  braço,  e  peito  com  ella.  Vid. 
Terçar. 

2.)  TRAÇAR,  V.  a.  Roer  a  traça  a 
roupa. 

—  Figuradamente :  Desgostos  qu-e  tra- 
çam o  espirito  surdamente. 

—  Traçar-se,  v.  refl.  Picar-se  ou  roer- 
se  da  traça. 

TRACÇÃO,  s.  f.  (Do  francez  traction). 
Termo  de  mechanica.  Acção  de  uma  for- 
ça, que  coUocada  na  parte  anterior  da 
resistência,  puxa  por  um  corpo  movei 
por  meio  de  um  fio,  de  uma  corda,  ou  de 
outro  qualquer  intermediário. 

—  Linha  de  tracção  ;  linha  tirada  pelo 
movei,  ou  corpo  resistente  no  plano  inci- 
dente. 

TRACEJAR,  V.  a.  Fazer  traços.  Vid. 
Galivar. 

TRACHEA,  s.  f.  O  canal  da  respira- 
ção. Vid.  Traca-arteria. 

—  Nos  insectos,  são  canaes  numerosos 
e  delicados  que  tem  a  sua  origem  nos 
estigmas  collocados  nos  lados  do  abdó- 
men, e  levam  o  ar  a  todas  as  partes  do 
corpo.    As    tracheas   dos   insectos    assi- 


milham-se    perfeitamente    ás    das    plan- 
tas. 

TRACHEAL,  adj.  2  gen.  Termo  de  ana- 
tomia. Que  diz  respeito  á  trachea-artc- 
ria.  — Artéria  tracheal.  —  Nervos  tra-' 
cheaes. 

-f  TRACHEANO,  A,  adj.  Termo  de  en- 
tomologia. Que  tem  tracheas. 

f  TRACHEÍTE,  s.  /.  Termo  de  medici- 
na. Inflammaçào  na  trachea. 

TRACHELIANO,  A,  adj.  2  gen.  (Do  gre- 
go trachelos).  Termo  de  anatomia.  Vid. 
Dorso. 

—  Apophyses  trachelianas ;  apophyses 
transversaes  das  veriebras  cervicaes. 

—  Nervos  trachelianos  ;  nome  dado  aos 
nervos  cervicaes. 

—  Aberturas  trachelianas  ;  canaes  atra- 
vessados na  base  das  apophyses  trache- 
lianas, e  dando  passagem  á  artéria  verte- 
bral, ou  traehelo-oceipital. 

f  TRACHELIPODO,  adj.  Que  tem  os 
pés  no  pescoço.  —  Molluscos  trachelipo- 
dos. 

f  TRACHELISMO,  s.  m.  Termo  de  me- 
dicina. Contracçà  1  espasmódica  dos  mús- 
culos do  pescoço  pela  acção  reflexa  ou 
diastaltica,  durante  a  epilepsia,  etc,  pro- 
duzindo a  impressão  das  veias  do  pesco- 
ço, a  occlusào  da  glotte,  e  por  tanto  a 
mordcvlura  da  linírua. 

f  TRACHELO-DIAPHRAGMATICO,  A, 
adj.  Termo  de  anatomia.  Que  pertence 
ao  pescoço  e  ao  diaphi-agnia. 

f  TRACHELO-DORSAL,  adj.  2  gen.  Ter- 
mo de  anatomia.  Que  pertence  á  região 
tracheliana,  e  ao  dorso. 

—  Nervo  trachelo-dorsal ;  nervo  do 
undécimo  par  encephalico. 

7  TRACHELO-OCCIPITAL,  adj.  Que 
pertence  ao  pescoço  e  ao  occipital.  — 
Artéria  trachelo-occipital. 

f  TRACHEOCELE,  *.  m.  Termo  de  me- 
dicina. Tumor  'ia  ti-achea. 

f  TRACHEOSTENOSE,  s.  f.  Termo  de 
medicina.  Contracção  da  trachea. 

TRACHEOTOMIA'  s.  /.  (Do  grego  íra- 
cheia,  e  temaôK  Termo  de  cirurgia.  Ope- 
ração cirúrgica  em  que  se  estabelece  uma 
communicação  entre  a  trachea  e  O  exte- 
rior por  baixo  da  larvnge. 

TRACHINO,  *.  m.  Termo  de  historia  na- 
tural. Peixe  pertencente  á  ordem  dos  ju- 
gulares, de  cabeça  comprida  pelos  la- 
dos, e  olhos  situados   na   parte  superior. 

TRACHOMA,  s.  f.  Termo  de  medicina. 
Ophthalmia  acompanhada  de  aspereza  da 
superfieie  int'^rna  das  pálpebras. 

I  TRAGHYTICO,  A,  adj.  Que  tem  o 
caracter  do  trachvto. 

f  TRACHYTISMO,  s.  m.  Termo  de  geo- 
logia. Tendência  á  formação  do  trachvto. 

-}-  TRACHYTO,  s.  m.  Termo  de  geolo- 
gia. Clas.<e  feldspathica  de  rochas  vulcâ- 
nicas de  massa  grosseira,  cellulosa,  áspe- 
ra no  toque. 

TRACILHADO.  Vid.  Entrezilhado. 

TRÁCIO.  Vid.  Thracio. 


784 


TRAO 


TRAD 


TRAF 


TRACISTA,  8.  2  <jen.  Pessoa  í|uc  dX 
traças. 

—  Macliinailor,  inventor  de  planou,  al- 
alvitres  c  moios  <lc  obtor  a»  cousas  :  to- 
ma-so  ;l  má  paite. 

—  Alvitrciro. 

TRAÇO,  8.  m.  Uso,  costume,  moda. 

—  i'(;i|;u;o,  ostilhaço. 

—  Linha  (|U('.  tnarua  o  desenho  primei- 
ro na  pintara.  Vid.  Tração. 

TRAÇOM,  s.  f.  Vid.  Tração. 
TRAÇOO;   talvw.  por  Treçô. 
TRACTADO,  part.    pass.    ilo   Tractar. 
Vid.  Tratado. 

—  S.  m.  Vid.  Tratado. 

Que  trartadnK  maiitoi-  fiuom  lois  despreza ! 
Roma  nilo  tinh^  leis  (|iiaii(lo  T;irf|uinio 
Do  cidadãos  romanos  fez  escravos  ? 

OARBKTT,  CATÃO,  ftct.   2,  8C.  2. 

TRACTAMENTO,  $.  m.  Vid.  Tratamen- 
to.—  «E  com  esto  dcscng;ano  se  retirou 
outra  vez  para  Tarrafjona  o  exercito  cas- 
telhano, desmantelando  sAmente  as  forti- 
ficações do  alfruns  loirares  pequenos  que 
estilo  junto  ;i  marinha;  sem  executarem 
hostilidaile  alguma,  nem  nas  pessoas, 
nem  nas  fazendas,  porque  o  seu  intento 
era  ganhar  com  bom  tractamento  os  âni- 
mos dos  catalães,  e  a  este  iini  quasi  to- 
dos os  cabos  do  exercito  eram  naturaos 
da  Catalunha.»  Padre  António  Vieira, 
Cartas,   n."  4. 

TRACTAR,  V.  a.  (Do  latim  tractare). 
Vid.  Tratar. —  «E  dclle  a  corte  do  Rei 
do  Abcxi  desejoso  dachar  modo  de  poder 
comunicar  este  príncipe  per  suas  cartas, 
c  raessageiros  mais  ameude  do  que  o  po- 
dia fazer  per  via  da  índia  pêra  quem  lhe 
deu  cartas  do  credito,  e  instrucçõcs  pêra 
com  cUe  tractar  sobela  guerra  contra  o 
Turco,  e  fortalezas  que  tinha  presoposto 
fazer  na  costa  do  mar  Darabia,  c  da 
Ethiopia.»  Damiiío  de  Góes,  Chronica  de 
D.  Manoel,  part.  4,  cap.  h-^. 

Tractam  ricas  pedrarias, 
sam  muy  grados  mercadores, 
tem  ricas  mercadorias, 
drogas,  especiarias, 
sam  nisso  muy  sabedores. 

OABCIA  DE   REZEXDK,   MISCECLASEA, 

—  «TIe  ha  China  terra  quasi  toda  muy 
bem  aproveitada :  porque  como  ha  terra 
seja  muito  povoada,  a  gente  muita  em 
demasia,  e  os  homens  gastadores,  e  Ira- 
ctando  se  muito  bem  no  comer  e  beber  o 
vestir  e  no  demais  serviço  de  suas  casas, 
principalmente  que  sam  muito  comedo- 
res, cada  hum  tr.ibalha  de  buscar  vida  e 
todos  buscam  diversos  modos  e  maneiras 
do  ganhar  de  comer  e  como  sustentarem 
seus  grandes  gastos.»  Fr.  Oaspar  da 
Cruz,  Tractadn  das  cousas  da  China, 
cap.  10.  —  «A  estes,  o  a  outros  nniitos 
Epithotos,  que  a  cada  passo  se  encontrão 


noB  oscriptos  dos  maiores  engenhos,  dc- 
rão  a  mayor  occasiilo  as  senhoras  Molhe- 
res,  pcllo  desvelado  ai)reço  com  que  sem- 
pre tractarão  esta  prenda  ria  natureza, 
como  o  mais  priniorozo  realce  da  fermo- 
siira;  prosua  liudo-so  com  Apuleio,  0. 
que  a  mesma  Vonus  sondo  imagem  da 
i)(!llcza,  se  fosso  calva,  seria  hum  ospan- 
taliio  lio  ludibrio.»  Hraz  Luiz  d'Abreu, 
Portugal  medico,  pag.  089. 


Ma»,  Sompronio, 
Tu  que  gompro  no  foro,  no  senado. 
No  campo,  em  toda  a  parto  declamaste 
Coutra  mim,  contra  a  fácil  indulgência 
Dos  que  julgam  prudente,  necessário 
TroKtar  c'o  vencedor,  ceder  um  pouco 
Para  não  perdor  tudo,  —  tu  da  plebe 
ídolo,  oráculo,  orador,  —  '(ue  ante  cila 
Uruto  accusas  de  tímido:  e  suspeitas. 
oAURErr,  CATÃO,  act.  1,  8C.  3. 


TRACTO,  s.  ni.  (Do  latim  tractm).  Re- 
gião, espaço  de  terra, 

—  O  tracto  da  missa ;  uma  parte  d'el- 
la,  depois  do  gradual. 

—  O  tracto  do  tempo;  o  espaço  do  que 
vac  passando,  continuação, 

—  Tractos  aéreos. 

—  Aeto  de  tractar.  Vid.  Trato. 
TRACTORIO,  A,  adj.  Termo  do  mccha- 

nica.  Que  diz  respeito  á  tracção. 

—  Linha  tractoria;    linha   de  tracção. 

—  S.  f.  Termo  de  geometria.  Diz-se 
de  uma  curva  cuja  tangente  é  egual  a 
uma  linha  constante. 

TRADEAR,    v.  a.    Furar  com  o  trado. 

TRADIÇÃO,  s.  /.  (Do  latim  fraditio). 
Noticia  que  passa  successivamentc  uns 
aos  outros,  conservada  em  memoria,  ou 
por  cseripto. 

—  Transmissão  de  factos  históricos,  de 
doutrina  religiosa,  legendas,  etc,  de  tem- 
pos em  tempos  por  via  oral,  e  sem  pro- 
vas autheuticas  o  cscriptas. 

—  Os  próprios  factos  transmittidos. 

—  Tradições  judaicas;  as  interpre- 
tações que  os  doutores  judaicos  deram  á 
lei  de  Moysés,  e  as  addições  que  lhe  fi- 
zeram. 

—  Na  egreja  catholica,  transmissão  de 
século  cm  século  do  conhecimento  das 
cousas  que  dizem  respeito  á  religião,  e 
que  não  existe  na  Escriptura  Sagrada, 
A  religião  catholica  é  fundada  na  Escri- 
ptura Sagrai  la  e  na  tradição. 

—  Tudo  o  que  se  sabe  ou  pratica  por 
tradição,  isto  6,  por  uma  transmissão  de 
geração  cm  geração  com  o  auxilio  da  pa- 
lavra ou  do  exemplo, 

—  Figuradamente :  Entrega. 
TRADICIONAL,  adj.   2   gen.    Fundado 

na  tradição. 

—  Que  é  concernente  A  tradição. 

f  TRADICIONALISMO,  .*,  m.  Ligação 
:ls  tradições,  aos  usos  antigos. 

—  Opinião  d'aquelles  que  na  egreja 
catholica  pensam  (pie  a  idêa  do  infinito 
não  é  uma  idòa  inuata,   mas   que   o  pri- 


meiro homem  foi  avisado  por  Detu  da 
presença  c  do  objecto  d'c<ta  idêa,  e  que 
a.«8Ím  informado,  Ad.lo  traiismittiu  a  »eua 
descendentes  a  posfe  o  a  intelligenci» 
dV;lln,  A  corte  do  Roma  rejeitou  o  tra- 
dicionalismo. 

t  TRADICIONALISTA,  #.  m.  Partidá- 
rio do  tradicionalismo. 

—  Na  jjhilosophia  catholica,  dá-se  Mte 
nome  áquellen  que  fazem  depender  o 
pensamento  absoluta  o  unicamente  do 
ensino  e  da  jialavra  que  constituem  a 
tradição. 

i  TRADICIONARIO,  *.  m.  Diz-se  dos 
judeus  quo  explicam  a  í^íscriptura  pelaa 
tradições  do  Talmud. 

—  Por  exteu-ão:  Aquellc  que  negue  o 
passado,  os  preeedente-i  e  as  tra/liçõe». 

I  TRADICIONALMENTE,  adv.  (De  tra- 
dicional, 6  O  sufiixo  ementei).  Segando 
a  tradição. 

TRADITIVO,  A,  adj.  Termo  didáctico. 
Que  vem  por  tradição. 

TRADO,  s.  771.  Verrumão  grande  de 
carpi  líteii". 

TRADUCÇÃO,  $.f.  (Do  latim  traductio). 
Ver.-iào  de  uma  linguagem  em  outra,  tras- 
ladação ou  trasl::ção.  —  tE  pira  o  bom 
governo  do  Reino  fez  leis  mui  proveito- 
sas, e  ordenou  a  tradução  em  lingua  vul- 
gar do  Código  de  Justiniano.  Fez  Me- 
tropolitana a  Sé  de  Lisboa  por  conceesaõ 
do  Papa  Bonifácio  IX.,  e  ornou  com  edi- 
fícios Reaes  os  lugares  do  Reino.»  Frei 
Bernardo  de  Brito,  Elogios  dos  reis  de 
Portugal,  continuados  por  D.  José  Bar- 
bosa. 

—  <^bra  traduzida. 

TRADDCTOR,  A,  s.  Pessoa  que  tradnz 
d'uma  liiigua  para  outra. 

—  Trasia.lador. 

TRADUZIDO,  part.  pass.  de  Traduzir. 
Verti  io  '!'nma  lingua  para  outra. 

TRADUZIDOR,  s.   m.   Vi<l.  Traductor. 

TRADUZIR,  f.  a.  iDo  latim  traducere). 
Fazer  passar  uma  obra  d'uma  lingua 
para  outra.  —  Traduzir  urTia  passagem, 
etc. 

—  Por  extensão :  Explicar,  interpre- 
tar. 

—  Manifestar,  patentear. 

—  Traduzir  um  author;  traduzir  suas 
obras. 

—  Figuradamente  :  Transferir,  trans- 
f  irmar. 

TRADUZIVEL,  adj.  2  gen.  Que  é  pos- 
sível traduzir-se. 

TRAER,  I-.  a.  Do  latim  íra<f«re,  omit- 
tido  o  d\  Vid.  Trair. 

TRAFAGO,  í.  7)1.  Vid,  Trafego, 

TRAFEGAR,  v.  a.  Trasfegar,  lidar,  ne- 
gociar. 

TRAFEGO,  s.  Ȓi.  Negocio,  tr^to  mer- 
cantil, do  que  leva  e  traz  effeitos  com- 
mereiaes  c  retornos  iTelles,  e  de  suas 
permutjições  ou  vendas  e  compras, 

—  Figuradamente :  Trato,  conversação 
dos  homens  da  corte. 


TRAG 


TRACt 


TRAI 


785 


TRAFEGUEAR,  v.  n.  Negociar  com  mui- 
to trf.fepi. 

TRAFEGUEIRO,  s.  m.  Tiçcào  grande 
collocado  no  lar  por  detraz  dos  outros 
que  a  elle  se  arrimam.  Vid.  Trafoguei- 
ro,   e  Trasfogueiro. 

TRAFICANCIA,  s.f.  Trato  do  traficante. 

—  Falta  de  iizura,  traição,  fraude,  en- 
gano. 

TRAFICANTE,  i^art.   act.  de    Traflcar. 

— •  tí.  2  gen.  Pessoa  que  trafica,  que 
trata  em  commercio,  e  vivo  de  indus- 
tria. 

—  Pessoa  fraudulenta,  falta  de  Iizura, 
ou  traiçoeira. 

—  Syx.  :  Traficante,  commerciante.  Vid. 
este  ultimo  termo. 

TRAFICAR,  V.  n.  Chatinar,  exercer  o 
trafego  ou  o  trafico. 

—  Negociar  com  girias,  ardis,  sem  Ii- 
zura, e  fraudulentamente;  illiçar. 

TRAFICO,   s.  m.  Trato,  trafego. 

TRAFOGUEIRO,  ou  TRAFUGUEIRO,  s. 
m.  Viil.  Trafegueiro,  termo  mais  em  uso. 

TRAFGLIM,  s.  m.  Fruta  das  palmeiras 
agrestes. 

-j-  TRAGA.  Forma  do  verbo  trazer  na 
primeira  ou  terceira  pessoa  do  singular 
do  presente  do  modo  conjunctivo.  Vid. 
Trazer.  —  «E  se  per  ventura  estes,  que 
se  assy  partirem  destes,  com  que  assy 
viverem,  e  se  forem  pêra  outros  pêra  vi- 
verem com  elles,  e  frontado  for  a  esses, 
que  03  assy  acolherem,  per  aquelles  com 
que  antes  viviaõ,  ou  outrem  per  seu 
mandado  em  como  se  partirom  delles  le- 
vando-lhcs  o  seu,  que  os  nom  tragam 
mais  comsigo.»  Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit. 
26,  §  2.  —  «Outro  sy  teemos  por  bem, 
que  se  alguns  se  partirem  daquelles,  com 
que  assy  viverem  na  nossa  mercee,  ou 
da  Rainha  minha  molher,  ou  dos  Ifantes, 
sejào  presos  ku  quer  que  os  acharem,  o 
tragaõ-nos  aa  nossa  prisom,  o  d'hy  pa- 
guem o  que  suso  dito  he.»  Ibidem. 

Não  soi  quem  me  isso  a  mi  fraga. 
Eu  irei  ii'um  pé  voando  : 
poia  vós  por  que  uão  pagaes  ? 

ASTONIO  PSESTEII,  AUT08,  pag.   223. 

Pois,  senhor,  a  traga  já ; 
lá  batem,  vedo  se  é  ella. 
Eu  vou  o  capuz  tirar, 
que  carrega  o  mais  que  vi. 
IBIDEM,  pag.  383. 


—  «Succedelhe  mal  a  empreza;  e  ain- 
da que  lhe  succeda  bem,  perde  em  ar- 
mas, cavalios,  e  infantes  mais  de  outro 
tanto,  e  recolhe-se  dizendo :  bella  maré 
levávamos,  se  naõ  se  virara  o  barco.  E 
dado  que  nada  perca,  e  que  traga  huma 
grande  preza,  está  bem  esmada,  c  mal 
baratada.»  Arte  de  furtar,  eap.  5G. 

TRAGACANTHO,  s.  m.  Vid.  Alquitira. 

TRAGADEIRO,  s.  m.  Vid.  Esophago. 
voL.  V.  — 99. 


TRAGADO,  part.  pass.  de  Tragar.  Vid. 
Sorvido. 

TRAGADOR,  A,  s.   Devorador. 

— •  A'ljectivamente  :  O  tempo  tragador 
de  tu. lo.' 

—  Fngo  tragador;  fogo  devorador. 

TRAGÀDOURO,  «.  m.  Sorvedouro,  si- 
tio que  traga,  e  devora  alguma  cousa. 

TRAGAMALHO,  s.  m.  Imposto  pago 
pelos  pescailores  de  Lisboa. 

f  TRAGAES.  Forma  irregular  do  ver- 
bo trazer  na  segunda  pessoa  do  plural  ilo 
presente  do  modo  conjunctivo,  Vid.  Tra- 
zer. 


Eis  Bolem ! 
senhora,  e  a  sua  alvura 
vos  encomendo  em  dotes 
nem  arrhas  voa  peço  ; 
que  esta  filha  me  tragacs 
um  pino  d'om-0. 

ANTÓNIO  PRESTES,   AOT03,   pSlg.    483. 


TRAGAMENTO,  s.   m.  Acto  de  tragar. 
TRAGAR,    V.  a.   (Do  grego  trôgô).  En- 
golir sem  mastigar,  devorar,   consumir. 

—  Figuradamente :  Acquiescer  a,  le- 
var em  paciência,  soffrer.  — Tragar  a 
morte. 

—  Devorar,  consumir.  —  O  incêndio 
traga. 

TRAGE,   s.  ííi.   Vid.  Trajo. 

TRAGEDIA,  *.  /.  (Do  grego  tragõdia). 
Peça  de  theatro  em  verso,  em  que  figu- 
ram pessoas  illustres,  cujo  fim  é  excitar 
o  terror  ou  a  piedade,  e  que  termina  de 
ordinário  por  um  acontecimento  funesto. 
—  A  tragedia  de  D.  Ignez  de  Castro. 

—  Figuradamente  :  ilusa  trágica. 

— ■  Arte  de  compor  tragedias  ;  o  género 
trágico. 

' — Figuradamente:  Successo  funesto. 

TRAGER,  nnt.  Vid.  Trazer. 

TRAGICAMENTE,  adv.  (De  trágico,  e 
o  suíBxo  «mente»).  De  um  modo  confor- 
me á  tragedia. 

—  Figuradamente  :  De  um  modo  trá- 
gico, funesto.  —  Foi  morto  tragicamente. 

TRÁGICO,  A,  adj.  Que  pertence  ú.  tra- 
gedia. —  Um  actor  trágico. 

—  Figuradamente :  Funesto. 


Eu  que  já  me  sentara  c'o  Propheta 
Nos  destroços  da  trágica  Gomorrha, 
Rabylouia  avistei  desde  Corintho. 
Que  Cidades,  outrora  tam  florentes  ! 
Hoje  estrago,  e  ruina !  Magoa,  aos  olhas 
Do  Passageiro,  ou  Nauta,  ao  pôr-lho  a  vista  ! 
Os,  que,  em  bandos,  á  tolda,  ávidos  sobem, 
Vem  Templos  derrocado»,  c  cmraudecem. 

F.   M.    DO   NASCIMENTO,   OS    MABTTRES,   1ÍV.   4. 


—  Alma  trágica;  alma,  homem  occu- 
pado  de  negros  dcsignios. 

—  Caso  trágico;  caso  triste,  funesto. 

—  aS'.  m.  O  género  trágico. 

—  Auctor  de  tragedias. 
TRAGICOMEDIA,  s,  /.  Peça  de  theatro 


que  tem  a  tragedia  por  assumpto  e  per- 
sonagens, e  a  comedia  por  incidentes. 

—  Miscellanea  dramática  moderna  de 
gosto  ridículo  e  monstruoso. 

TRAGICOMICO,  A,  adj.  Que  ó  concer^ 
nente  á  tragicomedia. 

TRAGIDO',  <int.  Vid.  Trazido. 

TRAGIMENTO,  s.  m.  ant.  A  acção  de 
trazer. 

—  Feito,  que  traz  algumas  consequên- 
cias ao  estado  politico,  bom  ou  mau. 

—  Condueta,  procedimento,  porte. 
TRAGO,   s.  m.  O  que   se    bebe  de  um 

só  golpe. 

—  Figuradamente :  O  trago  da  angus- 
tia, da  morte;  o  soffrimento,  o  acto  de  a 
padecer. 

—  Beber  a  tragos;  beber  aos  goles. 

—  No  trago  da  morte;  ao  espirar. 
TRAGUAR.  Termo  antiquado.  Vid.  Tra- 
gar. 

TRAGUINHO,  s.  m.  Diminutivo  de 
Trago. 

TRAGUITO,  s.  m.  Vid.  Traguinho. 

TRAGUS,  s.  ?)i.  Termo  de  anatomia.  O 
pequeno  tubérculo  situado  na  parte  exte- 
rior e  adiante  do  orifício  do  canal  auiú- 
cular,  o  que  se  cobre  do  pellos  ao  passo 
que  os  annos  vão  decorixudo. 

TRAHIR,  L-.  a.  Vid.  Trair,  e  Traer. 

Eu  (rahir! 

Digo, 
Não  declares... 

GABEETT,  CATÃO,  aCt.    1,  SC.    3. 

1 ' )  I-  "Tl     Ah  príncipe, 
Trahir !  Traição  6  crime  que  se  roce 
Por  corações  como  esse  !  E  tu  fizeste 
Tal  injustiça  ao  teu  amigo  !  —  Bárbaro ! 
Imaginaste  que  te  chamei  bárbaro  ! 
IBIDEM,  act.  3,  ac.  7. 


TRAIÇÃO,  .".  f.  (Do  francez  trahison). 
Acto  d'aquelie  que  trahe,  acto  de  uma 
maldade  pérfida. 

—  Perfídia,  entrega  da  fé,  quebra  da 
fidelidade  prpmettida  e  empenhada. 

Carregado,  auorrecido  o  pastor  chama 
Infelico,  e  cruel  a  sua  cstreUa, 
Que  ainda  que  não  ve  causa  do  seu  dano. 
Os  accidentcs  dclle  ja  o  assombrâo. 
Ia  presume  que  Amor  no  liure  peito 
Trau;ão  pérfida,  e  falsa  lhe  ordenaua, 
Atfirmo  o  que  suspeita  e  ja  se  entrega 
De  todo  ao  grauc  mal  deste  recovo. 

COBTF.   BEAL,   NAUFRÁGIO   DE   SEPÚLVEDA,    CaUt.    9. 

A  pérfida  nação  bruta  e  maluada 
Te  loua  para  triste  sacrificio, 
La  tens  morto  cruel  aparelhada 
Cuberta  com  fingido  beneficio. 
Torna,  tomate  atras  desuenturada. 
Que  tens  certa  a  traiçUo  em  tal  hospieio 
Segue,  segue  Lianor  conselhos  sãos, 
Quo  por  hi  á  morte  vas  cair  nas  mãos. 
IBIDEM,  cant.  15. 

—  « Por  isso,  guarde-vos  Deus  de  suas 


786 


TRAI 


TRAJ 


TRAM 


mitos,  que  vos  vejo  mancebo  o  seria  mal 
empregado  cm  vó^  qualqiinr  ilcsastre,  e 
Deus  livro  ao  do  Salvagi^m  do  traição  e 
engano,  d  Francisco  do  Moiacs,  Palmeirim 
d'Inglaterra,  cap.  117.  —  «A  causado 
qual  escândalo  que  EIKey  tinliadelle,  era, 
porque  havia  pouco  tempo  que  mandara 
matar  o  sou  (iovcrnador  líendára,  por  se 
dizer  que  andava  copilaiido  liunia  traiçflo 
pêra  o  matar,  o  se  levantar  com  o  Rcyno, 
o  que  este  Neliodá  era  na  traição ;  c  ;l 
for^-a  de  remo  veio  fugindo  d,i  fúria  d'EI- 
Rey,  e  se  acollieo  a  esto  do  1'odir,  por 
ser  grande  seu  amigo,  o  Barros,  Década  2, 
liv.  G,  cap.  2. —  *E  disse,  que  a  succes- 
sjlo  que  80  abrira  era  falsa,  e  que  nito  es- 
tava assinada  por  ElRey  D.  Jo.^o,  e  que 
ello  estava  do  posso  da  governança,  como 
80  via  por  hum  auto  que  elle  mesmo  Aífon- 
80  Mexia  lho  mandara  a  Malaca;  o  por- 
que o  seu  Ouvidor  geral  lho  disse  que  nílo 
dissimulasse  com  aqmdl.is  cousas,  que 
eram  caso  do  traição,  mandou  logo  Pêro 
do  Mascarenhas  fazer  hum  auto,  cm  que 
ouve  03  Juizes  por  suspensos,  o  prezos  os 
mandou  pêra  suas  casas,  e  a  Duarte  Tei- 
xeira, e  Manoel  Lobato  mandou  logo  lan- 
çar griiliões,  c  03  deixou  ficar  prezos  no 
galeno.»  Diogo  de  Couto,  Década  4,  liv.  2, 
cap.  h.  —  «Proposta  de  (,"ot'ar  ao  Capit.Tlo 
do  Diu.  Reposta  do  Capitão.  Avisa  ao 
Governador,  o  qual  .-ioccorrc  Diu  com 
gente  e  munições.  Traição  intentada  por 
Çofar.  Prevenções  de  D.  Joào  Mascare- 
nhas. Chega  Çofar  com  gente  de  guerra. 
Descripçiio  de  Diu.  Prática  de  Coge  Çofar 
aos  seus.  Insta  de  novo  o  Capitão  de  Diu. 
Reposta  do  Capitão.  O  Governador  man- 
da a  Diu  a  seu  filho  D.  Fernando.»  .la- 
cintho  Freire  d'Andradc,  Vida  de  D.  João 
de  Castro,  liv.  2. 


Occupão  seu  luprar  a  intriga,  c  fraudo, 
Apu(;ào  as  trai;òes  pimhacs  occultos ; 
Ousado  Navofjaiite  as  velas  larfia 
Aos  ainda  ignotos  ventos ;  vciu  dos  montes 
Para  insultar  o  Mar  cavados  Pinhos. 

J.   A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Cant.  2. 


—  A  traição  o  matou ;  matou-o  por  de- 
traz,  sem  defeza  do  morto,  e  não  de  rosto 
a  rosto;  aleivosamente. 

—  Syn.:  Traição,  nieivosia.  Vid.  oste 
ultimo  termo. 

TRAIÇOEIRO,  A,  adj.  Pérfido,  que  com- 
mette  aleivosia  com  mostras  d'amizade ; 
que  atraiçoa. 

—  Que  traz  damno. 

—  Substantivamente :    Um  traiçoeiro. 

TRAÍDO,  part.  })ass.  de  Trair.  Entre- 
gue por  traição,  ou  á  traição,  por  quem 
deve  lealdade  ou  amizade. 

—  Diz-se  d'aquelle  a  quem  se  fez  trai- 
ção. 

TRAIDOR,  A,  s.  Pessoa  que  faz,  ou  fez 
traição. 

—  Adjectivamonte:  Coração  traidor. 


O  qao  vai  por  Miia  nlma,  A  rei?...  Memoria* 
Po  Bolonha  «erftoV  í.agryina  a  lagrynia, 
KM»  sentindo  as  da  infeliz  Matbilde 
No  corai;ilo  traltlnr  caliir-tcr  agora  ? 
Sn  do  vi'ndido  thalaino...  vendido! 
oARRETr,  D.  nRAXCA,  cant.  0. 

—  ADArMos  r.  ruovKumos  : 

—  Para  um  traidor  dous  aleivoBOfl, 

—  Não  vivo  mais  o  leal,  que  quanto 
quer  o  traidor. 

—  Paga-se  o  rei  da  traição,  do  traidor 
não. 

—  Barba  de  três  côree,  barba  de  trai- 
dores. 

—  Do  traidor  farás  leal  com  bom  fal- 
lar. 

TRAÍMENTO,  s.  m.  A  acção  do  trair, 
o  fazer  traição. 

—  Traição. 

TRAIR,  ou  TRAHIR,  ou  TRAER,  r.  a. 
(Do  latim  traiUre).  Fazer  traição,  entre- 
gar :l  traição. 

—  Faltar  á  fé,  atraiçoar,  proceder  com 
aleivosia. 

TRAITA,  8.  f.  Termo  da  província  da 
Beira. — A  traita  da  caça;  a  abalada. 
Vid.  Abalada. 

TRAITE,  í!.  m.  Golpes  do  cardar  lã, 
ou  ]>ani:o  na  pcrclic. 

TRAJADO,  ;K/rí.  jmss.  do  Trajar.  Ves- 
tido de  certa  forma. — Trajado  á  fran- 
ceza. 

TRAJAR,  V,  a.  Vestir,  usar  no  vestido 
do  certas  drogas.  —  Trajar  sedas. 

—  Trajar-se,  i'.  re.jL  Vestir-se  em  tra- 
jos. —  Trajar-se  bem. 

—  V.  n.  Vestir-se.  —  Flste  homem  traja 
á   ingleza. 

TRAJE,  .«.  m.  Vid.  Trajo.  —  «Achou 
por  suas  inculcas,  que  tinha  a  senhora 
luim  Confessor  Religioso,  a  quem  dava 
credito,  e  obediência  por  sua  virtude,  e 
letras.  Pregava  este  certa  fi-sta  do  con- 
curso, vestiose  o  ladraõ  do  traje  humilde, 
o  rosto  penitente,  e  fez-se  encontradiço 
com  elle  hindo  para  o  púlpito.»  Arte  de 
furtar,  cap.  1. 

TRAJECTO,  s.  m.  (Do  latim  trajectus). 
Passagem  ou  travessa  de  porto,  ou  costa 
a  costa.  —  Este  facto  aconteceu  durante 
o  trajecto. 

TRAJEITADOR,  s.  m.  Vid,  Tregeitador. 

TRAJO,  .«.  m.  ()  vestido  de  que  al- 
guém se  servo  acc  anmodado  ao  seu  es- 
tado, ou  a  alguma  moda.  —  Trajos  do- 
mésticos. —  a  O  Condo  Flavinio  escapou 
em  trajos  muilados,  para  vir  a  pagar 
sua  culpa  mais  afrontosamente,  como  ve- 
remos a  seu  tempo.  •  Monarcbia  Lusita- 
na, liv.  7,  cap.  27.  —  «Os  quaes  como 
saõ  mestiços  no  sangue  assi  o  saõ  na 
crença,  e  logo  saõ  conhecidos  nos  custu- 
mes,  no  trajo  e  na  pessoa,  de  que  ha  taõ 
grande  numero  que  he  a  quarta  parte  da 
gente.»  Barros,  Década  1,  liv.  9,  cap.  3. 
—  «E  fez  sua  salva  com  pouco  estrondo 
de  artilharia,  ao  que  logo  de  terra  vie- 
raõ  dez  ou  doze  almadias  com  mujto  re- 


fresco, e  comtndo  e«tranhando-niM,  e  ven- 
do no  nosso  trajo  e  a«j)oito  ouo  nío  era- 
moH  Simos,  nem  Jao«,  nem  Malavo»,  nem 
outras  nações  que  ja  tinhSo  ^-ÍHtaí,  dÍ8se- 
rão,  tSo  proveitoca  nos  peja  a  toilon  a  al- 
vorada da  fresra  manliam,  quão  bem  as- 
sombrada parece  CJita  tarde  na  presença 
do  que  temos  diante  do*  olhou. •  Femio 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.  48. 
—  «E  porque  naõ  se  atrevia  a  viver  en- 
tre Cbristaõs,  cõtinuava  naquella  de»- 
avoíitura  ató  que  Dbos  a  lova-se  a  terra 
onde  acabasse  seus  dias  cõ  fazer  peniten- 
cia da  vida  passada.  Mao  que  ainda  que 
a  vissemo»  aly  daquella  mano_\Ta,  e  na- 
quclles  trajos  do  diabo,  nunra  deixara 
de  ser  verdadcyra  CliristS.»  Ibidem,  c-ap. 
lt)2.  —  «E  he  taõ  grande  o  numero  d<.'8- 
tas  alimárias  que  mataõ,  que  carregaS 
dalli  todos  os  annos  muitos  juncos  de 
seus  pellames,  e  os  levaõ  a  Japaõ,  aonde 
fazem  muito  proveito,  porque  daqucllas 
pelles  fazem  muitos  trajos,  qaímoens,  e 
outras  cousas  muito  lavrada«,  como  cada 
dia  vemos  trazer  h  índia,  de  <^e  faxem 
formosos  caparazoens,  bastardas,  coars«, 
e  outras  curiosidades,  porque  8ai5  as  pel- 
les fermosissimamente  lavradas. •  ]>iogo 
de  Couto,  Década  6,  liv.  7,  cap.  í).  — 
«Com  grando  estrond»)  de  artelharia  que 
tiraua,  e  trombetas,  atabnles,  e  mcids- 
tres  alt')s  que  tangião,  o  ci>m  muytas  gri- 
tas, e  aluoroços  de  muytos  apitos  de  mev 
três,  contramestres,  e  marinheiros,  vesti- 
dos de  brocados,  e  seJas  com  trajos  da- 
lemães,  e  os  bateis  cheyos  de  tochas,  e 
muytas  vellas  dourada.^  acesas,  com  tol- 
dos de  brocado,  e  muytas  e  ricA-s  ban- 
deyras.»  Damião  de  Ooes,  Chronica  de 
D.  Manoel,  cap.  127. 

—  Syx.  :  Trajo,  veste.  Vid.  este  ultimo 
vocábulo. 

TRALHA,  .'.  /.  Talvez  o  mesmo  que 
malha . 

—  Tralha  da  rede ;  o  espaço  entre  a 
borda  d'ella  e  a  corda  d'onde  pendem 
os  chumbos,  ou  pesos  e  cortiças. 

—  Escapou  pela  tralha  da  rtde ;  es- 
capou difficilmente. 

—  Uma  rede  de  pescar  com  que  pesca 
um  8('>  homem. 

TRALHADO,    part.  pats.  de   Tralhar. 

--  .'^.   m.  Termo    antiquado.  Traslado. 

TR.\LHÂO,  í.  m.  Vid.  Taralhão. 

TRALHAR,  v.  a.  Pôr  a  tralha  á  rede, 
ou  a  corda  que  faz  a  tralha. 

TRALHO,  s.  V).  Rede  pequena  de  pes- 
car. 

TRALLAÇAO,  .«.  /.  Vid.  Trasladação 
dos  n.tfiis.  ou  c^dnrer. 

TRÃ.  Abreviatura  de  Terra. 

1.'  TRAMA,  .«.  /.  Do  latim  trama).  O 
fio  com  que  se  tece  o  panno,  e  anda  na 
lançadeira,    por  entre  os  fios  do  ordnme. 

—  Soda  mais  grosseira,  que  os  fiabri- 
cantes  de  meias  de  soda  misturam  com  a 
melhor,  ou  com  o  cí>tarabre. 

—  Figuradamente:  O  tecido,  textura. 


TRAM 


TRAN 


TRAN 


787 


— ■  Tramóia,  enredo. 

2.'  TRAMA,   «.  /.   Inchaço;  doença. 

TRAMADOR,  A,  s.  Pessoa  que  trama, 
que  tece. 

TRAMAGUEIRA,  s.  f.  ViJ.  Tamar- 
gueira. 

TRAMAR,  V.  a.  Tecer  a  ordidura.  Vid. 
Trama. 


Que  me  diz,  Padre  Mestre?  Está  zombando! 
(O  Dcaõ  aturdido  lhe  replica) 
Em  urdir  e  tramar  uma  só  tea 
Dez  aunos  consumia  a  tal  Madama  ; 
E  diz-me  que  foi  grande  Tecedeira  ? 
A.  n.  DA  CBCZ,  HTSSOPR,  cant.  5. 

—  Figuradamente  :    Tramar    enganos. 

—  Syx.  :  Tramar,  ordiv,  Yid.  este  ul- 
timo vocábulo. 

TRAMAZEIRA,  ou  CORNOGODINHO, 
s.  m.  Termo  de  botânica.  Arvore  media- 
na, que  se  encontra  nas  nossas  serras  do 
Gerez  e  da  Estrella. 

TRAMBOLHADA,  s.  /.  Trambolho. 

TRAMBOLHÃO,  s.  m.  Grande  trambo- 
lho. 

—  Termo  popular.  Tombo  do  que  vae 
rolando. 

—  Loc. :  ÂwJar  aos  trambolhões  ;  an- 
dar aos  tombos,  rolando  ás  quedas. 

TRAMB0L3AR,  i-.  n.  Embaraçar-se 
fal  lande. 

TRAMBOLHO,  s.  m.  Cepo  que  se  põe 
aos  animaes  domésticos,  para  nào  se  des- 
viarem para  longe. 

—  Figuradamente :  Trambolho  de  cha- 
ves;  grande  ramal  d'ella3,  que  se  trazem 
eutiadas  á  cinta. 

—  Enfiada,  ramal  de  cousas. 
TRAMBULHO,    «.  m.    Vid.  Trambolho. 
TRAMELA,   s.  f.  Vid.   Taramela,  ter- 
mo mais  usado  e  mais  correcto. 

TRAMELAGA,  s.  /.   Vid.  Tremelga. 
TRAMITE,   í.   m.  'O    caminho    com    di- 
recção para  certos  pont.'S. 

—  Plur.  Figuradamente  :  Os  meios,  e 
03  termos  determinados. 

—  Tramite  da  lei;  a  ordem,  os  actos 
marcados  pela  lei. 

TRAMOÇADA,  s.  f.  Grande  quantida- 
de de  tramoços. 

—  Figuradamente  :  Multidão  de  cou- 
sas taes  como  tramoços. 

TRAMOÇO,  s.  f.  Vid.  Tremoço. 
TRAMÓIA,  ou  TRAMOYA,   s.  f.  Enre- 
do, ardil,  engano. 

—  Machinarias  de  theatro. 

—  Uma  certa  renda  de  pontos  lar- 
gos. 

TRAMOLHADA,  s.  f.  Terra  lenteira,  ou 
moUe. 

TRAMONTANA,  s.  f.  O  vento  do 
norte. 

—  Figuradamente  :   O  rumo  do  norte. 

—  Figuradamente :  Perder  a  tramon- 
tana ;  perder  o  norte,  o  governo,  o  modo 
de  reger-se  bem,  desnortear-se,  desorien- 
tar. 


TRAMONTANO,  A,  adj.  e  s.  De  Traz- 
os-Montcs. 

—  Ultraniontanos. 

TRAMONTAR,  i;.  n.  PGr-se  o  sol  atraz 
dos  miiuttís.  Vi.l.  Trasmontar. 

TRAMOCEIRO,  s.  ra.  Vid.  Tremoceiro. 

TRAMPA,  s.  /.  Termo  indecoroso.  Ex- 
cremento grosso,  fétido. 


Esse  escudeirinho  trampa 
acolhido  e  não  por  lampa, 
todo  fidalgo,  em  dom  nada, 
gabou-voâ  \-ida  casada  ? 
Jesu  !  tra-la  por  estampa. 

ASTOSIO  PUESTES,  ADTOS,  pag.  119. 

—  Outr'ora  significava  fraude,  engano 
doloso,  enredo,  burla.  —  «  Armou  suas 
trampas,  e  galazias  aos  pobres  Ciiristãos, 
como  elles  sempre  costumào,  confiscou- 
Ihe  as  fazendas,  sem  razam,  e  justiça,  e 
porque  a  quiserão  defiender,  os  mandou 
matar  a  todos.»  Fr.  Gaspar  de  S.  Ber- 
nardino, Itinerário  da  índia,  cap.  13. 

TRAMPÃO,  ONA,  adj.  Que  usa  de  tram- 
pas, enredos,  dolos,  fraudes. 

—  Doloso,  frauduloso,  fraudador. 

—  Substantivamente :  Um  trampão. 
TRAMPEADOR,  A,  adj.  e  s.  Vid.  Tram- 
pão. 

TRAMPEAR,  i-.  a.  Usar  de  trampas 
com  alguém. 

—  V.  n.  Enganar  como  o  trampão. 
TRAMPISTA,  adj.  2  gen.  Trampão,  fal- 

lando  dos  maus  advogados. 

—  Fraudador,  burlão,  caloteiro,  illiça- 
dor. 

—  Substantivamente :    Um  trampista. 
TRAMPOLINA,    s.  f.    Termo    popular. 

Engano,  velhacada,   treta. 

—  Taboa  de  volatins. 

TRAMPOLINEIRO,  A,  «.  Termo  popu- 
lar. Pessoa  que  usa  de  trampolinas;  tra- 
paceiro. 

TRAMP  O  SÃMENTE,  adv.  (De  trampo- 
so,  com  o  suíBxo  ameníe»).  De  um  modo 
tramposo. 

—  Com  trampas. 

TRAMPOSO,  A,  adj.  e  s.  Trampista, 
enredador  no  foro. 

—  Enganador,  velhaco. 

—  Substantivamente:  Um  tramposo. 
—  «Porque  tudo  isso  saõ  invençoens  de 
alguns  trãposos  a  que  as  tristes  das  par- 
tes chamào  procuradores,  mas  averiguào- 
se  com  provas  claras,  e  de  testemunhas 
tementes  a  Deos,  nas  quaes  o  julgador 
se  funda,  se  faz  o  que  deve,  e  por  ellas 
julga  o  que  com  razão  se  deve  julgar. » 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações, 
cap.  102. 

TRANAR,  1-.  a.  (Do  latim  tranare). 
Nadar  além,  passar  nadando  de  uma  par- 
te á  outra. 

TRANCA,  s.  /.  Travessa  de  pau,  com 
que  se  fecha  a  porta  por  dentro. 

—  Loc.  POP.:  Dar  ás  trancas;  fugir, 
correr. 


—  Cousa  que  impede  atravessando-se. 
TRANCADO,   part.   pass.  de    Trancar. 

—  Portas  trancadas. 
TRANCAFIAR,  i-.  a.  Termo   de  mari- 
nha. Amarrar  com  trancafio. 

—  Figurada  e  popularmente  :  Encar- 
cerar. 

TRANCAFIO,  s.  m.  Termo  de  marinha. 
Cordinha  de  dous  fios ;  guita  ou  cordel 
com  que  se  ligam  as  pontas  de  uma  cor- 
da de  duas  pernas  para  se  não  desfazer 
ou  destorcer. 

TRANCAR,    V.  a.  Fechar   com   tranca. 

—  «Em  minha  casa  estou  eu  trancado, 
porque  quem  naõ  se  tranca  no  dia  de 
hoje,  não  vive  seguro :  e  estou  tirando 
devaças,  que  taes  as  soubera  tirar  a  jus- 
tiça delRey,  que  deve  de  andar  dormin- 
do, pois  nào  dá  fé  do  que  olhos  fechados, 
e  trancados  vem.»  Arte  de  furtar,  capi- 
tulo Õ3. 

—  Atravessar,  dar  com  força. 
TRANCARRUAS,  s.  m.  O    valentão  ar- 
mador. 

— -  Homem  que  vae  atravessando  a  rua 
de  uma  calçada  para  outra. 

—  Cavalío  guiuador,  que  dá  guinadas. 

—  Cavallo  trancarruas ;  cavallo  que 
nào  segue  direita  estrada. 

TRANÇA,  s.  /.  (Do  francez  trasse). 
Cousa  trançada.  —  A  trança  do  cabello. 

Ninfas  destes  vizinhos  arredores. 
Que  tão  altivas  presumis  de  belas, 
Cubrindo  os  vultos  de  custosas  telas, 
Ornando  as  tranças  de  festões  de  flores. 

1.   X.   DB  XATTOS,  SIMAS. 

Cinge  a  cândida  veste,  e  deixa  ao  vento 
Que  nos  horabros  fencrespe  as  áureas  tranças 
Sem  arte  bellas  mais  ;  que  a  Natureza 
Em  ti  só  basta,  que  no  Edem  foi  tudo 
A  mui  credida  Mày :  eia  observemos 
Liquido  campo  azul,  qu'a  vista  illusa 
Co  "os  arqueados  Ceos  confunde  e  pega. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  SATCEEZA,  Cant.  3. 

TRANÇADEIRA,  s.  f.  Fita  de  trançar 
o  cabello. 

1.)  TRANÇADO,  ^jarí.  pass.  de  Tran- 
çar. Entrelaçado.  Vid.  Arnez  trançado. 

•2.)  TRANÇADO,  s.  m.  O  cabello  feito 
em  trança. —  «Cavalgadas  em  elles  co- 
mo homens,  e  em  o  vestido  nao  tem  dif- 
ferença  delia,  somente  na  cabeça  trazem 
huns  gravins  com  trançados  por  detrás, 
e  no  rosto  rebuço.  E  diante  entre  ellas, 
e  o  arçaõ  humas  almofadinhas  de  cetim 
sobre  que  se  vaõ  debruçando  por  gentile- 
za.» António  Tenreiro,  Itinerário,  capi- 
tulo 17. 

—  A  fita  de  trançar  o  cabello. 
TRANÇAR,  v.  a.  Dispor,  ou  entrelaçar 

três  ou  quatro  porções  de  cabello,  ou 
pernas  de  qualquer  seda,  linha,  etc,  de 
maneira  que  fiquem  travadas  entre  si,  e 
talvez  com  fitas,  entrelaçando  umas  por 
outras.  — Trançar  obras  de  metal. 

1.)  TRANCE,    ou  TRANSE,  s.  m.   (Do 


788 


TRAN 


TRA?r 


TRAK 


francoz  nntrnnce).  Aperto,  prdHSana  guer- 
ra, e  fac(;rio  arriscai  la. 

—  Apertado  contlicto. 

—  Li)Cu^'ílo  de  cavallariíi  andante  :  Cont- 
bater-se  a  todo  o  trance ;  coinbatur-so 
até  á  morte,  ou  03  extremos  da  vida,  e 
com  todo  o  género  do  armas,  lança,  es- 
pada, etc. 

—  Dava-se  também  este  nome  ao  duel- 
lo  quo  SC  fazia  por  ostentação  de  valor. 

2.)  TRANCE,  on  TRANSE,  s.  m.  Tra- 
balho com  modo,  o  aiifíustia. —  «De  ma- 
neira quo  antes  que  Amire  de  Vaseon- 
cellos  chcjíassc  passou  seu  irmam  Mifjuel 
da  sylua  todo  este  trance,  em  que  o  fez 
úovao  mui  esforçado  cauallciro,  achousse 
neste  negocio  hum  André  Pircz  natural 
de  Coimbra  que  saUio  delle  muito  uial 
ferido,  o  Matheus  sanches,  03  mortos  fo- 
ram 03  que  dixe.  »  Damião  de  Gocs, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  4,  eap.  46. 

—  Angustia,  aperto,  afflicç.MO.  —  «  E 
estando  assi  todos  neste  trabalhoso  tran- 
ce, chegarão  a  nós  seis  de  cavallo,  c 
vciulonos  assi  nús,  e  sem  armas,  e  cos 
joelhos  em  terra,  e  duas  molheres  mor- 
tas diante  de  nós,  ouverão  tamanha  pie- 
dade, que  voltando  os  quatro  delles  i)ara 
a  geato  do  pé  que  vinha  atrás,  os  fizcraõ 
ter  a  todos,  sem  consentirem  que  nenhnm 
nos  lizesse  mal.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  138. 

—  Ultimo  trance  da  vida;  termos 
à'ella,  03  iiltimos  dias  do  agonisante.  Do 
mesmo  modo  se  diz  supremo  trance. 

—  Trance  da  fortuna ;  adversidade. 
TRANCELIM,    s.   m.  Trançado   estreito 

de  tios  de  soda,  ou  metal,  para  prender 
bentinhos,  para  lavores  sobrepostos,  etc. 

TRANCINHA,  s.f.  Diminutivo  de  Tran- 
ça. Pequena  trança. 

TRANCO,  í.  "i.  Salto  largo  que  o  ca- 
vallo dá,  e  pára  logo. 

—  .fios  trancos ;  depressa,  mas  não  se- 
guidamente. 

TRANGOLA,  s.  m.  Homem  de  longo 
corpo,  feio,  macilento,  descorado. 

TRANGULA,  s.  /'.  Vid.  Adorno. 

TRANQUA,  s.  /.  Vid.  Tranca.  —  «Os 
quaes  junto3  deram  nos  mouros  com  tan- 
to Ímpeto,  que  teuerão  os  outros  tempo 
pêra  se  recolher  na  cidade,  foi  isto  tam 
trauado  quo  nara  ouue  mais  tempo,  por 
nam  poderem  fechar  ha  porta,  que  cor- 
rerem ha  tranqua  ate  meo,  o  que  fez  Rui 
Martinz,  que  foi  o  derradeiro  que  entrou, 
e  isto  com  tanto  esforço,  que  dizendo  lhe 
Fero  Leitam,  o  Diogo  Banha,  que  corres- 
se ha  tranqua  toda.»  Damião  de  Ooes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  49. 

TRANQUEraA,  s.  /.  Cerca  de  madeira, 
estacada,  paliçada  para  fortificar,  e  tor- 
nar defensável  algum  posto,  ou  para  car- 
ro. -^«El  Rei  sabendo  como  a  tranquei- 
ra da  banda  da  mesquita  era  entrada,  veo 
sobro  hum  Elephautc  acudir  aos  seus,  mas 
vendooâ  vir  desbaratados  se  tornou  pêra 
03  paçO^,  com  mais  de  três  mil  soldados 


que cònuigo  traria.  «Damiflo de  G0C8,  Ohro- 
nica  de  D.  Manoel,  |<art.  ."),  cap.  11.  — 
«E  hell;i  luinia  seiuintia  pcra  o  poço  com 
ponte  ievailiç;i,  na  qual  ícruintia,  e  per 
toda  a  tranqueira  mani|.)ti  lazer  basti- 
lliòes  de  tfítra  e  nelle»  poer  artilheria, 
do  quo  el  Rei  de  Cananor  vio,  e  conhe- 
ceo  bem  que  Lourenço  de  Rrito  era  ja 
anisado  de  sua  determinação.»  Ibidem, 
part.  2,  cap.  IG. —  «Vondoase  Louien- 
ço  de  15rito  nesto  trabalho  determinou  de 
mandar  hum  seu  »obrinh<i  fora  da  tran- 
queira, jjera  tomar  lingoa,  ou  algum  man- 
tinieiito,  se  per  desastre  o  podesse  auer, 
e  com  elle  entre  outras  pessoas,  que  se- 
riam ate  trinta,  foram  Fi^rnam  Tcrez 
Dandrade,  Pêro  Fernandez  Tinoco,  Fran- 
cisco Serram,  (Jonçalo  Vaz  de  (toes.» 
Ibidem,  cap.  17.  —  «O  que  Afonso  dal- 
buipierquc  passara  em  Calaiate,  arre- 
ceandoso  que  quisesse  também  delle  auer 
mantimentos,  ou  alfifum  outro  tributo  se 
fez  forte  com  tranqueiras,  cauas,  o  gen- 
te.» Ibidem,  cap.  81.  —  «A  guanla  de 
Benastarira  deu  a  (larcia  de  sousa  onde 
se  fez  outra  tranqueira  como  a  do  passo 
do  vao,  e  no  mar  pos  pcra  segurança  do 
passo,  Aires  da  aviva  no  seu  nauio.»  Ibi- 
dem, part.  3,  cap.  5.  — •  t  A  primeira 
tranqueira  que  se  ganhou  fui  pela  banda 
da  puuoação  grande  da  cidade  por  Afon- 
so Dalbuquerque  leuar  mais  companhia 
que  03  que  combatiam  da  banda  da  mes- 
quita, que  logo,  posto  que  com  muito  tra- 
balho fez  recolher  os  imigos  pêra  boca 
de  huma  das  ruas  principaes,  onde  se 
tiueram  aos  botes,  defendeudosse  mui  es- 
forçadamente.» Ibidem,  cap.  18. —  «Após 
o  que  mandou  naquella  noite  fazer  huma 
tranqueira  na  ponta  da  enseada,  que  era 
o  mesmo  lugar  onde  Lopo  soarez  deter- 
minaua  fazer  a  fortaleza,  a  qual  tran- 
queira amenheceo  acabada  com  bom  qui- 
nhani  de  bombardas  de  ferro,  e  espingar- 
d3a»,  e  muita  gente  que  a  guardaua.» 
Ibidem,  part.  4,  cap.  32. —  «Antes  que 
António  correa  chegasse  a  esta  tranquei- 
ra a  mandou  espiar  em  hum  barqueto 
per  George  mesurado,  que  lhe  trouxe  no- 
nas que  nella  auia  muita  gente,  e  que 
lhe3  ouuira  dizer  que  cstiuessem  alerta, 
porque  os  Portugueses  auiam  de  ir  so- 
brelles.»  Ibidem,  cap.  Õ2.  —  «O  que  sa- 
bido mais  03  delles  o  foram  ver  a  nao  en- 
cubertamente,  com  medo  do  Tyrano  que 
se  emposara  do  regno,  dandolhe  logo 
obediência  como  ha  seu  verdadeiro  Rei, 
o  senhor,  destes  soube  Ueorge  dalbuquer- 
que como  o  Tirano  geinal  fezera  huma 
tranqueira,  com  sua  caua  muito  forte, 
junto  da  pouoaçam  grande  huma  legoa 
pelo  rio  acima.»  Ibidem,  cap.  66.  —  «Na 
qual  detença  quando  dom  Lourenço  che- 
gou á  tranqueira,  já  achou  muito3  ho- 
mens ante  si  ás  lançadas  com  os  Mou- 
ros, onde  onuo  huma  mui  crua  contenda, 
huns  por  subir,  e  mitros  por  defender  a 
subida:  e  entre  o  sangue  e  fúria  de  que 


todos  andauSo  cubertos,  era  tamanha  a 
fumaça  da  artelharia,  que  »e  nlo  vilo 
huns  aos  outros  ;  no  qual  tempo  andauSo 
ja  todos  de  enuolta,  haú  os  que  vinhio 
com  o  Viso-Rey  o  Trista»  d'Acunha,  co- 
mo 08  que  furão  diante  com  hcus  lilliof.» 
Barros,  Década  2,  liv.  1,  cap.  6.  — 
«(Jarcia  de  Sou^a  também  no  pusHo  onde 
elle  cstiua,  por  ser  o  macs  principal,  ti- 
nha feito  Luoia  groti>a  tranqueira,  de 
que  defendia  aquelle  lu^ar:  e  puiito  quo 
corressem  ali  muitos  iiourof,  tãto  ob  Can- 
sou que  tomarã^j  jior  remédio  pôr  fogo  á 
tranqueira.  A  qual  couio  começou  arder, 
e  não  o  podendo  a  pente  sofrer,  rccollico- 
se  já  com  seu  irm.uo  Pêro  de  .Sousa  morto, 
c  muita  gente  ferida.»  Ibidem,  liv.  õ,  cap. 
15.—^  «Porque  como  a  pente  despoís  que 
se  esfriou  da  furia  de  pelejar,  nSo  se  che- 
gaua  bem  A  obra  daquella^  tranqueiras 
que  queria  fazer,  assi  por  razão  do  tra- 
balho ser  mui  grande,  como  o  ardor  do 
sol  cò  que  os  que  andauão  em  pê  erSo 
já  no  espirito  tão  decepado»  c  mortos 
como  aquelles  que  o  forão  naquella  pe- 
leja, e  sobretudo  neniium  tiniia  comido 
aquelle  dia.»  Ibidem,  liv.  6,  cap.  4.  — 
« Patc  Quetir  porque  quandu  a  sua  gen- 
te vinha  commetter  a  tranqueira  rece- 
bia mais  damno  do  camelo,  e  peça?  dee- 
ta  barcaça,  por  varejarem  ao  longo  del- 
ia, que  dos  fsjiingari!eiro3  de  Affonso 
Pessoa.»  Ibidem,  liv.  9,  cap.  1.  — «Vis- 
ta a  fortaleza,  que  já  estava  despejada 
de  todo,  e  tornado  ás  náos,  ao  outro  dia 
começou-se  de  pôr  mãos  á  obra  com  tan- 
ta diligencia,  que  quando  veio  quarta 
feira  de  Trevas,  estava  feita  huma  tran- 
queira, que  os  da  Cidade  não  podiam 
entrar  por  aquella  porta,  e  os  nossos  fita- 
vam com  a  serventia  do  mar,  sem  pode- 
rem ser  impedidos,  porque  a  tranqueira 
era  forte  e  defensável  com  a  artilheria, 
que  tinha.»  Ibidem,  liv.  10,  cap.  3.  — 
«03  nossos  os  foram  seguindo  até  darem 
com  as  tranqueiras  das  bocas  das  ruas, 
e  com  aquella  furia  com  que  hiam,  pon- 
do-lhe  03  peitos,  abalroaram  por  tudo 
até  a3  cavalgarem,  e  entrarem  a  Cidade, 
em  que  fizeram  grandes  estragos.»  Dio- 
go de  Couto,  Década  4,  liv.  6,  cap.  9. 
—  «D.  Rodrigo  mandou  diíer  ao  Capi- 
tão que  a  tranqueira  ficava  ta5  descu- 
berta  ao  muro,  que  lhe  tinhaõ  ferido  os 
mais  dos  companheiros  sem  lhes  elle  po- 
der valer.  O  Capitão  o  mandou  recolher, 
do  que  o  Rev  de  Geilolo  mostrou  gran- 
de alvoroço,  c  fez  grandes  algazarras  dos 
nniros.»  Idem,  Década  6,  livro  9,  capitu- 
lo 11. 

—  FaUar  de  tranqueira ;    fallar   f^ra 
do  perigo,  em  salvo,  roncar  em  salvo. 

—  Tranqueira  de  pedra. 
TRANQUEIRO,  s.    m.  Pau  que    sustém 

no  meio  o  pau  lavra-lo.  que  se  vae  abrir 
em  taboas    com   serra   braçal :    no   tran- 
qufiro  SC  arrocha  c  segura  na  serraria. 
TRANQUETA,  s.  f.  Ferro  chato,    que 


I 


1 


TRÀN 


TRAN 


ÍRAN 


789 


coWido,  levantando-se,  ou  abrindo-se  abre 
e  fecha  a  porta  ou  a  ianella. 

f  TRANQUEYRA,  s.'f.  Yid.  Tranqueira. 
—  dE  querendo  el  Rsy  aproveitarse  da 
boa  fortuna  deste  suecesso,  como  homem 
desejoso  da  vitoria,  mandou  abrir  logo 
com  rauvta  presteza  aa  portas  da  tran- 
queyra,  e  sayndo  ao  campo  com  alguma 
parte  dos  seus,  pelejou  cos  inimigos  tão 
esforçadamente,  que  os  pús  a  todos  em 
desbarato.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pere- 
grinações,  cap.  26. 

TRANQUIA,  s.  /.  Cerca  de  paus  om 
distancia  uns  dos  outros,  e  atravessados 
para  atalliar  a  um  passo. 

TRANQUIBERNIA,  «./.  Termo  popular. 
Esperteza,  ti-ampolina,   fraude. 

TRANQUILHA,  s.  f.  No  jogo  dos  paus, 
é  o  que  em  uma  das  fileiras  não  faz  au-" 
guio,  e  com  o  qual  se  derribam   poucos. 

—  Peça  do  manejo  com  que  se  aperta 
o  cavai  lo. 

—  Levar  as  cousas  por  tranquilha ; 
por  meios  indirectos  e  talvez  illegitimos. 

TRANQUILLAMENTE,  adv.  (De  tran- 
quillo,  e  o  suffiso  «mente»).  De  um  mo- 
do tranquillo. 

—  Com  tranquillidade. 

—  Dormir  tranquillamente  ;  dormir 
sem  alteração,  sem  turbação  do  animo 
repousado. 

TRANQUILLAR,  v.a.  Termo  pouco  em 
uso.  Socegar,  fazer  quietfU",  pôr  em  des- 
canço. 

TRANQUILLIDADE,  s.  /.  (Do  latim  tran- 
quillitas).  Quietação,  repouso. 

—  Inacção  do  corpo,  repouso  do  espi- 
rito não  alterado. 

—  Syn.  :  Tranquillidade,  (-[inetação. 
Vid.  este  ultimo  termo. 

TRANQUILLISAR,  ou  TRANQUILLIZAR, 
V.  a.  Aquietar,  socegar,  pacitiear. 

TRANQUILLO,  A,  adj.  (Do  latim  tran- 
qiiillus).  Quieto,  socegado. 


Vinha  a  morto,  qual  vem  tranquillo  somuo, 
E  cortava  sem  dor  da  vida  o  fio, 
Antea  que  o  duro  cataclrsmo,  ou  golpo 
Do  bra(,o  vingador  cobrisse  a  Terra 
De  hum  sem  limites  túrbido  Oceano. 
J.  A.  DE  iu.ci:do,  ugdixação,  caut.  1. 

Do  espectador  tranquillo  á  mente,  aos  olhos 
Gom  toda  a  pompa  a  Natureza  falia ; 
Eutào,  daa  Musas  dom,  se  aviva  o  Estro. 

IDEM,  A.  KXXUKEZA,  Caut.   1. 

Tal  to  succede,  Alcipe,  quando  deixas 
O  aaylo  eucautador,  oude  do  Estio 
Passas  tranquilla  os  fatigantoa  dias 
Vendo  correr  o  Tejo. 

IBIDEM. 


Ho  de  tristes  catástrofes  origem  ; 
Sorve  os  baixeis,  quha  pouco  aos  pátrios  lares 
Sobre  a  espádua  traiiquUla  a  estrada  abrirão : 
Terrivol  Sceua,  que  o  Cantor  de  Mantua 
Com  pincéis  immortaes  foz  vêr  ao  Mundo. 
iBiosH,  cant.  2. 


Corra  a  admirar-to  o  Idolatra  do  Luio ; 

Eu  tranquillo  Filosofo  só  posso 

Do  Capitólio  nos  dispersos  membros 

Lêr  a  triste  Inscripção  d"orgulho  humano, 

E  sepultada  nas  caladas  cinzas, 

Da  immensa  mole  nos  dispersos  restoa, 

A  imagem  descobrir  da  Idade  de  Ouro. 


Assim  dos  fructos  se  ápaseontào  ledos 

Qu'a  terra  a  todos  mãy,  produz  a  todos  •, 

Na  tranquilla  familia  as  Leis  promulga 

Império  p.atornal,  de  Impérios  norma 

{yu'hum  Rei  ho  Pai  oommum,  fumilia  o  Povo). 

IBIDEU. 


Do  fértil  Campo  habitador  tranquillo, 
Era  justo  sem  Leis,  recto  sem  medo  ; 
Era  a  iunoceucia  escudo  impenetrável. 


Nas  duras  costas  dos  baixeis  3'cncrava, 
Donde  tirada  o  Gabinete  enfeita 
Do  tranquillo  amador  da  Natureza. 
Ah!  não  te  assombres  da  cruenta  guerra. 
Que  ferve  accesa  nos  equoreos  monstros. 
IBIDEM,  cant.  3. 


—  Animo  tranquillo ;  animo  repousado, 
socegado,  não  agitado. 

—  Vida  tranquilla ;  vida  sem  trafego, 
sem  trabalhos,  fadiga. 

—  Coraqão  tranquillo;  sem  aíFectos. 
t  TRANQUITANA.  Vid.  Traquitana. 

Oh  nâo  praza  ó  cordavâo, 
Nem  á  puta  da  bad.ina, 
She  esta  boa  tranquitana, 
Em  que  se  ve  Jan'Autào. 

QIL    VICENTE,    AUTO    DA  BAHCA   DO  INFEBSO. 

TRANS.  Preposição  latina,  que  signi- 
fica além;  d'ella  se  compõem  diversas  pa- 
lavras, que  tem  mui  differente  sentido 
das  que  se  compõem  de  trás.  Vid.  Trás. 

TRANSACÇÃO,  s.  f.  (Do  latim  trans- 
actio).  Contracto  pelo  qual  se  transige. 

—  Contracto  pelo  qual  os  litigantes 
puem  termo  á  sua  demanda  incerta,  con- 
vindo e  aecordando-se  em  qualquer  pres- 
tação certa. 

—  Transacção  commercial;  contracto, 
ajuste,  ou  reali.sação  da  compra  e  venda. 

TRANSACTOR,  s.  m.  (Do  latim  (rans- 
actor).  Homem  que  faz  a  transacção. 

TRANSATLÂNTICO,  A,  adj.  Além  do 
mar  atlântico. 

TRANSBORDAR.  Vid.  Trasbordar. 

TRANSCENDÊNCIA,  s.  f.  A  acção,  ou  a 
qualidade  de  transcender. 

—  Supereminencia,  realce,  excellencia. 

—  Importância  que  a  um  objecto  re- 
sulta da  propriedade  de  ir  influir  em  ou- 
tro. 

—  Qualidade  de  exceder  os  limites  da 
classe  própria,  para  se  generalisar  e  com- 
municar  a  outra. 

TRANSCENDENTAL,  adj.  2  gen.  Trans- 
cendente, ou  pertencente  a  objectos  trans- 
cendentes. 


—  Termo  de  philosophia.  Que  se  apoia 
em  dados  superiores  ás  impressões  sensí- 
veis e  li  observação.  Poder-so-hia  dizer 
que  a  philosophia  transcandente  é  o  es-, 
tudo  do  objectivo,  considerado  como  exis- 
tente abs(jlutamente  e  em  si  mesmo,  o  a 
philosophia  transcendental  o  estucío  do 
subjectivo;  porém  somente  tanto  quanto 
este  deve  concorrer  para  a  formação  dos 
objectos :  o  processo  de  Kant  é  critico, 
isto  é,  examinador ;  sua  doutrina  é  trans- 
cendental. 

—  Dialéctica  transcendental ;  segun- 
do Kant,  discussão  das  idêas  da  razão 
ou  da  sciencia  quo  se  forma  por  virtu- 
de própria,  e  cujos  objectos  eSo  a  alma, 
o  mundo.  Deus. 

—  Esthetica  transcendental ;  segundo 
a  philosophia  de  Kaat,  são  as  formas  ge- 
raes  da  sensibilidade. 

—  Termo  de  geometria.  Curva  trans- 
cendental; cuiva,  no  calculo  da  qual  se 
faz  entrar  o  infinito. 

t  TRANSCENDENTALISMO,  s.  vi.  Ter- 
mo de  philosophia.  Diz-se  de  todos  os  sj^s- 
temas,  cujos  pontos  de  partida  não  são 
a  observação  e  a  analyse. 

—  Estudo  .«ubjectivo.  —  O  transcen- 
dentalismo  de  K<tnt. 

t  TRANSCENDENTALISTA,  s.  2  geií. 
Partidário  do  transcendentalismo. 

TRANSCENDENTE,  adj.  2  gen.  Que  so- 
be, que  se  eleva  acima  do  resto. 

—  Diz-se  em  geral  da  parte  mais  ele- 
vada d'iima  sciencia. 

—  Analyse  transcendente ;  o  calculo 
difí"erencial  e  integral. 

—  Geometria  transcendente  ;  aquella 
que  depende  do  calculo  intíidtesimal. 

—  Quantidades  transcendentes ;  aquel- 
las  cuja  geração  theorica  implica  o  infi- 
nito, e  cujo  valor  theorico  só  se  pode 
obter  por  approximação. 

—  E^^uações  transcendentes;  aquellas 
que  contém  quantidailes  transcendentes. 

—  Curva  transcendente ;  curva  cuja 
equação  é  transcendente. 

—  Anatomia  transcendente ;  aquella 
que  pela  observação,  experiência  e  com- 
paração das  disposições  anatómicas  con- 
cretas, se  eleva  á  concepção  abstracta  das 
leis  da  organisação  mantida  em  seus  dif- 
ferentes  graus. 

—  Que  é  susceptível  de  uma  grande 
generalidade. 

—  Philosophia  transcendente ;  parte 
da  metaphvsica,  que  busca  a  auctoridade 
de  nossas  faculdades,  o  valor  das  noções, 
a  certeza  dos  conhecimentos,  etc. 

—  Idêas  transcendentes  ;  todas  as  idêas 
emanadas  directamente  da  razão. 

TRANSCENDER,  v.  a.  (Do  latim  trans- 
cendo, de  trans,  e  scando).  Exceder,  so- 
brepujar traspassando  os  limites  que  ca- 
racterisam  a  ciasse  do  agente,  ou  a  do 
objecto  que  se  menciona. 

—  V,  n.  Sair  dos  limites  próprios  para 
ir  influir  em  objecto  differente. 


790 


TRAN 


TRAN 


TRAN 


TRANSCOAÇÃO,  ».  /.  Vid.  Transcola- 
ção. 

TRANSCOAR.  Vid.  Transcolar. 

TRANSCOLAÇAO,  s.  /.  Termo  de  cbi- 
niica  c  du  liliiiriiiiaiii.  A  acçilo  de  coar 
atr;ivcz  dtn  i»)n>s,  filtraç.^o. 

TRANSCOLAR,  v.  h.  (Do  latim  tratis, 
e  colarc).  i'urcjar,  sair  liuiuur  pelos  po- 
ros. 

TRANSCREVEDOR,  *.  «t.  Vid.  Trans- 
criptor. 

TRANSCREVER,  v.  a.  (Do  latim  tran$- 
criòcre,  do  trans,  o  scribu).  Copiar  um 
cscrijito. 

TRAN3CRIPÇÃ0,  «.  /.  Acto  de  trans- 
crever e  erteito  d'este  acto.  —  A  trans- 
cripção   de  um  manuscriíAo. 

—  Copiii  do  um  cscripto,  traslado. 
TRANSCRIPTO,  ou  TRANSCRITO,  part. 

jjass.  de  Transcrever.  —  Contracto  trans- 
cripto  no  registo  <ias  hi/^otliticas. 

TRANSCRÍPTOR,  ou  transcritor,  a, 

s.   l'ess(ia  que  transcreve. 

TRANSCURAR,  i'.  a.  Não  curar,  ou  tra- 
tar de  alguma  cousa;  pôr  no  esqueci- 
mento. 

TRANSCURSAR,  V.  a.  (Do  latim  trans, 
e  cursarei.  Passar  correndo  além  de  al- 
gum tcrnin  ou  extremo,  deixal-o  atraz. 

TRANSCURSO,  s.  m.  Lapso  do  tempo, 
decurso  do  tempo. 

TRANSE,  s.  m.  Vid.  Trance. 

TRANSEFFUSÃO.  Vid.  Transfusão. 

TRANSEUNTE,  adj.  2  gen.  (Do  latim 
transiens).  Termo  do  pliilosopliia.  Acção, 
ou  paixíio  transeunte ;  que  passa  fora  do 
sujeito  agente,  ou  paciente. 

—  Paixões  transeuntes ;  paixões  que 
vem  e  vão. 

—  Substantivamente:    Os  transeuntes. 
TRANSFER,   ou  TRANSFERT,  *■.    w.  U 

acto  pelo  qual  a  propriedade  de  rendas, 
ou  de  outros  direitos  se  transfere  a  outro 
nome  ou  pessoa. 

TRANSFERENCIA,  s.  /.  Acto  de  trans- 
ferir ou  de  si-r  transferido  do  um  logar 
a  outro  ;  passagem. 

—  Mudança  a  outro  logar,  pessoa,  fi- 
gura, feitio,  etc. 

TRANSFERIDOR,  «.  m.  Instrumento 
geométrico,  representando  um  semi-cir- 
culo,  dividido  em  180  graus. 

TRANSFERIDO,  part.  pass.  de  Trans- 
ferir.  Levado  Je  um  logar  para  outro. 

—  Passado,  ou  traspassado  a  outro. 
—  «Infamado,  ou  transferido  para  mais 
pingue  prelasia  ?  Logo  saberemos.  Con- 
sideremol-o  primeiro  como  padre  illus- 
trado  que  lia  livros  proliibidos  e  os  man- 
dava ao  convento  da  Estrella,  desde  o 
Pará,  sob  clausula  de  estarem  a  bom  re- 
cato e  defesa  dos  frades  incapazes  de  os 
impugnarem.»  Bispo  do  (írào  Pará,  Me- 
morias, publicadas  por  Camillo  Castello 
Branco.  });ig.  \'2. 

TRANSFERIR,  v.  a.  (Do  latim  trans- 
fere). Levar  de  um  sitio  para  outro. 

—  Passar,    traspassar  a  outro,   ou  de 


pessoa  a  pesAoa.  —  «E  a  e«to  escolhido 
pela  communidadij  dá  Deo»  o  poder,  por- 
que o  deu  à  coniniUiiidade,  e  transferin- 
do-0  esta  em  iium,  de  Deos  iica  sendo. 
K  neste  sentido  se  verilicaõ  as  Escritu- 
ras, que  dizem,  qu<!  Deos  faz  os  Reys,  e 
ILes  dá  o  poder.»  Arte  de  furtar,  cap.  òO. 

K  ucaso  julgas  i|uc  o  Cometa  errautu 
Vv.  cstra^^os  percursor  su  mostn;  ao  inuudo  7 
Quo  dcstu  ái|iii.'lla  mão  tratufini  oa  RcIuobV 
Que  de  de  liabilouia  u  Scúptru  a  Ciro  V 

1.   Á.    DR  MACICDO,   k  HATUaKZA,   CHut.    1. 

Que  perfumes  oxhala,  quantos  sucoa 
Hiea  traiís/cre  ás  arvores.  As  plantas ! 
De  que  cores  gentis  bo  onfuita,  c  veste ! 
luiDF.M,  cant.  2. 

—  Dilatar,  espaçar  para  outro  tempo. 

—  Trauisferir  as  palavras;  trasladadas 
a  tropos  e  tiguraa. 

—  Syx.  :  Transferir,  transportar,  Vid. 
este  ultimo  termo. 

TRANSFERÍVEL,  adj.  2  gen.  Quo  é 
possivel  transferir-se. 

TRANSFIGURAÇÃO,  «.  /.  (Do  latim 
traiuijiguralio).  Mudança  que  alguém  ou 
alguma  cousa  solfre  na  tigura,  tomando 
outra  dilferonte.  — A  transfiguração  pro- 
duzida pela  doença. 

—  A  transfiguração  de  Nosso  iSenhor  ; 
o  estado  glorioso  em  que  Christo  appare- 
ceu  no  Tuabor. 

—  O  quadro  da  transfiguração  de  Ra- 
phael ;  quadro  representautlo  a  transfigu- 
ração de  Jesus  Christo. 

—  Syn.  :  Transfiguração,  transforma- 
ção. 

Sendo  a  transfiguração  a  mudança  de 
uma  figura  em  outra,  e  a  transformação 
a  mudança  de  uma  forma  em  outra,  ha- 
verá portanto  entre  estes  dous  termos 
uma  difterença  idêntica  á  que  ha  entre 
forma  e  figura.  A  transfiguração  encer- 
ra mudança  na  figura,  no  aspecto,  na 
apparencia  externa  do  objecto  transfigu- 
rado, mas  é  de  ordinário  transitória  ;  a 
transfirmaçào  é  mudança  na  forma,  na 
construcção,  na  organisação  do  objecto 
transformado,  e  como  tal  permanente  e 
durável . 

Trausfigurou-se  Christo  no  Thabor,  e 
nfio  parou  a  transfiguração  na  sagrada 
humanidade,  mas  d'ella  trasbordou  e  re- 
dundou nas  roupas  ile  que  estava  vesti- 
do. As  transformações  fabulosas  imagi- 
nadas pelos  poetas  suppõem  egualmente 
mudança  de  natureza  e  forma;  taes  são 
as  de  Júpiter  em  águia,  em  cvsne,  em 
touro,  a  de  Daphne  em  loureiro,  etc. 

TRANSFIGURADO,  part.  pass.  de  Trans- 
figurar. Que  mudou  a  figura,  que  trans- 
formou. 

TRANSFIGURAR,  v.  a.  [Do  latim  trans- 
Jigurare.  Mudar  a  feição  de  alguma  cou- 
sa, transformar. 

—  Trausfigurar-se,  i'.  reji.  Mudar  de 
figura. 


—  Figuradamente  :  Variar,  não  con- 
formar coiimigo, 

TRANSFIXÃO,  I.  f.  A  ac^io  do  ferir 
penetniiidu,  traspassando  com  instrumen- 
to como  e-^|>ada  e  outros  similhautcs. 

TRANSFORMAÇÃO,  *.  f.  (Do  latim 
tratmfoniuttio).  Acção  de  transformar. 

—  Mudança  de  uma  forma   em  uutra. 

—  Termo  de  anatomia  patbologica. 
Transformação  gordurosa  dos  epilfulioê 
e  dos  Uucocytot ;  nome  dado  ás  granula- 
ções gordurentas  que  se  depositam  nas 
cellulas  epitholiaes  c  nos  leucocytos. 

—  Termo  de  lógica.  Transformação 
das  pru posições  ;  diz-«e  das  varia»  traduc- 
çõea  que  se  po<leni  fazer  soffrer  a  uma 
proposição  sem  lho  mudar  o  sentido. 

—  Termo  de  al^^ebra.  Dij^-ae  daa  di- 
versas operações  que  se  fazem  soffrer  a 
uma  equação,  a  uma  formula,  a  uma  ex- 
pressão algébrica,  sem  lhes  mudar  o  va- 
lor. 

— Particularmente:  Transformação  da» 
equações;  meio  de  solução  ]>cla  qual  se 
introduz  uma  incógnita  auxiliar. 

—  Termo  de  geometria.  Reducção  de 
uma  figura  ou  de  um  solido  em  um  ou- 
tro da  mesma  superficie  ou  do  mesmo 
volume.  J 

—  Transformação  do»  tixo»  da»  coorde-        I 
nadas;   mudança  dos  eixos  d'ellas.  ' 

—  o<;/frer  algutiu  transformações ;  pas- 
sar por  ellas,  ou  fazerem-lb'aõ,  o  vir  a 
ficar  mu(iado,  modificado,  etc. 

—  Syx.  :  Transformação,  tranajigura- 
raçà'1.  Vid.  este  ultimo  termo. 

TRANSFORMADO,  part.pas».  de  Trans- 
formar. —  «U  bemauenturada  Cidade, 
ja  com  os  pees  de  nossos  desejos  o  afiei- 
tos  estamos  em  ti.  Tu  soo  es  digna  do 
de  ser  chamada  Cidade,  porque  em  ti 
soo  ha  vnidade  e  concórdia  di  Cidadões, 
porque  toda  est;ia  chea  de  Deos,  toda 
transformada  em  aquelle  que  he  a  ver- 
dadeira paz,  e  charidadc.»  Fr.  Bartholo- 
meu  dos  Jlartyres,  Catecismo  da  doutri- 
na christã.  —  «Quando  o  pistillo  e  os 
estames  são  transformados  em  pétalas, 
a  rior  é  denominada  eunucha.»  Félix 
Avellar  Brotem.  Compendio  de  botânica. 

TRANSFORMADOR,  A,  s.  e  a.ij.  Que 
transf  rma. 

TRANSFORMANTE,  part.  act.  de  Trans- 
formar. Que  transforma,  transformador. 

TRANSFORMAR,  v.  a.  <  Do  latim  traM- 
formare).  Produzir  transformação  em  al- 
guma cousa,  transfigurar. 


E  o  diurno  clario  traiuforma  em  noite, 
E  aquellii  ohamma,  que  coiidux  estrkf^tM, 
(Foi  dostea  o  maior  de  Pliiiio  a  morte I 
Aqui  descobre  o  Sábio  Eleotricismo... 

1.   Á.   DR  KACEDO,  VIAOEU  BXTATICA,  Cant.  4. 


—  Transformar  alguém    em    chrittão ; 
tornal-o  cbristão. 

—  Figuradamente  :    Transformar    ai- 


TRAN 


TRAN 


TRAN 


791 


guem  uvta  alma  na  szia;  fazel-o  adoptar 
09  mesmos  sentimentos,   costumes,  etc. 

—  Transformar-se,  v.  refi.  TransUgu- 
rar-se,  mmlar  de  tigura. 

—  Transformar-se  o  amador  na  cousa 
amada;  revestir-se  dos  seus  sentimen- 
tos. 

—  Figuradamente:  Mudar  do  termo 
de  proceder,  ou  de  sentimentos. 

TRANSFORMATIVO,  A,  adj.  Que  tem 
virtude  e  efficacia  para  transformar. 

TRANSFRETANO,  A,  adj.  (Do  latim 
ti-ansfretanus).  D'além  do  mar. 

TRANSFUGA,  s.  m.  (Do  latim  trans- 
fuga).  O  desertor. 

—  Figuradamente  :  O  transfuga  do 
culto,   das  leis  da  sua  iiatria,  etc. 

—  Figuradamente  :  Aquelle  que  aban- 
dona o  seu  partido  para  passar  ao  par- 
tido contrario. 

—  Stn.  :  Transfuga,  desertor,  Vid.  es- 
te ultimo  vocábulo. 

TRANSFUGUEIRO,  s.  m.  Vid,  Trasfo- 
gueiro. 

TRANSFUNDIR,  v.  a.  (Do  latim  trans- 
fundere).  Derramar  o  liquido  de  um  va- 
so em  outro. 

—  Figuradamente :  Passar  uma  cousa 
de  um  sujeito  para  outro. 

—  Transfundir-se,  v.  refl.  Figurada- 
mente :  Traspassar-se  em  outro  sujeito. 

TRANSFUSÃO,  s.  /.  (Do  latim  "f j-oíís- 
fusio'].  Acto  de  tranefandir. 

—  Transfusão  de  sangue ;  operação  pe- 
la qual  se  faz  passar  o  sangue  arterial 
do  corpo  de  um  animal  para  o  corpo  de 
outro. 

TRANSGREDIR,  v.  a.  (Do  latim  trans- 
gredere).  Passar  fora  dos  termos,  metas  ou 
balizas. 


Luta  comsigo,  e  tímido  80  afasta 

Sem  transgredir  03  terminoa  prescriptos. 

J.  A.  DV.   MÁCKDO,  À.   NATCÍEZA,  Cant.  3. 


—  Figuradamente:  Transgredir  as  leis; 
não  as  observar,  quebrantar,  ir  contra 
ellas. 

—  Stn.  :  Transgredir,  contrariar.  Vid. 
este  ultimo  termo. 

TRANSGRESSÃO,  *.  /.  (Do  latim  frans- 
gressio).  Acção  de  transgredir. 

—  Quebrantamento.  —  Transgressão 
da  lei. 

TRANSGRESSOR,  A,  s.  Pessoa  que  trans- 
gride. — -  «E  não  só  deixe  de  tratar  com 
mulher&s  estranhas,  mas  com  suas  pró- 
prias irmãas,  e  parentas,  porque  liberta- 
do elle  com  a  licença  das  irmãs,  e  pa- 
rentas, senaõ  faça  mais  entremetido  para 
cometer  a  maldade;  e  o  transgressor  des- 
te preceito  sayba  que  ficará  sogeito  às 
leys  da  penitencia  por  espaço  de  seis 
meses.»  Monarchia  Lusitana,  liv.  6,  cap. 
27.  —  «Gomo  por  estas  e  outras  taes 
obras  não  vemos  nòs  os  pouos  que  acima 
apontamos,    e   assi  os  Georgeanos,  Men- 


gralianos,  Charqueses,  Roixos  e  outros 
daquellas  partes  captiuos  e  escrauos  de 
Tártaros  e  do  Turco,  pagando  ao  pre- 
sente os  filhos  e  netos  dos  primeiros 
transgressores  da  lei  e  da  paz  Euange- 
licaV»  Barros,  Década  1,  liv.  9,  cap.  2. 
TRANSIÇÃO,  s.  /.  (Do  latim  transi- 
tio).  Modo  de  passar  de  um  raciocínio  a 
outro,  de  ligar  as  partes  de  um  discurso, 
de  uma  obra.  —  Uma  feliz  transição. 

—  Termo  de  geologia.  Passagem  de 
um  género  de  rochas  a  um  outro. 

—  Terrenos  de  transição ;  terrenos  si- 
tuados nos  terrenos  secundários. 

—  Figuradamente  :  Passagem  de  um 
regimen  politico,  de  um  estado  de  cousas 
a  outros. 

TRANSIDO,  A,  adj.  (Do  francez  iran- 
si).  Passado,  esmorecido  de  susto,  dôr, 
medo,  trabalho. 

—  Part.  pass.  de  Transir. 

—  Termo  antiquado.  Desusado. 
TRANSIGIDO,   part.  pass.  de  Transi- 
gir. 

TRANSIGIR,  t.  n.  (Do  latim  transige- 
re).  Fazer  transacção. 

Minha  opinião  sabeis :  persisto  n'el!a : 
Sb  for  possível  transigir  co/n  Cosar, 
Pactuar  sem  desaire,  e  poupar  sangue; 
Faça-se.  Mas  fugir  covardemente... 

GARRETT,   CATÃO,  act.    2,  SC.   2. 

—  V.  a.  —  Transigir  a  demanda,  o  li- 
tigio; compol-o  por  transacção. 

f  TRANSIGIVEL,  adj.  2  gen.  Que  pôde 
ser  objecto  de  uma  transacção. 

TRANSIR,  V.  n.  (Do  íatim  transi- 
re).  Traspassar-se  de  frio,  de  medo,  de 
susto. 

TRANSITAR,  i-.  n.  Passar,  atravessar 
um  paiz.  viajar. 

TRAN3ITÀVEL,  adj.  2  gen.  Diz-se  do 
sitio  por  onde  se  pijde  passar,  fallando  de 
caminhos;   praticável. 

TRANSITIVAMENTE,  adv.  (De  transi- 
tivo, com  o  siiffixo  «mente»).  De  passa- 
gem, por  transição. 

—  Com  paciente  expresso. 
TRANSITIVO,  A,  adj.  Termo  de  gram- 

matica.  Diz-se  dos  verbos  que  exprimem 
uma  acção,  que  do  sujeito  é  transmittida 
directamente  ao  complemento. 

—  Em  philosophia:  Cansa  transitiva; 
causa  cuja  acção  se  exerce  sobre  um  ob- 
jecto estranho. 

—  Conjunc(^ões  transitivas;  aquellas 
que  exprimem  uma  transição. 

— Termo  de  geologia.  Diz-se  das  ro- 
chas ou  terrenos  que  se  consideram  como 
formando  a  passagem  d'um  terreno  a  um 
outro  de  formação  mais  recente. 

TRANSITO,  s.  m.  (Do  latim  transitus, 
de  transire).  Passagem,  abertura,  espaço 
entre  paredes,  ilhas,  etc.  —  «Nenhum  si- 
tio era  todo  o  transito  da  procissão  era 
tão  adaptado  para  conter  avultado  con- 
curso   de   espectadores   como  Valverde  e 


a  Rua- nova.»    A.  Herculano,  Monge  de 
Cister,  cap.  17. 

—  Figuradamente:  Mudança  de  um 
estado  a  outro. 

—  Passamento,  morte. 

—  Syn.  :  Transito,  morte.  Vid.  esto 
ultimo  vocábulo. 

TRANSITORIAMENTE,  adv.  (De  tran- 
sitório, com  o  sufBxo  «mente»).  De  um 
modo  transitório. 

—  De  passagem,  sem  grande  duração. 
TRANSITÓRIO,  A,  adj.  (Do  latim  tran- 

sitorius).  8em  grande  duração,  de  passa- 
gem, sem  permanência. 

Nào  ma  podem  tirar :  a  morte  he  minha  ; 
E  pois  devo  morrer,  sou  grande,  e  livre. 
Sou  nobre,  independente,  e  sou  ditoso  ; 
Se  cm  meu  estudo  ha  frncto,  o  fructo  he  este. 
Nem  transitória  \"ida  he  bem,  que  valha. 

J.  A.   DE  MACBDO,  VIAGF.M  IIT.ITICA,  Caut.   O. 

TRANSLAÇÃO,  *.  /.  (Do  latim  transla- 
tio).  Acto  pelo  qual  se  faz  passar  uma 
cousa  de  um  logar  para  outro. 

—  Celebrar  a  translação  d'uvi  santo; 
celebrar  o  dia  em  que  os  restos  de  um 
santo  foram  transferidos  de  um  logar 
para  outro. 

—  Termo  de  mechanica.  Diz-se  que 
um  corpo  é  animado  de  um  movimento 
de  translação,  quando  as  linhas  rectas 
que  unem  uns  aos  outros  os  pontos  d'es- 
te  corpo,  se  transportam  parallelamente 
a  si  mesmas. 

—  Movimento  de  translação;  movimen- 
to pelo  qual  um  corpo  muda  de  posição 
no  espaço,  em  opposição  ao  movimento 
de  rotação. 

—  Acção  de  conduzir  um  prisioneiro 
de  um  logar  para  outro. 

—  Acção  de  transferir  uma  qualidade, 
uma  dignidade  de  uma  pessoa  para  ou- 
tra. 

—  Traducção. 

—  Metaphora,  e  suas  espécies.  — 
«Grande  parte  da  formozura  poética  con- 
siste, por  alto  privilegio  da  arte,  nas 
atrevidas  translações,  como  quando  dá 
attributos  corp(')reos  a  puros  spiritos,  ou 
quando  spiritualiza  o  que  é  simples  ma- 
téria.» Francisco  SIanoel  do  Nascimento, 
Os  Martyres,   liv.  1,  nota. 

—  Viii.  Traslação. 
TRASLATICIO.   Vid.  Translato. 
TRANSLATO,  A,  adj.   (Do  latim  trans- 

latus),  Metaphorico,  figurado. 

—  Se7itido  translato  das  palavras; 
aquelle  para  exprimir  o  qual  as  palavras 
não  foram  inventadas,  mas  que  se  lhe 
deram  ou  por  similhança,  connexão,  com- 
prehensão,  ou  por  ironia. 

TRANSLÚCIDO,  A,  adj.  (Do  latim  tra7is- 
lucidus).  Termo  de  phvsica.  Que  deixa 
passar  a  luz,  sem  permittir  a  distincção 
dos  objectos. 

—  Transparente. 
TRANSLUMBRAR,    v.    a.    Deslumbrar. 


792 


TRAN 


TRAN 


TRAN 


TRANSLUZENTE,  fart.  act.  de  Trans- 
luzir.   Que  transluz. 

—  í)iapli;nin. 
TRANSLUZIMENTO,  s.  vi.  Transparen- 

ci;i,   iliriiiliriiiciílaile. 

TRANSLUZIR,  ou  TRASLUZIR,  v.  n. 
(Do  latiiu  Irunshii-iircj.  i'"a/,cr  passar  a 
luz,  como  o  vidro,  ser  translúcido. 

— ^  Figuradamonte  :  Transpirar.  — 
fEinfim,  seria  zelo,  seria  amizade,  seria 
tudo  o  que  é  decoroso ;  porque  inveja 
nSo  tinha  Ingar.  Já  d 'aqui  nos  transluz 
que  o  bispo  jogava  destranionte  a  ironia.» 
Bi.spo  do  (Irrio  Pará,  Memorias,  publica- 
das por  Carai  lio  Castello  Branco,  pag.  12. 

—  Apparecer  o  interior. 

—  Apparoce.r  fira. 

—  Transluzir-se,  v.  reji.  Tornar-se 
translúcido. 

TRANSMARINO,  A,  adj.  (Do  latim 
iransmarinus).  Situarlo  alóm  dos  mares. 
—  Regiõet,  naçZes  transmarinas.  Vid. 
Marinho,  e  Marino,  o  Ultramarino. 

TRANSMEAVEL,  a,lj.  2  (jen.  (Do  la- 
tim transmeabilis).  Capaz  do  transpirar, 
transpiravel. 

TRANSMIGRAÇÃO,  ».  /.  (Do  latim 
transmigratio,  de  trans,  e  migrare).  Acção 
de  um  povo,  de  um  grupo  tle  homens  que 
passam  do  seu  paiz  para  outro. 

—  Termo  da  escriptura  sagrada.  A 
transmigração  da  liahylonin;  a  morada 
dos  juileus  na  Habvionia. 

—  A  transmigração  das  almas;  a  pas- 
sagem das  almas  para  outros  corpos,  se- 
gundo a  opinião  dos  p3'thagorico8.  Vid. 
Metempsychose. 

TRANSMIGRADO,  paH.  pass.  de  Trans- 
migrar. 

TRANSMIGRADOR,  s.  m.  O  que  faz  a 
transmigração,  o  mudança  de  gentes  para 
outras  terras. 

TRANSMIGRAR,  v.  7i.  Soffrer  a  trans- 
migração. 

—  Jludar  de  assento  o  domicilio,  ir 
assentar  a   sua   vivem  la  em  outra  parte. 

—  Transmigra  a  industria  e  o  comraer- 
cio  para  onde  é  livre  de  impostos  oppres- 
sivos,  de  regulamentos  minuciosos. 

—  V.  a.  Termo  pouco  em  uso.  Fazer 
mudar  de  assento,  e  domicilio. 

—  Transmigrar-se,  v.  refl.  Mudar-se 
para  outro  sitio. 

—  Passar  a  alma  do  um  corpo  a  ani- 
mar outro. 

TRANSMISSÃO,  «.  /.  (Do  latim  tram- 
missio,  de  transmissum,  supino  de  trans- 
viittere).  Acção  de  transmittir,  e  effeito 
d'esta  acção. 

—  Termo  de  physiologia.  Transmissão 
hereditária;  passagem  de  certas  condi- 
ções physicas  ou  moraes  dos  pães  aos  fi- 
lhos. 

—  Termo  de  phvsica.  Propriedade  de 
iim  corpo  que  deixa  passar  a  luz  ou  o 
calor;  diz-so  om  opposição  á  refie.vão. — 
A  transmissão  do  calor  pelos  diversos 
inefaes. 


—  Em  mechanica :  Transmissão  do  mo- 
vimento; commuiiieaçilo  do  movimento  de 
um  Corpo  a  outro. 

TRANSMISSÍVEL,  adj.  2  gen.  (Do  la- 
tim Irananiissiòilig,  do  transmisstivi,  BU- 
piíio  de  transmiltere).  Que  pijdc  «cr  traus- 
mittido.  —  Dinifus  transmissíveis. 

TRANSMITTUIO,  pari.  pass.  de  Trans- 
mittir.  Deixado  passar  airm. 

—  Figuradamente:  Transmittidas  vir- 
tudes. 

—  Enviado,  participado. 

3\  a  voz  do  Cibo,  o  transmiti id/vi  Ordcn» ; 
Jii  o  retintin  das  lançaa,  que  o  Tribuno 
.Manda  abaixar,  ou  manda  pôr  a  prumo; 
JA  8«  forma  cm  batalha  a  hoste  Romana, 
Ao  Btridor  das  Trombi^taa,  ('rfrnoii,  Lituoa : 
Núa  Crctcn.scs,  entre  esses  Povos  líarbaros, 
Fieis  k  nossa  u8ftiK;a,  os  nossos  postos 
Tomávamos  aos  sons  Marciáca  da  I.,yra. 
r.  M.  DO  xAscmaTO,  os  marttbbs,  liv.  6. 

TRANSMITTIR,  u.  a.  (Do  latim  tram- 
mittere,  de  trans,  e  mitttre).  Fazer  pas- 
sar. —  Transmittir  ordens.  —  Os  nervos 
transmittem  as  sensa^^des. 

—  Transmittir  um  nome  d  posterida- 
de; fazel-o  passar  até  á  posteridade. 

—  Enviar,  participar. 

—  Figuradamente:  Transmittir  vícios, 
vÍ7'tudes,   etc. 

—  Termo  do  foro.  Ceder,  fazer  passar 
a  outrem  o  que  se  possue. 

f  TRANSMONTANO,  A,  adj.  Que  fica 
para  lá  dns  montes,  e  dos  Alpes. 

—  Substantivamente:  Um  transmon- 
tano. 

TRAN3M0NTAR.   Vid.  Trasmontar. 

TRANSMUDAÇÃO,  s.  f.  Mudança  duma 
cousa  em  outra. 

TRANSMUDADO,  part.  pass.  de  Trans- 
mudar.  Transtormaiio,   mudado. 

TRANSMUDAMENTO,  s.  m.  Vid.  Trans- 
mudação. 

—  Passagem  a  outra  mão,  domínio, 
possuidor. 

TRANSMUDAR,  ou  TRASMUDAR,  ou 
TRESMUDAR,    v.  a.  Transformar. 

—  Transmudar  a  acção,  direito,  ou 
cousa  em  outro;  cedel-a,  ou  traspaspal-a 
o  senhor  d'ella  a  outrem,  de  maneira 
que  quem  a  traspassou  fique  escuso  de 
todo  o  litigio. 

—  Transmudar-se,  v.  rtfl.  Transfor- 
mar-se,  mudar  de  forma.  Vid.  Trasmu- 
dar. 

TRANSMUTAÇÃO,  s.  /.  (Do  latim  trans- 
mutatio).  Mudança  de  logar. 

—  Transformação  de  uma  cou.^a  em  ou- 
tra. —  « Estando  o  Imperador  Fernando 
III  na  Cidade  de  Praga  no  anno  de  1648 
vio  executar  a  transmutação  de  três  ar- 
rates  de  Mercúrio  em  ouro,  por  effeito  de 
hum  só  grão  da  Pedra  Philosophal.  Ri- 
chthausen  se  cliamava  o  homem  que  a 
fez,  a  quem  o  Imperador  deo  o  titulo  de 
Barão  de  Caos  em  recompensa.»  Caval- 
leiro  d'01ivoira,  Cartas,  liv.  3,  n.°  8. 


—  Mudança,  desapparecimento. 
TRANSMUTADO,  part.  pas».  de  Trans- 
mutar.  Vil.   Transmudado. 

TRANSMUTAR,  v.  a.  .\)h  latim  trant- 
mut(ire).  Mudar  para  outro  iogar. 

—  Transformar  om  couna  do  outra  na- 
tureza. 

—  Transmutar  o  sytttma ;  íazel-o  des- 
appareciT  subitamente. 

—  Transmutar-se,  v.  reji.  Mudar-se. 
TRANSMUTATIVO,    A,  a-lj.  Que  tem  a 

virtude  do  tran«>niudar. 

TRANSMUTAVEL,  adj.  2  gen.  Que  é 
possivel  transmudar.  —  iò'u6«taRcúw  trans- 
mutáveis. 

TRANSNADAR,  v.  a.  (Do  latim  trans- 
nadarei.  Passar  além  nadando. 

—  Transportar,  passar  nadando  algu- 
ma pessoa  ou  cousa. 

TRANSNOMINAÇÃO,  s.  f.  (Do  latim 
transnominaiio,  de  trans,  e  noniinatio, 
de   nomem).  Nome  latino  da  metonjmia. 

—  Traslaçào  das  palavras. 

—  Uso  translato  das  palavras. 
TRANSORDINARIO,  A,  adj.  Termo  pou- 
co em  uso.  Superior  ao  ordinário. 

TRANSPARECER,  i-.  ;».  (Do  latim  trans, 
e  páreo).  Apparecer  por  meio  de  corf>o 
diaphano,  e  transparente,  vêr-se  no  meio 
d'elle,  ou  além  delle. 

—  Transluzir. 
TRANSPARÊNCIA,  s.  /.  Qualidade  do 

que  é  transparente.  —  A  transparência 
do  ar. 

—  Diaphaneidade,  trausluzimento. 
TRANSPARENTE,  adj.  2  gen.   Que   se 

deixa  penetrar  por  uma  luz  bastante 
abundante  para  permittir  distinguir  niti- 
damente os  objectos  atravoz  de  uma  es- 
pessura. 

—  Diaphano,  transluzente,  translúcido. 

Olha  o  Cabo  das  rápidas  corrcntof, 
Que  mal  podem  romper  ferradas  (jnilhas, 
Acharás  alem  di-lle  estranhas  pentes, 
A  culta  Europa  ifcnotas  maravilhas: 
I^ageadas  as  ondas  transparentes 
Irás  notando  de  diversas  Ilhas ; 
Deixa  Madagáscar,  dcizn  te  fiqne 
Cosida  á  terra,  enferma  Moçambique. 

J.  Á.   DB  MACEDO,  o  OBI£KIS,   CAUt.    6. 

A  traru^parente  massa  a  entrada  tolho 
Aos  bravos  ventos  na  Eâtaçào  gelada-, 
Até  da  Natureza  o  seio  occulto 
Á  vista  indagadora  desabrocha. 
iDEH,  A  KATUREZA,  cant.  '2. 


Uum  Cidadão  das  ondas  transparentes 
Erguendo  a  fronte  aos  Nautas  se  descobre, 
E  brinca  pelo  azul  campo  espelhado ; 
K  não  s'espant«  com  a  terrível  vista 
Do  homem,  qu'  encerrado  em  frágil  lenho 
Ouâa  afroutor  o  mar,  o  vento,  a  morte. 
iBiDEu,  cant.  3. 


—  .'íw. :  Transparente,  diaphano. 

DiapUano  é  o  corpo  atravez  do  qual 
passa  a  luz.  Transparente  é  o  corpo  alcra 
do  qual  se  vêem  os  objectos. 


TRAN 


TRAN 


TRAN 


793 


TRANSPASSAB.  Vid.  Traspassar. 

TRANSPIRAÇÃO,  s.  f.  Esaalação  con- 
tinua uiaiã  ou  mer.osi  abundante,  que  tem 
legar  ú  superticie  da  pelle. 

—  Transpiração  pidmonar;  a  que  se 
faz  pela  membrana  mucosa  das  vias  pul- 
monares. 

—  O  producto  próprio  da  transpiração. 
—  Uma  transpiração  de  viau  cheiro. 

—  Termo  de  botânica.  Exhalaçào  hú- 
mida á  superticie  dos  vegetae?. 

—  Stx.  :  Transpiração,  suor. 
Transpiração  é  a  exhalaçào  insensível 

dos  humores  pelos  poros  do  corpo:  suor 
é  esta  mesma  exhalaçào,  mas  abundante. 

A  transpiração,  maior  ou  menor,  é 
permanente  nos  animaes  5  o  suor  é  resul- 
tado do  calor,  do  exercício,  do  trabalho 
corporal  ou  de  remédios  sudoríficos.  A 
transpiração  é  invisível;  o  sííot- cahe  em 
bagas,  ou  em  gotas  visíveis,  da  fronte, 
ou  sahe  pelos  poros  da  pelle  em  todo  o 
corpo. 

TRANSPIRADEIRO,  s.  m.  Orificio  su- 
btil da  transpiração.  Vid.  Poro. 

TRANSPIRADO,  part.  pass.  de  Trans- 
pirar. 

—  Figuradamente :  Segredo  transpi- 
rado. 

TRANSPIRAR,  v.  a.  (Do  latim  trans, 
e  spirare  .  Exhalar  pelos  poros  do  corpo 
algum  fluido,  ou  liquido. 

—  Figuradamente  :  Sair  alguma  noti- 
cia de  cousa  que  se  occulta. 

TRANSPIRA VEL,  adj.  2  gen.  Trans- 
meavel.   susceptível  de  transpirar. 

TRANSPLANTAÇÃO,  s.  /.  A  acção  de 
transplantar,  mudar,  levar  plantas. 

—  Figuradamente :  Acção  de  mudar 
de  residência,  fallando  das  pessoas. 

TRANSPLANTADO,  part.  pass.  de  Trans- 
plantar. 

TRANSPLANTADOR,  A,  s.  Pessoa  que 
transplantou. 

TRANSPLANTAR,  v.  a.  (Do  latim  trans, 
e  ■plantariA.  ]\Iudar  a  planta  para  outro 
logar,  com  as  raízes. 

—  Transplantar  povoações;  mudal-as 
para  outro  assento. 

—  Temo  de  medicina  maravilhosa. 
Transplantar  doenças;  fazel-as  passar  de 
uma  pesoa  a  uma  arvore,  depondo  n'elia 
a  unha,  ou  o  cabello  do  doente. 

—  Transplantar-se,  v.  rejl.  Mudar-se, 
passar  ue  um  assento  a  outro  losrar. 

TRANSPLANTATORIO,  A,  adj.  Que  tem 
a  virtude  de  transplantar.  Vid.  Trans- 
plantar. 

7  TRANSPLANTA  VEL,  adj.  2  adj.  Que 
pôde  ser  transplantado. 

TRANSPOR,  V.   a.  Transferir. 

—  Mudar  a  ordem. 

—  Transpor  os  términos  do  mundo ; 
ultrapiassar  os  limites  d'elje,  passar  além 
d'elles. 

Com  que  transpondo  03  términos  do  !^Iundo 
Creou  no  escuro  abysmo  o  Pandemonio, 
•   VOL.  V.— IIX). 


Onde  o  Concelho  horrendo  o  Eei  das  Sombras 
Fez  de  invadir  o  Edem :  do  Caos  rompe. 
Deixa  os  globos,  03  Ceos,  e  engana  o  Génio, 
Qu'  o  Sol  no  immobil  centro  observa,  e  prende. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  SATUBEZA,  Cant.  1. 


Dond"  hoje  solta  a  rápida  quadriga 

Não  3"avança  amanhàa  sem  que  transponha 

Entre  os  prescriptos  términos  a  meta 

Onde  deve  chegar,  se  acaso  a  toca 

Volve  outra  vez  seu  coche  ao  pólo  opposto. 


Desmaia  a  fantasia  ;  encolhe  as  azas 
Timida  Musa.  se  transpor  destina 
Das  altas  rochas  escalvado  cume, 
Que  Si5  naufrágio  universal  cobrií-a. 
IBIDEM,  cant.  2. 

O  fm'or  Espanhol  tran-ipoz  sem  medo 

Essas  da  Terra  altíssimas  ban-ciras, 

Com  qu"  em  poiçucá  igaaes  dhum  Polo  a  outro 

Dividio  Natureza  o  Mundo  opposto. 

IBIDEM. 


—  Transpôr-se,  r.  rejí.  —  Transpôr-se 
o  sol;  pôr-se  além  da  encosta,  ou  mon- 
te, que  nol-o  encobre;  traspôr,  trausmon- 
tar-se.  Vid.  Traspôr. 

TRANSPORTAÇÃO,  s.f.  Acção  de  trans- 
portar de  um  paiz  para  outro  um  homem, 
uma  tribu,  um  povo. 

■ — Extasis,  arrebatação,  enlevação, 
TRANSPORTADO,  part.  pass.  de  Trans- 
portar.   Levado   de  um   logar    para    ou- 
tro. 

—  Figuradamente  :  Enlevado,  fora  de 
si,  mui  embebido  em  algum  pensamento. 

—  Bosto  transportado ;  diz-se  do  que 
tem,  ou  finge  enlevações  de  pensamento 
em  devotas  meditações,  talvez  de  hypo- 
critas. 

—  Enthusiasmado,  enraivecido. 

Depois  que  em  Quadros  taes  a  vista  absorta 
Acabei  de  deter,  covos  objectos 
O  transportado  espirito  me  eulevào. 
Nos  áureos  muros  esculpidas  vejo, 
Nimca  a  meus  olhos  descobertas  Formas. 

J.   A.   DE  MACEDO,  \-LVGEM  EXTÁTICA,   Cant.    1. 

TRANSPORTAMENTO,  s.  m.  Enleva- 
ção, rebatamento,  transportação,  extasis, 
transporte. 

TRANSPORTAR,  u.  a.  (Do  latim  trans- 
portar e,  de  trans,  e  portare).  Levar  de 
um  logar  para  outro.  —  « Crava-se-lhe  no 
cráneo  uma  lasca  de  chrystal,  e  tão  pro- 
funda que  perdeo  logo  o  accôrdo.  Lava- 
do em  sangue  o  transportão  á  cama.  onde 
as  dores  de  mui  agudas  lhe  arrancavão 
gritos  que  me  retalhavão  a  alma.  Nem  se 
atreverão  os  Chirurgiões  dar-me  antes  da 
operação,  esperança  alguma;  e  na  mes- 
ma operação,  entre  tormentos  inauditos, 
se  lhe  despedio  a  vida  ao  meu  Esposo.» 
Francisco  Manoel  do  Nascimento,  Suc- 
cessos  de  madame  de  Seneterre. 

—  Em  termos  da  Escriptma :  A  fé 
transporta  as  montanhas ;  produz  os  eftei- 
tos  mais  potentes   e  mais  maravilhosos. 


—  Condemnar  á  pena  de  transporta- 
ção. 

—  Figuradamente :  Fazer  sair  de  si, 
do  siso,  do  sentido. 

• —  Transportar-se,  v.  rejl.  Sofrer  mu- 
dança no  corpo,  e  alma,  com  alguma 
paixão  grande,  de  prazer,  dôr,  medo, 
susto,  com  alguma  contemplação. 

—  Ficar  transido  «  meio  morto,  ficar 
desmaiado. 

—  Transportar-se  em  algum  objecto;  fi- 
car enlevado  com  a  sua  vista,  esquecer-se 
n'el]e,  enlevar-se,  extasiar-se. 

—  Syx.  :  Transportar,  transferir. 

Transportar  suppõe  uma  acção  mate- 
rial que  acompanha  o  movimento  de  um 
logar  para  outro.  Transferir  suppõe  mo- 
vimento d'um  logar  para  outro,  ou  mu- 
dança de  um  tempo  para  outro. 

Muitas  cousas  se  transferem,  e  não  se 
transportam.  A  corte,  um  tribunal,  tudo 
o  que  é  pessoal,  transfere-se  duma  ci- 
dade para  outra,  etc. ;  transportam-se 
os  moveis,  os  archivos,  etc.  Os  navios 
transportam,  transferem  as  mercadorias. 
Transferem-se  as  festas,  as  sessões  para 
outro  dia,  ou  outrr  epocha,  e  não  sé 
transportam. 

D 'aqui  vem  que  transferir  só  se  diz 
com  propriedade  das  pessoas,  com  rela- 
ção a  seu  peso,  seu  volume;  e  transpor- 
tar, dos  corpos,  com  relação  a  seu  volu- 
me e  peso. 

TRANSPORTE,  s.  m.  A  acção  de  trans- 
portar, e  exportar. 

— •  Extasis,  arrebatamento.  —  «Misera 
de  mim !  Ha  hi  sitio  no  meu  coração  em 
que  outro  namoro  caiba?  E  de  quem? 
Pode  a  minha  aíFeição  acabar  comtigo 
constância  e  lealdade?  Não  experimento 
eu,  que  um  peito  enternecido  não  se  es- 
quece nunca  daquelle  que  lhe  excitou 
transportes  de  que  esse  peito  era  capaz, 
mas  qr.e  elle  até  então  não  conhecia? 
Que  quantos  abalos  sente,  prendem  to- 
dos no  ídolo  que  adora?  Que  se  não  cu- 
rão,  nem  se  apagão  as  primeiras  feridas 
do  amor?»  Francisco  Manoel  do  Nasci- 
mento, Successos  de  madame  de  Sene- 
terre. 

—  Figuradamente  :  A  mudança  de  al- 
gum humor  morbifico  á  cabeça  ou  outra 
parte,  quasi  sempre  funesto. 

—  A  mudança  e  perturbação  súbita 
produzida  na  alma  de  alguma  paixão. 

—  Passagem  de  uma  conta  para  outra 
pagina,  ou  livro  novo. 

—  Somma,  addição  que  passa  de  uma 
colimina  ou  de  uma  pagina  para  conti- 
nuar com  outras  similhantes  que  se  vão 
seguindo. 

—  Navios  de  transporte ;  navios  de 
carga. 

TRANSPOSIÇÃO,  ?.  /.  Acção  de  trans- 
por, e  effeito  d'esta  acção. 

—  Mudança  da  ordem  natural. 
TRANSPOSTO,    part.    pass.    irreg.    de 

Transpor. 


794 


TRAN 


TRAP 


TRAP 


TRANSSUBSTANCIAÇÃO,  «.  /.  Mudan- 
ça (ruma  substancia  em  outra. 

— ;  Termo  do  tlioolo^íia.  Mudança  mi- 
raculosa da  sabatancia  do  pão  o  do  vinho 
na  substancia  do  corpo  e  do  sangue  de 
Jesu-i  Christo  na  Eucliaristia. 

TRANSSUBSTANCIADO,  part.  pasa.  de 
Transsubstanciar.  —  O  i>ãi>,  e  o  vinho 
transsubstanciados. 

TRANSSUBSTANCIAL,  adj.  ^]gen.  Que 
SC  muda  totalmente  em  outra  substancia, 
como  acontece  na  transsubstanciaçDio. 

TRANSSUBSTANCIAR,  v.  a.  (Do  latim 
trans,  e  subsftiintia).  Mudar  uma  sub- 
stancia em  outra. 

—  Termo  de  theologia.  Operar  a  trans- 
substanciação. 

—  Transubstanciar-se,  v.  rejl.  Tor- 
nar-se  traussubstancial. 

—  Haver  transsubstanciaçào. 
TRANSSUDAÇÃO,  s.  f.    Acção    de  ura 

fluido  que  passa  atravez  das  paredes  de 
um  corpo  qualquer,  e  se  amontoa  em 
gotinhas  á  sua  superfície. 

—  Transsudação  cadavérica;  acção  de 
um  liquido  que  passa  atravez  dos  tecidos 
^epois  da  morto. 

TRANSSUDADO,  part.  j^ass.  de  Trans- 
sudar.    (^uo  ])assou  revendo,  recamando. 

TRANSSUDAR,  i'.  n.  (Do  latim  irans, 
e  sudare).  Fazer  passar  atravez  dos  po- 
ros d'um  corpo  por  uma  espécie  de  suor. 

—  Reçumar,  suar. 
TRANSSUMPTO.  Vid.  Transumpto. 
TRANSTAGANO,    A,    adj.     (Do    latim 

t)-a>is,  e   l'iijusi.  D'além  do  rio  Tejo. 

TRANSTORNAR.   Vid.    Traslornâr. 

TRANSTRAVADO,  A,  adj.  Termo  de 
alvcitaria.  CavaHo  transtravado  ;  cavai  lo 
que  tom  o  pé  direito,  e  ambas  as  màos 
brancas. 

TRANSTROCAR.    Vid.   Trastrocar. 

TRANSUMPTO,  s.  m.  (Do  latira  trau- 
sinnptHin,  supino  de  transumere).  Copia, 
retrato,  traslado  por  escripto,  pintura. 

—  Figuradamente :  Um  transumpto 
jiel  da  sua  vaidade. 

TRANSVASAR,  v.  a.  (Do  latim  trans, 
e  vas).  Vid.  Trasvasar. 

TRANSVERBERAR,  v.  a.  Transluzir, 
traspassar  por  um  meio. 

TRANSVERSAL,  adj.  2  gen.  Mo  recto. 

—  Que  pMssa  atravez. 

—  Termo  de  geometria.  Linha  trans- 
versal ;  linha  que  atravessa  de  um  lado 
ao  outro,  ou  corta  obliquamente. 

—  Termo  de  astronomia.  Linha  que 
se  traça  no  limbo  de  ura  quarto  de  circu- 
lo, entre  duas  circumferencias  concêntri- 
cas, G  que  sei-ve  para  subdividir  os 
graus. 

—  Termo  de  botânica.  As  válvulas  são 
transversaes,  quando  est.^o  perpendicu- 
lares ao  eixo  do  pericarpo. 

—  Termo  de  anatomia.  Diz-se  do  cer- 
tas partes  que  estão  collocadas  obliqua- 
mente. —  Os  musculus  transversaes  do 
nariz. 


—  Dlz-80  de  uma  concha  bivalve,  quan- 
do a  linha  comprehondida  entre  as  bor- 
das anterior  e  posterior  é  menor  que  a 
que  desce  perpendicularmente  dos  gan- 
chos. 

—  P(;i;rt  transversal  da  cruz;  os  bra- 
ços. 

TRANSVERSALIDADE,  «.  /.  Termo  do 
foro  usual.  O  ser  transversal,   collateral. 

TRANSVERSALMENTE,  adv.  (De  trans- 
versal, e  o  sufllxo  (I mente «).  Do  um  modo 
transversal. 

— -PuldS  lados  transversaes. 

TRANSVERSARIOS,  s.  m.  piar.  Vid. 
Soalhas  '/'/  òíiliístiUia. 

TRANSVERSO,  A,  adj.  (Do  latim  traiis- 
versHK).  I  »c  travcz,  atiavessado. 

TRANSVERTER,  v.  a.  Transtornar,  fa- 
zer sair  ili'  si,  lio  siso,  do  sentido. 

TRANSVIADO,  part.  pass.  de  Trans- 
viar-se.  Extraviado,  desgarrado. 

—  Que  se  perdeu  do  caminho. 
TRANSVIAR-SE,    v.  rejl.  Extraviar-se, 

desencaniinhar-se.    Vid.  estes  vocábulos. 

TRANSVIO,  s.  m.  Erro,  extravio,  des- 
garro. 

TRAPA,  s.  f.  Cova  de  armar  ás  feras, 
ou  alçapão. 

TRAPAÇA,  ou  TRAPASSA,  s.  /.  Con- 
tracto feito  entre  o  usurciro,  e  quem  ILie 
toma  dinheiro  emprestado,  dando-lhe  o 
usureiro  mercadorias  por  alto  preço,  para 
depois  o  que  as  recebe  lh'as  revender  ao 
mesmo  usureiro  por  preço  mui  diminuto, 
e  faílido,  e  assim  fraudar  as  leis  contra  a 
onzena. 

—  Dolo,  engano,  ardil,  eavillação,  cau- 
tela nas  demandas,  Jogo,  negócios;  frau- 
de, embuste.  — iNani  tizemos  aqui  deten- 
ça, assl  por  não  darmos  lugar,  a  nos  ar- 
marem suas  trapaças,  o  inuenções,  como 
por  ja  estarmos  a  vista  dos  muros  de  La- 
sa,  que  daqui  estariào  três  legoas,  das 
quaes  andadas  às  duas  e  meya:  demos 
com  o  rio  Cotam,  que  tem  de  largo  vinte 
duas  braças,  e  quasi  três  do  fundo.»  Frei 
Gaspar  de  S.  Bernardino,  Itinerário  da 
índia,  cap.  Kl. 

TRAPAÇADOR,  s.  m.  Vid.  Trapaceiro. 

TRAPAÇAR.  Vid.  Trapacear. 

TRAPACEADO,  part.  pass.  de  Trapa- 
cear. 

TRAPACEAR,  r.  n.  Tratar  algum  ne- 
gocio com  más  artc^,  fraudes,  enredos  de 
trajiaceiro. 

TRAPACEIRO,  A,  adj.  e  s.  Que  faz 
trapaças, 

TRAPACERIA,  ou  TRAPAÇARIA,  s.  f. 
Má  1'c  no  pleitear;  trapaça. 

TRAPALHADA,  s.f.  Reunião  de  trapos. 

—  Termo  Hgurado  e  popular.  Confu- 
são; cousa  embrulhada,  enredada, 

TRAPALHADO,  adj.  m.  —  Leite  trapa- 
Ihado ;  leite  coalhado. 

TRAPALHÃO,  ONA,  adj.  c  s.  Termo 
popular.  Roto,  trapeuto. 

—  Desmazelado. 

—  Atabalhoado. 


TRAPASSADO,  A,  adj.  Termo  antiqua- 
do. Passado,  decurso. 

TRAPASSENTO,  A,  adj.  Vid.  Trapa- 
ceiro. 

TRAPE.  Voz  onomatopaica,  que  indica 
golpe  batenfio. 

TRAPEAR,  V.  n.  —  Trapear  a  vda ;  dar 
panea<las  com  oh  embates  do  vento,  e  fa- 
zer Jogar  e  balancear  o  navio  com  pendo- 
res grandes. 

TRAPEIRA,  *.  /.  Espécie  de  aiçaplo 
no  telhado  para  dar  luz,  e  ar  á  casa. 

—  Trapeira  do  batel;  a  parte  sobro  que 
o  arraes  o  vai  governando. 

—  Armadilha  de  caçar. 
TRAPEIRO,    *.    m.    Termo    antiquado. 

Mercador  que  vendia  ás  varas  pannos  de 
linho,  burel,  almalcga. 

—  Homem  que  vende  trapos,  e  farra- 
pos vi.llios.  Vid.  Roupavelheiro. 

TRAPENTO,  A,  a'lj.  Termo  popular. 
Vestido  de  trapos. 

TRAPESIO,  ou  TRAPÉZIO,  i-.  m.  (Do 
grego  trapeza).  Termo  de  geometria.  Qua- 
drilátero c^joa  doua  lados  sào  desegiiaes 
e  parallelos. 

—  Termo  de  anatomia.  O  osso  primeiro 
dasegunda  classe  do  carpo,  contando  de 
fi')i-a  para  dentro,  isto  é,  partindo  do  pol- 
Icgar. 

—  Musculo  situado  na  parte  posterior 
e  superior  do  tronco. 

TRAPEZAPE,  s.  m.  Voz  inventada  pela 
onomatopcia,  com  que  se  explica  o  som 
das  espadas  quando  se  encontram  no  com- 
bate. 

f  TRAPEZIANO,  A,  adj.  Que  pertence 
ao  trapézio. 

—  Termo  do  mineralogia.  Nome  dado 
a  uma  variedade  que  tem  sua  supcrficie 
lateral  composta  do  trapézios  situados  em 
duas  classes,  entro  duas  bases. 

f  TRAPEZIFORME,  adj.  2  gen.  Que 
tem  a  fornia  d'um  trapézio. 

f  TRAPEZITO,  s.  m.  Nome,  sob  os  Pto- 
lomcus,  no  Egypto,  do  recebedor  geral 
das  tinanças. 

f  TRAPEZOEDRO,  s.  m.  Termo  de  mi- 
neralogia. Solido  cujas  faces  s3o  trapezoi- 
daes. 

—  Solido  composto  do  vinte  e  quatro 
faces  quadriláteras  svraetricas. 

-;  TRAPEZOIDAL, "  adj.  2  gen.  Termo 
de  mineralogia.  Que  diz  respeito  ao  tra- 
pezoide. 

j  TRAPEZOIDE,  adj.  Termo  de  geome- 
tria. (.^Uiadrilatero  plano,  sendo  todos  os 
lados  oblíquos  entre  si. 

—  Termo  de  anatomia.  O  osso  trape- 
zoide;  o  segundo  da  segunda  classe  do 
carpo,  a  contar  de  fira  para  dentro,  isto 
é,  a  partir  do  pollegar. 

—  lÀgamento  trapezoide ;  porção  ante- 
rior do  ligamento  coraoo-clavicular. 

TRAPICHE,  .«.  m.  Casa  de  guardar  gé- 
neros de  embarque,  ou  apparelho  para 
carregal-os,  e  descarregal-os  dos  navios,, 
barcos,  etc. 


TRÁS 


TRÁS 


TRÁS 


795 


TRAPICHEIRO,  s.  m.  Dono,  rendeiro, 
ou  administrador  de  trepichc. 

TRAPILHO,  s.  m.  Talvez  concm-so  de 
povo,  de  feira   da  ladra,   segundo  dizem. 

TRAPINHO,  s.  m.  Diminutivo  de  Tra- 
po. Pequeno  trapo. 

TRAPO,  s.  m.  Termo  antiquado.  Panno; 
d'onde  se  deriva  trapeiro,  o  que  vende 
panno,  e  trapear  a  vela,  ou  paniio  do  na- 
vio. 

—  Modernamente :  Fragmento  de  far- 
rapo velho,  roto. 

—  Figuradamente  :  Vestido  velho. 

—  Lingaa  de  trapos;  o  que  se  explica 
mal. 

—  Com  um  trapo  a  traz,  e  outro  adiante; 
diz-se  que  veio,  ou  anda  alguém  para  in- 
dicar a  sua  extrema  pobreza. 

—  Adágios  e  proveubios  : 

—  A  pequeno  mal,  grande  trapo. 
— -Fel-o  um  trapo. 

—  Lingua  de  trapos. 

TRAPOLA,  ou  TRAPULA,  s.  /.  Vid. 
Trapa. 

—  Figuradamente :  Rede,  ou  engenho 
de  prender  e  caçar. 

TRAPUZ,  s.  m.  Termo  popular.  Es- 
tronilo  de  cousa  caída  do  alto. 

TRAQUE,  s.  m.  Foguete  de  pólvora  ern 
volta  em  papel  dobrado,  e  aportado,  que 
dá  estouros. 

—  Figurada  e  popularmente  :  Peido. 
TRAQUE -\R.  Vid.  Traquejar. 
TRAQUEJADO,  iKirt.  pass.  de  Traque- 
jar. 

TRAQUEJAR,  v.  a.  Fazer  esperto  com 
o  uso  e  coaversaç.ão,  fazer  conhecer 
aquillo  com  que  se  trata. 

- —  V.  n.  Termo  popular.  Dar  traques, 
dar  peidos. 

—  Traquejar  sem  pejo;  peidorrear. 
TRAQUETE,    s.    m.    A    vela    pequena, 

atada  á  peça  mais  alta  do  mastro  gi-ande. 

—  Termo  de  náutica.  A  maior  vela 
do  mastro  de  proa,  e  um  dos  papa-figos 
a  que  se  enverga  ua  verga  do  traqueia. 

—  Quando  o  traquete,  ou  qualquer  vela 
latina  está  meia  ferrada  por  causa  do 
muito  vento,  denomina-se  antegalha. 

TRAQUETINHO,  «.  m.  Diminutivo  de 
Traquete. 

TRAQUINADA,  s.  /.  Baralho  na  bri- 
ga, peh^ja,  matinada. 

—  Travessura  de  traquinas. 

—  Traquinada  de  campainhas ;  soando. 

—  Traquinada  de  chocalhos. 
TRAQUINAR,     v.    n.    Termo    popular. 

Fazer  bulha,  estrondo. 

—  Fazer  travessuras  de  traquinas. 
TRAQUINAS,   adj.  2  gm.  Buliçoso,  in- 
quieto, travesso.  —  Mvnino  traquinas. 

—  Substantivamente:    Um    traquinas. 

TRAQUITANA,  s.  /.  Carruagem  de  qua- 
tro rodas,  de  um  só  assento,  com  cortinas 
por  diante. 

TRÁS.  Vid.  Atraz,  e  Traz. 

—  Trás  diíFero  de  trans,  pois  que  trans 
significa  além,  assim  trasjJÔr  e  transpor; 


iv&spôr  indica  pôr  atraz,  deixar  atraz; 
e  transpor  indica  pôr  além.  Vid.  Trans. 
Em  algumas  palavras  compostas  quasi 
não  ha  differença  entre  trás  e  trans,  por 
isso  que  tras  usa-se  como  abreviatura  de 
trans;  assim  póde-se  dizer  trasbordar, 
e  transbordar,  etc. 

TRASANDAR,  v.  a.  Fazer  andar,  tor- 
nar atraz  com  dôr,    sensaçSo  ingrata. 

—  Loc.  POP. :  Fede  que  trasanda  ; 
fede  muito. 

—  O  povo  pronuncia  tresandar. 
TRASANTEHONTEM,     ou     TRESANTE- 

HONTEM,  adv.  No  dia  anterior  ao  de 
hontem,  ou  que  fica  atraz  d'elle. 

TRASBORDADO,  imrt.  pass.  de  Tras- 
bordar. Lançado  para  fora  das  bordas 
do  rio,  ou  vaso  cheio. 

TRASBORDAMENTO,  s.  m.  Acto  de 
trasbordar. 

TRASBORDANTE,  part.  act.  de  Tras- 
bordar. Innndante,  redundante. 

TRASBORDAR,  ou  TRANSBORDAR,  ou 
TRESBORDAR,  i'.  a.  Cobrir,  sair  para 
fora  das  bordas. 

—  Inundar,  redundar,  sair  do  leito, 
da  madre,  alagar  as  margens. 

— -Emprega-se  também  figuradamente: 
Trasbordar  de  prazer. 
•  ^ — ^Fw-w.  Sair  o  licor  por  fora  das  bor- 
das do  vaso  em  que  não  cabe. 

—  Exceder  os  limites. 

—  Manifestar-se  no  exterior. 

—  Sobejar,  não  se  estreitar,  manifes- 
tar-se. 

TRASCALAR.  Vid.  Trescalar,  termo 
mais  em  uso. 

TRASCAMARA,  s.  f.  Termo  antiquado, 
oppiísto  a  antecâmara. 

TRASGOLAÇÃO,  *■.  /.  Vid,  Transcola- 
ção. 

TRASEIRO.  Vid.  Trazeiro. 

TilASFEGADO,  part.  pass.  de  Trasfe- 
gar. 

—  Figuradamente:    Alma   trasfegada. 
TRASFEGA,  s.  f.  Vid.  Trasfego. 
TRASFEGADURÃ,   s.  /.  Acto    de  tras- 
fegar. 

"^TRASFEGAR,  v.  a.  Transfundir,  pas- 
sar. 

—  Figuradamente  :  Trasfegar  as  vi- 
das. 

—  Trasfegar  o  vinho,  ou  azeite  d' uns 
vasos  para  outros;  diz-se  para  os  limpar 
talvez  das  borras,  e  fezes. 

TRASFEGO,  s.  m.  Vid.  Trafego. 

—  O  acto  pelo  qual  se  passa  um  li- 
quido de  um  vaso  para  outro;  particu- 
larmente o  de  mudar  o  vinho  do  tonel 
ou  vasilha  em  que  fermentou,  e  se  de- 
purou, para  outro. 

TRASFEGUEIRO.  Vid.  Trasfogueiro. 

TRASFEQUEIRO,  s.  m.  Barco  pequeno 
que  naveca  no  rio  Douro. 

TRASFLOR,  s.  m.  Termo  de  ourivesa- 
ria. Lavor  de  ouro  em  campo  de  es- 
malte. 

TRASFOGUEIRO,  s.  m.  O  pau   de   le- 


nha, que  está  por  detraz  dos  outros,  que 
a  elle  se  encostam  para  accender  o  fogo 
correndo  por  baixo  o  ar  livre. 

—  Adagio  e  provérbio  : 

—  Kão  ha  dona  sem  escudeiro,  nem' 
fogo  som  trasfogueiro. 

TRASFOLEAR,  v.  a.  Termo  do  pintu- 
ra. Copiar  a  pintura  cm  papel  azeitado, 
que  se  applica  sobre  elle,  e  tirando  so- 
mente os  perfis. 

TRASGO,  s.  «i.  (Do  grego  tragos). 
Diabo  caseiro,  maligno,  duende. 

TRASGUEAR,  v.  a.  Fazer  travessuras 
de  trasgo. 

TRASLAÇÃO,  s.  /.  Vid.  Translação, 
termo  mais  em  uso. 

TRASLADAÇÃO,  s.  f.  Acto  de  trasla- 
dar. 

—  Mixdança. 

—  Acção  de  trasladar. 

—  Traducção.  —  «Que  dizeis,  Mem?» 
—  perguntou  elrei.  «Que  a  trasladação 
está  demasiadamente  servil  ou  ad  litte- 
ram ;  — ■  respondeu  o  chanceller,  deitan- 
do de  revés  os  olhos  para  o  pobre  escri- 
ba, que  balbuciava,  fazendo-se  de  mil 
cores.  —  Pois  de  que  nixtro  modo  havia 
de  ser,  homem?  —  acerescentou,  viran- 
do-se  para  traz.»  Alexandre  Herculano, 
Monge  de  Cister,  cap.  24. 

—  O  acto  de  transferir  as  palavras 
dando-lhe^-  sentido  metaphorieo. 

TRASLADADO,  imrt.  pass.  de  Trasla- 
dar. Levado  de  um  logar  para  outro. 

—  Copiado,  imitado,  similhante. 
TRASLADADOR,  A,  s.  Pessoa  que  tras- 
ladou. 

• —  Copista,  traductor. 

TRASLADAR,  v.  a.  Levar  de  um  lo- 
gar para  outro.  —  «A  pedra  pois  na  for- 
ma que  estava,  trasladei  diante  de  al- 
guns Religiosos,  e  Seculares,  que  hia3 
em  minha  companhia,  e  me  ajudarão  a 
descubrila  da  terra,  e  dizia  desta  manei- 
ra.» Monarchia  Lusitana,  liv.  6,  cap.  17. 

—  Traduzir,  copiar,  retratar. 

—  Trasladar  a  palavra  de  uma  signi- 
ficação em  outra;  usar  d'ella  com  tropo. 
Vid.  Translato. 

—  Syx.  :  Trasladar,  copiar.  Vid.  este 
ultimo  vocábulo. 

TRASLADO,  s.  m.  Copia  da  escriptu- 
ra,  do  retrato,  ou  da  pintura  original.  — 
« Soltaõ  Badur  despedio  logo  o  Embaixa- 
dor Xacoez  com  o  traslado  dos  Capítu- 
los, e  lhe  escreveo  elle,  e  o  Capitão  mor, 
pedindo-lhe  que  logo  se  fosse  pêra  Dio. 
Chegado  Xacoez  a  Baçaim,  já  achou  o 
Governador,  e  dando-lhe  as  cartas,  e  Ca- 
pítulos, os  festejou  muito. »  Diogo  de 
Couto,  Década  4,  liv.  9,  cap.  8. 

—  Modelo,  exemplar,  amostra. 

—  O  exemplar,  que  nas  escolas  de  es- 
crever se  dá  a  quem  aprende, 

—  Directório,  regimento. 

—  Vid.  Treslado. 

TRASLAR,  s.  m.  Logar  nos  fomos  jun- 
to do  borralheiro. 


796 


TRÁS 


TRÁS 


TRAT 


TRASLUZIR.  Vid.  Transluzir. 
TRASMVLHAR.  Vi'l.  Tresmalhar. 
TRASMONTADO,   i>art.  j,ass.  de   Tras- 
monlar.  Alto,  elevado. 


TRASMONTANO,    A,    'f/j. 


Vi 


Transmontano,  «••  Tramonlauo. 

TRASMONTAR,  ou  TRANSMONTAR,  ou 
TRESMONTAR,  i;.  «.'Fas-sar  por  ciina  do 
luontu. 

—  Figuradamente :  Exceder  por  alto. 

—  V.  n.  Desapparecer,  eócondendo-sc 
por  detraz  do  uiontc,  traspondo-se. 

—  Figuradamente:  Diz-se  da  pessoa 
que  figurou,  brilliou,  e  cahe  em  deslua- 
tro,  que  vai  descaindo. 

—  Fugir. 

—  Trasmontar-se,  v.  rejl.  Pôr-se,  tras- 
pôr-so.  —  Trasmontar-se  o  sol. 

TRASMUDAÇÃO,  í.  /.  Vid.  Transmu- 
dação. 

TRASMUDAR,  c.  a.  Vid.  Transmudar. 
—  aE  Icixando-Oâ  a  alguma  Igreja,  ou 
Moesteiro,  ou  Cavalleiro,  ou  Dona  d'Or- 
dem,  ou  Clérigo  d'Ordeens  Sagras,  ou 
Beneficiado,  ou  lhos  desse,  ou  trasmu- 
dasse  per  qualquer  outro  titolo  que  seja, 
ou  possa  scor  nomeado,  em  tal  caso  ]\Iau- 
damos  que  per  esse  mecsuio  feito  sejaõ  lo- 
go todos  esses  bens  confisca.dos,  e  apri- 
cados  aa  Coroa  dos  Nossos  Regnos,  pcra 
dclles  podermos  fazer  o  que  Nossa  mer- 
ece for,  assy  como  de  Nossa  cousa  pró- 
pria.» Ord.   Affons.,  liv.  4,  tit.  48,  §  o. 

—  Trasraudar  alguma  cousa;  traspas- 
sal-a  por  qualquer  titulo  oneroso,  ou  gra- 
cioso. 

TRASNOITADO,  A,  adj.  Que  perdeu  o 
somno  tia  noute,  ou  noutes  atraz. 

—  Agua  trasnoitada ;  agua  do  dia  an- 
tecedente. 

TRASNOITAR,  ou  TRASNOUTAR,  v.  a. 
Passar  a  noute  sem  dormir. 

TRASOLA,  y.  /.  Termo  da  provinda 
da  Beira.  Vid.   Cavalla. 

TRASORDINARIO,  A,  adj.  Vid.  Trans- 
ordiuario. 

TRASPASSA.  Vid.  Trapaça. 

TRA3PAS3AÇÃ0,  ou  TRESPASSAÇÃO, 
s.  f.   A  acij'àii  de  traspassar. 

—  A  acção  de  alhear  o  direito,  o  do- 
minio,  o  cargo  ou  officio  a  outrem  aquel- 
le  que  o  alcançara  para  si,  e  talvez  ven- 
dendo-so  a  quem  é  feita  a  traspassaçíío. 
Vid.  Traspassa. 

—  Excesso  culpável,  criminoso. 
TRASPASSADO,    part.  pass.  de  Tras- 
passar. Vid.  Trespassado. 

TRASPASSAMENTO,  s.  »i.  O  estado  de 
estar  como  morto.  Vid.  Trespassamento. 

TRASPASSAR,  ou  TRESPASSAR,  v.  a. 
Mudar  para  outra  parte. 

—  Penetrar  por  poros,  rompendo. 

—  Passar,  ceder  a  outrem. 

—  Traspassar  fazenda ;  fazer  tras- 
passo. 

—  Passar  úlom,  ou  deixiir  atras. 

—  Traspassar  o  cargo,  o  ojjicio  a  ou- 
trem;  ceder-lh'o  por  dinheiro. 


—  Figuradamente  :  Traspassar  o  co- 
ração. 

— •  Traspassar-se,  l-,  vnjl.  Penetrar-se. 

—  Figui-udamcntc:  Ficar  como  morto. 
TRASPASSO,  i.   m.  (Do   latim    traim,  e 

Ijassus;.  Trasiaçào. 

—  A  acçào  de  dar,  passar  a  outrem. 
Vid.  Trespasso. 

TRASPÉS,  *,  m.  plur.  —  Dar  traspós; 
andar  vacillando,  c  fazendo  esforços  por 
se  suster  em  pé  como  faz  o  bêbado,  o 
que  vae  ferido  de  morte. 

TRASPILAR,  s.  vi.  Pilar,  o  que  fica 
por  detraz,  e  serve  de  encosto. 

TRASPLANTAR.  Vid.  Transplantar. 

TRASPÔR,  L-.  a.  Deixar  atraz  do  si 
cousa  que  encubra. 

—  Levar,  ou  fazer  passar  de  um  logar 
para  outro,  transplantar. 

—  Pôr,  deixar  atraz. 

—  Traspôr  os  montes ;  passar  além 
d'elles. 

—  V.  n.  Desapparecer,  pondo-so  por 
detraz.  —  Traspôr  o  sul. 

—  Figuradamente :  Trasporem  os  amo- 
res. 

—  Traspôr-se,  v.  rejl. — Traspôr-se  a 
occasião;  passar,  perder-se. 

—  Traspôr-se  o  sol;  pôr-so. 

—  Substantivamente  :  O  traspôr  do 
sol;  a  hora  de  ir-so  pondo. 

TRASPORTALECER,  v.  n.  Termo  anti- 
quado. Traspôr,  desapparocer,  em  oppo- 
siçào  a  jxirfalecer.  Vid.  Portalecer. 

IRASPORTAR,  v.  a.  Vi  I.  Transportar. 

TRASPOSIÇÃO,  s.  /.  Vid.  Transposi- 
ção. 

TRASPOSTA,  s.  /.  Empesta,  cousa  que 
fica  atraz  dalguem,  e  lhe  tolhe  a  vista 
de  outro  objecto  mais  atraz. 

TRASPOSTO,  A,  iiart.  pass.  de  Tras- 
pôr. 

—  Adagio  e  puovekbio  : 

—  Planta  nmitas  vezes  trasposta  nem 
cresce  nem  medra. 

TRASPRANTAR.  Vid.  Trasplantar. 

1.)  TRASTE,  ou  TRASTO,  s.  m.  Corda 
de  viola,  ou  arame  no  braço  da  viola  ou 
cithara,  que  o  atravessa  a  espaços,  e  so- 
bre a  qual  o  tocado)'  comprime  a  cord;i 
do  instrumento,  para  tirar  sons  mais  ou 
menos  fortes  em  raz.^o  da  largura  ou  cur- 
teza  da  corda  que  fere. 

—  Uma  cor>la  para  viola  ou  rebeca. 
2.)    TRASTE,    s.    m.    Peça   do  uso    e 

serviço.  =  E  mais  usado  no  pliual. 

—  Loc.  POP. :  É  forte  traste!  diz-se 
das  pessoas  que  tem  má  conducta. 

TRASTEJAR,  v.  n.  Termo  populju-. 
Buscar  modo  de  vida  negociando  em  cou- 
sas baixas. 

TRASTEMPAR,  c.  a.  Termo  antiqua 
do.  i're>irever. 

TRASTEMPO,  s.  m.  Termo  antiquado. 
Presciipçào. 

TRASTO,  .s.  m.  Vid.  Traste 

TRASTORNAÇÃO,  í.  /..  ou  TRANSTOR- 
NO, ».  m.  Acto  de  trastornar. 


—  Perturbação,  desordem,  confUsSo, 
mudança  da  ordem. 

—  CoiÉtrati;m)fO. 

TRASTORNADO,  pari.  pa>.».  de  Tras- 
tornar.  Mudado  de  parecer  e  du  re-iolu- 

çào. 

—  Derribado  para  traz. 

—  Corrupto. 

—  P<rtuibado,  turvado. 
TRASTORNAR,    v.  a.   Perturbar  a  or- 
dem, revolver  de  baixo  para  cima. 

—  Figuradamente  :  Fazer  mudar  de 
vida,  e  oostumes,  do  Hentimeato,  e  de 
opinião.  - 

—  Derribar  jiara  traz. 


Vendo  que  so  saluaua  o.  r|ue  coD»igo 
A  virln,  o  corarTio,  o  alma  Ibc  loua 
Iiitfnta  trivlnrnnr  o  b;itcl,  pondo 
Forijas,  c  diligencias  sem  proueito. 

COBTB  BEÀL,lfADrKAOIO  DB  BBPUI.TEDÁ ,  eSDt .  7 


—  Corromper. 

—  Perturbar,  turbar. 

—  Trastornar-se,  r.  rtjl.  Perturbar- 
se,  desviai' -se  do  recto  caminho. 

—  Figuradamente:  Aiterar-se  a  boa 
ordem  e  harmonia.  Vid.  Transtornar. 

TRASTORNO,  s.  m.  Vid.  Trastorna- 
ção. 

TRASTRAVADO.  A.  adj.  Vid.  Trans- 
travado. 

TRASTROCADO,  part.  pass.  de  Tras- 
trocar. 

—  Figuradamente :  Convertido  a  mal, 
desordenado. 

TRASTROCAR,    v.  a.  Mudar  a  ordem. 

—  Figuradamente :  Perturbar,  alte- 
rar, confundir. 

TRASUMTO.  Vid.  Transumpto. 

TRASVALIAR.  Vid.  Tresvariar. 

TRASVASAR,  i'.  a.  Pas-sar,  deitar,  fa- 
zer correr  um  liquido  de  um  v.iso  ou 
vasilha  para  outro.  Vid.  Transvasar. 

TRATADA,  *.  /.   Trapaça,  velhacaria. 

1.  TRATADO,  s.  «I.  Opúsculo  sobre 
alguui  assumpto  ou  matéria.  —  iDe  suas 
virtudea  fala  o  Doutor  (í  areia  Dorta  Por- 
tuguês, no  seu  tratado  das  Medicinas 
Orientaes.  Amato  Lusiumo.  Andr»  Ma- 
thiolo.  Christouào  da  Costa,  e  outros  que 
por  não  ser  molesto  devxo,  concluvndo  sò 
com  dizer  que  este  nome  Pazar  ho  o  seu 
próprio,  e  o  de  Bazar  impróprio,  e  corru- 
pto.» Frei  Gaspar  de  S.  Bernardino, 
Itinerário  da  índia,  cap.  15. 

—  Collecçào  de  artigos  ou  convenções 
entre  nações,  sobre  paz,  commercio,  li- 
ga, etc. 

—  Sys.  :  Tratado,  convenção.  Vid.  es- 
te ultimo  termo. 

2.Í  TRATADO,  part.  pass.  de  TratAr. 

—  Escí-ipto,  discorrido  litterariamente. 
—  «E  desta  mauevra  nos  partimos  des- 
ta cidade  de  Pougor,  metropoly  desta 
ilha  Lequia,  da  qual  aqu!  brevemente 
quiz  dar  alguma  informação,    como  cus- 


TRAT 


TRAT 


TRAT 


797 


tumey  de  fazer  nas  outras  terras  de  que 
atraz  tenlio  tratado,  para  que  se  em  al- 
gum tempo  Deos  nosso  Senhor  for  servi- 
do de  inspirar  na  nação  Portuguesa,  que 
primevra  e  principalmente  pela  exalta- 
ção e  acrecentameuto  da  sua  santa  fé 
Catholica.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pere- 
grinações,  cap.  143. 

—  Examinado,  discutido,  ensinado. 

—  Tratado  das  mãos;  aquillo  em  que 
se  pegou,  que  se  apalpou,  e  trouxe  n'el- 
las. 

—  Curado  por  medico,  enfermeiro. 

—  Diz-se  também  do  bom  ou  mau 
porte  para  com  alguém. 


Vai  Dona  Leonor  tão  mal  tratada  : 
Tào  fraca,  que  uào  pode  já  moucrse, 
Que  a  fortuna  cruel  delia  enucjosa 
Os  inales,  e  os  trabalhos  lhe  acrecenta. 

COBTE  BEAL,  NAUFBAGIO  DE  SEPÚLVEDA,  Cant.    11. 


—  f  No  tempo,  que  este  Príncipe  assis- 
tio  em  Lisboa,  foi  tratado  com  inexpli- 
cável grandeza,  até  que  resolutos  a  exe- 
cutarem o  seu  projecto,  marcbíraò  am- 
bos os  Príncipes  para  a  Beira,  onde  de- 
terminando passar  o  rio  Águeda,  que 
corre  junto  a  Ciudad  Rodrigo,  o  naõ  po- 
derão fazer,  porque  Ities  estava  defen- 
dendo o  passo  o  Duque  de  Berwick  Ge- 
neral das  tropas  Castelhanas  com  maior 
poder  do  que  sempre  se  imaginou.»  Frei 
Bernardo  de  Brito,  Elogios  dos  reis  de 
PortugSLl,  continuados  por  D.  José  Bar- 
bosa. —  aE  n'esta  ilha  vive  esta  gente, 
que  he  gente  bem  desposta,  mais  sobre 
ho  branco  que  sobre  no  baço,  he  gente 
limpa  e  bem  tratada,  curam  ho  cabello 
como  molheres,  e  arrematam  no  numa 
ilharga  da  cabeça,  atravessado  com  hum 
prego  de  prata,  ha  sua  terra  he  fértil, 
fresca  e  de  muitas  e  boas  agoas,  e  gente 
que  de  maravilha  navega  com  estarem 
no  meo  do  mar,  usam  darmas,  trazem 
muito  bons  treçados,  foram  nos  tempos 
passados  sogeitos  aos  chinas,  com  quem 
tiveram  muita  commumcaça.m,  pollo  que 
sam  muito  achinados.»  Tenreiro,  Itine- 
rário, cap.  2.  —  «Emfim  em  tudo  sào 
tratados  como  escravos,  nào  tendo  a  li- 
berdade mais  que  no  nome,  pondo-lhe  nas 
aldêas  por  capitães  alguns  mamelucos, 
ou  homens  de  similhante  condição,  que 
são  03  executores  doestas  injustiças.»  Pa- 
dre António  Vieira,  Cartas,  n.°  9. 

TRATADOR,  A,  s.  Vid.  Tratante,  e 
Contractador. 

TRATAMENTO,  s.  vi.  Trato  que  se 
faz,  e  (;á  a  alguém.  —  «A  mulher  m.^v 
de  ElRey  (que  como  dissemos,  escanda- 
lizada da  prizaõ  do  marido  se  tinha  pas- 
sado pêra  o  lugar  do  Reigaõ)  como  era 
mulher  prudente,  e  varonil,  sendo  avi- 
sada do  máo  tratamento  que  se  fazia  ao 
marido,  tratou  de  o  tirar  dalli  por  in- 
dustria, jà  que  nào  podia  ser  por  força.» 


Diogo  de  Couto,  Década  6,  liv.  10,  cap. 
12.  —  c  Antes  que  se  partissem  estes  Lou- 
thias,  mandaram  aos  Louthias  da  terra, 
e  aos  tronqueiros  que  todos  favorece>sem 
os  Portugueses  e  lhe  rizessem  muito  bom 
tratamento,  e  lhe  mandassem  dar  todo 
ho  necessário  pêra  suas  pessoas.»  Frei 
Gaspar  da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da 
China,  cap.  2õ. 

—  A  conversação. 

—  Trato. 

—  Toma-se  também  por  salário,  orde- 
nado;  mas  n'este  caso  cousidera-se  como 
gallicismo  escusado. 

—  Titulo  de  graduação.  —  «Antiga- 
mente o  dava  aos  mesmos  Imperadores, 
e  ainda  hoje  se  vê  na  Bibliotheca  dos 
Religiosos  de  S.  Genoveva  de  Pariz,  o 
original  de  huma  Carta  de  Ibrahim  Pa- 
chá  Gram  Visir,  escrita  ao  Imperador 
Carlos  V  na  qual  o  dito  ilinistro  lhe  não 
dá  mais  tratamento  que  o  de  Kiral.»  Ca- 
valleiro  d'01iveira.  Cartas,  liv.  1,  n.°  55. 
—  a  O  Sultão  ou  Gram  Senhor,  dá  o  tra- 
tamento de  Kiral,  que  quer  diser  hum 
Príncipe  de  menos  autlioridade  a  todos 
os  outros  Monarcas.»  Ibidem. 

TRATANTE,  part.  act.  de  Tratar. 

—  S.  2  geií.  Pessoa  que  trata,  que  ne- 
goceia. 

—  Figuradamente :  Pessoa  que  faz  ne- 
gócios com  ardil,  malícia,  astúcias  más, 
e  dolos :  u'este  sentido  toma-se  á  má 
parte. 

—  Stn.  :  Tratante,  commerciante.  Vid. 
este  ultimo  termo. 

TRATAR,  ou  TRACTAR,  v.  a.  (Do  la- 
tim tractare).  Haver-se,  portar-se  com 
alguém  bem,  ou  mal. 

Com  palavras  de  deshom-a 
Nào  se  ha  de  tratar  quem  ama ; 
Nem  zombaria  se  chama, 
Por  exprimentar  a  hom-a, 
Pôr  em  tal  perigo  a  fama. 
Bem  tive  eu  para  mim, 
Que  era  aquillo  experiência. 

CAII.,  AMPHTTRIÕES,   act.    4,  SC.    1. 

—  « Ouuiudo  o  Príncipe  estas  pala- 
uras,  ou  fosse  que  na  cabeça  do  irmào 
que  elle  vio  cortar,  tomasse  experiência, 
em  como  nos  auia  de  tratar,  ou  sua  na- 
tural inclinação  a  tanta  cortezia  o  inci- 
tasse: nos  lançou  os  braços  ao  pescoço 
abraçãdonos  com  muyta  alegria  e  amor.» 
Frei  Gaspar  de  S.  Bernardino,  Itinerá- 
rio da  índia,   cap.  6. 

—  Cuidar,  fazer  diligencia  acerca  de 
alguma  cousa.  —  «He  de  ferro  para  si ; 
bem  vemos  como  se  trata.  E  também  o 
he  para  nossos  inimigos  com  valor  mais 
invencível,  que  o  aço;  e  para  sustentar 
o  Ímpeto  adversário,  necessita,  que  o 
ajudemos  com  nossas  forças:  e  será  mui- 
to estólido,  quem  neste  tempo  tratar  de 
lhe  diminuir  as  suas.»  Arte  de  furtar, 
cap.  45.  —  «Dentro  nos  quais  passou  por 
lugares  mujto  nobres  do  Rey  do  Chaleu, 


e  Jacuçalão  que  estavão  á  borda  da  agoa, 
sem  tratar  de  nenhum  delles,  chegou  a 
esta  cidade  do  Avaa  aos  treze  dias  de 
Outubro  deste  mesmo  anno  de  1545.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações,- 
cap.  157. 

Porém  a  gente  deUa,  que  então  vinha 
Dhum  temor  entranhavel  combatida, 
Nem  outra  salvação  cuidou  que  tinha 
Senão  só  nhuma  \-il,  torpe  fugida  ; 
Sem  tratar  do  que  a  sua  honra  convinha 
Com  deshonra  antes  quer  salvar  a  vida, 
Lança-se  com  gràa  pressa  toda  ao  Rio 
Deixa  seu  Capitão  só  no  navio. 

FR.v2fcisco  d'andeadb,  pbimeibo  cekco  dk  dic, 
caut.  11,  est.  10. 


—  «E  quando  veio  a  segunda  vista, 
que  começou  tratar  nas  cousas  a  que  era 
enviado,  porque  a  carta  que  elle  Embai- 
xador trazia  pêra  elle  AíFonso  d'Albo- 
querque  era  somente  de  crença,  passadas 
oífertas  geraes,  que  deo  da  parte  do  Xe- 
que Ismael.»  Barros,  Década  2,  liv.  10, 
cap.  4.  —  «Sem  embargo  das  sobreditas 
leys  nam  deixam  alguns  Chinas  de  nave- 
gar pei"a  fora  da  China  a  tratar,  mas  es- 
tes nam  tornaram  mais  aa  China.  Destes 
vivem  alguns  em  Malaca,  outros  em  Sião, 
outros  em  Patane,  e  assi  por  diversas 
partes  do  Sul  estam  espalhados  alguns 
destes  que  saem  sem  licença.»  Frei  Gas- 
par da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da  Chi- 
na, cap.  23. 

—  Escrever,  discursar,  occupar-se.  — 
«loão  de  Barros  outro  Tito  Liuio,  mas 
Português  na  sua  terceira  Década,  tra- 
tando desta  Ilha  diz,  que  seu  nome  pri- 
meiro foy  Geru:  e  que  Ormus  era  huma 
Cidade,  que  estaua  na  terra  firme  da 
Pérsia,  onde  agora  dizemos  o  Magustão; 
e  a  verdade  elle  a  diz,  por  que  inda  ago- 
ra muytos  chamào  ao  Magustão  Ormus 
velho,  nó  qual  porque  os  moradores  del- 
le  erão  dos  Persianos  muytas  vezes  mo- 
lestados, e  oprimidos.»  Frei  Gaspar  de 
S.  Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap. 
11.  —  «Me  mandou  em  huma  lanchara 
de  remo  ao  reyno  de  Pão,  com  dez  mil 
cruzados  de  sua  fazenda  para  os  entre- 
gar a  hum  seu  feitor  que  lá  residia,  por 
nome  Tomé  Lobo,  e  dahy  mé  passar  a 
Patane,  que  era  outras  cem  legoas  avan- 
te, cõ  huma  carta  e  hum  presente  para  o 
Rey,  e  tratar  cõ  elle  a  liberdade  de  huns 
cinco  Portugueses  que  no  reyno  de  Sião 
estavão  cativos  do  Monteo  de  Banchá 
seu  cunhado.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  c^.  33. 


Vi; 

mas  o  que  quereis  tratar 
vem  de  tào  longe,  que  é  ar, 
tomal-o  á  mào  assi. 

ANTÓNIO  l-KESTES,  AUTOS,  pag.    423. 


—  Vêr,   examinar,  frequentar  alguma 
terra,  familia,  pessoa. 


798 


TRAT 


TRAT 


TKAT 


—  Dar  títulos  do  praduaç.lo. 

—  Tocar. 

—  Tratar  traição.  —  «E  acabado  de  o 
assi  dcfçolar  so  tornou  porá  ii  cana,  don- 
de o  Duque  savra,  por  o  mesmo  corre- 
dor, sem  ninf^ueni  saber  quem  era,  e  o 
pregão  dizia  assi:  lu.stlça  quo  manda  fa- 
zer ol  liey  nosso  senhor,  manda  degolar 
dom  FeinanJo,  Duquo  que  toy  do  lira- 
gança,  por  cometer  e  tratar  tray^'Jlo,  e 
pordiyão  do  seus  Reyuos,  o  sua  pessoa 
Real.»  Garcia  de  Rezende,  Chronica  de 
D.  João  II,  cap.  4G. 

—  Pegar  com  aa  milos,  mancar. 

—  Tratar  com  ycz ;  tol-o,  trazel-o  nas 
mãos. 

—  Tratar  amores  com  alçjuein ;   tel-os. 

—  Praticar,  usar. 

—  Tratar  </«;  duenfes;  dirigir-llie  o  cu- 
rativo. 

—  Negociar  em  alguma  mercadoria. 

—  Tratar-se,  v.  rejl.  Cuidar  de  si. 

—  Portai--se  bera  ou  mal  com  alguém. 

K  com  tanto  fervor,  com  ódio  tanto 
Em  f(ualquer  p.irt(!  ontào  viào  tratar-se. 
Que  põo  em  quom  oa  ollia  grande  pspauto 
E  o  Portugucz  vé  snmprc  avautujar-30. 
Poróin  não  quer  ja  maia  este  meu  ounto 
Neatcs  pueris  feitos  occupar-se, 
Torna  a  Ooja(;ofar,  imi>io,  nefando, 
Que  grandes  cousas  vai  apparclliando. 

r.  i)'andiia.dk,  ruiuEino  okkco  db  dhi,  cant.  10, 
ost.  27. 

—  Tratar-se  òem ;  ter  um  bom  passa- 
dio, gastar,  tlispeiííler. 

—  Tratar-se  mal;  tratar-se  parca- 
mente. 

—  Tratar  de  resto,  tratar  de  bagatel- 
la ;  ter  em  pouca  importância,  ter  em 
nenhuma  conta. 

—  Tratar-se  bem  em  seu  cojner  e  be- 
ber. —  (i.\  gente  deste  regno  he  baya,  e 
delia  preta,  e  bem  disposta,  trataõ-se 
bem  em  seu  comer,  e  vestir :  acostumào 
muito  anilar  dam  ires,  e  sobrisso  se  fa- 
zem muitos  desafios:  os  que  se  desafirio 
pedem  campo  a  el  Rei,  o  se  sam  homens 
do  preço  o  vai  ver,  o  que  fazem  a  pc 
em  estacada.»  Damião  de  (Joes,  Chroni- 
ca de  D.  Manoel,  cap.  6. 

f  TRATARAM,  ou  TRATARÃO.  Fcírma 
do  verbo  tratdr  na  terceira  pessoa  do  plu- 
ral do  pretérito  perfeito  do  modo  indica- 
tivo. Vid.  Tratar. 


Com  soltal-as  as  prendemos, 
coni  pvendel-as  as  soltaos  : 
finalmente,  so  com  a  miiilia 
tratara  o  contrario  indo, 
fora  cobrir-me  do  tinha. 

ASiTONlO  PUESTES,  AUTOS,   pSg.   247. 

—  «Os  quais  do  tempo  de  Afonso  Dal- 
buquerque  para  cá  passarão  hum  pouco 
mais  adiante,  e  tratarão  ja  ilos  Selebres, 
Papuaas,  Mindanaos,  Ohampaas,  China, 
e   Japaõ,    mas    uào    ainda    dos    Lequios, 


nem  dos  mais  arcipelagos  que  na  gran- 
deza deste  mar  estão  ainda  por  descu- 
brir. »  Fernão  Mondes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  14.3.  —  «Neste  anuo  de  AI. 
D.  iiij.  mandou  el  Roi  a  Índia  por  capi- 
tam do  huma  grossa  armada  Lopo  Soa- 
rez  daluarenga,  filho  de  Rui  <iomes  Dai- 
varonga  chançalor  uiór  que  fora  dei  Rei 
dom  Afonso  o  quinto,  da  qual  ai'mada  se 
tratara  no  anuo  seguinte  de  M.  D.  v.  em 
que  tornou  ao  regno.»  Daniião  do  Gocs, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  76. 
—  «Neste  anno  de  M.  D.  xii.  passou  dom 
Pedro  do  nienesos  conde  Dalcoutim,  filho 
de  dom  Fernando  de  meneses  Marques 
de  Villa  Real,  a  Septa,  onde  esteue  por 
capitam,  e  gouernador  da  cidade  cinco 
ânuos,  de  quem,  c  do  que  neste  tempo 
fez,  .so  tratara  ao  diante.»  Ibidem,  part. 
'à,  cap.  40.  —  «Destes  houve  antigamen- 
te, e  ainda  ha  alguns  taò  fidalgos,  que 
estimando  mais  a  honra,  que  thesouros, 
tratarão  só  do  dar  o  seu  a  seu  dono;  e 
assim  tornaras  para  suas  casas  ricos  só 
de  bom  nome,  que  ho  melhor,  que  mui- 
tas riquezas,  como  diz  o  Sábio.»  Arte  de 
furtar,  cap.  9. 

f  TRATAREI.  Forma  do  verbo  tratar 
na  primeira  pessoa  do  futuro  imperfeito 
do  modo  indicativo.  Vid.  Tratar.  —  «O 
qual  he  tãto  que  he  muyto  para  arrecear 
cõtaio,  e  por  disso  não  tratarey  por  ago- 
ra dcUes,  porque  tenho  por  da  vate  co- 
tar o  que  vimos  nós  da  cidado  do  Pe- 
quim, os  quais  ci5fesso  que  estou  ja  ago- 
ra arreceado  aver  de  vir  cijtar  ainda  esse 
pouco  que  dellcs  vimos.»  Feruão  Mendes 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  88.  —  «Mas 
deixando  agora  estas  brutalidades  gentí- 
licas que  trazem  por  pratica,  de  huma  só 
cousa  tratarey  aquy  particularmente  nes- 
ta matéria,  que  ho  das  iguarias  que  di- 
zem que  se  iiaõ  de  dar  no  banquete  em 
que  se  conviíla  a  Deos,  de  que  a  alguns 
delles  vy  usar  muyto  A  letra,  inda  que 
por  falta  de  fé  suas  obras  lhe  haõ  de 
aprovcytar  pouco. f   Ibidem,   cap.  105. 

f  TRATAREM.  Fórnui  do  verbo  tra- 
tar na  terceira  pessoa  do  plural  do  modo 
infinito  pessoal.  Vid.  Tratar. —  «O  que 
sabendo  o  Çabaim,  que  ja  estaua  na  terra 
firme  do  caminho  pêra  soeeorrer  a  cidade 
de  Rachol,  sobre  quem  tinha  por  certo 
que  vinlia  ol  Rei  de  Narsinga  em  pessoa 
mandou  Mostafaçani,  homem  principal  de 
sua  corte,  e  com  ello  dous  turcos  homens 
nobres  a  Afonso  Dalbuquerque,  pêra  tra- 
tarem destas  pazes,  ficando  em  terra  por 
arrefens  Francisco  coruinel,  e  Diogo  fer- 
nandez  de  faria  Adail.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  7. 

1  TRATASSE.  hWrwa.  do  verbo  tratar 
na  primeiva  ou  terceira  pessoa  do  singu- 
lar do  pretérito  mais  que  perfeito  do  modo 
conjunetivo.  Vid.  Tratar.  —  «EUe  se  des- 
culpou com  dizer  que  j:\  não  era  gente, 
que  o  deixassem  cora  sua  fortuna,  que 
queria  morrer  por  aquelles  matos,  o  que 


BO  não  tratasse  mais  dellc,  que  fizessem 

conta  que  era  acabado.»  Diogo  do  Cunto, 
Década  U,  Hv.  8,  cap.  111. 

j  TRATAVAM.  Forma  do  verbo  tratar 
na  terceira  pessoa  do  plural  do  pretérito 
imperfeito  do  modo  indicativo.  Vid.  Tra- 
tar. 


iJo  Plioriniio,  philoioplio  eleçaiitt', 
Vereis  oino  Annibal  c^carin-cia. 
Quando  das  artes  beilicas  di^intc 
Dellc  com  larga  voz  tratara,  c  lia. 
A  disciplina  militar  prestante 
Não  SC  aprende,  Sentior,  na  phantasia, 
Sonhando,  imaginando,  ou  estudando; 
Senão  vendo,  tratando,  e  pclcj^uido. 
càm.,  Li'8.,  cant.  10,  est.  153. 

—  «Feito  isto  dcspedio-sc  Bernaldim 
de  Sousa  de  ElRey,  e  se  tornou  pêra 
Ternate,  muito  amigo  com  o  Rey  de  Ti- 
duro,  e  D.  Rodrigo  de  Menezes  ee  paaãou 
pêra  Talangame,  por  ser  avisado  que  tra- 
tava o  Capitão  de  o  jirender.»  Diogo  de 
Couto,  Década  6,  liv.  9,  cap.  20.  —  «Nós 
lho  agradecemos  entaõ  muyto  o  seu  bom 
zelo,    e  a  caridade  c3  que  nos  tratarão, 

0  lhe  aceitamos  a  esmola  do  arroz,  de 
que  cada  hum  de  nós  comeo  siis  dous  boca- 
dos, porque  era  tão  pouco  que  nâo  abran- 
geo  a  mais,  e  sem  nos  mais  determos  nos 
dospidimos  delles,  e  pelo  caminho  que  el- 
Ics  nos  insinaraõ  começamos  a  caminhar 
para  o  lugar  onde  estava  a  albergaria,  c3 
aíjuella  pressa  quo  as  nossas  fracas  forças 
nos  consontiaõ.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  80.  —  «El  Rei  man- 
ilou  logo  chamar  a  D.  JoSo  por  huma 
Carta  tão  honrada,  como  se  lhe  não  qui- 
zera  fazer  outra  mercê :  com  a  qual  D. 
João  60  veio  á  Corte,  onde  foi  tão  enve- 
jado  pelas  feridas,  como  pelos  favores. 
El  Rei  lhe  fez  mercê  da  Commenda  de 
Salvaterra,  acordando  aos  homens  de 
novo  seu  merecimento  e  estimaçlo  com 
que  os  tratava. »  Jacintho  Freire  d'An- 
drade,  Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv.  1. 
—  «Deste  feito  auisou  logo  dom  Francbco 

01  Rei  dom  Emanuel,  screuendolhe  que 
sua  Alteza  lhe  mandasse  o  que  haoia  de 
fazer  daquelles  mercadores  ChristSos,  que 
tomara,  porque  os  moradores  lhos  pediam 
para  os  venderem  em  leilam,  e  leuarem 
a  parte  que  lhes  coubesse,  como  fezeram 
dos  mouros  que  alli  CAptiuarão,  que  por 
taes  se  podiam  estimar,  pois  viuiam  em 
suas  terras,  e  tratauam  com  elles  em 
mercailoriiks  defesas,  como  se  sabia  por 
certo.»  Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  4,  cap.  15.  —  «Neste  anno 
do  quatrocentos  e  nouenta,  Barraxe  Mou- 
ro principal,  e  grande  Senhor  (que  atras 
se  disse'!  trataua  de  tomar  a  cidade  de 
Ceyta  per  manha,  e  anlil  de  hum  Lopo 
Sanches,  caualleiro  que  nella  estana,  e 
fingio  de  lha  dar.»  (íarcia  de  Rezende, 
Chronica  de  D.  João  11,  cap.  111. —  «Ti- 
nha em  todas  as  Cortes  da  sua  m«5  hum 
Conselheiro,  qne  lhe  correspondia  com  os 


TRAT 


TRAT 


TRAV 


799 


avisos  de  tudo,  o  que  se  tratava ;  e  a  cada 
hum  dava  por  isso  cincoenta  mil  cruza- 
dos, que  era  muito  boa  propina.»  Arte  de 
furtar,  cap.  18. 

TRATAVEL,  adj.  2  gen.  —  Homem  tra- 
tavel ;  Uomem  com  quem  se  pôde  conver- 
sar, tratar  e  negociar. 

—  Brando,  maneavel.  —  Génio  trata- 
vel. 

TRATAVELMENTE,  adv.  (De.  tratavel, 
e  o  sufEso  iimente»).  De  um  modo  tra- 
tavel. 

-}-  TRATE.  Forma  do  verbo  tratar  na 
primeira  ou  terceira  pessoa  do  singular 
do  presente  do  modo  conjuuctivo.  Vid. 
Tratar.  —  «Porém  antes  que  trate  de 
outra  cousa,  me  pareceu  necessário  dar 
relação  do  fim  que  teve  esta  guerra 
dos  Achens,  e  em  que  i)arou.  o  apparato 
da  sua  Armada,  para  que  fique  entendida 
a  razaõ  do  prognostico,  e  do  receyo,  em 
que  tantas  vezes  com  gemidos,  e  suspiros 
tenho  apontado  por  parte  da  nossa  Ma- 
laca, taõ  importante  ao  Estado  da  índia, 
quanto  (ao  que  parece)  esquecida  daquel- 
les  de  quem  com  razaõ  devera  ser  mais 
lembrada.  >  Fernão  Mendes  Finto,  Pere- 
grinações, cap.  26.  —  «O  dinheiro  he  o 
nervo  da  guerra,  e  onde  este  falta,  arris- 
ca-se  a  vitoria,  e  o  prol  do  bem  commum, 
de  que  he  bem  se  trate  primeiro  que  do 
particular;  que  totalmente  sâ  perde,  quan- 
do se  não  assegura  o  commum.»  Arte  de 
furtar,  cap.  4Õ. 

TRATEAR,  v.  a.  Dar  tratos. 

TRATISTA,  s.  m.  Termo  pouco  em  uso. 
Homem  que  trata  sobre  alguma  matéria. 
Vid.  Arbitrista. 

TRATO,  ou  TRACTO,  s.  m.  Acto  de  tra- 
tar, de  pegar,  trazer  entre  mãos. 

—  Tratamento.  —  «E  nenhum  dos 
que  tem  qualquer  trato  destes  se  pode 
mudar  para  outro  sem  licença  da  camará, 
e  por  causas  justas  e  licitas,  so  pena  de 
trinta  açoutes.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  97.  —  «Os  Papas  tem 
seus  Xepotes,  e  os  Príncipes  devem  ter 
seus  confidentes  para  cada  matéria ;  como 
hum  para  a  paz,  outro  para  a  guerra, 
hum  para  a  fazenda,  outro  para  o  trato 
de  sua  pessoa,  etc.  E  naõ  seja  hum  só 
para  tudo,  porque  naõ  pôde  assistir  a  tan- 
tas couzas,  nem  comprehendelas :  e  sendo 
vários,  estimulaõ-se  com  a  emulação  a  fa- 
zer cada  qual  sua  obrigação  por  excel- 
lencia.B  Arte  de  furtar,  cap.  30. 

—  Conversação. 

—  Amizade.  —  «Estas  circunstancias 
se  achão  também  entre  amigos ;  e  não  he 
cousa  admirável  que  as  mesmas  inclina- 
çoens  que  causão  a  amizade  no  commer- 
cio  dos  homens,  sejão  muitas  vezes  a 
cauza  do  aborrecimento  no  trato  dos 
amantes?»  Cavalleiro  d'01iveira,  Cartas, 
liv.  1,  n.»  13. 

—  Nào  ser  uma  terra  de  muito  trato. 
— ^^«Aqui  esta  hum  Governador  com  pouca 
gente  pelo  graõ  Tiirco,  porque  esta  terra 


naõ  he  de  muyto  trato :  nem  de  muvtas 
lavovras.  Ha  aqui  algumas  palmeyras  de 
tâmaras,  e  o  principal  trato  que  aqui  tem 
he  dos  peregrinos  Christãos  quando  pas- 
saõ  por  aqui  em  romaria.»  Tenreiro,  Iti- 
nerário, cap.  35. 

—  Tomar  trato. 

E  quereis  que  voa  presto 
no  que  nào  é  de  aea  geito? 
estaes  n'Í3so  máo  galante  ; 
tomaes  trato 

qne  vos  é  caro  o  barato  ; 
sabei  qu'este  de  diante 
no  melhor  nos  tira  o  prato. 

ANTÓNIO  PRESTES,  ACTOS,  pag.    16. 

—  Assentar  os  tratos  da  paz.  —  «Xo 
mesmo  tempo  mandou  o  Çabaiiu  dalcào 
dous  embaixadores  a  Afonso  dalbuquer- 
que  pedindolhe  paz,  e  licença  para  poder 
comprar  dos  cauallos  que  vissem  a  Goa, 
03  que  ouuesse  mister  aos  quaes  embai- 
xadores fez  muita  honra,  e  mercê,  e  man- 
dou com  elles  Diogo  fernandez  de  faria 
Adail  de  Goa,  pêra  assentar  os  tratos  das 
pazes  com  o  Çabaim  daleam.»  Damião  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3, 
cap.  30. 

—  Proposições   de  negociação  politica. 

—  Copula,  conversação  carnal. 
—  Trato  dobre.  Vid.  Doble. 

—  Plur.  Tormentos,  torturas. 

—  Tratos  de  desejos ;  a  que  não  ha  de 
satisfizer. 

—  Dar  tratos  ao  juizo;  mortificar-se 
por  achar  alguma  verdade,  etc. 

7  TRATOU.  Forma  do  verbo  tratar  na 
terceira  pessoa  do  singular  do  perterito 
perfeito  do  modo  indicativo.  Vid.  Tratar. 

—  «Floriano  do  Deserto  bem  mostrou  na- 
quella  hora  á  donzella  de  Trácia,  que  nào 
por  falta  de  animo  lhe  ficara  por  acabar 
a  aventura  da  copa,  que,  posto  que  a  lhe 
a  natureza  dera,  o  tratou  tão  mal,  que 
quasi  se  não  podia  bulir.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  dlnglaterra,  cap.  94. 

—  «Este  Principe  jà  era  Roy  da  Pimenta, 
por  certos  agravos  que  teve  de  ElRev  de 
Còchim  que  o  criara  como  pay,  determi- 
nou de  se  passar  à  parte  do  Camorim, 
para  o  que  se  carteou  com  elle,  e  tratou 
de  se  verem,  o  que  o  Camorim  grangeou 
muito,  e  lho  mandou  sobre  isso  cartas  muv 
honrosas,  e  de  grandes  offerecimentos, 
com  que  elle  se  fez  prestes  para  se  pas- 
sar a  Caleci'it.í>  Diogo  de  Couto,  Década 
6,  liv.  8,  cap.  2. —  "E  a  Raynha  de  Cas- 
tella  como  muy  nobre,  e  virtuosa  Prin- 
cesa recolheo  os  filhos  do  Duque  que  erão 
seus  sobrinhos  a  sua  casa,  e  os  tratou  e 
honrou  sempre  como  era  rezam  que  fosse, 
e  fizesse  a  sobrinhos  tão  chegados  a  ella, 
que  eram  filhos  de  sua  prima  com  irmãa, 
e  netos  do  infante  dom  Fernando,  e  da 
Infanta  dona  Beatriz,  que  era  irmãa  da 
Raynha  de  Castella  sua  mây,  e  do  Mar- 
ques de  Montemor  não  ficou  filho  algum.» 
Garcia  de  Rezende,  Chronica  de  D.  João 


II,  cap.  44.  —  «Neste  o  que  dissemos 
basta  pêra  se  entender  com  quanta  pro- 
uideucia  tratou  o  padre  Francisco  da 
iundaçam  da  nossa  residência  de  Ter- 
nate.»  Lucena,  Vida  de  S.  Francisco  Xa- 
vier. — •  «E  chegando  elle  com  isto  á  ul- 
tima desesperação,  tratou  esta  sua  des- 
aventura  com  sua  molher  somente,  por- 
que ja  neste  tempo  não  avia  outrem  com 
quem  se  pudesse  aconselhar,  nem  que  lhe 
fallasse  verdade.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  149.  —  «Primeira- 
mente dizendo  elle  que  os  Índios  eram 
mais  de  dez  ou  doze  mil,  tratou  de  os 
repartir  todos  pelos  moradores,  que  era 
um  modo  corado  de  os  captivar  e  vender, 
sem  mais  differença  que  chamar  á  venda 
repartição,  e  ao  preço  agradecimento.» 
Padre  António  Vieira,  Cartas,  n."  11. 

TRAUCTAR.  Vid.  Tratar. 

TRAUMÁTICO,  A,  adj.  (Do  grego  trau- 
ma).  Termo  de  medicina.  Relativo  a  uma 
ferida,  ou  produzido  por  ella.  —  Febres 
traumáticas. 

i  TRAUMATISMO,  s.  m.  Termo  de  ci- 
rurgia. Estado  em  que  uma  ferida  grave 
acconimette  o  organismo. 

t  TRAUMATICINA,  s.  f.  Solução  da 
guttapercha  no  chloroformio. 

TRAUSAR,  V.  a.  Taxar,  limitar,  pôr 
taxa.  Vid.  Tausar. 

TRAUSO,  s.  m.  Termo  antiquado.  Ta- 
xa. 

—  O  acto  de  transar. 
TRAUSSAÇÃO,  s.  /.  Termo  antiquado. 

Transacção;  por  este  meio  se  mudavam 
uma  prestação,  serviço,  pagamento  em  sa- 
tisfação em  outra  espécie. 

TRAUTA,  s.  f.  O  vestígio  deixado  pe- 
la caça. 

TRÁUTADO.  Termo  antiquado.  Vid. 
Tratado. 

TRAUTADOR,  s.  m.  Vid.   Tratador. 

TRAUTAR,  1-.  a.  Vid.  Tratar. —  "Os 
quaes  dias  de  custume  soomente  averam 
lugar  n'aquello,  que  for  morador  no  lu- 
guar,  honde  se  trautar  a  demanda ;  e 
naquelle,  que  hí  nom  for  morador  no  lu- 
guar,  honde  se  trautar  a  demanda,  de- 
ve-se  guardar  o  que  he  contheudo  no  ca- 
pitulo seguinte.»  Ord.  Affons.,  liv.  1, 
tit.  44,  §  8. 

TRAUTO,  s.  m.  Termo  antiquado.  Vid. 
Trato. 

—  Uma  tirada,  ou  caminhada,  nem 
para  perto,  nem  para  longe;  o  que  se 
chama  também  n7n  estirão,  que  são  125 
passos   ou   estádio.  =  Em  Viterbo,  Eluc. 

TRAVA,  s.  /.  Trave  delgada,  cujas  ca- 
beceiras descançam  em  duas  paredes,  co- 
lumnas  ou  pilares,  e  fica  atravessada 
n'ella5. 

—  Trava  da  òcsta;  a  prisão  dos  pés, 
peia. 

—  Trava  da  cruz;  os  braços.  Vid. 
Travessa. 

TRAVAÇÃO,  s.  f.  A  connexào  das 
cousas  travadas  entre  si. 


800 


TRAV 


TRAV 


TRAV 


TRAVACONTAS,  «.  /.  plur.  Controver- 
siaH,   conteiulas. 

TRAVADAMENTE,  adv.  (De  travado, 
com  osíiffixo  «mente»).  —  Batalhar,  com- 
batrr  travadamente ;  pelejar  baralhado» 
uiiH  com  (IS  outros. 

TRAVADURA,  s.  f.  Ferro  quo  servo 
de  torcer  os  dentes  da  serra,  um  para 
um  lado,  outro  para  o  opposto,  para  alar- 
par  o  talho,  e  correr  folgadamente,  sem 
aporto  entre  a.s  taboas,  ou  peças  abertas 
com  cila. 

TRAVADO,  pnrt.  pasa.  de  Travar. 

—  Briíja  travada.- — «E  sondo  huma 
menhani  quasi  Noroeste  sueste  co  rio  do 
sal,  que  estil  abaixo  do  Chabaquee  cinco 
Icgoas,  no3  conictoo  hum  ladraõ  com  se- 
te juncos  muyto  alterosos,  e  pelejando 
com  nosco  das  sois  horas  da  nienham  até 
as  dez,  em  quo  tivonios  huma  briga  assaz 
travada  de  muvtos  arremessos  assi  de 
lanças  como  de  íoíto,  em  fim  se  queimaríío 
três  vcllas,  as  duas  do  ladr.ão,  o  huma 
das  nossas,  que  foy  o  junco  cm  que  hiilo 
os  cinco  Portugueses,  a  que  por  nenhu- 
ma via  pudemos  ser  bõs,  por  ja  a  este 
tempo  teruu>s  a  mayor  parte  da  gente  fe- 
rida.» Ferniio  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções,   cap.  132. 

—  Batalha  travada;  combate  continua- 
do, começado. — -«Bem  vejo,  disse  Flo- 
riapo,  quo  pcra  homem  tão  esforçailo, 
qualquer  vantagem  se  havia  de  tomar, 
porém  eu  a  não  quero  que  sem  ella  cum- 
prirei o  que  disse.  Então,  descendo-se,  e 
coberto  do  escudo,  começou  com  Auder- 
raraeto  nraa  bataliia  tão  ferida  e  trava- 
da, que  naquella  corte  se  não  vira  outra 
tal.  »  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
d'Inglaterra,  cap.  80. 

—  Pressa  travada;  pressa  principiada. 

Aqui  António  de  Sil  nesta  trauada 
Pressa,  ae  acerta  cora  Tristão  do  Sousa, 
Ambo9  com  denodado  encontro,  as  sollas 
Liuros  doixaudo,  tição  sem  perigo. 
Mas  forão  socorridos  num  momento 
De  ligeiros  ginetes  que  folgados 
Estauào,  o  na  volta  outra  vez  cntrâo 
Do  desastre  passado  assas  corridos. 

CORTE  aSAL,  NACFBAQIO  DK  SEPCLVEDA,  Cant.  4. 

—  Andar  a  briga  mui  travada;  andar 
a  briga  cm  progresso,  contimiar.  —  «An- 
dava a  briga  mui  travada ;  dos  nossos  al- 
guns cahirão  mortos,  mMihum  se  retirou 
ferido.  Nos  que  estavão  debaixo,  a  impa- 
ciência de  não  ter  lugar  para  subir,  cau- 
sava maior  dôr,  que  as  feridas  que  vião 
receber  aos  companheiros,  porque  ainda 
em  tão  prolixo,  e  perigoso  cerco  os  não 
fartava  a  guerra.»  Jacintho  Freire  d'An- 
drade.  Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv.  2. 

—  Guerra  travada;  controvérsia  prin- 
cipiada, ou  continua-la,  em  que  se  briga, 
e  peleja  com  força  e  energia. 


E  para  castigar  este  ódio  e  esta  ira 
Que  pertido  Siiltào  no  peito  encerra, 


Ab  vellas  logo  ao  mani»  vento  abrira 
K  d<;  Cambaia  ciitr&ra  a  ingrata  terra, 
Se  llro  dl!  todu  uiituo  não  impedira 
Auina  á»i)era,  cruel,  e  dura  guerra 
Quo  com  o  Accdecilo  travwla  tinha 
Que  Bua  torra  it  Goa  tom  visinlia. 

r.  DK  a:<draiik,  i-bimeiro  cercu  dk  diu,  c*nt. 
G,  est.  25. 

—  Envolvido,  implicado,  enredado.  — 
«A  artilheria  dos  quaos  n3lo  tirava  de 
fora,  temendo  que  podoriam  fazer  dam- 
no  aos  no.«i»os  dos  bateis,  que  andavam 
envoltos  com  os  imigo.-»,  e  tão  travados, 
que  não  havia  entre  clles  mais  espaço, 
que  o  comprimento  de  arma,  com  que  se 
feriam.»  Barros,  Década  2,  liv.  9,  cap.  2. 

—  Fidla  travada ;  falia  que  se  pega, 
embaraçada. 

—  Agarrado,  entravado. 

—  Bi:sta  travada;  animal  peiado. 

—  Termo  do  alveitaria.  Cavallo  tra- 
vado; cavallo  que  tem  o  pé  e  a  mào  da 
mesma  parte,  calçados  do  branco. 

—  ò'.  plur.  O  vento  cutre  o  Brazil  e 
a  Africa,  como  os  tufões  da  China. 

TRAVADOR,  A,  s.  O,  a  que  trava. 

—  Adjectivamente :  Pessoa  travadora. 
—  «Em  esta  sazom  vivia  com  elKei  huum 
boom  escudeiro,  e  pêra  mujto,  mancebo, 
e  homem  de  prol,  e  em  a  quel  tempo  es- 
tremado em  asijnadas  bondades,  grande 
justador  c  cavalgador  e  travador  de  gran- 
des ligeiriçes,  e  de  todallas  manhas  que 
se  a  boons  homens  requerem  chamado 
per  nome  Aflouso  Madeira.»  Fernão  Lo- 
pes, Chronica  de  D.  Pedro  I,  cap.  13. 

TRAVADOURO,  *.  m.  O  eoUo  da  per- 
na da  besta,  onde  se  ata  a  trava  ou  peia. 

TRAVADURA,  s.f.  Acto  de  travar,  ou 
de  prender  varias  peças  entre  si. 

—  Travamento. 

TRAV  AL,  adj.  2  gen.  (Do  latim  traba- 
lis) .  —  Prego  travai ;  prego  grande,  e 
mui  fornido  ])ara  pregar  tr.ives. 

TRAVALHO,  s.  m.   Vid.  Trabalho. 

TRAVAMENTO,  s.  m.  A  acção  de  tra- 
var a   peleja. 

TRAVANCA,  «.  f.  Embaraço,  empeci- 
lho. 

TRAVANCADO,  part.  pass.  de  Travan- 
car. 

TRAVANCAR,   r.    a.   Vid.  Atravancar. 

TRAVÃO,  s.  íJí.  Cadeia  de  travar  as 
bestas.  Vid.   Trava. 

TRAVAR,  r.  a.  (Do  latim  travare). 
Pegar  uma  cousa  com  outra,  entrelaçan- 
do, o  enredando  os  seus  ramos,  braços 
em  diversos  pontos. 

Ávidas  mãos,  do  abandonado  leme 
Validos  tragam,  não  a  indornç:i-lo 
Para  o  rumo  perdido ;  mas  cubi<,'a 
Trcda,  que  os  move,  a  syrthes,  a  naufrágios 
Dosar vorada  a  nau  presto  arremessa. 
Km  suas  iras  de  flagello  aos  povos 
Um  rei  conquistador  lhes  manda  o  Eterno. 
oARKKTT,  cAuuKs,  caut.  6,  cap.  2. 

—  Travar    peleja,    briga;    começal-a, 


contínual-a.  —  «Durou  assi  esta  peleja 
por  csjiaço  de  mais  de  cinco  horas,  no 
fim  das  qoai.H  vendo  o  tyranno  Hraniaa 
que  0.S  de  dentro  ae  defendiSo  e>-força- 
'lamentc,  e  que  os  seu»  em  partes  liiiio 
ja  eiifraquecí-ndo,  Kaltoa  em  terra  cõ  obra 
do  dez  ou  doze  mil  homens,  dos  milho- 
res  da  armada,  e  reforçando  com  muy- 
ta  presteza  as  cjmpanhiaa  dos  que  pe- 
Icjav.to,  a  briga  se  tornou  a  traTar  de 
novo  com  tanto  ímpeto  c  esforço  de  am- 
bas as  partes,  que  parecia  que  ent^o  se 
começava.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pere- 
grinações,   cap.  1.Õ4. 

—  Travar  pratica ;  começal-a,  conti- 
nual-a. —  «Partido  o  ermitão,  trauamos 
todos  pratica  sobre  o  Elephante,  e  por 
me  parecer  serã  aos  leytores  cousa  agra- 
daucl  tocar  algumas  calidadee,  e  proprie- 
dades suas,  a?  contarey,  porque  saií  el- 
las  taes,  c  t3o  notaueis,  que  todos  terão 
o  tempo,  por  bem  empregado  em  sabei- 
las.»  Fr.  (íaspar  de  S.  Bernardino,  Iti- 
nerário da  índia,  cap.  \h. 

—  Travar  com  algnem ;  deaafial-o,  pro- 
vocal-o.  —  «O  que  foram  fazendo  ate  de- 
corem do  vallc,  onde  obra  de  vinte  de 
cauallo  dos  mouros,  que  começaram  de 
trauar  com  elle,  o  embaraçaram  de  ma- 
neira que  nam  poderão  baswir  a  trilha, 
por  onde  fora  Brás  da  sylua.»  Damião 
de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part. 
4,  cap.  44. 

—  Prender  diversas  peças  de  madeira. 

—  Travar  pé  com  pé  na  Iveta  j  bri- 
gando arca  por  arca,  e  á  mão  tente. 

—  Travar  a  Ksta;  prende!-a  com  o 
travão. 

—  Travar  alguém  pelo  braço ;  agar- 
ral-o,  prendel-o. 

—  Travar  o  combate ;  desafial-o,  pro- 
vocal-o. 

—  Accommetter. 

—  Travar  as  set  ras  para  abrir  madei- 
ra; voltar-lhe  alternadamente  os  dentes 
para  lados  oppostos  para  abrirem  mais 
largos  tallios,  e  correrem  melhor  na  ras- 
gadura. 

• —  V.  n.  Ter  gosto  adstringente,  como 
certos  fructos  verdes  que  travam  na  bocca. 

—  Emprega-se  também  no  sentido  fi- 
gurado. 

—  Travar-se,  v.  refi.  Liar-se,  tecer-se, 
enlaçar-sc. 

—  Travar-se  a  braços;  altercar,  pro- 
vocar, porfiar  por  meio  dos  braços.  — 
«Dramusiaudo  e  Barroeintc  se  travaram 
a  braços,  experimentando  cada  um  o 
que  havia  em  si,  provando  suas  forças 
por  se  derribar,  e  não  o  podendo  fazer, 
tornando-se  a  arredar,  começaram  a  em- 
pregar seus  golpes  como  pessoas,  que 
queriam  perder  a  vida  a  troco  d'outra 
vida.»  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
d'Inglalerra,  cap.  04. 

—  Travar-se  uma  briga,  uma  batalha  ; 
começar-se.  —  «Porém  hum  irmão  dei 
Rcy   de   Andraguire  lhe  atalhoa  a  este 


TRAV 


TRAV 


TRAV 


801 


seu  dessenho,  porque  com  dous  mil  ho- 
mens se  lhe  pÔ6  diante,  pelo  qual  a  bri- 
ga tornou  ao  primeyro  estado,  travando- 
se  de  novo  entre  elles  com  tanta  fiiria.» 
Fernão  Mendes  Piuto,  Peregrinações, 
cap.  16. —  «E  o  ferido  lançado  mào  a 
huma  alabarda,  decepou  ao  outro  hum 
braço,  e  travandose  com  isto  a  briga  en- 
tre todos  nove  sobre  esta  desaventurada 
questão,  a  cousa  veyo  a  estado  que  des- 
pois  de  sete  de  nós  estarmos  muyto  feri- 
dos, acudio  o  Chaem  em  pessoa  com  to- 
dos os  Auchacys  da  justiça.»  Ibidem, 
cap.  llõ.  —  «Aqui  se  travou  huma  mui- 
to áspera  batalha  com  grande  destruição 
dos  iraigos,  em  que  os  nossos  pelejarão 
de  maneira,  que  a  poder  de  golpes  arran- 
carão os  Mouros  do  campo,  e  os  leváraõ 
atè  08  meterem  dentro  na  Cidade.»  Dio- 
go de  Couto,  Década  6,  liv.  4,  cap.  1. 

—  Figuradamente:  Andar  de  compa- 
nhia. 

—  Travar-se  de  razões,  de  palavras; 
altercar,  portiar. 

TRAVE,  s.  f.  (Do  latim  trabs).  Lenho 
grosso,  longo,  falquejado,  de  que  se  usa 
na  construcção  dos  edifícios. —  tQuem  he 
solto  de  lingoa  he  de  o  ser  da  consciên- 
cia; todo  o  maldizer  que  prejudica  se  ha 
deytar  da  memoria  como  peçonha,  que  a 
quem  nam  tendes  boa  vontade  hum  mos- 
quito vos  parece  hum  alifaute,  e  lium  ar- 
gueyro  de  mal  seu  huma  trave.»  D.  Joan- 
na  da  Gama,  Ditos  da  freira,  pag.  33. 

—  O  arame  da  iivela,  que  une  a  char- 
neira, e  fuzilào  ao  arco. 

TRAVECIA,  s.  f.  Yid.  Travessia. 
TRAVEJAMENTO,   s.   m.    As   traves   e 
madeiramento  de  uma  casa. 

—  Vigamento. 

TRAVEJAS,  V.  a.  —  Travejar  o  edifi- 
cio ;  assentir-lhe  as  traves,  mettel-as  na 
parede. 

TRA VENTO,  A,  adj.  Termo  de  medici- 
na. Que  tem  um  gosto  adstringente,  que 
trava  na  bocca  como  os  fructos  ver- 
des. 

TRAVÉS,  ou  TRA  VEZ,  s.  m.  (Do  fran- 
cez  travers).  Termo  de  fortificação.  Ba- 
luarte feico  de  maneira  que  do  lado  do 
angulo  podem  defender  o  outro  lado  do 
angulo  seguinte,  e  talvez  parallelo. 

—  Os  travezes  da  fortuna;  as  des- 
graças, damnos  que  ella  causa. 

—  Estar  a  nau  do  mar  a  travez ;  é 
quando  se  põe  á  capa,  e  as  ondas  emba- 
tem no  costado,  vindo  em  direitura  a 
elle. 

—  Pôr  a  travez;  pôr  de  um  lado. 

—  Dar  com  uma  cousa  a  travez ;  per- 
del-a  de  todo. 

—  Olhar  de  travez ;  olhar  com  os  olhos 
torcidos,  e  desviados  do  objecto,  signal 
de  desapprovação,  e  inimizade. 

—  Pôr-se  com  alguém  de  mar  em  tra- 
vez ;  apartar-38  d'elle,  ficando  mar  in- 
termédio. 

—  Ficar  de  travez ;  ficar  de  permeio, 

■     TOL.  V.  — 101. 


de  sorte  que  se  atravesse,  e  atalhe  o  ca- 
minho. 

—  Dar  comsigo  a  travez ;  perder-se, 
arruinar-se. 

—  Dar  o  navio  de  travez ;  ficar  atra- 
vessado com  o  lado  ao  vento,  sem  poder 
proejar. 

—  Tudo  lhes  deu  a  travez;  tudo  se 
lhes  perdeu. 

—  Ir  a  travez  da  virtude ;  ir  <á  parte 
contraria  da  virtude. 

—  Loc. :  A  travez.  —  «O  que  ja  ti- 
nhaõ  feito  os  outros  capitães,  que  seguin- 
do sua  derrota  a  trauez  de  Dabul,  acha- 
rão Garcia  de  Sousa  na  sua  carauella, 
quo  o  Vicerei  mandou  após  Fero  Cão,  vi- 
sitar dom  Lourenço,  e  pêra  ficar  com 
elle,  mas  com  temporaes  naõ  pode  che- 
gar.» Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  2,  cap.  27. 

—  Loc.  ADY. :  De  travez. 


Apoz  estaa  palavras  pouco  tarda, 
Torna  a  ajudar  os  seus  na  grãa.  revolta, 
Mas  a  morte  erucl  que  a!li  o  aguarda 
Faz  que  lá  de  travh  o  chumbo  âílta 
Contra  elle  huma  mortal,  loaga  espingarda 
Que  na  cabeça  o  encontra  ;  sahe-lhe  envolta 
Era  sangue  a  alma.  cahe  morto  o  moço  forte 
Sobre  o  que  lho  causou  agora  a  morte. 

F.    D'ASDnAOK,  PBIXEIBO  CEBCO  DE  Din,Cant.    19, 

est.  5tí. 


TRAVESANHO,  s.  m.  Termo  antiquado. 
=  Signitioaçâo  incerta. 

1.)  TRAVE3SA,  s.  f.  Rua  que  cort^  as 
ruas  directas  e  principaes. 

A  cidade,  Deos  a  cresça  ! 
tem  em  si  tantos  bolsinhos 
que  não  ha  rua  sem  travessa. 

ANTO.MO  PRESTES,   ACTOS,  pag.    371. 

—  Travessa  da  cruz;  os  braços. 

— •  O  acto  de  atravessar,  e  vencer  a 
distancia  de  um  logar  a  outro  na  costa 
ou  região  opposta.  —  « AíFonso  d'Albo- 
querque  recolhido  em  a  nau  Trindade 
Capitão  Fero  d'Alpoem,  fez  sua  viagem 
caminho  da  Lídia ;  e  na  travessa  daquel- 
le  golfam  té  Ceilão  tomou  duas  nãos  de 
ilouros,  huma  de  Dabul,  e  outra  de 
Chaul,  que  vinham  bem  carregadas  de 
Çamatra.»  Barros,  Década  2,  liv,  7,  ca- 
pitulo 1. 

—  Feça  de  madeira,  ou  taboa  estrei- 
ta com  que  se  atravessa  e  prega  a  por- 
ta do  confiscado. 

—  Forçào  de  mar  ou  de  terra,  que  di- 
vide uma  terra  da  outra,  e  que  se  ha  de 
atravessar. 

— -  Termo  antiquado.  Direito,  outr'ora 
passagem. 

—  Caminho  atravessado.- 

2.)  TRAVESSA,  adj.  f.  Obliqua, 

—  Mão  travessa ;  a  medida  da  largura 
da  mão  desde  a  cabeça  do  deJo  poUegar 
até  á  costa  da  mão,  aberta  a  chave  d'eila. 

—  Porta  travessa ;   porta   que   fica  a 


um  lado,  que  não  é  ã  frontaria  do  edifí- 
cio, nem  o  opposto  a  ella.  Yid.  Travesso. 
1.1  TRAVESSÃO,  s.  m.—  O  travessão 
da  balança ;  é  a  peça  onde  está  o  fiel,  e 
d'onde  pendem  os  pratos,  ou  de  cujo  ex- 
tremo pende  a  cousa  que  se  pesa,  e  o 
peso;  divide-se  pelo  meio  em  dous  bra- 
ços :  nas  balanças  romanas,  em  dous  bra- 
ços, no  mais  curto,  ou  menos  distante  do 
fiel  põe-se  o  peso  conhecido,  no  outro 
aquillo  que  se  quer  saber  que  peso  tem. 

—  Vento  que  dá  de  travez,  vento  con- 
trario, travessia  mui  rija. 

—  Termo  de  náutica.  Travessão  das 
gáveas.  Yid.  Cesto  das  gáveas. 

2.)  TRAVESSÃO,  adj.—  Vento  traves- 
são ;  vento  mui  rijo,  de  travez ;  por  um 
lado  do  navio,  conforme  o  rumo  que 
leva. 

TRAVESSAR.  Yid.  Atravessar. 

TRAVESSEAR,  r.  n.  Fazer  travessu- 
ras, baridhar. 

TRAVESSEIRO,  s.  m.  Almofada  da 
cama,  onde  se  descança  a  cabeça,  que 
atravessa  o  longor  da  cama. 

—  Juizo,  resolução  consultada  com  os 
travesseiros  ;  juizo  bem  considerado  com 
repouso,  e  uma  meditação  silenciosa. 

—  Loc.  POP. :  Conversar  com  os  tra- 
vesseiros ;  pensar  maduramente. 

TRAVESSIA,  s.  f.  Vento  de  travez, 
contrario  á  navegação,  riào  em  popa. 

— •  De  travessia ;  de  travez,  de  um 
lado. 

1.)  TRAVESSO,  A,  adj.  Yid.  Travessa, 

—  Linha  travessa;  linha  collateral,  ou 
transversal. 

—  Estradas  travessas ;  estradas  que 
se  cruzam  com  as  próprias  ruas. 

—  Mar  travesso  ;  mar  que  corre  atra- 
vessado contra  a  proa,  e  rumo  da  embar- 
cação. 

— -Rua  travessa;  rua  que  vem  desem- 
bocar nas  ruas  directas  e  principaes. 

2.)  TRAVESSO,  A,  adj.  Inclinado  a  fa- 
zer travessuras,  propenso  a  ellas.  —  Me- 
nino travesso. 


Enfeitae-me, 
Senhor  Matella,  eu  vos  peço 
que  travesso 
risqueis  hoje,  e  perdoae-me. 

AyiOKIO  PRESTES,  ADTOS,  pag.   417, 

Oh !  que  scena  de  languidos  prazeres. 
Que  paraizo  de  deleite,  <5  Tenus! 
Pelo  travesso  filho  assetteadas 
As  esquivas  nereidas  suspirando, 
Seguem  a  beUa  deusa,  que  promette 
A  suspirar  tam  doce  um  doce  premio. 
GARRBTT,  cauões,  caut.  8,  cap.  13. 

TRAVESSURA,    s.  f.    Desordem    feita 
com  inquietação, 

—  Diz-se  das  moças  que  fazem  peças 
aos  que  as  pretendem. 

—  Estúrdia,  peça,  mau  jogo, 
TRAVESSURINHÃ,  «.  /.  Diminutivo  de 

Travessura.  Fequena  travessura. 


802 


TRAZ 


TRAZ 


TRAZ 


TRAVEZ.  Vid.  Través. 

TRAVINCAR,  TRAVINCAVAR,  ou  TRA- 
VINCAVACAR.  Vid.  Atravancar. 

TRAVISIA,  s.  f.   Vi<l.  Travessia. 

TRAVO,  «.  711.  (Jontrac(,'rio  dcis  membros, 
quo  tolhe  o  u.so  d'cllu.s,  o  o.s  faz  eiitonar. 

—  A  qualidade  do  Iriicto  quo  trava  na 
bocca. 

TRAVOELA,  s.  f.  Espécie  de  trado  ou 
verruma. 

1.)  TRAZ.  Vid.  Trás,  e  Atraz. 

—  Irei  de  traz ;  irei  ií  retaguarda. 


Sobi  o  não  faleis  mais. 
Sobi  VÓ8. 

Eu  irei  do  traz, 
com  sara  Braz. 

ANTÓNIO  PRESTES,  ADXOB,  pag.  263. 


—  Outras  vezes  usam-n'o  como  pre- 
posição. —  «E'  caso  quo  muitos  dos  que 
alli  chegaram  lhe  quizeram  iallar,  e  dar 
o  prolfaça  de  seu  contentamento,  a  nin- 
guém respondia;  que  tinha  o  juizo  e  sen- 
tido occupado  em  suas  boas  venturas, 
succedidas  uma  traz  outra,  o  pedia  a 
Nosso  Senhor,  que  com  alguma  pequena 
desventura  sa  ))urgassom.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  122. 


Esta  doença  affirma  sentir  tanto 
Como  o  seu  mais  chegado  qui'.  alli  vinha. 
Recebe  Sousa  disto  luun  gfande  espanto 
Porque  a  sua  teni;ão  mal  advinha : 
O  grão  Cunlia  avisar  manda  de  quanto 
ElRoi  determinado  agora  tinha, 
E  trai  isto  ao  Sultão  se  vai  chegando 
Que  ja  pi-C3tc3  para  ir  o  estii  esperando. 

FRANCISCO  n'ANI>RADB,  PRIMEIRO  CERCO  DE  DIU, 

cant.  6,  est.  66. 


—  «Tras  este  messageiro,  que  el  Rei 
de  Bintani  mandou  a  Siaca,  despachou 
doze  lancharas  pêra  irem  em  busca  de 
Georgo  botclho,  do  que  George  dalbu- 
qucrquo  foi  auisado,  pelo  que  mandou 
armar  noue  lancharas,  de  que  deu  a  ca- 
pitania a  Francisco  de  mello  o  galego 
dalcunha,  pêra  se  ir  ajuntar  com  elle 
onde  quer  que  estiaossp.»  Damião  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3, 
cap.  -89.  —  «Porque  Ijaqueximena  sahio 
logo  iras  cllos  com  vinte  lancharas  bem 
esquipadas,  e  os  seguio  ate  lhes  entrar 
nas  costas,  no  porto  de  Malaca,  onde 
matou  Gil  symõos  capitaij  de  hum  bra- 
gantini,  ooin  todolos  que  com  elle  hiaõ.» 
Ibidem,  part.  4,  cap.  75. 

f  2.)  TRAZ.  Forma  do  verbo  trazer  na 
terceira  pessoa  do  singular  do  presente  do 
inodo  indicativo.  Vid.  Trazer.  —  «E  dize- 
mos outro  sy  que  o  infitiota,  quo  traz  a 
cousa  aforada  d'alguuni  Senhorio,  uom 
ha  poderá  vender  a  alguum  estranho,  se 
a  o  Sonhor  quiser  avor  t:into  por  tanto ; 
o  por  tanto  dove  seer  primeiramente 
requerido,  so  a  quiser  comprar.»    Ord. 


Affons.,  liv.  4,  tit.  37,  §  4.  —  «Trás  ol- 
la  tre.s  gigante»  do  desmedida  grandeza, 
armados  todos  de  uma  maneira,  cober- 
tos 08  corpos  de  laminas  d'a(;o,  tSo  gros- 
sas o  fortes,  que  parecia  imjKjSHivel  po- 
derem-se  desfazer  com  nenhuma  cusa.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  93.  —  «Jesus  te  guarde,  dis- 
se o  ermitão,  filho  maior  perigo  é  esse, 
em  que  agora  te  mettes,  que  o  outro  de 
([\ie  escapastes,  que  se  o  outro  ora  dam- 
iioso  ao  corpo  poderá  fazer  fructo  n'al- 
ma,  mas  este  ao  corpo  nrio  traz  proveito 
o  condemna  a  alma.»  Ibidem,  cap.  100. 
—  «Que  fazeis,  cavallciro,  n.ão  acabais 
de  descansar  do  cuiilado,  que  mais  ator- 
mentada me  traz?  Esse,  que  tendes  aos 
pés,  é  o  matailor  de  meu  irmào,  causa- 
dor da  velhice  cansada  d'el-rei  meu  pai; 
iniigo  de  minha  honra.  Acabai  de  lhe 
dar  lim  á  vida,  pêra  que  a  minha  fique 
descansada  c  contente.»  Ibidem,  cap. 
132.  —  «E  sobre  tudo  está  o  sangue  de 
modo  que  ha  mister  ferros,  e  a  concu- 
piscência algemada  pêra  que  nào  acerte 
de  fazer  alguma  descortezia  aos  bons 
propósitos  que  o  homem  traz  da  confis- 
são ;  que  também  como  o  tempo  começa 
de  aquentar,  so  os  não  salgam  muito  bem 
e  os  põem  de  fumo  entre  os  prezuntos, 
aos  dois  dias  so  damnam  e  não  ha  nari- 
zes quo  os  aturem.»  Fernão  Soropita, 
Poesias  e  prosas  inéditas,  pag.  8tí.  — 
(lE  desastre  que  desarma  uni  homem  de 
quanta  confiança  traz  nos  alforges;  por- 
que a  dama  deu  rizada  do  cima  que  es- 
trugiu na  rua ;  e  elle,  perdendo  de  todo 
as  estribeiras,  não  tem  mais  repouzo  que 
motter  so  na  primeira  estrebaria  que 
acha,  até  ver  maré  que  sem  vergonha  do 
mundo  navegue  para  casa.»  Ibidem,  pag. 
122.  - —  «E  corto  se  Clarinumdo  primei- 
ro olhara  o  danno,  que  traz  ao  estado  de 
minha  fama  sua  vãa  presunção,  e  des- 
contentamento ao  Emperador  se  o  sou- 
ber, naõ  se  metera  nisso:  faz  mal  de  pôr 
com  sua  bondado  em  condição  minhas 
cousas,  pois  taõ  pouco  lhe  hade  aprovei- 
tar sua  fantesia.»  Barros,  Clarimundo, 
liv.  2,  cap.  0.  —  «Nos  vestidos  de  sua 
pessoa,  e  algumas  cabaias,  que  dá  a  Fi- 
dalgos, e  Embaixadores  com  seus  feitios, 
conto  e  dons  leques;  e  hum  c  meio  em 
vivos  das  fotas  que  traz  na  cabeça  ;  e 
cincoenta  azares  em  feitio  dos  carapu- 
ções.»  Idem,  Década  2,  liv.  10,  cap.  7. 


Quem  í  este  que  a  nós  vem 
tão  d'as3uada? 
Como  aqui  temos  entrada 
todos  passam. 

Traz  dcsdcm 
d'esti"angciro. 

ANTONIÓ  PRSSTE3,  ACTOS,  pag.  65. 


Escute,  não  sei  quem  bate  ; 
á  fé  que  vem  confiado, 
O  bater  tro:  ai>ontado, 
torre  dela  niua  citto. 


Mas  traz  doudo  ou  traz  privado  ? 
Vô  quem  (■. 

Ouço  cavallo. 
iniDEM,  pag.  1.33. 

LA  farfalhou  um  proccuao 
com  quo  me  traz  c  inc  troaguo 
mais  arrastado  que  axouguc 
no  nosso  justiça  avcaao. 
iBioKM,  j)ag.  H.3. 

—  fDo  maneira  irmãos,  que  a  princi- 
pal empresa  pêra  que  somos  chamados 
debayxo  da  Capitania  de  lesu  Cbristo 
he  para  fazermos  guerra  perpetua,  e  c3- 
tinua  a  nos  mesmos.  Pcra  a  qual  a  pri- 
meyra  cousa  necessária  he,  que  nos  co- 
nheçamos a  nós,  e  entendamos  nossa  c5- 
postura,  nam  lhe  parecendo  a  ninguém, 
que  he  sò,  mas  sabendo  que  dentro  em 
si  traz  dous  inimigos  mortaes,  de  que 
he  cijposto.»  Fr.  Bartholomeu  dos  Mar- 
tyres,  Compendio  da  doutrina  christã, 
liv.  2.  —  «Nu  Euangelho  da  Missa  nos 
traz  o  principio  do  Euangelho  de  sam 
Marcos  em  que  se  conta  quando  aqaella 
trõbeta  celestial,  aquelle  diuino  prego- 
reyro,  e  precursor  do  Sonhor  sam  loam 
Baptista,  sayo  do  ermo  a  esperar  os  lu- 
deus  que  se  aparelhassem  pêra  receber 
o  Saluador  do  mundo,  porque  era  che- 
gado o  tempo  da  sua  vinda,  i   Ibidem. 

Com  que  até  do  Catay  no  Iraporio  o  mares 
Forão  erguer  as  gloriosas  Quinas 
A  còr  ostenta  do  inetal  precioso ; 
Nivea,  fragrante  flor,  já  traz  com  elle 
Nos  delicados  cAlices  mais  fructos. 

J.    A.   DR  MACEDO,  UEDITAÇÃO,  Caut.    3. 

Do  ar  ouviste  os  bens,  quando  conserva 
Seu  corpo  intacto  \  descobriste  os  damnos 
Que  traz  quando  so  altera,  ou  so  corrompo. 

IDEM,   A  NATCREZA,  Cant.   2. 

Xa  ingenuidade  natural  seguro, 
Kiqueza  não  comprada  apresentava: 
JVaz  o  fructo  esiwntaneo,  o  leito  puro 
Do  manso  armento,  que  no  pasto  andava  ; 
Tanto  de  trato  dobro,  o  engano,  alheio, 
Que  As  choças  leva  os  nautas  sem  receio. 

IDEM,  o  ORIENTE,  CJIlt.    7,   CSt.    51. 

Almeida  vem  depois  c'o  nobre  filho 
(^ue  do  Indico  oceano  as  aguas  tinge 
Do  sangue  imigo  o  sou.  Atroz  vingança 
Corre  coo  iroso  pae :  Dnbul,  Gambaia, 
Inscadas  de  Diu,  ei-lo  no  ferro 
Destruidor  vos  traz  exício  c  morte. 

OAllBGTT,  CAMÕKS,  CaUt.   8,  CAp.    17. 

—  B(/m  modelo  traz  geit-o  «  feição. 


EstA  bel  lo : 

dVSSa  AVR  MARIA  VÃO 

de  gcutil  operação 

estas  letr:i3  ;  bom  modéUo 

logo  traz  geito  e  feição. 

ANTÓNIO  PRESTES,  ACTOS,  pag.  32. 

—  Traz  alguém  de  couce  fora. 


TRAZ 


TRAZ 


TRAZ 


803 


Mas  traz-me  do  couco  fóra 
um  vilão  barrão  eunuco. 
Seu  cazeiro  ? 

Meu  colono. 

AHTOmO  PRESTES,  AUTOS,   pag.    195. 


—  Moeda  traz  que  presta. 

Não,  moeda  traz  que  presta. 
Que  moeda  ? 

Deixae-o  vós 
entrar,  chegar  á  bandeira. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  91. 

TRAZEDOR,  s.  m.  Homem  que  traz, 
que  importa,  que  introduz  mercadorias, 
moedas. 

\  TRAZEIS.  Forma  do  verbo  trazer 
na  segunda  pessoa  do  plural  do  presente 
do  modo  indicativo.  Vid.  Trazer. 

Trazeis  seis  moços  de  pé 
Ei  acrecentai-los  a  capa. 
Coma  rei,  e  por  mercê. 
Não  tendo  as  terras  do  Papa, 
Nem  os  tratos  do  Guiné, 
Antes  vossa  ronda  encurta 
Coma  panno  d'AIcobaça. 

OIL  VICENTE,    FAKÇAS. 

Este  é  que  vem  cantando 
tão  doce  de  buena  bóia  : 
ora  trazeis  gentil  soya 
pêra  quem  está  esperando. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  117. 


Inda  mais  fica  a  dever. 
Que  trazeis  ? 

Queijos. 

D'ondc  ? 
Dos  que  em  Aleratejo  lia. 
IBIDEM,  pag.  155. 


Não ; 
ora  vereis  rica  peça. 
Amostrae...  vós  trazeis  hi 
rica  peça  carvoeira, 
O  da  mór  graça  que  vi. 
IBIDEM,  pag.  409. 


TRAZEIRA,  s.  f.  A  parte  posterior  de 
uma  sega. 

TRAZEIRO,  A,  adj.  Que  fica  na  parte 
posterior. 

—  Que  vem  atraz. 

—  Sub.^ítantivamente  :  O  trazeiro  ;  o 
cu,  o  anus. 

f  TRAZEM.  Forma  do  verbo  trazer  na 
terceira  pessoa  dn  plural  do  tempo  pre- 
sente do  modo  indicativo.  Vid.  Trazer. 


Emquanto  vós  outras  lavrais. 
Quero  espreitar  o  penado. 
Lá  anda  dando  mil  ais. 
Mas  cu  creio  que  são  mais 
Que  trazem  esse  cuidado. 

GII,  VICENTE,  COMEDIA  DE  EUBENA. 


—  O  O  decimo  artigo  he.  Que  som  agra- 
vados, que  lhes  levam  portagem,  e  dizima 


das  cousas,  que  lhes  trazem  per  mar,  ou 
per  teri-a  pei'a  seu  mantimento,  ou  que 
lhes  mandam  em  serviço.»  Ord.  Aífons., 
iiv.  2,  tit.  6.  —  «E  desde  entào  até  agora 
nunca  esta  mercadoria  cá  aportou,  se  não 
alguma  que  vem  ás  furtadas  por  ordem 
do  aviso;  que  como  a  trazem  por  outra 
navegação,  é  a  viagem  mais  comprida, 
e,  quando  cá  chega,  vem  tão  mareada 
que  escassamente  se  parece  comsigo.» 
Fernão  Soropita,  Poesias  e  prosas  iné- 
ditas, pag.  2.  —  «E  a  fora  estas  bes- 
tialidadcs  nos  contarão  outras  muytas  a 
este  modo,  nas  quais  estes  cegos  miserá- 
veis estão  tão  crentes,  que  não  ha  cousa 
que  lhas  possa  tirar  da  cabeça,  porque 
ist')  he  o  que  os  seus  bonzos  llie  pregão, 
e  lhes  dizem  que  não  está  em  mais  ser 
huma  alma  bemaventurada  que  em  lhe 
trazerem  aly  os  seus  ossos,  pelo  que  não 
ha  dia  que  aly  não  venhaõ  duas  mil  ossa- 
das destes  malaventurados,  e  os  que  não 
podem  trazer  os  ossos  por  ser  a  distancia 
de  muyto  caminho,  trazem  hum  dente  e 
dous,  porque  com  isso,  dando  essa  esmo- 
la, dizem  que  satisfazem  tanto  como  se 
trouxessem  tudo  o  mais.»  Fernão  Mendes 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  109. —  «Ao 
seu  Papa  chanião  catholico.  Tem  sua  re- 
sidência era  Caldea  com  doze  cardeaes, 
dous  Patriarchas,  Arcebispos,  Bispos,  e 
outros  prelados.  Os  sacerdotes  trazem  a 
tonsura  em  cruz,  e  consagram  o  corpo  do 
Senhor  em  pão  asmo,  e  com  vinho  de  pas- 
sas, por  na  terra  não  hauer  outro.»  Da- 
mião de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
cap.  98.  —  «Pregados  em  as  solas  com 
muvtos  preguinhos  de  ferro,  e  uo  calca- 
nhar hum  escudete  de  ferro  pregado  que 
tem  hum  bico  de  huma  polegada,  que 
servem  despora,  cingem  huns  talabartes 
de  couro  e.streytos  e  dobrados,  guarneci- 
dos de  ferros  em  que  trazem  a  espada, 
que  seraa  de  quatro  palmos.»  Tenrei- 
ro, Itinerário,  cap.  17. —  «E  quem  são 
estes'?  Perguntastes  bem;  porque  co- 
mo naõ  trazem  insignias  de  seus  gráos, 
nem  sinal  manifesto  de  sua  profissão,  saõ 
mãos  de  conhecer,  e  entaõ  melhores  mes- 
tres, quando  peores  de  achar :  sendo  as- 
sim, que  em  achar  o  mais  escondido,  e  em 
arrecadar  o  achado,  saõ  insignes.»  Arte 
de  furtar,  cap.  34. —  «Nos  officios  mecâ- 
nicos saõ  perfeytissimos,  na  ley  obseruã- 
tissimos.  Não  comem  carne  em  toda  a 
vida,  nem  matão  cousa  viua,  inda  que 
seja  bicho  peçonhento,  e  que  lhes  faça 
mal,  ou  dano  algum.  Com  todos  tem  paz, 
não  trazem  armas,  nem  peleijam  cõ  na- 
ção alguma,  nem  tem  Rey  a  que  particu- 
larmente obedeção.»  Frei  Gaspar  de  S. 
Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap.  12. 
—  «As  que  trazem  Águias  saõ:  Abul, 
Abreu,  Àzevedos,  Botados,  Bovadilha, 
Carregueiro,  Serrabodes,  Coronéis,  Cor- 
rcaõ,  Dagraã,  G uivar,  Jacome,  Lemes 
(Marletas  sem  pès)  Maciel,  Medeiros, 
Montarroyos,    Ourem,    Penha,    Proença, 


Rodrigues,  Sampayo,  Tinoco,  Villanova.» 
Severim  de  Faria,  Noticias  de  Portugal, 
Disc.  3,  cap.  4. —  «As  que  trazem  ou- 
tros animaes,  saõ:  os  Carreiros  hum  Gaito 
caçando,  os  Garros  huma  Onça,  os  Leoens 
entre  sete  Estrellas  dous  Libreos  negros 
armados  de  prata,  alludindo  à  fidelidade 
destes  animaes,  os  Osorios  dous  Touros, 
03  de  Valdês  hiim  Elefante.»  Ibidem. — 
«Faxa  he  hum  listão  entre  duas  linhas, 
que  atravessa  o  Escudo  ao  largo.  As  Fa- 
mílias, que  trazem  Faxas,  saõ :  Almas, 
Avelar,  Áustria,  Cio,  Durmaõ,  Escrocios, 
Ferreiras,  Landins,  Leitaõ,  Mascaranhas, 
Metela,  Mexia,  Pamplonas,  Pedrosos, 
Pestanas,  Rebellos,  Sylveiras,  Vargas.» 
Ibidem,  cap.  5.  —  «As  Cruzes  em  Aspa 
se  trazem  nas  armas  por  devoção  de  Santo 
André,  como  mostra  Argòte  na  Conquista 
de  Baeça,  a  qual  Cidade  tomou  no  dia 
deste  Santo  Apostolo,  o  Conde  D.  Lopo 
Dias  de  Haro,  com  500.  Cavalleiros,  que 
foraõ  ao  socorro  do  Castelio,  que  os  Mou- 
ros tinhaõ  cercado.  II  Ibidem,  cap.  7. — 
«As  Famílias,  que  trazem  as  Vieiras  nos 
Escudos,  saõ  os  Barbosos,  Barrosos,  Bar- 
radas, Calças,  Calvos,  Calheiros,  Camel- 
los,  Márizes,  Pimenteis,  Rochas,  Seraiva, 
Sequeira,  Velhos,  Vieií-as.  Pela  mesma 
devoção  de  Santiago  tomarão  os  Falcoens 
os  bordoens,  que  costumaõ  trazer  os  Pe- 
regrinos do  mesmo  Santo.»  Ibidem,  cap. 
8. —  «Os  Silvas  trazem  o  Leaõ  por  armas, 
por  serem  descendentes  d'ElRey  D.  Afon- 
so de  Leaõ,  pai  que  foi  de  D.  Rodrigo 
Afonso  da  Silva,  cuja  mãi  era  Dona  Al- 
donça  Martins  da  Silva,  como  refere  o 
Conde  D.  Pedro  tit.  58,  §.  2.  das  suas 
Linhagens.»  Ibidem,  cap.  15. 

TRAZER,  V.  a.  Tornar  ou  conduzir  o 
objecto  para  o  lugar  d'onde  se  levara. 

—  Levar.  —  «  Hum  Fernam  Caldeira 
contador,  que  depois  foy  de  Ai-zilla  muy- 
to bom  caualleiro  de  sua  pessoa,  tinha 
huma  sua  irmãa  solteyra  em  Arronches, 
e  tendoa  casada  honradamente  em  Lis- 
boa, foy  la  para  a  trazer,  e  dandolhe 
conta  ao  que  hia,  ella  lhe  disse  que  naõ 
podia  ser,  porque  era  casada  com  hum 
caualleiro  da  hi,  homem  honrado,  que  se 
chamaua  de  Sequeira.»  Garcia  de  Re- 
zende, Chronica  de  D.  João  II,  cap.  92, 
—  «E  alli  dom  Vasco  Coutinho,  que  de- 
pois foy  Conde  de  Borba,  prendeo  a  dom 
Anrique  Conde  de  Alua  de  Lysta,  pes- 
soa nmy  principal,  que  vinha  a  conhe- 
cer a  batalha  do  Príncipe.  E  trazendoo 
assi  preso,  o  Principo  andaua  correndo  e 
cerrando  sua  gente,  e  foy  dar  com  elles, 
e  deu  com  o  conto  da  lança  ao  Conde 
passo,  e  disse  a  dom  Vasco :  Tendeo 
bem,  não  se  vá  como  o  Conde  de  Vena- 
uente.í  Ibidem,  cap.  13.  —  i  E  sendo 
criado  com  tanto  amor  e  prazer,  tanto  es- 
tado e  grandeza,  tanta  estima  e  estre- 
mecimentos, e  tanta  gloria  mundana,  que 
todos  desejauão  de  o  trazer  sobre  suas 
cabeças,  o  virão  em  hum  instante  debai- 


804 


TKAZ 


TRAZ 


TKAZ 


xo  dos  pes  do  hutna  bosta,»  Ibidem,  cap. 
i;{2.  —  «E  íicando  huin  dos  dons  um  ar- 
relens  dod  viuto  mil  taeis,  o  outro  80 
foy  para  trazer  a  prata,  a  qual  logo 
trouxo  daly  a  menos  do  liuiua  liora,  com 
maid  liuiu  bom  prescnto  do  poyan  ricas 
quo  todos  os  Nocodás  llio  inaadaraõ.» 
Feniilo  Mondes  Finto,  Peregrinações, 
cap.  í)2.  —  «  Almourol  tornou  a  Mira- 
guarda,  dar-lhe  conta  que  Florendos, 
alem  do  trazer  o  seu  escudo,  trazia  pre- 
so quem  o  levara,  pêra  ella  fazer  delle  o 
quo  llio  melhor  parecesse.»  Francisco  de 
Moraus,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  108. 

—  «Elioi  com  este  alvoroi^o  mandou  bus- 
cal-o,  o  assim  maltratado  o  fez  1'ridos,  du- 
que do  (Jalez,  metter  cm  uma  galló,  tra- 
zendo comsigo  os  criados  dos  gigantes, 
aos  quae»  o  do  Salvagem  fazia  honra  e 
gaaalhado.»  Ibidem.  —  «Porque  além  de 
Lacsamana  trazer  comsigo  muita  gente, 
a  maior  parte  delia  Jáos,  homens  mui 
atrevidos  em  commetter,  o  animosos  em 
esporar,  da  terra  concorreo  alli  muita 
gente ;  e  posto  que  se  mettesse  nas  lan- 
charas do  Lacsamana,  por  nào  poderem 
caber  nellas,  era  tào  perto  delles  aos  nos- 
sos, que  com  as  frechas  hiam  fi-échar  a 
gente  dos  navios,  que  estavam  afastados.» 
Barros,  Década  2,  liv.  9,  cap.  2.  —  <iO 
Capitão  vendo-o  assim  o  tomou  por  hum 
braço,  e  o  arremeçou  por  diante  delle, 
dizendolhe  que  fosse  trazer  huma  pa- 
nela de  pólvora,  e  ao  passar  por  diante 
delle  lhe  deraõ  huma  espingardada  de 
cima  de  hum  eirado  da  Igreja,  onde  jà 
estavaõ  alguns  Turcos,  de  que  o  Abe- 
xim cahio  morto  aos  pès  do  Capitão,  que 
quiz  Ueos  poio  por  seu  amparo,  porque 
se  não  executasse  nelle  a  cruel  espin- 
gardada, porque  fora  total  perdição  da- 
quella  Fortaleza.»  Diogo  de  Couto,  Dé- 
cada 6,  liv.  2,  cap.  6.  —  tE  logo  aly 
nos  mandou  trazer  dous  pratos  grandes 
de  arroz  cozido,  e  adens  de  chacina  cruas 
em  talhadinhas,  com  que  nós,  como  ne- 
cessitados, nos  metemos  do  tal  maneyra, 
que  todos  os  circunstantes  parece  que 
mostravào  gosto  de  nos  verem  comer.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações, 
cap.  119.  —  «Que  foy  hum  sábado  vés- 
pera de  nossa  Senhora  das  Neves,  se 
veyo  pela  sesta  á  casa  onde  eu  estava, 
sem  trazer  comsigo  mais  que  si3s  dous 
moços  titlalgos,  onde  me  achou  dormindo 
sobre  huma  esteyra.»   Ibidem,   cap.  130. 

—  «E  com  isto  ticava  novamente  creado 
nesta  dignidade,  o  podia  trazer  armas, 
e  cavallo,  o  asscntar-se  a  comer  com  os 
Cavalloiíos  dEUley,  e  podia  capitanear 
03  Almocadons.»  Severim  de  Faria,  No- 
ticias de  Portugal,  Disc.  2,  cap.  6.  — 
tE  porque  elle  de  sua  condição  naõ  es- 
tava nunca  em  hum  lugar,  e  caminhan- 
do sempre,  e  trazendo  sempre  consigo  es- 
tes Senadores,  lhe  chamarão  Comités,  ou 
Companheiros  de  César,  e  aos  Continues 
da  Corte,   o  à  Casa    Imperial,   Comitatus 


Ciesaris ;  foi  logo  de  grande  estima:  este 
Titulo  de  (Jompaiiiieiro  do  Emperador.  • 
Ibidem,  iJisc.  6,  cap.  7.'>.  —  «E  elle  .•^em 
nmis  aguardar  se  lançou  na  cidade  com 
os  1'orLuguezos  que  andavam  captivos  no 
campo,  com  cuja  vinda  se  fez  grande  fes- 
ta, levando-os  da  porta  por  onde  entra- 
rão, com  procissani  até  a  Egreja,  dando 
todos  muitas  graça-s  a  Deos,  pela  salva- 
ção de  aquelles,  o  por  em  tal  tempo  tra- 
zer João  machado  a  cidade,  que  parecia 
sinal  do  lhes  mandar  outro  mor  soecor- 
ro.»  Damião  de  Coes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  ii,  cap.  21.  —  «No  qual 
recontro  morrerão  alguns  delles,  e  posto 
que  da  nossa  gente,  nesta  volta  não  mor- 
resse nenhum  forào  alguns  feridos,  assi 
dos  Christãos,  como  ilos  mouros  de  pa- 
zes, mas  em  tim  dom  Afonso,  e  Lopo 
barriga,  e  Iheabentafuf  se  sairam  dos 
imigos  sou  passo  cheo  trazendo  a  caual- 
gada  sem  delia  perderem  nada  ato  a  ci- 
dade de  çatim,  donde  auia  três  dias  que 
dom  Afonso  partira.»  Ibidem,  cap.  Õ9. 
—  «Acabado  de  fazer  estas  cruezas  nos 
homons,  mandava  trazer  Lios  e  Ussos,  e 
os  matava.  E  isto  tudo  fazia  por  se  fazer 
temer,  porque  assi  ho  custumão  os  senho- 
res mouros  destas  torras.»  Tenreiro,  Iti- 
nerário, cap.  20. 

—  Trazer  ante  os  olhos;  conservar 
presente.  —  «Porém  as  do  cavalleiro  do 
Salvage  eram  tanto  por  cima  das  dos 
outros  homen-í,  que  todo  seu  pensamento 
desbaratavam;  e  trazendo  ante  os  olhus, 
e  escriptas  na  memoria,  as  palavras  e 
lagrimas  com  que  Alfornao  o  trouxera, 
e  a  tenção  damnada  pêra  que  o  trazia, 
desejava  dar-lhe  a  satisfação  delia.»  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  d'Iaglaterra, 
cap.  115. 

—  Trazer  os  olhos  sempi-e'  em  Deus; 
andar  sempre  com  o  pensamento  em 
Deus.  —  «Sobro  ser  cousa  sem  duuida, 
que  tome  Deos  muyto  á  sua  conta  guiar, 
e  tirmar  bem  os  pes  dos  que  leuam  nelle 
lirmes  os  olhos.  Que  era  a  rezam  de  Da- 
uid  trazer  sempre  os  seus  no  Senhor:  e 
d 'onde  noutro  lugar,  nos  prometia  a  to- 
dos, que  seriamos,  nam  digo  somente 
guiados  pêra  nam  cair,  mas  confirmados, 
e  esforçados,  pêra  vencer.»  Lucena,  Vida 
de  S.   Francisco  Xavier,  liv.  ti,  cap.  15. 

—  Trazer  al^um  negocio  entre  màu>s; 
tratar  d'elle. 

—  Trazer  vontade;  tel-a  habitualmente. 

—  Trazer  occupada  a  phantasia ;  tel-a 
occupada.  —  «Todos  estes  inconvenientes 
me  representa  a  fantezia,  que  de  a  tra- 
zer occupada  em  quem  me  mata  nào  pos- 
so cuidar  em  almas  depois  de  passar  por 
elles,  se  alguma  razão  me  mostram,  que 
me  faça  desviar  deste  pensamento,  lan- 
ço-a  de  mim,  como  cousa  desarrasoada : 
quero  bem  a  meus  desconcertos,  o  ás 
murmurações,  que  se  de  mim  podem  di- 
zer, e  cuido,  que  nisto  só  esui  o  acertar, 
e  que  se  ai  fizesse,  que  erraria.  >    Fran- 


cisco  de  Moraes,    Desculpa  duns    amo- 
res. 

—  Trazer  alguém  ajuízo;  chamal-o, 
incital-o  a  elle.  —  «Fero  poderá  o  fiador, 
se  quiser,  aver  espaço  pêra  hir  buscar  o 
principal  devedor,  e  trazello  a  Juizo, 
hoiide  com  direito  deve  soer  demandado; 
e  trazendo-o,  entom  deve  scer  feita  a  de- 
manda contra  elle,  assi  como  se  fu.sse 
presente ;  e  noni  o  trazendo,  entom  po- 
derá elle  dito  fiador  seer  demandado,  e 
c<jndaj)iiado  sem  o  primeiramente  seer  o 
principal  devedor,  como  dito  h«.»  Ord. 
Affons.,   liv.  4,  tit.  54,  §  3. 

—  Citar,  allegar. 

—  Conduzir  para  alguma  parte. 

—  Trazer  entre  dente»  a  alguém;  ter- 
Ibe  má  vontade,  tenç.ão  com  ello. 

—  Trazer  paíi/ío  d'alguem;  receber  rou- 
pas d'e!le. 

—  Trazer  alguém  á  conversando  do 
monte. 


Pois  quem  vos  pôde  trazer 
A  convorsa(;ão  do  monte  ? 
Pnrguntac-o  a  essa  fonte  ; 
Qui-  as  cousas  dviras  de  crer, 
Hum  a  faça,  outro  as  conte. 

CAII.,   AXPUTTBIÕES,   act.    3,   SC.   2. 


Trazendo   o  pae  fúria;   viudo  fu- 


Eiâ  vem  o  pao  com  animo  estupendo, 
Trazendo  funa  c  magoa  por  antrolhos. 
ciM.,  LLs.,  cant.  lU,  est.  33. 

—  Trazer  armadas  no  mar;  condu- 
zil-as  por  mar.  —  «Alem  das  Armadas, 
que  os  Reys  mandavaõ  trazer  no  mar 
em  defensa  dos  seus  Vassallos,  ordenou 
ElRey  D.  Sebastião  hum  Regimento, 
para  com  maior  segurança  se  poder  na- 
vegar, e  còmercear.»  Severim  de  Faria, 
Noticias  de  Portugal,  Disc.  2,  cap.  16. 

—  Trazer  guen-a   Cimi  alguém ;  tel-a. 

—  Trazer  alguém  em  sua  casa ;  tel-o 
como  criado. 

—  Trazer  do  vento.  Vid.  Vento. 

—  Aeon)panhar-se. 

—  Trazer  origem,  principio;  derivar- 
se,  originar-se. 

—  Figuradamente :  Trazer  nos  olhos 
alguém;  olhal-o  muito,  pruzal-o  maito. 

—  Conduzir  para  alguma  parto. 

—  Trazer  na  bocca  algum  dito ;  repe- 
tii-o  minucia^ameute. 

—  Ser  cAusa. 

—  Trazer-se  bem;  tratar-se  bem  em 
roupas,  comida  e  bebida. 

—  Trazendo  da  sua  pvòreza  ;  levando. 
—  «Aqui  vinha  o  Capitão  Arábio  visitar- 

nos  algumas  vezos,   trazendo  da    sua  po-  . 

breza,  cò  tanto    amor,    c  vontade,    como  à 

se  fora   irmão  do    nosso    Padre  S.  Fran-  1 

cisco.»    Fr.    (í.a-spar    de    S.    Bemardiuo, 
Itinerário  da  índia,  cap.  9. 

TRàZ£R£J1.  Forma  do  verbo  trazer  na 


TRAZ 


TRAZ 


TRAZ 


805 


terceira  pessoa  do  plural  do  futuro  do 
modo  coajunctivo.  Vid.  Trazer. —  «E 
vendo  que  alguns  Jlinistros  de  Justiça, 
mandados  para  lha  trazerem,  se  deixarão 
ticar  com  os  mais,  atónitos  dos  milagres, 
que  vião,  e  das  palavras  com  que  pregava 
a  lev  Evaugelicii,  se  sahio  elle  mesmo  de 
seus  paços,  acompanhado  da  gente  prin- 
cipal de  sua  corte,  jurando  de  cortar  com 
hum  só  golpe  de  espada  a  cabeça  a  Santa 
Quitéria,  e  a  cõiiança  a  todos  os  que  a 
punhaõ  em  seus  enganos.»  Monarchia  Lu- 
sitana, liv.  õ,  cap.  19. —  «E  pêra  rece- 
berem o  Priucipe  em  Moura,  e  o  traze- 
rem á  sua  Corte,  fez  el  Rey  seus  precu- 
radores  dum  Pedro  de  Noronha  seu  mor- 
domo mor,  e  o  doutor  loão  Teixeira  chan- 
celer mor,  e  frev  António  seu  confessor. » 
Garcia  de  Rezende,  Chronica  D.  João  II, 
cap.  41.  —  «Porque  alem  de  trazerem 
mantimentos,  e  cousas  necessárias  pêra  a 
obra  da  fortaleza,  varejauam  com  a  arte- 
Iharia  os  do  seu  arraial,  mandarão  fazer 
na  entrada  do  rio  huma  estancia  muito 
forte,  donde  com  a  artelbaria  defendiam 
o  passo  a  todos  estes  nauios.»  DamiSo  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3, 
cap.  76. 

j  TRAZIA.  Forma  do  verbo  trazer  na 
primeira  ou  terceira  pessoa  do  singular  do 
pretérito  imperfeito  do  modo  indicativo. 
Vid.  Trazer. 


O  fraco  batel  peadc,  ja  recolhe 
Salgada  carga,  dando  a  que  trazia 
Ao  profuudo  do  mar  oade  Kepthuno 
Por  castígo  lhes  deu  prisão  continua. 

COBTE  BEii,  NACFBA.GIO  DE  SEPCLVBDA,  Caut.   li. 


Se  VOS  lembra,  ficou  junto  do  Rio 

Que  busca  e  nào  conhece  a  el  Eey  dizendo, 

Que  alguma  ordem  lhe  de  cõ  que  da  parte 

Que  fronteira  se  via,  va  seguro. 

Com  instancia  lhe  pede  que  na  sua 

Sotil,  e  muy  ligeira  armada  o  passe, 

E  para  o  contentar,  logo  lhe  otfrece, 

E  d4  parte  das  armas  que  trazia. 


—  «Confirmadas  desde  o  tempo  de  seu 
antecesso"-  Dom  Afõso,  e  conservadas  nes- 
tes primeiros  annos  por  causa  das  grandes 
discórdias  que  trazia  com  seu  tio  Abda- 
la,  que  tyranizara  Valença,  e  com  os 
Franceses  que  desde  o  tempo  de  Carlos 
o  grande,  senhoreavaõ  Barcelona.»  Mo- 
narchia Lusitana,  liv.  7,  cap.  13. —  «Tor- 
nando a  Floriauo  e  ao  cavaíleiro  do  Valle, 
que  andavam  sua  batalha,  diz  a  historia, 
que  o  temor  que  cada  um  trazia  do  ou- 
tro lhes  fez  occupar  tanto  o  cuidado  na 
salvação  de  sua  vida,  que  nenhum  sentiu 
a  levada  de  Targiana. »  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  87.  — 
«Um  trazia  armas  de  verde  e  branco  com 
pintassirgos  de  prata,  no  escudo  em  campo 
branco  amas  letras  negras,  que  diziam  : 
Normandia.  O  outro  as  trazia  de  branco 
e  pardo  com  extremos  verdes,  no  escudo 


em  campo  verde  Apollo  pintado  á  maneira 
antiga.»  Ibidem,  cap.  109.  —  «Por  cima 
trazia  um  toldo,  que  a  defendia  da  cal- 
ma, de  não  menor  preço  e  louçainha,  que 
as  outras  peças.  E  por  ser  já  tarde,  e  o 
dia  temperado,  juntamente  com  a  con- 
fiança que  a  senhora  trazia  de  fermosa, 
mandou  levantar  as  bordas  delle,  porque 
quem  estivesse  de  fora  a  podesse  mellior 
vêr :  a  seus  pés  delia  vinham  duas  donas 
e  uma  donzella.»  Ibidem,  cap.  110. — 
«Florendos,  errado  o  encontro,  se  encon- 
trou dos  corpos  com  el-rei  de  Arménia  e 
03  cavallos  cahiram  com  elles,  mas  logo 
03  socorreram;  porem  o  mouro  ficou  tào 
desacordado,  que,  nào  se  podendo  levan- 
tar, foi  tirado  do  campo  por  dous  primos 
seus,  que  trazia  pêra  sua  guarda. »  Ibi- 
dem, cap,  166. 

D'e3te  Deo3-homem,  alto  e  infinito. 
Os  livros,  que  tu  pedes,  nào  trazia; 
Que  bem  posso  escusar  trazer  esoripto 
Em  papel,  o  que  na  alma  andar  de\Ha ; 
So  as  armas  queres  ver,  como  tens  dito. 
Cumprido  esse  desejo  te  seria: 
Como  amigo  as  verás  ;  porque  eu  me  obrigo, 
Que  nunca  as  queiras  ver,  como  inimigo... 
CAM.,  Lus.,  cant.  1,  est.  66. 

De  pezo,  conta,  e  medida 
Se  prezava  este  nosso  amo, 


De  pezo,  porque  tratia 
Sobre  as  costas  todo  o  cargo, 
Xào  3(.')  por  dono  da  casa, 
Mas  por  ser  muv  corcovado. 

JEEOiTMO  BAHIA,  JOK-SADA  3. 

—  «(Que  trazia  dezasete  feridas,  que 
o  furor  lhe  nào  deixava  sentir)  com  ou- 
tros Fidalgos,  e  Cavalleiros,  com  o  rosto 
nos  imigos,  e  as  costas  na  parede,  fizerâo 
cousas  admiráveis,  e  não  esperadas  de 
tão  poucos  homens,  e  tào  cançados  fican- 
do todos  em  barreira  ás  frechas  dos  imi- 
gos, de  que  todos  estavão  bem  empena- 
dos, e  todavia  tinhão  diante  de  si  um 
monte  de  mortos.»  Diogo  de  Couto,  Dé- 
cada 6,  liv.  3,  cap.  6.  —  «E  atinando  ho 
milhor  que  pude,  e  sem  perguntar  a  nin- 
guém, cheguey  ao  apousento  dos  Venezea- 
nos,  que  em  ella  habitam  :  de  que  era  côn- 
sul e  principal  hum  micer  André,  pêra  o 
qual  eu  trazia  huma  carta  do  capitão  Dor- 
muz,  e.scripta  em  latim,  que  em  aquelle 
tempo  nam  era  ahi.»  António  Tenreiro, 
Itinerário,  cap.  13. —  «A  gente  que  ilo- 
leinacer  Rei  de  Mequinez  trazia  de  pe, 
e  de  ca  uai  lo  era  tauta  que  per  onde  quer 
que  passaua,  ficaua  tud  >  gastado,  e  des- 
truído sem  achar  quem  lho  estornasse. » 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  3,  cap.  51.  —  «O  que  nem  receou 
fazer,  porque  sahio  a  elles  com  obra  de 
oitenta  lancharas  e  mais  de  seis  mil  ho- 
mens, vindo  o  mesmo  Rei  de  Lingua 
diante  em  huma  lanchara  tamanha  como 
a  grande  gale  apadesada,  e  artilhada,  em 


que  trazia  duzentos  homens  nobres  seus 
familiares.»  Ibidem,  cap.  63. 

A  fortaleza  n'este  tempo  guia 
Dous  cáturea  o  vento  amigo  c  brando. 
Hum  que  ao  Governador  obedecia 
E  lá  de  Goa  as  ondas  vem  cortando ; 
Dentro  hum  nobre  varão  em  si  trazia 
Cuja  alcunha  he  Moraes,  nome  Fernando, 
Que  tem  no  militar,  heróico  oíBcio 
Grande  esforijo  e  saber,  largo  exercício. 

F.    «'asDRADE,   PBIIIEIBO  CEBCO  DE  DIC,  CSnt.  13, 

est.  9i. 


—  «Porque  não  avia  cousa  que  bas- 
tasse a  quietar  a  gente,  porque  dos  sete- 
centos mil  homens  que  avia  no  arrayal, 
os  seiscentos  mil  eraõ  Pegús,  de  cujo 
Rey  aquella  Raynha  fora  filha,  mas  tra- 
ziaos  este  Bramaa  tào  sogigados  e  tão 
cortados  do  ferro  que  não  ousavào  de  le- 
vantar 08  olhos.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  152.  —  «E  sem  da- 
rem poios  Governadores  que  traziam  em 
cima,  foram  esmagando  quantos  dos  seus 
achavam;  com  tamanho  curso  de  corri- 
da, que  pareciam  ginetes,  sendo  tão  pe- 
zados  á  vista,  de  maneira  que  não  03 
puderam  os  nossos  seguir.»  Barros,  Dé- 
cada 2,  liv.  6,  cap.  4.  —  «Finalmente 
per  estes  termos  suas  exhortações  eram 
lançar-nos  fora  da  índia,  e  pêra  isso  tra- 
ziam grandes  indulgências  a  todos  que 
nisso  fossem ;  e  a  pessoas  notáveis  huma 
vestidura,  a  qual  diziam  vir  benta  per 
elle  Çadij  com  palavras  do  Alcorão,  pro- 
mettendo-lhe,  que  vestindo-as  contra  nós, 
além  de  serem  vencedores,  salvariam 
suas  almas.»  Ibidem,  liv.  8,  cap.  6. — 
«(larcla  Afi'onso  de  Slello  trazia  a  Lua.» 
Garcia  de  Rezende,  Miscellanea.  —  «E 
estes  indicies  eram  tào  manifestos  ainda 
antes  de  se  descobrir  o  efíeito  d'elles, 
que  por  vezes  m'os  avisaram  os  padres 
que  andavam  pelas  aldêas,  advertindo- 
me  que  me  não  fiasse  das  promessas  do 
capitào-mór,  porque  elles  não  viam  dis- 
posição nenhuma  nos  Índios,  e  os  trazia 
o  dito  capitào-mór  occupados  todos  em 
coisas  muito  alheias  do  nosso  pensamen- 
to.» Padre  António  Vieira,  Cartas,  nu- 
mero 11. 

—  Trazia  uma  carta  de  amizade.  — 
II E  lhe  disse  também  o  a  que  hia,  que 
era  còtirmar  as  pazes  antigas  que  o  Chau- 
bainhaa  por  seus  embaixadores  fizera  com 
Malaca  quando  Fero  de  Faria  da  outra 
vez  fora  capitão  delia,  do  qual  tinha 
muyto  conhecimento,  e  que  para  isso  lhe 
trazia  huma  carta  de  grande  amizade, 
com  hum  presente  de  peças  ricas  da  Chi- 
na.» Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  153.  —  «E  disse,  que  vinha 
de  Bácora :  e  que  trazia  huma  carta  dei 
rey  delia,  pêra  ho  Xeque  da  dita  vila : 
que  lhe  viessem  abrir  a  porta  pêra  en- 
trar dentro.»  Tenreiro,  Itinei-ario,  capi- 
tulo 63. 

—  Trazia   comsigo   alguém;  levava  ai- 


800 


TRAZ 


TREÇ 


TREC 


puum  na  sua  coiiijumliia.  —  tHum  dcfltes 
que  so  acharão  nesto  ajuntamento,  era  o 
guarda  que  no.s  trazia  conisiiío,  o  qual, 
por  ser  liomcm  rico  o  liDurado,  viiihaõ 
com  cllo  três  dos  inain  jn-iiiciíjaort,  convi- 
dadoa  jiara  a  cca,  os  qu.iis  depois  de  te- 
rem ceailo,  vioraõ  a  praticar  no  niao  suc- 
cesso  do  dia  dantes.»  FernFlo  Mendes  Pin- 
to, Peregrinações,  cap,  118. —  «E  trazia 
a  i'riucea:i  consigo  nouo  Damas  lilhas  do 
grandes  c  nobres  homens  do  Castolla  e 
Aragão,  c  vinha  por  sua  aya,  o  camarei- 
ra mor  dona  Isabel  de  Sousa,  Portuguesa, 
molhor  niuyto  fidalga,  e  prudente,  c  de 
muv  honc-ita  vida,  o  outras  nioUiurcs  e 
officiaes  tio  sua  casa.»  Uarcia  de  Rezen- 
de,   Chrouica  de  D.  João   II,  cap.    120. 

—  Traziam  as  mouras  nvs  braços  ma- 
nilhas de  prata.  —  «Do  qual,  segundo 
se  dcspois  dizia,  parece  quo  a  cansa  foi 
huma  crueza  que  vsarào  alguns  honioiís 
baixos  que  hião  noUo,  e  foi  não  podendo 
tirar  as  manilhas  de  prata  que  as  Mou- 
ras trazião  nos  brayos,  lhos  cortauão : 
mas  como  a  Deos  nào  aprazem  cousas 
que  a  humanidade  não  sofre,  elles  e  as 
manilhas  ficarão  no  roUo  do  mar.»  Bar- 
ros, Década  2,  liv.  1,  cap.  2. 

—  Trazia  um  regimento.  —  «Vendo  os 
Capitães  o  mao  successo  deste  assalto, 
receosos  de  lho  estranhar  el  Rey,  porque 
ja  no  campo  havia  algumas  murmurações, 
disseraõ  ao  Nauticor  que  se  elle  determi- 
nava de  dar  segundo  assalto,  o  pusesse 
em  conselho  geral,  conforme  ao  regimen- 
to que  trazia,  porque  se  não  atreviao 
elles  a  tomar  sobre  sy  hum  tamanho  pe- 
so.» Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  118. 

—  Traziam  negócios  que  aviar  ;  tra- 
ziam negócios  para  resolver. —  «Dian- 
te do  Governador,  mas  afastados  hum 
pouco  delle  se  poserâo  todos  os  que  tra- 
zião negócios  que  auiar,  e  despachar, 
tudo  escripto :  porque  ali  não  he  licito  a 
pessoa  alguma,  abrir  a  boca  pêra  falar 
palaura.»  Fr.  (laspar  de  S.  Bernardino, 
Itinerário  da  índia,  cap.  14. 

—  Trazia  uma  grande  cutilada  na  ca- 
beça; vinha  ferido.  —  «E  arremetendo 
com  este  fervor  c  zelo  da  fó  ao  Coja 
Acera  como  quem  lhe  tinha  boa  vontade 
lhe  deu  com  huma  espada  dambalas  niaõs 
que  trazia  huma  tão  grande  cotilada  pe- 
la cabeça,  que  cortandolhc  hum  barrete 
de  malha  que  trazia,  o  derrubou  logo  no 
chão.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregri- 
nações, cap.  Õ9. 

—  Trazia  uma  ferida  na  coxa  esquer- 
da. —  «Como  nisto  se  detivessem  muy- 
to  espaço  sem  tomar  nenhum  repouso, 
quiz-se  arredar  Almourol,  por  poder  fol- 
gar algum  tanto;  mas  o  cavalleiro  das 
Donzellas,  que  sentiu  sua  fraqueza,  o 
apertou  tanto  e  com  tamanhos  golpes, 
que  o  fez  vir  á  terra,  por  caso  de  uma 
ferida  que  trazia  na  coxa  esquerda,  de 
qae  se  nSo  podia  menear.»  Francisco  de 


Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  capitalo 
127. 

—  Trazia  o  demónio  maia  outros  por 
outro  modo.  —  « Viuha5  mais  outros  que 
também  o  demónio  aquy  trazia  por  ou- 
tro moilo,  os  quais  pedindo  esmola  de- 
zião,  minta  dromaa  xixapurba  param, 
que  quer  dizer,  damo  esmola  por  Deos 
c  SC  nào  matarmeey. »  Fcrnílo  Mendes 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  16. 

—  Trazia  «ma  har/ju  sem  cordas.  — 
«Aluaro  da  Cunha  Estribeyro  mor  trazia 
huma  arpa  sem  cordas.»  (iarcia  do  Re- 
zeiulo,  Chronica  de  D.  João  II,  cap.  128. 

TRAZIDA,  8.  /.  U  acto  de  trazer,  em 
opiioMi-ào  a  levada. 

TRAZIDO,  yart.  pass.  do  Trazer.  — 
«Pêro  da  Nhaya  recolhoudo  estes  ciaquo 
([ue  ieuaua  António  de  Magalhòes  o  pro- 
uido  como  a  nao  de  seu  irmão  fo^se  ali 
trazida :  tauto  quo  veo  leixoua  com  a 
sua,  e  com  a  de  loão  Vaz  d'Almada  por 
nào  poderem  ir  pelo  rio  acima  e  levou 
os  bateis  delias,  e  assi  o  nauio  de  seu  fi- 
lho e  outro  que  foi  de  loão  de  Queirós 
de  que  ja  era  feito  cjipitào  Pêro  Teixei- 
ra morador  nas  entradas.»  Barros,  Déca- 
da 1,  liv.  9,  cap.  6  — «A  unha:  espe- 
cialmente a  do  dedo  pollex  do  pc  direito 
trazida  em  annel  de  prata,  ou  ouro  em 
f.irma  que  toque  a  carne  he  insigne  amu- 
leto para  os  accideutes  do  Epilepsia,  e 
para  o  Espasmo.»  Braz  Luiz  d'Abrcu, 
Portugal  medico,  pag.  498,  §  14. 

TRAZIMENTO,  s.  m.  A  acção  de  tra- 
zer. 

TRAZOLA,  s.  /.  Vid.  Trasola. 

TRÈ,   í.  tn.   Espécie    de  ruão  (panno). 

TREBELHAR,  v.  a.  Termo  antiquado. 
Jogar  os  trebelhos. 

—  Figuradamente  :  Saltar,  brincar, 
bailar. 

TREBELHOS,  s.  m.  plur.  As  peças  de 
jogar  o  xadrez. 

—  Termo  antiquado.  Brinco,  jogo,  fo- 
lias, invenções  de  festas. 

—  Vaso  pequeno. 

—  Imposto  quo  pagava  quem  retalha- 
va vinhos. 

TREBELLTANA,  s.  /.  Termo  do  fôro. 
A  ([uarta,  quo  o  herdeiro  gravado  de  tí- 
deicomuiisso  tem  direito  de  reter,  entre- 
gando a  herança. 

TREBELO,  s.  »i.  Brincos  dos  meni- 
nos. 

—  Vid.  Trebelhos. 

TREBOLA,  s.  f.  Peixe  do  mar  quasi 
da  grandeza  da  baleia. 

TREBOLHA,  «.  /.  Termo  antiquado. 
Odre  de  marca  maior  para  vinho,  cada 
um  dos  quacs  era  carga  de  besta  eaval- 
lar  ou  muar. 

TREBUCAR.  Vid.  Trabui;ar. 

TREBUTAR.  Vi.l.  Tributar. 

7  TREÇADO,  s.  m.  Vid.  Terçado.  — 
«E  chcgauílo  eu  ja  despois  da  ineya  noi- 
te ao  primeyro  terreyro  das  casas,  vy 
nelle  muyta  gente  armada  com  treçados, 


e  cofos,  e   lança^i,    a    qual   viuta,    sendo 
para  mvm  cou'<a  a-fsaz  nova,  me  pó»  em 
muyto  gran  le  confusão,  c  sospeitando  eu 
que  podf-ria  ser  alguma  traiçilo   dax   que 
ja  em  outros    tempos    ne^ta    terra    ouve, 
mo  quisera  lo^t»  tomar.»  Fen  âi  Mende« 
Pinto,    Peregrinações,    cap.    19.  —   «Á 
porta  desta  varanda  OHtavão  doze  aiabar- 
deyros  mayto  bem  desposto»,  vestidos  d© 
huma  cacbeyra  inuyto  felpuda,  com  wn* 
c;irapuções  do  mesmo  nas  cabeça*,  e  tre- 
çados  na  cinta  de  chaparia  de  prata,  os 
quais  todos  eraò  tilo  soberbos  e  dezarro- 
zoados  no  mo<io   da»    suas    reposta»   que 
toila  a  gente  os  temia.»  Ibidem,  cap.  124. 
—  «E  continuando  assi  com  a  minha  cu- 
ra qiiiz  nosso  .Senhor  que  dentro  em  vin- 
te dias  elle  foy  saõ,  sem    llic    ficar  mais 
mal  que  só   hum    pequeno   esquecimento 
no  dedo  polegar,  pelo  qual  el  licy  e  to- 
dos 08  senhores  daly  por  di.ãte  me  fizerSo 
sempre  inuyto  gasíilhado,  e  muyta  honra, 
e  o  mesmo  me  fizerão  a  Raynha   e    suas 
filhas,  as  quais  me  der2o    niuytas   peças 
de  vestidos  de  seda,    e    os   senhores  me 
derão  treçados  e  abanos,  e   el   Rey   me 
deu  seiscentos  taeis,  de  maneira  quo  ain- 
da a  cura  me  montou  mais  de  mil  e  qui- 
nhentos cruzados  que  de  lá  trouxe.»  Ibi- 
dem, cap.  137. —  «Que    por    todos  eraS 
dous  mil  e  quinhentos  e  oitenta    e   doze 
mil  Bramaas  de    cavai  lo,    com  Jaezes    e 
eubertas  ricas,  que  também  por   sua   or- 
dem fechavão  todo  o  dopo  em  quatro  fi- 
leyras,  e  estes  todos  armados  de   cossol- 
letes,  e  couras,  e  sayas  de  mallia,  e  com 
lanças,   treçados,  e  cofoe  dourados.»  Ibi- 
dem,  cap.  141.  —  «Seguese  ao  longo  da 
China  alem  dos  bramas  ho  reyno  dos  pa- 
tanes  que  agora  sam  senhores  de  benga- 
la, aos  quaes  fica  ao  mar  da  india  todo 
ho  mais  da  india,  de    bengala   ate    cara- 
baya  que  he  ho    rcvno    de    guzarate    no 
qual  por  vezes  fizeram  algumas  entradas 
he  gente  belicosa,  usam  darcos  e  frechas 
a  cavallo  e  tem  bons  treçados,  e  he  esta 
gente  huma    com    os   Mogorcs,    e    foram 
do   mesmo    reyno  e  geraçam,  e  por  divi- 
sões que  ouve  antreles  ficaram  divididos 
em    diversos    re\Tios.»    Frei    (Saspar    da 
Cruz,  Tratado  das  cousas  da  China,  cap. 
4.  —  « Ao  qual  em  chegando,  guiado  per 
Alexandre  dataide,   dixe    Afonso  dalbu- 
querqne  que  nam  vinha  como  denia,  pois 
trazia  armas,  qu  •  as  tirasse  logo,  o  que 
elle  nam  quis  fazer,  mas  antos   apunhon 
do  treçado  o  que  vendo   Afonso  dalbu- 
quei-que  lhe  trauou  do    braço    dizendo   a 
Poro  dalbuquerque  que  lho  tirass>»  dali.» 
Damião  «ie  (?oes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  3,  cap.  6í^. 
TREÇAR.  Vil.  Terçar. 
TRECENTESIMO,  A,  adj.  Do  latim  tre- 
eeii'ís!muí'^,  O  ultimo  de  trezentos;  o  que 
se  seirno  a  2119. 

TRECHEIO,  alv.  Termo  popular.  A 
trecheio  houv«  Jf  cotner ;  em  muita  co- 
pia. 


I 


TREG 

1.)  TRECHO,  s.  m.  Intervallo,  espaço 
de  tempo,  ou  de  logar. 

—  A  trechos ;  de  tempo  em  tempo,  de 
distancia  em  distancia. 

2.)  TRECHO,  s.  wi.    Passagem,   pedaço 
de  alguma  obra  em  prosa,  ou  verso. 
TREÇÓ.  Vid.  Terço. 

—  Dú-se  também  este  nome  ao  ultimo 
leitão  que  nasce  do  mesmo  ventre,  e,  em 
geral,  ao  ultimo  animal  da  mesma  ni- 
nhada. 

TREÇOL.   Vid.  Terçol. 
TREDICE,  s.f.  Termo  antiquado.  Trai- 
ção. 

—  O  caracter  do  que  é  tredo. 
TREDO,  A,  adj.  Termo  antiquado.  Trai- 
dor. 

Kão  sei,  ha  medo, 
de  mi  o  jantar,  e  foge ; 
pois  não  lhe  fui  nunca  tredo ! 
Jantar  foge?  Ora  accrtaes. 
Jantares  pobres  d'e3,)irito 
sao  parvoa,  nào  entendem  mais. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  189. 

—  Não  singelo,  de  animo  dobrado,  que 
não  falia  sincero. 

TREDOR.    Termo    antiquado.    Traidor. 

TREDORAMENTE,  adv.  Termo  antiqua- 
do. Atraiçoadamente. 

TREDORICE,  s.  /.  Vid.  Tredice. 

TREDORO,  A,  adj.  Termo  antiquado. 
Vid.  Traidor. 

TREDRO.  Vid.  Traidor. 

f  TREEVOSO,  A,  a<lj.  Termo  antiqua- 
do. Trabalhoso.  —  «  Acabando  esta  tree- 
vosa  vida,  mereça  começar  de  viver  per 
certa  sperança  em  aquella  gloria  eter- 
nal.» Fr.  João  Claro,  Opúsculos,  pag. 
180,  em  Inéditos  d'Alcobaça. 

TREFFGO,  A,  adj.  Vid.  Trefo. 

TREFEGO,  TREFEGUEIRO,  A,  adj.  Vid. 
Desalijo. 

TREFO,  A,  adj.  Sagaz,  astuto,  ardilo- 
so, dissimulado  com  malícia. 

—  Que  faz  travessuras  dissimulada- 
mente. 

TBEJEITADOR,  A,  s.  Pessoa  que  faz 
tregeitos,  momo.í,  pantomimas,  e  ade- 
manes. 

TREGEITOS,  s.  m.  plur,  Ademanes, 

—  Destrezas,  e  habilidades  de  mãos, 
que  parecem  maravilhosas.  —  «Os  ho- 
mens dinheirosos,  entre  os  quáes  se  acha- 
va M.  Chenu  se  tiuhão  retirado  n'um 
canto  da  salla,  onde  sem  duvida  fallavão 
de  negócios.  Outo  mulheres,  e  eu  na  con- 
ta, fazião  meia  lua  á  cheminó,  as  quáes, 
sem  as  querer  vêr,  por  mais  que  voltasse 
03  olhos,  me  erão  representadas  pelos  es- 
pelhos com  a  vista  cravada  em  mim,  e 
logo  seus  tregeitos,  e  os  lanços  de  olhos 
que  servião  de  recíprocos  intérpretes  a 
Damas  e  a  Cavalheiros.»  Francisco  Ma- 
noel do  iSTascimento,  Successos  de  mada- 
me de  Seneterre. 

TREGOA,  >•-•.  /.  Suspensão  temporária 
de  armas  e  hostilidades.  —  Fazer  tregoas. 


TREI 

—  «Por  morte  deste  pagano,  sucedeo  no 
Reyno  de  Córdova,  seu  tilho  Ozinen,  que 
no  principio  recusou  de  guardar  as  tre- 
goas com  elRey  Dom  Bermudo,  sem  pri- 
meiro lhe  dar  o  tributo  ordinário  das 
donzelas.»  Monarchia  Lusitana,  liv.  7, 
cap.  10.  —  «Mande-me  V.  S.  como  lhe 
peço,  outro  semelhante  que  seja  de  Por- 
tuguez,  confesse  que  este  que  lhe  invio 
se  acha  nos  Livros,  e  á  vista  disso  fare- 
mos tregoas.  (iuarde  Deos  a  V.  S.  mui- 
tos annos.»  Cavalleiro  d'01iveira.  Car- 
tas,  liv.  1,  n.°  33. 

—  Figuradamente  :  Cessação  temporá- 
ria de  trabalhos,  fadigas,  moléstias.  — 
Tregoa  du  trabalho,  da  dõr,   etc. 

—  Feiia. 

TRÉGUA,  s.  f.  Vid.  Tregoa.  —  « Afir- 
mou se  aos  Portugueses  que  estavam  ca- 
tivos e  nos  troncos  pi-esos  ho  anno  de 
cincoeuta,  que  ha  alguns  annos  que  avia 
antre  os  Chinas  e  Tártaros  tréguas  :  e 
no  anno  de  cincoenta  fizeram  os  Tárta- 
ros huma  grande  entrada  na  China,  da 
qual  lhe  tomaram  huma  cidade  niuv  prin- 
cipal.» Frei  Gaspar  da  Cruz,  Tratado 
das  cousas  da  China,  cap.  4. 

1  TREIÇAM,  s.  /.  Vid.  Traição.  —  «A 
qual  soltou  com  dizer  ao  capitão  que  com 
el  Rei  de  Cambaia,  nem  com  seus  vas- 
salos, e  amigos,  não  queria  se  não  toda  a 
paz,  e  amizade,  e  que  assi  o  podia  dizer 
a  Jlilicupij,  porque  naquellas  partes  não 
tinha  el  Rei  de  Portugal  seu  senhor  guer- 
ra se  não  com  os  Mouros  de  Meca,  e 
com  el  Rei  de  Calecut,  polas  treiçoens, 
e  enganos  que  fezera  a  seus  capitães.» 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  1,  cap.  60.  —  «Pelo  que  no  mesmo 
dia  despachou  dom  Lourenço  com  todolos 
capitães  da  frota,  para  de  súbito  darem 
em  Coulão,  e  queimarem  quãtas  nãos 
achassem  dos  mouros,  e  dos  da  terra,  em 
vingança  da  treiçam  que  fezerão,  a  quem 
o  tempo  seruio  de  maneira  que  chegou  a 
Coulão  antes  que  os  da  cidade  soubessem 
de  sua  ida,  onde  pos  fogo  a  xxvij,  nãos 
de  mouros,  que  achou  no  porto,  do  qual 
se  não  quis  partir  sem  primeiro  as  ver 
arder   todas.»    Ibidem,  part.    2,    cap.  7. 

—  «  Mas  antes  que  saísse  do  castello 
mandou  matar  cento,  e  cincoenta  Mou- 
ros que  tinha  presos  por  caso  das  trei- 
çoens, em  que  entrou  Miliqui  cuf  condal 
e  decí-par  todolos  cauallos  que  valião 
muito  dinheiro,  por  se  o  çabaim  não  lo- 
grar tielles.»  Ibidem,  part.  3,  cap.  õ.  — 
«O  que  feito  se  pos  a  cauallo,  com  cen- 
to, e  cincoenta  lanças,  e  foi  alcançar  ho 
Arraial  dos  que  fezeram  a  treiçam  duas 
legoas,  e  mea  de  çafim  de  que  trouxe  a 
Cidade  seiscentos,  e  cincoenta  almas,  e 
muito  gado  vacum,  e  meudo,  e  matou  no 
recontro  mais  de  cento,  e  cincoenta  del- 
les.s  Ibidem,  part.  4,  cap.  64. 

TREIÇÃO,  s.  /.  Vid.  Traição. 
TREIDOR,  A,  adj.  e  s.  Vid.  Traidor. 
TREIN,  s,  Wi.  Vid.  Trem. 


TREL 


807 


TREINA,  s.  f.  Termo  de  historia  na- 
tural. A  ave,  ou  o  animal,  sobre  que  os 
caçadores  dão  de  comer  á  ave  de  rapina, 
para  esta  se  acostumar  a  caçal-a,  e  fazer 
d'ella  sua  ralé. 

—  Figuradamente  :  O  cevo,  pasto  ha- 
bituai. 

—  Figuradamente :  A  treina  da  tua 
conversação. 

TREINAR,  V.  a.  Acostumar  a  ave  de 
caçar  com  o  cevo  da  sua  ralé,  para  a  ha- 
bituar a  empolgar  n'ellas  pelo  gosto  do 
costume. 

—  Treinar-se,  v.  rcji.  Acostumar-se  a 
ave  com  o  cevo  da  sua  ralé. 

—  Figuradamente :  Acostumar-se  al- 
guém, aftazer-se  a  qualquer  cousa. 

TREITA,  s.  f.  Rasto,  vestígios,  pega- 
das, trilha. 

TREITENTO,  A,  adj.  Que  usa  de  tre- 
tas. 

—  Substantivamente :     Um    treitento. 
TREITO,    A,    adj.    (Do    latim    tritus). 

Usado,  costumado,  trilhado. 

—  Tratado. 

—  Exposto,  sujeito  a  treitas. 
TREJURAR,  V.  a.   Repetir  o  juramento 

três  vezes,  affirmar  muito,  affirmar  com 
três  juramentos.  Vid.  Tresjurar. 

TRELADAR.  Virl.  Tresladar. 

f  TRELADO,  s.  m.  Vid.  Traslado.  — 
«Da  qual  Hordenaçom  o  Concelho  da 
dita  Cidade  nos  pedio  por  mercê,  que  lhe 
mandássemos  dar  o  trelado  delia;  e  nós, 
visto  seu  dizer,  e  pedir,  mandamos-lha 
dar  em  esta  nossa  Carta  testemunhavel.» 
Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit.  21,  §  5, 

TRELHO,  s.  m.  Instrumento  de  bater 
a  manteiga. 

TRELLA,  ou  TRELA,  s.  f.  A  correia 
onde  vai  preso  o  cão  da  caça.  —  «E  naõ 
estiveraõ  muito  que  chegou,  para  passar, 
hum  mancebo  mui  aprazível  de  rosto,  e 
airozo  na  postura,  vestido  de  monte,  com 
hum  galgo  pela  trela,  e  outros  caens  que 
o  seguiaõ;  com  a  outra  maõ  vinha  sope- 
zando  hum  dardo.»  Francisco  Rodrigues 
Lobo,  Desenganado. 

—  Cão  de  trella ;  cão  que  preso  n'ella 
vae  puxando  pelo  caçador,  levando-o  pelo 
rasto  da  rez  até  a  achar. 

—  Loc.  FIG. :  Levar  de  trella  o  cão; 
leval-o  pela  trella. 

—  Trazer  á  trella;  trazer  á  toa. 

—  Loc.  POP.:  Bar  trella;  dar  audiên- 
cia, fallar  com  uns  e  outros,  e  respon- 
dendo a  todos ;  dar  attenção. 


Quero  comer  hoje :  daes 
trela  a  parvos,  isto  faz. 
Por  aquiilo  pclejacs? 
por  que  mo  trazeis  cA? 
Batei,  chainae  vossa  irmã. 

ANTÓNIO   PRKSTF.S,    AUTOS,    pag.    2C3. 


Molher,  dos  mais  embaraços 
sois  que  eu  vi,  niolhcr  perigo, 
quereis  dar  trãa  a  madraços 


TREM 


TREM 


TREM 


que  andam  do  figo  om  figo  ? 
Eu  ai.0  vou  coiovoaco  a<mi. 


—  Fi^nríulamentc:  lioer  as  trellas ; 
estar  impacienta,  por  ir  fazer  alf:cu'"íi  ^'"i- 
sa,   como  o  cuo  que  mo  quer  lançar  ;l  caça, 

—  Figuradamente:  Soltar  a  trella  auí 
soldnd-iiK  para  irem  accommetter;  deixar, 
perniittir. 

—  Fifíuradamente :  Dar  trella  ao  esty- 
lo;  dar  larf^a. 

—  Soltar  a  trella  ao  animal  caçador 
para  se  lançar  á  presa,  d  sua  ralé. 

—  Dar  trella  ;  dar  fclj^a,  licença. 

—  Dar  trella  ás  travessuras ;  dcixar- 
lh'as  faner  quantas  querem. 

—  Esganiçar  na  trella  ;  diz-so  do  cão 
preso. 

—  Figuradamente :  Esganiçar  na  trel- 
la ;  diz-so  lio  que  ralha,  e  censura  som 
poder  emendar,  nem  castif^ar  aquellos  de 
quem  ralha,  e  diz  mal,  ou  lastima  as 
maldades  impunidas. 

TREM,  «.  m.  (Do  francez  train).  A 
gente,  ^  bagagem  que  acompanha  al- 
guém de  jornada. 

—  Ter  trem  de  tartaruga;  diz-se 
d'aquelle  que  tem  quanto  sobro  si  o  traz 
ou  leva. 

—  Trem  de  artilheria;  apparelho  d'el- 
la.  —  «E  assim  com  muita  facilidade  fez 
ElRey  Nosso  Senhor  hum  Exercito  no 
anuo  de  1643.  que  sahio  de  Elvas  com 
12áí000.  Infantes,  e  2^.  cavallos:  e  no 
anno  do  45.  fez  outro  na  mesma  Fron- 
teira de  7()000.  Infantes,  e  1500.  caval- 
los, e  que  no  Trem  ila  Artelharia,  e  ba- 
gagem levava  lU.-SOOO. »  Severim  de  Fa- 
ria, Noticias  de  Portugal,  Discurso  2,  ca- 
pitulo 9. 

—  Trem  do  exercito;  todo  o  apparato 
de  muniçijes,  provisões,  vedorias,  gasta- 
dores, etc,  que  o  segue  e  acompaniia. 

—  Trem  de  vida,  por  modo  de  vida ; 
n'esta  locuçào  c  gallicisnio. 

TREMA,  s.  m.  (Do  francez  íre?)ia).  Vid. 
Dierese. 

TREMALHO,  s.  m.  Vid.  Tresmalho. 

TREMANTE,  a^lj.  2  gen.  Que  trome.— 
Voz  treraante. 

TREMAR,  V.  a.  Descompor  os  fios  da 
tecediira. 

TREMATE  DO  BRAZIL,  s.  m.  Termo 
de  botânica.  Tlanta  da  família  das  co- 
rymbi  feras. 

TREMEBUNDO,  A,  adj.  (Do  latim  tre- 
viebundtis).  Termo   de  poesia.  Tremulo. 

TREMECEM,  adj.  m.  —  Trigo  treme- 
cem ;   trigo  treniez.  Vid.  Tremez. 

TREMECER.   Vid.  Estremecer. 

TREMEDAL,  s.  m.  Terreno  ensopado 
do  agua;  Icnteiro,  brejo. — Tremedal  de 
arroz. 

—  Lamaçal,  lodaçal,  lameiro. 
TREMEDOR,  A,  adj.   c  s.    Que  treme. 

—  ò'.  m.  Termo  de  historia  natural. 
Peixe  que   tomado    nas   màos   produz  ef- 


feitoB  eléctricos;  outr'ora  conhecido  pelo 
nomo  lio  trenielgu. 

TREMELEAR.   Vid.  Tremolar. 

—  Hesitar,  nilo  saber  o  que  se  diz  de 
medo,   e  tui  baçào. 

TREMELEGA,  «.  /.  Vid.  Tremelga. 

TREMELGA,  f.  f.  Termo  de  zoologia. 
Peixe  como  a  raia,  que  causa  o  choque, 
ou  pancada  (|ue  produzem  o»  conducto- 
res  eléctricos,  quanilo  se  toca  na  machi- 
na,  nas  jiessoas  a  quo  80  communica  o 
iluido.  Vid.  Torpedo. 

TREMELHICAR,  v.  a.  Tremer  a  miúdo 
o  (|uc  s(í  uào  |)i')  le  ter  cm  p6, 

TREMELIGOSO,  A,  adj.  Termo  om  des- 
uso. Tremulo. 

TREMENDAMENTE,  adv.  (De  tremen- 
do, eoni  o  sufiix(j  «mente»).  De  um  mo- 
do tremendo. 

TREMENDÍSSIMO,  A,  adj.  superl.  de 
Tremendo.  Alui  tremendo. 

TREMENDO,  A,  adj.  (Do  latim  tremen- 
dus).  Que  faz  tremer,  horrível. 


Trrmendo  todo,  todo  embaraçado 
Rodea  os  olhos  a  hrnna  c  outra  parto, 
E  ao  pi  do  hum  freixo  antigo,  ondo  deitada 
Dona  Lianor  csti'ua,  a  vista  firma. 

coRTH  KUAL,  nAUFRioio  Ds  sui-ULTEnA,  cant.  9. 


Povo  de  Utica, 
Romanos  — quo  vis  sois  Romanos  ainda, 
Quo  pretendeis '?  As  legiões  de  César 
Estão  ja  sobre  nJs.  Esse  alvoroto, 
P'sso  acclamar  o  nome  d'um  proscripto 
Movcril  sua  cliolcra  tremenda 
Uoutra  vóa.  ]dc  em  paz,  amigos,  ide. 

OÁRKETT,  CATÃO,   HCt.    5,  SC.   5. 


—  Formidável. 

TREMENTE,    part.   act.  do  Tremer.  — 
Amor  tremente. 

—  i}\ití  faz  tremer. 
TREMENTINA,  s.  /.  Vid.  Terebintia. 
TREMER,     i'.    n.    (Do    latim    trenure). 

Sentir  o  nuivimento  do  corpo,  que  causa 
o  frio  demasiailo,  o  susto,  o  horror,  a 
convulsão.  —  «E  diante  de  todo  este  apa- 
rato vrio  mais  de  quatrocentos  upos  cij 
grande  soma  de  cadeas  de  ferro  muyto 
compridas  que  vão  arrojando  pelo  chão, 
com  huma  desordem  e  hum  estrondo  tão 
medonho  que  fazem  tremer  as  carnes  a 
toda  a  pessoa. »  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  c;ip.  106. —  «Aquy  nesta 
segunda  cerc;i  em  huma  grande  porta 
por  ondo  entramos  estavão,  cm  figuras 
muvto  disformes,  os  dous  porteyros  do 
inferno,  segundo  olles  ilizem,  hum  por 
nome  Bacharom,  e  outro  Quagifiiu,  am- 
bos cõ  maças  de  ferro  nas  maljs,  e  tão 
feyos  em  tanto  estremo,  que  as  carnes 
tremião  aos  que  olhavào  para  elles.» 
Ibidem,  cap.  110. —  «Se  soubera,  que 
cousa  he  fogo  eterno,  tremera  só  do  pe- 
rigo do  cahir  nelle.  Se  soubera,  que  cou- 
sa he  gloria,  naõ  desprezara  por  pouco 
mais  de  nada  hum  bem  infinito.»    Padre 


Manoel    Bernardos,    Exercícios    espiri- 
tuaes,  pag.  17(j. 

E  p/.dn  um  cidadão  tremer  ante  ellci!? 
l'oucoH  iWjmOA ;  mas  livrca,  mas  ouiudoa. 
No  furor  da  peleja,  (juantas  vezcá 
Um  «<)  braço  baHiou  a  dccidi-U? 

OABBKTT,  CATÃO,  aCt.  2,   8C.   1. 


De  te  deixar,  meu  paol 
IBIDEM,  act.  6,  SC.  9. 


Tremo,  e  é  medo 


—  «E  a  minha  domna  tremia,  o  o  lei- 
to tremia,  tremia  eu,  que  mirava  tudo, 
mas  com  a  cabeça  cuberta,  por  uma  fis- 
ga da  roupa ;  o  a  lampa<ia  espirava,  e 
na  janella  sentia-se  o  vento  que  assobia- 
va, c  IX  no  telhado  da  igreja  de  S.  Mar- 
tinho os  moclios  que  |iiavam.»  Alexandre 
Herculano,  Monge  de  Cister,  cap.  21. 

—  Não  eslar  tirme,  abanar.  —  Tremer 
a  terra. 


O  bruto  animal  da  scrr», 
O  terra  filha  do  barro, 
Como  s.abeõ  tu,  bcbarro. 
Quando  ha  de  tremer  a  terra, 
Que  espantas  os  bois  c  o  Ciirro  ? 

GlI.  TICESTB,   AUTO   DA  HOFIXA  KEXDES. 


—  «E  tanto  quo  a  noua  foy  dada  a  el 
Rey,  todas  estas  cousas  se  fizeram  jun- 
tamente, com  tanta  brcuidade,  e  preste- 
za, que  foy  cousa  espantosa.  E  era  ta- 
manho o  estrondo,  que  com  isso,  e  c  m 
a  grita  da  gente  parecia  que  a  terra  tre- 
mia, tudo  muyto  pcra  ver  por  ser  tam 
supitamente,  c  feito  em  muyta  perfei- 
çain.»  Oarcia  de  Rezende,  Chronica  de 
D.  João  II,  cap.   115. 

—  Tremer  as  lact^at  tetas;  tremer  de 
cheias,  de  carregadas  de  leite. 


Os  crcs|K>â  fios  d'ouro  desparzidos 
I*e!o  coilo  qnc  a  neve  escurecia  •, 
Lácteas  tetas  que  andando  lhe  tremiam. 
Com  quem  amor  brincava  e  uão  se  vi* ; 
As  flamas  que  lhe  saem  d'alva  pctrína: 
Desejos  que  como  horas  inrolados 
Pelas  lisas  columuas  lhe  trepavam... 
OABBETT,  CAMÕES,  cant.  7,  Cap.  18. 


—  Tremer  a  passarinha.  Vid.   Passa- 
rinha. 

—  Figuradamente:  Tremerem  a»  cida- 
des de  Meca  e  Mediíui. 


>redina  abominável.  Meca  tremem 
C"o  nome  de  Soares;  as  eitremas 
Praias  de  Abassia  tremem.  Cede  a  nobre 
Ilha  de  Taprobana,  hasteado  impera 
Luso  pendão  nas  torres  de  Columbo. 
OABBKTT,  CAMÕES,  caut.  6,  Cap.  19. 

—  Tremer  de  raiva;  diz-sc  do  que  in- 
dica horror  de  consciência. 

—  Figuradamente  :  Tremerem  as  pa- 


TREM 


TREM 


TREM 


809 


redes;  abanarem,  estarem  dispostas  a  caí- 
rem. 

Tá!  paredes,  não  tremaes! 
estae,  nào  caiacs  agora! 
deisac-voâ  passar. 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pSg.  445. 

—  Tremer  a  voz;  tremolar. 

—  Tremer  o  queixo,  as  barbas,  as  per- 
nas; diz-s<'  do  que  está  cheio  de  frio,  ti- 
ritando com  elle. 

• —  Figuradamente  :  Tremer  as  ijernas ; 
diz-se  do  que  está  possuído  d'alg-iima  ac- 
ção má  que  tivesse  commettido,  e  que  o 
receio  do  castigo  liie  produz  o  tremer 
das  pernas  como  remorsos. 

—  Treme-me  o  coração,  a  alma  es- 
morece-me. 

—  Figuradamente  :  O  pensamento  tre- 
me;  horrorisado  de  tanto.s  perigos. 

—  Loc.  POP. :  Tremer  maleitas;  diz- 
se  o  que  as  tem. 

TREMETTER-SE,  v.  refl.  Vid.  Entre- 
metter-se. 

TREMEZ,  arij.  m. —  Trigo  tremez ; 
trigo  que  nasce  e  amadurece  em  três  me- 
zes.  Vid.  Trigo. 

—  Figuradamente :  A  trova  trigo  tre- 
mez; boa  improvisada. 

Renunciava  o  metal ; 
Qu'cm  rifòezinhos  como  estua, 
Ha-se-de  pôr  tal  eom  tal. 
Que  a  trova  tx\s.o-tremez 
Ha  de  ser  toda  dhum  pano ; 
Que  parece  mnito  Ingrez 
N  hum  pelote  Portuguez 
Todo  huui  quarto  Castelhano. 

CAM.,  AMPHTIBIÕES,   act.    1.   SC.    G. 


TREMEZINHO,  adj.  m.  Diminutivo  de 
Tremez.  (_'.'[ovem,  tremez.  —  Trigo  tre- 
mezinho. 

TREMIDO,  part.  pass.  de  Tremer.  — 
Linha  tremida;  linha  cujos  rasgos  não 
vão  direitos,  como  a  que  faz  quem  tem 
a  mào  tremula. 

—  Linhas  tremidas  ;  linhas  pontuadas 
nas  cartas  de  marear,  que  indicam  os 
ventos  ini,ermedios. 

TREMILHICAR.   Vid.  Tremelhicar. 

TREMILIGOSO,  A,  adj.  Vid.  Treme- 
ligoso. 

TREMISSES,  s.  m.  plur.  Moeda  do 
valor  de  oito  ou  seis  vinténs,  e  treze 
reis. 

—  Um  terço  do  soldo. 

TREMO,  s.  m.  Espelho  posto  no  panno 
de  uma  parede  entre  duas  janellas.  Vid. 
Trumó. 

TREMOÇAL,  s.  m.  Seara,  campo  se- 
meado de  tremoços. 

TREMOCEIRO,  s.  m.  Termo  de  botâni- 
ca. Planta  qne  dá  tremoços. 

TREMOÇOS,  s.  m.  pJur!  Gr.^ios  brancos, 
amargos,  que  depois  de  curtidos  e  cozidos 
se  tornam  amnrellos,  e  se  comem. 

TREMOLADO,  part.  pass.  de  Tremolar. 

"   VOL.  V.  — 102. 


—  Tremoladas  bandeiras.  Vid.  Tre- 
molar. 

TREMOLANTE,  parf.  act.  de  Tremolar. 

—  Tremolantes  bandeiras.  Vid.  Tre- 
mulante. 

TREMOLAR,  ou  TREMULAR,  v.  a.  Fa- 
zer uKiver,  e  tremer  solto  ao  ar.  —  Tre- 
molar as  bandeiras.  —  «Havia  el  Rei  D. 
João  enviado  alguns  Religiosos  Francis- 
cos  á  Ilha  de  Ceilão,  exemplares  na  vi- 
da, e  na  doutrina,  para  que  com  o  san- 
gue, e  com  a  palavra  testemunhassem  a 
verdade  Evangélica,  sendo  este  o  maior 
cuidado  de  nossos  Friíicipes,  cujas  ban- 
deiras mais  vezes  vio  tremolar  a  Ásia  em 
obsequio  ca  Religião  que  do  Império.» 
Jacintbo  Freire  d'Andrade,  Vida  de  D. 
João  de  Castro,  liv.  4. 

—  V.  a.  Mover-se  tremendo. 


Deixar  as  ermas  praias  he  forçado 

O  Capitão  prudente.  Ilha  as  julgava, 

Das  muitas,  que  inda  o  mar  não  profanado 

Côas  frias  ondas  resonantes  lava  : 

A  que  ilida  o  Luso,  navegante  ousado, 

Nem  Colónias,  nem  nome  eterno  dava  ; 

Pois  poucas  são  nas  vagas  cryatalinas. 

Onde  nào  fossem  tremolar  as  Quinas. 

J.   A.    DE  MACEDO,  O  OKIESTE,  Caut.    .3,  eSt.    65. 


— -Emprega-sc  também  no  sentido  fi- 
gurado. 

TREMOLITE,  s.  /.  Termo  de  mineralo- 
gia. Espécie  de  pedra.  As  tremolites 
tornam-se  notáveis  pela  sua  phosphoren- 
cia,  ou  pela  luz  que  ellas  derramam, 
quando  se  lhes  roça  na  obscuridade. 

TREMONADO,  s.  m.  O  vaso  onde  cáe 
a  farinh:i  nioida. 

TREMONHA,  s.  /.  Canoura,  vaso  de 
madeira  quadrado,  largo  na  bocca,  e  es- 
treito no  outro  extremo  exposto,  com  pas- 
sagem como  o  funil,  pela  qual  cáe  na 
mó  o  trigo  que  está  na  tal  tremonha  para 
se  moer. 

TREMOR,  s.  m.  (Do  latim  tremor).  Mo- 
vimento tremulo.  d'aquillo  que  treme,  e  se 
agita,  vibra  ou  abana.  — Tremor  de  per- 
nas, de  braços.  —  Tremor  do  mar  agitado. 
—  «E  respondendo  á  segunda  proposição 
contra  aquelles  que  dizião  que  logo  viria 
outro  tremor  e  que  o  mar  se  levantaria 
a  2õ  de  Fevereiro,  digo,  que  tanto  que 
Deos  fez  o  homem,  mandou  deitar  hum 
pregão  no  paraíso  terreal,  que  nenhum 
seraphim  nem  anjo  nem  arehanjo,  nem 
homem  nem  mulher,  nem  sancto  nem  san- 
cta,  nem  sanctificado  no  ventre  de  sua 
mãe,  não  fosse  tão  ousado  que  se  entre- 
mettesse  nas  cousas  que  estão  por  vir.» 
Gil  Vicente,  Obras  varias. 


Aqnestcs  tremores  taes, 
o  outros  muvtos  signaes 
vemos,  sem  termos  lembrança 
de  Deos,  ucm  fazer  mudança 
de  nossas  vidas  mortaes. 

GAhCIA  DE  BEZENDlC,  taSCSUUJTU. 


—  íEt  irridebat  me  irrisione  exhoria- 
toria,  quasi  diceret :  Tu  non  poteris  quod 
isti  et  istce,  an  isti  et  istce  in  semetipsis 
possunt  ac  non  in  Domino  Deo  suo?  E 
com  estas  palauras  que  se  lhe  affiguraua 
dizerlhe  a  castidade,  e  com  estes  exem- 
plos, que  punha  diante,  confessa  que  se 
corria  tanto  de  si  mesmo,  que  se  acaba- 
rão seus  tremores,  e  foy  este  o  derradei- 
ro termo  de  .<ua  conuersaõ.»  Paiva  de 
Andrade,  Sermões,  pag.  121. 

• — Tremor  de  terra;  terremoto. 


Como  assim? 
A  estar  mais  um  anno  aqui 

tínhamos  tremor  do  terra. 

.Ofioxio  rBESTES,  AUTOS,  pag.  Ml. 


.  —  í  Com  este  vento  e  por  estar  ba  ter- 
ra movida  pelos  tremores,  cayram  e  se 
assolaram  muitas  cidades,  nas  quaes  mor- 
reo  gente  innumeravel.  Em  buma  cidade 
per  nome  Vinhàfuu  neste  dia  tremeu 
muito  a  terra.»  Frei  Gaspar  da  Cruz, 
Tratado  das  cousas  da  China,   cap.  29. 

TREMPE,  s.  /.  Um  aro  de  ferro  sobre 
três  pés,  em  que  se  assenta  a  panella  ao 
fogo. 

—  Uma  postura  dos  três  dedos  na  viola. 

—  Trempe  do  fuso;  peça  do  prelo  de 
impiinra-.  Vid.  Quadro. 

—  Trempes  dj)  veado;  são  três  pontas 
que  elles  criam  depois  dos  seis  annos. 

—  Alguns  escrevem  frenipem. 

—  Adagio  e  provekuio: 

—  É  dourado,  avisado,  e  formoso  como 
as  trempes. 

TREMDDAR.  Vid.  Trasmudar,  e  Trans- 
mudar. 

TREMULAMENTE,  adv.  (De  tremulo,  e 
o  snffixi  "mente»'.  De  um  modo  tremulo. 

—  Com  tr.'muras. 
TREMDLANTE,  part.  act.  de  Tremular. 

—  Lume  tremulante ;  lume  agitado, 
tremulo. 

TREMULAR.  Vi  1.  Tremolar. 

TREMULAS.  Vid.  Trémulos. 

TREMULO,  A,  adj.  Diz-se  do  movi- 
mento que  tem  os  corpos  que  se  agitam, 
como  a  corda  da  viola,  ou  cravo,  quando 
está  tesa,  e  se  fere,  agitando-se  a  um  e 
outro  lado,  vibrando. 


Quem  és  tu  que  assim  falias,  lhe  dizia 
Tremulo  hmn  tanto  o  capitão  prudente 
(Espantado  da  luz,  que  vence  o  dia. 
Quando  mais  alto  brilha  o  Sol  ardente;) 
És  acaso  illusào  da  fantasia, 
E  sem  que  existas  te  produz  a  mente? 
Kào,  (lhe  diz  hnma  voz,  qnc  as  luzes  fende, 
E  mais,  e  mais  extático  o  suspende.) 

j.  A.  DK  MACEDO,  O  ORiEJiiE,  cant.  6,  sst.   15. 

Qual  montanha  ficou,  que  o  fogo  ardente 
Ko  escuro  abysnio  das  entranhas  guarda, 
Que  dalt^a  cima  tn-miãa.  o  convulsa, 
ígnea  lava  arremeça,  ígneos  penhascos. 

IDEM,  MEDITAÇÃO,  C3nt.   1. 


810 


TREM 


TREP 


TRE8 


O  Supromo  Motor  parte  do  fogo 
Uniu  ao  Sol,  il«  Irem.iUwi  Ií»trclla8 : 
E  diâporaas  porções  do  fogo  occulto 
Nas  ondas  ouoorrou,  no  ar,  na  torra. 

IDEM,    A   NATUREZA,   CSnt.    2. 


A  vista  pcrsoicaz  por  ontro  as  ondas 
Ao  loiípi  a  prpz!i  Iremnia  doviza. 
Mergulha  forocissima,  d'hum  golpo 
No  escuro  ventre  a  esconde  inda  tremendo. 
IBIDEM,  cant.  3. 

Ergui-o  palpitando:  nm  ni'i  o  atava. 
Trémulo  o  desabrocho  —  era  oiro  puro, 
Oito  d'aquclla3  tranças  tam  queridas, 
Ricca  jóia  d'amor.  Co  "a  doce.  prenda 
Vinha  nm  bilhete  :  abri-o,  li ;  —  «Roubado 
Foi  este  instante  a  bárbaros  tutores,  i 
OARRETT,  CAMÕES,  caut.  4,  cap.  4. 

—  Tom  tremulo ;  tom  do  que  tem  medo. 

—  « Ahi  tendes,  mestre  ; 
Poucos  pardaus  contém...  (Menos  me  ficam, 
T.-ílvoi;  nf^nhuns...»  em  tom  mai.i  baixo  c  trémulo, 
Qii.isi  de  não  se  ouvir  ;  nem  certo  o  ouviram.) 
«Porém  d'aqui  A  praia  não  vai  muito, 
E  a  passagem  do  Jáo...» 

OABRF.TT,  CAMÕES,   Caut.    1,   Cap.    14. 

—  Oceano  tremulo  de  fogo. 

Tu  vês  de  lá  quo  o  \'ivido  semblante 
Do  luminoso  Sol  se  euluta,  c  cobre 
De  espessas  manchas,  quo  ondeando  girão 
Polo  Oceano  tremulo  de  fogo. 

J.  A.  DR  MACEDO,  A  N.WDBEZA,  Cant.   1. 

—  A  tremula  planicie. 

No  fundo  abismo,  c  tremida  planice 
Descobre  hum  rasgo  da  immortal  15(>lleza ; 
Em  quantos  Sores  suas  ondas  guardão 
Y6  do  Eterno  o  poder,  do  Eterno  a  gloria. 

J.  A.  DE  MVCKDO,  A  NATUREZA,  cant.  3. 

—  o  alvejar  de  roupas  tremulas.  — • 
«Ao  lu.sco-fuseo,  as  ani))las  pregas  da  strin- 
gc  d'Earico,  branquejando  movediças  d 
niercô  do  vento,  eram  o  signal  de  que 
ellc  estava  lá,  e,  quando  a  lua  subia  á.s 
alturas  do  C(iu,  esse  alvejar  do  roupas 
tremulas  durava,  quasi  sempre,  até  que 
o  planeta  da  saudade  se  atufava  nas  aguas 
do  Estreito.  D'alii  a  poucas  lioras,  os  ha- 
bitantes de  Carteia  que  se  erguiam  para 
03  seus  trabalhos  ruraes  antes  do  alvore- 
cer, olhando  para  o  presbvterio,  viam, 
atravez  dos  vidros  corados  da  solitária  mo- 
rada do  Eurico,  a  luz  da  lâmpada  no- 
cturna que  esmorecia,  desvanecendo-se  na 
claridade  matutina.»  Alexandre  Hercula- 
no, Eurico,  cap.  3. 

TRÉMULOS,  s.  m.  plur.  Termo  do  ou- 
rivesaria. Flores  de  pedraria  sustidas  so- 
bre arame  elástico,  quo  tremem  muito  na 
cabe(,-a,  ou  peito  que  adornam. 

TREMULOSO,  A,   adj.  Tremulo. 

TREMURAS,  s.  /.  ylar.  O  susto  que 
produz  a  pressa,  aperto,  perigo. 


—  Loc.  pop.:  Vtr-te  dUjuem  em  tre- 
muras ;  vcr-so  em  angustias,  aifrontae, 
atHic<;òe8. 

TRENA,  8.  f.  Fita,  ou  tecido  simiihante 
do  seda,  ou  tio  do  ouro. 

—  Trena  de  prata,  de  ouro;  para  tran- 
çar o  cabcllo. 

—  Correia  com  quo  os  rapazes  fazem 
gyrar  o  [mào  açoutando-o. 

"  TRENÇA,  s.  /.  Termo  antiquado.  Vid, 
Trança. 

TRENÇADO.  Vid.  Trançado. 

TRENO',  í.  «1.  (Do  fraiicoz  trainenu). 
Carro  de  rojo,  carreta  sem  rodas,  em  que 
se  viaja  sobre  os  regeles  do  norte.  Vid. 
Solea,  Rastilho. 

TRENOS.   Vil.  Threuos. 

1.)  TREPADEIRA,  «.  vi.  Termo  de  bo- 
tânica. l'lanta  de  que  ha  duas  espécies, 
tendo  a  jirimeira  folhas  como  a  hera,  e 
flores  brancas  com  figura  de  sino,  e  a 
segunda  folhas  mais  pequenas,  e  flores 
côr  de  rosa. 

2.)  TREPADEIRA,  adj.  f.  —  Hervas 
trepadeiras ;  horvas  que  sobem  ao  tronco 
a  (|uo  se  arrimam,  o  que  também  fazem 
algumas    rasteiras,   posto   que  não  tanto. 

1.)  TREPADOR,  s.  m.  Volteador  na 
niaroma. 

2.)  TREPADOR,  A,  adj.  Que  trepa,  en- 
roseando-se,  e  earolando-se,  como  alguns 
cipós  e  plantas. 

—  Vinho  trepador;  vinho  que  sobe  á 
cabeça,  e  tolda  o  entendimento. 

TREPADOURO,  s.  m.  Logar  onde  se 
trepa. 

TREPANAÇÃO,  s.  /.  Termo  de  cirur- 
gia.  A  ojieração  de  trepanar. 

TREPANAR,  v.  a.  (Do  francez  trepa- 
ner).  Abrir  com  o  trépano. 

TRÉPANO,  s.  m.  (Do  grego  tnjpanon). 
Instrumento  cirúrgico  do  furar  o  craneo, 
para  reconhecer  o  estado  do  cérebro. 

TREPAR,  r.  n.  Subir  pegando-se  com 
as  mãos,  e  ajudando-se  d'ellas,  como  as 
hervas  trepadeiras  de  seus  elos. 


Nunca  trepou  tanto  .1  era 
que  lá  lhe  não  falsa  uma  volta 
tudo  o  que  cm  subir  so  esmera. 
Mestre,  esta  gente  marfuz, 
seus  auterluuíios 
nunca  fino. 

ANTÓNIO  PHKSTKS,  AUTOS,  pag.  SI. 

Das  Antilhas  os  íncolas  remotos 
Gozào  deste  spcctaculo  ;  dormentes 
Alguns  na  praia  concava  sesteudem, 
Outros  trepando  vão  por  escabrosas 
Cixrcomidas  do  mar  pendentes  rochas. 

J.  A.  DE  MACBDO,  A  NATCRKZA,  Cant.  3. 


TREPEÇA,  .t.  /.  Uma  roda  de  madei- 
ra cravada  sobre  três  pós,  que  serve  de 
assento  aos  sapateiros,  e  outros  mechani- 
cos. 

—  .Vluuns  dizem  tripeqa. 

TREPECADO.  Vid.  Triplicado. 

TREPEES,  5.  /.  plur.   Vid.   Trempe. 


TREPICA.   Vid.  Tréplica. 
TREPICHE,  «.  VI.  Machina  de  peneirar 
a  farinha. 

—  Tra|)iche. 

TREPIDAÇÃO,  ».  f.  (Do  latim  irepida- 
lio).  Termo  (ie  astronomia.  Balanço,  que 
antigos  a.-»tronomo9  cuidaram,  que  o  fir- 
mamento dava  do  norte  para  o  sul,  e 
vice-versa. 

—  Trepidação  na  terra ;  abalo  menor 
quo  o  tf-rronioto. 

TREPIDANTE,  adj.  2  gen.  —  Vôo  tre- 
pidante dus  azoa  fia  ave  agilaJat;  ao 
contrario  de  quando  não  as  move,  ou  tre- 
mula. 

TREPIDAR,  V.  n.  (Do  latim  trepidare). 
Termo  poueo  em  uso.    Temer,  ter  medo. 

TREPIDO,  A,  adj.  ^Do  latim  trepidut). 
Tremulo,  temeroso,  assustado. 

—  O  trepido  mido. 

TREPLICA,  *.  /.  Termo  do  foro.  A  res- 
posta dada  pelo  reu  á  replica  do  anctor, 
impugna!ido-a. 

TREPLICADO,  part.  pas$.  de  Trepli- 
car. 

—  Contervla  treplicada  de  versa ;  com 
resposta  de  parte  a  parte. 

TREPLICAR,  1-.  a.  Refutar,  ou  contra- 
riar a  replica  do  auctor. 

—  Locução  forense  :  Treplicar  por  ne- 
gação ;  negando  a  matéria,  proposições 
da  replica. 

TREPRICA.  Termo  antiquado.  Vid.  Tre- 
plica. 

TREPRICAR.  Termo  antiquado.  Vid. 
Treplicar,   tenno  mais  em  uso. 

TRÊS,  ou  TREZ,  adj.  2  gen.  (Do  la- 
tim três).  O  numero  que  resulta  de  dous 
e  mais  um,  existente  entre  2  e  4,  que  é 
maior  que  2,  e  menor  que  4. 


Não  fapresscs  tu,  Inei, 
Maior  hc  o  anno  que  o  mcz. 
Quando  to  não  precatares 
Virão  maridos  a  pares, 
E  filhos  de  três  cm  três. 

On.  VICXNTR,   PASÇAS. 


—  «E  assi  a  qualquer  parece  que  está 
mais  dobrado,  sem  nenhum  conhecer  seu 
próprio  engano,  por  grande  que  seja. 
Ora,  Senhores,  a  mim  me  esquece  o  dito 
todo  de  ponto  em  claro:  mas  não  sou  de 
culpar,  porque  não  ha  mais  que  tres  dias 
que  mo  dcrào.  Mas  em  brevcá  palavras 
direi  a  vossas  mercês  a  summa  da  obra : 
ella  he  toda  de  rir,  do  cabo  ate  á  pon- 
ta.» Camões,  Seleuco.  —  t  Senhores,  al- 
gum de  vós ;  polo  que  devo  á  ordem, 
que  tomastes,  quererá  ir  comigo  fazer  um 
soccorro  a  uma  donzella,  que  três  caval- 
leiros  por  força  querem  matar?»  Francis- 
co de  Moraes,  Palmeirim  dlnglaterra, 
cap.  16.  —  eDiz  a  historia  que  clrei  do 
Dinamarca  antre  três  tilhos,  que  lhe  a 
natureza  dera,  especiaes  cAvalleiros,  o 
primogénito  chamado  Albanis  de  Frisa, 
o  era  tanto,  que  quasi  em  todo  seu  reino 


TRÊS 


TRÊS 


TRÊS 


811 


não  havia  outro  melhor.»  Ibidem,  cap. 
88.  —  dOs  três  companheiros  quizeram 
contender  das  espadas,  e  Lustramar  foi 
o  que  n'isto  mais  porfiava,  que  se  havia 
por  injuriado  mais  naquelle  caso.»  Ibi- 
dem, cap.  129.  —  «Qualquer  dos  sobre- 
ditos, que  for  contra  esta  nossa  defesa, 
Mandamos  que  perca  aquella  saqua  ou 
saquas  que  assy  comprar.  Feito  em  a 
Cidade  de  Lisboa  três  dias  d' Agosto.  Al- 
vare  Annes  o  fez  Anno  do  Nacimento  de 
Nosso  Senhor  Jesus  Christo  de  mil  e 
quatrocentos  trinta  e  sete  annos.»  Ord. 
Affons.,  liv.  4,  tit.  50,  §  1. —  «Depois 
por  espaço  de  três  horas  vêo  já  melhor, 
que  non  sabia  nem  niifrallia  de  todo 
aquesto.»  Actos  dos  Apostoles,  cap.  5, 
§  7,  em  Inéditos   d'Alcobaça,   tom.  1. 

E  seu  fillio  muv  amado, 
p-am,  liberal,  e5fon;ado, 
Carloà  virtuoso,  humano, 
com  tra  filhos  cm  hum  àno 
morrco  moço,  mal  logrado. 

GABCI.Í.  DE  BEZEKDE,  ]aSCELLAJ(£A. 

—  cFurtaraõ  três  officiaea  mancomu- 
nados nove  mil  cruzados  á  fazenda  de 
Sua  Magestade  :  repartiraõ-nos  entre  si, 
e  navegarão  com  o  cabedal,  hum  para  a 
índia,  outro  para  Angola,  e  para  o  Bra- 
zil  outro ;  e  depois  de  chatinarem  valeu- 
temente,  tomou-os  por  lá  a  hora  da  mor- 
te.» Arte  de  furtar,  cap.  65.  —  «Durou 
a  escaramuça  sem  melhoria  notável  de 
nenhuma  das  partes,  e  morte  de  muitos 
cavaleiros  de  preço,  desde  as  três  da 
tarde,  até  se  cerrar  a  noite,  em  que  el- 
Rev  chamou  a  conselho,  e  de  parecer  de 
seus  Capitães  assentou  dar  batalha  ao  dia 
seguinte,  que  foraõ  três  dias  da  Lua  de 
Muharran,  aos  noventa  e  quatro  annos 
da  Hixara,  que  reduzido  ao  nosso  modo 
de  contar,  fica  sendo  meado  Outubro  em 
quarta  feira,  do  anno  de  Clnústo,  sete- 
centos e  quatorze.»  Monarchia  Lusitana, 
liv.  7,  cap.  2.  —  «Passados  dous  ou  três 
dias,  tendo  o  Almirante  com  elle  prati- 
ca: disse  lhe  este  Brammane  que  elle  lhe 
queria  descubrir  a  verdade  da  causa  da 
sua  vinda  a  Portugal,  per  ventura  se  o 
assi  não  fizesse  a  elle  Almirante  lhe  pe- 
saria de  o  nào  ter  sabido  a  tempo.»  Bar- 
ros, Década  1,  liv.  6,  cap.  7.  —  «Keste 
tempo  entre  alguns  Mouros  que  vinhaõ 
vender  aos  nauios  mantimentos;  vieraõ 
três  Abexijs  da  terra  do  Preste  loaõ.» 
Ibidem,  liv.  4,  cap.  4. 


Afíerrão  com  gràa  pressa  os  três  navios, 
Movem  os  braços  sempre  vencedores, 
E  com  quanto  os  achArào  nào  vasios 
D'esfor(;o,  de  valor,  de  defensores, 
Mandão  comtudo  ao  mar  os  corpos  frios 
Daquella  gente  a  quem  altos  louvores 
Tirar  nào  podo  a  morte  apoz  a  vida. 
Porque  sempre  da  fama  foi  vencida. 
'    r.  d'aiidbade,  PEUCEnio  cebco  de  diu,  cant.  7, 
est.  59. 


■ —  «Fora  da  Cidade  pêra  aparte  do 
meyo  dia  distancia  de  três  legoas,  está 
hum  arco  a  modo  de  capela  niòr  porque 
não  passa  o  vão  delle  a  outra  banda,  a 
quem  os  Turcos  chamão  Selmõ  Pac.»  Fr. 
Gaspar  de  S.  Bernardino,  Itinerário  da 
índia,  cap.  19.  —  «Aqui  aconteceo  huma 
galantaria  que  se  notou  a  Jorge  Cabral, 
que  estava  presente,  que  vendo  abertas 
três  successões  disse:  «Dera  alguma  cou- 
sa agora  por  saber  qual  he  o  rapaz  da 
quinta  successaõ,  que  a  quarta  bem  sey 
que  sou  eu,  e  assim  o  foy  por  falecimen- 
to deste  Governador,  como  adiante  em 
seu  lugar  se  dirá.»  Diogo  de  Couto,  Dé- 
cada 6,  liv.  7,  cap.  1.  —  «D.  Álvaro  de 
Castro,  que  tinha  poderes  em  toda  a  Ar- 
mada do  mar,  sendo  avisado  que  em  Sur- 
rate  se  esperava  por  algumas  náos  de 
Meca,  com  conselho  do  Capitão  despedio 
Luiz  de  Almeida  com  três  caravelas,  de 
que  afora  elle  eraõ  Capitaens  Payo  Ro- 
drigues de  Ai-aujo,  e  Pedro  Afibnso,  dan- 
dolhes  por  regimento  que  se  fossem  pôr 
na  barra  do  Surrate,  e  que  ahi  esperas- 
sem as  náos  que  a  haviam  de  ir  deman- 
dar.» Ibidem,  liv.  3,  cap.  8.  —  «Pas- 
sados três  dias  que  pus  em  me  fazer 
prestes  de  todo  ho  necessário  pêra  ho 
dito  caminho,  nos  partimos  ha  dez  ho- 
ras da  noyte  pêra  hum  aduar  que  estava 
em  ho  deserto.»  Tenreiro,  Itinerário, 
cap.  62.  —  «Vendo  entaõ  os  que  tinhão 
parte  em  mim,  que  erão  sete,  que  lhes 
não  servia  eu  para  o  oíficio  que  tinhào, 
que  era  andarem  sempre  metidos  na  agoa 
pescando,  me  puseraõ  em  leilão  por  três 
vezes,  sem  em  todas  ellas  aver  quem  qui- 
sesse fazer  lanço  em  mim,  pelo  que  des- 
confiados de  acharem  quem  me  compras- 
se, me  lançarão  fora  de  casa,  por  me  não 
darem  de  comer,  pois  lhe  não  podia  pres- 
tar para  nada.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  24.  — •  «A  curta  saia- 
de-malhas,  que  me  cingia,  a  uso  dos  pas- 
tores do  Egypto,  salvou-me  d'espedaçar- 
me  elle.  Abati-o  três  vezes,  outras  tan- 
tas se  ergueu:  rugia  de  sorte  que  estre- 
meciam com  08  ecuos  os  mattos  em  re- 
dondo. Por  ultimo,  suffoquei-o  entre  meus 
braços ;  e  os  pastores,  que  presenciaram 
a  victoria,  quizeram  me  cobrisse  com  a 
pelle  d'este  terrível  animal.»  Francisco 
Manoel  do  Nascimento,  e  Manoel  de  Sou- 
sa, Aventuras  de  Telemaco,  liv.  2. 

—  Três  iJíil ;  numero  inferior  a  três 
mil  e  um,  e  superior  a  dous  mil  e  nove- 
centos e  noventa  e  nove. 


Ora  vós  quantos  dobrões 
Esse  dia  m 'entregastes? 
Três  mil  ;  e  vós  os  contastes. 
Ambos  sois  Amphitriões 
Pelos  sinaes  que  mostrastes. 

CAM.,   AUPUYTEIÕES,   act.    5,    SC.    1. 

—  «O    despojo   desta   victoria,    se  diz 
que  foi  de  mais  de  duzentas  mil  cabeças 


de  gado  grosso,  e  meudo,  e  mais  de  três 
mil  camellos,  cauallos,  o  outras  alimá- 
rias.» Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  3,  cap.  49.  —  «Recolhido 
Afonso  dalbuquerque  pêra  a  cidade  com 
a  mais  gente  que  sairá  a  este  rebate,  se 
fez  prestes  dalli  a  dous  dia?,  pêra  ir  per 
terra  cercar  Benastarim,  leuando  comsi- 
go  três  mil  s  Idados  Portuguezes  afora 
Malabares,  e  Canarins.»  Ibidem,  cap.  29. 
—  «E  destas  vimos  muytas  em  lugares 
estreytos,  e  passos  entre  algumas  serras, 
e  lombadas  do  dito  deserto,  onde  havia 
alguma  agua  encharcada  que  alli  vinhaõ 
beber :  e  manada  achávamos  de  dous  três 
mil  delles.»  Tenreiro,  Itinerário,  capitu- 
lo 60. 

—  Três  terços.  —  oE  entam  ordenou, 
que  os  casamentos  grandes  fossem  pagos 
em  três  terços,  e  três  annos,  hum  terço 
em  cada  hum  anno,  e  os  casamentos  de 
mil  coroas  ate  quinhentas  fossem  pagos 
em  duas  ametades,  e  dous  annos,  e  os 
de  quinhentas  coroas  e  dahy  para  baixo 
fossem  pagos  juntamente  em  hum  anno, 
como  se  ora  faz.»  Garcia  do  Rezende, 
Chronica  de  D.  João   II,  cap.  33. 

—  Vinte  e  três  ;  numero  entre  vinte 
e  dous  e  vinte  e  quatro.  —  «E  pêra  man- 
tença  sua,  e  de  seus  parentes,  cento  qua- 
renta e  quatro  leques  ;  e  dez  a  cinco 
mancebas  ;  e  a  seis  amas,  e  pessoas  da 
creação  de  seus  filhos,  vinte  e  tres  le- 
ques ;  e  de  ordenado  a  seus  officiaes,  e 
mires,  duzentos  e  cincoquenta  leques;  e 
do  certas  despezas  miúdas,  cinco  ;  e  vin- 
te e  cinco  de  quitas  a  rendeiros.»  Bar- 
ros, Década  2,  liv.  10,  cap.  7. 

—  Durarei  tres  de  ti. 


Tres  de  ti  durarei ;  e  eu  te  prometto, 
Que  sempre  me  ha5  de  ver  moço  e  menino, 
Tu  Paulino,  teu  filho,  e  mais  teu  neto. 

ABBADE  DE  JAZEKTE,  POESIAS,  pag.    39. 

—  As  tres  horas  da  noite.  —  «As 
tres  hora-  da  noyte  deste  mesmo  dia  se 
vio  toda  a  casa  em  revolução  a  respeito 
de  Amoldo,  que  sendo  atacado  de  uma 
febre  niuy  violenta,  rendeo  a  vida,  e 
deo  o  ultimo  suspiro  no  mesmo  termo 
em  que  se  completou  o  mez  da  predi- 
ção.» Cavalleiro  d'01iveira,  Cartas,  liv, 
1,  n.o  40. 

—  Tres  dias ;  no  espaço  de  tres  dias. 
—  «Os  mantimentos  forão  tantos  que  em 
tres  dias,  e  duas  noites  que  alli  esteue  a 
frota,  se  não  poderam  acabar  de  carre- 
gar nas  nãos,  a  cabo  dos  quaes  mandou 
Afonso  Dalbuquerque  poer  fogo  ao  lugar, 
e  a  cinco  nãos  de  Meca,  e  onze  torradas 
que  estauam  varadas  em  terra,  o  que 
tudo  ardeo  com  a  mesquita,  que  era  mui- 
to formosa,  antes  de  se  a  frota  fazer  à 
vella.»  Damião. de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  2,  cap.  31. —  «Determi- 
nada a  Nancaa  com  todos  os  seus  neste 
parecer,  que  por    então    se   aprovou   por 


âl2 


TEES 


TKES 


TRÊS 


millior  que  todos,  mandou  lançar  pre^^So 
que  8i>  pena  de  unirte  nenliuma  juiSdua 
comcíise  em  toJoi  aquclles  três  <li:n  mais 
quo  BI)  huina  vez,  ponjue  com  a  absti- 
nência lia  caiiie  ticas.f«  o  espritu  pronto 
com  Deos.»  Femào  Mumlea  Tinto,  Pe- 
regrinações, cap.  1*2. 

—  Três  iiuzníi ;  o  o»paço  do  trea  inc- 
ites. —  «Que  de  veniafía  levau  mercado- 
res em  eatilas  <lo  Elefantes,  o  Abadas 
aos  Roynos  de  Hornau,  que  lie  do  Siaõ, 
Passiloco,  títívadi,  Taiif;ú,  Prom,  Cala- 
minhan,  e  outra»  Províncias,  tpio  pelo 
certaõ  desta  costa  de  dous,  e  três  mezcs 
do  caminho  cstaõ  divididas  em  Seidiorío, 
e  Reynos  de  gentes  brancas,  e  ba^a<,  e 
de  outras  muy  pretas;  e  em  retoruo  des- 
tas fasendas  se  trás  nuiyto  ouro,  iliauian- 
tes,  e  rubins.»  Fernão  Mendes  i^iiito, 
Peregrinações,  cap.  41.  —  «O  mau  suc- 
cesso  e  tardan(;a  «í'esta  missão  suspendeu 
outra,  que  eu  havia  du  fazer  pelo  rio  das 
Amazonas,  onde  estive  ires  mezes,  es- 
perando pela  escolta  dos  portuguezes,  e 
se  reservou  para  a  primavera  d'este  an- 
no  ;  fica-se  aprestando  para  partir.»  Pa- 
dre António  Vieira,  Cartas,  n."  16. 

—  Três  annus;  o  espa^'o  de  três  an- 
nos.  —  «Alem  destas  mandou  el  Hei  fa- 
zer prestes  quatro  nãos  e  huma  taforea 
pêra  andarem  darmada  no  cabo  de  (íuar- 
dafuui  de  que  deu  a  capitania  a  Afonso 
Dalbuqnerque  e  assi  a  successaõ  do  go- 
uerno  da  Índia,  depois  do  Vicerel  dom 
Francisco  Daimeida  acabar  de  seruir  três 
annos.t  Damiiio  de  Góes,  Chronica  de 
D.  Manoel,  part.  2,  cap.  21. 

—  Por  três  vezes.  —  «Fiz  por  três 
vezes  requerimento  ao  ilito  Gaspar  Car- 
doso, se  não  intromettesse  no  que  lhe 
não  tocava,  e  era  próprio  de  nossa  pro- 
fissão e  para  que  vossa  niagestade  nos 
mandara,  mostrei-lhe  e  li-lhe  iliante  dos 
padres  e  de  oito  ou  dez  soldados  que  le- 
vava comsigo,  a  ordem  de  vossa  niages- 
tade e  a  do  capitão-m(')r,  e  respondeu  pu- 
blicamente que  a  de  vossa  niagestade  não 
podia  guardar,  e  que  a  do  eapitão-iucir 
nào  queria.»  Padre  António  Vieira,  Car- 
tas, n.»  11. 

—  Espécie  de  droga. 

—  Eniprega-se  vulgarmente  por  trás 
e  trans  na  composição,  como  trespassar 
por  traspassar. 

—  Três  vale  três  vezes. 

—  AUAOIOS  E  PROVÉRBIOS  : 

—  Três  irmãos,  três  fortalezivs. 

—  Três  cousas  fazem  ao  homem  me- 
drar, sciencia,  e  o  mar,  e  casa  real. 

—  Três  cousas  destroem  ao  homem, 
muito  fallar,  e  pouco  saber ;  muito  gas- 
tar, e  poueo  ter ;  muito  presumir,  e  pou- 
co valer. 

—  Três  cousas  fazem  mudar  a  nature- 
ea  do  homem,  a  mulher,  o  estudo,  e  o 
vinho. 

—  O  leitão  de  hum  mez,  o  pato  de 
três. 


—  O  cabrito  de  um  mez,  o  qusijo  de 
Ires. 

—  Ajuntaram-so  «eis  para  peso  de  três. 

—  Tem-te  em  teuií  pós,  comerás  por 
tres. 

—  Quem  nào  se  escarmenta  do  uma 
voz,  nào  HC  escarmenta  de  tres. 

—  Filhos  doua  ou  tres,  ha  prazer;  se- 
te ou  oito  é  fogo. 

—  Hospede  o  o  peixe,  aos  tres  dias 
fede. 

—  Dcshonrou-me  uiiuha  visinha  uma 
vez,  e  eu  ileshonrci-me   tres. 

—  A  juutam-so  tres  jjara  peso  de  seis. 

—  Cada  dia  tres  ou  quatro,  chegarás 
ao  fundo  do  sacco. 

—  A  bom  comer  ou  mau  comer,  tres 
vezes  beber. 

—  Ao  quo  erra  perdoa-lhe  uma  vez, 
e  não  tres. 

—  Barba  de  tres  cores,  barba  de  trai- 
dores. 

—  Um  dia  de  jejum,  tres  dias  maus 
para  pào. 

—  Circo  de  lua,  pastor  enxuga,  se  aos 
tres  dias  não  enxurra. 

—  A  duas  palavras  tres  porrad-as. 

—  A  pào  de  quinze  dias  fome  de  tres 
semanas. 

TRESANDADO,  part.  pass.  de  Tresan- 
dar. 

TRESANDAR,  v.  a.  Transtigurar,  coii- 
fuuiiir,  dc-ordenar.   Vid.   Trasandar. 

TRESAVÔ,  s.  m.  O  terceiro  avô.  Vid. 
Trisavô. 

TRESAVÓ,  s.  /.  A  terceira  avó.  Vid. 
Trisavô. 

TRESBORDAR.  Vid.    Trasbordar. 

TRESCALAR,  ou  TRASCALAR,  v.  a. 
Calar  alem,  penetrar  muito  ;  fallaudo 
dos  cheiros  mui  fortes  e  penetrantes. 

TRESDOBRADO,  part.  jjoss.  de  Tres- 
dobrar.  Triplicado,  que  se  compõe  de 
tres  peyas  sobi-epostas. 

—  Emprega-se  também  no  sentido  fi- 
gurado. 

TRESDOBRADURA,  s.  /.  O  ser,  o  es- 
tar iresilobijulo. 

TRESDOBRAR,  v.  a.  Applicar  e  unir 
chapas  ou  laminas  de  ferro  sobre  o  escu- 
do para  resistir  aos  t^ros. 

—  Aecrescontar  ao  tresdobro. 

—  Luciíir  em  tiesdobro,  augmentar 
ao  tresdobro. 

—  Fazer  tres  vezes  outro  tanto. 
TRESDOBRE,  ailj.   2   gen.    Termo   de 

milicia.  l)iz-se  de  uma  das  formaturas, 
ou  evolu(;òes  da  tropa. 

TRESDOBRO,  s.  m.  O  triplo,  ou  tres 
vezes  outro  tanto.  —  «A  qual  Ley  vista 
per  nos,  louvamos,  O  confirmamos  como 
em  ella  he  contheudo  quanto  he  aas  pe- 
nas do  tresdobro,  ou  seis  dobro,  ou  ano- 
veado.»  Ord.  Affous.,  iiv.  2,  tit.  UO, 
S  -'0. 

TRESFEGAR.   Vil.    Trasfegar. 

—  Termo  antiquado.  Figuradamente  : 
Revolver,  pôr  em  coufasào,  alvoro^-ar. 


TRESJDRAR,  ou  TERJURAR,  v.  n.  Ju- 
rar muitas  vc/.iíií. 

TRESLADADOR,  ».  m.  Copista. 
TREsLADAR,   v.    a.    Vi.i.   Trasladar. 

—  «Ha  ossada  do  qual  Afonío  dalbuquer- 
que  este  seu  filho,  por  lho  elle  a4»i  man- 
dar em  seu  testamento ;  fez  trazer  da 
cidade  de  (ioa  a  de  Lisboa  no  aono  de 
^I.lXL.vvi.  em  duas  nãos,  e  fui  ponta  na 
Igreja  da  Casa  da  )Ii<tericordia;  e  a  tres- 
ladaram  au  Mosibiro  >le  no.s/<a  Senhora 
da  (ira(,-a  da  Ordem  ile  .Sancto  Agosti- 
nho iU)ii  Erimitãi"'.»  Dauiiào  de  (iões, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  8<X 

—  fMas  nam  i^e  fianiio  de  mi  elle  ha 
tresladou  logo,  e  fieaudu  lhe  ho  trexlado 
ine  deu  lia  propr>a.  ha  qual  eu  bulvi  em 
Português  com  ajuda  de  huin  que  sabia 
mais  nossa  lingoa  e  ha  sua.»  Frei  (ías- 
par  da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da  Chi- 
na, ca|i.  2i<. 

TRESLADO,  *.  «i.  Vid.  Traslado. 

—  Molde,  modelo,  retrato,  exemplar 
para  se  imitar  no  physico  e  no  moral. — 
«Das  quaes  bulias  me  pareceo  desneces- 
sário jjoer  aqui  ho  treslado,  ha  huma  por 
conterem  muita  Icctura,  e  ha  outra  por- 
que quem  per  coriwidade  as  quiser  ler 
as  achará  na  torre  do  Tombo  destes  re- 
giios,  onde  Jio  presente  estão  era  meu  po- 
der.» Damião  de  (lOcs,  Chronica  de  D. 
Manoel,  jiárt.  1,  cap.  44. 

N:in,  dairoio,  isso  quo  farto, 
treMiulit  de  Duraiidartc, 
traduzido  ao  natural. 

A>'ruMo  PKESTES,  ACTOS,  pag-  135. 

—  Copia  de  algum  papel. 

—  Figuradamente  :  A»  Jilhas  aão  tres- 
lados  '.1'is  mães;  sào  suas  iuiitailoras. 

TRESLER,  r.  a.  Querer  saber  mais  do 
que  cumpre,  e  usar  mal  da  scieucia.  — 
«Torney  a  ler  as  vossas  não  lhe  poude 
descobrir  mais  ([Ue  hum  sentido.  Relias, 
estive  para  iresler  e  buscaudo-lhe  inter- 
preta(,'ocns  nenhuma  acliey.»  Cavalleiro 
d'Oliveira,  Cartas,  Iiv.  1,  u."  ÓO. 

TRESLIDO,  part.  pass.  de  Tresler.  Que 
adquiriu  scieucia  prejudicial,  e  de  que 
abusa. 

TRESLOUCADO,  A,  adj.  Mais  que  re- 
loucaio. 

TRESLOUCAR,  v.  n.  Perder  o  juízo, 
tre> variar,  t.unar-se  louco,    enlouquecer. 

TRESMALHAR,  r.  a.  Deixar  escapar, 
perder. 

—  Tresmalhar-se,  r.  reji.  Soltar  o  pei- 
xe da  rede  de  entre  as  malhas  d'ella. 

—  Figuradamente  :  Desapparecer,  per- 
der. 

TRESMALHO,  ou  TRASMALHO,  ou  TRE- 
MALHO,  *•.  M.  Uuia  rede  larga,  á  qual 
anda  unida  outra  de  malha  menor  para 
pescar. 

TRESMONTAR,  Vii.  Trasmontar. 

TRESMUDAR,  v.  a.  Termo  antiquado. 
Vid.  Trasmudar. 


TRÊS 


TRÊS 


TREV 


813 


TRESNETA,  5.  /.  Terceira  neta. 

TRESNETO,  s.   m.  Terceiro  neto. 

TRE3N0ITAR.  Vi.l.    Trasnoitar. 

TRESO,  A,  colj.  Termo  antiquado.  Ma- 
licioso, lie  lilás  entraniias. 

TRESPANO,  ou  TRESPANNO,  s.  m.  Te- 
cido de  tre>   li(;os. 

TRESPASSAÇÃO,  s.  /.  Vid.  Traspas- 
sação. 

TRESPASSADO,  jmrt.  pass.  de  Tres- 
passar. Jlu.iado.  —  «item.  Mandou  que 
has  tenças  separadas,  e  trespassadas  pa- 
gasse ho  mais  cedo  que  ])0  lesse,  porque 
nam  lias  pagando  se  poderia  segaiir  disso 
algum  damuo  ás  consciências  daquelles 
que  lias  recebem. »  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  1. 

Este,  vendo  aos  seus  pés  da  imiga  lança 
Trespassado  o  que  dentro  nalma  tinha, 
Cortado  d  hum  a  dòi-  que  a  alma  lhe  alcança 
Diz :  Moiior  eu  comvosco  bem  convinha, 
Mas  poi-  ir  vossa  inorte  com  vingança 
Folgo  que  se  dilate  hum  pouco  a  minha, 
Que  a  minha  eu  a  haverei  por  bem  vingada 
Com  ir  a  vossa  delia  acompanhada. 

F.   DASDBADE,  FBIMEIBO  CEKCO  DE   DIU,  Cant.    19, 

est.  51. 

—  Trespassado  de  medo;  cheio  d'elle. 
—  «P]  em  poucos  dias  .se  alongaram  tan- 
to da  illia,  que  o  piloto  não  sabia  Julgar 
a  que  parte  fossem  arribados;  e  andavam 
elle  e  os  marinheiros  tào  trespassados  do 
medo,  que  elle  nem  elles  tinham  acordo 
pêra  se  remediar.»  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  d'Inglaterra,   cap.  115. 

—  O  dia  já  trespassado.  —  «Mais  se 
o  vendedor,  passado  aquelle  dia,  disser 
ao  comprador,  que  lhe  laça  aquella  paga, 
que  lhe  por  aquella  compra  ouvera  de 
fazer  no  ilito  dia  já  trespassado,  entom 
a  venda  se  nom  pôde  desfazer,  se  o  com- 
prador quiser  ;  porque  o  vendedor  leixou 
o  direito,  que  havia  pela  condLçom,  per 
que  poderá  desatar  a  venda,  porque  nom 
fez  a  paga,  e  a  pedio,  e  a  demandou 
aalem  do  dito  dia.»  Ord.  Affous.,  liv.  4, 
tit.  51,  §  2. 

—  Desmaiado. 

—  Esmorecido,  desanimado,  transido, 
fora  de  si  por  alguma  grande  paixão.  — 
«Porque  neste  tempo  hiào  taò  trespassa- 
das que  quasi  não  acudião  ao  que  os  ta- 
lagrepos  lhe  hiào  dizendo,  mais  que  so- 
mente algumas  vezes,  inda  que  poucas, 
alevantarem  as  mãos  ao  Ceo.n  Fernão 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.  lõl. 

—  Trespassado  toma-se  também  por 
traspassado,  anterior,  e  além  do  pas- 
sado. 

TRESPASSADOR,  A,  adj.  e  s.  Que 
traspassa. 

TRESPASSAMENTO,  s.  m.  Traspassa- 
ção. 

—  Traspassação  de  bens. 

—  Demora,  dilação,  espera. —  «E  por- 
que me  iizerom  certo  pelas  autas  do3  fei- 
tos, que  vinliaS  aa  minha  Corte,  d'antre 


esses  amos,  e  mancebos,  que  esses  amos 
pagavaõ  as  soldadas  a  seus  mancebos  e 
mancebas,  e  poios  trespassamentos  dos 
tempos  esses  mancebos  e  mancebas  tinhaõ 
que  esses  amos  nom  provariam  como  lhes 
pagarom  as  soldadas,  e  tornavaõ-lhes  a 
demandar  outra  vez.»  Ord.  Affons.,  liv. 
4,  tit.  27,  §  1. 

—  Diz-se  d'aquelle  que  está  como  mor- 
to, sem  sentidos. 

—  Trespassamento  da  lei;  excesso, 
qnebiantamento,  transgressão  das  raias 
que  cila  traçou. 

TRESPASSAR,  v.  a.  Passar  além. 

—  Fazer  desmaiar,  e  esmorecer.  —  «E 
estando  assi  veyolhe  hum  muvto  grande 
acidente,  antes  de  lhe  sayr  a  alma,  que 
o  trespassou,  e  cuydando  todos  que  era 
finado,  o  Bispo  de  Tangere  lhe  fechou  os 
olhos,  e  a  bocca,  e  elle  o  sentio,  e  tor- 
nou assi,  e  disse:  Bispo,  ainda  nào  vem 
a  hora.»  (íarcia  de  Rezende,  Chronica 
de  D.  João  II,  cap.  212. 

—  Passar  de  parte  a  parte,  varar. 

—  Passar  a  outrem. 

—  Trespassar  as    leis;  transgredil-as. 

—  Demorar,  adiar,  delongar. 

—  Alhear,  conceder  a  outrem  o  direi- 
to, acção,  passar  a  outrem  a  herdade,  o 
estado,  etc. 

—  Trespassar  de  um  papel  a  outro ; 
copiar,  trasladar,  traduzir. 

—  Trespassar  com  jjrtQO ;  cravar,  fin- 
car. 

—  Trespassar  a  cscriptura  de  uma  lín- 
gua a  outra;  traduzila. 

—  Exceder  o  modo. 

—  Trespassar-se,  v.  rejl.  Desmaiar, 
esmorecer. 

—  Penetrar-se  de  susto,  de  medo,  de 
respeito,  etc. 

■ — •  V.  n.  Ficar  em  esquecimento,  pas- 
sar por  alto. 

—  Perecer,  acabar,  destruir-se. 
TRESPASSO,  s.  m.  Vid.  Traspassação. 

—  Demora,  delonga  de  tempo. 

—  Jejum,  abstinência. 

—  Dór  que  penetra  a  alma. 

—  Desfallecimento,  inorte. 

—  Vid.  Trapaça. 
TRESPÒR.  Vid.  Transpor. 
TRESPORTALECER.  Vid.  Transportale- 

cer. 

TRESPOSTA.  Vid.  Trasposta. 

TRESSUADO,  part.  pass.  de  Tressuar. 
Acompanhado,  conseguido  com  grandes 
suores. 

TRESSUAR,  V.  n.  Termo  popular.  Suar 
muito. 

TRESTAMPAR,  v.  n.  Fazer  destam- 
patórios, dizel-03,  mais  que  destampar. 

TRESTRAVAR.  Vid.  Trastravar. 

TRESVALIAR,  v.  a.  Termo  antiquado. 
Vid.   Tresvariar. 

TRESVARIADO,  part.  pass.  de  Tres- 
variar. Que  tem  trcsvario,  delirante. 

—  Que  é  acompanhado  de  tresvario. 
TRESVARIAR,  v.   n.   Dizer   disparates 


pela  sua  organisação  do  cérebro,  deli- 
rar. 

TRESVARIO,  s.  vu  Dito,  acto  de  ho- 
mem que  tem  o  cérebro  desordenado 
com  doença,  delirio. 

TRE3VERTEDURA,  s.  /.  Vid.  Verte- 
dura. 

TRETA,  s.  /.  Destreza  no  jogo  da  lu- 
cta,  ou  espada  para  ferir,  ou  derribar  o 
contrario,  que  nào  previa  o  tal  lanço. 

—  Engano  ardiloso  com  que  nos  ha- 
vemos para  sairmos  com  a  nossa. 

TREU,  s.  ?H.  (Do  francez  tréou).  A  ve- 
la quadrada,  que  em  temporal  se  colloca 
nos  navios  latinos. 

—  Fauno  de  treu  ;  lona  estreita,  e  for- 
te para  velas  do  navio,  panno  de  velame. 

—  Vela. 

TREUSASSOM.  Termo  antiquado.  Vid. 
Trausassom. 

TREUTA^  s.  f.  Termo  antiquado.  Vid. 
Fruta. 

TREVA,  s.  f.—A  treva  da  noite;  a 
escuridão  da  noite. 

—  Flur.  Escuridão,  falta  de  luz. 


Desfar-me-hei  em  oração  ; 
moço,  vê  o  que  me  levas, 
que  além  de  ficar  em  trevas 
levMS-me  a  vida  na  uiào. 

ANTOXIO  PBESTES,  AUTOS,  pig.  317. 


Triste,  e  alem  dos  Guardas  vou  sentar-mc. 
Ouço  um  rumor...  Vislumbro,  em  deusa  treva.. 
Aperto  a  espada,  corro  á  que  me  foge... 
Alcanço-a.  Oh  raro  espanto  !  Era  Vcllèda. 

F.    M.    DO  NASCIMENTO,  OS   MABXVKES,  1ÍV.    10. 


Tudo  nas  covas  lobregas  lhe  augmenta 
O  medo,  a  solidão,  silencio,  e  trevas. 

J.  A.  DE  MACKDO,  A  NATUBEZA,  Caut.  2. 

—  «Ia  em  meio  a  terceira  noite  após 
aquella  em  que  os  crentes  do  Islam  tinham 
parado  nas  faldas  septemtrionaes  das  cor- 
oilheiras  de  Asido.  Eram  profundas  as 
trevas  que  se  dilatavam  pela  fíice  da  ter- 
ra, mas  os  raios  scintillantes  das  estrel- 
las,  rareiavam  o  manto  negro  da  atmos- 
phera.»  Alexandre  Herculano,  Eurico, 
cap.  9. 

—  Ojficio  de  trevas ;  o  que  se  faz  ás 
tardes  da  quarta,  quinta  e  sexta-feira  da 
semana  santa. 

—  Trevas  da  morte  eterna. 

—  Figuradamente:  .tis  trevas  da  ce- 
gueira, da  igm/rancia. 

—  As  trevas  do  escuro  nascimento. 
TREVITE,    s.  m.  Uma  droga  medicinal 

da  Inilia. 

TREVO,  s.  m.  Termo  de  botânica.  Her- 
va  hortense  vulgar. 

—  Trevo  azedo;  o  mesmo  que  azedinha, 
planta.  Ha  differentes  espécies  de  tre- 
vos, a  saber:  trevo  de  cheiro,  dos  char- 
cos, trevo  branco,  trevo  cotanilhoso,  trevo 
eervino. 

TREVOA,  s.  f.  Vid.  Treva. 


814 


TREZ 


TREZ 


TKEZ 


TREVOSO,  A,  a,Ij.  Tenebroso. 

TREVUDAR.   Vid.  Tributar. 

TREVUDO,  í.  m.  Vil.  Tributo. 

I  TREYÇÃO,  8.  f.  Vil.  Treição.  — 
«Al)r;n,Tmiii.i  qniisi  pulos  pés,  e  eu  a  elle,  e 
c3  Oâ  olhos  no  ch.ão  me  tlisso,  quo  o  habito 
que  me  via  llio  parecia  iiiuy  bem,  e  que 
captiuo  delle,  o  do  termo  que  cu  tiuera  o 
Domingo  passado  cõ  o  tillio  do  (Joucrua- 
dor,  a  (juo  cllc  estiuera  preauute,  o  fize- 
raõ  tanto  meu  afoyçoado,  (luo  cntonilia 
faria  treyção  ao  amor,  se  coo»  aijucUas 
mostras  delle  me  não  viesse  visitar.»  Frei 
Gaspar  de  S.  Bernardino,  Itinerário  da 
índia,  cap.  15. 

TREZ,  (idj.  num.  Vid.  Três. 

—  tí.  m.  Vid.  Trespauo. 

TREZE,  adj.  num.  2  ijcn.  Doze  e  mais 
um,  nauiero  eouiprehendido  entre  dozo,  e 
quatorze. 

.    —  Loc. :  Estar  nos  seus  treze;  insistir 
na  sua  opinião,  parecer. 

—  Loc:  Estou  nos  meus  treze;  estou 
pertinaz,  contumaz. 

TREZENA,  s.  /.  Devoção,  rezas  por 
treze  dias. 

TREZENO,  A,  adj.  num.  card.  Que  se 
segue  ao  duodécimo. 

TREZENTOS,  AS,  adj.  num.  plural.  Três 
vezes  cem. —  tl^r  Capitão  da  (piai  for- 
taleza, (que  tieava  já  em  altura  que  se 
podia  bem  defender,)  leixou  a  Ruy  de 
Brito  Patalim,  hum  Fidalgo  da  Villa  de 
Santarém,  pessoa  de  quem  elle  confiou  o 
governo,  e  defensão  daqnella  Ciiiade  com 
té  trezentos  c  tantos  homens  d'armas.s 
Barros,  Década  2,  iiv.  6,  cap.  7.  —  «Hum 
leque  contém  número  de  ciucoenta  xara- 
fins,  e  hum  xarafim  vai  da  nossa  moeda 
trezentos  reaes,  o  dons  azares  vai  hum 
xaratin,  e  dez  candins  meio  xarafin,  e 
cem  dinares  hum  caudil.»  Ibidem,  liv.  10. 

Trezentas  legoas  ja  temos  andado 
Por  fragosas  nioutanlias,  e  altos  montes, 
Guerra  uào  na  queremos,  uial,  ou  dano 
Por  nòa  não  scri  feito  a  paz  pedimos. 

CORTE  BEAL,  NÁUFBAOIO  DE  SEPDLVEDA,  CHOt.  15. 

—  «Estes  desabrimentos  curou  el  Rei, 
como  pai,  interessado  na  paz  do  hum,  e 
outro  vassallo.  Quisera  D.  Manoel  par- 
tir-se  logo  a  Diu  com  trezentos  soldados 
á  sua  custa,  porém  o  Governador  o  diver- 
tio,  querendo  acompanhar-se  delle  na  ar- 
mada, servindo-se  de  seu  valor,  e  expe- 
riência, na  facção  presente.»  Jacintho 
Freire  d'Andrade,  Vida  de  D.  João  de 
Castro,  liv.  2. —  «Logo  o  Cabo  Guzara- 
te,  e  Cinde  nesta  nossa  Cambava,  donde 
até  o  Cabo  de  Comori  passeão  suas  anila- 
das il  índia  por  espaço  de  trezentas  lé- 
guas, e  começando  desta  nossa  Cidade  de 
Cambava  discorrem  por  Madigjto,  Gan- 
dar,  Barocue,  Çurrate,  Reyuer,  Mosca- 
rin,  Damão,  Taraper,  Raçviim,  Chaul, 
Bandor,  Cifardão,  (íalanci,  Dabul,  Cor- 
tapor,   Carepatuo,  Tâmega,  Banda,  Cha- 


pora.»  Ibidem.  —  «E  quo  também  trasiSo 
muytos  mantimentos,  e  munições,  om  quo 
se  afirmava  quo  viuliào  trezentas  poças 
de  bater,  cm  que  entraviu  dozo  liasilm- 
cos :  com  a  qual  nova  ticamou  todos  assas 
confusos,  e  espantados.»  Fernão  Mended 
l'into,  Peregrinições.  —  «Nesta  conjun- 
ção chegou  a  clles  o  corpo  da  nos.sa  gen- 
te, e  os  tratarão  de  maneyra  que  mais 
de  trezentos  ficarão  logo  aly  deitados  huns 
sobre  os  outros,  cousa  lastimosa  de  ver 
porque  não  ouve  nenlmm  que  arrancas.'!e 
espaila.»  Ibidem,  cap.  05.  —  «E  no  rio 
avia  tanianiio  numero  do  emb.arcaçòes, 
que  cm  algumas  partes  onde  avia  ajunta- 
mento de  feiras,  senão  podia  alcançar  com 
a  vista,  a  fora  outro*  muytos  magotes 
mais  pequenos  de  trezentas,  quinlientas, 
seiscentas,  e  de  udl  vellas  que  a  cada 
passo  encontrávamos  assi  de  huma  parte 
como  da  outra,  nas  quais  se  vende  toda 
a  diversidade  de  cousas  a  que  se  pôde 
pôr  nome.»  Ibidem,  caj).  97. —  «E  se 
fizeraõ  mais  de  trezentas  escadas  muyto 
fortes  e  largas  em  que  bem  podiSo  caber 
três  homens  emparelhados,  e  ajuntouse 
mais  huma  grande  soma  do  cestos  e  en- 
xadas que  se  acharão  pelas  casas  das  po- 
voações despejadas,  o  a  mayor  parte  da 
gente  andou  todo  este  dia  occupada  em 
ajuntar  estas  achegas  necessárias  para  o 
dia  seguinte  em  que  se  avia  de  dar  o  as- 
.«alto.»  Ibidem,  cap.  119.  —  «E  porque 
el  Rey,  por  elle  ser  Turco,  o  tinha  em 
conta  de  homem  invencível,  e  para  mais 
que  todos  os  seus,  o  mãdou  então  vir  da 
frontaria  onde  estava  com  trezentos  Ja- 
niçaros  que  tinha  comsigo.»  Ibidem,  cap. 
14t3.  —  «Sendo  ja  quasi  a  huma  hora  des- 
pois  do  mcyo  dia  se  tirou  huma  bombar- 
da, ao  qual  sinal  as  portas  da  cidade  fo- 
raõ  logo  abertas  e  primeyro  que  tudo  co- 
meçou a  sayr  a  guarda  que  el  Rey  o  dia 
dantes  lhe  mandara  pôr,  que  erão  quatro 
mil  Siões  o  Bramaas,  todos  aroabuzeyros, 
e  alabardeyros,  e  piqueyros,  com  mais 
trezentos  elifantes  armados.»  Ibidem, 
cap.  150. —  «Onde  estão  ao  comprido 
cento  e  sessenta  hospedarias,  e  cada  huma 
delias  de  mais  de  trezentas  casas  térreas 
muyto  limpas  e  bem  concertadas,  em  que 
se  agasalhào  os  peregrinos,  Fancatões,  e 
daroezes,  que  vem  em  cabildas  como  ci- 
ganos com  seus  capitães,  de  duas  três  mil 
pessoas  cada  cabilda,  humas  mais,  outras 
menos,  conforme  ao  longe  ou  perto  das 
terras  e  dos  reynos  donde  vem,  e  logo 
pelas  devisas  das  bandeyras  se  conhecem 
donde   saõ  naturais.»  Ibidem,  cap.   159. 

Despache  vossa  merca 
o  senhor. 

O  senhor  não, 
t  meu  pae  ;  por  ante  ello 
podem  dar  trezentos  brados. 
Tomem-so  de  mi  ? 

ANTOHIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  205. 

—  «A  qual  tomou  com  muito  trabalho. 


por  80  os  mouros  defenderem  mui  bem 
todo  aquelle  dia,  e  a  noite  seguiato,  mas 
ao  outro  dia,  foraO  entrados,  c  mortos 
mais  de  trezeutog,  e  alguns  niininos  que 
nella  hauia  mandou  dum  Va^quo  da  Gama 
levar  ha  «ua  nw^,  com  tonçaí»  de  os  £izer 
frades  no  mosteiro  de  notuía  Senhora  do 
iiethelem.t  Damião  de  Guea,  CtlTOnica  de 
D.  Manoel,  part.  1,  caj».  08.  —  «Nesta 
peleja  morrerão  dezoito  dos  nossos,  e  fo- 
raõ  muitos  feridos,  «ntre  os  quae«  foi  dom 
Ixiurenço,  Nuno  da  Cunha,  Fernam  Pe- 
rez  Daudrade,  i'ero  Barreto,  Paio  de 
Sousa,  fieorge  F<^;,'aça.  Dos  imigus  mor- 
reram mais  de  trezentos,  afora  muitos  fe- 
ridos.» Ibidem,  part.  2,  cap.  24. —  «O 
que  sabendo  Afonso  Dalbuquerque  man- 
dou la  Simão  daudrade,  Fernam  perez 
dandradc,  (iaspar  de  paiua,  Aires  pereira, 
Francisco  serrão,  George  nunez  de  leam, 
e  Rui  daraujo  com  alguus  Portagueseí,  e 
mil  laos  que  deu  Vtetimutaraja,  e  seis 
centos  (.íentios  que  deu  Ninachetu,  e  tre- 
zentos pegus  que  deram  os  senhores  doa 
jungos  de  Pegu.»  Ibidem,  part.  3,  cap. 
19.  —  «Das  quaea  batalhas  deu  huma  a 
António  iopez  de  siqueira,  c  a  outra  a 
Diogo  de  melo,  e  na  terceira  ficou  elle 
com  a  mais  gente  de  cauallo,  e  cento,  c 
dez  homens  de  pe,  espingardeiros,  e  bes- 
teiros, os  quaes  todos  caminhando  em  boa 
ordem,  der;;m  de  madrugada  nos  Adua- 
res,  em  que  tomaram  trezentas,  o  oiten- 
ta, e  duas  almas,  e  mais  de  cinco  mil  ca- 
beças de  gado  meudo.»  Ibidem,  part.  4, 
cap.  39.  —  «Assentadas  assi  todalaá  cou- 
sas que  cumprião  ao  gouerno  da  cidade, 
e  guarda  delia,  e  da  furtalleza,  deixando 
nella  trezentos  soldados  Portuguezes,  e 
na  frota  duzentos,  afora  gente  de  soldo 
da  terra,  e  a  mor  parte  dos  Malabares 
que  trouxera  consigo.»  Ibidem,  part.  3, 
cap.  26. 
—  Trezentas  vez<is. 


Não  quero  mais  entremezes : 
o  senhor  vosso  amo  é  ci? 
Ha  mo<,'0  que  negai  hi 
seu  senhor  trezentas  veres. 

AST0>10  PRESTES,  AUTOS,   pâÇ.   201. 


—  Trezentos  mil  reis;  diz-se  da  quan- 
tia equivalente  a  sessenta  e  duas  moedas 
e  meia. —  «Huma  cadeira  de  Prima,  em 
que  se  lerá  o  esforçado,  etc.  terá  por 
anno  trezentos  mil  reis.»  Estatutos  da 
Universidade,  pag.  142,  em  Blutcau. 

—  Mil  6  trezentos  e  oitmta  annot; 
numero  existente  entre  mil  e  trezentos  e 
setenta  o  nove,  e  mil  trezentos  e  oi- 
tenta e  um.  —  «Publicada  foi  e«ta  Ley 
em  Saufcirem  per  Meestre  Gonçalo,  e  Jo- 
ham  Duraaens  Vezes  Tenente  de  Chan- 
celler,  Vassallos,  e  privados  do  dito  Se- 
nhor Rev,  a  quatorze  dias  de  Julho  Era 
de  mil  trezentos  e  oitenta  annos.»  Ord. 
Affons.,  liv.  4,  tit.  15,  §  1. 


TRIA 


TRIA 


TRIB 


815 


—  Trezentos  mil;  numero  superior  a 
dous  mil  e  novecentos  e  noventa  e  nove,  e 
inferior  a  trezentos  mil  e  um.  —  «Final- 
mente o  negocio  chegou  a  concerto,  que 
03  moradores  deram  aos  Janiceros  tre- 
zentos mil  xarafins,  e  per  elles  ficou  a 
Cidade  livre  do  roubo.»  Barros,  Década 
2,  liv.  10,  cap.  6.  —  «Partido  este  Rey 
Tártaro  desta  cidade  do  Pequim  huma 
segunda  feyra  dezasete  dias  do  mes  de 
Outubro,  com  sós  trezentos  mil  de  ca- 
vallo  (como  atrás  disse)  dos  seiscentos 
mil,  que  trouxera  comsigo,  esse  mesmo 
dia  ja  quasi  noite  se  foy  alojar  a  huma 
ribeira  que  se  chamava  Quaytragum.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações, 
cap.  123.  —  «E  fazendo  eu  di<to  grande 
espanto,  por  me  parecer  que  nào  era  pos- 
sivel  que  esta  cousa  fosse  em  tanta  mul- 
tiplicação, me  disseraõ  alguns  mercado- 
res homens  nobres  e  de  respeito,  e  mo 
affirmaraõ  com  muytas  palavras,  que  em 
toda  a  ilha  do  Japão  avia  mais  de  tre- 
zentas mil  espingardas,  e  que  elles  so- 
mente tinhão  levado  de  veniaga  para  os 
Lequios  em  seys  vezes  que  lá  tinhaij  ido, 
vinte  e  cinco  mil.»  Ibidem,  cap.  134. 

—  Mil  e  trezentos  e  onze  annos;  era 
existente  entre  mil  e  trezentos  e  dez 
annos,  e  mil  e  trezentos  e  doze.  —  «E 
Mando,  que  se  alguém  se  chamar  a  au- 
tor, seja  thsudo  de  jurar,  que  se  nom 
chama  a  elle  maliciosamente,  nem  per 
perlongar  o  preito.  Esta  Postura  foi  feita 
no  mez  de  Setembro  da  Era  de  mil  e 
trezentos  e  onze  annos.»  Ord.  AfFons., 
liv.  4.  tit.  õ9,  §  1. 

—  Mil  e  trezentos  e  treze  aniios;  era 
existente  entre  mil  e  trezentos  e  doze 
annos,  e  mil  e  trezentos  e  quatorze.  — ■ 
íOu  03  querem  aver  per  outra  maneira, 
se  nom  podem  escusar  que  nom  sejam 
theudos  por  essas  dividas,  ou  leixem  esses 
herdamentos,  ou  possissooens  a  aquelles, 
a  que  som  obrigados,  a^sy  como  suso  dito 
he :  e  ai  nom  façades.  Dante  em  Lixboa 
a  quatorze  dias  de  Março  Era  de  mil 
trezentos  e  treze  annos.»  Ord.  Affons., 
liv.  4,  tit.  49,  §  1. 

—  Mil  e  trezentos  e  quatro  annos; 
era  existente  entre  mil  e  trezentos  e  três 
annos,  e  mil  e  trezentos  e  cinco.  —  «Em 
outra  parte  he  estabelicido  no  mez  de 
Dezembro  Era  de  mil  e  trezentos  e 
quatro  annos,  que  usura,  nem  pena  nom 
creça  mais  que  outro  tanto,  a  saber, 
quanto  for  o  caimbo,  como  quer  que  per 
grande  tempo  nom  seja  pagada  a  divi- 
da, assi  antre  Judeu  e  Chrisptaaõ,  como 
antre  Chrisptaai5  e  ChrisptaaS.»  Ord. 
Affons.,  liv.  4,  tit.  62,  §  1. 

—  S.  f.  plur.  —  As  trezentas  ;  enten- 
dem-se  as  trezentas  Ave-Marias;  o  ro- 
sário de  Xossa  Senhora  dobrado. 

—  As  trezentas  de  João  de  Mena;  co- 
pias notáveis  d'este.  poeta  hespauhol. 

TRIAGA,  s.  f.  Medicamento  contra  ve- 
neno. 


—  Figuradamente:  Triaga  qxie  cura  a 
alma  de  erros.  Yid.  Theriaga. 

Eu  não  sei  certo  a  que  ponha 
Mo3trardes-rae  a  triaga. 
E  virdc3-rao  a  dar  peçonha. 
Ora  ide  rir  á  feira, 
E  nào  sejais  dessa  laia. 
Se  vedes  minha  canseira, 
Porque  lhe  nào  dais  maneira? 
CAM.,  FiLODEMO,  act.  2,  SC.  5. 

]\Ia3  haveis  vós  d'csbrugar 
do  senhor  meu  amo  a  paga, 
que  bem  vos  podeis  tornar 
CO  trabalho,  c  c'o  cantar 
qual  peçonha  c"o  a  triaga. 

ASTOSIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  47. 

TRIAGUEIRO,  ouTHERIAGUEIRO,  s.  m. 

Homem  que  faz  triagas. 

TRIANDRIA,  s.  /." Termo  de  botânica. 
Classe  do  systema  de  Linneo  que  contém 
as  plantas  de  três  estames. 

t  TRIANDRICO,  adj.  Que  pertence  á 
triandria. 

t  TRIANDRO,  A,  adj.  Termo  de  botâ- 
nica. Que  tem  três  estames. 

TRIANGULADO,  A,  adj.  Yid.  Triangu- 
lar. —  Prisma  triangulado. 

TRIANGULAR,  adj.  2  gen.  Que  tem 
três  ângulos. 

—  Prisma  triangular;  prisma  cuja 
base  é  um  triangulo. 

—  Dodecaedro  triangular ;  solido  com- 
posto de  doze  triângulos  parallelos  dous  a 
dous,  e  reunindo-se  seis  por  seis  em  um 
ponto  do  mesmo  eixo. 

—  Termo  de  anatomia.  O  musculo 
triangular  dos  lábios;  musculo  que  nasce 
da  face  externa  da  maxilla  inferior,  e  se 
estende  até  ao  canto  da  bocca,  apertan- 
do as  fibras  em  forma  de  triangulo. 

—  Triangular  do  esterno;  musculo  si- 
tuado na  face  interna  do  esterno. 

—  Números  triangulares ;  espécie  de 
números  polygonos,  cujas  unidades  po- 
dem ser  dispostas  em  forma  de  triângu- 
los. 

TRIANGULARMENTE,  adv.  (De  trian- 
gular, com  o  sufiixo  «mente»).  Em  for- 
ma de  triangulo. 

TRIANGULO,  s.  m.  (Do  latim  triangu- 
las, de  tri,  e  angulus).  Termo  de  geo- 
metria. Figura  que  tem  três  lados  e  três 
ângulos. 

—  Triangulo  equilátero;  aquelle  que 
tem  três  lados  eguaes. 

—  Triangulo  isosceles  ;  aquelle  que  tem 
dous  lados  eguaes. 

—  Triangulo  escaleno ;  aquelle  que  tem 
três  lados  deseguaes. 

—  Triangulo  rectângulo;  aquelle  que 
tem  um  angulo  recto. 

—  Triangulo  obtusangulo;  aquelle  que 
tem  uui  angulo  obtuso. 

—  Triangulo  acutangulo;  aquelle  que 
tem  os  três  ângulos  agudos. 

—  Triangulo  plano ;  triangulo  forma- 
do por  rectas. 


—  Triangulo  espherico ;  aquelle  cujos 
lados  são  arcos  de  grandes  círculos  da 
esphera. 

—  Diz-se  dos  triângulos  que  se  for- 
mam sobre  o  terreno,  pelas  medidas  geo-' 
desicas. 

—  Triangulo  aritkmetico;  disposição, 
em  forma  de  triangulo,  dos  números  fi- 
gurados em  diversas  ordens. 

— •  Objecto  de  forma  triangular. 

—  Termo  de  anatomia.  Triangulo  re- 
cto-urethral ;  espaço  c jmprehendido  entre 
o  recto  e  a  urethra. 

—  Constellação  do  hemispherio  boreal. 

—  Triangulo  austral;  constellação  do 
hemispherio  austral,  que  é  invisível  nos 
nossos  climas. 

—  Termo  de  óptica.  Vid.  Prisma. 
TRIANO.  Yid.  Triennio. 
TRIAPHARMACO,  í.  m.  (Do  grego  tria- 

pharmakon).  Termo  de  pharmacia.  Em- 
plastro composto  de  lithargyrio  de  ouro, 
vinagre  e  azeite. 

TRIARIO,  s.  m.  plur.  (Do  latim  tria- 
rii).  Os  veteranos  das  tropas  romanas 
que  estavam  em  corpo  de  reserva  para 
acudir  nos  apertos  e  extremos. 

— -Figuradamente:  Recorrer  aos  tria- 
rios ;  recorrer  aos  últimos  e  mais  fortes 
expeilientes  em  pressa  e  angustias. 

TRIBO.  Yid.  Tribu. 

TRIBOLO,  s.  771.  Yid.  Thuribulo. 

TRIBOMETRO,  s.  77i.  (Do  grego  tribo, 
e  vietron).  Termo  de  physica.  Instrumen- 
to próprio  para  medir  a  força  de  fricção 
pela  quantidade  do  peso  que  se  mette  em 
uma  bacia  suspensa  a  um  cylindro  mo- 
vei. 

TRIBOMETRICO,  A,  adj.  Que  diz  res- 
peito a  um  tribometro. 

TRIBRACO,  s.  77).  (Do  grego  tribra- 
kos).  Termo  de  prosódia  grega  e  latina. 
Pé  de  um  verso  grego  ou  latino  composto 
de  três  syllabas  breves. 

TRIBU,  s.  m.  e  /.  (Do  latim  tribus). 
Certa  divisão  do  povo,  em  algumas  na- 
ções antigas. 

—  Entre  os  judeus,  todos  aquelles  que 
saii-am  de  um  dos  doze  patriarchas.  — 
«Muytos  são  do  parecer,  que  esta  gente 
decende  de  hum  dos  doze  Tribus  de  Is- 
rael, que  se  perdeo;  mas  porque  não 
achey  escriptura  autentica,  crea  cada 
hum  nisto,  o  que  melhor  lhe  parecer.» 
Frei  Gaspar  de  S.  Bernardino,  Itinerá- 
rio da  índia,   cnp.  12. 

—  A  tribu  sagrada;  a  tribu  de  Levi, 
que  era  dedicada  ao  culto. 

—  Povoação,  pequeno  povo  fazendo 
parte  d'uma  grande  nação.  —  Uma  tribu 
de  selvagens.  —  Uma  tribu  de  árabes. 

—  Gente  de  todas  as  tribus ;  gente  de 
toda  a  espécie. 

—  Os  diversos  membros  d'uma  famí- 
lia. 

—  Diz-se  também  dos  anímaes  e  dos 
vegetaes.  —  A  grande  tribu  das  avesi- 
nhas  de  ribanceira. 


816 


TRIB 


TMB 


TRIB 


—  Termo  do  historia  natural,  nivisíto 
estaboieciíla  nas  famílias.  -^  A  tribu  en- 
cerra um  ou    in'tis  i/fíiieríit. 

—  Em  Roma,  tribus  urbanas;  aquel- 
las  quo  habitavam  as  cirlaiies;  tribus  rús- 
ticas; a(|iii^ll;n  fjiiD  viviam   iio  cainj»'). 

TRIBULAÇÃO,  s.  f.  (Uo  Intiin  trihula- 
tio).  Afílicrào,  ailver8Í'lailo,  aiip^iistia.  — 
«Ca  oild  li(j  aquiíllf!  iios-o  cmparo,  a  quem 
Sam  i'aul()  na  sogunda  Eiiistoia  aos  (Jo- 
rlntliios  chama  pay  ile  inisoricorilia,  o 
Deus  (Ic  toda  a  consolarài),  que  nos  con- 
sola cm  todas  nossas  tribulações.»  Hei- 
tor Pinto,  Dialogo  da  Tribulação,  cap.  8. 

—  A  adversidade  considerada  n'tim 
sentimento  religioso. 

—  O  illn  da  tribulação  geral;  o  dia 
do  juízo  universal. 

TRIBULANÇA,  s.  f.  Termo  antiquado. 
Vid.  Tribulação. 

TRIBULADO,  pnrt.  pass.  de  Tribular. 
Vid.  Atribulado. 

TRIBULAR.  Vid.  Atribular. 

TRIBULHO,  s,  m.  Vi<!.  Abrolho  (lior- 
Ta). 

TRIBULO,  s.  m.  Vid.   Thuribulo. 

— •  Uma  herva. 

TRIBUNA,  s.  /.  (Do  latim  tribuna). 
Lofi^ar  elevado  d'onde  03  oradores  {^reífos 
e  latinos  arengavam  ao  povo.  —  iSubir 
á  tribuna. 

—  Logar  elevado  d 'onde  faliam  m-ado- 
rés.  —  A  tribuna  da  camará  dos  depu- 
tados, —  «No  mevo  desta  casa  estava 
huma  tribuna  de  sete  degraos  fechada 
em  roda  cõ  trcs  ordens  de  grades  de  fer- 
ro, e  latito,  e  pao  preto,  cò  troyos  mar- 
chetados do  madre  pérola,  e  ]ior  cima 
hum  dorsel  de  damasco  biadco  franjado 
de  ouro  c  verde,  com  limnas  remias  muv- 
to  largas  df)  mesmo.»  Fcrnào  Jlendes 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  103. —  «Pe- 
la qual  nos  mandarão  entrar  em  huma 
grande  casa  onde  estava  o  Broquem  as- 
sentado em  huma  tribuna  ornada  de  pan- 
nos  do  seda  cõ  hum  dorsel  de  brocado, 
o  seys  porteyros  de  maças  ao  redor  pos- 
tos de  joelhos,  c  embaixo  ao  longo  das 
paredes  de  toda  a  casa  estavaõ  muvtos 
homens  armados  com  al.aliardas  tauxia- 
das  douro  e  prata.»  Ibidem,  cap.  ISO. 

—  .lanella  ou  balcão  no  corjio  da  egre- 
ja  ou  outro  edifício  onde  assiste  alguém 
aos  officios  divinos.  —  «O  tecto  da  Ca- 
pclla,  depois  de  coroada  com  a  simalha, 
he  também  de  pedraria  apainelada  com 
ârtezõos,  e  molduras.  Dos  seis  arcos,  que 
a  compõem,  ticav.^io  os  dons  primeiros 
nos  presbyterios;  no  da  parte  do  Evan- 
gelho, estil  huma  porta,  quo  dá  serven- 
tia para  a  tribuna,  e  aposentos  do  fun- 
dador; e  no  da  parte  da  Epistola,  outra 
para  o  serviço  da  Sancristia.»  Jacintho 
Freire  d'Andradc,  Vida  de  D.  João  de 
Castro,  liv.  4. 

TRIBUNADO,  .-=./.  ,Do  hxúm  tribuna- 
tas,  do  tribumis).  Termo  do  antiguidade 
VOmana,  Cargo  do  tribuno. 


—  Tempo  do  oxercicio  ilo  cargo  de  tri- 
buno.  \'id.  Tribunato. 

TRIBUNAL,  ».  wi.  iDo  latim  íríóiiua/). 
Sedo  do  juiz,  do  magistrado. — Assentar- 
se   n'um  tribunal. 

—  .lurisditíção  do  um  magi.strado  ou 
de  muitos  qu(í  julgam  ao  mesmo  tem|>o; 
os  pro))rio8  magÍHtrado.s.  —  Tribunal  ci- 
vil. —  Tribunal  rrimiiud.  — Tribunal  de 
primeirn   instancia, 

—  [jogar  oiide  se  sentam  os  juizes. 

—  f>  tribunal  da  penitencia ;  o  logar 
onde  o  sacerdote  ailmiuistra  o  sacramen- 
to da  penitencia. 

—  O  tribunal  de  Deus;  a  justiça  de 
Deus. 

—  Diz-se  da  jurisdicção  de  cousas  mo- 
raos  que  se  consideram  como  juizes.  — 
O  tribunal  da  opinião  publica. 

—  Figuradamente :  O  que  julga  em 
n(>3  mesmos.  —  O  tribunal  da  consciên- 
cia, 

—  Figuradamente :  Um  tribunal  de 
litferatiirn. 

TRIBUNATO,  s,  m,  (Do  \Ai\m  fribuna- 
tus).  ()  iitTieio  de  tribuno. 

—  Viil.  Tribunado. 

TRIBUNICIO,  A,  adj.  Termo  de  anti- 
guidade romana.  <,^ue  pertence  ao  tribu- 
nato. 

TRIBUNO,  s.  w.  (Do  latim  tribumis). 
Em  Roma,  tribuno  da  plebe;  magistra- 
do encaricgado  de  defender  os  direitos 
e  os  interesses  do  povo.  Cieero  crê  que 
o  estabelecimento  dos  tribunos  de  Roma 
foi  a  salvação  da  republica.  —  «Que  a 
meu  ver  foi  padraõ  posto  na  estrada,  em 
que  esteve  o  nome  do  Emperador  em  cu- 
jo tem]io  se  poz,  o  qual  se  não  pode  con- 
jecturar ipial  seja,  jiois  diz  somente  que 
tinha  sido  Cônsul  seis  vezes,  e  tivera  o 
poder  de  Tribuno  nove,  c  lhe  dà  os  títu- 
los de  piadoso.  e  bem  afortunado,  aere- 
centando  (jue  dali  a  Vouga  são  doze  mil 
passos,  os  qnaes  se  achaõ  ao  justo  nas 
três  legoas  que  há  de  huma  parte  a  ou- 
tra.» Monarchia  Lusitana,  livro  ã,  capi- 
tulo 1. 

—  Tribunos  militares;  magistrados  que 
cm  Roma  se  revestiram  temporariamen- 
te da  auctoridade  dos  cônsules. 

—  Tribunos  de  Irgião;  officiaes  supe- 
riores que  commandavam  alternativamen- 
te uma  letriào. 

TRIBUTADO,  part.  pass.  de  Tributar. 
A  quem  se  paga  tributo,  servido  com  tri- 
butos. 

—  Dado  em  tributo. 

—  onerado  com  tributos. 

TRIBUTAL,  <idj.  2  gcn.  —  Terra  tri- 
butai;  a  terra  ol)rigada  a  tributo,  a  pen- 
fào.  Vid.  Tributário. 

TRIBUTAR,  V.  a.  Impôr  tributos,  one- 
rar Com  clles. 

- —  Tributar  lonrorcs,  adm-açòes. 

—  Pagar  do  tributo. 
TRIBUTÁRIO,  A,  adj.  (Do  latim  tribu- 

tarius).  Obrigado  a  pagar  tributo. 


Ao  Norte  a  Proma  vo  «ua  vizinha 
(Joiu  icti»  coiBiiodadorcit  ci)fori,'a(lo8 : 
Viigria  vio  la  junto  do  Polónia 
DiuidiJas  CO  gr-ào  inoiítc  Carpatlio. 
Tainlji-rn  vio  Traiisiluania,  vio  Moldauia 
Do  (juern  lo4o  S<!pas  qui»  o  goui-rno, 
AiiUn  i|uoi-<-iido  «cr  K<:y  IrihiUurio: 
t^uc  liuíc  couipaitliciro  do  Foruaudo. 

C.  BRAJ.,  S\UrtL\titO  DP.  SKPVLVEDA,  cant.  2. 

Não,  mais  tributaria 
mo,  não  fa<;a. 

jlkioíiio  rBESTKS,  Auros,  pag.  487. 


—  «Estes  mataram  a  Cvro  também 
Rev  dos  persas:  doítruvram  (JvHriona 
capitam  de  Alexandre  Magno  e  subjuga- 
ram asia  três  vezes  por  força  darnias,  e 
por  muitos  annoH  ha  tiveram  tributaria: 
destes  descendeo  ho  gram  Tamorlanj,  que 
ouve  limitas  viti'rias  em  asia,  e  senho- 
reou muitas  t''rras  a  força  darmas.»  Frei 
Oaspar  da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da 
China,  cap.  4. 

— -  Substantivamente  :    Um   tributário. 

TRIBUTEIRO,  s.  m.  Arrecadador  de  tri- 
butos. 

TRIBUTO,  s.  m,  (Do  latim  tributum). 
A  taxa  ou  imposto  que  o  vai»sallo  paga 
ao  seu  senhor  em  conhecimento  <le  do- 
minio,  ou  para  supprir  as  necessidades 
publicas. —  «Desta  maneyra  pois,  esta- 
va Espanha  repartida,  entre  Romanos  e 
Bárbaros,  e  os  antigo?  moradores  da  ter- 
ra contentes  com  a  paz  e  bom  tratamento 
que  todos  lhe  faziaõ,  e  com  o  alivio  de 
tributos,  que  pagavSo  servindo  ao  Impé- 
rio Romano,  os  E-itraogeiros  tratavaõ  de 
se  unir  com  os  Espanhoes,  dando-lhes  J] 
suas  tílhas  em  casamento,  o  pedindolhe  I 
as  suas  em  troco.»  Monarchia  Lusitana, 
liv.  O,  cap.  3. — -«Finalmente  elle  resu- 
niio  nisto,  que  pofiia  dizer  a  elRey  e  ao 
seu  governador  i''<'>^e  Atar  que  o  envia- 
ra, que  elle  era  vindo  per  mandado  d'el- 
Rev  seu  senhor  a  notificar  a  eIRev  de 
Ormuz  que  se  queria  pacificamente  na- 
uegar  os  mares  da  Imiia,  que  lhe  auia 
de  p.-igar  hum  certo  tributo  em  sinal  de 
vassallagem.»  Barros,  Década  2,  liv.  2, 
c-ap.  3.  —  «Com  obrigação  de  a  villa 
auer  de  pagar  de  tributo  em  cada  hum 
anno  outra  tanta  contia  quanta  pagaua 
a  elRey  de  Ormuz,  pêra  mantimento  do 
alcaide  c  gente  que  esteuesse  em  guarda 
delia,  e  deste  acto  mandou  Afonso  d'Al- 
.  boquerque  tirar  in.otromeuto.  »  Ibidem, 
cap.  1.  — «Pelo  qual  lhe  pedia  em  nome 
de  todos,  que  em  começo  do  tributo  a 
que  por  r»"zào  da  vassalagem  lhe  esta- 
vâo  obrigados,  aoeytasse  por  ent.ào  aquel- 
le  pequeno  serviço  que  lhe  offerecia  para 
murrões  dos  soldados,  porque  a  mais  di- 
vida pn>testav.ão  de  lha  satisfazerem  a 
seu  tempo,  e  com  isso  lhe  apresentou  cin- 
co caixões  de  barnis  de  prata  em  que  vi- 
nh.^o  dez  md  taeis.»  Fernão  Mendes  Pin- 
to, Peregrinações,  cap.  68.  —  « Sobre 
mesa  se   praticou   hum  pouco  cm   cOpii- 


TRIC 


TRIC 


TRIE 


817 


mentos  de  huma,  e  outra  parte,  e  sendo 
horas  nos  partimos  nào  querendo  acey- 
tar  de  iiòs  o  tributo  que  todos  os  mais 
lhe  pa.çarào,  que  era  por  cabeça,  ou  de 
gente,  ou  de  caualgadui-a  hum  iarini, 
alem  desta  chariuade  nos  fez  outra  que 
foT  darnos  doze  homens  de  guarda  (a 
que  eiles  chamão  Hispains)  que  he  o 
mesma  que  soldados,  os  quaes  nos  acom- 
panharão ate  a  Cidade  Lara.»  Fr.  Gas- 
par de  S.  Bernardino,  Itinerário  da  ín- 
dia, cap.  12. —  «Ha  ley,  que  os  releva 
dos  tributos  e  encargos  civis,  como  se 
mostra  ex  l.  Médicos  de  Frofiíssorih .  et 
Media.  Ha  ley,  que  cõ  os  previlegios  que 
lhes  assigna  nobilita  naõ  sò  os  Médicos, 
mas  suas  molheres,  e  iilhos,  como  se  ve 
ex  l.  Médicos  cod.  de  Professorib.,  et 
Medic.  et  ex  l.  in  fine  de  vac.  et  excií- 
sat.D  Braz  Luiz  «VAbreu,  Portugal  me- 
dico, pag.  253. 


E  á  nova  kiz  quo  surge,  as  folhas  abre ; 
Yêa  que  meu  coração  sincero,  e  puro 
Em  tribute  te  paga  amor,  e  estima  ; 
De  ti  vem  todo  o  bem,  coratigo  cu  g''zo. 

J.    A.    DE   UACEDÚ,   UEDlTAçlú,   Caut.    1. 

Que  canta  o  Mar  vencido,  o  vist "Oriente : 
E  meditando  a  máquiu:i  do  Mundo, 
Eu  3Ó  fora  o  Pintor  da  Natureza. 
Se  Arrighi,  e  Conti  co'o3  Pincéis  não  derâo 
A  tão  grande  Painel  mais  ahna,  e  vida. 
Itália,  Itália,  do  mortal  mais  liyre 
Recebe  este  tributo,  e  o  voto  acceita. 
iBiDF.si,  cant.  4. 


—  Pagar  tributo  á  natureza;  morrer. 

—  Figuradamente:  Pagar  tributo  á 
natureza ;  solirer  algum  detrimento,  le- 
são, encargo  usual,  e  como  devido,  ain- 
da que  extorquido    com  algum  pretexto. 

TRICA,  s.  f.  —  Âs  tricas  forenses  ;  os 
enredo-  e  subtilezas :  tomado  á  má  parte. 

7  TRICALCICO,  A,  adj.  Termo  de  chi- 
mica.  Sal  tricalcico ;  sal  cálcico  que  con- 
tém três  vezes  tanta  base  como  o  sal 
neutro  correspondente. 

TRICANA,  «.  /.  Saia  de  camponeza, 
manteu. 

—  Figuradamente :  Mulher  que  usa 
de  tricana. 

f  TRICAPSULAR,  adj.  2  gen.  Termo 
de  botânica.  Que  é  formado  de  três  ca- 
psulas, fallanuo  de  um  fructo. 

TRICELLULAR,  adj.  2  gen.  Termo  de 
botânica.  Que  tem  três  cellulas  para  se- 
mentes. 

7  TRICENARIO,  í.  m.  Serie  de  trinta 
missas  ditas  em  trinta  dias  consecutivos. 

f  TRICENNAL,  adj.  2  gen.  (Do  latim 
tricennalis,  de  tricenni,  e  anniís).  De 
trinta  annos. 

t  TRICEPHALO,  A,  adj.  Termo  de  his- 
toria natural.  Que  tem  três  cabeças. 

— -  Substantivamente:  Género  de  mon- 
stros. 

1  TRICEPS,  adj.  2  gen.  Termo  de 
anatomia.    Diz-se  dos   músculos  cuja  ex- 

VOL.  V.— 103. 


tremidade  superior  é  formada  de  três  fas- 
cículos distlnctos.  —  Os  miiscidos  tri- 
ceps. 

—  Substantivamente :  O  triceps  bra- 
chial,  ou  humeral;  musculo  da  j^arte  pos- 
terior uo  braço. 

—  Triceps  femural ;  musculo  coUoca- 
do  nas  partes  anterior,  interna,  e  exter- 
na da  coxa. 

TRIGÉSIMO,  A,  adj.  num.  ord.  (Do 
latim  tricesimus).  Que  corresponde  na  se- 
rie ao  numero  triuta. 

TRICHECO,  *.  íii.  Termo  de  historia  na- 
tural. Mamai  amphibio,  de  que  ha  di- 
versas espécies. 

—  Tricheco  dugongo  ;  elephante  mari- 
nha do  mar  da  índia. 

—  Tricheco  bo^rmaro;  elephante  mari- 
nho do  mar  do  norte. 

TRICHIASI3,  s.  f.  Termo  de  cirurgia. 
Aíiecçào,  na  qual  as  celhas,  desviadas  de 
sua  direcção  natural,  se  vêem  pôr  em  con- 
tacto com  a  superfieie  do  globo  do  olho, 
que  ellas  irritam. 

-j-  TRICHINA,  s.  f.  Xome  genérico  de 
Víxxx  heimintho  hematoide. 

7  TRICHINADO,  A,  adj.  Infestado  de 
trichinas.  —  Músculos  írichinados. 

-j-  TRICHINAL,  adj.  2  gen.  Que  diz 
respeito  á  tri china.  — '■  A  doença  trichi- 
nal. 

I  TRIGHINOSE,  s.  /.  Termo  de  medi- 
cina. Doença  ooeasionada  pelas  trichinas. 

t  TRICHODENTE,  adj.  2  gen.  Termo 
de  historia  uatiu-al.  Que  tem  os  dentes 
similhantes  a  sedas. 

7  TRICHOGLOSSIA,  s.  /.  Estado  da 
lingua  em  que  ella  parece  coberta  de  pel- 
los  podendo  attingir  até  a  lun  centíme- 
tro de  compriíio  e  mais. 

f  TRICHOLOGÍA,  s.  f.  Tratado  dos 
pellos. 

7  TRICHROMISMO,  s.  m.  Termo  de 
physica.  Phenomeno  produzido  por  um 
corpo  que  offerece  três  cores  distribuídas 
diversamente  segundo  o  modo  por  que  se 
distinguem  e  cor.si']eram. 

-j-  TRICHOITO,  A,  adj.  Que  offerece  o 
phenomeao  do  trichoismo. 

TRICIPITE,  adj.  2  gen.  (Do  latim  tri- 
ceps). Que  tem  três  cabeças. 

-j-  TRICLINICO,  A,  adj'.  Termo  de  mi- 
neralogia. — •  2]i/po  triclinico ;  typo  cara- 
cterisaio  por  três  eixos  deseguáes  nào 
perpendiculares  entre  si. 

TRICLÍNIO,  s.  m.  (Do  latim  triclinium). 
Termo  de  antiguidade  romaiia.  Sala  de 
jantar,  com  as  camilhas  em  roda  da  mesa, 
onde  se  encostavam  entre  os  romanos  os 
que  a  ella  comiam,  apoiados  sobre  o  co- 
tovelo esquerdo,  ou  direito. 

-;-  TRíCOBALTICO,  A,  adj.  Termo  de 
chimica.  Sal  tricoballico ;  sal  cobaltico 
que  contém  trcs  vezes  tanto  de  base 
quanto  o  sal  neutro  correspondente. 

TRICOCCA,  adj.  f.  Termo  de  botânica. 
—  Capsula  tricocca;  capsula  que  tem 
três  cellulas  ocas. 


TRICOCEPHALOS,  s.  m.  phir.  Termo  de 
historia  natural.  Vermes  intestinaes  de 
corpo  redondo,  grosso  e  obtuso  posterior- 
mente. 

TRICOLOR,  adj.  2  gen.  De  três  cores. 
—  Flor  tricolor. 

TRICOLOREO,  A,  adj.  Vid.  Tricolor. 

TRICÚSPIDE,  adj.  2  gen.  (Do  latim 
tricus2)is).  Termo  de  botânica.  Que  é  mu- 
nido de  três  pontas. 

—  Válvula  tricúspide  ;  membrana  val- 
vular coUocada  na  abertura  de  communi- 
cação  da  aury;ula  direita  do  coração  com 
o  ventrículo  correspondente. 

TRIDACHNES,  ou  CHAMAIAS,  s.  /. 
plur.  Termo  de  historia  natural.  MoUus- 
cos  que  teem  a  concha  regular,  e  as  ná- 
degas pouco  proeminentes. 

f  TRIDACTYLO,  adj.  Termo  de  histo- 
ria natural.  Que  tem  três  dedos  nos  pés. 

TRIDENTE,  s.  m.  (Do  latim  tridens). 
O  sceptro  de  três  farpas,  com  que  os  poe- 
tas representavam  a  Neptuno.  —  O  tri- 
dente de  Neptuno  ê  o  sceptro  do  mundo. 


Vencedor  da  braveza  de  Neptuno, 
Senhor  do  seu  Tridente,  e  ricas  conchas. 

AXTONIO  FEEBEIKA,  C.iBI.lS,   1ÍV.    1,  TL."  1. 


Figuradamente :  O  mar. 


O  que  tem  do  tridente  o  poderio 
Com  festa  03  companheiros  agasalha. 
Voa  a  fama,  c  por  todo  o  senhorio 
Salgado,  destes  três  a  vinda  espalha : 
Nenhum  de  gosto  alli  fica  vazio. 
Por  vê-los  cada  hum  cone  e  trabalha. 
Cada  hum  eo'o  que  p<5dc  alli  os  festeja 
Que  o  seu  Rei  isto  faz,  o  isto  deseja. 

FRANCISCO    d'aXDKADE,     PBIMEIBO    CEBCO    DB    Dnj, 

cant.  7,'est.  42. 


—  Termo  de  geometria.  Curva  do  ter- 
ceiro grau  que  se  chama  também  pará- 
bola de  Descartes. 

TRIDENTEADO,  A,  adj.  Termo  de  bo- 
tânica. De  três  dentes. 

TRIDENTIG-ERO,  A,  adj.  (Do  latim  tri- 
dens, e  gero).  Termo  de  poesia.  Que  traz 
tridente. 

TRIDENTINO,  A,  adj.  Da  cidade  de 
Trento. 

—  Que  pertence  ao  concilio  de  Trento. 
• —  Os  sentimentos  tridentinos. 

TRIDDO,  s.  m.  (Do  latim  triduum).  O 
espaço  de  três  dias. 

—  Furacão  que  diu-a  três  dias. 
TRIENNAL,  adj.  2  gen.  Que  dura  três 

annos. 

—  Conferido  por  três  annos. 

—  Que  vem  de  três  em  três  annos. 

—  Termo  de  botânica.  Diz-se  das  plan- 
tas que  nào  tem  fructos  e  sementes  senão 
no  terceiro  anno  depois  do  em  que  foram 
semeadas. 

7  TRIEDRO,  udj.  Termo  de  geometria. 
Que  oíFerece,  ou  que  é  formado  por  três 
planos. 


818 


TRia 


TRIÍ> 


TRKi 


—  Angulo  triedro ;  angulo  solido  forma- 
do pcilii  i'i!iiiiià<)  'lu  tro^  planos. 

TRIENNARIO,  A,  adj.  Triennai. 

TRIENNIO,  .«.  III.  {\)o  latim  (riennium), 
Es|i;u;o  lie  três  anno». 

TRIETERE,  k.  f.  (Do  grdgo  trietcria). 
Em|);u;'>  '1''  trcs  aunos, 

TRIETERICO,  A,  't/j.  Que  abrange  tre» 
annos,  ou  que  se  faz  no  tiin  do  trei  an- 
n03. — As  orgias  trietericsis. 

f  TRIFACIÀL,  alj.  2  geií.  Termo  de 
anatomia.  N>:i-vo  trifacial;  nome  dado 
ao  nervo  cio  quinto  par,  porque  se  divide 
em  trcs  ramos  |>rincipaes. 

TRIFAUCE,  adj.  2  gen.  (Do  latim  tri- 
fauv).  Tormo  de  poesia.  De  ti'es  guelas, 
ou  gargantas. 

—  Substantivamente:  O  trifauce  hor- 
rível. 

f  TRIFERRICO,  A,  adj.  Termo  de  chi- 
mica.  Sal  triferrico ;  sal  férrico  que  con- 
tém tro3  vezes  tanto  de  ba,se  como  o  sal 
neutro  correspondente. 

TRIFIDO,  A,  adj.  (Do  latim  trijidiis, 
de  tri,  e  j!ndere'i.  Termo  de  botânica.  Que 
tem  trcs  divisões,  que  c  fendido  em  três. 

—  Aberto  em  três  partes. 

—  De  três  pontas  unidas  cm  um  corpo. 
TRIFLORO,   A,  adj.  Termo  do  botâni- 
ca. Que  dá  tros  tlores. 

TRIFOLIO,  s.  m.  (Do  latim  trifoUum). 
Trevo,  herva. 

TRIFORME,  adj.  (Do  latim  triformis). 
Termo  de  mineralogia.  Que  apresenta  a 
combinação  de  tros  firmas  diversas. 

TRIGA,  s.  /.  Termo  de  antiguidade. 
Carro  puxado  por  trcs  cavallos. 

TRIGAMIA,   s.  /.  Terceiro  casamento. 

TRIGADO,  part.  pas$.  de  Trigar.  Termo 
antiquado.  Appressado,  arrebatado. 

TRIGANÇA,  .f.  /.  Termo  antiquado. 
Pressa.  —  «Mas  os  nossos  de  cavalio  en- 
tendendo, que  aquella  seria  a  mór  força 
de  sua  defeza,  ouverom  conselho  de  os 
cercar,  o  des  y  começarão  sua  peleja,  na 
qual  se  mexiam  muitas  lançadas,  e  pe- 
dradas e  azagayadas,  porque  nom  eram 
tam  acerca,  em  que  as  armas  mais  cur- 
tas podessera  servir ;  o  em  esto  fezcrão  os 
Mouros  huma  volta  com  os  de  cavalio, 
porque  os  de  pee  nom  cbeg;irào  ainda, 
por  razão  da  trigança,  que  os  de  cavalio 
meterem  cm  seu  andar.»  Inéditos  de  his- 
toria portugueza,  tom.  1,  pag.  oli>. 

TRIGAR,  V.  a.  Termo  antiquado.  Dar 
pressa,  estimular. 

—  Trigar-se,   v.  refi.  Apressar-se. 
TRIGEMINO,  A,  adj.   (Do  latim  trige- 

miiiHs).  Triplo,  de  trcs  partes. 

TRIGÉSIMO,  A,  adj.  ord.  (Do  latim 
irigesimus).  Que  existe  entre  o  vigésimo 
nono,  e  o  trigésimo  yirimciro. 

TRIGLIPHO,  ou  TRIGLYPHO,  ».  m.  (Do 
grego  /)•»(//(//)/).■.<''.  Termo  de  arcliitectura. 
^Membro  composto  ile  três  eanacs,  que  se 
repartem  no  friso  da  eolumna  dórica. 

1.)  TRIGO,  *.  m.  (írào  farináceo  de  que 
se  faz  o  pão,  que  autes  do  se  moor  em  fa- 


rinha, alimpa-se  na  joeira  do  joio,  vae  ao 
crivo,  raôe-ao,  poncira-oe  a  farinba  para 
80  amassar  cm  pão.  Ha  variai  espécies: 
o  trigo  treinez,  trigo  monrinco  viaior, 
trigo  branco,  preln,  ditrazio,  gallego ; 
o  trigo  miichi,  o  o  trigo  uf peita.  —  «K 
quando  acerta  o  anuo  a  ser  estéril,  se 
reparto  tamijem  o  trigo  pelo  povo  «em 
se  levar  por  isso  ganho  nem  interesse  al- 
gum, e  o  que  se  dá  á  gente  pobre  que  não 
tem  com  que  satisfaça  o  que  se  lhe  em- 
presta, esse  todo  se  contribuo  das  reuiias 
que  as  terras  paga»>  a  el  Iley,  por  ser  es- 
molla  que  elle  por  aquelle  jiailrào  lhe  tem 
feita,  o  qual  está  registado  em  toilas  as 
camarás,  paraque  os  Anchacya  da  fazenda 
o  levem  em  conta.»  Fernão  Mendes  Fin- 
to, Peregrinações,  cap.  113.  —  tDaquy 
continuamos  nosso  caminho  mais  treze 
dias,  vendo  ao  longo  do  rio  assi  de  huma 
parte  como  da  outra  muytos  lugares 
muyto  nobres,  que  segundo  o  apparato 
das  mostras  de  tora,  deviào  de  ser  os 
mais  dcUes  cidades  ricas,  o  tuio  o  mais 
erào  bosques  de  grandes  arvoredos,  em 
que  avia  niuytas  iiortas,  jardins,  e  pu- 
mares,  e  a  fora  isto  capinas  do  trigo  muy- 
to grades,  em  que  pacia  grade  soma  de 
gado  vacum,  muytos  veados,  antas,  o  ba- 
das,  e  tudo  apaceutado  por  homens  a  ca- 
valio.»  Ibidem,  cap.  158.  —  tO  Author 
das  Chibadas  dis,  que  as  campinas  de 
Brabante  saõ  de  área  estéril,  mas  os  na- 
turaes  com  sua  multidão,  e  industria  as 
fazem  abundar  de  trigo,  mostrando  a  ex- 
periência contra  o  provérbio,  que  naõ  he 
trabalho  baldado  lançar  semente  na  arca: 
In  Brahantia,  diz  elle,  jiuiit  agricolte  tam 
industrij,  ijiti  sicntissimas  arenas  cogunt 
et  triticuin  ferre.  V  Severim  de  Faria,  No- 
ticias de  Portugal,  Disc.  1,  cap.  1. 

Trifjo.  co.uada,  centeo 
furtam  quíisi  de  pcrmeo, 
e  deitam  terra  no  pam  ; 
aam  tã  mãos  03  que  mãos  sam, 
que  de  Dcos  nõ  tem  rccco. 

a.UtClA  DE  REZK^^>K,  saSCELLlNEA. 

—  «E  por  tanto  o  senhor  comparou  sua 
doutrina  a  semente  que  o  laurador  lança 
na  terra  pêra  colher  fru\-to,  porque  assi 
como  aquelles  grãos  do  trigo  que  se  na 
terra  lançam  pêra  delles  se  vir  a  fazer 
pão  delicado,  e  sabroso,  he  necessário  que 
primeyro  passem  por  mil  mu'lanças,  e  tor- 
mentos, assi  tem  Deos  ordenado  que  nam 
alcancemos  fruyto  de  saluação  sem  pas- 
sar por  varias  aduersidades,  e  tribula- 
ções, interiores,  e  exteriores.»  Frei  Bar- 
tholomeu  dos  Martyres,  Catecismo  da 
doutrina  christã.  — «A  qual  feito,  o  al- 
caide 80  recolheo  a  fortaleza,  sem  saber 
quem  era  dom  Lourenço,  mandando  logo 
hum  presente  a  dom  Francisco  de  refres- 
co, da  terra,  e  dalli  a  nove  dias  mandou 
hum  embaixador,  pêra  confirmar  esta 
paz,    com    dous    zambuquos    carregados 


darroz,  c  trigo,  e  outros  mantimentos,  a 
quul  lhe  dom  Francisco  coniirmou,  c  deu 
seguro  para  poder  traUir,  c  navegar  pêra 
onde  quiseise.»  l>anii.*io  de  •íoei',  Chro- 
nica  de  D.  Manoel,  part.  2,  cap.  4.  — 
•  Dauam  estes  Dalmudina,  aliem  dns  mil 
caniellos,  a  renda  du  ]>ãu  que  os  iVrabea 
traziam  a  Villa  (jue  era  huma  i;rande 
somma,  nos  quaes  camelios  montavam 
três  mil,  quinhentos  de  trigo,  a  rezão  de 
quarenta  alqueires  a  camelio  du  aoaea 
medida,  e  três  mil,  e  quinhentoH  de  co- 
uada  a  rezam  ile  uitent-i  alqueires  a  ca- 
mello.»  Ibidem,  part.  à,  cap.  14.  —  iFoi 
tanto  o  despojo  de  mou"ns,  trigo,  ceoa- 
da,  mel,  manteiga,  galinhas,  gado,  e  ou- 
tras cousas,  que  tre-t  ditis  contínuos  nSo 
fezerão  os  mouros  outra  cousa  que  acar- 
retar da  villa  pêra  o  arraial,  no  úva  dos 
quaes  se  partirão  com  o  despojo,  os  mou- 
ros pcra  suas  comarcas,  acaudela'los  por 
Side  bogima  »  Ibidem,  cap.  72. 


Tem-n'o  a  Rasilo  do  C"'-o  tào  dotado 
c  cUc  tão  bem  que  n'iâso  caminha ; 
queria-o  eu  trifjo  da  nossa  farinha  ; 
mas  tral-o  a  Rasào  mui  encabeçado 
com  prcg.a<;õosinhaâ  de  lambarcirinha. 
ANTUKio  PBGsrES,  AiTui,  pag.  9. 


Ai !  antes  eu  menta 
qun  08  trigo*. 

Nào  qner  entrar  ? 
Falava  com  ama  parenta: 
que  é  isso,  compadre  ? 
IBIDEM,  pag.  281. 


E  quem  disse  que  canhados, 
como  diz  o  berbào  anti^ 
do  sonpo  —  ferros  d'arado3  — 
03  miolos  dissipados 
tenha  eu  se  não  falo  trigo. 
IBIDEM,  pag.  365. 


—  iAccuso-me,  que  comi  cincoenta 
moves  de  trigo,  que  naõ  semeey,  nem 
herdey,  nem  comprey ;  e  também  declaro, 
que  03  naõ  furtey;  porque  me  naaceraS 
cm  C4isa  dentro  em  huma  tulha,  assim 
como  me  podia  nascer  hum  alqueire  de 
verrug.as  nestas  mãos.»  Arte  de  furtar, 
cap.  brt. 

2.)  TRIGO,  A,  aãj.  De  trigo. 

—  Loc. :  E$tar  trigo,  ou  ttão  estar 
trigo ;  estar  animado,  ou  desanimado. 

—  .'\d.\gios  e  pkoverbios  : 

—  Muito  trigo  tem  meu  pae  em  um 
cântaro. 

—  Nem  vinha  em  baixo,  nem  trigo  em 
cascalho. 

—  Natal  cm  sexta-feira,  por  onde  pu- 
deres, scmêa;  cm  domingo,  vende  os  bois, 
c  compra  o  trigo. 

—  Trigo  de  cizirão,  pequena  massa,  e 
grande  pão. 

—  Trigo  ccnteioso,  pão  proveitoso. 

—  Trigo  acamado,  seu  dono  alcvan- 
tado. 


TRIG 


TRIL 


TRIL 


819 


—  De  trigo,  e  de  avêa  minha  casa 
cheia. 

—  Não  vendas  a  teu  amigo,  nem  de 
rico  compres  trigo. 

—  O  trigo,    e  a  teia,  á  candeia. 

—  Que  monte  de  trigo  se  não  estivesse 
dividido. 

—  Tudo  é  nada,  senão  trigo,  e  cevada. 
— Não  é  todo  trigo. 

—  Maio  come  o  trigo,  e  agosto  bebe  o 
vinho. 

—  Com  vento  alimpam  o  trigo,  e  os 
vicios  com  castigo. 

—  Deus  me  dê  pae  e  màe  na  villa,  em 
casa  trigo  e  farinha. 

—  Quando  o  trigo  ó  louro,  é  o  barbo 
como  touro. 

—  Quando  o  trigo  anda  pela  eira,  anda 
o  pão  pela  amassadeira. 

—  Por  Todos  08  Santos  semêa  trigo,  e 
colhe  cardos. 

—  Por  S.  Francisco  semêa  teu  trigo, 
e  a  velha  que  o  dizia,  semeado  o  tinha. 

—  Quem  semêa  em  caminho,  cança  os 
bois,  e  perde  o  trigo. 

—  Nem  herva  no  trigo,  nem  suspeita 
no  amigo. 

—  Mais  valem  alimpaduras  da  minha 
eira,  que  o  trigo  da  tulha  alheia, 

TRIGONO,  s.  m.  (Do  grego  trigonos). 
Termo  de  astrologia.  Aspecto  de  dous  pla- 
netas afastados  um  do  outro  120  graus. 

— •  Adjectivamente :  Que  offerece  três 
ângulos. 

—  Trigono  dos  signos;  figura  gnomiea 
que  serve  para  marcar  sobre  os  quadran- 
tes os  arcos  dos  signos,  e  os  arcos  diurnos. 

—  Termo  de  anatomia.  Trigono  cere- 
bral; lamina  de  substancia  cerebral  si- 
tuada na  f>arte  superior  dos  grandes  ven- 
trículos, formada  de  duas  partes  reunidas 
na  parte  anterior,  e  desviando-se  na  parte 
de  traz   de  modo  a  formar  um  triangulo. 

—  Trigono  vesical;  espaço  triarigular 
que  a  cavidade  da  bexiga  apresenta  no 
seu  fundo. 

—  Género  de  conchas. 

—  Género  de  coleopteros. 
TRIGONOCEPHALO,  A,  adj.  Que  tem  a 

cabeça  trigona. 

—  S.  m.  Serpente  venenosa  da  Ame- 
rica. 

TRIGONOMETRIA,  s.  f.  (Do  grego  tri- 
gonos, e  metroii).  Sciencia  que  tem  por 
objecto  resolver  os  triângulos,  isto  é,  de- 
terminar-lhes  pelo  calculo  os  ângulos  e  os 
lados  partindo  de  certos  dados  numéri- 
cos. 

■ — Trigonometria  rtctilinea;  aquella 
que  trata  dos  triângulos  rectilíneos. 

—  Trigonometria  espherica ;  aquella 
que  trata  i!os  triauíjulos  esphericos. 

f  TRIGONOMETRICAMENTE,  adv.  (De 
trigonométrico,  e  o  suífiso  «mente»).  Se- 
gundo as  roeras  da  trigonometria. 

f  TRIGONOMÉTRICO,  A,  adj.  Que  pre- 
tence  á  trigonometria.  —  Ohservaqòes  tri- 
gonométricas. 


TRIGOSAMENTE,  adv.  (De  trigoso,  e 
o  suflixo  «mente»).  Termo  antiquado. 
Apressadamente. 

TRIGOSO,  A,  adj.  Termo  antiquado. 
Apressado. 

—  Vontade  trigosa;  vontade  de  aca- 
bar as  cousas  depressa. 

TRIGUAR.  Vid.  Trigar. 

TRIGUEIRÃO,  s.  m.  Termo  de  zoolo- 
gia. Ave  agreste  vulgar. 

TRIGUEIRO,  A,  adj.  Pouco  branco,  ti- 
rante a  pardo.  — •  Homem  trigueiro. 

TRIGUENHO,  A,  adj.  Concernente  a 
trigo. 

TRIGUOSO,  A,  adj.  Vid.  Trigoso. 

TRIGYNIA,  s.  /.  Termo  de  botânica. 
Ciasse  de  ])lantas  de  três  pistillos. 

t  TRIGYNO,  adj.  Termo  de  botânica. 
Diz-se  da  flor  que  tem  três  pistillos. 

f  TRIHORARIO,  adj.  De  três  em  três 
horas.  —  Observações  meteorológicas  tri- 
horarias. 

TRIHYDRICO,  A,  a,lj.  Termo  de  chi- 
mica.  Coj;í/(osío  trihydrico ;  composto  que 
contém  três  proporções  d'hydrogeneo  para 
uma  de  outro  componente. 

t  TRI-IODURETO,  s.  m.  Termo  de  chi- 
mica.  lodureto  que  contém  três  propor- 
ções de  iodo. 

TRIJUGADAS,  adj.  f.  Termo  de  botâ- 
nica. Folhas  trijugadas;  folhas  jungidas 
com  três  pares  de  folioios. 

TRILATERAL,  adj.  2  gen.  Que  tem 
três  lados. 

TRILATERO,  A,  adj.  Termo  de  geome- 
tria. Figura  trilatera ;  figura  formada 
por  três  rectas. 

—  S.  m.  Um  triangulo. 

TRILHA,  s.  f.  Os  vestígios  que  deixou 
o  que  passou  por  algum  logar. 

—  A  acção  de  trilhar,  de  pizar. 

—  Seguir  a  trilha  d-e  alguém;  ir  após 
elle  pelo  mesmo  caminho. 

—  O  signal  que  deixam  as  rodas  do 
carro,  as  bestas  na  eira. 

—  Trilho  de  trilhar  o  grão. 

• —  Figuradamente  :  oeguir  a  trilha  die 
alguém ;  imital-o,  fazer  outro  tanto. 

—  Figuradamente :  Dar  na  trilha  a 
alguém ;  acertar,  penetrar  nos  seus  in- 
tentos, e  o  caminho  que  leva  para  os  con- 
seguir, 

—  Na  província  de  Traz-os-Montes  dá- 
se  este  nome  á  debulha  do  trigo,  porque 
se  faz  com  trilhas. 

—  Figuradamente  :  Caminho,  carrei- 
ra, doutrina  guiadora. 

—  tíeguir  a  trilha  das  doces  musas; 
a  profissão  de  quem  trata  com  ellas. 

—  Seguir  a  trilha  de  alguém;  usar 
dos  mesmos  meios,  seguir  o  mesmo  cami- 
nho. 

—  Srx. :  Trilha,  vestigio.  Vid.  este 
ultimo  termo. 

TRILHADA,  «.  /.  Rasto,  vestigio,  tri- 
lha. 

TRILHADO,  jjart.  i^ass.  de  Trilhar. 
Pizado  com  o  trilho. 


—  Experimentado,  feito  no  exercido, 
cortido. 


Da  cidade  ? 
Já  nào  quero  passar  muros. 
Fazeis  bem. 

Já  sou  trilhado. 
Mas  casado 

requer  pôr  pis  seguros  : 
filhos  tendes  já  jantado  ? 
Sim,  que  sou  j;i  dos  maduros. 

ANTÓNIO  PBESTES,  AUTOS,  pag.  277. 


—  Frequentado. 

—  Um  corpo  bem  trilhado  ;    exercita- 
do no  curso  das  experiências,  affeito. 


Não  é  má  essa  consequência, 
que  trabalhos  em  estado 
d'um  corpo  já  bem  trilhado 
no  cui-so  da  experiência, 
é  meio  caminho  andado. 

AXTOXIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  189. 

— •  Calcado,  caminhado. 

—  Figuradamente:  Commum,  usado, 
sabido,  vulgar. 

—  Maltratado  com  guerra,  ou  passa- 
gem de  tropas  para  guerra. 

TRILHADOR,  A,  s.  Pessoa  que  trilha. 
TRILHADURA,  *.  /.  A  impressão   que 
se  faz  trilhando. 

—  Debulha  com  o  trilho. 
TRILHAMENTO,  s.  m.  Acto   de  pizar, 

de  trilhar. 

TRILHÃO,  s.  m.  Vid.  Trillião. 

TRILHAR,  V.  a.  Pizar  com  o  trilho, 
dividir  em  miúdos,  pizando. 

—  Pizar  andando.  —  «Porque  não  he 
licito  que  gente  tão  má  como  vós  outros 
trilhe  a  terra  que  pôde  dar  fruito,  e 
perdoe  Deos  a  quem  meteo  em  cabeça  a 
el  Rey  que  podieis  prestar  para  alguma 
cousa,  rapav  as  barbas.»  Fernão  Men- 
des Pinto,  Peregrinações,  cap,  lõO, 

—  Deixar  impressão  do  pé  ou  fazel-a, 
fazer  pegadas,  pizar. 

—  Trilhar  um  pé;  pizal-o,   magual-o. 

—  Trilhar  o  termo  da  vida ;  andar  em 
perigo  de  vida,  rodear  a  morte. 

—  Bater,  pizar. 

—  Figuradamente  :  Pensar  minuciosa- 
mente, considerar  por  miúdo. 

—  Trilhar  as  vias  da  virtude ;  seguir 
a  carreira  d'ella. 

TRILHO,  s.  m.  Madeiro  grosso  que  se 
roja  pelos  bois,  sobre  o  trigo,  para  o  de- 
bulhar das  espigas. 

—  Instrumento  de  bater  a  qualhada 
para  queijar. 

—  Figuradamente :  O  trilho  perpetuo 
da  humana  prole. 

Cri,  que  para  aturar  trilho  perpétuo 
Da  humana  pri^le,  abrio  louga  avenida, 
Três  milhas  cento,  por  Appulioa  Montes, 
Costeando  o  Golphào  Xeápoli,  e  paugagens 
De  Anxur,  de  Alba,  e  Campinas  do  alta  Boma. 

F.    M.   DO  NASCIMENTO,  08  MABIYBES,  1ÍV.   4. 


820 


TKIM 


TRIN 


TilLN 


luz. 


tíeguLr 


trilho     dtí    sobri- humana 


Tu  sou»  vi)03  dirigo  aos  ("ros,  il  Torra  : 
])c!  sobrliuinana  luz  8CguiiiJo  o  Irillio, 
Verei  da  Natureza  aa  IcU,  o  quadro. 

k-AruiiKZA,  cant.  1. 


DK   UACRDO, 


—  Figuradaiiicnte :    <>  trilho   da    ver- 
dade. 


Quanto  do  trilho  da  verdade  aberra, 
Quando  busca  a  verdade  o  Iminaiio  engenho  ! 
Incotnbustivel  julga,  c  ardonto  pedra 
O  luminoso  Sol !  Quo  mais  agora 
Descobre  alli  de  Astrúnouios  a  turba  ? 

J.   A.   DK  MACEDO,  VIAGKJI  KXTATICA,  Cant.   2. 

—  Abrir  o  trilho  no  mar. 


Ao  denodado  navegante  mostras 
Tl'  alli  nào  vistos  Astros,  c  com  elles 
Abre  o  trilho  no  mar.  Por  elle,  oh  Gama, 
Tu  puderas  mcUior  o  aspecto  horrendo 
Ilir  ver  d'Adama3tor,  som  que  tào  fcraa 
Arrostasses  horrisonas  tormentas 
Sobre  as  adustas  praias  Africanas. 

J.  A.  DK  MACEDO,  A  KATUREZA,  Cant.  1. 

TRILHOADA,  s.  f.— Lavrar  com  tri- 

Ihoada;  iliz-,<o  em  opposiç.ào  a  lavrar  com 
charruas,  c  arados;  é  servi^'0  de  lavra- 
dor. 

TRILICE,  adj.  2  (jen.  De  três  liços. 

TRILINGUE,  adj.  2  gen.  (Do  latim  tri- 
liii(juií!,  de  três,  e  língua^.  Que  está  em 
três  liiifruas. 

- —  Qiif  tem  três  liiifruas. 

TRILLIÃO,  s.   m.   Mil  bilhões. 

TRILOBADO,  A,  a<lj.  Termo  de  bota- 
niea.   l)iviliilo  em  três  lóbulos. 

I  TRILOCULAR,  adj.  2  gen.  Que  estil 
diviJidci  (Mil  ti'es  loeulos  interiormente. 

TRIMENSAL,  adj.  2  gen.  Que  se  íax 
ou  dá  cada  quai'tel  do  anno,  ou  nos  tri- 
mestres. 

TRIMEROS,  s.  m.  phir.  (Do  prego  treis, 
e  meros).  Termo  de  entomologia.  Sub- 
ordem  de  insectos  coleopteros,  que  tem 
só  trcs  ai'ticulos  em  todos  os  tarsos. 

TRIMESTRE,  s.  m.  (Do  latim  trimes- 
tris).  Espaço  de  ti"es  mezes. —  O  jyrimei- 
ro,  o  segando  trimestre  do  anno.  —  Pa- 
gar por  trimestre. 

—  Tudo  o  que  se  paga  ou  que  se  re- 
cebe no  fim  de  cada  trimestre.  —  Ainda 
não  1-ecebeu  o  .vru  trimestre. 

i  TRIMETRICO,  A,  adj.  Termo  de  mi- 
neralogia. Nome  dado  ás  fórnuis  crvstal- 
linas  que  se  podem  referir  a  um  systema 
d'eixiis  110  numero  de  três. 

TRIMETRO,  s.  m.  A^^erso  jambieo  de  três 
pés. 

— Adj.  Termo  de  prosódia.  Que  ê  eom- 
})osto  de  trcs  metros.  —  Um  verso  trime- 
tro. 

t  TRIMORPHISMO,  s.  m.  Estado  de 
uma  substancia  trimorpha. 


t  TRIMORPHO,  A,  adj.  Termo  do  mi- 
ueralo;,'i.i.  l)i/,-s<;  da.-j  substancias  que  po- 
dem dar  cry.staes  pijrtenceutes  a  três  sys- 
temas  dirterente»,  ou  a  um  mesmo  sys- 
tema ;  ma»  com  taes  differonças  d'angu- 
los  que  He  uiío  saiba  derival-os  de  uma 
fi')rma  t'im'!aiiicntal. 

TRINADO,  A,  adj.  —  Voz  trinada  ;  voz 
que  canta  trinando. 

—  tí.  in.  —  Um  trinado. 

TRINAR,  V.  n.  Oar^antear,  fazer  um 
som  trenmlo  liarmonioso  cantando,  ou  fe- 
rindo o  instrumento. 

—  Termo  de  astrologia.  Apparecer  o 
a.^tro,  e  influir  com  aspecto  trino  ou 
trigono. 

—  V.  a.  Figuradamente :  Modular, 
cantar  com  harmonia,  —  Trinar  louvo- 
res, etc. 

—  Trinar  a  ave  seus  amores,  seus  quei- 
xumes. 

TRINCA,  .«f.  /.  Termo  de  marinha.  Vol- 
ta do  um  cabo  que  vem  fazer  fixo  no  ta- 
Ibamar  e  atraca  fortemente  o  gurupés 
com  a  roda  de  proa,  dando  voltas  con- 
secutivas por  cima  d'elle  e  pela  clara 
das  perchas  e  da  trinca. 

—  Dar  uma  trinca ;  dar  voltas  ou  re- 
ataduras  de  cabo,  para  segurar  ou  fixar 
alguma  peça  no  navio. 

—  Fõr  o  navio  á  trinca;  pôl-o  com  a 
proa  ao  vento,  com  as  veias   levantadas. 

—  Na  garatusa,  sào  trcs  cartas  do  mes- 
mo valor. 

—  Trinca  da  jóia;  é  um  cabo  que  ser- 
ve para  atracar  a  garganta  da  peça  con- 
tra o  voriru  in». 

TRINCADEIRA,  adj.  f.  —  Uva  trin- 
cadeira  ;  rabo  ile  lebre. 

1.)  TRINCADO,  iiart.  j/ass.  de  Trin- 
car. 

—  Tahoado  trincado  ;  taboado  breado, 
calafetado. 

—  Figui-adamente:  Trincado  de  mali- 
cia;  forrado,  e  calafetado  d'ella. 

2.)  TRINCADO,  A,  adj.  Sabido,  de  jui- 
zo  tino. 

TRINCAFIADO,  A,  adj.  (Do  francez 
tranche  filé  I.  ('osido  com  trincafio. 

TRINCAFIAR,  f.  a.  Termo  de  mari- 
nha. Amarrar  com  trincafio,  dar  meias 
voltas  de  longe  em  longe  sobre  o  forro,, 
a  fim  de  se  conservar  firme. 

—  Passar  muitas  voltas  de  cabo  delga- 
do por  outros  grossos  já  amarrados  a 
qualquer  objecto,  jjara  que  este  nào  pos- 
sa sair  fira  da  mesma  amarradura. 

TRINCAFIO,  s.  m.  Cabinho  delgado  de 
fio  branco  ou  aleatroailo,  com  que  se  trin- 
c.ifia  qualquer  obra  de  marinheiro. 

—  Figuradamente :  Delgadeza  de  jui- 
zo,  geito,  e  arte,  destreza  de  juizo  as- 
tuto. 

— ■  T>OC.  POP. :  Levar  as  cousas  por 
trincafios. 

TRLNCAL.   Vid.  Tincal. 

TRINCALHOS,  s.  i;i.  plur.  Nas  ilhas 
dos  Açores,  o  mesmo  que  sinos. 


TRINCANIS,  ou  TRINCANIZ,  «.  m.  iDa 
francez  trim^neriíi).  Te  niwi  <le  marinlia. 
Parte  interior  da  nau  ao  pé  dos  embor- 
naes,  por  ondi;  corre  a  agua. 

TRINCAPAU,  adj.   2  gen.  Que  rie  pau. 

—  ò'.  /.  —  Trincapau,  ou  yhaUna  cos- 
sia ;  lagarta  que  vive  no  interif/r  do  pau 
do  salgueiro,  ulmo,  etc,  que  r<je,  depois 
de  os  haver  araollecido  com  um  liquido 
acre  qne  liic  t-áe  da  bocca. 

TRINC APINHAS,  s.  m.  Vid.  Cruzabico. 

TRINCAR,  V.  a.  Cortar  com  os  dentes, 
e  faziT  estalai-. 

-. —  Termo  de  marinlia.  Fazer  uma  for- 
te arroladura  á  maneira  da  trinca,  de  gu- 
rupés, tiincar-so  a  amarra,  cortar-se  con- 
tra qualquer  objecto. 

—  Trincar  o  peixe  a  scltlla ;  cortal-a, 
fazel-a  rebentar. 

—  Trincar  a  amarra;  cortal-a,  que- 
bral-a. 

—  Figuradamente :  Trincar  o  peixe  a 
sedella ;  deixar  em  branco,  levando  al- 
guma cousa  alheia,  eacapar-se.  Vid,  Se- 
della. 

—  V.  n.  Estalar  cortado  peloa  dentes. 

—  Rebentar. 

—  Trincar  por  alguma  linguagem ;  cor- 
tar, fallar  mal. 

TRINCHA,  »./.  Termo  antiquado.  Trin- 
cheira. 

—  Apara  delgada  como  a  que  se  tira 
com  trincha  ou  faca, 

—  Um  ferro  cortante  como  enxó,  com 
cabo  direito  também  de  ferro,  de  que  se 
servem  os  carpinteiros  f)ara  alimpar  bu- 
racos no  meio  das  peças  dos  carros,  etc. 

TRINCHADO,  part.  pass.  de  Trinchar. 
Cortado  no  trincho, 

—  Figuradamente :  Trinchado  dat  mãos 
dos  inirnii/us. 

TRINCHANTE,  s.  m.  Official  de  casa 
nobre,  que  corta,  e  triucua  o  comer,  e 
o  distribuo  aos  que  estilo  na  mesa.  — 
«Trinchante  D.  António  Alvares  da  Cu- 
nha Senhor  de  Taboa,  e  para  Sumilher 
da  Cortina  D.  Joaõ  de  Sousa^  qne  foi 
Bispo  do  Porto,  e  Arcebispo  de  Braga, 
e  ultimamente  de  Lisboa,  e  Conselheiro 
de  Estado ;  Escrivão  da  Cozinha  Baltha- 
zar  Rebello;  doze  Moços  da  Camará,  de- 
zoito Reposteiros,  e  todos  os  mais  OfB- 
ciaes,  de  que  se  compõem  huma  Casa 
Real.u  Fr.  Bernardo  de  Brito,  Elogios 
dos  reis  de  Portugal,  continuados  por  D. 
José  Barbosa. 

—  Ha  também  trinchante-/n(>r  na  ca- 
sa real.  Viil.   Trinchão. 

TRINCHÃO,  s.  );i.  Trinchante,  instru- 
mento de  trinchar. 

—  Angmentativo  de  Trincho,  Instru- 
mento de  carpinteiro. 

TRINCHAR,  1-.  a.  Cortar  o  comer  com 
trincho,  ou  sem  elle. 

—  T''.  ;».  Fazer  o  oflScio  de  trinchante. 

—  Entre  alfaiates,  dar  cortes  no  alto 
da  bainha    para  qne  assente  bera. 

TRINCHÈA,  #.  /.  Vid.  Trincheira. 


TRIK 


TRIN 


TRIN 


821 


TRINCHEIRA,  s.  /.  (Do  francez  tran- 
chéei.  Fosso  que  os  cerca Jores  fazem 
para  chegarem  cobertos  ao  pé  do  muro 
da  praça  sitiada ;  talvez  se  faa  levantan- 
do terra,  que  com  sua  altura  defenda  o 
corpo  do  combatente  dos  tiros  ou  golpes 
do  inimigo;  ou  de  saccos  de  terra,  sal- 
chichas,  etc.  —  «Não  tinha  o  lugar  de- 
fensa de  muros,  ou  trincheiras,  assegu- 
rados seus  habitadores,  ou  na  grandeza 
de  seu  Senhor,  ou  na  paz  dos  Trincipes 
visinhos;  porém  ao  presente,  como  a 
guerra  que  fazíamos  ao  Hidalcão  come- 
çou por  vict<5rias,  vírào  os  Mouros  seu 
perigo  em  seus  mesmos  exemplos :  assim 
trouxerão  para  defender  a  Cidade  dous 
mil  soldados  pagos,  que  com  a  milícia  da 
terra  fizerào  número  bastante  a  defeu- 
dellos,  conformo  ao  seu  discurso.»  Jaciu- 
tho  Freire  d' Andrade,  Vida  de  D.  João 
de  Castro,  liv.  1.  —  tE  marchando  duas 
legoas  de  Goa,  avistou  o  inimigo,  que 
alojado  ao  pé  de  huma  serra,  tendo  na 
frente  hum  rio,  que  lhe  servia  de  cava, 
e  de  trincheira,  com  as  vantagens  do 
número,  e  do  sitio,  esperou  aos  nossos, 
que  ainda  que  cansados  da  marcha,  co- 
brando novo  alento,  ou  com  a  presenç-a 
do  Governador,  ou  com  a  vista  do  inimi- 
go, começarão  a  passar  o  rio  com  mais 
resolução  que  disciplina.»  Ibidem. 

—  Trincheira  da  borda ;  parapeito  que 
se  forma  sobre  a  borda  dos  navios  com 
pilares  e  redes  por  fora  e  por  dentro,  pa- 
ra entre  ellas  metter  objectos  como  ma- 
cas da  guarnição,  etc. ;  nos  combates  na- 
vaes  também  se  usa  encner  este  vào  com 
cortiça  ou  algodão,  a  fim  de  obstar  ao 
estrago  da  mosquetaria. 

—  As  trincheiras ;  as  queixadas,  e 
dentes. 

TRINCHEIRADO,  part.  pass.  de  Trin- 
cheirar. 

TRINCHEIRAR,  r.  a.  Abrir  trincheira, 
e  fortificar,  ou  cobrir-se  cora  cila. 

TRINCHEiaiNHA,  s.  /.  Diminutivo  de 
Trincheira.   Trincheira  pequena. 

TRINCHETE,  s.  in.  (Do  francez  tran- 
chei). Faca  própria  do  sapateiro. 

TRINCHO,  s.  m.  Prato  sobre  que  se 
trincha  o  comer;  ordinariamente  era  de 
pau. 

—  A  taboa  de  baixo  onde  se  põe  a  mas- 
sa do  queijo,  apertada  pelo  cincho. 

—  A  parte  por  onde  se  corta  facilmen- 
te a  ave,  etc;  d'aqui :  saber  o  trincho 
ás  viandas. 

— -Escudella  de  pau. 

TRINCO,  s.  m.  Som  que  se  faz  aper- 
tando as  cabeças  dos  dedos  pollegar  e 
maior,  deixando  cair  o  maior  sobre  a  pal- 
ma da  mão. 

—  Sonido  como  de  trinco. 
TRINCOLHOS  BRINCOLHOS,  s.  vi.  plur. 

Termo  popular.  Brincos  de  meninos,  fran- 
dulager.s. 

TRINDADE,  s.  /.  (Do  latim  trinitas). 
A   união  de   três   pessoas    distinctas   em 


uma  unidade,  ou  em  uma  só  Divindade ; 
é  mvsterio  de  fé. 


Que  sam  muito  ledo  e  muito  contente, 

Porque  a.  verdade  he  a  mesma  Trindadt 

Verdadeiramente. 

E  pois  eu  sam  voz  de  nosso  Senhor, 

Se  eu  a  calar,  quem  na  ha  de  dizer "? 

As  otFeusas  de  Deos  quem  as  ha  do  soffrer  ? 

Mas  clame  em  deserto  qualquer  pregador. 

GIL  VICEHTE,  AUTO  DA  HISTORIA  DE  DEUS. 


—  Um  SÓ  Deus  em  três  pessoas,  o  Pa- 
dre, o  Filho,  e  o  Espirito  Santo. 

—  O  primeiro  domingo  que  se  segue 
ao  Pentecostes.  —  A  festa,  o  dia  da 
Trindade. 

—  Tocar  as  Trindades ;  tocar  as  Ave- 
ilarias,  á  tardinha. 

TRINERVEO,  A,  adj.  Termo  de  botâ- 
nica. Que  otierece  três  nervuras,  fallan- 
do  de  uma  folha. 

TRINITARIO,  A,  s.  e  adj.  (Do  latim 
irinitarius).  Diz-se,  em  geral,  daquelles 
que  crêem  na  existência  de  três  pessoas 
em  Deus. 

—  Particularmente  applica-se  a  certos 
sectários,  cujas  opiniões  sobre  a  Trindade 
não  eram  orthodoxas. 

—  Religioso  de  uma  ordem  fundada 
por  S.  João  da  Matta  no  decimo  terceiro 
século,  e  chamada  outr'ora  a  ordem  da 
liedempção  dos  captivos. 

TRINO,  A,  adj.  (Do  latim  frinus).  Diz- 
se  de  Deus,  considerado  na  Trindade. — 
Deus,  trino  em  pi^^^oas, 

—  Aspecto  trino.  Vid.  Trigono. 

—  tí.  m.  plur.  Os  frades  da  ordem  da 
Trindade. 

—  â.  f.  plur.  As  freiras  da  ordem 
da  Trimlade. 

TRINOMINO,  A,  adj.  (Do  latim  três,  e 
nomen).  Termo  de  poesia.  Que  tem  três 
nomes,  ou  é  conhecido  por  três  denomi- 
nações. 

TRINOMIO,    A,    adj.    De    três    nomes. 

TRINQUE,  s.  m.  O  cabide  em  que  os 
aljubeteiros  expunham  á  venda  o  fato 
feito. 

—  Uma  capa,  ou  outro  vestido  novo  do 
trinque;  que  ainda  não  se  usou  vez  ne- 
nhuma. 

TRINQUETA,  s.  f.  Vid.  Tranqueta. 

TRINQUETE,  s.  m.  Mastro,  e  vela  de 
proa  de  uma  galera. 

TRINSAR,  s.  m.  (Do  latim  trinso).  O 
chiar  da  andorinha. 

TRINTA,  adj.  num.  card.  2  gen.  Três 
vezes  dez,  numero  existente  entre  vinte 
e  nove  e  trinta  e  um. 


Hão  mister,  filha,  curados  ; 
beoza-te  Deos !  tal  imagem 
de  filha  se  apaga  ora, 
antes  me  suena  senhora 
de  trinta  maridos. 

Lagem 
sobre  tal  ■í-iuva. 

ASIOSIO  PEE3TES,  AUTOS,  pag.  481. 


—  «E  assi  presos  como  hiamos  de  ties 
em  três  nos  meterão  em  huma  prisaõ  que 
se  chamava  Gofanjauserca,  na  qual  de 
boa  entrada  nos  derào  logo  a  cada  hum 
trinta  açoutes,  de  que  alguns  dias  esti- ' 
vemos  bem  mal  tratados.»  Fernão  Men- 
des Pinto,  Peregrinações,  cap.  100. — 
lE  tomandouos  ás  mãos,  nos  deraõ  logo 
a  cada  hum  trinta  açoutes,  de  que  fica- 
mos mais  sangrados  que  das  feridas,  e 
nos  levarão  a  huma  mazmorra  que  esta- 
va debaixo  do  chaõ,  onde  nos  tiverão 
quarenta  e  seis  dias  com  grilhoens  nos 
peis,  algemas  nas  maõs,  e  colares  nos 
pescoços,  com  que  passamos  assaz  de 
trabalho.!)  Ibidem,  cap.  llõ.  —  t Partin- 
do daquy,  seguimos  por  este  esteyro  aci- 
ma mais  onze  dias,  em  todos  os  quais 
não  achamos  nem  vimos  lugar  nenhum 
que  fosse  notável,  senão  somente  aldeãs 
pequenas  de  casas  de  palha,  povoadas  de 
gente  pobríssima,  e  nos  campos  avia  in- 
finidade de  gado  vacum,  que,  segundo 
parecia,  não  tinha  dono,  porque  matáva- 
mos peraute  os  da  terra  vinte  e  trinta 
cabeças  cada  dia,  sem  aver  quem  nos 
fosse  á  mão,  nem  nos  dissesse  palavra 
nenhuma,  mas  antes  em  partes  nollò  tra- 
zião  de  graça,  como  que  folgavão  de  o 
matarem.»  Ibidem,  cap.  Iõ8.  —  a  O  mais 
seguro  deste  caminho,  he  fazelo  pelas 
dez,  que  ficâo  no  meyo  das  trinta;  nas 
quaes  tem  fundo  de  vinte  cinco  braças 
atè  corenta.  Por  ellas  se  pode  caminhar 
de  noyte.  Mas  nas  outras  dez  que  ficào 
de  cada  parte  ao  logo  da  terra,  iuda  que 
tem  de  oyío  atè  doze  de  fundo,  ha  cõ 
tudo  ueliss  bayxos  perigosos.»  Frei  Gas- 
par de  S.  Bernardino,  Itinerário  da  ín- 
dia, cap.  8.  —  «Assentado  isto,  puzeraõ 
em  cima  as  armas,  e  todos  os  mantimen- 
tos, pólvora,  e  roupas,  e  logo  se  embar- 
cou Manoel  de  Sousa  no  batel  com  sua 
mulher,  e  filhos,  e  perto  de  trinta  pes- 
soas principaes,  em  que  eutravaò  Pauta- 
leaõ  de  Sà,  Tristão  de  Sousa,  Amador  de 
Sousa,  Diogo  Mendes  Dourado  de  Setu- 
val,  Balthazar  de  Siqueira,  e  outros,  e 
com  algumas  espingardas,  e  armas  se  pu- 
zeraõ em  terra,  e  tornou  o  batel  a  des- 
embarcar os  mais.»  Diogo  de  Couto,  Dé- 
cada 6,  liv.  9,  cap.  22.  —  «De  maneira 
que  nesta  entrada  lhe  mataram  treze  ho- 
mens de  pe,  e  de  caualo,  e  dezasete  ca- 
ualos  afora  mais  trinta  que  mandou  ma- 
tar em  tornando,  que  de  cançados  nam 
podião  ir  adiante,  por  nam  ficarem  aos 
Mouros,  aliem  do  que  foi  constrangido 
de  deixar  toda  a  caualgada,  carriagem,  e 
azemalas,  em  que  leuauam  o  alforge,  e 
outras  cousas  necessárias.»  Damião  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part,  3, 
cap.  13. —  «Parecendoliies  que  Hagama- 
med,  com  todas  suas  trinta  fustas  lhe  nam 
fezeram  nenhum  damno,  e  desta  manei- 
ra esteue  ancorado  ate  horas  de  vespora, 
que  começou  ha  viraçam  com  que  se  foi 
a  nao   sam   Denis  dar  conta  ao  gouerna- 


822 


TllIN 


TRIN 


TBIN 


dor  Diopo  lopoz  <lo  que  fozera,  e  'lo 
qiiam  dcstrorado  iicaua. »  Ibidem,  jiart. 
4,  ciip.  7;5.  —  «C^iio  cbouoiauí  taiitau  ho- 
broUoM,  que  j)oro  de  qucirofl  tiiilia  na  sua 
adarga  prcRudas  vinte  Miite  IVcclias,  o 
Kmanuol  da  cunha  vinte  cinco,  e  lioí  ou- 
tros* pelo  HCíiiiinte,  ao  redor  do  Ijaluarte 
acharam  trinta  dos  íiiií;,'-oh  nioito.s,  quo 
OH  no.snos  mataram  delbndeiidolhc  a  en- 
trada, do  que  os  mais  tinhaõ  vestidas  ca- 
baias do  soda,  o  chauialoto.»  Ibidem, 
cap.  74. 

—  Trinta  cruzados.  —  »E  do  levarem 
delias  té  o  porto  do  Jiidá  huina  náo,  le- 
vam vinte  o  cinco  tó  trinta  cruzados,  e 
navepam  e-ito  mar  com  dous  ventos  j^-e- 
rac.s,  ({110  s5o  Levante,  e  Poiiente;  e 
quando  não  são  mui  tendentes,  veiitam 
alguns  terrenhos,  e  porém  poucas  vezes.» 
Barros,  Década  2,  liv.  8,  cap.  1. 

—  Por  mais  de  trinta  dúis ;  por  espa- 
ço de  maia  de  trinta  dias.  —  «As  llostia- 
rias  chamadas  do  Bode,  e  da  Afjuia,  e 
outras  muitas  cazas  grandes  da  Cidade 
ficílrão  alagadas,  e  cercadas  do  agoa  por 
mais  do  trinta  dias.»  (Javalleiro  d'Oli- 
veira^  Cartas,  liv.  1,  n."  23, 

—  Trinta  «  seis  dias ;  por  espaço  de 
trinta  o  seis  dias,  —  t Porque  despois  quo 
o  Necodil  e  os  mercadores  foraõ  desterra- 
dos peia  maneyra  que  tenho  dito,  me  pas- 
sarão logo  a  outra  prisaõ  mais  apertada, 
na  qual  me  tiveraõ  trinta  e  seis  dias  car- 
regado de  forros  com  assaz  de  aspereza  e 
crueldade.»  l"\írnão  Mendes  Pinto,  Pere- 
grinações,  cap.  ITiS. 

—  Trinta  vtilhZes;  numero  correspon- 
dente a  cento  e  vinto  milhões  tle  contos 
de  reis.  —  «Se  tivera  de  reserva  os  vin- 
te, on  trinta  milhoens,  quo  gjvstou  nas 
superiluidades  do  (ialinheiro;  ou  se  se 
deixara  estar  nas  mãos  de  seus  vassallos, 
outro  galo  lhe  cantara,  e  naõ  os  achara 
todos  galinhas,  quando  lho  sorvia  serem 
Leoens;  titulo,  e  nomeada,  do  que  so 
prézão.»  Arte  de  furtar,  cap.  õl, 

—  tSupreiHo  presidente  da  casa  dos  trin- 
ta e  doiis.  —  <i  Eu  polo  poder,  e  autorida- 
de que  tenho  do  Aytaõ  da  liatampina, 
supremo  presidente  da  casa  dos  trinta  e 
dous  da  gente  estrangoyra,  em  cujo  pey- 
to  se  encerra  o  segredo  do  I^aõ  coroado 
no  ttirono  do  Mundo,  vos  admoesto,  c 
mando  da  sua  ])art6  quo  me  digais  quo 
gente  soia,  e  o  nome  da  terra  em  que  na- 
cestes,  e  so  tendes  Rey  -que  por  serviço 
de  Deos,  o  pela  obrigação  do  cargo  que 
tem  se  inclino  aos  pobres,  e  lhes  guarde 
inteyramente  sua  Justiça,  por  que  naõ 
clamem  com  as  mãos  levantadas,  o  com 
lagrimas  dos  seus  olhos  ao  Senlior  tia  for- 
mosa pintura,  de  cujos  santos  pés  saõ  al- 
parcas todos  limpos,  quo  com  cllo  Rev- 
lutõ.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.   100. 

—  Trinta  ilo  cavnJío;  diz-so  de  homens 
cavalleiros,  em  opposição  a  trinta  de  pé. 
—  u  E  logo  no  mes  Dagosto  mandou  An- 


tónio gonçaluoz  correr  o  campo  com  trin- 
ta lie  cauallo,  o  a  .Mugurez  seÍH  lego;m 
da  cidade  achou  huns  mouros  do  pc  com 
que  pelejou  per  hum  bom  espaço.»  Da- 
mião lie  Moes,  Chrouica  de  D.  Manoel, 
part.  4,  cap,  'áO. 

—  Trinta  e  quatro;  numero  cxi-ituntc 
cnti'e  trinta  e  trcs  c  trinta  e  cinco.  — 
o  Aliem  destas  o  acouipauhauaô  trinta,  c 
([uatro  fusta»  dobaixo  da  bandeira  de  Mi- 
liquias  capitão,  o  gouornador  da  cidade 
do  Dio,  por  el  Rei  de  Cambaia,  todas 
nuiito  artilliadaa,  e  bem  esquipadas,  o  as 
velas  do  tíoldaò  dauentajem,  porque  tra- 
ziam muita,  e  grossa  artelhai'ia  de  bron- 
co, o  bo:i  g(!nte  deguorra,  em  que  entra- 
vão  alguns  Cliristãos  Lcuantiscos,  e  Ita- 
lianos, 03  mais  delies  homens  do  mar.» 
Damião  de  (iocs,  Chronica  de  D.  Ma- 
noel, part.  3,  cap.  20. 

—  Mil  e  quatrocentos  e  trinta  e  seis 
annos ;  era  inferior  a  mil  e  quatrocentos  e 
trinta  e  sete,  e  sujierior  a  mil  c  quatro- 
centos c  trinta  e  cinco,  —  aE  depGse  o 
que  devia  da  moeda  antiga,  ou  nova,  que 
se  fez  ataa  primeiro  dia  de  .Janc.Li-o  da  Era 
de  mil  quatrocentos  e  vinto  o  quatro 
annos,  per  as  moedas  novas,  que  se  íize- 
rom  dós  primeiro  dia  do  Janeiro  da  Era 
de  mil  c  quatrocentos  trinta  annos,  ataa 
primoiro  dia  de  Janeiro  da  Era  de  mil 
quatrocentos  e  trinta  e  seis  annos,  a  cin- 
quo  libras  por  huma,  segundo  era  con- 
theudo  na  T>ey  de  ciuquo  por  huã  sobre 
esto  feita.»  Ord.  Affons.,liv.  4,  tit.  1,  §9. 

—  Trinta  mil  reis;  seis  moedas  com 
mil  e  duzentos  reis.  —  «Hum  Francisco 
da  Cunha  das  ilhas  terceyraa  chegou  a 
elle,  e  disselhe,  que  polias  cinco  chagas 
de  lesu  Cliristo  lhe  fizesse  alguma  mer- 
cê, que  era  lidalgo,  e  muyto  pobre,  e  el 
Rev  lhe  mandou  com  niuyta  pressa  fazer 
hum  paihão  de  trinta  mil  reis  de  tensa, 
e  o  assinou,  e  disse-lho  que  tomasse  a 
prata  que  na  casa  estaua,  que  não  tinha 
ja  que  liio  dar,  o  em  o  outro  se  sayndo 
disse  el  Rev.ii  (-tareia  de  Rezende,  Chro- 
nica de  D.  João  II,   cap.  212. 

—  Piaiir  trinta  arraieis;  ter  o  poso  de 
trinta  arráteis.  —  «Acharam-so  nestas 
duas  nãos  algumas  cousas  de  preço,  en- 
tre as  qnaes  iiania  iium  idolo  douro  que 
pesaua  trinta  arráteis,  de  figura  nmito 
monstruosa  que  tinha  por  olhos  duas  ri- 
cas esmeraldas,  cuberto  de  hum  manteo 
d'ouro  de  niartello,  bordado  de  pedraria, 
com  hum  robi  nos  peitos  do  tamaiího  da 
roda  de  hum  cruzado.  Despejadas  as 
nãos,  dom  Vasquo  lhes  mandou  poer  o 
fogo,  que  so  ateou  de  modo  que  todas  ar- 
deram a  vista  da  frota.»  Damião  de 
(iocs,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1, 
cap.  (,)9. 

—  Mil  e  quatrocentos  e  trinta  e  ires 
annos;  era  anterior  a  mil  e  quatrocentos 
e  trinta  e  quatro.  —  «  Dante  em  Tentúgal 
a  quinze  dias  de  Junho.  ElRey  o  man- 
dou, Álvaro  Gonçalves  a  fez  Era  de  mil 


e  quatrocentos   c    trinta  e  tre»  annoe.» 
Ord.  Affons.,  liv.  4,  lii.  4,  §  11, 

—  Trinta  Ul/rru;  numero  equivalente 
a  cento  e  Irinta  e  cinco  mil  rei».  —  «E 
que  se  a  dcUonder,  e  a  iioiii  quiser  letxar 
aa  justiça,  seja-liiu  ujiitada  cm  trintA  li- 
bras; o  se  for  acíiado  qac  a  traz  tnais  ao 
diante,  poia  segunda  vez  l>ague  cimjuoen- 
ta  mil  liljras;  e  se  ao  diante  qui«er  aeer 
portíoso,  coutem-Uie  a  be»ta  per  ecta  gui- 
sa das  cinquocnta  mil  librai,  e  façam-no- 
lo  a  saber.»  Ord.  Affons.,  liv.  G,  tit. 
119,  {?  24. 

—  O  òenejicit)  d'e$ia  lei  até  os  triata 
annos;  o  beneficio  dolla  até  á  idade  an- 
terior a  trinta  annos.  —  «E  disserom  OB 
Direitos,  que  nom  embargante,  que  al- 
guma cou-^a  fosse  vendida  per  mandado 
da  Justi(;a  com  pregom  om  praça  acu»- 
tumada,  se  hy  dcsjjois  for  achado,  que 
alí;unia  das  partes  foi  enganada  na  ven- 
da ou  compra  aaiem  da  meetade  do  Jus- 
to ]ireço,  bem  poderá  desfazella  polo  be- 
neficio desta  Lei  ataa  os  trinta  annos, 
como  dito  hc.»  Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit. 
45,  §  10. 

—  Mil  e  quatrocentos  e  trinta  o  cinco 
annos ;  era  anterior  a  mil  e  quatrocentos 
e  trinta  e  seis.  —  «Dante  em  a  nossa  di- 
ta Cidade  d'£vora  a  dezoito  dias  de  Mar- 
ço. Affonso  de  Beja  a  fez  Era  de  mil  e 
(juatrocentos  e  trinta  e  cinco  annos.» 
Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit.  21,  §  5. 

—  Trinta  e  cinco  soldculo»;  numero  in- 
ferior a  trinta  e  seis. —  (Mandou  D.  Ál- 
varo governar  a  Xael,  e  surgindo  á  vis- 
ta do  castello,  os  Fartaques  temerosos, 
ou  amigos,  recebêrJlo  como  de  paz  a  ar- 
mada. Era  o  Forte  fal)ricado  do  adobes, 
com  quatro  cobellos  tíío  pequenos,  que 
basta  vão  para  o  guarnecer  trinta  e  cin- 
co soldados,  que  o  preaidiavlo. »  Jacin- 
tlio  íVeire  de  Andrade,  Vida  de  D.  João 
de  Castro,  liv.  4. 

—  A  idade  de  trinta  e  cinco  annos. — 
«Houve  mais  a  Infante  D.  Maria,  qne 
morreo  menina;  o  Infante  D.  António, 
que  viveo  poucos  dias,  e  de  seu  parto 
ficou  a  Rainha  tito  enferma,  que  morreo 
dahi  a  pouco  te.mpo  em  idado  do  trinta 
e  cinco  annos.»  Frei  Bernardi>  de  Brito, 
Elogios  dos  reis  de  Portugal,  coutiniui- 
dos  por  D.  José  Barbosa. 

—  Trinta  e  cinco  legoas.  —  « Estaua 
ne,ste  tempo  no  Porto  do  Escandarona, 
quo  fica  trinta  c  cinco  legoas  de  Alep- 
po,  huma  fermosissima  nao  Veneziana 
de  caminho  pêra  Cliypre.  O  Guardi.ío  se 
concertou  com  o  Capitão  delia,  pcra  nos 
levar  a  esta  Ilha,  e  depois  pa.^^sannos  a 
lapho,  porto  de  terra  Sancta.»  Frei  Gas- 
par de  S.  Bernardino,  Itinerário  da  ín- 
dia, cap.  22. 

—  Jogo  de  cart-us  em  quo  ganha  ou 
empata  quem  faz  trinta,  ou  fica  cm  pon- 
to mais  próximo  a  elles  que  o  do  contra- 
rio:  hoje  em  logar  de  trinta  é  trinta  e 
um. 


TRIP 


TRIP 


TRIS 


823 


—  Adagio  e  provérbio  : 

—  Quem  de  trinta  não  pôde,  e  de 
(juarenta  não  sabe,  e  de  clncoenta  u<ão 
tem,  níio  [.(''ide,  não  sabe,  nem  tem. 

TRINTAGESIMO,  A,  aJj.  Que  se  se- 
gue ao  vijíesimo  nono. 

TRINTAIRO.  Vid.  Trintario. 

TRINTARIO,  s.  m.  Termo  antiquado. 
Exéquias  que  se  faziam  aos  trinta  dias 
depois  da  morte. 

—  Um  trintario  de  missas ;  triuta 
missas  ditas  successi vãmente,  ou  talvez 
no  mesmo  dia. 

— ■  lr-s6  chegando  para  o  trintario  ;  es- 
tar íi  morrer. 

TRINTAVO,  A,  adj.  Diz-se  de  qualquer 
das  partes  de  uma  cousa  dividida  em 
trinta  partes. 

TRINTENA,  s.  /.  (Do  francez  treiítai- 
ne).  r^  parte;  era  o  imposto  ordinário 
nas   portagens  dos  rios. 

TRIO,  s.  m.  Termo  de  musica.  Com- 
posição de  três  partes.  —  Executar  um 
trio. 

—  A  segunda  parte  de  uma  walsa,  de 
uma  polka. 

—  Figuradamente  :  Reunião  de  três 
pessoas. 

TRIOICIA,  s.  7)1.  (Do  grego  treis,  e 
oikia).  Termo  de  botânica.  A  terceira 
ordem  da  vigésima  terceira  classe  no  sys- 
tema  de  Linneu,  o  qual  comprehende  as 
plantas  que  sobre  três  indivíduos  da 
mesma  espécie,  o  primeiro  tem  flores  hcr- 
maplu'odita8,  o  segundo  flores  maclias,  e 
o  terceiro  flores  fêmeas. 

TRIPA,  s.  /.  (Do  francez  tripé).  In- 
testino do  animal.  —  «Nos  porcos,  huns 
tratão  em  os  venderem  vivos  por  junto, 
outros  em  os  matarem,  e  os  venderem 
aos  arráteis,  outros  em  os  chacinarem,  e 
os  venilerem  de  fumo,  outros  em  vende- 
rem leitões  pequenos,  outros  nos  miúdos 
das  tripas,  e  banhas,  peis,  sangue,  e 
fressuras.B  Fernão  Mendes  Pinto,  Pere- 
grinações,  cap.  97. 

Quer-se  movir. 
Oh!  dizei,  bem  estreada. 
Minhas  tripas,  uâo  lia  uada 
que  não  seja  era  vos  servir. 
AKTONio  mr.sTKS,  AOTOs,  pag.  463. 

—  Termo  antiquado.  A  barriga. 

—  Panno  tecido  de  lã  e  linho,  felpu- 
do de  um  lado,  e  que  parece  velludo. 

—  Levar  as  tripas  na  mão ;  ir  com  o 
ventre  roto. 

—  Fazer  das  tripas  coração;  tirar  ani- 
mo da  fraqueza. 

—  Viajar  á  tripa  forra ;  viajar  sem 
fazer  gastos,  nem  despezas. 

—  Vomitar  as  tripas ;  ter  vómitos  ex- 
cessivos. 

— Plur.  Nome  dado,  na  cidade  do  Por- 
to, a  uma  certa  comida  composta  de  di- 
versas substancias,  taes  como  fressura, 
gallinha,  vacca,  carneiro,  cenouras,   etc. 


—  Adágios  e  provérbios: 

—  Tripa  cheia,  nem  fogo  nem  peleja. 

—  As  tripas  pelejam  no  ventre. 

—  As  tripas  estejam  cheias,  que  ellas 
levam  as  pernas. 

— •  Fazer  das  tripas   coração. 

TRIPAGEM,  s.  /.  Toda  a  reunião  de 
trijias. 

TRIPALHADA,  s.  /.  Multidão  de  tri- 
pas. 

TRIPARTIDO.  Vid.  Tripartito. 

TRIPARTITO,  A,  adj.  (Do  latim  tri- 
partitas).  Dividido  em  três  partes. 

TRIPARTIVEL,  adj.  2  gen.  Que  é  pos- 
sível dividir-se  em  três,  ou  que  se  divide 
naturalmente  em  três  partes. 

TRIPÉ,  s.  /.  Vid.  Tripa  (panno). 

TRIFEÇA,  s.  /.  Vid.  Trepeça. 

TRIPEIRO,  A,  s.  Pessoa  que  vcntle  tri- 
pas. 

—  Pessoa  que  se  serve  d'ellas  para 
seu  alimento. 

TRIPETALO,  A,  adj.  Termo  de  botâ- 
nica. Que  tem  três  pétalas. 

TRIPE-TREPE,  adv.  pop.  Pé  ante  pé, 
mansosliiho. 

TKIPHANE,  s.  /.  Substancia  mineral 
em  que  se  descobriu  o  lithio. 

TRIPHTHONGO,  s.  m.  Vid.  Tritougo. 

TRIPINHA,  s.  f.  Diminutivo  de  Tripa. 

TRIPLAR.  Vid".  Tripolar. 

—  Termo  de  arithmetica.  Tomar  a 
mesma  somnia  ires  vezes.  Vid.  Tresdo- 
iirar. 

TRIPLE,  adj.  2  gen.  Tríplice,  tripli- 
cado, furniailo  de  três. 

TRIPLICAÇÃO,  s.f.  Acto  de  dobrar  três 
vezes  um  numero  ou  quantidade. 

—  Multiplicação  por  três;  o  mesmo  nu- 
mero tiúplicado. 

TRIPLICADO,  part.  pass.  de  Triplicar. 
TRIPLICAR,  V.  a.  Triplar,  desdobrar. 

—  Figuradamente :  Multiplicar. 

—  Triplicar-se,  v.  reji.  Figuradamen- 
te :  JMultiplicar-se. 

TRIPLIGATA,  s.  /.   Terceira  copia. 
TRÍPLICE,   adj.  2  gen.  Triplicado. 

—  Termo  de  poesia.  Hecate,  a  lua. 
TRIPLICIDADE,  s.  f.  Termo  de  astro- 
logia. Aspecto  trino,  trigono. 

TRIPLO,   A,  adj.  Vid.  Triple. 

—  tí.  m.  Termo  pouco  èm  uso.  O  tres- 
dobro. 

TRIPÓ,  s.  m.  Trepeça,  divergindo  ape- 
nas em  ter  o  assento  de  sola,  e  os  três 
pés  unidos  em  um  si'i  eixo. 

TRIPODA,  ou  TRIPODE,  s.  /.  (Do  la- 
tim tripus).  Assento  de  três  pés,  trepe- 
ça d'onde  as  sacerdotizas  davam  respos- 
tas aos  que  consultavam  os  oráculos. 

—  Vaso  precioso  com  três  pés,  de  que 
os  antigos  faziam  presentes,  como  se  vê 
em  Homero  a  cada  passo. 

TRIPODO,  A,  adj.  Da  forma  de  tri- 
poda. 

TRIPOLAÇÃO,  s.  f.  Equipação  de  ma- 
rinheiro.-: e  soldados,  de  que  se  compOe 
a  guarnição  de  qualquer  navio. 


TRIPOLADO,   part.  pass.   de  Tripolar. 

Munido  do  tripolação.  • —  Armada    tripo- 
lada.  Vid.   Atripulado,  e  Esquipado. 
TRIPOLANTE,  part.    act.   de  Tripolar. 

—  tí.  m.  Homem  da  tripolação  do  na-  • 
vio. 

TRIPOLAR,  V.  a.  —  Tripolar  os  na- 
vios;  munil-os  de  tripolação;  esquipar. 

TRIPUDIADO,  part.  pass.  de  Tripu- 
diar. 

TRIPUDIANTE,  part.  act.  de  Tripu- 
diar. Que  dança,  baila,  batendo  com  os 
pés,  ou  liando  sapateadas. 

TRIPUDIAR,  V.  n.  (Do  latim  tripudia- 
re).  Baihir  batendo  com  os  pés  ou  dan- 
do sapateadas. 

TRIPUDIO,  s.  m.  (Do  latim  tripudium). 
Dança,  sapateada,  baile. 

TRIPULADO,  part.  pass.  de  Tripular. 
Vid.  Tripolado. 

TRIPULAÇÃO,  s.  f.  \\à.  Tripolação. 

TRIPULANTE,  part.  act.  de  Tripular. 
Vid.  Tripolante. 

TRIPULAR.  Vid.  Tripolar. 

TRIQUEBAL,  s.  m.  (Do  francez  trique- 
bale).  Termo  de  artilheria.  Carro  con- 
struído particularmente  para  o  transpor- 
te de  pesados  fardos  a  distancias  pouco 
afastai!  as. 

TRIQUESTROQUES,  s.  m.  plur.  Termo 
popular.  Adorno  de  palavras,  consistin- 
do em  trocados,  em  períodos  do  som  si- 
milhante,  etc. 

—  Confusãn  de  termos. 
TRIQUETE.   Termo   usado  n'esta   locu- 
ção :  ^1  cada  triquete ;  a  cada  passo. 

TRIQUETRAZ.  Vid.  Traquinas. 

TRIRAMOSO,  A,  adj.  Termo  de  botâ- 
nica. Que  tem  três  ramos. 

TRIREGNO,  s.  m.  O  senhorio  de  três 
reinos. 

—  O  triregno  do  Vaticano;  a  tiara 
do  papa,  em  que  ha  três  coroas. 

TRIREME,  s.  f.  (Do  latim  triremis). 
(jalé,  ou  antes  navio  da  três  ordens  de 
remos,  usado  dos  antigos  romanos. 

TRIS,  s.  m.  Termo  popular.  —  Esca- 
pou, por  um  tris  ;  escapou  por  um  nada. 

TRISAGÍO,  s.  m.  (Do  grego  trisagios). 
Canto  de  três  vezes  sanctus. 

—  Hynmo  em  honra  da  Trindade. 
TRISÀGO,  s.   m.   Termo    de  botânica. 

Planta,  espécie  de  carvalhinha. 

7  TRISANNUAL,  adj.  2  gen.  Que  du- 
ra trcs  nnnos.  —  Planta  trisannual. 

TRISARCHIA,  ou  TRISARQUIA,  «.  /. 
(Do  grego  treis,  e  arcK).  (iovorno  de 
três  chefes. 

TRISAVÔ,  s.  m.  Vid.   Tresavô. 

TRISAVÔ,  *.  /.  Vid.  Tresavó. 

TRISCA,  s.  /.  Rixa,  briga,  contenda 
travada. 

TRISCAR,  V.  a.  Ter  briga,  razões  com 
algucm;  contender  com  elle,  travessear, 
enredar. 

—  Ter  rixa. 

TRISECÇÃO,  s.  /.  Divisão  de  uma  cou- 
sa em  três  partes. 


824 


TRIS 


TRIS 


TRIS 


—  Tormo  de  geometria.  Divisão  oin 
tro8  pjirteM  ofíuncH. 

—  Termo  (Ic  i)otanic!v.  Principio  da 
trisecçAo ;  cauBii  iiicof,'iiita  que  faz  quo 
a  u(>ni|ioHÍ(;ito  (Ihh  ídIIius  su  touic  a»siui : 
as  folhas  tcnrloin  a  iliviílir-sc  por  trcn; 
quaiulo  um  iiiiil»)  so  divide,  ó  somprc  se- 
gundo uiti   iiitdtipio  de  treâ. 

f  TRISEPALO,  adj.  Termo  do  botâni- 
ca. l)iz-se  do  caiyx  que  ó  formado  de 
três   [wiras. 

TRISMEGISTO,  A,  wlj.  (Do  grego  í»-t«- 
mc<]'iilits\.  Tics  vezes  máximo. 

—  S'ibroiiomo  dado  pelos  gregos  ao 
mercúrio  ogypciaco  ou  liermes. 

TRISMO,  s.  »i.  Termo  do  medicina. 
Aperto  das  maxillas  jiela  contracyão  es- 
pasmódica dos  músculos  elevadores  da 
maxilla  iuÍL-rior,  de  maneira  quo  a  boc- 
ca  liqiie  for(;osaincnto  fechada. 

TRISNETÁ,   s.  f.  Vid.  Tresueta. 

TRISNETO,  5.  «1.  Vid.  Tresueto. 

TRISPERMO,  A,  adj.  Termo  do  botâ- 
nica. ^)nv  t''in  três  grilos. 

-j-  TRISPLANCHNICO,  A,  udj.  Termo 
de  anatomia.  Nervo  trisplanchuico ;  ner- 
vo chamado  i/rumU  ^i/m/ial/iico. 

TRISSYLLÁBO,  A,  adj.  De  três  sylla- 
bas.  —  Vncihuli)  trissyllabo. 

TRISTE,  adj.  2  (]en.  (Do  latim  tristis). 
Quo  tem  tristeza,  o  aflii(;à<),  u.io  conten- 
te, uào  alegre. 

El  andava  tríMe  mui  sru  sabor 
Como  quem  é  tão  coytailo  d'amor, 
E  pcrdudo  o  seu  c  a  colur. 

CANC.   DE  D.  DINIZ,  pag.   152. 

Que  nunca  se  vio  prazor, 
Scnào  (luando  nào  se  espera. 
E  iior  tanto  não  devia 
De  ter  trt'te  a  phautasia, 
Poi-quo  Vossa  Mercê  creia, 
Que  o  pr.azcr  sempre  salteia 
Quem  dclle  mais  desconfia. 

CAU,,   AMl'HliTlllÕES,  act.    1,  SC.    1. 

Meus  olhos,  que  vistes? 
Pois  vos  atrevestes, 
Chorae,  olhos  tristex, 
O  bum  que  perdestes. 

IDF.M,   UGDONDILU.VS. 


—  «jras  como  naquellas  cousas,  quo 
eram  do  sua  gloria,  fo.sso  mais  escassa 
que  i\a3  outras,  nunca  o  quiz  fazer.  Al- 
bayzar  se  partiu  tào  triste,  que  em  ne- 
nhum tempo  o  foi  mais  e  ás  três  jorna- 
das chegou  a  casa  delrei  Rociudos,  onde 
depois  de  se  presentar  a  elle  de  parte  de 
Miraguarda,  da  maneira  que  o  oUa  man- 
dilra,  tioou  em  sua  corto  todo  o  tempo 
que  Polendos  esteve  preso.»  Francisco 
de  Moraes,  Palmeirim  dTnglaterra,  cap. 
108.  —  «lAmaiu.iy  todas  as  vellas,  (juo 
nos  quebrou  o  lomc  pcllo  movo.  Fica- 
mos com  estas  palauras  tam  tristes,  c 
enfadados,  quo  cuyilo  fácil  cousa  scrà 
sentir,    quaes    neste    passo    ficaríamos.  » 


Fr.  Gaspar  de  S.  Bernardino,  Itinerário 
da  índia,  cap.  10.  —  «No  a»|)eito  do 
rosto  vinha  ti\o  triste  que  nào  avia  quem 
olhasse  para  elle  (|uo  puilesse  ter  as  la- 
grimas, era  de  idade  de  sessenta  e  dou» 
annos,  grando  du  corpo  c  bem  as8ond>ra- 
do,  os  olhos  cançados  o  tristes,  a  fiso- 
iiomia  grave  e  severa,  o  o  aspeito  de 
príncipe  generoso.»  FeriiSo  Mundos)  fin- 
to, Peregrinações,  cap.  IfjO.  —  «E  quan- 
do achou  hum  soo  filho  que  tinha,  quo 
criara  com  tanto  amor,  tanto  recoo,  tan- 
to contentamento,  por  ser  o  mais  singu- 
lar Piinciíic  (|ue  no  mundo  se  sabia,  cm 
que  so  cl  Roy  reuia,  o  queria  tilo  gran- 
de bem  que  hum  so  dia  nào  podia  estar 
sem  o  ver,  nem  tinim  outro  descanso, 
senão  sua  muyto  estimada  vista,  o  con- 
uersaçào,  ficou  cm  tilo  grande  citremo 
triste,  e  desconsolado,  'jue  se  d.Io  podia 
dizer,  nem  cuydar,  dizendo  sobre  o  li- 
Iho  tantas  lastimas,  o  palauras  de  tanta 
dor,  e  tristeza,  que  o  nTio  podia  ouuir 
ninguém  sem  muytas  o  tristes  lagriiua-<.» 
(íarcia  do  Rezende,  Chronica  de  D.  João 
II,  cap.  132. 

Este,  vendo  que  cm  vão  fora  a  passada 

Obra  da  luvoja  contra  a  Christãa  gente. 

Sondo  com  isto  iielle  então  dobr.ida 

A  fúria,  e  no  peito  o  odio  em  dobro  ardente, 

Coin  a  cabc(;a  baix&,  c  derrubada. 

Triste,  c  da  companhia  sempre  ausente. 

Imaginando  está  que  modo  tenha 

Com  quo  o  seu  ináo  iutcuto  a  effcito  venha. 

F.    D'ANnRADE,    PRIUEIRO  CEBCO  PE    niU,   Caut.  12, 

est.  78. 

Quo  esteja  triste  o  oontro  da  alegria ! 
Que  viva  na  espessura  a  flor  do  prado! 
E  com  barrete  cujo,  e  mal  lavado, 
QuL-m  hc  gema  do  oúeito,  e  bi/.urria! 

ABBAnK  DE  JAZESTE,  POESIAS,  pag.  S9. 

Têdes  ?  alli. 
Pois  do  que  ? 

Ifojo  me  ergui 
triste,  mclanconisada. 

ANTÓNIO  PltESTES,  ADT03,  pag.  353. 

"Quo  nenhum  de  vi'3-outro3  se  introraetta 
No  famoso  litigio,  que  hoje  corre 
Entre  o  liispo,  e  Deaõ  da  Igreja  d'Elvas.i 
Severo,  isto  dizendo,  se  retira. 
Deixando  »  todos  triMcs,  e  confusos. 
DiMiz  DA  CBUZ,  BYssorr.,  cant.  S. 

Então  das  negras  mãos  mais  luto  espalha. 
Os  precursores  hórridos  do  Monstro, 
Mais  tri.tle  e  assustador  qu'a  .Mareia  tuba 
Quaudo  ã  carnage,  il  morte  as  hostes  chama. 

J.    A.    DK  HACEDO,   A  IIATDKSZA,   cant.    2. 

Condii;ào  do  morfcil,  mesquinha,  e  triste ! 
De  causa  em  causa  vòa,  e  absorto  pára 
No  ponto  em  que  comova  assombro,  c  espanto, 
E  brada:  Assim  cahio!  O  .Vcaso  he  este! 

IDEli,   HEDITAÇÂO,   CaUt.   4. 

—  Desgraçado,  infeliz,  mofino. 


Viase  alli  o  mortal  fero  banquete 
Onde  o  pay  como  os  tivs  filhos  cozidos. 


E  bebo  o  triste  tan^e  do*  qu6  •nuuia, 
\  ingauí;»  tão  cruel  nào  presumindo, 

COBTK  IKAL,  XAUraAOlO  DE  tEPtXTEDA,  Cant.  3, 

Ilumas  IctruA  ao  pé  t<>iii,  qa«  do  ^usa 
Forào  lidaH  as  quues  nssi  denão, 
Sou  Verdadi',  que  o  inundo  todo  cii;»eita. 
Do  |>oucoi<  ttoii  jirnuidii  o  conhfcid». 
Jlum  graiiih;  (!Spni,'0  a  (uit/-ui:  firiiK-  olhãdn 
Seiítiiiilo  nu  alma  ve.r  du  mm    ' 
("õta  que  tem  cjm  Dcos,  c  i'  ' 
Em  f|ue  ao  presente  cstaua  t 
iniDKM,  cant.  10. 

F^stc  rccber.^  plácido  c  brando, 
No  seu  reparo  o  Canto,  quo  molhado 
Veui  do  naufrágio  lri*te  >•  mií^itsimIo, 
Dos  proccllo.-tnti  haixo.4  escapado. 
Das  fomes,  do-i  perigos  graude^i,  quando 
Serã  o  injusto  mando  encutado 
Naqm-lle,  cuja  lyra  sonorosa 
Sorá  mais  afanuuta  que  dito«a. 
OAM.,  Lfs.,  cant.  IO 

Essa  imagina-lo,  cmfim.  mo  aM^mcnta 

Mil  mágoas  no  sentido,  porque  a  vida 

Do  iiiiafjiuaí.ões  tristes  so  contenta. 

Que  pois  àc  todo  vive  oonsumida. 

Porque  o  mal  que  possuo  *c  resuma. 

Imagina  na  glória  possuida. 

Até  que  a  noite  etorna  mo  oonsuma. 

Ou  veja  aquelle  dia  desejado 

Em  que  a  Fortuna  fa^a  o  que  costuma : 

Se  nella  ha  hi  mndar-sc  hum  triste  estado. 

IDEM,  r.CLOOA  1. 


Nào  qnc  OS  olhos  alimpeis, 

Quo  O  não  consentirão 

fts  trislti  laços; 

Que  t.iC8  pontoa  achareis 

De  face  e.  envés. 

Que  se  rompe  o  coração 

Em  pedaços. 

OIL   \nCENTE,  Atro  DA   ALMA. 


Triste  desavcnturada. 
Que  tão  altJi  est.'!  a  canada 
Pêra  mi  como  as  estrcllas; 
Oh  coitadas  das  guclas! 
Triste  desdentada  escura, 
Quem  me  trouxo  a  taes  mazelas ! 

IDEU,  OBRAS   V.UILAS. 


o  sexo  feminil,  cuja  fraqueza 
Resiste  mais  quo  os  duros  [)citos  fortes, 
Nào  pôde  resistir  a  esta  braveza. 
Que  se  mantinha  sú  de  humanas  mortes  ; 
Pois  também  fez  sentir  sua  crueza 
Aquellas.  cujas  duras,  tristes  sortes 
Com  firme  e  conjugal  nó  lhe  juutArio, 
Quo  com  seu  próprio  sjingue  desatarão. 

FRANCISCO   D"AXDB\nK,   rBIMSUIO  CEBCO  D«  DIC, 

cant.  1,  est.   11. 


O  Portuguez,  quo  nào  era  composto 
De  jaspe,  nem  estava  em  oilio  aceso, 
Enternecido  assai  do  boi 'o  rosto 
De  que  o  triste  Mogor  via  tão  preso. 
Diz  quo  os  mettèra  dentro  com  grão  gosto 
Mas  que  do  Capitão  lhe  era  defeso. 
Que  o  que  só  fazer  pódc  hc  que  dia  entrasse 
Com  tanto  quo  de  fora  elle  ficasse. 
IBIDEM,  cant.  2,  est.  4õ. 


—  «E    nunca    tanta    persegaiçam    em 
lembrança   de    homens   foy  vista  em  ne- 


TMS 


TRIS 


TRIS 


825 


nhuma  gente,  como  nestes  tristes  ludeus 
que  de  Casteíla  saliiram  se  vio,  e  alguns 
depois  destruvdos,  deshonrados,  e  perdi- 
dos se  tornauam  a  Casteíla  a  fazer  Chris- 
tãos,  e  também  outros  .<e  fizeram  em  Por- 
tugal, e  ficaram  no  Revno.»  Garcia  de 
Rezende,  Chronica  de  D.  João  II,  cap. 
163.  —  «E  porque  lhe  faltava  a  agoa 
quiz  saa  triste  fortuna  que  a  viesse  to- 
mar aquy  para  vós  lhe  tomardes  sua  fa- 
zenda sem  nenhum  temor  da  justiça  do 
Ceo.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  òõ. —  «E  ainda  que  isto  se 
fez  cõ  todo  o  segredo  possivel,  não  faltou 
quem  o  dia  dantes  nos  avisou  da  viada 
deste  homem,  para  a  qual  nos  armamos 
daa  mais  tristes  e  mais  miseráveis  mos- 
tras de  fóia  que  em  meyo  de  quãta  mi- 
séria entào  passávamos,  soubemos  ainda 
tingir,  porque  despois  de  Deos  estas  forlo 
sempre  as  que  mais  nos  aproveitarão 
neste  negocio,  que  quantos  outros  meyos 
para  elle  buscamos.»  Ibidem,  cap.  1-iO. 

Em  fim,  Theodoro,  em  fim  a  eacura  sorte 
Te  abateo  como  aoa  mais  endurecida ; 
Tsdvez  para  elevar  desvanecida 
O  instrumento  cruel  do  (riste  corte. 

ÍBBXDZ     BE  JAZESTE,  POESIAS,  pag.  91. 

C'o3  olhos  longo3  para  o  gripho  alado 
Que  se  perde  nos  ares,  cila.  a  triste, 
De  joelhos  sobre  o  cume  dos  penedos, 
Erguia  para  03  eeu3  aa  mào3  trementes... 
Ma3  sem  uma  oraçào ;  que  é  mudo  o  lábio, 
E  mudo  o  coraçào  da  desditosa. 

OAKBBTX,  D.  BEAjcA,  caot.  10,  cap.  29. 

Ahi  vão  concorrendo  á  humilde  cúria 
Essas  tristes  relíquias  de  Pharsalia 
A  que  ainda  senado  appcllidunios... 
OAUBsxT,  CATÃO,  act.  1,  SC.  5. 

Tristes  desastres,  tristes  mortandades 
Do  crime  açoutes  são,  dos  Ceos  a  espada. 

J.  A.  DS  MACEDO,  A  SATCBEZA,  Caut.  2. 

—  A  triste  are;  a  ave  que  symbolisa 
a  tristeza. 


Alta  a  noite,  escutei  o  carpir  fúnebre 
Do  nauta  que  suspira  por  um  tumulo 
Ka  terra  de  3eu3  paea ;  c  aos  longos  pios 
Da  ave  triste  ajuntei  meus  ais  maÍ3  trÍ3tes... 
Eoaa  damor,  rosa  purpúrea  e  bella. 
Quem  entre  03  goivos  te  esfolhou  da  campa? 
OABRETT,  CAMÕES,  caut.  5,  cap.  3. 


—  A  triste  luz   d'alampada;  a  quasi 
extincta  luz  d'alampada. 

E  lá  desce  o  mortal,  lá  perde  a  vista 
Do  fulgurante  Sol,  do  etherco  Olimpo, 
Do3  olho3  SC  lhe  esconde  o  dia,  e  tudo, 
Só  vai  palpando  horror,  devisa  a  sombra 
Qn'a  triste  luz  dalampada  lhe  mostra. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  BATCBEZA,  Cant.  2. 

—  Figuradamente :    A    triste    imagem 
da  morte. 

TOL.  V.  — 104. 


Inda  qu'hum  meigo  Zéfiro  enganoso 
Afague  O  solto  panno,  e  nelle  brinque, 
Súbito  ferra:  ao  pallido  Piloto 
Xas  denegridas  nuvens  que  sajuntão 
Da  morte  a  triste  imagem  saprcsenta. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATCBEZA,  CaUt.  2. 


—  Nuvens  tristes ;   nuvens  que  inspi- 
ram tristeza. 


Adeus,  ísizarda  minha, 
que  se  esciu-eee  o  ceu  e  a  luz  me  falta, 

que  para  vér-vos  tinha. 

A  lua  vae  mui  alta, 

descem  as  nuvens  tristes 
para  o  fundo  do  mar  onde  me  vistes. 

BISPO  DO  GBÃO  PAEÁ,  MEMOBIAS,    pag.    123. 


A  triste  morte. 


Tiuerão  tanta  força  estas  palauras, 
Dos  que  tal  razão  dauào,  quo  vencidos 
Com  ella  33  cegarão,  e  fez  que  o  vero 
Conselho  desprezassem,  so  seguissem 
Aquclle  que  a  seu  mal  e  triste  morte 
Por  caminho  apressado  os  leua,  e  guia. 

COUTE  BEAL,  NACrBAQIO  DE  SEPÚLVEDA,  CaUt.  12. 


—  Uvi  triste  esquecimento. 

Hum  temor  tal  me  chega  a  tal  estremo. 
Que,  vencido  d'hum  triste  esquecimento, 
Xo  mar  me  cabe  da  mão  o  duro  remo. 

CAM.,  EGLOGA  10. 


Nevoeiro  horrendo  e  triste. 


O  Globo  ardente,  que  nos  traz  o  dia, 
S"embu(;a  em  nevoeiro  horrendo,  e  triste, 
Como  sentido  de  desgraças  tantas. 
No  luto  universal  scnvolve,  e  esconde. 

J.   A.   DK  KACEDO,  A  NATCfBEZA,  Caut.  2. 

—  Uyna  triste  ferça-feira  ;  um  dia  bem 
melancólico. 


Huma  triste  terça  feira 
correndo  huma  caneira 
em  hum  cauaUo  cahio, 
nunca  faUou,  nem  bolio, 
e  morreo  desta  maneira. 

GABCIA  DE  KEZESDE,  MISCELLAKEA . 


Triste  rua;  sombria,  escura. 


Oh  meu  bem  doce  palhete. 
Quem  pudera  dar  hum  grito  ! 
O  triste  Eua  dos  Fomos, 
Que  foi  da  vossa  verdura ! 
Agora  rua  damargura 
Vos  fez  a  paixão  dos  tomos. 

On,  VICEKTE,  OBBAS  VABIAS. 


—  Triste  aldeia;  desgraçada,  infeliz 
aldeia.  —  «Esta  mandou  fundar  %ec\\ 
Vmbarech  Rey  de  Lasa,  ou  Aucza,  a  ^"al 
tè  o  presente  era  huma  triste  Aldeã,  ou 
pêra  melhor  dizer,  coua  de  ladrões,  como 


inda  agora  he.s  Frei  Gaspar  de  S.  Ber- 
nardino, Itinerário  da  índia,  cap.  16. 

—  Mosteiro  triste  ;  nielancolico.  —  lÉ 
aquelle  mosteiro  triste,  empinado  n'uDS 
rochedos  que  se  debruçam  sodre  o  Dout 
ro.  È  lá  em  cima  no  monte  d'Arados, 
onde  as  neves  hybernaes  requeimam  as 
raizes  do  bravio  para  que  alli  nào  flore- 
çam  os  gestíies  em  abril,  nem  as  tojeiras 
no  dezembro  se  dourem  com  os  seus  fes- 
tões amarellos.»  Bispo  do  Grão  Pará,  Me- 
morias, publicadas  por  Camillo  Castello 
Branco,  pag.  37. 

—  A  Sibej-ia  inculta  e  triste. 


Abrão  caminho  ao  centro  o  Emo,  os  Alpes, 
Da  Escandinávia  os  Cerros  orgulhosos. 
Os  que  bordão  o  Euiiuo,  os  que  rodeão 
A  barbara  Sibéria  inculta,  c  triste, 
Alvergue  funeral  do  Inverno,  e  Crime. 

1.   A.  Dr.  MACEDO,  A  KATCREZA,  Cant.  2. 


—  Substantivamente:  O  triste  de  mim; 
eu  infeliz. 

—  Ai,  triste!  ai,  infeliz!    desgraçado! 

Ai  triste,  que  me  caio 
O  meu  almiscrc  na  rua  ! 
Como  assi  ?  por  vida  sua ! 
Bofe,  caio! 

AjíTOsio  PEEsiEs,  AUTOS,  pag.  465. 

—  O  triste ;  o  desconsolado,  o  afBicto, 
o  falto  de  alegria. 


Iremos  pela  estrada 
por  onde  os  tristes  vam 
porque  nella  por  rezam 
deve  ser  de  nos  achada 
achada  consolaçam  : 
Sobir-me-hei  ao  pensamento 
Que  alto  de  alli  verei 
verei  eu  se  poderei 
ver  algum  contentamento 
de  quantos  perdidos  ey. 

CHBISTOvIo  FALCÃO,  OBBAS ,  pag. 


Ja  03  grandes  arraiaes  desamparavão 
Os  defensores  seus,  quo  03  mal  defendem. 
Em  grandes  companhias  se  ajuntavâo 
Os  tristes,  e  por  cá,  por  lá  se  estendem  ; 
Xào  porque  assi  melhor  se  asseguravão,- 
Jlas  tal  he  seu  temor,  que  nào  entendem 
Que  fazem  indo  assi  ser  mais  formosa 
A  presa,  a  gente  imiga  c  cubiçosa. 

FBASCISCO    d'aSDBADE,     PKIMEIBO     CBBCO    de    DIU, 

cant.  3,  est.  38. 


A  causa  porque  então  o  triste  veio 
Lançar-se  coo  Sultão,  e  acompanhallo. 
De  quem  devera  ter  hum  grão  receio 
Só  porque  do  Jlogor  era  vassallo, 
Foi.  para  que  alcançasse  por  seu  meio  . 
Embarcação,  que  a  Ormuz  possa  Icvallo, 
E  fizer  dahi  a  Pérsia  seu  caminho 
Onda  tinha  o  paterno  amado  ninho. 
iBiDEU,  cant.  6,  est.  5. 


Tira-se  o  triste  atraz,  co'a  côr  perdida. 
Que  a  dôr  o  cobre  dhuma  côr  defunta. 
Esta  nova  entre  os  seus  sendo  sabida 
Grãa  cópia  em  derredor  delle  se  ajunta. 


826 


■ntis 


TRIS 


TRI3 


Cuidando  algun»  que  estava  clle  «cm  vida 
Qual  olioga  para  o  vir,  qual  o  pergunta  : 
Mad  o  .\rouro  Bagaz,  quo  coiiliixi!  iato 
Faz  quo  vivo  do  todoH  soja  visto. 
iDiDKu,  cant.  10,  est.  69. 

Onde,  o  quo  a  cruol  morto  arrobatitra 
EUa  com  prosfia  o  cobro,  c.  d'alli  o  muda, 
O  que  Hi^inoiíto  o  sanguo  dorramiira 
Ella  o  aporta,  e  a  dcrfcor  d'alli  o  ajuda, 
O  trintc  om  quem  acaso  cila  en.^orgAra 
('oyardia,  não  llio  aclia  a  liugua  muda, 
E  fôra-lhc  melhor,  agora  nisto 
Hor  do  Bcu  Capitão,  quo  doUa  visto. 
IBIDEM,  cant.  16,  cât.  38. 

Nenhum  ha  alli  quo  ontão  o  tompo  gasto 
Co 'o  que  cuida  que  tem  a  alma  rendida, 
Não  acha  o  trinte.  quem  d'alli  o  affasto. 
Mas  acha  quem  na  sua  envelhecida 
JJarba,  faz  fincapé,  porque  contraste 
Melhor  A  imiga  fúria  embravecida 
Também  «ente  a  garganta,  com  seu  dano, 
O  pá  do  companheiro  deshumano. 
iniDF.M,  cant.  19,  est.  68. 


—  O  triste  de;  o  infeliz,  o  desgraça- 
çado  de.  —  «Porque  desto  toni])o  era  Ja 
quasi  noite  o.s  despidio,  e  o  triste  do 
Cluuibaiuliaa  foi  entrogue  a  hum  capitão 
Bramaa  por  nome  o  Xemim  Coumidau, 
o  sua  molhar  e  filhos  com  todas  as  mai.s 
molhores  ao  Xeuiim  An.sedaa  por  ter  aly 
sua  raolher,  e  ser  hõrado  c  velho  e  de 
quem  o  Key  Bramaa  so  fiava  muyto.» 
Fern.ão  Mendes  Finto,  Peregrinações,  ca- 
pitulo lõO. 

—  Os  tristes;  anneis  que  as  uiulhe- 
ros  traziam  no  âmbito  da  cabeça. 

—  As  tristes ;  na  univer.sidade,  dá-se 
este  nome  ás  horas  do  estmlo,  a  que  o 
sino  da  universidade  faz  sigual.  —  Estar 
ás  tristes. 

TRISTEGA,  s.  /.  Edifício  de  tro.s  an- 
dares 011  a  parte  superior  d'elle. 

—  i\[iranto,  eirado,  ou  aguas-fartadas. 
TRISTEMENTE,  adv.    (De   triste,  e   o 

suflíxo  o  mente»).  De  um  modo  triste. 

—  De  um  modo  miserável.  —  Morreu 
este  hoiiiem  tristemente. 

f  TRISTESA,  s.  /.  Vid.  Tristeza. 

Nam  mo  posso  de  tri^tesa 

ja  valor  •, 

qualquer  cousa  de  praser 

me  he  defesa  ; 

folgo  com  o  que  me  posa 

por  acabar  ; 

vay  se  me  cntam  comei;ar 

outra  crueza. 

D.   JOANNA  D.<   OAMA,   DITOS   DA   FREIUA, 

pag.  100. 

—  «Sondo  logo  incapaz  de  participar 
dos  objectos  que  constituem  as  delicias 
dos  outros,  outra  naturalmente  om  huma 
mortal  melancolia.  A  tristesa  que  o  de- 
vora o  faz  invejoso,  caprichoso,  c  criti- 
co.» Cavalloiro  d'01iveira,  Cartas,  liv. 
3,  n."  9. 

TRISTEZA,  s.  f.  (Do  latim  tristitía). 
Espécie  do  sotlrimento   moral   que   ordi- 


nariamente apparcco  no   interior;  diz-se 
cm  oppo.siçilo  a  alegria. 

Quiz-no.í  nossa  natureza 
Com  tal  coadi(;ào  fa/.or, 
Quo  ja  timos  por  certeza 
Nao  haver  grande  prazer, 
Sem  mistura  de  Irialeza. 
CAH.,  Auriivruiõis. 

Huma  BÓ  tristeza,  tenho 
Que  não  tom  a  meninice, 
Quo  no  mór  contentamento 
O  trabalho  da  velliico 
Me  embarai,a  o  Bontimento. 

IDEM,  8ELEUC0. 

Tudo  seja  por  melhor, 
herdar  não  mata  tristeza 
senão  em  quem  mais  não  sento 
que  entristecer  com  pobreza ; 
SC  só  com  tanta  riqueza, 
logo  6  falso  o  mais  que  sente. 

ANTÓNIO  rKESTES,  AUTOS,  pag.  489. 

A  morte  que  vida  ora 
80  não  fdra  o  que  a  dilata  ? 
A'  fé,  senhor,  que  me  poza 
vel-o  assi,  c  não  me  iilliouta 
tanto  a  prisão,  ([uão  aceza 
sinto  nalma  essa  tristeza 
que  eu  tomara  á  miuha  conta. 
iniDK.M,  pag.  -lOô. 

—  Desabrimento,    inquietação,    afflic- 
ção  da  vontade,  angustia. 


Tudo  vay  mingoando 
naqucsta  defeza, 
e  cresce  a  tristeza. 

D.    JOANNA   DA  QAHA,   DITOS  DA  PRBIRA, 

pag.  96. 


Mais  quizera  dizer 
O  desditoso  amante,  que  ajudado 
se  via  (•ntào  da  mágoa  o  da  tristeza; 
Mas  foi-Iho  dofcudor 
O  outro  companheiro,  como  irado 
Com  tão  disforme  e  Áspera  dureza. 

CAM.,  ECLOOA   7. 

Abrandetc  huma  vida  consumida 
Com  triMeza,  e  pesar  sempre  abraçada 
Mostrate  a  tanto  mal  agradecida. 
Não  queiras  ser  por  áspera  notada 
Nem  te  prezes  do  ingrato  peito  isento 
Ama  pois  vea  meu  bem,  que  es  tào  amada. 

COBTE  BEÁI.,  NAUFRÁGIO  DE   SEPÚLVEDA,  CaUt.  9. 

—  «As  tristezas  dos  homens  soffrem- 
se  com  esperar  quo  alguma  hora  terão 
fim,  as  minhas  sào  sem  ello :  e  não  mo 
dá  a  mim  tão  pouco  por  terem  em  quem 
mostrarem  siui  for^a. »  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  dlnglaterra,  cap.  87. 

Com  tristeza,  dòr  o  pena, 
que  m.nis  Tcreos  se  hão  de  achar. 
Pois  o  meu  riso  se  solta 
agora  mais,  si  reverá. 

ANTÓNIO  l-KESTES,  AUTOS,   píg.    81. 

—  tConchauilau,  donzolla   formosa,  e 


bem  inclinada,  e  «obre  tudo  mais  honra^ 
da  quo  toiia.t  as  doAta  cida^io,  pela  cria- 
ção quo  sua  mSy  fez  em  ty,  te  certifica- 
rá da  parte  de  Deo»,  e  dei  Key  teu  ma- 
rido, por  cujo  amor  te  pclinioH  isto,  da» 
mais  particularida<le))  deste  negocio,  assi 
dan  cuiitlnaaH  iagrimas  e  gemidoD  cm  que 
todos  (5st'»<  pobres  agora  ficSo,  como  do 
grade  me  lo  e  tristeza  era  que  toda  esta 
cidade  está  posta,  cujos  moradores  todos 
com  jejuns  e  f-smola»  te  pedem  que  apres- 
tes seus  gritort  diante  dei  Rey  teu  sobre 
tofbs  muyto  querido  filho,  a  quem  o  Se- 
nhor de  todos  08  bens  dê  tanto  bem,  que 
dos  seus  esquecidos  se  fartem  as  gentes 
que  habitão  a  terra  e  as  ilhas  do  mar.i 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações,  ca- 
pitulo 141. 


Mas  quanto  hc  mór  o  meu  contentamento 
De  ver  quão  bem  me  hc  paga  esta  vontade, 
Tanto  temo  depois  maior  tormento 
?>c  quanto  ou(,'0  d'amor  tudo  hc  verdade; 
Pois  me  ordenou  tào  largo  a;>artaracnto 
Em  quo  S''mente  o  mal  da  saudade 
Em  tamanha  tristeza  me  tem  posto 
Que  não  basta  contra  ella  o  maior  gosto. 
r.  dVndradk,  rBiMEiRO  cerco  dr  dic,  cant.  4, 
est.  57. 


Grâa  dôr,  grão  sentimento,  grãa  tristeza 
(^om  rasão  deves  ter,  pois  quo  do  seio 
Te  roubarão  aquella  alt-a  grandeza 
Do  thosouro  que  lá  do  Judá  veio ; 
Mas  doutro  mór  the.viuro,  inór  riqueza. 
Presente  occasião,  presente  meio 
Tens  agora  na  mão,  segundo  vejo. 
Que  satisfaça  a  perda,  e  teu  denejo. 
iDiDEM,  cant.  12,  est.  101. 

—  «Aqui  passava  os  dias  e  as  noitea 
mettido  em  profunda  melancholia :  pa- 
recia-me  ter  sido  sonho  quanto  Tenno- 
siris  me  prognosticara,  ou  quanto  ouvi- 
ra na  caverna  ;  e  vivia  concentrado  na 
mais  acerba  tristeza.  Olhava  as  ondas 
que  vinham  quebrar-se  na  torre,  que 
me  servia  ile  prisão;  e  muitas  vezes  en- 
tretinha-me  em  ver  os  baixeis  que,  com 
a  força  da  tormenta,  estavam  quasi  a  pi- 
que de  se  espedaçarem  na  rocha  sobre  a 
qual  assentava  a  torro.»  Telemaco,  tra- 
ducção  de  Manoel  de  Sonsa,  c  Francisco 
Manoel  do  Nascimento,  liv.  2. 

—  Dar  nova  tristeza  a  alguém;  en- 
tristecer novamente  a  alguém. —  «A  mor- 
te de  Polinardo  dou  nova  tristeza  a  seus 
amigos  e  companlu-iros,  j)orque,  como  se 
já  disse,  era  morto  o  imperador  Vemao, 
seu  irmão,  e  da  vida  deile  pendia  algum 
tanto  o  amparo  da  imperatriz  Va.silia.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  Il39. 

—  Dó,  luto.  —  «Aqui  deixa  de  fallar 
em  Palmeirim  d'lnglateira,  que  segui» 
sua  via  de  Constantinopla,  onde  entSo 
havia  muita  tristeza  pola  morte  d'el-rei 
Frisol,  que  ii'aqutl!a  corte  era  mui  ama- 
do, e  torna  a  dar  conta  de  Floriano, 
que  em  companhia  de  Auderramete   ca- 


TRIS 


TRIS 


TRIU 


827 


minhava  para  a  corte  do  gram  turco,  quo 
como  em  sua  viagem  tivesse  bom  ven- 
to, em  pouco  tempo  as  galés  arribaram 
naquelia  parte.»  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  80. 

—  Melancolia,  liypocondria.- —  «A  que 
elle  despois  de  estar  lium  pouco  pensati- 
vo na  deliberação  da  escoliia,  apontando 
para  mim  respondeo,  este,  que  he  mais 
alegre  e  menos  sesudo,  porque  agrade 
mais  nos  Japões,  e  desmalencouize  o  en- 
fermo, porque  gravidade  pesada  como  a 
destoutro,  entre  doentes  não  serve  de 
mais  que  de  causar  tristeza  e  melanco- 
nia,  e  acrecentar  o  fastio  a  quem  o  ti- 
ver, i  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções,  cap.  13Õ. 


A  Diu  chega  emfim,  c  com  presteza 
Lá  do  Cojaçofar  b\i9ea  a  morada 
Oude  entrando  se  eucbeo  de  gràa  tristeza 
Porque  alli  do  tristeza  não  vio  nada  ■, 
E  por  v^r  a  abundância,  a  grãa  riqueza, 
A  soda  e  ouro,  de  que  era  toda  ornada, 
E  mal  deter  as  lagrimas  podia 
Porque  então  alli  lagrimas  nào  via. 

FRANCISCO  DE  AHDBIXIE,  PRIMEIRO  CERCO  DE  DIU, 

cant.  9,  est.  110. 


—  «Com  as  quais  Antam  de  Faria  lo- 
go partio,  e  com  pressa  veo  ao  Prínci- 
pe, que  como  singular,  e  virtuoso,  e  ver- 
dadeiro filho,  com  muytas  lagrimas,  e 
gi-andes  soluços  as  leo,  e  assy  com  muy- 
ta  tristeza  de  todos  os  que  presentes 
eraõ,  e  de  todo  o  Rcyno.»  Garcia  de  Re- 
zende, Chrouica  de  D.  João  II,  cap.  17. 
—  «Mas  Deos  o  ordenou  de  maneira, 
que  em  lugar  da  presa  que  cuidauaõ 
fazer  lhes  servirão  os  barcos  pêra  leua- 
cem  os  corpos  dos  seus  que  recolheram 
com  muita  tristeza,  por  antrelles  auer 
alguns  homens  nobres,  e  de  authorida- 
de.»  Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  3,  cap.  52.  —  «Assim  m'o 
dissérão,  Madama,  e  me  observarão  so- 
mente que  unicamente  empecia  á  sua 
saúde  uma  profunda  tristeza;  e  tem  ac- 
cessos  de  melancliolia  de  que  nada  o  p('>- 
de  distrahir.»  Francisco  Manord  do  Nas- 
cimento, Successos  de  madame  de  Sene- 
terre. 


Ou  com  miúdas  gotas  condensadas. 
Nas  ondeantes  messes  csparsidas. 
Ao  desvelado  Lavrador  conduzem, 
Depois  de  longo  afiau,  tristeza,  c  pranto. 

J.    A.   DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Caut.    1. 

A  sombra,  qu'a  atmosfera  abafa,  engrossa, 
A  tristeza  conduz,  mais  tardo  giro 
O  quente  Sangue  nas  delgadas  veias. 


Avança-se  a  Estação,  cresce  a  tristeza; 

Espesso  ncvoeií-o  abai-ca  os  ares, 

E  manda  o  Sol  a  furto  oblíquos  raios. 


Diz-se  dos  logarea  sem  agrado,  dag 


festas  sem  alegria.  — •  Os  aposentos  d'es- 
ta  casa  são  de  uma  grande  tristeza. 

—  Syn.  :  Tristeza,  tristura. 

Ambas  estas  palavras  são  o  contrario 
de  alegria;  com  tudo  pela  variedade  das 
terminações,  tristeza  exprime  a  qualida- 
de que  torna  o  homem  triste,  ou  a  pai- 
xão, ou  estado  a  que  damos  este  nome; 
e  tristura  parece  reportar-se  mais  pro- 
priamente aos  etfeitos  d'esta  paixão,  e  ás 
mostras  que  de  ordinário  se  observam  na 
pessoa  triste. 

tristíssimo,  a,  adj.  superl.  de  Tris- 
te. Mui  triste. 


Hum  contino,  e  tristissimo  gemido 
Pellos  alegres  versos  que  uie  ouuieis 
Será  por  este  bosque  agora  ouuido. 
Alemos  e  .altas  Fayas,  que  fazieis 
Ledas  sombras  aos  prado.s,  vós  corrente 
Clara  fonte  que  tanto  me  aprazíeis. 

OOBT£  REAL,  NAUFRÁGIO  DE  SEPÚLVEDA,    Caut.    9. 

Velhos,  crianças  —  miseranda  vista  ! 

As  seguem  com  tristíssimos  gemidos  : 

E  c'o3  nomes  dos  deuses,  de  mistura, 

O  teu  invocam  :  por  ti  choram,  clamam, 

E  uUulando  Catão  desatinados 

Vagam  áquem,  além.  — Escuta:  ahi  correm 

Para  este  lado.  Ouve-los?  —Receio 

Que  se  atrevam  talvez...  Ha  sediciosos 

Entre  elles :  e  é  prudente... 

GARRETT,   CATAO,    aCt.    5,    SC.    4. 


TRISTONHO,  A,  adj.  Muito  triste,  té- 
trico. — ■  « A  estatua  deste  monstro  era  de 
prata  em  vulto  de  homem  agigãtado,  de 
vinte  e  sete  palmos  em  alto,  tinha  os  ca- 
bellos  de  cafre,  e  as  ventas  dos  narizes 
muyto  disformes,  e  os  beiços  grossos,  e 
toda  a  fisonomia  do  rosto  tristonha  e  mal 
as.sombrada. »  Fernão  Mendes  Pinto,  Pe- 
regrinações, cap.  161. 


Honra  se  quiz  chamar  do  sangue  a  sede ; 
Do  humano  coração  se  apossa  tanto. 
Que  julga  estado  natural  a  guerra. 
Foi  esta  idéa  tua,  Hobbes  tristonho. 

J.  A.   DE  MACEDO,  VIAGEM   EXTÁTICA,  Caut.    1. 

Do  lado  opposto  Heraclito  tristonho. 
Sem  lagrimas  jamais,  contempla  o  Mundo  ? 
A  mortal  condição  u'alma  lhe  toca, 
Xos  humanos  só  vio  miséria,  e  luto. 
Eu  só  desgraças  nos  humanos  vejo. 
LBiDEM,  caut.  2. 

Olha  o  Clima  tristonho,  onde  parece 
Qu'  o  vivo  fogo,  qu'  a  motora  força 
Na  entorpecida  Natureza»expire, 
Onde  nem  verde  mnsgo  os  Campos  veste, 
Onde  a  brilhante  alampada  diurna 
Derrama  como  a  furto  oblíquos  raios, 
Que  não  de  todo  as  trevas  afugentão. 

IDEM,  A  NATUREZA,   Caut.    3. 


TRISTURA,  s.  /.  Tristeza. 

—  Syx.  :  Tristura,  tristeza.  Vid.  este 
ultimo  vocábulo. 

TRISULCO,  A,  adj.  (Do  latim  trisiil- 
cus).  De  três  pontas. 


Ao  rouco  som  das  ondas  se  mistura 
Da  tempestade  a  voz.  trovões  rebramão, 
Mostra  o  trisulco  lume  o  horror,  c  a  sombra. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  CaUt.  3. 

TRITÃO,  s.  m.  (Do  grego  tritôn).  Ter- 
mo de  niythologia.  Deus  do  mar,  que  a 
fibula  faz  filho  de  Neptuno  e  de  Am- 
phitrite,  que  tem  figura  humana,  e  cujo 
corpo  termina  em  peixe. 

—  Termo  de  historia  natural.  Género 
de  batrachios  aquáticos,  próximos  dos  sa- 
laniaudros. 

—  Género  de  conchas  univalves. 
TRITO,  prefixo.  Vid.  Deuto. 
TRITONGO,    ou  TRIPHTHONGO,   s.  m. 

(Do  grego  treis,  e  phthoggos).  O  som  de 
três  vogaes  seguidas  e  pronunciadas  em 
um  S(í  tempo. 

TRITONO,  s.  m.  (Do  grego  treis,  e  to- 
nos). Termo  de  musica.  Intervallo  disso- 
nante composto  de  três  tons,  e  consiste 
na  ra/ão  de  45  para  32. 

TRITOXYDO,  s.  m.  Termo  de  chimica. 
Combinação  de  um  corpo  simples  com  o 
oxygeneo ;  quando  se  ignora  a  lei  que  se» 
guem  as  proporções  do  oxygeneo,  chama- 
se  tritoxydo,    ou    3.°  grau  de  oxydação. 

TRITURA,   s.  /.   Trituração. 

TRITURAÇÃO,  s.  /.  (Do  latim  tritura- 
tio).  A  acção  de  triturar. 

—  O  estado  do  corpo  triturado. 
TRITURADO,  part.  pass.  de  Triturar. 
TRITURAR,    V.  a.    Moer    em    pó,    pi- 
sando. 

TRITURA VEL,  adj.  2  gen.  Que  é  pos- 
sível triturar-se. 

t  TRIUMPHANTE,  part.  act.  de  Trium- 
phar.  Vid.  Triunfante. 

Vijmos  caa  vijr  elefantes, 
outras  bestas  semelhantes 
trazer  da  índia  per  mar, 
por  mar  has  vijmos  mandar 
a  Roma  muy  triumphantea . 

a.   DE    REZENDE,  MISCELLANEA. 

—  (lA  qual  Igreja  tem  dous  estados,  e 
por  tanto  tem  dous  nomes:  Porque  dize- 
mos que  hay  Igreja  Triumphante,  e  Igre- 
ja Militante.  Igreja  Triumphante  chama- 
mos o  ajuntamento  das  almas  quejarey- 
nam  com  Christo,  vencidos  ja  seus  ene- 
migos,  e  triumphando  delles.»  Frei  Bar- 
tholomeu  dos  Martyres,  Catecismo  da 
doutrina  christã. 

E  por  amor  de  quê?  Da  liberdade... 
Liberdade  !  —  Qu'é  d'ella,  a  liberdade  ? 
Quanta  nos  deram  Mário,  Sylla?  —  Quanta 
Nos  daria  Pompeu  se  triumphatite 
Com  suas  legiões  volvesse  ao  Tíbre? 

GABKETT,  CATÃO,  RCt.    1,    SC.   2. 

TRIUMPHAR,  V.  a.  Vid.  Triunfar.  — 
«Que  haja  por  bem  de  dar  tua  neta  Po- 
linarda,  filha  do  principe  Primalião  teu 
filho,  por  mulher  ao  ooldão  de  Pérsia 
mancebo  de  vinte  e  cinco  annos,  tão  fa- 
moso cavalleíro  como  príncipe  poderoso, 


828 


TRIU 


com  cujo  parcntosco  a  {floria  fio  tfu  es- 
tado com  muito  maior  noinu  triumpbará 
do  uiumlo  toJo.»  Frauci.ico  4u  Moraoá, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  9;}. 


Tooipo  lio  ja  do  ortqueocr  coiitontameutos 
Paíjadod,  co'a  cspciwnça  fiue  passou, 
E  do  quo  Iriamphcm  novos  pondainciitoi. 
  fó,  que  riva  n'alma  me.  ficou, 
Dê  ja  tim  aos  caducos  ai-dÍTiUMitos 
A  quo  o  passado  bem  se  ooudoiuuou. 

OAM.,  80Nr.T09,  U."  233. 

Oh  Ccsar, 
.Assim  não  triwnphaste  nunca  ! —Amigos, 
É  forçoso  ;  caivcmo'-aos  ao  fado. 
rizemos  quanto  humano  esfòiço  dava ; 
Mais  nAo  podemos,  que  é  tentiir  os  dousoa. 
Coucidadãos,  uào  tonlio  mais  quo  dar-vos : 
Conselhos  so  :  —  ouvi-os,  attcndci-os. 
oABHicT-r,  cvtlo,  act.  5,  so.  5. 

TRIUMPHO,  s.  m.  Vid.  Triunfo.  — 
«Acabala  a  cruel  e  sang^uinolenta  des- 
truyçâo  desta  tristo  cidade,  o  tyranno,  a 
modo  de  triumpho,  com  muyto  jjrande 
pompa  e  estado  entrou  dentro  nolla  por 
hum  lanço  de  muro  que  mandou  derru- 
bar, e  clierrando  ás  casas  que  forão  do 
pobre  Kcv  luiuino  so  coroou  nellas  por 
llev  do  Prom,  tendoo  sempre  em  quanto 
durarão  estas  cerimonias  posto  de  joelhos 
com  as  mãos  levantailas.»  Fernão  Men- 
des Pinto,  Peregrinações,  cap.  155.  — 
«Atè  quo  se  apurou  tanto  a  barbaridade 
dos  homens,  que  dos  mesmos  homens  che- 
gou a  sacrificar  a  própria  vida.  Os  pri- 
meiros que  entre  os  Romanos  se  ofterece- 
raõ  em  saerilicio,  foraõ  os  inimigos,  que 
elles  captivaraõ  nos  triumphos.»  Rraz 
Luiz  d'Abreu,  Portugal  medico,  pag.  601, 
§  73. 

Dosse  arraial  do  pranto,  e  de  triumpho, 
Ás  Gallias  me  encaminlio,  c  busco  amparo 
Em  Diuiz,  Proto-Bispo  do  Lutécia. 

F.   M.    DO  NASCIlIENrO,  03   MARTYEES,  1ÍV.    7. 

Não  ha  sangue  que  o  farto,  nào  ha  crime 
Que  o  detenha :  seu  carro  de  trium^iho 
Não  impoi;a  nos  montos  de  cadaVorcs. 
oA.nRKTT,  c.vtIo,  sct.  2,  SC.  1. 

—  «Vem  a  cahir  em  v.  cx."  o  arran- 
jar as  tropas;  porém,  venturoso  exorcito  ! 
por  que  os  hespanhoes,  quo  se  jirezam  de 
cortczàos,  n.ào  podiam  deixar  do  confes- 
sar o  triumpho  mais  glorioso ! »  Isto  de- 
via ser  muito  fe-itejado  na  corte.»  Bispo 
do  Grão  P.inl,  Memorias,  publicadas  por 
Camillo  Ca^tviUo  Branco,  pa;;.  IS. 

TRIUMVIR,  ou  TRIUMVIRO,  *•.  m.  (Do 
latim  tritimiir,  de  trcs,  e  vir).  Magistra- 
do encarregado,  juntamente  com  dous 
coUegas,  (Tuma  parte  d'administra(;ão. 

—  Triumviros  mmietarios  ;  intendentes 
da  moeda. 

—  Triumviros  criminaes ;  juises  que 
conheciam  os  crimes,  e  faziam  executar 
ti  morte  os  criminosos. 


TRIU 

—  Diz-so  de  Pompeu,  de  Ce^ar  e  de 
(Jrasrio,  o  tamboiíi  ile  Octávio,  de  Antó- 
nio e  do  Lépido,  quo  se  apoileraram  da 
auctoriílado  suprema. 

—  Figuradamente :  Os  triumviros  ;  o» 
tros  quo  giivtírnarauí  a  Bahia. 

TRIUMVIRAL,  wlj.  2  gen.  (Do  latim 
triumvíritlin,  lio  triumvir).  Que  pertonce 
aos  triumviros.  —  Ou  poderes  triumvi- 
raes.  —  As  fanrçòes  triumviraes. 

TRIUMVIRATO,  s.  m.  (Do  latim  trinm- 
viratiis).  Entre  os  romaiioS)  funcçâo  de 
triuiuviro. 

—  O  governo  dos  três  u.surpadores  que 
80  apoderaram  da  auctoridade  suprema 
em  Roma. 

—  Figuradamente :  O  triumvirato  dos 
jtndres  gregos;  oa  três  maiores  padres  da 
egreja  grega. 

TRIUNFADO,  part.  pafs.  de  Triunfar. 

—  Cotind  triunfada  ;  do  que  se  alcan- 
çou triumpho. 

TRIUNFADOR,  A,  s.  Pessoa  quo  obteve 
victoria,  e  fez  conquistas  quo  mereceram 
honras  triumphaes. 

—  Pessoa  que  Ia,  ou  vao  em  trium- 
pho. 

TRIUNFAL,  adj.  2  gen.  Próprio  do 
triumpho,  que  serviu  para  elle.  —  Curro 
triunfal. 

Desce  o  mortal,  dilata  a  csfer»  própria 
Com  summa  pcrfci(;ào  das  Artes  bcllas. 
A  fori^a  triunfal  dalta  Eloquência, 
Qual  Atheuas  sentio,  qual  Koma  outr'ora. 
Do  di'cimo  Leão  no  Império  brilha ; 
E  de  Luiz  majrnanimo  aos  acenos 
Surgem  novos  Deniostheues,  o  TuUios. 

J.    A.   DK   liACEDO,  MUDIIAçlo,  Caut.    1. 

—  Acompanhado  de  triumpho,  ou  vi- 
ctoria. 

—  Coroa  triunfal ;  coroa  que  os  anti- 
gos romanos  davam  aos  geueraes,  que  ti 
nhani  obtido  uma  grande  victoria,  ou 
conquista. 

TRIUNFALMENTE,  adv.  (De  triunfal, 
com  o  suíBxo  a  mente»).  De  um  modo 
triumphal,  cm  modo  de  triumpho,  de  mo- 
do quo  Consiga  triumpho. 

TRIUNFANTE,  /jcní.  act.  de  Triunfar. 
Diz-se  tias  cousas  grandiosas  como  para 
ornato  de  triumpho.  —  «Entrou-se  a  Vil- 
la  dia  de  8.  Lueas  Evangelista,  a  dezoi- 
ta  de  Outubro  do  anno  de  Christo  mil  e 
duzeutos  e  dezasete.  Venceo  el  Rei  em 
batalha  aos  Reis  de  Jaem,  c  Sevilha,  quo 
tinhaõ  cercada  Elvas,  o  correo-lhe  as  ter- 
ras com  maõ  armada,  onde  fez  muitos 
damnos,  e  se  recolhco  triunfante  jiara 
seu  Reino.»  Fr.  Bernardo  de  Brito,  Elo- 
gios dos  reis  de  Portugal,  continuados 
por  D.  José  Barbosa. 

Nos  areacs  da  Mauritânia  ardente, 

Oude  03  Lusos  Peudoens  scrgucm  tritinfantu, 

A  gloria  Portugue/.a  alti»,  osplendente 

Se  "eclipsa  aos  pés  de  Aiabicos  turbantes; 

AUi  SC  acaba  hum  Rei  grande,  o  potouto, 

Correm  de  sangue  rios  espumautoa  ; 


TRIV 

Do  Lysia  o  beilbo  nolln  «n  sepulta, 
N'Africa,  o  n'Aiiia  nunca  mais  avulta. 

J.    k.   DB   MACEDO,  O  ÚSUUtTB,  Caut.    12. 


Ou  no  Tibrc  cobrio  gelada*  eiozaii, 
Ou  do  (;randc  Pompto  fechou  uo  Nilo 
Iloatos,  (|uc  aos  olhos  merecerão  prauto, 
E  ao  i)oito  a  dor  do  Iriun/ante  Ccsar. 

IDRM,  VIAGEU   EXTÁTICA,   Cant.    2. 


—  A  parte  triunfante  da  carroça ;  on- 
de vae  o  triuniphador,  o  santo. 

—  >lrf<v  triuufante  ;  arco  triumplial. 

—  CVi/n/  triunfante.  Vid.  Triumphal. 
TRIUNFAR,    V.   a.    Vencer   trinmphal- 

mente. 

—  Fazer  triumphar. 

—  Figuradamente  :  Fazer  triumplian- 
tc,  glorioso,  cheio  de  grande  prazer,  e 
ostentação. 

—  V.  n.  Receber  as  honraa  do  trium- 
pho. 

—  Figuradamente:  Alcançar  uma  vi- 
ctoria total,  sair  com  a  sua  empreza  do 
todo  acabada. 

—  Triunfar  dos  parthos;  receber  aa 
honras  do  triumpho  por  haver  desbarata- 
do os  parthos. 

—  Triunfar-se,  v.  refl.  Tomar-se  trium- 
phante. 

—  Vencer. 

TRIUNFO,  í.  m.  (Do  latim  triumphtu). 
Honra  que  se  concedia  aos  generaes  t^j- 
manos,  que  obtinham  alguma  victoria 
com  total  desbarato  do  inimigo,  que  sub- 
jugavam uma  nação,  etc. ;  iam  com  cer- 
tos vestidos  em  um  carro  magnifico,  en- 
travam por  baixo  de  arcos,  rompia-se-lhe 
o  muro  para  entrarem  em  Roma,  subiam 
ao  capitólio,  etc;  a  pompa,  a  procissâe 
triumphal. 

—  Figuradamente  :  Victoria  grande. 

Nem  a  Prudência,  nem  a  Vakntía 
Do  Greiro  ashito  pode  felizmente 
Os  triunfos  cantar  da  Tcucra  gente. 
Som  uzar  de  huoia  infame  aloivozia. 

ABBADC  DE  JAZE2IIE,   POESIAS,  pag.   51. 

E  tanto  que  inda  as  Filhas  da  Memoria 
Se  lembraõ  nesta  nobre  competência 
De  dous  triunfos  teus,  homa  só  gloria. 
iBioEu,  pag.  113. 

—  Figuradamente :  Vencimento  das 
paixões. 

—  Victoria  dos  adversários  na  disputa, 
demanda,  etc. 

—  Svx.:  Triunfo,  victoria,  Vid.  este 
ultimo  vociíbulo. 

TRIUNFOSO,  A,  adj.  (De  triunfo,  com 
o  suffixo  «oso»}.  Triumphaute,  cheio  de 
triumpho. 

TRIUNVIRATO,  s.  m.  Vid.  TrinmTi- 
rato. 

TRIUNTIRO,  #.  «I.  Vid.  Triumviro. 

TRIVIAL,  adj.  2  gen.  (Do  jlatim  tri- 
vial is).  Quo  é   extremamente  commum, 


TROA 


TROC 


TROC 


829 


fallando  fios  pensamentos  e  das  expres- 
sões; vulgar.  —  «Embarcados  na  carrua- 
gem, me  disse:  «Sabeis  vós  que  resolu- 
tamente ticáes  de  morada  em  Paris"?  E 
que  assim  ficou  hontem  assentado  entre 
M.  Chenu,  e  M.  Dar^on?  Nào  gosto  do 
vosso  appellido ;  que  é  muito  trivial,  e 
que  excitaria  rifadas,  quando  ao  sahir 
do  Theatro,  bradassem  pela  carruagem 
de  Madama  Chenu.  Vés  tendes,  que  eu 
sei,  um  prédio  ditto  Depréval ;  é  preciso 
ajuntar  esse  appellido  ao  vosso,  e  d'esse 
só  vos  servireis.!)  Francisco  Manoel  do 
Nascimento,  Successos  de  madame  de 
Seneterre. 

—  Estylo  trivial;  estvio  baixo,  com- 
mum. 

—  Figuradamente :  Diz-se  das  pessoas 
que  se  vêem  por  toda  a  parte,  facil- 
mente. 

—  Auctor  trivial ;  que  se  occupa  de 
espécies  muito  sabidas  e  vulgares. 

—  Sem  custo,  meditação,  estado,  sem 
engenho. 

—  Maneiras  triviaes ;  maneiras  do 
vulgo. 

—  Espirito  trivial. 

— .Syx.  :  Trivial,  ordinário.  Vid.  este 
ultimo  termo. 

TRIVIALIDADE,  s.  /.  Caracter,  quali- 
dade do  que  é  trivial. — A  trivialidade 
do  estylo. 

—  Cousa  trivial. 

TRIVIALISAR,  ou  TRIVIALIZAR,  r.  a. 
Tornar  tri^^al,  vulgarisar  á  plebe. 

TRIVIALISSIMO,  A,  aãj.  superl.  de 
Trivial.   Mui  trivial,  vulgarissimo. 

TRIVIALMENTE,  adv.  (De  trivial,  com 
o  sufíixo  «mente»}.  De  uma  maneira  tri- 
vial. 

—  Commummente.  —  Obra  escripta 
trivialmente. 

TRIVIO,  s.  m,  (Do  latim  írivÍM?») .  União 
de  três  caminhos,  ou  o  logar  d'onde  se 
dividem  três  caminhos. 

TRIVUDAR-SE,  r.  rejl.  Termo  antiqua- 
do. Tornar-se  tributário,  ou  foreiro. 

TRIZ.   Vid.  Tris. 

TROADA,  s.  /.  iMultidào  de  tiros,  som 
de  bombardas  disparadas. 

—  Figuradamente :  Multidão  de  tro- 
vões, estrondos,  etc. 

—  Vid.  Atroada. 
TROADOR,  A,  adj.  Que  troa. 

—  Substantivamente  :    O  troador. 
TROANTE,  part.    act.    de   Troar.    To- 
nante. 

TROAR,  L'.  n.  Fazer  grande  estrondo, 
abalo,  e  estragos. 


Pararias  atónita,  se  ousaras 
Calcular,  c  medir  o  e3pa(;o  immenso 
Que  de  ti  me  divide,  e  em  que  elle  gira, 
Em  seculoj,  e  séculos  não  fora 
Inda  proiima  aqui  bala  que  accesa 
Parte  do  bronze  militar,  que  o  mesmo 
Incalculável  ímpeto  levasse. 
Com  que  troando  sahe,  e  os  ares  corta. 

J.  A.  DE  UACEDO,  i  KATUBBZA.,  Caut.  1. 


—  Haver  trovões,  trovejar. 

—  V.   a.   ViJ.   Atroar. 

TROCA,  s.  f.  I  Do  francez  troe).  A  ac- 
ção de  dar  uma  cousa  por  equivalente 
d'outra;  permutaçrio. 

—  Mudança,  conversão  em  costumes  e 
hábitos.  —  «Eu,  disse  Artisia,  tão  des- 
enganada me  tem  vossa  condição,  que 
me  não  hei  de  vencer  mais  por  ella;  an- 
tes, se  03  cavalleiros  buscam  quem  quei- 
ra deixar  cuidados  velhos  por  amores  no- 
ves, aqui  estou  eu,  que  farei  essa  troca : 
pois  nós,  disseram  suas  companheiras, 
desse  bordo  estamos,  que  estas  eram  as 
que  ganhara  aos  cavalleiros  na  floresta.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  l'J9. 

TROCAUAMENTE,  adv.  (De  trocado, 
com  o  suffixo  «mente»}.  Trocando. 

—  Mutuaiuente,  reciprocamente. 
TROCADILHO,  s.  m.   Vid.  Trocados. 
TROCADO,  part.  pass.  de  Trocar,  i^er- 

mutado.  —  «E  posto  que  se  depois  digua, 
que  foi  vendida,  ou  trocada  por  boa,  e 
saà,  ou  gabada  por  avantejada,  e  que  de 
todo  a  achaõ  pulo  contrario,  mandamos 
que  de  tal  demanda  nom  lilhem  conhuci- 
mento,  mas  depois  que  o  dito  contrauto, 
compra,  ou  troca  for  perfeita,  e  acaba- 
da, e  o  preço  pagado,  ou  o  penhor  dado, 
por  nenhuma  malícia,  nem  eyba,  nem 
doença,  que  depois  em  ella  seja  achada.» 
Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit.  21,  §  o. 


e  como  o  tempo  virada 

para  as  costas  traz  a  grimpa, 

anda  a  cousa  assi  trocada. 

AST02ÍI0  F&ESXE3,  AOIOS,  pag.   303. 


—  Araor  trocado ;  amor  reciproco,  mu- 
tuo. 

—  Diversoj  diíFerente. 

—  O  meu  chapéo  está  trocado ;  não  é 
o  meu. 

—  Olhos  trocados. 

TROCADOR,  A,  s.  Pessoa  que  troca, 
cambia. 

TROCADOS,  s.  m.  plur.  —  Trocados  de 
palavras;  espécie  de  ornato  do  estylo, 
vicioso,  que  consiste  em  equívocos,  e  pa- 
lavras em  que  trocada  uma  letra  ha  di- 
verso sentido. 

—  Espécie  de  lavor  nas  bordadui^as  an- 
tigas, que  era  uso  nos  vestidos,  e  pannos 
de  armar. 

TROCAR,  V,  a.  Permutar,  dar  uma 
cousa  por  outra.  —  «Porem  por  escuzar 
taaes  demandas,  e  dar  avisamento  aos 
compradores,  hordenamos,  e  estabelece- 
mos, e  mandamos,  que  qualquer,  que  em 
a  dita  Cidade,  e  seu  Termo  cavado,  ou 
qualquer  outra  besta  quizer  vender,  ou 
trocar,  que  a  venda,  ou  troque  simpres- 
mente.»  Ord.  Affons.,  liv.  -4,  tit.  21,  § 
3.  —  «Muytos  se  enterram  inda  viuos, 
em  humas  couas  como  cisternas,  e  dizem 
que   tanto   monta   quasi    morto,  como  de 


todo.  Nam  tem  pezo,  dinheyro,  ou  medi- 
da; mas  sò  comprào,  e  vendem,  trocan- 
do as  cousas  humas  por  outras.  Nào  sa- 
bem algum  ofScio  mechanico ;  saluo  se- 
rem pescadores,  e  pastores  de  gado.»  Fr. 
(Raspar  de  S.  Bernardino,  Itinerário  da 
índia,  cap.  9. 

—  Trocar  as  pernas  dançando ;  cru- 
zal-as. 

—  Não  me  troco  por  ti;  não  quizera 
eu  ser  qual  és,  eu  sou  melhor. 

—  Trocar  o  dinheiro;  dar  o  equivalen- 
te de  uma  peça  maior,  ou  de  peças  me- 
nores por  maiores. 

—  Substituir  outro  em  seu  logar.  — 
«Alguns  trocavam  as  armas,  outros  as 
devisas  poios  nào  conhecerem  por  ellas. 
Assim  que  então  muitos  amigos  se  en- 
contravam, que  primeiro  que  se  conhe- 
eessem  se  tratavam  tão  mal,  que  algumas 
vezes  eram  postas  as  vidas  em  risco  de 
se  perder. »  Francisco  de  Moraes,  Palmei- 
rim d'Inglaterra,  cap.  37.  —  «E  inda 
que  pêra  viver  sem  pena  lhe  parecesse 
aquella  condição  proveitosa,  a  não  dese- 
java por  sua ;  nem  trocara  seu  cuidado 
com  sua  dôr  por  nenhum  descanso  alcan- 
çar sem  algum  trabalho :  que  isto  é  pró- 
prio dos  bons  namorados,  contentar-se 
tanto  de  seu  mal,  que  não  o  trocaram 
por  algum  bem,  vindo  de  outra  parte.» 
Ibidem,  cap.  127. 


Conhecemos 
que  é  verdade,  peccadora 
de  mi ;  por  que  trocaremos 
por  duvidosos  estremos 
o  forte  que  em  Deos  só  mora  ? 
Eil-aa  vem. 

AXTONIO  PRESTES,   ACTOS,    pag.   20. 


—  Inverter  a  ordem,  ou  o  sentido. 

—  Trocar  o  nome  e  os  costumes;  mu- 
dar em  outros. 

—  Trocar  as  palavras ;  substituir  ou- 
tras em  logar  das  próprias. 

—  O  tempo  troca  a  face  das  cousas ; 
muda  em  outro. 

—  Trocar-se  o  tempo;  mudar-se,  va- 
riar. —  «A  qual  fazendo  sua  viagem  com 
tanto  gosto  como  lhe  fazia  sentir  o  bom 
aviamento  que  comsigo  levava,  caminha- 
ram quatro  dias  e  noites  tendo  sempre  o 
vento  prospero,  té  ser  a  vista  de  sua  ter- 
ra; onde  querendo  a  boa  ventura  do  ca- 
valleiro  do  Salvage,  que  pêra  grandes 
cousas  estava  guardada,  se  trocou  o  tem- 
po com  tão  áspera  tormenta,  que  muitas 
vezes  se  tiveram  por  per ili dos.»  Francis- 
co de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  llõ. 

—  Trocar-se;  subsíituir-se. 

Olha  que  só  te  enleva,  e  te  esvanece 
A  falta  de  ter  bem  considerado 
O  quáo  erradamente  se  escolhesse 
Trocando-sc  o  mandar  por  ser  mandado ; 
l'odereÍ8  Deoses  ser,  se  se  colhesse 
O  Pomo,  que  por  isso  he  só  vedado, 


TROC 


TRDC 


TROF 


K  íioarii  de  vó»  cntiio  wiljido 

O  bom  o  o  mal,  quu  aollo  ciiti  uHcoiidiílo. 

aoLiM  nu  Mouiu,  novíssimo»  uo  hojium,  cant.  1, 
est.  37. 


TROCASBALDROCAS,  s.  f.  jdur.  Ter- 
mo ]>(>i)ui:ir.  Trocas,  bar^'iiuhan. 

TROCAVEL,  adj.  2  gen.  Que  é  possí- 
vel ti'in;.'U'-se. 

TROCAZ.  Vid.  Pombo. 

TROÇA,  s.  ./'.  Cabo  ooni  que  as  anton- 
nas  »(•■  Hi;2;'urain  no  nia.itro. 

TROÇAL,  s.  f.  Flo.s  do  tros  pernas 
torciíla-i  0111  uma  do  s.iJa  ou  là  para  cos- 
turas, ou  obra-)  de  sirp;uoiro. 

TROCER.  Vid.  Torcer. 

TRÓCHA,  ."f.  /.  Torino  antiquado,  (^a- 
luinlu)  torcido,  rodoio  ([uo  lova  a  alguin 
legar  por  ilo.^vios. 

TROCHADA,  s.  /.  l'ancada  com  tre- 
cho. 


Agora  merecia  ou 
Iluin  par  de  troc.hadaa  hnaa, 
Forque  fiar  iiart  pe^ifoati 
Nunca  outro  fructo  deu. 
Bem  vi  cu  que  o  guiiuni 
Me  viu  tudo  aqui  leixar  •, 
Mas  o  seu  uciíi'o  jirégar 
Me  levou  a  mi  o  meu. 

OII.  VIOENTE,  KAltÇAS. 


1.)  TROCHADO,  s.  m.  Lavor  que  se  fa- 
zia ()utr'ora  nas  sedas,  e  vestidos. 

2.)  TROCHADO,  A,  adj.  —  Cano  tro- 
chado  nau  C!<ijiii(/ardas ;  cano  forte,  ou 
refor(;ado,  ordinariamente  oitavado  por 
fora. 

TROCHAR,  V.  a.  Reforçar  o  cano  da 
espingarda. 

TROCHEMOCHE,  termo  usado  na  locu- 
ção advcibial :  ^1  trochemoche  ;  confusa- 
mente, sem  ordem. 

TROCHEO,  ou  TROCHEU,  A,  adj.  (Do 
grego  truchaiof:).  Termo  de  prosódia  gre- 
ga o  latina.  Pé  formado  de  duas  sylla- 
bas,  uma  longa  e  outra  breve. 

TROCHIO,  s.  7)1.  Termo  de  historia  na- 
tural. Vid.  Pilorra. 

TROCHISCO.  Vi.l.  Trocisco. 

TROCHLEA,  s.  /.  (Do  latim  trochlm). 
Termo  do  anatomia.  Eminência  articular 
que  apresenta  por  dentro  a  extremidade 
inferior  do  humero. 

—  A  euperficie  articular  rotuliana  do 
f»mur. 

—  Termo  do  veterinária.  Osso  do  joe- 
lho do  cavallo. 

TROCHO,  s.  w.  Termo  da  província  de 
Entre  Douro  e  Minho.  Pedaço  de  pau 
tosco,  hord.ão. 

TROCICOLLO.  Viil.  Torcicollo. 

f  TROCIDA,  s.  /.  Vid.  Torcida.  — «R. 
de  piretro,  de  cravo  da  Índia,  de  Eu- 
phorbio,  o  de  hiera  piera  an.  scrup.  j. 
do  ag.  ardente  fina  une.  j.  misec ;  e  in- 
troduzam-se  no  nariz  trocidas  molhadas.» 
Braz  Luiz  d'Abreu,  Poi"tugal  medico, 
pag.  485,  §  154. 


TROCISCAÇAO,   s.  /.  Termo  de  phar- 

macia.  lUducçào  dos  corpos  reduzidos  a 
pa-sta  por  meio  da  agua,  a  p'<pieiias  mas- 
saa  cónicas  no  fundo  de  um  fuuU,  etc. 

TR0CI3CAD0,  part.  pass.  do  TrocÍB- 
car.   EorniHilo  de  trocisco. 

—  Jlcduzido  a  trocisco. 

TROCISCAR,  V.  a.  Ternio  de  pharma- 
cia.  Reduzir  um  medicamento  a  troeis- 
cos. 

TROCISCO,  s.  VI.  (Do  grego  trochia- 
koe).  Termo  de  ph.-innacia.  Ma.ssa  medi- 
cinal fnta  em  rodinhas,  ou  pastilhas. 

TROCO,  8.  m.  A  moeda  miúda  que  se 
dá  ])or  outra  peça  de  mais  valor,  com 
que  se  fez  alguuui  de.-ípeza,  ou  que  eo 
deu  a  trocar. 

-—  Loc.  ADV.:  Â  troco;  em  recompen- 
sa.—  «Nào  creio  ou,  disse  D.  Duardos, 
que  em  quanto  Albayzar  seu  genro  c:l 
andar,  queira  fazer  cousii  em  que  aven- 
turo sua  vida;  o  o  imperador  de  meu 
consellio  devia  lançar  mào  delle,  porque 
a  troco  d'um  se  dessem  qa  outros.»  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  dTnglaterra, 
cap.  ]08.^kE's  tu  Palmeirim  tiltio  maior 
de  D.  Duardos,  disse  o  gigante,  que 
vencestes  Dramusiando  c  mataste  Caiu- 
bold."io  e  ganhaste  a  ilha  Encoberta,  ven- 
cendo todolos  guardadores  delia  V  Pêra 
que  o  perguntas?  disse  elle;  porque  fol- 
garia, disso  o  gigante,  fazer  bataliiacom- 
tigo  em  presença  de  minha  irmãa  Colam- 
bar  e  mostrar-lhe  sequer  algum  gosto  a 
troco  de  quantos  desgostos  de  tua  lina- 
gem  tem  recebido.»  Ibidem,  cap.  117. 


Que  toma  morrer  a  troco 
lie  eallar  o  que  padece, 
laso  lie  estar  emperrado 
Na  doeuça  ;  que  he  peor. 
Tcem-no  os  Plivsicos  curado  ? 

CA.M.,  Sl^LEUCO. 


—  «Sustentou  o  cerco  de  Guimarães 
que  o  próprio  Rei  lhe  veio  pôr,  onde 
Egas  Moniz  fez  aquella  promessa  ile  bom 
vassallo,  que  desempenhou  como  bom  ca- 
valleiro  offerecondo  sua  vida  a  troco  da 
palavra  mal  cumprida.  Venceo  a  Albu- 
cazan  Rei  de  Badajoz  na  batalha  de 
Trancoso,  onde  foi  soccorrido  das  oraç.íes 
de  Fr.  Áldeberto  Prior  do  Mosteiro  de 
S.  Joaõ  de  Tarouca.»  Frei  Bernardo  de 
Brito,  Elogios  dos  reis  de  Portugal,  con- 
tinuados por  D.  Josó  Barbosa.  —  «Che- 
gando nós  a  huma  ciiiade  muyto  nobre 
que  se  dezia  QuangeiKiruu,  que  teria 
quinze  ou  vinte  mil  vezinhos,  o  Naude- 
lum,  que  era  o  que  por  mandado  dei  Rey 
nos  levava,  se  deteve  nella  doze  dias  fa- 
zendo sua  veniaga  cos  da  te.rra  a  troco 
de  prata  e  de  pérolas,  em  que  nos  con- 
fessou que  de  hum  tizora  quatorze,  uifis 
que  se  levara  sal,  se  nSo  cõtentar.a  com 
dobrar  o  dinheyro  trinta  vezes.»  Fern.ào 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.  132. 
—  «Em  oâ  quaes  deixaram  trinta  Portu- 


gueses encarregados  dos  navios  e  daa  fo- 
zendas,  pcra  que  uUori  defendessem  <M 
naviod  e  em  algum  portfj  da  China  onde 
milhor  pudessem  veude»«eui  as  iazeiídaa 
que  lhe  ficavam  a  troco  das  fuzeudan  d» 
China,  e  <jrdcnado  iato  se  partiram  cami- 
nho da  Índia.  •  Frei  (íaspar  da  Cruz, 
Tratado  das  cousas  da  China,   cap.   24. 

—  A  troco  d' isno ;  em  recomponaa. 

—  Troco  de  j/rieioneiro»;  troca. 

—  Loc. :  A  troco  de  se  fazerem  poiU- 
rosos  commeltevi  mil  crivws ;  para  se  tor- 
narem  poderosos. 

TROÇO,  s.  m.  Pedaço  de  pau  roliço, 
tosco.  —  «E  nos  quatro  cantos  d'e.'<tii  casA 
quatro  tenores  que  ieraria  cada  bum  qua- 
si  hum  quarto  com  suas  caldeirinhai  pre- 
sas por  cadcas,  guarnecidos  em  parte»  de 
troços  dourados  da  grossura  de  hum  bm- 
ço,  e  dous  caítiçaes  nmyto  grandes  com 
suas  tocha.s  de  cera  novas  apagadas  por 
ser  ain(la  de  dia.»  Fernão  Mondes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  124. 

—  Parte.  —  Um  troço  da  armada.  — 
(E  como  o.  tempo  pedia  mais  conclusSo, 
que  conselho,  assentou  comsigo  enviar  a 
seu  filho  D.  Álvaro  do  Castro  com  hum 
troço  da  armada,  contra  o  parecer  dos 
mareantes,  que  havi.ào  por  temerário  esto 
acomettimeuto  no  principio  do  inverno.» 
Jacintho  Freire  <l'Andrade,  Vida  de  D. 
João  de  Castro,, liv.  2. 

—  Pedaço  de  pau  quebrado.  —  «Por- 
que vendo  Affonso  d'Alboquerque,  que 
atando  com  cordas  os  troços  quebrados 
da  escada,  nào  ficava  muito  segura,  man- 
dou aos  alabardeiros  de  sua  guarda,  que 
com  suas  aiabardas  a  sustentassem.»  Bar- 
ros, Década  2,  liv.  7,  cap.  9- 

—  Peças  em  que  se  formam  degraus  de 
escadas  de  navios,  de  assaltar  praças  á 
escala. 

—  Um  troço  de  cavallaria ;  era  um  re- 
gimento. Vid.  Trosso.  —  «Diogo  de  Al- 
mevda  o  vadeou  com  hum  troço  de  ca- 
vallaria, achando  por  aquella  parte  me- 
lhor váo,  e  melhor  fortuua;  pirque  se  to- 
pou com  o  General  dos  Mouros,  que  a  ca- 
vallo andava  ordenando,  e  animando  os 
seus,  ao  qual  euvesíio  com  grande  genti- 
leza.» Jacintho  Freire  d'Andrade,  Vida 
de  D.  João  de  Castro,  liv.  4. 

—  Loc.  AUV. :  A  troços ;  com  inter- 
rupções. 

TROCULO,  s.  m.  Vid.  Torculo. 

TROFA,  í.  /.  Termo  da  província  da 
Beira.  Capa  de  junco  contra  a  chuva. 

TROFEO,  ou  TROPHEO,  í.  m.  (Do  la- 
tim trophivum).  Insignia.,  ou  aignai  ex- 
posto .10  publico  para  memoria  de  alguma 
victoria,  como  as  bandeiras  inimigas,  os 
canhões,  .as  lanças. 

—  Esteio  com  armas  do  inimigo  venci- 
do, que    se  erguia  por  memoria  ou  voto. 

—  Figuradamente:  Victoria. 


Anjos  (dalli  bradou  í  quiz  o  Destino 
^Ou  já  vingança  do  rival  Eterool 


TROM 


TROM 


TROM 


831 


Qn'eu  dos  mares  no  campo  crystallino 
Não  ganhasse  um  trofto.  Eu  Rei  do  Inferno, 
Ia  a  punir  n'hum  Luso  o  desatino, 
Qu'audaz  se  oppunlia  a  meu  poder  superno ; 
Ia,  vedando  a  temerária  empreza, 
Vingar  meu  Culto,  oppòr-mc  á  Xatureza. 

J.    A.   DE   MACEDO,  OBIF.NTE,  Cant.   5,  CSt.    7. 

Nova  Escola  Ecléctica  se  eleva 
Sobre  a  verdade,  e  calculo  somente. 
Que  Monumentos  immortacs  no  Templo, 
Cercados  d'alraa  luz  se  mo  otlerccem, 
Depois  que  alto  trofeo  do  grão  Britano. 

J.    A.    DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Cãut.   4. 


■  Troféos  da  fria  morte. 


Quando  se  acaba  a  paz,  e  o  laço  estala 
Dos  Elementos,  na  mortal  substancia 
Abre  o  grémio  outra  vez,  e  os  dcspresados 
Trofeos  da  fria  morte,  esconde,  e  fecha. 
Guarda  nossa  memoria,  e  guarda  o  nome 
Contra  o  furor  da  rápida  existência. 

J.    A.    DE  MACEDO,  A  N.ATDEEZA,  Cailt.   2. 


—  Troféos  do  inferno. 


Em  veneno  subtil  propina  a  morte. 
Soberbo  cora  os  troféos  do  Iirferno  orulta. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Caut.  1. 


TROGALHO,  s.  vi.  Termo  popular.  Pe- 
ça de  atar  alguma  cousa. 

TRÓIA,  ou  TROYA.  Yid.  Cana. 

TROILE,  s.  m.  Termo  de  historia  natu- 
ral. Ave  palmipede,  ou  nadadora,  de  bi- 
co direito,  pontudo,  e  e.streito. 

TROIXA,  s.  /.  Vid.  Trouxa. 

TROLHA,  s.  f.  (Do  latim  truelle).  Pá 
manual  era  que  o  pedreiro  tem  na  mão 
esquerda  a  cal  amassada  de  que  se  vae 
servindo. 

—  S.  m.  Termo  popular.  Servente  de 
pedreiro. 

TROLHO,  «.  m.  Termo  antiquado.  Me- 
dida da  provincia  que  leva  meio  sela- 
mim. 

TROM,  s.  7)1,  Macliina  bellica  antiga  de 
atirar  pedras. 

—  Os  canhões  de  artilheria. 

—  O  troar,  o  som  dos  canhões. 

1.)  TROMBA,  s.f.  (Do  franeez  trompe). 
Espécie  de  nariz,  prolongado  e  grosso, 
que  sáe  do  meio  da  testa  do  elephante,  e 
que  elle  encurta,  ou  astende  para  diver- 
sos usos,  e  em  certo  modo  lhe  serve  de 
mão :  com  a  tromba  sorve  os  liquides, 
leva  á  bocca  os  alimentos,  com  ella  abra- 
ça, e  levanta  corpos  pesados. 

—  Cano  de  chaminé,  que  encaminha  o 
fumo  para  fira  d'ella,  de  maneira  que 
não  torne  a  entrar. 

—  Termo  de  náutica.  Manga  de  agua 
ou  de  nuvem,  que  desce  sobre  o  mar  em 
forma  de  columna,  e  muitas  vezes  abys- 
ma  as  embarcaçõe.í :  estas  denominam-se 
trombas  maritimas;  as  outras  denomi- 
nam-se trombas  terrestres,  que  tem  logar 


na   terra,    e   produzem   inundações,  que- 
bram arvores,  destroem  casas,  etc. 

—  Loc. :  Fazer  tromba  a  alguém;  mos- 
trar-lhe  má  cara. 

—  Piar.  Termo  de  marinha.  Paus  com 
muitas  raizes,  que  se  encontram  além  daa 
ilhas  de  Tristão  da  Cunha,  e  é  signal. 

—  Termo  antiquado.  Parece  ser  insí- 
gnia como  massas,  que  se  conservara  em 
algumas  coUegiadas.  Em  Viterbo,  Eluci- 
dário. 

2.)  TROMBA,  adj.  f.  — Abóbora  trom- 
ba ;  abóbora  que  tem  a  figura  de  trom- 
ba. 

TROMBÃO,  s.  m.  Trombeta  grande. 

—  (J  som  forte  d'ella. 
TROMBEJAR,  v.  n.  Fazer  trombas,  car- 
rancas. 

—  Dar  a  alguém  com  a  tromba,  com 
o  focinho. 

1.)  TROMBETA,  s.  f.  (Do  franeez  trom- 
pette).  Instrumento  de  sopro,  que  se  com- 
põe de  um  cano  de  latàu,  ou  prata,  re- 
torcido, e  mais  largo  em  um  extrenio, 
que  n'aquelle  que  se  applica  á  bocca; 
serve  na  musica,  e  para  fazer  signaes  na 
guerra.  —  »0s  moradores  delia  também 
vendo  as  nossas  nãos,  e  o  apparato  das 
suas  bandeiras,  trombetas,  e  artelharia 
que  assombrou  aquellas  pravas :  ficarão 
muito  mães  espantados  por  verem  uiaes 
em  nós  pêra  temer,  do  que  os  nossos  viào 
nelles.»  Barros,  Década  4,  liv.  2,  cap. 
3.  —  «Senhores,  e  nobre  gente,  e  muytas 
trombetas,  e  charamellas,  e  sacabuxas, 
se  recolbeo  a  sua  pousada.  E  depois  ouue 
em  casa  do  Marquez  muytos  dias  festas 
de  danças,  e  muy  abastados  banquetes. 
E  como  nobre,  e  gi'ande  senhor,  deu  al- 
gumas dadiuas  honradas  aos  officiaes  que 
èzerào  seus  despachos.»  Garcia  de  Re- 
zende, Chronica  de  D.  João  II,  cap.  79. 
—  «E  o  estrondo  de  todas  as  trombetas, 
e  atambores,  ministres  altos  dei  Key,  da 
Princesa,  e  do  Duque,  e  muytos  senhores 
que  os  íeuauam,  era  cousa  espantosa.» 
Ibidem,  cap.  123. —  «E  foy  amostra  de 
muito  grande  magestade  ha  maneira  com 
que  sayo  polia  cidade,  porque  foy  acom- 
panhado com  todos  os  grandes  delia,  e 
com  muita  gente  bem  armada,  e  com 
muitas  bandeiras  estendidas  muito  louçaàs 
e  com  muitas  trombetas  o  com  muitos 
atabales,  e  outras  muitas  cousas  que  em 
semelhantes  negócios  casos  e  aparatos  se 
costumam.»  Frei  Gaspar  da  Cruz,  Tra- 
tado das  cousas  da  China,  cap.  2õ.  — 
«E  quando  entrava  nas  povoações,  en- 
trava com  grandes  estrondos  e  aparatos 
com  som  de  trombetas,  e.com  pregoeiros 
diante,  que  hiam  apregoando  ha  gram 
vitoria  que  ouvera  ho  Luthissi  foào  dos 
grandes  quatro  Reys  de  Malaca.  E  todos 
os  principaes  dos  lugares  ho  sayam  a  re- 
ceber com  grandes  festas  e  honras,  con- 
corrindo  todos  os  povos  a  ver  a  nova  vi- 
toria.» Tenreiro,  Itinerário,  cap.  24. — 
«Com  has  quaes,  e  com  has  nãos  emban- 


deiradas a  som  de  trombetas,  no  mesmo 
dia  depois  de  jentar  forau  surgir  duas  le- 
goas  da  cidade  de  Calecut,  taõ  contentes 
quomo  se  jà  tiuerau  feito  fim  de  seus  tra- 
balhos, e  estiuerão  surtos  diante  da  ci- 
dade de  Lisboa  donde  hauia  onze  meses 
que  partirão.»  Damião  de  Góes,  Chronica 
de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  38.  —  «Com 
esta  pequena  armada,  em  comparação  da 
dos  imigos,  os  foi  Rui  de  brito  commet- 
ter  antes  de  Sol  leuado,  no  qual  tempo 
se  ja  fazião  a  vela  para  entrarem  no  porto 
da  cidade  com  grandes  gritas,  e  astron- 
dos  de  bombardas,  trombetas,  anafis,  e 
sinos,  com  todos  os  navios  emVjandeirados 
e  em  tam  boa  ordem,  que  punha  espanto 
aos  que  os  viam,  mas  nem  por  isso  dei- 
xaram os  nossos  de  os  ir  commeter,  o 
que  pos  mor  espanto,  assi  nelles  como  nos 
da  cidade,  por  o  numero  ser  tão  des- 
igual.» Ibidem,  part.  3,  cap.  41. —  «O 
mandou  receber  antes  de  entrar  na  cidade 
com  muita  gente  de  cauallo,  trombetas, 
e  atabales,  e  dizer  que  viesse  poiísar  com 
elle  ate  que  el  Rei  tornasse  da  caça,  onde 
auia  dous,  ou  três  dias  que  andaua,  e  o 
deixara  assi  ordenado,  o  que  Diogo  fer- 
nandes  com  parecer  do  capitão  criado  de 
Meliquegupi  assi  fez.»  Ibidem,  cap.  64. 
—  »Na  principal  atalaia  dos  mosselema- 
nos  soou  então  uma  trombeta ;  centena- 
res d'ellas  responderam  por  todos  os  ân- 
gulos do  campo  a  este  convocar  para  a 
morte.»  Alexandre  Plerculano,  Eurico, 
cap.  9. 

—  A  trombeta  bastarda ;  tem  o  cano 
mais  estreito. 

—  Loc:  Dar  á  trombeta;  fazer  si- 
gnal de  marchar,  ou  antes  de  investir  o 
inimigo. 

—  Podar  de  trombeta ;  é  deixar  no 
corpo  da  vide  velha  a  vara  do  vinho,  e 
diante  um  terção. 

—  Trombeta  marinha;  instrumento  de 
uma  só  corda  sobre  arca  de  pau,  que 
produz  um  som  similhante  ao  da  trom- 
beta. 

—  A  trombeta  evangélica.  — ■  «Fr.  João 
Blasques  do  Barco,  auctor  da  Trombeta 
evangélica,  pregava  no  Porto,  sendo  eu 
menino,  especialmente  contra  os  que  con- 
sentiam tivessem  os  inglezes  hereges  uma 
sala  em  que  exercitavam  as  funcções  re- 
ligiosas.» Bispo  do  Grão  Pará,  Memorias, 
publicadas  por  Camillo  Castello  Branco, 
pag.  90. 

—  Loc.  :  Tremer  antes  da  trombeta ; 
tremer  antes  de  ouvir  o  signal  de  ferir 
a  batalha. 

—  Querer  alguma  cousa  com  trombe- 
ta ;  querel-a  com  pompa,  ostentação. 

—  As  trombetas  servem  também  para 
applausos,  festas,  pompas. 

—  Loc.  :  Tremer  antes  da  trombeta ; 
tremer  antes  do  perigo. 

—  Adágios  e  provérbios: 

—  Para  rabão  e  queijo  não  é  mister 
trombeta. 


TRON 


TRON 


TRON 


—  Ou  morrer  com  trombetas,  ou  mor- 
rer enforcíiilo. 

2.)  TROMBETA,  ».  m.  lloincui  quo  to- 
ca troiiiljft.i. 

—  Fifííirailameuto  :  Ilomcui  quo  apre- 
goa novas. 

TROMBETÃO,  *.  m,  Tormo  de  milicia. 
Instruiiioiito  «lo  .'opro,  grainlc  trompa, 
quo  so  iMiiiirnir.i  nin  musicas  iiiilitaru.-i. 

TROMBETEIRA,  s.  f.  Mulher  quo  toca 
troiiiliitíi. 

TROMBETEIRO,  s.  m.  ílomcm  que  faz 
ou  tooit  troMíbutit.  —  «Entre  as  tlores  iiilo 
ha  aqui  haspiíio  que  uionla,  (piundo  mui- 
to, mojK(uito  trombeteiro  quo  por  modo 
de  melfja  accordu  o  fa^a  arder  alfrum 
tanto.  1  Bispo  (K)  Grilo  l^ará,  Memorias, 
publicadas  por  Camillo  CastuUo  Brauco, 
pag.  49. 

—  Termo  do  historia  natural.  Agami 
do  Cayenna  ou  da  America  meridional; 
tem  dous  pós  do  comprido,  pernas  altas, 
bico  um  pouco  abobadado  o  cónico,  e  a 
Bua  plumagem  é  anegrada  com  uma  pla- 
ca do  um  azul  brilhante  no  peito,  longas 
pennas  cinzentas  no  uropigio,  o  somen- 
te tem    pennugem   na  cabeça  e  pescoço. 

TROMBETINHA,  *.  /.  Dinduutivo  de 
Trombeta.  IV-tpiena  trombeta. 

TROMBETÕES,  s.  m.  plur.  Termo  de 
botanic.i.  Vid.  Estramonio. 

TROMBONE,  s.  m.  Vid.  Trombão. 

TROMBONIO,  s.  m.  Termo  do  botânica. 
Planta;  es])ecie  de  narciso. 

TROMBUDO,  A,  ailj.  Quo  tem  tromba. 

—  Figuradamente  :  Carrancudo,  enfa- 
dado com  soberba. 

TROMPA,  s.f.  Trombeta  usada  na  mu- 
sica. 

—  Termo  de  anatomia.  Trompa  de  Eat- 
tachio ;  canal  cm  parte  ósseo,  em  parte 
fibro-cartilaginoso  e  membranoso,  uma 
das  extreuúdades  do  qual  se  prolonga 
até  á  cavidade  do  tympano,  e  a  outra, 
mais  afunilada,  abrc-.-!0  ua  parto  lateral, 
o  superior  da  pharynge. 

—  Trompa  de  Fallope ;  nomo  dado  a 
dous  canacj  longos  de  10  a  13  centime- 
tros,  quo  njisce  cada  um  de  um  dos  ân- 
gulos superiores  da  madre,  o  se  dirigem 
ao  ovário  correspondente. 

TROMPETA,  s.  f.  Termo  antiquado. 
Vid.  Trombeta. 

TRONANTE,  part.  act.  de  Tronar.  Quo 
atroa. 

TRONAR,    1-.  íi.  Atroar,  produzir  trom. 

—  Trovidar. 
TRONCADAMENTE,  adv.  (De  troncado, 

o  o  sutTixo  iimeute»).  Em  partes  separa- 
das, sem  eonuexào  alguma  entre  si. 

TRONCADO,  part.  pnss.  de  Troncar. 
—  lermos  troncados.  —  Membros  tron- 
cados. 

TRONCADURA,  s.  /.  O  modo  de  en- 
tronqueeor,  ile  crear  troncos,  fallando 
dos  ve^etacs.  Vid.  Caulescencia. 

TRONCAR,  ou  TRUNCAR,  c.  a.  (Do  la- 
tim iruncare).  Cortar  membros  do  tronco. 


—  Troncar  as  palavras,  períodos,  clau- 
sulas;  tirar  alguma  parte  que  a«  torua- 
va  inteira». 

—  Troncar  imia  ohm ;  nSo  a  acabar, 
tornal-a  incompleta,  tiraado-Iho  folhas, 
ou  volumes. 

— ■  Troncar  o  cone ;  cortar  parte  d'el- 
le,  o  vértice. 

—  Troncar  a  historia;  faltar  com  al- 
guma ])arte  d'olla;  wTw  a  coui|detar. 

—  Figuradamente:  Troncar  vidas;  ma- 
tar. 

TRONCASSIA,  s.  f.  Imposto  que  se  pa- 
ga do  peixe  pescado  contra  as  posturas, 
aos  dias  santos  e  domingos,  ao  tronquei- 
ro-niór. 

TRONCHADO,  part.  pass.  de  Tronchar. 
Tornado  troncho. 

—  Dosorolhado. 

TRONCHAR,    v.   a.  Troncar,  cortar. 

1.)  TRONCHO,  A,  adj.  Que  está  pri- 
vado de  algniii  membro  que  outr'ora 
teve. 

2.)  TRONCHO,  *.  m.  O  membro,  a  pe- 
ça quo  se  cortou  do  tronco.  —  tNão  tem 
armas  algumas,  mais  que  huns  trõchos 
de  pao  que  trazem  sempre  pouco  niayo- 
res  de  hum  couado,  e  humas  facas  grau- 
des  como  as  dos  carniceyros,  e  cõ  ellas 
se  sangrão  no  meyo  da  testa  ;  Quando 
estào  enfermos  senão  conualecem  em  bre- 
ue  tempo ;  matãose  cõ  suas  próprias 
mãos.»  Frei  Gaspar  do  S.  Bernardino, 
Itinerário  da  índia,  cap.  9. 

TRONCHUDO,  A,  adj.  — Couve  tronchu- 
da ;  couve  de  grandes  talos  e  pouciw  to- 
lhas, que  não  fecham  ordinariamente  tão 
bem  como  as  do  repolho,  o  qual  fecha 
quasi  todas. 

1.)  TRONCO,  í.  m.  (Do  latim  fritnctíS). 
O  corpo  de  uma  arvore,  considerado  sem 
ramos  e  sem  raízes.  —  Um  tronco  nodo- 
so.—  «Assi  que  minha  Icy  he  a  de  Curis- 
to,  meu  nomo  c  ser  de  Christaõ,  minha 
eoutissaõ  sempre  huma,  e  minha  deter- 
minação morrer  por  ella :  e  se  úo  parti- 
cular dos  Deoses  queres  saber  o  que  sin- 
to, he  serem  na  verdaile  mortos  e  inscn- 
siveis,  e  só  vivos  nas  apparcncias,  e  não 
terem  mala  de  divinos,  do  que  tem  os 
troncos  das  arvores,  e  as  pedras  dos 
rochedos.»  Monarchia  Lusitana,  liv.  5, 
cap.  6. 


As  corpulentas  Arvovcs  apenas 
Erguem  aos  ares  os  dcspiílos  troncos. 
Abrem-sc  ao  amio  o  tumulo  sombrio. 

J.    X.   DB  KA.CEDO,  A  NATCBKZA,  Caut.  1. 


Mas  Copia,  o  nSo  Riv«l  do  Auctor  Supremo, 
Qual  no  Libano  a  Palma  a  pAr  dhum  Cedro 
Quos  altos  troncos  pelas  nuvens  mettc. 


Cerrados  bosques  pelas  nuvens  mettcm 
Troncos,  que  vão  datar  talvez  no  bcri;o 
Do  vasto  Mundo,  quo  do  u.ida  emerge. 
IBIDEM,  cant.  2. 


—  Termo  de  botânica.  Parte  principal 
lia  ha'«te  das  arvorei  dicotyledoneau,  d'on- 
do  partem  os  ramos. 

—  Teruío  do  anatomia.  A  part)  malg 
considerável  de  uma  artéria,  de  uma 
veia,  de  um  nervo.  —  Tronco  arterial. 
—  Tronco  venoso. 

—  Tronco  brachio-cephalico ;  artcrÍA 
que  nuBcc  da  parte  anterior  da  convexi- 
dade da  crossa  da  aorta. 

—  Busto  do  corpo  humano  do  qual  se 
separam  a  cabeça,  os  braços  e  as  coxas. 

—  Em  zoologia,  nos  vertebrados,  a 
parte  principal  do  corpo  do  animal,  aquel- 
ía  sobre  a  qual  se  articulam  os  m«»Q- 
bros. 

—  Termo  de  genealogia.  Linha  directa 
de  uma  mesma  familia,  d'ondo  brotam  oa 
ramos  collateracs.  —  «E  todolos  troncos 
sam  muy  fortes,  e  cada  cidade  que  ho 
cabeça  de  provincia  tem  treze  troncos,  e 
soo  em  seys  delles  esta  ha  gente  scnfen- 
ceada  a  morte :  avera  soo  cm  Cantão  de 
quinze  mil  pre.»as  pêra  cima.»  Frei  Gas- 
par da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da  Chi- 
na, cap.  21. 

Immcnaas  solidões  nliorror  sublimes, 
Majji-âtadc,  extcuâào,  riqueza,  tudo 
A  imagem  te  mostrou  do  Omnipotente, 
E  destes  troncos  »n  dcrramão  filhoi 
Enormes  como  oa  Pais^  os  Guararapes. 

1.   A.    OR   MACEIM),   À   MATCBKZA,    Cant.   2. 

—  Fructo  de  tronco   bem  utreado. 


Inda  CU  veja  aqui  fmcto 
do  tronco  tão  bom  estreado. 
Chamac-mc  mal  assombrado, 
ora  jA  vos  não  escuto. 

AHTúxio  PBiisTxa,  AUTOS,  pag.  385. 

—  Prisão,    cadèa,  edificio  fechado  com 

grades,  para  segurar  pre.-os. 

—  Parte  da   planta   existente  entre  a 
raiz  o  a  rama. 

Junto  ao  tronco,  por  seus  Avis  plantado. 
Cão  íegenax.  Tal,  junto  do  Loureiro, 
Que  dos  Tríicoâ  Numes  a  Ara  ensombra, 
A'  lançada,  caliio,  de  Pyrrho,  Priamo. 

F.   M.   DO  «ASCllárjtTO,  OS  HABTTBCS,  1ÍT.  10. 

Inda  vem,  e  entam,  longo  espaço,  fica, 
Cístas  n"um  tronco,  e  os  ílhos  no  Castello. 
Eu,  que  encoberto  a  vi,  conter  não  pude 
As  lagrimas,  quo  rompera.  Tardo  o  passo, 
Sc  despegou  do  tronco ;  c  mais  não  veio. 


—  Figuradamente :  Um  tronco ;  um 
cepo,  um  estúpido,  insensível. 

—  Prisão  de  madeira  com  olbaee,  onde 
se  prende  o  pé,  ou  pescoço. 

—  Tronco  da  gerai;ào;  a  possoa  em 
quem  ella  principia  a  ennobrecer-sc. 

—  Figura.iamente  :  Tronco  </<J  arvore. 
—  «Aos  Capitacns  da  Cavallaria,  o  El- 
mo; e  aos  Cavalleiros  das   Ordens   Mili- 


TROP 


TROP 


TEOP 


833 


tares  assentaõ  os  circulos  sobre  aa  mes- 
mas Cruzes;  e  do  tronco  da  arvore  pen- 
duraõ  o  Escudo  das  Armas  da  tal  Famí- 
lia.» Severim  de  Faria,  Noticias  de  Por- 
tugal, Disc.  3,  cap.  18. 

—  Fifcuradamente  :  Prisiio,  obrigação. 
2.)  TRONCO,  A,    adj.  Troncado,  muti- 
lado, descabeçado. 

TRONEIRA,  «./,  (Do  francez  trônilre). 
Abertura  por  onde  entram  as  boccas  dos 
canhões  e   espingardaria    para   se   atirar 
ao  inimigo.    . 
.     — -  Bombardeira. 

'•TRONO,  s.  m.  Vid.  Throno. —  «Qniz 
o  Senhor  que  os  Anjos  lhe  assistissem  no 
Sepulchro,  e  no  trono,  mas  na3  os  axlmi- 
tio  â  sua  meza,  e  nesta  parte  sendo  su- 
perior a  natureza  angélica  â  humana,  di- 
gnou de  maior  fauor  a  humana  do  que 
a  angeliea.»  D.  Fernando  OoiTêa  de  La- 
cerda, Carta  pastoral,  pag.  235.         ' 

TRONQUEIRO,  s.  m.  Guarda  do  tron- 
co, carcereiro.  —  aE  porque  comunmen- 
te  nestas  casas  ha  muy  grandes  apousen- 
tos  assi  pêra  ho  regedor  como  pêra  os  as- 
sistentes, e  grandes  troncos  e  apousen- 
tos  peKi  os  tronqueiros  e  pêra  as  vigias. » 
Fr.  Oa<?par  da  Cruz,  Tratado  das  cou- 
sas da  China,  cap.  8. 

TROPA,  s.  /.  (Do  francez  ttoupe).  Sol- 
dados de  cavallaria. 

—  As  forças  militares,  a  gente  de 
•guerra. 

■'■  — Loc.:  Commandar  as  tropas,  sedu- 
zit-as,  corrompel-as ;  coramandal-as,  cor- 
rompel-as,  subornal-as  para  que  venham 
para  quem  as  subornou,  corrompeu,  se- 
duziu, e  deixeift''âa  companhias  e  «erviço 
de  outrem.       .':"c vj;   ;•     •- 

—  Em  tropa ;  por  comi^nhia»,  bata- 
lhões, esquadrões. 

—  Marchar  em  tropa ;  diz-se  em  op- 
•Iposição  a  marchar  á  desfilada. 

■  —  Cavallos  de  tropa ;  cavailos  pró- 
prios para  o  serviço  do  exercito. 

■  TROPEAR.  Vid,  Trapear   o  navio. 
TROPEÇADO,    part.    pass.    de    Trope- 
çar. 

TROPEÇAMENTO,  s.  m.  Acção  de  tro- 
peçar, de  embicar,   de  cair. 

—  Figuradamente  :  Erro,  queda,  des- 
acerto. 

TROPEÇÃO,  «.  m.  Augmentativo  de 
Tropeço,  (irande  tropeço. 

TROPEÇAR,   V.  n.  Topar,  e  ir  caindo. 

—  Figuradamente  :  Commetter  falta, 
erro.  —  «O  peccado  de  hum  Christão  he 
mais  grave :  porque  levando  diante  a  luz 
da  Fé,  ainda  tropeça ;  e  recolhido  den- 
tro da  arca,  ainda  naufraga ;  e  conhe- 
cendo a  Christo,  o  cruciiica  como  os  Ju- 
deos,  que  o  naõ  conhecerão.»  Padre  Ma- 
noel Bernardes,  Exercioios  espirituaes, 
part.  1,  pag.  214. 


Estes  dous  olhos  sSo  a  Basào, 
porque  os  extrinsocos  iiào  tem  mais  logar 
que  dareili  ao  corpo  vomper  oete  ar : 
VOL.  V.  — 105. 


esfoutros  que  digo,  são  sempre  brandão, 
sào  stíiiipi-e  atalaias  a  uào  tropeçar. 

ANrOSIO  PKESTES,  ACTOS,  pag.  6. 

—  Adagio  e  pkovekbio  : 

—  Quem  em  pedra  duas  vezes  trope- 
ça,  nào  é  muito  quebrar  a  cabeça. 

TROPEÇO,  í.  m.  Cousa  em  que  se  tro- 
peça. 

—  Figuradamente  :  Impedimento  nos 
negócios,  e  consecução  d'elles.    . 

—  A  pedra  do  tropeço  ;  a  diffiouldade 
do  negocio,  onde  se  de.ícáe  d'elle,  ou  se 
pára. 

—  Tropeços  da  memoria  /• .  obstáculos 
pnr  falta  d'ena. 

TROPEÇUDO,  A,  adj.  Termo  popular. 
Que  tropeça  a  cada  passo  por  fracOj  e  or- 
dinariamente por  velho. 

1.)  TRÔPEGO,  A,  adj.  Que  não  tem  o 
tisó  livre  e  desembaraçado.  —  O  trôpego 
da  linfjua. 

2.)  TRÔPEGO.  Termo  popular.  Vid. 
Hydropico. 

TROPEIRO,  ».  wi.  '  Hôm^.  que  i^aja 
com  cavalgaduras  de  carga  ê' cáfila. 

TROPEL,  s.  ni.  Multidão  de-  eavallei- 
ros. 

—  Figuradamente  :  Grande  numero, 
multidão  estrondosa.  —  Seguir  em  tropel 
alguém . 

Estando  praticando  em  variou,  casos, 
E  matérias  que  alli  mouem  com  gosto 
Eis  vem  correndo  a  gente  em  tropel  junta 
C^:)m  grande  estrondo,  vozes,  c  alaridos, 
Co  a  reuolta.  pressa  os  que  não  podem 
Por  doifecto  da  idade  correr  passaõ 
Grande  afronta  o  trabalho,  atropellados 
Daquella.  tào  viplouta  vulgar  ftiri*.  ■ 

CORTE  REAL,  NAnFHAGIO  DE  SEPÚLVEDA,  Cant.   5. 

Aquelles  que  acompauhão  vão  feriudo 
A  tuvba  Mauritana  innumcrauel 
E  todos  em  tropel  o  vão  seguindo 
Dando  em  partícular  golpe  notaucl. 
Os  Mouros  com  furor  sobre  ellcs  vindo 
Estrago  fazem  triste,  c  miaeraucl 
Hay,  hay,  caso  cruel,  hay  sorte  escura. 
Quão  firme  he  o  mal,  o  bem  quão  pouco  dura. 
iDiDEM,  eant.  14. 

—  Tropel  de  cavallos ;  estrondo  que 
elles  fazem  com  os  pés.  —  «E  caminhan- 
do um  dia  a  horas  que  o  sol  se  punha, 
por  uma  floresta  deshabitada  de  todo  ar- 
voredo, e  alongada  de  povoado,  sentiu 
traz  si  gram  tropel  de  cavallos  :  viran- 
do o  rosto  pêra  ver  o  que  seria,  viu  dez 
ou  doze  cavalleiros  armados  que  atra- 
vessavam a  floresta  contra  a  outra  ban- 
da, levando  um  galope  apressado,  como 
que  iam  a  algum  gram  feitr>.»  Francisco 
(lo  Moraes,  Palmeirim  de  Inglaterra,  cap. 
104. 

—  Tropa,  ou  corpo. 

—  Adverbialmente  :  De  tropel ;  jun- 
tamente, em  tropa. 


De.sceo  dos  montes  de  tropel  o  gado, 
A  Serrana,  o  Pastor,  e  o  pegoreiro. 


O  voraz  lobo,  o  tímido  cordeiro 
Tudo  ficou  attouito,  e  pasmado. 

J.    X.   DK  MATTOS,  BIMAS. 

TROPELIA,  a.  f.  Desordena  feitas  por 
gente  de  tropel.      ■       '■-'■'. 

—  Figuradamente  í  As  tropelias  ■ '  ãat 
fortuna  ;  os  revezes  d'ella,    '  í 

TROPEZIA,  s.  f.  Termo  popnlar.  Vid. 
Hydropesia. 

TROPHEO,  s.  m.  Vid.  Trofeo.— «O 
chronista  franciscano  -attesta  ter  visto  e 
existirem  ainda  no  seu  tempo,  A.  D. 
1709,  uns  azulejos  que  ornavam  a  pare- 
de da  egreja  no  sitio  onde  fora  a  primi- 
tiva sepultura  do  poeta,  e  alli  foram  pos- 
tos cm  seu  obsequio  com  emblemas  e  tro- 
pheos  militares.»  Garrett,  Gamões,  nota. 

-\  TROPHIGO,  A,  adj.  Que  diz  res- 
peito á  nutrição. 

—  A  parte  trophica  dos  alimentos ;  a 
parte  que  serve  á  nutrição,  em  opposi- 
ção  á  parte  excrementicia,  que  se  ex- 
pelle. 

—  Influencia  trophica,  poder  trophi- 
co;  inflxiencia,  poder  que  tem  certos  ór- 
gãos para  activar  a  nutrição  d'outros.  — 
O  poder  tròphico  doe  gangjios-espinaes 
em  relação  ás  fibras  das  raÍ2!€s  postêfio- 
res.  ■   ••  '      ■     ■''  ■■  =■'-"       '••       '      ■     - 

TROPHOLOGIA,  s. '/.  (Dó  grego  írê- 
phó.  e  Vigos).  Tratado  sobr^^  o  regimen 
alimentar  ;  doutrina  da  alimentação. 

f  TROPEOLOGICO,  A,  adj.  Que  diz 
respeito  á  tropbologia. 

•{-  TROPHOPATHIA,  s.  /.  Termo  de 
medicina.  Ciasse  das  doenças  que  affe- 
ctam  os  apparelhos  da  via  nutritiva. 

TROPHOSPERMA,  s.  m.  (Do  grego  tre- 
phô,  e  sperma).  Termo  de  botânica.  Saliên- 
cia mais"  ou  menos  pronunciada  da  cavi- 
dade interior  do  pericíirjio,  que  serve  de 
supporte.  ou  de  ponto  de  ligação  ás  se- 
mentes. .        ..  .        i  , 

f  TROPHOSPERMIGO,  k,  Mp'S^§.  àiz, 
respeito  ao  trophospernia.         ■    ■      •   '    ' 

-j-  TROPICAL,  adj.  2  gen.  Que-  perten- 
ce ao  trópico,  que  se  encontra  n'um  tró- 
pico. —  A  vegetação  tropical.  '—^.4«  ar- 
voi^es  tropicaes.  '  .  -    i.'^:-"^  — 

—  Regiões  tropicaes  ;  paizes  ftcíllocã- 
dos  entre  os  trópicos.  '    '  '     ' 

—  Por  extensão:  Muito  quentOj^  como 
entre  os  trópicos.  — •  Temperattiva  tropi- 
cal. 

TROPICAR,  V.  n.  Termo  popular.  Tro- 
peçar, topar,  ir  de  encontro  a  algum  ob- 
stáculo, que  faz  tropeçar.    _     '    -     '     ' , 

TRÓPICAS,  adj.  f.  pZíír.Ttó^iftffdg- bo- 
tânica. i^?ô«s  trópicas  ;  flores  que  abrem 
pela  manhã,  e  fecham  ao  sol  posto. 

TRÓPICO,  s.  m.  (Do  grego  trópikos). 
Termo  de  astronomia.  Parallela  terrestre 
correspondente  &  latitnde  de  23°  28',  que 
é  a  inclina,ção  do  equador  gobre  a  ecli- 
ptica,  e  que  separa  a  zona  tórrida  das 
zonas  temperadas.  —  Em  todos  os'  pontos 
d' um   trópico  o  sol   passa   uma   vez  por 


834 


TROQ 


TROU 


TROU 


anno  pelo  zeniih.  —  Os  dong  trópicos.  — 
Passar  sob  o  trópico.  —  O  sol  p»r  duas 
vezes  alumia,  de  um  trópico  a  mitro,  na 
sua  marcha  o  mundo  inteiro.  —  «Donde, 
«o  colho,  quo  tanto  distaã  os  Trópicos  <l;i 
equinocial,  quanto  os  circulos-Fulare»; 
•(que  aísiin  se  cliamaõ  tamboni  estes; 
porque  estaõ  Junto  dos  Poloa  do  Mundo) 
por  quanto  a  inayor  rlistancia,  quo  entre 
si  tem  o  Zodíaco,  e  a  Equinocial  cm  (juc 
66  terminaõ  os  Trópicos,  lie  a  mesma  que 
tem  os  seos  Poios,  om  que  se  formaõ  os 
Círculos  Árctico,  o  Antárctico.»  Braz 
Luiz  d'Abreu,  Portugal  medico,  pap;.  .517. 

—  O  trópico  de  Câncer;  aquelle  que 
está  situado  no  hemispherio  boreal. 

—  O  trópico  de  Capricórnio ;  aquelle 
que   está  situado  no  bemispherio  austral. 

—  Adjectivamento:  Anno  trópico;  in- 
torvallo  de  tempo  compreliendido  entre 
duas  passagens  successivas  do  centro  do 
.sol  ao  oquinoccio  da  primavera ;  este  anno 
.diffcro  do  anno  aiileral  em  consequência 
do  deslocamento  do  oquinoccio  da  prima- 
vera, devido  A  precessão  doa  equinoccios 
-e  á  mutayão  ;  ella  ò  de  .365  dias,  5  ho- 
ras, 48  minutos  e  48  sep^undos  ;  e  assim 
menor    24   minutos   e    8   segundos  que  o 

-anno  sideral. 

—  Termo  do  botânica.  Flores  trópi- 
cas. Vid.  Trópicas. 

TROPIGO,  s,  m.  Vid.  Trôpego. 

—  Termo  popular.  Vid.  Hydropico. 
1.)   TROPO,  s.  m.  (Do    grego    tropos). 

Termo  de  rhotorica.  A  translação  da  pa- 
lavra ou  pliraso  da  própria  significação 
pai-a  outra  com  virtude.  —  «As  figuras 
da  dicção  tocam  mui  do  perto  com  os  de- 
feitos; e  c  mister  bom  critério  e  uso  dos 
mostres  para  não  confundir  uns  com  ou- 
tros, e  estremar  os  tropos  dos  solecis- 
mos.» Garrett,  Camões,    notas. 

2.)  TROPO,  adv.  (Do  francez  trop). 
Muito,  assiiz,  bastante. 

TROPOLOGIA,  s.  /.  (Do  grego  tropos, 
e  lo(jos).  Emprego  da  linguagem  figura- 
da. —  A  Soíjrada  Fscriptura  está  cJieia 
de  tropologias  jite  não  se  devem  tomar 
■no  sentido  litteral, 

—  Sciencia  das  figuras,  tratado  sobre 
os  tropos. 

— •  Discurso  moral  allegorico,  figurado 
todo. 

■\  TROPOLOGICO,  A,  adj.  —  Interpre- 
tarão tropologica;  interpretação  que  diz 
respeito   ;l  mor;\l,  e  ao  sentido  figurado. 

—  Quo  tem  o  caracter  da  tropologia, 
que  diz  respeito  á  tropologia. 

f  TROQUE.  Fornia  do  verbo  trocar  na 
primeira  ou  terceira  pessoa  do  singular 
do  presente  do  modo  conjunctivo.  Vid. 
Trocar. 

K  pois  quo,  tão  transformado 
Mo  tom  voâsa  formosura, 
Hum  do  n<''S  trnijue  o  ostado, 
0«  vcls  para  o  povoado, 
Ou  cu  para  a  ospessura. 

CAM.,   FILODKSIO,   aot.    ."l,   8C.   2. 


isenhor,  troque  a  ontrn^  d'ella, 
«'iitroífHC-mo  vi'>s  a  olla, 
quo  de  miiu  porá  cHa  dao-a 
por  meu  olho  do  paiiola. 
ANTosio  rBBSTF.s,  AUTO»,  pag.  231, 

A  casada,  trcs  horas  na  egrnja  ; 
e  o  mais,  quo  om  ca.sa  ostoja, 
c  não  jil  que  troqui:  a  toca 
pelos  gostos  do  andarcja. 
iniDRH,  pag.  335. 

Pois  senhor,  BC  o  senhor 
í  dVsto,  amor  amador 
qual  ó  a  causa  o  a  rezRo 
quo  por  outro  coração 
troque  tão  perfeito  amor? 
Assi  digo  cu  por  esta  boca. 

IBIDEM, 


TROQUESCA,  .■>./.  Vid.  Turqueza. 

TROQUEZ,  s.  f.  Vid.  Torquez. 

TROSQUIA,  s.  f.  Vid.  Tosquia,  termo 
hoje  mais  correcto  o  usado. 

TROSQUIAR,  u.  a.  Vid,  Tosquiar,  ter- 
mo mais  em  uso. 

TROSSO,  s.  ni.  Vid.  Troço. 

TROTADOR,  í.  )/).  Vid.  Trotão. 

TROTÃO,  s.  m.  Cavallo  que  anda  de 
trote. 

—  Corredor,  ligeiro. 
TROTAR,  V.  a.  Metter  de  trote. 

—  V.  n.  Andar  o  cavallo  de  trote. 

—  Figuradaraeute:  Andar,  ir  alguém 
quasi  correndo. 

—  Andar  no  cavallo  a  trote. 
TROTE,  s.  7)!.   Maneira    de  andar   das 

bestas  entre  o  passo,  e  o  galope,  incom- 
modo  aos  que  nSo  estão  habituados  a 
isso. 

1.)  TROTEIRO,  A,  adj.  Que  anda  do 
trote. 

2.)  TROTEIRO,  *.  m.  O  postilhão  que 
faz  jornada  apressada,  correio. 

TROTO.  Termo  antlcjuado.  Vid.  Trote. 

TROUCIAR,  r.  a.  Termo  antiquado. 
Vid.  Passar,  Vencer,  Exceder. 

TROUFER.  F,'irma  antiquada  de  Tra- 
zer, por  Trouver,  Trouxer. 

TROUSAR.  Forma  antiquada  de  Ta- 
xar. 

f  TROUVE.  Firma  antiquada  do  verbo 
trazer  na  primeira  ou  terceira  pessoa  do 
singular  do  pretérito  perfeito  do  modo 
indicativo.  Vid.  Trazer.  —  «Por  a  qual 
razom,  com  outras  raujto  boas,  que  a  seu 
perposito  trouve,  voo  a  conchulir,  que 
voomtade  era  dei  Kei  seu  senhor  aver 
com  cUe  boa  e  firme  paz  jtera  sempre,  p 
Fernão  Lopes,  Chronica  de  D.  Fernan- 
do, cap.  1. 

TROUVER.  Forma  antiquada  do  verbo 
trazer,   por  Trouxer.  Vid.  Trazer. 

f  TROUVESSE.  Forma  antiquada  do 
verbo  trazer,  por  Trouxesse.  —  «Por  tan- 
to não  agastada,  mas  com  a  nn^r  gloria 
do  mumlo  vos  deveis  tornar.  Tanto  poiler 
tiveram  estas  razões  com  sua  vaidade, 
que  lhe  fizeram  tirar  a  paixão:  e  por  nào 
80  partir  sem   vèr  alguma  cousa  das  da- 


qnella  terra,  lhe  mandou  qae  fceae  onde 
estavam  os  eseudoa,  e  lhe  trouTesse  o  de 
llinigiianla,  que  o  desejava  vdr  e  loval-o 
corasitro.»  Franiisco  de  Moraes,  Palmei- 
rim d'Inglaterra,  cap.  110. 

TROUXA,  ».  /.  Embrulho,  envoltório 
eODi  roupa,  on  fato. 

—  Trouxas  de  ovos ;  ddc«  de  ovos  «eo- 
cos,  em  fónna  de  canudo,  com'èeteiCO- 
berto  de  assacar.  / 

TROUXADA,  #.  /.  Termo  popular. 
Trouxa  gramle  e  volumosa. 

TROUXE.  F(')rma  do  verbo  trazer  na 
primeira  ou  terceira  pessoa  do  RÍngular 
do  pretérito  perfeito  dó  modo  indicativo. 
Vid.  Trazer. 

Da  espessa  nuvem  setta»  e  pedradas 
{'hovom  sobre  ní^e  outros  Hoin  medida ; 
K  não  foram  ao  vento  cm  vão  di-itadaa. 
Que  esta  perua  trouxe  cu  dali  ferida. 
OAM.,  Lus.,  cant.  5,  est.  33. 

—  « Asai  como  António  d'Abreu  com 
Francisco  Serrão  descubrir  Maluco,  e 
Cíomes  da  Cunha  a  ElRey  de  Pegu,  que 
era  já  vindo  em  o  navio  que  trouxe  man- 
tinrentoa  a  Malaca,  (como  fica  atrás,)  o 
qual  hia  com  elle  Fernão  PerfaS,  o  Antó- 
nio de  Miranda  com  Duarte  Coelho  a 
Sião.»  Barros,  Década  2,  liv.  9,  cap.  ò. 
—  tE  provendonos  de  mãtimento  e  ca- 
valgaduras até  o  porto  de  Arquico  onde 
as  nossas  Fustas  e-tav5o,  e  o  Vasco  Mar- 
tins de  Seixas  trouxe  hum  presente  rico 
de  muytas  pe^^as  de  ouro  para  o  Gover- 
nador da  índia,  o  qual  se  perdeo  no  ca- 
minho, como  logo  se  dirá.»  Fernão  3Ien- 
dcs  Pinto,  Peregrinações,  cap.  4. —  «E 
dahi,  tomada  a  carga,  se  tornarão  todas 
cinco  para  o  revno,  onde  chegarão  a  sal- 
vamento, levando  também  consigo  em 
companhia  outra  nao  nova  que  se  fizera 
na  índia,  por  nome  São  Pedro,  de  que 
vevo  por  Capitão  Manoel  de  Macedo  que 
trouxe  o  Basili-sco,  a  que  cá  chamarão  o 
tiro  de  Diu,  p  ^r  se  tomar  alij"  na  ncorte 
do  Sidtào  Baudur  Rey  de  Camb.iva,  oom 
mais  outros  dous  do  mesmo  teor.»  Ibi- 
dem, cap.  2.  —  «E  despois  que  leo  a 
carta  qua  lhe  elle  trouxe  do  Jíautoqulm, 
e  lhe  preguntar  por  algumas  novas  par- 
ticulares de  sua  filha,  lhe  disse  que  me 
c'iamasse,  porque  a  este  tempo  estaTTi 
hum  pouco  afastado  atnis.»  Ibidem,  cap. 
13õ.  —  «E  elle  nos  disse:  Pois  quem  vos 
trouxe  a  osta  nossa  terra,  ou  para  oude 
hieis  quando  vos  perdestes?  È  nós  lhe 
respondemos,  que  por  sermos  mercadores, 
o  termos  por  ofiicio  tratar  com  nossas  fa- 
sendas,  no-s  embarcáramos  no  Reyno  da 
China  do  porto  de  Liampó  para  Tanixu- 
mà,  aonde  já  tinhamos  ido  alfrumaa  ve- 
zes.» Ibidem,  cjip.  140,  —  «  Ja  sobola 
t.irde  se  reeoliico  o  Calaminhan  para  ou- 
tra casa  de  dentro  acompanhado  das  rao- 
Iheres  somente,  c  todos  os  mais  se  vierSo 
CO   M<5vagaruu,   o  qual  trouxe  o  Embai- 


TROU 


TROU 


TROU 


835 


xador  pela  mão  até  a  derradeyra  sala,  e 
aly  se  despidio  delle,  e  o  entregou  ao 
Queytor,  que  o  levou  para  sua  casa,  onde 
sempre  pousou  até  se  tornar,  que  foraõ 
trinta  e  dous  dias,  em  todos  os  quais  íoy 
bãqueteado  dos  principais  senhores  da 
corte  com  hum  estranho  modo  de  perfei- 
ção e  riqueza.»  Ibidem,  cap.  163.- —  «E 
quanto  a  que  fez  o  Conde  de  Borba  foi 
assi,  sabendo  elle  que  03  de  Benharaede, 
e  de  Benarroz  estauão  descuidados,  foi 
dar  nelles  de  sobresalto,  com  boa  compa- 
nhia de  gente  de  pe,  e  de  cauallo,  donde 
trouxe  trinta  almas,  e  seis  cantas  cabe- 
ças de  gado  grosso,  e  mais  de  mU  de 
meud.'.»  Damião  de  Góes,  Chronica  de 
D.  Manoel,  part.  3,  cap.  8.  —  «Chegan- 
do ate  as  atalaias  de  Tetuam,  donde  tor- 
nou vitorioso,  e  trouxe  alguns  captiuos, 
o  que  os  Mouros  tiueram  em  tanto  que 
çiuitop  daquella  villa  se  foram  pêra  Fez, 
e  outros  »e  vieram  lançar  em  Septa,  en- 
tre 08  quaes  foi  hum  caualleiro  dos  mi- 
Ihores,  e  mais  esforçados  de  Tetuam,  da 
casa,  e  íamilia  dos  Alhamazes  linhagem 
que  antrelles  he  muito  nobre,  e  antigua, 
e  03  filhoo  de  Barraxa.»  Ibidem,  cap,  Õ2. 

O  cazeiro  trouxe  aqui 
outra  melhor  assombrada, 
cuido  que  por  ter  bom  rosto 
se  agasta  e  ihc  põe  grosa. 

ASTOSIO  PEE3IES,  ACTOS,  pag.  305. 


Já  a  te  ides? 

trouxe-a  um  meu  servidor. 
'-IDEM,  pag.  337. 


Já, 


.  ;—  «Bste  homem  admirado  trouxe  ou- 
tra que  tinha  por  fortíssima,  quebrou-a 
El-Rey  da  mesma  forma,  e  dizendo-lhe 
que  toda  aquella  obra  era  falsa  lhe  pedio 
terceira  ferradura  com  a  qual  mandou  ti- 
nalmeute  ferrar  o  Cavallo,  tendo  já  mos- 
trado, e  praticado  com  as  duas  primeyras 
a  sua  habilidade.»  Cavalleiro  d'OiÍTeira, 
Cartas,  liv.  1,  n.»  50. 


Contra  quanta  há  hi  mágoa,  trouxe  alino 

Paulo  a  Coriutho  presto.  Apenas  lavra 

Pelo  Império  Komaoo  a  Fé  Divina, 

A  Esperança  do  Céo,  o  Alivio  do  Orbe, 

Do  Orbe,  abundante  em  Reis  baldos  de  sceptro, 

Do  Orbe,  Romano  Escravo  ;  os  meus  Maiores 

Cevados  nas  lições  da  Adversidade, 

E  em  singelos  Aveádioos  costumes, 

Inclinando  á  Cordura,  subinettêrào-se 

A  Lei  Christan,  na  Grécia,  primitivos. 

F.   M.   DO  NASCIMENTO,   OS   MAETTEES,   1ÍV.   4. 


— ■  fMas  O  livro?...» 

—  «A  corte 
Vim  por  elle  e  por  vós;  eommigo  o  trouxe. 
Ha  muito  o  conhecia :  amigos  vossos 
D'elle  com  grande  preço  me  faJlaram 
Em  Goa  e  Mossambique.» 

OARBETT,  CAMÕES,  CaUt.  5,  Cap.  1-1. 


TROUXEL,  s.  m.  Termo  antiquado.  Far- 
do. —  Trouxel  de  fazenda. 


TROUXER.  Forma  antiquada  do  verbo 
trazer.  \\à.  Trazer. 

7  TROUXERA.  Forma  do  verbo  trazer 
na  primeira  ou  terceira  pessoa  do  singular 
do  pretérito  mais  que  perfeito  do  modo 
indicativo.  Vid.  Trazer.  —  «Orande  ibr 
o  abalo  e  alvoroço  que  se  fez  com  sua 
vinda,  e  logo  houve  quem  lhe  disse  a  ra- 
zão que  alli  os  trouxera,  de  que  suas  don- 
zellas  ficaram  alvoroçadas  e  contentes,  que 
já  enfastiadas  delle,  ou  de  o  vêr  a  elle 
delias,  esperavam  gracejar  com  os  caval- 
leiros.»  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
d'Ingiaterra,  cap.  129.  —  «Estas  lembran- 
ças trouxeram  ciúmes  comsigo,  acabei  de 
sentir  que  onde  elles  chegam  fazem  que 
todas  as  outi'as  dores  se  estimem  em  pou- 
co, que  as  outras  só  o  corpo  atormentam, 
e  as  suas  desbaratam  vida,  e  trespassam 
a. alma. D  Idem,  Desculpa  de  uns  amores. 
—  «Porque  como  da  Iniia  nàotinhào  mães 
noua  que  a  que  trouxera  dom  Vasco 
da  Gamma  e  a  nauegaçào  daquellas  par- 
tes não  era  sabida :  ante  de  toparem  esta 
carta  hiào  ás  escuras  e  mui  confusos 
em  sua  viagem.»  Barros,  Década-  1,  liv. 
õ,  cap.  10.  —  «Desejoso  dom  Francisco 
de  fazer  alguma  boa  sorte  antes  de  se 
tornar  para  o  regno,  e  confiando  na  boa 
gente  que  trouxera,  e  que  lhe  o  Bispo 
seu  pai  depois  mandara  que  seriam  per 
todos  mais  de  cincoenta  de  cauallo,  pe- 
dio a  dom  Vasco  conde  de  Borba  que 
lhe  desse  guias,  e  alguns  dos  moradores 
Darzilla,  com  que  podesse  fazer  huma 
caualgada,  o  que  lhe  o  conde  concedeo 
de  ma  vontade.»  Damião  de  Góes,  Chro- 
nica de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  9.  — 
«Este  conselho  pareceo  bem  a  Pateonuz, 
principalmente  por  nam  achar  Patecatir, 
em  que  tinha  muita  confiança  por  ja  ser 
ido  desbaratado  perà  laoa,  como  atras 
fica  dito,  o  qual  elle  nam  encontrou  no 
caminho,  porque  que  se  o  achara  o  trou- 
xera consigo.»  Ibidem,  cap.  41.  —  «E 
porque  o  embaixador  que  o  xeque  Ismael 
mandaua  a  Afonso  daJbuquerque  adoe- 
cera no  tempo  que  lhe  andauam  dando 
seu  despacho,  mandou  que  o  nosso  o  fosse 
esperando  pelo  caminho,  pelo  que  se  par- 
tiram logo  de  Tauriz,  guiandoos  per  ca- 
minho desuiado  do  que  trouxeram,  per 
terra  muito  fértil,  e  de  muitas  cidades, 
villas,  castelos,  e  povoações  ate  chegarem 
a  cidade  de  Caixam.»  Ibidem,  part.  4, 
cap.  11.  —  «Dom  Xuno  que  ainda  anda- 
ua  escandalizado  dellea,  os  mandou  espiar 
por  quatro  de  cauallo  que  lhe  trouxeram 
nova  certa  «omo  toda  a  Alahea  de  Gara- 
bia  estaua  assentada  nas  salinas,  e  a  de 
(Jleidambram  ate  roduam,  que  he  através 
das  salinas  quatro  legoas.»  Ibidem,  cap. 
43.  —  «E  em  quanto  estevemos  comendo, 
se  sahio  a  parte  da  cáfila  da  vila :  e  logo 
como  acabamos  de  comer  me  fiz  prestes,  e 
me  despedi  do  dito  xeque,  e  assi  do  mouro 
guia  que  trouxera  comigo:  e  lhe  dey 
huma  cartinha   que   ahi  'escrevi  pêra  ho 


ca.pitão  Dormuz,  e  pêra  ho  rev  de  Báco- 
ra outra.»  Tenreiro,  Itinerário,  cap.  63. 
—  «Que  auia  muytos  annos  se  sentia  cha- 
mar de  Deos  nosso  Senhor  pêra  o  seruir 
em  perfeiçam,  nam  acabaua  de  se  des- 
apegar do  mundo,  que  de  huma  esperança 
noutra  o  trouxera  após  si  de  Seuilha  á 
noua  Espanha,  e  dali  a  Maluco,  sem  ou- 
tro fruyto,  que  os  trabalhos  do  corpo,  pe- 
rigo da  consciência,  desassosego  do  espi- 
rito, perda  do  tempo.»  Lucena,  Vida  de 
S.  Francisco  Xavier,  liv.  4,  cap.  3.  — 
«De  maneira  que  os  Navios  de  200. 
e  mais  toneladas  trouxessem  14.  peças 
de  artelheria,  e  certo  numero  de  piques, 
lanças,  e  arcabuzes,  e  quintaes  de  pól- 
vora; e  03  de  lõO.  até  200.  toneladas, 
onze  peças,  e  as  mais  armas  em  sua  pro- 
porção,»  tjeverim  de  Faria,  Noticias  de 
Portugal,  Disc.  2,  cap.  16. —  «Os  quaea 
confessarão  que  os  dias  atrás  viera  aly 
ter  huma  nao  do  Baxá  a  buácar  manti- 
mentos, e  trouxera  hum  Embaixador  que 
levava  huma  cabaya  muyto  rica  para  o 
Hidalcào,  a  qual  elle  não  quisera  aceitar, 
por  nào  ficar  vassallo  do  Turco,  visto  não 
ser  custume  entre  os  Mouros  mandarense 
estas  cabayas,  senão  do  senhor  ao  vassal- 
lo, pola  qual  desavença  a  nao  se  tornara 
sem  mantimentos,  nem  outra  cousa  al- 
guma.» Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  8.  —  «Num  destes  moste\TOs 
que  digo,  da  invocação  do  Quiay  Frigau, 
Deos  dos  atamos  do  sol,  em  hum  rico  apo- 
sento est.iva  huma  irmam  dei  Rev  viuva 
que  fora  molher  do  Raja  Benào  príncipe 
de  Pafuá,  a  qual  por  morte  de  seu  ma- 
rido se  metera  aly  em  religião  com  sevs 
mil  molheres  que  trouxera  comsigo,  e  por 
grão  mais  honroso  que  todos  se  intitulava 
vassoura  da  casa  de  Deos.  s  Ibidem,  cap. 
128. 


D  escarnecer  ElRei.  de  rir  não  cessa 
Do  recado,  e  daquellc  que  o  trouxera : 
Faz  o  Baxá  o  signa! ,  e  com  grãa  pressa 
A  turba,  antes  enferma  agora  fera, 
Fora  do  gasalhado  se  arremessa 
Que  para  se  curar  ElRei  lhe  dera  ; 
Descobre  á  gente  a  falsa  enfermidade 
Em  que  achou  verdadeira  piedade. 

F.  d'akdrade,  pbimeibo  cebco  de  Din,  cant.  13, 
est.  9. 


Em  quanto  ao  grão  Silveira  vai  voando 
A  carta  que  o  Faleiro  alli  trouxera, 
Fica  elle  largamente  declarando 
As  honras  e  mercês  quo  lhes  fizera 
O  Baxá  Çoleimào,  e  em  que  chegando 
Cabaias  de  grào  preço  a  todos  dera ; 
E  com  grande  fervor,  grande  eloquência 
Louva  a  sua  real  magnificência. 
rBiDEM,  cant.  15,  est.  21. 


—  «O  pagem  que  comigo  trouxera 
mandei-o  voltar  para  o  meu  castello,  to- 
mando por  pretexto  algumas  ordens  que 
tinha  de  communicar  ao  mordomo  do  so- 
lar. A    morte  de  Lopo  Mendes  devia  di- 


8Sfr 


TROU 


TROD 


-TROV 


vutfçar-se,  o  cu  tomia  quo  as  drtaconfÍATb- 
çajj  cítouvailii»  do  iJjigem  nu;  atraigoas- 
mun.»  Aloxanilro  JlBrculiino,  Monge  de 
Cister,  f.ifi.  3. 

f  TROUXERÃO.  Forma  do  verbo  tra- 
aey  na  tcrcoira  pessoa  do  plural  do 
pretérito  perfeito  do  modo  indicativo. 
—  «Contasc  que  o  Apostolo  Sant-Iaj2^> 
vivendo  ainda,  cscolhoo  nove  Diâcipu- 
los  CDi  Galisa,  sete  dos-  quacs  furaõ 
com  oUo  para  Jiidea,  iicamlo  os  outros 
doud  cm  (ializa,  c  (w  que  loraõ  com  clle 
trouxeraõ  seu  corpo  a  Galiza  dc])()i.>i  de 
sou  martvrio,  ilos  quaoa  escreve  o  bem- 
aventurado  íSaò  Joiunrmo  cm  seu  Marti- 
pologio,  eõfoniic  ouvio  ao  bemaveníurado 
Cromaeio.»  Monarchia  Lusitana,  liv.  ô, 
cap.  õ.  —  "Os  Jàos  trouxeraõ  linma  peça 
de  artolliaria  daa  suas  estancias,  c  a  pu- 
zeraõ  defronto  ila  ponte,  e  por  cima  delia 
varejavaõ  a  Cidade  dentro,  e  fiiziào  nella 
muito  dauo.»  Diogo  de  Couto,  Década  li, 
liv,  9,  cap.  7. —  «Aos  que  trouxeraõ  este 
recado  mandou,  que  dissimulassem  serem 
Ckristàos,  e  dixeaeem  que  na  terra  ania 
muitos  delles,  ho  que  elles  souberaõ  mui 
bem  contrafazer,  pelo  que  lhes  Vasquo 
da  Gama  foz  muito  gasalbado,  e  deu  al- 
gumas peças  e  mandou  outr;is  a  el  liei.» 
Damiào  de  Góes,  Chronica  de  D.  Ma- 
noel, part.  1,  cap.  37.  —  «Que  os  roma- 
nos trouxeraõ  por  insígnias,  como  os  Ás- 
syrios  a  Pumba,  e  &  Lua  os  Egypcios,  os 
Bizancios  o  Cacho  de  uvas,  os  Tbebanos 
a  Tartaruga,  os  Afiúcanos  a  Espiga;  e 
a^sim  outras  varias  cousas.  Porem  os  sol- 
dados particulares  costumavaõ  trazer  os 
escudos  brancos,  atè  que  faziaõ  algum 
feito  insigne,  cuja  historia  pintarão  uel- 
les,  ao  qual  costume  alludio  o  Poeta, 
quando  disse  de  Heleno.»  Severim  de 
Faria,  Noticias  de  Portugal,  Disc.  3, 
cap.  n. 

-}•  TROUXEREM.  Forma  do  verbo  tra- 
zer na  terceira  pessoa  do  plural  do  fu- 
turo imperfeito  do  modo  coujuuctivo.  Vid. 
Trazer. 

f  TROUXESSE.  Ft^rma  do  verbo  trazer 
na  primcií-a  e  terceira  pesso.a  do  singular 
do  pretérito  mais  que  perfeito  do  modo 
copjuaciivo.  Vid.  Trazer.  —  «E  como  es- 
ta viveza  e  acordo  o  ajudasse  a  favore- 
cesse, e  trouxesse  cansado  Bracoliío,  po- 
dia o  do  Salvagem  mais  a  seu  salvo  ap- 
provcitar-so  do  tempo,  fejindo-o  a  meude 
com  golpes  tão  bem  acertados  e  grandes, 
que  ao  gigante,  depois  de  perdido  muito 
sangue  e  «He  tiío  cansado  que  se  níto  po- 
dia boUir,  lhe  convcio  arredar-.i^e.i)  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  d'Iaglaterra, 
cap.  10l>. — ^.iDe  sorte  quo  d'ahi  por 
diante  trouxesse  no  escuilo  em  campo 
amarello  o  Doos  Cupido  á  maneira  do 
Ídolo,  com  os  pés  sobre  um  oavallolro  en- 
volto em  s:iugui\  Ainda  quo  peva  elle 
es.t*  pena  fosse  ;iòpera,  como  «ra  deixal-o 
com  seu  cuidado,  a  re|(;obou  por  hoa.» 
Ibidem,  cap.  110.       j^  ^h  ^looi   A  . 


Porem,  eomo  a  ost»  tcrr.i  entio  vúiuéAi  ■ 

Dl'  l;i  do  rtuio  Ariil)ico  outciW  getttoa, , 
(Jiio  o  cult»)  inuhoini-tico  troiixvi^fn, 
(N'o  íjiiiil  nií;  iiirttituiram  meus  piírentíy;) 
Sttce<«lnii,  i|iií5  pm^atido  cfmvírtrKrtMn 
O  1'uriiniil,  de  gubiu4  e  olo  |iteiit(M  ; 
FuEcui-lliu  a  lui  tomar  euin  furvor  tiinto. 
Que  preauppoz  de  nella  morrer  aanto. 
cAii.,  LU8.,  oant.  7,  est.  33. 

—  «Chegou  fto  porto  um  Chim  cossay- 
ro  com  quatro  juncos,  a  que  el  Rey  dava 
colbeyta  em  sua  terra,  por  lhe  dar  a  me- 
tade tias  presas  que  trouxesse  iLi  China, 
c  por  esta  causa  era  niuyto  valido  com 
elle  e  com  todos  '«  granílcB  da  terra,  o 
qual  por  nossos  pecuadus  era  o  mayor 
inimigo  que  os  Portuguese»*  tinhil  naquelle 
tempo,  jjor  huma  briga  que  os  nosao.^  ti- 
verào  cõ  oUe  o  anno  dantes  no  porto  de 
Ijiimau.»  FernSo  Mendes  Pinto,  Peregri- 
nações, cap.  140. 

Oh  !  cantor  doce 
De  doçar 

ae  pedras  fará  chorar. 
OK!  qiiem  tronxease  c  asai  foaae 
pou  nomina  tal  cantar. 

Àa;Ç0pO,£BBSTFS,  .LUTOS,  pag.  21. 

—  «O  que  concluído  entrelle»  ambos, 
e  alguns  outros  que  os  queriam  compra- 
zer, sem  nenhuma  forma,  nem  ordem  de 
justiça  mandou  a  George  botelho  que 
fi>aâc  a  sua  casa,  o  lho  trouxesse  preso, 
do  que  se  ello  excusou,  pcrqua  era  seu 
amigo,  e  o  conhecia  por  bom  homem,  e 
loal  aos  Portugueses,  dizendo  a  George 
dalbuquerque  que  nani  acertaua  em  fa- 
z.or  o  quo  fazia.»  DiuiiiSo  de  t.Toes,  Ghro- 
nica  de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  79.  — 
«Que  depois  de  tornarem  desta  primeira 
viagem  Ibes  fazia  mercê  de.  leuarem,  ou 
nnindarem  leuar  cada  anno  as  ilhas,  o 
torras  que  descobrissem  mil  cruzados  em- 
pregívlos  a  sua  cosia  delles  nas  merca- 
dorias que  lhos  aprouuesse,  e  trouxessem 
delia  o  retorno  que  quise<isem  sem  disso 
pagarem  mais  que  a  TÍntena.»  Ibidem, 
part.  4,  cap.  37.  —  «Xo  me-smo  tempo 
que  Lopo  eoarez  despachou  António  de 
saldauiia  mandou  também  Emanuel  do 
lacerda,.  o  com  clle  em  outra  nao  Garci* 
da  costa  irmaõ  de  .Víoubo  lojiee  da  cos- 
ta, em  busca  dalgumas  nãos  que  falta- 
uam  das  que  leuara  ao  estreito-,  e  que 
fosse  a  Dio  visit.ar  ifiliqaiaz,  e  trouxes- 
se consigo  Fernnm  martinz  «.«laugelho, 
que  la  estaua  fazendo  cousas  do  peruiço 
dei  Rei.»  Ibidem,  oap.  28.  —  «Portanto 
não  dava  por  causji  extraordinária  o  qne 
outrem  quo  clle  arífuiria  n'uma  mulher 
de  sua  (puilidade;  que  era  gasUir  na  lei- 
tura todo  o  momonti"  vago  :  e  (juaudo  M. 
Cuonu  me  iivsbiva  quo  lhe  dissesse  o  que 
desejava  que  de  tal  Cidatle  me  trouxós- 
se,  sempre  Livros  orju)  o  que  Ibe  eu  pe- 
dia.»  Francisco  Man>>el  do  }C.'iscimeato, 
Successos  de  madame  de  Seneterrs. 


TROUXINHA,  ».  /.  Iiiminutivo  de  Troa- 
xa.    Pequena  troaxA. 

TRuVA,  *.  /.  Comf>o-;i<;.lo  em  vefso 
vulgar,  e  nJU^  muito  jiclida. 


Agora  co'aa  hcrvaa  noTaa 
Vo»  toniastfís  vós  granhSo. 
Nào  wi  qne  hc,  nerm  que  wlo, 
Que  liei  do  vir  a  ftzet  trota». 

•  U.  VICBaTB,   Tkt/iÀi. 


Quebrou. 

Qufbrou  pêra  mim, 
pcra  mim  niU)  no  enU^ra 
iiiMiliuin  bem  ]M;r.'i  buiu  tini  ! 
Isso  é  tro>:a. 

ÀJtTOHto  rsESTca,  ACT06,  pag.  187. 


TROVADO,  par/.  pa»s.  de  Trovar.  Ex- 
posto em  trovas. 

—  Toma-se  por  turbado.  —  «A  isto 
respondy  eu  entSo  pelo  meu  irtterpfcte, 
que  levava  muvto  bom,  que  quanto  ao 
que  sua  alteza  dezia  de  me  sentir  trora- 
do,  lho  còfessava,  mas  nào  por  causa  da 
mayta  gente  de  qne  me  via  cercado, 
poixjue  ja  outras  vezes  tinha  visto  outra 
em  inuyto  mayor  quantidade,  mas  que 
quandij  eu  imaginara  que  me  via  diante 
dos  seus  peis,  isso  só  bastava  para  eu  fi- 
car mudo  cem  mil  annos,  se  tajitos  tive- 
ra de  vida.»  Fernão  Mondes  Pinto,  Pe- 
regrinações, cap.  l3õ. 

TROVADOR,  A,  «.  Pessoa  que  compõe 
trovas. 

TROVÃO,  s.  m.  O  estampido  qne  faz 
no  ar  a  explosão  da  electridade  atmos- 
pherica. 

—  Figuradamente :  Os  trovõca  da  ar- 
tilheria. 

Ad.AGIOS  E  PROVÉRBIOS: 

—  Agua  de  trovão  em  partes  dá,  em 
partes  não. 

—  Escapei  do  trovão,  e  dei  no  relâm- 
pago. 

TROVAR,  V.  n.  Compor  trovas. 


Mas  trova-se  o  fecho  agora, 

não  p<ide  d*eU«!i  «aír 

piodad<»  de  viuva, 

do  do  t>obro,  do  arrastado, 

CO  seu  corado 

diamào  com  g«Ipe  em  hiT». 

IXTOXIO  PEESTES;  ACTOS,  pag.  391. 


—  Vid.  Torvar. 

—  Substantivamente  :  O  trovar.  —  tE 
estando  huma  noite  na  cama  ja  despoja- 
do, me  perguntou  se  sabia  as  trouas  de 
dom  lorgo  Manrique,  que  começSo  Rt- 
corJe  el  ahnn  dormida,  e  ea  lhe  disse 
que  si,  fe^mas  dizer  de  cor,  e  depois  de 
diUis  mo  disse,  que  tulgaua  muyto  de 
mas  ver  saber,  e  que  tilo  necessário  era 
a  hum  homem  sabellas,  como  saber  o 
i'ater  noster,  e  gabou  muyto  o  tronar  de 
mnyto  si«gular  n>*nhA,  e  teto-p«r«^  eu 
tiz  hl  na  troua  que  *''e   vio,    e   a  gaboo 


TSÕV 


tMc 


TMJÍÍ 


837 


muyto,  por  me  dar  vontade  de  o  apren-* 
der,  e  saber  fazer.»  Garcia  de  Rezende, 
Chronica  de  D.  João  II,  cap.  20ò, 

Ease  trovar 
nSó  nó  ■s  i  8euão  agoi  a  ; 
<i'oudc  vem,  Tenha  elle  embora. 
Seohor,  o  meu  ooprejar 
é  pela  linha  do  fora 
corpo  do  camaz. 
Airroitio  PBESTEs,  AUTOS,  pag.  187. 

THOVIJADO,  pai-t.  jxt^s.  de  TroTejar. 
Acompanhado  ou  seguido  de  trovões.    • 

—  Adacho  e  provérbio  : 

■ —  Lua  nova  trovejada  trinta  dias  é 
molhada. 

TROVEJAR,  V:  n.  Havef  trovões. 

—  V.  a.   Cansar  trovões. 

—  Figuradamente  :  Troveja  a  ira  d-e 
Deus. 

TROVINHA,  ».  /.  Dimiuntivo  de  Tro- 
va. Pequena  trova.  —  «Ha  outros  muito 
similhantes  a  estes,  que  pedem  cartas  de 
amores  para  suas  damas,  e  para  porem 
de  sua  eaza  alguma  cousa  aeresoentam- 
Ibe  trovinha  no  cartapacio  ao  pé,  tão 
ufanos  porque  a  souberam  enxerrp  q«e 
se  tomaram  eom  dez  Petrarcbas.»  Fer- 
fiSo  Soropita,  Poesias  e  prosas  inéditas, 
pag.  109. 

TROVISCADA,  s.  /.  A  acção  de  pisar 
trovisco  dentro  da  agua  dos  rioã  para 
matar  peixe. 

TR0VI3CAR.   Vid.  Embarbascar. 

TROVISCO,  s.  m.,  ou  TROVISQUEIRA, 
*.  /.  Termo  de  botânica.  Arbusto  vul- 
gar que  nasce  nos  campos,  e  tem  um 
leite  amargoso-,-  e  flor  amarrella;  pisa-se, 
e  lança-se  nos  rias  para  matar  pei.5;e. 

TROVISTA,  8,  2  gen.  Vid.  Trovador. 

TROVOADA,  s.  /.  Multidão  de  trovões. 
^—  «Mas  como  da  Cidade  Lugor  a  Mala- 
ca be  caminho  de  duzentas  léguas,  sem- 
pre ao  longo  da  costa,-  a  qual  he  mui 
sujeita  a  trovoadas,  e  temporaes^  ante  de 
chegar  a  Malacii  lie  deo  hum  tempo,  com 
que  esta  frota  se  derramou,  vindo  ter  al- 
guns navios  dêlla  a  hnma  Ilha  chamada 
Pulloçapata  três  léguas  de  Malaca.»  Bar- 
ros, Década  2,  liv.  6,  cap.  1, —  «Peró  não 
houve  effeito  sua  tenção,  porque  veia  so- 
bre a  tarde  huma  trovoada  tio  furiosa, 
que  ante  elles  quizeram  coutender  huns 
com  os  outros  como  andavam,  que-  com 
ella  ;  porque  como  veio-  súbita,  e  'tomoU 
a  todos  descuidados,  e  mais  mettidos  em 
pelejar,  que  no  temor  delia,  se  os  nossos 
tiveram  algum  salvamento  foi  por  não  tra- 
zerem as  inàos  cortadas  do  temor,  e  do 
ferro,  como  as  traziam  os  Jáos,  e  por 
isso  forarií  mais  lestes  em  marear  suas 
velas.»  Ibidem,  liv.  9,  cap.  õ. 

Na  descampada  Granja,  ou  lõto  colmo 

Da  alluida  Chó^a,  a  rouca  trovoada, 

E  òs-  Ventos  debater-se  escntáriamos.  •  •' ' 

F.   U.  DO  NASdifENTO,  OS  MiRTOtESj  HvrlÓ-.-       - 


—  Grrtaiíã,- algazarra,  BOotímP-^^'* 

—  Figuradamente  :  Estrondo,  barn* 
lho. 

—  Trovoada  de  buzinas ;  de  musi«íi-de 
negros. 

TROVOADO,  p«>-í.  pats.  ie  Irtrvoat. 
Acompanhado  de  trovões.  Vid.  Trove- 
jado. 

TROVOAR,  V.  n.  Vid.  Trovejar. 

Cabana  humilde,  onde  nasceu,  povoa-;    - 
E  seguro  no  próprio  abatimento,         ■:.;   v 
Só  tem  mcdo-do  Céo,  <}uaadp_íroi;ôa. . ,. 

ABBADE  DE  J.1ZENTE,  POESIAS,  pag.   109. 

f  TROXE  MOXE  (A),  loc.  adv.  Cobfusa- 
mente,  sem  ordem  .- 


O  Bastos,  neste  instante,  homem  versado 

Xa  liçaõ  de  Florinda,  e  Carlos  Magno, 

Quiz  metter  seu  bedelho;  m^as  Andrade, 

Ue  seu  discarão  naõ  fazendo  caso,^ 

Do  douto  Magistral  o  voto  apoia 

Com  mil  teitoõ  que  aponta  a  troxe  m  txt. 

A.   DIXIZ  Di   CBCZ.    HTSSÓPE,    Caut.    3. 


f  TROYANO,  A,  adj.  e  s.   Nakiral  de 
Trova,  na  Oisecia. 


Virgiliò,  que  cantas  de  tuaTroya, 
Tu,  Grécia,  que  lamentas  tua  HeleDa, 
esta  destruição  parece  sova,  '    ' 

parece  menos  grave,  menos  pena 
quo  o  destniir-se  assi  tão  riea  jóia 
como  era  Rasào,  doce  e  amena  : 
com  menos  mal  t.-o>/anos  acabaram 
e  menos  pe/da  gregos  lamentaram. 

AHTOÍilO  PBKSTES,   AUTOS,   pag.    -ÍO. 


TRUANAZ,  a.  m.  Augmentativo  de 
Truão. 

TRUANEAR,  v.  n.  Fazer  de  truão. 

TRUANIA,  s.f.  Superstições  ou  embus- 
te» supersticiosos  de  beatas,  de  benze- 
deiras, que  íazem  na  egreja  orações  com 
superstições  que  a  mebma  egreja  reprova. 

TRUANICE,  s.  /.  Dito  ou  gesto  de 
truno  ;  embuste,  impostura. 

TRUÃO,  s.  m.  Aquelle  que  com  gesto» 
e  palavras  prazenteiras  e  ridículas  pre- 
tende causar  iiso  uos*  ciroumstautes,;  cbo- 
carreiro. 

—  Imj)ostor,  que  se  finge  ser  quem 
não  é. 

—  Embusteiro  supersticioso, 

—  Truanice  do  falso  Btroso ;  de  quem 
finge  revelações ;  falsos  monumentos  para 

enganar  e  tirar  dinheiro,  etc. 
TRUáRIA,  s.  /.  Vid.  Truaaia, 
TRUCAR,  V.  a.  Na  jogo  do  truque  é 
propor  ao  conti-ario  se  quer  jogar,  dizen- 
do a  mào  tritco,  ao  que  o  outro  responde 
vale  3,  isto  é,  quem  ganhar  fará  três 
pontos,  e  se  não  quer  jogar  dá  um  tento 
ao  que  triica,  ou  envida ;  e,.te  talvez  tem 
mau  jogo,  e  truca  de  falso,  para_que  o 
contrario  com  medo  se  metta  na  baralha, 
e  lhe  dê  um  tento. 


—  Figuradamente  :  Trucar  de  fnho  ; 
fingir,  simular  que  tem  o  que  n'elle  nào 
ha. 

TRUCIDAR,  V.  a.  (Do  latini  trucida- 
re).  Termo  pouco  em  uso.  Matar. 

TRUCILAR,  #.  m.  O  canto,  ou  o  piar 
do  tordo. 

TRUCO.  Vid.  Truque. 

TRUCULÊNCIA,  «.  /.  (Do  latim  tiitcu- 
lentta).  Crueldade  de  fera,  ferocidade. 

TRUCULENTO,  A,  adj.  C.uel,  ferino. 
-^  Animal  trucvlento. 

TRUFA,  s.  /.  Vid.  Trunfa. 

TRUFÃO,  «.  m.  Termo  antiquado.  Em 
trufáo;    por  gracejo,  por  mofa. 

TRUFAR,  V.  n.  Termo  antiquado.  Gra- 
cejar, motar. 

TRUFARIA,  s.  /.  Gracejo,  mofa,  zom- 
baria, jogo. 

TRUGIMÃO,  í.  7ÍÍ.  O  interprete,  o  lin- 
gua. 

—  Homem  que  leva  recados  áa  moças. 
Vid.  Turchiman. 

TRUHÃO,  í.  m.  Vid.  Truão. 
TRUITA,  í.  /.  Vid.  Truta. 

Cá  a  truita  e  não  de  freira, 
que  é  filha  dá  manteigueira, 
apelara  o  seu  dourado. 
Porque,  tem  damno? 

Pois  nào  ! 

ANTOXIO  PRESTES,  AUTOS,  Dag.  387. 


—  t  Outros  and  a  vão  no  campo  á  caça 
das  marrecas,  das  adens,  e  dos  patos, 
outros  com  falcoens  e  açores  á  caça  de 
alienaria,  outros  nos  rios  pescando  trui- 
tas,  bogas,  bordallos,  lingoados,  azevias, 
mugens,  e  outras  muytas  diversidades  de 
peixes  que  ha  em  todos  os  rios  des-te  im- 
pério. E  nós  pela  mesma  manfrvra  gas- 
távamos o  tempo  ora  numa  cousa  ora  nou- 
tra.»  Feiiiào  Mendes  Piuto,  Peregrina- 
ções, cap.  Iõ9. 

f  TRUMFADA,  s.  /.  Acção  do  ganhar 
com  ti-uiifo,  de  jogar  trunfo.  Vid.  Trun- 
fo. 

E  é  mau  saber? 
E  se  clle^í^ora  vos  der 
írum/oíía.?  não  sois  uai  peira  ! 
Pao,  deixae-me  ora  jogar.  j;,,     ^-j^., 

,  ,     AMTOKIO  PUBSTES,   ADTOS,  paga  ,3§T,  - 

TRUMÓf  s.  m.  (Do  f/anbé*  ÍJ^ífíeoS)^.- 
Appellido  do  inventor  deííes,  d'oHde  se 
deriva.  E  vocábulo  melhor  que  Tremo. 

TRUNCADO,  parf.  pass.  de  Truncar. 

TRUNCAR.    Vid.  Troncar. 

TRUNCATURA,  s.  f.  Termo  de  rairieJ 
ralog-ia.  Na  alteração  da  forma  primiti- 
va dos  niinCiaes,  as  mais  notáveis  são :  a 
truncatura,  que  é  um  cóite  feito  por  um 
só  plano;  e  bisselamerdo,  que  é  um  córte 
feito  por  úous  planos,  ou  uma  dupla  tritíl- 
catura.  .      -/.   ;  ;   . 

1.)  TRUNFA,  ».  f.  -Turbante,  cõifi^s- 
to  de  faxa,  ou  cinta  enrolada  na  cabefft, 


TRUíi 


TU 


TU 


touca  mourisca,  de  diversas  navõe*»  oricii- 
tiics,  e  usa'la  dos  antigos  sucordotc-j. 

—  Toucado  quo  as  damas  iiBavam  ou- 
tr'ora,  talvez  como  as  coructas  d'iioj©,  ou 
cousa  simitliaiite. 

,2.)  TRUNFA,  *. /.  Toruiç  .de.  botâni- 
ca, Espocio  de  calyx,  que  cobre  a  ca- 
psula dos  musgos. 

—  Vou  que  cobre  as  antheras  da  planta. 
TRUNFO,    s.    w.    Termo   de    Jo;ío.  Eu» 

certos  Jo;;os,  dii^-se  do  luiipc  do  cartas 
que  80  volta,  dci)oia  d«  se  ter  dado  aos 
jogadores  o  numero  de  cartas,  que  lhes 
compete;  e  em  outros  do  naipe,  que  no- 
meia o  jogador  (juc  niauda  jogar  ;  o  nai- 
pe que  é  ti'unfo  gaulia  os  outros  naipes. 


Que  lançada,' 
que  cUe  não  foi  tão  mão  gol^Q, 
pois  por  trunfei  do- fid.iljjo-     ~  ' 
to  dei  tillia  por  canhada. 

iSTONio  rsssTES,  AUTOS,  pag.  360. 


Sim  ;  lia  lá  rei  V 

Muitos  ha,  gaTihtio.3  esta  líiilo. 

líaldaos  carta  ? 

Que  farei, 
que  outra  d"ouros  não  levei  ? 
Trunfo,  pezar  iiiio  de  São. 
luiDKM,  pag.  381. 


disse  cu  —  não  vos  quero  mais 
que  uma  gorfjeira,  que  me  vende 
E  U03  trunfos  não  falacs 
que  furtastes? 
iBiDEsi,  pag.  893. 


.— -íflgo  de  quatro  parceiros,  .giu  q»ije 
E)e  levauta  o  trunfo,  que  é  o  rnet^l^.  Que: 
gaulia.  !,,.    . 

TRUÕES,   s.   m.  plur.  de  Truão.   . 
.  TRUFITAR,  V.  «.  Termo  popular.  Fa- 
zer cstroudo,   ou   tropelia.  Vid.  Estrepi- 
tar. 

TRUQUE,  .«.  m.  Jogo  de  tíes  .qartas 
entre  dous  ou  quatro  parcei)L'OSy ;  egsii  que, 
ha  certas  cartas  maiores. 

—  Loc. :  Fazei-  truque  ;  metter  a  bo- 
la pela  veutauillia,  do  sorte  que  caia  n'el- 
la,  e  é  truque  òatxo;  truque  alto  é  dei- 
tar a  bola  do  parceiro  por  ciiua  das  bor- 
das, ou  varandas  da  mesa. 

—  Jogo  de  bolas,  vulgarmente  do  taco. 

—  Truque  de  pt' ;  jogo  análogo  ao  do 
aro,  sem  abaixar-se  o  que  joga.      ' 

TRUS,  ou  TRUZ,  inteij.Xox  imitativa 
do  estrondo  do  tiro,  ou  cousa  análoga. 

TRUSQUIADO,  part.  paxs.  de  Trus- 
quiar.  Wd.  Tosquiado.  —  «Eu  tenlio  na 
minlia  livraria  nm  livro  feito  por  Alonso 
Carrani^a,  contra  as  guedolaas,  de  que 
diz  cousas  abomináveis;  e  touho  outi<o 
feito  por  Pedro  Mexia,  em  que  uào  cessa 
de  chorar  o  ver  os  hoaicns  ti-usquiados.» 
P.  Francisco  Manoel  de  Mello,  Carta  de 
guia  de  casados. 

TRUSQUIADOR,  A,  s.  Vid.  Tosquia- 
dor. ;:<,.!    .     , 


TRUSQUIAR,  (u  TtlOSQUIAR.  Vid.  Tos- 
quiar. 

—  Diminuir  a»  posses. 

TRUTA,  ^1.  /.  Teruto  de  historia  natu- 
ral. Peixe  do  rio,  que  vive  uas  ^li^ças 
dos  pei^^otf,  muito  saboroso.    ■•        ,<■] 

Não  ha  mais  trutai  do  freira. 

K  uào  é  lukda,  mus  a  mauba 

com  (|Uo  o  gabacs  é  fai;anha, 

mas  como  isto  está  de  seu 

vir  a  tiT  por  gueto  meu 

o  que  em  mim  d'uiit<.-s  bo  ostianha. 

ANTOXIO  PkUSTKS,   ALTOS,   pag.    110. 

—  Adágios  e  pkoveeuios  : 
r-^  Truta  cara  u-ào  é  sâ. 

—  Xào  se  tomam  trutas  a  bragas  en- 
xutas. 

—  Comer  truta  ou  jejuar. 

—  líòa  é  a  truta,  bom  ó  o  salmão, 
quando  ó  de  sazilo. 

—  Com  uuia  sardinha  comprar  moa 
truta. 

TRUTESCO,  A,  a<ij.  Vid.  Gruiesco,  e 
Brutesco. 

TRUTIFERO,  A,  adj.  Que  cria  ou  pro- 
duz trutas. 

TRUTINA,  s.  f.  (Do  .latim  trutina). 
Teinu)  pouco  em  uso.  A  balança. 

—  Figuiadamente  :  Ponderação,  juizo^ 
exame.  ' '    ■'  ' '    '■■■'■'■  -^^    '-:  ■ 

TRUTINAR,  V.  a.  Ponderar,  examinar. 

TU.  Pronome  pessoal  da  seguuda  pessoa 
do  singular,  e  dos  (.lous  géneros.  Empre- 
ga-se  sempre  como  sujeito. 


Perto  tiahas  tu  o  amor, 
Que  asinha  te  elle  contenta 
Não  me  tens  em  uomigalUa ;         ■* 
Cambra  venha  que  teucambraj/f ,  lyff^. 
Canta  SC  fií  CS  alambre,  .-l.. 

De  longe  tomas  a  palha. 
«iB  viCE.-jTE^  l^Al^^;AS.•      ' 


■  E  quanto  te  dão  por  b$sta  ? 
-Não  sei,  assi  Deus  m^ajadc. 

íkào  lixcste  logo  o  pre\-o  V 
Mal  lias  tu  de  livrar  desta. 
T.cixei-o  cm  sua  virtude, 
No  qu'ello'vir  qu'oa  mereço. 

IBIDEll. 

Porqu»^  Setíhor,--se'4u  quizèâsc 
Sacriticio,  da-lo-hia  ; 
So.preseutea  recebesses. 
Se  por  peitas  te  vencesses, 
Tudo  te  offcreccria. 

IDEil,  OBliAS   VABIAS. 

Calit'eu  anno  c  meio  punha. 
Mas  tre«  e  mais  haverá. 
Viu3  tu  comprar  de  comer. 
Teus  muito  pcra  fazer, 

IDUX,    KAKi^AS. 


Queui  é  'í 

Não  lhe  dá  lá  o  cheiro? 
ó  o  senhor  sobre  senhor 
rejonhor,  senhor  Dinheiro. 
TM  quebras  ahi  um  miaibciro 
du  seoliorcs ! 

AKro.Mú  PKusrEs,  AUTOS,  pag.  *J01. 


Tu  com  proi^sM  igual  na  coacurraocia 
Liie  íizeste  reciproca  a  victoria, 
Sem  que  ceda  nenhuma  a  preferencia. 

ABBADE   DE  JATRITM,  >0E8IAS,   pag.    113. 

—  •Esforçado  senhor  capitam.  Estan- 
do cu  na  creceuça  da  Lua  cjm  C4ta  ar- 
mada prestes  pêra  a  mandar  sobre  clliey 
de  Patàne  por  algumas  rezoens,  que  me 
moueram  ao  ca-itigar,  de  que  ta  jd  terás 
alguma  noticia,  fuy  certificado  das  cruéis 
nmrtes,  que  os  Aehens  deram  aos  teus, 
do  que  tiue  tanta  dor  em  meu  ooraynm, 
como  SC  todos  foram  meus  til  lios.  E  por- 
que sempre  desejei  de  mostrar  a  el  Key 
de  Poitugal  meu  iruiani  o  entranhaucl 
amor,  (]ue  lhe  tenho.»  Lucena,  Tidfl  de 
S.  Francisco  Xavier,  liv.  4,  cap.  16. — 
«As  peidas  que  os  teu.'«  }iaviona«s  me  tem 
pregado  nau  íui  com  a  lingoAi  M  cbm  as 
obras,  e  a  minha  aver.-ão  he  com  as  obras 
do  teu  Paizj  e  não  com  a  su^  )i(tgoa.  Tu 
to  chamas  Pinsonini,  aqui  t«  chamão  Ç%- 
bra,  tu  mereces  tudo,  o  exaqui  ou<le  se 
entende  a  força  do  fala,  e  berra,  ma*  n&o 
me  retrates.»  Cavalleiro  d'(Jliveira,  Car- 
tas, liv.  li,  n."  10. —  «Assim  é  que  o  es- 
erever-te  me  dá  gosto,  ipas  tu  lógraa  (e 
eu  Coiutigo)  o  gosto  de  me  vtsres.  Esse 
me  yem.  acoompanbada  das  resérvsa  do 
Decoro ;  mas  o  outro  posso-o  tomar  quaa- 
<lo  bem  o  queira,  Agora,  que  todos  os  de 
Casa  repousào,  e  se  dão  por  Tcnturosos 
de  seu  repouso,  desfructo  eu  uma  Dita, 
que  nunca  sahirá  do  mais  profundo  re- 
pouso.» Francisco  Manoel  do  Nascimen- 
to, Successos  de  madame  de  Seneterre. 
—  «Xo  caso  que  me  constasse  que  algum 
tauto  te  penalizou  a  leitura  d'ttsta  Carta; 
se  eu  te.  desse  crédito,  e  se  me  acarreas- 
sem despeito  e  iras  ©ssíí  conãssão,  e  con- 
sentimento, talvez  que  o  ardor  me  reno- 
vassem. Kada  te  inquietes  d'óra  em  dian- 
te da  maneira  com  que  eu  me  rejo,  por- 
que fora  desmanchar  sem  dúvida  os  moas 
projectos,  de  qualquer  sorte  que  tu  nel- 
les  eutrar  quizéssos-»  Ibidem.  —  «Quào 
fracos  me  teriào  parecido!  E  nao  ha  hi 
motivos  que  valessem  a  arraucar-me  de 
teu  lado:  mas  tu...  deitaste  sofregamente 
mão  dos.  pretextos  que  Sb  te  deparáriía 
para  voltar  a  França.  Estaca  esse  Xavio 
de  partida"?  Deixásses-lo  partir.  Xão  ti- 
nhas Cartas  da  tua  familia  V  £  n&o  sabes 
tu  mui  bem  quantas  perseguições  eu  pa- 
deci da  minhat**  Ibidem. 


Filho!...  7^1  e«'meit  filho. 
ojlbbÍrt,  çatÃo,  aci.  3,')m>.  S. 

Sequeira,  os  dous  Mejieies,  c  tu^  forte 
>ra3carenhas,  depois  vireis  de  glt5ria 
Colmar,  a  mais  e  maie,  o  pátrio  nome". 
iDEn,  CAMÕES,  cant.  8,  cap.  20. 

—  Tu,  pospo&to  ao  verbo,  di  a  eçte  q 
caracter  e  a  forma  imperativa. 


TUA 


TUBA 


TUBE 


839 


Se  mais  zombai, te  desoarta ; 
se  o  achaste  da-m 'o  cá. 
AdiWnha  fu  que  é  carta. 
Cartaé. 

ASTOKlO  TBISSTBS,  ÀUTÕS,   pag.  107. 


—  Qaando  tu  é  paciente,  oa  termo, 
ou  considerado  em  outra  relação,  que 
aião  seja  a  do  sujeito  de  quem  affirma- 
mos,  ou  a  quem  chamamos ;  fora  d'este8 
casos  sempre  se  usa  nas  variações  te  ou 
ti  com  preposição ;  exceptua-se  quando 
Be  lhe  ajunta  outro.  Diís-se  do  mesmo 
-modo  quando  ajuntamos  um,  como :  vi  um 
tu. 

—  Substitue-se  também  por  vossa  mer- 
■w,  vós,  em  vez  de  tu. 

^-Tu,  anteposto  a  mesmo,  dá-lhe  mais 
■energia  e  força. 

Pensador  Espinosa  aqui  fttTçãra  -, 
Errou,  porque  homem  foi,  e  errou  com  elle 
Toda  a  Escola  Eleática,  e  t>i  mesmo, 
O'  Séneca  immortal,  eom  elle  erraste. 

J.   A.   DE  MACEDO,  VIAGEM  JIITATICA,  Cant.   2. 

TUA.  Forma  feminina  do  adjectiyo  teu. 
Que  pertence  a  ti. 


ategora  noticia  nenhuma  da  nossaverda- 
de,  mais  que  somente  confessarem  de 
boca  o  que  seus  olhos  lhe  mostrào  na 
pintura  ao  Ceo,  e  na  termos  ura  do  dia,  a 
que  continuamente  por  suas  çumbavas 
alevantào  as  màos  dizendo,  por  tuas 
obras,  tieuhor,  confessamos  tua  grande- 
za. Com  isto  os  mandou  Autouio  de  Fa- 
ria pôr  livremente  em  terra, ;  dandolhe 
primevro  algumas  peças,  de  que  foraò 
muyto  contentes.»  Feraào.MenUes  Finto, 
Peregrinações,  cap.  48,.  — -  «Broquem  da 
minha  cidade  de  Fongor,  eu  o  senhor  das 
sete  geraçoens,  e  tabellos  da  tua  cabeça 
te  envio  o  riso  da  minha  boca,  paraque 
a  tua  hora  seja  acrecentada.»  Ibidem, 
cap.  142.  —  aApparelha-te;  pòe  tua  gen- 
te em  armas ;  e  não  tardes  um  instante 
em  recolher  para  dentro  dos  muros  os  ri- 
cos rebanhos,  que  trazes  nas  campinas. 
Se  o  meu  prognostico  for  filso,  sobra-te 
tempo,  passados  três  dias,  para  nos  sa- 
crificares; mas  se  for  verdadeii-0,  adver- 
te que  não  é  justo  tires  a  vida  áquelles 
mesmos  que  t'a.  salvaram.»  Telemaco, 
traducçào  de  Manoel  de  Sousa,  e  i-  rau- 
cisco  Manoel  do  Nascimento, 


Devera 
não  ser  assi,  porque  era 
mais  domada  tua  idade, 
tua  justiça  mais  vera. 

ASTOKIO  PBESJBSi  •*;DTOS,  pag.   40. 

—  «Vay  o  comer,  que  no  presépio  o 
acharas.  Se  ate  agora  te  deleytauam  os 
manjares  e  deleytes  dos  cauallos,  e  por- 
cos, engeitaos  agora,  vay  comer  este  me- 
nino por  a  fee  e  amor,  e  esprementaraas 
quam  doce  he  aquelle  presépio,  quam  ri- 
cos sam  áquelles  cuyrinhos,  quam  dou- 
rados estam  áquelles  paços.  Xam  cele- 
bres a  festa  de  seu  nascimento  em  carne, 
soomente  com  recreaçuds  de  tua  carne.» 
Fr.  Bartholomeu  dos  Martyres,  Catecis- 
mo da  doutrina  christã,  liv.  2,  cap.  82.  i  dia 


^— iGuarda  a  ftM  bolsa» 
Euda  interpoz  a  ronca  voz  do  nauta, 
«Cavalleiro  orgulhoso  ;  tanto  quero 
Os  teus  pardaus,  como  a  tua  espada  temo. 
Mas  este  padre  falia  eomo  um  anjo  ; 
E  o  que  elle  disse,  é  ditto.  Atraca  a  bordo  ; 
E  abaixo  o  amigo  Jáo.  — Eema  !» 

J.   A.   DB  MACEDO,  O  ORIKKTE,  Cant.    10,   CSt.     21. 


Onde  levas  tuas  aguas,  Tejo  atirifero  ? 
Onde,  a  que  mares?  Ja  teu  nome  ignora 
Neptuno,  que  de  ouvi-lo  eatremeeia. 

GAKSETT,  CAMÕES,  cant.  10,  can.  21.  r 

Manlio,  ouve-me  attento.  A  tua  destra 
Em  pinhor  do  segredo. 
IDEM,  CATÃO,  act.  õ,  SC.  3. 

TUACA,  s.  f.  Espécie  de  vinho  da  In- 


Marquez,  tinhas  razaS  ;  c  o  Mundo  agora 
Da  tua  presistencia  a  valentia 
íor  prudência  feliz  tanto  STalia, 
Que  de  eterno  louvor  te  condecora. 

ABBADK  DE  JAZESTE,  POESIAS,  pag,  121. 

Que  tarde,  meu  Pauliro,  resplandece 
Na  tua  boca  a  cjindida  v«rd.ade  ? 
Tarde  sim ;  porém  sempre  a  longa  idade 
De  sabias  instrucçoens  nos  prevalece. 
-    aiDXM,  pag.  81. 

■Naõ  digas,  naõ,  que  he  muda  soledade, 
Essa,  ó  Sábio  Paulino,  aonde  moras ; 
Pois  com  lua  presença  a  condecoras, 
JFazendo  de  hum  dezerto  huma  Cidade. 
IBIDEM,  pag.  75. 


—  «E  assi  por  estas  preguntas  como 
por  outras  que  lhe  fez  António  de  Faria, 
entendemos    que    não   tinha    esta   gente 


TDBA,  s^.f.  (Do  latim  íuóa).  Teçmo  de 
poesia.  Trombeta. 


Vão-na  buscar  c  mandão-na  diante. 
Que  celebrando  vá  com  tuba  clara 
Os  louvores  da  gente  ua\egante,  i.  , 

!Mais  de  que  nunca  os  d"oatrem  celebrárâ^^ 
Ja  murmurando  a  fama  peaetraute 
Pelas  fundas  cavernas  se  espalhara : 
Falia  verdade,  ha^^da  por  verdade  ; 
Que  junto  a  deosa  traz  Credulidade. 
cAM.,  Lus.,  cant.  9,  est.  45. 

O  medonho  fragor  da  mareia  tiiba 
Nunca  assustava  os  tímidos  ouvidos. 
Nem  amorosa  Mãy  á  voz  da  guerra 
Ao  peito  os  filhos  enfiada  unia. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  XATUKEZA,  Cant.  2. 

Se  nunca  a  Tuba  de  Torquato  erguera 
O  nome  de  Gofrédo  aos  áureos  Astros, 
A  nenhum  mais  cedera  Épica  Tuba. 

IDEM,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Cant.   4. 


—  Figuradamente  :  Estylo  épico. 
TUBARA,    *.  f..  Kaiz    carnosa    que    se 

cria  sob  a- terra,  sem  raizes  nem  rama, 
de  que  os  cozinheiros  se  servem  para 
adubar  melhor,  rechear  perus,  etc.  Vid.' 
Tubera. 

—  Plur.  Testículos. 

TUBARÃO,  s.  m.  Termo  de  historia  na- 
tural. Feixe  grande  do  mar,  lixoso,  de 
pelle  áspera,  com  duas  ordens  de  dentes, 
e  é  muito  voraz. 

TUBAROSA.  Yid.  Tuberosa. 

TUBERA,  5.  /.  (Do  latim  tuber).  Vid. 
Tubara.  '      "'    '  ■  ■^■'-^'\^'-  -rj^siD 

TUBERÃO,  í.  m.  Yid.  TubarãcT. 

TUBERCULADO,  A,  arlj.  Termo  de  bo- 
tânica.   Que  é  guari.ecido  de  tubérculos. 

—  Que  tem  elevações  similbantes  aos 
tubérculos. 

TUBÉRCULO,  s.  m.  (Do  latim  tubercu- 
lum).  Excrescência  que  sobrevem  a  uma 
folha,  a  uma  raiz.  i:iv. 

.  —  Diz-se  das  protuberâncias c$!caa_í[ue 
se  vêem  na  superficie  de  certa:^  con- 
chas. 

—  Termo  de  botânica.  Massa  ordina- 
riamente cheia  de  fécula,  que  está  collo- 
cada  á  extremidade  de  raizes,  ou  de  ra- 
músculos infeiiores  da  haste  sjubj^erranea 
de  certas  plantas.  .■-:       • 

—  Termo  de  anatomia.  Toda  a  emi- 
nência natural  pouco  considerável,  que 
apresenta  uma  paj-te  qualquer. 

—  Termo  de  pathologia.  Elevações, 
que  em  certas  doenças  sobrevem  á  pelle. 

TUBERCULOSO,  a',  a^j.  Que  offerece 
saliências  análogas  aos  tubérculos. 

—  Termo  de  medicina.  Que  é  da  na- 
tureza do  tubérculo. 

—  Matéria  tuberculosa;  aquella  que 
constitue  os  tubérculos  pathologicos. 

-  —  Meningit-e  tuberculosa  ;  affecçào  em 
que  as  granulações  se  encontram  na  pia- 
mater. 

—  Substantivamente.:  Um  tuberculo- 
so ;  aquelle  que  tem  tubérculos  no  pul- 
mão, que  é  plituvsico.  .      a  -;   7-  - 

t  TUBERCULIFERO,  A,  aí/.  "Queteni 
tubérculos,  fallaudo  de  certas  hastes  sub- 
terrâneas. 

t  TUBERCULIFORME,  fl^{;'.  2  gen.  Que 
tem  a  fjruia  ile  um  tubérculo. 

f  TUBERCULOSE,  s.  f.  Termo  de  me- 
dicina. A  diathese  que  dispõe  á  forma- 
ção do  tubérculo.  ' 

-  TUBEROSA,  s.  /.  (Do  francez  tubereu- 
se).  Flanta  cuja  tlGr  é  branca  e  odorífera; 
flor  ai  gelica. 

TUBER03IDADE,  .s.  /.  (Do  latim  íuòe- 
rosus,  de  tuber).  Temio  de  botânica.  Ex- 
crescência carnuda. 

— Termo  de  anatomia.  As  tuberosida- 
des  do  estômago  grande  e  pegueno ;  as 
duas  extremidades  d'«ste  orgào. 

—  Tumorsinho  que  sobresáe  em  algu- 
ma parte. 

TUBEROSO,  A,  a,lj.  (Do  latim  fvbero- 
siis,  de  tuber !.  Que  oíFerece  tubérculos. 


'840 


TCrÇA 


TUDO 


TUDO 


—  Jiaizea  tuberosas ;  raiaos  qoe  aão 
mais  ou  monos  ^M-urisaa. 

—  Bíi/òus  tuberosos;  aquellea  cuja 
Bubstancin  é  liomofrcnoa. 

—  Planta  tuberosa ;  |>lanta  qno  brota 
da  tubera,  de  um  corpo  redondo  oomo 
batata. 

TUBO,  3.  m.  (Do  latim  tubnà).  Canuilo 
por  oiidc  o  ar,  03  Huidoa,  ca  liquido*, 
fito.,  iiodiin  tor  saiiida.  —  Um  tubo  de 
chumbi,    dl'   vitlfn,  f.tf. 


Casaiui  1'inpniili.i  o  tnho,  i\w.  Catnpiíii 
Ar(|uitoctoii  primeiro,  ao  vasto  espayo 
Main  odtiMíJp  Q3  confina,  mal*  croBCC^oMnndp. 

J.  i.  i>r,  M\cEpoV«r.DlTÍçloVilí{lílti'Í,  "^^'' ■^ 

il'  /.■    i-j'i     ;i.]''      .   Ml!,       .,,■,,.'):} 

•     '    f-  ■    ,  ' ' 

—  Tubo  actisiico ;  espécie  de  porta- vdiíl 

'— Tnbo  communifrtnfe ;  canudo  èurvo, 
em  qiio  o  liquido  8e  equilibra,  ou  fiea  éin 
egual  altura  em  um  e  outro  tubo. 
■' r*— Tubo  o/)tíco;  óculo  dever  no  lonpc. 
-''■'^  Termo  de  cinirjiria.  TubO  larymjia- 
«o;  espécie  de  sonda  que  se  introduz  na 
laryn^e  pela  boocft  ou  cavidades  nasae?,  e 
que,  elieia  de  ar,  eerve  a  restabelecei*  a 
respiraijFlo  nos  asphyxiados. 
'  —  Em  cliimica,  vasos  do  vidro,  àoa 
quaes  se  dá  differentes  nomes,  segundo 
suiaá  fijnnas  e  usos. 

'  >— Tnbo  eléctrico;  tubo   de   ridro  que 
adquire  pelo  attrito  a  virtude  eléctrica. 

■f  TUBIFERO,  A,  adj.  Termo  de  histo- 
ria Tiaturnl.  Que  traz  tubosJ     '" 
■'   f  TUBIFORME,   <ulj.  Que-tem  S  íirma 
de  um  tubo. 

t  TUBO-OVARIANO,  A,  adj.  Termo 
do  anatomia.  Que  pertence  á  trompa  de 
Fallopo  c  ao  ovário. 

TUBULAÇÃO,  s.  /.  Tormô  de  ehimica  e 
phvsicT.  Tubo,  fig^ura  do  tubo,  on  de  cy- 
Hndro  ôco. 

TUBULADO,  A,  adj.  Termo  de  ehimica 
e  physiea.  (^ue  tem  a  f^rma  de  um  tubo; 
quo  tem  um  tubo. 

TUBULADURA,  s.  /.  Termo  de  ehimica 
e  pliysiea.  A  fV>rnia  de  um  tubo. 

TUBULAR,  adj.  2  gen.  Termo  de  botâ- 
nica. Que  tem  uni  tubo,  tubuloso. 

TUBUIÁRIA,  s.  f.  Termo  de  historia 
natural,  (renero  de  zoophjtò,  de  que  ha 
varias  espécies. 

TUBULO,  s.  m.  Pequpno  tubo. 

TUBULOSO,  A,  adj.  Vid.  Tubulado. 

TUCANO,  s.  m.  Termo  de  historia  na- 
tnral.  Ave  da  America  Meridional,  do 
tamanho  de  entre  melro  e  pègn,  singular 
pôlti  deforme  grandeza  do  sen  bico  curvo 
õ'  dentado,  que  cm  algumas  espécies  ou 
variedades  ó  quatro  vezes  mais  comprido 
que  a  cabeça ;  •  é  do  cor  preta  e  tem  o 
papo  \ vermelho  e  amarello;  d'esto  se  fa- 
zem oriuunentos  para  as  senhoras.  O  man- 
to do  imperador  do  Brazil  c  guarnecido 
do  papos  de  tucano. 

TUÇARO,  adj.  Termo  antiquado; -fior- 
rendo,  homvel,  cruel. ''V  ■;'*^^''^  ;■'-' 


ii  TOOEL,  *.  ni.  Twrmo  do  mumca.  Tubo 

d«  metal,  ondo  «e  pfle  a  {>alheta;  faz 
part<í  <lo  aigun»  iafltraiu«ntos  dp  mumca, 
como  fapíto,  ete. 

TUDESCO,  adj.  e  «.  Que  pertence  ao« 
anti;,'!)*   t,'eriiiano«.  —  A    liiujmt  tudesca. 

—  •Subutaiitivamonto !  O  tudesco;  a 
iiíifíua  dort  antigos  alIeniSea. 

i.jTUDO.  Tenno  antiquado.  Vid.  Twi- 
do. 

2.)  TUDO,  «.  m.  (De  todo).  Equivalente 
a  todas, as  cousa».  .i.:io?i-i;. 


Sc  noato  tompo  de  gloria 

NacCra  a  Iflant;!  Hagrada, 
■■■••  Como  fora  fcitfjadn, 
'1   .':8omenti'  pola  vitoria 
;  t-iPa  QjiiiiiiA  allumiuJa! 

Ja  tildo  leixão  pas:<ar, 
.    Tudo  loixào  por  fazer, 
"      S(ím  pouMoa  perf^ntar 
;i;.!  A  esto  mc:<mo  (wzar 

^U^  foi  daqualiu  prazer. 

9I|.  yiÇ^X^^vT»miiJf»0  «g  IKYBtUO. 


IVaza  ao  ■mart^T  Santiastc 
Qíio  nunca  Ih 'a  lobro  presto. 
Abaste^  eu  nãq  fui  sesudo. 
Conta,  roRO-to,  Gonçalo. 
Mais  porei  eu  em  cont;l-lo, 
Quo  elles  ora  furtar-nie  tuJo. 

IDEM,  TÁSÇiE. 


Aindaquo  eu  peca  são, 
Wenliora,  tudo  bem  vejo. 
Attcnte,  que  na  eloiçào 
O  que  lhe  pede  o  deáigo 
Não  consente  o  corai;ào. 

CM.,  SKLEUCO. 

—  «Eu  vol-a  direi,  disse  Artisia,  uma 
de  suas  dtjnzellas ;  anda  tão  costumado  a 
cevar-se  em  homens,  quo  não  temCj  e  a 
metter-nos  em  con-^ciencia,  que  para  elle 
tudo  é  pouco,  que  por  não  perder  este 
credito  comno.sco,  não  quer  levar  a  bata- 
lha ao  Cibo.»  Francisco  de  Jloraes,  Pal- 
meirim dlnglaterra,  eap.  127. —  «Por- 
que so  os  desertos  estiuerão  cheyos  de 
Ãnacoi-etas,  se  o  glorioso  Padre  S.  Bento 
podo  pouoar  os  ermos,  os  m3tfes,  «  af 
cidades  de  Monges  e  de  religiosos,  tudo 
fundou  a  força  destas  palauras,  et  secvli 
sumus  te.t  Diogo  de  Paiva  Andrade, 
Sermões,  part.  1,  pag.  166.^ — «Porque 
a  estes  huçi5es  estava  elle  mui  confiado 
que  os  nossos  não  podiam  ir :  cá  uão  ti- 
nham mais  largo  caminho,  do  quo  he 
huma  veroda,  imlo  hum  iiomem  ante  ou- 
tro, por  tudo  o  mais  ser  mui  e-spos?o  de 
áspero  arvoredo,  i  Barros,  Década  2,  liv. 


cap, 


2.  — fE 


ha^na  poucos  il»a.<i  que  a 


(íoa  viera  hum  Embaixador  d'ElHei  de 
Bisnaga  com  grande  apparato,  ao  qual 
Aftbnso  d'Alboquerquo  fez  uudta  honra; 
o  posto  que  mostrasse  vir  visitallo  da  sua 
vinda  do  estreito,  e  que  se  fizessem  am- 
bos em  hum  corpo  pêra  lani;areji.  os  mou- 
ros do  Reyno  Deean.  o  que  ambos  parti- 
riam o  ganhado,  tudo  per  derradeiro  vinha 


acabar  nestei  eav«llo8. »  Idetir,  Deoada  6, 

liv.  10,  cap.  1.  —  «A  fortaleza  de  Xaèí 
iTa  hum  ca'<tello  pequeno  de  adobes  com 
quatro  cubello»,  e  tudo  ViZ  estreito  que 
ba.-itava  pêra  guardar,  e  defender  trinta 
c  cinco  Fartaquins,  porque  n.ío  tinha 
luait  dentro  em  si.i  Diogo  do  Couto,  Dé- 
cada 6,  liv.  6,  cap.  6.  —  (Arenilú  loB 
dezasíote  dias  qno  uu  era  chegatio  a  esta 
fortaleza  de  ]>ia,  fazendose  nella  prontes 
a3  dua«  fustai<  |>ara  irem  ao  eatrevto  de 
Meca,  a  saberem  a  certeza  da  aniia/Ja  doe 
Turcos,  de  que  ja  na  índia  avia  algum 
receví),  me  ombarquey  em  huras  delias 
do  quo  hia  por  Capitão  hum  meu  amigo, 
por  mo  ello  fazer  grandes  encarocímontos 
da  sua  ainizade  iiaquella  viagem,  fazen- 
dome  niuyto^  fácil  snyr  eu  delia  muyto 
rico  em  pouco  tempo,  que  era  o  qnc  tn 
então  mais  pretendia  que  tudo.»  FemSo 
Mondes  Pintc(,  Peregrina^e*,  cap,.  3. 


Grandes  artifleiae», 
oax^tudo  míiy  entendidos,      ^ 
muy  sotís  officiaes 
De  toda  a  sorte  c  metacs 
maj  prestes,  muyto  sabidos,  ' 
baratos  para  fallar. 

OABCIA   PK   BEZC.XDE,   llISCeLI.XaEA . 


—  «O  Duque  nào  sahyo  mais  da  guar- 
da roupa  em  que  o  el  Roy  deixon,  onde 
estaua  sem  ferros,  nem  outra  alguma  pri- 
sam  cm  seu  corpo,  porem  era  dé  bons  fi- 
dalgos, e  caualleiros  bem  guardado,  e  em 
tudo  muy  acatado,  e  seruido  cofno  a  seu 
ctado  cumpria  sendo  em  sua  liberdade, 
assi  no  seruiço  da  mesa  com  suas  «aluas 
deuidas,  e  costumadas,  como  nos  officios 
diuinos,  e pratica,  o  viàtatôes  de  seu  con- 
fessor, o  tíimbem  nos  auisos  de  «eus  pre- 
cnradores.i  Iiiem,  Chronica  de  João  II, 
cap.  44.  —  «Ho  pagode,  e  offidnas  delle 
erSo  do  tamanho  de  hum  grande  conuento 
dos  nossftí,  tudo  de  cantjiria  muito  bem 
laurada,  os  telhados  cubertos  de  ladrilho. 
Chegados  á  porta  do  pagode,  o  Catnal 
tomou  Yasquo  da  Gama  pela  nião.i  Da- 
mião de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  1,  cap.  40.  —  «Deixou  por  seus 
testamenteiros  dom  Dioguo  de  souda  Arce- 
bispo de  Braga,  e  dom  Martinho  de  ca»- 
tel-branco  conde  de  villa  nona  de  Porti- 
mão, com  o  corpo  fiearom  os  prelados  o 
religiosos  que  foram  presente?  a  sen  faU- 
ci mento,  e  dom  Pedro  de  castro  sen  vea- 
dor  da  fkaenda,  que  a  tudo  o  que  cm»- 
pria  pêra  o  enterramento  deu  abordem 
necessária,  até  que  o  leuarara  ao  mos- 
teiro de  Biithelein,  que  foi  duas  oca»  ante 
manhã.»  Ibidem,  part.  4,  cap.  83.  —  «Co- 
me(.'ando  pela  conclusam  de  tudo  o  que 
os  am'gos  tinham  dito,  perguntaua  lhes 
o  P.  M.  Francisco  como  nam  esperanara 
os  Ciiatins  da  índia,  que  se  melhorassem 
aquellas  duas  cousas,  a  noticia,  digo,  da 
nane£;açam.  e  a  paz,  e  comeifio  cora  oe 
portos   da   China    pêra  meterem  suas  fa- 


TUDO 


TUDO 


TUDO 


841 


zendas,  e  vidas  na  viagem  de  lapam.» 
Lucena,  Vida  de  S.  Francisco  Xavier, 
liv.  6,  cap.  9. 

Olha  cá,  não  és  amigo, 
tudo  falsas  quanto  dás, 
porque  uào  tens  mais  comtigo. 

ASTOSIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  17. 

Si,  que  a  acompanhaea. 
Na  que  vem  acompaulianilo 
é  tudo. 

Eis  aqui  mais. 
IBIDEM,  pag.  223. 

—  «Perdoay,  Bom  Deos,  minha,  naõ 
sei  se  diga,  ignorância,  se  maldade,  se 
miséria;  o  certo  lie,  que  tudo.  ferdoai- 
me :  façamos  pazes  de  hoje  em  diante.» 
Padre  Manoel  Bernardes,  Exercicios  es- 
pirituaes,  pag.  118. 

Âclião  d'embarcaçõe8  grãa  quantidade 
Humaa  são  d'alto  bordo  outras  rasteiras. 
Tudo  foi  logo  posto  a  bom  recado 
Como  do  nobre  Cuaha  foi  mandado. 
GABBKTT,  cAMÕKs,  cant.  8,  cap.  56. 

—  Senhor  de  tudo ;  senhor  de  todas 
aa  cousas,  dominador  d'ellas.  —  a  A  El- 
Rey  D.  João  I.  aconselharão,  que  se  se 
queria  fazer  Senhor  de  Portugal,  que 
desse  o  que  naõ  tinha,  e  promettesse  o 
que  naõ  era  seu,  que  eraõ  os  lugares, 
que  naõ  possuía ;  e  por  este  meio  se  fez 
Senhor  de  tudo.  Pelo  que  em  certo  mo- 
do dando  ElRey  agora  lincença  para  ca- 
da hum  poder  fazer  estas  novas  povoa- 
çoens  nas  suas  terras  com  alguma  juris- 
dicçaõ,  ou  privilegio  hoaroío.»  Severim 
de  Faria,  Noticias  de  Portugal,  Disc.  1, 
cap.  õ. 

—  Offerecer-se  a  alguém  para  tudo  o 
que  lhe  fôr  necessário;  oíFerecer  o  seu 
préstimo  e  os  seus  serviços  para  todas  as 
cousas  necessárias.  — «Ao  qual  o  Mouro 
Capitão,  e  Feitor  da  não  por  amizade 
que  Melique  Gupij  seu  senhor  mostrava 
ter  a  nossas  cousas,  e  seguro  que  AíFon- 
so  d'Alboquerque  tinha  dado  pêra  suaa 
nãos  navegarem,  (como  atrás  escreve- 
mos,) elle  llie  fez  honra,  oíferecendo-se 
a  tudo  o  que  houvesse  mister  d'elle.» 
Barros,  Década  2,  liv.  6,  cap.  2. —  «En- 
trando Pêro  Danhaia  nesta  camará  el 
Rei  assi  cego  como  era  lhe  fez  muita 
cortezia,  e  gasalhado,  e  logo  alli  houve 
delle  licença  para  fazer  huma  fortaleza, 
offerecendoselhe  a  tudo  o  que  lhe  delle 
mais  fos.''e  nceessario.»  Damiào  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  2,  cap.  9. 

—  Tudo  isso;  todas  essas  cousas.  — 
«Pois  tinha  tudo  isso,  ha  cento  e  trinta 
annos,  Matozin  los.  Tudo  isso  viu  o  aca- 
démico da  academia  real  da  historia  por- 
tugueza  António  Cerqueira  Pinto.  Vinte 
e  quatro  ruas  «de  divertido  e  jocundo 
passeio,  formadas  todas  de  nobres  e  lu- 

VOL.  V.  — 106. 


sidas  casas»  escreve  elle.  Os  moradores 
eram  gente  de  prol,  que  toda,  com  o  do- 
bar dum  século,  degenerou  em  gentio 
meramente  prolitico.»  Bispo  do  Grào  Pa- 
rá, Memorias,  publicadas  por  Camillo 
Castello  Branco,  pag.  2. 

—  Fazer-se  senhor  de  quasi  tudo  o  que 
ha  desde  tal  até  tal;  asseuhorear-se  de 
quasi  todas  as  cousas.  —  «Este  Mouro 
como  Vassalo  delRey  Abderrameu  de 
Córdova,  e  estimado  delle,  e  dos  mais 
pela  nobreza,  e  fama  de  seus  antepassa- 
dos, veyo  com  grande  poder  contra  as 
terras  de  Portugal,  e  achandoas  com  pou- 
ca resistência,  se  apoderou  da  mayor 
parte  delias,  tanto  que  diz  o  Conde  Dom 
Pedro,  que.se  fez  senhor  de  quasi  tudo 
o  que  ha  desde  a  corrente  do  Dom-o  até 
o  Tejo,  senào  forjvo  algumas  povoaçoens, 
que  por  muy  fortes  e  importantes  esta- 
vão  melhor  guarnecidas  com  presidies.» 
Monarchia  Lusitana,  liv.    7,  cap.  20. 

—  Tudo  aquillo :  todas  aquellas  cou- 
sas. — •  fHo  ley  justa  fazerse  a  ti,  tudo 
aquillo  que  ouvera  de  fazer  delle,  quan- 
do provaras  o  maleficio,  e  recreceo  so- 
bre isto  grande  tribulação,  porque  o  pren- 
derão para  o  queimarem  no  dia  seguin- 
te.» Monarchia  Lusitana,  liv.  7,  cap.  10. 

—  Tudo  o  mais ;  todas  as  mais  cou- 
sas. —  «E  hindo  assim  menos  de  légua 
da  terra,  tornou  a  mauchua,  e  disseraò 
os  marinheiros,  que  defronte  tinhão  huma 
fermosa  prava  aonde  só  podiaò  desem- 
barcar, porque  tudo  o  mais  eraõ  rochas, 
e  penedias  asperissimas,  e  que  nào  havia 
matéria  alguma  de  salvação.»  Diogo  de 
Couto,  Década  6,  liv.  9,  cap.  21. 

• —  Ir  Com  tudo  ao  cubo. 


Tomae,  que  vos  dá  ora 

de  sor  fèa  nem  fermosa  ! 

que  diabo  I 

sabei  que  ir  com  tudo  ao  cabo 

ás  vezes  descobre  cabos 

de  começo  dos  diabos. 

Asrosio  PBEsiKs,  AUTOS,  pag.  311. 


Tudo  é   lá  fóri 


Pae,  nimigalha, 
íicam  cá  dois  bem  pequenos. 
TA,  nào  digaes  o  que  fica. 
Não  digo,  tudo  é  lá  fora. 
ANTOiío  PKESTEs,  AUTOS,  pag.  377. 


—  P.restar  isto  tudo  i^ara  guerra 


Mas  que  presta  isto  tudo  para  guerra 
Oudo  o  valor  03  peitos  nào  accende? 
Com  tamanho  poder  Bauduv  so  encerra 
Lá  dentro  no  arraial,  nem  se  defende, 
Quassentado  está  Já  junto  da  serra 
De  Mandou  ;  mas  o  imigo  que  pretende 
Acabar  o  que  ja  bem  começara, 
Lá  perto  do  Sultão  já  se  alojara. 

FRASCISCO  DE  ANDB.\DK,  PBIUEIBO  CERCO  DE  DIU, 

cant.  3,  est,  27. 


— -  Forte  em  tudo  ;  valoroso^  corajoso 
em  todas  as  cousas.  —  Um  jauizaro  for- 
te em  tudo. 


Hum  Janizaro  ousado,  c  forte  cm  tudo 
Companheiro  também  do  Sultão  era, 
A  que  o  Latino,  que  o  Christào  estudo 
Deixou,  por  mulher  huma  filha  dera. 
A  este  o  Tigre  do  ílundo,  o  povo  i-udo 
Por  seu  valor,  por  nome  então  pusera. 
Não  digo  03  outros,  porque  os  nào  conheço, 
Mas  todos  são  Senhores  de  grào  preço. 

F.  d'asdbade,  pbiueieo  cebco  DE  Diti,cant.  6, 
est.  76. 


—  Tudo  o  que  é  cerfsza  divina;  to- 
das as  cousas  concernentes  á  certeza  di- 
vina. —  «Independente  o  meu  discurso 
de  tudo  o  que  he  certesa  Divina,  com- 
bate unicamente  o  que  tenho  por  pre- 
sumpçaõ,  vaidade,  e  cegueyra  huma- 
na.» Cavalleiro  d'01iveira,  Cartas,  liv,  1, 
n."  43. 

—  Tudo  o  que  depender  de  mim ;  to- 
das as  cousas  que  estiverem  dependen- 
tes de  mim.  —  «Muita  bondade  vossa» 
era  a  sua  única  resposta.  —  «Tudo  o  que 
depender  de  mim  farei  para  ser  ditosa; 
e  se  o  nào  fôr,  consolar-me-hei  com  di- 
zer que  me  julgastes  vós,  Senhora,  di- 
gna de  sê-lo.  —  Um  só  dia  não  passei, 
sem  que  a  visse,  até  o  dia  do  cazamen- 
to,  que  prestes  se  concluio,  presidindo 
ao  contracto  o  Maioral  de  minhas  fazen- 
das, e  servindo-lhe  eu  de  Madrinha  no 
Sacramento.»  Francisco  Manoel  do  Nas- 
cimento, Successos  de  madame  de  Se- 
neterre. 

—  Amargando  tudo  na  secca  bocca. 


Bem  como  aquelle  que  febricitando 
Onde  a  cólera  está  prevalecendo. 
Na  secca  bocca  tudo  ja  amargando 
Amargo  julga  quanto  vai  comendo. 

EOLIM   DE   MOCK.V,   SOTISSIMOS   DO   HOMEM,   Cânt.  9, 

est.  9. 


—  A  fonte  geral  d'onde  tudo  mana;  a 
fonte  d'onde  se  originam  todas  as  cou- 
sas.—  «As  ninfas  do  mar  se  chama õ  Ne- 
reidas, sendo  Galatêa  uma  d'ellas,  e  es- 
tas saõ  mais  nobres  que  as  das  fontes, 
rios  e  prados,  porque  saõ  próprios  filhos 
da  geral  fonte  donde  mana  tudo  o  que 
na  terra  se  cria  com  a  sua  humidade.» 
P,  Ignacio  da  Piedade  Vaíconcellos,  Ar- 
tefactos symmetricos  e  geométricos,  liv. 
2,  cap.  3õ. 

—  Confia,  que  tudo  pôde.  —  «Teme, 
replicou  Mentor,  teme  que  não  te  aggra- 
ve  com  desgraças :  temo  seus  mimos  trai- 
dores, inda  mais  do  que  os  escolhos  em 
que  se  espedaçou  nosso  navio:  o  naufrá- 
gio e  a  morte  nào  são  tanto  para  temer 
como  os  prazeres,  quando  estes  encon- 
tram a  virtude.  Foge  de  acreditar  quan- 
to ella  te  referir:  a  mocidade  é  desva- 
necida, tudo  presume  de  si :  bem  que 
frágil,  confia  que  tudo  pode;  que  de  na- 


U2 


TUDO 


TODO 


TUDO 


(la  se  devo  acautelar ;  e  entrejía-so  livia- 
namente  e  sem  recato.»  Manoel  do  Sou- 
sa, e  Francií<co  Manoel  do  Nascimento, 
Aventuras   de  Telemaco,  liv.  1. 

—  Fazer  tudo  o  que  entemlcr ;  fanor  to- 
das as  cousas  que  eu  julg^ar  conveniente 
fazer,  proceder  do  moUo  mais  racionai. 
—  »E  corto,  que  vós  tendes  feito  nesta 
jornada,  desde  o  primeiro  dia  que  tives- 
tes novas  do  cerco  de  Diu,  até  o  de  vos- 
sa, o  nossa  victoria,  tudo  o  que  enten- 
do, que  hum  valoroso,  c  astuto  Capitão 
podia  fiizer,  assim  na  presteza  dos  soc- 
corros,  como  em  pordes  vossos  filhos  por 
balisas  da  fortuna,  o  perigos  do  Inver- 
no, e  mares  da  Índia,  para  que  os  ou- 
tros os  tivessem  em  menos.»  Jacintho 
Freire  d'Andrado,  Vida  de  D.  João  de 
Castro,  liv.  4. 

—  Ser  avisado  por  alguém  de  tudo  ; 
fazel-o  sciente  do  tudo,  de  todas  as  cou- 
sas, tornal-o  conhecedor.  —  «E  llie  dou 
logo  Juntamente  cinco  mil  cruzados  em 
oiiro,  o  seiscentos  mil  reis  de  renda  em 
benefícios  logo  nomeados,  poUos  quaes 
logo  mandou  despedir  as  letras,  mas  não 
ouuerão  eftVito,  porque  antes  de  despe- 
didas o  dito  Diogo  Tinoco  falcceo.  E  de- 
pois foy  el  Rey  de  tudo  anisado  por  dom 
Vasco  Coutinho  tilho  do  Marichal,  e  ir- 
mão do  dito  dom  Guterez,  o  qual  dom 
Vasco  por  descontentamentos  que  tinlia 
dei  Rey  estaua  neste  tempo  despedido 
delle  para  se  hir  fora  do  Rey  no.»  (iarcia 
de  Rezende,  Chronica  de  D.  João  II, 
cap.  53. 

—  Tudo  has  de  dizer;  todas  as  cousas 
has  de  contar. 

Até  n'Í330  C3  inimigo  ! 

dii,  d,i  n'c.38a  boca  um  ponto  ; 

tudo  has  de  dizer  ! 

ANTOSIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  447. 

—  Determinar  tudo  com  um  conselho 
de  senadores;  ordenar,  dispor  com  elle 
todas  as  cousas.  —  «E  oscolhen  dos  prin- 
cipacs  Senadores  hum  Conselho,  com  o 
qual  determinava  tudo.»  Severim  de  Fa- 
ria, Noticias  de  Portugal,  Disc.  3,  cap.  25. 

—  Manter  tudo  á  sua  custa;  susten- 
tar, conservar  tudo  fazendo  despezas  com 
03  rendimentos. —  «Em  seu  regno  nin- 
guém tem  caualos  se  não  de  sua  mão, 
nem  os  po  le  comprar  ninguém  senão  el- 
le, de  que  tem  passante  de  vinte  mil  da 
sua  ceuadfira,  o  que  tudo  mantém  á  sua 
custa,  e  de  sua  mão  qí  entregão  a  seus 
capitães  que  os  repartem  pelos  soldados 
do  suas  capitanias,  a  que  chamão  lasca- 
rins.»  Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  2,  cap.  6. 

—  Man'cr  em  tudo  l>om  segredo  ;  guar- 
dar em  todas  as  cousas  perfeito  segredo. 
—  «Na  camará  liania  Imm  Catei  muito 
mais  rioo  que  ho  do  fora,  em  que  se  el 
Rei  lançou,  e  sem  hauer  nella  mais  gen- 
te, que  ho  Bramaua  mor,  e  ho  quo  daua 


ho  betelle  a  el  Rei,  e  hum  seu  veador 
da  fazenda,  fez  dizer  pelo  «eu  lingoa  a 
Vapquo  da  Gama,  que  estaua  em  lugar 
em  que  liureniente  podia  dar  Hiia  emliai- 
xada,  que  om  tudo  se  lhe  manteria  bom 
segredo,  pollos  que  estauaij  presentes  se- 
rem do  seu  conselho  secreto,  e  pessoas 
de  que  elle  conriaua  todos  seus  ncgoeio!*, 
e  fazenda.»  Damião  de  Góes,  Chronica 
de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  4. 

—  O  mais  importante  de  tudo  ;  o  mais 
essencial  do  toilas  as  cousas.  — «E  fíca- 
riaõ  as  náos  d<i  Reino  sem  terem  porto, 
nem  escalla  aonde  fossem  carregar,  nen» 
a  pimenta  que  era  o  mais  importante  de 
tudo,  porque  logo  os  Mouros  a  haviaõ 
de  haver  toda  pêra  si,  e  passalla  a  Me- 
ca, que  era  o  quo  ell''s  muito  pretendiari, 
porque  com  a  nossa  entrada  na  ln<lia  lhe 
arrancamos  das  mãos  aquello  trato  com 
que  todos  vieraõ  a  empobrecer.»  Diogo 
de  Couto,  Década  6,  liv.  8,  cap.  2. 

—  Obedecer  em  tudo  a  aJgnem ;  ser- 
Iho  obediente  em  todas  as  cousas.  —  «E 
lhes  pedia  por  mercê  que  o  quisessem 
aconselhar,  e  lho  mandassem  o  que  que- 
rião  que  fizesse,  porque  elle  estava  nuiy- 
to  jirestes  jiara  lhes  obedecer  em  tudo, 
e  outras  palavras  a  este  modo  que  sem 
nenlium  custo  resultaõ  ás  vezes  em  muy- 
to  proveito.»  Fernão  Mendes  Finto,  Pe- 
regrinações, cap.  67. 

—  ^4  tudo  o  que  cumj/ria  para  alguma 
cousa  deu  a  ordem  necessária ;  deu  as 
providencias  para  todas  a«  cousas  quo 
era  mister  dal-as.  —  «Deixou  por  seus 
testamenteiros  dom  Dioguo  de  sousa  Ar- 
cebispo de  Braga,  c  dom  Martinho  de 
castel-bi-anco  oonde  de  villa  noua  de  Por- 
timão, com  o  corpo  ficarem  os  prelados, 
e  religiosos  que  foram  presentes  a  seu 
falicimento,  c  dom  Pedro  de  castro  seu 
veador  da  fazenda,  que  a  tudo  o  que 
compria  pêra  o  enterramento  deu  a  or- 
dem necessária,  até  que  o  leuaram  ao 
mosteiro  de  Bethelem,  que  foi  duas  oras 
ante  manliã.»  Damião  de  (iocs,  Chroni- 
ca de  D.  Manoel,  part.  4,  cap.  83. 

—  Tudo  é  òújn ;  sem  excepção  de  par- 
tes. 

—  Ainda  iião  dissemos  tudo ;  ainda 
não  diss-ojios  todo  o  necessário.  —  «Le- 
vem, disse  o  terceiro,  muito  bacalháo, 
muito  vinho,  azeite,  e  vinagre.  Esperay  : 
ides  vós  lá  f!\zor  alguma  colada,  ou  me- 
renda? xVinda  naõ  dissemos  tudo,  acodio 
o  (juarto.  Levem  muitos  soldados,  fari- 
nhas, trapari.os,  c  múniçoens,  e  isto  bas- 
ta. Aqui  acoilio  a  loy  Presidente,  dando 
hum  grito.»  Arte  de  furtar,  cap.  29. 

—  Como  tudo  Jica  dito  já  apontado ; 
como  todas  as  cousas  acima  se  mencio- 
naram. —  «Pelo  que  el  Rei  mandou  a 
d<nn  Francisco,  que  ileixasse  esta  forta- 
leza, e  fosso  fazer  a  do  Quiloa,  como  tu- 
do fica  dito  Ja  apontado.  Pa-  tido  dom 
Francisco,  cl  Rei  niaudou  fazer  prestes 
seis  nãos,  de  que  deu  a  capitania  ao  mes- 


mo   Poro   danhaia.  >    DamiSo    de   Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  2,  cap.  9. 

—  Jiem  i'  fjue  naiòaiuus  tudo  o  (jue  a$ 
leis  perntiltini  e  praUibi-in ;  heni  é  que 
se  saibam  to  i;w  as  cousas  permittidaa 
e  prohibidas  pelas  leis,  —  «Bom  he,  que 
saiba  tudo,  o  que  permittem,  e  também 
o  que  prohilKMii  ha  leys  verdadeiras  da 
guerra,  que  ordinariamente  tiraõ  a  con- 
servar o  |)roprio,  e  destruir  o  alheyo,  pa- 
ra que  com  a  potencia  x\a.<S  destrua  o 
contrario.»  Arte  de  furtar,  cap.  21. 

—  Tudo  o  deniaÍH. —  «  Cojeatar  que 
absolutamente  gonernaua  el  Rei  lhe  res- 
pondeo,  que  quanto  a  fortalcaa  era  escu- 
sado falar  nisso,  p<>rque  per  nenhom  mo- 
do o  auia  el  Rei  de  consentir,  mas  que 
tudo  o  demai»  que  tocaua  ao  contrato 
das  pazes  qne  fezerSo  com  Afonso  dalba- 
querque,  estauam  prestes  para  cumprir, 
e  lhe  dar  logo  os  quinze  mil  xeratins.» 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Ma- 
noel, part.  1,  cap.  lõ. 

—  Tudo  está  n'i»to,  isto  é  o  tudo  do 
negocio;  o  qne  n'elle  6  essencial. 

—  Dar  conta  de  tudo  a  alguém. —  «E 
pois  assim  he  peço-vos  que  me  digais  a 
qual  destes  rlireitos  que  estes  pretensores 
àlegáõ  por  si  hei  de  obedecer,  pêra  que 
ElRey  de  Portugal  meu  Senhor  seja  bem 
servido,  porque  vos  heido  lançar  a  culpa 
do  erro  se  o  houver,  e  a  elle  dareis  con- 
ta de  tudo,  porque  en  desejo  de  acertar 
em  seu  serviço. »  Diogo  de  Conto,  Déca- 
da 6,  liv,  10,  cap.  11. 

—  Farei  ludo  o  qve  quizerdes ;  obede- 
cerei a  todas  as  vossas  ordens. 


Pastor,  digo  que  daqui 
Farei  t»do  que  quizerdes; 
E  SC.  mais  quereis  de  mi. 
Digo  que  TOS  dou  o  si 
Para  tudo  o  que  quizerdcs. 

CAU.,  FILODBHO,  act.  4,  SC. 


—  Pôr  tudo  a  ferro  e  fogo ;  matar  to- 
das as  pessoas,  queimar  tudo,  destruir  tu- 
do.—  Matar  gente,  potvlo  tudo  aferro  e 
fxfo.  —  «E  Sfthidos  do  rio  voltaram  pêra 
a  encea-la  de  Cambava,  e  dalli  at^  Siir- 
rate  foram  damlo  em  todas  as  aldeãs,  e 
povoações  qne  acharam  sobre  o  mar,  em 
que  cativaram,  e  mat:iram  muita  pente, 
pondo  tudo  a  ferro,  e  f 'go,  nito  perdoan- 
do a  cousa  alguma.»  I>iogo  de  Conto, 
Década  4,  liv.  7,  cap.  13. 

—  Ach<U'aú  mi  tudo;  presenciar  tudo. 

QiiP  vaporando  está  címtinunracntí 
Hum  cheiro  suavíssima  celí^te. 
Ordenado  p"-  Vénus,  que  a  Xaja  rodas 
Qaiâ  alli  presidir,  o  achacai  en»  ttulo. 
Por  lhos  fazer  fanor  a  Cipria  bclla 
Esparge  sobre  o  leito  c  branda  cama 
Hum  delffsdo  rocio,  e  liquor  l«ie 
Que  si^  pêra  este  etleito  C'ipro  cria. 

coBir.  X8AL,  NACFSAGio  MC  s8r(n,vciu,  oaat.  4. 

—  VoiUm  tudo  isto  resistiram  os  grip- 


TUDO 


TUDO 


TUFA 


843 


nadinos ;  a  todas  estas  cousas  se  oppo- 
zeram.  —  «Homens  de  armas,  4Ò000.  gi- 
netes, e  õOòOOO.  infantes,  e  por  mar  com 
30-  galés,  e  òQ.  Xavios;  contra  tudo  is- 
to resistirão  os  Granadinos.  »  Severim 
de  Faria,  Noticias  de  Portugal,  Diac.  2, 
cap.  9. 

—  Loc.  ADV.:  íSoire  tudo  ;  mormente, 
sobre  todas  as  cousas,  principalmente, 
mais  que  tudo. 

Mas  sobre  tudo  a  côr  do  rosto  muda 
Á  gente  popular,  vèr  que  não  vinha 
O  Viso-Rei,  que  espera  dar-lhe  ajuda, 
Nem  d'outra  parte  algum  soccorro  tinha ; 
Neni  fortaleza  algxima  ha  que  lhe  acuda 
Co"o  que  a  tamanbo  aperto  lhe  convinha, 
O  qual  o  Capitão,  bem  previnido. 
Por  vczea  ás  visinhas  tem  pedido. 

r.  d'a.sdbadk,  psui£[R0  cebco  de  Diu,cant.  17, 
est.  40. 

—  «Porque  nas  outras  eram  os  prega- 
dores favorecidos,  e  amparados  dos  chris- 
tàos,  e  perseguidos  e  martyrisados  dos 
gentios;  e  n'esta  os  gentios  nos  amam, 
nos  recebem,  e  nos  veneram ;  e  os  chris- 
tãos,  ainda  religiosos  e  portuguezes,  são 
03  que  nos  perseguem  e  affrontam,  e  so- 
bre tudo  nos  perturbam,  e  impedem  o 
exercício  de  nossos  ministérios,  e  a  con- 
versão das  almas,  que  é  o  que  mais  se 
sente.»  Padre  António  Vieira,  Cartas, 
n."  15. 

—  Com  tudo  ;  não  obstante,  apesai'  de, 
todavia. 

E  com  tudo  se  passar, 
A  falia  quero  mudar 
Na  sua  de  tal  feição, 
Que  couces,  e  porfiar. 
Lhe  facão  hoje  assentar 
Que  sou  Sosea,  e  elic  não. 

CAU.,  AltPHYIBIUES,  aCt.   2,  BC.    6. 

O^  eu  não  sei  entender 
Tal  caso,  nem  lhe  acho  fundo : 
Com  tudo  venho  a  dizer, 
Que  ha  tantos  males  no  mundo. 
Que  tudo  se  pôde  crer. 
Se  vos  trouxer  quem  vos  diga 
Como  esta  noite  dormi 
Na  não,  crereis  que  he  assi  ? 
iBtDEM,  act.  3,  SC.  5. 

—  «Bem  vejo,  disse  o  cavalleiro  do 
Castello,  que  quererdes  deixai-  de  ir  co- 
migo ao  cabo,  não  vos  vem  da  pouca 
confiança,  que  tereis  de  vós  mesmo,  pois 
vossas  obras  o  mostram  ;  e  com  tudo  nào 
sei  quam  bem  contado  me  seria,  antes 
que  de  vossa  pessoa  saiba  mais  do  que 
agora  sei,  deixar  de  me  experimentar 
comvosco,  té  que  um  de  nós  sinta  a  me- 
lhoria de  seu  contrario.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  dlnglaterra,  cap.  127. 
—  a  Dom  Diuarte,  ainda  que  Ibie  pareceo 
que  já  hia  morto,  com  tudo  apeou-se,  e 
achou  com  huma  viveza  no  animo  taõ 
grande,  como  quando  entrara  na  bata- 
lha :  mas  o  braço  direito  que  o  tinha  qua- 


si  decepado,  e  Luma  ferida  na  cabeça 
que  o  cegava  com  sangue,  lhe  faziaõ  naõ 
fazer  o  que  elle  desejava.»  Barros,  Cla- 
rimundo,  iiv.  2,  cap.  26. —  «iCom  ludo 
co;uo  a  gente  de  guerra,  e  do  mar  he  na- 
turalmente .soberba,  e  brigosa,  íiUi  em 
Corfú  se  armou  huma  briga  entre  os  dar- 
mada,  e  os  soldados  Venezeanos,  e  gen- 
te da  terra,  em  que  matarão  dos  nossos 
mais  de  setenta  homens,  e  dos  Venezea- 
nos, e  da  terra  muytos,  e  foi  negocio,  em 
que  pêra  o  apacificarem  tiueraõ  ho  Con- 
de, e  o  geral  dos  Ven'=;zear.os,  e  os  go- 
uernadores  da  terra  muito  trabalho.»  Da- 
mião de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  1,  cap.  52. — -«Com  tudo  a  villa 
foi  cercada  per  aquella  parte  com  duas 
nãos  grossas,  outros  nauios,  em  que  hiam 
Pêro  dafonseea,  Vicente  dalbuquerque, 
António  raposo,  Tristão  de  miranda,  Gar- 
cia de  eousa,  e  loam  gomez  dalcunha 
cheira  dinheiro,  indo  por  capitão  de  to- 
dos Ayres  da  sylua.s  Ibidem,  part.  3, 
cap.  2S. —  «Mas  com  tudo  mandou  seus 
Embaixadores,  que  foraõ  D.  Christovaõ 
de  Moura,  que  hoje  he  Marquez  de  Cas- 
tel-Rodrigo,  a  dar  a  el  Rei  D.  Henrique 
o  pezame  da  perda  dei  Rei  D.  Sebastião, 
e  os  parabéns  da  nova  intrancia  do  Rei- 
no, e  depois  veio  D.  Pedro  Giron  Duque 
de  Ossuna  para  o  informar  da  justiça,  e 
direito,  com  que  pretendia  o  Reino.» 
Frei  Bernardo  de  Brito,  Elogios  dos  reis 
de  Portugal,  continuados  por  D.  José 
Barbosa.  —  «Com  tudo  ElRey  D.  João  I. 
começou  a  fortificar  os  portos  de  Lisboa, 
e  Setuval,  fazendo  no  Tejo  ao  pè  da  Vil- 
la de  Almada  a  Torre  Velha;  porque  uaõ 
tivessem  abrigo  os  inimigos  daquella  ban- 
da, assim  como  o  naõ  tinhaõ  da  de  Lis- 
boa. »  Severim  de  Faria,  Noticias  de  Por- 
tugal, Disc.  2,  cap.  12.  —  «Com  tudo 
parece,  que  em  Portugal  seguirão  o  cos- 
tume de  Itália,  como  fizeraõ  nos  Marque- 
ses ;  e  o  que  se  pôde  colligir  nesta  maté- 
ria era,  que  hia  o  Conde  com  acompa- 
r.hamento  dos  Fidalgos,  Reys  de  Armas, 
instrumentos  músicos  ao  Paço.»  Ibidem, 
Disc.  3,  cap.  25.  —  «Com  tudo  he  de 
notar  que  nestes  dous  preceptos  não  se 
deffendem  os  primeiros  mouimentos  de 
luaos  desejos,  que  não  estam  em  nossa 
mão,  quando  a  carne  deseja  alguma  cou- 
sa contra  o  spirito,  pesandonos  com  isso, 
não  consintindo,  mas  antes  resistindo  a 
elles  com  presteza  e  efiBcacia.»  Fr.  Bar- 
tholomeu  dos  Martyres,  Catecismo  da 
doutrina  christã.  —  «Ainda  que  elle  nem 
mesmo  sobre  o  azul,  pôde  fazei-  brilhar 
mais  a  vossa  formosura;  vejo  com  tudo 
que  -o  empregaes  em  quasi  todo  o  orna- 
to.» Cavalleiro  d'01iveira.  Cartas,  Iiv.  1, 
n.°  11.  —  «Os  successos  das  suas  intelli- 
gencias  contribuirão  efficazmente  a  mu- 
dar a  persuação  em  infalibilidade.  Com 
tudo  ou  fosse  ra>ão,  ou  fosse  escrúpulo, 
■era  muy  reservada  em-faser  as  suas  pre- 
diçoeus.»  Ibidem,  Iiv.  4,  n.°  40.  — «Mas 


a  contos  de  eSes,  bem  he  que  sò  elles  lhe 
dem  credito.  Com  tudo  nào  deyxey  de 
notar  esta  charidade  indiscreta,  vendo  a 
pouca  que  ha  entre  alguns  Christàos,  de 
quem  com  razão  poderá  formar  minhas 
queyxas;  mas  porque  fazello,  será  hir 
fora  de  meu  instituto;  passarey  auante, 
cõ  a  magoa,  que  outros  de  meu  habito  tã 
bem  passão.»  Frei  Gaspar  de  S.  Bernar- 
dino, Itinerário  da  índia,  cap.  11. — 
«Era  para  cuidar,  se  convinha  servir  de 
pessoas  de  grandes  partes?  Quando  ellaa 
fossem  conhecidas,  muito  bom  seria.  Ve- 
mos com  tudo,  que  n'estas  ha  o  maior  pe- 
rigo; porque  a  fortuna  tem  guerras  apre- 
goadas com  a  natureza:  sempre  uma  des- 
favorece a  quem  a  outro  favorece.»  D. 
Francisco  Manoel  de  Mello,  Carta  de 
guia  de  casados. 

—  Adv.  Totalmente. 

—  Adágios  e  provérbios  : 

—  Tudo  se  diz,  e  tudo  se  sabe. 

—  Tudo   se  quer  com  meios. 

—  Do  bom  tudo,  e  do  ruim  nada. 

—  Tudo   ha    mister    arte,    e    o  comer 
vontade. 

—  Tudo  é  nada,  senão  trigo  e  cevada. 

—  Tudo  tem  seu  tempo,  e  a  arraia  no 
Advei.to. 

—  Tudo    farei,    casas    de    duas   portas 
o  guardarei. 

nã —  Quem  tudo  quer  vingar,  cedo  quer 
acabar. 

—  Tudo  é  vento,    se    não    ha    rei,    ou 
prior  em  convento. 

—  Tudo   enfada,    só   a   variedade   re- 
creia. 

—  Tudo  ha  no  mundo. 

—  Tudo  pode  o  dinheiro. 

—  Tudo  põe  sobre  si,  isto  ó,  não  tem 
mais  que  o  que  veste. 

—  Tudo  acaba,  senão  amar  a  Deus. 

—  Quem  tudo  dá,  tudo  nega. 

—  Quem  faz  tudo,   não  enche  fuso. 

f  TUFADO,  part.  pass.  de  Tufar.  In- 
chado. 

—  Figuradamente:  Tufados  bosques. 


Ondeão  brandamente  as  louras  messes, 
Cobrem-se  os  montes  de  tufados  bosques 
Qu"  o  claro  Sol  vedando,  eatornão  sombras. 
Descobre-se  fecunda  a  Natureza, 
E,  cheia  a  Terra  de  thcsouros  tantos. 
Digno  Templo  apresenta  ao  Ser  Eterno. 

J.  A.  DE  UACEDO,  A  NATUBEZA,  Cant.  1. 

A  temperie  do  ar  por  vós  se  nutre ; 
Trazeis,  ou  supprimis  a  chuva,  e  gelo, 
E  sacudindo  as  arvores  tufadas, 
Quanto  podeis  lhes  sazonais  os  fructos. 
Fazeis  communs  os  bens  doppostos  Climas, 
Tão  grandes  fins  a  Providencia  teve. 
IBIDEM,  cant.  2. 


TUFÃO,  s.  m.  (Do  grego  typhm).  Ven- 
to furioso,  que  brevemente  corre  todos 
os  rumos,  nos  mares  da  China. 

—  Figuradamente  :  A  grande  tormen- 
ta do  mar,  que  elles  produzem. 


844 


TIJI>I 


TUME 


TUMU 


—  Torrivel  tormenta  do  vento. 
— ■  Tufão  em  terra. 

TUFAR,  0.  a.  Incliar  o  corpo  com  ar 
rarotoito. 

—  Figuradamente:  Jrar-so  com  so- 
berba. 

—  Termo  jioimlar.  Inchar  do  soberba. 
Vid.  Rolão. 

TUFO,  n.  in.  (Do  l.itim  tiifus).  Podra 
levo  esponjosa.  Vid.  Tofo. 

—  Jiolliào  de  ajíua,  que  rebenta  e  gor- 
gulha  groasa. 

—  Tufo  de  là;  uma  porç.aio  d'ella 
aberta. 

—  Na  roujia,  a  parte  relovatla  e  in- 
chada. 

—  Instrumento  de  espingardeiro. 

—  O  tufo  do  turbante;  a  parte  d'elle 
convexa  e  relevada. 

TUFOSO,  A,  adj.  Termo  de  cirurgia. 
liieliado. 

TUGIR,  V.  II.  Termo  popular.  Não  tu- 
gir, liem  mufjir;  eaiar-se,  não  dizer  nada. 

TUGÚRIO,  ».  m.  (Uo  latim  tugurium). 
Choça,  choupana. 

Vj  que  é  inciioâ  i)'i-Í!;030  adorar  Césai-es, 
Km  purpuriío  spleiídor,  no  Capitólio, 
(Jiii;  em  ("li/ii;a  tal,  sobre  l^upiíias  pelica 
S:ibC'-los  dsí prezar.   De  inAgoa  dignos 
Em  Roma  os  vi.  De  alcáç.arcs  fatistosos 
Senhores  ávidos,  ânsia  vão  inda 
Destas  nossas  dovezas  os  tn(/urios. 

V.   M.    DO  NASCIMENTO,  03    UABTYEE3,   1ÍV.    7. 

TUIDARÀ  DO  BtlAZIL,  s.  /.  Termo  de 
historia  natiiral.  Espoeio  de  coruja. 

TUINS,  *•.  m.  plur.  Uns  papagaios  pe- 
quenos do  ]5razii. 

TUITIVO,  A,  adj.  (Do  latim  taeor). — 
Cartas  tuitivas ;  cartas  que  se  ilão  a  al- 
guém para  o  conservar  na  posse,  ou  di- 
reito, de  que  houvera  de  ser  privado,  em 
virtude  de  sentença  de  que  appellou,  e 
contra  a  qual  pediu  tuitiva. 

—  Que  se  dá  ao  exeommungado  appel- 
laute,  para  não  ser  preso,  nem  evitado, 
em  quauto  segue  a  appellaçSo. 

—  S.  f.  Vid.   Tuitivo. 

TUJUCO,  s.  »i.  Lameirão,  tremedal  de 
mangue. 

—  Bandeira  d'algodão  tinta  em  tuju- 
co ;  a  lama  do  mangue  que  tinge  de  ne- 
gro os  panno3  grosseiros  de  algodão  com 
o  humu.s  em  que  se  desfaz  a  folha  caídi- 
ça  dos  mangues. 

TUJUPAR,  s.  m.  Termo  do  Brazil.  Uma 
pallioça  dos  uegros,  ou  indios  coberta  de 
pindoba  ou  sapé,  e  talvez  duas  aguas, 
que  tocam  no  chão  com  tapameutus  de 
palha. 

TULHA,  s.  /.  O  monte  de  p.ães  e  grãos, 
castanhas,  nozes,  arroz,  que  está  no  eel- 
leiro,  em  divisões,  talvez.  Vitl.  Geileiro. 

AUAOIO   E   1»1U)VKKI!10  : 

—  Mais  valem  alimpailui'as  da  minha 
eira,  que  o  trigo  da  tulha  alheia. 

TULIPA,  s.  f.  Termo  de  botânica.  Flor 
vulsrar. 


TULIPEIRO,  «.  n.  Termo  do  botânica. 
Arviin:,  ou  planta  oriunda  da  America 
septentrional. 

TULUXI,  «.  "1.  Termo  da  Ásia.  O  man- 
gcric.^o. 

TUMBA,  s.  /.  (Do  grego  lymbos).  Pro- 
priamente é  tumulo,  corrupção  do  latim 
tamulus. 

—  Diz-se  a  caixa  (jue  se  põe  nas  cças, 
e  a  tumba  j)ortatil  coui  coberta  plana,  ou 
em  volta  de  arca,  em  quo  se  conduz  e 
leva  o  morto.  —  t  Partido  el  liei  dom 
Emanuel  de  bylves,  logo  na  primeira  jor- 
nada se  adiantou,  deixando  dom  Cieorge 
com  o  corpo  <lel  Rei  seu  pai,  e  toda  a 
outra  companhia,  e  se  veo  alforrado  á 
Batalha,  onde  o  estauam  sperando  os  Pre- 
lados, e  senhores  do  regno,  que  iiam  fo- 
ram a  Svlues,  com  os  quaes,  e  com  lodo- 
los  Religiosos  do  (Jonuento  veo  receber  a 
tumba  hum  bom  pedaço  fora  do  lugar  a 
pe.»  Damião  de  Líoes,  Chronica  de  D. 
Mauoel,  part.  1,  cap.  45. —  •  Estes,  en- 
trando todos  na  Igreja,  se  prostrarão 
diante  da  tumba,  ou  cayxa,  aonde  elle 
estava,  o  o  reverenciarão  com  muytas  la- 
grimas, e  quando  o  8ol  começou  a  sair, 
abalarão  j)ara  a  Cidade,  e  uo  caminho 
estava  Diogo  Pereyra  em  hum  batel  cô 
muyta  gente;  com  tochas,  e  círios  ace- 
sos, que  em  o  catur  perpassando  por  ol- 
les,  se  postraraò  todos  com  os  rostos  no 
chão.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  217.  —  «Vimos  também  muy- 
tas  embarcaçoens  toldadas  de  dó,  cò  suas 
tumbas,  e  tochas,  o  cirios,  e  molheres 
que  choraõ  por  dinheyro,  para  enterra- 
rem a  gente  que  morre  quaò  honrada- 
mente cada  hum  quizer  yr  acompanhado 
ou  chorado.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pe- 
regrinações, cap.  99. 

TUMBADO,  A,  adj.  Termo  antiquado. 
De  forma  de  tumba,  abaulado. 

TUMBAQUE,  s.  m.  Vid.  Tambaque. 

TUMBEIRO,  s.  «í.  Homem  que  conduz 
a  tumba;  o  que  leva  oa  mortos  a  enter- 
rar. 

TUMEGENCIA,  «.  /.  Vid.  Intumecencia. 

TUMEFACÇÃO,  s.f.  (Do  fraucez  tuim- 
faction).  Tt-rmo  de  medicina.  Augmeuto 
de  volume  de  uma  parte.  —  Tumeíacção 
das  aiiiygdalas. 

—  Tumidez,  tumescencia. 

—  Vid.  Tumor,  que  differe. 
TUMEFACTO,  A,   adj.  Termo  de  medi- 
cina, inchado. 

TUMENTE,  adj.  2  gen.  (Do  latim  tu- 
mensi.  incaado. 

TUMESCENCIA,  s.  /.  Vid.  Intumecen- 
cia. 

TUMESCENTE,  part.  ate.  de  Tumescer. 
Vid.  Tumente. 

—  Figurada  e  poeticamente ;  Que  se 
empola,  que  se  ensoberbece.  —  Alar  tu- 
mescente. 

TUMESCER,  V.  II.  (Do  latim  tuinesce- 
re\.  Inchar.  Vid.  Intumescer,  e  Extu- 
mecer. 


TUMIDEZ,  *.  f.  O  iara<;ter  do  que  é 
incuado. 

—  Inchat^o,  Roberba. 

—  Figuradamente:  A  qualidade  do  quo 
é  soberbo,  empolado. 

TÚMIDO,  A,  adj.  inchado. 

—  Orgulhoso,  soberbo. 

—  i^icuradamcnte:  (írosio. 
TUMIFICAÇÃO,    ».  f.    Vid.    Tnmefac- 

çào. 

TUMILHO,  *.  Vi.  Vid.  Tomilho. 

TUMOR,  *.  wi.  (Do  latim  tujiiorj.  Ter- 
mo de  patholot;ia.  Tuda  a  eminência  cir- 
cumscripta  de  um  certo  volume  desenvol- 
vida n'uma  parte  qualquer  do  corpo. 

—  tumores  pulsativos  dos  oisos;  tumo- 
res formados  perto  daH  articulações  com 
desenvolvimento  das  artérias  anastomoti- 
eas  (l'e»ta8  regiões,  que  fazem  que  o  tu- 
mor tomado  em  massa  apresente  batidoa 
ou  dilatações  isocuronas  com  as  do  pulso. 

—  Tuunores  sanguin*o»  do  pavilhão  da 
orelha  nos  alienados;  affecçào  irregular 
que  80  produz  com  bastante  frequência 
nus  alienados  sob  a  forma  de  tumor  Úa- 
ctuante,  tendo  a  sua  sede  na  face  exte- 
rior do  pavilhão  da  orelha. 

—  Vid.  Tumefacçào. 

TUMOROSO,  A,  adj.  (De  tumor,  o  o 
Buffixo  C03OJ.  inchado,  intumecido,  com 
tumor. 

TUMULAR,  V.  a.  Enterrar,  lançar  no 
tumulo. 

TUMULENCIA,  s.  f.  Vid.  Temulencia. 

TUMULO,  s.  m.  (Do  latim  tumulu*). 
Armação  alta  sobre  que  se  colloca  o  ataú- 
de ou  a  tumba  na  egreja. 

Astro  amigo  dos  Vates,  quantas  vezes 
A  Seu  doce  clarào  vílo,  e  medito, 
Como  velou  nas  margens  do  Tamisa 
Õ  Cantor  triste,  o  Numcn  da  Elegia, 
yuando  iio  escuro  tumulo  encerrava 
Grai;as,  bcileza,  amor,  troféos  da  morte. 

J.  X.  DE  1I.ICED0,  A  NÁTUBBZl,    Cant.  1. 

Faz  das  Cidades  tumulo*  medonhos 
Em  vasto  cemitério  os  campos  muda, 
A  toda  a  parto  Fúrias  homicidHâ 
Leva  o  monstro  cruel,  debalde  ajunta 
As  t"ori,as  suas  d'Epidauro  o  Nome, 
O  mal  contra  os  obstáculos  conjura. 
IBIDEM,  caut.  2. 

As  vibrações  da  musica,  as  palavras 
Não  menos  fortes,  o  logar,  a  liora. 
A  grinalda  de  rosas  sobre  o  titmrUo. 
l'or  ventura  ignoradas  circumstoncias 
<^ue  ás  sombras  deste  quadro  dào  relêro 
Com  mais  fortidào  u°alma,  tudo  a  um  tempo 
No  predisposto  cérebro,  do  embate. 
Violento  abalo  deu  ao  Lusitano. 
OARBKTT,  cmõcs,  caut.  2,  cap.  6. 

Nenhum?  Inteiro  ao  tumulo  desceste. 
Traga-ie  o  olvido  todo.  Erjrue  obeliscos, 
.\montoa  pyramidoj  :  —  embalde  I 
Livra  o  mármore  s<5  do  esquecimento. 
iniDCM,  cap.  12. 

—  Assento  alto. 


TUMU 


TUNI 


TURB 


84Õ 


—  Figuradamente:  O  tumulo  do  occa- 
so  «scuro. 


Do  Occaso  escuro  ao  tumulo  descia 
No  fulgurante  coche  o  Sol  dourado  ; 
E,  dando  alento  derradeiro  ao  dia, 
Tinha  debaixo  d  horizonte  entrado  : 
Eis  de  improviso  rebramar  se  ouvia 
Xo  mar  já  turvo  o  vento  amotinado  ; 
E  monstruosos  peixes,  que  o  talhavào, 
Tristes  presagios  da  tormenta  davào. 

j.  A.  DE  MACBDO,  O  OBiEsiF.,  caut.  3,  cst.  35. 


—  Syn.  :  Tumulo,  cenotaphio.  Vid.  este 
ultimo  termo. 

TUMULTO,  s.  m.  (;Do  latim  tumultus). 
Grande  movimento  acompanhado  de  ruí- 
do e  de  desordem. 

—  Motim,  alvoroço  de  gente  levantada 
contra  os  superiores. —  «Huma  quarta 
feira  treze  dias  do  mez  de  Julho  do  anno 
de  1544,  sendo  passada  mais  de  meya 
noite  se  levantou  em  todo  o  povo  huma 
tamanha  revolta  e  união  de  repiques  e 
gritas,  que  parecia  que  se  fundia  a  terra, 
e  acudindo  nós  todos  a  casa  de  Vasco  Cal- 
vo lhe  perguntamos  pela  cau-a  daquelie 
tumulto,  6  elle  cõ  assaz  de  lagrimas,  nos 
disse,  que  avia  nova  certa  de  estar  el  Rej 
da  Tartaria  sobre  a  cidade  do  Pequim, 
cõ  mais  grosso  poder  de  gente  que  ne- 
nhum outro  Key  nunca  ajuntara  no  mun- 
do, desde  o  tempo  de  Adão  até  aquella 
hora.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  117. 

Baudur,  veudo-se  ja  desaffroutado 
Do  soberbo  Mogor.  cruel  e  imigo, 
Que  o  tivera  até  alli  tão  apertado 
Que  o  fez  dos  Portuguezes  ser  amigo, 
E  vendo  livre  todo  o  seu  estado 
De  guerras,  de  tumultos,  de  perigo, 
De  novo  começou  em  ira  inchar-se 
O  seu  peito,  e  de  mór  ódio  inflammar-se. 

r.   DE  AKD&ADE,  PEIMEIBO  CEBCO  DE  DIC,Caut.    6, 

eãt.  1^. 

—  o  tumulto  do  mundo;  a  agitação 
que  produz  o  mundo. 

—  Timiulto  das  armas. 

—  Figuradamente  :  Perturbação  inte- 
rior. —  O  tumulto  da  alma. 

—  Entre  os  romanos,  ataque  súbito  de 
um  povo  inimigo. 

—  Em  tumulto  ;  em  confusão. 
TUMULTUAR,    l-.    a.  (Do  latim   tuimd- 

tuare).  Mover  a  estrondo. 

—  Abalar  com  estrondo. 

—  V.  )!.  Levantar-se,  amotinar-se. 

—  Tumultuar  os  céus  ;  turbar-se  com 
nuvens  cheias  de  matéria  eléctrica,  agi- 
tadas com  trovoadas. 

—  Figuradamente:  Tumultuar  as  pai- 
xões no  coração  contra  a  lei  do  Senhor; 
rebe!lar-se  e  ievantar-se. 

TUMULTUARIAMENTE,  adv.  [De  tu- 
multuario,  e  o  suffixo  «mentes).  De  um 
modo  tumultuario. 

—  Em  motim,  em  tumulto. 


—  Figuradamente 
confusão. 

—  Fallar  tumultuariamente;  fallar 
atrapalhadamer.te. 

TUMULTUARIO,  A,  adj.  (Do  latim  tu- 
multuarius,  de  tumultus).  Que  tem  o  ca- 
racter de  tumulto. 

—  Que  tem  o  caracter  de  desordem, 
e  do  acaso. 

—  Desordenado,  perturbado. 


Era  vão,  traço  atalhar  os  Combatentes  : 
Que,  o  que  antes  éra  arrojo  tumultuario, 
Disparou  em  batalha  mui  ferida, 
Cujo  clamor  confuso  se  ia  ás  nuvens. 

P.    M.  DO  NASCIMEKTO,  OS  MABTTEES,  1ÍV.  10. 


—  Feito  em  tumulto. 
TUMULTUOSAMENTE,  adv.  (De  tumul- 
tuoso, e  o  suffixo  «mente»).  Em  tumulto. 

—  Sem  ordem,  sem  disciplina,  tumul- 
tuariamente. 

TUMULTUOSO,  A,  adj.  (Do  latim  iu- 
jnultuosus'.  Cheio  de  tumulto. 

—  Figuradamente  :  Cheio  de  pertur- 
bações interiores.  —  Os  tormentos  d' uma 
paixão  tumultuosa. 

—  Estação  tumultuosa;  o  inverno. 
TUMUROSO,  A,  adj.  Vid.  Tumoroso. 
TUNA,  s.  f.  —  Aiidar  á  tima ;  andar 

vagabundeando,  e  como  o  tunante.  Vid. 
Entuua. 

TUNAL,  í.  m.  Termo  de  botânica.  Uma 
arvore  do  México;  ligueira  da  Índia. 

TUNANTE,  s.  m.  Vagabundo,  que  an- 
da vadiando  e  comendo  o  que  pode,  com 
ardis  e  estratagemas. 

—  Que  caça,  que  furta,  que  prêa. 
TUNDA,  s.  /.  Termo  popular.  Sova  de 

pancadas. 

TUNDIA,  s.  f.   Moeda  asiática. 

TUNDO,  s.  m.  Prelado  de  bonzos  do 
Japão. 

TUNE,  s.  771.  Termo  de  historia  natu- 
ral. Ave  do  reino  de  Angola  de  pennas 
brancas  e  cinzentas,  pequena  em  corpo, 
mas  festejada  das  outras  aves,  que  aco- 
dem em  bandos  quando  a  avistam. 

TUNGA,  s.  f.  Termo  de  historia  na- 
tural. Espécie  de  pulga  do  Brazil,  que 
se  introduz  por  entre  as  unhas  dos  pés, 
e  produz  grande  damno;  é  conhecida 
também  pelo  nome  de  bicho  dos  pés. 

TUNGSTENO,  s.  m.  Termo  de  chiml- 
ca.  Metal  reductivel  com  difficuldade, 
d'um  pardo  anegrado,  mui  duro,  mui 
pesado,  descoberto  em  1780  por  Scheele. 

f  TUNGSTICO,  A,  adj.  Termo  de  chi- 
mica.  Que  se  refere  ao  tungsteno  ;  que 
contém  tungsteno.  — Acido  timgstico. 

f  TUNGSTIDES,  s.  m.  plur.  Família 
dos  mineraes  que^comprehende  o  tungs- 
teno e  suas  combinações. 

TÚNICA,  s.  f.  (Do  latim  íuníca.  Ves- 
tidura talar  chegada  ao  corpo  e  por  bai- 
xo da  capa. 

—  Termo  de  anatomia.  Pellicula   que 


Sem    ordem,    em  1  reveste  certas  partes   do   corpo  dos   ani- 
maes. 


Esporeada  da  ementa  fome 

A  preza  espia  qu"a\-ida  ataçalha. 

Forrada  a  espádua  traz  de  férrea  escama, 

Impenetrável  túnica!  Medonhas 

Cavernas  profundíssimas  descobre 

Se  a  fauce  alarga,  exercito  cerrado 

De  agudas  lanças  lhe  defende  a  bocca. 

J.  A.   DE  JIACEDO,  A  SATUBKZA,  Cant.    3. 


Não !  mas  com  a  vil  túnica  d'escravo, 
Ko  triumpho  de  César.— Pouco  resta 
De  minha  árdua  tarefa. 

GAKBETT,  C.iTÂO,  aOt.    3,  SC    6. 


—  Termo  de  botânica.  Membrana  de 
espessura  variável,  que  envolve  qualquer 
órgão.- — "Raiz  escamosa,  quando  é  guar- 
necida de  túnicas  ou  producções  escamo- 
sas quer  estas  sejaõ  obtusas  quer  pontu- 
das, ou  imbricadas,  ou  distantes,  ou  fi- 
nas e  membranosas,  ou  cascos  da  consis- 
tência da  raiz,  e  hum  tanto  succulentos 
{dentaria  ptntaphyllos'}.»  Félix  Avellar 
Brotero,  Compendio  de  botânica,  tom. 
1,  pag.  16. 

TUNICELLA,  s.  f.  Túnica  do  bispo,  que 
traz  entre  a  alva,  e  a  vestimenta  ou  ca- 
sula. 

• — •  Termo  pouco  em  uso.  Túnica  de 
monge.' 

TUNIQUETE,  s.  m.  Pequena  túnica. 

TUNNEL,  s.  m.  Subterrâneo  que  pas- 
sa sob  um  rio,  um  caminho,  etc. 

—  Applica-se  agora  a  toda  a  passa- 
gem praticada  sobre  a  terra,  atravez  das 
montanhas. 

—  Tunnel  submarino;  tunnel  que  pas- 
sa sob  um  braço  de  mar. 

TUPIDO.  Vid.   Entupido. 

TUPUTA,  s.  /.,  ou  TUPUTÚ,  í.  vk  Ter- 
mo de  zoologia.  Ave  da  índia,  que  traz 
as  entranhas,  em  vida,  cheias  de  bichos 
que  lh'as  roem. 

TURAMÃO.   Vid.  Trugimão. 

TURBA,  í.  /.  Do  latim  turba).  Multi- 
dão de  srente. 


Deteuesc  o  pressago  velho  amante 
Xa  liquida  jornada  quatro  dias, 
Jlas  a  corte  marítima  cansando 
Chega  onde  o  grào  Neptuno  residia : 
Abremsclhe  as  \-idradas,  grandes  portas 
Do  soberbo  magnifico  aposento 
Entre  o  Carpathio  vate  rodeado 
De  gente  popular,  e  nobre  turba. 

CORTE  BEiL,  NAUKBASIO  DE  SEPCXVEDA ,  Caut.  6. 


Sahe  a  turba  feroz,  presumptuosa. 
Mostrando  a  natural  soberba  em  tudo. 
Com  várias  sedas  vai  rica,  c  lustrosa. 
Qual  setim,  qual  brocado,  qual  veUudo, 
Branco,  amareUo.  azul,  e  a  cór  de  rosa, 
E  (juantas  soube  achar  engenho  e  estudo, 
E  com  tào  vário  arreio  o  sumptuoso 
Dá  espectáculo  bello,  e  temeroso. 

FUAUCisco  d'a>'dbade,  fbimeibo  cebco  de  DfC, 
cant.  13,  est.  44. 


846 


TURB 


Marcha  a  turha  arrog;uitc  ú  fortaleza 
l'or(|uo  om  toinil-la  ja  cuidii  que  tarda, 
Voa  niiacii  qual  ^o  võ  catão  com  í^rãa  dedtrcza 
(»  curvo  arco  tratar,  qual  a  espingarda: 
Traz  (Mta  iilta  arro}?ancia,  o^ta  bra.'oza 
Neuliuin  IA  na  cidade  dentro  aguarda 
Voi  ((ue  alli  da  infiel  Cambaia  turra 
Trouxe  autca  Alucão  para  esta  guerra. 

IBIDKM,   est.  4tí. 

K  sobre  ello  caliiudo  a  roaz  turba 
Dos  bairristas  Caohorron,  quo  a  namoraõ, 
Entre  as  pernas  niettendo  a  longa  cauda, 
(!orro,  sem  so  deter,  até  quo  clicga 
Junto  do  seu  Senlior,  a  cujas  aba» 
Seguro,  c  eouliado  encrespa  as  vcntuH, 
Contra  oUcs  se  revira  eutaõ  rosnando 
Lhes  mostra  os  brancos,  navalhadoB  dentes. 

DINIZ  Di  CttUZ,   IIY330PE,  Caut.    G. 

—  «Torra»  echoa  confusa  vozeria 
Da  uiaritima  turba:  Oh  !  voz  querida, 
Uoce  aurora  do  goso  e  de  cspcran(;.a 
Ao  cora(;ào  do  nauta  infraquecido. 
Do  alquebrado  sequioso  passageiro, 
Que  a  esposa,  os  filho-f,  ou  talvez  a  amante, 
N'easa  voz  doce  o  grata  lho  alvejaram. 
OAKKiiTT,  CAMÕES,  cant.  1,  cap.  4. 

—  União  de  vozes  no.s  coros,  quando 
se  unem  todos  a  cantar. 

—  Piar.  A  populaça.  Vid.  Turma. 
TURBAÇÃO,  s.  /.  {Do  latira  turbatio). 

Rovoluçào  que  turba. 

—  Fi£;aradamente  :  Perturbação,  des- 
as.soccRO  dl)  animo.  Vid.  Torvação. 

TURBADAMENTE,  adv.  (Oe  turbado,  e 
o  sullixo  «mente»).  Coiu  turbação,  coui 
desassocepfo. 

TURBADO,  imrt.  pass.  de  Turbar.  Per- 
turbailo,  desordenado. 

—  Viutu  turbada;  que  distingue  mal 
os  objectos. 

—  Turbado  o  ar,   o  mar  em  tormenta. 
TURBADOR,  A,  s.  e  adj.  Perturbador, 

quo  perturba. 

—  Aniotiiiador. 

TURBAMULTA,  s.  /.  Multidão.  —  «E 
tocando  huiu  sino,  toda  a  turbamulta 
destes  nduistros,  e  frente  de  guarda  <lava 
hunui  tamanha  grita  que.  era  cousa  uie- 
donba  de  ouvir,  e  luuyto  para  tomer.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações, 
cap.  151. 

—  Ajuntamento  tumultuoso. 
TURBANTE,  s.  in.  A  touca,  trunfa  que 

03  orientaes  e  mouros  trazem  na  cabeça. 

TURRÃO,  s.  in.  Vid.  Turbante. 

TURBAR,  ou  TURVAR,  v.  a.  (Do  la- 
tim turliiiru).  Escurecer,  tirar  a  transpa- 
rência, tornar  torvo. 

—  Altci-ar,  perturbai*. 

—  Interromper. 

—  Turbar  o  ceu,  o  ar;  tornal-o  escu- 
ro com  nuvens,  chuveiro. 

—  Turbar-se,  i'.  rejl.  Perturbar-sc,  ha- 
ver-se  como  aquelle  que  tem  o  animo 
turbado. 

—  Figuradamente :  Equivocar-se,  con- 
fundir-so. 

TURBATIVO,  A,  adj.  Que  turba,  que 
commette  força. 


TURB 

—  Acto  turbativo ;   acto  que  perturba 

a  posse,  em  que  outro  está. 

TÚRBIDO,  A,  wJj.  {Dijlnúm  turòidua). 
Que  impiiuta,  que  perturba. 


Da  Terra  ubrazoada  aos  ares  sobem 
(trossos  vapores  lurhidon.  no  seio 
Da  horrcuda  tempestade  os  germes  levão. 
Mais,  c  mais  se  condensào,  foge  o  dia. 

J.  A.  DE  MACHDO,  A  KATUUBZA,  Caut.  1. 

O  festival  clamor,  doce  alegria 
Os  túrbidos  cuidados  afugenta. 


Descora  o  rosto  fulgido,  c  desmaia. 
Em  permanente  eclipse  8'o.scondêra, 
E  a  sombra  universal  do  nada  antigo 
Sobre  o  nosso  Planeta  cm  fim  cahira, 
Se  omnipotente  Mão,  que  rcgií  o  Mundo, 
Não  dissipasse  os  túrbidos  vapores. 
Ou  vúo  sombrio,  que  lhe  afuma  o  rosto. 


A  sempre  leda  mocidade  caloa 
No  fervente  lagar  purpúreos  cachos 
(Vedado  asylo  aos  tnrbidon  ))czares. 
Acostumados  a  velar  nas  plumas). 


A  vista  espavorida  era  grossas  ondas 
Descobre  rios  do  betume  acceso," 
E  pelas  ondas  tuHndax  aboia 
Enxofre  csbrazeado,  que  devora 
Em  torno  os  largos  Campos  cultivados. 
IBIDEM,  caut.  2. 

Tanto  no  Cora(;ào  domina  o  Crime, 
Quu  mesma  Luz  da  Natureza  otiusca 
('om  seus  pesados,  túrbidos  vapores  ; 
A  audácia  dos  inortaes  «escuda,  «  arma 
Também  co'a  fori^  indómita  do  fogo. 


^'è  com  que  magcstadc  o  mar  recebo 
Dos  rios  pcreuuaes  constante  feudo, 
Nas  suas  ondas  túrbidas  se  lam,'ào, 
Nellas  lhe  e.xpira  a  gloria,  o  nome  expira 
O  Pátrio  Tejo,  que  volvera  o  fulvo 
Metal,  Tirauuo,  o  Déspota  do  Muudo. 
luiDUii,  caut.  3. 

Outra  o  senado,  os  tiirliidos  comicios; 

Jauiaiâ  euiquanto  líouia  foi...  romana. 

A  Grncia,  donde  houvemos  u'outro  tempo 

Leis  de  ouro  —  a  Grécia  escrava  e  corrompida 

Ja  não  tom  Aristogitons.  Harmodioa 

Para  Hipparcos  romanos,  ueui  Deuioathcnes 

Para  nossos  Philippes. 

OAUBKTI,  CATÂO,  act.    3,  SC.    1. 


—  Escuro,  turbado. 
sem  luzes. 


■  Estrella  túrbida 


Mas  que  delírio !  lie  Sol  mais  rico,  e  farto 
De  luzes,  que  esse  Sol,  que  a  Terra  aclara, 
K  que  visto  de  cá,  parece  apenas 
Sem  fogo,  EstroUa  túrbida  sem  luzes. 
Sem  quadriga,  sem  rápidos  Ethontcs, 
Quaes  tú  da  Terra  vés  no  espai;o  as  outras. 

J.  A.  DK  MAOKDO,  A  NATUUKZA,  CaUt.  1. 


TURBILHÃO,   í.  m.  (Do  francez  turòil- 


TURC 

loa).  Termo  de  ]>hiloaopUia.  Ma<«8adc  ar, 
ou  matéria  subtil,  que  se  revolve  «obre 
um  centro,  na  hypotueãc   de   Descartes. 


Attcnde  ao  que  medito  onvolto  deutro 
Do  turbilhão  dos  lúcidos  PlauoUui, 
Donde  atrevido  indagador  alongo 
Sobre  eBpa<^os  iucoguitos  a  vista. 

J.    Á.    DK  MACKDO,  &  NAIUKISZA,  Cftut.    \. 

Qu'  cm  nosso  Turbillulo  se  agita  Urano, 
Nào  seja  o  Astro  que  »e  diz  Cometa  V 


—  Figuradamente:  Tudo  o  que  nos  ar- 
rasta comsigo. 

—  Redemoinho  d«  vento. 
TURBILHOS,  i-.    )/i.  plur.    Género    de 

molluseos  <;asteropodo8  testaceos. 

TURBINADO,  A,  ndj.  (Do  latim  turbi- 
natas).  Torcido  em  espirai. 

—  Em  fi>rma  de  peilo. 

—  Osso  turbinado ;  osso  dos  que  se 
compõem  os  i.arizes. 

TURBINOSO,  A,  aõj.-  Que  se  volve  em 
redor  como  a  agua  de  nm  sorvedouro. 

TURBIT,  ou  TURBITH,  «.  m.  Termo 
de  pharmacia.  Raiz  medicinal. 

—  Raiz  da  planta  thajjsia. 

—  Turbit  mineral;  azougue  dissolvido 
em  óleo  de  vitriolo. 

TURBO,   A,  adj.  Vid.  Turvo. 

TURBULÊNCIA,  s.  f.  (Do  latim  turbu- 
leiUia,  de  tarbuUntas).  Caracter,  defeito 
do  que  é  turbulento. — Esta  crtanqa  é 
d'uina  turbulência  ituiupportavel. 

—  Espirito  de  perturbaçào. 

—  Perturbação  do  estado  com  sedições, 
tuDUiltos,  guerras,  etc. 

TURBULENTÍSSIMO,  A,  adj.  superl.  de 
Turbulento.  Mui  turbulento.  —  Turbu- 
lentíssimo ra/jaz. 

TURBULENTO,  A,  adj.  (Do  latim  tur- 
bulerttus:).  Propenso  a  fazer  barulho. 

—  Que  se  regosija  na  desonlem,  na 
perturbação.  —  Espíritos  turbulentos. 

—  Que  tem  o  caracter  de  perturbação, 
de  tumulto. 

—  CoiL-^elho,  louvores  turbulentos  ;  que 
dá  a  turbamulta  em  desordem. 

—  Poeticamente,  diz-se  da  perturbaçSo 
dos  elementos. 

TURCHIMAN,  ou  TURCIMÃO,  s.  m.  Vid. 
Trugimão,  e  Dragomano,    ou   Drogmano. 

1.)  TURCO,  A,  adj.  e  *.  Da  Turquia, 
natural  da  Turquia.  —  «Assi  também  o 
mudarão  a  Scnatir,  chamàdolhe  Mesopo- 
tâmia, por  estar  ei.tre  agoas.  Depois  os 
Chaldeos  lhe  chamar.ão  a  Chaldea,  e  ho- 
je os  Turcos  que  nella  morào,  lhe  cha- 
mão  Diarbech,  e  à  Cidade  líag<iat.»  Fr. 
Gaspar  de  S.  Bernardino,  Itinerário  da 
índia,  cap.  18.  —  «Alie  Soltào  como  es- 
teve ame  o  Turco,  vendo  que  lhe  fazia 
acatamento  como  ao  Xeque  I>mael.  que 
elle  cuidou  que  era,  disse-lhe  :  Quem  cui- 
das tu,  senhor,  (^tie  teu*  ante  tif  Ao  que  o 
Turco  responde©  :  Ao  Xeque  Ismael,  cuja 


TUKC 


TURG 


TTTRQ 


847 


soberba,  e  doiidice  está  debaixo  de  meu 
poder. «  Barros,  Década  2,  Hv.  10,  cap.  6. 
—  «ííeste  tempo  se  fazia  prestes  o  Visor- 
rey  dom  Garcia  de  Noronha  para  yr  so- 
correr a  fortaleza  de  Diu,  da  qual  tinha 
recado  que  estava  em  grande  aperto, 
pelo  cerco  que  lhe  tinhão  posto  os  Tur- 
cos, para  o  qual  ajuntou  então  huma  as- 
saz grossa  e  fermosa  armada.»  Fernão 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.  12. 


Não  30  acaba  com  isto  esta  contenda. 
Faz  que  de  novo  o  Turco  c  o  Christào  gema, 
Porque  o  Turco  nào  quer  que  hoje  se  renda 
A  sua  insígnia  á  Cruz,  que  ello  blasfema. 
E  Pires  também  quer  que  o  Turco  entenda 
Que  esta  he  a  rasào  que  só  se  exalce  e  tema, 
E  três  ou  quatro  vezes  foi  no  ar  visto 
Ora  o  pendão  do  Turco,  ora  o  de  Christo. 

F.   D'Ain3BADE,  PBIMEIEO  CERCO  DE  Dir,Cant.    15, 

est.  7. 


Mas  o  Grouveia,  a  quem  era  sujeita 
Do  baluai-tc  da  barra  a  governança, 
De  IA  contra  as  galés  faz  ir  direita 
A  fúria  que  o  cruel  seu  canhão  liinça  : 
Esta  mais  que  a  dos  Turcos  aproveita, 
Que  alguns  despedaçou,  que  então  alcança, 
E  deaapparelhando  dous  Tiavios 
Faz  todos  affastar  de  temor  frios. 
iBiDEji,  cant.  191  est.  4í;  . 


Não  tanto  porque  ao  Mouro  maltratasse  . 
Quanto  por  lhe  encubrir  quão  fraco  estava. 
Porque  elle  se  o  sentir  nào  intentasse 
Dar  fitú  a  isto  a  que  o  Turco  o  então  dava  ; 
E  para  que  esta  gente  derrubasse 
Aquellcs  bastiões  que  lá  na  cava. 
De  trincheiras  assaz  fortificados. 
Os  Tuicos  antes  tinhão  situados. 
IBIDEM,  cant.  20,  est.  56. 


—  Tonia-se  por  musulmano. 

— -Herva  tarca.  Vid.  Hemiaria. 

—  Pombos  turcos  ;  pombos  afogados,  e 
guisados  de  certo  modo. 

—  O  turco ;  a  lingria  turca. 

—  O  grão  turco;  o  imperador  da  Tur- 
quia.—  «Floriano,  inda  que  da  batalha 
ficasse  cançado,  foi-se  aute  Targiana,  on- 
de postos  de  giolhos  pêra  ante  o  gram 
turco  seu  pai,  disse:  Senhora,  eu  sou 
um  cavalleiro  estranho,  a  quem  os  desas- 
tres da  fortuna  per  desastre  nesta  ter- 
ra lançaram.»  Francisco  de  Moraes,  Pal- 
meirim d'Inglaíerra,  cap.  80.  —  «O  gram 
turco  quizyra  por  algumas  vezes  man- 
dal-os  affastar,  pesando-lhe  yêr  morrer 
Auderramete.  Targiana  lhe  pediu  que  o 
não  fizesse,  pois  ella  segurava  o  campo.» 
Ibidem,  cap.  80.  —  «Floriano  o  saiu  a 
receber,  desejoso  de  naquelle  encontro 
parecer  bem  a  Targiana.  E  com  esta  von- 
tade o  acertou  também,  que  deu  com  o 
mouro  por  cima  das  ancas  do  cavallo, 
sem  elle  fazer  maás  que  quebrar  a  sua  em 
pedaços,  de  que  ao  grani  turco  pesou, 
e  a  Targiana  rào. »  Ibidem.  ^-  «Em  os 
quies  fuy  agasalhado  per  hum  Ai-meuio 
nella  morador,  que  me  buscou  hum  Chris- 


tão  que  me  alugou  huma  besta :  e  logo 
me  parti  em  companhia  de  hum  almoxa- 
rife do  gram  Turco,  que  andava  reco- 
lhendo dinheiro  por  aquellas  comarcas, 
e  trazia  sete  ou  oyto  espingardelros  con- 
sigo, por  causa  dos  ladròis  quo  naquelle 
caminho  ha  miiytos.»  Fr.  í^aspar  da  Cruz, 
Tratado  das  cousas  da  China,  cap.  53. 

—  Loc.  ADV. :  A  turca ;  :í  maneira 
dos  turcos. 

2.)  TURCO,  s.  771.  Termo  de  marinha. 
Apparelho  mettido  na  serviola  junto  do 
beque  para  erguer  as  ancoras. —  «Ma^ 
isto  nam  socedeo  a  vontade,  porque  ain- 
da que  o  galeão,  e  nãos  ardessem  ate  as 
cobertas,  nem  por  isso  sesqueceraS  hos 
turcos  da  artelharia,  pelo  que  dous  chris- 
tãos  dos  que  fogira\n  de  luda,  a  quem  se 
o  negocio  encommendou,  o  nam  podaram 
fazer,  com  irem  a  isso  desafiados  pelas 
grandes  promessas  que  lhe  Lopo  soarez 
fez.»  Damião  de  Góes,  Chroníca  de  D. 
Manoel,  part.  4,  cap.  13. 

— •  Madeiros  assentes  sobre  a  borda  do 
navio,  encostados  ao  pau  das  perchas,  e 
cujos  extremos  .salientes  ao  costado  tem 
dous  ou  três  gornes,  onde  se  gorne  o  ap- 
parelho que  serve  de  içar  as  ancoras, 
afastando-as  do  costado. 

TURCOL,  s.  m.  Termo  da  Ásia.  Con- 
vento. 

TURGOMANIA,  s.  /.  Mania  de  admirar 
03  turcos,  os  seus  usos,  costumes,  e  mo- 
dos. 

TURFA,  í.  /.  Termo  de  mineralogia. 
Terra  betuminosa,  ou  substancia  com- 
bustível mineral,  ou  vegetal,  de  que  ha 
varias  espécies :  a  turfa  rias  alagôas,  a 
turfa  pyritosa,  e  a  turfa  marinha. 

TURFOSO,  A,  adj.  Termo  de  minera- 
logia e  de  botânica.  Que  é  concernente  á 
turfa. 

TURGENCIA,  s.  /.  Termo  de  medici- 
na. Inchação  dos  vasos  cheios  de  humo- 
res, de  matéria  viciosa. 

—  Turgencia  d.os  tubérculos,  e  vasos 
seminaes;  que  ás  vezes  degenera  em  gra- 
ve enfermi'la<le. 

TURGENTE,  adj.  2  gen.  (Do  latim  tur- 
gens).  Termo  de  medicina.  Em  que  ha 
turgencia. 

—  Que  produz  turgencia. 
TURC-ESCENTE,  adj.  2  gen.  (Do  latim 

turgescere).  Termo  de  physiologia  e  de 
pathologia.  Que  incha  por  uma  super- 
abundância de  fluidos,  fallando  de  um 
tecido,  de  um  orgâo. 

—  Inchado,  túrgido,  intumescido.  Vid. 
Turgente. 

—  Que  causa  turgencia. 
TURGIDEZ,   s.  /.Estado  da  cousa  túr- 
gida, qualidade  do  que  é  túrgido. 

TÚRGIDO,  A,  a-lj.  (Do  latim  turgidus). 
Em  que  ha  turgencia. 

—  Inchado. 

—  Termo  de  poesia.  Túmido,  empola- 
do. —  Esti/lo  túrgido. 

TURGIBJLÃO,  s.  m.  Vid.  Turchiman. 


TURIAS,  s.  /.  Pannos  de  algodão  ver- 
melhos, oriundos  de  Cambaia. 

TURIBIOS.  Vid.  Toribios. 

TURIBULO,  .«.  m.  Vi.l.  Thuribulo. 

TURIFEKO,  A,  adj.  Vid.  Thurifero.  • 

TURIONDO.  Vid.  Touriondo. 

1.)  TURMA,  s.  /.  (Do  latim  turma). 
Na  milícia  romana,  era  esquadra  de  30 
de  cavallo. 

—  Multidão  em  bando. 

Dita  nos  foi.  não  dar-mos,  na  Caçada, 
Com  turmas  de  táes  Bárbaros,  migrantes ; 
Só  dêmos,  com  famílias  vaga,s,  rústicas, 
A  cuja  vista,  os  Francos  são  polidos. 

F.   U.    DO   NASCIMENTO,   OS  M.lItTTSÍES,  1ÍV.    7. 

—  Numero  certo  de  estudantes  que  fa- 
zem exame  no  mesmo  acto,  e  junta- 
mente. 

—  Figuradamente :  As  turmas  do  vi- 
cio. 

—  Turmas  das  coutadas ;  animaes  do 
serviço  dos  officiaes  d'eilas. 

—  Vid.  Turba,  que  differe. 

2.)  TURMA,  s.  /.  Moeda  de  certas  par- 
tes da  índia;  cinco  mil  turmas  de  prata 
tem  o  valor  de  6:000  cruzados. 

TURNARIAMENTE,  adv.  Por  turno, 
pela  vez  que  a  cada  um  toca. 

TURNO,  s.  7)i.  (Do  francez  tour).  O 
gyro,  vez  em  qu-e  cabe  a  alguém  fazer 
alguma   cousa,   revezando-se  com  outros. 

—  Por  seu  turno ;  por  sua  vez,  no 
gyro,  alternadamente,  a  revezes.  ■ 

"  TURPILOQUIO,  s.  m.  (Do  latim  turpi^ 
loquiuíii).  Conversação,  pratica  torpe, 
obscena.  - 

—  Expressão  sórdida. 
TURPISSIMAMENTE,    adv.    superl.    dè 

Torpemente. 

TORPÍSSIMO,  A,  adj.  superl.  de  Tor- 
pe. Yv\.  Torpissimo. 

TURQUESCÀ,  s.  f.  Vid.  Turqueza. 

TURQUESCO,   A,    adj.    e    s.    De   turco. 

—  Co.icernente  a  turco. 


Ja  recolhidos  todos  aos  usados 

Aposentos,  estando  em  sumptuoso 
Magnifico  banquete,  os  dous  amantes 
E  outros  graues  varões  de  conta,  e  nome 
Entrão  na  snlla  doze  disfraçados 
Nobres  mancebos  ricos,  e  custosos, 
Com  cabayas  tnrqtLescas  de  amare'io 
Veludo,  e  gnai-nições  de  ouro,  e  encarnado. 

COKTF.  nE.tL,  NACFKAGIO  DE  SEPCLVT.DA,   Cant.   4. 


—  Bigodes  á  turqnesca ;  bigodes  á 
moda  dos  turcos.  —  oEl-Rey  seria  de 
idade  de  quarenta  annos,  de  estatura 
comprida,  e  de  poucas  carne.s,  e  bem 
assombrado,  tinha  a  barba  curta,  e  com 
bigodes  á  Turquesca,  os  olhos  algum  tan- 
to achinados,  de  aspeito  severo  e  grave.» 
Fernão  Meadas  Pinto,  Peregrinações, 
cap.  122. 

TURQUETI.  Vid.  Turbií. 

TURQUEZA,  s.  f.  Pedia  fina  azul. 


848 


TURV 


TUTE 


TYMP 


TURQUEZADO,  A,  afij.  Da  côr  da  tur- 
quezM. 

t  TURQUEZCA.  Virl.  Turquesca.  — 
«]\(',  corcailíi  cutii  trcs  luurus,  <iue  sufi  o 
Roxo,  (Jcceaiio,  Austral,  i;  Pérsico;  del- 
ia foy  natural  o  porlido  Mafoma,  como 
dizem  03  Mouros,  o  Viceuto  Roca  em  sua 
historia  Turquezca.  Nella  uancerão  .S. 
O08U10,  o  S.  Jíaniiruj  o  uella  a  parto  ilo 
Oriento,  tem  el  Rey  nosso  Senhor  a  sua 
Fortaleza  do  Mascate.»  Frei  (iaspar  do 
S.  Bernardino,  Itinerário  da  índia,  capi- 
tulo 10. 

TURQUI,  adj.  Azul  muito  claro,  e 
iiiio. 

TURRA,  s.  /.  Termo  popular.  Dispu- 
ta, teima  emperrada,  e  com  paix<ão. 

—  iMarrada  com  a  cabeça. 

1.)  TURRÃO,  s.  m.  Espécie  de  confei- 
tos. 

2.)  TURRÃO,  ONA,  aJj.  e  «.  Termo 
popular.  Tórij'o,  teimoso. 

TURRADO,  part.  pass.  do  Turrar. 

TURRAR,   t!.  n.  Marrar  com  a  cabeça. 

—  Fiíjuradamente  :  Teimar  com  pai- 
xão, (ísturro,  calor. 

TURRIFRAGO,  A,  adj.  Termo  de  poe- 
sia. Ariiiinador  de  torres. 

TURRIGERO,  A,  adj.  (Do  latim  turri- 
(]cr).  Termo  do  poesia.  Encastellado,  que 
leva  torre. 

TURRISTA,  «.  2  gen.  Termo  popular. 
Pessoa  (pie  é  pertinaz,  obstinada. 

TURTUEIRAL.  Vid.  Tortual. 

TURTURINO,  A,  adj.  (Do  latim  tnr- 
tur).  De  pomba,  rola. 

TURUMRANTE.  Vid.  Turbante. 

TURVAÇÃO,   s.  /.  Vid.  Torvação. 

TURVAR.  Vid."  Turbar,  o  Torvar.  — 
«  Que  fíKiria  vos  p(')de  iicar  do  iimito, 
que  hoje  fizestes,  se  logo  quereis  turvar 
o  merecimento  de  tamanha  obra  com  fa- 
zer forças  a  uma  fraca  donzella,  destruir- 
Ihe  sua  honra,  roubar-lhe  sua  fama,  cou- 
sa que  cm  pequeno  momento  podeis  des- 
truir, e  depois  em  largo  tempo  lho  nào 
podeis  tornar?  Certo  vós,  quo  as  defen- 
deis dos  outros,  as  devieis  guardar  de 
vós,  pêra  quo  vossas  cousas  tivessem  lou- 
vor no  mundo  e  merecimento  ante  Deos.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  ca]).  148. 

TURVEJAR.  Vid.  Torvar,  e  Turbar. 

TURVO,  A,  adj.  Nào  transparente,  es- 
curo, sujo. 


Mas  o  desejo  audaj;,  o  o  louco  orgulho, 
O  torna  rio  impetuoso,  e  bravo  ; 
Soberbo,  ufano  vai  d'agua  nào  sua  ; 
VÁS  80,  despenha  qual  torrente  Alpina, 
Os  campos  cobro  tnrvo,  e  furioso, 
Comsifio  lova  o  gado,  c  leva  os  troncos, 
Lova  o  Pastor,  e  a  mis^ra  choupana. 
Té  que  cesse  do  ar  chuva  fecunda, 
K,  serenado  o  Coo,  primeiro  orgulho 
EntJo  depõe,  deixando  a  marge  enkuta. 
j.  X.  DP.  MAcuno,  viAOKu  EXTATiP.v,  cant.  2. 

!•'.  largo,  c  fundo,  o  procelloso,  c  turvo 
Como  assombrada  vês,  volyem-so  oudadas 


Nos  altos  t('>pc8  flamiDulas  ligciraB 

Do  vclivolas  NAoií,  mais  denso  hum  boaquo 

.14  vf'S  de  perto,  na  ferrada  proa 

.Jaz  mal  Hep;uro  o  dc8Ci'irado  medo 

Do  Mercador  avaro :  om  tanto  objecto 

Os  teus  olhos  attouitos  se  perdem. 

IDEM,  A  NATUBKZA,  Cant.    1. 


So  turra  exhalação  dos  ermos  campos 
Da  barbara  Tartaria,  hb  das  quentes 
Soltas  áreas  do  staguante  Nilo. 
iniDEu,  cant.  2. 

Por  elle  aboião  maia  nas  ondas  frias 
Os  soberbos  baixeis  pejados  darmas, 
CJu'  arfando  sabem  das  boccas  do  Tamisa 
A  colher  n'Oriento  Ínclitas  palmas. 
Ou  I.,onros  immortaes  (qu'  honra!)  molhados 
Nas  turvas  agoas  do  tremente  Nilo. 
iBiDKM,  cant.  3. 


—  Nublado,  escuro. 

—  Túrbido. 

TUSCANO,  A,  adj.  e  s.  Que  é  da  Tos- 
cana. 

TUSSILAGEM,  s.  f.  Horva,  vulgarmen- 
te conhecida  pelo  nomo  de  un/ia  de  ca- 
vai !o. 

TUSSIR,   i'.  n.  Vid.  Tossir. 

TUTANAGA,  s.  f.  Estauho  mais  fino 
que  o  caluím. 

TUTANO,  s.  7)1.  A  medulla  pingue  do3 
ossos  grandes  do  boi,  etc. 

—  Figuradamente:  O  tutano,  e  espirito 
da  lei;  diz-se  em  opposiyào  a  ossada,  e 
lettra. 

—  Figuradamente :  O  miolo,  o  mais 
recôndito,  o  melhor. 

TUTÃO,  s.  m.  Na  Ásia,  governador  do 
provinda. 

TUTE. — A  tute  ;  em  abundância. 

TUTELA,  ».  /.  i^Do  latim  tutela).  Tu- 
toria. 

—  Auctoridade  dada,  segundo  a  lei, 
para  o  eíFeito  de  cuidar  da  pessoa  e  dos 
bens  de  menor,  ou  de  um  iuterdicto.  — 
«Dcbayxo  da  tutela,  e  eniparo  de  Abdol- 
talif,  irmão  do  i'ay,  c  de  sua  ama  Heli- 
ma,  em  cuja  casa  esteue  ate  idade  de 
doze  annos;  e  dando  nestes  poucos,  mos- 
tras de  sou  engenho,  e  abilidado,  enten- 
deo  o  tio  irmão  da  mPiv  em  doctrinalo 
na  arte  magica,  c  ceremonias  ludaycas: 
sem  consentir  aprendesse  a  lêr,  ou  escre- 
uer:  o  que  fez  por  ao  diàte  menos  co- 
nhecer pelas  letras  seus  enganos,  e  tor- 
pezas.» Frei  (laspar  de  S.  Bernardino, 
Itinerário  da  índia,  cap.  20. 

—  Tutela  h.gitiina;  tutela  que  o  tutor 
tem  pela  lei  testamentária;  que  confere 
o  pao  ou  a  niàe,  ou  avô  do  orphào  por 
seu  test.aniento. 

—  Tutela  dativa;  tutela  dada  pelo 
juiz  dos  orphãos. 

—  Figur.idaniente:  Protec.ção,  amparo. 
1.)  TUTELAR,    r.    a.  (iovernar,  prote- 
ger, defender  como  tutor. 

•2.)  TUTELAR,  adj.  2  yen.  (Do  latim 
tttt-elaris).  Que  defendo,  protege^ 


—  Pretor  tutelar;  pretor  que  confir- 
mava os  tutores  em  Roma. 

TUTENAGA,  s.  f.  Vid.  TuUnaga. 

TUTIA,  «.  /.  A  felugem  (jui;  ut  levanta 
na  fundição  do  cobre,  e  bronze,  da  uiiua 
do  zinco  denominada  caLamina:  empre- 
ga-8<)  na  pharmacia. 

TUTINtGRA,  t.  f.  Vid.  Toutinegra, 

TUTISSIMO,  wlj.  m.  Termo  de  phar- 
macia. Laudaiiij  tutissimo;  extracto  da 
triaga  obtido  com  esjiiiito  de  vinho. 

TUTO,  A,  adj.  íDo  latim  tutut).  Se- 
guro, firme. 

—  Tuto  acccsso;  carta  de  seguro  geral. 
TUTOR,  A,   s.  (Do  latim  tulorj.  Pessoa 

encarregada  d 'unia  tutela. 

—  Tutor  ojjiciíjfo;  tutor  encarregado 
de  tutela  oíTiciosa. 

—  Figuradaniente  :  Não  ter  necessidade 
de  tutor;  diz-se  do  um  homem  que  sabe 
goveruar-se  e  conduzir-se. 

—  Pessoa  quo  protege. 

—  Tutor  legitimo;  tutor  dado  pela  lei. 

—  Tutor  testamentario ;  tutor  nomeado 
pelo  testador. 

—  Tutor  dativo;  tutor. dado  pelo  juiz 
competente. 

TUTORAR,  ou  TUTOREAR,  r.  a.  Termo 
pouco  em  uso,  c  figurado.  Dirigir,  gover- 
nar como  a  pupillo,  e  inferior  em  capaci- 
dade. 

TUTORIA,  *.  /.  O  cargo  de  tutor,  tu- 
tela. 

—  A  administração  como  tutor,  o  po- 
der do  tutor. 

TUTRIZ,  s.  /.  (Do  latim  tutrix).  Vid. 
Tutora. 

TUTU,  *.  m.  Coco,  medo  que  se  faz  ás 
creanças. 

—  Fazer  tun  tutu ;  fazer  mo^o  vEo. 

TUTUNAGA,  s. ./'.  Vid.  Tutanaga. 

TUZÃO,  «.  m.  (Do  francez  toison).  Or- 
dem militar,  cujos  cavalleiros  trazem  por 
insignia  o  vello  de  um  conleiro  de  ouro 
pendente  de  um  coUar.  Vid.  Tosão. 

TYGRE,  s.  m.  Vid.  Tigre. 

Outras  vão  por  caminhos  solitário» 
Por  montanhas  esquinas  c  confusas 
Outras  vcíos  descendo  a  fundos  valles, 
A  cada  pasfK)  espcrão  brauos  T;/^^f, 
E  soberbos  LeOca  que  as  duras  vnhas 
Rompendo  lhes  a  earne,  em  sangue  banhem. 

COBTB  BSÍ.L.,  KAUFKAOIO  DB  SBrCLTBDA,    CaUt.  16. 

•  TYLARO,  s.  Hl.  Termo  de  zoologia. 
P;u-te  denudada,  nos  dedoa  e  uo  calca- 
nhar dos  mammiferos. 

—  Óalioncia  quo  firma,  em  cada  arti- 
culação, a  parte  inferior  dos  dedos  das 
aves. 

f  TYLOMA,  í.  "1.  Termo  de  medici- 
na. Callosidade  da  epiderme,  ou  callosi- 
dade  em  geriU. 

7  TYLOSE,  s.  /.  Termo  de  medicina. 
Callo  nos  iKS,  olho  de  pega,  de  perdiz. 

TYMO,  í.  '.,.  Vid.  Thymo. 

t  TYMPANAL,  adj.  2  gcn.—  Osso  tym- 
paual. 


TYPH 


TYPO 


TYEA 


•849 


—  S.  in.  Termo  de  anatomia.  Oí?so  em 
forma  de  annel  ou  de  tubo,  no  qual  se 
estende  a  membrana  do  tvmpano,  inse- 
rida n'uma  cavidade  que  elle  apresenta  na 
parte  interna. 

f  TYMPANIGO,  A,  adj.  Que  diz  res- 
peito ao  tvmpano. 

—  Termo  de  anatomia.  Que  diz  res- 
peito A  cavidade  do  tvmpano. 

—  Termo  de  medicina.  Som  tympa- 
nico ;  som  simiihante  ao  do  tambor. 

TYMPANILHO,  s.  m.  Termo  de  impres- 
sor. Peça  do  prelo,  que  segura  as  frisas; 
é  uma  espécie  de  caixilho  que  entra  no 
tympauo,  e  em  que  assenta  a  branqueta. 
'  -j-  TYMP ANISADO,  part.  pass.  de  Tym- 
panisar. 

TYMPANISAR,  ou  TYMPANIZAR,  v.  a. 
Termo  de  medicina.  Causar  a  tympani- 
tes. 

—  Tympanisar-se,  v.  refl.  Ficar  tym- 
panitico. 

TYMPANITICO,  A,  adj.  Doente  da  tym- 
panites. 

—  Concernente  á  tvmpanites. 
TYMPANITES,  s.  f.  (Do  latim  tympa- 

nites).  Termo  de  medicina.  Inchação  do 
baixo  ventre  causada  de  flatos,  ou  ven- 
tos detidos  n'elie. 

TYMPANITIS,  s.  f.  Vid.  Tympanites. 

TYMPANO,  s.  771.  (Do  grego  tympanon). 
Termo  de  anatomia.  Cavidade  de  forma 
irregular  encravada  na  base  do  rochedo, 
forrada  por  uma  membrana  mucosa,  com- 
municaudo  pela  pharynge,  pela  trompa 
de  Eustachio,  e  constituindo  o  ouvido 
médio. 

— •  Membrana  do  tympano;  membrana 
estendida  entre  o  ouvido  médio  e  o  ou- 
vido externo. 

—  Termo  de  impressão.  Peça  do  prelo 
aonde  so  coUoca  a  folha  para  impritoir  e 
registrar.  Vid.  Tympanilho. 

TYPHEO,  A,  adj.  Pertencente  ao  gi- 
gante Typheo. 

—  As  armas  typheas ;  os  raios  de  Jú- 
piter com  que  elle  venceu  o  gigante  Ty- 
pheo. 

f  TYPHICO,  A,  adj.  Termo  de  medi- 
cina. Que  é  relativo  ao  typho. 

—  Matéria  typhica ;  substancia  de  um 
branco  ou  de  um  pardo  amarellado. 

—  S.  m.  —  Um  typhico ;  um  doente  de 
typho. 

■f  TYPHLITE,  s.  /.  Termo  de  medici- 
na. Intlammaçào  do  ceco. 

-{•  TYPHLO-blCLIDITE,  s.  /.  Termo  de 
medicina.  Inflammação  da  válvula  ileo- 
cecal. 

-}■  TYPHLOGRAPHO,  8.  m.  Instrumento 
que  pcrmitte  aos  cegos  escrever. 

l.;i  TYPHO,  s.  7)i.  Termo  de  medicina. 
Vid.  Typhus. 

2.)  TYPHO,  s.  m.  (Do  grego  typhos). 
Orgullio.  vai  lade,  presumpcào. 

f  TYPHOEMIA,  s.  /.  Termo  de  medi- 
cina. Alteração  do  sangue  pelas  substan- 
cias ou  miasmas  pútridos. 

VOL.  T.— 107. 


TYPHOIDEO,  A,  adj.  (Do  grego  typhô. 
d-ês).  Termo  de  medicina.  Qne  tem  os 
caracteres  do  typho.  —  Febre  typhoidea. 

—  Affecçõès  typhoideas ;  diversas  doen- 
ças agudas  no  cur^^o  das  quaes  se  obser- 
vam muitas  vezes  um  conjuncto  de  phe- 
nomenos  geraes,  que  tem  a  maior  simi- 
lha'iça  com  os  do  tvpho. 

TYPHOMANIA,  s./.  (Do  grego  typhos, 
e  nuiiiia).  Delivio  no  typho,  mania  con- 
secutiva ao  tvpho. 

TYPHOMANIAGO,  A,  adj.  Termo  de 
medicina.  Atacado  de  typhomania,  dê  de- 
lírio com  estupor. 

TYPHUS,  s.  m.  (Do  grego  typhos).  Ter- 
mo de  medicina.  Febre  continua  e  con- 
tagiosa, que  nasce  do  embaraço  dos  ho- 
mens nas  prisões,  nos  hospitaes,  navios, 
etc,  e  que  apresenta  uma  perturbação  do 
systema  nsrvoso,  um  estado  mórbido  das 
membranas  mucosas,  e  quaei  sempre  uma 
erupção  petechial. 

—  Typhus  abdominal ;  nome  que  os  al- 
lemães  dão  á  febre  typhoidea. 

—  Typhus  abortivo;  doença  que  tem 
certas  relações  com  a  febre  typhoidea. 

—  Typhus  icterode,  typhus  dos  trópi- 
cos, typhus  da  America;  nomes  dados  á 
febre  amarelia. 

—  Typhus  do  Oriente ;  a  peste. 

—  Termo  de  veterinária.  Doença  da 
espécie  bovina  eminentemente  contagiosa, 
que  apresenta  os  caracteres  da  phlegma- 
sia,  com  os  signaes  de  envenenamento 
miasmatico. 

TYPICO,  A,  adj.  (Do  grego  typikos). 
Termo  de  historia  natural.  Caracteres  ty- 
picos ;  aquelles  que  só  convém  á  maio- 
ria dos  corpos  comprehendidos  n'um  gru- 
po, ou  aquelles  que  occupam  o  centro 
d'este  grupo,  e  lhe  servem  de  algum  mo- 
do de  typo. 

—  Symbolico,  allegorico,  emblemá- 
tico. 

TYPO,  s.  m.  (Do  grego  typos).  Modelo, 
original. 

—  Termo  de  mineralogia.  Typo  crys- 
tallino;  a  reunião  de  crystaes  cujos  sys- 
tenias  d'eixo  são  similhantes,  e  nos  quaes 
as  formas  primitivas  são  análogas,  ainda 
que  podendo  diíferir  pelo  valor  dos  ân- 
gulos. 

—  Termo  de  chimica.  Typos  chimicos; 
systema  ou  conjunto  de  moleeults  hetero- 
géneas, em  que  uma  ou  mais  moléculas 
podem  ser  substituídas  por  outras,  sem 
que  se  perturbe  a  natureza  chimica  do 
systema  total. 

—  Combinações  pertencentes  ao  mes- 
mo typo  chimico;  combinações  que  en- 
cerrara o  mesmo  numero  d'atomos,  etc, 
o  euja«  propriedades  chimicas  fundamen- 
taes  são  as  mesmaS. 

—  Termo  de  botânica.  Diz-se  qvie  um 
generO  dé  plantas  serve  de  typo  a  uma 
familia,  quando  contém  o  nãaior  numero 
de  caracteres  communs  aos  outros  géne- 
ros da   filésma  família :    assim  o  geneiro 


ortiga  serve   de  typo  á  família  das  urti- 
ceas. 

■ —  Tormo  de  zoologia.  Uma  das  três 
divisões  primarias  de  reino  animal. 

—  Reu;  ião  dos  caracteres  distinctivos 
de  uma  raça.  —  O  typo  europeu. 

—  Caracter,  retrato  original. 

—  Symbolo,  emblema. 

—  Particularmente  :  Diz-se  do  que^  no 
Antigo  Testamento,  é  olhado  como  a  fi- 
gura do  Xovo  Testamento, 

—  Figura  symbolica  impressa  sobre 
uma  medalha.  —  O  typo  d'esta  medalha 
ê  uma  Esperança. 

—  Teruio  de  astronomia.  Descripção 
graphíca.  —  O  typo  dos  eclipses  é  d' um 
grande  soccorro. 

—  Termo  de  medicina.  Ordem  em  que 
se  mostram  e  se  succedem  os  symptomas 
d'uma  doença ;  é  continua,  intermittente, 
e  rcmittente. 

—  Letra  de  forma  de  imprimir. 

—  Figuradamente :  Impressão. 
TYPOCHROMIA,  s.  f.  (Do  grego  typos, 

e    chrôma).    Impressão    typographica    de 
côr. 

TYPOGRAPHIA,  í.  /.  (Do  grego  ty- 
pos, e  graphos).  Arte  de  imprimir  livros. 

—  Reunião  de  todas  as  artes  que  con- 
correm para  a  impressão. 

—  Estabelecimento  tvpographico. 

f  TYPOC-RAPHICAMENTE^  adv.  (De  ty- 
pographico,  com  o  suffixo  amante»).  Con- 
forme os  processos  da  typogi-aphia. 

TYPOGRAPHICO,  A,  'adj.  Que  diz  res- 
peito á  typographia.  —  Erros  tjrpogra- 
phicos. 

TYPÓGRAPHO,  s.  m.  Homem  que  sa- 
be, que  exerce  a  arte  da  typographia; 
impressor. 

\  TYPOLITHO,  .'.  /.  Pedra  figurada 
que  tem  as  impressões  de  plantas  ou  de 
ar.imaes. 

f  TYPOLITHO GRAPHIA,  s.  f.  Modo 
de  imprimir  na  pedra,  que  deixa  a  facul- 
dade de  intercalar  no  texto  toda  a  espé- 
cie de  desenhos,  ornatos  e  accessorios. 

f  TYPOLITHO GRAPHICO,  A,  adj.  Que 
pertence  á  typolithographia. 

TYRANIA,"  s.  /.  Vid.  Tyrannia,  ter^ 
mo  mais  em  uso,  e  em  harmonia  com  a 
etymologia.  —  «  No  modo  de  seu  gover- 
no inclinou  mais  à  misericórdia  e  bôda- 
de,  que  á  tyrania,  e  dava  em  tudo  mui- 
ta mão  ao  Senado,  folgando  que  as  cou- 
sas af  duaS  se  fizessem  por  sua  determina- 
ção e  conselho :  e  como  Sereno  Granio 
Procônsul  de  Ásia  lhe  escrevesse  a  cruel- 
dade com  que  naquellas  partes  martyri- 
zavaõ  os  Christãos,  sem  fazerem  proces- 
sos de  suas  culpas,  nem  guardarem  for- 
ma de  juizo.»  Monarchia  Lusitana,  liv. 
5,  eap.  13.  —  «Foy  de  toda  esta  mara- 
nha anisado  Sancto  Fonte,  filho  de  lulio 
Fonte  gentil  homem  de  Veneza,  que  en- 
tam  estaua  na  Pérsia,  e  ve;-)dtse  com  O 
Sophi  lhe  coutou  tudo  o  passado,  quey- 
xandose   de  tão  grande  tyrania,  e  deâ- 


860 


TYKA 


TYRA 


TYBA 


humanidade,  feyta  a  gente  CbristaS,  que 

sò  na  lealdailc  do  seus  vassalos,  cami- 
nhaua  ci")  tanta  confiança  jmr  sua»  ter- 
ras, como  pelas  do  Vouoza.»  Fr.  (laspar 
de  S.  Bernardino,  Itinerário  da  índia, 
caj).  1Í5. 

TYRANNAMENTE,  adv.  (Do  tyranno, 
com  o  siiíTixo  amante»).  Do  um  modo 
tyranno. 

—  Com  tyrannia. 

—  Eniprcíía-ae  também  fipjuradamcnto. 
TYRANNIA,   s.  /.   (Do    franccz  ti/mn- 

nic).  Dominação  usurpada  e  illeçal,  bom 
ou  mal  exercida. 

—  Governo  injusto  e  cruel,  legitimo 
ou  nilo.  —  Não  é  mister  arte  vem  sciencia 
imra  exercer  a  tyrannia. 


C:l  nesta  IJiibvlonia  dondo  mana 
Matpria  a  quanto  mal  o  mundo  ci'ia ; 
(':l  dond(í  o  puro  Amor  não  tem  valia: 
Qun  a  mãe,  que  manda  mais,  tudo  profana 
(;.i  dondií  o  mal  so  atiiua,  o  bem  se  dana, 
K  p/ide  mais  que  a  houra  a  ti/rannia ; 
Mas  ainda  cm  outro  modo  diftcreutc, 
Que  com  meu  mal  prozente 
A  própria  razão  deixo, 
K  o  alheio  mal  sinto,  c,  me  queixo. 
F.  noniiKiuKS  i.ono,  o  desenoanado. 


—  Figuradamente ;  Poder  que  tem  cer- 
tas cousas  d'ordinarin  sobre  os  homens. 
—  A  tyrannia  da  hclleza. 

—  A  tyrannia  eterna. 

Mas  por  occulta  e  nova  providcneia 
(Que  ainda  aqui  com  justa  Loi  governai 
Terão  estes  da  (iropria  conacieneia 
Outra  pena  maior,  c  maia  intormi ; 
Que  como  seu  poder  a  preeminência 
Meios  farão  de  h/rannia  eterna, 
Assi  dalma  terão  novo  castigo 
Além  do  que  esta  pena  traz  comsigo. 

ROL.  DB  MOURA,  Nov.  i>o  HOM.,  cant.  3,  cst.  44. 

—  Toda  a  espécie  de  oppressiíes  e  do 
violências. 

—  Diz-se  também  do  abuso  do  impé- 
rio sobre  os  animacs. 

—  Humor,  conducta  imperiosa  e  vio- 
lenta nas  relações  do  familia  ou  de  so- 
ciedade. 

—  Figuradamente :  Acto  deshumano, 
injusto. 

TYRANNICAMENTE,  adv.  (De  tyranni- 
00,  com  o  sufíixo  «mente»).  Com  tyran- 
nia. 

—  Com  usurpação  do  poder,  do  rei- 
nado. 

—  Como  tvranno. 
TYRANNICIDA,  s.  2  gen.  (Do  latim  ti/- 

raiiviciíld,  do  cirdere).  Homem  que  mata 
um  tvranno. 

TYRANNICIDIO,  s.  m.  (Do  latim  tt/rmi- 
nicidiuni^.  Morto  do  um  tvranno. 

TYRANNICO,  A,  ndj.  (Do  latim  ///;•«»!- 
nicits).  Q,uc  tom  tyrannia,  que  é  injusto, 
violento.  —  A  ju-s/í^vt  sem  a  fori^a  <'  im- 
potente; afaria  $em  a  justiça  é  tyran- 
uica. 


—  Que  tyrannisa.  —  Lei  tyrannica. — 
Império  tyrannico.  —  Discur»os  tyran- 
nicos. 

—  Figuradamente  :  Que  exerce  poder 
sobro  o  e.spirito  doa  homen»,  fallando  das 
cousas. 

TYRANNISADO  "u  TYRANNIZADO,/ja)<. 
pass.  do  Tyrannizar.  —  lima  /jrnviucia 
tyrannizada  /«Vo  ijorerundor.  —  «iSentia 
o  Domouio,  que  naquelias  trevas  da  (Jen- 
tiiiilailo  appai-cccsso  a  luz  do  Ceo  a  des- 
cubrir-llio  os  caminlios  da  vida,  o  armou 
contra  a  innocontc  Christandade  hum 
(ientio  daquollas  partes,  que  havia  ty- 
rannizado  a  Ilha  de  Moro,  e  se  dizia 
Tolon.»  .Tacintho  Freire  d'Andrade,  Vida 
de  D.  João  de  Castro,  liv.  1. 

—  Extorquido  tyrannicamente,  usur- 
pado. 

—  Governado  por  tyranno. 

—  Figuradamente  :  Tyrannizada  a  car- 
ne ;  mortitieada  com  mau  trato,  absti- 
nonoias,  macerações. 

TYRANNISADOR,  ou  TYRANNIZADOR, 
A,  n.  i'ossoa  que  tvranniza. 

TYRANNISAR,  ou  TYRANNIZAR,  v.  a. 
Tratar  tyrannicamente.  —  Nero  tyran- 
nizou  o  império  roviano. 

—  Ter  uma  conducta  imperiosa  e  vio- 
lenta, nas  relações  de  spciedade  o  de  fa- 
milia. 

—  Usurpar  a  soberania  do  qualquer 
estado,  governal-o  arbitrariamente.  —  Ty- 
rannizar o  povo. 

—  ( íovernar  tyrannamente. 

—  Figuradamente  :  Tyrannizar  com 
desdinn,  etc. 

1.)  TYRANNO,  s.  m.  (Do  grego  <?/ran- 
nos).  Na  antiguidade,  entre  o.s  gregos, 
aquello  que  se  apoderava  da  authoridade 
soberana  sobre  uma  commuuidade  repu- 
blicana, quer  a  exercesse  com  moderação 
e  doçura,  quer  abu.sasse  d'ella.  —  Pisis- 
frafo  foi  tyranno  d'Afhcnas. 

—  Homem  que  usurpa  o  poder  sobe- 
rano n'um  estado. 

—  Hoje  dá-se  o  nome  do  tyranno  a 
um  usurpador,  ou  a  um  rei  que  pratica 
actos  violentos  e  injustos.  —  «E  a  cau.sa 
de  sua  vindív  era  querer  ElRey  per  sua 
pessoa  saber  se  era  verdade  do  estado 
em  que  estava  Malaca,  e  que  gente  era 
aquella,  que  liie  dava  tal  vingança  daquel- 
le  tyranno,  porque  não  o  podia  crer,  e 
disso  mandava  agradecimentos  a  Alionso 
d'Alboqucrque,  otlerectudo-so  por  gran- 
de amigo  d'ElÈey  de  Portugal,  pêra  o 
qual  mandava  cartas,  e  presente,  e  assi 
a  elle  Affonso  d'Alboquerque. »  liarros. 
Década  2,  liv.  6,  cap.  7.  —  «E  neste  de 
sou  desterro,  o  tyranno  que  o  lançou  do 
Royno,  temendo  quo  AfTonso  d'Alboquer- 
que  lhe  pedisse  conta  daquella  obra,  e 
mais  do  quo  ora  feito  a  João  Viegas  no 
seu  porto  do  Pacom,  trabalhou  sempre 
de  o  contentar,  o  ganhar  a  vontade  com 
boas  obras. »  liidem.  —  « Trás  estas,  cer- 
cada de  doze  porteyros  cõ  maças  ile  pra-  | 


ta,  vinha  a  Nhay  Canatoo  (ilha  do  Rey 
de  Pegú  a  quem  ente  tyranno  Brama  ti- 
nha tomado  o  reyno,  e  molher  do  Chau- 
bainhaa  ci>  quatro  criãças  filhos  seus, 
quo  homens  a  cavallo  trazi3o  nos  braços, 
e  todas  as  cento  e  quarenta  padecentes 
era?!  molheres  e  filhas  dos  priucipacs  Ca- 
pitaenfl  que  o  Chaubainhaa  tivera  comsi- 
go na  cidade,  nas  quais  este  tyranno 
Bramaa  a  modo  do  vingança  quiz  exe- 
cutar sua  ira,  e  a  m;V  inclinação  que  sem- 
pre tove  cõtra  as  niolli<;roB.«  FcrnSo  Men- 
des Pinto,  Peregrinações,  cap.  151. — 
»()  lloolim  se  despidio  logo  delle,  e  se 
foy  Á  cidade,  e  deu  conta  á  Raynha  de 
tudo  o  que  passara,  e  lhe  deciaroa  a  da- 
nada tenção  do  tyranno,  e  a  sua  pouca 
verdaile,  e  lhe  pôs  diante  o  que  em  Mar- 
tavào  fizera  co  Chaubainhaa  que  se  lhe 
entregara  ^^obre  seu  seguro.»  Ibidem,  cap. 
154.  —  «Porque  como  o  tyranno  estava 
magoado  e  afrontado  do  succcsso  passa- 
do, todos  08  modos  de  cruezas  usou  com 
esta  desavcnturada  gente,  para  tomar 
vingança  da  má  fortuna  qua  tivera  no 
começo  deste  cerco,  mas  a  verdade  disto 
foy  por  ellc  ser  fraco  de  animo,  e  de 
baixo  sangue  e  geração,  em  quem  a  cruel- 
dade e  o  desejo  de  vingança  custuraa  a 
ter  mais  lugar  que  nos  gonero-sos  e  esfor- 
çados.» Ibidem,  cap.  155.  —  «Quatorze 
dias  avia  ja  que  estas  cousas  erão  passa- 
das, nos  quais  o  tyranno  se  occupou  sem- 
pre em  fortificar  a  cidade  c3  grande 
presteza  o  cuydado,  quando  lhe  chegou 
nova  certa  pelas  espias  que  nisso  trazia, 
que  da  cidade  do  Avaa  era  partida  pelo 
rio  de  Queitor  abaixo  huma  armada  de 
quatrocentas  vcUas  de  remo,  em  que  vi- 
nhào  trinta  mil  homens  do  Siammõ,  a 
fora  a  ehuzma  e  a  gente  da  marcação.» 
Ibidem,  cap.  156.  —  «Achou-se  o  homem 
no  seu  elemento,  e  sem  recato  do  sexo 
nem  attençÃo  a  umas  donzellas  creadas 
com  aceio  e  já  crescid.a*,  pois  uma  pas- 
sava de  20  annos  e  outra  de  17,  despin- 
do-as  era  publico  as  açoutou  com  um 
nervo  de  boi — costume  dos  tyrannos 
de  Roma  no  gentilismo  antigo,  semeliian- 
te  ao  do  Pará  monos  em  polido.»  Bispo 
do  (Irão  Pará,  Memorias,  publicadas  por 
Camillo  Castello  Branco,  pag.   176. 

Que  hade  cercenr-me  o  ferro  do  tyranno* 
NÃO.  Padres :  ó  por  Vi'>8,  <■  pela  pátria 
Que  fullo,  peço,  que  »upplico,  imploro: 
Nào  pereçais  cm  sacrifieio  ioutil. 

GARRETT,  CATÃO,  BCt.    "2,  9C.   2. 

Nlo  aporfies  mais :  eu  nilo  Tocebo 

Mensagens  do  tyranno. 

Se  souberas 
O  que  incerr.i  ístn  carta!... 
iiiinKM,  aet.  3,  se.  1. 


Dcsaffogar  a  pátria  de  um  fi/ranno. 
E  transitório  allivio :  inípciora  a  miúdo 
C"o  esse  remédio  o  mal  ;  tens  com  tvrannos 
Em  vez  de  um  :  nem  titlontos  nem  virtudes 


TYRA 


TYRA 


TZIN 


851 


Occuparão,  no  Estado,  o  grau  supremo 
Entic  vis  demagogos  repartido 
Por  fac(;õos,  por  subornos,  peitas,  crimes. 
IBIDEM,  act.  4,  se.  3. 

Tincta  era  em  sangue  a  purpura,  —  era  férreo 
O  sceptro  do  tyranno :  mas  as  togas 
Dos  deccmviíos !... 


Juba,  Jlanlio, 
Que  pretendeis?  Deixae  para  o  tyranno 
O  acutillar  o  povo. 
míDEH,  act.  5,  SC.  4. 

—  Príncipe,  usurpador  ou  nào,  que 
governa  com  injustiça,  com  crueldade, 
calcando  as  leis  divinas  e  humanas. 

—  Por  extensão,  diz-se  de  todos  os 
que  tyranuizam.  —  E  o  tyranno  de  sua 
familia. 

—  E  um  tyranno  em  sua  casa.  — Es- 
te chefe  é  um  tyranno  para  os  seus  su- 
bordinados. —  Os  romanos  foram  os  ty- 
rannos  das  nações.  —  «Assim  tinhaò 
amor,  e  a  fortuna  em  tam  enleados  pen- 
samentos deus  amantes,  que  com  tanta 
facilidade  poderá  tornar  contentes  :  po- 
rém assim  costumaõ  estes  dous  tyrannos 
a  esconder  os  bens,  e  a  sustentar  os  cui- 
dados. Leontino,  quando  o  companheiro 
acabou  de  cantar,  lhe  disse:  Certamen- 
te, amigo,  que  eu  naõ  soubu  o  que  te 
pedia :  e  assim  he  razaõ  que  de  ti  tenha 
inveja,  e  de  mim  desconfiança.»  Francis- 
co Rodrigues  Lobo,  Desenganado,  liv.  3, 
cap.  4. 

—  Tyranno  domestico;  diz-se  de  um  ho- 
mem que  tyraiiniza  sua  familia,  sua  casa. 

—  Figuradamente  :  Diz-se  de  cousas 
cuja  acção  se  compara  á  tjrannia  dos 
homens . 


—  O  uso  é  o  tyranno  das  linguas ;  o 
uso  prevalece  sobre  as  regras  da  gram- 
matica. 

2.)  TYRANNO,  A,  adj.  (Do  latim  ty- 
rannos). Que  usa  de  tyraunia  e  despo- 
potismo. 

—  Feito  tyrannicamente,  com  tjran- 
nia. —  Morte  tyranna. 

—  Amor  tyranno. 

—  S.  f.  Princeza,  ou  a  usurpadora, 
ou  nào,  que  governa  com  injustiça,  cruel- 
dade, calcando  as  leis  divinas  e  huma- 
nas. 

TYRANNOMANIA,  s.  f.  (Do  grego  ty- 
rannos, e  inania).  Propensão,  gosto  para 
tyrannizar,  para  tratar  despoticamente. 
'  f  TYRANO,  s.  ííi.  Vid.  Tyranno.  —  «De 
maneira,  que  as  perseguiçoens  dos  tyra- 
nos  ornárào  a  Igreja,  com  sangue  de 
Martyres,  e  povoarão  os  desertos  de  Ana- 
choretas,  e  Slonges,  cujas  vidas  e  obras 
maravilhosas  pareciaõ  mais  angélicas  que 
humaaas.»  Monarchia  Lusitana,  liv.  5, 
cap.  2õ. 


Desejo  geral  hc,  se  não  me  cugauo. 
Saber  o  fim  que  teve  a  Christàa  gente 
Que  se  entregou  em  màos  do  imigo  insano 
Sempre  falso  e  cruel,  nunca  clemente. 
Estos  depois  por  ordem  do  iyrano 
Baxá,  dos  Portuguezes  mal  contente, 
Se  diz  que  fòrào  todos  degolados 
Sendo  a  Azobibe  os  Turcos  an-ibados. 

F.    DANDKADE,  PUIMEIBO  CEKCO  DE  DIU,  Caut.    15, 

est.  37. 


Ai  sim,  ó  olhos  arminhos, 
inda  que  me  sào  tyranos. 

ASTOSIO  PKESTES,  AUTOS,  pag.  181. 


—  Adjectivamente :   O  peito  tyrano. 


Chega  a  nova  ao  Basá,  e  em  tal  fogo  arde 
Qual  o  Siculo  monte  ou  o  Campano, 
Nem  soífre  que  em  vingar-se  mais  aguarde 
O  seu  peito  cruel,  impio  c  iyrano, 
Mas  por  cedo  que  vai,  cuida  inda  ir  tarde 
A  derramar  aqueUe  sangue  humano, 
Manda  que,  porque  o  seu  furor  se  farte, 
Dos  quatrocentos  morra  a  meia  parte. 

FBASCISCO  D'A:SDE.tDB,  PBIUEIBO  CEBCO  DE  DIU, 

cant.  12,  est.  121. 


I  TYRINA,  s.  /.  Termo  de  chimica. 
Yid.   Caseína. 

TYRIO,  A,  adj.  —  Còr  tyria;  cGr  de 
purpura. 

—  Termo  de  poesia.  Purpúreo. 
TYRO,  s.   í/í.  Termo    de    poesia.    Pur- 
pura . 

TYROCINIO,  s.  m.  Vid.  Tirocínio. 

t  TYROGLYPHOS,  s.  m.ijlur.  T&vmoàB 
historia  natural.  Oenero  de  ai-achnides 
acarianos,  de  corpo  levemente  apertado 
nos  fluncos,  as.sim  denominados  porque 
vivem  nas  pelles  do  queijo. 

f  TYROSINA,  s.  f.  Termo  de  chimi- 
ca. Producto  da  acção  da  potassa  sobre 
a  caseína,  fibrina  ou  albumina  secca. 

TYRSO.  Vid.  Thirso. 

f  TYRTEO,  A,  adj.  Diz-se  de  um  can- 
to egual  aos  de  Tyrteo,  celebre  poeta  ly- 
ríco  e  guerreiro,  entre  os  gregos. 

TYTHIMALO.  Vid.  Títhymalo. 

7  TZIGANO,  s.  m.  Synonymo  de  ci- 
gano. 

—  O  tzígano ;  língua  dos  tzingaris : 
parece  ser  um  dialecto  indiano  mui  cor- 
rupto. 

f  TZINGARI,  s.  wi.  Nome  de  errantes 
e  vagabundos  que  andam  em  pequenos 
bandos  lemlo  a  buena  dicha,  e  cuja  ori- 
gem parece  ser  indiana.  A  forma  usual 
portugueza  é  Cigano. 


s.  m.  Quinta  vogal  e  vigési- 
ma primeira  letra  do  alpha- 
beto.  Um  U  grande.  Um  u 
pequeno.  Um  U  de  caixa 
alta.  Um  u  de  caixa  baixa. 
Um  u  egypcio.  Um  u  normando.  Um  u 
itálico.  Um  u  romano.  Um  u  illuminado 
d'um  vellio  manuscripto. 

—  Ou  eâcripto  nem  sempre  se  pro- 
nuncia; depois  de  </  seguido  de  e  ou  i 
é  um  simples  signal  orthograpKico :  que, 
queixar,  aquillo,  pronunciam-se  ke,  kei- 
xar,  akillu.  Depois  de  jf  e  antes  de  e  e 
4  serve  para  indicar  que  o  ^  é  guttural : 
guerra,  Guilherme;  pron.  gherra,  Ghi- 
Iherme. 

—  Ou  portuguez  provém  geralmente 
do  u  das  linguas  fontes.  É  necessário  dis- 
tinguir o  caso  em  que  é  accentuado 
d'aquelle  em  que  o  não  é,  no  primeiro 
caso  sendo  as  regras  mais  íirmes. 

1.  D  port.  de  u  latino  é  a  regra,  na 
parte  latina  do  vocabulário  e  formas :  in- 
cluo (includo),  excluo  (excludo),  cru  (ww- 
dus)j  junho  (junius),  juro  (juro),  luz 
{luee},  adduzo  (adãuco),  publico  (publi- 
cus),  puro  (purus),  puno  {jmnio),  muro 
(murus),  commu7n  (communis),  fumo  (fu- 
mus),  etc. 

2.  U  de  lat.  o.  Raríssimo:  ant.  nuso 
de  noseoj  furo  de  foro,  cubro  de  coope- 
rio. 

3.  O  u  não  accentuado  portuguez  pro- 
vém geralmente  do  u  latino  não  accen- 
tuado; mas  tem  outras  origens  mais  ra- 
ras. 

Na  terceira  pessoa  do  pretérito  perfei- 
to singular  o  u  provém  do  lat.  v,  que 
por  syucopa  se  achou  diante  do  t  anal : 
amou  por  *  amau  por  *  amavt  por  lat. 
amavit. 

Também  o  u  provém  de  outras  con- 
soantes, principalmente  de  c  e  Z;  auto  de 
actus,  etc.;  couce  de  calcem;  toupeira  àe 
taipa;  fouce  de  f alcem;  outro  de  alter; 
souto  de  saltus,  etc.  De  g  provém  o  u 


em  Jleuriia,    erroneamente    escripto  fieu' 
gma,  pois  o  u  representa  o  g. 

U,  adv.  ant.  Onde.  Nos  livros  antigos 
apparece  u  escripto  hu. 

Hti  te  levão  os  pés  Bieito  amigo  V 

BEBNABDES,   KCLOOAB. 

—  U  antigamente  servia  por  si  só  de 
adverbio  de  logar.  — U  vás?  —  U  moras  i 

UÃ.  Vid.  Uma. 

UBÁ,  s.  m.  Termo  do  Brazil.  Canna 
brava,  que  dá  frechas,  que  servem  para 
gradar  casas  de  taipa  de  sebe,  e  racha- 
das para  fachos,  ou  candeios  de  alumiar 
como  archote,  e  para  pescar  de  noute  o 
peixe  deslumbrado. 

UBAIA,  s.  /.  Termo  de  botânica.  Fru- 
ta do  Brazil,  tendo  a  casca  como  avellã ; 
a  massa  de  dentro  é  como  casco  de  cebo- 
la, ao  redor  do  carocinho  algum  tanto 
azeda,  mas  gostosa. 

UBERDADE,  s.  /.  (Do  latim  ubertas). 
Abundância,  e  fartiu-a  de  novidades  e 
fi'uctos. 

UBERE,  s.  m.  (Do  latim  uber).  Vid. 
Ubre. 

UBÉRRIMO,  A,  adj.  (Do  latim  uberri- 
vius).  Mui  fértil,  mui  abundante.  —  Cam- 
IJO  ubérrimo.  —  Te^rra  ubérrima. 

UBERTOSO,  A,  adj.  Abundante,  fértil, 
copioso. 

UBI,  s.  7)1.  Logar  que  se  occupa,  onde 
se  está,  mora. 

—  Pessoa  sem  ubi  certo ;  pessoa  sem 
pousada  certa,  sem  residência  certa,  var 
gabundo. 

UBICAÇÃO,  «.  /.  Termo  escolástico. 
A  acção  de  occupar  algum  logar. 

UBIQUIDADE,  s.f.  Estado  do  que  exis- 
te em  toda  a  parte. 

—  Opinião  dos  lutheranos  ubiquita- 
rios. 

— -  A  actual  presença  de  Deus  em  todo 
o  logar. 

■\  UBIQUITARIO,   s.  m.    Lutherano  que 


admitte  que  o  corpo  de  Jesus  Christo  está 
presente  na  Eucharistia  em  virtude  da 
sua  Divindade  presente  por  toda  a  parte. 

—  Adjectivamente :  Termo  didáctico. 
Que  se  acha  em  todos  os  legares. 

UBRE,  í.  m.  A  teta  da  vacca,  ou  ou- 
tro animal.  Vid.  Ubere. 

UCKA,  s.  f.  (Do  francez  huclie).  Ter- 
mo antiquado.  Caixa  de  guardai-  pão,  e 
outras  victualhas. 

UCHÃO,  s.  m.  Termo  antiquado.  Des- 
penseiro,  caixeiro. 

—  Chefe  official  da  ucharia,  casa  da 
guarda  das  aves,  e  carnes  para  a  mesa 
dns  reis. 

UCHARIA,  s.  /.  Casa  onde  se  guardam 
as  viandai,  ou  despensa.  —  A  ucharia 
d'el-rei.  Vid.  Ocharia. 

UDO,  adj.  —  Não  deixar  udo  Jiewi  miú- 
do ;  não  deixar  grande  nem  pequeno. 
Vid.  Graúdo. 

f  UDOMETRIA,  s.  /.  Emprego  do  udo. 
metro. 

j-  UDOMETRICO,  A,  adj.  Que  diz  res- 
peito á  udometria.  —  Observações  udome- 
tricas. 

UDOMETRO,  s.  m.  (Do  grego  hydor,  e 
metron).  Termo  de  physica.  Instrumento 
para  medir  a  quantidade  de  chuva  que 
cáe  em  alguma  parte.  Vid.  Pluviometro. 

UFA.  Interjeição  admii-ativa  do  dicto 
em  louvor. 

UFANAR,  r.  a.  Tornar  ufano. 

—  Ufanar-se,  v.  rejl.  Encher-se  de  ufa- 
nia, tornar-se  ufano,  orgidhax-se,  enso- 
berbecer-se,  vangloriar-se. 

-j-  UFANEAR,  V.  n.  Fazer  ufania,  enso- 
berbecer-se. 

—  Jactar-se,  gabar-se. 

UFANIA,  s.  /.  Brio,   soberba,  orgulho. 

—  Jactância,  ostentação. 

—  AiTogancia,  contentamento  de  si 
próprio. 

UFANO,   A,  adj.  Que  tem  ufania. 

—  Soberbo,  jactancioso,   presumpçoso. 

—  Contente  de  si. 


854 


ULCE 


ULMA 


ULTl 


—  Quo  se  arroga  increeiíiioiitos  emi- 
nentes. 

UGA,  s.  /.  Tunuo  de  liistmia  natural. 
Um  itcixc. 

UGALHA,  *.  /.  Turmo  popular.  Egual- 
(laílc. 

UGAR,   V.  a.  Termo  popular.  Egualar. 

UGE,  s.  /.  Viil.  Uga. 

UGIA,  s.  f.  Vid.  Uga. 

UI.  luterjoição  de  quem  se  admira,  ou 
de  espanto. 

UIOPHOBIA,  s.  f.  (Do  í^rego  idos,  e 
2>/ijOi/s).  Termo  de  patliologia.  Espécie  do 
avcrsiio  para  aí  cruaiK^as. 

UIVAR.  Vid.  Uyvar,  Huivar,  e  ^Uviar. 

UIVO,  s.  m.  Vid.  Uyvo. 

UJA,  s.  /.  Vid.  Uga. 

ULCERA,  s.  /.  (Do  latim  ulcus,  ulce- 
ris).  Cliaga  antiga  e  não  tendente  a  ci- 
catrizar-se. 

—  Figuradamente:  Deus  corta  até  ao 
vivo  para  curar  as  ulceras  do  7iosso  co- 
ração. 

—  Ulceras  no  pulmão ;  dizia-se  outr'ora 
como  syiionvmo  de phthi/sica  pulmonar. 

—  Ulcera  perfurante  do  estômago;  des- 
truição mais  ou  menos  enérgica  da  mu- 
cosa do  estômago,  te. ido  a  tlhnia  d'um 
tumor  pela  parte  exterior  da  existência 
de  toda  a  producção. 

—  Ulcera  si/riaca;  nome,  nos  antigos 
médicos  gregos,  da  angina  diphtlicritica. 

—  Cbaga  viva  produzida  pela  corrosão 
dos  humores. 

—  Ferida  antiga,  materiada. 

—  Ulcera  das  arvores;  chaga  tendo  a 
sua  sóde  no  svstema  lenhoso  dos  vegetaes 
arborescentes,  nas  hastes,  nos  ramos,  ou 
raizes. 

ULCERAÇÃO,  s.f.  (Do  latim  lãceratio). 
Termo  de  medicina.  Formação  d'uma  ul- 
oei-a;  trabalho  mórbido,  quo  tem  por 
efFeito  a  solução  de  continuidade  d'um 
tecido,  com  perda  de  subítancia. 

—  Solução  de  continuidade  das  partes 
molles  com  perda  de  substancia,  mais  ou 
menos  antiga,  acompanhada  do  suppura- 
ção,  e  entretida  por  um  vicio  local,  ou 
por  uma  causa  interna. 

—  Ulcera  superficial. 

ULCERADO,  part.  pass.  de  Ulcerar. 
Atacado  de  ulceração.  —  Sua  mão  direi- 
ta está  sempre  ulcerada. 

—  Figuradamente :  Uma  consciência 
ulcerada ;  uma  consciência  opprimida  de 
remorsos. 

—  Animado  do  um  resentimento  com- 
parado a  uma  ulcera. —  O  homem  o  mais 
justo,  quando  é  ulcerado,  vê  raras  vezes 
as  cousas  como  ellas  são. 

ULCERAR,  r.  a.  (Do  latim  ulcerare). 
Produzir  uma  ulcera.  —  Erupçdes  que  ul- 
ceram (í  pelle. 

—  Figuradamente:  Fazer  nascer  no 
coração  de  alguém  um  sontiniento  pro- 
fundo e  duradouro.  —  As  querelas  da  re- 
ligião acabavam  de  ulcerar  todos  os  co- 
rações. 


—  Figuradamente :  Chagar.  —  Ulcerar 
o  Coração. 

—  Ulcerar-se,  v.  rejl.  Tornar-se  em  ul- 
cera. —  A  ferida  ulcerou-se. 

f  ULCERATIVO,  A,  adj.  Termo  de  me- 
dicina. C^,:ic  tom  a  propriedade  de  ulcerar. 

ULCERE,  s.  f.  Vid.  Ulcera,  termo  maia 
cm  u.so. 

ULCER030,  A,  adj.  (Do  latim  ulcero- 
sus,  de  ulcus,  ulceris).  Termo  de  medi- 
cina, (.^ue  é  coberto  de  ulceras.  —  Um 
corpo  tiiilo  ulceroso. 

—  Que  participa  da  natureza  da  ulce- 
ra. —  C/iaga  ulcerosa. 

,-{•  ULEMAS,  s.  in.  plur.  (Do  árabe  au- 
lemâ,  os  sábios,  plural  áaalèm,  douto).  En- 
tre os  turcos,  doutores  da  lei,  tendo  por 
funcçào  explicar  o  Coram,  presidir  aos 
exercícios  da  religião,  vigiar  pela  edu- 
cação dos  príncipes,  e  fazer  justiça  ao 
povo.  O  corpo  dos  ulemas  comprehende 
os  inians,  quo  são  theologos  e  pregadores; 
os  muftis,  que  são  jurisconsultos;  e  os  ca- 
dis,  quo  são  juizes. 

f  ULEX,  s.  7)1.  (Do  latim  ulex).  Nome 
moderno  do  género  leguminosas,  de  quo 
ha  varias  espécies. 

ULIGINARIO,    A,    adj.  Vid.  Uliginoso. 

ULIGINOSO,  A,  adj.  (Do  latim  uligi- 
nosuK,  do  uliijn,  inis).  Termo  de  histo- 
ria natui'al.  Diz-se  dos  vegetaes  que  cres- 
cem em  logares  húmidos. 

—  Terrenos  uliginosos;  terrenos  extre- 
mamente húmidos. 

-j-  ULLITE,  s.  f.  Termo  de  medicina. 
Intlamniaçào  da  membrana  mucosa  gen- 
gival. 

ULLO,  A,  ou  ULO,  A.  Termos  compos- 
tos de  u,  adverbio  antiquado  onde,  o  do 
artigo  antiquado  lo,  la,  los,  las,  ou  antes 
entremettido  o  l  por  euphonia,  e  o  artigo 
o,  a,  os,  as;  e  que  significam  aonde  o? 
aonde  a?  aonde  osf  aonde  as'i 

—  Ullas  partes  que  deixamos  á  virtu- 
de? aonde  estão,  ou:  que  ó  das  partes 
que  damos  a  Deus? 

—  Alguns  auctores  trazem  uUo  pare- 
cendo uma  só  palavra;  d 'este  modo  inia- 
gina-se  que  se  cimfundiu  como  origem  o 
it//iís  latino  com  o  francoz  oii  Ics. 

—  UUo  aquelle  grande  amigo f  onde 
está  aquelle  que  era  grande  amigo? 

f  ULMACEAS,  s.  f.  plur.  Termo  de 
botânica.  Faniilia  de  plantas,  que  tem  por 
tvpo  o  ulmo. 

"  ULMARIA,  s.  /.  (Do  latim  ulmus\.  Ter- 
mo de  botânica.  Planta  chamada  também 
rainha  dos  prados,  quo  tem  as  folhas  como 
as  de  ulmeiro,  chamado  do  vulgo  barba  de 
bode. 

t  ULMARICO,  A,  adj.  Termo  de  chi- 
mica.  Acido  ulmarico;  svnouymo  de  ul- 
mariud.  , 

f  ULMARINA,  s.  /.  Termo  de  chimica. 
A  spiroina. 

ULMATO,  ».  m.  Termo  de  chimica.  Sal 
produzido  pela  combinação  do  acido  ul- 
mico  com  uma  base. 


ULMEIRA,  «.  /.  Vi  1.  Ulraaria. 

ULMEIRO,  «.  m.   Vi.l.  Olmeiro. 

t  ULMICO,  A,  adj.  iD..  latim  ulmus). 
Termo  de  chimica.  Diz-se  de  um  acido 
particular  que  existe  na  terra  vegetal,  6 
na  casca  do  ulmo. 

j  ULMINA,  ê.f.  Termo  de  chimica.  Um 
dos  produ<.-tos  da  decomposição  da  ceilu- 
losa. 

ULMO,  í.  7/1.  í^Do  latim  ulmus j.  Vid. 
Olmo. 

ULNA,  s.  f.  CDo  latim  ulna).  Medida 
de  dons  braços,  de  uma  vara,  de  um  co- 
vado. 

—  Termo  de  anatomia.  A  maior  das 
duas  canuas  do  braço  do  cotovelo  para 
baixo. 

ULNAR,  adj.  2  gen.  (Do  latim  ulnaj. 
Termo  do  anatomia.  Que  é  relativo  ao 
osso  cubital. 

f  ULONCIA,  «.  /.  Termo  de  medicina. 
Inchação  il.is  gengivas. 

ULORRHAGIA,  s.  f.  Hemorrhagia  pela 
membrana  mucosa  da  gengiva. 

f  ULOTRICO,  A,  adj.  Termo  de  an- 
thropologia.  (^ue  tem  os  cabellos  crespoa. 
—  As  raças  ulotricas. 

—  Que  é  dividido  cm  cortes  lineares 
apestana>ioi  e  crespos. 

ULTERIOR,  adj.  2  gen.  (Do  latim  ulte- 
rior, comparativo  de  ultra).  Termo  de 
geographia.  Que  está  para  lá,  em  oppo- 
siçào  a  citerior.  —  A  Índia  ulterior  fica 
para  lá  do  Ganges,  que  a  separa  da  ín- 
dia citerior.  —  Séneca  nasceu  em  Córdo- 
va, cidade  celebre  da  Hespaidia  ulterior. 

—  Figuradamente:  Que  so  faz,  qae 
acontece  depois.  —  As  noias  ulteriores 
não  conjirmam  o  que  se  dizia. 

—  Que  passa  de  algum  termo,  prazo, 
epociía,    em  opposição  ao  termo  anterior. 

ULTERIORIDADE,  s.  f.  O  ser  ulterior, 
posterior  a  alguma  epocha,  ou  termo  sa- 
bido. 

■f  ULTERIORMENTE,  adv.  (De  ulte- 
rior, e  o  suífixo  «mente»).  Posteriormen- 
te, em  seguida. 

—  Além,  da  parte  d'além,  além  do  que 
se  disse  ou  fez. 

ULTIMADAMENTE,  adv.  (De  ultimado, 
e  o  suffixo  tmente»}.  Por  ultimo,  derra- 
deiro. 

—  Totalmente,  até  o  ultimo  ponto. 
ULTIMADO,  part.  pass.  de  Ultimar. 

—  Absolutamente  terminado,  o  con- 
cluido.  —  Negocio  ultimado. 

—  Fim  ultimado ;  fim  que  ultimamente 
se  propõe  aos  nossos  desejos. 

ULTIMAMENTE,  adv.  iDc  ultimo,  c  o 
suftixo  «mente»  I.  Pela  ultima  vez. 

—  Em  ultimo  logar. 

—  !sos  tempos  últimos  passados,  postri- 
nieiraniontc ;  nos  tempos  remotissimos  a 
respeito  de  algum  principio. 

ULTIMAR,  r.  a.  Findar,  concluir  to- 
talmente, acabar,  rematar.  —  Ultimar 
este  negocio. 

ULTIMATUM,  ou  ULTIMATO,  *.  m.  (Do 


ULTR 


ULTR 


UM 


855 


part.  pass.  do  latim  ultimare,  de  ulti- 
mus).  Termo  de  diplomacia.  As  ultimas 
condições  que  se  põem  n'um  tratado  ás 
quaes  se  está  ligado  irrevogavelmente,  e 
mormente  aquellas  sobre  a  inacceptaçào 
das  quaes  se  segue  uma  declaração  de 
guerra. 

—  Por  extensão  :  Diz-se  de  uma  reso- 
lução qualquer,  definitiva  e  irrevogável, 
á  qual  se  liga  um  governo,  um  general 
d'exercito,  etc,  no  sujeito  d'uraa  causa 
em  litigio. 

ULTIMO,  A,  arJj.  (Do  latim  ultimus). 
Termo  diJactico.  Que  está  coUocado  em 
derradeiro  logar.  —  A  ultima  syllaba 
d'tima  palavra. 

—  Termo  de  medicina.  Si/mptomas  úl- 
timos ;  symptomas  que  annunciam  a  dis- 
solução do  doente. 

—  Figuradamente:  A  ultima  mão;  a 
perfeição  ou  trabalho  com  que  se  aperfei- 
çoa a  obra. 

—  Extremo  na  serie,  opposto  ao  pri- 
meiro. 

—  Fim  ultimo.  Vid.  Ultimado. 

—  O  ultimo  supplicio ;  pma  capital. 

—  A  ultima  vontade;  o  que  declara- 
mos, e  não  revogamos  depois. 

—  Stx.  :  Ultimo,   derradeiro. 

Ultimo  e  derradeiro  empregam-se  indif- 
ferentemente  para  designar  o  que  em  uma 
linba  ou  serie  não  tem  outro  depois  de 
si,  porém  com  diíferente  relação.  Ultimo 
denota  distancia,  situação  ulterior  além 
d'um  terceiro;  derradeiro  refere-se  pro- 
priamente ao  que  depois  de  si  não  tem 
outro  na  serie:  é  o  dernier  dos  francezes, 
e  o  postremus  dos  latinos. 

ULTRA.  Prefixo  que  se  emprega  na 
composição  para  designar  o  que  está 
além  dos  limites  racionaes. 

—  Diz-se  também  popularmente  o  nec 
plus  ultra. 

f  ULTRACHIMICO,  A,  adj.  —  Raios 
ultrachimicos ;  raios  acima  dos  raios  chi- 
micos  do  espectro  solar. 

f  ULTRALIBERAL,  adj.  2  gen.  Diz-se 
d'aquellcs  que  expendem  as  doutrinas  li- 
beraes   até   nas  consequências  extremas. 

— '  Diz-se  das  cousas.  —  Opiniões  ul- 
traliberaes. 

f  ULTRALIBERALISMO,  s.  m.  Siste- 
ma dos  ultraliberaes. 

ULTRAGEM,  s.  /.  Vid.  Ultraje. 

ULTRAJADO,  part.  j^ass.  de  Ultrajar. 
OfFondido,  injuriado,  aíFrontado. 

ULTRAJADOR,  A,  s.  e  adj.  Que  ul- 
traja. 

ULTRAJANTE,  part.  act.  de  Ultrajar. 
(Do  francez  outrageant).  Que  ultraja,  que 
exprime  ultraje. 

—  Injurioso,  aflfrontoso,    contumelioso. 
ULTRAJAR,   r.    a.    (Do  francez   outra- 

ger).    Injuriar,    offender  por  obra  ou  por 
palavra,  com  desprezo. 

—  Figuradamente:  Ultrajar  a  lei  de 
Deus.  —  Ultrajar  a  virtude. 

ULTRAJE,    ou    ULTRAGE,    s.    m,    (Do 


francez  outrage).  Injuria,  offensa  verbal, 
ou  por  obra,  com  desprezo. 

—  Syn.  :  Ultraje,  injuria.  ViiJ.  este 
ultimo  termo. 

ULTRAMAR,  s.  m.  Diz-se  das  terras 
que  ticam  além  do  mar  que  banham  as 
costas  de  Portugal;  os  estabelecimentos 
portuguezes  da  Africa,  Ásia,  e  ilhas  ad- 
jacentes a  estas  costas  marítimas. 

—  Outr'ora  o  ultramar  indicava  terra 
santa;  e  assim  a  guerra  do  ultramar;  a 
guerra  das  cruzadas. 

—  Conselho  do  ultramar;  junta  de  mi- 
nistros com  direcção  dos  negócios  de  jus- 
tiça, e  graça,  e  militares,  e  da  fazenda 
(exceptuando  o  qiie  toca  ao  erário),  dos 
domínios  d'além-mar  de  Portugal :  foi 
instituído  por  D.  João  iv,  e  compunha-se 
de  presidente,  seis  conselheiros,  um  se- 
cretario, etc. 

ULTRAMARINO,  A,  adj.  Do  ultramar, 
das  conquistas  de  Portugal. 

—  >lz!íí  ultramarino;  de  lápis   lazuli. 

—  Conselho  ultramarino.  Vid.  Ultra- 
mar. 

—  Substantivamente :  Um  ultrama- 
rino. 

—  Vid.  Transmarino,  Marino,  e  Ma- 
rinho. 

f  ULTRAMONTANISMO,  s.  m.  Doutri- 
na da  iidallibilidade  do  papa. 

ULTRAMONTANO,  A,  adj.  (Do  latim 
ultra,  e  vions).  Que  habita  além  dos  mon- 
tes. Vid.  Tramontano. 

—  Diz-se  dos  maioraes  da  corte  de 
Roma  tocando  a  potencia  ecclesiastiea,  e 
d'aquelles  que  as  sustentam.  —  Princi- 
pias ultramontanos. 

—  Substantivamente :  Os  ultramonta- 
nos. 

—  Homem  que  sustenta  o  poder  abso- 
luto do  papa  em  toda  a  extensão. 

ULTRAPASSADO,  part.  pass.  de  Ultra- 
passar. Passado  além  dos  limites  pre- 
scripti>s,  excedido. 

ULTRAPASSAR,  v.  a.  (Do  latim  lãtra, 
e  de  passar).  Passar  além  dos  limites 
prescriptos,  exceder. 

t  ULTRAREALISMO,  s.  m.  Systema 
dos  ultrarealistas. 

f  ULTRAREALISTA,  s.  m.  Diz-se  dos 
partidários  do  poder  absoluto,  dos  fauto- 
res do  despotismo. 

t  ULTRAREGULAMENTAR,  adj.  2  gen. 
Que  faz  abuso  ilo  regulamento. 

ULTRAREVOLUCIONARIO,  A,  adj.  e  s. 
Revolucionário  em  excesso. 

—  Di/.-fe  das  cousas.  —  Medidas  ul- 
trarevoluciouarias. 

t  ULTRAVIOLETE,  adj.  2  gen.  Termo 
de  physica.  Raios  ultravioletes ;  raios 
que  existem  em  toda  a  luz,  que  no  espe- 
ctro solar  se  coUocam  além  do  violete,  e 
que  são  imperceptíveis,  ou  com  difficul- 
dade  perceptíveis  pela  retina. 

f  ULTRAZODIACAL,  adj.  2  gen.  Ter- 
mo de  astronomia.  Diz-se  principalmente 
dos   planetas  cuja  orbita    não  está  com- 


prehendida  na  largura  do  zodiaco,  que  é 
approximadamente  de  oito  graus  de  cada 
lado  da  ecliptica,  largura  calculada  para 
conter  as  orbitas  de  Mercúrio,  Vénus, 
Marte,  Júpiter  e  Saturno,  os  únicos  pla- 
netas dos  antigos  conhecidos  com  a  terra 
cuja  orbita  é  a  ecliptica. 

ULTRICE,   s.  f.  A  vingadora. 

ULTRIZ,  adj.  m.  ULTRICE,  /.  (Do  la- 
tim ultrix).  Que  dá  vingança,  castigan- 
do ao  oíFensor  d'aquelle  a  quem  se  dá  a 
vingança. 

— -Termo  de  poesia.  Vingador,  puni- 
dor. 

ULTRONEO,  A,  aãj.  Que  se  offerece 
de  vontade. 

—  Que  se  adquire  e  acha  sem  traba- 
lho, ou  diligencia.  Vid.  Espontâneo. 

ULULADO,  s.  m.  Uivo,  grito  lastimoso 
e  desconcertado. 

—  Part.  pass.  de  Ulular. 
ULULAR,  V.  n.  (Do  latim  ululare).  Ui- 
var. —  Os  lobos  ululam. 

—  Dar  gritos  lamentosos,  grandes  gri- 
tos. 

-j-  ULVA,  s.  /.  Termo  de  botânica.  Gé- 
nero de  cryptogamas,  em  que  se  distin- 
gue a  uiva  intestinal. 

f  ULVACEAS,  s.  /.  plur.  Termo  de 
botânica.  Familia  de  plantas  cryiJtoga- 
mas. 

UM,  UMA,  adj.  num.  card.  O  primei- 
ro de  todos  os  números. — Um,  dous, 
três.  —  Os  meninos  de  um  a  doze  annos. 

—  De  um  a  doze;  desde  o  numero  um 
até  doze. 

—  O  mesmo,  e  egual. 

—  Idêntico. 

—  Algum. 

—  Ajuntar-se  em  um;  ajuntar-se  em 
um  logar,  campo,  corpo. 

—  Alguns  escriptores  escrevem  um 
com  h,  sem  que  o  peça  a  orthographia 
etymologica,  que  se  deriva  do  latim 
unus,  e  menos  a  pronuncia,  porque  sen- 
do o  A  signal  de  aspiração,  não  aspira- 
mos nenhuma  vogal.  Vid.  Hum.  —  «Que- 
rouos  dizer  breuemente  huma  palaura 
sobro  cada  hum  destes  degraos.  Pobreza 
voluntária  nam  he  outra  cousa  sanam 
hum  desprezo  de  toda  a  riqueza.  De  ma- 
neira que  ainda  que  o  homem  seja  rico, 
todauia  nam  tem  o  coração  pregado,  e 
grudado  cõ  sua  fazenda,  mas  liure,  e  sol- 
to.» Frei  Bartholomeu  dos  Martyres,  Ca- 
tecismo da  doutrina  christã.  —  «  Sam 
Matheus  em  Et  .iopia  aianceado.  S.  Tho- 
me  em  outra  india  despois  de  queimado 
com  laminas  de  ferro  ardentes,  e  lança- 
do em  himi  forno,  finalmente  passado 
con  lanças.  Sam  Mathias,  em  ludea  ape- 
drejado e  descabeçado.  Sam  Simão  e  lu- 
das,  em  perfia  em  hum  templo  de  idolos 
foram  pollos  infiéis  martirizados.  Sam 
Barnabee,  em  Salamina  queymado.»  Ibi- 
dem.—  «Quem  me  ja  liurasse  deste  corpo 
mortal,  e  maluado,  em  o  qual  nam  ha 
cousa  boa.   Vejo  nelle  huma  inclinaçam, 


656 


ÚM 


WA 


U>rBR 


que  repnffna  aa  inelinaçani  de  mou  espi- 
ritu,  que  me  teui  captiuo,  o  ilolle  ^ein 
que  ine  pe^)  saltaiT  como  faiscas  huns  sú- 
bitos mouiinentos,  o  apixititos  c'>tr;i  aquil- 
lo  que  eui  minha  aliim  está  lirmomonte 
assentatl').»  Ibidem.  —  «(>>stuiiiaos  neato 
dia  saudaiuort,  dizendo  DEu8  vos  dee 
muytos  annns  e  l)oim.  Muytos  nain  po- 
dem clk'9  ser  por  inuyto  (jue  traballicvs 
de  estender  n  vi' la,  e  ainda  que  fossem 
cento,  o  mil  comparados  aa  etcrnidailtí 
do  outro  mundo,  c  ticauí  huma  ora.  » 
rbidem.  —  *  Porque  basta  pêra  isso  saber 
quo  ho  huma  Ijcinaueutunknça,  em  que 
Deos  se  quis  esmerar,  porá  cÒtentar  o 
fartar  sous  amigos  de  eabciluria,  e  de- 
Icytações  sav.ctas  o  verdadeiras.  Ay  de 
ti,  se  nem  com  os  ameaços  dos  tormentos 
eterno.5,  nom  eõ  as  promosf-as  doa  praze- 
res eternos,  te  a  molentam  e  dobrílo  a 
obedecer  e  seruir  a  DEOS.»  Ibidem.  — 
«Matéria  lie  esta  larga  e  profunda,  em 
qu3  ao  presente  me  nào  quero  meter: 
baste  dizer  em  soma,  que  pam  ha  bem 
em  nossa  alma  que  por  hum  peccado 
mortal  nam  fique  ou  de  todo  deetruydo, 
Dn  ai  menos  ferido,  e  diminuydo.»  Ibi- 
dem. —  oE  por  is.-io  (como  diz  Chrisosto- 
mo)  assi  como  hum  laurador  píxla  a  cc- 
poyra,  e  corta  os  sobejos  ramos  das  ar- 
uores  porque  o  humor,  e  çumo  que  da 
rayz  vem,  nam  se  gaste  todo  em  folhas, 
mas  esforçSdose  na  rayz  produza  milhor 
fmvto,  assi  o  Senhor  corta  nossas  pros- 
peridades e  bonãÇas  temporaes,  nas  quaes 
gastauamos  os  pensamentos  e  aflfeitos  de 
nossas  almas,  pêra  que  metendonos  por 
dentro,  e  euvdando  nas  eou^^as  eternas 
demos  fruvto  verda  leyro  da  gloria  e  bem- 
aiienturança.»  Ibidem.  —  «Diz  Sam  Lu- 
cas, que  ajuntandose  muy  grande  multi- 
dam  de  gente,  a  ouiur  a  prègaçam  do 
Senhor,  propôs  huma  tal  semelhança. 
Hum  semeador  sayo  a  semear  sna  semen- 
te, o  semeado,  huma  parte  da  semente 
cavo  na  estrada  e  caminho  pubrico,  e 
esta  parte  pisaram  os  caminhantes,  e  co- 
meram as  aues :  assi  nada  delia  veyo  a 
lume.  E  entra  parte  cayo  em  terra  de 
lagea:  ô  esta  ainda  que  nasceo,  logo  se 
secou,  poi-qÚB  nam  tinha  humor.»  Ibi- 
dem. —  (I  For  tanto,  diz  o  Sancto  Doittor 
no  capitulo  qnatorze,  a  este  espelho  assim 
purificado,  começa  a  intimar  se  huma 
claridade  do  resplendor  diuino,  e  hum 
raio  immenso  de  extraordinária  luz  appa- 
recer  aos  olhos  do  coração,  ^laqunh  infir- 
mado, c  aceso  o  espirito  começa  a  conhe- 
cer com  a  vista  do  entendimento  apura- 
da as  cousas  superiores.»  I<lem,  Compen- 
dio de  espiritual  doutrina.  —  «D.  Alva- 
Iw  abalou  com  to-lo  o  poder,  e  rodeou  a 
fortaleza,  arrimand.o  logo  algumas  esca- 
das, ]ior  onde  os  nossos  começfiraõ  a  su- 
bir, franqueandolhes  os  outros  o  nmro 
com  a  arcabu7..'iria.  quo  era  tanta,  que 
naõ  ousAraõ  os  Fartaquins  a  aparecer. 
Fornaõ    Peres   foy  o  primeiro  que  come- 


çou a  Aubir  por  huma  escada,  levando  o 
seu  guiaõ  diante,  o  a  poder  de  golpes  o 
poz  em  cima  do  muro.»  Diogo  de  Couto, 
Década  ti,  liv.  tí,  cap.  G. 

—  C^uai.do  se  diz  um  Leonel  de  Lima, 
detcrinina  pessoa  ignóbil,  pouco  conhooi- 
da,  c  <listincta.  —  a  D.  Jorge  deo  o»  car- 
gos a  hum  Leonel  de  Lima,  que  fez  tam- 
bém tanto  como  o  outro:  pelo  que  ficou 
pairando  até  lho  vir  o  soecorro  que  man- 
dava pedir.  Álvaro  de  Sayavedra  vendo- 
se  sem  batel,  esteve  a  risco  de  se  tor- 
nar, mas  cominetteo  a  jornada  até  tomar 
humas  ilhas,  quo  por  ter^jm  muitas  ar- 
vores, e  serem  frescas,  lhe  poz  nome 
Bel-jftrdim,  que  estam  em  altura  de  dez 
gráos  do  Norte,  qnasi  duzentas  e  sinc-oen- 
ta  legnas  donde  tinha  pnrtido.»  Diogo 
do  Couto,  Década  2,  liv.  6,  cap.  4.  — 
«Por  outra  parte  também  subio  Peio  Bo- 
telho qua*i  ao  mesmo  tempo,  e  diante 
dtdle  o  seu  guiaõ,  que  levava  hum  Hei- 
nol  de  hum  pelote  preto  compriílo  muy 
valente  homem,  qne  subio  ao  muro,  e 
com  huma  maõ  sustentou  o  guiaõ,  e  com 
a  outra  pelejou  valerosamente.»  Idem, 
Década  6,  liv.  6,  cap.  0. 

—  De  um  se  derivam  os  substantivos 
unidade,  união,  e  os  adjectivos  unanime, 
unico^   vnifiiTme,  xmissimo. 

—  Substantivamente:  O  algarismo  que 
indica  1.  — ■  Três  uns  em  seguida  for- 
mam cento  e  onze. 

—  Simples,  quo  não  admitte  plurali- 
dade. — ■■  A  religirio  é  nma.  —  A  fé  é 
uma.  -^  T)eu!í  é  um,  infinito,  perfeito, 
único  digno  de  vingar  os  amimes  e  de  co- 
roar a   virtude. 

-^  A  verdade  ê  sempre  nina ;  nunca  ó 
contraria  a  si  mesmo. 

-^  Tern-.o  de  plíilosopbia.  A  unidade 
absoluta,  infinita. 

—  Onde  reii\a  a  unidade.  —  A  Fran- 
ça é  uma!  ^ — A  natureza  ê  Uma,  «  apre^ 
scnfa-se  sempre  a  mesvia  aos  ijne  a  sa- 
bem observar.  —  Todo  O  assiivipto  é  um, 
e  j>'}'' '  "'(''i^  vasto  que  seja,  pôde  ser  en- 
cerrado n'um  só  discurso. 

—  Substantivamente:  Em  um;  em  uni- 
dade. 

—  NHor  ser  .•mnão  Um ;  díí-sé  de  mui- 
tas cousas  ou  pessoas  que  sSo  considera- 
das como  únicas.  —  il/eit  Deus.  vós  não 
lízrstes  senão  um  coração,  e  uma  alma 
comnosco. 

—  É  todo  um;  nSo  ha  difFerença  al- 
guma. 

—  Um  d'estes  dias;  um  dia  muito  pró- 
ximo. —  Eu  7ne  offcreço  a  levar-vos  Um 
dia  d'estes  á  comedia,  se  quizerdes. 

—  De  dnis  um ;  um  sobre  dois. 

- —  De  duas  cousas  luna;  nito  ha  meio 
termo. 

—  Emprega-se  para  representar  uma 
pessoa,  uma  cousa  de  que  se  acaba  de 
íalhir.  —  ApvfSi  iitoií-se  um. 

—  E»!re  luna  c  duas;  entre  huma  ho- 
ra e  duas. 


—  Vinte  por  um;  diz-se  para  expri- 
mir alguma  cou«a  quo  aco:  tece  frequen- 
temente. 

—  Emprcga-»e  muitas  vezes,  nSo  para 
de6Ígr:ar  especialmente  o  numero,  maa 
principalmente  pam  «igniriear  um  obje- 
cto de  que  ainda  não  houve  questXo.  — 
Um  gimh'1,  nm  nada. 

—  C^jlloca-ío  junto  de  um  nome  pró- 
prio, para  tirar  a  este  nome  seu  sentido 
particular,  e  fazer  d'6lle  uma  o»pe<ie  de 
nome  geral. 

—  (>jlloca-íe  junto  de  um  nome  pro- 
pr.o,  para  exprimir  uma  assimilhaçaq 
com  A  i)or8onagem  que  w  nomeia.  —  E 
uma  Lucrécia.  —  E  um  Cieero. 

—  Emprega-sô  tamliom  n'um  sentido 
simplesmente  emphatico,  para  exaltar  o 
nome  i!e  personnfrens.  — Este*  santos  dou- 
tores, um  tí.  Justino,  um  S.  Clemente, 
ete.,  que  passavam  os  diat  a  meditar  na 
Escrijjtura  Sagrada. 

—  Dir.tr  d'xxm,  deprti»  do  milro;  va- 
riar na  sua  linguagem. 

—  Popularmente :  Uns  e  antron;  toda 
a  gente  sem  distincç.io. 

—  Nem  um,  nem  outro.  —  Nem  um, 
nem  outro  virá. 

—  Um  rt  um ;  um  aptis  outro,  e  um 
por  sna  vez. 

UMA,    adj.  f.  Variação  de  Um. 

UMANIDADÍE,  s.  f.  Vid.  Humanida- 
de. 

UMANO,  A,  adj.  Vid.  Humano. 

UMBELLA,  s.  f.  (Do  latim  umbeUa\ 
Pallio  poqueno  em  fArma  de  chapéu  de 
sol,  debaixo  do  qual  se  leva  o  Santissimo 
Sacramento. 

—  Termo  Ae  botânica.  Vi  1.  Umbrella. 
UMBELLIFERAS.  Vid.  Umbrelladas. 
UilBELLIFERO,  A,  adj.  Que  tem  um- 

bellas. 

UMSIGO,  .<!.  líi.  Vid.  Embige. 

UM3ILICAD0,  A,  adj.  Êm  forma  de 
embigii. 

—  Termo  de  botânica.  Arrodellado. 
UMBILICAI,  adj.  2  gen.  Termo  de  an.i- 

tonna.  Que  ó  do  embigo. 

UMBILICAR,  adj.  2  gen.  Termo  de  ana- 
tomia.   Veia  nmbilicar;  veia  do  embigo. 

—  Região  umbilicar;  regi.no  do  embi- 
go. Viil.  Umbilical. 

UMBLA,  s.  /.  Termo  á-^-  historia  natu- 
ríil.  E-;pi'i.'ie  de  salm.ío  ipeixe). 
UMBLINA,  s.  f.  Vid.  Umbla. 

—  Umblina  das  lagoas  do  norte;  es- 
pécie de  -.limão. 

f  UMBRACULIFORME,  atlj.  2  gen.  Ter- 
mo de  botânica.  Que  eetá  em  forma  de 
gnarda-so!. 

UMBRACULO,  s.  m.  Termo  do  botâni- 
ca. E^prci''  Al."  disco  que  coroa  o  pedícu- 
lo de  oprtn«  plantas  cryptogamn?. 

UMBRAL,  y.  m.  V"íd.  Ombreira  da 
porta. 

—  Os  umbraes  .(''(  imn-te ;  a  hora  da 
morte. 

—  Figurada  e  poeticamente:  A  porta. 


UNAN 


UNDE 


UNGU 


857 


—  Os  celestes  umbraes  ;  a  entrada  dos 
cens,   as    portas  d'elles. 

UMBRÃO,  s.  m.  Titulo  de  nobreza  ou 
gran^leza  no  Mogol. 

UMBRATICO,  A,  aâj.  Phantastico,  chi- 
merico,  que  se  passa  em  sonho  e  figura, 
e  n5o  em  realidade. 

DMBRATIL,  a'/j.  2gen.  (Do  latim  um- 
bratilis).  —  Umbratil  sentido;  quasi  al- 
legorico,  figurativo,  assombrado,  escu- 
ro; sem  brio. 

UMBREIRA,  s.  /.  Vid.  Ombreira. 

—  A.lj.  —  Peça  umbreira;  peça  que 
sustém  a  verga  da  porta. 

UMBRELLA,  s.  f.  Vid.  Umbella. 

—  Termo  de  botânica.  Disposição  das 
flores  á  feição  de  umbella,  em  forma  de 
chapéu  de  sol. 

DMBRELLADAS,  s.  /.  plur.  Termo  de 
botânica.  Familia  de  plantas  dicotyledo- 
neas,  polypetalas,  de  estanies  epigvnos, 
de  que  ha  varias  espécies  empregadas  na 
medicina.  Vi-i.  Umbelliferas. 

DMBRELLADO,  A,  a<y.  Termo  de  bo- 
tânica. Que  tem  umbrella.  Vid.  Umbella. 

UMBELLIFERAS,  *.  /.  plur.  Vid.  Um- 
brelladas. 

UMBRIA,  *.  /.  A  parte  do  monte,  que 
está  da  parte  da  sombra  ou  do  poente. 
Vid.  Humbria. 

UMBRIFERO,  A,  adj.  (Do  latim  ttm- 
hrifer).  Termo  de  poesia.  Que  faz  som- 
bra, umbroso.  —  Bosque  umbrifero. 

UMBRO,  s.  m.  Cão  de  caçar  veados. 

UMBROSO,  A,  adj.  (Do  latim  luiibro- 
sus).  Termo  de  poesia.  Diz-se  do  logar 
onde  existe  sombra,  assombrado,  que  pro- 
duz sombra. 

UMBU,  «.  m.  Termo  de  botânica.  Plan- 
ta fructifera,  que  produz  umas  como 
ameixas  verdoengas,  agridoces. 

UMÍDÁDE,   s.  /.  Vid.  Humidade. 

UMILDADE,  s.  f.  ViJ.  Humildade. 

UNA.  Termo  usado  na  locução  :  A  la 
una;  a  um  tempo,  a  compasso.  — -  Todos 
lançavi  os  pés  a  la  UHa. 

UNANIMAR,  v.  a.  Fazer  conformes  em 
o  mesmo  aaimo,  parecer,  resolução. 

— -  Unanimar-se,  v.  refl.  Tornar-se  una- 
nime a  outros,  ou  com  outros,  ou  entre 
si;  conformar-se  no  animo,  opinião,  von- 
tade. 

UNANIME,  adj.  2  gen.  (Do  latim  una- 
nimus,  de  unus,  e  animus).  Que  tem  o 
mesmo  sentimento.  —  Todos  estão  una- 
nimes  neste  ponto. 

—  Figuradamente  :  Que  é  de  um  com- 
mum  accordo,  fallando  das  cousas.  — 
Juízo  unanime. 

—  Unanimes  em  Deus ;  conformes  por 
seu  amor. 

—  Conforme  comsigo  mesmo. 
UNANIMEMENTE,  adv.    (De  unanime, 

e  o  suffiso  «mente»).  De  um  modo  una- 
nime. 

—  De  uma  voz  commum,  de  um  com- 
mum  sentimento.  —  Votaram  unanime- 
mente a  proposição. 

TOL.   T.  — 108. 


—  Com  egual  parecer. 
UNANIMIDADE,  s.  f.  (Do  latim  unani- 

viitas,  de  itnanimus).  Conformidade  de 
sentimento,  de  opinião.  —  Entre  a  una- 
nimidade e  a  egualdade  das  vozes  ha 
divisões   deseguaes. 

—  Figuradamente :  A  unanimidade  das 
sensações  é  uma  prova  do  destino  geral 
dos  sentidos  para  excitar  no  espirito  os 
eflPeitos  que  n'ella  produzem. 

UNÇÃO,  ou  UNCÇÃO,  s.  f.  (Do  latim 
unctio).  A  acção  de  ungir. 

— •  A  unção  da  coroa,  e  da  tiara;  a 
que  se  faz  a  alguns  reis,  aos  papas. 

—  A  extrema-viução ;  sacramento  da 
egreja  que  se  administra  aos  fieis  em 
perigo  de  morte,  ungir  'o  com  óleo  cer- 
tas partes  do  corpo,  e  dizendo  orações 
apropriadas. 

—  Figuradamente :  A  unção  da  co- 
roa, «  da  tiara;  a  eleição  ou  dignidade 
reeia,  ou  pontifícia. 

I  UNCIFORME,  adj.  2  gen.  (Do  latim 
uncits,  e  forma).  Termo  didáctico.  Que 
tem  a  forma  da  um  gancho. 

—  Osso  unciforme  ;  a  quarta  parte  da 
segunria  classe  do  carpo. 

UNCINADO,  A,  adj.  Termo  didáctico. 
Que  termina  em  gancho,  ou  por  ganchos. 

—  Curvo,  recurvado  como  as  unhas 
das  aves  de  rapina. 

UNCINARIA,  s.  f.  Termo  de  historia 
natural.  r4enero  de  vermes,  que  se  criam 
nos  intestinos  dos  animaes :  encontram- 
se  nos  teixugos,  raposas,  ctc. 

UNGIROSTRO,  A,  adj.  Termo  de  zoo- 
logia. Quo  tem  o  bico  adunco,  retorcido. 

—  S.  m.  plur.  Familia  de  pássaros 
que  tem  pernas  mui  compridas. 

DNCTAR,  V.  a.  Vid.  Untar. 

UKCTO,    5.  m.  Vid.   Unto. 

UNCTORIO,  s.  m.  (Do  latim  uucforiíis). 
Logar  nos  banhos,  onde,  depois  de  sua- 
rem, costumavam  os  antigos  untar-se  de 
unguentos. 

UNCTUOSIDADE,  s. /.  Caracter  do  que 
é  unctuoso. 

—  Termo  de  mineralogia.  Propriedade 
de  apresentar  uma  superfície  gorda  ou 
unctuosa. 

UNCTUOSO,  A,  adj.  (Do  latim  unctuo- 
sus).  Que  tem  unto,  gorduroso. 
■ — -Que  se  assimilha  a  unto. 

—  Substancias  unctuosas.  — Agua  un- 
ctuosa. 

UNDAÇÃO,  s.  f.  Talvez  inundação,  des- 
aguamento,  ou  correnteza  dos  rios. 

UNDANTE,  adj.  2  g>:n.  Que  faz  on- 
das. 

—  Que  fluctua,  e  vae  frouxo. 

— •  Plumas  undantes  ;  plumas  ondean- 
tes. 

—  Tremolante,  que  faz  ondas. 

—  Fifruradamente  :  Muito    abundante. 
UNDE.  Termo  antiquado,  por  Onde. 
UNDECAGONO,   s.   m.   (Do  grego   ende- 

ka,  e  gunia).  Termo  de  geometria.  Fi- 
gura de  onze  lados,  ou  ângulos. 


UNDECEMVIRO,  s.  m.  Magistrado,  um 
dos  onze  juizes  na  cidade  de  Athenas. 

UNDÉCIMO,  A,  adj.  (Do  latim  undeci- 
mus).  Que  está  entre  o  decimo  e  o  duo- 
uecimo. 

UNDECUPLO,  A,  adj.  Onde  vezes  do- 
brado. 

UNDICOLA,  s.  2  gen.  (Do  latim  undi- 
cola).  Termo  de  poesia.  Habitante  das 
agua?. 

UNDIFLAVO,  A,  adj.  Termo  de  poesia. 
De  ondas  louras,   cor  de  ouro. 

UNDISONO,  A,  adj.  (Do  latim  undiso- 
nus).  Que  resôa  com  o  vaguear  das  on- 
das. 

UNDIVAGO,  A,  adj.  Termo  de  poesia. 
Que  vaga  pelas  ondas,  pelo  mar. 

7  UNDINA,  s.  ,/'.  Planeta  telescópico 
descoberto  em  1866  por  Peters. 

UNDOSO,  A,  adj.  (Do  latim  und.osus). 
Que  tem  ondas.  —  O  mar  undoso. 

—  Que  faz  ondas.  —  O  oceano  undo- 
so. Vi  i.  Undante,   e  Ondado. 

UNDULAÇÃO,  s.  f.  (Do  latim  unda). 
Vil!.  Undulação. 

UNDULATORIO,  A,  adj.  De  undula- 
ção. —  Movimento  undulatorio. 

UNDULOSO,  A,  adj.  Termo  de  poesia. 
Undoso,  que  faz  ondas. 

UNGIDO,  part.  pass.  de  Ungir.  Unta- 
do com  óleo  ou  unguentos  por  medicina 
para  amaciar,  para  tapar  os  poros. 

—  Figuradamente  :  Eloquência  mavio- 
sa e  ungida  da  divina  graça, 

—  Substantivamente  :  Homem  que  re- 
cebeu o  sacramento  da  extrema-unçlío. 

—  Os  ungidos  do  Senhor;  os  reis,  os 
sacerdotes. 

UNGIR,  V.  a.  (Do  latim  ungere).  Un- 
tar com  óleo,  ou  unguentos  por  medici- 
na, para  amaciar,  para  tapar  os  poros; 
por  perfume;  ou  dando  a  santa  unção, 
ou  fazendo  cruzes  com  óleos  santos  aos 
reis,  bii5pos,  etc. 

—  Figuradamente  :  Dar  poder,  dar  di- 
gnidade. 

—  Ungir  um  rei;  fazer  rei. 

—  Ungir-se,  v.  rejl.  —  Os  athletas  cos- 
tumavam ungir-se  para  luctar. 

j  UNGUEAL,  adj.  2  gen.  (Do  latim 
unguis).  Termo  de  anatomia.  Que  per- 
tence ás  unhas. 

—  Phalunges  ungueaes  ;  as  ultimas  pha- 
langes  dos  dedos  dos  pés;  aquellas  que 
tem  unhas. 

—  Madre  ungueal ;  nome  dado  vulgar- 
mente ao  sulco  ou  seno  cutâneo  em  que 
estão  implantadas  a  extremidade  poste- 
rior da  unha,  e  uma  parte  de  suas  bor- 
das   lateraes. 

UNGUENTACEO,  A,  adj.  Termo  de  pbar- 
macia.  Concernente  a  unguento. 

UNGUENTARIA,  s.  /.  Officina  onde  se 
preparam  urgueiiíos. 

—  Loja  onde  se  vendem  os  unguentos, 

—  C"llecção  de  unguentos. 
UNGUENTARIO,  A,   adj.  Que  diz  res- 
peito a  unguentos. 


858 


UNHA 


UNIA 


UNIC 


—  J^njaa  unguentarias ;  lojas  do  per- 
fumadores,  baiilias,  óleos,  e  outros  aro- 
mas que  n'ell,i.s  su  vendem. 

—  Priiça  unguentaria ;  praya  ondo  Be 
vendiam  os  uiigiionto.s  |>ara  perfumar. 

—  Hciencia  unguentaria ;  scioncia  dos 
perfumadores. 

—  Offictaes  unguentarias  ;  oíTiciaes  por- 
fumadore*. 

1.)  UNGUENTO,  s.  m.  (Do  latim  nn- 
guentum).  Aroma  oleoso  de  unf^ir. 

—  Figuradamente:  Unguento  de  cari- 
dade, de  coiilfição,   de   minericurdia. 

2.)  UNGUENTO,  s.  m.  (Do  latim  un- 
guenttnn).  Termo  de  pharmacia.  Jledica- 
mento  feito  de  oloo,  ou  matéria  unctuosa, 
para  unirir,  com  diversos  intentos. 

j  UNGUIFERO,  A,  adj.  (Do  latim  un- 
guis.  e  ferre).  Termo  do  zoologia.  Que 
tem  unlia. 

UNGUINOSO,  A,  adj.  (Do  latim  ungui- 
710SUS).  Termo  de  anatomia.  Unctuoso. 

—  Capsulas  unguinosas ;  as  bolsas  sy- 
noviaes. 

—  Oleoso,  abundante  de  óleo. 

UNGUIS,  í.  »i.  Osso  laerymal,  peque- 
no o^so  comparado  também  a  uma  unha 
por  causa  da  sua  firma,  collocado  na 
parte  posterior  e  interior  da  orbita,  e 
concorrendo  para  a  formaçSo  da  goteira 
lacrvmnl,  do  canal  nasal. 

UNGULA,  s.  /■.  (Do  latim  ungida).  Vid. 
Unha. 

—  Ungula  caòalHna  ;  uma  herva  offi- 
ciiial. 

—  Unha  no  olho. 

UNGULADO,  A,  adj.  Que  tem  unha 
como  o  boi,  o  oavallo,  e  outros  animaes, 
que  as  possuem. 

UNHA,  s.  f.  Substancia  córnea,  que 
cobre  a  parte  superior  da  extremidade 
dos  dedos  das  mãos,  e  pés  do  homem. 

—  Fugir  a  unhas  de  cavaUo;  fugir  a 
toda  a  pressa. 

-    —  Loc. :    Ser    unha   e  carne   com   al- 
guém; ser  muito  sca  intimo  e  do  seu  seio. 

—  Untar  as  unhas ;  peitar,  dar,  cor- 
romper. 

—  Unha  de  asno,  de  cavallo;  hervas 
officinaes.  Vid.  Ungula. 

—  Loc.  POP. :  Metter  a  unha ;  levar 
mais  do  que  é  direito  e  justo  nos  impos- 
tos, custas,  no  que  se  furta,  comprando 
para  outrem,  e  dando-lh'o  mais  caro,  etc. 

—  Substancia  córnea  dos  dedos  e  dos 
pés  de  certos  animaes,  com  varias  fei- 
ções, inteiriça,  solida  ou  fendida;  faltan- 
do do  cavallo,  dizem-se  os  cascos. 

—  Termo  do  anatomia.  Unha  no  olho; 
excrescência  membranosa  no  canto  do 
olho. 

—  Loc.  POP. :  Estar  na  unha ;  diz-se 
da  cousa  possuída,  da  cousa  obtida. 

—  Loc. :  Levar  alguma  cousa  nas 
unhas;  preal-a  como  as  feras. 

—  Poilaço  da  videira,  que  vae  pegado 
ao  bacello  no  pó,  quando  se  rasga,  ou 
desgalha  d'elle. 


—  Presunto, 

—  Fazer  as  unhas  ;  aparaUas. 

—  Loc.  FIO. :  Levar  alguma  cousa  na» 
unhas ;  tomar  por  armas,  em  guerra,  de 
força. 

—  (larra  maior  ou  menor  da»  feras, 
onças,  tigres,  gatoM,  etc. 

—  Termo  de  alveitaria.  Callo  que  se 
fi>rma  nas  mataduras  das  bestas. 

—  Loc.  POP. :  Ter  unha  na  palma  da 
mão;  ser  ladrào. 

—  Unha  de  gran  beata.  Vid.  Alce. 

—  Unha  de  ancora;  o  dente  que  ferra 
no  fundo  do  mar ;  do  arpeu,  do  croque, 
etc. 

—  Estocadas  de  unhas  a  baixo;  esto- 
cadas com  a  palma  da  milo  voltada  para 
o  chSo,  ao  contrario  de  quando  ellas  sâo 
de  unhas  a  riba. 

—  Loc. :  Não  se  apartar  uma  unha  da 
verdade;  nito  discrepar  d'ella. 

—  Unhas,  ou  tenazes  dos  caranguejos; 
unha  com  quu  agarram  (e  talvez  cortam 
serrando  outros  insectos),  o  pé  grosso  com 
dous  ganchos,  um  d'elle3  movediço,  entro 
os  quaes  afterra  as  cousas,  e  com  ellea  se 
defende  dos  caranguejoiros. 

—  ^1  nuha ;  diz-se  iallando  d'aquellcs 
que,  n'uma  tourada,  se  agarram  ao  tou- 
ro, collocando-se  em  frente  d'elle,  espe- 
rando-o  para  multas  vezes  soffrerem  as 
suas  ferocidades.  —  Agarrar  o  touro  d 
unha. 

—  A  unhas;  a  todo  o  trabalho. 

—  Comer  d  unha;  diz-se  quando  se 
lança  mào  da  comida  com  os  dedos;  em 
opjKisIçrio  a  comer  com  o  talher. 

UNHADA,  s.  f.  Golpe,  ou  risca  com  a 
unha. 

—  Dar  unhadas  na  obra  de  um  auctor ; 
critical-o,  ccnsural-o. 

UNHAGATA,  s.  /.  Vid.  Restaboi,  e 
Onouis. 

UNHAMENTO,  s.  m.  O  trabalho  de 
unhar  o  bacello. 

■ —  O  logar  por  ondo  se  unha. 

UNHAR,  r.  «.—Unhar  o  bacello  (na  cul- 
tura da  vinha,  depois  de  o  lançar  na  co- 
va) ;  é  puxar  pela  ponta  da  vara  para 
cima,  e  dous  palmos  abaixo,  fiizer  uma 
covinha  mais  baixa,  e  lançar-lhe  terra,  e 
calcar  nella  a  vara,  para  que  ahi  lance 
raizes,  c  se  faça  outra  videira. 

—  Unhar  o  rosto;  carpil-o,  arrancar 
com  as  unhas. 

—  Ferir  com  as  unhas.  —  Unhar  al- 
guém para  nos  vitigarmos  do  acto  que 
se  nos  fez. 

UNHEIRO,  s.  m.  Apostema  na  raiz  da 
unha. 

UNIÃO,  í.  /.  (Do  latim  unio).  Reuni.^o 
de  duas  ou  mais  cousas  n"uma  só.  —  A 
união  de  dous  domínios.  —  ^l  união  (/<; 
dous  cargos. 

—  Termo  de  theologia.  União  hypo- 
statica :  a  uniTio  do  Verbo  Divino  com  a 
natureza  humana  em  uma  s»)  pessoa. 

—  .luucçào  de  duas  ou  mais  cousas. — 


A  uniSo  d^  certas  palavra»,   de  determi- 
nados termos. 

—  Fazer  união ;  fazer  acto  de  adhe- 
sHo. 

—  Termo  ciou  mysticos.  União  essencial 
com  ./<■*«#  Chrinto ;  aquella  em  que  elle 
se  uniu  á  essência  da  Divindade.  —  Dnião 
pessoal;  aquella  em  que  elle  se  uniu  á 
pessoa  do  Filho  de  Deus. 

—  Termo  de  grammatica.  Risco  de 
união.  Vid.  Risco. 

—  Absolutamente:  Casamento. —  A 
união  conjugal. 

—  A  copula  carnal,  fallando  dos  ani- 
maes. —  A  união  dos  animaes  de  espé- 
cies differenfes. 

—  Figuradamente:  Boa  intelligencia, 
ligaçilo.  —  A  união  rtina  na  minha  fa- 
mília. 

—  Espirito  de  união ;  espirito  de  con- 
córdia, de  paz. 

—  Tratado  pelo  qual  muitas  potencias 
se  unem,  e  se  confederam. 

—  Absolutamente  :  A  União ;  os  Esta- 
ilos-Unidos  da  America.  —  Presidente  da 
União. 

—  Uniformidade.  —  União  de  vontade». 

—  Ajuntamento  em  um  corpo. 

t  UNIARTICULADO,  A,  adj.  Que  tem 
uma  unii/a  ,irticulaç.^o. 

UNICAMENTE,  adv.  (De  «nico,  e  o  suf- 
fixo  «mente»).  Exclusivamente  a  todo  c 
qualquer. 

—  De  um  modo  imico,  acima  de  tudo, 
preferível  a  tudo. 

—  De  um  modo  excellente. 

—  S'imente,  singularmente. 

UNICANTE,  adj.  2  gen.    Termo  de  bo- 
tânica.  Planta  unicante ;   arbusto  de  um        ■ 
só  talo,  não  dividido  em  outros.  * 

f  UNICAP3ULAR,  adj.  2  gen.  Diz-se 
do  frncto  que  consta  de  uma  só  capsula. 

f  UNICAULE,  adj.  2  gen.  Termo  de 
botânica.  Diz-se  da  planta  que  tem  só 
uma  liaste. 

-}•  UNICEILULAR,  adj.  2  gen.  Que  é 
formado  de  uma  só  cellula. 

—  Diz-se  dos  animaes  e  vegetaes  cuja 
organisação  offerece  um  tal  grau  de  sim- 
plicidade, que  não  são  representados  ou 
cnstituidos  senão  por  um  único  elemento 
anatómico  análogo  aos  que  pertencem  ao 
grupo  das  cellulas. 

—  ,1  tkci^ria  nnicellular  dos  infusa 
rio» ;  theoria  que  considera  os  infusorios 
como  uma  cellula,  e  reduz  a  uma  só  di- 
visão todos  03  phenomenos  de  reproduc- 
ção. 

7  UNICHR0I5M0,  5.  m.  Termo  de  mi- 
neralogia. l'ro]'riedade  de  certos  mineraes 
de  dar  sempre  a  mesma  côr,  qualquer  que 
seja  o  sentido  em  que  os  raios  luminosos 
os  atravessem. 

f  UNICHROITA.  adj.  2  gen.  Termo  di- 
dáctico. Quo  offerece  o  unichroismo. 

UNICIDADE,  s.  f.  Termo  didáctico. 
Qualidade  do  que  é  único. — Unicidade 
do  foco  óptico  que  forma  o  crystaUifw.  — 


UNID 


UííIF 


USIJ 


859 


Unicidade  ã'e.v£mple.  —  Unicidade  que 
excltie  a  pluralidade. 

j-  UNICISKO,  s.  m.  Termo  de  medici- 
na: Doutrina  do  unicismo ;  doutrina  em 
que  se  ailmitte  que  todos  os  accidentes 
até  ao  pra?ente  deícriptos  como  syphiliti- 
cos  são  produzidos  pela  inoculação  de  um 
virus  único. 

ÚNICO,  A,  adj.  (Do  latim  unicus,  de 
unus\.  Que  é  um,  que  nào  ha  outro. 

—  Termo  da  Escriptura.  O  único  ne- 
cessário; o  negocio  da  salvação. 

—  Termo  de  alchimia.  O  único  per- 
feito ;  o  mercúrio  dos  phiiosophos. 

—  Termo  de  numismática.  Medalhas 
únicas ;  medalhas  que  nào  se  encontram 
mesmo  nos  gabinetes  os  mais  ricos  e  que 
somente  se  encontram  por  acaso. 

—  Figuralamente  :  Que  é  infinitamen- 
te  superior   aos    outros,  ao  qual  nenhum 

-pôde  ser  comparado. 

—  Diz-se  de  certas  cousas,  ás  quaes 
nenhuma  outra  pôde  ser  comparada. — 
Unia  gentileza  única. 

—  Particular,  ou  especial. 

—  Syx.  :  Único,  só,  singular. 

Uma  cousa  é  única,  quando  não  ha 
outra  cousa  de  sua  mesma  espécie.  Um 
objecto  é  só,  quando  nào  está  acompa- 
nhado de  outros.  O  que  é  singular  re- 
presenta o  individuo  d'uma  espécie  como 
único  e  só,  sem  relação  aos  demais  indi- 
víduos. 

Um  filho  de  família  que  nào  tem  ir- 
mãos, nem  irmãs,  é  único.  Um  homem 
abandonado  de  todos,  e  retirado  do  trato 
do  mundo,  é  ou  está  só.  A  phenix,  se 
existisse,  seria  singular  entre  as  aves. 

f  UNICOLOR,  adj.  2  gen.  (Do  latim 
.unicolorus,  de  unus,  e  color).  Que  é  de 
uma  só  côr.  —  A  abel/ui  unicolor. 

—  Figuradamente:  Que  é  de  uma  só 
cCr  politica. 

UNICORNE,  s.  m.  (Do  latim  unicornis, 
de  unus,  e  cornu).  Animal  fabuloso  que 
tinha  um  só  corno. 

—  Espécie  de  rhinoceronte. 

—  Uma  pedra  mineral. 

f  UNICOTYLEDONEO,  A,  adj.  Termo 
de  botânica.  Que  tem  um  único  cotyte- 
don. 

UNIDADE,  s.  /.  (Do  latim  unitas). 
Principio  do  numero. 

—  Quantidade  tomada  arbitrariamente 
para  servir  de  termo  de  comparação  a 
outras  quantidades  da  mesma  espécie.  — 
Unidade  de  volume,  de  peso,  de  força, 
de  calor,  etc. 

—  Termo  de  phvsica  e  de  chimica. 
Diz-se  das  moléculas,  átomos  ou  equiva- 
lentes dos  corpos. 

—  Qualidade  do  que  é  um,  sem  partes, 
em  opposiçào  á  pluralidade. 

—  O  que  forma  um  todo  completo  na 
sua  espécie,  como  um  cavallo,  uma  casa, 
um  homem. 

—  O  que  firma  o  caracter  de  união. 
—  Não  ha  unidade  na  sua  conducta. 


■ —  Termo  de  litteratura  dramática.  As 
três  unidades ;  a  regra  que  estabelece 
que  nào  haja  senão  uma  acção  n'uma 
peça,  que  esta  acção  se  passe  no  mesmo 
logar,  e  que  não  dure  mais  de  um  dia  :  a 
unidade  d'acçào,  quando  no  poema  dra- 
mático nào  ha  senão  uma  acção  princi- 
pal; a  unidade  do  logar,  quando  a  acção 
se  passe  no  mesmo  logar,  na  mesma  casa, 
e  proximidade;  e  a  unidade  de  tempo, 
quando  a  acçào  se  passe  no  espaço  de 
vinte  e  quatro  horas. 

—  Termo  de  anatomia.  Unidade  de 
composição,  ou  de  plano:  principio  anató- 
mico estabelecido  por  inducção  com  o  au- 
xilio do  methodo  compai-ativo,  que  con- 
siste em  que  os  animaes  e  vegetaes  os 
mais  differentes  por  suas  fóniias,  volume, 
côr,  etc,  são  reductiveis  pela  analyse 
anatómica  a  um  tvpo  único  e  commum 
de  composição  orgânica. 

—  Unidade  da  matéria;  hypothese  se- 
gundo a  qual  nào  existiria  senão  uma 
substancia  de  que  todos  os  corpos  não 
são  senão  modificações. 

—  Termo  de  pathologia.  Unidade  mór- 
bida; conjuncto  de  lesões  e  de  sympto- 
mas  correspondentes,  que  coexistindo  ou 
succedendo-se  n'uma  ordem  determinada 
pouco  mais  ou  menos  sempre  o  mesmo, 
n'um  ser  vivo,  offerecem  relações  de  simi- 
Ihança  e  de  successão  sufficientes,  de  um 
individua  a  outro,  para  merecer  ser  con- 
sideradas como  um  todo  pelo  pathologis- 
ta,  e  para  receber  um  nome  em  relação 
com  sua  natureza. 

—  O  ser,  o  estar  só. 

—  Concórdia  de  vontades. 
UNIDAMENTE,  adv.  (De  unido,   com  o 

suffixo  «mente»).  Com  união. 

—  Com  conformidade. 

UNIDO,  pai-t.  pass.  de  Unir.  Junto. — 
A  alma  unida  a  um  corpo. 

—  Estad os-JJniàos;  grande  republica 
na  America  septemptrional . 

—  Em  que  reina  a  união,  a  concórdia. 

—  Sem  desegualdades. 

—  Que  nào  tem  ornato  algum. 

—  Uniforme,  sem  variedade.  —  Uma 
conducta  unida. 

—  Sem  perturbação. 

—  Ordinário,  que  nada  tem  de  notá- 
vel. 

—  Figuradamente:   Confederado. 

—  Que  vive  em  estreita  amizade. 
UNIFLORO,   A,  adj.  (Do  latim  uiius,   e 

fos).    Termo  de  botânica.    Que  tem  uma 
&ó  flor. 

—  Casulo  unifloro;  onde  se  inclue  so- 
mente um  tlosculo,  como  o  milho,  etc. 

j  UNIFOLIO,  A,  adj.  (Do  latim  unus, 
e  folium  ■.  Termo  de  botânica.  Que  tem 
uma  só  folha. 

—  Diz-se  das  folhas  compostas  cujo 
peciolo  não  tem  senão  um  foliolo.  —  A  la- 
ranjeira unifolia. 

UNIFORMAR,  v.  a.  Termo  em  uso.  Dar 
uma  fúrma  similhante  a  varias  cousas. 


—  Dar  uma  firma  egual,  análoga  em 
todas  as  suas  partes. 

1.)  UNIFORME,  adj.  2  gen.  (Do  latim 
unifoi-mis,  de  unus,  e  fonna).  Que  tem  a 
mesma  forma,  onde  se  não  descobre  al- 
guma variedade,  em  que  todas  as  partes 
se  assimilham  entre  si.  —  Uma  planicit 
uniforme. 

—  Esfylõ  uniforme ;  estylo  a  cujas  miu- 
dezas, tom,  e  movimento  faltam  varie- 
dades. 

—  Termo  de  mecânica.  O  movimento 
dum  ponto  é  uniforme  quando  este  pon- 
to percorre,  no  seu  trajecto,  espaços 
eguaes  em  tempos  eguaes,  quaesquer  que 
sejam  estes  tempos. 

—  Termo  de  mineralogia.  Estructura 
uniforme;  estructura  folhada d'nma  rocha, 
quando  as  folhas  são  todas  da  mesma  na- 
tureza. 

—  Tei-mo  de  botânica.  Calathide  uni- 
forme; aquella  em  que  as  flores  são  to- 
das da  mesma  forma. 

—  Egual,  similhante,  fallando  das  cou- 
sas que  se  comparam. 

—  Habito  uniforme ;  habito  feito  se- 
gundo o  modelo  prescripto  a  um  corpo 
militar,  a  uma  pensão,  a  um  coUegio. 

—  O  movimento  uniforme  de  dous  cor- 
pos; que  em  tempos  eguaes  percorrem 
espaços  eauaes. 

2.)  UNIFORME,  s.  m.  Vestido  d'uma 
côr  e  de  uma  forma  particulares,  pelo 
qual  se  distinguem  todos  os  homens  per- 
tencentes a  um  mesmo  corpo,  e  a  um 
mesmo  posto  n'e?se  corpo. 

UNIFORMEMEIíTE,  adv.  (De  uniforme, 
com  o  suffixo  it  mente  n).  De  um  modo 
uniforme.  —  Todos  os  habitantes  d' esta 
cidade  se  vestem  uniformemente. 

—  Termo  de  mecânica.  Movimento  uni- 
formemente variado;  diz-se  aquelle  em 
que  a  velocidade  varia  proporcionalmen- 
te ao  tempo :  uniformemente  accelerado, 
se  a  velocidade  vae  augmentando ;  uni- 
formemente retardado,  se  vae  diminuindo. 

UNIFORMIDADE,  s.  f.  (Do  latim  uni- 
formitas,  de  uniformis).  Similhança  das 
partes  d'uma  cousa,  ou  de  muitas  cousas 
entre  si. 

—  A  qualidade  do  que  é  uniforme, 
conforme  comsigo. 

—  Invariabilidade  nos  sentimentos,  e 
no  proceder  conforme  a  elles. 

t  UNIFORMISAÇÃO,  s.  /.  Acto  de  uni- 
formisar,  de  tornar  uniforme. 

f  UNIFORMISADO,  part.  pass.  de  Uni- 
formisar. 

UNIFORMISAR,  v.  a.  Tomar  uniforme. 

—  Dar  ás  cousas  a  mesma  forma,  de 
modo  que  fiquem,  ou  possam  dizer-se  uni- 
formes. 

UNIGÉNITO,  adj.  —  Filho  unigénito; 
filho  único,  que  se  teve. 

—  Por  antonomásia :  Jesus  Christo,  o 
Unigénito  de  Deus  Padre. 

UNIJUGADAS,  adj.  f.  plur.  Termo  de 
botânica.  Folhas  unijugadas;  folhas  com- 


860 


UNIP 


postas,  cujo  peciolo  nilT  tem  senilo  um 
único  par  do  foliolos  collocado  no  seu 
vórtice. 

f  UNILABIADO,  A,  adj.  Tonno  de  bo- 
tânica. Que  iiào  tein  soiiSo  um  uuico  lá- 
bio. 

UNILATERAL,  adj.  2  (jen.  (Do  latim 
uiius,  c  laterin).  Termo  do  historia  natu- 
ral. Que  é  disposto  d'ura  só  lado.  —  As 
Jlôres  em  algumas  borrayinetis  são  unila- 
teraes. 

—  Termo  do  jurisprudência.  Contra- 
ctos unilateraes;  aquolles  em  que  uma  ou 
mais  pessoas  sào  obrigadas  para  com  as 
outras,  som  que  haja  empenho  da  parte 
d'e~tes  últimos;  diz-ae  om  opposiçào  a 
bilateral. 

—  Termo  didáctico.  Que  se  inclina, 
propende  para  um  si)  lado. 

1  UNILATERALMENTE,  ndv.  (De  uni- 
lateral, ci>m  o  suíTixo  «mente»).  De  um 
modo  unilateral. 

f  UNILINGUA,  adj.  2  gen.  (Do  latim 
ttnus,  e  lingaa).  Que  estil  em  uma  só  liu- 
giia. —  'lextos  unilingues. — Descripçdes 
unilinguas. 

-j-  UNILOBADO,  A,  adj.  Termo  didácti- 
co. Quo  tem  um  só  lóbulo.  —  Antheva 
unilobada. 

I  UKILOCULAR,  adj.  2  gen.  (Do  la- 
tim uiius,  e  loculus).  Termo  de  historia 
natural.  Que  tem  um  só  loculo,  ou  ca- 
vidade; cuja  cavidade  interior  não  está 
dividida  por  alfiunia  separação  completa. 
—  Piricarpo  unilocular. 

f  UNIMIXTO,  A,  adj.  Termo  de  mine- 
ralogia. Diz-ic  d'um  crvstal  produzido 
em  virtude   de  duas  divisões. 

-{-  UNINERVEO,  adj.  Termo  de  botânica. 
Que  não  apresenta  senSo  uma  única  ner- 
vura. 

UNIÔA,  s.  /.  Termo  de  historia  natu- 
ral. MoUusco  acephalo. 

—  A  uniôa  das  praias. 

•j-  UNIPARO,  A,  adj.  (Do  latim  unus, 
e  2-'«''«''f)'  Termo  de  physiologia.  Diz-se 
dos  animaes,  que,  normalmente,  dão  um 
filho  de  cada  barrigada. 

UNIPESSOAL,  adj.  2  gen.  Termo  de 
grannnatica.  Diz-se  dos  verbos  que  só  tem 
uma  pessoa,  e  que  se  chamam  de  ordiná- 
rio impessoaus.  *)-  granimaticos  modernos 
preferem  unipessoal  para  designar  os  ver- 
bos que  se  empregam  Siimente  nas  ter- 
ceiras pessoas  do  singular. 

I  UNIPESSOALMENTE,  adv.  ,(De  uni- 
pessoal, e  o  suffixo  «mente»).  A  manei- 
ra de  verbo  impessoal. 

f  UNIPETALO,  A,  adj.  Termo  de  botâ- 
nica. Que  tem  uma  pétala  só.  —  Corolla 
unipetala. 

UNIPOLAR,  adj.  2  gen.  Termo  de  physi- 
ca.  Que  tem  um  só  polo. 

—  Diz-so  dos  fios  d'uma  pilha,  que  não 
conduzem  senão  uma  única  electricidade, 
por  provirem  de  cada  uma  das  extremi- 
dades ou  Ídolos  da  pilha. 

-}-  UNIPONTUADO,   A,  adj.  Quo  não  c 


UNIT 

marcado    senão    com    um  b(j   ponto    colo- 
rido. 

UNIR,  V.  a.  (Do  latim  unire,  de  unut). 
Fazer  um  hi>,  tornar  um  «ó. 

—  Juntar  ao  mesmo  tumjto. 

—  Fazer  quo  pojsoas  se  reunam.  —  A 
virtude  que  nos  separa  sobre  a  U^rra,  nos 
unirá  diípois  na  morada  ettrna. 

—  Estabelecer  uma  commuiiicaçno  en- 
tre.—  Um  rio  une  estas  duas  cidade». 

—  i^ussuir  siumltaneamente.  —  Este  ho- 
mem une  o  espirito  ao  saòar. 

—  l-'igura' lamentei;  F-.tabelei'er  um  la- 
ço entre  jjesíoas. — Nunca  irmãos  se  uni- 
ram  por  laços  nem  tão  doces  item  tão  po- 
tentes. —  TeiJiO  uma  ternura  de  coração 
para  com  a^uelles  que  Deus  uniu  mais  es- 
treitamente. 

—  Figuradamente  :  Procurar  a  coucor- 
(iia,  alliança. —  E  um  interesse  commum 
que  os  uue. 

—  Unir-se,  v.  rejl.  Tornar-se  um  só. 

—  Figuradamente :  Formar  laços  com 
alguém. 

—  Consolidar-se. 

—  Combiuar-se. 

—  Ter  copula  carnal,  fallando  dos  ani- 
maes. 

—  Ajuntar-se  om  tropa  para  algum 
fim,  e  talvez  para  algum  acto  de  rebel- 
liào,  ou  tumulto. 

—  Associur-se,  alliar-se. 

—  Syx.:  Um",  o/u/iíar.  Vid.  este  ulti- 
mo termo. 

f  UNIREFRA..VGENTE,  adj.  2  gen.  (De 
uni,  e  refraugentej.  Termo  de  óptica. 
Que  produz  uma  uuica  retracção.  —  Meio 
imirefraugeute. 

UNISEXUAL,  adj.  2  gen.  (De  uni,  e 
sexuaij.  Termo  de  botânica.  Que  nào  tem 
senão  um  só  sexo,  ou  cujas  tiores  nào 
tem  seuào  um  só  sexo. 

—  Diz-so  das  iiox-es,  das  plantas  que 
não  se  reúnem  pelos  dous  sexos,  teudo 
somente  ou  estames,  ou  pistillos. 

—  Paixão  unisexual ;  diz-se,  na  escola 
societária,  àa  amizade. 

UNISONANCIA,  s.  f.  Concorrência  de 
duas  ou  mais  vozes  em  um  tom  de  musica. 

—  Conformidade,  harmonia  de  diver- 
sas cousas. 

—  Monotonia,  ou  som  não  variado. 
UNISONANTE,    adj.   2   gen.   Vid.  Uni- 

souo. 

UNISONO,  A,  adj.  (Do  latim  unus,  e 
soHus).  Que  tem  o  mesmo  som  que  outra 
voz,  termo,  palavra. 

—  Figuradamente:  Egual,  similhanto, 
da  mesma  condição. 

—  Figuradamente:  Que  conforma  com 
outro  no  mesmo  tom. 

UNIáONUS.  Vid.  Unisono. 

UNISPIGADO,  A,  adj.  Termo  de  botâ- 
nica. Que  tem  uma  só  espiga. 

UNISSIMO,  A,  adj.  superl.  do  Um,  ou 
Único.   Muito  s>'i,  e  único. 

UNITÁRIO,  A,  alj.  Que  tende  á  uni- 
dade. 


UOTV 

—  Termo  do  mineralogia.  Cuja  forma 
resulta  de  um  bó  decrescimcnto  por  uma 
classe. 

—  Termo  de  chimica.  íiysiana  oníta- 
rio ;  HVHtema  opposto  á  tlieoria  dualintica 
do  Bcculo  ultimo,  e  em  que  os  compoa- 
tos  BC  c^aaicleram  como  con8tituid0'i  por 
grupos  d'atomos  que  une  entre  si  o  laço 
d'affiiiidade,  e  que  formam  um  todo. 

—  Termo  de  biologia.  Diz-se  dos  seroe 
que  apresentam  os  cariíctere»  de  unidade. 

—  Animaes  unitários;  os  vertebradas, 
os  molluscoK  e  os  infuiorios. 

—  Termo  de  teratol<);ria.  Monstros  uni- 
tários ;  a  primeira  classe  da  classificação 
de  Isidoro  Santo  Hilário,  coraprehenden- 
do  todos  08  monstros,  nos  quaes  nSo  se 
enco,:tram  os  elementos  sen&o  d'um  úni- 
co individuo. 

—  tí.  m.  Aquelle  que  admitte  um  bvs- 
tema  theologico,  em  que  a  unidade  do- 
mina.—  Doutrinas  unitárias.  —  A  here- 
sia unitária. 

UNITARIANISMO,  a.  m.  Doutrina  dos 
unitário.-'. 

UNITIVO,  A,  adj.  Que  faz  unir. 

—  F*a  unitiva,  Vid.  Via. 

—  Termo  de  anatomia.  Fibras  uniti- 
vas do  coração;  fibras  que  unem  os  fas- 
ciculos  musculares  tendo  uma  direcção 
dada  com  aquellas  que  teem  uma  direc- 
ção contraria. 

—  Termo  de  devoção.  Que  une  pelo 
puro  amor.  —  Todo  o  amor  é  essencial- 
mente unitivo. 

UNIVALVE,  adj.  2  gen.  Termo  de  his- 
toria natural.  Diz-se  dos  muUuscos  cuja 
concha  se  compõe  d'uma  só  peç^a. 

—  Termo  de  botânica.  Diz-se  de  um 
pericarpo  que  siimeute  se  abre  d'um  lado. 

—  Substantivamente :   Um  anivalve. 
UNIVERSAL,  adj.  2  gen.  (Do  latim  uni- 

versalis).  Que  se  estende  a  tudo,  que  se 
estende  por  toda  a  parte. 

—  Sujfragio  universal ;  direito  de  vo- 
tar nas  eleições  concedido  a  todo  o  cida- 
dão de  uma  certa  edade. 

—  Concilio  uuiversal;  diz-se  algumas 
vezes  por  concilio  ecumenio. 

—  Bispo  tuúversal ;  nome  que  se  dá  ao 
papa. 

—  Jubileu  universal ;  jubileu  concedi- 
do a  toda  a  Egreja. 

—  Termo  de  theologia.  Graça  univer- 
sal ;  diz-se,  entre  os  reformados,  da  graça 
derramada  em  todos  os  homens  pelo  sa- 
crificio  de  Jesus  Christo. 

—  Que  tem  capacidade  para  toda  e 
qualquer  cousa. 

—  Este  homem  é  universal ;  tem  uma 
g^rande  copia  de  conhecimentos.  Diz-se  do 
mesmo  modo  :  óciencia  imiversal. 

—  Termo  de  lógica.  Que  comprehende 
tudo,  que  tem  o  caracter  da  generalida- 
de abstracta. 

—  Em  universal;  sem  excepçio  de 
pessoa . 

—  lá.  m.  Termo  de   escolástica.  NoçSo 


UNIV 


UNS 


URAN 


861 


que  abrange  a  todos  os  indivíduos  de  uma 
espécie,  ou  género. 

—  Syn.  :  Universal,  geral.  Vid.  este 
ultiniõ  termo. 

UNIVERSALIDADE,  s.  f.  (Do  latim  uni- 
versalitas,  de  universaUs).  Caracter  do 
que  é  universal,  geral. 

—  Caracter  do  que  se  estende  a  iam 
conjuncto  de  logares,  de  temjjos,  de  seres. 

—  Termo  de  jurisprudência.  Totali- 
dade. —  A  universalidade  dos  bens. 

—  AptidSo  para  tudo;  capacidade  uid- 
versal . 

—  Termo  de  lógica.  Qualida<le  d'uma 
proposiçiío  universal.  —  E'  verdade  que 
suas  idéas  são  simples,  extensas  e  vastas; 
partem  em  primeiro  logar  d'uma  grande 
universalidade  que  é  como  o  tronco,  e  em 
seguida  se  dividem,  e  subdividem,  e, 
para  assim  dizer,  se  ramificam  até  ao  in- 
finito. 

f  UNIVERSALISMO,  s.  m.  Opinião  dos 
universaliístas. 

UNIVERSALIS3IM0,  A,  aJj.  superl.  de 
Universal. 

f  UNIVERSALISTA,  s.  m.  Membro  de 
uma  seita  chamada  também  latitudina- 
ria,  crendo  que  os  homens  se  salvam, 
quaesquer  que  sejam  as  suas  opiniões 
religiosas. 

UNIVERSALIZAR,  ou  UNIVERSALI3AR, 
V.  a.  Turnur  universal;  espalhar  pelo 
universo. 

—  Derramar  por  todas  as  classes. 

UNIVERSALMENTE,  adv.  (De  univer- 
sal, e  o  suffiso  «mente»).  De  um  modo 
universal. 

—  Em  lógica,  comprehendendo  ura  gé- 
nero, uma  classe,  ou  outra  qualquer 
cousa. 

UNIVERSIDADE,  s.  f.  (Do  latim  uni- 
versitas,  de  universus).  Oatr'ora  corpo 
de  mestres,  estabelecido  por  auctoridade 
publica,  gozando  de  grandes  privilégios, 
e  tendo  por  objecto  o  ensino  da  theolo- 
gia,  do  direito,  da  medicina,  e  das  sete 
artes,  que  são :  a  grammatica,  a  rheto- 
rica,  a  dialéctica,  a  arithmetica,  a  geo- 
metria, a  musica,  e  a  astronomia.  —  As 
universidades  de  Pisa,  de  Coimbra,  de 
Salamanca.  — ■  Hoje  que  tudo  está  cheio 
de  collegios,  de  universidades,  de  aca- 
demias, de  mestres  particulares,  de  li- 
vros, que  são  mestres  ainda  mais  segu- 
ros, que  necessidade  ha  de  sair  da  pátria 
para  estudar  em  qualquer  género  que 
seja  ■? 

—  A  universidade ;  os  discípulos  da 
universidade,   os  estudantes. 

—  Em  geral,  as  escolas. 

—  A  totalidade  das  cousas,  o  universo. 

—  A  totalidade  de  membros  d'algum 
concelho,  collegio,  confiaria. 

—  Figuradamente  :  A  universidade  do 
mundo;  a  conversação,  e  trato  com  as 
nações,  seus  sábios,  e  tudo  o  que  é  litte- 
rato,  artificial  e  mechanicos  de  que  elle 
consta. 


1.)  UNIVERSO,  s.  VI.  (Do  latim  ttuí- 
versus).  O  systema  illimitado  de  plane- 
tas, de  cometas,  de  satellites,  de  soes, 
de  estrellas  disseminados  no  espaço,  svs- 
tema  que  parece  gyrar  em  volta  do  nós. 

—  i^articularmente  :  O  systema  solar, 
com  seus  planetas  e  satellites,  chamado 
também  mundo,  quando  se  oppõe  o  mun- 
do a  universo. 

—  A  reunião  de  todos  os  entes  crea- 
dos. 

—  Espaço  immenso,  onde  não  ha  de- 
serto algum. 

—  Os  habitantes  da  terra. 

—  A  sociedade,  no  seio  da  qual  se  vi- 
ve; o  unindo. 

—  Figuradamente  :  Domínio  material, 
intellectual  ou  moral,  comparado  ao  uni- 
verso. 

—  Syn.  :  Universo,  mundo.  Vid.  este 
ultimo  termo. 

2.)  UNIVERSO,  A,  adj.  (Do  latim  uni- 
versus). Universal,  todo,  inteiro.  —  O 
mundo  universo. 

UNIVOCAÇÃO,  s.  f.  (Do  latim  univo- 
catio,  de  unívocas).  Termo  de  escolásti- 
ca. Caracter  do  que  é  unívoco. 

UNIVOCAMENTE,  adv.  (De  unívoco, 
e  o  sufExo  «mente»).  Com  nome  unívo- 
co, com  cansa  unívoca. 

UNÍVOCO,  A,  adj.  (Do  latim  univo- 
cus).  Turmo  de  escolástica.  Diz-se  dos 
nomes  que  se  applicam  a  muitas  cousas, 
quer  da  mesma  espécie,  quer  de  espécie 
aitfereiite,  porém  do  mesmo  género,  co- 
mo animal,  homem,  etc.  —  Animal  é  um 
termo  unívoco  ao  leão  e   á  águia. 

—  Que  não  é  susceptível  senão  de  uma 
só  interpretação. 

—  Que  é  da  mesma  natureza.  —  E' 
assim  que  se  diz  que  a  sympathía  e  an- 
tipathia  dos  corpos  naturaes  são  as  cau- 
sas sufficientes  e  unívocas  de  muitos  ef- 
feitos. 

—  Termo  de  grammatica.  Diz-se  das 
palavras  que  tem  o  mesmo  som,  ainda 
que  tenham  significação  diversa, 

—  Uniforme,  totalmente  parecido. 

—  Synonymo. 

UNO,  A,  adj.  (Do  latim  iinus).  Termo 
de  theologia.  Um,  único,  de  uma  sub- 
stancia e  ser. —  Trinu  e  uno  em  2Jessoas. 

UNOCULO,  A,  adj.  (Do  latim  unocu- 
liis).  Que  tem  um  só  olho. 

f  UNONA,  s.  f.  Termo  de  botânica. 
Género  da  família  das  anonaceas,  de  que 
ha  varias  espécies. 

UNS,  plur.  de  Um.  Vid.  Um.  —  «Es- 
tes soem  ser  uns  mal-estreados  parentes- 
cos. Certo  que  já  me  puz  a  philosophar 
comigo  somente,  sobre  a  causa  d'esta 
desavença;  e  outra  não  posso  achar,  sal- 
vo aquella  que  em  outra  diâerente  cau- 
■sa  deu  o  mestre  dos  políticos,  dizendo  ; 
Que  aos  grandes  eram  agradáveis  as 
obrigações,  em  quanto  as  pociíam  pagar; 
mas  como  cresciam  mais,  ainda  em  vez 
de  amor  causavam  ódio.»    D.   Francisco 


Manoel  de  Mello,  Carta  de  guia  de   ca- 
sados. 

UNTADO,   part.  pass.  de  Untar. 

—  Figuradamente :  Cidade  untada  da 
lei  de  Mafamede. 

UNTADOR,   A,   adj.  e  s.  Que  unta. 

UNTADURA,  s.  /.  Vid.  Untura,  e  Un- 
ção. 

UNTAR,  V.  a.  Applicar  esfregando. — 
Untar  o  corpo  com  Jricçves. 

—  Figuradamente :  Untar  o  carro,  ou 
as  'mãos;  dar  peita  para  apressar  a  con- 
clusão do  negocio,  ou  corromper. 

UNTO,  s.  7rt.  A  gordura  dos  rins,  ou 
entranhas  do  porco. 

—  Caldo  de  imto ;  caldo  temperado 
com  elle,  derretido  em  agua  e  sal. 

—  Pomada  com  que  as  mulheres  co- 
ram as  faces. 

UNTOSO,   A,   adj.  Vid.  Unctuoso. 
UNTURA,  s.  /.  Unção  com  óleo. 

—  Fricção  com  unguent^j  medicinal. 

—  Unguento,  ou  óleo  aromático  para 
ungir. 

UPA.  Interjeição  que  serve  para  ani- 
mar a  pular,  saltar,  etc. 

UPADO.  Vid.  Opado. 

UPAS,  s.  m.  Snbstancia  venenosa  de 
que  os  habitantes  das  ilhas  da  Sonda  se 
servem  para  envenenar  suas  frechas,  e 
cuja  menor  quantidade  basta  para  matar 
ínimeiiiatamente.  Vid.  Ipo. 

UPOS,  s.  m.  plur.  Ofíjciaes  de  justi- 
ça da  China. 

UQUER,  adv.  Termo  antiquado.  Onde 
quer  que. 

URA,  s.  /.  Termo  de  historia  natural. 
Crustáceo  dos  mares  do  Brazil,  do  géne- 
ro dos  caranguejos. 

URACA,  s.  /.■  Termo  da  Ásia.  Vinho 
feito  de  agua  dos  cachos  da  palmeira  dis- 
tillados.  Vid.  Sura. 

URAGÃO,  s.   m.  Vid.  Furacão. 

URACO,  s.  m.  (Do  grego  ourakos).  Ter- 
mo de  anatomia.  Um  dos  quatro  vasos 
umbilicaes,  pelo  qual  o  feto  lança  a  uri- 
na, ou  por  onde  sáe  a  urina  da  bexiga. 

t  URAGOGA,  s.  f.  Termo  de  botâni- 
ca. Nome  especifico  d'uma  planta,  a  yw- 
ha  dei  meravedi,  dos  hespanhoes  ameri- 
canos. 

t  URANETO,  s.  m.  Termo  de  chimica. 
Sal  produzido  pela  combinação  do  oxydo 
uranico  com  uma  base. 

7  URANIA,  í.  /.  Uma  das  nove  mu- 
sas ;  a  que  preside  á  astronomia. 

—  Planeta  telescópico  descoberto  em 
1854. 

—  Genei-o  de  borboletas  diurnas. 

f  URANICO,  adj.  m.  Termo  de  chimi- 
ca. Diz-se  do  segundo  oxydo  d 'urânio  e 
dos  saes  que  produz. 

URANICO-CALCICO,  adj.  n.  Termo  de 
chimica.  Diz-se  de  um  sal  uranico  com- 
binado com  um  sal  cálcico.  Diz-se  do 
mesmo  modo  uranico-cuvrico. 

f  URANIDES,  s.  m.  plur.  Família  de 
mineraes  derivados  do  urânio. 


862 


URBA 


URET 


URGE 


URÂNIO,  «.  in.  Tuniio  du  chiniica.  Cor- 
po RÍiii])lcM  mutallico  extraliido  do  uraiio. 

URANITO,  s.  711.  Phoflpliato  <lo  urânio 
natural . 

URANO,  s.  «I.  Termo  de  ohimica.  Com- 
posto do  uraiio  e  de  oxyfceneo ;  corpo 
considerado  muito  teinpo  como  corpo  sim- 
ples, in.is  ((uc  fui  ilecompiiato  cm   1841. 

URANOGRAPHIA,  s.  ,/'.  DescripçHio  do 
ceu. 

f  URANOGRAPHICO,  A,  adj.  Que  per- 
tence :i  nraiiw,iíia]>iiia. 

f  URANOGRAPHO,  s.  m.  Homem  que 
faz  uma  dc.-icrl}ii;ã()  do  céo. 

—  Titulo  de  muitas  obras  d'astronomia. 

—  Auetiir  d'uma  uraiio<;;raphia. 
URANOLOGIA,   s.  /.  (De  oarunos,  o  lo- 

gos).   Discurso  sobre  o  cén. 

URANGMETRIA,  s.  /.  (Do  grego  oura- 
nos,  tí  weíroií).  A  sciencia  dos  astrónomos 
que  medem  o  ceu. 

URANOPLASTIA,  s.  f.  Termo  de  ci- 
rur^'ia.  (Jjjcrai,'ào  que  tem  por  fim  curar 
as  aljerturas  cungeuitaes  do  paladar. 

URANORAMA,  s.  m.  (Do  gr.ígo  oura- 
nos,  e  Iviraina).  Vista  do  c^'u;  exposição 
do  svstoma  planetário,  com  o  auxilio  de 
um  globo  movei. 

URANOSCOPIO,  s.  m.  (Do  latim  ura- 
noscupus).  i'eixo  do  mar,  que  tem  os 
olhos  em  cima  da  testa,  e  virados  para  o 
ceií. 

f  URAN0STE3PLASTIA,  s.  /.  Termo 
de  cirui-gi;i.  <'i>eraeão  ])ola  qual  se  pro- 
duz a  occlusão  das  perfurações  do  paladar 
por  approximaçào  dos  ossos  da  abobada 
palatina. 

URATO,  s.  m.  Termo  de  chiniica.  No- 
mo genérico  dos  saes  formados  pela  com- 
binaçílo  do  acido  úrico  com  as  bases.  — 
Urato  (Vammoniaco. 

—  Estrume  composto  d'uma  mistura 
de  urina,  e  ile  terra. 

URBANAMENTE,  mlv.  (De  urbano,  e 
o  suffixo  umente»").  Com  urbani  lade,  cor- 
tezmente. 

— -  Dl'  uma  maneira  urbana. 

URBANIDADE,  s.  /'.  (Do  latim  urbani- 
tas,  dtí  urbanus).  A  politica  dos  antigos 
romanos. 

—  A  cortezia,  e  bom  termo,  os  esty- 
los  da  gente  civilisada  e  polida ;  civilida- 
de, policia. 

URBANISTA,  adj.  c  s.  2  gen.  Morador 
de  cidade,  cidadão. 

t  URBANISTAS,  s.  /.  Religiosas  de 
Santa  Clara,  que  podem  possuir  feudos, 
assim  chamadas  porque  o  jiapa  Urbano 
VIU  lhes  deu  sua  r(ii,'i'a. 

URBANIZAR,  ou  URBANISAR,  v.  a. 
Tornar  urbano,   civilisar. 

URBANO,  A,  alj.  (Do  latim  urbanus, 
de  urbs).  Que  diz  respeito  á  cidade,  que 
pertence  a  ella;  em  opposição  a  rural. 
—  Guarda  urbaua. 

—  Dotado  de  urbaiúdade. 

—  /S.  III.  Habitiuite  d'uuia  cidade ;  cm 
opposição  a  aldeão,  villão,    agresU. 


URCA,  s.  /.  E.iiliarcação  de  combol 
nas  armadas,  espécie  de  barco  grande,  c 
muito  largo.  Viil.  Urco. 

URCHILIA,  ou  URCHILLA,  «.  »».  Côr 
roxa,  ou  de  violeta,  cxtrahida  de  varias 
planta». 

URCHO,  «.  "1.  Hatoquc,  rolha,  tudo  o 
que  Kcrvc  para  tapar. 

URCO,  s.  7».  Cavallo  de  raça  mui 
grande;  frisão. 

—  O  urco  das  cubas;  a  rolha. 
URDIMAÇAS,  ou  URDIMALAS,  adj.  inv. 

Ordidor  de  maldades,  c  iii.ls  obras. 

URDIDOR,  .1.  wi.  Vid.  Ordidor. 

URDIR.  Vid.  Ordir. 

URDUME,  s.  VI.  Vid.  Ordume. 

UREA,  s.  /.  (Do  grego  ourou).  Termo 
de  cliiniica.  Substancia  jiarticular  que  se 
encontra  na  urina  do  homem,  sendo  ella 
um  dos  princípios  immediatos. 

-}-  UREMIA,  s.  /.  Termo  de  medicina. 
Accumuiaçào  de  urea  no  sangue. 

UREMICO,  A,  adj.  Que  diz  respeito  á 
urcnúa. 

URETERALGIA,  *./.  Tormo  de  medici- 
na. Dôr  no  tr.ajccto  dos  ureteres. 

URETERES,  s.  m.  plur.  (Do  grego  ou- 
rettr).  Termo  de  anatomia.  Canal  mem- 
branoso destinado  a  conduzir  a  urina  dos 
rins  para  a  bexiga. 

I  URETERICO,  A,  adj.  Que  diz  res- 
peito aos  ureteres.  —  hchuria  ureterica. 

-j-  URETERITE,  s.  f.  Termo  de  medi- 
cina, lirianimaçrio  dos  ureteres. 

URETERO,  A,  adj.  Da  uretra,  ou  con- 
cernente á  uretra.  Vid.  Urethrai. 

t  URETEROLITHIASE,  s.  /.  Formação 
de  cálculos  nos  ureteres. 

URETERAL,  adj.  2  gen.  Que  diz  res- 
peito {i  uretiira.  —  £a;crcsce)iCí"a  urethrai. 

f  URETHRALGIA,  s.  /.  Termo  de  me- 
dicina. Dôr  na  uretrha  sem  phenomenos 
inihimmaturios. 

f  URETHRITE,  s.  /.  Termo  de  medi- 
cina. Inflammação  da  urethra,  blennor- 
rhagia. 

f  URETHROCYSTOTOMIA,  s.f.  Termo 
de  cirurgia.  OperaçTio  que  consiste  em 
dividir  o  canal  da  urethra  para  penetrar 
até  á  bexiaa. 

f  URETHROPENIANO,  A,  adj.  Que  diz 
respeito  á  urethra  e  ao  peuis. 

—  Fistula  urethropeniana;  fistula  uri- 
naria cujo  oriticio  externo  se  abre  na  par- 
te anterior  do  escroto,  ao  longo  do  penis. 

f  URETHROPERINEAL,  adj.  2  gen. 
Termo  de  anatomia.  Que  diz  respeito  á 
urethra  e  ao  perinco. 

—  Fistula  urethroperineal ;  fistula 
urinaria,  cujo  oriticio  exterior  se  abre 
no  perineo,  por  detraz  do  escroto,  e  o 
orificio  interior,  tendo  a  sua  sede  n'uma 
parte  da  mucosa  urethrai,  na  sua  parte 
membranosa  em  geral. 

-;-  URETHROPHRAXIA,  .«.  /.  Termo  de 
ciruraia.  OhstnK-kjMn  ila  uretlu-a. 

f  URETHROPLASTIA,  s.  /.  Termo  de 
cirurgia.  Operaçilo  que  tem  por   fim  se- 


parar uma  perda  de  substancia  experi- 
mentada pida  untlira. 

f  URETHRORRHAGIA,  i.  /.  Termo  do 
cirurgia.   I  b-ni<..TÍja;rla  da  urethra. 

f  URETHRORRHAPHIA,  ».  /.  Termo 
de  cirurgia.  .Sutura  pratica<ia  ua  urethra 
fendida. 

I  URETHRORRHEA,  *.  /.  Termo  de 
cirurgia.   Kscoainento  pela  urethra. 

f  URETHROSCOPIA,  s.  f.  Exame  da 
urethra  por  meio  do  urethroscopio. 

t  URETHROSCOPIO,  ».  m.  Termo  de  ci- 
rurgia. ln.strnmeiito  imaginado  para  exa- 
minar o  interior  da  urethra. 

t  URETHROSCROTAL,  adj.  2  gen.  Ter- 
mo de  anatomia.  Que  diz  respeito  á  ure- 
thra e  ao  escroto. 

—  Fistula  urethroscrotal ;  fistula  uri- 
naria, cujo  oriticio  externo  tem  a  sede 
sobre  um  ponto  da  supertície  do  escroto, 
c  o  interno  [jartindo  do  canal  da  urethra. 

URETHROSPASMO,  *.  m.  íDo  grego 
ourêthra,  e  spasmai.  Termo  de  patholo- 
gia.  Espasmo  da  urethi-a. 

I  URETHROSTENIA,  s.  f.  Termo  de 
cirurgia.  Apcrt'i  da  urethra. 

j-  URETHROTOMIA,  s.  f.  Incisão  da 
urethra. 

—  Urethrotomia  externa ;  operação  que 
consiste  em  uma  incisão  de  fora  para  o 
interior  do  canal  da  urethra. 

I  URETHROTOMO,  s.  m.  Termo  de  ci- 
rur^ria.  Instrumento  que  ícrve  para  cor- 
tar a  urethra. 

URETICO,  A,  adj.  Termo  de  medicina. 
Vid.  Diurético. 

URETO.  Desinência  de  muitas  compo- 
sições ehimicas,  ou  de  vocábulos  Cí)mjK)S- 
tos,  que  exprimem  estas  composições  con- 
forme a  n<imenclatura  chimica.  Quando 
um  metal  com  um  metalloide,  ou  dous 
mctailoides  se  combinam,  o  nome  do 
composto  ô  formado  do  nome  do  elemen- 
to negativo  terminado  cm  nreto,  e  se- 
guido do  nome  do  jiositivo  precclido  da 
proposição  de;  como  íuZ/vAureto  <le  cobre, 
cariureto,  ^Aos/j/iureto,  etc. 

URETRA,  ou  URETHRA,  s.f.  (Do  gre- 
go otirithra).  Termo  do  anatomia.  Canal 
excrctor  da  urina  nos  dous  sexos. 

URGA,   .•!.  f.  Herva. 

URGEBÃO,"  ou  URGEVÃO,  .«.  m.  Vid. 
Verbena. 

URGÊNCIA,  s.  /.  (Do  latim  urgeniia). 
Qualidade  do  que  é  urgente.  —  Um  caso 
f/urgencia.  —  A  urgência  ílas  circum- 
stancias.  —  Urgência  <los  negócios. 

—  Aperto,  pressa,  que  faz  força  ao 
animo. 

URGENTE,  adj.  2  gen.  (Do  latim  ur- 
gem, de  urgere).  Que  não  ofiierece  ne- 
nhuma demora. 

—  Que  aperta,  que  faz  força  ao  animo. 

—  Necessidade  urgente ;  necessidade  á 
qual  é  mií^ter  acudir  com  pres.sa. 

—  Negocio  urgente;  r.ogocio  que  dere 
tratar-se,  discutir-se,  coucluir-se  depres- 

I  sa  e  logo. 


URIN 


UROP 


ÚRSU 


863 


—  Oppressor. 
URGENTEMENTE,  adv.  (De  urgente,  e 

o  suffixo  (I mente»).  De  nm  modo  urgente. 

—  Com  ]ires?a,  com  urgência. 
urgentíssimo,  a,  a<lj.  superl.  de  Ur- 
gente.  Mui  urgente. 

URGIR,  V.  a.  Q  n.  (Do  latim  urgere). 
Apertar  com  alguém,  fazer  força  ao  ani- 
mo. 

—  Dar  pressa,  requerer,  diligenciar, 
exigir  discussão.  — Urgirem  os  negócios. 

—  O  tempo  urge ;  o  tempo  aperta,  é 
mister  aproveital-o. 

ÚRICO,  A,  adj.  Termo  de  chimlca. 
Dizse  de  um  acido  produzido  pela  com- 
binação da  urea  com  o  oxygeneo;  e 
constituo  a  parte  branca  dos  excremen- 
tos das  aves,  e  de  muitos  reptis. 

URINA,  ou  OURINA,  s.  /.  (Do  latim 
urina).  Liquido  excrementicio  segregado 
pelos  rins,  d'onde  corre  pelos  ureteres 
para  a  bexiga,  que,  depois  de  o  ter  con- 
servado em  deposito  durante  algum  tem- 
po, o  tira  para  fora  pela  urethra  contra- 
hindo-se.  — Siipjjressão  (í'urina.  — Reten- 
ção cZ^urina.  —  A  urina  dos  cavaUos  não 
contém  acido  j^hosphorico   nenhum. 

—  Urinas  ardentes ;  urinas  vermelhas, 
cuja  coloração  é  talvez  devida  ao  acido 
rosacico. 

—  Essência  cZ'urina;  sal  ammoniacal, 
que  se  cxtrahia  outr'ora  da  urina. 

—  Medico  das  urinas  ;  medico  que  pre- 
tende, pela  inspecção  da  urina,  conhecer 
as  doenças.  Vid.  Ourina. 

URINAR,  V,  n.  Evacuar  a  urina,  fal- 
lando  sobretudo  dos  doentes. 

—  V.  a.  Lançar  pela  urethra. 

URINÁRIO,  A^  ndj.  Termo  de  anato- 
mia e  de  medicina.  Que  diz  respeito  á 
urina.  —  Calculo  urinário. 

—  Meato  urinário ;  o  orifício  da  ure- 
thra. 

—  Fistulas  urinarias  ;  fistulas  que  dei- 
xam escoar  a  urina,  distinctas  em  vesi- 
caes  e  urethraes. 

—  Vias  urinarias  ;  conjuncto  dos  ca- 
naes  e  cavidades  destinadas  a  transmit- 
tir  ou  a  conter  urina,  desde  o  momento 
em  que  se  faz  a  secreção  d'este  liquido 
até  á  sua  eliminação  definitiva. 

f  URINIFERO,  'a,  adj.  (De  urina,  e 
ferre).  Termo  de  anatomia.  Que  traz  uri- 
na. —  Omnes  uriniferos. 

f  URINIPARO,  A,  adj.  (Do  latim  «í-í- 
na,  e  parere).  Termo  de  anatomia.  Que 
produz  urina. 

—  Tubos  uriniparos ;  tubos  que  produ- 
zem urina,  ou  tubos  da  substancia  corti- 
cal do  rim. 

URINOL,  s.  7)1.  Logar  disposto  para 
urinar  nas  ruas,  ou  logares  públicos. 

—  Vaso  era  que  os  doentes  podem  uri- 
nar commodamente. 

—  Vaso  em  que  se  urina ;  e  moderna- 
mente espécie  de  cantoneira  nas  esquinas 
das  ruas  para  o  mesmo  fim. 

URINOSO,  A,  adj.  (De  urina,  e  o  suf- 


fixo «oso»).  Qne  diz  respeito  á  urina. — 
Abscesso  urinoso.  —  (Jheiro  urinoso. 

—  Que  tem    cheiro,   e  sabor  de  urina. 
URNA,  s.  f.  (Do  latim  urna).   Nos  an- 
tigos, grande  vaso  de  esgotar  agua. 

—  Vaso  que  servia  para  conter  as  cin- 
zas dos  mortos,  as  lagrimas  dos  que  os 
choravam. 

—  Vaso  com  que  se  representam  os 
rios  entornando  d'elle  as  aguas. 

—  Vaso  d'onde  se  tiravam,  e  tiram  as 
sortes  ao  votar,  ou  eleger. 

—  Diz-se  da  caixa  em  que  se  recolhem 
os  votos.  —  A  urna  eleitoral. 

URNARIO,   A,   adj.  Em  forma  de  urna. 

—  tí.  m.  Termo  de  botânica.  Corpo 
globoso  que  contém  as  semente»  de  al- 
guns fungos. 

URO,  s.  wí.  Espécie  de  boi  bravo,  que 
alguns  entendem  ser  o  bufaro. 

"f  UROBENZOATO,  s.  m.  Termo  de 
chlmica.  Nome  antigo  dos  hyppuvatos. 

UROCHEZIA,  s.  /.  (Do  grego  ourôn,  e 
chezò).  Termo  de  pathologia.  Diarrhea 
urifera. 

X  UROCHROMO,  s.  m.  Matéria  coloran- 
te  da  urina. 

f  UROCRISIA,  s.  /.  Termo  de  medici- 
na. Juizo  que  se  faz  segundo  a  inspecção 
das  urinas. 

f  UROCYANINA,  s.  /.  Termo  de  chimi- 
ca.  Principio  immediato  real,  accideutal, 
da  urina. 

f  UROCYSTITE,  s.  f.  Termo  de  me- 
dicina. Intlammação  da  bexiga  urina- 
ria. 

f  URODELO,  adj.  Termo  de  zoologia. 
Que  tem  mna  cauda  muito  apparente. 

f  URODYNIA,  s.  /.  Termo  de  medici- 
na. Sentimento  de  dor  que  se  experi- 
menta urinando. 

•]-  UROGASTRO,  s.  m.  Cauda  d'um  ca- 
ranguejo, e  ontros  crustáceos  decapodos. 

f  UROGENITAL,  adj.  2  gen.  Termo  de 
anatomia.  Que  diz  respeito  ao  apparelho 
urinário  e  ao  apparelho  genital. 

f  UROLITHO,  s.  m.  Termo  de  medici- 
na. Pe  Ira  urinaria  nos  rins. 

f  UROMANCIA,  s.  f.  Arte  de  aiiivi- 
nhar  as  doenças  pela  inspecção  das  uri- 
nas. 

f  UROMANCIO,  s.  m.  Homem  que  põe 
em  pratica  a  uromancia. 

t  UROMELO,  s.  m.  Termo  de  terato- 
logia.  'Monstros  que  tem  os  dons  mem- 
bros abdominaes  mui  incompletos,  termi- 
nados por  um  pé  simples,  quasi  sempre 
imperfeito,  e  cuja  ponta  está  virada  para 
diante. 

f  UROMETRO,  s.  m.  (Do  grego  ourôn, 
e  metron).  Areometro  disposto  a  dar  a 
densidade  da  urina. 

f  UROPHTHISIA,  í.  /.  Termo  de  me- 
dicina. Um  dos  antigos  nomes  da  diabe- 
tes. 

UROPIGIO,  s.  m.  (Do  latim  uropygium). 
O  sobrecu,  ou  bispo  das  aves. 

f  UROPLANIA,  s.  f.  Termo  de  medi- 


cina. Transporte  da  urina  em  qualquer 
parte  do  corpo  onde  sua  presença  é  anó- 
mala. 

UROPODE,  adj.  2  gen.  (Do  grego  atira, 
e  jjous,  i^odos).  Que  anda  ajudado  com  o 
rabo. 

—  íSi  plur.  Termo  de  historia  natu- 
ral. Familia  de  pássaros  palmipédes. 

f  UROPOESE,  s.  /.  Termo  de  physi- 
ca.  ProJucçào  da  urina. 

t  UROPOETICO,  A,  adj.  Que  diz  res- 
peito á  producção  da  urina,  concernente 
á  uropoese. 

-j-  UROPYGIAL,  adj.  2  gen.  Que  diz 
respeito  ao  uropygio.  —  As  pennas  uro- 
pygiaes. 

—  Glândula  uropygial ;  glândula  se- 
bacea  do  sobrecu  das  aves. 

—  Pennas  uropygiaes  ;  pennas  inseri- 
das no  sobrecu,  as  quaes  cobrem  a  base 
das  grandes  pennas  da  cauda. 

URORRHAGIA,  s.  f.  (Do  grego  oiirôn, 
e  rheô).  Termo  de  pathologia.  Fluxo  de 
urina,  diabetes. 

■\  UROSCOPIA,  s.  f.  Inspecção  das  uri- 
nas. 

f  UP.OSCOPICO,  A,  adj.  Que  diz  res- 
peito á  uroscopia. 

f  UROSPERMO,  s.  m.  Termo  de  botâ- 
nica. C4enero  do  svnanthereas,  em  que  se 
distingue  o  urospermo  pieroide. 

f  ÚROXANTHINA,  s.  /.  Termo  de  chi- 
mica.  Matéria  colorante  da  urina. 

URRACA,  s.  f.  Vid.  Orraca. 

—  Termo  antiquado.  Ave,  pega. 
URRAR,  V.  n.  Bramir.  —  Urra  o  leão, 

o  hibo,  etc. 

URRO,  s.  m.  O  bramido,  ou  voz  forte 
de  qualquer  animal  feroz.  —  O  urro  do 
touro,  do  leão,   do  lobo,    etc. 

i  URROS ACINO,  A,  adj.  Termo  de 
chimica.  Substancia  orgânica  que  se  dis- 
solve n'uma  pequena  quantidade  d'agua, 
e  essencialmente  caracterisada  por  sua 
côr,  que  varia  de  côr  de  rosa  á  vermelha 
amaranta  tirante  a  negro. 

URSA,  «.  /.  (Do  latim  ursa).  A  fêmea 
do  urso. 

—  Termo  de  astronomia.  A  ursa  maior, 
e  menor  ;  duas  constellações  boreaes  :  dá- 
se-lhe  também  o  nome  de  carro  maior  e 
menor,  e  a  este  chamam  outros  cynosiira, 
e  n'ella  estão  as  guardas  do  norte,  que 
são  duas  estrellas. 

URSINO,  A,  adj.  (Do  latim  ursinus). 
De  urso. 

—  Herva  ursina  ;  herva  gigante. 
URSO,   s.  m.   (Do  latim  ursus).  Termo 

de  zoologia.  Animal  quadrúpede,  pellu- 
do,  de  grandes  unhas  rombas ;  é  de  na- 
tureza feroz.   Vid.  Usso. 

URSULINAS,  s.  f.  j)lur.  Religiosas  que 
tiram  o  seu  nome  de  Santa  Úrsula,  e  que 
são  obrigadas,  por  seus  estatutos,  a  cui- 
dar da  instrucção  das  donzellas ;  seguem 
a  regra  de  Santo  Agostinho.  —  E  uma 
ursulina. 

—  Toma-se     também    pelo     convento 


864 


URZ 


USAR 


USO 


onde  habitam  ostas  religiosas.  —  Vamos 
ás  ursulinas. 

f  URTICINA,  í.  /.  Termo  do  chimi- 
ca.  Matcria  coloraiite  vormollia  dad  HUiii- 
II)idad^í^  da  (irtlfía. 

URTICIO,  ou  ORTICIO,  A,  a//.  Da  iia- 
tur(!/,;i  lia  iirti^ra. 

URTIGA.   Vil.  Ortiga. 

URTIlíAÇAO,  ou  ORTIGAÇÃO,  «.  /. 
Arte  de  ortipir. 

—  Termo  do  modicina.  Espeeio  do  ila- 
gcllação  que  .so  pratica  com  aa  ortigas 
fresca.s  para  proluzir  uma  excitação  lo- 
cal. 

f  URTIGANTE,  firt.  acl.  do  Urtigar. 
Dlz-S6  lio  tu  lo  o  quo  produz  uuia  soii.síi- 
çã  I  atialoga  á  pica  ia  das  ortigas,  com  ele- 
vações ou  3001  ollas,  análogas  ás  da  doen- 
ça chamada  urtigurin.  —  Os  animacs  ur- 
tigantes  mariniioí  são  alguns  actiuios,  e 
muitiii'  acalephos. 

URTIGAR,  ou  ORTIGAR,  v.  a.  Açou- 
tar com  urtigas. 

—  Urtigar-se,  v.  reji.  Picar-se  com 
urtigas. 

f  DRTIGARIA,  s.  f.  Termo  do  medi- 
cina, lutlauimaçrio  oxanthematosa  cara- 
cterisada  por  nódoas  proeminentes,  mais 
amarellas,  ou  mais  vermelhas  (pie  a  pelle 
que  as  envolve,  raras  vozes  persistentes, 
reproduzindo-se  por  acceaso,  ou  aggra- 
vaudo-se  por  paroxysraos,  e  produzindo 
um  prurito  similhante  ao  que  produzem 
as  picadas  da  ortiga. 

URUBU,  s.  m.  Corvo  grande,  negro, 
com  ar  de  peru,  que  se  mantém  de  ca- 
dáveres de  bois,  cavallos,  cubras  mortas, 
que  divisa,  ou  cheira  de  mui  alto;  ó  ave 
do  Brazil,  tem  a  cabeça  pellada;  dizem 
que  existe  um  branco,  rarissimo,  a  que 
dão  o  nome  ilo  rei  dos  urubus. 
URUGÚ,  .í.  m.  Vid.  Urucueira. 
URUCUEIRA,  s.  /.,  ou  URUGJ,  s.  m. 
Termo  de  botânica.  Nome  de  uma  arvo- 
re rosácea  da  Amorica,  conhecila  pelos 
francezes  pelo  nome  de  rocoui/er :  da  sua 
semente  se  prepara  por  trituração  uma 
fécula  ou  massa  encarnada,  chamada  uru- 
cú,  que  tem  uso  na  tinturaria. 
URUÇÚ.  Vid.  Oruçu. 
URUMBEBA,  s.  /.  Termo  de  botânica. 
rianta  do  lii-azil,  de  folha  grossa,  e  ar- 
mada de  puas,  hÍíAa  jurubcba;  dores  ro- 
xas, fructo,  o  raiz  amargos  e  medicinaes. 
URUPEMA,  ou  URUPEMBA,  s.f.  Termo 
do  Brazil.  Teeiílo  da  palha  chamada  urú 
com  vãosinhos;  serve  de  peneirar  a  mas- 
sa húmida  da  mandioca,  para  se  afinar, 
e  cozci'-se  depois :  lia  outras  de  palha,  ou 
canna  brava,  mais  largas,  e  fortes,  da 
firma  de  esteiras,  que  em  vez  das  gelo- 
sias, ou  rotulas,  tapam  as  janellas,  e  por- 
tas das  casas  pobres.  Do  mesmo  iirií  se 
tecem  assentos  de  cadeiras,  e  camapés, 
mais  grosseiros  que  os  da  palhinha  da  ín- 
dia. 

URUXI,  .•••.  "i.  Um  verniz  do  Japào. 
URZ.  Vid.  Urze. 


URZAL,  «.  711.  Matto  de  urzes. 

—  (^iiahpior  matto  baixo. 

URZE,  8.  f.  Matta  do  muitas  varinhas 
duras  ramosas,  vestidas  do  fuiliinhas  ás- 
peras, «umpre  verdo;  toui  tlores  com  fei- 
ção do  campainha. 

—  Arbusto  silvestre,  de  que  Brotoro, 
além  da  ordinar;a  acima  apontada,  traz 
mais  doz  espécies. 

URZEIRA,  t.  f.   Urzo. 

URZELLA,  s.  f.  Vid.  Orzella. 

USADO,  part.  pass,  do  Usar.  Que  está 
em  uso.  —  «O  JMitaquer  chegando  a  olio, 
que  o  estava  esi)erando  k  entrada  do 
Castello,  se  desceu  do  cavallo  cm  que 
hia,  e  tirou  da  cinta  o  troçailo  quo  leva- 
va, o  lho  ofForcceu  de  joelhos,  boyjando 
primoyro  a  terra  sinco  vezes,  que  he  cií- 
remonia  de  cortesia  usada  entre  ellcs.. 
Fernão  Mendes  Tinto,  Peregrinações, 
cap.  120. 

—  Exercitado. 

—  Mais  do  usado;  mais  do  ordinário, 
do  costumado. 

—  Acostumado. 

—  Gastado  com  uso. 

—  Afeito. 

USAGEM,  s.  /.  Um  tributo  antigo. 

USAGRE,  s.  m.  Espécie  de  sarna  mui 
acre,  que  vae  roendo  a  carne,  quo  vem 
aos  meninos  mal  humorados.  Vid.  Oza- 
gre. 

1.)  USANÇA,  s.  f.  Uso,  costume,  es- 
tylo. 

—  Uso,  serviço,  e  detrimento,  que  as 
machinas  padecem  com  o  uso. 

2.)  USANÇA,  s.  /.,  ou  USO,  s.  m.  Es- 
paço de  tempo,  ordinariamente  de  30 
dias,  determinado  para  o  pagamento  das 
letras  do  cambio,  segundo  a  pratica  das 
ci  la  les  sobre  as  quaes  ellas  sào  sacadas. 

USANTE,  part.  act.  do  Usar.  Quo  usa, 
que  exerce. 

USAR,   V.  a.  Praticar,  pôr  em  pratica. 

—  Servir,  exercer. 

—  (iastar  com  uso. 

—  V.  n.  Fazer  uso,  servir-so  do  alguma 
cousa. —  <Do  qual  perigo  Affonso  d'Al- 
boquerque  escapou:  porque  como  sabia 
que  os  Mouros  naquellas  partes  vsauão 
deste  artificio,  louaua  o  seu  batel  esqui- 
pado para  isso,  e  a  força  do  remo  se  afas- 
tou.» Barros,  Década  (3,  liv.  2,  cap.  2. 
—  «O  mesmo  S.  Dionysio  escreuenlo  a 
Dorotaeo  Diácono  desta  neuoa,  ■vsaado 
das  palauras  seguintes,  diz.  A  neuoa  di- 
ulna  he  huma  luz  inaccessiuel,  naqual  se 
diz  habitar  o  mesmo  Deos.  Esta  he  in- 
uisiuel  por  sua  excessiua  claridade,  o  su- 
prema eminência  cm  respeito  doutra  sub- 
stancia, e  pela  abundância  de  lumo  sobre 
substancial,  quo  lança  he  ina^cessiuel.  • 
Frei  Bartholoraeu  dos  ^lartyros.  Com- 
pendio de  espiritual  doutrina,  cap.  11. — 
oh]  assi  tolo  hu:n  anno  tio  hahi  hum  dia 
natural,  quo  consta  d'hum  dia  e  n(dte  ar- 
titiciaes.  E  osta  lis  a  domostraçam  clara  o 
manifesta,    na    qual    se  per  ventura  meti 


alguma  palaura  Bob^^rba,  ou  em  defender 
a  matii<.'uiatica  vsey  d'alguma  descorde- 
sia,  vo*  jjeço  quo  me  perdoeis.»  Heitor 
Pinto,  Diálogos.  —  «Demaneyra  que  pêra 
disputar  contra  a  eloquência,  vsa  delia, 
o  entam  8o  mo.-tra  Principo  dos  orado- 
rofl,  quSdo  contra  ellcs  argumenta,  o 
([uando  <[ucr  abater  a  rhetorica  entam  a 
exalça,  o  para  a  ilesbarauir  a  confirma. 
Tal  era  o  quo  disputando  cutra  os  sonhos 
dizia,  que  senão  auia  de  crer  nelle^,  por- 
que ello  sonhara  que  nSo  cresse  ninguém 
no  quo  sonhasse.!  Ibidem. 


f.ogo  aquclla  infiel  gcntfl  profana 
<,"o'n  gràa  prita  ;l  Cnriítãa  «e  vai  direita, 
Cjual  move  o  pi'|UK,  qual  a  partaaana, 
Qual  tainbcin  do  zarpuiicho  so  aproveita ; 
D  outras  armas  tariíbcni  com  qui?  mais  dana 
U'a  ciitào,  qiir  a  psiiclla  chria  deita 
L)o  ncpri-o  pi'>,  deita  outros  artoficios 
(^uo  laui^ar  fo<:;o  tnm  por  ftoui)  officios. 

r.  UA.iDRADK,  rxiiiEiRO  cBRco  OE  DIU,  cant.  Id, 
est.  71. 


—  Usar  de  misericórdia  com  alguém; 
ser  misericordioso  para  com  elle.  —  f  Day- 
me  Senhor  porquo  dey:  avey  misericór- 
dia de  mim,  porque  usey  de  misericór- 
dia, de  tal  maneyra,  que  do  dia,  e  tempo 
presente  seJSo  estas  cousas  testadas,  e 
postas  na  administração  do  sobredito  lu- 
gar, e  vosso  alvidrio  para  todo  sempre.» 
Monarchia  Lusitana,  liv.  7,  cap.  21. — 
-E  na  (Jraçam  quo  oje  ouuistes  à  Missa 
torna  a  pedir  o  mesmo  lume,  rogando 
assi,  O  Deos  que  neste  dia  descobristes 
vosso  vnigenito  Filho  aoi  Gentios,  por 
guia  de  huma  ostrella  Vsay  comnosco  de 
tanta  Misericórdia  que  assi  como  neste 
mundo  allumiastes  nos.sas  almas  cõ  o  lu- 
me do  fee  pêra  vos  conhecer,  assi  par- 
tindo desta  vida  nos  deys  lume  de  gloria 
pêra  claramente  contemplarmos  a  infi- 
nita fermosura  de  vossa  Magestade.» 
Frei  Bartholomeu  dos  Martyres,  Cate- 
cismo da  doutrina  christã.  —  tlsto  he  o 
que  diz  Salamào  nos  prouerbios  :  Aquelle 
dá  o  seu  á  onzena  ao  Senhor,  que  faz  es- 
mola, e  vsa  de  misericórdia  com  o  po- 
bre. Se  isto  Consirassem  os  ricos,  despen- 
deriam bem  o  seu,  e  não  estariam  feytos 
estamagos  encruados,  e  opilados,  mas  re- 
partiriam o  mãti mento  pellos  membros.» 
Heitor  Pinto,  Diálogos. 

—  Usar-se,  i*.  reji.  Estar  em  uso,  es- 
tylo,  ser  moda. 

—  Utili-iar-se,  servir-se. 

USAVEL,  adj.  2  gen.  Usual,  que  se  usa. 
USEIRO,    A,  adj.  Costumado,  habitu*- 
do,  fatiando  em  mau  sentido. 

—  Loc:  Useiro  e  vezeiro  em  furtar. 
USNEA,  4.  /.  A  ponnugem  das  arvores. 

—  Figuradamente:  A  que  se  cria  nos 
ossos  expostos  ao  ar. 

1.)  USO,  ».  /.  (Do  latim  twiwl.  Cos- 
tume, pratica,  c^tylo,  exercício. 

—  Direito  de  usar  da  cousa  alheia,  mais 
limitado  que  o  usufructo. 


USTU 


USUR 


UTER 


865 


•  •■ — ^ Piguradamente :  O  uso,  ou  exerci- 
do de  razão;  faculdade  intellectual,  e 
capacidade  de  entender  a  moralidade  das 
acções. 

—  Utilidade  que  resulta  do  serviço  de 
alguma  cousa.  —  a  Demais  disto  tendes  ja 
recebido  delle  arras  e  prendas  de  amor 
commum,  a  saber,  o  mundo  todo  criado, 
e  todas  as  cousas  delle  pêra  vosso  vso,  e 
seruiço,  pêra  o  qual  foraõ  feitas,»  e  saõ 
eonseruadas  continuamente.»  Frei  Bar- 
tliolomeu  dos  Martyres,  Compendio  de 
espiritual  doutrina. 

—  Continuaç.ão  frequente. 

—  Andar  ao  uso ;  A'iver,  andar  á  mo- 
da. 

—  O  direito,  o  acto  de  usar,  e  servir- 
se  de  alguma  cousa. 

—  Costume,  ou  facilidade  adquirida 
por  muito  exercício,  habito. 

—  Estylo,  pratica  geral. 

—  Já  com  muito  uso;  já  muito  usado, 
já  tarado  com  a  usança,  detrimentado. 

—  De  muito  uso;  de  muito  serviço,  de 
muito  préstimo. 

—  Vid.   Usança. 

— ^Syn.:  Uso,  moda.  Vid.  este  ultimo 
termo.- 

2.)  USO,  A,  adj.  Termo  antiquado. 
Usado,  acostumado. 

USOFRUCTO,  s.  m.  Vid.  Usufructo. 

USSA,  s.f.  Vid.  Ursa. 

—  Herva,  que  alguns  dizem  ser  o  ser- 
pol. 

—  Termo  antiquado.  Nome  de  certa 
folia. 

USSIA,  s.  f.  Termo  antiquado.  Vid. 
Adussia. 

USSO,  s.  m.  Vid.  Urso,  termo  mais 
em  uso. 

USTAGA,  s.  /.  Termo  de  marinha. 
Roldana  do  mastro  da  gávea. 

USTÃO,  s.  m.  (Do  latim  ustio).  Termo 
,de  cirurgia.  Acto  de  queimar  com  cáus- 
tico, de  cauterizar. 

—  Termo  de  chimica.  Calcinação,  com- 
bustão. 

USTEDA,  s.  f.  Uraa  droga  de  lã  com 
festo,  ou  sem  elle.  Vid.  Osteda. 

USTILAGO,  s.  w.  Termo  de  botânica. 
Doença  dos  vegetaes,  conhecida  também 
pelo  nome  de  nigrella,  carbúnculo:  esta 
doença  reduz  os  grãos  das  espigas  de  tri- 
go, centeio,  etc,  a  um  estado  carbonoso 
pulveriforme,  ou  farinha  negra,  como  se 
fosse  fogo :  é  frequente  no  norte  da  Eu- 
ropa. 

USTORIO,  A,  adj.  (Do  latim  lístor). 
Que  queima. 

—  Espelho  ustorio ;  espelho  que  serve 
para  incendiar. 

USTULAÇÃO,  5.  /.  (Do  francez  nstula- 
tion).  Termo  de  pharmacia  e  chimica.  O 
acto  de  fazer  seccar  uma  substancia  hú- 
mida ao  fiigo. 

USTULAR,  t\  a.  (Do  latim  ustulare). 
Termo  de  pharmacia  e  de  chimica.  Quei- 
mar e  seccar  ao  fogo. 

VOL.  V.— 109. 


USUAL,  adj.  2  gen.  (Do  latim  usualis, 
de  usus).  De  que  se  serve  ordinariamen- 
te. —  Termos  usuaes. 

—  Que  está  em  uso. 

—  Que  serve  no  uso  commum. 

—  Tributo  usual;  imposto  sobre  os 
viveres,  carne,  vinho  para  os  presídios, 
etc. 

—  As  artes  usuaes ;  os  misteres  que 
provêem  ás  necessidades  communs, 

f  USUALMENTE,  adv.  (De  usual,  com 
o  suffixo  «mente»).  De  um  modo  usual. 
— -  Isso  diz-se  usualmente. 

USUÁRIO,  A,  adj.  Pessoa  que  tem  só  o 
uso  das  cousas,  sem  posse,  nem  proprie- 
dade. 

USUCAPIÃO,  s.  m.  ("Do  latim  nsucapio). 
Termo  de  jurisprudência.  Modo  de  ad- 
quirir por  meio  da  posse,  pelo  uso. 

—  Titulo  pelo  qual  alguém  que  com 
boa  fé,  e  justo  titulo  possue  cousa  de  ou- 
trem por  certo  tempo  determinado  pelas 
leis,  á  vista  e  face  do  dono,  vem  o  dito 
possuidor  a  ficar  senhor  d'ella,  e  o  ver- 
dadeiro dono  a  perdel-a;  e  se  a  demanda 
a  quem  a  possue,  é  excluído  pela  exce- 
pção de  prescrípção. 

USUCAPIENTE,  adj.  2  gen.  Termo  de 
jurisprudência.  Que  vae  adquirindo,  ou 
que  adquiriu  por  usucapião. 

USUCAPIR,  V.  a.  (Do  latim  usucapio). 
Prevalecer,  ter  vigor,  adquirir-se  por 
uso. 

USUCAPTO,  A,  adj.  Adquirido  por  usu- 
capião. 

USUFRUCTO,  ou  USUFRUTO,  s.  m.  Ter- 
mo de  jurisprudência.  Desmembração  do 
direito  de  propriedade,  que  compreheude 
o  direito  de  se  servir  da  cousa  para  o 
uso  da  qual  ella  é  destinada,  e  o  direito 
de  perceber  os  fructos  e  productos  da 
cousa;  mas  que  differe  da  propriedade 
em  que  elle  não  dá  nem  o  direito  de  des- 
truir ou  alienar  a  cousa,  nem  a  perpetui- 
dade, e  o  usufructo  era  essencialmente 
vitalício. 

—  Direito  de  gozar  das  cousas  de  que 
um  outro  tem  a  propriedade. 

—  Usufructo  legal ;  direito  de  gozo  do 
pae  e  da  mãe  nos  bens  dos  seus  filhos 
menores. 

USUFRUCTUAR,  r.  a.  Termo  do  foro. 
Usar,  e  desfructar  alguma  cousa  como 
usufructuarío. 

USUFRUCTUARIO,  s.  /.  (Do  latim  usu- 
fructuarius).  TeruK)  de  direito.  Pessoa 
que  goza  do  usufructo. 

—  Adjectívamente:  Eeparações  usu- 
fructuarías ;  reparações  com  encargo  de 
usufructuarío. 

USURA,  s.  f.  (Do  latim  usura).  Toda 
a  sorte  de  interesse  que  produz  o  di- 
nheiro. 

—  Por  extensão :  Proveito  que  se  tira 
de  um'  empréstimo  acima  da  taxa  legal, 
ou  habitual. 

—  Figuradamente :  Beneficio  em  re- 
torno, maior  que  o  beneficio  recebido. 


—  Fazer  beneficios  á  usura ;  esperar 
retornos  avantajados. 

—  Syn.:  Usura,   onzena. 

Usura  significava,  entre  os  romanos, 
toda  a  espécie  de  interesse  menos  legiti- 
mo; com  o  andar  dos  tempos  veio  esta 
palavra  a  significar  o  lucro  illegal  que  se 
exige  por  uma  somma  dada  de  emprésti- 
mo. Onzena  sempre  significou  usura  im- 
moderada  e  illegitima,  e  sempre  se  to- 
mou em  mau  sentido. 

C)8  antigos  chamavam  aos  juros  do  di- 
nheiro emprestado  usuras,  isto  é,  o  pre- 
ço do  uso,  e  então  era  necessária  a  pala- 
vra onzena  para  designar  a  usura  ímmo- 
derada;  hoje  a  palavra  usura  somente  se 
applíca  aos  juros  excessivos,  íllegaes,  por 
isso  não  se  usa  em  phrase  jurídica  e 
Tuercantil  a  palavra  onzena,  e  tornou-se 
desnecessária. 

USURAR,  V.  n.  Dar  dinheiro  á  usura, 
ou  ao  ganho. 

—  Fazer  usura.        'í;"?;  o?.. 
USURARIAMENTE,  aãiii  (De  usurário, 

com   o  suffixo    «mente»).    De  um  modo 
usurário. 

—  Com  usura,  intervindo  usura. 
USURÁRIO,  A,  a<lj.   (Do  latim  usura- 

rius).  Em  que  ha  usura. 

—  Substantivamente:  Pessoa  que  dá 
dinheiro  emprestado  com  usura. 

USUREIRO,  A,   adj.   e  s.  Usurário. 

USURPAÇÃO,  s.  f.  (Do  latim  usurpa- 
tio).  Acto  de  usurpar,  e  effeito  d'cste 
acto. 

USURPADO,  part.  j^ass.  de  Usurpar. 
—  «A  cidade,  onde  nào  ouuer  boas  leis, 
será  mui  cedo  destruída,  e  o  revno  que 
per  boas  leis  senão  gouernar,  será  facil- 
mente dessolado.  Tanto  durou  a  republi- 
ca dos  Lacedemoníos,  quanto  nella  durou 
a  authorídade  das  leys  de  Licurgo :  e 
tanto  a  dos  Atheníenses,  quanto  as  leis 
de  Solão.  Mas  perdidas  as  leis  perderão- 
se  também  as  i-epubricas,  porque  a  go- 
viernança  que  Soía  andar  nos  sabedores, 
fov  vsurpada  dos  ignorantes.»  Heitor 
Pinto,  Diálogos,  cap.  7. 

USURPADOR,  A,  s.  Pessoa  que  usurpa. 

USURPAR,  V.  a.  (Do  latim  usurimre). 
Apoderar-sc  por  violência,  ou  por  astú- 
cia, dos  bens,  da  dignidade,  do  titulo  de 
um  outro. 

—  Obter  alguma  cousa  por  fraude, 
sem  direito  legitimo.  —  Usurpar  a  repu- 
tação, a  gloria,  a  estima. 

—  Stn.  :  Usurpar,  apoderar-se.  Vid. 
este  ultimo  termo. 

UT,  s.  m.  Termo  de  musica.  A  primei- 
ra niita  da  musica. 

UTAR,  V.  n.  Mover  as  mãos  com  cer- 
to geito  quando  se  criva  o  trigo.  Vid. 
Outar. 

UTENSÍLIOS,  s.  m.  plur.  (Do  latira 
ufensilc).  Os  trastes  do  uso  da  casa,  do 
officíal  meehanico,  do  soldado. 

f  UTERALGIA,  *.  /.  Termo  de  medi- 
cina. Dor  nervosa  do  útero. 


866 


ÚTIL 


ÚTIL 


UVAD 


UTERINO,  A,  ailj.  (Do  latira  uteriím»). 
Termo  do  anatomia.  Que  cliz  respeito  á 
madre. 

—  Globo  uterino ;  a  massa  redonda 
que  fíirma  no  liypopfastro  o  útero  durante 
a  gravidez  o  durante  os  oito  ou  dez  dias 
que  Hegucm  o  parto,  antes  <|ue  o  útero  ti- 
vesse tomado  uma  forma  o  um  volume 
habituacs. 

—  Termo  do  pathologia.  (rranulaçUes 
uterinas;  tmnorzinhos  irregulares  assen- 
tando na  cavidade  do  corpo  do  útero,  o 
algumas  vezes  do  collo. 

—  Furor  uterino  ;  synonymo  de  nym- 
phomania. 

—  Irmãos  uterinos ;  diz-ae  dos  irm.los 
e  irmãs  nascidos  da  mesma  mão,  sem  te- 
rem o  nieamo  pae. 

ÚTERO,  s.  JH.  (Do  latim  úteros).  Ter- 
mo do  anatomia.  Ventre  ou  madre  da 
mulher. 

—  Termo  do  medicina.  Útero  irritá- 
vel; condiçSo  inflammatoria  e  nevrálgica 
do  útero,  em  que  ha  muitos  aoffrimontos, 
mórmento  na  o<tai;ão  o  progressão,  assim 
como  na<  epochas  da  nienstrua^'ão. 

UTEROCEPS,  s.  m.  Termo  de  cirur- 
gia. Instrumento  para,  agarrar  nos  lábios 
do  utcro. 

f  UTERO-LOMBAR,  adj.  2  gen.  Ter- 
mo do  anatomia.  Que  se  refere  ao  útero 
e  aos  lombos. 

UTEROMANIA,  s.  f.  Nvmphomania. 

f  UTERO-OVARIANO,  Ã,  adj.  Termo 
de  anatomia.  Que  se  refere  ao  útero  e 
ao  ovário. 

f  ÚTERO -PLACENTARIO,  A,  adj.  Ter- 
mo de  anatomia.  Que  diz  respeito  ao 
.útero  o  á  jdacenta. 

f  ÚTERO -SACRO,  A,  adj.  Termo  de 
anatomia.  Q,ue  pertence  ao  utoro  e  ao 
sacro. 

—  Ligamentos  utero-sacros,  ou  utero- 
lombarei: ;  expansão  do  tecido  fibroso  sub- 
peritoneal  que  se  tixa  sobre  a  aponevrose 
pelviana  e  o  sacro,  o  que  ó  um  dos  mais 
poderosos  meios  de  fixação  do  útero. 

1  UTEROSCOPIA,  s.  /.  Termo  de  me- 
.dicina.  Exame,  por  moio  do  instrumen- 
,to8,  do  utcro  durante  a  gravidez,  e  no 
tempo  do  parto,  sob  o  ponto  de  vista  ab- 
soluto ou  relativo  do  feto. 

UTEROTOMIA,  s.  /.  (Do  latim  vUros, 
c  do  grego  tumê).  Termo  de  cirurgia. 
■  Operação  pela  qual  se  corta  ou  divide 
os  lábios  do  utoro  em  alguns  partos  dif- 
,ficulto.^os,  para  dar  passagem  :l  criança. 

f  UTEROTOMO,  s.  m.  Termo  do  ci- 
rurgia. Instrumento  empregado  para  a 
secção  do  canal  do  utoro. 

t  UTERO-VAGINAL,  adj.  2  gen.  Ter- 
.mo  de  anatomia.  Que  pertence  ao  útero 
e  A  vagina. 

ÚTIL,  adj.  2  gen.  (Do  latim  tífi7»s). 
Que  sorve  para  alguma  cousa. 

—  Proveitoso.  —  «O  que  eu  desejo, 
disse  o  cidadão,  he  sabor  as  qualidades, 
que  em  especial  ha  de  ter  hum  Rey,  ou 


hum  prelado,  ou  em  fim  qualquer  gouer- 
uador,  que  tem  mando  e  domínio,  pêra 
so  poder  chamar  porfeito.  E  auendo  eu 
de  eleger  hum  cidadão  pcra  gouernar  a 
republica,  tjual  antre  os  outro»  escolhe- 
rey.  isto  folgaria  que  tratásseis,  porque 
mo  parece  matéria  mais  vtil,  que  a  das 
ideas.»  Heitor  l'!nto.  Diálogos,  cap.   í5. 

—  Dias  úteis ;  no  lOro,  aquelles  cm 
que  80  pôde  requerer,  ou  correr  a  causa, 
em  opposição  a  contínuos,  que  são  todos 
08  dias  seguidos,  feriados  ou  não. 

—  Domínio  útil ;  a  renda  d'uma  ter- 
ra, 08  fructos  d'ella. 

—  Despeza  útil ;  que  melhora  a  cou- 
sa com  (luo  olla  se  íaz. 

UTILES,  plur.  de  Útil.  =  Faliar-se-ha 
mais  correctamente  dizendo  úteis. 

UTILIDADE,  s.  /.  (Do  latim  utilílas). 
Qualidade  do  que  ó  útil ;  do  que  pôde 
servir  para  alguma  cousa. 

—  Proveito,  serviço,  commodo  que  se 
pôde  receber  da  cousa  ou  pessoa.  —  tlus- 
tiça  he  hum  habito  do  animo,  que  dá  a 
cada  hum  sua  dignidade  conservada  a  vti- 
lidade  commum,  cujo  principio  he  nascido 
da  natureza.  A  quem  seguem  todos  os 
theologos.  E  digo  que  so  ha  de  dar  a  ca- 
da hum  o  seu  em  seu  tempo,  porque  se 
tiuerdes  cm  deposito  armas  oflensiuas  de 
hum  vosso  amigo  o  o  virdes  vir  furioso 
a  pediruolas,  pêra  cõ  ellas  satisfazer  a 
sua  ira  e  doprauada  indinaçam,  não  lhas 
deueis  de  dar,  porque  era  tal  tempo  he 
injusto  dar  o  seu  a  cujo  hc.i  Heitor 
Pinto,  Diálogos,  cap.  1.  —  «Mas  por  ci- 
ma de  tudo  isto  tenho  por  sem  duuida, 
que  a  vida  solitária,  simplemente  falado, 
quàto  em  si  he,  leua  muita  auantagem  ;l 
pubriea  tumultuosa,  o  que  não  somente 
he  mais  segura,  mas  em  muita  cousa 
mais  fructifora,  sem  embargo  que  cm  al- 
gumas soja  a  pubriea  do  mais  vtilidade. 
Mas  basta  que  absolutamente  falando, 
he  a  solitária  mais  excellente,  (juo  he  o 
cõtrario  do  que  dizia  Marco  Tullio  na 
authoridade,  que  contra  mim  allegastes 
do  seu  primeiro  liuro  dos  officios.»  Ibi- 
dem, cap.  4. 

—  Préstimo,  bem. 

f  UTILISAÇÃO,  s.  /.  Acto  de  utili- 
sar. 

UTILISADO,  part.  pass.  do  Utilisar. 

UTILISAR,  ou  UTILIZAR,  i'.  a.  Tirar 
utilidade,  tirar  partido  d'uma  cousa. 

—  (lanhar,   lucrar. 

—  Aproveitar  a  alguém,  ser  útil,  ser- 
vil-o. 

—  Utilisar-se,  v.  refl.  Servir-se  para 
seu  commodo,  aproveitar-se  de  alguma 
cousa  ou  pessoa. 

—  V.   ».  Ter  uso,  ser  util,  proveitoso. 
UTILÍSSIMO,    A,   adj.  superl.  do  Util. 

Mui  util.  —  Operários  utilíssimos. 

-j-  UTILITARIANISMO,  ou  UTILITARIS- 
MO,  .«.   "1.    S\.-itonia  lios  utilitários. 

-}-  UTILITÁRIO,  A,  adj.  Que  mira  á 
utilidade. 


—  Dia-so  de  uma  escola,  fundada  por 
Hcntham  no  principio  dV-te  século,  que 
8Ô  reconhece  como  principio  do  bem  a 
utilidade  geral. 

—  Substaiitivaniontc:     í/m    utilitário. 

—  Os  utilitários. 

UTILMENTE,  adv.  (De  util,  e  o  suf- 
fixo  « mente  •^  Do  um  modo  util. 

—  ("om  utili<iade,  proveito, 
UTOPIA,   í.  /.    Diz-sc    peralmeate    da 

forma  de  um  governo  imaginário,  onde 
tudo  está  perfeitamente  regulado  para  a 
commum  felicidade  ;  origina-8e  do  titulo 
de  uma  da»  obras  de  Tuoroaz  Moru», 
eseriptor  inglez.  —  Crear-te  uma  utopia. 

—  Vãs   utopias. 

UTOPISTA,  a.  o  aJj.  2  gen.  Homem 
que  crê  n'uma  utopia. 

—  Creador  d'uma  utopia. 

—  Partidista  da  utopia. 

t  UTRICULAR,  adj.  2  gen.  Que  tem 
a  firm*  de  um  utriculo. 

—  Termo  de  botânica.  Tecido  ntrícu- 
lar;   tecido  cellular  das  plantas. 

—  Glândulas  utriculares ;  pequenas 
bolsas  que  toem  a  f ')rma  de  empolas,  e 
que  conteem  um  fluido  aquoso;  encon- 
tram-se  na  superfície  de  certas  plan- 
tas. 

—  Termo  de  anatomia.  Glandulat  atri- 
culares ;  folliculos  do  grosso  intestino  o 
do  canal  do  útero,  cuja  extremidade  está 
inchada. 

UTRICULO,  s.  wi.  (Do  latim  utriculiu). 
Pequt-na  bolsa. 

—  Intumescência  do  labyrintho  mem- 
branoso do  ouvido. 

—  Utriculo  prostatico ;  orglo  em  for- 
ma do  bolsa  pyriforme,  situado  na  linha 
media  entre  dons  canaes  differentes,  na 
face  urethral  da  próstata. 

—  Termo  de  botânica.  Cada  uma  das 
cellulas  do  que  se  compõe  o  tecido  cellu- 
lar dos  vegetaes. 

—  Pequenos  odres  cheios  d'ar  servin- 
do para  suster  na  agua  as  folhas  e  as 
raizos  de  algumas  plantas. 

—  Nomo  dado,  por  alguns  botânicos,  a 
certa  espécie  de  fructos. 

—  Cavidade  cheia  de  fluido  fecundan- 
te que  f')rma  cadn  grão  do  pollen. 

f  UTRICULOSO,  A,  adj.  Termo  de  bo- 
tânica. Que  é  guarnecido  de  pequenos 
odres,  como  as  raizes,  as  folhas  radicaos, 
o  os  ramos  dos  utriculares. 

UTRIFORME,  adj.  2  gen.  iDo  latim 
nter,  e  forma).  Que  se  assemelha  a  um 
odre. 

UUM.  Vid.  Um. 

UVA,  t.  f.  (Do  latim  uva).  Fructo  da 
videira,  que  nasce  em  cachos, 

—  Termo  de  botânica.  Ura  espinx;  cas- 
ta de  irva.  —  Uva  espim  battarda. 

—  Uva  </«  cão ;  herva  vulgar,  planta 
perenno. 

—  Uva  '^'    raposa.   Vid.  Parisetta. 
UVADA  DOCE,  *.  /.   Conserva  do  uvas 

em  calda  de  assucar. 


UVEL 


UXI 


UZIF 


867 


UVAL,  adj.  2  gen.  De  uva. 

—  S.  m.  Termo  de  medicina.  Espécie 
de  almorreimas. 

UVEA,  s.  /.  Termo  de  anatomia.  No- 
me dado  limas  vezes  á  choroidea,  outras 
vezes  á  face  posterior  do  iris. 

—  Modernamente,  o  systema,  das  par- 
tes representado  pela  choroidea,  os  pro- 
cessos ciliarios  e  o  iris. 

UVEIRA,  s.  /.  A  arvore  a  que  a  vide 
se  arrima,  com  vide  de  enforcado. 

—  Termo  de  botânica.  A  planta  raci- 
mosa  que  produz  a  uva. 

f  UVEITE,    s.  f.   Termo  de  medicina, 
Inflammaçào  da  face  posterior  do  iris. 
-j-  UVELTA,  s.  f.    Género    de   plantas 


coniferas,  cujas  bagas  são  doces  e  boas 
de  comer. 

UVIAR.  Vid.  Uivar. 

— -Emprega-se  também  figuradamente. 

UVIDO,  A.  adj.  (Do  latim  uvidus). 
Termo  de  poesia.  Húmido. 

UVIFERO,  A,  adj.  Termo  de  poesia. 
Que  dá  ou  tem  uvas. 

I  UVIFORME,  adj.  2  gen.  (Do  latim 
uva,  e  forma).  Que  tem  a  forma  de  ca- 
cho de  uva. 

UVRE.  Vid.  Ubre. 

UVULA,  s.  /.  Campainha  da  garganta. 

UVULAR,  adj.  Termo  de  anatomia.  Que 
diz  respeito  á  campainha  da  garganta. 

UXI.  Termo  antiquado.  Onde  se. 


f  UXORIANO,  A,  adj.  Que  é  do  lado 
da  mulher,  fallando  da  descendência. 

UXTE.  Voz  vulgar  na  bocca  dos  ar- 
reeiros. 

—  Interjeição  no  uso  familiar  para  de- 
clarar algum  affecto. 

UYVADOR,  A,  adj.  e  s.  Que  àà  ui- 
vos. 

UYVAR,  V.  n.  Dar  uyvos  ou  uivos. 
Vid.  Uivar,  Huivar,  e  Uviar. 

UYVO,  s.  m.  Voz  aguda  e  lamento- 
sa do  cão  ou  lobo,  quando  estão  presos, 
ou  andão  na  brama. 

UZIFUR,  ou  UZIFURE,  s.  m.  Termo  de 
chimica.  Cinabrio,  que  é  composto  de 
enxofre  e  mercúrio. 


..fjvr, 


s.  m.  Vigésima  segunda  le- 
tra do  alphabeto  e  deciraa 
oitava  consoante. 

—  Um  V  grande.  —  Um 
V  pequeno. 

—  Na  ordem  physiologica  o  cZ  é  a  spi- 
rante  dental  branda;  extremamente  pró- 
ximas lhe  ficam  o  b  q  o  f  com  que  per- 
muta frequentes  vezes. 

—  Na  numeração  romana  V  vale  5 ; 
V/  vale  6  ;  V7/  vale  7 ;  V77/  vale  8;  IV 
vale  4;  V  com  um  traço  j)or  cima  valia 
5:000. 

—  Nas  observações  meteorológicas  v 
designa  vento. 

■ — ■  Termo  de  musica.  Nas  partituras 
musicaes  o  v  indica  algumas  vezes  a  par- 
te do  violino. 

—  Significa  também  a  palavra  italiana 
volti;  V.  S.,  volti  súbito. 

—  V  ou  >',  nos  livros  da  Egreja  ou  com 
referencia  á  Biblia,  significa  versículo. 

—  Em  termos  de  livraria,  de  impren- 
sa 6  de  bibliographia,  V  significa  folio 
verso. 

A.  Vossa  alteza. 
M.  Vossa  magestade. 
R.  Vossa  reverendíssima. 
E.  Vossa  excellencia. 
Você,  vocemecô. 

—  O  V  portuguez,  como  signal  graphi- 
co,  provém  do  i;  latino,  alteração  do  di- 
gamma  grego. 

—  O  T  portuguez  tem  diversas  ori- 
gena,  mas  mais  geralmente  provém  do  v 
latino :  inicial,  como  em  valer,  vapor, 
vestir,  varrer,  vomitar;  medial,  como  em 
ave,  lavar,  levar,  nave,  ovo,  provar,  sal- 
var. 

—  Não  raramente  provém  o  v  portu- 
guez do  6  latino  :  exemplos  são  :  trave  de 
trabes,  amava  de  amabam,  cavallo  de  ca- 
hallus,  cevo  de  cíbus,  cevar  de  cibare,  co- 
vado  de  cubitus,  dever  de  debere,  duvi- 
dar de  dubifare,  fava  ãe  faba,  Jivella  de 
Jibula,    maravilha  de    mirabilia,  provar 


— -V. 

—  V. 

—  V. 

—  V. 

—  V. 


de  probare,  governo  de  gabernum,  gover- 
nalho  de  giibernaculum,  governar  de  gur- 
bernare,  inverno  de  hibernus,  nuvem  de 
nubes,  herva  de  herba,  arvore  de  arbor, 
névoa  de  nebula,  escrever  de  scribere,  Évo- 
ra de  Ebura,  sorver  de  sorbere,  carvão 
do  carbo,  alvitre  de  arbitrium,  alvo  de 
albus;  03  suffixos  -avel  de  -abilis,  -evel  de 
-ebilis,  -ivel  de  -ibilis. 

—  O  V  portuguez  provém  do  p  latino 
em  povo  de  populus,  ant.  pobo ;  escova 
de  escopa,  ant.  escoba;  estorvo  de  stru- 
pus,  ant.  estorbo ;  ant.  soberva  de  super- 
bia,  modern.  soberba;  ant.  e  popul.  j:^ro- 
ve   de   piauper,   modern.  pobre. 

—  Durante  a  eiJade  media,  e  ainda  j)Os- 
teriormente,  não  se  distinguiu  na  escripta 
o  V  de  u,  sendo  u  muitas  vezes  escripto 
por  V ;  o  caso  contrario  dá-se  também :  é 
assim  que  no  Cancioneiro  de  Rezende,  por 
exemplo,  se  encontra  uva  escripta  vua. 
Ainda  no  século  passado  era  muitos  li- 
vros impressos  se  deu  essa  confusão. 

—  E'  conhecida  a  troca  frequente  que 
fazem  os  povos  do  norte  de  Portugal  en- 
tre 6  e  v,  confusão  que  verdadeiramen- 
te os  põe  em  grandes  apuros  quando  es- 
crevem, por  não  saberem  que  palavras 
se  escrevam  com  v,  quaes  com  6;  assim 
para  elles  besta  pronuncia-se  vêsta,  e  ves- 
te pronuncia-se  beste.  Este  vicio  está  tão 
profundamente  arraigado  que  até  se  de- 
turpam na  leitura  palavras  em  que  v  e  ò 
estão  respectivamente  escriptas  onde  de- 
vem ir.  Esta  confusão  levou  ao  uso  do 
chamar  á  letra  v,  não  como  ao  sul  de 
Portugal  vê,  mas  sim  vu  ou  vau,  pois  in- 
evitavelmente ao  dizer  o  alphabeto,  che- 
gados á  letra  que  nos  occupa,  chaman- 
do-se-lhe  vê,  os  povos  d'Entre-Douro  e 
Minho  diriam  bê,  e  seriam  incapazes  de 
distinguir  pelo  nome  a  vigésima  segunda 
letra  do  alphabeto,  da  segunda ;  o  curioso 
é  que  elles  dizem  mais  geralmente  bau 
ou  bu,  que  vau  ou  vu. 

—  Na  epocha  da  decadência  do  impé- 


rio romano  parece  ter  sido  frequente 
uma  confusão  similhante,  e  um  gramma- 
tico  escreveu  um  tratado  sobre  o  recto 
uso  do  v  e  do  b,  sendo  curioso  que  mui' 
tas  que  apresenta  como  correcções  são  er- 
ros, sendo  o  que  julga  erros  os  modos  de 
dizer  correctos.  Os  gascões,  que  faliam 
um  dialecto  que  se  liga  ao  provençal,  na 
França,  sào  também  muito  atreitos  a  mu- 
darem o  V  em  Ã  não  só  no  seu  dialecto^ 
mas  sobretudo  quando  faliam  francez. — 
a  A  força  do  v  consoante  he  como  a  do/, 
mas  com  menos  espirito.  E  a  sua  figura 
saô  duas  costas  de  triangolo  com  o  canto 
para  bayxo.  Esta  letra  y  que  chamamos 
grega  tem  a  figura  v  consoante,  senaõ 
que  estende  bua  perna  para  bayxo  fican- 
do-lhe  a  boca  para  cima  todavia ;  da  qual 
algús  poderão  dizer  que  não  he  nossa ; 
mas  eu  lhe  darey  offiçio  na  escriptura 
das  nossas  dições  próprias ;  e  he  este  que 
as  mais  das  vezes  quando  vem  híia  vo- 
gal logo  trás  outra  nos  pronunciamos  an- 
trellas  híia  letra  como  em  meyo,  seyo, 
moyo,  joyo,  e  outras  muitas  a  qual  letra 
a  mi  me  parece  ser  y  e  não  i  vogal.»  Fer- 
não d'01iveira,  Grammatica  de  lingoa- 
gem  portuguesa,  cap.  15.  —  «Como  vi- 
mos, temos  dous,  uus,  hum  desta  figura, 
V,  e  outro  assy,  u.  Pêro  o  primeiro  não 
serve  de  vogal  mas  de  consoante,  em  to- 
dalas  as  dições  que  começam  nelle,  por 
ser  hua  das  leteras  dobradas  que  temos, 
que  servem  no  principio:  como  nestas 
dições,  ventaje,  veio,  vimos,  vontade, 
vulto.  E  assy  serve  per  dentro  das  di- 
ções, ao  modo  do  i  pequeno  :  mas  por  cau- 
sa da  boa  composição  das  leteras  o  u  pe- 
queno lhe  toma  as  vezes  o  oficio  de  ferir 
nas  outras  vogaes.»  Joaõ  de  Barros,  Da 
Orthografia.  —  «V  tem  dous  officios,  hum 
próprio,  quando  soa  per  si  como  as  ou- 
tras vogaes,  como,  vsso,  vsura;  outro 
emprestado,  quando  fere  vogal,  que  teem 
grande  semelhança  com  o  f  no  som,  co- 
mo nestas  palauras:  verdade,  virtude.  A 


870 


VACA 


VACC 


VACU 


qual  pronunciaçilo  (como  temos  dicto)  os 
Latinos  antif.'03  escrouiflo  com  o  dig-ain- 
ma  discteolico,  que  tiiilia  .soiiiiílLaiiya  do 
nosso  /  110  som  o  na  fi^íura.  Mas  duspois 
que  o  /  succijiliju  em  Iw^nr  do  ^>/i  gref,'o, 
tomarilo  emprestado  o  u  c  usarilo  d«lle 
om  lugar  d"  digamma.  O  qual  diíTereií- 
ccamos  agora,  (juaiulo  he  consoante,  de 
quando  lic  vogal,  desta  maneira,  V,  ao 
menos  no  principio  das  diç5es.  Porque 
no  meo  delias  usllo  de  u  iudistinctamen- 
tc,  quer  soja  vogal,  quer  consoante.» 
Duarte  Nunes  de  Leão,  Orthographia  da 
liugoa  portuguesa. 

1.)  VÁ.  Locução  adverbial  popular. 
Consinto,  seja. 

f  2.)  VÁ.  Forma  do  verbo  ir  na  pri- 
meira e  terceira  pessoa  do  singular  do 
presente  do  modo  conjunctivo.  Vid.  Ir. 
—  «Assentando  em  que  este  termo  lie 
propiúo,  e  particular  da  Lingua  Portu- 
guesa, tcnlio  mostrado  a  V.  S.  que  signi- 
fica vá  bugiar  som  contradição  alguma, 
e  ainda  que  hir  bugiar  pareya  cousa  dit- 
teronte  tudo  ho  o  mesmo.»  Cavalleiro  de 
Oliveira,  Cartas,   liv.  3,  n."  2. 

VACA,  ou  VACCA,  ».  /.  (Do  latim  vac- 
eà).  A  tomea  do  boi,  em  edade  perfeita 
do  parir :  entre  vaccas  so  trazem  os  tou- 
ros bravos,  para  virem  onde  se  quer. 

—  Vacca  de  chocalho;  a  que  faz  guia 
aos  touros  conduzidos,  bravos  e  esqui- 
vos. 

■  —  Um  jogo  defeso. 

—  Vacca /c)')-a ;  na  Ásia,  o  vadio  ocio- 
so. 

—  Figuradamente:  A  vacca  de  clwca- 
Iho;  a  mulher  que  ameiga,  e  traz  outras 
esquivas  ainda,  ariscas,  e  novéis  á  con- 
versação amorosa,  e  ])erigosa. 

VACAÇAO,  s.  /.  (Do  latim  vacatio). 
Suspensão  de  estudos,  e  do  curso  foren- 
se ;  ferias. 

■ — '  Desapego  de  negócios  com  relaçSo 
a  algum  estudo. 

VACADA,  ou  VACCADA,  s.  /.  Manada 
de  vaccas. 

VACA-LOURA,  s.  /.  Abadejo,   insecto. 

VACÂNCIA,  s. /.  (Do  latim  vacantia, 
de  vacaiiít).  Tempo  durante  o  qual  não 
é  preenchida  uma  funcção,  uma  digni- 
dade. 

—  Tempo  durante  o  qual  os  estudos 
cessam  nas  escolas,  nos  coUegios.  —  O 
tempo  das  vacâncias. 

—  Tempo  em  que  os  tribunaes  inter- 
rompem suas  funeções. 

VAGANTE,  part.  act.  de  Vacar.  Que 
não  estii  oecupado,  que  está  por  preen- 
cher. —  C(isa  vacaute. 

—  Diz-se  dos  empi-egos,  dos  logares, 
das  dignidades. 

—  Curador  dos  bens  vacaiites ;  cura- 
dor estabelecido  pela  administração,  e 
conservação  dos  bens  que  não  tem  pro- 
prietário certo. 

—  tíéde  vacante ;  estando  vaga  a  só, 
fjaltando-lhe  o  bispo,  ou  o  prelado. 


—  Figuradamente:  A  menina  não  está 
vacante;  não  está  son  amigo. 

VACAR,  V.  a.  (Do  latim  vacare).  Es- 
tar do  vago,  estar  devoluto. 

—  Applicar-sc,  occupar-so  em  alguma 
cousa  cuidado.-^amente. 

—  Loc.  :  Vacar  a  Deus;  deixar-se 
das  cousas  terrestres,  e  applicar-se  ao 
seu  serviço.  Vid.  Vagar  «  Deus.  —  «Pa- 
ra que  se  naõ  equiuocassem  os  ritos,  de- 
terminou a  Igreja  o  Domingo  para  dia 
sancto  dos  Catholicos,  esto  Le  para  va- 
car, e  ver  a  Deos,  assim  como  ao  ho- 
mem extiMÍor  lhe  ho  necessário  tempo 
para  a  refeição  corporal.»  D.  Fernando 
Corrêa  de  Lacerda,  Carta  pastoral,  pag. 
238. 

—  Estar  ocioso,  dosoccupado. 

—  Vacar  o  tempo;  ser  de  vago,  para 
ócio. 

VACARIA,  ou  VACCARIA,  s.  f.  fiado 
vaocum. 

VACARIL,  ou  VACCARIL,  adj.  2  gen. 
Termo  antiquado.  De  vacca.  —  Couros 
vaccaris. 

VACATURA,   *.  /.    Vacância. 

—  Estar  em  vacatura ;  estar  vaga,  ou 
vago,  não  provido. 

VACCINA,  s.  /.  Espécie  de  bexigas  a 
que  estão  sujeitas  as  vaccas  em  certos 
paizes ;  a  vaceina  ataca  particularmente 
as  tetas  do  animal,  o  manifesta-so  por 
borbulhas  que  não  dão  pus,  mas  sim 
uma  serosidade;  este  tumor  enxerta-se 
na  pelle  das  pessoas,  onde  levanta  uma 
bexiga  mãe  com  vesículas  em  roda  que 
suppuram,  para  se  preservar  o  vaccina- 
do  das  bexigas  epidemicas,  contagiosas 
ordinárias,  ou  variolosas;  hoje  a  maior 
parte  da  vaceina  é  tirada  das  borbulhas 
dos  vaccinados. 

—  A  própria  operação  pela  qual  se 
inocula  a  vaceina.  —  Propagar  a  vac- 
eina. 

VACCINAÇÃO,  s.  /.  Inoculação  da  vac- 
eina, oj)eração  que  consiste  em  introdu- 
zir o  viruB  vacoinico  em  contacto  com  os 
vasos  absorventes  da  pello. 

f  VACCINADO,  part.  pass.  de  Vacci- 
nar.  —  Uma   creanra  vaccinada. 

—  Substantivamente  :    Os  vaccinados. 
VACCINADOR,  A,  adj.  Pessoa  que  vac- 
eina. 

f  VACCINAL,  adj.  2  gen.  Que  diz  res- 
peito á  vaceina. 

VACCINAR,  V.  a.  Inocular  a  vacei- 
na. 

—  p]nxertar  a  vaceina  no  corpo  huma- 
no para  o  preservar  da  bexiga  ordinária, 
ou  da  infecção  variolosa. 

VACCINICO,  A,  adj.  Termo  de  medi- 
cina. Qhc  ó  relativo  á  vaceina,  ou  á  vac- 
cinação. 

f  VaCCINIFERO,  a,  ailj.  Diz-so  do 
cavallo,  da  vaoca,  e  da  creança  que  for- 
necem vaceina  por  inoculação  a  outros. 
—  líCconhecer  se  o  sujeito  vaccinifero  es- 
tá são. 


—  Substantivamente  :  O  vaccinifero. 

t  VACCINOIDE,  ».  /.  Termo  de  medi- 
cina. Nunjc  clalo  ás  erupções  cutâneas 
pustuhjsas,  de  natureza  e  apparencias 
vaecinai;s,  que  a  inserção  do  virus  vac- 
ciniuo  produz  algumas  vezes  nos  indiví- 
duos, que  tiveram  precedentemente  as 
bexigas   com    que    foram  já    vaccinados. 

VACILLAÇAO,  ».  /.  (_Do  latim  vacilla- 
tio,  de  cacillaret.  MovÍDieut<j  do  que  va- 
cilla. 

—  Figuradamente  :  Irresoluçâo,  varia- 
ção. —  Vacillação  das  testemunhas. 

—  Figuradamente  :  Pouca  iiniieza,  es- 
tabilidade. 

VACILLANTE,  part.  act.  de  Vacillar. 
Que  vacilla.  —  Passo  vacillante. 

—  Fi^íuradamcnte :  Que  não  é  seguro. 
—  Min/i/i  saúde  é  viui  vacillante. 

—  Figuradamente :  Irresoluto,  variá- 
vel. —  Espirito  vacillante. 

—  Termo  de  botânica.  Diz-se  das  an- 
theras,  quando  são  oblongas,  ligadas  peio 
meio  do  seu  comprimento,  e  oecillando 
na  extremidade  do  filete  estaminai. 

VACILLAR,  V.  n.  (Do  latim  vacillare). 
Não  estar  tirme.  —  Esta  viua  vacilla 
bastante. 

—  Por  exteiisão:  Uma  luz,  uma  cla- 
ridade  que  vacilla. 

—  Diz-se  da  lingua,  quando  se  tem 
dificuldade  em  pronunciar  uma  palavra 
por  outra. 

—  Figuradamente:  Tomar-sc  fraco, 
pouco  seguro,  fiillando  de  certas  faculda- 
des da  alma.  —  Quando  a  memoria  va- 
cilla, a  lingua  balbucia. 

—  Figuradamente  :  Ser  irresoluto,  in- 
certo. —  Nossas  resoluqZee  já  tião  vacil- 
lam. 

—  Vacillar  nas  suas  respostas ;  respon- 
der, ora  d'unia  maneira,  ora  d'outra. 

—  Abanar,  fazer  vacillar. 

—  Vacillar  o  estagio  nos  perigos  da 
guerra,  nas  rebelliZes ;  nào  estar  arme, 
ameaçar  ruina. 

\  VACILLATORIO,  A,  adj.  Que  ó  da 
natureza  da  vacillaçilo.  —  O  movimen- 
to vacillatorio  quo  se  manifesta  algumas 
vezes  na  anthera  ligada  por  sea  meio  so- 
bre o  ti  loto. 

VACINIO,  ou  VACINO,  s.  m.  (Do  latim 
vacc■nium^.  Termo  de  poesia.  Violeta 
roxa. 

VACUAÇAO,  s.  f.  Vid.  Evacnaçío. 

VACUIDADE,  *./.  (Do  latim  vatnitas). 
Estado  do  que  ê  vácuo. — A  vacuidade 
do  estiimago. 

—  Vid.  Vaidade. 

VACUM,  ou  VACCDM,  adj.  2  gen.  Que 
é  de  vacca. 

—  Gado  vaccum ;  os  bois,  vaccas,  be- 
zerros, eitc. — «Nesta  ordem  sairam  da 
serra,  tomando  logo  os  alniocadens  o  ca- 
minho de  Jíonçara,  o  Dalinaçnr,  e  o 
guiam  o  da  boca  de  Benarros,  na  qxial 
corrida  tomaram  mais  de  trinta  almas,  e 
mais  de  quatro  ceutas  cabeças  de  gnadò 


VAGA 


VAGA 


VAGE 


871 


Tacum,  e  gram  somma  de  meudo.»  Bar- 
ros, Décadas. 

1.)  VAGUO,  s.  m.  Termo  de  physica. 
A  porção  de  espaço  despejada  de  todo  o 
corpo,  por  muito  subtil  que  aeja. 

—  O  vácuo  da  machina  pneumática  ; 
o  vácuo  que  lia  no  recipiente  d'ella,  ex- 
trahido  o  ar  quanto  é  possível. 

—  Termo  de  escolástica.  Vácuo  coa- 
cervado ;  grande  vácuo  de  todo. 

2.)  VÁCUO,  A,  adj.  (Do  latim  vacuns). 
Vazio,  oco,  sem  cousa  que  o  occupe. 

—  Posse  vácua;  a  de  que  se  goza. 
• — ■  Aposento  vácuo. 

—  Ralo,  permeável. 

VADEAÇÃO,  *.  /.   A  acção  de  vadear. 

VADEAR,  V.  a.  (Do  latim  vadai-e).  Va- 
dear o  rio;  passal-o  a  vau,  a  pé,  ou  a 
cavallo. 

— -Figuradamente:  Sondar,  examinar. 

VADEAVEL,  adj.  2  gen.  Que  se  pode 
vadear,   que  é  possível  passar-se  a  vau. 

VADEMEGO,  ou  VADEMEGUM,  *.  m. 
Termo  latino.  Cousa  que  cada  um  traz 
ordinariamente  comsigo,  por  exemplo,  um 
livro  de  summo  apreço. 

VADES.  Termo  antiquado  por  Ides.  — 
Vades  embora. 

VADIAÇÃO,  s.  f.  O  acto  de  vadiar. 

— -Vida  de  vadio. 

VADIAGEM,  5.  /.  Vid.  Vadice. 

VADIAMENTE,  adv.  (De  vadio,  e  o  suf- 
fixo   «mente»).  De  um  modo  vadio. 

—  Erraado,  vagando  ociosamente. 

VADIAR,  V.  n.  Audar  para  uma  e  ou- 
tra parte  sem  procurar  estabelecimento, 
como  vagabundo  e  vadio. 

— •  Não  ter  modo  de  vida. 

VADICE,  ou  VADIIGE,  s.  /.  Vida  de 
vadio. 

VADIO,  A,  adj.  Que  não  tem  amo  ou 
senhor  com  quem  viva. 

—  Que  nào  é  arraigado  na  terra,  e 
vive  n'ella  de  sua  industria. 

—  Que  não  tem  trato  honesto,  nego- 
cio, mister,  emprego  ou  modo  de  vida; 
vagabundo,  ocioso. 

—  aS'.  f.  Meretriz,  mulher  de  vida  pu- 
blica. 

VADOSO,  A,  ou  VADEOSO,  A,  adj. 
Que  tem  vau,  que  dá  vau.  —  O  rio  va- 
doso. 

—  Cheio  de  baixios,  bancos  de  areia, 
e  perigoso  á  navegação. 

VAGA,  s.  f.  (Do  latim  vaga).  Massa 
d'agua  do  mar,  de  um  rio,  ou  de  um  la- 
go, que  é  agitada  e  sublevada  pelos  ven- 
tos, ou  por  um  outro  impulso. 

—  Loc. :  Pôr  á  vaga ;  haver  por  es- 
cuso do  serviço  quando  se  alista  gente; 
ou  a  que  se  deu  baixa,  reforma,  ou  fez 
pousado  de  mercê. 

—  Figuradamente:  O  que  é  comparado 
a  uma  vaga.  —  Ardentes  vagas. 

Sangue,  escuma,  em  bolhões  dos  lábios  verte, 
Ecavalào-Ihc  da  fronte  ardentes  vagas. 
r.  M.  DO  MAsciMENTO,  OBRAS,  tom.  7,  pag.  288.    I 


Fazer 


vaga ;    dar 


occasiao, 


—  Vacância  do  beneficiado,  officio. 

—  Por  extensão :  As  azas  das  aves  e 
as  barbatanas  dos  peixes  são  como  remos 
que  fendem  a  vaga  do  ar,  e  da  agua. 

VAGABUNDO,  k,  adj.  e  s.  (Do  latim 
vagabuad.us,  de  vagar i).  Que  anua  cá  e  lá. 

—  Diz-se  também  das  cousas.  —  Car- 
reira vagabunda. 

—  Termo  de  zoologia.  Polypos  vaga- 
bundos ;  polypos  que  são  totalmente  li- 
vres. 

—  Figuradamente :  Desregrado,  sem 
ordem,  fallando  das  pessoas.  —  Pobres 
almas  errantes  e  vagabundas.  —  Vossa 
imaginação  vagamuuda. 

—  Sem  domicilio,  nem  estado  certo. 
Vid.  Vagabundo. 

—  Diz-se  d'aquell6  que  percorre  o 
mundo,  que  vagueia. 

—  Figuradamente :  Animo  vagabundo 
e  inconstante;  do  que  lê  tudo,  ou  varia- 
mente, sem  profundar  os  estudos ;  do 
que  se  dá  a  diversos  exercícios,  tentati- 
vas com  leveza  e  sem  os  seguir. 

VAGAÇÃO,  s.  /.  Vid.  Vagueação. 

VAGAÇOM,  s.  /.  Termo  antiquado.  Va- 
gante, vacância,  vaga. 

VAGADA,  s.  f.  Vagante,  vacância,  va- 
gaçom  ;   aliás  vegada,  Yez. 

VAGADO,  part,  pass.  de  Vagar.  Vid. 
Vago,  que  é  dífferente. 

VAGADO,  s.  m.  Vertigem. 

VAGALUME,  s.  m.  Vid.  Pyrilampo. 

VAGAMENTE,  adv.  (De  vago,  e  o  suf- 
lixo  «mente»).  De  um  modo  vago.  —  Ha 
homens  vagamente  ambiciosos  e  irresolu- 
tos  ainda. 

—  Indeterminadamente,  com  incerteza. 
VAGAMUNDEAR,    u.    ;;..    Andar    vaga- 
bundo, ou  vagamundo. 

VAGAMUNDO,  A,  adj.  e  s.  Vagabun- 
do, errante. 

—  Figuradamente:  O  vagamundo  2''e'í- 
samento. 

—  Substantivamente:  Um  vagamundo. 
VAGANAO,  ou  VAGANAU,  s.  m.  Termo 

antiquado.   Maroto,  ou  mariola  de  carre- 
gar. 

—  Adj.  Vadio,  vagabundo,  errante. — 
Religioso  vaganao. 

VAGANCIA,  s.  /.  Termo  pouco  em  uso. 
Vid.  Vacância. 

1.)  VAGANTE,  s.  f.  O  estado  do  posto 
vago,  ou  o  tempo  em  que  algum  officio 
está  vago.- — A  vagante  de  um  logar. 

—  (Jfficio,  cargo  vago,  vacância. 
2.)  VAGANTE,  part.  act.  de  Vagar. 

—  Sede  vagante.  Vid.  Vacante. 
— -Que  vaga,  que  gyra,  que  erra. 

—  Figuradamente  :  Mulher  vagante  ; 
mulher  que  não  tem  amigo.  Vid.  Va- 
cante. 

—  Vadio,   vagabundo,   ocioso,  errante. 

—  Substantivamente:   U)n  vagante. 
1.)  VAGAR,   I-.  a.  Dar  por  vago. 

—  Correr  vagando. 


—  V.  n.  Ficar  sem  proprietário,  ou 
pessoa  que  sirva  o  officio,  dignidade,  be- 
neficio, cargo,  posto.  —  Vagar  o  bispado. 

- —  Andar  ocioso,  sem  officio,  serviço, 
ou  emprego. 

—  Vagar  para  a  coroa ;  devolver-se  a 
ella  o  officio,  ou  outra. cousa  da  data  de 
el-rei,  em  certos  casos. 

■ —  Ficar  livre,  desoccupado,  em  ócio, 
sem  obrigação  de  serviço,  etc. 

—  Vaguear. 

—  Correr.  , ; 

—  Fluctuar,  andar  boiando  sobre  as 
vagas. 

—  Vagar  o  benejlcio;  ficar  vago. 

— ■  Andar  errando,  sem  caminho,  ou 
destino  certo. 

—  Loc. :  Vagar  a  Deus  em  ócio  san- 
to; entregar-se  á  vida  espiritual,  deixan- 
do a  conversação  e  trafego  do  mundo. 

2.)  VAGAR,  s.  JJ!-.  Diz-se  em  opposição 
a  pressa,  diligencia. 

—  Tempo  ocioso,  vago,  desoccupado 
de  cuidados  e  trabalhos.  —  Ter  vagar 
para  alguma  cousa.  —  «Diz  mais  o  vene- 
rai Mestre  Gersaõ.  Nas  pessoas  Eccle- 
siasticas  particularmente  religiosas,  que 
tem  vagar,  e  aparelho  pêra  procurar,  e 
alcançar  a  graça  da  contemplação,  cursa- 
das na  escola  da  deuoção,  e  oração,  com 
justa  causa  será  culpada  a  negligencia 
nesta  parte,  porque  darão  conta  do  ta- 
lento que  lhe  foi  entregue,  e  escondendoo 
não  luzirão,  nem  medrarão.»  Frei  Bar- 
tliolomeu  dos  Martyres,  Compendio  de 
espiritual  doutrina,  cap.  13. 

—  Loc.  ADV. :  De  vagar;  vagarosa- 
mente, com  pouca  pressa,  sem  pressa. 

- — Plur.  Demoras,  dilações. — Nada 
de  vagares. 

VAGARINHO,  s.  m.  Diminutivo  de  Va- 
gar. —  Andar  de  vagarinho. 

VAGAROSAMENTE,  adv.  (De  vagaroso, 
e  o  suffixo  «mente»).  De  vagar. 


Dos  homens  a  razão  pára  nhum  pouto! 
Deste  bárbaro  estado  a  raçji  humana 
Foi  dando  passos  ragarosametde 
A  estado  social ;  barbara  usança 
Em  costumes  mais  doces  se  transforma. 

IDEM,   MEDITAÇÃO,   Cant.    1. 

Correr  a  longa  idade  alhéa  aos  males. 
Que  ora  tanto  o  período  lhe  cncurtão, 
E  vagarosamente  as  Parcas  duras 
Hiào  fiando  séculos  Titonios, 
Cu  dias  d'ouro  do  nascente  Mundo. 


VAGAROSÍSSIMO,  A,  adj.  superl.  de 
Vagaroso.  3Iui  vagaroso. 

VAGAROSO,  A,'^  adj.  Nào  apressado, 
tardo.  —  Passo  lento  e  vagaroso. 

—  Doença  vagarosa;  doença  chronica. 

—  Que  faz  as  cousas  de  vagar;  de- 
tençoso,  demorado  nas  operações,  es25a- 
çador,  procrastinador. 

VAGEIROS,  adj.  e  s.  Termo  antiqua- 
do.   As    terras  vagas,  nào  plantadas  por 


872 


VACO 


VAI 


VAID 


más,  ou  as  calvas  nos  plantios  omlo  ha 
cabeço»  estéreis,  ralfliros  e  fiiortorios. 

VAGEM,  8.  f.  (Do  latim  vaijinn).  A  bai- 
nlia  (MH  (]ue  CHtSo  o-t  Ifífruiiios,  como  foi- 
jòo'<,  <!!■  vil  lias,  fti-. 

VAGIDO,  ou  VAGITO,  ».  vi.  (Do  lati.n 
vaqitug).  o  ctiovo  'l;is  creaii(^'a3. 

VAGINA,  .1.  /.  ('niial  quo  comluz  á  itia- 
dro. 

—  Termo  de  botânica.  Vagiaa  do  pe- 
dúnculo dos  musijos ;  quo  llies  serve  de 
baiiili.a. 

VAGINAL,  (t'lj.  2  (jen.  Termo  de  ana- 
tomia, (^iin  diz  respeito  á  vajjina.  —  Li- 
gameiífos  vaginaes. 

—  Em  firma  do  bainha. 

—  Ai>tt/)h>/s,',  vaginal;  lamina  saliente 
que  abraga  a  basi  da  ajiophysc  cotyloide 
do  os.''o  temporal. 

—  T\inica  vaginal ;  membrana  serosa 
quo  envolve  o  testiculo. 

—  Termo  de  botânica.  Folha  vaginal ; 
folha  envafrinant". 

t  VAGINIFORME,  adj.  2  gen.  Termo 
de  historia  natural.  Quo  se  aasimiUia  a 
uma  bainha. 

VAGINITE,  ITIS,  .•».  /.  Termo  de  me- 
dicina. lnriammai;i\o  da  vagina. 

f  VAGINO-LABIAL,  arij.  2  gen.  Ter- 
mo de  anatomia.  Que  pertence  il  vagina 
e  seus  lábios. 

—  Hérnia  vagino-labial ;  aquella  que 
desce  entre  o  ischion  e  a  bainha  até  aos 
grandes  lábios  d;i  vulva. 

f  VAGINO-PERITGNEAL,  adj.  2  gen. 
Termo  de  anatomia.  Que  pertence  d  va- 
gina e  ao  peritonuo. 

—  Canal  vagino-peritoneal ;  canal  se- 
roso que  estabelece  uma  couimunifaçào 
temporária  no  feto,  e  aceidentalmente 
permanente  no  adulto,  entre  o  peritoneo 
abdominal,  e  a  tunicji  vaginal. 

f  VAGINO-RECTAL,  adj.  2  gen.  Ter- 
mo de  anatomia.  Quo  pertence  á  vagina, 
o  ao  recto. 

—  Fistula  vagino-rectal ;  fistula  exis- 
tente entre  a  vacina  e  o  recto. 

f  VAGINO-URETHRAL,  adj.  2  gen.  Ter- 
mo de  anatomia.  Que  pertence  á  vagina 
c  á  urctlira. 

—  Fistula  vagino-urethral ;  fistula  en- 
tro a  vagin.a  e  a  urcthra. 

f  VAGINO-VESICAL,  adj.  2  gen.  Ter- 
mo do  anatomia.  Que  pertence  A  vagina 
e  á  bexiga. 

f  VAGINULA,  .-!.  /.  Termo  de  botâni- 
ca. Pequena  bainha  membranosa  que  en- 
volve a  base  do  pedúnculo  da  urna  dos 
muscos. 

VAGO,    A,   adj.  Vagante. 

—  Err.ante,  vagabundo. 

—  Andar  vago  no  campo ;  andar  sol- 
tamente som  receio  do  inindgo. 

—  Horas  vagas;    horas    desoccupadas. 

—  Forras  vagas  ;  derramadas  por  di- 
versos logares.  —  «Rosolveo  buscallo  com 
luinia  poilorosa  armada,  e  tirar-lhe  o  abri- 
go  de  Tunes,   para  que  quando  melhor 


livrasBo,  HO  tornasne  ao  mar,  dondo  como 

l'irat;i,  si>  poderia  ulFencler  com  Icjrçan 
vagas,  as  quão»  niaÍH  facilmente  podoriilo 
acabar  os  tempon,  u  oí  kuccjh.íhh.í  .la- 
cintho  Freiri!  d'Andradc,  Vida  de  D.  Joào 
de  Castro,   liv.  1, 

—  ln'l<:terrninado,  incerto;  em  qno  n.'io 
se  .assentou  cousa  certa,  «obre  assumpto 
imprevisto. 

—  Ocioso. 

—  ('«."!««  vagas ;  casas  desamparadas, 
dcshai>itadas. 

—  Vagos  olhos;  do  que  os  movo  a  to- 
das as  partes  com  paixíto,  furor ;  olhos 
errantes ;  perturbados. 

—  Inconstante. 

—  De  vago  ;  ocioso,  deioccupado. 

—  Eslá  a  moça  de  vago ;  está  sem 
amante,  sem  amigo. 

VAGON,  s.   m.  Vid.  Wagon. 

VAGUEAÇÃO,  s.  f.  O  estado  do  que 
anda  v.ogueando,  viajando,  peregrinando 
ociosamente. 

—  O  estado  do  que  anda  sem  intento, 
nem  proveito. 

—  Figuradamente :  InquietaçRo  do 
pensamento,  sem  attençào  nem  reflexilo 
sobro   nm  si»  objecto. 

—  Vagueação  dos  olhos,  da  vista;  por 
diversos  objectos. 

VAGUEAR,  V.  n.  An'lar  passeando  ocio- 
samente, sem  algum  fim  útil. 

—  Andar  sobro  as  vagas,  correndo  com 
ellas. 

—  Figuradamente :  Vagneia  o  crime, 
antes   impune   campeia. 

—  Os  olhos  vagueiam  com  movimentos 
incertos  a  todas  as  partes ;  diz-se  do  que 
está  perturbado,  etc. 

—  Figuradamente  :  Vaguear  com  tra- 
balho.—  «E  pêra  vencer  estes  desejos, 
e  cortar-lhe  as  raizcs,  e  ter  dominio  so- 
brcllcs,  c  sobre  nós  mesmos,  h<  mais  cõ- 
ueniente  a  solidão  quieta,  que  a  compa- 
nhia distraída.  Isto  he  o  que  diz  lerc- 
niias  nas  lameutai,'ões.  (Sedcbit  solitariua 
&  taccbit,  quia  leuabit  se  super  se.)  Es- 
tará assentado  o  solitário,  e  calar  soba, 
porque  se  alcuantará  a  si  sobre  si.  Os 
que  and.ii  nas  cortes  cegos  eõ  os  fumos 
de  soberba,  vencidos  de  ambii^ão,  va- 
gueam  com  trabalho,  e  o  solitário  e  con- 
templatiuo  está  assentado  com  repouso.» 
Heitor  Pinto,  Dialogo  da  vida  solitária, 
cap.  (i. 

—  V.  a.    Andar   por  diversas  partes. 

—  Vaguear  o  mundo;  correr  to.lo  o 
mundo. 

VAGDEDO,  s.  "I.  Vid.  Vagado. 

VAHD,  s.  VI.  Termo  de  zoologia.  Ani- 
mal quadrúpede  da  Palestina  com  figura 
de  cilo,  e  cabeça  de  urso. 

■f  VAI.  Fiirma  do  verbo  ir  na  terceira 
pessoa  do  singular  do  presente  do  modo 
indicativo.  Vid.  Ir. 


K  se  o  tempo  nos  ruí  som  nos  aproveitar 
do  Uiuiauhas  magoas  andemos  temidos. 


par«  quanta*  viarem  bom  sperMbidsa 

IMniu)!  com  &«  virtiidri  iioí  |H>4<iamo»  pagar. 
[>.  ju.tkiiA.  Dá  auiA,  PI  IO*  Kx  iB(iK4,  pag.  103. 

Contcntíi-se  da  iioitn  trinte  c  cMura  ; 

Hdiu  t«in  ouiu  o  wjI  puro  c  liucntc. 

(^iiçm  vio  imiic:t  tam.iiili.i  dit.-tvciitura  V 

Com  c^t^í  'ni  pai»->iiido  t.\o  coiitontc, 

(juo  dl/.  >|ii>%  >|iiniido  o  mal  mni*  o  alormoota, 

Sc  gOitto  HCDtir  p.'d.'.  iMit.iii  I.  p«-iit«. 

CAM,  ECUMA   1.'' 

Lof;o  diW  tre*  batalboit  a  priínirira 

I,:í  diante  «c  p'>e,  a  '(ual  fniitda 

Viti  dliiima  Iitr);a  (-•n*  ■  f    '  .idcira 

IJi!  cor  branca  <•  vcrii  1 1. 

Ja  a<Ja  do  tambor  a  T' 

SAa  a  vnr.  do  clarão  h'  í. 

A  fcita  he.  Cal  '|uu  an  -  arroiaha 

A  terra  qiiarti  treine,  n  -i. 

rHVHciiit-o  d'a!<i>i«dk,  ittiM»;ia.j  CKaco  DB  DID, 
oaot.  1<J,  C4t.  .30. 


—  « Pois  vai  em  tanto  exce«ao,  quo 
poucos  sar»  u-i  Fidalgus,  que  piidem  eaffar 
huma  fíllia,  e  qua^i  nenhum  doas,  como 
se  disse  no  capitulo  das  Cortes  do  Esta- 
do da  Nobreza  a  Elllev  Nosso  Senhor 
pcdindo-Uie  remoJio  para  e«te  danno,  por 
ser  gravissimo,  e  que  extinguia  grande- 
mente a  Nobroja  de  Portada].!  Severim 
de  Faria,  Noticias  de  Portugal,  Disc.  1, 
cap.  2. 


Aos  desertos  do  espaço  a  cllipsc  estende 
E^tc,  c  gyraiido  rai  frôxo,  c  tranqaiUo ; 
Outro  qn.isi  envolvido,  c  quasi  immerso 
No  grão  disco  do  Sol  se  mostra  aos  olhos. 

1.    A.    DE    MACEDO,    MCDITÁçIo,   Caot.    4. 

T  aí  correndo  sem  rumo  a  forte  Armada 
Pela  e3;)!idoa  d:is  ondaa  espumosas; 
Ora  aos  turvados  Ceos  arremedada, 
Ora  tocando  as  furnas  arenosa-s : 
De  todo  a  ethórea  abobada  toldada 
r>o  Polo  escondo  as  t/>cbas  luminosas ;  m 
Muito  a  agulhi»  grmpathioa  declina, 
Xem  jA  tcutada  rrlta  ás  N.íoâ  ensina. 
iDcif,  o  ORtejiTE,  cant.  3,  est.  41. 

Qual  o  que  sobe  do  Apenino  ao  oams, 
Que  vai  nos  ares  topctar  eo'as  nuvens, 
K  pelo  immenso  plano  alonga  os  olhos. 
Onde  outrora  s'ergueâ  latina  Império, 
Grandes  cid:uieâ  vè,  campinas  forb^is, 
K  os  re.st09  immortaes  do  fa-^to,  c  gloria. 
Que  inda  em  quebciidos  mármores  avulta. 

IDKK,   VIÀOEJI   KXTATICA,  Caut.    1. 


—  «Pelas  sabi.as  occurrencias  de  So- 
ptembro  de  1836,  tempi>  em  que  a  com- 
missão  trabalhava,  e  quando,  depois  de 
alguns  dias,  cliogava  a  este  resultado, 
foram  suspensos  os  seus  trabalhos.  Um 
relatório  circumstanciado  e  documentado 
de  todo  o  processo  da  expioraçSo  vai  ap- 
parecer  brevemente  ao  público.»  Garrett, 
Camões,  nota  F.  ao  cant.  10. 

VAIA,  ou  VAYA,  í.  /.  Matraca,  zom- 
baria, apupada,  corrinia^a  ao  que  £coa 
logra  i o.  —  Dar  vaia. 

VAIDADE,  í.  /.  iDo  latim  vanita»),  A 


TAL 


VALE 


VALE 


873 


falta   de  solidez,  e  permanência  das  cou- 
sas. 

—  Ostentação,  fausto,  pompa  và. 

—  Presuuipção  de  si  sem  fundamento. 

—  Desejo  vão,  vã  pretenção  de  honra, 
e  gloria  sem  mérito. 

—  Pouca  consistência  nas  cousas. 

—  Fumos,  fumaça,  vangloria. 

— :Loc. :  Dizer  vaidades;  dizer  pala- 
vras vagas,  cousas  sem  sentido,  nem  ra- 
zão. 

—  Os  sumptuosos  sepulchros  sào  vai- 
dades eh  2ye'lra  e  cal. 

—  Dizer  vaidades  namoradas;  deva- 
neio^. 

—  Sts'.  :  Vaidade,  orgulho.  Vid.  este 
ultimo  ternid. 

TAIDOSAMENTE,  adv.  (De  vaidoso,  e 
o  suffixo  "mente»'.  Com  vaidade. 

VAIDOSO,  A,  a^j.  Vanglorioso,  cheio 
de  vangloria. 

—  Qae  tem  uma  vaidade  pueril,  e  ri- 
dicula,  tanto  em  acções,  como  em  pala- 
vras. 

VAILETA,  s.  m.  (Do  latim  veles).  Ter- 
mo antiquado.  Soldado  armado  á  ligeira. 

^  VAIS.  Forma  do  verbo  ir  na  segunda 
pessoa  do  singular  do  presente  do  modo 
indicativo.  Vid.   Ir. 

—  Alguns  escrevem  fás  em  vez  de 
vais. 

VAITEAELLE,  s.  m.  Jogo  próprio  dos 
rapaz'."S,  cm  que  nns  andam  em  segui- 
mento dos  outros. 

VAIVÉM,  s.  m.  Trave  grande,  com  que 
outr'ora  sé  tatiam  as  portas,  e  muros  das 
fortalezas. 

—  A  pancada,  embate  com  o  vaivém. 
—  Dar  vaivéns  á  -porta.  —  «Uma  faisca 
de  lume  me  centelhou  diante  dos  olhos  :  de 
um  pulo  eu  estava  pegado  com  a  porta  da 
igreja :  as  escamas  das  minhas  manoplas 
bateram  nella  como  um  vaivém  e,  com 
um  som  que  se  prolongou  pelas  naves, 
via-a  aberta  e  lá  no  meio  uma  tumba 
cercada  de  brandões  accesos  e  ao  redor 
padres  que  resavam  latim. n  Alexandre 
Herculano,  Monge  de  Cister,  cap.  1. 

^Intrigas,  máchinações. 

—  Figuradamente :  Os  vaivéns  do  mun- 
do, da  fortuna;  os  embates  que  nos  dá 
para  arruinar;  ou  os  seus  revezes,  e  al- 
ternativas. 

VAIVODA,  s.  m.  Príncipe  soberano  da 
MoMavia,  Valaquia,  etc. 

VAL.  Forma  dó  verbo  valer  na  ter- 
csira  pessoa  do  singular  do  tempo  pre- 
sente do  modo  indicativo.  Vid.  Valer. 

Nestes  medos  amor  meus  bens  desconta, 
E  nâo  me  vai  a  minha  confiani;a, 
Qae  30  muito  montou,  nada  já  monta. 

FEBxlo    SOBOPITA,     POESIAS     E     PKOSAS    ISEDITAS. 

pag.  112. 

—  <t  Desempeçado  o  entendimento  do 
cidadám  da  duuidà  é  toruãçáin  em  que 
esfaua  disse :  Fm  estremo  folguey  de  VOí 

VOL.  V.  — 110. 


ouuir  essa  demostração,  porque  esta  ella 
tam  clara,  que  a  entendo  eu,  sendo  iam 
isento  de  letras  per  meu  natural,  como 
vos  ornado  delias  per  longo  estudo.  Quanto 
vai,  disse  o  jurista,  a  praticai  de  homens 
doctos.o  Heitor  Pinto,  Diálogos  da  Jus- 
tiça, cap.  8. 

VALA,  s.  f.  Vid.  Valia. 

VALADA,  s.  f.  Vid.  Vallada. 

VAL.%.DIL,  s.  7)1.  Termo  antiquado.  Vid. 
Valedio. 

VALADIO.  Vil.  Baldio,  e  Levadio. 

—  De  valadio  ;  debalde,  ociosamente, 
inutilmente. 

VALADO.  Vil.  Vallado. 

VALANCINA,  VALENCINA,  ou  VALEN- 
TINA,  s.  /.  Pa;ino  que  .;e  fabricava  no 
reino  de  Valência,  d'onde  se  originou  o 
nome. 

VALDEVINOS,  s.  m.  Termo  popular. 
Valio,  preguiçoso,  libertino. 

VALDIO,'A,'n'ij.  Bailio,  ocioso. —  £'s- 
peranças  valdias.  Vid.  Baldo. 

VALDO,  por  Baldo.  Valio,  ocioso  que 
não  tem  mister  de  que  viva,  ê  anda  sem 
senhor,  vagabundo. 

l.y  VALE,  s.  m.  Termo  latino  de  que 
se  usava  nas  despedidas;  a  despedida. — 
O  ultimo  vale. 

—  Êseripto  que  constitue  obrigação  de 
divida,  e  que  se  dá  quando  o  Estado  se 
apodera  de  alguns  objectos  para  siias  ne- 
cessidades. 

—  Letra  pagável  no  correio. 

2.)  VALE.  Forma  do  verbo  valer  na 
terceira  pessoa  do  singular  do  presente 
do  modo  indicativo.  Vid.  Vai. 

VALEDEIRO,  A,  adj.  Termo  antiqua- 
do. Vali  lo.  firme. 

VALEDIO,  A,  adj.  —  Dobras  valedias; 
eram  castelhanas,  e  côrrerani. 

VALEDOmO,  A,  ou  VALEDODRO,  A, 
adj.  Válido  entre  os^  contractadorés,  vá- 
lido juridicamente. 

VALEDOR,  A,  í.  Pessoa  que  vem  acu- 
dir a  outra  em  briga,  aperto. 

—  Protector,  adherènte,  advogado. 

—  Q'ie  é  da  valia  d'alguem. 

— -AJj.  Termo  antiquado.  Válido. 

VALSDOURO,  A,   adj.  Vid.  Valedoiro. 

VALEGO,  A,  aJj, —  Odres  valegos; 
odres  novos,  que  ainda  estjío  com  o  pez, 
ou  atados,  presos,  como  velegado,  que  diz 
o  mesmo  que  relegado.  =  Em  Viterbo, 
Elucidário. 

VALEIRO,  s.  m.  Homem  que  nào  leva 
besta. 

—  Talvez  o  vallador  escuso  de  ter  bes- 
ta, e  de  ser  besteiro  do  conto.  Vid.  Ve- 
leira. 

VALÊNCIA,  s.  /.  Termo  de  botânica. 
Planta,  conhecida  fambeui  pelo  nome  de 
anguria,  cujas  6ôres  são  similhantes  na 
côr  e  feitio  ás  da  giesta. 

VALENCINA,  s.  f.  Vid.  Valancina. 

VALEN3A,  í./.  "(Do  latim  valere).  Ter- 
mo antiquado.  Poder,  fortaleza,  auctori- 
dade,  força. 


VALENTÃO,  ONA,  adj.  e  s.  Que  é  muito 
valente,  ou  que  se  preza  de  valente. 

—  Fanfarrão,  que  blasona  de  valente, 
de  ronca. 

■ — -O  campeão  de  alguém. 

—  O  bravo  matante. 

VALENTAR,  v.  a.  Termo  antiquado. 
Dar  força,  dar  valor. 

VALENTE,  adj.  2  gen.  (Do  latim  va- 
len-s).  Que  tem  valor,  esforço.  —  «E  deu- 
Ihe  el  Rey  por  avo  e  gouernador  de  sua 
casa  dom  Diogo  Dalmeyda,  que  dahy  a 
poucos  dias  foy  prior  do  Crato  per  fale- 
cimento do  prior  dom  Vasco  Dataide.  O 
qual  dom  Diogo  foy  homem  muy  princi- 
pal, e  foy  muy  valente  caválleiro,  e  nuiy- 
to  grande  cortesam,  e  de  muy  tas,  e  boas 
qualidades,  e  muyto  aceyto  a  el  Rev.» 
CTarcia  de  Rezende,  Chronica  de  D.  João 
II,  cap.  137. 

—  Figuradamente :  Que  tem  força, 
energia;  bom,  gi-ande  no  seu  género. 

—  Mantenedor,  campeão. 

—  Valente  remédio. 

—  Valente  mentira. 

—  Animal  valente;  animal  de  grandes 
forças'. 

—  Valentes  de  longe;  os  que  blasonam 
fora  do  perigo,  e  n'eíle  esmorecem  ou  fo- 
gem. 

VALENTEMENTE,  adv.  (De  valente, 
e  o  suffixo  «mente»).  De  um  ínodo  va- 
lente. 

—  Com  valentia,  com  esforço. 
VALENTIA,    s.  /.    Valor  corporal,  es- 
forço. 

—  Figuradamente :  A  energia. 

—  Acção  que  exige  grandes  forças,  e 
valor. 

—  Fazer  uma  valentia ;  fazer  esforço 
não  ordinário  no  sujeito,  ou  despropor- 
cionado á  sua  fraqueza  do  momento. 

I  VALENTINIANISMO,  5.  wi.  Systema 
do  gnosticismo,  que  se  afasta  mais  do 
christiaidsrao. 

f  VALENTINIANOS,  s.  m.  plur.  Anti- 
ga seita  de  gnósticos  nascida  no  princi- 
cio  do  segundo  século,  e  reconhecendo 
por  chefe  Valentino,  que  não  admittia 
nem  a  geração  eterna  do  Verbo,  nem  a 
sua  incarnação,  nem  a  dividande  de  Je- 
sus Christo,  nem  a  redempção  do  género 
humano  no  sentido  próprio,  e  que  profes- 
sava a  doutrina  da  emanação  ê  á  crença 
nos  Eonios. 

7  VALENTISSIMAMENTE,  adv.  superl. 
de  Valentemente.  ^lui  valentemente. 

VALENTÍSSIMO,  A,  adj.  superl.  de  Va- 
lente. IMui  valente. — Animal  valentís- 
simo. 

VALENTONA,  s.  /.  de  Valentão. 

—  Loc.  ÁDV. :  A  valentona ;  á  força, 
sem  razão. 

—  Com  brios  de  valente. 

VALER,  v.  n.  Ser  útil,  servir,  prestar, 
soccorrer,  prestar  auxilio,  amparar.  — 
«Se  isto  sempre  ha  de  ser,  e  acabados  os 
oito   dias   me  hei  de  ir  como  vim,  tristes 


874 


VALE 


VALE 


VALH 


dos  que  cm  seu  nomo  bo  vierem  comba- 
tor  comigo,  que  [nAo  sor,  que  quaii  lo  ci- 
las llios  quizorcm  valer,  iiilo  queruni  eu. 
E  qiuiixc-.<c  Cu|)i'lo  ((uaiiti)  qiiizer,  que 
por  (lorradoiro  já  vou  oi>ton<len'io  que  iiílo 
acertam  to  los  quanton  llic  dito  a  vontade. i 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Iagla- 
terra,  cap.  142. 

—  Tof  e-ítinia,  importância,  Bor  esti- 
mado. —  n  E  cortou  al^íuniaí»  cspi-ja-*,  que 
cstauã  iiiuyto  mais  altas  qiio  as  outras,  e 
depois  lio  todas  ficarem  igoaes,  disse  u 
Trasibulo,  que  assi  ao  cliamaua  o  enibay- 
xador,  que  se  fosse,  e  que  aquillo  que  fi- 
zera lhe  dana  por  rcpoeta.  Quis  naquiilo 
significar  o  philosoi)lio  qi\e  nenhuma  cou-a 
mais  aformoscntaua  a  llepubrica  <iuc  a 
igoaldadc,  c  que  jiera  bòa  gouornança  c 
quictaçam  os  soberboi  o  fautosiósos  auiam 
de  ser  oprimilos,  porque  os  que  mais  que- 
rem valer,  saõ  os  que  nu'nos  valem.»  Hei- 
tor Pinto,  Dialogo  da  Justiça,  wip.  t). 

—^  Valer  íiiflií;  ser  prcferivel.   ■ 

—  Ser  de  tal  "valor,  ou  míireciíncnto 
proporcional  comparável.  ■, 
.(— Valer  mtnuK;  perder  a  sua  n9l)reza, 
de  dcgradai;ão  jcraroliica,  derogação  de 
qualidade,  por  má.  conducta  punivèl  com 
essa  degraaaçiíó. 

—  Trazer  em  lucro. 

^  çrz^Tpr  certo  valor  ou  valia. 
'^  Valer  com  qlguem  ;  ter  merecimen- 
to, para  d'cllc  obter  alguma  cousa. 

—  Custar.    ^  ,    „_     .  .      •  , 

—  Valer  ante  a^gupm;  ter , .valimento 
com  elle.  '  •   ' 

—  Figuradamente  :.  O  saber  não  vale 
jía  praça;  níto  se  vende,  nem  produz 
difiilíeiro,  nãii  é  mercadoria. 

—  Valer-se,  v.  rejl. — Valer-se  «/e  o/- 
gúem,  ou  ãe  alguma  cousa;  servir-se  do 
seii' préstimo,  pcdir-llie  auxilio,  recorrer 
a  eito,  ou  a  cila. 

'^^—  Valer-se  </«  «íf/ncn» ;  apoiar-se  n'elle, 
'  —  Valer-se    il)    inimigo ;    defendei--se 
d'eUe,  e  otlcadel-o.    ^  ,    ,  ,  .  ','„ ,'^-.-  ' 
-^  Vàler-se  tZo  ynò;  resguafdar-se. 
' — Adágios  E  PROVÉRBIOS: 

—  Quanto  sabes,  tauto  vales. 

— -  Dizo-mo  quanto,  tens,  dir-tediei 
(juanto  vales. 

—  Comamos  e  bebaniios,  e  nunca  mais 
Talhamos. 

—  Tanto  vai  a  cousa,  quanto  d3o  por 
feftái ' '  ' 

\_-^  Morrer  por  ter,  e  soflEi'er  por  valer. 

—  ilíulia  Ciusa  c  meu  lar  cem  soldos 
va);   c  o^timou-se  ma,l,  porque  mais  vai. 

\,-T~  1'or  mais  servir  uieuos  valçr. 

—  Mais  vai  vergonha  no  rosto,  que 
magoa  no  oorívçào.  .,,-•.  ■ 

—  Mais  vai  amigo  na  praça,  que  di- 
nheiro na  arca. 

—  Mais  vai  uni  toma,  que  dous  te  da- 
rei. 

—  Mais   vai  calar,  quo  fallar  mal. 

—  Mais  vai  um  passarinho  na  milo, 
íjuo,  dous  que  voando  vào. 


—  Mais  vai  o  feitio,  que  o  pauno. 

—  Mais  vai  sabor,  que  haV'-r. 

—  Mais  vai  penhor  iia  arca,  que  fia- 
dor na  jiraça. 

—  Mais  vai  tarde,  que  nunca. 

—  Mais  vai  qucíui  Deus  ajuda,  que 
quem  muito  madruga. 

—  Tantn  vales,  quanto  luís,  o  o  saber 
por  de  mais. 

—  Tanto  vai  cada  um  na  praça,  quan- 
to vai  o  (pu!  tem  na  caixa. 

—  tíe  nào  houvera  mais  alhos  que  ca- 
nclla,  o  que  ellcs  valem,  vakra  cila, 

—  Do  andgo  que  nào  valha,  o  do  fa- 
ca que  nào  talha,  não  me  dá  migalha. 

—  U  sal  quanto  salga,  tauto  vai. 

—  Mais  Vdl  a;;ua  do  céo,  que  todo  o 
regado. 

f  VALER  AL,  s.  m.  Termo  do  chimica. 
Producto  obtido  pola  distillaçào  do  valc- 
rato  dt:  barvta. 

t  VALE  RATO,  ou  VALERIANATO,  s.m. 
Termo  de  chimica.  Sal  formado  pelo  aci- 
do valcrico  com  us  bases. 

VALERIÀNA,,  s.  m.  Termo  de  botâni- 
ca, (í onero  do  jdantas,  herva  oflficinal, 
amarga,  de  yuejia  ciiico  ospeçic;»:  a  or- 
dinariq^  ou  ^ilvesfref  hortense^  phua, 
diis   In-rjoé.        "  '  '  ,  , 

1-  VALÇRIANACEAS,  s.f.plur.  Familia 
de  plantas  uieutyledoucas  que  tem  por 
typo  a   vd/criíina.  , 

VALEROSAMENTE,  adv.  (De  valeroso, 
e  o  sufiixo  «meulei';.  De  um  modo  vale- 
roso. —  BatalliDu  valerosameute. 

—  Com  valor,  com  esfoi\'o. 
VALEROSIDADE,  s.  ./■.   o   caracter  do 

que  é  valemso. 

VALEROSISSIMAMENTE,  adv.  auperl. 
de  Valerosameute.    Jlui  valerosameute. 

VALER0SI3SIM0,  A,  adj.  superl.  de 
Valeroso, -Mui  valeroso.. 

VAL.EROSO,  A,  adj.  Que  tem  forças. 

—  Eííforyado,  corajoso,  aniuioso.  — 
«Aquelle  que  iiojo  se  vo  tão  valeroso  por- 
que a  nec 'ssiiladc,  a  colora,  e  a  offensa 
lhe  discompòcm  a  imagina^'ào,  amanhàa 
sem  alguma  dessas  causas  parecerá  o  ho- 
mem mais  cobarde  que  tem  o  mundo. 
Que  dezigualdade,  e  que  inconstância ! 
Está  variedade  porem  sendo  natural  ao 
homem,  tem  seus  principies  o  tem  suas 
causas.»  Cavalleiro  d'ÒIiveira,  Cartas, 
liv.  1,  n.o  1. 

—  De  importância,  que  tem  valor,  va- 
lia.—  .«Assi  como  quando  humã  pe-ssoa 
valerosa  vos  manda  hum  recado  por  hum 
moyo  rceebcylo  com  reuercncia  o  estima, 
ainda  que  quem  o  traz  seja  pessoa  vil, 
assi  todolos  sauetos  conselhos  c  doutri- 
nas,» Frei  Bartliolomeu  dos  Martyres, 
Catecismo  da  doutrina  christã, 

—  Que  ó  de  grande  preço,  que  tem 
valia,  valor. 

—  Figuradamente  :  VinJto  valeroso ; 
vinho  fo:te,  activo. 

—  linmedio  valeroso;  remédio  forte, 
activo. 


■{•  VALESIANOS,   ».    m.    plur.   Antiga 

seita  herética,  rle  que  falia  S.  Epiphanio, 
e  que  além  de  certa*  o])iuir>e8  guootic&f, 
se  castravam  a  si  mcsmoH. 

VALETE,  *.  m.  (Do  francez  valei). 
IJnui  das  três  figuras  dos  quatro  naipe* 
do  baralho  das  cartas  de  jogar.  Vid.  Con- 
de,  e  Cavallo. 

VALETUDINÁRIO,  A,  adj.  (Do  latim 
valeludinariutj.  Qu  •  c-^tá  muitas  vezes 
dociíto,  —  l'iiS'i<i$  dijentet  c  valetudiná- 
rias. 

—  Que  goza  ])Ouca  saúde. 

—  Substantivamente  :  Oi  convaUsceti- 
tet  e  os  valetudinários. 

VALHA.  Fiirma  ilo  verbo  iiali:r  na  pri- 
meira e  terceira  pessoa  do  singular  do 
preseute  do  modo  conjanctivo.  Vid.  Va- 
ler. —  «A  este  artigo  diz  Ellícv,  que  pois 
tanto  d^piio  vem  dclles,  que  os  nom  aja 
hy  daqui  em  diante,  c  manda  que  os 
nom  façam;  e  se  os  alguém  fezer,  que 
nom  valham  nuiis  que  outro  prazo  feito 
simprismento.»  Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit. 
7.  —  «Ainda  o  iião  ac^ibava  ,«!<» '<]izer, 
quando  um  dcUcs  lhe  caiu  aos  pé-i  de 
puro  cançasso  c  deífallecimento  do  espi- 
rito, o  outro  se  soccorreu  ás  douzellas, 
peilindo-lhc  que  valec^eem.  Bjm  couto 
soubestes  tomar,  disse  o  do  Sal  vage,  elle 
vos  valha,  que  certo  perto  estáveis  de 
pagar  a  vileza  que  comigo  usastes.»  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterr4, 
cap.  IIG. 

Mas  como  a  porta  .1  poiícns  agnsalha,    , 
E  11  tíxloH  uoila  a  vida  si^  proinctto. 
Qual  (lilliarpa  o  oaminlm  n'i-ir  írribilhu. 
'^>ual  a  entrada  coo.i  li      ' 
Qual  torna  lium  pouco 
Mas  donde  este  se  ala-.. 
Ora  vào  atraz  todos,  ora  .Ivaut.', 
Movimento  ao  das  oudas  acraclhanto . 

r.  d'andbade,  raiMEiRo  ckbco  de  i>ir,  cant   0. 
est.  68. 

—  Substantivamente:  5er  valha;  ser 
bom,  approvavel,  que  merece  fazer-sew 

VALHACO,  A,  a<lj.  e  s.  Vid.  Velhaco. 
VALHACOUTO,    í.    m.    Logar    seguro, 
forte,  defensável. 

—  Expediente,  modo  de  occultar  os 
seus  propósitos. 

—  Asylo,  refugio. 

—  O  valhacouto  da  divina  misericór- 
dia. 

VALHER.  Termo  antiquado.  V;d.  Va- 
ler, termo  em  uso. 

VALHO.  Forma  do  verbo  valer  na  pri- 
meira pessoa  do  singular  do  presente  do 
modo  indicativo.  Vid.  Valer.  —  Valho-me 
d'isto  para  melhor  conseguir  o  mettjim. — 
«Tendo  provado  os  Autores  de  Medicina 
que  os  homens  sito  mais  c.ilidos,  do  que 
as  molhcres,  valho-me  desse  principio  pa- 
ra segurar,  que  assim  como  esse  calor 
03  forma  em  menos  dias  r.os  sevos  ma- 
ternos, agitando-os  em  menos  tempo,  e 
gerando-os    com    mais   facilidade,   assim 


VALI 


VALL 


VALL 


depois  de  verem  o  mundo  são  ôs  liomens 
o  qae  nelle  mostram  maiores  forças  e 
firmesas  em  tudo  quanto  entreprendem.» 
Cavalleiro  d'01ÍTeira.  Cartas,  liv.  1,  n."  1 . 
'  1 .)  VALIA,  s.  /.  Valor  intrínseco  ou 
de  opinião. 

—  Carta  de  valia;  carta  de  favor,  de 
protecção,  empesho. 

—  Valimento,  impoi-tancia.  — «E  nes- 
te anno  de  quatrocentos  e  oitenta  e  oito, 
porque  lio  dito  Bemohi  por  trayçam  dos 
seus  fov  lançado  fora  do  Reyno,  deter- 
minou nieterse  em  huma  carauella  das 
do  tracto  que  corrião  a  costa,  e  em  pes- 
soa rir  pedir  a  el  Rey  socorro,  ajuda,  e 
justiça.  E  estando  el  Rey  em  Setuuel  o 
dito  Bemohi  chegou  a  Lisboa,  e  com  elle 
alguns  negros  seus  parentes,  e  tilhos  de 
pessoas  antre  elles  de  muita  valia  e  gran- 
de e^^tima.«  Garcia  de  Rezende,  Chroni- 
ca  de  D.  João  II,-  cap.TS.  —  «Per  on- 
de consta  que  o  que  trazeis  contra  mim 
he  coLtra  vos,  e  o  que  cuidais  que  he 
contra  a  mathematica,  he  por  ella,  e  o 
que  allegais  pêra  seu  descrédito,  allego 
eu  pêra  sua  valia.  Day  huma  volta  a  es- 
sas vossas  razões,  e  achalas  eis  confor- 
mes a  meu  propósito.»  Heitor  Pinto,  Dia- 
logo da  Justiça,  cap.  8. 

—  A  pessi'a  do  valedor,  protector. 

—  Valor  de  animo. 

—  Preço. 

—  Parcialidade,  facção. 

—  Loc.  :  Guardar  a  valia  a  alguma 
cousa  ;  respeital-a,  guardar-lhe  os  firos. 

—  Emprestar  a  mór  valia ;  emprestar 
com  o  maior  juro  e  usura. 

— Poder  e  forças  militares,  e   pessoas 
em  que  ellas  consistem. 
•    •{•2.)  VALIA.  Forma  do   verbo   valiar 
na  terceira  pessoa  do  singular  do  presen- 
te do  modo  indicativo.  Vid.  Valiar. 

-j-  3.)  VALIA.  Forma  do  verbo  valer  na 
primeira  ou  terceira  pessoa  do  singular 
do  pretérito  imperfeito  do  modo  indica- 
tivo. Vi'L  Valer. 

VALIAR.  Vid.  Avaliar. 

VALIDAÇÃO,  s.  /.  Acto  de  validar.— 
A  validação  d' um  casamento. 

VALIDADE,  «.  /.  Qualidade  do  que  é 
valido,  em  opposição  a  nuUidade.  —  A 
validade  d'um  acto. 

—  Legitimidade. 
VALIDAMENTE,   adc.   (De  valido,  com 

o    suífixo    a  mente»).    De  um   modo    va- 
lido. 

—  Com  legitimidade. 

—  Contrakir  validamente  ;  conforme  ás 
leis,  e  direito,  e  sem  oíFensa  d'ellas. 

VALIDADO,  parí.  pass.  de  Validar. 
Tornado  valido,  e  legitimo.  —  Acto  vali- 
dado. 

VALIDAR,  V.  a.  Tornar  valido,  legi- 
timo alfrum  acto.  —  Validar  um  acto. 

VALIDIÇÃO,  s.  /.  Termo  pouco  em 
uso.  Viil.   Validação. 

validíssimo,  a,  adj.  supprl.  de  Va- 
lido. Mui  valido. 


VÁLIDO,  A,  adj.  (Do  latim  validus). 
São,  vigoroso.  —  Um  homem  valido. 

—  Figuradamente :  Que  tem  as  condi- 
ções requeridas  pelas  leis  para  produzir 
seu  effeito.  '  '       •  " '  ' 

—  Poderoso,  robusto.  • 

—  Que  tem  validade,  em  opposição  a 
nullo,  ou  irrito.  —  Pactns  validos. 

—  Figuradamente  :  Validos  venenos  ; 
venenos  fortes,  poderosos. 

—  Que  usa  de  forças. 

—  Substantivamente:    Um  valido. 

VALÍDO,  A,  adj.  e  s.  Que  tem  vali- 
mento e  privança  com  alguém,: — «An- 
dava na  Corte  hum  cossairo,  que  se  cha- 
mava Alecheluby,  que  fora  thesourciro 
do  Cairo,  homem  muito  rico,  e  valido 
antre  os  Baxàs.  Este  em  chegando  as 
novas  do  que  soccedeo  a  Moradobec,  o 
começou  a  vituperar  diante  dcs  Baxàs 
dizendo,  «que  homem,  que  entregara  a 
Fortaleza  de  Catifa  aos  Portugueses  sem 
esperar  golpe  de  espada,  naÕ  se  lhe  ou- 
vera  de  entregar  aquelle  negocio  nas 
mãos,  ofFerecer.do-se  aos  Baxàs  pêra  elle 
passar  aquellas  quinze  Galês  a  Suez,  co- 
mo o  Turco  mandava.»  Diogo  de  Conto, 
Década  6,  liv.  10,  cap.  20.  —  «Os  vali- 
dos dos  Reis  de  Castella  foraõ  os  primei- 
ros instrumentos 'da  liberdade  deste  Rei- 
no, porque  mais  parece,  que  attendiaõ  a 
destruir,  do  que  a  conservar.  Eraõ  ex- 
cessivos os  tributos,  naõ  se  dava  satisfa- 
ção ao  que  juráraõ  nas  Cortes  de  Tho- 
mar,  e  em  outras,  pois  se  viaõ  os  luga- 
res, que  deviaõ  ser  dos  Portuguezes  na 
maõ  dos  Castelhanos,  e  parecendo-lhes 
ainda  pouca  esta  repetida  infracção  das 
Leis  enti-áraõ  na  pretençaõ  de  reduzirem 
este  Reino  ao  estado  de  Província. »  Fr. 
Bernardo  de-  Brito,  Elogios  dos  reis  de 
Portugal,  continuados  por  D;  José  Bar- 
bosa. 

—  Favorecido  em  necessidades,  traba- 
lhos. 

—  Stx.  :  Valido,  favorito.  Vid.  este 
ultimo  termo. 

VALIMENTO,  s.  m.  A  privança,  o  me- 
recimento, a  gTaça  que  se  tem  com  al- 
guém, em  virtude  da  qual  se  obtém  d'el- 
le  o  desejado. 

—  Intercessão,   adherencia  do  valido. 
VALIOSAMENTE,  adv.  (De   valioso,    e 

o  suíExo  «mente»).  De  uma  maneira  va- 
liosa. 

—  Validamente. 

VALIOSO,  A,  adj.  Válido,  em  opposi- 
ção a  nullo. 

^Fc  tem  seguro  firme  e  valioso 
Xhum  formão  seu,  de  chapas  d'ouro  ornado, 
Polo  qual  como  nobre  e  grandioso 
Xào  somente  nos  tem  assegur.ndo 
Que  as  \'ida3  nos  dará,  c  as  liberdades, 
Mas  escravos  também,  e  faculdades. 
F.  d'andbade,  PRniEiRO  CEBCo  DE  DIU,  caut.  15, 
est.  24. 

1.)  VALLA,  s.  f.  Cova  longitudinal  de 


mais  ou  menos  altura,  e  largura,  que  se 
faz  na  fortificação;  ou  para  recolher  a 
agua  que  escorre  e  liltra  das  terras  apau- 
ladas, para  dar  curso  ás  aguas,  para  na- 
vegação de  vasos  pequenos. 

2.)  VALLA.  Forma  antiquada  do  verbo 
valer  na  prinicira  ou  terceira  pessoa  do 
singrular  do  presente  do  modo  conjuncti- 
vo.  Vid.  Valha. 

VALLADA,  s.  /.  Valle  mui  extenso,  ô 
longo. 

—  Valias  para  desaguar  os  valles. 

1.)  VALLADO,  s.  m.  Valle  de  pouco 
fundo,  com  selva,  ou  tapume,  de  cercar 
quintas. 

—  Quinta  ou  fazenda  vallada. 

—  Derribar  vallados ;  talvez  de  tijo- 
los. 

—  Os  vallados  são  também  cercados 
ás  vezes  de  pedra  eiisossa. 

2.)  VALLADO,  paH.  pass.  de  Valiar. 
Cercado  de  valias. 

— •  Rodeado  por  inimigo. 

—  Defendido  de  valias. 

—  Munido,  corroborado. 

—  Figuradamente :  Cercado. 

—  Torneado  de  obras  defensivas. 
VALLADOR,    s.   m.    Homem  que  abre 

valias,  qne  abre  vallados. 

—  Vallador  do  campio  do  Mondego. 

—  Valladores  de  cava  de  fm-tijicaçdlo. 
VALLAR,  1-.  a.  (Do  latim  v aliar e).  Abrir 

valia  em  algum  logar  para  o  fortificar, 
cercar,  e  defender  a  entrada  com  vallo, 
muro,  tapume  de  pedra  ensossa.  - —  Val- 
iar a  quinta. 

—  Cercar,  sitiar. 

—  Valiar  as  terras  com  valias  para  as 
desaguar, 

^-  Murar,  munir,  cercar. 

—  Vailar-se,  v.  rejl.  Cercar-se,  forti- 
ficar-se  com  vallos,  ou  valias. 

VALLE,  s.  m.  (Do  latim  vallis).  Planí- 
cie ao  pé,  ou  r.o  baixo  do  monte,  ou  en- 
tre dous,  ou  mais  montes.  —  «Murto  apra- 
sivel  de  murtas  hortas,  e  pomares  de 
muyta  diversidade  de  fruytas,  no  qual 
estava  huma  Aldeã  de  quarenta,  ou  sin- 
coenta  casas  térreas,  que  Coja  Acem  ti- 
nha saqueado,  e  dado  a  morte  a  alguns 
dos  moradores  delia,  que  não  puderaõ  fu- 
gir. Mais  abayxo  do  valle  obra  de  hum 
tiro  de  besta  ao  longo  de  huma  fresca 
ribeyra.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pere- 
grinações, cap.  59.  —  «  Cõuertidos  em 
fontes  de  muy  viuas  agoas,  e  meu  cora- 
ção delido  em  suspiros  e  lagrimas  com 
que  regaua  o  meu  leito  que  era  a  nua 
terra,  onde  constrangido  do  sono  lançaua 
os  debilitados  ossos,  que  escassamente 
se  tinhão  huns  cora  os  outros.  Lembrame 
que  muitas  vezes  orando  em  alta  voz 
ajuntaua  o  dia  com  a  noite,'  e  hora  me 
n;etia  ras  furnas  e  concanídades  dos  val- 
les, hora  subia  ao  cume  dos  fragosos  mo- 
tes, ora  me  metia  nas  aberturas  das  al- 
tas rochas,  i  Heitor  Pinto,  Dialogo  da 
Justiça,  cap.  9. 


876 


VAí.0 


VAJ.V 


VMO 


—  Figuradamente  :  Os  pequenos  o  os 
(le  baixa  condií^rio. 

—  FiguraiJaincute :  Valles  <y«e  cavam 
os  ventus  no  mar. 

—  O  valle  (le  lagrimas;  o  mundo.  — 
«UoUas  ou  pombas  sam  iiue.s  cujo  cantar 
j^o  he  outro  seuam  gemer,  em  o  quu 
nos  queria  o-  Sonbor  ensinar  qual  deue 
de  ser  nossa  rida  o  oocupaySo  noste  des- 
terro e  valle  de  lagrimas,  a  qual  nào  de- 
uo  de  .ser  outra  scuão  gemer  por  nossns 
peccados  e  poios  albcos :  polias  tentaçõon 
ç  perigos  em  que  viucmos  :  poia  incerte- 
ssa  de  nossa  salua^^am  :  e  juntamente  ge- 
mer com  saudades  do  padre  c  pátria  ce- 
lestial, de  cuja  vista  estamos  tam  alon- 
gados e  desterrados.»  Fr.  Bartholomcu 
dos  Jlartyres,  Catecismo  da  doutriaa 
cbristã. 

—  Adaoio  e  1'koveubio: 

—  Se  no  valle  neva,  (jue  fartl  na  serra. 
VALLETA,  s.  /.   Diminutivo  de  Valia. 

Valia  ]icquuna. 

VALLESINHO,  ou  VALLEZINHO,  ».  »i. 
Diminutivo  de  Valle.  Tequcuo  valle. 

VALLO,  s.  m.  (Do  latim  vallum).  Mu- 
ro de  torra  ou  pedra  para  cercar,  defen- 
der a  entrada  do  arraial. 

—  Vallo  de  ten-as  de  lavoura ;  para 
as  cerca;',  dividir  e  demarcar. 

—  A  liya  dos  justadores  para  torneios. 

—  Fora  da  vallo ;  fora  da  estacada. 
Vid.  Vallado. 

VALOR,  A-.  m.  (Do  latim  valor).  Esfor- 
ço do  aniuu).  —  «  Quod  natura  dat  tiemo 
negare  potest.  Esta  Senhora  he  tola  cm 
huma  só  palavra.  Sabendo  que  hade  hir 
»  Princesa  comigo,  me  oftereceo  a  sua 
companhia  com  tanto  valor  como  se  fos- 
se huma  Ravnlia.»  Cavalloiro  d'01iveira, 
Cartas,  llv.  2,  n."  59. 

—  Valentia. —  «Não  foram  para  o  Ca- 
pitão de  tauta  confusão  os  assaltos  do 
inimigo,  nem  de  tanto  temor  verse  em 
braços  dps  bárbaros,  como  a  desconfian- 
sa  do  seus  Soldados,  aos  quaes  engrande- 
cendo o  valor,  e  constância,  que  tinham 
mostrado  de  não  seguirem  o  aftrontoso 
caminho  dos  que  se  foram.»  Conquista 
do  Pegú,  cap.  7.  —  «A  tirmesa  que  mos- 
trarão algumas  molheres  expostas  aos 
tormentos  não  me  fará  mudar  aqui  de 
opinião.  Sei  que  a  formosissima  Leena, 
tevo  valor  o  constância  para  cortar  com 
ps  dentes  a  sua  própria  liugoa,  cospiu- 
do-a  no  rosto  do  xilgoz,  antes  do  que  re- 
velar a  miniuia  circunstancia  da  morte 
^0  Tyrano.  A  constante  Epicaris  deter- 
piiuou-se  a  morrer  sem  confessar  o  que 
pabia  da  conspiração  contra  Nero.»  Ca- 
valleiro  d'01iveira,  Cartas,  liv.  1,  n.°  1. 

—  Merecimento,  importância.  —  » E 
por  tanto  amda  que  sejamos  obrigadas 
ser  muy  diligentes  em  fazer  boas  obras, 
e  guardar  todos  os  mandamentos  de  Deos, 
c  da  sancta  Madre  Igreja,  e  por  ellas  me- 
jreçamos  a,  gloria  eterna,  todauia  por  mui- 
to boas   obras    que  façamos,  nai5  auemos 


do  poer  nossa  confiança  nollas,  maa  so- 
mente nos  merecimentos  c  paixam  do 
nosso  senhor  lesu  (Jhristo,  donde  depen- 
do e  nace  todo  o  valor  que  tem.»  Fr. 
Hartiiolomeu  dos  Martyres,  Catecismo  da 
doutrina  cbristã.  —  «Uomo  se  disi'i;.s8e: 
Eu  todo  «ou  voz,  não  tenho  outro  officio, 
nem  oiitro  valor,  se  nam  dar  pregoes  que 
vem  o  Saluador  às  terras,  que  vos  appa- 
relheys,  de  nenhuma  outra  cousa  siruo. 
Na  qual  resposta  cõ  mostrar  sua  grande 
humildade,  mostrou  também  sua  grão 
digniilade.  o  Ibidem. 

—  1'reço,  ou  aquillo  em  que  a  cousa 
80  estima,  ou  a  estimação  que  se  lhe  dá, 
o  com  que  ella  se  compensa  com  outras 
cousas.  —  O  valor  do  dinheiro,  da  vioeda. 

—  O  desejo  de  valor ;  o  desejo  de  va- 
ler, de  ser  estimado  por  merecimentos, 
serviços. 

—  SvN. :  Valor,  coragem.  Vid.  este  ul- 
timo termo. 

—  Syx.  :  Valor,  estimação,  preço. 

O  merecimento  intrinseeo  das  cousas 
constituo  seu  valor;  funda-se  seu  preço 
na  estimação  que  se  lhes  dá.  Diz-se  pois  : 
esta  medalha,  além  do  seu  valor  porque 
é  de  ouro,  é  também  de  grande  preço  por 
ser  autiquissiuia  e  rara. 

Freço  suppõe  alguma  relação  com  a 
compra  ou  veada,  o  que  não  suceeuo  com 
a  palavra  valor;  pois  se  diz  que  não 
é  bom  entendedor  o  que  não  julga  do 
valor  das  cousas  senão  pelo  preço  por 
que  se  compram.  Quantas  vezes  se  ven- 
dem por  baixo  preço  alfaias  do  grande 
valor  ? 

Estimação  é  o  valor  que  se  dá,  ou  em 
que  se  considera  uma  cousa;  é  o  juizo 
que  determina  o  seu  valor  relativo. 

VALOROSO,  A,  adj.  Vid.  Valeroso. 

VALOROSAMENTE,  adv.  (Da  valoroso, 
com  o  suffixo  «mente»).  Vid.  Valerosa- 
mente. 

VALSA,  s.  /.  Dansa  gyrante  em  três 
tempos  moderados. 

—  A  ária  em  três  tempos  em  que  se 
executa  esta  dausa. 

—  Valsa  a  duus  tempos;  nome  dado  a 
uma   valsa   mais   rápida  que  a  primeira. 

VALSAR,  V.  n.  Dançar  a  valsa. 

VALVA,  í.  /.  A  peça  de  que  consta  a 
concha,  ou  casca  dos  mariscos. 

VALVERDE,  *.  m.  flauta  própria  dos 
jardins,  de  tigura  pyrauddal,  de  agradá- 
vel vista,  couheeiaa  também  pelo  nome 
de  belveder. 

■\  VALVICIDA,  adj.  2  gen.  Termo  de 
botânica.  Dehiscencia  valvicida;  aquella 
que  se  opòra  na  ruptura  das  válvulas  do 
fructo. 

VALVIFORME,  adj.  2  gen.  Termo  de 
Botânica.  Que  se  assemelha  a  uma  valva. 

VÁLVULA,  í.  /.  i^Do  latim  válvula). 
Termo  de  anatomia.  Toda  a  dobra  que 
nos  viísos  e  canaes  do  corpo  impede  os 
liquides  ou  outras  matérias  de  refluir,  ou 
que  tem  por  lunççào  principal  moditvcar 


o  curso  do.s  líquidos  no  trajecto  dos  quaes 
BC  encontra.  —  Certu»  ijequcnas  válvulas 
'pie  os  aiiatomico$  qbatrvaram  ao  longo 
das  nossas  veia/i, 

—  Válvula  òicuspida;  &  válvula  auri- 
culo-vcntricular  esquerda, 

—  Válvula  Uicuspida,  ou  mitral;  a  vál- 
vula auriculo-veiitriculaj  direita, 

—  Válvula  ileo-oecal;  válvula  que  se- 
para o  ileon  e  o  ceco. 

—  Termo  do  meehíiaiea.  Peça  de  cou- 
ro que  nos  orgàos  ou  bombas  i\i.  paisa- 
gem ao  ar,  ou  á  agua,  e  fechaado-se  im- 
pede que  retroce  ia. 

—  Termo  de  botânica.  K<^cama  ou  fo- 
Ihiço  paleaceo,  de  que  se  compSe  o  ca- 
sulo. 

VALVULADO,  A,  ou  VALVULOSO,  A, 
adj.  Teruio  de  historia  natural.  Que  está 
umrddo  de  válvulas. 

VALVULAR,  adj.  2  g&n.  Que  tem  mui- 
tas válvulas. 

1.)  VAM,  A,  adj.  Termo  antiquado. 
Vid.  Vào. 

2.)  VAM.  Forma  do  verbo  ir  na  ter- 
ceira })e.-;soa  do  plural  do  presente  do 
modo  indicativo.  Vid.  Ir. 

—  Alguns  escrevem  «õo,  por  estar 
mais  em  uso.  —  «Tometn  os  doentes  da 
alma  o  sancto  co:<solho  que  lhe  da  sam 
Chrisostomo,  Que  assi  como  os  fisicos 
mandam  a  alguns  doentes  que  vam  ver  e 
passear  por  campos  verdes,  per.i  se  re- 
crearem e  conualeícerem,  aséi  elles  vam 
visitar  e  pa^isear  pellos  adros,  e  cimlte- 
rios,  porque  he  remédio  efficaz  pêra  lan- 
çar fura  as  «ioenças  spirituaes.»  Fr.  Bar- 
thohimeu  dos  Martyres,  Catecismo  da 
doutrina  cbristã. 

VÃA,  ou  VAN,  adj.  f.  de  Vão.  Vid. 
Vão. 


Por  huma»  nlas  cspcrançu, 
cm  que  eu  jaa  tanto  esperei 
vi  depois  tantas  mudanças 
que  a  meu  ra:il  conto  nmi  jf-i; 
cuydados  que  cu  uam  o  cuydei 
dizei-me  se  hcyde  cuydar 
quo  haveis  tambcin  de  acabar. 

CHBISTOTÂO    FALCÃO,    OBR.^S,  pSg.    29. 


VÃAGLORIA,    ou    VANGLORLA,    *.   /. 

Gloria  sem  fundamento,  imaginaria. 

—  Vaidade,  jactância.  —  «Esta  TOã- 
gloria  aiuJa  que  tilha  da  soberba,  toda- 
uia  (^couui  diz  sam  Gregorioi  he  mSy  de 
outras  sete  peçonlieutas  tilhas,  que  sam 
desobediência,  jactância,  hypocrisia,  por- 
fia, pertinácia,  discórdia,  presunçam  de 
nouidade.  C)s  remédios  particulares  pêra 
vencer  esto  vicio  Siim  primeiramente  con- 
sideraçam  da  própria  miséria.»  Frei  Bar- 
tholomcu dos  Martyres,  Catecismo  da  dou- 
trina cbristã. 

—  Syx.  :  Vãagloria,  orgulho.  Vid.  ^te 
ultimo  terii.o. 

VÃAGLGRIAR,  v.  a.  Endier  de  van- 
gloria. 


VAMP 


VAO 


VÁKZ 


877 


—  Tã.agloriar-se,  v.  >v/Z.  Eucher-se  de 
vangloria. 

—  Figuradamente  :  Jaetar-se  de  cousa 
que  se  representa  gloriosa,  porém  que  -o 
nào  é. 

VÃ AGLORIO SÃMENTE,  adv.  (De  vãa- 
glorloso,  coia  o  suífiso  najeate»).  De  um 
modo  vaiiglorioso. 

—  Com  vangloria.. 

VÃAGLORIOSO,  A,  aJj.  Ciíeio  de  van- 
gloria, 

—  Jaetancioso,  vaidoso  ue  cousas  qup 
não  dão  verdadeira  gloria. 

—  Que  se  desvanece  com  faciliilAdis  de 
gloria  imaíTÍnaria. 

VÃAMENTE,  ou  VÃMENTE.  aJv.  (De 
vão,  com  o  suffixo  «mente»).  De  um 
modo  vão,  inútil. 

—  Em  vão,  debalde,  inutilmente,  frus- 
tradamente. —  «  Assi  pêra  a  repubrica 
ser  repubrica  he  necessário  ter  hum  Prín- 
cipe no  meo  tam  justo  e  igoal  a  todos, 
que  nara  saya  delle  pêra  a  circumferea- 
cia  da  communidade,  cousa  desproporcio- 
nada e  desigoal,  E  nào  somente  ha  de 
ger  igoal,  mas  ha  de  igoalar  os  outros, 
abavxando  os  que  vãmeute  se  quiserem 
aleuàtar  com  fautesia,  e  dominar  sobre  os 
outros.!  Heitor  Pinto,  Dialogo  da  Justiça, 
cap.  9. 

—  Syn,  :  Vãamente,  em  vào,  debalde., 
embalde,  inutilmente. 

Vãaxnente  é  o  adverbio  latino  vanè, 
que  diz  o  mesmo  que  iíiutiluiente,  e  não 
se  deve  confundir  com  em  vão,  que  é  o 
latim  in  vanum,  equivalente  a  Jrustre, 
embalde,  sem  fructo. 

Em  vão  suppõe  iusufficiencia  dos  meios, 
dos  esforços,  dos  desejos  que  pomos  em 
pratica  para  obtermos  um  íim. 

Debalde  e  embalde  são.  termos  portu- 
guezes  e  castelaanos,  porém  de  origem 
árabe,  que  vulgarmente  se  confundem, 
mas  que  se  deveriam  differençar  em  por- 
tuguez  como  se  differençam  em  castelha- 
no: debalde  qu.er  dizer  sem  preço  algum, 
gfraciosamente;  embalde  quer  dizer  em  vão. 

Inutilmente  explica  a  pouca  necessi- 
dade ou  utilidade  com  que  se  executa  a 
cousa,  sem  relação  alguma  a  meios,  nem 
a  esforços.  Diz-se  de  um  homem  que  fal- 
ia inutilmente,  isto  é,  sem  necessidade,  e 
que  falia  em  vào,  isto  é,  sem  fructo.  Ha- 
dxaguei  inutilmente,  quer  dizer,  levantei- 
me  cedo,  sem  fim,  sem  que  a  isso  me 
€tLrigasse  motivo  algum.  Madruguei  em 
vão;  quer  dizer,  ainda  que  tive  o  incom- 
modo  de  levantai-me  cedo,  não  alcancei 
O  iim  a  que  me  propuz,  ou  que  esperava 
alcançar.  Querer  corrigir  um  néscio  é 
cançar-se  em  vão.  Gasta  o  tempo  inutil- 
vtente  o  )uoço  que  nào  faz  mais  do  que 
passear,  e  divertir-se. 

VAMOS.  Forma  do  verbo  ir  na  primei- 
ra pessoa  tio  plural  do  presente  do  modo 
indicativo.  Vid.  Ir. 

t  VAMPÍRICO,  A,  adj,  Que  tem  o  ca- 
racter de  vampiro. 


f  VAMPIRISMO,  í.  m.  Crença  nos 
vampii'os. 

—  Figuradamente:  Avidez  sem  medi- 
da. 

VAMPIRO,  s.  m.  Na  Europa  oriental, 
ser  chimerico,  que  segundo  a  superstição 
popular,  sáe  do  tumulo  para  sugar  o  san- 
gue dos  vivos. 

—  Espécie  de  morcego. 

—  Figuradamente  :  Diz-se  d'aquelles 
que  se  accusaol  de  se  enriquecer  por  ga- 
nhos illicitos,  e  a  expensas  do  povo.  ^- 
Os  verdadeiros  vampiros  são  oa  frades 
que  çirmem  á  custa  dos  reis,  e  dos  povos. 

VANÁDIO,  s.  VI.  Termo  de  cnimica. 
Novo  metal  descoberto  em  uma  mina  de 
ferro  por  Selstrom ;  é  branco  como  prata, 
porém  não  é  dúctil. 

VANCÃO.  Vid.  Bancão. 

VANDaLICO,  A,  a,IJ.  Dos  vândalos. 

VANDALISMO,  s.  m.  Regimen  destru- 
ctivo  daa  scieucias  e  das  artes,  por  allu- 
são  aos  vândalos,  que  devastaram  algu- 
mas partes  da  Europa. 

VÂNDALO,  s.  m.  Nome  de  um  antigo 
povo  da  Allcmanha  que  se  espalhou  até  á 
Africa  e  Hespanha. 

—  Figuradamente  :  Homem  que  abor- 
rece, e  detesta  as  scieacias  e  a  civilisa- 
ção,  e  que  deslroe  os  monumentos  das  ar- 
tes. 

—  Adjectivameute :  Os  usos  gothicos  e 
vândalos. 

VANDAVAL.  Vid.  Vendaval. 

VANDOLA,  s.  f.  Vid.  Bandola. 

VANDOLEIRO,  A,  adj.  e  s.  Vid.  Ban- 
doleiro. 

VANGLORIA,  s.  /.  Vid.  Vãagloria. 

VANGOR,  4-.  m.  Termo  da  Ásia.  O  ca- 
beça de  casal,  e  seus  herdeiros,  ou  famí- 
lia que  tem  voto  nos  accordãos  da  Gan- 
caria ;  extiucta  a  família,  extingue-se 
aquella  voz. 

VANGUARDA,  s.  f.  (Do  fi-ancez  avant- 
garde).  A  dianteií-a,  frente,  rosto,  testa 
do  exercito,  do  regimento. 

—  Levar  a  vanguarda;  ir  adiante. 
VANGUEJAR,  v.  n.  Vacillar,  ir  escorre- 

gaii'io.  Vid.  Vanzear,  que  é  uiffereute. 

VANILHA,  s.  j.  Vid.  Bainilha. 

VANILOCAiúENTE,  adv.  [De  vaniloco, 
e  o  suffixo  « mente í).  Com  vaniloquio. 

VANILOCO,  A,  adj.  e  s.  Que  diz  cou- 
sas inúteis. 

VANILOQUEKCLA,  s.  /.  Verbosidadade 
inútil.  Via.  Vaniloquio. 

VANILOQUIO,  s.  m.  (Do  latim  vanilo- 
quus).  Termo  pouco  em  uso.  Pratica,  pa- 
lavras vãs,  disparate. 

VANIO,  s.  m.  Na  índia,  a  casta  que  se 
aparenta  com  os  charodos. 

VANISSIMO,  A,  adj.  superl,  de  Vão. 
Mui  vào. 

VÃO,  VÃ,  ou  VÃA,  ou  VAN,  adj.  Oco, 
vazio, 

—  Sem  fundamento,  sem  razão. 

—  Inútil,  sem  effeito. 

—  tíaír  vão ;  sair  inútil,  baldar-se. 


—  Vaidoso. 

Quem  ha  (juc  opponha  a  Tullio  a  Grécia,  o  Mundo? 
TuUio,  o  maior  brazão  da  espécie  huinaua! 
Tu  mcsuo,  ó  vào  Lucrécio,  e  tu  Vanini. 

J.    A.    DB   MACEDO,   StXDITAçÃO,   Clllt.    1. 

—  £m  vão;  sem  apoio,  ou  assento. 

—  Trabalhar,  ficar  em  vão;  debalde. 
-—  Substantivamente  :  Espaço  vazio. 

—  Em  um  vão  da  pareda;  aberta  ou 
Xíavidade  feita  n'e!la. 

—  SíN^:  Em  vão,  vãamente.  Vid.  este 
ultimo  termo. 

—  Syx.  :  Em  vão,  inutilmente.  Vid. 
este  ultimo  vocábulo. 

■\  VÃO.  Forma  do  verbo  irregular  ir 
na  terceira  pessoa  do  plural  do  presente 
do  modo  indicativo.  Vid.  Ir,  e  Vam. 


■Vaõse  com  tal  victoria  onde  aguardando 
O  sepulueda  está  e  o  Eey  por  cUes, 
Reccbeos  com  senibrante  em  que  se  enxerga 
Do  tal  successo  ter  grande  alegria. 
Outra  vez  os  aperta  com  estreito 
Rogo  ja  contumaz,  e  encarecido, 
Que  de  al!i  nào  se  vão,  até  que  ordene 
Deoa  tempo  e  conjunção  para  partirse. 

COBTE   BEAL,  NAUFRÁGIO   DE  SEl-ULVEDA,    Caut.   14. 


Oh  gengivas  e  arncilas, 
Dcitae  babas  de  seccura  ; 
Carpi-vos,  beiços  coitados. 
Que  ja  li.  vão  meus  toucados, 
E  a  cinta  e  a  fraldilha  ; 
Ilontom  bebi  a  mantilha, 
Que  me  custou  dous  cruzados. 

CIL  VICEXTE,  OBBAS  VAKIAS. 

Das  águas  se  lhe -antolha  que  sahião, 
Par'  elle  os  largos  passos  inclinando, 
Dous  homeug.  que  mui  velhos  pareeiâo. 
De  aspeito,  inda  aue  agreste,  venerando: 
Das  pontas  dos  cabeilos  Uie  cahiào 
Gottas,  que  o  corpo  todo  vão  banhando ; 
A  côr  da  pelle.  ba^u  e  denegrida  ; 
A  barba  hirsuta,  intonsa,  mas  comDrida. 
cAji.,  Lus.,  cant.  4,  est.  71. 


—  «Succede  muitas  vezes  ás  mulheres, 
o  que  aos  potros,  que  melhor  se  gover- 
nam quando  lhes  dào  a  rédea,  e  cuidam 
que  podem  ir  á  sua  vontade,  que  quando 
lh'a  recolhem,  e  mostram  que  vão  á  von- 
tade alheia.  !■  D.  Francisco  Manoel  de 
Mello,  Carta  de  guia  de  casados. 

VANTAGEM,  í.  /.  Vid.  Ventajem. 
VAKTAJAR.  Vid.  Ventajar. 
VAKTAJEM,  í.  /.  Vid.  Ventajem. 
VANTE,   AVANTE,  adv.  Adiante. 

—  Levar  avante ;  continuar,  pi-oseguir. 

—  Figuradamente:  Ir  avante,  passar 
avante;  fazer  progressos,  irem  augmento. 

—  Estar  muito  avante;  estar  muito 
adiantado. 

—  >S'.  /.  Diz-se  em  opposiçào  á  ré  do 
navio. 

VANZEAR,  V.  n.  Mover-se  o  mar  va- 
garosamer.te  em  grandes  massas,  quando 
está  vanzeiro,  como  diz  o  vulgo. 


878 


VA  PO 


VAPí) 


VAQU 


—  Vanzear  "  imir;  diz-sc  quando  a 
tornieutii   vem  longe,  e  faz  grande  folia. 

—  Vanzeia  o  navio;  joga  no  inar  van- 
zclro. 

VANZEIRO.  Vid.  Banzeiro.  —  Mar  van- 
zeiro. 

VÁO,  ou  VAU,  s.  m.  No  rio,  Jiz-sc  o 
logar  onde  ello  é  luais  baixo,  e  áo  pôde 
vadear. 

—  Loc. :  Tentar  o  vào  ;  examinar  al- 
gum negoijio  com  precauçào,  para  achar 
as  diffieuldades  que  tom,  o  p;>dtír  pas- 
sal-a.s,  salval-as,  e  livrar-so  d'cllas. 

—  liaixo-!,  banco,  paul. 

—  Passar  o  vào;  vadear. 

—  Figuradamente:  T»mar  o  vào  ;  Bon- 
dar, penetrar  examinando  com  o  enten- 
dimento. 

—  Madeira  a  vào ;  madeira  em  jan- 
gada, embalsada,  fluctuada. 

—  Figuradamente  :  Kão  encontrar  vào ; 
não  encontrar  meio  de  vencer  as  difficul- 
dades  do  negocio. 

—  Se  o  tempo  der  vào ;  se  clle  der 
commodidade,  ensejo,  opportunidade,  co- 
mo o  rio  que  dá  vão  para  se  vadear. 

—  Fazer  altjatm  vão;  mostrar  o  vào; 
fazer  guia  ii'clle. 

—  Plur.  Termo  tle  n  lutlca.  Traves  em 
que  assenta  a  coberta  da  nau,  onde  anda 
a  artilheria,  ou  por  baixo  doa  castelios. 

—  Paus  grada-los  na  cabeça  do  mas- 
tro sobre  que  assentam  as  coroas,  e  en- 
xárcia. 

—  Paus  cruzados  nas  gáveas. 

—  Adágios  e  pkoverbios: 

—  Por  velho  que  seja  o  barco,  sempre 
passa  o  vào. 

—  Vào  de  orelha  ó  perigoso. 

—  Nem  i"io  som  vào,  nem  geração  sem 
mau. 

—  Alto  para  vào,  baixo  para  barco. 
VAPIDO,  A,   adj.  (Do   latim  vapidus). 

Termo  de  medicina.  Sem  sabor,  cheio  de 
vapores,  de  exhalações.  —  Substancias 
vapidas. 

VAPOR,  s.  «1.  (Do  latim  ra^;or).  Espé- 
cie de  fumo  que  se  levanta  dos  corpos 
húmidos  por  etleito  do  calor. 

—  O  que  se  cxhala  dos  corpos  sólidos 
por  via  de  decomposição,  de  combustão. 

—  Termo  d'alchimia.  Vapor  potencial ; 
a  essência,  o  esplendor,  a  alma  do  metal. 

—  Diz-se  fallando  da  atmosphera. 

—  Exhalação  que  obscurece.  —  Os  va- 
pores jaiíebres  do  inferno.  —  Mil  negros 
vapores  obKcurecem  o  dia. 

—  Em  physiea,  nomo  dado  aos  fluidos 
aeriformes,  mui  coerciveis,  provenientes 
da  vaporisação,  pelo  calor,  de  corpos  ha- 
bitualmente líquidos  ou  sólidos  ;l  tempe- 
ratura ordinária,  e  passando  ao  estado 
liquido  ou  solido,  quando  a  temperatura 
cresce  sensivelmente,  ou  que  a  pressão  se 
torna  mais  forte.  —  O  vapor  do  eiher.  do 
álcool,  da  camphora.  —  ^1  atjaa  em  vapor 
existe  na  ar  atmospherico,  mesmo  abaixo 
de  zero. 


■ — Calor  latente  dos  vapores;  calórico 
que  cllc.s  abandonam  quando  «o  conden- 
Harn,  e  ao  (jual  devem  nua  força  elástica. 

—  Vapor  Vesicular;  nome  dado,  por 
muito  tempo,  ás  ijarcellu»  d'agua  visíveis, 
cuja  reuni.uo  fArnia  os  nevoeiros  e  as  nu- 
vens, porque  se  Julgavam  formadas  d'uma 
bolha  d'agua  cheia  dar;  hoje  sabe-se  que 
estes  vapores  visiveis  Hão  formados  por 
gottinhas  mui  finas. 

—  Vapor  de  carvão  de  madeira,  de 
carvão  de  pedra,  de  coice ;  nome  dado  ao 
gaz  e  ao  vapor  d'agua  que  se  desenvol- 
vem c  se  misturaní  com  ar  livre,  quando 
os  corpos  sobreditos  ardem  era  taes  con- 
dições (pie  o  oxygeneo  lhes  chega  em  quan- 
tidade insufficionte,  para  que  haja,  por 
eonibustão,  completa  transformação  na 
agua,  e  no  acido  carbónico.  —  O  vapor 
de  carvão  aspky.ria. 

—  Machina  de  vapor ;  aquella  cujo  mo- 
tor é  o  vapor  d'agua  a<piecida  em  um  cy- 
lindro,  e  condensado  em  outro. 

—  Batd  a  vapor ;  batel  que  marcha 
com  o  auxilio  de  uma   machina  a  vapor. 

—  Ir  a  todo  vapor;  diz-se  de  um  com- 
boio que  caminha  com  todo  o  vapor  que 
a  machina  pôde  dar. 

—  A  força  que  possuo  o  vapor  d 'agua 
devida  ao  colorico,  e  de  que  se  dispõe  em 
toda  a  espécie  de  mechaniámos. 

—  Figuradamente  :  Fazer  uma  cousa 
a  vapor;  fazel-a  mui  depressa,  com  ve- 
locidade. 

—  Termo  de  chimica.  Banho  de  va- 
por ;  distillação  em  que  o  vaso  contendo 
matérias  a  distillar  é  aquecido  pelo  va- 
por da  agua  fervente. 

^  Os  vapores  do  vinho ;  a  atordoa- 
ção  que  o  vinho  tomado  em  mui  grande 
quantidade  produz  no  cérebro. 

—  Figuradamente :  Perturbação  com- 
parada aos  vapores  do  vinho,  e  que  so- 
brevem ao  espirito. 

—  Humor  subtil  que  se  levanta  das 
partes  baixas,  e  que  se  aquece  e  fere  o 
cérebro. 

—  Nome  repi'esentando  todas  as  espé- 
cies d'afFecçòe3  nervosas,  hypocondria, 
hysteria,  nevropathia,  etc,  assim  c!ia- 
niadas  porque  os  antigos  as  attribuidi  a 
vapores  que  elles  suppunham  partir  da 
madre,  baço,  hvpocondrios,  e  elevar-se 
até  ao  cérebro.  —  Os  vapores  são  as 
doenças  das  pessoas  felizes. 

—  Figuradamente  :  Dar  vapores  ;  in- 
quietar, atormentar. 

—  Um  navio  a  va}K>r.  —  Elle  chegou 
pelo  vapor.  —  O  vapor  c/wgará  breve- 
mente. 

VAPORAÇÃO,  í.  /.  O  acto  de  vaporar. 

—  Elevação  do  vapor. 
VAPORADO,  part.  pafs.  de  Vaporar. 
VAPORAR,   f.   a.  (Do  latim  vaporani. 

Exiuilar  fumo  c  vapores.  —  Vaporar  chei- 
ros. 

—  Figuradamente  :  Vaporar  amores. 

—  V.  n.  Soltar  vapores  de  si. 


VAPORAVEL,  n.lj.  2  gen.  Vid.  Evapo- 
ravel. 

VAPORIMETRO,  s.  m.  íDo  latim  va- 
por, e  do  grcjro  mttron).  Vaso  cvlindri- 
co  lio  metal,  tirmcmente  nivelado  e  col- 
locado  em  algum  terraço,  etc.,  que  con- 
tém agua  que  se  evapora,  ex|xj8to  ao 
tempo,  e  por  meio  de  certas  combinações 
se  conliece  a  quantidade  de  agua  evapo- 
rada n'um  tempo  dett-rndnado. 

VAPORISAÇAO,  ou  VAPORIZAÇÃO,  *./. 
Termo  de  chimica.  (Jouversào  de  um  so- 
lido, ou  liquido  em  vapor  por  meio  do 
calórico. 

—  Desenvolvimento  de  vapores. 

—  Vid.  Vaporação,  que  liffero  um  pou- 
co, pois  que  na  vaporisaçáo  considera-se 
o  va|)or  e  seus  cflVdtoí»,  e  na  vaporaçUo 
consi  Jcra-se  só  o  resíduo. 

VAPORISADO,  part.  puss.  de  Vapori- 
sar.  ■ —  Um  liipiido  vaporisado. 

f  VAPORISADOR,  ou  VAPORIZADOR, 
s.  m.  Vaso  que  serve  para  a  vaporísaçío 
de  um  liquido. 

VAPORISAR,  ou  VAPORIZAR,  v.  a.  Ter- 
mo de  chimica.  Produzir,  n'um  liquido, 
um  desenvolvimento  de  vapor. 

—  Desfazer  um  corpo  em  gaz  por  meio 
do  fogo. 

—  Vaporisar-se,  v.  refl.  Reduzir-se  a 
vapor.  —  A  agua  vaporisa-se  a  luO 
graus.  —  Não  é  mister  que  um  liquido 
ferva  para  ser  susceptível  de  se  vapori- 
sar. 

VAPOROSO,  A,  a/lj.  (Do  latim  vaporo- 
sus,  de  va^xtr).  Que  contém  vapor,  que 
c  de  vapor.  —  Ondas  vaporosas. 

—  Particularmente  :  l.>ia-Éi€  do  estado 
do  ceu  quando  os  vapores  o  encobrem  a 
meio.  —  (,'cu  vaporoso. 

—  Figuradamente:  Um  tecido  vapo- 
roso ;  tecido  mui  ligeiro. 

—  Figuradamente:  Nebuloso,  incerto. 
—  Um  estylo  vaporoso. 

—  Que  está  sujeito  aos  vapores. 

—  Que  produz  vaptires. 

—  Fomentarão  vaporosa ;  feitJi  diri- 
gindo á  parte  doente  vapores  de  agua 
quer.te,  ou  cozimentos. 

VAPORZINHO,  s.  m.  Diminutivo  de 
Vapor.   Pequeno  vapor. 

VAPULAR,  r.  a.  (Do  latim  vapulare). 
Açoutar,  lustigar. 

—  Figuradamente :  Vapalar  o  ar  com 
as  azas. 

1.1  VAQUEIRO,  s.  m.  Pastor,  guarda- 
dor de  gado  vaccum. 

—  Vestido  nistico  past«ril. 

—  Vestido  de  tambor  ap;i5samanado, 
com  mangas  perdidas  estreitas. 

—  Adagio  e  provérbio  : 

—  Hontem  vaqueiro,  lioje  cavalleiro. 
2.)  VAQUEIRO,  A,    adj.'  Que  é  relati- 
vo a  vaccas.  ou  a  vaqueiros. 

—  Heria  vaqueira  ;  planta. 

—  .>'.  /.    Mulher  que  guarda  vaccas. 

1  .^  VAQUETA,  t.  f.  Sola  branda  de  for- 
rar sapatos,  e  botas. 


VARA 


VARA 


VARA 


879 


2.)  VAQUETA,  s.  /.  Vara  com  pilãosi- 
nho,  com  que  se  ataca  a  pólvora  na  es- 
pingarda. 

—  Vid.  Vareta,  e  Baqueta. 
VAQUINHA,  s.  .,'.  Diminutivo  de  Vac- 

ca.  Vacca  pequena. 

—  Vacca  nova. 

VARA,  s.  /.  Ramo  delgado,  renovo  de 
alguma  arvore.  —  «Foy  pronunciado  per 
Deos  que  aquelle  tiuesse  esta  dignidade, 
cuja  vara  florecesse.  E  postas  as  varas 
de  todas  as  gerações  dos  tilhos  de  Israel 
em  o  tabernáculo  do  concerto,  somente 
aconteceo  isto  á  verga  de  Aarõ  a  qual 
milagrosamente  deu  folhas,  e  flores,  e 
fructa,  e  nam  qualquer  mas  excellente. 
Quis  Deos  nisto  significar,  que  aquelle 
he  digno  da  dignidade  e  prelazia,  e  de 
ter  mando  sobre  os  outros,  cuja  vida  tem 
folhas,  e  flores,  e  fructo.r  Heitor  Pinto, 
Dialogo  da  Justiça,  cap.  4. 

—  Insigaia  de  juiz,  magistrado  ;  a  ju- 
risdicção. —  «E  ás  vezes  ha  assi  numa 
parte  como  na  outra  grande  erro.  Por- 
que os  elejtores  nam  deuem  ter  conta 
com  suas  particularidades  e  aíFeições, 
mas  pór  os  olhos  no  bem  geral,  e  os  ou- 
tros hã  de  cõsiderar  suas  fraqaezas,  e 
nam  se  querer  enfiar  no  pêra  que  nào 
saõ.  Mas  ja  que  ace^-tào  as  prelazias,^ 
hà  de  pór  os  olhos  em  Christi,  e  seguilo, 
pêra  serem  justos  e  igoaes  juizes.  Como 
pode  ter  saã  a  justiça,  quem  tem  rota  a 
consciência?  Cousa  monstruosa  he  ser  a. 
yara  do  juiz  direita,  e  afteyçam  com  que 
julga  torta.»  Heitor  Pinto,  Dialogo  da 
Justiça,  cap.  9. 

— ^  Medida  e^ual  a  palmos  geométricos 
5  '/.,.;  e  craveiros  õ:  a  pés  portuguezes 
3  ^/j.  —  «Porque  hum  diabo  naò  tem  po- 
der, para  se  transformar  em  tantos  mons- 
tros, como  huma  vara  de  serventia  alu- 
gada se  transforma :  e  elles  mesmos  o  con- 
fessaõ,  que  naõ  pôde  ai  ser,  para  paga- 
rem ao  orfaõ,  on  á  viuva,  cuja  he,  e  fi- 
carem com  ganho,  que  os  sustenta,  a  to- 
dos á  custa  das  perdas  de  muitos.»  Arte 
de  furtar,  cap.  57. 

—  MysUriosa  vara. 

Ondas  rasgou  mysteriosa  rara  ; 

Já  então  sobre  03  mármores  estavão 

Esculpidos  03  symbolos  das  artes. 

f.    X.    DE    lUCEDO,    MEDITAÇÃO,    Caut.     1. 

—  Corrid.0  á  vara  ;  perseguido  da  jus- 
tiça. 

—  Figuradamente :  Varas  tenras  ;  os 
moços. 

—  Lançar  varas  para  descobrir  the- 
souros ;  feiticerla  ou  patranha  que  os 
desejosos  de  ter  poderes  do  diabo  fazem, 
fingindo  que  com  elles  acham  thesouros, 
e  podendo-os  descobrir  para  si  os  preten- 
dem dar  a  quem  lhes  dê  cousa  mais  certa. 

—  Vara  com    que  se  castiga  e  açouta. 

—  Figuradamente :  A  vara  da  cólera 
divina;  o  castigo  d'ella. 


—  Uma  vara  de  fitu ;  pedaço  d'ella 
que  tem  o  comprimento  d'uma  vara,  me- 
dida marcada  para  as  medições. 

—  Vara  de  caçar  aves;  com  vi-;co  ou 
encurva-la  com  laço,  em  que  a  ave  fica 
enforcada,  desarmando-se  a  vara,  e  aper- 
tando eiitào  o  laço. 

—  Poder  supremo,  senhorio. 

—  Vara  do  lagar;  a  peça  que  carrega 
sobre  o  pé  da  uva  para  a  espremer,  por 
meio  do  peso  que  tem  na  cabeça. 

—  Vara,  ou  varinha  de  condão ;  vara 
magica,  de  que  o  vulgo  crê  que  se  fa- 
zem com  o  toque  d'ella  transformações, 
por  exemplo,  de  cobre  em  ouro,  de  um 
homem  em  jumento,  etc. :  são  asadas  pe- 
los arlequins  nos  theatros. 

—  Figuradamente  :  Vara,  ou  varinha 
de  condão;  a  virtude  de  fazer  cousas  ex- 
traordinárias. 

—  Ramo  liso,  direito  de  arvore,  para 
varejar,  para  fazer  andar  barcos. 

—  Vara  do  castello ;  a  parte  mais  alta 
d'elle,  o  viso,  d'onde  se  descortina  mais 
ao  longe. 

— ■  Pòr-se  á  vara ;  examinar  as  varas. 

,— T-  Empunhar  a  vara;  começar  a  exer- 
cer a  magistratura. 

^T^  Encostar  a  vara;  deixar  de  ser 
juizV  ' 

—  O  sceptro,  império. 

—  Figuradamente:  Pòr-se  á  vara; 
averiguar. 

—  Diz-se  propriamente  vara  de  porcos 
por  multidão  ou  numero  de  quarenta  até 
çincoenta  porcos  grados  e  de  conta,  que 
por  isso  se  chamam  de  vara ;  e  não  por 
terem  uma  vara  do  comprido  como  o  vul- 
go cuida.  —  Faztr  varas  d.e  poi-cos. 

—  Termo  de  náutica.  Vara  de  Coro- 
mandel ;  na  índia,  corda  rija  de  vento 
teso,  que  açouta,  vareja  de  assalto  aquel- 
la  costa,  e  causa  graívfles  estragos. 

VARAÇÃO,  s.  /.  Varadouro. 

—  A  acção  de  varar. 

VARADO,  part.  pass.  de  Varar.  Tira- 
do a  monte,  posto  em  secço  na  praia. 

. —  i2ei«Q  varado.;  fincado  sem  se  re- 
mar. 

-T-  Navio  varado  ;  navio  encalhado, 
que  deu  em  secco,  onde  não  anda. 

—  Lança  varada  ;  enristaila,  tesa.  — 
«Pelejando-se  pé  a  pé  á  espada,  e  lança 
varada  como  em  desafio  ou  batalha  cam- 
pal, p  Fr.  Luiz  de  Sousa,  Vida  do  Arce- 
bispo, liv.  2,  cap.  11. 

.    VARADOR,  s.   m.  Medidor'^  (|a^  pipas. 
Vid.  Varar. 

VARADOURO,  ou  VARAIíDOURO,  s.  m. 
O  logar  secco  ;i  borda  do  rio  ou  mar, 
onde  se  recolhem  os  navios  e  embarca- 
ções pequenas  pelo  inverno. 

—  Figuradamente  :  Local  onde  alguns 
se  aju:!t:im  a  descançar  e  praticar. 

VARAL,  s.  77i.  Vara  longa  e  grossa  pa- 
ra diversos  usos,  a  fim  de  sobre  ella  se 
estenderem  redes. 

—  Peça  de  madeira  lavrada,  que  ser- 


ve nos  coches  e  seges;  entre  os  varaes 
vae  a  besta;  vae  o  carregador  de  cadei- 
ra dp  varas. 

VARANCADA,  s.  /.  Vid.  Vardascada. 

VARANDA,  s.  f.  Obra  sacada  na  dian- 
teira ou  trazeira,  ou  em  todo  o  âmbito 
das  casas,  com  grades,  balaustres,  gelo- 
sias ou  parede  ordinariamente  descober- 
ta, onde  se  toma  o  sol,  ou  fresco. 

—  Figuradamente  :  Varadouro. 

—  Roda  dentada  do  lagar,  que  move 
a  entrosa. 

—  Alguns  escrevem  e  prominciam  ba- 
randa,  porém  este  termo  está  pouco  em 
uso. 

VARANDINHA,  s.  /.  Diminutivo  de 
Varanda.  Pequeria  varanda. 

1.)  VARÃO,  í.  m.  Homem.  —  «No- 
meou por  Abbade  ao  Santo  varaõ  Mani- 
lano,  por  lho  pedir  o  Convento,  decla- 
rando, que  daquelle  tempo  em  diante 
cessassem  n  meaçoens,  c  se  elegessem  os 
Prelados  pelo  modo  que  nosso  Padre  Sao 
Bento  dispõem  em  sua  regra  :  o  Santo 
foy  por  entaõ  sepultado  no  lugar  ordiná- 
rio dos  outros  Abbades ;  mas  andando  o 
tempo,  e  sendo  beatificado  pelo  Cardeal 
Jacinto  Legado  em  Espanha,  que  depois 
o  canonizou,  sendo  já  Papa  Celestino 
Terceiro. »  Monarchia  Lusitana,  liv.  7, 
cap.  24.       : 

Daqui  continuando  mêà  caminho, 
Espero  vêr  a  casa  aos^eos  acceita. 
Na  terra  que  da  nossa  aparta  o  Jlinho. 
Onde  vou  visitar  na  urna  estreita 
Os  santos  ossos  do  Varão  divino;.       ;- 
Que  pretendeo  do  Jíestre  a  mão  direita. 

CAM.,   ÉCLOGA   11. 

—  «Viviaõ  entaõ  quatro,  três  dcUes 
varoens,  e  huma  fêmea,  filhos  de  dous 
Infantes,  e  de  duas  Ir.fantas :  e  pela  an- 
tiguidade das  Proles  eraõ  Filippe  Pru- 
dente, filho  da  Infínta  Dona  Isabel,  Phi- 
lisberto  filho  da  Infanta  Dona  Brites, 
D.  António  filho  do  Infante  D.  Luiz,  e 
a  Senhora  Dov.a  Catharina,  filha  do  In- 
fante D.  Duarte.»  Arte  de  furtar,  cap. 
16. —  «O  Duque  D.  Joaõ,  marido  da 
Senhora  Dona  Catharina,  era  descenden- 
te por  linha  masculina  do  primeiro  Rey 
de  Portugal  D.  Afi^onso  Henriques;  e  he 
certo,  que  quando  de  alguma  herança  he 
excluida  a  fêmea  a  favor  de  varaõ,  naõ 
tem  isto  lugar,  quando  ella  he  cazada 
com  agnado  da  mesma  faniilia.»  Ibidem. 

—  Homem  sábio,  esforçado. 

—  Homem  de  eilade  varonil. 

—  Filho  varão; ,  filho  macho\ 

—  Marido. 

—  Vid.  Barão,   que  é  differente. 

—  Syx.  :  Varão,  homem.  Vid.  este  ul- 
timo termo., 

■ —  Varão  nobre ;  homem,  dé  nobreza, 
il  lustre. 


Graude  escandiílo  fez  geral  a  todos 
O  desestrado  fim  do  varSío  nobre 


880 


VARA 


VARD 


VAHK 


Daíojaitlo  ca«tif»o,  f|ue  ficadso 
Do  tiio  nofaiido  oriíno  por  oxnmplo. 
O  tompo  iiuaio  iiini>;o  (In  inuditiii,')H 
Fnz  tratavol,  o  brando  o  diiio  cuao, 
E  rodando  |)or  poiítoi  a|)r<^sn:idoi<, 
Daa  momoriaH  varrno  hiiin  iiial  tain  grildc. 
couTR  nuAi.,  NAUviiAoio  PH  «Ki-ULVf.nA ,  caiit.  3. 


Noni  súnionto  a  jornada  llin  concedo 
ííunha,  Miarf  i|uaiit.o  [lódi!  Ili'a  a{;nidocfi, 
Nada  lhe  nc-ja  nntào  do  qw.  lhe  podo, 
Qiin  muito  wuiU  cuida  inda  ')ui)  nicroco. 
Com  irtto  o  ajuntanidiito  sn  despede, 
K  ja  por  toda  a  parto  hc  engrandece 
De.-tte  lllimtrt!  V<trnn  o  esf<M\o  raro 
Qno  nesta  obra,  i\  oin  mil  ontrart  HO  vio  claro. 

FHANOISCO    ni:    ANIIIIADK,  I-KIMKIKO   CEBCO    I>B    ITIO, 

cant.  5,  est.  l'.l 


Pas.íado  cate  combate  não  repousa 
O  dia  inteiro  a  tjente  I'ortnç;nnza, 
Mas  tanibom  so  dispõe  a  fazer  cousa 
Que  »o.s  imigos  fani  pôr-áe  oui  defcz». 
O  Capitão  mandou  Gaapar  de  Sousa, 
Nobre  rarão,  a  (|uem  a  niúr  cmpreza 
Sc  píde  encoinmendar  com  confiança, 
Que  ponha  a  sua  gente  em  ordenança. 
inmKM,  cant.  11,  est.  74. 

Tendo  o  Silveira  ja  determinado 
Que  esto  artefioio,  que  cllo  não  receia, 
Sinta  o  furor  nm  si  (pio  foi  tirado 
Com  força  do  fuzil,  da  dura  veia, 
O  cargo  disto  lo^o  encommendado 
Foi  por  ello  a  Franci.sco  de  Gouveia, 
Nobre  rariío.  cujo  esforçado  peito 
Mais  se  alegra  que  espanta  co'o  grão  feito. 
iDinRM,  caut.  13^  est.  82. 


Varão  fortit;   liomcin    corajoso,   va- 


lente. 


Dcapedido  atraz  isto  o  varão  forte 
Ao  primeiro  perigo  a  fusta  entrega, 
E  rompendo  outra  vez  por  fogo  e  morte 
Com  invencivi  1  peito  o  mar  navega  ; 
E  tal  favor  enb'io  da  amiga  sorto 
Scntio,  que  ;l  fortaleza  em  salvo  chega 
Apesar  do  porcune  fogo  ardente 
A  dctê-lo  apressado  e  diligente. 

r.  nE  AMnRADia,Fnmi£inocEKCo  dk  Diu,cant.  14, 
est.  14. 


—  Varão  [/rave;  homem  serio. 

e  achou 

No  meyo  dg  luun  deserto  luim  varão  grave 
Mal  tratado  do  sol  e  penitente 
Hum  cordeiro  mostrando,  assi  dcsião 
Letras,  que  chivamento  se  e.nxorgauiio. 

OOBTR   RKAL,  kAUPRAOIO   DE  SEPULVKDA , CaUt .    10. 

—  Varão  maio7-  Je  todo  o  elogio.  — 
«Adquiriíiios  aqui  a  noticia  pratica  do 
um  peixe  cuja  propriedade  poderia  mo- 
derar a  critica  com  cjue  o  rcvcrcado 
FeijAo,  aliás  varão  maior  de  todo  o  elo- 
gio, escreveu  contra  o  peixe  torpedo, 
pois  a  experiência  dos  indios  mostra  fi- 
car estuporado  o  bra(,'o  que  o  tocou.» 
Bispo  do  Orão  Pará,  Memorias,  publica- 
d.as  por  Camillo  Castello  Branco,  png. 
203. 


—  Linha  oriunda  do  varão ;  linha  pro- 
ceiicnte  do  homem,  linha  varonil.  — 
"Quatro  cousas  se  considoraii  aqui,  liuha, 
sexo,  idade,  o  gráo :  c  no  primeiro  lugar 
SC  busca  a  mollior  linha,  e  só  (juem  ucl- 
la  jirevaleeo,  prevalecerá  na  causa,  ain- 
ila  que  seja  inteiior  ao  outro  pcrtcuden- 
to  no  sexo,  iiiade,  e  grão:  o  sempre  a 
linha  que  procede  de  varaõ,  iic  melhor 
(juo  a  ([ue  procedo  de  fêmea.»  Arte  de 
furtar. 

—  Varões,  borrão  eterno,  e  ticandalo 
da  historiu  para  a  posteridade.  —  «Que 
novo  niartvr  amanhece  á  companhia  pa- 
ra solemnisar  a  sua  memoria  no  necroló- 
gio do  padre  António  Josà,  do  padre  (iui- 
gnard  c  outro.s  varões,  quo  ser.^o  eterno 
borrão  e  escândalo  da  historia  jiara  a 
po.steridade.  n  Bi.spo  do  (riào  l'ará,  Me- 
merias,  publicadas  por  Camillo  (Jastcllo 
Branco,  pag.  217. 

—  Varões  eruditos  e  pios ;  varões  pie- 
doso.», sábios  e  iilustrailos.  —  «R.  Os  pios 
e  eruditos  varões,  .JoaÔ  Bona  Cardeal, 
Ludovico  ]}losio,  e  Nicoláo  Avancino  fi- 
zeraõ  já  e.^ta  diligencia.  A'  sua  iniita(,-aò 
proporemos  aqui  alguns  exemplos :  adver- 
tindo primeiro  ao  cxeTcitante  três  cou- 
sa.'*.» i'adrc  Jbuioel  Bernardes,  Exérci- 
cios   espirituaes,  part.  1,  §  13. 

—  Adágios  e  raovKunios: 

—  Ao  bom  varão,  terras  alheias  sua 
pátria  são. 

—  Bento  6  o  varão  que  por  si  se  cas- 
tiga c  por  outrem  não. 

—  Fazo  bem  ao  bom  varão,  fiaVerás 
galardão. 

2.)  VARÃO,  í.  m.  Augnientivo  de  Va- 
ra. Vara  de  ferro. 

—  Termo  de  náutica.  Varão  da  esco- 
tilha. 

VARAPÁO,  ou  VARAPAU,  a.  niV' Vi^a^ 
de  dar,  malhar,  espancar:  é  gi'Òasaj  cçtii-' 
prida  e  forte. 

—  ( lolpc  de  cajado. 
VARAR,    V.  a.  Fazer  encalhar. 

—  l'ôr  om  secco. 

—  Tirar  o  navio  para  o  varadouro,  em 
terra. 

—  Varar  com  a  espada,  ou  lanqa;  pas- 
sar de  parte  a  parte. 

— •  Varar  os  vinhos ;  medir  com  a  va- 
ra a  capacidade  de  uma  pipa,  tonel. 

— ■  Atalhar,  cnloar ;  e  d'aqui  vem  :  Fi- 
quei varado;  fiquei  atalhado,  á  niaucira 
lio  navio  encalliado. 

—  Varar  a  barra,  rio,  etc.;  passar  por 
ella,  sem  entrar,  escorrer. 

—  Obrigar  a  sair. 

—  Varar  alguém  o  seti  baixel  em  al- 
gum Dcgocio;  não  surdir,  ficar  encalha- 
do, não  o  concluir,  nào  alcançar, 

—  V.  n.  Encalhar. 

—  Sair  para  fora. 

—  Passar,  atravessar  para  a  outra  ban- 
da, passar  para  alíni. 

VARDASCA,  í.  /.  Vara  delgada  de  açou- 
tar, de  fustigar. 


VARDASCADA,  ».  /.  Açonte  com  var- 
da-ca. 

VAhEAÇAO,  ».  /.  Vid.  Vereação. 

— •  .Medirão  An  rara». 

VAREAGEM,  *.  /.  Mc-Hçilo  doo  géne- 
ros <pií!  HC  vi.-ndem  o  medem  ás  varaa, 
como  paiinos  de  Uoho,  ctc. 

VAREAR,  V.  a.  Medir  A»  varaa  certas 
fazendas,  como  lençaria  de  linho,  caílar- 
ços,  fita?,   ctc. 

—  Vid.  Varejar. 

VAREDA,  s.  f.  Vid.  Vereda,  termo 
mais  em  u^o,  o  mais  correcto. 

1.)  VAREJA,  s.  f.  I^jndca  da  mouca 
varejeira. 

—  Loc.  FIO. :  Põr  a  língua  má  Tare- 
ja  f^m  alguém;  calaniniar,  dizer  mal. 

2.)  VAREJA,  *.  /.  Espécie  do  tecido 
de  lã,  !<  ■■:»,  ou  algcISo. 

VAREJADO,  part.  pass.  de  Tafejar. 

VAREJADOR,  s.  m.  Homem  que  fazia 
o  varejo. 

VAREJADiJRA,  «.  /.  AcçSo  de  vare- 
jar. 

VAREJAMENTO,  ».  m.  A  acção  de  va- 
riíjar  as  fazendas  para  receber  a  sisa 
dVlla.^.  itc. 

VAREJAO,   s.  m.  Vara  grande. 

VAREJAR,  1-.  a.  Derribar  com  varas 
a;çòtrtando.  —  Varejar  a  aièitona,  a»  vli- 
veitas,  etc: 

—  Varejar  a  cidade,  às  inimigos,  ba- 
tkis,  etc. ;  com  tiros,  com  artiiheria,  co- 
mo açoutal-a.  —  «Na  frontaria  das  qaacs 
duas  ostanciae  mandou  c.^ar  certos  ba- 
teis grandes  com  artíHieria,  que  vareja- 
vam pela  b.'inda  de  f'')ra  todo  o  panno 
da.=;  paliçadas,  por  oi  Mdaros  nSo  virem 
per  entl"e  a  maileira  de  noite  ferir  os  que' 
ás  gnarJaram.»  Barros,  Década  2,  liv. 
6,  cap.  5.  — ■  «Aonde  estava  a  Ermida  da 
Sladrc  de  Deos  (porque  estava  .isfc*n- 
fá'!o  àntre  elles  que  se  apoderassem  del- 
le  pêra  dalli  ficarem  sobre  a  fortale- 
za, porque  aqucllo  monto  lhe  he  padras- 
to) a  velha  lhes  disse  qne  lhes  mostraria 
o  csínnnho,  e  sahindo-.-p  pêra  frtra  ferro- 
Ihou  a  porta  sobre  si,  e  foy  dar  rebate 
ao  Capitão  deste  casff.  1>.  Peíro  da  Sil- 
va tinha  encomendado  aquella  parte  do 
mar  a  ChriatovaS  de  f>à,  que  ao  tempo 
que  08  imigos  acouietèraC,  <  s  mandoii 
varejar  com  a  iM-t-.dharia,  Ciim  que  lhe 
nuitou  muitos.»  Diogo  de  Couto,  Década 
G,  liv.  9,  cap.  9.  —  «Ao  outro  dia,  que 
eríi  Imma  .«esta  feira  Lourenço  de  Brito 
mandou  trazer  a  artelharia  gros-^a  a  tran- 
queira, c  (laMi  mandou  varejar  a  cida- 
de, coui  que  alh-m  do  danno  que  se  fez 
nas  cas.as  derribaram  hutn  grande  lanço 
da  mesquita  dos  ^touros  onde  elles  por 
ser  o  Seu  Domingo,  entaõ  cstauam  fazen- 
do suas  orações,  dos  quacs  morreram  al- 
guns debaixo  da  parede  que  c.ahio.»  Da- 
mião do  Ooes,  Clironica  de  D.  Manoel, 
|)art.  2.  cap.  17. 

—  Assoprar  rijo,  teso,  açoutar  forte- 
mente. 


VARG 


VARI 


VARI 


881 


—  V.  n.  Examinar  por  ofBciaes  do 
varejo  as  fazendas  que  iiavia  nas  Injas, 
para  se  vêr  se  os  mercadores,  que  as  in- 
trorluziram,  manifestaram  direitamente, 
nas  quantidades,  ou  as  descaminharam 
para  fraudar  a  sisa ;  e  para  se  comparar 
o  que  importavam,  com  o  que  exporta- 
vam em  retorno,  a  fim  de  verem  se  se 
saldavam  com  efFeitos  da  terra  exporta- 
dos, ou  com  diniieiros  e  metaes  ricos. 

—  Examinar  e  medir  os  mantimentos 
de  vender  que  cada  um  tem  nos  cellei- 
ros,  e  adegas  para  cobrar  alguma  impo- 
sição, quando  o  dono  não  se  quer  aven- 
çar. 

VAREJEIRA,  s.  f.  Mosca  vulgar,  de 
cujas  lêndeas  saem  uns  vermes  que  roem 
a  carne  do  animal  onde  a  mãe  as  depõe, 
que  é  ferifia. 

—  Adjecti vãmente:    Mosca    varejeira. 
1.)  VAREJO,   s.  m.  O  acto  de  varejar 

azeitonas. 

—  Figuradamente :  Correcção,  repre- 
henaão  áspera. 

—  Figuradamente  :  O  acto  de  varejar 
com  artilheria,  lanças,  arremessos  e  ti- 
ros. 

2.)  VAREJO,  s.  7ii.  O  varejamento  dos 
varejadores;  aquillo  que  rende  o  vareja- 
mento. 

—  Dar  varejo  nos  mantimentos ;  ave- 
riguar   os  que  ha,  para  vêr  se  abastam. 

—  Dar  varejo  a  alguma  cousa;  dar 
busca  a  ella. 

—  Dai-  varejos  nas  casas  dos  ouri- 
ves; a  fim  de  vêr  se  a  prata  lavrada  e 
ouro  são  dos  qiâlates  e  da  lei  prescripta. 

—  Talvez  fosse  ou  a  sisa,  que  se  paga 
das  varas  da  fazenda,  ou  imposição  em 
logar  d'eila,  ou  composição,  e  avença 
que  os  mercadores  pagassem  por  evitar 
03  varejos  e  exames,  que  se  faziam  nas 
lojas  dos  pannos,  para  vêr  se  conforma- 
vam com  03  despachos,  ou  houve  desca- 
minhados, ou  a  pena  que  pagavam  aquel- 
les,  que  nos  varejos  são  achados  em  frau- 
de do  lealdamento.  Vid.  Alealdar,  e  Aleal- 
damento. 

• — ■  Dar  varejo  nas  lojas  ;  para  buscar 
contrabandos,  ou  fazendas  desencami- 
nhadas, ou  tiradas  por  alto,  e  não  leal- 
dadas,  ou  lealdadas  com  fraude. 

VARELETE,  ou  VARELETA,  s.  f.  Vid. 
Varleta. 

VARELLA,  ou  VARELA,  s.  f.  Termo 
da  índia.  Segundo  uns  ó  pagode,  templo 
de  idolatras.  —  As  varellas  dos  gentios. 

VARETA,  s.  /.  Vara  pequena. 

—  Perna. 

—  Vara  de  pau  ou  ferro  para  atacar 
a  pólvora  nas  espingardas. 

—  Loc:  Passar  pelas  varetas;  ser 
castigado  com  as  de  espingardas,  ou  chi- 
batas, ou  varas  de  rota  tina. 

—  Vid.  Vaqueta,  ou  antes  Baquetas 
de   tambor. 

VARGA,  s.  /.  Termo  antiquado.  Certo 
artifício  de  pescar,  ou  talvez  esteiro  ra- 

VOL.  V.  — 111. 


so,  onde  entra  maré,  e  com  ramos  se  cer- 
ca o  peixe  que  fica  na  vasante. 

— -  Outr'ora  significava  vargem  alaga- 
diça lie  inverno. 

VARGEA.  Vi.!.  Vargem. 

VARGEASINHA,  ou  VARGEAZINHA,  s.f. 
Diminutivo  do  Vargem,  ou  Vargea.  Pe- 
quena vargea. 

VARGEM,  ou  VARGEA,  s.  /.  Vid.  Vár- 
zea. 

VARGUIJAR,  V.  a.  Vid.  Vanguejar. 
Vergar,  dobrar. 

VARIA,  s.  /.  Termo  de  historia  natu- 
ral. Peixe  do  tamanho  da  tainha,  pintai- 
nho; habita  na  barra  de  Setúbal. 

VARIABILIDADE,  >.  f.  Disposição  ha- 
bitual para  variar.  ■ —  Variabilidade  da 
temperatura. 

—  Termo  de  grammatica.  Propriedade 
que  tem  certas  palavras  de  mudar  de 
desinência. — -A  variabilidade  de  um  ver- 
bo scgtindo  os  modos  e  tempos. 

—  Termo  de  biologia.  Propriedade  de 
apresentar  variedades.  —  Variabilidade 
das  espécies. 

—  Termo  d'algebra.  Indeterminação  ; 
passagem  possível  d'uma  quantidade  por 
difliírentes  estados  de  grandeza. 

VARIABILISSIMO,  A,  adj.  superl.  de 
Variável.  ^lui  variável. 

VARIAÇÃO,  s.  f.  (Do  latim  variatio, 
de  variare).  Estado  do  que  experimenta 
mudanças  successivas  ou  alternativas.  — 
Os  barómetros,  thermometros  e  hygrome- 
tros,  destinados  a  medir  as  variações 
physicas  que  nos  eram,  ha  pouco  tempo, 
ou  absolutamente  desconheciílas,  ou  so- 
mente conheciflas  pela  relação  confusa  e 
incerta  de  nossos  sentidos.  —  A  arte  de 
raciocinar  tem  seguido  todas  as  varia- 
ções da  linguagem.  —  As  grandes  varia- 
ções do  systema  do  mundo  não  são  me- 
nos interessantes  de  conhecer  que  as  re- 
voluções dos  impérios. 

—  Mudança  na  doutrina,  nas  idéas. 

—  Termo  de  grammatica.  O  que  mu- 
da n'uma  palavra  variável.  —  A  varia- 
ção   das  formas  n'um  verbo  que  se  con- 

—  Termo  de  astronomia.  A  desegual- 
dade  do  movimento  lunar,  que  depende 
dos  aspectos,  isto  é,  da  differença  das 
longitudes  do  centro  do  sol  e  do  da  lua. 

—  Diz-se  egualmente  de  todas  as  ou- 
tras desegualdades  astronómicas. 

—  Variações  seculares;  aquellas  cujos 
períodos  alcançam  muitos  séculos. 

—  Variações  pertocíicas;  aquellas  cujos 
períodos  não  abraçara  senão  um  pequeno 
numero  de  annos. 

—  Termo  de  phvsica,  e  de  marinha. 
Variação  da  agullia  magnética,  variação 
da  bússola,  variação  do  compasso,  cha- 
mada outrora  declinação;  o  angulo  for- 
mado pela  linha  norte-sul  da  bússola,  e 
pela  linha  norte-sul  do  mundo. 

— -Termo  de  mineralogia.  Variações 
das  formas  crystallinas ;  modificações  ao- 


cidentaes  das  formas  dos  crjstaes,  no 
meio  das  quaes  as  incidências  mutuas  das 
faces  do  crystal  são  constantes. 

—  Termo  de  matliematica.  Calculo  das 
variações;  ramo  superior  da  analyse  infir 
nitesimal,  na  qual  se  consideram  certas 
differenciaes  tomadas  sob  um  ponto  de 
vista  novo,  a  que  se  dá  o  nome  de  va- 
riações. 

—  A  variação  das  gentes;  a  variedade 
d'ellas. 

—  Termo  de  musica.  Mudanças  feitas 
n'uma  ária,  quer  accrescentem  ornatos, 
quer  substituam  o  fundo  da  melodia,  e  o 
movimento.  —  Ha  variações  vocaesj  e  va- 
riações instruinentaes. 

—  Syn.  :  Variação,   variedade. 

As  mudanças  successivas  n'um  mesmo 
objecto  constituem  a  variação.  A  multi- 
dão de  differentes  objectos  produz  a  va- 
riedade. Por  este  motivo  se  diz:  a  varia- 
ção dos  tempos,  e  a  variedade  das  co- 
res. Não  pôde  haver  governo  estável  n'um 
povo,  cuja  legislação  é  sujeita  a  conti- 
nuas variações.  Nas  difí"erentes  espécies 
dos  seres  creados  observam-se  muitas  va- 
riedades. 

VARIADAMENTE,  adv.  (De  variado,  e 
o  suflSxo  amente»).  De  um  modo  variado. 

—  Com  variedade. 
VARIADO,  part.  pass.  de  Variar. 

—  Diversificado. 

—  Que  recebe  variações. 

—  Que  apresenta  variedade.  —  Uma 
lingua  harmoniosa  é  variada.  —  Um  es- 
pectáculo variado. 

—  Termo  de  historia  natural.  Que  está 
ornado  de  difierentes  cores. 

—  Termo  de  arehitectura.  Columna 
variada ;  columna  feita  de  diversas  maté- 
rias. 

—  Termo  de  mechanica.  Movimento 
variado  ;  aquelle  cuja  velocidade  muda  a 
cada  instante. 

—  Movimento  uniformemente  variado  ; 
aquelle  em  que  a  velocidade  varia  na  ra- 
zão directa  do  tempo. 

—  Terreno  variado ;  expressão  de  for- 
tificação e  de  topographia,  para  designar 
terreno  accidentado,  em  opposição  a  ter- 
reno horisontal. 

VARIAGEM,  s.  /.  Certo  direito,  ou  im- 
posto pago  na  casa  dos  cincos,  e  alfandega 
de  Lisboa. 

VARIAMENTE,  adv.  (De  vario,  e  o  suf- 
fixo  «mente»).  De  um  modo  vario. 

— •  De  diversos  modos. 


Geraes  são  as  mulheres,  mas  somente 
Para  as  da  geração  de  seus  maridos: 
Ditosa  condição,  ditosa  gente, 
Que  não  são  de  ciúmes  oifendidosi 
Estes,  6  outros  costumes  rariameiUe 
São  pelos  Malabares  admittidos : 
A  terra  Iic  gvos.ia  cm  tracto  era  tudo  3f(UÍllo, 
Que  as  ondas  podem  dar  da  China  ao  Nilo. 
cAM.,  Lus.,  cant.  7,  est.  41. 


Com  variedade. 


882 


VARI 


VARI 


VARI 


VARIANTE,  part.  act.  do  Variar.  Que 
varia. 

—  Minlavol,  inconstante. 

—  Teatennuiha  variante ;  tostoiímuha 
quo  vacilla,  (juo  unian  vczco  diz  uma  cou- 
sa, outraH  vczo.í  outra. 

—  JaizD  variante;  juizu  dcliranto. 

—  Lii}ài>  variante  'lo  texto;  a  quo  nilo 
conforma  cm  todos  ou  cxomidarcH,  ou  có- 
digos. 

—  IS.  f.  i>hir.  —  As  variantes  da  lii- 
blia. 

VARIAR,  V.  a.  (Do  latim  variam).  Fa- 
zer aolVrcr  mudan(;a3  sucessivas  ou  altor- 
nativa*. —  Quando  escreverdes,,  variae  *«- 
cessanfemante  vossos  tliscurs-js. 

—  Variar  aj)hrafa;  exprimir  o  mesmo 
pensamento  em  outros  termos, 

—  Termo  do  musica.  Variar  uviaarla; 
mudando-a,  accrescoiitando-lho  ornatos 
quo  doixem  subsistir  o  fundo  da  melodia 
o  o  movimento. 

—  Tornar  inconstante,  fazer  mudar  de 
parecer. 

—  Fazer  vários  em  cores,  dar  varias 
cores  a  uma  peça,  varias  ondas. 

—  Alternar,  mudar. 

—  Tornar  vario,  diverso. 

—  Variar  as  viandas  para  desfastio; 
comer  de  outras,  dar  outras  em  substan- 
cia, ojt  guisamentos. 

—  V.  n.  Apresentar  variação.  —  O 
tempo  varia  continuamente.  —  O  accusado 
varia  nas  suas  resjjostas. 

—  Variar  o  natural  dos  prados. 

E  quando  de  esmeraldas  so  toucava 
A  torra  aloire,  o  do  diversas  cores 
O  uatural  dos  prados  variava. 

FKBNÃO    SOBOriTA,    POESI.VS  E  niOS.VS  ISKnlTAS, 

pag.  ;!0. 

—  Mudar  de  partido. 

—  Dcsoonformar,  não  ser  conformo. 
Vid.  Desvairar,  e  Desvariar. 

—  Não  seguir  o  mesmo  systema,  cstylo 
e  theor,  mudai--sc,  proceder  do  variado 
modo,  ser  diverso. 

—  Variar  a  fortuna;  mudar-se. 

—  Variar  a  agulha;  inclinar-sc,  ou  de- 
clinar. 

—  Variar-se,  v.  rejl.  Mudar-se  alter- 
nadamente. 

—  Sor  vario. 

—  Variarem-se  os  vestidos;  screni  de 
diftcrontfs  matérias  e  feitios. 

VARIÁVEL,  adj.  2  ijen.  (Do  latim  va- 
riaòilis,  do  variare).  Sujeito  a  variar, 
que  muda  muitas  vezes.  —  Um  tempo  va- 
riável. —  Vento  variável.  —  Um  povo  va- 
riável, incerto  c  tímido. 

—  iluilavcl,  inconstante.  —  «Sempre 
quo  as  moUicres  geralmente  falando  são 
mais  variáveis  do  que  nós;  porém  encon- 
tro occazioens  em  tine  o  são  menos,  essas 
são  cm  matérias  de  aiuar,  e  isso  lie  o  que 
ultimamente  vos  porsuadirey.»  Cavalleiro 
d'C)liveira,  Cartas,  liv.  1,  n.°  1, 


—  Termo  do  medicina.  Pulso  variá- 
vel; pidsi)  que  umas  vezcii  está  regular, 
outrari  irregular,  ora  forte,  ora  fraco. 

—  Termo  do  grammatica.  Diz-»o  daa 
palavras  cuja  dosiiieiicia  varia  segundo  a 
relação  gramniatical. 

—  Termo  do  botânica.  Diz-so  da  co- 
rolla  das  sviianth^íreas,  (juaiido  ella  so 
apresenta  sob  diversas  fóruias  nas  tlivcr- 
sas  Hôros  do  uma  mesma  calatliiíle,  «ram 
mesmo  disco,  ou  d'uma  mesma  coroa. 

—  Diz-so  também  dat  plantas  cujas  fo- 
lhas são  divididas  om  lóbulos  doseguas  o 
<iis8Íiiiilliaiites. 

—  Termo  de  matbematica.  Quantida- 
des variáveis;  aquellas  que  variam  de 
grandeza,  om  opposiçrio  a  quantidailes 
constantes. 

—  Uenio  variável ;  gonio  inconstante. 

—  Fortuna  variável;  fortuna  incon- 
stante. 

—  iS.f. —  [ímrt  variável.  —  Umafunc- 
ção  de  muita.i  variáveis. 

—  Variável  independente;  aquella  d'on- 
dc  dependem  uma  ou  mais. 

—  tí.  m.  O  grau  do  barómetro  que  in- 
dica um  temi)o  incerto,  variável.  —  O 
òuruiiietriJ  esti'i  no  variável. 

f  VARIAVELMENTE,  adv.  (De  variá- 
vel, c  o  sullixo  «menteoi.  De  um  modo 
variável. 

VARIAZ,  s.  /.  Vid.  Varia. 

VARICELLA,  «.  /.  Termo  de  meilicina. 
P«.xigas  doudas  benignas. 

VARICES,  .-;.  m.  plur.  Vid.  Varizes. 

VARIGOCELE,  s.  m.  (Do  latim  varix, 
e  do  grego  kclè).  Termo  do  cirurgia.  Tu- 
mor formado  pela  dilatação  varicosa  das 
veias  do  escroto  e  das  do  cordão  esper- 
matico. 

f  VARICOMPHALE,  s.  f.  Termo  de  ci- 
rurgia. Tumor  varicoso  tendo  sua  sede 
no  umbigo. 

VARICOSO,  A,  adj.  (Do  latim  varico- 
SHs,  de  varix).  Termo  de  cirurgia.  Que 
diz  respeito  iVs  varizes,  que  é  aftectado 
d'ollas.  —  As  hemorrhagias  varicosas. 

—  Veia  varicosa;  a  que  é  a  sédc  das 
varizes. 

—  Ulcera  varicosa;  a  que  ó  entretida 
pelas  varizes. 

—  Termo  de  historia  natural.  Que  of- 
ferece  inchações  bastante  análogas  ás  das 
varizes.  —  Vasos  varicosos.  —  Concha  va- 
ricosa. 

VARIEDADE,  s.  f.  (Do  latim  variettis, 
do  varius).  Estado  variado,  apparencia 
variada.  —  E'  v}ister  variedade  no  espi- 
rito. • —  O  espirito  ama  a  variedade. 

—  Jlultiplicidado  de  cousas  ditleren- 
tes.  —  «Enteando  huma  vez  Sócrates  per 
huma  praça  onde  auia  grando  feyra,  ven- 
do muytas  riípiezas  e  grando  variedade 
de  cousas,  disse  como  empatado:  De  quã- 
tas  cousas  não  tenho  necessidade  I  Chry- 
sostomo  diz  :  Despreza  a  riqueza,  c  serás 
rico,  de-sprcza  a  gloria,  o  serás  glorioso. 
S.  1'aulo  na  primeira  epistola  a  Timothco 


chama  á  cubica  raiz  de  todoí  o»  males.» 
Heitor  Pinto,  Dialogo  da  Justiça,  cap.  7. 

—  A  inconstância.  —  A  variedade  dat 
eslaçTie»,   dos  tempos, 

—  Diversidade.  —  «Posto  quo  a  natu- 
reza bem  acostum.uda  pmco  lhe  basta,  bo 
não  entrar  o  appetito  da  gula  dis/^iniula- 
da.  Mas  como  nc-^ta  mati-ria  se  não  pode 
<lar  regra  certa  pella  variedade  das  com- 
preissòes,  e  disposição  diucrsa  das  pes- 
soas, ha  se  de  Ummr  recurso,  o  aui.so  da 
humilde  discrição.»  Frtd  ltarth<)loineu  dos 
Martyres,  Compendio  de  espiritual  dou- 
trina, cap.  l'ò.  —  «A  variedade  do»  Cli- 
mas openi  também  em  niVs  a  variedade 
das  nossas  incliraçocns.  .\  experiência 
própria  me  tem  mostrado,  qao  não  he  o 
mesmo  sofrer  o  Inverno  de  Vienna,  quo  o 
Inverno  de  Portugal.»  Cavalleiro  d'Uli- 
veira,  Cartas,  liv.  1,  n."  1.  —  íA  varie- 
dade das  sesoens  muda  o  nosso  tempera- 
mento, nmdando  os  licores  quo  vivificão 
os  nossos  corpos,  c  como  as  nossas  incli- 
iiaçoens  seguem  o  nosso  temperamento, 
mudando  a  nossa  coraplexão  pela  varie- 
dade das  Estaçoou.'»,  conforme  a  expe- 
riência o  mostra.»   Ibidem. 

VARIEGAÇÃO,  6.  /.  Termo  pouco  usa- 
do.  Varie. lade  das  cousas. 

VARIEGADO,  A,  adj.  i  Do  latim  varte- 
gatus).  Termo  pouco  cm  uso.  De  varias 
cores,  raios,  manchas;  variado. 

VARINA,  «.  /.  Embarcação  estreita  de 
remos. 

—  Camponeza  de  Ovar. 

VARINEL,  s.  m.  Diminutivo  de  Vari- 
na. Vid.  Barinel. 

VARINHA,   s.  /.   Diminutivo    de    Vara. 

—  Figura<lamcute :  Ter  varinhas  de 
condão;  obter  tudo  o  que  quer,  ser  fe- 
liz. 

VÁRIO,  A,  adj.  Diverso  do  outro.  — 
Dias  vários.  — Estações  várias. —  Cottu- 
mes  vários.  —  JVuçòea  várias.  —  «Para  os 
lugares  Santos  de  Jerusalém  mandou 
huma  Custodia  para  nella  se  expor  na 
gruta  de  Bclera  Sacramentado  aquelle 
Deos,  que  na  mesma  I^apinha  se  dignou 
de  nascer  feito  Homem,  e  para  mostrar 
a  sua  grande  piedade  por  vários  Decre- 
tos tom  dado  tal  previdência,  que  desde 
o  anno  de  1710  até  o  de  1722  tem  hido 
de  Portugal  duzentos  e  vinte  mil  cruza- 
dos para  subsidio  daquclles  Santos  luga- 
res.» Fni  Bernardo  de  Brito,  Elogios 
dos  reis  de  Portugal,  continuados  por 
1).  José  Bajbosa.  —  «De  sua  essência 
Divina  Uie  deo  hum  conhecimento,  senaõ 
claro,  c  intuitivo,  ao  menos  muito  mais 
alto,  e  perfeito,  do  que  nós  agora  temos. 
Além  destes  dons  lhe  deo  gratuitamente 
o  excellente  <lom  da  justiça  original,  que 
ho  hum  liabito,  ou  huma  cmo  complexa3 
de  vários  hábitos.»  Padre  ilanocl  Bernar- 
des, Eiercicios  espirituaes,  pag.  158.  — 
«liai  porem  varies  grais  nesta  vniaõ  por- 
que Imm  se  couueric  mais  docemente,  o 
agradauel  cm  Deos,  e  outro  mais  perfeita- 


VARI 


VARR 


VARR 


883 


mente,  na  tal  conuersaõ  se  remonta  cada 
hum,  e  se  despoja  de  si  mesmo.  Estas 
cousas  todas  saõ  ditadas,  e  descubertas 
por  S.  Dionysio  Areopagita,  o  qual  no 
liuro  da  theoíogia  mystiea  dii-igido  a  Thi- 
motkeo  entre  outras  diz  assim.»  Fr.  Bar- 
tholoiueu  dos  Martyres,  Compendio  de 
espiritual  doutrina,  cap.  11. 

O  Cco,  que  p.ara  varia  sorte  o  cbama, 
A  hum  cilafatc  Portuguez  o  entrega, 
Grão  saber,  discrição  nelle  derrama, 
Grande  engeuho  e  agudeza  lhe  não  nega, 
Grandemente  por  isto  o  senhor  o  ama  : 
E  depois  acontece  que  navega 
Lá  para  o  Oriental  Reino  o  mar  bravo, 
E  leva  em  companhia  o  seu  escravo. 

F.  j>'ANDaAiiE,  PuiiíEiuo  cEBCo  DE  Dic,  cant.  2, 
est.  66. 

—  De  diversas  cores. 

—  Inconstante  nos  ditos  que  descon- 
formam. 

—  Mudável,  inconstante. 

-j-  varíola,  s.  /.  Termo  de  medicina. 
Género  de  doença  geral  febril,  com  eru- 
pção pustulosa  na  pelle,  que  de  ordinário 
se  tem  só  uma  vez,  que  é  algumas  vezes 
esporádica,  e  muitas  vezes  epidemica.  — 
Varíola  discreta.  —  Varíola  confluente. 

—  Variola  das  vaccas;  a  vaccina. 

•j-  VARIOLAR,  adj.  2  gen.  Termo  de 
historia  natural.  Que  offerece  nodosida- 
des,  pequenos  grãos,  nódoas  semelhantes 
ás  pústulas  da  variola. 

•f  VARIOLICO,  A,  adj.  Que  pertence 
á  variola.  —  £rupçào  varioiica. 

f  VARIOLIFORME,  aJj.  2  gen.  Que  se 
assimilha  á  variola.  - —  Fustula  varioli- 
forme. 

f  VARIOLITA,  s.  /.  Rocha  de  crvstal- 
lisação,  constituída  por  uma  massa  de 
petrosileno  de  differentes  cores,  contendo 
grânulos  espheroides  de  petrosileno,  cuja 
côr  differe  da  da  massa,  chamada  pedra 
bexigosa. 

f  VARIOLOIDE,  s.  /.  Termo  de  medi- 
cina. Forma  que  nas  bexigas  doudas  se 
approxima  mais  da  varíola  verdadeií-a, 
distinguiado-a  a  ausência  de  febre  secun- 
daria. A  varioloide  sobrevem  ás  pessoas 
que  foram  vaccinadas. 

—  Adj.  Que  se  assemelha  á  variola. 
—  Doenças  varioloides. 

VARIOLOSO,  A,  adj.  (De  variola,  com 
o  suffixo  «osoí*.  Termo  de  medicina. 
Áffectado  da  variola. 

—  Matéria,  vírus  varioloso;  bexigas 
de  infecção,  em  opposição  ás  da  vaccina. 

—  Substantivamente  :     Um    varioloso. 

VARIZ,  s.  m.  Termo  de  historia  natu- 
ral. Espécie  de  macaco,  matizado  com 
grandes  malhas  negras  e  brancas. 

VARIZES,  s.  f.  jjlur.  (Do  latim  va- 
rix).  Termo  de  cirurgia.  Dilatação  per- 
manente d'uma  veia  produzida  pela  accu- 
mulaeão  do  sangue  na  sua  cavidade. 

—  Varizes  vesicaes;  cordões  nodosos 
entrecruzados  em  todos  os  sentidos,  que 


se  encontram  nas  faces  anteriores  e  pos- 
teriores da  bexiga  sob  o  peritoneo. 

—  Termo  de  historia  natui-al.  Incha- 
ção do  bordo  de  certas  conchas  unival- 
ves. 

VARLETE,  s.  m.  Termo  antiquado.  La- 
caio. 

—  Criado,  servidor. 

VARLOAS,  s.  /.  plur.  Termo  de  náu- 
tica. Cabos  pequenos,  que  seguram  o  na- 
vio quando  está  em  querena. 

VARÔA,  s.  /.   de  Varão. 

VARÕIL.  Yid.  Varonil. 

VARÕILMENTE,  adv.  (De  varõil,  com 
o  suffixo  «menteu).    Vid.    Varonilmente. 

7  VAROLE  (de  Varoli,  primeiro  medi- 
co do  papa  Gregório  Xiii,  quo  morreu 
em  1Ò70,  e  deu  o  seu  nome  a  esta  parte 
do  encephalo).  Ponte  de  Varole ;  gi-ande 
eminência  saliente  na  face  inferior  do  en- 
cephalo, que  passa  transversalmente  d'um 
pedúnculo  médio  do  cerebello  a  outro, 
adiante  da  medulla  alongada  e  do  cere- 
bello, detraz  dos  pedúnculos  do  cérebro. 

VARONIA,  *.  /.  O  ser  de  homem,  ou 
varào. 

—  Por  varonia ;  por  macho. 

—  Descender  por  varonia  ;  descender 
não  por  feniea,  ou  linha  feminina. 

VARONIL,  adj.  2  gen.  De  varão,  de 
homem  esforçado.  —  Animo  varonil. 

—  Robusto,  masculino.  — -  Edade  va- 
ronil. 

—  De  homem  feito,  em  edade  de  30  a 
4õ  an.íos. 

—  Diz-se  da  mulher  que  é  valorosa 
como  varão. 

VARONILIDADE,  s.  /.  Edade  de  va- 
rão, de  homem  feito. 

—  A  qualidade  do  que  é  varonil,  es- 
forçado; hombridade. 

VARONILMENTE,  adv.  (De  varonil,  e 
o  suffixo  «mente»).  X)e  um  modo  varonil. 

—  Com  estorço  de  varào.  —  «Assim  o 
soldado  de  Christo  frequentemente  diga 
dentro  de  si.  Senhor,  por  vosso  amor  re- 
jeito ver,  ouuir,  ou  gostar  isto,  ainda  que 
nestas  acçoens  naS  aja  peccado  algum. 
E  dado,  que  nenhuma  cousa  he  mais 
aceita  ao  homem,  que  a  liberdade  de  seu 
aluidrio,  -e  por  tanto  lhe  seja  ao  principio 
mui  difficil,  e  penoso  cortar  por  sua  von- 
tade, e  deixala  totalmente,  com  tudo 
exercitando-se  varonilmente,  por  mercê, 
e  graça  de  Deos  lhe  vem  a  ser  fácil,  e 
mui  agradauel  o  cortar  por  ella,  e  naõ 
vsar  de  liberdade.»  Frei  Bartholomeu 
dos  ^Martyres,  Compendio  de  espiritual 
doutrina,  cap.  10. 

VARRÃO,  s.  m.  Termo  de  zoologia. 
Porco  não  capado  para  fecundar  as  por- 
cas de  creação.  O  vulgo  diz  barrão,  bar- 
rasco. 

VARRASCO,  s.  m.  Varrão. 

—  Varrasco  do  mar;  cautarilho,  ou  es- 
corpena  parda ;  pedra  thoracica. 

VARREDEIRA,  s.  /.  Termo  de  mari- 
nha. Vela  de  navio  presa  na  ponta  do 


botaló,  e  por  cima  vae  a  ponta  da  vela 
grande ;  é  assim  chamada  por  ser  a  vela 
que  anda  mais  baixa,  e  mais  perto  da 
agua ;  põe-se  para  tomar  mais  vento,  po- 
rém somente  sei-ve  quando  é  em  popa.    ' 

—  Mulher  que  tem  o  officio  de  varrer. 
VARREDEIRO,  s.   m.    Termo    antiqua- 
do. Varredor. 

VARREDELA,  s.  f.  Varredura,  acto  de 
varrer  a  casa,  de  tirar-lhe  o  lixo. 

VARREDOR,  s.  m.  Homem  que  tem  o 
officio  de  varrer. 

—  Termo  de  náutica.  Uma  vela  pe- 
quena, que  se  pòe  para  aproveitar  o  bom 
vento. 

VARREDORA,  adj.  f.  Que  arrasta. 

—  Pede  varredora ;  rede  que  arrasta, 
e  traz  muito  peixe,  grande  e  rasteira, 
ajunta  o  peixe  e  o  faz  saltar  da  agua ; 
vae  pregada  por  baixo  do  barco. 

—  Ê  uma  rede  varredora;  nada  lhe 
escapa,  tudo  leva  ap.'is  de  si,  nu  furtando. 

—  3.  f.  de  Varredor.  Mulher  que 
varre. 

VARREDODRA,  s.  f.  Termo  de  náuti- 
ca. Viii.  Varredeira. 

VARREDOURO,  s.  m.  Vassourado  forno. 

VARREDURA,  s.  f.  A  acção  de  var- 
rer, o  que  se  tira  varrendo,  e  é  sujo.  — 
oE  abrindo  alguns  fardos  de  tâmaras 
acharam  no  meio  delles  esterco  de  gado, 
e  varreduras  de  çugidade,  de  que  Afon- 
so dalbuquerque  se  escandalizou,  e  pro- 
pôs em  sua  vontade  tomar  vingança  des- 
te escarneo,  como  depois  fez.»  Damião 
de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part. 
2,  cap.  31. 

—  Varreduras  de  lojas ;  os  alcaides, 
restos  das  fazendas  que  se  não  vendem. 

VARRER,  V.  a.  (Do  latim  varrere). 
Alimpar  o  Hxo,  poeira,  fragmentos,  com 
a  vassoura. 

—  Figuradamente :  O  vento  varre  o 
terra  toda  com  turbulento  assopro. 

Se  abalanção  com  fúria,  c  vão  varrendo 
Com  turbulento  assopro  a  terra  toda. 

COBTE  KEil.,  KAtTFBAGIO  DE  SEPUI.\"EDA,    Caut.    7. 

—  Varrer  da  memoria;  tirar  d'ella, 
dissipar. 

—  Varrer  o  chão  com  vestido  roçagan- 
te; ir  arrastando,  arrojar  pelo  chão. 

—  Levar. 

—  Varrer  tudo;  fazer  desapparecer. 

—  V.  n. — Varrer  (/a  meniw/a/- esque- 
cer totalmente,  desapparecer  de  todo  na 
memoria. 

—  Adágios  e  pkoveebios  : 

—  Mais  ha  quem  suje  a  casa,  que  quem 
a  varra. 

—  A  mulher  polida  a  casa  suja,  e  a 
porta  varrida. 

—  Levantou-se  o  preguiçoso  a  varrer 
a  casa,  e  poz-lhe  o  fogo. 

—  Casa  varrida,  e  mesa  posta,  hospe- 
des espera. 

VARRIDO,  parí.  pass.  de  Varrer. 


884 


VASA 


VASA 


VASC 


—  Figuradamonte  :  Doudo  varrido ; 
doudo  coinijlcto,  sem  jwiita  de  juisso. 

—  Varrido  de  vergonha;  inui  desaver- 
gonhado. 

VARUDO,  adj.  m.  —  Pão  varudo;  ar- 
voro do  >;raiule  hastca,  e  direita;  nilo 
parrailii,  não  charneco.  Vid.  Charneca. 

VARVACITE,  s.  w.  Termo  de  eliimica. 
Producto  mineral,  ha  poucos  anno.s  des- 
coberto entre  o  )nineral  do  iiianf;ane.sio, 
e  que  j)arece  ser  um  oxydo  de  mangane- 
BÍo  coni)n>sto. 

VÁRZEA,  «.  /.  Vargem,  campo,  planí- 
cie cultivada,  Homeaua. 

—  Campo  plano,  sem  altibaixos. 

f  VARZIA,  s.f.  Vid.  Várzea,  orthogra- 
phia  mais  em  uso.  —  «E  por  que  esta 
medita^íào  matemática  ho  sobro  as  eou- 
saa  altas  o  celcstiacs,  disseram  que  esta- 
ua  este  rei  uilo  nuuui  vorde  varzia,  ou 
sombrio  valle,  se  nam  no  alto  cume  do 
monte  Cáucaso,  que  parece  que  confina 
com  o  ceo,  nem  fingiram  que  lho  roia  o 
coração  animal  terrestre,  mas  huma  aue, 
e  não  qualquer,  mas  a  Princosa  de  todas 
cilas,  a  que  voa  mais  alto,  a  que  era  de- 
dicada ao  grande  lupiter,  a  quem  elles 
chamauào  Roy  das  estrellaa,  e  coUocauão 
antro  as  vaidades  de  seus  deoses,  como 
mais  excollcute  e  supremo  do  todos  ol- 
les.»  Heitor  l'iuto,  Dialogo  da  Justiça, 
cap.  27. 

VARZINO,  A,  adj.  Cousa  do  várzea, 
camponez. 

1.)  VASA,  s.f.  (Do  francez  vase).  Lo- 
do depositado  no  fun  lo  dos  tanques,  dos 
rios,  dos  fossos,  do  mar. 

—  Ficar  na  vasa ;  ficar  atolado  até  á 
cinta. 

—  Figuradamente  :  Ficar  na  vasa ; 
parar,  não  ir  avante,  ficar  atalhado. 

— •  Toma-se  também  por  base. 

2.)  VASA,  s.  /.  Termo  de  jogo.  As 
cartas  de  que  se  descarta  cada  vez  a  ro- 
da dos  parceiros,  e  por  isso  as  vasas  são 
tantas  como  o  numero  das  c  artas  que  so 
dão  a  caila  um. 

—  Fazer  vasa  ;  ganhal-a. 

—  Fazer  duas,  três,  ou  mais  vasas ; 
ganhar  as  cartas  que  jogarem  os  parcei- 
ros de  cada  vez  que  a  mào  joga. 

—  Figuradamente  :  Deixar  fazer  va- 
sas ;  deixar  participar  de  algum  incom- 
modo,  alcançar  alguma  utilidade. 

—  Vid.  Pistoletas. 

VASABARRIS,  s.  m.  Enseada  infama- 
da por  naufrágios  na  costa  brazileira. 

—  Locuções  populares  :  Dar  com  tudo 
em  vasabarris;  arruinar-sc. —  Dar  com  a 
gente  em  vasabarris  ;  matal-a  o  medico. 

VASADO,  part.  pass.  de  Vasar.  — «Con- 
jecturo quo  vaso  seria  porventura  o  que 
agora  cliamàmos  fummo,  raro  e  vasado 
tecido,  emblema  de  tristeza  o  lucto  que 
se  traz  no  chapeo  e  espada,  o  que  tam- 
bém no  cbapeo  antigamente  ee  trazia, 
mas  tam  comprido  e  arrastado  quo  des- 
cia aps  talares,  como  ainda  agora  se  ob- 


serva noB  funeraes  dos  noAsos  reis.i  Gar- 
rct,  Camões,  notas. 

l.)  VASADOR,  í.  Hl.  Ferro  de  correei- 
ros, com  que  olles  fazem  buraco»  redon- 
dos. 

2.)  VASADOR,  s.  m.  O  ourives,  que 
vasa  o  ouro  ou  prata  o  a  derrete  para  fa- 
zer obras  fundidas  ouj  moídos. 

VASADURA,  «.  /.  A  agua  que  se  vasa 
e  despeja. 

—  U  traballio  de  vasar  líquidos  em 
outras  viisilha-i,  ou  fu-a. 

VASANTE,  part.  act.   do  Vasar. 

—  Maré  vasante;  diz-se  em  opposiçSo 
a  enchente. 

—  Substantivamente :  Na  vasante  da 
maré)  (juando  vasa. 

—  Dar  vasante  aos  ijxie  vinham  con- 
fessar-se;  dar  vasão;  despachal-os,  con- 
fes.sal-os,  avial-os  a  todos. 

■ — •  Vasante  da  lua ;  o  minguante. 

VASÃO,  s.  /.  A  acção  de  esgotar  a 
agua  de  algum  vaso,  onde  está  repre- 
sada. 

—  Evasão,  saída. 

—  Expedição  aos  negócios,  desemba- 
raço d'ellcs  com  a  sua  conclusão.  —  Dar 
vãsão   a  certos  negócios. 

—  Figuradamente :  Extracção,  expor- 
tação, saca,  «lida. 

VASAR,  V.  a.  Tirar,  deixar  correr, 
soltar  o  liquido  do  vaso,  tanque,  poço; 
desaguar. 

—  Dar  largamente. 

—  Fundir  alguma  obra  de  metal. 

—  Tassar  de  parte  a  parte. 

—  Vasar  a  lam-a  em  algttem;  ombe- 
bel-a  toda  e  traspassal-o  com  ella. 

—  Despejar.  —  «Estes  saõ,  os  que  com 
grande  afioiteza,  c  confiança,  metem  a 
saco  a  Rej)ublica,  cujos  sacos  vasaõ  para 
encher  taleigos,  que  já  medem  aos  al- 
queires :  e  isso  he  o  menos,  e  mais  he  o 
volume  innnenso  de  outras  drogas,  de 
que  enchem  sobrados,  que  haõ  mister 
espeques  para  sustentar  o  pezo,  sem  te- 
mor da  forca,  que  fora  melhor  fabricjirse 
desses  pontocns.»  Arte  de  furtar,  cap.  62. 

—  Vasar  as  carnes  do  sangue ;  san- 
gral-as,  esgotal-as  d'olle. 

—  Vasar  sangue  das  veias;  soltal-o 
d 'dias. 

—  Vasar  a  parede;  fazer  n'ella  algum 
vão. 

—  Vasar  tjua2<juer  peça  solida;  cavan- 
do-a,  e  doixaudo-lhe  a  tona. 

—  Vasar  as  casas,  armazéns;  dcspo- 
jal-os  do  que  n'elle8  está,  deixar  vazio. 

—  Vasar  toa  o/Ao;  quebral-o,  cxtrahir- 
Ihe  o  bugalho,  ou  os  humores. 

—  Dar  saída  o  saco  a  fruetos,  c  géne- 
ros commerciavois. 

—  Ir  dar  ou  encalhar  na  vasa. 

—  Vasar  a  òolsa ;  dar  tudo  o  que  ti- 
ul(a  n'clla. 

—  V.  n.  Ir  a  menos,  minguar.  —  Va- 
sar a  maré. 

—  Sair,  escapar-se,  cscoar-se. 


—  Vasar-se,  v.  rejl.  Soltar-se,  desli- 
gar-se. 

—  Ficar  vazio. 

—  Vasar-se  cum  diarrkea  ;  ovacoar-eo 
muito. 

—  Figuradamente :  Tirar-no,  Bacxu-«s«, 
dar  uaida  cland<;iitina. 

—  Figuradamente:  Descobrir  o  sogro- 
do. 

—  Ficar  exhauuto. 

—  Vasar  em  saiujue ;  tí-r  uma  hemor- 
rliagia  ]ior  feri-la  ou    evacuação    grande. 

VASCA,   «.  /.   Movimenta    convulsivo. 

—  Náuseas,  anciãs  de  vomitar,  arca* 
das  que  precedem  o  vomito. 

—  IjOC.  :  Fazer  vascas  a  alguém  »o- 
bre  alguma  cousa;  mo«trar  que d'ella  re- 
cebe grande  desgosto  e  angustia. 

VASCOLEJADO,  part.  pats.  de  Vasco- 
lejar. 

VASCOLEJADOR,  A,  a^ij.  Quo  vasco- 
leja. 

—  Figuradamente :  A  riqueza  f  de  ti 
inesma  tão  vascolejadora,  (yu«  turòa  os 
ânimos  e  as  pessoas. 

—  Substantivamente:  Um  vascoleja- 
dor. 

VASCOLEJAMENTO,  o.  m.  Acto  de  vas- 
colejar. 

VASCOLEJAR,  u.  a.  Mover,  sacudir  o 
liquido  que  está  em  algum  vaso,  e  levan- 
tar-lhe  o  pi\,  ou  sedimento. 

—  Figuradamente  :  Inquietar,  turvar, 
perturbar. 

VASCONÇADO.  Vid.  Vasconço,  e  Vas- 
congado. 

VASCONCEAR,  v.  a.  Fallar  vasconço, 
faliar  avasconça<lamente. 

—  Figuradamente  :  Vasconcear TinMo^, 
e  reijiteOros. 

1.1  VASCONÇO.  Vid.  Vascongado. 
2.)  VASCONÇO,  s.  Vi.   Lingua  vaecon- 
gada. 

—  Figuradamente :  Linguagem  emba- 
raçada, inintellijivel.  c  irregular. 

VASCONGADO,  A,  adj.  o  ».  De  Gui- 
puscoa,  ou  próprio  d 'esta  parte  da  Bis- 
caia. —  Lingua  vascongada.  — Província 
vascongada. 

VASCOSO,  A,  adj.  Que  tem  vascas, 
anelado,  convulso,  que  tem  anciãs,  e 
nauseiís  para  vomitar. 

VASCUENÇO.  Vid.  Vasconço. 

VASCUENSE,  í.   m.   Lingua   bisca.inha. 

VASCULAR,  adj.  2  gen.  Termo  de  ana- 
tomia. Que  é  relativo  .noa  vasos,  e  espe- 
cialmente aos  vasos  winguineos. 

—  Sgstema  vascular  ;  reuniio  dos  va- 
sos sanguíneos. 

—  Termo  de  pathologia.  Tumore*  vas- 
culares ;  tumores  erectis. 

—  Termo  de  botmica.  Composto  de 
vasos.  —  Tecido  vascular. 

—  Plantas  vasculares ;  plantas  que 
além  do  tecido  ccllular,  encerram  vasos. 

VASCULARIDADE,  s.  f.  (Do  france» 
voíKularité^.  Em  anatomia  normal  ou  pa- 
thologica,  presença  dos  vasos  sanguíneos 


VASO 


VASQ 


VASS 


885 


.  Termo    coUectivo. 

toneis  de  uma  ade- 


ou  lymphaticos  om  quantidade  maior  ou 
menor. 

f  VASCULARISAÇÃO,  s.  /.  Producção 
de  vasos  n'uin  tecido  que  nada  contém, 
ou  augmento  do  numero  d'aquelleâ  que 
existiam . 

VASCULHO,  8.  m.  Vassoura  pegada  era 
uma  vara  para  alimpar  fomos,  03  tectos 
da  casa,  etc. 

—  Figuradamente :  Pessoa  ou  cousa 
muito  suja. 

—  Vid.  Basculho. 

I  VASCULO-NERVOSO,  A,  adj.  Com- 
posto de  nervos  e  de  vasos. 

f  VASCULOSE,  s.  /.  Principio  forman- 
do a  parede  dos  vasos  das  plantas. 

VASCULOSO,  A,  adj.  Vid.  Vascular. 

VASEIRO,  A,  aJj.  —  Veado  vaseiro ; 
veado  de  casta  pequena,   e  não  real. 

VASENTO,  A,  adj.  Lodoso  como  vasa. 

—  Areia  vasenta. 
VASIADOR.  Vid.  Vaziador. 
VASILHA,    s.  /.   Vaso    do    serviço    de 

casa. 

—  Vasilhame. 

—  Cheirar  d  vasilha  ;  ter  o  bafio  do 
vaso  onde  esteve. 

—  Navio,  vaso. 

—  Loc.  POP. :  Ê  má  vasilha  ;  é  má 
pessoa. 

VASILHAME,  s.  vi 
As  vasilhas,  pipas  e 
ga,   de  uma  nau. 

VASIO,  A,  adj.  Vid.  Vazio,  melhor  or- 
thographia. 

—  Adágios  e  provérbios  : 

—  Borracha  vasia  não  tira  seccura. 

—  Hospede  tardio  não  vem  vasío. 

—  Pão  da  ilha,  arca  cheia,  barriga  va- 
sia. 

—  Jlelhor  é  anno  tardio,  que  vasio. 

1.)  VASO,  s.  m.  (Do  latim  vas).  Va- 
silha, peça  concava  de  metal,  vidro,  bar- 
ro, etc,  que  serve  de  recolher  em  si  al- 
guma matéria,  mormente  liquida,  como 
um  frasca,  copo,  taça,  cântaro,  pote,  etc. 

—  Espumantes  vasos. 

Dos  espumantes  vaaos  se  derrama 
O  licor,  que  Noé  mostrara  á  gente; 
Mas  comer  o  Gentio  não  pretende 
Que  a  seita,  que  seguia,  lho  defende. 
oAu.,  Lus.,  cant.  7,  est.  75. 

—  Figuradamente :  Tudo  o  que  é  ca- 
paz para  ter  em  si  alguma  cousa. 

—  O  negro  vaso  ;  a  sepultura,  a  urna, 
o  tumulo. 

—  O  vaso  do  rio;  o  leito. 

^^  Figuradamente :  O  vaso  da  ira,  da 
fúria,  da  vingança  ;  grande  irritação,  fer- 
vor, excitamento  a  estas  paixões. 

—  Loc.  :  Beber  o  vaso  da  mina;  ser 
arruinado. 

—  Esgotar  o  vaso  da  amargura;  sof- 
frer  muito. 

—  Beber  o  vaso  da  lisonja ;  embria- 
gar-se  com  ella. 


—  Vasos  de  honra;  os  bens  que  hon- 
ram a  Deus. 

—  Beber  o  vaso  da  ira;  irar-se  muito. 

—  Beber  o  vaso  da  fúria ;  enfure- 
cer-se. 

—  Vasos  de  ignominia  ;  os  peccadores, 
08  maus  que  deshonram  a  Deus. 

—  O  homem  vaso  da  iniijuicia ;  o  ho- 
mem mau  de  seu,  o  da  sua  colheita. 

—  Gonstellação.  Vid.   Copo. 

—  Navio,  barco,  ou  nau. 

—  Os  vasos  do  corpo  humano;  a  par- 
te que  contém  os  liquilos  como  as  veias, 
artérias,  etc. 

—  Termo  de  náutica.  Na  antiga  con- 
strucção  naval,  peça  em  que  se  sustinha 
o  casco  do  navio ;   a  envasadura. 

—  O  vaso  da  mulher ;  o  órgão  da  ge- 
ração. 

—  Vaso  de  misericórdia,  de  pureza;  o 
que  está  cheio  de  misericórdia,  de  pu- 
reza. 

—  Vaso  de  sangue  ;  pequeno  vaso  cheio 
d'uma  matéria  avermelhada,  que  se  en- 
contra junto  de  certos  túmulos  christãos 
nas  catatumbas  de  Roma,  e  que  se  jul- 
ga ser  o  signal  do  tumulo  d'um  martyr, 
e  que  só  parece  ser  uma  reliquia  posta 
como  tal  junto  de  um  tumulo  qualquer 
de  christão. 

—  Termo  de  physica.  Principio  dos 
vasos  communicantes ;  principio  de  hy- 
drostatica:  quando  um  liquido  pesado 
está  em  equilíbrio  em  dous  vasos  que 
communicam,  a  pressão  sobre  uma  mes- 
ma camada  horisontal  é  a  mesma  nos 
dous  vasos. 

—  Vaso  de  Mariotta;  apparelho  em- 
pregado para  obter  por  meio  da  pressão 
atmospherica  um  escoamento  atmosphe- 
rico. 

—  Figuradamente  :  Termo  de  devoção. 
Vaso  de  eleição;  aquelle  que  é  escolhido 
de  Deus. 

—  Vaso  espiritual,  vaso  honroso,  e  va- 
so insigne  de  devoção ;  nomes  dados  na 
ladainha  a  Nossa  Senhora. 

2.)  VASO,  s.  m.  Lençaria  ou  droga 
grossa,  escura,  e  vil  como  o  burel,  e  que 
servia  de  vestir  nos  lutos,  etc. 

VASOSINHO,  «.  wi.  Diminutivo  de  Va- 
so.   Vaso  pequeno. 

VASOSO,   A,  adj.  De  vasa,  lodo. 

—  Fundo  vasoso  do  rio ;  fundo  lo- 
do«). 

VASQUEIRO,  A,  adj.  Que  produz  vas- 
cas, anciã,  fadiga,  aâlicçào. 

—  Aiída  vasqueiro  ;  o  que  custa  tra- 
balho para  obter-se. 

—  1'  igiiradameiíte  :  Andar  vasqueiro  ; 
ser  raro,  trabalhoso  de  obter,  ganhar. 

—  Dar  vasqueiro,  e  não  em  cheio;  dar 
de  esguelha. 

VASQUEJAR,  V.  n.  Ter  vascas,  ou  con- 
vulsões, torcer-se,  anciando  com  ellas. 

—  Nausear,  engulhai-. 
VASQUINHA,   s.  /.  Saia  á  antiga   com 

muitas  pi-egas  cm  volta  da  cintura. 


VASSA,  s.f.  Yl].  Vasa. 

VASSALLA,  s.  /.  de  Vassallo. 

VASSALLAGEM,  s.  /.  Estado,  condição 
do  vassallo.  — ■  Vassallagem  subalterna. 
—  A  v?.ssallagem  hereditária. 

—  Vassallagem  activa;  direitos  feudaes 
sobre  a  herança  como  feudo. 

—  Vassallagem  j)assiva ;  deveres  aos 
quaes  está  submettido  o  vassallo. 

—  Direito  de  vassallagem  ;  o  direito 
que  o  senhor  tinha  de  exigir  do  seu  vas- 
sallo. 

—  Multidão  de  vassallos. 

—  Fazer  vassallagem  ;  reconhecer-se 
por  vassallo. 

—  Serviços,  foragens  de  vassallos,  « 
obrigações  de  tal. 

—  Fazer  de  si  vassallagem  ;  tomar  a 
el-rei,  ou  aos  príncipes,  e  iidantes,  e  se- 
nhores, por  senhor. 

—  Reconhecer  vassallagem  ;  reconhe- 
eer-se  por  vassallo. 

VASSALLAR,  v.  a.  Termo  pouco  em 
uso.  Render,  tributar  vassallagem. 

VASSALLO,  s.  7».  (Do  francez  vassal), 
Outr'ora  os  infantes,  condes  e  ricos-ho- 
mens  eram  vassallos  d'el-rei,  que  d'elle 
recebiam  terras,  e  contias  para  o  servi- 
rem por  si,  e  com  suas  mesnadas  e  com- 
panhas. 

—  Havia  outros  vassallos  acontiados 
por  el-rei,  escriptos  nos  seus  livros  dos 
mai-avidis,  menos  graduados  que  os  gran- 
des e  seus  filhos,  os  quaes  a  certos  res- 
peitos gozavam  do  furo  de  fidalgos.  Mas 
antes  d'estes  já  havia  vassallos  não  fi- 
dalgos, que  por  terem  contia  ou  fazenda 
grossa  eram  obrigados  a  servir  a  cavallo, 
e  gozavam  de  privilegio  de  fidalgos  a 
certos  respeitos.  Os  vassallos  não  fidalgos 
eram  os  do  conto,  ou  numero,  que  de- 
viam estar  alistados,  e  armados  em  cada 
cidade,  villa  ou  logar;  e  antes  de  estar 
cheio  o  numero  d'estes  recrutados,  os  se- 
nhores que  deviam  serviço  militar  de  seu 
corpo,  e  com  certas  pessoas  ou  compa- 
nhas não  podiam  recrutal-os,  ou  enga- 
jal-os  nas  ditas  cidades,  villas,  e  legares. 
Os  grandes  também  tinham  vassallos.  A 
qualidade  de  vassallo,  que  começou  por 
ilar-se  somente  a  grandes,  filhos,  netos, 
e  bisnetos  de  fidalgos  de  linhagem,  se 
diftuudiu  aos  não  fidalgos,  que  por  seus 
bens  podiam  manter  cavallo,  e  eram  n'el- 
le  acontiados,  e  d'estes  diz  a  lei,  6e  for 
vassallo,  ou  d'ahi  para  cima,  ou  se  fôr 
peão ;  e  ainda  que  este  nome,  como  clas- 
se privilegiada,  parece  extincto,  e  convir 
hoje  a  todos  os  naturaes  do  reino,  e  do- 
mínios de  Portugal,  todavia  em  razão  do 
serviço  a  cavallo,  e  do  que  pôde  fazer 
(juem  os  mantém,  temos  alguns  restos  de 
direito  de  vassallagem. 

—  Este  termo,  que  outr'ora  era  titulo, 
e  tão  honorifico  que  no  tempo  d'el-rei 
D.  Pedro  i  só  costumava  ser  vassallo  o 
filho,  o  neto,  ou  bisneto  de  fidalgo  de  li- 
nhagem, é  hoje  synonymo  de  súbdito.  — 


886 


VASS 


VAST 


VATE 


«Acrescentando  a  cito  denatino  outro 
maior,  de  mandar  do.sfazi-r  a»  arnian, 
prohibiiitlo  cõ  ^'raviís  |)eiias,  (|uc  ncnlui- 
U)a  pes.soji  do  scu.s  lluviun,  usasse  dcllan 
nem  aM  tivusrto  oui  mui  casa,  dizendo  que 
a  ellícy  cõpotia  a  defensão  de  hcuh  vas- 
salos, e  darlhe  arma»  para  guardar  o 
Keyno,  quildo  a»  guc-rra»  e  nocesHidade 
urgente  o  pedisse.»  Monarchia  Lusitana, 
liv.  G,  ca[).  'òO.  —  cDiz  a  liintoria  (|U(!  do 
duque  Artilao  vassallo  de  clrci  Uecimlos 
de  ilo.spaulia,  licoii  uin;i  lilliu  herdeira  de 
seu  sealiorio,  que  era  grande;  a  qiiiil 
criada  na  couvorsaçío  da  infante  lieli- 
sanda,  iilha  de  elrei  Kucindos,  se  namo- 
rou d'OnÍ8taldo  seu  irmão;  e  como  tam- 
bém ella  a  elle  não  parecia  mal,  teve 
tanta  for(;a  o  amor  aiitr'elles,  que  vieram 
a  efteito  de  suas  vontades.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  d'Iuglaterra,  caj).  74. 
—  f  Cousas  de  que  os  f^randcs  dr.veni 
guardar-se  por  teuioi-  dos  eriailos  e  vas- 
sallos,  que  sendo  seahoreadoa  com  tyran- 
nia,  80  o  tempo  lhes  abre  alguui  caminho 
do  viver  em  liberdade,  com  rigor  o  se- 
guem e  com  tenção  damnada,  niiscida  do 
sfius  aggravos,  usam  de  sua  fortuna,  não 
olhando  o  acatamento  da  pessoa,  a  que  o 
sempre  tiveram,  porque  as  vontades  com 
que  tò  alli  os  trataram,  g  'ra  este  esque- 
cimento.«  Ibidem,  cap.  118.  —  «Este  é 
o  nosso  natuial  senhor:  bemaventurados 
08  vassalos,  que  de  tão  sinalado  principe 
são  súbditos,  pois  se  nelle  encerra  toda  a 
valentia  e  esforço.»  Ibidem,  cap.  97.^- 
« Porem  de  qualquer  maneira  que  fosse, 
elle  se  vinha  apresentar  j)or  vassallo  d'el- 
Rey  de  Portugal,  o  que  este  desejo  naõ 
era  nelle  nouo  mas  do  primeiro  dia  que 
vira  Portugueses  naqiielia  terra.»  Rarros, 
Década  1,  liv.  8,  cap.  10.  —  «Que  lhe 
pedia  seguro  geral  peras  nãos  Dormuz,  e 
de  seus  vassallos  poderem  nauegar  perá 
índia  sem  lhe  ser  feito  danno,  nem  em- 
bargos pelos  capitães  de  suas  arniiidas.n 
Damião  de  Góes,  Chrouica  de  D.  Manoel, 
part,  3,  cap.  (jti.  —  oE  el  Rey  Agesilan 
diz,  como  refere  Plutarcho,  que  o  bom 
Principe  ha  de  ser  com  os  vassalos,  como 
pay  com  filhos.  E  eu  digo  que  não  como 
qualquer  pay,  mas  como  pay  beuignissi- 
nio  e  amorosissimo,  em  tãto  que  antes 
pareça  que  os  vassallos  se  sustentam  do 
amor  e  fauor  de  seu  Principi;,  que  o 
Principe  do  trabalho  e  fazenda  de  seus 
vassallos.»  Heitor  Pinto,  Dialogo  da  Jus- 
tiça, cap.  2.  —  «Exaqiú  o  (|ue  suecede 
ils  leys  injustas,  o  aos  Príncipes  i\\ie  as 
fazem.  Os  vassallos  mais  amantes,  e  os 
sogeitos  mais  Heis,  senão  detcstão,  fogem 
ao  menos  quanto  poilein  dos  seus  Domí- 
nios.» Cavalleiro  d'(Jlivelra,  Cartas,  liv, 
1,  n.°  22. 


Entre  os  rcbanlios  seua,  o  outro  seus  filhos, 
Viveo  tramniillo  o  ingénuo  Palestino  ; 
Ki-a  o  Monarcii  pai,  tillio  o  vasfallo: 
Triunfos  da  Virtude,  Hcróos  ou  vojo; 


(Quanto  o  pudi')rilo  «cr,  antcit  que  a  eterna 
Sanctifieunti!  luz  dos  Ciio*  baixanso.) 
j.  í.  m;  UÀCKuo,  mkditavão,  cunt.  1. 

— ■  Moleriianuinte,  faliaiido  ilos  natu- 
raes  do  reino  e  seus  domiidos,  usa-se  de 
subdittj,  e  não  do  vassallo;  porque  este 
denota  a  depenuencia  de  um  senhor. 

—  Hkí  vassallo.  —  «Cada  Key  vassal- 
lo com  toda  a  gente  de  seu  liei  no  liia 
He|)arado  a  huma  parte  tanta  ilistancia 
huus  dos  outros,  que  nunca  se  ajuntavaò, 
nem  niisturavaõ,  e  por  tal  ordem,  que 
sempre  Ellley  do  Pegíi  ficava  no  nieyo, 
e  o  mesmo  era  ao  assentar  dos  arrayaes, 
porque  cada  hum  o  punha  sobre  si,  per- 
to de  moa  légua  huns  dos  outros.  Sò  Dio- 
go Soares  de  Jleilo  com  os  Portuguezcs 
punlia  sua  estancia  muito  perto  da  de  El- 
Key  porque  fiava  mais  delles  a  guarda 
de  sua  pessoa,  que  de  seus  naturaes.» 
Diogo  de  Couto,  Década  6,  liv.  7,  cap.  9. 

—  Vassallo  leal;  súbdito  fiel.  —  «Mas 
já  que  o  (ioveruador  da  índia  entrevi- 
nha  naquelle  negocio,  e  ElRey  de  Por- 
tugal o  mandái-a  fazer,  que  elle  como 
servidor,  o  vassallo  leal  queria  estar  :l 
obediência  do  (iovernador  da  Índia,  que 
estava  em  seu  lugar,  e  por  tudo  o  que 
elle  Capitão  nnir  ordenasse  :  Que  se  que- 
ria aquella  fortaleza,  elle  lha  largaria  li- 
vremente, e  se  iria  com  sua  nmlher,  e  fa- 
mília pêra  outra  parte,  deixando  aquella 
ilha  livi-e,  e  desembargada  a  ElRey  de 
Ormuz.»  Diogo  de  Couto,  Década  4,  liv. 
4,  cap.  4. 

—  Fiel  vassallo  ;  súbdito  leal. 

K  isto  mandou  entregue  á  confiança 
Do  nobre  Accf arção,  liei  vassallo. 
Que  teve  em  seu  poder  tal  segiu-ança 
Que  melhor  não  pudera  scgurallo : 
Mas  Baudur  seu  desejo  nào  alcança 
Que  veio  a  cruel  morte  a  salteallo 
CoVs  Portuguozas  armas,  c  lhe  vejo 
Do  seu  receio  o  fim,  uào  do  desejo. 

KRANCISCO  d'aNDBADK,  PSIUEIBO  CEBCO  DB  DIU, 

cant.  12,  est.  07. 

—  Vassallo  directo  ;  aquelle  que  con- 
servava immedlatamente  seu  feuJo  do 
senhor  da  terra. 

VASSOURA,  s.  /.  Molho  de  palhas,  ou 
cabello  para  varrer. 

—  AD.\f;io  E  provérbio: 

—  Pelo  nuirido  vassoura,  e  pelo  mari- 
do senhora. 

VASSOURADA,  s.  f.  Pancada  com  & 
vassoura,  golpe  de  vassoura. 

VASSOURINHA,  s.  f.  Diminutivo  dô 
Vassoura.  N'assoura  pequena. 

VASSOURIiNHA  DO  BRAZIL,  s.  /.  Ter- 
mo de  botânica.    Vassoura  doce,   planta. 

VASTAÇÃO,  .V.  /.  i,Do  latim  luitalio). 
Assolação,  estrago. 

VASTADO,  jiart.  /tuís.  de  Vaslar. 

VASTADOR,  A,  udj.  Assolador,  estra- 
gador,  destruidor. 

—  Substantivamente :    Um  vastador. 


VASTAMENTE,  udv.  (De  Tasto,  com  o 
BiiíTixi)  «mente»/.  Di;  um  modo  vaoto. 

—  Ampl;im'-nt'i,  mui  largamente. 
VASTAR,  V.  n.  Vid.  Devastar. 
VASTEZA,  X.  f.   Vaati-iào. 
VASTIDÃO,   «.  /.  (írande  e  mui  dilata- 
da extvusão.  —  A  vastidão  do  mar. 

—  A  vastidão  de  seu»  eorpo$ ;  a  gran- 
deza (•normi-. 

VASTÍSSIMO,  A,  adj.  superl.  do  Vas- 
to. Mui  vasto.  —  litiiíus  vastíssimos. 

—  A  vastíssima  baleia;  a  enormiasi- 
ma  b:dcia. 

VASTO,  A,  a^ij.  (Do  latim  vattu*).  Quo 
é  de  uma  mui  .grande  cxtenslo.  —  Um 
vasto  Iwristiuie.  —  Um  vasto  campo.  — 
Um  vasto  império. 


Não  subira  Manilio.  entre  os  Romanos, 
Am  raulos  Ceos  a  devassar  os  Astrot ; 
Profundo  Oaliléo,  robusto  Atlante, 
Sustenti  novos  Ceos,  mostra  mais  globo*. 
Da  Natureza  nos  abysmos  planta 
Luminoso  fanal. 

J.    A.   DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  C&Ot.    1. 


Da  ra»ía  Thcba»  a  muralha  ingente 

Doo  a  idéa  a  Srmiramis  dos  muros, 

Dos  suspensos  Jardins,  qu'  ind'  hojr  m  Fama 

Entre  as  do  Mundo  maravilhas  contm. 


Não  triunfamos  no  fatal  combate 

(r.,hcs  diz)  oppôz-sc  império,  ou  lei  mais  forte; 

Mas  nunca  mea  furor  cede,  e  se  abate. 

Soja  contraria,  ou  tisongcir*  a  Sorte: 

Meu  braço  as  iras  do  Immortal  rebate, 

Se  evita  o  Luso  ua  tonnenta  a  morte. 

Perdido  o  Vil  fazer  o  .astuto  engano 

Na  vasta  solidão  do  immenso  Oceano. 

IDEM,  o  ORIEKTB,  Cant.    Õ. 


—  Por  extensão :  Que  reina,  que  se 
estende  em  uma  grande  extensão.  —  Vas- 
tos horrores.  —  Vastas  desgraças. 

—  Figuradamente  :  Diz-se  das  cousas 
moraes,  das  concepções  do  espirito.  — 
Um  vasto  plano.  —  Uma  vasta  emprtza. 
—  Vastos   dfsejos. 

—  Termo  de  anatomia.  Musculas  vasto- 
iiiterno,  e  'VdiStO-e xUrno;  graniles  múscu- 
los que  occupam  o  lado  interno  e  o  lado 
externo  da  coxa. 

—  Figuradamente :  Dilatado. 
VATE,  s.  m.  [Do  latim  vates).  Poeta. 

—  Propheta. 


Oh  Musa 
Celeste  que  inspiraste  o  Cysne  illustro 
De  Sorrento  e  o  Uritanno  cígo  Vate: 
Tu,  que,  no  o.rmo  Thabor,  sentaste  o  throno, 
K  a  c|ueiu  severos  pons;iuientoi  prazem, 
Pr.izom  contemplações  sublimes,  graves, 
A  teu  auxilio,  ncato  assumpto  imploro. 

FRAXCISOO   MAMOEI.  DO  NASCIMErrO,  09   lULBTTBKS, 

liv.  1. 


Não  nic  assombro  de  ver  em  Koma  tantos 

Arco»,  Templos,  Prramides,  Columnaa ; 

Nào  preudc  a  vista  a  bum  Vate  m  pompa,  o  Luxo; 


VAY 


VAZI 


VE 


887 


E  il  vista  do  Filosofo  esvaecem 
Monumentos  do  orgulho,  c  da  vaidade. 

J.    A.    DE   MACKDO,   MEDlTAçÂO,   Caut.    1. 

— •  iS.  /.  Propliotiza,  fatídica. 

f  VATICANO,  s.  m.  Nome  d'uma  das 
antigas  coiiiiias  de  Roma,  visinha  do  Ja- 
niculo,  além  e  perto  do  Tibre. 

—  Palácio  de  Roma,  morada  habitual 
do  papa,  edificado  sobre  esta  coUina,  e 
que  tira  d'ella  o  seu  nome.  O  Vaticano 
é  também  um  museu. 

—  Por  extensão  :  A  corte  de  Roma,  a 
santa  sede. 

—  Os  raios  do  Vaticano;  as  excom- 
munhões,  os  interdictos  lançados  pelo 
papa. 

—  S.  f.  A  bibliotheca  do  Vaticano. 
VATICINAÇÃO,  s.  /.  (Do   latim  vatirÃ- 

natio).  Predicção,  prophecia.  Vid.  Vati- 
cínio, termo  mais  em  uso. 

VATICINADO,  part.  pass.  de  Vaticinar. 

—  Prophetízado,  predicto. 
VATICINADOR,  A,  s.  (Do  latim  vatici- 

nator,  de  vaticinar i).  Pessoa  que  prediz 
o  futuro. 

VATICINANTE,  part.  act.  de  Vaticinar. 
Que  vaticina,  que  prediz. 

VATICINAR,  V.  a.  (Do  latim  vaticína- 
ri),  Proplietízar,  pi^edizer,  aiiívinhar. 

—  Figuradamente :  Prenunciar. 

—  Syn.  :  Vaticinar,  predizer.  Vid.  este 
ultimo  termo. 

VATICÍNIO,  s.  m.  (Do  latim  vatici- 
nium).  Prophecia,  predicção  do  vate. 

—  Annuncio  prévio  do  que  se  prevê  e 
conjectura. 

■\  VAY.  Forma  antiquada  do  verbo  íV 
na  terceira  pessoa  do  singular  do  presente 
do  modo  indicativo.  Vid.  Ir,  e  Vai.  — 
« Affirmarãouos  mais  os  Chins  que  tinha 
dez  mil  teares  de  seda,  porque  daquy  vay 
para  todo  o  reyno.  A  cidade  em  sy  he 
cercada  de  muro  muyto  forte,  e  de  boa 
cantaria,  onde  tem  cento  e  trinta  portas 
para  a  serventia  da  gente,  as  quais  todas 
tem  pontes  por  cima  das  cavas.»  Fernão 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.  88, 
—  íPello  paralítico  se  entende  a  alma 
enferma,  pello  leyto  o  corpo.  E  assi  como 
onde  hia  o  leito,  lá  hia  o  paralytico,  assi 
onde  vay  a  carne,  lá  vay  a  alma  do  tris- 
te peccador,  que  jaz  entréuada  no  corpo. 
Mas  recuperada  a  saúde  da  alma,  aleuan- 
tase  em  cõtemplação,  e  vay  cõ  o  pensa- 
mento a  sua  casa,  que  he  a  gloria,  medi- 
tado os  diuinos  e  altos  mistérios.»  Heitor 
Pinto,  Dialogo  da  Justiça,  cap.  7.  —  «Prí- 
meyramente  conuem  que  dispamos  nossas 
vestiduras  velhas,  nosso  velho,  e  carnal 
homem,  com  todas  suas  obras,  e  desejos, 
pêra  que  debayxo  da  Cruz  de  Christo 
soja  sopeado,  e  mortificado,  e  se  espre- 
mam suas  maas  inclinações,  seus  torpes 
desejos,  e  rebeliões  :  e  lançados  no  cham, 
se  pisem  debayxo  dos  pees  da  asna  em 
que  o  senhor  vay  assentado,  s.  debaixo  da 
paciência   de   nosso  Senhor  lesu  Christo, 


conforme  ao  que  pedia  sam  Paulo.»  Frei 
Bartholomeu  dos  Martyres,  Catecismo  da 
doutrina  christã.  —  «O  mesmo  movi- 
mento vay  fazendo  a  outava  esphera ; 
com  que  está  ja  hoje  apartada  da  decima 
28  grãos,  e  ?>2  minutos;  ao  qual  aparta- 
mento chamaõ  os  Astrólogos  precedência 
dos  Asterismod  aos  dodecatemorios.»  Braz 
Luiz  dAbreu,  Portugal  medico,  pag. 
Õ18,  §  IÒ2. 

VAYA,  s.  f.  Vid.  Vaia. 

f  VAYDADE,  s.  /.  Vid.  Vaidade.  — 
«Em  aquelle  dia  portehaas  diante  de  ti, 
pêra  que  te  vejas.  Quando  neste  mundo 
viuías  tínhaste  lançado  detrás  das  costas 
esquecido  de  ti,  e  todo  pensatíuo  e  em- 
bebido nas  vaydades  e  deleytes  deste 
mundo,  não  enxergando  as  magoas  e 
mascarras  que  punhas  em  tua  alma  e  as 
feridas  de  peccados  mortaes  que  lhe  da- 
uas.»  Frei  Bartholomeu  dos  Martyres, 
Catecismo  da  doutrina  christã. 

VAYS,  por  Ides,  do  verbo  ir,  na  segun- 
da pessoa  do  plural  do  presente  do  modo 
indicativo. 

VAZA,  s.f.  Vid.  Vasa. 

VAZAR,  V.  a.  Vid.  Vasar.  —  «Os  imi- 
gos  deraõ  o  fogo,  e  chegando  ás  minas, 
achando  grande  força  de  repuxos,  que 
pela  banda  do  dentro  estavào  feitos,  ar- 
rebentou pêra  fira  toda  a  face  do  muro 
com  muy  grande  braveza,  e  foi  cahír  so- 
bre os  mesmos  ímigos:  ficando  mais  de 
trezentos  delles  espedaçadoa  debaixo  das 
paredes,  vazando-se  o  fogo  pelas  contra- 
minas  de  dentro,  sem  fazer  mais  dano, 
que  ficar  a  fortaleza  toda  coberta  de  hum 
espesso,  e  negro  fumo.»  Diogo  de  Couto, 
Década  6,  liv.  3,  cap.  2.  —  «Vaza  este 
rio  seis  mezes,  e  enche  outros  tantos.  E 
no  tempo  das  vazantes  vaõ  os  navios  pêra 
cima  à  toa,  porque  he  muito  alcantilado 
de  ambas  as  partes.»  Ibidem,  liv.  7,  ca- 
pitulo 9. 

VAZIADOR,  A,  adj.  —  Cavallo  vazia- 
dor ;  cavallo  que  estruma,  ou  bosta  com 
excesso,  e  nutre  mal  por  isso. 

VAZIAMENTO,   s.  m.  Acto  de  vaziar. 

—  Acto  de  lançar  o  excremento,  fal- 
lando  lios  cavallos,  e  outros  anímaes. 

VAZIAR,  V.  a.  Despejar,  tornar  vazio. 

—  Alguns  dizem  esvaziar, 
VAZILHA,  s.  f.  Vid.  Vasilha. 

1.)  VAZIO,  A,  adj.  Vão,  despejado. 

—  Não  cheio. 

—  Não  solido,  aéreo. 

—  Espaços  vazios ;  o  vácuo. 

— •  Olhos  vazios  de  lagrimas;  sem  ellas. 

—  Coche  vazio ;  coche  que  não  leva 
gente,  como  ordinariamente  são  os  de  re- 
torno. 

—  Logar  vazio  de  lisonjas ;  \oga.r  onde 
não  houve  lisonja. 

—  Coroas  vazias  de  reis;  por  serem  in- 
capazes. 

—  Bi-sta  vazia;  sem  carga. 

—  Terra  vazia  de  defensores;  terra 
falta  delles. 


—  O  gigante  vazio  de  sangue;  o  san- 
gue que  se  lhe  vasava  pelas  feridas. 

—  De  vazio  ;  sem  carga,  ou  cavalleíro. 

—  Figuradamente :  Pagar  os  altos  de 
vazio ;  ser  tolo. 

—  Vencer  de  vazio ;  receber  soldo,  or- 
denado, emolumento  de  posto,  cargo,  etc, 
não  fazendo  os  seus  officios,  exercidos, 
obrigações.  Vid.  Cavallagem  de  vazio. 

—  Pagar  soldados,  carpinteiros,  etc. 
de  vazio ;  que  vem  alistados  nas  ferias,  e 
promptos,  mas  não  trabalham. 

2.)  VAZIO,  s.  m.  Espaço  vazio. 

—  O  vazio  da  barriga;  os  ilhaes. 

—  Plur. —  Os  vazios  da  Divindade; 
os  attríbutos,  ou  condições  humanas,  que 
Christo  tomou  fazendo-se  homem. 

— •  ITypocondrios. 

f  VÊ.  Forma  do  verbo  vêr  na  ter- 
ceira pessoa  do  singular  do  presente  do 
modo  indicativo.  Vid.  Vêr.  —  «Outra  de- 
dicação semelhante  a  esta,  se  vè  na  Pra- 
ça de  Beja  em  huma  grande  base  de  co- 
luna, que  referem  Ambrósio  de  Morales, 
e  André  de  Resende,  as  letras  da  qual 
dizem  assi.»  Monarchia  Lusitana,  liv.  5, 
cap.  14. 

De  Europa  tira  os  olhos,  firma  os  fi^os 
Na  ponta  Occidental  de  Africa,  e  junto 
Do  estreito  que  ambo3  mares  comunica: 
Abilc,  o  Calpe  ve,  sinais  de  Alcides. 
Ambas  as  Mauritaniaa  ve  presentes  : 
A  Cesaricu.so  ornada  co  famoso 
Altíssimo  Athalantc,  e  a  que  do  Tingis : 
Por  nome  lhe  ficou  a  Tingitana. 

COKTE  REAL,  NAUFRÁGIO  DE  SEPUL^•EDA,  Cant.  2. 

Como  quando  so  ve  por  estendido 
Campo,  grão  multidão  de  grossas  reses, 
E  outros  rebanhos  mil  de  simplez  gado 
Fugindo  com  clamor  alto,  o  tristonho 
Da  fúria  com  que  o  IJio  inchado,  e  solto 
Por  grandes  inucrnadas  vem  cubriudo 
Com  grande  estrõdo  dagua  turua  o  capo 
Lcuando  com  rigor,  tudo  o  que  alcança. 
IBIDEM,  cant.  7. 


Com  grande  sobresalto,  grande  espanto 
Acorda  Çoleimão,  co'o  que  passara, 
Contempla  na  promessa,  e  vè  que  he  tanto 
Que  duvida  se  o  ouvio,  ou  se  o  sonhara ; 
Mas  ja  sentindo  o  effcito  em  si  de  qnanto 
Qualquer  dos  seus  então  nellc  inspirara, 
D;l  credito  á  visão,  e  determina 
Fazer  o  que  ella  manda,  e  elle  imagina. 

FKANCISCO   d'aNDRADE,    PRIMEIRO   CERCO   DH   DIIT, 

cant.  12,  est.  105. 


Vê-ac  O  grande  odio  ja,  vè-se  a  grande  ira, 
Mostra-se  a  natural  fúria  indomável, 
Que  a  contraria  fortuna  reprimira. 
Domestica  fizera,  e  tolerável. 
Amor  forçado  sempre  foi  mentira. 
Pois  mostra  quando  o  Ceo  vè  favorável 
Que  amor  não  foi,  mas  odio  de  verdade, 
Encuberto  com  nome  d'amizade. 
IBIDEM,  cant.  6,  est.  1.3. 

—  «Logo  se  a  pena  do  inferno,  por 
huma  parte  he  infinita,  e  por  oittra  he 
merecida:    bem   se  vê,  que  a  graveza  do 


VEA 


VECT 


VEDE 


peccíido,  quo  a  merece,  he  também  cm 
corto  moilo  infinita.  Por  corto,  cousa 
muito  para  (ulinirar.n  J'aili-e  Manoel  Hor- 
nanios.  Exercícios  espirituaes,  i)iip.  1  (!."). 
—  hE  HO  vê  a  niayor  nolnoza  com  a 
niayor  baixeza  em  hutn  sujeito,  em  hiima 
formiga.  IJaixozaH  lia,  que  miõ  andaõ  om 
uso,  porque  saí5  si)  do  nome:  e  nomes  lia 
quo  uaõ  pôom,  nem  tirari,  ainda  que  se 
encontrem,  ])orque  se  compadecem  para 
tlifTerentcrt  effeitos.»  Arte  de  furtar,  ca- 
pitulo 2. 


O  fupa!!  animal,  subitainento, 
Auto  ofl  pért  do  cavallo,  v?,  a  torra 
Em  profundod  nbysmos  dcapciíhiir-so. 
A.  i>.  DA  cru::,  iitssoit.,  caiit.  4. 


Na  Oflcura  tez  Protígoras  conlipço, 

Kntre  sofiamaa  sn  revolve,  o,  nrpa, 

Oli !  Saoriloga  audácia!  Hum  Dcoa  ao  Mundo! 

Nem  rí  na  imincuíta  gradação  doa  Seres 

Reguladora  mivo,  que  rege  o  Todo, 

Os  oftcitos  apalpa,  c  a  causa  nega. 

j.  A.  DK  jíACKno,  viAOKM  EXTÁTICA,  cant.  2. 


Vc  ((pie  estranho  cspoetaculo  !)  os  sagrados 
Exércitos  d'hum  Deos  Omnipotente-, 
Escuta  03  hyinnos  bemavonturados, 
Qu'entôa  o  Oôro  aligcro,  csplcndento  ! 
Vê  d'ouvo  fino  os  tlironos  levantados 
Em  tanta  copia  pela  Corto  ingente; 
Que  de  cstrellas  a  noite  he  menos  chèa, 
Monos  sào  do  Oceano  os  grãos  d'arêa. 

J.    A.    RK   MACEDO,  O  OUIKNTE,  Cailt.    13,  CSt.    89. 


—  «Também  IMiíjuel  de  Cervantes  des- 
creve a  D.  Quixote  encontrando  no  cam- 
po de  Montiel  dos  beiiitos  com  sus  anteo- 
jos  de  camino.  Querer  parecer  douto  com 
óculos  é  ncceilade  que-se  vê  atravez  dos 
vidros.»  Bispo  (U)  (!rão  Far/i,  Memorias, 
publicadas  por  (,^amillo  Castello  Branco, 
paçc.  137. 

VÊA,  ou  VEIA,  s.  /.  Vaso  do  corpo 
humano  por  onde  gyra  o  sangue,  sem  pul- 
sação. ->—  «E  áupposto  Hippocrates,  Ga- 
leno, c  Avicena  nos  lugares  assima  cita- 
dos digaõ,  que  quando  a  dor  for  na  par- 
te posterior  da  Cabec^a,  cutaõ  se  deve 
picar  a  vea  da  frente,  ou  a  do  nariz;  e 
quando  a  dor  for  na  parte  anterior  se 
deve  pello  contrario  uzar  de  ventosas 
sarjadas  na  nuca,  on  na  parto  posterior 
da  mesma  Cabeça,  por  naõ  ser  este  lu- 
gar capax  de  sangria.»  Braz  Luiz  de 
Abreu,  Portugal  medico,  pag.  181,  § 
101. 

—  Nas  minas,  ó  a  parto  d'ellas  oude 
estil  o  metal,  ou  cousa  que  se  tira,  a  be- 
ta, a  corda. 

—  Os  rios  que  so  ajuntam  em  um  só, 
d'ahi  em  diante  se  diz  que  correm  em 
uma  veia,  ou  a  formam. 

— •  Figuradamente  :  Sangue,  geração. 
—  «Estas,  senhor,  são  as  minas  certas 
d 'este  Estado,  que  a  fama  das  de  oiro  e 
prata  sempre  foi  pretexto,  com  que  d'aqui 


se  iam  buscar  a«  outras  minas,  que  so 
acliarn  uhh  vêas  dos  índios,  o  nunca  a» 
houve  nas  da  terra.»  Padre  António  Viei- 
ra,  Cartas,   n.»  ÍG. 

—  Figuradamente  :  Nadar  contra  a 
veia  da  agua;  fazer  cousa  do  muito  tra- 
balho, ou  inipOHsivol. 

—  Ter  veia  de  poeta;  ter  habilidade 
para  a  poesia,  ter  engenho  poético,  ter 
bossa  para  a  poesia. 

—  Figuradamente  :  Veia  de  lagrimas, 
de  pranto. 

—  Veias  110  manuore  ;  os  perfis  das  ma- 
lhas do  diviTsas  cores. 

—  Té,r  veia  de  doudo ;  tocar  do  doudo. 
VEAÇÃO,   s.  f.   (Do  franccz  veiiaison). 

Caça  Jjrava  de  monte. 

—  (Jarnc  do  animal  morto  om  moiito- 
ria. 

VEADA,  s.  f.  Femoa  do  veado. 

VEADEIRA,   s.  f.   Vid.  Vedeira. 

VEADO,  «.  m.  Termo  de  zoologia.  Ani- 
mal bi-avio  de  caça,  quailrupedc  com  cor- 
nos ramosos.  —  «E  estando  ambos  prati- 
cando nas  aventuras  daqu(dla  terra  e 
quão  singular  parecia,  sahiu  do  espesso 
do  mato  um  veado,  que  co'a  fúria,  que 
trazia,  quebrava  todas  as  ramas  e  tron- 
cos por  onde  passava,  e  traz  elle  um  lião 
grande  e  tomeroso.»  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  31. — 
«De  que  mais  erão  veados,  gazcllas,  car- 
neiros, cabras,  bodes  brauos,  adiues,  lo- 
bos, e  jiorcos  monteses,  e  alguns  ussos, 
e  outras  alimárias,  depois  (jue  o  xeque 
foi  dentro  do  cerco,  derribou  muitas  del- 
ias as  frechadas  do  que  enfadado,  arrin- 
cou  de  huraa  cemitarra.»  Damião  de 
Coes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  4, 
cap.  10. 

—  Adagio  k  provérbio  : 

—  Porfia  mata  veado,  e  não  besteiro 
eançado. 

VEADOR,  s.  m.  Vid.  Vedor. 

—  Modernamente  diz-se  veador  da  rai- 
nha, dos  infantes,  corrupto  de  veedor,  of- 
ficial  da  fazenda,  economia  da  casa  e  de 
provisão,  regulamento  e  fiscalisação;  ins- 
pector, director. 

—  Termo  antiquado.  Caçador,  mon- 
teiro. 

VEADORIA,  s.  /.  Officio  de  veador,  ve- 
dor ia. 

VEAIRO,  s.  m.  Termo  piopular  e  anti- 
quado. Mania,  veia,  loucura. 

VEARIA,  ou  VEHARIA,  s.  f.  Casa  on- 
de se  guarda  a  veaçSo  ou  caça,  e  se  con- 
serva jiara  ficar  mais  tenra,  e  se  ir  co- 
mendo, ou  ondo  so  consei"vam  aves  para 
o  consumo  da  casa  real. 

VECEJAR.   Vid.   Vicejar. 

—  An.VGlO  E   PROVKRIUO  : 

—  Da  gordura  da  terra  vicejam  os  en- 
xertos. 

VECTAÇÃO,  .S-.  /.  (Do  latim  vectatió). 
Andadura  a  cavallo,  em  sege,  ou  em 
carro. 

VECTOR,  adj.  m.    (Do    latira    vector). 


Termo  do  geometria.  líaio  vector;  toda 
a  linha  d'uma  espécie  dct-rminada  que 
uno  um  foco  a  um  ponto  da  curva.  Nas 
curvas  planas,  o  raio  vector  é  uma  linha 
recta;  uas  curvas  e«plierica«,  o  arco  ve- 
ctor é  um  arco  de  grande  circulo. 

—  Mo  Hvstema  das  coordenadas  pola- 
res, o  raio  vector  é  a  linha  recta  que  une 
o  polo  a  um  ponio  da  curva. 

—  Raio  vector  d'itma  ellipre;  linha  ti- 
rada de  um  dos  focos  a  um  ponto  qual- 
quer da  curva,  A  somma  do.s  dous  raios 
vectores  tirados  d'um  ponto  da  ellipse  a 
cada  um  do»  focos  c  ogual  ao  compri- 
mento <lo  grande  eixo. 

—  Termo  de  astronomia.  liaio  vector  ; 
raio  tirado  do  sol  a  um  planeta  ou  d'um 
planeta  a  seu  satellite. 

VEDAÇÃO,   *.  /.  Cousa  que  veda. 

—  IvlitícHção  para  vedar  a  passagem. 
1.1   VEDADO,    part.   pasê.    de   Vedar. 

Probibiilo  moralmente. 

—  Merrailnrias  vedadas;   defesas. 

2.)  VEDADO,  B.  m.  Termo  antiquado. 
Couto  ondo  não  se  entra  por  lei,  privile- 
gio. 

VEDADOR,  A,  adj.  e  *.  Que  veda,  que 
prohibe. 

VEDALHAS,  s.  f.  phir.  Termo  da  Bei- 
ra. A  jóia  que  o  padrinho  d:l  á  noiva  sua 
afilhada  no  dia  do  noivado. 

VEDAR,  V.  a.  (Do  latim  teíarc).  Ob- 
star, impedir,  atalhar,  tolher. 

—  Piohibir,  defender^ 

—  Vedar  a  entrada  de  ctmsaa  alimtn- 
ticias. 

—  Vedar  a  entrada  em  algum  logar ; 
diz-se  de  um  sitio  cuja  entrada  é  ile- 
fesa. 

—  Syx.  :  Vedar,  prohibir.  Vid.  este 
ultimo  termo. 

VEDAS,  s.  /.  plnr.  Livros  sagrados 
dos  brahmanes  da  índia.  Vid.  Brahma- 
nes. 

VEDASSA,  s.  /.  (Do  francez  vedasnê). 
Termo  de  chimica.  Sal  alcali  fixo,  ex- 
trahido  das  ciuzas  da  planta  marinha 
pastel. 

■j-  VEDE.  Fiirma  do  verbo  vêr  na  segun- 
da pessoa  do  plural  do  modo  imperativo. 
Vid.  Vér.  —  «Não  queirais  pôr  hoje  a 
índia  a  risco  de  se  perder,  porque  esses 
Fidalgos  que  om  sima  estam  sam  muitos, 
e  muito  aparentados,  e  muito  honrados, 
o  eu  por  taes  os  tenho,  que  só  pelo  qne 
cumpre  ao  serviço  d'ElRey  cortaráS  por 
si,  e  se  darão  por  prezos.  Bradando  alto 
aos  de  sima :  Senhores,  vede  o  que  fa- 
zeis, não  qU'ii'aÍ8  deservir  a  ElRey,  de 
cuja  parte  vos  requeiro  vos  deis  li  prizSo, 
porque  se  não  perca  hoje  a  Índia.»  Diogo 
de  (^outo.  Década  4,  liv.  2,  cap.  11. 

VEDEIRA,  s.  /.  Termo  antiquado.  Cer- 
ta espécie  de  adivinhaçSo,  quo  ee  tirava 
da  vista  c  inspecção  de  certas  cousas. 

■{-  VEDES.  Fr)nna  do  verbo  vC-r  na  .«c- 
gunila  pessoa  do  plural  do  presente  do 
modo  indicativo.  Vid.  Vêr. 


VEED 


VEGE 


VEGE 


Não  vèden  que  aois  já  morto, 

E  andais  contra  natura  ? 

Ó  flor  da  mor  formosura, 

Quem  V03  trouxe  a  este  meu  horto  ? 

QIL   VICENTE,  FABÇAS. 


—  «E  estes  som  os  cinquo  signacs:  ella 
na  ora,  que  o  homem  delia  travar,  deve 
dar  srrande.s  vozes,  e  braados  dizeudo, 
vedes  que  me  fez  Faam,  nomeando-o  per 
seu  noule  :  e  ella  deve  seer  toda  carpi- 
da :  e  ella  deve  vir  pelo  caminho  dando 
grandes  vozes,  qneixando-se  ao  primeiro, 
e  ao  segundo,  e  ao  terceiro.»  Ord.  Affons., 
liv.  5,  tit.  6.  — ■  «Admirada  da  pouca  del- 
ligencia  com  que  busco  presentemente  os 
objectos  que  servem  de  divertimento  ás 
outras  pessoas  da  min!;a  idade,  e  do  meu 
génio  me  perguntaes,  querida  Genoveva, 
de  onde,  e  de  que  procede  esta  negra 
melancolia  em  que  me  vedes.»  Cavallei- 
ro  d'01iveira,  Cartas,  n.°  74. 

VEDOR,  í.  in.  Mordomo  da  casa;  admi- 
nistrador. 

—  Inspector  e  director  dos  negócios  e 
fazenda,  de  obras. 

—  Vedor  de  agua;  homem  do  quem  o 
povo  crê  que  vê  os  sitios  onde  ha  fontes 
encobertas. 

—  Vedor  da  fazenda,  bens  de  uma  ca- 
sa; regedor  d'elles. 

—  Homem  que  tem  inspecção,  e  faz 
prover  do  necessário ;  manda  dar  despe- 
zas,  e  outros  supprimentos. 

— -Vedor  do  exercito;  commissario  do 
guerra.  Vid.   Vedoria. 

—  Termo  antiquado.  Vedor  da  casa 
real;  mordomo-mór.  A^id.  Veedor. 

VEDORIA,  s.  /.  Cargo  de  vedor,  seu 
officio. 

—  o  apparato  do  exercito,  cofres  ou 
caixa  militar. 

—  Inspecção,  officio  de  quem  deve  vi- 
giar sobre  a  execução  d'alguuia  lei,  regi- 
mento. 

—  Administração  do  quo  pertence  aos 
exércitos,  seus  trens,  cofres  militares,  pa- 
gamento, etc. 

—  Junta  dos  vedores. 

—  Livros,  e  cofres  dos  vedores  do  exer- 
cito. 

—  Casa  onde  elles  se  ajuntam. 
VEDRO,  A,  adj.  Termo  antiquado.  Ve- 
lho. 

—  Torres  vedras ;  diz-se  em  opposi- 
ção  a   Torres  novas,   e  não  nove. 

—  De  vedro  ;   antigamente. 

—  ò'.  7)1.  Termo  antiquado.  Tapigo, 
cômoro  com.  que  rodeavam  os  campos  e 
lavouras. 

VEECA,    s.  /.  Vid.  Beca. 
VEEDOR,  s.  m.  Termo  antiquado.  Ve- 
dor; mordomo-ni('>r  da  casa  real. 

—  Veedores  da  fazenda  real;  os  que 
tratavam  da  sua  arrecadação,  despeza, 
etc. 

—  Mordomo,  inspector,  fiscal. 

—  Termo  antiquado.  Veedor  dos  sapa- 

VOL.  V.  — 112. 


teiros ;  hoje  juiz    do   officio   (extincto  em 
1833). 

—  Veedores  dos  alealdamentos ;  offi- 
ciaes  eliiitos  pelo  conselho  para  irem  em 
cada  anno  assistir  com  o  recebedor,  e 
escrivães  dos  portos,  ou  alfandega  doa 
portos,  ao  manifesto  ou  lealdamento  dos 
efFeitos  importados,  e  avaliados  para  o 
mercador  exportar  retorno  de  outros  tan- 
tos effv'ito3,  e  não  ouro,  nem  prata,  nem 
dinheiro  por  saldo. 

—  Juiz  a  quem  se  deu  commissão  de 
vêr,  de  fisealisar. 

—  Juiz  do  officio  que  avalia  o  bem  ou 
o  mal  feito  das  obras  dos  respectivos  mes- 
teres. 

—  Veedor  da  casa  e  cozinha;  era  co- 
mo niordomo-menor. 

VEEIRO,  s.  m.  Termo  antiquado.  Vid. 
Veiros,   c  Vieiro. 

f  VEEMOS,  por  Vemos,  na  primeira 
pessoa  do  plural  do  presente  do  modo 
indicativo. 


veemos  no  revno  metter 
tantos  captiuos  crescer, 
e  yremse  hos  naturaes, 
que  se  assi  for  seram  mais 
elles  que  nos,  a  meu  vcer. 

OAnCIA  DE  REZENDE,  UISCri.t,ANEA . 


Termo    antiquado,    por 
/.   Termo    an- 


VEER,    V 
Vêr.  Viil.  Prover. 
VEGADA,  ou  VEGA, 

tiquado.  Vez. 

f  VEGETABILIDADE,  s.  /.  Faculdade 
de  vegetar. 

VEGETAÇÃO,  s.  f.  Acto  de  vegetar; 
conjuncto  das  funcções  que  constituem  a 
viila  de  uma  planta. 

—  Collectivamente :  As  arvores  e  as 
plantas. 

—  Por  extensão,  ha  nos  animaes  par- 
tes mui  consideráveis,  como  os  ossos,  os 
cabellos,  as  unhas,  cujo  desenvolvimento 
é  uma  verdadeira  vegetação. 

—  Figuradamente  :  Estado  de  uma  pes- 
soa que  vive  como  uma  planta. 

—  Nome  dado  a  certas  producçÕes  chi- 
micas,  por  terem  alguma  similhança  com 
as  plantas. 

—  Termo  de  pathologia.  Nome  dado  a 
todas  as  producções  carnudas  que  se  ele- 
vam e  parecem  vegetar  á  superfície  de 
um_  órgão. 

VEGETAL,  adj.  2  gen.  Que  pertence 
ás  plantas,  que  lhes  diz  respeito.  —  As 
matérias  vegetaes  são  formadas,  em  seus 
primeiros  principies,  de  carbono,  de  hy- 
drogeneo  e  d'oxygeneo,  aos  quaes  se  ac- 
crescenta,  como  accessorios  não  indis- 
pensáveis, o  azote,  o  enxofre  e  o  phos- 
phoro. 

—  O  reino  vegetal  ;  a  reunião  dos 
vegetaes. 

—  S.  m.  Corpo  organisado  que  vege- 
ta, arvores,  plantas;  ou  todo  o  ser  orga- 
nisado que  satisfaz  sua  alimentação  soli- 


da, ou  liquida,  ou  gazosa  a  expensas  do 
meio  mineral  ou   inorgânico,  em  opposi- 
ção  ao   animal,    que  se   alimenta  á  custa 
dos  seres  vivos,  ou  dos  que  viveram. 
—  Substancia  vegetal;  substancia  que 


Assim  rios  caudacs  correm  dos  montes, 
Gyrão  nos  poros  da  fecunda  terra. 
Levando  ás  plantas  veye.tcd  sustancia. 
Ou  múto,  ou  fogo,  03  alimentos  coze. 

J.   A.    DF.  MACEDO,  VI.VGEM    EXTÁTICA,  CaUt.   1. 

f  VEGETALIDADE,  «.  /.  Estado  ou  na- 
tureza d'uma  planta,  d'um  vegetal. 

—  O  conjuncto  dos  vegetaes,  em  op- 
posição  ao  conjuncto  dos  animaes.  —  A 
vegetalidade  e  a  animalidade. 

—  Primeiro  grau  e  o  mais  simples  da 
vitalidade,  isto  é,  o  conjuncto  dos  pheno- 
menos  physiologicos  que  são  communa  ás 
plantas  e  aos  animaes,  e  que  existem  só 
nos  veeetaes. 

VEGETALIZAR,  ou  VEGETALISAR,  v.  a. 
Formar  em  vegetal. 

VEGETANTE,  part.  act.  de  Vegetar. 
Que  vegeta,  que  cresce. 

—  Dotado  da  propriedade  de  vegetar. 
—  Os  seres  vegetantes. 

—  Por  extensão  :  Que  vive  e  opera  co- 
mo as  plantas.  —  Acima  das  cousas  in- 
sensíveis e  inanimadas,  Deus  estabeleceu 
a  vida  vegetante.  Vid.  Vegetal. 

VEGETAR,  V.  a.  (Do  latim  vegetare). 
Nutrir,  fazer  crescer  a  planta,  fazel-a 
viver. 

—  V.  n.  Nutrir-se,  crescer,  fallando 
das  arvores  e  das  plantas.  — -  Tudo  nas- 
ce, vegeta,   e  morre  para  vegetar  aindat 

—  Figuradamente :  Viver  na  inacção, 
ou  u'uma  situação  apertada. 

—  Não  fazer  senão  vegetar  ;  não  ter 
já  quasi  o  uso  das  suas  faculdades  intel- 
lectuaes.- 

—  Figuradamente  :  Viver  sem  interes- 
se, sem  movimento,  sem  emoções. 

—  Vegetar-se,  v.  rejl.  Nutrir-se,  cres- 
cer, viver  pelo  modo  dos  vegetaes. 

VEGETATIVO,  A,  adj.  Que  faz  vege- 
tar. 

—  Que  existe  no  estado  de  vegeta- 
ção. —  Ser  vegetativo.  —  Vida  vegeta- 
tiva. 

—  Termo  de  physiologia.  Diz-se  das 
propriedades  de  nutrição,  de  desenvolvi- 
mento, e  de  geração,  por  serem  communa 
aos  animaes  e  aos  vegetaes.  —  Funcções 
vegetativas. 

—  Vida  vegetativa ;  o  conjuncto  das 
funcções  que  são  communs  aos  vegetaes 
e  aos  animaes. 

—  Órgãos  e  apparelhos  da  vida  vege- 
tativa ;  aquelles  que  concorrem  para  as 
funcções  de  nutrição,  digestão  e  urina- 
ção,  respiração  e  circulação,  o  de  repro- 
ducção  masculina  e  feminina. 

—  Termo  de  anatomia.  Elementos,  te- 
cidos,   systemas  vegetativos  ;  elementos, 


890 


VETTE 


VEIO 


VEIO 


tecidos  que  fazendo  parto  do  corpo  dos 
.inimaeí,  nflo  gozam  por  tanto,  eoino  03 
elemontoí  anatómicos  das  plantas,  senSo 
das  propriedades  de  nutrií^ilo,  do  dosen- 
volvimonto,  o  de  reprodiic<;!lo,  por<íím  níto 
tem  ncnliuma  das  propriedades  da  vida 
animai. 

VEGETAVEL,  ailj.  2  gm.  Que  vegeta, 
que  pi'idc  vegetar.  —  Esta  arvore  está 
secca,  nito  ha  mais  nada  de  vegetavel, 
nem  no  tronco,  nem  na  raiz. 

VEGETO,  A,  afj.  (Do  latim  vegetus). 
Bem  nutrido,  robusto. 

—  Qnn  faz   vcsretir.  —  Calor  vegeto. 
I  VEGETO-ANIMAL,    a^íj.  2  gen.    Que 

partioi[)a  da  natureza  dos  animaes,  e  da 
dos  vcí^taes. 

f  VEGETO-MINERAL,  wlj.  Que  parti- 
cipa da  natureza  vegetal  e  da  mineral. 

—  Termo  de  pharmaoia.  Agua  vegelo- 
mineral ;  composiçíio  medica  adstringen- 
te, o  tónica. 

f  VEGETO-SULPHURICO,  A,  adj.  Ter- 
mo de  chimica.  AcÍiId  vegeto-sulphuri- 
00 ;  acido  deiii[ucscente  e  incrystallisa- 
vel  que  se  fn-nia  ao  mesmo  tempo  que  o 
así^ucar,  quando  .*;e  cura  a  roupa  branca 
pelo  acido  ?ulphurico. 

VEGETOSO,  A,  arlj.  Termo  de  botâni- 
ca. Concernente  á  vegetação. 

—  Próprio  para  a  vegetaç.ão.  —  Terra 
vegetosa. 

VEHARIA,  s.  /.  Vid.  Vearia. 

VEHEMENCIA,  s.  /.  (Do  latim  vcke- 
mentia).  Movimento  forte  e  rápido  na 
alma,  nas  paixões.  —  Uma  vehemencia 
dolorosa  e  pafhetica. 


Não  faz  isto  Silveira  iiorriue  a  ausência 
Doâto  homem,  f)n;a  falta  nosta  parte, 
Porque  o  Sousa  Coutinho,  cora  vehemeTicia 
Lhe  pede  a  dufcnsào  do  balututc  : 
Mas  porque  natural  hc  da  prudência, 
E  muito  mais  no  perigoso  ífarto, 
Trabalhnr  porque  não  caia  em  allionta 
O  Soldado  antes  tido  em  boa  couta. 

FBilNCISCO  PR  ANDRADK,  rKIMEIRO  CERCO  DB   DIU, 

eant.  13,  est.  102. 


■  ■ —  Este  orador  tem  vehemencia ;  tem 
uma  eloquência  cheia  de  força  que  enleva. 

—  Por  uma  passagem  do  sentido  mo- 
ral ao  sentido  pliysioo,  diz-se  fallando  do 
vento.  —  O  vento  sopra  cniii  vehemencia. 

VEHEMENTE,  adj.  2  gen.  (Do  latim  vc- 
heme)u).  Que  so  transporta  com  ardor  e 
força  a  tudo  o  que  faz. 

—  Orador  Tehemente;  aquelle  que  tem 
uma  eloquência  que  enleva.  —  K'  o  mais 
vehemente  dos  podas  sat>/ricos. 

—  Discurso  vehemente ;  discurso  cheio 
de  calor  e  de  força. 

—  Activo,  impetuoso,  mui  enérgico. — 
«Se  houver  exuperancia  de  cholera,  oa 
humor  biliozo,  conhecese;  porque  a  dor 
ho  muyto  mais  aguda,  e  errodente;  ar- 
dor, e  estuaçaõ  grande  da  Cabeça,  com 
pouco,  ou  nenhum  pezo;  excepto  se  a 
dor   for  tensiva;   porque  como    adverte 


Avtcen.  Fen.  i.  .9.  tract.  i.  cap.  12  a 
gravitaçilo  da  Cabeça  sompro  denota  ma- 
téria embebida  naquella  parte;  donde, 
sondo  a  matéria  colérica  fará  menor  gra- 
vitaçíio,  porem  h:í  de  causar  a  lustaò  ui.-iis 
vehemente;  conu>  se  ve  nas  ICrysipelas.t 
Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal  medico, 
pag.  J()7. 

—  Presiiviprõfís  vehementes ;  em  ili- 
reito,  muito  fortes. 

VEHEMENTEMENTE,  a<lv.  1  De  vehe- 
mente, u  o  sufllxo  " mente »j.  Mui  forte- 
mente. 

—  ('om  vohemeueia. 
VEHEMENTISSIMAMENTE,     adv.    (De 

vehementissimo,  e  o  suíTlxo  mente»).  Su- 
perlativo do  Vehementemente.  ^lui  vehe- 
menteiuente. 

VEHEMENTISSIMO,  A,  adj.  supcrl.  de 
Vehemente.  .Mui  vehemente,  impetuosis- 
simo. 

VEHICULO,  s.  7)1.  (Do  latim  vehiculum). 
Uma  carruagem  qualquer. 

—  O  que  serve  para  conduzir,  para 
transmittir  mais  facilmente. —  O  ar  é  o 
vehiculo  do  som. 

—  Dissolvente,  fallando  das  cores. 

—  Termo  de  pharmacia.  Excipiente  li- 
quido. —  O  assucnr,  o  mel,  os  suecos  resi- 
nosos começaram  a  ser  empregados  ewi  me- 
dicina como  vehiculos,  ou  remédios  esp»- 
ciaes. 

—  Termo  de  anatomia.  Os  liquides 
que  servem  para  ter  em  suspensão,  quer 
momentaneaniente,  quer  de  um  modo  per- 
manente, 03  elementos  anatómicos  que  se 
devem  examinar  por  meio  do  roicrosco- 
pio. 

—  Figuradamente:  O  que  prepara,  o 
que  auxilia. 

VEIA,  s.  /.  Vid.  Véa. 


Em  pró  dos  mesmos  Príncipes,  que  hão  quasi 
Nas  veias,  esgotado-lhe  a  nascente. 
Desses  It^rócâ  ("hristàos  no  manso  vidto, 
Nem  prazer,  nom  tomor  lhes  rcsumbrava : 
Sim,  cordato  valor,  bem  parecido 
Co  Lyrio  sem  senão.  Mal  trilha  o  Campo 
A  Legião,  fógc  aos  Francos  a  victoria. 

r.   M.   no  N.V3C1MENT0,  os  MIRTVSKS,  liv.   G. 


VEIGA,  s.  /.   Campo. 

—  Planície  fecunda. 

1.)  VEIO,  s.  m.  Barra  de  ferro  sobre 
que  se  revolve  alguma  roda  horisontalou 
perpendicular. 

j-  2.)  VEIO.  Forma  do  verbo  vir  na  ter- 
ceira pessoa  do  singular  do  pretérito  per- 
feito do  modo  indicativo.  Vid.  Vir.  — 
«Este  João  Machado  era  natural  da  Ci- 
dade Braga,  homem  Ue  boa  linhagem,  o 
sendo  mancebo  estav.a  em  cas.i  de  um  ab- 
b.ade  seu  tio,  onde  se  veio  namorar  de 
huma  sobrinha  deste  Abbade  d'outra  par- 
te, sem  cllc  ser  parente  d'ella.i>  Barros, 
Década  2,  liv.  ú.  cap.  0.  —  «(^  outro  Em- 
baixador, que  chegou  depois  deste,  man- 
dava ElRev  de  Ormuz  a  ElRev  D.  Ma- 


nuel a  este  Rejiio  com  requerimentoB,  o 
qual  Embaixador  veio  aquelle  anno  em 
as  iiáoâ  da  carga;  e  entre  algumas  cou- 
sas que  trouxe  de  presente,  foi  huma  on- 
ça de  caça,  cóm  que  naquellas  partes  da 
Pérsia  costumam  montear,  traze!ido-a«'  o 
caçador  prezan  nas  ancas  do  cavallo.  • 
Ibidem,  liv.  7,  cap.  'A. —  «E  neí-te  amo 
veio  também  Fernão  Peres  iTAndrade 
com  as  Puas,  que  trouxe  de  Malaca,  (co- 
mo dissemos.)  Partidas  estas  n.áog,  despe- 
jou-so  Afonso  d'Alboquerque  de  todolos 
outros  negócios,  e  cntendco  em  os  de  sua 
partida  pcra  hum  destes  lugareí,  aonde 
F^IRey  D.  Manuel  lhe  mandou  que  fosse 
ao  estreito  (io  mar  Roxo,  ou  a  Onnuí. » 
Ibidem,  liv.  IO,  cap.  2.  —  «Peró  porque 
este  Xeque  Ismael  naquelle  tempo  em 
poder,  e  estado  era  maior  senhor  que  o 
Turco,  e  havia  pouco  tempo  que  lhe  dera 
luuna  batalha,  e  veio  a  grande  potencia 
per  armas,  e  religião  do  secta,  e  delle 
tem  escrito  alguns  anthorea.»  Ibidem, 
cap.  b.  —  «O  do  Tigre,  conhecendo  nelle 
a  frouxidão  com  que  pelejava,  começou 
do  apertar  mais  que  d'antes.  A  este  tem- 
po o  que  combatia  com  Platir  veio  a  seus 
pés  desamparado  dos  espíritos,  e  elle  por 
estar  mais  seguro  lhe  cortou  £,  cabeça,  e 
a  apresentou  a  Colambar.  •  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  118. 
—  «Veio  logo  D.  Álvaro  Baçào  com  os 
principaes  Cabos  da  armada  visitar  a  D. 
João  de  Ca';tro  ao  mar,  onde  depois  de 
saudações  cortezes,  lhe  deo  conta  das  no- 
ticias que  tinha  do  inimigo,  que  segundo 
03  avisos,  a  primeira  invasão  seria  s><bre 
Ceuta.»  Jacintho  Freire  de  Andrade, 
Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv.  1. — 
"Naõ  faltando  quem  destes,  e  outros  fa- 
vores quizesse  arguir  que  a  Rainha  D. 
Britis,  que  o  veio  a  ser  de  Castella,  fora 
adulterina,  e  filha  do  próprio  Conde,  o 
da  Rainha,  cousa  muito  falsa,  porque 
quando  o  Conde  veio  a  Portugal,  e  co- 
meçou a  entrar  ra  privança,  havia  oito 
para  nove  annos,  que  D.  Britis  era  nas- 
cida.» Frei  Bernanlo  de  Brito,  Elogios 
dos  reis  de  Portugal,  continuados  por 
D.  José  Barbosa.  —  «E  depois  com  nui- 
danças  que  o  tempo  traz  foy  S(dto  da  dita 
prisão,  e  se  veio  a  Barcelona,  onde  cl 
Roy  e  a  Raynha  de  Castella  estauão  ao 
tempo  da  entrega  de  Perpinhào,  e  dahy 
se  foy  a  Seuilha  onde  tinha  sua  molher, 
e  filhos,  ilahv  a  poucos  dias  falcceo. »  Gar- 
cia de  Rezende,  Chronica  de  D.  João  11, 
cap.  74.  —  «Jlas  posto  que  geralmente 
succodcn  assim,  não  faltou  quem  entrasse 
nas  suspeitas,  c  desse  ponto  ao  paço, 
d'onde  em  amanhecendo  me  veio  recado 
para  que  fosso  fallar  a  sua  alteza:  fui,  e 
porque  estavam  para  o  sangrar,  disse- 
mo  que  esper.asse  para  depois  da  sangria, 
tuiio  a  lim  de  me  deter;  mas  eu  me  ea- 
hi.  e  me  fui  embarcar  a  toda  a  pressa.» 
Padre  António  Vieira,  Cartas,  n."  12. 
—  Alguns  escrevem  vein. 


VEJO 


VELA 


VELA 


891 


VEÍR.  (Do  latim  cenire\  Termo  anti- 
quado. Vid.  Vir. 

VEIRA,  s.  /.  Termo  antiquado.  Vid. 
Beira. 

VEIRâDO,  a,  adj.  Ornado  de  veiros. 

VEIROS,  *.  III.  plur.  Termo  do  Bni- 
zil.  Formam-se  lançando-se  em  uma  faxa 
uma  risca  columberada,  e  dando  depois  a 
uma,  e  outra  parte  as  cores  que  na  arte 
se  declaram. 

VEIZA,  s.  /.  Termo  antiquado.  Vid. 
Versa. 

-j-  VEJA.  Forma  do  verbo  irregular  vêr 
na  terceira  pessoa  do  singular  do  pre- 
sente do  modo  coajunctivo.  Vid.  Vêr.  — 
«Aqui  temos  justamente  o  meu  este  es- 
teve de  que  V.  P.  diz  que  Deos  nos. guar- 
de, Deos  me  livi-e  a  mim  de  V.  P.  e  de 
outras  Paternidades  como  sua  Paternida- 
de (veja  que  Cacapiíoaiaj  que  liindo  a 
Portugal,  e  entendendo  que  tinira  apren- 
dido a  lingoa  do  Paiz  chegou  aqui  so- 
mente com  a  prezumpçào  de  sabe-la.t 
Cavalleiro  de  Oliveira,  Cartas,  liv.  1, 
n.»  14. 

•{- .  VEJAIS.  Forma  do  verbo  irregular 
vêi-  na  segunda  pessoa  do  plural  do  pre- 
sente do  modo  conjuactivo.  Vid.  Vêr.  — 
tE  por  isso,  amigos  meus,  inda  que  vos 
agora  vejais  dessa  maneyra,  nào  descõ- 
fieis  de  suas  promessas,  porque  vos  cer- 
tifico que  se  de  vossa  parte  o  nào  des- 
merecerdes, que  elle  da  sua  não  falte, 
porque  nunca  f;dt ju  aos  seus,  inda  que 
03  cegos  do  mundo  tenliào  para  sy  o  con- 
trario, por  causa  da  affliçào  com  que  a 
mísera  pobreza  continuamente  os  abate, 
6  o  mundo  os  desjireza.»  Fernão  Mendes 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  81. 

—  AlfTuns  escrevem  vejaes. 

j  VEJO.  Forma  do  verbo  irregular  rei- 
na primeira  pessoa  do  singular  do  pre- 
sente do  modo  indicativo.  Vid.  Vêr. 


Tal  vejo  cada  hum  dos  valer03O3 
Peitos  qae  a  galeota  agasalhava, 
Que  veudo  huas  esquadrões  tão  copiosoâ 
Algam  tanto  o  perigo  arreceiava, 
Mas  tanto  que  dos  ferros  sanguinoios 
Com3i;a  de  sjntir  a  faria  brava, 
De  tamauhi  ira  e  esforço  fiea  cheio 
Que  faz  temer  a  quem  lhe  pôz  receio. 

F.  d'andb^de,  pbimeiro  cebcú  de  Diu,caut.  11. 
est.  34. 


—  «Adolpho,  Adolpuo,  mais  que  muito 
o  vejo,  que  só  pai-a  o  amor  é  que  não  ha 
impossíveis.  Ponde,  sem  vacillar,  no  nu- 
mero dos  motivos  que  vos  impellem,  o 
gesto  de  mais  cedo  a  tornar  a  vêr,  de 
vos  logrardes  dos  abalos  que  lhe  ha-de 
inspirar  o  ver-vos,  e  gozai'  em  íim  folga- 
damente da  dita  de  ser  amado,  u  Fran- 
cisco Manoel  do  Na-cimeuto,  Successos 
de  madame  de  Seneterre. 


Anaximeues  do  Orador  Romano 
Assombro,  estimai^-ão,  contemplo,  e  vejo 
Ko  moto  eterno  da  substancia  eterna 


A  essência  poz  de  hum  Arbitro  Supremo, 

E  dèo  ao  Mundo  por  principio,  e  fonte 

A  substancia  do  ar  vasto,  infinito ; 

Mui  grande  em  luzes  foi,  grande  nas  sombras. 

J.    A.    DE   M-VCEDO,   VIAGEM   EXTÁTICA,   Cant.    2. 


Vejo  formada  a  analysc  das  cores, 
E  tudo  cu  dovo  aos  ca!cu'03,  ao  Prisma, 
Na  luz.  quG  era  só  vista,  c  ignota  sempre ! 
Vãos  systcmas,  que  as  gárrulas  Escolas 
Em  fantásticos  thronos  coUoeárào, 
Vão  ao  abysmo  cahir,  donde  sahirào. 
IBIDEM,  cant.  4. 


Da  nebulosa  Hollanda  os  Sábios  vejo 
Do  Templo  augusto  ornatos  sublimados, 
Que  03  brilhantes  faróes  do  Tibre  arrancão 
D'eatre  as  sombras,  e  põ  de  antigos  evos, 
E  co!n  douto  trabalho  esclarecidos 
Ignorado  thcsouro  ao  Mundo  oíiertão. 
Aos  olhos  perfeição,  luzes  á  Mente. 


Vejo  o  accezo  relâmpago  medonho. 

Oiço  o  horrendo  trovão,  vejo  o  espantoso 

Trilho  abafado  do  sulfiu-eo  raio... 

Nada  a  meus  olhos  se  me  esconde,  nada! 

E  já  de  enxofre,  de  bitume,  e  nitro. 

De  ácido  sal,  de  alcalicos  diversos 

Grosso  vapor  subindo  eu  vejo  aos  ares. 

lOEU,  XEWTOS. 


1.)  VELA,  «.  /.  Rolo  de  sebo,  cera,  es- 
permacete, etc,  com  pavio  para  dar  luz. 
—  «E  atjando-se  o  fogo  a  estas  seis  ve- 
las com  grandíssima  forsa,  e  Ímpeto  sem 
os  inimigos  ousarem  a  sair  da  Cidade,  o 
Rey  Bata  em  pessoa,  como  homem  que 
se  sentia  favorecido  da  fortuna,  e  que  em 
nenhuma  cousa  queria  perder  a  occasiaõ, 
tentou  acometer  huma  Fortalesa,  que  com 
doze  peças  grossas  varejava  a  entrada  do 
rio  que  se  chamava  Penacaõ,  e  assaltan- 
doa  à  escala  vista  com  obra  de  settenta, 
ou  oy tenta  escadas,  a  entrou  sem  perder 
dos  seus  mais  que  só  trinta  e  sette;  e  to- 
dos quantos  achou  dentro  matou  á  espa- 
da, sem  a  nenhum  querer  dar  a  vida,  que 
scriaõ  até  settecentas  pessoas.»  Fernão 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.  16. 

2.)  VELA,  s.  f.  Pessoa  que  vigia;  sen- 
tiuella. 

—  A  primeira  veia;  na  primeira  vi- 
gia, no  primeiro  quarto  da  noute. 

— -  Passar  á  veia  a  noute;  passar  sem 
dormir,  em  vigília. 

—  Estar  em  vela  ;  estar  desperto,  vi- 
giando. 

3.)  VELA,  s.  /.  (Do  latim  velum).  Ter- 
mo de  marinha.  Panno  grande  de  treu 
pre.so  nas  vergas,  que  se  abre  ou  dá  ao 
veato,  e  serve  de  impellir  o  navio,  eoni- 
mumcaudo  o  impulso  do  vento  aos  mas- 
tros. 


Desde  qua  frota  o  Tejo  saudoso 
Tinha,  as  rtias  largando,  abandonado, 
Tào  soberbo  painel  grato,  e  formoso 
Nunca  foi  de  seus  olhos  esperado : 
No  longo  do  Equador  pelo  arenoso 
Ethiopico  seio  hum  rematado 


Quadro  do  L^sia  vêem,  tauta  belleza 
Capricho  foi  da  sabia  Natureza. 
OAM.,  Lcs.,  cant.  7,  est.  75. 

—  « Sou  contente,  responde  o  minis-  • 
tro ;  mas  ha-me  Vossa  Mercê  de  fazer 
huma  escritura  de  venda,  em  que  con- 
fesse, que  lhe  comprei  a  tal  Quinta  com 
dinheiro  de  contado.  Feita  a  escritura, 
toma  com  ella  posse  da  propriedade ;  e 
mete  velas,  e  remos,  para  livrar  o  dona- 
tário ;  e  naò  descança,  até  o  pór  em  gé- 
meas escoimado,  e  limpo,  como  huma 
prata.»  Arte  de  furtar,  cap.  25. 

—  Figuradamente  :  Meios  de  alcançar. 

—  Dar  á  veia ;  começar  a  navegar.  — 
«Propostas  estas  palavras,  quasi  todolos 
Capitães  mais  foram  no  louvor  deste  ca- 
minho, que  em  contradições  de  o  impe- 
dir, com  o  qual  conselho  AíFonso  d'Albo»; 
querque  ao  outro  dia,  que  eram  dezoito 
de  Fevereiro  do  auno  de  quinhentos  e 
treze,  deo  á  vela.»  Barros,  Década  2, 
liv.  7,  cap.  7^  • —  «Embarcados  todos  de- 
rau  à  vela,  e  por  acharem  os  tempos  con-' 
trarios,  mandou  Bernaldim  de  Sousa  dar 
toas  aos  galeoens  pelas  Corocoras,  e  pu- 
zeraò  dez  ou  doze  dias  no  caminho,  e  a 
véspera  do  Natal  passado  surgirão  na 
barra  de  Geilolo,  e  salvarão  a  fortaleza 
que  se  não  enxergava  de  fora  por  causa 
do  grande,  e  espesso  arvoredo  que  havia 
autre  ella,  e  o  mar.»  Diogo  de  Couto, 
Década  6,  liv.  9,  cap.  10.  —  «Despedido 
de  toJos  deu  á  vela  pêra  Cociiim,  adian- 
tando-se  seu  filho  Dom  Fernando  de  Me- 
nezes em  navios  ligeu-os,  porque  Kia  mal 
disposto,  que  em  poucos  dias  chegou  a 
Cóchini.»  Ibidem,  cap.  18. 

—  Velas  perigosas;  as  mais  altas,  e  as 
que  se  accrescentam  em  bom  tempo,  por- 
que nos  tufões,  e  pés  de  vento  súbitos 
periga  a  embarcação,  quando  a  tomam 
com  esses  paunos  altos. 

—  Ir  a  velas  t^cndidas ;  ir  a  velas 
cheias. 

—  Fazer  o  navio  vela;  começar  a  na- 
vegar. 

—  Dar  as  velas  ao  vento. 

—  Fazer-se  á  vela;  começar  a  nave- 
gar. —  «Acabado  este  feito  tornouse 
Lopo  Soares  recolher  às  nãos  e  naquelle 
dia  nào  se  entendco  em  mães  que  na 
cura  dos  feridos :  e  ao  seguinte  que  era 
dia  de  Janeiro  do  anno  de  quinhentos  e 
cinquo  se  fez  à  vela  caminho  de  Cana- 
nor.»  Barros,  Década  1,  liv.  7,  cap.  11. 
—  « Com  todos  estes  trabalhos  não  se  des- 
cuidou ElRey  das  cousas  da  índia,  man- 
dando negociar  sinco  náos  de  que  não 
fez  Capitão  mór,  e  nellas  mandou  em- 
barcar mil  e  quinhentos  liomens.  Esta 
armada  se  fez  á  veia  em  Março.»  Diogo 
de  Couto,  Década  4,  liv.  7,  cap.  10.  — 
«Ne.-ta  auguada  de  S.  Brás  fez  Vasquo 
da  Gama  queimar  ha  nao  dos  mantimen- 
tos, de  que  era  capitão  Gonçalo  Kunez, 
por   delia   naõ  hauer  necessidade,  donde 


892 


VKLA 


VELH 


VELH 


feita  auf?uada,  e  carnagem  se  fez  h  vela, 

hauendo  j:\  ti-c-zo  dias  quo  alli  clicí^àra,  e 
estiucra  inaia  se  nilo  Huccodcraõ  de,HCon- 
certo»,  c  lirlf^as  ontro  lios  nossos,  o  hos 
nep^ros,  polo  quo  autos  da  armada  j)artir 
daquelia  paraifiin  a  vista  da  frota,  hos 
negroB  derribarilo  hum  padrílo,  com  huma 
Cruz,  que  Vasquo  da  (íania  mandara 
poer  sobre,  hum  lombro,  junto  da  praia.» 
Damiiío  do  (íoc-i,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  1 ,  cap.  Hõ. 

—  Anilar  á  vela. 

—  Desfi-dlilnr  as  velas. 

—  Metter  velas,  ou  pannos  nox  mas- 
tros. 

—  Fipuradamcnto:    Phir.    Os  navios. 
VELAÇAO,  s.  /.  Benção  nupcial. 
VELACHO,   «.  /.    Termo    de    marinha. 

Vela  do  mastro  da  proa  cutre  o  traquete 
e  o  joaTineto. 

VÍGLADO,  part,  pass.  do  Velar.  Cober- 
to com  vóo.  —  Cara  velada. 

—  Figuradamente:  Õcculto,  encoberto. 

—  Passado  sem  dormir.  —  Noites  ve- 
ladas. 

—  Vigiado. 

1.)  VELADOR,  A,  s.  Pessoa  que  vigia, 
que  está  desperta. 

—  <S.  ?«.  Pau  com  seu  pé,  c  uma  roda 
no  outro  extremo,  posto  a  prumo,  ondo 
86  p(5e  a  candeia,  ou  vela. 

—  O  que  vigiava,  o  que  estava  de 
sentinclla  de  noute. 

2.)  VELADOR,  A,  adj.  Que  vela,  que 
vigia. 

—  Que  está  desperto  vigiando  com 
attenção.  —  OlIiDS  veladores. 

—  Cuidados  veladores  ;  cuidados  que 
se  desvelam. 

—  O  velador  estudioso;  desvelado. 
VELADURA,  s.  /.   A  acção  de  veiar  do 

noute. 

—  Vigilia. 

VELAME,  s.  »)i.  As  velas  de  um  navio, 
ou  apparclho,  andaina  d'ellas  para  os  na- 
vios. 

—  Panno,  velas. 

VELAMENTO,  s.  m.  Veu,  cobertura,  in- 
sígnia de  sujciçilo,  o  humildado. 

VELANÇA,  s.  /.  Termo  antiquado.  Ve- 
ladura. 

1.)  VELAR,  r.  a.  (Do  latira  vclare). 
Cobrir  con\  veu,  pôr  veu  na  cabeça  como 
se  fiizia  aos  noivos,  e  aos  baptisados,  e 
ohrismados. 

—  Figuradamente:  Encobrir,  occultar. 
2.)  VELAR,   i\  a.  (Do  francez  veiller). 

Vigiar,  estar  acordado,   não  dormir. 

—  Vigiar  alguma  causa,  que  nos  foi 
confiada.  —  Velar  a  fortaleza. 

—  Velar  as  armas ;  era  ceremonia  que 
faziam  os  cavalleiros,  passando  uma  nou- 
te desportos  em  vigia  das  armas,  com 
que  se  haviam  de  armar  dentro,  ou  jun- 
to de  alguma  egn^ja. 

—  V.  n.  Abstor-so  de  dormir  durante 
o  tempo  destinado  ao  somno.  —  Velar  até 


—  N5o  dormir  nada,  citar  cm  estado 
do  vigia. 

—  Estar  de  guarda. 

—  Figuradamente  :  Tomar  attenção  a 
alguma  cousa,  fazer  guarda. 

—  Velar-se,  v.  rejl.  Vigiar-sc,  acauto- 
lar-se. 

—  Adaoios  i;  ntovEiíuios: 

—  Maia  pôde  Deus  ajudar,  quo  velar, 
ou  madrugar. 

■ —  A  (|uein  vela,  tmlo  .'^c  lho  revela. 

VELEAR,  r.  a.  Prover  de  velas  o  na- 
vio. 

VELEGADO.  Termo  antitiuado.  O  mes- 
mo que  Relegado. 

VELEIRA,  *.  /.  Criada  que  nos  con- 
ventos (!(•  IVeiras  servo  de  porta  fu-a. 

1.)  VELEIRO,  A,  s.  Pessoa  que  fciz  ve- 
las. 

2.)  VELEIRO,  A,  adj.  Que  anda  bem 
A  vela. 

—  Figuradamente :   Expedito,   ligeiro. 

—  Soldado  veleiro  ;  soldado  armado  á 
ligeira. 

VELEJAR,  V.  n.  Navegar  á  vela.  — 
«Rcconhcceran-as  os  Phenices,  c  quize- 
ram  fugir-lhes;  mas  ja  era  tarde  :  tinham 
elics  de  sua  parte  o  velejarem  melhor 
que  n(')â ;  servir-lhes  o  vento;  e  trazerem 
maior  numero  de  remadores:  assim,  abor- 
dan-os:  entvan-os;  e  nos  levam  piisionei- 
ros  ao  Egypto.»  Telemaco,  tradueção  do 
Manoel  de  Sousa,  e  Francisco  Manoel  do 
Nascimento,  liv.  2. 

—  Figuradamente:  Dirigir  os  seus  ver- 
sos. 

—  Substantivamente:  O  longo  velejar. 

E  aos  ingratos,  iuhospitos  baloiços 
Do  longo  velejar,  sucoetle  o  brando 
Meneio  da  suavissinia  corrente, 
(juc  no  remanso  do  seguro  porto 
Tani  doce  é  de  sentir  ao  nauta  cxUausto 
Dos  ropoUõeâ  irados  de  Neptuno. 

J.    A.    DB   MACEDO,  O  OHIENTB,   CaUt.    1,   OSt.    S. 

VELENHO,  s.  w.  Termo  de  botânica. 
Vid.  Meimendro. 

— -  Velenho  bastardo ;  tabaco  fêmea. 

VELETA,  s.  /.  Grimpa  collocada  no 
alto  dos  editíeios. 

—  Cabeça  de  veleta;  o  que  muda  a 
cada  passo  de  intentos,  conselhos,  e  re- 
soluções, como  as  veletas  mudam  de  po- 
sição com  os  vários  ventos. 

VELETO,  s.  m.  (Do  francez  velet).  Ter- 
mo antiquado.  Criado,  lacaio. 

VELHA,  *.  /.  de  Velho.  Mulher  adian- 
tada em  ânuos.  —  «E  a  segunda  assegu- 
rar a  bolça  para  si  com  sua  miiy,  que  era 
huma  velha  taõ  ardilosa,  como  elle,  que 
já  estava  prevenida  ao  Padre  do  púlpito, 
c  muito  bem  adestrada  pelo  filho :  e  em 
descendo  o  Padre  agarrou  delle  gritan- 
do.» Arte  de  furtar,  cap.  1. 

—  Coi\tos  (/<"  velha ;  liistorias  fabulosas, 
petas  contadas  pelas  vollias. 

—  Apagios  e  rUOVEKBlOS  : 

—  Castigo  do  velha  nunca  fen  moça. 


—  Castigar  velha,  c  espulgar  cSo,  dnaa 

doudices  s3o. 

— -  Antcri  velha  com  dinheiro,  que  mo- 
ça com  cabcdlo. 

—  Nem  tilo  velha  que  caia,  nem  t3o 
moça  que  salte. 

—  ilais  velha  é  a  egreja,  e  vilo  a  ella. 

—  A  moça  em  se  enfeitar,  e  a  velha 
em  beber,  gastam  todo  seu  haver. 

—  A  velha  o  a  cortiça  curada»  ae  que- 
rem. 

—  Pouco  a  pouco  fia  a  velha  <>  copo. 

—  Avezou-se  a  velha  aos  brodoa,  lam- 
be-Iho  os  dedos. 

—  Avezou-se  a  velha  ao  mel,  e  comer 
se  quer. 

—  Abelha  e  ovelha,  c  a  pessoa  de  traz 
da  orelha,  e  jiarte  na  egreja,  desejava 
])ara  seu  filho  a  velha. 

—  Iloje  se  serra  a  velha  pelo  meio; 
isto  é,  o  dia  da  metade  da  Quaresma. 

—  N/js  em  ai,  e  a  velha  no  portal. 

—  Tal  grado  haja  quem  a  velha  arre- 
gaça. 

—  Alta  vae  a  velha   na  anda. 

■ —  Melhor  ó  fazer  agarrar  um  cSo,  que 
uma  velha. 

VELHACADA,  s.  f.  Junta  civil  de  ve- 
lhacos. 

—  Acto  do  velhaco. 
VELHACAMENTE,   adv.  (De  velhaco,  e 

o  suffixo  «mente»).  Com  velhacaria. 

—  A  maneira  cie  velhaco. 
VELHACÃO,   ONA,   adj.  e  «.  Augmen- 

tativii  de  Velhaco.  Grande  velhaco.  Vid. 
Velhacaz. 

VELHACARIA,  *.  /.  Acto  de  velha- 
co. 

—  Acto  de  lascívia,  acçSo  deshonesta. 
VELHACAZ,    a/ij.  e  s.    2   gen.   Termo 

popular.  Augmentativo  do  Velhaco.  Gran- 
de velhaco.  Vid.  Velhacão. 

VELHACO,  A,  adj.  Pessoa  que  engana 
com  dolo  iiào  cumprindo  a  promessa.  — 
Homem  velhaco. 

—  Lascivo,  deshonesto,  impudico,  lu- 
xurioso. 

—  Substantivamente  :  Um  velhaco. 
VELHACOUTO.  Vid.  Valhacouto. 
VELHADA,  s.  /.  Cousa  de  velhos,  au- 

tigualhas,  vdliice. 

VELHANCÃO,  ONA,  adj.  e  t.  Augmen- 
tativo do  Velho,   (irande  velho. 

VELHANCARIA,  s.  /.  Cousa  própria  de 
velho. 

—  Severidade,  imiMírtinencia. 

VELHÃO,  ONA,  adj.  e  s.  Termo  popu- 
lar. Augmc.tativi)  de  Velho,  Velha.  Gran- 
de velho. 

VELHAQUEAR,  r.  a.  Praticar  velhaca- 
rias. 

—  Enganar,  illudir,  embustear  a  ou- 
trem. 

—  Praticar  act<«  libidinosos. 

—  T".  lí.  Tornar-se  velhaco. 
VELHAQUESCO,    A,    adj.    De   velhaco. 

—  Phntíe  velhaquesca  ;  pLrase  chula, 
com  oipiivocos  lascivos. 


VELH 


VELH 


VELH 


893 


VELHAQUETE,  s.  e  alj.  2  (jen.  Dimi- 
nutivo de  Velhaco ;  Veliiaquinho. 

VELHAQUINHO,  A,  adj.  e  s.  Diminu- 
tivo de  Velhaco.  Algum  tauto  velhaco, 
um  pouco  velhaco. 

VELHENTADO.  Vid.   Avelhentado. 

VELHICE,  s.  f.  A  edade  do  velho,  an- 
cianidade.  —  tE  em  Tribunaea  mayores, 
que  constào  de  ancianidade,  tem  muitas 
licenças,  e  pri\'ileg'ios  a  velhice,  que  ha 
mister  ajudada,  e  alentada,  e  porisso  se 
permittem  mais  Ministros,  e  mayores  aju- 
das de  custo.  Deus  nos  livre  de  Minis- 
tros, que  antes  de  lhe  chegar  o  tempo  de 
os  aposentarem,  vencem  salários  sem  os 
merecerem,  e  sem  trabalharem.»  Arte  de 
furtar,  cap.  44.  —  «Embora,  seja  assim, 
ainda  que  lho  pudera  negar ;  porque  nes- 
te mundo  naõ  ha  velhice  descauçada, 
nem  lustrosa :  Senecttts  ipsa  est  morbiis. 
A  mesma  velhice  em  si  he  doença  cheya 
de  mil  desalinhes.  Essa  velhice  ha  de  ter 
o  fim :  e  ao  depois  delle  tomara  saber, 
que  he  o  que  se  segue  a  Y.  Excellencia, 
meu  senhor   Marquez?»    Idem,  cap.   70. 

—  Dito,  acto,  estylo  velho,  antiquado. 

—  Adágios  e  provérbios  : 

—  Velhice  é  mal  desejado. 

—  A  vida  passada  faz  a  velhice  pe- 
sada. 

—  A  velhice  da  pimenta,  engelhada  e 
negra. 

—  Mocidade  ociosa  não  faz  velhice 
contente. 

VELHINHO,  A,  s.  o  adj.  Diminutivo 
de  Velho,  Velha. 

VELHÍSSIMO,  A,  adj.  superl.  de  Ve- 
lho, Velha.  Mui  velho. 

VELHO,  A,  adj.  Que  está  adiantado 
em  annos,  em  idade;  que  chegou  á,  eda- 
de de  velho,  de  ancião.  — Homem  velho. 

O  velho  Protbeo  vio,  que  em  duas  asas 
Espinhosas,  e  grandes  se  sustenta, 
Atónito,  e  pasmado,  mas  de  vello 
Ella  fria  ficou,  e  quasi  muda. 
Olha  o  peito  escamoso,  a  cor,  c  o  rosto 
A  proporção,  e  o  talho  ditiereute 
Olha  aquella  figura  estranha  aos  homens 
Mas  conhecida  o  vsada  á  natm-eza. 

COUTE  BBAL,  NADrBAGIO  DE  SEPÚLVEDA,  Cant.  6. 

—  «o  Chim  rodeou  a  irraida,  e  entrou 
nella  por  huma  porta  travessa,  e  abrindo 
a  em  que  estava  António  de  Faria,  elle 
com  toda  a  gente  entrou  dentro  na  irmi- 
da,  e  achou  dentro  nella  hum  homem  ve- 
lho, que  ao  parecer  seria  mais  de  cem 
annos,  com  huma  vestidura  de  damasco 
roxo  muyto  comprida,  o  que  no  seu  as- 
peito parecia  ser  homem  nobre,  como 
dcspois  soubemos  que  era.»  Fernão  Men- 
des Pinto,  Peregrinações,  cap.  76.  — 
«Forque  ainda  que  o  gouernador  por  ser 
escrauo  capado  d'eiRey  não  tevesse  her- 
deiros, por  memoria  da  gratificação  que 
dauamos  âquelies  de  que  recebíamos  al- 
gum beneficio,  ouue  por  bem  que  sua 
casa  ficasse  inteira,  e  dentro  o  Caciz  ve- 


lho pêra  despois  dar  razão  da  tenção  del- 
le a  AíFonso  d'Alboquerquc.»  Barros,  Dé- 
cada 2,  cap.   1. 

Conversemos  bum  pouco,  meu  Theodoro, 
Nas  mudanças  do  mundo.  Nada  fica 
No  próprio  ser,  que  a  vdha  Natureza 
Deo  ás  cousas  da  máquina  roliça. 

ABBADE  DE  JAZEHII,  POESIAS,  pag.  19. 

—  «Porque,  pois,  não  aproveitaremos 
alguns  curtos  instantes  de  paz  e  remanso 
em  innoceutes  passatempos?  Também  eu 
vou  sendo  velho,  dado  que  os  ânuos  não 
sejam  muitos.  Debaixo  da  coroa  ainda 
estes  cabellos  negrejam;  mas  a  alma  sin- 
to-a  encanecer.»  A.  Herculano,  Monge 
de  Cister,  cap.  24.  — ■  «E  naõ  temos  ne- 
cessidade de  exemplos  forasteiros,  quan- 
do temos  em  casa  o  nosso  Key  D.  Ma- 
noel, com  quem  ac  oppoz  o  Emperador 
Maximiliano,  estando  ambos  em  igual 
gráo,  e  este  mais  velho,  mas  em  linha 
inferior  por  fêmea,  e  D.  Manoel  por  va- 
rão, que  representava;  e  julgou-se,  que 
poris.so  prevalecia  ao  Emperador. »  Arte 
de  furtar,  cap.  16.  —  «A  Condeça  velha 
foi  como  sempre  a  que  meteo  na  dança  a 
mocidade  das  outras  tíenhoras.  Daucey 
com  a  Princeza  de  Valaquia,  e  com  vos- 
sa Prima,  e  espero  ter  Domingo  a  felici- 
dade de  dançar  também  comvosco.»  Ca- 
valleiro  d'Uliveira,  Cartas,  liv.  1,  n,°  PJ. 

—  Usado. 

—  Termo  popular.  Estar  no  calçado 
velho ;  não  ser  já  para  cousas  que  fazem 
os  moços. 

—  Tronco  velho  ;  tronco  antigo.  —  »E, 
manso  e  manso,  os  agarenos,  lançando-se 
ao  cumprido  sobre  o  cepo  que  estremece- 
ra ao  golpe  de  Sancion  e  segurando-se  ás 
cavidades  do  velho  tronco  e  ás  asperezas 
do  seu  grosseiro  córtex,  se  aproximavam, 
semelhantes  ao  estellio  que  se  arrasta, 
nas  ruinas  de  Balbek,  ao  longo  de  co- 
lumna  tombada.»  A.  Herculano,  Eurico, 
cap.   16. 

—  Filho  mais  velho ;  o  primogénito. 
—  «Fez  condestabre  do  regno  dom  Afon- 
so filiio  natural  de  dom  Diogo  seu  irmam 
Duque  de  Viseu.  Fez  Conde  de  Tentú- 
gal dom  Kodrigo  de  melo  filho  mais  ve- 
lho de  dom  Aluaro,  irmam  do  Duque 
dom  Fernando  de  Bragança,  que  depois 
foi  Marques  de  Ferreira.  i'ez  dom  loam 
de  meneses,  seu  mordomo  mor  Conde  de 
Tarouca.»  Damião  de  Góes,  Chronica  de 
D.  Manoel,  part.  4,  cap.  86.—  «Disse  o 
Príncipe  Cuzzanni,  que  era  aquelle  que 
tinha  filhos  ingratos,  e  indignos.  Euteii- 
deo-se  que  esta  resposta  feria  o  Conse- 
Iheyro  Klig  que  se  achava  presente,  e 
também  o  seu  Morgado,  ou  para  melhor 
dizer  filho  mais  velho.»  Cavalleiro  d'01i- 
veira,  Cartas,  liv.  1,  n.°  19. 

—  Despir  o  homem  velho ;  pôr-se  eui 
graça  por  meio  dos  sacramentos  apro- 
priados ;  renovar-se,  regenerar-se. 


—  Lua  velha;  minguante. 

—  Nào  novo,  não  moderno, 

—  Loc.  POP. :  Isso  é  velho  ;  isso  nSo 
é  novidade. 

—  A  lei  velha ;  o  pentateuco  de  Moy- 
sós,  e  mais  latamente  os  livros  do  Anti- 
go Testamento,  dos  quaes  muitos  não 
são  legaes,  mas  históricos. 

—  tíoldado  velho ;  cortido,  exercitado 
por  annos  nas  guerras,  e  serviço  militar. 

—  8yn.  :  Velho,  antigo. 

Estas  palavras  são  comparativas  e 
oppositivas  de  outras,  pelas  quaes  melhor 
se  pôde  fixar  sua  significação  e  uso.  Ao 
velho,  oppòe-se  o  novo,  também  o  moço, 
fallaudo  de  pessoas;  ao  antigo,  o  moder- 
no ou  novo.  Tem  seu  uso  difterente,  e 
não  se  podem  empregar  umas  por  outras. 
Velho  refere-se  á  edade  individual  da 
pessoa  ou  cousa  de  que  se  falia,  aos  mui- 
tos annos  da  sua  existência;  e  por  isso 
que  desperta  a  idêa  de  estar  perto  do 
termo  de  sua  duração,  não  é  palavra  po- 
lida fallando  com  as  pessoas,  antes  incul- 
ca desprezo  ou  zombaria.  Antigo  usa-se 
mormente  fallando  de  trajos,  moveis,  mo- 
das. Diz-se  systema,  methodo,  linguagem, 
estylo  antigo. 

—  Vid.  Envelhecido,  Envelhentado. 

—  Substantivamente:  Pessoa  cuja  oda- 
de  já  declina  da  varonilidado;  ancião. 

—  Um  velho. 


Passou  por  alli  ura  velho, 
Um  pobre  velho  soldado. 
As  barbas  brancas  da  neve. 
Em  sua  espada  abordoado. 

BOMANCEIBO  GEBAL,  pag.   26. 

—  «Aliem  dos  arcos,  e  frechas  usaS 
humas  espadas  de  pao  muito  duro,  e  pe- 
sadas, com  as  quaes  onde  acertam  do 
primeiro  golpe  esmeuçaõ  qualquer  mem- 
bro em  que  tocam,  os  que  matam  na 
guerra,  e  alguns  dos  que  captiuaõ  prin- 
cipalmente os  velhos,  comem  logo,  e  os 
outros  vendem,  ou  levaõ  presos  em  cor- 
das com  que  todos  entram  triumphando 
pellos  lugares  onde  moram,  mas  a  carne 
humana  que  comem  naõ  he  eutrelles  cou- 
sa geral,  porque  naõ  comem  se  naò  a  dos 
que  captiuam,  e  tem  por  inimigos.»  Da- 
mião de  Coes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
pait.  1,  cap.  Õ6. —  «E  assi  diz  que  o 
conuidaua,  e  animaua  com  a  grande  som- 
ma  de  moços  e  moças,  velhos,  e  mance- 
bos, uiuuas,  e  virgens,  que  puderaS  le- 
uar  auante  o  que  ella  receaua  de  come- 
ter.» Paiva  de  Andrade,  Sermões,  part. 
1,  pag.  121. 

Froxos  braços  debalde  o  velho  estende. 
Triste  implora  soccorro  á  Esposa,  ao  Filho, 
Ue  seus  gemidos  espantados  fogem  ; 
Teme  a  morte  em  seus  ais  o  Filho,  a  Esposa. 

J.  A.  DR  MACEDO,  A  NATOEEZA,  Caut.  2. 

N'um  canto  do  escaler,  humilde  e  absorto 
Em  pensamentos  que  não  são  da  terra 


894 


VELH 


VELI 


VELL 


Um  velho,  oin  quo  atoUi  iiilo  attentariim 
IndiffcrcntOHi  «llioi,  »e  a:<rtoiitArn. 
Alvojavttin-llie  m  chiix  dii.i  loiíjj.is  b.irbas 
No  buvcl  negro  (|uu  lho  cobiB  u  pi^to. 
aAllltKTT,  fííUlíKHy  c:iiit.   1,  cuj>.    13. 


—  Adágios  e  pkovekuios  : 

—  Ao    velho    recem-cusado    rezar-lhe 
por  finmlo. 

—  Muid  quero  o  velho,   quo  uic  honre, 
que  o  iiioyo,  (juc  luc  ad.iuinbre. 

—  Mo(,'a  com  velho  casada,    como  ve- 
lha se  trata. 

—  N<Titi  concorda  com  o  velho  a  mo^'a. 

—  Aiiula  que  seja*  prudente,   e  velho, 
níto  dcspreze.H  conselho. 

—  Guarda  mogo,  acharás  velho. 

—  O   moço  por  iiào  querer,  e  o  velho 
por  não  poJer,  deixam  as  cousas  perder. 

—  Hajamos  paz,  inurrcrcnlos  velhos. 

—  Pei\lc-se  o   velho  por  não  poder,  e 
o  moço  por  não  saber. 

—  O  moço  de  bom  juizo  quaudo  velho 
é  adivinho. 

—  Quando  o  velho  se  nTio  ouve,   ou  6 
entre  noscios,  ou  cm  açoup:ue. 

—  Velho    que    não   adivinha,    não    vai 
uma  sardinha. 

—  Quem  quizer  ser  muito  tempo  ve- 
lho, comoce-o  a  ser  cedo. 

—  Não    ha    moço    doonta,    nem    velho 
bSo. 

—  Não    digas    ao   velho  que   se  deite, 
nem  ao  nieniuo  que  se  levante. 

—  Quem    cm    velho    engorda,    do  boa 
mocidade  se  logra. 

—  O  velho    e   o   peixe   ao  sol  appare- 
cem. 

—  (-)    velho    que    se   cura,    cem  annos 
dura. 

—  U  velho  a  estirar,   o   diabo  a  arru- 
gar, 

—  O   moço  dormindo   pilra,  o  o  velho 
se  acaba. 

—  Se  queres   viver  são,  i'aze-te  velho 
autes  do  tempo. 

—  O  velho  na  .sua  terra,  e  o  moço  na 
alheia,   sempre  mantém  de  sua  maneira. 

—  Velho  amador,  inverno  com  llòr. 

—  Arrenegae  do  velho  que  não  adivi- 
nha. 

—  Homem  velho,   sacco  de  azares. 

—  O  amor   no  velho  traz  culpa,  mas 
no  mancebo  tructo. 

—  Por  velho  que  seja  o  barco,  sempre 
passa  o  vau. 

—  A  perro  velho  não  digas  buz  buz. 

—  A  contas  velhas,  baralhas  novas. 

—  Aproveita-te  do  velho,   valerá  teu 
voto  CU'  conselho. 

—  Do  velho  o  conseliio. 

—  O  velho  muda  o  conselho. 

—  Em  o  velho  e  menino  o  beneficio  é 
perdido. 

—  O  velho  torna  a  engatinliar. 

—  8e  queres  bom    conselho,  pede-o  a 
homem  velho. 

—  Velho  centenário. 


—  Velho,  Como  a  serpe. 

—  Velho  gaiteiro,  velho  menino. 

—  \'inlio  velho,  amigo  velho. 

—  <Juio  velho. 

—  Niuguem  ho  mais  velho,  quo  o 
tempo. 

—  Saúdo  <le  velhos  6  nmi  remendada. 

—  Não  ha  melhor  espelho,  que  amigo 
velho. 

—  A  burra  velha  cillia  amarella. 

—  A  velha  galliuha  faz  gorda  a  cozi- 
nha. 

—  Burra  velha  de  longo  aventa  as  pe- 
gas. 

—  A  cavallo  novo  cavalleiro  velho. 

—  P.'io  molle,  e  uvas,  as  moças  pCe 
nmdas,  e  aos  velhos  tira  as  rugas. 

—  A  casas  velhas  portas  novas. 

—  i'ae  velho,  manga  rota,  não  é  des- 
honra. 

—  Come  menino,  criar-te-has,  come 
velho,  viverás. 

—  Por  novas  não  penareis,  far-se-hão 
velhas  sabel-as-heis. 

—  Mal  vae  á  corte,  onde  o  boi  velho 
não  tosse. 

—  A  mula  velha  cabeçadas  novas. 

—  Quem  tem  velho,  não  tem  novo. 

—  Tomar  atalhos  novos,  e  deixar  ca- 
minhos velhos. 

—  Carne  nova  de  vacca  velha. 

—  Boi  velho,   rego  direito. 

—  A  boi  velho  não  cates  abrigo. 

—  A  boi  velho  chocalho  novo. 

—  Não  ha  cousa  velha,  se  é  dita  a 
propósito. 

—  Syn.:  Velho,  ancião. 

Velho  exprime  simplesmente  o  homem 
quo  tem  chegado  á  edade  da  velhice. 
Ancião  Junta  á  idêa  do  velho  a  de  au- 
ctoridade;  é  o  velho  respeitável  e  esme- 
rado pela  sua  sabedoria  e  probidade. 

VELHORI,  (idj.  m.  —  Cavallo  velhori ; 
pariio-einztnto. 

VELHOSINHO,  «.  vi.  Velho  fraco  e  can- 
çado,  velliiaho. 

VELHOTE,  s.  in.  Termo  popular.  Ho- 
mem velho  ilc  bom  açraJo. 

VELHUSCO,  s.  íu.  Homem  velho,  edoso. 

VELHUSTRO,  s.  in.  Termo  popular. 
Homem  vcUio,  ancião. 

VELICAÇÃO,  s.  /.  Vid.  Vellicação. 

VELICE,  4.  /.  Vid.   Velhice. 

VELIDA,  s. /.  Vid.  Belida. 

VELIFERO,*A,  adj.  (Do  latim  veli- 
fer).  Termo  de  poesia.  Que  leva  velas 
náuticas. 

VELILHO,  s.  VI.  Lençaria  mui  tina 
para  véus,  cortinas  de  nichos,  câuias, 
etc. 

VELINHA,  s.  /.  Diminutivo  de  Vela. 
Pequena  vela. 

—  Termo  de  cirurgia.  Tenta  de  cera 
para  a  urcthra,  ou  envernizaila  do  gonima 
borracha,  ou  elástica;  são  solidas  ou  ôcaí, 
para  por  estas  sair  a  urina,  conservadas 
na  urethra. 

VELINO,  aJj.  VI.    (Do    franeez    velin). 


Papel  velino;  papel  que  Imita  a  alvura 
e  o  uiii<io  rio  perKainii:tio. 

VELISCAR.   Vid.  Beliscar. 

VELISCO,  t.  711.  Vid.  Belúco. 

VELITES  (do  latim  veliUt).  \'id.  Solda- 
dos  iclfÃroB. 

VELIVAGO,  A,  adj.  (Dn  latim  vtU,  e 
vaijuin\.  Que  navega  e  vaga  pelo  mar, 
movido  pido  impul-o  daa  velaâ. 

VELIVOLO,  A,  adj.  (Do  latim  vtlivo- 
lust.  Termo  de  poedia.  Que  vúa  com  as 
velas,  efiitheto  dado  aos  lutvioa. 

7  VELLA,  ».  /.  Vid.  Vela.  —  •£  pare- 
cendonos  que  serião  gelvas,  ou  tan&daa 
da  outra  costa,  fomos  guLiiaudu  a  cilas  a 
vella,  e  a  remo,  porque  ja  neste  teiupo  o 
vento  nos  hia  acalmando,  e  cõ  tulu  por- 
fiamos tanto  nesta  ida,  que  em  espaço  de 
quasi  duas  horas  nos  chegamos  tam  per- 
to delias  que  lhe  enxergamos  toda  a 
apellação  dos  remos,  conhecemos  que 
eram  {,'aleotas  de  Turcos. •  Fernão  ilcn- 
«les  Pinto,  Peregrinações,  cap.  5.  —  «E 
fazeridonos  á  vella  cos  tre.s  juncoí;,  e  com 
a  lorcha  em  que  viéramos  de  Patane, 
casteamos  a  terra  com  ventos  ponteyros 
de  hum  bordo  no  outro,  até  hum  morro 
que  se  dezla  Tilaumera  onde  surgimos, 
porque  a  corrente  da  agoa  era  contra 
nós.»  Ibidem,  cap.  47. 


E  porque  sendo  assaz  exercitados 

Koâ  officios  navaes,  e  oi  cntcudiâo, 
E  3í!  c.iinpria  ter  peitos  ousados 
Tambdm  a  espada  e  a  lani;a  n-volviâo, 
Ora  servem  de  bons,  fortes  soldadOB 
Ora  ás  cousas  navaea  se  couvi-rtiâo, 
Assi  quaudo  30  o  duro  imigo  otTcnde 
Coiuo  i(uaudo  uo  mar  se  a  vella  estende. 

r.    D'ANDnADE,  PBIMSIBO  CSBCO  DB   DICjCAOt.    12, 

est.  111. 


Em  quanto  di  Mesquita  cata  resposta 
Sou  curso  a  nobre  nrm:ula  iiào  detinha. 
Mas  cora  a  veila  inchad;i,  c  em  alto  posta 
Sempre  polo  salgado  mar  caminha. 
iDiDEM,  cant.  6,  est.  34. 

Li'vanta  a  vella  a  voz  cm  vendo  o  imigo 
I  luma  c  outra  vez  a  grita  alta  repctte, 
1)h  rebate  aos  Christàos  deste  pcripj 
E  da  gente  que  os  muros  accommctte: 
Mas  como  cntào  ao  doce  somno  amigo 
Inda  a  cansada  gente  se  submctto, 
Não  SC  pv''de  este  mal  que  cstl  ja  á  porta 
Com  tal  prcs3;i  atalhar  quanta  lhe  importa. 
iBiDKM,  cant.  10,  est.  57. 

VELLAR,  V.  a.   Pôr   veu.   Vid.  Velar. 

VELLEANO,  adj.  m.  Termo  de  direito 
romano.  Óenatus  corisulto  velleano;  de- 
creto do  senado  romano,  que  dispunha 
que  a  nnilher  não  se  podessc  valiosajnen- 
te  obrigar  por  outrem. 

—  Substantivauieaite:  O  beneficio  do 
velleano ;  que  auuulla  as  obrigações  con- 
trahidas  pelas  mulheres  em  certos  casos, 
a  favor  de  outrem  por  quem  se  obriga- 
ram. 

VELLEIDADE,   *.  /.    (.Do  latim  vdUi- 


VELO 


VELO 


VEM 


895 


tas).  Termo  de  escolástica.  Vontale  pouco 
effieaz. 

j-  VELLEJAR,  V.  n.  Vid.  Velejar.  —  «E 
vellejando  desde  huma  hora  ante  menham, 
que  savmos  do  porto,  fomos  com  ventos 
bonanças  ao  lonjro  da  costa  até  quasi  a 
véspera,  e  sendo  ja  tanto  avante  como  a 
ponta  do  Oocào,  antes  de  cheerarmos  ao 
ilheo  do  ariecife,  vimos  três  vellas  sur- 
tas. •  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  f^. 

VELLICAÇÃO,  s.  f.  (Do  latim  vellica- 
tio).  Termo  de  medicina.  Belliscào,  ou 
pungimento  para  irritar,  excitar. 

—  Pungimento  das  partículas  acres  cor- 
rosiva^. 

VELLICAR,  V.  a.  (Do  latira  veUicare). 
Termo  de  medicina.  Belli.-^car,  pungir. 

VELLICATIVO,  A,  adj.  Que  punge,  que 
irrita. 

1.1  VELLO,  «.  m.  (Do  latim  vellus).  O 
pello.  —  O  vello  Joi  carneiros. 

—  O  vello  de  ouro  do  carneiro  da  fa- 
bula. 

—  Lã  cardada,  e  empastada. 

—  A  pelle  com  os  vellos. 

—  Figuradamente :  Vello  da  barba 
longa. 

2.)  VELLO.  Termo  antiquado.  Velho. 

VELLOCINO,  s.  m.  Carneiro  da  fabula 
que  tinha  o  vello  de  ouro. 

VELLOSO,  A,  adj.  Que  tem  vellos,  e 
longa  guedelha.  —  O  leão  velloso. 

—  Figurailamente:  Diz-se  de  certas 
plantas  e  fructos. 

—  Homem  velloso  ;   homem  não  calvo. 
VELLUDADO,  ou  VELDTADO.  Vid.  Ave- 

lutado. 

VELLUDILHO,  s.  m.  Termo  usado.  Te- 
cido de  seda  ou  de  algodão  imitando  o 
velludo,  menos  coberto  e  menos  encor- 
pado que  o  velludo. 

VELLUDO,  *.  m.  Seda  com  pello  alto, 
vulgar. 

—  Flor  velludo.  Vid.  Amarante. 

—  Adjectivamente  :  Vid.  Velloso. 

f  VÊL-0,  por  Vêr  o,  pela  figura  anti- 
these;  indica  o  infinito  do  verbo  ver. — 
«Que  ainda  que  lhe  pesasse  das  suas 
obras  irem  tão  avante  pola  quebra  de  sua 
corte,  desejava  vel-o  sào.  que  natural  é 
dos  corações  piedosos  ainda  do  mal  de 
seus  imigos  haver  dó.i  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  84. 

Kcste  momento  sua  Senhoria 

A  jvjrta  chega,  e  o  graõ  Consulto,  ao  ve-lo. 

Logo  o  rústico  delia,  e  vai  busca-lo. 

A.   DISIZ  DA  CBCZ,   HTSSOPE,  Caut.  4. 

O  Bol  já  sepultado  s6  por  vêl-a, 
sem  poder  de  Xeptiino  ser  detido, 
colloca  o  plaustro  douro  junto  d'ella. 
BISPO  r>o  GRÃO  PARÁ,  MEMORIAS,  pag.  7T. 

•{■  1.)  VELO.  Forma  do  verbo  velar  na 
primeira  pessoa  do  singular  do  presente 
do  modo  indicativo.  Vid.  Velar. 


Torna  Baccho  dizendo  :  Xão  conheces 
O  grão  legislador,  que  a  teus  passados 
Tem  mostrado  o  preceito,  a  que  obedeces, 
Sem  o  qual  fôreis  muitos  baptizados  V 
Eu  por  ti,  rudo,  i-elo.  c  tu  adormeces? 
Pois  saberás,  que  aquclles  que  chegados 
De  novo  são,  serão  mui  grande  dano 
Da  lei,  que  eu  dei  ao  néscio  povo  humano. 
CAM.,  Lcs.,  cant.  8,  est.  49. 


2.  VELO,  s.  m.  Veu  de  cobrir  alguma 
cou^a. 

VELOCES,  phir.  de  Veioz.  Vid.  Veloz. 

VELOCIDADE,  í.  /.  (Do  latim  vdoci- 
tas):  Movimento  veloz,  rapidez.  —  A  ve- 
locidade d-o  pensamenio.  —  A  velocidade 
da  revolução  de  um  astro. — A  veloci- 
dade 'la  sua  carreira. 

^-  A  brevidade. 

—  O  ser  veloz. 

—  Stx.  :  Velocidade,  rapidez. 

A  velocidade  exprime  genericamente 
o  movimento  prompto  ou  accelerado  d'um 
corpo ;  porém  rapidez  parece  que  accres- 
centa  mais  energia  á  idéa,  mais  Ímpeto 
ao  movimento,  representando  ao  mesmo 
tempo  o  esforço  violento  com  que  o  corpo 
corre,  e  com  que  corta  ou  separa  qual- 
quer difficuldade  com  resistência  que 
possa  oppôr-se-lhe. 

D'uma  torrente  pôde  dizer-se  que  des- 
ce com  velocidade  rs  montanhas;  porém 
sé  se  disser  que  desce  com  rapidez,  offe- 
rece-se  á  imaginação,  com  mais  energia, 
o  movimento  impetuoso  com  que  se  pre- 
cipita, sem  que  haja  obstáculo  que  possa 
contel-a. 

O. fogo  eleva-se  com  velocidade,  e  con- 
some uma  casa  com  rapidez.  D'aqui  vem 
que  a  rapidez  só  se  applica  á  acção,  e 
não  ao  agente.  PAde  ser  rápida  a  car- 
reira d'uni  cavallo,  o  vôo  d'uraa  águia ; 
porém  nem  o  cavallo,  nem  a  águia  sào 
rápidos,  senão  velozes. 

0  mau  exem)ilo  faz  rápidos  progres- 
sos. Um  general  faz  rápidas  conquis- 
tas. 

1  VELOCIFERO,  A,  adj.  (Do  latim  ve- 
lox,  e  ftrrc).  Diz-se  das  carruagens  pu- 
blicas cujos  empresários  affixam  a  pre- 
tenção  de  ir  com  uma  grande  rapidez. 

—  Antigo  nome  do  velocípede. 

I  VELOCÍPEDE,  s.  m.  (Do  latim  ve- 
lox.  e  pfAes).  Espécie  de  cavallo  de  pan, 
collocado  sobre  duas  rodas,  no  qual  se 
collocavam  em  equilíbrio,  ao  passo  que 
se  dava  um  movimento  d'impulsão  adian- 
te com  os  pés.  No  velocípede  moderno 
03  pés  são  coUocados  sobre  estribos  em 
forma  de  manivella  que  fazem  mover  a 
grande  roda,  e  produzem  uma  grande 
velocidade. 

7  VELOCIPEDISTA,  s.  m.  Homem  que 
vae  snlire  velucipede. 

VELOCISSIMAMENTE,  adv.  (De  velo- 
císsimo, e  o  -uffixo  ^( mente  i)\  >Superla- 
tivo  'le  Velozmente.  ílui  velozmente. 

VELOCÍSSIMO,  A,  adj.  superl.  de  Ve- 
loz. Mui  veloz. 


VELÓRIOS,  í.  m.  phir.  Vid.  Avelo- 
rios. 

—  Uvas  miudinhas,  que  não  servem 
para  comer,  nem  para  víuhô.' 

VELOZ,  adj.  2  gen.  (Do  latim  velox). 
Que  se  move,  passa  com  velocidade.  — 
«To  los  03  da  Complexaõ  Mereurial  sa3 
agudos,  velozes,  deligentes,  sábios,  e  de 
subtil  engenho.  Saõ  grandemente  aptos 
para  a  coraprehensaõ  de  qualquer  scien- 
cia,  ou  arte.  Xas  conversas,  saõ  deverti- 
dos,  noticiozos,  promptos,  e  sociáveis.  Xaõ 
ha  couza  occulta  que  naõ  esquadrinhem, 
nem  idea  árdua  em  que  não  entendaõ.» 
Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal  medico, 
pag.  3.34,  §  163.  _ 

—  Apressado,  ligeiro,  rápido.  —  Galgo 
veloz. — Navio  veloz. 


Parte  logo  o  subtil  ir/or  navio 

A  cumprir  o  que  então  a  cargo  tinha, 

Miguel  Vaz  iielle  o  mando  c  senhorio 

Leva,  segundo  alcança  a  historia  minha; 

Esprito  de  temor  assaz  vazio. 

Fende  a  proa  a  quieta  onda  inarhiha, 

Xera  o  favor  do  vento  lhe  fallece. 

Que  tudo  a  seu  intento  favorece. 

rEANcisco  d'andrai)K,   primkibo    chbco  rm  nrc, 
oant.  12,  est.  36. 


—  Adverbialmente:   Partir  veloz. 

Mas,  já  grave: 

•  Já  tens  tua  Ama,  ob  filha  de  Dcmídoco, 

E  a  caza,  e  o  Páe  não  longe.  Deos  te  guarde.» 

Parte  veloz,  sem  que  a  resposta  escute. 

F.    M.    DO   N.VSCIMENTO,   OS   MABTTSES,    1ÍV.    1. 

VELOZMENTE,  adv.  (De  veloz,  e  o  suf- 
fixo   «mente").  De  um  modo  veloz. 

VELUDO.  Vid.  Velludo. 

7  VEM.  Forma  do  verbo  vir  na  ter- 
ceira pessoa  do  singular  do  presente  do 
modo  indicativo.  Vid.  Vir. 


Eis  Job  vem  fallando  ha  gr.ande  pedaço, 
Triste  com  causa  dç  ter  gran  tristeza. 
Oh  quantos  haveres  e  quanta  riqueza 
Perde  aquelle  homem  era  tão  pouco  espaço. 

OII,  VICENTB,  AUTO  DA  HISTORIA  DK  DECS. 


Por  mais  que  a  minha  soberana  Alcida 
(Minha  não,  porque  só  sua  beileza 
Vem  a  ser  minha  em  sor  de  mi  querida) 
Me  trate  vezea  mil  com  aspereza  : 
Huma  só  vez  que  delia  acho  admittida 
Minha  pequena  vista  na  grandeza 
Da  luz  do  rosto  seu,  sinto  tal  gloria. 
Que  de  todo  o  penar  perco  a  memoria. 

CAM.,  KGLOGA  14. 

E  vem  a  gravidade, 
Com  a  viva  alegria 
Que  misturada  tem  de  qualidade. 
Que  huma  da  outra  nunca  se  des^'ia  ; 
Nem  deixa  de  ser  huma  receada 
Por  leda  e  por  suave, 
Nem  outra,  por  ser  grave,  muito  amada. 
CAM.,  ODES,  n."  6. 


«Porque  além  de  não  ter  cousa,  em 


896 


VEM 


VEM 


VENC 


que  huma  borva  lance,  raiz,  faz-se  dous, 
e  três  anno.s  que  iiào  chove  per  toda 
nquella  Comarca,  e  qiian<lo  vem  esta 
agua,  he  do'trovoaila  (|ue  paspa  logo;  e 
ainda  que  houvesse  algum  arvoredo  na 
parte  contra  o  mar,  ho  tão  lavado  dos 
ventos  do  Levante  que  entram  pelas  por- 
tas do  estreito,  (|uc  tudo  seria  oscaidailo 
como  nascesse.»  Ijarros,  Década  2,  liv.  7, 
cap.  H. 

Vem  formosura  minha,  e  so  castigo 
Duro  mo  qucroa  diir,  não  te  mo  escondas, 
Nem  me  dcMxes  hm\  morto  num  ponto 
Quo  cõ  moiTor  do  hum  í;<^lpe,  nào  te  vingas. 
Mas  firma  nos  meus  olhos  esses  rayos, 
Formosos  como  o  Sol,  como  oUo  puros, 
Dftrmeas  cada  momento  cem  mil  mortos. 
Se  te  prezas  cruel  de  vnigatiua. 

cORTr.  nr.AL,  NAUFiiAOio  DE  SErCLVKDA,  cant.  6. 

—  «E  por  íím  de  contas  vem  a  resi- 
dência, 6  alcança  os  sobreditos  em  mui- 
tos contos.  E  estes  saõ  os  confidentes  da 
nossa  Republica,  que  fazendo-se  proprie- 
tários do  alheo,  alienaõ  o  que  não  lie  seu, 
e  daõ  atravéz  com  os  thcsouros  alhevos.» 
Arte  de  furtar,  cap.  61.  —  «E  despedio 
logo  dous  navios  ligeiros,  em  que  man- 
dou 8imaõ  da  Costa,  e  Miguel  Colaço,  e 
lhes  deu  por  regimento  que  se  fossem  pôr 
no  cabo  de  Rosalgate,  atè  quo  se  acabas- 
se o  mez  de  Agosto,  que  era  a  monção 
cm  que  vem  de  Jleca  pêra  aquelle  Es- 
treito, e  que  haveudo  vista  das  galez 
sendo  mais  de  vinte,  Simaõ  da  Costa  se 
fizesse  na  volta  da  índia,  e  fosse  dar 
as  novas  ao  Visorey,  c  quo  Miguel  Co- 
laço voltasse  pêra  Ormuz,  e  fosse  dando 
aviso  a  todas  aquellas  povoaçoens  de  Co- 
riate,  Calayat.í,  Mascate,  e  outras  pêra 
estarem  negociadas,  e  sobre  aviso.»  Dio- 
go de  Couto,  Década  6,  liv.  10,  cap,  1. 


K  com  ([uanto  hia  em  tanto  crescimento 
Aquella  fraca  gente,  miserável, 
Que  quasi  lho  faltou  recolhimento 
Por  sor  cila  ja  quasi  inuumeravcl: 
Não  lhe  faltou  comtudo  mantimento, 
A  terra  não  o  dá  (cousa  admirável), 
Jtas  de  fiSra  lhe  reia  ci^pia  tamanha 
Que  farta  a  natural,  c  a  gente  estraulia. 

r.  dVnmiradg,  pmuiuro  crrco  dg  dic,  cant.5, 
Cít.  47. 


Receia  Acefarcjio,  e  não  o  nega. 
Que  o  que  manda  o  Baxá  ninguém  o  quebra, 
Vem  o  thesouro  ao  Cairo,  e  se  lhe  entrega 
Sem  detrimento  algum,  sem  perda  ou  quebra, 
Depois  que  cm  vè-lo  algum  tempo  se  emprega 
K  ora  se  espanta  delle,  ora  o  celebra, 
Ao  Turco  o  faz  saber  com  brenidade 
Creio  que  com  mais  medo  que  vontade. 
IBIDEM,  cant.  12,  est.  7"2. 


K  dando-a  a  hviin,  de  quo  vem  acompanhado 
Que  do  Mafoma  segue  a  immuuda  seita, 
■Manda  quo  dentro  a  deito ;  cUe  chegado 
Com  pressa  .ao  baluarte,  dentro  a  deita ; 
Kecolho  o  Sousa  carta,  e  com  cuidado 
Faz  com  que  elJa  ao  Silveira  v,á  direita ; 


Faloiro,  que  lh"a  vê  na  mio  ja  posta. 
Lho  oncommenda  a  prcstrza  da  resposta. 
iMiDKM,  cant.   15,  est.  10. 

—  «Porque  a  soberba  nSo  nace  BcnJlo 
de  trazerem  os  homens  sempre  os  ollios 
e  pensamentos  em  cousas  baixas  o  hu- 
manas, o  os  liumildes  de  ter  essas  em 
pouco,  e  trazerem  os  olhos  nas  grandes 
e  divinas,  lhe  vem  t^jrso  em  pouco  a 
si  também,  e  aucr  que  f|uanto  tom  nâo 
ho  nada.»  Paiva  d  Andrade,  Sermões, 
part.  1,  pag.  1;57. — «(J  adverbio  j/kí/, 
quando  anteposto  a  ferido,  era  legiti- 
mo Portuguez,  augmcnta  que  nSo  di- 
minuo a  força  do  p.irticipio.  Um  homi^m 
nt(il-fen'(lo  c  um  homem  gravemente  fe- 
rido, ^las  ferido  nem  sempre  vem  na  si- 
gnificação natural;  annudo  se  toma  em 
sentido  translato  ;  poia  dizem  nossos  bons 
escriptores  :  « batalha  nial-ferida»  por  «ba- 
talha mui  travada  e  renhida»  ete.»  (No- 
ta da  primeira  edição).  Oarrctt,  Camões, 
nota  F  ao  canto  1. 


Emfim  d'Africa  ardente  vem  nascendo 

Por  entre  ásperas  brenhas  dilabidas  (o  Nilo). 

SOL.   DK   MOURA,   KOV.   DO   HOU.,    Caut.    1,   CSt.    46. 

f  VEMOS.  Fi^rma  do  verbo  vêr  na  pri- 
meira pessoa  do  plural  do  presente  do 
modo  indicativo.  Vid.  Vêr.  —  « Porque 
sempre  ahi  ouuo  Reys  e  Príncipes  em 
Espanha  desejosos  de  grandes  empresas, 
e  tam  cubiçosus  de  buscar,  e  descobrir 
nouos  estados  como  o  Infante:  e  naõ  ve- 
mos nem  lemos  em  suas  chronicas  que 
mandassem  descobrir  esta  terra,  tendoa 
por  taò  vezinha.»  Barros,  Década  1,  liv. 
1,  cap.  4.  —  «Para  o  qual  nos  ho  neces- 
sário fazermonos  prestes  nuiyto  depressa, 
como  quom  forçadamente  ha  de  passar 
outro  mnyto  mi'ir  trago  que  este  em  que 
nos  agora  vemos,  tomando  cõ  paciência 
isto  quo  da  mào  de  Deos  nos  he  dado,  e 
nSo  te  desconsoles  por  cousa  que  vejas, 
e  que  o  temor  te  ponha  diante,  porque 
considerado  bem  tudo,  pouco  vay  em  ser 
mais  ojo  que  a  mcnham.»  Fern.ào  Men- 
des Pinto,  Peregrinações,  cap.  23. 


Sujeição  he,  quo  poz  a  natureza 
Ao  peito  que  he  mortal,  ser  avarento, 
K  desta  sujeição,  desta  avareza 
Não  vcmoi'  escapar  hum  eutre  cento. 
Nem  somente  dos  bens  e  da  riqueza, 
Mus  também  do  segredo  c  pensamento 
Faz  a  avara  intenção,  a  que  esta  entregue, 
Que  qualquer  busque  o  alheio  c  o  próprio  negue, 
r.  d'anduadr,  fbisieiro  cerco  dk  Diu,cant.  4, 
est.  2. 


—  «E  assim  vemos  os  Clérigos  sugei- 
tos  :\s  Icys  Civis,  quo  olhaõ  pelo  bem 
commura ;  como  as  que  taxão  os  preços 
das  couzas,  as  que  irritaõ  contratos,  as 
que    prohibem    armas,    cfcc.    C-oncordift.» 


Arte  de  furtar,  cap.  bO.  —  «He  ella  de 
qualida'le  que  ordinariamente  a  vemOS 
MÓ  ou  mal  acompanliiida,  porem  em  V. 
E.  encontra-se  com  huma  fermusura  en- 
cantadora, com  hum  onteudiíiieiitu  bri- 
lliantc,  o  com  huma  geoerosidade  tão 
grande  (|uc  iguala  ao  seu  iliustre  nasci- 
mento.» Cavallciro  d'01ivcira.  Cartas, 
liv.  3,  n.''  -JO. 

VENABLO,  •.  m.  Espécie  de  dardo, 
u=iadi)  na  nionteria. 

—  Arma  doe  tribunos  militares  roma- 
nos ;  outr'ora  era  talvez  insígnia.  Vid. 
Venabulo. 

—  Arma  ou  insígnia  militar  qno  o  al- 
feres trazia,  e  ia  apresentar  ao  general 
quando  entrava  na  j)raça. 

VENABULO,  *.  m.  íDo  latim  venaba- 
lum  .  \'id.  Venablo. 

l.i  VENAL,  (idj.  2  gen.  (Do  latim  «»- 
nalis).  Qne  se  vende,  quo  p&dd  Vender- 
se,  fallando  dos  carpos,  officios. 

—  Valor  venal ;  o  valor  actual  d'uma 
cousa  no  commercio. 

—  Figuradamente  :  Que  nSo  obra  se- 
não por  interesse  e  por  dinheiro. 

—  Producques  venaes ;  commerciaes, 
para  venda,  e  negocio,  para  mercado; 
merca  vel. 

—  Que  se  deixa  peitar  para  obrar  mal, 
que  .-e  fixz  por  peitas  e  daiiivas  corru- 
ptoras.— Juttiça  venal.  —  Emprajot  ve- 
naes. 

—  Vida  venal;  vida  que  está  expos- 
ta a  tniições  da  gente  venal. 

•2.)  VENAL,  adj.  2  gen.  (Do  latim  fi- 
na). Termo  de  anatomisi.  Da  veia.  — 
tíaiiffue  venal. 

VENALIDADE,  s.  f.  (Do  latim  venaJi- 
fa$).  Qualidade  do  que  é  ]>ara  vender. 

—  Figuradamente :  A  venalidade  da* 
consciências. 

—  O  abuso  de  se  vender  o  qne  se  de- 
ve A  justiça  ou  ao  merecimento,  do  tor- 
cer a  justiça  por  peitas.  — A  venalidade 
dos  i,jiiiii'S. 

VENALMENTE,  adv.  (De  venal,  e  o 
sufSxo  «mente»).  De  um  modo  venal. 

—  Com  venalidade. 

VENARIOS,  í.  VI.  plur.  Termo  anti- 
quado. Vindiços,  que  chegam  do  fora  a 
uma  terra,  estrangeiros.  Vid.  Barrarios. 

VENATORIO,  A,  adj.  iDo  latim  i«fia- 
toriítvi).  Que  diz  r&speito  á  caça.  que 
lhe  é  relativo. 

—  5.  /.  .\  arte  da  caça. 
VENATURA,    *.   /.    Termo    antiquado. 

Caça  de  veaç.ío.  Vid.  Veação. 

VENCEDOR,  A,  adj.  e  #.  Qne  ficou  vi- 
ctorioso.  —  «Vencedor  dos  vascouios,  — 
gritou,  rindo  diabolicanicute,  o  conde  de 
Septum  —  olha  por  ti !  Nas  margens  do 
Chiryssus  não  ha  taças  de  vinho,  como 
aquellas  com  que  te  embri.Tgavas  nos 
paços  do  teu  senhor.  Aqui  o  que  corre  é 
sangue.»  Alexandre  Heiculano,  Eurico, 
cap.  10. 

—  Victorioeo. 


VE¥C 


VENC 


VEXC 


897 


Já  ficou  vencedor  o  Lusitano, 
Recolhendo  os  tropheos,  e  presa  rica : 
Desbaratado,  e  roto  o  Mauro  Hispano, 
Três  dias  o  gxào  Rei  no  campo  fica, 
Aqui  pinta  no  branco  escudo  ufano 
Que  agora  esta  victoria  certifica. 
Cinco  escudos  azues  esclarecidos 
Em  signal  destes  cinco  reis  vencidos. 
cxu.,  Lus.,  cant.  3,  est.  53. 


—  Armas  vencedoras  ?  armas  victorio- 
sas. 

—  Que  ganhou  a  causa  ou*a  demanda. 

—  Bandeiras  vencedoras  ;  bandeiras 
victoriosas. 

VENCELHO,  s.  m.  (Do  latim  vincire). 
Atilho  de  palha  para  atar  as  paveas.  Vid. 
Baraço. 

—  Em  itm  vencelho  ;  juntos. 

—  Alguns  dizem  que  vencelho  é  o 
gavião. 

VENCER,  V.  a.  (Do  latim  vincere). 
Levar  a  melhor  do  inimigo,  ou  contrario, 
que  se  desbarata  na  batalha,  ou  briga.  — 
«Da  mesma  sorte  venceo  aos  Castelha- 
nos na  famosa  batalha  do  Amexial,  sen- 
do Governador  das  Armas  D.  Sancho 
Manoel,  Conde  de  Villa-Flor.  Havia  en- 
trado pela  Provinda  do  Alem-Téjo  D. 
Joaõ  da  Áustria,  filho  natural  de  Filippe 
IV.  com  hum  exercito  digno  de  taõ  gran- 
de (Teneral.»  Frei  Bernardo  de  Brito, 
Elogios  dos  reis  de  Portugal,  continua- 
dos por  D.  José  Barbosa. 

Contra  nossa  Fce  pregando, 
e  do  Papa  brasphemando, 
dos  Bispos,  dos  Cardeaes, 
venceo  batalhas  campaes 
ha  gram  gente  do  seu  bando. 

GABCIA  DE  BEZEXDE,  MISCELLAIÍE A . 

—  a  Porém  desembarcados  em  terra  es- 
tes poucos  soldados,  abrirá  o  Oriente  os 
olhos  ao  segredo  de  nossas  forças,  e  to- 
dos estes  Príncipes  trabalharão  por  rom- 
per a  franqueza  das  prisões,  em  que  os 
tema?  atados.  Gloria  foi  do  Império  Ro- 
mano, vencer  muitas  batalhas  Quinto 
Fábio  Máximo,  depois  foi  salvação  escu- 
sar um.»  Jaclntho  Freire  d'Andrade, 
Vida  de  D.   João  de  Castro,  liv.  2. 

—  Vencer  em  juizo ;  ganhar  a  causa 
ou  demanda. 

—  Exceder,  ser  maior.  —  «Nomea  de- 
pois alguns  homens  afamados  neste  exer- 
cicio,  e  mostra  o  excesso  que  nelle  teve 
o  nosso  Portuguez  Diocles,  pois  além  de 
o  engràdecerem  os  titules  dos  outros  a 
quem  venceo,  os  seus  próprios  o  fizeraõ 
singular  e  excelente  sobre  quantos  teve 
Roma  naquelles  tempos.»  Monarchia  Lu- 
sitana, liv.  õ,  cap.  4.  —  «No  seu  esta- 
do presente  tem  de  attender  a  mil  res- 
guardos, que  para  corações  delicados  são 
outras  tantas  obrigações;  e  essas,  quem, 
a  não  ser  o  Amor,  vencê-las  pôde?  Quem, 
a  não  ser  cu,  arrazoará  diante  de  Su- 
zanna  a  sua  própria  causa?»    Francisco 

VOL.  T.  — 113. 


Manoel  do  Nascimento,  Successos  de  ma- 
dame de  Seneteríe. 


Dias  sem  sol,  tormentas  pavorosas. 
Negros  Ceos  de  relâmpagos  rasgados, 
Densas  nuvens  do  sul  tempestuosas, 
Trovões  medonhos,  raios  abrasados  ; 
Parceis  occultos,  syrtes  arenosas. 
Onde  se  erurolem  mares  empolados, 
A  natureza  em  convulsões,  o  tudo 
lence  o  que  embraça  da  Virtude  o  escudo. 

J.  A.   DE   MACEDO,  O  OBTENIE,    Caut.    "2,  CSt.   43. 

—  Vencer  a  natureza;  as  resistências, 
os  contrários  que  ella  oppõe. 

Forão  já  vossos  pais  nos  esquipados 
Lenhos,  do  Cafre  aoa  estuautes  lares, 
1  e/ioe/tdo  a  natureza,  e  os  empolados. 
Não  vistos  dantes,  temerosos  mares: 
Ide  exceder  seus  feitos  sublimados. 
Indo  no  Hydaape  consagrar  altares, 
O  Deos  do  Ceo  vos  abençoa,  e  chama. 
Dai  domiuioà  á  fé,  e  ao  Tejo  fama. 

j.  A.  DE  MACEDO,  OKiEsiE,  caut.  1,  est.  68. 

—  Vencer  uma  opinião;  ser  superior, 
ficar  excedente.  —  «Que  remédio  para 
lhe  impedir  a  jornada?  Desfazer  nelle 
era  impossível,  porque  sua  opinião  ven- 
cia, e  acamava  até  á  própria  inveja.  De- 
raõ  em  fazerem  elogios,  e  pregar  encó- 
mios delle  a  Sua  Magestade,  e  que  o 
mandasse  logo,  que  assim  convinha.» 
Arte  de  furtar,  cap.  13. 

—  \  iugar,  anu  ar. 

—  Cobrar,  adquirir,  alcançar. 

—  Vencer  as  paixões ;  refreal-as,  mo- 
ditical-as. 

—  Vencer  em  dias  a  alguém;  sobrevi- 
ver-lhe. 

—  Vencer  o  caminho;  chegar  ao  ter- 
mo d'elle. 

—  O  somno  vence  os  homens;  apossa- 
se  d'elles  a  pezar  seu. 

—  Vencer  covi  as  bombas  a  agua  que 
o  navio  fazia;  dar  cabo  d'ella,  esgo- 
tal-a. 

—  Vencer  soldo,  soldada;  vencel-a  pelo 
trabalho  de  certo  tempo. 

—  As  paixões  vencem  o  homem;  fa- 
zem-uo  obrar  o  que  ellas  mandam,  ape- 
sar da  resistência  que  se  lhes  oppõe. 

—  Vencer  algian  espaço  voando,  mar- 
chando; chegar  a  elle,  vingal-o. 

—  Vencer  o  caminho;  chegar  onde  se 
quer,  Lmital-o. 

—  Vencer  alguma  cousa  a  alguém;  cc- 
bral-a  d'elle  por  sentença  sobre  a  de- 
manda. 

—  V.   n.  Ficar  victorioso. 


—  'Vencestes,  cavalleiro;  as  armas  ponho. 
Façanha  heis  feito  de  homem,  que  imitada 
De  muitos  não  será.  Meu  repto  é  nullo. 
Por  vencido  me  dou  em  leal  batalha : 
De  mim  dispondo.» 

GABBETT,  CAMÕES,  CSUt.  9,  Cap.  lÕ. 

—  Vencer-se,    v.    reji.    Ser    vencido, 


render-se  ás  razões,  á  formosura  das  sup- 
plicas,  importunações. 

—  Acabar  o  praso,  chegar  ao  seu 
termo. 

—  Refrear  o  Ímpeto  do  génio,  reprimir' 
as  paixões. 

—  Vencerem-se  dores  de  caheqa ;  dea- 
apparecerem .  —  « Em  huma  criada  de  mi- 
nha caza  se  vencerão  naõ  sò  por  humas, 
mas  muytas  vezes  dores  gi-andes  de  Ca- 
beça applicando  atrás  das  orelhas  nabos 
assados  com  todo  o  calor  soffrível.»  Braz 
Luiz  d'Abreu,  Portugal  medico,  pag.  225, 
§322. 

—  Ad.vgios  e  provérbios: 

—  Vencer  ás  mãos  lavadas. 

—  Vencer-se  a  si  é  mais  que  vencer  o 
mundo. 

—  Vencer  língua  é  mais  que  vencer 
arraiaes. 

—  Quem  cala,  vence. 

—  Quem  quízer  vencer,  aprenda  a  sof- 
frer. 

—  No  sofirer,  e  abster  está  todo  o  ven- 
cer. 

—  Quem  sofireu,  venceu. 

—  Accommetter  para  vencer. 

—  Despreza  teu  inimigo,  serás  logo 
vencido. 

—  De  ruim  a  ruim,  quem  accomraette, 
vence. 

VENCIDA,  s.  f.  Acção  de  vencer,  de 
ser  vencido. 

—  Ir  de  vencida;  ir  vencido,  e  desba- 
ratado. 

—  Levar  de  vencida ;  ir  seguindo  o 
inimigo  vencido. 

VENCIDO,  part.  pats.  de  Vencer.  Sub- 
jugado, superado. 

Depois  que  a  tal  estado  me  chegaste 
A  tanto  mal,  e  a  tanta  desuentura 
Depois  que  ja  vencido  me  deixaste 
Atado,  e  sem  remédio,  em  prisão  dura. 
Despois  que  a  vida,  e  alma  me  leuaste 
Negas  me  poder  ver  tal  fermosura? 
Quem  te  moue  senhora  a  tal  dureza? 
Que  faz  igual  em  ti  ódio  e  belleza? 

OOBTE  BEAL,  NADTBAQIO  DE  SEPÚLVEDA,  CSut.  7. 

—  Alcançada  alguma  cousa  difficulta- 
da,  contestada. 

—  Ficar  vencido  em  juizo;  perder  a 
demanda. 

—  Diz-se  entre  os  vogaes  em  maté- 
rias, que  vão  a  votos,  d'aquelle  parecer, 
que  se  accordou  á  pluralidade  de  vo- 
tos. 

—  Vencido  por  juizo;  convencido  do 
delícto,  condemnado  na  demanda, 

—  Soldada  vencida;  soldada  ganhada; 
soldada  cujo  tempo  de  a  merecer  é  ajus- 
tado, chegado. 

—  Figuradamente :  Vencido  do  sovino, 
do   amor,   efe;   rendido  dVlles. 

—  Ficar  vencido  alguém  ;  diz-se  quan- 
do maior  i  umero  de  vogaes  foram  de  ou- 
tro parecer. 

VENCILHO,  s.  m.  Vid.  Vencelho. 


VEND 


VEND 


VEND 


VENCIMENTO,  s.  m.  Victoria  paiilia 
por  .alunem. 

—  Soldada  vencida. 

—  O  sor  clipgado  o  dia  do  píií^amento 
da  divida,  lotra  do  cambio,  ctc. 

—  O  sor  vencido. 

vencível,  aJj.  2  (/eu.  Quo  é  possível 
veiicer-sc. 

—  líjnornncia  vencível;  aquella  de  quo 
al;^acui  se  pr>dc  tirar  por  meio  da  sua  di- 
ligencia inquirindo,  averiguando. 

—  Figuradiunouto :  Dificuldade  ven- 
cível; cni baraço. 

1.)  VENDA,  s.  /.  AUioaçíIo  da  cousa 
por  corto  preço. 

—  Desatdv  a  venda ;  dissolver,  desfa- 
zer. 

—  Pôr  de,  venda;  expor  :l  venda. 

—  Figuradamente:  Pôr  de  venda;  fa- 
zer venal. 

—  Sustentar  a  venda  ;  domoral-a  para 
fazer  caro. 

—  Termo  antiíjiiado.   Laudomio. 

2.)  VENDA,  í.  /.  Taverna  de  estrada, 
estalagem  do  eampo. 

—  Adacio  e  puovicuiiio  : 

—  O  bom  vinho  a  venda  traz  com- 
sigo. 

:?.)  VENDA,  s.  f.  Faxa  de  cobrir  os 
olhos,  quo  ise  collocava  ao  que  ia  a  mor- 
rer por  justiça,  ou  sacrificado;  a  quem  ia 
pedir  paz  o  acolhimento. 

—  Faxa  com  que  os  antigos  ornavam 
03  ranms  insígnias  de  paz. 

—  Figuradamente :  Cegueira. 

—  Fita,  faxa. 

—  Insígnia  com  que  se  representa  a 
justiça,  c  n'ella  a  imparcialidade. 

—  Faxa  colloeada  nos  olhos  ao  Amor, 
por  synibolo  de  sua  cegueira. 

VENDADO,  i>'irt.  pass.  de  Vendar. 

—  /)('««  vendado;  Cupido,  o  Amor. 

—  Atado  com  venda. 

—  Figura  lamente  :    Escurecido,    cego. 

—  Os  olhos  vendados ;  os  olhos  cober- 
tos com  uma  venda. 

VENDAGE,  ou  VENDAGEM,  s.  f.  A 
acçSo  de  vender. 

—  O  que  se  paga  ao  corretor,  ou  an- 
tes a  quem  vende  cousas  de  outrem. 

VENDAR,  V.  a.  Cobrir  os  olhos  com  a 
venda. 

—  Figuradamente  :    Escurecer,    cegar. 

—  Vendar  os  olhos.   Vid.  Cegueira. 

—  Figuradamente:  Vendar  a  razão. 
VENDAVAL,    s.   vt.,  ou    adj.  —  Vento 

vendaval ;  de  baixo,  do  sul. 

-  Vento  forte,  inclinado  ao  poente. 

VENDAVEL,  adj.  2  gen.  Que  tem  boa 
venda,  o  saída. 

VENDEÇAO,  s.  /.  Termo  antiquado. 
Vinilicta,  vindicaç.ão. 

VENDEDEIRA,  s.  f.  Mulher  que  vende 
nas  pr.u.as,  foiras,  mercados. 

VENDEDOmO,  s.  m.  O  logar  onde  as 
vendedeiras  vendem  as  cousas  do  seu  ne- 
gocio; o  onde  se  vende  o  vinho  por  miú- 
do em  alpendre  junto  da  adega. 


VENDEDOR,  A,  «.  l'essoa  qufi  vende 
alL'uma  ciii^a. 

VENDEIRA,  ».  /.  .Mulher  que  vendo 
em  taviTiia. 

VENDEIRO,  «.  m.  Homem  que  tem 
venda  ou  taverna. 

—  .AiiAoio  K  puovKiinio: 

—  Ninguém  H3ría  vendeiro,  se  nSo  fos- 
se o  dinheiro. 

VENDER,  V.  a.  (Do  latim  vend/íre). 
Alhear  alguma  cousa  por  preço. — Ven- 
der os  fructos  por  grosso,  ou  a  retalho.  — 
«(Jutro  sy  08  ditos  Mercadores  Estran- 
geiros trazendo  pilnos,  ou  outras  merea- 
dorías  de  fora  de  nossos  Regnos,  c  des- 
carregando no  dito  llegno  do  Algarve, 
quando  venderem  os  ditos  panos,  e  mer- 
cadorias no  dito  Regno,  quo  possam  ven- 
der os  ditos  panos  om  grós,  e  a  peça»  in- 
teiras, pela  guisa  que  suso  dito  he,  e 
mandamos  que  .as  vendara  na  Cidade  de 
Lixboa.»  Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit.  4,  § 
l."""».  —  «Outro  sy,  que  nenhum  dos  Mer- 
cadores per  sy,  nem  por  outro  algum 
nom  ])ossa  enuíar  fora  da  dita  Cidade  os 
sobreditos  panos,  e  mercadorias  para  as 
vender  em  gros,  e  retalhar  per  outros  lu- 
gares dos  nossos  Regnos,  salvo  quo  os 
possam  Icvíir  da  dita  Cidade  de  Lixboa 
j)era  o  Regno  do  Algarve,  pêra  os  ven- 
der em  gros  nos  lugares  do  dito  Regno  a 
juso  devísados,  pela  guiza  que  os  vender 
devem  na  dita  Cidade  de  Lixboa.»  Ibi- 
dem, tit.  ."i,  §  13.  —  «E  se  a  penhora 
for  feita  pelo  Porteiro,  e  elle  nom  vender 
os  penhores,  salvo  o  Pregoeiro,  cntom 
leve  o  Porteiro  a  penhora,  e  o  Pregoeiro 
sua  remataçom  da  venda,  como  suso  he 
declarado.  E  se  a  penhora  for  feita  em 
bens  de  raiz,  leve  de  sua  penhora  cinquo 
rcacs,  e  da  remataçom  de  cíncoenta  reaes 
hunm,  ataa  que  chegue  a  duzentos  bran- 
cos, e  mais  nom,  pêro  que  os  bens  mais 
valham.»  Ibidem,  lív.  1,  tit.  43,  §  2. — 
«Outro  sy,  porque  os  panos  colorados,  e 
pardos,  que  se  vendem  aas  v.aras,  nom 
vêem  em  medida  certa,  nem  som  as  pe- 
ças de  certa  mediçom,  mandamos,  que  os 
ditos  Mercadores,  que  taaes  p.^nos  trou- 
uerem,  nom  possam  vender  retalhos  me- 
nos de  vinte  varas  por  retalho;  pêro  se 
algunt  trouver  menos  de  vinte  varas,  que 
elle  possa  vender  essas  que  trouver  em 
gros,  nom  as  retalhando,  sem  pena  algu- 
ma...» Ibidem,  lív.  4,  tit.  4,  §  !-• -7 
«Negrinhos,  mulatínhos  filhos  d'e3tas,  são 
os  mesmos  diabos,  ladinos,  e  chocarrci- 
ros,  por  castanhas  trazem,  e  levam  reca- 
dos :ls  moças,  e  são  d'ellas  favorecidos. 
Ciganas,  ermito.as,  adelas,  mulheres  que 
vendem  garavins,  e  bolotas  para  lenços; 
outras  que  trazem  dotes,  c  03  dão  mais 
baratos  do  que  valem,  tudo  i*:  malissímo. 
Mudas  é  peçonha. »  Fernão  Soropita,  Poe- 
sias e  prosas  inéditas,  pag.  82.  —  «An- 
tónio de  Faria  despois  de  lhe  dar  graças 
por  quanto  a  propósito  lhe  respondera  a 
suas  preguutas,  lhe  rogou  muyto  que  lhe 


dissesse  em  que  porto  lhe  aconselIuTa 
que  fosse  vender  aquella  fazenda,  que 
fosse  mais  seguro,  e  de  milhor  gente,  pois 
não  tinha  monção  para  passar  a  LS[iooy> 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações, 
eap.  45  —  •  No  cabo  do  qual  se  não  paga- 
uam  lhes  vendiam  seus  moueÍH,  >■,  enxo- 
vaes,  publicanioiitc  emprcgal>  per  muito 
menos  do  que  valião  pela  qual  deshuma- 
nidade  os  mais  dos  executores  denta  Cru- 
zada ouuerão  ma  fim,  de  que  na<5  quero 
dizer  os  nomes,  por  os  filhos,  c  netos  dal- 
guns destes  ainda  viverem.»  Damilo  de 
ííoes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3, 
cap.  56.  —  «Como  os  que  andaS  de  ter- 
ra em  torra  vendendo  unguentos  para  to- 
das as  enfermidades:  em  Castella  os  vi 
applaudindo  seus  medicamentos  pelas  pra- 
ças ;  e  para  prova  do  sua  efíícacía  passa- 
va5  com  estacadas  suas  próprias  tripas 
fse  naò  eraò  a«  de  algum  carneiro)  e  un- 
tando a  ferida  se  davaõ  logo  por  saòs.  > 
Arte  de  furtar,  cap.  31. 

—  Vender  uma  mullur;  prostituila  por 
dinheiro. 

—  Figuradamente:  Fazer  pagar  caro, 
não  conceder  de  graça. 

—  Vender  cnro,  vender  mtii  caro  tua 
vida;  defender-se  cóm  coragem,  immo- 
lar  muitos  inimigos  antes  de  suceumbir. 

—  Figuradamente :  Fazer-se  pa^ar  por 
certos  serviços,  ou  ofBcíos  em  dinheiro. 

—  Vender  sua  hjnra;  receber  dinheiro 
por  fazer  uma  aeção  vergonhosa,  e  des- 
honesta.  Diz-se  também  fallando  d'ama 
mulher,  abandonar-se  por  interesse. 

—  Publicar,  propagar.  —  «Os  Reys  da 
terra  vendaõ  sob  graves  penas,  que  al- 
guém em  sua  presença,  ou  dentro  de  seu 
Palácio,  naõ  digo  eu,  mate,  ou  fira  mas 
ainda  arranque  a  espada  còtra  qualquer 
pessoa.»  Padre  Manoel  Bernardes,  Ezer- 
cicios  espirituaes,  pag.  91. 

—  Vender  sua  alma;  díz-se  d'aquelle 
que  depois  de  uma  crença  supersticiosa, 
entregava  sua  alma  ao  diabo  para  certos 
gozos. 

—  Figuradamente:  Trahir,  denunciar, 
revelar  um  segredo  jior  interesse. 

—  Vender  sen  engenho;  inculcar-se  en- 
genhoso. 

—  Inculcar  falsamente. 

—  Dar  com  descontos. 

—  Vender  vento ;  fazer  de  cousas  de 
nada  serviço  de  grangearia,  e  ganho. 

—  Vender-se,  v.  reji.  Receber  dinheiro 
para  fizer  alguma  baixeza. 

—  Vender-se  tudo  a  ^^eso. —  «Tudo  se 
vende  a  peso  ])or  muy  grande  regimento, 
e  tavxa,  e  qualquer  pessoa  que  a  naõ 
guarda  ou  falta  o  peso,  he  gravemente 
castigado.  Guarda-se  nmyto  a  justiça  a 
todos.»  Tenreiro,  Itinerário,  cap.  1. 

—  Alienar  sua  liberdade,  tornar-se  es- 
cravo por  um  certo  preço. 

—  Entrar  no  serviço  militar  por  di- 
nheiro. 

—  Vender-se  a    algum   partido;  ban- 


VEND 


VEXD 


VEND 


899 


dear-se,  fazer-se  do  bando,  partido  de  al- 
guém por  interesse  ou  dinheiro. 

—  Vender-se  i^or  djuto;  incalcar-se 
como  tal,  fazer  que  o  tenham  n'essa  con- 
ta, posto  que  o  não  seja. 

—  Vender-se  p'"'  donzella. 

—  Fi.íuradameute  :  Alienar  sua  liber- 
dade moral  por  dinheiro  ou  outras  van- 
tagens. 

—  Trahir-se  um  ao  outro.  —  Vende- 
ram-se  uns  aos  outros. 

—  Diz-se  de  uma  mulher  que  se  en- 
trega   por   dinheiro. 

■ — Vender-se  a  ptso  d' ouro;  vender-se 
mui  caro. 

—  Vender-se  a  um  partido;  entregar- 
se  a  uni  partido  por  vistas  interessadas. 

—  Adágios  e  provérbios: 

— Xào  perde  venda,  senão  quem  não 
tem  que  veada. 

—  Quem  demos  compra,  demos  vende. 

—  Vende  a  esposado,  e  compra  a  en- 
forcado. 

—  Vende  publico,  e  compra  secreto. 

—  Quem  cabritos  vende,  e  cabras  não 
tem,  d'oDde  lhe  vemV 

—  Comprar  alforvas,  e  vender  a  on- 
ças, 

—  Compra  que  vendas. 

—  Comprar  em  feira,  e  vender  em 
casa. 

—  Pesa  justo,  e  vende  caro. 

—  Quem  dá,  bem  vende,  se  não  é  ruim 
quem  recebe. 

—  O  dado  dado,  e  o  vendido  vendido. 

—  O  ruim  me  compre  o  amigo,  que  o 
bom  logo  é  vendido. 

—  Não  vendas  a  teu  amigo,  nem  de 
rico  compres  trigo. 

—  Vende  gato  por  lebre. 

—  Vende  em  casa,  e  compra  na  feira, 
se  queres  sair  de  lazeira. 

—  Quem  compra  o  que  não  pode,  ven- 
de o  que  não  deve. 

—  Vender  mel  ao  colmeeiro. 

—  Cousa  que  não  se  vende,  ninguém 
a  semeie. 

—  Gaba-te  cesto,  que  vender  te  quero. 

—  Quem  se  te  encommeuda,  caro  se  te 
vende. 

—  Miguel,  Miguel,  não  tens  abelhas,  e 
vendes  mel. 

VENDIBIL,   adj.  2  gen.  Vendível. 

VENDICÃR.  Vid.  Vindicar. 

VENDICATIVO,  A,  adj.  Vid.  Vindica- 
tivo. 

VENDIÇO,  s.  m.  Vid.  Vindico. 

VENDIÇOM,  s.  /.  Termo  antiquado. 
Venda. 

VENDIDIÇO,  A,  adj.  Vendido  falsa- 
mente, phantasticamente,  ou  que  se  finge 
vendido. 

VENDIDO,  part.  pass.  de  Vender.  Alhea- 
do por  preço. 

—  Entregar  a  alguém. — oOutro  que 
68  tem  vendido  á  sua  rapariga  por  um 
dos  descendentes  da  casa  d'Austria,  mais 
tomado  de  pontos  de  honra  que  hum  escu- 


deiro de  Cacilhas,  estando  huma  vez  pra- 
ticando com  ella,  e  referindo  certas  ven- 
tagens  que  lhe  el-rei  D.  João  fizera  a  um 
seu  tio,  passa  um  fidalgo,  cujo  rascão  elle 
era,  e  porque  lhe  tardou  onde  o  mandara, 
com  grandes  brados  que  atroa  toda  áTua, 
peleja  com  elle  atuando-o  muitas  vezes, 
e  chamando-lhe  filho  da...  e  villão.» 
Fernão  Soropita,  Poesias  e  prosas  inédi- 
tas, pag.  124. 

—  Andar,  achar-se  vendido  ;  achar-se 
enganado  por  outrem,  contra  os  seus  in- 
teresses, que  o  vendedor  trahiu  a  um  ter- 
ceiro. 

—  Estar  como  vendido ;  estar  alheio,  e 
desgostoso  em  qualquer  companhia. 

■ — ■  Vendido  pjor  tracto  dobrtz,  e  enga- 
no;  da  pessoa  de  quem  nos  fiávamos,  ou 
devianios  esperar  lealdade. 

VENDILHÃO,  ONA,  s.  Pessoa  que  anda 
vendendo  pelas  portas,  bxrfarinheiro  ou  o 
que  venle  em  pequena  tenda. 

VENDIMA,  s.  f.  Vil.  Vindima. 

VENDIMAR.  Vid.  Vindimar. 

VENDIMENTO,  s.  ?n.  Termo  antiquado. 
Venda. 

VENDITA,  s.  /.  Termo  antiquado.  Vin- 
gança. 

—  Tomar  vendita  ;  tomar  vingança. 

—  Acoimamento. 

—  Vid.  Vindicta. 

VENDÍVEL,  adj.  2  gen.  Que  está  para 
se  vender. 

—  Venda vel,  que  é  capaz  de  vender-se, 
e  bom  negocio,  por  bom  na  sua  espécie 
natural,  ou  artificial. 

VENDO,  2Ja''í-  «ff-  do  verbo  vSr.  Vid. 
Vêr.  —  «Apartavase  todo  possível  de  pra- 
ticas, e  eonversaçoens  ociosas  dos  outros 
presos ;  e  vendo  nelles  alguma  descompo- 
siçaõ  de  palavras,  os  reprendia  com  in- 
teireza, e  gra^'idade  própria  de  mayores 
annos  que  os  seus.»  Mouarchia  Lusitana, 
liv.  7,  cap.  19.  —  c(E  vendo  jâ  o  Mundo 
pacifico,  e  limpo  o  Império  de  enemigos 
naturaes,  e  estranhos,  se  vero  a  Roma, 
onde  o  receberão,  com  aplauso  devido  a 
taõ  grandes  vitorias,  e  para  gratificar  ao 
Puvo,  tantas  demonstrações  de  amor,  fez 
os  mais  custosos  e  exquisitos  jogos,  que 
muytos  annos  antes  se  viraõ  naquella 
Cidade.»  Ibidem,  liv.  5,  cap.  20. 

E  vendo  que  os  teu3  annos  em  pequena 
Proporção  imperfectos  parecido, 
E  03  delicados  membros  to  íicauão 
Ka  primeira  infantil,  ti;nra  íigura. 
O  oráculo  de  Tliemis  considtando, 
Era  resposta  me  deu  ser  necessário, 
(Pêra  creceres  tu|  ter  outro  filho 
De  Marte,  o  qual  a  ti  faria  grande. 

C0RTKRBAI.,NACFBAGI0  DE   SKPULTEDA,   CaUt.   2. 

Alli  a  negra  noite  lhes  atalha 
Passar  mais  a  diante,  e  vendo  a  pressa 
Com  que  a  luz  se  eseoudeo,  alojào  junto 
Do  Icuantado  monte  o  esquadrão  fraco. 
IBIDEM,  cant.  10. 

—  «E   vendo    Targiana,   alem   de  lhe 


parecer  das  mais  bellas  do  mundo,  cren- 
flo  que  aquella  era  a  própria  por  quem 
Albajzar  se  combatia,  desejou  leval-a 
comsigo  e  tornar  a  Cori=tantinopla,  aflSr- 
mando  na  vontade,  que  desta  segunda' 
vez  se  lhe  não  poderia  amparar  Albay- 
zar.»  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
dlnglaterra,  cap.  88. —  «Vendo  o  impe- 
ralor  esta  experiência  de  namorado  em 
Dramusiando,  teve-o  em  muito  mor  conta 
que  antes,  e  folgava  de  vêr  o  amor  e  ga- 
salhado,  com  que  o  recebiam  aquelles 
príncipes  seus  prisioneiros. c  Ibidem,  cap. 
91.  —  «O  Capitão  delles  vendo  desem- 
barcar os  nossos,  lançou  fora  huma  mu- 
lher velha  que  sabia  falar  Portuguez,  por 
quem  mandou  preguntar  ao  Capitão  «que 
era  o  que  queria,  que  elle  era  o  servddor 
de  ElRey  de  Portugal,  e  se  queria  aquelle 
castello,  que  logo  lho  entregaria,  e  que 
se  hiriaõ  cõ  suas  pessoas,  e  armas.»  Dio- 
go de  Couto,  Década  6,  liv.  6,  cap.  6. 
—  «D.  João  Mascarenhas  vendo  tudo 
perdido,  andava  como  leaõ  bravo  antre 
03  imigos,  com  o  rosto  cheyo  de  pò,  e 
suor,  as  armas  todas  banhadas  em  san- 
gue, e  cortadas  por  algumas  partes,  a  es- 
pada jà  sem  fios  de  cortar  pelas  armas 
dos  imigos,  e  grítaudolho  hum  soldado 
que  se  recolhesse  porque  tudo  -se  perdia, 
elle  o  fez  com  grande  magoa,  e  dor  de 
seu  coração,  levando  os  seus  muy  bem 
ordenados,  e  o  rosto  sempre  nos  imigos.» 
Ibidem,  liv.  o,  cap.  6. —  «Os  nossos  fica- 
rão U!UÍto  alvoroçados  com  este  soccorro, 
porque  alguns  mantimentos  lhes  levàraõ 
as  nàos  cu  que  se  remedeàraõ.  D.  Pedro 
da  Silva  vendo  que  a  falta  delles  hia  por 
diante,  e  que  não  tinha  esperanças  de  lhe 
virem  da  Jaoà,  deu  busca  nas  casas,  e  re- 
colheo  tudo  o  que  achou,  e  o  meteo  em  al- 
mazens. »  Ibidem,  liv.  9,  cap.  8.  —  «Ven- 
do elle  que  ja  entaõ  no  Reyno  havia  outro 
Key,  outros  Governadores,  e  outra  jus- 
tiça (que  saõ  mudanças  que  o  tempo  cos- 
tuma fazer  em  todas  as  partes,  e  em  to- 
das as  cousas)  se  sahio  de  sua  casa  com 
aquelles  pobres  vestidos,  com  que  anda- 
va, e  com  huma  grossa  corda  ao  pesco- 
ço, e  com  huma  barba  muyto  branca,  e 
ja  a  este  tempo  taõ  comprida,  que  lhe 
dava  abayxo  dos  peytos. »  Fernão  Men- 
des Pinto,  Peregrinações,  cap.  191.  — 
«E  vendoos  daquella  maneyra  lhes  per- 
guntou pela  causa  de  sua  desventura,  e 
elles  lha  contarão  com  mostras  de  muyto 
sentimento,  dizendo,  que  avia  dezassete 
dias  que  tinhaõ  partido  de  Liãpoo  para 
Malaca,  com  propósito  de  passarem  á  ín- 
dia, se  lhe  a  monção  nào  faltasse,  e  que 
sendo  tanto  avante  como  o  ilheo  de  Çum- 
bor  os  cometera  hum  ladraõ  Guzarate, 
por  nome  Coja  Acem,  com  três  juncos  e 
quatro  lanteaas.»  Ibidem,  cap.  57. — 
«Vendo  António  de  Faria  que  era  ja  pas- 
sada mais  de  hora  e  meya,  mandou  com 
muyta  pressa  recolher  a  gente,  a  qual 
não   avia  cousa  que  a  pudesse  desapegar 


900 


VEND 


VEND 


VENE 


da  presa  em  que  andava,  e  na  ^ente  do 
maiu  conta  «c  eiixerf^ava  inda  isto  inuyto 
mais.»  Ibidem,  cap.  (lõ.  —  «Os  capitacn.-i 
das  carauclas  vendo  quo  nestas  offertas 
tinbSo  ajuda,  por  saber  «creia  os  desta 
ilha  pranded  iiuif^os  dos  da  illia  de  Pal- 
ma, que  ellc.s  Uiaõ  buscar  deseobriran- 
Ihe  seu  propósito:  pedindollie  que  ouues- 
sem  por  bem  de  irem  com  alguma  pente 
Bobre  amielles  sou8  imifíos  de  quem  o  in- 
fante cstaua  mui  escandalizado  por  ser 
raá,  o  reuel,  o  que  elles  liiriaõ  cm  sua 
companhia.»  Barros,  Década  1,  cap.  11. 
—  «E  sendo  já  o  mo^'o  do  resf^ato  posto 
entro  os  seus,  vendo  a  Moura  azo  para 
isso,  confiada  mães  em  nadar,  qui:  ella 
mui  bem  sabia,  que  na  possibilidade  dos 
seus,  de  quem  osperaua  o  {^"ando  resga- 
te, que  prometia  por  si,  lançouse  ao  mar, 
o  posse  cm  saluo.»  Ibidem,  liv.  1,  cap. 
11. —  «Diogo  Cam  vendo  quanto  os  ou- 
tros tardauão,  determinou  de  acolher  al- 
guns da(iuellos  negros  que  entrauão  em 
o  nauio,  e  virso  com  olles  pêra  este  Rey- 
no.«  Ibidem,  liv.  3,  cap.  ò. —  «Chegado 
Diogo  Cam  á  barra  do  rio  do  Padraõ,  foi 
recebido  pelos  da  terra  com  muito  pra- 
zer :  vendo  os  seus  naturaes  que  elle  trou- 
xera viuos  o  também  tractados  como 
hião.»  Ibidem.  —  «Colhe  daqui  por  fru- 
to, grande  amor,  e  respeito  a  Deos  nosso 
Senhor,  e  grande  confusão  tua,  vendo  que 
tantaa  vezes  lho  perdeste.»  Padre  Ma- 
noel Bernardes,  Exercícios  espirituaes, 
pag^  8õ. 


Porquo  veiido  quo  oom  cruel  império 

Os  constrangera  ao  remo  uiais  qiic  iuclinào, 

Os  quo  tem  das  galés  o  ministério 

Tanto  os  move  esta  dòr,  tanto  se  incliuão, 

Que  havendo-o  por  afrronta  o  vitu|)erio 

liem  quatrocentos  dclles  se  amotiuào 

E  nogão  ura  serviço  tal,  tão  forte. 

Tristes,  que  caminhaes  á  vossa  morte! 

rSANCISCO  DE   ANDRADE,  PKIMGIBO  CEBCO  DE   DIU, 

cant.  12,  est.  120. 


O  qual  veiulo  que  toda  he  ja  gastada 
Quauta  pólvora  tinha  naquclla  hora 
Faz  que  toda  a  quo  estava  agasalhada 
Km  quiitro  poijaâ  grossas  saia  fóra. 
Pois  nenhuma  outra  cstA  ja  carregada 
Antes  todas  cessado  tem  ja  agora, 
E  o  negro  pó  quo  então  faz  sahir  delias 
Por  trinta  repartio,  e  mais  pancllas. 
aisEM,  cant.  20,  est.  30. 


—  «Roztomocau  vendo  esta  obra,  e 
sentido  o  prazer  dos  nossos  pela  grita 
que  der.ão  com  ella,  determinouso  em 
mães  que  defender  :  porque  logo  aquella 
noite,  ante  quo  os  nossos  procedessem 
mães  nella,  teue  conselho  com  os  princi- 
paes  capitães  que  tinha.»  Barros,  Déca- 
da 2,  liv.  7,  cap.  5. 

—  Vendo  eslds  notícias  naturaes;  sa- 
bendo-as.  —  «BemoiJ  como  era  homem 
grande  de  corpo  bem  disposto  o  de  bom 
aspecto,  e  estava  em  idade  de  quarenta 
annos  com  huma  b.arba   crescida   e   bem 


posta,  rcpresentaua  nHo  homem  do  Buas 
coreá,  luas  hum  Frincipo  a  quem  dcuia 
todo  acatamento :  com  a  qual  majestade 
de  pessoa  começou  e  acabou  sua  oração 
com  tantos  affectos  de  prouocar  a  se  eon- 
doçreui  do  caso  miserauel  de  seu  dester- 
ro, quo  somente  vendo  estas  noticias  na- 
turaes,  ella.s  per  bí  mustrauão  o  que  o  in- 
terpreto depois  dizia.»  Barros,  Década  1, 
liv.  3,  cap.  G. 

—  Observando.  —  «Com  tudo  elles  de- 
pois da  briga  durar  hum  bom  )"paço  ma- 
taram hos  sette  mouro.í  sem  se  delles  que- 
rer dar  nenhum  à  prisam,  entre  o»  quaes 
hauia  iium  (jue  era  sposado,  o  Icuaua 
consigo  a  sposa,  a  qual  vendo  o  negocio 
trauado  de  maneira  que  podia  perder  a 
sperauça  de  o  nunca  m;iis  ver,  llie  dixe.» 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  1,  cap.  48.  —  «Dona  IjCaiior  mo- 
Iher  de  dom  Aluaro  como  era  muito  sa- 
gaz, e  prudente,  vendo  que  a  sanha  dei 
Rui  se  nam  abraudaua,  buscou  outro  mo- 
do pêra  per  via  mais  dessimulada  poder 
reconciliar  seu  marido  com  el  Kei,  o  qual 
foi  mandar  dizer  a  meu  irmam  Fructos 
de  gocs,  guarda  roupa  dei  Rei,  que  en- 
tão era  hum  dos  seus  mais  priuailos,  que 
nam  tomasse  por  trabalho  quererlhe  ir 
fallar  o  que  cUe  fez  de  muito  boa  vonta- 
de.» Ibidem,  part.  3,  cap.  40.  —  «O  que 
vendo  dom  Aluaro  receoso  que  lho  ma- 
tassem, por  estar  so,  fez  voltar  os  guiões, 
e  elle  fez  o  mesmo  com  a  bandeira,  na 
qual  V.  Ita  mataram  trinta,  e  tomaram 
hum  muito  honrrado,  que  se  chamaua 
Mu.sa  benfada  tilha  dale  umme,  os  outros 
vendesse  maltratados  daquelle  primeiro 
encontro  se  afastarão  pondosse  todos  jun- 
tos a  ver  o  que  os  nossos  faziam,  que 
dalli  foram  tomar  hum  vao  perque  dom 
Aluaro  fez  passar  os  captiuos  na-;  ancas 
dos  cauallos.»  Ibidem,  part.  4,  cap.  39. 
—  «Eu  tinha  observado  antes  delle  che- 
gar que  Jladame  sua  esposa  estava  hum 
pouco  melancólica,  e  isso  justiliquey  ven- 
do que  principiava  a  chorar.»  Cavalleiro 
d'01iveira,  Cartas,  liv.  1,  n.°  1(5. 


E  vendo  emfim  que  em  vão  tem  consumido 
Rogo,  mando,  brandura,  ou  aspereza, 
Por  salvar  hum  uaxno  ja  perdido 
Por  medo  de  sua  gente,  e  por  fraqueza, 
Parte  dhum  furor  grande  combatido, 
Parte  dhuma  profunda  alta  tristeza. 
Deixa  o  que  só  não  pode  hum  forte  peito 
Salvar,  e  IA  A  Cidade  vai  direito. 

r.  d'andbadk,  PBtxciBO  cebco  db  dio,  cant.  11, 
est.  21. 


Vendo  suspenso  o  pflago  espumante : 
Sahio  das  altas  N.nos  ooas  vOlas  chOas, 
Correndo  a  Costa  dAfrica  cstuanto  : 
E  do  lá  pouco  a  pouco  o  mar  abrmdo 
Côas  mercês  retornou  do  Idaspo,  ou  Indo. 

J.    A.    DB  UACEDO,  O  OBIESTB,  Cant.     13,    CSt.    09. 


—  Vendo-se  sem  favor  dos  uaturaes; 
vcndo-.-iC  desfavorecido  d'elles. — «E  ven- 


do-se  sem  fjavor  dos  naturaes,  e  tem  for- 
ças pêra  reaistir  a  e«te  tyraano,  com  al- 
guns que  o  quizerani  seguir  hia  á  Jauh» 
a  alguns  Principes  da  sua  linliagcni,  que 
o  quizcssem  ajudar  na  re^tituiç.To  de  seu 
estado. I  liari'08,  Década  1^,  liv.  tí,  cap.  2. 
—  Vendo->e  arribado  a  alyujiia  cousa ; 
venilo-se  encostado,  apoiado  n'ella. 


Vfiulo-»'.  Mirijain  a  hum  tào  potente 
Sccptro  em  tàn  |ioucos  dias  arribado, 
Temendo  a  natural  Cambaia  gente 
A  quem  jugo  i-)trangeiro  era  (WMsdo, 
Cktnitolho  qniz  tomar  para  o  proAente 
De  quem  lhe  deu  favor  para  o  passado. 
Para  quem  algum  bom  meio  Ibf;  mostrasM 
Com  que  o  seu  novo  Reino  soguraiwc. 

r.  d'axdbade,  pbiheibo  ckbco  de  Dic,cant.  8, 
est.  82. 


VENDUDO,  part.  pass.  aiU.  Vid.  Ven- 
dido. 

VENEFICIO,  s.  m.  (Do  latim  ve$uji- 
ciuvi).  ( )  crime  de  compor  e  dar  venenos. 

VENEFICO,  A,  aãj.  (Do  latim  veiuji- 
tuí).  \'cnenoso. 

—  Doença  venefica ;  doença  funesta 
como  o  veneno. 

—  Hitv\em  venefico;  homem  prepara- 
dor e  propinador  de  venenos. 

—  Figuradamente  :  Palavras  venefi- 
cas  ;   palavras  damniiicadoras. 

VENENADO,  yart.  yass.  de  Venenar. 
Vid.  Envenenado. 

VENENAR.   Vid.  Envenenar. 

VENENO,  s.  m.  ^\)o  latim  ventnum). 
Peçonha  que  ataca  os  princípios  da  vida 
por  certas  qualidades  malignas,  como  s3o 
alguns  suecos,  o  rosalgar,  etc.  —  Propi- 
nar veneno  a  alguevi. 

—  Figuradamente  :  A  malignidade. 

—  Syx.  :  Veneno,  peçonha. 

A  palavra  veneno  estende-se  nio  só 
aos  simples,  que  naturalmente  silo  noci- 
vos, senão  também,  e  com  mais  proprie- 
dade, aos  compostas,  misturas  ou  prepa- 
rações, que  destroem  a  .«aude,  ou  tiram 
a  vida.  A  palavra  pií^onha  applica-ee  so- 
mente aos  .-^inipl^s  que  por  si  sós  sâo  no- 
civos, e  mais  propriamente  aos  que  na- 
turalmente se  encontram  no  corpo  de 
diversas  animaes. 

Compõe-se,  prepara-se  um  veneno,  e 
não  uma  pei^oiiha;  esta  a  dá  preparada 
a  natureza. 

VENENOSAMENTE,  adr.  (De  venenoso, 
o  o  suffixo  «mente»).  De  um  modo  vene- 
noso. 

—  Com  qualidades  venenosas. 
VENENOSIDADE,  s.  f.   Qualidade   do 

que  é  ve.  enoso. 

VENENOSÍSSIMO,  A,  adj.  superl.  da 
Venenoso,  ilui  ve.ieuoiso. 

VENENOSO,  A,  »dj.  (Do  latim  v^nôno- 
sus,  de  veiunum).  Que  obra  como  vene- 
no sobre  a  economia,  faltando  de  sub- 
stancias vegetaes.  —  ti)j/uf)it/«s  veneno- 
sos. 


VENE 


VENE 


VENI 


901 


—  Diz-se  também  das  matérias  inorgâ- 
nicas. — •  O  cobre  forma  saes  venenosos. 

—  Diz-so  ainda  da  carne  tornada  em 
veneno  em  consequência  da  alteração. 

—  Animaes  venenosos  ;  aquelles  que 
não  ingeridos  como  alimentos,  actuam 
sobre  a  economia  á  maneira  dos  vene- 
nos. 

VENERA,  s.  /.  Insignia  de  cavalleiro, 
de  commenJador,  grau  mestre  das  or- 
dens militares. 

—  Medalha. 

—  Insignia  dos  romeiros  de  S.  Tliiago. 
VENERABILIDADE,  s.  /.   Qualidade  de 

ser  venera-lo. 

VENERABILI3SIM0,  A,  aãj.  superL  de 
Venerável,  ilui  venerável. 

VENERABUNDO,  A,  adj.  (Do  latim  ve- 
nerabundus).  Com  demonstrações  de  ve- 
neração. 

j  VENERAÇAM,  s.  /.  Vid.  Veneração. 
— «Em  esta  casa  estam  duas  sepulturas 
que  estam  cubertas  com  pauos  de  seda 
pretos  que  os  mouros  tem  em  grande  ve- 
neraçími:  e  ho  judeu  me  disse  que  avia  de 
passar  por  junto  daquella  casa  onde  es- 
tavam duas  sepulturas  huma  de  Aron,  e 
a  outra  de  Hisda-os,  sogro  de  Moyses.» 
Tenreiro,  Itinerário,  cap.  36. 

VENERAÇÃO,  s.  /.  (Do  latim  venera- 
tio,  de  venerari).  ijraude  respeito  uni- 
do a  uma  espécie  de  affeiçào.  —  «i  Aceita- 
rão os  Bispos  a  jornada,  e  chegados  a 
França  íbraõ  recebidos  de  Theodorico 
com  a  veneração  e  respeyto  devido  a  sua 
dignidade,  porque  inda  que  tivesse  a  he- 
resia de  Arrio,  era  todavia  taõ  modesto 
e  comedido,  que  a  ninguém  negava  o 
termo  e  bom  acolhimento,  próprio  a  seu 
estado.»  Monarchia  Lusitana,  liv.  6,  ca- 
pitulo 7. 

—  Particularmente :  Respeito  que  se 
tem  para  as  cousas  sagradas.  —  Expor 
relíquias  á  veneração  dus  jieis,  —  ^ve- 
neração que  a  egreja  tem  por  uma  dou- 
trina santa,  —  «Os  nomes  dos  sete  discí- 
pulos que  levou  cõsigo  Deutre-Douro  e 
Minho,  e  de  Galiza,  foraõ,  como  diz  o 
Papa  Calixto,  Saõ  Torcato,  a  quem,  co- 
mo natural  da  terra,  se  tem  naquellas 
partes,  e  nas  da  Beira  grande  venera- 
ção, e  hà  algumas  Igrejas  dedicadas  em 
seu  louvor,  onde  com  pequena  corrupção 
lhe  ckamaõ  Saõ  Torcato.»  Monarchia  Lu- 
sitana, liv.  õ,  cap.  à.  —  «Era  Constan- 
tino dotado  de  grande  valor  nas  armas, 
e  nas  occasiões  possíveis  favorecia  o  nu- 
me e  veneração  de  Caristo,  donde  diz  o 
Monge  Eutropio,  e  outros,  que  Diocle- 
ciano lhe  cobx-ou  grande  ódio,  e  deseja- 
va occasiào  de  lhe  tirai"  a  vida  dissimu- 
ladamente;  mas  livre  deste  perigo  pela 
successaõ  do  pay  e  do  poder  de  Galerio, 
que  o  tinha  em  Roma  com  pretexto  de 
amizade.»  Ibidem,   cap.  24. 

—  Profundo  respeito. 

—  Syn.  :  Veneração,  respeito.  Vid.  es- 
te ultimo  termo. 


VENERADO,  part.  pass.  de  Venerar. 
Respeitado,  honrado,  acatado.  —  «O  mui- 
to bem  que  V.  M.  faz  ás  Obras  de  So- 
ror Violante  do  Ceo,  a  quem  Deos  per- 
doe, também  parece  perdido,  porqae  oa 
Pindaros  contestarão  os  prémios  que  V. 
M.  dá  áquella  Religiosa,  e  julgo  que  pcr- 
deo  a  sua  cauza,  prezidindo  nella  a  favor 
dos  mesmos  Pindaros  o  grande  Dom  Fran- 
cisco Manoel  de  Mello,  que  as  Obras  Poé- 
ticas de  Soror  Violante  do  Ceo  erão  cou- 
zas  escuzadas  neste  mundo.  As  da  sua 
vida  forào,  e  serào  nelle  muito  venera- 
das.» Cavalleiro  d'Oiiveira,  Cartas,  liv. 
1,  n."  7. 

VENERADAMENTE,  adv.  (De  venera- 
do, e  o  sufihxo  «mente»).  De  um  modo 
venerado. 

—  Com  veneração. 

VENERADOR,  A,  aãj.  e  «.  Que  vene- 
ra, que  respeita,  que  acata. 

VENERANDO,  A,  adj.  Digno  de  vene- 
ração, de  profundo  respeito. 

Julgando  ja  Neptuno  que  seria 
Estranho  caso  aquelle,  logo  manda 
Tritão  que  chame  os  deoses  da  .ígua  fria, 
Que  o  mar  habitào  duma  e  doutra  bauda. 
Tritão,  que  de  ser  filho  se  gloria 
Do  Rei  e  de  Salacia  veneranda, 
Era  mancebo  grande,  negro  e  feio, 
Trombeta  de  seu  pae  e  sou  correio. 
CAM.,  LLs.,  cant.  6,  est.  16. 

VENERAR,  V.  a.  (Do  latim  venerare). 
Ter  veneração  para  com  alguém.  —  Eu 
vun  venero  como  meu.  segundo  pae. 

—  Respeitar,  acatar  muito.  — »-  Venerar 
os  santos^  as  reliquias. 

—  Havei-so  com  veneração  a  respeito 
de  alguma  cousa  santa. 

VENERÁVEL,  adj.  2  gen.  Venerando. 
—  uConcorreo  por  este  tempo  o  venerá- 
vel Beda,  Monge  da  ordem  de  nosso  Pa- 
dre Saõ  Bento,  cuja  douti-ina  e  santidade 
foy  rara  na  Igreja  de  Deos,  como  testi- 
ticào  suas  obras  de  que  dissera  muito  se 
mo  permitira  a  grande  brevidade,  que 
professo  nas  cousas  que  nT.o  tocaõ  ao  par- 
ticular deste  Reyuo.»  Monarchia  Lusi- 
tana,  liv.  7,  cap.  10. 

— •  Titulo  d'houra  dado  aos  doutores  em 
theologia  nos  actos  públicos. 

—  Logar,  monumento  venerável ;  logar, 
monumento  consagrado  pela  religião,  ou 
por  grandes  lembranças. 

—  Diz-se  do  que  morreu  em  cheiro  de 
santidade,  feitas  certas  provauças  de  sua 
virtude,  e  que  é  declarado  venerável 
pela  Egreja. 

—  Substantivamente :  Um  venerável. 

VENERA VELMENTE,  adv.  (De  venerá- 
vel, e  o  suffixo  «mente D ).  De  um  modo 
venerável, 

—  Com  acatamento,  veneração. 
VENÉREO,  A,  adj.  (Do  latim  venereus). 

Que  diz  respeito  á  approximação  dos  se- 
xos. —  Acto  venéreo. 

—  Doença  venérea,  vial  venéreo ;  affec- 


çào    contagiosa    que  resulta  d'um  connu- 
bio  impuro. 

—  Modernamente  venéreo  não  é  sy- 
nonymo  de  syphilitico ;  diz-se  das  affec- 
ÇÒes  que  contrahidas  pelo  coito  nào  tem' 
caracteres  especiíicos  e  não  dão  logar  aos 
accidentes  secundários,  ao  passo  que  as 
aíFecções  syphiliticas  dão  logar  aos  acci- 
dentes secundários  e  tem  caracteres  es- 
pecíficos. 

—  Mal  venéreo  ;  gallico. 

—  Substantivamente  :  Pessoa  affectada 
de  doença  venérea.  —  O  hospital  dos  ve- 
néreos. 

VENERO,  A,  adj.  Termo  de  poesia.  De 
Veiius. — Estrella  venera. 

VENETA,  s.f.  Veiasinha  de  loucura.— 
Deu-lhtí  na  veneta  fazer  isso. 

VENEZA,  s.  f.  Cidade  mui  opulenta  da 
Itália. 

—  Figuradamente:  Dar,  ou  prometter 
Veneza;  dar  grandes  cousas,  e  thesouros. 

VENEZIANO,  A,  adj.  e  a.  De  Veneza, 
natural  de  Veneza. 

VENGALA,  s.  /.  Vid.  Bengala. 

-{-  VENHO.  Fúrma  do  verbo  vir  na  pri- 
meira pessoa  do  singular  do  presente  do 
modo  indicativo.  Vid.  Vir. 

E  agora  venho  a  das- 

Conta  do  bem  passado 

A  esta  triste  vida  e  longa  ausência. 

Quem  pode  imagiuar 

Quhouvesse  em  mi  peccado 

Diguo  d'uma  tão  grave  penitencia? 

Olhae  que  he  consciência 

Por  tão  pequeno  erro. 

Senhora, tanta  pena. 

CASI.,    CAXçlo  6. 

Venho,  Soliso,  a  ti  com  hum  cuidado. 
Que  todo  m'entrÍ3tece  ;  e  com  grão  medo 
De  grão  mal  sobre  nós  inopinado ; 
Vês  tu  como  está  agora  este  arvoredo 
Triste  e  pezado,  lúgubre  o  sombrio? 
Como  o  vento  paicee  que  está  quedo  ? 

IDEU,    ÉCLOGA   lÕ. 

VÉNIA,  s.  /.  (Do  latim  vénia).  Licen- 
ça, permissão,  concessão.  —  Citar  com 
vénia. 

—  Fazer  veaia ;  em  certos  actos,  pedir 
licença  aos  professores  e  mestres  para  di- 
zer :  pedir  vénia. 

— ■  Cc«i  vénia;  com  perdão,  semoffensa. 

VENIAGA,  s.  /.  Termo  da  Ásia.  Mer- 
cadoria vendiveí. 

■ — Levar  veniaga;  trazer  veniaga;  le- 
var, trazer  piara  commercio.  —  «íso  qual 
bem  largamente  nos  podíamos  aparelhar, 
e  j)rovar  de  tudo  o  de  que  tivéssemos 
necessidade,  na  entrada  do  qual  estava 
huma  aldeã  pequena  que  se  cliamava 
Xamoy,  povoada  de  pescadores,  e  de 
gente  pobre,  mas  que  daly  a  três  le- 
goas  pelo  rio  acima  estava  a  cidade  onde 
avia  muyta  seda,  almizcre,  porcelanas,  a 
outras  sortes  de  fazendas  que  de  veniaga 
se  levavão  para  diversas  partes.»  Fernão 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.  55. 


902 


VENT 


VENT 


VENT 


VENIAL,  adj.  2  (jcn.  (Do  latim  venta- 
lis).  <.^ne  c  (JÍL,'no  <le  penlãi),  fiillamlo  dos 
pecca'lo'<  lii^eiroi  quu  não  jirnutaiii  a  pur- 
da  <la  grm^ií,  imu  opposirão  iioi  peccados 
moHaiis  (juc  a  fazem  perder. 

—  Diz-so,  na  linguagem  popular,  das 
faltas  ligeiras. 

—  Peccado  venial;  pccoado  que  n2o 
mata  a  alina,  nem  se  pune  com  penas 
oternaí*. 

VENIALIDADE,  «.  /.  O  caracter  do  que 
é  venial. 

—  Peccado  venial. 

—  Figiu-adamentc:  Eiro  leve,  descuido 
periloavel. 

VENIALMENTE,  ndv.  (De  venial,  e  o 
sullixo  «meuten).  D."  um  modo  venial. 

—  Fccair  venialmeute ;  não  mortal- 
mente. 

—  Digno  do  indulgência. 

—  Por  graça,  pa^^atempo. 

—  Dizer  uhjama  cousa  venialmente ; 
dizel-a  sem  intento  de  oftender. 

VENIDA,  *.  /.  — Idas  e  venidas  ;  idas  c 
vindas,  diligencias. 

—  Ataque,  ou  golpe  para  ferir  no  jogo 
da  espada. 

—  Termo  de  milicia.  Surpreza  do  ini- 
migo,  ataque  imprevisto.  Vid.  Avenidas. 

VENIFLUO,  A,  adj.  (Do  latim  venijluu»). 
Que  corre  }>Ldaa  veias.  —  Saiijue  veni- 
fluo. 

VENOSO,  A,  adj.  (Do  latim  vtnosus). 
Termo  de  anatomia.  Que  tem  veias;  da 
natureza  das  veias;  que  as  «.•ompõe. 

f  VENS.  Forma  do  verbo  vir  na  segun- 
da pessoa  do  singular  do  presente  do 
modo  indicativo.  Vid.  Vir. 


E  df!  t.iinanho  golpe  amoi-tccido 
Inclina  a  frente...  como  ao  pusâíra, 
Fecha  languidamente  os  olhos  triãtca. 
Anciaudo  o  nobre  conde  su  approxiuia 
Do  loito...  Ai!  tarde  veiis.  auxilio  do  homem. 
aiBUETT,  CAMÕES,  cant.  10,  cap.  23. 


VENSI.  Termo  antiquado,  por  bem  si. 
ou  oatriisiin. 

VENTA,  s.  /.  O  buraco  do  nariz,  dos 
homens  e  dos  animaes. 

VENTÃA,  s.  f.  Vi  1.  Venta,  e  Ventam. 

VENTAGEM,  ou  VANTAGEM,  s.f.  Dian- 
teira. 

—  Levar  vantagem;  ser  de  melhor 
condição. 

—  Lucro,  partido  grande,  mercê,  ac- 
crcscentamonto. 

Ventagem  tendes  de  mi, 
docca  aiuas  que  correia  ; 
poia  fugis  donde  naacoia, 
o  eu  vou  para  onde  nasci. 

rERNÃO   SOHOPITA,   POKSIAS   E   I-R03AS   IME- 

DiTAS,  pag.  25. 

—  <Ser  (Ze  vantagem;  ser  melhor. 

—  Figuradamente:   Melhoria,  superio- 


ridade,   excesso  a  respeito  de  outro,  no 
logar,  ponto,  sitio,  qualidades,  partes. 

—  Levar  vantagem,  m  fazer  vanta- 
gem; avantajar-.se,  exceder. 

—  Tomar  a  vantagem  de  alguém ;  pas- 
sar-se  adiante. 

—  Dar  vantagem  a  ahjuem;  sor-lhe 
inferior. 

—  Fazia  vantagem  a  todas  na  forma- 
tura; era  a  mais  formosa  de  todas. 

—  Fazia  vantagem  a  todos  nos  annos; 
era  mais  velho. 

—  Dar  vantagem  a  algumn ;  rcconhe- 
col-a,  conf(!8sal-a. 

—  ])e  vantagem;   supfrior,  mais. 

—  De  vantagem ;  mais  ou  de  mais, 
além  do  razoado,  e  honesto,  ou  justo 
preço. 

—  De  vantagem;  além  do  seu  valor. 

—  Cousa  de  vantagem ;  aquclla  em  que 
se  dd  excesso,  superioridade,  ou  excol- 
lencia. 

VENTA JADAMENTE,  adv.  Vid.  Avan- 
tajadamente. 

VENTAJADO,  pari.  jju.-^s.  de  Ventajar. 

VENTAJAR.  Vi  1.  Avantajar. 

VENTAJEM.  Vil.  Ventagem. 

VENTAJOSAMENTE,  adv.  (De  ventajo- 
so,  com  o  sulilxo  «mente»).  Com  vanta- 
gem, de  unia  maneira  vantajosa. 

VENTAJOSO,  A,  adj.  Que  traz  vanta- 
gem. 

—  Figuradamente:  Útil,  proveitoso. 
VENTAM.  Vid.  Venta. 

—  Termo  em  uso.  Dizem-se  as  abertu- 
ras das  torres  ou  campanários,  em  que 
estão  apoiados  os  sinos. 

—  Em  03  clássicos  encontra-se  na  si- 
gnificação de  soberba,  elevaqao,  fatui- 
dade. 

—  Loc.  piíov. :  Andar  sempre  com  o 
faro  na  ventam;  cheirando  ou  aventando 
a  boa  hora  de  fazer  nosso  negocio,  e  pro- 
veito ;  de  o  conseguir. 

VENTANA.  Vid.  Ventanilha. 
VENTANEAR,    v.    a.    Abanar,    excitar 
vento. 

VENTANEIRA,   s.  /.  Vento  forte. 
VENTANIA,  í.  /.  Vento  forte. 

SolitAria  Região!  sempre  embuçada 
Em  nóvoaa  ;  tempcstui^aa,  entristecida, 
Foreira  a  i\ntunias  clamoróaaa. 

V.   M.  DO   NASCIMENTO,  09  HARTTBES,  1ÍV.   9. 

VENTANILHA,  «.  /.  Abertura  da  mesa 
do  taco,  por  onde  entra  a  bola.  Vid.  Tru- 
que. 

VENT'APOPA,  ou  VENT'APOPPA,  adv. 
—  L-  a  vent'apopa ;  ir  bem  navegado  de 
vento. 

—  Figuradamente :  Ir  á  vent'apopa ; 
ir  prosperamente  nos  negócios,  e  cou.sas 
da  vila. 

VENTAR,  V.  n.  Haver  vento,  assoprar 
o  vento. 

—  Ventar  de  rosto,  ou  pelo  oiho ;  pela 
proa,    contra  o   rumo  que  se  quer  levar. 


-^  Figuradanient'- :  Ventar  de  ro$to, 
ou  pelo  olho;  ir  mal. 

—  Figuradamesito  :  tíe  lhes  ventasse  ; 
se  tivessem  favor,  boa  conjunctura. 

—  Ventou-lbe  a  fvrtuna;  foi  lhe  pros- 
pera. 

—  Vid.  Aventar. 

—  V.  a.  As-oprar. 

—  Figuradamente:  Favorecer,  animar, 
dar  forças. 

—  Ventar  sanijue.  Vid.  Aventar. 
VENTAROLA,   «.  /.  Abano,  ventilador, 

instrunn  iito  de  fazer  vento. 
VENTE,  part.  act.  de  Vêr. 

—  Loc. :  Fazer  vente ;  tomar  palpá- 
vel, evidente. 

—  S.  plur.  Prophetas,  judeus. 
VENTENARIO,  «.  m.  Vid.   Vinteneiro, 

juiz  de  vintena. 

VENTIGENO,  A,  adj.  Termo  de  poe- 
sia. Qu'-  ppiiluz  vento. 

VENTILABRO,  ».  «i.  (Do  latim  wfti/i- 
labrum).  Instrumento  ile  apartar  ao  ar 
corrente  a  palha  miúda  do  grão  trilhado 
na  fira. 

VENTILAÇÃO,  s.  f.  (Do  latim  venti- 
latio).  Operação  que  tem  por  objecto  en- 
treter a  pureza  do  ar  n'um  recinto  fe- 
chado, e  remediar  aos  perigos  do  ar  cor- 
rompido. 

—  ExposiçSo  ao  ar  livre. 

—  Figuradamente :  Ventilação  da  ques- 
tão; discussão. 

VENTILADO,  pnrt.  pass.  de  Ventilar. 
—  .VaAí  //.,/(  ventilada. 

VENTILADOR,  «.  vi.  Instrumento  em- 
pregado para  renovar  o  ar  d 'um  logar 
fechado  qualquer,  e  miSrmente  das  habi- 
ções  do  homem  e  dos  animaes. 

—  Machina  destinada  a  produzir  ama 
corrente  d'ar  para  alimentar  o  fogo  d'am 
forno. 

—  Instrumento  para  desembaraçar  cer- 
tas substancias  dos  corpus  ligeiros  que 
ellas  podem  conter. 

VENTILANTE,  part.  act.  de  Ventilar. 
Que  ondeia  ;l  «iiscrição  do  vento. 

—  Que  excita  vento,  renova  o  ar. 
VENTILAR,  f.  a.  (Do  latim  teniilare>. 

Dar   o   ar,    renovar  o    ar  ]X)r   um   meio 
qualquer. 

—  Termo  de  constrncção.  Praticar  as 
aberturas  para  fazer  penetrar  o  ar. 

—  Termo  de  cirurgia.  Moderar  a  cir- 
culação dos  humores  e  do  sangue  com 
sangria  leve. 

—  Alimpar  o  trigo  da  palha  despejan- 
do-© das  peneiras  do  alto,  quando  corre 
vento,   que   leve  a  palha  e  alimpadoras. 

—  Arejar. 

—  Mover  o  vento,  ou  o  ar. 

—  Tratar  alguma  matéria  conferindo, 
ou  disputando. 

—  Ventilar  uma  qxtestão;  discutil-a, 
suscital-a. 

—  FiiTuradamente  :  Dissipar  como  se 
faz  á  palha  eiltrecue,  solta  aos  ventos. 

VENTILATIVO,  A,   adj.  Termo  de   ci- 


VENT 


VENT 


VENT 


903 


rurpa  e  de  alveitaria.  —  Sangria  venti- 
lativa.  Vid.   Ventilar. 

VENTINHO,  s.  m.  Diminutivo  de  Ven- 
to. Vento  ligeiro,  pequena  viração. 

VENTO,  s.  m.  (Do  latim  ventiis).  Cor- 
rentes d'ar  mais  ou  menos  rápidas  occa- 
eionadas  pelas  mudanças  que  sobrevem 
ao  peso  especifico  e  á  elasticidade  do  flui- 
do atmosplierico.  —  Um  vento  violento 
e  impetuoso. 

Os  ventos  eram  taes,  quo  não  puderam 
Mostrar  maÍ3  força  d'impcto  cruel, 
Se  para  derribar  então  vieram 
A  fortissima  torre  de  Babel:    ■ 
Noa  altíssimos  mares,  que  cresceram, 
A  pequena  grandura  d'hum  batel 
Mostra  a  possante  náo,  que  move  espanto. 
Vendo  que  se  sostem  nas  ondas  tanto. 
CAM.,  tus.,  cant.  6,  est.  74. 


Ali  o  poder  de  muitos  inimigos. 
Que  o  grande  esforço  s6  com  força  rende, 
Os  ventos  que  faltaram,  e  os  perigos 
Do  mar,  que  sobejaram,  tudo  o  offende. 
IBIDEM,  cant.  10,  est.  30. 


— -  «No  qual  estivemos  cinco  dias  sur- 
tos, por  nos  não  servir  o  vento,  e  nelles 
o  Mouro  e  eu,  por  cõselho  de  alguns  mer- 
cadore.s  da  terra  fomos  ver  o  Rey,  cõ 
huma  odiá  ou  presente  (como  lhe  nós  cá 
chamamos)  de  algumas  peças  suficientes 
a  nosso  propósito,  o  qual  nos  recebeu 
com  mostras  de  bom  gasalhado.»  Fernão 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.  19. 
—  «E  seguindo  nós  com  este  propósito 
nosso  caminho,  sem  podermos  effeituar 
este  miserável  intento,  que  então  esco- 
lhíamos por  menos  mao,  e  menos  traba- 
lhoso, nos  saltou  o  vento  ao  Nornoroeste 
ja  sobola  tarde  com  que  os  mares  ficarão 
taõ  cruzados,  e  tão  altos  na  vaga  do  es- 
carceo,  que  era  cousa  medonha  de  ver. » 
Ibidem,  cap.  79. 


O  nobre  Acefarcão,  que  entende  e  estima 
Quanto  hum  perigo  tal  deve  estimar-se, 
Da  Rainha  e  perigo  assi  o  lastima. 
Que  o  faz  do  seu  perigo  descuidav-se : 
Aquella  Attribulada  gente  anima, 
Qu'então  ja  começava  a  desmaiar-se, 
Mag  pouco  presta  quanto  faz  agora 
Pois  o  vento  e  o  temor  crescem  cada  hora. 

FRANCISCO  DR   ANDR.tDE,  PRIMEIBO   CEBCO   DE   mtT, 

cant.  4,  est.  27. 


—  «O  Ciúme  he  tão  forte,  e  tão  pode- 
roso no  natural  de  muitos  homens,  que 
já  houve  alguns,  diz  Tertuliano,  que  ao 
menor  ruido  que  o  vento  ou  os  ratos  fa- 
zião  á  porta  da  sua  camará  sospeitavSo 
que  suas  molheres  erão  roubadas.»  Ca- 
valleiro  d'01iveira,  Cartas,  liv.  1,  n." 
13.  —  «A  innocencia,  e  a  confiança  que 
a  acompanha  devem  conservar-se  em  tal 
forma  superiores  aos  ruidos  populares, 
que  não  se  movão  mais  a  estes,  do  que 
as  Estrellas  se  movem  aos  ventos  que  ^e 
formão  na  Região  mais  inferior  do  ar.»  Ibi- 


dem, n."  51.  —  «Estavam  a  este  tempo  os 
batéis  em  terra  fazendo  aguada,  e  queren- 
do acudir  à  náo,  não  puderam  sahir  pêra 
fora,  porque  o  vento  fazia  na  boca  do  rio 
mui  grandes  escarceos.»  Diogo  de  Cou- 
to, Década  4,  liv.  5,  cap.  2. 

— ■  Vento   brando ;  vento   fagueiro,    vi- 
ração favorável. 

Parte  esto  Embaixador,  o  mar  navega, 
E  com  favor  do  vento  brando  e  amigo 
Em  breve  tempo  a  Goa  em  salvo  chega 
Sem  receber  do  mar  damno  ou  perigo  : 
Falia  ao  Governador,  nada  lhe  nega. 
Que  isto  nelle  era  ja  desejo  antigo, 
Contente  o  Mouro  o  mar  passa  de  novo 
Para  animar  o  seu  medroso  povo. 

F.  d'andbade,  primeiro  CERCO  DE  mu,  cant.  4, 
est.  75. 


Mas  em  quanto  trabalha  nesta  entrada 
A  profana  bombarda  horrenda  e  fei-a. 
Eu  lá  a  Madrafabat  faço  a  jornada 
Onde  a  frota  infiel  sei  que  mu  espera. 
Esta  estando  ja  assaz  bem  preparada 
Do  que  a  sua  tenção  necessário  era. 
Não  quer  alli  detc--8e  mais  hum'hora, 
Pois  tem  o  mar  e  o  vento  brando  agora. 
IBIDEM,  cant.  20,  est.  14. 

—  Vento  prospero;  vento  favorável. 
—  «E  fazendo  aparelhar  um  navio  man- 
dou metter  nelle  Arlança  sua  filha  acom- 
panhada de  quatro  donzellas  e  outros 
tantos  cavalleiros,  que  com  poucos  dias 
tendo  o  vento  prospero  arribaram  em  um 
porto  perto  do  castello  do  cavalleiro,  on- 
de sahii-am  em  terra  e  caminharam  o 
mais  secretamente,  que  poderam,  te  che- 
gar a  elle.»  Francisco  de  Moraes,  Pal- 
meirim d'Inglaterra,  cap.  114. 

—  Soltar  as  fúrias  dos  ventos  repu- 
gnantes. 

A  ira,  com  que  súbito  alterado 
O  coração  dos  deoses  foi  nhum  ponto. 
Não  solfreo  raais  conselho  bem  cuidado, 
Nem  dilação,  nem  outro  algum  desconto. 
Ao  grande  Eolo  mandão  ja  recado 
Da  parte  do  Neptuno,  que  sem  conto 
Solto  as  fúrias  dos  ventos  repugnantes ; 
Que  não  haja  no  mar  raais  navegantes. 
•AM.,  Lus.,  eant.  6,  est.  35. 

—  Cruzaram,  os  ventos  noroestes.  — 
«As  outras  são  tamanhas  como  a  palma 
de  huma  mão,  pretas  de  fora,  e  muvto 
luzentes  de  dentro,  abrem-se  ao  Sol  em 
lençoes,  e  deitão  de  si  o  aljofre  e  pérolas 
que  tem  dentro;  porem  aquelle  anno  cru- 
saraõ  os  ventos  Xoroestes  mais  cedo  que 
os  outros  annos  passados,  e  a  nao  em 
que  eu  hia  muyto  carregado  de  mercado- 
rias, e  os  ventos  serem  Noroestes  que 
eraõ  pelo  olho  que  naõ  deyxavão  ir  avan- 
te, e  andamos  muvto  tempo  fazendo  vol- 
tas a  liuma  costa,  e  a  outra,  onde  lançá- 
vamos ancora,  e  esperávamos  por  mares, 
eõ  que  algum  caminho  hiamos  avante 
pelo  que  pusemos  tanta  tlemora  que  foraõ 
mais   de   quarenta  dias  em  esta  viagem,  I 


até  huma  Ilha  que  está  junto  da  boca  do 
rio  Eufratres  que  se  chama  Cargem.» 
Tenreiro,  Itinerário,  cap.  57. 

—  Os  ventos  ponteiros.  —  «Os  outros 
Capitães  erão  António  Pereira,  e  Chris- 
tovão  de  Sá;  e  porque  na  costa  da  índia 
teve  a  Capitania  os  ventos  ponteiros,  es- 
garrou,  e  não  podendo  ferrar  Goa,  foi 
tomar  Angediva ;  donde  mandou  aviso  ao 
Viso-Rei  para  o  prover  do  necessário, 
visto  ser-lhe  forçado  invernar  em  aquel- 
le porto.»  Jacintho  Freií-e  d'Andrade, 
Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv.  4. 

—  Ventos  soltos. 


Ventos  soltos  lhes  finjam,  e  imaginem 
Dos  odres,  o  Calypsos  namoradas, 
Harpias,  que  o  manjar  lhe  contaminem. 
Descer  ás  sombras  nuas  já  passadas: 
Que  por  muito,  e  por  muito  que  se  afinem 
N'estas  fabulas  vaãs,  tão  bem  sonhadas, 
A  verdade  que  eu  conto  nua  o  pura 
Vence  toda  grandíloqua  cscriptura. 
CAu.,  i.ns.,  cant.  5,  est.  89. 


—  Vento  bravo ;  vento  do  meio  dia, 
ou  do  oeste,  segundo  as  localidades,  que 
sopra  sem  cobrir  o  ccu  de  nuvens. 

—  Os  ventos  recebem  qualificações  di- 
versas segundo  a  sua  velocidade  ;  os  prin- 
cipaes  são :  vento  fresco,  que  percorre 
seis  metros  por  segundo;  vento  bom  fres- 
co, que  percorre  oito  metros  por  segun- 
do ;  e  vento  impetuoso,  que  percorre  quin- 
ze metros. 

—  O  vento  muda;  a  direcção  do  ven- 
to muda. 

— •  Andar  com  o  vento;  andar  com  ex- 
trema velocidade. 

—  Figuradamente  :  A  todo  o  vento  ; 
seguindo  todos  os  impulsos. 

—  Ventos  subterrâneos ;  ventos  que  se 
formam  nas  concavidades  da  terra. 

—  Os  -quatro  ventos ;  os  quatro  pontos 
cardeaes. 

—  Os  Ventos;  personagens  mythologi- 
cas,  que  tinham  por  funcção  soprar  sob 
o  comniando  de  Eolo,  rei  dos  ventos. 

—  Actores,  que  nos  theatros  e  na  ope- 
ra representam  os  ventos. 

—  Vento  forqado ;  vento  violento  e 
mais  forte  do  que  é  preciso. 

—  Ter  o  vento  em  popa;  ser  favore- 
cido pelo  vento, 

—  Figuradamente:  Ttr  o  vento  em 
pupa;  ser  favorecido  pelas  circumstan- 
cias,  ter  vantagem  sobre  alguém. 

—  Ter  vento  e  maré ;  diz-se  d'um  na- 
vio que  é  inipellido  simultaneamente  pelo 
vento  e  peia  maré  montante. 

—  Figuradamente:  Ter  vento  e  maré; 
ter  todas  as  cousas  favoráveis  para  acer- 
tar em  seus  desígnios. 

—  /)•  contra  vento  e  maré;  ter  o  ven- 
to e  maré  contrários. 

—  Figuradamente  :  Ir  contra  vento  e 
maré;  proseguir  obstinadamente  um  pro- 
jecto apesar  dos  obstáculos. 


904 


VENT 


VENT 


VENT 


—  Ir  negunão  o  vento ;  rej^ular  sim 
navcfíaçito,  scfíiinilo  o  vonto. 

—  Figiiradainento  :  Ir  segundu  v  ven- 
to ;  accomniodar-so  ao  tempo. 

—  Fií,'uradanic!ite  :  liiHuencia  que  fa- 
voreço, ou  que  iircjndica,  como  um  so- 
pro favorável  ou  <l(wfavofavel.  —  O  ven- 
to das  prii.ij)i;ri>l'ules. 

—  O  ar  af^itailo  por  Hlp;imi  ineio  parti- 
cular. —  Fazer  vento   com  um  leipic. 

—  InstrumentoK  de  vento  ;  instrmiion- 
t08  de  musica  em  que  o  som  é  firinailo 
pelo  ar  que  alii  se  introduz. 

—  Termo   popular.   Respiração,  sopro. 

—  Tuniar,  reter  o  vento. 

—  Os  gazes  existentes  no  corpo  dos 
homens  e  dos  animaes. 

—  Diz-se  também  das  emanações  pro- 
venientes d'um  corpo  (jualípier. 

—  Figuradamente:  Cousa  vã,  e  vazia, 

—  Vaidade. 

—  Termo  de  náutica.  Um  vento;  são 
09  */*  '^'^  rumo.  —  Meio  vento  ;  são  '/^. 

—  Um  quarto  de  vento ;  é  ura  rumo 
apartado  do  outro  onze  graus,  e  quinze 
minutos. 

—  Loc:  Levar  o  mesmo  vento;  levar 
o  mesmo  caminho,  o  mesmo  estylo,  for- 
tuna. 

—  Enfunar-se  o  vento  na  vela ;  quan- 
do a  enche. 

—  Cheiro  da  caça. 

—  O  vento  das  vaidades  d'este  «lun- 
do;  o  nada. 

—  Vento  popular;  :x  aura  popular. 

—  Figuradamente :  Agitação. 

—  Figuradamente  :  O  largo  vento  das 
esperanças. 

— -  O  vento  da  bombarda ;  a  impressão 
que  a  bala  faz  no  ar. 

—  Boi  achado  do  vento;  boi  perdido, 
a  que  não  se  sabe  o  dono. 

—  Loc. :  Andar  de  vento  ;  andar  per- 
dido, sem  dono  sabido. 

—  Figuradamente :  Cousa  ligeira  que 
passa  rapiílamcnte. 

—  Vento  teso;  vento  forte,  que  se  le- 
vanta subitamente. 

—  Vento  escaco;  vento  fraco. 

—  Figuradamente:  Emquanto  sentir 
este  vento;  cmquanto  as  cireumstancias 
forem  as  mesmas. 

—  Vento  geral;  que  reina  por  tempos 
cm  uma  costa,  mar,  altura. 

—  Mo(;a  df  vento ;  nos  conventos  de 
freiras,  criada  que  não  tem  ama  certa, 
porém  serve  juntamente  a  muitas. 

—  Pé  de  vento ;  vento  forte,  que  se 
levanta  da  súbito. 

—  Loc.  :  Dar  vento  a  alguém;  louvor 
vão,  quo  ensoberbece,  que  orgulha. 

—  Fallar  vento ;  fallar  sem  funda- 
mento. 

—  Beber  os  ventos  2""'  alguém;  tcr- 
Ihc  muito  an>or,  fa/.er  por  elle  muitos  ex- 
cessos. 

—  LoC:  Commctter  alguma  cousa  pei- 
to a  vento ;  commcttcl-a   como  por  sota- 


vento, com  desvantagem  de  resistência, 
como  a  ave  caçiidora,  que  vac  buscar  a 
Hua  ralé  voando  contra  o  vento  que  a  re- 
tarda. 

—  IJesfazer-ae  em  vento;  desvane- 
cer-»e. 

—  Julgado  do  vento ;  objoctoB  sem 
ilono,  ou  rcpiitidos  sem  dono,  julgados 
para  o  foro  publico. 

—  Vento /resco;  vouto  forte,  que  «e 
levanla  <lo  rej^ente. 

—  Dar  vento;  ajudar  a  sair,  dar  pas- 
sada, passar. 

—  O  vento  da  fortuna ;  a  aura,  o  favor. 

—  Termo  de  artiliíeria.  Vento  do  ca- 
iihão ;  a  maioria  quo  tom  o  diâmetro  da 
bocca  lia  peça  a  respeito  do  diâmetro  da 
bala ;  folga  da  bala. 

—  Vento  de  cima;  vento  da  torra. 

—  Figuradamentt):  Dar  o  vento  na 
corda;  dar  á  douda,  chegar  a  veneta  de 
doudice. 

—  Vento  feito;  vento  durável,  perma- 
nente, o  favorável. 

—  Direito  do  vento ;  direito  de  fazer 
arrematar  para  si  os  gados  do  vento,  a 
que  não  saiu  dono. 

—  Achado  do  vento  ;  diz-se  do  qual- 
quer objecto  que  alguém  encontra  sem 
dono  conhecido. 

—  Cào  de  bum  vento;  bom  ventor,  que 
toma  o  faro  da  caça,  o  a  descobre. 

—  O  vento  da  vida;  a  vida  que  passa 
como  o  vento. 

— -  Bi^sta  do  vento  ;  diz-so  a  que  se  en- 
contra sem  doiu)  conhecido. 

—  Cervo  prompto  no  vento ;  o  que  toma 
bem  o  faro  dos  cães  para  lhes  fugir. 

—  Direito  do  vento ;  direito  d<í  fazer 
suas  as  cousas  achadas  sem  dono  conhe- 
cido. 

—  Trazer  do  vento  ;  diz-se  de  qualquer 
objecto  que  alguém  encontra  sem  dono 
conhecido. 

—  Mover-se  com  todos  os  ventos ;  ser 
inconstantissirao. 

—  Loc. :  Furt<ir  o  vento  u  algucm; 
mettol-i)  em  cousa  de  que  se  sai»  mal, 
por  falta  do  uso,  exercício. 

—  Gados  do  vento ;  dizem-se  aquelies 
que  se  encontram  sem  dono  conhecido. 

—  Mostrar  alguém  o  vento  ^ii<í  traz; 
mostrar  os  seus  intentos. 

—  Adágios  e  pkovekbios: 

— Se  chove,  chova;  se  neva,  neve; 
quo  se  não  venta,   não  faz  mau  tempo. 

—  Com  vento  alimpam  trigo,  e  os  vi- 
cies com  castigo. 

—  A  quem  Deus  quer  bem,  o  vento 
lhe  apara  a  lenha. 

—  Do.  caldo  requentado,  e  de  vento  de 
buraco,  guardar  d  elle,  como  do  diabo. 

—  Tem  tento,  quando  te  der  no  rosto 
o  vento. 

—  Logar  do  vento,  logar  som  repouso. 

—  Vento  o  ventura,  pouco  dura. 

—  Tudo  é  vento,  se  nào  La  rei,  ou 
prior  cm  convento. 


—  Quando  Deiu  quer,  com  todos  os 
ventos  chove. 

—  O  homem  ande  c<mi  teuto,  e  a  mu- 
lher não  lhe  toque  o  vento. 

—  Vae-Bo  o  tempo,  c<imo  o  vento. 

—  Mulher,  vento  e  ventura,  a-tiulia  se 
muda. 

—  Amigo  de  bom  tempo,  muda-oe  com 

0  vento. 

—  Tempo  faz  tempo,  e  chuva  traz 
vento. 

—  Alto  mar  o  não  de  vento,  nilo  pro- 
mette  seguro  tempo. 

—  M.iidiS  ruiva,  ou  vento,   ou  chuva. 
VENTO,  t.  m.   Peça  acharoada  da  Chi- 
na, COMI  uni  escri|itorio,  o  uma  só  porta. 

VENTOINHA,  s.  f.  Bandeirinha  de  vér 
a  ilirceçào  do  vento,  que  se  muda  com 
elle. 

—  Figuradamente:  Plur.  Pessoas,  for- 
tunas inconstantes,  mudáveis, 

VENTOR,  í.  m.  Cào  de  bom  faro,  que 
descobre  e  rasteja  bem  a  caça,  e  a  le- 
vanta ;  o  sabujo  segue-a. 

VENTOSA,  s.  f.  Vaso  de  metal,  ou  vi- 
dro, cujo  ar  interno  se  rarefaz  por  meio 
de  estopa  queimada,  e  applicando-so  pela 
boeca  á  carne  prende  n'ella,  dilatando- 
po  o  ar  interno  do  corpo,  por  encontrar 
menor  resistência  no  da  ventosa;  appli- 
cam-semuitas  vezes  sobre  sarjas,  e  n'e88C 
caso  se  denominam  ventosas  sarjadas. 

—  Dá-se  tiimbem  este  nome  aos  barre- 
tes dos  jcsuitas,  pelo  feitio. 

VENTOSIDADE,  s.  f.  (Do  latim  vento- 
sitas,  de  ve)ti'isus\.  Vapor  ventoso  no 
corpo  dos  animaes. 

—  Ventosidade  dos  intestinoB;  ar  que 
sáe  pelo  anus  sem  barulho. 

—  As  feridas  de  ventosidade;  as  feri- 
das do  estoniasTo;  Hato,  arrotos. 

VENTOSINHO.  Diminutivo  de  Ventoso. 

VENTOSO,  A,  adj.  (Do  latim  cetUosus). 
Quo  está  sujeito  aos  ventos.  —  Plaga 
ventosa.  —  --1  primavera  e  o  outomtio  são 
estações  ventosas. 

—  Que  tem  a  apparencia  de  vento. 

—  Que  produz  ventos,  flatuosidades. 

—  Que  é  cau3a<lo  pelos  ventos.  —  Có- 
lica ventosa.  —  Dotnçaí  ventosas. 

—  Figuradamente :  Vaidoso,  vão.  — 
Parvos  ventosos.  —  Lingua  ventosa. — 
Ambiqão  ventosa. 

—  Que  vôa  como  o  vento,  ou  se  move 
n'elle. 

VENTRAL,  adj.  2  gen.  (Do  latim  ren- 
tralis,  de  venter).  Temio  de  anatomia. 
Que  pertence  ao  ventre. 

—  Termo  de  cirurgia.  Hérnia  ventral ; 
hérnia  que  se  faz  nas  paredes  do  abdó- 
men . 

—  Termo  de  historia  nattiral.  Barba- 
tanas veutraes ;  barbatanas  collocadas  no 
ventre. 

—  Termo  do  botânica.  Sutura  ventral; 
linha  formada  pela  approximaçâo  das 
duas    bordas    da  tolha  carpellar  dobrada 

1  ou  enrolada  sobro  si  mesma. 


VENT 


VEN^ 


VENT 


905 


VENTRE,  s.  VI.  (Do  latim  venter).  A  ca- 
vidaue  do  corpo  que  contém  o  estômago 
e  os  intestinos.  —  Ter  mal  no  ventre.  — 
Ventre  inchado.  —  «E  respondendo  á  se- 
gunda proposição  contra  aqiielles  que  di- 
zi<ào  que  losro  viria  outro  tremor  e  que  o 
mar  se  levantaria  a  '2h  de  Fevereiro,  di- 
go, qu3  tanto  qu-,  Deos  fez  o  homem 
mandou  deitar  bum  pregão  no  paraiso 
terreal,  que  nenhum  seraphim  nem  anjo 
nem  archanjo,  nem  homem  nem  mulher, 
nem  sancto,  nem  sancta,  nem  sanctifica- 
do  no  ventre  de  sua  mãe,  não  fosse  tào 
ousado  que  se  entremettesse  nas  cousas 
que  estào  por  vir.»  íill  Vicente,  Obras 
varias. —  «Na  qual  visitação  o  menino 
encerrado  no  ventre  de  sancta  Isabel  foy 
cheo  do  Spirito  sancto,  e  lhe  foy  dado 
sobrenaturalmente,  conhecer  quem  era 
aquella  a  Senhora  que  vinha  visitar  sua 
mãv;  e  quem  trazia  no  ventre.  Feilo  qual 
se  alegrou  e  deu  saltos  de  prazer  no  ven- 
tre de  sua  mãy.»  Frei  Bartholomeu  dos 
Martyres,  Catecismo  da  doutrina  christã. 

—  Barrifra. 


O  cadáver  esquálido  na  terra 

Jaz,  ou  no  ventre  da  medonha  Hyêna  ; 

Nenhuma  pia  mão  i^ous  olhos  fecha, 

Nenhuma  bocca  os  lútimoâ  suspiros 

Lhe  toma,  e  lhe  conserva:  assim  nos  bosques 

Viveo  por  muitos  séculos  o  homem. 

J.    Á..    DE   5IACED0,   MIDIIAÇÃO,   Cailt.    1. 


—  «Dietas  estas  palavras,  o  cavalleiro 
negro  cravou  as  esporas  no  ventre  do 
ginete  e  repetiu:  avante!»  Alexandre 
Herculano,  Eurico,  cap.  lò. 

—  A  parte  em  que  se  formam  as  crean- 
ças,  os  lilhos  do  animal,  onde  se  passa  a 
gestação,  fuliando  das  fêmeas  dos  ani- 
maes,  e  (ias  mulheres.  Os  filhos  em 
quanto  estão  encerrados  no  ventre  de  sua 
mãe.  —  «Neste  Domingo  Irmãos,  e  nos 
mais  que  se  seguem  atee  a  festa  do  Na- 
tal celebra  a  Sancta  Madre  IgTeja  o  altis- 
8Ímo  e  marauilhosissimo  mysterio  da  En- 
carnaçam  do  Filho  de  Deos,  quando  quis 
do  Ceo  decer  aas  terras,  e  tomar  carne 
humana  no  ventre  da  Virgem  sagrada 
pêra  nos  saluar.»  Frei  Bartholomeu  dos 
Martyres,  Catecismo  da  doutrina  christã. 

—  Sobre  o  ventre  ;  deitado  paia  a  parte 
de  diante  do  corpo. 

—  Receptáculo  dos  alimentos  e  das  be- 
bidas. 

—  Este  hymetn  faz  do  seu  ventre  um 
deus;  o  ventre  é  tudo  para  elle. 

—  O  ventre  considerado  relativamente 
ás  funcçòes  d'evaeuação  que  elle  preen- 
che.—  Ojluxo  du  ventre. 

—  O  ventre  considerado  relativamente 
á  proeminência  que  apresenta.  —  <)  ven- 
tre  incommoda-o. 

—  yj'f(t.i'o- ventre  ;  parte  inferior  do  ven- 
tre. —  Uma  pancada  no  íirti.ro-ventre. 

—  Teruio  de  jurisprudência.  Curador 
ao  ventre ;  curador  que  se  nomeia  á  crean- 

TOL.  V. 114. 


ça,    de   que  uma  mulher  está  gravida  na 
occasiào  do  fallecimento  do  marido. 

—  Figuradamente :  Parte  a  mais  larga 
de  um  vaso. 

—  Figuradamente:  A  parte  ôca  e  in- 
terior de  ura  corpo  qualquer. 

—  Termo  de  physica.  Nome  dado  aos 
pontos  em  que  as  vibrações  apresentam 
a  maior  amplitude. 

—  Termo  de  anatomia.  Parte  media  e 
inchada  dos  músculos. 

—  Termo  de  historia  natural.  Nas  con- 
chas, a  parte  mais  grossa  da  superficie 
exterior  d'un)a  válvula. 

—  Bordo  inferior  ou  abdominal  das 
conchas  univalves. 

— •  Bojo  do  vaso,  concavidade  da  lapa, 
caverna. 

—  Figuradamente:  Prenhez,  parto, 
gravidez. 

—  O  Jilho  segue  o  ventre ;  fica  da  con- 
dição civil  da  màe;  e  é  iivre  ou  escravo, 
confoi'me  ella  fôr  livre  ou  escrava. 

—  Ventre  do  dragão;  na  lua,  são  os 
dous  pontos  da  orbita  em  que  a  lua  tem 
a  máxima  latitude,  e  dista  90  graus  dos 
nodos,  ou  nós. 

—  Égua  de  ventre  ;  égua  para  cria- 
ção. 

—  Adágios  e  peoveebios  : 

—  Duas  ceias  eia  uui  ventre. 

—  Meu  ventre  cheio  sequer  de  feno. 

—  iluito  vae  em  dar  couce  em  ventre 
de  dona. 

—  Não  ha  paz  entre  a  gcDte,  nem  en- 
tre as  tripas  do  ventre. 

—  Mal  haja  o  ventre  que  do  pão  co- 
mido se  esquece. 

—  U  que  é  bom  para  o  ventre  é  mau 
para  o  dente. 

—  Cento  de  um  ventre,  cada  um  de 
sua  mente. 

—  As  tripas  pelejam  no  ventre. 

—  U  ventre  ensina  as  pegas,  beijo  as 
mãos  a  vocemecê. 

—  A  pássaro  dormente  tarde  entra  o 
cevo  no  ventre. 

—  Pão  quente,  muito  na  mão  e  pouco 
no  ventre. 

—  Agua  fria  e  pão  quente,  nunca  fi- 
zeram bom  ventre. 

VENTRECHA,   s.  f.  Vid.  Ventrisca. 

t  VENTRICULAR,  adj.  2  gen.  (Do  la- 
tim ventriculus).  Termo  de  anatomia. 
Que  se  refere  aos  ventrículos.  —  Capa- 
cidade ventricular. 

—  Adherencias  ventriculares,  ou  pe- 
ricardicas  ;  aquellas  que  se  estabelecem 
entre  o  pericárdio  parietal,  e  o  da  super- 
ficie do  coração. 

VENTRÍCULO,  s.  m.  (Do  latim  ventri- 
culus, de  venter).  Termo  de  anatomia. 
Capacidade  particular  a  certos  órgãos. 
—  «Entre  os  estomachicos  convém  a  pi- 
menta, tomando  alguns  graons  delia  in- 
teira,* ou  mal  pizada  ;  porque  consome 
as  cruezas  no  ventrículo ;  a  almecega,  e 
o    seu    espií-ito ;    a   csseucia    do   pao    de 


Aguila ;  o  espirito  de  vitríolo  cephalico  ; 
e  outros.  No  mesmo  tempo  se  borrifará 
levemente  a  Cabeça  com  agoa  de  rozas; 
e  os  testículos  se  introduzirão  em  agoa 
fria  mixturacía  com  vinagre.»  Braz  Luiz' 
d'Abreu,  Portugal  medico,  p.ig.  215,  § 
224. 

—  Ventrículos  do  coração ;  as  duas 
grandes  cavidades  que  se  seguem  ás  au- 
rículas ;  a  direita  envia  o  sangue  venoso 
aos  pulmões,  e  a  esquerda  o  sangue  arte- 
rial a  todo  o  corpo. 

—  Ventrículos  do  cérebro ;  nome  dado 
a  quatro  cavidades  que  se  encontram  no 
interior  d'este  órgão. 

—  Absolutamente  :  O  estômago.  —  Os 
ruminantes  ftm  muitos  ventrículos. 

—  Ventrículo  succenturiado ;  porção 
do  duodeno  das  aves  que  é  rodeada  pelo 
peritoneo,  e  que  é  bastante  largo  para 
se  assiujiiliar  a  um  segundo  estômago. 

VENTRILOQUIA,  s.  /.  Faculdade  de 
ser  veutriloquo. 

—  Arte  do  veutriloquo. 
VENTRILOQUIO,   A,  s.    Individuo   que 

tem  a  laculdade  de  modificar  sua  voz  na- 
tural, de  a  abafar  á  saída  da  larvnge,  du- 
rante uma  expiração  lenta,  graduação, 
de  sorte  que  esta  voz  parece  vir  d'uma 
distancia  mais  ou  menos  afastada;  julga- 
va-se  outrora  que  estes  indivíduos  falla- 
vani  do  ventre. 

VENTRILOQUO,  ou  VENTRILOCO,  A, adj. 
(Do  latim  veiitriloquus,  de  venter).  Que 
fiilla  arrancando  a  voz  do  estômago.  — ■ 
Mulher  ventriloqua. 

VENTRiNHO,  s.  m.  Diminutivo  de  Ven- 
tre. Ventre  pequeno. 

VENTRIPOTENTE,  adj.  2  gen.  (Do  la- 
tim venter,  e  jjotens).  Entregue  aos  pra- 
zeres do  estômago,  de  ventre  potente. 

—  Que  tem  o  ventre  mui  grosso. 
VENTRISCA,   s.  /.  A   posta   do    peixe 

imniedata  á  cabeça;  é  a  melhor,  a  mais 
.saborosa  e  estimada ;  a  ventrecha. 

VEKTRUDO,  A,  adj.  Que  tem  um  gran- 
de ventre,  barrigudo. 

—  Figuradamente :  Inchado,  forman- 
do uma  espécie  de  ventre.  —  O  tubo  do 
caJyx  e  o  da  coroUa  podevi  ser  ventru- 
dos. 

VENTRUSIDADE,  s.  f.  Desenvolvimen- 
to excessivo  do  ventre. 

VENTUIRA,  s.  f.  Termo  antiquado. 
Vid.  Ventura. 

VENTURA,  s.  /.  (Do  latim  venturus, 
a,  um).  Risco,  sorte,  perigo,  fortuna 
boa  ou  má.  —  «Floramão  lhe  respondeu: 
Quem,  senhor,  a  teve  sempre  tão  má  em 
tudo,  que  esperança  lhe  pode  ficar  de  a 
ter  n'isto  boa  ?  Eu  farei  o  que  me  vossa 
alteza  manda,  minha  ventura  faça  o  que 
quizer,  que  já  me  não  pode  fazer  mais 
triste  do  que  o  sou  ha  muitos  dias.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Iugla- 
terra,  cap.  91. 

—  Este  homem  é  todo  boa  ventura  ;  c 
sempre  jovial,  alegre. 


906 


VENT 


VENT 


VENT 


—  Arriscar  a  vida  e  honra  á  ventu- 
ra da  haver ;  expôl-a»  á  boa  oa  luá  sor- 
te.—  «E  (lostiw  niiiherias  ha  por  lá  mui- 
tas f^uizadas  com  tacs  escabechos,  que  lie 
necessário  muito  ardil  para  Ibes  dar  na 
tempera:  o  ainda  quo  ha  quem  a  enten- 
da, assim  como  ha-  quem  a  fifosto,  na3 
ha  quem  a  declare,  por  se  naõ  encarre- 
gar do  dos<íosto3,  arriscando  a  vida,  o  a 
honra  á  ventura  de  haver,  qu(;ni  fa^a 
prevalecer  suas  mentiras  contra  minhas 
verdades.»  Arte  de  furtar,  cap.  10. 

—  Pela  ventura  ;  om  vez  do  por  ven- 
tura. 

—  Pôr  em  ventura ;  pôr  em  sorte,  em 
caso  duvidoso,  em  risco  manifesto. 

—  Boa  sorte,  dita,  boa  fortuna. 

Já,  Bom  bem  certa  e  segura 
Quo  o  castigo  he  cousa  cava. 
Leixar-to  quero  il  ventura, 
Que  ás  vozes  o  tempo  cura 
O  que  a  razão  não  aara. 

ou.  VICENTE,   FARÇAS. 

As  ondas  navegavam  do  Oriento 
Ja  nos  mares  da  índia,  o  enxergavam 
Oa  tlialamos  do  sol,  que  nasce  ardente; 
JA,  quasi  8CU8  desejos  se  acabavam.  , 

Mas  o  mau  do  Thyonco,  f[ue  na  alma  sente 
As  rentiiran  que  então  se  aiiparelhavam 
A'  gente  Lusitana,  d'clla8  dina, 
Ardo,  morre,  blaspliema,  c  desatina. 
CAM.,  i.rs.,  cant.  G,  est.  G. 

Quiz  afiui  sua  ventura  que  corria 
Após  Ephyre,  exemplo  do  bellcza. 
Que  mais  caro  que  ns  outras  dar  queria 
O  que  deo  para  dar-se  a  natureza. 
Ja  cansado  correndo  lhe  dizia  : 
O  formosura  indigna  de  aspereza, 
Pois  desta  vida  te  concedo  a  palma. 
Espera  hum  corpo  de  quem  levas  a  alma. 
iBiDEu,  cant.  9,  est.  76. 

He  certo  tal  casamento  ? 
Tenha-o  por  cousa  segura. 
Oh  grande  acontecimento ! 
Dest'arte  sabe  a  ventura 
Aguar  hum  contentamento  ! 
ciii.,  FiLODEMo,  act.  4,  SC.  G. 

—  «E  porque  a  moradia  que  então  era 
custume  dar-se  nas  casas  dos  Príncipes, 
mo  não  bastava  para  minha  sustentação, 
determiuoy  embarcarme  para  a  índia, 
inda  quo  com  ]ioueo  remédio,  ja  offereci- 
do  a  toda  ventura  ou  má  ou  boa,  que 
mo  soccodesse.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  1.  —  «Este  teve  uma 
filha,  que  a  natureza  estromadamente  fez 
formosa.  Quiz  sua  ventura  que  antre 
muitos  cavalleiros  que  a  serviam  como  a 
luais  formosa  dama  daciuelle  tempo,  se 
namoraram  delia  dous  grandes  amigos, 
vassallos  de  sou  pai :  um  so  chamava 
Brandimar,  c  outro  Artibel.»  Francis- 
co de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  90. 

O  negro  monstro  da  sedenta  Inveja, 
Qu'o  berilo  tem  uo  Tartjiro  maldito, 


Dos  ermos  nunca  o  moradar  bafeja. 
Nem  14  lho  escuta  o  pavoroso  grito: 
KUa  ati(;a  a  ambi(;ào,  c  ella  forceja 
Km  dar  a  ímpios  termo  indofiiiito, 
Com  cila  da  ventura  o  homo'  diverge, 
L)o  erro,  o  mal  uo  pílago  «o  imerge, 
j.  A.  nu  MACKDu,  o  oBiKNrK,  Cant.  7,  est.  U). 


Quo  disputaste  As  U\tb.í  rebclladas ; 
Fugio-te  qual  relâmpago  a  ventura, 
Qual  ofémora  flor,  ((Uo  brota,  o  murcha : 
Assim  vemos  nascer  na  Primavera 
Kosplandi.ceiítn  o  Sol,  risonho  o  dia, 
Quo  súbito  negrume  em  nuvoíri  densa 
Aos  olhos  rouba  a  luz,  o  a  paz  aos  ares. 

IDEM,  MKDITAÇÃO,  Caut.    1. 

Da  Natureza  suflbcando  os  gritos. 
Na  privarão  do  mal  ventura  encontra 
Consular  Orador:  esto  o  seu  brado, 
Quando  outro  mil  liyp'ithe8es  suspenso 
Eloquente  Académico  disputa. 


LA  nos  dirige  solida  esperani;a. 

Com  seu  lume  immort:il  nos  rege,  c  escuda 

Até  que  surja  o  decrctorio  dia 

Do  hum  eterno  prazer,  o,  immerso  o  Justo 

No  seio  do  Immortal,  som  susto  gozo 

Da  que  buscou  celestial   Ventura, 

Que  morada  não  tem  no  térreo  Globo, 

Ondo  ílptisinismo  he  fábula  sonhada, 

E  somente  he  feliz  quem  tom  virtude. 


He  voz  da  Natiireza  esta  conquista, 
Iluma  apparencia  vã,  hum  vão  fantasma 
Da  buscada  Ventura,  isto  só  basta 
A'  alma  anhelantc. 


— ■  De  ventura ;  por  acaso,  por  acerto. 

—  Loc. :  Metter  em  ventura;  metter 
eui  sorte,  era  caso  duvidoso,  em  perigo 
do  que  a  sorte  dá. 

—  Por  ventura  ;  por  acaso.  —  «Se  al- 
guns daquelles,  que  ua  dita  Armada 
hajam  d'hir,  acusarem  alguns,  que  ja- 
zem presos,  possam  leixar  seus  Pro- 
curadores, que  acusem  os  ditos  presos, 
e  sejam  obrigados  de  o  assy  fazerem ; 
porque  seria  grande  prejuízo  aos  que  ja- 
zem na  cadèa  espaçarem  seus  feitos  os 
acusadores  ataa  sua  tornada:  e  se  per 
ventura  os  ditos  acusadores  nos  leixarem 
Procuradores  pêra  seguirem  suas  acusa- 
ções, se  taacs  feitos  forem,  que  os  Juizes 
devam  tomar  por  parte  da  justiça.»  Ord. 
Affons.,  liv.  5,  tit.  85,  §  1. 

—  Pur  ventura  nossa;  por  felicidade 
nossa,  por  sorte  nossa.  —  «  Um  jiacre 
nos  estava  esperando  á  porta,  e  no  ca- 
minho se  travou  com  outra  earroagem, 
quebrou-so,  mas  por  ventura  nossa  sahi- 
raos  illósos :  somente  o  susto  fez  que  to- 
da estremecida  foi  forçoso  que  entrasse 
n'uraa  loge  onde  a  mercadora  teve  a  con- 
descendência de  me  dar  os  soccorros  ne- 
cessários, e  mandar  busciír  outra  carrua- 
gem, u  Francisco  Manoel  do  Niiseiftiento, 
Successos  de  madame  de  Seneterre. 

—  Por    ventura;    talvez.  — «Traba- 


lhou o  cavaleiro  por  fazer  a  vontade  do 
Britaldo,  e  depoi»  de  a  guardar  tempo 
acomodado,  a  vio  huma  madru^rada,  aca- 
badas as  matinas  estar  orando  na  prava 
do  Rio  Nabaij,  encomendando  por  ventu- 
ra a  Dcos  sua  inocência,  e  pedindoihe 
remodio  à  tribulação  om  que  andava,  e 
como  a  hora,  e  HolidaS  do  lugar,  dessem 
motivo  ao  acto,  arrcmeteo  a  ella.»  Mo- 
narchia  Lusitana,  liv.  G,  cap.  24.  —  «E 
a  isto  nom  contradiz  ser  eu  por  ventura 
agravado  de  vos,  em  cousas  de  que  Vos- 
sa Alteza  mo  de-agravaní  com  mercee, 
honra,  o  acrecentamento  como  eitpero ; 
porque  os  achaques  nom  se  escuBam  an- 
tre hos  Senhores,  e  seruidores  pois  oa  ha 
antre  os  Pais,  e  filhos:  ma«  os  meus  nom 
sam  de  graveza,  nem  qualidade,  que  min- 
guem em  mym  ho  grande  amor,  o  muita 
lealdade,  com  quo  vos  sempre  ey  d'obe- 
decer,  e  servir  em  todo  que  a  vossa  hon- 
ra. Estado,  e  Serviço,  e  bem  de  vossos 
Regnos  comprir. »  Inéditos  d'historia  por- 
tugueza,   tom.  2,  pag.  óá. 


Fonseca  nâo  o  ouvindo  por  ventura, 
Polo  tento  que  tom  na  gente  ímiga. 
Ou  sendo-lho  pesada  cou.sa  e  dnra 
Doixar  o  sou  íogar,  durando  a  briga. 
Do  que  diz  Vasconcellos  pouco  cura. 
Não  lhe  torna  i-csposta,  nem  mitiga 
O  esforço  natural  que  o  cstA  movendo. 
Antes  cora  isto  mais  lhe  vai  crescendo. 

yRASCISCO   D'ASDRAnK,   PltlKEIIO   CEBCO   DR   DIC, 

cant.  10,  est.   122. 


—  Adágios  e  provérbios: 

—  A  leve  ventura  com  diligencia. 

—  Vem  a  ventura  a  quem  a  procura. 

—  O  que  as   cousas  muito  apura,  põe- 
nos  em  muita  ventura. 

—  Vem  ventura,  e  dura. 

—  Vento  e  ventura  pouco  dura. 

—  Ventura  te  dê  Deus,  filho,  que  sa- 
ber pouco  te  ba.sta. 

—  Quando  a  má  ventura  dorme,  nin- 
guém a  desperte. 

—  Quanto   maior  é   a  ventura,   tanto 
menos  é  segui-a. 

—  Quem  está   em  ventura,  a  formiga 
o  ajuda. 

—  A  boa    ventura    de    uns    ajuda  os 
outros. 

—  A  boa  ventura  com  outra  dura. 

—  Dá-me  ventura,  deita-te  na  rua. 

—  Jlais  corre  a  ventura,  que  c«vallo 
ou  mula. 

—  Onde  falta  a  ventura,   diligencia  é 
escusada. 

—  Rei  por  natura,  papa  por  ventura. 

—  A  Deus,  e  á  ventura,    botar  a  na- 
dar. 

—  Quem  em   casa  de   mãe   não  atura, 
na  da  madrasta  não  espere  ventura. 

—  Que  fiandeira   eu  era,  se  ventura 
houvera. 

—  Tive  formosura,    nào  tive  ventura. 

—  A  morte  que  der  a  ventura,  essa  se 
soflra. 


VENU 


VEO 


VEO 


907 


—  Muda-te,  mudar-se-te-ha  a  ventu- 
ra. 

—  Bom  coração  quebranta  má  ven- 
tura. 

—  Mulher,  vento,  e  ventura  asinha 
se  muda. 

VENTDRÃO,  s.  m.  Augmentativo  de 
Ventura.  Grande  fortuna,  grande  ven- 
tura. 

VENTURADO,  part.  pass.  de  Ventn- 
rar. 

VENTURAR.   Vid.  Aventurar. 

VENTUREIRO,  A,  í.  Vid.  Aventureiro. 

—  Adagio  e  pkovekbio  : 

—  A  homem  ventureiro,  a  filha  lhe 
nasce  primeiro. 

VENTURINA,  s.  f.  Vid.  Aventurina. 

VENTURO,  A,  aJj.  (Do  latim  venturus). 
Futuro,  que  ha  de  vir.  —  Christo  ventu- 
ro.  —  D.  Sebastião  venturo  (na  opinião 
de  muitos'). 

VENTUROSAMENTE,  adv.  (De  ventu- 
roso, com  o  sufBxo  «mente»).  De  um 
modo  venturoso. 

—  Com  ventura,  ditosamente. 

—  Tão  venturosamente  ;  com  tanta 
ventura.  —  »  Mas  sobrevindo  Bernardo 
com  a  gente  do  rio  o  rompeo,  e  matou 
por  sua  mào,  tào  venturosamente,  que 
de  todo  este  grande  exercito  de  Barba- 
res escaparão  muy  poucos,  para  levarem 
novas  de  sua  desaventura. »  Monarchia 
Lusitana,  liv.  7,  cap.  11. 

venturosíssimo,  a,  adj.  superl.  de 
Venturoso.  Mui  venturoso.  —  Povoação 
venturosíssima. 

VENTUROSO,  A,   adj.  Arriscado. 

—  Afurtunado,  feliz,  ditoso. 

—  Vid.  Aventureiro,  e  Venturoso. 
VÉNUS,   s.f.   (Do  latim    Vemis,    vene- 

ris).  Divindade  dos  pagãos,  a  mãe  do 
Amor,  e  a  deusa  da  formosura.  —  «Ha 
termos,  diz  aquelle  Poeta  no  Livro  se- 
gundo de  Arte  Amandi,  com  os  quaes  se 
podem  adoçar  os  defeitos  das  molheres, 
chamando-se  morena  á  que  he  mais  ne- 
gra que  pez,  cvmparando-se  a  Vénus  a 
que  he  vesga,  e  a  Minerva  a  que  sofre 
tiricia. »  Cavalleiro  d'01iveira,  Cartas, 
liv.  1,  n."  '33.  —  «V.  S.  lhes  chama  vé- 
nus tão  secamente,  que  julgo  que  se  es- 
queceo  de  que  os  Historiadores  das  deli- 
cias, das  desenvolturas,  das  desordens, 
e  das  deshonestidades  de  Vénus,  não  lhe 
podérSo  negar  jamais  a  autoridade,  o  res- 
peito, e  o  nome  de  Deosa.»  Ibidem,  n.° 
3õ.  —  «Desta  forma  inílue  Vénus  sobre 
os  casos  amorosos,  porque  os  Pagoens, 
submeterão  o  Amor  ao  diminio  daquella 
Deosa.  Mercúrio  preside  á  Eloquência, 
e  ao  Commercio,  Marte  á  Guerra,  e  as- 
sim 08  outros.»  Ibidem,  n."  43. 

—  Termo  de  poesia.  Os  prazeres  de 
Vénus  ;   os  prazeres  do  amor. 

—  Estatua  de  Vénus  ;  a  estatua  que  a 
representa.  —  A  Vénus  de  Medicis. 

—  Vénus  anadyoiiiena  ;  celebre  estatua 
representando  Vénus  saindo  do  mar. 


— -  Por  extensão :  Uma  Vénus  ;  mulher 
d'uma  extrema  belleza. 

—  Encantos,  graças,  bellezas. 

—  Termo  de  astronomia.  Um  dos  sete 
planetas  principaes ;  está  distante  do  sol 
cerca  de  12000000  mvriametros,  e  per- 
corre a  sua  orbita  em  292  dias :  o  volume 
é  pouco  mais  ou  menos  egual  ao  da  ter- 
ra, e  é  o  mais  próximo  do  sol  depois  de 
Mercúrio.  O  povo  dá  a  Vénus  o  nome 
de  estrella  do  pastor.  O  planeta  Vénus 
apparece  algumas  vezes  em  pleno  dia,  e 
em  presença  do  sol. 

—  Termo  de  chimica  antiga.  O  cobre, 
dedicado  ao  planeta  Vénus. 

— ■  Vitríolo  de  Vénus;  sulfato  de  cobre. 

—  Crysta-es  de  Vénus ;  o  acetato  de  co- 
bre. 

—  Monte  de  Vénus  ;  a  proeminência 
abaixo  do  umbigo,  e  sobre  a  natura  das 
mulheres. 

—  O  deleite  sensual  venéreo ;  a  con- 
cupiscência carnal,  o  prazer  carnal. 

—  Termo  de  chiromancia.  Eminência 
na  raiz  do  dedo  da  mão. 

—  Género  de  conchas  bivalves. 
VENUSTADE,  s.f.  (Do  latim  venustas). 

Graça,  elegância. 

—  <írande  formosura. 

VENUSTO,  A,  adj.  (Do  latim  venus- 
tusi.  Jluito  formoso,  engraçado,  elegante. 

—  Figuradamente:    Versos  venustos. 
VEO,  ou  VEU,  s.  rii.  (Do  latim  velum). 

Peça  de  lençaria,  ou  seda  mui  rala,  de 
cobrir  o  rosto,  deixando  vêr  por  ella,  e 
ser  visto  o  objecto   que  cobre. 

Com  seu  exemplo  mostra,  e  noa  descobre 
Que  o  melhor  era  ignoto,  e  que  podímos 
Com  porliado  estudo  d' entro  as  sombras 
Da  magestosa  Natureza  hum  dia, 
Despedaçado  o  véo,  á  luz  traze-lo, 
(Elle  o  caminho  mostra,  e  o  vai  trilhando) 
E  assim  tocarmos  da  verdade  o  termo. 

J.   A.   DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Cant.   2. 

De  baixa  gelosia  me  acenava 
Com  um  cândido  veo,  mais  nivea  e  cândida. 
Formosa  e  breve  mào.  Fluctuando  ao  vento 
O  veo  cahiu,  c  a  destra  desparcce. 

GAERETI,  CAMÕES,  CaUt.  4,  Cap.  3. 

Alfim  no  oceano  se  mergulha  a  lâmpada 
Do  firmamento  máxima.  Descia, 
Como  um  veo,  a  nebrina  sobre  a  serra  ; 
Ja  lhe  toucava  a  frente,  e  ia  ligeira 
Pela  espalda,  insensível  devolvendo. 
Té  lhe  poisar  as  orlas  na  planície. 
IBIDEM,  cant.  9,  cap.  1. 

—  Membranas  subtis,  que  formam  os 
olhos,  apartam  e  contém  os  seus  humo- 
res. 

—  Figuradamente:   O  véo  da  cegueira. 

—  Loc. :  Deitar  o  véo  da  decência 
sobre  os-  objectos  torpes  ;  não  os  tratar  ou 
expor  de  todo  em  todo  nus,  mas  com  co- 
res e  palavras  decentes,  e  quanto  ser  po- 
dem modestas. 

—  Figuradamente  :   Véo  sombrio. 


Immortal  Gralileo,  ao  dia,  âs  Luzes, 

Que  teu  saber  profundo  aos  homens  trouxe. 

Se  oppoz  a  cega  audaz  insipiência ; 

luda  agora  se  oppõe,  qu'hum  véo  sombrio 

Tentou  no  Sena  despregar-te  em  cima. 

J.   A.   DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Caut.    3. 

—  Véo  do  cálix ;  o  panno  de  seda,  ou 
outra  matéria,  com  que  se  cobro. 

—  Véo  pallido  e  mortal;  diz-se  da  phy- 
sionomia  do  moribundo. 

■\  VEO,  por  Veio,  na  terceira  pessoa 
do  singular  do  pretérito  perfeito.  Vid. 
Veio.  —  «Vasco  da  Gama  depois  que  to- 
mou o  pouso  diante  desta  pouoaçào  Mo- 
çambique :  ao  seguinte  dia  em  companhia 
do  Mouro  do  recado  que  o  veo  visitar 
mãdou  o  escriuão  do  seu  nauio  cõ  algu- 
mas cousas  ao  Xeque.»  Barros,  Década 
1,  liv.  4,  cap.  4.  —  «Inuiada  esta  repos- 
ta, quando  veo  ao  seguinte  dia  a  noue 
de  Janeiro  do  auno  de  quinhentos  e  hum, 
em  se  o  sol  pondo,  ex-aqui  começa  de 
apparecer  esta  armada  que  elRey  de  Co- 
chij  dizia  mães  medonha  em  numero  de 
velas  que  poderosa  no  animo  de  quem 
nella  vinha:  porque  seriaõ  ate  sesenta 
velas  de  que  vinte  cinquo  eraõ  nãos  gros- 
sas.» Ibidem,  liv.  õ,  cap.  8. 

depois  veo.  e  morreo 
na  casa  em  que  nasceo, 
em  Sintra,  onde  acabou 
seus  trabalhos,  e  deixou 
gram  filho  que  soboedeo. 

GABCIA  DE  BEZENDE,  MISCELLANEA. 

Vij  la  Princesa  tomar 
bem  a  reues  do  que  veo, 
cousa  muyto  despautar, 
tam  gram  pi-essa,  tal  mudar 
do  tempo,  tam  gram  rodeo. 


—  íE  tanto  que  a  dita  villa  foy  so- 
corrida, e  prouida  como  compria,  el  Rey 
se  veo  a  Cordoua,  e  ahy  esperou  polia 
Raynha,  andando  prenhe  se  foy  de  Me- 
dina a  Toledo,  e  ahy  pario  acerca  da 
Páscoa  a  infanta  dona  Maria,  no  anno 
de  quatrocentos  e  oitenta  e  dous  acerca 
da  Páscoa  de  Resurreição,  e  de  Toledo 
se  foy  a  Raynha  a  Cordoua,  onde  a  In- 
fanta foy  baptizada  na  Igreja  mayor  pol- 
lo  Bispo  da  cidade  com  grandes  cerymo- 
nias.u  Garcia  de  Rezende,  Chronica  de 
D.  João  II,  cap.  35.  —  «Dalli  se  veo  ao 
passo,  onde  achou  muito  refresco  que  lhe 
mandara  el  Rei  de  Cochim,  que  veo  bem 
a  propósito  a  todos,  e  per  os  que  trouxe- 
ram o  refresco,  lhe  mandou  dizer,  que 
esforçasse  porque  elle  speraua  em  Deos 
de  não  tão  sAmente  vencer  el  Rei  de  Ca- 
lecut, mas  ainda  o  captiuar,  e  lho  entre- 
gar preso.»  Damião  de  Góes,  Chronica 
de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  87.  —  «Don- 
de veo  a  dizer  Sam  loam  Chrysostomo, 
que  he  impossiuel  viuermos,  se  em  nós 
os  vicios  nã  morrerem.  Como  nos  pode- 
mos chamar  viuos  estando  nos  vicios  se- 


908 


VER 


pultaflos?  A  alma  <líi  vida  ao  corpo,  e  a 
gniça  (IA  vida  il  alma,  a  qual  .som  graça 
está  morta  sondo  imiiiortaí,  o  o.staiido  ci- 
la morta,  dizso  o  liomom  iiilo  ter  vida,  e 
ficildo  ella  aom  vida,  nílo  viuímilo  aitX 
morto.»  Hoitor  Pinto,  Dialogo  da  Lem- 
brança da  morte,  cap.  7. —  'E  dissclliu  o 
])r()i>licta,  Oisos  Huco.i  ouui  a  palaiira  do 
Deos.  E  após  eUas  o  outras  palaiiras  veo 
o  spirito  .sobri!  ollos  e  alouautarãso  uu- 
berto3  de  carno,  o  ticarn  iiomons  viiio.s. 
Que  capo  lie  esto  cUuo  do  ossoít  fina  loá, 
Boiíílo  o  mundo  cheo  de  pcccadorc.s  V  E 
ttsisi  como  pêra  ae  alouantarum  o.s  ossos  e 
ficarem  liomons  viuoo,  voo  sobrelles  o 
spirito.»    Ibidem. 

VÉOSINHO,  i-.  III.  Diminiitivu  de  Véo. 
Pequeno  véo. 

1.)  VÈR,  V.  a.  Conhecer  os  objectos 
externos  por  meio  dos  olhos. 

Lofjo  fallaiá  por  mondar, 
Como  homo-.n  diinuclla  tuna: 
Jil  Viía  veriel.i  im  serra 
Algiun  gado/.iiilio  andar, 
Não  digo  cu  pêra  o  guardar, 
Sonào  ve-lo-heis  pacer 
E  porá  VQS30  prazer 
Sabereis  assobiar. 

GIL  VICKNrE,    >'ABÇAS. 

—  «Por  certo,  alto  e  poderoso  impera- 
dor, pequena  ó  a  fama  que  do  tua  côrtf 
polo  mundo  se  estende,  pêra  o  muito  que 
merece  ser  estendida  e  espalhada:  por- 
que, ioda  que  com  um  tom  immortal  soe 
nos  ouvidos ;  daquelles,  que  do  teu  se- 
nhorio vivera  arrcdailos,  em  comparay.ão 
do  próprio,  que  agora  estou  vendo,  é 
quasi  n.ida.»  Francisco  de  Moraes,  Pal- 
meirim d'Iuglaterra,  cap.  93. 


Na  própria  noite  deste  próprio  dia 
Que  Roma  irr  as  virgens  nicreceo, 
A  quera  de  Pedro  a  Barca  então  regia 
Revelou  o  que  rege  a  torra  e  Ceo 
Que  martyrio  também  receberia 
Oude  Úrsula  co'as  maia  o  reccbeo : 
Deixa  contente  o  grão  Pontilicado, 
Desejoso  de  ser  martyrisado. 

CAM.,  OITAVAS. 


—  «Cuydamos  muitas  ve/.es  que  vemos 
homens,  e  não  saõ  homens:  nos  homens 
não  vemos  homens,  mas  fantasmas  de  ho- 
mens, e  sepultui-as  de  si  mesmos.  Vemos 
03S08,  e  caueyras,  corpos  mortos,  fraco.-, 
caducos  e  transitórios.  »  lleitoi-  Pinto, 
Dialogo  da  Lembrança  da  morte,  capitu- 
lo 7. 

—  Ob.servar,  examinar,  notar,  —  «  E 
destas  havia  tantas,  que  parecia  impossi- 
vel  poder  havei'  tanta  cria\;ão  em  tão 
pequena  floresta  ;  mas  se  muito  mais  es- 
pantaram de  ver  a  maneira  da  cova,  que 
era  tão  artificiosa  e  ilo  fcintos  repartimen- 
tos  e  WVSJ13  couce;  ta« las,  que  parecia  que 
iil  em  algum  tempo  servira  ^le  apousenta- 
mentu  de  al.sum  grande  honieni.»  Kran- 


VER 

cíhco  de  Moraes,  Palmeirim  dlnglaterra,  I 
ca]).  4'J.  —  «Todo  seu  dc.sijo  ora  ver  m."io  ; 
Albayzar  |iora  hc  partir  delia.  Neste  tem- 
po Constantinopla  estava  l^o  cheia  de  ca- 
valleiros  famosos  o  damas  fermosas  c  mui- 
to loui;iís,  (|ut3  entào  so  cria  que  nella  en- 
cerrava   a    dyr    de    tudo.    Sij  os  dous  ir- 
milos  falleeiam  iU)<  muros  a  dentro,  pêra 
se  afíirmar    que  alli    nllo    faltava    naila.i 
Ibidem,  cap.  DO,  —  «.\flonso  d'Alboquer- 
(pii;  vendo  o  desmando  destes  dous  capi- 
tAes,  ileu  a  andar   rijo  poios   ontreler,  e 
n  iste    .seu    abalar  de    pressa  os   que  iica- 
uào  a  trás    cuidando  ((Ue   era  por  ciiegar 
ao  Cerauic:   come^'Ui'ào    tudus  a   quom  se 
poria  diante,  sem  Allonso  d'Alboqu«)ripie 
os  poder  entreter    por  j;i  ir  tudo    arrom- 
bado.» Barros,  Década  2,  liv.  :'),  cap,  3. 
—  tE  inilo  todos  ao  longo   da  ilha  afas- 
tados da   terra  lirme  fròteira,    iorge  Po- 
ga^'a    capitão    de    huma  earauella,    como 
leuaua  Imm    parao  da  terra  leue,    tomou 
a    dianteira :     e    em    querendo    descobrir 
huma    ponta    que   fazia  a    terra,    deu    de 
súbito    eom   hum    bargantim  de   Mouros, 
que  vinhào   ver  o  que  fazia   a   nossa   ar- 
niada.»   Ibidem.  —  «Pj  màdandolhe   tirar 
com  hum  berço,  para  ver  se  fallavào  mais 
a  propósito,    lhe    responderão  com  cinco 
pilouros,  três  de  falcão,  e  os  dous  de  ca- 
niello,  de  que    elle  e  todos  os  mais    fica- 
rão embaraçados.»  Fernão  Mendes  Piuto, 
Peregrinações,  cap.  -iO. —  «Neste  tempo 
chegou  o  i'romalá  Lluudel  ao  Junco  gran- 
de em  que  hia  Autonio  de  Faria,  e  afer- 
randoo  cõ  dous  arpeos  talingados  em  ca- 
deas    do   ferro    muyto    compridas   o  teve 
atracado  de  popa  e  de  proa,  oude  se  tra- 
vou entre  elíes  huma    briga  muyto  para 
ver,   a  qual  despois    de    durar  espaço  de 
mais  de   meya   hora,  os    inimigos  peleja- 
rão cõ  tanto  esforço  que  António  de  Pea- 
ria se  achou    com  a  luayur    parte  da  sua 
gente   ferida,  o  cõ    isto    por   duaa    vezes 
em  risco    do   ser   tomado.»   Ibidem,  cap. 
GG.  —  «Que    bem  se  mostrava  o  Profeta 
estar  contra  elles   indignado,  pois   sotíria 
vêr  sua  bandeira  ignoniinio.samunte  rota ; 
e  a  estas    considerações  juntavão   outras, 
accusando  a    fortuna    do    General,    e  as 
cousas  da  guerra,  avaliando  como  culpas 
as  desgraças  presentes.»  Jacintho  Freu-e 
d'Andrade,  Vida  de   D.  João  de   Castro, 
liv.  2. 


A  Cidade,  que  vê  dados  em  presa 
Seus  bens  d  hum  duro  imigo,  c  deshum.ano, 
Fica  (pois  mais  não  nóde)  cm  ódio  acesa 
Contra  o  author  deste  mal,  impio  o  tyrauo. 
<">s  Soldados,  que  vêem  que  desta  empresa 
Outrem  leva  o  proveito,  oUes  o  dano, 
Também  se  enchem  dlium  ódio  asâai  furioso 
Contra  hum  tal  Ca  pitão,  tão  cubi^;oso. 

fBASClSCO   D'ANDttAnE,   TSIUEIBO  CKBCO   DK   DIC, 

caut.  13,  est.  fJ. 

N 'outros  postos  também  cstA  batendo, 

Onde  o  tielouro  ao  muro  jieior  trate, 

.Mais  d  luim  grosso  canhão  me^loulio  o  horrendo 

Cujo  furor  &ssola  tado,  o  abate : 


VEK 

Também  alguma*  |m.\s>s  r»'  i-Mio  'ttnda 
Km  part<í  oiidv  qualqinT  o  nuiro  bate, 
Co'a  sua  co-itumada  alta  braveza 
Sobre  a  pijrta  lá  da  fortaleza. 
IBIDEM,  cant.  16,  est.  b1. 


—  < liequcria-lhe  a  mulher  que  tal  nSo 
fizesHc,  porque  o  cidrão  er^  fo^o  par* 
quem  MC  aciíava  naquelle  esta-lu.  Bc8- 
jiuiideu  e:itão :  Kem  bei  que.ó  Coco,  que 
bem  abra/.ado  me  tem ;  mas  deixai-me 
vèr  se  .'ícaso  tem  o  cidrão  a  TÍrtado  do 
cão  damnailo,  cujos  cibellos,  6G  oa  pòc 
na  nionle  inr:i  que  elle  f<:z,  uizcm  que  a 
sara  logo.»  \).  iVaiicisco  Manuel  de  Mel- 
lo, Carta  de  guia  de  casados.  —  «E  a^- 
si  foy  dous  aia«  ver  ccuncr  cl  Key,  que 
pêra  isso  se  vestio  ricamente,  e  a  saia 
armada  do  rica  tapeçaria,  e  com  dorsel 
de  brocado,  e  niuyta,  e  uiuy  rica  prata, 
e  seus  oíBciaes  mores  com  reis  darmas, 
c  porteiros  de  maça,  c  muytoa  miidstros, 
e  danças,  trombetas,  e  atabales,  tudo  fey- 
to  em  grande  perfeição,  porque  el  Koy 
nas  cou.-as  que  tocauão  a  sou  estado  era 
sobre  todos  muy  cerimonial,  e  perfeit<j.» 
( iarcia  de  Rezende,  Chronica  de  D.  João 
II,  ca[).  78. —  «Navegamos  dez  léguas 
n'este  dia  sem  susto  e  divertidos  a  ver 
garças  e  muita  caça  de  alternaria  ceier 
á  fortuna  do  ilestros  caçadores.  A  ter- 
mos a  mortificação  do  Santo  Borja,  lar- 
go campo  se  abria  em  (jue  a  po  lêssemos 
exercitar,»  Bispo  do  <Jrio  Pará,  Memo- 
rias, publicadas  por  Camiilo  Castelio 
Branco,  pag.  U^O. 

—  Estar  confrontando,  olhar  para  al- 
íruma  cousa. 


Todos  da  grâa  mudança  que  fizera 
Kl  liei  110  rosto,  vem  qual  hc  o  seu  peito. 
Vem  que  sua  tcn^ào  c  Ucscjo  era 
Vór-se  de  todo  fora  deste  feito. 
Outra  vez  geralmente  aqui  se  espera 
(^ue  este  gorai  desejo  tenha  eíleito. 
Mas  foi  vaji  eaperan<;a,  o  vào  desejo. 
Donde  nascer  hum  grave  damuo  vejo. 

ruANoisco  d'a.\'obadc,  pbuibibo  cbbco  oa  did, 
cant.  7,  est.  6. 

—  Viu  a  sua  hora,  ou  vez;  achou  a 
boa  oecasião,  hora,  conjuncçSv,  opportu- 
nidade. 

—  Loc, :  Ter  de  vêr  cvm  alguma  cou- 
sa; ter  relação,  connexão  com  ella,  ou 
alguma  razão  do  obngaçilo,  tomar-se 
inspector  delia. 

—  Fazer  vér;  mostrar,  demonstrar, 
provar,  convencer, 

—  Vèr  cvH»  <iislraci;ão,  ou  divertitntn- 
to ;  dill"ereutes  modos  de  vèr. 

—  Loc. :   Ir  vèr  nianJo;  viajar. 

—  Figuradamente :  Conhecer. 

Afrontado  por  rer  que  assi  eoutrasta 

E  vence  huma  s.>  nao  o  mar.  c  os  ventos, 

Com  ae.nbraiite  fero/,  din.  s.-mpre  a  força 

Das  ;iortngues;is  nãos  ficirá  tirmo 

K  CO  n  tanta  soberb.-i  desn-ciando 

De  Kepthuno  o  poder,  e  o  meu,  so  aiarguem 


VER 


VER 


VER 


909 


Por  maves  profundisaimos,  que  desta 
Forte  uaçâo  só,  forào  nauegadoa  ? 

COETE   REAL,  NAUFRÁGIO   DF.    SEPCLVEDA,    Cailt.     7. 

—  «Acabadas  estas  palavras  foi  tanto 
o  alvoroço  nas  damas  e  mancebos  corte- 
sãos, que  todo  o  paço  se  nào  revolvia  em 
ai,  desejando  ver  já  a  Albayzar  no  cam- 
po, ellas  para  verem  o  que  tinhão  em 
que  as  servia,  elles  para  mostrar  o  que 
lhe  queriam  e  faziam  por  seu  serviço.» 
Francisco  de  Moraes,  Paimeirim  d'Iagla- 
terra,  cap.  82.  —  «Ciiegaiido-se  a  ella.?, 
disse,  olhando  pêra  quem  o  matava:  Se- 
nhora, já  eu  puz  a  esperança  em  alguma 
parte,  que  me  custou  caro;  e  qual  me 
elia  ficou  por  derradeiro  na  divisa  do 
meu  escudo  o  podeis  ver.»  Ibidem,  cap. 
141.  — -«E  tratando  primeiro  dos  ce- 
rieiros,  elle  é  negocio  estremado  ver  dois 
mil  basbaques  moscatéis  mais  espitiica- 
dos  que  um  pintasilgo  mimoso,  que  em- 
pregam 03  seus  realts  em  negrinhos  de 
cera,  e  quando  a  bolça  está  debilitaila 
que  nào  pôde  levar  os  tenores,  a  isto  mui 
legalmente  e  como  bons  e  fieis  madraços, 
surgem  logo  á  porta  Jo  qual  cerieiro,  en- 
tre trezentos  rapazes,  com  o  pensamen- 
to tão  picado  daquella  occupaçào,  como 
que  importara  o  estado  do  Xarife.t  Fer- 
não Soropita,  Poesias  e  prosas  inédi- 
tas, pag-  82.  —  « (jraças  lhe  demos, 
por  tam  presto  nos  liurar  de  tantos,  a 
que  pouco  antes  estauamos  offerecidos,  e 
quasi  descoufiados  de  nos  vermos  iiures 
delles.»  Fr.  Gaspar  de  S.  Bermirdino, 
Itinerário  da  índia,  cap.  2.  —  «Per  ou- 
tra parte  havia  já  seis,  ou  sete  dias  que 
não  podia  tomar  conclusão  alguma  com 
ElRey,  e  dissimular  tanto  artificio,  como 
com  elle  queria  ter,  pêra  sua  condição 
era  hum  grave  tormento,  porém  tudo  sof- 
fria  por  ver  se  podia  ter  algum  modo  de 
salvar  Ruy  d'Aiaujo.B  Barros,  Década  2, 
liv.  6,  cap.  3. —  «Nem  eii  sei  se  desejara 
que  para  esse  esquecimento  se  te  depa- 
rasse arrazoado  pretexto :  maior  desgra- 
ça minha,  e  mais  ténue  delicto  o  teu.  Fi- 
cares em  França;  não  terás  lá  requiuta- 
dos  gostos ;  mas  vèr-te-hás  livre.  Cansa- 
ço de  prolixa  jornada,  certos  sociáes  de- 
coros, receio  de  não  responder  como  de- 
ves, a  meus  arrebatamentos,  te  reprezão 
em  Franca.  Ah  nào  receislo  Francisco 
Manoel  do  Na.scimento,  Successos  de  ma- 
dame de  Seneterre.  —  «O  que  lhe  con- 
firmou muito  mais  ver  em  chegando  ao 
pagode  cinco  sinos  sobella  porta  princi- 
pal, postos  em  campauairo,  apar  dos 
quaes  estauão  huma  columua  darame  de 
altura  de  hum  grande  masto  de  nao,  e 
110  capitel  delia  hum  gallo  também  dara- 
me.»  Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  1,  cap.  40. 

—  Reparar,  atteLtar,  considerar. 

—  NHo  vêr  a  sua  hora ;  não  achar  o 
tempo  favoravtil  ao  seu  intento. 

—  Principiar  a  vêr. 


Agora  que  de  neve  se  embranquece 
Aquelle  monte,  e  o  burro  se  arrepia, 
He  ch(;gado  o  Inverno :  principia, 
Paulino,  a  ver  que  cedo  te  anoitece. 

XBBlDi:  DE  JAZEKTE,  POESIAS,  p»g.  79. 


—  Vêr  a  luz  da  manhã;  vêr  o  dia. — 
«Aquelle  dia  ouuera  de  ser  muito  escu- 
ro, nem  o  deuera  o  tíol  allumiar.  A  noy- 
te  em  que  eu  fuy  cucebido  ouuera  de  ser 
escurissima,  tempestuosissima  e  triste : 
nem  ouuera  de  aparecer  nella  estrelia, 
nem  ouuera  de  ver  a  luz  da  mauhaã, 
pois  nam  fechou  as  portaò  do  ventre  que 
me  cõcebeo.  O  porque  não  morii  no  ven- 
tre de  minha  màyV»  Fr.  Bartholouieu  dos 
Martyres,  Catecismo  da  doutrina  christã. 

—  tíer  cousa  formosa  para  vêr ;  ser 
cousa  agradável  e  linda  á  vista.  —  «Sua 
entrada  foi  cousa  fermosa  pêra  ver,  por- 
que eram  três  embaixadores,  hum  da  or- 
dem dos  Baroens,  que  tinham  o  primei- 
ro lugar,  e  os  outros  dous  uoctores  em 
leis,  os  quaes  traziam  huma  magrdfica,  e 
pomposa  companhia.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  parte  3,  capitu- 
lo Õ7. 

—  Ter  desejo  de  vêr  alguém;  desejar 
vêl-o,  manifestar  esse  desejo.  — «E  pêra 
que  se  saiba  ho  grande  amor  que  el  Rei 
tinha  aos  filhos  do. Duque  dom  Fernan- 
do, e  a  dom  Aluaro,  e  desejo  de  hos  ver 
no  Regno,  e  quanto  a  cargo  tinha  ha 
honra,  e  fama  dei  Rei  dom  loão  seu  pri- 
mo, me  pareceo  cousa  couueniente  ajun- 
tar a  este  Capitulo  huma  carta  que  man- 
dou ao  mesmo  dom  Aluaro  scripta  de  sua 
própria  mão,  em  que  diz  assi.s  Damião 
de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part. 
1,  cap.  13. 

—  Ir  vêr  alguém.  —  «E  recolhendo- 
se  à  fortaleza  muy  anojado  foy  ver  D. 
Álvaro  de  Castro,  que  achou  cuiando-se, 
e  sem  fala :  eucommendando  ao  Cirur- 
gião, tivesse  muvto  grande  conta  com 
sua  cura,  e  com  a  de  todos  os  mais  feri- 
dos, que  foy  ver  curar.»  Diogo  de  Cou- 
to, Década  6,  liv.  3,  cap.  6.  —  «Aquel- 
las  escusas  que  o  Sangage  deu  pêra  não 
hir  ver  o  Capitão,  foraõ,  porque  não  se 
atreveo  a  ver  o  rosto  a  EIRey  de  Terna- 
te,  porque  havia  que  delle  lhe  nascera 
todo  o  seu  mal.»  Ibidem,  liv.  9,  cap.  13. 
—  «Com  esta  familiaridade  hum  homem 
honrado  per  nome  Fernão  Veloso  desejou 
de  em  companhia  dalguns  destes  negros, 
a  que  se  ja  fezera  familiar,  ir  ver  suas 
habitações,  e  modo  que  tinhaõ  em  suas 
L-asas,  e  pêra  is.so  houve  licença  de  Vas- 
quo  da  Gama,  hos  quaes  mostrando  nis- 
so contentamento  ho  levarão  consigo.» 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  1 ,  cap.  35. 

—  Era  muito  para  vêr. 


Muy  prezada  e  estimada 
sinios  a  giueta  ser, 
destrangciroâ  muv  louuada, 


tam  rica,  tam  atilada, 
que  era  muvto  pêra  ver. 

r.AUCIA   DE   KEZESDB,  MlSCELLAIfF.A . 

—  Ao  vêr  descer  o  somno ;   ao   appro- 
ximar-se  o  somno. 


Ao  ver  descer  o  Somno,  i|ue  a  teu  lado 

Vem  reclinado  no  tardio  coche, 

E  derramar  nos  ares  o  recreio 

Do  plácido  soce.go, 

AlSrouxando  os  cordéis,  já  manso  c  manso 

Descáhnft  mão  dos  inferaaes  supplicios. 

Que  dào,  antes  da  morte,  aos  imprudentes. 

Que  espaucal-os  niio  ousão : 

Que  nào  sabendo  pôr  Honras,  Riquezas 

Xo  merecido  gráo.  são  desditosos, 

São  baldões  da  Fortuna,  são  captivos 

Do  insolente  Orgulho. 

r.  u.  DO  XASCutEKTO,  OBBAS,  tom.  1,  pag.  24. 

—  Ser  cousa  temerosa  de  vêr ;  ser  cou- 
sa terrível  á  vista. —  «Este,  alem  de  ser 
muyto  feyo,  estava  com  ambas  as  maõs 
metidas  na  boca,  que  a  fazia  tamanha 
como  huma  porta,  e  com  huma  ordem  de 
dentes  lá  dentro  no  concavo  delia,  e  com 
a  lingoa  negra  de  mais  de  duas  braças 
botada  paia  fora,  que  também  era  cousa 
muyto  temerosa  de  ver,  e  que  fazia  ar- 
ripiar  a<  carnes.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,   cap.  89. 

—  Vêr-se  ejn  algum  estado ;  achar-se 
n'elle;  estar  n'elle. 

—  Vêr-se  isto  mui  claramente  ;  vêr-se 
com  muita  clareza. 


Isto  86  pôde  vêr  mui  claramente 
Nesta  que  hoje  ha  de  ser  de  mi  cantada, 
A  qual  d'huma  vil,  pobre,  e  baixa  gente 
Ja  no  passado  tem  do  foi  morada: 
E  depois  com  a  industria  dhum  prudente 
Varão,  foi  tào  famosa  e  celebrada 
Que  a  cabeça  entre  todas  foi  erguendo 
Quantas  visita  o  Sol  hoje  em  nascendo. 

r.  d'akdrade,  peimeibo  ceboo  de  diu,  cant.  5, 
est.  3: 

—  Vêr-se  ao  espelho  ;  vêr  n'elle  o  pró- 
prio semblante. 

—  Vêr-se  ejfi  perigo,  embaraço ;  arris- 
car-se,  embaraçar-se. 

—  Vêr-se  uma  batalha  accesa  em  ódio. 

Em  tudo  aqui  podia  vêr-se  agora 

Huma  cruel  batalha  em  ódio  acesa. 

Que  hum  momento  nào  cessa  até  aquella  hora 

Que  a  pouca  mocidade  Portuguesa, 

A  quem  he  natural  ser  vencedora, 

A  victoria  alcançou  daquella  empresa, 

E  fez  com  forte  braço,  e  valeroso 

Hum  imigo  fugir  tào  copioso. 

FBASCISCO    n'ASDBADB,   PSIMEIKO   CEBCO   DB   DIU, 

cant.  10,  est.  l(j. 

—  Patentear-se,  mostrar-se,  observar- 
se.  —  «Este  foi  o  fim  de  huma  negocia- 
ção, em  que  se  considerarão  os  interes- 
ses mais  importantes  para  esta  Monar- 
quia, porém  Deos  que  tinha  decretado  o 
contrario,  dispôz,  que  só  servisse  de  mos- 


910 


VER 


VERA 


VERA 


trar  o  Duque  D.  Nuno  a  grande  capaci- 
dade do  seu  talento  na  fiiif^ida  beiíovo- 
lencia  doá  Ministros  do  Sal)oya,  o  de  se 
vêr,  que  contra  a»  detiirininaçõca  Divi- 
nas naõ  valein  as  politica»,  nem  as  in- 
dustrias humanas.  •  Fr.  Bernardo  do  Bri- 
to, Elogios  dos  reis  de  Portugal,  conti- 
nuados por  1).  Josó  Barbosa. — «Da  sua 
parto  se  deu  iiuin  dos  honrados  da  terra, 
e  da  nossa  hum  dos  liiif^oas,  com  que  en- 
tre todos  começou  aucr  comercio :  e  en- 
tre as  cousas  que  se  ouueraò  dos  negros, 
foraõ  huns  dentes  de  elefante,  que  aluo- 
roçaraõ  tanto  a  Balarte,  (]ue  tratou  com 
03  negros  se  poilia  ver  um  eiet-inte  vi- 
uo :  e  quando  nai5,  que  llie  trouxesse  a 
polle  ou  ossada  d'algum,  prometendo  por 
isso  grande  premio.»  Barroí,  Década  1, 
liv.  í,  cap.  14.  —  «A  promptidam  e  pres- 
teza com  que  03  Louthias  sam  servidos, 
e  quam  temidos  sejam  nam  se  pode  dizer 
por  pena,  nem  por  palavra  explicar,  mas 
aomoiite  se  ha  de  ver  pi-ra  saber  ho  que 
he.»  Tenreiro,  Itinerário,  cap.  19. 

— ■  Desejar  de  se  vêr  em  alguma  coíí- 
*a,\ter  desejos  de  se  vêr  n'ella. — «Por- 
que desejava  de  se  ver  em  Imma  grande 
tormenta  de  mar,  pêra  depois  poder  con- 
tar em  sua  terra :  ca  segundo"  lhe  diziaõ 
08  mareantes  desta  carreira,  as  tormen- 
tas e  mares  daquellas  partes  eraõ  mui 
differentes  destes  nossos.»  Barros,  Déca- 
da 1,  liv.  1,  cap.  7. 

—  Vêr-se  de  longe  alguma  cousa ;  en- 
xergar-se,  divisar-se.  — « DeixavSo-se  vêr 
de  longe  muitos  jardins,  pomares,  e  edi- 
fícios polidos,  que  mostraVão  a  delicia,  e 
grandeza  de  seus  habitadores;  seria  a 
Cidade  de  quatro  mil  visinhos,  com  dous 
fortes,  e  alguns  reJucto3  que  defendião 
a  entrada  do  porto ;  e  dado,  que  a  facção 
era  para  mui  discursada,  residveo  o  Uo- 
vornador  entreprcndella. »  J;uintho  Frei- 
re d'Andrade,  Vida  de  D.  João  de  Cas- 
tro,  liv.  4. 

—  Loc.  POP. :  Já  se  vê  ;  é  claro,  é 
obvio,  evidente. 

—  Syn.  :  Vêr,  olhar.  Vid.  este  ultimo 
termo. 

—  Adágios  e  provérbios: 

—  Vê   bem  que  ates,  que  desates. 

—  Vê  o  mar,  e  está  na  terra. 

—  Vê  um  dia  do  discreto,  e  não  toda 
a  vida  do  néscio. 

—  Fazenda,  teu  dono  te  veja. 

—  Faze  por  ter,  vir-te-hão  vêr. 

—  Vede  l;l  vae,  vede  lá  vem,  como 
barco  de  Sacavém. 

—  ^lais  vêem   dous  olhos  que  um. 

—  Vê  mais  que  um  lynce. 

—  Vêl-o  com  um  olho,  comôl-o  com  a 
testa. 

—  Vêr  os  touros  de  palanque. 

—  Vêr  as  ostrcllas  ao  meio  dia. 

—  Mais  vêem  quatro  olhos  que  dous. 
— r  Por  onde   vás,    assim   como  vires, 

assim  farás. 

—  Sonhava  o  cego  que  via. 


—  O  homem  queremos  vêr,  quo  os 
vestidos  são  do  lã. 

—  Estaeí  na  aidêa,  não  vedes  'a»  ca- 
sas. 

—  Vi  um  homem  que  viu  outro  ho- 
mem, ([uo  vio  o  mar. 

—  O  mau  visinho  vê  o  que  entra,  mas 
não  o  que  sáe. 

—  Olho  mau  a  quem  viu,  pegou  malí- 
cia. 

—  Se  não  vejo  pelos  olhos,  vejo  pelos 
óculos. 

—  Os  que  faliam  coirf*  os  olhos  fecha- 
dos, querem  vêr  os  outros  enganados. 

—  Inda  que  sou  tosca,  bem  vejo  a 
mosca. 

—  Ide,  comadre,  á  feira,  vereis  como 
vos  vai  nella. 

—  Aquém,  ou  além,  veja  eu  sempre 
com  quem. 

—  Não  bebas  cousa  que  não  vejas,  nem 
assignes  carta  que  não  leias. 

—  Queres  vêr  o  porvir,  olha  o  pas- 
sado. 

—  O  dia  de  amanhã  ninguém  o  viu. 

—  Comer  sem  beber,  cegar,  e  não  vêr. 

—  O  que  houveres  do  comer,  não  o 
vejas  fazer. 

2.)  VÈR,  s.  m.  A  acção  de  olhar. 

—  Figuradamente:  A  meu  vêr;  con- 
forme a  minha  opinião,  o  meu  parecer, 
o  meu  juizo.  —  «Desta  escritura,  que  a 
meu  ver,  he  huma  das  curiosas  que  se 
achão  em  Espanha,  se  colige  claramente 
o  estilo,  e  modo  de  viver  que  os  Chris- 
tãos  tinhaõ  debayj^  do  Império  dos  Ára- 
bes; e  posto  que  nas  outr;vs  partes  po- 
diaS  ter  algumas  leys  diferentes,  confor- 
me, ao  rigor,  ou  clemência  dos  senhores 
que  tinhão,  não  podia  com  tudo  ser  a  di- 
versidade tão  grande,  que  cotejada  com 
esta  senão  deixe  alcançar  do  entenili- 
mento.»  Monarchia  Lusitana,  liv.  7,  cap. 
7.  —  «Assim  como  03  outros  Príncipes 
tem  pajens  de  lança,  pajens  de  campai- 
nha, pajens  d'outras  cousas,  assi  Philip- 
pe  tinha  este  pajem  do  desengano,  que  a 
meu  ver  era  o  mais  necessário  que  tinha. 
E  prouuesse  a  Deos  que  tivessem  todos 
os  Príncipes  taes  pajens,  que  os  servis- 
sem de  lhe  dar  o  desengano  do  seus  pro- 
fundos enganos,  e  lhe  trouxessem  cada 
dia  á  memoria  que  eram  mortaes,  e  que 
se  conhecessem  a  si  mesmos.»  Heitor 
Pinto,  Dialogo  da  Verdadeira  philosophia, 
cap.  4. 

f  VERA.  Forma  do  verbo  vêr  na  ter- 
ceira pessoa  do  singular  do  futuro  imper- 
feito do  modo  indicativo. 


Quem  verá  aqueUe  Pac  da  Pátria  sua, 

Ai;oute  do  soberbo  caitclhano. 

Que  o  duro  jugo  sií,  coa  espada  nua, 

Reniovco  do  |>espo<;o  Lusitano, 

Quo  nào  diga  :  O  j;rào  Nuno,  a  eterna  tua 

Memoria  causará,  30  nào  mcnpmo, 

Quo  qualquer  tom  menor  tanto  sestimo, 

Quo  nunoa  possii  ser  seuào  aubliiue? 

CAM.,  EPISTOLA  3. 


Porque  entóo  m  vfrá  quanto  atr«i  fico 
\>t>  que  p''diiido  eiita.v:i  lium  tal  xujcito, 
No  qual  ilida  o  inaú  fértil,  e  iiiai«  rico 
Kii(;rnlio,  fora  CHtc-ril  e  impirríi-lto ; 
I'or  onde  eu  ja  d  aqui  me  prognostico, 
Pois  o  erro  começou  ja  do  ooaccito, 
Tor  ant«^  vitupério,  que  boura  ou  (floria, 
Puid  ousei  cmpreliundcr  tio  alta  historia. 

rBA.YClBCO    u'áHDBAOB,     PalHKIBO     CBBCO    DE    Dll', 

cant.  20,  eat.  4. 

VERACIDADE,  «.  /.  (Do  latim  veraei- 
tas).  Ligaçãi)  constante  á  verdade. 

—  Termo  de  dogmática.  Veracidade  (2e 
Deus;  attributo  em  virtude  do  qual  Deus 
não  piide  enganar-se,  nem  enganar-noa. 

—  A  qualidade  do  que  é  verdadeiro,  do 
que  é  conforme  á  verdade. 

veracíssimo,  a,  adj.  tuperl.  de  Ve- 
raz. Mui  veraz. 

—  Verdadeiramente;  com  verdade. 

1.)  VERAM,  por  Verão,  na  terceira  pes- 
soa do  plural  do  futuro  imperfeito  do  mo- 
do indicativo.  Vid.  Vêr.  —  «Porque  o  se- 
nhor o  principal  que  reqaere  de  noa  he 
coraçam  limpo.  l-'or  isso  diz,  Filho  dame 
teu  coração.  E  bemauenturados  os  limpos 
de  coraçam,  porque  elles  veram  a  Deus. 
Diante  daquelles  diuinos  e  clari^simos 
olhos  03  desejos  sam  contados  por  foytos, 
porque  ja  o  senhor  dà  por  feyto  tudo  o 
que  tu  desejas  fazer.»  Frei  Bartholo- 
meu  dos  Martyres,  Catecismo  da  doutrina 
christã.  —  tO  Ceo,  e  a  terra  poderam  fal- 
tar, mas  minhas  palauras  nam  faltaram. 
Irmãos  de  todo  este  Euangelho  ao  menos 
leuay  pêra  casa  impressas  em  vossa  me- 
moria aquellas  temerosas  palauras  que 
onuistes.  Veram  todos  os  homens  o  filho  da 
Virgem  vir  em  huma  nuuem,  com  grande 
poderio  e  Magestale.»  Ibidem. 

2.)  VERAM,  s.  m.  Vid.  Verão.  —  «Nam 
tem  nesta  terra  portas  no  veram  por  ser 
a  terra  muyti)  quente,  e  tanto  que  mny- 
tas  vezes  abafam  os  homens :  e  eu  sou 
testemunha  de  vista.  Este  loguar  estaa 
ao  longo  da  costa,  e  he  ainda  do  senho- 
rio do  Ormuz.»  Tenreiro,  Itinerário,  ca- 
pitulo 2. 

VERAMENTE,  adv.  (De  vero,  e  o  suffi- 
xo  «mente»  .  De  um  modo  vero. 

VERANDOURO,  *.  m.  Vid.  Varadouro. 

VERANICO,  s.  m.  Verãosinho,  ili;i3  cal- 
mosos pelo  S.  Martinho.  Os  veranicos 
variam  segundo  os  differentes  hemisphe- 
rios  o  climas. 

l.)  VERÃO,  s.  m.  A  estaçSo  que  se  se- 
gue ao  inverno,  e  que  contém  março, 
abril  e  maio. 

Quero  achar  paz  era  um  confuso  iufemo ; 
Na  noite  do  sol  puro  a  clarídado ; 
E  o  suave  venio  no  duro  iuvemo. 

CUI.,  SOXCTOB,  U."   llõ. 

—  «  Porque  lhes  lembrava  quanto  lhes 
tinha  custado  o  tempo  do  inverno,  em 
que  os  nossos  não  tiveraõ  soccorro  mais 
que  de  quatro  navios  sem  gente,  e  que 
já  entrava  o  veraõ,  6  começavaS  a  cbe- 


VERA 


VERB 


VERB 


911 


gar  Armadas  poderosas,  e  que  se  espe- 
rava ainda  pelo  Governador :  estas  cou- 
sas causarão  grtàJeã  desconfianças  em  to- 
dos.» Diogo  de  Couto,  Década  6,  liv.  3, 
cap.  8. 


Traz  isto,  porque  ja  no  senhorio 
Entrava  pouco  a  pouco  do  Oriente 
O  tormentoso  inverno  húmido  e  frio, 
E  o  formoso  verão  lá  no  Occidente, 
O  Cunha  se  recolhe  ao  seu  navio, 
E  dividindo  o  mar  prosperamente. 
Ajudada  do  vento,  a  aguda  proa 
So  vai  passar  o  inverno  á  real  Goa. 

FKANCISCO   DE   ANDRADE,   PEIMEIBO   CERCO  D«   DIC, 

cant.  9,  est.  87. 


Nem  tu,  gentil  Roupaõ  de  fresca  Xita, 
Com  que  á  grande  janella  empanturrado 
Da  inútil,  ociosa  Bibliotheca, 
Nas  noites  de  Veraõ  a  calma  passa. 
As  suas  tezouradas  escapaste. 

ASTONIO   DINIZ   DA   CBL"2,   HTSSOPE,    CaUt.    7. 


2.)  VERÃO.  Forma  do  verbo  vêr  na  ter- 
ceira pessoa  do  plural  do  futuro  imper- 
feito do  modo  indicativo.  A'id.  Vér,  e  Ve- 
ram. 

Verão  morrer  com  fome  os  filhos  caros, 
Em  tanto  amor  gerados  e  nascidos  ; 
Verão  03  Cafres  ásperos  e  avaros 
Tirar  á  linda  dama  seus  vestidos: 
Os  crvstallinos  membros  e  preclaros 
A  calma,  ao  frio,  ao  ar  verão  despidos  ; 
Despois  de  ter  pizada  longamente 
Co'os  delicados  pés  a  areia  ardeute. 
CAM.,  Lus.,  cant.  5,  est.  i. 

—  Adágios  e  PRO^^;RBIos : 

—  A  inverno  chuvoso,  verão  abundoso. 

—  Março  marcegSo,  pela  manhã  rosto 
de  cão,  e  a  tarde  de  bom  verão. 

—  No  inverno  forneira,  e  no  verão  ta- 
verneira. 

—  Pão  de  hoje,  carne  de  hontem,  vi- 
nho de  outro  verão,  fazem  o  homem  são. 

—  Nem  no  inverno  sem  capa,  nem  no 
verão  sem  cabaça. 

—  Em  o  verão  por  calma,  e  no  inver- 
no por  frio,  não  lhe  falta  achaque  de  vi- 
nho. 

—  O  menino,  e  o  bezerrinho  no  verão 
hão  frio. 

—  Bácoro  fiado,  bom  inverno,  e  mau 
verão. 

—  Em  verão  cada  um  lava  seu  panno. 

—  Verão  fresco,  inverno  chuvoso,  es- 
tio perigoso. 

—  A  burra  de  viUão,  mula  é  de  ve- 
rão. 

—  Syn.  :  Verão,  estio. 

Verão  é  termo  mais  vago,  e  indica  todo 
o  tempo  do  anno  em  que  faz  calor,  em 
opposição  a  inverno.  Estio  é  determina- 
damente a  segunda  estação  do  anuo. 

Diz-se  que  o  verão  começou  cedo,  e 
acabou  tarde,  ou  vice-versa,  o  que  dá  a 
entender  quo  este  termo  se  refere  mais  á 
temperatui'a   quente  que  á  divisão  regu- 


lar do  anno  em  quatro  partes  ou  estações 
eguaes,  primavera,  estio,  outomno,  in- 
verno. 

VERÃOSINHO,  s.  m.  Diminutivo  de  Ve- 
rão.  \'iil.  Veranico. 

VERAS,  s./.plur.  (Do  latim  verus).  O 
mesmo  que  verdades,  cousas  verdadeiras, 
e  de  propósito. 

—  Com  grandes  veras ;  com  sincerida- 
de, sem  refolho. 

—  Diz-se  em  opposição  a  Jicqão,  hypo- 
crisia,  dissimulação. 

—  Loc. :  Vede  se  são  veras,  ou  bur- 
las; examinae  se  são  cousas  serias,  ou 
brincos. 

—  Loc.  ADV. :  De  veras,  ou  áeveras  ; 
com  verdade,    sem  refolho,  nem  rebuço. 

—  De  veras ;  seriamente,  e  uào  por 
brincadeira. 

VERATRO,  s.  m.  (Do  latim  veratrum). 
Helleboro  negro  venenoso. 

VERAZ,  adj.  2  gen.  (Do  latim  verax). 
Verídico,  que  diz  a  verdade. 

—  Que  faz  fallar  a  verdade.  —  Vinho 
veraz. 

VERBA,  s.  /.  (Do  latim  verba).  Termo 
de  toro.  Artigo  de  contexto  de  alguma 
escriptura.  —  U/na  verba  do  contracto. 

—  Declaração  que  se  faz  em  alguma 
escriptura,  apostilla,  para  talvez  cessar  o 
que  ella  dispunha. 

VERBAL,  adj.  2  gen.  (Do  latim  verba- 
lis,  de  verbum).  Que  não  é  senão  de  viva 
voz,  e  não  por  escripto.  —  Ordens  ver- 
baes. 

—  Antithese  verbal ;  antithese  que  con- 
siste somente  nas  palavras,  e  não  no  pen- 
samento. 

—  Critica  verbal ;  critica  que  somente 
se.  liga  ás  palavras. 

—  Relação  verbal ;  diz-se  nas  socieda- 
des scientitícas,  d'umà  relação  escripta, 
quando  não  deve  seguir-se  d'uma  deci- 
são, e  que  não  é  recebida  senão  como  do- 
cumento. 

—  Termo  de  grammatica.  Que  é  da  na- 
tureza do  verbo.  ^- Acçlo  é  um  substan- 
tivo verbal. 

—  Adjectivo  verbal ;  participio  presen- 
te tomado  adjectivameute,  e  submettido 
ás  regras  da  consonância. 

—  Processo  verbal ;  diz-se  do  que  se 
passa  n'uma  ceremonia,  etc. 

—  Nome  verbal ;  nome  que  se  deriva 
do  verbo,  os  infinitos,  e  abstractos. 

VERBALIZAR,  v.  a.  Dizer  ou  apresen- 
tar razões  ou  factos  para  os  fazer  metter 
n'um  processo  verbal. 

—  Dirigir  um  processo  verbal. 

—  Fazer  grandes  discursos. 

—  Certificar  por  escripto. 
VT.RBALMENTE,   adv.   (De  verbal,  e  o 

suflixo  «mente»)-  De  viva  voz  e  não  por 
escripto.  —  Elle  deu  a  ordem  verbal- 
mente. 

VERBASCO,  s.  m.  (Do  latim  verbas- 
cuiii).  Vid.  Barbasco. 

VERBENA,  s.  /,    Orgevão;    herva    de 


que  se  coroavam  os  gentios  sacrificado- 
res. —  «Em  fim,  para  cada  huma  das 
suas  próprias  enfermidades,  a  Poupa  bus- 
ca a  avenca ;  a  Craiba  a  verbena  ;  o  Tor- 
do a  murta ;  a  Águia  o  Gallitrico ;  a  Per- 
dis  a  cana;  a  Codornis  a  grama;  o  Cis- 
ne a  ortiga ;  o  Sapo  a  serralha ;  o  Urso  a 
mandrágora;  a  Doninha  o  verbasco:  o 
Corvo  o  dictamo,  e  o  Javali  a  hera.  Don- 
de se  colhe,  que  se  esta  Medicina  veyo 
de  Deos  como  instincto ;  com  mais  razaõ 
de  Deos  procederia  a  outra  como  scien- 
cia.»  Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal  medi- 
co, pag.  239,  §  46. 

VERBENACEAS,  s.  /.  lilur.  Termo  de 
botânica.  Família  de  plantas  dicotyledo- 
neas. 

VERBENECA,  s.  /.  Termo  de  botâni- 
ca. Herva  correspondente  ao  latim  ciri- 
cia. 

VERBERAÇÃO,  s.  /.  (Do  latim  verbe- 
ratio).  Termo  de  physica.  Vibração  do 
ar  que  produz  o  som. 

—  Flagellação,  açoutadura. 
VERBERADO,  part.  pass.  de  Verberar. 
VERBERÃO.  Vid.  Orgevão. 
VERBERAR,  v.  a.   (Do    latim   verbera- 

re).  Flagellar,  fustigar. 

—  Verberar-se,  v.  rejl.  Disciplinar-se, 
flageliar-se,  açoutar-se. 

VERBERATIVO,  A,  adj.  Flagellativo, 
próprio  para  açoutar. 

VERBERAGEM,  s.  /.  Abundância  de 
palavras  e  ausência  de  idêas. 

VERBIGRATIA.  Termo  latino,  que  si- 
gnifica o  mesmo  que :  por  exemplo,  por 
modo  de  dizer. 

VERBO,  s.  m.  (Do  latim  verbum).  Pa- 
lavra, tom  de  voz. 

—  No  christianismo,  o  Verbo  divino, 
ou  simplesmente  o  Verbo ;  a  sabedoria 
eterna,  o  Filho,  de  Deus,  a  segunda  pes- 
soa da  Trindade,  egual  e  consubstancial 
ao  Pae.  — -  No  principio  existia  o  Verbo, 
e  o  Verbo  existia  em  Deus,  e  o  Verbo 
era  Deus.  —  O  verdadeiro  Manoel,  Deus 
comnoseo,  em  sumnia,  o  Verbo  feito  car- 
ne, unindo  em  sua  pessoa  a  natureza  hu- 
mana com  a  divina,  a  fim  de  reconciliar 
todas  as  cousas  em  si  mesma.  — •  «Nam 
nos  he  dado  irmãos  penetrar  este  segre- 
do, senam  agradecer  o  lume  de  fee,  com 
que  o  cremos,  e  pasmar  de  sua  bondade, 
e  benignidade,  que  por  amor  de  nos  esta 
imagem  e  Verbo  eterno  se  vestio  de  nos- 
sa carne,  e  nasceo  oje  nella,  como  diz  o 
sancto  Euangelho,  Verbum  coro  sanctum 
est,  et  habitabit  in  nobis.  Que  quer  di- 
zer, o  Verbo  eterno  tomou  nossa  carne,  e 
conuersou  com  nosco.»  Frei  Bartholomeu 
dos  Martyres,  Catecismo  da  doutrina 
christã.  —  «E  se  quereis  saber  (diz  a 
Sancta  Madre  igreja)  que  menino  he  este 
que  nos  he  nascido,  e  que  filho  he  este 
que  nos  he  dado,  digao  aquella  tròbeta 
do  ceo,  aquella  diuina  Águia,  sani  loam 
Euangelista,  que  começou  seu  Euange- 
lho dizendo,  No  principio  era  o  Verbo,  e 


912 


VERR 


VERD 


VERI) 


o  Verbo  ora  acerca  de  Deos,  este  Vorbo 
era  verdaileyro  Dooá.  Iriiiiloí»  num  cure- 
mos de  oiitríir  neste  pef^o  e  abismo  do 
luz.>  Ibidem. 

—  Termo  de  prainmatica.  Palavra  que 
lip;a  o  sujeito  com  o  attributo,  mostrando 
a  existência  d'i-ste  n';i(iucllo. 

—  Verbo  activo;  aqucdle  sobre  que  re- 
Cile  iiniiiciliatainento  a  ac-çilo  do  verbo. 
—  Matak  é  um  verbo  activo. 

—  Conjugar  um  verbo ;  ó  recital-o  em 
todos  os  80118  modos,  tempos,  pessoas,  e 
números. 

—  ()  verbo  a'lniitte  quatro  espécies  de 
modificaçi^es  de  firma  por  quatro  causas: 
a  pessoa,    o   numero,   o  modo,   e  o  tempo. 

—  Verbo  absoluto;  aquelle  não  carece 
de  numero,  nem  expresso,  nem  suben- 
tendido. —  Brilhar  é  «m  verbo  abso- 
luto. 

—  Verbo  abstracto ;  diz-se  do  verbo 
substantivo  ser,  por  ter  o  attributo  se- 
parado de  si. 

—  Verbos  anómalos;  aquelles  que  tem 
irregularidades,  c  als^uma  ccnisa  de  sin- 
gular nas  terminações  ou  formações  doa 
seus  tempos. 

—  Verbo  attributivo,  ou  adjectivo;  diz- 
se  de  todos  os  verbos  que  não  são  o  ver- 
bo se?',  e  que  resultam  da  combinação 
d'este  verbo  com  um  attributo.  —  Cou- 
ber,  MATAR,   C  BRILHAR  são  VerboS  attri- 

biitivos,  ou  adjectivos. 

—  Verbo  í!«í)sían/íi'o;  diz-se  do  verbo 
que  subsiste  só  por  si ;  este  é  só  um,  e  é 
o  verbo  ser. 

—  Verbos  auxiliares ;  dizem-se  aquel- 
les verbos  que  servem  para  firmar  os 
tempos  compostos  dos  outros  verbos.  — 
Ser,  estar,  ter,  e  haver  são  verbos  au- 
xiliares primários. 

—  Verbos  concretos ;  diz-se  dos  verbos 
adjectivos  ou  attributivos,  ])or  existir  o 
attributo  incluido  nos  próprios  verbos  ad- 
jectivos. —  Ouvir   é  um  verbo  concreto. 

—  Verbos  defectivos ;  são  os  que  não 
se  usam  em  todos  os  modos  e  tempos, 
ou  que  se  não  emprefíam  em  todas  as 
pessoas.  —  Chover,  nevar  são  verbos 
defectivos. 

—  Verbo  frequentativo ;  aquelle  que 
indica  que  se  repete  muitas  vezes  a  mes- 
ma acção,  a  mesma  cousa,  como  cm  la- 
tim itare,  ito. —  DouMiTAR  é  um  verbo 
fre(juentativo. 

—  Verbo  impessoal ;  aquelle  cujo  su- 
jeito grammatical  não  representa  nem 
um  nome  de  pessoa,  nem  um  nome  de 
cousa,  e  que  só  se  emprepa  na  terceira 
pessoa  do  singular:  cliauia-se-llie  tiimbem 
tinipessoal . 

—  Verbo  inchoativo  ;  aquelle  que  indi- 
ca uma  acção  começada  e  continua  no 
sujeito  do  verbo.  —  ADORMECER  é  um 
verbo  inchoativo. 

—  Verbo  intransitivo ;  aquelle  que  ex- 
prime uma  avvào  ou  de  um  modo  absolu- 
to, o  s  em  relação  com  algum  objecto,  ou 


que  n!lo  a  transmitto  a  um  complemento 
sen<^o  de  um  modo  indirecto. 

—  Verbos  irregulares;  aquelles  qtio 
n3o  se^íuem  a.s  rc^rras  geraes  da»  conju- 
gações. 

—  Verbo  neutro;  aquelle  que,  como  o 
verbo  activo,  exprime  uma  acção,  mas 
que    não    tem    complemento    directo.  — 

(JOKUKR,     URILIIAR,     BRINCAR    são   VerbOS 

neutros. 

—  Verbo  passivo;  verbo  que  exprime 
uma  paixão,  quo  soíTre  e  recebe  a  acç.ão 
d'algum  agente.  —  Ser  amado,  .ser  lido, 
SER  ESCRiPTO  são  verbos  passivos. 

—  Verbo  pronominal ;  verbo,  que  em 
todoa  os  seu-i  tempos  se  conjuga  com  dous 
pronomes    da    mesma    pessoa.  —  Eu    ME 

ARREPENDO,    EU   ME  IRO,    etC.    SUO   tempOS 

d»  verbos  pronominaes. 

—  Verbo  reciproco;  aquelle  verbo  re- 
flexo (]uando  exprime  a  acção  reciproca 
de  muitos  sujeitos. 

—  Verbo  reduplicativo;  aquelle  que 
exprime  uma  acção  repetida  duas  ou 
mais  vezes,  ou  a  repetição  d'unia  mesma 
acção,  taes  como :  recomeçar,  reduplicar, 
etc. 

—  Verbo  reflexo;  aquelle  que  enun- 
cia uina  acção,  quo  partindo  do  sujeito, 
c4e,  e  se  reflecte  sobre  o  próprio  sujeito. 

—  Verbos  regulares;  aquelles  que  se- 
guem  as   regras  geraes  das  conjugações. 

—  Verbo  transitivo;  dá-se  este  nome 
ao  verbo  activo. 

—  Verbo  unipessoal;  aquelle  que  so- 
mente se  emprega  na  terceira  pessoa : 
cliama-se  também  impessoal. 

—  Pôr  o  verbo  no  cítòo;, fechar  os  pe- 
ríodos com  o  verbo,  conforme  a  constrnc- 
çào  latina;  ó  viciosa  entre  ncís,  ao  me- 
nos affcL-tada. 

VERBOSAMENTE,  ar?u.  (De  verboso,  eo 
suffixo  i mente").  De  um   modo  verboso. 

—  Com    >'xcessiva   copia   de   palavras. 
VERBOSIDADE,  .».  /.     Do  latim  verbo- 

sitas,  de  verbosum),  ()  ciractcr  do  que  c 
verboso.  —  A  verbosidade  d»  um  orador, 
de  uma  memoria. 

—  Orando  copia  de  palavras. 
VERBOSO.  A,  adj.  (Do  latim  verbosus). 

Que  abunda  em  muitas  idêas,  ou  pala- 
vras. 

—  Que  falia  muito. 

—  Loquaz,  jialavroso,  paroleiro. 

—  Que  tem  nniita  copia  de  palavras, 
e  falia  facilmente. 

VERÇA,  s.  /.   Vid.   Versa. 

VERÇAR,  i".  n.   Vid.  Versar. 

VERCEIRA,  .0.   f.  Vid.  Verseira. 

VERÇUDO,  adf.  Vid.   Versudo. 

VERDACHO,  s.  m.  Tii.ta  verde  mine- 
ral tirante  a  tór  de  canna.  ^n.-' - 

VERDADE,  s.  f.  Qualidade  pela  qiial 
as  cousas  apparccem  taes  quaos  cilas  são. 

—  Deus  é  a  própria  verdade. 


A  mosnia  fornia  tom  •^undrada,  p  i>ropria 
DaqucUa  era  que  ii  Verdade  pobio  vir.i: 


Max  DO  graude  omamonto  na  riqueza : 
Muito  som  ()rO;>orí;»o  *••  avantajaua. 
AUi  H<!  %■<•  com  iji&o  docta,  eiigi-aho«a 
A  Dórica,  c  lorrica  coliiama  : 
.V  ('oríuthia,  o  compoAta,  e  jiinctamentA 
O  friso,  o  (-'apitei,  c  alta  Cornija. 

coKTB  beàl,  iiAUFaioiODCsr.ri;LTRDA,  eaot.  11. 

—  «na»te:i03  o  claro  testemunho  da 
verdade,  que  iic  o  filho  ile  Deud,  u  qual 
tão  impresso  o  fixado  quis  que  trouxés- 
semos o  inysterio  da  Trindade  cm  nossos 
corações,  que  por  isso  ordenou  que  na 
forma  do  baptisnjo,  <iue  he  a  porta  da  fè, 
se  expressasse  este  luvaterio,  ordenando 
(jue  fiissetnos  babtizados  em  nomo  do  Pa- 
dre e  do  filho,  e  do  Spirito  San<.t<>.»  Fr. 
Bartiiolomeu  dos  Martyres,  Catecismo  da 
doutrina  chriatã. 

—  Cousa  veriiadeira. 

Infira  a^ora  assim,  Scohor  Abbadu, 
A  illaij.aõ,  que  se  tira  do  arguim-nto, 
Quo  iiào  p('.di,-  negar  por  sor  rerda/U. 

ABBADR   DR  IkZY.STK,  POEIIA*.   pag.    71. 

—  A  augusta  verdade. 


Tu  mesmo,  <5  Galilco,  tu  mesmo,  «5  Newton, 
No  labyrintho  das  cruzadas  T.inhaa. 
Xào  mais  atinas  co'a3  di>uradas  chaves, 
Qui;  d  augusta    VtrdaiU  as  |>ortas  abrem, 
Doutro  em  cujos  Alcaç.arcs  so  guardio 
As  Leis  da  Natureza,  c  seus  arcanos. 

J.   A.    DE  MACEDO,  TTAGEM   FXTATICA,    CAHt.   2. 


—  E  uma  verdade;  >''  uma  cou«a  ver- 
dadeira.—  «Jluita  rasão  teve  hum  Sábio 
da  (irecia  a  quem  me  não  lembra  <•  no- 
me, quo  contava  entre  as  felicidades  a 
de  nascer  homem,  dando  por  ella  infini- 
tas graças  aos  seus  Deosos.  Parece-mo 
que  he  huma  verdade  que  não  carece  de 
provas.»  Cavalleiro  ile  Oliveira,  Cartas, 
liv.  3,  n."  10. 

—  As  verdades  do  christianismo ;  as 
opiniões  conformes  ao  que  é,  em  opposi- 
ç.ão  u  erro,  faltando  de  uma  doutrina, 
de  uma  religião.  —  tAlle  ganhara  em 
duas  cousas ;  na  mais  opip.ara  rsçâo  e 
em  ficar  livre  dos  eloquentes  sermões  do 
Bacharel  acerca  dos  embustes  gT».>ssos  do 
alcorão  c  das  verdades  <io  ehristi.inismo.i 
Alexandre  Herculano,  Honge  de  Cister, 
cap.  20. 

—  Defewler  a  verdade ;  defender  o 
que  é.  —  •  Prouardes  viis,  disse  o  juris- 
ta, que  hahi  lugar,  onde  o  dia  he  de  seis 
meses,  tenho  eu  por  tam  imposeiuel,  co- 
mo prouanlcs  ser  mais  necessária  a  scicn- 
cia  matheniatica,  que  a  juridica.  Xiio 
apertieis  nisso,  disse  o  matheaiatico,  por- 
que he  sem  falta,  o  que  vos  digo.  Isto, 
disse  o  jurista,  não  he  aporfiar,  mas  de- 
fender a  verdade.  Muito  folgaria,  disse 
o  cidadão,  saber  como  isso  he,  porque 
pare(.-e  impossiuel  auer  terra,  onde  o  dia 
seja  do  seys  nicses.»  Heitor  Pinto.  Dia- 
logo da  Justiça,  cap.  8. 


VERD 


VERD 


VERD 


913 


Verdade  é;  cousa  verdadeira  é,  cer- 


Bom-aveuturada  a  pena 
Qac  3e  pôde  dcãcobi-ii- ! 
Oh  caso  graude  o  medonho ! 
Oh  duio  tormento  foro! 
Verdade  he  isto,  qu'cu  quero? 
Não  hc  verdade,  mas  sonho 
De  que  acordar  nào  espero. 

CAM.,   SF.LEUCO. 

—  «Ao  que  ellc  Utiinutiraja  respondeo 
que  era  verdade  da  ajuda  que  dizia,  a 
qual  foi  mais  apparecer  a  sua  geute  no 
feito,  que  pelejar. »  Barros,  Década  2, 
liv.  6,  cap.  5.  —  «E  fazendo  perguntas 
a  hum  dos  dous  que  liia  mais  era  seu 
acordo,  e  cõ  graudes  ameaças  se  mentis- 
se, respondeu  que  era  verdade  que  hum 
santo  homem  de  uma  daquellas  ermidas 
por  nome  Pilau  Angiroo,  chegara  ja  muy- 
to  de  noite  á  casa  do  jazigo  Reys,  o  ba- 
tendo muyto  apressadamente  á  porta  de- 
ra hum  grito  muyto  alto  dizendo.»  Fer- 
não Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap. 
98.  —  «Verdade  he  que  ha  homens  no 
Malavar  de  casta  nobre  que  chamam  Pa- 
nicaes,  que  alguns  tem  huma  perna  muy 
grossa  em  demasia,  e  outros  que  as  tem 
ambas  da  própria  maneira :  os  de  mais 
destes  tem  huma  soo  grossa,  mas  nam 
he  tal  ho  pee  que  possa  fazer  sombra  aa 
cabeça.»  Fr.  Gaspar  da  Cruz,  Tratado 
das  cousas  da  China,  cap.  4.  — «A  con- 
tribuição das  décimas  neste  Reyno  he 
muito  grande,  pois  chega  a  milhaõ  e 
meyo:  he  verdade,  que  às  daõ  os  povos 
para  as  fronteiras,  e  he  o  mesmo,  que 
para  se  defenderem  doa  inimigos,  que 
nos  infestaõ  por  mais  de  cem  léguas  de 
terra,  que  correm  do  Algarve  até  Traz 
os  montes.»  Arte  de  furtar,  cap.  63. — 
«E  com  quanto  queria  trabalhar  cõ  ra- 
zões poUos  trazer  á  razam,  estauam  elles 
tã  fora  d'elia,  que  lha  não  podia  persua- 
dir. Verdade  he  que  o  estar  fora  da  razã 
senão  pode  entender  em  vós,  mas  ao  me- 
nos tomais  com  tenção  ezquerda,  o  que 
eu  digo  cõ  direyta.  Eu  não  nego  a  ley, 
mas  interpretoa.  Entendida  bem  essa  de- 
finiçam  não  quer  dizer  que  a  justiça  he 
vontade,  mas  que  he  hum  habito,  com 
que  a  vontade  está  constante  e  perpetua- 
mente determinada  de  dar  o  seu  a  cada 
hum  em  seu  tempo.»  Heitor  Pinto,  Dia- 
logo da  Justiça,  cap.  1. — -«Verdade  he 
que  no  principio  de  seu  Império  deu  elle 
boas  mostras  tle  si  porque  duraua  ainda 
nelle  o  mouimento  da  doutrina  de  seu 
mestre  Séneca.  Assi  como  huma  roda 
luouida  cõ  grande  Ímpeto,  per  grande  es- 
paço depois  inda  que  cesse  o  mouedor, 
eila  per  si  se  moue  em'  virtude  daquelle 
Ímpeto,  que  lhe  pos  o  braço.»  Ibidem, 
cap.  3.  —  «Não  só  he  verdade  que  sou 
Portuguez  pela  graça  de  Deos,  porem 
que  tenho  a  fortuna  de  ser  filho  do  Lis- 
boa, e  neto  de  hum  Cano  chamado  por 
VOL.  T.  — -115. 


Antonomásia,  ou  não  sey  porque,  o  Ca- 
no real.»  Cavalleiro  d'01ivelra,  Cartas, 
liv.  3,  n."  31. 

—  Tratar  verdade ;  andar  lizo  nos  ne- 
gócios que  se  tratam.  —  «Com  o  qual 
fundamento  ordenou  desta  maneira,  que 
D.  Garcia  de  Noronha  invernasse  em 
Cochij  com  parte  da  gente,  pêra  com  ei- 
la dar  favor  á  nova  fortaleza  de  Cale- 
cut, por  as  cousas  delia  estarem  ainda 
mui  frescas,  e  convinha  dar  resguardo  á 
pouca  verdade  que  os  Mouros  tratam,  e 
principalmente  acerca  daquella  fortaleza 
feita  a  pezar  de  tantos.»  Barros,  Década 
2,  liv.  10,  cap.  1.  —  «Partidos  estes 
quatro  nauios  de  Lisboa  em  que  hiam 
afora  pessoas  nobres  duzentos  besteiros, 
e  espiugardeiros,  chegaram  com  bom 
tempo  a  Çafim,  onde  (lonçalo  Mendez 
achou  Diogo  Dazambuja,  e  Garcia  de 
Mello,  e  com  elles  Diogo  de  Miranda,  e 
Emanuel  da  Sylveira  netos  de  Diogo 
Dazambuja,  e  Francisco  Dalmeida,  e 
Francisco  Dabreu  seus  sobrinhos,  dom 
Garcia  de  Sá,  e  Lionel  Dabreu,  Simaõ 
da  Sylva,  e  George  da  Maia,  todos  mui 
agastados  pela  pouca  verdade  que  lhes 
os  mouros  tratauam.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  2,  cap.  18. 

—  Para  dizer  verdade;  para  fallar 
franco.  —  «Sendo  o  amor  huma  paysão 
gostosa  e  violenta,  observa-se  ordinaria- 
mente com  mais  excesso  nos  coraçoens 
inferiores,  que  nas  almas  grandes.  Con- 
fesso que  a  todos  nos  sogeita  o  seu  po- 
der, e  que  a  todos  nos  tyranisa  a  sua 
doçura,  porem  para  dizer  verdade  os 
mais  fracos  do  numero,  em  que  eutrão 
sem  duvida  as  molheres,  são  notoria- 
mente 03  que  sofrem  mais  crueldades 
áquelle  amável  Tyrano.»  Cavalleiro  de 
Oliveira,  Cartas,  liv.  1,  n."  1. 

—  Principio  verdadeiro,  theorema  de- 
monstrado. —  «E'  que  em  cada  século 
ha  uma  verdade  graúda  que  predomina 
e  que  vai  ajudando  os  espertos  a  conso- 
larem-se  dos  dissabores  da  vida  á  custa 
do  animal,  alvar  por  excellencia,  chama- 
do cidadão  ou  homem  civilisado,  para 
cujo  consolo  vieram  á  terra  as  bruxas, 
a  therapeutica,  os  fundos  públicos,  a  on- 
tologia, 03  duendes,  as  infusões,  a  esthe- 
tica,  as  petas  e  o  palavreado.»  Alexan- 
dre Herculano,  Monge  de  Cister,  cap.  21. 

—  A  mesma  Trindade. 

Que  sam  muito  ledo  o  muito  contente, 

Porque  a  verdade  hc  a  mesma  Trindade 

Verdadeiramente. 

E  pois  eu  sam  voz  de  nosso  Senhor, 

Se  eu  a  calar,  quem  na  ha  de  dizer? 

As  otfensas  de  Dcos  quem  as  ha  de  soffrer? 

Mas  clame  em  deserto  qualquer  pregador. 

GIL  TICENTE,  ADTO  DA    HISTORIA  DE   DEUS. 

—  Realidade.  —  «Pelo  que  querendo- 
sc  Dom  Álvaro  de  Noronha  Capitão  da- 
quella fortaleza  certificar  da  verdade, 
despedio  Ktun  navio  ligeiroj  de  que  fez 


Capitão  Fernão  Dias  César,  soldado  ve- 
lho, e  muito  bom  cavalleiro  (que  jà  anda- 
va em  trajos).»  Diogo  de  Couto,  Década  6, 
liv.  10,  cap.  1.  — ■  «A  qual  verdade  ne- 
guão  com  as  obras,  ainda  que  com  a  bo-  • 
ca  confessem  aquelles  de  tal  maneira  vi- 
uem  como  se  Deos  não  tiuesse  com  as 
obras,  e  cousas  dos  homens  como  se  não 
soubesse  nossos  peccados,  ou  nam  tives- 
se zelo  de  justiça,  pêra  os  castigar.»  Fr. 
Bartholomeu  dos  Martyres,  Catecismo  da 
doutrina  christã. 

— ■  Sabida  a  verdade  ;  conhecida  a  ver- 
dade, sabido  o  que  é.  —  «A  que  outros 
responderão,  não  seja  assi  ja  que  por 
nossos  peccados  os  temos  das  portas  a 
dentro,  não  entendão  de  nós  que  como 
inimigos  nos  receamos  delles,  porque 
mais  depressa  se  declai"arão  com  nosco, 
mas  com  ícmbrante  alegre,  e  palavras 
brandas  lhe  perguntemos  o  que  querem, 
porque  sabida  a  verdade  delles  a  escre- 
vamos logo  ao  Hoyaa  Paquir  a  Congrau 
onde  agora  está.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  41. 

—  Dizer  verdade ;  fallar  verdade,  di- 
zer cousas  verdadeiras.  —  «  Bem  vejo, 
disse  Dramusiando,  que  dizeis  verdade, 
que  os  signae.-i  de  vossa  vida  o  manifes- 
tam :  porém  com  toda  vossa  paixão,  pois 
por  esta  teri'a  andaes,  saber-me-heis  di- 
zer onde  acharei  um  cavalleiro,  que  traz 
comsigo  um  escudo,  em  que  vai  tirada 
polo  natural  a  mais  fermosa  cousa,  que 
natureza  criou  com  letras  ao  pé  que  di- 
zem Miraguarda?»  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  81. 

—  Persuadir  bem  esta  verdade ;  per- 
suadir bem  este  principio  verdadeiro.  — 
«Mas  deixando  esta  matéria,  que  me 
pôde  fazer  odioso  com  gente  grande  e  po- 
derosa, e  eu  quero  paz  com  todos,  assim 
como  trato  de  os  por  em  paz  com  suas 
consciências;  só  nos  Reys,  e  Príncipes 
grandes  tomara  persuadir  bem  esta  ver- 
dade, que  paguem  pontualmente  o  que 
devem,  se  querem  que  lhes  luzão  mais 
suas  rendas.»  Arte  de  furtar,   cap.  6. 

—  Um  ponto  de  verdade. —  «Pôde  ser 
(disse  elle  então)  que  em  tudo  o  qvie  me 
disse  não  haja  um  ponto  de  verdade ;  dis- 
se-vos  o  que  ouvi.  Por  quanto,  Senhora, 
se  antes  de  sahir  de  França,  vosso  filho 
amava,  e  que  esse  seu  amor  ainda  hoje 
augmenta  a  tristeza  que  experimenta 
aflastado  de  sua  Mãe  e  de  sua  Pátria, 
custoso  é  de  crer,  que  elle  cuide  em  se 
cazar.  Que  nunca  desampara  os  homens 
a  esperança;  maiórmentc  quando  o  cora- 
ção está  vivamente  aífeiçoado.»  Francis- 
co jManoel  do  Nascimento,  Sucoessos  de 
madame  de  Seneterre. 

—  Conformidade  do  que  dizemos  com 
o  que  pensamos,  em  geral  em  phrase  es- 
colástica. 

—  Fallar  verdade;  dizer  o  que  pen- 
samos, sentimos,  sabemos. 

—  Dito,  facto  verdadeiro,   segundo   a 


914 


VERD 


VBRD 


VERD 


natureza  das  cousas,  que  por  o.«c  dito 
reprosontamoa,  sej^undo  ao  que  se  jias.sou, 
conforma  ao  quo  eiiteiideriiui. 

—  Conformidade  ilo  Juizo  coin  as  cou- 
sas quo  oxistuni  no  objecto  Hobro  quo  elle 
versa. 

—  Sinceridaile,  boa  fé. 

—  Caracter  próprio,  failando  (Tuma  li- 
gura. 

—  Termo  do  pintura.  Expressão  fiel 
da  natureza. 

—  De  verdade  ;   deveras. 

—  Na  verdade;  certamente,  com  oíTci- 
to.  —  «E  poirt  dixe  da  prof^enia  da  Kai- 
nlia  donna  ilaphalda,  mollier  dei  liei 
dom  Afonso  anrriquoí  primeiro  liei  do 
Portugal,  donde  o.s  outros  Reiíj  descen- 
dem, (pi)r(]ue  o  primeiro  de  quo  nam  a 
propfonia  foi  e.1  liei  dõ  (iarcia)  mo  não 
pareceo  cou^a  deseonnoniente  dar  no  Ca- 
pitulo sof^uinte  rezam  donde  descende  o 
Conde  dom  Anrrique  pai  deste  Rei  dom 
Afonso,  pêra  que  se  declarem  alguns 
erros  cm  (pio  os  Cliroiiistas  passados  caí- 
ram, e  se  saih.i  na  verdade  a  autigua,  e 
nobre  progenia  dos  Reis  destes  regnos.» 
Dainiào  do  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  4,  cap.  71.  —  «EUa  o  recebeu  com 
taes  palavras  e  amor,  quo  parecia  rece- 
ber um  tilho  e  i-.ão  homem  allieio:  e  na 
verdade  a  tenção  da  rainha  era  te-lo  na- 
quella  couta  e  nào  em  outra.»  Francisco 
de  Moraes,  Palmeirim  d'Iuglaterra,  ca- 
pitulo 97. 

—  Homem  de  verdade ;  homem  verda- 
deiro, inimigo  do  dolo,  traiçào. 

— -Loc.  ADV. :  A  verdade;  na  verda- 
de, realmente.  —  Fallar  conforme  á  ver- 
dade. 

—  Syn.:  Na  verdade,  na  realidade. 
Na  verdade  refirc-se  ao  que  pensamos 

do  objecto,  conforme  as  idòas  claras  e  exa- 
ctas. Na  realiiladc  rofere-sc  ao  que  o  ob- 
jecto ó  cm  si  mesmo,  conforme  a  sua  na- 
tureza. A  jiriracira  diz  respeito  ao  mun- 
do intellectual ,  a  segunda  ao  mundo 
real. 

—  Adaoios  e  1'UOverbios: 

—  A  verdade  não  tem  pés,  e  anda. 

—  A  verdade,  e  o  azeite  andam  do 
cinui. 

—  A  verdade  anda  na  herdade. 

—  A  verdade,  ainda^que  amarga,  se 
traga. 

—  Dizer  mentir.i,  por  tirar  a  verdade. 

—  Mal  me  querem  as  comadres,  por- 
que lhes  digo  as  verdades. 

—  Do  dinheiro,  e  da  verdade  ametade 
da  metade. 

—  Onde  falleccm  as  verdades,  preva- 
lecem 03  engauos. 

—  As  más  suspeitas  destroem  as  ver- 
dades. 

—  A  verdade  nJto  soffre  dissimulaçiio. 

—  Sempre  das  cinzas  Je  mal  premia- 
dos resuscitam  as  verdades. 

—  Ainda  que  enterrem  a  verdade,  a 
virtude  nào  se  sepulta. 


—  Amigo  de  todou,  o  da  verdade  mais. 

—  A  teu  amigo,  »o  lo  guardar  purida- 
de, dize-lhc  verdade. 

—  A  teu  amigo,  dize-lue  mentira,  bc 
te  guardar  verdade,  diz'i-lhe  puridade. 

—  Nào  ha  peor  zombaria,  que  a  ver- 
dade. 

—  Pelejam  as  comadres,  descobrem- 
uo  as  verdades. 

—  Dobrada  ó  a  maldade,  fuita  com 
cOr  de  verdade. 

—  Ao  medico,  e  ao  advogado,  o  ao 
abbade  fallar  verdade. 

—  Quem  me  nào  cré,  verdade  mo  uiio 
diz. 

—  A  verdade  uilo  quer  oufeites. 

—  Vaese  a  liugua  a  verdade. 

—  tjompre  a   veidade  saiu  vencedora. 

—  A  verdade  c  o  azeite  andam  á  tona 
d'agua. 

—  A  verdade  amarga. 

—  U  amigo  que  faiia  verdade,  ó  espe- 
lho sào,  diz  o  que  é. 

VERDAUHIiiAMEiNTE,  adv.  (De  verda- 
deiro, com  o  sudixo  umenle»;.  De  um 
modo  verdadeiro. 

—  Com  verdade. 

—  Em  verdade.  —  Animo  verdadeira- 
mente chrislào.  —  «(Juvio  o  6auto-meui- 
no  as  promessas,  e  favores  delliey  (a  que 
muitos  dos  prcseutes  lhe  tiuhaò  euveja) 
com  huma  quietação,  e  sossego  estraaao, 
sem  a  giaudeza  dcUcs,  nem  a  presença 
de  tantos  Alcaydes,  c  senuorcs  lhe  cau- 
sarem pertuibaçaò,  nem  mudança,  antes 
com  animo  verdadeiramente  Cm-istaò,  e 
nobre,  lhe  rospondeo  deste  modo.»  Mo- 
uarchia  Lusitana,  cap.  19.  —  «Compu- 
nha-so  de  oito  grandes  uáos,  cuja  Capi- 
tania era  S.  Francisco  de  Assis  cUamaUa 
por  antoiiomazia  o  Monte  de  oui'o,  digna 
verdadeiramente  de  taõ  soberano  hospe- 
de, porque  nella  competia  a  grandeza 
com  o  primor.»  Frei  IJeruardo  de  Brito, 
Elogios  dos  reis  de  Portugal,  continua- 
dos por  D.  José  Barbosa.  —  «Agora  sem 
a  lev  a  justiça  de  Deos  hc  manitestada. 
E  aos  Gaiatas:  tíe  fora  dix  da  ley,  quo 
poderá  viuilicar,  verdadeiramente  da  iey 
fora  a  justiça.  Mas  o  nosso  intento  ho 
deixad;i8  estas  o  outras  signiácaçòes,  fa- 
lar da  justiça,  em  (juàto  é  virtude  moral, 
huma  das  quatro,  a  que  coumiuumcuto 
chamamos  cardcaes.  Dessa,  disse  o  juris- 
ta, tratamos :  a  qual  os  nossos  jurecòsul- 
tos  dizem  que  ho  huma  vontade  constau- 
te  e  perpetua  de  dar  seu  direyto  a  cada 
hum.»  Heitor  Pinto,  Dialogo  da  Justiça, 
cap.  1. — «Verdadeiramente  seria  esta 
acção  mui  própria  do  seu  zèio,  c  quo 
com  grande  editicaçào  de  toda  a  compa- 
nhia coroaria  os  gloriosos  trabalhos,  que 
pela  salvação  das  almas  em  tantas  ou- 
tras partes  tem  padecido.»  Padre  Antó- 
nio \'ieira.  Cartas,  n.°  llí. 

VERDADEIRISSIMO,  A,  a-/;',  superl.  de 
Verdadeiro.  Mui  vor.ladeiro. 

VERDADEIRO,  A,  adj.  Conformo  á  ver- 


dade. —  iBem  pareceu  serem  verdadei- 
ras Muai  palavras,  iiue  aoí  doua  dias  che- 
gou nova  que  a  frota  d<;  Albayzar  e  dos 
turcos  era  partida  jKsra  Con^tautinopla, 
que  foi  causa  de  se  deterem  todolo«  prín- 
cipes o  rei*,  estando  já  de  caminho  pêra 
suas  casa8>  que  uão  quizerauí  desampa- 
rar o  imperador  nesta  aífrouta;  ajtsim 
que  esta  determinação  desviou  seu  pro- 
|)o<ito.»  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
d'Inglaterra,  cap.  liúi.  — «E  achareis 
tanto  que  dizer,  que,  hei  meio,  que,  a 
voltas  de  obrigações  verdadeiras,  niiftn- 
reis  algumas,  que  o  n&o  sejam,  que  isto 
tem  o  amor  depois  que  se  despeja.»  Ibi- 
dem, cap.  !.'>;».  —  «S.-gundo  as  rcz3o« 
contrarias  desta,  (jue  o  Conde  nSo  podia 
ignorar,  se  pi><le  crer,  que  a  ficçiU»  deste 
pretexto  tanto  foi  de  quem  o  reprenentou, 
como  de  quem  o  teue  per  verdadeiro.» 
Francisco  Manoel  de  Mello,  Epanapho- 
ras,  pag.  21.  —  «E  isto  por  trei  causa.i ; 
a  primeira,  porque  com  semelhantes  pa- 
lavras, imagina  que  llic  dão  aquella  hon- 
ra que  só  a  Deus  se  deve;  a  segunda, 
porque  sabe,  que  com  o  abuso  delias,  ee 
ofFiindc  gravissimaniente  a  Deos;  a  ter- 
ceira para  que  os  homens  o  tenhaS  por 
verdadeiro,  e  temaõ  menos  a  sua  oom- 
municaçào;  o  que  tu<!o  explica  o  mesmo 
Saiicto,  e  seguo  Maiolo  6.  com  Soares,  7. 
jíi  citados.»  Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal 
medico,  pag.  618,  §  124.  —  «E  íe  as 
entra-las  que  se  fizerem  ao  sertSo  forem 
com  verdadeira  c  não  fininda  paz,  e  se 
pregar  aos  Índios  .i  fé  de  Jesus  .Ciiristo, 
sem  mais  interesse  que  o  qne  elle  veio 
buscar  ao  mando,  que  são  as  almas,  e 
houver  quantidade  de  religiosos  que 
aprendam  .ia  lingnas,  e  se  exercitem 
n'c.ste  ministério  com  verdadeiro  zelo.  i 
Paiíre  António  Vieira,  Cartas,  n."  9.  — 
nEstc.  senhor,  foi  o  pretexto,  m.as  a  cau- 
sa que  se  teve  por  verdadeira,  era,  por- 
que 08  Índios  n'e3to  Jlaranhão  são  pou- 
cos, e  80  queria  aproveitar  d'elle3  como 
aproveita,  ou  occupar.do-os  cm  coisas  de 
seus  interesses,  ou  repartindo-os  cora 
(juem  lh'os  sabe  agradecer.»  Ibidem, 
n.»  11. 

—  Perfeito. 


Uonto  seja  o  verdadtiro 
Avarento  por  uatura. 
Que  (Kl/,  a  alma  no  dinheiro, 
K  o  dinh'»iro  cm  vcatiira, 
V.  .1  Vúutura  cm  palheiro, 
ou.  VICKSIIC,  farçàs. 

—  cMuTtos  negarão  e^ta  difFerença  de 
verdadeiros  homens  na  esphera  da  nossa 
natureza  :  porque  Aristóteles,  e  Alberto 
Magno,  ainda  que  admittem  Pygmeos, 
tem-nr>8  jwr  hum  certo  género  de  bogioa. 
Ulyssos  Aldrovan  lo,  e  Escaligcro  total- 
mente os  regão.»  Braz  Luiz  d'Abreu, 
Portugal  medico,  pag.  9,  J?  "Jtí. 

—  Agua  verdadeira ;  agua  pura,  crrs- 


VERD 


VERD 


VERD 


91Õ 


tallina.  —  «O  reineclio  reais  efficax  que 
tenho  acliado  para  excitar  o  doente  de 
(|aalqiicr  soinao  profundo,  ou  outro  qual- 
quer attecto  capital  em  que  seja  iiecessa- 
rio  corroborar  a  Cabeça,  e  excitar  03  es- 
píritos animais  torpidos;  e  nebulozos,  he 
ajuntar  a  hunia  onça  de  agoa  da  Rainha 
de  Ungria  verdadeira,  outo,  ou  des  got- 
tas  do  espirito  da  vida,  cuja  receita  vay 
a  trás  no  sintagma  da  dor  de  Cabeça,  in- 
troduzindo pelos  narizes  repetidas  vezes 
torcidas  de  algodão  molhadas  na  dita 
inixtura.B  Braz  Luiz  de  Abreu,  Portugal 
medico,  pag.  493,  §  86. 

—  O  verdadeiro  Deus ;  o  único  que 
ha,  em  opposiçào  aos  falsos  deuses.  — 
«Na  qual  se  couiprehende  a  sciencia  das 
leys,  como  ja  tenho  prouado,  as  quaes 
saõ  tão  excellentes,  que  nã  somente  con- 
seruã  o  próprio  reyno,  mas  ainda  gouer- 
nam  e  sustentam  outros  reinos  e  sefiorios 
remotissimos,  como  se  ve  claramente  nas 
leis  feitas  neste  reyno,  que  nào  somente 
o  conseruam,  mas  ellas  mesmas  regem  e 
sostam  as  ricas  índias  do  Oriente,  per 
grande  distancia  do  immenso  mar  alon- 
gadas de  nós,  que  os  inuictissimos  e 
Christianissimos  Reys  de  Portugal  dõ  ]\ía- 
noel,:.e  dom  loão  de  gloriosa  memoria 
per  seus  capitaens  descobriram  e  con- 
quistaram, e  cõ  o  diuiuo  fauor  someterâ  á 
fé  de  lesu  Christo  nos.-o  verdadeiro  Deos.» 
Heitor  Pinto,  Dialogo  da  Justiça,  cap.  8. 

—  «Trouxeram-iia  da  Índia,  e  quis  (>  pa- 
dre que  a  leuasse  Paulo  comsigo,  e  mos- 
trasse ao  senhor  de  Cangoxima,  tendo 
por  eerto,  que  ella  lhe  abriria  as  portas, 
faria  dar  grata  audiência,  e  tomaria  em 
tím  a  posse  da  adoraçam  do  verdadeiro 
Deos,  e  sua  per  todos  aquelles  reinos. 
Respondeo  o  successo  ás  esperanças.»  Lu- 
cena, Vida  de  S.  Francisco  Xavier,  liv. 
6,  cap.  18. 

—  A  verdadeira  vida  ;  a  vida  eterna. 
— ■  «Aili  habitaua  esperado  a  iim  da  vi- 
da, pêra  começar  a  vida,  que  nào  tem 
iim.  Àlli  andaua  com  os  olhos  feitos  alam- 
biques, per  onde  se  estillaua  seu  coração 
cotando  aquillo  do  Psalmista  '(Singulari- 
te  sum  ego  donec  trãseam.)  Gomo  se  dis- 
sera :  Assi  andarey  solitário  até  que  pas- 
se desta  vida  pelo  caiz  da  morte,  pêra  a 
regiam  da  verdadeira  vida.»  Heitor  Pin- 
to, Dialogo  da  Justiça,  cap.  7. 

—  Conforme  á  natureza  das  cousas, 
em  que  ellas  se  representam  quaes  são, 
ou  se  concebem  taes,  ou  quaes  são.  — 
cPera  que  se  saiba  que  o  que  3I  Rei  fez 
nam  foi  senam  como  muito  prudente,  e 
per  parecer  de  seu  conselho,  e  verdadei- 
ras informações  que  tinha  do  sta^io  do 
Duque  Charles,  e  do  real  sangue  donde 
descendia,  e  pêra  que  se  saiba  de  sua 
linhagem,  e  pregcnia.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  4,  cap.  71. 

—  «O.  pensamento  verdadeiro  e  domi- 
nante d'este  poema  é  ligar  a  ^^da  e  fei- 
tas todos  de  Camões  como  a  um  fado,  a 


uma  sina  com  quo  nasceu — a  de  ini- 
mortalizar  o  nome  portujíuez  com  o  seu 
poema.»  Garrett,  Camões. 

—  Os  verdadeiros  chrisfãos ;  as  que 
seguem  a  lei  de  Christo,  segundo  o  ca- 
tholicisrao.  —  «Mas  saybamos  qual  he  a 
escada  por  onde  sobirã  a  esta  celestial 
Cidade  todos  os  que  là  estão.  Esta  esca- 
da nos  pr&senta  a  sancta  Madre  igreja 
no  Euangelho  que  ouuistes  a  Missa,  no 
qual  nos  conta  sam  Matheus  como  o  Se- 
nhor logo  como  começou  de  se  manifes- 
tar ao  mundo,  depois  que  escolheo  seus 
discípulos  Bubio  com  elles  a  hum  monte, 
e  alli  lhes  pos  e  ergeo  aquella  escada, 
polia  qual  elles  todos  os  verdadeiros 
Christãs  auiã  de  subir  ao  mote  celes- 
tial.» Fj'ei  Bartholomeu  dos  Martyres, 
Catecismo  da  doutrina  christã. 

—  Sciaicia  verdadeira  ;  sciencia  soli- 
da, pura.  —  «Todos  os  Philosofos,  e  Dou- 
tores Theologos  defendem,  que  merece  o 
nobre  titulo  de  sciencia  verdadeira  aquel- 
la arte  somente,  que  tem  princípios  cer- 
tos, por  onde  demostra,  e  alcança,  o  que 
exercita.»  Arte  de  furtar,  cap.  1. 

—  Figuradamente:  Tronco  verdadeiro. 


D'huma  parte  este  vicio  baixo  e  imiiíundo 

(Pac  de  todos,  e  troaeo  verdadeiro, 

Qu'a  gente  pasma,  c  tem  por  sem  segando, 

Afãs  qualquci-  era  segai-lo  he  o  primeiro, 

Que  sempre  he  falso  o  bom  qae  mostra  o  mando) 

E  doutra  hum  tal  favor  n'ham  estrangeiro, 

Aborrecido  o  foz  doutros  privados, 

Oa  quaes  doUe  se  tem  por  acanhados. 

p.  d'andkade,  piiiMEino  CEECO  DE  Dio,  cant.  2, 
est.  72. 


— ■  O'  Espirito  Santo,  verdadeiro  con- 
solador das  almas.  —  «O  nam  sejamos 
taes,  demos  lugar  ao  Spirito  santo,  dei- 
xem olo  obrar  em  nos  e  conuldeniolo  pêra 
isso  com  aqnellas  ardentissimaa  palauras 
com  que  a  Igreja  o  chama  dizendo :  Vem 
bpirito  sancto  e  enuia  em  nossos  corações 
03  ríiyos  de  tua  luz.  Vem  lume  das  al- 
mas, vem  consolador  verdadeiro,  doce 
hospede,  doce  refrigério.»  Frei  Bartliolo- 
meu  dos  Martyres,  Catecismo  da  doutri- 
na christã. 

—  Amante  da  verdade,  observante  d'el- 
fa  em  tudo  o  que  diz. 


E  30  esta  informação  não  fôr  inteira, 
Tanto  quanto  convém,  d'eHe3  pretende 
Informar-to,  que  é  gente  verdadeira, 
A  quem  mais  falsidade  enoja  e  oftende. 
CAM.,  Lus.,  cant.  7,  est.  72. 


Ha  ay  Xayres  cauallciros 
como  homens  dordcnança, 
que  pellcjam  por  dinheiros, 
muy  leaes,  muy  verdadeiros, 
muy  destros  de  frecha,  e  laça. 

GARCIA   DE   KEZKNDE,   MlSCr.LLANE A . 


—  O  verdadeiro  inferno.  —  «E  he  tam 
ordinária  opiniam  serem  aquellas  espanto- 


sas furnas  bocas  do  verdadeiro  inferno, 
que  ou  por  se  accommodar  nesta  parte 
(sem  prejuízo  da  verdade)  ao  commum 
sentir  dos  homens.»  Lucena,  Vida  de  S, 
Francisco  Xavier,  liv.  4,  cap.  3. 

—  Não  falsificado,  nSo  imitado. 

—  Facto  verdadeiro  ;  facto  que  somen- 
te aconteceu  como  se  narra. 

—  Verdadeira  carne,  e  verdadeiros  os- 
sos. —  «Assi  como  he  impassluel,  e  inca- 
paz de  toda  a  corrupçã,  pena,  e  de  toda 
outra  miséria  que  se  pode  imaginar,  a.ssi 
o  será  a  vossa.  Assi  como  he  sutil,  e  li- 
geira, nam  perdendo  ser  verdadeira  car- 
ne, e  ter  verdadeiros  ossos,  e  assi  como 
he  clara,  e  resplandecente,  e  estremada- 
mente  formosa :  assi  o  será  a  vossa  se  de 
coração  me  seruirdes,  e  andardes  vnidos, 
e  pegados  comigo,  por  fe,  esperança,  e 
chaiidade. »  Frei  Bartholomeu  dos  Mar- 
tyres, Catecismo   da  doutrina  christã. 

—  A  verdadeira  2^02  do  coração;  a 
peifeita  paz,  a  tranquillidade  d'elle.  — 
«E  temporais,  e  totalmente  esqueceruos 
do  mundo,  e  suas  apparencias,  porque 
nunca  chegareis  a  possuir  a  verdadeira 
paz,  e  puro  sossego  de  coração,  se  com 
todas  as  forças  vnidas  à  vontade  do  Se- 
nhor Deos,  não  perderdes  a  memoria  das 
criaturas.»  Frei  Bartholomeu  do»  Marty- 
res, Compendio  de    espiritual   doutrina. 

—  Verdadeiro  amor;  puro  amor. — 
«E  por  isso  a  cousa  a  que  sobre  todas 
Deos  e  a  mesma  natureza  nos  inclina  e 
obriga,  he  procurar  de  alcãçar  verdadei- 
ro conhecimento  de  Deos,  e  após  isso 
verdadeiro  amor.  A  qual  cousa  se  o  ho- 
mem não  tiuer,  que  fica  senão  dizerlhe 
aquillo  que  Deos  lhe  disse :  O  homem 
sendo  posto  em  honra  de  excellente  na- 
tureza, nào  a  conhecendo,  fica  cõparado 
!Ís  bestas  irracionaes,  feito  semelhante  a 
ellas  V»  Frei  Bartholomeu  dos  Martyres, 
Catecismo  da  doutrina  christã, 

—  Com  verdadeiro  coração  ;  com  o  co- 
ração puro,  do  fundo  d'elle.  —  «Por  isso 
irmãos  nesta  arreygados  e  fundados,  co- 
mecemos a  fabrica  de  nossa  penitencia, 
endereitando  nossa  entençam,  por  ella, 
e  dizendo  com  verdadeiro  coraçam,  eu 
quero  esta  Quaresma  castigar  minha  car- 
ne, e  emendar  minha  vida,  e  occuparme 
em  santas  obras,  por  amor  daquelle  Se- 
nhor, o  qual  eu  deuendo  sobretudo  amar 
e  seruir,  ofFendi  e  desobedeci.»  Fr.  Bar- 
tholomeu dos  Martyres,  Catecismo  da 
doutrina  christã. 

—  Si"N'. :  Verdadeiro,  leridico. 
Verdadeiro  toma-se  algumas  vezes  na 

accepçào  de  verídico,  o  que  diz  a  verda- 
de, porém  em  melhor  sentido.  O  homem 
■verídico  suppõe  o  verdadeiro,  o  homem 
verdadeiro  não  conhece  senão  a  verda- 
de. O  homem  verdadeiro  é  verídico  por 
caracter,  pela  singeleza,  rectidão  e  vera- 
cidade do  seu  caracter. 

O  homem  verídico  dlrige-se  sempre  a 
dizer  claramente  a  verdade  ;  porém  o  ho- 


916 


VERU 


VEKD 


VEKD 


mem  verdadeiro  nilo  pôde  deixar  de   di- 

»(il-a  ;  ó  um  ilevor  seu. 

f  VERDADEYKAMENTE,  ndu.  lUo  ver- 
dadeyro,  o  o  sullixo  <imeule»^  Vid.  Ver- 
dadeirameate.  —  «(iuuui  poilerii  contar 
as  morcos  que  roceboinLiH  de-jda  tardo  do 
(lia  proseiitc  a;oc  a  tarde  do  dia  «eguin- 
to  y  Verdadeyrameiíle  que  taes  sara,  quo 
aasi  como  callalas  [laroee  jurando  inf^rati- 
à&,  assi  fallar  nuUas  parece  fjràde  atre- 
uimonto  e  prosuiiyaiu.  Porque  j)arecia 
qiio  ouuiiido  nos  tauí  espautodos  e  tremi- 
dos mysterioã,  auiamoa  de  responder  nam 
com  paiauras,  mas  cora  pauores,  e  jjas- 
mos,  considerando  como  foy  possiuei  que 
a  tara  indignos  fizosso  Deos  tara  incsti- 
maueis  benelieios.»  Fr.  Burlliolouieu  tios 
Martyres,  Catecismo  da  doutrina  chris- 
tã.  —  «Ddspois  que  o  Senlior  lauou  os 
pès  a  todos,  tornou  a  tomar  sua  vestidu- 
ra superior,  e  tornaudose  a  assentar  ILes 
disse.  Sabeis  })or([ae  vos  liz  isto?  vòs 
chauiaisnio  mestre  o  Senhor,  dizeis  bem, 
porque  verdadeyramente  eu  o  sou:  Pois 
se  eu  sendo  mestre,  e  Senlior  vosso,  vos 
lauei  03  pès,  quanto  raais  deueis  vos  huns 
aos  outros  lauar  os  pèsV»  Ibidem.  —  «O 
Barão  de  Leveidipe  he  hum  homem  que 
tem  verdadeyramente  muitos  merecimen- 
tos, e  muito  grandes.»  Cavaileiro  d'01i- 
veira,  Cartas,   liv.  3,  n."  tí. 

f  VERDADEYRO,  A,  adj.  Vid.  Verda- 
deiro. —  « K  o  outro  pijto  foy  dizerlhe 
que  porque  el  Kev  ile  Portugal  seu  se- 
nhor era  com  verdadeyra  amizade  irmào 
de  el  Key  da  Uhina,  vinhão  elles  a  sua 
terra,  como  também  os  Cains  por  este 
respeito  eustumaviio  yr  a  Malaca,  onde 
eraõ  tratados  cora  toda  a  verdade,  favor, 
e  Justiça,  sem  se  lhes  fazer  agravo  ne- 
nhum.» Fernão  Mendes  Pinto,  Peregri- 
nações, cap.  64.  —  «Servidores  daquelle 
alto  Senhor,  espelno  claro  do  luz  incria- 
da,  ante  cujos  merecimentos  os  nossos 
ficão  sendo  nada,  nós  os  somenos  servos 
desta  santa  casa  de  Tauhinarel,  situada 
no  favor  da  quinta  prisaõ  do  Nanquim, 
com  verdadeyras  palavras  de  acatamen- 
to devido  fazemos  saber  a  vossas  humil- 
des pessoas,  que  esses  uove  estrangeiros 
que  esta  lhe  daraõ  saõ  iiomens  de  terras 
muyto  apartadas,  cujas  tazendas  e  cor- 
pos o  mar  consumio  cõ  sou  bravo  Ímpeto 
tanto  sem  piedade.»  Ibidem,  cap.  85. — 
«Tal  he  ao  contrario  a  qualidade  do  me- 
recimento, que  ainda  sendo  o  mais  ver- 
dadeyro,  necessita  do  socorro  do  tempo 
para  conseguir  o  aplauso  que  lhe  he  de- 
vido.» Cavaileiro  d'Oliveira,  Cartas,  liv. 
1,  n.°  40.  — «Não  se  esquecerão  os  seus 
sequases  de  acreditarem  a  certesa  da 
Arte  com  os  princípios  mais  sólidos,  po- 
rem nem  por  isso  verdadeyros.»  ibidem, 
n.°  44.  —  «Que  as  molherea  sejào  verda- 
deyras, ou  falsas  no  couceyto  de  V.  M. 
he  couza  que  as  não  põem  por  portas,  e 
ho  couza  que  a  mim  nada  me  importa, 
porem  dosuiontir-me   V.    JI.    e   negar  o 


que  disso  no  Jardim  do  Arcebispo,  he 
couza  (pie  me  dá  com  hum  páo  na  pa- 
ciência, e  <(uc  me  faz  perder  as  estribei- 
ras.» Ibidem,  liv.  2,  n."  10.  —  «Na  ey- 
ca  deste  mundo  (diz  o  Senhor)  estam  os 
bons  o  mãos  do  UKístura  como  está  na 
eyra  a  palha  com  o  trigo.  E  como  na 
eyra  assi  a  palh.i  como  o  trigo  sam  pisa- 
dos com  os  pees  dos  booys,  e  ambos  sam 
commouidtjs,  e  alcuantados  no  ar  :  mas 
porem  o  trigo  sofro,  e  liça  na  eyra  e  a 
palha  o  vento  a  le\)a,  o  lança  fora :  assi 
neste  mundo  os  verdadeyros  Christàos 
ainda  quo  trilhados,  e  perseguidos  de 
muytos,  o  ainda,  que  combatidos  do  de- 
mónio, carne,  o  mundo,  todauia  nam 
saem  da  eyra  de  Deos,  mas  pcrseueram 
cm  Foo,  Esperança,  e  Charidade. »  Frei 
Bartliolomeu  dos  Martyres,  Catecismo  da 
doutrina  christã. 

VERDADURAS,  -■;.  /.  ]dur.  Termo  au- 
ti(iuailo.  \'í'i.  Esverdados. 

VERDAICA,  s.  f.  Termo  de  botânica. 
Vara  lenhosa  delgada  de  qualquer  arvore 
ou  arbusto.  Vid.  Vergasta. 

1.)  VERDE,  s.  m.  Uma  das  cores  prin- 
cipaes,  símil hante  á  que  tem  as  hervas 
viçosas,  os  louros,  etc. 

—  Verde  gris;  verde  tirante  a  cin- 
zento. 

—  O  verde  ?'i«r  &  mais  claro;  verde- 
(jai,  claro  e  alegre. 

—  Verde  lirio;  verde  desmaiado,  uma 
espécie  de  verde. 

—  Verde  bexiga ;  tinta  feita  do  sumo 
de  arruda,  e  herva  moura. 

—  Verde  terra ;  bórax  amarello,  que 
se  faz  lançando  agua  cm  veias  míneraes. 

2.)  VERDE,  s.  m.  Ferra,  a  herva  dos 
pães,  que  se  sega  na  primavera,  antes  de 
espigar,  para  os  cavallos,  bois,  etc. 

—  Kendeirv  do  verde;  o  que  arrendou 
as  multas,  e  coimas  dos  gados  que  entram 
cm  terras  semeadas,  o  lhes  produzem 
dam  no. 

—  Figuradamente :  Dar  um  verde ;  dar 
cousa  que  alegre,  e  console. 

—  Verde  de  porco,  de  boi ;  o  sangue 
guisado. 

—  Tomar  um  verde ;  tomar  cousa  que 
console,  e  alegre. 

—  Figuradamente :  Lograr  uvi  verde ; 
ter  algum  prazer,  vantagem  de  pouco 
tempo. 

3.)  VERDE,  adj.  2  gen.  Da  c6r  do 
verde. 

—  A  terra  íem  cousa  verde ;  sem  relva, 
sem  hervas  viçosas.  —  «Porque  a  tona 
(pie  he  toda  arca  inenda  sem  cousa  verde, 
a  esta  chaiuão  elles  (^'ahcl,  e  ;\  que  he  cu- 
berta  de  alguma  hcrua  ou  mata  como  de 
charneca  pobre  que  he  a  parte  que  elles 
pastão,  chamào  Azagar,  e  à  qno  he  de 
[ledregulho  meudo  em  modo  de  grossa 
área,  Çahara :  e  a  esta  csausa,  os  mães  dos 
morai  lores  desta  triste  terra  se  achegaõ  a 
este  ri(>  Oauagá,  e  outros  audaò  buscando 
as  empolas  que  dissemos  que  lhe  ticào  em 


lugar    de  pomares.»    Barros,    Década   1, 
liv.  3,  cap.  8. 

—  tVuz  verde.  —  « E  d(qj<jis  de  «cr  lley 
tomou  por  deuuçUu  da  ordem  assentar  o 
escudo  das  armas  de  Portugal  s<jbre  ha 
CKVS  verde,  com  as  pontas  delia  fora 
do  escudo  na  bordadura,  como  ainda  em 
suas  obras,  e  luuy  excellente  sepultura 
no  Mosteyro  da  liatalha  ojo  em  dia  se 
ve.»  (i  areia  de  Kezende,  Chronica  de  D. 
João  II,  cap.  (>1. 

—  Ltn/ui  verde ;  lenha  nâo  gêcca. 

—  Couros  verdes;  couro»  crus,  nSo 
cortidos. 

—  Campo  verde ;  campo  cheio  de  her- 
vas viçosas,  de  relva. 


Com  tão  nobrí?  apparato,  c  sumptuoso. 
Para  buscar  o  iinigo  se  dispunha, 
Com  80111  de  (|uatro  pis,  rijo  c  o^pantoso, 
Pisa  ja  o  x-erde  campo  a  ferrada  unha: 
K  (^imo  era  d'e3piriUi  grandioòO, 
Xas  grandes  presas  só  seu  tento  punha, 
Poliis  aldeias  passa,  c  as  vf;  apenas, 
Porque  iiiio  o  detém  cousas  pequenas. 

P.    D'ANnEADR,  PBIMF.IBO  CBBCO  DB    DID,  CaDt.   .3, 

est.  20. 


—  Viii/w  verde ;  vinho  de  uvas  pouco 
maduras. 

—  Mares   verdes ;    mares    levantados, 
encapellados. 

—  Figuradamente :    Os  verdes  campos 
de  N^eptuno  undoso;  o  mar. 


Onde,  sobre  Amphitritc  (que  tirada 

J)e  escamosos  Doiphinâ,  u'uma  aur(>a  Concha, 

Os  verdes  Campos  de  Neptuno  undoso, 

Cercada  do  Tiitõos,  mia  passeiaj 

Do  famoso  Martin  o  veruiz  brilha, 

Seu  emprego  só  saõ,  e  seu  estado. 

DLNIZ  DA  CBCZ,  BTSSOPE,  Cant.   1. 


—  Aniws  verdes ;  sem  a  madureza  da 
virilidade. 

—  Cantes  verdes  ;  carnes  frescas. 

—  Fructo  verde ;  fiucto  nào  maduro. 

—  J/oçu  verde ;  que  faz  imprudência,  e 
os  verdores  da  mocidade. 

. —  Ornado,  ou  juncado  de  ramos. 

—  Loc. :  Cortar  cm  verde ;  cortar  em 
herva,  ou  em  agraço,  antes  do  tempo  sa- 
zonado, em  tior. 

—  Estar  o  negocio  ainJa  em  verde ; 
estar  não  de  vez,  nào  sazonado,  nem  ma- 
duro para  se  otfcctuar. 

—  Loc. :  Dar  uma  verde  com  tuna  ma- 
dura; misturar  as  cousas  desabridas  com 
agradáveis,  que  liies  sirvam  de  sainete. 

—  Juízo  verde;  diz-so  por  incapaz 
aimla  do  julgar  bem,  sem  bom  discerni- 
mento. 

—  £st4ir  u  negocio  ainda  em  verde ; 
estar  fraco,  pouoo  forte. 

—  Está  a  apust&na  verde ;  está  únda 
fora  do  tempo  de  se  abrir. 

—  Velho  verde;  velho  rijo,  ârcBco, 
teso. 


VERD 


VERD 


VERE 


917 


—  Tempos  verdes;  quando  dura  ainda 
o  inverno,  e  não  ha  sazíto  de  navegar. 

—  Esperanças  em  verde;  mui  antes,  e 
arriscadas  de  se  eftcituarein. 

—  Adágios  e  provérbios  : 

—  Arde  o  sôcco  pelo  verde,  e  pagam 
justos  por  peccadores. 

—  Está  tremendo   como  varas  verdes. 

—  A  fruta  é  o  verde  do  racional. 
VERDEA,  s.  f.  Espécie  de  vinho,  que 

na  cor  inclina  a  verde;  é  estimada  a  de 
Florença,  na  Itália. 

1.)  VERDEAL,  s.  m.  Os  officiaes  do 
meirinho  da  Universidade  de  Coinibia, 
assim  denominados  por  andarem  de  verde. 

2.)  VERDEAL,  adj.  2  gen.—  Trigo  ver- 
deal ;  -peru  verdeal ;  espécies  de  trigo,  e 
peros. 

VERDEAR,  V.  a.  Vid.  Verdejar,  termo 
mais  em  uso. 

VERDECER,  i;.  n.  Apparecer  verde, 
tornar  verde. 

VERDECRÉ,  s.  m.  Côr  verde  sobre  ouro. 

VERDEGAI,.  aJj.  2  gen.  Verde  gaio. 

—  Roupas  de  verdegai ;  roupas  de 
verde  alegre  claro. 

t  VERDEIJAR,  V.  n.  Vid.  Verdejar. 

Mas  em  mar  leite  navegando  alegres, 
Os  eâfoi'çado3  nautas  ja  descobrem 
Entro  a  alva  espuma  das  ambientes  aguas 
Viçar  a  ilha  formosa:  — qual  no  seio 
Lacteo-trcmente  da  modesta  noiva 
Puro  verdeija  o  sponsalíoio  ramo. 
cABBETT,  C.1MÕES,  cant.  8,  cap.  13. 

VERDEJAR,   V.  n.  Apparecer  verde. 

—  Emprega-se  também  figuradamente. 

VERDELHÂ,  ou  CITRINELLA,  s.  f.  Ter- 
mo de  historia  natural.  Pássaro  vulgar, 
chamado  também  verdelhão. 

VERDELHÃO,  s.  m.  Ave  vulgar,  pouco 
maior  que  o  pardal ;  tem  bico  curto  e  re- 
dondo, costas  verdes  e  barriga  amarella. 

VERDEMAR,  adj.  2  gen.  De  verde  mui 
claro. 

VERDEMONTANHA,  s.  m.  Verde  azu- 
lado, mais  delgado  que  o  verde  terra ; 
emprega-se  na  pintura  para  pintar  mon- 
tes. Vid.  Verde  1). 

VERDENEGRO,  A,  adj.  De  verde  escu- 
ro, apertado. 

VERDEPEZO,  ou  VEROPEZO,  s.  on.  Vid. 
Aver  de  peso. 

VERDESELHA,  s.  f.  Termo  de  botânica. 
Planta  trepadeira  vulgar. 

VERDESELLA,  s.  /.  Nas  buizes  é  uma 
vara  mettida  de  ponta  na  terra,  e  arcada 
para  n'ella  se  armar  o  laço.  Quando  a 
ave  com  os  pés,  ou  cora  o  pescoço  se  en- 
laça, a  verdesella  desencurvando-se,  en- 
direita, e  no  surto  que  dá  aperta  o 
aro  do  cordel,  e  segura  a  presa  ave,  ou 
animalzinho,  coelho,  lebre,  e  similhantes. 

VERBETE,  s.  m.  Tinta  feita  de  ferru- 
gem do  cobre,  ou  latão  posto  em  vapores 
de  vinagre. 

VERDICT,    s.   víi.    (Do   inglez   verdict). 


Termo  usado  para  designar  a  declaração 
do  jury,  resposta  que  clle  dá  aos  quesi- 
tos do  juiz.  Vid.  Júri. 

VERDILHÃO,  s.  m.  Vid.  Verdelhão. 

VERDINEGRO.  Vid.  Verdenegro. 

VERDISELLA,  s.  /.  Vid.  Verdesella. 

VERDIZELLO,  s.  m.  Termo  de  historia 
natural.  Pássaro  do  género  dos  bico-gros- 
sudos. 

VERDIZELLOS,  talvez  por  Virdizellos, 
corrupção  de  vidros,  vidrusinhos  ou  ga- 
Ihatas. 

VERDOENGO,   A,  adj.  Tirante  a  verde. 

—  Fruta  verdoenga ;  fruta  algum  tan- 
to verile,  um  pouco  esverdeada. 

VERDOGADA,  ou  VERDOEGA,  ou  VER- 
DOAQA.  Vid.  Beldroegas. 

VERDOR,  s.  m.   Verdura  da  planta. 

—  O  verdor  da  mocidade;  os  poucos 
annos. 

• — :  Figuradamente  :  O  verdor  do  sen- 
timento; viveza,  força. 

—  Os  verdores  da  mocidade;  as  im- 
prudências, e  travessuras  oriundas  da 
pouca  edade. 

VERBOSO,  A,  adj.  Verde. 

—  Não  maduro  ainda. 
VERDUGADAS.  Vid.  Averdugadas. 
VERDUGO,  í.  m.    Algoz,    executor  da 

alta  justiça. 

A  palavra  que  tenho  ao  Falcão  dada 
Por  miin  será  cumprida,  e  não  presuma 
Leuar  Manoel  de  Sousa  o  que  me  mauda 
Dizer  auante  mais,  pois  ho  escuzado. 
(íuo  primeiro  estas  mãos  serào  i-erdugo 
Da  filha  que  naceo  pêra  raatarmc, 
Primeiro  a  euterrarci  vlua,  que  passe 
Esta  falta  por  mim,  tendo  ella  a  culpa. 

COHTE   REAL,  NAUFKàOIO   DE   SEPÚLVEDA,  Caut.   1. 

—  Dobra,  como  vergão,  feita  na  rou- 
pa, carapução,  ou  gorras  por  ornato  re- 
levado. 

—  Uma  navalha  pequena. 

—  Espada  sem  gumes,  muito  longa,  del- 
gada. 

—  Termo  de  náutica.  Cinta  no  costa- 
do do  navio.  Vid.  Cinta. 

VERDUGUO.  Termo  antiquado  de  cor- 
reeiro. =  .Signilicação  incerta. 

VERDURA,  s.  /.  A  côr  verde  da 
planta. 

Três  formosos  outeiros  se  mostravam 
Erguidos  com  soberba  graciosa, 
Que  de  gramíneo  esmalte  se  adornavam, 
Na  foi-moaa  ilha  alegre  e  deleitosa: 
Claras  fontes  e  límpidas  manavam 
Do  cume,  que  a  verdura  tom  viçosa; 
Por  entro  pedras  alvas  ae  deriva 
A  sonorosa  lympha  fugitiva. 
OAM.,  Lus.,  cant.  9,  est.  54. 

— ■  «Outros  tam  comparados  a  palmei- 
ras que  conseruam  perpetua  verdura  e 
nunca  perdem  a  folha:  assim  elles  con- 
seruam a  verdura  da  Castidade,  e  sani 
constantes  em  as  virtudes  :  assi  como  a 
palmeira    no   alto  he   larga  e  no   pè    es- 


treyta.»  Fr.  Bartholomeu  dos  Martyrcs, 
Catecismo  da  doutrina  christã. 

—  Diz-se  em  ojiposição  á  madureza 
dos  fructos,    o  contrario  d'ella. 

—  Figuradamente  :  As  plantas. 

—  Verdura  do  moqo.  Vid.  Verdor. 

—  Hortaliças. 

—  Figuradamente:  Verdura  do  estylo 
do  principiante ;  imperfeição,  viço  e  pou- 
ca correcção. 

VEREA,  5.  /.  Termo  antiquado.  Vere- 
da,  caminho. 

—  Figuradamente  :  Direcção,  directó- 
rio. 

VEREAÇÃO,  s.  /.  Officio   de  vereador. 

—  Taxa  em  cousas  de  venda,  ou  ma- 
neio, braçagem  de  serviçaes,  e  mochani- 
cas. 

—  Conferencia  sobre  a  direcção,  e  en- 
caminhamento do  bem  publico,  e  bemfei- 
toria  encommendada  a  tacs  officiaes.  Ou- 
tras conferencias  teem  ou  relações  sobre 
despachos  de  coimas,  causas  ou  pleitos, 
que  vão  aos  juizes  e  vereadores  por  ag- 
gravo,  ou  appellaçao.  Vid.  Vareação. 

—  Postura  ou  decisão  dos  vereadores, 
ou  do  concelho,  para  o  bom  regimento 
da  terra. 

—  Almotaçaria. 

VEREADO,  part.  pass.  de  Verear. 

—  Regido,  governado,  dirigido  a  bem. 

VEREADOR,  s.  m.  Membro  do  conce- 
lho, ou  camará,  que  tem  a  seu  cargo  cou- 
sas da  policia,  como  os  concertos  das  es- 
tradas, a  abundância  dos  mantimentos, 
quasi  encaminhador  das  cousas  da  terra 
a  bom  paramento  e  estado.  Vid.  Varea- 
dor,  que  é  difiei-ente.  —  «No  cães  o  es- 
peravão  os  Cabos  da  milicia.  Nobreza,  e 
Regimentos  da  Cidade,  com  os  quaes  en- 
trou a  primeira  porta,  onde  hum  Verea- 
dor na  lingua  Latina  lhe  orou  discreta- 
mente, discorrendo,  como  por  beneficio 
de  seu  Valor  tínhamos  humilhado  o  mais 
soberbo  Sceptro  do  Oriente,  cujas  ruínas 
serião  de  sua  fama  os  elogios  maiores.» 
Jacintho  Freire  d'Andracle,  Vida  de  D. 
João  de  Castro,  liv.  3. 

VEREAMENTO,  s.  m.  O  conhecimento, 
e  jurisdicção  económica  no  regimento  das 
terras  acerca  das  bemfeitoi-ias  concelhei- 
ras,  agricultura,  etc.  Vid.  Encaminha- 
mento. 

—  Regimen,  direcção. 

VEREAR,  V.  a.  Termo  antiquado.  Go- 
vernar, reger  a  terra  pondo  n 'ella  verea- 
mento,  e  boa  policia,  bom  regimen.  Vid. 
Vereado,   c  Vereamento. 

VERECIVELMENTE,  adu.  Termo  anti- 
quado. Verusinnlmeiíte. 

VERECUNDIA,  s.  f.  (Do  latim  verecun- 
dia).   Vid.  Vergonha. 

VERECUNDO,  A,  adj.  Vid.  Vergonhoso. 

VEREDA,  s.  /.  Caminho  estreito,  o  não 
estrada  real. 

—  Figuradamente  :  O  estylo,  o  modo, 
e  ordem  de  vida,  ou  passos,  niethodo. — 
A  vereda  da  virtude. 


918 


VERG 


VERO 


VERa 


VEREDE,  s.  m.  Termo  antiquaflo.  Po- 
mar. 

VERENDO,  A,  ailj.  Vcnei-avel. 

VERETILHO,  s.  m.  (Do latim  verotillum). 
Termo  de  historia  natural,  (ienero  de 
zoopliytoe. 

f  VEREY,  por  Verei,  na  primeira  pes- 
soa do  siujíulai-  lio  futuro  imperfeito  do 
modo  indicativo.  Vid.  Vèr.  —  «Poeo-vos 
que  ma  remetaes  a  cojiia  delle  pelo  por- 
tador, o  se  nào  ha  copia  mereço  o  ori^^i- 
nal  que  verey,  e  restituirey  no  tempo 
cm  que  ordenaro.s.»  Cavalleiro  d'Oiivei- 
ra,   Cartas,   liv.  1,  n."  31. 

VERGA,  s.  f.  (Do  latim  virga).  Vara 
Hexivel  o  dobradiça  com  que  talvez  se 
açouta. 

—  Ferro  lavrado  em  barras  estreitas 
para  arcos,  etc. 

—  Vara  usada  dos  mágicos,  e  similhan- 
tes  curandeiros,  ou  milagreiros. 

—  Termo  de  náutica.  Vara,  peça  de 
madeira  redonda  mais  grossa  no  meio, 
que  nas  pontas,  que  cruza  o  mastro,  e 
d'oade  se  prende  a  vela,  antenna. 

—  Vara  de  medir. 

—  Figuradamente  :  Unia  verga  de  fer- 
ro fervente. 

—  Loc:  Estar  rZa  vergas  d' alto,  ou  de 
vergas  alfas;  estar  com  as  velas  ferra- 
das, ou  soltas. 

—  A  pe  ira  do  portal  superior,  em  op- 
posiçíio  á  sdôiru,  ou  liminar. 

VER5AD'ALT0,  nU\  —  Armada  pos- 
ta vergad'alto.  Vul.  Verga. 

VERGAL.    Vil.  Tiravergal. 

VERGALHADA,  s.  /.  Uolpe,  açouto  da- 
do com  vei'galho. 

VERGALHÃO,  s.  m.  Barras  de  ferro  es- 
treitas e  quadradíis,  ou  quasi,  usadas  no 
commereio. 

VERGALHO,  s.  m.  O  membro  genital 
do  cavallii,  boi,  etc. 

VERGAME,  s.  vi.  Termo  de  náutica. 
As  vergas  de  um  navio,  que  se  acham 
apparelliadas,  ou  prouiptas  para  o  serem, 
e  servirenx  na  marinha. 

VERGAMOTA.   Vid.  Bergamota. 

—  Na  província  da  Beira  chama-se-Ihe 
hortelã  mourisca. 

VERGÃO,  s.  m.  Augmentativo  de  Ver- 
ga» Verga  mais  grossa.  , 

—  Figuradamente  :  O  signal  sauguea- 
to  ou  não,  alto,  que  deixa  no  corpo  o  gol- 
pe lia  vara  grossa,  ou  açouto. 

VERGAR,   11.  a.  Dobrar,  curvar. 

—  V.  n.  Dobrar,  curvar. 

I  Adòrnoa  de  vestal,  não  mAis  vos  mancho. »  — 
Co'  Sacio  gume,  o  niveo  eólio  iiivésto, 
E  o  sangue,  cm  espadana,  sAe  de  rojo. — 
Vcllèda  rérjja.  e  cle.  Asaim  nos  sulcos, 
Que  hA  sejrado,  a  CoifoÁra,  o  oMn  inclina, 
E,  pcsiida  do  atVan,  se  entrega  ao  somno. 

r.    M.    DO  NA3CIJ1SNT0,  03   MARtYBKS,   1ÍV.    10. 

—  Emprega-se  também  no  sentido  de 
estar  voltado,  ou  inclinado  para  alguma 
parte. 


VERGASTA,  «.  /.  Termo  u.sual.  Vara 
que  serve  ile  açimte. 

VERGASTADA,  s.  /.  Oolpe,  pancada 
couj  vergasta. 

VERGEL,  «.  )/(.  íDo  francez  vergerj. 
Horto  ameno  de  recreio,  onde  existem 
jardins. 

Não  ha  hl  favo  do  mel 
Tão  doei!  como  a  preguiça  ; 
llc  muiu  descufadãdiça 
Que  bom  pomar  nem  vergel. 

OIL  VIUEMlt:,   KÁUVAS. 

Ouvio  erros  s<5mente  a  docta  Athenas 
Nos  vcri/eit  de  Academo  ;  o  vasto  Gcnio, 
Por  tanto  tempo  o  Déspota  da  Kscola, 
Em  erros  dei.ta  o  .Mundo,  at»';  que  Urânio 
Os  grilhões  lho  quebrou  com  niao  robusta. 

J.  À..   DIS  IIACKDO,  A   líATi;iI£ZA,  Caut.    1. 

—  Figuradamente :  Uns  vergéis  de 
virtude. 

—  Adjectivamente  :  Amor  vergel. 

Olá,  buscacs  amor  ? 

Í5Ím. 
Pastel,  é  amor  vergd. 
Pastel,  amor  mano  e  rida. 
liuscaos  amor  V 

Sim. 

ANTÓNIO  PBESTES,  AUTOS,  pag.  225. 

VERGONÇA,  *.  /.  Termo  antiquado. 
Vid.  Vergonha.  —  «E  estes  Escripvàes 
devem  de  jurar  na  Chaucellai-ia,  que  fa- 
çam seu  OíGcio  lealmente,  e  sem  prelon- 
gua,  e  nom  catem  hi  amor,  nem  des- 
amor, nem  medo,  nera  vergonça,  nem  ro- 
guo,  nem  dom  que  lhes  prometaõ,  nem 
dem,  e  sobre  tod )  que  guardem  bem  a 
Nossa  puridade,  e  todalas  outras  cousas, 
que  a  Nós  pertecncem,  segundo  aquello, 
que  eiles  hã  de  fazer  em  seus  officios.» 
Ord.  Affous.,  liv.  1.  tit.  16,  §  2. 

f  VERGONÇOSO,  A,  adj.  Vid.  Vergo- 
nhoso. 

VERGONHA,  s.  /.  (Do  latim  verecun- 
dia).  A  paixão  da  alma  causada  pelo  re- 
ceio de  cousa  que  deshonra,  infama,  e  é 
feita  em  desprezo,  ou  por  idèas  deshones- 
tas  e  impudicas ;  ordinariamente  é  segui- 
da de  rubor  no  rostoi  —  «E  chegou  a  ella 
em  poucos  dias,  que  como  fosse  conheci- 
do d'el-rei  e  dos  de  sua  casa,  houve  por 
cousa  grave  vèr-se  naquella  vergonha : 
mas  temendo  seria  miir  vergonha  nào 
cumprir  o  que  promettêra,  entrou  no  pa- 
ço, e  chegou  a  tempo  que  el-rei  estava 
em  casa  da  rainha.»  Francisco  de  Mo- 
raes,  Palmeirim  dlnglaterra,  cap.    120. 

Oh  Solina,  minha  amiga. 
Que  todo  Câte  coração 
Teulio  posto  em  vossa  mão ; 
Amor  nic  manda  que  diga, 
Veryonha  me  diz  que  nào. 

CAM.,  FILODKMO,  act.  4,  SC   1. 

Chum  delgado  cendal  as  partes  cobre, 
De  quem  vtrgoiiha  ho  natural  reparo  ; 


Porém  nem  tudo  escondi,  nem  descobre 
O  vco,  dos  roxos  lírios  pouco  avaro : 
M.is  para  <\w.  o  desejo  accerida  e  dobre, 
I,hc  p*e  diante  aqueíle  objecto  raro. 
.I;i  se  sentem  no  ceo,  por  tfida  a  parto, 
Ciúmes  cm  Vulcano,  amor  oiu  Marte. 
iDBM,  IMS.,  cant.  2,  est.  37. 

Rfo»  nem  com  tilo  mortal  fúria  medonha 
IVide  tanto  o  canhão  bravo  o  espantoso, 
Que  ou  arreceio,  ou  duvida  então  ponhs 
Naquelle  Portuguez  peito  animoso: 
O  esforço  natural  junto  A  yfftfonha 
llc  tanto,  que  o»  canhões  mais  furioso, 
Que  o  sulfúreo  furor  nào  he  bastante 
A  fazer  que  clle  então  uão  passe  ávanto. 

raANCIgCO  DE  AJIDRADE,    FBIMEIBO    CEBCO    DE  DIC, 

cant.  13,  est.  88. 


—  «E  sustentando  a  vida  com  um  pe- 
daço de  pão  comprado  com  a  vergonha 
de  o  pedir  de  porta  em  porta.»  Frei  Lniz 
de  Sousa,  Historia  de  S.  Domingos,  liv. 
1,  cap.  8. 

Essa  tão 
vád'impace  Deus  m'a  priva. 
Bom  é  ter  vergonha  já. 

AMTOKIO  PBESTES,  AUTOS,    psig.    191. 

Ora  emfim,  eu  estou  posto 
d'crguer  lebros  :  não,  desgosto 
não  vos  quero,  senhora,  agora, 
porque  me  não  ponhaes  magoa 
ualma,  e  vergonha  no  rosto. 
iBiDEJi,  pag.  325. 

Oh !  isso  é  meu, 
mas  põe-no  quem  tem  x-ergnnJia. 
Que  não!  que  é  mais  carantonha 
que  sczudo ;  isso  é  sandeu. 
IBIDG3I,  pag.  41Õ. 

Começac  vossos  feitos  gloriosoe. 
Aqui  estou  so,  feri :  que  vos  demora! 
Oli,  faltava-noâ  mais  esta  vergonha. 
Esta  vergonha  derradeira!  —  Koma, 
Ahi  tens  os  teus  heroes.  Catão,  são  eaeee, 
Ei-los,  da  liberdade  os  defensores  ! 

OABBBTT,  C.ITÃO,  aCt.    4,   SC.    1. 

—  Ser  vergonha ;  ser  cousa  vergonho- 
sa, impudica,  indecorosa.  —  tAs  novas 
de  Admòm  correrão  logo  por  Goa,  ãcan- 
do  Dom  Tayo  taõ  desacreditado  com  to- 
dos, que  era  vergonha^  e  assim  teve  El- 
Rey  com  elle  tào  pouca  conta,  que  nun- 
ca o  despachou,  se  não  depois  de  velho, 
e  ca.sado,  e  em  quanto  viveo  licou  com 
eate  labèo.»  Diogo  de  Couto,  Década  6, 
liv.  6,  cap.  6. 

—  Cousa  ou  pessoa  que  a  produz,  ou 
deve  produzir. 

—  Figuradamente  :  Plur.  As  partes 
impudicas,  as  partes  pudendas  e  obsce- 
nas. 

—  Ad.vgios  e  pkoverbios  : 

—  Jielhor  é  vergonha  no  rosto,  e  ma- 
gna no  coração. 

—  Quem  sempre  mente,  vergonha  nâo 
sente. 

—  Quem  nào  tem  vergonha,  todo  o 
mundo  é  seu. 


VERG 


VERI 


VERM 


919 


—  A  mulher  qae  perde  a  vergonha, 
jamais  a  cobra. 

—  Quem   tem   vergonha  auda  magro. 

—  Quem  não  tem  vergonha,  iiào  tem 
honra. 

—  A  pobreza  uãõ  ó  vergonha. 

—  A  vergonha  no  pobre  fal-o  mais 
pobre. 

—  Antes  a  minha  face  com  fome  ama- 
rella,  que  com  vergonha  n'ella. 

VERGONHOSA,  s.  f.  Vid.  Herva  mi- 
mosa,  viva,   sensitiva. 

VERGONHOSAMENTE,  adv.  (De  vergo- 
nhoso, e  o  suiBxo  «mente»).  De  um  mo- 
do vergonhoso,  que  pro  luz  vergonha. 

vergonhosíssimo,  a,  adj.  siqjerl.  de 
Vergonhoso.  Mui  vergonhoso.  —  Dónzel- 
la  vergonhosíssima. 

vergonhoso,  a,   adj.  Que  tem   ver- 


Que  produz  vergonha. 


Com  forçA  não,  com  mantia  vergonhosa 
A  vida  lhe  tiraram,  que  03  espanta ; 
Que  o  grande  aporto  em  gente,  inda  que  honrosa, 
A'â  vezes  leis  magnânimas  quebranta. 
CAX.,  tns.,  eant.  8,  est.  7. 

Em  prisões  baixas  fui  hum  tempo  atado  ; 
Vergonhoso  castigo  de  meus  erros: 
Inda  agora  arrojando  levo  os  ferros, 
Que  a  morte,  a  meu  pezar,  tem  ja  quebrado. 
CAM.,  SOXEIOS,  n.°  5. 

Surge  outra  Fúria  lúgubre,  c  funesta, 
Tjranao  Amor,  que  em  vergonhosos  cepos 
Mette  esci-ava  a  razão,  e  ao  carro  atados 
Leva  em  cadéas  vis  Soneca,  e  Zeno, 
O  velho  curvo,  o  flórido  mancebo. 

J.   A.   DR  MACEDO,  MKDITAçlo,  Cant.    1. 

Por  certo  não  é  crime  ser  escravo, 
So  desventura  grande  ;  maa,  podendo 
Espedaçar  os  ferroa  vergonhosos, 
Xào  o  fezcr  é  vil  baixeza  torpe, 
E  covardia,  —  e  a  covardia  é  crime. 

GAKItETT,   CATÃO,   aCt.    5,    SC.    3. 


—  Que  padece  vergonha,  por  qualquer 
leve  Câusa  das  que  a  excitam.  —  «He  na- 
turalmente o  Elephaute  manso,  benigno, 
clemente,  vergonhoso,  e  amoroso.  Dey- 
tase  em  terra,  e  se  leuanta  todas,  e  quan- 
tas vezes  quer.  Lembrado  estou  que  Fr. 
Phelippe  Dias  diz  que  ja  mais  se  deyta, 
mas  que  dorme  encostado  a  huma  aruo- 
re.i)  Frei  Gaspar  de  S.  Bernardino,  Iti- 
nerário da  índia,  cap.  15. 

—  Adagio  e  provérbio  : 

—  Homem  vergonhoso,  o  demo  o  trou- 
xe ao  poço. 

VERGONTA,  ou  VERGONTEA,  s.  f.  A 
vara  tenra,  o  renovo  das  arvores. 

—  Figuradamente :  A  prole  tenra,  os 
filhos  moços. 

VERGONTEAR,  v.  ii.  Lançar  vergon- 
teas  a  arvore,  ou  .irbusto,  ou  tronco  de- 
cotado o  assim  a  raiz  de  tronco  que  ficou 
na  terra. 


VERGUEIRO,  s.  m.  Cabo  de  pau,  em 
cujo  extremo  os  ferreiros  cravam  as  suas 
talhadeiras,  e  os  carpinteiros  de  enge- 
nhos as  palmetas  para  se  baterem  com  a 
marreta,  sem  perigo  das  mãos  de  quem 
as  sustem. 

—  Termo  de  marinha.  Cabo  dobrado, 
brasa.  —  Vergueiro  do  leme. 

VERICID.A.DE,  s.  /.    Vid.    Veracidade. 

j  VERIDICAMENTE,  adv.  (De  veridi- 
co,  e  o  suffixo  «mente»).  Da  um  modo 
verídico.  —  Isto  foi  narrado  veridica- 
mente. 

VERIDICIDADE,  s.  /.  Vid.  Veraci- 
dade. 

VERÍDICO,  A,  adj.  (Do  latim  veridi- 
cus).  Que  gosta  de  fallar  a  verdade,  que 
tem  por  habito  dizel-a. 

—  áYX.  :  Verídico,  verdadeiro.  Vid. 
este  ultimo  termo. 

VERIFICAÇÃO,  s.  f.  Acto  de  verificar. 

—  Verificação  dos  pesos  e  medidas.  — 
cPera  mor  certeza  do  que  farei  aqui  men- 
çam  do  que  Pêro  de  sequeira  (homem  a 
que  se  pode  dar  credito)  me  dixe  acerca 
da  veri&caçaõ  deste  saucto  Apostolo,  ser 
o  primeiro  que  pregou  a  nossa  fe  catho- 
lica  uaquellas  partes,  que  foi  assi.»  Da- 
mião de  Guês,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  1,  cap.  98. 

—  O  acto  de  cumprir-se  algum  dito, 
prophecia. 

VERIFICADO,  part.  pa-ss.  do  Verificar. 

—  «i^elo  que  tendo  Portugal  Rey,  naõ 
hà  que  temer  nenlmm  poJer  estranho, 
como  testificaò  os  exemplos  de  todos  os 
séculos,  os  dictames  mais  verificados  dos 
Políticos,  e  sobre  tudo  os  diviíios  Orácu- 
los.» Severim  de  Faria,  Noticias  de  Por- 
tugal,  Dísc.  2,  cap.  9. 

VERIFICADOR,  s.  m.  Homem  que  é  no- 
meado judicialmento,  para  examinar  se 
uma  eícriptura  é  falsa  ou  verdadeira. 

—  Ofíicial  nas  alfandegas,  encarrega- 
do de  verificar  a  qualidade,  e  quantida- 
de das  fazendas,  que  se  apresentam  a 
despacho,  etc. 

— •  S.  Pessoa  que  verifica. 

VERIFICAR,  V.  a.  Certiticar-se  se  uma 
cousa  é  como  deve  ser.  —  Verificar  um 
facto.  —  Verificar  os  pesos  e  rnedidas. 

—  Fazer  vêr  a  verdade,  a  exactidão 
de  uma  cousa. 

—  Indagar  o  verdadeiro  estado  da 
cousa. 

—  Verificar-se,  v.  refl.  Cumprir-se, 
tornar-se  verdadeiro  o  annuncio,  a  pro- 
phecia, etc.  —  «Por  isso  desta  nobre  par- 
te se  verefica  aquelle  enigmático  dicterio 
dos  Gregos;  em  quanto  dizem,  que  quan- 
to mais  clieyo,  mais  leve;  quanto  mais 
vazio,  mais  pezado.»  Braz  Luiz  d'Abreu, 
Portugal  medico,  pag.  33. 

—  Verificar-se  a  condição ;  existir,  efl^e- 
ctuar-se,  fazer-se  aquillo  que  se  tomou 
por  eouJiçào  do  contracto,  ameaça,  pre- 
dicção. 

—  Loc. ;    N'isto  se  verifica  o  que  diz 


o  auctor;  n'isto  se  sabe  ser  verdadeiro  o 
que  elle  diz. 

—  Stn.  :  Verificar,  realisar,  Vid.  este 
ultimo  termo. 

VERIFICATIVO,  A,  adj.  Que  serve  de' 
verificar.  —  Uma  experiência  verificati- 
va.  —  Documentos  verificativos. 

VERIFICÁVEL,  adj.  2  gen.  Que  é  pos- 
sível verificar-se. 

VERILHA,  s.  /.  Vid.  Virilha. 

VERI3IMIL,  adj.  2  gen.  (Do  latim  ve- 
risimilis).  Que  parece,  e  tem  ar  de  ver- 
dadeiro. 

VERI3IMILIDADE,  s.  /.  Ar  de  verda- 
de, apparencia  de  verdade,  sob  a  qual 
se  nos  representa  alçum  facto. 

VERISIMILHANÇA,''  s.  /.  Vid.  Verisi- 
milidade. 

VERISIMILITUBE,  ?.  /.  (Do  latim  ve- 
risimilitndo^,  Vid.  Verisímilhança. 

VERISIMILI-iEKTE,  adv.  (De  verisimil, 
com  o  suflBxo  «mente»).  De  um  modo  ve- 
risimil. 

—  Com  verisímilhança,  ou  verosimi- 
lhança. 

VERÍSSIMO,  A,  adj.  superl.  de  Vero. 
Mui  vero,  muito  ver^:adeiro. 

VERLO.  Vid.  Véllo. 

VERaiE,  s.  m.  (Do  latim  vermis).  Ter- 
mo de  historia  natural.  Bicho  que  se  cria 
nos  fructos,  na  terra,  nas  arvores,  no 
corpo  anima!,  nas  conchas. 

—  Figuradamente :  Verme  roedor  da 
conscieyicia. 

—  Verme  da  ferra ;  a  lombriga  terres- 
tre. 

■ —  Diz-se  dos  vermes  que  roem  os  cor- 
pos nas  sepulturas.  Vid.  Vermee. 

VERMÊE.  Vid.  Verme. 

VERMELHAÇO,  A,  adj.  Avermelhado, 
algum  tanto  vermelho. 

VERMELHADO,  adj.  Vid.  Averme- 
lhado. 

1.)  VERMELHÃO,  s.  m.  Mineral  de  côr 
vermelha  accesa. 

—  Figuradamente  :  COr  do  rosto  posti- 
ça, arrebique. 

—  A  mesma  tinta  artificial  feita  de 
azougiie  e  enxofre.  Vid.  Cinabrio. 

2.)  VERMELHÃO,  s.  m.  Termo  de  bo- 
tânica. Dragoeira,  arvore  da  índia  que 
produz  o  sanffue  de  drago. 

VERMELHAÍÍTÈ,  adj.  2  gen.  Termo  de 
poesia.  Que  tii-a  a  verfiielho,  tirante  a 
elle,  avermelhado. 

VERMELHIDÃO,  s.  /.  A  côr  vermelha 
d'uma  ])arte  inflammada. 

VERMELHO,  A,  adj.  (Do  francez  ver- 
meil).  Diz-tfc  da  côr  do  rosto  corado  com 
vergonha,  e  do  vermelhão,  mas  menos 
vivo. 

—  Que  tem  a  côr  do  sangue. 

Dous  mil  e  setecentos  bem  serião 

(Na  Lusitana  terra  ao  mundo  dados) 

Os  que  a  branci  e  rerme/ha  Cruz  segnião, 

Do  forte  aço,  c  mais  forte  'sprito  armados, 

Do  Canarins,  c  Malabares  ião 

Outros  dous  mil  também  (os  quaes  creadoa 


920 


VERM 


VERM 


VERM 


Na  oMMma  torra  aiio}  qu«  «'ombarcavilo 

Noa  imviorf  d«  Moiiioi  c|Uu  alli  (Htiiviio. 


.   D  A.NDRADK 

est.  U. 


piiiMuiHU  UKUuu  \>u  iiii',  cant.  1 , 


Porém  pouco  lho  vai  agora  o  grito, 

Ni'm  a  Hua  cansada  fori;a  vcllia, 
<lnr:  osta  tofm  luim  fiiior  r(iia»i  infinito, 
Aqucllo  nào  pnnntra  a  surda  orelha; 
Asai  forcado  lho  ho  render  o  u4priU) 
Sem  do  rtiHi  saufíuo  a  turra  sor  vermelha, 
Ou  ti^ir  outio  algum  mal,  mais  que  o  que  sento 
Po'  ardor  com  que  peleja  a  sua  gnuto. 
iDiDEM,  cant.   19,  est.  70. 


—  « CttlçSo  çapatoíi  do  pontillia  do  cou- 
ro ou  de  seda :  truzein  oiu  as  cabt!(;as 
toucas  brancas  loteadas  sobre  uns  barre- 
tes vermelhos  com  liuinas  trombus  ver- 
luelbas  o  a.ssiiu  como  anilam  bem  atavia- 
dos de  vo.-~tid()  lio  aniLiõ  dannas.  s.  ter- 
çados, e  adagas,  arcos,  torqiiiscos,  o  fre- 
chas, sam  grandes  froelieyros  trazem 
huna  escudos  a  que  chainão  cofos  de  seda 
e  dalgodara  :  taõ  fortes  que  os  nam  pas- 
sa uenhuma  frecha  e  contiimaniente  tra- 
zem estas  armas  na  paz.»  Teureiro,  Iti- 
nerário, cap.  1.  —  «A  causa  do  qual 
nomo  Roxo  (jucrendo  Alfonso  do  Albo- 
querquc  entender  neste  tempo  que  o  na- 
vegou, diz  em  huuia  carta  que  sobre  isso 
escreveo-  a  ElKey  D.  ]\lanool,  que  lhe 
convém  muito  este  nomo  Roxo,  por  ser 
mui  cheio  de  manchas  vermelhas;  porque 
querendo  elle  abocar  com  a  frota  que  le- 
vava ás  poi-tas  dellc,  vio  saliir  per  ellas 
huma  vea  grossa  de  agua  vermelha.» 
liarro.<,  Década  (5,  liv.  8,  cap,  1.  — -«Os 
Alouroa  tiráràt)  logo  huma  baudcira,  bran- 
ca, e  arvorarão  outra  vermelha,  a  que 
*ucceídep  tirareiu  os  nossos  algumas  bom- 
bardadas,  com  pontaria  trw  incerta,  que 
uãfl  ,fiaerão  daiuno.  D.  Álvaro  rodeou 
cora  todos  os  seus  a  Fortaleza,  quomau- 
dou  eommetter  por  escala  por  ditforentes 
partes,  assegurando  os  que  subiào  com  a 
espingardaria  debaixo ;  e  porque  era  a 
carga  continua,  nào  ousavào  apparecer 
03  Mouros.»  Jaeintho  Freire  d'Andrade, 
Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv.  4. — 
tPòr  este  feito  tão  honrado,  lhe  deu  El- 
Rey  p.  Afonso  V.  por  aimaa  em  campo 
do  ouro  cinco  cintos  vermelhos  coin  fi- 
vellas  de  prata  ;  e  tachoens,  e  huma  bor- 
dadura azul  com  sete  Flores  de  Liz,  por 
timbre  hum  meio  jMouro  cwm  hunia  aza- 
gaya  na  maõ  e  l\iinia  bandeira  de  prata, 
e  por  Appellido  o  mosnio  nome  de  Mes- 
quita.» Severim  do  Faria,  Noticias  de 
Portugal,  Disc.  3,  cap.  10. 


São  isso  af^ouvos  do  velhas, 
sois  d'osâJi3  que  tudo  crêem, 
d'e3sa3  que  voem 
o  homem  das  cali;aa  vermelhas, 
o  o  pesadelo  tumbom. 

ASIOSIO  l-UESTKS,  Auroâ,  piig-  355. 


vnc.  semisfl.  de  Coral  vermelho  jirepara- 
do.  aljôfar  preparado  aii.  «crup.  ij.  de 
a<;afrà<)  scrup.  j.  follia»  de  ouro  num.  XV. 
nústure  se  tudo,  reduzindo-se  primeiro  a 
pó  Bobre  uma  pedra  mármore.  A  Dohíh 
silo  doze  gi-aoMs  destes  pi»H  em  agoa  de 
escorcioiíeira.»  liraz  Luiz  d'Abreu,  Por- 
tugal medico,  pag.  'òOCi,  ^  lO-l. —  «U. 
do  agoa  ardente  iiinssima  lib.  J.  e  semiss. 
ajunte  de  excremento  de  pavíTo  em  pó 
colhido  no  mez  de  ilayo  drachm.  vj.  se- 
mente de  peonia  negra  em  pó  une.  se- 
núss.  alfazema  cm  jiò,  e  sândalos  verme- 
lhos em  pò  an.  drachm.  ij.  tlor  do  ale- 
clirim  pug.  ij;  ponha  em  diggestào  por 
três,  ou  quatro  dias  em  cinzas  quci!- 
tes;  e  feita  expressão  forte,  guarde  em 
vidro  tapado.»  Ibidem,  §  lOi).  —  «As 
pedras  vermelhas,  «jue  no  (Jercz  se 
acham,  também  se  encontram  no  distri- 
cto  de  liellas,  não  sei  em  uma  mina 
d'agua  como  me  disse  tíimào  de  Viwcon- 
cellos,  mas  também  em  um  campo,  de 
cujas  pedras  teve  nmitíW  a  snr.'  condes- 
sa de  fombeiro  e  d'ellas  fez  um  adereço, 
misturanilo-lhes  diamantes  a  snr.*  uiar- 
quoza  d'Abraute3.»  Bispo  do  (irão  Fará, 
Memorias,  publicadas  por  Camillo  Gas- 
tello  L5r:iuco,  pag.  8.  —  «Quando,  por- 
tanto, Mossem  Nat.ianael  viu  entrar  os 
dous  farçolas  mesteiraes,  o  o  almuinhei- 
ro,  custou-lhe  a  suster  uma  lagryma  de 
terna  compuncção,  e  n'um  arrebatamento 
de  enthusiasmo  espichou  uma  pipa  aimla 
atestada,  encheu  um  cungirào  de  canada 
e  meia  e  pôl-o,  rodeiado  ile  três  malgas 
novas  de  barro  vermelho,  diante  dos  fre- 
guezes  recemviíulos,  as.-iontados  já  a  este 
tempo  n'um  poial  de  pedra  que  corria  ao 
redor  do  aposento.»  A.  Herculat:o,  Mon- 
ge de  Cister,  cap.  18. 

—  Bula  vermelha ;  na  artilheria,  feita 
em  braza,  e  disparada  logo  para  incen- 
diar edifícios,  naus. 

—  Cruzes  vermelhas.  —  «E  os  da  par- 
te delRei  Dom  Fedro  e  do  Frincipe  tra-  j 
giam  toiios  cruzes  vermelhas  em  campo 
bramco,  e  os  dolRui  Dom  llemrrique  le- 
vavam esse  dia  baradas.»  Fernão  Lopes, 
Chrouica  de  D.  Fernando,  cap.  0. 

—  Cruzes  pinlailas  ac  preto  e  verme- 
lho. —  «O  que  feito  começou  logo  do  edi- 
Hcar  a  fortaleza  sobre  alicerces  de  hum 
antigo  editício  que  achou  na  ilha  junto 
do  mar,  e  a  par  dellcs  algumas  cruzes 
pintadas  de  preto,  e  vermelho  em  pare- 
des, que  pareciam  serem  em  outro  tem- 
po de  alguma  ermida,  ou  egrcja  de  Chris- 
tãos.»  Damião  de  troes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  2,  c^ip.  3. 

—  O  mar  Vermelho ;  mar  que  banha 
a  costa  Occidental  da  Ásia,  e  a  oriental 
da  Africa,  notável  pelos  factos  históricos 
n'ellc  acontecidos,  taes  como  *  subver- 
são dos  egypcios  n'olU\  o  a  passagem  do 
povo  de  Deus  por  elle  a  pé  enxuto.  — 
aE   assi  aquelle  aluoroço,  e  grande  pra- 


vermelbo :  e  <lespois  de  passado  com  moc 
ollios  vilão  nelle  afo;.'alos  aquellee  que  (W 
tiuoram  cajitiuos,  e  an»!  catou  a  Igreja  o 
<|ue  ellos  então  cataram  dizendo,  OSte- 
mos  ao  Senhor  gloriosamente,  |H>r<|ae 
grande  horiro'  alcãç<ju  neate  dia,  afogan- 
do no  mar  oh  caualeiros  e  os  caualon.» 
Fr.  Ijiirtholomeu  dos  Martyres,  Catecis- 
mo da  doutrina  christã. 

VERMEM.  \  id.  Verme. 

f  VERMICIDA,  alj.  J  gen.  Termo  de 
medicina.  Que  mata  us  bichos. 

—  Subutaiitivamcnte :    Um  Termicida. 
VERMICULADO,  A.  adj.  (Do  latim  vtr- 

miculaiiífj.  Termo  de  arehitectura.  Diz- 
se  de  um  trab.ilho  em  figura  de  vermes, 
que  tem  lo;,'ar  nos  edifícios  cm  pedra, 

VERMICULAR,  adj.  2  gen.  Termo  de 
anatomia.  Quo  tom  alguma  sioiilhânça  do 
firma  com  os  vermes. 

—  Appewlice  vennicnlar  ;  appendice- 
sinho  do  ceco. 

—  Eminência  vermicular,  ou  vermi- 
forme  superior  do  certhello ;  saliência 
externa  que  apresenta  a  parto  anterior  e 
media  da  face  superior  do  cerebello. 

—  Onde  existem  vermes.  —  DfjecçZéê 
vermiculares. 

—  Termo  de  physiologia.  Qne  tom  um 
movimento  comparável  ao  do  um  verme. 

—  Movimento  vermicular  ;  contracção 
successiva  das  fibras  musculares  circula- 
res do  inte.'«tir.o  e  dos  canaes  excretores, 
d'onde  resulta  um  movimento  análogo  ao 
dos  vermes. 

—  Pulso  vermiciilar ;  aquelle  que  com 
o  caracter  de  pulso  ondulante,  é  pequeno 
e  fraco. 

—  Termo  de  zoologia.  Diz-se  das  con- 
chas que  são  de  uma  só  peça,  e  que  tem 
a  firna  de  tubos  alongad(/s. 

VERMICULARIA,  s.  f.  Uva  de  cSo  me- 
nor,  femprenoiva;  planta. 

VERMICULO,  s.  »i.  Diminutivo  de  Ver- 
me. iVqut-no  verme,  bichinho. 

VERMIFORME,  adj.  2  gen.  Termo  de 
hi.^^ti  ria  natural.  Que  tem  a  forma  de  um 
verme.  —  Appeiulice  vermiíonne. 

—  Termo  de  anatomia.  Eminencicu 
vermiformes  do  cerebello. 

VERMÍFUGO,  A,  adj.  (Do  latim  Mr- 
mis,  e  fufiare).  Termo  de  medicina.  Que 
tem  a  propriedade  de  determinar  a  ex- 
pulsão dos  vermes  intestinacs. 

—  Siilistai  tivamente:    Um  Tennifngo. 
VERMILHÂO,  .-•.  m.  Vid.  Vermelhão. 
VERMINAÇÃO,  í.  /.   (Do  latim   rerrru- 

iiati".  do  virmif:).  Termo  de  medicina. 
Froducção  dos  vermes  intestinaes  levada 
ao  ponto  de  pro<-luzir  accidentes  mórbi- 
dos. 

VERMINOSO,  A,  adj.  iDo  latim  r<nni- 
nosus).  Termo  de  medicina.  Que  c  pro- 
duzido por  vermes.  —  Dispotição  ver- 
minosa.  —  Doeiu^as  verminosas. 

—  (Judo  ha  vermes, 
f  VERMOS.    Forma  do   verbo   vtr  na 


iDe    Cinabrio    miuerul   vcrdadeyro  |  zer  com  quo  passaram  a  pê  enxuto  o  mar  |  primeira   pessoa  do   plural  do   futuro  do 


VEKR 


VERS 


VERS 


921 


conjiinctivo,  ou  no  infinito  pessoal.  Tid. 
Vêr.  —  «Coutemplaç.rio  nos  admita  aquel- 
le  Senhor,  que  he  sobre  tudo,  porque  che- 
gando a  tào  alto  objecto  o  nào  vermos, 
nem  inquirirmos  pello  nosso  limitado  dis- 
curso, humilhados  verdadeiramente.»  Fr. 
Bartholomeu  dos  Martyres,  Compendio 
de  espiritual  doutrina,  cap.  11. 

VERNÁCULO,  A,  aJj.  (Do  latim  ver- 
naculus).  Próprio  do  paiz,  ou  cousa  do- 
mestica. 

—  Liujjua  vernácula  ;  o  romance  da 
terra,  a  lingua  vulgar  n'ella. 

VERNAL,  adj.  2  gen.  (Do  latim  venío- 
lisj.  Que  pertence  á  primavera. 

—  Termo  de  astronomia.  Ponto  ver- 
nal;  synonymo  de  equinoccio  da  primave- 
ra; ponto  em  que  a  ecliptica  corta  o 
equador  passando  do  hemispherio  austi'al 
para  o  hemispherio  boreal. 

—  fSignos  vernaes  ;  os  signos  da  Ba- 
leia, do  Tauro,  e  Geminis,  pelos  quaes  o 
sol  paasa  na  primavera. 

—  Termo  de  botânica.  Diz-se  das  plan- 
tas cujas  flores  desabrocham  na  prima- 
vera. 

VERNANTE,  adj.  2  gen.  Termo  de  poe- 
sia. Vernal. 

VERNIZ,  s.  m.  Nome  vulgar  das  solu- 
ções de  resina,  e  gommas  resinas  no  ál- 
cool, essências,  benzina,  etc.,  cora  que 
se  cobre  a  superfície  de  certas  cousas 
para  as  tornar  lizas  e  brilhantas,  ou  pa- 
ra as  preservar  da  acção  do  ar  ou  da  hu- 
midade. 

—  Figuradamente :  O  que  dá  ás  ac- 
ções, ás  maneiras,  uma  apparencia  com- 
parada á  dos  objectos  envernizados. 

—  Emboço  composto  de  substancias 
vitrificáveis,  com  que  se  cobre  a  louça- 
ria,  e  a  porcelana. 

VERNO,  A,  adj.  (Do  latim  vemus). 
Termo  de  astronomia.  Da  primavera. 

—  O  equinoccio  vemo;  quando  começa 
a  primavera,  a  20  de  março. 

VERO,  A,  adj.  (Do  latim  verus).  Ver- 
dadeiro. —  A  vera  cruz. 

VERÓNICA,  s.  /.  (Do  latim  vera,  e  do 
grego  eikow.  A  imagem  do  rosto,  ou 
corpo  de  algum  santo  impresso  em  len- 
ço, cera,  ou  metal. 

—  Termo  de  botânica.  Abrotano,  her- 
va. 

—  Termo  popular.  A  feição  do  rosto. 
VEROPESO,  s.  m.  Vid.  Aver  do  peso, 

que  é  mais  correcto. 

verosímil,  adj.  2  gen.  (Do  latim  ve- 
rus". Vid.  Verísimil. 

VERRÁ,  por  Virá,  futuro  de  Vêr. 

VERRASCO,  s.  m.  Vid.  Varrasco. 

VERRUCAL,  ou  VERRUGAL,  adj.  2  gen. 
Que  se  refere  ás  verrugas. 

VERRUCARIA,  s.  /.  Termo  de  botâni- 
ca. Herva. 

VERRUGA,  s.  f.  (Bo  latim  verruca). 
Pequena  excrescência  cutânea,  indolen- 
te, tendo  uma  certa  consistência,  algu- 
mas vezes  movei  e  superficial,  mas  de 
voL.  y.— 116. 


ordinário  implantada  na  espessura  da  der- 
me por  filamentos  esbranquiçados,  den- 
sos, e  semi-fibrosos.  —  «O  couro  do  corpo 
he  grosso,  áspero,  cheo  de  verrugas,  e 
de  tâ  pouco  cabelio,  que  parece  peiiado. 
A  còr  de  cinza  escura,  que  o  faz  pare- 
cer muj  feo.  A  cabeça  he  grandíssima, 
e  as  orelhas  saõ  compridas  três  palmos, 
largas  hum  e  meyo,  as  quaes  moue,  e 
abana  de  contino.  s  Fr.  t iaspar  de  IS. 
Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap.  lò. 

—  Termo  de  botânica.  Pequena  pro- 
tuberância rugosa. 

VERRUGANAS.  Vid.  Balanites  2). 

VERRUGOSO,  A,  adj.  (Do  latim  verru- 
cosuíí).  Termo  de  historia  natural.  Que 
tem  a  forma  de  verruga. 

VERRUGUENTO,  A,  adj.  Vid.  Verru- 
goso. 

VERRUGUINHA,  s.  /.  Diminutivo  de 
Verruga.   Pequena  verruga. 

VERRUMA,  s.  f.  instrumento  de  furar 
madeira ;  é  uma  hastea  de  ferro  cravada 
em  um  cabo  atravessado,  e  tem  o  extre- 
mo de  aço  lavrado,  e  terminando  em  es- 
piral ;  é  cavada  como  telha,  com  gumes, 
até  certa  altura  da  hastea  roliça. 

VERRUMÃO,  s.  m.  Augmeutativo  de 
Verruma.  Grande  verruma. 

—  insecto  que  fura  o  pau  com  a  cauda. 
VERRUMAR,  v.  c.  Furar  com  verruma. 
VERSA,  j--.  /.   Couve  gallega. 

—  Plur.  Termo  popular.  Folhagens 
inúteis,  cousa  não  solida. 

—  Adagio  e  provérbio: 

—  Versas  que  nào  haveis  de  comer,  não 
cureis  de  as  mexer ;  isto  é,  nào  enten- 
daes  no  que  vos  nào  aproveitará. 

VERSADISSIMO,  A,  adj.  superl.  de  Ver- 
sado. Mui  versado,  —  Homem  versadis- 
simo  em  linguas. 

VERSADO,  part.  pass.  de  Versar.  Exer- 
citado, pratico,  afeito.  —  tMas  isto  pode 
muy  bem  fazer  o  varam  religioso  e  soli- 
tário, o  qual  regado  com  agoa  da  doutri- 
na das  sagradas  letras,  e  cõ  a  meditaçam 
das  cousas  diuinas,  influído  no  amor  do 
alto  Deos,  carregado  de  fermosos  fructos 
de  virtudes,  aproueita  mais  ao  mundo  cõ 
suas  orações  e  exemplos  de  bõa  vida, 
apartado  dos  negócios  roubadores  do  spi- 
ritual  descaso  que  muitos  outros  que  nel- 
les  anda  metidos  e  versados.»  Heitor 
Pinto,  Dialogo  da  Vida  solitária,  cap.  2. 

— •  Que  tem  tratado  muito,  e  sabe, 
pelo  longo  uso.  —  Versado  7ias  linguas. 

VERSAL,  s.  m.  Termo  de  impressão. 
Letras  maiúsculas  de  cada  um  dos  ty- 
pos,  no  mesmo  corpo. 

VERSALETE,  s.  m.  Termo  de  impres- 
são. Synonymo  de  versai,  differindo  ape- 
nas em  ser  o  caracter  da  letra  mais 
miúdo. 

VERSÃO,  s.  f.  TraducçSo. 

—  Termo  de  obstétrica.  O  acto  de  vol- 
tar no  útero  o  feto  para  vir  natural, 
quando  apresenta  na  vagina  o  braço,  o 
pé,  ou  o  anus. 


—  ^4  versão  dos  astros  ;  a  volta  que  fa- 
zem nas  suas  orbitas. 

VERSAR,  f.  a.  Exercer,  exercitar. 
— ■  V.  n.  Saber  pelo  longo  uso. 

—  Occupar-?e,  exercer-se. 

—  Ser  objecto  de  alguma  cousa. 

—  Termo  popular.  Fazer  versos. 
VERSÁTIL,  adj.  2  gen.   (Do  latim  ver- 

satilis,  de  rersare).  Que  muda'. 

—  Termo  de  zoologia.  Diz-se  do  dedo 
interno  das  aves,  quando  é  susceptível  ir 
ora  para  diante,  ora  para  traz. 

—  Figuradamente :  Que  não  sabe  fi- 
xar-se. 

—  Vario,  volúvel,  inconstante. 

—  Engenho  versátil ;  do  que  muda  con- 
forme as  circumstancias,  e  se  accommoda 
a  ellas. 

—  Scena  versátil ;  scena  que  se  vira, 
,  quo  se  muda. 

VERSATILIDADE,  s.  f.  Qualidade  do 
que  ó  versátil.  —  Esfe  homem  é  de  uma 
grande  versatilidade.  —  A  versatilidade 
do  caracter. 

—  Figuradamente  :  Variedade,  incon- 
stância, mutabilidade. 

VERSEIRA,  ou  VERCEIRA,  s.  /.  Mu- 
lher que  vende  versas,  que  faz  contra- 
ctos em  versas,  hortaliça. 

VERSEJADOR,  A,  s'.  Pessoa  que  faz 
versos,  sem  ter  a  qualidade  de  poeta. 

VERSEJADURA,  s.f.  Arte  de  fazer  ver- 
sos sem  poesia, 

VERSEJAR,  r.  n.  Trovar,  fazer  versos 
sem  ser  poeta. 

VERSETO,  s.  m.  Termo  de  escriptura. 
Pequena  secção  composta  de  ordinário 
de  duas  ou  três  linhas,  e  contendo  as 
mais  das  vezes  um  sentido  perfeito. 

—  Diz-se  também  de  algumas  palavras 
tiradas  de  ordinário  da  Escriptura  Sa- 
grada, e  seguidas  algumas  vezes  de  um 
responso,  que  se  reza,  ou  canta  no  offi- 
cio  divino. 

VERSÍCULO,  s.  m.  (Do  latim  versicu- 
lus).  Membro  inteiro  de  um  capitulo,  em 
que  se  dividem  as  e^cripturas,  e  outras 
obras  em  clausulas  breves. 

—  Subdivisão  de  artigo,  paragrapho, 
etc. 

—  Vid.  Verseto. 

-}■  VERSICOLOR,  adj.  2  gen.  Que  offe- 
rece  muitas  cores. 

—  Que  muda  ou  varia  de  côr. 

—  Termo  de  mineralogia.  Diz-se  dos 
corpos  cuja  côr  varia  segundo  o  modo 
por  que  foram  impressionados  pela  luz. 

VERSIFERO,  A,  adj.  Que  traz  versos, 
que  os  faz. 

VERSIFICAÇÃO,  5.  /.  (Do  latim  lerst- 
jicatio,  de  versijicare) ,  Acto,  modo  de  fa- 
zer versos. 

—  Emprego  do  estylo  em  verso.  —  A 
versificação  e  mister  para  a  ode,  e  epo- 
peia. 

VERSIFICADO,  part.  pass.  de  Versifi- 
car. Posto  em  verso,  trovado.  —  Peca 
bem,  ou  mal  versificada. 


922 


VERS 


VERSIFICADOR,  A,  «.  (Do  latim  ve.rni- 
Jicator,  (Id  cruíficare).  Pessoa  qne  fiiz 
versos. 

VERSIFICAR,  V.  n.  íDo  latim  vertijl- 
care.).  Fazer  rergos,  compor  versos. 

—  V.  a.  Pôr  nm  vor^o. 

VERSIFICO,  A,  ailj.  Ooncemente  aos 
verS'is,  fiii  \  vcrsifii-.i(,'.1o. 

VERSINHO,  s.  m.  Diminutivo  flc  Ver- 
so.   iV-i|UlTI()   VtTtfO. 

VERSISTA,  .«.  2  (jcn.  Vorsej.idor,  quo 
faz  viTsiís-Kcrn  tor  a  qunlidiidc  de  poota. 

1.)  VERSO,  s.  'm.  (Do  latim  versus). 
Renniílo  ile  palavras  uiedidas  e  cadencia- 
das segundo  certas  regras  fixas  e  deter- 
minadas. 


PÍ836  quo  08  vãoa  thosouros 
A  morte  nilo  pprtcncia. 
DcAiup  ficou  onterr:iflo 
0»<la  hum  se  despedin, 
l>izciido  catos  varsos  tristoa 
^  gtorios.a  Maria. 

[Olt  VICBKXr,  OBllAS  VARIAS. 


De  competir  co'o  merlo  não  dcscança 
O  'ghTnilo  caUiandro  qn'cnrouqnocc 
Por  não  piírdor  c;illndo  a  coiifi.iiKja ; 
Em  quanto  o  pobro  ninho  ajunta  o  tece 
O  sonoro  canário,  modiilaudo 
Engana  a  gravo  perLi  que  padeço ; 
Alguns  vemos  «'oaouta  derramando 
O  vário  pintasirgo,  tão  .saudáveis. 
Que  produzam  memorias  damor  brando. 

CAM.,  KCLOGA  (). 


Estando  ostc  negocio  tão  diverso, 
Grãa  contiauça  cm  huns,  n'outros  receio, 
O  Turco  Rumocão,  máo  e  perverso, 
Tal  que  d'outro  peior  (segundo  eu  creio) 
Não  30  tratou  jamais  cm  prosa  ou  verto. 
Tinha  o  mando  geral,  c  o  m<ír  meneio 
Sobro  este  grosso  cicrcito  e  infinito ; 
Atraz  vos  fica  delle  assaz  ja  dito. 

r.    D'ANDRAnK,    TBIMKIRO   CKRCO   DK   HIC,   CRUt.    3, 

est.  2S. 


Hum  destos  doze  foi  o  Santiago 

De  que  atraz  ja  meus  vereos  escreverão. 

Que  nesta  hora  também  achou  o  pago 

Que  .sempre  suas  obras  merecerão. 

A  este  polo  salgado  fundo  lago 

Os  pés  c  as  mílos  a  estrada  líio  fizerào, 

E  cortando  .assi  o  mar  com  grãa  presteza, 

Se  chega  :l  Lusitana  fortaleza. 


laiDiu,  c«l^t.v,8,-CSt.  1-1  ■ 


CHiço-to  junto  á  lapida,  quo  fecha 
Da  innocento  Narcisa  os  ossos  frios, 
Teus  i'er.tos,  c  teus  .ais  suspendem  sombras, 
Ho  mais  tristo  o  silencio,  o  Ceo  mais  negro, 
Com  magcstoso  horror  fescuta  a  noite.  " 
j.  A.  nn  MAceoo,  a  natdrkza,  cant.  1. 


'  Então  nos  versos  meus,  sublimo  brado 
O  Mundo  escutarA  da  gloria  tua. 


Rorteio  do  Immortal  sobre  o  meu  rosto. 
T.\nta  nos  x'^ri!os  meus  Filosofia, 
Tanta  imaginação  nos  sons  oadentoa. 

IDEM,  MEDITAÇÃO,  CAIit.    1. 


VERS 

Kem  tu  has  de  deixar  de  »cr  lembrado 
V.ia  meu»  vr.mo»,  Trior  da  .Sauta  lgrl^ja, 
Quo  Alca<;ova  ciiuobeccc  ;  tu,  c(UO  sendo 
ITm  tempo  branco,  o  louro,  te  tornaste, 
Hor  artu*  eiU'Aiitadas,  nc|{ro,  i;  pardo. 
A.  DiBiz  i>A  CRUZ,  BVSsorE,  eaiit.  7. 

—  f Suspiram  pelu  meu  anteceesor... 
Mas  que  suspirou  !  de  sorte  elles  silo,  quo 
me  ó  preciau  luaiidal-os  suHocar  ua  ca- 
deia, pur  serem  explicado.-*  em  verBO 
satyrico  ou  libello  famoso.  Ninguém  bu»- 
pire  por  mim  com  tanto  que  não  caia  so- 
bre mim  o  suspiro  de  Isaias:  Ve  iiiihi 
quia  tacuHo  lli»po  do  Grilo  Pará,  Me- 
morias, publicadas  por  Camillo  (Jasteilo 
Branco,  pag.  2(3. —  «Para  liistoria  não 
t('iii  logar  expressões  poéticas.  Ainda  no 
verso  está  o  bom  gosto  na  expressão  sin- 
gela, natural,  de.satfectada,  em  que  se 
observe  um  nattiral  desalinho,  e  simpli- 
cidade polida, »  Ibidem,  pag.  }^4.  —  «Pro- 
hibiu  que  se  cantassem  mais  versos  sem 
elle  os  vêr  e  rever.  No  an;io  seguinte 
approvou  alguns,  despacliaudo  em  verso.» 
Ibidem,  pag.  16õ. 

—  Peijuenos  versos;  pequenas  peçaa 
de  versos  sobre  assumptos  ligeiros. 

—  Áureos  versos. 


Não  foi  por  certo,  não,  de  Jove  a  sanha 
Que  no  Sol  quiz  vingar  de  Roma  o  crime. 
Como  a  voz  da  lisonja  em  áureos  versos 
Se  quiz  fazer  ouvir  no  egrégio  Vate, 
Quando  o  punh;il  da  infausta  liberdade. 
Tirando  á  Pátria  hum  monstro,  a  entrega  a  conto. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Cant.  1. 

—  Versos  falsos ;  versos    que  peccam 
contra  as  regras  da  versitica<;ào. 

—  Grandes    versos ;   os  alexandrinos, 
os  versos  de  doze  syllabas. 

—  Versos  baixos. 


Não  sem  inveja  de  pomposo  Empório 
Levo  nas  az;vs  de  não  baixos  versos 
A  de,ipertar  a  cândida  virtude 
No  Coração  (s'exÍ8te)  onde  se  aninha. 

J.  X.   DS   MACEDO,  A  NATUREZA,  Cant.  Í 

—  Brandos  versos. 


Quem  tal  expressará,  quem  taes  bellczas, 
Na  sílice  ou  painel  ou  brandos  versos. 
Pintar  ja  soube? —  Não  a  viu  tam  bella 
({rai;as  pleitar  pelo  invejado  pomo 
t)  real  pastor  de  Priamo.  —  Escondidos 
Por  delgado  sondai  outros  iueantos... 
ovRRETT,  CAMÕES,  caiit.  7,  cap.  IS. 

—  Figuradamente  :  O  cantar  das  aves. 
VERSO,  A,  iidj. —  Ka  fol/ta,   o\i  pagina 

versa;    uas   costas  oppostas  ao  rosto,  ou 
face  da  pagina  apontada. 

—  <S'.  tu.  —  O  verso  da  pagina ;  o  lado 
verso  virado  opposto  á  primeira  face;  a 
segunda  pagina  da  follia,  o  contrario  do 
recto.  Vld.  Recto,  e  Folio. 


VERT 

VERSDCIA,   «.  /.   rDo  Utim  vernttia). 

Sacacidurle.  astúcia,  uiatilia. 

VERSUDO,  A,  'uij.  Muito  povoado  de 
pello  ou  folliu. 

—  Craveiros  versados;  craveiro»  cres- 
pos de  rama. 

—  Figuradamente:  ^íal  aMombr»do, 
carrancudo  de  rosto. 

VERSUTO,  A,  udj.  (Do  latim  vermttu). 
Termo  |>iiuco  enu  usu.  Sagaz,  atttacioso, 
rnaihiisri. 

VERTEÁS,  «.  ni.  plur.  Uns  religiosos 
de  (Jundiuya,  qui:  attribu';m  alua  á  a^ua, 
e  por  isso  a  bebem  quente  par*  Ih 'a  ma- 
tan-m,  etc. 

VÉRTEBRA,  «.  /.  (Do  latim  v«rUt/ra). 
Termo  do  anatf>mia.  Cada  um  dos  vinte 
e  quatro  o.<»<js  que  forniam  a  columna 
vertebral,  e  que  sSo  o  centro  dos  movi- 
mentos do  tronco.  —  As  vertel>ras  do 
pescoço.  —  « Este  ia  a  começar  a«  suas 
observa(;iíe8,  e  já  o  licenciado,  de  pé  e 
com  ;us  mãos  cru/.adas  sí^bre  o  ventre,  do- 
brava as  vértebras  do  pesw><,'0»  inclinan- 
do a  fronte  para  escutitr  o  oráculo,  quan- 
do o  r'-po.stciro  da  entrada  particular  do 
rei  oscillou,  e  as  pregas  arrebaoluulaa  ao 
lado  deixaram  ver  um  novo  personagem, 
que  vinha  interromper,  no  britar,  o  ar- 
roio <la  sabedoria.»  Alexandre  Hercula- 
no, Monge  de  Cister,  cap.  24. 

VERTEBRADO,  A,  adj.  (Do  latim  rer- 
tebrattts,  <lo  i^ertebrai.  Termo  de  historia 
natural.  Que  é  pn.vido  de  vértebras. 

—  Aniniai^s  vertebrados;  grande  divi- 
são do  reino  animal,  abrangendo  todos  os 
aniniaos,  oujo  corpo  e  membros  tem  um 
tecido  interior  ósseo  ou  cartilaginoso, 
composto  de  peças  ligadas  entre  si,  e  mo- 
veis umas  sobre  as  outras.  Esta  divisão 
faz-se  em  quatro  classes:  1.*  os  mami- 
feros;  2.»  as  avee;  3.»  os  reptia;-4.*  os 
peixes. 

—  Diz-se  dos  insectos  cujo  dorso  apre- 
senta linhas  dispostós  de  modo  a  imitar 
o  desenho  d'um  esqueleto. 

—  Termo  do  botânica.  Que  offereco  ar- 
ticulações distinctas  e  collocadaa  a  eguaea 
distancias. 

—  Substantivamente:  O*  vertebra- 
dos; os  aiiiiuaes  vertebrados. 

VERTEBRAL,  adj.  2  gtn.  Termo  de 
anatomia.  Que  diz  respeito  ás  vértebras. 
—  ^lr/t'r»(i  vertebral. 

—  to/ui/i»uj  vertebral;  longa  haate  re- 
sultante da  reunião  de  todas  as  vérte- 
bras. 

—  Canal  vertebral;  canal  qae  reina 
em  todo  o  comprimento  da  columna  ver- 
tebral, desde  a  grande  abertura  occipi- 
tiil  ató  ao  cAnal  sacro  que  nSo  ó  senão 
uma  continuaçÃo. 

—  LiganuiUos  vertebraes ;  nome  dado 
a  duas  tiras  ligamcntos.-vs  <|ue  reinam  em 
todo  o  comprimento  do  rachis  desde  o 
axis  ató  o  s.acro:  um,  antorior,  está  collo- 
cado  a^liante  do  corpo  das  vértebras;  o 
outro,  posterior,  está  situado  ao  longo  da 


VERT 


VERT 


VERT 


923 


fece  posterior  d'este  corpo  no  interior  do 
canal  vertebral. 

—  Medulla  vertebral ;  prolongamento 
do  órgão  encephalico,  estendendo-se  da 
abertura  occipital  até  á  parte  inferior  do 
tronco,  e  occupando  o  canal  vertebral.  . 

^ —  Nervos  vertebraes ;  nome  dado  a  to- 
dos 03  nervos  em  numoro  de  trinta  e  um 
de  cada  lado  que  nascem  da  medulla  ver- 
tebral por  duas  raizes,  uma  anterior  e 
outra  posterior. 

—  Senos  vertebraes ;  nome  dado  a  duas 
longas  veias  situadas  no  canal  vertebral, 
e  communicando  por  todas  as  aberturas 
de  conjugações  com  as  veias  visinhas. 

—  Termo  de  medicina.  Arthrite  ver- 
tebral ;  nome  dado  impropriamente  á  al- 
teração dos  discos  intervertebraes,  que  é 
consecutiva  á  osteíte  vertebral,  ou  in- 
fiammaçào  do  tecido  ósseo  do  corpo  das 
vértebras. 

—  Termo  de  zoologia.  Diz-se  de  um 
polypeiro  que  se  assimilha  a  uma  peque- 
na vértebra  do  esqualo. 

VERTEBRALITE,  s.  f.  Termo  de  pa- 
tbologlii.  Intlammacão  das  vértebras. 

f  VERTEBRITA,'s.   f.  Vértebra  fóssil. 

-{-  VERTEBRO-ILIACb,  A,  aój.  Termo 
de  anatomia.  Que  diz  respeito  ás  vérte- 
bras, e  ao  osso  iliaco. 

—  Articulação  vertebro-iliaca ;  arti- 
culação da  ultima  vértebra  lombar  com 
o  osso  iliaco. 

VERTEBRÔSO,  A,  adj.  Que  consta  de 
vértebras. 

VERTEDOR,  A,  s.  Vid.  Traductor. 

—  ò'.  m.  Vaso  de  verter  agua  como 
jarro. 

VERTEDURA,  s.  /.  O  azeite,  vinlio,  ou 
vinagre  que  os  taberneiros  deixam  entor- 
nar por  cima  da  medida. 

VERTENCIA,  s.  /.  O  acto  de  virar,  de 
voltar. 

—  O  decurso  do  tempo. 
VERTENTE,  ^^arí.  act.  de  Verter.  Que 

verte. 

—  Aguas  vertentes ;  aguas  que  correm 
da  encosta  do  monte. 

—  tí.f. —  As  vertentes  ao  monte;  a 
encosta  d'elle  desde  o  alto  para  uma  banda 
d'elle,  por  onde  corre  a  agua  solta  do  seu 
cabeço. 

—  As  vertentes  do  monte ;  onde  ha 
cheias,  a  mór  altura  até  onde  a  agua 
d'ellas  chega  aos  pés  de  ladeiras,  e  d'on- 
de  verte  atraz  quando  vasa,  ou  secca  a 
agua  inundaute. 

—  Figuradamente:  A  vertente  do  sa- 
ber. 

Veja  no  Vate  morador  i>o  Tojo 
Mais  que  \-ira  em  Lucrécio  a  augusta  Roma ! 
Vate  infausto,  infeliz,  que  inda  que  abrisse 
Do  saber  a  vertente,  inglório  existe. 
Ódio,  inveja,  indigência,  este  o  seu  Fado. 

J.    A.    UE    MACEDO,   VIAGKM  EXTÁTICA,   CaUt.    2. 

VERTER,  V,  a.  (Do  latim  vertere).  En- 
tornar, derramar  liquido. 


Força  é  bebel-a  ou  vertel-a. 
E  isto,  scnlior,  por  que? 
Desnventuras:  não  de 
nÍ3  nenhum,  segura  cstrella. 
Isso,  senhor,  assi  ó. 

ASTONio  PBESTES,  Atrros,  pag.  495. 

—  Verter   lagrimas;  derramal-as. 

Eu  te  formei  essa  alma  de  Romano, 
Que  lagrymas...  oh,  lagrjmas  de  gosto 
Me  faz  verter  agora.  De  teus  dias 
Occultui  o  segredo  emquanto  pude... 
GiBKETT,  cAilu,  act.  3,  SC  3. 

—  Verter  aguas;  urinar. 

—  Figuradamente  :  Verter  a  vida;  mor- 
rer. 

—  Verter  sangue;  derramal-o. — «Em 
que  entravão  algumas  de  Andaluzia,  por 
que  em  todas  estas  elle  e  seu  íilho  el  Rey 
dõ  Afonso  Anriquez  verteram  seu  sangue 
por  às  ganhar  das  màos  e  poder  dos  Mou- 
ros: (como  se  verá  em  a  outra  parte  da 
nossa  escritura  chamada  Europa).»  Bar- 
ros, Década  1,  liv.  1,  cap.  1. 

—  Verter  de  uma  lingua  em  outra;  tra- 
duzir, trasladar. 

—  Verter  suor  e  sangue;  na  guerra, 
sendo  ferido,  e  derramando-o. 

—  Desaguar,  descarregar. 

—  Verter  sangue;  derramal-o  de  feri- 
das. 

—  Figuradamente:  Verter  a  vida  e  a 
alma  pela  pátria. 

—  Verter  sangue;  brotar,  sair  das  feri- 
das. 

— ■  V.  n.  Desembocar,  desaguar. 

—  Verter  a  medida;  trasbordar. 

—  Figuradamente :  Verter  palavras  de 

— -Verter  vinho  das  faces;  o  bêbado. 

VERTICAL,  ad;.  2  gen.  (Do  latim  uer- 
ticalis,  de  vertex).  Que  está  eoHocado 
alto  por  cima  da  cabeça,  do  vertex. 

—  Que  é  perpendicular  ao  plano  do  ho- 
risonte,  ou  á  superfície  das  aguas  tran- 
quillas.  —  Plano  vertical. 

—  Linha  vertical;  aquella  que -segue 
os  corpos  que  caem,  e  que  é  indicada  pe- 
lo iio  de  prumo ;  linha  que  segue  a  resul- 
tante das  forças  da  gravidade  de  um  cor- 
po, e  partindo  do  centro  de  gravidade. 

—  Quadrante  vertical ;  quadrante  so- 
lar perpendicular  ao  horisonte. 

— •  Termo  de  astronomia.  Fonto  verti- 
cal; o  zenith. 

—  Circulas  verticaes;  grandes  círcu- 
los da  esphera  que  passam  pelo  zenith  e 
nadir. 

—  Termo  de  marinha.  Diz-se  de  um 
plano  passando  pelo  eixo  da  quilha,  da 
roda  da  prGa  do  navio,  e  do  cadasto. 
Diz-se  do  mesmo  modo  de  um  plano  pas- 
sando pelo  meio  dos  ramos  das  costellas 
superiores. 

—  Termo  de  geologia.  Ordem  vertical ; 
ordem  de  superposição  dos  diôerentes  ter- 
renos ou  camadas. 


—  Termo  de  botânica.  Diz-se  de  todo 
o  órgão  que  se  eleva  perpendicularmente 
á  vista,  quer  do  horisonte,  quer  da  parte 
que  o  supporta. 

—  tí.  f.  A  linha  vertical.  —  Os  corpo? 
caem  segando  a  vertical. 

VERTICALMENTE,  adv.  (De  vertical,  e 
o  suffixo  «mente»).  Perpendicularmente 
ao  plano  do  horisonte. 

—  Pelo  vértice. 

VERTICIDADE,  s.  f.  Poder,  faculdade 
de  se  mover  circularmente. 

VERTICILLADO,  A,  adj.  (Do  latim  ver- 
ticillatus).  Termo  de  botânica.  Que  está 
dispo.sto  em  verticillo. 

f  VERTICILLIFLOR,  adj.  2  gen.  Ter- 
mo de  botânica.  Diz-se  das  flores  que  são 
verticilladas. 

VERTICILLO,  s.  m.  (Do  latim  verticil- 
liís).  Termo  de  botânica.  A  reunião  das 
partes  da  fiôr,  ou  dos  órgãos  fuliaceos 
dispostos,  em  numero  de  dous  approxima- 
damente,  em  volta  de  um  eixo  commum, 
e  sobre  o  mesmo  plano  horisontal. 

—  Falsos  verticillos;  verticillos  incom- 
pletos, nos  quaes  as  flores  não  partem  de 
todo  o  circuito  do  eixo,  e  ahi  deixam  in- 
tervallos. 

VERTIDO,  pari.  jJass.  de  Verter.  -— 
Lagrimas  vertidas. 

—  Traduzido,  trasladado. 
— ■  Desaguado. 

—  Derramado.  —  Sangue  vertido. 
VERTIGEM,  s.  f.    (Do   latim   vertigo). 

Estado    em  que  parece  que  todos  os  ob- 
jectos gyram,  e  que  gyra  elle  mesmo^ 

—  Perturbação,  da  cabeça,  em  que  se 
representa  ao  paciente  andar  tudo  á  roda. 
• — -  «O  Emperador  Carlos  Quinto  sendo 
grandemente  sogeito  a  couyulsoeus,  e^a 
Vertigens,  mandava  lançar  no  alto  da 
Cabeça  pos  dos  bichos  da  sedar;  e  cem 
elles  corroborava  admiravelmente  a  Ca- 
beça.» Braz  Luiz  d 'Abreu,  Portugal  me- 
dico, pag.  29õ,  §  53. —  «Cura  familiar- 
mente todas  as  Vertigens,  especialmente 
as  que  tinhaõ  dependência  do  estômago, 
e  útero  com  mandar  tomar  aos  doentes 
em  quinze,  ou  vinte  dias  continuados  .as 
plrolas  de  Hiera  de  Galeno,  ou  de  regi- 
mento, e  feitas  as  evacuaçoéns  necessá- 
rias aconselhava  o  uzo  d'esta  sua  agoa 
particular,  que  he  summamente  cardiaca, 
e  cephalica. »  Ibidem,  pag.  oOO. —  «O 
D.  Francisco  da  Fonseca  Henriques  cu- 
rou huma  Vertigem  em  hum  Muchacho 
de  dez  annos ;  dando-lhe  primeiramente 
hum  vomitório  de  pós  de  Quintilio;  e  ao 
despoia  as  seguintes  pirolas  por  quatro 
vezes  repetidas  em  dias  alternados.»  Ibi- 
dem, pag.  304. 

—  Figuradamente  :  Alienação  doa  sen- 
tidos, loucura  momentânea. 

VERTIGINOSO,  A,  adj.  (Do  latim  verti- 
ginosus,  de  vertigo).  Que  produz  verti- 
gem. —  Uma  altura  vertiginosa. 

—  Termo  de  medicina.  Que  diz  res- 
peito á  vertigem.  —  Ajfecção  vertiginosa. 


924 


VESE 


—  Que  está  sujeito  a  vortiffcns. 
— .Fi^uradainonto:    Lutla  vertiginosa 
daa  paixTies. 

Noíto  Hnciilo  infausto,  «  ncMn  lutu 
Vortii/iiio.ia  (las  paixões,  dou  nn-on. 
Que  ilas  couíiii!!  miiil-lra  ctisonoia,  c  nome, 
Que  11  (lui-tt  o.^^;^•a vidão,  o  aori  fiuTO.í  duros 
So  chama  lilxirdíido,  c  chama  ostado 
Da  simplcí,  pura  humana  Natureza. 

J.   X.   UB   MAOBOO,  VIAUKll   KXTATICÁ,   COnt.    3. 


-í^Quc  ícyru,  que  ao  revolvo  cm  roíla. 
■-~^Vora(jeiii  vertiginosa  tZ'<iyua  lutyra  en- 
xafrantí. 

—  Quo  cstil  com  vertií:cm. 
VERTUDE,  li.  f.  Toriiio  antiquado.  Va- 
lor, valentia,  fortaleza. 

"l"  VERZEA,  s.  f.  Vid.  Várzea.  —  «E  do- 
brando lunn  cotovelo^  quo  a  nui^nia  «er- 
ra fazia,  Já  quasi  no  cabo  do.scobrio  liuma 
grando  verzea  de  arrozes,  aonde  os  ini- 
migos estavaõ  fechados  em  duas  g^rosnas 
batalhas,  o  tanto  quo  íbraõ  á  vidta  huns 
dos  outros,  ao  som  do  suas  trombetas,  e 
sinos,  com  vozes,  e  gritas  incríveis  se 
acometerão  como  homens  muyto  esforça- 
dos, o  travando-se  a  briga  entre  elles, 
depois  de  se  arromeçarem  muytas  bom- 
bas, frechas,  e  mais  munições  de  fogo 
que  traziaõ,  comei^âraõ  entre  si  a  peleja 
do  mais  perto  com  tanto  Ímpeto,  tanto 
animo,  e  esforâO,  que  sò  a  vista  nio  fazia 
tremoT  as  carnes.  •  Fernão  Mendes  Pin- 
to, Peregrinações,  cap.   16..  • 

-J-  VES.  K/)rma  do  verbo  ver  na  segua<ia 
pessoa  do  singular  do  presente  do  modo 
indicativo.  Vid.  Vêr.  • —  «Que  pensamen- 
tos teriam  ja  aquellos,  cnjos  ossos  ves  se- 
meados por  esse  campou  Aquellas  per- 
nas, que  caminhos  an<lariara'('  Aquellas 
cauevras  quo  imagina<;.ões  teriam,  quam 
infunailas  nas  falsas  esperanças  do  mun- 
do seriam,  quo  castellos  de  vento  fariiiV 
E  ora  fim  olha  o  em  que  se  tornaram,  e 
o  em  quo  todos  nos  auemos  do  tornar. 
Sognndo  minha  idade  não  pode  tardar 
muito  a  minha  hora,  e  vou  ja  nas  cripre- 
tas  lie  minha  peregrinaçào.»  Heitor  Pin- 
to, Dialogo  da  Lembrança  da  morte,  ca- 
pitulo 1 . 

-j-  VESÂNIA,  s.  /.  (Do  latim  vesânia). 
Termo  do  medicina.  Nome  genérico  das 
ditfercnto:!  espécies  d'alienaçrio  mental. 
VESANO,  A,  aJj.  (Do  latim  vesnnus). 
Termo  pouco  em  uso.  Louco,  insensato, 
furioso. 

VESGO,  A,  aJj.  (Do  latim  vtscus). 
Apto,  propi-io  para  comer. 

f  VE3ES,  s.  /.  piar.  Vid.  Vezes.  — 
tParivje-me  algumas  veses  que  tendes  os 
cabellos  louros,  e  outras  veses  me  parece 
tjue  «s  toniles  negros.»  Cavalleiro  d't)li- 
veira,  Cartas,  liv.  1,  n.°  47.  —  «Mas  se 
algumas  veses,  ou  por  ordem  do  enfer- 
mo, ou  por  industria  dos  assistentes  saõ 
convocíidos  outros  para  conferirem  a  quei- 
xa, ordinariamente  naè  consta  mais  que 
do    buUias    a    iuuta,    l  )s    argumentos  n* 


VESI 

proscrutaça(5  dad  cauzas,  saS  (fitarias: 
os  textos  no  juizo  'la  ilocnça,  saS  pala- 
vra'ias :  04  lugaro*  ua  iuvcn^u  da»  indi- 
caçoins,  saõ  sotai|ue;  o  o  mctUodo  na 
aijplicuçaõ  dos  remodios,  suij  desalios.» 
Braz  Luiz  d' Abreu,  Portugal  medico, 
pag.  ri«7,  S  ii7. 

VESGO,  A,  adj.  Que  tem  a  vista  tor- 
cida, metteudo  um  ollio  pelo  outro. 

VESGUEAR,  V.  n.  Ter  por  huhitw  o  de- 
feito de  mctter  um  oliio  pelo  outro,  ser 
vesgo.  Vid.  Envesgar. 

— •  Fiííuradamente  :  Vôr  mal. 

VESICA,  s.  /.  (Do  latim  veaica).  Ter- 
mo de  ni''.dicin.a.   Bexiga. 

f  VESICAÇiO,  n.  f.  Termo  de  medici- 
na. Acto  de  prndu/.ir,  por  uma  substan- 
cia irrit.iati!,  vosiculas. 

VESICAL,  wij.  2  (jen.  Termo  do  ana- 
tomia. Que  diz  respeito  á  bexiga.  —  O» 
nervos  vesicaes.  —  Artérias  vesicaes. 

—  Termo  de  pathologia.  Cularrhu  ve- 
Sical ;  inllannnaçào  da  membrana  muco- 
sa da  bexiga. 

VESICANTE,  ailj.  2  gen.  Termo  de  me- 
dicina. Que  faz  nascer  empola.s  na  pelle, 
que  produz,  a  ve-iicaç.ào. 

—  ò'.  ni.  Termo  de  pharmacia.  Vesi- 
catório, (pie  tem  a  propriedade  de  fazer 
empolar  a  poUe,  para  por  este  meio  coar 
um  humor  soroso  cortada  esta. 

VESICATÓRIO,  *.  m.  Termo  de  modi- 
eina.  Diz-se  d<is  tópicos,  que  applicados 
sobre  a  pellc,  dcterudnam  uma  secreção 
sorosa  pola  (piai  a  epiderme  se  levanta 
de  maneira  a  formar  uma  empola. 

—  Ailj.  —  Uníjuetito  vesicatório.  — 
Einiiídsiro  vesicatório. 

f  VESICO-UTERINO,  A,  aJJ.  Termo  de 
anatonua.  Que  se  refere  á  bexiga  o  ao 
útero. 

—  Ligamentos  veSico-uterinos ;  dobra 
do  peritoneo,  que  de  cada  lado  da  face 
posterior  do  canal  uterino,  vae  alcançar 
os  líi^his  da  bexiga. 

vesícula,  s.  f.  (Do  latim  vesicula). 
Pequena  bexiga,  pequena  cavidade. 

—  Termo  de  botânica.  Nome  dado  a 
pequenas  empolas  cheias  d'ar  occupando 
a  superticio  de  alguns  oi^âos  aéreos  de 
muitos  fucos.         ■  • 

—  Vesículas  embryvnnrias ;  vesículas 
coUocadas  ua  extremidade  mieropylar  ilo 
sacco  cud)ry()'.iario,  .assim  chamadas,  por- 
que uma  d'ellas  torna-se  o  ponto  de  i>ar- 
tida  da  geração  das  coUulas  que  forma- 
ram o  embrySo. 

—  Termo  do  anatDinia.  Sacco  mem- 
branoso sinulha:ite  a  uma  bexiguinha. 

—  Vesículas  elemeiUare^ :  nome  dado 
outrora  aos  elementos  anatómicos  tendo 
fóniia  de  ccllula  com  cavidade  distincta 
da  parede. 

—  Vesicula  hiliaria;  reservatório  des- 
tinado a  conter  a  bilis  segregada  polo  li- 
gado, q<iando  este  fluido  h.ho  se  dirige 
<lireotamento  ao  intestino. 

—  Vesículas  S(»u'/i<*ík,-  bolsas  d.stliva- 


VEsr 

das  a  conter  o  floido  seminal,  sonegado 
pelos  testículos. 

—  Vesicalas  He  Naboth;  follieulos  do 
iuterior  do  canal  da  madre,  ddatiulos  sob 
a  forma  ilc  pc(|Uenos  kvHtos. 

—  Termo  de  iciítiiyolo^ia.  Vesícula 
aérea,  chamada  também  bexitja  naUUi/ria; 
sacco  cbeio  d'ar,  que  se  cmontra  no»  pei- 
xes, e  que  os  torna  mais  ou  merio*  ligei- 
ros, conformo  elles  querem  subir  ou  des- 
cer na  agua;  communica  ordioariamoato 
com  o  osophago,  oa  com  o  eitomago  pjr 
um  canal  atravez  do  qual  o  ar  que  eile 
contem  pôde  oscapar-sc. 

—  Termo  de  pathologia.  Género  de 
doença  cutânea  tendo  por  caracter  a  pro- 
dueção,  á  superíicie  da  pcile,  <le  clcva- 
ções  hemisphericas  que  s.^o  formadas  {>ela 
epiderme  desligada  da  derme  e  que  se 
enchem  d'uma  sorosidade  lim|ii(la. 

VESICULAR,  adj.  2  gen.  Termo  didá- 
ctico. Que  tem  a  forma  de  vesículas. 

—  Termo  do  physica.  Eslatlo  vesicu- 
lar, ou  es/jheroidal ;  estado  particular  que 
apresentam  os  líquiiios  postos  em  conta- 
cto com  uma  «upertíci ;  quente  até  ao  ru- 
bro branco. 

—  Termo  de  botânica.  Glarululif  ve- 
siculares ;  pequenos  reservatórios  cheios 
de  óleo  d'es8encia,  c  situados  na  espessa- 
ra da  casca  oa  sob  a  epidermo. 

—  Termo  de  medicina.  Que  tem  vesi- 
eulas. 

VESICULOSO,  A,  adj.  (D*  latíni  vtsi- 
culosos,  de  vesicula).  Ternu»  didáctico. 
Que  otterece  vcj-iculas.  —  Doenças  vesi- 
culosas. 

VESIGA,  s.  f.  Vid.  Bexiga. 

VESINHANÇA,  s.  /.    Vid.    Visinhança. 

—  «Oiiegou  ao  Cosareo  do  trono  Marco 
Aurélio  Antonino,  quando  as  Teeinhan- 
ças  de  Trova  na  celebre  Ci-laile  do  Per- 
gamo  nasceo  aquelle  griile  Medico,  para 
o  qual  sò  veyo  nascendo  a  Medicina. 
Aquelle  que  apurou  a  soier.cia,  qae  adian- 
tou a  Arte,  qna  honrou  a  Faculdade,  i 
Braz  Luiz  d'Abren,  Portugsl  medico, 
pag.  .Vi,  j<  18l'. 

VESINHO,  A,  adj.  e  s.    Vid.  Visínho. 

—  í  Agora  nm  vesínho  meu,  cujas  sSo 
aquellas  tenda.s,  (|ne  vede.*,  gran  senhor, 
soberbo  e  mui  confiado  em  sua  valentia 
e  esforço,  com  ajuda  de  seus  parentes  e 
aliados,  sabendo  qne  estava  concertado 
e.asal-a,  ajuntando-se  com  elles,  se  assen- 
tou sobre  este  meu  castello,  com  voto  de 
se  n."io  levantar  dalli  té  lha  dar  por  mu- 
lher, ou  a  tomar  a  quem  quer,  que  a  le- 
var quizesse.i  Francisco  de  Moraes,  Pal- 
meirim d'Inglaterra,    cap.  37. 

VESPA,  3.  /.  (Do  latim  «,«ya).  Espé- 
cie de  mosca  como  a  abelha  qae  morde 
muito. 

VESPÃO,  ít.  VI.  Vespa  grande,  que  oi>- 
ine  o  mel  ;is  «belu.tfi,  etc. 

VESPEIRO,  s.  fi.  Buraco,  toca,  ou  co- 
va em  que  se  criam  o  vivem  muitas  ves- 
pas. Vid.  Bespeíro. 


VESP 


VEST 


VEST 


92Õ 


VÉSPER.  Vid.  Vespero.  o  -.1  r-.^.V 
VÉSPERA,  s.  /.  (Do  latim  véspera).  A 
tarde,  em  opposição  á  manhã. 

—  O  dia  anterior.  —  A  véspera  de 
Santo   António. 

—  Plur.  Horas  canónicas  que  se  di- 
zem á  tarde. 

—  As  vésperas  de  uma  festa ;  as  ho- 
ras que  se  rezam  na  tarde  precedente  ao 
dia  festivo. 

VESPERAL,  s.  «i.  Termo  de  liturgia. 
Livro  do  ufficio  da  tarde. 

—  Adj.  2  gen.   Da  tarde. 

VESPERIAS,  s.  /.  -plur.  Acto  que  an- 
tes da  reforma  da  universidade  de  Coim- 
bra, fazia  o  theologo  doutorando  na  vés- 
pera do  dia  em  que  havia  de  tomar  o 
grau. 

VESPERIZAR.  Vid.  Vesperias. 

VESPERO,  s.  m.  (Do  latim  vesper). 
Termo  de  astronomia.  A  estrella  da  tar- 
de. Vid.  Vénus. 

VESPERTINO,  A,  adj.  (Do  latim  ves- 
fertinus).  Termo  de  poasia.  Da  tarde. 

—  Astro  vespertino  ;  astro  que  se  col- 
loea  depois  de  posto  o  sol   no    occidente. 

VESPICIAS,  s.f.  plur.  Pannos  de  Cam- 
baya. 

VESPINHA,  s.  f.  Diminutivo  de  Vespa. 
Pequena  vespa. 

VESPORA,  s.  /.  Vid.  Véspera.  —  «tJá 
a  horas  de  véspera  viu  perto  de  si  uma 
villa  pequena  cercada  de  forte  muro, 
onde  foi  ter,  e  pousou  em  casa  de  um 
cavalleiro  ancião,  que  acostumava  aga- 
salhar todos  os  andantes,  que,  polo  ver 
só  e  sem  escudeiro,  lhe  tomou  o  cavallo 
e  riudou  a  desarmar,  uiostrando-lhe  toda 
cortesia  e  boa  vontade,  que  pode.»  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  117.  —  «Tornando  a  sua  viagem 
aos  sete  dias  de  Abril  vespora  do  Do- 
mingo de  Ramos  chegarão  ao  porto  de 
huma  cidade  chamada  Mõbaça;  em  a 
qual  o  Mouro  disse  que  auia  Christãos 
Abexijs  e  da  índia,  por  causa  de  ser 
mui  abastada  de  todalas  mercadorias.» 
Barros,  Década  1,  liv.  4,  cap.  5.  —  «O 
que  dito  o  Duque  tornou  a  entregar  a 
bandeira  ao  alferez,  e  naquelle  dia  de- 
pois de  vespora  veo  com  os  capitaens  da 
armada  despedirse  dei  Rei,  e  da  Rainha, 
e  do  Príncipe,  e  Infantes,  e  se  foy  logo 
embarcar,  mas  por  interuirem  alguns  ne- 
gócios que  o  detiveram,  esteue  quatro  dias 
diante  da  cidade,  dormindo  sempre  na 
nao,  e  por  caso  destes  negócios  vinha  as 
vezes  a  terra  a  falar  a  el  Rei.»  Damião 
de  Góes,  Chronicá  de  D.  Manoel,  part. 
3,  cap.  -±6.  — ■  «E  com  estas  vrcas,  que 
diante  forão,  e  com  mujtas  e  muy  boas 
carauelas,  partio  Diogo  de  Zambuja  com 
sua  armada  da  Cidade  de  Lisboa  vespo- 
ra de  Sancta  Luzia,  doze  dias  do  mes 
de  Desembro  do  dito  anno  de  mil  e  qua- 
trocentos e  oitenta  e  Imm.»  Garcia  de 
Rezende,  Chronicá  de  D.  João  II,  cap. 
25.  —  «Que  cousa  mais  efficaz  pêra   re- 


sistir a  todos  os  torpes  desejos,  e  mace- 
rar e  mortlticar  nossa  carne,  que  cuydar 
como  foy  castigada  e  atormentada  a  in- 
nocentissima  carne  do  íilho  de  DE(JS? 
E  por  isso  nas  vésperas  dontem  mandou 
a  sancta  Igreja  lancear  hum  pregam  em 
todo  o  vniuerso  mundo  dizendo,  Vexilla 
Regis  prodeunt,  que  quer  dizer,  Sae  a 
bandeira  do  Rey  celestial.»  Frei  Bartho- 
lomeu  dos  Martyres,  Catecismo  da  dou- 
trina christã. 

—  Adágios  e  provérbios: 

—  Jejuar  o  dia,  guardar  a  véspera. 

—  Vésperas  de  aldêa,  põe  a  mesa  e 
ceia. 

—  Um  trabalho  é  véspera  d'outro. 
VESSADA,  s.  f.  —  Vessada  de  terra;  a. 

geira. 

VESSADELLA,  s.  /.  Vessada,  serviço 
que  se  fazia,  o  mesmo  que  fazer  geira  ao 
senhor  directo  da  terra,  e  serviços  do 
couto,  a  saber:  segadella,  vessadella,  e 
malkadella. 

—  Toma-se  também  por  campo,  lamei- 
ro que  se  cultiva. 

—  No  Minho  e  Beira  Alta,  a  terra  que 
se  lavra  em  um  dia  com  duas  ou  três 
juntas  de  bois.  ==  Em  Viterbo,  Elucidá- 
rio. 

VESSADOIRO,  s.  m.  O  direito  de  la- 
vrar; lavragem  de  terra. 

VESSAR,  V.  a.  —  Vessar  a  terra;  la- 
vral-a  com  profundos  regos ;  lavral-os 
com  regos  atravessados  para  revolver 
bem  a  terra. 

VESSAS.  Termo  usado  na  locução  ad- 
verbial ás  vessas ;  diz-se  em  opposição 
ás  direitas  ;   pelo  carnaz. 

—  Do  lado  opposto,  ou  contrario  ás  di- 
reitas. 

VÈSTA,  s.  f.  por  Besta. 

VÉSTA,  s.  f.  (Do  latim  Vcsta).  Ter- 
mo do  polytiieismo  latino.  Deusa  prote- 
ctora da  cidade,  honrada  nos  templos,  e 
em  casa. 

—  Termo  de  astronomia.  Planeta  mui 
pequeno  descoberto  por  Olbers  em  1807. 

1.)  VESTAL,  adj.  2  gen.  De  Vesta 
(deusa). 

2.)  VESTAL,  ».  /.  Entre  os  romanos, 
sacerdotisa  de  Vesta,  consagrada  á  vir- 
gindade, e  que  era  obrigada  a  conservar 
aeceso  o  fogo  sagrado  diante  da  estatua 
de  Minerva. 

—  Figuradamente  :  Mulher,  ou  don- 
zella  mui  casta,  de  um  pudor  exemplar. 

—  Termo  de  poesia.  A  virgem  dedica- 
da a  Deus,  a  religiosa. 

f  VESTALADO,  s.  m.  Entre  os  roma- 
nos, corpo  das  vestaes. 

—  Espaço  de  trinta  annos,  durante  o 
qual  as  vestaes  deviam  guardar  a  sua  vir- 
gindade. 

VESTALIAS,  s.  f.  plur.  (Do  latim  ves- 
tal ia).  Festa  em  honra  da  deusa  Vesta, 
entre  os  romanos. 

VESTE,  s.  /.  (Do  latim  vestis).  Vesti- 
dura, habito. 


■  Vestia. 
Veste  universal. 


Era  ignorada  dos  Mortaos  a  Esscuciu 
Das  Cores  de  que  forma  ornato,  c  gala 
Da  veste  universal  a  Natureza. 

J.   X.   DB   HACEDO,  A.  NATUREZA.,  CStnt.    1. 


—  Syn.  :  Veste,  vestido,  vestidura^  tfes'- 
timenfa,   trajo. 

Veste  é  termo  mui  genérico,  e  signifi- 
ca todo  o  adorno  ou  cobertura  que  se  pSe 
no  corpo  para  abrigo  ou  honestidade ;  por 
isso  se  diz  vestes  usuaes,  reaes,  sacerdo- 
taes,  etc. 

Vestido  designa,  para  os  homens,  as  dif- 
ferentes  vestes  com  que  se  veste  de  or- 
dinário ou  em  dias  de  apparato,  e,  para 
as  mulheres  uma  roupa,  com  que  cobrem 
e  adornam  o  corpo  todo. 

Vestidura  eonfunde-se  ás  vezes  com 
veste,  mas  signihca  particularmente  uma 
veste  especial  de  grande  distincção,  tal 
é  o  manto  real,  a  capa  magna,  a  becca, 
etc. 

Vestimenta  é  propriamente  a  veste  de 
que  se  servem  os  ministros  sagrados  na 
celebração  do.s  divií.os  officios. 

Trajo  denota  nào  tanto  o  vestido  co- 
mo a  f()rma  d'elle,  o  modo  particular  de 
vestir-se,  e  certos  ornatos  que  o  acompa- 
nham;  assim  diz-se  trajo  oriental,  trajo 
europeu,  trajos  de  caçador,  trajos  do- 
mésticos, etc. 

VESTERIA,  s.f.  Roupa  para  fazer  ves^-n; 
tidos.  *'■ 

VESTIA,  s.  f.  Parte  dos  vestidos,  que 
cobre  o  tronco  do  corpo,  com  mangas,  ou 
sem  ellas;  traz-se  por  baixo  da  casaca.  ■ 

VESTIAIRO,  s.  m.  Termo  antiquado.' 
Inspector  e  guarda  da  vestiaria  do  con-  ■ 
vento. 

—  Vid.  Vestiário  2). 

VESTIARÍA,    «.  /.   A  guarda-roupa  d* - 
commuuidado  religiosa.  -'-''■ 

—  O  vestido,  ou  dinheiro  para  isso. 
1.)   VESTIÁRIO,   s.  m.  Mesa  comprida 

em  que   os  sacerdotes  se  revestem  na  sã*'  - 
ci-istia.  -  -'i 

2.)  VESTIÁRIO,  A,  adj.  Qae  diz  réé- 
peito  á  vestiaria,  que  lhe  é  relativo.  Vid, 
Vestiairo. 

VESTÍBULO,  s.  m.  (Do  latim  vestihu- 
lum).  Entre  os  romanos,  espaço  deixado 
entre  a  porta  da  casa  e  a  rua,  para  que 
08  que  vinham  saudar  o  dono-  da  casa, 
não  estivessem  na  rua,  sem  comtudo  es- 
tarem também  na  casa. 

—  Termo  de  anatomia.  Cavidade  irre- 
gular que  faz  parte  do  ouvido  interno. 

—  Vestíbulo  genital ;  a  vulva  e  todas 
as  partes  até  ú  membrana  hymen  exclusi- 
vamente. 

—  Diz-se  também  do  espaço  triangu- 
lar limitado  adiante  e  lateralmente  pelas 
pontas  das  azas  das  nymphas,  e  atraz 
pelo  orifício  da  urethra;  e  é  por  este  espa- 


92(5 


VE8T 


ço  qtio  80  entra  quando  so  pratica  o  cor- 
to vestibular. 

—  Portal,  ti  ciitraJa  da  porta  um  qual- 
quer edifício. 

VESTIDINHO,  í.  m.  Diminutivo  du  Ves- 
tido.  l'e(iucm)  Tcátido. 

1.)  VESTIDO,  í,  m.  (Do  latim  vetti- 
tui).  Vestidura. 


KÍ9  uqui  Bubimod  ■  iricruAnlein 
l'era  tir;ir  o  vtttida  um  que  ando; 
}'oi'qu<}  oi  a(;outC9  me  estuo  esperando. 
Cuinpra-Be  todo  o  meu  mui  e  luou  bem. 

UIL   VICKNIK,   AUrO   DA    lIiarOIllA   DU   DRUB. 


—  •()    exercício    (uii  que  pastam  a  vi- 
da, o  fazouda,  s.ío  doçuras,  musica,  amo- 
res, vestidos,   e  tratamento  do    sua  pes- 
soa, e  sobre   tudo  furando    opinirio  de  ca- 
valleiros,  a  qual  o«  ta/,  tão  atrevidos  era 
commetter,  que  não  temem  u  morte    por 
licar  dellcs  memoria    d'aquelle  feito ;  po- 
rém entro    olles  se   traz,    em    provérbio: 
Malayos   namorados,   Jáus  cavalleiro.i,    e 
iissi  na  verdade.»  Harro.s,  Década  2,  iiv. 
C,  cap.  1.  —  «Seus  vestidos  saõ  huua  c.1- 
holins  listrado.^,  de  branco,  e  preto,  que 
fazem,  e   tecem    da   laã   das    cabras,    la 
luais  cortão  o  cabelo  da  cabeça,   oa  bar- 
ba, em  toda  a  vida,    que  os  faz    parecer 
Cerithauro»,    porque  a  nam    cobrem,  por 
mais  Sol,  ou  frio  que  faça.»  Fr.  (iaspar 
de   S.    Boruarlino,  Itinerário  da   índia, 
cap.  9.  —  «Ella  cm  urna  mula  m«y  rica- 
mente  arrayada,  c   as    damas    cm  mulas 
com  ricas  goarniç5es.  o  diante  delia  muv- 
tas    trombetas,    e   atabales,    cliaramelas, 
sacabuxas,  nuiytos   porteiros  de  maça,  e 
reys  darmas    dei    Rer,   o    da  Ilavnlia  de 
Castella,  vestidos  do  ricas  sedas,  e  bem 
encaiuilgados,  o  seus   mestres '  ^alas,  voa- 
dor, e  nionlomo  mór  ricamente  vestidos.» 
( Garcia  de  llczendo,  Chronica  de  D.  João 
II,  cap.  123.  —  «Estes  couicçando  a  pro- 
ver  com    diuhoyro  o  vestido    alguns  dos 
que  estavaõ   mais  perto   dclles,  cliegarSo 
também  a  nós,  e  despois  de    nos   sauda- 
rem  afabelraente,    e  com    mostras  de  te- 
rem piedade  do  nossas  lagrimas,  nos  pre- 
guutar.^o    que    homens    éramos,    do    que 
terra,  ou  do  que   luiçíiO,   e    porque    Ciíso 
estávamos  presos.»  FernSo  Mendes. Pin- 
to, Peregrinações,   cap.  86.  —  «Com  tu- 
do cm  muitas   Províncias  se  conservon  o 
nomo  de  Duques,  os  quaes   tinhan  parti- 
culares insignias,  com  que  andavaõ,  por- 
que os   vestidos  erai5    vermelhos,  o  bal- 
theo,  ou  cinto  Militar  de  prata,  ou  ouro, 
no  dedo    traziaõ  luun  anel  com  duas  pe- 
dras, e  hum  colar  lançado  a  tiracollo,  ca- 
pacete,  e  escudo  dourado,  o  só  olli'S   po- 
diaõ  trazer  gente  armada  consigo,  o  dian- 
te hum    estendarte,  cousa    que  a  outrem 
senaõ  eoncelia.»  Severim  de   Faria,    No- 
ticias de  Portugal,  Dise.  3,  §  28. —  «Of- 
fereceo  a  ElRoy  hum  vestido  dello  mui- 
to bem  guarnecido,  e  obrado  ao  costume, 
pedindo-lhe  por  mercê    fosse  servido  tra- 


VICST 

zelo  le  quer  oito  dia»;  c  nJo  oraB  bem 
quatro  andados,  quando  já  o  mercador 
naõ  tinha  na  log^a  de  todo  o  panno,  nem 
um  8(i  retallio,  e  se  mil  pciHsaH  tivera, 
tantas  gastara.»  Arte  de  furtar,  cap,  t>4. 
—  « Ja  ae  hc  atteniJcr  fi  cllevada  sorte  »ie 
seos  antigas  Profesíores,  facilmente  fica- 
rh  sendo  huma  das  mais  illustros.  Os  An- 
tigos Phrigios,  como  primeiros  invento- 
res de  coser  os  vestidos  com  agulha  ('se- 
gundo Plínio)  HC  oocu|iaraõ  muyto  neste 
exercício.»  Braz  Luií  d'Abreu,  Portugal 
medico,  pag.  111,  §  49. 

Extinctos  Animacs  lhe  dão  vestido, 
Qu'  ao  pejo  naturul  sirva  d'cscudo. 

1.   i..    Dk  MAUEDÚ,  A  XATLUIiZA,  CUIlt.   2. 

—  «Espero  que  ninguém  rasgue  os  ves- 
tidos, nem  esta  folha  ao  lêr  semilhante 
blasphemia.  No  3.»  tomo  de  Goldoni,  a 
1.*  comedia  II  cavaliere  y  la  dama,  é  no- 
bilíssimo estímulo  de  honra  e  exemplo  de 
castidade.»  Bispo  do  Grão  Pará,  Memo- 
rias, publicadas  por  Camillo  Castello 
Hranco,  pag.   120. 

—  Um  vestido;  uma  casaca,  vestia,  e 
calções^ 

—  Um  vestido  de  vtulher;  consta  das 
peças  ordinárias,  roupa,  saia,  etc.  Vid. 
Veste. 

VESTIDO,  part.  pass.  de  Vestir. 

—  Vestido  di;  pobre  ;  cora  trajo  de  po- 
bre. —  «D.  João  V,  no  tempo  da  sua  ce- 
gueira o  libertinagem,  quando  ia  para 
Odivellas,  rebuçava-so  até  ao  Arco  dos 
pregos  ;  ahi  descobria-se,  e  dizia  o  Cocu- 
lim:  «Alli  perde  a  vergonha.»  Na  vés- 
pera d<w  Passos  se  foi  cnllocar  ao  lado 
da  imagem  do  Senhor,  vestido  de  pobre 
para  vèr  do  perto  as  fidalgas,  que  alli 
costumam  ir.  Dizia-me  a.  snr.*  I).  Her- 
culana  Coculini :  «Vi  eu,  viu  &  condessa 
de  S.  Vicente  e  minha  prima  Constança 
de  Menezes  as>ÍMi  a  el-rei.»  Bispo  do 
rir?lo  Pará,  Memorias,  publicadas  por 
Camillo  (-astelio   Branco,  pag.  1.Õ4. 

—  Vestido  de  sâda  roxa,  reettmado  de 
branca  e  Jina  prata;  com  trajo  de  soda 
d'aquella  cor. 


VE.ST 

—  Coberto  coíd  qualquer  peça  das  que 
SC  coBtamam  Testir.  —  «Em  o  qual  &it6- 
ue  alfruns  dia«  em  quanto  ello  e  os  hcua 
fiwsom  vestidos  e  encaualgadiv»,  pêra  po- 
derem hir  antellc:  sendo  oemprc  dcruido 
em  toílalas  cousaa,  não  como  priíicipc 
bárbaro  e  fora  lia  lei,  mas  como  podia 
ser  hum  do8  senhores  da  Europa  coatu- 
mado  áa  policias  e  scruiyos  delia.*  Bar- 
ros, Década  1,  Iiv.  3,  cap.  tí. 

Vinha  por  outra  parte  a  linda  espoaa 
Ue  Neptuno,  do  CceJo,  o  Vesta  filha. 
Grave,  e  Ioda  do  gesto,  p  tio  formoea, 
Qui;  »«  amausuva  o  mar  di-  maravillia ; 
Vulida  uma  cuiniitu  prrcioia 
Trazia  do  delpada  bcatilha 
Que  o  corpo  ervittallino  deixa  ver-se; 
Que  tanto  bem  nào  é  para  eacondcr-«e. 
OAM.,  Lcs.,  eaut.  6,  ciit.  21. 


da 


-  Figuradamente : 

'/e  luz. 


A  esperança  vetti- 


Do  grande  mar  do  meu  tormento  antigo 
Como  aurora  d  amor  sae  a  esperança. 
Valida  já  de  luz  que  de  »i  laai;a, 
O  aol  que  cu  sempre  temo  c  sempre  BÍgO. 

VEB.NÂO    SOHOPITA,    POBSIAB  C  rBOSlS  OtTOtTÁ», 

pag.  76. 


Dcsemparado  ja  doa  dous  amantes 
O  leitor  sabedor  do  souí  amores 
Ambos  de  roxa  scd;!,  rccanuida 
De  branca,  o  fina  prata,  vem  vettidot. 

COUTlí  BHALiMAUrXAUIO  DE  SEPÚLVEDA,  Ont.  4. 

—  Homens  pobremente  vestidos ;  ho- 
mens trajados  do  pobreza.  —  «ElRev 
quando  vio  de  huma  janclla  aonde  esta- 
va, huns  homens  taõ  velhos,  e  taõ  pobre- 
mente vestidos,  o  muytos  doiles  doentes, 
sem  ontre  to<los,  ver  hum  só  em  que  pu- 
desse pòr  os  olhos,  mandou  vir  perante 
si  quatro  que  vio  ir  numa  tilcyra  todos 
muyto  velhos,  e  ao  parecer  doentes.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap. 
183. 


—  tíignal  materno  vestido  de  cabeRoM. 
—  tO  Peito  nu,  liso,  e  dettpido  de  cabei- 
los,  faz  que  seja  tímido,  e  eSemiuado, 
pella  exiguidade  de  calor  natural  no  co- 
ração. As  niamillas  pinguei,  e  flácidas 
argucm  o  homem  de  sensual,  dcbil,  e 
etfeminado.  A  parte  esquerda  do  peito 
pingue,  carnozu,  e  cra&^a,  com  hum  si- 
gnal,  ou  nevo  matornu  vestido  de  cabel- 
lus  indica  felicidades,  honras,  riquezas.» 
Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal  medico, 
pag.  343,  §  i9í>. 

—  Figuradamente :  O  prado  vestido 
de  relva,    o  monte  de  arvores,  etc. 

—  Loc. :  Conseguir  alguma  cousa  ves- 
tido e  califado;  aJcançar  sem  fiazer  dili- 
gencias por  ella. 

—  Escripturat  vestidas  de  fé. 

—  Adágios  e  provérbios: 

—  Cada  um  sente  o  frio,  como  anda 
vestido. 

—  (J  homem  queremos  vêr,  que  os 
vestidos  não. 

—  Desde  que  vestidos  nos  vemos,  nSo 
nos  conhecemos. 

—  Alfaiate  mal  vestido,  sapateiro  mal 
ca!(,'Ado. 

VESTIDURA,  *.  /.  O  vestido.  Vid. 
Veste. 

VESTÍGIO,  «.  m.  ^Do  latim  v*st!gium). 
Pegada,  signal  que  deixa  a  pisada.  — 
«Quanto  á  irmau  d«  Pelagio,  nenhuns 
vestígios  haviam  encontrado  da  soa  pas- 
sagem, rerihuma  esperança  traziam.»  A. 
Herculano,  Eurico,  cap.  13. 

—  Fipura<.ianiente  :  Vestígios  da  bocca; 
o  logar  que  ella  tocou. 

—  Figuradameute :    Signal    que   dá   a 


VEST 


VEST 


VEST 


927 


conhecer  a  existência  de  cousa  que  pas- 
sou, e  9«  perdeu.  —  «Qual  pôde  ser  hoje 
este  fundamento  se  uào  conservamos  o 
menor  vestígio  da  idolatria  Grega,  ou 
da  Romana?»  Cavalleiro  d'01ivelra,  Car- 
tas, liy.  1,  ii."^, 
-'lííl     -•■. 

Onde  nãobrilhas  tu,  se  as  procellosas 
Negras  Nuvens  rasgadas,  se  os  ardentes 
De  huma  sulfúrea  luz  fuitnineos  trilhos, 
Que  cora  vapor  eléctrico  espedaçào 
O  tenebroso  véo,  são  teus  ve^tiçfiof. 
No  horror,  na  magestade  imagens  tuas. 

J.  A.  DK  MACEDO,  A  SATCBEZA,  Cant.  1. 

Na  primeira  manhãa,  nos  Ceos  a  Aurora 
Tu  fizeste  raiar,  tu  lhe  conservas 
Alvos  Lirios  nas  mãos,  na  fac«  Rosas, 
Por  ti,  da- vida  desprovidos  Ente», 
Duros  penha.sc«s,  agras  Serranias 
Parecem  anlmar-se :  em  doce  aspecto 
Jlostra  os  vestígios  de  teu  passo  a  Terra. 

IBIDEM. 


—  Stn.  :  Vestígio,  pegada,  pisada, 
rasto,   trilho,  pista. 

Vestígio  é  palavra  genérica  que  signi- 
fica o  signal  ou  mostra  que  deixou  de  si, 
em  algum  logar,  a  cousa  que  n'elle  este- 
ve, ou  por  alli  passou. 

Pegada  é  o  vestígio  do  pé  do  homem 
ou   do   bruto  que  fica  impresso  na  terra. 

Pisada  significa  o  mesmo  que  pegada, 
porém  emprega-se  mais  no  sentido  figu- 
rado. Um  bom  filho  segue  as  pisadas  de 
seu  honrado  pae. 

Basto  é  o  vestígio  que  deixa  na  ter- 
ra o  animal  que  por  alli  se  arrastou,  e 
em  geral  o  vestígio  que  fica  d'alguma 
cousa. 

Trilho  é  o  rasto  que  deixa  no  chão 
uma  cousa  pesada  carregando,  ou  pessoas 
e  animaes  passando  frequentemente. 

Pista  é  o  rasto  que  deixam  os  animaes 
por  onde  passam ;  diz-se  também  das  pe- 
gadas de  quem  se  retira. 

VESTIMENTA,  s.  f.  A  vestidura,  mor- 
mente dos-  hábitos  solemnes  sacerdotaes. 
Yid.  Veste. 

VESTIMENTEIRO,  A,  s.  Pessoa  que  faz 
vestimentas. 

VESTIR,  V.  a.  \Do  latim  vestire).  Co- 
brir o  corpo  com  qualquer  peça  das  que 
vestimos.  —  fE  porque  era  Jà  tarde 
quando  se  recolherão,  ho  negro  ficou 
aquella  noite  na  nao,  e  ao  outro  dia  pela 
manhã  ho  mandou  vestir  de  panos  de 
cores,  e  poer  em  terra,  despedindose  elle 
dos  nossos  mui  ledo,  e  contente  da  boa 
companhia,  que  lhe  fezeraõ,  e  sobretudo 
dalguns  cascaueis,  continhas  de  Cristal- 
lino,  e  outros  brincos  que  leuaua.»  Da- 
mião de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  1,  cap.  35. —  tNaõ  perde  a  arte 
seu  ser  por  f:\zer  mal,  quando  faz  bem, 
e  a  propósito  esse  mesmo  mal,  que  pro- 
fessa, para  tirar  delle  para  outrem  al- 
gum bem,  ainda  que  seja  illicito.  E  tal 
he  a  arte  de  furtar,  que  toda  se  occupa 


em  despir  huns  para  vestir  outros.»  Arte 
de  furtar,  cap.  1. 


Tanto  céo  ha  ora  aqui. 
acolá  oéo.  e  cá  céo, 
agora  estou  bem  assi ; 
não,  melhor  é  pêra  alli ; 
céo,  vçMi-voí  VÍ3  d'arpeot 
estou  como  pedra  em  poço. 

AXTOSIO  PRESTES,  ÃTJTos,-pag.  87. 


—  Vestir  seda,  lã ;  vestir  vestidos  de 
seda,  de  lã. 

—  Vestir  saragoça;  vestir  vestidos  de 
saragoça. 

—  Vestir  galas.  —  «Vestirão  galas  os 
Reis,  e  a  Corte,  e  determinarão  dia  para 
dar  graças  na  Capella  com  offertas  pias, 
e  Reaes.  Houve  um  douto  Sermão,  em 
que  se  disserào  do  Governador  encómios, 
e  virtudes.  El  Rei  deo  conta  da  victoria 
ao  Summo  Pontífice,,  e  aos  maiores  Prín- 
cipes da  Europa,  que  todos  lhe  congra- 
tulárào,  como  a  mais  illustre  facção  do 
Oriente.»  Jacintho  Freire  d'Andrade, 
Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv.  4. 

—  Figuradamente :  Vestir  as  paredes 
de  painéis. 

—  Vestir  o  campo  de  fiares ;  guarne- 
cel-o,  ornal-o  com  ellas. 

—  Vestir  á  franceza,  ou  coríezão;  ves- 
tir segundo  a  moda  da  corte,  de  França. 

—  Vestir  de  branco,  de  azul,  de  pas- 
tor; vestir  vestidos  brancos,  azues,  de 
pastor. 

—  Disfarçar,  dissimular;  tomar  os 
ares,  semblante. 

—  Ornar,  adornar. 

—  Vestir  corpos  reformados.  —  Mani- 
festo ])e  que  todos  com  entranhaueis  ge- 
midos dizemos  com  Paulo.  Xolumus  ex- 
poliati  sed  superuestiti:  que  quer  dizer, 
Nam  desejamos  de  deyxar  este  corpo,  e 
que  as  nossas  almas  estejão  apartadas  dos 
corpos,  mas  desejamos  de  vestir  corpos 
reformados,  corpos  que  nunca  moirão, 
que  nur.ca  adoeçam,  que  num  possam  ter 
pena,  nem  desgosto,  nem  outro  qualquer 
achaque.»  Frei  Bartholomeu  dos  Martv- 
res,  Catecismo  da  doutrina  christã. 

• — Vestir  a  ntie  o  sol;  cobrir  a  neve 
o  sol. 

Na  cima  do  Thabor,  e  hum  Deos  se  mostra ; 
Mais  qui^  o  Sol  brilha  o  rosto,  e  a  neve  o  veste. 
Das  ruinas,  e  túmulos  de  Athenas 
Surgem  caladas  invejosas  sombras. 

J.    A.     Da    MACEDO,    MBDITAÇÃO,    Caut.     1. 


—  As  azas  vestiram  a  côr. 

Segue-lhe  o  vôo  matizado  Insecto, 
Insano  atrevimento  !  e  cahe  prostrado : 
De  nada  vale  a  côr,  que  as  azas  vestem. 
j.  A.  DB  MACEDO,  A  sauiueza,  cant.  1. 

—  Figuradamente:  Vestir  alguém;  dar- 
Ihe  de  vestir  por  beneficio. 


—  Vestir  o  rosto  de  gravidade,  con- 
fiança, seriedade. 

—  Vestir  alguém;  ajudal-o  a  vestir-se 
como  fiiz  a  aia,  o  servo. 

—  Figuradamente :     Vestir    conselhos. 

—  (lE  com  fios  seccos  dados  em  borda  de 
alguidar  vermelho,  cortamos  duas  dúzias 
de  conselhos  que  os  poderá  vestir  o  prín- 
cipe D.  Filippe;  e,  sem  tomar  o  pulso, 
somente  pelas  aguas,  receitamos  ali  me- 
zinhas que  Galeno  nunca  ouviu  nem  en- 
sinou.» Fernão  Soropita,  Poesias  e  pro- 
sas inéditas,  pag.  17. 

—  Vestir  casos  das  mesmas  circum-, 
stancias;  acompanhal-os  d'ellas. 

—  Vestirem-se  as  almas  de  santa  fé. 

Çhorárão-te,  Thomé,  o  Gange  c  o  Indo: 
Chorou-te  toda  a  teira  que  pizaste ; 
Mais  te  chorão  as  almas,  que  vestindo 
Se  hiào  da  sancta  Fé  que  lhe  ensinaste. 
CAM.,  LC!.,  cant.  10,  est.  118. 

—  Vestir-se,  v.  refi.  Cobrlr-se  com  fa- 
to. —  «E  no  Evangeliio  disse  Cbristo, 
que  nem  Salomão  em  toda  sua  gloria  se 
vestira  taõ  ricamente,  que  chegasse  á 
belleza  de  hum  Lírio.»  Severim  de  Faria, 
Noticias   de  Portugal,    Disc.  3,  cap.  12. 

—  «E,  se  apertarem  muito,  direi  que  não 
errei,  diante  de  Milton,  de  Adisson,  de 
Schakspeare  e  de  outros  inglezes  que  sa- 
bem da  poda;  porquanto  sendo  esta  obra 
mosaica,  isto  é  miscellania  de  embrecha- 
dos,  veste-se  de  muitas  cores  como  capa 
de  retalhos  em  tempo  de  mascaras  ou 
theatro  de  Paris.»  Bispo  do  Grão  Pará, 
Memorias,  publicadas  por  Camillo  Cas- 
tell  '  Branco,  pag.  57. 

—  Ornar-se,  guarnecer-se,  adomar-se, 
- — Vestir-se    de  Christo ;   ser  christão, 

praticar  as  virtudes  do  christianismo. 

—  Figuradamente:  Vestir-se.  a  alma 
de  Christo;  de  vii-tudes  chiistãs. 

—  Figuradamente:  Vestir-se  de  luz; 
vestir-se  de  prudência,  e  seriedade. 

—  Vestir-se  á  castelhana;  vestir-se  á 
moda  de  Castella,  segundo  o  uso  de  Cas- 
tella. —  aVestiu-se  á  castelhana  o  minis- 
tro, e  montado  em  bom  cavallo  com  um 
só  criado  capaz,  foi  ajustar  uma  compra 
de  porcos  com  o  Toscano;  e,  não  se  fa- 
zendo o  ajuste  entre  ambos,  mandou  cer- 
car a  cas^,  e  o  segurou,  havendo  tiros 
sem  mortes.»  Bispo  do  Grão  Pará,  Me- 
morias, publicadas  por  Camillo  Castelio 
Branco,  pag.  126. 

—  Vestir-se  de  purpura^  de  louçainhas. 

—  Vestir-se  o   céo  de  nuvens. 

—  AdaGIO.Ç  E  PROVÉRBIOS: 

—  Ao  revés  a  vesti,  ande-se  assim. 

—  Ainda  que  vistaes  a  mona  de  seda, 
mona  se  queda. 

—  Capello  sobre  capello,  nunca  o  veste 
o  mau  mancebo. 

—  3Iàe  e  filha  vestem  uma  camisa. 

—  Quem  o  alheio  veste,  na  praça  o 
despe. 


928 


VETU 


VÊXÍ 


VEYO 


—  Quem  do  vorde  so  veste,  por  for- 
mosa so  tove. 

—  Veste-te  ein  gucrja,  c  arma-tc  em 
paz. 

—  Quem  80  veste  do  ruim  patino,  ves- 
tc-se  duas  vezes  no  anno. 

—  So  queres  ser  rico,  cal^^a  do  vacca, 
o  veste  'lo  fino.' 

VESTORIA,  «./.  Vid.  Vistoria. 
VESTUÁRIO,  s.  m.  Fato,  trajo. 

—  Tmlos  03  objectos  juntos  necessá- 
rios para  se  vestir. 

VESUGO,  s.  m.  Termo  de  historia  na- 
tural. Peixe  .vulgar;  é  do  mar  alto,  da 
feição  do  cacliucho,  tem  a  calicça  mais 
agada,  c  a  carno  monos  vcírmelha. 

—  Adágios  e  ruovKuiuos: 

—  A  cabeça  do  vesugo  come  o  sisudo, 
o  a  da  boga  d:l  a  sua  sogra. 

—  A  castauba  e  o  vesugo  cm  feveroiro 
nílo  tem  sumo. 

—  Como  te  conheço,  vesugo  !  e  clle  ora 
caraníjunjo. 

I  VESUVIANA,  s.  f.  Termo  do  minera- 
logia. Esiiiocio  de  pedra  preciosa. 

f  VESÚVIO,  s.  m.  Koiiio  d'um  vulcão 
de  Itália,  tomado  figuradamente  por  uma 
cidade  cm  revoluç.uo. 

VETA.  Vid.  Beta. 

VETERANICE,  *.  /.  O  caracter  do  que 
é  vetiMMuo. 

VETERANO,  A,  a<1j.  (Do  latim  i'e<«ra- 
nus).  Quu  uilo  é  novel,  que  não  é  biso- 
nho. 

—  Maia  antigo  que  o  novato ;  diz-se 
fallando  do  estudo  universitário. 

—  Substantivamente:   Um  veterano. 
VETERINÁRIA,  s.  f.  Arie  de  curar  ga- 
dos, bi'stas,  eavallos;  alveitaria. 

VETERINÁRIO,  A,  adj.  (Do  latim  le- 
iérinarius).  Concernente  ao  curativo  das 
bestas.  —  Arte  veterinária. 

—  MeiUcos  veterinários ;  dizem-se  os 
que  se  chamam  alveitarcs  para  sangrar 
bestas,  eavallos,  etc. 

—  Figuradamente :  Medico  veteriná- 
rio; sangrador  de  bestas. 

■  VETO,  s.  »».  (Do  latim).  Formula  que 
empregava  em  Roma  um  tribuno  da  ple- 
be, quando  se  oppunha  aos  decretos  do 
seriado,  ou  aos  actos  do  magistrado. 

—  Hoje,  recusa  que  faz  o  chefe  do  es- 
tado de  sanccionar  uma  lei  adoptada  pe- 
las canyiras.  —  Em  Inglaterra,  o  rei  tem 
velo  ;  o  direito  do  veto. 

—  Veto  absoluto;  faculdade  de  recusar 
temporária  ou  definitivamente  a  sancçiSo 
d'um  acto  legislativo. 

—  Figuradamente :  OpposiçSo. 

—  Faculdade  que  as  constituições  dão 
ao  imperante  para  recusar  a  sua  sancçSo 
a  uma  lei  discutida  e  approvada  pelo  cor- 
po lo};islativo. 

VETRE3CIVEL,  adj.  2  gen.  Vid.  Vitres- 
civel. 

VETRIFICAR.  Vi,1.  Vitrificar. 

VETUSTO,  A,  aJj.  (Do  latim  vetiistus). 
Velho,  deteriorado  pelo  tempo. 


a 


VEXAÇÃO,   •.  /.    (Do  latim    vtxatio). 

Acto  de  vexar,  de  atormentar. 

—  Ajjcrto,  lance  trabalhoso,  aifroutu, 
tormento. 

— •  ( )    mau   trato   »|uo    soflTre  o  vexiido. 
VEXADO,   jjart.  pats,  de  Vexar.  Ator- 
mentado, atllieto. 

—  Vexado  c/c  demuitiu. —  tPcllu  qual 
nos  trc-s  piiuieiros  ].>umingos  deste  san- 
cto  teni[)o  nos  canta  a  s.^cta  Madre  l;,'reja 
Euangeiiios  cm  oa  quaes  se  contem  al- 
gumas victorias  que  O  Senhor  teuo  coutra 
o  demónio,  destruindo  suas  obras,  como 
se  manifestou  no  primeyro  Domingo  no 
qual  so  coutou  a  victoria  contra  suas  ten- 
tações: e  no  dominga  passado  se  cõt  lU 
como  liurou  a  fillia  de  Caiianca,  que 
era  vexada  do  mesmo  demónio.»  Frei 
Bartliolomcu  dos  Martyres,  Catecismo  da 
doutrina  christã. 

VEXADOR,  A,  s.  Pessoa  que  vexa,  que 
proiluz  vexação,  que  a  commettc. 

—  Adjcctivamente:  As  vexadoras /ii- 
riaa. 

VEXAME,  s,  171.  Vexação. 

VEXAR,  V.  a.  (Do  latim  rexarc).  Ator- 
mentar, pcrsegruir,  molestar.  —  «E  por- 
que vexou  os  povos  com  taes  tributos, 
que  chegou  a  quintar  as  fazendas  a  seus 
vassallos,  se  lhe  alevantai"a3  Portugal, 
Catalunha,  Nápoles,  Sicília,  etc.  e  por- 
que faz  guerra  a  França,  e  a  outros  Rey- 
nos,  e  Estados,  que  lhe  naõ  pertencem, 
por  sustentar  caprichos,  está  em  pontos 
de  dar  a  ultima  biiqueada  á  sua  Jlonar- 
chia.»  Arte  de  furtar,  cap.  15.  —  «Ella 
pedia  instante  o  pcrfiosamente  que  o  Se- 
nhor liurasse  o  corpo  de  sua  filha,  ator- 
menta<lo  pello  demónio.  Com  quam  mais 
feruente  c  porfiosa  oraçam  que  nos  cõ- 
uem  humildemente  pedir  que  o  demónio 
não  vexe  e  atormente  nossas  almas,  s.  que 
nos  enduza  e  faça  cavr  em  peccado  mor- 
tal, o  qual  mayor  damno  e  estrago  faz 
em  huma  alma  do  quo  podem  mil  demó- 
nios fazer  em  a  alma  ou  corpo.»  Frei 
Bartholomeu  dos  Martyres,  Catecismo  da 
doutrina  christã. 

—  Fazer  envergonhar. 

—  Figuradamente :  Vexa-me  a  cons- 
ciência; remordeia.  Vid.  Avexar. 

VEXATÓRIO,  A,  adj.  Que  tem  o  cara- 
cter de  vexação. 

—  Quo  vexa. 

VEXIDADE.  Erro  por  Anuexidade,  uae 
Provas  da  historia  genealógica,  tom.  4. 

VEXIGA,  s.  f.  Vid.  Bexiga. 

VEXILLARIO,  s.  m.  Entre  os  roma- 
nos, soldados  que  formavam  um  corpo  á 
parte. 

—  Adjectivamcnte :  Que  pertence  aos 
estandartes. 

—  Termo  de  botânica.  Que  tem  a  fW- 
ma  d'um  estandarte,  que  ofFereco  uma 
espécie  do  estandarte. 

VEXILLO,  *-.  »i.  [Vo  latim  vexillum). 
Tormo  pouco  em  uso.  Bandeira,  estan- 
darte. 


VEYA,  $./.  Vid.  Vèa,  e  Veia. 

t  VEYO,  por  Veio.  ViJ.  Veio.  —  .Affir- 
ma  que  quando  veyo  di-  .luílca  para  Ko- 
ma,  e  nellu  foy  abiolto  du  imiu'&<;ÍIo  dos 
Judeus,  Ke  pârtio  na  volta  'io  Expanha: 
o  me.imo  re|)cte  na  Epistola  a<ir  Phiii|ien- 
nes,  <;  eobre  u  Pualmo  lltí.»  Mouarcbia 
Lusitana,  liv.  5,  cap.  7.  —  «Oit<j  annua 
possuído  Pliocau  o  luípcrío  actjucrido  por 
tào  eruoÍB  meyo»,  e  }j<iiito  que  no  princi- 
pio se  tivesse  delle  grade  conc«*it<j,  «  do- 
sejasscm  todos  sua  amizade,  ao  fim  se  TejO 
a  mostrar  tão  para  pouco,  que  oa  Capt- 
taens  e  peséoa.s  em  que  clle  tinha  mayor 
confiança,  o  mat.âraõ  às  punhaladas  den- 
tro em  seu  paço.»  Ibidem,  liv.  6,  cap.  24. 
—  iO  próprio  uonie  deata  Viila  foy  Alan- 
kerkana,  que  tanto  vai  eoi  lin^oa  Ale- 
mam,  como  Templo  do»  Alanos,  e  depois 
abrandando  a  pronunciaçaõ  do  vocábulo, 
c  dimiuuindo-lhe  aifrumas  letraf>,  veyo  a 
ficar  na  fi'>rma  em  que  o  nomeamos  de 
Alcmquer,  Villa  nobre,  e  muy  conhecida 
neste  Keyno  pela  fertilidade  de  sua  Co- 
marca, e  por  ser  terra  dotal  das  Raynhas 
de  Portupal,  dci«de  o  toropo  delKey  D. 
Afonso  Terceyro  a  esta  parte.»  Ibidem, 
liv.  G,  cap.  4.  —  «Desta  carta  'cuja  da- 
ta he  anno  de  Christo  setecentos  e  dozo) 
entendeo  o  Conde  D.  Jullaõ  a  força  quo 
elRey  fizera  a  sua  filha,  e  dando  ordem 
aos  negócios  com  toda  brevidade,  fo  veyo 
a  Espanha  com  tanta  lastima  de  seu  co- 
ração, que  em  nada  se  mostrou  nunca 
tanto  a  grandeza  delle,  como  em  saber 
dissimular  a  dor  em  qne  vivia.»  Monar- 
chia  Lusitana,  liv.  7,  cap.  1.  —  •£  re- 
tirandosc  Carlos  á  Cidade  do  Aquisgran, 
depois  desta  perda,  viveo  perto  de  qua- 
tro annos,  cansado  dos  rauytos  trabalhos 
passados,  e  da  velhice.  «  dcsgoete  que 
recebera,  e  veyo  a  morrer  no  anno  que 
apontey  acima.»  Ibidem,  cap.  12.  —  «E 
disse  também  outras  muytas  coui^a.'!  par- 
ticulares muyto  importantes  a  nosso  pro- 
pósito. E  antre  algumas  qne  noa  disse, 
nos  veyo  a  confessar  qne  era  Christlo 
renegado,  Jlalhorquy  de  naçAo.  natural 
de  Cerdenha,  filho  de  hum  mercador  que 
se  chamava  Paulo  Andrés,  e  que  nSo 
avia  mais  que  stSs  quatro  anno6  que  se 
tornara  Mouro  por  amor  de  huma  <!r^a 
Moura  com  que  era  casado. »  FernXo  Men- 
des l^nto,  Peregrinações,  cap.  3.  —  «E 
cõ  outra  mais  gente  que  ainda  tinha  c5- 
sigo,  fingindo  ir  a  Pacen  prender  hum 
Capitão  que  se  llve  lenantára,  veyo  sobre 
dous  lugares  do  Bata,  que  se  chamavaõ 
Jacur,  e  Lingau,  e  como  os  achou  dcs- 
cuvdados  pelas  pazes  que  eraíl  feytas  ha- 
uia  taõ  poucos  dias,  os  tomon  muyto  fa- 
cilmente com  morte  de  três  filhos  do  Ba- 
ta, e  setteccntos  <  hirobnlUVs,  que  he  a 
melhor  gente,  e  a  mais  fidalga  de  todo  o 
Revno.»  Ibidem,  cap.  13.  —  «As  três 
nãos  depois  de  venderem  alli  bem  suas 
fa-^emlas  se  foraõ  para  Ooa  sò  com  os 
Officiacs  delias,  e  a  gente  do  mar,  aon. 


VEZ 


VEZ 


VEZ 


929 


de  estiveraõ  mais  alguns  dias  até  que  o 
Governador  as  acabou  de  despachar  pa- 
ra Cochim,  e  dahi  tomada  a  carga,  se 
tornarão  todas  sinco  para  o  Reyno,  aon- 
de chegarão  a  salvamento,  levando  em 
sua  cõpanhia  a  náo  S.  Pedro,  que  se  ti- 
zera  iia  Índia,  de  que  veyo  por  Capitão 
Manoel  de  Macedo,  que  trouxe  o  Basi- 
lisco, a  que  cá  chamarão  o  tiro  de  Dio.» 
Ibidem,  cap.  2.  —  «Aqui  em  Torres  Ve- 
dras veyo  a  cl  Rey  iium  Embaixador  dei 
Rey  de  Nápoles  com  hum  muy  grande,  e 
rico  presente  de  cousas  de  muita  esti- 
ma, e  o  Embaixador  era  muyto  grande 
de  corpo,  muyto  bem  feyto,  e  muyto  gen- 
til homem,  manhoso,  anisado,  e  de  bom 
despejo,  e  o  mayor  musico  de  crauo,  e 
órgãos  que  então  se  sabia,  que  el  Rey 
algamas  vezes  ouuio.»  Garcia  de  Rezen- 
de, Chronica  de  D.  João  II,  cap.  170. 
—  fFalta  a  estes  senhores  a  generosida- 
de, que  sobejou  ao  Ssrenissimo  Duque 
D.  Theodosio,  digníssimo  Progenitor  de 
nosso  invictissimo  Rey  D.  Joaõ  o  IV.  de 
gloriosa  memoria,  o  qual  convidado  por 
ElRey  Filippe  III.  de  Castella,  quando 
veyo  a  Poitugal  na  era  de  620.  que  lhe 
pedisse  mercês,  respondeu  palavras  di- 
gnas de  cedro,  e  de  laminas  de  ouro.» 
Arte  de  furtar,  cap.  46. —  «E  assim  foy, 
que  de  graça  veyo :  contey  por  graça  is- 
to ao  matalote  dos  duzentos  mil  reis,  res- 
pondeo  marchando  os  beiços :  saõ  lanços, 
que  naõ  tiraô  seus  direitos  aos  homens  de 
negi)cio.»  Idem,  cap.  56.  —  «A  segunda 
verdade  que  confessamos  neste  artigo,  he 
a  Resnrreiçam  do  Senhor,  e  como  aquella 
alma  sanctissima  ao  terceiro  dia  pella 
menham  cedo,  muy  trinmphante  sayo  do 
inferno,  e  veyo  ao  sepulchro,  e  tornou  a 
vestir  aquelle  sacratíssimo  corpo  que  nel- 
le  estaua,  naõ  com  as  fraquezas,  e  misé- 
rias que  tinha,  mas  renouado  e  glorioso 
com  todos  os  dotes  c  perfeições.»  Frei 
Bai-tholomeu  dos  Martvres,  Catecismo  da 
doutrina  christã.  —  «Esta  he  o  compri- 
mento da  ley,  esta  he  o  vinculo  da  per- 
feiçam  :  esta  he  caminho  pello  qual  DEOS 
deceo  dos  Ceos,  e  veyo  aos  homens  :  c 
ella  80  he  também  o  caminho  por  onde 
os  homens  ham  de  subir  aos  Ceos.s  Ibi- 
dem. 

Entre  os  Francos,  de  Harold  o  nome  tinha. 
Vei/o.  qual  piompttcra  ao  romper  da  Alva, 
Com  Dama,  que  inculcava  alta  progénie. 
De  linho  a  veste,  que  arde  era  roxa  purpura ; 
Braços  nus,  quasi  nu  (qual  Franca)  o  seio, 
Feições,  4  prima  vista,  meigo-barbaras, 
Bronco  o  gesto  c  feroz.  Estranhi  mescla 
De  condoimento,  inserto  em  peito  Bárbaro. 

F.    V.   DO  KASCIlfENTO,  OS  SLiKTTHKS,  1ÍV.  7. 

VEZ,  í.  /.  A  occasião  em  que  se  faz 
alguma  cousa,  e  o  numero  de  oecasiòes  ou 
tempos.  —  Pagar  pela  primeira  vez  cin- 
co mil  liòras.  —  oE  qualquer  que  as  trou- 
ver,  passado  o  dito  tempo,  se  for  Conde, 
Meestre,  ou  Priol  do  Espital,  ou  outi-os 
VOL.  T — 117. 


Cavalleiros,  ou  Escudeiros  de  grande  con- 
diçom,  que  poia  primeira  vez  pague  cin- 
quo  mil  libras,  e  pela  segunda  dez  mil, 
e  pola  terceira  perca  as  terras,  e  a  con- 
thia  que  de  nós  houver.»  Ord.  Affous., 
liv.  õ,  tit.  9.3,  §  3.  — ■  «E  quando  a  ma- 
nhaa  esclarecia,  se  acharam  junto  delia, 
e  lançaram  ancora  no  porto,  onde  Pal- 
meirim a  primeira  vez,  que  alli  fura,  des- 
embarcara ;  que  em  toda  ella  não  havia 
outro :  e  lançando  os  cavallos  fora,  qui- 
zeram  caminhar  nellesj' porém  a  estrei- 
teza do  caminho,  a  aspereza  ãã.  rocha, 
não  lho  consentiu  senão  a  pé.»  Francis- 
co de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  119.  —  «Direi  o  que  depois  aconte- 
ceo  a  estes  dous,  dos  quaes  Rahobemxa- 
mut,  mataram  a  priiueira  vez  que  o  Xa- 
rife  pelejou  com  el  Rei  de  Fez  de  huma 
lança  que  lhe  tirou  daremeso  de  traves 
hum  mouro  negro  que  lhe  hia  fogindo, 
cujo  corpo  trouxeram  a  sua  molher  Ho- 
ta,  que  lhe  mandou  logo  fazer  o'  milhor 
que  pode  sua  sepultura  sem  mais  querer 
comer,  nem  beber  no  que  perseuerou  uo- 
ue  dias  a  cabo,  dos  quaes  morreo,  e  foi 
sepultada  com  seu  marido.»  Damião  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  4, 
cap.  32. 

Xo  estado  social  mil  bens  derramas ; 
Quando  sobes,  da  purpura  cuberta, 
Ao  Sólio  huma  aó  vez,  ditosos  povos ! 

J.   A.   DE  JIACEDO,  MBDIT.4.ÇÃ0,  Caat.    1. 


Man.'5o,  e  quedo  huma  ves,  tranquiUo,  o  liso. 

Outro  revolto,  c  bravo  entumecido, 

De  inconstância,  c  de  guerra  amplo  theatro. 

IDEJt,    A   SATCBEZ.^,   CaUt.    S. 


Meu  Sempronio,  abracemo'-no3  ainda 
Por  esta  cez,  que  ainda  íomos  li\Tes. 
Ai !  talvez  ámauhan  não  poderemos 
Fazê-lo  ja  —  sem  nos  acharmps  ambos 
Xo  vergonhoso  amplexo  dum  escravo. 

GAEBETT,  CATÃO,  act.    1,  SC    5. 


—  «Nào  posso  —  murmurou  o  moço 
frade.  Fr.  Lourenço  ajoelhou  de  novo  e 
curvou  a  fronte  para  o  chão.  D'esta  vez, 
não  aos  pés  da  imagem  do  Salvador,  mas 
aos  pés  de  Fr.  Vasco,  ora  beijando-lh'os, 
ora  abraçanao-o  pelos  joelhos.»  Alexan- 
dre Herculano,  Eurico.  —  «Já  uma  vez, 
com  a  sua  liberdade  de  bufão,  tinha  ou- 
sado penetrar  naquelle  recinto,  com  gran- 
de escândalo  e  gritaria  de  D.  Cypriana, 
a  rodeira  das  damas,  cujo  throno,  agora 
vazio,  se  ostentava  r.o  topo  escuro  do 
dormitório.»  Idem,  Monge  de  Cister,  ca- 
pitulo 21. 

—  LoC". :  Ter  vez  de  fazer,  receber, 
sofrer  alguma  coitsa;  ter  logar,  cabi- 
mento entre  outros. 

—  Estou  de  vez  ;  estou  em  disposição 
accommodada,  em  occasião  própria. 

—  Acção  feita,  ou  que  so  ha  de  fazer 
por  turno,  ou  gyro ;  o  gyro  ou  turno. 


—  Esperar  vez   ds   encher ;   de    tomar 
agua  com  outros  concorrentes. 

—  Loc.  :  Estar  de  vez  a  fruta ;    boa 
para  se  colher. 

—  Figuradamente :  Estar  de  vez  a  fru- 
ta; no  tempo  opportuno, 

—  Outra  vez ;  em    outra   occasião,  ou 
segunda  vez. 


E  Be  levanto  as  azas,  alguma  hora, 
Ao  eco,  que  nunca  cessa  de  chamar-me, 
Por  ver  se  minha  sorte  se  melhora, 
Ainda  bem  não  tento  levantar-mc, 
Quando  outra  vez  me  abaixa  o  grave  pezo 
De  que  eu  tão  sem  razão  quiz  carrcgar-mc. 

FEEsIo     SOROPITA,     POESIAS     E     PBOSAS    INÉDITAS, 

pag.  148. 


—  «Feita  aguada,  tornou  Affonso  de 
Alboquerque  outra  vez  commetter  o  ca- 
minho donde  vinha  té  chegar  ás  próprias 
Ilhas.»  Barros,  Década  2,  liv.  8,  cap.  2. 
—  «Tudo  o  qual  passou,  atê  o  anno  de 
Christo,  quatrocentos  e  dezoito,  que  fo- 
raõ  quatro  mil  e  trezentos  e  setenta  e 
seis,  da  Creaçào  do  Mundo.  Por  este  mo- 
do tícou  outia  vez  grande  parte  da  Lusi- 
tânia em  poder  dos  Alanos,  como  antes 
estivera,  inJa  que  sem  nome  de  Reyno.» 
Monarchia '  Lusitana,  liv.  6,  cap.  4. — 
«Nesta  primeira  i  !a  de  Castella  foi  Dio- 
go da  Sylva  de  Meneses,  por  seu  aio,  e 
depois  de  dom  Emanuel  tornar  de  Cas- 
tella, foi  là  enuíado  outra  vez  no  anno 
do  Senhor  de  mil,  e  quatrocentos,  e  oi- 
tenta e  três,  pêra  andar  na  Corte  dos 
Reis,  atte  ho  tempo  em  que  se  hauião  de 
fazei'  hos  casamentos  do  Príncipe  dom 
Afonso,  e  da  Princesa  dona  Isabel  se- 
gundo forma  dos  contratos,  mas  chegan- 
do a  Freixinal,  primeiro  lugar  de  Cas- 
tella, se  tornou,  por  se  has  terçarias  des- 
fazerem.» Damião  de  Góes,  Chronica  de 
D.  Manoel,  part.  1,  cap.  5.  —  «Deste  lu- 
gar fomos  ter  a  outro  que  se  chamava 
Guinapalir,  donde  continuamos  outra  vez 
por  nossas  jornadas  por  espaço  de  quasi 
dous  meses  de  teri^a  em  terra,  até  che- 
garmos a  huma  villa  que  se  chamava 
Taypor,  onde  por  nossos  peccados,  sem 
o  n<'is  ■  sabermos,  acertou  de  estar  hum 
Chumbim,  que  sa~  como  Presidentes  de 
alçadas,  qué  de  três  em  três  ánnos  cor- 
rem as  comarcas  do  reyno,  e  devassaõ 
dos  Corregedores  e  ofiGciais  da  justiça.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações, 
cap.  84.  —  « De  que  o  Prineipe  ouue 
muyto  desprazer,  e  nunca  nisso  consen- 
tio,  antes  disse  a  el  Rey  seu  pay,  que 
pois  queria  fazer  mercê  aos  que  contra 
elle  se  aleuantauam,  que  faria  aos  que  o 
muyto  b?m  seruissem.  E  porque  o  Prín- 
cipe sentio  muyto  o  dito  Lopo  Vaz  se 
ãleuantar  assi  sem  causa,  e  não  fiar  ja 
dcUe,  por  escusar  de  o  poder  fazer  outra 
vez,  determinou  de  o  mandar  matar.» 
Garcia  de  Rezende,  Chronica  de  D.  João 
II,  cap.  20. 


930 


VEZ 


VEZE 


vezí: 


Vamos  jantar. 
•Jantaroi  com  o  gosto  Mra? 
Poia  onfoiTiuc-30  cila  agora, 
c  lovo-o  pnra  esforçar. 
Vou-mo  outra  vez  il  jonclla. 
Àirroaio  pansTr.s,  íutos,  pag.  315. 

Sendo  ja  qnafti  ontSo  mortificada 
Co'o  pcrnnnn  furor  da  artilharia 
A  asporoza  da  chaminii  nlnvaiitada, 
E  a  do  fogo  qiio  aa  pudras  acendia, 
Comin(ítto  IA  outra  vez  do  novo  a  onti-ada 
iluma  a.ssaz  nunioro.4a  companhia 
Do  Hoberbos  imigoií  bem  anilados. 
Do  nova  ira  u  furor  cstimuladoti. 

r.  n'ANDRA.ni£,  pbimbiro  cbbco  de  Dni,cant.  17, 
est.  111. 

—  (lEntondo,  digo  outra  vez,  que  pô- 
de ser,  o  o  confe.-*8o;  iiorein  o.s  llelifíiosos 
sito  pcrpctunuiente  vordadeyros,  Bcado-o 
ate  quando  nilo  importa  que  o  sejilo,  que 
he   ató   Aquelle    ponto   que   nós   dizemos 

2ue  se  podo  uiciitir  com    boa   intenção.» 
)avalleiro  de    Oliveira,    Cartas,  liv.    1, 
n.»  28. 

—  O  negocio  ainda  não  estava  de  vez 
para  se  ajustar ;  affirmar,  ultimar,  exe- 
cutar, eto. 

—  Uma  vez  de  vinho;  a  porção  que 
do  uma  vez  se  bebe. 

—  Cada  vez;  todas  as  vezes.  —  «Es- 
tando ne.ste  pensamento,  Arlauça  o  tirou 
delle  com  dizer  lhe,  que  ja  outro  caval- 
loiro  o  esporava.  Viis  me  acudistes  a  bom 
tompo,  disse  elle,  que  cu  estava  em  uma 
duvida,  que  cada  vez  que  cuido  uella 
me  atormenta,  t  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  140.  — 
«Garcia  ilodrifjues  de  Távora  llie  disso 
que  elle  não  se  queria  embarcar  se  na3 
por  seu  soldado,  e  que  assim  o  diria,  e 
lhe  daria  ainda  disso  l>um  assinado  cada 
vez  que  lho  pedisse.»  Diogo  de  Couto, 
Década  6,  liv.  3,  cap.  1. 

—  Rara  vez;   poucas  vezes. 

Eu  turbado,  o  revolto,  cm  tal  enleio 

Do  Roma,  atravessando,  um  Bairro  escuso, 

De  muita,  o  pobre  gente  povoado, 

Kjira  VK,  pelos  Grandes,  decorrido. 

Corto  oditicio  mo  ferio  nos  olhos 

Em  fiSrma  peregrina,  cm  stylo  grave. 

F.  M.  DO  NASCIMENTO,  03  UARTYKES,  1ÍV.   fi. 

—  Muita  vez ;   bastantes  vezes. 

Dcantc  d 'esses  feros  lusitanos, 
D'e3se  uobro,  indomado  povo  duro, 
Ja  muita  vez  tremeram  de  assustadas 
Águias  romanas,  e...  — Tu  ris! 
aABBKrT,  CATÃO,  act.  Tl,  se.  T. 

—  cEu  quiz  designar  aqui  o  couto  e 
guarida  que  os  per.^eguidos  adiámos  sem- 
pre n'aquolla  ilha  foliz :  por  mim  pessoal- 
mente não  oneoutroi  só  isso,  mas  casas 
o  corações  abertos  que  me  aga.^alharam, 
o  om  que  me  esqueci  muita  vez  do  que 
era  cstrangoiro  o  pro.>cripto.»  Idem,  Ca- 
mões, uota  E  ao  cant.   1. 


—  Alguma  vez ;  alguma  occaaião.  — 
«Como  alguma  vez  ob.sorvei  se  lhes  fa- 
zia, por  iiiuito.s  que  não  nasceram  com 
tanta  iionra  como  a  maior  parto  dos  ca- 
vallieiros  do  liaste,  honradoros  de  todo», 
o  de  quem  todos  cliristã  o  politicamente 
dovcm  sor  honrado.s  tambcsni.»  Ilispo  do 
(IrSo  Pará,  Memorias,  publicadas  por 
Camillo  Castello  lirauco,  pag.  tiiJ. 

—  Segunda  vez;  outra  vez,  novamen- 
te. —  «Esta  armada  era  do  treze  nãos 
grossas,  cau  que  hiam  mil,  e  duzentos 
soldados,  e  muitas  munições  de  guerra, 
por  quanto  ol  Rei  tiidia  a  guerra  de  Ca- 
lecut por  certa  pellas  informações  que 
lhe  o  Almirante  dom  Vasquo  ila  Gama 
deu,  quando  de  lii  tornou  a  segunda  vez. » 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Ma- 
noel, part.  1,  cap.  94.  —  «Mas  se  ainda 
a.ssim  se  naõ  remettirem  os  sobreditos 
simptomas,  convém  purgar  segunda  vez, 
especialmonto  se  parecer  que  o  corpo 
ainda  nílo  está  suflRcientemente  evacua- 
do; e  na  execução  destes  remédios  não 
deve  o  Medico  ser  pouco  prompto  por 
ser  este  affecto  precipitado,  grandemente 
agudo,  e  pcrigozo ;  por  i.-íso  pede  de  hora 
a  hora  huma  deligcnte  aiiministração  dos 
remédios  indicados.»  Braz  Luiz  d'Abreu, 
Portugal  medico,  pag.  4G5,  §  60. 

—  Em  vez  de  ;  em  logar  de. 

Km  vez  de  liberal,  virtude  santa, 
Xoeessaria  a  qnem  tem  qualquer  governo, 
\'irtude  que  os  mais  baixos  alcvanta, 
K  faz  o  nome  escuro,  claro  o  eterno. 
Virtude  de  qnem  toda  a  lingua  canta. 
Nascida  1:1  no  Reino  alto  o  superno, 
Toma  do  insano  pródigo  o  exercício 
Por  ajuntar  aos  outros  este  vicio. 

I-BANCISCO  DE  AMDBADB,  rBIHEIBO  CERCO  D>   DIU, 

cant.  1,  est.  25. 

—  «Mas  hay  algumas  molhcres  (como 
diz  sam  Chrisostimo)  que  em  vez  de  se- 
rem porto  e  descanso  pêra  as  fadigas  de 
seus  marido-,  sam  mais  penedo  em  que 
cllos  tornando  pêra  casa  vem  dar  e  que- 
brar como  nao  quo  depois  de  passados 
muvtos  trabalhos,  e  tormentos  vcnso  ala- 
gar no  porto  onde  csperaua  seguramente 
repousar.»  Frei  Bartholomeu  dos  Marty- 
res,  Catecismo  da  doutrina  christã.  — 
«Em  vez  do  lamentar  estes  homens  qua- 
si  soçobrados,  iuvejava-lhc  a  fortuna. 
Brevemente,  dizia  eu  commigo,  porão  ter- 
mo aos  trabalhos  da  vida,  ou  aportarão 
á  sua  pátria ;  mas  ai !  que  eu  nem  uma 
liem  outra  cousa  posso  esperar  I  •  Telema- 
co,  traducção  do  l""raucisco  Manoel  do 
Nasclmeixto,  o  de  Manoel  de  Snusa,  liv.  2. 

I  VEZES,  s.  /.  plur.  de  Vee. 

—  As  vezes  </<  alguém;  as  suas  obri- 
gações, deveres. 

—  Muitas  vezes  ;  frequentemente,  fre- 
quentes vezes.  —  «Eu  debuxaua  uiuyto 
bem,  o  elle  folgaua  muyto  com  is.so,  e 
me  acupaua  sempre,  e  muytas  vezes  o 
fazia  peruuto  elle  om  cousas  que  me  elle 


roandaua  fazer,  e  porque  eu  leiusae  go»> 
to  em  o  fazer  me  disse  hum  dia  perante 
muvtos,  que  me  prezaMe  niuyto  diseo, 
porque  era  tão  boa  manha  quo  elle  deae- 
jauA  muyto  de  a  saber,  e  que  o  Empera- 
dor  Maxemiliano  seu  primo  era  gram  d©- 
buxador,  e  folgaua  muyto  de  o  saber,  o 
fazer.»  Garcia  de  ilczende,  Chronica  de 
D.  João  II,  cap.  2<Jy.  —  «Canar  Elcabir 
a  que  nos  chamamos  Alcaccrquibir  eeta 
situada  junto  do  rio  Luco,  o  qual  crece 
tanto  d'tMixurro  (|uc  entra  muitas  vezes 
polas  portas,  ila  cidade,  a  qual  dizem  on 
mouros  quo  edificou  Mansor  Rei,  e  Ponti- 
fico ile  Marrocos.  >  Damião  de  Go©«,  Chro- 
nica de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  70.  — 
«O  condf;  jior  este  Aroaz  ser  mui  conti- 
nuo em  suas  ontra'laji,  e  mui  bom  caua- 
bdro,  e  tam  manhoso  que  muitis  vezes 
vinha  de  noite  ate  as  portas  da  villa, 
mandava  sempre  gente  de  cauallo  em 
guarda  dos  atalaias,  os  quaes  o  atalaia 
de  Aroaz  vio  sair  todos  juntos.»  Ibidem, 
jiart.  4,  cap.  29.  —  «Mas  como  o  animo 
dos  homens  acerca  das  cousas  que  eape- 
ra,  sempre  imagina  o  cõtrario  do  que  de- 
seja: concorrerão  dona  siuaes  da  nature- 
za era  Cocliij,  que  por  serem  muitas  vezes 
sigiiificatiuos  do  grandes  casos,  lançauão 
elles  8obr'cstu  não  passar  muitos  juizoe.» 
Barros,  Década  2,  liv.  1,  cap.  4.  —  «Por- 
que ainda  que  ao  tempo  que  alli  se  deti- 
nliam  chamavam  invernar,  não  era  por 
razão  de  haver  clmva,  cá  muitas  vezes 
naquellas  partes  passam  três,  e  quatro 
aniios  que  nao  chove,  e  quando  vem  al- 
guma agua,  he  ao  modo  de  trt>voada, 
que  vem  do  mar,  e  passa  logo.»  Ibidem, 
liv.  8,  cap.  3.  —  «Assim  }>or  acudirem 
ao  urgente  perigo  que  toda  Espanha  cor- 
ria pelo  grande  poder  dos  Mouros,  que 
contra  os  ChristSos  vinha,  como  por  mos- 
trarem o  valor  de  suas  {>essoas,  para  o 
que  sahiaõ  da  pátria  a  buscar  semelhan- 
tes empresas,  quando  cá  havia  paz,  e 
particularmente  a  Castella,  como  o  testi- 
fica o  Conde  D.  Pedro,  dizendo,  quando 
trata  da  tomada  de  Sevilha:  Em  aquele 
tempo  03  Fidalgos  Portuguezes  hiaõ  a 
Castella  muitas  vezes,  por  se  provarem 
pelos  corptw,  quando  em  Portugal  meste- 
res não  havia.»  Severim  de  Faria,  Noti- 
cias de  Portugal,  Dise.  3,  cap.  6.  —  «Maa 
muitas  vezes  naõ  convém  interpor  o  Sum- 
mo  Pontitice  sua  authoridade,  para  que 
naõ  se  sigaõ  outros  inconvenientes  mayo- 
ros,  qual  seria  rebellar  contra  a  Igreja  a 
parte  desfavorecida :  e  cm  tal  caso  naO 
saõ  obrigados  os  Prineipcs  a  esperar  de- 
finições do  Papa,  nem  pcdillas,  e  podem 
levar  a  cou.=a  por  força  de  armas:  e  fica 
de  melhor  partido  para  a  consciência  o 
Príncipe,  que  naõ  deu  occasiaõ  ao  Papa, 
para  se  abster  no  juizo  de  tal  demanda.» 
Arte  de  furtar,  cap.  21.  — «Maisapren- 
ileo  em  huma  hora  do  deserto,  que  todo 
o  tempo  que  cstiueni  na  cidade.  Pêra  que 
he  mais  senão  que  Cliristo  nosao  Badem- 


VEZE 


VEZE 


VEZE 


931 


ptor  mestre  celestial  se  apartaxm  muytas 
vezes  a  lugares  solitários,  pêra  nosso 
exemplo  e  instriiçam,  como  contam  em 
muitos  lugares  os  Eaàgelistas.»  Heitor 
Pinto,  Dialogo  da  Vida  solitária,  cap.  tí. 

—  «Antes  receberemos  nisso,  disse  o  Ita- 
liano, muito  contentamento,  porque  as 
letras  diuinas  saõ  mais  gostosas  e  authen- 
ticas  que  as  humanas,  e  saõ  mais  profun- 
das, e  fazem  mais  impressão  :  basta  que 
as  humanas  saõ  dos  homens,  que  muitas 
vezes  se  enganam,  e  enganam,  e  as  di- 
uinas saõ  de  Deos,  de  que  nem  engana, 
nem  se  pode  enganar.»   Ibidem,  cap.   õ. 

—  «E  por  isso  S.  Paulo  muytas  vezes 
consola  aos  Christãos,  trazendolhe  à  me- 
moria este  artigo,  dizendo  assi  em  huma 
Epistola.  Christo  resurgio  dos  mortos, 
como  primícia  de  todos  aquelles  que  ham 
de  resurgir :  porque  assi  como  por  hum 
homem  (que  fov  Adam)  entrou  no  mun- 
d.o,  assi  por  outro  homem  ( JESV  Chris- 
to) enfraraa  á  resurreiçam  dos  mortos.  E 
assi  eomo  todos  morrem  por  Adam,  assi 
todos  seram  tornados  á  vida  por  CHRIS- 
TO.» Fr.  Bartholomeu  dos  ^lartyres,  Ca- 
tecismo da  doutrina  christã.  —  «Por  isso 
nos  encomenda  que  nos  benzamos,  e  per- 
signemos muitas  vezes  com  o  sinal  da 
Cruz,  porque  nesta  sagrada  ceremonia 
de  assi  nos  persignarmos,  se  encerram  e 
representam  os  principaes  mysterios  de 
nossa  fee,  os  quaes  confessamos  e  profes- 
samos cada  vez  que  assi  nos  benzemos.» 
Ibidem.  —  «Sua  Escellencia,  que  se  di- 
verte muitas  vezes  com  este  homem,  sa- 
bendo o  que  elle  me  tinha  dito  o  chamou 
depois  da  sua  convalescença,  e  estando 
eu  presente  lhe  perguntou  se  sabia  elle 
algum  remédio  para  a  Gotai*!)  Cavalleiro 
d'01iveira.  Cartas,  liv.  1,  n.°  2õ.  —  «Mui- 
tas vezes  se  exercitaõ  a  saltat  com  gran- 
des pezos  na  boca  para  assim  se  porem 
disciplinados,  e  destros  para  os  roubos; 
de  hum  refere  Alberto,  que  foi  visto  muy- 
tos  dias  tomar  na  boca  hum  madeiro,  que 
pezava  mais  de  quarenta  arrates,  e  com 
elle  saltava  sobre  o  tronco  de  huma  ar- 
vore ;  e  vendose  já  ensayado  naquella 
prova,  hum  dia  se  escondeo  no  mesmo 
lugar,  a  tempo  que  passavaõ  huns  Vea- 
dos pequenos ;  e  fazendo  tiro  a  hum  que 
ihe  pareceo  pezaria  pouco  mais  que  o  ma- 
deiro o  levou  na  boca,  e  subio  em  hum 
momento  à  arvore,  aonde  o  despedaçou 
a  seu  salvo,  sem  os  outros  lhe  poderem 
valer.»  Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal  me- 
dico, pag.  583,  §  10. 

—  Dieterios  muitas  vezes  grosseiros; 
dicterios  frequentemente  grosseiros.  — 
«As  bufonorias  dos  chocarreiros  que  ahi 
figuravam  eram  as  delicias  dos  príncipes 
e  senhores,  e  os  dieterios  e  allusòes,  mui- 
tas vezes  grosseiros,  oflFensivos  e  inde- 
centes, parece  que  não'  se  estranhavam, 
nem  sequer  na  presença  das  damas,  e 
corriam  como  boa  moeda.»  A.  Hercula- 
no, Monge  de  Cister,  cap.   25. 


—  Dizer  muitas  vezes;  dizer  frequen- 
temente. —  «Pelo  que  me  toca,  estou  tão 
livre  de  lhe  chamar  ^linerva,  que  a  te- 
nho por  huma  toula.  Nào  a  posso  ver,  e 
V.  S.  mo  tem  ouvido  dizer  muitas  ve- 
zes.» Cavalleiro  d^Oliveira,  Cartas,  liv. 
1,  n.°  33. 

—  Renderem-se  muitas  vezes  os  privi- 
légios.—  «O  entendimento  enche  os  ho- 
mens de  privilégios  para  se  opporem  a 
todos  os  damnos,  porem  aos  que  causa  o 
ouro,  renJem-se  muitas  vezes  esses  pri- 
vilégios de  spírito  se  senào  acompanhào 
das  immunidades  da  honra.»  Cavalleiro 
d'01iveira,  Cartas,  liv.  1,  n.°  11. 

—  Expressão  muitas  vezes  ridícula ; 
expressão  frequentemente  ridícula.  —  «A 
mesma  expressão  que  he  nobilíssima  em 
huma  lingoa,  socede  muitas  vezes  ser  ri- 
dieula  em  todas  as  outras.»  Cavalleiro 
d'01iveira.  Cartas,  liv.  1,  n."  21. 

— •  A  vezes  ;  alternadamente. 

• — As  vezes;  de  tempos  a  tempos.  — 
«Muitos  se  presam  de  adivinhar,  e  se 
sospeitam  d'alguem  alguma  má  inclina- 
çam,  aguardamna  nella  a  cada  passo,  e 
crêem  que  com  hum  muyto  pequeno  fio 
a  teram  atada,  e  ás  vezes  está  d'ali  a 
verdade  longe.»  D.  Joanna  da  Gama, 
Ditos  da  freira,  pag.  60. 


Apertar  muito,  ás  vezts  gritaremos: 
Assim  de  quaudo  em  quando 
Por  espinhos,  e  flores 
Iremos  pelo  Mundo  misturando 
Lagrimas  com  louvores. 

j.  X.  DE  MiTios,  BÓIAS,  pag.  392. 


—  «E  finalmente  tem  posta  a  vida,  e 
morte  em  tão  breve  termo,  como  são  três 
dedos  de  taboa  ás  vezes  comesta  do  Bu- 
sano,  e  no  descuido  de  cahir  em  huma 
pevide  de  candea  em  lugar  onde  se  possa 
atear,  e  em  outros  múí  particulares,  e 
miúdos  casos,  de  que  resulta  tão  grande 
cousa,  como  vemos  em  tanto  niimero  de 
riáos  que  são  perdidas.»  Barros,  Década 
2,  liv.  7,  cap.  1.  —  «OA.'  qiiahcaput! 
sed  cerebruvi  non  habet.  Assim  o  escre- 
ve Horácio,  que,  ainda  que  doente  dos 
olhos  não  duvidara  affirmar  que  viu  o 
caso ;  nem  Homero,  ainda  que  cego  e 
dorminhoco,  ás  vezes.»  Bispo  do  Grão 
Pará,  Memorias,  publicadas  por  Camillo 
Castello  Branco,  pag.  49. 

—  Fazer  as  vezes  d^  alguém ;  substi- 
tuil-o. 

—  Mil  vezes. 


Dali  mil  vezes  vio  com  rosto  allcgre, 
De  deus  fortes  carneiros  leda  justa, 
De  lanosos  e  grandes  corpos,  e  ambos 
De  retorcidas  armas  bem  pronidos. 
Ck)m  seuera  presença  recolhendo 
Atras  os  curtos  passos  enuestiào 
Com  denodada  fúria,  e  bem  no  meyo 
Da  carreira  se  dauào  fero  encontro. 

ODETE  KliAI.,  SAUFKAGIO  DE  SEPÚLVEDA,    Cant.  9. 


Para  as  náos  desta  sorte  caminhando 
Com  a  possível  pressa  e  brevidade. 
Em  mil  partes  alli  vai  encontrando 
De  vários  animacs  grãa  quantidade. 
Que  o  verde  prado  vão  atravessando 
Sem  temor  de  ninguém,  com  liberdade. 
Porque  a  cada  bum  falta  o  duro  imigo 
De  que  mil  ye:es  tem  morte,  ou  perigo. 

FBASCISCO  DE  AMDBADE,  PBIMEIBO  CERCO  DE  DID, 

cant.  4,  est.  70. 

Mas  em  quanto  o  canhão  profano  c  horrendo 
Nos  legares  que  digo  a  fúria  emprega, 
O  Turco  o  baluarte  combatendo 
Que  eombatco  mil  vezes,  não  socega; 
E  com  quanto  o  Christào  sempre  vencendo 
Do  seu  desejo  ao  Turco  o  elTcito  nega, 
A  victoria  porém  sempre  lhe  vinha 
Com  perda  da  melhor  gente  que  tinha. 
IBIDEM,  cant.  7,  est.  57. 

—  «Adeos !  que  nem  me  atrevo  a  te 
escrever  mil  ternuras,  nem  me  entregar 
com  soltura  a  todos  os  ímpetos  do  meu 
coração,  quando  te  amo  mil  vezes  mais 
que  a  própria  vida,  e  mil  vezes  ainda 
mais  do  que  eu  mesma  cuido.»  Francis- 
co Manoel  do  Nascimento,  Successos  de 
madame  de  Seneterre. 

—  Outras  vezes  ;  em  outras  occasiões, 
ou  segundas  vezes.  —  «Outras  vezes  se 
davam  com  os  punhos  das  espadas  com 
que  faziam  abolar  os  elmos,  mas  como  a 
fraqueza  d'ambos  fosse  grande,  pelejavam 
mais  brando  e  com  menos  força  que  no 
principio.^  Francisco  de  Moraes,  Palmei- 
rim d'Inglaterra,  cap.  89.  —  aOutras  ve- 
zes mudavam  a  pratica,  havendo  por 
desnecessário  annunciar  mal  vindouro,  e 
também  porque  a  paz  com  palavras  se 
ha  de  conservar,  a  guerra  com  armas  se 
hade  fenecer.»  Ibidem,  cap.  94. 

Fazem-uos  guerra  os  outros  Elementos, 
Deaatào  sobre  nús  pesadas  Nuvens 
Horrisonos  chuveiros,  e  outras  vezes 
Correm  furiosas  rápidas  torrentes. 

J.  X.   VS   UACEDO,  A  KATCKBZA,  Cant.  2. 


—  Duas  vezes ;  segunda  vez.  —  t  A 
qual  cousa,  depois  que  o  Hidalcão  cahio 
nella,  assi  o  atormentou,  além  de  perda 
de  tamanho  estado,  e  de  tanta  injúria 
eomo  nella  recebeo  per  duas  vezes,  que 
partido  elle  Capitão  mor  pêra  Malaca, 
mandou  cercar  aquella  Cidade,  cujos  la- 
res ainda  estavam  quentes  da  habitação 
que  nella  fizeram  alguns  dos  que  alli  vi- 
nham.» Barros,  Década  2,  liv.  7,  cap.  4. 
—  «Ao  tempo  que  ha  Princesa  pario  fo- 
raõ  presentes  el  Rei  dom  Fernando,  e  ha 
Rainha  dona  Isabel,  e  el  Rei  dom  Ema- 
nuel, e  ha  teve  nos  braços  dom  Francis- 
co Dalmeida  de  quem  atraz  jà  fiz  duas 
vezes  mençaõ.»  Damião  de  Góes,  Chro- 
nica  de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  32.  ^- 
«Kão  só  o  Abestruz  digere  o  ferro.  Já 
houve  hum  homem  que  por  tempo  de  seis 
mezes  comeo  duas  vezes  cada  semana 
bastante  porção  de  cobre,  de  ferro,  e  de 
prata,  não  lhe  sendo  possível  saciar  o  seu 


982 


VEZE 


VEZE 


VEZl 


apotite  nesse  tompo  com  os  aliinent(M  or- 
diimrioii.»  Gavalloiro  trOliveira,  Carias, 
liv.  1,  n.°  16.  —  «Aa  osperan<;iw  <la  paz 
antiírf  HO  adiantiirain  quo  iliuiiuuiruin: 
muitas  í^raças  dovemoa  a  Uou.s  quo  pele- 
ja o  iiegocôa  por  rnii.  A  armada  tem 
arribaiU)  «luas  vezes,  pordcu  já  alguns 
naviu»,  vae-lho  morrendo  gente,  c  os  ven- 
tos cada  voz  mais  contrários  c  tompes- 
tiiodos:  e  já  so  persuadem  alguns  destes 
fieis  christàos  o  seus  predicadores,  que 
nílo  quer  Deus  que  vSo  ao  Jirazd;  ooiu 
quo  eít>^o  mais  lirandoa  os  que  furiosa- 
monto  queriam  a  guerra :  mas  ainda  pe- 
dem como  quem  a  uào  teme.»  Padre  An- 
tónio Vieira,  Cartas,  n."  3. 

—  liuriif:  vezes;  poucas  vezos.  —  «Ou- 
tra difcr()ii<,'a  so  toma  da  partJ  affecta :  e 
seguuiio  esta  hum  occupa  a  substaucia 
do  Cérebro;  outro,  ainda  que  raras  ve- 
zes, olFende  as  mendíranas  do  mesmo 
Cérebro;  como  se  colLe  Ax-  Galen.  4.  de 
catisis  pulMiuvi  cap.  14.  Outras  difcreu- 
ças  so  tomai)  da  còr  <\o  corpo,  e  do  ros- 
tro;  porque  dos  Ijothargicos  huns  tem  as 
cores  assim  do  rostro,  como  do  corpo 
cliumbadas,  e  quasi  mortíferas ;  outros 
naõ  distaõ  muyto  da  cor  natural.»  Braz 
Luiz  dAbrcu,  Portugal  medico,  pag. 
457,  ij  li». 

—  Tantas  vezes ;   bastantes   occasiões. 

De  mais  ocoultn  origora,  peliis  naves 
Do  templo  entrou  com  passos  inal  seguros. 
Kllo,  que  tantas  vaes  ha  rompido 
As  cerradas  fileiras. 
OAiiRF.rr,  cAjiòr.s,  o.aut.  2,  oap.  3. 

—  Qaanííw  mais  vezes ;  quantas  mais 
occasiÕos.  —  «O  qual  gosto  despois  pa- 
g.ão  com  llio  vir  a  febre  dobrada.  Assi 
acontece  aos  peccadorcs,  que  quantas 
mais  vezes  consiguem  e  cumprem  seus 
mãos  desejos,  e  gozam  de  seus  falsos  de- 
levtes,  taut'>  mais  crece  depois  nelles  o 
ardor  e  fúria  de  seus  desejos,  atè  final- 
mante  os  lançarem  nos  ardores  eternos, 
de  que  a  diuina  graça  nos  liure.»  Frei 
Bartholomeu  dos  Martyres,  Catecismo  da 
doutrina  christã. 

—  Por  vezes ;  por  varias  occasiões. 
— •  «Vasco  da  (.iamma  com  esta  e  outras 
praticas  que  per  vezes  teua  com  esto  pi- 
loto, parecialhe  ter  nelle  bum  grão  the- 
souro,  e  por  o  não  perder  o  raaes  em 
breue  que  pode  depois  que  moteo  per 
consentimento  dclHoy  hum  padraS  per 
nomo  Saucto  Spirito  na  pouoaçaõ,  dizen- 
do ser  em  testemunho  da  paz  e  amizade 
que  com  elle  assentara.»  Barros,  Década 
1,  liv.  4,  cap.  6.  —  «Durante  muitas  ho- 
ras, no  meio  do  denso  nevoeiro  acamado 
sobre  as  encostas,  pelas  sendas  tortuosas 
das  montanhas,  os  cavai  loiros  que  se- 
guiam o  duqno  do  Cantábria  uão  ousa- 
ram qu''brar-lho  o  doloroso  silencio.  Apo- 
nas,  pela  calada  da  noite  negra  e  fria, 
soava  lá  ao  longe  o  ruido  do  Sallia,  de 


cujas    margens   por  vezes  «e  approxima- 
vain.»  A.  llorculauí),  Eurico,  cap.  \'ò. 

—  Dar,  coiiimctter  a  oulrtiii  ui  suas 
vezes ;  ilar-lho,  couforir-lho  o  poder  de  o 
substituir  oui  officio,  gerência,  otc. 

—  Ter  ai  vezes  d*  algiuvi;  fazer  os 
seus  dovores. 

—  Alyaiiioí  vezes ;  em  algumas  occa- 
siòcs.  —  «E  acontece  algumas  vezes  os 
Juizes  mandarem  citar  novamente  a  par- 
to aa  porta  do  sua  casa,  como  dito  lie, 
poendo  nas  Cartas  Cttatorias,  que  se  naõ 
poder  a  parto  sor  achada  porá  sor  cilada 
cm  pessoa,  que  a  citem  aa  porta  du  suas 
Casas :  o  osto  fazem  quando  o  -Vutor  ailo- 
gua  alguma  ovidouto  razaõ,  porque  su 
aja  de  fazer,  ca  em  outra  <;uirta  fazer-se 
nom  seria  justo.»  Ord.  Ãffoas.,  liv.  'ò, 
§  1.  —  «Deixando  de  faiar  cm  Fiora- 
mam,  como  as  festas  se  continuassem  ca- 
da dia,  iam  já  enfraquocomlo  na  cidade, 
que  deu  azo  algumas  vezes  ao  iuiperador 
em  andas,  acompanha'lo  de  toda  a  no- 
breza do  sua  còrtc,  saliir  ao  campo  caçar 
com  falcões,  esmerilhões  o  outras  aves 
desta  qualidade.»  Francisco  de  iloraes, 
Palmeirim  dluglaterra,  cap.  Ibà.  — 
«Todo  o  mais  tompo  que  alii  estiueram, 
elle,  e  Afonso  Dalbuquorquo  entenderão 
na  obra  da  fortaleza,  que  se  fez  quasi 
toda  de  nouo,  e  assi  os  Çacotorius  os  quaes 
neste  tempo  quo  ahi  esteuo  a  fruta,  iu' lu- 
zidos pelos  fartaques  que  escaparam,  e 
mouros  quo  auia  na  terra  se  reuoltaram 
por  algumas  vezes,  per  ocasioens  causa- 
das mais  pelos  nossos  quo  naõ  per  culpa 
que  03  da  terra  tiuessein.»  Damirio  de 
Ooes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  2, 
cap.  2i5.  —  «E  junto  com  cila  ao  longo 
da  Ribeira  de  Barcarena,  ordenou  outra 
do  pólvora,  para  ovitar  os  desastres  dos 
incêndios,  que  algumas  vezes  em  Lisboa 
tinbau  acontecido.»  áeverim  de  Faria, 
Noticias  de  Portugal,  Disc.  2,  cap.  11. 
—  «A  quarta  se  chama  MiU$,  cometa 
grande,  e  formoso,  da  natureza  de  Vé- 
nus; e  corre  algumas  vezes  todo  o  Zo- 
díaco. Signilica  tauibem  esterelidade,  por 
causa  de  grande  secca,  e  enfermidades 
procedidas  da  mesma  soccura.»  Braz 
Luiz  d'Abreu,  Portugal  medico,  pag,  437, 
§  1U9. 

—  Umas  vezes ;  n'uma3  occasiões.  — 
«E  tornando  a  António  de  Saldanha,  os 
Officiaes  da  sua  uáo  andaram  vendo  don- 
de nascia  o  defeito  delia,  mudando  umas 
vezes  a  carga  á  proa,  outras  á  poppa, 
andando  com  os  niastos,  ora  a  ré,  ora 
avante,  e  tantas  cousas  destas  fizeram 
até  lhe  acertarem  o  compasso;  e  começou 
a  náo  a  andar  dalli  por  diante  muito  dif- 
fcrentemeute,  e  seguindo  sua  derrota.» 
Diogo  de  Couto,  Década  4,  liv.  5,  cap.  1. 

—  Duas  ou  ires  vezes ;  em  duas  ou  tre^ 
occasiões.  —  «A  huma  pequena  estatua 
do  cera  que  so  punha  sobro  o  Altar,  .se 
pegavào  seis  pontas  do  titã  de  três  cores 
diversas,   e   fazendo  andai*  a  tigura  trea 


vezes  á  roda  do  mesmo  Altar,  se  davXo 
três  nós  em  duas  }>oatas  de  titãs  qu«  ti- 
vessem a  mesma  cor,  dizcndo-se  que  se 
davSo  nós  no  amor.»  Cavalleiro  de  Oli- 
veira, Cartas,  liv.  1,  n."  29. —  «Para  ir 
conforme  coui  o  cpitueto  pur  que  el-rei  o 
designava,  tionçalo  Lourenço  abaixou 
duas  ou  tres  vezes  a  cabeça  em  sigoal  de 
acquiesoencia  e  encolheu  os  hombroii,  co- 
mo (juem  ignorava  que  pílula  se  poderia 
ministrar  aos  niercadoro  da  Kua-nova, 
da  Maglalena  u  de  Santa  Justa.  pAra 
liies  acalmar  o  sangue  acerca  da  liberda- 
ile  commercial.i  Alexandre  iiorculano, 
Monge  de  Cister,  iuiy.  lú. 

—  AUAGIOS   E    FUOVEUUIOS: 

—  Dá-m'o  de  vez,  dar-t'o-hci  saboroso. 

—  C^uem    luio   se   escarmei^ta  de  uma 
vez,  nfko  se  escarmenta  de  tres. 

—  Quem  mal  cospe,  duas  vezes  se 
alimpa. 

—  Quem  uma  vez  farta,  tiel  nunca. 

—  Quem  dá  logo,  dá  duas  vezes. 

—  Quem  come  e  deixa,  duas  vezes  põe 
a  mesa. 

—  D'onde  esperança  homem  nSo  tem, 
ás  vezes  lhe  vem  o  bem. 

—  Deshonrou-me  minha  visinha  uma 
vez,   e  eu  deshonrei-nie  tres. 

—  Quem  mais  tem  na  villa,  sete  ve- 
zes amortece  na  vida. 

—  Ao  bom  comer,  ou  man  comer,  trea 
vezes  beber. 

— Quem  se  não  rege,  muitas  vezes  se 
dóo. 

—  A  boa  filha  duaa  vezes  vem  para 
casa. 

—  Uma  vez  engana  ao  prudente,  e 
duas  ao  innocente. 

—  A  quem  o  demo  toma  uma  vez, 
sempre  lhe  fica  um  geito. 

—  Uma  vez  no  anno,  essa  com  damnu. 

—  A  azeitona,  e  a  fortuna,  ás  vezes 
muitas,  e  ás  vezes  nenhuma. 

—  Quem  se  acolUe  debaixo  de  folha, 
duas  vezes  se  molha. 

—  Enganastes-me  uma  vez,  nunca  mais 
me  enganareis. 

—  O  dinheiro  do  avarento  duas  vezes 
veio  á  feira. 

—  As  vezes  corre  mais  o  damno  que 
a  lebre. 

—  llomem  néscio  dá  ás  vezes  bom  con- 
selho. 

—  Rio  torto  duas  veies  se  passa. 
V£Z.'^DO,    part.  p<uí.  da  Vesar.  Vid. 

Avezado. 

VEZAR,  V.  n.  Vi<l.  Avezar. 

—  Vezar-se,  v.  /<;_//.  Vid.  Aveaar-se. 
VEZEIRA.   Vi.l.  Vara  tU  porcos. 
VEZEIRO,  A,  <!((/.    Que    tem  vezo,  ou 

habito  do  fazer  alguma  cousa.  Vid. 
Useiro. 

VEZINDADE,  s.  /.  Termo  antiquado. 
Visin.ia..i,'a,  proximiilaue. 

VEZINHANÇ.*,  ».  /.  Vid.  Visinhança. 
—  «Porque  »oudo  vos  muito  molesta  á 
pessoa  da  mesma  casa,  ou  vesiofaança,  se 


VEZO 


VI 


VIA 


933 


lhe  procurardes  diffirir  com  boa  obra,  e 
aflfabirdade,  achareis  na  mesma  efficaz 
remeiio  dessa  moléstia.»  Frei  Bartholo- 
meu  dos  ilartyres,  Compendio  de  espi- 
ritual doutrina. 

7  VEZINHO,  A,  alj.  Vid.  Visinho.  — 
o  6obrev«;yo  neste  tempo  ao  Império 
Oriental  hum  terribel  açoute,  que  logo 
se  passou  ao  Occidente,  qual  foy  fi  en- 
trada dos  Hunos  com  seu  Rey  Atila,  que 
savndo  das  Pauonias  onde  os  trouxera 
Ecio,  para  vingar  cõ  sua  mào  os  agravos 
que  tinha  do  Enipeiador  Honório,  entra- 
rão destruindo  a  Trácia,  e  outras  Pro- 
víncias veziohas  a  ella  em  tanto  numero 
que  viiihão  cubrindo  a  terra. »  Monarchia 
Lusitana,  liv.  6,  cap.  6. —  «E  logo  ao 
outro  dia  começou  a  fortaleza  nas  mesmas 
casas  em  que  pousava,  por  estarem  em 
lugar  próprio  para  o  tal  edilicio,  por  a 
agoa  bater  uellas,  pêra  segurança  du  que 
mandou  derribar  tantas  casas  veziohas 
a  esta,  quantas  ihe  pareceo  necessário,  de 
modo  que  fez  hum  mui  espaçoso  terreiro, 
por  onde  a  artelharia  podia  varejar  huma 
boa  parte  da  cidade,  e  per  honra  do  bem- 
aventurado  Apostolo  Santiago,  em  cujo 
dia  esta  fortaleza  começou  lhe  poz  o  no- 
me da  sua  avocaçam.  «■  Damiào  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Maneei,  part.  2,  cap.  2. 
—  «Com  que  se  reoolherào  de  longo  da 
aldeã  de  Benamares  que  he  a  principal 
daquella  serra,  situada  na  ponta  delia, 
d&sta  aldeã,  e  doutras  vezinhas  sairam 
alguns  mouros  de  pe,  e  de  eauallo  que 
8eguira3  dom  Emanuel  ate  o  tojalinho, 
onde  os  nossos  pararam,  esperando  por 
alguns  da  companhia  que  ainda  nam  eram 
recolhidos.»  Ibidem,  part.  4,  cap.  -42. — 
tCom  esta  ordem  caminhou  dezassete 
dias  a  oito  legoas  por  dia,  e  no  cabo  del- 
les  chegou  a  huma  boa  cidade  por  nome 
Guauxitim,  de  dez  ou  doze  mil  vesínhos 
na  qual  foy  aconselhado  que  se  provesse 
de  mantimento?,  porque  ja  eatào  hia  muv- 
to  falto  delies.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  123. 


Senhor,  não  ronque. 

É  honrado, 
tem  amo  cnletieado, 
despacha  cousas  que  passam. 
Feito  mui  bem  se  conheço, 
é  meu  veziítho. 

Olhae  isso. 

.OifOSIO  PBE3TES,  ACTOS,   p3,g.    179. 


—  f  A  qual  esta  cituada  em  terra  cham 
cercada  de  pedra  e  de  taypas  he  tem  dous 
mil  veziíLhos  esta  ao  les  sueste:  he  muyto 
fértil  de  mantimentos,  e  fruytas  e  de  muy- 
tas  criações  de  gados  e  camelos  e  came- 
los pretos  de  gedelha.»  Tenreiro,  Itine- 
rário, cap.  11. 

VEZO,  s.  m.  Costume,  habito. 


E  ponhaes  tudo  em  seu  peso 
e  medida,  c  em  seu  concruso, 


jwrque,  crede  sem  abuso, 
que  frequentar  um  máo  vezo, 
no  que  é  erro,  fica  em  uso. 

iSTOxio  PBESTEs,  AUTOS,  pag.  455. 

VEZUGO,  ou  BEZUGO.  Vid.  Vesugo. 

■j-  VI.  Forma  do  verbo  vtr  na  primei- 
ra pessoa  do  pretérito  perfeito  do  modo 
indicativo.  Vid.  Vêr. 


Agora  merecia  cu 
Hum  par  de  trochadas  boas, 
Porque  fiar  nas  pessoas 
Nunca  outro  fructo  deu. 
Bem  rj  eu  que  o  guinéu 
Me  vio  tudo  aqui  leix.ar  ; 
Mas  o  seu  ne^-o  pregar 
Me  levou  a  mi  o  meu. 

Qn.  VICEKIE,  FARÇAS. 


Ora  olhae  esta  maneira 
Pêra  bailar  com  mulher ; 
E  sabeis  como  se  quer  ? 
Sempre  a  volta  assi  ligeira. 
Ora  eu  quarenta  annos  hei : 
E  fí  muitos  homens  ja, 
E  andei  per  ca  e  per  lá. 
Mas  eu  nunca  tal  topei. 


Os  bons  Vi  sempre  passar 
No  mundo  graves  tormentos  ; 
E  para  mais  mcspantar, 
Os  mãos  vi  sempre  nadar 
Em  mar  de  contentamentos. 
Cuidando  alcançar  assi 
O  bem  tão  mal  ordenado. 
Fui  máo  -,  mas  fui  castigado. 

CAU.,   ttEDOSDILH.AS . 


—  tPello  que  aliem  do  que  sei  de  seu 
estado,  e  vi  no  tempo  que  andei  per  suas 
terras,  em  que  a  muitas  cidades,  villas, 
castelios,  fortalezas,  e  vassalos,  direi  o 
que  tenho  alcançado  da  progenia  donde 
descendem  os  Duques  de  8aboia.»  Da- 
mião de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  4,  cap.  74. — -«Chegou  a  Setuutd 
bem  soo  muyto  noite,  e  achou  a  Raynha 
muyto  mal,  e  com  pouca  esperança  de 
sua  vida,  de  que  ácou  em  estremo  triste, 
e  eu  o  vi  chorar  soo  muytas  lagrimas 
com  grandes  saluços  e  sospiros,  auendoa 
ja  por  morta,  e  ella  foy  sàa,  e  viueo  de- 
pois trinta  annos,  e  elle  falleceo  dahy  a 
hum.»  Garcia  de  Rezende,  Chronica  de 
D.  João  n,  cap.  180.  —  «Se  Deos  casti- 
gara logo,  quantos  o  offendem  mortal- 
mente, já  não  houvera  gente  no  mundo, 
e  ha  Dezembargadores,  que  dão  senten- 
ças de  morte,  por  sustentar  capricho.  E 
se  na  sua  maõ  estivera,  despovoariào  o 
Reyno.  Vi  hum  Padre  da  Companhia  de 
Jesus  propor  huns  embargos,  para  livrar 
hum  pobrete  da  forca.»  Arte  de  furtar, 
cap.  49.  —  «Não  se^-,  se  ponha  aqui 
huma  confiança  admirável,  que  não  po- 
dia crer  até  que  a  vi.  Bem  he  que  saiba 
Sua  Jlagestade  tudo,  para  que  o  emen- 
de com  seu  Real  zelo,  e  para  isso  digo.» 
Ibidem,  cap.  62.  —  «Se  o  sermão  de  San- 


ta Engracia  estivera  em  estado  de  se  po- 
der lèr,  fora  com  esta,  mas  como  a  maior 
parte  foi  por  apontamentos,  é  necessário 
informa-lo  ue  novo,  para  que  seja  o  que 
era.  O  principio  que  por  lá  anda  copia- . 
do,  vi  eu  antes  de  vir,  mas  tem  mui 
poucas  palavras  que  concordem  com  o 
original,  e  taes  andam  a  maior  parte  dos 
meus  de  mistura  com  outros  qne  o  não 
são,  e  tudo  se  pôde  remediar  somente 
com  a  estampa.»  Padre  António  Vieira, 
Cartas,   n.°  28. 

1./  VIA,    s.  /.  (Do   latim  fia).  Cami- 
nho. 


Depois  de  ser  passada  a  maior  parte 
Da  noite  que  soguio  a  hum  tão  bom  dia, 
Quando  o  sanguinolento,  hórrido  Marte 
Ao  moUe  e  brando  somno  obedecia, 
Sahe  hum  do  combatido  baluarte 
E  á  fortale.^a  faz  direito  a  via. 
Que  por  nome  Faleiro  António  tinha, 
E  com  pressa  lá  chega  aonde  caminha. 

F.  d'aíidrade,  PEiuEiao  CKBco  DE  DIU,  cant.  14, 
est.  75. 


—  Figuradamente:  Meio,  arte,  maneira 
de  conseguir  alguma  cousa,  de  preceder, 
de  negoeial-a.  —  «E  como  ella  he  do  gen- 
tio mais  saluage  daquelks  partes,  toma- 
dos os  melhores  portos,  per  via  de  tra- 
cto e  nauegaçào  que  os  natui-aes  da  terra 
não  usaõ,  fizeranse  senhores,  e  algums 
delies  se  intitularão  com  nome  de  Reys.» 
Barros,  Década  1,  liv.  9,  cap.  1.  .t, 

—  Dtsctndencia  por  via  do  pai ;  oriun^i 
da  do  pai.  —  «A  significação  da  qual 
contêm  o  seguinte.  Aqui  nesta  grosseira 
sepultura  está  enterrado  Sentico,  por  so- 
brencUie  Decio,  cuja  casa  e  descendência 
por  via  de  seu  Pay  vinha  dos  Godos, 
e  viveo  neste  Mundo  sessenta  annos.  Deu 
dignaujeiite  a  Deus  seu  espiritu  em  paz, 
aos  vinte  oito  de  lulho  da  era  de  seis- 
centos e  .sessenta,  que  he  anno  de  Chris- 
to  seiscentos  e  vinte  dous,  se-  suas  abre- 
viaturas saõ  também  conjeturadas  como 
Ambrósio  de  Morales  imagina.»  Monar- 
chia Lusitana,  liv.  6,  cap.  21. 

—  Pessoa  por  quem  se  envia  alguma 
cousa. 

—  Via  militar;   estrada  publica. 

—  Toda  via ;  ainda,  simidtaneamente. 
Vid.  Todavia.  —  a  Os  Mouros  como  lá 
tiueraõ  a  esta  Moura,  e  o  moço,  nào  qui- 
zeraõ  dar  o  mestre,  e  o  ludeu,  que  já  ti- 
nhaõ  em  poder  o  troco  do  Mouro  honra- 
do, se  naò  cij  mães  outros  três.  Soeiro 
da  Costa,  posto  que  lhe  foi  gríive  cousa, 
toda  via  o  fez  por  saluar  o  mestre:  a 
sem  mães  ganhar  cousa  que  lhes  fizesse 
perder  o  nojo  deste  aquecimento,  se  tor- 
nou a  este  Reyno.»  Barros,  Década  1, 
liv.  1,  cap.  11.  —  cAiuda  que  os  Chi- 
nas comunmente  sejam  feos  tendo  olhos 
pequenos,  e  rostos  e  narizes  esniaga<ios, 
e  sejam  desbarbados,  com  huns  cabeli- 
nhos nas  maçaàs  da  barba:  toda  via  se 
acham  alguns  que  tem  os  rostos  muy  bem 


934 


VIA 


VIA 


VIAG 


feitos  e  proporoiuiKiiloB,  com  olhos  pran- 
tles,  barbas  bom  ])OHtaH,  iiariz<!i<  bem  foi- 
tus.»  J''r.  (iaajiai' (ia  (Jm;:,  Tratado  das 
cousas  da  Chiua. 

—  Fií;ura'laiiieiit(! :  Via  (Uj  tíunhnr ;  ca- 
luiiiiio  da  virtiiilu. 

—  Via  unitiva,  ou  /niríjutiva ;  tornios 
do  inystica:  estado  da  vida  csiiiiituai  em 
quo  a  alma  anda  já  unida  a  Dous,  ou 
puriiicaiidu  ainda  as  im|jurf'uiçrie8. 

—  Termo  de  medicina.  Oana.1  do  liqui- 
do 110  corpo  animai,  ou  do  excreinentoa 
groaaos. 

—  A  via  posterior;  por  ondo  se  des- 
carrega o  ventre. 

—  Uma  via,  duas,  ou  três  vias  de  car- 
tas, ou  letras  de  caniòio;  um,  dons,  ou 
três  contractos  do  mesmo  que  vai  cseri- 
pto  em  um,  para  ([Uc  pcrdcndo-se  um, 
chegue  outrd. 

—  Via  ordinária;  no  foro,  o  modo  de 
proceder  com  todas  as  solcmnidades,  em 
opposi(_;ão  a  via  summaria,  ou  abreviada. 

—  Põr  em  via ;  pôr-sc  em  caminho,  en- 
caminhar. 

—  Via  sacra ;  devoção  que  se  reza, 
parando  em  estaoõos  diante  de  certas 
cruzes. 

—  Via  láctea.  Vid.  Lácteo. 

—  Vias  de  saccessão  na  governo;  as 
cartas  em  que  os  reis  nomeavam  sucees- 
soreg  ao  governador  que  morresse,  em 
carta  corrada,  substituindo  uns  a  outros 
nas  vias  posteriores,  no  caso  de  ser  mor- 
to o  nomoado  em  primeiro,  segundo,  ou 
terceiro  logar,  etc, 

—  Loc.  POP. :  Corr&r  a  via  sacra; 
ir  por  casa  de  todos  os  conhecidos  para 
obter  alguma  cousa. 

—  Medrar  por  esta  via ;  por  esto  mo- 
do, meio. 

O  douto  Accuisio,  todo  satisfeito 
Do  podoí-  ftranfícafuin  Probondado, 
Esperando  iiiodnu-  por  esta  via, 
E  vestir  alguma  hora  a  roxa  inuri;a, 
Diguo  premio  das  suas  gordas  letras, 
Lhe  envia  o  Mertachino,  o  grande  O  ranha, 
Tamborino,  Escolano,  Spada,  o  l'iclilcr, 
Mcuinaa  de  seus  olhos,  tlor,  o  lionra 
Da  ran(;osa,  indigesta  Livraria. 
A.  D.  DA  0RU2,  iivssopi;,  caut.  3. 

2.)  VIA,  por  Vinha,  de  Vir. 

■f  3.)  VIA.  Kiirma  do  vèr  na  primeira 
ou  terceira  pessoa  ilo  singular  do  preté- 
rito imperfeito  do  modo  indicativo.  Vid. 
Vêr. 

Alli  3C  via  com  pezar  profundo 
«IA  hum  amante  A  bengala  eneostado, 
Jil  rasgar  os  acenos  hun»  barbado, 
Já  fazer  rapazias  ct^go,  e  imuuindo. 

ADBADE   DK  JAZGMTK,   POESIAS,   pUg.    107. 

—  «O  rildalcão,  como  via  com  seus 
olhos  as  torras,  e  também  os  aggravos 
continuados  na  rcteni;ão  quo  avaliava  in- 
justa, cada  dia  nos  acordava  com  as  ar- 


ma» seu  direito,  sobresaltado  juntamen- 
te com  a  presença  do  Meále  em  <!oa,  que 
ora  veneno  quo  acomettia  o  coiaçilo  do 
Ueino;  o  entendendo,  quo  com  as  eiítra- 
das  dos  seus,  subita-s,  o  furtivas,  mais 
irritava,  que  enfraquecia  o  Entado.»  Ja- 
cintlio  Fndre  d'Andrade,  Vida  de  D. 
João  de  Castro,  liv.  4.  —  «Entrando  cu 
na  tardi;  da'|uello  mesmo  dia  cm  casa 
do  Conde  Tonca  so  achava  alli  o  Jus- 
nianiúti,  o  correndo  com  muita  pressa  a 
abraçar-mo  disse  que  me  via  com  muito 
gosto  havenflo  mais  de  hum  mez  quo  mo 
não  encontrava.  Examinada  bem  esta 
acção  jurou  seriosamcnto  que  ello  não 
tinha  estado  naqucdlo  dia  om  S.  Miguel, 
o  que  eu  me  enganava  dizemlo  que  o 
tinha  visto,  e  que  lho  tinha  falado  na- 
quclla  Igreja. »  Cavalleiro  d'01iveira, 
Cartas,  n."  18.  —  «He  sem  duvida  que 
V.  A.  não  esperava  receber  hunia  repre- 
hensão  por  hum  elogio,  porem  quem  hc 
quo  a  poderia  supportar?  Não  sui  diser 
justamente  o  desgosto,  e  a  raiva  que  elle 
me  causou  depois  de  o  ler,  obrigando-nie 
a  ter  do  ndni  mesmo  grandíssima  c(jm- 
])aixão,  quando  entrando  em  mim,  com- 
pai-ey  cora  o  que  via  o  que  V.  A.  uie 
disia.»  Ibidem,  liv.  3,  n,"  60. 

Ella  com  isto  menos  se  entristece, 
Anteí  tanto  poder  teve  a  e3peran(;a 
(.{ac  ja  tornando  em  si  desapparece 
A  tristeza,  em  que  a  pôz  sua  lembrança: 
Também  tudo  o  que  via  então  |)areco 
Que  com  a  vèr  mudada  fez  mudança. 
Porque  quanto  ella  triste  antes  tornilra 
Com  vè-la  agora  alegre  se  alegrara. 

r.  DE  ANDRADE,  I-EIMKIBO  CEBCO   DE   DIC,  MUt.  4, 

03t.  49. 


rí(i-.<c  na  Cidade  juntamente 
Para  se  defender  tamanho  espaço, 
E  que  era  alli  tão  pouca  a  Christàa  gente 
E  provida  tão  mal  de  corpos  d'aço 
Quo  poderia  ser  mui  levemente 
Por  mais  forte  que  tenha  e  duro  o  braço 
Que  desfci  defensão  cousa  nascesse 
Por  onde.  a  fortaleza  se  perdesse. 
ininEu,  cant.  11,  cst.  52. 

A  linda  ('vthcn-a,  que  então  tia 
A  grave  occupação,  mais  digna  e  [iropria 
Da  escara  gente  a  que  isto  competia. 
Nascida  IA  na  torra  da  Ethiopia, 
Que  daqnoUa  formosa  companhia 
Em  que  ella  dos  seus  bous  mostrou  grãa  copia, 
Ilavendo-o  por  atfronta,  determina 
Tomav  disto  ving.ança  delia  dina. 
luiDEM,  cant.  16,  cst.  45. 

Adão  em  tanto  jA  bpn>  conhecido 
Da  intima  miséria  em  que  se  ria. 
De  seus  erros  mortaes  tào  convoncido 
Quão  falto  das  desculpas  que  daria, 
De  vergonha  nhuu)  bosque  recolhido 
Aonde  só  de  folhas  se  cobria, 
Em  tanta  pena,  em  tão  grave  tormento 
As8Í  rompe  do  peito  o  sentimento. 

BOLIM  DK   UOIUA,  KOVISSIUOS  DO  llú:UE>(,    CSUt.    1, 

est.  90. 


«Marcoilo    Donato    coaheceo   c«rto 


homem  de  Mantua  f>or  nome  llippolj-to, 
que  se  a  ca/o  olhava  para  huin  ouriço 
(Jacheiro,  cabia  de  rejicnto  em  hum  mor- 
tal syncope;  e  de  muvtos  escreve,  a  qaem 
succedia  o  me.tino  so  olhava'*  par:i  hum 
gato,  ou  para  huma  cabru.  R«caligero 
^•fcrcvo  de  hum,  que  se  via  o»  Agrioens, 
que  nascem  na  agua,  fogia  com  tal  des- 
acordo, c  medo,  como  do  mais  indómito 
Tmiro.»  Uraz  Luiz  d'Abreu,  Portagal 
medico,  pag.  17,  §  59. 

tV-rto  Faceto,  A  mesa  d'uin  Ricaaao 
Via  no  prato  bou  s/i  cagarria  ; 
IVixe  grosso  ia  longe, 
Pega  pois  no  miuçalho,  (c  arremedando 
Fallar-lhe  6  ouvidoj  logo  põe  á  escuta 
O  ouvido  próprio  a  rectber  resposta. 

rBAXCISCO  UAIOEL  DO  XASCIMEnO,  rABULAS  DB 

LAVorrAUE,  liv.  3,  n.*  25. 

—  f  Haverá  quasi  um  mez  que  me 
achei  n'uma  Casa  onde  alguém  disse  quo 
se  via  obrigailo  a  ir  a  Londres,  onde  ea 
sabia  que  todos  os  F^rancezea  estavão  re- 
gistrados ;  por  tanto  lho  pedi  com  anciã 
que  se  informasse  do  M.  de  Senneterre ; 
que,  no  caso  que  o  visse,  lhe  fallasse  :  e 
elle  me  prometteo  pontual  cumprimento 
desta  minha  commisslo;  perguntando-me 
logo,  da  parte  de  quem  tomaria  easas  no- 
ticias, <  Da  vossa  parte,  Madama?  (me 
disse.  •  Francisco  ^lanoel  do  Nascimento, 
Successos  de  madame  de  Seneterre.  — 
«N'uma  das  paredes  que  corriam  lateral- 
mente, em  relação  ás  portadas,  via-se 
um  pequeno  arco  também  ogival  e  cujo 
vivo  não  excederia  a  decima  parte  da 
área  dos  dous  arcos  maiores.»  Alexandre 
Herculano,  Monge  de  Cister,  cap.  10. 

f  1.)  VIAS,  *.  /.  plur.  de  Via.  Vid. 
Via  1). 

j  2.)  VIAS.  Forma  do  verbo  vêr  na  se- 
gunda pessoa  do  singular  do  pretérito 
imperfeito  do  modo  indicativo.  Vid.  Vèr. 
—  «Bem  vias  tu  em  que  tiuhão  de  parar 
princípios  táes,  e  ainda  que  eu  nada  te- 
nha que  resguardar,  com  receio  todavia 
de  te  não  criminar  mais,  se  possivel  é 
que  mais  réo  não  sejas,  se  n5o  escrevo 
tudo;  e  também  por  me  não  arguir  a 
mim  mesma,  que  depois  do  esforços  tan- 
tos inutilmente  feitos,  para  que  fiel  me 
fosses,  não  terás  ta  de  o  ser.  >  Francisco 
Maioel  do  Nascimento,  Successos  de  ma- 
dame de  Seneterre. 

VIADO,  s.  »)i.  Panno  de  lã  antigo,  e 
próprio  para  vestir  em  occasião  quo  nSo 
fosso  a  do  luto. 

VIADOR,  s.  m.  (Do  latim  viotor).  Ter- 
mo de  thoologia.  Homem  que  anda  n'e8- 
ta  vida  mortal. 

—  Vid.  Veedor,  Veador,  e  Vedor. 
VIADUCTO,  í.    II).   Ponto,    ou    arcadas 

construiilas  por  cima  de  uma  c^^trada, 
rio.  ou  valle,  para  a  passagem  de  um  ca- 
minho de  ferro. 

VIAGEIRO.   A,  .«.  Viajante. 

—  Adjectivameute :  Viageiras  fadigas. 


VIAG 


VIAJ 


VIAO 


935 


Em  viajeiras  fadigas  se  hão  penado, 
Esto  momento  só,  esta  alegria, 
Oli  qnam  sobejo  as  paga!  O  sentimento 
Quasi  devoto  com  que  beja  o  nauta 
As  areias  da  pátria,  é  por  ventura, 
Na  peregrinação  da  nossa  vida, 
—  Se  exceptuas  a  morto  —  o  mais  solemne. 
GARRETT,  CAMÕES,  cant.  1,  cap.  18. 

VIAGEM,   s.  /.    (Do    francez  voyage). 
Caminho  que  se  faz  por  mar. 

Espantado  ficou  da  grão  viaf/em 
O  mouro,  que  Jlonçaide  se  chamava, 
Ouvindo  as  oppressões  que  na  passagem 
Do  mar  o  lusitano  lho  contava. 
CAM.,  LU3.,  cant.  7,  est.  26. 


—  oE  vindo  a  monção  de  se  partirem 
03  galeoens  pêra  a  índia,  se  embarcou 
D.  Joaõ  Coutiulio  na  entrada  do  mez  de 
Fevereiro  passado,  e  com  elle  D.  Rodri- 
go de  Menezes,  e  juntamente  se  fizeraõ 
à  vela,  e  a  nào  de  que  era  Capitão  Chris- 
tovaõ  de  Sousa  Capitão  daquellas  via- 
gens, que  havia  dous  annos  que  estava 
alli  esperando  pela  monção  de  cravo.» 
Diogo  de  Couto,  Década  6,  liv.  9,  cap. 
20.  —  iPorque  nestas  primeiras  viagens 
não  mostrou  o  negocio  tanto  de  si  como 
com  a  vinda  delles :  posto  que  a  sua  in- 
formação ainda  foi  mm  confusa,  pêra  o 
que  nas  seguintes  armadas  se  soube  da 
grandeza  daquella  conquista. »  Barros, 
Década  1,  liv.  6,  cap.  1. —  «Na  qual 
uiagem  passou  elle  Diogo  Cam  alem  des- 
te Reyno  de  Congo  obra  de  duzentas  le- 
goas,  onde  pos  dous  padrõe.s  :  hum  cha- 
mado Santo  Agostinho  que  deu  o  nome 
do  padrão  ao  mesmo  lugar,  o  qual  está 
em  treze  grãos  daltura  da  parte  do  sul, 
e  outro  junto  da  manga  das  áreas,  por 
razão  do  qual  se  chama  o  lugar  o  cabo 
do  Padrão,  em  altura  de  vinte  e  dous 
grãos.»  Ibidem,  liv.  3,  cap.  3.  —  «Assi 
que  juntas  estas  principaes  pessoas,  e  o 
Secretario  Pêro  d'Alpoem,  propoz-lhe  Af- 
fonso  d'Albuqaerque  o  que  lhe  ElRey 
mandava  acerca  de  ir  fazer  huma  forta- 
leza no  mar  Roxo,  e  também  da  posse 
da  fortaleza  de  Ormuz ;  e  que  quanto  a 
ida  do  mar  Roxo,  alli  eram  presentes 
muitos,  que  experimentaram  os  traba- 
lhos, que  o  anno  passado  acharam  naquel- 
la  viagem.»  Idem,  Década  2,  liv.  10, 
cap.  2.  —  cPassada  esta  calmaria,  se- 
guindo sua  viagem,  os  pilotos  per  ma  na- 
uegação  com  medo  do  cabo  de  boa  Spe- 
rança,  se  poseram  em  altura  de  quaren- 
ta grãos,  da  banda  do  Sul,  onde  por  ja 
ser  neste  tempo  Inuorno  naquellas  par- 
tes.» Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  2,  cap.  2.  —  o  Sete  dias 
avia  ja  que  fazíamos  nossa  viagem  pelo 
meyo  da  enseada  do  Nanquim,  para  cõ 
a  força  da  corrente  caminharmos  mais 
depressa,  como  quem  só  nelia  tinha  sua 
salvação,  porem  todos  tão  tristes  e  des- 
contentes, que  como  homens  fora  de  sy 


nenhum  de  nós  fallava  a  propósito,  quan- 
do chegamos  a  huma  aldeã  que  se  cha- 
mava Susoquerim.»  Feriiào  Mendes  Pin- 
to, Peregrinações,   cap.  79. 

—  Jornada.  —  Toda  a  viagem  foi  mi- 
lagrosa, —  líForão  tantas  as  marauilhas 
que  o  pay  de  misericórdias  nos  fez,  que 
quasi  toda  a  viagem  foy  milagrosa.  Mas 
de  todas  ellas  a  meu  ver,  esta  do  trazer 
do  leme  foy  tão  notauel,  que  cuydo  pode 
ter  o  primeyro  lugar,  mercê  de  Deos, 
pêra  nòs  tã  grande,  quanto  de  nòs  pêra 
elle  mal  merecida.»  Frei  Gaspar  de  S. 
Bernardino,  Itinerário  da  índia,  cap.  2. 
—  (I  Paulo  Lucas  na  Relação  das  suas 
Viagens  Tom.  I.  pag.  355  diz  que  as  mo- 
Iheres  do  Egypto  inferior  são  extrema- 
mente limpas  sobre  tudo  nas  suas  casas, 
e  na  presença  de  seus  maridos,  e  que  as- 
sim differem  das  Senhoras  da  Europa, 
as  quaes  servindo-se  do  mais  precioso  que 
tem  para  faserem  as  suas  visitas,  vivem 
ordinariamente  nas  suas  casas  com  muita 
negligencia,  e  algumas  veses  com  muita 
porcaria.»  Cavalleiro  d'01iveira.  Cartas, 
liv.  2,  n.°  8õ.  —  o  Quanto  mais  a  dita  so 
me  avizinhava,  tanto  ponderava  com  pa- 
vor os  discrimes  que  poderiam  retardá-la, 
ou  talvez  para  sempre  destrui-la.  Escre- 
vêra-me  Àdolpho,  dando-me  parte  de 
quão  rápida  fora  a  sua  viagem,  e  eu  con- 
tava dessocegada  os  dias.»  Francisco  Ma- 
noel do  Nascimento,  Successos  de  mada- 
me de  Seueterre. 

—  Antigamente  dava-se  este  nome  vul- 
garmente á  navegação,  ou  jornada  por 
mar;  e  as  jornadas  por  terra  eram  ex- 
pressas pelo  vocábulo  jornada  ou  cami- 
nho, e  sendo  longas  e  em  paiz  estrangei- 
ro, peia  palavra  peregrinação.  Hoje  dá- 
se  este  nome  para  significar  umas  e  ou- 
tras jornadas. 

VIAJADOR,  A,  s.  Pessoa  que  viaja,  que 
viajou. 

VIAJANTE,  pari.  act.  de  Viajar.  Que 
faz  viagens. 

— ■  S.  2  gen.  Pessoa  que  anda  fazendo 
viagens,  peregrinatite. 

VIAJAR,  V.  n.  Fazer  viagens.  —  Via- 
jar pio-  Inglaterra. 

—  Viajar  um  cavallo;  fazer  jornada 
larga  para  conhecer  a  sua  força  e  ma- 
nhas, ou  defeitos. 

—  Viajar  terras;  percorrel-as. 
VIAJEIRO,  A,  s.  e  adj.  Vid.  Viageiro. 
VIAJOR.  Vid.   Viajador. 

VIAJEM,  s.f.  Vid.  Viagem,  termo  mais 
em  uso,  e  mais  correcto.  —  Fazer  boa 
viajem.  —  «Os  senhores,  e  pessoas  prin- 
cipaes que  hiaõ  nesta  armada,  debaixo 
da  capitania  do  Duque,  de  que  aqui  po- 
nho os  nomes,  sem  na  ordem  delles  po- 
der guardar  a  cada  hum  o  grão,  e  prece- 
dência de  suas  nobrezas,  foram  dom  loam 
de  meneses,  o  mesmo  que  ja  fora  sobcla 
mesma  cidade,  como  fica  dito,  o  qual  se 
o  Duque  fallecera  nesta  viajem  hia  no- 
meado   por    capitam   geral  da   Armada, 


e  avia  de  ficar  por  capitam  do  campo 
Rui  barreto.  Alcaide  mor  de  Faram,  vea- 
dor  da  fazenda  do  regiio  do  Algarve.» 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  3,  cap.  46.  —  «Quàto  a  bõs  cm  . 
vossa  mão  esta  serem  bons  ou.  mãos,  por- 
que não  se  dizem  os  annos  bons  por  se- 
rem prosperes  e  de  bonança,  senam  por- 
que seruem  pêra  chegar  a  bom  fim  ou 
bom  porto  no  cabo  deste  caminho,  assi 
como  dizemos  hum  caminheyro  ou  huma 
nao  fazer  boa  viajem  quando  chegou  com 
saúde  aonde  desejaua.  Pois  sabido  cstà 
que  todo  o  terapo  de  nossa  vida  nam  he 
outra  cousa  senão  hum  contino  caminhar 
on  nauegar  pêra  o  porto  da  Cidade  ce- 
lestial.» Frei  Bartholomeu  dos  Marty- 
res,, Catecismo  da  doutrina  christã. 

-j-  VIAM.  Forma  do  verbo  vêr  na  ter- 
ceira pessoa  do  plural  do  pretérito  im- 
perfeito do  modo  indicativo.  Vid.  Vêr,  e 
Vião.  — «Levaram  alli  dons  fidalgos  suas 
mulheres  para  semelhante  negociação  ;  e 
deixando-as  lá,  se  sahiram  logo.  Viam 
isto  outros,  e  então  disse  um  dVlles.s 
Francisco  Manoel  de  Mello,  Carta  de  guia 
de  casados.  —  «Estas  viam-se  colgadas 
de  couro  lavrado  e  tauxiado  em  volta 
dos  alizares  com  pregos,  cujas  cabeças 
desmesuradas  formavam  como  um  aro  re- 
luzente aos  apainelados.  Uma  esteira  gros- 
sa cubria  o  pavimento  enxadrezado  de 
aiiobes.»  Alexandre  Herculano,  Monge  de 
Cister,  cap.  lò. 

VIANDA,  s.  /.  (Do  francez  viande)'. 
Cousa  de  comer. 

—  O  comer  com  que  se  ceva  a  ave  de 
rapina. 

—  Pratos,  guisados. 
VIANDANTE.  Vid.  Caminhante. 
VIANDAR,   V.  n.  Termo  de  poesia.  Fa- 
zer viagem,  caminhar. 

VIANDEIRO,  A,  adj,  e  s.  Comilão,  glo- 
tão. 

-|-  VIÃO.  Forma  do  verbo  vir  na  ter- 
ceira pessoa  do  plural  do  pretérito  imper- 
feito do  modo  indicativo.  Vid.  Vêr,  e 
Viam.  —  «Entam  mandou  dar  huma  gran- 
de gritada,  e  tocar  as  trombetas,  e  des- 
parar  a  artelharia,  com  que  desencadeou 
logo  03  mais  dos  paraos  aos  quaes  logo  o 
senhor  de  Repelim  mandou  outros  em 
ajuda,  onde  forão  tantas  as  bombardadas 
de  huma,  e  outra  parte,  que  nem  o  Ceo, 
nem  a  terra,  nem  a  agoa  se  vião  com 
fumo,  e  chamas  de  fogo.»  Damião  do 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1, 
cap.  88.  —  «<Js  quaes  ao  entrar  das  ruas 
acharam  alguma  resistência  mas  os  inimi- 
gos como  homens  que  vião  que  o  sobre 
que  se  mais  auia  de  pelejar  era  ja  perdi- 
do, se  somiraõ  per  outras  ruas,  ficando 
muitos  delles  mortos  nellas,  e  muito  mais 
do  popular,  assi  homens  como  molheres, 
e  mininos,  que  foram  tantos  que  corria 
o  sangue  pelas  ruas.»  Ibidem,  part.  3, 
cap.  19.  —  «A  que  respõdemos  que  éra- 
mos   pobres    estrangeyros,    uaturaes    do 


936 


VIBR 


VIBR 


VICE 


noH  JJoiíH  Miilvíira  (l.-iiiuella  iiiaruivra  (juc 
1K):(  viào,  a  ciuo  cila  toinoii,  jjoi.s,  quo 
quereis  (juo  vo.s  fayaiiun,  ou  o  quo  dctor- 
iiiiiiiii.s  (ie  fazer,  iiorque  aquv  ilIo  ha  ca- 
sa de  rejwuso  do  (lolires  ouilo  vo»  possa- 
mos Hf::a»alli.ir. I  FeinSo  j\Iendc8  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  82.  —  «Na  portada 
se  vião  lious  i".ões  dourados,  sustentando 
oní  liuuia,  o  outra  tarja  as  Koelas  dos 
Ca-itri)s  seinpro  illustres,  a<;ora  triuufau- 
tos.  .Junto  ao  caos  corria  liuui  dilatado 
boH(iuo  do  arvoredo,  quo  com  interrompi- 
das sombras  mitifíava  o  calor,  sem  oc- 
cultar  o  dia.»  Jaciíitli"  Freire  d'Andra- 
de.  Vida  de  D.  João  de  Castro,   liv.   3. 

VIATIGO,  n.  m.  (Do  latim  viatíctiin). 
Eutro  os  religiosos,  dinheiro  quo  se  lhes 
dil  paru  seus  gastos  indo  d'uiu  logar  para 
outro. 

—  Figuradamente  :  Sacramento  da  eu- 
charistia  administrado  aos  doentes  em  pe- 
rigo do  vida,  a  lim  de  os  dispor  a  passar 
d'e3ta  para  a  outra  vida. 

—  Commungou  em  viatico;  sem  ter  ne- 
cessidade de  estar  em  jejum. 

VIÁVEL,  adj.  2  gen.  Termo  de  medi- 
cina. Que  apresenta  no  momento  do 
nascimento  uma  conformação  assaz  re- 
gular, e  com  bastante  desenvolvimento 
para  que  as  funeções  necessárias  á  con- 
servaçào  da  vida  possam  executar-se  de 
um  modo  mais  ou  menos  duradouro.  — 
Feto  viável. — A  creança  nasceu  viável. 
—  .Julg(yu-se  sempre  que  as  mulheres  eram 
mais  viáveis  que  os  homens. 

víbora,  s.  /.  (Do  latim  vipera).  Espé- 
cie de  serpente  mui  venenosa. 

As  Dorcadas  iiasâAmos,  povoadas 
Das  irmã.is,  que  outro  tempo  alli  vivião, 
CJuc  de  vista  tot.al  sendo  privadas, 
Todas  tves  d'luu>i  só  olho  se  scrvião. 
Tu  8Ó,  tu  cujas  trauijas  encrespadas 
Neptuno  lá  nas  Aguas  aceeudiào, 
Tornada  ja  do  todas  a  mais  feia, 
De  vibora-t  encheste  ardente  areia. 
cAu.,  Lus.,  cant.  5,  est.  11. 

—  «Porque  certo  é  tprrivel  tormento  o 
que  padecem,  já  os  homens,  já  as  mulhe- 
res, por  esta  maldita  imaginação;  aquém 
com  não  menor  propriedade  houve  quem 
chamasse  vibora,  porque  em  nascendo 
mata  a  possua  ((ue  a  engendra.»  D.  Fran- 
cisco Manoel  de  Mello,  Carta  de  guia  de 
casados. 

—  Figuradamente :  Esta  mulher  estava 
uma  vibora;  estava  nmi  assanhada. 

—  Adagio  ií  pkoveubio: 

—  O  áspide  e  a  vibora  se  emprestam 
a  ])evonha. 


reyno  de  Sião,  e  que  nos  perdêramos  no  |  corda  tesa  pelas  duas  extremidades  exe- 
mar  cõ  hunia  grande  tormenta,    da   qual  1  cuta  oscillando,  a  prinmira  da  parte,  ode 

outra  do  sua  posiç.lo  lixu,  a  segunda  cii- 
irc  seus  jiontos  Hxos,  (juando  uma  cau.sa 
qualquer  desvia  in.stantaueauíonte  uma 
ou  outra  da  posição  em  que  ella  se  tem  em 
equilíbrio.  —  As  vibrações  d'uma  corda 
sonora. 

—  Vibração  sonora;  o  intervallo  do 
tempo  que  ilecorrc  entro  duas  voltas  con- 
secutivas do  corpo  vibrantio  uo  mesmo  es- 
tado. 

—  Diz-80  também  d'um  movimento 
análogo  que  anima  as  partículas  d'uraa 
membrana  estendida,  e,  em  geral,  de  um 
corpo  (jualquer.  —  ^1»  vibrações  da  mem- 
brana do  tympano. 

—  Diz-se  do  ar  c  dos  fluidos  elásticos. 
O  numero  das  vibrações  d'uma  colum- 
na  d'ar  está  na  razão  inversa  do  seu  conj- 
primouto. 

—  l:'or  extensão :  Vibração  da  voz ;  qua- 
lidade d'uma  voz  vibrante. 

—  Synonvmo  de  ondulação,  fatiando 
da  luz  c  do  ether.  A  luz  resultava  das 
vibrações  d'um  Huido  universal  extrema- 
mente subtil,  agitado  pelos  movimentos 
rápidos  das  partículas  dos  corpos  lumi- 
nosos, do  mesmo  modo  que  o  ar  é  agitado 
pelas  vibrações  dos  corpos  sonoros. 

—  Movimento  de  oeciUação  d'um  pên- 
dulo. 

—  Vibração  dos  pêndulos ;  o  movimento 
de  um  corpo  pesado,  ligado  por  um  tio 
ou  por  uma  vara  a  um  ponto  lixo  em 
volta  do  qual  descreve  um  arco. 

VIBRADO,  pari.  pass.  de  Vibrar. 
VIBRANTE,   parf.  art.  de  Vibrar.  Que 
vibra,  que  está  posto  em  vibração. 

—  Voz  vibrante ;  voz  potente,  que 
communica  uma  espécie  de  vibração. 

—  Termo  do  zoologia.  Moscas  vibran- 
tes ;  os  ichncumons,  porque  agfitam  con- 
tinuamente suas  antennas. 

—  Corpúsculos  vibrantes ;  pequenos 
corpos  redondos  que,  achando-se  no  bi- 
cho da  seda,  indicam  que  ó  doente  da 
pebrina. 

—  Termo  de  medicina.  Diz-se  do  pulso 
que  ó  ao  mesmo  tempo  grande,  duro,  es- 
tendido, prompto  e  frequente. 

VIBRAR,  V.  a.  (Do  latim  vibrare).  Ter- 
mo do  jihysica.  Executar  vibrações.  — 
Uma  corda  que  vibra. 

—  Arremessar  vibrando. 


Termo    de   náutica. 

(Do  latim  vibratio). 
Movimento   mui  ra- 


VIBORDO,    í.    m. 
Amurada. 

VIBRAÇÃO,  s.  /. 
Termo    di^    ]>a\-sica. 
]>ido  ([ue  unui  vara  elástica  o  rigida,  iixa 
n'unia   das   suas    extremidades,    ou   uma 


Jluda  de  aspecto  a  mísera,  c  9'c3pautJi : 
O  Rei  contempla  o  Ceo  de  fogo  armado, 
Quos  raios  ríírn.  porque"»  lei  quebranta, 
Quo  neçTA  A  Regia  esposa  o  Régio  est;ido  : 
Do  Throno  então  tremendo  se  levanta. 
Como  da  morte  horrífica  assaltado  •, 
Mais  se  condensa  a  sombra  escura,  c  fcfl, 
O  Ceo  fuzila,  a  terra  balaucoa. 

J.   A.    UB  MACKIJO,  o  OBIENTF.,  CUnt.   5,  CSt.   4S. 

—  Figuradamente  :  Fazer  vibrar  ai 
cordas  sensíveis  da  alma ;  tocar,  commO' 
ver. 


—  Vibrar  luz. 

—  Brandir,  dar  movimento  tremulo  á 
lança,  pique,  espada,  ou  chicote. 

t  VIBRATIL,  adj.  2  gen.  Termo  didá- 
ctico. Quo  é  Buscejitivel  de  vibrar. 

—  Termo  de  phvfiologia.  Celhas  vibra- 
teis;  pequciMSHÍnios  iílamcntoa  qucsSo  do- 
tados, em  c<;rt<i8  aniniaes  e  cm  certos  te- 
cidos, d'um  movimento  cãpontaneo  alter- 
nativii. 

VIBRATORIAMENTE,  adv.  íUe  vibrató- 
rio, e  o  suilixo  «mente»).  De  uoi  modo 
vibratório. 

VIBRATÓRIO,  A,  arlj.  Tormo  didáctico. 
(^ue  tem  o  caracter  de  uma  serie  de  vi- 
brações. —  Movimentai  vibratorio. 

—  Relógios  vibratórios  ;  slo  os  de  pcn- 
chilc),  como  alguns  de  parede. 

—  Em  que  ha  vibração,  ou  movimento 
para  mu  e  outro  la  lo. 

VIBRIÃO,  «.  m.  Termo  An  historia  na- 
tural, (ienero  de  infusorios  de  uma  figura 
linear. 

f  VIBRISSAS,  ».  /.  phir.  (Do  latim 
vibrifscB).  Nome  dado  aos  pellos  que  se 
encontram  dentro  do  orificio  das  narinas, 
e  cujo  estado  pulverulento  é  algumas  ve- 
zes um  signal  utilisado  em  pathologia 
para  o  diagnostico. 

—  Termo  de  zoologia.  Diz-se  dos  lon- 
gos pellos  isolados,  que  apparecem  nas 
narinas,  em  diversos  pontos  da  face. 

—  Diz-se,  nas  aves,  das  pennas  total- 
mente simples  c  piliformes,  nos  lados  das 
quaes  só  se  descijbrem  barbas  raras  e  mui 
curtas. 

VIBURNO,  s.  m.  Planta  flexivel;  vime, 
quo  Se  enreda  e  enrosca  nas  arvores. 

VICARIATO,  «.  «I.  Funcção,  emprego 
do  vigário.  —  O  vicariato  d'tima  paro- 
chia.  —  O  grande  vicariato  da  diocete. 

—  Território  sobre  o  qual  se  estende 
o  poder  do  vigário. 

—  U  tempo,  durante  o  qual  se  foi  vi- 
gário d"un\a  [larochia. 

—  Jlor.-uia  do  vigário  d'ama  parochia. 
VICÁRIO,  A,  adj.  (Do  latim  vieariu$). 

Que  faz,  e  sappre  as  vezes  de  outro. 

•j-  VICARIAL,  adj.  2  gen.  Qne  diz  res- 
peito ao  vicariato.  —  Os  deveres  vica- 
riaes.  —  As  funeções  viçar iaes. 

VIÇADO,  pnrt.  pass.  de  Viçar. 

—  i-}ue  tem  muito  viço;  viçoso,  mons- 
truoso na  sua  firma. 

VIÇAR,   r.  a.   Tornar  \nçoso. 

—  1'.  n.  Tornar-se  viçoso.  Vid.  Vice- 
jar. 

VICE  i,do  latim  vices'^.  Vocábulo  que 
entra  na  composiç.^o  com  outros,  e  indi- 
ca substituição  da  pessoa  no  cargo  signi- 
fic-ido  pela  outra  palavra  com  que  ella  se 
ajunta.  —  Vice-iví.  —  Vice-f'>»»*n/. 
"  VICE-ALMIR.4NTA,  t.  f.  Primeira  em- 
bare.tçào   de  puerra  dejK>is  da  capitânia. 

VICE-ALMIRANTADO,  s.  «i.  Cargo  de 
vicealmirante. 

VICE-ALMIRANTE,  s.  i'i.  Outr'ora,  ofi- 
cial  geral   que  representava  o  almirante 


VICE 


VICE 


VICI 


937 


e  que  tinha  a  segunda  dignidade  na  ma- 
rinha. 

—  Hoje,  oíBcial  que  tem  o  logar  de 
general  de  divisão  do  exercito  de  terra, 
e  que  tem  os  mesmos  signaes  distinctivos 
que  elle. 

—  Nome  dado  ao  navio  que  monta 
n'uma  frota  ou  n'uma  esquadra  o  official 
general,  que  tem  o  titulo  e  a  funcção  de 
vice-almirante. 

—  Vid.  Almirante. 
VICE-CHANCELLER,   s.  m.    O    que    faz 

as  vezes  de  caanceller. 

VICECÓMITE.  Vid.  Visconde. 

VICE-C0N3UL,  s.  m.  O  que  faz  as  ve- 
zes de  cor,3jl,  o  que  occupa  o  logar  de 
cônsul. 

—  Homem  encarregado  dos  negócios 
commerciaes  d'um  paiz  em  sua  auíencia. 

—  AqucUe  que  n'uma  residência  onde 
não  ha  cônsul  preenche  as  suas  funcções. 

—  Delegado  do  cônsul. 
VICE-CÓNSULADO,   í.   m.   Emprego  do 

vice-consul. 

VICE-DEDS,  ou  VIGE-DEOS,  í.  m.  Ente 
divino  que  faz  as  vezes  de  um  Deus  su- 
perior; diz-se  de  alguns  santos  que  são 
vice-deuses. 

VICE-DOMINO.  Vid.  Vidama. 

VICE-GOVERKABOR,  A,  s.  Pessoa  que 
faz  as  vezes  do  governador. 

VICEJANTE,  pari.  act.  de  Vicejar.  Que 
viceja. 

—  Figuradamente:  Oração ,  estylo  vi- 
cejante nos  ornatos. 

VICEJAR,  V.  n.  Estar  viçosa,  erear  a 
planta,  ou  tlôr  mais  folhas  das  que  deve 
ter  segundo  sua  espécie,  por  sobejo  ali- 
mento. 

—  Viceja  em  folhas  a  planta;  quando 
dá  muitas,  com  pouco  fructo,  o  que  é  um 
mal. 

—  Figuradamente  :  Tornar-se  bravio  o 
animal  domestico,  e  manhoso,  com  muito 
.pasto,  e  descasco. 

—  Vicejar  a  figura  de  murta,  lançan- 
do ramos,   que  a  deformam. 

—  Figuradamente:  O  rosto  viceja  cotii 
a  juventude. 

—  O  coração  bem  formado  viceja  em 
virtudes;  floresce  em  muitas  virtudes, 
em  analogia  á  flôi-  nas  pétalas. 

—  Figuradamente :  A  imaginação  vi- 
ceja em  excessivos  floreios. 

—  O  luxo  das  mesas  lautas  viceja  em 
lascivia. 

—  V.  a.  Dar  viço.  —  O  sueco  nutriti- 
vo viceja  as  plantas. 

VICE-LEGAÇÃO,  s.f.  Emprego  do  vice- 
legado . 

VICE-LEGADO,  s.  m.  (Do  latim  vice-le- 
gatus).  <  >  que  faz  as  vezes  de  legado. 

VICE-MORDOMO,  s.  m.  O  que  faz  as 
vezes  de  mordomo. 

VICE-MORTE,  s.  /.  Quasi  morte,  que 
faz  as  vezes  d'e!la. 

VICENARIO,  s.  m.  O  espaço  de  vinte 
dias. 

VOL.  T.  — 118. 


VICENNAL,  adj.  2  gen.  (Do  latim  vi- 
ceniialisi.  Que  é  de  vinte  annos,  que  se 
faz  depois  de  vinte  annos.  —  Prémios  vi- 
cennaes. 

VICENNIO,  í.  VI.  (Do  latim  vicennius). 
Espaço  de  vinte  annos. 

VICENTE,  s.  m.  Nome  próprio  de  ho- 
mem. 

—  Moeda  d'oai'0,  que  mandou  cunhar 
D.  João  III,  do  valor  de  mil  reis ;  tinha 
de  um  lado  as  armas  reaes,  e  do  outro  a 
efiBgie  de  S.  Vicente  sustendo  \\m  navio 
na  mào  com  a  lenda  —  zelator  fidei  us- 
que  ad  mortem ;  corria  ainda  em  1561. 
O  mesmo  monarcha  mandou  cunhar  tam- 
bém meios  vicentes. 

—  Adagio  e  provérbio  : 

—  Cada  feira  vale  menos  como  burro 
de  Vicente. 

t  VICE-PREFEITO,  *.  m.  O  que  faz  as 
vezes  de  prefeito. 

t  VICE-PRESIDENCIA,  s.  f.  As  func- 
ções. a  diífiiidado  de  vice-presidente. 

VICE-PRESIDENTE,  s.  m.  O  que  faz 
as  vezes  de  pr"^idente. 

7  VICE-PROCURADOR,  s.  vi.  O  que  faz 
as  vezes  de  procurador. 

VICE-PRONOMES,  s.  m.  plur.  Assim 
denominam  alguns  grammaticos  moder- 
nos as  desinências  dos  nossos  infinitivos 
pessoaes.  Sendo  assim,  os  nossos  verbos 
não  são  pessoaes,  por  terem  todos  desi- 
nências correspondentes  aos  pronomes 
pessoaes,  e,  como  estas,  não  fazem  pessoal 
o  infinitivo,  nem  o  farão  ás  mais  varia- 
ções verbaes ;  porém  o  caso  é  que  todos 
os  nossos  grammaticos  reconhecem  os  in- 
finitos pessoaes  tào  particularmente  pró- 
prios do  portuguez,  e  que  muito  aíjre- 
virm  a  composição,  por  não  advertirem 
que  o  verbo  comprehendendo  synthetica- 
mente  no  indicativo,  e  no  mandativo  a 
expressão  de  muitas  noções,  como  são  o 
sujeito,  o  attributo,  o  tempo,  a  asserção, 
o  desejo  mandando,  ou  pedindo,  vae-se 
decompondo,  e  perdendo  a  expressão  da 
asserção,  e  do  querer,  e  conservando  al- 
gumas expressões  syntheticas,  até  que 
fic^  um  infinito  puro,  significando  somen- 
te o  attributo  verbal  abstracto  sem  cor- 
relação com  tempos  nem  pessoas;  o  que 
tolhe  que  nas  línguas  as  expressões  syn- 
theticas, ou  complexas  se  decomponham, 
e  despojem  de  algum  sentido,  conservan- 
do os  seas  radicaes,  e  algumas  noções 
que  exprime  conjunctamento.  Vid.  Infi- 
nitivo pfssoal.  A  analyse  ou  decompo- 
sição do  pensamento  tem-se  feito  mais  ou 
menos  nas  linguas,  e  as  mais  antigas 
como  a  hebraica,  e  a  chineza  nào  tem  pa- 
lavras correspondentes  ao  nosso  verbo 
ser,  e  por  tanto  não  analysaram,  ou  de- 
compozeram  os  varbos  adjectivos  ou  ex- 
pressivos de  um  attributo  qualquer  tan- 
to como  nós.  Outras  linguas  exprimem 
no  verbo  o  género  masculino  ou  feminino 
do  sujeito  da  oração ;  outras  exprimem  a 
negação,   quando  a  sentença  é  negativa. 


e  muitas  outras  circumstancias  acciden- 
taes  ao  verbo. 

Mal  é  que  os  educados  á  franceza  vão 
desaprendendo  o  uso  dos  nossos  infiniti- 
vos pessoaes. 

VICE-PROVINCIAL,  s.  m.  O  que  fkz  as' 
vezes  de, provincial, 

VICE-PROVINCIALADO,  s.  m.  O  ofiicio, 
o  gover;;o  de  vice-provincial. 

VICE-RAINHA,  s.  /.  Mulher  do  vice- 
rei. 

—  Princeza  que  governa  com  a  aucto- 
ridade  d'um  vice-rei. 

—  No  tempo  dos  Philippes  em  Portu- 
gal era  a  princeza  Margarida  de  Mantua 
que  goveriava  este  paiz. 

-T^VICE-REAL,  adj.  2  gen.  Que  per- 
tence a  um  vice-rei. 

VICE-REI,  s.  m.  Governador  d'um  es- 
tado  que    tem  ou  teve  o  titulo  de  reino. 

—  Governador  de  algumas  provindas, 
ainda  que  não  tenham  o  titulo  de  reino. 
—  Vice-rei  da  Catalunha.  —  O  vice-rei 
do  Algarve,  da  índia,  etc. 

VICE-REINA,  s.  /.  Governadora,  como 
vice-rei.  Vi  l.  Vice-rainha. 

VICE-REINADO,  s.  m.  O  officlo,  juris- 
dicção  e  puder  de  vice-rei. 

—  O  tempo  do  governo  -de  um  vice- 
rei. 

—  Districto  da  jurisdicção  de  vice-rei. 
VICE-REINAR,    i-.    n.    Governar    como 

vice-rei,  em  vez  de  algum  rei  que  sofiEre, 
que  outrem  mande  como  elle. 

VIGE-REINO,  s.  m.  Estado,  província 
que  é  governada  por  vice-rei,  e  tem  mais 
graduação  que  as  outras  que  tem  gover- 
nadores, ou  somente  capitães-generaes. 

VICE-REITOR,  s.  m.  O  que  faz  as  ve- 
zes de  reitor,  em  uma  corporação,  colle- 
gio,  universidade,  seminário. 

VICE-VERSA,  adv.  (Do  latim  vice,  e 
versa).  Reciprocamente,  ás  avessas. 

VICIADO,  part.  pass.  de  Viciar.  Cor- 
rupto, depravado. 

—  Mulher  viciada;  mulher  corrupta, 
depravada,  não  virgem. 

—  Drogas  viciadas ;  falsificadas,  adul- 
teradas. 

—  Escripiura  viciada;  aquella  em  que 
se  fez  falsidade. 

—  Figuradamente:  Natureza  viciada; 
natureza  corrupta. 

VICIADOR,  A,  s.  Pessoa  que  vicia,  que 
corrompe. 

VICIAR,  V.  a.  (Do  latim  vitiare).  Cor- 
romper, depravar  o  que  era  bom. 

—  Viciar  mulher;  seduzil-a,  deital-a  a 
perder,  deshonral-a. 

^—  Viciar  iinia  escriptura,  o  texto  ã'el- 
la;  alterar,  corromper  mudando,  tirando 
ou  accrcscentando  palavras,  etc,  falsifi- 
car, etc,  dar  mau  sentido,  ter  má  inten- 
ção ao  usar  d'ellas. 

—  Viciar  a  alma  com  o  contacto  da  cul- 
pa. 

—  Viciar-se,  r.  re//.  Corromper-se,  de- 
pravar-se. 


938 


VICI 


—  Apodrocer. 

VICILINO,  .•>.  m.  Clmpamol;  ave. 
VICINAL,    adj.   2   gen.  Quo  ó  visinho, 
(loH  contornos. 

—  (Jamiaftii  vicinal ;  caminho,  qiio  coni- 
munica  aa  villaw  o  iildc.iaa  entro  si,  cm 
opposiçilío  a  i'f:lrii'/n  real. 

f  VICINALIDADE,  s.  /.  Qualiilarlc  rio 
uni  C!uninliii  vicinal. 

VICIO,  p.  m.  (Do  latim  vitium).  Falta, 
dcí"iMt.(i  pliysico,  ou  moral.  —  «E  pelo 
contrairo  oi  dados  a  nogocios  terrae.s  tra- 
zem abatidos,  c  trastornados  npiritos,  e 
quanto  mais  ocCupani  os  sontidoH  nas  cou- 
sas da  torra,  o  onclinil  os  pensamentoá  a 
cousas  bayxas,  tanto  monos  alcuantam  o 
entendimento  ao  coo,  e  penetra  cousas  al- 
tas:  porque  como  diz  sam  (irogorio:  Al- 
ma carroçada  de  cuidados  debaixo  dão  se 
alcuãta  ás  cousas  de  cima.  Isto  entendia 
bom  saneto  Augustinho  quando  dizia,  que 
a  solidão  era  necessária  a  nossa  mente. 
E  com  razào,  porque  alli  lia  inaia  azo 
pêra  a  virtude,  e  luenos  ocasião  jicra  o 
vicio.»  Heitor  Pinto,  Dialogo  da  Vida  so- 
litária,  cap.  7. 

Mas  como  nada  disto  lhe  tirava 
A  grande  discripçào,  grande  eloquência, 
Qiro  seu  ináo  peito  em  si  doutro  encerrava 
Tacs,  quo  CO 'os  vidos  vão  a  competência: 
Aquellc  quo  algum  tempo  o  conversava, 
E  disto  tinha  alguma  experiência, 
Ha  que  om  Priucipes  tição  desculpados 
Que  lhe  forão  ja  tão  all'tii;;oados. 

r.  D'AnnR\nB,  priukibo  ckeco  dk  diu,  cant.  2, 
est.  2. 

—  «De  umas  quo  se  prezam  de  formo- 
sas, não  ha  para  que  nos  descuidemos. 
Que  a  mulher  se  conlieya  não  ó  vicio ; 
antes  antiga  opinião  minha  quo  em  mui- 
tas partes  tenho  escripto.»  Francisco  J[a- 
noel  de  Mello,  Carta  de  guia  de  casados. 

—  Termo  de  medicina.  Vicio  de  con- 
formai^ão;  má  disposição  d'uma  parte  do 
corpo. 

—  Disposição  habitual  para  o  mal,  em 
opposiçSo  á  virtude.  —  O  vicio  grosseiro 
causa  horror. 

—  Disposição  habitual  para  a  pratica 
de  certo  mal  moral  particular. 

—  Diz-se  das  pesso.is  viciosas.  —  Cas- 
tigar o  vicio. 

— ■  O  vicio  personificado. 

—  Erro  contra  as  regras  d"artc,  ou  da 
sciencia. 

—  Escripfura  sem  vicio;  defeito,  adul- 
teração, respançamento,  etc. 

—  Adagio  e  ruovKunio: 

—  Não  ha  manjar  quo  não  enfarte, 
nem  vicio  que  não  enfade. 

■      VICIOSAMENTE,  adv.  (De  vicioso,  e  o 
suffixo  «mente».  De  um  modo  vicioso. 

VICIOSIDADE,  í.  /.  O  caracter  do  que 
ó  vicioso. 

—  A  qualidade  de  sor  vicioso. 
VICIOSÍSSIMO,    A,  adj.  superl.  de  Vi- 
cioso, Mui  vicioso. 


VIÇO 

VICIOSO,  A,  adj.  (Do  latim  vitiotu», 
de  vitium,.  Que  tom  faltas,  imperfeições 
graves.  —  V(mfunna<;ãij  viciosa. 

—  Termo  de  grammatica.  Locução  vi- 
ciosa; locução  contraria  á  regra  c  ao  bom 
uso. 

—  Termo  do  lógica.  Circulo  tícíoso; 
petição  do  principio,  o  idom  por  idom, 
argumentação  falsa. 

—  Depravado,  corrupto,  adulterado. 
—  íNào  se  nega  porém  ao  marido,  quo 
30  possa  mostrar  galante  com  as  damas, 
e  senhoras,  (piaiido  a  occasião  fôr  de  ga- 
lantaria ;  porque  esta  obrigação  é  de  bom 
sangue;  e  como  nào  seja  viciosa,  antes 
virtude,  pelo  menos  politica,  não  obriga 
contra  ella  o  matrimonio.  As  próprias 
mulheres,  se  são  generosas  folgam  que 
seus  mariílos  se  mostrem  cortezãos  onde 
o  devem  ser.  •  Francisco  Manoel  do  Mello, 
Carta  de  guia  de  casados. 

—  Fallando  das  jicdsoas,  entregue  ao 
mal,  ao  deboche.  —  Virtuoso  sem  mérito, 
e  vicioso  sem  crime. 

—  t^uc  diz  respeito  ao  vicio,  que  lhe 
6  relativo. 

VICISSITUDE,  s.  f.  (Do  latim  vicissi- 
tudo).  Mutlança  de  cousas  quo  suecedem. 

—  Variação. 

—  Instabilidade  das  cousas  humanas, 
disposição  que  oUas  tem  para  se  muda- 
rem. 

—  A  própria  mudança  devida  á  insta- 
bilidade das  cousas.  —  As  vicissitudes  do 
mundo. 

—  Plur.  As  voltas,  revezes,  alternati- 
vas da  fortuna,  do  mundo  physico  ou  mo- 
ral. 

VICISSITUDINÁRIO,  A,  adj.  Exposto  a 
vicissitudes,  alterações,  revezes  do  bem 
ou  mal,  ctc. 

VIÇO,  s.  m.  A  viveza  da  planta,  ou 
llôr,  bem  vegetada,  bem  nutrida;  a  alte- 
ração feita  em  planta,  ou  flor,  por  sobejo 
nutrimento. 

—  A  altiveza  e  desassocego  originado 
do  mimo. 

—  Viço  do  animal;  o  bem  nutrido  d.'el- 
le,  a  inquietação,  o  braveza  que  elle  cria 
por  bem  nutrido,  descançado  e  amimado. 

—  Kegalo,  luxo,  mimo  no  tratíimento. 

—  O  viço   da  mncidade,  da  belleza. 

—  Mimo  de  bom  trato. 

—  Creado  a  gran  viço ;  com  muito  mi- 
mo e  liberdade. 

—  Figuradamente:  Crescia-me  todo  o 
viço   da  ís/ii'ra))i;a. 

VIÇOSAMENTE,  adv.  (Do  viçoso,  e  o 
suffixo  «mente»  .  De  um  modo  viçoso. 

—  Com  viço. 

VIÇOSÍSSIMO,  A,  adj.  superl.  de  Vi- 
çoso. Mui  viçoso. 

VIÇOSO,  A,  adj.  Que  está  fresco,  ve- 
geto, vivo,  nutrido.  —  Flor  viçosa. 

—  Terra  viçosa  de  rios,  fontes,  cria- 
ção, fructos,  ele. 

—  Cidade  viçosa ;  abundante  de  cou- 
sas de  regalo. 


VICT 

—  Coberto  de  verdura  viçosa.  —  iHe 
muito  viçosa  daruoredoí,  fontes,  abastada 
de  caças,  carnes,  pescados,  e  fruitas  de 
palmeiras,  e  doutroa  géneros,  e  muiu,  c 
boa  despinho,  e  ahhI  de  aroz,  milho,  iaha- 
mos,  canas  diiçucar,  c  gengiure,  que  co- 
mem verde,  sem  o  secarem,  nem  o  tem 
por  merea/Joria,  a  nella  muita*  minas  de 
prata  a  qual  ellea  apuraò  mal,  e  por  isso 
a  usam  de  muito  baixa  lei,  em  cadcas, 
anéis,  e  outras  ji>ias,  dizem  que  ahi  mi- 
nas douro,  e  outros  metaes  de  que  se  na<"5 
logram  por  os  naõ  saberem  tirar.  >  Damiio 
de  (iões,  Cbronica  de  D.  Manoel,  part. 
2,  cap.  21. 


Ku  vejo  hum  Cco  mais  puro,  c  %-cjo  ctenu 
Mais  doce  Primavera,  c  mais  ricota, 
Mais  recendentes,  varisdn^  florou, 
Delicioííi  sombra,  anicims  boAqucs, 
Oude  habita  o  prazer,  onde  o  gusiUTO 
De  equilibrado  Zéfiro  sunvc 
Socego,  e  paz  inspira,  c  a  mente  eleva 
Do  Focta,  o  Filosofo  á  «ublimo 
Contemplação  de  maravilhas  tantas. 

J.   A.   DE  JIACKt>0,  TIAOKX   KXTATICA,  Caut.    1  . 

Xovo  Anacharsis 
Co 'o  pensamento  rápido  paâ»cio 
Do  Divino  Platão  n.as  áureas  salas, 
E  de  Epicuro  noâ  .lardins  riçofOf, 
A  sombra  vou  do  Pórtico  da  E«t<Sa. 

IDEM,   MKDITAÇÂO,  Cant.    1. 


—  Que  está  luxuriante,  e  tem  folhas 
de  mais  da  sua  espécie. 

—  Homem  viçoso ;  que  é  mimoso  no 
trato  de  sua  pessoa. 

—  Fil/f)  viçoso ;  filho  mimoso,  trata- 
do com  mimo,  e  perdido  por  isso. 

VICTIMA,  s.  /.  (Do  latim  vietima). 
Entre  os  pagãos  e  os  povos  selvagens, 
creatura  viva  offerecida  i  divindade. 

—  Entre  os  judeus,  animaes  que  se 
immolavam  em  sacrificio.  —  Vietima  pro- 
piciatória. —  Vietima  d'erpiaqão. 

—  Termo  de  theologia.  A  vietima  of- 
ferecida peia  salvação  dos  homens;  Je- 
sus Christo. 

—  Figuradamente :  Aquelle  que  é  im- 
pressionado d 'alguém  golpe. 

—  C>  animal  ou  pessoa  que  se  mata  em 
sacrificio  a  alfrumas  divindades. 


Em  si  vê  Sylla,  que,  deixando  Homa, 
Comaipo  niosmo  leva  os  crime»  todos ; 
Algo/.  110  corai;ão,  n'alma  tjTanno. 
Nào  Sylla  Cousular,  mas  Sylla  obscuro, 
Inda  he  seguido  das  funest.is  sombras 
Das  victimíw,  quo  dera  outr'ora  A  morte, 
j.  A.  or.  MACRDO,  Mr.DrrAçÃo,  cant.  1. 


—  Figuradamente :  Aquelle  que  se  sa- 
crifica aos  interesses,  ás  paixões  dou- 
trem. 


E  do  Ostracismo  a  rictima  não  fora 
Aristides  inodcãto.  E  tu,  daa  Gentes 
Soberana  u'hum  tempo,  sgorm  eseriva 


VICT 


VICT 


VIDA 


939 


De  hum  Déspota  brutal,  Eoma,  coutaste 
Entre  immortaes  Democratas  a  muitos 
Alumnos  da  Virtude  austera,  e  santa. 

J.    i.    DE   MACEDO,    MEDITAÇÃO,   Caut.    1. 

VICTIMADO,   part.  pass.  de  Victimar. 
VICTIMAR,  V.  a.  Tornar  victiina. 

—  Matar,  sacrificar  victimas. 

VICTIMARIO,  s.  m.  (Do  lafim  victi- 
mar iust.  íSacerdote  que  nos  sacrifícios  gen- 
tios immolava  as  victim;as. 

VICTO.   Vid.  Vito,  termo  mais  em  uso. 

VICTOR  ido  latim  victor).  Termo  com 
que  se  applaude  ao  vencedor. 

VICTORIA,  s.  f.  (Do  latim  victoria). 
Vantagem  alcançada  sobre  os  inimigos 
n'uma  batalha,  n'um  combate.  —7  Triíiín- 
phador  de  tantas  victorias.  —  As  portas 
da  victoria. 

De  tamanhas  vícíoríos  triumphava 
O  velho  Affonso,  Príncipe  subido. 
Quando  quem  tudo  em  fim  vencendo  andava. 
Da  laro;a  e  muita  idade  foi  vencido. 
A  pallida  doença  lhe  tocava 
Com  fria  mão  o  corpo  eofraquecido  •, 
E  pagarão  seus  annos  deste  geito 
A'  ti'iste  Libitina  seu  direito. 
cAjf.,  Lus.,  cant.  3,  est.  83. 

—  f  Senhoras,  respondeu  o  do  Salva- 
gem,  quem  tão  boa  mostra  de  sua  victo- 
ria leva  comsigo  não  ha  de  querer  per- 
del-a  por  nenhuma  cousa  :  bem  me  lem- 
bra a  mim  que  vos  poderia  lá  levar ; 
mas,  porque  é  deixar-vos,  o  não  farei 
por  nenhum  preço.  Já  hei  de  esperar 
que  me  vença  alguém  e  vos  leve,  inda 
que  quem  é  de  vós  vencido  mal  o  pode- 
rá ser  d'outrem.»  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  c;ip.  117.  — 
«Huns  ajudando  a  carregar,  e  bornear 
as  peças  da  artelharia ;  outros  em  refor- 
mar as  ruinas,  e  em  outi-as  semelhantes, 
6  necessárias  occupaçoens,  de  sorte  que 
todos  derão  muito  grandes  esperanças 
no  animo  com  que  acodiaõ  a  todas  as 
cousas,  e  na  alegria  que  mostravaõ  nos 
trabalhos,  de  huma  muito  certa,  e  gran- 
de victoria.»  Diogo  de  Couto,  Década  6, 
liv.  2,  cap.  1.  —  «Esta  victoria  que  o 
Vicerei  ouue  da  armada  do  Soldaõ  de 
Babilónia,  foi  o  principio  da  demiiiuiçaõ 
de  seu  estado,  ate  lho  Selymaõ  Empera- 
dor  da  Turquia  tomar,  e  o  matar,  o  que 
aconteceo  no  anno  de  M.  D.  vxj,  e  erào 
tamanhos  os  direitos  que  lhe  pagaua  das 
especiarias  depois  de  as  trazerem  de  Ca- 
lecut á  índia,  e  de  ahi  as  leuarem  a  Cay- 
ro,  e  do  Cayro  a  Alexandria,  que  se  ti- 
nha pelo  milhor,  e  mais  sustaucial  de  to- 
das suas  rendas. i>  Damião  de  Góes,  Chro- 
nica  de  D.  Manoel,  part.  2,  cap.  40.  — 
€  Pouco  tempo  deixarão  a  D.  João  de 
Castro  descauçar  no  gosto  da  victoria, 
porque  logo  para  negocio  de  maior  cui- 
dado, tornou  a  vestir  as  armas,  como  re- 
ferirei mais  largamente,  ainda  que  con- 
tra meu  costume ;  por  não  truncar  a  His- 


toria, buscarei  princípios  afastados.»  Ja- 
cintho  Freire  d'Andrade,  Vida  de  D. 
João  de  Castro,  liv.  1.  —  «Já  neste  tem- 
po estava  arrasada  a  Fortaleza,  e  os 
Portuguezes,  em  lugar  de  muros,  defea- 
dião  suas  mesmas  ruinas;  o  inimigo  den- 
tro dos  baluartes  ás  portas  da  victoria ; 
os  mantimentos,  huns  erào  pelo  tempo 
corruptos,  outros,  pela  qualidade  noci- 
vos, de  que  resultavão  doenças  de  tão 
má  qualidade,  que  os  sãos  recebião  maior 
damno  do  contagio,  que  da  hostilidade.» 
Ibidem,  liv.  2.  —  «E.eprehendião  os  pri- 
meiros, que  assentarão  pazes  com  o  Es- 
tado, e  aos  que  agora  intentavão  que- 
brallas;  estes,  porque  não  sabiào  guardar 
a  fé,  nem  aquelles  conhecer  a  injuria. 
Outros  (como  costuma  succeder  nas  cou- 
sas incertas)  discorrião  ao  contrario,  e 
acliavão  tantas  razões  para  a  guerra, 
como  para  a  victoria.»  Ibidem.  —  «O 
Governador  ainda  peleijava  no  Campo, 
soUicito  da  victoria  dos  seus,  certo  na 
sua,  quando  lhe  chegou  aviso,  que  a  Ci- 
dade estava  já  rendida.  Mas  Kuraecão, 
pondo  tropeços  á  victoria,  tornou  a  re- 
bentar, como  mina,  com  oito  mil  solda- 
dos, ordenando-se  em  forma  de  dar,  ou 
esperar  nova  batalha;  que  era  o  poder 
tão  grande,  que  das  reliquia^  do  seu  es- 
trago fez  outra  nova  guerra.»  Ibidem,  liv. 
3.  —  aO  Padre  Xavier  o  socega.  Pro- 
gnostica a  victoria ;  e  annuncia  o  modo 
delia.  Cuidados  do  Hidalcão.  Manda  gen- 
te á  terra  firme.  D.  Diogo  de  Almeida 
lhe  sahe.  O  Governador  o  faz  recolher; 
e  põem  esta  guerra  em  conselho.  Dilata- 
se  para  outro  tempo.  Exercita  guerra  na 
paz.  Favorece  os  soldados.  Tem  avisos 
de  Diu.  Communiea-os  ao  Senado,  e  pe- 
de-lhe  ajuda.»  Ibidem,  liv.  4. — «Sobre- 
saitado  o  Hidalcão  com  a  presença  do 
Meále  em  Goa,  tentou  com  o  remédio 
das  armas  purgar  estes  receios :  e  por- 
que as  guerras  de  Diu  tinhão  hum  pou- 
co desangrado  o  Estado,  crendo  acharia 
no  Governador  confiança,  ou  descuido 
nascido  das  victorias,  sabendo  a  Cidade 
de  Goa  o  tinha  ausente,  acometteo  as  ter- 
ras de  Bardcz,  e  Salsete,  que  assegura- 
das na  paz,  estavão  sem  defensa.»  Ibi- 
dem. —  «E  ainda  que  prohibiraij  ás  mo- 
Iheres  o  raparse  por  naõ  engrossarem  a 
graça,  que  lhe  dà  a  primeira  lanugem  ; 
e  fossem  contrarias  a  esta  arte  as  leys 
de  Lvcurgo,  e  reputados  por  seos  inimi- 
gos os  povos  Euboicos,  com  tudo  para 
credito  delia  basta  que  Alexandre  Magno 
a  pezasse  em  muyto,  pello  grande  deze- 
jo  que  teve  de  que  os  Macedonios  rapas- 
sem as  barbas,  dando  por  razaõ  que  che- 
gando às  mãos  com  os  inimigos,  podiaõ 
servii'-lhe  os  cabellos  de  preza,  e  por  es- 
ta cauza  perderse  a  victoria,  como  nota 
Plutharco.»  Braz  Luiz  d'Abreu,  Portu- 
gal medico,  pag.  116. 

—  Diz-se   de    vantagem    ganha    sobre 
um  combate  singular. 


—  Figuradamente :  Triumpho  qual- 
quer. 

—  Figuradamente  :  Acto  de  fazer  ce- 
der suas  paixões,  seus  sentimentos  a  al- 
gum dever,  a  alguma  obrigação. 

—  Figuradamente  :  Alcançar  victoria 
das  paixões,   do   inferno,    etc. 

—  Divindade  dos  pagãos,  representada 
sob  a  figura  d'uma  mulher  com  azas,  e 
tendo  uma  coroa  n'uma  mão  e  na  outra 
uma  palma.  — Estatua  da  Victoria. 

Da  in.stavel  Sorte  a  súbita  mudança 
Em  si  vê  de  continuo,  em  si  cõutempla 
Mário  entro  os  restos  de  Carthago  occulto, 
Que  o  triste  pão  mendiga,  onde  a  Victoria 
Lhe  cingira  de  louro,  outr'ora,  a  fronte.  " 

J.   A.   DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,   CaUt.    1. 

—  Syx.  :  Victoria,   triumphx). 

Victoria  é  o  acto  de  vencer,  e  a  van- 
tagem que  se  obtém  sobre  outro,  ven- 
cendo. 

Triumpho  é  a  ostentação  da  victoria, 
ou  a  solemnidade  com  que  ella  se  cele- 
bra em  honra  do  vencedor. 

João  de  Castro  ganhou  a  victoria  em 
Diu,  e  teve  seu  triumjjho  em  Gôa. 

Em  sentido  figurado,  triumpho  ó  uma 
grande  victoria. 

VICTORIADO,  part.  pass.  de  Victo- 
riar.  Applaudido. 

VICTORIAR,  V.  a.  Dar  victoria,  applau- 
dir  dizendo  victor. 

f  VICTORIANNO,  A,  adj.  —  Período 
victorianno ;  multiplicação  de  dous  cy- 
clos,  o  solar  de  vinte  e  oito  annos,  e  o 
lunar  de  dezenove,  que  faz  quinhentos  e 
trinta  e  dous  annos  inventado  por  Victo- 
rio  de  Aquitania,  no  5."  século,  para  a 
festa  da  Paschoa. 

j  VICTORIATO,  s.  m.  Termo  de  anti- 
guidade romana.  Peça  de  moeda  de  pra- 
ta valendo  cinco  asses,  com  a  effigie  da 
Victoria. 

VICTORIOSAMENTE,  adv.  (De  victo- 
rioso,  e  o  sufSxo  << mente»).  De  um  modo 
victorioso,  com  muita  vantagem. 

—  Com  victoria,  com  vencimento. 
VICTORIOSISSIMO,  A,   adj.  superl.   de 

Victorioso.  ilui  victorioso. 

VICTORIOSO,  A,  adj.  (Do  latim  victo- 
riusus,  de  victoria).  Que  ganhou  a  vi- 
ctoria. 

—  Que  alcançou  victoria. 

—  Vencedor. 

VICTRICE,  adj.  f.  (Do  latim  victrix). 
Vencedora,  victoriosa. 

VICTDALHAS,  s.  f.  Vid.  Vitualhas. 

VICUNHA,  s.  /.  Termo  de  historia  na- 
tural. Quadrúpede  das  índias  de  Hespa- 
nha,  cuja  lã  é  finíssima. 

—  Alguns  dizem  vigonha. 

VIDA,  s.  /.  (Do  latim  vita).  O  estado 
do  animal  em  que  faz  as  funcções  natu- 
raes,    e   animaes;    em  opposiçào  á  morte. 


Ja  não  defenderá  somente  os  passos. 

Mas  queimar-lhe-ha  lugares,  templos,  casas: 


940 


VIDA 


VIDA 


VIDA 


Accoso  do  ira  o  oilo,  nilo  vitiido  laH40» 
Aqiiollm  f|U(!  iis  cidad«^  fazem  raaftH, 
l''.ini  (|ui!  OA  «riim,  da  ridn  pouco  r.My.i^vif, 
Cominnttilo  o  l':ic!ii!CO,  c(ii(:  tnm  nfl:iH, 
Poi-  dons  passo»  iriiiiin  tnmpo  :  iiiiin  vo.indo 
D'hum  iroutro,  tudo  inl  dosbarutaiido. 
oAM.,  LU3.,  eant.  10,  est.  10. 

—  f()  Mouro  asHoinbruilo  com  OHta 
rospostíi,  foi-.sc  :i  Ellluv,  r.  t!f(,'iin(lo  we 
(Icpoin  aoiiljii  no  {!on.si!llio  d'EIHtiv,  hou- 
ve fíramlo  confu.são,  porquo  o.s  hoiiicn.H, 
cuja  vida  oní  nofíocio,  u  trato,  seu  voto 
ora  o  (|uo  soinpro  (li.tsoratn,  quo  hg  re- 
mi.sso  tuilo  per  qualquer  soma  de  dinlioi- 
ro.»  Barros,  Década  2,  llv.  G,  cap.  .T. 

E  asHÍ  d'honra  c  d'amor  estimulado 

Faz  com  tal  apparato  ertta  partida, 

Qual  convinha  ao  grào  pr(;í;o,  ao  graúdo  estado 

Daipiolla  com  niiom  manda  o  go.sto  c  a  vida: 

K  vendo  olU^  ja  tudo  apparclhado, 

l'j  quo  il  partida  o  vento  as  uáort  convida, 

Mauda-a.H  ii-  o  outro  dia  naquella  hora 

Quo  deixa  o  bcUo  espoáo  a  bolla  Aurora. 

KBANCI3C0   d'aNDBADK,   I-BIMEIRO  CEBCO  DE  DIU, 

oant.  3,  est.  98. 

O'  prcaento  do  Cco,  docn  Virtudr^, 

O'  voz  do  consciência,  ú  voz  do  Kteruo, 

Trazes  ao  Mundo  a  paz,  sabor  á  vida. 

J.    A.    DE   MACKDO,   MKUITAÇÂO,   Cant.    1. 

—  Tirar  a  vida  a  alguém;  matal-o, 
pi-ival-o  da  vida. 

Com  força  não,  com  inauha  vergonhosa 
A  vida  lhe  tiraram,  que  os  espanta; 
Quo  o  grande  aperto  em  gente,  inda  que  houroaa, 
A's  vezos  leis  magnânimas  quebranta. 
«AU.,  LU».,  oant.  8,  est.  7. 

—  oE  tomando  o  eainiuho  para  Lis- 
boa, onde  el  Rei  estava,  foi  avisado  quo 
levasse  comsirro  {^cnte  do  f^uerra  porque 
seus  contravio.s  tratiivão  de  lhe  tirar  a 
vida.»  Frei  líeroardo  de  Rrito,  Elogios 
dos  reis  de  Portugal,  continuadua  por 
D.  José  liarhosa.  — ■  «Esta  condição  me 
pareceu  mais  acerba  que  a  morte,  e  ex- 
clamei:  Tiranos,  ó  rei!  a  vida,  mas  não 
nos  tractes  tam  indig^naraente:  sabe  que 
sou  Telemaco  tilho  do  sábio  Ulysses  rei 
de  Itliaca:  bu-^co  por  todos  oa  mares  a 
meu  pae;  e  visto  não  poder  encontral-o, 
nem  tornar  á  minlia  pátria,  ou  evitar  o 
captiveiro,  priva-me  antes  da  vida,  que 
ja  me  c  insnpportavel.»  Telemaco,  tra- 
ducção  de  Manoel  do  Sousa,  e  Franci.ico 
Manoel  do  Nascimento,  liv.  2. 

—  Foliando  da  vida  do  hoiiiem.  —  «E 
assim  como  fallando  Job  do  ser,  nasci- 
mento, o  vida  do  homem  :  Hotno  natiis 
de  muliere,  bmvi,  vivens  tcmpore,  naõ 
apontou  causa  alguma,  suppondo  que  era 
a  vontade  de  Deos:  assim  lallando  das 
misérias:  Iicjd-elur  imthis  miseriis  :  a  naõ 
apontou,  suppondo,  que  era  a  disposição 
do  mesmo  Senhor.»  i';ulro  Jlauoel  Ber- 
nardes, Exercícios  espirituaes,  part.  1, 
pag.  242. 


—  Oi  prazeret  da  vida ;  aH  alc)çria« 
d'o8to  mundo.  —  t Por  isso  reputo  como 
monstruos  aqueilo.4  coraço'!n8  inBCUHivoiri, 
o  capaises  d.;  resintir  aos  cfreitofl  do  sou 
poder,  ou  como  doentes  atacados  de  hum 
letargo,  os  quacs  sem  receberem  a  morto 
estão  privados  de  todos  os  pra/.cros  da 
vida.»  (Javuileiro  d'01ivoira.  Cartas,  liv. 
1,  n."  2'J. 

—  Vida  d$$«ançada;  viila  soccj^ad», 
tranquilla. 

Kauorccido  cstaiia  o  Sousa  e  posto 
Km  grão  contrntc,  o  viita  descansada. 
Abastado  de  bens,  logrando  iielles 
Tiio  formosa,  c  tio  branda  companhia. 
(,'om  su|)ita  mndan(;a  a  pos  em  tanta 
K  tal  tribulação,  tendo  presente 
A  cada  passo  a  morte  (|ue  descanso 
Lhe  fora,  por  não  vt^r  tanto  mal  junto. 

uouiK  ar.AL,  NAurHAuio  i>K  si'.i'L!L.VKnA,  oant.  H. 

—  Ter  vida;  ter  modo  do  vida,  fazen- 
da, património. 


Tanto  em  mi  pôde  este  amor. 
Que  a  tcjilio  recebida  ; 
E  se  o  erro  icravo  for, 
Aqui  ciucro  ser  pastor : 
Dcixe-rac  ter  esta  vida. 

cAu.,  i-iLODKuo,  act.  4,  BC.  G. 


—  As   vidas  escapavam;  salvavam-se. 

Eis  as  lanças  e  espadas  retiniam 
Por  cima  dos  arnezes:  bravo  estrago  ! 
Chamam,  segundo  as  leis  que  alli  seguiam, 
Huns  Mafamedo,  c  os  outros  Sauct-lago ; 
Os  feridos  com  grita  o  ceo  feriam. 
Fazendo  de  seu  sangue  bruto  lago, 
Onde  outros  meios  mortos  se  atfogavam, 
Quando  do  ferro  as  ridos  escapavam. 
0A51.,  Lus.,  caut.  3,  est.  113. 

—  Outra  vida  íyiíe  ha  de  vir;  outra 
vida  futura,  depois  thi  morte. —  nConse- 
Ihoyro,  Ueos,  Forte,  pay  da  outra  vida 
que  ha  de  vir,  Princijio  lie  paz.  Também 
na  oraçam  <ia  me.sma  Missa  .«e  toca  a 
dita  coniparaçam,  dizendo  assi  a  Sancta 
Madre  igreja  ardentissiuiamentc.  Deos 
(luc  esta  saoratissinia  noyte  fizeste  escla- 
recida com  o  nascimento  da  verdadeyra 
luz,  danos  pois  na  terra  conhecemos  o 
inv.sterio  da  luz,  que  também  no  ceo  tro- 
zemoa  de  seus  prazeres.»  Frei  Bartholo- 
meu  dos  Martyres,  Catecismo  da  doutri- 
na christã. 

—  Bioprapida,  historia  do  que  alguém 
obrou  liurante  a  sua  vida.  —  «Remeto  o 
mais  deste  negocio  aos  que  depois  de  seu 
falecimento  tomarem  a  cargo  escrcuer 
por  extenso  toilo  o  proce.?.-o  de  sua  vida, 
e  taudiem  aquelles  que  composerom  a 
Chroiuca  dei  Hei  dom  Sebastião)  seu  so- 
briniio,  onde  como  em  sou  próprio  lugar 
se  pudera  com  mor  licença  dizer  o  modo 
e  maneira  com  que  gouernou  o  tempo 
que  lhe  couber  uesto  tâo  trabalhoso  car- 
go.»   Damião   do   (ioos,   Chrouica   de  D. 


Manoel,  part.  3,  cap.  27.  —  t E  aindft 
que  a  vida  doo  Sant<JM  he  huma  d&i  prin- 
ci[)acs  cousas  porque  lhes  chama  Christo 
sal  da  terra,  também  a  sua  doutrina  be 
grande  parto  para  lhe»  quadrar  ente  no- 
me, e  de  luz  do  mundo,  pois  o  cmkc- 
cimento  de  Doou,  c  do  seus  mii>t«rÍ9)i,  do 
qual  naco  o  seu  amor  o  temor,  ]>olias 
orelhas  entra  na^  aluíam,  como  di2  B.  Pau- 
lo, e  polia  jtregaçAõ.»  Paiva  d'Andrade, 
Sermões,  part.  1,  pag,  laf». 

—  T*r  vida ;    vivor,    dar   signaoé    de 
vida. 


Os  Christilos  de  que  ja  disse  (friniciro 
Que  &  fusta  de  líaudur  vAo  dando  c-iça. 
Não  querendo  nenhum  ver  derradeiro, 
A  grilo  pressa  os  detciu  c  os  embaraça. 
E  juntamente  o  fracr>  c  ril  Rcmoiro 
(A  qnc  enliio  com  cruel  morte  ameaça. 
Quando  tinha  indu  riila,  o  mo;o  ousado i 
Scguo  o  caminho  monos  u|irciMulo. 

FBAIfCISCO  dVkDRADE,    rSIMKIBO  OMCO   III!   DIC, 

eant.  7,  est.  49. 

Cousa  he  esta  que  espanta  em  b4  oavílla 
E  inda  alguém  a  terá  por  de.satino, 
Mas  bem  o  prova  Uarpalicc  c  Camilla 
V.  a  que  foi  nmlher  d'hum.  mie  d'outro  Sino. 
l'orque  a  causa,  a  quem  bem  qner  »dvertilla. 
Do  esforço  destas,  d'alto4  peitos  dino, 
S/j  de  necessidade  foi  nascida 
Ou  do  Reino,  ou  do  pac,  ou  do  ter  vida. 
iBiDiM,  cant.  16,  est.  3. 

—  Escapar  com  vida ;  nalvar-se  do  pe- 
rigo da  morto.  —  tAchon-se  este  Princi- 
pe  em  cõpanhia  delRoy  D.  Koilrigo  seu 
primo,  na  grande  batalha  de  (íuadalete, 
e  quando  se  acabou  de  penler,  retirado 
em  cíjpanhia  dos  que  se  salvarão  com  o 
beneficio  da  noite,  se  foy  direito  a  Tole- 
do, crendo,  que  se  eIRey  escapara  com 
vida,  não  deixaria  de  acudir  alli,  como  a 
lugar  em  que  deixara  a^  melhores  pren- 
das que  tinha.»  Monarchia  Lusitana,  liv. 
7,  cap.  d. 

—  Partir  da  vida  presente;  morrer, 
expirar,  dar  a  alma  ao  Creador,  perecer. 
—  «Chegado  a  noventa  e  nove  annos  de 
sua  idade,  segundo  a  melhor  opiniSo,  se 
partio  da  vida  presente  na  Cidade  de 
Epheso,  couio  he  a  mais  certa  e  comum 
opinião  em  que  com  Tertuliauo,  S.  Jcro- 
nvmo,  Euthimio  e  Be<ia  conforma  grande 
immcro  de  Santos.»  Ilonarchia  Lusitana, 
liv.  6,  cap.  7. 

—  Frender-se  á  vida ;  ligar-se  a  ella, 
unir-se  a  ella.  —  «Mas  nem  esse  retiro 
me  deixarão ;  quo  não  pude,  nem  tratei 
lie  me  esquivar  ao  decreto  que  encAroo- 
rava  todos  os  parentes  lio  emigrados :  nem 
eu  j:l  me  prendia  á  vida,  senão  por  um 
vinculo  de  religiosa  resignação :  e  vendo- 
nie  privada  da  consolação  de  receber  no- 
vas do  meu  Adolpho,  angustia'ia  com  08 
fados  que  o  aguardarão,  houvera  agra- 
decido aos  venlugos  a  vida  que  me  tiras- 
sem. Nesses  instantes  horrorosos  mais 
ânimo  era  necessário  para  j>odir  vida, 
que  para  dispôr-se   á  morte.»    Francisco 


VIDA 


VIDA 


VIDA 


941 


Manoel  do  Nascimento,  Successos  de  ma- 
dame de  Senelerre. 

—  N'esta  vida;  n'ostò  muudo,  u'este 
valle  de  lagriuiaa. —  «O  nome  do  maclio 
era  Qniay  Xingatalor,  e  o  da  fêmea, 
Aponcapatur,  e  pregnntando  nós  aos  cliins 
pela  sigiiilicação  daquellas  iiguras,  iios 
responderão,  que  o  maclio  era  o  que  as- 
soprava com  aquellas  bochechas  tão  in- 
chadas o  fogo  do  inferno  para  atormentar 
as  almaa  daquelles  que  nesta  vida  lhe 
não  davão  esmola,  e  a  fêmea  era,  a  por- 
teyra  do  inferno.»  Fernão  Mendes  i^into, 
Peregrinações,  cap.  90.  —  «Diz  Aristó- 
teles no  decimo  das  Ethicas,  que  neste 
conhecimento  e  contemplaçam  consiste 
principalmente  a  mais  excellente  bem- 
aueaturança  que  se  pode  nesta  vida  al- 
cançar. E  porque  morrer  he  apartar  se 
a  alma  do  corpo,  e  nesta  contemplaçam 
está  a  alma  separada  delle,  deixando  os 
sentidos,  c  aleuantandose  no  entendimen- 
to, alienada  do  exterior  que  distrahe,  c 
metida  no  interior,  que  vne,  posta  no 
centro  de  si  mesma,  chamou  Sócrates  a 
isto  meditaçam  de  morte.»  Heitor  Pinto, 
Dialogo  da  Lembrança  da  morte,  cap. 
7.  —  «E  quem  chegar  a  esta  felicidade, 
logrará  a  mayor  bemaventurança,  ainda 
nesta  vida,  e  livrarse-ha  dos  infernos 
deste  muudo;  que  infernos  vem  a  ser  to- 
das suas  couzas  nas  penas,  moléstias,  e 
tribulaçoens,  que  causaõ,  até  quantlo  se 
gozaõ;  e  por  isso  com  muita  propriedade, 
e  razão  lhes  chamou  Chriato  espinhos.» 
Arte  de  furtar,  cap.  70. 

—  Privar  da  vida;  matar,  tirar  a  vi- 
da. —  «Contra  este  se  levantou  Abdaia, 
de  geração  de  Abem  Alabeci  outro  neto 
de  Mafoma,  que  rompendoo  em  batalha, 
o  privou  lio  império  e  vida,  e  neste  tem- 
po se  dividio  o  senhorio  dos  Mouros  em 
tantos  Príncipes,  que  veyo  a  diminuir 
cm  grande  parte  o  estado  e  grandeza  de 
sua  monarchia.»  Monarchia  Lusitana,  liv. 
7,  cap.  10. 

—  Ojjerecer  as  vidas;  dar  como  oífer- 
ta  as  próprias  vidas.  —  «O  Governador 
mandou  juntar  o  governo  da  Cidade  a 
quem  deu  cópia  da  carta  de  D.  João  Mas- 
carenhas, pedindolhe  o  ajudassem,  para 
acabar  de  domar,  ou  reduzir  este  inimi- 
go ;  e  ainda  que  esta  exacção  os  tomava 
sobre  tão  fresco  empenho,  foi  a  proposta 
do  Governador  tão  grata  a  todos,  que  lhe 
offerecêrão  as  vidas,  e  as  fazendas,  co- 
mo se  fora  o  serviço  do  Estado  alimento, 
e  herança  dos  tllhos  que  criavão. »  Jacin- 
tho  Freire  d' Andrade,  Vida  de  D.  João 
de  Castro,  liv.  4. 

—  Guardar  as  vidas ;  poupal-as.  — 
€  Afonso  dalbuquerque  se  foi  a  cidade  de 
Goa,  onde  mandou  fazer  execuçam  nos 
arrenegados,  guardandolhes  as  vidas,  co- 
mo IJcara  assentado  nos  concertos  das 
pases,  mas  pur  exentplo  doutros  não  fa- 
zerem o  que  estos  fezerâo,  lhes  mandou 
com  pregão  cortar  as  orelhas,  narizes,  o 


as  mãos  direitas,  e  os  dedos  polegares 
das  esquerdas.»  Dami^^o  de  Góes,  Chro- 
uica  de  D.  Manoel,  pirt.  3,  cap.  3. 

—  O  tempo  que  dura  a  vida. 

Este  animal  furioso 

bo  uamora  sem  concerto, 

Poii  uão  ama  em  logar  corto. 

Este  animal  delicado 

Não  sei  porque  cansa  a  vidji 

Traa  quem  tem  certa  guarida. 

GIL  TIOHTI,  rABÇXS. 

—  «O  gigante  vendo  morta  a  cousa  que 
mór  bem  queria,  e  em  quem  queria  sua 
vida  se  sustinha,  não  podendo  relrear  es- 
ta dôr  com  o  pi-azer  do  nascimento  de 
seu  tilho,  teve  tamanho  poder  a  paixão, 
que  em  poucos  dias  morreu.»  Francisco 
de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaíerra,  cap. 
7(3.  —  "Queria,  senhora,  que  me  disseseis 
que  esperança  terá  minha  vida,  pois  a 
que  me  sostem  té  agora,  é  a  em  que  me 
pozestes  vós,  que  tào  confiado  me  fez, 
que  poude  passar  os  dias  e  suster-me  con- 
tra o  cuidado  que  me  atormenta.  Quem 
tão  bem  sabe  mostrar  o  que  quer,  disse 
Dramaciana,  uão  se  ha  o  de  tratar  com 
esquecimento.»  Ibidem,  cap.  135.  —  oOs 
corações  grandiosos  nam  podem  repou- 
sar, passam  esquivas  penas  :  encurtam  a 
vida  por  estenderem  a  fama.»  D.  Joan- 
na  da  Gama,  Ditos  da  freira,  pag.  36. 
—  «Foi  devotissimo  de  tí.  Lazaro,  e  por 
seu  amor  fazia  grandes  estremes  de  cari- 
dade, o  que  lhe  o  Santo  pagou  appare- 
cendolhe  duas  vezes  na  vida,  e  anuun- 
ciando-lhe  o  tempo  de  sua  morte,  e  na 
agonia  da  qual  o  achou  sempre  presen- 
te.» Fr.  iiernardo  de  Brito,  Elogios  dos 
reis  de  Portugal,  continuados  por  D.  Jo- 
sé Barbosa.  —  «Diga  pois  cada  hum  con- 
sigo: De  que  me  queixo,  de  que  me  des- 
consolo tanto ;  ou  porque  se  me  faz  taõ 
difQcultoso  o  padecer  V  Naò  he  certo  que 
esta  vida  acaba  brevemente,  e  a  outra 
dura  para  sempre'?»  Padre  Manoel  Ber- 
nardes, Exercicios  espirituaes,  part.  1, 
pag.  241.  —  oD.  Afonso  etc.  Carta  de 
Fornam  lopez  guarda  das  escripturas  da 
Torre  perque  o  dito  senhor  pelos  gran- 
des trabalhos,  que  elle  a  tomado,  e  ain- 
da a  de  tomar  em  fazer  a  Chronica  dos 
feitos  dos  Reis  de  Portugal  lhe  pos  de 
mantimentos  em  cada  hum  mes  em  toda 
sua  vida  em  a  sua  portagem  de  Lisboa 
quinhentos  reaes  de  mantimentos.»  Da- 
mião de  Góes,  Ghronica  de  D.  Manoel, 
part.  4,  cap.  38.  —  «E  a  vida  dura  mui- 
to mais.  Nam  he  inconueniente,  respon- 
deu o  mathematico,  chamar-se  huma  mes- 
ma cousa  longa,  e  breue,  segundo  diuer- 
sos  respeitos :  hum  monte  podese  chamar 
alto  em  re.ípeyto  doutro  baixo,  e  baixo 
em  respeito  doutro  alto,  como  allirma 
Aristóteles  nos  predicamentos  :  assi  o 
tempo  de  dez  aunos  he  logo  cotejado 
com  hum  mes,  mas  em  cõparaçã  da  eter- 
nidade diz  Séneca  escreuendo  a  Lucillo, 


que  ho  tam  breue,  que  se  copara  a  hr.m 
põto  e  menos  ainda...»  Heitor  Pinto,  Dia- 
logo da  Justiça,  cap.  1. —  «Pertendia 
V.  M.  fidelidade  de  sua  Fermosa?  Isto 
não  seria  erio  se  ella  não  tivesse  tida 
outros  amores  que  os  seus,  e  se  V.  M. 
não  tivesse  também  amado  outra  pessoa 
em  toda  a  sua  vida ;  porem  nós  sabemos 
que  ella  teve  já  diíferentes  inclinaçoens 
que  acabarão,  e  apesar  de  huma  expe- 
riência convincente,  imaginava  V.  M. 
que  devia  durar  para  sempre  o  amor  que 
lhe  inspirava.»  Cavalleiro  de  Oliveira, 
Cartas,  liv.  2,  n."  99.  —  fComo  eu  não 
acceitei  o  offerecimento  de  M.  Birtou, 
que  deixava  comigo  qual  de  suas  filhas 
mais  quadrasse  para  minha  companhia, 
fiquei  só  na  minha  quinta  :  que  situações 
ha  na  vida,  em  que  dá  menos  enojo  a 
soledade,  que  as  distracç!5es  a  que  por 
condescendência  nos  prestámos,  sem  qne 
estas  nada  obstante  produzão  efteito  al- 
gum nos  pensamentos  que  incessante  vos 
oceupào.»  Francisco  Manoel  do  Nasci- 
mento, Successos  de  madame  de  Sene- 
terre. 

—  J£m  vida ;  em  quanto  vivo,  duran- 
te o  tempo  em  que  vivia.  —  Em  vida  te 
adorou.  —  «Ficou  o  Reverendo  Padre 
Pregador  attonito  com  tal  caso,  que  hou- 
vesse homem  no  mundo,  que  restituísse 
em  vida,  e  disso  aos  ouvintes  milagres 
do  sugeito ;  e  que  podendo  melhorar  de 
capa  com  aquelle  achado,  o  naõ  fizera, 
estimantlo  mais  a  paz  de  sua  alma,  que 
commodo  de  seu  corpo,  e  que  em  hum 
daquelles  eraõ  bem  empregadas  as  esmo- 
las.» Arte  de  furtar,  cap.  1. 

Em  rida  to  adorou  ;  na  morte...  A  morto, 
Quem,  senão  tu,  á  ingrata  ih'a  ha  causado? 
Saudades  a  privaram  da  existência. 
Cousola-me  que  ao  monos  não  gosaste 
Tanto  amor,  tenta  fé,  tanta  belleza, 
Que  uào  mer'cia3,  não.  So  digno  d'olla 
Kouve  mortal,  a  mim  que  nào  a  um... 
GABKETT,  CAMÕES,  cant.  9,  cap.  12. 

—  Vida  solitária;  vida  isolada,  entre- 
gue á  solidão,  íio  estado  de  isolamento. 
—  «Empédocles  Agrigentino,  discípulo 
que  foy  de  Pithagoras,  como  escreue  Thi- 
meo,  nunca  quis  aceptar  o  rejmo,  que 
lhe  dauam,  como  o  afBrma  Xãto  no  liuro 
que  fez  de  seus  louuores.  Estimou  tãto 
a  vida  solitária,  que  a  preferio  a  toda  a 
potencia  e  riquezas  do  mundo.  Estado 
Demétrio  Phalereu  desterrado  no  Egy- 
pto,  depois  de  ter  gouernado  Atheuas, 
foy  o  alli  ver  Crates  o  philosopho,  e 
dissera  altas  cousas,  e  tractou  tã  graues 
matérias,  que  disse  Demétrio,  como  o  re- 
fere Plutarcho. »  Heitor  Pinto,  Dialogo 
da  Vida  solitária.  —  «E  ainda  que  no 
principio  còtradissemos  vossa  opinião,  nã 
vos  pareça  que  estauamos  cõtrayros  a 
ella,  que  bem  sabíamos  quãta  excellen- 
cia  tem  a  vida  solitária  sobre  a  publica 
e  secular,  mas  quisemos  oppugnar  vossa 


942 


VIDA 


VJDA 


VIDA 


MOiitenya  porá  vermos  a  oratória  com  quo 
a  dcfoiídicif»,  quo  certo  nos  satisfez  mui- 
to. Ao  iiicnos  cu,  (iiáso  o  FríiiiKMiífo,  te- 
nho titto  cõtoiítainunto  eõ  vo.s  ouuir,  (|ue 
nil  sinto  aí;ora  cousa,  (|uc  mo  tàto  pode- 
rá dar.»   Ibidem. 

—  Perder  a  vida  ;  morrer,  privar-se 
d'eila,  licar  sum  vida. 

Noin  »i'>inoiite  fallar-to  a  dura  uiortc 
Mb  deixou,  f)uu  aprcrtsuda  o  negro  manto 
Lanijiir  sôbrc  oh  tcui!  ollios  coimciitisti;. 
Oh  mar  !  oli  coo !  oh  minha  c-tcura  sorte ! 
Qual  vida  pordorci  (|iic  valha  tanto, 
Se  inda  tcuho  por  pouco  o  viver  triste  V 

CAM.,  SONETOS,  U."    170. 

—  «Com  este  pensamento  resolveu-se 
a  perder  antes  o  lleyno,  o  com  clle  a 
vida,  do  que  viver  sem  iionra  iivtamado, 
o  abatido ;  ne^ou  o  tributo  que  costuma- 
va papir,  e  prevendo  o  que  lhe  havia  de 
Bucctder,  ajuntou  o  melhor,  c  mais  co- 
pioso exercito,  quo  lhe  foy  possível.» 
Conquista  do  Pegú,  cap.  2. 

—  /Salvar  as  vidas  ;  escapar  da  morto, 
livrar-se  de  morrer.  — «Somente  lujuella 
parto  per  que  ellos  ])odiam  tornar  :í  for- 
taleza, mandou  pòr  nclla  fo^o  pi^ra  licar 
por  defensão  entre  ellc,  c  os  imiíjjos,  em 
quanto  os  nossos  a  esbulhavam,  temendo 
que  andando  neste  fervor  de  esbulhar 
tornassem  sobre  elles;  mas  como  todos 
leravam  mais  cuidado  em  salvar  as  vi- 
das, que  na  fazenda  que  lhes  ficava  ti- 
veram 03  nossos  largo  tempo  de  prear  á 
sua  vontade.»  Barros,  Década  2,  liv.  9, 
cap.  1. 

—  Rogar  a  Deus  j)da  vida  e  saúde 
d'al(jiicin;  pedir-lhe  para  que  lhe  empres- 
te a  vida,  para  que  dure  por  muitos  an- 
nos.  —  «Assim  que  a  v.  m.  caberá  a 
maior  e  principal  parto  do  merecimento 
d'c3ta  santa  obra :  e  todos  nós  ficaremos 
com  nova  obriga^rio  se  roj^armos  a  Deus 
pela  vida  e  saúde  de  v.  m.  que  o  Senhor 
guardo  por  muitos  annos,  como  havemos 
mister.  For  sor  a  hora  que  é,  n.ão  vou 
levar  este  papol,  mas  estimarei  que  v. 
m.  mande  dizer  por  palavra  peio  porta- 
dor quando  o  irei  buscar.  Collegio  õ  de 
Julho  de  l(i52.»  Padre  António  Vieira, 
Cartas,    n."  G. 

—  Vida  doce;  vida  agradável,  alegro. 

E  se  huma  condi(;ão  endurecida 
Também  me  ucga  a  morto  por  meu  dauo. 
Oh  que  doce  morrer!  que  doce  vidai 

CAH,  GLEQIA  5. 

—  .fl  justiça  é  a  raiz  da  vida.  —  «E 
logo  nuiis  abaixo:  Bomaucnturados  sam 
08  quo  padecem  por  fazerem  justi(.'a.  Sam 
Gregório  nos  moraos  diz  quo  a  justiça  he 
paz  do  pouo,  firmeza  da  pátria,  liberda- 
de da  gente,  temperãni,a  do  ar,  sereni- 
dade do  mar,  ft-rtolidade  da  terra.  Sam 
loara  Chrvsostomo  diz  quo  a  justiça  he 
raiz  da  vida.   Sancto  Isidoro  affirma  que 


he  a  ordem  e  i^foaidado,  com  quo  o  ho- 
mem se  ordena  bem,  cm  todas  as  cou- 
sas.» Heitor  1'iiito,  Dialogo  da  Justiça, 
cap.  1. 

—  Memoria  de  su<t  vida.  —  «CtdebramoH 
o  festejamos  o  nascinicnto  do  gloriosissi- 
nio  liaptista  do  Senhor.  E  sem  duuida  não 
cõuem  que  passe  este  dia  sem  alguma  me- 
moria do  suas  façaidias,  de  sua  vida  • 
doutriua  pois  foi  tal  que  mereceo  que  o 
Saiuador  do  mundo  dcllo  preegasBc.»  Fr. 
Hartholoniiíu  dos  Martyrcs,  Catecismo  da 
doutrina  christã,  liv.  2. 

—  (Iranijear  a  vida;  trabalhar  por  a 
conseguir,  por  a  obter. 


E,  80  para  isto  só  pranpeio  a  vida. 
Muito  melhor  partido  me  seria 
Antes  de  mais  jxírdor  vél-a  perdida. 

FKRSÃo  SOnoriTA,  POF.SUS  T.  PROSAS  IHKDITAS, 

pag.   111. 


—  O  procedimento  moral,  religioso.  — 
«E  foi  sepultado  em  a  uilla  de  Lagos  e 
dahi  passado  ao  mosteiro  de  sancta  Ma- 
ria da  Victoria,  a  que  chamaõ  a  Bata- 
lha, na  capclla  dellley  seu  padre.  O  qual 
Infante  e  Frincipc,  de  grandes  cn)prc- 
zas  :  segundo  suas  obras  e  vida,  douemos 
crer  que  está  cm  o  Paraíso  entro  os  elei- 
tos de  Deos.»  Barros,  Década  1,  liv.  1, 
cap.  10.  —  «E  este  rio  Çanagá  per  a  di- 
uisaõ  nossa  he  o  quo  aparta  a  terra  dos 
Mouros  dos  negros,  posto  quo  ao  longo 
de  suas  agoas  todos  saõ  mestiços,  em 
cor,  vida,  o  custumes,  per  razão  da  ci'>- 
pula  que  segundo  custunie  dos  Mouros 
toda  molher  accoptão.»  Ibidem,  liv.  3, 
cap.  8. 

—  Dar  a  vida  ;  olVerecel-a.  —  «  Se- 
nhora, disso  Florendos,  inda  que  a  vi- 
da nào  se  ha  do  dar  a  quem  em  más 
obras  a  desjiende,  vós  valeis  tanto,  que 
se  vos  nào  deve  negar  nada.»  Francisco 
de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap. 
102. 

Não  fazem  os  Chriatãos  o  que  pretendem. 
Que  os  prevenidos  Turcos  os  miUtratào, 
E  inda  c|ne  duramente  se  defendem 
Alguns  feridos  vão,  hum  30  lhes  matão ; 
Alguns  Turcos  também  alli  se  estendem 
Que  as  almas  das  mortaes  prisões  desatão, 
E  na  infernal  o  eterna  são  uu^ttidas  ; 
Alguns  só  dão  o  sangue,  c  não  as  vidas. 

FBANCISCO  d'a:<DBADU,   PKIMElaO  CEKCO  DE   DIU, 

caut.  17,  est.  28. 

—  «.A.te  quo  pouci>  a  pouco  so  foy  des- 
fazendo aqucUe  bõ  uuiuimento,  o  qual 
acabado  começou  aquolla  espantosa  cruel- 
dade, o  dominou  aquella  fera  e  diabólica 
impiedade,  da  qual  ostà  cucos  os  liuros. 
E  polo  còtrayro  Oesar  foy  tà  humano 
que  a  seus  projjrios  innuigos  nào  somen- 
te perdoou,  mas  iiõrou.  Deu  a  vida  a 
quem  lha  queria  tirar,  fez  hora  a  quem 
lha  queria  fazer  perder.»  Heitor  Pinto, 
Dialogo  da  Justiça,  eap.  9. 


—  O  tangue  truz  ti  leva  a  vida;  traz 
8Í  rouba  a  vida,  CNgota-a. 

Corre  o  sangue  in6el  em  groiwio  fio 

A  quem  u  ino<;o  di»j  bir^a  Hahida, 

Come\-ji-«o  a  tonur  o  corpo  frio 

A  qu<rm  o  Rangue  traz  h!  levava  a  ruía, 

I'erde  a  diT  natural  a  agua  do  rio 

E  de  branci  nn  purpur<-a  he  convertida, 

E  o  contrario  á  inãcl  face  acontcci] 

Quo  sendo  antes  purpúrea  ainarclleee. 

r.  D'AxnRAb>,  HHiuriao  ceacu  i>e  nir.cant.  17, 
est.  20. 


—  A  tspumo»a   vida  envoUa  em    ntgro 
satigue  da  ferida. 


Te  quo  de  um  bote  o  cão  forte,  c  ncrroao 
Aberto  cahe,  tingindo  o  «angue  a  terra, 
Onde  lan(;jiva  a  cspumo.4a  vida 
Envolta  cm  ucgro  sangue  da  ferida. 

OADBIEL  FEBKIUA  DE  CASTBO,  «LTMLa,   Callt.   7, 

est.  3'J. 


—  Alimento,  bebidas. 

—  Vida  boa ;  vida  regalada,  ou  mo- 
ralmciite  virtuosa. 

—  Vida  futura;  depob  da  morte. 

—  Fazer  vida  de  piulir;  ganhar  a  vi- 
da mostraudo-se  á  compaixão  dos  bons. 

—  Mudo  de  vida ;  estado  que  dê  com 
que  se  sustente  a  vida. 

—  A  guarda  da  vida  do»  nottot.  — 
«ElRei  dom  Manuel  como  tinha  sabido 
os  grandeã  trabaliios  que  Trimumptara 
Rey  de  Cochij  passara  na  guerra  que  lho 
o  Çamorij  de  Calecut  fez,  por  lhe  grati- 
ticjir  os  méritos  de  quanta  fó  mostrou  no 
processO  daquella  guerra  acerca  da  guar- 
da da  vida  dos  nossos :  quis  per  o  Viso- 
Rey  dom  Francisco  mandarlhe  mostra 
da  boa  vontade  que  lho  tinha  por  estas 
obras.»  Barros,  Década  1,  liv.  9,  cap.  5. 

—  Em  sua  vida ;  no  tempo  em  que  vi- 
via.—  «Leixou  em  sua  vida  descuberto, 
do  cabo  Bojador  que  está  em  trinta  e 
sete  grãos  d'altura  da  parte  do  Norte,  te 
a  serra  Lioa,  que  est&  em  sete  e  dous 
terços,  que  fazem  de  costa  trezentas  e 
setenta  legoas :  da  qual  serra  o  derradei- 
ro descobridor  foi  hum  Pedro  de  Cintra 
caualleiro  de  sua  casa.»  Barros,  Década 
1,  liv.  1,  cap.  llj.  —  «El  Rey  por  ter  a 
Mina  guardada  fez  crer  em  sua  vida, 
que  navios  redondos  não  podiam  tornar 
da  Mina  por  acaso  das  grandes  corren- 
tes, somente  nauios  latinos,  e  isto  por- 
que em  nenhuma  parte  da  Christandade 
liS  ha  senão  as  earauellas  de  Portugal,  o 
do  Algarue,  e  os  galeOes  de  Roma,  que 
não  são  pêra  nauegar  tam  longe.»  Gar- 
cia do  Rezende,  ChroQica  de  D.  João  II, 
cap^  150. 

—  Vida  gloriosa ;  vida  cheia  de  gloria, 
alegre. 


Andemos  a  estrada  nossa  ; 
Olhae  nào  tomeis  atra*, 
Que  o  imigú 


VIDA 


VIDA 


VIDR 


943 


A'  vossa  vida  gloriosa 
Porá  grosa. 

E  des  o  (rrou.  té  Folosa, 
Homens  de  seis  centas  cores, 
Si  no  jogo  nào  tem  grosa, 
Conversação  perigosa. 
Missa  d'arrenegadore3. 

SX  DE  UIBAKDA,   CABTA  A  ASTOSIO  TT.R- 
KEIRA. 


Lavor  'la  vida. 


Poisar-lhe  o  coração  suavemente 
Sobre  esquecidas  penas,  amarguras. 
Anciãs,  lavor  da  x'idat  —  Oh  gruttas  frias, 
Oh  gemedoras  fontes,  oh  suspiros 
De  namoradas  selvas,  brandas  veigas. 
Verdes  outeiros,  gigantescas  serras ! 
OABBXTT,  cAuÕES,  cant.  õ,  cap.  11. 


—  Vida  commuin;  vida  vulgar,  social. 
—  «No  regaço  da  ordem,  da  equidade, 
da  harmonia  nas  relações  da  vida  com- 
mum,  passou  aninhada  a  tyranuia  sim- 
ples e  culta,  a  tyrauiiia  de  um  só  substi- 
tuta da  de  muitos,  a  tvrannia  respeitado- 
ra do  meu  e  do  teu,  vingadora  dos  cri- 
mes, grandiosa,  illustrada.»  Alexandre 
Herculano,  Monge  de  Cister,  cap.  17. 

—  Vida  eterna ;  a  bemaventurança. 

—  Pena  de  vida;  pena  capital,  perda 
d'eUa. 

—  Vida  eterna ;  vida  que  dura  para 
sempre. 

—  Diz-se  do  estado  dos  vegetaes,  em 
quanto  duram  vegetando,  nutrindo-se,  e 
conservando-se  no  estado  de  perfeição 
natural. 

—  Minha  vida ;  expressão  terna,  e 
carinhosa. 

—  Vida  temporal;  que  acaba  com  a 
morte. 

—  Por  uma,  duas,  ou  três  vidas ;  pa- 
ra o  primeiro  a  quem  se  conceder  a  gra- 
ça, ou  para  seu  herdeiro,  e  para  o  her- 
deiro do  herdeiro. 

—  Vida  de  sempre;  vida  eterna,  e  per- 
petua. 

—  A  liberdade  só  á  vida  entrega. 

Beliza  livre,  e  sem  conhecimento 
Dos  eôeitos  de  Amor,  a  quem  se  nega 
Com  seu  honesto,  e  brando  movimento, 
A  liberdade  só  á  vida  entrega. 
Mas  não  merece  em  fim  meresiroento. 
Quem  também  neste  golfo  não  navega. 
Tirando  o  preço  ás  partes  naturais. 
Que  hamde  vir  por  Amor  a  valer  mais. 

FRASCISCO  BODRIGCES  LOBO,  PEI.MArEKA. 

—  Viver  na  vida  d'alguem;  ter  n'ella 
o  seu  amparo,  felicidade,  prazer;  viver 
por  amor  d'ella. 

—  Fazer  vida  de  soldada);  ser  solda- 
do, viver  como  tal. 

—  Faztr  vida  de  casada;  viver  como 
casado,  satisfazer  aos  deveres  matrimo- 
niaes . 

—  Vida  do  mez;  tributo  ou  serviço 
que  outr'ora  se  fazia;  era  um  dia  de  co- 


mida, ou  a  mantença  em  viveres  guisa- 
dos e  feitos,  como  pào,  etc,  que  se  dava 
ao  morJomo-menor  d'el-rei  um  dia  em 
cada  mez.  —  "Vida.  para  quatro  homens; 
uma  comida  bastante  para  quatro  uma 
vez  ao  dia,  ou  equivalente  ao  que  se  de- 
via dar  em  viandas,    pagado  a  dinheiro. 

—  Termo  de  physlologia.  Vida  orgâni- 
ca; o  conjuncto  das  funcçòes  puramente 
vegetativas.  —  Vida  animal;  o  conjuncto 
das  fancções  de  relação. 

—  Amar  mais  do  que  a  própria  vida  ; 
amar  apaixonadamente. 

—  Termo  de  jurisprudência.  Vida  rui- 
tural;  o  curso  da  vida  conforme  a  natu- 
reza. —  Vida  civil;  estado  que  occupa 
na  ordem  politica  aquelle  que  ainda  nào 
descaiu  d"ella. 

—  Fstar  entre  a  vida  e  a  morte ;  es- 
tar n'um  extremo  perigo,  quer  pela  doen- 
ça, quer  doutro  modo. 

—  Nào  dar  mais  signal  de  vida ;  es- 
tar morto. 

—  Dever  a  vida  o  alguém;  diz-se  d'a- 
quelle  a  quem  fe  conservou  ou  salvou  a 
vida. 

—  Passar  da  vida  á  morte;  morrer. 

—  O  espaço  de  tempo  que  decorre  en- 
tre o  nascimento  e  a  morte. 

—  Uma  parte  considerável  do  curso 
da  vida. 

—  A  existência  terrestre.  —  A  vida 
presente. 

—  Figuradamente :  A  vida  dos  senti- 
dos; os  sentimentos  terrestres  e  munda- 
nos. 

—  A  existência  da  alma  depois  da 
morte.  —  A  -nda.  futura. — A  esperança 
d'uma  outi-a  vida. 

—  O  livro   da  vida. 

—  Figuradamente  :  Renascimento  es- 
piritual, communhào,  baptismo. 

—  Nuirir-se  com  o  pão  da  vida  ;  com- 
mungar. 

—  Principio  de   existência  e  de  força. 

—  Modo  de  viver.  —  Levar  uma  vida 
doce  e  cheia  de  prazeres. 

—  Um  homem  de  má  vida ;  um  ho- 
mem debochado,  sem  morigeração.. 

—  Diz-se  em  relação  ás  occupações  e 
ás  profissões  differentes  da  vida.  —  Uma 
vida  activa.  —  Uma  vide^.  contemplativa. 
—  A  vida  dos  campos. 

—  Na  vida;  no  uso  habitual. 

—  Figuradamente :  Diz-se  do  que  faz 
a  principal  aífeiçào,  a  principal  occupa- 
ção.  —  O  estudo  é  a  sua  vida. 

—  Contou-me  toda  a  sua  vida;  narrou- 
me  tudo  o  que  lhe  succedeu. 

—  Diz-se  também  em  forma  de  jura- 
mento. — 'Sobre  a  vida,  eu  vol-o  deferi. 

—  A  arvore  da  vida ;  thuya.  Diz-se  em 
allusão  á  arvore  da  vida  de  que  falia  a 
Escriptura  Sagrada  e  que  existia  no  Pa- 
raíso Terreal. 

—  Ar).\GIOS  E  PEOVERBIOS  : 

—  Vida  é  prazer  de  quem  nào  tom  sa- 
ber. 


—  N'esta  vida  os  prazeres  são  por  on- 
ças, e  os  pezares  por  arrobas. 

—  Vida  sem  amigo,  morte  sem  castigo. 

—  O  fim  louva  a  vida,  e  a  tarde  o  dia. 

—  Meia  vida  é  a  candeia,  e  o  vinho  é. 
outra  meia. 

—  O  que  em  tua  vida  nào  fizeres,  de 
teus  herdeiros  o  não  esperes. 

—  A  vida  passada  faz  a  velhice  pesada. 

—  Quem  a  fama  tem  perdida,  morto 
anda  em  vida. 

—  Para  prospera  vida,  ai-te,  ordem,  e 
medida. 

^Quem  as  cousas  muito  apura,  não 
vive  vida  segui-a. 

—  Todos  somos  fiJhos  de  Adão,  só  a 
vida  nos  diíFerença. 

—  Darei  a  vida  e  alma,  mas  nào  a  al- 
barda. 

—  Vê  um  dia  do  discreto,  e  nào  toda 
a  vida  do  néscio. 

—  Quem  tem  vida,  a  agua  fria  lhe  é 
mesinha. 

VIDAL,  adj.  2  gen.  Termo  antiquado. 
O  mesmo  que  Vital. 

VIDAMA,  s.  m.  (Do  francez  vidame). 
Aquelle  que  tinha  as  terras  de  um  bis- 
pado, com  a  condição  de  defender -lhe  o 
temporal,  e  o  que  commandava  suas  tro- 
pas. 

—  Aquelle  que  possuia  algumas  d'es- 
tas  terras  erectas  como  feudo  hereditá- 
rio. 

—  O  que  representava  a  pessoa  do  bis- 
po como  senhor  temporal. 

VIDAR,  1-.  n.  Termo  antiquado.  Plan- 
tar vinhas,  e  fazer  mergulhias. 

VIDE,  í.  /.  A  rama  da  videira,  que  se 
separa  d'ella  na  poda. 

—  O  cordão  umbilical,  entre  parteiras. 
VIDEIRA,  s.  f.  Cepa,  que  produz  vi- 
des, vinhedo  e  parras. 

—  Videira  da  cabeça ;  a  videira  velha 
que  se  mette  pelo  pé  mais  na  terra,  do- 
brando-a,  e  cortando-lhe  algumas  raizes. 

■ — Videira  cie  enforcado;  a  que  trepa 
pelas  ai-vores. 

VIDENTE,  s.  m.  (Do  latim  videns).  No- 
me que  pelos  escriptores  sagrados  se  dá 
ao  propheta. 

VIDMA,  s.  f.  Termo  de  anatomia.  Vi- 
de, veia  por  onde  vae  o  sangue  nutrir  o 
feto. 

—  Cordão  umbilical. 

VIDOEIRA,  s.  /.,  ou  VIDOEIRO,  s.  m. 
Termo  de  botânica.  Arvore  que  se  en- 
contra no  Gerez  e  em  Traz-os-Montes. 

VIDONHO,  s.  m.  A  casta  ou  espécie  de 
uvas. 

—  Vidonho  labrusco ;  casta  de  uvas 
agrestes,  incultas. 

—  O  génio,  Índole,  caracter,  a  casta. 

—  Figm-adamente  :  As  pessoas  que  se 
casam  para  Augmentar  a  propagação. 

—  Os  renovos  da  videira,  que  servem 
para  bacello,  e  reformar  as  vinhas. 

VIDRAÇA,  s.  /.  Caixilho  com  pedaços 
de  vidro  para  tapar  as  janellas,   e  por- 


944 


VI DK 


VIER 


VIER 


tas,  conservando  a  luz.  —  «A  justiça  an- 
da pronhc,  o  a»  vezes  pare  monstros, 
porque  concebo  do  O'lios  ou  interesses,  os 
quacs  do  tal  maneira  perturbiini  o  Juizo, 
que  lho  fazem  parecer  iis  cousas,  das  co- 
res que  quorum.  Assi,  disóic  o  inatLcma- 
tico,  como  o  sol,  que  entra  pellas  vidra- 
ças, tal  cor  representa,  quiil  lie  a  'las  vi- 
draças, assi  qu;il  lio  a  ali'i!Íçain,  tal  lio  a 
sentença.»  Heitor  Pinto,  Dialogo  da  Jus- 
tiça, cap.  3. 

—  Fip^uradamonte  :  Moslrar-se  por  vi- 
draças ;   luostrar-so  raras  vezos. 

—  Olhos  (ywe  sem  vidraços  viam  tão 
longe;  oliios  que  viam  sein  óculos  do  vêr 
ao  lonp^e. 

VIORAÇARIA,  *•.  /.  To;las  as  vi<lraças 
de  oilitieids. 

VIDRACEIRO  ,  s.  m.  Homem  que  p3e 
vidros  nos  caixilhos  das  janellasí,  portas, 
ctc. 

VIDRADO,  ]"vt  pass.  de  Vidrar. 

—  <)lh'ix  vidrados;  olhos  (jue  tem  falta 
de  transparência,  c  vSo  quasi  amortecen- 
do. 

—  Agua  vidrada;  doença,  espécie  de 
mornio  que  vem  aos  falcões. 

VIDRAR,  V.  a.  Dar  vidro  á  louça. 

—  |)ar  breu,  ou  betumar  as  talhas, 
vasos  do  barro  para  guardar  vinho. 

—  Vidrarem-se  os  olhos  do  moribundo ; 
terem  parecença  com  o  vidro. 

—  Vid.  Vidar. 

VIDRARIA,  s.  f.  A  fabrica  de  vidros, 
o  o  trabalho  do  os  fazer. 

VIDREIRO,  s.  m.  O  homem  que  faz  vi- 
dros. 

—  Honiom  que  vende  vidros. 

VIDRENTO,  A,  a<lj.  Frágil  como  o  vi- 
dro, exposto  a  quebrar  mui  facilmentL", 
ou  receber  qualquer  lesão,  e  que  para 
evitar  a  qu'bra  requer  o  cuidado,  e  me- 
lindre eoin  que  se  trata  o  vidro.  —  A 
fortuna  <-  vidrenta. 

—  Que  quebra  facilmente  os  seus  de- 
veres. 

—  Condição  vidrenta ;  que  requer  mui- 
to'melindre. 

—  Sujeito  vidrento  ;  sujeito  que  des- 
contia  facilmente,  e  requer  muito  melin- 
dre na  conversaçrio. 

—  Figuradamente :  Mulher  vidrenta ; 
nuilhcr  trai;d  como  o  vidro. 

VIDRILHOS,  s,  m.  plur.  Missanga, 
grãosinhos  de  vidros  que  se  enfiam  coino 
contas,  e  servem  para  vários  adornos  das 
damas. 

VIDRINHO,  *.  m.  Diminutivo  de  Vidro. 
Viilro  poqueno. 

VIDRINO,  A,  (idj.  De  vidro,  <;onio  vi- 
dro. 

VIDRO,  s.  «1.  (Do  latim  f»írtiHi'i.  Corpo 
transparente,  e  frágil  que  se  faz  fundindo 
areia  limpa  com  um  sal  alcalino.  —  «O 
nosso  viÃro  de  Antimonio  Rubeo  athe 
tros  graons ;  a  agoa  bonedicta  de  Rulan- 
do  athe  tros  onças :  o  Vinho  emético  athe 
duas ;  o  tártaro  emético  athe  seis  graons ; 


e  a  Gil  la  de  Thooplirasto  athe  huma  ou- 
tava,  saõ  os  vomitórios  nente  caso  mais 
eíTicazes,  o  mais  approjiriados.*  iiraz  Luiz 
d' A  breu,  Portugal  medico,  pajj.  2Ú7, 
§  00. 

—  Lente. 

Df-o  luz  no  Miiodo 

No  quo  pódí!  alivini,'ar  dn  Astronomia, 
Do  vitlro  i>ort(!iiU»!io  o  olho  dnspido, 
Kllc  i>i'iiiK'.iio  do  Solsticio  o  ponto 
Sobre  11  T('rrn  marcoii;  e  eJlc  primeiro 
O  Koli|Me  assustador  predisse  aos  liomens, 
A  maicba  calculando  u  ctbercoa  orbué. 

J.   A.   OH  MXCBDO,  O  OBIKHTK,    Cant.    2. 

—  ( ienio  agastadiço,  que  quebra  com 
08  outros  facilmente. 

—  i'cça  d'clle. 

—  Vidro  da  vidraça ;  prancha  d'ellc. 

—  Figuradamente:  Um  vaso  de  vidro 
para  cheiros,  aguas,  oloos,  etc. 

—  Cousa  frágil  como  o  vidro. 

—  AdAOIO.S   E  I-UOVEKIJIOS  : 

—  A  nudher  e  o  vidro  sempre  estilo 
em  perigo. 

—  Um  atrevido  dura,  como  vaso  de 
vidro. 

—  Quem  tem  telhado  de  vidro,  n.no 
atire  pedras  ao  do  visinho. 

—  Vidro  quebrado  perde  o  valor,  sol- 
dado nào  tem  graça. 

VIDROSO,  A,  adj.  Vidrento,  frágil. 

VIDUAL,  ciilj.  2  gcn.  De  viuva,  Du  de 
viuvo.  —  Ksfwlo  vidual. 

VIEIRA,  s.  /.  A  concha,  o  de  ordinário 
das  que  trazem  os  romeiros. 

—  Jlarisco  análogo  !Í  amêijoa.  l 
VIEIRINHA,    «.  ./■.  Diminutivo  de  Viei-  | 

ra.  i*equena  vieira.  i 

VIElRO,  «.  m.  Veia,  betíi  do  metal,  ou  ] 
qualquer  mineral,  c  fóssil  nas  minas.  —  I 
cA  ncUa  huma  serra  pequena,  que  de 
huma  banda  tem  vieiro  denxofrc,  e  da 
outra  iiurna  mina  de  sal  em  pedra,  que 
as  nãos  lenam  dalli  por  lastro,  tem  dous 
portos  de  muito  bom  surgidouro,  pêra 
nãos  grai:des,  hum  da  banda  do  Lenan- 
te,  e  outro  do  Ponente.»  DamiSo  do  lioes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  2,  cap.  32. 

—  Figuradamente:  Vieiros  ricos  de 
maior  ganância. 

VIÉÍS  (do  fi-ancez  biais).  Vid.  Viéz. 

VIELAS,  .«./.  ;;/iir.  Quatro  ferros  com 
argolas,  que  gyrani  sobre  o  rodizio  do 
moinho. 

VIELLA,  .<!.  /.  Bèceo,  rua  estreita. 

-,'-  VIER.  Forma  do  verbo  vir  na  primei- 
ra ou  terceira  pessoa  do  singular  do  fu- 
turo do  modo  conjunctivo.  Vid.  Vir. 

•  Quando  o  meu  fim  rtVr.  d;i-mo  a  promessa, 
tiui'  me  h.-ls-do  en\nar  de  Sefrcnas  notícia.  • 

T.   U.    PO   KiSrlMESTO,  OS   MABTTIIES.   1ÍT.    10. 

•{•  VIERAM.  Forma  do  verbo  rir  na 
terceira  pessoa  do  plural  do  pretérito 
perfeito  e  mais  que  perfeito  do  modo  in- 
dicativo. Vid.  Vir.  —  «E,  quando  o  po- 


bre do  homem  se  quer  sahir  do  atoleiro, 
começa   o  outro  ile  novo  a  perguntar-lhe 
novas  da  terra;  e,  bv  por  m>  eiícapar  faz 
quo   as    i:ão   sabe,    puciu-ee  eli«,  por  lhe 
fazer   mercê,    a  coritar-lhe  a^   que  sabe, 
acrescentando-lhes   de   caza    seu   par   de 
moralidades,  como  se  viera  de  propósito 
a  touiar-lho  o  vento.»    Fcrnilo  Soropita, 
Poesias  e  prosas  inéditas,  pa^'.  123. — 
«i'orém  o  da  |'ontc,  que  no  meio  delia  o 
recebeu,  o  encontrou  tiki  duramente,  que 
elle  e  o  cavaiio  vieram  ao  chilo :  e  to- 
mando uma  lança  das  uiuitas,  que  esta- 
vam   encustaduii   au   castello,  remotteu  a 
D.  Rossuel,    que   lhe   dizia   qne  se  guar- 
dasse.»   Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
d'Ingiaterra,   cap.    49.  —  «EutAo,    abai- 
xan<:o  as  lanças  se  vieram  um  contra  ou- 
tro, e  como  em  Palmeirim  houvesse  maio- 
res obras,  que  en)  seu  contrario  palavras, 
c   os   encontros  fossem    dadoe  ein  clieio, 
nSo  recebeu  mais  <iamiio  que  derfazer-Mj 
em   seu   escudo  a  lança  de  Bramarim,  e 
elle  caiu  polas  ancas  do  cavallo  t2o  grani 
queda,   qu«   por  muito  espaço  nSo  bollia 
com    pé  nem  mão.»    Ibidem,  cap.  ti9. — 
«Que   a(|uella   terra   e   governança  delia 
justamente  pertencia,  e  era  de  eea  inu2o 
Floriano :   jjois  com  mais  despeza  de  seu 
sangre    dostmlra    os    senhores    delia;    e 
que,  além  d'isso  ellcs  por  sua  causa  vie- 
ram alli :   que  quando  elle  a  nSo  quizes- 
se,  ent.^io  poderia  ser  que  acceitariao  es- 
tado que  lhe  queriam  dar.*  Ibidem,  cap. 
119.  —  «Acabado  o   serSo,    os  turcos  se 
despediram    mais    namorados  do  que  alli 
vieram.   O   imiíei^ador  manuou  com  alies 
tochas  até  o  real.  Mas  antes  que  de  todo 
se    despedissem,    aconteceu    uma    cousa, 
que  80  deve  fazer  memoria,  e  foi  que  o 
gigante  Framnstante,   como  todo  o  tem- 
po, que  alli  esteve  no  serSo,  n&o  tirasse 
os   olhos   d'Arlança,    com    quem  Dramu- 
siando  estava,  inclinando  mais  a  vontade 
a   ella,    que   a    nenhuma    outra  pessoa.» 
Ibidem,  cap.    163.  —  t Tcloe  a  uma  voz 
clamavam    nos   ouvidos   do    imperador   e 
capitães,    que  acabassem   de   dar-lhes  li- 
cença d.e  cometter  seus  imigos,   com  quo 
por  ventura  perderiam  parte  da  confian- 
ça, com  que  alli  vieram.  Se  por  vontade 
de  Priuialiào  f  Ta,  já  tivera  visto  em  que 
confiança    ou   forças   estava   o   fim  deste 
negocio.»    Ibidem,   cap.    16õ.  —  «A  este 
tempo  (como  dissemos)   tinha  o  Almiran- 
te espedido  a  carauela  que  viera  em  sua 
companhia,   com    hum    recado  a  Vicente 
Sodrc  que  segundo  soubera  andaua  sobre 
Cananor:   o  qual    lhe   leixara   per   pt>pa 
da   sua  nao,   hum   parao  grande  que  to- 
mara vindo  elle  Almirante  de  Cochij,  os 
Mouros   do   qual    dandolbe  esta  carauela 
caça  se  saluaraõ  em  terra.»    Barros,  Dé- 
cada  1,  liv.    6,  cap.  7.  —  «E  neste  mes- 
!  mo    tempo    mandou    outra    embaixada  a 
i  ElKoy   de   Pégu  pir  Ruy   òa   Cunha:   e 
assi   elle,   como   António  de  Miranda  fo- 
I  ram  em  navios  que  alli  vieram  de  Pégu, 


VIER 


VIER 


VIÉS 


94Õ 


e  porém  António  de  Miranda  ficou  em 
Tanaçarij,  que  era  d'ElRey  de  Sião,  por 
o  seu  senhorio  ser  de  mar,  e  per  alli  en- 
trou per  terra  té  Siào.»  Idem,  Década  2, 
liv.  6,  cap.  7.  — ■  «E  assi  mandou  logo 
com  eUe  feytores,  e  officiaes  pêra  lá  es- 
tarem, e  resgatarem  a  dita  pimenta,  e 
outras  cousas  que  na  terra  aula.  E  de- 
pois por  ser  muyto  doentia,  e  o  trato  nào 
ser  de  muyto  proueito  como  se  esperaua, 
a  feytoria  se  desfez,  e  os  officiaes  se  vie- 
ram.» Garcia  de  Rezende,  Chronica  de 
D.  João  II,  cap.  65. —  «E  uelles  man- 
dou a  el  Rey  por  seu  embaixador  Caçu- 
ta,  que  primeiro  a  estes  Reynos  viera, 
horaem  muy  principal,  e  a  elle  muy 
aeeyto,  que  depois  de  ser  Ciiristào  ouue 
nome  dom  loam  da  Sylua,  homeui  de 
bom  natural,  e  muy  bom  Caristào  amigo 
de  Deos,  e  trouxe  a  el  Rey  hum  presen- 
te de  muytos  dentes  dalefantes,  e  cousas 
de  marfim  lauradas,  e  muytos  panos  de 
palma  bem  tecidos,  e  com  finas  cores.» 
Ibidem,  cap.  Iò6.  —  «Passada  esta  tor- 
menta, as  três  nãos  questauam  de  trás  das 
ilhas  se  vieram  ao  mesmo  lugar,  onde  se 
os  Sodres  perderão  donde,  como  a  carauel- 
la  de  Pêro  Dataide  foi  concertada,  se  par- 
tiram elegendo-o  a  elle  por  seu  capitam 
assentando  todos  de  se  irem  rota  abatida 
caminho  de  Cochim,  socorrer  a  el  Rei,  e 
o  5  Portugueses  que  là  deixaram  por  lhes 
parecer  juizo  de  Deos.i>  Damiào  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  74. 
—  tVem  a  ella  mercadores,  de  íiuria, 
Egypto,  Pérsia,  e  Arábia  por  caso  da 
muita  pimenta  que  nella  ha.  Quando  os 
nossos  vieram  a  índia,  era  esta  cidade 
gouernada  per  os  mesmos  da  terra  a  modo 
de  Republica,  cora  tudo  estaua  a  obediên- 
cia do  Çamori)  rei  de  Calecut.»  Ibidem, 
cap.  98.  —  «Vieram  também  com  dom 
Pedro  doze  moços  nobres  pêra  ca  apren- 
derem as  cousas  da  Fe,  e  costumes  dos 
Christãos,  os  quaes  el  Rei  dom  Emanuel 
também  mandou  repartir  per  mosteiros.» 
Ibidem,  part.  3,  cap.  38.  —  «O  jungo 
grande  de  que  se  os  nossos  alargarão  por 
caso  do  fogo  arteficial,  e  a  que  poserào 
nome  o  brauo,  por  quam  bem  se  defen- 
dera, esteue  duas  noites,  e  hum  dia  surto 
no  lugar  onde  lançara  ancora,  e  ao  se- 
guinte quasi  as  dez  oras  do  dia  saíram 
delle  dous  homens  no  parao,  e  se  vieram 
direitos  a  nao  de  Afonso  Dalbuquerque.» 
Ibidem,  cap.  17.  —  «Neste  mesmo  anno 
vieram  a  este  regno  três  gentis  homens 
Polonos,  dos  quaes  o  principal  era  Joam 
tarnouio  de  quem  no  Capitulo  do  nasci- 
mento do  Infante  dom  Luiz  fiz  menção.» 
Ibidem,  part.  4,  cap.  4. —  «E  quis  sua 
boa  dita  que  na  primeira  feira  que  se  fez 
vieram  vender,  e  comprar  os  principaes 
de  Abida,  em  que  entraua  Abdemula,  ho- 
mem de  grande  authoridade  entrelles,  e 
assim  outros  de  Garabia,  Dom  íTuno  co- 
mo os  teve  na  cidade  mandou  cerrar  as 
portas,  e  ajuntar  a  gente  que  auia  de  le- 
vot.  V — 119. 


uar  que  foram  duzentos,  e  sessenta  caual- 
leiros  Portugueses,  e  sessenta  piàes  bes- 
teiros, e  espingardeiros. »  Ibidem,  cap. 
44.  —  «Estacou.  Um  joelho  se  dobrara 
imperceptivelmente  debaixo  da  garnacha 
de  João  das  Regras,  e  um  calcanhar  vie- 
ra ao  de  leve  applicar-se  á  tibia  escai.i- 
frada  do  grande  homem  de  Celorico.» 
Alexandre  Herculano,  Monge  de  Cister, 
cap.  24. 

—  Viera  ao  mundo ;  nascera,  viera  á 
luz  do  dia.  —  «Quizera  eu  que  nunca 
viera  ao  mundo  a  Marqueza  de  F...  pois 
que  no  dia  de  seu  cazamento  é  que  tu 
me  entranhaste  na  alma  a  Dôr  que  sinto. 
Abhorreço  o  que  inventou  o  baile.  Abhor- 
rêeo-me  a  mim  própria ;  e  sobre  tudo 
abuorrèço  ainda  essa  Fianceza  mil  vezes 
mais.  Entre  tantos  abhorrecimentos  ne- 
nhum porém  teve  a  audácia  de  se  che- 
gar a  ti;  que  ainda  infiel,  te  considero 
amável. •  Francisco  Manoel  do  Nasci- 
mento, Successos  de  madame  de  Sene- 
terre. 

—  Viera  ter  a  al-gum  ponto;  dirigir-se, 
encamiiihar-se  para  lá. —  «Pelo  que  no 
mesmo  instante  mandou  sobella  fortaleza 
Danchediua,  huma  armada  de  obra  de 
sessenta  nauios  de  remo,  da  qual  era  ca- 
pitam hum  Português  arrenegado,  per 
nome  António  Fernandez  carpinteiro  de 
nãos,  que  se  entaõ  chamaua  Abedella, 
que  foi  hum  dos  degradados  que  leuara  a 
Pedralurez  cabral,  e  deixara  em  Quiloa, 
donde  viera  ter  a  estas  partes,  per  cujo 
conselho  o  Çabaio  fez  esta  armada,  pro- 
metendolhe  que  se  tomasse  a  fortaleza 
Danchediua,  lhe  daria  a  Ciritacorà.»  Da- 
mião de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  2,  cap.  12. 

7  VIERÃO.  Forma  do  verbo  vir,  por 
Vieram.  Vid.  Vieram. —  «No  qual  dia 
vieraõ  cometer  a  villa  com  mantas,  pi- 
cões, espingardaria,  besteiros,  que  por  se- 
rem muitos,  nenhum  dos  nossos  podia  as- 
somar entre  as  ameas,  nem  aos  buracos 
das  seteiras  que  logo  naõ  fusse  presrado.» 
Damiào  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  2,  cap.  28. —  «Concluído  este  ne- 
gocio com  tanto  credito  da  clemência 
Real,  vierão  Embaixadores  do  Hidalcão, 
que  depois  de  lhe  darem  as  saudações  or- 
dinárias, e  congratulações  do  cargo,  lhe 
pedião  entregasse  certo  prisioneiro  i;a  for- 
ma que  com  seu  Antecessor  estava  con- 
certado. E  porque  este  negocio  chegou  a 
alterar  o  Estado  com  guerra  descuberta, 
nào  deixaremos  em  silencio  a  origem  que 
teve. »  Jacintho  Freire  de  Andrade,  Vida 
de  D.  João  de  Castro,  liv.  1. —  «Porém 
D.  João  de  Ciístro  sem  deixar-se  vencer 
do  amor  do  filho,  nem  dos  medos  do  tem- 
po, resolveo  enviar  o  soccorro;  o  que  en- 
tendido pelos  soldados,  e  Fidalgos,  se  lhe 
vierão  offerecer,  ainda  aquelles  que  pelos 
annos,  e  authoridade  já  estavào  escusos.» 
Ibidem.  —  «E  despois  de  andar  a  briga 
hum   pouco   travada,  fingindo  os  Achens 


I  fraqueza   se  lhes  vieraõ  retirando  pêra  a 
trauqueyra  onde  os  dias  atrás  o  Rey  Ba- 
ta lhe  tomara  as  doze  peças  de  artilharia, 
e  seguindoos  hum  Capitão  dos  Batas  des- 
mandadamente,  e  sem  ordem,  por  lhe  pa- 
recer  que  ja    tinha   a  victoria  certa,  os 
meteo   por   dentro   dos   vallos,  porem  os 
inimigos   lhe  tornarão  aly  a  fazer  rosto, 
e   se   defendiào   valerosamente.»    Fernão 
Mendes   Pinto,  Peregrinações,    cap.   17. 
—  o  Após   isto   perguntado  hum  dos  dous 
Portugueses,  porque  o  outro  estava  como 
morto,  cujos  filhos  erào  aquelles  mininos,  e 
como  vierão  ter  ao  poder  daquelle  ladrão, 
e  como  se  elle  chamava,  respondeo  que  o 
ladrão   tinha  dous  nomes,  hum  de  Chris- 
tào,    e  outro   de  gentio,  o  de  gentio  por- 
que se  então  nomeava  era  Necodá  Xicau- 
lem,    e    o   de   Christão  era  Francisco  de 
Saa.»  Ibidem,  cap.  46.  —  «E  despois  de 
estarmos    aquy    surtos   treze  dias  sobela 
amarra,   e  bem  enfadados  com  temporais 
pela  proa,  e  algum  tanto  ja  faltos  de  man- 
timento,  quiz  a  nossa  boa  fortuna  que  a 
caso  ja   sobula  tarde  vieraõ   dar  de  rosto 
com  nosco  quatro  lanteaas   de  remo  que 
saõ  como  fustas,  em  que  hia  huma  noiva 
para  huma  aldeã  daly  nove  legoas  que  se 
dezia  Panduree,  e  como  todos  vinhào  de 
festa.»    Ibidem,    cap.    47.  —  «Nas  quaes 
desordens,  e  novidades  lhe  tiveraõ  culpa 
muitos  Senhores  de  Castella,  que  aggra- 
vados,  ou  temerosos  dei  Rei  D.  Henrique 
se  passarão  a  Portugal,  e  foraõ  herdados 
em   grandes   senhorios   de  terras,  que  el 
Rei  D.  Fernando  lhe  dava  das  suas  pró- 
prias, a  troco  de  esperanças,  que  não  vie- 
raõ   a    efl'eito.»    Frei  Bernardo  de  Brito, 
Elogios  dos  reis  de  Portugal,  continua- 
dos   por   D.    José   Barbosa.  —  «Nam  me 
diram,  de  donde  lhe  vieraõ  tantas  cí)lga- 
duras  de  damasco,  e  tela,  tantos  bofetes 
guarnecidos,  escritórios  marchetados,  com 
pontas  d-e  abada  em  cima?  Derão  os  far- 
tos  em  fome   canina'?»    Arte    de  furtar, 
cap.   42.- — «Estando   ambos    ordenando 
nossos  concertos,  nos  vierão  dizer  a  grão 
pressa,    que  andava   Lionardo  ás  cutila- 
das   com    um   rafionaz,    que  aqui  anda.i 
António   Ferreira,  Bristo,    act.  3,  se.  6. 
■{-  VIESSE.    F«>rma    Jo    verbo    vir    na 
primeira    ou   terceira  pessoa  do  singular 
do   pretérito   mais   que  perfeito  do  modo 
conjunctivo.  Vid.  Vir. 


Passou-se  ca  hum  mandado, 
Nejra  por  me  dar  cauccira. 
Que  logo  em  toda  maneira 
T'íe.'se,  c  vim  emprazado 
Bofa  com  fraca  esmoleira. 

GIL  VICENTE,  FAKÇAS. 


—  «Por  aqui  vereis,  Argolante,  a  que 
estremo  de  necessidade  é  chegada  a  tris- 
te CoiíStantinopIa,  que  cuidando  eu  se 
os  imigos  viessem  a  ella,  mandar-lhe 
derrubar  os  muros  por  onde  entrassem, 
agora  está  tão  só  dos  outros  valedores, 


946 


VIEZ 


VIGI 


VIGI 


tão  cheia  de  temor  e  medo,  que  os  man- 
do fortalecer,  esporando  ter  iiollos  algu- 
ma dolonHii,  quD  doutras  piii  tcs  j.i  nào 
osporo.»  Francisco  do  Moraos,  Palmeirim 
d'Inglaterra,  cap.  45.  —  «Oomo  «ou  pa- 
ríínto  S.  ItoBonilo  viesse  visitar  a(|uollo 
Mostcyro  de  Vioyra,  o  pastasiom  ambos 
furando  parto  do  dia  em  colóquios  Divi- 
nos, hum  lUsticD  ipio  andava  concertan- 
do os  telhados  do  casa,  so  poz  a  murmu- 
rar daqtiella  convi'rsa(,-af5,  em  pena  do 
qual  fov  Hupitaniont(!  arrebatado  do  De- 
mónio, e  o  matara  se  as  oraçoons  da  San- 
ta o  não  livrarão  daquella  tribida^mõ.» 
Monarchia  Lusitana,  liv.  7,  cap.  25.  — 
«Finalmente  este  Nordim  do  Ormuz  so- 
cretameutc  fez  que  o  outro,  e  llaoz  Ga- 
mai viessem  a  Ornmz  a  se  ver  com  el- 
Kov  :  assentando  com  clles  que  quando 
viessem  com  seu  irmão  ao  tempo  de  rom- 
per a  batalha  que  esporauaò  de  sor  na- 
ual,  ellcs  se  passarião  de  Sargol  pêra 
elle.»  BaiTos,  Década  2,  liv.  2,  cap.  2. 
—  «Porque  falecido  o  Rey  de  Sião,  que 
seu  pai  temia,  com  Armadas  de  navios 
de  ramo,  a  que  os  Cellates  eram  mui 
costumados,  começou  de  obrij^ar  as  náos 
que  navefijavam  ])or  aquolle  estreito  d'au- 
tro  Jlalaoa,  o  a  Ilha  ('aniatra,  que  não 
fossem  adiante  a  ('injíápura,  o  as  do  Le- 
vanto que  viessem  alli  fazer  com  estas 
do  Ponento  suas  commutaç^es  do  merca- 
dorias, segundo  o  seu  antigo  uso.»  Ibi- 
dem, liv.  6,  cap.  1.  —  «E  porque  pri- 
meiro que  viesse  a  concluir,  houve  en- 
tre olles  muitos  recados  sobre  a  entre- 
ga da  fortaleza,  quo  Ellley  não  queria 
dar  naquelle  lugar,  por  ser  mui  vizinha 
ás  suas  casas,  nem  menos  os  reféns.»  Ibi- 
dem, liv.  10,  cap.  .'}.  —  «E  por  aoroL-entar 
a  seus  louuores,  posto  que  ja  será  fora  de 
aeu  lugar  e  o  ter  passado  per  negligen- 
cia direi  a  honrra  que  ganhou,  e  obriga- 
çam  que  lhe  a  Coroa  destes  rcgnos  tem 
nO  aoocorro  que  deu  a  (;afim  em  tempo 
do  Diogo  dazambuja,  porque  screuendo- 
Ihe  oUo  como  tinha  ganhada  aquella  ci- 
dade, e  que  temia  que  os  Mouros  vies- 
sem Bobrcllc,  o  lha  tomassem,  lho  man- 
dou logo  trezentos  homens,  e  após  estes 
foi  elle  em  pessoa,  com  nouccentos. »  Da- 
miSo  do  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  3,  cap.  12.  —  «Sendo  ja  o  Gonde 
fora  do  estreito  de  (^apanes,  posto  que  os 
mouros  da  companhia  ilo  líarraxa,  e  Al- 
mandarim  lho  viessem  ladrando  nas  cos- 
tas per  bom  ospai^o  elle  so  recolheo  a  seu 
saluo  com  toda  a  caualgada,  com  que 
chegou  a  Arzilla  ja  de  noite.»  Ibidem, 
cap.  36,  —  «Quitou  as  sisas  de  todo  o 
pam  que  de  fora  viesse  a  estes  rcgnos. 
Mandou  comprar  rondas  em  Galliza  pêra 
se  allume.ar  continuamente  do  dia,  e  do 
noito  huUia  alampada  do  prata  que  deu 
a  casa  do  Apostolo  Santiago  como  fica 
dito.»  Ibidem,    pnrt.  4-,  cap.  86. 

VIEZ,    5.    ?».  —  .4o    viez;    enviezado, 
wm    uma    direcção  obliqua.  —  Cortar  o 


panno  ao  viez,  «  lulo  te.(jund<j  a  lUrecçào 
do»  Jío». 

VIGA,  *.  f.  Trave  da  casa. 

VIGAIHAÍ  «.  /.  Vid.  Vigaria. 

VIGAIRO,  «.  m.  Vid.  Vigário.  —  tE 
depois  di>  íMo/i  de  .lulho  cliegiiraõ  as  car- 
tas de  Dom  .loaõ  Mascarenlias,  (|Uo  crão 
as  que  o  Vigairo  levou,  u  se  maudàraõ 
de  liaçaim,  o  (JhJiul  por  terra.  E  saben- 
do |)or  cilas  o  grande  aperto  em  quo 
aquolla  fortaleza  estava,  se  foy  logo  pôr 
na  ribeira  dos  navios,  o  fez  1oí;o  lan- 
çar ao  mar  os  que  estavail  melhor  nego- 
ciados, o  mandou  chamar  sou  filho  D. 
Álvaro  de  Castro,  a  quem  disse  que  se 
fizesse  prestes  pêra  hir  soccorrer  a  forta- 
leza d'EIUey.»  Diogo  de  Couto,  Década 
6,  liv.  'J,  ("ip.  7. 

VIGAMENTO,  h.  m.  As  vigas  do  edití- 
cio. 

VIGAR,    r.  n.  Assentar  o  vigamonto. 

VIGARARIA,  s.  /.  A  dignidade  do  vi- 
gário, o  officio  d'elle. 

—  Parochia. 

1 .)  VIGARIA,  í.  /.  Cargo  que  tem  nas 
ordena  terceiras  as  mulheres.  —  Irmã  vi- 
garia. 

2.)  VIGARIA,  VIGAIRA,  ou  VIGARIA, 
*'.  /.  Pessoa  que  faz  as  vezes  de  outra, 
a  qua  Sirvo  em  logar  de  outra. 

VIGÁRIO,  s.  m.  (Do  latim  vicárias).  O 
cura  d'almas.  —  «Na  qual  ordem  entra- 
rão na  fortaleza,  que  o  vigário  logo  ben- 
zeo,  e  lhe  pos  nome  Emanuel,  por  lem- 
brança de  nosso  Senhor,  cujo  o  próprio 
nome  he,  e  por  memoria  dei  Rei  dom 
Emanuel,  em  cujo  tempo  se  fezera,  e  a 
Cruz  pos  na  Egreja,  que  jà  estaua  come- 
çada, e  lho  deu  nome  da  iuuocação  de  S. 
liartholomeu.»  Dandão  de  Góes,  Chroni- 
ca de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  78. 

—  Official  de  justiça,  quasi  juiz  ordi- 
nário, porém  que  ordinariamente  conhe- 
cia do  coimas  do  britamentos  de  aguas 
o  similhantes  objectos. 

—  Vigário  geral  do  bispado ;  ecclesias- 
tico  que  faz  as  vezes  do  prelado. 

—  Vigário  do  império;  principe  quo 
faz  as  vezes  do  imperador,  ou  pretende 
ter  esse  direito. 

VIGENTE,  adj.  2  gen.  (Do  latim  vi- 
<jcji«).  Que  está  cm  vigor,  força,  activi- 
dade. —  l.iis  vigentes. 

VIGÉSIMO,  A,  adj.  ord.  num.  Que  se 
segue  ao  decimo  nono. 

VIGIA,  s.  /.  Vela  do  quo  estA  despor- 
to. —  «Peró  depois  que  elle  Rodrigo  lía- 
bello  vio  Melrao  desbaratado  com  a  vin- 
da de  Pulate  Can,  o  quo  com  elle  se 
ajuntaram  os  Mouros  do  outro  pregador, 
com  que  lhe  vinha  dar  mostras  derredor 
da  Ilha,  e  poiiia  cm  jangadas,  como  da 
outra  vez.  commottor  a  entrada  delia, 
ordenou  navios  de  guarda,  porque  té  eu- 
tão  a  vigia  dos  passos  era  enconnnenda- 
da  ao  Tanadar  Cogcquij  homem  de  guer- 
ra, e  mui  fiol  serviílor.»  Barros,  Década 
2,  liv.  6,  cap.  8.  —  «Certificado  António 


de  Faria  desta  boa  nova  que  o  8imilau 
llie  dera,  o  do  novo  caminho  por  ondo 
avia  de  entrar  nuiua  terra  tamanha  o 
tio  podcHisa,  exforçiindo  ou  seun,  »o  pó» 
no  som  conveniente  a  hcu  propósito,  íumí 
na  artilharia,  que  até  cntSo  fOra  abatida, 
como  om  concertar  as  arnuM,  ordenar 
(JapitaenB  de  vigias,  e  tudo  o  mai«  que 
era  necessário  para  qualquer  bucc'í»w  que 
tivesse.»  Fernão  Mendes  Piuto,  Peregri- 
nações, cap.  72. 

—  Hora»  iLe  vigia ;  diz-»e  om  oppoei- 
çJo  Ah  do  repouto   de  trrtòalhar. 

—  Vigilância. 

—  O  acto  de  vigiar. 

—  Doonça  do  que  soffro  iniiomniaa. 

—  Loc. :  Levar  em  vigia  nlf/um  Oaixo, 
ou  perigo  no  mar;  ir-sc  vijriando  d'ellc, 
navegnr  com  tento;  em  olho. 

—  l'lur,  A  negados,  o  outros  t»e«  peri- 
gos, de  que  os  mareantes  devem  vigiar-se. 

—  Veladores. 

—  ò'.  2  gen.   Espia,  flcntinella. 

—  Syx. :  Vigia,  tentinella,  espia,  ata- 
laia. 

Vigia  exprime  em  geral  o  que  vigia, 
está  com  os  olhos  attentos  para  v^r  c  no- 
tar o  que  se  passa.  Sentiixella  Òí  vigia 
militar,  soldado  que  i-stá  de  guarda  n'al- 
gura  posto  para  vigia.  Atalaia  ó  vigria 
posta  cm  torro,  assim  chamada  para  ob- 
servar ao  longe ;  extensivamente  é  espia 
que  anda  observando  o  inimigo  e  seus 
movimentos.  Espia  6  o  que  com  dissimu- 
lação observa  o  escuta  o  que  se  passa 
para  communicar  a  quem  lh'o  encommon- 
dou. 

VIGIADO,  part.  fxtsg.  de  Vigiar.  A  quem 
se  poz,  sobre  quem  so  traz  vigia. 

—  Suspeitoso,  receoso,  ilesvolado,  acau- 
telado com  receio,  guardado. 

—  Aquello  que  se  vigia  de  alguém,  do 
algum  perigo,  damno,  e  se  fas  guardar 
por  vigias  seus. 

VIGIADOR,  A,  s.  Pessoa  que  vigia. 

—  Adject'vamento :  Vigilante. 

—  Desperto,  observando. 

—  Desvelado,  de  pouco  dormir. 
VIGIANTE,  part.  act.   de  Vigiar.    Que 

vigia,  que  espia. 

VIGIAR,  V.  a.  (Do  latim  vigilare).  Es- 
piar, observar  desvelado,  desperto,  e  sem 
dormir. 

—  Locução  do  'lautica:  Vigiar  o  mar 
ao  longe;  estender  a  vista  para  vèr  oqae 
vem,  ou  apparece  ao  longe. 

—  Vigiar-se,  r.   rejt.  Acautelar-so. 

—  Vigiar-se  de  alguma  couta,  ou  pu- 
soa ;  andar  com  cautela  para  se  resguar- 
dar do  damno  que  d'ella  nos  p<ide  vir. 

—  V.  n.  Velar. 

As  cítrellas  os  cios  .icomp.inh«Tam, 
Qual  campo  revoâtído  de  boninas ; 
Os  furiosos  voatoâ  repoustivom 
PeJaa  covas  escuras,  pcroijriuas: 
Porem  d:i  ;iriii.id.T  a  ^ento  t-r/ín-a 
Como  por  larpo  tcuipo  costum.iva. 
cjM.,  i-rs.,  cant.  1,  est.  õ3. 


VIGI 


VIGO 


VILA 


947 


—  tE  a  doze  homena,  que  vigiam  de 
noite  a  gyros,  e  ao  Guavdamói'  delles, 
seÍ3  leques,  e  seijenta  e  dous  azares;  e 
aos  tintureiros,  cincoenta  azares;  e  a 
quatro  porteiros,  lium  leque,  e  ciucoenta 
e  seis  azares ;  e  em  repairo  de  casas  de 
pedraria,  e  gesso,  dez  leques;  e  a  sua 
mãi  pêra  vestidos,  outros  dez.»  Barros, 
Década  2,  liv.  10,  cap.  7.  —  «E  sam 
Paulo  diz  escreuendo  a  Timotheo,  que 
elle  constituirá  em  prelado :  Tu  vigia,  e 
em  tudo  trabalha.  Porque  o  prelado  ha 
de  ser  exemplo  de  boas  obras.  Isto  de- 
clara a  escriptura  no  liuro  dos  juyzes 
onde  o  bom  Gedeam  capitão  dos  Israeli- 
tas lhe  dezia :  O  que  me  virdes  fazer, 
isso  fazey.  O  bom  Príncipe  ha  de  obede- 
cer ás  leys  pêra  dar  exemplo.  No  Deute- 
renomio  mandaua  Deos,  que  tanto  que 
el  Rey  fosse  electo  e  cõstituido,  escre- 
uesse  a  ley,  e  a  tiuesse  consigo,  pêra  per 
elia  se  gouernar.»  Heitor  Pinto,  Dialogo 
da  Justiça,  cap.  4. 

VIGIEIRO,  s.  7?!,  O  vigia,  ou  guarda 
do  campo. 

VIGILÂNCIA,  s.  /.  (Do  latim  vigilân- 
cia). Qualidade  do  que  é  vigilante. 

—  Vigia  cuidadosa,  desvelo  nas  cousas 
de  nossa  obrigação,  para  que  se  execu- 
tem como  é  razão  e  devido,  e  se  evite 
perigo,  damno,  e  mal. 

Como  a  mestra  engenhosa  acha  matéria 
Dia  losta  a  eftcotuar  o  que  pretende, 
E  na  couâenuujão  das  cousas  sempre 
Uom  grande  viyUanria  está  occupada 
Vendo  falturlhe  algum  dos  que  sustenta 
E  cria,  como  mãy,  alli  reforma 
O  filho  fallecido  e  leua  gosto 
Em  ver  aquelle  vão  falso  retrato. 

COBTE  BEAI.,  NAUFRÁGIO  DK  SEPÚLVEDA,  Cant.    16. 

VIGILANTE,  adj.  2  gen.  (Do  latim  vi- 
gihnis).  Dotado  de  vigilância.  —  Pae  vi- 
gilante. 

VIGILANTEMENTE,  adv.  (De  vigilante, 
e  o  suífixo  «mente»).  De  um  modo  vigi- 
lante. 

—  Com  vigilância. 
VIGILANTISSIMAMENTE,  adv.  (De  vi- 

gilantissimo,  e  o  suffixo  «mente»).    Su- 
perlativo de  Vigilantemente. 

—  Mui  vigilante. 
VIGILANTÍSSIMO,  A,  adj.   superl.    de 

Vigilante.  Mui  vigilante. 

vigília,  s.  /.  (Do  latim  vigília).  Es- 
tar desporto  a  horas  de  dormir;  falta  de 
somno. 

—  Véspera  de  festa. 


Neste  exercício  vai  continuando 
Com  perda  dos  iraigos,  aura  aeu  dano, 
Porém  inda  até  então  accrescontaudo 
Bem  pouca  gloria  ao  nome  Lusitano  ; 
Até  que  aquelle  dia  chega,  quando 
A  vigília  a  Igreja  traz  cada  ano 
Do  dia  em  que  a  fecunda  Virgem  Santa 
Ao  Reino  de  seu  Filho  se  levanta. 

r.  d'ahdrade,  pkimeiro  cerco  de  diu,  cant.  11, 
est.  87. 


—  Desvelo  em  algum  trabalho. 

—  Ter  vigílias  de  devoção  em  alguma 
igreja. 

—  Vigia,  ou  quarto  d'aquelles  em  que 
se  reparte  a  noite,  desde  as  seis  da  tar- 
de até  ás  seis  da  manhã  seguinte;  cada 
uma  é  de  três  horas. 

—  Figuradamente :  Em  vigilia  da  mor- 
te; na  véspera,  ou  na  hora  da  morte. 

VIGIVEL,  adj.  2  gen.  Termo  popular. 
Ser  visivel. 

VIGIVELMENTE,  adv.  Vid.  Visivelmen- 
te. 

VIGGNHA,  s.  /.  Vid.  Vicunha. 

VIGOR,  s.  m.  (Do  latim  vigor).  Força, 
energia  do  corpo  e  do  espirito. 


Eu  sam  Mercúrio,  senhor 
De  muitas  sabedorias, 
E  das  moedas  reitor, 
E  deos  das  mercadorias : 
Nestes  tenho  meu  vigor. 

GIL  VICENTE,  AUTO  DA  FEIBA. 

—  Por  vigor  da  penitencia  escapou  do 
inferno;    escapou  em  virtude  d'ella. 

—  Os  costumes  e  leis  estão  em  vigor ; 
guardam-se  bem,  e  fazem  seu  effeito. 

—  Força,  energia. 

- —  Diz-se  fallando  dos  vegetaes.  —  As 
plantas  retomaram  o  seu  vigor,  que  ti- 
nham perdido. 

—  Força  com  que  se  faz,  ou  executa 
alguma    cousa.  —  Responder    com   vigor. 

VIGORANTE,  part.  act.  de  Vigorar. 
Que  dá  vigor,  que  fortifica. 

VIGORAR,  u.  a.  Dar  vigor,  robustez, 
roborar. 

—  Termo  de  pharmacia.  Ajuntar  a  ter- 
ceira parte  do  vigoraute  ao  medicamen- 
to que  se  quer  vigorar,  ou  tornar  mais 
valente.  =  Usa-se  também  na  linguagem 
medica. 

— •  V.  n.  Alcançar  vigor,  força,  ro- 
bustez. 

VIGORISAR,  ou  VIGORIZAR.  Vid.  Vi- 
gorar. 

VIGOROSAMENTE,  adv.  (De  vigoroso,  e 
o  suffixo  « mente »)•  De  vasi  modo  vigo- 
roso. 

—  Com  vigor. 

VIGOROSO,  A,  adj.  (Do  latim  vigoro- 
sus,  de  vigor).  Que  tem  vigor  physico. 
—  Homem,  cavallo  vigoroso.  —  E'  um 
velho  bastante  vigoroso. 

—  Vegetação  vigorosa ;  estado  dos  ve- 
getaes que  crescem  com  força. 

—  Que  tem  vigor  moral. 

—  Que  se  faz  com  vigor,  fallando  das 
cousas. 

—  Forte,  robusto. 

—  Syn.  :  Vigoroso,  fm-te,  robusto. 

O  vigoroso  mostra  maia  agilidade  em 
suas  acções,  e  tudo  que  obra  o  deve  prin- 
cipalmente ao  valor.  O  forte  dá  a  co- 
nhecer mais  firmeza  que  o  vigoroso,  de- 
vendo isto  á  boa  constituição  de  seus 
músculos.  O   robusto  está  menos  exposto 


que  03  dous  a  indisposições  e  achaques, 
sendo  causa  de  seus  aflectos  exteriores 
seu  bom  temperamento.  O  vigoroso  ó 
próprio  para  o  combate,  e  para  tudo  que 
exige  vivacidade  na  acção.  O  forte  é  pró- 
prio para  a  defensa.  O  robusto  soffre  o 
trabalho  natural  com  resignação. 

VIGOTA,  s.  f.  Viga  pequena. 

VIGOTE,  s.  m.  Vigota. 

VIIR.  Termo  antiquado.  Vid.  Vir. 

VIL,  adj.  2  gen.  (Do  latim  vilis).  Bai- 
xo, de  baixa  sorte;  diz-se  das  pessoas, 
e  cousas  de  pouco  apreço. 

Tal  he  esta  força  nunca  resistida 
Que  até  a  mesma  fortuna  lhe  obedece, 
Porque  esta  onde  a  esperança  hc  mais  perdida 
Differentes  remédios  oíierece  ; 
Esta  a  cousa  mais  vil,  baixa,  e  abatida 
Mil  vezes  sobre  as  grandes  engrandece, 
Tal  que  da  ja  pequena  Aldeia  e  pobre 
Pude  fazer  Cidade  illustre  e  nobre. 

FRANCISCO  DE  AÍTDEADE,    PRIJÍEIBO    CKBCO    DK   DIU, 

cant.  5,  eat.  1. 

—  De  pouca  conta. 

— •  Desprezível,  deshonroso. 

Por  degráos  mais,  e  mais  a  industria  cresce: 
A  sebe  fecha  os  campos,  defendidos 
Só  das  feras  então,  depois  dos  homens ; 
Quando  Avareza  vil,  cobiça  insana 
Quiz  dar  jús  á  rapina,  e  jús  á  força. 
Fundando  o  Império  da  Razão  nas  armas. 

J.    A.    DE   MACEDO,   MEDITAçlo,   Caut.    1. 

Digna  sciencia,  só,  do  estudo  humano, 
Que  liga  a  Terra  aos  Ccos,  e  os  Ccos  á  Terra, 
Que  á  ambição  delii-ante,  á  vil  cobiça 
Açaima  a  fiuia,  os  Ímpetos  reprime. 


—  «E  com  esta  fama  foi  a  cousa  em 
tanto  crescimento,  que  sendo  já  lá  dezoi- 
to homens  da  gente  vil,  começou  entrar 
no  coração  de  algumas  pessoas  de  mais 
qualidade.»  Barros,  Década  2,  liv.  6, 
cap.  9. 

Inveja  vil  de  pérfidos  validos, 
Não  é  tua  esta  victima  ^  seus  ossos. 
Não  lh'o.-i  possuirás,  ingrata  pátria. 
Seu  fado  negro  foi,  mas  antes  elle; 
Antes  perder  a  vida  ás  mãos  selvagens 
Do  rudo  cafre  na  deserta  areia, 
Que  á  fome...  á  fome,  c  no  seu  pátrio  ninho. 
GARRETT,  CAMÕES,  Cant.  8,  cap.  17. 

—  Figuradamente :  Baixo,  abjecto,  des- 
prezível. 

—  Syn.  :  Vil,  baixo.  Vid.  este  ultimo 
termo. 

f  VILA,  s.  /.  Vid.  Villa.  — «Deu  mui- 
tos privilégios  assi  as  cidades,  c  vilas  do 
regno,  como  as  das  ilhas,  e  lugares  de 
suas  conquistas  em  Africa,  Guine,  terra 
de  Santa  Cruz  ou  Brasil  e  na  índia,  e 
outras  prouiucias  que  ganhou,  do  que 
tudo  foi  absoluto  Senhor,  em  quanto  vi- 
veo.»  Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  4,  cap.  86. 


948 


VI LL 


VILL 


VILL 


VILDADE,  s.  /.   Via.  Vileza. 
VILEZA,  «.  /.  A  (jualidailc  «lo  ser  vil, 
do  baixa  HOrte,  nito  honrado. 

—  Biiixeza,  vulfíaridaiio. —  tlOm  tim 
este  hc  aiiuclie  outro  todos  distiiicto  Ani- 
mal que  por  que  possa  passar  continua- 
mente pello.s  ollios  o  (im  para  que  toi 
creado,  d(!sprcza  as  vilezas  do  jiò  de  que 
foi  naseido;  por  isso  a  Natureza  o  coii- 
tra-diâtinpuio  ao3  mais  Animais  na  admi- 
rável oHtructura.»  Braz  Luiz  d'Abrou, 
Portugal  medico,  paf^.  'M,  §  124. 

—  Acto  de  pessoa  vil. 

—  Adaoios  k  1'uovKumos  : 

—  Pobreza  não  é  vileza. 

—  A  casta,  e  a  pobreza  lhe  faz  fazer 
vileza. 

—  Quem  diz  que  a  pobreza  ó  vileza, 
nSo  tem  siso  na  cabeça. 

VILKANCICO.  Vid.  Villaucete. 

VILHANESCA,  ou  VILHANCETE.  Vid. 
Villaucete. 

VILHETE,  s.  «1.  Vid.  Bilhete. 

VILIAR,  V.  a.  Termo  antiquado.  Vil- 
tar,  viliiicndiar. 

VILICE,  5.  m.  Termo  antiquado.  Vid. 
Velhice. 

VILIDA,  .V.  /.  Vid.  Belida. 

VILIFICAR.  Vid.    Envilecer,  e  Aviltar. 

VILIPENDIAR,  r.  a.  Ter  por  vil,  des- 
estimar, tratar  por  vil. 

- —  Desprezar,  tratar  com  desprezo  por 
obras  ou  jialavras. 

VILIPENDIO,  s.  "i.  Desprezo  de  pessoa 
ou  cousa,  que  se  estima  em  nada,  menos- 
cabo. 

VILIPENDIOSO,  A,  adj.  (De  vilipendio, 
e  o  suffixo  «oso»).  Que  traz  vilipendio. 

—  Que  mostra  aquillo  em  que  é  tida 
aljjuma  pessoa  ou  cousa.  —  Maneiras  vi- 
lipendiosas. 

VILISSIMAMENTE,  adv.  superl.  de  Vil- 
mente. Mui  vilmente. 

VILISSIMO,  A,  ailj.  superl.  de  Vil. 
Mui  vil. 

VILLA,  s.  /.  (Do  latim  villa).  Povoa- 
yào  de  menor  graduaçiío  que  a  cidade,  e 
superior  á  aldeia;  tem  juiz,  camará,  e 
peílourinho.  —  «E  se  estas  ])e3Soas  forem 
citadas  na  villa  fora  da  Audiência,  leve 
o  Porteiro  de  cada  pessoa  dous  soldos, 
salvo  se  forem  herdeiros,  e  testamentei- 
ros, que  levaril  quatro,  porque  som  duas 
pessoas;  e  se  o  Porteiro  for  a  al<2;um  lu- 
gar citar  algumas  pessoas  na  petiçom  dal- 
guem,  per  mandado  do  que  ho  Juiz,  ou 
Corregedor,  fora  da  Villa,  e  for  no 
Termo,  leve  de  cada  legoa  quatro  reaes 
pola  hida.»  Ord.  Affous.,  liv.  1,  tit.  19, 
§  2.  —  «E  foi  sepultado  em  a  villa  de 
Lagos  e  dahi  passado  ao  mosteiro  de 
sancta  Maria  da  Victoria,  a  que  cha- 
maõ  a  Batallia,  na  capeila  delRey  seu  pa- 
dre. O  qual  Infante  e  Príncipe,  de  gran- 
des emprezas :  segundo  suas  obras  e  vi- 
da, deuemos  crer  que  está  em  o  Paraiso 
entre  os  eleitos  de  Deos.»  Ban-os,  Déca- 
da 1,    liv.    2,    cap.  Ití. —  <iE  porque  aos 


Mouros  nito  o»  assombrou  o  estrondo  e 
dilno  da  artelharia,  pêra  decerem  de  seu 
propósito:  assentou  .\tlonso  d'Alboquor- 
que  nquella  noite  em  consellio  o  modo  de 
combater  a  villa,  e  quíldo  vuyo  ante  ma- 
nhail,  erSo  todolos  capitães  em  seus  ba- 
téis derredor  da  nao  capitania,  onde  re- 
cebifla  Luma  absoiúiçSo  geral  do  cjipellào 
da  nao,  todos  em  hum  corjx)  com  grande 
estrondo  de  trombetas,  e  grita  poserito  o 
peito  em  terra.»  Idem,  Década  2,  liv.  2, 
cap.  1. 

(^uc  casa»  (luc  m  juntavam  'f 
i|UO  rondiís  i]uu  alcaiii,'aruiii  ? 
vassullos,  vilUm,  riqiuíza  V 
juidii;õos,  mando,  noblozaV 
quo  rttMiliorios  hcrdarum  V 

UAUCIA   IIK   UKZENDi:,   UI8Ci:LLlNi:A . 

11  uo  clérigo  natural 
dii  ':iU(i  de  Alpedrinha 
vimos  ca  ser  Cardeal, 
cm  pouco  tempo  c  asinha 
Cardeal  de  Portugal. 


—  «E  assi  proueo  as  fronteiras  de  Ca- 
pitães, e  as  fortalezas  de  Alcaides  mo- 
res, gente,  e  armas,  o  todo  o  que  mais 
cumpria.  E  fcyto  assi  tudo,  tendo  ja  a 
gente  prestes,  jjartio  da  Cidade  da  Guar- 
da no  mes  de  laneiro  de  mil  e  quatrocen- 
tos e  setenta  e  seis  annos,  entrou  em  Cas- 
tella  polia  villa  de  são  Felizes,  a  qual  lo- 
go tomou  por  força  por  estar  contra  el 
Kev  seu  pav,  e  a  deixou  por  sua  e  no 
combate  ouue  alguns  mortos,  e  feridos.» 
Idem,  Chronica  de  D.  João  II,  cap.  12. 
—  «Em  esto  mesmo  tempo,  c  anuo,  ouue 
o  Príncipe  de  Pêro  pautoja,  que  lhas  deu, 
as  fortalezas  de  Zaguala,  e  Pedra  boa  do 
mestrado  de  Alcântara,  em  que  logo  pos 
seus  alcaydes,  e  capitães,  e  por  ellas  lhe 
deu  em  Portugal  a  villa  de  Santiago  de 
Cacem.»  Ibidem,  cap.  16.  —  «E  no  mes 
de  Nouembro  deste  anno  de  mil  e  qua- 
trocentos e  oitenta  e  hum  forão  juntos  na 
Cidade  todos  os  grandes  senliores,  e  pes- 
soas principaes,  e  alcaydes  morea,  o  assi 
todos  03  procuradores  das  Cidades,  e  Vil- 
las  nutaueis  pêra  Cortes,  que  auiào  de 
fazer.»  Ibidem,  cap.  20.  —  «"No  qual  tem- 
po dom  loani  de  Sousa,  capitam  da  dita 
Villa,  adoeceo  a  morto,  de  maneira  que 
nào  podia  acudir  a  cousa  alguma  que  com- 
prisse,  e  por  não  morrer  por  muigoa  de 
tisicos,  e  cousas  necessárias  a  sua  saúde, 
ordenaram  todos  que  se  viesse  logo  a  cu- 
rar a  Portugal.»  Ibidem,  cap.  81.  —  «Os 
muros  e  toda  a  villa  era  cavada,  e  toda 
enramada,  e  muytas  intindas  bandeyras, 
e  as  ruas  espadanadas,  e  umyta  e  rica  ta- 
peç;iria,  as  janellas  com  simies  de  muyta 
alegria,  que  entam  todos  tinham.»  Ibi- 
dem, cap.  lol.  —  «Embarcados  nós  da 
nianevra  que  tenho  dito,  fomos  aquolle 
dia  ja  quasi  noite  dormir  a  huma  villa 
grande  que  se  chamava  Potimbeu,  e  ua 
cadea  delia  estivemos  nove  dias,  por  cau- 


sa das  niuyta«  chuvas  que  ouve  na  con- 
junção daquolla  lua  nova,  onde  quiz  nosBO 
Senlior  que  achamos  pre>o  iium  liomem 
Alemão,  que  nos  agasalhou  com  muvta 
caridade,  e  pci-guntandulhe  nii»  na  lin- 
goa  do  Cidm  ^com  a  qual  nos  cntondia- 
mos  com  olloj  donde  era  natural,  ou  co- 
mo viera  aly  terV»  Fernão  Mendes  Pin- 
to, Peregrinações,  cap.  Hh. —  «Dom  Vas- 
co (Joutiiiho,  (Jonde  de  Borba,  governar 
d<jr,  e  capitrio  d'eata  villa,  emprazado 
[lor  capitules,  que  dulle  durão  a  el  Uei 
Dom  João,  e  deixara  em  seu  lugar  dom 
Rodrigo  Coutinho  seu  sobrinho,  lilho  de 
Dom  Álvaro  Coutinho,  que  morreu  uo 
combate  de  Baltanaa,  quomo  tenho  dito 
na  Chronica  do  Principo  dom  João,  ho 
qual  dom  Rodrigo  gahio  a  pelejar  com 
esta  companhia  de  mouros,  que  era  gros- 
sa, e  de  boa  gente  de  guerra,  onde  foi 
desbaratado,  e  morto  com  dezasete  fidal- 
gos.» Damião  de  Góes,  Chronica  de  O. 
Manoel,  part.  1,  cap.  12.  — «E  correndo 
ha  costa  dez  legoas  contra  Melinde  lhe 
sairam  de  huma  villa  de  Mouros  chama- 
da Páte  oito  terraJas,  que  sam  naaios 
pequenos  de  guerra,  com  muita  gente, 
dos  quacs  se  desfez  as  bombardas,  e  por 
lhe  escacear  o  vento  lias  nam  seguio. » 
Ibidem,  cap.  44.  —  «Aos  quaes  todos 
dom  loam  fez  muito  gasalhado,  e  lhes 
deu  a  estancia  do  sino  que  elle  guardana 
para  sim,  com  esta  gente,  e  com  a  que 
auia  na  villa  se  acodia  a  todalas  partes.» 
Ibidem,  part.  4.  cap.  5.  —  «Fez  villas 
na  illia  da  madeira  os  lugares  da  ponte 
do  Sol,  da  Caliíeta,  e  os  separou  da  lur- 
diçam  da  cidade  do  Funclial.  Fez  villa 
do  lugar  do  porto  do  ludeu  na  ilha  ter- 
ceira com  nome  de  Sam  Sebastiam,  e  o 
separou  da  jurdiçam  da  villa  Dangra.» 
Ibidem,  cap.  86.  —  «Fez  villa  o  lugar  de 
Nordeste  na  ilha  de  S.  Miguel,  e  o  sepa- 
rou da  jurdiçam  de  villa  Franca.  Fez 
vila  o  lugar  de  saacta  Croz  na  ilha  da 
Madeira,  e  o  separou  da  jurdiçam  de  ila- 
i  hico.  Fez  villa  do  Ing-ar  dagoa  do  pao  da 
ilha  de  S.  Miguel.  Fez  villa  .do  lugar  de 
Tancos,  e  o  separou  da  jurdiçam  da  villa 
Datalaia.  Fez  villa  do  lugar  dos  arcos  de 
Valdevez.»  Ibidem.  —  «Cada  hum  quer, 
(jue  se  lhe  assista  ao  seu  negocio,  como 
se  outro  não  houvera ;  e  daqui  nascem  as 
queixas,  (|ue  porisso  saõ  muito  deaarre- 
zoadas.  Da  villa  de  (joes  vejo  a  esta 
Corte  certo  homem  de  bem  com  hama  ap- 
pellaçaõ  em  caso  crime.»  Arte  de  fartar, 
cap.  48. 


K  |K>rque  Hquelle,  a  quem  a  soberana 
Providoncia.  huma  loura  côr  tem  dado, 
N.1  biirbara  lintruagcra  Indiaiui 
Com  próprio  nome  gpu  Rume  he  chamado ; 
K  aquelle  c^ue  naaceo  lá  na  profana 
Turquia,  desta  cor  loura  he  dotado. 
Daqui  estj»  nova  17//(i  que  estou  vendo 
A  dos  Rumes  ac  dir,  sopundo  entendo. 

>°.   D'i>'nKXI>B,  PBOIEIBO  CBBOO  DB  DIC,  Caot.  5, 

est.  32. 


VILL 


VILL 


VILT 


949 


• —  <r  Pelas  três  da  tarde,  ckeguei  á  Ca- 
sa-Forte,  ou  villa  d'(Jurein,  onde  fechei 
a  visita  e  dei  as  providencias  que  me  pa- 
receram necessárias;  e,  embarcando  em 
um  bote  com  André  Coraino,  chegamos 
ao  sitio  de  Padre  (labriel  e  ahi  íicamos.» 
Bispo  do  Grào  Pará,  Memorias,  publica- 
das por  Camillo  Casteilo  Branco, 

—  Conietter  a  villa  com  mantas,  espin- 
gardaria, etc.  —  «No  qual  dia  vieraõ  co- 
meter a  villa  com  mantas,  picões,  espin- 
gardaria, besteiros,  que  por  serem  mui- 
tos, nenhum  dos  nossos  podia  assommar 
entre  as  ameas,  nem  aos  buracos  das  se- 
teiras que  logo  nào  fosse  pregado.»  Da- 
mi.ào  de  Ooes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  2,  cap,  28. 

—  Casa  do  campo. 

—  Moça,  ou  pessoa  de  villa ;  moça,  ou 
pessoa  pouco  polida,  e  urbana ;  em  oppo- 
siçào  á  certeza,  ou  creada  em  paga,  ou 
serviço  de  cortezàos,  e  gente  nobre. 

, — Cidade. — J.  villa  de   Guimarães, 

—  Villa  de  foro.   Vid.  Fôro. 

—  Adágios  e  provérbios  : 

—  Em  ruim  villa  briga  cada  dia. 

—  Quem  màe  tem  na  villa,  sete  vezes 
se  amortece  ao  dia. 

—  Alvoradas  á  villa,  que  beringellas 
ha  no  açougue. 

—  Nào  ó  villào  o  da  villa,  senào  o  que 
faz  villanÍR. 

—  Melhor  é  uma  casa  na  villa,  que 
duas  no  arrabalde. 

—  Quem  deixa  a  villa  pela  aldeia,  ve- 
nha-lhe  má  estreia. 

—  Quem  te  gabar  a  villa,  gaba-lhe  a 
cidade. 

—  Quem  não  tem  mesura,  toda  a  villa 
é  sua. 

—  De  uma  faisca  se  queima  a  villa. 

f  VILLAAO,  s.  m.  Vid.  Villão.  —  «Por 
que  muytas  uezes  acaece  que  o  homem 
faz  por  concórdia,  nem  ade  (sic)  descor- 
dia  pur  ende  assy  he  que  per  caiom  dos 
previlegios  que  os  nossos  antecessores  aos 
espitaaes  derom  e  eles  nom  husam  deles 
como  deuem  fazendo  preytezia  com  os 
lauradores,  e  con  os  seos  villaaos  que  Ihis 
façam  foro  certo  en  cada  huum  ano  des- 
sas herdades  e  lançam  em  elas  ssinaaes 
e  cruzes  ssen  que  deneguem  a  nós  o  nos- 
so dereyto.»  Doe.  de  1211,  em  Port. 
Mon.  Hist. 

VILLA-DIOGO,  s.  f.  Termo  usado  na 
seguinte  locução  popular :  Dar  <h  de  Vii- 
la-Diogo ;  fugir,  esgueirar-se,  raspar-se. 
Diz-se  do  mesmo  modo :  Tomar  as  de 
Villa-Diogo. 

VILLAGE,  s.  /.  Vid.  Villagem. 

VILLAGEM,  s.  /.  Villa. 

—  Logar  nào  fechado  de  mui-alhas, 
composto  principalmente  de  casas  de 
camponezes. 

—  Os  habitantes  da  villagem. 

—  Aldeia,  casa  rústica,  campestre. 
VILLÃ.  Vid.   Villão. 
VILLANAGEM,  s.  f.  Grupo  de  villàos. 


VILLANAMENTE,  adu.  (De  villão,  com 
o  sufTixo  «mente»).  Villãmente. 

VILLANAZ,  adj.  2  gen.  Grande  vil- 
lão. 

—  Substantivamente  :    Um  villanaz. 
VILLANGETE,  s.  m.  Poema  breve,  rús- 
tico, chacota. 

VILLANESCO,   A,   adj.  —   Composição 
villanesca.  Vid.  Villancete,  ou  Chacota. 
VILLANÍA,  s.  f.  ViUanagem. 

—  Figuradamente :  A  villauia  da  al- 
ma; qualidades  vis  da  alma  de  mau  vil- 
lào. 

VILLÃMENTE,  adv.  (De  villã,  com  o 
suffixo  «mente»).  De  um  modo  villão. 

1.)  VILLÃO,  Ã,  ÃA,  AN,  ou  VILLÕA, 
adj.  Rústico,  descortez,  próprio  de  vil- 
lão. 

—  Cavalleiro  villão ;  cavalleiro  que 
não  era  de  linhagem,  e  ia  á  guerra  a 
cavallo,  ou  era  obrigado  a  mantel-o,  se- 
gundo a  contia  da  sua  fazenda,  chamado 
outr'ora  cavalleiro  acontiado. 

—  Villãos  cuidados  ;  baixos. 

—  Acção  villã;  acção  própria  de  vil- 
lão, rústica. 

2.)  VILLÃO,  s.  m.,  VILLÃ,  ÃA,  AN, 
ou  VILLÒA,  s.  /,  Homem  ou  mulher  que 
mora  em  villa. 

—  Pessoa  baixa,  injuriosamente. 

—  Camponez,  ou  camponeza. 


Vi  soberba  nos  villàos, 
e  baixeza  no3  honrados, 
vi  cubi(;a  nos  prelados, 
descuido  nos  anciãos, 
e  desordens  nos  estados. 

OAECIA  DB   IIEZF.NDE,  MI3CKLLÍNRA. 


—  f  Com  tudo  auia  na  borda  delle  hum 
magote,  de  quasi  trezentos  villãos  adar- 
gados, que  todos  juntos  fezeraõ  rosto  aos 
nossos,  os  quaes  dom  Bernardo  commet- 
teo  com  a  sua  gente,  porque  loam  da 
sylua  passara  huma  ponta  de  rochedo, 
que  entra  IH)  rio,  para  dar  em  outra  com- 
panhia de  Mouros,  que  por  aquella  ban- 
da se  saluaram  a  nado. »  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  48. 

—  Acção  de  villão ;  acção  baixa,  vil, 
abjecta. 

—  Termo  de  desprezo.  Villão,  ou  vil- 
lã ruim;  homem,  ou  mulher  rústica,  iu- 
civil. 

—  Pessoa  cível,  não  nobre,  não  fi- 
dalga. 

—  Pena  de  villào  ;  pena  vil  como  açou- 
tes, galés,  etc. 

—  Flur.  Villãos,  ou  villões.  —  €  Ne- 
grinho, negrinha  a  que  se  digam  reque- 
bros; engeitadinhos  graciosos,  villôes  sim- 
ples (que  ás  vezes  nào  são  simples)  ves- 
tidos de  cores,  que  se  chamam  Dons  fu- 
lanos, entram,  e  vão  por  donde  querem, 
não  quizera  eu  que  entrassem,  nem  fos- 
sem por  casa  de  v.  m.  Tudo  isto  na  mi- 
nha má  opinião  é  reprensivel;  e  folgara 
de  o  ver  longe  das  portas  de  meus  ami- 


gos.» Francisco   i\Ianoel  de  Mello,  Carta 
de  guia  de  casados. 

—  Adágios  e  provérbios  : 

—  Villão  quer-se  espremido  como  o  li- 
mão. 

— ^Do  villão,  e  do  limão,  o  que  ti- 
ver. 

—  Não  dar  o  dedo  ao  villão,  porque  te 
tomará  a  mão. 

—  Quando  o  villão  é  rico,  não  tem 
parente,  nem  amigo. 

—  Não  é  villão  o  da  villa,  senão  o 
que  faz  villania. 

—  Se  queres  saber  quem  é  o  villão, 
mette-lhe  a  vara  na  mão. 

—  A  cabo  de  cem  annos  os  reis  são 
villões,  e  a  cabo  de  cento  e  seis,  os  vil- 
lões são  reis. 

—  A  força  do  villão  ferro  em  meio. 

—  Bem  come  o  villão,    se  lh'o  dão. 

—  Estende-se  como  villão  em  casa  do 
seu  sogro. 

—  Quanto  se  faz  ao  villão,  tudo  é 
maldição. 

—  Obra  é  de  villão,  tirar  pedi-a,  es- 
conder a  mão. 

—  O  nogal,  e  o  villão,  ás  pancadas 
dão. 

—  A  burra  do  villão,  mula  é  de  ve- 
rão. 

—  Se  o  villão  soubesse  o  sabor  da  gal- 
linha  em  janeiro,  nenhuma  deixaria  no 
poleiro. 

—  Villão  farto  de  alhos. 

—  Sanha  de  villão,  perda  de  sua  casa. 

—  A  vacca  do  villão,  se  no  inverno 
dá  leite,  melhor  o  dará  no  verão. 

—  Ficou  o  villão  como  aguilhada  na 
mão. 

VILLÃOSINHO,  s.  m.  Diminutivo  de 
Villão. 

VILLÃOZÃO,  Ã,  a.lj.  2  gen.  Augmen- 
tativo  de  Villão.  Viil.  Villanaz. 

VILLAR,  s.  m.  Termo  antiquado.  Ca- 
sal ou  aldeia. 

VILLETA,  s.  /.  Villa  pequena. 

VILLICO,  s.  m.  (Do  latim  villicus). 
Abegão.  feitor,  caseiro. 

VILLÔA,  s.  /.  Vid.  Villã,  termo  me- 
lhor, e  talvez  preferível. 

VILLOTA,  s.  f.  Villa  pequena,  e  de 
pouca  importância. 

VILLULA,  s.  f.  Prédio  rústico,  herda- 
de pequena,  insigniticante. 

VILMENTE,  adv.  (De  vil,  com  o  suffi- 
xo «mente»}.  De  um  modo  vil,  e  baixo. 

—  Com  villeza,  sem  nobreza. 

—  Por  baixo  preço. 

VILTA,  s.  /.  Termo  antiquado.  Pala- 
vra ou  acçào  para  aviltara  outrem. 

—  Deshonra,  aíFronta,  vitupério  que 
envilece  a  quem  a  soffre. 

VILTADO,  2Jart.  pass.  de  Viltar.  En- 
vilecido, deshonrado,  abatido  moralmente. 

VILTANÇA,  s.  /.  Termo  antiquado.— 
Receber  viltança  ;  receber  deshonra,  aba- 
timento vil. 

—  Aviltamento. 


950 


VIMO 


VINA 


VDÍC 


VILTAR,  V.  a.  Toriiio  antiquado.  Des- 

lionrar,  íiffrontar. 

—  Envilecer,  aviltar. 

f  VIM.  F/jrma  tio  vorho  vir  na  primei- 
ra ytossoa  (lo  sinerular  tio  pictorito  porfei- 
to  do  modo  indicativo.  Vid.  Vir. 


Olhae  80  o  lovou  o  pato, 
Inda  não  to.ndcs  carniça? 
Poiílio  per  cajo  que  algucm 
Vem  como  cu  vim  aftora, 
K  vótt  a  0ticui°a!«  a  tal  hora ; 
Parcce-voA  que  scra  bem? 

OIL  VICUMTR,  FXRÇÁS. 


E  eu  também  merecia 
Metida  a  grave  tormento, 
l\)irt  que,  como  não  devia, 
Vim  a  dar  couâeutimcuto 
A  tào  sobeja  ousadia. 

'     CAU.,  FILODKMU,  act.   4,  8C.  6. 


VIMA,  s.  /.  Emplasto  feito  pelos  cam- 
ponezes. 

VIME,  8.  m.  (Do  latim  vimen).  Arbus- 
to que  produz  vai-inlias  tenras  de  que  se 
tecera  cestos   rústicos,  e  servem  de  atar. 

—  Na  tanoaria  servem  para  prender 
08  arcos. 

—  Varinha  de  vimeiro. 

VIMEIRO,  s.  m.  Arbusto.   Vid.  Vime. 

—  Vimeiro  ordinário. 

—  Vimeiro  do  norte,  ou  salriueiro  fran- 
cez. 

VIMEM.  Vid.  Vime. 

VIMINEO,  A,  adj.  (Do  latim  vimi- 
»ieus).  Termo  de  poesia.  De  vime.  —  Ces- 
tos vimineos. 

-|-  VIMOS.  Fi'irma  do  verbo  vèr  na  pri- 
meira pessoa  do  plural  do  pretérito  per- 
feito do  modo  indicativo.  Vid.  Vér. 


Ho  mestre  tã  grã  priuado, 
que  Castella  assi  mandou, 
Condestablo  prosperado, 
que  tauto  senhoreou, 
vimos  morto  dcgoUado. 

OAUCIA  Dl!  RCZUNDC,  UI3CKI.I.AMB&. 


Vimos  bem  brcucs  medranças, 
e  outras  bem  vafiarosas, 
vimos  ja  muytas  priuauças 
ficar  com  vàas  esperanças, 
c  outras  bem  provcctosas. 

lUlDCM. 


Vimos  muyto  espalhar 
Portugueses  uo  viuor, 
Brasil,  ilhas  pouoar, 
e  aas  índias  yr  morar, 
natureza  lhe  esquecer. 


Vimos  falescor  na  corte 
senhores  velhos  hom-ados, 
todos  muy  aprossurados 
lios  vimos  louar  a  morte 
sem  falia,  nem  confessados. 


Vimo»  o  gr»m  Mirliael, 
Albrito  c  Uaphacl  ; 
n  em  Portugal  lia  taes, 
tani  grande,!  o  naturais, 
<pii:  vc  in  quasi  ao  Imel. 


VimOH  alçar  Uranca  rosa 
por  Iley  inuytos  dos  Iiigleaos, 
foy  cousa  marauilhosa 
que  cm  dias  c  non  em  meses 
juntou  gente  muy  fennosa. 

—  «O  qual  quando  assi  vimos  por  so 
s.'iluaçrio  de  nossa  pessoa  nos  tingimos 
doente,  e  estando  assi  com  os  nos.sos,  per 
Imma  divinal  inspira^^jlo  de  uosso  Senhor, 
nos  esfori;amos,  e  chamamos,  os  nossos 
xxxvi  homens,  e  com  cUes  nos  appare- 
Ihanios,  e  nos  fomos  com  elles  a  praya 
da  Cidade,  onde  o  dito  nosso  l'ai  fale- 
ceo,  onde  pente  de  numero  infindo  esta- 
ua  com  o  dito  nosso  irn)ão,  e  alii  brada- 
mos por  nosso  Senhor  Jesu  Christo.»  Da- 
mião de  Ctocs,  Chronica  de  O.  Manoel, 
part.  3,  cap.  38.  —  «15  em  quilto  dura- 
raõ  estas  altercações,  quiz  Deos  que  es- 
clareceo  a  menhri,  cm  que  distintamente 
vimos  que  ora  gente  que  se  perdera  no 
niai-,  que  andava  sobre  paos,  então  lhe 
pusemos  afoutamente  a  proa  a  vella  e  a 
remo,  o  chegandonos  bom  a  elles  para 
que  nos  conhecessem,  gritarão  muyto 
alto  por  seis  ou  sete  vezes,  sem  dizerem 
outra  cousa,  senão,  Senhor  Deos  miseri- 
córdia.» Fernão  Mendes  Pinto,  Peregri- 
nações, cap.  òo.  —  lAquella  noite  se- 
guinte, sendo  qua.si  o  quarto  da  modor- 
ra rendido,  vimos  no  meyo  do  rio  por 
nossa  })roa  estar  huma  barcaça  surta, 
dentro  na  qual  pelo  grado  aperto  e  ne- 
cessidade em  que  então  estávamos,  nos 
foy  forçado  entrarmos  sem  tumulto  nem 
rebuliço  algum,  e  nella  tomamos  cinco 
homens  que  achamos  dormindo. p  Ibidem, 
cap.  74.  —  «Dahi  proscguimos  e  de  ca- 
minho vimos  o  engenho  de  moer  cana  de 
assucar,  iiào  com  cavallos  ou  bois  como 
os  outros,  mas  sim  com  agua,  tendo  por 
fi')ra  um.a  azenha  ou  moinho  de  cubo  ex- 
cellente.»  Bispo  do  (irão  Pará,  Memorias, 
publicadas  por  Camillo  Castello  Branco, 
pag.  205. 

VIMOSO,  A,  adj.  De  vimes. 

VINA.   Termo  antiquado,  por  Vinha. 

VINAGRADO,  ijart.  jyass.  de  Vinagrar. 

—  Figuradamente:  /lazSes  vinagradas  ; 
razões  azedas,  acerbas. 

VINAGRAR,  1-.  n.  Avinagrar-se,  aze- 
dar-se  como  o  vinagre,  entrar  na  fermen- 
taç.^o  acida. 

VINAGRE,  s.  m.  (Do  francez  vitiai- 
gre).  A  calda  doce,  ou  mosto  de  certos 
fnicios,  o  grãos  farináceos,  que  depois 
de  entrar  na  fermentação  vinosa,  passa 
a  azedar.  —  « E  aqui  está  escondido  ou- 
tro segredo  natural,  que  aquella  agua 
botada  aos  poucos,  se  vay  convertendo 
em  viaagre,   e  ás  vezes  maia  forte,   por- 


que BC  destempera;  c  nesta  parte  he  co- 
mo o  ca5  damnado,  que  irritado  ue  aze- 
da muis.»  Arte  de  furtar,   cap.  .'ó. 

—  I>oC'.  KKi. :  K  um  vinagre;  tem  pe- 
nio  azedo,  denabrido. 

—  AlJAOIO.S   E  PUOVKBBIOS  : 

—  Apregoa  vinho,  e  vende  vinagre. 

—  De  bom  vinho  bom  vinagre. 

—  Estou  feito  de  fel  e  vinagre. 

—  Olha  o  vinagre,  famoiio  vinagre  é 
fulano. 

VINAGREIRA,  ».  f.  V&no  onde  se  faz 
o  vinagre. 

—  Herva,  aliás  ateda». 

—  Vaso  que  contém  o  vinagre. 
VINAGREIRO,  «.  m.    Homem    que    faz 

vinagre. 

—  Homem  que  vendo  vinagre. 
VINALIAS,  «.  /.  jtlnr.  Festas  celebra- 

dae  pulos  romanos  em  honra  de  Júpiter 
ant'js  de  principiarem  as  vindimas,  e  na 
primavera  em  honra  de  Venos  ao  oome- 
çfir  a  beber-sc  o  vinho  novo.  » 

VINARIO,  A,  luJj.  Próprio  para  vinho. 
—  Cata  vinaria. 

—  Casa  vinaria;  casa,  ou  cella  em 
que  no  tempo  de  Salomão  se  guardavam 
os  mais  preciosos  vinhos  do  Líbano. 

VINCADA,  a.  f.  Vinco,  rego. 
VINCAPERVINCA,  s.  /.  Herva. 

—  Vid.  Clematite. 
VINCENTE.   Vid.  Vicente.  v>  — 
VINCETOXICO,  s.   m.    iDo  latim    vin- 

cere,  e  do  grego  tirikon).  Herva  oontra- 
voneno.  Vid.  Hirundiaria. 

VINCILHO,  «.  «I.  Vid.  Vencelho. 

VINCO,  s.  111.  O  signal  que  fica  no  que 
esteve  dobrado,  ou  por  onde  passoa  a 
roda. 

—  Vincos  das  orelhas;  por  britíco». 
VINCULADO,   fart.  pass.  de  Vincular. 

Preso,  ligado. 

—  Annexado. 

—  Vinculado  com  TtieUrimonio;  ligado, 
obrigado  por  elle. 

—  Vinculado  por  pacto,  ajtuU;  liga- 
do, obrigado  por  elles. 

VINCULADOR,  A,  s.  Pessoa  que  vin- 
cula, que  liga. 

VINCULAR,  1-.  a.  Prender,  ligar. 

—  Annexar. 

—  Dar  para  sempre. 

—  Figuratiamente :  Vincular  bens ;  an- 
nexar senhorio,  ou  usufructo  dos  bens  a 
certa  pessoa,  e  .«eus  deecendenlee,  de 
um  modo  inalienável. 

—  Vincular-se,  v.  refi. — Vincnlar-se 
por  parenlescii,  ebrigaç^,  caridade  com 
alguém  ;  ligar-»o  com  elle. 

VINCULATIVO,  A,  a«7j.  Que  eerve  de 
vincular.  —  Pacto  vinculativo.  —  Dispo- 
siçilf)  viuculativa. 

VINCULATÓRIO,  A.  adj.  Que  serve  de 
vincular.  Vid.  Vinculativo. 

VINCULAVEL,  ,idj.  2  gen.  Que  se  pô- 
de vincular.  —  lii-i)."  vinculáveis. 

VINCULO,  s.  m.  (^Do  latim  viMtdnm). 
Ataduia,  liame. 


VIND 


VIND 


vmD 


951 


—  Correlação,  ou  relações  obrigatórias 
de  deveres,  reconhecimentos,  prestanças. 

—  O  laço  moral,  prisão  voluntária.  — 
O  vinculo  matrimonial. 

■ — ■  Bens  vinculados. 

—  A  obrigação  nascida  da  vontade  ou- 
torgante,  e  imposta  pela  lei. 

—  Vinculo  de  morgado,  ou  capella ;  ins- 
tituição de  uma  administração  de  bens 
para  certa  linhagem,  inalienáveis,  one- 
rados com  encargos.  Vid.  Vincular  bens. 

VINDA,   s.  /.  A  acção  de  vir.  —  «Es- 
tando envolto  antre  umas  e  outras  magi- 
nações,  chegou  o  principe  Primalião   seu 
filho,  a  que    já    fora    a    nova   das  vindas 
das  galés,  que  o    fez    cavalgar;    e    assim 
com  pouca  campanha  se   foram  ao  porto, 
onde  os  seus  desembarcavam.»    Francis- 
co  de    Moraes,    Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  122.  —  «A  qual  paixão  naõ  somen- 
te moueo  os  principaes  per  cuja  mão  an- 
te da  nossa  vinda  corria  este  tracto,  mas 
ainda  ac  genro  d'elRey  que  era  o  maior 
contrario  que  alli  tínhamos  :  aqueixando- 
se  a  elRey  mui  grauemente   de   dar   azo 
a  que  as  cousas  viessem  àquelle  termo.» 
Barros,  Década  1,  liv.  10,  cap,  3. —  «E 
porque  ao  diante    particularmente    have- 
mos de  tratar  do  effeito  que  houve  a  vinda 
deste   Mattheus,    e  assi  do  estado,  e  cou- 
sas deste  Rey  da  Abexya    que  o  enviou, 
baste   '.U.aii^^esente    saber,    que    Affonso 
d'Alboquerque    mandou    este    Embaixa- 
dor aquelle  anno  em  as  náos  que  vieram 
com  especiaria.»  Idem,  Década  2,  liv.  7, 
cap.  6. — -«Ordenadas  estas  cousas,  quan- 
do veio  a    hora  da  vinda  d'ElRey,    por- 
que tardava,  mandou-lhe  Affonso  d'Albo- 
querque  dizer  per  o   Secretario    Pêro   de 
Alpoem,    e   Alexandre   d' Ataíde   lingua, 
que  estava  esperando  por  elle,  e  levaram 
comsigo  as  trombetas  pêra  virem   com  a 
pessoa  d'ElRey. »    Ibidem,  liv.    10,    cap. 
5.  —  «E   se    havemos    de  crer  a  Beroso, 
Diodoro  Siculo,  Mestre  Annio,    e    outros 
Authores  gravíssimos,  também  os  Hespa- 
iihoes  descendem  destes  Tártaros,  e  Ma- 
gores ;  porque  dizem  elie>,  que  quasi  nos 
annos  de  cento  e  oitenta  annos  antes  da 
vinda  de  Christo,  quando   Dionvsio    Rey 
do  Egypto  (por  outro  nome  Osiris)  foi   a 
Hespanha,    e   matou   o   tyranno   Gerion, 
que  já    vinha   do   rodear   toda    Africa,  e 
Ásia  e  os  desertos,  e  últimos  fins  da  Ín- 
dia.» Diogo  de  Couto,  Década  4,  liv.  10, 
cap.  2.  —  «Nuno  fernandez  dataide  o  fez 
assi  como  o  uíandara  dizer  a   Iheabenta- 
fuf  porque  logo  pela   manhãa    despachou 
Lopo    barriga    com    duzentas    lanças,    e 
atras  elle  Nuno  da  cunha  com  trezentas, 
mas  sua  vinda  foi  excusada,  porque  quan- 
do chegaram  o  campo  dei  Rei  de  Marro- 
cos era  de  todo  desbaratado.»  Damião  de 
Góes,   Chronica  de  D.  Manoel,    part.   3, 
cap.  35.  —  «Como  disse  no  Domingo  pas- 
sado, todos  estes  quatro  Domingos  antes 
do  nascimento  do  Senhor  estão  consagra- 
dos ao  mysterio  de  sua  vinda  e  encarna- 


çã,  e  em  todos  elles  sospira  a  Sãcta  Ma- 
dre igreja  por  sua  vinda,  e  como  se  em 
dia  de  natal  ouuesse  de  nacer  de  nouo.» 
Ibidem,  part.  2,  cap.  70.  —  «Tanto  quo 
o  Principe  foy  em  Touro,  por  o  grande 
fauor  que  ei  Rey  seu  p.iy,  e  todos  com 
saa  vinda  receberam,  porque  el  Rei  dom 
Eernamlo  tinha  cercado  o  castullo  de  Za- 
mora, determinarão  logo  de  yrem  cercar 
a  Cidade  da  outra  parte  da  ponte,  ho 
que  logo  fizeram,  e  deixou  el  Rey  com  a 
Raynha  em  Touro  o  Duque  de  Bragan- 
ça, e  o  Conde  de  Villa  Real  com  a  gen- 
te que  compria.»  Garcia  de  Rezende, 
Chronica  de  D.  João  II,  cap.  lo.  —  «E 
pêra  isto  repartio  o  auno  em  diuersos 
tempos  couuem  a  saber  ante  Natal  toma 
quatro  semanas  pêra  celebi'ar  o  mysterio 
da  vinda  do  Senhor  em  carne,  e  pêra 
aparelhar  seus  filhos  a  cteuotamente  rece- 
berem seu  senhor  nascido,  o  qual  tempo 
chamou  Aduento.»  Er.  Bartholomeu  dos 
Martyres,  Catecismo  da  doutrina  christã. 

Confuso  o  Capitão,  suspenso  fica 
Tanto  quo  lhe  chegou  disto  o  recado, 
Porque  esta  vinda  eutào  lhe  proguostica 
Algum  estranho  mal,  e  náo  cuidado ; 
Mas  nada  então  de  tora  notifica 
O  que  o  seu  peito  tem  dentro  encerrado, 
O  sobresalto  o  apressa,  elle  o  primeiro 
Deseja  d  ir  buscar  logo  o  Faleiro. 

F.    DANDRADE,    PRIMEIRO   CEKCO   DE    DIU,   CaUt.  14, 

est.  T(j. 

—  «Engolfou-se  o  marido  em  serviços, 
e  esperanças,  e  não  fazia  conta  do  vir 
tão  cedo.  Enfadava-se  a  mulher,  e  lhe  re- 
queria muitas  vezes  que  viesse ;  mas  des- 
esperada já  da  vinda,  dizem  que  lhe  es- 
creveu em  catalão  estas  palavras:  Mo- 
sen  Gralha,  Mosen  Gralha,  mon  amor 
non  manha  palha,  t  D.  Francisco  Manoel 
de  Mello,  Carta  de  guia  de  casados. 

—  Vinda  do  mez.  Vid.  Vida  do  mez. 

—  Loc. :  Dar  as  boas  vindas;  dar  os 
emboras  a  quem  chegou  de  novo  á  terra. 

f  VINDE.  Forma  do  verbo  vir  na  se- 
gunda pessoa  do  plural  do  modo  impera- 
tivo. Vid.  Vir. 

Viiide  acceudor  na  Etruria  o  facho  oxtincto... 
J;l  na  mão  da  sciencia  arde,  e  se  inflamma! 
Aunu\'iada,  o  barbara  atO  .igora, 
bobo  ao  throuo  iramortal  Filosofia. 

J.    A.    DK   3I.4CEDO,   MEDITAÇÃO,    CaUt.    1. 


—  «Nobre  dama  comnosco  ao  régio  Affonso 
Vinde;  e  rceebereia  honra  o  justiça, 
Qual  se  vos  devo  Nome  e  sangue  ignoro 
De  tam  bolla  senhora,  mas  poreorto 
D'alta  progénie  o  tenho.» 

QAKnETT,  D.  BRANCA,  caut.  8,  cap.  2. 


—  nSou  cu,  amigo  ; 
Cavalleiro,  sou  eu.  Vinde;  á  justiça 
Porta  abrimos  emfim  :  ver- vos  deseja 
K  ouvir- vos  o  monarcha. » 

—  "A  mim !» 
IDEM,  CAMÕES,  caut.  õ,  cap.  14. 


VINDICAÇÃO,  s.  /.  (Do  latim  vindica- 
tio).  A  acção  de  vindicar. 

—  Apologia. . 

—  Defesa.  —  A   vindicação   da  honra. 

—  Vingança,  punição. 
VINDICADO,  part.  jmss.  de  Vindicar. 

—  Vid.  Vingado. 

VINDICAR,  V.  a.  (Do  latim  vindicarej. 
Pedir  a  restituição  do  que  é  nosso  por 
demanda,  por  armas. 

—  Impor  penas,  castigar,  punir. 

—  Defender.  —  Vindicar  a  verdade. 

—  Tomar  o  que  se  nos  tirou. 

—  Cobrar,  recuperar. 
VINDICATIVO,  A,  adj.  Qne  ó  propenso 

á  vingança. 

—  Punitivo. 

VINDICO,  A,  adj.  Que  veio  para  a  terra 
onde  está,  estranho  n'ella. 

—  Chegado  de  ha  pouco,  ou  a  algum 
negocio. 

VINDICTA,  s.  /,  (Do  latim  vindicta). 
Vingança.  Vid.  Vendita. 

—  Castigo,  punição  legal. 
VINDIMA,    s.  /.    (Do  latim  vindemia). 

O  trabalho  de  vindimar. 

—  A  uva  vindimada. 

—  O  tempo  de  vindimar. 

—  Ad.4gios  e  provekbios  : 

—  A  vindima  molhada  acaba  cedo  al- 
liviada. 

—  Até  o  lavar  dos  cestos  ha  vindima. 

—  Vindima  molhada,  pipa  asinha  des- 
pejada. 

—  Não  ha  cada  dia  Paschoa,  nem  vin- 
dima. 

—  Agosto  e  vindima  não  é  cada  dia. 

—  Folgar  galinhas,  que  o  gallo  é  em 
vindimas. 

—  Rainha  é  a  gallinha,  que  põe  ovos 
na  vindima. 

—  O  velho  põe  a  vinha,  e  o  velho  a 
vindima. 

—  Vindima  enxuto,  colherás  vinho  pu- 
ro. 

—  Agosto  madura,  setembro  vindima. 

—  Quem  não  poda  em  março,  viudima 
no  regaço. 

—  Por  Santa  Marinha  vac  vêr  tua  vi- 
nha; e  qual  a  achares,  tal  a  vindima. 

—  Dia  de  S.  Matheus  vindima  o  sisu- 
do, semeiam  os  sandeus. 

—  Quem  com  o  demo  cava  a  vinha, 
com  o  demo  a  vindima. 

VINDIMADELHA,  t./.  Mulher  quo  vin- 
dima. 

VINDIMADO,  part.  pass.  de  Vindimar. 

—  Vinha  vindimada;  vinha  d 'onde  se 
colheram  os  cachos. 

—  Figuradamente :  Perdido,  morto, 
acabado. 

—  Loc.  POP. :  Passar  j>or  alguma  cou- 
sa como  por  vinha  vindimada ;  passar  ra- 
pidamente, .=;cm  obstáculo  nem  impedi- 
mento. 

VINDIMADOR,    A,   s.  Pessoa  que  anda 
vindimando.  Vid.  Vindimadeira. 
VINDIMADURA,  *.  /.  Vid.  Viudima, 


952 


VIND 


VING 


VING 


VINDIMAL,  aãj.  2  gen.  Conoeriionto  áh 

viiuliiiias,    011    collioita,   e  feitura  iIoh  vi- 

IlIlllH. 

VINDIMAR,  i).  a.  Colher  aH  uva»  das 
vinhas  ou  parreiraw. 

—  Fif^uradauioiitc:  Matar,  acabar. 

—  V.  11.  ('(lUu^r  cachou,  uvas,  apa- 
iiiiai-aH. 

VINDIMO,  A,  (vlj.  Serôdio,  do  tempo 
da  viudiíua.  —  Fruta  vindima. 

—  ('iisti)  vindimo ;  cesto  ((ue  servo  nas 
vindimas  de  reooirter  as  uvas. 

—  Fi<j(is  vindimos  ;  iigos  quo  se  colhem 
jior  .s<jt(!nil)ro  ou  outubro. 

VINDITA,  s.  f.  T.irnio  antiquado.  (» 
meaiiio  que  Vindicta.  Vid.  Vendita. 

VINDO,  jiavi.  acf.  e  pass.  do  Vir.  Q.uo 
voio,  (juo  clie^^ou,  chefiando. 

Vo  do!)  monte»  da  Ijiia,  o  fjrando  Astapo 
Da  sua  Cntiidúpa  dcspoiíliavso: 
Vindo  com  ticte  bocas  com  bramido 
As  ondas  piofnndiasimas  buscando. 

OOETB  EKAL,  NAUFRÁGIO  BB  SEPÚLVEDA,  Cant.    'J . 

—  «Porque  vindo  o  exercito  per  terra 
hum  pouco  derramado,  como  por  sua  pró- 
pria torra,  acertou  de  vir  ter  huiiia  parte 
dellc  á  Cidade  Calantam,  quo  esta  entre 
1'atane,  e  Pam;  e  como  agente  da  i;ucr- 
ra  he  desmandada,  c  solta,  e  jirincipal- 
mento  em  ausência  do  seu  Ca{)itào  mór, 
começou  de  fazer  alj^umas  forças  em  rou- 
bar, o  forçar  mulheres,  entre  as  quaes 
foram  duas  mui  nobres  casadas  com  dous 
lilhos  do  (lovornador  da  (Jidadc.»  ]5ar- 
ros,  Década  2,  liv.  G,  cap.  1,  —  «Em 
sois  dias  aíVcrrou  Baçaim,  vindo  buscallo 
ao  navio  D.  Jeronymo  de  Menezes  seu 
cunhado,  Capitiio  Mor  daquella  Fortale- 
za, consolando-se  reciprocamente  hum  na 
morte  do  irmào,  outro  do  iillio.  E  porque 
o  (Jovernador  não  queria  ter  ociosas  as 
armas,  despachou  D.  Manoel  de  Lima 
com  seis  navios  lij^eiros,  para  quo  na  an- 
seada  do  Cambava  fizesse  algumas  pre- 
sas nos  navios,  quo  soccorrião,  ou  baste- 
ciSo  Campo  do  inimigo.»  Jacintho  Freire 
d'Audrade,  Vida  de  D.  João  de  Castro, 
liv.  3. 


Vo\  filho  ou  companlicivo  do  Tlicbauo, 
Que  tão  divovsas  pai-tcs  conquistou : 
Pároco  L-iitdo  ter  ao  ninlio  Hispano, 
Seguindo  as  armas  que  coutino  usou. 
Do  Douro,  e.  Guadiana,  o  campo  ufano, 
Ja  dito  Elysio,  tanto  o  contentou, 
Que  alli  quiz  dar,  aos  ja  causados  ossos 
Eterna  sepultura,  e  nomo  aos  nosáos. 
OAM.,  Lus.,  cant.  H,  est.  3. 

—  Chegada. —  «Com  que  logo  aquoUa 
noite  na  baixamar  em  as  estacas  ti/.eram 
ao  raacliado  grandes  prezas,  ontle  amar- 
raram cabos  do  linho  grosso;  e  vinda  a 
maré,  que  alevantou  a  mi",  o  navios,  a 
força  da  agua  fez  arrincar  as  estacas 
sem  mais  cabrestante,  c  per  este  modo 
lizcram  lugar  com  que  entraram,  o  foram- 


se  ajuntar  com  a  caraveila,  e  batel  de  João 
(íomos.B  Harroi,  Década  2,  liv.  7,  cap.  f). 
—  «Porém  vinda  a  e.urella,  olles  ventá- 
ram  tilo  poucos  dias,  quo  saliido  do  porto 
com  toda  a  frota,  nJlo  pode  ir  mais  avante 
quo  té  humas  lilias,  que  estain  já  no  mar 
largo,  onde  os  ponontes  lhes  deram  de 
rosto,  o  o  detiveram  alli  vinte  e  dous 
dias.»  Ibidem,  liv.  8,  cap.  2.  —  «Peró 
vindo  os  poiientes,  que  começaram  a  quin- 
ze do  .Julho,  sahio  Allouso  d'Alboqui;r- 
que  com  toda  a  frota,  leixando  aquella 
Ilha  Camaram  sem  lierva  verde,  nem 
cousa  viva,  o  assolado  quanto  nolla  ha- 
via sem  ficar  podra  sobre  pedra.»  Ibidem, 
cap.  iJ.  —  «Foram  estos  mouros  vindos 
aa  chiua  o  espalhados  nella  na  maneira 
seguinte.  Tinham  os  mogores  do  quo  fa- 
lamos no  prinei})io  <la  oijra  contrataçam 
con\  O.S.  chinas  com  (juem  coidiíiam  inda 
que  ha  lugares  desertos  no  moo. «  Frei 
(laspar  da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da 
China,  cap.  28. 

VINDOURO,  A,  a<lj.  Que  está  por  vir, 
futuro. 

—  /»i/or<unío  vindouro  ;  infortúnio  que 
está  para  vir. 

—  tí.  piar.  Os  homens  que  so  hSo  do 
seguir  á  geração  presente. 

—  A  posteridade. 

VINEO,  A,  ndj.  (Do  latim  vineus).  Do 
vinho.  —  O  vineo  cnpo. 

VINER.  Termo  antiquado.  Vid.  Vir. 

VINGADO,  part.  pass.  de  Vingar.  A 
quem  se  deu,  que  tomou  vingança. 

—  Lavoura  vingada ;  chegada  a  estado 
de  colhcr-se. 

—  Chegado  a  tei-mo. 

—  Estou  vingado ;  de  quem  se  tomou 
vingança. 

—  Crime  vingado ;  crime  punido,  cas- 
tigado. 

—  Injuria  vingada  ;   injuria  castigada. 
VINGADOR,   A,  s.    o   «jj.  Quo    vingou 

alguém  de  outrem,  quo  tomou  vingança. 

—  ( 'astigador,  puuidor.  —  Deus  vin- 
gador <le  nossos  pi^ccados, 

—  Que  serve  de  castigar,  de  punir. 
VINGANÇA,  s.  /.  A    acção  de  vingar- 

se.  —  «Alguns  velhos,  e  meninos,  que 
não  pudérão  salvar-se,  mandou  o  (gover- 
nador livrar  do  incêndio;  misericórdia 
aos  soldados  importuna,  grata  á  humani- 
dade. Os  despojos  se  entregarão  ao  fogo, 
sendo  menor  a  preza,  que  o  destroço. 
i\Iuitos  outros  lugares  daqncUa  Costa,  sem 
nome,  forào  arruinados,  ticando  este  cer- 
co de  Diu  mais  famoso  pela  vingança,  do 
que  pela  victoria.  »  Jacintho  Freire  de 
Andrade,  Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv. 
2.  — ■  «Francisco  do  Miranda,  fizera  o 
que  clles  fizorão,  e  por  isso  me  auerey 
com  elles  temperadamente,  o  logo  sem 
outro  mais  requerimento  mandou  cessar 
as  deuassas,  o  inquirições,  sem  falar  nis- 
so mais,  porque  fora  sobre  vingança  de 
injuria  de  pay.»  ('areia  de  Kozende, 
Chrouica  de  D.  João  II,  cap.  145. 


Toda  a  ira  o  desejo  de  vingan^ 
Súlta  contra  h<|ui:1Ic  baluurtc 
Do  <|ual  tens  tu,  F'ro';n(,'a,  a  fçovrriiança, 
l'orém  tu  HaberAit  t!imb<;in  puardart*. 
Do  SC  viii);ar  aijui  tom  conAi>iu;a 
Do  hiaI  (|ue  recebera  noutra  part«, 
I>á-lbe  isto  tal  fervor,  tamanlio  alento 
(jue  não  Me  'juiz  deti:r  mais  bum  momento. 

r.    r)'AHIlBAIiK,   PBIMEIHO  CKBCO  DK  DIU,  CaOt.    18, 

o»t.  33. 


—  Loc. :  Dar  vingança  dv  uvia  pes- 
soa a  outra ;  castigar  essa  pessoa  yMjla 
injuria  que  ella  fez  a  essa  a  quem  se  dá 
a  vingança. 

—  Mostrar  vingança ;  dar  tal  castigo 
que  appareça.  Vid.  Mostrar. 

—  O  acto  de  casti^rar. 

—  Tomar  vingança  «/e  a/ifum  delictu  ; 
vingar  outrem,  ou  a  si  d'elle. 

—  Fazer  vingança  d'al;fuem;  castigal-o 
em  vingança  de  injuria  que  elle  fez. 

1.)  VINGAR,  v.a.  i  Do  latim  vindicar 
re).  (Jlfender,  fazer  mal  ao  ofTensor  de 
outrem. 

—  Punir  cm  vingança  do  delicto.  — 
«Ella  foy  agasalhada  om  huma  boas  ca- 
sas, e  a  sua  gente,  (|uc  podião  ser  até 
seiscentas  ])cssoas,  no  cam|x>  de  liher, 
em  cabanas  o  tendas  o  miluor  que  por 
então  so  pôde  fazer,  e  em  todo  o  tempo 
quo  ella  aquy  esteve,  que  seriâo  quatro 
ou  cinco  meses,  cõtinuou  sempre  no  re- 
querimento que  trazia,  que  era  basear 
favor  para  vingar  a  morte  de  seu  mari- 
do, com  razões  licitas  c  bastantes  para 
se  lhe  não  negar  o  que  pclia.»  Fernão 
Mondes  Pinto,  Peregrinações,  cap.  '29. 

—  Viugar-se,  i-.  nfl.  Tirar  vin<rança 
do  outro. 

—  Satisfazer-se  de  injuria. 

—  Vinguei-me;  fiz  mal  a  quem  m'o  fi- 
zera. 

2.)  VINGAR,  V.  a.  Vencer,  chegar  ao 
cabo,  fim  de  algum  termo,  ou  logar,  ou 
espaço,  alcançar. 


Utica  encerra 
Ab  cinzas  de  Cntão ;  nas  mesmas  cinzas 
Envolta  jaz  a  Pátria,  a  Liberdade  ; 
Do  escravo  da  Ambii;ào  hc  Koma  escrava; 
Entro  eser.ivoâ  tão  vis  si  ]>ruto  he  livre : 
Al<,'a  o  punhal  democrata,  que  rin^ 
Do  afundo  a  e8cni\'idào,  do  Mundo  a  injaria. 

J.    A.   ni  MACKDO,  MimTAÇÃO,  CAIlt.    1. 


—  Vingar  a  sclla ;  alcançal-a,  eubir- 
se  n'ella  cavalgando. 

—  Vingar  a  agua  do  rio;  começar  a 
correr  segundo  a  direcção  que    lhe   dSo. 

—  Vingar  a  m-e  voando;  vingar  ao  al- 
to, ao  largo. 

—  V.  n.  —  Vingar  a  fiòr,  o  fructo; 
não  cair  do  ramo,  maa  vegetar  c  cres- 
cer. 

3.)  VINGAR,  1.  a.  (Do  latim  vindica- 
re).  Tomar,  fazer  seu. 

—  Escudeiro,  jidalgo,  ou  cavaUtiro  de 
vingar  õW,  ou   mais,   ou  menos  soldos ; 


VINH 


VINH 


VINH 


953 


de  tal  condição,  que  sendo  delaidado, 
aleijado,  ou  viltado,  se  paguem  de  pena 
500,  mais,  ou  menos  soldos. 

—  Pagar  o  homem;  é  locução  que  al- 
lude  ás  penas  pecuniárias  foraes,  com 
que  se  remia  o  criminoso.  Os  soldos  vin- 
gavam-se  mais  ou  menos  em  razSo  da 
maior  ou  menor  graduação  da  nobreza, 
qual  era  a  dos  grandes  vassallos,  senho- 
res, condes  e  ricos-homens,  consoante  aos 
foraes  das  terras,  e  conforme  era  o  que 
se  lhe  fazia. 

—  Vindicar,  pedir,  exigir,  vencer. 

—  Adágios  e  provérbios  : 

—  Quem  tudo  quer  vingar,  cedo  quer 
acabar. 

—  Ellea  por  se  vingar,  passaram  mal. 
VINGATIVO,  A,    adj.    Amigo    de   vin- 

gar-se. 

—  Inclinado  a  vingar-se. 


E  inda  que  do  pó  está  ouborto 
Couheco  ser  o  grande  saucto  Elias, 
Por  lezabcl  buscado,  pêra  nelle 
Ser  aplacado  o  zelo  vingativo. 
Vio  Michoas  Propheta  sancto  c  justo, 
Por  mandado  do  Acab,  prego,  e  em  sua 
Prcsoni;a  pclla  mão  do  lijougeiro 
E  falao  Sedechiaa,  otfeudido. 

OOETB  KEAL,  NAUFRÁGIO  DE  SEPÚLVEDA,  Cant.  1. 


1.)  VINHA,  s.  f.  (Do  latim  vinea).  Lo- 
gar  plantado  de  videiras. 

—  A  vinha  do  Senhor ;  o  pasto  espi- 
ritual das  almas,  em  doutrina,  e  sacra- 
mentos. 

—  Adágios  e  provérbios: 

—  A  vinha  posta  em  bom  compasso, 
o  primeiro  anuo  agraço. 

—  A  vinha  que  se  põe  de  espaço,  an- 
tes de  um  anuo  dá  agraço. 

—  Quem  em  ruim  logar  põe  vinha,  ás 
costas  a  tira. 

—  O  medo  guarda  a  vinha,  que  não  o 
vinheiro. 

—  A  vinha  onde  pique,  e  a  horta  on- 
de regue. 

—  Casa,  vinha,  e  potro,  faça-o  outro, 

—  Dia  de  Santiago  vou  á  vinha, 
acharei  bago. 

—  Mais  guarda  a  vinha  o  medo,  que 
o  vinheiro. 

—  Menina  e  vinha,  peral  e  faval,  más 
são  de  guardar. 

—  Nem  compreis  malhada,  uem  vinha 
desamparada. 

—  Nem  vinha  em  baixo,  nem  trigo 
em  cascalho. 

—  O  casal  de  ruim  lavrador,  e  a  vi- 
nha de  bom  adubador. 

—  O  velho  põe  a  vinha,  e  o  velho  a 
vindima. 

—  Deita  outra  sardinha,  que  outra 
ruim  vem  da  vinha. 

—  Oliveira  de  meu  avO,  e  a  figueira 
do  meu  pae,  e  a  vinha  que  eu  puzer. 

—  Quem  em  ruim  parte  tem  a  vinha, 
ás  costas  a  tira. 

VOL.  T.  — 120. 


—  Quem  tem  vinha  em  mau  logar,  ao 
olho  vê  seu  mal. 

— •  Vinha  entre  vinhas,  casa  entre  vi- 
sinhas. 

—  Casa  de  pae,   vinha  de  avô. 

—  A  mulher  e  a  vinha,  o  homem  lhe 
dá  alegria. 

—  Ainda  que  entres  na  vinha,  e  sol- 
tes o  gabão,  se  não  trabalhares,  não  te 
darão  pão. 

—  Por  santa  Marinha  vai  vêr  tua  vi- 
nha,   e  qual  a  achares,   tal  a  vindima. 

—  Em  cada  prado  uma  vinha,  e  em 
cada  bairro  uma  tia. 

—  Por  casa,  nem  por  vinha,  não  ca- 
ses com  mulher  parida. 

■\  2.)  VINHA.  F('>rma  do  verbo  vir  ua 
primeira  ou  terceira  pessoa  do  singular  do 
presente  do  modo  indicativo.  Vid.  Vir. — 
«E  o  quo  mães  daqui  sentia  era  parecer 
lhe  que  vinha  isto  per  industria  dos  Mou- 
ros de  Cochij :  e  sendo  assi  elle  não  po- 
dia ter  tanto  resguardo  que  huma  hora 
ou  outra  uào  lhe  pudesse  acontecer  algum 
grande  desastre,  por  ser  trabalhosa  cou- 
sa guardar  das  iniigos  de  casa.»  Barros, 
Década  1,  llv.  1,  cap.  7.  —  «E  porque 
Aifonso  d'Alboquerque  soube  que  o  dia 
da  batalha,  quando  se  ElRey  recolheo, 
fora  pêra  o  lugar  chamado  Beitam,  on- 
de tinham  seus  duções,  e  que  dalli  se 
passara  mais  longe,  leixando  naquelle 
lugar  o  Príncipe,  o  qual  se  fazia  forte 
com  grandes  estacadas,  e  cerca  de  ma- 
deira em  modo  de  fortaleza  com  sua  ar- 
tilheria  posta  ao  longo  do  rio,  que  vinha 
ter  a  Malaca,  mandou  fazer  prestes  em 
bateis  té  quatrocentos  homens,  e  estes 
Capitães.»  Ibidem,  liv.  6,  cap.  6.  —  «O 
qual  presente  Lopo  Soares  não  acceptou, 
dizendo  que  elle  estaua  naquelle  porto 
suspeitoso  onde  se  costumaua  negociar 
com  cautelas  de  enganos,  e  porque  não 
sabia  se  vinha  da  mão  de  Coje  Biquij 
que  elle  aula  por  homem  amigo  do  ser- 
uiço  d'elRey  de  Portugal  seu  senhor,  se 
de  outro  algum  que  fosse  imigo  dos  Por- 
tugueses, não  podia  acceptar  cousa  al- 
guma. i>  Ibidem,  liv.  7,  cap.  9. —  «E 
posto  que  donde  elles  vinham  sempre 
as  traziam  ás  costas,  que  as  traziam 
mais  çafadas  que  os  pelotes.»  Idem,  Dé- 
cada 2,  liv.  5,  cap.  7.  —  «E  também 
porque  vinham  abocar  as  principaes  ruas 
naquella  ponte,  onde  de  força  havia  de 
concorrer  o  pezo  da  gente,  dando-Uie  N. 
Senhor  posse  desta  ponte,  alli  fariam  sua 
força  pêra  o  mais  que  o  tempo  mostrasse 
de  si.»  Ibidem,  liv.  6,  cap.  4.  —  «Neste 
tempo  teve  AfTonso  d'Alboquerque  nova 
per  hum  Portuguez  de  alcunha  Tavares 
de  Alcacere  do  Sal,  que  fora  cativo  em 
Cambaya,  que  em  Dabul  estava  hum  ho- 
mem, o  qual  lhe  dissera,  sabendo  ser  elle 
Portuguez,  que  vinha  a  elle  Capitão  mór 
da  parte  do  Rey  dos  Abexijs  pêra  o  en- 
A'iar  em  as  náos  da  especiaria,  por  quan- 
to levava  huma  embaixada  a  ElRei  de 


Portugal.»  Ibidem,  liv.  7,  cap.  6.  —  «Os 
quaes  ficariam  alli  mortos  com  os  mais 
que  andavam  naquelle  trabalho,  se  lhes 
não  acudira  Fernão  Peres,  que  vinha  já 
com  a  vitoria  da  primeira  cerca;  e  como 
entrou  na  segunda,  não  somente  livrou  a 
elles,  mas  acabou  de  enxotar  toda  a  gen- 
te que  havia  nas  cercas,  que  a  tio  se  re- 
colhia no  mato,  onde  Pato  Quotir  se  sal- 
vou.» Ibidem,  liv.  9,  cap.  1.  —  «Peró 
quando  elle  sentio  nas  costas  a  revolta 
de  outros,  com  que  Jorge  Botelho  peleja- 
va dentro,  por  se  melhor  segurar,  não 
curou  de  ir  de  rosto  onde  elle  andava,  e 
foi-se  escoando  pêra  aquelia  parte,  onde 
tinha  huma  pequena  porta  pegada  no 
mato,  que  vinha  dar  na  tranqueira  per 
que  se  elle  esperava  recolher  quando  se 
visse  naquella  necessidade. »  Ibidem.  — 
«Tinha  partido  de  Baçaim  D.  Álvaro 
do  Castro  com  cincoenta  navios,  (assim 
chamavão  quaesquer  baixeis  na  índia; 
ainda  que  sejão  caravelas  latinas,  ou 
embarcações  de  remo;)  e  como  vinhão 
empachados  com  munições,  e  bastimen- 
tos,  não  podendo  soffrer  mares  tão  gros- 
sos, tornarão  a  arribar  em  popa  destro- 
çados, e  abertos,  tomando  diversas  an- 
gras, e  enseadas,  onde  o  temporal  os 
lançava.»  Jacintho  Freire  d'Andrade, 
Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv.  2.  —  «O 
Duque  Ap  Bragança,  ao  tempo  que  o 
dito  Embaixador  de  Castella  entrou  em 
Portugal,  estaua  em  Villaçosa,  e  porque 
se  disse  logo  que  el  Rey  pêra  despacho 
da  embaixada  se  vinha  ha  Extremoz, 
que  era  tam  acerca  donde  elle  estaua,  e 
quererso  por  honestidade,  por  ascusar 
sospeitas,  o  outros  inconuenientes  de  sua 
honra,  se  partio  só  pêra  Portel,  onde  os 
procuradores  dei  Rey,  que  hiam  a  Mou- 
ra, o  acharam  dia  de  Pentecoste  indo  ja 
pêra  Moura.»  Garcia  de  Rezende,  Chro- 
nica  de  D.  João  II,  cap.  41.  —  «E  com 
este  recado,  que  Ruy  de  Sande  trouxe, 
ouue  el  Rey  muyto  grande  prazer,  e 
contentamento,  e  logo  foy  certeficado 
que  no  anno  que  vinha  se  auia  de  fazer 
o  dito  casamento.  Pêra  o  qual  el  Rey 
logo  começou  de  dar  ordem,  e  auiamento 
pêra  as  grandes  festas  que  ordenou  fazer, 
e  pêra  toJalas  outras  cousas  necessárias. 
E  de  Almada  no  Setembro  logo  seguinte 
com  toda  sua  Corte  se  partio  pêra  Setu- 
uel.»  Ibidem,  cap.  73.  —  «Sabido  o  sol, 
Targiana  se  levantou  e  ataviou  das  mais 
ricas  e  louçãas  roupas  que  trazia,  fcizen- 
do  também  concertar  suas  donzellas,  que, 
alem  de  fermosas,  vinham  tão  apercebi- 
das pêra  aquelle  dia,  como  se  fora  o  pró- 
prio, em  que  sua  senhora  poderá  casar.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações, 
cap.  89.  —  «Vasquo  da  Gama  pelo  seu 
lingoa  Fernão  Martinz  propôs  ho  a  que 
vinha,  e  de  quam  longe,  e  por  mandado 
de  quem,  e  que  ha  fim  de  sua  embaixa- 
da era  querer  el  Rei  dom  Emanuel  de 
Portugal,  seu  senhor,   amizade  com  hum 


964 


VINH 


VINH 


VINH 


taõ  poderoso,  e  ta3  nomeado  Rei,  quomo 
ho  elle  ora  per  todallas  partoB  do  mundo, 
e  que  para  aiiial  (Iíhso  Ihis  trazia  cartau 
saas  do  cren^-a,  quo  llio  aprurtontaria 
qaando  h.o  houuesHo  por  liom.»  Damião 
de  Ooes,  Cbrouica  de  D.  Manoel,  part. 
1,  cap.  41.  —  «E  80  bem  attontarmos  em 
ambo8  estes  direitos,  estava  a  Senhora 
Dona  Catharina  dianto  delRoy  Filippe: 
no  do  8an;,'un,  por  vir  por  linha  niaaculi- 
na,  qtio  he  preferida  á  feminina,  por 
onde  cile  vinha;  e  no  hereditário;  porque 
a  instituição  do  nosso  Royno  era,  que 
dósse  ao  natural,  como  era  a  Senhora 
Dona  Catharina,  e  naõ  a  estrangeiro, 
como  era  Filippe.»  Arte  de  furtar,  capi- 
tulo 16. 

—  Vinha  em  sua  companhia. —  a  Neste 
anno  como  atras  fica  scrito  mandou  el 
Rei  a  Roma  dom  Diogo  de  Sousa,  ]3ispo 
do  Porto,  o  qual  depois  de  ter  negociado 
as  cousas  que  leuaua  a  cargo,  e  ser  Ar- 
cebispo de  Braga,  se  tornou  ao  regno 
per  mar,  depois  da  chegada  do  qual  a 
Lisboa,  que  foi  no  mes  Doctubro,  se 
ateou  logo  peste  tam  braua  na  cidade, 
de  huma  nao  que  vinha  em  sua  compa- 
nhia tocada  sem  o  elle  saber,  que  foi  ne- 
cessário irse  el  Rei  com  toda  sua  casa 
pêra  Almeirim,  a  qual  pestilença  se  es- 
palhou per  todo  o  regno,  e  foi  huma  das 
mais  brauas,  e  cruel,  que  em  muitos  tem- 
pos se  acha,  que  ouvesse  em  nenhuma 
outra  parte  da  ílispanha.»  Damião  de 
Goos,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1, 
cap.  94. 

—  Vinha  de  Lorvão.  —  «Mais  ardilo- 
sos se  portarão  outros  taos  na  mesma 
praça:  souberaõ  que  vinha  do  celebre 
Lorvaõ,  por  occasiaõ  de  Natal,  huma  va- 
lente consoada  para  o  Bispo.»  Arte  de 
furtar,  cap.  66. 

—  Vínhamos  muito  doentes;  vínhamos 
muito  incoraniodados.  —  «Então  nos  per- 
guntou que  determinação  era  a  nossa,  e 
nós  lhe  dissemos  que  do  nos  curarmos  na- 
quella  casa  se  para  isso  nos  dessem  li- 
cença, porque  vínhamos  muyto  doentes, 
e  lião  podíamos  caminhar,  a  que  elle  res- 
pondeo  que  de  muyto  boa  vontade,  por- 
que isso  era  o  que  continuamente  se  fa- 
zia nella  por  serviço  de  Doos,  o  que  nós 
todos  chorando  lhe  agradecemos  com  hu- 
raas  mostras  exteriores  tãto  a  nosso  pro- 
pósito, que  a  elle  so  lhe  arrasarão  os 
olhos  dagoa.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pe- 
regrinações, cap.  81. 

—  Vinha  em  um  navio  d'armada.  — 
«Andando  assi  estes  recados,  chegou 
aquello  porto  Emanuel  da  Gama,  que  vi- 
nha de  Malaca  em  hum  navio  darmada, 
com  cujo  parecer,  e  dos  outros  capitães, 
e  homens  nobres  da  frota,  assentou  Gcor-, 
ge  dalbuquerque  o  modo  e  ordem  que  te- 
riam no  tomar  daquella  tranqueira  a  qual 
posto  que  fosse  muito  forte  determinou 
do  combater,  e  scalar  com  os  Portugue- 
ses  que   alli   stauam,    que   poderiam  ser 


ate  duzentos,  o  oitenta.»  Damião  de 
(iões,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  4, 
cap.  6l>. 

—  Vinha  atoada  a  nau.  —  «No  qual 
instante  começarão  da  nao  ao  esbombar- 
dear,  fazend' lhe  HÍuaes  que  amainasse,  o 
({ue  vendo  os  da  carauela  que  vinha  atoa- 
da a  nao  cortaram  o  cabo,  e  so  acolhe- 
ram, sem  o»  Inglezes  niaso  atentarem, 
por  08  Vasco  fernandez  césar  da  sua  ca- 
rauolla  neruir  com  a  artolharia  de  ma- 
neira que  lhes  dava  aBsaz  em  que  enten- 
der.» Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  4,  cap.  78. 

—  Vinha  muito  sentido  com  alguma 
cousa.  —  «Vinha  o  padre  muito  sentido 
com  esta  arribada  dos  padres,  mas  ella 
mo  animou  de  maneira,  que  no  mesmo 
ponto  se  mo  assentou  no  coração,  que  eu 
havia  de  ir  com  elles ;  e  assim  o  comecei 
logo  a  intentar,  mettendo  o  negocio  em 
consciência,  e  descarregando  sobre  a  de 
sua  magestade,  e  alteza,  a  condemnação, 
ou  conversão  de  muitas  almas,  que  de  eu 
Lr,  ou  ficar,  se  poderia  seguir.»  Padre 
António  Vieira,  Cartas,   n.°  12. 

—  Vinha  detraz  d'el-rei.  —  «Feita  esta 
obra,  foi-se  Aíibnso  d'Alboquerquo  per 
onde  entrava  ElRey,  dizendo  aos  Capi- 
tães, e  gente  que  estava  com  D.  Garcia: 
Já  tudo  he  feito,  e  mandou-lhe  que  rija- 
mente entretivesse  a  gente  de  Raez  Ha- 
med,  que  vinha  detrás  d'ElRey,  a  qual 
vendo  que  lhe  cerravam  a  porta,  remet- 
têram  rijo  a  ella,  entendendo  o  que  hia 
dentro.»  Barros,  Década  2,  liv.  10,  capi- 
tulo 5. 

—  Vinham  quatro  naus  detraz  do  mon- 
te.—  «Nomeada  per  toda  aquella  costa 
por  ser  muito  ligeira,  e  andar  niuito  bem 
esquipada,  e  artilhada,  e  lhe  deu  noua 
como  detraz  do  moute  vinham  quatro 
nãos  que  pareciaõ  Francesas,  que  o  dia 
dantes  a  sua  vista  tomaram  huma  cara- 
uella  Portuguesa,  que  a  capitania  trazia 
com  hum  cabo  dado  por  popa. »  Damião 
de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  4, 
cap.  78. 

—  D'onde  vínhamos ;  d'oude  era  a 
nossa  vinda.  —  «No  calor  do  primeiro 
impetu,  nos  queimam  o  navio,  e  degol- 
lam  03  companheiros;  reservando-nos  a 
mim,  e  a  Mentor  para  nos  apresentarem 
a  Acostes,  a  fim  que  ello  inquirisse  de 
nós  do  onde  vínhamos,  e  qual  intento 
era  o  nosso.  Entramos  na  cidade  com  aa 
mãos  presas  ás  costas;  e  so  nos  retarda- 
ram a  morte  para  servirmos  d'espectacu- 
lo  a  um  povo  cruel,  quando  soubesse  ser- 
mos Gregos.»  Aventuras  de  Telemaco, 
liv.  2. 

VINHAÇA,  s.  /.  Jlau  vinho  desbotado. 

—  Borracheira. 

VINHACEO,  A,  adj.  Que   é   do  vinho. 
VINHADEGO,  s.  m.  Termo  pouco  usual. 
Vinha. 

VINHADEIRO,  s.   m.  Vid.  Vinheiro. 
VINHAGO,  í.  m.  Vid.  Vinhadego. 


VINHANÇA,    *.   /.   Termo   antiquado. 

Cou/<a  que  vem,  que  accresce. 

7  VÍNHÃO.  Forma  irregular  do  verbo 
vir.  \"\<\.  Vinham.  —  «ijanhou  Lisboa  com 
favor  de  huma  Arma/la  Entrangcira,  e  e>- 
LauUo  sobre  ella  rompeo  hama  grande 
batallia  de  Mouros  que  viuhaõ  em  soo- 
corro  dos  cerca-los,  junto  a  Sacavam, 
onde  se  fundou  huma  Ermida  de  NoMa 
Sonliora,  e  cm  nostos  dias  hum  Mosteiro 
(lo  Freiras  d'-.scalças.»  Frei  Bernardo  de 
Brito,  Elogios  dos  reis  de  Portugal,  con- 
tinuados por  D.  JobÓ  Barbosa.  —  «E  en- 
tão vínhão  niuytos  porteyros  de  maça, 
muytoB  oíTiciaes,  todos  ricamente  vesti- 
dos, e  encaualgados,  e  após  elles  o  por- 
teiro mor,  e  depois  quatro  mestres  salas, 
o  atras  o  mordomo  mor,  todoe  com  opas 
roçagantes  de  ricos  brocados,  e  tellaa 
douro  com  ricos  forros,  e  após  ello  ví- 
nhão muytos  cauallos  á  destra  com  ri- 
quíssimos paramentos,  e  muy  singulares 
armas,  e  os  moços  destribeyra  que  oe  le- 
uauão  toclos  vestidos  de  brocado.»  Gar- 
cia de  Rezende,  Chronica  de  D.  João  11, 
cap.  12"j.  —  «Aquelle  dia  á  noute  chefia- 
rão novas,  que  entravaS  por  Cóchim  de 
cima  oito  mil  Nayres  Amoucos,  e  que 
vínhão  fazendo  grandes  estragos,  com  o 
que  a  Cidade  se  poz  em  revolta.»  Diogo 
de  Couto,  Década  6,  liv.  9,  cap.  2. 

VINHAR,  «.  VI.  Termo  antiquado.  Lo- 
gar  plantado  de  vinha. 

VINHATARIA,  í.  /.  A  cultura  das  vi- 
nhas, c  trabalho  do  fazer  vinho. 

VINHATEGO.  Vid.  Vinhadego. 

VINHATEIRA,  «.  /.  Mulher  que  vende 
vinho,   taverneira. 

VINHATEIRO,  s.  m.  Agricultor  do  vi- 
nhos, e  fabricador  de  vinho. 

VINHATICG,  s.  m.  Pau  não  muito  rijo, 
amarelio,  do  Brazil. 

VINHEDO,  í.  m.  Vid.  Vinha. 

VINHEIRO,  «.  m.  Homem  que  guarda 
a  vinha. 

—  Homem  que  a  cultiva  ^omo  servo, 
ou  rendeiro. 

VINHETA,  s.  /.  (Do  franoez  vignette). 
Estampa,  figura  ou  cabeção  estreito,  que 
se  põe  na  primeira  pagina  do  livro,  ou 
no  alto  de  cada  pagina. 

VINHETE,  «.  m.  Diminutivo  de  Vinho. 
Vinh  )  fraco. 

VINHO,  4.  m.  (Do  latim  vinum).  O 
mosto  na  primeira  fermentaçiio.  —  «Di- 
zia o  herege:  «Manuel  dos  Beis  tem  bom 
juiso.  Ainda  o  hei  da  converter.*  Sou- 
be-o  o  companheiro,  e  disse-lhe: — Olha, 
eu  gosto  de  ti,  como  um  bebedor  de  vi- 
nho; porém,  quando  võ  que  lhe  vae  fii- 
zendo  mal,  pega  no  frasco  e  atira  com 
elle  á  rua.  Riu-se  o  inglez.»  Bispo  do 
Grão  Pará.  Memorias,  publicadas  por  Ca- 
millo  Castello  Branco,  pag.  154. 

—  Vinho  doHzel,  ou  macho ;  vinho  puro. 

—  Vinho  cascarrãi) ;  vinho  forte,  agro. 
— •  Vinho  toldado;  vinho  que  se  mistu- 
ra com  as  fezes,  o  se  torna  escuro. 


VINH 


VIR 


VINT 


955 


—  Vinho   onolle ;  em  mosto. 

—  Vinho  d' alhos ;  ospecie  de  escabe- 
elie  feito  de  vinho  ou  vinagre,  alhos,  lou- 
ro, etc,  era  que  se  põe  as  carneâ  duran- 
te algum  tempo  antes  de  se  assarem, 
etc.  Alguns  dizem  vinha  d'alhos,  porém  é 
termo  errado. 

—  Vinho  botado;  vinho  que  perdeu  a 
côr. 

—  Vinho  de  cutello;  o  que  cada  um 
tem  de  sua  colheita. 

—  Vinho  santo ;  composição  antisepti- 
ca  de  vinho,  salsaparrilha  e  sassafraz. 

—  Vinho  de  barra  a  barra;  o  que  não 
se  vinagra  saindo  fura  da  barra  em  em- 
barques. 

—  Gordo  vinho;  o  que  faz  fio. 

—  Vinho  de  j)ê;  o  podado,  que  não  é 
de  uvas  de  enforcado,  ou  de  embarrados. 

—  Licor  alcoólico  resultante  da  fer- 
mentação do  summo  da  uva,  e  servindo 
de  bebida. 

—  Vinho  doce;  vinho  novo,  que  ainda 
não  tem  encubado. 

—  Figuradamente:  Embriaguez. 

—  Vinhos  tnedicamentaes  ;  medicamen- 
tos officinaes,  liquidos,  resultantes  da 
acção  dissolvente  do  vinho  sobre  as  di- 
versas substancias  medicinaes.  —  Vinho 
de  quinquina.  —  Vinho  antimoniado. 

—  Vinho  verde;  vinho   novo. 

—  Vinho  maduro;  vinho  velho. 

—  Adágios  e  provérbios: 

—  Dia  de  S.  Martinho  prova  teu  vi- 
nho. 

—  Maus  vinhos  todos  são  uns. 

—  Menos  vai  ás  vezes  o  vinho  que  as 
borras. 

— •  O  bom  vinho  escusa  pregão. 

—  Pão  e  vinho,  um  anuo  meu,  outro 
de  meu  visinho. 

—  Onde  alhos  ha,  vinho  haverá. 

—  A  condição  de  bom  vinho,  como  a 
do  bom  amigo. 

—  O  cabedal  do  teu  inimigo,  ou  em 
dinheiro  ou  em  vinho. 

—  Solas  e  vinho  anrlam  caminho. 

— -  De  vinho  abastado,  de  razão  min- 
guado. 

—  O  queijo  do  Alemtejo,  o  vinho  de 
Lamego. 

—  Pão  e  vinho,  e  parte  no  Paraiso. 

—  Por  carne,  vinho  e  pão,  deixo  quan- 
tos manjares  são. 

—  Quem  é  amigo  de  vinho,  de  si  mes- 
mo é  inimigo. 

—  Quem  de  vinho  falia,  sede  ha. 

—  Em  o  verão  por  calma,  e  o  inver- 
no por  frio,  não  lhe  falta  achaque  de  vi- 
nho. 

—  Meia  vida  é  a  candeia,  o  o  vinho 
outra  meia. 

—  Tenha  eu  pipas  e  cabedal,  e  quem 
quizer,  vinhos,  e  lagar. 

—  Vinho,  nem  mouro,  não  é  thesouro. 

—  Cada  cuba  cheira  ao  vinho  que 
tem. 

—  Agua  ao  figo,  e  á  pêra  vinho. 


—  A  bebedor  não  lhe  falta  vinho,  nem 
á  fiandeira  linho. 

—  Azeite  de  cima,  mel  do  fundo,  vi- 
nho  do  meio. 

—  A  boca  do  fraco  esporada  de  vinho. 

—  Pão  de  hoje,  carne  de  hontem,  vi- 
nho de  outro  verão,  fazem  o  homem  são. 

—  Quem  se  lava  com  vinho,  torna-se 
menino. 

—  Homens  bons,  e  picheis  de  vinho, 
apaziguam  o  arruido. 

—  Vinho  de  peras,  não  o  bebas,  nem 
o  dês  a  quem  bem  queiras. 

—  Se  queres  ser  bem  disposto,  bebe 
vinho,   e  não  já  mosto. 

—  A  mulher  e  o  vinho  tiram  o  homem 
de  seu  juizo. 

—  Abril  frio,  pão  e  vinho,  maio  come 
o  trigo,  e  agosto  bebe  o  vinho. 

—  Agua  de  S.  João  tira  o  vinho,  e 
não  dá  pão. 

—  Até  8.  Pedro  ha  o  vinho   medo. 

—  Por  S.  Martinho  nem  favas,  nem 
vinho. 

—  Vinho  velho,  amigo  velho,  ouro  ve- 
lho. 

—  O  bom  vinho  não  ha  mister   ramo. 

—  Porcos  com  frio,  homens  com  vinho, 
fazem  grão  ruido. 

—  Jantar,  sem  vinho. 

—  De  bom  vinho,  bom  vinagre. 

—  Vindima  enxuto,  colherás  vinho  pu- 
ro. 

—  N'este  mundo  mesquinho,  quando 
ha  para  pão,  não  ha  para  vinho. 

—  Nada  escapa  aos  homens,  senão  o 
vinho  que  bebem  as  mulheres. 

VINHOGO,  s.  m.  Lugar  de  muito  vi- 
nho, ou  de  muitos  vinhos. 

VINHOSO,  A,  adj.  Vid.  Vinoso. 

VINHOTE,  s.  m.  Termo  popular.  Ho- 
mem dado  ao  vinho. 

VIIR  (do  latim  venire),  por  Vir. 

f  VINIAGA,  s.  f.  Vid.  Veniaga.  — 
(t  Aportou  á  Ilha  da  Madeira  huma  náo 
de  carga,  saltarão  em  terra  os  passagei- 
ros a  fazer  viniagas,  e  entre  elles  hum 
Clérigo,  que  eu  vi  (grande  pirata  devia 
de  ser  pelo  tear,  que  armou  para  fazer 
seu  negocio  melhor,  que  todos).»  Arte  de 
furtar,   cap.  64. 

VINOLENCIA,  s.  /.  (Do  latim  vinokn- 
tia).  Bebedice,  embriaguez. 

—  Vicio  de  beber  excessiva  e  nimia- 
mente licores,  que  sobem  á  cabeça  e  per- 
turbam o  juizo. 

VINOLENTO,  A,  adj.  (Do  latim  vino- 
lentus).  Entregue  ao  vicio  de  beber  vi- 
nho. —  Homem  vinolento. 

VINOSIDADE,  s.  /.  Qualidade,  proprie- 
dade do  vinho. 

VINOSO,  A,  adj.  (Do  latim  vincsus). 
De  vinho.  — -  Cheiro  vinoso. 

—  Dado  ao  vinho,  a  bebedeiras. 

—  Que  dá  vinho. 

—  Para  vinho.  —  Vasos,  taças  vino- 
sas._ 

VÍR,   por  Vir.   Vid.  Vlir. 


VINR,  por  Vir. 

VINTADOZENO.  Vid.  Vintedozeno. 

1.)  VINTANEIRO,  s.  vi.  Vid.  Vinteneiro. 

—  Juiz  vintaneiro  ;  de  logar  de  vinte 
famílias.  —  «E  se  o  assy  nom  fezerem-, 
esses  nossos  Juizes  ho  estranhem  grave- 
mente a  esses  Juizes  da  terra,  e  Meiri- 
nhos, ou  Jurados,  e  Vintaneiros  pêra  es- 
ses Juizes,  e  Meirinhos,  c  Vintaneiros,  e 
Jurados  poderem  penhorar  esses,  que  o 
dãpno  fezerom.»  Ord.  Affons.,  liv.  1, 
tit.  25. 

2.)  VINTANEIRO,  ou  VINTANNEIRO,  A, 
adj.  —  Terra  vintaneira ;  terra  mui  fra- 
ca, difficil  de  cultivar,  e  que  só  se  culti- 
va de  vinte  em  vinte  annos. 

VINTANO.  Vid.   Vinteno. 

1.)  VINTE,  adj.  2  gen.  num.  card.  Duas 
vezes  dez;  o  numero  inferior  a  vinte  e 
um,  e  superior  a  dezenove. —  «Governou 
a  Igreja  quatro  mezes,  e  vinte  dias,  sem 
que  a  muyta  brevidade  do  tempo  nos 
deixe  lugar  de  saber  cousa  notável  de 
seu  governo,  mais  que  alguns  sinaes  no 
Ceo,  e  cometas  espantosos,  quo  aparece- 
i-aõ  durado  seu  pontificado.»  Monarchia 
Lusitana,  liv.  7,  cap.  30.  —  «Com  estas 
seis  nãos  se  partio  Vasco  Gomez  Dabreu 
do  porto  de  Lisboa  huma  terça  feira,  aos 
vinte  dias  do  mesmo  mes  Dabril,  e  sen- 
do na  costa  de  Guine,  a  carauella  de 
loaõ  Ghauoca  que  por  ser  nauio  pequeno, 
e  bom  do  vela,  leuaua  o  farol,  so  perdeu 
por  ma  vigia  huma  noite  no  rio  Sonega.» 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  2,  cap.  14.  —  aE  aos  vinte  dias 
do  mes  de  lunho  do  anno  de  mil  e  qua- 
trocentos e  oitenta  e  três,  de  noite  ante 
manhãa,  tirarão  o  Duque  dos  paços  em 
cima  de  huma  mula,  e  Ruv  Telles  nas 
ancas  apegado  nelle,  e  muyta  e  honrada 
gente  a  pé,  que  o  acompanhaua  com  gran- 
de seguridade. »  Garcia  de  Rezende,  Chro- 
nica de  D.  João  II,  cap.  4G.  —  «E  de- 
pois mandou  Esteuâo  Vaz  seu  escriuão 
da  camará,  que  depois  foy  feytor  das 
casas  da  índia  e  da  Mina,  homem  de 
que  el  Rey  confiaua,  que  com  o  dito  dom 
loam  entendesse  no  resgate  do  dito  Bar- 
raxe,  o  qual  se  concertou  com  elles  de 
se  resgatar  por  quinze  mil  dobras  de 
banda,  e  dez  catiuos  Christãos,  e  vinte 
cauallos  bons,  pêra  que  logo  deu  filhos 
seus,  e  outras  pessoas  principaes  por 
seus  arrefens.»  Ibidem,  cap.  48.  —  «Os 
quaes  partiram  aquelle  anno  a  vinte  de 
Abril  oito  dias  depois  de  ser  partido  D. 
Garcia  de  N-oronha  filho  de  D.  Fernan- 
do de  Noronha,  debaixo  da  bandeira  do 
qual  elles  hiam,  e  fizeram  ambos  tão  boa 
navegação,  que  elles  somente  passaram 
aquelle  anno  á  índia,  e  D.  Garcia  por 
mà  pilotage  invernou  em  Moçambique 
com  mais  quatro  náos  que  levou,  da  via- 
gem do  qual  adiante  escreveremos.»  Bar- 
ros, Década  2,  liv.  6,  cap.  10.  —  «E  en- 
tão lhes  disso  que  havia  já  vinte  diaa 
que  António  da  Sylveyra  estava  cercado 


956 


VJNT 


VINT 


VINT 


de  liuma  grossa  armiula  de  Turcos,  de 
quo  era  CapitSo  luór  Solimilo  Baxá  Vi- 
soUoy  do  Cayro,  e  quo  a  ffraudo  ([uanti- 
dado  das  velas  quo  tlnhamoí  visto,  erilo 
aincoenta  e  oyto  Galos  reaes,  o  bastar- 
das, quj  atiravão  sinco  peças  por  proa, 
e  ai{(uinas  delias,  passamuros,  e  loòes,  c 
esperas,  e  oyto  iiilos  grossas,  eiu  que  vi- 
nhao  muytoj  Turcos  do  sobrecelento  pa- 
ra refeyçSo  do3  que  morresaoiu.»  Fornilo 
Mendes  Finto,  Peregrinações,  cap.  7. — 
«Seja  assim,  diz  o  soubor  Governador; 
e  eis  ahi  tem  v.  m.  a  sua  pessa:  o  antos 
de  vinte  e  quatro  horas  o  manda  notiti- 
car,  que  se  embarque  prezo  para  o  Huy- 
no,  para  dar  conta  diante  do  Sua  ^Li- 
gostade  de  certos  cargos,  o  crimes  lirso' 
majestatis,  provados  com  mais  de  vinte 
testemunhas.»  Arte  de  furtar,  cap.  'J. — 
«E  prova-se  claramente  que  nunca  teve 
tenção  ao  que  a  jornada  se  fizesse,  por- 
que havendo  de  ser  dezoito  ou  vinte  ca- 
noas que  havia  do  ter  prevenidas,  pedin- 
Iho  eu  uma,  tanto  que  desfez  a  missão, 
para  ir  ao  Fará,  custou-lhe  muito  o  bus- 
cal-a  para  m'a  dar. »  Padre  António  Viei- 
ra, Cartas,  n."  11.  — tEste  rio  do  Gua- 
mà,  que  cm  quatro  dias  se  vence  do  Pa- 
rá a  Oasa-forte  ainda  so  navega  vinte 
dias  sempre  ao  poente  o  inclinando  a  sua 
cabeceira  para  as  cabeceiras  do  Capim.» 
Bispo  do  Grito  Par:l,  Memorias,  publica- 
das por  Camillo  CastoUo  Branco,  pag. 
188. 

—  Vinte  «  quatro;  numero  inferior  a 
vinte  e  cinco,  o  superior  a  vinte  e  três. 


Vimos  ha  astrologia 
muntir  toda  ora  todo  mundo, 
quo  toda  juncta  dizia, 
quo  em  i-inte  o  quatro  auia 
do  auor  deluuio  segundo. 

UAHCIA   DG   BEZEKDK,   HISCELLAKEA . 


—  Vinte  «  siiis  ;  numero  existente  en- 
tre vinte  e  cinco,  e  vinte  e  quatro.  — 
«Quando  começou  a  reinar  era  de  vinte 
6  seis  ânuos,  gastos  mais  em  cura  de 
suas  enfermidades,  que  nos  exercioios  de 
seus  antepassados,  com  o  qual,  e  com  sua 
inclinação  própria,  deo  em  liuma  frouxi- 
dão taõ  remissa,  que  os  privados  se  co- 
meçarão a  senhorear  de  sua  Pessoa,  e 
Reino,  e  a  governar  tudo  conforme  a  seus 
p.articulares  respeitos.»  Frei  Bernardo  de 
Brito,  Elogios  dos  reis  de  Portugal,  con- 
tinuados por  U.  Josó  Barbosa.  — «E  ha- 
vendo j;\  vinte  e  seis  dias  que  tr.abalho- 
samente  velejávamos  por  nossa  derrota, 
tivemos  vista  de  huma  Ilha,  que  so  dizia 
PuUo  Condor,  a  qual  nos  distava  em  al- 
tura de  oyto  grãos,  e  hum  terço  Noroes- 
te Sueste  com  a  barra  do  Reyno  Cambo- 
ja.» Fernilo  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  180. 

—  Vinte  e  um;  numero  inferior  a  vin- 
te e  dous,  e  superior  a  vinte.  —  «A  qual 
distarão   de  Çofala   pêra  o  Ponente  per 


linha  direita  pouco  mães  ou  menoii  cen- 
to e  setenta  logoas  cm  altura  entre  vinte 
e  vinte  o  hum  grãos  da  parte  do  sul, 
Hom  per  aquellas  partes  auer  edifício  an- 
tigo nem  moileruo  :  ponjue  a  gento  hc 
nmi  barbara  e  todas  suas  casas  saò  de 
madeira,  o  j)er  juizo  dos  Mouros  que  a 
virão  parece  ser  cousa  mui  autiga  o  que 
foi  ali  feita  pêra  ter  posse  daquellas  mi- 
nas que  saò  mui  antigas  em  as  quaes  se- 
não tira  ouru  ha  annos  por  causa  de 
guerríis.»  Barros,  Década  1,  liv.  10,  ca- 
pitulo 1 . 

—  Vinte  e  tre»;  numero  existente  en- 
tro vinte  e  dous  e  vinte  e  quatro.  —  «A 
nona  Esphera  se  move  com  movimento 
próprio,  e  natural  sobre  os  Poios  do  Zo- 
díaco (que  neste  tempo  distaõ  dos  do 
Mundo  vinte,  e  trás  grãos,  e  mcyo)  do 
poente  para  o  nascente,  com  tal  vagar, 
quo  naõ  anda  em  espaço  de  hum  anno 
mais  que  h\  segundos,  conforme  as  ex- 
periências de  Ticobrahe;  e  vem  a  com- 
pletar hum  grào  em  70  annos,  e  sete 
mezes;  e  andará  todo  o  Zodiaco,  se  o 
Mundo  tanto  durar  em  espaço  de  25  mil 
annos.»  Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal 
medico,  pag.  518,  §  62. 

—  Vinte  e  quatro  d' abril;  metade  de 
quarenta  e  oito.  —  «E  auendo  ja  hum 
mes  que  hia  naquella  grão  volta,  quando 
veo  â  segunda  octaua  da  Páscoa  que  eraõ 
vinte  quatro  de  Abril,  foi  dar  em  outra 
costa  de  terra  tirme. »  Barros,  Década  1, 
liv.  5,  cap.  2. 

—  Vinte  e  dous ;  numero  existente  en- 
tre vinte  e  um  e  vinte  e  três.  —  «E  co- 
mo era  diligente  nestas  cousas,  passou 
alem  do  cabo  Verde  obra  de  setenta  e 
tantas  legoas,  te  chegar  onde  ora  chamaõ 
o  rio  Grande  :  e  surto  o  nauio  na  boca 
delle,  meteose  no  batel  com  uinte  dous 
homeras,  com  tenção  de  entrar  pelo  rio 
acima  descobrir  alguma  pouoaçaõ,  por 
ter  huma  grande  entrada.»  Barros,  Dé- 
cada 1,  liv.  1,  cap.  14. 

—  Vinte  e  cinco  mil  cruzados ;  dez 
contos  de  reis.  —  «Vendo  Affonso  d'Al- 
boquerque  que  ElRey  lhe  não  entregava 
est )  Mouro,  posto  que  não  soube  logo 
destes  seus  artifícios,  como  era  costuma- 
do a  dissimular  palavras  de  Mouros,  não 
quiz  esperar  mais  recados,  nem  menos 
os  partidos  que  lhe  movia,  promettendo 
de  lhe  dar  vinte  c  ciuco  mil  cruzados 
polas  cinco  nàos  que  tomara  dos  Guza- 
rates.»  Barros,  Década  1,  liv.  1,  cap.  2. 

- —  Vinte  e  oito ;  numero  existente  en- 
tre vinte  e  sete  e  vinte  e  nove. —  «Pas- 
sando vinte  e  oito  dias  com  a  mesma 
disposição  de  saúdo,  e  de  alegria,  teve 
elle  cuidado  de  fasor  observar  huma,  e 
outra  couza  a  sua  Prima  nesse  tempo, 
segurando-lhe  que  elle  se  sentia  sem  von- 
tade, e  sem  apparencia  alguma  de  adoe- 
cer.» Cavalleiro  d'01iveira.  Cartas,  liv. 
1,  n.o  40. 

—  Cento  e  vinte ;    numero    inferior  a 


conto  e  vinte  e  uu».  — «Não  pareceo  a 
D.  João  de  Castro,  que  estava  o  i lidai- 
cão  ainda  bem  cortaUo  de  noiísas  anuaa ; 
resulveo  quebrautallu  com  mais  pesada 
guerra.  Assegurou  com  grosso  presidio 
iid  terras  de  .'^isete,  deixando  a  D.  Dio- 
go de  Almeyda  com  c«iito  e  vinte  cavai- 
los,  e  mil  piões  da  t<;rra.»  .Jacintbo  Frei- 
re d'Audrado,  Vida  de  D.  João  de  Cas- 
tro, liv.  4.  —  «  Chegando  os  nossos  a 
pouco  mais  de  tiro  do  espingarda  dia 
cavas  que  estavão  por  fora  do  maro,  nos 
sayrau  por  duas  portas  obra  de  mil  até 
mil  e  iluzontos  homens,  segundo  o  esmo 
de  alguns,  dos  quais  os  cento  até  cento 
e  vinte  eraò  de  cavallo,  ou  ]iara  milhor 
dizer,  de  sindeyros  bem  magros.»  Fer- 
não Mendes  Pinto,  Peregrinações,  capi- 
tulo t)Õ. 

—  Vinte  e  nove;  numero  inferior  a 
trinta.  —  «ElRey  de  Syaõ  he  Príncipe 
que  ante  quo  so  lhe  os  Mouros  leuantas- 
sem  com  o  Reyno  de  Malaca  :  começaua 
o  seu  estado  naquella  cidade  que  está 
em  dous  grãos  e  meio  da  bauda  do  nor- 
te, e  acabaua  em  os  montes  do  Reyno 
dos  Gueos,  que  começaõ  em  vinte  noue 
grãos.»  Barros,  Década  2,  liv.  9,  cap.  1. 

—  Mil  quatrocentos  e  vinte  e  quatro 
annos;  era  inferior  á  de  mil  quatrocen- 
tos o  vinte  e  cinco.  —  «Que  por  outrem 
forem  recebedores,  e  desfazimento  de 
contrautos  per  Ley  d'Avoenga,  ou  per 
justo  preço,  ou  por  outro  qualquer  mo- 
do, ou  per  privilegio,  e  costume,  que  se 
possa  desfazer,  e  dos  outros  contrautos 
todos,  ou  casi  contrautos  feitos,  e  cele- 
brados per  as  moedas,  que  se  fízerom 
d  es  primeiro  dia  de  Janeiro  da  Era  de 
mil  e  quatrocentos  e  vinte  e  quatro  an- 
nos, ataa  primeiro  dia  de  Janeiro  da  Era 
de  mil  e  quatrocentos  c  vinte  e  cinco 
amos.»  Ord.  Affons.,  liv.  4,  tit.  1,  §  14. 

—  Vinte  e  cinco  legoas;  legoaa  supe- 
riores a  vinte  e  quatro.  —  «Mas  no  fim 
destes  dias  que  pedio,  não  fizeraõ  mães 
que  chegar  a  hum  rio,  que  está  vinte 
cinquo  legoas  auante  do  ilheo  da  Crus 
em  altura  de  trinta  e  dous  grãos.»  Bar- 
ros, Década  1,  liv.  3,  cap.  4. 

—  Vinte  e  quatro  mil  reis ;  cinco  moe- 
das de  quatro  mil  e  oitocentos  reis  cada 
uma.  —  «Para  esta  occasiaõ  de  Saboya 
fez  lavrar  el  Rei  D.  Pedro  huma  meda- 
lha de  ouro,  que  pezava  vinte  e  quatro 
mil  reis,  da  qual  de  huma  parte  tinha  o 
seu  retrato  com  esta  letra  Petrus  D.  G. 
Portugal.  <£•  Algarb.  Princtips.  e  da  ou- 
tra as  Quinas  de  Portugal  orladas  com 
os  Castellos  sobre  a  Cruz  de  Christo,  e 
dizia  á  roda.  In  hoc  signo  vitices.  Pespi- 
ciam,  ií'  vidtbo.t  Fr.  Bernardo  de  Brito, 
Elogios  dos  reis  de  Portugal,  continua- 
dos por  U.  José  Barbosa. 

—  Vinte  e  sete ;  numero  existente  en- 
tre vinte  e  oito,  e  vinte  e  seis ;  numero 
inferior  a  vinte  e  oito,  e  superior  a  vin- 
te e  seis.  —  «£  a  noua  certa  do  faleci- 


VINT 


VIO 


VIO 


9Õ7 


mento  dei  Rey  foy  dada  á  Raynlia,  e  ao 
Duque  em  Alcácer  logo  ao  outro  dia  se- 
gunda fevra.  E  a  terça  feyra  logo  se- 
guinte, vinte  e  sete  dias  de  Outubro  do 
dito  anno  de  mil  e  quatrocentos  e  no- 
uenta  e  cinco,  o  Duque  foy  solemne- 
mente  aleuautado,  e  obedecido  por  Rey 
em  Alcácer  do  sal,  e  assi  logo  era  todo 
seu  Reyno  com  muyta  paz  e  concórdia 
de  todos.»  (-rareia  de  Rezende,  Ghronica 
de  D.   João  II,  cap.  214. 

—  Vinte  e  três;  numero  inferior  a  vin- 
te e  quatro,  e  superior  a  vinte  e  dous. 
—  «Dous  meses  e  vinte  e  três  dias,  este- 
ve a  Igreja  sem  Pastor,  dilatando  sua 
eleição,  a  competência  de  Theodoro  e 
Pascoal,  cada  hum  dos  quaes  tinha  gran- 
de parcialidade  em  Roma,  e  pretendia 
sair  com  a  dignidade  suprema,  à  custa 
de  mortes  e  efusaõ  de  sangue,  que  Deos 
atalhou  por  sua  piedade,  movendo  as 
vontades  de  todos  a  escolher.»  Monar- 
chia  Lusitana,  liv.  6,  cap.  30. 

—  Oitocentos  e  vinte  e  três;  numero 
superior  a  oitocentos  e  vinte  e  dous,  e 
inferior  a  oitocentos  e  vinte  e  quatro.  — 
«Outo  centas  e  vinte  e  três  propriedades 
de  cazas  ticárào  inteyramente  demolidas, 
e  que  gente  vos  parece  que  ficaria  nessas 
ruínas  sepultada.»  Cavalleiro  d'01iveira, 
Cartas,  liv.  1,  n."  23. 

2.)  VINTE,  s,  m. —  O  vinte;  no  jogo 
da  bola,  pau  que  se  põe  em  certo  logar, 
e  quem  o  deita  abaixo,  ganha  vinte  pon- 
tos. —  Mudar  o  vinte  no  jogo  da  bola. 

—  O  vinte  e  um;  jogo  de  cartas. 

—  Loc. :  Saber  as  pancadas  aos  vin- 
tes ;  ser  perito  nos  toques  de  terminar  os 
seus  negócios,  saber-lhes  dar  os  cabes. 

—  Os  vinte  e  quatro;  a  casa  dos  vinte 
e  quatro,  que  hoje  está  estincta;  junta 
de  vinte  e  quatro  pessoas  de  officio  me- 
chanico,  que  eram  apresentadas  por  elei- 
ção na  mesa  da  vereação  pelo  juiz  do 
povo;  tinham  voto  nas  matérias  de  eco- 
nomia ,da  cidade  de  Lisboa. 

—  As  vinte  ;  logo. 

3.)  VINTE,  fart.  act.  de  Vir.  Termo 
antiquado.  Vid.  Vindo. 

—  Plur.  Vindouros. 
VINTEDOZENO,  A,  adj.  —  Panno  vin- 

tedozeno ;  panno  que  tem  de  ordidura 
dous  mil  e  duzentos  tios. 

VINTÉM,  s.  «i.  Moeda  de  prata  do  va- 
lor de  vinte  reis.  Vid.  Real  de  prata. 

—  No  tempo  das  nossas  conquistas  ha- 
via vinténs  dt  cobre,  que  valiam  também 
vinte  reis.  Hoje  também  os  ha  em  Por- 
tugal. 

—  Termo  de  historia  natural.  Peixe 
dos  mares  asiáticos. 

VINTENA,  s.  /.  A  vigésima  parte. 

—  Junta  dos  vintaneiros. 

—  Cavallo  da  vintena;  o  cavallo  pae 
que  tinham  os  que  sào  encarregados  à'is- 
80,  o  qual  cavallo  se  ha  de  lançar  cada 
anno  a  vinte  éguas  de  raça,  cujos  donos 
pagam  um  tanto  aos  donos  dos  garanhões, 


e  ainda  que  nào  queiram  lançal-a  cada 
um  ao  respectivo  garanhão  da  sua  vinte- 
na, pagam  sempre  a  cavallagem,  ou  co- 
brição  lie  vazio.  Vid.  Vinteno. 

—  Tributo  de  um  tirado  de  cada  vinte. 

—  Vinte  risinhos,  ou  casaes. 

— -Juiz  da  vintena,  ou  povo  de  vinte 
casaes. 

—  Um  homem  tirado  de  cada  compa- 
nha, ou  numero  de  vinto  barqueiros,  ou 
pescadores,  para  o  serviço  das  armadas 
reaes. 

—  Laudemio  de  vintena;  de  vinte,  um. 
Vid.  Quarentena. 

VINTENEIRO,  s.  m.  O  cabo,  ou  official 
dos  que  estavam  alistados  para  o  serviço 
das  galés,  e  das  armadas  reaes,  que  eram 
barqueiros  ou  pescadores. 

—  Official,  juiz  da  vintena. 

—  Povo  de  vinte  visinhos. 
VINTENO,  A,  adj.  Vigésimo. 

—  Panno  vinteno,  ou  vintreno;  o  que 
tem  dous  mil  tios  na  ordidura. 

VINTEOCHENO,  A,  adj.  —  Panno  vin- 
teocheno ;  panno  de  lã,  que  tem  dous  mil 
e  oitocentos  fios  no  ordume.  ou  ordidura. 

VINTEQUATRENO,  A,  adj.  —  Panno 
vintequatreno ;  panno  que  tem  de  ordi- 
dura dous  mil  e  quatrocentos  fios. 

VINTEQUATRIA,  s.  /.  O  grémio  dos 
vinte  e  quatro  da  extincta  casa  dita  dos 
vinte  e  quatro  no  antigo  senado,  hoje  ca- 
mará municipal  de  Lisboa. 

—  Os  direitos  de  que  os  vinte  e  quatro 
gozavam. 

VINTE  QUATRO.  Vid.  Vinte  2).  - 
1.)  VIO,   s.  m.  Termo  antiquado.  Vid. 
Vinho. 

-}■  2.)  VIO.  Forma  do  verbo  vér  na  ter- 
ceira pessoa  do  singular  do  pretérito  per- 
feito do  modo  indicativo.  Vid.  Vêr. 


Depois  que  fio  amor  que  o  fugitiuo 
Tempo,  hum  tal  erro  ja  tinha  maia  brado, 
Não  ao  esqueceu  daquellea  cujas  almas 
Em  tão  saaue  priaào,  tinha  tão  juntas. 
Manda  o  Sousa  pedir  coui  brando  rogo 
Ao  generoso  pay  da  bella  dama 
Que  queira  consentir,  o  que  não  pode 
Atalhar  com  rigor,  e  peito  irado. 

OOKTE  SE.^1.,  NÍUFBA.OI0  DE  SEPÚLVEDA,  CaUt.    3. 

Dauãono  a  conhecer  latinaa  letras. 
Que  Pelagio  dezião  ser,  em  tempo 
De  Aroadio  Emperador,  e  de  Innocencio 
Pontífice,  de  tal  nomo  o  primeiro. 
Aquele  infernal,  falso  Peraiáno 
Inuentor  de  blasphemia  abominaucl, 
Vio  com  grão  multidão  dos  que  aeguiào 
Seu  parecer,  e  hajretica  doctrina. 
IBIDEM,  cant.  11. 

EUe,  que  vio  tão  clara  esta  verdade. 
Com  soluços  dizia  (que  a  eapessui-a 
Inelinavào  de  mdgoa,  e  piedade)  : 
Como  pi5de  a  desordem  da  natura 
Fazer  tão  ditferentes  na  vontade 
Aos  que  faz  tão  conformes  na  ventura? 

CAM.,  SONETOS,  n."  41. 


—  «Nem    devia    faltar    a    cõsideração 


destas  correspõdencias  em  el  Rey  Theo- 
demlro,  e  nos  grades  de  sua  Corte  (que 
então  residia  em  Braga,  como  cabeça  que 
sempre  foi  do  Reyno  dos  Suevos)  pois  no 
põto  que  vio  o  Santo,  soube  seu  nome, 
ouvio  sua  doutrina.»  Monarchia  Lusita- 
na, liv.  1,  cap.  18.  —  «Foraõ  a  petição, 
e  lagrimas  de  tanto  effeito  no  animo  de 
S.  Rosendo,  que  lhe  não  pode  negar  seu 
consentimento,  e  aceitando  o  cargo  Ab- 
baciai,  se  vio  o  Mosteyro  logo  cheo  de 
Cavalleiros,  e  senhores  grades,  que  re- 
nunciando as  pompas  do  Mundo  se  vi- 
nhão  dedicar  ao  serviço  de  Christo,  e 
muitos  Conventos  de  Monges,  e  Religio- 
sas de  Portugal,  e  Galliza,  lhe  mandarão 
dar  obediência.»  Ibidem,  liv.  7,  cap.  24. 

—  cA  chegada  dos  quaes  cattivos  a  Co- 
chij  com  toda  a  frota  de  dom  Garcia  Jor- 
ge de  Mello,  _foi  um  dos  mayores  praze- 
res que  Affonso  d'All5oquei-que  vio,  e  que 
mães  contentamento  lhe  deu,  que  quan- 
tas victorias  teue:  ca  esta  grossa  armada 
era  sou  animo  acabou  de  as  confirmai-,  o 
tirar  de  muitas  suspeitas  que  elle  tinha, 
como  a  diante  veremos.»  Idem,  Década 
1,  liv.  7,  cap.  2.  —  «ElRei  de  Cochij 
polo  que  lhe  importaua,'  trazia  sempre 
em  casa  do  Çamorij  pessoas  que  lhe  da- 
uaõ  auiso  de  todas  estas  cousas,  e  tanto 
que  o  VisoRey  chegou  a  Cochij,  despois 
que  se  com  elle  vio  a  primeira  vez,  lhe 
deu  conta  destes  grandes  apparatos  do 
Çamorij.»  Ibidem,  liv.  10,  cap.  4.  — • 
«Peró  depois  que  elle  Rodrigo  Rabello 
vio  Melrao  desbaratado  com  a  vinda  de 
Pulate  Can,  e  que  com  elle  se  ajuntaram 
os  Mouros  do  outro  pregador,  com  que 
lhe  vinha  dar  mostras  derredor  da  Ilha, 
e  podia  em  jangadas,  como  da  outra  vez, 
commetter  a  entrada  delia,  ordenou  na- 
vios de  guarda,  porque  té  então  a  vigia 
dos  passos  era  encommendada  ao  Tana- 
dar  Cogequij  homem  de  guerra,  e  mui 
fiel  servidor.»  Idem,  Década  2,  liv.  6, 
cap.  8.  —  a  Onde  já  da  banda  da  terra  fii'- 
me  vio  muita  gente  que  queria  passar  per 
huma  jangada  pequena,  que  estavam  fa- 
zendo, a  qual  obra  impedio  que  não  fosse 
mais  avante.  Peró  i.sto  aproveitava  já 
bem  pouco,  jjorque  ante  de  sua  vinda 
eram  passados  alguns  Mouros  de  cavallo 
com  hum  golpe  de  gente  de  pé.»  Ibidem. 

—  »D.  Garcia  quando  vio  este  sinal,  e 
ouvio  o  que  diziam,  por  João  Machado 
não  ser  presente,  mandou  saber  per  Bas- 
tião Rodrigues,  que  sabia  alguma  cousa 
da  lingua  do  tempo  que  o  cativaram  na 
morte  de  D.  Lourenço,  o  que  queriam.» 
Ibidem,  liv.  7,  cap.  õ.  —  «Por  que  isso 
quando  ouviram  fallar  os  arrenegados  em 
partido,  lançaram  orelhas  a  isso,  e  muito 
mais  Roztomocan,  que  vio  o  negocio  or- 
denado de  maneira  pêra  o  tomarem  ás 
mãos.»  Ibidem. —  «Porém  quando  ama- 
nheceo,  que  elle  vio  a  maneira  da  força 
que  elle  Lacsamana  tinha  feita,  ficou  es- 
pantado, e  teve-o  por  homem  de  grande 


958 


VIOL 


VI O  L 


VIOL 


espirito,  e  iadustrlu :  uá  não  «ómonto  fez 
cousa  que  havia  mister  muit.i  fíonte,  e 
iiuinií^õci  [)oi!i  !i  coiniiKíttc.r ;  mas  aiiiila 
fui  tuo  caladaincnto,  «iikí  ilo  o  uDIl»  senti- 
rem cuiilava  clle  Fernili)  Porcí!  que  fuf,'í- 
ra  pelo  rio  assiinii  com  parto  ila  frota.» 
Ibidem,  liv.  9,  cap.  2.  —  «E  quando  vio 
a  ponta  da  laucliara  dolRey  que  coine<;a- 
va  apparccíT  dotnis  do  cotovcilo,  do  im- 
proviso som  sabor  o  quo  vinha  dotrás, 
deo  huma  grita  com  os  seus,  o  mandou 
desparar  a  artolharia  (pie  trazia,  a  qual 
ainda  que  era  miúda,  cila,  e  as  espingar- 
das dos  sous  derribaram  logo  alguns  dos 
romeiros  da  lanchara  d'ElKey.ii  Ibidem, 
cap.  7. —  «Miinoel  Machado  chegando  a 
terra  vio  imma  povoação  ao  longo  da 
agua,  o  qucrenlo  desembarcar,  acudiram 
03  negros  com  frechas,  e  páos  tostarlos,  c 
carregando  nos  nossos,  os  tizeram  embar- 
oar  com  morto  de  lium  grumete,  e  dous 
feridos.»  Diogo  de  Couto,  Década  4,  liv. 
6,  cap.  1.  —  íE  andando  assi  em  busca 
dos  ditos  papeis,  tí)pou  com  algumas  car- 
tíis,  e  estruções  de  Castolla,  o  pêra  os 
lieya  de  Castella,  delias  próprias,  e  ou- 
tras cmemlas  corrcgidas,  e  emmcndadas 
da  letra  do  mesmo  Duque.  E  como  assi 
vio,  escondidamente  do  moço  as  tomou 
todas,  e  nieteo  na  manga,  o  se  foy  a  casa 
o  secretamente  vio  todas.»  (larcia  do 
Rezende,  Chronica  de  João  II,  cap.  28. 
—  »0  pouo  que  andaua  em  treuas  vio 
huma  gi-anda  luz:  e  aos  que  morauão  na 
regiam  da  sombra  da  morte,  lhes  nasceo 
huma  grande  claridade.  Porque  esta  noy- 
te  hum  menino  he  nascido,  e  hum  lilho 
nos  he  dado,  cujo  principado  e  império 
será  eterno,  e  chauiarseha  por  estes  no- 
ipes.  Marauilhoso.  D  Frei  Bartholomeu 
dos  Martyres,  Catecismo  da  doutrina 
christã. 


Mas  quiindo  rio  aahir  da  ludc  furna, 
líoiTeiidiimeuto  uivando,  um  Uaõ  medonho, 
Do  nogro,  espesso,  retorcido  peio, 
Quo  lanija  pelos  ollios  triste  fogo, 
E  oliegar-so  do  Magico  ás  orelhas. 
De  todo  perde  a  cor,  o  alento  perde, 
nimz  DA  OBDz,  uYssoi-E,  caut.  8. 


Eis  prodígio  maior,  uo  dilatado 
Dos  Ceos  espaço  Oriental  fulgura. 
Repentino  hum  clarão ;  nclle  gravado 
Era  o  sigua!  detorua,  alma  veutura  : 
Qual  Constantino  o  fio  no  campo  armado. 
Que  do  Maxcncio  o  estrago  lhe  assegura  •, 
Tal  aos  olhos  dos  Lusos  se  otVerece, 
Imniobil  brilha,  immobil  resplandece, 
j.  A.  PS  MACEDO,  o  oHiKNTB,  cant.  8,  ost.  73. 


Aquello  Qonio  milagroso  observo, 

Quo  a  Frigia  vio  nascer  profundo,  o  sábio, 

Que  os  Brutos  fez  fallar,  Arvores,  Plantas. 

IDRM,   VIAGEM  EXTÁTICA,   CaUt.   2. 


1.)  VIOLA,  s.  /.  Instrumento  musico 
vulgar,  ci>m  coidas  de  tripas  de  carnei- 
ro, e  trastes  no  braço. 


— •  Peixo  cí)m  feirjlo  de  viola. 

—  Viola  de  arco;  rabeca. 

—  Figuradamente  :  A  viola  do  etpiri- 
to  tão   iKDtjjerada. 

2.)  VIOLA,  s.  f.  (Do  latim  violn).  Ter- 
mo de  boi.-mica.  Flor,  aliás  violeta,  rô- 
xa-escuru. 

VIOLAÇÃO,  ».  /.  (Do  latim  violatío). 
A  acçílo  do  viidar,  de  sor  violado. 

VIOLÁCEO,  A,  adj.  (Do  latim  viola- 
ctíus).  De  côr  de  violetas,  rôxi>-e8Curo. 

I.)  VIOLADO,  part.  yass.  de  Violar. 
Quebrantado. 

—  Co\iti)  violado  ;  couto  quebrado. 

—  Jgrejd  violada  ;  igreja  profanada. 
2.)  VIOLADO,    A,   adj.   Violáceo. 

—  Termo  de  i)harmacia.  Feito  de  vio- 
las. —  Xdi-npe.  violado. 

VIOLADOR,  A,  s.  (Do  latim  violator). 
Pessoa  qiU!  violou. 

—  Quebrantador. 

—  tí.  m.  Homem  que  violou  uma  mu- 
lher, que  a  forçou,  que  a  estuprou. 

VIOLAL,  s.  «».  Campo  onde  ha  violas 
llôres. 

VIOLÃO,  8.  m.  Augmentativo  de  Viola. 

1.)  VIOLAR,  .S-.  Hl.  Vid.  Violai. 

2.)  VIOLAR,  V.  <i.  (Do  latim  violare). 
Quebrantar.  —  Violar  as  leis. 

—  Profanar.  —  Violar  o  templo. 

—  Figuradamente  :  Violar  composiçde» 
alheias,  sem  certeza  de  ser  a  emenda  ver- 
dadeira. 

—  Forçar  a  mulher,  estuprar  a  don- 
zella  niiSrnicnte. 

—  SvN. :  Violar,  contravir.  Vid.  este 
ultimo  termo. 

VIOLAVEL,  adj.  2  gen.  (Do  latim  vio- 
labilis).  Quo  é  posaivel  violar -se. 

VIOLEIRO,  s.  m.  Homem  que  faz  vio- 
las. 

—  Homem  que  as  vendo. 

—  Homem  que  as  toca. 
VIOLÊNCIA,  s.  /.  (Do  latim  viokntia). 

Força,  Ímpeto,  grande  impulso.  —  ^4.  vio- 
lência da  torrente.  —  «No  baluarte  S. 
Jorio  se  resistia  á,  violência  do  ferro,  sem 
temer  a  do  fogo.  Peloijavãô  os  inimigos 
tibiamente,  até  quo  lhes  chegou  o  sinal 
de  se  dar  fogo  il  mina,  retirando-se  a 
hum  mesmo  tempo  todos ;  poróiu  o  temor 
igual,  e  súbito  nos  descobrio  o  engano. 
Prailou  logo  o  CapitFío  Jl/ir  dizendo,  que 
deixassem  o  baluarte,  para  que  sem  dam- 
no  rebentasse  a  mina,  já  conhecida  ua 
improvisa  retirada  do  inimigo.»  Jaein- 
tho  Freire  d'Andrade,  Vida  de  D.  João 
de  Castro,  liv.  2.  —  «E  diz  bom,  que 
sentio  grande  força  intrinseca  no  direi- 
to da  Senhora  Dona  Catharina,  porque 
força  intrinseca  nTio  a  havia  nolla:  an- 
tes com  paz,  o  socego  se  punha  na  ra- 
zão, que  Filippo  naõ  qniz  admittir,  nem 
ouvir:  e  porisso  chamamos  violência  il 
posse  que  tomou;  com  que  na  verdade 
ponleo  todo  o  direito,  que  affectava.» 
Arte  de  furtar,  cap.  10.  —  «Ds  Religio- 
sos   exercitSo    huma  violência  que   dura 


sempre :  obri^So  a  Ruspender-so,  c  a  fi- 
xar-«e  em  hum  mesmo  ponto,  a  incons- 
tância do  entendimento  humano;  e  por 
meyo  dos  votos  solemos  que  prophcAsAo, 
se  obrigSo  á  necessidade  de  conservar 
huma  virtude  peri)etua.»  Cavalleiro  d« 
Oliveira,   Cartas,  liv.  1,  n."  28. 

—  Força  feita  a  alguém  contra  direito. 

—  Intensidade.  —  Violência  da  ceUtaa. 

—  SvN.:  Violência,  f</rr,a.  Vid.  est* 
ultimo  termo. 

VIOLENTADO,  part.  pa»i.  de  Violen- 
tar. Tomado  por  força,  p<jr  guerras. 

—  Forçado,  constrangido.  —  «Mas  in- 
sistia RumecAo  na  obra  tão  porfiadamen- 
te,  que  por  cima  dos  morto»  fazia  subir 
outros,  que  ainda  que  violentados,  ven- 
ciílo  o  perigo  com  a  obediência.  Chegou 
em  fim  por  meio  de  tão  custoso  trabalho 
a  igualar  a  cava.»  J.-icintho  Freire  d'An- 
drade,  Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv. 
2.  —  «Livremos  nossos  mares,  que  de- 
baixo de  suas  armailas  violentados  go- 
mem. Com  este  altimo  assalto  poremos 
fim  a  tão  illustre  empreza,  e  se  acordará 
o  Oriente  idades  largas  com  alegre  me- 
moria de  tilo  formoso  dia.»  rbidem. 

VIOLENTADOR,  A,  ».  Peasoa  que  vio- 
lentou, que  constrangeu. 

VIOLENTAMENTE,  adv.  (De  violento, 
e  o  suffixo  «mente»).  Do  um  modo  vio- 
lento. 

—  Com  violência,  impeto,  intensidade. 
VIOLENTAR,  v.   a.  Y&ivt   força   phy- 

sica. 

—  Constranger,  forçar,  forçar  a  von- 
tade. 

—  Stn.:  Violentar,  constranger.  Vid. 
este  ultimo  termo. 

VIOLENTÍSSIMO,  A,  adj.  sup^rl.  de  Vio- 
lento.   -Mui   violento. 

VIOLENTO,  A,  adj,  (Do  latim  vioUn- 
tus).  Vehemente,  impetuoso,  forçoso,  que 
obriga  e  força.  —  O  fogo  violento  das 
forjas.  —  « Pasma  a  Natureza,  extremece 
a  mão,  e  naõ  atina  a  correr  pello  papel 
a  penna  h  vista  dos  bárbaros  costumes, 
que  entramos  a  ponderar  em  muytoa  ho- 
mens a  respeito  doa  mesmos  homens;  de 
quem  naõ  será  violento  o  verificar-se  à 
vista  de  tantas  crueldades  inhumana»  o 
antigo  Provérbio:  Hvmo  hyiniui  íuptts 
est.-  Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal  me- 
dico, pag.  25,  §  91.  —  «Porque  me  des- 
te a  conhecer  a  imperfeição  e  desagrado 
d'um  amor  que  não  tinha  de  ser  perpe- 
tuo ;  e  as  desditas  que  accompanhão  vio- 
lentas affeiçòes  quando  n.^o  são  recipro- 
cas? E  porque  motivo  uma  cega  inclina- 
ção, e  desabrigados  fados  porfião  pelo 
ordinário  em  nos  determinar  em  favor 
daquellas  que  porião  sua  afteiçSo  em  ou- 
tra pessoa?»  Francisco  Manoel  do  Nasci- 
mento, Successos  de  madame  de  Sene- 
terre.  —  «Parece-me  inútil  jxinderar,  pois 
que  o  sabeis,  que  o  fogo  que  devorou  a 
dita  pobre  Parisiense  havia  de  ser  tão 
penetrante    como   o   de    hum   rayo,   poia 


VIR 


VIR 


vm 


959 


que  reduzio  a  cinza  os  ossos  que  o  fogo 
violento  das  forjas  não  pode  destruir  nem 
calcinar  que  em  muito  tempo.»  Cavallei- 
ro  d'01iveira,   Cartas,  liv.  1,   n."  lõ. 

— •  Loc. :  Pôr  mãos  violentas  em  al- 
guém; maltratal-o,  offeudei-o  contra  di- 
reito. 

—  Arrebatado. 

— -  Não  natural,  nem  por  doença. 

VIOLETA,  s.  /.  Termo  de  botânica. 
Flor  agreste,  ou  hortada,  roxa.  Vid.  Vio- 
la, porém  violeta  é  termo  mais  usual  e 
próprio. 

VIOLETE,  adj.  2  gen.  De  côr  da  vio- 
leta. 

—  Pau  violeta ;  madeira  de  tinturaria 
ou  marchetaria  do  Brazil,  com  aguas  e 
ondas  roxas. 

—  <S'.   m. —  O  violete. 

VIOLETTA,  s.  f.  O  instrumento  musi- 
co da  figura  de  uma  rabeca,  e  um  pouco 
maior,  de  que  se  faz  uso  em  grandes  or- 
chestras  ou  concertos  musicaes;  é  inter- 
médio entre  as  rabecas  ou  violinos,  e  o 
baixo. 

VIOLINHA,  s.  f.  Diminutivo  de  Viola. 
Viola  pequena. 

— -  Violino. 

VIOLINO,  s.  m.  Violinha  de  arco,  uma 
espécie  de  rabeca. 

VIOLONCELLO,  s.  m.  Instrumento  mu- 
sical de  quatro  cordas  como  a  rabeca,  po- 
rém muito  maior.  Vid.  Rabecão  -pequeno. 

VIPEREO,  A,  adj.  Termo  de  poesia. 
Vid.  Viperino. 

VIPERINO,  A,  adj.  (Do  latim  viperi- 
nusi.  De  vibora. — Viperino  sangue, 

—  Figuradamente:  Venenoso. —  Glân- 
dula viperina. 

1.)  VIR,  adj.  Termo  antiquado.  Vil, 
plebeu.  — •  Qualquer  vir  pessoa, 

2.)  VIR,  V,  n.  (Do  latim  venire).  Pas- 
sar de  outro  logar  para  aquelle  onde  está 
quem  diz  que  veio.  —  Vir  n'inn  carro, 

—  Voltar.  —  eE  quando  o  quiz  espe- 
dir,  ordenou  de  vir  com  elie  o  próprio 
Mouro,  que  o  seu  Embaixador  mandou  a 
AfFonso  d'Alboquerque,  o  qual  também 
era  chegado  com  elle  Miguel  Ferreira  a 
Ormuz,  e  trazia  hum  grande  presente  a 
elle  Afibnso  d'Alboquerque.»  Barros,  Dé- 
cadas, liv.  10,  cap.  2. 

Que  hc  o  que  voa  quereis? 
Que  o  mandeis  vir  aqui 
Preso,  e  que  o  castigueia. 
Ja  eu  estive  cuidando  nisso, 
Porque  eu  não  sou  abantosma. 
on.  vicektí:,  fabças. 

Não  posso  mais  aqui  estar, 
Que  ando  destemperada. 
Como  eu  for  estancada, 
Virei  ca  mais  devagar. 
Boa  mestra  he  aquella  honrada. 
Ay,  ay,  ay  triste  do  mi  ! 


Por  minha  condemnaçào  ; 
Dá  tu  sentença  por  mi: 


Pois  que  ja  me  arrependi 
Passe  por  satisfação. 
E  minha  lingua  louvará 
Tua  justiça  clemente, 
Todo  o  Ceo  se  alegrará, 
Todo  o  peccador  lirá 
A  ti  mui  devotamente. 

IDEM,   OBBAS   VARIAS. 


Quando  de  Cafres  huma  turba  horrenda 
Com  tão  grande  alarido  que  o  ceo  rasga 
Se  deixa  vtV  por  Íngremes  ladeiras, 
Com  braucza  frechando  03  curuos  arcos. 
Corrase  o  Lusitano  esquadrão,  pondo 
Os  que  saõ  mais  ousados  na  dianteira, 
Estes,  inda  que  poucos,  bem  se  atreuem 
Reprimir  o  furor  dos  inimigos. 

COEIE  REAI.,   SACFRAGIO  DE   SEPÚLVEDA,  Cant.  9. 


Logo  O  Eei  infernal,  a  quem  isto  era 
Bem  conforme  ao  seu  gosto  e  natuieza, 
Gabando-lhe  a  tenção  damnada  c  fera, 
Incitaudo-o  a  múr  ódio,  a  mor  crueza. 
Faz  vir  alli  a  pestífera  Megera 
E  lhe  manda  que  vá  com  gràa  presteza 
Onde  a  sua  morada  tem  a  Inveja 
E  mande  que  o  Sultão  nisto  proveja. 

F.  d'andrade,  PBistEiBO  CEBCo  DE  Dic,  cant.  9, 
est.  98. 


—  «Estas  seis  nãos  depois  de  terem 
dobrado  o  cabo  de  boa  Sperança,  foram 
lançar  ancora  de  fronte  de  huma  terra 
fresca,  de  muitas  ribeiras,  aruoredos,  e 
criaçoeus,  da  qual  nenhum  dos  uaturaes 
ousou  vir  às  uaos,  nem  na  praia  quise- 
raò  comunicar  com  os  nossos,  nem  ven- 
derlhes  mantimentos  de  que  tinhaõ  mui- 
ta necessidade.»  Damião  de  Góes,  Chro- 
nica  de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  57.  — • 
«Que  quanto  a  pessoa  delle  Capitão,  com 
ella  teria  menos  conta,  e  se  aprouvesse  a 
elle  Capitão  mór,  elle  lhe  viria  fallar  á 
ribeira  com  vinte  homens,  nào  trazendo 
elle  mais  comsigo.»  Barros,  Década  2, 
liv.  7,  cap.  7. —  tE  agora  com  a  prizão 
daquelles  Fidalgos,  que  são  os  principaes 
que  ElRey  tem  na  índia,  ficou  tão  ufa- 
no, que  segundo  tenho  por  cartas,  está 
apostado  a  vir  cercar  esta  fortaleza,  e 
prender  o  senhor  D.  Simão,  que  a  mim 
já  o  tem  feito  em  tempo  que  ha  tão  cer- 
tas novas  de  galés  de  Rumes.»  Diogo  de 
Couto,  Década  4,  liv.  3,  cap.  5.  — 
«Acordarão  communicar  o  negocio  com 
Martim  Affonso  de  Sousa,  Governador 
que  então  era  do  Estado  da  índia,  pedin- 
do-lhe  mandasse  vir  Meále  de  Cambava, 
e  o  tivesso  em  Goa.  E  quando  engeitaa- 
se  a  gloria  de  o  restituir,  teria  sempre 
ao  Hidalcão  temeroso,  e  propicio  para 
todas  as  occurrencias  do  Estado.»  Jacin- 
tho  Freire  d'Andrade,  Vida  de  D.  João 
de  Castro,  liv.  1.  —  «Que  o  negocio,  que 
propunha,  tocava  ao  Governador  da  ín- 
dia, o  qual  estava  aprestando  a  armada 
para  vir  visitar  aquella  Fortaleza,  que 
chegado  elle  lhe  communicaria  a  sua  pro- 
posta.» Ibidem.  —  «Lembrou  alguém  que 
havia  conloio  com  os  inglezes,  para  vi- 
rem procurar  com  poderosa  armada  o  in- 


fante e  ir  coroar- se  rei  ao  Brasil,  corren- 
do a  negociação  entre  America  e  Lon- 
dres. Não  fico  por  fiador  da  idéa:  direi 
porém  o  que  se  seguiu.»  Bispo  do  Grão 
Pará,  Memorias,  publicadas  por  Camillo 
Castello  Branco,  pag.  110. 

—  Chegar.  —  «E  estando  os  nossos 
nesta  obra  de  tomar  agoa  virão  vir  hum 
homem  grosso  bem  tratado  sem  a  touca 
que  elles  costumão  como  afrontado  d'al- 
guma  cousa;  e  tanto  que  chegou  espaço 
que  o  podião  ouuir,  começou  de  bradar 
dizendo  que  se  acolhessem.»  Barros,  Dé- 
cada 2,  liv.  1,  cap.  1. —  «O  Xeque  Is- 
mael assentado  neste  conselho,  leixou  vir 
o  Turco  té  se  assentar  ao  pé  de  huma 
serra  diante  de  hum  campo  mui  espaço- 
so, e  disposto  pêra  a  gente  de  cavallo 
delle  Xeque  Ismael  pelejar  a  seu  uso.» 
Barros,  Década  2,  liv.  5,  cap.  6. 

He  cousa  para  nam  cveer 
virem  ambos  a  morrer 
no  mes  de  lulho  e  hum  dia, 
nos  quaes  tempos  nou  auia 
mais  filho  que  sobceder. 

G.   DE    BEZEXDB,  MISCELLAKEA. 

— -«Cuidareis  agora  que  estou. rindo, 
assim  he,  porem  rio  de  raiva  á  imitação 
dos  Pastores  que  cantão  com  medo  para 
afugentar  os  Lobos,  e  as  Raposas,  ou  rio 
porque  estou  certo  que  todos  estes  risos 
hão  de  vir  a  dar  em  grandes  choros.» 
Cavalleiro  d'01iveira.  Cartas,  liv.  3, 
n.o  25. 

—  Proceder,  originar-se,  derivar,  ser 
oriundo.  —  «E  como  este  Hacem  Bec 
era  homem  novo  sem  parentesco  de  no- 
breza, e  estrangeiro  na  terra,  por  me- 
lhor segurar  o  que  ganhara,  e  se  liar 
com  os  Príncipes  do  Reyno,  casou  huma 
filha  sua  com  Xeque  Aidar,  que  além  de 
ser  homem  nobre  em  sangue,  por  vir  da 
linhagem  de  Alie,  e  secta  que  novamen- 
te professava,  com  que  tinha  acquirido 
muita  gente,  houve  Hacem  Bec  que  a 
dava  a  huma  das  mais  notáveis  pessoas 
da  Pérsia.»  Barros,  Década  2,  liv.  10, 
cap.  6.  • —  «E  se  bem  attentarmos  em 
ambos  estes  direitos,  estava  a  Senhora 
Dona  Catharina  diante  delRev  Filippe: 
no  do  sangue,  por  vir  por  linha  masculi- 
na, que  he  preferida  á  feminina,  por  on- 
de elle  vinha;  o  no  hereditário;  porque  a 
instituição  do  nosso  Reyno  era,  que  des- 
se ao  natural,  como  era  a  Senhora  Dona 
Catharina,  e  naõ  a  estrangeiro,  como 
era  Filippe.»  Arte  de  furtar,  cap.  16. 


Segundo  todos  diziào, 
non  fov  cousa  natural 
o  damno  que  recebiam, 
mas  por  castigo  o  auiam, 
e  temiam  vir  mais  mal. 

GABCIA  DE  REZEXDB,  MISCELLANEA. 

Tudo  faz  emfim  prestes  quanto  via 
Que  cumpre  á  defensão  da  fortaleza. 


960 


VIR 


VIRA 


VIRA 


De  aorte  quo  vir  cousa  nâo  podia 

Que  cíiiiHO  oonfimio  ou  iiicerto/.u. 
Lofço  ollo  CO 'ca  da  hiiii  coinpiiiihia 
O»  lopiroH  vioita  cm  que  ha  fraqueza, 
TvOíiibrando  n  cada  liuin  o  rjui'  h<-  ubripido, 
I'oi'(''m  ÍHto  ora  tiin  todos  e>ti'Uitado. 

FHANCISCO  Di;  AltDHADK,  PUIMKIBO  CKHCO  DB  DIU, 

cunt.  lit,  est.  10. 


—  Vir  em  pessoa;  vir  pessoalmcnto, 
ser  o  próprio.  —  «K  no«te  anno  do  (|iuv- 
trocontos  e  oitonta  e  oito,  porque  lio  dito 
Beiuohi  por  trayçain  ilos  seus  foy  ian(;!i- 
do  fora  do  Keyiio,  doturminou  meterse 
em  liunia  cnrauella  da»  do  tracto  que 
corrião  a  costa,  e  cm  pussoa  vir  pi-dir  a 
el  Rey  socorro,  ajuda,  o  justi(,'a.  E  es- 
tando cl  Key  eiu  Setuuol  o  dito  líomolii 
clieRou  a  Lisboa,  o  coui  ollo  alf^una  ne- 
gros seus  parentes,  o  filhos  de  pessoas 
antro  oiles  de  luuvta  valia  o  grande  esti- 
ma.» íiarcia  de  Rezende,  Chrouica  de  D. 
João  II,  cap.  78. 

—  Fazer  vir  ah/uem;  mandar  clia- 
mal-o.  —  «Faltou  o  Senhor  Conde  Açor- 
da, o  Barào  de  Ma(,'amorda,  e  também 
faltou  aquelle  Cavalheiro,  que  quando 
chega  hc  o  mesmo  que  fazer  vir  o  coco. » 
Cavalleiro  d'Oliveira,  Cartas,  llv.  1, 
n.°  10. 

—  Vir  a  si;  chamar  á   sua   presença. 

—  «Mandou  vir  a  si  o  governo  popuhir 
da  Cidade,  ao  Vigário  t!eral  da  índia, 
ao  (iunrdiSo  de  S.  Francisco,  a  Fr.  An- 
tónio do  Casal,  a  S.  Francisco  Xavier,  e 
aos  Officiaes  da  fazenda  dei  Rei,  a  quem 
fez  esta  falia.»  Jaeintho  Freire  d'Andra- 
de.   Vida  de  D.  João  de  Castro,   liv.    4. 

—  Virem  de  fora ;  chegarem    de  fora. 

—  «Temendo  os  nossos,  logo  quando  se 
acolheram  ;l  Cidade,  que  com  a  entrada 
desta  gente,  além  de  não  ser  mui  iiol, 
haviam  de  padecer  ;l  fome,  por  os  pou- 
cos mantimentos  (]ue  havia  nella,  e  elles 
foram  causa  de  virem  do  fora  nos  mezes 
do  inverno,  que  fora  o  de  maior  traba- 
lho.»   Barros,    Década  2,    liv.  G,  cap.  9. 

—  Virem  com  embargos;  apresentarem 
obstáculos,  diíBeuldades.  —  «Faziaõ  ju- 
rar na  Chancellaria,  os  que  compravaõ 
os  oíTicios,  que  nada  davaõ  por  elles, 
nem  os  que  pertendiaõ  por  interposta 
pessoa :  prohibiaõ  ás  partes  virem  com 
embargos  a  taes  provimentos,  e  se  al- 
guém dava  mais  pelo  ofiicio  já  comprado, 
lho  largavaõ  sem  restituírem  o  dinheiro 
ao  primeiro  comprador,  a  quem  satisfa- 
ziaõ  com  que  ajiontasse,  o  pedisse  outra 
cousa.»  Arte  de  furtar,  c^ip.  19. 

—  Vir  ú  costa  ;  perder-se,  naufragar. 
—  «E  como  as  nãos  grandes  nTio  tinlião 
portos  pêra  isso,  a  maior  parte  delias 
auiaõ  de  vir  a  costa,  e  se  metessem  os 
nauios  pequenos  em  os  rios  segundo  cus- 
tume  da  terra,  tinhaõ  certo  poderem  logo 
ser  queimados.»  Barros,  Década  1,  liv.  li, 
cap.  l5. 

—  Vir  a  terra ;  desembarcar,  voltar  a 
terra,  pôr  pó  em  terra. 


O  Kazá,  que  luto  tudo  f;ovurnavs, 
Nunca  a  frota  di.'ixou,  uulla  se  oucoira, 
AhȒ  porque  i;uurdii-ia  a  cllo  tocava 
I*or  oiítar  nella  u  força  desta  guorra, 
Como  porqui)  de  todo  lhe  ne);avu 
A  sua  antif^a  idade  rir  a  tcrru, 
Ou  por  outro  respeito  extraordinário, 
Mas  dalli  provê  tudo  o  necessário. 

rBANCISCO  DK  A.IDBADK,  PRIUEIBO  OEBCO  DB  VIC , 

caut.  1.^),  est.  47. 


—  « Diogo  Lopez  parecendolhe  que  era 
isto  asai  mandou  todolos  bateis  a  terra, 
sem  ficar  narmada  maia  quo  o  da  taforea 
por  lhe  catarem  calafetando  a  cuberta,  o 
Kcruia  de  ir,  e  vir  a  torra  buscar  cousas 
necessárias.»  DandAo  do  (iões,  Cbronica 
de  D.  Manoel,  jiart.  '^,  cap.  '2. 

—  Vir  a  ^ruçíj»;  luetar. 

—  Vir  bem,  ou  trial  o  vestido  a  alguém; 
ser  bem,  ou  mal  feito  para  clle,  ajustar- 
se-lho,  ou  não  ao  talho,  e  feição  do  corpo. 

—  Nascer,  reproduzir-se,  dar-se. 

—  Nit  f aliando ;  fallar  andando. 

—  Vir  sobre  a  praqa  com  forr^a  d'ar- 
mas ;  ir  accommettel-a. 

—  Vir  a  palavras,  e  razoes  desconcer- 
tadas; chegar  a  ter  razões. 

—  Vir  d  varanda,  ou  janella  sobre  o  rio, 
ou  praqa;  olhar  para  elle,  cair,  ou  dar 
no  rio,  ou  praça. 

—  Vir  bem;  fazer  conta,  ser  útil,  con- 
vir. 

—  Vir  a  saber-se;  acontecer,  succeder, 
chegar. 

—  Vir  ás  mãos,  aos  cabellos ;  ter  bri- 
gas. 

—  Vir  á  memoria;  occorrer,  lembrar- 
se,  recordar-se. 

—  Loc.  POP. :  Vir  ás  boas;  diz-se  n'u- 
nia  questão  que  se  ventila,  d'aquelles  in- 
dividues que  por  fim  concordam,  iázem 
pazes. 

—  Vir  $m  alguma  cousa;  concordar, 
convir. 

—  Vir  d  prova;  fazer,  ou  sofiFrer  exa- 
me, e  experiência. 

—  Vir-se,  i'.  rfjl.  —  Vir-se  chegando  o 
inverno;  approximar-se,  estar-se  perto 
d'elle.  —  « Feito  isto  por  se  vir  chegando  o 
inverno,  recolheo-so  a  invernar  em  Chaul, 
pelo  assi  mandar  o  Governador.  E  conti- 
nuando com  Diogo  da  Silveira,  foi  se- 
guindo sua  viagem  até  o  Cabo  de  Guar- 
dafúi,  onde  as  náos  que  vam  de  Achem 
pêra  Meca  sempre  vam  demandar.»  Dio- 
go de  Couto,  Década  4,  liv.  8,  cíip.  4. 

—  Termo  popular  o  obsceno.  Fazer 
sair  o  sémen  na  occasiào  em  que  se  está 
em  copula  carnal  com  uma  mulher;  ou 
mesmo  quando  se  está  em  presença  de 
algum  objecto  concupiscente. 

1.)  VIRA,  .•!.  /.  (W)  francez  vire).  Setta 
mui  aguda. 

—  Peça  de  sola,  quo  forra  a  borda  do 
rosto  do  sapato. 

15odo\uc^rro  anda  no  mato. 

Negro  ho  o  cor\-o  c  negro  hc  o  pM. 


Nef^ro  he  o  rei  do  eoxadrex. 
Negra  he  a  vira  do  sapato, 
Ncf^ro  he  o  saco  queu  deaato. 

OIL   riCKXTE,'  rAEÇA». 


—  Meia  vira ;  tira  de  «oia  á  borda  do 

rosto  do  sapato,  entre  a  palmilha  o  a  so- 
la, divcri<a  >ia  vtVa  inteira,  ca  «ola  por 
baixo  da  sola. 

—  Era  antigamente  a  tira  de  couro 
com  que  Oi  besteiros  forravam  as  mãos 
para  armarem  au  beatas,  qoasi  como  as 
tiras  (|uu  usam  os  aapateiros  forrando  as 
mãos,  quando  cosem  as  viras,  e  sapatos 
para  aperUir  o  ponto  melhor.  ==  Em  Vi- 
terbo, Elucidário. 

—  Fifíurauamente:  Metade  do  que  fora 
suffieiento,  u  não  ba.sta  ]>or  ser  aú  a  me- 
tade. 

2.)  VIRA.  F/irma  do  verbo  vir  na  pri- 
meira ou  terceira  pessoa  do  singular  do 
pretérito  mais  fjuo  perfeito  do  mo<io  indi- 
cativo. Vid.  Vér.  —  «El-rei  conhecendo, 
que  era  (iraciano  Príncipe  de  França, 
quo  já  outra  vez  o  vira,  se  desceu  do  ca- 
vallo,  recebendo-o  com  tanto  amor  o  cor- 
tesia, como  se  devia  a  tal  pessoa.»  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  d'lnglaterra, 
cap.  34.  —  «E  muito  maior  depois  que  lhe 
contou  as  cousas,  que  passara  com  o  Xeque 
Ismael,  em  que  vira  nelle  quanto  estima- 
ria ter  amizade,  e  prestança  com  El  Rey 
D.  Manuel ;  té  dizer  hum  dia  ao  seu  Fy- 
sico  mór,  que  lhe  mandaria  cortar  a  cabe- 
ça, se  não  desse  a  elle  Miguel  Ferreira, 
que  acertara  de  adoecer.»  Barros.  Década 
2,  liv.  10,  cap.  2.  —  «E  porque  elle  pudes- 
se contar  ao  Camorij  o  que  vira,  mandou 
o  Almirante  em  sua  presença  tomar  huma 
nao  que  estaua  surta  diante  da  cidade 
carregada  de  mantimentoa  e  leuar  bordo 
da  8ua.>  Idem,  Década  1,  liv.  6,  cap.  5. 


Tão  sublimei  brasocna  serão  ganhados 
Com  força  invicta  por  Hermes  prestantes, 
Quaes  vira  ò  Tibre  em  séculos  passados, 
Entre  os  grandes  Democratas  reinantes: 
Seus  nomes  immortaea  serão  gravados 
Em  bronze  eterno,  sólidos  diamantes ; 
Ho  Deus  quem  te  revela,  A  Lusitano, 
Este,  quinda  o  futuro  encerra,  arcano. 

J.   A.    DR  MACKDO,  O  OBtSXTB,  Cant.    12,    CSt.    5Õ. 


Se  as  solidões  da  Libya.  e  o  Téjo  ameno. 
São  para  mim  morada  indiffercntc; 
Se  com  semblante  igual  me  rira  o  Mondo, 
Ou  n'hum  profundo  cárcere,  on  nTium  Throno ; 
Se  03  mesmos  Ceos  descubro  cm  toda  a  parte. 

IDEM,  KKDITÀÇÂO,  CaUt.    1. 

■f  3.1  VIRA.  Fiirma  do  verbo  virar  na 
terceira  pessoa  do  singular  do  presente 
do  modo  indicativo.  Vid.  Virar. 

VIRAÇÃO,  5.  /.  Vento  brando,  c  fres- 
co, que  corre  depois  da  calma. 

—  Figuradamente :  A  viração  da  gra- 
ça :  favor  d'ella,  inspiraç.Ho. 

VIRACCENTO,  s.  m.  Signal  orthogra- 
plúco. 


VIRA 


VIRA 


VIRA 


961 


VIRADO,  part.  pass.  de  Virar. 

E  pois  propriedade  e  natureza 

Da  Fortuua,  he  fazer  logo  mudança, 

Creio  que  já  tora  virada  a  roda 

E  a  terra  cm  favor  nosso  posta  toda. 

r.  DE  AjfDBADK,  piuitKiso  CERCO  DK  mV,  cant.  18, 
eat.  37. 


VIRADOR,  s.  m.  Cabo  em  que  se  ata  o 
que  se  quer  mover  com  o  cabrestante,  e 
se  vai  envolvendo  no  seu  cylindro. 

—  Maciíiua  de  um  cvlindi-o  perpendi- 
cular com  braços,  ou  barras,  que  o  fazem 
vulver,  e  enrolar  o  virador,  ou  corda  que 
levanta  ou  puxa  algum  peso. 

—  Viradores  de  encadernador;  ferros 
de  dourar,  com  que  fazem  riscas  de  ouro 
deliradas  e  direitas. 

VIRAGO,  s.  /.  (Termo  latino  derivado 
de  vtV).  Mulher  robusta  eom  estatura  e 
forMs  de  iiomem.  ViJ.  Varôa,  Machôa. 

-J-  VIBAM.  Forma  do  verbo  ver  na  ter- 
ceira pessoa  uo  plural  do  pretérito  per- 
feito e  mais  que  perfeito  do  modo  indi- 
cativo. Vid.  Vêr.  —  o  Todavia  quando  vi- 
ram o  grande  numero  de  velas,  as  ban- 
deiras, estandartes,  trombetas,  e  pompa 
da  frota,  e  sobre  tudo  a  trovoada  da  ar- 
tilheria,  que  durou  per  espaço  de  meia 
hora,  assi  como  lhe  foi  triste  cousa  a  vis- 
ta das  velas,  assi  a  sua  musica,  e  muito 
mais  triste  a  imaginação  em  que  havia  de 
parar  aquelle  tào  temeroso  espectáculo  a 
eUes.»  Barros,  Secada  2,  liv.  6,  cap.  2. 
—  tOs  Mouros  tanto  que  o  viram  afas- 
tado, a  grão  pressa  começaram  apagar  o 
fogo,  que  ardia  em  hum  certo  óleo  de 
terra,  de  que  em  Pedir  ha  grande  quan- 
tidade, em  huma  fonte  que  mana,  ao  qual 
óleo  03  Mouros  chamam  Napta,  cousa 
acerca  dos  Médicos  mui  notável,  por  ser 
excellente  pêra  algumas  enfermidades,  de 
que  nós  houvemos  algum,  e  temos  expe- 
riência ser  mui  appropriado  pêra  cousas 
de  frialdade,  e  compressão  de  nervos.» 
Ibidem.  —  «Seria  o  povo  que  se  ajuutou 
e  poz  per  as  janellas,  e  eirados  da  rua 
per  onde  ElRey  hia,  passante  de  trinta 
mil  almas;  e  quando  o  viram  naquella 
pompa,  e  com  maior  estado  do  que  nunca 
cavalgou,  todos  a  huma  voz  em  modo  de 
louvor  davam  graças  a  AlFonso  d'Albo- 
querque  por  lhes  tirar  o  seu  Rey  do  ca- 
tiveiro daquelle  tyranno,  e  o  poz  em  es- 
tado de  tanta  honra.»  Ibidem,  liv.  10, 
c^p.  5. 

E  no  nome  de  Beatriz,  também  gravado 
Na  sílice  do  monte,  lhe  responde, 
Como  echo  das  cndeixas  namoradas 
Do  cantor  da  soidão.  Seut^-ulo  viram 
O  génio  da  montanha,  alvas  trajando 
Roupas  de  nuvem,  dar  ouvido  attento 
As  canções  magoadiis  e  suavíssimas 
De  Bernardim  saudoso  o  namorado. 
OAimErr,  c.vmòes,  c;iut.  9,  cap.  9. 

VIRAMENTO,  *.  m.  Acto  de  virar. 

VOL.  V.  —  121. 


-j-  VIRÃO.  Forma  do  verbo  vêr  na  ter- 
ceira pes.>oa  do  plural  do  pretérito  per- 
feito do  modo  indicativo.  Vid.  Viram, 
orthographia  preferível.  —  «E  se  a  toma- 
da desta  nao  naò  seruio  à  malícia  de  Có- 
ge  Ceuiecerij  seruio  pêra  temorlzar  aos 
Mouros  de  Calecut,  e  ao  Camorlj  :  o  qual 
cõ  esses  mães  prlnclpaes  quando  viraõ  a 
grandeza  da  nao,  e  souberaõ  a  gente  que 
trazia,  comparando  Isto  ao  naulo  saõ  Fe- 
dro que  seria  de  ate  cem  toneis,  ficarão 
mui  assombrados,  e  sem  esperança  de  nos 
poderem  offender  per  guerra.»  Barros, 
Década  1,  liv.  õ,  cap.  6.  —  «Estes  ar- 
reos  com  que  este  homem  sahio  em  terra 
fezerão  enueja  aos  que  ho  virão,  porque 
ao  outro  dia  vleraò  à  praia  quinze,  ou 
vinte  delles.  Pelo  que  mandou  logo  Vas- 
quo  da  Cama  polar  gente  nos  bateis,  com 
que  se  veo  a  terra,  trazendo  comsigo  mos- 
tra despeciarlas,  ouro,  e  aljôfar,  seda,  ho 
que  h  s  negros  estimarão  pouco  por  não 
saberem  ho  que  era.n  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  3õ. 
—  «Porem  de  agoa  bebeu  huma  grande 
quantidade,  e  tornandolhe  a  perguntar 
pelos  moços  Christàos,  respondeu  que  no 
payol  da  proa  os  achariaõ,  e  Ajitonlo  de 
Faria  mandou  três  soldados  que  os  fos- 
sem logo  buscar,  os  quaes  abrindo  a  es- 
cotilha para  os  caamarem  aslma,  os  vi- 
raõ a  todos  embayxo  jazer  degollados, 
que  com  huma  grande  grita  que  metia 
medo,  começarão  a  dizer.»  Fernão  Men- 
des Pinto,  Peregrinações,  cap.  51.  — 
«Chegado  este  pai-ao  ao  junco  de  Antó- 
nio de  Faria,  elle  fez  logo  recolher  den- 
tro estes  oito  Portugueses,  os  quais  em 
subindo  acima  que  o  viraõ  se  lhe  lança- 
rão todos  aos  peis,  e  elle  os  recebeo  com 
muyta  afabilidade  e  gasalhado  acompa- 
nhado de  assaz  de  lagrimas,  pelos  ver 
rotos,  nús  e  descalços,  e  banhados  no  seu 
próprio  sangue. »  Ibidem,  cap.  òl.  —  «Foi 
celebrado  o  seu  nascimento  com  todas 
aquellas  demonstrações  de  pompa,  que 
merecia  o  maior  Príncipe  de  todo  o  mtiu- 
do.  Por  morte  de  seu  Pai  Flllppe  segundo 
deste  Reino,  na  Idade  de  dezasels  annos 
tomou  posse  do  Governo,  e  da  mais  di- 
latada Monarquia,  que  viraõ  os  homens.  * 
Fr.  Bernardo  de  Brito,  Elogios  dos  reis 
de  Portugal,  continuados  por  D.  José 
Barbosa,  —  «Soube  el  Rei  D.  Henrique 
destas  ligas,  e  prevenindo  seu  aggravo, 
entrou  em  Portugal  com  maõ  armada, 
até  pôr  cerco  a  Lisboa,  e  queimar  a  rua 
nova,  e  fazer  no  Reino  muitos  damnos 
por  si,  e  seus  Capitães,  a  que  acodlo  o 
Cardeal  de  Bolonha  mandado  pelo  Sum- 
mo  Pontífice,  e  fez  paz  entre  os  Reis  am- 
bos, que  em  Santarém  se  viraõ,  e  fallá- 
rao  no  Tejo,  cada  hum  em  seu  barco.» 
Ibidem.  —  «Bem  sey,  disse  o  moço,  que 
esta  casa  naò  tem  Igreja  mais  que  o  adro, 
que  hc  V.  m.  ao  meyo  dia;  e  por  isso  eu- 
trey  cm  suspeitas,  se  viraõ  cá  enterrar 
aquelle  finado:  c  confirmey-me  de  todo, 


porque  a  gente,  que  o  traz,  vem  dizen- 
do, que  o  levaõ  á  casa,  oude  se  naõ  co- 
me, nem  bebe,  nem  ha  cama,  mais  que 
a  terra  frla.n  Arte  de  furtar,  cap.  41.  — 
1  Esses  que  quando  ante  mim  vlnhào  só 
culdavão  em  me  comprazer,  cessarão  de 
constranger  se  quando  virão  que  não  ha- 
via que  esperar  de  mim;  e  o  Insultuoso 
compadecimento  de  uns  me  estamagava 
mais  que  a  Ingratidão  dos  outros.»  Fran- 
cisco ^lanoel  do  Nascimento,  Successos 
de  madame  de  Seneterre. 


No  mais  sabido  cume  entào  descubro 
Dest«  fulgente  Olvmpo  erguido  hum  Templo, 
Cuja  pomposa,  estranha  architectura 
Nem  alma  concebêo,  nem  olhos  virão, 
Nem  dellc  idéa  dão,  nem  dar  poderão. 
Se  inda  os  de  Mênfis,  e  Palmira  aos  ares 
Levantassem  as  cúpulas  dom-adas. 
Como  inda  os  finos  mármores  quebrados 
Enti-c  os  desertos  arcaes  nos  clamào. 

J.   A.    DE  ÍL\CKD0,   VI-IGF.M  EIT.VTICl,  Cant.    1. 

-j-  VIRÃO.  Forma  do  verbo  vir  na  ter- 
ceira pessoa  do  plural  do  futuro  imper- 
feito do  modo  indicativo.  Vid.  Vir. 


E  tanto  pôde  em  nós  seu  erro,  o  crime, 
Que  terao.í  por  herança  o  mal,  e  a  morte : 
Para  nós  foi  desterro  o  qu"era  pátria  ; 
A  hum  dia  d'ouro  séculos  de  ferro 
Se  virão  succedcr  ;  fechada  noite. 
Profunda  escuridão,  pousou  na  Terra  ; 
De  mistura  co"as  brutas  alimárias. 
O  Eei  da  creaçào  nos  bosques  vive. 

J.     K.   T>V-   M.VCEDO,   SJEDIT.\ÇÃ0,   Caut.    1. 


VIRAR,  V.  a.  (Do  francez  virer).  Vol- 
tar, dar  um  movimento  que  colloea  a 
cou-a  em  outra  postura.  —  Virar  as  cos- 
tas a  alguém. 

—  Mudar  a  direcção  que  levava. —  «E 
para  que  naõ  pai-eça  que  só  em  estranhos 
damos  com  este  discurso,  viremos  a  proa 
delle  para  nossas  conquistas,  e  achare- 
mos mãos  de  gato  façanhosas,  de  que  usaõ 
Portnguezes.  Já  toquey  esta  treta  succln- 
tamente  o  §.  ultimo  do  Capitulo  IX.  a 
outro  propósito ;  mas  agora  a  coutarey 
mais  dlíFusa  a  este  Intento,  em  que  tem 
mais  artificio.»   Arte  de  furtar,  cap.  37. 

—  Converter,  voltar. 

—  Loc.  POP. :  Virar  a  casaca;  des- 
manchal-a,  tornal-a  a  coser  com  o  verso 
para  fora. 

—  Rodear. 

—  Não  sei  de  que  parte  me  vire;  não 
sei  que  partido  tome. 

—  Locução  figurada  e  popular :  Virar 
a  casaca;  mudar  de  opinião,  de  partido, 
de  parecer,  ser  contra  os  seus. 

—  V.  n.  Mudar  de  opinião,  de  pare- 
cer. 

—  Mudar  de  rumo. 

—  Figuradamente  :    Mudar   de   génio. 

—  Virar  d  direita,  ã  esquerda.  Vid. 
Voltar. 

—  Tomar  outro  modo  de  vida. 


962 


VIRG 


VIEG 


vmci 


—  Virar  contra  alguém;  voltar-so  con- 
tra cllo. 

—  Virar-se,  v.  rejl,  Voltar-so,  pôr-se 
a  cousa  oui  outra  postura.  —  Virar-se  du 
costas.  — -  «E  com  iflto  se  virou  puivi  tnis 
por  notí  nào  ver,  e  por  iiio.itiHr  «)iiílio-uiu- 
f^uailo  hia.  do  nós,  o  qut;  bum  olbailo,  qui- 
yil  qau  iljc  aào  iultou  niziio,  pulo  '|uo 
atrúd  fica  dito.»  Furjiào  Moudcb  Tiuto, 
Peregrinações,  cap.   li). 

—  Virar-se  a  aUjatin  o  miolo;  perder 
o  juizo. 

—  CoTivortor-t<e. 

VIRATAO,  s.  m.   AuKinciitativo  do  Vi- 
ra. ..-.  Aipiiiw    dizem  Virotão,   de  virola. 
VIRAVOLTA,  s.  f.  ida  o  viudu,  rodeio. 

—  Fii;ur.adamcntc:  Vavicladc,  alterna- 
tiva, vicissitude.  —  Viravolta  da  for- 
tim't. 

VIRENTE,  adj.  2  gim.  (Do  latim  vi- 
rens).  Termo  de  poesia.  Verde,  verde- 
jante. 

VIRGA,  s.f.  (Do  latim  lirga).  Vara, 
açouto., 

—  A  virga  férrea ;  com  todo  o  rigor, 
com  vlrfri,  ai,'Outo  de  ferro. 

1.)  VIRGEM,  s.f.  (Do  latim  virgo).  Pes- 
soa do  sexo  feminino  que  não  poeeou  con- 
tra a  castidade,  que  niío  teve  trato  car- 
nal com  lunfíuem. 

—  Uma  virgem;  uma  douzolla. 

—  Titulo  dado  por  antonomásia  á  Mài 
de  Deus.  —  A  virgem  tíagmda.  —  «Nes- 
te Domingo  L-mãos,  e  nos  mais  que  se 
seguem  atcc  a  festa  do  Natal  celebra  a 
Saneta  àladre  Igreja  o  altíssimo  e  mara- 
uilbosissimo  mysterio  da  Encarnaçam  do 
Fiibo  de  Deos,  quando  qiús  do  Ceo  de- 
ccr  aas  terras,  e  tomar  carne  humana  na 
ventre  da  Virgem  sagrada  pêra  nos  sal- 
uar.)i  Fr.  Bartholonieu  dos  Martyres,  Ca- 
tecismo da  doutrina  christã.  — «Ora  ir- 
mãos neste  dia  do  bemaucnturado  conce- 
bimcQto  da  Virgem,  chore  cada  hum  os 
males  em  ({uo  foy  concebido,  e  nascido, 
e  dcspois  viuendo  aerccentou,  c  diga  ca- 
da hum  por  si.  O  miserauel  de  mim:  que 
al(un  doa  males  cm  que  minha  mày  mo 
concebeo,  o  pario,  to<.la  a  vida  gastey 
em  acrecoutar,  e  me  <;"U^i'  '^'^  outros 
mavores.»  Ibidem.  —  nCumo  podes  dizer 
estas  palauras  da  Virgem.  Minha  alma 
magnifica  o  vSonliory  ('om  mais  verdade 
podoas  dizer.  Minha  alma  abate  o  des- 
preza o  Seulior.  E  muyto  monos  poderás 
dizer  o  que  logo  a  Senhora  disso.  Alo- 
grouse  meu  spirito  em  Deos  meu  t^alua- 
dor.»  Ibidem.  —  «Ora  sus  irm.nos,  se  soys 
denotes  do  nascimento  da  Virgem  escia- 
roclda,  acabcsc  ja  a  noite  da  viila  car- 
nal, c  toruay  nesta  festa  a  nascer  cò  cila 
em  filhos  de  graça,  o  luz  eterna.  EUa  na- 
coo  saneta,  porque  prinieyro  foy  sancti- 
ficada  que  nascida.»  Ibidem.  —  «O  que 
se  cumprio  quando  uo  dia  de  seu  passa- 
mento lhe  foy  dada  claríssima  vista  de 
Deos,  e  perfeytissinio  gozo  sobro  todas 
as  puras  criaturas.  A  segunda  cousa  que 


tom  a  luz  da  manhS  ho,  ser  cabo,  o  ter- 
mo das  trcuas  da  iioyte.  A><«i  iiaticoiido 
a  Virgem  oiclarocida,  c<jnicçou  dar  cabo 
à  noitu  de  todo  tempo  passado,  que  foy 
dosiio  peccado  do  Adam  tò  seu  nascimen- 
to.«  ILidem. 

—  Virgem,  no  rigor  da  palavra,  6  aqucl- 
la  qao  nào  eonsoatiu  nem  cm  dcAtijo  do 
cousa  venérea  licita,  uem  illicita. 

—  Virgens  dí.  lagar;  silo  duax  pcyas 
empinadas  iiira  do  lagar,  que  tolhem  que 
a  vara  ou  feixe  declino  para  algum  lado. 

—  Virgens  dou  engenhos  de  vwer  canas 
de  assacar;  quatro  paus  quadrados  por- 
poudicularos  sobre  os  quaes  se  põe  os  dor- 
mentes, a  ))Oute,  gatos,  ete. ;  entro  ellas 
andam  os  três  eixos. 

—  Sigmi  da  Virgem ;  o  sexto  do  zo- 
díaco, cm  que  o  sol  entra  por  agosto. 

2.)  VJRGEM,  adj.  2  gen.  Que  tem  vi- 
vido cm  uma  perfeita  continência;  diz-so 
igualmente  do  homem  e  da  mulher. 

—  Livro  virgem;  livro  que  ainda  nSo 
foi  aberto,  e  por  conseguinte  lido. 

—  Nào  tocado,  niio  usado,  não  devas- 
sado, innoL'ente. 

—  Figuradamente  :  Diz-se  da  cousa 
que  não  serviu  naquillo  para  que  é  fei- 
ta ou  nascida,  que  nào  teve  ainda  feitio 
algum. 

— Mãos  virgens,  olhos  virgens;  que 
toem  a  pureza  das  virgens,  virginacs,  n;"io 
contaminados  com  peitas,  crimes  de  ar- 
mas, com  olhar  para  cousas  obscenas, 
etc. 

—  Cera  virgem;  om  pão,  como  vem 
das  colmeias. 

—  Cal  virgem ;  cal  não  preparada. 

—  Ouro,  prata  virgem;  bruta,  como 
sáe  da  mina. 

VIRGEU,  s.  m.  Forma  antiquada  de 
Vergel. 

VIRGINAL,  adj.  2  geu.  (Do  latim  vir- 
gÍ7ialis,  de  virgo).  Que  pertence  àa  vir- 
gens. 

—  Diz-se  de  Jesus  Christo.  —  A  car- 
ne virginal  de  Jesus  CJiristo.  —  «Final- 
mente tão  grande  castigador,  e  peniten- 
ciador  foi  de  sua  inuocentc  o  virginad 
carne,  que  o  pos  o  tíenhor  por  claro  exem- 
plo e  ti"eslado  de  todos  os  penitentes,  o 
mortificadores  de  sua  carne,  dizendo: 
Dos  os  dias  de  loão  Baptista,  ate  o  pre- 
sente, o  Keino  dos  ecos  pur  força  se  to- 
ma, e  03  valentes  mortificadores  de  sua 
carne  o  alcanção.»  Fr.  Bartholomeu  dos 
Martyros,  Catecismo  da  doutrina  christã. 

—  Um  leito  virginal ;  a^sim  chamado 
por  causa  da  pureza  da  sua  alvura. 

—  Leite  virginal ;  espécie  de  co.smcti- 
co  que  serve  para  branquear  a  pelle. 

—  Que  pertence  á  Santa  Virgem.  — 
O  ventre  virginal. —  (A  primeira,  Quo 
o  filho  de  Deos  foy  concebido  no  ventre 
Virginal  por  virtude  do  Spiritu  saucto. 
A  segunda,  que  nascoo  de  Saucta  Miiria, 
ficando  Virgem  antes  da  parto,  o  no  par- 
to, c  depois  do  parto.  E  destas  duas  uer- 


dadoH,  coauem  quo  colhamos  na«  outras 
duas  porá  nosso  ensino  e  saluaçam.»  Fr. 
liartholomeu  dos  Martyres,  Catecismo  da 
doutrina  christã.. 

f  VIRGINALMENTE,  adv.  De  virgi- 
nal, com  o  Huílixo  > mente»/.  De  um  mo- 
do virginal. 

VIRGINDADE,  *.  /.  (Do  latim  virgini- 
tas,  de  virgo  .  Estado  d'uma  pessoa  vir- 
gem. —  A  virgindade  de  .Marít  tra  co- 
mo utn  sacrifício  contínuo  ipie  tslla  fagia 
a  Deus.  —  A  iillia  de  Juplitú  i>e<lo  \>ura 
chorar  sua  virgindade,  \»>'i»  era  a  maior 
desgraça  para  as  íilluis  da  Judêa  o  mor- 
rerem .virgens. 

—  O  virgo. 

—  Haver  uma  mul/ier  ri»  virgindade  ; 
desHoral-a,  deshonrol-a. 

—  Syn'.  :  Virgindade,  castidad».  Vid. 
este  ultimo  termo. 

t  VIRGINEICO,  A,  adj.  Termo  do  chi- 
mica.  Ac:  lo  virgineico ;  acido  gordo, 
d'um  cheiro  forte,  extrabido  dft  r»iz  do 
poli^'1'ila  lia    Virginia. 

VIRGÍNEO,  A,  a4j.  (Do  latim  virgi- 
neus\.  VirL'lnal. 

t  VIRGÍNIA,  *.  /.  Tabaco  da  Virgi- 
nia. —  Boa  Virginia. 

—  Termo  de  botânica.  Variedade-  de 
tulipa. 

VIRGO,  .".  íH.  O  embaraço  que  se  en- 
contra ordinariamente  no  accosso  daa 
donzellas,  que  nào  tiveram  copula  car- 
nal. 

Qu'he  o  que  haveis  d'cmbarc»r? 
Seiscentos  rirfjnt  po3tii;o8 
E  tro;;  arcas  de  feitiços, 
Quo,  não  podom  iiviis  levar. 

aVL  nCEXTE,  JLCTO    DA   BABCA   DO  IXnUCIO. 

—  Loc.  POP. :  Ter  o  virgo ;  nâo  tor 
tido  copula  carnal,  ser  virgem  do  corpo. 

—  Tirar  o  virgo  a  uma  donztlla;  des- 
iloral-a,  deslionral-a. 

—  8iguo  do  zodíaco.  Vid.  Virgem. 
VIRGULA,    s.    f.    (Do    latim    virgula). 

Pequeno  sigual  de  pontuação,  que  iodica 
a  menor  de  todas  as  pausas. 

—  Emprega-se  a  virgula  para  separar 
entre  si  as  partes  d'unia  mesnia  phraso; 
eoUoca-se  entre  daixs  virgulas  toda  a  pro- 
posição incidente  puramente  explicativa. 
Faz-se  uso  da  virgula  quando  um  sub- 
stantivo ou  adjectivo  seguido  de  qual- 
quer Complemento,  (]U8r  elle  comece, 
quer  elle  termine,  pôde  supprimir-se  sem 
alterar  a  construcção.  Separa-se  por  uma 
virgula  toda  a  palavra  em  apostrophe, 
.<e  começa  ou  tcrmir.a  a  piírase,  ou  por 
duas  virgulas,  se  estii  encravada  n'es«a 
mesma  phraee.  Emproga-se  algumas  ve- 
zes para  substituir  o  verbo,  que  6  sub- 
entendido no  segundo  membro  da  phrase, 

f  1.  VIRGULAR,  a.lj.  2  gen.  Que  diz 
respeito  A  virgula,  (|ae  se  assimilha  a 
cila. 

■J.^  VIRGULAR,  V.  a.  Dividir  com  vir- 
gulas as  phrases,  sentençaé,"  etc. 


VIRO 


VIRT 


VIRT 


963 


VIRGULOSA,  s.  f.  Pêra  que  se  come 
no  inverno.  . 

VIRGULTA,  s.  f.  (Do  latim  virguUum). 
Termo  pouco  usado.  Varinha  das  ai-vo- 
res. 

VIRIDANTE,  adj.  2  gm.  (Do  latim  vi- 
ridam).  Que  principia  a  verdejar. 

1.)  VIRIL,  adj.  2  (jen.  (Do  latim  u»- 
rilis,  de  vir).  Que  pertence,  ao  homem. 
—  Força  viril.  —  Sexo  viril. 

—  Idade  viril ;  idade  de  um  homem 
feito.  —  A  idade  viril  mais  madura  ins- 
2-iiVtt    um  ar  mais  saòio. 

Ja  a  cate  tempo  aquclle  que  tomara 
Dos  dous  do  Zobcdeo  nomo  c  appellido, 
Da  idade  pueril  que  atraz  deixara 
Oi  teuroâ  aunos  tinha  consumido, 
Agora  na  viril  idado  entrara, 
E  com  estudo  tal  tinha  aprendido 
Quasi  aa  linguagens  todas  do  Oriente, 
Que  delias  usa  assaz  perfeitamente. 

T.  d'akdkade,  pbiueibo  CEnco  db  diu,  cant.  2, 
eat.  68, 


—  Figuradamente :  Firme,  corajoso, 
digno  de  um  homem. 

—  Defensão  viril;  defensão  esforçada. 

—  Obra  viril ;  diz-se  em  opposição  a 
mulheril. 

2.)  VIRIL,  s.  m.  Obra  de  vidro  em 
que  se  põe  alguma  relíquia,  ou  cousa 
que  não  se  quer  tocada ;  por  resguardo 
de  pó,  de  a  mudarem,  etc,  espécie  de 
ambula. 

VIRILHA,  s.f.  Termo  de  anatamia.  A 
parte  superior  da  coxa,  onde  se  une  á 
outra,  ficando  em  meio  os  membros  da 
geração. 

—  Quebradura  das  virilhas ;  hérnia 
intestinal. 

VIRILIDADE,  s.  f.  (Do  latim  virilitas, 
de  virilisi.  Idade  varonil,  de  41  até  56. 

—  Por  extensão :  No  homem,  capaci- 
dade de  gerar. 

—  Figuradamente:  Força,  vigor.  — -A 
virilidade  do  espirito. 

f  VIRILMENTE,  adv.  (De  viril,  com 
o  suffixo  omente*).   De  um  modo  viril. 

—  Com  virilidade,  vigor,' robustez. 
VIRIPOTENTE,   adj.  2  cjen.   (Dõ   latim 

viripofens).  Forte,  vigoroso,  robusto. 

—  Moça  viripotente  ;  moça  que  pôde 
casar,  e  soffrer  a  copula  com  um  homem. 

VIROLA,  s.  f.  (Do  latim  virola).  Cir- 
culosinho  de  metal,  em  roda  do  cabo  da 
ferramenta,  para  que  o  cabo  não  ra- 
che. 

—  Termo  de  relojoaria.  Nome  que  se 
dá  ás  peças  de  um  relógio,  que  sustém 
outras, 

VIROSO,  A,  adj.  (Do  latim  virus). 
Termo  de  medicina  e  de  botânica.  Que 
é  dotado  de  qualidades  nocivas ;  o  que  se 
attribue  a  um  principio  desconhecido  em 
a  natureza. 

—  Substancias  virosas;  substancias  que 
tem  um  sabor  riauseoso  particular. 

—  Venenoso,  virulento. 


vel. 


■Que  tem  cheiro  fétido,   desagrada- 


VIROTADA,   s.  /.  Golpe  de  virote. 

VIROTÃO,  s.  í/i.  Virote  grande. 

VIROTE,  s.  m.  Vira  gi-ande,  setta  cur- 
ta euipennada.  Alguns  virotes  eram  de 
arremesso. 

—  Peça  da  balestilha  de  tomar  a  altu- 
ra do  sol,  que  a  cruza. 

—  Figuradamente :  Olhar  pelo  virote  ; 
estar  acautelado,  estar  alerta,  vigiar, 
guardar. 

—  Virotes  cabeçudos;  com  o  ferro  que- 
brado, ou  embolado,  para  não  ferir  caça, 
e  talvez  armados  de  fogo. 

—  Virotes  da  espada ;  o  ferro  atraves- 
sado sobre  os  copos,  e  que  sobeja  por  fo- 
ra d'elle3. 

—  Figuradamente  :  Pessoa  que  se  man- 
da em  procura  de  outra  de  que  não  se 
sabe  novas. 

^  Termo  de  náutica.  As  peças  das 
obras  mortas,  que  formam  o  remate  do 
navio  sobre  os  ^pés  mancos,  de  alto  a 
baixo. 

—  Adagio  e  provérbio  : 

—  Nunca  de  rabo  de  porco  bom  vi- 
rote. 

VIRTAES,  s.  m.  plur.  Termo  da  Ásia. 
Avençai. 

VIRTE,  s.  m.  Termo  da  Ásia.  Lista, 
que  nas  aldèas  de  Goa  se  faz  dos  aven- 
çaes,  ou  sócios  das  várzeas. 

VIRTUAL,  adj.  2  gen.  (Do  latim  vir- 
tus).  Que  em  virtude,  força,  actividade 
equivale  a  outro,  e  pôde  fazer  os  mes- 
mos eileitos.  —  Calor  virtual. 

— ■  Tenno  de  raechanica.  Que  é  possí- 
vel, sem  que  se  preveja  nada  na  sua  rea- 
lidade. 

—  Velocidade  virtual ;  espaço  infinita- 
mente pequeno  percorrido  na  direcção  de 
uma  força  pelo  ponto  d'applicação  d'essa 
força. 

—  Momento  virtual ;  o  producto  da 
força  multiplicada  pela  velocidade  vir- 
tual. 

—  Termo  de  physica.  Foco  virtual 
de  um  espelho,  de  uma  lente,  etc. ;  foco 
determinado  pelo  encontro  dos  prolon- 
gamentos geométricos  dos  ralos  lumino- 
sos. 

VIRTUALIDADE,  s.  /.  Caracter,  quali- 
dade do  que  c  virtual. 

VIRTUALMENTE,  adv.  (De  virtual,  e 
o  suffixo  «mente»).  De  um  modo  virtual, 
em  opposição  a  formalmente  e  a  actual- 
mente. 

VIRTUDE,  s.  /.  (Do  latim  virtus).  For- 
ça moral,  coragem. 

—  Firme  disposição  da  alma  em  fugir 
do  mal  e  fazer  o  bem. 


E  agora  que  buscas  lá? 
Busco  homa  muito  grande, 
E  eu  virtuih.  que  Deos  maudc 
Que  topç  co'  ella  ja. 
Outra  addiçào  nos  acudc: 
Screvo  logo  hi  a  fundo. 


Que  busca  honra  Todo  o  Mundo, 
E  Ninguém  busca  virtude. 

OIL  \1CENTE,  FARÇAS. 


—  »Ao  tempo  de  sua  morte;  porque  o. 
reino  ficava  sem  ,  herdeiro,  mandou  que 
esta  copa  fosse  levada  por  todalas  côi-tes 
de  princepes,  pêra  provarem  os  cavallei- 
ros:  e  que  aquelle  que  fosse  de  tanta 
virtude,  que  tomando-a  na  mão  a  fizesse 
tornar  em  toda  sua  claridade  ©  perfeição 
pêra  nunca  mais  a  perder.»  Francisco  de 
Jloraes,  Palmeirim  d'Ingiaterra,'cap.  90. 
— «  Este  malvado,  e  inimigo  de  toda 
virtude,  desejando  a  Ilha  do  Prazer  des- 
cansado, que  confina  com  a  costa  do  seu 
Reino,  mandou  a  ella  alguma  gente  pêra 
a  tomar :  meu  sogro  como  naõ  tinha  mais 
bem,  escreveo  logo  a  seu  filho,  e  a  meu 
pai  que  lhe  fossem  ajudar  a  defender  sua 
terra,  os  quaes  ajuntando  alguma  gente 
foraõ  em  seu  soccorro.»  Barros,  Clari- 
mundo,  liv.  2,  cap.  28.  —  «E  a  Raynha 
por  suas  grandes  virtudes,  e  muyta  bon- 
dade, e  poUo  gi-ande  amor  que  a  ol  Rey 
tinha,  não  abastou  consentir  nisso,  mais 
ainda  pediu  por  mercê  a  el  Rey  que  lho 
deixasse  criar  em  sua  casa,  e  que  como 
a  próprio  filho  o  criaria,  de  que  el  Rey 
foy  muyto  alegre,  e  mandou  logo  por 
elle.B  Garcia  de  Rezende,  Chronica  de 
D.  João  II,  cap.  113. —  «Onde  acabou 
seus  dias  cõ  grande  quietaçam  naquella 
vida  solitária,  no  que  mostrou  a  fineza 
de  sua  virtude,  e  a  grandeza  de  seu  ani- 
mo. Diz  Séneca  que  de  coração  grande 
he  desprezar  cousas  grandes.  E  Quinti- 
liano diz,  que  assaz  he  de  riquezas  não 
as  desejar.  Estado  huma  noite  ceando 
Philippe  rey  de  Macedónia  disse  aos  phi- 
losophos,  que  tratassem  alguma  questam, 
e  foy  ella,  qual  era  a  mor  cousa  do  mun- 
do. Hum  respondeo  que  o  monte  OIjtu- 
p>o,  que  ■  com  sua  altura  traspassaua  as 
imuens,  e  chcgaua  cõ  seu  cume  onde  os 
ventos  não  podia  chegar,  dõde  vieram  os 
Gregos  a  chamarlhe  Olympo,  que  quer 
dizer  todo  resplandecente,  porque  tem  o 
sol  claríssimo,  e  não  he  de  nenhumas  nu- 
ueus  ofuscado  nem  oncuberto.»  Heitor 
Pinto,  Dialogo  da  Vida  solitária,  cap.  5. 
—  «Houve  mais  el  Rei  D.  Manoel  o  In- 
fante D.  Luiz  Duque  de  Beja,  Condes- 
tavel  de  Portugal,  Príncipe  ornado  de 
virtudes  singularissimas,  cujo  filho  foi  o 
senhor  D.  António  Prior  do  Grato;  O  In- 
fante D.  Fernando,  que  casou  com  D. 
Guiomar,  filha  de  D.  Francisco  Coutinho 
Conde  de  Marialva,  e  de  sua  mulher  D. 
Britis  Condeça  de  Loulé,  e  sem  ficarem 
filhos  dentre  ambos,  faleceo  em  Abrantes 
era  idade  de  vinte  e  sete  annos.»  Frei 
Bernardo  de  Brito,  Elogios  dos  reis  de 
Portugal,  continuados  por  D.  José  Bar- 
bosa. —  nPor  onde  quem  quer  empre- 
hender  virtudes  grandes,  naõ  ha  tanto 
de  pòr  olho  no  pouco  que  pode,  quando 
se    ve    preso    d'aíFeições    desordenadas, 


96-t 


VlllT 


VIRT 


VllíT 


qii.aiito  no  muyto  que  Doos  poflo  cm  qiiom 
BO   (loliljLira    a   ra[n])Gr  por  cIIíiíi.»    IViva 
(rAiiilrailc,    Sermões,  part.  1,  paj,'.  ]2'i. 
—  «Mas   (leixaiulo  o  que  inuyto.s  Douto- 
res dizem,    parecome  que  quis  nosso  Sc- 
nlior  cora  isto  mostrar  a  pcrfeiçilo  e  gran- 
deza  do   espirito    ('hristaõ,   que   nos  olle 
mercceo,    a   qual  nunca  se  contenta  com 
nenhum  prao  de  virtude  que  tenha,  mas 
tendo  i»osto.s  o9  olhos  nas  perfeições  diui- 
nas    sempre   aspira   a    cousas   mayores.» 
Ibidem,  pa^'.  \M.  —  «Imagino  que  son- 
do esta  a  virtude    que   ntais  deseja  onco- 
brir-se,  não  se  podia  melhor  occultar  que 
entre    as    sublimes    qualidades   de  V.  E. 
He  certo  que  iiílo  haveria  quem  cuidasse 
om  busca-la  no    coração  de  V.  E.  obser- 
vando-so  a   maE^ostade,   e  o  respeito  que 
imprime   a  sua  presença  nos  ânimos  dos 
que  tem  a  honra  de  conhecel-a.»    Caval- 
loiro   d'()livcira,    Cartas,   liv.  3,  n.°  20. 
—  «Monsicur,    ilij^nai-vos   de  acceitar  os 
agradecimentos  muito  sinceros  que  pelos 
bons  officios  que  a  minha  Mão  prestastes 
vos  dedico;    faltão-me   expressões  para  a 
gratidão;  mas  esta  só  com  a  minha  vida 
tem  do  acabar.  Peço- vos  que  para  com  a 
vossa   Esposa   sejaes   o   intérprete  d'este 
meu  sentir.  O  que  Jladania  de  Scnneter- 
re  me  disse  de  suas  virtudes,  da  sua  sen- 
sibilidade, me  recordou,  que  desde  a  sua 
infância  eu  tinha  prognosticado  as  quali- 
dades   de   que  ella    seria    possuidora   em 
mais  crescidos  annos.»  Francisco  Manoel 
do  Nascimento,  Successos  de  madame  de 
Seneterre. 


Senhor  Doos  fcu  as  creaturíia  a««y  a»  ra- 
soavees,  como  aquellas,  que  carecem  de 
razom,  noin  quis  ()ue  tod;w  fossem  iguaes, 
mais  estabe.lecoo  o  ordenou  cada  huma 
om  sua  virtude,  e  poderio,  departando-as 
segundo  o  graao,  em  que  as  pos.»  Ord. 
Affons.,  liv.  "J,  tit.  <>:>,  §  1.  —  fMas  isto 
lie  próprio  da  virtude  c  uobreza  do  san- 
gue: om  quabjuer  idade  logo  se  mostra, 
ainda  que  seja  nos  maiores  perigo»  da 
vida.»  Barros,  Década  1,  liv.  1,  cap.  h. 
—  a. Mas  basta  que  liam  do  ser  libcracs  c 
d'alto  animo,  não  querendo  satisfazer  si't 
cõ  palauras  a  falta  do  suas  obras,  seme- 
lhantes :iquelles  om  cujos  roynos  correm 
])alauras  por  moeda.  Isto  baste  quanto  a 
liberalidalc,  que  dissestes  ser  necessária 
a<i  l'riiieiiie,  como  lhe  saõ  muitas  outras 
virtudes  e  sciencias.  Ao  menos,  disse  o 
jurista  he  lhe  necessária  a  sciencia  do 
direito,  pois  ha  de  fjvzer  guardar  as  leis, 
e  he  impossiuel  fazelas  guardar  sem  aa 
saber:  Quanto  mais  que  hahi  ás  vezes 
tempo,  cm  que  he  necessário  fazer  leys, 
c  não  se  podem  fazer  as  nouas  sem  sabe- 
rem as  antiguas.»  Heitor  Pinto,  Dialogo 
da  Justiça,  cap.  7.  —  «Na  Corte  houve 
sobre  esta  eleição  diversos  sentimentos: 
alguns  a  notarão  por  enveja,  e  outros 
por  costumo;  tanto,  que  nas  virtudes  cm 
quo  lhe  não  podião  achar  faltas,  lhe  ar- 
guião  excessos :  foi  porém  tão  bem  ava- 
liada dos  mais,  e  dos  melhores,  que  el 
Rei  se  alegrava  de  haver  adiado  homem 
feito  á  vontade  de  todos.»  Jaciutho  Frei- 
re d'Andrade,  Vida  de  D.  João  de  Cas- 
tro, liv.  1. 


Vir  humilde  esperar  o  santo  Asperges 
Á  porta  deste  Alca(;ar,  de  repente, 
Mudando  de  systcnia,  hoje  rcfusa 
Kite  obsequio  render,  cate  tributo. 
De  taõ  altiis  viriude.i  merecido. 

A.    D.    DA    CRUZ,   HTSSOPE,    COUt.    3. 

Ditoso  o  Cidadão,  se  o  brado  escuta  ; 
Que  a  Virtude  lhe  dA!  Não  ousa  o  crime 
Am03t<-ar-lho  o  semblante  horrendo,  e  feio; 
Com  pouco  se  contenta,  e  aá  deseja 
O  que  ;l.vida  he  bastante;  o  luxo  ignora, 
luutil  fructo  do  trabalho,  e  lida. 

J.   A.   DK  MACKDO,  MKUirAçÃO,   CaUt.    1. 

—  «Não  deve  suffocar-se  e  abafar  com 
o  peso  de  gravíssimos  negócios;  divirta- 
se  em  boa  hora  e  embora,  nem  isto  é 
contra  a  virtude,  antes  é  exercício  de  eu- 
trapélia,  na  doutrina  de  S.  Thoniaz.» 
Hispo  do  (ir.ão  Pará,  Memorias,  publica- 
das por  Camillo  CastoUo  Branco,  pag. 
184. 

—  Diz-se  também  de  tal  ou  qual  qua- 
lidade particular. 

—  Virtudes  cívicas;  amor  da  gloria, 
da  pátria. 

—  Virtudes  theologaes;  a  fé,  a  espe- 
rança, o  a  caridade. 

—  Virtudes  cardeaes ;  a  prudência,  a 
justiça,  a  fortaleza,  e  a  temperança. 

—  Valor,   coragem. —  «Quando  Nosso 


Sob  03  arcos  triumphaes  da  ínclita  Goa 
Altas  pompas  de  Roma,  c  altas  virtudes 
Que  sA  geraram  Lusitânia  e  Homa ! 
oAiiHETT,  CAMÕES,  caut.  3,  Cap.  17. 


—  Pessoa  virtuosa. 

—  Castidade,  fallando  das  mulheres. 
—  No  mttio  diis  tentações,  esta  mulher 
conservou  sna  virtude. 

—  Qualiiladc  que  se  torna  própria  para 
produzir  certos  effeitos.  —  «E  delia  se 
estila  aquelle  portento  entre  as  agoas  es- 
tilladas,  que  pelas  grandio.sas  virtudes  se 
pôde  chamar  remédio  universal,  como  se 
verá  no  seu  titulo  das  agoas  estilladas: 
com  tudo  se  faz  mensão  delia  aqui,  por 
ser  também  do  numero  das  plantas  j:l 
murchas,  por  esquecimento  do  nirae,  e 
arriscada  de  ficar  de  toda  segada,  pela 
ferrugenta  foyce  do  tempo.»  Gabriel 
(írisley.  Desengano  para  a  medicina, 
canteiro  li. 

—  Virtude  celestial;  virtude  do  céo. 
—  «Quiserr»  nisto  significar  os  antiguos 
quo  a  justiça  he  huma  virtude  celestial, 
pos  a  collocaram  no  eeo,  e  que  está  an- 
tro as  outras  virtudes  cardeaes,  no  meio 
dVllas  como  mais  execllente,  e  que  dá, 
reparte,  e  distribuo,  cõforme  aos  mereci- 


mentos, sem  attentar  pêra  affcição.  Ibso, 
disso  o  thcologo,  fjuiii  «igiiitícar  Cassiodo- 
ro  sobre  os  psalmos,  quãdo  diz  que  a  jus- 
tiça não  conhece  pay  nem  m3y,  moa  a 
verdade.»  Heitor  Pint<.>,  Dialogo  da  Jtu* 
tiça,  cap.  H. 

—  PtHÊoa»  de  virtude  ;  pessoas  virtuo- 
sas, pessoas  <lc  merecimento  moral.  — 
«Pondera  alma  miidm,  quando  tu  peccM- 
tc  gravemente  em  presença  do  Deoe,  e 
diante  do  teu  Anjo,  cm  que  conceito  fi- 
cavas para  com  Deos,  c  o  teu  AnjoV  Não 
há  cousa,  que  no  mundo  tanto  se  toma 
como  a  infâmia,  principalmente  para  com 
pessoas  do  virtude,  porque  huma  bó  vai 
])iir  muitas.»  Paire  Manoel  Beroardes, 
Exercicios  espirituaes,  pag.  187. 

— •  Virtudes  murae» ;  o  exercício  dos 
deveres  inoraes,  e  religioso''.  —  « Assi 
como  da  terra  esterilc  sae  o  ouro,  e  tem 
ella  om  si  minas  de  excoUentes  metaes, 
assi  ás  vezes  d'hum  gentio  sae  maraui- 
Ihcsa  doctrina,  e  ainda  que  esterile  polo 
defeyto  da  fe,  todauia  olhada  sua  vida, 
achar  Iheis  ás  vezes  minas  de  grandes 
virtudes  moraes,  ainda  quo  imperfeitas 
por  falta  das  theologaes.  >[as  basta  que 
enten<liam  elles  quã  excellento  era  a  vi- 
da solitária,  pois  trocauara  por  ella  a  pu- 
brica.  Anaxiílo  o  philosopho  p<jr  lograr  a 
doçura  da  vida  solitária,  desprezou  o 
principado  de  Athenas,  dizendo,  que 
queria  antes  ser  seruo  dos  bõs,  que  al- 
goz dos  niáos.»  Heitor  Pinto,  Dialogo  da 
Vida  solitária,  cap.  4. 

—  As  virtudes  celeaUt;  os  anjos  do 
quinto  coro. 

—  A  virtude  natural  derribada;  aa 
forças  naturaes  prostradas,  abatidas. 

—  Validade  legitima. 

—  Loc.  PREP. :  Em  virtude ;  em  con- 
sequência de,  em  razSo  de. 

—  Por  virtude  ;  por  força,  pelo  poder. 
—  «Eu  por  elles  rogo:  nam  rogo  ftoUos 
mundauos  scnam  por  aquelles  quo  eaco- 
Ihestes,  o  me  entrega.stes.  Padre  Sancto 
guarday  em  vosso  nome  aquelles  que  me 
destes,  pêra  que  elles  sejam  huma  cousa 
em  amor,  e  charidade,  como  nòs  somos. 
Sanctificayos  por  virtude  de  vossa  pala- 
ura  que  hc  a  verdade.»  Fr.  Bartholomeu 
dos  Martyres,  Catecismo  da  doutrina 
christã. 

—  Adágios  e  provérbios  : 

—  Fazer  da  necessidade  virtude. 

—  Virtudes  vencem  signaes. 
1       —  Desejo  de  soledade,    ou   muita  tít- 

tude,  ou  muita  maldade. 
\      —  Virtude  precede,  quando  força  cede. 
1      —  Se  soubesse  a  mulher  a   virtude  d» 
j  arruda,  busca!-a-hia  de  noite  á  lua. 

VIRTDOSAMENTE,  <i</i-.  iDe  virtuoso, 
com  o  suffixo  « mente »"!.  De  um  modo 
virtuoso.  —  Viver  virtuosamente. 

virtuosíssimo,  a,  adj.  stiperl.  de 
Virtuoso.    ^lui  virtuoso. 

VIRTUOSO,  A,  ailj.  ;Do  latim  virtuo- 
sus,   de  virtus  .  Que  tem  virtude.  —  «E 


VIRT 


VIS 


VISA 


965 


dei  Rov  dom  AíFonso,  que  sancta  gloria 
aja,  não  ficarão  mais  filhos  que  cl  Rey 
dom  Joauí,  e  a  Infanta  dona  Joana,  mais 
velha  que  el  Rey,  que  solteira  sem  ca- 
sar, com  vida,  e  obras  de  muy  virtuosa, 
e  catholica  Princesa,  se  finou  no  Mostei- 
ro de  Jesu  Daueiro  dahy  a  muytos  dias 
em  hidade  de  trinta  e  seis  annos,  no  an- 
no  de  mil  e  quatrocentos  e  nouenta,  co- 
mo adiante  será.»  Garcia  de  Rezende, 
Chronica  de  D.  João  II,  cap.  22.  — 
«Domingo  em  se  querendo  por  o  sol, 
vinte  e  cinco  dias  de  Outubro  do  anno 
de  nosso  Senhor  lesu  Christo  de  mil  e 
quatrocentos  e  nouenta  e  cinco,  em  ida- 
de de  corenta  annos  e  seis  meses,  dos 
quaes  foy  casado  com  a  Raynha  dona 
Lianor  sua  molher  vinte  e  cinco,  e  rey- 
nou  quatorze  annos  e  dous  meses,  e  sen- 
do muyto  virtuoso  na  vida  acabou  desta 
maneira,  que  he  muyto  pêra  auer  inue- 
ja.»  Ibidem,  cap.  212.  —  «E  neste  pró- 
prio tempo  que  o  Duque  chegou  a  porta, 
bem  longe  de  cuidar  o  que  se  fazia,  o 
deixou  el  Rey,  e  declarou  no  dito  testa- 
mento, por  só  e  legitimo  herdeiro  destes 
Reynos,  e  senhorios,  e  deixoulhe  o  se- 
nhor dom  lorge  seu  filho  encomendado 
como  vassalo  seu.  O  qual  testamento  foy 
assy  verdadeiro  e  virtuoso  que  Deos  foy 
com  elle  seruido,  e  todos  os  do  Reyno 
muy  contentes.»  Ibidem,  cap.  208. — 
«E  por  isso  diz  o  Propheta.  Que  Deos  he 
marauilhoso  em  seus  sanctos.  E  assi  co- 
mo o  Senhor  he  engrandecido  era  a  alma 
virtuosa  cuja  imagem,  e  semelhança  de 
Deos  está  reformada  polia  graça,  e  does 
sobre  naturaes;  assi  pollo  contrairo  em 
a  alma  viciosa  quàto  em  si  he  Deos  aba- 
tido, porque  sua  imagem  esta  nella  af- 
feada,  e  escurecida.  O  miserauel  pecca- 
dor  isto  deuia  bastar  pêra  te  cufundir, 
e  fazer  tornar  em  seu  acordo.»  Fr.  Bar- 
tholomeu  dos  Martyres,  Catecismo  da 
doutrina  christã. — «O  corpo  assim  co- 
mo se  achou  na  batalha  foi  depositado 
em  Alcacere,  e  dahi  levado  a  tanto  nú- 
mero de  annos,  e  o  que  foi  lamentável, 
hum  Rei  de  vinte  e  quatro  annos,  que 
fora  de  neste  caso  acceitar  poucos  con- 
selhos, era  em  tudo  o  mais  ornado  de 
virtudes,  e  dons  naturaes  convenientes 
a  hum  justo,  e  virtuoso  Príncipe.»  Fr. 
Bernardo  de  Brito,  Elogios  dos  reis  de 
Portugal,  continuados  por  D.  José  Bar- 
bosa. 

—  Medicamento  virtuoso  ;  medicamen- 
to poderoso,  efficaz. 

—  Dado  á,  virtude;  entregue  a  ella. 

—  Conforme  á  virtude. 

—  Pudico,  casto,  fallando   das   mulhe- 
res. 

—  Que   é    inspirado    pela    virtude.  — 
Acção  virtuosa.  —  Paixão  virtuosa. 


Vós  sois  o  valeroâo 

Campião  de  Christo,  que  em  virtuosa  guerra 

Consummastes  ditoso 


O  triunfo  melhor,  que  ha  sobre  a  terra  : 

A'  Pátria  verdadeira 

Levando  as  almas  por  tão  sã  carreira. 

J.    X.    DK    MATTOS,   RIUA9. 


—  «A  primeyra,  he  que  ainda  se  en- 
contra nclle  a  própria  payxão  do  Autor 
contra  o  sexo,  a  qual  seria  conveniente 
adoçar  com  o  uso  da  imparcialidade,  que 
he  virtuosa  em  todas  as  occasioens,  e 
em  todas  as  matérias  semelhantes. »  Ca- 
valleiro  d'01iveira.  Cartas,  liv.  1,  n.°  18. 

—  Substantivamente  :     Um    virtuoso. 

—  Os  virtuosos.  —  «  E  com  tudo  elles 
sam  muytas  vezes  nas  eleyções  preferi- 
dos aos  bõs.  Dizia  Catão  Vticense  que  a 
causa  porque  nunca  fora  cônsul,  ora, 
porque  viuia  na  Republica  de  Rómulo, 
como  se  ouuera  de  viuer  na  cidade  de 
Platão.  Queria  dizer  que  não  elegião  os 
Romanos  em  cônsules  senam  a  indignos, 
sem  fazerem  conta  dos  virtuosos  e  que 
elle  fazia  com  que  o  nam  fizessem,  com 
fazer  virtude;;,  tam  abatidas  entam  em 
Roma  como  estimada  naquella  perfeyta 
cidade.»  Heitor  Pinto,  Dialogo  da  Justi- 
ça, cap.  9. 

VIRULÊNCIA,  s.  /.  (Do  latim  vírulen- 
tía,  de  viruleiítus).  Qualidade  do  que  é 
virulento. 

—  Figuradamente :  Diz-se  do  que  se 
compara  á  virulência  dos  humores. 

—  Veneno,  peçonha. 
VIRULENTO,  A,    adj.  (Do   latim  viru- 

lentus).  Teraio  de  medicina.  Que  parti- 
cipa da  natureza  do  virus,  que  é  produ- 
zido pelo  virus.  —  As  moléstias  virulen- 
tas. 

• —  Figuradamente  :  Fallando  dos  dis- 
cursos, dos  escriptos  que  se  comparam  ao 
humor  virulento.  —  Disputa  virulenta. 

—  Diz-se  das  pessoas. —  Que  virulen- 
to jurnalista  ! 

VIRUS,  s.  m.  (Do  latim  virus).  Ter- 
mo de  medicina.  Principio  de  transmis- 
são de  muitas  doenças  contagiosas.  —  O 
virus  syphilitico.  —  O   virus    variolico. 

—  O  virus  vaccinico. 

—  Matéria  que  inficiona  o  corpo,  co- 
mo peçonha. 

f  VIS,  2j/ur.  de  Vil.  Vid.  Vil. —  «Os 
vis,  e  fracos  soldados  que  o  deixarão,  se 
forão  meter  no  navio,  e  esperando  por 
elle  ate  amanhecer,  vendo  que  tardava 
deraõ  à  vela  pêra  a  fortaleza,  aonde  che- 
garão ao  mesmo  tempo  que  a  cabeça  do 
seu  valente,  e  esforçado  Capitão  apare- 
cia posta  na  lança,  acompanhada  daquel- 
la  infernal  turba,  que  com  vozes,  gri- 
tas, o  tangeres  mostravaõ  o  contenta- 
mento daquella  vitoria.»  Diogo  de  Cou- 
to, Década  6,  liv.  3,  cap.  4.  —  «Oh  co- 
mo saõ  vis,  e  desprezíveis  todas  as  cou- 
sas terrenas,  quando  ponho  os  olhos  nas 
celestiaes !  Bem  considerado  o  Mundo, 
sua  grandeza  he  pcquenhez  ;  sua  abun- 
dância, pobreza ;  sua  sciencia,  ignorân- 
cia;   suas   alegrias,    tristezas;    sua   luz, 


trevas ;  sua  felicidade,  miséria :  aqui  a 
honra  he  hum  pouco  de  fumo,  a  fazenda 
he  huma  pouca  de  terra,  e  a  vida  hc  ser- 
vir á  corrupção.»  Padre  Manoel  Bernar- 
des, Exercicios   espirituaes,  pag.  57. 

VISAGE.  Vid.  Visagem. 

VISAGEM,  s.  /.  (Do  francez  visage). 
Termo  antiquado.  O  rosto,  a  cara. 

—  Cara  feia. 

—  A  visagem  da  celada;  a  cara,  ou 
parte  da  armadura  que  cobria  o  rosto,  e 
tinha  aberta  para  se  respirar. 

—  Plur.  Caras,  caretas,  geitos  com  o 
rosto,  carantonhas. 

VISAGIA,  s.  /.  Vid.  Visagra. 

VISAGRA,  s.  /.  Vid.  Misagra,  ou  Bi- 
sagra,  nu  Vizagra. 

VISANTE.  Vid.  Besante. 

VISÃO,  s.  f.  (Do  latim  visio).  A  ac- 
ção de  vôr. 

—  Apparição. 

Chama  o  Rei  os  senhores  a  conselho, 
E  propõe-lhe  as  figuras  da  visno: 
As  palavras  lhe  diz  do  santo  velho. 
Que  a  todos  foram  grande  admirac^ào. 

CAM.,  tus.,  cant.  4,  est.  76. 

—  "(Que  eraõ  muito  compridos,  e  es- 
palhados por  cima  do  rosto,  e  das  cos- 
tas, e  com  esta  medonha  visaõ,  a  que  se 
todos  encoramendàraõ,  remeterão  cõ  a 
fortaleza,  tocando  todos  os  seus  instru- 
mentos, e  dando  tamanhos  gritos,  que 
ensurdeciaõ  o  mundo).»  Diogo  de  Couto, 
Década  6,  liv.  2,  cap.  7. 


Com  grande  sobresalto,  grande  espanto- 
Acorda  Çoleimào.  coo  que  passara, 
Contempla  na  promessa,  c  vê  que  he  tanto 
Que  duvida  se  o  ou^•io,  ou  se  o  sojihára  ; 
Mas  já  sentindo  o  cftcito  em  si  de  quanto 
Qualquer  dos  seus  então  nellc  inspirara. 
Dá  credito  á  visão,  e  determina 
Fazer  o  que  ella  manda,  e  cUe  imagina. 

F.    D'ANriBADB,  PBIMEIKO  CEKCO  DE   DIU,  CaUt.  12, 

est.  105. 


Quando  o  nosso  Dcaõ,  todo  engolfado 

Na  Celeste  visaõ,  se  veste  alegre, 
As  meias  gris  de  fer,  e  mais  as  luvas. 
DINIZ  DA  ciinz,  UY.ssorE,  cant.  4. 


—  Imaginação  de  que  se  vê  alguma 
cousa. 

—  Qualquer  cousa  estranha,  de  appa- 
rencia  fora  do  commum,  que  nos  appa- 
rece. 

—  Visão  directa;  a  que  se  faz  pelos 
raios  da  luz  saídos  do  objecto. 

- — Visão  rejiexa;  a  que  se  faz  vendo 
os  objectos  representados  em  espelhos. 

—  Visão  refracta;  a  que  se  faz  pelos 
raios  refrangidos,  ou  refractos,  que  saem 
do  corpo  mettido  em  agua,  ar,  ou  debai- 
xo de  vidros  côncavos  ou  convexos,  e  pas- 
sando a  luz  de  um  meio  mais  ralo  a  ou- 
tro mais  denso,  e  vice-versa. 


966 


VI  SC 


VISI 


VISI 


—  Cousa  quo  su  mo.stra  raaravilliosa- 
mento. 

—  Visão  hcntijica;  a  vhta  do  Deus  no 
còo. 

—  Plur.  Espectros,  cousas  horríveis 
que  apparcccin. 

—  Syn.:  Visão,  ajijiarirjuo.  Vid.  esto 
ultimo  termo. 

VISAR,  V.  a.  (I)(i  francez  viser).  Pôr  o 
visto.  =  É  gailicisuio,  mas  muito  usado 
hdjc. 

VrSAVÔ,  .V.  m.  Vid.  Bisavô. 

VISAVO,  s.  f.  Vid.  Bisavó. 

víscera,  s.  f.  (!)<)  latim  víscera).  Tcr- 
iiu)  ilc  anatomia.  Todo  o  orfíào,  mais  ou 
lueuoij  complicado,  alojado  n'uma  das  trcs 
cavidades  sphuiclinicaa :  a  cabc^-a,  o  tlio- 
r.ix,  o  abdomon;  ou  n'o3tc  ultimo  quasi 
particularmcuto. 

—  Termo  t!o  botânica.  Diz-se  dos  va- 
sos fasciculai"es,  que  sobem  na  haste  das 
plantas. 

VISCERAL,  aiJJ.  2  gen.  (Do  latim  vis- 
ceralis,  de  víscera).  Termo  de  anatomia. 
Quo  diz  roípeito  ás  visccras. —  Os  teci- 
dos visceraes.  —  Dures  visceraes. 

—  Figurailamcnto  :  Essencial,  mormen- 
te cm  termos  de  pratica.  —  As  condiçíks 
visceraes  d'u!n  contracto. 

f  VISCERALMENTE,  adv.  (De  visce- 
ral, e  o  suíBxo  «meuteji).  De  um  modo 
intrinacco,  profundo.  —  As  revuluçues  re- 
ligiosas modificam  visceralmente  o  syste- 
iiia  das  idcas,  dos  costumes  e  das  inslitui- 
çZes. 

VISCERIO.  Vid.  Viscera. 

VISCEROSO,  A,  adj.  (De  viscera,  e  o 
sudfixo  "080»).  Que  diz  respeito  ás  vísce- 
ras, quo  lhe  6  concernente. 

VISGIDEZ,  s.  /.  Termo  de  medicina. 
Qualidaiíc  do  quo  é  viscoso,  viscosidade. 

—  Vicio,  qualidade  viciosa,  dyscrasia, 
má  (.•onstitui<,'ào. 

VISGIDO,  A,  adj.  Viscoso, 

VISCO,  s,  m.  (Do  latim  viscnm).  Gru- 
de vej^etal  com  que  os  caçadores  untam 
as  varas  para  prenderem  as  aves  que 
ii'ellas  pousam. 

—  Fijíuradamente :  Cousa  que  prende, 
atasea  oonio  a  vasa,  lodaçal. 

VISCONDADO,  s.  m.  A  dignidade'  de 
visconde. 

—  O  território  de  visconde. 

VISCONDE,  s.  m.  Titulo  de  nobreza  in- 
ferior na  graduação  ao  conde;  tem  coro- 
nal iiobre  o  escudo. 

VISCONDESSA,  s.  /.  Mulher  do  viscon- 
de. 

—  Senhora  do  viscoudado, 

VISCOSIDADE,  s.  /.  Propriedade  pe- 
la qual  as  partículas  d'uma  sub.stancia 
adhorcm  umas  á  outras.  A  viscosidade 
natural  das  partes  da  agua  faz  que  as  in- 
feriores arrastem  as  superiores,  que  n'u\n 
canal  liorisontal  não  teriam  tido  movi- 
mento algum. 

— ■  Lympha,  baba  viscosa  do  estômago. 

—  Propriedade    peculiar    aos    líquidos 


espessos  e  glutinusos,  d'onde  resulta  a 
grande  adhorencia  de  •  Bua»  moloculas, 
e  a  faculdade  do  correr  em  filetes  mais 
quo  em  gnttinhas. 

VISCOSO,  A,  adj.  ("Do  latim  viscosut). 
Diz-se  das  moléculas  das  quuus  umas  tem 
adlicreucia  com  as  outras,  fallando  de  um 
liquido.  —  Licor  esijetto  e  viscoso.  — 
Humor  viscoso. 

—  Diz-se  também  de  uma  substancia 
pegajosa,  mais  ou  menos  tenaz. 

VISEIRA,  s.  /.  (Do  francez  visiire).  A 
visagom  <la  armadura,  peça  quo  cobre  o 
rosto  pegada  ao  elmo. 

-—  Loc. :  Calar  a  viseira ;  deixal-a  cair 
sobro  ij  rosto. 

VISGO,  f.  m.  Vid.  Visco. 

VISGUEIRO,  s.  11).  Arvore  do  lírazil 
que  produz  umas  vagens  cheias  de  visco; 
cresce  muito,  tem  a  fidlia  miúda  e  a  ma- 
deira molle;  serra-se  para  caixões  d'as- 
sucar;  o  miolo  é  bom  para  algumas  obras. 

VISGUENTO,  A,  adj.  Pegajoso,  viscoso. 

—  Unta'!o  de  visco. 
VISIBILIDADE,    s.  /.   (Do  latim  visiòi- 

litas,  de  visíòi/is).  Termo  de  physica. 
Projirioaade  que  tem  os  corpos  de  pode- 
rem ser  apercebidos  por  meio  do  sentido 
da  vista.  —  Estabelecer  os  limites  da  visi- 
bilidade dos  tibjf.ctos  immergidos  no  mar, 

—  A  visibilidade  de  todos  os  corpos  c  o 
espectáculo  do  universo  oj)<:recido  ao  ho- 
mem. 

—  Qualidade  quo  torna  uma  cousa  ma- 
nifesta. 

—  Appai-encia  que  torna  as  cousas  vi- 
síveis. 

f  VISINHANÇA,  s.  /.  Vid.  Vizinhança. 

—  «Esto  Soltaõ  Halaudiín  se  passou  pê- 
ra Viantana,  donde  D.  Estev.ào  da  Ga- 
ma, sendo  Capitão  de  I^Ialaca,  também  o 
lançou  fora  pela  ruim  visinhança  que  fa- 
zia. E  na-;  pazes  que  lhe  fez  o  obrigou  a 
se  passar  pêra  Muar,  onde  estaria  sem 
fazer  forte  algum,  e  alli  se  aposentou  em 
hum  lugar  chamado  Tangòr,  onde  viveo 
três,  ou  quatro  annos.»  Diogo  <]e  Couto, 
Década  O,  liv.  O,  cap.  5.  —  «Acho  graça 
nesta  historia.  Fora  a  baptizar  em  um 
lugar  d'esta  minha  visinhança  a  filha  de 
um  escudeiro;  e  porque  ouviu  que  a  ou- 
tra de  um  titulo  tinha  sua  mào  mandado 
pôr  na  pia  três  nomes;  como  a  elle  lhe 
custava  barata  a  grandeza,  içou  um  furo 
mais  á  vaidade,  e  mandou  baptizar  a  me- 
nina com  qualTo  nomes.»  D,  Francisco 
Manoel  de  Mello,  Carta  de  guia  de  ca- 
sados. 

VISINHO,  A,  adj.  e  s.  Vid.  Vizinho. 

lUwcais  vosso  natural, 
<|ue  í  tor  (1  fim  mais  rizinlio, 
eu  contrtt  o  vasso  cuniinlio, 
busco  principio  a  meu  mal. 

vKRNÃo   soiionr.v,   poesias   k   prosas 
isKmiAS,  piig.  25. 

—  «E   porque   o   lavrador  da  herdade 


HO  queixava,  que  o«tc8  Tisinhos  lho  po- 
diaS  fazer  danno  ao  seu  gudo,  c  searas, 
lhe  piizcraô  clausulas  no  aforamento,  que 
queixaudo-se  o  laviador  d'i  tal  foreiro, 
lhe  derrubariaô  as  casais,  sem  por  isrio  lho 
tornarem  nada.i  S';verim  de  Faria,  No- 
ticias de  Portugal,  Disc.  1,  cap.  í>. — 
<U  liei  visinho,  coui  iagrimait  de  laitti- 
ma,  c  agrado,  lhes  accoitou  a  oíTurtA,  ou 
fosse  ambiçiio,  ou  humanidade.  EscoliicM 
entre  os  seus  mil  soldados  beneméritos  do 
facçào  tào  grande,  querendo  ser  o  mesmo 
Hei  eompanlieiro,  e  Capitilo  de  todos. 
Partirilo  no  silencio  da  noite,  e  chegando 
á  Cidade,  lhe  derâo  us  conjurados  iuuna 
porta,  por  onde  eiitrárJo,  fazendo-sc  »«s- 
nhores  do  Cafitello  com  levo  resistência.» 
Jacintho  Freire  d'Andrade,  Vida  de  D. 
João  de  Castro,  liv.  4.  —  «E  acabar  em 
Calapor  a  que  está  começada  com  o  no- 
me de  Santa  ('ruz;  e  na  Ilha  visinha  de 
Corilo  levantareis  outra,  da  traça,  o  ma- 
gestade  que  vos  parecer  conveniente,  pois 
he  cousa,  que  nada  mais  despertará  nos 
Gentios  a  devoção  ás  cousas  de  nossa 
Santa  Fé,  que  a  afieição  que  de  nossa 
parte  virem.»  Ibidem,  liv.  1.  —  tExtin- 
gue-se  com  as  sombras  da  novte  a  obri- 
gação da  promessa,  levanta-se  a  molher 
mais  cedo,  e  mais  indiscreta  do  que  cos- 
tura.ava,  e  parte  logo  para  casa  de  uma 
visinha.»  Cavalleiro  d'01iveira.  Cartas, 
liv.  1,  n."  54.  —  fDebalde  lhes  expuz 
que  nilo  éramos  Pheuices:  apenas  nos  de- 
ram ouvidos,  e  houveram-nos  por  escra- 
vos, em  que  traficavam  os  Phenices:  so- 
mente tinliam  o  fito  '.lo  lucro  da  prosa. 
Ja  viamos  branquejar  as  ondas  com  as 
aguagens  do  Nilo;  e  tinhamoa  defronte  a 
costa  do  Egypto,  quasi  de  idvel  co'a 
.agua  do  mar.  Chegámos  a  ilha  de  Pharos, 
visinha  á  ciiiade  de  Nó;  e  d'aqai  mon- 
támos o  Nilo  athó  3IemphÍ3.»  Francisco 
Manoel  do  N-i^cimento,  e  itanoel  de  Sousa, 
Telemaco,  liv.  2.  —  «Visinha  a  esta  bella 
costa  está  s' tua  ia  a  cidade  de  Tyro.  Esta 
granile  cidade  parece  estar  boiando  sobre 
as  aguas,  e  reger  o  mar  todo:  a  ella  con- 
correm negociantes  de  todiís  as  partos  do 
mundo;  e  seus  habitantes  silo  os  mais 
acreditados  mercadores  que  ha  no  uni- 
verso.» Ibidem,  liv.  3. 


Co 'a  vista  no  vifinho  cavalloiro 
Deu...  estremece...  ao  atabude  os  volve. 
OARBKTT,  cAuõr.9,  cAnt.  2,  cap.  0. 

f  VISIOMETRO,  .1.  m.  Instrumento  que 
indica,  para  toda*  as  vistas,  o  grau  da 
força  visual,  e  os  vidros  correspondentes. 

VISIONÁRIO,  A,  adj.  (Do  francez  vi- 
sionnaire<.  Que  crê  ter  visSea,  revela- 
ções. 

—  Figuradamente  :  Que  tem  idêas  lou- 
cas, extravagantes  e  chimcricas.  —  .tis 
«lás  qualidades  dos  espiritus  visionários. 

—  Substantivamente :   Um  Tisiouario. 


VISI 


VISI 


VISI 


967 


VISIR.  Vid.  Vizir. 

VISITA,  s.  /.  Acto  de  ir  ver  alguém 
por  civilidade,  ou  por  dever. 

—  Fazei-  visita;  ir  visitar. 

—  Bilhete  de  visita ;  cartSo  que  se 
deixa  em  casa  do  individuo  que  se  quer 
visitar,  e  cujo  individuo  se  não  encoutra 
em  casa. 

—  Pessoa  que  ao  recebe  como  visita. 
—  Tenho  hoje  visitas  em  casa. 

—  Diz-se  de  um  medico,  de  um  cirur- 
gião que  vae  vêr  um  doente. 

—  Diz-se  de  um  medico,  de  um  cirur- 
gião que  percorre  as  salas  d'um  hospital 
para  vêr  os  doentes,  e  prescrever  os  di- 
versos tratamentos. 

—  Pesquiza,  o  acto  de  visitar  um  lo- 
gar,  uma  cii-cumscripçào,  quer  para  achar 
ahi  alguma  cousa  ou  alguém,  quer  para 
ver  so  tudo  está  em  ordem. — Visita  do- 
iniciliaria.  —  Visita  dos  lagares.  —  O 
commissario  de  policia  fez  a  visita  a  esta 
circumscripção. 

—  Visita  de  i-adaveres ;  o  exame  que 
03  médicos  nomeados  pela  justiça  fazem 
de  um  corpo  morto,  averiguando  assim 
das  causas  da  morte. 

—  Termo  de  marinha.  Inspecção  que 
se  faz  d'um  navio  para  conhecer  exacta- 
mente o  estado  em  que  elle  está. 

—  Termo  antiquado.  Presente,  ou  mi- 
mo com  que  os  emphyteutas  ou  forelros 
costumavam  mandar  visitar  uma  ou  mais 
vezes  no  anno  o  senhorio. 

—  Loc.  POP. :  Visita  de-  medico;  visi- 
ta breve. 

—  Acto  de  devoção  que  se  cumpre 
ii'uma  igreja,  n'um  hospital,  ctc.  —  A 
visita   de  uma  igreja. 

—  Gyro  que  os  bispos  fazem  na  sua 
diocese,  e  os  geraes  d 'ordens  nos  mostei- 
ros. —  Visita  pastoral. 

—  Termo  de  theologia.  Castigo  celeste. 

—  Graças  obsequiosas.  —  .às  visitas 
particulares  do  Verbo  que  vem  a  nós  pa- 
ra nossas  consolações. 

VISITAÇÃO,  s.  /.  (Do  latim  visitatio). 
O  acto  de  visitar,  visita.  —  «Alguns  dias 
esteve  Palmeirim  na  corte,  tão  occupado 
de  visitações,  que  lhe  não  davam  lugar 
a  poder-se  aproveitar  do  tempo  em  ne- 
nhuma cousa  de  seu  gosto ;  porem  quan- 
do ee  iam  acabando  teve  algum  espaço 
de  entender  no  que  mais  trazia  a  vonta- 
de, e  tanto  o  atormentava  o  cuidado  que 
sempre  tivera,  que  nunca  lhe  dava  ne- 
nhum descanço,  que  isto  tem  os  bons  na- 
morados. »  Francisco  de  Moraes,  Palmei- 
rim d'Inglaterra,  cap.  135. — «E  per  es- 
paço de  dous  dias  que  depois  desta  visi- 
tação Pedraluarez  ali  esteue  :  sempre  de 
huma,  e  outra  parto  ouue  recados,  e  obras 
do  grande  amizade.»  Barros,  Década  1, 
liv.  õ,  cap.  3. 

—  Foragem  que  outrora  se  pagava, 
como  a  colheita,  jantar,  parada  ao  se- 
nhor da  terra  quando  ia  a  cila  uma  vez 
cada  anno. 


—  A  Visitação  da  Santa  Virgem,  a 
festa  da  Visitação ;  a  festa  instituída  em 
memoria  da  visita  que  Maria  fez  a  San- 
ta Isabel ;  celebra-se  a  2  de  julho. 

—  Quadro,  estampa,  imagem  que  re- 
presenta a  Visitação. 

—  Ordem  da  Visitação;  ordem  de  re- 
ligiosas instituída  em  honra  d'e3ta  visita 
da  Santa  Virgem  por  S.  Francisco  de 
Salles. 

—  Informação  que  tira  o  visitador  do 
bispo. 

VISITADO,  part.  pass.  de  Visitar.  — 
«Partido  deste  porto  de  Pedir,  chegou 
ao  de  Pacem,  onde  também  foi  visitado 
d'ElRey,  mandando-se  desculpar  da  cul- 
pa que  lhe  elle  punha  na  morte  do  Por- 
tuguez,  e  ferimento  dos  outros  da  com- 
panhia de  João  Viegas.»  Barros,  Década 
2,  liv.  (3,  cap.  2.  —  «Brauo  hia  Sam  Pau- 
lo: e  determinado  de  oftender  a  Deos, 
quando  com  luz  celestial  foy  supitamen- 
te  visitado.  Em  suas  treuas  estaua  S. 
Matheus  quando  o  Senhor  olhando  pêra 
elle  o  illuaiinou  interiormente.  Nur.ca  vS. 
Pedro  chorara  auer  negado  seu  Mestre 
se  o  Senhor  nam  olhara  para  elle  e  nam 
o  visitara  primeiro  interiormente.»  Fr. 
Barthulonicu  dos  Martyres,  Catecismo  da 
doutrina  christã. 

—  Visitado  alguém  com  presentes,  mi- 
mos,  etc. 

-^  Culpado  em  visitação  do  bispo. 

—  Figuradamente :  Visitado  de  Deus 
com  luzes,  trabalhos,  etc. 

VISITADOR,   A,  s.  Pessoa  que  visita. 

— _tí.  m.  Homem  que  vae  visitar  por 
si,  ou  mandado  de  outrem. 

— •  Um  official  do  terreiro  do  trigo  de 
Lisboa. 

—  O  sacerdote  que  visita  a  igreja  por 
commissão  do  bispo,  o  chrisraa,  etc. 

f  VISITANTE,-  part.    act.  de  Visitar. 

—  iS.  2  gen.   Pessoa  que  visita. 
VISITAR,   V.   a.  (Do  latim  visitare).  Ir 

vêr  alguém  a  sua  casa.  —  Visitar  um 
amigo.  —  «O  imperador  o  visitava  mui- 
tas vezes,  fazendo-lhe  muitas  honras ; 
porque  alem  deste  príncipe,  como  se  já 
disse,  ser  cavalleiro  famoso,  era  tão  apra- 
zível e  de  tão  boa  conversação,  que  fa- 
zia querer-lhe  bem  todo  género  de  ho- 
mens.» Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
d'Inglaterra,  cap.  8.5.  —  «Ao  outro  dia 
foy  ElRey  visitar  o  Governador,  e  lhe 
pedio  mandasse  chamar  o  Bispo,  e  Pre- 
lados, e  03  Fidalgos  velhos,  que  tinha 
que  lhe  dizer.  E  vindo  todos  lhes  fez 
alli  esta  breve  fala.»  Diogo  de  Couto, 
Década  6,  liv.  7,  cap.  5.  —  «O  Gover- 
nador assim  o  fez,  e  desembarcou  em 
Còchlm,  e  foy  visitar  o  Visoroy  que  o 
recebeo  secamente,  e  /lUi  lho  fez  entre- 
ga da  índia,  e  se  reeolheo  pcra  sua  casa, 
mandando  logo  navios  a  Goa  em  busca 
dtí  suamulhor  pêra  se  embarcar  pcra  o 
Reino.»  Diogo  do  Couto,  Década  (>,  Hv. 
O,  cap.  1. 


Vim  eu  vel-os,  visital-os 
dar-lho  a  miuha  boução  toda ; 
são  filhos,  além  do  cvial-oa 
ha  liomcm  do  acompaiihal-os 
n'e3ta3  duas,  mOrte  e  vôda. 

ANTÓNIO  PRESTES,  ACTOS,  pag.  365. 

—  «Estando  ai-nda  el  Rei  em  monte 
mor  ho  mandarão  visitar  hos  Reis  dom 
Fernando,  e  dona  Isabel  sua  niolher,  por 
dom  Afonso  da  Sylva,  pessoa  principal 
de  sua  corte,  e  per  elle  alem  das  grati- 
iicações,  ordinárias,  e  acustuniadas  entre 
hos  Reis  nos  principies  de  seus  Regna- 
dos,  lhe  mandarão  commetter  casamento 
com  ha  Infante  dona  Maria  sua  lilha,  do 
que  se  el  Rei  excusou  per  boas  palavras.» 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  1,  cap.  11.  —  «Por  auer  ja  dias 
que  esperaua  por  elle,  pelo  assi  ter  as- 
sentado com  George  Dalbuquerque  no 
tempo  que  o  foi  visitar  a  Malaca,  pelo 
que  se  fez  logo  prestes  com  sua  casa,  mo- 
Iher,  e  lilhos,  dando-lhe  Francisco  de 
mello  pêra  sua  embarcação  a  lanchara 
dei  Rei  de  Lingua,  que  elle  teue  por  gran- 
de honrra,  e  das  outras  tomou  Francisco 
de  Mello  as  que  se  poderam  marear,  e 
as  mais  mandou  poer  o  f 'go.»  Ibidem, 
part.  3.  — -  «Esta  cidade  de  Tauriz  he 
fermosa  de  ediftcios,  e  populosa,  em  qUe 
a  muitos  Christãos  Arménios,  dos  quaes 
o  embaixador  foi  bem  visitado  o  tempo 
que  alli  esteve,  que  foram  vinte  dias.» 
Ibidem,  part.  4,  cap.  11.  —  «E  havia 
poucos  dias  que  a  Goa  viera  hum  Em- 
baixador d'EiRei  de  Bisnaga  com  grande 
apparato,  ao  qual  Aflbnso  d.'Alboquerque 
fez  muita  honra,  e  posto  que  mostrasse 
vir  visitallo  da  sua  vinda  do  estreito,  e 
que  so  fizessem  ambos  cm  hum  corpo 
pcra  lançarem  os  Mouros  do  Reyno  De- 
can,  c  que  ambos  partiriam  o  ganhado,  tu- 
do per  derradeiro  vinha  acabar  nestes  ca- 
vallos.»  Barros,  Década  1,  liv.  10,  cap.  1. 
— «Exaqui  as  próprias  palavras  de  Mon- 
conis.  Disse-me  o  Arcebispo  de  Mayen- 
ça,  que  Busardiere  morador  en?  casa  de 
hum  Cavalheiro  de-  Praga,  achando-se 
em  perigo  de  morte  escrevera  a  Vicnna 
de  Áustria  a  hum  homem  seu  amigo  cha- 
mado Caos,  pedindo-lhc  que  viesse  pi'om- 
ptamente  visita-lo.»  Cavalleiro  d'01ivei- 
ra,  Cartas,  liv.  3,  n."  8. — «D'aqui  nas- 
ceu a  grande  cautella  que  havia  em  ob- 
servar as  pessoas  que  fallavam  com  Dio- 
go de  Mendonça,  ou  o  iam  visitar  a  Sal- 
rêo,  padecendo,  ainda  que  não  innocen- 
te,  sob  o  poder  de  capitães  ou  tenentes 
indignissimos,  mormente  um  chamado  F. 
Cachimbo.»  Bispo  do  Grão  Pará,  Memo- 
rias, publicadas  por  Caraillo  Castello 
Branco,  pag.  126. 

—  Particularmente :  Fazer  visitas.  — 
Visitar  os  chefes.  '   •■.•■' 

—  Inspeccionar,  vêr  se  as  cousas'  es- 
tão na  ordem  em  que  devem  estar.  —  Vi- 
sitar os  arsenaes.  —  Visitar  uma  dioce- 
se. —  «Levado  das  quaes  persuasões  fez 


968 


VISI 


VISI 


viao 


huma  joriiivda  ros  lufjfireH  de  Africa  taò 
(loBacoiii[janlia'lo  do  SoldadoH,  e  luairt  cou- 
8a«  iioceHHarian  para  fazor  coii^ji  do  iiii- 
j)ortiiiicia,  (|uo  cmu  nomo  do  visitar  a(|uel- 
luB  íroiitoiraB  no  tornou  ao  lioino  luiõ  ar- 
rependido do  Bou  intento,  ma»  com  do- 
brada vontade  do  o  i:xccntar.i>  Kr.  l$or- 
iiarilo  do  IJtito,  Elogios  dos  reis  de  Por- 
tugal, continuador  por  1).  Jo.só  liarljo.ía. 
—  «(Jonio  Hoii  parente  S.  Rosendo  viesao 
visitar  a(piollo  Alonteyro  do  Vieyra,  c 
ga^^tassom  aniboH  grande  parto  do  dia  oiii 
colo([UÍos  Divinos,  iium  rústico  que  anda- 
va concertando  08  tcUuidos  de  casa,  ho 
poz  a  murmurar  (laquei la  conversa^raõ, 
oiu  pena  do  qual  foy  supitanicnte  arre- 
batado do  Demónio,  c  o  matara  so  as 
orai;(>ons  da  Santa  o  naõ  livrarão  daiiuel- 
ia  tribuiac^aõ.»  Mouarchia  Lusitana,  liv. 
7,  cap.  "iò.  —  <i  Doudo  íio  ])artio  ao.s  qua- 
tro diaa  do  mes  Daj^osto,  sem  passar  cou- 
sa que  de  contar  soja  ate  clie^ar  a  Dio, 
onde  depois  do  surto,  o  mandou  visitar 
Miliquiaz  capitão,  o  j,'oucrnador  da  cida- 
de por  ol  Koi  de  Cambaia,  oHerccondos- 
80  a  fazer  tudo  o  que  Uio  dolle  conipris- 
se.»  Damião  de  (iões,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  3,  ciip.  44. 

—  Fi_;íuradaniento  :  O  planeta  doura- 
do visita  aquelle  sino  que  no  salijado  rei- 
no foi   gerado. 

E  cinco  dias  antes  (|uc  o  douriído 
Planeta  uinitanae  aquollo  bíuo 
Que  no  salgiido  Reino  foi  gerado 
E  no  Cco  tem  assento  alto  e  divino, 
Surge  o  Governador,  acompanhado 
Do  sou  nobre  apparato,  deílc  dino, 
Meia  légua  daiiuella  forte  e  brava 
Cidade,  para  onde  ella  navegava. 

fRANCISCO   D'ANnnADr.,   PRIURIBO  CEKCO   DE   DIU, 

cant.  2,  est.  18. 

—  Ir  vòr  por  caridade,  ou  por  devo- 
ção.—  Visitar  os  hospitrus. — Visitar  (í-s 
prisíies.  — -  t Então  nos  deraõ  hum  sacco 
darroz,  o  quatro  tacis  em  prata,  o  huma 
colcha  para  nos  cubrirmos,  e  nos  onco- 
luendaraõ  muyto  ai^  Cliifuu,  que  era  o 
alcaide  a  quem  hiamos  entregues,  o  se 
dcspidiraõ  de  nós  com  muyto  boas  pala- 
vras, o  se  tornarão  a  visitar  a  enforma- 
ria da  prisaõ  que  atrás  disse,  onde  ontào 
avia  passante  de  trezentos  enfermos,  o 
como  ao  outro  dia  foy  nienham  clara, 
uos  mandarão  a  carta  que  lhe  tínhamos 
pedido  mutrada  com  tros  sinetes  de  la- 
cro verde,  a  qual  dizia  assi.»  Fernão 
Mendes    Pinto,    Peregrinações,    cap.   81-5. 

—  Termo  de  theolojíia.  Lembrar-se  da 
humanidade,  fallando  de  Deus. —  «K  tu 
muytas  vezes  desprezado  o  mesmo  lume, 
apaijandoo  com  peecados  mortaes,  nam 
te  duseniparou,  mas  tornoute  a  visitar 
muytas  vezes  com  misericordiosas  inspi- 
rações, ciiamandoto  o  eonuidandote  que 
(|uiscsses  tornar  à  luz.  Ay  de  ti  que  caís- 
te em  poccivdo  mortal  despois  do  Bautis- 
mo.  Se  o  senhor  to  nam  viesse  buscar,  o 


visitar,  em  teu  jtcccado  morreriaH  porá 
Houi])re :  porque  tu  a  clle  nam  o  podes 
visitar  primeiro.»  Frei  iSartliolomeu  dos 
MartyrcH,  Catecismo  da  doutrina  christá. 

—  Visitar  a»  reliquid»  dos  Bagradu» 
apostolou.  —  «  Concluído  o  ncfiocio  da 
embaixada,  quiz  o  His|)0,  poÍH  estava  em 
caminho,  visitar  as  relíquias  dos  .Sajrra- 
dos  Apóstolos.»  Frei  Luiz  do  Sousa,  Hist. 
de  S.  Domingos,  liv.  1,  cap.  2. 

—  Ir  ter,  lallando  dos  animaOB.  —  íE 
andam  tão  destros  n'ellaH  (juo  de  duaa 
léguas  as  conhoceni  pelo  faro ;  o  praza  a 
Deus  que  entre  cllcs  não  liaja  muitos  se- 
nhores de  paquife  e  cimeira  que  também 
neste  dia  fazem  armazém  do  barriga;  e 
a  estos  destijo  eu  de  jxTguntar  que  mal 
lhes  fez  o  carnal  no  discurso  de  tantos 
mezos,  onde  os  foi  sempre  visitando  di- 
versidade do  animaos,  tornando  sempre  á 
risca.»  Feriiilo  Soropita,  Poesias  e  prosas 
inéditas,  pag.  83-84. 

—  Diz-se  dos  paizos,  dos  monumentos, 
etc,  (jue  se  vão  vôr  por  curiosida<li',  ou 
por  um  interesso  particular. 

—  Examinar  alguma  cousa  com  cuida- 
do, miuuciusamonte.  —  O  cirui-yião  vi- 
sitou a  feridu.  —  O  architecto  visitou  a 
casa. 

—  Termo  da  Escriptura.  Dar  signaes 
do  colora,  de  ira,  fallando  de  Deus. 

—  Visitar  o  prelado  aos  súbditos ;  in- 
quirir do  seu  procedimento,  e  castigar  os 
maus. 

—  Mandar  visitar  a  outrem  do  nas- 
cimento de  um  Jilho;  mandal-o  cumpri- 
mentar por  essa  occasiao. 

—  Us  physicos  visitavam  os  boticários 
para  examinarem  se  tinham  os  remédios 
necessários  e  bons. 

—  V.  n.  Vêr,  inspeccionar  se  as  cou- 
sas estão  na  ordem  cm  que  devem  estar. 
—  «N-esta  terra  visitei,  chrismei,  pre- 
guei o  estivo  quatro  dias  admirando  a 
copia  de  cíiça  que  vinha  do  matto,  como 
adens,  motuus,  marrecas,  e  porcos.»  Bis- 
po do  (irão  Fará,  Memorias,  publicadas 
por   Camillo   Castello  Branco,  pag.  192. 

—  Visitar-se,  v.  reji.  Fazerem-se  visi- 
tas mutuamente. 


Não  se  podem  visitar 
huns  aos  outros,  nem  fallar 
em  plazer,  nojo,  doença, 
sem  cl  lícy  lhes  dar  licença, 
sobpena  do  hos  matar. 

o.    I)K   KEZF.NKK,   UISCELLÀMEA . 


VISIVA,   s.  f.    Visão,    órgão  da  vista. 

VISÍVEL,  adj.  2  <jen.  (Do  latim  visiòi- 
lis,  do  visum,  supino  de  videre).  Que  se 
pôde  ver,  quo  ó  objecto  da  vistii. 

Emijuanto  neatc  véo  medonho,  escuro, 
O  Mundo  inda  imperfeito  anda  envolvido; 
Hum  com  outro  Elemento  em  chonuo  duro 
Anda  em  terrível  confusão  batido  : 
Kaça-se  a  luii,  diz  Oeos,  brilhante,  e  puro 
Corpo  do  luz  he  súbito  espargido ; 


Vi»i<fl  foí  o  Mundo;  he  preoar«ors 
A  luz  uo  .^Iuado  dii  primeira  Aurora. 

1.  A.   r»  MAI.-KDO,  U  OBICHTr,  csut.  U,  Mt.  40. 

Mas  a  carreira  iiio,  gira  constante 

K  não  he  Cí-ntro  o  Sol  do  giro  incíiiU} 

S-'!  vi*lrrj  :i  ihíh,  se  o  |K>ut<i  marca 

Do  gràtj  circulo  Hcu  próximo  áquellc 

Qu'  em  turno  ao  >Sol  descreve  o  t4:rroo  Globo 

IDEM,   A   (ATCHKZÀ,  Cant.    1. 


A  mente  humana,  incop^itn  Rubiitancia, 
\'i»i>-rt  luj  s<'ntido,  iiltu  iví  basta, 
Sempre  a  mão  lhe  convém  d'agento  uturuo, 
K  tudo  nasce  de  senaivcl  Causa. 


■ —  Evidfnt'í,    manife.4to,    claro,  obvio. 

VISIVELMENTE,  adv.  (De  viaiTel,  o  o 

suflixii  fmente»!.    De   uma  maneira  víbí- 

vcl,  apreciável  á  vi)<ta. 

—  .\Iaiiifostamente,  ovidentcmonto. 
VISIVO,  A,  udj.  Termo  didáctico.  Que 

diz  rcs])oito  á  vi.-íta,  ao  poder,  á  faculda- 
de de  vêr.  —  A  faculdade  visiva  wlo  é 
outra   cousa  S'  iião  a  alma  ein  quwUu  vê. 

—  Pyramiile  visiva.    Vid.    Pyramide. 

—  Luz  visiva ;   os  olhos. 
VISLUMBRADO,    part.   yat$.    de    Vis- 
lumbrar.   Alumiado  mal  e  cegamente. 

—  Visto  maldistinctamcnte,  lobrigado, 
com  pouca  luz. 

VISLUMBRAR,    v.    a.    Alumiar    mal    e 
ccgamcuto. 

—  Vôr    maldistinctameutc,     lobrigar, 
com  pouca  luz. 


Kão  vislumbrando,  nem  de  longe,  a«  chamoiaa 
Que,  sem  que  as  cfvem,  sempiternas  dor&o, 
Começam  a  ouvir  gemidos  dos  prcscitoí. 
r.  31.  DO  MAsciMENro,  os  XABrraas,  liv.  8. 


—  Vislumbrar-se,  i'.  reji.  Divisar-se 
maklistinctamente;  entrevcr-se  confusa- 
mente. 

VISLUMBRE,  s.  m.  Idèa  obscura. 

Quem  senão  tu  pudera  I  Oh  ((uadro  angusto. 
Eu  3(5  derramo  cm  ti  froios  ridiimhra, 
E  adoro  o  grande  Artilice  Supremo. 

1.   A.  DK  MACKOO,  A  HATCBKZA,  CAOt.  3. 

—  Mostra  maldistincta,  não  moito 
viva. 

—  Apparencia  indistincta,  mostra. 
VISLUME.  Vid.  Vislumbre. 
VISO,   s.  m.  Vista. 

—  Vulto,  phvsionomia,  semblante. 

—  O  viso  de  um  outeiro;  o  mais  ele- 
vado d'elle. 

—  A  hora  da  apparição  da  aiUDra. 

—  Vid.  Vice. 

—  Plur.  Ares,  apparencias.  —  Visos 
de    viriude. 

VISONHA,  .<.  f.  Visão,  espectro,  appa- 
ri(;ão  do  tigura  medonha. 

VISO-REI.  Vid.  Vice-rei,  termo  mais 
usado.  —  «ElRcy  de  Cochij  polo  que  lhe 


VISO 


VISS 


VIST 


069 


importaua,  trazia  sempre  em  casa  do  Ça- 
iiiorij  pessoas  que  lhe  dauaõ  auiso  de  to- 
das  estas  cousas,  e  tanto  que  o  VisoRey 
chegou  a  Cochij,  despois  que  se  com  eiie 
vio  a  primeií-a  ve;4,  lhe  deu  ctmta  destes 
grandes  apparatos  do  Çamorij.a    Barros, 
Década   1,    liv.    10,    cap.   4.  —  «O  qual 
caso  foi  a  tempo  que  estauão  com  o  Viso- 
Rey   algumas   pessoas,    cujoa   criados   ti- 
nhào  recebido  dos  negros  outra  tal  cõpa- 
nhia,    priacipaluieute   hum   FeruSo  Car- 
rasco criado  de  íorge  de  Mello.»    Idera, 
Década  2,    liv.    3,    cap.    10.  —  «  Porque 
vindo   em    rompimento    de  guerra,  podia 
perder  aqueiles  ii.omens  cativos,  e  princi- 
palmente Ruy  d'Araujo,    que   particular- 
mente desejava  muito  tirar  daquelle   ca- 
tiveiro,   que    recebeo    por    amor   delle ; 
porque,    como    atrás   vimos,    o   Viso-Rey 
D.    Francisco  nas    diíícrenças  que    teve 
com    elle    Affonso    d'Alboquerque,     en- 
tregou   a    este    Ruv    d'Ai-aujo   prezo    a 
Diogo   Lopes   de  Sequeira   em   modo    de 
degredado.»    Ibidem,    liv.    6,   cap.   3. — 
«  O  Visorey  tanto    que    vio    terra,    disse 
o  seu   Piloto   que  era  da  costa  da  índia : 
mas  Joaõ    Rebello   de   Lima,   Piloto  afa- 
mado   que   alli    hia  por  passageiro,  disse 
que  a  terra  que  aparecia  era  Columbo,  e 
Ceilaõ.»  Diogo  de  Ct.uto,  Década  6,  liv. 
9,  cap.  1,  —  «D.  Diogo  de  Noronha  não 
so  quiz  embarcar  atè  vir  recado  do  Viso- 
rey, que  em  lhe  dando  as  cartas,  no  mes- 
mo   dia  despedio  Joaõ  Peixoto  por  Capi- 
tão  mòr   de   quatro    navios,    e  por  terra 
mandou  Gaspar  Pires  de  Matos  com  qua- 
renta  piaens,    e   huma   grande  soma  de 
servidores,  e  boys,  pêra  trazerem  o  fato 
por    terra.»  Ibidem,   cap.  4.  —  «Que  pe- 
los   terços,    e   choques    que  pertenciaõ  a 
ElRey  de  todo  o  cravo  que  trouxesse  no 
seu  galeaõ,  desse  quatrocentos  e  cincoenta 
bares,    s.   duzentos   e  ciucoenta  bares  li- 
quides pêra  ElRey,  e  os  duzentos  pêra  as 
pessoas  que  tivessem  liberdades  por  pro- 
visoens  do  Visorey,  e  que  na  dita  conta 
não   entrariaõ    os   bares  que  viessem  nos 
gasalhados  delle  Capitão,  e  dos  OfSeiaes 
do  galeaõ,    nem  do  Patraõ  mòr,  e  outros 
que  eiles  íirariaõ  forros.»  Ibidem,  cap.  19. 
—  «O  Visorey  depois  que  no  Norte  deu  or- 
dem a  muitas  cousas,  assim  em  Baçaim, 
como   em  Chaid,  e  que  teve  as  segundas 
novas  de  Ormuz,  deu  à  vela  pêra  Goa  aon- 
de chegou  no  fim  de  Fevereiro.»  Ibidem, 
liv.    lÔ,   cap.    8. —  «A  quem  o  Visorey 
deu  hum  fermoso  galeaõ,  de  que  era  Ca- 
pitão  Ruy    de    Castro,   em  que  hiaõ  em- 
barcados   trezentos    homens,    e    lhe    deu 
mais  dous  navios  de  remo,  com  regimen- 
to que  como  chegasse  a  Ormuz  entregas- 
se  a  gente   a  D.  Fernando  de  Menezes, 
c  o  galeaõ  a  D.  Antaõ  de  Noronha  pêra 
se  vir  nelle  pêra  a  índia.»  Ibidem,  cap. 
18. 


Gastou-se  nisto  o  cáp.-vço  quo  o  dourado 
Planeta  p6z  na  usada  sua  carreira, 
VOL.  Y.  —  122. 


Maa  quando  elle  nas  ondaa  descansado 
Fez  que  mostrasse  a  irtnàa  a  luz  primeira, 
A  fusta  só  quo  tiaha,  com  recado 
A  Goa  ao  Ví^o-Rei  manda  o  Silveira, 
E  netla  oa  que  a  doença  grave  e  dura 
Necessitados  fez  alli  de  cura. 

FRANCISCO  d'aNDHADB,    PRIMEIKO   CEBCO  de   DIU, 

cajit.  14,  est.  IG. 


Quando  o  illustro  Silveira,  que  em  si  tinha 
Da  fortaleza  a  summa  dignidade, 
(Como  ja  disse  atraz  a  historia  rainha') 
Huma  fusta  mandou  còm  brevidade 
A  Goa  ao  Fiso-Rei,  ao  que  convinha, 
Onde  alguns  que  a  grave  enfermidade 
De  cur.T.  tinlja  assaz  necessitados 
Mandou  também  que  lá  fossem  levados. 
IBIDEM,  cant.  16,  est.  9. 


VISORIO,  A,  adj.  Vid.  Visual. 

—  N^ervos  visorios  ;  nervos  ópticos,  que 
sào  como  instrumentos  de  vèr. 

VÍSOURO,   s.  Jrt.  Vid.  Besouro. 

VISQUEIRA,  s.  /.  Termo  de  botânica. 
Herva  áu  Brazii,  conhecida  por  este  no- 
me. Vid.  Visqueiro. 

7  VíSSE.  Forma  do  verbo  vêr  na  pri- 
meira ou  terceira  pessoa,  do  singular  do 
pretérito  mais  que  perfeito  do  modo  con- 
junctivo.  Vid.  Vêr.  —  ^Mas  como  visse 
a  pouca  mudança,  que  tudo  fazia  nella, 
posta  no  equleo,  ou  cavalete,  lhe  quei- 
marão de  novo  as  vazias,  e  covas  dos 
braços  com  tochas,  sem  a  Sãta  dizer  mais 
que  o  verso  de  David.»  Monarchia  Lu- 
sitana, liv.  õ,  cap.  22.  —  «Porem  como 
Albayzar  o  visse  já  mui  fraco  e  aquei- 
las  ser  as  derradeiras  mostras  do  que  po- 
dia fazer,  indinado  e  manencorio  de  se 
vêr  assim,  o  tratou  tão  mal,  que  em  pou- 
co espaço  desfalecido  do  sangue,  e  des- 
emparado  do  sentido  cahiu  a  seus  pés.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  84. 

Diz  hum  que  como  a  luz  da  manhã  vissem, 
Os  passariào  sem  duuida,  c  que  esperem. 
Que  trarão  juntamente  outro  nauio 
Para  ser  a  passada  com  mais  pressa. 
O  que  o  Cafre  promete  aceoita  o  Sousa, 
Torna-se  a  recolher  o  tempo  aguarda, 
E  em  quanto  a  noite  vay  por  seus  espaços 
Passando  pontos,  horas,  e  momentos. 

COBTBKEAX,NADFRAGIO  DE  SEPni.VEDA,  Caut.   15. 

—  «E  ao  longo  do  mar  nos  lugares  de 
suspeita  poz  outros  Capitães  com  arti- 
Iheria  necessária,  e  o  Príncipe  seu  filho, 
e  o  genro,  cada  hum  com  seu  corpo  de 
gente  haviam  de  acudir  onde  vissem 
maior  pressa,  e  elle  ficava  pêra  quando 
o  mal  fosse  muito  acudir  com  outro  cor- 
po de  gente,  que  havia  de  estar  com  elle 
em  guarda  de  sua  pessoa  com  os  Ele- 
fantes de  seu  estado.»  Barros,  Década  2, 
liv.  6,  cap.  3.  —  «Acabada  de  segurar 
esta  serventia,  mandou  Affonso  d'Albo- 
querque  a  Manuel  d' Acosta,  que  era  Fei- 
tor de  toda  a  Armada,  que  levasse  toda- 
las  mercadorias  que  tinha,  e  se  mcttesse 
na    fortaleza,    porque  vissem  os  Mouros 


que  também  havia  de  servir  de  casa  de' 
commercio,  como  de  fortaleza.»  Ibidem, 
liv.  10,  cap.  3.  —  "Ao  que  loão  Macha- 
do respondeo  que  por  aquelle  dia  ser  o 
que  03  Mouros  solemnizauão,  lhe  parecia 
virem  elles  mães  a  folgar  que  a  outra 
cousa;  e  qiianto  ali  vir  Roztomocan,  não 
via  bandeira  sua:  porém  porque  elles 
costumauão  encorporarse  ás  duas  Amo- 
res, tanto  que  os  visse  em  hum  corpo 
onde  se  auião  de  ajuntar  os  de  cauallo 
com  os  de  pé,  saberia  dizer  se  vinha  ali.» 
Idem,  Década  7,  liv.  2,  cap.  4.  —  «On- 
de perante  todolos  CarJeaes,  e  embaixa- 
dores que  estauam  em  Roma,  recebeo  o 
presente  do  Pontifical,  e  outras  jóias,  o 
que  andou  de  mam  em  mam,  sem  ficar 
Cardeal,  nem  embaixador  que  o  nam  vis- 
se com  espanto.»  Damião  de  Góes,  Chro- 
nica  de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  56. — 
«E  dom  (iuterrrez  pesandolhe  da  hida  do 
irmão,  e  aueodo  por  cousa  certa  a  morte 
dei  Rey  com  que  sua  Lida  seria  escusada, 
lhe  mandou  pedir  muyto  que  antes  de  se 
partir  se  visse  com  elle  em  Cezimbra, 
onde  se  virão,  e  dom  Guterrez'  por  lhe 
não  descubrir  a  causa  principal  de  seu 
fundamento  lhe  disse,  que  o  mandara 
chamar  sentindo  muyto  seu  despedimen- 
to, e  partida,  e  llie  pedio  mUyto  que  es- 
tiuesse  alh'  alguns  dias,  nos  quais  tra- 
balharia remediar  com  eí  Rey  seus  agra- 
uos,  com  tjue  sua  hida  se  escusasse.» 
Garcia  de  Rezende,  Chronica  de  D.  João 
II,  cap,  53. 

Ora  i-vos  para  cima, 

que  por  estas  que  elle  o  pague. 

Quem  o  visse! 

Oxalá. 
AUTOsio  PRESTES,  AUTOS,  pag.  4-35. 

—  «Se  visses,  que  um  homem  ofíen- 
dia  gravemente  a  outro,  que  estava  in- 
nocente:  como  lho  estranharias?  E  âe 
sobre  innocente,  fosse  amigo;  sobre  ami- 
go, bemfeitor?  O  zelo  te  acenderia  o  co- 
ração em  dezejos  de  vingança.»  Padre 
Manoel  Bernardes,  Exercícios  espirituaes, 
pag.  8õ. 

VISTA,  s.  /.  O  acto  de  vêr. 

—  Faculdade  de  vêr,  a  dos  cinco  sen- 
tidos que  tem  por  órgão  o  olho. —  «A 
qual  suspeita  era  assi,  porque  não  seria 
Aires  da  Silva  tornado  a  este  lugar  quan- 
do sentio  o  rumor  da  gente  que  vinha 
nas  jangadas ;  e  porque  o  escuro  da  noi- 
te, e  chuva  lhe  não  dava  vista  pêra  as 
commetter,  converteo-se  a  mandar  tirar 
com  artilheria  a  esmo,  onde  sentiram  o 
rumor,  que  causou  não  se  mudarem  os 
Mouros  donde  estavam,  o  que  aproyeitou 
muito  pêra  se  salvarem.»  Barros,  Déca- 
da 2,  liv.  6,  eáp.  8.  —  «Em  nossa  com- 
panhia hia  hum  negro  cego  dãbos  03 
olhos,  que  se  persuadião  sem  falta  toma- 
ria cõ  vista,  tal  he  a  opinião  em  que  os 
tem.  Depois  de  todos  sabidos,  entrey  nel- 


970 


VIST 


VIST 


VIST 


les,  nos  quaus  iiilo  ostiuo  mais  que  »eU 
credos,  assi  por  sua  quentura  fíraadissi- 
ma,  couiu  polo  pus.iiiuo  clioyi^u  de  inarc- 
zia,  e  enxofre  (pie  dellus  siiliia.»  Fr.  (las- 
par  de  8.  Bornardinu,  Iliaerario  da  la- 
dia,  cap.  12. 


Jn  do  mar  o  da  terra  go  não  sontc 
Sonilo  8''  da  bombarda  a  cruel  ira, 
Tudo  flrtcondc  a  fumaça  noRra  ardente, 
Kiicobro  o  Sol,  a  vlntn  ao»  olho*  tira. 
O  douto  bombardeiro  diligente 
Não  sabu  aondo  aponta,  ou  aonde  atira, 
No»  navioi  o  ferro  e  fogo  ho  tanto 
Que  causa  morto  n'hun8,  n'outroi  espanto. 

PSANCI8C0    d'aNORADI!,    PBIMKiaO     CKRCO   DB   DIU, 

ouut.  2,  est.  53. 


—  Os  olhos,  o  org3o  da  vista.  —  A  vis- 
ta não  me  engana. 


E  segundo  o  que  dolle  agora  entendo. 
Se  a  vista  não  m'engana  o  pensamento, 
Ou  do  vãa  phantasia  estou  pendendo ; 
Quando  fura  maior  o  grão  toruicuto, 
Quo  Soliâo  padece,  não  pudera 
Igualar-se  com  seu  merecimcuto. 

CAM.,  EOLOQA  15. 


Num  monte  estA  meu  cuidado : 
E  ou  posto  aiiui  noutro  monto. 
Como  passarei  sem  ponte? 
Tudo  quanto  a  x-ista  alcança 
Coberto  de  males  vejo  : 
Dilqucm  tica  meu  dezojo, 
E  dálom  minha  esperança. 
Esta  continua  me  cança, 
Porque  está  sempre  defronte  : 
Como  passarei  som  ponto? 

KBANCISCO  R0DBIOUE3   LOBO,   PMIUVKIIA. 


—  «Divertia-se  a  vista  do  alto  de  uma 
varanda  que  dava  sobro  o  rio,  com  vôr 
bandos  de  gar^^aa  muito  alvas  e  outros 
de  goarazes  encarnados,  ja  pysamarelloa  e 
pretos  e  outra  muita  variedade  de  pás- 
saros.* Bispo  do  Grão  Pará,  Memorias, 
publicadas  por  Camillo  Castello  Brauco, 
pag.  193. 

—  A  vista  de;  em  presença  de.  —  «Es- 
tava o  lugar  da  ermida,  e  está  hoje  à 
vista  do  moute  em  quo  olRey  vivia,  e 
posto  quo  a  memoria  donde  vou  tirando 
as  forças  deste  sucesso,  o  nào  especifi- 
que, de  crer  he,  que  se  veriaõ  muytas  ve- 
zes, e  teriaõ  colóquios  tão  Divinos,  como 
a  vida,  e  santidade  do  lugar  o  pedia, 
avendo  de  poriucvo  as  grandes  tontaçoens 
do  Demónio.»  Monarchia  Lusitana,  liv. 
7,  cap.  3.  —  X  Assim  sairam  do  porto  do 
Constantinopla  á  vista  do  povo  que  do 
novo  chorava  sua  desventura,  estimando 
por  gravo  cousa  tó  os  ossos  de  seus  prín- 
cipes lhe  não  deixarem  possuir.»  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  171.  —  «Assentando  o  arrayal,  man- 
dava se  posessom  oscutíis,  e  quo  mar- 
chando fossem  sempre  as  batallias  humas 
à  vista  dos    outras  j  o  que  as  Bandeiras 


dos  Fidalgos  aenaS  estendessem,  salvo 
(|uando  se  soltasse  a  Il'>al.i  Scverim  de 
Faria,  Noticias  de  Portugal,  Disc.  2, 
cap.  8.  —  «O  sitio  da  (jual  [K>r  Bcr  á 
borda  da  praya  c5  huin  jjouso  em  que 
UA  nossas  uaos  ao  abrigarão  do  tempo 
que  trazião :  a  fazia  ainda  inacs  fermosa 
â  vista  dos  ncssos.»  Barro;-<,  Década  'J, 
liv.  2,  cap.  1. —  «E  juntauicnto  pêra 
quo  nos  ensinasse  nam  auorrecer  a  mor- 
te, nam  quer  chamar  à  sua  morte,  mas 
passamento  deste  mundo  ao  padre,  c  pê- 
ra quo  daqui  aprendêssemos  que  a  morte 
dos  verdadeiros  Christãos  nam  era  aca- 
bamento de  vida,  mas  pa.ssamcnto  de 
desterro  e  perigrinaçam  à  presença  e 
vista  do  padre  celestial,  acabamento  de 
vida  tri.-fte,  c  chea  de  misérias,  à  vida 
immurtal  o  gloriosa.»  Fr.  Bartholomeu  dos 
Martyres,  Catecismo  da  doutrina  christã. 
—  «O  certo  he  que  estes  Médicos  sai)  taõ 
conhecidos,  e  famigerados  nas  suas  Medi- 
cinas, que  justimcnte  nos  naõ  quizeraò 
participar  o.s  plausíveis  successos  das  suas 
curas;  porque  se  porsuadirai},  (avista  -Io 
celebre  nome  quo  actualmente  lograõ) 
qu»  naò  necessitaõ  dos  impulsos  da  nos- 
sa pena,  para  os  voos  da  sua  Faina. » 
Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal  medico, 
pag.  22õ. 

—  A'  siinples  vista ;   com  o  olhar  des- 
armado, sem  auxilio  de  instrumento. 


Oh  sublime  delirio  !  A  Mente  acccsa 
Kompo  os  estreitos  círculos,  qnc  ao  Mundo 
A  núa,  e  simples  vista  lho  assignúla 
Tuutoj  Astros,  e  Soes,  tantos  Phinctas 
Da  vida  habitação,  qual  gira  a  Terra. 

J.    A.    DF.   MACr.DO,  A   IIATLIIF.ZA,  Caut.    1. 

—  Termo  de  thcologia.  A  vista  de 
Dens ;  estado  dos  bemaveuturados  que 
vêem  a  Deus. —  «Assi  como  também  a 
justiça  requere,  que  os  danados  nam  soo- 
mentc  sejam  castigados  na  alma,  e  lan- 
çados perpetuamente  da  vista  de  DEOS, 
e  postos  em  estado  de  infinita  tristeza  e 
agonia,  mas  tam  bem  seus  corpos  que  fo- 
ram instrumentos  nos  peccados,  e  por 
cujos  torpes  apetites  e  deleytes,  as  almas 
se  perderam,  sejam  também  rigurosamen- 
te  atormentados  no  fogo  eterno.»  Frei 
Bartholomeu  dos  Martyres,  Catecismo  da 
doutrina  christã.  —  «  Qual  he  a  moUier 
que  estando  longe  apartada  de  seu  mari- 
do, ou  mãy  do  filho,  nào  folgue  de  ouuir 
nouas  delle,  sem  se  nunca  enfadar?  Fois 
como  he  possiuel  tor  amor  a  Deos,  do 
cuja  vista  estamos  tiim  alongados,  c  nam 
folgar  muyU)  do  ouuir  nouas  delle"?  Não 
sam  outra  cousa  as  sanct.aa  doutrinas  o 
pregações,  senam  humas  nouas  quo  nos 
dam  de  Deos,  e  da  gloria  celestial,  e 
dos  que  noUa  com  Deos  rciuào.»  Ibidem. 

—  O  próprio  olhar. 

Inlindoã  Entes  nào  sabidos  mostra, 
Impalpáveis  áa  màos,  c  á  vista  ignotos, 


O  Ctmpo  kzul  dot  Cco»  noa  aproxima 
R  torua  08  bomonji  Cidadilos  doii  Astros. 

J.   A.    Dl   MACEDO,  A  «AIL-sr.ZA,  CaOt.    2. 

Deste»  soberbo»  e  natum<Mi  Colo*«o» 
Mil  ben»  o  Ktertio  Artificfl  no»  manda, 
SAo  daH  aguas  duposit/jn  per>rniUM 
Dos  niio  doctOfi  inortaes  a  ruía  oecoltoe, 
K  «em  cemar  as  liquido»  corrente» 
Dellen  brotio  na  terra  árida  c  dura. 


—  A  vista  do  hijrror;  conservando  o 
olhar  sobre  o  horror.  —  «Os  aeua  Cams- 
radas,  ainda  que  tremendo,  o  íizerSo  ao- 
bir;  não  com  a  pressa  necessária  naquel- 
le  cazo,  mas  com  a  diligencia  que  po'le- 
rão  executar  á  vista  do  horror  eni  que 
ae  achavão.»  Cavalleiro  de  Oliveira,  Car- 
tas, liv.  1,  n."  15. 

—  O  aspecto,  presença.  —  cE  desta 
maneira  andou  per  todalas  ruas  princi- 
paes  da  cidade  até  chegar  as  casas  onde 
ae  fazia  a  fortaleza,  porque  alli  o  estava 
aperando  dom  Fraiicisco  dalmcida  no 
terreiro,  cm  hum  aidafalso  emparamen- 
tado  de  panos  douro,  e  de  seda,  no  qual 
lugar  a  vista  de  todo  o  povo,  e  de  mais 
da  nobreza  daquella  cidade.»  Damião  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  2, 
cap.  2.  —  «E  08  homens  que  as  espevi- 
tavam cubertos  de  di»  sem  lhe  parecer  os 
rostos,  e  assi  todalas  outras  cousas  ne- 
cessárias em  grande  comprimento,  e  abas- 
tança  com  muyta  perfeiçam  quanta  po- 
dia ser,  e  era  cousa  tam  triste  so  a  vista 
que  qucbraua  os  coraçõi-s  quanto  mais  a 
causa  porque  se  fazia  de  todos  era  em  es- 
tremo sentida.»  Garcia  de  Rezende,  Chro- 
nica de  D.  João  II,  cap.  133.  —  «E  quan- 
do achou  hum  soo  filho  que  tinha,  que 
criara  com  tanto  amor,  tanto  receo,  tan- 
to contentamento,  por  ser  o  mais  singu- 
lar Príncipe  que  no  mundo  se  sabia,  em 
quo  SC  el  Rey  reuia,  e  queria  t3o  grande 
bem  que  hum  so  dia  não  podia  estar  sem 
o  ver,  nem  tinha  outro  degcanso,  senão 
sua  muyto  estimada  vista,  e  conuersa- 
ção,  ficou  em  tão  grande  estremo  triste, 
e  desconsolado,  que  se  não  podia  dizer, 
nem  cuydar,  dizendo  sobre  o  filho  tantas 
lastimas,  e  palauras  de  tanta  dor,  e  tris- 
teza, que  o  não  podia  ouuir  ninguém  sem 
muytas  e  tristes  lagrimas.»  Ibidem,  cap. 
132.  —  «Aqui  acodio  o  Vigário  João  Coe- 
lho com  hum  Christo  arvorado,  dizendo, 
que  aqueile  Deos,  cuja  causa  dcfendião, 
era  o  Author  das  victorias;  com  cuja 
vista  alentados  aqucUes  fieis,  e  fortes 
companheiros,  parecia  que  obravão  com 
forças  mais  que  liumanas.»  Jacintho  Frei- 
ro  de  Andrade,  Vida  de  O.  João  de  Cas- 
tro, liy.  2. 

—  A  vista  d'tst<t*  verdadtê;  attenden- 
do  a  estas  verdades,  considerando-as 
bem.  —  «A  vista  pois  destas  verdades 
forme  a  alma  comsigo  cíte  argumento: 
se  os  beuoficios  de  Deos  para  comigo  saõ 
taõ  grandes,  e  se  o  não  corresponder-lhe 


VIST 


VIST 


VIST 


971 


he  vicio  taõ  abominável :  quam  abominá- 
vel cousa  será  em  lugar  de  render  a 
Deos  graças,  offendello  com  agravos?» 
Padre  Manoel  Bernardes,  Exercicios  es- 
pirituaes,  pag.  104. 

—  O  aspecto  que  as  cousas  offerecem. 


Suave,  deleitosa,  alegre  vista, 
Donde  pendia  toda  a  minha  glória, 
Por  quem  na  mór  tristeza  fui  contente; 
Quando  será  que  veja  aquelle  dia 
Em  que  deixe  de  vèr  tão  grav£  darano, 
E  em  que  me  deixe  tão  penosa  vida  V 

CiM.,  SEXTILHA  3. 


—  Letra  á  vista ;  que  se  deve  pagar 
logo  ao  apresentante.  —  «E  eis  aqui  pa- 
pel, e  tinta,  e  lanterna  de  furta  fogo,  e 
he  de  noite;  com  todo  o  encarecimento  a 
sua  mulher,  ou  ao  seu  caixeiro,  que  en- 
tregue logo  logo  à  vista  ao  portador  dous 
mil  cruzados  em  ouro :  e  assim  se  estaõ 
a  pé  quedo,  até  que  volta  hum  delles 
com  a  resposta  em  eífeito.»  Arte  de  fur- 
tar, cap.  23. 

—  A  vista ;  presente. 

Ao  ar,  ao  portamento,  á  vista,  ao  moto 
Súbito  conlieci  que  os  Sábios  crão, 
Que  as  sempiternas  Leis  da  Natureza 
Era  pró  dos  outros  conhecer  tentarão. 

J.   A.   DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,  Caut.    1. 

Ou  quando  polo  rúbido  Oriente 
Hum  dourado  Listão  se  observa  apenas, 
Núncio  do  Sol,  que  fulgurante  assoma 
Poucos  momentos  se  demora,  á  vista. 


—  Passar  uma  nau  á  vista  da  terra; 
passar  próximo  da  terra,  avistando-a.  — 
«Era  isto  no  mez  de  Fevereiro  em  que 
cursaõ  os  ventos  Xamais,  que  saõ  os  No- 
roestes, que  dentro  naquelle  Estreito  saõ 
muv  tormentosos,  e  assim  teve  a  Arma- 
da tanto  trabalho  que  esteve  perdida 
com  huma  tormenta  desfeita  que  lhes 
deu,  com  que  correrão  com  velas  peque- 
nas ate  defronte  de  Mascate,  e  sendo 
vista  a  Armada  da  terra,  lhe  sahio  Fer- 
não Dias  César  em  hum  Terranquim,  e 
disse  a  D.  Antaõ  de  Noronha  que  o  dia 
dantes  passarão  as  duas  galez  á  vista  da 
terra.»  Diogo  de  Couto,  Década  6,  liv. 
10,  cap.  10. 

—  Perder  de  vista;  não  descobrir 
mais,  não  enxergar  mais. 

Porem  hoje  que  o  dezejo 
Não  acha  quem  lhe  resista, 
Pois  que  te  perdeu  de  vista 
Sente  o  mal  em  que  me  vejo : 
Deixa,  deixa  o  pasto  estranho, 
Torna  ao  teu  natural; 
Se  não  te  obriga  meu  mal, 
Lembre-te  o  do  teu  rebanho. 

T.   SODRIGDES  LOBO,  PRIMAVERA. 

Corro  apoz  este  bem  que  não  se  alcança ; 
No  meio  do  caminho  me  fallece; 
Mil  vezes  caio,  e  perco  a  confiança. 


Quando  ello  foge,  cu  tardo;  c  na  tardança, 
Se  03  olhos  ergo  a  vèr  se  inda  apparece. 
Da  vista  se  me  perde,  e  da  esperança. 

CAM.,  SONETOS,  n.°  48. 


—  «Para  abator-lhes  o  orgulho,  tinha 
Sesostris  assentado  cortar-lhes  o  commer- 
cio  em  todos  os  mares;  e  por  elles  cru- 
savam  suas  armadas  á  caça  dos  Pheni- 
ces.  Fomos  pois  encontrados  d'uma,  a 
tempo  que  perdíamos  de  vista  as  monta- 
nhas da  Sicília :  parecia  que  o  porto  e  a 
terra  nos  iam  fugindo,  e  se  mettiam  pe- 
las nuvens;  quando  attentamos  que  vi- 
nham para  nhs  as  naus  egypcias,  figu- 
rando uma  cidade  errática.»  Telemaco, 
traducção  de  Manoel  de  Sousa,  e  Fi-an- 
cisco  Manoel  do  Nascimento,  liv.  2. 
—  «Conheceu  o  author,  a  fundo,  o  cara- 
cter do  theatro.  Se  o  judeu  António  José 
soubesse  as  regras  tiieatraes,  e  aprovei- 
tasse seu  grande  engenho,  seria  um  dos 
primeiros  homens;  mas  a  ignorância  e 
falta  de  probidade  fizeram  que,  attentan- 
do  somente  em  fazer  rir,  perdesse  de  vis- 
ta o  aproveitar.»  Bi.-jpo  do  Grão  Pará, 
Memorias,  publicadas  por  Camillo  Cas- 
tello  Branco,  pag.  120. 


Quantos  dias  comtigo  o  Nauta  ousado, 
Qu'  apoz  o  Gama  foi  dar  leis  no  Hydaspe, 
Lutou  no  mar  incógnito !  Da  vista 
Os  claros  Ceos  perdeo,  a  esteira  o  rumo 
Attonito  deixou. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  CaUt.  1. 


Esconder-se    á    vista ;     desappare- 


Em  ti  milhões  de  fulgurantes  globos 
Caminhão  sem  obstáculo  guardando 
Invariáveis  Leis.  Certo  o  momento 
Tem  do  mostrar-sc,  de  esoonder-se  &.  vista. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  HATDEEZA,  Caut.  1. 

—  Não  perder  alguém  de  vista ;  vi- 
gial-o  cuidadosamente. 

—  Perder  a  vista ;  perder  a  luz  dos 
olhos.  —  «O  qual  estado  de  todo  prestes 
teue  hum  accidente  de  vagado  cõ  que 
perdeo  a  vista,  de  maneira  que  esteue 
muito  tempo  sem  a  cobrar :  e  foi  no  se- 
guinte anno  de  quinhentos  e  seis  como 
veremos.»  Barros,  Década  1,  liv.  8,  capi- 
tulo 3. 

—  Perder-se  a  vista  ;  confundír-se  a 
vista. 


AUi  do  claro  Apollo  o  lume  ardente 
Nunca  descoalha  a  neve,  ou  quebra  o  gelo; 
Dalli  se  perde  a  vista,  ou  se  deslumbra 
Sc  03  precipícios  hórridos  contempla. 

J.  A.  DK  MACEDO,  A  NATUREZA,  Caut.  2. 


Entre  cabeços  d'orgulhosos  montes 
Tu  não  vês  profundissimos  abj-smos, 
Onde  a  vista  se  perde,  ou  so  deslumbra  V 

IBIDEM. 


—  Roubar  da  vista;  desapparecer,  per- 
der-se de  vista,  confundir-se. 


E  sombra  repentina  os  Ceos  enluta, 
Vôa  espantosa  noite,  e  prematura 
Pousa  nos  ares  liquides,  o  rouba 
Da  vista  os  claros  Ccoa,  da  vista  o  Mundo. 

J.  A.  DE  UAOEDO,  A  NATUREZA,  Caut.  1. 

—  Fugir  da  vista ;  desapparecer,  per- 
der-se. 

Envolto  de  continuo  em  manto  escuro 
De  hum,  como  a  noite,  espesso  nevoeiro. 
Da  i-i.sto  nos  fugio  brilliantc,  c  puro, 
Baliza  cm  Polo  austral,  vivo  cruzeiro : 
Té  que  o  véo  sepulchral  medonho,  impuro 
Eompe  do  mundo  avivador  Luzeiro, 
Esta,  incógnita  a  nó3,  torra  tociimos, 
E  aqui  dos  homens  a  pegada  achámos. 

J.    A.    DE   MACEDO,   O   ORIENTE,   Cailt.    5,   CSt.    37. 


—  Furtar  d  vista ;  tirar,  fazer 
parecer  dos  nossos  olhos. 


Se  a  nossos  olhos  foge,  eia  não  culpes 
De  indócil  o  Cometa,  a  grossa  nuvem, 
O  ar  sombrio,  e  denso,  os  áureos  raios 
Do  luminoso  Sol  ã  vi-fta  o  furtâo. 

J.    A.    DE   M.ICEDO,   A   NATUREZA,    CaUt.    1. 


—  As  vistas  d' alguém;  os  seus  inten- 
tos, projectos,  planos,  respeitos,  dese- 
nhos ;  as  suas  miras,  o  seu  fito,  o  alvo 
dos  seus  planos.  —  «Tanto  que  passarão 
estas  vistas,  quis  o  Almirante  escreuer 
ao  Camorij  por  lhe  confundir  seus  pro- 
pósitos e  artificies.  D  Barros,  Década  1, 
liv.  6,  cap.  4. 

—  Dar  uma  vista;  vêr  de  passagem. 
—  «ElRey  cõ  palauras  de  muito  agrade- 
cimento estimou  aquella  sua  vinda  di- 
zendo ser  verdade  o  que  se  dizia,  mas 
como  era  no  principio  do  inuerno  em 
que  o  Camorij  não  aula  de  mouer  senão 
passado  elle,  era  escusada  sua  presença 
que  bem  poderia  dar  huma  vista  à  cos- 
ta da  Arábia  pêra  onde  dizia  que  estaua 
de  caminho.»  Barros,  Década  1,  liv.  7, 
cap.  2.  —  (iRuy  Lourenço  como  foi  in- 
formado d'elRey  destes  seus  trabalhos  e 
da  causa  delles,  ordenou  logo  com  elle 
que  com  a  sua  nao  queria  ir  dar  huma 
vista  ao  porto  de  Mõbaça.»  Ibidem,  capi- 
tulo 4. 

• — As  vistas;  os  olhos. 

• — Vista  da  carta;  o  sobrescripto. 

—  Cidade  forinosa  de  vista ;  cidade 
linda  á  vista.  —  «A  qual  cidade  de  Adem 
he  formosa  de  vista,  e  de  bons  edeficios, 
po.^íta  ao  pe  de  huma  serra  que  se  vem 
meter  no  mar,  na  ponta  da  qual  esta  si- 
tuada, e  tão  cercada  de  agoa  que  fica 
quasi  em  ilha,  a  serra  he  tão  seca,  que 
nam  nasce  nella  erua,  nem  aruore  por 
sor  toda  de  rocha  viua,  e  nam  chouer 
nesta  terra  se  não  de  dous  cm  três  an- 
nos.»  Damião  de  Góes,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  3,  cap.  43. 


972 


V18T 


VIST 


VLST 


.  —  Projecto,  <io3Ígiiio.  —  «Na  qual  vis- 
ta oiiuo  grauilo.i  contirmações  ilo  jjaz,  ft 
oífort:i8  ilelliey :  dizendo  oUo  qiic  todo 
seu  estado,  o  pos.soa  d'aíiuelle  dia  pêra 
sempre  eilo  o  Hobijicttia  à  vontade  d'ol- 
Rey  de  Portugal,  uoiuo  do  maon  poileni- 
so  Príncipe  da  torra.»  Uarros,  Década  1, 
liv.  f),  cap.  :i. 

—  iSois  uiwt  vista  que   ainda  não  vi. 


Como  i  coníiado  ein  ai ! 
parcco-mc  c|uc  quor  que  o  gabem: 
Boís  uma  vista  que  cu  não  vi 
aiuda  outra  vista  assi, 
fciMuodo  poucod  o  sabein. 

ANTÓNIO  l'BBSTH8,  AUIOS,    pag.   3BÕ. 


—  Ajiartar-vw  d'aquMa  vista. 


Oh  tiitiU^,  oh  tenebroso,  oh  oruol  dia, 
Amauliecido  si')  para  meu  damno ! 
Pudeste-mc  apartar  daquolla  vinta 
Por  quem  vivia  com  meu  mal  contente  'i 
Ah  He  o  aupromo  foras  doata  vid:i, 
yii'cm  ti  se  comcçiira  a  rainha  glória  ! 

CAll.,  SEXTILHA  3. 


—  A  vista  do  elmo ;  o  logar  por  onde 
o  armado  com  elle  via;  era  uma  espécie 
do  óculo,  ou  íi:radc,âinlia,  ou  rede  que  de- 
fendia o  boto  da  arma  por  alli. 

—  Figuradamente:  Perdar-se  de  vista 
o  (jue  jica  fora  do  alcance  d'ella;  descui- 
dar-se,  divertir-se,  fazer  digressão. 

—  Falta-lhe  uma  vista;  falta-llie  um 
olho. 

;  —  Faculdade  de  vêr,  de  examinar. 

—  Loc. :  Estar  á  vista;  estar  patente. 

—  Seusa^^ão  que  recebe  quem  vô. 

—  Figuradamente:  A  vista  do  enten- 
dimento. 

—  A  primeira  vista ;  ao  primeiro  as- 
pecto, na  primeira  apparencia,  ou  mos- 
tra. 

—  Loc.  :  Vêr  todo  o  objecto  a  uma  vis- 
ta ;   vcl-o  d'uma  vez,  não  parcialmente. 

—  Estar  á  vista ;  estar  onde  a  vista 
alcança  manifesta  o  claramente. 

—  A  vista  d'isto,  ou  visto  isto;  exa- 
minado e  sabido  isto. 

—  Óculos  de  longa,  ou  larga  vista ; 
óculos  de  vêr  ao  longe. 

—  2'er  á  vista;  ter  presente. 

—  O  objecto  que  so  vê. 

—  KxtcusiXo  do  que  se  pode  ver  do  le- 
gar em  que  se  estil. 

—  Modo  como  os  objectos  se  apresen- 
tam á  vista.  —  Uma  vista  de  lado.  — 
Uma  vista  de  baixo  para  cima. 

—  Quadro,  estampa,  imagem  que  re- 
presenta un)  logar,  um  palácio,  uma  ci- 
dade. —  Vista  de  Roma.  —  Vista  de  Lis- 
boa. —  Vista  de  Coimbra, 

—  Vista  longa ;  diz-so  dos  olhos  que 
distinguem  os  objectos  a  uma  grande 
distancia. 

—  Vista  curta,  a  que  se  dá  também 
o  nomo  de  r.iyopia,  ou  myopismo ;  diz-se 


dos  olho»   que  só   distinguem  o»  objectos 
a  curtas  difltancias. 

—  Ter  a  vista  turva ;  nilo    vrr  claro. 

—  Figuradamente  :  Dar  na,  vista  ;  ex- 
citar a  atterii;?lo,  o  desejo,  a  ambirJIo. 

—  Figuradamente  :  Dar  jic*  vista  ;  le- 
rir,  impressionar  por  um  brilho  agradá- 
vel. 

—  Figuradamoute  :  Ter  a  vista  sobre 
alguém;  vigiar  coiistantcmonto  sobre  a 
sua  conducta. 

—  Jaiiella,  abertura  d'uma  casa  pela 
qual  80  vê  para  os  logarcs  visinhos. 

—  Fim  a  que  se  jiropõe,  c(jiitíidera(;ão. 

—  Figuradamente:  A  vista  de  Deus; 
a  lembrança  incossantemoute  presente  de 
Deus. 

—  Figuradamente  :  Diz-se  do  espirito 
que  vê  as  cousas  intellcctuaes,  como  o 
corpo  vô  as  cousas  materiaes. 

—  Tev  as  vistas  em  alguma  cousa ; 
ter  desejos,  desejar  alcanyaí-a. 

—  Modo  de  vêr,  opinião,  parecer. 

—  Idêas,  exposi(;ão  sunimaria. 

—  Ponto  de  vista ;  ponto  ao  qual  a 
vista  se  dirige,  ou  aonde  pára. 

—  Figuradamente:  O  espirito  não  tem 
senão  um  ponto  de  vista,  <£ue  é  o  ceu ; 
fora  dalii,  nada  o  inquieta. 

—  Termo  do  perspectiva.  Ponto  de  vis- 
ta ;  logar  preciso  onde  é  mister  coUocar- 
se  para  mellior  vêr  um  objecto. 

—  Ponto  de  vista ;  o  ponto  que  o  pin- 
tor ou  o  desenhador  escolhe  para  pôr  os 
objectos  em  perspectiva,  e  para  o  qual 
dirige  todos  os  raios  que  partem  do  olho 
do  espectador. 

—  Conhecer  alguein  de  vista;  conhe- 
cel-o  por  o  ter  visto  sómento ;  conhecel-o 
de  rosto. 

—  Loc. :  Dar  uma  vista  de  olhos;  vêr 
de  passagem. 

—  .4íiVíi7-  á  vista ;  dirigir  o  tiro  ou 
bote  ao  rosto. 

—  Figuradamente:  Atirar  á  vista  do 
elmo ;  affrontar  muito. 

—  Figuradamente:  Ficar  alguma  cov^ 
sa  a  perder  de  vista  da  outra  ;  ter  uma 
differeuça  giaudissima. 

—  Loc.  ADV. :  Em  uma  visldi  d' ol/ios; 
em  um  momento,  instante. 

—  As  vistas ;  as  pinturas  da  sceua. 

—  O  logar  das  vistas ;  aquelle  era 
que  alguns  ajustai-am  eucoutrar-se,  ajuu- 
tar-se,  e  avistar-se. 

—  Fazer  a  vista  grossa;  tingir  que 
se  não  vê,  passar  por  alto. 

—  As  vistas  da  lanterna  ;  os  buracos 
com  vidraça  i>or  onde  sáe  a  luz. 

—  Loc. :  Dar  vista  á  praça,  cidade  ; 
apparecer  n'ella,  diante  d'ella,  dar  mos- 
tra de  si. 

—  Syn.  :  Vista,   aspecto, 

A  vista  nào  é  mais  que  a  acção  ma- 
terial dos  ollios  sobre  um  objecto;  o  aspe- 
cto suppõe  no  objecto  diversos  modos  de 
ser  visto. 

P(íde  vèr-se  uma   cousa  de  frente,  de 


lado,  por  detraz,  du  alto  a  baixo,  de 
baixo  para  cima;  sempre  é  a  mesma  cou- 
sa que  BC  vi:,  ainda  do  diíTcrentes  niodoR, 
a  que  chaiuamoH  aspectos.  Para  julgar 
bem  as  cousa»,  è  mister  vêl-a»  sub  todos 
08  aupectoH. 

VISTAR,  V.  a.  Termo  antiquado.  Vêr, 
revistar,  passar  revista. 

f  VISTE.  Fiirma  do  verbo  vtr  na  so- 
gun<ia  pottsoa  do  singular  do  pretérito 
perfeito  do  modo  indicativo.  Vid.  Vèr. 


(Vni  que  mágoa  ({i  Amor)  com  que  trÍHtczit 
Vixtf.  cerrar  aquoUc»  tum  fi-rmoso» 
Olho»,  onde  \'i%'iaH,  jXMioroíio» 
U'abrnndiir  com  sua  vista  a  mór  darez>  \ 
ANTÓNIO  FenuriBA,  SÚNF.TO  2,  pog.  4. 

Té  niàos  Impp.riaBB  rintr.,  />  Florença, 
Depondo  o  Sccptro,  tactcar  Cadinhoa, 
Tanto  pode  o  prazer,  pode  o  prestigio! 
Mas  se  dollcs  a  Purpura  não  foge, 
Fo;^em  por  certo  as  ?»Iusas  d'c8pantada8. 

J.    A.    DE  MACKDO,  VIAOEM   KXTATICA,   CUIlt.    4 


Pae,  contae,  que  vistei  lá? 
líofá  filho,  maravilhas, 
<iue  grande  terra  esta  qptá. 

ANTÓNIO  PHESTES,  AUTO»,  pftg.   373. 

VUle  Decio? 

Ochala  que  nunca  o  vira  ! 

OAKBETT,  CATÃO,  act.    3,   8C.    5. 


f  VISTIDURA,  s.  f.  Vid.  Vestidura. 
—  «Por  isso  lancemos  fora  as  obras  es- 
curas dos  peccados,  vistamo-uos,  e  armc- 
monos  de  claras  vistiduras,  e  obras  de 
luz,  como  conuem  aos  que  nam  andam  ue 
noyte,  senam  ■em  dia  claro,  despedindo 
de  nos  todas  as  desordenadas  deleytaçiles 
da  carne,  toda  demasia  de  comer  e  beber, 
toda  a  abominação  de  Luxuria  e  torpeza, 
toda  enueja,  todas  as  discórdias  e  diflfe- 
rença,s,  e  vestindonos  do  Senhor  losu 
Christo,  8.  de  suas  vnrtudes  e  custumcs. 
Esta  he  a  Epistola.»  Frei  Bartaolomeu 
dos  ^íartyres.  Catecismo  da  dontrina 
christã. 

1.)  VISTO,  part.  pass.  de  Vêr.  Perce- 
bido pelo  sentido  da  ■vista.  —  Um  espe- 
ctáculo visto  de  longe.  —  fDevese  prover 
com  toda  ililigencia,  o  cuidado,  quo  aquel- 
les  a  cujo  cargo  parece  estar  o  lugar  do 
governo,  não  se jào  vistos  fazer  afrõta  aos 
celcstiaes  Sacramentos,  porque  ncs  foy 
dito,  o  que  he  horrível  de  ouvir,  e  abo- 
minável para  crer,  que  alguns  sacerdotes 
levados  da  sacrílega  temeridade,  toroão 
os  vasos  do  Senlior  para  seu  próprio  ser- 
viço.» Monarchia  Lusitana,  lir.  6,  cap. 
27. —  «Mas  quis  sua  ma  fortuna  que  se 
foi  meter  em  hum  estreito  que  quando  a 
maré  vazou  ficou  em  secco:  e  vinda  a 
nienhari  em  que  o  batel  foi  visto  pelos 
Mouros,  acodiraõ  obra  de  dozentos,  onde 
fronçalo  de  Cintra  por  se  defender,  na- 
quella    vasa   pereceo   c5   estes    sete    ho- 


VIST 


VIST 


VIST 


973 


mems.»  Barros,  Década  1,  liv.  1,  cap.  9. 
—  «Affonso  crAlboquerque  porque  o  dia 
d'ante  tinha  visto  este  illieo,  e  temendo 
quo  delle  Ibe  po>!ia  vir  algam  dauno, 
mandara  a  elie  Atibnso  Lnpes  d'Acosta, 
e  António  do  Campo :  tanto  que  o  vio  fei- 
to hua  pinha  de  gente,  e  como  a  artelha- 
ria  delle  varejaua  a  ribeira,  tornouos  a 
mandar  que  o  cometessem :  e  elie  cõ  oa 
outro»  capitães  tornou  ao  longo  da  praya 
pêra  no  cabo  delia  vir  encaualgaudo  a 
terra,  e  dar  na  estancia  da  artelliaria 
que  estaua  sobre  o  porto,  poi-que  come- 
tella  de  rostro,  era  cousa  de  grade  pe- 
rigo.» Idem,  Década  2,  liv.  2,  cap.  1. — 
«íiSta  povoação  nào  loy  vista  atè  entaõ 
dos  nossos.  E  recolhendo-se  daili,  deraõ 
conta  ao  Capitão  do  que  viraõ,  e  do  mo- 
do da  povoação,  o  que  elie  estimou  muito 
saber.»  Diogo  de  Couto,  Década  tí,  liv.  9, 
cap.  12.  —  «Estevão  (iomes  Feitor  de 
Calayate,  que  atraz  deixamos  partido  pê- 
ra Goa  em  o  Terranquim,  ioy  atraves- 
sando aquelle  grando  golfo  atè  haver  vis- 
ta da  terra  de  Baçaim,  e  entrando  den- 
tro deu  recado  à  Cidade,  e  depois  de  to- 
mar agua,  e  mantimentos  partio  pêra 
Goa.»  Ibidem,  liv.  10,  cap.  5. —  «Che- 
gadas as  três  embarcações  a  pouco  mais 
de  tiro  de  besta  da  nossa  lorcha,  nos  ro- 
dearão por  popa  e  por  proa,  e  depois  de 
a  terem  muyto  bem  vista  se  tornarão  a 
ajuntar  como  que  de  novo  fazião  conse- 
lho, em  que  gastarão  pouco  mais  ou 
menos  ~  hum  quarto  de  hora,  e  após  isto 
se  dividirão  em  duas  partes,  as  duas 
embarcações  mais  pequenas  por  popa.» 
Fernão  Mendes  íinto.  Peregrinações, 
cap.  40.  —  «Ainda  que  não  sey  com 
quãta  razão,  porque  segundo  o  que  te- 
mos visto  e  lido,  assi  em  Ptolomeu  como 
nos  mais  que  escreverão  da  geografia, 
nenhum  destes  ouve  que  passasse  do 
reyno  de  Sião  e  da  ilha  Çaraatra,  senão 
sós  os  nossos  Cosmographos.»  Ibidem, 
cap.  143.  —  «Este  banquete  auia  de  ser 
em  huma  grande  casa  de  madeira  que  el 
Rey  pêra  isso  mandou  concertar  junto  da 
ponte,  no  qual  tempo  huma  Moura  Per- 
seana,  que  tinha  estalajem  na  cidade, 
mandou  dizer  a  Diogo  Lopez,  per  Duarte 
Fernandaz  alfaiate,  que  pousaua  em  sua 
casa,  e  sabia  a  lingoa  Pérsia,  que  lhe  que- 
ria fallar  em  segredo,  em  cousas  que  lhe 
muito  importaua,  pêra  o  que  eila  mesma 
iria  a  sua  nao  de  noite,  por  uam  ser  vis- 
ta dos  da  cidade,  se  lhe  elie  desse  para 
isso  licença.»  Damião  de  Góes,  Chro- 
nica  de  D.  àlanoel,  part.  3,  cap.  2.  — 
«Ha  qual  Torre  se  vela  de  noite,  e  de 
dia,  de  modo  que  nenhuma  vela  pode 
passar  sem  ser  vista,  e  obedecer  ás  sal- 
vas que  lhe  delia  fazem  com  a  artelha- 
ria,  nem  foi  menos  liberal  el  Roi  dom 
Emanuel  na  grandeza  destes  edifícios, 
que  no  seruiço  do  culto  diuino,  porque 
aos  Freires,  que  tinham  a  cargo  esta  ca- 
peila  de   Bethelem,   que  dali  mudou  por 


licença  do  Papa  a  Egreja  de  nossa  Se- 
nhora da  Concepçam  em  Lisboa,  que  fo- 
ra Synagoga  de  ludeus,  deu  rendas,  de 
que  viuem  abastadamente.»  Ibidem,  part. 
1,  cap.  53. 

Que  sérvio  de  envergonhalla ; 
I'ois  o  pejo  do  ser  vista,  . 
Inda  a  quem  ama,  acovarda  ; 
Erau  já  meus  pensamentos 
Taõ  clavo3,  que  alguns  tomavaõ 
Delles  matéria  de  lizo, 
E  olla  de  dc90ontían(;a3. 

í.    ItODRIGUES    LOBO,    O  DESENGANADO. 

—  «Muitas  vezes  se  exercitaõ  a  saltar 
com  grandes  pezos  na  boca  para  assim  se 
porem  disciplinados,  e  destros  para  os 
roubos;  de  hum  refere  Alberto,  que  foi 
visto  muytos  dias  tomar  na  boca  hum 
madeiro,  que  pezava  mais  de  quarenta 
arrates,  e  com  elie  saltava  sobre  o  tronco 
d«  huma  arvore;  e  vendose  já  ensayado 
naquella  prova,  hum  dia  se  escondeo  no 
mesmo  lugar,  a  tempo  que  passavaõ  huns 
Veados  pequenos;  e  fazeudo  tiro  a  hum 
que  lhe  pareceo  pezaria  pouco  mais  que 
o  madeiro  o  levou  na  boca,  e  subio  em 
hum  momento  à  arvore,  aonde  o  despe- 
daçou a  seo  salvo,  sem  os  outros  lhe  po- 
derem valer.»  Braz  Luiz  d'Abrcu,  Portu- 
gal medico,  pag.  583,  §  10.  — «Se  dous 
destes  Benzedores  se  avistarem;  e  sem 
nuuca  se  terem  visto  se  conhecerem ;  saõ 
detestáveis,  e  grandemente  suspeitos ; 
por  que  o  Demónio  costuma  assigualar  os 
seos,  com  certo  signal  a  modo  de  cica- 
trix,  a  quo  elles  por  devoção  infiel  cha- 
maã  commummente  Pegada  de  JS.  Ca- 
therina;  ou  Palma  de  tí.  Quitéria:  co- 
mo trás  Torrcblanca;  e  isto  para  os 
distiuguir  dos  bons,  e  marcar  como  es- 
cravos seos;  que  assim  o  ponderaõ  Ter- 
tualiano,  Remigio,  e  Binsfeldio.»  Ibidem,' 
pag.  621,  §  13Õ. 

—  Figuradamente :  Examinado,  obser- 
vado, sabido,  averiguado. 

O  rústico  Pão  leua  hum  bastão  grosso 

Do  seluatica,  dura,  secca  Anzinha  : 

Kaiuoso,  e  denodado  se  poem  jiuito 

Do  hum  passo  estreito  dude  o  esquadrão  chega, 

Agachado,  escondido,  como  quando 

O  besteiro  que  a  rcs  gauchoaa  espera 

La  no  tempo  da  brama,  em  certo  posto 

Examinado  delle,  e  de  antes  visto. 

COKTia    REAL,  NAUFBAGIO  DE  SEPÚLVEDA,  Cant.    9. 

—  «Esta  Ilha  Gamaram  está  em  altui'a 
de  quinze  gráos  da  parte  do  Norte,  e  tão 
vizinha  á  terra  firme  de  Arábia,  que  está 
vista  delia  per  espaço  de  huma  iegua;  he 
terra  muito  baixa,  e  parte  delia  alagadi- 
.ça,  e  nestes  alagadiços  cria  algumas  ar- 
vores, a  que  chamam  mangues  de  madei- 
ra rija,  e  reversa  de  lavrar,  a  qual  com- 
mummente se  acha  em  Guiné  naquelles 
alagadiços.»  Barros,  Década  2,  liv.  8, 
cap.  2.  —  «Deste  meio  nos  convinha 
muito  valer  em  Portugal,  vista  a  grande 


multidão  de  EngeitaJos,  e  Órfãos,  que 
hà  neste  Reyno,  os  quaes  creando-se  em 
boa  doutrina,  até  se  poderem  pòr  aos  offi- 
cios,  ticariaõ  sendo  de  grande  utilidade  à 
Republica.»  Severim  de  Faria,  Noticias' 
de  Portugal,  Disc.  1,  cap.  6. —  «Porque 
estando  uma  praça  com  bom  presidio,  naõ 
pôde  ser  entrada  por  hum  grande  Exer- 
cito, se  tiver  outro  em  seu  favor,  ainda 
que  seja  de  muito  menor  numero,  como 
se  tem  visto  nas  guerras  dos  Turcos  com 
os  Polacos,  e  nas  de  Jorge  Gastrioto,  e 
nas  modernas  de  Flandres,  e  Itália.»  Ibi- 
dem, Disc.  2,  cap.  9.  —  «Dada  em  a  nos- 
sa cidade  de  Manicongo,  no  anno  do  nas- 
cimento de  nosso  Senhor  Jesu  Christo  de 
M.  D.  XII.  A  qual  carta  de  credito  e 
obediência  vista  pelo  Papa,  e  CoUegio 
dos  Gardeaes.»  Damião  de  Góes,  Chroni- 
ca  de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  39.  — 
«Minha  senhora.  A  carta  que  escrevoo  o 
Barão  de  Nevenlipe  á  Senhora  Condeça 
Glarinda  de  Nusberg  de  que  V.  S.  me 
manda  a  copia,  he  huma  Carta  de  pêsa- 
mes semelhante  a  outras  muitas  que  te- 
nho visto  cheyas  dos  mesmos  despropó- 
sitos que  cometerão  nesta  matéria  muitos 
homens  eloquentes,  e  bons  Rhetoricos.» 
Çavalleiro  d'01iveira.  Cartas,  liv.  3,  n." 
6. —  «Porque  ex  aqui  treuas,  e  escuri- 
dam  cubriram  os  pouos  incrédulos,  c  obs- 
tinados, mas  em  si  nascerá  o  Senhor,  e 
sua  gloria  em  si  será  vista,  e  viram  os 
Gentios  a  ver  tua  luz,  e  os  Reys  a  go- 
zar do  resplandor  em  ti  nascido.  A  qual 
prophecia  claramente  foy  oje  comprida 
nestes  três  Príncipes  Gentios  que  do 
Oriente  vieram  buscar  a  luz  nascida  em 
Bethlem,  como  nos  conta  S.  Matheus  no 
Euangelho.»  Frei  Bartholomeu  dos  Mar- 
tyres.  Catecismo  da  doutrina  christã. 

—  Versado. 

—  Bem  visto,  mal  visto ;  recebido  coni 
approvação,  com  desapprovação. 

—  Attento,  considerado.  —  «Com  dis- 
posições táes  nos  pozéraos  á  mesa,  na  qual 
me  podéra  eu  dar  pela  Divindade  da- 
quella  Casa,  vistos  os  resguardos  tão  as- 
sinalados, e  as  melindrosas  preferencias 
que  comigo  tinhão;  era  a  quem  mais  te- 
ria a  dita  de  me  servir,  a  quem  fixaria  a 
minha  attenção.»  Francisco  Manoel  do 
Nascimento,  Successos  de  madame  de 
Seneterre. 

—  Visto  a  armada  estar  descoberta; 
attento  o  estar  a  armada  descoberta.  — 
«Embarcárão-se  os  nossos,  e  forão  na 
companhia  de  D.  Jorge  a  demandar  a  ar- 
mada. O  qual  referindo  a  D.  Álvaro  o 
successo,  e  a  observação  que  fizera,  pa- 
receo aos  Cabos,  que  não  tinha  lugar  a 
facção,  visto  estar  a  armada  descuberta, 
e  a  terra  appeilidada.»  Jacintho  Freire 
de  Andrade,  Vida  de  D.  João  de  Castro, 
liv.  4. 

—  LOC.  CONJ.:  Visto  que;  pois  que, 
já  que,  por  isso  mesmo  que. 

2.)  VISTO,  s.  m.  Formula  escripta  em 


974 


VITA 


VITE 


VITO 


alffum  acto,  o  que  ad^ignada  por  pessoa 
para  isso  auctorisada,  torna  este  acto  au- 
tlientico. 

—  Visto  do  passaporte ;  a  declaração 
da  authoridaiio  ri'ello  cscripta,  para  cons- 
tar o  dia  em  quo  o  portador  se  aprosen- 
tou  ;'i.  aiitlioridado  eompetento. 

VISTORES,  H.  m.  pUr.  Termo  anti- 
quado. O.i  ([ue  fazem  vistorias,  louva- 
dos. 

VISTORIA,  s.  /.  Inspecçiío  para  exami- 
nar, ieitíi  jior  juizes  o  pessoas  pertencen- 
tes. —  Vistoria  dos  vivitres. 

—  Vistoria  das  partes  da  (jerai;ão  do 
hijmein ;  ))aru  vér  se  é  potente. 

—  Vistoria  d<is  partes  da  r/eração  da 
mulher ;   jiara  vcu'  so  está.  virjrem. 

—  Vistoria  nos  cadáveres,  nas  feridas, 
arroinòiiiiitíiitus,  etc. 

VISTOSAMENTE,  adv.  (Do  vistoso,  e 
o  suffixo  u mente «).  De  um  modo  vistoso. 

—  Do  um  modo  apparatoso. 

—  (Jiim  i)0m]ia. 

VISTOSÍSSIMO,  A,  adj.  superl.  de  Vis- 
toso. J\Iui  vistoso. 

VISTOSO,  A,  adj.  Quo  convida  a  vis- 
ta pela  sua  formosuia,  pompa,  ^ra(;a,  lu- 
zimento.  * 

Aqui,  c'o  rosto  um  pouco  carregado, 
vO  Uonclave  doapcdc  ;  c  logo  cliama 
A  vintosa  líirtonjii,  (juo  n'um  ponto 
(^em  cavas,  cem  vestidos,  cinu  figuras, 
Com  línguas  toma,  c  muda  brevemente 
De  palavras,  e  tom,  segundo  o  gOíito 
Dos  que  o  governo  tem,  e  assim  llic  falia. 

A.   DINIZ  PA  CKUZ,  HYSSOPE,  Caut.    1. 

—  Apparatoso. 

VISUAL,  adj.  2  gen.  (Do  latim  visua- 
lis).  Termo  de  physica.  Que  pertence  á 
vista. 

—  Ei.ru  visual ;  linha  recta  que  pas- 
sando pelo  centro  da  coroca  transparen- 
te, o  pola  abertura  ])Upill:ir,  atravessa 
perpendicularmente  o  crvÃtallliio. 

—  Anijulo  visual ;  anjxulo  (pie  formam 
entre  si  os  raios  extremos  enviados  para 
o  olho  por  um  corjio. 

—  Ilorisonte  visual;  a  extensão  que 
a  vista  ahrai^a. 

VISUALMENTE,  adv.  (De  visual,  o  o 
suflixo  «meute»).  Tor  meio  dos  olhos. 

— •  IVtr  meio  da  vista. 

VISUGO,  s.  m.  Vid.  Vesugo. 

VITA,  s.  f.  (Do  latim  vitta).  Fita  com 
que  os  antigos  atavam  cm  roda  das  fon- 
tes as  coroas,  os  cabellos,  as  flores. 

VITAL,  adj.  2  gen.  (Do  latim  vitalis). 
Quo  serve  á  consorvaçito  da  vida,  que 
pertence  A  vida.  —  Os  movimentos  vitaes 
são  o  producto  das  impressões  recebida.s 
pelas  partes  sensíveis. 

Lívida  sombra  09  olhos  embacia, 
Vittil.  respiração  da  bnoca  apenas 
S'oxhala  intorciulonte  aos  turvos  ares  •, 
Gretada  lingoa,  denegrida,  o  seca 
Na  corrompida  bocoa  immovel  úai. 

1.   A.  DK.  MACEDO,  A  KATUUEZA,  Caut.  2. 


—  Calor  vital ;  o  que  conserva  a  vida. 

Do  mar  no  eHCUro,  no  profundo  seio 
Prendi;  o  calor  rítal,  o  uniniu  o.i  KntCB 
I>o  vasto  abysnio  mudou  habitaiiti:s. 

J.    A.    DK    UACKDO,    MKDITAÇÃO,   CUnt.    1. 

—  Principio  vital;  principio,  que  se- 
gundo certos  j)liysiologistas,  d  a  cau»a  da 
vida,  indepeadeiiteiuento  da  substancia 
organisada. 

—  Quo  d:l  força.  —  Licíir  vital  lUuvi 
òril/iaide   e   saboroso  vinho. 

—  Ar  vital ;  ar  respirável,  que  nSo 
mata  como  o  mophitico,  e  o  ar  inficiona- 
do do  ])odridí"ío,  de  fumo  de  carvfíes,  e  o 
das  adegas,  prisões  mal  arejadas,  priva- 
das subterrâneas,  etc. 

—  Ácç(ji:s  vitaes ;  acções  que  concor- 
rem mais  ])ara  conservar  a  vida. 

—  Arvore  vital ;  a  arvore  da  vida. 

—  Viração  vital ;  que  ajmJa  a  vida,  a 
viver. 

VITALICIAR,  i;.  a.  Tornar  vitalício  o 
([uo  ci.i  temporário. 

VITALÍCIO,  A,  adj.  Que  dura  toda  a 
vida,  quo  é  perpetuo.  —  Emprego  vitali- 
cio. 

VITALIDADE,  s.  /.  (Do  latim  vitalitas, 
de  vitalis).  Conjuncto  das  propriedades 
inliereiítes  ú  substancia  organlsada.  — 
Fibras  d'uma  vitalidade  considerável. 

—  Vitalidade  d' um  tecido;  o  conjuncto 
de  suas  propriedades  vegetativas  ou  ani- 
maes. 

—  Força  de  vida,  —  A  vitalidade  de 
certos  seres  organisados. 

—  Figuradamente  :  A  vida. 

f  VITALISMO,  s.  ?;i.  Doutrina  dos  vi- 
talistas. 

I  VITALISTA,  s.  Mi.  Nome  dado  aos 
médicos  que  explicam  por  inlluencia  do 
principio  vital  os  phenomenos  physiologi- 
cos  e  patliologicos. 

VITALMENTE,  adv.  (De  vital,  e  o  suf- 
fixo «mente»).  De  um  modo  vital. 

—  Com  vida. 

VITANDO,  A,  adj.  (Do  latim  vitandus). 
—  Ejxommuíigéido  vitando;  aquelle  com 
quem  se  não  deve  conversar,  associar-se, 
ajuntar-se  em  sessões,  conferencias,  jun- 
tas, etc. ;  em  opposição  ao  tolerado,  como 
os  de  outro  culto  a  catholico. 

VITATORIO,  A,  adj.  —  Pregão  vitato- 
rio ;  aquelle  que  o  pregoeiro  dá  antes  de 
se  executar  no  jiadecente  a  pena  ultima. 

VITECOMADO,  A,  adj.  Termo  de  poe- 
sia. Que  tem  a<  comas  de  parra. 

VITELLA,  s.  /.  (Do  latim  vitula).  Be- 
zerra, novilha  dn  nnuo. 

f  VITELLIFERO,  A,  aílj.  (Do  latim  vi- 
teUus,  c  fen-e).  Que  é  munido  de  um 
amarello  ilc  ouro,  c  de  vitello. 

f  VITELLINA,  .«.  /.  Nomo  dado  :i  mem- 
brana que  envolve  inmiediatamente  o  vi- 
tello ou  a  genmia  do  ovo  das  aves;  e 
ilquella  que,  nos  mamíferos,  c  a  mais 
excentaica  das  membranas  do  ovulo. 


—  Termo  do  ciiimíea.  Substancia  or- 
gânica azotada  coagulavel  que  se  extraho 
da  líetnma  do  ovo. 

VITELLINO,  A,  adj.  Que  iliz  respeito 
ao  vitello.  —  ilemòraua  vitellina. 

—  Substancias  vitellinas ;  princípios 
iinniediatos  i|ue  se  encontram  no  ovo, 

VITELLO,  «.  til.  Termo  de  zoologia.  A 
parte  fuiulamental  do  ovulo  dos  animaea, 
aquella  que  encerra  a  vcsicula  germina- 
tiva,  que  preenche  a  membrana  vitelli- 
na ou  zona  pcllucida,  e  que  pelo  segmen- 
to dá  origem  áa  cellulas  blastodermi- 
cas. 

—  Tenno  do  botânica.  Nome  dado  a 
certas  partes  mal  observadas  ou  t>oaco 
conhecidas  do  enibrv3o. 

f  VITÍCOLA,  a/i/.  2  gen.  (Do  latim  vi- 
ticola).  Que  diz  respeito  á  cultura  da  vi- 
nha. —  Paiz,    população  viticola. 

j  VITICULTURA,  t.  f.  (Do  latim  vitii, 
e  cultural.  (Jultura  da  vinha. 

t  VITIFERO,  A,  adj.  (Do  latim  eiít- 
fer,  de  vitis,  e  ferre).  Quo  produz  vi- 
nha; onde  a  vinha  cresce. 

I  VITILIGO,  *.  m.  (Do  latim  vUUigo). 
Termo  de  medicina.  Affecçâo  catanea, 
caracterisada  ])or  tubcreuloS  brancos,  li- 
sos, lúcidos,  que  so  elevam  na  pelle  em 
roda  das  orelhas,  do  peacoço,  da  face, 
algumas  vezes  em  todo  o  corpo,  e  quo 
são  ordinariamente  mistoiados  de  papu- 
los  lúcidos. 

VrriNGA,  s.  f.  Termo  do  Brazil.  Gé- 
nero lie  fariídia. 

VITO,  ou  VICTO,  *.  m.  Õ  sustento  ou 
antes  o  conducto. 

VITOLA,  *.  /.  Vid.  Bitola. 

VITORIA,  *. /.  Vid.  Victoria.  —  «Lo- 
go foi  deitado  em  um  leito ;  porque  pêra 
sua  saúde  era  assim  necessário.  O  impe- 
rador fez  curar  Albavzar  com  muita 
presteza :  e  sendo  certificado  do  mestre 
que  as  feridas  não  eram  de  morte,  ficou 
contente  da  vitoria  mais  do  que  antes 
estava.»  Francisco  de  Moraes,  Palmei- 
rim d'Inglaterra,  cap.  89.  —  «E  que  pos- 
to que  alcança-ssem  a  vitoria,  havia  El- 
Rey  do  estranhar  muito  ao  (lovernador, 
e  a  todos  que  alli  estavaS,  consentirem 
por-se  o  Estado  todo  em  hum  tombo  de 
dado  (como  là  dizem)  sobre  isto  se  ba- 
ralhou todo  o  conselho,  com  grandes 
gritos,  porfias,  e  altercações.!  Diogo  de 
Couto,  Década  6,  livro  3,  capitulo  10. 
—  «E  porque  quem  dá  costas,  dá  animo 
a  seu  imigo,  foi  tanto  alvoroço  em  os 
nossos,  que  juntamente  assi  na  fortaleza, 
como  na  Armada,  começaram  bradar : 
Vitoria,  vitoria,  fogem  ;  e  desferindo  Fer- 
não Peres  a  sua  vela,  dizendo :  Sant-Iago, 
a  elles,  foi  cousa  m.aravilhosa  o  que  nis- 
so cada  hum  fez ;  e  seria  a  nós  mui  diffi- 
cultosa  escrever  a  ousadia,  animo,  dili- 
gencia, c  astúcia,  que  cada  hum  teve 
naquelle  feito,»  Barros,  Década  2,  liv.  9, 
cap,  õ.  —  «Sabemos  além  do  tudo  isto, 
que  ao  tempo  que  el  Rev  tomou  a  Liaõ 


VITO 


VITR 


VITU 


975 


com  esta  vitoria,  o  sairão  a  receber  as 
donzellas  principaes  com  danças,  e  can- 
tigas compostas  em  louvor  de  tamanha 
vitoria,  gratiticando-llie  com  isto  o  bene- 
ficio de  as  deixar  libertadas;  e  hoje  em 
dia  se  guarda  este  costume  de  sairem  à 
véspera,  e  dia  de  Nossa  Senhora  da  As- 
sumpção, quatro  danças  cada  huma  de 
doze  meninas  (a  que  chamaõ  as  canta- 
deiras) huma  das  quaes  dà  a  freguesia 
de  Saõ  Marcello,  outra  a  de  Saõ  Marti- 
nho, a  terceira  nossa  Senhora  do  Merca- 
do, e  a  quarta  S.  Anna. »  Monarchia  Lu- 
sitana, liv.  7,  cap.  20.  —  «E  que  pois 
elle  só  era  Capitão  daquella  cidade,  e 
daquelle  povo  que  aly  estava  junto,  que 
a  elle  só  pertencia  condecender  em  f)eti- 
torio  taõ  justo  e  taõ  santo,  e  taõ  agradá- 
vel ao  Profeta  Noby  Mafamede,  pois  elle 
só  fora  o  que  dera  a  vitoria  daquella 
presa  a  seu  genro,  e  naõ  o  exforço  de 
seus  soldados  como  elle  dizia.»  Fernão 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.  6.  — 
«E  em  Africa  se  alcançarão  muitas  vito- 
rias contra  o  poder  dos  Reys  de  Marro- 
cos, Xarifes,  e  Reys  de  Fez  em  tempo 
d'ElRey  D.  Manoel,  sendo  todas  estas 
naçoens  bellicosas,  e  praticas  na  guerra.» 
Severim  de  Faria,  Noticias  de  Portugal, 
Disc,  2,  cap.  8.  — •  «Alcançarão  os  Por- 
tugueses grandes  vitorias,  e  desbarata- 
rão muitos  Exércitos  de  poderosíssimos 
Príncipes,  sendo  sempre  os  nossos  muito 
inferiores  em  numero,  como  se  vio  em 
tempo  d'ElRey  D.  Afonso  Henriques  nas 
batalhas  do  Campo  de  Ourique  contra 
ElRey  Ismael.»  Ibidem. —  »Alèm  disto 
para  íicar  lembrança  da  grande  vitoria, 
que  alcançara  dos  Mouros,  atravessou 
quatro  cordoens  no  escudo,  dous  em  Cruz 
de  meio  a  meio.»  Ibidem,  Disc.  3,  cap. 
6.  —  fO  padre  mestre  Francisco  dando  a 
Deos  infinitas  graças  por  tam  bons  prin- 
cípios de  vitoria,  nam  sahio  de  Cande 
sem  hum  embaxador  pêra  dom  loam  de 
Castro,  que  entam  gouernaua  a  índia.» 
João  de  Lucena,  Vida  de  S.  Francisco 
Xavier,  liv.  5,  cap.  24.  —  «Será  licito  o 
desafio  com  authoridade  publica,  como 
quando  a  batalha,  e  vitoria  de  dous  exér- 
citos se  põem  em  dous  soldados  escolhi- 
dos por  consentimento  de  todos,  como  em 
David,  e  o  Gigante :  porque  a  causa  he 
justa,  e  o  poder  legitimo :  e  sendo  licito 
pelejar  todo  o  exercito,  também  o  será  a 
parte  delle;  com  tanto,  que  nao  seja  evi- 
dente a  vitoria  no  todo,  e  a  ruína  na 
parte.»  Arte  de  furtar,  cap.  21.  —  «Por- 
que mais  íllustres  couzas  se  obraõ  com  o 
entendimento  da  cabeça,  que  com  as  for- 
ças dos  braços :  e  allegava  o  que  diz 
Tullio,  que  mais  aproveitarão  a  Athenas 
os  conselhos  de  Sólon,  que  as  vitorias  de 
Themistocles.  He  muito  prejudicial  sabe- 
rem os  Conselheiros,  o  que  o  Princípe 
quer;  porque  logo  buscaõ  razoens,  com 
que  o  ju.stifiquem.»  Ibidem,  cap.  30. 
VITÓRINA.  Vid.  Aventurina. 


vítreo,   a,  adj.    (Do    latim   vitreus). 
Da  natureza  do  vidro. 

—  Transparente  como  vidro. 


No  vifreo  foco  a  ohamma  concentrada 
Pcnetrantea  revérberos  dardeja, 
Derrete  o  ferro,  03  mármores  calcina. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATOREZA,  Caut.  2. 

Vê  quando  em  calmaria  o  pinho  ondeante 
P<ára  no  vítreo  mar,  qu'  horrenda  fera 
Em  torno  delle  turva  o  equorco  espelho. 
IBIDEM,  cant.  3. 

Outro  descubro,  que  no  vítreo  seio, 

Ao  furor  do  inimigo  escapa,  e  foge, 

Com  mais  profundo  ardil,  pronto  derrama 

De  opportuno  deposito  cm  torrente 

Denegrido  licor,  qu'  as  Ondas  turva ; 

Na  escuridão  confuso  o  fero  imigo 

Em  vão  busca,  e  tactea  a  presa  ooculta. 


— ■  Termo  de  physica.  Electricidade  ví- 
trea; electricidade  produzida  pelo  attri- 
to  do  vidro,  e  que  se  oppõe  á  electri- 
cidade resinosa,  desenvolvida  pela  re- 
sina. 

—  Termo  de  anatomia.  Hunwr  vitreo ; 
um  dos  de  que  consta  o  olho,  diíFerente 
do  ai^ueo  e  do  crystallino. 

VITRESCIBILIDADE,  s.  f.  Qualidade 
do  que  se  p(')do  vitrificar. 

VITRESCIVEL,  adj.  2  gen.  Susceptível 
de  se  nuular,  e  converter  em  vidro.  — 
Rochas  vitresciveis. 

VITRIFIGAÇÃO,  s.  /.  Fusão  das  maté- 
rias susceptíveis  de  tomar  o  brilho,  a 
transparência  e  a  dureza  do  vidro,  por 
meio  do  uma  elevada  temperatura.  — 
Fogo  de  vitrificação. 

—  Por  extensão,  matéria  que  oíferece 
a  apparencia  do  vidro. 

VITRIFICADO,  part.  pass.  do  Vitrifi- 
car. Matérias  vitrificadas  ;  matérias  trans- 
formadas em  vidro,  ou  nas  quaes  a  fusão 
deu  a  apparoncia  de  vidro. 

—  Photograpkia  vitrificada ;  producção 
das  imagens  de  photographia  sobre  um 
vidro  sensibilisado. 

VITRIFICAR,  V.  a.  Termo  de  chimíca. 
Fundir  uma  substancia  de  maneira  que 
se  transforme  em  vidro.  —  O  foqo  vitri- 
fica a  areia  misturada   com  o  alcali. 

—  Viti-ificar-se,  v.  refl.  Tornar-se  vi- 
dro por  meio  da  fusão. 

VITRIFICAVEL,  adj.  2  gen.  Que  se 
pôde  reduzir  a  vidro,  ou  a  uma  matéria 
com  apparencía  vítrea.  —  Metaes  vitrifi- 
cáveis. 

f  VITRINA,  s.  f.  Termo  de  anatomia. 
Vitrina  auditiva;  licor  contido  no  laby- 
ríutho  do  ouvido,  chamado  também  en- 
dolijmpho. 

VITRIOLA,  s.f.  Peça  de  ferro,  de  que 
so  u.sa  na  fabrica  dos  botões  de  casqui- 
nha, para  tirar  a  impressão  do  cunho. 

VITRIOLADO,  A,  adj.  Composto  com 
vitríolo. 


VITRIOLICO,  A,  adj.  Da  natureza  do 
vitríolo,  ou  que  participa  d'elle. 

—  AcidM  vitriolico  ;  hoje  chamado  sul- 
fúrico, que  se  obtinha  pela  decomposi- 
ção do  proto-sulfato  de  ferro. 

—  Gaz  vitriolico  ;  acido  sulfuroso. 

—  Ether  vitriolico;   ether  sulfúrico. 

f  VITRIOLISAÇÃO,  s.  f.  Termo  de  an- 
tiga chimica.  Acção  de  reduzir  a  vi- 
tríolo. 

—  Termo  de  mineralogia.  Effloresccn- 
cia  esbranquiçada  e  fijaraento.sa  ou  sul- 
fato de  ferro  que  se  produz  nos  pyrites 
em  decomposição. 

VITRÍOLO,  s.  m.  Nome  vulgar  de  vá- 
rios saes  metallicos,  que  tem  actualmen- 
te o  nome  chimíco  de  sulfatos. 

—  Particularmente,  o  sulfato  de  co- 
bre. 

—  Vitríolo  am.noniacal ;  o  sulfato  de 
ammoniaco. 

—  Vitríolo  branco;  o  vitríolo  de  zin- 
co; o  sulfato  de  zinco. 

—  Vitríolo  de  Vénus;  o  sulfato  ue  co- 
bre. 

—  Vitríolo  calcaren;  o  sulfato  de  cal. 

—  Vitrioio  de  ferro,  de  chumbo,  etc; 
sulfato  de  ferro,  de  chumbo,  etc. 

—  Vitrioio  verde,  vitrioio  marcial;  os 
sulfatos  de  ferro. 

—  Óleo  de  vitríolo ;  acido  sulfúrico 
concentrado. 

VITRO,  s.  m.  Termo  com  a  significa- 
ção de  appluuso. 

VITUALHAR,  v.  a.  Prover  de  vitua- 
lhas, e  víveres. 

VITUALHAS,  ou  VICTUALHAS,  s.  /. 
plur.  Víveres,  provisão  de  mantimentos. 

VITULO,  s.  m.   O  bezerro. 

—  Termo  de  historia  natural.  Peixe, 
conhecido  pelo  nome  de  boi  marinho. 

VITUPERAÇÃO,  s.  /.  (Do  latim  vitu- 
peratio).  A  acção  de  vituperar,  ou  de 
ser  vituperado. 

VITUPERADO,  part.  pass.  de  Vitupe- 
rar.   Tratado  com  vitupério,  reprochado. 

—  Desestimado,  desprezado. 
VITUPERADOR,  A,  s.   (Do   latim  vitu- 

perator).  Pessoa  que  vitupera. 

VITUPERAR,  V.  a.  (Do  latim  vituperu- 
re).  Tratar  com  vitupério,  reprochar,  re- 
prehender.  —  «A  gente  do  povo  vendo- 
nos  vir  assi  presos,  e  conhecendo  que 
éramos  os  Christaõs  cativos,  foraõ  tãtas 
as  bofetadas  que  nos  dei'aò  que  em  ver- 
dade afirmo  que  nunca  cuidey  que  esca- 
pássemos daly  cõ  vida,  porque  avião, 
pelo  que  o  Cacíz  dizia,  que  ganhavão  in- 
dulgência plenária  cm  nos  vituperarem, 
e  maltratarem.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  õ. 

—  Castigar  de  palavra,  dar  em  rosto 
com  cousa  torpe,  mal  feita,  ou  mal  dita. 

—  Dar  cm  cidpa,  defeito,  dar  em  ros- 
to com  alguma  falta,  ímproperar. 

VITUPERA VEL,  adj.  2  gen.  Digno  de 
vitupcrio. 

VITUPÉRIO,  s.  m.  Acto  de  vituperar. 


976 


VIU 


VIVA 


VIVE 


—  Reprehensilo,    aciíUdiiçJlo,    reproche. 

—  iJuítiiDiirii,  iiilaiiiiii,  i^tiomiuiu,  deH- 
])r(i}!(),  irmiilto,  opprobrio. 

l'ori(uc  vciidu  i(ue  com  cruel  itnporio 
Oit  oouBtniiinoiiv  ao  rmiio  iimiii"«|iio  iiiclinilo, 
()ú  (luo  tom  duH  fjiilírt  ij  iiiiiiiiitcrio 
Tiuito  oti  tnovo  cHtii  ilói',  tanto  se  iucliiiilo, 
Qlifl  liavnnclo-o  por  íillVoíitii  o  rttupe.eio 
Uoiíi  'ijuutiocfiiitoH  dftlliw  »(!  ainotinSo 
liwigilo  Imin  (íurvivo  tal,  tão  fortn, 
Trjiitp.H,  ijuo  ciimiulinon  á  voiwa  uiorto ! 

KBAM0I8UO  u'^f(puADI!,  PlltUlCIltO  QBKCO  D«  DIU, 

'  oaiit.  12,0!ít:  120. 

—  «A  luosnia  Viaiina  arma  hoje  como 
Q.i;itaõ,  BC  qiior  trus  mivio»,  o  i^orto  qua- 
tro, Lisboa  seÍ3,  Sctuval  tre:<,  o  Algarve 
c^utro»  três,  o  KlUey  ajuiitolhe  tlous  ga- 
leons  por  Cajjitanias  :  e  eia  aiii  huma  ar- 
mada, do,  vinte  velas  com  dtuvi  .esqua- 
dras; e  armo-se  imma  bolça  só  para  isto 
do  gente  vokiutaria,  e  livre,  e  vovcmoa 
lo):!;o  as  not^sm  barbas  sem  vitupérios.» 
Arte  de  iintar,  eap.  2i5. 

VITUPERIOSO,  A,  udj.  Que  encerra, 
contém  vitupério.  —  Palavras  vituperio- 
sas.-.  ,.  ■  ■■•'■'.-  -■  I,     ■  V-  ;.jV  .n 

VITUPER03AMENTE,  ado.  (De  vitupe- 
roso,  coui  D  sullixo  «mente»).  De  um 
nioilu  vituperoso. 

-^Coni  vitupério. 

—  Vcrgouhosainento. 
VITUPEROSO,  A,  ailj.  I.t;nomiuioso,  op- 

probrioso.  —  Gesfou  vituperosos. 

-j-  VIU.  Fórraa  do  verbo  vêr  na  ter- 
ceira pessoa  do  singular  do  pretérito  per- 
feito do  modo  indicativo.  Vid.  Vio,  e  Vêr. 
—  «Estando  posto  em  tão  gram  eoufn- 
sào,  viu  (pio  do  alto  da  rocha,  té  cho- 
gar  a  cUe  deixavam  pendurar  um  ccáto 
velho  e  roto  por  um  eoi'del  tão  fraco  o 
delgado,  que.pavoçja  quo  o  peso  do  met^- 
mo  cesto  nào  podia  suster.»  Francisco 
de  Moi-aos,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap. 
■9.9», rrr  «.Açinia.  delles  viu  o  em  que  esta- 
va o  vulto  de  Miraguarda,  a  quem,  em 
o  voudo,  não  soube  negar  a  vantagem, 
que  havia  delle  a  sua  senhora,  Targiana ; 
porém  de  muito  coufiiwlo  oiu  si  o  no  quo 
lhe  queria,  determinou  seguir  sua  eniprc- 
za:  o,  por  ser  tarde,  esperou  té  outro  «lia, 
dormindo  a  noite  no  campo.»  Ibidem,  cnp. 
71,  —  «Quando  o  do  tíalvage  o  viu  tâl, 
chegou  junto  domle  fôx-a  a  queda,  o  veij- 
do-o  desamiiarado  da  vida,  iiQOU  de  todo 
coatei\te ;  c  acudindo  a  suas  feridíis,  que 
tinhiii  necessidade  do  remédio,  a  douzelia 
o  o  ,SQU  escudeiro  lh'a3  aportarauí  o  me- 
lh,OT  que  pqderam.»  Ibidem,  cap.  107. 
— 1 « O  escudeiro  se  foi  ao  apousento  ila 
i'alnln\,  onde  também  achou  el-rei,  que 
jantilra  com  ella,  o  lant;ando  os  olhoa  a 
toda  a  casa,  posto  que  viu  muitiis  ilauijas 
e.a\g\imas  formosas,  bem  Uie  pareceu,  ijue 
tudo  o  quQ  via  em  compavaçii»  ila  gi^au- 
doaa,  da.  corte  do  ini[t::rador,  na  ipial  Já 
ostivoi"a,  era  quasl  uada.n  Ibidem,  cap. 
123,, —  «Chegaudo   ;i    borda  d''agoa   viu 


que  da  outra  parto  do  rio  um  cavalleiro 
gramle  <le  corpo,  armado  d'armaH  (l'a/.id 
e  ouro  e  uo  escudo  cm  campo  du  prata 
um  ieílo  dourado,  tiidia  a  seus  pés  uma 
doiiKclla  poios  cabelloH,  quo  do  longe  jia- 
rociam  formosos  o  taça,  que  uAo  more- 
ciauí  tratarem-noa  assim :  tinlm  a  osparia 
jjua  na  m?io,  com  quu  a  amolava,  di/.en- 
do.»  Ibidem,  cap.  128. —  «O/t/  ijwiln 
capnt!  sed  cereòrum.  noa  haòet.  As!«ini  o 
escreve  Horácio,  quo,  ainda  que  doente 
doa  olhos,  nilo  duvidara  affirmar  que  viu 
o  caso;  nem  Homero,  ainda  (jue  cego  o 
dorndiihoco,  iis  vezes.»  líispo  do  (!riio 
l'ará.  Memorias,  publicada.?  por  Camillo 
Castello  lir.-inco,  jiag.  4d. 

VldDEZ,  s.  in.  Termo  pouco  em  uso. 
Viuvez. 

•  VIUVA,  s.  f.  Mulher,  cujo  mariílo  é 
fallecido.  Vid.  Viuvo. 

—  Uma  flor  d'e8to  nome,  roxa. 

—  Uma  ave  preta  com  uma  longa  pen- 
na  110  rabo. 

VIUVAR,  V.  a.  Perder  a  mulher  o  ma- 
rido, ou  este  a  nmlhcr  por  morte. 

—  Figuradamente :  Ser  privado  de 
grande  bem. 

VIUVEZ,  8.  /.  O  estado  de  viuva,  ou 
viuvo. 

VIUVEZA,  s.  /.  Viuvez. 

VIUVIDADE,  s.  /.  Vid.  Viuvez. 

1.)  VIUVO,  s.  111.  Homem  cuja  nmlhcr 
ó  fallecida. 

2.)  VIUVO,  A,  adj.  Que  é  viuvo.  — 
O  esposo  viuvo  c  triste. 

Perdendo  ;i  :lura  dosCéos,  mui  breve,  Epicharis, 
Lcthoaa  ondas  vaguear  muco  c  triste 
As  via  o  c3|)oso ;  e  só  cobrava  allivio 
Em  ter  uo  gróuiio  seu,  o  penhor  uiiico 
Da  amante  união. 

F.    U.    DO  ■ASnUENTO,  OS  MARTYBKS,   1Í7.    1. 


—  Figuradamente :  Igrejas  viuvas  de 
seus  prelados.  —  A  pátria  viuva. 

VIVA,  s.  m.  —  Dar  os  vivas ;  desejar 
a  vida. 

—  Figuradamente :  Dar  os  vivas  ;  ap-. 
plaudir. 

VIVACE.  Vid.  Vivaz. 

. —  Termo   de    botamca.    Raiz  vivace. 

VIVACIDADE,  s.  /.  ^Do  latim  vicaci- 
tas).  Tromptidão  em  obrar,  em  se  mo- 
ver. 

—  Promptidão  com  que  se  faz  uma 
cousa.  —  A  vivacidade  tio  combate,  da 
disputa. 

—  Força  com  que  são  experimentadas 
as  iiaixões,  os  sentimentos,  etc.  —  .íI  vi- 
vacidade '/a.s  paijiões.  —  A  vivacidade 
das  seihsa(;(ks. 

—  Penetraç.^o  rápida. 

—  .íi  vivacidade  do  espirito,  da  ima- 
ginaqão;  a  promptid.ão  cm  conceber,  cm 
imiigLuar. 

—  Disposiç.Hi)  do  um  cjiracter  vivo. 

—  Diz-se  de  unia  linguagem  i'nde  rei- 
na algum  arrebatamento. 


—  Petulâncias.  —  Mil  vivacidades  «le 
patsaiu  pela  cabeça. 

—  Toniíi-HC  algumao  vozea  pór  ienti- 
bilidad*.. 

—  Diz-RO  daa  (j/jroí  quo  tem  brilho. — 
Vivacidade  d/u  róreê. 

—  Ter  vivacidade  luj»  olh>a;  ter  o» 
olhoH  brilhantes  e  ch<;ioa  de  fogo. 

Por  extons.li) :  Diz-se  do  e«tylo. 

—  Termo  de  botânica.  T>iz-«eda«  plan- 
tas viv.a/es.  que  nSo  morrem  cada  aiino, 

VIVACISSIMO,  A,  adj.  tupert.  áu  Vi- 
vaz,  i;  Vjvace.  Míd  vivaz. 

VIVAMENTE,  ude.  (D,-,  vivo,  com  o 
BuíTixo  ■! monte»).  Com  vivacidade,  com 
acrimofda,  jiromptidAo. 

—  Com  energia,  força,  efficacia. 

—  Ao  vivo. 

VIVANDEIRO,  A,  adj.  e  *.  (Do  fran- 
cez  eicdiídier).  Aquelie  <]ue  vende  vive- 
res, e  que  os  leva  atraz  doa  cxcrcitoA. 

VIVAZ,  aJj.  2  ffen.  CDo  latim  i-íiox). 
Que  t<:m  cm  si  os  pnncipioa  do  uma  lon- 
ga viila.  —  líomem  vivaz. 

—  Ti-rnio  de  botânica.  Diz-ee  de  uma 
planta  herbácea  que  dura  muitos  anuo», 
sem  conservar  comtudo  as  bastea  que 
sustenta  todos  os  annos  na  primavera: 
opp3c-fo  a  annual  e  bi-annual. 

—  Figuradamente :  Difficil  de  des- 
truir. —  Revwrsu  vivaz.  —  Prejuízo  vi- 
vaz. 

VIVEDOR,   A,  adj.   Vivaz. 

—  Quo  .sabe  grangear  a  vida  rom  in- 
dustria, boa  astúcia,  e  prudenci:; 

VIVEDOURO.  Vid.  Vividouro. 

VIVEIRO,  8.  írt,  (Do  latim  vivariui,. 
Tanque  onde  se  criam  peixes ;  casj»  on- 
de se  criam  avos,  coelhos,  lebres,  etc. 

—  Figuradamente  :  Terra  tpu  é  um 
viveiro  de  todo  o  inal;  terra  onde  elles 
habiiauí,  se  conservam  e  propagam. 

—  Viveiro  de  plantas;  a  terra  onde 
estão  as  plantas  tenra.s  nascidas  para  se 
disporem.  Vid.  Seminário,  Sementeira,  e 
Criadouro. 

—  Viveiro  das  aves  que  fazem  cria- 
ção. 

VIVENDA,  s.  j.  Acç3o  de  viver  domi- 
ciliado om  algum  logar;  assento.  —  Ca- 
sas de  vivenda. 

—  O  viver,  o  passadio  em  algum  lo- 
gar. 

—  Loc.  :  Ir  de  viveuda  para  alguma 
parte ;  ir  para  fazer  assento,  e  pôr  alli 
caaa. 

—  Comportiimento. 

—  Termo  antiquado.  Modo  de  ganhar 
a  vida.  o  nocesí-ario  para  a  subsistência. 

VIVENTAR,  t.  a.  Vid.  Aviventar. 
VIVENTE,   iKirt.  act.  de  Viver. 

—  S.  2  ycit.  Tudo  o  que  vive.  —  «To- 
do o  viuente  neste  tempo  dorme  fora  de 
casa,  até  os  caualos  por  n.^o  abafarem, 
vão  dormir  a  prava  do  mar:  e  certo  que 
só  dos  jirezos  se  po  le  auer  lastima,  e 
paixão.»  Fr.  Uasptir  de  iá.  Bcroardino, 
Itinerário  da  índia,   cap.  11. 


VIVE 


VIVE 


VIVE 


977 


Eu  levo  o  contrario  dos  no  céo  viventes, 
E  vós,  Mocidade  e  Velhice,  tomae. 

ANTÓNIO  PBKSTES,  AUTOS,  pag.  101. 

—  «Nâo  havia  vivente  daquelles,  a 
quem  em  honra  da  sua  qualidade  chama- 
mos insectos,  que  não  trabalhasse,  e  que 
nào  desse  os  dias  da  vida  pela  sua  susten- 
tação, e  conservação,  metendo-lhe  pelos 
olhos,  ou  por  bayxo  delles  os  seus  obsé- 
quios.» Cavalleiro  d'01iveira,  Cartas,  liv. 
1,  n.o  45. 


« São  teus  olhos  dé  carne  como  os  d'homem  ? 

Como  elles  ves  e  julgas?  — Porque  ao  dia. 

Do  cárcere  materno,  me  lias  trazido? 

Oxalá  que  eu  uào  visto  perecera 

De  olho  nenhum  vivente,  e  houvera  sido 

Como  se  nunca  fosse, — trasladado 

Do  ventre  á  sepultura ! 

OABRETT,  CAMÕES,  cant.  2,  cap.  5. 


Quanta  nos  Ceos,  nos  Asti-os  se  descobre. 
Como  viventes  móuadas  la  formão 
Hum  Jlundo  á  parte  tão  maravilhoso. 

J.  A.  DB  UACEDO,  A  NATUBEZA,  Cant.  3. 


—  Pessoa  que  vive. 

—  Diz-se  também  um  bom  vivente, 
oriundo  do  francez  un  bon  vivant,  d'um 
homem  de  humor  fácil  e  alegre. 

—  Termo  de  theologia.  Diz-se  d'aquel- 
les  que  gozam  da  eterna  bemaventurança. 

—  O  que  tem  vida.  —  Depois  de  ter 
provado  que  o  vivente  é  o  que  custa  me- 
nos á  natureza,  busco  quaes  são  as  cau- 
sas principaes  da  morte,    da    destruição. 

—  O  homem,  o  animal,  logo  que  vive. 
VIVER,   V.   n.   (Do    latim  vivere).    Ter 

vida,  estar  vivo,  com  vida  animal,  vege- 
tal, ou  a  que  convém  aos  entes  immor- 
taes.  —  As  aves  vivem  no  ar,  e  os  pei- 
xes na  agua.  —  Indigno  de  viver  e  de 
morrer,  abandonaram-no  ás  mãos  qtie  se 
dignaram  nutril-o.  —  Quanto  mais  vive- 
mos, tanto  mais  gostamos  de  viver,  mes- 
mo sein  nada  gozar.  —  Os  carvalhos  vi- 
vem por  muito  tempo.  —  «Condecende- 
rào  todos  nesta  petição,  e  partindose  do 
lugar  de  Gei'tigos,  a  quem  desde  então 
atègora  íicou  o  nome  de  Wamba,  por 
memoria  de  sua  eleição,  chegarão  a  To- 
ledo em  cuja  Igi"eja  foy  ungido  hum  Do- 
mingo aos  dezanove  de  Setembro,  que 
com  esta  particularidade  vay  S.  Juliano 
Arcebispo  de  Toledo,  especiticando  as 
cousas  delRey,  como  quem  então  vivia, 
e  era  testemunha  de  tudo  quanto  passa- 
va.»  Monarchia  Lusitana,  liv.  6,  cap.  24. 


E  sem  fazer  differença 
No  quo  de  mi  possuis. 
Pelo  pouco  que  sentis. 
Dais  á  minh'alma  doença. 
Porque  dous  aventurais  ? 
.  Oh  não  seja  o  damno  nosso  ! 
Sangre-se  este  corpo  vosso, 
Por<iuo,  minha  alma,  vivais. 

CAM.,   UEDONDILUAS. 
TOL.  V.  — 123. 


Vojào-se  03  bens  que  tiverão 

Os  que  mais  em  alcançar-te 

Se  eamerárào  ; 

Que  huus  vivendo,  não  viverão, 

E  outros,  só  com  deisar-te. 

Descansarão. 

IDEU,  CABTA  2. 


Nús  n'esto  mundo  nascemos 

e  nús  sayremos  d'eUe, 

n'e!te  meyo  que  vivemos 

Soo  rico  he  aquelle 

que  ser  contente  sabemos : 

E  que  grandes  bens  vos  dessem 

aquelles  que  vol-os  deram, 

eu  sei  bem  que  nús  nasceram 

e  antes  que  os  tivessem 

he  certo  que  nam  tiveram. 

CHBISTOVÃO  FALCÃO,  OBRAS,   pag. 


O  seu  formoso  parecer 
Me  faz  en  tal  cuita  viver 
Qual  non  posso  neu  sei  dizer, 
E  moiro  querendo  lie  ben  ; 
Esto  me  faz  amor  sofirer, 
De.í  que  me  vin  ãc  Santarém. 

TROVAS    E    CANTARES,    U."    121, 


—  «Alli  estaua  aquelle  diuino  sacrifí- 
cio abrasado  nas  viuas  chamas  do  diuino 
fogo  de  sua  immensa  charidade.  Quis  o 
justo  Deos  pagar  por  nós,  pêra  que  como 
diz  Damasceno,  per  justiça  ficássemos 
iiures  do  antigo  tirano,  resgatados  cõ  o 
preço  de  seu  precioso  sangue.  Morreo 
pêra  que  nós  viuessemos,  e  quis  cõ  sua 
morte  triumphar  da  morte:  como  elle  ti- 
nha dito  pelo  propheta.»  Heitor  Pinto, 
Dialogo  da  Justiça,  cap.  10.  —  «No  ca- 
bo do  qual  se  não  pagauam  lhes  vendiam 
seus  moueis,  e  eiixouaes,  publicamente 
empregaõ  per  muito  menos  do  que  va- 
lião  pela  qual  deshumanidade  os  mais  dos 
executores  desta  Cruzada  ouuerão  ma 
fim,  de  que  naõ  quero  dizer  os  nomes, 
por  os  filhos,  e  netos  dalguns  destes  ain- 
da viverem.»  Damião  de  Góes,  Chronica 
de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  Õ6.  —  «Era 
mui  caridoso,  e  fez  em  quanto  viueo  mui- 
tas esmolas  no  reino,  e  fora  d'elle  a  mui- 
tas pessoas,  e  casas  d'oraçaui,  e  ha  Sau- 
cta  casa  de  Hierusalem,  e  do  monte  si- 
nal daua  cadanno  a  todolos  frades  da 
Obseruancia  da  Ordem  de  Sam  Francis- 
co de  seus  reinos  todo  o  pano  que  lhes 
era  necessário  pêra  se  vestirem.»  Ibidem, 
part.  4,  cap.  8(5.  —  «Finalmente  quis 
morrer,  pêra  que  uòs  viuessemos :  pêra 
que  com  sua  morte  matasse  a  morte,  assi 
eterna,  como  temporal.  O  qual  se  cum- 
prirá no  dia  da  resurreiçam  geeral,  assi 
como  elle  auia  ameaçado  à  morte,  pello 
Propheta  Oseas,  dizendo,  morte  eu  serei 
tua  morte,  que  quer  dizer,  eu  te  mata- 
rei.» Fr.  Bartholomeu  dos  Martyres,  Ca- 
tecismo da  doutrina  christã.  —  «Tam- 
bém senhor  porque  este  corpo  mortal 
nam  pode  viuer,  e  seruir  ao  Spiritu  sem 
ter  hum  pedaço  de  pam  pêra  comer,  dai- 
nolo   Senhor.   Nam   pedimos   riquezas,    e 


superfluidades,  nam  queremos  ser  solíci- 
tos (conforme  a  vosso  Mandamento)  pollo 
mantimento  dos  annos  ou  dias  que  vi- 
ram, 03  quaes  por  ventura  nunca  vere- 
mos, somente  do  mantimento  que  baste  . 
pêra  este  dia  nos  fazey  mercê.»  Ibidem. 
—  «O  qual  na  sua  primeyra  Epistola  nos 
ensina  a  conhecer  se  viuemos  ou  se  an- 
damos mortos  diante  de  DE(JS,  dizendo, 
Quem  nam  ama,  nam  tem  vida.  A  vida 
da  alma,  he  amor  de  DEOS  e  do  próxi- 
mo, e  por  isso  quem  nam  ama,  dayo  por 
morto.  Deos  he  charidade  :  e  por  isso 
quem  permanece  em  charidade,  permane- 
ce em  DEOS,  e  DEOS  nelle.  E  este 
amor  se  esta  na  alma  ou  nam,  nas  obras 
se  conhece.»  Ibidem.  —  «Não  sey  se  vive, 
porém  quanto  á  sua  memoria  hade  ser 
tão  durável  como  a  do  Drago.»  Cavallei- 
ro d'01iveira.  Cartas,  liv.  1,  n.°  49. 

Que  ter  para  não  viver 
é  melhor  sem  ter  morrer, 
ter  sem  vida  não  sostem . 

ANTÓNIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  415. 

—  «Desde  que  este  amor  não  consiga, 
que  te  dês,  com  elle,  por  ditoso,  sem  elle 
viver  posso,  mas  sem  a  tua  estima  não : 
razão  essa  pela  qual  tão  impaciente  es- 
tou de  vèr-tc ;  não  creias  porém  que  ó 
por  afFecto;  que  louca  eu  fora  se  quises- 
se bem  a  quem  assim  me  trata.  E'  cóle- 
ra, mas  quem  a  cauea,  é...  amor.  Que 
não  te  assomarias  tu  a  pontos  táes,  se 
excesso  de  amor  não  militasse  em  ti.» 
Francisco  Manoel  do  Nascimento,  Succes- 
sos  de  madame  de  Seneterre. 

Vivem,  no  undoso  pego,  as  praias  buscào, 
Aura  mais  doce,  e  branda  alli  rcspirão. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Caut.  3. 

—  Fazer  viver;  prolongar  a  existên- 
cia. —  O  regimen  rigoroso  que  elle  segue, 
o  faz  viver. 

—  Morar,  habitar,  ter  vivenda.  —  Vi- 
ver na  capital,  que  mais  distracções  pô- 
de offerecer.  — «E  porque  per  este  nome 
Rey  elles  se  intitulaõ  do  melhor  sob- 
bjecto  que  be  da  jurisdicçaõ  dos  homens, 
chamâse  Rey  e  naõ  senhores,  ou  diremos 
que  o  fazem  porque  nomeandose  por  Reis 
da  terra,  entendese  que  o  saõ  dos  ho- 
mens que  viuem  nella.»  Barros,  Década 
1,  liv.  G,  cap.  1.  —  «Este  tanto  que  te- 
ue  noticia  dos  nossos  nauios,  e  que  a 
gente  delles  era  estrangeira,  saio  de  hum 
lugar  onde  elle  viuia  chamado  Onor  per- 
to dalli :  e  como  homem  sagaz  quis  co- 
metter  os  nossos  per  este  artificio,  ajun- 
tando oito  navios  de  remo  pegados  hums 
em  outros  todos  cubertos  de  rama  que 
parecião  huma  grande  balsa  delia.»  Ibi- 
dem, liv.  4,  cap.  11.  —  «Com  a  chega- 
da do  junco  ficou  elle  senhor  daquella 
passagem  de  maneira,  que  a  gente  da 
maior  povoação  da    Cidade,    que   era   da 


978 


VIVE 


VIVE 


VIVE 


parte  do  Upi,  nilo  podia  passar  a  outra 
oude  ElRoy  vivia,  que  AÍToiíio  u'All)o- 
querquo  toiuoti.»  Idimi,  Década  k),  liv.  O, 
cap.  í5.  —  «Da  qual  lllia  iiiiiiidoii  hum 
preaento  a  Affonso  d'Alljoqiic;rqu(;  de  cer- 
tos fardos  do  lenho  aloc,  c  de  liuma  iiias- 
aa  da  ospecio  íKí  lacre,  (|uc  ciitri!  olK  a 
servo  Uo  verniz;  dizendo  que  aquella  ora 
a  fruta  da  sua  tona;  e  poato  que  nella 
fosso  livre,  quo  seu  desejo  era  f;izer-Bo 
vassaiJo  d'ElKcy  de  Portnpal,  o  vir  vi- 
ver a  Malaca  ao  «orvir,  se  aprouvesse  a 
elle  Ciipitilo  mór.»  Ibidem,  cap.  7. —  «A 
Hustancia  da  qual  embaixada  era  liança 
de  amizade,  e  ([uc  ]wh  ellc  tinha  dostrui- 
do  aqiielle  tyraiino,  i[Uo  tanto  tcmjio  lhe 
fora  roucl  e  nunca  jiodôra  castigar,  que 
dalii  cm  diante  podia  mandar  os  seus 
pouos  do  Siíio  viver  áquella  cidade,  jior- 
quc  seriilo  trattados  nella  como  oa  pi-o- 
prios  Portugueses."  Ibidem.  — -  «N'esta 
t^rra  vivia  naquellc  tempo  hum  prineipo 
du  senliorio  e  estado  pequeno  por  nomo 
Turbno,  o  qual  dizem  quo  sendo  mance- 
bo solteyro  ouvora  três  filhos  n'uma  mci- 
Ihcr  por  nome  Nancaa  a  que  em  estnmo 
era  ajffeiçoado,  de  que  a  Riynha  viuva 
niSy  dclle  tinlia  nmyto  grande  desgosto.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações,  ca- 
pitulo 92. 

O  meu  paterno  Avô  foi  profesaoi- 

Do  latim,  que  rusinou  ou  bem,  ou  mal ; 

E  o  materuo  riren  no  seu  cazal, 

De  que  inda  agora  cu  mesmo  sou  senhor. 

ABBADF.  DE  JAZENTE,  POESIAS,  pag.  93. 

—  «Esta  ilha  do  Moçambique  tem  mul- 
to bom  porto,  jaz  em  terra  baixa  alaga- 
diça, c  doentia,  hos  principaes  dolla  craõ 
mouros  baços  de  diuersas  nações,  que 
tratauào  dalli  pêra  muitas  parte.'^,  ho-; 
naturacs  saõ  negros,  assi  hos  da  ilha, 
quomo  da  torra  firme,  viuem  em  casas 
de  taipa  cubertas  de  palha.»  Damiào  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1, 
cap.  36.  —  «Viuem  em  cauernas  de  ro- 
chas, o  choupaníis,  nam  tem  lei,  crem 
muito  om  agouros:  guardam  matrimonio, 
c  sam  nuiito  ciosos  de  suas  molhcres,  nas 
quaos  cousas  se  parecem  com  os  Lapos 
que  também  viuem  debaixo  do  Norto, 
de  Ixx  ate  Ixxxv  grãos  sugcitos  aos  Reis 
de  Norocga,  o  Suécia,  aos  quaes  pagam 
tributo,  licandu  sempre  om  sua  gentilida- 
de por  falta  de  doctrina.»  Ibidem,  cap.  (57. 
—  «Aliem  destes  viuião  nella  muitos  ea- 
ualeiros,  naturais  da  mesma  ilha,  ricos,  o 
abastados,  que  seutrctinluMÍo  do  suas  he- 
ranças, o  soldo  que  ganhauào  no  tempo 
da  guerra.»  Damião  de  Gocs,  Ghrouica 
de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  3. — «Pas- 
sada esta  de  cindi\  estam  as  da  laoa 
miuor,  o  menor,  que  tem  cada  huma  del- 
ias Rei  que  habitam  no  sertam  das  ilhas, 
o  saõ  gentios,  assi  clles  como  seus  vas- 
sallos,  excepto  os  que  vivem  nos  portos 
do  mar  que  sam  mouros,  saõ  ambas  mui- 


to fertilos  de  mantimentos,  fructas,  ca- 
ças, criaçoens  de  gado  grosso,  o  cauallos 
pequenos  como  quartaos.»  Ibidem,  cap. 
41. —  <E  assi  tnmbeni  na  Epistola  c 
Euangeliio  nos  traz  doutrina  muy  a  pro- 
pósito jtera  nito  imitarmos  as  quedas,  e 
peccados  de  nossos  primeyros  Padres, 
passados,  o  presentes.  E  aumariannmte 
no.s  quer  dizer,  que  entendamos  a  condi- 
çam  do  mundo,  o  terra  cm  que  viuemos, 
e  que  saybamos  (juo  nam  fomos  lançados 
nella  pêra  folgar,  descansar,  e  dcleytar 
nossa  carne,  mas  jiara  [lelejar,  pcra  tra- 
balhar, e  gardiar  Cor(ia.i>  Frei  Bartholo- 
meu  dos  Martyros,  Catecismo  da  doutri- 
na cbristã.  - — «E  dcyxada  a  toruaçam 
que  desta  nona  teue  o  maldito  Herodes, 
e  todolos  mãos  que  viuiam  em  Jerusa- 
lém, todauia  alli  pelos  Doutores  <la  ley 
foram  informados  qne  se  era  nascido, 
nam  podia  ser  seu.io  em  Belém  porque 
assi  estaua  Prophetizado. »  Ibidem.  — 
«Edificarão  aqui  estes  Fidalgos  suas  tor- 
res, e  casas  fortes  doude  viviaõ;  assim 
para  se  defenderem  dos  rebates  doA  Mou- 
ros, como  por  ser  este  modo  de  edificar 
casas  fortes  no  campo,  próprio  das  na- 
çoens  do  Norte,  como  ainda  hoje  se  vè 
cm  toda  a  França,  Alemanha,  e  lugla- 
tjria.B  Severim  do  Faria,  Noticias  de 
Portugal,  Disc.  3,  cap.  2.  —  «Os  Rjys 
de  Armas  tem  obrigação  neste  Reyno, 
segundo  o  Regimento,  que  lhes  deu  El- 
Rev  D.  Manoel,  de  cada  hum  em  sua 
Província  fazer  hum  livro,  em  que  se  es- 
crcvaõ  todas  as  Famílias  dos  Nobres,  e 
Fidalgos,  que  nella  vivem,  -apontando  os 
casamentos,  e  filhos,  que  cada  hum  ha; 
o  fazendo  disso  arvores  certas,  e  distin- 
tas com  seus  nomes.»  Ibidem,  cap.  18. 
—  «Provável  é  que  Adolpho  nunca  ima- 
ginou em  contractar  se  com  Miss  Anna 
Blrton,  que  com  effeito  é  tão  formosa 
como  nol-a  pintarão;  porquanto  tudo  é 
instar-me  que  deixemos  Londres,  cuja 
vivência  uão  me  é  de  agrado,  c  que  eom- 
prômos  algum  prédiuzinho  om  que  cu 
possa  socegadamente  viver,  o  segundo  o 
teor  a  que  era  habituada.»  Francisco 
Manoel  d<>  Na-^clmcuto,  Successos  de  ma- 
dame de  Seneterre. 

—  Viver  lihipii  e  virtuosamente ;  fcsr 
uma  vida  limpa,  pura,  e  cheia  de  virtu- 
des.. —  «E  este  celestial  prií.goeyro  (diz 
S.  Marcos)  andaua  vestido  do  cilicio  do 
eabehw  de  camello,  e  cingido  com  huma 
cinta  de  pelle,  e  o  seu  mantimento  era 
gafanhotos,  e  mel  montesinho:  e  a.ssi  pree- 
gaua  a  todos  que  fizessem  penitencia, 
que  mudassem  as  vidas:  e  os  que  se  con- 
uertlam  com  sua  pregaçam,  bautizauaos 
no  rio  lordam  cm  sinal  de  penitencia: 
porque  daquella  maneira  professanam  a 
mudança  da  vida,  e  querer  dalli  por 
diante  viuer  limpa  o  virtuosamente.» 
Frei  Bart!iolonieu  dos  Martyrcs,  Catecis- 
mo da  doutrina  cbristã. 

—  Viver  trintn  ânuos;  durar  trinta  an- 


noa;  ter  trinta  ânuos  de  rida.  —  f  A  pri- 
meira historia  contou-a  frei  JoSo  de  S. 
Pedro  que  viveu  trinta  aimos  voluntaria- 
mente inclaustrado  iio  mosteiro  de  Ren- 
diifTe.  A  segunda  passou  com  meu  primo 
D.  José  da  (jloria,  geral  dos  cruzios. 
Sempre  ó  bom>  por  isso,  «Tvir  ao  tribu- 
iial  lio  santo  oflicio  e  estar  bem  entabola- 
do  com  a  ordem.  Nunca  vi  sair  em  Por- 
tugal jesuítas,  nem  ilomiiiic  s  cm  auto  de 
fc'-.»  Bispo  do  (irito  Pari,  Memorias,  pu- 
blicadas por  Camillo  Castello  Branco, 
pag,  90. 

—  Viver  como  chrintSo;  viver  segando 
a  lei  de  Christo,  seguindo  as  virtudes 
christãs.  —  .  De  maneira  irm2o8  que  a 
primeira  pedra  que  aucnios  do  lançar 
neste  editicio  de  no.^sa' penitencia,  he 
hum  quero  muy  dcterminaJo,  s.  querp 
daqui  jmr  diante  viuer  como  ChristSo,  e 
com  o  fauor  diuino  guardar  todolos  pre- 
ccytos  e  mandamentos  de  meu  Deos, 
quebrar  e  esmiuçar  a  dureza  de  minha 
vontade,  resistindo  a  todolos  appetitcs 
que  se  iiella  aleuautarem  contra  a  vonta- 
de e  Ley  de  meu  Senhor  lESV  CHRIS- 
TO.» Frei  Bartholomeu  dos  Martyres, 
Catecismo  da  doutrina  cbristã.  —  «Sc 
tu  determinas  viuer  como  Curistam,  apa- 
relhate  pêra  sofl"reres  pedradas,  porque 
sem  duuida  nam  haõ  de  faltar  apedrcja- 
dores  (que  sara,  o  demónio,  carne,  e 
mundo)  então  se  ham  do  aperceber  con- 
tra ti  cora  mais  e  mayorcs  pedras  de 
tentações.  £  se  ainda  isto  naõ  tens  ex- 
perimentado, sinal  he  que  nam  ions  a 
vida  de  todo  emmen'Ja'la  (uomo  diz  San- 
cto  Augustiuho).»  Ibidem. 

—  Viver  quieta  e  privalameniê^  ter 
uma  vida  socegada  e  particular.  —  «Tan- 
to que  08  Emperadores  Diocleciano,  e 
Maximiano,  renunciada  a  Monarchla  se 
rctlràraí)  a  viver  quieta  e  privadamente, 
como  deyxamos  ct^ntido,  ficàraõ  com  o 
governo  absoluto  do  império  Constàcio, 
c  Galerio  Armentario. »  Honarchia  Lusi- 
tana, Hv.  õ,  cap.  24. 

—  Viver  cijin  alffuem;  viver  em  sua 
com()auhia. —  «Hos  com  que  viuem  fa- 
zem caualleiros  aos  m.-^trcs  que  h>^>s  en- 
sinaõ,  a  que  ehamau  Panlcàes,  sau  taS 
obedientes  em  moços,  e  depois  de  ho- 
mens, que  em  qualquer  parte  que  hos 
acliaò  ae  iançaõ  de  bruços  diante  deiles, 
e  hos  adoraò  quomo  se  fossem  idolos:  aho 
Rei  arma  cauallelro  ho  Pânica  que  ho 
ensinou.»  I)«miào  do  Go>?.  Chronica  de 
D.  Manoel,  part.  1,  cap.  42. 

—  Viver  mcd  e  aujametúe  ;  ter  vida  ea- 
eandalosa  e  indecente.  —  «Nenhum  des- 
tes sacerdotes  tem  mtdheres,  mas  vivem 
mal  e  sujamente.  Ho  primeiro  dia  do 
anno,  que  he  na  lua  nova  de  março  fa- 
zem por  toia  ha  terra  muito  grandes  fes- 
tas, visitam  SL>  huns  a  outros,  c  andam 
os  grandes  prl:;eipalniontc  em  grandes 
bant(Ui'tes.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pere- 
grinações, eap.  37. 


VIVE 


VIVE 


VIVE 


979 


—  Aliinentar-se,  snstentar-se.  —  «O 
mais  seguro  meio  de  lucrar  muito,  é  não 
querer  lucrar  demasiado,  e  saber  perder 
a  tempo.  Faz  que  os  estrangeiros  te  esti- 
mem :  passa-lhes  alguma  cousa  :  evita  que 
te  aborreçam  por  altivo ;  e  observa  con- 
stantemente as  kds  do  commercio  :  sejam 
estas  siuiples  e  claras:  costuma  teus  po- 
vos a  cumpril-as  inviolavelmente ;  pune 
com  severidade  a  fraude,  e  inda  a  negli- 
gencia, ou  o  luso  dos  negociantes;  pois 
tudo  isso  arruina  o  commercio,  arruinan- 
do os  homens  que  d'elle  vivem,  p  Fran- 
cisco Manoel  do  Nascimento,  e  Manoel 
de  Sousa,  Telemaco,  liv.  o.  —  «O  que 
nunca  se  pôde  extinguir  é  uma  casta  de 
gente  que  vive  junta  á  freguezia  de  San- 
t'Anna  do  Capim  em  treze  ou  quatorze 
casas  todas  <le  uma  família  chamada  Bra- 
gas. —  D'esta  família  ha  uma  oii  outra 
casa  que  vive  com  honra.  —  Os  Bragas 
misturados  com  negros  ou  cafuzes,  vivem 
como  ciganos  e  como  gente  do  corso.» 
Bispo  do  Grrão  Pará,  Memorias,  publica- 
das por  Camillo  Castello  Branco,  pag.  201. 

—  Vivendo;  em  vida.  —  «Chegou  pela 
posta  a  Inglaterra  (donde  alguns  affir- 
maõ,  que  sua  mãy  era  natural)  estando 
Constâncio  agonizando  cõ  a  morte,  como 
quer  o  Jletaphrastes,  onde  foy  aclamado 
Emperador  das  Províncias,  e  exércitos 
que  o  pay  governara  vivendo.»  Monar- 
chia  Lusitana,  liv.  5,  cap.  24. —  «Suc- 
cedeolhe  no  estado,  e  crueldade  contra 
03  Christàos,  seu  filho  Halid,  Abul,  (rna- 
lidaben,  Abdul  Melich,  íbi,  Marvan, 
chamado  entre  os  Árabes  Espada  de 
Dcos,  pelo  muito  sangue  que  derramou 
vivendo,  entre  as  primeiras  empresas 
que  cometeo  foy  huma  delias  a  de  Afri- 
ca, por  saber  que  os  naturaes  da  terra 
canssados  de  sofrer  as  tyranias  dos  Ára- 
bes, se  tinhaõ  rebelado,  e  posto  a  cute- 
lo, huma  grande  copia  delles.»  Ibidem, 
liv.  6,  cap.  30. 

—  Viver  na  cadeira  de  S.  Pedro  sete 
annos ;  viver  no  pontificado  por  espaço  de 
sete  annos;  ser  pontífice  sete  annos. — 
«Viveo  Sérgio  na  cadeira  de  Saõ  Pedi-o 
sete  annos,  e  quatro  mezes,  e  dezaseís 
dias,  e  tendo  precedido  grandes  sinaes 
no  Ceo,  morreo  de  sua  enfermidade,  e 
lhe  succedeo  Auastasio  terceiro  do  nome, 
que  em  dous  annos,  que  os  Authores  lhe 
assinaõ  de  governo,  não  fez  outra  cousa 
digna  de  memoria,  mais  que  naõ  perse- 
guir o  credito  de  seus  predecessores.» 
Monarchia  Lusitana,  liv.  7,  cap.  2õ. 

—  Viver  setenta  e  seis  annos;  ter  vi- 
da, durar  por  espaço  de  setenta  e  seis 
annos.  —  «Viveo  el  Rei  setenta  e  seis  an- 
nos, quatro  mezes,  e  nove  dias,  dos  quaas 
Heinou  quarenta  e  oito,  e  faleceo  no  an- 
no  de  Christo  mil  e  quatrocentos  e  trinta 
e  quatro.  Jaz  sepultado  no  Mosteiro  da 
Batalha  que  elle  fundou.»  Frei  Bernardo 
de  Brito,  Elogios  dos  reis  de  Portugal, 
continuados  por  D.  José  Barbosa. 


—  Viver    alegre   e  contente;  levar  uma 
vida  alegre,  jucunda,  e  jovial. 


Saiba  ja  temer  ; 
E  pelo  que  vio 
Julgue  o  qu'ha  de  ser. 
Alegre  viiia. 

CAM.,  REDONDILH.IS. 


—  «E  posto  que  o  imperador  tào  ale- 
gre e  contente  vivesse  naquelles  dias, 
nem  por  isso  perdia  o  desejo  de  ver  seus 
netos  Palmeirim  e  Fioriano,  com  cujas 
obras  sabia  que  as  dos  outros  homens  po- 
diam estar  em  quedo. »  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  90. 


Aqui  da  negra  inveja 
Jamais  me  infama  o  bafo  pestilente : 

Do  que  aos  outros  sobeja, 
Bem  que  me  falte  a  mira,  vivo  conteute  : 
Porção  pequena  de  qualquer  comida 
Basta  para  mauter-me  a  curta  vida. 

J.   X.    DE  MATTOS,  ElMAS,  pag.    117. 


Prima,  já  agora  me  prezo 
de  me  não  prezar  de  mi  ; 

vós  si,  que  viveis  contente, 
tendes  outro  pensamento. 

ANTÓNIO  PIIESTES,    AUTOS,  pag.    Í5.31. 


—  Viver  sem  conhecimento  de  Deus ; 
viver  110  seio  do  paganismo ;  viver  como 
pagãos.  —  «Ha  festa  faz  se  toda  ha  noi- 
te, porque  todos  os  gentios  assi  como  an- 
dam em  escuridade  vivendo  sem  conhe- 
cimento de  Deos,  assi  todas  suas  festas 
por  todas  as  partes  da  índia  e  da  china 
principalmeníe  as  fazem  de  noite.  Ha 
nestas  festas  muita  abundança  de  comer 
e  muito  vinho,  toda  ha  noite  gastam  em 
comer  e  beber  e  musicas  e  diversos  tan- 
geres com  diversos  instrumentos.»  Frei 
Gaspar  da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da 
China,  cap.  14. 

—  Viver  socegadamente ;  ter  uma  viila 
soeegada,  e  plácida.  —  «Provável  é  que 
Adolpho  nunca  imaginou  em  contractar 
se  com  Miss  Auna  Birton,  que  com  eflci- 
to  é  tão  formosa  como  nol-a  pintarão ; 
porquanto  tudo  é  instar-me  que  deixemos 
Londres,  cuja  vivenda  não  me  é  de  agra- 
do, e  que  compremos  algum  prédiozinho 
em  que  eu  possa  socegadamente  viver,  c 
segundo  o  teor  a  que  era  habituada.» 
Francisco  Manoel  do  Nascimento,  Suoces- 
sos  de  madame  de  Seneterre. 

—  Quando  vivo,  e  crescendo.  —  <tOra 
irmãos  neste  dia  do  bemauenturado  con- 
cebimento  da  Virgem,  chore  cada  hum  os 
males  em  que  foy  concebido,  e  nascido,  c 
despois  viuendo  acrecentou,  e  diga  cada 
hum  por  si.  O  miserauel  de  mim  :  que  alem 
dos  males  em  que  minha  mãy  me  coaoe- 
beo,  e  pario,  toda  a  vida  gastey  em  acre- 
centar,  e  me  çujar  de  outros  mayores.» 
Frei  Bartholomeu  dos  Martyres,  Catecis- 
mo da  doutrina  christã,  liv.  2. 


—  Tratar-se.  —  «Quem  não  sabe  viver 
com  as  que  tem  sendo  bastantes,  he  igno- 
rante :  Quem  deseja,  e  trabalha  por  aug- 
mentar  ás  necessárias  as  supertiuas,  he 
desgraçado.  Destes  últimos  loucos  he- 
grande  o  numero,  dos  ignorantes  he  infi- 
nito, e  o  dos  ditosos  póde-se  contar  pelos 
dedos.»  Cavalleiro  d'01iveira.  Cartas, 
liv.  2,  n.°  71.  —  (lE  como  a  seccura  he 
principio  da  desolaçaã  da  natureza ;  por- 
que vivemos  do  seo  contrario,  qual  he  o 
húmido  radical ;  (fundamento  que  tiveraõ 
os  Estóicos  para  affirmarem,  que  o  Uni- 
verso teve  o  seo  principio  da  humidade,) 
bem  pode  o  Medico  na  prezer.ça  da  sec- 
cura nimia  predizer  pestes.  Epidemias, 
febres  araentes,  Erysipelas,  e  outros  ma- 
les deste  género,  como  tem  Galeno.» 
Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal  medico,  pag. 
415,  §  Õ7. 

—  Não  poder  viver  muito;  não  poder 
durar  muito,  — •  «Quando  se  vio  ante  elle 
começou  de  chorar,  dizendo  quão  desam- 
parado ficava  sem  sua  presença,  e  tão  te- 
meroso de  sua  vida,  por  as  cousas  de 
llaez  Hamed,  que  lhe  parecia  nào  poder 
viver  muito.»  Barros,  Década  2,  liv.  10, 
cap.  8. 

—  Viver  em  boa  intelligencia ;  viver  de 
harmonia,  com  amizade.  —  «Hum  pomo 
do  ouro  poz  toda  a  Corto  Celeste  em  ru- 
mor, fazendo  de  três  Deosas  que  vivião 
antecedentemente  em  boa  intelligencia, 
três  inimigas  irreconciliáveis.»  Cavalleiro 
d'01iveira.  Cartas,  liv.  1,  n."  11. 

—  Tornar  a  viver;  viver  segunda  vez, 
de  novo. 

Em  mui  sancto  e  limpo  estado, 
Soccorrei  íio  namorado, 
Que  vós  sejais  namoradas. 
Oh  coitado  ! 
Ai  triste  desatinado 
Ainda  torno  a  viver  ; 
Cuidei  que  ja  era  livrado. 
Qu'esforço  de  namorado 
E  que  prazer ! 

GIL  VICESTE,   FARÇA3. 

—  Viver  ewi  paz ;  viver  pacificamente, 
ter  uma  vida  pacifica.  —  «Tãbem  ficamos 
sabendo  como  avia  gente  de  presidio  nos 
lugares  fortes  de  Portugal,  sem  bastar  a 
grande  paz  em  que  jâ  viviaõ,  para  os 
Romanos  se  darem  por  seguros  da  feroci- 
dade e  animo  guerreiro  dos  naturaes  da 
terra.»  Monarchia  Lusitana,  liv.  5,  cap. 
9.  —  «O  officio  do  Príncipe  he  procurar, 
que  seus  vassallos  vivaõ  em  paz :  e  por 
isso  quando  o  juraõ,  leva  na  maõ  direita 
o  Sceptro,  com  que  ha  de  governar  o  po- 
vo em  paz.»  Arte  de  furtar,  cap.  19. 

—  Conservar-se. 

Eis-me  CO  a  fazenda  assi, 
viverei  com  esta  fazenda, 
esta  fazenda,  de  mi. 

AMTONIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  407. 

—  Exiãtir,  haver. 


980 


VIVK 


Vivia  At»tría  com  o»  inortafiu,  vivia 
O  fraternal  aiiiur,  u  a  \>m  ditosa. 

J.  A.   I)K  MAi;K1)0,  a  NArUHKZA,  caiit.   2. 

—  Fifíurailamoiite:  A  alma  vive;  a 
alma  <j  iiiimortul. 

—  O  passariíi/iu  toma  ajf'iii(;ã<i  aos  ferros 
da  (jaiola  em  </ne  vive.  —  «Um  loào,  oiu 
poquono  se  rtiimii(;a.  Aod  próprios  ferros 
lia  t,'iiiola,  em  ((uc  vive  pruao,  toinii  affeiç^o 
um  i)assarinho;  scfulo  aquellc  por  seu  na- 
tural feroz,  e  cstu  livre.  È  a  creação  ou- 
tro 80<;uii'.lo  nascimento;  c,  ao  cm  alguma 
cousa  diíFere  do  primeiro,  é  só  om  ser 
mais  poderoso  Mte  sc<?undo.»  D.  Fran- 
cisco Manoel  de  Mello,  CarU  de  guia  de 
casados. 

—  Fiiíuradanionte :  Sustoutar-se,  iiu- 
trir-86.  —  «Mas  ponderay  a  palaura,  Kx- 
2>iicians,  não  'li/,  drsojando,  nem  amando, 
senaò  esporando,  porque  o  alento  com  que 
a  alma  viue,  do  que  se  sustenta,  o  os 
neruos  da  repubrlea,  saõ  esperanças,  des- 
sas naco  amor,  nace  ousadia,  naco  esfor- 
ço, com  essas  se  conquista  o  ceo,  e  a  ter- 
ra.» Paiva  de  Andrade,  Sermões,  part.  1, 
pag.  105. 

Viver  (Vamor  penando;  viver  amo- 
rosamente penando. 

Quanto  for  mais  avisado 
Quem  d'amor  vive  penando, 
Tcra  menos  siso  amando, 
Forque  lie  mais  namorado. 

OIL  VICKÍITB,  FAUÇAS. 

—  Viver  descan(;ado ;  viver  placidameu- 
te,  sem  inquietação. 

K  estas  cousas  dam  plazer, 
e  riquezas  dam  cuydado, 
ostas  fazem  non  temer 
terremotos,  uom  morrer, 
o.  mais  viuiT  descansado. 

OABCIA  DE  BKZKNDB,  MI3CEL1.ANEA. 

—  Fisuradamentc  :  Viver  «  esi>eyança. 


Perco  a  esperança 
Kas  mostras  que  vejo; 
Mas  no  meu  dczojo 
Vive  a.  esperança. 
Croaco  o  meu  cuidado, 
Vojo-mo  perdido  ; 
E,  inda  que  olíeudido. 
Mais  .atírtiçoado. 

K.  HODumuEs  i.ono,  o  desenoasado 

—  Viver  pobre;  lovar  uma  vida  cheia 
do  pobreza,  viver  pobremente. 

E  ho  mellior  som  mais  contenda 
Viver  pobre  neste  mato, 
Que  entre  os  homens  com  sou  trato, 
Tor  cabras,  liom-a  e  fazenda, 
r.  KODiuauKs  lobo,  éclogas. 


—  Ensinar  a  viver ;  ensinar  a  por- 
tar-se  d'uma  certa  maneira  com  relação 
aos  costumes,  á  religião.  —  Viver  santa- 


VIVE 

mente.  —  Não  saber  viver  o  peccadifr.  —  1 
Viver  niiindmenie.  —  «  Nara  sabe  viver  o  I 
puecador,  nani  tem  vida  o  carnal,  anti-s 
sua  vida  lie  destruyçauí  da  vida.  Dizem 
os  iillios  deste  mundo,  que  boa  vida  In; 
tratar  Inim  liomem  bem  sou  corpo,  o  nam 
padiicer  trabalhos  ou  tribulaçHes.  Mas 
leomo  diz  o  inetnir)  sancto)  os  mintiro.sos 
a  si  mesmos  montem.  Boa  vida  (diz  cUe) 
liam  he  outra  cousa  se  nam  neste  mundo 
niuytos.  bons  faier  muyto»  males  cò  pa- 
ciência padecer,  o  nisto  te  a  morte  per- 
seuiirur  e  pcn-manecer.»  Frei  Bartlioloincu 
dos  Martyres,  Catecismo  da  doutrina 
christã.  —  «Sam  Marco<,  cm  Alexandria 
ataila  bua  corda  ao  pescoço  foy  arrastra- 
do  jioUa  cidade,  te  es[)irar.  Assi  acabara 
estes  iiicnsa;ícyros  cnuiados  [lor  Deos.  Ks- 
tes  sain  os  verdadeiros  mestres  da  vida, 
([ue  j)or  nos  dar  vida  morreram,  por  nos 
ensinar  a  viuer  perderam  sua  vida.  r>  Ibi- 
dem. 

—  Viver  alcançado;  viver  empenhado, 
viver  com  uma  dospcza  superior  si  recei- 
ta.—  «Responde-llie:  de  graça  dczejara 
servir  a  v.  m.  mas  vive  hum  homom  al- 
cançado, e  sustenta  casa  com  esto  ofScio, 
de  v.  m.  o  que  quizcr.  E  se  o  requeren- 
te insta,  que  lhe  iliga  ao  certo  o  que  de- 
ve, por  que  naõ  traz  ordem  para  dar 
mais,  nem  he  bera  que  dé  meãos?»  Arte 
de  furtar,  cap.  59. 

—  Expressão  que  se  emprega  para  in- 
dicar que  se  deseja  por  muito  tempo  a  vi- 
da e  prosperidade  a  alguém.  —  Viva  a  li- 
berdade! Viva   Cl  rei] 

Ma  viagem  faças  tu 
Caminho  de  Calecu, 
Praza  k  virgem  consagrada. 
Que  ho  isso  ? 

Nilo  he  nada. 
Asi  «tua  Bercebu. 

OlL  VICIiNTR,  FABÇAS. 

Asai  viva  ellc  -, 
hi  Víls  pois,  quo  me  mandaes. 
Per  amor  de  mim  que  asinha. 
Não  tenho  espada,  nem  vcl-a. 

ANTÓNIO  PEF.STES,  AUTOS,  pag.    359. 

—  Deus  vive  por  toda  a  eternidade, 
vive  por  todos  os  séculos  dos  séculos,  vi- 
ve por  si  mesmo;  diz-se  pai'a  exprimir  a 
vida  de  Deus  infinita,  eterna,  indepen- 
dente. 

—  Os  bemaventurados  viverão  eterna- 
mente com  Detis  na  gloria;  elles  gozarão 
da  vista  de  Deus  durante  a  eternidade. 

—  Em  termos  de  devoção,  diz-se  cm 
relação  á  disposição  do  espirito  que  cstA 
em  estado  de  graça.  —  Uvi  peccador  cun- 
vertiilo  vive  da  vida  da  graça,  uma  «o- 
va  vida. 

—  l'assar  sua  vida  em  certo  tempo.  — 
Aíjuelles  que  viveram  na  era  christã. 

—  Passar  sua  vida. 
— -Viver    para    alguém;   consagrar-lhe 

sua  vida.  —  «E  como  diz  Pittaeo  hum  dos 
sete  sábios,  ha  de  ser   subjeito   á  razão 


VIVE 

doB  Hous,  O  liurc  á  sem  raz.1o  <]o«  alheou* 
Diz  o  i^itrarcha  quo  u  bom  Ilev  o  dia 
quo  começa  a  reyiiar,  acaba  de  Tiver  a 
si,  e  começa  a  viuer  pêra  os  outros.  E  so 
faz  o  contrayro,  destrue  totalmente  a  re- 
pubricu,  porque  como  diz  Xenopiíôte,  to- 
das as  que  HO  perderão,  foy  j<ur  cauMi  doa 
gouernadoreo.  >  Heitor  Pinto,  Dialogo  da 
Justiça,  cap.  .'>. 

o  que  cane«ira ! 
antes  n&o  sei  onde  cotava 
a  larrandcira  primeira. 
Virei-m^,  nào  vo»  maUriíi. 
A))eUe-o,  que  d<-amaio. 

ANrOMIO    FBBITES,    AUTO*,    ptg.    4S9 . 

—  Viver  c«tn  uma  vitilher;  ter  com  ci- 
la relações  conjugaes.  Diz-ae  também :  Vi- 
ver com  uma  concubina. 

—  Viver  uma  mulher  cvm  o  publico ; 
viver  na  prostituição. 

—  Nutrir-se,  sustentar-se. —  Cutta  mui- 
to viver  nesta  cidade. 

—  Viver  em  commum;  viver  entre  £a- 
inilia,  comer  todos  a  uma  mesa. 

—  Procurar  para  si  oe  meios  do  viver, 
de  80  sustentar.  —  Viver  do  teu  trabalho. 
—  Viver  dos  teus  rendimentos. 

—  Ter  com  que  viver;  pcMuir  uma 
renda  sufficiente  para  o  modo  como  ae 
vive. 

—  Viver  de  industria ;  viver  por  meioa 
pouco  iioiirosos ;  diz-se  á  má  parte. 

—  Viver  aos  dias,  ou  viver  dia  pen- 
dia; diz-se  de  quem  nâo  se  envolve  em 
negócios,  que  teem  a  execução  penden- 
te da  incerta  futuridade,  oa  de  longa»  es- 
peranças, traças  o  projectos;  qae  só  tra- 
ta de  lograr-se  d'aquelle  dia  com  mode- 
ração, e  o  que  basta. 

—  Figuradamente :  Viver  dia  por  dia  ; 
viver  sem  previdência,  sem  se  inquietar. 

—  Figuradamente:  Viver  da  graça  d« 
Deus;  diz-se  d'um  homem  a  quem  se  uJo 
reconhecem  recursos  alguns  para  t-ua  sub- 
sistência. Diz-se  também  de  uma  pessoa 
que  come  pouco,  e  tem  difficilmente  o 
bastante  para  so  sustentar. 

—  Figuradamente :  Viver  da  esperança  ; 
viver  na  espectativa  de  algum  bem,  e 
sustentar-se  por  essa  espectativa. 

—  Diz-se  em  relação  á  despeza  que  se 
faz,  ao  estado  que  se  tem. — Viver  es- 
plendida, nobre,  largamente. — Viver  co- 
mo particular.  —  Viver  como  príncipe. — 
Viver  miseravelmeiUe. 

—  Viver  nubrements ;  viver  como  fidal- 
go. 

—  Levar  um  género  de  vida  qualquer, 
ter  uma  certa  existência.  —  Viver  no  ce- 
libato, no  casamento.  —  Viver  na  alegria, 
na  tristeza. 

—  É  mister  deixar  viver  cada  um  á 
sua  viO'la;  é  mister  que  cada  um  regule 
sua  vida  como  entender. 

—  Eitiir  em  contacto,  em  commercio 
habitual. 

—  Viver  comsigo  mesmo;  viver  no  re- 


VIVE 


VIVE 


VIVI 


981 


tiro,  sem  communicação  com  o   mundo. 

—  Viver  bem,  ou  mal  com  alguém ;  es- 
tar em  boa,  ou  má  intelligeacia  com  elle. 

—  Conformar-se  aos  usos  do  mundo. 

—  Figuradamente:  Ter  uma  segunda 
vida,  ficar  na  lembrança,  na  aíFeição,  fal- 
lando  das  pessoas. 

—  Diz-se  também  das  cousas.  — Seus 
usos,  siKis  leis,  seus  nomes  vivem  ainda. 

— ■  Esta  obra  viverá ;  passará  á  poste- 
ridade. 

—  Viva  mil  annos ;  locução  com  que 
agradecemos  desejando  vida  larga  ao  bem- 
feitor. 

—  Viver  do  seu  havei',  do  seu  traba- 
lho. 

—  Viver  do  alheio;  viver  do  que  furta, 
usurpa,  rouba,  etc. 

—  Viver  na  vida  de  outrem;  ter  n'el- 
le  o  seu  bem,  felicidade,  amparo. 

—  Loc. :  Viver  depressa;  diz-se  dos 
que  .se  arriscam,   e  mettem  em  perigos. 

—  V.  a.  Toma-se  também  n'esta  classe 
de  verbos  com  a  palavra  vida  ou  uin  no- 
me de  tempo  para  regimen.  —  Viver  vi- 
da feliz.  —  Viver  calmas  iyisoffriveis.  — • 
«Os  Byduins  que  saõ  os  naturaes,  e  mo- 
raõ  pelas  montanhas,  padecem  grandes 
frios,  e  pelo  contrario  os  Arábios,  que 
viuem  ao  longo  do  mar  insofriueis  cal- 
mas. Estes  são  excelentes  pescadores, 
oflicio,  que  perpetuamente  vsão,  em  huns 
madeiros  atados,  sem  modo  algum,  ou 
fe3'çam  de  barco.»  Frei  Gaspar  de  S. 
Bei-nardino,  Itinerário  da  índia,  cap.  9. 

—  Viver-se,  v.  reji.  —  Vive-se  aqui 
commodaniente. 

—  Substantivamente :  O  estado  do  ser 
na  sua  vida. 

— Vida.  —  í  E  a  primeira  povoação  que 
fizeram,  foi  em  hum  monte,  que  está  so- 
bre a  fortaleza  que  alli  temos,  no  qual 
acharam  alguma  gente  da  própria  terra 
quasi  meios  salvages  no  modo  de  seu 
viver,  cuja  lingua  era  a  própria  Malaia, 
de  que  toda  aquella  gente  usava,  e  com 
quem  estes  Cellates  se  entendiam. »  Bar- 
ros, Década  2,  liv.  6,  cap.  1. 

E  em  gastar  desordenados, 
c  tantcs  trajos  mudados, 
tanto  mudar  de  viuer, 
tanto  tractar,  reuoluer, 
tanto  acr  negociados. 

O^BCIA  DE  BEZENDE,  UI3CELLA.KEA. 

«E  Vlpiano  diz  que  os  preceptos  do 
direyto  saõ  viuer  honestamente,  nam  em- 
pecer a  ninguém,  dar  o  seu^|a  cujo  he, 
nos  quaes  se  inclue  toda  a  moral  philoso- 
phia.  E  as  leis  sam  as  que  ensina  estes 
preceptos.  Por  onde  se  mostra  que  saõ 
ellas  regras  de  philosopliia,  &  doutrina  de 
bem  viuer  dadas  pêra  o  bem  comum.  Por- 
que ley  não  he  senào  huma  ordenança 
da  razão,  e  hum  precepto  dado  de  quem 
tem  carrego  disso  pêra  o  commum  pro- 
ueito,    e  conseruaçam  da  humana  socie- 


dade»  Heitor  Pinto,  Dialogo  da  Justiça, 

cap.   7. 

Nas  náos  attribuladas,  isto  espalha 
Cirande  espanto,  temor,  desconfiança, 
Mas  a  gente  que  n'ella3  se  agazalha, 
Faz,  quanto  de  viver  lhe  d:l  esperança: 
Com  revezada  força  se  trabalha 
Na  longa  bomba,  e  o  mar  ao  mar  se  lança, 
Ora  ae  encolhe  a  escota,  ora  se  solta, 
Cresce  a  voltas  do  modo,  a  grãa  revolta. 

F.  d'andeade,  pkimeibo  cebco  DE  DIU,  cant.  4, 
est.  26. 

Alli  sua  bonança  ha  por  segura, 
E  que  sua  fortuna  alli  socegue, 
Mas  como  ella  ao  que  pôz  na  mór  altura 
Sempre  com  maior  mal  trata  e  persegue, 
Faz  que  neste  alli  foi  de  pouca  dura 
Tudo  quanto  lhe  fora  antes  entregue  : 
Perde  o  mando,  as  riquezas,  a  privança, 
E  quasi  de  viver  a  confiança. 
IBIDEM,  cant.  2,  est.  79. 

JA  me  não  prendem  dúvidas ;  fujamos 
Do  vil  cárcere :  a  morte  só  é  termo 
Da  vida,  —  da  existência  não...  No  intimo 
D'alma  o  pôz  Deu.i,  o  sentimento  vivo 
Da  eternidade.  Este  viver  continuo 
D'esp'rançaa,  este  anciar  pelo  futuro. 
GAKKETT,  catão,  act.  5,  BC.  2. 

—  «Desde  o  palácio  até  a  taberna  e  o 
o  pro.?tibulo;  desde  o  mais  esplendido  vi- 
ver até  o  vegetar  do  vulgacho  mais  rude, 
todos  os  lugares  e  todas  as  condições  tem 
tido  o  seu  romancista.»  Alexandre  Her- 
culano, Eurico,  Prol. 

—  Adágios  e  provérbios  : 

—  Ao  que  mal  vive,  o  medo  o  perse- 
gue. 

—  Quem  mal  vive,  por  onde  pecca,  por 
ahi  se  castiga. 

—  O  que  vive  mal,  pouco  vive. 

—  Come  menino,  criar-te-has ;  come 
velho,  viverás. 

—  Come  caldo,  vive  em  alto,  anda 
quente,  viverás  largamente. 

—  Come  para  viver,  pois  não  vives 
para  comer, 

—  Viva  quem  vence. 

—  Viver  do  presente,  sem  ter  conta 
com  o  futuro. 

—  Viva  a  gallinha,  e  viva  com  a  sua 
pevide. 

—  Quem  mala  vive,  mais  sabe. 

—  Quem  em  carcez-es  vive,  em  cárce- 
res quer  morrer. 

—  Quem  as  cousas  muito  apura,  não 
vive  vida  segura. 

—  Faze  da  noite  noite,  e  do  dia  dia, 
viverás  com  alegria. 

—  Vive  o  pastor  com  a  sua  rudeza,  e 
morre  o  physico,  que  a  physica  reza. 

—  Quem  me  empresta,  ajuda-me  a  vi- 
ver. 

—  O  que  caminha  a  cavallo,  vive 
pouco,  e  o  que  anda  a  pé,  contam  jjor 
morto. 

—  Quem  se  naõ  conhece,  vivendo  se 
desfallece. 


—  Segue  a  formiga,   se  queres   viver 
sem  fadiga. 

—  Não  vive   mais    o    leal,  que  quanto 
quer  o  traidor. 

—  Homem  provido,   não  vive  mesqui- 
nho. 

—  Se  queres   viver  são,   faze-to  velho 
antes  do  tempo. 

VIVERES,  s.  m.  plur.  Victualhas,  pro- 
visão de  mantimentos. 


As  cegonhas  também  tragão, 
Os  viveref!  conduzindo, 
No  peru  venha  o  esporão, 
Que  venha  logo  ferindo. 

JERONYMO    BAHIA,    A    UM  PINTASILGO  MOBTO 
POB  UM  GATO. 


—  dAndão  por  alto  vozes  peregrinas, 
não  cessando  com  os  combois,  brechas 
aproxes,  viveres,  avançadas,  e  castra- 
mentaçoens.»  Francisco  Manoel  de  Mel- 
lo, Apologos  dialogaes,  n."  169. 

VIVEZA,  s.  f.   Vivacidade,    esperteza, 
promptidà.0,  acrimonia,  actividade. 

—  Energia,    força.  —  A  viveza  do  en- 
genho. 

—  Loc. :  Defender-se  com  viveza. 
VIVÍDO,  part.  pass.  de  Viver. 
VÍVIDO,   A,    adj.   (Do    latim    vividus). 

Vivo,  animado,  que  tem  vivacidade. 

Espavorido  Lúcifer  fugia. 
Não  sui)|iortando  o  vivido,  esplendente 
Clarão  dos  Ceos,  que  as  sombras  dividia, 
No_  fundo  cabos  se  occultou  tremente  : 
Eaio  purpúreo  do  nascente  dia 
Do  ouro  vinba  esmaltando  o  Ceo  d'Orionte, 
E,  nunoia  da  manhã  serena,  c  bella, 
De  Vénus  surge  a  rutilante  estrella. 
j.  A.  DE  MACEDO,  OBiuNTE,  cant.  3,  cst.  48. 


Foi  aos  vindouros  séculos  distantes 
Promettido  esto  arcano  entre  cerrados 
Negrumes  do  Sinai;  foi  por  constantes 
Imagens  dictó  em  extasia  sagrados  : 
E  Proféticas  chammas  fulgurantes, 
liom  pendo  do  futuro  os  véos  pezados, 
Sustinhào  sempre  a  vivida  esperança 
De  hum  pacto  Divinal,  nova  alliança. 
IBIDEM,  caut.  10. 


Agente  principal  ;  vivido,  pronto. 
Em  seu  Corpo  vastissimo  fespalhas 
ÍTernien  da  Vida.  As  Ondas  procoUosas, 
Se  mór  frio  lhes  tolho  a  acção  do  fogo. 
Súbito  em  corpos  sólidos  se  mudão. 

IDEM,    A  NATUBEZA,  Cant.   2. 

VIVIDOURO,  A,    adj.  Vivaz,  que  dura 

largos  annos,  que  não  morre  com  facili- 
dade. —  P/anta  vividoura. 

VIVIFICAÇÃO,  s.  f.  Acção  de  vivifi- 
car, ou  ser  vivificado. 

VIVIFICADO,  part.  liass.  de  Vivificar. 
—  plantas   vivificadas  pelo  calor  do  sol. 

VIVIFICADOR,  A,  adj.  e  s.  Que  vivi- 
fica. 

VIVIFICANTE,  part.  act.  de  Vivificar. 
Que    vivifica,    que    reanima.  —  Espirito 


982 


VIV(J 


VIVO 


VIVO 


vivificante.  —  «A  quinta  porque  estando 
viraila  a  purta  do  taljuraaculo  para  o  Occi- 
dentc,  ollirido  para  elie  o.»  liideos,  fa<;a- 
iiios  o  contrario,  olhatido  para  o  (oriento 
08  Catholicos,  porque  a  loy  daquellns  lie 
hoje  niortitora,  o  o  no.-iso  espirito  viuifi- 
cante,  poÍH  elle«  ainda  tem  o  vo  da  cc- 
pueira  nos  ollio.s.»  Lacerda,  Carta  Pasto- 
ral, (lag:.  26. 

—  Tornio  de  thoologia.  Fé  vivificante. 

—  Vivificantes  nnras. 

—  Vivificantes  obrua  ;  que  restituem  o 
homem  A  ;,'r.u;a  de  Deu.?. 

VIVIFICAR,  V.  a.  {\)o  latim  vivijica- 
re).   Dar  a  vida,  e  conserval-a. 

—  Por  extensão :  Dar  vigor,  força,  fal- 
lando  de  certos  agentes  naturaos. 

—  Figuradamente :  Dar  animação,  vi- 
da. 

— '  Termo  de  theologia.  Diz-se  dos  effei- 
tos  da  graça,  da  oração.  —  A  graça  vivi- 
fica. 

—  Figuradamente  :  Dar  movimento,  e 
actividade  a  um  paiz. 

—  A  esperan<;a  vivifica  os  amantes. 

—  Fomentar  a  vida. 

—  Vivificar-se,  i-.  rejj.  Tomar  vida, 
força. 

VIVIFIGATIVO,  A,  a<lj.  Que  vivifica,  e 
fomciit.i  a  vida.  —  Calor  vivificativo. 

VIVIFICO,  A,  ailj.  (Do  latim  vivijiais). 
Vivitieanto. 

VIVIPARO,  A,  aJJ.  (Do  latim  liviím- 
rus,  de  uivus,  e  parere).  Termo  de  zoo- 
logia. Diz-se  dos  auimaos,  cujos  filhos 
vem  ao  mundo  com  vida.  —  Entre  os  re- 
ptis, uns  sào  oviparos,  uittros  viviparos. 

—  Termo  de  botânica.  Diz-se  das  plan- 
tas cujas  sementes  germinam  no  pericar- 
po,  ou  que  apresentam  bolbilhos  axillares, 
ou  que  se  desenvolvem  em  logar  das  flo- 
res. 

—  Substantivamente :  Os  viviparos  são 
vienos  fecundos  (jiie  os  oviparos. 

VIVisSIMAMENTE,  adv.  sitperL  de  Vi- 
vamente.  Mui  vivamente. 

VIVÍSSIMO,  A,  aJj.  siiperl.  de  Vivo. 
Mui  vivo. 

VIVO,  A,  adj.  (Do  latim  vivus).  Que 
tem  vida  animal  ou  vei^etal. 


Jogais  comi;:;ú  á  panoUaV 
Tendeâ-me  ha  tanto  captivo, 
E  dcâeiiguuaii-me  agora  V 
Tudo  isto  he  o  i\\\o  jirivo. 
Assi  que  he  isso,  Senhora, 
Dochelo  morto,  doche.lo  vivot 
Se  me  vós  desenganais 
No  cabo  do  tíintoa  anos. 
cAM.,  AMPurraiÕEs,  act.  1,  se.  3. 


—  «O  filho  de  Pirbec  no  tempo  que 
SimaS  da  Costa  voltou  pêra  a  terra,  hou- 
ve vista  delle,  o  metendo  o  bastardo  o 
foy  seguindo,  e  como  o  vento  era  rijo,  e 
os  mares  grandes,  e  a  fusta  pequena,  hia- 
se  aftbgando  de  feição,  que  chegou  a  ga- 
lé do  filho  de  Pirbec  a  ella,  e  por  desejar 


de  tomar  a  todos  vivos  alo  quiz  meter  a 
fusta  no  fundo,  e  se  fov  desviando  de  ma- 
neira, que  llie  ficou  delciixo  dos  remos.  • 
Diogo  lie  ('outo.  Década  G,  liv,  10,  cap, 
1.  —  «Por  a  qual  raz.^o,  jHjwto  que  o  tem- 
po era  mui  perigoso  jiera  navegar,  c  a 
gente  vin!i:i  mui  anojada  do  mar,  e  ou- 
tra onfuriiia,  provido  o  melhor  que  podo, 
espedio  a  Pêro  Mascarenhas  que  fosse  to- 
mar ipialquer  porto  das  nossas  fortalezas 
da  índia  pêra  esforçar  a  gente,  sabendo 
ser  elle  vivo;  cá  pelas  novas  que  D.  Ai- 
res, o  OhristovSo  de  Brito  hl  deram,  tara- 
bcui  o  haviam  por  perdido.»  Barros,  Dé- 
cada '2,  liv.  7,  cap.  2.  —  «Dom  loam  sa- 
bendo o  que  ])assaua  ae  a])re8suu  quanto 
pode  ate  chegar  as  pontinhas,  onde  achou 
os  mortos,  e  Aluaro  nunez  ainda  vruo.i 
Damião  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  4,  cap.  76. —  «Assi  se  arremessa- 
uam  n'elle,  que  em  breue  foram  os  na- 
uios  enxorados  de  to<]os  os  viuos  solda- 
dos, e  chusma,  o  Lucena,  Vida  de  S.  Fran- 
cisco Xavier,  liv.  5,  cap.  14. 


A  hvbernn  Quadra, 
Ao  clarão  de  splcndcntc  viva  flamma, 
Junto  a  um  pihir  sentada,  deduzia 
Delgado  íio,  em  rodopiado  fuso. 

F.    M.   DO  NASCIMENTO,  OS   UABXVBES,   llV.    1. 


—  íiQue  a  rainha,  chamando  o  embai- 
xador catholico,  lhe  gritara:  Diga  ao 
bárbaro  de  meu  irmão  que  ainda  são  vi- 
vos os  netos  d'aquellcs  que  venceram 
vinte  e  ciaco  batalhas  aos  hespanhoes  : 
diga-lhe  que  não  sou  castelhana :  que 
sou  rainha  de  Portugal,  e  que  me  hei  de 
ir  ver  com  elle  no  campo.»  Bispo  do 
(irão  Pará,  Memorias,  publicadas  por 
Camillo  Oastello  Branco,  pag.  16. 

—  Aguas  vivas  ;  aguas  correntes,  não 
encharcadas. 

—  Figuradamente :  Aguas  vivas ;  ma- 
rés grandes  da  lua  cheia.  —  «Mandado 
esto  junco,  por  razão  de  luima  coroa  que 
fazia  o  rio  ante  de  chegar  á  ponte,  não 
pode  passar,  nem  outro  navio  mais  pe- 
queno, que  a  este  fim  mandava  na  eua 
esteira,  e  isto  por  as  aguas  serem  mui 
quebradas,  de  maneira  que  foi  necessá- 
rio esperar  que  viessem  as  vivas  com  a 
Lua  nova.»  Barros,  Década  2,  liv.  6, 
cap.  5.  —  «Hum  na  proa,  outi'o  na  popa, 
e  outro  no  meyo,  liados,  e  atravessados 
com  grossas  vigas,  em  quo  mandou  me- 
ter muitos  artificios  de  fogo,  barriz  de 
alcatrão,  e  de  outros  niateriaes,  pêra  lan- 
çarem dentro  no  baluarte  muitos  danlos, 
lanças,  pedras,  e  outros  instrumentos  de 
guerra:  encomendando  aquelle  negocio  a 
hum  Sangiaco  com  duzentos  Turcos,  pêra 
como  fossem  aguas  vivas,  na  marò  da 
noite  abordar  com  a  n:\o  o  baluarte,  e 
ganhai  lo,  o  que  lhe  fora  muito  fácil  se 
Deos  o  tiHo  descobrira.»  Diogo  de  Cou- 
to, Década  6,  liv.  1,  cap.  8. 


Com  quanto  a  ChrÍHb*ia  f;cntc  IA  imagina 
Kiita  obra  d  ;i:>iiui;r.<<  iiiai<  que  diàiio, 
Fiiifir  p.j  .  Jutonuiua 

Aiitiij  q  .r>  traga  O  <>cc«4no; 

Não  jiorqu     i   ...      .:.i.)  fima  a  ruiiui 
Que  procura  u  intiul  povo  profauo, 
S';njio  pura  cUo  ver  (jue  cm  vio  pcrtcode 
lieiídcT  n  manha,  a  queiji  (oTi^  não  rcudc. 
caA.vciscu  uK  ASbaAOK,  raiMEiBo  ceboo  db  diu, 
cant.  19,  c«t.  81. 


—  Agua  viva;  agua  nadivel. 

—  Pedva   viva ;    nativa    onde    eetá,    e 
nSo  a.soentada  por  artificial. 

Olha  as  portas  do  estreito,  que  fenece 
No  reino  da  mcca  Adem,  que  confina 
Com  a  serra  d'Arzira,  pedra  viita. 
Onde  chuva  dos  ecos  *c  não  d'TÍvn. 
aiii.,  LL's.,  cant.  10,  est.  Si*. 

—  Fogo  vivo ;  fogo  que  arde  com  acti- 
vidade. 

—  Figuradamente:    O  fogo    vivo    du 
amor. 

—  O  fogo   vivo    yu*   nos   olhos    cham- 
Ttieja.  , 

Então  amores  de  Monra, 
Ja  sabeis  o  fogo  viro. 
Ella  captiva  cu  captivo : 
Ora  que  ma  morte  moura 
Se  ha  hi  mal  tão  esquivo. 

GU.    VICENrE,   FJLBÇA8. 

o  torrivel  aspecto  mettc  medo, 
Nos  olhos  rii-o  fogo  então  chammeja. 
Da  língua  o  natural  U80  e:-tá  quedo, 
Nem  púdc  declarar  o  que  deseja : 
Emlim  a  solta,  c  diz  que  muito  cedo 
Elle  mesmo  irá  ver  se  cm  tudo  seja 
Cori-esjjondente  o  esforço  em  obra  e  eSeito 
A  tacs  palavras,  tão  st^rbo  peito, 
r.  d'ándbaoe,  pbocbibo  cebco  oe  diu,  cant.  3, 
eat.  15. 

—  Vivas  paixòes ;  paixões  violentaâ. 


Co'aâ  mais  vivas  Paixões,  insigne  ingcnho  *, 
Nimio,  no  estudo,  c  «os  prazcrea  nimio, 
Néga-lhc  a  Impulso»,  a  ludolc,  repouso; 
Irascivel,  sublime,  inquieto,  bárbaro, 
No  perdão  implacável,  se  ottendido. 

F.  M.  DO  KASClMEjrrO,  OS  UXSTYBKa,  liv.  4. 

—  Ódio  vivo;  ódio  cntranhavel,  figa- 
dal, irreconciliável. 

Recolhe  as.si  do  li\Te  e  do  captivo 
Coleimão  do  ouro  e  prata  huma  gr2a  «opia, 
Mas  mór  a  rccolheo  d  "um  ódio  Wro 
Co'a  gente  u.itural,  e  ooa  sua  propia; 
Que  debaixo  do  ardente  Sol  estivo 
Não  ferve  tiuito  a  areia  da  F.thiopia, 
Quanto  huns  e  outros  em  ódio  estão  ferrendo 
Todos  porque  roubados  se  estão  vendo. 

FKANCISCO  D'xXDBJk.DH,  PBIUEir.O  CEBCO  DE  DIU, 

caut.  13,  C8t.  IS. 

—  Fmos  das  ann<is  vivos  «  acessos. — 
fNão  tardou  muito  que  ao  cerco  che^^oa 
um  câvalleiro   ao   parecer  de  todos  bem 


VIVO 


VIVO 


VIVO 


983 


posto,  armado  d'armas  de  negro,  com  fo- 
gos por  ellas  tão  vivos  e  acesos  que  qua- 
si  pareciam  uaturaes.»  Fraucisc:)  de  Mo- 
raes, Palmeirim  dTuglaterra,  cap.  84. 

—  Diz-se  para  exprimir  a  força  de  luz, 
das  cores.  —  COr  viva. 

Tão  rÍTO.ç  cores,  tão  diversas  formas 
Cantando  expor!  Thesouros  d'harmoma 
Qu'  o  remontado  Cisne,  qu'  as  Thebanas 
Lides  fraternas  decantando  entorna, 
Sào  pobres  para  expor  tanta  belloza ! 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Oant.  3. 

—  Olhos  vivos ;  olhos  brilhantes  e 
cheios  de  fogo. 

—  Exprioiido  com  calor,  com  força ; 
enérgico,    animado.  —  Vivos   revérberos. 

Com  seus  vivos  revérberos  dilílto 
Meu  circulo  mortal;  a  alma  levada 
Em  soberanos  êxtases  encara 
Luminosos  relâmpagos,  que  mostra 
De  tua  Sapiência  o  Mundo  impressos, 
j.  A.  nE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  cant.  1. 

—  Expressões  vivas ;  expressões  em 
que   se  faz  sentir  o  fogo  da  imaginaç.ão, 

—  Feitos  vivos;  feitos  picantes. 

—  Trazei-m  o  vivo  ;  trazei-m'o  com 
vida.  —  «A  melhor  cidade  do  Gharb  e  a 
mais  bella  das  minhas  escravas  a  quem 
m'o  trouxer  vivo  aqui.  Todos!...  Ide, 
trazei-mo  vivo!  Prestes,  cheiks,  walis, 
kaiyds,  cavalleiros  do  propheta  !  Prestes  ! 
correi  após  o  meu  assassino ! »  A .  Hercu- 
lano, Eurico,  cap.  15. 

—  Comer  alguém  vivo;  comel-o  em 
vida. 

—  Figuradamente  :  Desejar  comer  al- 
guém vivo  ;  ter-lhc  um  grande  ódio,  com 
desejo  de  cruel  vingança.  —  «Donde  te 
Deos  guarde,  porque  te  affirmo  que  se 
por  mofina  lá  fosses  ter,  que  vivo  te  co- 
messem 03  Achens  aos  bocados,  e  o  pró- 
prio Rey  mais  que  todos,  porque  a  honra 
de  que  agora  mais  se  preza.»  Fernão 
Mendes    Pinto,    Peregrinações,  cap.    18. 

^  i^oíiíe  viva ;  fonte  pereune,  perpe- 
tua, que  é  Deus.  —  «O  escodrinhador  da 
Magestade  divina  será  opprimido  de  sua 
gloi-ia,  e  luz  infinita:  e  por  isso  quanto 
cm  nos  falta  a  clareza  de  nosso  conheci- 
mciito,  tanto  creça  a  sede  de  o  conhecer, 
e  gozar  perfeitamente,  dizendo  com  Da- 
uid.  A  minha  alma  anda  morta  com  sede 
de  chegar  a  DEOS  fonte  viua :  quando 
irey,  e  apparecerci  diante  do  rosto  de 
Deos?»  Frei  Bartholomeu  dos  Martyres, 
Catecismo  da  doutrina  christã. 

—  Enérgico,  efficaz. 

Qu'  anima  a  Natureza,  derramado 

No  ar  qu'  o  uutrc,  a  força,  actividade 

Deste  fluido  traz,  e  effeito  he  delle 

A  viva  acção  que  tem :  quanto  he  mais  denso. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Cant.  2. 

— ■  Morte  viva ;  estado  cm  que  o  ho- 
mem  vive,  porém   sem    vida    verdadeira  | 


em  consequência  das  graves  misérias  que 
o  cercam.  —  «E  com  rezam  se  chama 
vida,  porque  somente  entào  verdadeira- 
mente viuirenios  assi  nalma,  como  no  cor- 
po: Porque  assi  como  viucr  em  graucs 
misérias  mais  se  deue  chamar  morte  viva, 
que  vida,  assi  estando  nosso  corpo  liure 
de  todalas  misérias,  de  fome,  e  sede,,  de 
calma  e  frio,  cansaço,  e  de  todalas  outras, 
então  se  dirá  ter  verdadeira  vida.»  Frei 
Bartholomeu  dos  Martyres,  Catecismo  da 
doutrina  christã. 

—  O  vivo  azul  dos  cens;  o  claro  azul 
d'elles. 

Por  elles  seus  revérberos  mistura 
A  apavonada  cor  da  fresca  Aurora, 
O  vivo  azul  dos  Ceos,  e  o  voltojante 
Verde  qu'a3  ondas  liquidas  esmalta, 
O  roxo  triste  do  modesto  Lirio. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Cant.  3. 

—  Peçonha    ardente    e    viva;    peçonha 
ardente  e  forte. 


Vai-sc  a  Cojaçofar,  que  ja  o  preceito 
De  Plutão  quer  cumprir,  a  que  alli  veio, 
Com  foriiigenta  mão  lhe  toca  o  peito 
Que  de  mil  pungimentos  doixa  cheio  ; 
Faz  também  apoz  i.-ito  o  usado  effeito, 
Na  mais  interior  parte  do  seio 
Lliiuspira  liuma  peçonha  tào  nociva 
Que  nos  ossos  lhe  fica  ardente  c  viva. 

FRANCISCO   DE  AHDR.IDB,  TRIMEIRO   CEKCO   DE   DIU, 

cant.  9,  est.  IIL 


—  Os  espiritas  vivos  que  os  olhos  ins- 
piravam; os  espíritos  activos,  enérgicos, 
fogosos,  que  os  olhos  inspiravam. 

Quando  hade  o  apuro  do  cinzel  mais  destro 
Tacs  mimos  egualar?  Aquelle  gesto' 
Que  as  estrellas,  o  ceo  c  o  ar  namora, 
Aquelle  affrontamcnto  do  caminho 
Que  a  belloza  lhe  aviva  ?  Como  as  graças. 
Os  espíritos  vivos  que  inspiravam 
Dos  olhos  onde  faz  seu  filho  o  niabo  ? 
GARRETT,  CAMÕES,  caut.  7,  oap.  17. 

—  Imagem  viva;  imagem  fiel,  enérgi- 
ca e  verdadeira.  — •  «Quem  faliara  da  ge- 
raçam  eterna'.''  quem  poderá  declarar  co- 
mo o  Padre  eterno  eternalmente  produ- 
zio  huma  imagem  viva  de  sua  substancia, 
de  sua  natureza,  igual  a  elle  em  Mages- 
tade, bondade,  poderio,  e  sabeduria?» 
Frei  Bartholomeu  dos  Martyres,  Catecis- 
mo da  doutrina  christã. 

—  Figuradamente :  Uma  morte  sempre 
viva;  a  uondemnacào  eterna. 

—  Carne  viva;  diz-se,  n'um  corpo  vi- 
vente, em  opposição  a  carne  morta. 

—  Cabellos  vivos,  ou  naturaes;  cabei- 
los  taes  quaes  foram  cortados  sobre  a  ca- 
beça. 

—  Floresta  viva ;  que  tem  bellas  e 
grandes  arvores. 

—  Rocha  viva;  rocha  cuja  superfície 
não  .se  alterou. 

—  Cal  viva ;  cal  que  ainda  nào  foi  im- 
pregnada d'agua. 


—  Que  tem  muito  vigor,  actividade, 
fiillando  das  pessoas,  dos  animaes.  —  Co/- 
vallo  vivo. 

—  Ter  os  sentidos  vivos;  ser  muito 
sensível  á  impressão  dos  objectos  inte-, 
riorcs. 

—  Ter  o  espirito  vivo,  a  imaginação 
viva;  conceber,  produzir  prompta  e  fa- 
cilmente. 

—  Que  sente  vivamente. 

—  Que  tem  vivacidade,  fallando  das 
cousas.  —  Maneiras  vivas. 

—  Ataque  vivo ;  ataque  prompto  e 
forte. 

—  Termo  de  medicina.  Pulso  vivo; 
pulso  que  reúne  a  promptidão,  a  frequên- 
cia e  a  força,  sem  dureza. 

—  Diz-se  para  contrariar  a  força  de 
certas  impressões  physicas.  —  Um  calor 
vivo.  —  Um  frio  vivo. 

—  Ar  vivo ;  ar  puro  e  fresco,  tal  co- 
mo o  dos  logares  elevados,  e  que  faz  im- 
pressão ao  peito. 

— Diz-se  para  caracterizar  a  força  de 
certas  impressões  uiorae?.  —  Vivo  desejo. 
— -Vivo  amor. 

—  Fé  viva ;  fé  ardente  e  firme,  c  tam- 
bém a  fé  q'ae  é  acompanhada  das  obras. 

—  Que  dura,  que  subsiste  cumo  algu- 
ma cuusa  vivente. 

—  Que  se  faz  sentir  como  n'uma  parte 
vivente. 

—  Vivo  exempÀo ;  exemplo  fresco, 
actual,  não  esquecido. 

—  Serra  viva ;  rocha  sem  herva,  ter- 
ra, ou  pl;int;i. 

—  Penha  viva ;  penha  que  ainda  está 
na  pedreira,  ou  na  terra  onde  se  formou. 

—  Chaga  viva ;  chaga  descoberta  da 
pelle. 

—  Diligente,  ágil,  esperto. 

—  Bois,  cavallos  vivos  na  andadura ; 
bois,  cavallcs  espertos,  ágeis,  applicados, 
ligeiros.   ■ 

—  Figuradamente:  Chaga  \i\a;  chaga 
mui  serisivel  ao  toque. 

—  Sangue  vivo  ;  sangue  puro,  sem  al- 
teração, ou  mescla. 

—  Vivo  exemplo;  exemplo  enérgico  e 
efficaz. 

—  Loc. :  Ficar  mais  morto  que  vivo; 
ficar  mui  transido,  cortado  de  susto. 

—  Sangue  vivo ;  sangue  não  coalhado, 

—  A  viva  força;  a  grande  força. 

—  Respostas  vivss  ;  respostâ.s  que  tem 
certa  promptidão,  viveza,  energia. 

— -  7?«rz3e«  vivas ;  razões  enérgicas,  for- 
tes. 

—  O  príncipe  absoluto  é  lei  viva;  pô- 
de fazer  a  lei,  e  interpretal-a,  derogal-a, 
e  o  que  elle  ordena  c  lei. 

—  Praça  viva ;  diz-se  cm  opposição  á 
praça  morta,  na  milicia. 

—  Lume  vivo ;  lume  claro,  bem  acce- 
so,  não  amortecido. 

—  Carla  viva ;  a  pessoa  que  vai  dizer 
o  que  diria  a  cscripta. 

—  Termo   de   uautica  e  de  theologia. 


984 


VI Z 


VI ZI 


VISÍ 


Obras  vivas;  diz-Ho  cm  oppoaiçiio  a  obras 
mortas.  Viil.  Obraa. 

—  Fi(íur!iil;iiiit;iito :  Andar  em  tinia  ro- 
da viva;  niiiJar  em  iiioviíiuMito  contiiun*, 
muito  utbrvoriulo. 

• — Não  jierdoar  a  rí/ma.  viva;  niío  pcr- 
iloar  íi  n influem. 

—  Olhos  vivos;  0II108  imii  iii(|uiutos, 
brilliaiitcH  o  !il('fírcM. 

—  (^hamma,  ou  braza  viva  ;  chauniia,  ou 
brazA  muito  ucuusa. 

—  Figuradamente  :  Vivas  chuvimas  de 
amor. 

—  De  voz  viva,  ou  de  viva  voz;  do 
palavra,  o  não  de  oscripto. 

—  Loc.  ADV. :  Ao  vivo ;  com  perfeita 
simillianya,  mui  próximo  á  realidade. 

Alli  ostíiiia  tnmbom  (dcapoin  que  o  Reino 
Afonso  goucniou)  ai|uclla  liistoria 
Ao  >'iiio  retratada,  om  que  a  Rainha 
Do  CaHtolla  ao  vo  no  ponto  extremo  : 
Deuisftòse  as  nefandas  lij^aduras, 
Que  a  Sarracina  Maj;ica  ordenara : 
Mouida  pela  falsa  coiioubina, 
Que  preso  a  olRcy  trazia  de  amor  torpe. 

COBTB   BKAL,   NAUFRAOIO  DR  SEPULTEriA ,  Cant.  13. 

—  Retratar  ao  vivo  ;  rotratar  bem  ao 
natural. 

—  Mais  ao  vivo  ;  mais  próximo  á  rea- 
lidade, e  íl  certeza. 

—  Tonia-se  também  adverbialmente  : 
Ventar  vivo ;   ventar  rijo. 

—  Substantivamente  :  Os  vivos ;  os  se- 
res viventes. 

Succede  a  este  temor  a  dura  fome, 
Que  nenhuma  fori;a  ha  que  não  quebrante, 
Faz  esta  com  (|ue  a  morte  a  muitos  torac, 
E  nos  vivos  o  medo  se  alcvante : 
Todo  o  bruto  animal  alli  se  come, 
Não  escapa  o  cavallo  ou  o  elephante. 
Elrei,  aem  ser  do  imigo  combatido, 
Foge  huma  noite  emfim,  sem  sor  sentido. 

rKANCISCO  DB  ASnBADR,  PRIUEIBO  CERCO   nH   DIU, 

cant.  .3,  est.  34. 

—  Quanto  vae  do  vivo  ao  pintado; 
com  grande  diflerença. 

—  Tocar,  Cortar  no  vivo ;  tocar,  cor- 
tar onde  doe. 

—  Figuradamente :  Tocar,  cortar  no 
vivo;  tocar  om  especi&s  que  molestam 
muito. 

—  Figuradamente  :  Metter  a  mão  no 
vivo  da  minha  alma. 

—  Entre  vivos;  entre  pessoas  vivas. 
—  Doação  entre  vivos. 

VIVOS,  s.  »(.  piar.  Os  matizes  de  co- 
res diversas  nas  orlas,  e  outros  adornos 
diíTcreutes  da  peça.  —  Os  vivos  do  ga- 
bão, do  vestido. 

VIVRE,  ou  VIVRES.  Vid.  Viveres,  ter- 
mo liojo.  mais  cm  uso. 

f  VIZ,  plur.  de  Vil.  Vid.  Vis. 

A  Vinj:;ança  atrocíssima,  que  embebe 
No  seio  do  inimigo  inoauto,  inerme 
(Pai.\ào  das  almas  r/:)  punhal  buido. 

J.   A.    DE    MACEDO,  MEDITAÇÃO,   Caut.    1. 


VIZAGRA,  ».  /.  Dobradira  do  ferro  pa- 
ra portas,  otc.  Vid.  Visagra. 

VIZINHADO,  part.  pasi.  de  Vizinhar. 
Viil.  Avizinhado. 

VIZINHANÇA,  s.  f.  Proximidade  d'al- 
gum  lofíar,  nitio. 

—  Carla  de  vizinhança;  aquelia  pela 
(|ual  ali^'uom  ó  recebido  |xjr  vizinbo  da 
villa,  cidade  ou  lugar. 

—  ('bcgafla  j)erto,  pouca  distancia. 

—  0.i  vizinlios  do  povo,   villa,    bairro. 

—  Encargos  de  vizinhança  ;  os  que  al- 
guém deve  í-upportar,  fcgundo  o  foral  da 
terra,  omlo  é  vizinho. 

—  A  (pialidade  do  ser  vizinho  de  al- 
gum lugar;  os  direitos  c  encargos  de  (\iio 
os  do  logar  gozam,  e  a  que  slo  sujei- 
tos. 

—  Foro  que  se  paga  em  Chaves.  Vid. 
Fogos. 

—  Fazer  vizinhança  ;  gozar,  o  sofTrer 
as  pensões  do  logar  onde  está  avizinhado. 

VIZINHAR,  V.  a.  Habitar,  morar  em 
algum  logar,  sitio,  como  vizinho  d'elle 
estabeleciílo. 

—  V.  n.  Ser  vizinho,  estar  próximo, 
estar  na  vizinham;*,  nos  contins. 

—  Fazer  vizinhança  boa  ou  má. 

—  Supportar  encargos  devidos  pelos 
vizinhos,  segundo  a  lei  ou  foral  do  rei, 
ou  do  senhor  da  terra. 

—  Estar  vizinho  de  outros,  e  tratar- 
se,  visitar-se  luiudadamente  como  os  vi- 
zinhos costumam. 

—  Chegar  perto,  vizinho. 

—  Figuradamente  :  Estar  próximo  em 
digiiidaiie. 

—  Vizinhar-se,  v.  rejl.  Aproximar-se, 
achegar-se,  contormar-se. 

1.)  VIZINHO,  A,  adj.  (Do  latim  vicí- 
nus).  Que  está  próximo,  que  fica  perto. 
—  Nação  vizinha,  —  cPhellippe  Roiz 
posto  que  pcrdeo  aquelia  primeira  chega- 
da pêra  aferrar  com  dom  Lourenço,  não 
perdeo  a  sorte  de  outra  nao  vizinha  des- 
ta capitaina  em  que  também  teue  assas 
de  trabalho :  porque  duas  vezes  lhe  lan- 
çarão o  arpco  fora,  te  que  na  terceira 
fez  melhor  preza.»  Barros,  Década  1,  liv. 
10,  eap.  4.  —  «A  potencia  e  riqueza  dos 
quaes  he  taõ  grande  cousa,  que  a  pena 
rocea  entrar  na  relação  dellos,  o  princi- 
palmente porque  em  outra  parte  o  faz  : 
somente  por  mostra  da  sua  grandeza  di- 
remos o  que  dizia  elKey  de  Cambava 
chamado  liadur,  que  morreo  a  nossas 
mãos  vizinho  destes  primeiros.»  Ibidem, 
liv.  9,  cap.  1.  —  iEIlley  de  Bintani  seu 
sogro  tanto  que  soube  que  elle  era  eleito 
pêra  Bendára,  e  que  este  era  o  tim  pêra 
que  elle  se  dera  á  nossa  amizade,  e  a 
causa  do  presente  que  mandara  a  AlVon- 
so  d'Alboquerque,  e  depois  ir  em  pessoa 
a  Malaca  ver-se  com  o  Capitão  delia, 
ordenou  logo  de  lho  impedir  que  não 
fosse,  e  )iera  isso  convocou  outro  seu  gen- 
ro, e  vassallo,  que  era  Rey  de  Lingua, 
huma    Ilha  vizinha  á    de    Bintam,    onde 


ello  Maliamud  a/<Montára  soa  vivenda, 
(como  dissemoM;.»  Ideui,  Década  2,  liv. 
9,  cap.  7. 


T«nho  por  Htinka  a  fonte. 
Colho  o  ]>a'>  que  «pnii-fli  : 
Quando  outra  coiíii  ntu>  litri, 
f^iiio  diu  hervuji  do  luontc. 

r.    BunilUURB  LOBO,   BCUMA» 


—  Figura'lamente  :  Similhantc,  par, 
egual. 

—  Que  mora  com  outros  na  mecnui 
rua,  propriedade  de  casas,  bairro,  ou 
povo. 

—  Iteiíio  vizinho  ;  reino  contíguo. 

—  Que  habita  no  mesmo  logar,  cida- 
de, conceliio,  villa,  o  goza  dos  direitos 
e  privilégios  do  seu  foral,  e  poxtura^,  e 
c  natural  d'clli;,  nu  se  fez   visiuho. 

—  SvN.  :  Vizinho,  próximo.  Vid.  este 
ultimo  tfrnio. 

■2.)  VIZINHO,  A,  «.  Pessoa  que  mora 
ao  pé  do  outro  na  mci<ina  casa,  ou  na 
mesma  rua. —  «Nestas  prouineias  não  ha 
tamauhas  cidades,  nem  pouoaçoens  C'>mo 
ca  na  Europa,  a  causa  he  andar  sempre 
o  precioso  Joam  sempre  no  campo,  e  so 
agasalhar  com  todo  seu  exercito  em  ten- 
das, o  que  faz  para  se  a  nobreza  exerci- 
tar nas  Cousas  da  guerra,  porque  conti- 
nuamente a  tem  com  os  Reis,  e  senhores 
seus  vizinhos,  que  todos  sam  infiéis.  En- 
tre nos  se  nào  usa  o  direito  scripto,  nem 
as  demandas  se  fazem  per  scripto,  senaõ 
verbalmente,  o  que  he  causa  de  auer 
poucas,  e  menos  procuradores.  •  I>ami2o 
de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part. 
3,  cap.  61. 

—  Pessoa  que  nasceu  em  um  logar,  e 
mora  n'elle,  e  foi  perfilha-lo  e  confirma- 
do por  algum  vizinho;  ou  tem  ahi  cargo, 
officio,  posto  pelo  rei  ou  pela  rainha. 

—  Plur.  Diz-se  muitas  vezes  por  mo- 
radores, famílias,  fogos. 

—  Vid.  Visinho. 

—  Adágios  e  pbo\'ERBio3  : 

—  A  perda,  que  teu  visinho  nXo  sabe, 
não  é  perda  n.a  verdade. 

—  O  bom  visinho  faz  o  homem  des- 
apercebido. 

—  Por  mau  visinho  nào  desfaças  teu 
lunho. 

—  Quem  cora  mau  visinho  ha  de  vi- 
sinhar,  com  um  olho  ha  de  dormir,  e 
com  outro  vigiar. 

—  Quem  tem  bom  risinho,  não  temo 
ruido. 

—  Deshonrou-mo  minha  visinha  uma 
vez,  e  eu  deshonrei-me  três. 

—  No  mal,  que  teu  visinho  te  não  sa- 
be, nSo  teus  parte. 

—  Guar-te  de  mau  visinho,  e  de  ho- 
mem mesquinho. 

—  A  cabra  de  minha  visinha  mais  lei- 
te dá,  que  a  minha. 

—  (^'omadres,  e  visiuhas,  ás  vezes  sSo 
farinhas. 


VOAD 


VOAR 


VOAR 


—  Pouco  se  estima  o  que  tem  cada  vi- 
sioha. 

—  O  mau  visinho  vê  o  que  entra,  mas 
não  o  que  sáe. 

—  A  má  visinha  dá  agulha  sem  li- 
nha. 

—  Fui  a  casa  de  minha  visinha,  en- 
vergonhei-me,  tornei  á  rainha,  e  conso- 
lei-me. 

—  Diga  minha  visinha,  e  tenha  meu 
sacco  farinha. 

—  Nào  ha  rainha  sem  sua  visinha. 

—  Vai  a  moça  ao  rio,  conta  o  seu,  e 
o  do  seu  visinho. 

—  Nào  percas  o  siso  pelo  doudo  de  teu 
visinho. 

—  Quem  tem  telhado  de  vidro,  não 
atire  pedras  ao  do  visinho. 

—  tão,  e  vinho,  um  anno  meu,  outro 
de  meu  visinho. 

—  O  que  come  a  minha  visinha,  não 
aproveita  á  minha  tripa. 

—  Pão  de  visinho  tira  o  fastio. 

—  Vinha  entre  vinhas,  casa  entre  vi- 
sinhas. 

—  Com  teu  visinho  casarás  teu  filho, 
e  beberás  teu  vinho. 

—  Mais  quero  pedir  á  minha  peneira 
um  pão  apertado,  que  á  minha  visinha 
emprestado. 

—  O  filho  de  tua  visinha,  tira-lhe  o 
ranho,  o  casa-o  com  tua  iilha. 

—  Quem  quizer  mal  á  sua  visinha, 
dê-lhe  em  maio  uma  sardinha. 

—  Quando  vires  arder  as  barbas  do 
visinho,  põe  as  tuas  de  molho. 

—  A  chave  na  cinta,  faz  a  mim  boa, 
e  á  minha  visinha. 

—  Q,uem  nào  tem  casa  na  villa,  em 
cada  bairro  é  visinha. 

VIZIR,  s.  m.  Nome  dos  prineipaes  offi- 
ciaes  do  grande  senhor. 

—  Grande  vizir;  o  primeiro  ministro 
do  império  turco,  que  recebendo  o  sêllo 
imperial  para  signal  do  seu  emprego,  é 
revestido  de  todo  o  poder  do  imperador, 
e  goza  d'uma  authoridade  quasi  absolu- 
ta. —  No  governo  despótico,  o  vizir  é  o 
próprio  déspota,  e  cada  official  particu- 
lar é  o  vizir. 

—  Figuradamente:  E  um  vizir;  é  um 
homem  absoluto,  imperioso. 

I  VIZIRATO,  ou  VIZIRIATO,  s.  m.  Di- 
gnidade, funcçào  de  vizir;  duração  d'es- 
ta  funcçào. 

VIZRÉI.  Termo  antiquado.  Vid.  Vice- 
rei. 

VOADO,  part.  pass.  de  Voar. 

—  òtí-  voado;  ser  levado  aos  ares  por 
explosão  de  mina,  etc. 

—  Figuradamente :  Voados  seus  pro- 
jectos. 

VOADOR,   A,    aãj.  Que  vôa. 

—  Figura 'lamente  :  A  voadora  fama; 
a  que  se  derrama  mui  rapidamente. 

—  Lebreus  voadores  ;   lebreus  rápidos. 

—  S.  m.  Termo  de  historia  natural. 
Peixe  com  azas  cartilaginosas. 

TOL.  V — 12i. 


VOADURA,  í.  /.  Acção  de  voar. 

VOAIÍTE,  part.  act.  de  Voar.  Que  vôa. 
—  A  águia  voante. 

VOAR,  V.  71.  (Do  latim  volare).  Mo- 
ver-se  a  ave  adejando,   batendo  as  azas. 


Bera  SC  enxerga  nos  pomos  e  boninas, 
Que  competia  Chloria  com  Pomona : 
Pois  se  as  aves  no  ar  cantando  voam, 
Alegres  animaes  o  chão  povoam. 
CAM.,  Lus.,  cant.  i),  est.  62. 


Verá  graUias  a  voar, 
verá  terra,  verá  mar, 
e  mais  vèr-me-ha  a  mi  também. 

AHTOSIO  PBESTES,  AUTOS,  pag.  79. 


Que,  inda  tardava  Séphora  comigo, 
Coragem  dando  á  minha  adolescência ; 
Qual  Pomba,  que  a  voar,  Pombinho  instrue. 

FKJLXCISA)    MASOZL  DO  NASCIMESIO,  OS    UABTY&ES, 

liv.  4. 


Batia  preguiçoso  o  mar  na  área 
Em  leve  espuma  delia  scscoava  ; 
Dhum  largo  rio  a  cristallina  vêa 
Se  mostra,  e  sem  fragor  no  mar  entrava: 
Hum  vergel  inaccsso  á  luz  Febea 
As  incurvadas  margens  lhe  assombrava, 
Onde  aves,  que  voando  os  ares  fendem. 
Entre  as  folhas  co'o  canto  os  ventos  prendem, 
j.  A.  DE  MACEDO,  O  ORiEXTE,  cant.  5,  cst.  2Õ. 


—  Voar  a  pousos;  parando  de  vôo  em 
vôo. 

—  Voar  dependurado;  voar  sem  bater 
as  azas. 

—  Mover-se  com  grande  velocidade. 

—  Subir,  elevar-se. 

Que  sáio?  dizc,  desmaio, 
Um  que  levou  meu  senhor, 
não  a  jogar,  a  lhe  pôr  azas. 
Que  võe  oudc  o  vae  pôr. 
ASTOKio  PRESTES,  AUTOS,  pag.  447. 

—  « Contem plandoo  a  elle,  e  procura- 
do com  muita  instancia,  e  esquecimento 
de  vos  mesmo  aj  untamos  amorosamente 
ao  Senhor,  que  he  sobre  toda  a  sustan- 
cia  criada :  porque  em  vos  despirdes  as- 
sim de  toda  ella,  liure,  e  puramente  ex- 
pedito, e  constante  voareis  a  lograr  o 
sobresustancial  raio  da  neuoa  diuina.  E 
hum  pouco  adiante,  diz  o  sancto  Doutor. 
O  Contemplatiuo  deixando  as  criaturas 
visiueis,  e  espirituaes,  entra  na  mvste- 
riosa  neuoa  por  si  mesmo  ignorante ;  nem 
leuado  dos  naturaes  presidios,  e  luzes  da 
sciencia,  e  intellecçào  humana.»  Fr.  Bar- 
tholomeu  dos  Martyres,  Compendio  de 
espiritual  doutrina,  cap.  11. 

Barreiras  á  mortal  intelligeneia 
Não  superáveis,  nào :  e  alem  não  chega 
Batendo  o  tempo  as  azas,  e  as  fech.adas 
Portas,  em  gonzos  de  diamante,  eternas, 
Fazem  tomar  atraz,  confusa,  c  muda, 
Li\"re  imaginação,  que  aos  Astros  voa. 

I   J.  X.   DE  MACEDO,  A  NAIUOEZA,  Caut.  1. 


Correr  muito. 


Vôa.  lhe  diz  o  Santo ;  as  levantadas 
Abobadas  dos  Ceos  ambos  ja  pizão  ; 
Entie  o  fulgor,  que  os  ollios  deslumbrava, 
O  Templo  eterno  o  Gama  contemplava. 

J.   A.    DE  MACEDO,  0  ORIENTE,  Caut.    12,  CSt.   88. 


Por  entre  as  vagas,  que  se  quebrão,  voão 
As  combatidas  Náos,  e  os  Ceos  toldados 
Nem  deixão  vêr  o  mar,  nem  vèr  os  Astros ; 
Só  por  entre  o  neginime  a  branca  espuma 
Tufa  em  cachões  na  proa,  e  aUi  se  quebra. 

IDEM,  A  NATUREZA,  CaUt.    1. 


Mais  viva,  e  doce  luz  súbito  brilha. 
Do  profundo  lethargo  acorda  o  Globo, 
Dos  vicejantes  Zéfiros  nas  azas 
Vôu  risonha,  alegre  Primavera. 


—  Figuradamente :  Voar  direito  o 
chumbo  subtil;  mover-se  com  grande  ra- 
pidez. 

Sahe  o  chumbo  subtil,  c  contra  a  estancia 
Onde  então  Veiga  está  vôa  direito, 
E  sendo  grande  assaz  esta  distancia 
Parece  que  qualquer  bem  fraco  objeito, 
Com  qualquer  fraca  e  leve  repugnância. 
Lhe  pudera  impedir  o  usado  effeito. 
Porém  nào  foi  assi,  que  a  cruel  morto 
O  fez  mais  do  que  soe  agora  forte. 

FBASCISCO  DE  AíiDRADE,    PEIMEIKO    CERCO   DE  DIU, 

cant.  20,  est.  69. 

—  Figuradamente :  Voar  das  mãos  em 
pedaços,  a  espada.  —  «No  instante  em 
que  o  cavalleiro  negro  chegou  ao  logar 
onde  já  o  duque  de  Corduba  6<)  procu- 
rava amparar-se  contra  Mugueiz  e  Ju- 
liano, este,  cego  de  furor,  descia  com  se- 
gundo golpe :  a  espada,  porém,  voou-lhe 
das  màos  em  pedaços,  batendo  na  maça 
do  cavalleiro  negro,  que,  deixando  depois 
cíúÚT  a  pesada  borda  ao  longo  da  ephip- 
pia,  ergueu  o  frankisk  e,  descarregan- 
do-o  sobre  o  hombro  do  renegado,  lhe 
fez  uma  ferida  profimda.»  Alexandre 
Herculano,  Eurico,  cap.  10. 

—  Elevar-se  muito. 

—  A  raiva  vôa ;  faz  com  rapidez  os 
seus  estragos. 

—  Voar,  ou  elevar-se  o  pensamento; 
elevar-se  a  grandes  objectos,  ou  assum- 
ptos. 

—  Voaram  v^eus  gemidos  a  Deus;  che- 
garam até  elle. 

—  Figuradamente :  Voar  a  alvta  como 
pensamento ;  pensar  em  tudo  rapidamente. 

—  Voar  redondo,  ou  volteando;  voar 
sem  bater  as  azas. 

—  Derramar-se  com  muita  pressa. 

—  Voar  o  muro,  ou  mina,  ou  navio 
por  força  de  pólvora;  ir  ao  ar  em  frag- 
mentos. 

—  Voar  a  alma ;  ir  ao  outro  mundo,  o 
ordinariamente  á  outra  vida,  á  vida  éter- 


986 


VOCA 


VODA 


VOGA 


—  Voar  a  mevioria  de  alyuma  cousa ; 
na  poiínii  floH  c-tcriptores. 

—  Voar  nas  azas  da  fama;  ter  grande 
ropiita<;jlo,  o  bom  dorraiiiailii. 

—  Fifjurailaiiioiitc  :  Voar  o  nmne,  afa- 
ma; olevar-80  dojiros.sa,  3ubir. 

—  Voar  á   fjloria,  ao  throno  de   Deus. 

—  V.  a.  Termo  i)oueo  cm  uso.  Dei- 
tar a  voar. 

—  Discorrer  voando,  divuigar-se,  ca- 
palliar-se. 

—  Fazer  voar  com  minas  do  pólvora. 
—  Voar  a  mina, 

—  Adágios  e  provérbios: 

—  Inda  que  a  garça  vôe  alta,  o  falcão 
a  mata. 

—  Cavallo   que  vôa,  não  quer  espora. 

—  Mais  vale  um  pássaro  na  milo,  que 
dous  que  voando  vão. 

—  Ave  pur  ave,  o  carneiro  se  voasse. 
VOARÍA,  s.  /.  Ave,  ralé. 

—  O  caçar  aves  com  as  de  rapina,  en- 
einadaí  a  isso.  Vid.  Volateria. 

—  A  voa  la  que  o  ialcão  faz  para  em- 
pol^'ar  na  ralé. 

VOATO,  s.  m.  Vid.  Boato,  orthographia 
prufcrivid. 

VOCABULÁRIO,  s.  m.  (Do  latim  vocabu- 
larium).  Lista  de  palavras,  commum- 
mente  por  ordem  alphabotica,  e  acompa- 
nhadas de  explicações  succintas. 

—  Por  extensão,  conjuncto  de  pala- 
vras que  pertencem  a  uma  sciencia,  a 
lima  arte.  —  Vocabulário  de  chímica,  de 
medicina. 

—  Diz-se  também:  O  vocabulário  de 
vm  povo;  o  numero  de  palavras  de  que 
elle  se  serve. 

—  Syn.  :  Vocabulário,  diccionario.  Vid. 
este  ultimo  termo. 

VOCABULARISTA.  Vid.  Vocabulista. 

VOCABULISTA,  s.  2  gen.  Auctor  do 
um  vocabulário. 

VOCÁBULO,  s.  7)1.  (Do  latim  voeabu- 
him).  Termo  de  grauunatica.  Parte  inte- 
grante d'uma  linguaírcm. 

—  Palavra  de  qualquer  dicçSo,  lingua. 

—  Os  vocábulos  da  honra;  os  indica- 
tivos d'ella,  como  os  tratamentos  do  ex- 
cellencia,  senhoria,  etc. 

—  Trazer  vocábulos  de  conserva;  tra- 
zer palavras  estudadas. ' 

—  Syn.  :  Vocábulo,  palavra.  Vid.  este 
ultimo  termo. 

VOCAÇÃO,  s.  /.  iDo  latim  vocatio).  A 
acção  de  cliamar. 

—  Termo  da  Escriptura.  A  vocação  de 
Abrahilo ;  a  escolha  que  Deus  fez  d'este 
patriareha  para  ser  o  pae  dos  crentes. 

—  -4  vocação  dos  ijtntios;  a  graça  que 
Deus  lhes  concedeu  chamando-os  ao  co- 
nhecimento do  Evangelho. 

—  Ordem  exterior  dn  Egroja  pela  qual 
Os  bispos  cluimam  ao  ministério  sagrado 
iiquellcs  que  cUes  julgam  digr.os  delia. 

—  Movlment'>  interior  ))clo  qual  Deus 
chama  uma  pessoa  a  qualquer  género  do 
vida. 


—  Movimento  interior  pelo  qual  ee  sen- 
te transportado  á  vida  religiosa. 

—  Uma  certa  ordem  do  cousas  com  a 
qual  80  deve  conformar.  —  A  vocação  do 
hoinevi  é  ser  útil  a  sens  eimilhantes. 

—  ChaiiiamtMito  do  Deu»,  inspiração 
para  ser  religioso,  para  abraçar  a  íc. — 
«Que  qucrião  agradecer  a  Deus  huui  mi- 
lagre, antes  que  pedir  outro;  que  o  Go- 
vernador 08  não  mandava  como  Aposte- 
los,  senão  como  soldados ;  que  se  hiSo  a 
derramar  o  próprio  sangue  pela  Fé,  fos- 
sem sem  armas,  mas  que  u  sua  vocação 
era  defender  a  Lei  com  a  espada,  e  não 
y)régalla.i>  Jacintho  Freire  d'Andrade, 
Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv.  4. 

—  Toiíia-sc  tandjcm  por  invocar^ão. 

—  Liclinação  que  se  sente  para  um  es- 
tado. —  Uma  vocação  contrariada. 

—  Disposição,  talento.  —  Tem  uma 
vocação  decidida  para  a  pintura. 

VOCAL,  adj.  2  gen.  (Do  latim  vocalis). 
Que  serve  para  a  producçào  da  voz. — 
Órgãos  vocaes. 

—  Que  se  enuncia,  que  se  exprime  por 
meio  da  voz,  em  opposição  a  mental. 

—  Orai;ão  vocal ;  diz-se  em  opposiçào 
a  orrtÇ(7t)  mental. 

—  Musica  vocal ;  aquclla  que  se  can- 
ta, com  differença  da  musica  instrumen- 
tal. 

—  Compositor  vocal ;  aquelle  que  com- 
põe trechos  do  canto. 

VOCALMENTE,  adv.  (De  vocal,  e  o  suf- 
fixo  «mente").  De  ura  modo  vocal. 

—  Loc. :  Fallar  vocalmente  a  alguém; 
de  meia  voz,  e  não  por  cscripto,  ou  por 
outrem. 

VOCATIVO,  s.  m.  (Do  latim  vocati- 
vus).  Termo  de  grammatica  das  línguas 
que  tem  casos.  Caso  de  que  nos  servi- 
mos quando  nos  dirigimos  a  alguém. 

VOCIFERAÇÃO,  s^f.  (Do  latim  vocife- 
ratio-.  'nito,  alarido,  brado. 

VOCIFERADO,  part.  pass.  de  Vocife- 
rar. 15ra''a  lo,  dito  em  brados. 

VOCIFERADOR,  A,  adj.  e  *.  Pessoa 
que  vocifera. 

—  Que  diz  om  altos  gritos,  c  brados, 
e  clamores. 

—  Clamoroso. 

VOCIFERANTE,  part.  act.  de  Vocife- 
rar. Que  vocifera,  que  brada. 

—  Vociteradur. 

VOCIFERAR,  !•.  n.  (Do  latim  vocifera- 
re).  Bradar,  erguer  muito  a  voz. 

—  T^   a.  Vociferar  i'nprccai;T>es. 
VODA,  s.  /.  Vid.  Boda. 

—  Que  bi-eviairo,  ou  quo  praça?  > 

Que  não  qnoro :  nqui  drfKoil 
Qmmdo  viu  revolta  n  ioda. 
Foi  o  csfarrapou-me  toda 
O  cabei;>»o  da  camisa, 
ou.  vicESTK,  fabi;as. 

—  «Forão  estas  vodas  celobraJíi.s  no 
anno  do  Senhor  de  M.  D.  xxxvi.  aunos, 
om  Villauiçosa,   lugar  do  mesmo  Duque 


as  quaes  el  Rei  foi  presente  com  os  In- 
fanteii  seus  irmãos,  c  os  mais  dos  senho- 
res destes  regnos.»  Damilo  de  ííoe-. 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  78. 

I>arr-cc-mc  '{ue  Daa  aza« 
d']earo  tonbo  s  {a4ik  todA 

que  inn  rvi:n\n  : 
tuilo  tv>  .  t-taa, 

i\ki>  iri'  1  á  võda 

pclaa  \'.  II  razM. 

AaTOmu  1-lkl.Áli.S,  AL'T01,  psg.  878. 

—  Vodas  de  fogara»;  em  t 
gos,  parcnt'"*  e  convidado»  ni.. 

gaças,   ou   presentes,   á   cf»u.j ... 

quem  melhor  o  faria,  o  por  is.>o  erain 
mArcs  festas,  o  de.«peEas,  e  desordeii.-. 
Vid.  Vodos,  em  Vedo. 

—  Festas. —  «Além  destes  apparatos 
das  vodas,  tinha  dentro  na  Cidade  oito  mil 
peças  de  artilhería;  porque  como  ella  ca- 
tava toda  ao  longo  do  mar  •'  *  -  '  '-.  '. 
maneira  do  hunia  touca  por  < 

de  légua,  e  era  todade  madcir  -  .- 

ro,  nem  cava,  si'imente  a  defensilo  dos 
homens,  como  geralmente  se  Té  nas  gran- 
des povoaçõe.^.»  Barros,  Década  á,  liv. 
6. —  «£  porém  eiie  hia  dilatando  estas 
Todas  quanto  podia  a  ãm  de  ter  conu-ico 
muita  gente,  como  homem  a  que  o  tcm^r 
dava  suspeita,  que  mui  cedo  havia  mis- 
ter todas  estas  ajudas.  >  Ibidem,   ^ap.  1. 

—  Stk.  :  Voda,  matrimonio.  ViJ.  est-.- 
ultimo  termo. 

VODIVOS.  Vid.  Vodos,  em  Vodo. 
VODO,  *.  "1.  Vid.  Bodo. 

Não  sejaes  d'c33a  manpira. 
senhor,  não  queirace  que  queira 
a;;£rrarar-iiio  ;  temos  vodot. 
Falta  algum  ? 

O  camareiro. 
Venha  cá. 

ÀKTONIO  FSBSTBS,  ACTOS,  pSg.  07. 

—  Vodos  ;  votos  que  se  fazem  a  algum 
santo,  promessas,  romaria»,  que  qnand" 
se  iam  cumyTÍr  eram  oocasiào  de  come- 
zanas,  e  outras  desordens,  c  por  Í8s«>  fo- 
ram só  toleradas,  co:n  condição  de  nSo 
haver  banquetes  nas  igrejas,  etc 

—  Os  Todos,  ou  votit»  de  SatWIago; 
promessa  que  se  diz  feita  era  toda  a 
Hespanha  a  S.  Thiago  pela  victoria  al- 
cançada contra  os  mouros ;  é  prestação  de 
certa  porç.ào  de  trijro. 

VOEJAR.  Vid.  Esvoaçar. 
VOENGA.  Vi  i.  Avoenga. 

—  Loc:  Chamar-se  á  voenga;  rescin- 
dir a  alheaç.ão  dos  bens  avitos,  feita  a 
pessoa,  que  nào  era  da  avoenga,  ou  dos 
mesmos  avós  c  familia. 

—  Loc.  AXT. :  Chamar-se  á  voenga  ; 
querer  o  direito  da  avoenga,  on  defen- 
der-se  com  elle. 

VOENGO.  Vid.  Avoengo. 
VOGA,  s.  f.  yOú  francez  roj^Ms).  O  re- 
mo do  navio. 

—  Dar  voga;  remar  para  diante. 


VOGA 


VOLA 


VOLA 


987 


—  Estar  alguém  com  sua  voga;  iisar- 
se,  praticar-se,  ser  moda. 

—  Forçar  a  voga;    remar  com  força. 

—  A  voga  surda  ;  remando  sem  ruido. 
— ■  Figuradamente :  Não  dar  voga ;  não 

saber  manejar  os  negócios. 

—  De  voga  arrancada ;  com  toda  a  ex- 
pedição do  remar. 

—  Figuradamente  :  Dar  a  voga ;  ser  o 
principio  de  acção,  ou  movimento. 

—  Navio  de  menos  voga;  os  mais  pe- 
sados no  remo,  que  se  atrazam  dos  ou- 
tros, não  companheiros  iguaes. 

—  Em  duas  vogas;   em  duas  remadas. 

—  Figuradamente :  Dar  o  amor  a  vo- 
ga; dar  o  impulso,  o  tom;  determinar, 
impellir. 

—  Termo  de  historia  natural.  Peixe. 
Vid.  Boga. 

—  Figuradamente :  Reputação,  credi- 
to de  um  individuo. 

—  Srs". :  Voga,  moda.  Vid.  este  ulti- 
mo vocábulo. 

—  Plur.  Figuradamente:  Os  remeiros 
do  primeiro  banco. 

VOGA-AVANTE,  s.  m.  Termo  de  náuti- 
ca. Remeiro,  forçado. 

1.)  VOGADO,  part.  pass.  de  Vogar.  Re- 
mado. 

—  líavecado  a  remos. 

2.)  VOGADO.  Termo  antiquado,  por  Ad- 
vogado. 

1.  VOGAL,  adj.  2  gen.,  ou  s.  /.  Som 
simples  elementar,  que  se  ouve  sem  o  au- 
xilio de  sons  consoantes,  ou  modificações. 

—  Ha  vogaes  puras,  que  são  a,  e,  i,  o, 
u  e  y;  vogaes  nasaes,  que  são  an,  en, 
in,   on  e   un,  e  os  diphtongos  ão,  oe,  etc. 

2.J  VOGAL,  s.  2  gen.  Pessoa  que  tem 
Toto  nas  communidades,  juntas,  etc. 

VOGANTE,  adj.  2  gen.  Que  anda  á 
voga . 

VOGAR,  V.  n.  Remar  para  seguir  avan- 
te. —  «E  os  outros  todos  forom-se  a  Bo- 
lonha, e  tanto  que  foi  tarde  vogarom  pêra 
alem,  e  ante  que  entrassem  ao  porto  min- 
gaou-lhes  o  tempo  em  tanto  que  ouve  a 
Galleota  do  Conde  de  dar  cabo  ao  Bari- 
nel  do  Infante  Dom  Pedro,  até  que  an- 
corou em  doze  braças  fora  da  barra,  e 
dalli  mandárom  o  mais  pequeno  Bragan- 
tim  a  filhar  a  guarda,  e  quando  forom 
dentro  acharão  gransolla,  pelo  qual  nom 
ousarom  de  sahir  fora,  e  alli  acordárom, 
que  as  Fustas,  e  Galleotas  e  Bragantins 
tomassem  a  gente  do  Barinel,  e  que  en- 
trassem a  barra.»  Inéditos  d'historia 
portugueza,  tom.  2,  pag.  402. 

—  Xevegar  a  remos. 


Mas  notando  que  o  Xaire  desgostoso 
Da  prudente  repulsa  se  partia. 
Manda  outra  vez  cxijlorador  Vclloso, 
Á  quem  fiel  interprete  seguia : 
Desce  da  gi-ande  Náo.  do  caudaloso 
I!io  a  planice  liquida  varria ; 
Voga  coo  remo  compassado,  e  certo 
De  finas  sedas  o  escaler  coberto. 

j.  A.  DE  itiCEDO,  o  OKiESTE,  cant.  5,  cst.  92. 


Em  fim  chegado  cora  ditoso  auspicio 
As  mclindanas  praias,  aqui  finda 
O  iUustro  Gama  a  narração  pedida. 
Ja  pazes  firma  e  alliança  amiga 
Com  O  africano  rei ;  e  alfim  nos  mares 
Indicos  voga.  demandando  a  terra 
Que  desejada  ja  de  tantos  fora. 
GAKEETT,  CAMÕES,  cant.  8,  cap.  11. 

—  Figuradamente  :  Ter  diverso  efiFeito. 

—  Figuradamente:  Ter  vigor,  estar 
em  uso,  correr,  valer,  ter  influencia. 

A  nymfa  tem  mil  écHras 
de  formosa  o  mais  de  estado, 
e  seu  pae  é  bom  letrado. 
Não  vos  caseis  vós  com  letras 
onde  só  voga  casado, 
que  é  morrer  em  palheiro 
casardes  com  bolsa  enxuta. 

AXTOXTO  PRESTES,  ATTTOS,  pag.    121. 

—  Termo  antiquado.  Advogar. 
VOGARIA,   s.  /  Termo  antiquado.  Ad- 
vocacia. 

—  Pôr  em  vogaria ;  pôr  em  pleito,  em 
contestação. 

VOGUE,  s.  Mi.  Embarcação  pequena  da 
índia. 

1.)  VOLANTE,  «.  m.  Tela  mui  rala  de 
linho  ou  là. 

—  Volante  do  relógio;  peça  que  resis- 
te ao  impulso  da  mola,  e  faz  que  se  vá 
restituindo  regularmente,  ou  que  regula 
o  movimento  da  roda  catarina,  entrosada 
nos  dentes  d'ella. 


Meu  velho. 


Qu'é  O  meu  volante. 

o  meu  anel... 

Oh !  meu  velho  ? 
Se  uma  eu^nda,  outra  em  revida,"   "_/■  " " 
carregam  boi  do  concelho.  -  ' ' 

AXTOsio  PEESTES,  AUTOS,  pag.  27Õ. 

—  Peça  de  cortiça  empennada,'  com 
que  se  joga  ao  ar,  e  que  se  torna  a  ati- 
rar com  a  raqueta  quaKuo  vem  caindo. 
—  Jogar  o  volante. 

—  Vid.  Andarilho. 

2.)  VOLANTE,  adj.  2  gen.  Voante,  que 
vôa. 


Desde  o  vasto  Elefante  ao  verme  humilde, 
DAguia  volante  ao  paludoso  insecto, 
Do  Monarca  ao  Pastor,  todo  respira 
Ou  tudo  se  confunde,  acaba,  e  perde 
De  sua  frente  ao  magestoso  aceno. 

J.  A.  DF,  MACEDO,  A  NATUREZA,  Cant.  1. 


—  Figuradamente:    Que  se  move  com 
rapidez. 

Tal  he  d'alma  o  poder !  Substancia  ethérea 
Que  nos  caducos  vcos  inda  envolvida 
Da  origem  se  recorda,  inda  conserva 
Hum  habito  divino,  e  só  nhum  ponto 
Sem  mudar  de  lugar,  gira  volante 
Se  muda  o  pens.imento :  ella  nas  tristes 
Casas  penetra  da  espantosa  morte. 

J.   A.    DE  MACEDO,  A  IfATtrBKZA,  Cant.   1. 


Sobre  as  azas  do  Sul  volante-f  nuvens 
Correm  lançando  do  medonho  seio 
A  chuva  salutar,  qu'  a  Terra  ensopa. 
Chega,  calando,  ao  coração  dos  Montes, 
E  nas  vastas  entranhas  cavernosas, 
Da  própria  gravidade  as  leis  seguindo. 
iBEDEsi,  cant.  2. 

—  Tropa  volante ;  nos  conclaves,  os 
cardeaes  que  não  tomam  partido  algum, 
imparciaes. 

—  Papeis  volantes  ;  breves  escriptos, 
que  se  espalham. 

—  Não  fixo,  que  anda  para  muitas  par- 
tes, não  de  assento. 

—  Carro  volante ;  carro  que  se  move 
com  rapidez. 

—  Campo  volante;  tropa  á  ligeira  sem 
artilheria  para  expedições  de  pressa,  sal- 
to, e  forte. 

—  Homem  volante ;  homem  não  assen- 
tado, não  estabelecido  na  terra. 

—  Sello  volante ;  sinete  impresso  só 
em  uma  parte  do  sobrescripto,  e  não  na 
outra,  de  maneira  que  vae  a  carta  aber- 
ta, ou  para  se  poder  abrir,  até  que  se 
cerre  para  se  entregar. 

—  Dragão  volante,  meteoros  volantes; 
que  se  dissipam  logo  nos  ares. 

—  Commissario  volante ;  que  muda  de 
terra,  vae,  e  volta  com  seu  negocio,  e 
mercadorias,  ou  retorno  d'ellas. 

—  Guerra  volante  ;  guerra  feita  pelos 
Índios  acconnnettendo,  e  fugindo  sem  offe- 
recer  batalha  formal. 

—  Servo  volante  ;   um  insecto. 

—  Soldado  volante ;  soldado  armado  á 
ligeira,  veleiro;  soldado  que  serve  volun- 
tário, sem  praça  assentada. 

VOLANTIM.  Vid.  Bolantim,  e  Vola- 
tim. 

7  VOL-AS,  ou  VO-LAS,  por  Vos  as. 

Áchegade-voE  a  mim : 
Qne  papades,  meu  ch'rtibim  ? 
Escumas  de  demoniuhado. 
Quem  vo-las  deu  ? 
Dei-vo-las  eu. 

GIL  VICEXTE,  PABÇA3. 

— « Ora  vedes  isso  ?  era  o  que  vos  di- 
zia, que  de  sentirdes  que  vos  sentimos, 
vos  não  fica  paciência :  quereis  ter  as 
obras  á  vossa  vontade,  e  não  quereis  que 
vo-las  grossem ;  quereis-vos  soberanos  em 
tudo,  e  de  haver  quem  o  estranhe  não  o 
o  podeis  consentir.»  Francisco  de  Moraes, 
Dialogo  1. 

Que  vol-a  dê 

sob  pena  de  ser  mal  feito, 

e  bem  que  índia,  ou  que  Guiné 

lhe  pedistes. 

ANTOSIO  PRESTES,  AUTOS,  pag.  383. 

Eu  VOS  vi  não  ha  meia  ora 
contrario  do  que  dizeis. 
Tenho  para  mi... 

O  que? 
Que  porque  vol-a  mostrei 
carvão  achei. 
iBiDEu,  pag.  409. 


988 


VOLC 


VOLO 


VOLT 


VOLATARIA,  ou  VOLATERIA,  «.  /.  Ar- 

to  (lo  f.ir.ir   .-iv.  s,  (.'oiii  iiiitriíri    'lo  rajjina. 

—  Alfa  volateria.   Vid.  Alteuaria. 

—  As  :^V^í^  (JtlO  SC  ca^'!llil. 

VOLATEAR,  i'.  n.  Adejar,  osvoaçar,  dc- 
batci-ic.  01)111  for^a  para  voar. 

VOLÁTIL,  ailj.  2  f/un.  (Do  latim  vola- 
tilis,  de  volwe).  Quo  tom  a  faculdade  do 
voar,  —  A  espécie  volátil.  —  Os  insectos 
voláteis. 

—  Termo  do  chimica.  Que  é  susceptí- 
vel do  80  reduzir  a  fraz,  ou  a  vapor,  quer 
il  tompcratura  ordinária,  ((uer  pela  aerfio 
d'iun  calor  niali  "U  menos  elevado.  As 
parto-i  mais  voláteis  das  matérias  combus- 
tíveis, obudcceulo  seiíi  esforço  a  este  mo- 
vimento expansivo,  que  lhes  foi  commu- 
nicado,  se  elevam  a  vapores.  Os  produ- 
cto3  voláteis  desapparecem  pela  evapora- 
çílo  nas  mudanças  do  vasos,  pela  absor- 
pção  nos  meios  que  ati-avessara. 

—  Figura; lamente:  Cousa  subtilissima, 
que  SC  oxhala. 

VOLATILIDADE,  s.  f.  Antigo  termo  de 
physica.  Qualidade  do  que  c  susceptível 
d'uma  expansão  subtil.  —  A  volatilidade 
do  fogo. 

—  Termo  de  chímíca.  Faculdade  de 
que  gozam  certos  corpos  sólidos  ou  líqui- 
dos <le  sii  transformar  em  vapor. 

VOLATILIZAÇÃO,  s.  /.  Operação  chi- 
mica <[ue  consiste  cm  transformar  um  cor- 
po solido  em  gaz  ou  vapor. 

—  Acção  de  SC  volatilizar. 
VOLATILIZADO,  jjart.  pass.  de  Volati- 
lizar. —  Camjj/itfd  volatilizada. 

VOLATILIZANTE,  part.  act.  de  Vola- 
tilizar. Volátil,  que  se  exliala,  que  se 
evapora. 

—  Medicamento  volatilizante ;  que  com- 
munica  espíritos  voláteis. 

VOLATILIZAR,  ou  VOLATILISAR,  v.  a. 
Termo  de  cliimica.  Roduzir  a  gaz  ou  a 
vapor. 

—  Tornar  volátil. 

*    —  Volatilizar-se,  i'.  refl.  Reduzir-se  a 
vapor,   ou  a  gaz. 

VOLATIM,  s.  m.  Volteador  em  maro- 
ma. 

—  Termo  pouco  em  uso.  Caminheiro, 
que  f;\z  grandes  jornadas. 

—  Homem  que  vai  diante  do  coche, 
correndo  .n  pé,  ou  a  cavallo. 

f  VOLATIZADO.  Vid.  Volatilizado. 


O  Sal  volathculo  s'cncorpor!i 
N'atmo9fiM'a  qu'ein  torno  ii  torr;»  fecha, 
Oo"oá  túrbidos  vapores  se  mistura. 

J.   X.  DE  MACEDO,  A  RATUBEZA,  caut.  3. 


t  VOLCANICIDADE,  s.  /.  Termo  de 
geologia.  Incaudesoeucia  do  centro  da 
terra. 

—  Reacção  do  interior  da  terra  sobre 
a  crusta  exterior,  ou  acção  dos  volcões. 

—  Estado  ou  condição  das  substancias 
d'origejai  volcanica. 


VOLCANICO,  ou  VDLCANICO,  A,  adj. 
Qm-  iHTt'iice  aos  voleucn. 

—  Ti:  111:110  volcanico;  terreno  formado 
pelas  eru[)çncs  iln.s  voIcõoh. 

—  Termo  de  botânica.  Diz-HO  das  plan- 
tas que  crcdccui  no  meio  das  dcjccçOos 
volcaiiieas. 

—  Figuradamente:  Ardente  c  impetuo- 
so como  um  volcão.  —  Cabeça,  iviugina- 
ção  volcanica.  — ■  Possuidor  d'uTn  coração 
virgem  e  volcanico. 

VOLCÃO,  ou  VULCANO,  s.  vi.  (Do  latim 
vidcunun).  (lolfo  aberto,  as  mais  das  ve- 
zes nas  montanhas,  e  d'oiidc  HÚcm  turbi- 
Ihijes  do  fogo,  e  matérias  em  fusão.  lia 
na  Europa  trcs  famosos  volcões :  o  mon- 
to Etna  na  Sicília,  o  monte  Hecla  na  Is- 
lândia, c  o  monte  Vesúvio  na  Itália,  per- 
to de  Nápoles. 

—  Volcões  extinctos;  volciJes  que  esta- 
vam em  actividade  antos  do  estado  actual 
do  globo.  O  numero  dos  volcões  extin- 
ctos ó  actualmente  talvez  cem  vezes  maior 
que  o  dos  volcões  acccsos. 

—  Ha  volcões  d'agua,  isto  é,  monta- 
nhas que  vomitam  regatos  d'agua,  taes 
como  as  da  Cíuatiniala,  na  America. 

—  Cratera  do  volcão ;  abertura,  ou 
bocca  por  onde  suem  as  lavas  do  vol- 
cão. 

—  Lavas  do  volcão;  as  matérias  in- 
flammaveís  que  o  volcão  expello  de  si. 

—  Figuradamente  :  Um  logar  em  que 
uma  numerosa  artilhería  faz  um  fogo  ter- 
rível. 

—  Figuradamente:  Imaginação  impe- 
tuosa, ardente. 

—  Figuradamente :  Perigos  imminen- 
tes,  mas  occultos. 

VOLENTINA.  Vid.  Valancina. 

VOLIÇÃO,»./.  (,Do  latim  volitiu).  Ter- 
mo de  escolástica.  A  acção  de  querer,  da 
vontade. 

VOLIERE.  Vid.  Aviário. 

VOLITAR,  V.  n.  (Do  latim  volitare). 
Voltear. 

VOLITIVO,  A,  adj.  Declaratório,  ex- 
pressivo da  vontade.  —  Modo  volitivo. 

VOLIVEL,  adj.  2  gen.  Termo  de  esco- 
lástica. Que  se  pó  le  querer. 

f  VOLO,  ou  VO-LO,  por  Vos  o. 


Jfas  verdadeiro,  fácil,  c  aingello 
De  puro  coração,  c  alma  não  falM, 
Ko  beneuolo  aspecto  bem  mostraua 
Do  enganos,  o  maldados  csUr  liure. 
O  que  aqui  socodeo  ao  Sousa,  em  outro 
Cauto  <-olo  direi,  que  este  se  alarga, 
Onde  ae  podo  ver,  que  o  toinpo  iwrde, 
IJucin  presume  fugir  ao  alto  juiso. 

rOBTÍ  BCAL,  NAUPBAOIODB  8EPin,>TiPA ,  Caut.    11. 


Eu  isso  nSo  ro-Jo  nego. 
E  logo  dalii  a  hum  anno, 
Pêra  ajuda  de  casar 
Hua  orfan,  mandastes  dar 
Meio  covado  de  ]ianno 
D"Aloobac,'a  por  tosar. 

ou.  TICSliT£,  FABÇA3. 


QoAndo  f 
\'')-!o  inn 
Sf  o  qiii/' 

Niio  VO.i  di-.i:  dt:   últu.  , 

Se  nio  falt.ir  o  querer. 

CAM.,  riLOUKMO,  ACt.  2,  K.   &. 


Quo  podara  ser? 
dAo  vos  irdcD. 

Bem  quizera, 
mas  nin  quer  quem  me  bem  quer. 
Quem  10-/0  to'ho? 

AJCTONio  rauTRa,  At-Toi,  pag.  115. 


Pêra  mi  tenho,  c  j*  o  dioso, 
que  na*5eo  p«ra  enfadonho, 
e  mui  cedo  vol-o  ;ionlio 
naiiior.ir-sc  da  doudice. 


iBioBJi,  pag.  119. 


Bem  sei  quem  vol-o  diria 
muito  á  clara,  c  utiito  i  gemins, 
autos  dAmuiihi  a  moio  dia. 
Quem,  Lemos? 

Pcital-o-hia. 
Nio  busqueis  mai*  alçaprema. 
Nomeae-lhe  csííc  dourado. 
Os  homons  nào  se  dev 
IBIDEM,  pag.  179. 


VOLTA,  í.  /.   Movimento  circalar. 


Quatro  perfeitas  voUaã  tinha  dado 
O  ciarissimo  Phebo,  a  quarta  K3;>haera, 
E  começjindo  a  quinta,  doze  dias 
Da  casa  onzena  ja  tinha  corrido, 
O  tempo  resaalandose  por  pontoa 
Tguacs,  c  costumados  ja  no  moodo 
Jfostrado  tinha  casos  difFcrentea 
Xos  começos,  e  fins  ledos  ou  triste». 

COBTE  BEAL,  HACPBAGIO  DC  BEPIXVKDA,  CAItt.  5. 


De  sapito  cubertaa  de  terríboL 
Medonha  escuridão,  c  acerbo  fado 
Com  desestrada  vcJla  se  escondiào 
No  salgado  elemento  embrauecido, 
E  03  tristes  nauegantes  condonados 
Num  pouto  a  miserauel,  cruel  morte. 
tBiDBM,  caut.  2. 


—  «No  qual  caminho  loam  de  freitas, 
o  feitor,  e  o  alail  fezeraõ  muitos  voltas 
com  a  gente  que  seguia  seus  gruioens  co- 
mo mui  esforçados  canalleiros,  nas  qnaes 
e  na  peleja  que  tudo  foi  de  noite,  e  no 
aduar  morreriam  mais  de  duzentos  mou- 
ros, de  que  mais  de  trinta  erSo  cauallei- 
ros  dos  principaes  da  Enxonnia,  6  hntn 
delles  homem  de  tanta  authoridado  como 
Alemume.»  Damião  de  Hoes,  Chrooica 
de  D.  Manoel,  part.  4,  cap.  40.  —  «O 
que  vendo  Pêro  de  meneses  lhe  dixe  se- 
nhor pois  forçadamente  aueis  de  fazer 
volta  a  estes  mouros  junto  da  ribeira, 
onde  sei  bem  que  luuu  de  trauar  com 
vosco,  fazeia  agora,  ao  que  dom  Ema- 
nuel respondoo  que  lhe  parecia  muito 
bem  seu  conselho,  o  que  assi  fosso,  e  sem 
mais  spenu"  voltou  diante  de  todos  eom 
tanta  pressa,  que  por  o  cauallo  ser  mui- 
to ligeiro  se  meteo   entre  os  mouros  so, 


VOLT 


VOLT 


VOLT 


989 


onde  logo  derribou  liuiti  dos  seis  de  ca- 
uallo.»  Ibidem,  cap.  42.  —  tE  como  se- 
jam as  várzeas  darroz  ao  estender  dolhos 
parecem  muitas  embarcações  ao  longe 
vindo  a  vela,  que  parece  virem  cortando 
pola  terra  ate  que  homem  faz  volta  a  el- 
les  e  elles  a  homem  que  lhe  descobre  os 
grandes  cascos  que  tem,  nam  lhe  apare- 
cendo antes  mais  que  as  velas.»  Tenrei- 
ro, Itinerário,  cap.  9. 

Seu  excêntrico  traz  passo  tâo  lento 
Que  dando  no  epicvclo  volta  eirada 
Fica  por  muito  espaço  o  movimento 
Seguido  eontra  a  ordem  começada, 
Obrando  nellc  tal  impedimento 
Outra  maldade  em  giáo  tão  superada, 
Que  em  quanto  imprime  eutào  tudo  destrue 
No  tempo  que  este  tempo  errado  influe. 

BOLIM  DE  MOCHA,  NOVISSOIOS  DO  HOUXM,   Caut.   4, 

est.  17. 

—  A  acção  de  tornar  ao  logar  d'onde 
se  parte.  — «Seguindo  Vasco  da  Gamma 
seu  caminho  na  volta  do  mar  por  se  des- 
abrigar da  terra,  quando  veio  ao  tercei- 
ro dia  que  eraõ  vinte  de  Nouembro  pas- 
sou aquelle  grão  cabo  da  Boa  esperança, 
com  menos  tormenta,  e  perigo  do  que  os 
marinheiros  esperauaõ.  pela  opinião  que 
entre  elles  andaua,  donde  lhe  chamauaõ 
o  Cabo  das  tormentas  :  e  dia  de  sancta 
Catherina  chegarão  onde  se  ora  chama 
aguada  de  Saõ  Brás,  que  he  alem  delle 
sessenta  legoas.»   Barros,  Década  1,    liv. 

4,  cap.  3.  —  «E  ou  que  o  tertenho  o 
fez,  ou  estarem  ja  com  a  carga  que  auiaõ 
mester,  ainda  que  Pedraluarez  quisera 
hir  aos  imigos  elle  o  não  poderá  fazer : 
porque  a  nao  de  Sancho  de  Tuar  hia 
muito  na  volta  do  mar  e  como  era  das 
mães  poderosas,  e  as  outras  também  a 
seguiaõ.»  Ibidem,  liv.  5,  cap.  8.  —  «E 
fez  a  Pedraluarez  por  a  proa  nellas  apa- 
nhando hnma  e  huma  te  se  fazer  em  hum 
corpo  na  volta  de  Cananor,  ficando  os 
imigos  muito  satisfeitos  com  os  verem 
partir,  em  que  mostrarão  não  irem  a  ou- 
tro fffiFeito.8  Ibidem. —  «E  porque  muv- 
tos  presumiam  que  deviam  ter  feito  vol- 
ta pêra  o  Achem,  pos  dom  Francisco  em 
conselho  se  a  fariam  elles  também  pêra 
Jlalaca,  ou  se  passariam  em  sua  busca  o 
termo,  que  Simam  de  Melo  lhe  posera.» 
Lucena,  Vida  de  S.  Francisco  Xavier,  liv. 

5,  cap.  13.  —  «E  tornando  na  volta  do 
mar,  inda  que  co  vento  algum  tanto  pon- 
teiro, em  doze  dias  de  navegação  traba- 
lhosa costeou  toda  a  fralda  da  terra  de 
ambas  as  costas  de  Sul  e  Norte,  sem  em 
todas  ellas  ver  cousa  de  que  se  pudesse 
lançar  mão.«  Fernão  Mendes  Pinto,  Pe- 
regrinações, cap.  52. 

—  Ir  na  volta  da  terra,  fazer-se  na 
volta  da  terra;  voltar  a  ella  depois  de 
se  amarrar. 

-  —  Curvaturas.  —  «A  maior  parte  do 
qual  corre  tortuoso  em  voltas  meudas, 
principalmente  do  resgate  pêra  baixo,  te 


se  meter  no  mar  em  altura  de  treze  grãos 
e  meio,  ao  sueste  do  cabo  a  que  chama- 
mos Verde.»  Barros,  Década  1,  liv.  3, 
cap.  8. 

—  Movimento  com    direcção   circular. 

Ao  Sistema  Solar  corpos  estranhos 
Xa  marcha  irregular  diverso  Centro 
Da  EUipse,  ou  da  parábola  descobrem, 
Mas  tem  constante  volta,  em  doctas  folhas 
Halley  a  aponta  aos  Séculos  futuros. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATCBEZA,  Caut.  1. 

—  Movimento  em  gyro.  —  «E  indo 
desenrolando  mais  um  par  de  voltas,  no 
outro  dia  fui-me  ouvir  missa  a  uma  er- 
mida do  logar,  afastada  algum  tanto  do 
povoado  ;  e,  antes  que  entrassem  ao  offi- 
clo,  sentamo-nos  á  porta  os  naturaes  e 
forasteiros  que  alii  estávamos,  e,  sem  ser 
necessário  tanger  campana,  entramos  em 
cabido  sobre  a  ordem  e  successo  da  guer- 
ra.» Fernão  Soropita,  Poesias  e  prosas 
inéditas,  pag.  17.  ' 

—  As  voltas  do  labi/rintho ;  caminhos 
com  rodeios  torcidos. 

—  Voltas  ao  mots;  espécie  de  glosa. 

—  Volta  em  redondo  no  baile ;  gyro. 

—  Gyro  em  torno. 

—  ]\Iovimento  de  rotação.  —  A  terra 
dá  uma  volta  em    24  horas. 

—  Movimentos  que  fazem  os  luctado- 
res  para  se  derribarem  uns  aos  outros. 

—  Alternativas,  revezes.  —  As  voltas 
da  fortuna. 

—  As  voltas  do  tempo;  as  vicissitudes, 
o  volver  dos  annos. 

—  O  terreno  em  que  o  picador  traba- 
lha o  cavallo  na  picaria. 

—  Alternativa.  —  «E  quer  dizer,  que 
o  coraçam  aleuantado  com  fè,  e  amor,  e 
louuor  de  Deos,  está  sobre  todolos  cor- 
pos terreaes,  e  celestiaes.  E  dos  homens 
cujos  corações  amdam  metidos  na  terra 
disse  que  anuauam  em  redor  sojeytos  aas 
voltas  e  mudanças  das  cousas  temporaes.» 
Fr.  Bartholomeu  dos  Martyres,  Catecis- 
mo da  doutrina  chrisíã. 

—  Volta  da  cantiga ;  os  versos  que  se 
repetem  depois  de  cada  ramo,  ou  ramos. 

—  Loc. :  Furtar  as  voltas  a  alguém  ; 
fazer  gyros  para  se  não  encontrarem,  e 
escaparem. 

—  Figuradamente:  Fazer-se  em  outra 
volta;   mudar  de  resolução,  de  intento. 

—  Dar  uma  volta  na  casa  ;  mover-se 
em  roda  d'ella,  talvez  dançando. 

—  Figuradamente:  Furtar  as  voltas 
a  alguém;  fazer  gyros  para  não  se  vêr 
ou  concluir  com  alguém,  que  sobre  al- 
gum negocio  o  busca. 

—  LoC:  Andar  ás  voltas  7io  viar ; 
fazer  bordos,  por  nào  poder  seguir  um 
rumo  direito. 

—  Dar  volta  o  tempo  ligeiro;  revol- 
tar-se,  mudar  de  feição. 


Deu  volia  o  tempo  ligeiro, 
Tornou-me  a  minha  esperança, 


E  com  súbita  mudança 
Fiquei  qual  nasci  primeiro, 
Fui  grande,  tive  poder  ; 
E  nesta  nova  ventura. 

F.   nODBICnES  L0B0,0  DESEXGAXADO. 


—  Errando  de  volta  em  volta  no  la- 
byrinth};  andando  n'elle  caminhos  com 
rodeios  torcidos. 


Se  no  Dedáleo  Labii-intho  entrasses, 

De  volta  cm  volta  errando,  aos  mudos  troncos 

Perguntar.ís  em  vão,  tu  nào  souberas 

Co'  a  vareda  atinar :  tal  me  pareces 

Que  confundida,  attonita  vagucas 

Co'  o  pensamento  pela  noite,  e  ao  vácuo 

Immeuso,  indivisível,  onde  existe 

Tudo  o  que  vês  nos  Ceos,  e  vês  na  Terra. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  SATCEEZA,  Caut.  1. 

—  Ter-se  ás  voltas ;  resistir  aos  mo- 
vimentos que  fazem  os  luctadores  para 
se  derribarem  uns  aos  outros. 

—  Dar  uma  volta ;  dar  um  pequeno 
passeio. 

—  Tira  de  panno  que  cobre  o  cabeção 
dos  clérigos. 

—  Duas  tiras  pendentes  sobre  o  peito 
dos  que  vão  de  capa  e  volta. 

—  Termo  de  architectura.  A  parte  cir- 
cular do  arco,  da  abobada,  começando 
da  pedra  immediata  ao  capitel  ou  cima- 
Iha,  e  as  mais  pedras  que  se  seguem  de- 
nominam-se  peças  de  volta. 

—  De  volta  com  alguém,  ou  com  algu- 
ma cousa;   de  mistui-a. 

—  Figuradamente :  Velejar  no  mar 
d'este  mundo  raras  voltas  ao  bem,  e  ao 
mal  mais  vezes. 

—  Andar  ás  voltas ;  pairar,  cruzar  no 
mar,  esperando  outros  navios,  ou  em  cor- 
so, ou  a  favor  d'e!les. 

—  Dar  voltas  á  fortuna ;  variar  o 
successo  das  cousas,  alternal-o. 

—  Figuradamente:  Dar  mil  vezes  mil 
voltas  ao  pensamento  ;  pensar  de  mil  mo- 
dos. 

Que  mil  vezes  me  faz  dar 
Mil  voltas  ao  )>onsamento. 
Nào  entendo  delle  nada. 
Mas  inda  qu'isto  he  assi, 
Disso  que  dcUe  entendi. 
Me  sinto  tào  alterada, 
Qnc  me  arreceio  de  mi. 

CAM.,  FILODEMO,  act.  2.  BC  6. 

—  Fazer  alguma  cousa  ás  voltas  d'ou- 
tra ;  em  quanto  se  faz  a  outra  juntamen- 
te no  mesmo  ensejo,  e  conjuncção. 

—  Figuradamente:  Ter-se  ás  voltas 
com  os  desejos;  resistir,  reagir  contra  os 
meros  desejos,  do  mesmo  modo  que  o  lu- 
ctador  resiste  ás  voltas  com  o  seu  adver- 
sário. 

—  Gyi'o  de  cambio  com  usui-as. 

—  Voltas  no  esfi/lo ;  torneio,  contorno 
na  composição  das  phrases,  e  sua  con- 
strucção  accommodada  aos  pensamentos, 
que  hão  de  exprimir. 


990 


VOLT 


VfíLT 


VOLT 


—  Loc. :  Dar  voltas  aos  textos;  dar 
(livorso.s  Bontiilo»  furçinlos,  improprio.s. 

—  Locii^rto  (lo  iiHuticJt :  Fazar-sii  na 
volta  (1'alguma  terra;  inular  o  rumo 
que  110  levava,  e  ir  demandal-a. 

—  Volta    iVolhos  ;    goito  do    namorar, 

—  /J'ír  volta  jxirn  traz;  tornar  atra/,. 

—  Fi;,'uraliiinoiite:  Dar  volta  para 
traz,  ilesviar-se  d(j  erro  (jue  ia  seguin- 
do;  (li'Hviar-so,    afastar-so    atraz,  a  fora. 

—  Volta  do  panno  que  envolve  jmr 
inteiro ;  uraa  volta  do  cordão,  ou  corda, 
que  cin^e  o  corpo  por    inteiro   uma  voz. 

—  As  voltas  da  amarra ;  recolhida 
em  cireulos. 

—  As  voltas  dos  cabos ;  quando  estJlo 
fixos  onde  se  reatara. 

—  Voltas  do  cordel ;  arroclmndo-o  mais 
apertado  nos  tractos. 

—  Figuradamente  :  Dar  mais  w;na  vol- 
ta ao  cordel;  aecreseentar  mais  alguma 
moléstia,  ou  tormento,  dôr,  trabalho. 

—  Fazer  voltas  ao  inimigo ;  torna- 
rem a  ferir  n'elle  o^  que  parece,  ou  real- 
mente se  vinham  retirando  d'elle. 

—  Fazer-sc  o  entendimento  em  mil  vol- 
tas ;  estar  mui  desassoeegado,  istoó,  olhar 
as  cousas  por  todos  os  lados  com  inquie- 
tação. 

—  Termo  antiquado.  Briga,  motim,  pe- 
leja, alvoroço,  choque,  rixa. 

—  Figuvail  amento :  Levantar  volta  em 
juizo. 

—  Dar  voltas  ^wr  obter  alguma  cou- 
sa; trabalhar  muito. 

—  Dar  o  Juízo  volta  ;  endoudecer,  en- 
louquecer. 

VOLTACARA,  s.  /.  Termo  militar.  Fa- 
zer voltacara  ;  voltar  as  costas  para  reti- 
rada. 

VOLTADO,  parí.  pass.  de  Voltar.  Vi- 
rado.—  «Nào  saboroy  diser  se  a  vara  era 
assim  de  sua  origem,  ou  se  tinha  feito 
assim  por  força  do  uso  que  ella  lhe  da- 
va, pois  que  para  se  servir  delia  lhe  pe- 
gava pelas  duas  pontas,  tendo  a  parte 
convexa  do  arco  voltada  para  cima  em 
nituaçào  vertical.»  Cavalleiro  d'01iveira, 
Cartas,  liv.  3,  u."  26.  —  «Sabia  que  ou- 
tras usavão  da  vara  pcgando-lhe  com  a 
míío  esquerda  pelo  meyo,  com  a  palma 
voltada  sempre  para  cima,  e  arqueando 
com  a  mão  direyta  a  ponta  da  vara  que 
apertavão  dentro  da  mesma  mào.  A  di- 
recção destes  era  mixta,  porque  de  huma 
ponta  da  vara  até  o  meyo  lhe  davào  si- 
tuação horisontal,  e  a  outra  parte,  que 
era  mais  curta,  ficava  em  situação  ver- 
ticiil.»  Ibidem. 

—  Vid.  Volto. 

—  O  cabello  voltado  em  anneis;  cabei- 
lo  eros]io. 

f  VOLTAICAMENTE,  ndv.  Por  meio  da 
electrieiíiade  voltaica. 

VOLTAICA  PILHA\  ou  PILHA  DE  VOL- 
TA, .<.  f.  Termo  «lo  chiuiica.  Apparelho 
eléctrico  iiiventaiio  por  Volta,  ck-pois  da 
descoberta  do  galvanismo.  Vid.  Bateria. 


f  VOLTAICO,  A,  adj.  (De  Volta,  cele- 
bro pliy-ii-o  italiano,  <|uc  iaventou  a  pi- 
lha). Termo  de  pbybica.  Diz-so  da  pilha 
eléctrica,  o  de  seus  eflfeitos.  —  PiUia,  cor- 
rente voltaica. 

f  VOLTAISMO,  s.  VI.  Electricidade 
desenvolvida  pelo  contacto  de  Dub^taucia» 
heterogiiic^a-'. 

I  VOLTAMETRO,  k.  m.  Termo  do  phy- 
sica.  Instrumento  destinado  a  roeilir  a 
energia  o  força  da  corrente  da  pilha  do 
Volta. 

VOLTAR,  V.  a.  Virar.  —  Voltar  a  fo- 
lha de   um  livro. 

E  sempre  libcnil  iiiaií  amplo  roita 

O  pciiicno  dcpoAito,  i|u'ao  siào 

A  parca  miio  do  lavrador  Uic  lain;a ! 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Caut.  2. 

—  Voltar  as  cosias  ao  mundo;  aban- 
doual-o,  ucsprezal-o. 

—  Figuradamente:  Voltar  as  guardas 
a  alguma  cousa;  tomal-a  ao  contraiio,  ao 
avesso. 

—  Voltar  o  rosto,  as  costas  a  alguém ; 
para  o  não  vêr,  ou  nos  apartarmos  d'elle, 
e  talvez  com  desagrado. 

—  Voltar  a  fortuna  o  rosto  a  alguém ; 
desfavorocol-o. 

—  Voltar  ao  inimigo;  retha.r-Be  d'elle, 
e  talvez  com  a  fuga. 

—  Termo  popular.  Voltar  casaca.  Vid. 
Virar. 

—  Voltar-se,  v.refl.  Virar-se. —  «Du- 
que de  Corduba,  u.ào  creias  que  o  meu 
espirito  se  volte  hoje  para  aá  misérias  da 
terra,  iuipellido  por  uma  tardia  saudade. 
Não !  De  que  me  Bcrviriam  o  ouro,  o  po- 
der e  a  gi-andeza?  Para  tomar  um  pu- 
'.ihado  desse  lodo  não  se  curvaria  o  Prcs- 
bvtero.»    Alexandre    Ilercidano,   Eurico, 


cap 


«Ao  voltar-se  e  ao  dar  com  os 


olhos  em  el-rci,  Fernando  empalliíleceu 
e  balbuciou  alguuías  palavras.  O  seu  pla- 
no, estribado  na  supposta  enfermidade, 
consideriHi-o  como  perdido.»  Idem,  Mon- 
ge de  Cisler,  cap.  26. 

—  Voltar-se  para  alguém;  pCr-sc  do 
frente  para  elle. 

—  V.  n.  Fazer  volta,  tornar  do  logai- 
para  onde  fôramos,  ou  íamos. —  «Com 
cuja  morte  os  seus  dcsacoroçoar.ào  de  tal 
màneyra,  que  querendo  voltar  para  huma 
ponta'  que  chamavão  Batoquirlm,  com 
tenção  de  ahy  feitos  todos  em  hum  cor- 
po, se  fazerem  fortes  ate  vir  a  noite,  cm 
que  dcterminavão  de  se  acolherem,  o  uào 
puderão  fazer,  porque  a  corrente  da  agoa, 
que  era  muyto  grande,  os  dividio  em 
nuivtas  partes.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  i52.  —  «Ante  do  qual 
fiito  tinha  acontecido  outro  a  lorge  da 
Svlucira  digno  de  tão  bom  caualleiro,  co- 
mo elle  era:  indose  os  Mouros  recolheudo 
ao  palmar,  foi  lorge  da  Svlucira  com  o 
seu  colaço  dar  com  hum  Jlouro  homem 
nobre   em   seu  trajo,   que  leuaua  huma 


molhcr  moça  du  bom  parecer  ante  bí,  qao 
parecia  BUa  esposa,  e  quando  vio  que  lor- 
ge du  Syluuira  eucarada  nella,  deu  de 
mão  á  esposa,  uiandaudo-lhe  que  se  eal- 
uast<e,  o  voltou  sobrVdle  polo  entreter.) 
Barros,  Década  2,  liv.  1,  cap.  2. —  «Mas 
tornaudo  a  Paio  de  .Sousa,  Pêro  Barreto, 
Diogo  Pirez,  Duarte  de  Mello,  e  outros 
capitães  que  andauam  em  trabalho  de 
acodirem  a  dom  Lourenço,  vendo  que  a 
nao  cstaua  quasi  toda  no  fundo,  e  que 
era  entrada  dos  imigos,  voltaram  com  a 
corrente  da  maro  com  que  saíram  piela 
barra.»  Damião  de  Goeti,  Chronica  de  D. 
Manoel,  part.  2,  cap.  26.  —  «E  quando 
voltou,  chegou  primeiro  a  Cascai^»*,  que 
Vasco  da  Gama.  E  por  elle  soube  EiRey 
todo  o  succedido  uaquelle  dcãcobrimento. 
Pelo  que  entre  outras  mercõs,  que  ElBey 
D.  Manoel  lhe  fez,  lhe  deu  por  armae  em 
campo  vermelho  hum  Lcaò  rompente  en- 
tre duas  colunuas  do  prata,  que  estão  so- 
bre huns  moi.tes  verdes.»  Severim  de 
Faria,  Noticias  de  Portugal,  Disc.  3, 
cap.  16.  —  «Recebendo  Tachard  o  seu 
Luiz  de  ouro,  voltou  com  a  Demoiselle 
para  casa  onde  se  físeràu  muitas  expe- 
riências com  dinheyro  escondido  debayxo 
de  alguns  vaáos  de  vidro,  e  de  porcela- 
na; e  ainda  que  nem  em  todos  houve  o 
mesmo  successo,  o  me^mo  Tachard  atri- 
buído a  falta  delle  á  precipitação  com 
que  a  Senhora  Franco  operava.»  Caval- 
leiro d'Olivelra,  Cartas,  liv.  3,  n."  26. 
—  a  Fiquei  pois  de:am]>arada  e  só,  no 
meio  d'uma  revolução,  na  qual  não  fatia- 
rei, senão  nos  pontos  que  tem  relação  co- 
uúgo.  Recebia  algumas  Cartas  de  Adol- 
pho,  que  de  contiuuo  me  dava  a  esperar 
que  voltaria;  mas  que  de  coutiiiuo  se  de- 
morava. »  Francisco  Manoel  do  Nasci- 
mento, Successos  de  madame  de  Seneter- 
re.  —  «Dalli  voltaram  a  Calypso,  que  os 
esperava.  As  uymphas,  com  oa  cabellos 
entrançados,  e  cândidos  vertidos,  miuis- 
traram  umas  iguarias  simpleces,  ma»  ex- 
quisitas  no  gosto  e  no  aceio.  Nào  havia 
outros  guisados  mai<  que  das  avcâ,  por 
ellas  prca  las  r.as  redes,  ou  das  feras,  que 
tinham  assetteado  na  caça.  Grandes  e  ar- 
ger.teas  vasilhas,  despejavam  em  áureas 
taças  vinho  mais  saboroso  que  o  néctar.» 
Francisco  Manoel  do  Nascimento,  e  Ma- 
noel de  Sousa,  Telemaco,  liv.  1. 


Komn,  T?oma,  Oà  teus  dias  sio  contados  ; 
Tu  queres  um  senhor :  te-lo-has.  Os  (^uídcím 
Ja  não  ro/tiim.  Sem  honra,  «em  \-irtudo, 
Sem  aquella  pobrej;a  s.iueta  o  li\Te 
De  Fabrioio,  ouda  vai  a  liberdade ! 
Marco-Tulio  venceu  a  Catilina. 
«ABam,  CATÂo,  aot.  1,  se.  2. 

Esto  horror  da  anniquilação,  e  o  vago 
Desi^jo  de  outni  vida  mais  ditosa, 
O  que  sáo? —  Indiátinotis.  m.iâ  seguras, 
Kominisorncias  da  perdida  pátria. 
E  *auJ;»Jeá  de  voltar  a  ella. 
IBIDEM,  act.  5,  so.  2. 


VOLT 


VOLU 


VOLU 


991 


—  «Depois  de  fechar  a  lista  e  chrismar 
muitas'  pessoas  que  necessitavam  d'este  sa- 
cramento, nos  despedimos,  e  voltando  pe- 
lo mesmo  rio  a  casa  de  Guillierme  Bros- 
sem,  nos  embarcamos  peias  10  horas  da 
noite  para  a  cidade.»  Bispo  do  Grão  Pa- 
rá, Memorias,  publicadas  por  Camillo 
Castelio  Branco,  pag.  213. 

—  Voltarem  as  noutes  sobre  os  dias; 
irem  sendo  maiores  que  elles. 

—  Voltar  á  direita,  á  esquerda;  tomar 
á  mão  direita,  ou  á  esquerda. 

—  Voltar  sobre  o  inimigo;  tornar  a 
atacal-o   depois  de  se  ir  retirando  d'elle. 

—  Mover-se  em  gyro,  em  torno,  apar- 
tando-se  de  um  ponto,  virar. 

—  Torfiar  a  voltar  atraz  ;  voltar  atraz 
de  novo,  segunda  vez,  recuar  do  novo. 
—  «Pirbee  que  hia  diante  achando  logo 
a  gale  menos,  tornou  a  voltar  atraz,  e 
chegando  à  restinga,  achou  a  gale  que- 
brada, e  toda  a  gente  nella,  e  deitando 
barquinhas  fora,  mandou  recolher  todos, 
e  03  Portuguezes  que  forao  taõ  mofinos, 
que  podendo-se  salvar  em  terra  que  era 
perto  se  deixarão  ficar.»  Diogo  de  Cou- 
to, Década  6,  liv.  10,  eap.  10. 

—  Voltar  attonitos;  voltar  espavoridos, 
espantados,  admirados. 

Os  Lusos  dous  atónitos  voltarão, 
Na  idêa  iaimersos  da  funesta  scena, 
Deixando  o  estranho  Templo  atravessarão 
Pela  estrada  espaçosa  a  selva  aracua : 
Ao  longe  surta  a  Frota  demandarão, 
JA  quando  a  noite  plácida,  e  serena 
O  véo  de  estrellas  recamado  abria, 
E  a  Lua  o  rosto  no  horizonte  erguia. 

J.    A.   DS   MACEDO,  O  OBIESTB,  Caut.    5,  GSt.    G2. 

—  Voltar  atraz;  vir  atraz,  recuar,  re- 
troceder. 


Assombrado  do  gelo  atraz  voltava ; 
Mas  nunca  hum  passo  além  co'  o  Lenho  ousado 
Da  terra  foi ,  que  descobrira  hum  Luso ; 
Magnânimo  Queiroz,  deste-lhe  hum  nome 
Para  ti  foi  brazão,  e  he  meta  aos  outros. 

J.  A.  »E  MACEDO,  TIAGEH  EXTÁTICA,  Cant.   4. 


—  Voltar  com  pressa;  voltar  ligeiro, 
rapidamente.  —  «Mas  pois  voltar  com 
tanta  pressa  nam  era  honra,  e  estar  mais 
de  vagar  naquella  ilha  era  de  nenhum 
proueito,  em  todo  o  caso  auiam  dir  auau- 
te :  que  em  fim  sempre  fora  melhor  leuar 
a  vitoria  nos  olhos,  que  deixala  nas  cos- 
tas. Com  tudo  a  doin  Francisco  nam  lhe 
pareceo  apartar  se  do  regimento,  que  lhe 
deram.»  João  de  Lucena,  Vida  de  S. 
Francisco  Xavier,  liv.  õ,  cap.  13. 

—  Substantivamente:  Um  voltar  d'o- 
Ifws;  acto  de  pôr  os  olhos  em  alguma 
cousa. 

—  Figuradamente :  Em  um  voltar  de 
olhos :  em  um  momento. 

VOLTARETE,  s.  m.  Jogo  de  cartas  em 
que  o  fejto  volta  um  trunfo,  ou  o  levan- 
ta da  baralha,   ou  o  declara  a  seu  arbí- 


trio quando  se  faz  só,  sem  ir  comprar  á 
baralha,  etc;  jogo  mui  análogo  com  o 
jogo  da  arrenegada.  Vid.  Arrenegada. 

V0LTE.4D0,  part.  ^jass.  de  Voltear. 

VOLTEADOR,   A,  s.  Pessoa  que  voltêa. 

—  Pessoa  que  dá  voltas,  e  faz  equilí- 
brios sobre  a  corda. 

VOLTEADURA,  s.  f.  Acto  de  voltear, 
volteio. 

VOLTEAR,  V.  a.  Dar  gyros,  contor- 
near. 

—  Voltear  as  bandeiras;  dando  voltas 
com  ellas. 

—  Voltear  a  funda  no  ar;  gvrar. 

—  V.  n.   Gjrar,  rodar. 

—  Voltear  o  marinheiro  ]ias  cordas  do 
navio. 

—  Revolver-se. 

VOLTEIRO,  A,  aãj.  Termo  antiquado. 
Brigoso,  rixoso,-  que  levanta  brigas,  mo- 
tim. 

VOLTEJADORES,  s.  m.  plur.  (Do  fran- 
cez  voltiyeuis).  Vid.  Volteadores,  termo 
verdadeiramente  portuguez,  oriundo  de 
voltear,  pois  volíejadores  é  gallicismo 
desnecessário  na  nossa  lingua. 

VOLTEJAR,  L-.  a.  (Do  francez  voUiger). 
Vid.  Voltear,  pois  voltejar  é  gallicismo 
escusado  no  nosso  idioma. 

VOLTERETE,  s.  m.  Vil.  Voltareis. 

VOLTIVOLO,  A,  adj.  Termo  pouco  em 
uso.  Vario,  inconstante. 

VOLTO,  part.  pass.  irreg.  de  Volver. 
Voltado.  . 

—  Volto  o  rosto  para  se  retirar  da  ba- 
talha. 

—  Os  olhos  voltos  em  sangue;  os  olhos 
feitos  em  sangue,  tornados  n'elle. 

—  A  bocca  torcida,  e  volta  a  uma  ore- 
lha. 

—  E  volto  a  D.  Fernando;  virado 
para  elle. 

VOLUBEL,   ou  VOLUBIL.  Vid.  Volúvel. 

VOLUBILIDADE,  s.  /.  (Do  latim  volu- 
bilitas,  de  vulubilis).  Facilidade  de  se 
mover. 

—  A  volubilidade  da  linguagem;  a  fa- 
cilidade da  língua  em  se  mover  d'esta  ou 
d'aqueila  maneira. 

—  Figuradamente:  Volubilidade  da 
lingua;  habito  de  fallar  muito,  e  de- 
pressa. 

—  Figuradamente:  Articulação  nitida 
e  rápida.  —  Fallar  com  volubilidade. 

—  Figuradamente  :  Propensão,  facili- 
dade para  a  mudança;  fallaudo  do  espi- 
rito, do  coração. 

VOLUME,  s.  m.  (Do  latim  volumen).  A 
grandeza,  tamanho,  tomo  do  corpo  de 
qualquer  livro  de  uma  obra  impressa  ou 
escripta.  Vid.  Tomo. 

Foi  teu  maior  estudo  esse  Volume, 
Onde  as  Wsões  de  extático  Profeta 
Em  sombra  impenetrável  se  sepultão. 

J.    A.    DE   U.ACEDO,   ^T-IGEM    EITAIICA,    Caut.    3. 

Depositada  está  n"aureo  volume. 

Que  aobranceiro  ao  saugue,  ao  cadafalço 


Não  ferio  cora  Bailly  furor  de  Tigres ! 
Que  escondidos  nas  lôbregas  cavernas 
Sem  cessar  vào  sapando  Altar,  e  Throno, 
Ao  mundo  dando  Leis,  aos  homens  ferros, 
Que  afiigentào  virtude,  e  o  crime  escorão. 
IBIDEM,  cant.  4. 

Quando  acaso  feliz  nos  desenterra 
Dentre  bárbaro  pó  volume  antigo, 
Os  assombrados  séculos  admirào 
Da  Genotria  terra  no  profundo  sábio 
Quanto  o  Grego  Filosofo  escrevera ! 
roEM,  KEDiTAÇÃo,  cant.  1. 

Pudeste,  Miraband  Í3'é3  tu  daquelle 
ímpio  volume  Ai-tiíice  profano), 
Desconhecer  hum  Deoa  principio  eterno ! 

IDEM,  A  KATUBEZA,  Cant.    2. 

—  Trabalho  que  fornece  a  matéria  de 
um  volume. 

—  Volume  ia-folio ;  livro  em  que  a  fo- 
lha de  pape!  faz  dous  folhetos. 

—  Volume  in-quarto;  aquelle  em  que 
a  folha  faz  quatro  folhetos. 

—  Volume  cm  oitava,  doze,  dezeseis, 
etc;  aquelle  em  que  a  folha  dobrada  faz 
oito,  doze,  dezesseis  folhetos. 

—  Figuradamente :  Desenvolvimento, 
amplitude. 

—  Figuradamente  :  Em  grande  volu- 
me ;  em  grande  quantidade. 

—  Em  pequeno  volume  ;  em  pequena 
quantidade,  com  pouca  força. 

—  Diz-se  da  massa  d'agua  que  revol- 
ve um  rio,  uma  ribeira. 

—  Termo  de  musica,  em  compararão 
com  um  volume  d'agua.  ilassa  de  som 
que  produz  uma  voz  ou  um  instrumento 
em  cada  um  dos  graus  do  diapasão. 

—  Termo  de  geometria  e  de  phvsica. 
O  espaço  occupado  pelos  corpos.  — O  vo- 
lume de  um  corpo  é  igual  ao  seu  peso 
dividido  pela  sua  densidade.  —  Isso  é  de 
um  grande  volume,  e  de  um  pequeno 
peso. 

: — Diz-se  da  grossura  dos  órgãos  do 
corpo  vivente.  —  A  comparação  do  volu- 
me do  cérebro. 

V0LUMIN030,  A,  adj.  Vid.  Volumoso. 

VOLUMOSO,  A,  adj.  Fallaudo  de  uma 
obra,  que  tem  grai.de  numero  de  volu- 
mes. 

—  Que  fez  muitos  volumes*  —  Autlwr 
volumoso. 

'  —  Muito   enérgico   em  todos  os  senti- 
dos; que  occupa  muito  logar. 

VOLUNTARIAMENTE,  ndv.  (De  volun- 
tário, com  o  suíuxo  «mente»).  De  boa 
vontade,  sem  constrangimento.  —  «De 
todas  estas  cousas  a  mais  iilustre,  assi 
em  grandeza,  como  em  perfeição  de  ar- 
ckitectura,  foy  a  ponte  de  Trajauo,  a 
que  03  Mouros  deraõ  nome  de  Aleantha- 
ra,  que  em  Arábigo  he  o  mesmo  que 
ponte,  inda  que  esta  se  edificou  à  custa 
dê  muitos  povos  de  Portugal,  que  se  fin- 
tarão voluntariamente,  vendo  a  gramle 
necessidade  que  avia  delia.»  Monarchia 
Lusitana,  liv.  5,  cap.  10. 


992 


VOLU 


VOLU 


VOLV 


—  Por  cumprir  vontade,  o  contru  ra- 
itLo. 

—  Espontaneainonto,  por  rjuorcr.  — 
Soccorro  li/inado  voluntariamente.  — 
« Verdaili  soja,  que  cscrovoíulo  ao  Pa- 
dre M.  Simaiii  numa  de  Malaca  d'esto 
mesmo  anuo  de  coronta  o  iioue,  dcelara, 
(juauto  mais  depressa  se  aleaiir-a  a  cou- 
fiançá'  em  Daoi  na  falta  do  todo  empa- 
ro,  o  aoeorro  iiuniauo  tomada  volunta- 
riameute  por  zelo  do  diuino  .seruiyo,  que 
na  abundância  das  couHas  necessárias,  o 
noa  peri;;os  cuideutes  da  morte,  em  que 
no3  põem  a  oljodiencia,  e  desejo  da  glo- 
ria do  Seniior,  que  na  soRura,  o  bolla 
paz.»  Lucena,  Vida  de  S.  Francisco  Xa- 
vier,   liv.  (),  ca]!.   17. 

VOLUNTARIEDADE,  «./.  Crenva  livro, 
espontaneidade. 

—  Vontade,  caiirichosa. 

1.)  VOLUNTÁRIO,  s.  m.  Aquelle  que 
servo  n'um  exercita,  que  toma  parto  n'u- 
ma  expodii,'ão,  sem  a  isso  ser  obrigado. 

—  Homem  que  serve  na  tropa  sem 
praça,  som  soldo.  —  Os  voluntários  da 
rainha   D.   Maria   u. 

2.)  VOLUNTÁRIO,  A,  aJj.  (Do  latim 
vulantarius).  l)i/,-se  de  tudo  o  que  está 
em   nosso    poder   de    fazer  ou  uão  fazer. 

—  Movimento  voluntário. 

—  Termo  de  physiologia.  Nerws  vo- 
luntários ;  aquelles  que  cedem  ao  tecido 
muscular,  e  que,  por  seu  intermédio,  o 
Bubmettem  á  inllueneia  da  vontade;  não 
teem  corpúsculos  ganglionarios, 

—  Músculos  voluntários  ;  aquellos  que 
executam  moviuientos  voluntários. 

—  Que  se  faz  de  pura  vontade,  sem 
constrangimento.  —  Um  erro  voluntário. 

—  «E  temendo,  que  a  enforcassem  os 
Generaes  porisso,  porque  he  ponto,  que 
sç  naõ  dtívo  perdoar,  passou-se  para  Cas- 
tella,  ^  castigando-se  a  si  mesma  com  de- 
gredo voluntário :  e  por(jue  fugio  sem 
passaporte,  uaõ  se  atreveo  a  voltar;  e 
lá  se  fez  natural  com  tanta  audácia,  o 
excesso,  que  cm  breve  tempo  assolou 
toda  Espanha  com  tributos  para  engor- 
dar, por(iue  Ília  muito  magro  deste  Rey- 
no.»   Arte  de  furtar,  cap.  G9. 

—  Que  obra  por  sua  própria  vontade, 
sem  ser  a  isso  constrangido,  fallando  das 
pessoas.  —  «  Miraguarda  se  deteve  ura 
pouco,  cuidando  o  (pic  devia  fazer,  por- 
que, alem  de  voluntária,  era  discreta: 
depois  de  se  detern.iinar  no  que  melhor 
lhe  pareceu,  o  mandou  vir  ante  si,  fican- 
do Florendos  '.,o  campo.»  Francisco  de 
Mori:ve8,  Palffieirim  d'Inglaterra,  capitulo 
108. 

TT-Ojae  só  quer  fazer  a  sua  vontade. 
.'—>  ASoWrttios  voluntários  ;  soldados  que 
flOrvera  na  tropa  sem  preço,  nem  soldo. — 
«Polo  que  cn\  usar  destes  prémios  para  o 
intento,  com  que  foraõ  instituídos,  está  o 
podermos  ser  poder.isos,  o  ter  grande  nu- 
mero do  Soldados  voluntários,  e  naõ  for- 
çados,   com    (pie  veuçamos  nossos  iuimi- 


fíon,  >    Severini    do    Faria,    Noticias    de 
Portugal,  Disc.  2,  cap.  lli, 
—  \)o  boa  vontade. 


Noa  conBtitiiiino»  rnn  «onado  fi  cúria  ; 
]i  í  nos^a  atiut<ji°idadc  tiiibinuttêinoH 
Milliiirurt  dl)  liomoiis!. — •  Volunlarioi,  digo, 
ViiíUios  uo  ptiiigo --•(!,  oiii>|ii<iiiU>  longo, 
rioviíriíilnios  Si'nliorCH,  rf!Hii(!Ítado«, 
Como  no  Capitulio  obedecidos. 
aARnv:rr,  UAiÂo,  act.  2,  RC.  2. 


—  Jurisdicção  voluntária  ;  a  que  se 
exerce  nos  pontos  quo  dependem  do  que- 
rer das  partes. 

—  Homem  voluntário  ;  homem  amigo 
de  fazer  a  sua  vontaile,  sem  talvez  guar- 
dar os  foros  á  razào,  o  á  justiça. 

—  Guerra  voluntária  ;  n.ão  necessária 
á  dcfi',za,  conservai;.ão,  de  capricho. 

VOLUNTARIOSAMENTE,  >i,tv.  (Do  vo- 
luntarioso, com  o  sufllxo  «mente»;.  Co- 
mo quem  só  quer  fazer  sua  vontade,  a 
arbitrio  ou  capricho,  contra  razão,  direi- 
to, prudência. 

VOLUNTARIOSIDADE,  s.  f.  Qualidade 
do  voluntariuo. 

VOLUNTARIOSO,  A,  wlj.  Vid.  Volun- 
tário. 

VOLÚPIA,  3.  f.  (Do  latim  Volúpia). 
Termo  de  mythologia.  Deusa  da  fabula 
que  presidia  ás  dissoluções.  Voluptuosi- 
dade. 

VOLUPTARIO.  Vid.   Voluptuoso. 

VOLUPTUARIO,  A,  a<lj.  —  Bemjeitorias 
voluptuarias  ;  de  recrcaç.ão  e  prazer,  o 
não  necessárias,  nom  feitas  por  commo- 
do. 

—  Vid.  Voluptuoso. 

f  VOLUPTUOSAMENTE,  adv.  (De  vo- 
luptuoso, eom  o  snffixo  «mente»).  De 
um  modo  voluptuoso. 

—  Com  deUíite,  voluptuosidade. 
VOLUPTUOSIDADE,   s.  /.  Caracter  vo- 
luptuoso das   pessoas  ou  das  cousas. 

VOLUPTUOSO,  A,  adj.  (_Do  latim  volu- 
ptuosHs).  Que  procura  o  prazer,  o  delei- 
te, fallaudo  das  cousas.  —  Uma  habita- 
ção,   um  ijerfume  voluptuoso. 

—  Que  exprime  o  prazer,  o  deleite. 

—  Em  que  so  descreve  e  se  pintam 
seenas  voluptuosas.  —  Quoilros  voluptuo- 
sos. 

—  Que  ama  o  prazer,  o  deleite. 

—  Substantivamente  :   Um  voluptuoso. 
VOLUTA,     s.    /.     (Do    latim     vuluta). 

Termo  de  architcctura.  Parte  do  capitel 
da  columna  em  que  se  representam  CJis- 
cas  de  arvores,  retorcidas,  o  enroscadas 
em  linlias  espiraes. 

—  Diz-se  de  toila  a  espécie  do  enrola- 
mento, semelhante  aos  da  voluta  do  c;i- 
pitel  ionico. 

—  Termo  do  historia  natural.  Concha 
nnivalvc. 

VOLUTABRO,  .<.  m.  Termo  pouco  cm 
uso.  O  lodaçal,  espojadonro  do  porco. 

—  Figuradamente:  Immundicio  de  de- 


leitei, em  quo  80  revolve  o  devaMo,  o  de- 
bocliado. 

VOLÚVEL,  adj.  2  (jvn.  (^uo  co  volve, 
gyra,  roda. 

Sympatbica  attracf  ào  deocobro  Urauio, 
(^uc  du  li  chama  a  si  volmeU  oiula«. 

J.    A.    DK   MACKDO,  A  NAtUalUtA,   Ciillt.    3 

—  Vario,  inconHtanto,  variável,  incor- 
to. 

—  Termo  de  botânica.  Diz-se  do  todo 
o  género  de  plantão  que  trepam  o  so  en- 
roscam em  redor  do  que  está  perto  d'cl- 
las. 

VOLVA,  *.  /.  Termo  de  botânica.  Mem- 
brana cm  forma  do  bulsa  quo  envolvo  to- 
talmente certos  cogumelos. 

f  VOLVACEO,  A,  adj.  Termo  do  hiuto- 
ria  natural.  Que  tem  a  forma  do  uma 
bolsa,  de  uma  volva. 

VOLVADO,  A,  adj.  Termo  de  boUnica. 
Cou)  volva. 

VOLVADOR.  Vid.  Envolvedor. 

—  Vid.  Envolvedouro. 

VOLVER,  V.  a.  (Do  latim  volvtrt).  Vol- 
tar. 

  novas  sccnas,  novas  maravilhas 

Teus  olhos  volve,  Alcipc,  oh  quanto  hc  grato 

O  pomposo  espectáculo  da  Terra ! 

J.  A.  DE  UAOEDO,  A  MATCBEZA,  Cant.  2. 

Sob"csta  horrenda  Scona  os  véos  desdobro, 
Lembrão-mc  os  tristes  Incas;  volvt  agora 
A  novo  objecto  os  olhos,  novas  graças 
Yacs  descobrii-  na  Torra,  e  mais  riquezas. 


Rápido  ia  o  sol  no  ceo  descendo  : 
O  guerreiro  ciutor  vnlvt  a  imbrcnhar-ac 
iMa  espessura  e  bosques.  Não  csp°ranç«a 
De  melhor  sorte,  uào  lisonjas  doces 
De  amor  próprio,  mais  doces  quando  ouvidas 
De  lábios  de  monarchas :  não  promessas 
De  merecido  proraio,  —  nada  agita 
O  sangue  do  esforçado  na\'cgante. 
oARBiTT,  cAMUKs,  Cant.  9,  cap.  3. 

—  » Jlas  que  pareça  espontânea  da  na- 
tureza como  ciirrente  que  deveria  já  bo- 
jando a  tlôr,  já  volvendo  o  fructo  despe- 
gado, já  esperguiçando-ae  sob  a  arvore 
que  a  ensombra  e,  em  paga,  a  eetA  espe- 
lhando.» Bispo  do  Gr.lo  Pará,  Memorias, 
publicadas  por  Camillo  Ca-stello  Branco, 
pag.  84.  —  «Volvendo  ao  Bacalhau  :  Pro- 
poz-se  no  conselho  se  podia  S.  M.  D. 
João  v,  applicar  p  real  de  agua  que  se 
oxtrae  do  povo  e  clero  ;aliaz  exempto 
de  colleptas'1  para  a  procissão  de  Corpus, 
depois  de  applicado  p.ara  o  fim  que  se  ex- 
poz  ao  Pajw.  A  lisonja  dos  thcologtw  vo- 
tou que  sim.K  Ri.*po  do  Orão  Paro,  Me- 
morias, juiblicadas  por  Camillo  Castello 
Branco,  p.  Sõ. 

—  Tornar,  redarguir. 

Já  ncsao  pleito  ouvi,  (»<'  bom  me  lembro) 
E  no  jHiino  faltar :  ilhe  vol'-f  o  Lar;i) 
Mas  o  tal  Monsicur  ráris  foi  um  asno ; 
(Perdoe  a  sua  ausência)  se  na  cansa 


VOLV 


VOMI 


VOMI 


993 


De  sor  Juiz  a  sorte  me  coubera, 
Daria  mal,  ou  bem  a  minha  soutença, 
Couforme  o  mou  bostunto  me  ajudasse, 
Som  em  nada  gravar  a  Consciência. 

A.    DINIZ   n\   CRDZ,    HT350PE,    Caut.    5. 

—  PAris  o  não  Pariz,  diz  o  letreiro, 
(Circumspccto  lho  voh-t  o  Padre  Mestre) 
Nem  franccz,  como  crô.  Cabelloireiro, 
A  personagem  foi,  que  representa; 
Mas  em  Troya  nasceo  de  estirpe  regia.  — 

IBIDEM. 


—  Revolver,  trazer  envolto,  fazer  vir 
rodando.  —  «E  quando  virom,  assy  o  em- 
penho, que  tinham,  ass}'  dos  bois  mortos, 
como  dos  Carros,  e  desy  os  Mouros  que 
eram  sobre  elles  nom  poderem  pa.sar,  caa 
o  caminho  nom  he  mais  que  hum  peque- 
no carril,  volverem  pêra  fundo,  e  enca- 
minharom  pola  estrada  direita  para  o  ou- 
teiro escontia  a  serra.»  Inéditos  de  his- 
toria portugueza,  tom.  2,  pag.  541. 

Tinha  ficado  em  extasia  profundo 
N'alma  volvendo  o  Monumento  augusto : 
D'esta  abstracção  maravilhosa  aurjo. 
Da  Fadiga  ao  clamor  levanto  os  olhos, 
E  vejo  de  repente  em  ledo  aspeito 
Dous  vulto»  feminis  de  estranha  forma. 

J.    í.    Da  MA.CGDO,  VIAQEU   EXTÁTICA,   Caut.    3. 


Do  Neva,  e  do  Danúbio  os  Sábios  enchem. 
Nào  mais,  não  mais  a  ievantar-so  atreve 
O  grande  Império  da  Sciencia  exacta! 
Onde  o  claro  Sebeto  as  aguas  volve, 
E  ao  perto  ouvo  bramir,  troar  escuta. 
IBIDEM,  cant.  4. 

Eis  novo  arcano  que  descubro  ousado  : 
Sempre  fervendo  o  Sol,  volve,  e  revolve 
Hum  pélago  de  chammas,  dosde  o  centro 
A  extremidade  liquida  arremessa 
Denegridos  cachões  de  massa  impura, 
Então  d"e3pesso  fumo  a  grossa  nuvem 
Embacia  o  clarão,  que  o  Sol  to  manda. 

IDBU,  A  MATUSEZA,  Caut.    1. 

— -  Dar  volta,  fazer  girar. 

Ah  Pelayo  se  lo  viesses! 
tanta  é  sua  desventura 
que  nem  sAio  nom  costura 
volverá,  por  mais  que  d'e3ses 
leva  feito  uns  alicerces. 

ASTONio  rsESTES,  AUTOS,  pag.  4.35. 

Inda  menos  terá  que  oppòr-te  o  Mundo, 
Ó  portentoso,  universal  Roborti ! 
Nào  me  cega  o  furor,  com  que  do  Tibre 
Eu  volvo  as  producções,  e  estudo  as  Artes. 

J.    A.   DE  MACEDO,  VIAGEM    EXTÁTICA,  CaUt.    2. 

—  V.  n.  Voltar  para  d'onde  saiu. 

—  Revolver-se,    gyrar.  —  Volvem    os 
tempos. 

—  Volver-se,     v.    refl.    Voltar-se,    vi- 
rar-se. 


Da  Natureza  nas  eternas  obras, 
Volvem-se  ás  outras  producções  coevos. 

J.  A.  DT.   MACEDO,  A  NATUREZA,  CaUt.  1. 
VOL.  T.  —  125. 


—  Revolver-se,  agitar-se,  mudar-se. — 
«Solto,  busca,  volvendo-se  de  novo,  a  sua 
curvatura  anterior.  A  rapidez  da  corrida 
ei'a  quem  o  podia  salvar:  a  dianteira  dos 
almogaures  árabes  hesitara  vendo  recuar 
tantos  homens  diante  de  um  homem  S(') ; 
porém,  ao  retroceder  do  cavalleiro,  lan- 
çavam-se  despeiadamente  após  elle.»  Ale- 
xandre Herculano,  Eurico,  cap.  15. 

Volve-sc  o  Tempo,  o  excêntrico  Cometa 
Apparece  nos  Ceos  co'o  rosto  acceso. 
Se  alguma  voz  os  Cálculos  desmente. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Cant.  1. 

—  Adagio  e  provérbio  : 

—  Ao  mau  vento,  volve-lhe  o  capello. 
VOLVIDO,  jyart.  pass.  de  Volver.  Vol- 
tado. Vid.  Volto. 

VOLVO.  Vid.  Volvulo,  melhor  vocá- 
bulo. 

VOLVULO,  s.  m.  (Do  latim  volvulus, 
de  volvere).  Cólica  do  miserere,  paixão 
iiiaca ;  é  uma  inversão  da  natureza  pela 
qual  os  humores,  e  excrementos  que  ha- 
viam de  sair  pela  parte  inferior,  mudam 
de  via,  e  virados  para  a  parte  superior 
vêem  a  sair  pela  bocca  por  vómito.  Tam- 
bém se  lhe  dá  o  nome  de  ileo,  por  ser  a 
sua  sede  no  intestino  ileon.  Vid.  íleo. 

VOMER,  s.  m.  (Do  latim  vovitr).  Ter- 
mo de  anatomia.  Osso  impar  que  forma  a 
parte  posterior  do  fecho  das  fossas  ua- 
saes. 

1.)  VOMICA,  s.  /.  (Do  latim  vomica). 
Termo  de  medicina.  CoUecções  purulen- 
tas, enkysticas  ou  não,  formadas  no  pei- 
to, susceptíveis  de  serem  evacuadas  por 
uma  espécie  de  vomito. 

2.)  VOMICA,  adj.  f.  —  Noz  vomica; 
noz  venenosa,  que  mata  cães,  gatos,  etc. 

VOMIÇÃO,  í.  /.  Termo  de  medicina. 
Vomito,  acto  de  vomitar. 

f  VOMICINA,  s.f.  Termo  de  chimica. 
Principio  toxico,  que  se  encontra  com  a 
strychnina,  na  voz  vomica. 

VOMIL.  Termo  antiquado.  Vid.  Gomil. 

-f  VOMI-PURGATIVO,  A,  adj.  Termo 
de  medicina.  Que  é  ao  mesmo  tempo  vo- 
mitivo  e  purgativo. 

—  Substantivamente  :  Um  vomi-pur- 
gativo. 

VOMITADO,  pari.  pass.  de  Vomitar. 
Rejeitado  pelo  vomito. — Examinar  as 
matérias  vomitadas. 

—  Estou  vomitado ;  diz-se  do  que  toma 
vomitório. 

—  Engeitado  com  asco,  e  náusea. 

—  Figuradamente  :  Injurias  vomitadas 
com  a  embriaguez, 

VOMITAR,  V.  a.  (Do  latim  vomitare). 
Rejeitar  pela  bocca  as  matérias  contidas 
no  estômago.  —  Vomitar  os  alimentos. 

— •  Por  extensão,  lançar,  expellir  para 
fora,  arrojar  de  si. 


Que  03  dons  presados  n'Africa  mandava 
Nào  metal  louro,  ou  pedras  luminosas. 


Mas  o  feiTBO  arcabuz,  que  vomitava 
Fria  morte  nas  pélas  pressurosas: 
E  quaes  no  Tejo  o  artífice  forjava 
De  férreo  punho  laminas  lustrosas ; 
Rico  presente,  dadiva  prestante 
Dhum  Reino  vasto  ao  forte  Dominante. 

J.   A.    DK   MACEDO,   O   ORIENTE,   Caut.    4,   OSt.    31. 


Quasi  arrazada  ho  Diu,  o  assim  triunfa, 
E  as  onças  boccas,  que  vomitào  raios, 
Manda,  eternos  trofeos,  c  gloria,  ao  Tejo, 
Em  quanto  em  torno  das  muralhas  ficão 
Estendidos  no  campo  os  alvos  ossos ; 
Por  entr'ellos,  continuo,  erra  indignada 
Do  vencido  Sofar  medonha  sombra. 

IDEM,  A  NATUBEZA,  Cant.    2. 


Nem  quiz  qu'as  Náos  velivolas  puzeasem 
Frente  a  frente  (qu'audacia  !)  sobr'as  ondas 
Das  férreas  boccas  vomitando  mortes, 
Como  se  fosse  a  Terra  hum  campo  estreito. 
Em  qu'humana  ambição  derrame  estragos. 
Mas  ah  !  qu'os  ventos  insolfridos  trazem 
Com  seus  profícuos  dons  também  desgraças ! 


Muge  horrendo  Vozutío,  da  espumante 
Bocca  vomita  rcfervcnte  lava. 
De  fumo  grossas  nuvens  enroladas. 
Grossos  chuveiros  d'ostuante3  cinzas. 
Mas  os  filhos  da  Greeia  mentirosa, 
Mày  de  agradáveis  fabulas,  e  versos. 

IBIDEM. 


Lá  vão  subindo  furiosas  ondas. 
Voragens  profundissimas  se  formão, 
Qu'os  miscroâ  baixeis  sorvem,  de  novo 
Sobro  as  quebradas  vagas  os  vomitào. 
IBIDEM,  cant.  3. 


—  Vomitar  veneno;  por  meio  das  pala- 
vi'a3. 

—  Vomitar  injurias,  hlasphemias,  «íe./ 
proferir  com  violência. 

—  O  mar  vomita  as  tremelgas. 

■ —  Os  volcões  vomitam  lavas,  cham- 
mas; expellem  de  si  lavas,  chammas. 

—  Vomitar  a  alma;  morrer. 

—  Vomitar  a  vida;  morrer. 

—  Vomitar  o  sangue  as  feridas. 

—  Vomitar  os  peccados ;  confessando-se. 
— -  Figuradamente  :  Vomitar  fanfarro- 

nadas ;  inipôr  mais  do  que  o  que  é. 

—  Vomitar  fogo  e  chammas;  proferir 
palavras  violentas. 

—  Vomitar  os  segredos  com  artificio. 

—  V.  n.  Figuradamente :  Lançar  fora, 
expellir. —  «Pouca  conta  fazia  a  prin- 
cipio d'um  inimigo  a  seu  parecer  tam  dé- 
bil ;  porem  eu  sem  cobrar  medo  de  suas 
forças  monstruosas,  nem  de  seu  gesto  sel- 
vático e  brutal,  embebi-lhe  a  lança  no 
peito,  e  vomitou,  expirando,  a  feroz  al- 
ma involta  em  negro  e  fumegante  san- 
gue. Ao  cair,  por  pouco  me  não  esma- 
gou.» Telemaco,  traducção  de  Manoel  de 
Sousa,  e  Francisco  Manoel  do  Nascimen- 
to, liv.  2. 

f  VOMITINA,  s.  /.  Termo  de  chimica. 
Principio  ao  (piai  a  ipecacuanha  deve  a 
sua  propriedade  vomitiva. 


994 


VONT 


VONT 


VONT 


VOMITIVO,  A,  adj.  Termo  de  medici- 
na. Que  faz  vomitar,  eiiiotico. 

—  tí.vi. —  Os  vomitivos  ;  os  aponte» 
medicaanjntosos  dotados  do  uma  proprie- 
dade Toniitiva  constante  e  inlierento  a  um 
principio  particuluc. 

VOMITO,  s.  m.  (Do  ktjui  vomitus). 
Aoto  polo  qiKil  as  substancia»  solidas  o 
liquidas  contidas  no  ostoinaíífo  silo  expol- 
lidas  pani  fora.  —  Vomito  (Ida  matérias 
nlimeiUi'i(ts,  —  Vomito  da  saiKjue. 

—  ilAtcrias  vomitadas.  —  Os  vómitos 
foram  abundantes. 

—  Diz-se  também  do  que  é  rejeitado 
pela  bocca,  sem  vir  do  estômago.  — Vo- 
mito de  sanfiue. 

—  Tornar  ao  vomito;  i^ccaír  no  erro, 
na  culpii  íUitipa. 

VOMITÓRIO,  s.  VI.  Medicamento  que 
faz  vomitar,  emético.  —  «Se  eíses  na3 
baatarem  bem  podemos  confiadamente  em 
tal  cazo  iKissar  aos  vomitórios  antinio- 
uiiiis  cbimicameiito  prcj)a!a los;  como  s:iõ 
pôs  de  Quintllio  do  doze  até  quinze  graons 
tomados  em  substancia;  o  do  vinte  ate 
vinte,  e  quatro  praons  pontos  de  iafusaõ 
cm  três  onças  de  vinho  branco ;  agoa  be- 
nedicta  de  Rulando  atò  trcs  onyas  ;  vinho 
emético  atò  duas  onçAs ;  sal  de  vitríolo, 
ou  Giila  de  Theophrasto  atè  dous  escro- 
pulos ;  tártaro  emético  atò  seis  graoxis  ; 
porque  de  todos  estes  remédios  bem  ci- 
curados  temos  uma  infinidade  de  expe- 
riências, tanto  nestes,  como  em  outros 
cazos.»  Braz  Luiz  d"Abreu,  Portugal  me- 
dico,  pap.  213,  S  218. 

VONTADE,  s.  /.  Faculdade,  poder  in- 
terior polo  qual  o  homem  e  os  animaes 
se  determinam  a  fazer  ou  a  não  fazer  al- 
guma cousa.  —  O  espirito  crê  natural- 
mente, c  a  vontade  ama  naturalmente.  — 
«Naõ  sei.  Senhora,  porque  com  tal  ga- 
lardão despedis  minha  fé,  contente  de 
me  matardes :  peço-vos  que  olheis,  que 
naõ  posso  com  tantos  males,  nem  tenho 
parte  onde  os  pôr,  senaõ  na  vontade,  que 
nunca  se  contenta  com  quantos  lhe  fa- 
zeis, antes  hc  cobiçosa  de  mais.»  Barros, 
Clarimundo,  liv.  2,  cap.  9.  —  «A  alma 
que  anda  já  destra,  em  muito  breve  tem- 
po 03  faz.  Mas  se  a  vontade  se  sentir 
movida  com  qualquer  doUes,  dctcnha-se 
quanto  quizer ;  que  isso  mesmo  he  Ora- 
ÇAÕ.»  Padre  Manoel  Bernardes,  Exercí- 
cios espirituaes,  pag.  21. 


Haa  vondo-sc  apartar,  ficar  ausente, 
DaqucUa  qnc  a  vontade  lhe  levava, 
Dfti^ella  cora  quem  só  era  contente. 
Som  quem  inda  o  mór  gosto  o  atormentava, 
Arrancando  hum  suspiro  triste  e  ardente 
LA  do  centro  do  peito,  a  que  abrazava 
Hum  grSo  fogo  d'araor,  e  saudade, 
Com  que  cada  hora  mais  rendo  a  vontade. 
r.  n'AMiR*nE,  miMEiRO  cr.Hco  pe  Dir,  cant.  3, 
eat.  GO. 


Desejo. 


K  qiiandú  ou  iiai3c«  da  cidade 
Mc  prn(»ar<Mn  no  madeiro 
(Jom  fortflg  pregos  daceiro, 
(^111'  iiUiiM  com  (|uií  loiitíuU 
Mii  iMitrcjfuei  ao  carniceiro. 

OIL  VICENTK,  AUTO  Dk   niSTUKIA   DK    DECR. 

—  «Como  quer  que  o  Apostolo  mande 
arguyr,  rogar  ou  inerepar  c^ni  toda  pa- 
ciência, soubemos,  como  alguns  de  nos- 
sos irmilos,  deixada  esta  doutrina  se  in- 
din.^o  contra  os  que  jà  silo  ordenados,  e 
os  maltratais  com  tantos  açoutes,  quantos 
|)uderiio  merecer  salteadores  de  cami- 
nho.-i,  por  tanto  aquellcs  que  já  merece- 
rão grãos  Eclesiásticos,  como  sSo  os  Sa- 
cerdotes, Abades,  e  Diáconos,  que  fora 
das  graves,  e  rnortacs  culpa.',  na3  devem 
ser  sogeitos  a  castigo  de  açoutes,  naõ  he 
conveniente  quo  qualquer  Prelado  a  ca- 
da passo,  o  conformo  a  seu  gosto,  e  von- 
tade os  sogeito  a  dór,  o  castigo  de  açou- 
tes.» Monarchia  Lusitana,  liv.  tí,  cap. 
27.  — « Jlas  como  a  vontade  de  Reya  haja 
pouca  resistência,  ouvcase  de  fazer  a  sua, 
c  aberto  o  paço,  diz  o  Arcebií^po  Dom 
Rodrigo,  que  sen3o  achou  ncllc  outra  cou- 
sa mais  quo  huma  arca,  em  que  estava 
hum  pano,  cheyo  de  pinturas  estranhas, 
com  homens  de  cavalo,  cubertas  as  ca- 
beças de  trunfas  mouriscas,  armados  com 
bò..stas,  maças,  e  outros  géneros  de  ar- 
mas desusadas  em  Espanha  e  nelle  humas 
lotias  latinas,  que  diziiio  deste  modo.» 
Ibidem,  liv.  7,  cap.  1.  —  «Fedraluarez 
como  quada  hora  lhe  vinhão  recados  de 
Aires  CoiTea,  destes"  modos,  e  escusas 
quo  tinhão  com  elle,  as  quaes  sabia  pro- 
cederem mães  dos  officiaes  delRey  por 
serem  peitados  dos  Mouros  que  da  von- 
tade delle  Camorij,  (como  aconteceo  a 
dom  Vasco  da  Gamma).»  Barros,  Década 
1,  liv.  5,  cap.  5.  —  «Morto  Ale,  ouue 
entre  os  Arábios,  e  Pérsios  grandes  dife- 
renças, e  guerras  sobre  as  opiniões  das 
seitas  que  Ale,  e  Mahamed  lhes  deixa- 
rão, porque  Ale  depois  da  morte  de  Ma- 
hamed querendo  enmendar  na  seita  que 
elle  pregara  fez  outros  muitos  artigos  di- 
ferentes para  mais  a  sua  vontade  atraher 
a  si  aquella  gente  barbara,  e  inuocente.» 
DauiiSo  de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  3,  cap.  67.  —  «No  regimento  que 
el  Rei  deu  a  pedralures  Cabral,  hum  dos 
pontos  mais  substanciaes  era,  que  traba- 
lhasse muito  pela  amizade  dei  Kei  de 
Calecut,  porque  sua  vontade  era  fazer 
huma  fortaleza  naquella  Cidade,  onde 
seus  naturaes,  e  oflSciaes  cstiuessem  se- 
guros dos  da  terra,  e  mouros,  e  podcs- 
sem  fazer  as  cousas  que  comprissem  a 
seu  soruiço.»  Ibidem,  part.  1,  cap.  5-i. 
—  «Por  serem  eiiformados  que  n3o  com- 
prião  com  o  que  lhe  tinham  prometido,  o 
que  faziam  por  lhe  darem  aniamento,  e 
se  lhe  nam  passar  o  tempo  da  nanegaçaõ 
para  a  Imlia,  quo  seu  desejo  era  mostrar- 
Ihc  a  vontade  que  tinham  de  o  favore- 
cer, e  cumprir  com  o  quo  lhe  tinham  pro- 


metido per  seoB  contratos.»  Ibidem,  part. 
.3,  cap.  2.  —  «E  que  sobre  tudo  Lsto  ti- 
nha a  vontade  dos  naturaos  da  terra  que 
era  amaln,  u  querido,  «  quu  tendo  eiisa 
cidade  por  si,  com  us  castellos,  c  forta- 
lezas da  ilha  se  ai  liaria  c«m  çabaim  dal- 
c.lo  c  oom  elRei  do  Nar>>inga,  e  outros 
sunh>>res  do  sertam,  e  da  costa,  o  qae  se 
fczesse  viria  pouco  a  pouco  ser  tio  po- 
deroso, que  08  da  terra  se  crgueriSo  com 
elle,  e  os  Portugueses  que  la  andauHo 
(jbcdeccriilo  mais  a  i<eus  mandados  que 
aos  de  sua  Alteza.»  Ibidem,  cap.  77. 


EêtÁ  bem  ;  mas  que  rontade 
lhe  fica,  c  que  Mudado 
tivera  d'esiia  finncial 
Scnliora,  par  este  rosto 
que  faça  que  nunca  vi. 

ASToino  paEBTEs,  ACTOS,  pog-  387. 

Maa  porque  o  offeito  disto  nio  detenha 
Donde  espera  íwr  posto  em  liberdade. 
Que  vA  hum  Embaixador  logo  de,*<'nha, 
Qu'ao  grão  Cunha  descubra  esta  vonUide, 
E  lhe  pcssa  quc  a  Diu  logo  venha. 
Co  o  mór  poder  que  po.^-ia,  e  brevidade. 
Mas  comtiido  a  rasilo  nAo  lhe  d>seobre 
Qu'cntào  o  constrangeo  a  ser  tâo  nobre. 

FKAHCISCO  D'AXDRAnr,   rBIMEtBO  CKBOO  DK  DttT, 

cant.  3,  est.  83. 


Mas  SC  est«  meu  amor,  esta  roaiade. 
Este  di'3ejo  meu.  sempre  cm  vós  posto, 
Tive  (como  sabeis)  tão  do  verdade 
C^e  sempre  o  vosso  ai  foi  o  soa  goeto. 
Donde  uasceo  em  vós  tal  crueldade 
Que  quciracá  contra  mi  voltar  o  rosto, 
E  apartar-me  de  vós  naquelle  dia 
Que  cu  mais  desejo  vosaa  companhia? 
iBiDEU,  cant.  16,  est.  21. 


—  Fazer  alguma  cousa  de  md  vonta- 
de;  fazel-a  com  constrangimento.  —  «. "Pe- 
nhora, respondeu  Florendos,  qualquer 
dessas  cousas,  que  me  manda  que  faça, 
farei  de  muito  má  vontade,  e  a  que  vfis 
me  aconselhaes  de  muito  peior  que  to- 
d:tó.»  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
d'Inglaterra,  cap.  102. 

—  Boa  vontade. 


Ó  Senhor,  por  piídade 
Escuta  aqnetla  mulher. 
Pois  tons  de  propriedade 
Com  muito  boa  voiitade 
RecJíbcros  quem  te  quer. 

OIL  MUmcrB,  ACTO  DX  CASAMÈA. 

—  «Vossa  merco  receba  a  boa  ronta- 

de,  e  dê  copia  deste  cazo  ao  meu  ami- 
go..., a  quem  n.ào  escrevo  em  particu- 
lar, por  que  dei  agora  no  regimento  de 
Setúbal  que  não  dou  uma  carga  senSo 
por  outra.  Nosso  Senhor,  etc.  A  cinco 
de  Janeiro  de  159."t.»  Fern.ío  Lobo  Soro- 
pita.  Poesias  e  prosas  inéditas,  pag.  87. 
—  «Senhor  cavalleiro,  respondeu  Palmei- 
rim, vossas  palavras  c  a  boa  vontade, 
com  que  vós  as  direis,  merecem  o  galar- 


VONT 


VONT 


VONT 


99Õ 


dão  e  premio  que  eu  agora  não  posso, 
pois  que  são  cheias  de  verdade  e  desen- 
gano.» Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
dlnglaterra,  cap.  98. —  "Aos  quaes  elie 
respondeu  dandolhe  agradecimento  d'a- 
quella  offerta  e  boa  vontade  que  mos- 
trarão às  cousas  d'el-Rey  de  Portugal 
seu  senhor :  e  podiaõ  ser  certos  que  vin- 
do elle  a  Portugal  como  esperaua,  o  dito 
senhor  lhe  gratiticaria  aquelle  seu  desejo 
como  elles  veriaõ  na  primeira  armada 
que  ali  tornasse.»  Barros,  Década  1,  liv. 
5,  cap.  8.  —  «  Sobre  o  qual  negocio  Me- 
lique  Az  trabalhava  em  contrario  com 
ElRey  de  Cambava,  como  logo  veremos, 
mandou  dizer  a  Affonso  d'Alboquerque, 
e  depois  lho  disse  per  si,  que  nenhuma 
cousa  mais  desejava,  que  ter  alli  huma 
Feitoria  d'ElRej  de  Portugal,  e  que  de 
boa  vontade  daria  lugar  pêra  se  fazer, 
mas  que  temia  nào  a  querer  ElRey  de 
Cambava  conceder.»  Idem,  Década  2, 
liv.  8,  cap.  õ. —  «E  que  ElRey  meu  Se- 
nhor mais  propriamente  tenna  este  come 
de  pay  de  seus  vassallos,  claro  parece 
pelas  muitas  honras,  e  grandes  mercês 
que  continuamente  delle  recebemos,  e 
pelo  amor,  e  boa  vontade,  com  que  nos 
trata.»  Diogo  de  Couto,  Década  l3,  liv. 
10,  cap.  õ. —  «E  logo  el  Rey  mandou  e 
deu  carrego  a  certos  fidalgos,  que  man- 
dassem tirar  a  pedra  pêra  se  fazer  a 
Igreja,  os  quaes  ordenarão  logo  mil  ne- 
gros, que  com  muyta  diligencia  a  tra- 
ziam ás  costas  de  duas  e  três  legoas,  com 
tantas  cantigas  de  prazer  e  alegria,  e 
com  tam  boa  vontade,  que  era  de  mara- 
uilhar,  e  muytos  a  que  o  não  mandauam 
se  conuidauam  pêra  isso.»  Garcia  de  Re- 
zende, Chronica  de  D.  João  II,  cap.  159. 
—  «Façouos  saber,  como  veo  Coiealeam, 
e  me  dixe  de  vosso  amor,  e  vossa  boa 
vontade,  e  algumas  palauras  que  lhe  di- 
sestes,  que  antre  vos  e  elle  passarão,  e 
mas  dixe  muito  bem  dietas,  e  mo  obriga- 
ram, e  acrescentaram  amor,  e  amizade 
antre  nos.»  Damião  de  Góes,  Chronica  de 
D.  Manoel,  part.  -4,  cap.  11.  —  «Os  taes 
sendo  por  Deos  alumiados  do  que  liaòde 
fazer  ou  deixar  por  seu  amor,  com  tudo 
de  boa  vontade  obedecem  aos  outros,  so- 
jeitandose,  tomão  o  derradeiro  lugar,  e  ti- 
ção mui  contentes,  naõ  se  leuantai5  per- 
sumidos  com  os  doens  que  recebem,  mas 
recorrem  logo  ao  conhecimento  de  sua  in- 
sufficiencia,  e  do  seu  nada  cora  grande  cui- 
dado se  apartaõ  dos  pecados,  ainda  mui 
pequenos,  e  leuissimos,  e  se  caem  em  al- 
guns, logo  03  purgaõ  com  a  commemora- 
ção  do  sangue  de  Christo. »  Frei  Bartho- 
lomeu  dos  Martyres,  Compendio  de  es- 
piritual doutrina,  cap.  11. —  «Estando- 
se  queimando  a  hum  rapaz  certas  excres- 
cenças  no  Anus,  as  dores  que  sofria  o 
obrigarão  a  deixar  sahir  hum  vento  de 
que  se  fez  homa  chamma,  obrigando  esse 
successo  a  rir  de  boa  vontade  a  todos  os 
que  estando  preeentee  poderão  gostar  da 


galantaria.»  CavaUeiro  de  Oliveira,  Car- 
tas, liv.  1,  n."  lõ.  • 

—  A  vontade  de  Deiis ;  as  suas  or- 
dens, os  seus  decretos.  —  «Mudança  de 
vontade  não  he  outra  cousa  senam  de 
terminar-se  cada  hum  consigo  muy  de  va- 
gar e  dizer  com  todo  coraçam.  Eu  até 
agora  viui  aa  minha  vontade  daqui  por 
diante  determino  de  viuer  à  vontade  de 
Deus:  atègora  fazia  o  que  me  bem  pare- 
cia, e  o  que  desejaua,  daqui  por  diante 
quero  renunciar  toda  minha  vontade,  e 
appetites  e  conformarme  com  a  vontade 
de  Deos,  sò  ella  tendo  por  regra  e  me- 
dida de  todalas  minhas  obras,  palauras  e 
desejos,  porque  quem  assí  nam  endereita 
sua  vontade  mas  perseuera  nella  torta  e 
desobediente  aa  vontade  de  Deos,  quan- 
tas obras  faz  nam  sam  aceytas  de  Deos.s 
Frei  Bartholomeu  dos  Martyres,  Catecis- 
mo da  doutrina  christã.  —  «E  por  isso 
nà  vos  coafirmeis  com  este  mundo;  mas 
reformaiuos  dentro  em  vos,  e  procurav 
de  conhecer  qual  he  a  vontade  de  DEOS, 
e  como  lhe  mais  podereis  comprazer : 
exercitandouos  em  todas  as  obras  san- 
eias, segundo  a  graça  e  ministério  que 
Deos  a  cada  hum  deu:  amando  huns  aos 
outros  sem  fingimento. »   Ibidem. 

—  A  divina  vontade;  a  vontade  de 
Deus,  os  seus  decretos.  —  «E  no  mesmo 
ponto  começou  subitamente  a  cair  gran- 
de copia  d'agoa,  que  poderamos  bem  cha- 
mar chuua  voluntária,  pois  se  nam  sabe 
que  procedesse  de  outra  causa,  que  da 
diviaa  vontade,  que  a  apartou,  e  deu  á 
confiança,  desejos,  e  orações  daquellas 
almas  singelas,  e  fieis,  que  segundo  o 
Profeta  sam  as  verdadeiras  searas,  e  her- 
dades do  mesmo  Deos.n  Lucena,  Vida  de 
S.  Francisco  Xavier,  liv.  3,  cap.  lò.' 

—  iSantissima  vontade  de  Deus ;  os  seus 
santíssimos  decretos.  — •  «E  finalmente 
aproueitando  mais  no  temor  e  amor  filial, 
chegaras  a  comprir  todos  os  mãdamentos 
de  teu  padre  eterno,  com  affectos  de  fi- 
lho perfeito,  s.  fazendo  tudo  o  que  Deos 
manda  nào  por  outro  respeito,  senão  por 
cumprir  sua  sanctissima  vontade,  porque 
aquella  eterna  bõdade  assi  o  mandou,  as- 
si  o  quis :  à  qual  sò  por  quem  he  se  deue 
toda  obediência,  toda  reuerencia,  e  todo 
o  amor.»  Frei  Bartholomeu  dos  Marty- 
res, Catecismo  da  doutrina  christã. 

—  Fazer  a  vontade  a  alguém;  obede- 
cer aos  seus  mandados,  ás  suas  determi- 
nações sem  constrangimento.  ■ —  <U  Ne- 
codá  me  pedio  entaõ  muyto  que  quizesse 
subir  asima,  porque  neste  tempo  jasia  eu 
deytado  embayxo  na  camará  mal  dispos- 
to, o  que  eu  fis  logo  por  lhe  fazer  a 
vontade ;  e  apparecendo  era  sima  r.o  cou- 
ves, chamey  pelos  que  vinhaõ  no  para^. » 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações, 
cap.  145. 

—  Por  vontade ;  voluntariamente.  — 
«Dize  se  começasses  a  fallar  com  hum 
homem,   e  deixandoo  com  a  palauxa  na 


boca  te  pozesses  a  fallar  com  teu  escra- 
uo,  nam  lhe  farias  grande  injuria  V  Esta 
fazes  a  Deos,  distraindote  por  vontade, 
ou  por  negligencia.»  Frei  Bartholomeu 
dos  Martyres,  Catecismo  da  doutrina 
christã. 

—  Ser  de  vontade ;  não  ser  constran- 
gido, nào  forçado.  —  «Donde  fica  falso  o 
que  dizem  os  vossos  jurecõsultos  que  a 
justiça  he  võtade,  se  entendera  essa  defi- 
nição, assi  como  parece  que  soa.  Antes, 
disse  o  jurista,  nào  seria  virtude  senão 
fosse  de  vontade.  Huma  cousa  he,  tornou 
o  theologo,  ser  vontade,  outra  he  ser  de 
võtade.  A  virtude  he  de  vontade,  mas 
nà  he  võtade.  Assi  como  o  peccado  actual 
ha  de  ser  voluntário,  como  diz  sancto 
Augustinho,  que  doutra  maneyra  nào  he 
peccado,  assi  na  virtude,  pêra  ser  virtu- 
de o  entendimento  ha  de  fazer  o  aluará 
e  a  võtade  assinar.»  Heitor  Pinto,  Dialo- 
go da  Justiça,  cap.  1. 

—  Ser  esta  a  minha  vontade  ;  ser  este 
o  meu  desejo,  o  meu  gosto.  —  «E  porque 
esta  he  minha  vontade,  para  que  venha 
á  noticia  de  todos,  faço  estacaria  de  sal- 
vo còduto,  e  a  entrego  aos  Christãos,  pa- 
ra que  a  tenhào  em  lugar  de  ley,  e  a 
mostrem  quando  lhe  for  pedida  pelos 
Mouros.»  Monarchia  Lusitana,  liv.  7, 
cap.  7.  —  «Lembre-vos  que  esta  batalha 
é  sobre  vossa  fermusura,  e  qualquer  of- 
fensa,  que  se  me  faça,  oâende  a  vós : 
favorecei-me  nisto,  pois  o  não  fazeis  no 
ai,  que  eu  nas  cousas  de  vosso  serviço 
desejo  mais  a  victoiia,  que  nas  de  minha 
vontade  remédio,  que  me  sempre  negas- 
tes. »  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  de 
Inglaterra,  cap.  23. 

Com  minha  Lamia  fineza, 
e  em  sua  graça  permaneza 
que  isto  passa,  ou  tal  passava: 
assi. na  mesma  verdade 
jui-o  que  não  permaneça 
u'es3a  graça  e  gravidade 
se  ha  lii-io  quo  mais  floresça 
que  vós  na  minha  vontade. 
A.\'ioíiio  TREsiEs,  AUTOS,  pag.  293. 

—  Saber  a  vontade  a  algiiem;  conhe- 
cer-lhe  o  desejo  d 'alguma  cousa,  obede- 
cer-lhe.  —  «Xão  hahi  que  debater  se  não 
que  o  amor,  e  benignidade  do  Príncipe 
catiua  os  corações  dos  homens,  e  de  tal 
maneyra  os  move  ao  seruirera,  que  não 
desejam  de  lhe  saber  a  vontade,  senão 
pêra  lha  fazerem.  E  cõ  este  amor,  que 
tem  a  seu  Rey,  pelo  que  elles,  lhe  tem 
a  elles,  se  prezam  de  ser  seus,  e  se  ex- 
citào  e  auenturam  a  cousas  grandes  e 
duuidosas.  E  nào  somente  aos  seus,  mas 
ainda  aos  estranhos  os  Príncipes  catiuam 
com  amor,  e  benignidade.»  Heitor  Pinto, 
Dialogo  da  Justiça,  cap.  2. 

—  Reger   a    vontade  ;  dominar. 


Onde  rege  a  i:ontade 
nam  tetfi  valia  a  ra^am  ; 


996 


VONT 


VONT 


VONT 


em  «aindo  a  libcrdado 
oiitrou  logo  a  |iayxam  ; 
quuiii  tom  tiil  coiivui°ria<;urii 
som  poJi'i-  (l.inubafur, 
ha  rti!  llio  o  mal  do  «moigar. 

D.  JOANNA  DA  OASA,  DITOS  DA  rnKinA, 

pag.  94. 

—  Por  sH<i  vontade ;  por  vontade  pró- 
pria, vi)lant;iriain»jiito.  —  «  Senhora,  ou 
houvo  batalha  com  um  cavalleiro,  que 
nosta  vossa  corto  estove  o  juntou  com 
Albavzar,  quo  leva  «mii  Hua  coiniiaiiliia 
nove  donzollas;  pedi-llio  que  por  sua  von- 
tade cousentiase  quo  as  partíssemos  por 
meio,  o  que  cada  um  levasse  a  metade: 
nSto  quiz  consentir  neste  partido,  antes 
rcípouileu  que  folgara  do  me  achar  ou- 
tras tant.is  pêra  m'as  tomar  todas  e  as 
levar  coinsi.i,'o.»  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  l'if>.  —  «A 
segunda  condi(,-am  ho  que  a  confissam 
ha  de  ser  inteira,  s.  que  venha  o  peni- 
tente dctermiii.ido,  que  por  sua  vontade 
nam  ficaríi  nenhum  peccado  mortal  por 
confessar:  porque  aquelle  que  deixa  do 
cõfossar  algum  peccado  mortal,  leinbraii- 
dolhe,  nam  vai  nada  sua  confissam :  mas 
he  obrigado  de  nouo  repetilla,  e  tornar 
a  dizer  quanto  disse,  assi  os  peceados 
quo  contcssou,  como  os  que  a  cinte  nam 
confessou.»  Fr.  Bartliolomeu  dos  Marty- 
res,  Catecismo  da  doutrina  christã.  — 
fPor  cima  de  todos  estes  males,  tica  im- 
possibilitada pcra  por  suas  foryas  se  ale- 
uantar  da  coua  e  atoleiro  em  que  por  sua 
vontade  se  lançou  :  por  quanto  se  Deos 
sobrenatiiralmonto  lhe  não  der  a  mão, 
por  virtude  do  sangue  e  morte  de  lesu 
Christo,  nunca  se  aleuantarà,  nem  co- 
bi"ar;\  outra  vez  a  graça  c  luz  que  per- 
doo.» Ibidem. 

—  Sei/uir  ijuem  levava  na  vontade  ;  se- 
guir quem  tinha  no  gosto,  no  desejo.  — 
íEu  não  sei,  disse  o  do  Tigre,  se  m'o 
agradecereis,  ou  não;  mas  sei  quo  se  vos 
vira  em  outro  melhor,  que  vol-o  tomara 
pêra  seguir  quem  levava  na  vontade, 
e  valer  a  quem  d'isso  tem  necessidade.» 
Francisco  de  Jloraes,  Palmeirim  d'Iugla- 
terra,  cap.  105. 

—  A  amizade  consiste  no  consentimento 
das  vontades.  —  «  Consentiram,  disse  o 
matliematico,  porque  a  amizade  consiste 
principalmente  no  consentimento  das  võ- 
tades,  como  diz  Platão,  de  quem  o  to- 
mou Oicero  na  sua  amicicia.  E  como  to- 
dos sejamos  amigos,  quereram  elles  o 
quo  nós  quisermos.  Eu,  disse  o  cidadão, 
quero  o  que  vos  quereis,  mas  queria  que 
quisésseis  vos  o  quo  eu  quero.  He  tam  io- 
ga, disso  o  theologo,  essa  matéria,  do  tem- 
po, qvie  ella  nolo  não  darA,  pêra  lhe  dar- 
mos tlm.  E  os  mesmos  philosophos  parece 
que  a  trataram  a  tim,  de  nunca  lha  da- 
rem.» Heitor  Pinto,  Dialogo  da  Justiça, 
cap.  1. 

—  Viver  ã  vontade  de  Dmts ;  viver 
conforme   as   suas    determinações,    viver 


segando  a  sua  lei.  —  lE  na  Epistola  o 
nxcídlonte  Apostolo,  o  Capitam  do  exer- 
cito de  (Jhriito  S.  Paulo,  nos  exorta,  o 
excita  a  pelejarmos  fortcun-nti;,  e  om 
esijecial  contra  dous  viços  de  que  somo» 
mais  frequente,  e  brauamente  combati- 
dos, ([ue  sam  Luxuria,  o  (Jobiça.  E  diz 
desta  maneyra,  Irmãos  rogtmos  muyto 
em  o  Senhor  lesu  Cbristo  quo  porsene- 
reis  na  doutrina  quo  vos  tenho  ensinado, 
de  como  aueys  de  co/itcTitar  a  Deos,  e 
viver  íi  sua  vontade,  e  nisso  aproueytSU 
do  de  caila  vez  mais.»  Fr.  Hartliolomeu 
dos  Martyres,  Catecismo  da  doutrina 
christã. 

—  Dados  á  sua  vontade  ;  dados  a  seu 
gosto,  segundo  o  seu  desejo.  —  tE  elle 
empregava  os  seus  de  feição  «pie  os  mais 
delles  foram  dados  á  sua  vontade,  e  nem 
por  isso  os  de  Dramusiando  lhe  deixa- 
vam do  empecer  alguma  vez,  com  tanto 
damno,  que  assim  poucos  como  eram,  o 
poseram  em  fraco  estado,  e  tal,  que  qua- 
si  se  não  podia  ter  nem  nomear.  Todos 
03  que  viam  a  batalha  a  haviam  por  ta- 
manha cousa,  que  pasmavam  de  a  vêr.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Iugla- 
terra,  cap.  41. 

—  Eiixerijar-se  em  algiitm  a  vontade 
«  o  amor;  divisar-se  n'elle  estas  duas 
partes.  —  tE  querendo  pôr  em  obra  a 
partida,  quiz  D.  Daardos  prover  primei- 
ro na  fortaleza,  pêra  que  ficasse  por  sua, 
e  a  Entropa  tia  do  (Mgante,  posto  que 
lhe  não  merecia  boas  obras,  dar-lhe  ou- 
tra mais  de  seu  proveito,  em  que  podes- 
se  estar;  porque  a  elle  esperava  fazer 
tantas  mercês,  que  nellas  se  enxergasse 
a  vontade  o  o  amor,  que  com  suas  obras 
lhe  soubera  merecer.»  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  43. 

—  Trazer  a  si  as  vontades  alheias ; 
attribuir  a  si  as  vontades  dos  outros, 
grangear-lhes  as  sympathias.  —  t  Esta 
diligencia  lhe  nascia  de  uma  afeição  no- 
va, que  a  trazia  obrigada  a  mais:  e  não 
era  nuiito,  porque,  alem  de  sua  condição 
a  inclinar  a  isso,  as  obras,  que  vira  de 
Floreudos,  lhe  fazia  esquecer  os  outros 
cuidados  passados.  T.imbem  a  obrigava 
as  palavras,  que  co'elle  passara,  que, 
quando  são  boa?,  trazem  a  si  as  vonta- 
des alheias.»  Francisco  de  Moraes,  Pal- 
meirim d'Inglaterra,  cap.  102. 

—  Vontade  deliberada  de  fnier  ahjii- 
ma  cousa ;  desejo  determinado,  vontade 
resolvida  a  fazel-a.  —  «O  qual  preceyto 
o  Senhor  declarou  por  Sam  Mathcns,  di- 
zendo que  se  entendia,  Nam  mataras, 
nem  com  a  mão,  nem  com  o  coraçam. 
Porque  aquelle  que  tem  desejo,  ou  von- 
tade deliberada  do  matar  seu  próximo, 
ja  diante  de  Deos  que  lhe  veo  o  oora- 
(,^am  he  matador,  ainda  que  com  a  mão 
nem  cumpra  seu  mao  desejo.»  Fr.  Bar- 
tholomeu  dos  Martyres,  Catecismo  da 
doutrina  christã. 

—  Não  ser  d   vossa  vontade ;  não  ser 


soando  o  voflso  gosto,  conforme  o  vobm 
desejo. 


K'eata«  casaa  mo  não  adio. 
1'or  que  ? 

Ku  o  sei  por  que. 
Nio  BÍo  &  voasa  voiUadet 
Nio,  em  verdade, 
doutra*  me  fazei  fflsroé. 

AMToaio  nucfna,  xoto»,  pag.  365. 


—  Nosta  vontade  ;  nosso  desejo.  —  tE 
entendemos  pedir  nisto,  que  naa  tarraa 
se  faça  nam  suomente  aquillo  que  elle 
efficazmente  quer,  mas  também  tudo  o 
quo  elle  queria  que  nos  fizéssemos,  pos- 
to  que  elle  deixa  o  crimpriment'),  e  exe- 
cuçam  em  nossa  vontade  e  iib«r<iade.> 
Fr.  Hartliolomeu  dos  Marlvre.*,  Catecis- 
mo da  doutrina  cUristâ.  —  « Óí  bew  e 
perfoyções  naturaes  ainia  quo  nam  fi- 
quem de  todo  destruydas,  ficJo  quebra- 
das, e  deminuydas:  porque  o  lume  de 
reza»  natural,  fica  era  alguma  raaneyra 
escurecido.  A  boa  inclinação  quo  pêra  a 
virtude  a  nossa  võtade  tem,  fica  demi- 
nuida.»   Ibidem. 

—  Sois  mau  de  andar-me  á  vontade  ; 
sois  mau  de  andar-me  a  gosto. 


Oh!  nào  vA,  por  vida  minha. 
\\c\  de  ssr  inoiígo  encerrado? 
Mau  sois  de  andar-me  i  rontaiU. 
Não  sou  nada  afcii;oado 
a  cazciro. 

Ajtroxio  raKSTKS,  ávtos,  pag.  '2S9. 

—  C</ntra  vontade  dos  pães;  sem  elles 
quererem,  contra  as  suas  ordens  e  deter- 
minações. —  «Ao  homem  que  seu  filho  se 
casasse  bem,  ainda  que  contra  vontade 
de  seus  pais  da  mulher  com  que  casasse, 
aconselhara  que  o  sotfresse,  que  de  secre- 
to o  ajudasse,  e  se  não  desse  por  conten- 
te, nem  descontente  da  acção  d'aquelle 
filho.»  Francisco  Manoel  de  Mello,  Carta 
de  guia  de  casados. 

—  Consentir  em  sua  vontade ;  consen- 
tir em  seu  desejo,  concordar,  obedecer. 
—  iComo  o  oatni  fiwse  conforme  a  seu 
companheiro  n;i8  obras  e  j)areocr,  consen- 
tiu em  sua  vontade,  e  então  porfiandtt 
qual  seria  o  primeiro,  que  comigo  tivesse 
parte,  lançando  sortes,  caiu  naquelle  que 
me  tinha  polo*  eabeilos.»  Francisco  dê 
Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  128. 

—  A  vontade  das  vontades. 

ChamaT-lhe-hri.s  \-ida  das  vidas 
e  vontiulc  dn»  •vn/o.Yí»,- 
ha  perdizes  mais  sabidas? 
Náo  por  certo. 

AiTTONio  rassTEs,  ADT06,  pag.  113. 

—  Para  extcuç3o  da  stia  vontade;  para 
cumprimento  das  suas  ordens.  — «O  filho 
se  criou  cm  poder  de  sua  8v<>,  mli  de 
sua  niài,  té  idade  de  ser  cavalleiro,  sen- 


VONT 


VONT 


VOO 


997 


do  tào'  destro  nas  armas,  tào  cruel  em 
suas  mauiias,  que  por  toda  aquella  terra 
o  temiam  como  ao  diabo.  Seu  costume 
era  mortes,  roubos,  incêndios,  forças,  sem 
nenhuma  causa;  sómeate  a  inclinação  pre- 
versa,  de  que  fora  gerado,  o  movia  a  is- 
so: e  trazendo  sempre  pêra  execução  de 
sua  vontade  cavalleiros  polas  florestas, 
que  tomavam  donzellai  pêra  elle.»  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  dlnglaterra, 
cap.  7tí. 

—  Ganhar  a  vontade  a  alguém;  grau- 
gear-lii'a,  attraliii-a  a  si.  —  «Targiana 
era  tratada  com  toda  a  honra  e  cortezia, 
que  lhe  parecia  necessária.  E  posto  que 
de  priucipio  quiz  provar  com  palavras  se 
lhe  poderia  ganiiar  vontade,  acaando-a 
nisso  dura,  cessou  de  seu  preposito.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  dlngla- 
terra,  cap.  88. 

—  Foi-se  á  vontade  do  peixe;  seguiu-o, 
foi  atraz  d'elle.  —  «Estando  em  huma  al- 
madia  pescando  hum  homem  fora  da  bar- 
ra de  Quiloa  junto  de  huma  ilha  chama- 
da Miza,  aferrou  hum  peixe  no  auzolo  da 
liaha  que  tinha  lançada  ao  mar,  e  sen- 
tindo eUe  no  barafustar  do  peixe  ser  gran- 
de, polo  naõ  perder  desamarrouse  donde 
estaua,  e  foLse  à  vontade  do  peixe :  o  qual 
ora  que  elle  levasse  o  batel  ora  as  cor- 
rentes que  ali  são  grandes,  quando  o  pes- 
cador quis  tornar  ao  porto  era  ja  taò 
apartado  delle  que  naõ  soube  atinar.» 
Barros,  Década  1,  liv.  10,  cap.  2. 

—  For  suas  vontades  ;  por  vontades  pró- 
prias, voluntariamente.  —  «E  taes  cores 
déraõ  á  sua  pretensão  que  ao  fim  sahiraõ 
com  ella,  levando  el  Rei  á  execução  para 
alliviarem  sua  culpa,  e  partindo  de  Mon- 
temor o  Velho  para  a  Cidade  de  Coimbra 
onde  D.  Ignez  estava,  a  matáraõ  i:'ero 
Coelho,  Diogo  Lopes  Pacaeco,  e  Álvaro 
Gonsalves  Meirinao  mor,  mas  já  por  suas 
vontades,  que  pela  dei  Rei  D.  Atibnso,  a 
quem  sua  iunucencia  tinha  movido  a  pie- 
dade.»  Frei  Bernardo  de  Brito,  Elogios 
dos  reis  de  Portugal,  continuados  por  D. 
José  Barbosa.  —  aBor  hum  homem  entrou 
o  peccado  neste  mundo,  e  pelo  peccado  a 
morte,  e  deste  modo  passou  a  todos,  pur- 
que  todos  peccáraò  no  primeiro  homem, 
por  estai-em  suas  vontades  moralmente 
unidas  com  a  de  Adaò,  como  cabeça  sua.» 
Badre  Manoel  Bernardes,  Exercícios  es- 
pirituaes,  pag.  292. 

—  Inclinar  a  vontade  mais  a  uma  pes- 
soa, que  a  outra;  obedecer-lhe  antes, 
affeiçoar-se  mais  a  ella.  —  a  Acabado  o 
serào,  03  turcos  se  despediram  mais  na- 
morados do  que  alli  vieram.  U  imperador 
mandou  com  elles  tochas  até  o  real.  Mas 
antes  que  de  todo  se  despedissem,  acon- 
teceu uma  cousa,  que  se  deve  fazer  me- 
moria, e  foi  o  gigante  Framustante,  co- 
mo toilo  o  tempo,  que  alli  esteve  no  serào, 
não  tirasse  os  oluos  d'Arlança,  com  quem 
Dramusiaudo  estava,  inclinando  mais  a 
vontade  a  ella,  que  a  nenhuma  outra  pes- 


soa.»   Francisco  de   Moraes,    Palmeirim 
d'Inglaterra,  cap.  163. 

—  Forçar  a  vontade ;  constrangel-a.  — 
«Borém  encobria-o  o  melhor  que  podia; 
forçando  a  vontade  por-  usar  dos  compri- 
mentos necessários  á  amizade.  Que  este 
bem  tem  os  prudentes,  que  inda  as  cou- 
sas que  forçadamente  fazem,  lhe  são  agra- 
decidas.» Francisco  de  Moraes,  Palmei- 
rim dlnglaterra,  cap.  1C3. 

—  Dtter-se  mais  do  que  a  vontade  lhe 
consentia;  demorar-se  mais  do  que  o  que 
tinha  na  vontade.  —  «Esteve  tantos  dias 
Balmeiíúm  na  corte  delrei  Fradique  dln- 
glaterra seu  avô,  que  alguns  sem  razão 
começavam  de  estranhar  sua  detença,  de 
que  teve  pouca  culpa,  que  força  de  rogos 
e  palavras  de  sua  mài,  lhe  deteve  mais 
do  que  lua  vontade  consentia;  porque 
Florida  queria  -com  aquelles  poucos  dias 
de  sua  conversação  satisfazer  a  tristeza 
dos  outros,  em  que  o  nào  vira.»  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  dlnglaterra, 
cap.  54. 

— ■  De  sua  prjpria  vontade  ;  volunta- 
riamente, por  querer.  —  «Mas  estas  mos- 
tras nem  aos  muito  desesperados  enga- 
nem, que,  ainda  que  nos  ódios  são  mais 
constantes,  pêra  as  cousas  de  seu  apetite 
nenhum  é  tão  grande,  que  lhe  logo  não 
esqueça.  E  assim  aconteceu  a  Dragoiial- 
te,  que  sendo  muito  tempo  aborrecido  de 
,  Arualta,  ao  fim  ella  de  sua  própria  von- 
tade quiz  casar  co'elle,  fazendo  o  rei  de 
Navarra :  por  tanto,  neste  caso  ninguém 
desconfie  do  que  quer,  que  no  aturar  vai 
tudo.»  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
dlnglaterra,  cap.  111. 

—  Não  ha  prudência  que  possa  ajinar- 
se  a  ttmperar  de  todas  as  vontades.  — 
«Nam  ha  prudência  que  possa  afinarse  a 
temperar  de  todas  as  vontades,  que  sam 
diferentes  no  sentir,  e  discordes  nas  con- 
dições; que  humas  palavras  sam  aceitas 
e  desemportunam  a  huns,  e  as  mesmas 
aborrecem  e  afrontam  aos  outros;  que  o 
sol  abranda  a  cera  e  endurece  o  barro; 
faz  uma  obra  duas  contrariedades,  segun- 
do as  calidades  que  acha.»  D.  Joauna  da 
Gama,  Ditos  da  freira,  pag.  67. 

—  Daruaadas  vontades  ;  malévolas, 
corruptas  vontades.  —  «Borque  quando 
cuido,  que  sem  peccado  que  me  obrigasse 
a  três  dias  de  Burgatorio,  passei  três  mil 
de  más  liuguas,  peores  tenções,  damna- 
das  vontades,  nascidas  de  pura  inveja,  de 
verem  su  a>nada  yedra  de  xi  arrancada,  y 
en  oiro  inurv  asida...  Da  qual  também 
amizades  mais  brandas  que  cera,  se  ac- 
cendião  em  ódios  que  disparavào  lume 
que  me  deitava  mais  pingos  na  fama,  que 
nos  couros  de  hum  leitão.»  Camões,  Car- 
ta 1. 

—  Navegar,  correra  navio  á  vontade 
dos  ventos;  navegar,  correr  ao  arbítrio 
i;'elle3,  conforme  a  direcção  que  elles  lhe 
dão. 

—  Ter  a  alguém  boa  vontade  ;  toma-se 


ordinariamente  ironicamente,  e  por  anti- 
phrase,  por  querer  mal. 

—  Correr  á  vontade  do  mar,  do  tem- 
poral; correr  ao  seu  arbítrio. 

—  Loc:    Sair  da  vontade  a  alguém;  ' 
nào  lh'a  fazer. 

■ — LoC:  2'er  vontade  de  fazer  alguma 
funcçào  necessária ;  sentir  necessidade 
d'ÍS30.  ,^. 

—  Homem  feito  de  sua  vontade  ;  o  queí 
não  conhece  outra  lei,  e  quer  que  tad<^ 
se  lhe  conforme ;  homem  voluntário. 

—  Numa  vontade  ;  n'um  querer. 

Ajuuta-se  também  a  quantidade 

Dos  pequenos  escravos  <]ue  agasalha 

A  fortaleza,  cuja  tenra  idade 

Também  soffiera  mal  o  arnez  e  a  malha : 

Conformes  n'um  querer,  n'hunia  vontade 

Ordenão  de  se  dar  huma  batalha. 

Sendo  menos  assaz  os  Lusitanos 

Que  o  que  he  natural  se  acha  em  quaesquer  anos. 

FEAKCISCO  D'A?rDRADE,    PEIUEIBO   CEBCO  DE   DIU, 

cant.  10,  est.  11. 

—  Ter  uma  grande  vontade;  ter  muita 
vontade,  muito  ardor  para  aquillo  que  se 
emprehende. 

—  .á  vontade  do  ceu. 

—  At  ultÍ7iias  vontades  d' uma  pessoa; 
o  que  uma  pessoa  quer  que  se  faça  de- 
pois de  sua  morte. 

—  Acto  de  ultima  vontade;  um  testa- 
mento., 

—  A  vontade  armas;  commando  mili- 
tar em  que  os  soldados  podem  estar  mais 
a  seu  commodo.  ,- 

—  Plur.  Termo  antiquado.  Trastes, 
moveis,  ou  cousas  de  gosto,  luxo,  appeti- 
te,  alfaias,  cubicas. 

—  Adágios  e  provérbios  : 

—  Tudo  ha  mister  arte,  e  o  comer  von- 
tade. 

— ^Os  astros  não  violentam  vontades. 
VOO,   s;  m.    O   movimento  que  faz   a 
ave  quando  vôa. 

O  Amo,  o  Tibre,  o  Tames,  o  Sebéto 
Quantos  Cisnes  nas  agoas  apasceutào, 
Cujos  voos  extáticos  excedem 
Da  Grécia,  c  Lacio  antigo  a  gloria,  o  nome  J 
Deixào  de  Esmyrna,  e  Mantua  incerto  o  looit». 
Que  frente  deva  ornar,  que  frente  escolha. 
J.  Jl.  de  macxoo,  sieoitação,  cant.  1.  . 

—  Tolher  os  voos  da  razão. 

Sem  que  a  excelsa  razão  sepulte  cm  sombra, 
Oti'useaudo-lhe  a  luz,  tolhendo  oa  lôoí. 
Qual  ser  costuma  nos  mortaes  se  he  gi-ande! 
Pregados  em  seu  rosto  eu  tinha  os  olhos, 
Com  celeste  prazer  minhaluia  toda 
Km  sobre-humanos  néctares  s'cngolfa. 

J.   A.    DE   MACEDO,  VtAOEU  EXTÁTICA,   Cant.    1. 

—  Figm"adamente:  Descer  em  ião  rá- 
pidos voos  a  tão  mesquinha  habitarão  ter- 
rena. 


Destes  accesos  extasia  me  arranca 

A  Fadiga  outra  vez.  Conserva,  ó  tUho, 


998 


VOO 


VORA 


VORT 


Pcntro  d'alma  pruvado  Uto  'luo  obHorvaH, 
K  'I  liando  cm  iiôo»  rapidoA  d(.'íCorert 
A  tilo  uir!H'|iiiiilia  liabitíiçrio  tnrruiiii. 
<     AoH  truiispurtadoM  liomuiU  o  niiiuiiici.i. 

J.   X.   D(   UÁCKUO,   VIAUKM    KXTiriCA,   Cailt.    3. 


—  O  VÔO  rnjiiditsimo  do  etlro. 

Da  praia  occidi-iital  racu  Kstro  toma 

Seu  vôn  rapidiwiino,  o  cliiviido, 

Ah  jiortaH  entra  d:i  soberba  Homa, 

A  quem  do  Mundo  o  Imprrio  o  Coo  tem  dado. 

J.    A.    DB   MAUKnO,  o  OaiENTE,  CUUt.     1,    CSt.    8. 

—  Encurtar  ao  ijeiísaiiiento  ousado  VÔO. 


E  ao  pensamento  ousado  võo  encurta, 
Globos  rpic  o  Mundo  Planetário  formão, 
Qu'os  j:i  pa»s:idi)S  Secnloâ  não  viríio, 
Qu'IIcrscliel  nào  pódc  achar,  quTIolbcrt  descobre. 

J.    A.    DK.   MACr.DO,   A   NATURKZA,   Caut.    1. 


—  FiguraiLimente :  Os  vôos  do  enge- 
nho; 03  pensamentos  elevados,  nào  vul- 
gares. 

—  A  oração  é  um  vôo  da  alma  a 
Deus. 

—  Tomar  o  vôo,  ou  um  vôo ;  Jar  um 
surto. 

—  Figuradamente:  7hmar  o  võo  "»<* 
alto;  eiisoberbecer-se  nuiito. 

—  Figuradamente:  Os  vôos  imoUtos 
d'uin  anjo, 

Oli  Anjo,  (e  não  mortal,  que  hum  ser  tão  baixo 
A  teus  rôo-1  insólitos  nào  quadra) 
Penetra  nos  umbracs  d:i  Natureza, 
Rouba  hum  si^í  raio  á  Luz,  o  oUe  só  busta 
Quando  a  travoz  do  Prisma  oristallino 
Faz  s.ihiv  d'osto  raio  as  cores  todas. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Cant.  1. 

—  Solta  os  vôos  por  entre  as  orbitas 
dos  globos. 

Das  sombras  infernao.-i  jii  livre,  os  võoi 
SMta  por  entre  as  iWbitas  dos  Globos, 
E  junto  ao  Sol  passando,  o  Sol  sVnlucta, 
E  com  otíntral  eclipso  assusta  o  Mundo. 
Da  humana  fantasia  império  immenso  !... 

J.   A.    DK   MACEDO,   MF.DllAÇÃO,   Caut.    1. 

—  Figuradamente:  Um  vôo  extático 
vie  leva  acima  do  sol;  n'um  extasia  uie 
vou,  me  arrebato  o  transporto  alóm  do 
sol. 

Mas  ah !  que  hum  vuo  extático  me  leva 
Inda  acima  do  Sol.  Daqui  descubro. 
Ou  se  mo  antolha  que  diviso  a  Terra, 
Coiuo  u'huui  prado  estivo  o  insecto  accoso 
Girar  uo  e3pai;o  azul,  pequena,  e  muda. 

J.  A.  DB  MACEDO,  A  KATUBEZA,  Cant.  1. 

—  Partir  a  vôo;  partir  voando. 

A  lâmpada  arrebata,  e  a  v6o  parte. 
Nunca  igual  dur  punçri'^  minha  alma,  no  âmago. 
A  que  empana  a  hmiicoui-ia,  é  a  miW-  Disgrai^a. 
No  grémio  (iuc;xutoli  adormeci  do  prigo; 
.    Sempre  advertido  a  abomiiuir  meus  erros. 
r.  u.  Dú  KASoiuRrro,  o«  uaetvres,  liv.  10. 


—  Não    se    alcanr/tin  os  tôOB   de  Pin- 

ilaro ;  n.ài)  ?.(:  olcva  tiinguem  á  sua  Hubii- 
iiii(hiii<;. 

VORACE.   Vid.  Voraz. 

VORACIDADE,  *.  /.  (Do  Intim  voraci- 
las).  Avidez  em  couicr.  —  yl  voracidade 
das  aves  de  presa. 

—  Figurudan  cnto  :  Dosojo  comparado 
á  vorueirlade. 

—  Figuradamente :   AvidoE  do  leitura. 

—  Avidez  em  beber.  —  •  O  Imperador 
Caligui.i  gastou  0111  banquetes  grandes 
tlio.souros,  (|ue  llic  havia  doixado  Tvbc- 
rio.  O  Imperador  Vitellio  almo(;ava,  jan- 
tava, merendava,  e  ceava  »em|jrc  com 
igual  abundância,  e  largueza;  mostrando 
bem  a  sua  voracidade  em  beber  o.<  caldos 
que  vinbaõ  fervendo  sem  oíteii.^ía  alguma.» 
Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal  medico,  pag. 
28,  §  101. 

—  Figuradamente:  Voracidade  fio  ín- 
cendio,  das   clia7ninai>,  etc. 

VORACISSIMAMENTE,  adv.  (De  vora- 
cissimo,  c  o  siifTixo  «mente»).  Mui  vo- 
razimuitc. 

voracíssimo,  A,  adj.  superl.  de  Vo- 
raz. Jlui  voraz.  —  Ave  voracíssima. 

—  Guerra  voracíssima  ;  guerra  que  faz 
muitos  estragos,  que  causa  muitos  dam- 
nos. 

—  Figuradamente  :  Incêndio,  fogo  vo- 
racíssimo ;  incêndio,  fogo  mui  devorador. 

luda  cntr'cllc8  nào  tinha  hum  génio  illustrc 
Sondado  a  Natureza,  exposto  a  \-ida 
Para  rasgar  o  v,'o  d'alto  segredo. 
Que  nas  ciitrauhas  do  Vesúvio  atca 
O  fogo  voracissimo,  c  ([ue  rompo 
Da  sulfúrea  garganta  ao  ar  vazio. 

J.    A.   DE  MACEDO,  A  NATCREZA,  «aut.   1. 

O  fogo  voracíssimo  não  sente 
Triste,  attonita  Mãy,  qn'o  fogo  envolve. 
ibidf:m,  cant.  2. 


VORADOR.  Termo  de  poesia  pouco  em 
uso.  Vid.   Devorador. 

VORAGEM,  ».  /.  (Do  latim  vorago). 
Sorvedouro,  remoinho  no  mar,  e  nos  rios 
profundos,  que  leva  ao  fundo  tudo  o  que 
se  mette  no  gyro  da  agua,  que  alli  se 
faz. 


Doce  calma,  e  prazer  domina  os  ares, 
E  nas  foragriif  do  gelado  Polo 
O  Inverno  melancólico  se  esconde. 

J.   A.   DE  M.ICBDO,   A   SATUBEZA,   CAUt.    1. 

Voraijens  profundíssimas,  de  quantos 
Feros  monstros  orueis  vós  sois  alvcrguú  ! 
Do  foio  Tubarão  emulo  o  Serra 
Deixa  iudcciso  o  louro  da  victoria. 
IBIDEM,  cant.  3. 


—  A  voragem  dax  fauces  dilatada;  &8 
guelas,  ou  gargant;is  mui  rasgadas. 

—  (irande    abertura    com    sorvedouro 
em  rochedo  do  mar  ;  e   grande   rasgadu- 


ra, carorna  profunda,  abysmo  DM  iam* 

por  terremoto.-",  etc, 

—  Figuradameiítij :  A  voragem  dat  vi- 
dos;   tt  sumidouro  d'elles. 

—  A  voragem  dns  aunoi  twLj  sorve. 

• — Figuradamente:  X  voragem  «/a aai- 
biç>V.. 

VORAGINOSO,  A,  a>Jj.  (Do  latim  «o. 
raginoxHii).  Qu'-  tí;ra  voragem. 

—  Da  natureza  da  voragem. 

—  Mui  ra-;:adii,  ab<-rto,  com  profundi- 
dade. —  A  òncca  voraginosa  do  Uão. 

VORAZ,  adj.  2  fjKu.  (Do  latim  coroas, 
de  vorare).  Que  devora,  que  come  com 
avidez.  —  Ave  voraz. 

—  Devorador,  conanmidor,  accelerado. 

Roubar-me  a  triste  vida,  dar-mc  a  pena 
Do  oiivir-t«  cxcofnínuiif^ar  pelas  csquioaa, 
Ou  prezo  cruelniente,  entregue  ia  gaiTM 
Do  Meirinho  i-oro:,  qual  tcura  Pomba 
Entre  as  unhas  cruéis  de  Açor  ligeiro. 

A.    DIKIZ  DA  CRUZ,   BTSSOPE,  CROt.    6. 

DiWno  Canto,  qu'os  voraza  Evos 
Par<wm  adorar,  ».'>  termo  esp««ra 
Quando  convulsa  a  mx^uina  terrestre. 
Outra  vez  ha  de  entrar  uo  ab)'smo,  e  nada. 
}.  A.  D>  MACEDO,  A  MATcaazA,  cant.  2. 

—  O  voraz  Saturno;  o  tempo  conBO- 
midor,  accclcrado. 

—  Figuradamente  :  O  demento  vorax. 

Este  Supremo  Artífice  derrama 

No  Elemento  r-ora:  o  assopro  activo, 

Por  elle  a  força  eléctrica  penetra 

Esse  Globo  onde  cstis,  e  os  Ccos  qtt'ob9erva*, 

For^a  quos  Corpos  sólidos  desune. 

1.   A.  DE  MACEDO,  A  MATCBEZA,  Cant.  2. 


—  Figuradamente :    Os  séculos    Tora- 


Comão  embora  os  séculos  rortae* 
Os  meditados  calenlos,  as  linhas 
Do  extático  Apolonio  :  aurco  compasso 
Abriste  a  Viviani ;  oh  maravilha! 
Tíisc;i,  mede,  c;Ucula,  inventa,  e  acha 
Quanto  ao  Grego  Gcometra  faltava. 

J.    A.    DE  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Cant.   1. 

Se  03  fugitivos  séculos  voratet 
Do  teu  tiiesouro  a  parte  não  gastassem, 
Inda  avivando  a  dor  da  perda  aoerÍMi 
Na  imperfeita  porvào,  que  nos  deixario, 
Eu  de  lougc  apoz  ti,  voara  ao  Pindo, 
Rico  s<5  de  teus  bons,  sinda  existirão. 

IDEM,   A   KATCBEiA,   CJVnt.   3. 


VORAZMENTE,  adv.  (De  voraz,  e  o 
suflixo  «mente»).  l>e  uni  modo  voraz. 

—  Com  voracidade. 

—  Como  devorador. 

VORO.  Desinência  de^nitaa  palavras 
compostas,  usadas  em  historia  natural ; 
exprime  a  propriedade  de  comer  ou  ali- 
ment!vr-se,  como  Aíriivoro,  canuvoro, 
omnívoro,  etc. 

VORTICELLA,   s.  f.  Termo  de  hiatori* 


vos 


vos 


vos 


999 


natural.  Género  de  zoophytos  que  se  criara 
e  vivem  nas  aguas  estagnadas. 

—  Espécie  de  polypo,  vermo. 

VÓRTICES,  s.  m.  \jlm-.  (Do  latim  vór- 
tices, plur.  de  vorfex).  Revolvimentos, 
circumvolu(,'ôes,  remoinhos  no  ar,  e  tal- 
vez tufões  de  ventos,  que  em  breve  sal- 
tam todos  03  rumos. 

De  turbilhõc3,"de  vórtices  sonhados. 

Nos  jardins  de  Epicuro  se  assentava, 

Renovador  dos  átomos  errantes 

Pensativo  Gasseudi,  e  em  treva  involto 

Corpuscular  Filosofia  ensina, 

Onde  engenho  sú  brilha,  o  nunca  hum  passo 

A'  SiS  protícua  experiência  avança. 

J.    A.    DE   MACEDO,   VIAGEM   EXTÁTICA,   Cant.    4. 

VORTICOSO,  A,  adj.  (Do  latira  vorti- 
cosus).  Termo  de  physica.  Que  se  move 
em  remoinho,  rodopio. 

VORTIGINOSO,  A,  adj.  Da  natureza  e 
movimento  dos  vórtices. 

—  Tufões  vertiginosos ;  que  rodeiam, 
e  gyraiu  todos  os  rumos  da  agulha. 

—  Vid.  Vorticoso. 

VÓS.  Pronome  pessoal  da  segunda  pes- 
soa do  plural  (do  latim  vos).  Emprega- 
se  fallando  no  estylo  épico,  ou  orató- 
rio, ou  familiar  a  muitos;  e  emprega-se 
também  por  abusão  fallando  com  meia 
cortezia  a  pessoas  que  não  tratamos  por 
tu,  e  aos  monarchas. 

Da  morte  venho  eu  cansado, 
E  cheio  de  refregereo, 
E  não  posso,  mal  peccado. 
Põe  cramá  hi  o  arado. 
Percm  esse  he  gran  mestereo. 
S'eu  trouguera  mais  vagar 
Sorrira-me  eu  tamalavêz. 
E  tío's  villão,  quereis  zombar? 
Se  vos  eu  arrebatar? 
Doufeu  muito  de  mao  mez. 

GIL  VICENTE,  AUTO  DA  BABCA  DO  TOBOATO- 
BIO. 


Chorará  meu  coração ; 
Vós  olhos,  olhae  por  mim, 
Porque  veja  posto  em  fim 
Meu  propósito  mui  são. 
Casto  como  seraphim. 

IDEM,  COMEDIA  DE  BUBENA. 


E  VÓS,  Tágides  minhas,  pois  creado 
Tendes  em  mi  um  novo  engenho  ardente. 
Se  sempre  em  verso  humilde  celebrado 
Foi  de  mi  vosso  rio  alegremente: 
Dai-me  agora  um  som  alto  e  sublimado. 
Hum  estylo  grandíloquo,  e  corrente  ; 
Porque  de  vossas  aguas  Phebo  ordene 
Que  não  tenham  inveja  ás  d'Hippocrene. 
cAM.,  LUa.,  cant.  1,  est.  4. 

Mas,  Senhor,  vós  que  ordenastes 
Que  o  juiz  disto  fosse  eu. 
Quando  se  a  batalha  deu, 
Dizei,  que  m'oncomraondaste3 
Que  ficasse  a  cargo  meu? 

CAM.,   AMPUTTBIÕES,  aCt.    5,    SC.    1. 

Ja  que  chegais  tanto  ao  cabo. 
Com  as  mãos,  postas  aos  Ceos 


Vou  sempre  pedindo  a  Deos, 
Que  vos  levo  este  diabo. 
Eu,  Senhora,  não  me  gabo ; 
Mas  pois  que  me  dais  tal  nome, 
Tomo-o,  para  que  vos  tome. 

IDEM,    BEDONDILHAS. 


O  que  VOS  quero  m'engana, 

Mas  o  que  desejo  não. 

Não  haaqui  senão  paredes. 

As  quaes  não  fallào,  nem  vem. 

Está  isso  muito  bera. 

Bem:  e  vás,  Senhor,  não  vedes 

Que  poderá  vir  alguém  ? 

CAM.,  FILODEMO,  act.  2,  SC.    5. 


—  «Senhora,  disse  o  do  Sal  vage,  se 
vós  vos  visseis,  vós  me  desculparíeis ;  de 
vos  não  verdes,  vos  nasce  cuidardes  que 
tenho  culpa,  que  esses  olhos  nào  se  po- 
dem pôr  em  parte,  que  nào  roubem  vida 
e  alma.»  Francisco  de  Moraes,  Palmeirim 
d'Inglaterra,  cap.  148.  —  «Por  quanto, 
vós  Marquez,  por  vossa  grande  dignidade 
vos  foj'  dada  bandeyra  quadrada  como  a 
Príncipe,  e  por  esta  honra,  e  dignidade, 
que  recebestes,  éreis  obrigado  guardar  a 
honra,  e  estado  dei  Rey  vosso  senhor,  e 
seruillo,  e  acatalo  como  natural,  e  vei-da- 
deiro  Rey,  e  senhor,  e  vós  tudo  isto  fi- 
zestes ao  contrairo,  tal  bandeyra  não  de- 
ueis  ter,  porque  a  não  mereceis.»  Garcia 
de  Rezende,  Chronica  de  João  II,  cap. 
49. — -«A  minha  alma  magnifica  ao  se- 
nhor, quasi  dizendo,  Vos  prima  louuays- 
me  por  benta  antre  as  molheres :  e  a  mi- 
nha alma  louua  o  Senhor  do  qual  proce- 
dem todallas  benções,  e  mercês.  As  cou- 
sas marauilhosas  que  Deos  obrou  assi  no 
meu  ventre  como  na  minha  alma,  mos- 
trão  quão  grande  he  Deos.  Ainda  que  to- 
dallas criaturas  manifestem  a  gloria  de 
Deos,  e  mostrem  sua  grandeza,  especial- 
mente a  alma  sãcta  he  certa  testemunha 
do  poderio,  e  misericórdia  de  Deos.»  Fr. 
Bartholomeu  dos  Martyres,  Catecismo  da 
doutrina  christã. 


Vós,  santos  Ceos,  e  Tu,  Astro  brilhante 

Que  o  dia  trazes,  e  que  o  dia  levas, 

E  que  eu  nascer  naõ  vejo  ha  lougos  aunos. 

Vós  testemunhas  sois,  s.e  eu  pertendia 

Mais,  que  cm  paz  desfructar  minha  Prebenda, 

Comer,  jogar,  dormir,  o  divertir-me. 

DINIZ   DA   CKUZ,   HYSSOPE,    Caut.    4. 


—  Representa  o  sujeito  da  proposição, 
ã  pessoa  a  quem  falíamos. 


Homem,  não  aporfieis. 
Que  não  quero,  nem  me  praz 
Ide  casar  a  Cascaes. 
Nào  vos  anojarei  mais, 
Aindaquft  saiba  estalar ; 
E  prometto  não  casar 
Ató  que  vós  não  queirais. 

QIL  VICENTE,  FABÇAS. 


«Ora  Deos  seja  louvado  vós  o  ten- 


des feito  taõ  honradamente,  e  tanto  a  seu 
seruiço,  e  prazer  do  Infante,  que  vos  he 
elle  por  isso  em  obrigação  de  honra,  e 
mercê,  o  que  todos  deueis  esperar  qoada 
hum  em  seu  grão.»  Barros,  Década  1, 
liv.  1,  cap.  11.  — •  «Não  tenho  duvida  al- 
guma em  que  será  eterna  a  minha  dura- 
ção, e  já  não  dependo  que  somente  do  Al- 
tíssimo que  amo,  e  adoro  como  origem  da 
minha  existência,  e  da  minha  gloria.  Per- 
doai-me  se  vos  digo  que  vós  sois  a  que 
presentemente  sois  criança  a  meu  respei- 
to.» Cavalleiro  d'01iveira.  Cartas,  liv.  2, 
n.°  60.  —  «Nem  vós  negareis  esse  vosso 
préstimo  a  unia  mulher  da  província; 
que,  ao  que  estes  Senhores  dizem,  tem  de 
que  se  talhe  uma  linda  Dama.  —  É  do- 
nósa,  tem  engenho!  bello  epigramma!* 
tem  preço  !  Pou  minha  palavra  de  hon-  ' 
ra.  —  E  doni')sa  —  (murmurarão  ainda 
unisonos  os  Peraltas  que  me  rodeavão).» 
Francisco  Manoel  do  Nascimento,  Suces- 
sos de  madame  de  Seneterre.  —  «Seja 
assim :  mas  apurae  vós  lá  a  computação 
nos  contos  com  o  thesoureiro-mór,  que 
para  isso  não  tenho  tempo.  Quereis  fazer 
a  mercê,  senhor  escrivão  da  camará,  de 
encommendar  a  Lourenço  Martins  que 
apure  essa  ementa  com  micer  Percival  e 
de  adveitir-lhc  que  taes  negócios  devem 
chegar  averiguadas  á  presença  de  meu 
senhor  elreiy»  A.  Herculano,  Monge  de 
Cister,  cap.  15. 

—  Usa-se  também  de  vós  por  tu. 

Ireis  vós  pêra  Sanhoanne 
Polo  ceo  sagrado, 
Que  meu  dono  está  danado. 
Vio  elle  o  demo  no  ramo. 
Se  elle  fosso  namorado, 
Logo  eu  vou  buscar  outr'amo. 

QIL  VICENTE,    FABÇAS. 

Senhor,  si ;  e  todo  hum  anno... 
Vós  zombais,  se  nào  m'engano? 
Nào,  mas  dou- vos  minha  fé 
Que  nunca  vi  tão  bom  panno. 
Ora  olho  vossa  mercê. 

CAM.,   AMPUIIKIÕES,   aCt.    1,   80.    G. 

Suspeitas,  que  me  quereis  ? 
Qu'eu  vos  quero  dar  lugar 
Que  de  certas  me  mateis, 
Se  a  causa,  do  que  nasceis. 
Vós  quizcsseis  confessar. 
Que  de  não  lhe  achar  desculpa, 
A  grande  niMgoa  passada. 

IDEM,    BEDONDILHAS. 


—  «E  porque  o  vento  o  arribou  neste 
lugar  deixou  o  navio  em  que  veio,  traz 
aquella  ponta  que  o  mar  faz,  e  saiu  em 
terra  por  vêr  se  acharia  alguém  em  que 
satisfizesse  parte  de  sua  paixão :  e  hoje, 
recolhendo-se  já  achou  esse  escudeiro,  que 
vós  emparastes,  que  andava  traz  estes 
cavallos,  que  nós  aqui  temos,  a  que  man- 
dou prender.  Agora  vede  o  que  quereis 
fazer  de  nós.»  Francisco  do  Moraes,  Pal- 
meirim d'lnglaterra,  cap.  32.  —  «Parece 


1000 


vos 


vos 


vos 


que  tarnbom  vÓ8  mo  trataen  desHa  ma- 
neira, poiJindo-mo  al^iiumH  il.i»  iiiialiiis 
ol)Hervaç<>oiiH  (|iio  ouvistuirf.»  (Javalleiro 
d'(Jliveira,  Cartas,  liv.  1,  n."  23. 

—  Quaiulo  ur<aiiii)H  ilt)  vós  com  um  ad- 
jectivo di^jois  d'(!lic,  i;rtti-  iiiljoctivo  u.sa-«o 
no  8Íiifíular,  o  o  vcr\M  no  plurul. 

—  (guando  com  osto  vocábulo  vós  fal- 
íamos a  muito»,  vao  tudo  ao  plural.  — • 
«Mas  li;i  de  sor  cora  condiçilo,  qui!  vós  c 
ollcs  me  i)romottiit;s,  (|ue  untes  <lo  um 
anno  inteiro  mo  lovo  á  côrtc  do  impera- 
dor, quo  desejo  ver  as  fcrandezas  dullas  o 
ficar  na  coriver.<a(;no  e  amizailo  d'cRsas 
soiilioras,  (pic  iud  nomeastes.»  l''r.aiieÍH(0 
de  Wor.ies,  Palmeirim  dTuglaterra,   cap. 

];u). 

—  Vós  sereis  minha;  pertoncer-mo- 
hois. 

Kicae-vos  ora  com  Dooa  : 
("on-ao  a  porta  HÓbri!  viís 
Oom  vossa  caiideiasiuliii ; 
F.  rti(|uiui8  sm'nÍ8  cfí»  minha, 
Kntoiíeiífl  Turcmos  mis. 
Pessoa  conheço  eu 
Quo  lovilra  outro  caminho. 

OIL  VICENTE,   FAIIÇAS. 

—  Estar  queixoso  de  vós;  ([ucixar-so 
do  vós. 


Pudera  ou  com  rasão  hojo  afírontar-mc 
Ou  ao  menos  «âtav  de  vó>  queixoso, 
Senhor,  pois  duvidais  oucarregar-me 
Do  ncpocio  (juc  haveis  por  periposo, 
Sabendo  que  nenhum  lia  mais  (pie  armo 
Ao  peito  forte,  d"honra  desejoso, 
Que  aquelle  ((ue  .a  maior  perifjo  o  chama, 
Porque  esto  sompro  deu  mór  honra  e  fama. 
r.  D'ANnniDK,  puimeiuo  cerco  de  diu,  oaut.  5, 
ost.  72. 


—  Cada  um  de  vós ;  qualquer  do  vós. 
—  f  Irmãos  nam  vos  quero  mais  deter, 
somente  fazer  a  cada  hum  do  vos  a  pre- 
sunta i[ue  foy  feyta  a  sam  loauí  liaptis- 
ta.  Dizeme  tu  quem  os?  Rcceo  teulio  que 
aja  aqui  niuytos  que  nam  me  saybam 
responder,  ou  que  diç^am  despropósitos, 
contando  sua  liuiiafrem,  ou  sua  nobreza, 
ou  suas  prosperidades  tomporaes.»  Frei 
Bartholomeu  dos  Martyrcs,  Catecismo  da 
doutrina  christã. —  t  Mando  a  vós  c  a 
cada  hum  de  vós  que  eutreguedes  ao  In- 
fante Dom  Fernando  d'Arajíão...  e  a 
Quintaa  de  Pauza  Folies,  o  Feua  Cova 
com  todoios  Direitos  e  Rendas,  e  perten- 
(,'as,  coleitas,  e  parte  de  Dízimos,  que  eu 
hi  hei,  e  de  direito  devo  aver,  e  outro  si 
com  toda  juridiçom  (Criminal,  e  C^ivil.» 
Doe.  de  13.Õ4,  no  Corpo  diplomático  por- 
tuguez,  tom.  1,  pag.  :2'Jti,  publicado  pelo 
Viscomlo  de  Santarém. 

—  Emprega-so  também  com  difforou- 
tes  preposi(^'ões : 

1.°  Com  .1  preposi\'rio  <í. 

Ou<;a-ino  o  pnt<tor  c  o  rei, 
Kotumbo  cate  assento  santo. 


>fova-BO  no  inundo  espanto; 
Qiio  do  que  ja  iiiiil  cantei 
A  paliiiodia  ja  ciiiiUi : 
A  '(i»  mi  1110  quero  ir, 
Seiílior,  «  ^rao  (.'apitáo 
l).'i  alta  t<irre  do  Siáo, 
A  ipial  não  ponso  itubir, 
Se  ini!  vús  iiào  dairt  a  mão. 

■  'AM.,    Br.D0XDII.IIAR. 

\Á  desi*a  Clloria  immensa  o  radiante 
Limitar  do  Inferno  inda  o»  tormento», 
firaiideznrt  não  A  Ké  coinmuiiicadas 
K  a  1'rM  as  dessa  (!ruí  B<')  reservadas. 

BOL.   DB  UUUKA,    BOV.   I>0  IIOH. ,' CBIlt.   2,  CSt.  2. 

2."  Com  a  preposi\'.1o  ■para.  —  «E  ho 
a  primeira  máxima  do  toda  a  Politica  ilo 
mundo,  que  todos  seus  preceitos  se  en- 
corraõ  oui  dons,  como  temos  dito,  o  bom 
para  mim,  e  o  ináo  para  VÓS.  K  pósia 
nestii  i)rimeiro  principio,  entra  logo  sua 
lu-ãy  Kazalj  de  EsUulo,  onsinaudodlie, 
que  por  tuiio  ct'>rte,  sagrado,  e  profano, 
para  alcançar  este  tim.»  Arte  de  furtar, 
cap.  GO. 

(Meu  padre  san'  Bernardo  me  pi-rdoe!) 
Mas  para  tam  fididf^a  companlii», 
Para  'tíí,  re:d  senhora,  sobretudo. 
Dos  iiioujíes  brancos  honra,  flor  c  nata. 
Tal  poisada  buscar!...  De  nossa  regra 
O  mais  sancto  preceito  venerável, 
Querereis  infringi-lo  ?  Antes  mil  vczca 
Os  votos  todos  trcs. 

OABUKTT,  D.  BBAMCA,  ClUt.  1,  Cip.  7. 

3."  Com  a  prcposiçivo  em.  —  «E  Pe- 
dro ainda  perseueràdo  em  seu  espãto 
disse  Senhor  nunca  pêra  todo  sempre  c3- 
sinterei  que  mo  laueis  os  \ihs,.  Ao  qual 
respõdeo  o  Senhor,  Pedro,  vè  o  que  di- 
zes: se  te  uiio  lanar,  nào  toras  parte  em 
ud.  Temorizado  Pedro  cu  tà  grade  amea- 
ça respondeo,  Liureme  Deos  Senhor  de 
tam  grande  nnildiçam.  Se  nam  posso  ter 
em  VOS  parte  se  me  não  lauai-des,  nào 
somente  os  pês,  mas  as  mãos,  e  a  cabe- 
ça me  lauay.»  Fr.  Bartliolomeu  dos  Mar- 
tvrcs.  Catecismo  da  doutrina  christã. — 
«A  ninguém  mostreis  ter  pouco  atlocto, 
posto  que  estejais  aggrauado,  se  cm  vos 
sentirdes  nacer  alguma  espinha,  e  ran- 
cor contra  o  proxiuu),  arraucaiá  logo,  e 
senaõ  poderdes  de  todo  extinguilla  da 
memoria,  buscai  razões  pêra  abrandar. 
Se  porém  o  próximo  offende  a  Deos, 
afroxai  da  fixmiliaridade,  que  tínheis  do 
antes  com  elle,  pêra  quo  vendouos  res- 
friado caia  ia  coula.»  Idem,  Compeudio 
de  espiritual  doutrina,  cap.  lõ. — «Mas 
pois  tudo  isto  sois,  o  eu  mo  consolo,  do 
quo  o  sejais,  e  tudo  em  vós  está  bem 
empregado,  e  essa  Coroa  de  Empcratriz 
de  todas  as  creaturas  parece,  que  vos 
vem  nascida  :  eu  ainda  que  indigno,  te- 
rev  atrevimento  de  anmr-vos,  a  vós  su- 
birá o  nu^u  affecto,  em  meu  coração  vos 
farey  hum  lugar  o  melhor,  que  cu  pu- 
der.» Padre  Manoel  Bernardes,  Exercí- 
cios espirituaes,  pag.  13. 


4."  Com  a  prepoHiçâo  junto  de.  — 
«Quem  me  pozora  junto  do  vós,  ijenho- 
ra !  quo  recebesse  aa  vos^ai*  contolações, 
H  om  minha  cora^^cm  vos  alentasne ! 
Nestes  horrendos  instantes  é  que  cu  «iii- 
to  (juanto  o  amor  mo  de«-caminhou,  ao 
vòr-mu  tào  aíFasUido  de  minha  Míle ;  to- 
mai animo  c  vivei  para  voi»so  filho,  quo 
hojo  ouj  dia  só  por  vós  susjdra;  e  que 
nilo  daria  por  cuiito  grande  a  vida  que 
di'ssi;  ]ior  entremciar  imxw  aa  vonaaii  aa 
suas  l.-igrimas.»  Francisco  Mamx:!  do  Nas- 
cimento, Successos  de  madame  de  Sene- 
terre. 

.')."  Com  a  prei)osiçílo  d«,  —  «E  «em 
elle  fica  a  casa  do«p<?ja<ia ;  e  o  Henhur 
Dom  Lusidardo  anda  no  pomar;  que  U>- 
do  o  seu  píissatempu  ho  enxertar  e  dis- 
por, o  outros  exercícios  dagricultura, 
naturaes  a  velhos:  O  poi*  o  tempu  nos 
vom  á  mciída  do  desejo,  yamo-nos  lá;  o 
se  puderdes  fallar,  íazei  de  vÓ8  mil  man- 
jares, porque  liie  façais  crer  quo  sois 
mais  esperdiçado  duuior  (|ue  hum  Braz 
Quadrado.!  Cauiijes,  Fidolemo,  act.  2, 
SC  2. 


Mas  {rrãa  vergonha  ho  rirmos  que  o  Cambaio 
diogar  a  tanto  bem  hojo  noa  tolhe. 
Em  quem  costam.ics  pôr  tuuto  de.8aiaio 
Que  de  ouvir  nomeiír-vo»  8>'i  »c  CDColhe. 
Deste  atrevimento  hojo  castigaio 
R  jagora  o  segui  que  ja  so  oeolhe. 
Pois  que  sempre  foi  seu,  o  vosso  cstillo 
Elle  fugir  de  vó»,  c  vós  seguido. 

r.  D'A»DaADB,  PKiMEiao  CBBCO  oB  Dic,cant.  9, 
est.  46. 


—  «A  que  ella  respondeo,  ora,  ja  quo 
sois  esses,  esperay  até  que  vos  digo  o 
que  esta  gente  quer  determinar  de  vós, 
c  tornado  pêra  onde  os  seus  estavilo,  que 
seriTio  ja  a  este  tempo  mais  de  cem  pes- 
soas, esteve  com  elles  em  grandes  por- 
fias, por  fim  das  quais  tomou  com  hum 
sou  sacerdote,  vestido  numas  operlandas 
muyto  cõpridas  de  damasco  roxo,  que  he 
o  ornamento  da  dignidade  suprema  en- 
tre elles,  o  qual  trazia  hum  molho  dcs- 
pigas  de  trigo  na  miio.»  Femilo  Mendes 
Pinto,  Peregrinações,  cap.  82. 

6.*  Com  a  preposição  por. 


Em  passo  tio  estreito  me  convinha 
Chamar  por  võt  Senhora,  noâtc  estado 
A  minha  impia  fortuua  então  me  tinha ; 
Se  aqucUc  grane  mal  imaginado, 
De  morte  me  cobria,  este  presente 
Sondo  a  tauta  verdade  já  chegado. 

COBTB   BEAI.,  XAUrBAOlO  DE  SCTCLTZDA,  C«Qt.  11 

E.  se  por  ww  nio  fér  remediado, 
E.sta  fi^.  que  asâim  sècca  osti.  comigo 
Ir.'!  também  por  prexa  do  pcccado. 

rKBNÃO   i^OROPITA,   POESIAS  Tt  IBOSAA  ISHUTAS, 

pag.   U>.i. 


May  deos  escolha  como  quon  ele  ó 
Por  tóf.  amigo,  e  dc«y  i>or  mi 
I  Que  uou  moyradcs  vós,  nem  eu  assy, 


vos 


Vos 


vos 


1001 


Como  morremos,  o  deos  ponha  hi 
Conselho,  amigo, ;a  V(^s  e  a  u)i. 

CANC.    DE   D.    DINIZ,   pag.    103. 

■ —  «Porque  vos  affirmo  senhor  Capitão 
que  desque  me  entendi  atégora,  nenhu- 
ma outra  cousa  tenho  visto,  nem  ouvido, 
se  nSo  que  quãto  os  desaventarados  como 
meu  marido  e  eu  mais  fazem  por  vós  os 
Portugueses,  tanto  menos  fazeis  vós  por 
clles,  e  quanto  mais  deveis,  menos  pagais, 
pelo  que  infirimlo  daquy,  o  que  clara- 
mente se  p('ide  affirmar,  lie,  que  o  galar- 
dão da  naçno  Portuguesa  mais  ensiste,  e 
ínais  pende  da  aderência  que  do  mereci- 
mento da  pessoa.»  Fernã'o  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  30.  —  «Por  que,  co- 
mo diz  no  prologo  das  suas  Instituições 
O  Imperador  lustiniano,  a  imperatoria 
magestade  conUem  não  somente  ser  afer- 
mosentada  cõ  armas,  mas  ai-mada  cõ 
íejs,  pêra  que  hum  tempo  e  outro  assi  o 
da  guerra  como  o  da  paz  possa  ser  di- 
reytamente  gouernado.  E  quanto  he  ao 
que  dizeys  da  authnridade  de  Platão, 
que  os  philosophos  hão  de  reynar,  ou  os 
Reys  f)hilosophar,  está  claro  que  faz  mais 
por  mim  que  por  vos,  porque  se  entende 
não  da  philosophia  contemplatiua  mas  da 
actiua. »  Heitor  Pinto,  Dialogo  da  Justi- 
ça, cap.  8. 

7.°  Com  a  preposição  ante.  —  «Senho- 
ra, disse  Floriano,  livre  me  quei"ia  ver 
dos  muitos  em  que  me  põe  vosso  amor, 
que  do  mais  tudo  perdi  já  o  'medo,  de 
nada  tenho  receio,  nenhuma  cousa  ante 
vós  me  pode  acontecer,  que  me  pareça 
muito,  porque  tudo  estimo  pouco.»  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra, 
cap.  87. 

8."  Com  a  preposição  antre,  por  en- 
tre. —  «Quanto  mais  ao  Prelado  eclesiás- 
tico, que  ha  de  imitar  aquelle  bom  pas- 
tor Cliristo  nosso  Deos,  que  trouxe  aos 
hõbros  a  ouelha  que  se  perdera,  e  que 
diz  em  S.  Matheus :  Quem  quiser  ser 
mayor  antre  vós,  seja  vosso  ministro,  e 
o  qiie  quiser  ser  primeyro,  seja  vosso 
seruo,  assi  como  o  tilho  da  virgem,  que 
não  veo  a  ser  seruido,  mas  a  seruir,  e  a 
dar  suã  vida  em  resgate  por  muytos.  E 
daqili  veo  chamarse  o  Papa  seruo  dos 
seruos  de  Deos,  que  a  meu  ver  ho  o  mais 
excellente  dos  titulos  do  mundo,  cujo  in- 
ventor foy  o  glorioso  ''Gregório  Vigavro 
de  Christo.»  Heitor  Pinto,  Dialogo  da 
Justiça,  cap.  6. 

9.°  Com  a  preposição  sem. 

Os  diaa  mais  alop-es  me  eutristoccra ; 
As  noites,  com  cuidiídos  as  desconto, 
Em  que  sem  vós  sem  conto  me  parecem. 

CAM.,   SONETOS,   n."    ÍÍ\. 

—  Praza   a  vós,  santos  céus! 

E  logo  prosegiiiii.  So  minha  cstvclla 
Ordenado  rac  tem,  que  por  encantos 
VOL.  T.  — 126. 


De  alguma  feiticeira,  ou  Nigromante 
Km  fero  bruto  eu  haja  de  mudar-me. 
Praza  a  vó-i,  santos  Ceos!  ao  Fado  praza, 
Que,  antes  do  que  cm  sendeiro  lazarento. 
Em  brioso  Cavallo,  ellcs  mo  mudem. 
A.  D.  DA  CRDz,  iiYssoPE,  cant.  5. 

—  Junto  a  mesmo,  indica  mais  expres- 
samente a  pessoa.  —  Vós  mesmo  estáveis 
lá. 

—  Vós  ambos;  diz-sc  de  duas  pessoas 
com  quem  se  falia. 

—  Vós  outros;  diz-se  de  varias  pes- 
soas a  quem  nos  dirigimos.  —  «Porém  j;\ 
que  ha  de  ser  de  necessidade,  porque  ha 
de  ser  forsado  comprir  eu  com  o  que  de- 
vo, vos  rogo  como  amigos  que  vos  naõ 
espanteis  de  vos  eu'  fazer  algumas  per- 
guntas necessárias  ao  bem  da  justiça,  e 
quanto  ao  mais  que  competir  á  vossa'  sol- 
tura, se  Deos  mo  der  vida;  vós  a  tereis, 
e  podeis  descançar  nesta  minha  promes- 
sa, porque  sey  rlelKey  meu  senhor  quaõ 
real  condição  tem  para  os  pobres  como 
vós  outros.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Pe- 
regrinações, cap.  163.  —  «Apercebeyuos 
pcra  muitos  trabalhos,  o  tribulações,  que 
no  mundo  aueis  de  passar,  porque  vos 
certifico  que  vos  outros  vos  entristecerevs 
e  chorareis,  e  o  mundo  folgara,  è  se  ale- 
grará :  mas  a  vossa  tristeza  se  tornara 
em  prazer,  e  sereis  semelhantes  á  molher 
que  chegando  a  hora  do  parto  se  entris- 
tece, mas  despois  que  vee  hum  filho  nas- 
cido, cora  o  prazer  que  toma  nam  se 
lembra  do  trabalho  passado:  assi  vossas 
tristezas  todas  se  converterão  eni  gran- 
des, e  verdadeyros  prazeres.»  Fr.  Ear- 
tholomeu  rios  Martyres,  Catecismo  da 
doutrina  christã. 

VOS.  Pronome  pessoal  que  se  empre- 
ga como  regime  directo,  ou  complemen- 
to objectivo. 

Não  por  tomar  claridade, 
Antes  v<5s  a  podeis  dar  ; 
Mas  por  poder  enviar 
Coriscos  c  tempestade 
Sobre  quem  ro.' mais  amar. 

QIL  VICENTE,   COMEDIA   DE    RUBEN  A, 

Quanta  choca,  quanta  lama. 
Que  traz  o  mantão  frisado. 
Que  estava  tão  alimpado. 
Que  parecia  lumui  dama 
Diante  seu  namorado ! 
Porque  não  fugis  do  Iodo? 
Dizei,  nunca  mal  vos  venha, 
Nem  dia  dolle,  amen,  amen. 

GIL   VICENTE,    FAHÇAS. 

Por  vos  servir  a  tudo  apparelhados, 
De  VÓS  tão  longe,  sempre  obedientes 
A  quaesqucr  vossos  ásperos  mandados. 
Sem  dar  resposta,  proinpto.?  c  contentos. 
Só  com  saber  que  são  de  vós  olhndos. 
Demónios  infernaos,  negros  o  ardentes 
Commctterào  connosco  ;  o  não  duvido 
Que  vencedor  \os  facção  não  vencido. 
CAM.,  LIS.,  cant.  10,  est.  148. 

Meu  querido,  entre  a  neve 
Tritando  estais: 


Mas  ardendo  enti-ií  aftectos 
Voa  abrazaisi  Arder,  tritar 
Entro  ancvo,  entre  aífecto.s 
Amor  vos  faz. 

ABBADE  DE  JAZENTE,  POESIAS. 


—  «Dramusiando  o  salvou  cortczmen- 
te ;  e  vendo  que  com  desacordo  lhe  não 
respondia,  o  tirou  contra  si  por  um  bra- 
ço, dizendo:  Senhor  caValleiro,  não  res- 
pondeis a  quem  vos  falhiy»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  dlnglaterra,  cap.  81. 
—  «E  achando  os  dous  ca/valleiros  no 
campo,  um  atravessado  da  laiiça,  outro 
quasi  morto  teve  mais  de  que  se  mara- 
vilhar. Senhor  Florf!»4pPi  .di^se-  o  das 
líonzellas,  e.stas  são  as  obraw  com  que 
vos  sei  servir.»  Ibidem,  cap.  127. 

Desengano  f|uem  vos  quer 
Esse  vos  não  pode  achar, 
E  quem  voa  não  ba  mister 
Busca-lo  para  o  matar. 

IDEM,  DESCULPA. 

—  «E  se  cuidais,  que  temos  outra  fo- 
me, senaõ  do  que  pedimos,  estais  enga- 
nado ou  quem  vos  cá  manda,  por  tanto 
bem  podeis  levar  o  presente.)»  Barros, 
Clarimundo,  liv.  2,  cap.  7. 

Mas  a  rasâo  me  move,  antes  me  obriga 
A  que  d'aqui  rriou  canto  hum  pouco  aparte. 
Porque  a  causa  da  vinda  aqui  vos  diga 
Dos  que  do  Turco  seguem  o  estandarte, 
E  a  causa  porque  veio  a  armada  imiga 
Mais  a  esta  fortaleza  que  a  outra  parte : 
Não  demando  attenção,  porque  eu  espero 
Que  a  historia  por, si  alcance  quanto  eu  quero. 

F.    DAMDRADB,   PBIMEIRO  CERCO   DB  Bin,   Cant.  12, 

est.  G5. 


—  «Do  qual  (ainda  que  he  tam  rico 
em  mysterios)  ao  presente  nam  vos  ^ue- 
ro  dizer  mais,  senam  encomendaruos  que 
imiteys  estes  bemauenturados  sabedores 
em  duas  cousas.  A  primeyra,  no  obedien- 
te, e  constate  seguimento  da  estrella.» 
Fr.  Bartholomeu  dos  Martvres,  Catecis- 
mo da  doutrina  christã.  —  «E  da  mes- 
ma sorte  dos  outros  membros  o  mesmo 
das  potencias  da  alma:  se  cahireis  em 
doudice,  que  res])eito,  e  affeiçam  tiuereis 
ao  Medico  que  vos  curara  e  toi-nara  a 
restituir  o  siso,  por  tanto  vede,  e  cui- 
dai.» Idem,  Compendio  de  espiritual  dou- 
trina, cap.  13.  —  «Mvito  hc  pêra  espan- 
tar, e  estranhar,  como  naõ  amais  a  tal 
Senhor,  que  vos  criou  e  deu  entendimen- 
to, e  naõ  vos  fez  bruto  animal,  ou  outra 
insensiucl  creatura,  mas  vos  deu  lume  da 
rezaõ  pêra  o  conhecer,  amar,  e  poder 
gozar  perpetuamente,  que  vos  amou  tan- 
to, que  vos  criou  conhecendo,  que  o  auies 
de  offender  e  como  fosseis  pellas  offensas 
cometidas;  e  ingratidões  digno  de  ser  del- 
le  dcsomparado,  vos  aguardou  misericor- 
diosamente naõ  tratando  de  castigo  pre- 
sente se  naõ  de  vossa  emmenda.»  Ibidem, 


1002 


VOS 


vos 


vos 


cap.  14.  —  <iN3o  está  na  minha  mâo,  mi- 
nhii  senhora,  saber  o  pouco  que  sev.  Tor 
isso  nílo  ostevo  nclla  ser  tíío  aorioso  neste 
papel  como  mandastes.  Dcos  vos  fcuarde 
muitos  aunos.  í^avallciro  d'01iveira,  Car- 
tas, liv.  1,  n."  30.  — Este  destino  ho  tào 
coiijmum  c[uu  raramcute  se  evita.  Duvi- 
do porem  que  essa  infelicidade  vos  com- 
prcheuda,  o  julgo  que  se  todoa  os  au- 
sentes tivessem  os  vossos  merecimentos 
que  nenhum  a  experimentara.»  Ibidem, 
n."  42. 

— •  Emprcga-sc  também  como  regimen 
indirecto,  ou  complemento  terminativo. 


Isto  com  tnl  condição 
Jíh'o  pedireis, 
Que  asRÍ  ^ordoarciB 
Oâ  males  qac  vos  farão  ; 
E  senão,  não  no  espereis. 

GIL  VICENTE,    AF TO  DA  CANANÉA. 


Que  eu  vos  não  consentira 
Entrar  em  tanta  privanija. 
Pois  afjora  estais  singela, 
Quo  lei  me  dais  y^<n,  senhora? 
Digo  quo  venhais  embora. 

IDEM,  KAUÇAS. 


— •  «Das  quacá  a  huma  nos  fica,  e  a 
outra  vos  enviamos  com  a  nossa  embai- 
xada, o  dito  lenho  he  preto,  e  leva  huma 
argolia  pequena  de  prata,  bem  vos  pode- 
ramos  mandar  muito  ouro.»  Damião  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3, 
cap.  59. 

E  como  o  anno  ja  d'ante8  tinha  feita 
O  Sultão  huma  paz,  qual  tenho  dito, 
E  para  ser  mais  firmo  e  mais  perfeita 
Deu  o  que  ja  ro.'  fica  atraz  escripto : 
O  conselho  dos  seus  approva  e  acceita, 
Porque  lhe  roprcaonta  o  fraco  esprito. 
Que  a  nova  fortaleza,  e  a  paz  antiga 
Lhe  fari  a  Çhriitàa  geuto  mais  amiga. 

FRANCISCO    d'aNDRADK,    PKIMKIDO     CBRCO    DIÍ    DIU, 

caut.  -3,  est.  86. 

,C:''  >'<■■■'•■■: 
o  if  ir-  ■  L    ' 

—  «Se  quereis  entender  perfeitamente 
cm  quanta  «.stima  vos  beis  de  ter,  consi- 
derai o  preito  iníinito  do  sangue  de  Chris- 
to,  por  vos  otferecido:  ponderai  vossa  di- 
gnidade segundo  a  excellencia  do  Senhor, 
que  vos  rcmlo,  o  da  grandeza,  do  preço 
que  lhe  custastes,  por  onde  vos  pejai,  e 
cnuergonhai  de  offender,  e  manchar  cora 
vícios  tanta  nobreza,  e  dignidade.»  Frei 
Bartholomcu  dos  Martyres,  Compendio  de 
espiritual  doutrina,  cap.  14. — «lavosnam 
chamarcy  soruos,  porque  o  seruo  iiam  sa- 
be o  segredo  de  seu  senhor,  mas  chamar- 
uos  ey  amigos,  porque  yos  descobri  os 
segredos  de  meu  Padi-e.  Vos  uão  me  es- 
colhestes por  mestre,  mas  eu  vos  escolhi 
por  discípulos,  e  vos  deputey  pêra  que 
vades  pcllo  mundo,  o  faç.ays  muyto  fruyto 
quo  dure  i)era  sempre.»  Liem,  Catecis- 
mo da  doutrina  christã.  —  ^O  senhor 
ospertay   o  aoudiuos:   porque  dormis  se- 


nhor o  nos  desemparaes  deyxandonos 
em  nossas  cofíUoyrasV  Porque  nos  viraes 
o  rosto  o  vos  esijueceis  de  no.isas  tribtila- 
çòesV  A  Senhor  que  tomos  a  alma  pega- 
da o  grudada  com  a  terra,  e  despegada 
do  Ceo.  Alcuantayuos  pêra  nos  ajudar,  e 
iiurar.»  Ibidem. —  «Lembreuos  da  palaura 
quo  hua  vcis  vos  disse,  que  nam  ho  o  ser- 
uo niayor  que  .«iu  senhor.  E  por  tilto  se 
me  a  mim  perseguiram,  também  a  vos 
pcrso^íuirain.  ..Mas  cOíiai  que  cu  venci  o 
mundo.  Exhortnu  os  tíbem  <à  charidade, 
o  amor  fi-aternal,  dizendo,  Míidado  nono 
vos  dou  que  vos  ameis  huns  aos  outros, 
assi  como  vos  cu  amei.»  Ibidem.  —  «Co- 
mo o  dito  Poema  obriga  a  adivinhar,  e 
como  isso  me  seja  prohibldo  pelas  Leys 
do  meu  Paiz,  eu  que  as  quero  observar 
era  todos,  vos  faço  restituição  da  obra 
bastando  a  do  Casa  para  me  quebrar  a 
cabeça.»  Cavalleiro  de  Oliveira,  Cartas, 
liv.  3,  u."  3.  —  «Pareee-me  quo  consigo 
do  meu  discurso  mostrar-vos  que  as  almas 
grandes  sabem  pela  força  da  sua  razão 
resistir  aos  Ciúmes,  que  apenas  deyxão 
chegar  ás  suas  portas,  sem  consentir  que 
lhes  entrem  em  caza,  onde  como  inimigos 
declarados  arruinarião  os  donos  d'ellas.» 
Ibidem,  liv.  1,  n."  13. —  «Madama,  (me 
diz  a  Bacchante,  concentrando  a  ch<)lera) 
o  senhor,  na  pergunta  que  vos  fez  nada 
disse  que  vos  injupasse.  Nem  eu,  Mada- 
ma, lhe  respondi  fora  de  propósito.  O 
mais  cui-ioso,  esse  se  instrua;  e  por  certo 
que  o  Senhor  o  é  mais  que  eu.»  Francis- 
cisco  Manoel  do  Nascimento,  Successos 
de  madame  de  Seneterre. 


Quero  explicar-i-05  o  successo  estranho 

Que  hontem  presenciastes  ;  —  e  do  escândalo, 

Se  a  meu  pezar  o  dei,  perdão  vos  peço. 

OABUETT,    CAMÕES,  Cailt.    3,  CSp.   8. 


—  Não  vos  parece  esta  escusa  boa.  — 

f  Senhora,  disse  Pompides,  a  donzella  le- 
va tào  bom  recado  pêra  sua  necessidade, 
que  eu  faria  lá  pouca  mingoa;  porém, 
porque  a  vós  não  vos  parece  esta  escusa 
boa,  quero  ir  traz  clle,  mais  pêra  o  ver 
obrar,  que  pêra  cuidar  que  lá  posso  ser 
necessário.  E  despedindo-se  d'eUa,  seguiu 
polo  rastro  de  Palmeirim,  que  ia  jà  tão 
alongado,  que  primeiro  passaram  muitos 
dias  que  o  visse.»  Francisco  de  Moraes, 
Palmeirim  dlnglaterra,  cap.  GT. 

—  Dtipijis  de  vos  darem  com  as  costas 
no  adro;  ilopois  de  vos  fustigarem. — 
«Antes  saO  taõ  privilegiados,  que  depois 
de  vos  darem  com  as  costas  no  adro,  e 
com  vosso  pay  na  cova,  demandaõ  vossos 
herdeiros,  que  lhes  paguem  a  peçonha, 
com  que  vos  tirarão  a  vida,  c  o  trabalho, 
que  tiveraõ  em  vos  apressarem  a  morte 
com  sangrias  peores,  que  estocadas,  por 
serem  sem  necessidade,  ou  fi')ra  do  tem- 
po.»  Arte  de  furtar,  cap.  4. 

—  tíeJa-\os  o  mando  yara  bem. 


O  Marquez  de  Villa  Ileal 
Diria  lagrimejando: 
O  neto  d  El  liei  Fernando, 
Todo  de  «anguc  Real, 
Porá  bem  vos  oeja  o  mando. 

alL  ilCEHTE,  OSaAS  VAaiAB. 

—  Junta-80  aos  verbos  reflexos,  e  pro- 
nominae.s.  —  tTão  leve  fazeis  esta  aven- 
tura, disse  o  cavalleiro,  quo  já  vos  n3o 
queixaes  senão  do  tempo,  que  ó  pouco; 
pois  olhai  por  vós,  que  deste  encontro  fa- 
rei que  vos  sobeje  mais  dias  pêra  estar- 
des preso  na  conversação  de  outros  nés- 
cios, como  vós,  que  vos  piVie  íallecer  pê- 
ra vencerdes  j  costume  do  castello. »  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  d' Inglaterra, 
cap.  69.  —  «Nam  tenhaes  por  cousa  es- 
tranha se  o  mundo  vos  tiver  ódio,  e  vos 
perseguir :  lembreuos  qne  amim  que  sou 
mayor  que  vos,  teue  ódio.  Se  vòs  fosseis 
mundanos,  o  mundo  como  conaa  sua  vos 
amaria,  mas  porque  vos  nam  soys  deste 
mundo,  mas  eu  vos  escolhi,  e  tirei  d'elle, 
por  isso  vos  quer  mal  o  mundo.»  Frei 
Bartholomeu  do.í  Martyres,  Catecismo  da 
doutrina  christã.  —  «Por  temer  seusibili- 
zar-vos  não  encarreguei,  Senhora,  uma 
carta,  que  Mr.  de  boa  vontade  remetto- 
ria  a  vosso  filho,  a  quem  privei  a-ssim  da 
maior  ventura  sua.  Como  não  tinha  a 
honra  de  conhecer  Madama  de  Seneterre 
(disse  elle)  deixei  em  casa  de  M.  Birton 
a  endereça  de  Madama  Depréval,  asse- 
gurando-lhe  que  as  cartas  que  seu  filho 
mandasse,  lá  vos  seriào  fielmente  entré- 
ííues.í  Francisco  Manoel  do  Nascimento, 
Successos  de  madame  de  Seneterre. 

—  Não  vos  pesará  de  ser  caiitada  a 
novidade;  não  vos  enfadará. 

Mas  oumpre-me  apartar-mo  d'aqui  cm  quanto 
Dentro  polo  sertão  faço  a  jornada, 
Porque  a  huma  novidade  volto  o  canto 
Que  não  vos  pesarA  de  ser  cantada. 
Causou  em  todo  o  Reino  grande  espanto 
A  morte  do  Sultão  não  esperada, 
E  em  mil  partes  algum  tempo  não  crida 
Por  immortal  julgando  tão  mi  ^ida. 

FRANCISCO  d"aNDR\DE,  PBIICEIRO  CERCO  DE  DIC, 

cant.  8,  C8t.  70. 

— Pareceram-vos;  assemelharam-se-vos, 
mostraram-se-vos.  —  «Com  estes  entram 
outra  sorte  d'elles  que,  aos  domingos,  na- 
moram do  canto  da  travessa;  os  quacs 
pela  maior  parte,  não  sahem  de  obreiros 
de  offieial  que  para  este  passo  se  almofa- 
çam  de  maneira  que  vos  parccênun  uns 
infantes  de  Lara;  mas  destes  não  faz  a 
historia  menção  porque  são  parvos  de 
corja.»  Fernão  Soropiti»,  Poesias  e  prosas 
inéditas,  pag.  109. 

—  Peço-vos;  rogo-vos,  supplico-vos. 

Peço-ros,  pois  que  o  paristes 
Dcos  e  homem  natural, 
Que  a  esta  alma  Real 
Deis  o  bem  que  descubristes 
Eternal. 

on.  TKBtiTB,  OB&àS  TAB1A8. 


VOSQ 

—  Yos  ficará  muito  obrigado;  agrade- 
cer-vos-ha  muito.  —  «E  o  nosso  Rer  vos 
ficará  por  isso  muyto  obrigado,  para  que 
sempre  com  rauyta  lealdade  sirva  como 
escravo  cativo  ao  Príncipe  do  g-rande 
Portugal,  vosso  e  nosso  senhor  e  Rev,  da 
parte  do  qual,  e  om  nome  do  meu  vos  re- 
queiro senhores  a  ambos  huma  e  duas  e 
cem  vezes,  que  não  deixeis  de  cumprir 
00  que  deveis.»  Fernão  Mendes  Pinto, 
Peregrinações,  cap.  21. 

—  Pedem-vos,  senhor,  por  mercê;  sup- 
plicam-vos  por  graça.  —  «Pedem-vos,  Se- 
nhor, por  merece,  que  mandees  que  o  di- 
to artigo  se  guarde,  e  que  nom  vaam 
contra  elle  sob  pena  certa.  Assi  manda 
ElRev  que  o  guardem ;  e  se  alguém  con- 
tra elle  for,  que  tomem  sobre  ello  estru- 
mento,  e  lho  enviem,  e  que  lho  estranha- 
rá.» Ord.  Affons.,  liv.  1,  tit.  58. 

—  Porque  vos  não  fostes;  porque  vos 
não  retirastes.  —  «O  saneta  Maria,  se 
mandei  a  todos  que  se  fossem  a  comer, 
porque  vos  nam  fostes,  e  me  vindes  en- 
chendo de  poo ;  respondeo  o  loam  Goo,  e 
disse:  Senhor,  os  que  tinhão  de  comer  se 
foram,  e  os  que  aqui  vem  não  tem  que 
comer :  e  el  Rey  lhe  disse :  Prometovós 
loão  Goo,  que  eu  vo  lo  de :  e  muvto  ce- 
do, e  logo  aquelle  dia  a  tarde  o  liiandou 
chamar,  e  lhe  deu  a  comenda  da  Freirea 
em  Euora,  e  aos  outros  fez  mercê. »  Gar- 
cia de  Rezende,  Chronica  de  D.  João  II 
cap.  90. 

—  Vos  convinha  este  officio;  vos  era 
conveniente. 

Sem  alma  o  corpo  achou,  que  ii'alma  tinha! 
O  Nereidas  do  Egêo,  consolai-a, 
Pois  e3te  pio  officio  vos  convinha ; 
Conaolai-a  ;  sahi  das  vossas  ágoas  ; 
Se  consolação  ha  em  grandes  mágoas. 

CAM.,   ÉCLOGA   7. 

—  Qrmo  vos  vai  n'esse  mar  tão  profun- 
do e  espaçoso^ 

Como  vos  vai  ncaso  mar 
Tão  profundo  o  espaçoso? 
Nosso  mar  he  fortuuoso, 
Nosso  viver  lacrimoso. 
E  o  chegar  rigoroso. 

GIL  VIGESTE,   FABÇAS. 

—  Nós  VÓS  enviamos  muito  saudar, 
como  aquelle  que  muito  amamos,  e  pre- 
zamos, etc;  formula  de  saudação  regia, 
—  «Muito  poderoso,  e  excellente  Rei  de 
Manicongo.  Nos  dom  Emanuel  pela  graça 
de  Deos  Rei  de  Portugal,  e  Guine  vós 
enuiamos  muito  saudar,  como  aquelle  que 
muito  amamos,  e  prezamos,  e  para  quem 
queríamos  que  Deos  desse  tanta  vida,  e 
saúde  como  vos  desejaes.»  Damião  de 
Góes,  Chronica  de  D.  Manoel,  part.  3, 
cap.  37. 

VOSCO,  de  Vós.  Emprega-se  com  a  pre- 
posição com. — Deus  seja  comvosco. 

VOSQUO.  Termo  antiquado.  Vid.  Vos- 
co. 


VOSS 

VOSSANCÊ.  Termo  popular.  Vid.  Vos- 
sa mercê. 

V0S3E.  Abreviatuia  de  Vossa  mercê, 
que  se  emprega  familiar  e  amigavelmente. 

-—Também  se  usa  por  trato  de  gente 
baixa  e  intima. 

VOSSO,  A.  Adjectivo  possessivo  da  se- 
gunda pessoa  do  plural.  Da  pessoa,  ou 
pessoas  a  quem  falíamos.  —  Eis  aqui  vos- 
sa mãe.  —  «E  esto  meesmo  ho  escrepve- 
de  vós  em  vosso  livro,  e  assine-o  o  dito 
Coudel,  e  Escripvam  pêra  no-lo  vós  mos- 
trardes, e  Ni')s  podermos  despois  saber  se 
estes  taaes  teera  as  ditas  beestas  de  gar- 
rucha  com  as  suas  armas,  ou  cavallos  sem 
armas,  assy  como  se  obriguarom  ;  e  seen- 
do  achado,  que  teem  a  dita  besta  de 
guarrucha  com  armas,  ou  cavallos  sem 
armas,  vós  nom  os  co.stranguades  per 
beesteiros  do  conto.»  Ord.  Affons.,  liv.  1, 
tit.  69,  §  16.  —  «E  ora,  Senhor,  os  vos- 
sos Sobre-Juizes,  e  Corregedores  se  tre- 
metem,  e  querem  tremeter  de  conhece- 
rem de  taaes  feitos,  o  que  a  nós  he  gran- 
de graveza,  e  prejuízo.»  Ibidem,  liv.  5, 
tit.  109,  §  lõ. 

E  assi  de  vossa  antigua  geração, 
E  o  principe  do  reino  tão  potente, 
Cos  successos  das  guerras  do  começo  ; 
Que  sem  sabol-as,  sei  que  são  de  preço. 
CAM.,  LHs.,  cant.  2,  est.  109. 

Pois  se  as  settas  tiradas  da  inimiga 

Corda,  contra  si  só  nocivas  são, 

Que  farào,  Rei,  as  vossas  que  tem  liga 

Com  a  que  ja  tocou  Sebastião ! 

Tinta  vem  do  seu  sangue,  com  que  obriga 

A  levantar  a  Deos  o  coração. 

Crendo  bem  que  as  que  vós  despedireis, 

No  sangue  Serraceno  as  tingireis. 

CAM.,    EPISTOLA  3. 

—  « Por  certo,  cavalleiro,  vós  tomastes 
a  mór  empresa,  que  nunca  vi :  e  porque 
não  conceder  o  que  pedis  seria  desgosto 
vosso  e  doutros  muitos,  digo  que  vos  se- 
guro o  campo  e  dou  licença  pêra  vos 
combaterdes  com  as  condicções,  que  no- 
meastes, todolos  dias,  que  quizerdes.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  82.  —  lEu  sou  Floriano  do 
Deserto,  vosso  primo,  e  vo.sso  servidor, 
em  cuja  presença  se  vos  não  íixrá  nenhum 
desserviço.  Agora  não  hei  por  muito  ne- 
nhuma cousa  destas,  dis.se  elle,  que  pêra 

V('is  tudo  é  pouco. í  Ibidem,  cap.  127. 

«Mas  queria  que  estivesse  nelle  a  senhora 
Arlança  vossa  filha  pêra  lho  presentar  e 
lhe  dizer  que  o  soccorro,  que  lhe  tanto 
encareci,  e  se  ha  de  fazer  a  aquella  don- 
zella,  porque  a  ella  é  feito  o  aggravo; 
que  d'outra  ai-te  nam  sei  quam  boa  des- 
pedida poderei  dar  a  este  negocio.»  Ibi- 
dem, cap.  114.  —  «O  cavalleiro  estranho 
se  assentou  em  um  dos  poiaes  da  ponte, 
e  o  do  Touro  encostado  a  uma  borda  d'el- 
la,  disse  :  Senhor  cavalleiro,  já  agora  ireis 
sentindo  se  alguns  offerecimentos  fiz,  que 
os   poderei   cumprir.  Porem  polo  que  co- 


VOSS 


1003 


nheço  de  vossas  obras,  folgaria  que  se 
guardassem  pêra  outros  tempos,  e  não 
quizesseis  consumil-as  aqui.»  Ibidem,  cap. 
132.  —  «Ah  perros  aonde  me  levais?  os 
negros  com  o  medo  se  lançarão  ao  mar,' 
e  Dona  Leonor  se  lançou  com  elle,  di- 
zendolhe :  Tà  Senhor,  que  he  isto?  este 
he  o  vosso  siso,  e  prudência?  Manoel  de 
Sousa  de  Sepúlveda  tornou  sobre  si,  e 
quietou-se.»  Diogo  de  Couto,  Década  6, 
liv.  9,  cap.  22.  —  «Finalmente  vos  soes 
de  cuja  vida  depende  o  bem  ou  maf  do 
mundo.  Porque  manifesto  estaa  que 'se 
vosso  zelo  respondo  ao  officio,  nam  aue- 
ria  tanta  dissoluiçam  nos  leigos,  nam  an- 
dari.am  as  ouelhas  de  Christo  tam  fora  do 
caminho  do  Ceo.»  Frei  Bartholomeu  dos 
Mart^Tes,  Catecismo  da  doutrina  christã. 
—  «Antes  trabalhai  quanto  em  vos  for 
polo  fazerdes  vosso  amigo  a  fim  de  lhe 
dardes  os  exercícios  espirituais,  ao  me- 
nos, quando  mais  nam  podesseis,  os  da 
primeira  somana,  que  atras  apontaua.  Da 
mesma  maneira  vos  auereis  com  os  sacer- 
dotes da  terra,  procurando,  e  conservan- 
do a  amizade  de  todos,  tendolhe,  e  mos- 
trandolhe  muyto  respeito,  e  trazendo-os  a 
que  se  recolham  per  alguns  dias  a  tomar 
as  mesmas  meditações...  Lucena,  Vida  de 
S.  Francisco  Xavier,  liv.  6,  cap.  11. 

Elias 
são  peãs. 

Por  que  ? 

Estas  moças. 
Que  moças  ? 

As  noras  vossas 
lhe  chamo. 

Mudae  as  pélas. 

ANTÓNIO  PBE8TE8,  AUTOS,  pag.  249. 

N'huina  fusta  que  alli  só  foi  achada 
(Tendo  para  o  que  quer  tempo  opportuno) 
Entra,  e  com  grão  silencio,  abrindo  a  estrada 
\ai  polo  húmido  assento  de  Neptuno, 
Mas  porque  a  mi  ja  causa,  a  vós  enfada 
Este  Canto,  ja  assaz  largo  e  importuno, 
Crsso  aqui,  porque  cesse  algum  espaço 
O  vosso  enfadamento,  e  o  meu  cansaço. 

fBANCISCO  DE  ANDBADE,  PaiaEIBO  CEBCO  DE  DIU, 

cant.  13,  eât.  112. 

—  «Oh  gram  excesso  foy  de  vosso 
amor,  quereres  na  Circumcisaõ,  no  Bau- 
tismo,  e  na  Cruz  apparecer  com  sombras 
de  peccado,  e  ser  reputado  entre  os  mal- 
feitores !  Amor,  que  ao  menos  nestas  som- 
bras, venceo  hum  ódio  infinito,  qual  he  o 
de  Deos  para  com  o  peccado,  sem  duvida 
foy  amor  infinito.»  Padre  Manoel  Bernar- 
des, Exercícios  espirituaes,  pag.  116.  — 
■ —  «Nunca  eu  me  perdoara  essa  fraque- 
za, a  não  ser  de  permeio  a  bondade  com 
que  filha  vossa  me  chamáes,  e  o  saber  que 
ao  menos  puz  da  minha  parte  quanto  em 
mim  coube  por  preencher  os  meus  deve- 
res á  cerca  de  meu  Esposo.  A  approva- 
ção  de  minha  Mãe,  mais  valiosa  que  as 
minhas  próprias  reflexões  me  estorva  o 
envergonhar-me  de  mim  mesma.»  Fran- 


1004 


VOS.S 


voas 


voss 


cisco  Manool  do  Nasuiiueato,  Snccessos 
de  madame  de  Seueterre. 

Avoi'i  ao  >:o«so  posto. 
Avooii  ii  iiieuií  mil  po^to.i, 
nào  lhe  qacro  hso  encobrir, 
porqun  mal  p^^do  urgoir, 
podondo  iitalliíir  desj^ostos, 
ataHIial-o.i,  so  cumprir. 

ANioNio  i-uEârES,  AUTOS,  pag.  í!07. 

—  O  merecinteiito  de  vossas  qualida- 
des; o  morecimeuto  do  qualidades  que 
y()3  teades,  qualidad&j  que  vos  peitca- 
ju^fU.iTTTT  «For  certo  a  batalha  podur-se-lia 
j>erdei',  e  perder-áe-ha  pur  luiiiua  fra(|Qe- 
za,  mas  uào  polo  mercciíueiito  de  vossas 
qualidades,  ou  porque  alii^uG'"  uieroi,a 
mais  que  v/ií.»  Francisco  de  Aloraes, 
Palmeirim  de  luglaterra,  cap.  íjá. 

—  Por  vossa  j'é.  _,. 

£  a  que? 
lago  que  ú  ? 

ÉââC  perguntar  me  entreva  ; 
aaiuha,  por  i*os»tí  f(5. 

"■'"^    '    AiiioNio  Vresté.s,  XblroB,  píij;,  39;'). 

-i-'>cu    •    .  >'."  .     '(.    >.  i:xi. 

'..  — Espero  vossa  ajuda;  espero  o  vos- 
j»  auxilio.  —  «E  deteado-âc  irm  pouco, 
msso  antre  si :  6euliora,  se  eu  nas  gran- 
des affroutas  espero  vossa  ajuda,  em 
qual  maior  que  esta  me  pôde  a  minha 
ventura  nunca  pôr?  A  vida,  se  a  nào  de- 
sejara pêra  vos  servir,  pouco  me  dera 
perdel-a  aqui :  esta  voz  a  tirai  d'este  pc- 
rijío ;  e  <lepoiá  ordenai  algum  serviço, 
vosso,  em  que  eit' perca,  e  vós  sereis  ser- 
vida e  cu  contoiíte. »  Francisco  de  Mo- 
raes, Palmeirim  de  Inglaterra,  cap.   58. 

—  Por  vosso  ri  spcit') ;  por  respeito  á 
vossíi  pessoa.; — «Eu  tallel  a  sua  Alteza 
em  Affonsó  de  Kojas,  e  por  vosso  respei- 
ta lhe  fizera  logo  a  mercê,  que  liie  eu 
pedi,  mas  porque  (como  dijjo)  manda  di- 
zer ás  pessoas  que  andão  na  índia,  que 
este  anuo  niío  manda  lá  nenhvuu  despa- 
cho, deferio  o  de  Attonso  de  Rojas  para 
o-  anno  q.ue  vem,  e  diz  que  para  eutào 
lhe  fará  mercê.»  Jacintho  Fh"eire  de  An- 
drade, Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv.  3. 

—  Alevantai  vossas  cnity/.s;  erguei 
vosaas  cabeças.  —  «E  vòa  ó  filhos  meus  e 
verdadeiros  Cliristãos,  quando  começar- 
des de  ver  esses  espantosos  siuaos,  nam 
teuiaes  mas  entam  aleuautay  vossas  ca- 
beças, esforç«iyuos,  e  coufiay,  porque  he 
chegada  a  hora  de  vossa  perfexta  redem- 
pçam  e  ■  liurameuto  de  todolos  males  e 
misérias.  E  tomay  esta  semelhança.» 
Fi-ei  Bartholomeu  dos  Martyres,  Catecis- 
mo da  doutrina  christã. 

—  Figuradamente :  Leio  t?»»  vossos  olhos 
a  'victoria. 


Como  a  troar  da  maldicijíio  os  raios 

Quaâi  prompta...  AU  !  mas  viSâ,  vós  sois  Romanos ; 

Em  vossos  cora(;òos  ja  vejo  a  pátria, 

Jil  leio  em  vossos  olhos  a  victoria. 


Senadores !  romano»  HCiiadorus 
Vúi  »oi»  —  avante,  eia  ávaiitr,  ú  Padre»! 
aÁiiiiKrr,  catãu,  iict.  2,  se.  1. 

—  Namorado  vosso ;  namorado  que  vos 
pertença. 

So  aoia  contento,  Honhora, 
Do  cu  ser  namorado  >^0'iot 
Que  sejacii  muito  embora. 
oiL  vicK.trr.,  KABÇAS. 

—  Guiar  o  vosso  i>ovo ;  guiar  o  povo 
que  vos  perteace.  —  « Ex  atjui  o  .Senhor 
vira  pêra  saldar  as  gentes,  e  ouuircis 
sua  gloriosa  voz,  com  mvyta  alegria  de 
vosso  coraçam.  O  Deos  eterno,  regclor 
do  Israel  do  pouo  fiel,  cntendey  sobre 
nos.  Vos  seuhor  que  guiaes  vosso  pouo 
como  ouelhas  perJiJas  n'este  mundo,  vin- 
de ser  nosso  pastor,  vindenus  guiar  e  mos- 
trar o  caminho  dos  deleytosos,  e  eternos 
]jastos.u  Frei  Barthulnmeu  dos  ilaityres, 
Catecismo  da  doutrina  christã. 

—  Vossa  eiifascada  alma ;  alma  que 
vos  pertence,  vosso  espirito  eufuscado. — 
o  Ao  qual  António  de  Faria,  em  lugar  de 
oraçào  que  lhe  rezava  pela  alma,  disse, 
an<lar  muyti  cramá  para  esse  inferno, 
onílc  a  vossa  enfuscada  alma  agora  esta- 
rá go/ando  dos  deleites  de  Mafamede, 
como  ontem  còm  grandes  brados  jirega- 
veis  a  essoutros  caens  taes  como  vós.» 
Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrinações, 
cap.  60. 

—  Vossa  meinoi-iu;   vossa    lembrança. 

CA  in'aoou)paiiliará  vossa  memoria, 
So  o  rio,  que  se  diz  do  csqnecimunto, 
Da  minha  não  borrar  tào  longa  historia, 
Tão  grave  mal,  tào  duro  apartamento. 

CAMÕES,   KCLOGA  5. 


Culpa  vossa ;  a  culpa  que  vos  per- 


tence. 


Mas  para  que  tudo  possa 
.\mor,  que  fudo  encaminha, 
Tal  justii.-Ji  lho,  convinha  -. 
Porque  da  culpa  quhe  rosta, 
Venha  ser  a  morte  minha. 


CASl.,  KEDONDILUAS. 


—  Estar  em  vossa  mão ;  estar  em  vos- 
sa competência.  —  «Quato  a  bõs  em  vos- 
sa mão  esta  serem  bons  ou  mãos,  porque 
nao  se  dizem  os  .iuuos  bons  por  serem 
prósperos  e  do  bonança^  scuam  porque 
seruem  pêra  chegar  a  bom  fim  ou  bom 
porto  no  cabo  d'este  caminho,  assi  como 
como  dizemos  hum  caminheyro  ou  huuia 
nao  fazer  boa  viajem  quando  chegou  com 
saúde  a  onde  desojaua.  Pois  sabido  esta 
que  todo  o  tempo  de  nossa  vida  nam  he 
outra  cousa  sen.ào  hum  contino  caminhar 
ou  nauegar  pêra  o  porto  da  Cidade  ce- 
lestial.» Frei  nartholomeu  dos  Martyres, 
Catecismo  da  doutrina  christã. 

—  Novas  d'el-rtii  vosso  stiilior. — «Ca- 


valgai, e  dai-me  novas  dclrei  voa^O  se- 
nhor; que  pedir-voíi-laá  de  outrem  bem 
me  parece  que  se  poderá  escuiiar.  Se- 
nhor, di.sse  Argolaute,  cu  por  ijcn  man- 
dado venho  a  vosda  magestitdc,  por  isso 
va-se  onde  a  imperatriz  c  (jridonia  está, 
que  lá  lhe  direi  ao  que  sou  vindo.»  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  de  Inglater- 
ra, cap.  45. 

—  Vossa  gtnle;  a  familia  quo  voa  per- 
tence. —  «Sen  .or  lembrayuué  de  noa, 
«jlhayiios  coiu  aquelles  olhos  prosegnínog 
com  aquella  graça  e  favor  com  que  acua- 
tumaes  a  fauoreccr  o  pouo  por  voa  esco- 
lhido: visitaynos  com  vossa  salaaçani^ 
pêra  que  os  vossos  escolhidos  vej2o  vossa 
bondade,  a  vossa  gente  se  ale;.Te,  e  a  fa- 
milia que  escolhestes  por  vossa  herdado 
vos  luuuc  e  diga,  I^onuav  o  Senhor  parque 
he  bou),  e  sua  Misericórdia  he  sempiter- 
na, u  Frei  Pjartuolomeu  dos  Martyres,  Ca- 
tecismo da  doutrina  christá. 

—  Vossos  uuiinbrijs ;  membros  que  vos 
pertencem.  —  «Nam  sabeys  que  vossos 
membros  sam  membros  de  Christo,  c 
Templos  do  Spiritu  Sancto  que  em  vos 
mora?  Nam  soys  vossos,  nam :  lesu 
Cluústo  V08  comprou  por  seu  preciosiasi- 
mo  sangue,  pêra  morar  em  vossaa  almas, 
e  em  vossos  corpos.  Pois  se  assi  he,  como 
vos  atreveya  a  apartiir  vossos  membros 
de  Christo,  e  entregallos^  e  ajuntailos 
com  huma  torpe  molhar  Pi  Frei  Bartho- 
lomeu dos  Martyres,  Catecismo  àa  dou- 
trina christã. 

—  Vossos  offendedores;  aquelles  que 
vos  oflenJem.  —  «Pella  medida  porque 
medirdes  a  vossos  ofiendedures,  por  essa 
voz  medirey  a  vòz,  diz  o  senhor,  e  p<.)r 
isso  diz  também,  perdoay  e  perdoamos 
hào.  E  quando  quizeres  ofFerecer  algu- 
ma cousa  no  altar,  primeiro  que  offere- 
ças  te  reconcilia  com  teu  irni.io.»  Frei 
Martholomeu  dos  Martyres,  Catecismo  da 
doutrina  christã. 

—  Fazer  fructo  em  vossa  própria  al- 
ma ;  aproveitar  para  a  vossa  alma.  ^- « Se 
quereis  fazer  muyto  fi'uyto,  assi  em  vossa 
própria  alma,  como  nas  dos  próximos,  e 
viuer  consolado  cm  espirito,  conuersai 
com  os  peccadores  de  maneira  que  se 
venliam  elles  a  fiar  de  vós,  e  vos  desco- 
brir suas  consciências.»  Lucena,  Vida  de 
S.  Francisco  Xavier,  liv.  6,  cap.  11. 

—  Vossas  rendas  u$urpada* ;  tiradas 
as  rendas  que  vos  pertencem. 


E  que  vos  tr-Ticm  .... ,. ;...- 

j'o*«»i«  rendai»,  o  um  morfrado 
lá  d°um  vosso  antepassado. 

AKTOMO  PREffTKS,  ACTOS,  pAg.    123. 


—  Olhae  por  vossa  f atenda  ;  olkae  pe- 
lo que  é  vosso. 


Olhae  por  votta  fazenda : 
Tendes  hmuas  escríptnras 


voss 


voss 


voss 


lOOõ 


De  hima  casaes, 

De  que,  perdeis  graude  renda. 

Ho  eouteuda, 

Que  leixárào  ás  escuras 

Vossos  pães. 

On.  VIGESTE,  AniO  DX    ALM,V. 

—  Vosso  devotistimo  filho ;  vos30  filho 
mui  reiigiuso.  —  « Sanctissimo  em  Cliris- 
to,  Padre  Beatíssimo  Senhor,  Senhor  nos- 
so lulio  Segundo,  pela  divina  Providen- 
cia Sumo  poutitice.  Vosso  devotíssimo  fi- 
lho dom  Afonso  pela  graça  de  Deos  Rei 
de  Manicongo,  e  senhor  dos  Ambudos, 
Guine,  manda  beijar  vossos  beatíssimos 
pes  com  muita  devação.  Bem  cremos  Bea- 
tíssimo Padre,  que  tem  vossa  Sauctidade 
entendido  como  el  Rei  dõ  loão  de  Por- 
tugal, segundo  do  nome  no  começo.»  Da- 
mião de  Góes,  Chronica  de  D.  Manoel, 
part.  3,  cap.  39. 

—  .Na  vossa  presença-;  diante  de  vós. 
—  «Os  privilégios  dos  Príncipes  sàoreaes, 
porem  conhecemos  outros  mais  soberanos 
que  os  seus.  Não  desconfiarão  os  Bufoens 
de  Palácio  dos  sopapos  que  os  afrontào, 
e  desconfiaria  eu  na  vossa  presença  dos 
mesmos  risos  que  adoro  y»  Cavalleiro  de 
Oliveira,   Cartas,  liv.   1,  n.°  11. 

—  Vossa  jigura  dá  mostra  de  si. 


Tal  mostra  de  si  dá  vossa  figura, 
Sibola,  clara  luz  da  redondeza, 
Que  as  forças  e  o  poder  da  natureza 
Com  sua  claridade  mais  apura : 
Quem  couliauça  ha  vista  táo  segura, 
Táo  siugular  esmalte  da  belleza, 
Que  uão  padeça  mal  de  mais  graveza, 
Se  resistir  a  seu  amor  procura  ? 

CAM,  SONETOS,  u.o  140. 


—  Vossas  almas  sejam  moradas  do  Es- 
pirito  âanto ;  as  habitações  onde  estaes 
sejam  moradas  do  Espirito  Santo.  —  oE 
cada  hum  tàto  he  mais  sanctu,  quàto  mais 
foge  de  peccar.  Por  isso  irmãos  se  que- 
reis que  vossas  almas  seja  moradas  do 
Spírito  saiicto,  e  de  seu  amor,  arrepen- 
demos e  confessayuos  dos  peccados  que 
atè  o  presente  cometestes  :  e  assenta  v 
firmemente  com  vosco  não  cometer  ou- 
tros, e  isto  com  perseueiança.»  Frei  Bar- 
tholomeu  dos  Martyres,  Catecismo  da  dou- 
trina christã. 

—  Vossos  juízos  são  um  abysmo  gran- 
de ;  os  juízos  que  fazeis  são  um  abvsmo 
grande.  —  «Vossos  juízos  saò  hum  abys- 
mo grande,  e  ba-ta  sorem  vossos,  para 
serem  justilicados.»  Paili-e  Manoel  Ber- 
nardes, Exercicios  espirituaes,  pag.  45. 

— -  Derramar  sangue  em  vosso  altar. 

Se  ás  minhas  o  negais,  seja  o  mais  caro 
Amigo  seu, — -seja  o  seu  próprio  sangue 
Que  aquelle  sangue  em  vosso  altar  derrame. 
QAsauTT,  CATÃO,  act.  3,  SC.  T. 

—  O  vosso  sacerdote ;  o  sacerdote  que 
VQ3  pertence.  —  «E   por   isso    ter   fastio 


quando  se  pregão  e  ensinâo  as  cousas  de 
Deos,  e  do  outro  mmido,  he  sinal  que  a 
alma  nào  tem  quinhão  em  o  outro  mun- 
do, nem  he  da  parte  de  Deos.  Por  isso 
irmãos  ouui  com  ferventes  desejos  o  que 
da  parte  de  Deos  vos  diz  e  ensina  o  vos- 
so Sacerdote  e  Re.ytor  qualquer  que  elle 
seja:  porque  elle  he  a  boca  porque  Deos 
vos  falia. »  Frei  Barthoiomeu  dos  Marty- 
res, Catecismo  da  doutrina  christã. 

—  Vosso  pae ;  o  autiior  dos  vossos  dias; 
o.pae  que  vos  pertence.  —  t Vedes  aili 
Palmeirim  d'inglaterra  que  vos  tantas 
lagrimas  tem  custado,  e  a  quem  vós  po- 
zestes  o  nome  por  seu  nascimento  ser 
conforme  ao  de  vosso  pai.  E  depois  o 
imperador  seu  avô  sem  lho  saber  tornou 
a  luo  pôr  quasi  por  inspiração  divina.» 
Francisco  ue  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  -IT. 

• — ■  A  vossa  objecção  embaraça-me  ;  a 
vossa  objecção  atrapalha-me,  confuude- 
me.  —  «Coiifessarey  neste  caso  que  a 
vossa  objecção  me  embaraça.  ísão  res- 
pouuerey  decidindo  á  questão,  porem 
ubservarey  que  se  estes  corpúsculos  de 
que  se  trata  se  pegão  ao  ar  grosseyro,  se 
podem  também  pegar  áquella  matéria 
ctherea  que  se  voita  com  a  terra  sem  re- 
ceber deslocação  respectiva.»  Cavalleií-o 
d'Uiiveira,  Cartas,  liv.  o,  n.°  o9. 

—  Vosso  Jiiho ;  filho  que  vos  perten- 
ce. —  «Finalmente  seniiora  entregay  oje 
por  nos  vosso  filho  ao  Padre  eterno  em 
reféns,  atee  que  elle  por  nos  mesmos  se 
oóereça  na  Cruz.  E  ainda  que  a  senhora 
trazia  offerta  de  infinito  valor,  e  em  tudo 
igual  aaqueile  a  quem  se  offrecia,  nam 
deixa  por  isso  de  trazer  a  offerta  tempo- 
ral que  a  le}'  ordenaua,  s.  duas  roUas,  e 
dous  pombinhos,  offerta  certo  muy  mys- 
teriosa. »  Fr.  Barthoiomeu  uos  Martyres, 
Catecismo  da  doutrina  christã. 

—  Tratamento  que  se  dil  em  cortezia 
ás  pessoas  que  não  tem  senlioria,  e  a 
quem  se  não  trata  por  tu  ou  vós;  trata- 
mento dado  outrora  a  el-rei. 


Mantenha  Deos  vossa  mercê. 
Bote,  vús  venhais  embora. 
Ah  sancta  Maria  senhora. 
Como  logo  Deos  provê  ! 

GIL  VICENTE,  FABÇAS. 


Assi,  seuhor,  folgo  eu 
de  vossa  mercê  saber 
fazer  templos  de  beber. 

AMTONIO  PKKSTES,  AHTOS,  pag.  71. 

Longe  está 
VOSSO  favor  do  que  importa  ; 
ora  vossa  mercê  vá, 
bata  alli  áquella  porta 
e  pergunte  se  estou  cá, 
iBUBEM,  pag.  127. 

Parece  que  as  névoas  grandes 
que  atraz  foi-am,  e  inda  são, 
revê  a  encadernação 
dos  livros  peior  que  em  Fraudes. 


Fiz-lhe  quinhentas  mesinhas, 
vê  vossa  mercê  ?  galinhas 
maninhas  que  não  põem  nada. 
IBIDEM,  pag.  149. 

Logo  a  culpa  a  mi  se  dê, 
pois  fui  tão  mal  attcntado, 
que  a  tempo  do  deseançado 
vim  cançar  vossa  mercê. 
IB1DE.M,  pag.  Itíl. 

Oh !  bom  escuzar, 
façam  conta  que  me  enforcam, 
que  á  forca  os  vou  confessar. 
Porá  confeitos  me  empraxa 
vossa  merco  V  vem  de  mula. 
IBIDEM,  pag.  211. 

Assi  é  isso. 
Casou  meu  filho,  c  casado. 
Filho  vosso  mercê  tem. 
Homem  de  bem, 
nào  ê  vossa  mercê  lembrado 
do  meu  Fernando  ? 
IBIDEM,  pag.  3t)3. 

Perdoe-me  vossa  mercê, 

que  ninguém  já  assi  me  leva. 

Andae. 

IBIDEM,  pag.  395. 

Como  vem  vossa  mercê 
com  monanconia  a.-isi  tanta  ? 
Vossa  senhora  nào  cré, 
nào  é  christà,  nào  tem  fé. 
IBIDEM,  pag.  415, 

Vossas  mercês  querem  ouvir 
musica  darte? 

Quem  são  ? 
IBIDEM,  pag.  427. 

—  «Até  aqui  basta  para  esta  carta-le- 
ge.  Assim,  pagarão  as  moradias,  come- 
rão os  cortezãos  mais  pinhoadas  nestas 
festas.  Vossa  mercê  receba  a  boa  vonta- 
de, e  dê  copia  deste  cazo  ao  meu  ami- 
go..., a  quem  não  escrevo  em  particular, 
por  que  dei  agora  no  regimento  de  Se- 
túbal que  não  dou  uma  carga  senão  por 
outra.  Nosso  Senhor,  etc.  A  cinco  de  Ja- 
neiro de  1Ò9Õ.»  Fernão  Lopo  tíoropita, 
Poesias  e  prosas  inéditas,  pag.  87. 

—  Vossa  senhoria  ;  tratamento  que  se 
dá  a  certa  qualidade  de  pessoas  que  não 
teem  mercê,  nem  excellencia,  e  que  não 
se  tratam  por  tu. 

E  como  os  sons,  Senhor,  saõ  desse  porte, 

Se  deve  recear,  que  levemente 

A  sua  appellaçaõ  possaõ  nogar-lhe  ; 

Assim,  por  evitar  longas  anibagea. 

Que  dinheiro,  paciência,  e  tempo  gastaõ. 

Será  melhor,  que  í'o«.«a  Senhoria 

Appelle  logo,  —  coram  probo  viro. 

ANTÓNIO  DIMIZ  DA  CKLZ,  HTSSOPS,  CaUt.    4. 

—  «Eu,  senhor,  como  tenho  dito  a  vos- 
sa senhoria,  três  vezes  cheguei  ás  portas 
da  morte  nesta  minha  doença,  de  que 
tornei  a  arribar,  fora  de  toda  a  esperan- 
ça, por  mercê  de  Deus.  Sirva-se  sua  Di- 
vina Magestade   que    seja   para  o  saber 


1006 


voss 


voss 


VOTA 


servir,  ainda  que  pouco  posso,  mal  con- 
vaiecido,  e  com  recoioa  do  recair,  jiorque 
não  p(')de  a  minha  fraqueza  com  a  intem- 
perança d'e8te.s  ares,  e  com  os  rif^ores 
d'este  segundo  cárcere  de  <Joinib)'a  para 
onde  mo  mandarani,  nílo  sei  por  que  cul- 
pas.» l'adro  António  Vieira,  Cartas,  n." 
2ii.  —  t  Não  posso  encarecer  a  vossa  se- 
nhoria quanto  estimei,  e  se  estimou  n'eH- 
to  collegio,  a  rciaçiío  pormenor  do  exer- 
cito que  sua  oxcellencia  tem  prevenido 
para  esta  campanha.  Fizeram-so  muitas 
copias  para  irem  a  todos  os  eollegios  d 'es- 
ta banda,  que  serão  de  grande  animo  pa- 
ra todos,  c  também  para  que  se  saiba  o 
que  nem  todos  publicam.»  Ibidem,  n."  28. 

—  Vossa  revercndissiina ;  tratamento 
que  se  dd  aos  ecclcsiasticos,  qualquer 
que  seja  a  sua  graduação. —  «Por  fim 
d'c8ta,  como  protestação  da  fé,  quero  di- 
zer e  confessar  a  vossa  rcvorendissima, 
que  tudo  o  que  nos  bons  princípios  d'esta 
missão  se  tem  obrado,  se  deve  mui  parti- 
cularmente ao  zelo,  diligencia  e  industria 
do  padre  procurador  gorai  Francisco  Ri- 
beiro, o  tudo  são  cffeitos  de  sua  grande 
caridade,  c  pontualidade  com  a  qual  nos 
assistiu,  encaminhou  e  superintendeu  a 
tudo  de  maneira,  que  sem  elle  se  não  pu- 
dera fazer  nada.»  fadre  António  Vieira, 
Cartas,  n.°  12. 

—  Vossa  excellencia;  tratamento  dado 
a  pessoas  de  classe  elevada,  tanto  ho- 
mens, como  seukoraa. 

O  mesmo  dic;o  do  temido  Ahncida, 
De  quom  Voudci  UxccUeiicia  tem  o  sangue : 
De  Cambava  iniirchav  as  altas  palmas 
Na  brutal  Cafraria  ello  nau  vira, 
Se  afouto,  ou  ttMiíerario  não  zombiira 
Do  bater  dns  sapatos  dos  Menezes : 
Vossa  Excellencia  tem  visto  os  portentos, 
yuo  llic  tom  neste  dia  acontecido. 
Disu  DA  CRUZ,  HYssoPE,  caut.  G. 

—  Vossa  magesfaãe ;  tratamento  dado 
actualmente  aos  monarohas. —  «Esta  per- 
da, que  tanto  nos  deve  envergonhar,  quiz 
Vossa  Magestade  remediar  com  me  man- 
dar proseguisse  a  Historia  da  índia,  co- 
meçan<lo  donde    João  ile   Barros  acabou, 

era  que  sahisscm  á  luz  os  feitos,  que 
estes  vassallos  Portuguozes  ten»  obrado 
nestes  Estados.  E  tanta  ventagem  faz 
esta  merco  a  todas  as  que  fez  a  todos, 
depois  que  herdou  essa  Coroa  de  Portu- 
gal, quanto  vai  da  vida  á  morte,  e  do 
que  sempre  dura  ao  que  logo  se  acaba.» 
Barros,  Clarimundo,  Epistola.  —  «E  so- 
mente quando  faltasse  suecessor  ao  prin- 
cipal de  tdda  a  aldèa,  ou  naoão,  e  se  hou- 
vesse de  fazer  eleição  em  outro,  no  tal 
caso  proporão  os  ditos  prelados,  e  procu- 
rador geral  dos  iiulios  a  pessoa  que  entre 
ellcs  tiver  mais  merecimento,  e  lhes  fôr 
mais  bem  aceita,  e  o  governador  ou  ca- 
pitão niór  em  nome  de  vossa  magestade 
lho  passará  provisão. »  Padre  Anfonio  Viei- 
ra, Cartas,   u.°    13.  —  tE  foi    este  res- 


í»ate  uma  boa  prova  das  nova»  ordens  do 
vossa  magestade,  a  favor  dos  Índios,  que 
08  padres  lhes  foram  [uiblicar,  e  com  que 
oiies  ficaram  nnii  eont'-stefl  e  animados, 
e  Já  8?lo  partidos  por  diftereiítes  braços 
do  rio  a  levar  a  mesma  nova  aos  do  suas 
nações,  algumas  das  quaes  são  píjpulosis- 
simas,  o  se  esperam  jior  este  meio  gran- 
des conversões.»  Ibidem,  n."  1.').  —  f  Pri- 
meira :  Porque  as  coisas  que  vossa  ma- 
gestade foi  servitlo  resolver,  todas  foram 
examinadas  e  consultadas  com  as  pessoas 
mais  timoratas,  o  de  maiores  letras  que 
vossa  magestade  tem  em  seus  reinos. 
Segunda:  poique  esta  consulta  e  resolu- 
ção se  tomou  depois  de  serem  vistas  to- 
lias  as  leis  antigas,  e  breves  dos  summos 
pontiiices,  consultas  do  conselho  ultrama- 
rino, e  todos  os  mais  documentos  que  po- 
dia haver  na  matéria. »  Ibidem. 

—  Vossa  alteza  ;  tratamento  dado  aos 
infantes  e  príncipes, —  «A  qual  lhe  deu 
com  muito  pejo,  e  sobrieto  no  fim  de  hu- 
ma  carta  que  escreueo  a  el  Rei  lhe  diz 
as  palauras  seguintes.  Senhor  (íonçalo 
mendez  çacoto  me  dixe  que  trazia  licen- 
ça de  vossa  Alteza,  tanto  que  el  Rei 
de  Fez  nos  desapresasse  pêra  tornar  a 
negocear  suas  cousas.»  Damião  de  Góes, 
Chronica  de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  23. 
—  «Faça-se  vossa  alteza  amar,  e  n'esta 
só  palavra  digo  a  vossa  alteza  mais  do 
que  pudera  em  largos  discursos.  Conside- 
re vossa  alteza,  senhor,  que  esta  é  a  pri- 
meira acção  em  que  vossa  alteza  ha-de 
adquirir  nome  ou  de  mais  ou  de  menos 
grande  priíicipc.»  Padre  António  Vieira, 
Cartas,  n."  5.  —  o  Da  mesma  creação  de 
vossa  alteza  saiu  Achilles  a  ser  terror  de 
Tróia,  e  fama  de  (íreeia:  e  esta  mesma 
desconfiança  (a  qual  inculco  a  vossa  al- 
teza) o  fez  mais  Achilles.  Eia,  meu  prín- 
cipe, (iespiíla-se  vossa  alteza  dt>s  livros, 
que  é  chegado  o  tempo  de  ensinar  aos 
portuguezes  e  ao  mundo  o  que  vossa  al- 
teza n'elles  tem  estudado.»  Ibidem.  — 
«Sejam,  senhor,  estas  as  principaes  ca- 
deiras que  vossa  alteza  reparta:  venham 
muitos  mestres  da  fé  a  ensinar  e  reduzir 
a  Christo  estas  gentilidades :  e  persuada- 
se  vossa  alteza,  meu  príncipe,  que  lhe 
hão  de  prestar  mais  a  vossa  alteza  para 
a  defensão  e  estabilidade  do  reino  os 
exércitos  de  almas  que  cá  se  i-eduzirem, 
que  os  soldados  que  lá  se  alistarem.»  Ibi- 
dem,  n."  8. 

—  Alegrar  est^  alma  vossa  ;  alegrar 
esta  alma  que  vos  pertence. 

Meu  sol,  quando  alegrais  esta  alma  rosta, 
Mostrando-lhe  esse  rosto  que  dá  vida, 
Cria  tiòres  em  seu  contontamento  ; 
Mas  logo,  em  não  noa  vendo,  entristecida 
Se  murcha  c  se  consumo  em  grão  tormento: 
Nem  ha  quem  vossa  ausência  softi-or  possa. 

CAM.,   SONETOS,   U."   12G. 

—  Essa  ntateria  não  é  vossa;  essa  ma- 
téria não  é  da  vossa  prolissSo. 


VOTAÇAO,  «. /.  Acto  de  votar. 

—  A  acção  de  dar  votos  em  quaesquer 
assemlileias  deliberantes. 

VOTADO,  part.  paKB.  de  Votar. 

Quanto  es,  bem  sei,  por  ella  te  hai  votado; 
Catão  HO  com  sua  e«pa«lii  e  com  seu  doiim 

Defendeu  a  republica,  e  de  lioma 
Protegeu  a  orphandadc,  quando  todos. 
Vil!  —  a  desampararam  os  «eus  filhos! 
Mas  agora  no  extf<-iiio,  n>8te  atUicto, 
App<:rt:ido  momento  da  agoai». 
Na  hom  do  passamento  é  que  a  abandonas?... 

OASaCTT,  CATÃO,  tct.  5,   BC.  3. 

VOT'AMARES.   Jura  cómica  c  popular. 

Vofamaret  de  jogardes. 
Senhor  pae,  não  B»n  jogar, 
não,  bof/i,  por  vida  iniuha. 

ANTOxio  pucsns,  ACTO»,  pog.  375. 

VOTANTE,  part.  act.  de  Votar.  Que 
dá  o  seu  voto,  ou  suãragio. 

—  Que  faz  voto. 

VOTAR,  V.  71.  (Do  francez  voUr).  Dar 
o  seu  voto,  ou  suffragio.  —  «Estando  el 
Rey  hum  dia  oom  desembargadores  so- 
bre hum  feyto  seu,  depois  de  lido,  e  a 
cisa  despejada  pêra  darem  seus  votoe, 
disse  o  doutor  Nuno  Gonçsluez:  Senhor, 
nos  não  podemos  aquy  votar  neste  fey- 
to:  perguntou  el  Rey,  porque:  disse  o 
doutor:  Porque  vossa  Alteza  he  parte 
nelle  e  está  presente.»  Garcia 'de  Rezen- 
de, Chronica  de  D.  João  II,  cap.  9G.  — 
«Pj  he,  que  a  Ri-{iublica  dos  ratos  entrou 
em  conselho,  e  fez  huma  junta,  sobre  que 
remédio  teriaõ  para  se  verem  livres  das 
unhas  do  gato?  Presidio  hum  arganáz  de 
bom  talento :  assentaraõ-se  por  suas  anti- 
guidades os  adjunctos :  votou  o  mais  ve- 
lho.» Arte  de  furtar,  cap.  29.  —  iThuci- 
dides,  que  entendaõ  a  matéria,  em  que 
votaõ;  que  naõ  se  deixem  corromper  com 
peitas,  e  que  saibam  propor  os  negócios 
com  graça,  e  destreza.»  Ibidem,  cap.  30. 

—  V.  a.  —  Votar  algium. 

César!  César !  ás  fúrias  implacáveis 

Da  pallida  viugaiiya  aqui  te  voto; 

E  sobre  essa  c:ibeça  criminosa 

Seu  flagcUo  conjuro.  Atros  poderes 

Do  Averno,  ouvi  a  imprecação  tremenda : 

rPor  vingativas  mãos  pereça  o  monstro.» 

OARBRTT,  CATÃO,  aCt.    3,  SC.    7. 

—  Votar  çiíí  sim.  —  «A  lisonja  dos 
theologos  votou  que  sim.  O  desembarga- 
dor João  Marques  Bacalhau  foi  o  minis- 
tro que  primeiro  disse  que  nSo,  princi- 
piando o  sen  voto  assim:  «S.  M.  faz  esta 
pergunta  para  salvar  a  sua  consciência. 
Responderei  de  sorte  que  elle  a  salve  e 
en  a  rainha.»  Bispo  do  (irão  Pará,  Me- 
morias, publicadas  por  Camillo  Castello 
Branco,  pag.  85. 

—  Fazer  voto. 

—  Stx.  :  Votar,  deliberar.  Vid.  este 
ultimo  termo. 

—  Votar-se,  v.  rtji.  Dedicar-se. 


VOTO 


VOU 


vou 


1007 


—  Votar-se  á  pátria,  ou  pela  ■pátria; 
expôr-se,  sacrificar-se  por  ella. 

VOTIVO,  A,  a'lj.  (Do  latim  votivus). 
Que  pertence  ao  voto. 

—  Quadro  votivo ;  quadro  oíferecido 
para  cumprir  um  voto. 

—  Termo  de  antiguidade.  Diz-se  dos 
objectos  de  toda  a  espécie  que  se  suspen- 
diam nos  templos  em  memoria  de  algum 
favor  obtido  dos  deuses. 

—  Missa  votiva;  missa  dita  por  uma 
intenção  particular,  e  que  não  é  do  offi- 
cio  do  dia. 

—  Oração  votiva ;  oração  feita  por  oc- 
casiào  de  se  cumprir  algum  voto. 

VOTO,  s.  m.  (Do  latim  votiim).  Pro- 
messa a  Deus,  ou  santos  de  dar,  ou  fazer 
alguma  cousa  para  os  propiciar.  —  «Acom- 
panhou este  voto  com  perpetua  oraçam,  e 
assistência  ao  enfermo,  nam  se  appartan- 
do  mais  d'elle  ate  que  espirou  com  todos 
os  bons  sinais.»  Lucena,  Vida  de  S.  Fran- 
cisco Xavier,  liv.  6,  cap.  13. 

—  Relaxar,  dispensar,  irritar  o  voto; 
annullal-o. 

—  A  offerta,  ou  cousa  que  se  votou. 

—  Promessa, 


Do  que  promette  faz  ao  Cunha  voto, 
Dá-lhe  a  menagem  delle  antes  pedida, 
Como  quando  o  furioso  bravo  Noto 
No  mar  cria  a  tormenta  embravecida, 
Grita  e  trabalha  o  tímido  Piloto 
Porque  vê  em  grão  perigo  a  náo  e  a  vida, 
O  passageiro  que  este  mal  conhece 
De  temor  cheio  votos  ofFerece. 

FaiJiCISOO  d'aSDRADB,  PSIMEIBO  CEKCO  DK  DIU, 

cant.  8,  est.  48. 

Expõe  teu  voto;  um  parecer  contrário 
Nào  ofFende  a  Catão ;  e  é  honra,  é  gloria 
Ser  contestado  pela  voz  de  Manlio. 

OASBÍTT,  CATÃO,  act.   2,  SC.  2. 


—  Parecer,  voz,  suffragio  que  dá  o  vo- 
gal ou  o  votante. 

— »  Ter  voto  ;  ter  direito  de  votar. 

—  Voto  simples;  voto  feito  a  Deus, 
sem  expressões  solemnes  e  formulários, 
como  o  dos  que  professam  em  religião. 

—  Ter  voto ;  ter  critério,  ter  intelli- 
gencia,  bom  juizo  na  matéria  para  acer- 
tar os  dictames  ou  decisões. 

—  Plur.  Supplicas,  rogos.  —  «He  hu- 
ma  Rainha  soberaiia,  que  despois  de  su- 
birem ás  suas  mãos  quaesquer  consultas 
do  entendimento,  ainda  que  todos  os  seus 
votos  sejaõ  encontrados,  pode  tomar  as 
determinaçoens,  e  passar  os  d.^cretos  que 
mais  quizer.»  Padre  Manoel  Bernardes, 
Exercicios  espirituaes,  pag.  288. 

—  Pareceres  dados  pelo  vogal.  —  «Com 
esta  remetto  a  vossa  magestade  a  relação 
do  que  se  tem  obrado  na  execução  da  lei 
de  vossa  magestade  sobre  a  liberdade  dos 
Índios.  Muitos  ficam  sentenciados  ao  ca- 
ptiveiro  por  prevalecer  o  numero  dos  vo- 
tos mais  quo  o  pezo  das  razões.»  Padre 
António  Vieira,  Cartas,  n."  14. 


—  Os  melhores  votos ;  os  vogaes  mais 
prudentes,  sábios,  justos. 

—  Estar  aos  mais  votos  ;.  decidir-se  se- 
gundo o  de  maior  numero. 

—  As  obrigações  a  que  os  religiosos  se 
sujeitam  de  guardar  castidade,  pobreza, 
obediência,  clausui-a;  e  são  votos  solem- 
iies,   etc. 

—  Prometter  os  votos;  quando  se  faz 
profissão. 

—  Votos  denodados;  protesto  que  os 
cavalleiros  faziam  de  ua  batalha  obrarem 
alguma  façanha  grande,  e  de  muito  risco 
seu,  como  o  que  na  de  Aljubarrota  fez 
um  cavalleiro  de  ir  prender  eL-rei  de  Cas- 
tella  uo  meio  de  seuB  exércitos ;  aliás  vo- 
tos  ousados. 

—  Adagio  e  pkoverbio  : 

—  Aproveita-te  do  velho,  valerá  teu 
voto  em  conselho. 

■f  VOU.  Forma  do  verbo  ir  na  primei- 
ra pessoa  do  singular  do  presente  do  mo- 
do indicativo.  Yid.  Ir. 


Esperae,  qu'eu  o  direi. 
Dixestes-me :  Trabalharei 
Por  hum  cruzado  pra  pão. 
—  Seuhora,  eu  vol-o  haverei. — 
Vou  e  vendo  huma  viola 
E  hum  gibão  de  fustào. 

GIL    TICEHTE,   FABÇAS. 

—  lO  outro  levantou  o  rosto,  pondo  os 
olhos  n'elle,  disse,  eu  vou  tal  que  nem  vos 
ouvi,  nem  sei  se  me  faliastes,  e  se  outra 
cousa  vos  parece  estaes  enganado.»  Fran- 
cisco de  Moraes,  Palmeirim  de  Inglater- 
ra, cap.  81. 

Feito,  não  vos  quero  ouvir 
doudice  que  assi  me  vingas. 
Das  mangas 

perras  sois,  quereis  vos  não  ir  ? 
esconjuro-te,  Domingas. 
Foii-me  sobre  isso  dormir. 
ANToxio  PBKSTES,  AUTOS,  pag.  247. 

Foíi-lhe  partir 

cada  um  seu  dia  ;  a  arca  tem 
que  possas  inda  engolir 
até  seculorum. 
IBIDEM,  pag.  277. 


lá  de  Tral-os-Montes  vou, 
não  porque  isso  me  abonou 
mas  porque  nào  são  favores 
de  quem  os  melhor  ganhou. 
IBIDEM,  pag.  303. 

Vou  a  isto;  eu,  raolher  sou; 
que  veuha  de  capa  e  espada 
pela  parte  namorada. 
iBiDEU,  pag.  317. 

Tanto  me  fui  amolando 
na  mó  da  corte,  ao  commum, 
té  que  a  corte  isto  gastando 
me  disse  um  dia  —  Fernando 
tale  gravatum  tuinn  : 
cis-mc  voT  pela  panel.a 
CO 'o  prazer  d'isto,  c  que  íizV 
iBiDSn,  pag.  348. 


Vou,  galante  ? 

Senhor,  is ; 
nisso  não  ha  que  dizer  \ 
mas  porém  tanta  molhcr 
é  muito  de  amo  cacis. 
IBIDEM,  pag.  489. 

—  «E  dahi  vem,  que  enfastiados  do  que 
possuimos,  suspiramos  por  mais,  cuidan- 
do, que  no  que  de  novo  vier,  acharemos 
alguma  satisfação;  e  não  he  assim,  quan-, 
do  lá  vou ;  porque  tudo  he  do  mesmo  lor 
te,  e  jaez;  e  em  nada  ha  a  satisfação, 
que  buscamos.»  Arte  de  furtar,  cap.  70^^ 

'  -':!) 
Aonde  vou!...  Aonde? 
Vou  desafiar  de  César  os  furores, 
Vou  lauçar-mc  por  entre  essas  phalanges, 
Procuni-lo,  buscar-lhc  a  ponta  á  espada, 
Guiar-lh'a  ao  coração :  o  sangue  impuro. 
Que  delle  recebi,  elle  que  o  verta. 
oAniu:iT,  c.vTÂo,  act.  3,  se.  3. 

—  Vou-;ne  embora;  retiro-me. 

O  céo  me  tem  olho  n'elle. 
Andae  ora, 

meu  dinheiro,  cá  mais  fora ; 
agora  estais  bem,  amigo  ; 
vou-mc,  eis  o  céo  comigo 
outra  vez  ;  não,  rou-me  embora. 

A^ÍTOXIO    PRESTES,    AUIOS,    pSg.    87. 

que  O  defeito 
jaz  no  não  estimar  ditos. 
Com  isto  me  ro;;  embora, 
falei- vos  isto  e  mais  grosa, 
quanto  á  moça  é  milagrosa. 
IBIDEM,  pag.  311. 

—  Vou-/íie  em  busca  d' elle;  vou  procu- 

ral-o. 

Eu  me  vou  cm  busca  delle. 
Fernando,  vcm-te  com  elle, 
e  verás  o  que  te  peito. 
Faça  elle  cá  devoção. 

ASTOSIO  PEESTES,  AUTOS,  pãg.  317. 

—  Vou  notando;  vou  observando,  no- 
tando pouco  a  pouco. 

O  que  d'anui  vou  notando 
c(UG  ciosa  é  vosso  intento. 
Não,  por  certo,  está  enganado. 
Ciosa  guarde-!:05  Deos 
ciar  a  meu  senhor  dos  céos; 
si,  ciosa  nem  bocado. 

ASTO.vio  PEESTES,  AUTOS,  pag.  305. 

—  Vou  cansado ;  vou  enfadado. 

Cansado  vou  : 
cu  de  herança : 
não  tenho  cansar;  liança 
com  o  máo  corpo,  mo  buscou. 

ANTÓNIO  PRESTES,  ACTOS,  p3g.  91. 

—  Vou  ajuízo;  vou  apparecer  na  pre- 
sença de  Deus  para  ser  julgado.  —  «E 
has  de  andar  cuidando  e  dizendo  contigo 
mesmo:  Eu  caminho  pêra  a  morte,  vou  a 
juizo,  hã  me  de  tomar  conta,  e  per  força 


1008 


VOX 


a  ey  do  dar.  Que  «crA  de  mim  qiiítdo  fo- 
rem abertoH  os  liiiro»  o  o  cadciiio  ile  mi- 
nha viila  se  aiieri^oar  cõ  o  Jiiiro  da  diui- 
na  juHtiraV  Nistn  haH  iiiuituH  vay.tíH  de  me- 
ditar, e  lia»  te  cada  dia  de  ordenar,  como 
Be  Boiíbu.Ksea  que  a(|ii(tlle  dia  aula  de  nor 
o  derradeiro  de  tua  vida,  e  ter  asim  dian- 
te dos  (illii)^.>  liiilor  Pinto,  Dialogo  da 
Lembrança  da  morte,  caji.  1. 

—  Vou  (í  SciJuim  dl)  Monle;  caminho 
})iira  a  rieuhora  do  Monte,  dirijo-nie  pa- 
ra lá. 


Agoni 
rnii  ;l  Siiiihovn-dn-Moiitc 
diir-lhc  ostp  teu  corftçSo. 
O  inão,  diic. 

Divv-lhc  o  bom  pão, 
111  ostil  (^Hto  defronto. 
Qiio  me  d;l  aqui? 

'    Antão. 


ANniMn  rin-^^rr:? 


IM. 


—  Vou  cear;  dlrijo-mc  á  mesa  onde  es- 
tiver a  cèa.  :.  ,1  ■  -  . 

Awo -.  ,,  .   j>r;n.  Cousa  brava! 

Senhor  Commcndiídor,  eu 
não  mo  miintenlio  no  ar, 
conversfi,  rjun  rnii  cear; 
quanto  ó  ao  feito  seu 
não  tem  que  ine  vir  lembrar. 

ANTÓNIO  PllESTES,  AUTOS,  pftg.   Í97. 

—  Vou-»!e;  retiio-me,  ausento-mo. 

Como  mo  deixo  csquecov  ! 

Aqui  estivera  aporá 

J''»Uí^ndotú  anoitecer.  ,,   .jU  soV  , - 

yoK-me  •,  o  olliac  quanto  yal-. 

O  que  passou  entre  ni^s. 

E  porque  vos  ides  vós? 

CAM.,   PILODBMO,  aot.    1,  BC.   T). 

—  Vou-»»«   ã  morte.  ;  caminho    para  el- 
la,  avisinho-me  d'olla. 

Fui  ditoso, 

(èuo  o  molhor  pudo  obtor,  —  o  de  mais  pVigo ; 

Oudu  maia  derrocada*  as  inucaUias 
Aos  primeiros  assaltos  do  inimigo 
Hiiode  ficar  e.^postas.  —  FoH-mo  á.  morte, 
Certa,  meu  .luba  ;  Tou. 

uAHKKri',  OMÃo,  act.  5,  se.  8. 

—  Vou    coiijiado ;    iico    tloscam^ado,    c 
eeperanyado. 

Eu  o  darei  despachado 
com'  sentença  muito  cedo. 
PoÍ8  senhor,  rou  contindo; 
mais  senhor,  íiíjue  lembrado 
que  a  mão  carregue  era  degredo. 
ANTÓNIO  riuBSTES,  AUTOS,  pag.  190. 

i"  VOX,  s.  /.  (Do  latim  rox).  Vid.  Voz. 
—  oAflirmase,  que  vendo  o  Lobo  ao  ho- 
mem primeiro,  perde  o  homem  a  vox ;  e 
daqui  sahio  o  provérbio,  jAipus  iii  J'h- 
bula ;  porque  estando  a  nuirmurarse  de 
algum  absente,  assim  que  este  cheíja  à 
prezença  dos   murmuradorcs,   logo  calaõ 


VOZ 

todoB.  E  pello  contrario,  He  o  homem  vò 
primeiro  ao  Lobo,  di/.em  que  tica  «ttt 
menofl  atrevido;  mas  a  experiência  tem 
mostrado,  ipie  snò  falsas  estas  noticia».  • 
Hraz  LuÍ2  d'Abr<ni,  Portugal  medico, 
paj:.  .^)H;í,  4?  12. 

VOZ,  *.  /'.  ílJo  l.itim  uoxi.  Em  (jeral 
e  na  acce)i(;rio  pliyhii)lo;;ica,  é  a  proiluc- 
í^o  do  siim  na  larynfrc.  A  voz  é  pro- 
iliizida  pela  passatrcm  do  ar  na  larynfre, 
om  crmsei|ueneia  da  impidsào,  que  com- 
munica  i'i  columna  aen^a  o  movimento  de 
expiração;  ó  destinada  a  pôr  o  animal  cm 
rela(;flo  com  os  neres  dotados  do  soutido 
íla  audição. 

—  Particularmente :  8om  que  é  produ- 
zido |icla  larviif^i!  do  homem.  —  «Marzfto 
com  quinhentos  Turcos  se  fez  forte  nos 
paros,  mais  certo  do  [lerif^o,  que  das  can- 
.•<as,  c  authores  ilcllo.  ('om  a  primeira  luz 
do  dia  apparcceo  cl  liei  ca[)itaneando  os 
seus,  e  log^o  enviou  a  Marzào  hum  trom- 
beta, dizendo,  que  aquella  Cidade  era 
sua  por  antiífos  pretextos,  e  agora  por 
eloiçào  dos  ])roprios  mora'lorc.-<,  que  op- 
priniidos  com  a  intrusão  do  Haxá,  tive- 
rão  a  voz,  c  a  liberdade  atadas  para  não 
pronnnoiarem  o  nome  do  seu  natural 
Príncipe.  »  .Jacintho  Freire  d'Andrade, 
Vida  de  D.  João  de  Castro,  liv.  4. 


f)  tíol  Langarcam,  c  oa  que  cahírão 
I.í  para  a  popa  então,  tendo  Infinita 
Dór  por  aque.llc  mal  (|uc  a  seu  Hei  v/rão, 
(^'ue  a  terrível  vinganea  já  os  incita, 
Tanto  que  do  seu  Rei  a  voz  ouvirão 
<^  Coutinho  salteão,  e  o  Mesquita 
Com  imigo  furor,  coni  ir.a  immcusn, 
Mas  em  ambos  acharão  graà  defensa. 
F.  D'ANnaADK,  PBiMF.iBO  cEnco  DE  DIU,  cant.  7, 
est.  29. 


Ouve  a  voz  de  hum  Filosofo,  que  sempre 
Voa  em  balança  igual  Choupana  e  Throno ; 
Que  o  ente  racional  n'homcm  contempla, 
O  me.smo  berço,  e  tnmulo,  e  mais  nada. 

.1.    A.    DE   MACEDO,  VIAGEM  EITATICA,  CAnt.   2. 


Por  tudo  attenta  o  cauteloso  fíama, 

Recea  em  tudo  |ierfida  cilada ; 

Com  acenos  a  turba  immensa  chama. 

Tendo  da  paz  a  senha  despregada : 

Che^ào-se  ás  Náos,  o  interprete  lhes  olama 

Cou>  voz  do  todos  súbito  escutada, 

Que  peregrino  conhecer  deseja, 

Em  que  ignota  porção  do  Globo  esteja. 

J.    A,   DE   MACEDO,   ORIENTE,  Caut.    .T,'  eSt.    67. 

líu  aqui  O  advogado  da  paz ;  —  único 

Na  cúria  fui,  e  persisti  :  mas  hoje, 

Agora,  a  minha  %oz  foi  a  prinioira 

l^hio  bradou  guerra —  e  bradará  constante 

Kmquanto  houver  de  optar  entre  as  dc9gr.lça8 

Da  guerra  —  e  a  infâmia  de  tal  pas. 

OAttBETT,   CATÃO,    aCt.    2,    SC.    5. 


—  «De  pó,  cavalleiros  !  Aos  infiéis,  em 
nome  de  Christo  !  —  gritou  o  duque  de 
Cantábria,  con\  uma  voz  que  retumbou 
nas  frotundezas  da  caverna.»  Alexandre 
Herculano,  Eurico,  ciip.  13. 


Vf»Z 

—  Fama,  boato.  —  <  AehfcntS  jk  o  Oa- 
I)itai>  morto,  e  correndo  a  vOE  pela  fi*- 
tideaa,  aoniiira5  tod»«  a  sua  «Ma,*  ncm 
saberem  donde  lho  aqiiillo  podia  vir,  e 
alli  de  onímum  consentiniento  elegóra»? 
jior  (Japitiiõ  hum  Fidal(.'0  pobre,  acjtnhft- 
<lo,  mas  bom  homem,  e  bom  ííhri^tari, 
chamado  I  >.  Artur  de  Ta^tro.»  I>io(rr>  de 
CJouto,  Década  f>. —  «E«u  voz  no  derra- 
mou com  t.lo  feliees  écw»,  qne  o^  no«í>ofl 
outra  vez  unidos,  buscilrilo  sua  bandei- 
ra; A  os  inimigos  timido»,  ou  crédalon, 
for.lf)  perdendo  o  campo,  sendo  Mta  toz 
do  (joiíeral  a  porta  por  ondo  ontmn  a 
victoria.  Aqui  fi/.erRo  os  noMon  wttrapo, 
como  de  vc.ncedorcs,  e  o  qiw  ora  arilil, 
já  parecia  vrdadc  .laeintho  Fnire  de 
Andrade,  Vida  de  D.  João  de  Castro, 
liv.  H. 

Knclie  ft  Romn  co'  a  ror,  co'  a  fama  o  Mundo ; 
Súuu-ntc  itcabariu  no  extremo  dia 
Do  grão  Virgílio  os  «ous  melodiosos. 

J.   A.   DE  MACEDO,   HKOirAçIo,  CUUt.    1. 

—  Também  ee  diz  do  som  dos  instru- 
mentos músicos  pela  analogia  que  tem 
com  a  voz  uumaiia. 


Parece-me  isso  vnz  do  cravo, 
por  que,  incua  enliivamcntoa, 
bofetada  de  quinhcntoa, 
foi  is<o  V  e  eu  cujo  escravo  ? 

AKrONIO  l'BE8rK8,  ACTOS,  pBg.  349. 

—  Levantar  a  voz ;   erguel-a. 

Com  duro,  agreste  acccnto  a  voz  cr^iia 

A  negra  chusma,  c  saudava  os  Losog, 

E  gente  humana  apenas  parecia 

Tão  rudes  erão,  bárbaros,  obtusos  ! 

Kis  que  da  bruta  multidão  rompia 

Hum,  que  os  nautjis  deixou  d'horror  confusos ; 

O  accento  Portuguez  lhe  escutào  l<-dos, 

£Ue  a  voz  levantando,  os  Lusos  quedos. 

J.   A.   DE   MACEDO,  o  ÚBIENTE,  CAUt.   4,   CSt.   3. 

— -Figuradamente:  loapiraçio,  movi- 
mento interior  que  provoca,  e  incita  a 
fazer  ou  lieixar  de  fazer  alguma  cousa. 
—  «Eu  sou  aquella  voz  de  que  jirophe- 
tizou  Esayas  que  auia  de  bradar  no  de- 
serto, e  dizer,  Aparelhay  o  caminho  ao 
Senlior  ;  endereyts'  suas  carreiras  :  sej3o 
todos  os  caminhos  direitos,  planos,  e  li- 
sos, nào  aja  altos,  e  bayxos,  nem  aja  ca- 
minhos escabrosos:  porque  chegado  be  o 
tempo  de  o  Messias  apparecer  antre  os 
homens. »  Fr.  Bartholomeu  lios  ilartyres, 
Catecismo  da  doutriua  christã.  —  «E  es- 
ta mesma  voz  IÍk'.  cucommendou  por  Sam 
Lucas  que  apregoassem  em  todo  o  mun- 
do, dizendo :  Pregay  em  meu  nome  pe- 
nitencia, e  remissam  de  pecados  a  toda- 
laâ  gentes,  começando  de  Hierusalem.> 
Ibidem. 

—  So  cr^r  em  abusíies  é  de  almas  fracas, 
Desprciar  portentosos  raticinios 


voz 


voz 


voz 


1009 


É  de  peito  obstiuado,  ensurdecido 

As  i>ore»,  com  que  o  Ceo  mil  vozes  falia. 

AHIOmO  DISIZ  PA  CBOZ,  HTSSOFE,  Cant.   0. 

—  Dizer  em  alta  voz ;  fallando  de  rijo, 
de  modo  que  ae  oixça. 


Com  tal  milagre  os  ânimos  da  gente 
Portugucza  iiiílammadort,  levantavam 
Por  seu  Rei  natura!  este  cxcellcntc 
Príncipe,  que  do  peito  tanto  amavam  : 
E  diante  do  exercito  potente 
Dos  imigos,  gritando  o  ceo  tocavam, 
Dizendo  cm  alta  voz:  «Bcal,  Eeal, 
Por  Afonso  alto  Rei  de  Portugal.» 
CAH.,  Lus.,  cant.  3,  est.  36. 


■ —  «Alguma  cousa  houve  antre  os  ser- 
vidores das  damas  sobre  qual  iria  pri- 
meiro; que  como  o  do  Salvagem  se  offe- 
receu  fazer  a  batalha  por  todas,  pareceu- 
Ihes  que  sem  nenhuma  ordem  lhe  deviam 
sahir ;  mas  elle,  que  entendeu  a  ras.ão  de 
seu  debate,  disse  era  voz  alta :  Esta  pri- 
meira empresa  ó  em  nome  da  senhora 
Mansi;  polas  outras  senhoras  podem  vir 
três,  6  a  senhora  Teleusi  será  a  segun- 
da; Latranja  a  terceira;  Torsi  a  quarta.» 
Francisco  de  Moraes,  Palmeirim  d'Ingla- 
terra,  cap.  139. 

—  Voz  sonora;  voz  ruidosa,  unLsona. 


Pulgurou-lhe  na  frente  cthereo  lume. 
Pareço  que  dos  lábios  lhe  rompia 
Souúra,  insinuante  a  voz  d'hum  Nume 
Què  o  coração  preságo  lhe  accendia. 
j.  A.  Dr  MACEDO,  ouiENTE,  caut.  1. 


■.Voz   branda;   voz   serena,    plácida, 


Uom  branda  voz,  c  com  acção  benina 
Lhe  disso :  Só  te  pode  ter  despido 
O  fruito  da  mortífera  amargura ; 
Tens  tu  comido  delle,  por  ventura? 

ROLIJI  DE  MOOBA,  HOTISSmos  DO  JIOUEM,  C»nt    1 

est.  101.  ' 


•  — Voz  estridente;  voz  sibilante. — 
«Domingas,  Domingas!  —  soou  de  repen- 
te do  alto  da  escada.  Era  a  voz  estriden- 
te de  Fr.  "Vasco.  A  velha  nem  deu  as 
boas  noites  á  palreira  vizinha.  Deixou  ca- 
hir  a  adufa  e  gritou  :  —  Ahi  vai,  ahi  vai. 
Estou  acabando  de  encerar  o  púcaro  d'E.s- 
tremoz.»  Alexandre  Herculano,  Monge  de 
Gister,  cap.  14. 

—  Os  brados  formidáveis  da  voz  ingen- 
te; os  brados  da  enorme  e  grande  voz. 

E  que  sangue  esparziu  Bruto ! 
Que  vingança  tomou  ?  —  Da  voz  ingente 
Aos  brados  formidáveis  se  ergueu  Roma, 
E  fugiu  pavorosa  a  tyrannia. 

OABRBTT,  CATÃO,  act.   3,   SC.  3. 

—  Voz  mais  doce ;  voz  mais  suave,  mais 

VOL.  V.  — 127. 


amena,  mais  agradável.  —  «E  porque  pê- 
ra as  orelhas  de  peccadores  nam  podia 
auer  voz  mais  doce,  que  denunciarlhe,  e 
promcterlhe  perdam  do  peccad<)s  da  parte 
do  Deos :  por  tanto  (como  diz  Sam  Lu- 
cas) tanto  que  íSam  loam  Baptista  Pre- 
cursor do  Senhor,  sayo  do  ermo  a  pre- 
gar, a  primeyra  cousa  que  denunciou,  e 
apregoou  aos  homens,  fov,  que  auia  ahy 
perdam  de  ]ieccados.»  Frei  Bartholomeu 
dos  ]\Iart\Tes,  Catecismo  da  doutrina 
christã. 

—  Erguer  a  voz  um  pouco;  levantal-a 
algum  tanto. 


A  minha  Coiiductora,  excelso  Nunion, 
Me  curvo  humilde,  a  Magestade  ac^to. 
Titubeante,  e  trémulo,  desta  arte 
Erguendo  a  voz  hum  pouco,  entào  exclamo. 

J.    A.    DE  MACEDO,  VIAGEM  EXTÁTICA,    Cant.    2. 


■Tremula  voz;  a  vacillante  voa. 


Mas  vendo  ja  que  o  Fillio  commettia 
Da  tortuosa  cova  o  passo  estreito, 
E  da  vista  o  sentido  menos  cria 
Que  a  memoria  onde  via  ieu  defeito, 
Do  culpado  receio  se  temia. 
Que  a  culpa  traz  o  medo  unido  ao  peito, 
E  com  tremula  voz,  rouca  e  cansada 
Assi  foi  d'alma  a  pena  trasladada. 

BOLi«  DE  MOURA,  N0VISSIMO.Í  Du  uoMEM,  cant.  3, 
est.  16. 


—  Yoz  Jirme;  voz  perseverante,  inal- 
terável. —  «Aquelle  que  eu  cria  viesse 
em  meu  soccorro  —  tornou  com  voz  fir- 
me a  captiva  —  não  se  esconderá  de  ti 
no  dia  em  que  estiverem  em  volta  delle 
todos  os  seus  irmSos  em  esforço  e  amor 
da  terra  natal:  porque  nesse  dia  das 
grandes  vinganças  ve-lo-has  face  a  face.» 
Alexandre  Herculano,  Eurico,  cap.  14. 

—  De  viva  voz  ;  com  a  palavra,  era 
opposição  a  j}or  escripfo. 

—  Meia  voz ;  diz-se  em  opposição  a 
alfa,  e  mais  ainda  a  voz  67»  grito.  Vid. 
Chamar. 

—  Figuradamente:  A  voz  da  guerra; 
os  chamamentos  guerreiros. 

—  Diz-se,  em  medicina,  das  modifica- 
ções pathologicas  da  voz. 

—  Diz-se  de  certos  animaes.  —  A  voz 
do  papagaio. 

—  Faculdade  de  fallar.  —  Ficar  sem 
voz  e  sem  moviviento. 

—  A  voz  modificada  pelo  canto. 

—  ler  voz;  ter  disposições,  tendên- 
cias naturaes  para  o  canto. 

—  Voz  do  peito;  extensão  dos  sons 
produzidos  pela  situação  natural  dos  ór- 
gãos da  voz,  com  o  peito  cheio  e  a  boc- 
ca  aberta,  com  a  differença  d'estes  sons 
mais  agudos. 

—  Voz  da  cabeça;  espécie  de  voz  sub- 
larjngiana,  chamada  também  voz  de 
falsete,  que  um  homem  faz  ouvir,  quan- 
do saindo  pelo  agudo  do  diapasão  de  sua 


voz  natural  chamada  voz  do  peito,  imita 
a  voz  da  mulher  ou  da  creança. 

—  Parte  vocal  de  uma  peça  de  musi- 
ca. —  Um  cânon  a  três  vozes. 

—  Um  cantor,  uma  cantora.  ;;<' 

—  Conselho,  aviso,  supplica. 

Ousado  o  atacarei,  prcsta-me  as  armas  -,j( 

A  mesma  Natureza.  A  X'oz  do  Eterno 
NcUa  SC  faz  ouvir,  e  ho  delle  a  prova. 

J.  A.  DE  MACEDO,  A  NATUREZA,  Caut.  1. 

Inuuracravel  multidão,  nascida 
Ao  império  da  V03  omnipotente 
Que  lhe  mandou  multiplicar  nos  mares. 
IBIDEM,  cant.  3. 


—  Termo  de  grammatica.  O  ar  vocal 
tornado  plenamente  sonoro,  plenamente 
apreciável  ao  ouvido,  e  susceptível  de  se 
suster  em  toda  a  sua  plenitude,  durante 
um  tempo  mais  ou  menos  longo.  —  Voz 
articulada.  —  Voz  nasal. 

— -Figuradamente  :  Ruido,  som.  —  A 
voz  da  tempestade.  —  A  voz  de  uma  cam- 
painha. 

—  Na  linguagem  biblica,  o  que  pare- 
ce fallar. 

Dentro  do  corpo  férvidos  combatem 
Inimigos  cruéis  em  lide  horrenda  ; 
Os  alimentos  armas  lhes  minístrào, 
Unísonos  na  voz,  que  chama  a  morte. 

J.  A.  DK  MACEDO,  MEDITAÇÃO,  Caut.  1. 

—  Voz  do  céo ;  os  chamamentos  celes- 
tes. —  «E  dizendo  aos  Discípulos  o  que 
lhe  tinha  acontecido,  elles  lhe  declara- 
rão, que  com  aquelle  milagi-e  quisera  Nos- 
so Senhor  honrar  o  Corpo  do  seu  Apos- 
tolo, e  depois  de  o  bautizarem,  soou  hu- 
ma  voz  do  Ceo,  que  disse  como  aquellas 
Vieiras  haviam  de  ser  a  insígnia  do  San- 
to.» Sevorim  de  Faria,  Noticias  de  Por- 
tugal, Disc.  3,  cap.  8.—  »E  naõ  cessou 
por  largos  annos  desta  penitencia,  até 
que  ouvio  huma  voz  do  Ceo,  que  lhe  di- 
zia: Levanta-te,  que  já  estás  perdoado.» 
Padre  Manoel  Bernardes,  Exercícios  es- 
pirituaes,  pag.  132. 

—  Figuradamente :  Suggestão  interior. 
• — •  A  voz  da  razão.  —  Resistir  á  voz  das 
paixões.  —  A  voz  da  consciência. 

—  Suffragio,  voto.  —  Recolher  as  vo- 
zes. 

—  Direito  de  suffragio.  —  Voz  delibe- 
rativa. 

—  Tomar  voz ;  em  discu8s3es,  começar 
a  fallar  quando  outro  acabou. 

—  3'er  voz  activa;  ter  influencia  di- 
recta. 

—  Não  ter  voz  activa,  nem  pa«*t?;a  ; 
diz-se  de  quem  está  sujeito,  e  não  tem 
auctoridadc  de  mandar  fazer  alguma  cou- 
sa, ou  dar  o  seu  parecer,  etc. 

—  Sentimento,  juizo,   opinião. 

—  Termo  de  grammatica  grega  e  lati- 


1010 


voz 


voz 


VUBA 


na.  Nome  dado  a  differentos  Wrmas  do 
vorbo  omprepadafl  ])ara  indicar  no  o  su- 
jeito HofTro  n  acçSlo  do  verbo  ou  a  rooebo. 
—  Voz  activa.  —  Voz  passiva.  —  Voz 
media.  i: 

— ■  Dar  a»  tuas  vozes. .— rr>i(E*,ao  tempo 
quo  Ofl  I.)o3einburi,';idore8  ouverom  do  dar 
suas  vozes,  hi;  h;iÍ;i  da  llcilai;;uii  fura,  e 
leixo  aos  ■  Donenibargadorcs  desembargar 
taaes  foitoa,.  como  por  direito  ontende-. 
rcin,  sem  estando  cllo  presunto,  porque 
sua  estada  a  tal  tempo  sui-ia  aoa  Desem- 
bargadores cmpacliosa,  e  aos  feitos  quo 
Nós  averaos  contra  outras  pessoas,  ou  el- 
los  contra  Nós,  seja  o  dito  Procurador  ;u) 
desembargo  dos  feitos.»  Ord.  Affons.,  liv. 
1,  tit.  O,  S  2. 

—  Loc. :  Deitar  voz  ;  fazer  espalhar 
alguma  noticia  por  ecliadiços. 

—  Dicção,  vocábulo. 

— ■  Tom  de  voz  ;  certa  modulação  de 
voz. 


Tão  Krrnidn  orn  Ac.  membros  quo  bem  posso 
{jcrtilicar-tn  fino  esto  ora  o  HORundo 
Uo  Itliodoa  cati'»iiliissimo  colosso, 
yuft  mn  (loa  soto  milaf^vcs  foi  do  mundo  ; 
CIiuTu  tom  dl',  rnz  uoâ  falia  lionxudo  «  grosso, 
Quo  parcceo  sahir  do  mar  profinido: 
Arropiào-so  a»  oamcs  o  o  cnbclto 
A  mi  e  a  todos,  só  de  ouvil-o  o  velo., 
ct.it.,  LCB.,  c*nt.  5,  lest.  40... 

Até  que  hum  dia,  quando  o  costumado 
Paato,  o  corpo  mortal  do  nós  recebe, 
Eis  ([ue  80  Ihu  chega  hum  tão  apressado 
Que  apenas  os  usados  ares  bobe  ; 
E  iuda  CO 'o  tom  da  mz  mal  declarado 
Lhe  diz:  Com  grande,  pressa  tt^  apercebe, 
Souhor,  porque  os  Mogores  tens  tão  pc^rto, 
Que  quii;:l  lhe  serás  ja  descubcrto. 

FKANCISOO  I>K  ANDHADK,    FHIMBIBO   CBRCO   DB  DIU, 

'■   cant.  5,  eat.  78.  , 

-JJJ-'-    -!.(.■  -:.'-u   .i.li 

iili  ,*itiLu;idvv»;l  tijuj 
Com  ledo  ro»to  o  Príncipe  Africano 
Escuta  quanto  o  Portuguez  dizia, 
E  do  tão  nobre  ,T,catameiito  ufano, 
Com  grave  tom  de  vití  lhe  respondia  : 
NSLo  ho  de  mim  tão  lona;e  o  trato  humano 
Qu'a  tão  nobres  acções  não  dê  valia ; 
Quanto  em  meu  lícino  tenho,  u  quanto  posso 
Com  lizo  trato  vos  sujeito,  he  vosâo. 

.1.    A.    DK   M.^CÈDO,  o  OBIK.NIE. 

;-'  ,cjij'->q  : 

—  As  vozes  da'  musica ;  siio  :  do,  re, 
mi,   fa.  sol,  la,    si, 

—  A  vozes ;  levantando  a  voz,  gri- 
tando. 

—  Toda  (t  voz  em  grita;  toda  a  voz 
solta  com  força. 

—  Dar  voz  de  alguém;  bradar,  gritar, 
queixando-so  d'elle,  clamar  contra  elie. 

—  Voto,  parecer,  opinião. 

— ■  2'ei-  voz;    ter  direito  de  votar. 

—  Ter  voz  activa;  ter  voto  para  ele- 
ger. 

—  Ter  voz  pastiva;  ter  capacidade 
legal  para  ser  eleito. 

—  Ter  a  pra<ia  a  voz  d*!  algu«m;  es- 
tar por  oll©  como  senhor  d'olla,  suaten- 
tando-se  por  elle. 


—  Esforçnr  a  voz. 

—  ler  a  voz  <le  alguém;  ser  do  «ou 
bando,  parcialidade,  reuonbecendo-o  por 
senhor  o  superior. 

—  De  uma  voz,  ou  o  uma  voz ;  di- 
zendo todos  o  mesmo,  conformes  uo  pa- 
recer. 

—  Dar  vozefl  ;  gritar,  bradar. 

—  Toitoar  voz  por  ei-rei  de   Portugal. 

—  Alarido,  brad<i,  grito,  clamor. —  «K 
estes  som  os  cin(|U0  signaes :  olla  na  ora, 
que  o  liomeui  delia  travar,  deve  dar 
grandes  vozes,  e  brados  dizendo,  vedes 
que  fi'Z  Fuam,  nomoamlo-o  per  seu  no- 
me: e  ella  deve  scer  toda  carpi<la  :  e  ci- 
la devo  vir  pelo  caminho  dando  grandes 
vozes,  (lucixando-se  ao  primeiro,  o  ao  se- 
gundo, e  ao  terceiro.»  Ord.  Affons.,  liv. 
5,  tit.  tí. 


Com  levantadas  mãos,  com  altas  voie» 
Em  lagrima»  cnuoltas  a  diuina 
Vcnerauel  figura  iidorão  todos. 
Todos  dizem  senhor  misericórdia. 
Leua  Manoel  de  Sousa  oitenta  e  quatro 
Valentes  Portuguesos  na  dianteira 
Do  escrauos  Icua  hum  cento  que  nas  andas 
Portatilfts,  e  leues  se  reuozão. 

COBTE  RKAL,  NAOrnAOIO  DK  8EPUI.TKDA,  CBUt.  8. 


Qual,  co'os  gritos  e  voze-i  incitado. 
Pela  montanha  o  rábido  moloso 
Contra  o  touro  romette,  que  fiado 
Na  força  está  do  corno  temeroso ; 
Ora  pega  na  orelha,  ora  no  lado, 
Latindo,  mais  ligeiro  que  forçoso, 
Até  que  emfim,  rompcndo-lhe  a  garganta. 
Do  bravo  a  força  horrenda  se  quebrant,"». 
CAM.,  tus.,  ciint.  3',  est.  47. 


—  cFoy-se  continuando  a  bataria  em 
que  03  nossos  sofrerão  muito  grandes  tra- 
balhos, porque  naõ  largavaõ  de  dia  ucm 
de  noite  as  armas  das  costas,  nem  das 
mãos  as  achegas  pêra  a  reformação  dos 
lugares  derribados,  sendo  tudo  assim  em 
huma  parte  como  na  outra,  vozes,  cla- 
mores, gritos,  estrondos,  fogo,  fumo,  tro- 
voens,  e  tempestades  da  cruel,  e  horren- 
da artelharia,  que  quasi  tinha  ensurdeci- 
dos todos  os  da  fortaleza.»  Diogo  de  Cou- 
to, Década  <i,  liv.  :i,  cup,  2. 

—  Perder  a  voz  de  alguém;  perder  o 
direito  de  obrigal-os  a  que  se  chamem  de 
aquelle,  quo  perde  a  voz  d'ollos,  ficando 
esses  francos  para  se  chamarem  do  outro, 
o  ai)pellidarem  nos  arruidos  ai/ui  de  fuão. 

—  Perder  a  voz  de  alguém;  o  diireito 
do  patrocinio  e  defeza  do  otTondido,  que 
d;i,  voz,  ou  quorella  do  offcnsor  aos  mi- 
nistros e  ofiiciíies  do  rei,  e  o  de  ser  juiz 
entre  o  accusador,  e  o  accusado,  o  de  pu- 
nir com  crime  o  ciUpado ;  em  summa  o 
direito  magestatico  de  justiça,  um  dos 
principaes,  e  inalienáveis,  conforme  as 
idêas  do  tempo,  como  o  de  bater  moeda; 
o  direito  de  defeza  militar,  e  o  de  pedir 
impostos  para  as  dospezas  publicas.  Es- 
tas espécies  de  honra  faziam  os  fidalgos 


por  abuso,  dos  casaea  dos  lavradores,  por- 
que os  serviam  do  pâ<j,  came«,  como  se 
vivesnem  em  /mas  herdades,  levando  d'el- 
les  as  luitosas,  que  eram  d'el-rei,  e  di- 
zendo que  o  rei  perdia  dos  donos  díis  her- 
dades a  voz.  Vid.  Chamar,  e  AppelUdar. 

—  Nos  pareceres  de  Saragoça,  diz-se 
que  se  achara  [wr  nscripturas  authenti- 
cas,  que  por  voz  «  coima  se  entendam  es- 
tes direitos:  «mordomado,  portagem  e  ta- 
folaria,  pelos  quaes  se  ha  e  deve  levar  o 
direito,  e  tributo  que  se  pelo  dito  nome, 
voz  e  coima  em  qualquer  logar,  e  em 
qualquer  maneira  levasse.» 

—  Syn.:  Voz,  bra/Lo,  grito,  clamor. 

Voz,  ou  antes  vozes,  c  os  outros  vocá- 
bulos significam  o  esforço  maior  ou  me- 
nor que  fazemos  com  a  voz  para  que  nos 
ouçam  melhor  ou  para  exprimir  algtim 
aifecto  do  animo. 

Vozes,  suppõo  um  tom  natural  esfor- 
çado :  grito  é  voz  em  grita,  e  suppSe  um 
tom  mais  agudo  que  o  natural :  brado  é 
grito  esforçado,  que  se  faz  ouvir,  e  tal- 
vez resôc  ao  longe :  clamor  é  grito  esfor- 
çado e  queixoso,  de  ordinário  dos  qae 
pedem  justiça,  ou  de  muitas  pessoas  que 
gritam  mui  alto,  sem  moderaçilo,  como 
alvorotada.s,  queixando-se,  pedindo  qual- 
quer cousa,  mostrando-noB  desejos,  etc. ; 
d'aqui  veio  charaar-so  outr'ora  clamc/r  á 
procissão  de  preces  e  rogações  publicas. 

—  Adágios  e  provérbios: 

—  Na  boda  dos  pobres  tudo  s2o  vo- 
zes. 

—  Mais  são  as  vozes,   que  as  nozes. 

—  Voz  do  povo,  voz  de  Deus. 

—  A  voz  de  el-rei  não  ha  cousa  forte. 
VOZARIA,  s.  f.  Vid.  Vozeria. 
VOZEADOR,  «.  m.  Grande  Mlador,  gri- 
tador. 

VOZEAMENTO,  s.  m.  Brado,  clamor, 
vozeria. 

VOZEAR,  f.  n.  Dar  vozes,  gritar,  bra- 
dar. 

—  Fallar  mui  alto,  e  desentoado. 

—  Clamar. 

VOZEARIA,  s.f.  Vid.  Vozaria,  e  Voze- 
ria. 

1.)  VOZEIRO,  s.  m.  Termo  aotiqmido. 
Procurador,  solicitador,  advogado. 

—  Brigo.-io,   bradador  como  as  brabas. 

—  Volteiro. 

2.)  VOZEIRO,  A,  aJj.  Que  so  faz  com 
grandes  brados,  o  grita. 

—  Aves  mui  vozeiras ;  aves  gritado- 
ras, palreiras. 

VOZÈO,  s.  m.  Termo  de  poesia.  Vo- 
zeria. 

VOZERIA,  *.  /.  Muitos  brados,  e  gri- 
tos confusos. 

—  Figuradamente :  A  vozeria  do$  cã*t 
jia  caqa ;  os  cãea  de  montear. 

VOZINA,  s.  /.  Vid.  Buzina,  ou  Bozi- 
na. 

VUBARANA,  ».  /.  Termo  de  historia 
natural.  Feixe  da  America  meridional, 
similhante  á  truta. 


VULG 


VULG 


VULG 


1011 


VULCANEAS,  ou  VULCANIAS,  s.f.  plur. 
Festas  em  honra  de  Vulcano, 

VULCANEO,  A,  adj.  De  Vulcano. 

O  Portuguez  magnânimo  nâo  teme 

Dos  vulcaueos  canhões  o  estrondo,  o  raio, 

O  natural  valor  lhe  forra  o  peito 

Do  triplicado  bronze  impervio  ao  susto. 

J.   A.  DK  HAOBDO,  A  MÀTUBIiZA,  Caut.  2. 

—  Redés  vulcaneas ;  os  laços  em  que 
ge  tomara  os  adúlteros. 

—  Figuradamente :  Tomar  evi  vulca- 
neas redes;  surprehender  em  adultério, 
como  Vulcano  achou  a  Vénus  sua  mulher 
com  Marte,  presos  em  uma  rede  subtil  que 
elle  lhes  armou. 

VULCÂNICO,  A,  adj.  De  volcão,  sahido 
d'elle. 

—  Lavas  vulcânicas ;  matérias  inflam- 
maveis  expellidas  do  vulcão. 

—  Termo  de  geologia.  Que  pertence  á 
incandescência  central  da  terra. 

VULCANIO,  A,  adj.  Vulcânico. 

f  VULCANISMO,  s.  m.  Hypothese  que 
attribuo  ao  fogo  a  formação  da  crusta  do 
globo. 

t  VULCANISTA,  «.  m.  Partidário  do 
vulcanismo. 

■f  VULCANITO,  8.  771.  Substancia  ina- 
tacável pelos  ácidos  e  dissolventes  ordi- 
nários; não  se  pcSde  desfigurar,  apesar  de 
todas  as  intluencias  ás  quaesa  submettem. 
E  composta  de  gutta-percha  e  de  caout- 
chouc  vulcauisado,  aos  quaes  se  ajunta  en- 
xofre e  silica. 

f  VULCANIZAÇÃO,  s.  m.  Combinação 
d'uma  pequena  quantidade  de  enxofre  com 
o  caoutchouc. 

-j-  VULCANIZAR,  v.  a.  Fazer  soffrer  no 
caoutchouc  a  vulcanisação. 

VULCANO,  s.  m.  (Do  latim  Vidcanus). 
Termo  do  polytheismo.  O  deus  do  fogo, 
filho  de  Júpiter  e  de  Juno,  esposo  de  Vé- 
nus, que  tinha  suas  forjas  na  ilha  de  Lem- 
nos. 

—  Termo  de  poesia.  O  fogo. 
VULCÃO,  s.  m.  Vid.  Volcão. 
VULGACHO,  s.  m.  Termo  popular.  Po- 
pulaça, gentalha  da  plebe,  Ínfima  ralé. 

VULGADO,  part.  jjass.  de  Vulgar.  Ter- 
mo pouco  em  uso.  Divulgado. 

1.)  VULGAR,  t;.  o.  Termo  pouco  em 
uso.  Divulgar. 

2.)  VULGAR,  adj.  2  gen.  (Do  latim 
vulgaris).  Que  se  vê  commummente  entre 
os  homens.  —  Opinião  vulgar.  —  Prejuí- 
zos vulgares.  —  Fraquezas  vulgares. 

Presagios  sSo  também  aos  que  se  acabão 
Da  vida  temporal,  o  breue  termo, 
Yidyar  opinião  he  que  estes  morrem 
Porque  tal  sombra  virão,  mas  he  falso. 
Que  a  certeza  e  verdade,  (inda  que  escura) 
Te  contarei  Senhor  com  que  te  espantes. 

COBTE  BEÁL ,  NÀUFUAOIO  DE  SUPOLTEOÁ,  Cant.  16. 

—  Plantas  vulgares;  aquellas  que  se 
encontram  a  cada  passo.  i 


—  Medicamento  vulgar ;  aquelle  que 
se  emprega  frequentemente. 

—  Línguas  vulgares ;  diz-se  das  lin- 
guas  vivas,  em  opposiçao  a  línguas  mor- 
tas. —  As  traduci^ões  da  Biblia  em  lín- 
guas vulgares. 

—  Que  não  se  eleva,  nem  se  distingue 
por  nada. 

—  Que  pertence  ás  classes  sem  distinc- 
ç5o,  ás  pessoas  do  vulgo,  de  baixa  sor- 
te. 

—  Trivial,  baixo.  —  Pensamentos,  sen- 
timentos vulgares. 

—  Sem  distincção,  fallando  das  pes- 
soas. —  Espírito,  poeta  vulgar. 

—  Substantivamente  :  O  commum  dos 
homens. 

—  Diz-se  d'aquelles  que  n'uma  classe 
não  se  distinguem.  —  Õ  vulgar  dos  au- 
ctores. 

—  O  que  existe  sem  distincção.  —  Dar 
no  vulgar. 

—  O  que  divulga  o  que  sabe. 

—  Syn.  :  Vulgar,  ordinário.  Vid.  este 
ultimo  termo. 

VULGARIDADE,  s.  f.  (Do  latim  vulga- 
ritas,  de  vulgaris).  A  qualidade  do  que 
é  vulgar. 

—  Diz-se  do  que  se  acha  facilmente, 
do  que  é  trivial. 

—  Diz-se  do  que  é  baixo,  do  que  não 
é  nobre. 

—  Loc. :  Arriscar-se  com  vulgaridade; 
arriscar-se  muitas  vezes. 

VULGARISAÇÃO,  ou  VULGARIZAÇÃO, 
s.  /.  Acto  de  vulgarisar. 

VULGARIS ADO ,  ou  VULGARIZADO ,  part. 
2)ass.  de  Vulgarisar.  Tornado  vulgar, 
commum,  trivial. 

VULGARISADOR,  ou  VULGARIZADOR, 
A,  s.  m.   Pessoa  que  vulgarisa. 

—  Adj.  - —  Talento  vulgarisador. 
VULGARISAR,  ou  VULGARIZAR,  v.  a. 

Reduzir  ao  estado  de  plebeu,  homem  vul- 
gar. 

—  Tornar  vulgar.  — Vulgarisar  a  scien- 
cia. 

—  Vulgarisar  o  corpo;  devassal-o,  pros- 
tituil-o. 

—  Tornar  commum,  com  abatimento  de 
nobreza,  graduação,  apreço,  respeito.  — 
Vulgarisar  os  foros  de  Jidalgos,  as  insi- 
gnias,  as  honras,  etc. 

—  Publicar  a  todos. 

—  Figuradamente:  Vulgarisar  afama; 
dando-a  a  cousas  vulgares. 

—  Traduzir  em  vulgar. 

—  Romancear. 

—  Vulgarisar-se,  u.  rejl.  Faciiitar-se 
com  gente  inferior. 

—  Tornar-se  vulgar,  commum,  trivial. 
—  «Mas  devendo-se  a  Camões  a  popula- 
ridade de  tam  insigne  feito,  deve-se-lhe 
também  o  vulgarisar-se  um  erro  com- 
mum —  pois  geralmente  se  crê  pelos  que 
não  teem  profundado  a  nossa  historia  (e 
quantos  o  fazem  V)  que  por  sua  vontade 
única  o  infante   quizera  antes  passar  a 


vida  de  senhora  feita  escrava,  por  se  não 
dar  aos  Mouros  a  forte  Ceuta.»  Garrett, 
Camões,  nota  E  ao  cant.  3. 

—  Figuradamente :  Prostituir-se,  fal- 
lando de  uma  mulher. 

VULGARISMO,  s.  m.  Termo  pouco  em 
uso.  Maneira  de  fallar,  pensar,  obrar  do 
vulgo. 

—  Máximas,  documento,  errónea  do 
vulgo,  de  pouco  apurada  educação. 

VULGARMENTE,  adv.  (De  vulgar,  e  o 
suffixo  «mentei)).  Commummente.  —  «Nas 
Paxoens  cantadas,  cantão  três,  que  vul- 
garmente são  Christo,  Texto,  e  Brada- 
do.» Manoel  Nunes  da  Silva,  Arte  mini'-! 
ma,  p.  50.  4fi 

—  Entre  o  vulgo.  ! 

—  A  modo  do  vulgo. 

—  De  um  modo  vulgar,  trivial,  com- 
mum. 

—  Loc:  Fallar  vulgarmente;  fallar 
com  propriedade,  com  palavras  com- 
mummente usadas. 

VULGATA,  s.  f.  (Do  latim  vulgatus). 
Versão  latina  da  Biblia,  que  se  julga  fei- 
ta do  hebreu,  no  fim  do  quarto  século,  e 
no  principio  do  quinto,  e  que  foi  authOf; 
risada  pelo  concilio  de  Trento.  ,/, 

—  Adjectivamente :  A  versão  vulgata 
da  Bíblia. 

f  VULGIVAGO,  A,  adj.  (Do  latim  vul- 
givagus,  de  vulgus,  e  vagari).  Que  se  en- 
trega ao  amor  banal,  que  se  prostitue.  -^■ 
O  casamento  é  o  maior  freio  da  impudiciP 
cia  vulgivaga. 

VULGO,  s.  /.  (Do  latim  vulgus).  O  po- 
vo commum,  a  plebe,  a  populaça,  a  gen- 
te da  classe  Ínfima,  gentalha,  em  opposi- 
ção  aos  nobres,  honrados,  e  homens  bons. 

—  «Albayzar  vendo  tanto  rumor  na  gen- 
te, cousa  não  costumada,  inda  que  natu- 
ral é  ao  vulgo  folgar  com  novidades,  foi 
rompendo  co'o3  olhos  por  antre  a  multi- 
dão e  enxergando  a  Targiana,  esteve  pê- 
ra cahir,  não  porque  de  todo  a  conheces- 
se, mas  porque  os  corações  namorados 
qualquer  cousa  os  move.»  Francisco  de 
Moraes,  Palmeirim  d'Inglaterra,  cap.  80. 

—  «Vinte  mil  crusados  disse  no  titulo  des- 
te capitulo?  Pois  disse  pouco,  quando  sey 
casos  de  quarenta,  e  de  oitenta  mil  cru- 
zados levados  de  codilho  em  occasioens, 
que  a  sabedoria  do  vulgo  ficou  cuidando, 
que  recebia  ElRey  no  lanço  hum  serviço 
hei'oico  de  grandissimo  interesse.»  Arte 
de  furtar,  cap.  10.  —  «Segue-se  a  esta 
o  craneo,  que  he  huma  uniaõ  de  ossos, 
que  á  maneira  de  hum  capacete  cobrem 
o  cérebro,  e  se  chama  commumente  pel- 
los  Latinos  Calva,  ou  Calvaria,  e  o  vul- 
go Caveira.  Ho  de  substancia  dura  mas 
rara,  e  espongioza;  po-i^oada  de  suturas, 
e  poros ;  assim  para  não  gravitar  muyto 
com  o  pezo;  como  para  conther  o  sueco 
pai-a  o  próprio  alimento,  e  para  haver 
modo  de  transpirarem  os  vapores.»  Braz 
Luiz  d'Abreu,  Portugal  medico,  pag.  61, 
§53. 


1012 


VULN 


VULT 


VUIiT 


O  torvo  íoato,  a  Olina  afoRuoiída 
Dn  liu  ln!  rf,fr:ieç:V)  flUHudo  do  ApoUo 
Pela  atciio.ífor.i  ilo  (Joincta  oi  vaioa 
IVyiiUw  ^'■.  i{\iíÀ)tiii):  corn^cíliitií  a'ípnrti> 
Ao  'pl'iLHativo  Aitroiióiiio  «n  oiofttrn 
EtfuitO  liatui-al ;  pfodigip  no  i>idt/o. 

■"ã.  A.  tW  MiUÍBM, 'i  HATCUISi:!,   tMLDt.    1. 


No  «oeulo  f|U(^  (ilida  tu  uivo  visto 
Nua  noH  Oi>os  a  espada  ninfa(;adom, 
Qii'luiM)  |)rP(^ào  do  furor  se  antolUa  ao  viilyn, 
K  ta  vt-i  fiiini'>j»r  do  naufíiiô  hum  rio, 
]'iilar  no  cadafalfio  iiiiiiicuaiii)  visto 
Ji(d'i  tiuti«4  em  «iiiii^uo  áuguHbiB  frontes. 

IBIDKU. 


Sòa  o  ("autor  da  uoito,  cxccIho  cniblenia 
Da.  modCBtiii,  o  do  inwito,  que  ao»  olhoi» 
Do  vidyo  iuorto  fogo,  o  so  rotira. 


—  Separar-se   do   vulgo  ;    oatremar-so, 
distiiipiiir-se,  abalizar-.se,  csniorar-sc. 

—  O   vulgo    dos   homens;   o  commum 
(l'ellea. 

-^ Vulgo    errante;     poro    vagabundo, 
ambulantu. 


Nonhuia  (jiw  uso  de  seu  poder  bastante 
Para  servir  a  sou  desejo  feio, 
E  í|uo  por  comprazer  ao  vidgo  errante 
Se  muda  em  m*is  figuras  que  Protcio  ; 
Nem,  Uamonas,  tíkmbom  cuideis  que  cante 
Quem  com  liabito  houesto  c  grave  veio, 
Por  contentar  ao  Jíei  no  oflicio  novo, 
A  despir,  e  roubar  o  pobre  povo. 
oAM.,  LD9.,  caut.  7,  est.  85. 


—  Vulgo  imperito;  povo  indouto,  igiio- 
rauto,  inepto.  —  « Nem  vai  o  argumento 
de  dofoiíder  sua  honra,  para  na3  sor  tido 
por  covarde,  se  aaõ  saiiir  ao  desaiio ;  por- 
que isso  saõ  leys  do  vulgo  imperito,  quo 
naõ  devem  prevalecer  contra  as  do  direi- 
to :  e  maior  honra  lie  fiear  hum  valen- 
te tido  por  Christaõ  entre  prudentes,  quo 
por  desalmado  deferindo  a  ignorantes.» 
Arte  de  furtar,  cap.  21. 

—  Vulgo  ignorante;  povo  imperito,  es- 
túpido, grosseiro,  inliabil.  —  «Os  Chal- 
deo3  que  se  tinhão  feito  muy  celebres  na 
Astronomia,  predissérão  sem  duvida  al- 
guma 03  Eclipses.  O  vulgo  ignorante  e 
incapaz  de  alcançar  de  quo  fornia  a  con- 
sideração dos  Astros  podia  ensinar  aos 
Philosophos  o  futuro,  que  para  olle  era 
tão  escuro,  concluhio  que  so  a  considera- 
ção dos  Astros  podia  prever  os  Eclipso.s, 
quo  também  não  ora  impossível  que  estos 
superiores  objectos  dessem  a  conhecer  o 
destino  doa  homens.»  Cavalleiro  d'01ivei- 
ra,  Cartas,  liv.  3,  cap.  11. 

—  Figuradamente  :  O  vulgo  dos  pei- 
xes;  os  miúdos. 

—  Stn.:  Vulgo,  povo.  Vid.  esto  ulti- 
mo termo. 

2.)  VULGO,  ot/u.  (Do latim  VM?(7Ú).  Vul- 
garmente, oommummente. 

VDLNERAÇÃO,  s.  f.  i,Do  latim  vuLnera- 


tio,  de^uuÍTierare).  Termo  do  cirargia.  Fe- 
rida. 

—  Lfísão  por  vulneraçào ;  diz-ac  em 
opposição  a  cliaga  por  ulctrui-ão, 

VULNERADO,  purt.  pass.  do  Vulnerar. 
I''ei-id(),  olVcudido. 

VULNERAI,  udj.  2  gen.  Qtte  6  próprio 
para  fl:ri'la^. 

t  VOLNERANTE,  part.  act.  dtí  Vulne- 
rar, (^uo  vulnera. 

—  Que  fere.  —  Instrumento  Tulnerante. 
VULNERAR,  v.  a.    (Do  latim  vUlnera- 

re).  Ferir,  ofiender,  lesar. 

—  Figuradamente:  Offender  muito. — 
Vulnerar  «  consciência. 

—  Vulnerar  a  honra  e  a  própria  fama. 

VULNERARIA,  a.  /.  Planta  legumino- 
sa, de  liôres  ainarolíaf»,  boa  para  as  cha- 
gas e  feriíhis  recentes;  planta  medicinal. 

VULNERÁRIO,  A,  arij.  Que  f>  próprio 
para  a  cura  das  chagas  ou  das  feridas. 
Planta  vulneraria.  — •  Hervas  vulnera- 
rias. 

—  Aguas  vulnerarias ; .  aguas  extralii- 
das  das  plantas  vulnerarias. 

—  S.  m.  Medicamento  bom  para  as 
ohagas  e  feridas.  —  Um  bom  vulnerá- 
rio. 

VULNERATIVO,  A,  adj.  Que  &z  feri- 
das. 

—  Que  fere,  que  offiande. 
VULNERÁVEL,  aJj.   2  gen.  (Uo    latim 

vulnerabilig,  do  vuliíerare).  Que  pó<le  ser 
ferido.  —  Encontrvu-se  o  ludo  vulnerá- 
vel. 

VULNIFICO,  A,  adj.  Termo  de  poesia. 
Quo  fere,  que  corta,  que  faz  feridas. 

VULTAR.  Vid.  Avultar. 

VULTO,  s.  m.  (Do  latim  viiltus).  Ca- 
ra, rosto,  semblante,  physionomia. —  oE 
chegando-30  onde  estava  o  vulto  de  Tar- 
giana  sua  senhora,  com  os  olhos  uella 
começou  louval-a  com  palavras  não  me- 
nos soberbas,  que  namoradas.»  Francis- 
co de  Moraes,  Palmeirim  dlnglaterra, 
cap.  .S3.  -—  «O  da  Ponte  catava  tão  mc- 
nencorio  de  ver  o  vulto  de  sua  senhora 
algum  tanto  desfeito  de  um  encontro, 
que  jd  se  arrependia  de  nào  contender 
das  espadas,  e  dizia  antro  si :  Por  certo, 
ou  o  cavalleiro  é  o  melhor  do  mundo,  ou 
eu  não  sou  pêra  nada,  pois  tendo  em 
minha  ajuda  o  parecer  de  quem  mo  ma- 
ta, não  posrío  vencer  quem  suas  mostras 
otlende.»  Ibidem^  cap.  49.  —  tE,  ven- 
condoo,  trareis  o  escndo  do  vulto  a  esta 
corte,  vindo  primeiro  pola  do  imperador 
Palmeirim,  onde  por  força  d'armas  fareis 
conhecer  a  todos  os  que  o  negarem,  que 
servia  a  mais  fermo.-^a  senhora  do  mun- 
do.» Ibidem,  cap.  71. 

Nogrosi  vidtos  irão  do  Africa  ardente 
Dcsentrauliar  na  America,  siilvagom 
Tlicsouros  ricos  de  metal  hizentc. 
j.  I.  DK  MATTOS,  BiUÀS,  pag.  266. 

Quo  por  Bruto  mo  conffímno, 
pois  tal  tetiç&o  mo  não  abmi^. 


Oh  !  fuíto  portiann  maix  penoi 
d('t)to-we  golpe  couio  aujo, 
c  lavras  cotno  veneno. 

AKTomo  ruesTfet,  AuroB,p&g.'S19. 


—  «Que  ho  o  Empyreo  comparado  com 
a  Immenffidade  divina?  Ho  como  »o  tia8 
fora.  Logí)  que  screy  f!u  na  jfreuffnça  de 
Deos,  e  que  tulto  fiiM  o  m«u  nor  ditentc 
do  sua  grandeza  infinita'/  Sou  nada,  e 
se  pudesse  aer,  menoti  que  nada.  Cooio 
se  atreve  o  nada  a  presumir  de  oi  Uiao' 
te  do  infinito  «erV»  Pa/ In;  Manoel  lier- 
nardee,  Ezercicios  espirituaes,  psg.  ól. 

—  Corpo  de  pau  ou  jr^dra,  etc.,  á  imi- 
tação. 


Mas  quem  piide  livrar-íC  por  ventara 
Dos  lai;os  que  Amor  arma  braudamcntc 
Kntre  a»  rosas,  e  a  neve  hsmana  pnra, 
O  ouro ;  c  o  alabastro  transparente  ? 
Quem  de  uma  peregrina  formosura, 
De  um  vidlo  de  Medusa  propriamente. 
Que  o  coração  converto,  que  tem  preso. 
Em  pedra  iiio,  mas  em  desejo  aoce«*V 
(UM.,  Lvs.,  cant.  3,  est.  146. 


—  Vulto. jri^a?)^ ;  volufiAd  A/^^^atado. 
—  «Errante  pelos  cerros  qua<i  inaoessi- 
veis  que  so  elevam  no  extremo  ONCutal 
da  (iallecia  o  que,  passando  ao  norte  da 
Ciiartliaginense,  vão  entroncar-ee  no  vul- 
to gigante  dos  Pyrenóus,  o  mancebo  nSo 
dobrara  a  cerviz  ao  fado  cruel  que  pesa- 
va sobre  seus  irmSos.»  A.  Hercuiauo, 
Eurico,  cap.  13. 

—  Talhar  uma  imagem  de  TUlto.  —  t  Es- 
tas duas  imagens  saõ  ttJhaiias  de  vulto 
em  pedra  lioz,  e  os  rostos  ambos  tirados 
bem  ao  natural.  De  fronte  deste  editicio 
mandou  el  Rei  fazer  a  torre  de  sam  Vi- 
cente, qúé  se  chama  do  Bethelem,  filnda- 
da  dentro  na  aguoa,  pêra  guarda  deste 
Mosteiro,  o  do  porto  de  Lisboa,  edificio 
que  ainda  que  em  si  nau  seja  grande  em 
cantidade  com  tudo  ha  instructura  delle 
he  magnifica.»  Damião  de  Góes,  Chroni- 
ca  de  D.  Manoel,  part.  1,  cap.  53.  —  «A 
Egreja  deste  mosteiro  tem  duas  portas, 
das  quaes  a  da  travessa,  que  está  contra 
a  prava,  he  a  môr,  e  mais  sumptuosa, 
na  qual  mandou  pcer  em  pê,  na  colum- 
na  do  meo  da  porta,  a  imagem  do  Infan- 
te dom  Henrique  primeiro  autor  destas 
nauegaçCics,  talhada  de  vulto  em  pedra, 
armado  com  cota  dannas,  e  a  eapAda 
nua  na  maõ,  aleuantada  pêra  riba,  do 
qual  modo  se  afigurai^  todoàtoa  Reb,^  e 
príncipes  quo  em  pessoa  se  acharão  em 
feitos  de  guerra,  c  uellea,  íotÍo  ve&oedo- 
res.»  Ibidem. 

—  T'»  um  vulto ;  vi  cousa  que  se  pare- 
cia com  um  homem ;  sombra,  phantasma, 

—  Loc. :  Vtr  as  cousas  a  vulto ;  v«1-«b 
sem  as  examinar,  som  discernimeato. 

—  Fazer  vulto ;  fazer  volume  notá- 
vel. 

—  Figura  de  vulto;  estatua,  jui;   ju: 


VULT 


VULV 


VYUV 


1013 


—  Atirar  a  vulto ;  atirar  sem  saber  a  ! 
que,  a  acertar.  | 

—  Cousa  de  vulto  ;  cousa  grande,  de 
monta,  de  importância,  de  momento. 

—  Loc, :    Avaliar  os   livros  a    vulto  ; 
avalial-os  pelo    volume    que   fazem,    sem  ' 
examinar  o  merecimento  d'elle3. 

—  Occupação  de  vulto  ;  occupaç2o  de  [ 
momento,  de  importância.  .' 

—  Considerar  a  morte  a  TUlto;  consi-  : 
deral-a  sem  olharmos  o  que  ha  de  ser  de  i 
nós,  qual  será  a  nossa  sorte,  a  nossa  vi-  { 
da  futura. 

—  Stn.  :  Vulto,  cara.  Vid.  este  ultimo 
termo. 

VULTOSO,  A,  adj.  Que  avulta,  que  faz 
vulto,  e  tem  muito  corpo. 

•j-  VULTUOSO,  A,  adj.  Termo  de  me- 
dicina. Diz-se  da  face  quando  está  co- 
rada  em  excesso,   e  que  as   faces   e   os 


beiços    incham,    a    côr    pronunciada,    os  I 
olhos  salientes.  j 

VULTDRINO,  A,  adj.  (Do  latim  vultu-] 
rinusi.  Da  natureza  do  abutre. 

VULTURNO,  t.  m.  (Do  latim  viilturnus).  ' 
Vento  que  se  levanta   com   o    sol,   e   até 
80  pGr  segue  a  sua  direcçiio. 

VULVA,  s.  /.  (Do  latim  vulva).  Ter- 
mo de  anatomia.  Parte  externa  do  appa- 
relho  da  geração  na  mulher. 

—  Diz-se  também  para   as   fêmeas    de  ' 
certos  animaes. 

—  Abertura  sem  saída  que  se  encon- 
tra no  cérebro  abaixo  da  commissura  an- 
terior, adiante  do  apoio  das  camadas  ópti- 
cas, precisamente  abaixo  do  pilar  ante- 
rior da  abobada. 

—  Termo  de  zoologia.  Depressão  lon- 
ga e  pouco  larga,  na  parte  dorsal  de 
certas  conchas  bivalveâ. 


-j-  VULVARIO,  A,  adj.  Termo  de  ana- 
tomia. Que  pertence  á  vulva,  —  A  mu- 
cosa vulvaria. 

—  S.  f.  Termo  de  botânica.  A  vulva- 
ria ;  planta  que  é  vulgar  nos  campos, 
que  espalha  um  cheiro  a  peixe,  que  ou- 
tr'ora  era  recommendada  para  as  affec- 
ções  hvstericas. 

—  Ançarinha  fétida. 

-}-  VULVÍTE,  ».  /.  (De  vulva,  e  o  suf- 
fixo  «ite>).  Termo  do  medicina.  Inflam- 
maçlo  da  ruiva. 

—  Vulvite  folliculosa ;  inflammação  das 
glândulas  do  orifício  vulvario. 

VURMO,  «.  m.  O  pus  das  chagas,  ou 
o  sangue  das  feridas. 

—  Ferida  com  vurmo ;  ferida  san- 
guenta. 

VYUVIDADE,  í.  /.  Termo  antiquado. 
Viuvez,  estado  de  viuva. 


;;ioi 


.oítilU  ^tiUUi 


.W/IU/   S>!l   I 


O  ;»  oup  l«ianiM  .\ 


-nifibnoa  BsIIosnoO  .-ruJi^  .\ 


.»  ,ATIfl3TlHW  f 


ahís^oiqnio  ,oni7eO  ob 


)1)    cnhliJod    ,\    .* 

;olnyo?.  VI?  nh  s-tlTir; 

RO    li, 

"1 


1  Hef)  oV| 


XUÍI^lJ.    ii:  -il     í:íi. 

-oí  uiabioq  ,lr.iii  rihnoviv  rnip  o 

.K3ftti)hiqe.u  eaiolioíj  í:;  < . 
ob  oiiisbiJiJS*!   .nt    .•    ,AT8naJ0IW  f 

.nmníialorw 
-ioiiib  ob  omifjT   .m  »^  .MIMAaoW  f 
-01  uo  !>up  Bf.iu  ,íYi!-<:|Ir(^  se  niip  l«lr.«M.  .«o 
-Biiíi-siin  (Oiuqini  loioin  ob  iob  uoo.orfnoo 
-oiuiliiA  (Odraiudu   ,oido3  ,oJl«doo  oiod  ob 
.oiíoxno  !>  ,or)tn!»»T«  ,oia 
-irietod  ab  onnoT  .\  .i  ,AITH3I0W  f 
83i;i;p  ecb  ««.onvoocje  «r.lníslq  ab  srnoVí  .«o 
.oi^ibnr  o  soami)!  sio^qiiri  Ainit 
^otRTtoNí  -oiS)  .nr  .(>v.    .OMAIMHOW  f 
-en«  ob  ormaT   .(sin^j-.Hii-jqoO  eh  ooibsra 
-Bo  Bonaupaq    ;  aonsiímow   «f>«»0    .nimr) 
ii  iK)  oiíjimin  ofi  i>lníiu|i  li-ívciír.Y  itmi 
wibf.'"^!!".)  or.}».D  niijsfiiíno  -íl)  md)    .f.in 
ob  jsbí.diiiJA  «l)  BjniilWíf   fr 
-mui  fiiuiuH  «n  oinnimsh'  ■ 


-nl  eti  oiiji  noRBO*!  ,«♦■■ 
-<nq  obiifj.iíiA  obiliíiq  (>*. 
m\3  —  .«bebisdíl   o   - 


of.iniqo  ,obíJi«'l  .m 


:»  ,0M8! 


-if)lni 


'^iaã:^ 


$.  m.  Letra  chamada  doblt 
vi,  ou  doble  vaii,  introduzi- 
da no  nosso  alphabeto  para 
conservar  a  orthographia  de 
algumas  palavras  das  lin- 
guas  do  norte,  etc.  Nas  palavras  d'ori- 
gem  ingleza  pronuncia-se  como  u  (con- 
soante) ;  nas  palavras  provenientes  do 
allemão  pronuncia-se  como  v. 

f  WACKE,  ou  WAKE,  *.  m.  Termo  de 
mineralogia.  Matéria  opaca  que  occupa 
o  meio  entre  o  basalto  e  a  argila. 

WAGON,  WAGGON,  ou  VAGON,  ».  m. 
Vocábulo  inglez,  que  significa  carro  de 
quatro  rodas,  adoptado  para  designar  as 
carroças  empregadas  no  caminho  de  fer- 
ro, para  transportar  viajantes  ou  fazen- 
das. —  Os  wagons  dos  caminho*  d«  fer- 
ro portuguetes. 

f  WAGONETE,  ».  m.  Pequeno  wagon. 

f  WAHABITA,  ».  m.  Nome  de  uma 
seita  musulroana,  que  teve  origem  na 
Arábia  no  principio  d'este  século,  e  que 
se  comparou  a  uma  espécie  de  protestan- 
tismo musulmano. 

f  WAHABITISMO,  ».  m.  Doutrina  dos 
wahabitas. 

f  WALI,  ».  m.  Titulo  doa  governado- 
res árabes  de  Hespanha,  na  idade  me- 
dia. 

-j-  WALIDA,  «.  /.  Termo  de   botânica. 


Planta  apocynea  de  CeylSo,  empregada 
contra  a  dysenteria. 

f  WALKYRIA,  «.  /.  Nome  genérico, 
na  religiSo  dos  antigos  scandinavios,  das 
três  deusas  mensageiras  do  Odin,  que  se 
suppunham  ir  ao  meio  dos  combates  dis- 
pensar a  victoria,  e  designar  aquelles 
que  deviam  morrer. 

t  WERNERITA,  s.  f.  (De  Werner,  ce- 
lebre naturalista  allemào).  Substancia  ví- 
trea ou  lithoide  resultante  da  combina- 
ção dos  dous  silicatos  de  cal  e  d'alumiua. 

f  WESLEYANO,  «.  m.  Nome  de  uma 
seita  protestante,  que  deveu  sua  origem 
ao  inglez  Wesley,  na  primeira  metade 
do  século  ivili. 

-}•  WHIG,  ».  2  g«n.  Pessoa  que  na  In- 
glaterra pertence  ao  partido  fazendo  pro- 
fissão de  defender  a  liberdade.  —  í/m 
whig.  —  Uma  whig. 

—  Adjectivamente  :  A  opinião  whig. — 
O  partido  whig.  —  O»  ministtrio»  whigs. 

f  WHIGGISMO,  $.  m.  Partido,  opinião 
dos  whigs. 

WHIST,  s.  m.  (Do  inglez  whist,  inter- 
jeição que  significa  silencio,  em  conse- 
quência d'este  jogo  exigir  effectivamente 
silencio  e  attenção).  Espécie  de  jogo  de 
cartas,  que  se  joga  entre  quatro  pessoas, 
das  quaes  as  duas  que  estão  defronte 
uma  da  outra  ião  parceiros. 


f  WHITERITA,  ».  /.  Mineral  que  é  o 
carbonato  de  baryta. 

■j-  WIBIS,  s.f.  plur.  Donzellas  condem- 
nadas,  segundo  uma  legenda  da  Bohemia, 
a  sair,  depois  da  sua  morte,  do  tumulo,  e 
a  dançar  toda  a  noite. 

t  WIGLEFISMO,  ».  /.  Doutrina  de 
Wiclef,  heresiarcha  inglez  do  Xiv  século; 
ensinou  que  a  Egreja  romana  não  é  che- 
fe das  outras  igrejas ;  que  o  clero  nem  oa 
monges  não  podem  possuir  bem  algum 
temporal,  e  que  vivendo  mal,  perdem  to- 
dos os  seus  poderes  espirituaes. 

f  WICLEFISTA,  ».  m.  Partidário  do 
■wiclefismo. 

f  WODANIM,  «.  771.  Termo  de  chimi- 
ca.  Metal  que  se  julgava,  mas  que  se  re- 
conheceu ser  do  nickel  impuro,  mistura- 
do com  cobalto,  cobre,  chumbo,  antimo- 
nio,  arsénico,  e  enxofro. 

f  WOIGHTIA,  s.  f.  Termo  de  botâni- 
ca. Nome  de  plantas  apocyneas  das  quaea 
uma  espécie  fornece  o  Índigo. 

f  WORMIANO,  adj.  m.  (De  Wormio, 
medico  de  Copenhague).  Termo  de  ana- 
tomia. Ossos  wormianos ;  pequenos  os- 
sos mui  variáveis  quanto  ao  numero  ou  á 
forma,  que  de  ordinário  estão  coUocados 
nos  ângulos  das  suturas  da  abobada  do 
craneo,  e  particularmente  na  autura  lam- 
bdoíde. 


.>^^ 


TIRrf!»    «línJ   .n  .» 


'® 


I 


Ar  • 


s.  m.  Letra  chamada  chiz 
íxiz)  que  é  a  vigésima  tercei- 
ra do  alphabeto  e  que  tem 
ditferentes  valores  na  pronun- 
cia. 

;    diz-se  de  dous  objectos  cru- 
zados como  as  pernas  do  x. 

—  X  na  numeração  romana  vale  10 ; 
XI,  11;  XII,  12;  XIII,  13;  XIV,  14; 
XV,  15;  XVI,  16;  XVU,  17;  XVIII,  18; 
IX,  9;  XIX,  19;  XX,- 20;  XXI,  21,  etc. 
Com  um  traço  por  cima  vale  10:000;  dei- 
tado valia  100, 

—  No  computo  ecclesiastico,  X  designa 
o  domingo. 

—  Nas  moedas  de  França,  indica  que 
éllas  foram  cunhadas  em  Amiens,  segun- 
do uns,  em  Aix,  segundo  outros. 

—  A  margem  dos  antigos  manuscriptos, 
X  é  uma  nota  critica  que  indica  uma  ex- 
pressão muito  atrevida  ou  uma  expressão 
desusada.  Serve  também  algumas  vezes 
para  indicar  um  sitio  notável. 

■  — Em  álgebra,  x  ou  u;  emprega-se  or- 
dinariamente para  designar  a  incógnita 
ou  uma  das  incógnitas. 

— Figuradamente:  Diz-se  d'uma  cousa 
qae  sé  buíca,  d'uma  questão  a  resolver. 

— -Uma  de  x;  dez  reis,  moeda  que  tem 
c  seu  valor  marcado  com  um  x.  —  Não 
ter  nem  uma  de  x ;  estar  sem  um  real, 
extremamente  pobre. 

—  Termo  de  giria.  X  P  TQ;  diz-se 
para  designar  a  excellencia  d'uma  cou- 
sa. —  Cousas  de  X  P  T  O.  —  Isto  é  de 
X  P  T  O.  Diz-se  também :  X  P  T  O 
London.  Qual  a  origem  d'esta  phrase  as- 
saz espalhada  e  hoje  pela  primeira  vez 
recolhida?  X  P  T  O  era  uma  abrevia- 
tura de  Christo  nos  antigos  manuscriptos, 
mas  a  forma  X  P  T  O  London  parece 
indicar  antes  que  a  phrase  se  originou 
d'uma  marca  commercial  ou  d'expedição. 
—  «Ao  I  nós  lhe  chamamos  çis,  mas  eu 
llie  chamaria  antes  xi,  porque  assi  o  pro- 
BBnciaanoB    na    escritura:    pronunciasse 

▼OL.  T.  — 128. 


com  as  queixadas  apertadas  no  meyo  da 
boca,  os  dentes  juntos,  a  lingua  ancha 
dentro  na  boca  e  o  espu-ito  ferve  na  hu- 
midade da  língua.»  Fernão  d'01iveira, 
Grammatica  de  liugoagem  portuguesa, 
cap.  13.—  «D  F  P  T  X  Z.  Estas  seis 
leteras,  nam  tem  tantos  trabalhos,  nem 
mudanças  em  servir  seus  officios,  como 
vemos  que  tem  as  outras,  Servem-nos 
commummente  em  todalas  dições,  como 
povo  nos  trabalhos  da  republica :  ao  qual 
as  podemos  comparar :  e  por  isso  as  ata- 
mos em  molho  sem  guardar  a  ordem  que 
tem,  nem  fazermos  delias  muita  men- 
çam.»  João  de  Barros,  Da  Orthographia, 
pag.  195  (2.*  edição).  —  «X  he  letra  do- 
brada, que  consta  de  c  e  s  em  alguns 
vocábulos,  e  em  outros  de  ^  e  «.  Porque 
em  jjax,  assim  pronuncião  os  latinos  o  x, 
como  se  dissessem,  pac,  e  lhe  accrescen- 
tassem,  s.  E  assi  pronuncião  lex  como  se 
dissessem,  hg,  e  depois  lhe  ajuntassem  s. 
O  que  se  ve  pela  formação  dos  casos. 
Porque  de  pax,  dizemos  pacis,  e  de  nu,x, 
Hucisj  e  de  lex,  lexis,  e  de  rex,  regis. 
Mas  isto  he  quanto  aa  pronunciaçào  das 
palavras  Latinas.  Porque  a  pronunciaçào 
que  agora  damos  a  esta  letra,  he  arábica, 
da  maneira  que  os  Mouros  pronunciam 
o  seu  xin.  Polo  que  nas  palavras  hespa- 
nhoes,  não  nos  fica  servido  o  x  dos  La- 
tinos, em  força  e  potestade,  senão  era  fi- 
gura, per  que  denotamos  a  dieta  pronan- 
ciação  Arábica,  como  nestas  palavras: 
paixão,  coxa,  enxada,  coxim,  E  assi  os 
Francezes,  que  tem  a  mesma  pronun- 
ciaçào que  nós,  a  denotão  eh  impropria- 
mente, porque  per  x  se  não  podia  deno- 
tar, e  dizem,  Cheval  e  Ckapitre,  per  Xe- 
val  e  Xapitre.T)  Duarte  Nunes  do  Leão, 
Orthographia  da  lingua  portugueza.  — 
« O  X  tem  no  uso  da  nossa  orthogra- 
phia três  significações.  Elle  serve  de  con- 
soante portugueza  para  figurar  o  som 
mourisco  da  chiante  semivogal  branda  nas 
palavras  de  origem  árabe,  como  xacoco, 


xadrez,  xarel,  xergão,  e  por  imitação  nas 
de  outra  origem,  como  frôxo,  coxo,  bai- 
xo, paixão,  etc.  —  A  segunda  significa- 
ção ou  valor  do  x,  é  o  mesmo  da  duplex 
latina  es,  qual  algumas  pessoas  polidas 
lhe  dão  nas  palavi'as  fluxo,  refluxo,  fixar 
e  sexo,  que  pronunciam  á  latina  flucso, 
refiucso,  ficsar  e  secso.  —  Êlas,  como  esta 
combinação  de  es  não  é  muito  do  génio 
da  nossa  Lingua,  esta  a  costuma  adoçar 
mudando  a  c  em  i  quasi  sempre  que  o  X 
ó  precedido  de  e,  è  o  s  em  z,  de  sorte 
que  lhe  vem  a  dar  o  valor  de  iz,  pronun- 
ciando exactidão,  exórdio,  exec^uias,  como 
se  estivesse  escripto  eiz-actidão,  eiz-ordio, 
eiz-equias,  quando  se  lhe  segue  vogal ;  e 
quando  não,  dá-Ihe  o  valor  de  is,  como 
em  sexto,  explico,  exceder,  que  pronun- 
ciamos como  seisto,  eisplico,  eisceder,  É 
este  o  terceiro  uso  que  fazemos  do  X. 
Ainda  que,  quando  elle  é  final,  se  pro- 
nuncia como  s;  comtudo,  para  conservar 
a  origem  latina,  se  costuma  escrever  com 
o  mesmo  x  nas  palavras  que  não  tem  a 
ultima  aguda,  como  em  Félix,  nome  pró- 
prio, simplex,  duplex,  index,  appendix, 
e  poucos  mais.»  Jeronymo  Soares  Barbo- 
sa, Grammatica  philosophica,  p.  õO-õl 
lõ.''  edição).  —  «A  duvida  maior,  ainda 
entre  os  que  screvem  como  pronuncião,  é 
sobre  as  duas  consoantes  portuguezas  x  e 
eh,  que  parecem  ter  o  mesmo  som  na  no- 
sa  pronunsiasão  usual.  Digo  portuguezas, 
porque  ainda  que  a  primeira  é  latina  e  S 
segunda  grega,  ou  equivalente  a  ela,  nós 
lhes  damos  significasões  mui  diferentes, 
servindo-nos  da  primeira,  não  como  du- 
ples  CS,  mas  como  chiante  semivogal  com 
um  som  mourisco ;  e  da  segunda,  não  co- 
mo aspirada,  mas  como  chiante  muda 
com  o  som  tch  á  italiana,  —  Os  que  me- 
lhor falão  a  Lingua  Portugueza  distin- 
guem na  pronunsiasão  estas  duas  consoan- 
tes, dando  ao  xis  um  chis  semivogal,  que 
se  deixa  perseber  ainda  com  o  órgão  sca- 
samente  fechado,  como  em  xofre,  e  ao  cA 


1018 


XABA 


XAKT 


um  chis  mudo  que  so  nilo  persebo  so  n2o 
no  instante  mesmo  da  dcBintorsoptaarto  da 
voz  que  o  mesmo  orgilo  represava,  como 
em  chove,  O  vulgo  polo  eontrario  confun- 
do ordinariamente  estas  duas  consoantes, 
pronunsiando  ambas  como  x.  —  1'oríím 
como  a  genuina  pronuusiaçilo  do  eh  ain- 
da subsiste  em  i)arte,  c  nSo  ò  justo  que 
Bo  perca  do  uso  da  Língua  o  do  noso  al- 
fabeto, apontarei  as  palavras  que  tem  i 
no  {principio  e  no  meio,  e  couhosidas  elas, 
todas  as  mais  se  screvcrSo  com  eh,  onde 
BC  ouvir  o  mesmo  som  equivoco.  —  As  pa- 
lavras portuguezas  que  principiSo  por  x 
bSo  poucas  e  quasi  todas  de  origem  ára- 
be. Taes  sSo  xaca,  xaque,  xacoco,  xa- 
drõs,  xalmas,  xará,  xarel,  xergão,  xeri- 
fe, xarope,  xira,  xiro,  xarajim,  e  as  de- 
rivadas d'eBta3.  Isto  pelo  que  pertenso  ao 
prinsipio.  —  Para  saber  quando  no  meio 
das  palavras  avemos  do  uzar  de  x  e  não 
de  eh,  servirão  estas  duas  obscrvasões.  A 
1.*  que  ocoorremlo  o  tal  som  depois  de 
alguma  vogal  nasal,  an,  en,  etc.  ordina- 
riamente so  eisprime  com  i,  como  cu.«t- 
ca,  en-vaqueca,  emxacocQ,  enxada,  enxar- 
tia,  enxerir,  imxertar,  enxofre,  en.vova^ 
Ikar,  enxugar,  c  derivados.  —  A  2.*  que 
o  mesmo  susede  ordinariamente  todas  as 
vezes  que  o  som  das  mesmas  consoantes 
vem  immcdlatamonte  depois  de  ditongo, 
como  em  ameixa,  baixo,  caixa,  queixa, 
deixar,  desleixo,  faixa,  feixe,  paixão, 
peixê,  reixa,  seixo,  taixa,  troixa,  e  deri- 
vados. Alóm  dVstas  á  mais  algumas,  co- 
mo bexiga,  bocaxim,  bruxa,  buxa,  buxo, 
Cartaxo,  coxa,  coxia,  coxim,  eôxo,  frou- 
000,  g^rajoa,  lixa,  lixo,  mexer,  2Mxar,  ro- 
xo, roxinol,  vexar,  e  der4vados.  —  Afóra 
estas,  todas  as  mais  palavras  em  que  se 
ouvir  o  som  do  i,  quer  no  principio,  quer 
no  meio  e  no  fim,  se  pronunciarão  com  o 
som  ào  ck,  e  se  screvorão  oaim,  como 
chacota,  chegar,  cheirar,  chiar,  chorar, 
chuítna,  chumbo,  achar,  capric/iar,  des- 
pachar, encher,  fechar,  inchar,  manchai; 
petreoho,  rinchar,  sachar,  trinchar,  e  in- 
finitas outras.»  Ibidem,  p.  67-58. — Os 
preceitos  que  acabamos  do  transcrever 
dos  nossos  grammaticos  não  elucidam  com- 
pletamente a  questão  embrulhada  da  pro- 
nuncia o  ortbograpbia  do  i  e  do  eh.  Os 
nojsoa  grammaticos  ligaram-se  sobretudo 
a  cpnsiderações  empíricas;  mas  a  gxam- 
ipatica  comparativa  devia  ser  ouvida.  Eis 
alguns  piúucipios  que  completam  ou  ra- 
tificam a.3  passagens  que  acabamos  de 
transcrever.  —  Hoje  na  pronuncia  usiuU 
o  som  expresso  pelo  eh  de  chave  não  se 
distingue  do  som  expresâo  pelo  i  de  bu- 
xo; isto  é,  onde  x  n  eh  exprimem  um 
simples  som  chiante  esse  som  ó  o  mesmo, 
seja  qual  fôr  o  lúgnal.  Som  duvida  assim 
não  era,  como  ao  vê  das  passagens  de 
Duarte  Nunes  o  Soares  Barbosa  e  se  sa- 
be d'outros  testcnuinlios  além  d'cstes;  na. 
Beira  h»  ainda  distiue^-ão  entro  os  sons  eh 
de  chat^y  çtc.,  e  o  som  x  de  btixo,  etc. 


—  Na  orthographia  ctymologica  e  con- 
forme .''i  antiga  o  provincial  pronuncia,  o 
X  dovo-HC  oscrcvcr  sempre  que  ollc  ro- 
T-esenta  um  som  ou  sons  naBcidos  do  x 
latino,  e  o  som  chiante  nascido  do  e  lati- 
no. Distingamos  vários  casos: 

1."  Escreve-sc  x  para  exprimir  o  iz  ou 
it  nascido  do  x  latino : 

cxempli),   exame,  eo.-lra, 
exceder,  excesso,  excalleixia. 
2."   Escrevc-so  o   x   para  exprimir   a 
chiante  preceilida  de  vojÇal,  nascidas  am- 
bas de  *  latino: 

eixo,   teixo,  freixo,  viadeixa, 
seixo,  froixo,  lei.car. 
S."  Para    exprimir    a    simples    chiante 
nascida  de  x  latino : 

coxa,  buxo,  Alexandre, 
luxo,  lixívia,  enxúndia. 
4."  Para  exprimir  o  grupo  es  =  x  lati- 
no ou  CS  grego: 

fixo,  nexo,   sexo,  fiuxo,   etc. 
ExcKPçrtF-.s.  Quando  os  sons  nascidos 
de  X  latino  são  finaes  ou  fão    s,  ss  ou  * 
procedido  de  vogal,  nSo  se  escreve  x: 
seis  (sex);  tatisar  ant.  {taxare): 

—  O  X  emprega-se  nas  ])alavra3  ára- 
bes para  representar  a  chiante  idêntica 
ao  eh  de  francez  cheval  e  x  de  port.  bu- 
xo (distincta  de  j)  que  correspondo  aos 
sons  árabes  cMn,  djtm,  sín,  çad.  Taes 
são  os  casos  em  que  o  uso  de  x  é  legiti- 
mado pela  orthographia  e  a  antiga  pro- 
nuncia. 

—  C%  ao  contrario  dovc-so  escrever 
quando  representa  a  chiante  proveniente 
dos  grupos  latinos  cl,  pi,  ti,  fl,  etc.;  do 
o  latino  deante  do  e,  t  {chicharó),  as  pa- 
lavras d'origem  franeoza  que  tom  cA  = 
latim  c,  como  chefe,  etc. 

—  Hoje  que  o  rigor  da  pronuncia  das 
duas  chiantes  x  e  cA  desappareceu  o  que 
ellas  se  confundem,  a  orthugrapliia  nào 
pôde  seguir  um  rigor  demasiado,  e  ha  ca- 
sos até  verdadeiramente  embaraçosos  em 
que  o  capricho  faz  tudo.  Como  escrever 
a  palavra  popular  alterada  do  inglez  shoe- 
maker,  sapateiro :  chumeco,  ou  xumecol 
Qualquer  modo  d'escrevor  é  indifterente, 
pois  fora  da  pixivuicia,  ninguém  lerá  tchn- 
meco. 

1.)  XA,  «.  f».  Termo  da  Pérsia.  Rei, 
soberano.  Vid.  Xiah,  do  Shack,  que  si- 
gnifica príncipe. 

2.)  XÁ,  ou  CHÁ,  s.  m.  Ilerva  da  Chi- 
na, cnja  tintura  so  bebe,  como  remédio, 
o  alimento,  se  o  é,  usado  em  almoços 
com  pão  o  manteiga,  ou  antes  da  ceia. 

—  A  infusão  das  folhas  do  ohá. 

—  No  sentido  de  infusão  diz-se  figura- 
damente do  outras  folhas,  alóm  das  fo- 
lhas do  chá,  oriundo  da  China.  —  Chá 
lie  tilioy  d^  folha  de  laraiij«{rcf,  dt  fiar 
iU  sabugueiro,  etc 

—  Vid.  Chá,  orthographia  prefarivel. 
XABANDAR,    s.    iii.     Termo    da    Ásia. 

Diz-sc  o  que  governa  sobre  o  qae  toca 
da  armadas.     , ..   i.-i...v  oi    ......  ^, 


—  Diz-Bc  também  o  governador  d'uma 
terra. 

XACA,  ou  XACCA,  «.  m.  ídolo  de  me- 
nor adoração  entre  os  japonezea. 

XACARA,  ou  CHÁCARA,  ».  /.  Roman- 
ce, Begnidilha,  qui-  se  canta  á  viola  em 
som  alegre. 

—  Vid.  Chácara,  e  Chácara  Cquinta), 
quo   divergem. 

XACÕCO,  A,  adj.  Diz-HC  d'aquelle  que 
querendo  fallar  alguma  liug-ua  lhe  intro- 
duz barbarismoB. 

—  Latim  xacõco ;   latim  bárbaro. 

—  Substantivamente  :    Uvt  xacõCO. 
XACOMA,  t.  f.  Vid.  Xaquema. 
XADREZ,   *.  ni.  Jogo  de  taboleiro  com 

sessenta  e  quatro  casas ;  jogam-se  diver- 
sas peças  ou  figuras  de  rei,  rainha,  ro- 
que, cavallo,  etc. 

—  Obra  de  pedra,  marceneria,  etc, 
feita  de  quadrados  de  varias  cores  á  si- 
milhança  do  taboleiro  do  jogo  do  xadrez. 

—  Diz-se  também,  de  £Azen<laa.  —  Cal- 
ças de  xadrez. 

—  Plur.  Termo  de  marinha.  Engra- 
damentos  unidos,  feitos  do  madeira,  col- 
locados  nos  cestos  das  gavea.«,  nas  esco- 
tilhas, e  á  prúa,  por  cima  do  t&liaamar, 
onde  servem  como  de  sobrado;  na»  em- 
barcaçSos  miúdas  também  servem  de  pa- 
vimento aos  paneiítffi. 

lAFARIZ,  s.  771.  Tiil.  Chafariz. 

XAGUÃO,  s.  m.  Vid.  Saguão. 

XAGUATE,  ».  tn.   Vid.  Saguato. 

XAIREL,  s.  m.  Vid.  Xarel. 

XAL,  s.  m.  Moeda  turca,  do  valor  de 
duzentos  reis. 

XALE,  ».   Tíi.  Vid.   Cbale. 

XALMAS,  t.  f.  plur.  Gra^les,  que  a« 
ajuntam  ao  leito  do  carro  para  accommo- 
dar  mais  palha,  lenha,  etc.,  no  compri- 
mento, ou  largura  do  leito.  Vid.  Xelmas. 

XALOTA,  s.  f.  Termo  de  boUnic*. 
Planta  medicinal,  que  se  cultiva  naa  hor- 
tas. 

XAMATA,  *.  /.  Termo  da  Ásia.  Géne- 
ro de  vestido  em  f<5rnta  de  capa  asado 
pelos  reis  de  Campar  e  Adem. 

XAMATE,  8.  :n.  Termo  usado  na  lo- 
cução :  Dar  xamate ;  no  jogo  do  xadres, 
reduzir  o  adversário  á  ultima  raia  do  jo- 
go; ganhal-o  prendendo  o  rei. 

XAMBRE,  s.  m.  Vid.  Chambre,  termo 
maÍ3  correcto  e  preforivel. 

XANFRAR,  f.  a.  Vid.  Chanfrar,  ortho- 
graphia preforivel. 

f  XANFRO,  *.  m.  Termo  de  náutica. 
O  corte  nos  topoa,  ou  canto  doa  nadei* 
ros,  quando  não  ficam  em  esquadria. 

XAMTEL.  Vid.  Chantel. 

-j-  XANTHENA,  í.  /.  Termo  de  minera- 
logia. Espécie  de  pedra  preciosa. 

f  XANTHICO,  A,  ar^.  Termo  de  chi- 
mica.  Quo  dia  respeito  á  côr  amarella. 

f  XANTHINA,  s.  /.  Termo  de  chimi- 
ca.  Matéria  oolorante  da  garança. 

—  Xanthina  azofadii ;  oxydo  xanthioo, 
principio  descobecto  em  algumas  pedraa 


XAQU 


XARR 


XEQU 


1019 


nos  rins  do  homem,  e  que  parece  existir 
também  em  grande  quantida'ie  no  guano. 
-[•  XANTHO,  s.  jíí.  Termo  de  zoologia. 
Género  de  crustáceos. 

—  Termo  do  botanicai  Género  de  plan- 
tas que  produzem  um  sueco  branco  ou 
amarello. 

XANTHOGENEO,  ou  XANTHOGENIO, 
s.  m.  (Do  grego  xanthos,  e  gennaô). 
Termo  de  chimica.  Carbonato  de  enxo- 
fre, que  segundo  Zeize  se  torna  um  ra- 
dical composto  dos  carbo-sulphuretos. 

f  XANTHOPHYLLA,  s.  /.  Termo  de 
chimica.  Matéria  colorante  amarella  que 
se  desenvolve  nas  folhas  das  arvores  du- 
rante o  outomno  no  momento  da  sua 
queda. 

f  XANTHOPICRITA,  e.  f.  Termo  de 
chimica.  Substancia  amarella,  de  um  sa- 
bor amargo  e  styptico. 

-{•  XANTHOPROTEICO,  A,  adj.  Termo 
de  chimica.  Acido  xanthoproteico ;  aci- 
do amarello,  um  dos  princípios  não  crys- 
tailisaveis  da  decomposição  das  substan- 
cias orgânicas  azotadas  pela  acção  do 
acido  nitrico. 

f  XANTHORRHEA,  s.  /.  Termo  de  bo- 
tânica. Género  de  plantas  monocotyledo- 
aeas,  próximo  dos  asphodelos,  oriundo  da 
Nova  Hollanda. 

-j-  XANTHORRHIZO,  A,  adj.  Termo  de 
botânica.  Que  tem  as  raizes  amarellas. 

f  XANTHOSE,  s.  /.  Termo  de  chimi- 
ca. Matéria  de  um  amarello  açafroado, 
ou  de  um  amarello  alaranjado,  que  se 
encontra  por  nódoas  singulares  e  pouco 
enérgicas  no  câncer. 

f  XANTHOXYLEAS,  s.  /.  2}l^r.  Ter- 
mo de  botânica.  Tribu  da  familia  das 
rutaceas,  considerada  por  alguns  aucto- 
res  como  uma  familia  á  parte. 

f  XANTHOXYLO,  A,  adj.  Termo  de 
botânica.  Que  tem  o  pau  de  uma  cor 
amarella. 

—  S,  m.  Arbusto  a  qne  se  dá  também 
o  nomo  de  freixo  espinhoso. 

XANTHURETOS,  s.  m.  plur.  Termo  de 
chimica.  Compostos  de  carbureto,  de  en- 
xofre e  de  um  metal.  É  synonymo  de 
cetrbo-siilphuretos,  ou  sulpho-carhonatos. 

XANTIIYDRICO,  adj.  m.  Termo  de  chi- 
mica. Acido  xanthydrico ;  acido  resul- 
ta,Qte  do  carbureto  de  enxofre  combina- 
do com  o  hydrogeneo. 

XANTINA,  «.  /.  Termo  d©  chimica. 
Vid.  Xantbina. 

XAQUE,  s.  m.  Voz  usada  hg  jogo  de 
Síidrez  para  avisar  quando  o  rei  está  fe- 
rido de  alguma  peça  ou  trebelho,  e  evi- 
ta que  se  lhe  dê  o  mate,  ou  o  xamate, 
coro  que  se  pei-de  o  jogo. 

—  Figuradamente:  Grande  damno, 
destruição. 

- —  Figuradamente  r  PaiBcada,  toqae  al- 
kwivo. 

—  De  xaque  em  laque. 
XAQUEADO,   part.   pass.    de  Xaquear. 

Apertado,  aperreado. 


XAQUEAR,  V.  a.  Apertar,  aperrear, 
tratar,  ou  pôr  em  estreiteza  de  trabalho. 

—  Combater,  batalhar. 
XAQUEGA,  s.  f.  Vid.  Enxaqueca,  ety- 

mologia  preferível. 

XAQUEMATE.  Vid,  Xaque,  e  Xamate. 

XAQUEMA,  s.  f.  Tecido  de  cordel  de 
fazer  cilhas  ás  bestas. 

— ■  Em  linguagem  castelhana,  é  o  ca- 
bresto. 

XAQUIMA,  s.  f.  Vid.  Xaquema. 

XARÁ,  s.  f.  Setta,  ou  pau  tostado  de 
fazer  tiro. 

—  Loc. :  Ir  como  uma  xará  ;  ir  mui 
rapidamente. 

—  Termo  de  zoologia.  Animal  reptil 
mui  veloz. 

—  Termo  de  botânica.  Esteva,  planta. 

XARAFIM,  ou  XERAFIM,  *,  m.  Moe- 
da da  índia,  do  valor  de  trezentos  reis 
approximadamente. 

XARÃO,  s.  m.  Vid.  Charão. 

XARAQUE,  s.  m.  Praça  larga,  ampla, 
e  vasta. 

XARDÁ,  s.  f.  Termo  de  zoologia.  Pei- 
xe pequeno,  espécie  de  bordalo. 

—  Espécie  de  cadoz  do  rio. 
XAREL,   ou   CHAREL,  s.   m.    Peça  de 

panno  ou  pelle,  que  cobre  o  cavallo  do 
arção  trazeiro  até  ás  ancas;  sobreanca. 

XAREO,  s.  m.  Termo  de  zoologia.  Pei- 
xe do  Brazil,  que  se  pesca  em  armações 
e  curraes.  Vid.  Chareo. 

XARETAR,  «.  ôi  Bordar  o  navio  de 
xaretas.  ■■'    ■'-  ■ 

XARETAS,  s.  f.  plur.  Termo  de  náu- 
tica. Redes  de  cabo  para  obstarem,  á  en- 
trada do  inimigo  quando  aborda, 

—  Ha  outras  redes  de  grades  para  o 
mesmo  fim. 

XARGÃO,  ou  XERGÃO,  s.  m.  Vid.En* 
xergão. 

XARIFE,  ou  XERIFE,  s.  m.  Titulo  de 
grande  honra  e  dignidade  entre  os  tur- 
cos e  mouros. 

—  Descendente  de  Mahomet. 
XAROCO,  *.  nu  Vento  terreal. 
XAROPADA)  -s.  /.  Beberagem   de  xa- 
rope. 

—  Figuradamente  :  Bebeiagem  de  ri»- 
nho. 

-}•  XAROPADO,  part.  pass,  de  Xaropar. 
XAROPAR,  V.  a.  Dar  xaíope. 

—  Figuradamente :  Embeberar-ae.  Vid, 
Enxaropar, 

XAROPE,  *.  M».  Composição  pharma- 
ceutica  de  diversos  ingredientes  com  cal- 
da de  assucar  ou  mel. 

XAROUGO,  s.  m.  Vid.  Xaroco. 

XARQUE,  s.  m.  Nome  dado  no  sul  do 
Brazil,  mormente  no  Rio  Grande  de  S. 
Pedro,  ás  carnes  feitas  em  mantas,  sal- 
picadas de  sal,  e  curadas  ao  sol,  que 
transportam  para  vender.  D 'este  termo 
se  Originaram  outros,  como  eiixercu/r,  en- 
xercado,   enxerqueirUf  etc. 

XARQDEAR,  V.  a.  Saccar  carne  ao  aol. 

XARROUCO,  s.  m.  Vid.  Eniarroco. 


XARRUA,  s.  /.  Vid,  Charrua,  termo 
preferível  e  mais  correcto, 

XARTRE.  Vid.  Alfaiate. 

XASTRE.  Vid.  Sastre,  e  Zastre. 

XAUTER,  s.  VI.  Piloto  que  guia  os  ca,- 
minhantes  nos  areaes  desertos  da  Arábia. 

XAVANA,  s.  /.  Vid.  Chavana,  ortho- 
graphia  preferível, 

XAVECO,  s.  m.  Vid,  Chaveco,  ortho- 
graphia  melhor. 

XAVEGA,  5.  /.  Vid.  Enxavega,  termo 
mais  correcto. 

XE,  por  Se.  Pronome  antiquado. 

XEIRI,  s.  m.  Goiveiro  amarello. 

XELIM.  Vid.  Schilling. 

XELMAS,  s.  /.  plur.  Vid,  Xalmas.    , 

—  Collocam-se  também  nas  bordas  dos 
barcos  que  can*egam  palha. 

XEMIM,  ou  XEMEM,  *,  m.  Termo  da 
Ásia.  Capitão  no  reino  de  Pegú. 

XEN,  s.  m.  Moeda  da  índia,  do  Valor 
de  trezentos  reis,  conhecida  também  pe- 
lo nome  de  bastião. 

XENDI,  s,  m.  Termo  da  Ásia.  Trança 
solta  nas  costas,  que  trazem  os  jogues 
na  índia. 

f  XENELASIA,  s.  /.  Entre  os  antigos, 
interdicçâo  feita  aos  «strangeiros  de  mo- 
rada de  uma  cidade.  —  Uma  das  mais 
celebres  leis  attribuidas  a  Lycurgo,  um 
uso  pelo  menos  de  que  se  não  pôde  ne- 
gar a  existência,  era  o  da  xenelasia. 

XENOGRÀPHIA,  s.  f.  (Do  grego  xenas, 
e  graphos).  Termo  didáctico.  Conheci- 
mento, estudo   das    linguaa  -estrangeiraa. 

—  A  sciencia  que  trata  dé  conhecei'  as 
línguas  estrangeiras. 

—  Tratado  sobre  esta  sciencia. 
XENOMANIA,   s.  f.  Mania  de  somente 

gostar  do  que  é  estrangeiro,  e  dos  costu- 
mes estrangeiros. 

—  Mania  e  gosto  de  viajai. 

XEQUE,  s.  m.  Chefe  de  cabilda,  ou 
tribu,  príncipe  ou  regulo.  ■^—  «Ao  qual 
Mouro  AiFonso  d'Alboquerque  fez  hon- 
ra, e  mercê,  e  leixou  em  sua  liberdade; 
porque  na  prática  que  teve  com  elle  níos- 
ti-ava  Ber  quem  dizia,  e  delle  soube.  Af- 
fonso  d'Alboquerque  muitas  cousas  da- 
quelle  estreito,  e  príricipalmente  do  Pres- 
to João,  a  que  elles  chamam  Rey  de  Aba- 
sia,  por  a  muita  communicaçSo  que  teve 
com  03  seus  uaturacs  quando  era  Xeque 
na  liba  Maçuá  tilo  vizinha  a  povoação 
Arquico,  que  (como  escrevemos)  he  do 
Preste.  í  Barros,  Década  2,  liv.  8,  cap. 
2.  —  f  Esta  cabeça  do  Xeque  mandou 
Nuno  fernandez  poer  em  hum  pique  so- 
bre huma  das  portas  da  cidade,  pela  qual 
03  Mouros  dauam  muito  dinheiro,  mas 
elle  a  nam  quis  dar  se  nam  no  concerto 
das  pazes  que  de  ahí  a  poucos  dias  feze- 
ram  oa  Árabes  de  Xerquía,  em  que  hum 
dos  pontos  prlncipaes,  foi  que  lhe  auia  de 
dar  a  cabeça  deste  Xeque,  porque  fora 
antrelles  hum  dos  mais  honrrados,  e  mí- 
Ihor  caualloiro.»  Damião  de  Góes,  Cbro- 
nica  de  D.  Manoel,  part.  3,  cap.  34. 


1020 


XIFA 


XERAFIM,  s.  VI.   Vid.  Xaraam. 

f  XERANTHEMO,  «.  m.  Termo  do  botâ- 
nica. (Jenero  da  família  das  compos- 
tas. 

XERASIA,  8.  /.  (Do  prego  xSrasia). 
Termo  do  pathologia.  Doença  qiio  dá  nos 
caholloB,  que  ob  impodo  de  crescer,  o  oh 
torna  nirnilhantes  a  luna  pennugom  co- 
berta de  pó. 

XEREL,   ».  m.  Vid.  Xarel. 

XEREM,  s.  m.  Appcllido  naual  do  pes- 
soa». 

■j-  XEREZ,  s.  m.  Vinho  da  cidade  d'c3- 
to  nomo  na  Hcspanha. 

XERGA,  s.  /.  Tanno  de  saceo,  grossei- 
ro, do  que  outr'ora  se  faziam  vestidos  do 
dó  (!  do  luto. 

XERGÃO,  s.  m.  Vid.  Enxergão. 

— -  Enxerga  mui  grossa. 

XERINGA,  s.  /.  Vid.  Seringa. 

XERINGOSA,  s.  /.  Nome  dado  naa  ter- 
ras da  índia  á  cólica. 

XEROPHAGIA,  s.  /.  (Do  grego  xeros, 
e  phaf/Ci).  Na  primitiva  Egreja,  abstinên- 
cia dos  clu-istãos,  que  durante  o  tempo 
da  quaresma  só  comiam  fructos  seccos 
com  j)Tio. 

—  Termo  do  medicina.  Dieta  secca. 

f  XEROPHAGO,  8.  m.  Homem  que  p3e 
em«ipratiea  a  xcrophagia. 

XEROPHTHALMIA,  s.  /.  (Do  grego  xa- 
ros,  c  phthalmos).  Termo  de  medicina. 
Ophthalmia  secca,  caracterisada  pela  co- 
michão e  vermelhidão  nos  olhos,  sem  in- 
flammação,   nem  lagrimas. 

XEROTRIBIA,  ».  f.  (Do  grego  xeros,  e 
tribo).  Termo  de  pathologia.  Fricção  sec- 
ca foita  com  a  mão,  sobre  alguma  parto 
doente  jiara  ahi  chamar  o  cíilor. 

XERQUE,  adj.  2  f/en.  —  Sella  xerque  ; 
sclla  da  Xerquia,  d'aquolla  moda. 

XERVA.  Vid.  Linho. 

XESCATEMO,  s.  «i.  Termo  de  historia 
natural.  Peixe  vulgar  da  feição  de  fane- 
ca, conliccido  também  pelo  nome  de  sa- 
lema. 

XI.  O  mesmo  que  Xe,  por  Se.  Vid.  Xe. 

XIAH,  s.  m.  Termo  da  Arábia.  Im- 
perador. 

XIBANÇA,  s.  f.  Vid.  Chibança,  termo 
mais  correcto. 

XIBANTEAR,  v.  a.  Vid.  Chibantear, 
orthographia  prefevivel. 

XIBÁO,  ou  XIBAU,  fi.  m.—Pé  de  xi- 
bào;  nomo  do  uma  dança  antiga  portu- 
gueza. 

XIBAR,  V.  a.  Vid.  Chibar,  termo  maia 
correcto. 

XIBÀTA,  s.  f.  Vid.  Chibata,  termo 
mais  correcto. 

XIBATAR,  V.  a.  Vid.  Chibatar,  ortho- 
grapliia  prcforivel. 

XÍCARA,  s.  /.  Vid.  Chicara,  orthogra- 
phia prcforivel. 

XICO,  A,  adj.  Termo  antiquado.  Vid. 
Secco. 

XIFAROTE.  Vid.  Chifarote,  orthogra» 
phia  melhor.  - 


XIRO 

XILINDRON,  «.  711.  Vid.  Chilindrao 
íjofíoi. 

XIMEA.  Vid.  Sumea. 

XIMIO,  ».  m.,  o  XIMIA,  a.  f.  Mono, 
macaco. 

—  Figuradamdtito :  Imitador,  aiTcnic- 
dador. 

XINA,  ».  /.  Vid.  Chiúa,  orthographia 
preferível. 

XINEIRO,  ».  m.  Vid.  Chineiro,  termo 
melhor. 

XIPATOM,  s.  7».  O  primeiro  entro  u.i 
que  governam  as  hosjedarias,  ou  esta- 
lagens da  cidado  de  Pckin. 

f  XIPHIO,  s.  VI.  Termo  de  historia  na- 
tural. Género  do  peixes  acanthoptery- 
gios. 

—  Termo  do  astronomia.  A  Dorcada, 
constcUaeào  austral. 

f  XIPHISTERNAL,  t.  v,.  Termo  de  ana- 
tomia. l*eça  cU)  o.storuo  das  tartarugas. 

f  XIPHÒDYMO,  adj.  Termo  de  torato- 
logia.  Monstros  xiphodymos ;  monstros 
compostos  de  dous  corpus  distinctos  su- 
periormente, dos  quaes  os  thorax  são  con- 
fundidos om  baixo,  mas  separados  em  ci- 
ma, e  que  tem  doua  membros  pelvia- 
nos. 

XIPHOIDE,  s.  f.  (Do  grego  íCipAo»,  e 
eidos).  Termo  do  anatomia.  Cartilagem 
que  liça  no  baixo  do  esterno,  a  espi- 
nhela. 

—  Adj.  m.  Termo  do  anatomia.  Ap- 
pendice  xiphoide ;  appendice  alongado 
cartilaginoso,  que  termina  inferiormente 
o  esterno. 

f  XIPHOIDIANO,  A,  adj.  Termo  de 
anatomia.  Que  diz  respeito  ao  appendice 
xiphoide. 

—  Liijamento  xiphoidiano,  ou  costo-x\- 
phoidiano  ;  ligamento  extenso  da  cartila- 
gem da  sétima  co.-tella  na  face  anterior 
do  appendice  xiphoide,  onde  se  insere, 
entrecruzando-so  com  o  ligamento  do  la- 
do opposto. 

f  XIPHOPAGO,  adj.  Termo  de  tcrato- 
logia.  Monstros  liphopagos ;  monstros  re- 
sultantes da  reunião  de  doua  individues 
desde  a  extremidade  do  esterno  até  ao 
umbigo  commum. 

f  XIPHOPHYLLO,  adj.  Termo  de  bo- 
tânica. Que  tem  folhas  ensiformes. 

XIQUER.  Termo  antiquado.  O  mesmo 
que  Sequer. 

XIRA,  s.  /.  (Do  francez  chcre).  —  IVr 
boa  xira ;  ter  bom  pasto,  e  bom  comer, 
como  em  banquete  esplendido. 

—  Diz-sc  comczanas  com  más  mulhe- 
res, a  que  outros  denominam  pagodes. 

XIRE,  s.  »)i.  Termo  do  botânica.  Plan- 
ta, espécie  de  lirio. 

XIRIA,  s.  f.  Força,  ímpeto. 

XIRINGA,  s.  /.  Vid.  Xeriuga,  e  Serin- 
ga. 

XIRIS,  *.  t/l.  Termo  do  botanioat  Vid. 
íris  fel  ido  (planta). 

.    XÍRÓ,    s.   m.    Teimo .  cojLoniftl..  Caldo 
de  arrozL com  sal.       .      .     ,íj      ■.       ;a 


XYLO 

XIS,  ».  m.  Uma  quantidade  incógnita 
no  problema.  —  Achar  o  raii/r  de  xis. 

XISGARAVIS,  í.  M.  Termo  popular.  E' 
mu  xisgaravis  ;  ó  uma  figurinha  entre- 
metti>la,  esperta, 

XISTE,  «.  7(».  Vid.  Chiste,  orthogra- 
pliia  preferi vel. 

XÓ.  Interjeição,  que  serve  para  man- 
dar parar  as  bijeta». 

XOCHIGAPAL,  «.  VI,  Arvore  da  Ameri- 
ca, cuja  madeira  e  cortiça  tem  um  chei- 
ro agradavol. 

XOCOLATE,  ».  m.  Vid.  Chocolate,  ter- 
mo meliior  e  mais  conecto. 

XOFRANGO,  «.  m.  Termo  de  zoologia. 
Ave  de  rapina. 

—  Outrora  Orita-oeeuê. 
XOFRAR.   \id.   Chofrar. 
XOFRE,  «.  f/i.   Vid.  Chofre. 

XOPRA.  Interjeição  popular  a<Jmirativa. 

XORCA,  ».  /.  Manilha  ou  argola,  que 
alguns  bárbaros  trazem  nos  braços,  e 
pernas,  e  talvez  com  pedraria. 

—  Vid.  Axorcas,  e  Exorca. 
XORRO,   «.   m.  Vid.   Jorro,  pela  simi- 

Ihança  que  tem  a  pronuncia  de  x,  ou  eh 
com  j.    . 

XOUFARIA,  ou  CHOUFARIA,  s.  f.  Ca- 
sa onde  estão  as  forjas,  para  reduzir  o 
ferro  a  barra. 

XUÉ,  adj.  2  gen.  Vid.  Chué. 

—  Ir  vestida  muito  xué ;  com  pouca 
roupa  sobre  o  corpo,  com  roupa  de  baixo 
preço,  ou  que  faz  pouca  roda  naa  saias. 

—  FazeTida  xué ;  de  pouco  corpo  e  sub- 
stancia. 

XUMBERGA,  s.  /.  Vid.   Chomberga. 

XUPAR,  V.  a.  Vid.  Chupar,  termo  mais 
correcto,  e  orthographia  preferível. 

XUPISTA,  «.  2  gen.  Pessoa  entregue 
ao  vieio  de  beber,  e  de  embebedar-se. 

—  Figuradamente:    Vid.  Chnpista. 
XUQUETOR,  s.  «1.  Talvez  erro  por  Exe- 
cutor. 

—  Também  pôde  significar  o  que  anda 
ajuntando,  e  mendigando  pedaços  de  pSo, 
e  d'elJes  se  nutre. 

—  Joquetador,  o  que  brinca,  graceja- 
dor. 

f  XYLENO,  8.  m.  Termo  de  chimica. 
Carbureto  de  hydrogeneo  liquido  ferven- 
te a  13<r. 

-}■  XYLHARMONICO,  *.  m.  Instrumento 
de  musica  inventado  i-ecentemcnte. 

1.)  XYLO.  Palavra  que  eerve  de  prefi- 
xo a  muitos  termos  technieoa. 

2.)  XYLO,  «.  m.  Termo  de  botânica. 
Algodoeiro,  ou  arbusto  que  produz  o  al- 
godão. 

XYLOALOES,  s.  m.  Termo  de  pbarma- 
cia.  Lenho  do  .tloes;  pau  aromático  oriun- 
do da  ludia;  nome  composto  do  grego 
.v!/lon,  pau,  c  de  aloes. 
'  XYLOBALSAMO,  s.  m.  ^Do  grego  xy- 
lon,  e  balsamoti).  Nome  da  arvore  que 
produz  o  balsajnp  da  Judêa,  ou  do  Egy- 
pto.    .    jl    :       ..-  ^    . 

—  l^ome  do  pau  d'^ta  arvore. 


XYLO 


XYLO 


XYST 


1021 


f  XYLOCARPO,  adj.  Que  tem  fructos 
linhosos. 

f  XYLOCOPE,  adj.  Termo  de  historia 
natural.  Que  corta  o  pau. 

f  XYLODIA,  s.  f.  Termo  de  botânica. 
Género  de  fructos  linhosos,  análogos  á 
avell.ã,  mas  sem  cúpula. 

f  XYLOGENO,  s.  m.  Termo  de  ehymi- 
ma.  Substancia  lignificante,  caracterisada 
por  uma  solubilidade  fácil  e  completa  na 
potassa  cáustica,  e  pelo  contrario,  por 
sua  insolubilidade,  ou  mui  difficil  dissolu- 
ção no  acido  sulphurico.  O  xylogeno  en- 
contra-se  na  parede  primaria  das  cellulas 
das  plantas,  e  nas  camadas  de  densidade 
de  todas  as  cellulas  lignificadas. 

XYLOGRAPHIA,  s.  /.  (De  xylon,  egra- 
pAos).  Entre  os  antigos,  escriptura  sobre 
folhas  de  madeira. 

—  Arte  de  imprimir  em  madeira. 

—  Arte  de  imprimir  com  caracteres  de 
pau,  ou  com  pranchas  de  madeira,  nas 
quaes  são  gravadas  as  letras. 

I  XYLOGRAPHICO,  A,  adj.  Que  diz 
respeito  á  sylographia. 

—  Impressão  xylographica  ;  impressão 
com  caracteres  de  pau. 

f  XYLOGRAPHO,  s.  m.  Gravador  em 
madeira. 

—  Homem  que  se  occupa  da  xylogra- 
phia. 


XYLOIDEO,  A,  adj.  (Do  grego  xylon,  e 
eidos).  Que  se  assemelha  á  madeira,  que 
provém  de  um  corpo  linhoso. 

f  XYLOIDICO,  A,  adj.  Termo  de  ar- 
chitectura.  Ti/po  xyloidico ;  typo  sup- 
posto  de  architectura  em  madeira,  pelo 
qual  se  fazia  a  architectura  gothica. 

t  XYLOIDINA,  s.  /.  Termo  de  chimi- 
ma.  Matéria  mui  combustível,  obtida  pela 
decomposição  ao  frio  dos  principies  neu- 
tros vegetaes  pelo  acido  azotico. 

•j-  XYLOLATRA,  s.  m.  Homem  que  ado- 
ra Ídolos  de  madeira. 

—  Adoração  dos  Ídolos  de  madeira. 

XYLGLATRIA,  s.  f.  Idolatria  dos  xjlo- 
latras. 

f  XYLOLITHO,  s.  m.  Pau  petrificado, 
pau  fóssil. 

f  XYLOLOGIA,  s.  /.  (Do  grego  xy- 
lon, e  lagos).  Tratado,  historia  dos  bos- 
ques. 

I  XYLOMANCIA,  s.  /.  Adivinhação  por 
presagios  tirados  da  disposição  de  certos 
bocados  de  pau  secco,  que  se  encontram 
pelos  caminhos. 

t  XYLOMYCO,  A,  adj.  Termo  de  botâ- 
nica. Diz-se  dos  cogumelos  que  crescem 
na  madeira. 

■j-  XYLON,  s.  m.  Termo  de  chimica. 
Cellulosa  do  pau,  e  dos  invólucros  dos 
fructos  duros. 


XYLOPHAGO,  s.  m.  Termo  de  entomo- 
logia. Insecto  coleoptero  que  vive  nas 
madeiras  velhas. 

-~Adj.  Que  roe  o  pau.  Vid.  Lignivo-, 
ros. 

f  XYLOPHAGIA,  s.  f.  Acção  do  inse- 
cto que  roe  o  pau,  que  se  nutre  do  pau. 

t  XYLOPHONE,  s.  m.  Termo  de  musi- 
ca. Instrumento  composto  de  uma  argola 
de  pau  de  pinho  descansando  sobre  almo- 
fadas de  palha,  os  toques  das  quaes  se 
ferem,  e  que  produzem  um  som  mui  sin- 
gular, e  de  uma  qualidade  toda  particu- 
lar. 

XYLOPHORIA,  «.  /.  (Do  grego  xylon, 
e2>herô).  Festividade  dos  hebreus  no  mez 
de  setembro,  no  fim  das  solemnidades  dos 
tabernáculos,  em  que  cada  um  levava  a 
lenha  ao  templo  para  o  fogo  sagrado. 

f  XYLOPHORO,  s.  m.  Cada  um  dos  sa- 
cerdotes judeus  que  accendiam,  e  entre- 
tinham o  fogo  sagrado, 

f  XYLOTOMO,  A,  adj.  Termo  de  zoo- 
logia. Que  corta  o  pau. 

I  1.)  XYSTO,  s.  m.  Termo  de  antigui- 
dade. Entre  os  gregos,  pórtico  coberto 
para  a  palestra. 

—  Entre  os  romanos,  logar  descoberto 
servindo  de  passeio. 

f  2.)  XYSTO,  s.  m.  Termo  de  entomo- 
logia. Género  de  dipteros. 


íir^"^   s.  m.  Vigésima  quarta  letra 
k /^^^   do  alphabeto,  chamada  ipsi- 

^:3  h^^.  Como  abreviatura,  Y,  na 
idade  media,  na  numeração 
valia  150;  com  um  traço  horisontal  por 
cima  150:000. 

—  Em  álgebra,  designa  muitas  vezes 
uma  incógnita,  Quando  ha  duas  incógni- 
tas n'um  problema  a  primeira  designa- 
se  com  X,  e  a  segunda  com  y  ;  havendo 
mais,  a  terceira  com  z. 

—  Na  transcripção  das  palavras  gre- 
gas ou  na  representação  graphica  d'algu- 
mas  palavras  do  fundo  da  lingua,  mas 
d'origem  grega,  o  y  serve  para  represen- 
tar o  V  que  os  gregos  modernos  pronun- 
ciam, como  nós  fazemos,  como  i,  mas 
cnjo  som  era  idêntico  ao  do  u  francez, 
allemão  ii,  isto  é,  era  um  som  interme- 
diário entre  u  e  i.  Na  orthographia  pho- 
netica  deve  evitar-se  o  signal  y,  sempre 
que  este  represente  mero  som  vocálico, 
como  em  phjsica,  phjsiologia,  etc,  que 
se  escreverão,  como  fazem  os  hespanhoes, 
Jisica,  fisiologia,  etc. 

—  Alguns  authores  propõem  o  signal 
y  para  representar  o  i  consoante  ou  pa- 
latal que  temos  nos  diphthongos  ai,  ei,  oi, 
ui,  quando  seguidos  de  vogal,  como  em 
arraia,  raio,  cato,  saio,  meio,  veio,  seio, 
moio,  poio,  cuia,  etc,  som  idêntico  ao 
que  os  inglezes  tem  em  year,  etc,  os 
^emães  em  jakr.  Moraes  era  d'essa  opi- 
liião,  assim  como  Fernão  d'01iveira. 

—  Nos  antigos  manuscriptos,  sobretu- 
do nos  anteriores  á  invenção  da  impren- 
sa, o  emprego  do  y  por  i  corria  parelhas 
com  o  do  r  por  u;  assim  encontramos 
j$to  poT  isto,  etc. 

—  O  y  escreve-se  hoje  em  oertas  pala- 
vras de  origem  não  grega  em  que  elle  se 
acha  nas  ligaçães  ia,  ie,  io,  iu,  iniciaes ; 
n'as8e  caso  o  y  representa  o  t  consonan- 
ttil.  Em  nenhumas  palavras  verdadeira-  [ 
mente  portuguezas  se  encontram  iniciaes  I 


como  ligações,  excepto  em  ia,  iamos,  do 
verbo  ir.  Exemplos  de  palavras  estran- 
geiras usadas  em  portuguez  são:  jacht, 
yankee,  jard,  Yedo  (nome  próprio  de  lu- 
gar: cidade  do  Japão),  Yoga,  Yuju  (em- 
barcação chineza),  jucca  (planta,  pala- 
vra caraiba).  De  todas  essas  palavras  de 
origem  estrangeira,  e  usadas  geralmente 
só  na  linguagem  scientifica  ou  pelas  pes- 
soas instruídas,  a  única  que  penetrou  mais 
no  fundo  da  linguagem  foi  yacht  que  es- 
crevemos hiate,  para  indicar  com  o  h  que 
o  i  tem  um  som  especial  aqui.  Note-se 
que  todas  as  mais  palavras  que  se  e; 
crevem  com  hia,  hie,  hio,  inicial,  são 
termos  scientificos  ou  didácticos ;  pôde 
aíBrmar-se,  que  além  do  imperfeito  de 
ir  nenhuma  palavra  portugueza  popular 
conhece  o  i  consoante  inicial,  á  excepção 
do  termo  adoptado  do  inglez  hiate.  A 
aversão  que  o  portuguez  possue  por  um 
similhante  som  inicial  manifesta-se  na 
transformação  que  faz  d'elle  em  j  n'al- 
gnmas  palavras,  mesmo  d'introducção  sa- 
bia; taes  são:  jerarckia  ao  lado  de  hie- 
rarchin,  jerogJifo  ao  lado  de  hieroglypho. 
Comp.  ainda  Jeronymo  de  Hieronymus 
e  a  palavra  d'introducção  relativamente 
moderna  jarda  do  inglez  yard.  Notem- 
se  ainda  as  formas  jambo  por  iamho,  e 
certas  transcripções  de  palavras  orien- 
taes,  como  jogos  por  yogos^  jogui  por 
yogui,  e  reconhecer-se-ha  que  o  i  nas  li- 
gações alludidas  é  para  nós  um  verdadei- 
ro i  consoante,  como  tal  pouco  conforme 
ao  génio  da  nossa  lingna  e  portanto  assi- 
bilado  do  mesmo  modo  que  o  j  latino, 
que  era  um  i  consonantal,  dietiucto  do 
som  qne  lhe  damos. 

—  O  testemunho  do  nosso  grammatico 
Fernão  d'01iveira  confirma  a  pronuncia 
consonantal  do  i  medial  nas  ligações  men- 
cionadas aia,  eio,  etc.  —  «Esta  letra  y 
que  chamamos  grego  tem  a  figura  v  con- 
soante se  não  que  estende  hua  perna  pa- 
ra  bayxo    ficando-lhe  a  bocca   para  ci- 


ma toda  via :  da  qual  alghuns  poderão 
dizer  que  não  he  nossa :  mas  eu  lhe  da- 
rey  offiçio  na  escriptura  das  nossas  di- 
ções  próprias :  e  he  este  que  as  mais  das 
vezes  quando  vem  huma  vogal  logo  trás 
outra  nos  pronunciamos  antrellas  huma 
letra  como  em  moyo,  seyo,  meyo,  joyo, 
e  outras  muitas  a  qual  letra  a  mi  me 
parece,  ser  y  e  não  i  vogal,  porque  el- 
la  não  faz  syllaba  por  si;  nem  tão  pou- 
co j  consoante  na  força  que  lhe  damos, 
mas  em  outra  quasi  semelhante  aquella 
muito  enxuta  sem  nenhuma  mestura  de 
cospinho  e  nestes  taes  lugares  poderia 
servir  esta  figura  y  e  se  nSo  he  ociosa.» 
Fernão  d'01iveira,  Grammatica  de  lin- 
goagem  portuguesa,  cap.  xn\  —  «Y  gre- 
go tem  dous  ofícios :  serve  no  meo  das  di- 
ções,  às  vezes,  como  mayor,  veyo.  E  ser- 
ve no  fim,  das  dições  sempre :  como,  áy, 
páy,  tomáy,  etc.»  João  de  Barros,  Da  Or- 
thographia. —  « Y  he  letra  vogal  dos  Gre- 
gos, que  os  Latinos  receberão  em  seu  al- 
phabeto, para  com  ella  screverem  os  no- 
mes Gregos,  que  naturalmente  teem  co- 
mo nós  também  devemos  fazer.  Mas  assi 
os  Hespanhoes,  como  os  Francezes  usão 
delia  mal :  porque  indistinctamente  se 
aproveitão  delia,  em  lugar  de  í  vogal,  em 
vocábulos  originalmente  Latinos,  ou  pró- 
prios da  lingua  Hespanhol,  e  Franceza, 
que  nSo  podem  teer  aquella  letra,  que  hç 
propriamente  Grega.  A  qual  teve  muita 
diferença  de  i  na  pronunciação,  posto  que 
ao  presente  a  não  sintamos,  como  he  em 
muitas  outras  letras,  a  que  não  damos 
seu  próprio  som,  por  se  perder  com  o  dis- 
curso do  tempo.  De  que  he  grande  argu- 
mento, que  os  Latinos  antigos,  quando 
screviSo  com  ^uas  letras  as  diçSes,  em 
que  entrava  y  em  logar  delle,  punhão,  e 
pronunciavão  u,  como  neste  nome,  Syl- 
la,  por  o  qiial  dizião,  Sulla,  etc.  como  se 
usa  na  trasladação  de  muitos  vocábulos 
da  lingua  Grega  na  Latina.  Porque  por 
mylos,    dixerâo   muios,    e    por    ihynnos, 


1024 


YDOL 


YR 


íhunnos,  c  por  myg,  mus,  ctc,  por  sam- 
byca,  sambuca.  Porque  niato  scguiào  aoa 
ctoolico3,  que  pronuiiciavjlo  o  y  como  u. 
E  aasi  verão,  que  cm  muit<js  nomes  ílre- 
gos,  mudarilo  ca  Latinos  o  y  om  o,  como 
do  nyx,  nox,  de  stijra.i:,  stora.c,  de  -myle, 
mola.  O  que  quis  lembrar,  para  que  sai- 
bílo,  quanta  differença  tinha  o  y  do  i  na 
pronunciai;ri(),  que  não  so  podia  exprimir 
por  outra  Ititra  mais  propriamente,  que 
per  u  ou  o  com  que  tinlia  mais  semelhan- 
ça. Peloquo  está  claro,  que  na  pronuiicia- 
çiío  tinha  manifesta  differença  do  t  ainda 
que  agora  a  nilo  alcancemos.  Porque  so  não 
tivera  soido,  não  o  accroscentarãu  os  Gre- 
gos ao  seu  alphabeto,  como  letra  differen- 
te  do  »  o  das  outras  vogaca.  Que  acerca 
delles,  assi  como  distão  as  letras  na  figu- 
ra, assi  distão  na  pronunciarão.  —  Do 
que  fica  convencido  o  abuso,  dos  que  fa- 
zem esta  letra  consoante,  como  o  j.  Por- 
que sendo  de  sua  natureza  sempre  vogal, 
screvem  Yeruuímo,  e  Yuão,  como  Se  vêo 
oní  moedas  do  alguns  Ruis  do  Ilespanha, 
onde  pelo  Y  denotavão,  Yoanne,  per  a 
maa  orthographia  de  seus  ministros,  que 
derão  traça  para  ellas.  O  que  os  Reis  não 
devião  commetter,  senão  a  homens  esqui- 
sitamente doitos,  e  mui  avisados.  Porque 
como  as  moedas  correm  muitas  terras,  o 
muitas  uiãos,  fica  mui  exemplado  o  acer- 
to, ou  desconcerto  delias.  Assi  que  hemos 
de  seguir  nisto  os  Latinos,  e  soomente 
screver  Y-  com  as  dições  Gregas,  de  que 
usamos  no  ITespankol,  em  que  vem  a  di- 
eta letra,  o  não  originalmente  Latinas, 
ou  HespauboeSj  como:  HUronymos,  Hip- 
jJoUto,  hydropico,  crystal,  mjjrrha,  mijs- 
terio,  e  outros  infinitos,  que  os  versados 
na  lingoa  Grega  sa,bcrão.  Dos  quaes  poe- 
rel  03  que  podem  vir  sob  certa  regra  :  co- 
mo são  todos  03  compostos  d'esta  preposi- 
ção, syn,  que  quer  dizer  cííw,  e  acerca  de 
nós,  com,  como :  syllaha,  syllogismo,  sy- 
nagoga,  syncopa,  syndico,  syiiodo. — Item 
03  nomes  derivados  de  chryson,  que  quer 
dizer  ouro,  como  Chryseis,  Chrysippo, 
Chrysogono,  Chrysostomo.  —  Item  03  de- 
rivados do  lycus,  que  quer  dizer  lobo,  co- 
mo:  Lycaon,  Lycaonis,  Lyconieães.  —  Item 
03  derivados  de  poly,  que  quer  dizer  mui- 
to, como:  polypos,  F-olycratcs,  Polydoro. 
—  Item  os  derivados  do  hydor,  quo  quer 
dizer  agua,  como:  hydria,  hydra,  hydro- 
inco,  hydropesia.  —  Item  03  derivados  de 
physis,  quo  quer  dizer  uatui-oza,  como: 
pkysico,  metaphysico,  o  physionomia,  per 
o  qual  03  idiotas  dizem  phylosomia.  — 
Item  03  compostos  da  preposiç-ão  hypcr, 
qv\e  qiicr  dizer,  super,  ou  ultra,  como : 
hyperbole,  hyperhaton,  hyperboreus.  —  Item 
03  compostos  de  hypo,  que  quer  dizer  sob, 
como:  hyporrita,  hypotheca.  —  No  que  so 
deve  advertir,  que  todaa  as  vezos,  quo  se 
a  dição  so  começar  cm  y  sempre  vai  sem 
aspiração,  como  uos  exemplos  acima  di- 
ctoi.  — -  Item  ha  alguns  nomeâ  Latinos,  a 
quç.dão  origem  Grega,  que  so  escrevem 


com  y,  como  sylva,  de  hyle  e  considerar 
de  sydus.  O  que  om  considerar  n2o  admit- 
tiria  porque  sidus  ho  nome  Latiuo  (como 
diz  Macrobio  sobre  o  sonho  de  ScipiDlo),  e 
diz-sc  de  sido,  quo  quer  dizer  estar  fixo, 
que  he  mais  vorisimcl  otymologia,  quo  a 
que  lho  dão  do  syn,  o  de  eidein,  palavras 
Gregas,  que  qierem  dizer  juntamente 
veer.  —  Polo  que  fique  por  regra,  que  to- 
da a  dição  screvamos  por  *  Latino,  tiran- 
do os  vocábulos  Gregos,  em  que  entra  y, 
porque  da  mesma  maneira  os  screverc- 
mos.»  Duarte  Nunes  do  Leão,  Orthogra- 
phia  da  Lingoa  portugueza. —  tUsamos 
do  ypsilon,  SI)  nas  jialavra»  de  origem  gre- 
ga que  são  menos  trilhadas  do  povo,  co- 
mo hype.rbole,  lyra.  N^s  que  porém  tem 
passado  ao  uso  vulgar,  o  mesmo  uso  dis- 
farça já  o  8crvirmo-n03  do.  i  pelo  y,  e  es- 
crever por  exemplo :  giro,  pigmeu,  Ja- 
cintho,  labirintho,  abismo,  crisol,  pirâ- 
mide, rima,  mártir,  sindicar,  Jerónimo, 
Ilippolito,  etc.  E'  porém  abuso  empregar 
o  y  em  palavras  quo  o  não  tem  na  sua 
origem,  como  ley,  rey,  meyo,  comboy.t 
Soares  Barbosa,  Grammatica  philosophi- 
ca  da  língua  portugueza,  pag.  49  (ij.*  edi- 
ção). 

YALMA,  *■.  /.  Termo  popular,  por 
Alma. 

YALOTECHNIA,  s.  f.  (Do  grego  hyalos, 
e  technc).  Arte  de  trabalkar  o  vidro. 

YANDON,  s.  m.  Género  de  abestniz 
maior  que  homem,  que  ha  na  ilha  de  S. 
Lourenço. 

YAPÚ,  s.  m.  Termo  de  historia  natu- 
ral. Pássaro  do  Brazil  semelhante  á  pega. 

YCHÃO.  Vid.  Uchão. 

YCHECO,  s.  m.  Termo  antiquado.  En- 
xeco. 

f  YDA,  s.  /.  Vid.  Ida,  termo  mais  cor- 
recto. —  «Os  Capitães  ambos  puseraõ  es- 
ta yda  em  conselho  cos  mais  que  para  is- 
so forão  chamados,  o  se  assentou  por  pa- 
recer de  todos  que  quatro  soldados  o  fos- 
sem ver  em  companhia  do  Vasco  Mar- 
tins, e  lhe  levassem  a  carta  que  António 
da  Sylveira  lhe  mandava,  o  que  assi  se 
fez.»  Fernão  Mendes  Pinto,  Peregrina- 
ções, cap.  4. — «Surgindo  António  de 
Faria  nestas  ilhas  huma  quarta  feira  pela 
menham,  Mem  Taborda  e  António  Auri- 
quez  lhe  pedirão  licença  para  irem  dian- 
te dar  recado  á  povoação  de  como  elle 
era  chegado,  e  saber  as  novas  que  avia 
na  terra,  c  se  se  dezia  ou  soava  por  lá 
alguma  cousa  do  que  ellc  fizera  em  Nou- 
day,  porque  se  a  sua  yda  lá  prejudicasse 
cm  alguma  cousa  á  Begurança  c  quieta- 
ção dos  Portugueses,  se  iria  invernar  á 
ilha  do  PuUo  Ilinhor  como  levava  deter- 
minado.» Fernão  Mendes  Pinto,  Peregri- 
nações, cap.  G7. 

j  YDOLO,  «.  )>i.  Vid.  ídolo,  orthogra- 
phia  preferivel. 


E  rao<;.as  vam  prometter 
a  ydolot  virgiudado, 


e  BO  vam  ofFereccr, 

e  por  bí  mertinag  corromper 

em  sinal  de  castidade. 

OABCIA   DS   BEZEBDB,  MIBCZLLiaEA . 

YEMAL.  Vid.  Hiemal. 

YETIM,  8.  m.  Termo  de  historia  na- 
tural. Mosquito  do  Brazil,  que  pica  com 
o  ferrão  tão  subtil,  que  passa  as  vestidu- 
ras leves  como  se  fora  agulha. 

YLM0FARI2,  *.  r/i.  Vid.  Almofariz,  ter- 
mo mais  correcto. 

YOSCIANO.  Vid.  Meimendro. 

YPSILOIDE,  s.  e  adj.  /.  Termo  de  ana- 
tomia. Diz-se  de   uma  sutura  do  cranco. 

YPSILON,  s.  m.  O  Y  grego;  a  vigé- 
sima quinta  letra  do  alphabeto  portu- 
guez. 

-J-  YR,  V.  n.  Vid.  Ir,  orthographia  pre- 
ferível.—  »E  depois  de  muytaa  praticas 
que  sobre  este  caso  passarão,  os  ditos 
procuradores  saãmente,  o  sem  cautella 
o  aconselharam  que  pvara  ellc  acidar  que- 
bras c  achaques,  que  no  pouo  se^deziam 
auer  antre  el  Roy,  e  eUe,  e  também  por 
que  assi  era  rezam,  elle  se  dcuia  yr  pêra 
o  Príncipe,  e  scruillo,  o  festcjallo  cm  suas 
terras, -e  yr  com  elle  ate  a  corte.»  Gar- 
cia de  Rezende,  Chrouica  de  D.  João  II, 
cap.  41. 

E  pellas  mas  andauam 
grandes  barcas,  que  aaluaaã 
a  gente  também  com  cilas: 
podaram  yr  caraucllaa, 
pois  tam  alto  neuegauam. 

oiBCLi  DE  reze;«db,  suscellanka. 

—  a  Se  a  fraca  e  molheril  natureza  me 
dera  licença  para  daquy  onde  lico  yr  ver 
a  tua  face,  sem  com  isso  pôr  nódoa  no 
meu  honesto  viver,  crê  que  assi  voaria 
meu  corpo  a  yr  beijar  esses  teus  vagaro- 
sos peÍ3,  como  o  e3Íaiauido  açor  no  pri- 
meiro Ímpeto  de  sua  soltura.»  Fernão 
Mendes  Pinto,  Peregrinações,  cap.  47. — 
«O  perro  do  cacíz,  que  ficiiva  por  Capi- 
tão na  tranqueira,  tingindo  querello  yr 
ajudar  a  continuar  aquelle  bõ  principio, 
sahio  fora  cõ  obra  de  quinhentos  homens 
que  tinha  comsigo,  o  que  vendo  hum  Ca- 
pitão dos  inimigos  Mouro  Malavar,  por 
nome  Cutiale  Marcaa.»  Ibidem,  cap.  27, 
—  «De  maneira  que  ate  os  fins  do  reyno 
se  pode  navegax  e  yr  em  embarcações. 
Qualquer  capitam  ao  longo  do  mar  pode 
cm  muito  pouco  espaço  .ijuutar  duzentos, 
ate  mil  navios  so  lhe  forem  neceatarios 
porá  pelejar.  E  nam  ha  lugariubo  ao  lon- 
go do  rio  que  nam  este  qualbado  de  em- 
barcações grandes  o  pequenas.»  Frei 
Gaspar  da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da 
China-,  cap.  i^. —  «E  porque  todos  nas- 
cem incertos  de  sua  salvaçam  nam  saben- 
do se  ham  do  escapar  das  tenções,  e  pe- 
rigos d'este  mundo,  e  onde  ham  de  yr 
parar :  por  tar.to  com  muyta  razatt  se 
prautea  o  oõcebimento,  e  nascimento  da 


YRA 


YSTO 


YXEC 


1025 


Virgem  sagrada,  nam  o  cõcebimento  e 
nascirneuto  de  todos  os  peccadoros. »  Frei 
Bartbolomeu  dos  Maityres,  Catecismo  da 
doutrina  christã. 

YRA,  í.  /.  Vid.  Ira,  oithographia  pre- 
ferível.—  xE  vendo  muitos  Fariseus  vir 
a  ouuir  sua  pregaçam,  e  receber  seu  ba- 
ptismo: dizia-lhes,  Filhos  de  biboras  pe- 
çonhentos como  vossos  pays,  quem  vos 
aconselhou  que  viésseis  buscar  remédio 
pêra  escapar  da  yra  que  cedo  ha  de  vir 
sobre  os  incrédulos,  e  endurecidos?  Ora 
nisto  se  vera  se  vos  conuerteis  de  coraçam, 
se  fizerdes  obras  dignas  de  gente  que  pro- 
fessou penitencia,  e  emenda  de  vida.»  Fr. 
Bartholonieu  dos  Martyre?,  Catecismo  da 
doutrina  christã.  — ■  «  Andauam  os  homens 
todos  de  guerra  contra  DEOS,  obstina- 
dos em  continuas  desobediências  e  rebe- 
liões, multiplicando  cada  dia  ofFensas  e 
abominações,  enthesourando  e  acrescen- 
tando de  cada  vez  mais  no  thesouro  da 
yra  de  Deos  contra  si.  Que  misericórdia 
se  podia  em  tal  tempo  esperar  do  Ceo? 
Auia  Dauid  lamentado  e  dito.»  Ibidem. 
—  «E  porque  os  caminhos  que  vem  an- 
dar, e  as  moradas  em  que  ha  de  pousar 
sam  os  corações  dos  homens,  por  isso  nam 
aja  coraçam  alto  por  soberba,  e  presum- 
pçam,  nem  bayxo  por  desconfiança  e  pu- 
silanimidade,  nem  escabroso,  e  áspero  por 
yra,    por  braueza,    por   descharidade,    e 


deshumanidade,  mas  em  todos  resplande- 
ça charidade,  e  humildade.»  Ibidem. 

YRIAN.  Termo  antiquado.  Esquadrão, 
exercito. 

7  YROSO,  A,-  adj.  Vid.  Iroso,  ortho- 
graphia  prefcrivel.  — ■  «Tragam  este  man- 
(iamento  diante  dos  olhos  os  brigosos,  e 
yrosos  de  condiçam,  que  por  qualquer 
occasiam  armão  arroydos,  ferindo,  e  ma- 
tando. E  nniytas  vezes  acontece  que  nam 
somente  corporalmente,  mas  também  eter- 
nalmente  matam.  Porque  acontece  estar 
em  peucado  mortal  a  pessoa  a  quem  ma- 
tam.» Frei  Bartholumeu  dos  Martyres, 
Catecismo  da  doutrina  christã. 

•j-  YSTO.  Vid.  Isto,  ortographia  prefe- 
rível. 

Mas  ysto  vai  d'aqucll!i  arte 
quando  se  entro  montes  brada, 
ho  toora  he  cm  hunia  parto 
c  em  outra  ho  a  pancada. 

CHRISTOVÂO  FALclo,  OBRAS,  pag.    24. 

Cuidado  sem  esperança 
he  o  qne  eu  por  voa  cuidei, 
seguindo  por  firme  lei 
cm  maÍ3  mal  menos  mudança, 
ysto  cuido  o  cuidarei. 
A  males  que  nào  tem  cura 
esporal-o  da  ventura 
vam  esperança  seria, 
que  esperando  creçcria 
cuidado,  desa ventara. 
IBIDEM,  pag.  31. 


YTTERBITE,  ou  YTTERBY,  s.  m.  Ter- 
mo de  mineralogia.  Mineral  achado  na 
Suécia,  em  Ytterby,  d'onde  deriva  o  no- 
me; contém  a  terra  denominada  yttria, 
silicia,  ferro,  oxvdo  de  mangav.esio,   etc 

YTTRIA,  ou  GADOLINITE,  s.  /.  T«rra 
descoljerta  por  <  Uiduiin,  no  metal  ytter- 
bite.  Vid.  Ytterbite. 

— •  Oxydo  de  yttrio. 

f  YTTRICO,  A,  adj.  Termo  de  chimP 
ma.  Diz-se  de  oxydo  de  yttrio,  e  dos  saes 
produzidos  por  este  oxydo. 

YTTRIO,  s.  m.  Termo  de  chimica. 
Metal  que  tem  por  oxydo  a  yttria. 

YTTRO.  Contracção \le  Yttrio,  para  os 
termos  compostos, 

—  Yttro-ce)-ííe,  ou  yttrio-ce?-i7e;  mine- 
ral em  que  se  acha  misturado  o  cerio  com 
o  yttrio. 

—  YtlTO-fantalite:  outro  metal  ue  yt- 
trio com  o  tântalo. 

—  YttTO-coIomòUe;  outro  metal  do  yt- 
trio com  o  colômbio. 

YUCA,  s.  /.  Termo  de  botânica.  Gé- 
nero da  familia  das  labiaceas ;  compôe- 
sa  de  plantas  vivazes  de  haste  elevada, 
mais  ou  menos  herbáceas,  algumas  vezes 
subterrâneas,  de  flores  em  panieulas  ter- 
minaes. 

—  Batata  da  America. 

YXECO,  s.  m.  Termo  antiquado.  Vid. 
Enxeco.  =Em  Viterbo,  Elucidário. 


voL.  V.  — 129. 


^  í.  jíi.  Vigésima  quinta  letra 

fp^  ^^  do  alphabeto,  chamada  ze. 

—  Nas  letras  numeraes  Z 
vN  f  Ay^^^  vale  2:000  e  cora  um  traço 
^5s^^  por  cima  2.000:000. 

—  Em  numismática,  Z  nas  moedas  fran- 
cezas  indica  que  foram  cunhadas  em  Gre- 
noble. 

—  Nos  mauuscriptos  gregos,  o  Z  põe- 
se  diante  das  palavras  suspeitas. 

—  Ornato  ou  outro  objecto  em  fórrãa 
de  z. 

—  A  letra  z  serve  em  portuguez  para 
representar  um  som  que  no  alphabeto 
physiologico  é  classificado  como  sibilante 
ou  continua  dental  branda,  isto  é,  como 
a  branda  ou  sonante  de  s.  Em  latim  o  z 
servia  para  transcrever  o  zeta  grego  e  ti- 
nha o  som  de  dz  (som  composto);  esse 
som  composto  degenerou  no  simples  que 
representamos  por  z;  mas  não  é  essa  a 
única  origem  d'esse  som  em  a  nossa  lin- 
guagem. Vejamos,  com  relação  ao  latim, 
as  fontes  principaes  do  z  portuguez: 

—  1."  Z  provém  de  lat.  z,  represen- 
tando o  zeta  grego.  Inicial:  zelo,  zelador, 
zephyro,  zewgnia,  zizyi>ho,  zodíaco,  zoilo, 
zona,  zea,  zoina,  zingiberaceas,  zizania 
(ou  sizania),  zoologia,  etc. ;  medial  em 
azymo,  etc. 

—  2.°  Z  provém  de  c  latino:  dizer  [di- 
cere),  fazer  (facere),  nuzer  ant.  (nocere), 
jazer  {jacere),    vizinho  (vicinus),   donzel- 

la    (dominicellà) ,     azeo    (acinus),    prazer 
(placere),  prezes  ant.  por  preces,  etc. 

—  3."  Z  provém  muitas  vezes  de  ti  (se- 
guido de  vogal  latina),  por  exemplo  em 
razão  de  ratioaem,  prezar  de  pretiare,  e 
sobre  tudo  nos  suffixos  eza,  iza,  de  -itia. 

—  4.°  Z  provém  de  s  latino  entre  vo- 
gaes ;  sempre  que  esse  som  latino  se  achar 
isolado  (não  dobrado  ou  geminado),  é  re- 
gularmente representado  por  z  em  por- 
tuguez (na  pronuncia) ;  mas  n'esse  caso 
a  orthographia  etymologica  busca  repre- 
sentai-o  por  s. 


—  5."  Z  provém  excepcionalmente  d'ou- 
tros  sons  latinos,  como  de  g  (diante  de 
e,  i)  em  esparzir  por  espargir,  Jorze 
por  Jorge. 

—  Vejamos  agora  de  que  soi^s  d'outra3 
linguas  provém  z. 

—  Asíaz  numerosos  são  os  exemplos  da 
origem  árabe  de  z.  Inicial :  zagal  (ára- 
be zagaT),  zaino  (açamm?),  zamboa  (zan- 
hô',a),  zarabra  (zamara).  Zarco,  nome  de 
homem,  por  exemplo,  appellido  do  des- 
cobridor ua  ilha  da  Madeira  (árabe  zar- 
ca, mulher  d'o!hos  azues,  d'onde  hespa- 
nhol  zarca  com'  a  mesma  significação ; 
em  hespanhol  faz-se  o  masculino  zarco, 
homem  d'olho3  azues),  zahnedina  (çahib 
al-medina),  zirbo  {therh),  zoina  {zaniyá), 
zorame  ou  sorame  [zolham).  N'uns  casos 
como  se  vê  o  z  inicial  provém  do  za  ára- 
be, n'outros  de  çad  e  excepcionalmente 
de  tlia  em  zirbo.  Medi;ú  z  pi"Ovém  de  za 
árabe,  por  exemplo,  em  azeite,  azeitona, 
azougue,  azáfama  {az-zahma),  azagaia 
[zagaya,  palavi'a  berbere),  azerve  {az- 
zerb),  azinhaga  {az-zan{a)-ka).,  azinhabre 
{az-zindjar) ,  azul  {lazuicerd,  palavra  per- 
sa), azurracha  (az-zalladja),  mais  raro 
de  sa,  como  em  azaria  (as-sariya),  azi- 
mut  (as-samt). 

Taes  são  as  principaes  origens  do  z 
portuguez.  Satisfeita  a  questão  etymolo- 
gica, vejamos  a  questão  orthoepica,  e  a 
questão  orthographica.  Em  quanto  a  pro- 
nuncia nada  mais  simples  :  z  inicial  e  me- 
dial representa  em  portuguez  um  único 
som,  o  som  que  acima  definimos;  do  z 
final  fallaremos  mais  abaixo.  Em  quanto 
a  orthographia  a  questão  é  um  tanto  mais 
complicada,  porque  esse  som  que  é  a  con- 
tinua dental  branda,  se  representa  tam- 
bém por  s  entre  vogaes  e  assim  se  escre- 
ve :  casa  ou  caza,  asar  ou  azar,  asa  ou 
aza,  rasuo  ou  razão,  raso  ou  razo,  i^ezo 
ou  peso.  A  orthographia  phonetica  resol- 
veria a  questão  facilmente  conservando 
para  esse  som  unicamente  o  signal  z.  Mas 


como  a  orthographia  etymologica  é  a  que 
predomina,  convém  assentar  algumas  re- 
gras. 

Um  uso  perfeitamente  estulto  e  ridícu- 
lo é  o  que  sem  respeito  pela  phonetica, 
nem  pela  etymologia,  guiando-se  apenas 
por  um  capricho  disparatado,  quer  que  se 
escreva  z  depois  òq  e  g.  i,  e  s  depois  das 
outras  vogaes.  Este  disparate  que  desgra- 
çadamente tem  muitos  sectários  deve  ser 
condemnado  com  os  termos  mais  fortes, 
assim  como  todos  os  preceitos  orthogra- 
phicos  do  mesmo  jaez.  O  som  continuo 
brando  dental  de  despesa,  mesa,  pisa, 
empresa,  etc.  provém  dum  s  latino  (em  la- 
tim dispensa,  mensa,  pinsare,  emprehen- 
sa)i  logo  conforme  á  etymologia  escreva- 
se  s,  assim  como  se  escreve  em  casa,  ra- 
so, caso,  vaso,  uso,  etc. ;  mas  se  se  es- 
creve despeza,  meza,  empreza,  pizar,  etc, 
isto  é,  se  se  representa  o  som  indicado 
por  z,  seja-se  coherente  e  escreva-se  ca- 
za, cazo,  vazo,  razo,  itzo.  Então  em  vez 
d'um  erro  haverá  um  systema,  que  tem 
a  seu  favor  fortes  argumentos :  estar-se- 
ha  no  campo  da  orthographia  phonetica. 
Se  falíamos  em  tal  erro  tão  de  pausado, 
é  porque  o  vemos  muito  espalhado  e  até 
adoptado  por  muitos  annos  na  folha  offi- 
cial  do  governo  portuguez.  Tal  uso  con- 
demnado  veremos  qual  o  melhor  campo 
no  sentido  etymologico. 

1."  No  começo  das  palavras  escreve-se 
sempre  z  e  nunca  s  para  representar  o 
som  continuo  dental  brando,  seja  qual 
for  a  origem  d'este; 

2.°  No  meio  das  palavras  depois  de 
consoante  ou  vogal  nasalisada  represen- 
tada por  an,  en,  in,  on,  un,  esse  som  é 
sempre  representado  por  z,  seja  qual  for 
a  sua  origem; 

3."  No  meio  das  palavras  escreve-se 
sempre  z  para  representar  aquelle  som 
sempre  que  elle  representa  o  z  latino  ou 
zeta  grego  ou  um  som  árabe  ou  d'outra 
qualquer  lingua  oriental ; 


1028 


Z 


4."  Encrover-se-ha  s  no  moio  das  pala- 
vra:), oiitro  vo;íae,f,  para  reproscntar  osso 
suDi  quaii'lo  oUo  pruvóiii  do  s  latiui)  ou 
gro^^o  ou  de  qualquer  llnjtfua  europêa  mo- 
derna, ein  que  esae  s  represente  a  conti- 
nua forte  ou  a  branda ; 

5.°  Escrever-se-ha  z  no  meio  das  pala- 
vras quando  o  aom  indicado  provém  de  c 
óu  ti  latino. 

!EÍ3  re;,'raa  simples  e  fundadas  sobro  a 
historia  das  linguaa  e  tendências  mais  ge- 
racs  da  nossa  orthograpliia  nas  dideron- 
tes  epoehas  do  seu  desenvolvimento,  nas 
quacs  se  podem  firmar  os  que  optam  pela 
orthograpliia  etymologiea. 

Uma  quostào  assaz  embaraçosa  é  a  do  z 
e  s  finat;.-».  Uigorosanientc  a  sibilante  den- 
tal final  portuguesa,  tal  como  cila  6  pro- 
nuncia'ia  u'um  tào  grande  numero  do  pa- 
lavras, por  assim  dizer  cm  (juasi  todas  as 
palavras  da  língua,  pois  se  aeha  no  plural 
de  todos  os  substantivos  e  adjectivos,  dos 
pronomes,  om  três  ftjrmas  de  cada  tempo 
dos  verbos  (á  excepção  do  perfeito  em 
que  Si)  a  primeira  pessoa  do  plural  dos 
regulares  termina  om  s),  em  vários  ailver- 
bios,  preposições  e  interjeições,  esse  som 
tão  frequente  não  é  o  mesmo  que  se  ou- 
ve inicialmente,  por  exemplo,  em  são, 
seis,  ete.,  ou  medialmente  em  j)ersa, 
corsa,  J/osso,  etc,  nem  tão  pouco  o  som 
inicial  de  zoilo,  zelo,  etc,  ou  o  do  z  me- 
dial de  casa,  braza,  etc.  ó  um  s  mais 
fracamente  articulado  que  o  de  são  e 
persa,  mas  não  c  ainila  o  z  de  braza.  Co- 
mo represental-o?  Não  havendo  para  esse 
som  intermediário  um  signal  próprio  pa- 
rece indifferente  represental-o  ou  d'um 
modo  on  d'outro ;  mas  onde  so  irá  bus- 
car a  razão  da  preferencia  ou  do  uso  pa- 
rallelo  d'um  ou  outro  signal?  No  uso  vul- 
gar escreve-se  z  geralmente  quando  pre- 
cede vogal  accentuada  e  que  a  palavra 
não  é  uni  plui'al  ou  a  segunda  pessoa  do 
angular  d'um  verbo,  afora  alguns  ou- 
tros casos  ainda  om  que  o  iiso  vaeilla  e 
de   qiie   fallaremos ;    assim   se   escrevem 

l.^.Mónosyllabos:  a)  substantivos  sin- 
gular: az,  Braz,  gaz,  paz,  raz,  Vaz, 
grez,  fez^  mcp,  j)ez,  tez,  rez,  vez,  criz, 
giz,  liz,  triz,  coz,  foz,  noz,  voz,  cruz, 
luz,  ohuz,  puz;  b)  partículas :  zaz,  traz; 
c)  verbos:  faz  (e  seus  compostos),  jaz, 
praz  (o  sons  compostos),  fez,  jiz,  diz, 
quíz,    luz    (ou   luze),  puz;  d)    numeral: 

, 2.""  De  mais  d p  uma  syllaba:  a)  subs- 
íántiVos  singular :  àgua-niz,  alcatruz,  al- 
paravnz,  nnnnaz,  anthraz,  arcaz,  arga- 
naz,  Barrabae,  caòaz,  Caiphaz,  canabraz, 
capataz,  canciz,  carnaz,  cartaz,  ãança- 
raz,  fatacdz,  Ferrabraz,  gaz,  gilvaz,  go- 
raz,  Joaz,  lambaz,  machacaz,  montar- 
raz,  paparraz,  patarraz,  peseae,  rapaz, 
roaz,  Satanaz,  sequaz,  tenaz,  Thomaz, 
iracanhaz,  convez,  cnvicz,  gorupez,  revez, 
Suez,  vez,  arnez,  Bardez,  calcez,  camoez, 


camponez,  Corlez,  desnudtz,  doblez,  entre- 
mez, freguez,  gaguez,  Imãion/Liz,  imlez, 
intrepidez,  jaez,  languidez,  viar<jui:z,  mor- 
bidez, mudez,  nudez,  pallilez,  pavez,  pe- 
t£uenhez,  polidez,  rudez,  solidez,  surdez, 
lorquez,  viuvez,  abaliz,  aboiz,  actriz,  al- 
mofariz, aprendiz,  Asaentiz,  Assiz,  Aviz, 
Beatriz,  bisneclriz,  cariz,  cerviz,  chafa- 
riz, c/iaiiiariz,  cicatriz,  codorniz,  dire- 
ctriz, embaxatriz,  feliz,  imperatriz,  infe- 
liz, juiz,  matiz,  matriz,  meretriz,  nariz, 
paiz,  Pariz,  perdiz,  pertigriz,  j)roiz, 
raiz,  soòrepelliz,  tamiz,  íapiz,  teliz,  ver- 
niz; albatroz,  alburnoz,  aljeroz,  arrioz, 
Badajoz,  cadoz,  catrapoz,  taruz,  retroz, 
Queiroz,  Munhoz,  abestruz,  alcatruz,  an- 
daluz, arcabuz,  cuchapuz,  capuz,  Que- 
luz, lapuz,  noctiluz,  Ormuz;  b)  adjecti- 
vos :  audaz,  capaz,  contumaz,  ejficaz,  ful- 
laz,  incapaz,  iiiejjicaz,  loquaz,  mordaz, 
perspicaz,  pertinaz,  primaz,  pugnaz,  roaz, 
sagaz,  tenaz,  trocaz,  vivaz,  voraz;  ara- 
gonez,  calabret,  camponez,  cartaginez,  chi- 
nez,  cordovez,  cortez,  dinamarguez,  escocez, 
francez,  genebrez,  groenlandez,  hambur- 
guez,  hollandez,  inglez,  irlandez,  iroijuez, 
islandez,  japonez,  leonez,  malfez,  monta- 
nhez,  montez,  norueguez,  pedrez,  jtescarez, 
piemontez,  portuguez,  sucz,  tavanez,  tre- 
mez,  troquez;  feroz,  lioz,  tardoz,  veloz;  b) 
verbos :  refaz,  etc,  apraz,  etc,  conduz, 
adduz,  induz,  produz,  reconduz,  reluz, 
reproduz,  seduz,  traduz,  transluz,  etc; 
d)  advérbios:  assaz,  aliaz,  airaz,  de- 
traz. 

Eis  ahi  a  maior  parte  das  palavras  que 
usualmente  so  escrevem  com  z  final  e 
todas  as  incluídas  na  classe  acima  indi- 
cada, isto  é,  palavras  em  que  o  Z  Jinal 
é  precedido  de  vogal  accentuada  e  que  não 
são  j^li-i-raeSf  nem  formas  verbaes  da  «e- 
guada  pessoa  do  singular;  á  mesma  clas- 
se pertencem  também  as  seguintes,  que 
porém  mais  usualmente  se  escrevem  com 
s  final  e  algumas  nunca  com  z  : 

1.  três;  muitos  cscrevLMn  também  trez; 

2.  sus;  esta  palavra  renovada  pelos 
eruditos,  apparece  naturalmente  com  sua 
ortliograpliia  alatinada ;  acha-se  também 
escripta  suz; 

3.  obus,  que  outros  escrevem  obuz,  com 
o  s  para  imitar  a  orthographia  da  língua 
franceza,  d'onde  a  palavra  se  introduziu 
em  portuguez  ; 

4.  Moijsés,  Jesus;  cuja  orthographia 
biblica  (da  Vulgata)  ostil  geralmente  pre- 
sente aos  espíritos; 

5.  pus;  termo  de  sciencia,  que  de  maia 
se  quer  distinguir  de  puz  de  pôr; 

G.   Lés-a-lés; 

7.  vis;  termo  didáctico; 

8.  cusc\''S;  como  a  palavra  é  redupli- 
cada  escreve-se  a  segunda  parte  como  a 
primeliM  e  a  primeira  segundo  as  ten- 
dências geraes  não  poilia  escrever-so  cuz. 

Vè-se,  pois,  bem  claramente,  mesmo 
por  a  razão  de  ser  d 'essas  excepções,  que 
ha  uma  tendência  muito  pronunciada  pa- 


ra escrever  as  palavra'<  da  classe  indica- 
da com  z  final ;  dizemos  tendência  por- 
que não  lia  nada  na  nossa  orthographia 
definitivamente  fixo;  o  z  vale  não  eó 
como  o  signal  do  som  aibilanti;  final  do 
quo  tratamos,  mas  ainda  indica  que  o 
acceiito  está  na  vogal  antecedente,  o  as- 
sim, quan>lo  algum  daquelles  disylla- 
bos  80  escruve  com  #  finai,  põc-se  na  vo- 
gal antecedente  um  acceato ;  portuguez 
ou  portuguCs,  indsz  ou  íwIks,  etc,  Tào 
habituado  se  está  a  attribuir  ao  z  finai 
esse  duplo  valor  que  até  quando  olle  não 
é  final  mas  precede  immediatamente  vo- 
gai final  accentuada,  pondo  z  em  vez  de 
«  se  dispensa  o  accento ;  assim  José  se 
escreve  Joze. 

Sobre  que  se  basêa  .um  tal  emprego 
do  z  y  Provém  elle  meramente  do  uso, 
do  arbítrio,  ou  terá  uma  razão  de  ser 
mais  importante?  Sc  notarmos  que  uma 
parte  das  palavras  das  letras  acima  da- 
das provêem  de  palavras  latinas  em  que 
um  c  (deante  de  e,  i)  occupa  o  logar  de 
z  portuguez  e  que  sobre  a  vogal  prece- 
dente estava  em  latim  o  accento  tónico, 
se  soubermos  que  dz  é  um  dos  succeda- 
neos  de  c  latino  (deante  de  e  ou  í)  vemos 
que  nos  correspondentes  portuguezcs  d'es- 
sas  palavras  latinas  o  z  era  a  orthogra- 
phia phonetica  e  etymologicamenU  indica- 
da :  assim 

audaz       de       audacem, 

feliz  »       felicem, 

diz  »        dicit, 

fez  »        fecit, 

Jiz  1        feci, 

etc.  Note-se  que  audaz,  feliz,  etc,  não 
podiam  provir  dos  nominativos  áudax, 
félix,  como  pretenderam  os  nossos  gram- 
maticos,  mas  sim  do  caso  obliquo  em  que 
o  augmento  syliabico  deslocava  o  accen- 
to tónico  para  a  syllaba  em  que  elle  se 
acha  em  portuguez ;  z  pois  não  esfci  aqui 
por  X  latino,  mas  sim  por  c;  o  e  do  caso 
obliquo  a  que  se  tinham  reduzido  o  ti, 
i,  em  do  genítivo,  dativo  e  accusativo 
caiu  junto  d'e3se  som  dz  por  uma  lei  ge- 
ral que  nos  explica, /hz  por  faci  por /a- 
cit,  Jiz  por  feci,  dez  por  dece  por  decem, 
etc. 

Como  era  grande  o  numero  das  pala- 
vras em  que  o  c,  tornado  final  e  dege- 
nerado era  sibilante  dental  se  achava  em 
virtude  do  processo  histórico  escripto  ri- 
gorosamente com  z,  tomou-se  esse  caso 
como  norma  n'uma  epocha  em  que  as  re- 
lações das  coiisas  não  eram  mais  conhe- 
cidas, e  poz-se  z  nos  finaes  accentaa- 
dos  por  toda  a  parte  onde  um  outro  prin- 
cipio geral  e  importante  não  indicasse  a 
orthographia  com  s;  ora  esse  principio 
apresentava-se  nos  pliiraes  terminados 
em  «  pela  regra  e  na  segunda  pessoa  de 
alguns  tempos  dos  verbos;  portanto  es- 
creveu-se  e  escreve-se  as,  das  (artigo), 
mas;  dás,  estás,  vás  e  não  az,  daz,  ntaz; 
daz,  estaz,  vaz,  porque  aqui  estavam  pre- 


z 


ZAFI 


ZAMB 


1029 


sentes  o  s  do  plural  dos  nomes  e  o  da 
segunda  pessoa  singular  dos  verbos.  As- 
sim 71ÓS,  vós,  como  pluraes,  se  escreve- 
ram com  s;  assim  ires  em  que  o  z  dá 
idêa  d'um  plural,  etc.  com  s  também. 
Agora  applicando  os  mesmos  principies 
que  para  o  z  e  s  medial  diremos  que  sob 
o  ponto  de  vista  strictamente  etymologi- 
co  se  deve  escrever  : 

1,"  z  final  sempre  que  a  sibilante  den- 
tal representa  um  c  latino  ou  um  som 
árabe  ou  d'outra  lingua  oriental; 

2.°  z  final  em  assaz  que  representa  o 
latim  satis  por  intermédio  de  saís,  satz, 
sadz  ; 

3."  deve-se  escrever  s  final  quando  a 
sibilante  dental  final  representa  um  s  lati- 
no. Assim  escrever-se-ha  portuguKS,  fran- 
cês, pois  o  suf.  gentílico  ês  representa  o 
latim  ensis ;  assim  se  escreverá  atrás, 
detrás,  pois  trás  aqui  representa  o  la- 
tim trans,  mes  de  munsis,   etc. 

—  Vejamos  agora  as  opiniões  dos  prin- 
cipaes  grammaticos  portuguezes.  —  «A 
pronunciaçào  do  z  zine  antr'os  dentes 
cerrados  com  a  lingua  chegada  a  elles 
e  03  beyços  apartados  hu  do  outro :  e  he 
nossa  própria  esta  letra.»  Feruào  d'01i- 
veira,  Grammatica  de  lingoagem  portu- 
guesa, cap.  13.  —  oZ  nào  he  kuma  soo 
letra  mas  abbreviaçào,  ou  figura  de  duas 
letras,  como  o  x,  porque  se  coraprehen- 
dem  nesta  figura  s,  d.  Porque  assi  pro- 
nunciavão  os  Gregos,  e  Latinos,  Zacyii- 
thos,  como  se  screverão  Idacynthos.  E  a 
mesma  pronunciaçào  teem  Ezrás,  que 
Esdrás.  Mas  com  o  tempo  perdeo-se  a 
própria  pronunciaçào  desta  letra,  que  os 
antigos  lhe  davào  e  damos-lha  agora  por 
huma  maneira,  que  soa  antre  s  e  ç.  A 
qual  letra,  porque  muitos  vulgares  a  con- 
fundem com  o  s  e  ás  vezes  com  ç  poerei 
alguns  legares  onde  a  devemos  usar.  E 
com  ella  screveremos  todos  os  nomes  pa- 
tronymicos  Portuguezes,  como  de  Álvaro, 
Alvarez;  de  Nuno,  Nunez;  de  Pedro,  Pe- 
rez;  de  António,  Antunez;  de  Paio,  Paez; 
de  Garcia,  Garcez ;  de  Martinho,  3Iar- 
tijz ;  de  Rodrigo,  Rodriguez;  de  Rui, 
Ruiz;  de  Lopo,  Lopez;  de  Tello,  Tel- 
lez ;  de  Gonçalo,  Gonçalvez ;  de  Mendo, 
Mendez ;  de  Vasco,  Vaaz;  de  Lain,  Lai- 
iiez ;  de  Bermudo,  Bermudez;  de  Xime- 
no,  XimeJiez;  de  Diogo,  Diaz;  de  Ioaii- 
ne,  lanez  ;  de  Marcos,  Marquez.  —  Item 
se  screvem  com  esta  letra,  os  nomes  fe- 
meuinos  denominados,  d'outros  d'esta  fi- 
gura: avareza,  largueza,  fraqueza,  sim- 
pleza.  —  Item  todos  os  nomes  que  na 
ultima  syllaba  tem  a  com  o  accento  nel- 
la,  como :  arganaz,  cabaz,  rapaz.  E  os 
que  significão  augmento,  ou  abundância, 
que  as  mais  das  vezes  se  tomão  em  maa 
parte,  como :  beharraz,  ladravaz,  lingua- 
raz,  truanaz,  etc.  —  Item  se  screvem 
alguns  nomes,  que  teem  accento,  e  e  na 
ultima  syllaba,  como  :  axedrez,  vez,  pez, 
freez,  treez,  garoupez.  E   estes  são  pou- 


cos :  porque  os  mais  se  escrevem  por  s 
ainda  que  tenham  o  accento  na  ultima, 
como :  Português,  Tagrês,  Marqcs,  revês, 
convés,  etc.  ■ — •  «Item  se  screvem  com  z 
03  nomes,  que  teendo  i  na  ultima  syllaba, 
teem  o  accento  nella,  como  :  abuiz,  al- 
mofariz, chafariz,  chamariz,  codorniz, 
juiz,  perdiz,  raiz,  verniz.  —  Item  os  no- 
mes, que  tesm  da  mesma  maneira  na  ul- 
tima o  accento,  e  o  vogal,  como  albornoz, 
algoz,  arroz,  atros,  Badajoz,  Estremoz. 
E  os  monosyllabos,  silicet,  de  huma  soo 
syllaba,  que  teem  o  acento  agudo  :  coz, 
foz,  noz,  voz,  tirando  nós  e  vós,  prono- 
mes que  se  escrevem  com  s.  —  Item  os 
nomes  que  teem  u  na  mesma  ultima  com 
accento,  como  alcaçuz,  arcabuz.  Anda- 
luz, alcatruz,  Ormuz.  E  as  dições  de 
huma  syllaba,  como  cruz,  cuz :  tirando  a 
primeira  pessoa  do  pretérito  prefeito,  do 
verbo  ponho,  que  he  pús,  que  se  screve 
com  s.  —  Item  se  escrevem  com  esta  le- 
tra, as  terceiras  pessoas  d'estes  verbos, 
e  seus  descendentes :  faz,  diz,  jaz,  traz, 
como  fazia,  dizia,  jazia,  trazia:  fazer, 
dizer,  jazer,  trazer.  —  Item  estes  nomes 
numeraes,  dez,  onze,  doze,  treze,  quatc/rze, 
quinze,  dezaseis,  dezasete,  dezoito,  deza- 
nove ;  duzentos,  trezentos.  Mas  quatrocen- 
tos, e  03  mais  até  mil  se  screvem  por  c. 
—  Item  se  ha  de  notar,  que  por  esta  le- 
tra em  si  ser  dobrada,  se  não  pode  do- 
brar na  scriptura.  Polo  que  he  grande 
abuso  o  dos  Italianos,  os  quaes  todas  as 
vezes  que  o  z  vem  entre  duas  vogaea,  o 
dobrão,  e  dizem,  vagnezza,  bellezza,  dol- 
cezza.  O  que  não  pode  ser;  porque  os 
dous  zz  teem  força  de  quatro  consoan- 
tes, que  não  teem  vogaes,  a  que  vão  ata- 
das. Salvo  se  dixerem  que  esta  letra  per- 
deo  a  própria  pronunciaçào  antiga  das 
letras  dobradas,  e  que  agora  he  huma 
specie  de  s  que  dobrado  vem  dar  nosso 
y.s  Duarte  Nunes  de  Leão,  Orthographia 
da  lingua  portugueza. 

ZAADONA,  s.  /.  Termo  antiquado.  Se- 
nhora, mulher  livre,  forra;  ingénua. 

ZABANEIRA,  s,  /.  Mulher  desavergo- 
nhada. 

ZABELLO,  adj.  m. —  Cavallo  zabello. 
Vid.  Isabel. 

ZABRA,  s.  /.  Pequena  embarcação 
análoga  aos  nossos  botes,  que  se  usa  na 
Africa  e  costas  de  Biscaia. 

ZABUCAES.  Vid  Sapucaia. 

ZABUCAIA.  Vid.  Sapucaia. 

ZABUMBA,  s.  m.  Instrumento  seme- 
lhante ao  tambor,  porém  muito  maior ; 
usa-se  na  musica,  militar. 

ZABURRO,  adj.  m.  —  Milho  zaburro ; 
milho  grande  da  índia,  milho  grosso. 

ZACOUM,  ou  ZACUM,  s.  m.  Termo  de 
botânica.  Planta  da  Arábia,  mui  espinho- 
sa, com  folhas  parecidas  ás  do  aipo ;  pro- 
duz fructo3  brancos  e  amargos. 

ZAÇO,  s.  m.  O  papa,  ou  o  pontífice  dos 
bonzos. 

ZAFIRA,  s.  f.  Vid.  Safira. 


1.)  ZAGA.  Termo  antiquado.  Vid.  Sa- 
ga, e  Retaguarda. 

—  O  alail,  que  era  como  official  de 
guias,  a  quem  competia  ensinar  o  cami- 
nho  por  onde  devia  marchar  o  exercito. ' 

2.)  ZAGA,  s.  /.  Termo  de  botânica. 
Arvore  de  cujo  pau  se  fazem  as  zagaias. 

ZAGAIA,  5.  /.  Arma  de  arremesso, 
com  que  os  mouros  combatem  a  cavallo. 

—  Nome  dado  aos  dardos  curtos  de  que 
se  servem  os  habitantes  do  Senegal,  a 
maior  parte  da  populaça  d'Africa  e  ou- 
tras nações  selvagens. 

—  Vid.  Azagaya. 

ZAGAIADA,  s.  /.  Golpe  de  zagaia. 
ZAGAL,  s.   ?;í.   Ajuda,  criado  do  maio- 
ral. 

—  Pastor. 

ZAGALA,  s.  /.  Pastora,  moça,  donzella 
do  campo. 

ZAGALEJO,  ou  ZAGALETO,  s.  m.  Za- 
gal, moço. 

ZAGARI,  s.  ni.  Uma  espécie  de  lença- 
ria. 

ZAGÚ,  s.  m.  Termo  de  botânica.  Ar- 
vore da  índia  análoga  á  palmeira. 

ZAGUNCHO,  s.  m.  Vid.  Zarguncho.  — 
«E  no  primeiro  cometimento  lançam  mui- 
ta soma  de  cal  para  cegarem  os  adver- 
sários :  e  assi  dos  castellos  como  das  gá- 
veas lançam  muitos  paos  tostados  agudos, 
que  servem  como  zagunchos  sam  de  pao 
umy  testo  :  usam  também  de  soma  de  pe- 
dra e  ho  principal  que  trabalham,  he  que- 
brarem com  os  seus  navios  as  obras  mor- 
tas dos  adversários,  pêra  que  fiquem  se- 
nhores delles,  ficandolhe  debaixo,  e  des- 
emparados  de  cousa  com  que  se  lhe  en- 
cubram.» Frei  Gaspar  da  Cruz,  Tratado 
das  cousas    da  China,  cap.  9. 

ZÃIBRO.  Vid.  Zambro. 

ZAING,  A,  adj.  —  Cavallo  zaiuo  ;  cas- 
tanho escuro,  sem  mescla. 

—  Alguns  dào  este  nome  ao  cavallo, 
que  não  tem  signal  algum  branco. 

—  Figuradamente :  Retrahido,  dissimu- 
lado, disfarçado,  velhaco  encoberto. 

■|-  ZAIRE,  s.  m.  Nome  de  um  rio  da 
Africa.  —  «Toda  a  terra  que  contamos 
por  Reyno  de  Sofala,  ha  uma  grade  re- 
gião que  senhorea  um  Príncipe  (íentio 
chamado  Benomotàpa:  a  qual  abraçaõ  em 
modo  de  ilha  dous  braços  de  hum  rio  que 
procede  do  mais  notauel  lago  que  toda  a 
terra  de  Africa  tem,  mui  desejado  de  sa- 
ber dos  antigos  escriptores  por  ser  a  ca- 
beça escondida  do  illustre  Nilo,  donde 
também  procede  o  nosso  Zaire  que  corre 
per  o  Reyno  de  Congo.»  Ban-os,  Década 
1,  liv.  10,  cap.   1. 

1.)  ZAMBO,  A,  adj.  Vid  Zambro. 

2.)  ZAMBO,  «.  m.  Termo  de  zoologia. 
Animal  selvagem,  e  disforme  da  Ame- 
rica. 

3.)  ZAMBO,  s.  7?!.  Nome  que  se  dá  em 
algumas  partes  da  America  aos  filhos  de 
um  negro  e  uma  mulata,  ou  de  um  ne- 
gro 6  de  uma  indígena. 


1030 


ZANf> 


ZARC 


ZAZl 


ZAMBÕá,  «.  /.  Termo  de  botiinica. 
Fructo  cuiiio  a  luraiij.-i, .  poróm  uiuito  ii\- 
sipiílo. 

—  Marmelo  enxertado,  o  iwaiiu  lucllio- 
lado.  Vid.  Gamboa. 

,  • — Parvo,   ou  tul)  como  zambõa;  iiisi- 
pido,  milito  fi-icirào,  Houi  Habor. 

ZAMBOEIRA,  s.  /.  Termo  du  botaaica. 
Arvoro  que  pioduí  zaiubôai.  Vid.  Zam- 
bóa. 

ZAMBRALHO,  ♦.  m.  Teriuo  do  historia 
natural.  Ave  .Kiuatica  do  tamanho  do  uma 
gallinhii,  tuudo  o  peseuyo  o  IjÍcd  como  o 
do  pato;  ha  muita  abundância  (Tollas  pe- 
lo inverno  uu  Sado. 

ZâMBRO,  a,  adj.  Que  ajunta  as  per- 
nas no8  joelhos,  e  se  liie  vão  alargando 
para  oa  pós  com  divergência. 

ZAMBUGO,  s.  m.  Embarca(,'ão  da  Aaia, 
de  carga.  —  nlluv  Lourenço  vendo  a  mul- 
tidão deUes,  porque  Cípeiava  de  se  aju- 
dar bom  com  artilharia,  armou  dous  dos 
seus  zambucos  e  o  batel  com  a  meudeza 
que  podlão  leuar  e  gente  destra  e  poa 
roitro  na  terra:  a  que  logo  acudirão  os 
Mouros  apinUaando-se  todos  onde  lhe  pa- 
receo  que  os  nosíos  qncriaò  sair.»  Bar- 
ros, Década  l,  liv.  7,  cap.  4. 

ZAMBUJAL,  ou  ZAMSUGAL,  s.  m.  Ter- 
mo de  botânica.  Arvoio  do  lirazil ;  pro- 
duz fructos  do  tamanho  de  cocos  grandes, 
^'p»4a  S(á.<íW  jÇ*atauhaií  mui  duras  e  sabo- 
rosas. 

ZAMBUJEIRO,  s,  m.  Vid.  Azambujeiro. 

ZAPÍBUJO,  *.  1».  O  mesmo  que  Zambu- 
jeiro. 

ZAMURIM,  ou  SAMORIM,  s.  m.  Titulo 
do  rui  de  Calecut. 

,  ÍANAGA,  ?■  ■»»^/permo.pí>pulac.,  Vesgo, 
torto,  zarolbd).        ,  ,.•,,'  ',i 

—  Adjocti vãmente :  Homem  zanaga. 
r,jJ^ANGAj  -.s.  /,  Termo  popular.  Autipa- 

lljuíia,  inimizade. 

^v,— r  Avoi'sií^>»  uiiiií  agouro. 

,  — :  Ter  zanga  cojh  ahjuma  cousa,  ou 
cQf^  alí/tíem;  tor  grima. 

—  Um  jogo  de  cartas  entre  duas  pes- 
soas. 

—  O  moinho  de  mão. 
ZANGADILHA,  s.  f.  Termo  do  archite- 

ctura.  Cunha  com  que  se  calçam  os  pon- 
tões. 

ZANGADO,  part,  pass,  de  Zangar.  En- 
fadado, agastado. 

ZANGADOR,  A,  s.  Pessoa  que  se  zanga. 

—  Diz-so  também  da  cousa  que  zanga. 

—  Adjcctivamente  :    Humem  zangador. 
ZANGALHÃO.  Q.uerem  alguns  que  este 

YO.çabulo  correaponda  ao  latim  monogam- 
mus. 

ZANGANO,  s.  m.   Adello. 

—  Homem  quo  logra,  e  desfructa  ou- 
trem com  engano  nos  tratos  O  negócios, 
e  por  isso  diz-se  dos  adellos,  que  fraudam 
a  quem  passam  cousas  velhas,  o  do  pouco 
valor  por  muito,  enganando  os  simples  e 
rústicos. 

—  Corretor  sem   authoridade  publica. 


ZANGÃO,  «.  m.  Termo  do  historia  na- 
tural. Espccie  de  abelha  que  come  o  mol 
foi  to  yielas  outras. 

—  U  atiavessador  do  niei^cadorias,  zan- 
gano. 

ZANGAR,  V.  a.  1'roduzir  infelicidade  o 
fazer  que  vá  mal. 

—  Enfadar,  causar  eníado,  pro  luzir 
zanga. 

—  Zangar-se,  v.  rejl.  Enfadar-se.  — 
Zangar- se  com  aUjuma  coma;  tel-a  em 
mau  a;roui(),  cnfadar-so  d'ella. 

ZANGARALHADO,  part.  paus.  de  Zan- 
garalhar. 

ZANGARALHÃO,  ONA,  s.  Pessoa  alta  e 
mal  feita. 

ZANGARALHAR,  v.  ii.  Termo  popular. 
Vi<l.  Zangarrear. 

ZANGARREAR,  v.  n.  Termo  popular. 
Tocar  mal  na  viola  com  rojões  sem  har- 
monia. 

ZANGUIZARRA,  s.  /.  Termo  popular. 
Desordem,  motim,  tumulto,  alvoroço. 

—  Alguns  escriptores  querem  dar  a  es- 
te vocábulo  a  significação  de  mulher  mal 
ataviada,  iidmiga  do  trabalho,  amiga  do 
ócio,  e  <|ue  somente  se  occupa  em  comer. 

—  Outros  dão-lhe  a  significaç.ào  d'ar- 
mação  descompassada,  informe. 

ZANGURRIANA,  s.  /.  Termo  popular. 
Bebedice,  embriaguez. 

ZAKOLHO,  í.  e  aJj.  Vid.  Zarolho. 

ZANUO,  s.  m.  Lanço  das  arremata- 
ções, na  linguagem  dos  portuguezes  na 
índia. 

ZÃOZÃO,  s.  m.  —  O  zãozão  das  coii- 
sountes;  a  monotonia  de  sons  similhantes 
simuleadontes,  enfadonho,  sem  variedade. 

ZAPATEADO,  s.  m.  (Do  hespanhol  za- 
puta,  sapato).  Dança  he-sj^anhola  que  se 
exeuuta  ii'uma  ária  a  -1-,  e  apresenta  al- 
guma analogia  com  a  sorrefeira. 

—  Vid.  Sapateado. 
ZAPE.  Vid.  Sape. 

ZAPETE,  »•.  "í.  Um  jogo  do  cartis,  es- 
pécie de  truque. 

—  Nome  do  quatro  de  paus  n'este  jogo. 
ZAPOTA,  s.f.  (Dofrancez  sapotUlier). 

Termo  de  botânica.  Orande  arvore  de 
S.  Domingos,  de  que  ha  duas  espécies,  a 
zapota  maior,  e  zapota  menor. 

ZAPOTE,   s.  m.  Fructo  da  zapota. 

ZARABATANA,  s.  /.  Canudo  longo, 
por  meio  do  (lual  assopram  settas,  o  tiros 
leves  para  irem  ferir,  impellidas  pelo 
vento  encanado. 

—  Vid.   Sarabatana. 
ZARAGALHADA,  s.  /.  Turbamulta. 
ZARAGATÒA,   s.  /.  "Termo   de   boUni- 

ca.  llorva  medicinal,  denominada  vul- 
garmente piilijueira. 

—  Certa  droga  medicinal. 
ZARATÃO,  s.  ))i.  Termo  de   medicina. 

Tumor  duro  e  indolente. 

—  Alguns  dão-lhe  o  nome  de  scirrho. 
ZARAVATANA,  s.  /.  Vid.  Zarabatana, 

e  Sarabatana. 

ZARCÃO,  s.  m.  Cal  vermelha  de  chumbo. 


—  Na  moderna  nomenclatara  chimics, 
é  o  orydo  de  chumbo. 

ZARCO,  A,  adj.  Quo  tem  os  olhos  azues 
claros,  ou  trarços. 

ZAHELHO,  *.  T>i.  e  ndj.  pop.  Homem 
belicoso  o  intromettido  em  concas  que  lhe 
não  pertencem,  e  que  tudo  faz  accelera- 
daniente. 

ZARGO.  Vid.  Zarolho. 

ZARGUNCHADA,  «.  /.  Ferida  dada  com 
zarguiicho. 

ZARGUNCHADO,  part.  past.  de  Zar- 
gunchar.  Airemes.-ado,  ferido  com  zar- 
guncho. 

ZARGUNCHAR,  v.  a.  Ferir  alguém  com 
zarguncho,  arrcme8.«ar. 

—  Figura>iamente:  Penetrar  muito. 

—  O  frio  zarguncha ;  o  frio  é  muito 
penetrante. 

ZARGUNCHO,  $.  nt.  Uma  meia  lan- 
ça, azagaia  de  arremesso  usada  dos  ca- 
fres. 

ZAROLHO,  A,  adj.  Que  mette  um  olho 
pelo  oiitio,  que  o  volta  olhando  para  o 
outro. 

—  Torto,  vesgo,  zanaga. 

—  Substantivamente  :  Um  zarolho.  — 
Uma  zarolha. 

ZARPAR.  Vid.  Sarpar. 
ZARRA,  í.  /.  Vid.  Jarra. 

—  Termo  antiquado.  AIraotolia,  botija 
de  azeite.  —  Compraram-se  duas  zarras 
Ijara  o  azeite. 

ZARZAGANÍA,  s.  f.  Termo  oriundo  do 
Castella.  Vento  frio,  ventosidade. 

—  Alguns  querem  dar-lhe  o  sentido  de 
tecido  de  seda  como  o  tafetá. 

ZÁS,  ou  ZAZ.  Voz  formada  por  ono- 
raatopeia,  jiara  exprimir  o  ecbo  do  golpe 
ou  pancada. 

ZASTRE,  s.  VI.  Vid.  Sastre. 

—  Ternui  popular  e  cómico.  Homem 
entregue  a  mulheres,  frascario.  Vid.  Xas- 
tre. 

ZATÚ,  s.  «1.  Termo  de  zoologia.  Ani- 
mal do  Brazil,  mui  notiivel  pelas  armas 
com  que  a  natureza  o  adornou. 

•}■  ZAVALCHEU,  .».  «i.  Nome  dado,  pe- 
los mouros,  ao  magistrado  que  decidia 
as  suas  causas,  e  fazia  dar  á  execução 
as  suas  sentenças;  só  elle  podia  authen- 
ticar  com  o  seu  signal  qualquer  instru- 
mento. 

I  ZAVALNADINA,  s.  f.  Termo  anti- 
quado, porém  frequente  nos  documentos 
de  Hespanha  até  ao  século  Xiii.  O  pre- 
tor da  cidade  a  quem  pertencia,  por  com- 
missão  do  príncipe,  ou  tio  rico-homem, 
todo  o  governo  politico,  e  civil  da  respe- 
ctiva cidade,  e  sentenciar  a  final  os  fei- 
tos civiis  dos  seus  moradores. 

ZAVANEIRA,  í.  /.  Vid.  Zahaneira. 

ZAVRA,  í.  f.  Vid.  Zabra. 

ZAZAGITANIA,  s.  /.  Droga  asiática  de 
fazer  camisas  á  mourisci. 

ZAZERINO,  A,  «•(;.  ^ 'J-  Jazerino,  o 
Gezerino. 

ZAZINTA,  ou  ZAZINTHIDA,  s.  /.  Ter- 


ZELA 


ZELO 


ZELO 


1031 


mo  de  botânica.  Planta  medicinal,  lam- 
psana  de  Zanthe. 

ZAZO,   s.   111.  Pontifico  dos  japões. 

ZEBELINA,  í.  /.  Espécie  de  doninha, 
ou  marta  de  Moscovia,  do  tamanho  de 
um  gato  pequeno,  que  tem  a  peUe  e  o 
pelio  mui  finos. 

—  A  pelle  d'este  animal. 

ZEBO,  s.  m.  Termo  de  historia  natu- 
ral. Gebo,  espécie  de  boi  selvagem,  ou 
pequeno  búfalo. 

ZEBRA,  s.  /.  Termo  de  zoologia.  Ani- 
mal do  género  barro,  habitante  da  Afri- 
ca, e  notável  por  sua  pelle  que  tem  raios 
negros. 

—  Nome  dado  a  certas  conchas,  e  a 
duas  espécies  de  peixes,  os  clietod&ntes,  e 
os  pleuronectos. 

ZEBRAL,  adj.  2  gen.  De  zebra. 

—  Uma  pedra  zebral ;  nos  foraes  an- 
tigos, conjectura-se  que  é  o  peso  de  uma 
arroba. 

ZEBRDIÍO,  A,  adj.  Côr  de  cervo,  ou 
lebre.  —  Cavallo  zebruno. 

ZEBTJRA,  s.  f.  Termo  antiquado.  Vir- 
gula, signal  orthographico,  de  que  se 
usa  para  distincção  na  escriptura. 

ZECORA,  s.  /.  Termo  de  zoologia.  Ani- 
mal da  Ethiopia  alta,  a  que  os  portu- 
guezes  deram  o  nome  de  burro  d.o  matto. 

ZEDOARIA,  s.  /.  Termo  de  botânica. 
Herva  oíBcinal  d'este  nome,  de  cuja  raiz 
se  usa  na  medicina.  Vid.   Zerumbete. 

-j-  ZEDOARINA,  s.  /.  Termo  de  chimi- 
ca.  Extracto  amargo  da  zedoaria  redonda. 

f  ZEENO,  adj.  m.  —  Carvalho  zee- 
no;  espécie  de  carvalho  de  Algéria,  cujo 
pau  é  notável  pela  sua  densidade. 

-j-  ZEFYRO,  s.  m.  Vid.  Zephyro. 

Sc  nas  azas  dos  Zifyros  fugindo 
For  a  doce  estação,  qual  fogo  a  vida, 
E  cingido  do  pálidas  espigas, 
Trouier  girando  o  Sol  o  ardente  Estio, 
De  novos  fructos  8'enriquece  a  Terra. 

J.   A.    DE  SIACEDO,  JÍEDITAçÃO,  Cant.   2. 

ZEIMÃO,  s.  7)i.  Termo  da  província  do 
Minho.  Vocábulo  de  desprezo,  com  que 
Be  denomina  um  homem  sem  préstimo, 
desamanhado,  indigno,  incapaz  de  boa 
cousa. 

ZEINA,  s.  f.  Termo  de  chimica.  Glú- 
ten da  farinha  do  maiz. 

-}-  ZEISMO,  s.  m.  Termo  de  medicina. 
Doutrina  que  põe  no  maiz  alterado  a 
origem  do  pellagro. 

•j-  ZEEEAT,  s.  7íi.  Imposto  sobre  as 
rendas  nos  paizes  musulmanos,  e  particu- 
larmente  na  Algéria. 

ZELADOR,  A,  s.  (Do  latim  zelator,  de 
zeliis).  Pessoa  que  obra  com  zelo  por  al- 
guma cousa,  ou  para  com  alguém.  — 
«Com  estas,  e  outras  ajudas,  que  a  for- 
tuna andava  trazendo  a  este  seu  mimoso 
que  queria  &,zer  senhor  de  tantos  Rey- 
nos,  como  lhe  deo,  elle  se  intitulou  por 
Xeque  Ismael  herdeiro,  defensor,  e  zela- 
dor das  cousas  de   Alie,   donde   elle   vi- 


nha; e  pêra  maior  denotação  deste  seu 
propósito,  mandou  fazer  os  verdugos  do 
seu  carapução  muito  mais  altos. >  Barros, 
Década  2,  llv.  10,  cap.  6. 

—  Zelador  da  fé;  que  a  zela. 

—  Pessoa  que  zela. 

—  Membro  d'uma  seita  judaica  que 
existia  em  Jerusalém  sob  Tito. 

—  Titulo  d'officio,  que  consiste,  em  al- 
gumas ordens  religiosas,  em  vigiar  com 
zelo  sobre  o  procedimento  dos  noviços  e 
dos  novos  professos. 

—  Xome,  entre  as  religiosas  ursulinas, 
d'um  officio  que  corresponde  ao  de  pro- 
curador nas  communidades  de  homens. 

—  /S.  771.  Official  que  vigia  sobro  a  exe- 
cução das  posturas  da  camará  municipal 
de  Lisboa.  —  Os  zeladores  da  camará, 

—  Adjectivamente  :  Que  zelaw  —  Ho- 
mens zeladores  da  honra  de  Deus. 

ZELANTE,  imrt.  act.  de  Zelar.  Que  ze- 
la, que  tem  zelo. 

—  Substantivamente :  Vid.  Zelote. 
ZELAR,   V.  a.  Tratar  cora  zelo,  procu- 
rar com  zelo.  —  Zelar  a  honra  de  Deus. 

—  Zelar  a  mulher;  ter  ciúmes  d'ella, 
vigial-a,  cial-a. 

ZELO,  s.  771.  (Do  grego  zelos).  Affeição 
viva,  ardente  para  o  serviço  de  alguma 
cousa,  de  alguém,  de  Deus.  —  «E  assi 
não  sei  o  que  mais  admire  nesta  santa  se 
o  que  mostra  de  seu  peito  o  que  fez  por 
seu  filho,  se  o  zelo  que  fora  teue  na  sua 
conuersaõ  porque  quanto  nisto  era  mais 
feruente,  tanto  mais  mostraua  o  lugar, 
que  Deos,  seu  temor,  e  seu  amor  tinha 
em  seu  coração.»  Paiva  de  Andrade,  Ser- 
mões, pag.  264:.  — T  «Os  Louthias  da  ar- 
mada por  achar  que  tem  pouca  culpa  man- 
do que  sejam  soltos,  uso  ho  desta  manei- 
ra com  todos,  porque  vejam  os  meus  Lou- 
thias  que  tudo  ho  que  faço,  que  ho  faço 
com  bom  zelo.  Estas  cousas  todas  mando 
que  sejam  feitas  com  brevidade.»  Frei 
Gaspar  da  Cruz,  Tratado  das  cousas  da 
China,  cap.  26.  —  «Feio  Idacio,  ou  Ur- 
sacio  assi,  com  tanto  zelOi  e  effieacla, 
que  a  demasia  delle  poz  o  negocio  em  ter- 
mos, que  convc}"©  ajuntar  Concilio  na  Ci- 
dade de  Çaragoça,  e  convocar  os  Bispos 
de  toda  Espanha,  e  alguns  de  França, 
onde  também  ficarão  sinaes  desta  des- 
aventura,  semeados  por  Marcos  em  sua 
primeira  chegada,  e  nelle.»  Monarchia 
Lusitana,  liv.  õ,  cap.  28.  —  «E  por  tan- 
to estes  limpos  de  coração  gozam  de  hu- 
ma  marauilhosa  paz  interior:  e  também 
quanto  he  de  sua  parte,  perfeytamente 
conseruam  paz  com  todos  os  homens,  as- 
si amigos,  como  inimigos  :  daqui  procede, 
que  nasce  nelles  hum  ardente  zelo  de  fa- 
zer paz  entre  os  próximos,  procurando  de 
cõcertar,  e  cõcordar  todos  os  desauindos 
e  differentes.il  Frei  Bartholomeu  dos  Mar- 
tjTcs,  Catecismo  da  doutrina  cbristã. 

Paulino,  estas  imagens  da  verdade, 
Que  pinta  a^tua^voz^sempre  eloquente. 


Parece,  que  as  anima  hum  zelo  ardente, 
E  saõ  véos  com  quo  encobres  a  maldade. 

ABBADK  DE  JAZZSIK,  POESIAS,  pag.  4:9. 

—  «o  zelo  da  causa,  que  solicitaua,  o 
esplendor  de  sua  familia,  parentes  e  com-- 
passadas  aeçoens  lhe  hauiam  grangeado 
mais,  que  o  próprio  talento  (nào  de  todo 
estéril)  boa  opinião  entre  os  Ministros 
Castelhanos,  e  modernos  portuguezes.» 
Francisco  Manoel  de  Jlello,  Epanapho- 
ras,  pag.  13. —  «E  se  as  entradas  que  se 
fizerem  ao  sertão  forem  com  verdadeira 
e  não  fingida  paz,  e  se  pregar  aos  Índios 
a  fé  de  Jesus  Christo,  sem  mais  interes- 
se que  o  que  elle  veio  buscar  ao  mundo, 
que  são  as  almas,  e  houver  quantidade 
de  religiosos  que  aprendam  as  linguas,  é 
se  exercitem  n'este  ministério  com  ver- 
dadeiro zelo.»  Padre  António  Vieira,  Car- 
tas, n."  9. 

—  Zelo  indiscreto;  zelo  inconsiderado, 
zelo  que  não  é  regalado  pela  prudência. 

—  Xa  linguagem  da  Escriptura:  O  ze- 
lo da  casa  de  Deus  o  devora,  tem  úrá 
zelo  extremo  para  o  terviço  de  Deusi'"' 

—  Particularmente,  o  zelo  pela  reli^ 
gião.  '''•^'^ 

—  Ciúme. 

—  Falso  zelo;  zelo  cego,  e  mal  enten- 
dido pela  religião. 

—  Adágios  e  provérbios  : 

—  A  conversação  escandalosa,  argue 
zelo  damnado. 

—  O  mau  zelo  empeçonhenta  o  enten- 
dimento. 

—  O  errar  é  tolerável,  mas  o  mau  ze- 
lo  é  cutello  da  republica. 

—  Para  man^lar  convém  zelo,  e  rigor. 
ZELOSAMENTE,  adv.    (De  zeloso,   e  o 

suffixo  «mente»).  D'um  modo  zeloso. 

—  Com  zelo. 

ZELOSÍSSIMO,  A,  adj.  superl.  de  Zeloso. 
Mui  zeloso. —  «Nas  cousas  da  Religião 
foi  zelosíssimo,  e  fez  reformar  quasi  to- 
das as  do  Reino,  e  reduzi-las  a  seu  pri- 
meiro rigor,  e  observância,  e  se  na  ma- 
téria das  rendas  de  alguns  Mosteiros  met- 
teo  mais  a  maõ,  do  que  convinha,  sein 
duvida  foi  a  culpa  mais  dos  Ministrpg,  e 
Conselheiros  Reaes  por  quem  os  negodios 
corriaõ,  que  do  mesmo  Rei.»  Frei  Ber- 
nardo de  Brito,  Elogios  dos  reis  de  Por- 
tugal, continuados  por  D.  José  Barbosa. 

ZELOSO,  A,  adj.  Que  tem  zelo,  que  sé 
ha  com  elle.  ] 

—  Que  tem  zelos,  ciúmes,  cioso. 
ZELOTE,  adj.  e  í.  2  gen.  Que  tem  zelo 

falso,  mal  entendido,  ou  fingido. 

j  ZELOTISMO,  í.  m.  Excesso  de  zelo 
religioso.  , 

ZELOTYPIA,  s.  /.  (Do  grego  zêio»,  e  ty- 
pein).  Termo  de  pathologia.  Ciúme,  sus- 
peita, desconfiança  da  pessoa  que  se  es- 
tima. 

—  Inveja  que  degenera  em  monoma- 
nia. 

ZELOZIA,   s.  /.  Vid.  Gelozia. 


1032 


ZEOL 


ZERO 


ZIBE 


-[  ZEND,  8.  wj.  O  commentario,  a  ex- 
plicíir.lo  ilíi  rovolaçílo  de  Zoroastro,  quer 
n'urii  flcntiilo  restricto,  quer  n'iiiii  sentido 
/^oral ;  todos  os  cHcriptos  que  podem  dar 
d<a  rovola(;?lo   um   sentido  mais  completo. 

—  Nomo  dado,  injustanH>nto,  á  lirif^aa 
em  que  Zoroastro  escreveu  seus  livros. — 
Livros  físcriptoa  em  zend. 

—  Ad  ji'ctivaniente  :  Quo  pertence  ao 
7-end.--  Livrou  zends. — A  lin<jua  zend. 

ZENDAL,  s.  7)1.  Vid.  Sendal. 

ZEND-AVESTA,  *.  /.  Código  dos  livros 
saturados  dos  persas,  o  que  encerram  os 
mais  antipos  monumentos  da  religiílo  e 
da  philosophia  da  Pérsia. 

ZENIAR.   Vid.  Azinhavre. 

ZENIDO,    s.  m.  Vid.  Zunido. 

ZENIR,    V.   n.   Zunir. 

ZENITH,  s.  VI.  Termo  de  astronomia. 
1'outo  da  esphera  celeste,  quo  para  caria 
Ioga  rda  torra  ó  encontrado  pela  verti- 
cal elevada  n'este  logar.  —  «E  tanto  quo 
o  sol  começa  a  decer  da  equinocial,  que 
he  o  orizõto  onde  se  acaba  a  vista  dos 
que  viuem  ao  norte,  lhe  começa  a  noite- 
ccr,  e  dura  a  noite  outros  seis  meses, 
desde  Setembro,  que  o  sol  dece  da  linha, 
até  Março,  que  o  sol  torna  a  entrar  na 
mesma  linha,  assi  como  o  dia  lhe  dura 
de  Março  ate  Setembro.  E  todos  os  seis 
meses,  que  he  dia  aos  que  viuem  ao  nor- 
te, he  noite  aos  quo  viuem  ao  .sul,  e  pcl- 
lo  cõtrajTO  todos  os  seis  meses,  ho  dia 
aos  do  sul,  he  noite  aos  do  norte.  Porque 
assi  como  os  quo  tem  por  zenith  o  nor- 
te.» Heitor  Pinto,  Dialogo  da  Justiça, 
cap.  8. 

—  Figuradamente:  O  ponto  mais  ele- 
vado onde  se  pôde  chegar.  —  O  zenith 
da  virtude. 

—  O  sol  no  zenith;  o  sol  no  meio  dia. 

—  Figuradamente:  O  auge,  o  cumulo, 
ou  o  cume. 

-j-  ZENITHAL,  adj.  2  gen.  Que  pertence 
ao  zenith. — Pontos  zenithaes. 

—  A  distancia  zenithal  d 'um  ponto 
n'xim  logar  ó  a  distancia  angular  d'esse 
ponto,  9  do  zenith  d'estc  logar. 

f  ZENOLIA,  s.  /.  Termo  de  botânica. 
Género  de  plantas  pertencentes  á  família 
das  eriniccas. 

—  Termo  de  zoologia.  Género  de  crus- 
táceos. 

—  Espécie  de  phalena. 

-{•  ZENONICO,  A,  adj.  Quo  pertence  ao 
systema  de  Zen.ão  d'Eleo  no  quinto  sé- 
culo antes  de  Christo  ;  é  um  systema  idea- 
lista. 

—  Que  pertence  ao  systema  de  ZenSo 
de  Cicio,  362  annos  antes  de  Christo ; 
creador  do  .stoieismo. 

f  ZENONISMO,  s.  «í.  Philosophia  do 
Zenão,  o  stinoo. 

f  ZENONISTA,  s.  m.  Partidário  da 
doutrina  do  um  doa  dous  Zenão. 

ZENZEREIRO.  Vid.  Cinceiro,  ou  Sin- 
ceiro. 

ZEOLITHE,  í.  m.  (Do  grego  zvo,   e  li- 


thoa).  Termo  de  mineralogia.  Espécie  de 
rocha  que  borbulha  ao  canudo,  por  cau- 
sa da  agua  que  ella  contém. 

—  Substancia  da  natureza  do  pedra, 
que  dissolvida  cm  ácidos  adquiro  uma 
consistenciji  g(datinosa. 

f  ZEOLITHICO,  A,  adj.  Que  pertence 
ao  zeolitho. —  V/n«)ví/ zeolithico. 

■\  ZEOPHAGO,  A,  adj.  C^ue  como  mais, 
quo  se  nutro  de  mais.  —  As  jwpulaçõeê 
zeophagas. 

ZEPHYRO,  s.  m.  (Do  grego  zephyroa). 
Termo  do  jiocsia.  Nome  quo  os  antigos 
davam  ao  vento  do  occideute.  —  O  sopro 
do  zephyro. 

—  Na  fabula,  o  vento  do  occidento  per- 
sonificado, o  (jualiticado  de  deus.  —  Os 
amores  de  Flora  e  de  Zephyro.  —  O  ven- 
to Euro  e  o  Zephyro. 

—  Todo  o  sopro  de  vento  doce  e  agra- 
dável. 

—  Termo  de  marinha.  Ligeiro  sopro  de 
vento. 

—  Nomo  dado,  no  exercito,  aos  solda- 
dos da  companhia  de  disciplina  que  ordi- 
nariamente se  envia  para  Algéria.  —  Um 
zephyro.  —  Os  zephyros. 

ZEQUIM,  s.  m.  Moeda  de  ouro  de  Itá- 
lia, do  valor  de  15600  reis,  com  pouca 
differonça. 

ZERBO.   Vid.  Zirbo. 

ZERIBANDA,  s.  f.   Sova,  tunda. 

ZERIBANDO,   s.  7/1.  Azorrague. 

ZERO,  s.  m.  Termo  de  arithmetiea.  Ci- 
fra em  f^rma  de  O,  que  por  si  mesmo 
não  indica  numero  algum,  mas  que,  sen- 
do posto  Á  direita  dos  outros,  indica  que 
elles  tem  um  valor  dez  vezes  maior.  — 
Um  2  e  três  zeros  fazem  dous  mil  (2000). 
O  zero  nSo  ó  do  mesmo  género  que  os 
números,  porque  multiplicando-se,  não 
podo  excedel-os,  de  maneira  que  é  um 
verdadeiro  indivisível  de  numero,  como 
o  indivisível  é  um  verdadeiro  zero  de  ex- 
tensão. 

—  Eu  não  quero  que  lhe  falte  um  ze- 
ro ;  não  quero  que  lhe  falte  nada,  cousa 
alguma. 

—  Sua  fortuna  está  reduzida  a  zero; 
estil  reduzida  a  nada,  estil  completamen- 
te dissipada. 

—  Figuradamente:  Ajuntar  zeros  a 
uma  conta;  ampliiical-a,  como  os  zeros 
multiplicam  um  numero. 

—  Figuradamente:  Tudo  «zero;  não 
valo  nada.  —  Nada  ha  mais  próprio  para 
me  consolar  nas  misérias  da  vida,  que 
pensar  continuamente  que  tudo  é  zero. 

—  Figuradamente  :  E  um  zero,  um 
verdadeiro  zero,  um  zero  em  cifra;  diz- 
se  de  um  homem  que  não  é  de  conside- 
ração alguma. 

—  Ponto  que  corresponde  á  tempera- 
tura do  gelo  fundente  no  thermomotro 
de  Reaumour,  e  no  thermomotro  centí- 
grado. —  O   thermumetro  desceu   a  zero. 

—  Zero  absoluto;  termo  imaginário, 
ficção  m.ithematica  commoda  para  empre- 


gar no  calculo  dos  problemas  da  thermo- 

dyn  arnica. 

—  Ponto  d'ondo  se  parte  para  se  con- 
tar 08  graus. 

ZEROME,  s.  m.  Vid.  Cerome. 

f  ZEROTAGE,  «.  m.  Fixação  do  zero 
nos  instiiinji  iitos  de  |jr';cÍHão. 

ZERUMBETE,  ou  ZIRUMBETH,  *.  m. 
Termo  de  botânica.  Gcngivre  silvestre. 

ZERVATANA,  ».  /.  Vid.  Zarabatana. 
—  Zervatanas  /lenadas.  —  «E  por  causa 
do  ardor  do  Sol,  que  assava  os  homens, 
fróelias,  o  zervatanas  hervada«,  que  os 
Mouros  tiravam  de  alguns  eirado?  das 
casas  mais  vizinhas  á  jjonte,  raandou-a 
AffonFO  d'Alboquerque  toldar  com  vela* 
das  náos,  que  deo  a  vida  a  todos.  •  liar- 
ros,  Década  2,  Jiv.  6,  cap.  5. 

ZESTE,  ».  m.  Separação  membranosa 
que  divide  o  interior  de  uma  noa.  —  O 
zeste  de  uma  iwz. 

—  Casca  exterior,  amarella  e  odorífe- 
ra, da  laranja,  e  do  limlo,  separada  da 
pelle  bianca  e  amarga  que  está  por  bai- 
xo. —  Cvrtar  um  zeste. 

—  Figuradamente:  Cousa  de  módico 
valor. 

—  Popularmente:  Itso  não  vah  um 
zeste,  iião  daria  um  zeste ;  diz-se  de 
uma  cousa  de  pouco  valor. 

-{■  ZETA,  s.  m.  Nome  da  decima  sexta 
letra  do  alphabeto  grego. 

ZETETICA,  í.  /.  Termo  de  mathema- 
tita.  ilethodo  de  que  se  serve  para  re- 
solver um  problema.  Vid.  Zetetico. 

ZETETICO,  A,  adj.  (Do  grego  z«<eíí- 
kos,  de  zeteô).  Termo  didáctico.  Que  diz 
respeito  á  zetetica. 

—  Methodo  zetetico ;  mothodo  de  que 
se  serve  para  resolver  um  problema  de 
mathematica,  e,  em  geral,  aquelle  de  que 
nos  servimos  para  penetrar  a  razão  das 
cousas. 

—  Philosophos  zeteticos  ;  antigos  phi- 
losophos  que  duvidavam  de  tudo. 

-}•  ZETOS,  s.  m.  Termo  de  astronomia. 
Nomo  da  constellação  dos  Gémeos. 

ZEUGMA,  í.  /.  (Do  grego  Mujtna). 
Termo  de  rhetorica.  Figura  de  elocuçSo 
mais  conhecida  pelo  nome  de  adjuncçSo. 
A  zeugma  tem  logar  quando  uma  pala- 
vra, jii  expressa  n'unia  proposição,  se 
subentende  n'uma  outra  análoga  á  pri- 
meira, e  ligada  a  esta.  A  zengma  é  »»m- 
ples,  quando  a  palavra  subentendida  é 
exactamente  aquella  que  se  exprimia, 
por  exemplo:  Eu  renuncio  á  Ortcia,  a 
Sparta,  ao  meu  império,  á  minha  fami- 
lia.  A  zeugma  é  composta,  quando  a  pa- 
lavra subentendida  não  é  absolutamente 
aquella  que  j;i  se  via. 

—  Figura  de  grammatica,  na  qual  o 
mesmo  verbo  liga  duas  proposiçSes. 

ZEVRA,  í.   f.^Vid.  Zebra. 
ZEVRINA,  s.  f.  Vid.  Zebelina. 
ZIBELINA,  s.'  r.  Vid.   Zebelina. 
ZIBETHA,  ou 'gato  DE  ALGALIA  DE 
ÁSIA,  s.  7)1.  Espécie  de  género  de  gatos 


znvTR 


ZIRC 


ZOAN 


1033 


de  Algalia;  produz  também  o  almíscar. 
Habita  nas  índias  e  na  Arábia. 

ZIGENA,  s.  f.  Termo  de  historia  natu- 
ral. Borboleta  de  antennas  compridas, 
cauda  longa,    azas  approximadas,  etc. 

—  Espécie  de  esphinge. 

f  ZIGUELINA,  s.  /.  Mineral  que  é  o 
cobre  oxydulado  ci-ystallino. 

ZIGUEZAGUE,  s.  m.  (Do  francez  zig- 
zag).  Serie  de  linhas  formando  ângulos 
alternativamente  salientes  e  reintrantes. 
—  Uma  zona  negra  desce  desde  o  olho, 
e  traçando  um  ziguezague  cáe  até  á  aza. 

—  Ir,  caminhar  em  ziguezague.  —  Um 
caminho  tr<içaiio  em  ziguezague. 

—  Ziguezague  dorsal;  nome  dado  a 
uma  quebrada  que  se  encontra  no  dorso 
de  certas  espécies  de  viboras. 

—  Pequena  machina  composta  de  triân- 
gulos moveis,  e  dispostos  em  losango,  que 
se  estendem  ou  se  comprimem,  conforme 
o  movimento  que  se  lhes  dá,  por  dous  ra- 
mos, que  servem  para  a  sustentar.  —  Dar 
uma  letra  por  meio  de  um  ziguezague. 

—  Ornato  em  forma  de  ziguezague. 

- —  Termo  de  zoologia.  Espécie  de  pha- 
lena. 

ZIGUEZIGUE,  s.  m.  (De  zig,  z>g,  voz 
pérsica,  o  som  que  faz  uma  porta  aper- 
tada quando  se  abre,  ou  fecha).  Instru- 
mento da  feição  de  um  pequeno  tambor, 
coberto  de  peUica,  para  brinco  dos  rapa- 
zes. 

—  Homem  buliçoso,  inquieto. 
ZIMARRA,  s.  m'.  Vid.  Samarra. 
ZIM60,    s.   m.   Marisco   que    serve    de 

moeda  em  Angola,  Congo;  é  de  cor  par- 
da, e  dififerente  do  corif  ou  caiiri ;  e  tam- 
bém se  pesca  na  Bahia  de  Todos  os  San- 
tos. 

—  Os  negros  pronunciam  gimbo,  e  gim- 
bongo. 

ZIMBÓRIO,  s.  m.  Obra  de  architectu- 
ra,  mais  cimeira  e  elevafla  que  o  tecto 
do  editicio ;  nas  egrejas  existe  de  ordi- 
nário no  meio  do  cruzeiro,  e  tem  vidra- 
ças; ou  mais  propriamente  é  o  remate 
por  cima  das  clarabóias,  ou  lanternas  do 
tecto.  No  zimbório  se  colloeam  as  cru- 
zes, e  grimpas,  etc.  O  zimbório  está  so- 
bre as  cúpulas,  que  remata  cimeiro  a  el- 
las. 

ZIMBRADO,  part.-pass.  de  Zimbrar. 

ZIMBRAL,  s.  m.  Bosque  ou  matta  de 
zimbros. 

ZIMBRAR,  u.  a.  Flagellar,  açoutar,  es- 
pancar. 

—  V.  n.  Diz-se  do  movimento  que  fa- 
zem 03  barcos  para  baixo  e  para  cima, 
depois  de  serenar  o  vento  que  os  agitava. 

ZIMBRO,  s.  m.  Termo  de  botânica.  Ar- 
busto vulgar.  Vid.  Junipero.  —  «Fructos 
bagas  de  louro,  de  zimbro,  cravinhos  da 
índia,  nóz  manchada,  cubebas,  e  graons 
Hermes.»  Braz  Luiz  d'Abreu,  Portugal 
medico,  pag.  254,  §  232. 

ZIMBRO  DE  LYCIA,  s.  m.  Termo  de 
Botânica.    Cedro. 

voi..  V.— 130. 


ZIMOMA,  ou  ZYMOMA,  s.  m.  Termo  de 
ehimica.  Producto  que  se  obtém  pondo  o 
glúten  em  contacto  com  o  álcool  quente: 
uma  parte  se  dissolve,  é  a  gliadina,  a 
outra  fica  insolúvel,  é  a  zimoma,  que  é 
capaz  de  fermentação. 

ZINABRE,  s.  m.  Vid.  Azinhavre. 

ZINAS,  s.  f.  plur.  Termo  frequentís- 
simo na  província  do  Minho,  onde  se  usa 
d'esta8  locuções:  Estar  nas  zinas  do 
inverno,  estar  nas  zinas  do  verão;  estar 
no  mais  penetrante  frio  do  inverno,  ou 
nas  mais  ardentes  calmas  do  verão. 

•j-  ZINGAGE,  «.  m.  Acção  de  cobrir  de 
zinco. 

—  Processo  de  [galvanisação  do  ferro. 
ZINCATO,    s.    m.    Termo    de    ehimica. 

Composto  chimico  resultante  do  oxydo 
metallico  de  zinco  com  outro  oxvdo. 

t  ZINCICO,  adj.  Termo  de  ehimica.  — 
Acido  zincico.  —  Oxydos  zincicos. 

—  Diz-se  também  dos  saes  que  formam 
este  oxydo. 

—  Sulfureto  zincico  ;  sulfureto  de  zinco. 
t  ZINCICO-ALUMINICO,  adj.  m.  Díz-se 

de  um  sal  zincico  combinado  com  um  sal 
aluminico.  Díz-se  do  mesmo  modo  zinci- 
co-ammoaiaco,  etc. 

f  ZINCIDES,  s.  m.  plur.  Família  de 
mineraes  comprehendendo  o  zinco  e  seus 
compostos. 

7  ZINCIFERO,  A,  adj.  Que  contém  o 
zinco  accidentalmente. 

ZINCO,  s.  m.  (Do  allemão  zink).  Metal 
que  existe  na  natureza,  combinado  com 
o  enxofre  na  blenda,  e  no  estado  de  hy- 
drato  e  oxydo  na  calamina.  —  Cobrir  uvi 
tecto  de  zinco. 

—  Flores  de  zinco ;  zinco  sublimado 
pelo  fogo. 

I  ZINCOGRAPHAR,  v.  a.  Imprimir  por 
meio  do  zinco. 

ZINCOGRAPHIA,  s.  /.  (Do  zinco,  egra- 
phos).  Arte  de  imprimir  os  desenhos  su- 
bstituindo a  pedra  lithograpldca  pelo 
zinco. 

ZINGAMOCHO,  s.  m.  Remate  de  cousa 
alta. 

f  ZINGARI,  s.  m.  Um  dos  nomes  da  ra- 
ça á  qual  pertencem  os  vagabundos  conhe- 
cidos pelo  nome  de  egypcios  ou  bohe- 
mios. 

j-  ZINGIBERACEAS,  s.  f.  plur.  Termo 
de  botânica.  Família  das  plantas  monoco- 
tyledoneas,  comprehendendo  hervas  viva- 
zes de  rhiz  ma  rastejante  e  taberoso. 

ZINGRAR,  1-.  a.  Termo  popular.  Escar- 
necer, illudír. 

ZINIDO,  part.  pass.  de  Zinir. 

—  S.  m.  Vid.  Zunido. 
ZmiR,  r.  n.  Vid.  Zunir. 

f  ZINQUE,  s.  m.  Vid.  Zinco;  ortho- 
graphia  preferível. 

ZIRBAL,  adj.  2  gen.  Termo  de  anato- 
mia.  Dii  zírbo. 

ZIRBO,  s.  m.  Termo  de  anatomia.  Re- 
denho.  teagem  cellular. 

f  ZIRCON,  *.   m.  Termo  de  mineralo- 


gia. Mineral  cryatalliuo,  pedra  preciosa 
que  affecta  diversas  cores. 

ZIRCONIA,  *.  /.  Termo  de  ehimica.' 
Oxydo  de  zirconio. 

t  ZIRCONICO,  A,  adj.  Termo  de  ehi- 
mica. Diz-ge  do  oxydo  de  zirconio.  -,; 

: —  Diz-se  também  dos  saes  que  formam 
este  oxydo.  ^ 

—  Sulfureto  zirconico ;  .sulfureto  dé' 
zirconio. 

f  ZIRCONIDES,  s.  m.  plur.  Familia 
dos  mineraes  que  contém, zirconio. 

ZIRCONIO,  s.  m.  Termo  de  ehimica. 
Metal  que  se  chegou  a  isolar  em  1824,  e 
que  é  de  um  pardo  anegrado,  sem  aspecto 
metallico,  a  não  ser  pelo  menos  roçado 
pelo  brunidor.  , 

—  Adjectivamente :  Que  contém  zir- 
con. 

t  ZIRCONITE,  s.  f.  Termo  de  minera- 
logia. Variedade  de  zircon. 

ZIRGELIM,  s.  m.  Semente  oleosa,  de 
que  se  faz  doce.  Vid.  Gergelim,  termo 
mais  novo  no  Brazil,  onde  se  dá  em  ca- 
sulos de  uma  planta. 

ZIZANEIRO,  A,  adj.  e  s.  Que  semêa 
zizanía. 

ZIZANIA,  s.  f.  (Do  latim  zizania).  Ter- 
mo de  botânica.  Joio,  má  semente  que 
vem  entre  o  bom  grão. 

—  Figuradamente:  Desunião,  desintel- 
ligencia.  —  Este  partido  cresce,  desola  o 
campo  do  pai  de  famílias,  semeando  n'elle 
a  zizania. 

—  Zizania  bastarda;  espécie  de  joio 
(herva). 

—  Tei-mo  de  botânica.  Género  de  plan- 
tas da  America,  pertencente  á  familia 
das  gramíneas. 

ZIZANIAR,  V.  n.  Semear  zízanias. 

—  Figuradamente:  Semear  desordens, 
dissenções,  desintelligencias. 

—  Mexericar,  dizer  novas. 
ZIZANISTA,  s.  2  gen.    Pessoa   que  se- 
mêa zízanias. 

—  Pessoa  mexeriqueira,  que  dá  novas, 
que  semêa  mexericos. 

t  ZIZYPHICO,  A,  adj.  Termo  de  ehi- 
mica. Acido  zizyphico;  acido  crystallísa- 
vel  do  extracto  da  açafeifeira. 

ZIZYPHO,  s.  m.  Termo  de  botânica. 
Vid.  Maceira   de  anafega. 

ZOADA,  s.  f.  S(.ada,  som  forte. 

t  ZOANTHARIOS,  s.  m.  plur.  Nome  da- 
do a  uma  ordem  da  classe  dos  polvpos, 
ramo  dos  radiados. 

—  Zoantharios  pedregosos,  coraes,  etc. 

t  ZOANTHINIANOS,  ».  m.  plur.  Polv- 
pos da  familia  dos  polypos  actinidianos, 
que  formam  o  polrpeiro. 

t  ZOANTHODEMO,  s.  m.,  ou  ZOAKTHO- 
DEMIA,  «.  /.  Nome  dado  ao  conjuncto  de 
tudo  o  que  compõe  o  raminho  do  coral  o 
mai-^  conipleti'. 

ZOANTHROPIA,  s.  /.  (Do  grego  zôon,  e 
anthrôpos).  Termo  de  medicina.  Espécie 
de  moi:omania  em  que  o  doente  se  julga 
convertido  em  anima!. 


1034 


ZOMB 


ZOMB 


ZOMB 


■j-  ZOANTHROPO,  s.  m.  Pesaoa  que  oatá 
aflectíida  do  /.(lantiiropia. 

ZOAR,  V.  n.  Dar  «oui  forte.  —  Zoar  o 
vento. 

ZODIACAL,  adj.  2  (jea.  Quo  pertenço 
ao  zodiaco. — tíiipios  zodiacaes. 

—  Luz  zodiacal;  luz  do  fói-ma  lenticu- 
lar que  se  apoia  sobro  o  liorisonte,  e  que 
apparece  d(qK)i»  do  pôr  do  sol  na  cpoclia 
depois  do  oquinoxio  da  primavera,  e  an- 
tes do  nascer  do  sol  na  o.pocha  do  equino- 
xio  do  outomno.  :^ 

—  Represe, ntaçtMíif  zodiacaes ;  baixos  re- 
levos, modallias,  pednis  antigas  tendo  os 
signos  do  zodíaco. 

—  Moedas  zodiacaes ;  nioodas  do  Orien- 
te, nas  qu;vos  estão  representados  ca  si- 
gnos do  zodiaco. 

zodíaco,  *•.  m.  (Do  latim  zodiacus). 
Termo  do  astronomia.  Zona  da  esphera  ce- 
leste estendondo-se  a  oito  graus  de  uma 
parte  e  d\>utra  da  ecliptica,  e  em  que 
estilo  sempre  coraprehendidos  os  planetas 
outr'ora  conliocidos.  O  zodiaco  está  divi- 
dido em  doze  partes  eguaes  por  grandes 
círculos  perpendiculares  à  ecliptica,  a 
partir  do  equinoxio  da  primavera;  estas 
lioze  partes  h%o  os  signos  do  zodiaco;  re- 
ceberam os  nomes  das  constellações  as 
mais  próximas;  estes  nomes  estSo  con- 
tidos em  douH  versos  mnemónicos  :  «Sunt 
Aries,  Taurus,  Gominis,  Câncer,  Leo, 
Virgo,  Libraque,  Scorpius,  Areitcnens, 
Oaper,  Amplior,  Piscos.» 

—  A  representação  do  zodiaco. 

—  Zodiaco  dos  cometas;  parte  do  ceu 
onde  a  maior  jiarto  dos  cometas  tem  o 
seu  movimento. 

ZODOARIA,  N.  /.  Vid.  Zedoaria. 

f  ZOÉ,  *\  f.  Termo  de  zoologia.  Gé- 
nero de  crustáceos  quasi  microscópicos. 

f  ZOECIA,  s.  /.  Termo  de  zoologia, 
Polypciro;  liabitação  dos  polypos. 

ZOILO,  s.  /«.'Nome  próprio  d'um  anti- 
go critico  de  Homero. 

>— Figuradamente :  Mau  critico. 

—  Figuradamente:  Critico  invejoso  e 
mau,         ■''■^    ,'i.     •    "■  ■■''     ■  >  ■- 

ZOINA,  s.  f.  Nome  vil;  qtie  as  mulhe- 
res da  mais  baÍTta' ralé  dito,  na  província 
do  Minho,  a  outrai?  taes,  quando  conten- 
dem entre  si,  querendo  charaar-lhés  más 
vmJhírrs,  mal  procedidas. 

f  ZOIODINA,  V*.  /.  Termo  lie  ehimica. 
Producto  azotado  d'vtm  bello  -^iolete  ex- 
trahido  da  agua,  ond&  se  forma  a  glai- 
riua.        '•.■■■  .j^v  "-"'.'t"'.'í 'íiM-' ::•  í'- •■' 

f  ZOISÍWO,  í.  wi.  A'  renn^So  dôs  phe- 
noiíienus  da  vida  animal. 

ZOMBADEIRA,  .«./.Vid,  Zombador. 

ZOMBADO,  ]'<tyt.  pass.  de  Zombar. 

ZOMBADOR,  A,  s.  c  <idj.  Que  zomba, 
que  esoiírncce,  que  faz  'zombaria. 

—  Que  encana,  que  illude. 

—  Zombeteiro*  ■    ■.•  ■'     ■' ^  ' 
ZOMBAR,    c.íii  Dizer  zOriibarias,  mo- 
far, motejar,-^  «Fnrtar  para  rif  he  mui- 
to raáo  modo  de  zombar;  porque  ordina- 


riamente 80  converte  o  riso  em  pranto, 
como  aconteceo  em  Coimbra  a  huma  cor- 
ja de  estudantes,  por  sinal  quo  eraõ  gra- 
ves, e  bem  nascidos,  t  Arte  de  furtar, 
cap.  66. 

—  Desobedecer. 

—  NSo  fali  ar  serio. 

—  Não  fazer  caso  das  cousas  dignaa  de 
attenç2o  e  respeito. 

—  Loc.  ADV.  :  ZomLazombando  ;  fa- 
zer, dizer  alguma  cousa  jx)r  zombaria, 
brincando,  o  não  do  serio. 

—  Por  zombar;  por  zombaria.  —  «Es- 
tando el  Rey  em  ura  rebate  de  peste  no 
lugar  de  Ataliiya,  dom  loam  de  Sousa 
foy  aposentado  fora  do  lugar  em  huma 
quinta  ahy  perto,  c  estando  el  Rey  co- 
mendo lhe  preguntou  onde  pousaua,  e  dom 
loam  lhe  disso  que  fora  do  lugar,  e  o 
Prior  do  Crato  dom  Diogo  Dalmeida,  por 
zombar  disse. »  Oarcia  de  Rezende,  Chro- 
nica  de  D.   João  II,  cap.  172. 

—  Gracejar. 

Conta-mc  isío,  toma  ati-az: 
Ho  certo  que  cstAst  zombando. 
TJoixou  Tareja  a  Feriiiiiido. 

F.  RODRIGUES  LOBO,  ECL0OA8. 

Ai  !  são  líento! 
Ai  !  ai !  ai ! 

Ai !  ai  também. 
Zombaes  ? 

Nem  por  pensamento ; 
mas  sou  cu  o  aenlnmento 
disso. 

.ANTÓNIO  PHBSTEs,  ACTOS,  pag.  369. 

^-  V.  a.  Fazer  zombaria,  escarnecer, 
ridicularisar.  —  «Um  Capitão  delRey  de 
Portugal  (que  então  era  dos  Suevos)  e  de 
grande  poder  e  authoridade,  i>.o  Reyno, 
sendo  (como  seu  Príncipe)  da  seyta  e  here- 
sia de  Arrio,  e  ouvindo  contar  o  milagre 
que  todos  os  annos  acontecia  naquelle  lu- 
gar, tendoo  por  abusaS,  ou  engano  dos 
Catholicos,  zombava  de  quem  lho  referia, 
e  como  acertasse  de  passar  com  alguma 
gente  de  cavalo  por  aquella  terra,  e  lhe 
mostrassem  o  Templo  e  piscina,  em  que 
o  milagre  acontecia.»  Monarchia  Lusita- 
na, liv.  6,  cap.  11.»  Diogo  de  Couto,  Dé- 
cada 4,  liv.  4,  cap.  4. 

Outro  ha  aq,ui, 
Por  Ofúerii  tu  ::omhrs  cio  iiií? 
Pois  só  de33(!'Ciic!int.idor 
Me  cinero  vingar  cm  ti. 

'    CA.U.,  ASIPUÍTaiÕBS,  ict.   4,  8C.   4. 

—  «Zombando,  e  escarnec6i;idó,   diíièn- 

do-lhcs,  que  pois  os  não  quizerara  deixar 
ir  a  elles  da  fortaleza,  que  haviam  alli 
toddS  de  fic^r.  E  assi  foi,  porque  deram 
logo  as  febres  nelles,  ipor  ser  chegada  a 
monção; delias,)  do  que  começaram  a  inor- 
rer  muitos.» 


]\lórào,  iipásoà  sertões,  Povos  fovinos. 
Eiii  sumido  ^Ad.  Co'*  iaitie  se  alhWôtlK' 


I3o  bruta»  alimixiaa,  sempre  o  ferro 
EmpuiihHdo  na  dr-itra,  a  Paz  contcmpISo 
Indócil  captiveiro,  Agpcro  jugo. 
N/;veH,  gelo,  granizo  /•  seu  recreio; 
Afirontão  mares,  zomiitio  dou  m^^uuure. 
r.  ■.  UO  MABOUUHTO,  tM  MJJiTriuia,  liv.  6. 

—  Uludir,    enganar    com    lograçSea   e 

acintes. 

—  Adágios  e  puovehbios: 

—  Zombai  com  o  doudo  em  c&sa,  zom- 
bará comvosco  na  praça. 

—  Também  quem  zomLa,  morre. 

—  Com  o  olhio,  ©  com.  a  fé,  nâo  zaa- 
barei. 

—  Nem  com  homem  zombador  briguea, 
nem  com  teu  maior. 

—  Com  a  mulher,  e  dinheiro  nâo  zom- 
bes, companheiro. 

ZOMBARIA,  s.  f.  Dito  picante,  mote- 
jo, mote. 

—  Acto  com  que  se  escarnece. 

—  Ludibrio,  escarneo.  —  «Acabando 
Philippo  Rey  de  Macedónia  de  julgar  in- 
justamente huma  causa  cõtra  M&cheta 
vassalo  seu,  com  ira  e  pouca  considera- 
ção, disse  o  Macheta  que  appellaua.  E 
fazendo  cl  Rey  zombaria  de  sua  appela- 
çào,  dissolhe:  Nà  sabes  tu  qoe  nào  te- 
nho eu  superior?  Pois  pêra  quem  appel- 
las  (Resp5deo  elle:  Senhor  appello  de  ti 
pêra  ti,  depois  que  estiueres  desagastado, 
e  vires  a  causa  cõ  milhores  olhos).»  Hei- 
tor Pinto,  Dialogo  da  Justiça,  cap.  6. — 
« Nisto  se  tornou  a  potencia  daquele  gran- 
de Dário  Rey  da  Pérsia,  cõ  quem  aoiâ 
espãtar  o  mundo.  Por  isso  diz  Aristóte- 
les, como  refere  Stobeu,  que  o  homem  hs 
hum  exemplo  de  fraqueza,  hum  despojo 
do  tempo,  huma  zõbaria  da  fortuna,  hu- 
ma imagem  de  incõstancia,  huma  balSçs 
oui-o  e  fio  de  euueja  e  dosauentura.  O  bS 
Phocião  Athenies  hum  dos  mais  justos 
gouernadores  na  paz,  e  dos  mais  animo- 
sos capitães  na  guerra  que  ouue  antre  os 
(íregos,  aquelle  em  quem  parecia  que  se 
aehaua  a  religião  de  Numa  Põpilio,  o  es- 
forço de  Sei  pião.»  Idem,  Dialogo  da  Vida 
solitária,  cap.  9. 

—  Dito  em  graça  por  escarneo. 

—  Lançar  o  feito  a  zombaria  ;  metter 
o  caso  a  bulha,  dizer  que  se  gracejava,  e 
zombava  quando  alguém  se  «iffende  do 
que  lhe  parecia  tlizer-sefieriamente;  quan- 
do lança  mão  da  ofierta,  ou  palavra  de 
comj-rimento. 

■ — Adágios  E  PROVÉRBIOS:      .■• 

—  A  zombaria  deixal-a,  quando  igct^ 
agrada.  .  ^  .,  .  '^^     .  • ,  .ii  .  í 

—  Zombaria  de  si^  in^Q .  ipi^  li^omens 
em  perigo. 

—  Não  ha  peor  zombaria,  que  a  ver- 
dade. 

ZOMBAZOMBANDO.  Vil.  Zombar. 

ZOMBEIRÃO,  ONA,  sul<:<t.  Vid.  Zomba- 
dor. 

ZOMBETAR.  Vid.  Zomhelear. 

ZOMBETEAR,  v.  n.  Termo  popular.  Zom- 
bar, esc;irnecer,  metter  a  ridieulo. 


ZONA 


ZOO 


ZOOI 


103Õ 


—  Illudir,  enganar  com  lograções  e 
acintes. 

ZOMBETEIRO,  A,  s.  e  adj.  Pessoa,  ou 
cousa  que  faz  zombarias. 

—  Pessoa  que  illude,  que  engana,  que 
escarnece.  Vid.  Zombador. 

ZOMBIDO,  s.  m.  Vid.  Zumbido. 

ZOMIDINA,  s.  /.  (Do  grego  zômidion). 
Termo  de  chimica.  Substancia  á  qual  o 
caldo  de  carne,  e  a  carne  assada  devem 
o  seu  sabor. 

—  Substancia  simples  descoberta  nos 
productos  da  fermentação  acescente  e  vis- 
cosa d'um  grande  numero  de  substancias 
vegetaes,  como  da  noz  vomica,  do  arroz, 
da  beterraba,  etc. 

-j-  1.)  ZONA,  s.  f.  (Do  grego  zams).  Ter- 
mo de  medicina.  Phíegmasia  cutânea,  que 
envolve,  sob  a  forma  de  semi-cintura,  o 
peito  ou  uma  das  três  regiões  abdomi- 
naes. 

2.)  ZONA,  s.  /.  Termo  de  geographia. 
Cada  uma  das  cinco  grandes  divisões  do 
globo  terrestre,  que  se  concebem  separa- 
das por  circules  parailelos  ao  equador.  A 
superficie  da  terra  está  dividida  em  cin- 
co zonas ;  1 ."  duas  zonas  glaciaes,  que  se 
estendem  desde  os  poios  até  aos  circules 
polares,  a  distancia  de  23"  28',  quantida- 
de igual  á  inclinação  do  equador  sob  a 
ecliptica :  para  todos  os  poutos  d'estas  zo- 
nas, o  sol  fica,  em  certas  epoclias  do  an- 
no,  sem  nascer  e  sem  se  pôr;  2.°  uma  zo- 
na tórrida,  que  se  estende  até  23°  28'  de 
uma  e  outra  parte  do  equador :  para  to- 
■dos  os  pontos  d 'esta  zona,  o  sol  passa  ao 
aeuith  em  certas  epoclias  do  anno;  3." 
duas  zonas  temperíidas,  comprebendidas 
entre  a  zona  tórrida  e  as  zonas  glaciaes : 
para  todos  os  pontos  d'e3ta8  zonas,  o  sol 
nasce  e  põe-se  cada  dia,  sem  nunca  pas- 
sar pelo  zenith.  O  lobo,  que  n'esta  zona 
temperada  é  talvez  de  todos  os  animaes 
o  mais  feroz,  não  é  tão  cruel,  tão  terri- 
vel  como  o  tigre,  a  panthera,  o  leão  da 
zona  tórrida,  ou  o  urso  branco,  etc. 

—  Figuradamente  :  Passar  a  zona  tór- 
rida; atravessar  um  logar  em  que  o  sol 
está  abrazador,  e  onde  não  está  sombra. 

—  Partes  do  ceu  que  correspondem  ás 
divisões  do  globo  terrestre  cbamadas  zo- 
nas. 

—  Região  considerada  em  relação  á 
sua  temperatura.  —  A  Ásia  não  tem  na- 
da de  zona  temperada. 

—  Termo  de  geometria.  Parte  da  su- 
perficie de  uma  esphera  comprehendida 
entre  dous  planos  parailelos. 

—  Termo  de  historia  natural.  Tiras  e 
signaes  circulares.  —  Seu  pescoço  e  seu 
peito  ondeados  distinctamente  de  zonas 
negrat  t  brancas. 

—  Particularmente  :  A  parte  visivel 
das  camadas  sobrepostas  de  que  certas 
pedras,  e  certos  terrenos  são  formados. 
—  No  onyx  vêem-se  muitas  zonas.  —  Zo- 
nas concéivtricaê. 

—  Termo  de  physica.    Zona  luminosa; 


pkenomeno  que  acompanha  a  aurora  bo- 
real, e  que  consiste  em  uma  espécie  de 
arco  iris  estreito  e  muitas  vezes  irregu- 
lar. 

—  Diz-se  de  um  espaço  mais  ou  menos 
extenso  que  se  compara  a  uma  zona.  — 
Sabe-se  que  n'esta  vasta  parte  do  gran- 
de oceano  equatorial  existe  uma  zona  de 
12  a  1-4  graus  pouco  mais  ou  menos  de 
norte  a  sul,  e  de  140  graus  de  este  a 
oeste,  semeada  de  ilhas,  que  estão  sobre 
o  globo  terrestre,  como  a  via  láctea  so- 
bre a  abobada  celeste.  —  Os  raios  do 
Bol  estão  quasi  sempre  comprehendidos 
n'uma  zona  de  sua  superficie,  cuja  lar- 
gura, medida  sobre  um  meridiano  solar, 
não  se  estende  além  de  34  graus,  de  ca- 
da lado  do  seu  equador. 

—  Termo  de  marinha.  Uma  das  cinco 
partes  do  globo  que  está  entre  os  dous 
poios  j  a  do  centro  se  chama  tórrida,  as 
dos  lados,  immediatas  a  esta,  chamam- 
se  temperadas,  e  as  dos  extremos  se  de- 
nominam frigidas  ou  glaciaes. 

—  Zonas  cios  ventos  alizados,  dos  ventos 
variáveis,  etc. ;  a  parte  do  globo  em  que 
estes  ventos  reinam  habitualmente.  — 
Parece-rne  i^ue  se  podiam  dividir  os  ven- 
tos por  zonas. 

—  Termo  de  anatomia.  Zona  tendíno- 
sa;  circulo  esbranquiçado  que  se  obser- 
va por  toda  a  parte  do  orLficio  auriculo- 
ventricular  do  lado  direito  do  coração. 

—  Zona  transparente;  a  membrana  vi- 
tellina. 

—  Termo  de  cirurgia.  Zona  perigosa; 
região,  que  tendo  por  centro  a  região 
clavicular,  se  estende  a  14  ou  18  centí- 
metros, sobre  o  pescoço,  braço  e  peito,  e 
faz  correr  o  perigo  de  introduzir  ar  nas 
veias  quando  se  abrem  dui'ante  as  opera- 
ções cirui-gicas. 

—  Figuradamente  e  por  assimilação : 
As  diversas  classes  da  sociedade. 

ZONCHADURA,  s.  f.  A  acção  de  levan- 
tar o  zoncho. 

—  Golpe  com  zoncho  para  dar  á  bom- 
ba de  zoncho,   differente  da  de  roda. 

ZONCHAR,  V.  n.  Dar  ao  zoncho,  le- 
vantal-o  para  extrahir  o  ar  da  bomba, 
ou  seringa,  e  fazer  vir  a  agua  oceupar  o 
vazio. 

ZONCHO,  s.  m.  Êmbolo  da  bomba  do 
navio,  o  qual  se  levanta  para  a  agua  su- 
bir pelo  tubo  d'elia. 

—  Talvez  ó  pêndulo  de  ferro,  que  se 
move  para  fazer  subir  o  pêndulo  que  em 
outras  bombas  sobe  e  desce  ao  movimen- 
to de  uma  roda. 

ZONIDO,  s.  m.  Vid.  Zunido. 

f  ZONIFORME,  adj.  2  gen.  Em  forma 
de  cintura,  de  zona. 

■}-  ZON-ZON.  Onomatopeia  que  exprime 
o  som  de  uma  varada  que  fere  o  ar,  o 
ruido  dos  instrumentos  de  cordas,  etc. 

ZOO.  Palavra  que  serve  de  prefixo  em 
muitos  termos  scientifiços,  e  que  se  de- 
riva do  grego  zôon,  animal. 


ZÕO.  Vid.  Zovo. 

I  ZOOBIA,  s.  /.  (De  zôon,  e  bios).  Que 
vive  no  corpo  dos  animaes. 

t  ZOOBIOLOGIA,  s.  /.  A  physiologia 
animal. 

-{-  ZOOCARPO,  s.  m.  Jíome  dado,  poi- 
Bory  de  S.  Vicente,  que  os  descobriu  em 
1817,  aos  corpos  chamados  zoosporos 
1  t  ZOOCHIMIGA,  s.  f.  Analyse  chimi- 
ca  das  partes  constituintes  dos  animaes, 
I  f  ZOOCHIMICO,  A,  adj.  Que  perten- 
ce á  zoochimica. 

—  Processos  zoochimicos ;  emprego  dos 
j  reactivos  chimicos  para  facilitar  as  dissec- 
j  ções  ou  supprtr  a  impotência  dos  instru- 
mentos. 

ZOOCHRESIA,  s.  f.  (Bo  grego  zôon,  e 
^  chrêsisj.  Sciencia  que  indica   ao   homem 
a  maneira  de  educar,  e  adestrar  os   ani- 
maes que  lhe  podem  ser  úteis,  para  d'es- 
te  modo  alcançar  d'elles  melhor  serviço, 
,  ou  proveito. 

t  ZOOETHYCA,  s.  f.  Historia  dos  cos- 
tumes, e  hábitos  dos  animaes. 

7  ZOOuENIA,  s.  f.  Geração  dos  ani- 
,  mães. 

\  ZOOGENEO,  ou  ZOOGENIO,  «.  m.  Do 
;  grego  zôon,  e  gennaô).  Termo  de  chimi- 
j  ca.  Matéria  orgauica  azotada,  que  ha  si- 
j  do  indicada  em  algumas  aguas  mineraea, 
I  e  que  parece  ser  o  mesmo  que  a  baregi- 
:  Tuij   ou  glerina. 

j  t  ZOOGLYPHITA,  «.  /.  Termo  de  mi- 
I  neralogia.  Pedra  figurada,  apresentando 
;  estampas  danimaes. 

•       ZOOGONIA,  s.  f.  Termo  didáctico.  Co- 
nhecimento da  geração  dos  animaes. 
'       ZOOGRAPHLA,  s.  /.    (De   zôon,   e  gra- 
pkosj.  Descripçào  dos  animaes. 

—  Termo  de  bellas-artes.  Pintura  de 
animaes. 

—  Arte  de  desenhar  as  partes  dos  ani- 
j  mães,    ou   de   as   imitar    empregando   as 

diversas  matérias  plásticas. 

ZOOGRAPHICO,  A,  adj.  Que  pertence 
I  á  zoographia. 

—  Termo  de  diplomática.  Diz-se  de 
cartas  cujas  diversas  partes  são  formadas 
por  meio  de  figuras  d'animaes. 

—  Termo  de  mineralogia.  Diz-se  de 
uma  espécie  de  talco  que  serve  para  a 
pintura. 

f  ZOOGRAPHO,  s.  m.  (De  zôon^  e  gra- 
phos).  Author  que  escreveu  luna  zoogra- 
phia. 

—  Pintor  d'animae8.  —  Polycida,  zoo- 
grapho  e  musico,  viveu  no  quarto  século 
antes  de  Jesus   Christo. 

7  ZOOIATRIA,  s.  f.  Svnonvmo  de  me- 
diciíia  veterinária,  medicina  dos  ani- 
maes. 

f  ZOOIATRICO,  A,  adj.  Que  pertence 
á  zooiatria. 

ZOOIATRO,  s.  m.  Synonymo  de  vete- 
rinário, medico  dos  animaes. 

ZOOIATROLOGIA,  «./.  (Do  grego  zôon, 
iatreuô,  e  lugos).  Sciencia  medico-veteri- 
naria. 


1036 


ZOON 


ZOOP 


ZOEL 


—  Discurso,  tratado  sobro  essa  scicn- 
cia. 

f  ZOOIDE,  adj.  2  gen.  Temio  de  mi- 
neralof^na.  l)iz-»c  do  um  mineral  cuja  for- 
ma rupru8oiitii  a  de  um  animal  inteiro  ou 
uma  ]i:irto  do  qtuxl((Uor  animal. 

ZOOLATRA,  D.  m.  Adorador  ■Jdos  ^am- 
maoH. 

ZOOLATRIA,  í.  /.  (Do] grego]  z/Joft,  o 
latreia).  Adoraorio  <los  animaes. 

f  ZOOLATRICO,  A,  mlj.  Que  perten- 
ce :l    ZDolatria. 

ZOOLITE,  ou  ZOOLITHE,  s.  m.  (Do 
grego  zôon,  e  lithou).  Farto  de  um  ani- 
mal que  está  petrificado. 

—  Nome  dado  ás  potrideações  que  re- 
presentam certos  animaes,  ou  partes  de 
animaon . 

f  ZOOLITHICO,  A,  a<lj.  Termo  de  mi- 
neralogia, tjut'.  coiitóni  zoolitlies. 

—  Que  pertence  ou  se  assimilha  a  um 
zoolithe. 

ZOOLOGIA,  *.  /.  (Do  grego  zôon,  e  la- 
gos). l\irte  da  historia  natural  que  tem 
por  objecto  os  animaes. 

—  Zoologia  medica ;  parte  da  zoologia 
que  descreve  os  animaes,  fornecendo  ma- 
térias utilisadas  em  medicina,  e  aquelles 
que  sã  >  nocivos  ao  homem,  taes  como  os 
animaes  venenosos,  os  peixes  venenosos 
e  09  parasitas. 

t  ZOOLOGICAMENTE,  adv.  (De  zooló- 
gico, e  o  suffixo  «lueate»).  No  ponto  de 
vista  zoológico. 

ZOOLÓGICO,  A,  adj.  Que  diz- respeito 
á  zoologia. 

—  Gdographia  zoológica  ;  parte  da  geo- 
graphia  que  trata  da  distribuição  dos  ani- 
maes sol);'o  a  torra. 

ZOOLOGISTA,  s.  2  gen.  Termo  de  his- 
toria natural.  Aquelle  que  conhece  a  zoo- 
logia,  iquelle  que  trata  d'ella. 

—  Alguns  dizem  Zoologo. 

t  ZOOLOGOGRAPHIA,  *•.  /.  (Do  grego 
zôon,  log  IS,  o  t/raphou).  Parte  da  historia 
natural  que  se  oceupa  dos  animaest 

ZOOMAGNETISMO,  s.  m.  Termo  didá- 
ctico. Magneti-imo  animal. 

f  ZOOMORPHIA,  s.  /.  DescripçRo  do 
exterior  Jo-;  auimaes. 

■{■  Z00M0RP3ISM0,  a.  m.  Gnlto  reli- 
gioso qiio  dá  á^i  divindades  a  forma  de 
animaes.  .-u-i/    .    0.'; 

—  OpiniJto  ciH  que  sí>;'08taVa  de  que 
os  homens  se  podiam  transformar  em  ani- 
mas?,  tal   era   a  crença  na  Ivcantliropia. 

t  ZOOMORPHITA,  s.  /.  Substaníia  mi- 
norai que  i>ftVri'ee  a  fArma  de  um  animal 
ou  do  uma  parte  de  um  animal. 

ZOONATO,  s.  »».  Termo  dé  ciilmica. 
Sal  formado  pela  combinação  do  acido 
zoonico  cora  lima  base.        '  • 

ZOONIGO,  adj.  m.  Termo  de  títómica. 
—  Acido  zoonico ;  ácido  obtido  pela  dis- 
tillaçrio  de  muitas  substancias  animaes,  o 
que  depois  se  veritíco»  ser  o  Hiesmo  que 
acid<)  (tcofico.       -jo       ',■•'' 

f  ZOONITADO,  A,  adj.  Termo  d©  eco- 


logia. Animaes  zoonitados;  o»  articula- 
dos, OB  verme»,  o  oh  echiiiodormes. 

f  ZOONITE,  ».  wi.  Cjida  um  doa  HcrcB 
parciacs  cuja  reuniSo  couiitituo  um  ani- 
mal Cl  imposto. 

ZOONOMIA,  «.  /.  Conjuncto  daR  lois 
que  rigiui  as  acções  orgaidcas  doa  ani- 
maes. 

f  ZOONOMICO,  A,  a<lj.  Que  diz  respei- 
to á  zoononiia. 

f  Z00N030L0GIA,  ou  ZOOPATHOLO- 
GIA,  «.  /.  Conhecimento  das  dofeaçaa  dos 
animaes. 

f  ZOONOSOLOGICO,  A,  adj.  Que  diz 
respeito  á  zuimosologia. 

ZOOPHAGIA,  s.  f.  Condição  dos  ani- 
maes que  SC  nutrem  d'outros  animaes. 

ZOOPHAGO,  A,  adj.  Que  vive  de  ma- 
térias animaes. 

—  Diz-se  das  moscas,  o  outros  insectos, 
que  chupam  o  sangue  dos  outros  ani- 
maes» 

—  Diz-se  dos  carnivorr>s,  que  se  nu- 
trem de  carne,  e  particularmente  dos  que 
devoram  as  presas  vivas. 

—  Substantivamente:     Um    zoophago. 
ZOOPHORICO,    A,    adj.   Que  é  relativo 

ao  zoophoro. 

—  Cviumna  zoophorica ;  columua  real- 
çada com  uma  figura  d'auimal. 

ZOOPHORO,  s.  ?«.  (Do  grego  zoopho- 
ros).  Termo  do  architectura  antiga.  Friso 
tle  um  edifício  carregado  de  figuras  de 
animaes. 

—  Termo  de  anatomia  antiga.  Nome 
que  os  antigos  liavam  ao  zodiaco. 

t  ZOOPHYTARIO,  A,  adj.  Que  diz  res- 
peito acis  zoophytos.  —  As  invasões  do 
oceano  pela  via  zoophytaria. 

t  ZOOPHYTICO,  A,  <idj.  Que  contém 
zoophytos. 

ZOÓPHYTO,  s.  «i.  (Do.  grego  zoophy- 
ton).  Termo  de  historia  natural.  Nome 
dado  por  Linneo  a  uma  classe  de  ani- 
maes compreheudendo  os  seres  que  elle 
julgava  intermediários  entre  os  animaes 
e  as  plantas.'"'!  '     '■  '      •■"■ 

—  Adj.  Que  participa  do  Àninuil  e  da 
plaut.i. 

f  ZOOPHYTOGRAPHIA,  »./.  (Do  grego 
Boophi/ton,  e  grriphos).  Descri pçâo,  histo- 
ria dos  zoopliytos. 
^  — Obra  relativa  a  esta  acicncia.. 
-■  Y  ZOOPHYTOGRAPHO,  a.  m.  [Do  grego 
zoophyfon,  c  graphoí).  Aquelle  que  ae 
entrega  ao  estudo  dos  zoophyt*>8. 

—  Author  d 'obras  relativas  a  esta  ma- 
téria. 

ZOOPHYTOLITHES,  s.  m.  Termo  de  mi- 
noralogia..  Petrifioaçãò  de  z«oplijrliãá  »em 
fíirma  <itó  arbustos..  i'^ 

ZOOPHYTOLOGIA,  s.  f.  (Do  gi-e.go  zoo- 
phytos, o  log<>s'\.  Termo  de  histeria  uatu- 
nvi.  Conhecimonto,  tratad».do3  zoophy- 
tos. -■      •       I 

ZOOl^HYTOLOGO,  .-!.  m.  (Do  grego  aoo- 
phytoti,  e  logví,.  AqucUe  ijuo  ^e  oiiti'egA 
ao  estudo  da  aoophytologia. 


—  Auctor  irobrat)  relativau  a  esta  ma- 
téria. 

ZOOPISSA,  ».  /.  (Do  grego  zdo,  e  pi$- 
sa),  Ak-utr3o  ou  breu  que  He  tira  doe  na- 
vios velhos. 

—  Alguns  dizem  Zopiza,  e  talvez  eej» 
melhor  porluguez. 

f  ZOOSPOREAS,  ».  /.  plur.  Termo  de 
botânica.  lJiz-«e  de  certas  algas,  cujoa 
sporos  são  dotados  do  movimentos. 

;-  ZOOSPORO,  ».  m.  Termo  de  botâni- 
ca. Sporo  tendo  pêllos  vibrateis,  em  certaa 
algas. 

ZOOTAXIA,  ».  /.  (Do  grego  zôvn,  e  ía- 
xÍ8}.  r'las.-ificaç3o  dos  animaes. 

—  Termo  didáctico.  Dis{K>8Íção,  orga- 
nisaçào  nicthodica  dos  animaes. 

f  ZOOTAXICO,  A,  adj.  Que  diz  respei- 
to zoot.-ixia. 

ZOOTECHNIA,  «.  f.  (Do  grego  tOcn,  e 
technc).  l^alavra  a  principio  empregada 
como  titulo  d'uma  obra  sobre  *  arte  de 
conservar  os  animaes. 

—  Modernamente :  A  arte  de  aperfei- 
çoar 08  animaes  domésticos,  e  de  os  ada- 
ptar ás  necessidades  determinadas.  —  A 
zootechnia  [iratica,  que  para  nós  deve 
passar  adiante  da  historia  natural. 

f  ZOOTECHNICO,  A,  adj.  Que  pertence 
á   zootechnia.  —  A    questão   zootechoica. 

—  S.  m.  Aquelle  que  outr'ora  puniia 
em  pratica  ;^a  arte  de  conservar  os  ani- 
maes. 

—  ilodemamente :  Aquelle  que  se  en- 
trega ao  estudo  e  perfciçào  das  raças  de 
animaes  domésticos.  —  Todos  os  zoote- 
chnicos  reconhecem  que  os  mestiços  po- 
dem^reproduzii'-3e  entre  si  sem  degene- 
rar. 

ZOOTHERAPIA.Ç.'./.  Termo  didáctico. 
Arte  de  curar  as  doenças  dos  animaes. 

I  ZOOTHESE,  *.  /.  Termo  de  botâni- 
ca. Synonymo  iVaiitheridia  e  de  ovulo 
mach)  entre  os  acotyledoueoe.- 

ZOOTOMIA,  s.  f.  (Do  grego  soôn,  e  /*- 
mn')).  Aiuitomia  dos  auimaea. 

■ — .Dissecção  dos  animaes. 

7  ZOOTOMICO,  A,  adj.  Que  diz  res- 
peito á  zix)ti>mia,  á  anatomia  dos  ani- 
maes. —  Lti."  zootomicas. 

-;-  ZOOTOMISTA,  «.  2  gen.  Pessoa  que 
estu  ;a  nu  jiratiea  a  zooton.ia. 

ZOOTYPOLITHES.s.iw.  piar.  (Do  grego 
BÔoi,  tif^i'.s.  f  /í(/í  «>>  Termo  de  luineralo- 
gia.  Pedras  que  toui  impressa  em  iodo,  ou 
om  parte,  a  figura  de  uni  arúmal. 

-{■  ZOOXANTINA,  «.  /.  Termo  de  eki- 
mica.  Piir.cipio  coloraute  aman»llo  ea- 
poeia!  que  se  ubt^m  decompondo  fus  pen- 
nas  amarellas,  >o;(  ile  iuu.amaiWlo  eever- 
ileaik»  i)èlo  .icido  acótiâo  quôuto. 

ZOPYRO,  *-.  Hl.  Tei:mo  »le  boUnica. 
Plantn. 

ZORAHE,  0-.  "I.  Vid.  Cerome. 

ZORIA,  .-•./.  Palmatoria- 

ZORUTQ,  .-».  IH.  TeiuK»  litó  higtoriar  na- 
tural. Espécie  de  cabra  luiuitez.- 

—  Cabrão  ba::taifui>  utoutez,  .ctyréolo. 


ZOUA 


ZUMI 


ZUZA 


1037 


ZORNAL,  s.  m.  Termo  de  historia  na- 
tural. Tordo  visqueiro. 

f  ZOROÂSTRIANO,  A,  adj.  Que  é  re- 
lativo a  Zuioastro.  —  Estudos  zoroas- 
trianos. 

—  Substautivanieiite :  Á  religião  dos 
zoroastriauos. 

f  ZOROASTRISMO,  s.  m.  A  religião 
de  Zoruastro. 

I  ZORONGO,  s.  TO.  Dausa  kespauhola, 
cujos  pas:50S  sào  dirigidos  alteraativa- 
mente  para  diante  e  para  traz,  em  um 
movimento  mui  forte. 

ZORRA,  s.  f.  Cairiuho  com  rodilliões 
de  levar  pedras,  e  cousas  pesadas. 

—  Um  angulo  de  dous  paus,  ou  forqui- 
lha grossa  de  ramo,  que  se  faz  com  tra- 
vessa na  base ;  sobre  ella  se  colloca  ma- 
deira de  rojo  comprida  para  a  cabeça 
correr  alta  do  chão,  e  estorvos  que  impe- 
dem o  arrasto  nas  mattas  onde  se  abrir 
a  picada. 

—  Figuradamente :  Pessoa  que  faz  tudo 
mui  vagarosamente. 

—  Termo  de  historia  natural.  Uma  es- 
pécie de  raposa. 

ZORRAGUE,  s.  m.  Vid.  Azorrague. 

ZORRAL,  s.  m.  Termo  de  historia  na- 
tural. Estorninho. 

ZORREIRG,  A,  adj.  Eonceiro,  vagaro- 
so, que  se  move  lentamente. — Embarca- 
ção zorreira. 

—  Home/ii  zorreiro ;  homem  não  acti- 
vo, tardo,  iuddigeute,  que  tudo  faz  va- 
gorosamente. 

ZORRO,  A,  adj.  Arteiro,  astuto  como  a 
raposa. 

ZORROS.  Termo  usado  n'esta  phra- 
se :  Levar  a  zorros ;  levar  aos  tirões,  ar- 
rojando, arrastando,  a  reboque,  ou  á  sir- 
ga.  Vid.  Jorro,  e  Rojo. 

ZORZAL,  s.  í/i.  Termo  de  historia  na- 
tural. Ave  pequena  negra,  malhada  de 
pardo  ou  branco,  ou  amarello ;  tem  bico 
á  similhança  da  pega:  é  mais  conhecida 
entre  n('is  pela  denominação  de  estorninho. 

ZORZALEIRO,  adj.  m.  —  Falcão  zorza- 
leiro ;  falcão  que  caça  zorzaes. 

■j-  Z03TER,  s.  m.  Termo  de  medicina. 
Sjnonymo  de  Zona  1). 

f  ZÒSTERA,  s.  /.  (Do  latim  zoster, 
planta  marinha).  Termo  de  botânica. 
Planta  da  familia  das  naiadeas,  crescen- 
do submergida  nos  lodos  de  quasi  todos  os 
mares,  mormente  meridionaes. 

ZOTE,  adj.  2  gen.  (Do  francez  sot). 
Termo  popular.  Idiota,  estúpido,  ignoran- 
te, pateta. 

—  Substantivamente:   Um  zote. 
ZOTISMO,  s.  m.  O  vicio  do  zote,  e  seus 

desacertos. 

—  Idiotismo,  ignorância,  estolidez,  pa- 
tetice,  parvoíce. 

ZOUAVE,  s.  «!.  Soldado  de  um  corpo 
africano  ao  serviço  da  França  depois  da 
conquista  de  Argel. 

—  Os  corpos  de  infanteria  ligeii'a  fran- 
ceza. 


ZOUCETO,  s.  m.  Espécie  de  mergulhão. 

ZOUPEIRO,  A,  adj.  Termo  da  provín- 
cia da  Beira.  Velho,  ou  velha;  decrépito, 
que  se  não  pôde  bulir. 

—  Substantivamente:  Um  zoupeiro. 
20V0,  s.  iit.  Nome  dado  pelos  cafres  a 

um  cavallo  marinho,  que  se  cria  nos 
rios  de  Cuama,  e  de  Sofala,  e  nos  mais 
de  tilda,  aquella  costa  jjjsão  de  desmesura- 
da grandeza. 

I  ZOZIMO,  s.  m.  Termo  de  botânica. 
l-Tenero  de  umbeiliferas. 

ZUARTE,  s.  m.  Cleuei-o  de  lençaria  de 
algodão,  oriundo  da  Ásia. 

ZUCHE,  í.  m.  Termo  de  zoologia.  Uma 
cobra  do  Brazil. 

ZU.TCHE,  s.  71).  Termo  de  historia  na- 
tural. Vid.   Zuche. 

—  Coljra  de  Angola,  denominada  cus- 
pidora,  porque  se  defende  com  esguichar 
uma  lympha  venenosa  aos  olhos  daquel- 
le  que  a"  persegue :  os  ossos  da  sua  espi- 
nha t  em  virtude  medicinal  para  a  cura 
das  escrófula-;. 

ZUM.  Voz  formada  por  onomotopeia, 
exprimindo  o  zunido  io  ve-ito,  das  abe- 
lhas, ete. 

—  Diz-se  também:  Ouvir  um  zum-zum. 
ZUMBAIA,  ou  ZUMBAYA,  s.  /.  Termo 

da  índia.  Cortezia  profunda  com  os  bra- 
ços cruzados,  que  consiste  em  abaixar  a 
cabeça  até  aos  joelhos,  e  a  mão  direita 
no  chão,  e  isto  três  ou  quatro  vezes  an- 
tes que  cheguem  ao  senhor,  e  chegados 
a  elle  mettem-lhe  a  cabeça  entre  as  mãos, 
dando  a  entender  que  lh'a  offerecem. 

■ —  Por  analogia,  inclinação  a  quaes- 
quer  signaes  de  respeito. 

ZUMBAIADO,  parf.  pass.  de  Zumbaiar. 
Corttijadi),  fazendo  zumbaia.  —  Ricaqo 
zumbaiado. 

ZUMBAIAR,  ou  ZUMBAYAR,  v.  a.  Cor- 
tejar, fazendo  zumbaia. 

ZUMBAR,  V.  n.  Dobrar,  acurvar. 

ZUMBIDO,  s.  m.  O  susurro  das  abe- 
lhas, dos  mosquitos,  moscas  e  outros  in- 
sectos. 

—  Part.  pass.  de  Zumbir. 

ZUMBIR,  V.  n.  Causar  som  á  similhan- 
ça do  susurro  das  abelhas,  das  moscas, 
dos  mosquitos,  e  outros  insectos. 

—  Figuradamente :  Zumbem,  ou  zunem 
os  ouvidos.  '    ' ' 

ZUMBRIDO,  A,  adj.  Dobrado,  acurva- 
do, vergado. 

—  Ser  zumbrido,  andar  zumbrido;  cur- 
vando-se,  humilhando-lhe  a  todos  á  ma- 
neira do  cão  fagueiro,  que  se  humilha 
muitas  vezes  a  seu  dono. 

—  Part.  pass.  de  Zumbrir-se. 
ZUMBRIR-SE  V.    reji.    Dobrar-se,    cur- 

var-se,   vergar-se. 

—  Figuradamente  :  HumUhar-se,  á  si- 
milhança do  cão  fagueiro,  que  se  abai- 
xa ou  deita. 

ZUMICO,  adj.  m.  —  Acido  zumico,  ou 
láctico ;  acido  descoberto  na  zomidina. 
Vid.  Zomidina,  e  Zymico. 


ZUNGA,  s.  /.  Termo  de  zoologia.  Bi- 
chinho do  Brazil,  e  da  índia. 

ZUNIADA,  s.  /.  Grande  zunido  conti^ 
nuo  e  aturado. 

—  Termo  popular.  Aturar  zimiada; 
ouvin.io  os  falladores. 

ZUNIDEIRA,  s.  f.  Pedra  em  que  os  ou- 
rives alizam  o  ouro. 

ZUNIDO,  s.    m.    Som    agudo    do   vento 
I  enfiado  por  fendas. 
1       —  O  .susurro  das  abelhas,  das  moscas, 

dos  mosquitos  e  outros  insectos. 
I       —  Som   que   algumas    doenças  produ- 
I  zem  nos  ouvidos. 

—  Diz-se  também  :  O  zunido  dos  re- 
mos. 

—  Part.  pass.  de  Zunir. 

j       ZUNIDOR,   A,    adj.    Que    faz    zunido, 
que  produz  som  agudo,  que  zune.  —  In- 
'  sectos  importunos  e  zimidores. 
[      ZUNIMENTO,  s.  m.   Vid.    Zunido,  ter- 
mo preferível. 

ZUNIR,   V.   n.   Produzir  zunido,  causar 
som  agutlo  e  forte. 
j       —  vSoar  aguda  e  fortemente. 
j       —  Zunem  os  ouvidos;  por  doença. 
I        ^  Zunem  os   ventos   que  entram  pelas 
I  femlas, 

ZURRACHA,  s.  /.  Barco  de  carreira 
ou  passagem. 

ZURRADO,  í-^rí.  pass.  de  Zurrar.  Or- 
nejado. 

ZURRADOR,  A,  adj.  Que  zurra,  que 
produz  zurros. 

ZURRAPA,  s.  /.  Vid.  Surrapa. 
ZURRAR,   V.  n.  Soltar   o   burro   a  sua 
voz,  ornejar. 

—  V.  a.  Figuradamente:  Zurrar  gra- 
fes conceitos;  dizel-os  estupidamente  em 
altas  vozes. 

ZURRARIA,  s.  f.  Multidão  de  zurros 
de  muitos  jumentos  juntos;  ou  os  muitos 
zurros  de  u,m  só,  contínuos  e  amiuda- 
dos. 

—  Figuradamente:  Zurrarias  de  vates 
ou  orates  jumentaes. 

ZURRO,  s.  rn.  A  voz  do  burro. 

Feliz  tu,  que  no  zurro  ao  maia  valente 
Burro,  que  vencer  pôde  hum  Methéoro, 
No  ligeiro  emparelhas  igualmente. 

ABBADE  DE  JAZENTE,  POESIAS,  pag.  65. 

ZURZIDURA,   s.  f.  Acto  de  zurzir. 

—  Acção  de  maltratar  com  açoutes. 
ZURZIDO,  part.  pass.  de  Zurzir. 

—  Maltratado  com  fustigadas. 

—  Figuradamente :  Maltratado  com  pa- 
lavras ásperas. 

—  Açoutado,   flagellado, 

ZUBZIR,  V.  a.  Maltratar  com  pancadas 
e  açoutes. 

—  Figuradamente;  Maltratar  com  pa- 
lavras ásperas. 

—  Flagellar,  fustigar,  açoutar,  azorra- 
gar. 

f  ZUZARO,  s.  m.  Termo  de  zoologia. 
Género  de  crustáceos. 


1038 


ZYGO 


+  ZWINGLIANISMO,  s.  m.  Doutrina  do 
Zwinglo,  (JiíTerindo  da  do  Luthcro  cm 
doua  pontos :  o  livre  arbítrio,  ao  qual  Lu- 
thcro concedia  vantagem,  e  a  oucharÍH- 
tia,  em  que  elle  pretendia  que  o  pSo  e  o 
vinho  não  oram  mais  que  uma  figura  do 
corpo  o  sangue  de  Jesus  Cíiristo. 

t  ZWINGLIANO,  s.  m.  Membro  d'uma 
seita  fundada  no  século  xvi  por  Zwin- 
glo,  vigário  de  Zurich, 

t  ZYGENO,  «,  m.  Termo  do  zoologia. 
Peixe  conhecido  também  pelo  nome  de 
martdlo, 

—  Cicnoro  do  borboletas  crepusculares 
■  t  ZYGOCERO,  A,  adj.  Termo  do  zoo- 
logia. Que  tom  os  tontaculos  om  numero 
par. 

f  ZYGODACTYLO,  A,  adj.  Termo  de 
zoologia.  Que  tem  os  dedos  em  numero 
par. 

ZYGOMA,  8.  m.  (Do  grego  zygoma,  jun- 
tura).  Termo  de  anatomia.  Todo  o  corpo 
teansversal  que  serve  para  unir  outros 
dous. 

—  Alguns  denominam-n'o  osso  jugal, 
porque  uno  a  face  ás  partes  lateraes  do 
crftneo. 

ZYGOMATICO,  A,  adj.  Termo  de  ana- 
tomia. Que  pertence  ao  zygoma,  á  ma- 
çã do  resto. 

-—Arcada  zygomatica ;  arcada  óssea, 
formada  por  baixo  da  fouto  da  cabeça 
pelo  zygoma  e  o  temporal. 

—  Apophj/se  zygomatica;  longa  apo- 
physe  que  da  cavidade  glenoide  do  osso 
temporal  se  dirige  transversalmente  pa- 
ra diante,  a  fim  de  se  articular  com  o  os- 
so malar. 

—  Fossa  zygomatica;  espaço  compre- 
hendido  entre  o  bordo  posterior  da  aza 
externa  da  apopkyse  pterygoide,  e  a  cris- 
ta que  desce  da  tuberosidade  malar  á  ex- 
tremidade alveolar  superior. 


ZYMO 

—  Músculos  zygomaticos ;  os  dous  mús- 
culos que  attrahcm  os  cantos  das  boccas 
para  as  orelhas,  e  que  obram  principal- 
mente na  acção  do  rir.  —  O  grande  zy- 
gomatico.  —  O  pe,,uerw  zygomatico. 

—  N,;rvo  zygomatico;  um  dos  ramos 
do  facial. 

t  ZYGOMATO-AURICULAR,  adj.  2  r/en 
Termo  de  ai  atomia.  Que  pertence  ao  zy- 
goma e  ao  ouvido.  —  Musculo  zygomato- 
auricular. 

t  ZYGOMATO-LABIAL,  adj.  2  gen.  Ter- 
mo do  anatomia.  Que  pertence  ao  zvgo- 
ma  o  aos  lábios.  —  Musculo  zygom'ato- 
labial. 

t  ZYGOMATO-MAXILLAR,  adj.  2  gen. 
Termo  de  anatomia.  Que  pertence  ao  zy- 
goma o  á  maxUla.  —  Musculo  zyqomato- 
maxillar. 

ZYGOPETALO,  ,.  m.  Termo  de  botâni- 
ca. J'lanta  do  Urazil 

t  ZYGOPHILLEAS,  s.  f.  plur.  Termo  de 
botânica.  Fanulia  de  plantas  separadas 
das  utraecas. 

t  ZYGOSPORO,  s.  w.  Sporo  produzido 
pela  uniao  de  dous  filamentos  visinhos  em 
certas  espécies  de  cogumelos  e  algas  mi- 
croscópicas. 

ZYMICO,  A,  adj.  Que  diz  respeito  á 
rermen  tacão. 

—  Ácido  zymico ;  synonymo  de  acido 
lacHco. 

—  Vid.  Zumico. 

ZYMOLOGIA,  s.  /.  (Do  grego  zymê,  e 
logos).  Tarte  da  chimica  que  trata  da  fer- 
mentação. 

t  ZYMOLOGICO,  A,  adj.  Que  pertence 
a  zymologia. 

ZYMOME,  í.  /.  A  parte  do  visco  vege- 
tal, que  é  insolúvel  no  álcool. 
^  f  ZYMOSA,  s.  /.  Termo   de  chimica. 
Substancia,    que   no  bolor   é  o   fermento 
glycosico  do  assucar  da   canna,   como  a 


ZYTn 

diastese  na  ceva<Ja  germinada  é  o  fer- 
rncnto  glycosico  da  fécula.  Uma  zymosa 
6  sempre  o  producto  da  actividade  d'uma 
cellula,  ou  d'um  grupo  de  ctllulas  vivas; 
espontaneamente,  alguma  mateiiu  albumi- 
nóide ou  outra  não  se  toma  uma  zymosa, 
ou  não  adquire  as  propriedades  d'uma 
zymosa ;  por  toda  a  parte  cm  que  cllaa 
apparecem,  estamos  seguros  de  encontrar 
alguma  cousa  rio  organisado 

t  ZYMOSCOPO,  ,.  m.  O  mesmo  que 
Zymosimetro. 

i  ZYMOSIMETRIA,  «.  /.  Termo  de 
pliysioa.  Artt;  de  se  servir  do  zymosv- 
metro.  ''        "' 

t  ZYMOSIMETRICO,  A,  adj.  Que  per- 
tence ao  zymo.simetro,  relativo  á  zymosí- 
metria. 

ZYMOSIMETRO,  ..  m.  (Do  grego  zymn- 
SIS,  e  metron,.  Termo  de  physica.  Ins- 
trumento proprir.  para  fazer  conhecer  o 
grau  lie  f.  riiientação  d'um  licor 

ZYMOTECHNIA,  *.  f.  (Do  grego  zy- 
■me,  e  technê,  arte).  Arte  de  excitar,  de 
conduzir  a  fermentação. 

i  ZYMOTECHNICO,  A,  adj.  Que  diz 
rcsjioito  i\.  zyniotechnia. 

t  ZYMOfiCO,  A,  adj.  (Do  grego  zy- 
motikos).  Que  é  próprio  para  a  fermenta- 
ção. 

—  Termo  de  melicina.  Que  ofiFerece 
iim  caracter  do  perturbação,  e  de  disso- 
lução comparada  a  uma  f.-rmentaçào.  — 
As  doenças  zymoticas.  —  A  varíola  é 
uma  doença  zymotica. 

ZYTHO,  s.  m.  (Do  grego  zythos,  bebi- 
da fervida,  cerveja).  Bebida  de  vegetaes 
cozidos  com  agua. 

—  Espécie  de  cerveja. 
ZYTHOGALA,  s.  m.  (Do  grego  zythoB, 

cerveja,  e  gala,  leite).  Mistura  de  leite, 
e  de  cerveja,  que  é  empregada  como  be- 
bida em  certos  paizes. 


FIM  DO  QUINTO  E  ULTIMO  VOLUME 


AEREVIATURAS  USADAS  NESTE  DIGGIONARIO 


Adag. 

adagio. 

adj. 

adjectivo. 

adv. 

adverbio. 

ant. 

antigo. 

antiq. 

antiquado. 

apassiv. 

apassivadamente. 

a.  ou  act. 

activo,  activamente. 

augm. 

augmentativo. 

CAM.,   LUS. 

Camões,  Lusiadas. 

SON. 

soneto. 

c.  ou  cap. 

capitulo. 

cant. 

canto. 

c.  ou  col. 

columna. 

comp. 

comparae,  comparativo. 

Gonf. 

conferi. 

conj. 

conjuncyão. 

chul. 

chulo. 

Chr.  ou  Chron. 

chronica. 

der. 

derivado. 

did.  ou  didact. 

didáctico. 

dim.  ou  dimin. 

diminutivo. 

ed. 

ediçfío. 

ed.  ult. 

edição  ultima. 

fam. 

familiar. 

/• 

feminino. 

fig. 

figurado. 

freq. 

frequentemente. 

gramm. 

grammatica. 

i.  é. 

isto  é. 

inter j. 

interjeição. 

irr. 

irregular. 

L. 

livro. 

Lat. 

latim. 

Loc. 

locução. 

m. 

masculino.                                               j 

n.  ou  neutr. 

num.  ou  n."^ 

p.  ou  pag. 

P.  ou  P.« 

p.  e. 

•pi.  ou  plw. 

phr. 

Prov. 

p.  a.  ou  part.  act. 

p.  p.  ou  part.  pass. 

p.  prés.  ou  pr. 

prep. 

pr.  ou  prop. 

pron. 

p.  us. 

s.  ou  subst. 

sing. 

s.f. 

s.  m. 

SUp.    ou   SUptívl. 

t. 

T.  ou  tit. 

T.  ou  tom. 

us. 

V.  ou  Vid. 

v.g. 

V. 

V.  a. 
V.  n. 
V.  refl. 
V.  rec. 
V.  trans. 
V.  ou  vers. 
2  gen. 


neutro,  neutramente. 

numero. 

pagina. 

padre. 

por  exemplo. 

plural. 

phrase. 

provérbio. 

participio  activo. 

participio  passivo  ou  do  passado. 

participio  do  presente. 

preposição, 

próprio. 

pronome. 

pouco  usado. 

substantivo.  » 

singular. 

substantivo  feminino. 

substantivo  masculino. 

superlativo. 

termo. 

titulo. 

tomo. 

usado  ou  usual, 

vide,  veja. 

verbi  gratia. 

verbo. 

verbo  activo. 

verbo  neutro. 

verbo  z-eflexo, 

verbo  reciproco. 

verbo  transitivo, 

verso. 

dous  géneros. 


,ue « f.l.f  ;r;ê;.C™t'°""°  °°"'"""  °" '"'™°'-" '°'°™°"  ™'  »*"™ « ■"■'^-'  '"'•»'^°'-' '--»